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APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO

. Princípio lógico em matéria de aplicação espacial das normas penais


- Princípio da não-transconexão (Baptista Machado): a norma penal não se
aplica a factos com os quais não tem conexão (nomeadamente, conexão por
via do território ou da nacionalidade)
- Este princípio é axiologicamente (valorativamente) neutro: dele não se
retira a obrigação ou proibição da aplicação a factos ocorridos no território
nacional ou por nacionais
- Para se chegar a uma tal conclusão, é preciso a intervenção de princípios
axiológicos

. Princípios axiológicos base em matéria de aplicação espacial das normas


penais
- Princípio da harmonia internacional (princípio de política estadual)
- Princípio da necessidade da pena (prevenção geral, impacto na
comunidade onde o facto teve lugar: 18.º/2 CRP; princípio de política
criminal)
→ deles resulta a regra elementar em matéria de aplicação espacial das
normas penais: regra da obrigação da aplicação da lei portuguesa aos factos
ocorridos em território português – o chamado ‘princípio da territorialidade’ (4.º
CP e DL 254/2003)

. Princípios axiológicos complementares em matéria de aplicação espacial das


normas penais
- Princípio da tutela dos interesses nacionais (art. 5.º/1, a) e e), 2.ª parte)
→ resulta a regra subsidiária em matéria de aplicação espacial das normas
penais: regra da obrigação da aplicação da lei portuguesa aos factos ocorridos
fora do território português contra os interesses nacionais tutelados pelos
tipos taxativamente enumerados – o chamado ‘princípio da defesa dos interesses
nacionais’ (art. 5.º/1, a))
→ resulta a regra subsidiária em matéria de aplicação espacial das normas
penais: regra da obrigação da aplicação da lei portuguesa aos factos ocorridos
fora do território português contra os nacionais portugueses, em certas
condições taxativamente enumeradas – o chamado ‘princípio da nacionalidade
passiva’ (art. 5.º/1, e), 2.ª parte)
- Princípio da tutela dos bens jurídicos internacionais (art. 5.º/1, c))
→ resulta a regra subsidiária em matéria de aplicação espacial das normas
penais: regra da obrigação da aplicação da lei portuguesa aos factos ocorridos
fora do território português contra bens jurídicos internacionalmente
tutelados pelos tipos taxativamente enumerados – o chamado ‘princípio da
universalidade’
- Princípio da convivência internacional (associado ao princípio da não-
extradição de nacionais: o Estado ou extradita para ser punido, ou pune ele
próprio; art. 5.º/1, e), 1.ª parte, e b))
→ resulta a regra subsidiária em matéria de aplicação espacial das normas
penais: regra da obrigação da aplicação da lei portuguesa aos factos ocorridos
fora do território português realizados por nacionais portugueses, em certas
condições taxativamente enumeradas – o chamado ‘princípio da nacionalidade
ativa’ (art. 5.º/1, e), 1.ª parte)
→ resulta a regra subsidiária em matéria de aplicação espacial das normas
penais: regra da obrigação da aplicação da lei portuguesa aos factos ocorridos
fora do território português por portugueses contra os nacionais portugueses
– extensão do princípio da nacionalidade (art. 5.º/1, b))
Passos na resolução de um caso prático:

1) aferir se o facto foi praticado em território português, no sentido amplo do


termo permitido pela legislação (nos termos do art. 7.º do CP: se foi o lugar da
ação/omissão ou o lugar do resultado)
a) se sim, aplica-se a lei portuguesa (princípio da territorialidade, art. 4.º)

2) se não:
a) ver se se aplica a lei portuguesa pelos princípios complementares
(nomeadamente):
a1) princípio da defesa dos interesses nacionais (art. 5.º/a)) e da
nacionalidade passiva (5.º/1, e), 2.ª parte)
a2) princípio da universalidade (5.º/1, c))
a3) princípio da nacionalidade ativa (5.º/1, e), 1.ª parte) e respetiva
extensão (5.º/1, b))
b) ver se há exceções:
b1) não se aplica a lei portuguesa se o agente não tiver sido julgado no
país onde praticou o facto ou se tiver subtraído ao cumprimento da pena (art.
6.º/1)
b2) o agente é julgado pela lei do país do facto se esta for concretamente
mais favorável (art. 6.º/2)
c) ver se há exceção à execção: a aplicação da lei estrangeira mais favorável é
afastada (aplica-se a lei portuguesa) se caso do princípio da proteção dos
interesses nacionais – art. 5.º/1, a) – ou da extensão do princípio da
nacionalidade – art. 5.º/1, b) – (art. 6.º/3)

3) consequências concretas para o agente

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