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AO JUÍZO DA 32ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE BELO HORIZONTE DO ESTADO

DE MINAS GERAIS

JUSTIÇA GRATUITA

Autos nº: 5069302-58.2019.8.13.0024

ALEXANDRE LONDRES ZEFERINO vem interpor Recurso de APELAÇÃO,


consoante os fatos e argumentos que serão aduzidos.

Assim, requer seja o presente recurso recebido nos seus regulares


efeitos e se caso não houver o exercício do juízo de retratação em condenar a
parte Apelada nos termos elencados na inicial, seja encaminhado ao Tribunal
de Justiça.

Na oportunidade, informa a parte Apelante que, se quedou inerte


quanto ao prévio recolhimento do respectivo preparo, ante a Gratuidade de
Justiça deferida.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Belo Horizonte, 29 de junho de 2020.

Luiz Frederico Paulino Cunha Do Nascimento


OAB/MG 183.180

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS


RAZÕES DE APELAÇÃO

Na sentença ora proferida, o I. magistrado “a quo”, quando da


fundamentação da improcedência da presente ação, salienta que o contrato tem que
permanecer intacto e que não há fundamento os pedidos da parte Apelante, tendo o
banco cumprido com todos os termos do contrato.

Entretanto, Doutos Julgadores, pela simples leitura dos documentos


colacionados pela parte Apelada, ficou claro que a parte Apelante, consumidora, não
teve ciência da modalidade que efetivamente contratara, senão não o teria
contratado por evidentemente tratar-se de negócio leonino, com abusividade
comprovada e extrema oneração do consumidor.

Cumpre ressaltar que o fato da parte Apelante ter utilizado o cartão de


crédito para realizar compras em estabelecimentos comerciais, não desconstitui a
conduta ilícita da parte Apelada ao aplicar juros de cartão de crédito, quando a
modalidade contratada foi empréstimo consignado.

Frise-se novamente que a modalidade de empréstimo consignado é para que


a parte tenha benefícios com os juros ali cobrados, o que é ao inverso no praticado
na presente relação, pois estes juros são de Cartão de Crédito, e realizado de uma
forma fraudulenta, pois a parte Apelante foi ludibriada a adquirir um empréstimo
consignado com desconto em folha de pagamento e após anos de descontos
indevidos em seu contracheque, deve AINDA valor irrazoável!

Ora Ex.ª, ao analisar o demonstrativo de fls. juntados pela parte Apelada na


contestação, afere-se que não há nexo de causalidade entre os valores ali descritos
como utilizáveis com o saldo devedor, esta claro que o fato gerador do saldo devedor
foi o empréstimo no início da relação, e como a parte Apelante nunca recebeu
referidas cobranças (boletos), foi acumulando nas referidas faturas, com a incidência
de juros de cartão de crédito.

A verossimilhança nas alegações está clara, trata-se de um empréstimo


consignado, que tem por objetivo adquirir crédito a juros mais baixos que o praticado
no mercado, com valor fixo de prestações e prazo para findar este pagamento, ocorre
que, fora a parte Apelante ludibriada quando da celebração deste contrato, pois
torna-se uma dívida eterna e com juros praticado de cartão de crédito.

O Dano irreparável encontra-se calçado na situação em que a parte Apelante


vem sofrendo descontos que pelo tempo de pagamento já quitara o referido
contrato, não podendo continuar sofrendo descontos indevidos/abusivos em seus
proventos que lhe tem deixado em extrema dificuldades financeiras,
comprometendo o seu sustento e de sua família!
A parte Apelada, em sua peça de bloqueio se limitou a dizer que a parte
Apelante estava ciente do que efetivamente contratara e que as cobranças não
seriam abusivas.
Contudo Excelências, estas alegações não merecem prosperar, tendo em
vista que a parte Apelante foi cabalmente ludibriada no momento da contratação.

Esta tática ludibriante e revestida de má-fé e dolo só pode ter duas


justificativas possíveis imagináveis, quais sejam:

- Primeiramente, a parte Apelada no momento da contratação, verificou que


a parte Apelante, seu possível cliente, não possuía margem consignável suficiente
para adimplir com segurança a um empréstimo consignado, e, ao invés de informá-lo
deste fato e indicar que não contratasse o empréstimo, tomou a decisão desmedida
de fundir um contrato de empréstimo com um contrato de cartão de crédito, em que
a margem consignável não é considerada, podendo lançar os valores que lhe
aprouvesse, como um suposto “saldo remanescente”, aprisionando o cliente em uma
dívida que nunca reconheceu legítima pelos moldes que se lhe aplicaram.

- A segunda hipótese se baseia no fato de que a parte Apelada, entendedora


de que este contrato maximizará seus lucros, pois estará aprisionando o cliente em
uma dívida eterna, sempre recebendo uma parte dos seus salários - não considerou
efetuar um simples empréstimo consignado, mesmo que existisse margem
consignável para tanto, resolvendo imputar ao cliente um contrato com condições
muito mais benéficas ao Banco.

Não há prefixação de parcelas neste tipo de contratação imputada ao


consumidor, pois o dito “saldo remanescente” nunca se extingue, mesmo que o valor
mínimo - que, diga-se, sempre foi descontado do contracheque autoral como
parcelas de um empréstimo consignado – sempre sejam pagos mediante o desconto
em folha de pagamento do cliente. As ditas parcelas, como podemos verificar no
contracheque da parte Apelante, não possuem prazo para findar, caracterizando
ainda mais a eternização da dívida.

Assim em respeito ao Princípio da Dignidade Humana, Boa-fé contratual,


Impenhorabilidade de seus proventos e o Dever de Informação, além da veracidade
nos fatos trazidos pela parte Apelante e o perigo na manutenção da conduta da
Instituição Financeira, deverá ser determinado o impedimento dos descontos no
contracheque autoral dos valores correspondentes ao contrato trazido a juízo.
DOS VÍCIOS DO CONTRATO

Reprisa-se que a parte Apelante celebrou contrato de empréstimo


consignado com a instituição Ré, para crédito em sua conta corrente. Ocorre que,
desde então a parte Apelante vem sendo descontado do valor mínimo da dívida, não
tendo acesso as faturas.

A Instituição Financeira Ré simplesmente vem descontando o valor mínimo


na conta corrente da parte Apelante, desta forma eternizando a dívida.

Flagrante é, portanto, a ilicitude da conduta da Ré, uma vez que à parte


Apelante são oferecidos os serviços de um empréstimo consignado em folha,
condicionado à emissão do boleto com o valor mínimo estipulado pela Instituição
Financeira, mas que, verdadeiramente, não possui prazo ou número de parcelas
para findar os descontos realizados, além da já citada incidência dos juros da
contratação na modalidade cartão de crédito.

Nestes termos confirma a jurisprudência pátria:

Processo: AC 800461 MS 2010.800461-2 Relator (a):


Juiz José Eduardo Neder Meneghelli Julgamento:
30/04/2010
Órgão Julgador: 3ª Turma Recursal Mista SÚMULA DO
JULGAMENTO - RECURSO CÍVEL - CONTRATO DE
EMPRÉSTIMO COM PAGAMENTO CONSIGNADO EM FOLHA -
VENDA CASADA DE CARTÃO DE CRÉDITO - COBRANÇA
COMPLR POR BOLETO - AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO
PRECISA AO CONSUMIDOR - RECURSO IMPROVIDO -
SENTENÇA MANTIDA.

Julgamento: 30/04/2010 Órgão Julgador: 3ª Turma


Recursal Mista Classe: Apelação Cível 30 de abril de
2010. 3ª Turma Recursal Mista Apelação Cível nº - AC
800461 MS 2010.800461-2 • Inteiro Teor - Campo Grande
Relator: Juiz José Eduardo Neder Meneghelli Apelante:
Paraná Banco S/A Advogada: Glaucia Silva Leite Apelado:
João Batista Delarole Def.Pub.1ª Inst.: Paulo Dinis Martins
Brum. Em análise ao documento de f.49/51, verifica-se tratar
de um termo de adesão para uso de cartão de crédito
emitido pela recorrente, com limite estipulado em
R$1.757,00, valor este depositado em conta bancária do
recorrido, segundo comprova o documento de f.49. Lê-se do
item 5 do termo de adesão o seguinte: solicito que, até a
emissão do plástico do cartão e o recebimento em meu
endereço, o valor referente ao limite de crédito seja
imediatamente debitado de meu cartão Paraná Banco
MasterCard Eletronic e: a) creditado na minha conta de
depósito acima especificada. Nota-se que, por tal
modalidade de contrato, a instituição financeira empresta
ao consumidor o valor limite do cartão de crédito adquirido.
No entanto, o recorrido acreditou que realizara, tão
somente, contrato de empréstimo mediante pagamento
consignado em folha, insurgindo-se, por isso, contra a
cobrança por emissão de boletos bancários, após verificar os
descontos em seu benefício previdenciário, entendendo pelo
pagamento em duplicidade. Pelo termo de contrato, o
consumidor consente que seja descontado de sua folha de
pagamento o valor necessário para quitação mínima do saldo
devedor referente à fatura do cartão de crédito (f.50), sem
ressalva alguma quanto à possibilidade de cobrança do valor
complementar por boleto bancário. A disposição contratual,
nos termos previstos, não é suficientemente clara e induz a
erro o consumidor, notadamente aquele que não detém
conhecimentos mais específicos para lidar com modalidade
complexa de contrato como a do presente caso. É evidente
que o recorrido não sabia que para firmar contrato de
mútuo, deveria adquirir também um cartão de crédito para
sacar a quantia emprestada, o que se constitui em venda
casada, prática vedada pelo sistema jurídico. A
inobservância do preceito contido no artigo 6º, III do Código
de Defesa do Consumidor, por parte da recorrente, bem
como a inexistência de cláusula contratual a autorizar,
expressamente, a cobrança na forma de boleto bancário,
conduzem à conclusão de que o consumidor poderia não
aderir ao serviço proposto, caso soubesse da aquisição
condicional do cartão e crédito e que deveria desembolsar
quantia complementar, além daquela descontada
diretamente de sua folha de pagamento. A apreciação do
conjunto probatório é livre ao juiz, não consistindo em
cerceamento de defesa a atribuição de menor grau valorativo
a determinada espécie de prova produzida pela parte. A
sentença não deixou de observar nenhum dos pontos
importantes à adequada análise do caso em exame,
obedecendo criteriosamente ao princípio da motivação das
decisões, aplicando, na hipótese, o melhor direito. Recurso
improvido. Sentença mantida por seus próprios
fundamentos. [Grifo nosso].

Portanto, de acordo com a prova documental apresentada pela parte


Apelada, pode-se aferir que as alegações autorais em sua exordial são plenamente
verdadeiras. Uma vez partindo-se da premissa que o contrato firmado entre as partes
se caracteriza como um empréstimo na modalidade consignação em folha de
pagamento revestido como uma contratação de serviços de crédito por cartão.

Em momento algum a parte Apelada comprova a utilização do aludido


“cartão de crédito”, mas tão somente tem cobrado da parte Apelante os juros e
encargos contratuais desta modalidade. Isto se dá pelo simples fato de a parte
Apelante não ter contratado o referido cartão de crédito, não havendo sequer
recebido ou utilizado o mesmo.

Questiona-se, portanto, o motivo que influenciaria a parte Apelante nesta


modalidade de contratação tão mais onerosa do que um simples empréstimo
consignado.

A resposta está mais do que evidente Excelências, a parte Apelada se utilizou,


de maneira clara e inconteste, de meios sórdidos e ocultos para ludibriar a parte
autora e induzi-la na contratação de um serviço extremamente oneroso, que
somente traria benefícios a uma das partes.

DOS PEDIDOS

Diante dos argumentos apresentados, a parte Apelante REQUER:

a) Que o presente recurso seja recebido em ambos os efeitos, quais sejam:


devolutivo e suspensivo;
b) Q u e s e j a c o n c e d i d o o P E D I D O P R I N C I P A L – que seja anulado o
contrato de cartão de crédito firmado entre as partes com descontos consignados,
com a consequente aplicação dos juros e encargos médios de empréstimo
consignado durante o período do contrato.
c) Requer por fim, que a parte Apelada seja condenada ao pagamento de
honorários sucumbenciais.
Nestes termos,
Pede deferimento.

Belo Horizonte, 29 de junho de 2020.

Luiz Frederico Paulino Cunha Do Nascimento


OAB/MG 183.180

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