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Formativo sobre o Barroco

AO CONDE DE ERICEYRA, D. LUIZ DE MENEZES, PEDINDO LOUVORES AO POETA NÃO LHE ACHANDO
ELLE PRÉSTIMO ALGUM.

Um soneto começo em vosso gabo;


Contemos esta regra por primeira,
Já lá vão duas, e esta é a terceira,
Já este quartetinho está no cabo.

Na quinta torce agora a porca o rabo:


A sexta vá também desta maneira,
Na sétima entro já com grã canseira,
E saio dos quartetos muito brabo.

Agora nos tercetos que direi?


Direi, que vós, Senhor, a mim me honrais,
Gabando-vos a vós, e eu fico um Rei.

Nesta vida um soneto já ditei,


Se desta agora escapo, nunca mais;
Louvado seja Deus, que o acabei.
(MATOS, Gregório de. Obra poética.)

1. A forma poemática do soneto foi bastante empregada no período barroco. Gregório de Matos
praticou sonetos líricos, religiosos, filosóficos, eróticos, encomiásticos, satíricos. Releia o soneto que o
poeta dedicou ao Conde de Ericeyra e responda:

a) No primeiro verso, o poeta declara que o soneto se destina a louvar o Conde, mas acaba tratando
de outro assunto, para com isso caracterizar uma atitude de desprezo e deboche. Que assunto é
realmente desenvolvido pelo poeta em seu poema? Classifique a intenção do poeta através de uma
função da linguagem.

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b) Com base nas informações verificáveis no texto dado, defina, sob o ponto de vista da versificação,
as características fundamentais da forma poemática soneto, tais como estrofes, disposição de rimas e
sílabas métricas, respectivamente.

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c) A expressão "fechar com chave de ouro" é usada para definir o remate feliz, de belo efeito, de um
acontecimento e está relacionada às obras literárias, principalmente aos sonetos. Observe se tal
desfecho ocorre no soneto acima e justifique a sua resposta.

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SAL DA TERRA
(Neste sermão, Vieira utiliza seu poder argumentativo para tratar da tarefa do pregador em uma
terra corrompida.)

Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chamam-lhes sal
da terra porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas
quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual
será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga ou porque a terra se
não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou
porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhe dão, a não
querem receber. Ou é porque o sal não salga e os pregadores dizem uma coisa e fazem outra; ou
porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o
que dizem. Ou é porque o sal não salga e os pregadores se pregam a si, e não a Cristo; ou porque a
terra se não deixa salgar e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem os seus apetites. [...]
Suposto, pois, que, ou o sal não salgue ou a terra se não deixe salgar, que se há-de fazer a este
sal, e que se há-de fazer a esta terra? O que se há-de fazer ao sal que não salga, Cristo o disse logo:
“Se o sal perder a substância e a virtude, e o pregador faltar à doutrina e ao exemplo, o que se lhe
há-de fazer é lançá-lo fora como inútil para que seja pisado de todos.” Quem se atreverá a dizer tal
cousa, se o mesmo Cristo a não pronunciara? Assim como não há quem seja mais digno de
reverência e de ser posto sobre a cabeça que o pregador, que ensina e faz o que deve; assim é
merecedor de todo o desprezo, e de ser metido debaixo dos pés, o que com a palavra, ou com a vida
prega o contrário.
Isto é o que se deve fazer ao sal que não salga.
(VIEIRA, Padre Antônio. Sermões)

2. Nesse sermão, os pregadores são comparados ao sal da terra. Qual é, segundo o texto, a função
daquele que prega? (1,0)

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3. Releia.
“Ou é porque o sal não salga ou porque a terra se não deixa salgar.”
A partir desse trecho, Vieira levanta hipóteses sobre os motivos pelos quais a pregação não consegue
eliminar a corrupção. Identifique, sem transcrevê-los, os motivos por ele apontados.

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4. Segundo o texto, que razões têm os fiéis para não acatarem as palavras dos pregadores?

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5. Considerando as colocações feitas por Vieira válidas até hoje, identifique, através de um exemplo
da atualidade, “o sal que não salga” e a “terra que não se deixa salgar”.

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Texto para as questões 6 e 7

À INSTABILIDADE DAS COUSAS DO MUNDO


Gregório de Matos

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,


Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegrias,

Porém, se acaba o Sol, por que nascia?


Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto, da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,


Na formosura não se dê constância,
E na alegria, sinta-se triste.

Começa o mundo enfim pela ignorância,


E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

6. A ideia central do texto é

a)a duração efêmera de todas as realidades do mundo


b)a falsidade das aparências
c)a grandeza de Deus e a pequenez humana
d)a duração prolongada do sofrimento
e)os contrastes da vida

7. Sobre as características barrocas desse soneto, considere as afirmações e, a seguir, coloque V para
verdadeiro e F para falso.

( ) Há nele um jogo simétrico de contrastes, expresso por pares antagônicos como Sol/Lua,
dia/noite, luz/sombra, tristeza/alegria, etc., que compõe a figura da antítese.
( ) Este é um soneto oitocentista, que cumpre os padrões da forma fixa, quais sejam, rimas ricas,
interpoladas nas quadras ("A-B-A-B") e alternadas nos tercetos ("A-B-B-A").
( ) Há hipérbato em todos os versos da primeira estrofe.
( ) O poema faz parte da lírica filosófica do autor, claramente influenciado por Camões.
( ) O tema do eterno combate entre elementos mundanos e forças sagradas é indicado ali, por
"ignorância do mundo" e "qualquer dos bens", por um lado, e por "constância", "alegria" e "firmeza",
de outro.

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8. (SANTA CASA) A preocupação com a brevidade da vida induz o poeta barroco a assumir uma
atitude que
a) desiste de lutar contra o tempo, menosprezando a mocidade e a beleza;
b) quer gozar ao máximo seus dias, enquanto a mocidade dura;
c) descrê da misericórdia divina e contesta os valores da religião;
d) se deixa subjugar pelo desânimo e pela apatia dos céticos;
e) se revolta contra os insondáveis desígnios de Deus.

9. (MACKENZIE-SP) Assinale a alternativa incorreta:

a) A literatura seiscentista reflete um dualismo:o ser humano dividido entre a matéria e o espírito, o
pecado e o perdão.
b) O Barroco apresenta estados de alma expressos através de antíteses, paradoxos, interrogações.
c) O conceptismo caracteriza-se pela linguagem rebuscada, culta, extravagante, enquanto o cultismo
é marcado pelo jogo de idéias, seguindo um raciocínio lógico, racionalista.
d) A literatura informativa do Quinhentismo brasileiro empenha-se em fazer um levantamento da
terra, daí ser predominantemente descritiva.
e) Na obra de José de Anchieta, encontram-se poesias que seguem a tradição medieval e textos para
teatro com clara intenção catequista.

Apenas uma curiosidade...

A pintura tematiza a transitoriedade da vida. O


esqueleto simboliza a morte que apaga a vela –
símbolo da vida. O pé esquerdo pisa em um
globo terrestre, alertando que a morte não
preserva ninguém. Aparece ainda uma coroa
real, livros, trajes eclesiásticos e espadas que
metaforizam o poder, a cultura, a classe social,
que diante da morte nada significam.

El triunfo de la muerte, Juan de Valdés Leal, 1673

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