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A música dos violinos, as fogueiras, a dança, o desejo que sentia por François... Quando
percebeu, Dionne estava bebendo vinho da mesma taça que ele e trocando votos numa
cerimônia de casamento cigano. Daquela noite de paixão e êxtase, o que restava agora? Um
filho e a dolorosa certeza de ler sido usada e abandonada pelo milionário François St.
Salvador. Mas três anos e a rejeição dele não haviam destruído seu amor, e ainda tremia só
de pensar em revê-lo. No entanto, tinha de voltar à França e enfrenlá-lo. Só François poderia
lhe dar o dinheiro para o tratamenlo do filho. E, pelo pequeno Jonathan, Dionne seria capaz
de tudo. Até de se humilhar diante do homem que destruíra a sua vida!
CAPÍTULO I
CAPÍTULO V
Nos dias seguintes, Dionne viveu como num pesadelo, num estado de
irrealidade, incapaz de saber o que fazia. Era como se todas as
esperanças de futuro tivessem desaparecido, e nenhum conselho de
Clarry conseguia amenizar seu desespero.
François tinha ido embora e agora não voltaria nunca mais.
Mas, à medida que os dias foram passando, Dionne começou
lentamente a se recuperar do choque e da depressão.
Afinal de contas, ainda restava Jonathan, e ele não tinha culpa que
seus pais tivessem feito tamanha confusão em suas vidas.
Mais ou menos três semanas depois da desastrosa visita de François,
Dionne recebeu um chamado estranho.
Clarry tinha tirado o gesso da perna dois dias antes e aproveitou
para sair um pouco para visitar uma amiga. Já que a tarde estava
bonita, levou Jonathan consigo.
Dionne estava entretida na limpeza de armários, lá em cima, e
respirou, impaciente, quando ouviu uma batida na porta da frente.
Foi abrir e, de repente, recuou, surpresa, ao ver Yvonne Demaris.
Mas já não era aquela mulher numa cadeira de rodas e, sim, uma nova
Yvonne, andando novamente, esbelta e elegante, com roupas
sofisticadas e caras. Os lábios da outra torceram-se, com desdém,
quando viu Dionne, de avental e desarrumada.
- Quero falar com você. Posso entrar, ou não quer me receber?
- Não creio que tenhamos nada a dizer uma à outra, Yvonne falou,
controlando-se.
- Oh, acho que temos, sim. Estou certa de que vai se interessar pelo
que tenho a dizer..
- Estou muito ocupada...
- Mas o que tenho a dizer não pode esperar. - Yvonne fez menção de
entrar. - Você não está interessada no fato de que François está
muito doente, provavelmente morrendo?
Dionne empalideceu como se estivesse prestes a desmaiar.
- Você está mentindo!
- Estou? - Yvonne levantou as sobrancelhas, numa atitude atrevida. -
Tem certeza?
A moça engoliu em seco.
- Se François está... está quase morrendo... por que você está aqui?
Por que não está com ele?
- Não pretendo ficar parada aqui na porta por muito tempo. Será que
vai me convidar para entrar, ou ainda não está interessada?
Dionne hesitou por um momento e depois ficou de lado, para permitir
a passagem da outra. Yvonne sorriu, triunfante, passou por ela e
caminhou até o hall. Dionne notou que ela andava bem devagar, mas
não mancava. Sem dúvida, a cirurgia tinha sido um grande sucesso.
Na sala de estar, Yvonne parou e observou os móveis, com desprezo.
- Você mora aqui?
Dionne estava tensa e ansiosa: queria terminar de uma vez com
aquilo.
- Por favor, por que você está aqui? O que foi que aconteceu com
François?
Yvonne não parecia ter nenhuma pressa. Ela olhava ao redor,
desinteressada, até que seus olhos se fixaram numa pilha de
brinquedos de Jonathan, amontoados num canto. Fitou-os, incrédula,
por alguns minutos. Depois, virou-se para Dionne, com visível
espanto:
- Aqueles brinquedos... há uma criança nesta casa?
A moça levou algum tempo para resolver se devia ou não responder.
Mas, como conhecia bem o caráter de Yvonne, bastante para saber
que ela poderia se recusar a falar de François caso não recebesse
resposta, falou:
- Há sim.
Os olhos da moça tornaram-se especulativos.
- Pensei que morava só com sua tia...
- Eu morava... eu moro... isto é...
Yvonne sorriu maliciosamente, de uma maneira até agressiva e
insolente.
- Então você... você tem uma criança? Dionne sentiu as faces
queimando.
- Isso mesmo.
Yvonne meneou a cabeça, incrédula, para depois sorrir novamente,
com o mesmo desdém anterior.
- Então, foi isso! - Falou, triunfante. - Foi isso que François
descobriu naquela noite! Foi isso o que o mandou direto para a
França, para quase se matar naquela arena! O fato de você ter uma
criança depois de tudo que aconteceu. Mas é uma ironia, Dionne, não
acha?
Dionne estava tremendo, dominada por emoções que não sabia se
capaz de sentir. Emoções que a levavam a querer agarrar Yvonne
pelos cabelos elegantemente penteados e arrancá-los.
- Não sei do que está falando... - ela começou, mas Yvonne sacudiu a
cabeça.
- Não tente me enganar! Conheço François muito bem. Ele é um
idealista, a espécie de macho intolerante que não pode aceitar nada
menos do que a máxima perfeição de suas mulheres! Que choque
terrível deve ter sido para ele saber que a mulher por quem queria
renunciar a tanta coisa na vida tinha se tornado uma qualquer...
Dionne estava inteiramente confusa, atordoada.
- O que quer dizer com isso? Onde está ele? Disse que François
machucou-se na arena?
- Sim, foi isso o que eu disse.
- Como? Quero dizer... François conhece os touros... como poderia
arriscar-se?
Yvonne deu de ombros, indiferente.
- Não estou particularmente preocupada com ele.
- Mas eu estou! - Dionne estava quase alucinada de ansiedade.
- Como pode ser tão fria? Pensei que amava François... mas vejo que
me enganei...
- Eu também pensei... Uma vez. Agora, não estou mais certa. Além
disso, quem gostaria de casar com um homem que talvez fique
inválido pelo resto da vida?
Dionne olhava para ela, agoniada.
- Oh, meu Deus!
- Não fique tão desesperada. François não quer nenhuma de nós duas.
Receio que nenhuma de nós tenha a oferecer o que ele pede de uma
mulher.
- Por que veio até aqui, Yvonne? Por que quis me dizer que François
foi ferido? Que prazer você tira de toda esta situação?
- Minha querida, não vim aqui apenas para lhe contar sobre François,
apesar de que a sua preocupação me deixa encantada. Não... eu vim
até aqui para descobrir o que tinha acontecido de errado... o que
tinha destruído o romântico idílio que começou três anos atrás.
Agora... agora já sei,
- Você não sabe de nada. - Dionne mal conseguia falar. Você... você é
uma pessoa má! Não dá nada a ninguém e quer tudo. Se você não se
lembra, quando esteve presa numa cadeira de rodas, François não a
abandonou.
- Não mesmo? - disse Yvonne, venenosa. - Minha queridinha, para ser
bem clara, se é que você não sabe, François me abandonou
efetivamente no dia que sofri o acidente. Mas isso você não
desconfia, não é? Provavelmente, sabe só o que Louise podia lhe
contar: que nós tivemos uma discussão terrível e eu o provoquei,
atiçando seus preciosos touros!
- Você... quer dizer que estavam discutindo porque François ameaçou
abandoná-la? - Dionne não conseguia esconder a curiosidade, mas
Yvonne não parecia notar.
- É lógico - disse, examinando-se no espelho que havia em cima da
lareira. - François tem sangue cigano, apesar de tudo, e a avó, a
velha feiticeira, sempre insistia no assunto, sempre lutou por isso.
Gemma o fez acreditar que ele não podia casar com mais ninguém,
porque já estava casado com você! Ele não sabia de nada sobre
aquele cheque que a mãe dele levou para você. Ainda pensava em vir
para a Inglaterra, para encontrar você e levá-la de volta. Ele ficou
fora de si de desespero, quando você desapareceu!
- O quê? - Dionne não podia acreditar no que ouvia. - Mas..: mas
naquele dia, depois da cerimónia... ele... ele não voltou. Só a mãe dele
foi até lá falar comigo. Por que, então, ele não a impediu, se era
assim que se sentia por mim?
- Como poderia? Ele estava no hospital, com a perna quebrada. Pensei
que Louise tivesse lhe contado sobre isso, mas vejo que não sabia...
- O acidente? - Dionne suspirou. - Quer dizer que o... acidente
aconteceu naquele dia?
Yvonne começava a ficar aborrecida.
- É claro. Ele voltou até a fazenda para contar aos pais o que tinha
acontecido, e eu estava lá também. Ficaram furiosos, naturalmente.
Depois disso, ele foi jogado do cavalo alguns quilómetros adiante da
casa. Um dos gardiens disse que a correia da sela estava solta. -
Yvonne sorriu, maliciosa, e Dionne teve a nítida impressão de que ela
tivera algo a ver com o ocorrido.
Mas aquilo era passado. Yvonne involuntariamente havia mudado o
rumo de sua vida.
Quando estava de saída, a outra virou-se e disse:
- Então é isso, Dionne. O sórdido e pequeno melodrama. Que pena que
não vai haver um final feliz! com uma criança no meio, dificilmente
teremos um final cinematográfico!
Dionne enterrou as unhas nas palmas das mãos de ódio.
- Isso depende de quem é essa criança você não acha, Yvonne? A
outra parou, assustada.
- O que quer dizer com isso?
- Nada. Você está de saída?
Yvonne hesitou, seriamente chocada com a luz inesperada que notou
no olhar de Dionne, mas finalmente decidiu-se e foi até a porta.
O carro com motorista estava parado na frente do portão, mas
Dionne não esperou que ela entrasse. Fechou a porta e encostou-se
nela, tremendo e tensa. Se o que Yvonne tinha dito fosse verdade,
então havia inúmeras possibilidades diante dos seus olhos incrédulos.
Mas logo em seguida, lembrou-se do acidente de François, e sua
excitação transformou-se em apreensão.
E se Yvonne não tivesse exagerado? E se François realmente
estivesse morrendo?
Será que sua atitude descuidada na arena era resultado de ele ter
descoberto que Dionne tinha um filho e que este filho poderia ser de
outro homem?
Tudo era possível, mas, primeiro, ela precisava descobrir como ele
estava.
Iria até lá. Mesmo que Yvonne estivesse errada, mesmo que François
não ligasse mais para ela, mesmo que saber que tinha um filho não
significasse mais nada para ele, mesmo assim, ela devia ir vê-lo.
Precisava contar a verdade agora, ou então viver com a dúvida pelo
resto da vida.
Quando Clarry voltou com Jonathan, ela já havia telefonado para
Marignane. Estava ocupada, arrumando algumas roupas suas e de
Jonathan dentro de uma mala. Dessa vez, o menino iria com ela.
Dessa vez, não haveria mais erros.
Dionne ficou no mesmo hotel em que tinha estado antes, em Aries, e
viu que Jonathan despertou a curiosidade de monsieur Lyons, mas ele
se conteve e recebeu-a muito bem, sem nenhuma pergunta.
Foi até bastante solícito, ao oferecer seus serviços e os de sua
mulher para tomar conta do menino, no caso de ela querer sair à
noite.
Dionne ficou muito grata, mas a primeira providência era descobrir
onde François estava, e se podia receber visitas.
Hesitou em telefonar para a fazenda; não queria chamar atenção
sobre sua presença em Aries. Resolveu ligar primeiro para os
hospitais.
Ligou para vários. No último, ficou sabendo que monsieur St.
Salvador tinha estado lá por algum tempo, mas já havia voltado para
casa.
Casa significava a Fazenda St. Salvador e, diante daquela
perspectiva, Dionne encolheu-se de medo: não apenas teria de
enfrentar François, mas também teria de enfrentar a mãe dele.
Apesar de ter perguntado pelo estado de François, o pessoal do
hospital não pôde lhe dar nenhuma notícia mais precisa.
Provavelmente pensaram que ela era uma repórter à procura de
história. Ficou sabendo apenas que ele não corria mais perigo de
vida.
Resolveu alugar um carro e dirigir até a fazenda na tarde seguinte.
Levaria Jonathan e rezaria para conseguir entrar lá sem provocações
nem tumultos na frente da criança.
Foi uma viagem enervante naquela estrada difícil. Jonathan
adormeceu no assento de trás logo depois de partirem. Era sua hora
habitual de tirar uma soneca, e a viagem inesperada e toda a
novidade do dia anterior tinham deixado a criança exausta. Dionne
observou-o, ternamente, todo encolhidinho no banco.
Finalmente, chegaram à casa de François, mas a propriedade parecia
deserta. Os cachorros latiram para anunciar sua chegada e ninguém
apareceu.
Felizmente, Yvonne não estava mais lá para enfernizá-la. Mesmo
assim, seu coração não lhe dava sossego e os joelhos tremiam,
insistentes e incontroláveis, quando desceu do carro sozinha.
Tinha resolvido deixar Jonathan dormindo. Arrumou-o melhor no
banco, e achou que não haveria mal nenhum em deixá-lo ali no pátio,
dentro do carro. Além disso, seria bem mais fácil enfrentar madame
St. Salvador sem a criança.
Apesar de bater insistentemente na porta, ninguém abriu. Forçou a
maçaneta e, quando a porta cedeu, entrou, com uma certa apreensão.
Obedecendo a um impulso, abriu a porta da cozinha, mas o lugar
estava deserto, apenas o fogo queimava na estufa. Pelo que pôde
notar, não fazia muito tempo que tinha sido aceso.
Ia saindo da cozinha, depois daquela rápida inspeção, quando ouviu
uma voz.
- Qu’est-ce? Ou êtes-vous? Dieu, répondez-moi!
Era a voz de François, que vinha de um quarto no fundo do corredor.
com as pernas trémulas, Dionne atravessou-o, bateu e abriu a porta,
entrando naquele quarto onde o seu amor estava.
François tentava se levantar, mas, com a entrada dela, cobriu
rapidamente sua nudez, e olhou para Dionne, incrédulo.
- Alo, François. Como é que você está? - perguntou, nervosa. Ele
passou a mão pelos cabelos grossos e agora mais compridos.
- Deus meu! O que está fazendo aqui? Dionne fechou a porta e
encostou-se nela.
- Será que essa é uma nova forma de saudação?
- Olhe, Dionne, eu não pedi para você vir. Nem mesmo sei como é que
veio parar aqui. Pelo amor de Deus, vá embora e deixe-me em paz!
Ela sentiu sua respiração mais agitada.
- Não fale comigo dessa maneira, François. Eu... eu fiquei tão
preocupada com você...
- Poupe-me disto, pelo menos! - François jogou-se para trás, nos
travesseiros.
- Fiquei, sim. - Dionne avançou um pouco em direção da cama.
- Como é que você está? Você... você sofreu um acidente, estou
sabendo disso. Quero muito saber como se sente.
- Quer mesmo? - Seus olhos cinzentos estavam gelados e zangados. -
Bem, estou ótimo. E se não fosse o fato desses médicos tolos e
loucos me encherem de drogas, eu já estaria de pé por aí...
Dionne balançou a cabeça.
- Mas o que foi que aconteceu? Como se machucou?
- Fui chifrado. Nada mais, nada menos!
- Oh, François! - Dionne sentia-se doente. - Por que fez isso?
- Fez o quê? Ser chifrado? Acontece que não escolhi exatamente o
meu destino, sabe?
- Não mesmo? - Dionne abaixou a cabeça e depois levantou-a
novamente, com o olhar suplicante. - Onde é o ferimento?
- Aqui está!
com uma crueldade deliberada, François empurrou as cobertas para
baixo da cintura, para que Dionne pudesse ver os pontos que
contrastavam com a pele morena de seu estômago.
- Oh, François! - Ela fixava as marcas, horrorizada, imaginando o que
tinha acontecido quando foi atingido, quando sua carne tinha sido
rasgada e sangrara.
François olhou-a, impassível, durante muito tempo.
Dionne não conseguia mais se controlar; foi até a cama e caiu de
joelhos ao seu lado, escondendo o rosto no peito do homem que
amava desesperadamente.
Sentiu que ele ficou tenso; depois, forçou-a a afastar-se. Mas o
contato foi irresistível. Murmurou algo abafado e depois puxou-a
para ele, procurando desesperadamente a boca de Dionne.
Por alguns minutos, ela não pôde responder nem reagir; apenas
agarrou-se a ele, como se não suportasse ter de deixá-lo novamente.
Era tão íntimo aquele quarto claro e fresco; e o desejo que sentiam
era forte demais. Suas bocas uniram-se novamente, as mãos dele
percorriam sua pele macia; o desejo dominando-os completamente.
com um esforço supremo, endireitou-se e olhou para ela, mas Dionne
não fez nenhuma tentativa de afastar-se. Ele falou, num tom
abafado:
- Temos de conversar.
- Hum... - Dionne percorria a linha da cicatriz com o dedo, e ele
rapidamente segurou sua mão e colocou-a de lado, com firmeza.
- Dionne, ouça o que tenho a dizer, seja sensata. Meu Deus, você
sabe bem o que está fazendo? Não é melhor me contar primeiro por
que veio para cá?
Dionne suspirou profundamente e depois, com esforço, levantou-se
da cama. François recostou-se nos travesseiros, sentindo-se perdido
ali, depois daquela proximidade.
Ela alisou os cabelos e perguntou:
- Diga-me uma coisa, François: por que você foi me ver em Londres?
A expressão dele mudou, tornando-se dura.
- Você, com certeza, deve saber.
- Não, eu não sei. Eu pensei... quero dizer... durante três anos, pensei
que tivesse me abandonado...
- É verdade, eu sei. Yvonne me falou. - François sentou-se,
endireitando os ombros. - Eu pretendia lhe contar naquela noite...
se... se não tivéssemos sido interrompidos.
- Sei disso, agora. Yvonne contou-me dois dias atrás que você tinha
terminado com ela. É por isso que estou aqui agora!
- Por quê? Para recomeçar de onde tínhamos parado? Você esquece...
que tem outros compromissos agora.
- E você não me quer com aqueles ”outros” compromissos, não é
assim? - Dionne encarou-o, com firmeza.
François passou nervosamente a mão nos cabelos.
- Meu Deus, eu não sei mais o que quero. Pensei que não pudesse
suportar, quando descobri sobre a criança, mas agora, com você aqui,
começo a duvidar se posso aguentar que vá embora e me deixe
novamente! Que... que confissão, não acha? Principalmente porque,
até hoje, você nunca tentou me ver. Até que precisou do dinheiro,
não foi?
Dionne hesitou durante alguns segundos.
- Pode esperar um instante? Eu... eu tenho uma coisa para mostrar
para você.
François franziu a testa.
- O que é?
- Espere para ver. Só um momentinho. Ele concordou.
- Muito bem, vou esperar.
Dionne olhou-o mais uma vez, e depois saiu do quarto. O corredor
ainda estava deserto, e imaginou onde estaria madame St. Salvador,
mas aquilo não importava no momento.
Jonathan continuava no assento traseiro do carro, onde o deixara, só
que já tinha acordado e começava a choramingar. Seu rostinho
iluminou-se, quando viu Dionne, que pegou-o nos braços
carinhosamente.
Levou o menino para dentro da casa. Ele ainda andava devagar, e ela
estava ansiosa para mostrar o filho a François.
Quando abriu a porta do quarto, ele estava fora da cama, e tinha
vestido uma calça e abotoava a camisa de seda branca.
Virou-se, quando ela entrou. Ao ver a criança, falou, rouco:
- Pelo amor de Deus, Dionne: quem pensa que sou?
Mas Dionne colocou Jonathan no chão, que ficou olhando à sua volta
com uma curiosidade adorável. Depois, Dionne falou com firmeza:
- Olhe para ele, François. Olhe para ele, por favor. Ele não lembra
alguém?
François virou-se lentamente e olhou para a criança por um longo
tempo. Depois, encarou a moça.
Dionne sentiu seus nervos tensos por causa daquele olhar
penetrante, mas, logo depois, viu que François se abaixava diante de
Jonathan, atraindo a criança com uma bala que apanhou no bolso.
Durante alguns minutos, conseguiu captar a atenção do menino,
fazendo-o sorrir, mostrando a fileira de dentinhos brancos. Depois,
endireitou-se e voltou a olhar para Dionne, que sentiu o coração
apertado e dolorido.
- Por que não me contou? - Ele perguntou, puxando-a para si.
- Eu queria. - Ela respirava com dificuldade, ainda não muito certa de
que tudo sairia bem. - Você sabe quem é ele, não sabe?
- É claro, meu Deus! Meu filho! Dionne, Dionne! Por que não me
contou?
- Como é que eu poderia? - Ela tocou seu rosto com dedos
acariciantes, enquanto Jonathan perambulava pelo quarto, feliz por
ter a mãe perto. - Você estava tão longe... Além disso, pensei que se
envergonhasse do que tinha deixado acontecer, lembra?
- Claro! Minha mãe tem muito a ver com tudo isto. Ela vai ter de
explicar certas coisas. - François tremia.
- Você não devia estar fora da cama!
O rapaz sorriu, e foi o sorriso mais lindo que ela já tinha visto em
seus lábios.
- Concordo - ele murmurou, fazendo Dionne corar.
- Onde estão Louise e sua mãe? Não vi ninguém quando cheguei.
- Louise saiu e mamãe também não está. Foi passar uns tempos com
uma prima em Cannes. Eu... eu não podia mais suportá-la por perto
depois que voltei.
- Oh, François! - Dionne aconchegou-se a ele, transbordando de
amor.
- Mamãe vai aceitar você, vai ver. Mas, por que não me falou sobre o
menino quando fui até a casa da sua tia?
- Não sabia que você tinha terminado com Yvonne. Eu... eu tinha medo
de que, se soubesse sobre Jonathan, você quisesse tirá-lo de mim.
François sacudiu a cabeça.
- Em vez disso, perdi os primeiros dois anos da vida do meu filho...
Dionne beijou-o no pescoço.
- Podemos ter outros - sugeriu, e François agarrou seus cabelos
rindo.
- É claro que vamos ter. Mas, primeiro, quero saber tudo a respeito
desse St. Salvador muito especial. - Inclinou-se novamente até a
criança, achando-o muito especial mesmo, e obviamente fascinante. -
Mas por que você precisava de dinheiro? Era para ele? O menino está
bem, não está?
Dionne sorriu, ao perceber a ansiedade na sua voz. Ajoelhando-se
diante da criança, ela falou:
- Jonathan teve uma crise forte de bronquite, há dois meses mais ou
menos, e isso o deixou um pouco enfraquecido. Não é nada muito
sério! - Tentou acalmá-lo, vendo sua expressão assustada. - Mas o
médico achou que ele devia ir para um clima mais quente e seco
durante algum tempo. Eu ia levá-lo, assim que voltasse. Mas Clarry,
minha tia, quebrou a perna e não foi possível viajar imediatamente.
- Entendo. - François segurou o menino, que olhou para ele, curioso,
sem dúvida se perguntando quem seria aquele estranho. Mas ele não
se sentiu mal nos braços do pai; não tentou soltar-se, aparentemente
distraído com o relógio de pulso que François usava no braço
esquerdo.
O rapaz ficou de pé, balançando a criança nos braços, segurando-o
com ar possessivo. Depois, olhou novamente para Dionne.
- Detesto falar sobre coisas prosaicas, mas você tem de casar
comigo na igreja.
Ela observava os dois, sentindo lágrimas nos olhos. - Não tenho
nenhuma objeção. François acariciou seus cabelos.
- E rápido - ele acrescentou. - Quero minha esposa e meu filho.
Jonathan estava brincando com a corrente em seu pescoço, quando
ele a tirou e colocou-a no pescoço de Dionne.
A moça sentiu que ia chorar.
Colocando Jonathan no chão, François puxou-a, apertando-a com
amor.
- Je t’adore - murmurou, rouco, em seu ouvido. - Amo você. Sempre
amei, e aposto que sempre vou amar.
Dionne ficou apoiada nele por um momento, adorando aquela sensação
do corpo dele contra o dela.
- Eu não aguentaria, se acontecesse qualquer coisa que nos separasse
agora.
François beijou seu pescoço.
- Nada vai nos separar, prometo.
- Mas Yvonne..
- O que há com Yvonne?
- Ela vai voltar para cá?
- Provavelmente, por quê? Não está com ciúme, está? Dionne sorriu,
balançando a cabeça.
- Oh, não. Realmente, acho que deveria estar agradecida a ela. Se
não fosse por Yvonne, talvez eu não estivesse aqui agora.
- O que quer dizer com isso? - François virou-a para ele.
Aos poucos, Dionne explicou sobre a visita da outra à casa da sua tia.
- Pobre Yvonne! - ele falou finalmente. - Se ao menos soubesse o bem
que me fez!
Dionne tocou seus lábios com os dedos e ele deu um beijo cálido e
ardente na palma de sua mão.
- Gemma está aqui?
François confirmou, com um sorriso.
- Acho que está tirando sua sonequinha da tarde. Ela vai ficar tão
contente em vê-la! Estava resolvido que nós devíamos ficar juntos
novamente. Tentou fazer você ficar aqui antes, sabe disso?
- Sei de tantas coisas agora... - Dionne falou, e olhou para Jonathan,
que puxava sua saia. - Será que Louise poderia achar algum lugar
para Jonathan dormir esta noite, se decidirmos não voltar para o
hotel?
O sorriso de François abriu-se de uma forma possessiva.
Vai ter de achar - falou, com os olhos fixos em sua boca.
- Pelo menos, não tenho a menor intenção de deixar você sair...
FIM