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A semelhança entre Ariano Suassuna e Gil Vicente

O estudo da Literatura por períodos, ou escolas, não seria a forma mais adequada diante da
complexidade de cada estilo. É sempre complicado definir quando e como um movimento ou época
começou e quais foram suas reais influências históricas e filosóficas. Muitas das vezes, esses períodos
se misturam, ou são resgatados séculos adiante, justamente pelas questões sócias históricas
semelhantes.
Quando começamos a estudar a produção dos autos de, por exemplo, Ariano Suassuna, não podemos
dissociar esta análise das produções do escritor Gil Vicente. Ambos possuem semelhanças concretas,
principalmente, com relação à

1. Construção das personagens -> cada personagem representa uma classe social - que é criticada - e,
por vezes, possui um nome que o identifica a função que exerce na comunidade onde vive, ou apelidos
cômicos, como acontece com João Grilo, Chico, a mulher do padeiro, todos do Auto da Compadecida; Gil
Vicente identifica seus personagens como mercadores, padres, pobres, etc., sempre numa alusão às
classes da hierarquização social da era humanista (marca o fim da Idade Média);

2. Religiosidade -> ambos os autores reforçam a manipulação que o clero exerce sobre o povo mais
simples, compactuando com os interesses econômicos representados por coronéis, bispos (Ariano
Suassuna) e por nobres, ricos (Gil Vicente); as figuras de diabos, anjos, Jesus e Nossa Senhora estarão
presentes nas obras dos escritores, com a devida evolução de linguagem no caso dos textos de
Suassuna - dentre essas a figura que rouba a cena é a do diabo pela sua força expressiva e sua posição
de juiz das almas já que enumera as falcatruas dos outros personagens (efetuando, inclusive, uma
rememoração da história que está sendo contada)

3. Crítica social -> os períodos históricos em que os autos são escritos apresentam características
semelhantes: grande desnivelamento social, fome, desmandos de poderosos e, em se tratando das
obras de Suassuna, há o agravante dos fatores naturais que tornam a vida do sertanejo muito difícil.

4. Ironia -> é a grande marca que identifica os autores e é o grande recurso utilizado para elaborar a
crítica. Em Gil Vicente, há obras cuja ironia crítica serviu de modelo para as gerações seguintes, como
em Auto da Lusitânia (e os personagens "Todo o mundo" e "Ninguém"). E em Ariano Suassuna, o
mesmo será comprovado no reconhecido Auto da compadecida, mas também em O santo e a porca e
em Farsa da boa preguiça.

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