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Peça teatral:

“A PEQUENA VENDEDORA DE FÓSFOROS”

(Peça teatral inspirada em conto homônimo de HANS CHRISTIAN ANDERSEN)

Adaptação e autoria teatral: André Luiz Raphael (Profirmeza / Monge Ocidental)

Contato: profirmeza@gmail.com / andreluix3000@gmail.com

PERSONAGENS

NARRADOR: apresentador e responsável pela contextualização da época para a plateia

EMILY: a pequena vendedora de fósforos

AGENOR: acendedor de lampiões e lamparinas de rua

BARÃO: membro da nobreza e responsável pela chefia dos serviços de iluminação pública da época

MORTE: o senhor da nevasca e do frio intenso

SILFOS: seres elementais; seres sobrenaturais; auxiliares da Morte e responsáveis pelo vento.

ONDINAS: seres elementais; seres sobrenaturais; auxiliares da Morte e responsáveis pela água e pela neve

ALZIRA: espírito da avó

ANTON: pai da vendedora de fósforos; viúvo, alcoólatra, violento e promove a exploração do trabalho infantil da
própria filha

Palhaço e artistas de circo: representados pelos silfos e ondinas

Professor(a) e alunos: ilusões causadas pelos silfos e ondinas

Garçom e demais serviçais: imitações realizadas pelos silfos e ondinas

*** Observações: Os Silfos e as Ondinas podem ser interpretados por dois, três ou mais atores. O figurino destes
personagens devem lembrar a vestimenta de fadas ou seres da natureza, em tons verdes, azuis, creme, bege,
marrom ou cinza claro. Um pouco de retalho, véu, lenço e brilho que lembrem folhagem, orvalho e granizo de um
período de inverno também seriam interessantes. É importante que a vestimenta indique que eles não são seres
humanos, mas sim, seres sobrenaturais.

Cenário: rua ou avenida de um antigo vilarejo do período vitoriano. Tanto os atores quanto o cenário devem
transmitir a sensação de frio intenso de um rigoroso inverno europeu, com muita neve e temperatura abaixo de
zero. Para o cenário, faz-se interessante, porém não obrigatório, o desenho de casas e árvores ao fundo com telhado
repletos de neve. Material que simule a neve também em cantos do palco para auxiliar na composição do cenário.

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Por fim, três postes com lamparinas, sendo que naquela época, a iluminação pública era feita desta forma, pois
ainda não havia sido inventada a energia elétrica.

NARRADOR: (dirigindo-se no proscêncio, ao centro) - Boa noite a todos (faz pequena pausa, olhando fixamente para
a plateia, e depois continua) A história que será apresentada aconteceu num tempo bem diferente dos tempos de
hoje. Naquele tempo, a energia elétrica ainda não havia sido inventada. A principal fonte de luz, energia e calor
vinha da queima do carvão, do azeite e do óleo de baleia, que alimentavam lamparinas como estas aqui atrás.
Naquela época, existia uma profissão que hoje já não existe mais: o acendedor de lampiões ou lamparinas. Este
profissional ia de poste em poste para acender e apagar as chamas que iluminavam as ruas e avenidas da cidade dia
após dia. (Aponta para os postes. Nisto, entra o acendedor com um cabo de vassoura com tuchos de papel laminado
ou celofane que simulem uma labareda na ponta)

ACENDEDOR: (encostando a labareda em cada lamparina e depois dizendo em alta voz) - Dia 31 de dezembro! 18
horas! E tudo corre bem! (Olhando para a plateia) Apesar do frio intenso, tudo corre bem. É como diria meu amigo
Jorge: “Lá vem o acendedor de lampiões da rua!/ Parodiar o sol e associar-se à lua”. Eh, eh, eh! (Enquanto ri, entra
do outro lado do palco, no plano central, logo após o proscênio, a jovem Emily com uma caixa repleta de fósforos)
Mas, o que temos aqui?

EMILY: - Fósforos! Olha os fósforos! Fósforos para ler um bom livro! Fósforos para papear com os amigos! Fósforos
para cozinhar! Fósforos para acender lampião e lamparina! Fósforos para esquentar a água do banho! (Faz um
aparte neste trecho para a plateia) Se é que alguém vai querer tomar banho neste frio, brrrrrr! (Volta a anunciar em
voz alta) Fósforos para queimar a lenha e aquecer a lareira! Olha os fósforos! Olha os fósforos!

ACENDEDOR: (Admirado em ver uma criança sozinha naquele horário e naquele frio) - Psiu! Psiu! Ô menina! Ô
menina!

EMILY: (Olhando em volta, avista o canteiro, dirige-se até ele e o cumprimenta) - Olá sr. Acendedor! Tudo bem?
Como vai o senhor?

ACENDEDOR: - Tô bem, obrigado. Mas, você tá doida, né menina?

EMILY: (Estranhando) - Eeeeeeeeeeeeu? Por quê?

ACENDEDOR: - O que uma criança faz uma hora dessa na rua, neste frio?

EMILY: - Tô vendendo fósforo, ué!

ACENDEDOR: - E esses pés descalços?

EMILY: - Perdi um pé do meu chinelo na neve e o outro um garoto me roubou.

ACENDEDOR: - Ah, esses garotos! Mas você não deveria estar na rua até agora.

EMILY: - Por quê?

ACENDEDOR: - Hoje não. A noite de hoje é muita perigosa.

EMILY: - Como assim?

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ACENDEDOR: (Coloca a mão no ombro da garota e a vira para o público) - Observe menina... (Após alguns segundos)
Está sentido esta brisa fria e cortante que resseca e racha os lábios?

EMILY: (Pensativa) - Tô sim.

ACENDEDOR: - Está vendo alguma estrela no céu?

EMILY: - Só as mais brilhantes. O céu parece que está embaçado.

ACENDEDOR: - Esta névoa que ofusca o brilho das estrelas é o hálito e os braços dela. E eles já estão envolvendo a
cidade.

EMILY: - Ela quem?

ACENDEDOR: - A velha senhora que visita a todos. A morte.

EMILY: - O senhor está me assustando.

ACENDEDOR: - Desculpe querida. Mas, se você não for para casa logo. Chegará uma terrível nevasca e você não
conseguirá mais voltar para sua casa. O frio ficará muito forte. E então, ela aparecerá. E quando ela aparece, coisas
ruins acontecem.

EMILY: - Estou com medo. Como o senhor sabe de tudo isso?

ACENDEDOR: - Eu acendi e apaguei todas as luzes desta cidade durante toda minha vida. Aprendi a observar os
sinais da natureza. Acredite, eu já vi acontecer antes. Você precisa ir embora.

EMILY: - Mas eu não posso!

ACENDEDOR: - Como assim não pode? Você não tem mãe?

EMILY: - Não conheci minha mãe. Ela morreu quando eu nasci. Mas, eu tenho uma foto dela neste broche, olhe.

ACENDEDOR: - É... ela devia ser encantadora (Analisando com maior atenção). Você tem os olhos dela.

EMILY: - É... minha avó também dizia isso!

ACENDEDOR: - E sua avó? Onde ela está? Deve estar preocupada, menina.

EMILY: - Minha avó faleceu no ano passado. Ela era muito legal. O senhor iria gostar muito dela.

ACENDEDOR: - Oh, sinto muito querida. Mas, e as outras pessoas de sua família? Quem cuida de você?

EMILY: - Eu moro com o meu pai.

ACENDEDOR: - Então vá pra casa. Seu pai deve estar preocupado.

EMILY: (Com ansiedade e medo) - Não posso! Não posso!

ACENDEDOR: - Não pode por quê?

EMILY: - Eu não vendi nenhum fósforo. Se eu chegar em casa sem nenhuma moeda, meu pai... (hesita), o meu pai...

ACENDEDOR: - O seu pai te bate!

EMILY: (Abaixando a cabeça com tristeza) - É.

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ACENDEDOR: - Mas que patife.

EMILY: - Hum. O senhor falou um palavrão.

ACENDEDOR: (Disfarçando a vergonha e a indignação) - Ops. É... falei sim. Desculpe. Se eu tivesse algum trocado. Eu
compraria alguns fósforos. Como eu queria lhe ajudar de alguma forma...

BARÃO: (Antes de entrar em cena, o barão já grita com impaciência) - Acendedor! Acendedor! (Avistando-o com a
garotinha) Miserável! É pra isso que você é pago! Pra ficar de trelelê com uma garotinha! A ala norte ainda não foi
acesa! Você quer que o marquês ou o próprio rei devore o meu fígado, seu imbecil!

ACENDEDOR: - Milorde, digníssimo senhor barão, me perdoe. Eu só estava tentando ajudar esta pequena jovem
nesta noite fria. Ela não tem onde ficar.

BARÃO: - E eu com isso, acendedor? Já tenho que dar abrigo e salário a um imprestável velho como você, que nem
sequer cumpre direito o próprio ofício. Minha cota de caridade já está mais que cumprida.

ACENDEDOR: - Senhor barão, tenha clemência. É apenas uma criança. Além do mais, um soberano bondoso,
consegue governar seus súditos com maior tranquilidade, senhor.

BARÃO: (Com arrogância) - Me responda uma coisa, caro acendedor. Esta menina é filha de um conde?

ACENDEDOR: Não senhor.

BARÃO: É filha de um marquês?

ACENDEDOR: Não senhor.

BARÃO: É filha de um duque?

ACENDEDOR: Também não, senhor.

BARÃO: - Então me diga (Gritando) De quem ela é filha?

ACENDEDOR: - Ela é filha de um pobre morador do subúrbio.

BARÃO: - Pra mim, ela não é filha de ninguém. Sou um homem muito ocupado. Não me amole com essas
insignificâncias e, além do mais... (A menina o interrompe)

EMILY: (Com inocência) - O senhor quer comprar fósforos pra me ajudar.

BARÃO: (Irritado por ter sido interrompido, porém, com ódio contido e muito sarcasmo, responde) - Guarde-os para
você, garotinha. Você precisará deles. De cada um deles! (Olhando para o acendedor) Agora, vamos, seu
imprestável. Senão, dormirá com os cães e os vira-latas da rua!

ACENDEDOR: (Sentando-se ao chão, tirando as botas e dando à menina) - Só um momento senhor...

BARÃO: - O que você está fazendo agora, seu poia? (Observando-o com curiosidade e desprezo)

ACENDEDOR: (Levantando-se e dando as botas à menina) - Tome, calce essas botas, elas vão ajudar a manter teus
pés aquecidos durante algum tempo.

EMILY: (Abraça-o com força) - Obrigado, sr. Acendedor. O senhor é um homem muito bom.

ACENDEDOR: - Agenor. Meu nome é Agenor.

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EMILY: - Obrigado, seu Agenor. Meu nome é Emily. (Vendo algo no céu) Olhe uma estrela cadente (Ambos olham. O
barão está tão preocupado olhando o relógio de bolso e os postes da cidade que nem enxerga a luz no céu)

ACENDEDOR: - Isto não é bom sinal, menina. Vá pra casa, antes que seja tarde. (Emily faz sinal com a cabeça
concordando. Depois senta-se e começa a calçar as botas)

BARÃO: - Você é um tolo, acendedor. Com os tostões que ganha, jamais conseguirá comprar outro par de botas. E
não espere que eu tenha indulgência e lhe compre outras. Isso não vai acontecer!

ACENDEDOR: - Estou ciente disso, senhor. Já caminhei bastante por estas ruas e avenidas. Meus pés já estão
calejados. Não se preocupe comigo, senhor.

BARÃO: - Ora francamente. Não estou preocupado com você, acendedor. Estou preocupado com os postes e as
lamparinas. Você precisa acender o resto da cidade para o réveillon, esqueceu? O rei quer a cidade toda iluminada e
alegre! Agora, mexa-se!

ACENDEDOR: - Sim senhor.

(O barão e o acendedor saem de cena. Emily fica sozinha no palco sentada, com as pernas esticadas, admirando suas
botinas. Assim que ela se levanta, começa a ventar. Ela se abraça e reclama de frio. Sons de vento e música suave,
porém triste).

EMILY: - Ai que frio! (Sopra as mãos. Cruza os braços e esfrega-os para afastar o frio) Pelo menos, meus pés ainda
estão quentinhos. (Pensativa) Eu não sei até quando. (Sente dor no estômago, passa a mão pela barriga em
movimentos circulares) Ai que fome! (Sente um cheiro e se aproxima de uma extremidade do palco, fingindo ter ali
uma janela) Hum, que cheirinho de... pato assado! (Sente outro cheiro e se dirige à outra extremidade do palco)
Hum... que cheirinho de bolo de baunilha. (Vai até o proscênio, bem no meio do palco) Hum... maionese com uva
passa. Nossa queeeeeeeee fome! (A luz recai apenas sobre Emily. O restante do palco está sob penumbra. Por trás
da menina, três ondinas cruzam o palco. Neste momento, ela assusta e sente mais frio)

EMILY: - Nossa! O que foi isso? Que calafrio! Que sensação ruim! (Emily vai até o fundo do palco. Dá as costas para a
plateia) Alô! Alôôô! Tem alguém aí? (Quando Emily chega ao fundo do palco, os silfos cruzam o palco de um lado a
outro, acompanhados por música de suspense e sons de vento e ventania. Assim que as personagens cruzam o palco,
Emily se vira, mas nada vê) Não teve graça! (Começa a tossir. E dirige-se até o meio do palco) Quem está aí! Apareça!

(Silfos e Ondinas - elementais da água e do vento - que, de acordo com diversas lendas mitológicas, acompanham as
tempestades, sendo responsáveis pelos fenômenos da natureza, começam a cruzar o palco de um lado a outro com
véus transparentes, representando vento ou granizo. Neste momento, som de ventania, ajuda a compor a cena. Após
cruzarem o palco de um lado a outro, eles fazem um semicírculo atrás de Emily, ficando esta ao centro. Aproximam-
se e afastam-se de mãos dadas. E sempre que se aproximam de Emily, eles sussurram a palavra “frio” diversas vezes,
aumentando o tom. A cada investida dos elementais, Emily repete a palavra “Chega” e vai aumentando o tom)

EMILY: (Lembrando-se subitamente) - Ah, os fósforos. Se eu acender um, ele vai me aquecer. Aí vai! (Finge acender
um fósforo. E quando faz isso, os silfos e as ondinas se transformam em outros personagens. Desta vez, eles se
transformarão em professores e alunos de uma escola. Emily e alguns dos personagens presentes sentam-se ao chão
em semicírculo e um encarna o papel de uma professora, sem trocar o figurino, para enfatizar o efeito de ilusão e
delírio da garota)

PROFESSOR: - Bom dia, classe!

TODOS: - Bom dia!

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EMILY: - Ah, meu Deus! Eu tô na escola!

PROFESSOR: - Muito bem, vamos estudar as quatro estações. Temos a primavera, o outono, o...

EMILY: - Eu! Eu! Eu!

PROFESSOR: (Com docilidade) - Fala Emily.

EMILY: - Verão! Verão! Verão!

PROFESSOR: - Isto mesmo, Emily! Mas faltou um!

PROFESSOR: - Faltou o... (Todos em cena, menos Emily, gritam histericamente) INVERNO! Ah! Ah! Ah! (Voltam a ser
aqueles personagens frios e tenebrosos, indicando que o fósforo se apagou)

EMILY: - Ah, meu Deus! O fósforo apagou! Vou acender outro! Vai! Vai! Vai! (Os elementais vão se aproximando)
Consegui! (Neste momento, as personagens – ondinas e silfos - comportam-se como se estivessem em um
restaurante e Emily é uma cliente que será atendida)

GARÇOM: - Em que posso serví-la, madam?

EMILY: - Num brinca! Eu tô num restaurante? Ai, me belisca pra ver se eu não tô sonhando!

GARÇOM: - Sim, madam. (O garçom prepara-se para beliscá-la e ela, com medo de que seja um sonho, interrompe o
ato do garçom)

EMILY: - Não! Não! Não é necessário. Rsrsrs. Vai que é sonho, né?!

GARÇOM: - Como quiser (Mudando de tom) E então, o que vai ser?

EMILY: - Hum... Deixe-me ver... O senhor tem pato assado?

GARÇOM: - Temos sim, madam.

EMILY: - E purê de batatas com rosbife?

GARÇOM: - Temos sim, madam.

EMILY: - Hum, delícia! E macarrão à parmegiana?

GARÇOM: - Sim, madam.

EMILY: - E rondelli de quatro queijos?

GARÇOM: - Sim.

EMILY: - Macarrão ao sugo?

GARÇOM: - Sim.

EMILY: - Almondega?

GARÇOM: - Sim.

EMILY: - Porpetone?

GARÇOM: - Sim. Madam.


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EMILY: - E... pizza, hamburguer, batata frita, pastel, panqueca, escondidinho, tutu de feijão, feijoada, taco,
strogonoff e... (Respira) Tapiocaaaaaaa.

GARÇOM: - Sim, ma-dam.

EMILY: - Ai, estou tão indecisa... (Pequena pausa. O garçom olha pra plateia com cara de reprovação e leve irritação)
O que o senhor sugere! (Neste ponto os outros personagens, que estão no palco fingindo atendimento a outros
clientes, já se posicionam atrás e bem próximos de Emily para assustá-la)

GARÇOM: (Todos, menos Emily) - Um sorvete bem GELADO! Ah! Ah! Ah! Bem frio! Congelante! Gelado! Gelado!
Gelado!

EMILY: - Ai, o fósforo apagou outra vez! Não! Não! Não! (Começa a tossir e tenta acender outro fósforo. Todos se
aproximam dela e ela grita) Pronto, consegui! (As outras personagens mudam de intenção e transformam-se em
personagens de circo, afastando-se do centro do palco e dirigindo-se as extremidades para deixar livre a cena central,
onde atuam Emily e o palhaço)

PALHAÇO: - Alô! Alô! Criançada! Bem-vindo ao circo do fósforo queimado!

EMILY: - Ah, meu Deus! Eu estou no circo!

PALHAÇO: - Hoje tem marmelada?

EMILY: (Todos respondem) - Tem, sim senhor!

PALHAÇO: - Hoje tem palhaçada?

EMILY: (Todos) - Tem, sim senhor!

PALHAÇO: - E o palhaço? O que é? O que é?

EMILY: (Todos) - É ladrão de mulher!

PALHAÇO: - Para o nosso próximo número, precisarei de um voluntário da plateia. Deixe me ver... (Percorre o palco,
procurando alguém. De repente para e aponta para Emily) Eu quero você!

EMILY: (Olha pra trás, pois não acredita que o palhaço tinha escolhido ela. Quando percebe que não tinha ninguém
atrás dela, ela volta-se para o palhaço e continua o diálogo, incrédula) - Eu? Tem certeza? Euzinha?

PALHAÇO: - Não garota. O elefante pink e voador que está bem atrás de você!

EMILY: (Inocente) - Onde? Onde?

PALHAÇO: (Olhando para plateia com cara de insatisfação) - Claro que é você, menina! Quem mais seria? Vem logo!

EMILY: (Levanta e vai correndo e batendo palminhas como uma foca que espera um peixe) - Ehhhhhhhh! Pronto! Tô
aqui!

PALHAÇO: - Silêncio todos! Vamos a nossa atração principal! Com vocês, o domador, o explorador, o terror... das
crianças... Ele... (Aponta para o centro do palco, onde aparece o pai da Emily - Anton, que entra com uma garrafa de
cachaça e com uma cinta dobrada na mão)

ANTON: (Ainda fora do palco, grita) - E-MI-LY!

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EMILY: (A menina estremece, pois parece reconhecer a voz) - Estou com medo! Esta voz me parece familiar! (Nisto
entra o pai de Emily, Anton)

ANTON: (Entra com uma garrafa de bebida alcoólica em uma das mãos e uma cinta na outra. Está cambaleante e
visivelmente percebe-se embriaguez neste personagem) - E-MI-LY! E-MI-LY! Onde você estava?

EMILY: (Com muito medo e encurvada) - Estava na rua vendendo os fósforos como você mandou, papai!

ANTON: (Dá uma cintada no chão como se fosse um domador de leões) - Ahhhhhh! Mentirosa!

EMILY: (Grita de susto) - Ahhhhhh! É verdade, paizinho! Eu tava vendendo fósforos!

ANTON: (Desconfiado, com raiva e sarcasmo) - Cadê o meu dinheiro?

EMILY: (Com mais medo ainda) - Não consegui vender nenhum, papai!

ANTON: (Dá outra chicotada no chão) - Ahhhhhhh! Miserável! (Olhando os fósforos queimados pelo chão) E estes
fósforos queimados pelo chão?

EMILY: (Apavorada) - Fui eu quem os acendeu! Eu estava com muito frio!

ANTON: (Com ódio) - Desperdiçando meus fósforos! Agora você vai apanhar! (Avança pra cima da menina com a
cinta, mas é contido pela personagem Morte, que segura o braço dele e com um gesto o derruba ao chão)

EMILY: (Cobre o rosto com as mãos) - Não! Vovóóóóóoó! (A garota chama a avó no desespero)

MORTE: (Sério, firme e sereno) - Já chega de ilusões. O show acabou. (O pai de Emily rasteja para trás e sai do palco)

EMILY: (Continua ajoelhada ao chão) - Quem é você? O que quer de mim?

MORTE: - Quem sou eu? Quem sou eu? Olha menina, há muitas respostas para esta pergunta. Para os egípcios, eu
sou Anubis; para os gregos, Hades ou Thanatos; para os mexicanos, Katrina... Uns dizem que sou o início do fim;
outros dizem que sou o fim do sofrimento; ou a luz no fim do túnel... Mas você pode simplesmente me chamar de...
Morte.

EMILY: (Surpresa) - Hã! (Pensativa) Mas, o que você quer de mim?

MORTE: - O que eu quero de você?! Não, querida, você confundiu tudo. Permita-me esclarecer tuas ideias, minha
cara! Primeiro: Eu não vim atrás de você. Foi você que veio ao meu encontro quando decidiu permanecer neste frio
intenso. A cada minuto que passa, teu sangue congela mais e mais. Teu corpo está ficando frio. A vida está fugindo
de seu corpo. E é isto que acontece quando eu me aproximo.

EMILY: (Sentindo muito frio) - Mas eu não quero! Não vou permitir isto!

MORTE: - E me diga: como você pretende vencer uma nevasca e o frio que consome o teu corpo? Com um par de
botas e alguns fósforos? (Enquanto fala, a Morte anda em círculos em torno de Emily)

EMILY: - Eu quero tentar...

MORTE: - Como? Não dá pra vencer as leis da natureza. Entregue-se! Pare de resistir! Lutar é inútil!

EMILY: - Eu não quero morrer sozinha neste frio! Eu não quero acabar assim!

MORTE: - Você não está em posição de escolha! Aceite seu destino! A hipotermia está enfraquecendo seu coração.
Deixe o sono eterno te embalar! Venha comigo, criança!

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EMILY: (Fraquejando) - Eu ainda tenho esperança...

MORTE: (Impaciente) - Venha, menina teimosa! (Tenta puxá-la pela mão, mas ela se desvencilha)

EMILY: (Reunindo todas as suas forças, risca o último fósforo e grita) - A esperança é a última que morreeeeee!

(Uma luz intensa e vibrante recai sobre o palco e oscila, sugerindo instabilidade, energia e tempestade. Quando, a
iluminação volta ao normal, a avó de Emily aparece na outra extremidade do palco e diz o nome da neta com ternura
e afeto)

ALZIRA: - Emily.

EMILY: - Vovó? (Esfrega os olhos) Não tô acreditando! Vovó!

ALZIRA: - Minha netinha querida! (A avó se dirige ao centro do palco e a neta corre para abraça-la. Ambas se
enlaçam em um demorado abraço)

EMILY: (Com emoção e felicidade) - Vovó, que saudade da senhora!

ALZIRA: (Com carinho e ternura) - Minha neta! Como eu te amo!

EMILY: - Como eu queria te abraçar de novo! E poder ouvir tua voz! Nunca esqueci aquela canção que você cantava
pra eu dormir.

ALZIRA: - Aquela assim: “Mandei caiar meu sobrado / Caiei, caiei, caiei / Mandei caiar de amarelo / Caiei, caiei, caiei”

EMILY: - Ai, como era bom, vovó. Por que você partiu, vovó? Por que você morreu? Por que você me deixou só?

ALZIRA: - Minha neta, todo o ser vivo deste planeta, seja planta, animal ou ser humano, está aqui apenas de
passagem! Todos nós somos poeira das estrelas! E quando nosso corpo fraquejar e morrer, é para as estrelas que a
nossa alma retorna! Eu jamais te abandonei, minha neta. Eu sempre estive ao seu lado, mesmo sem você perceber,
querida.

EMILY: - Como assim, vovó?

ALZIRA: - É como o casulo de uma lagarta. A lagarta é o corpo, a borboleta é a alma. Eu me tornei algo que você não
poderia tocar ou ver, mas sempre pode e poderá sentir. Meu coração sempre esteve ligado ao seu. Entendeu?

EMILY: - Mais ou menos, vovó. (Em outro tom) Vovó, eu não quero me separar de você. Eu quero morar com você.

**** FINAL CONVENCIONAL, DE ACORDO COM O DESFECHO DO CONTO DE HANS CHRISTIAN ANDERSEN****

ALZIRA: - Se é o que deseja, pode vir. Nada te impede, minha flor?

EMILY: (Abraça novamente a avó com muita força) - Ah, vovó! Como eu estou feliz com este teu abraço gostoso e
quentinho! (Sente algo estranho) Vovó? Vovó? Você está ficando fria! Você está ficando gelada! Vovó, fale comigo!
Vovó! Vovóóóóóóóó! (A avó se distancia para fora do palco. Blecaute. A luz volta à cena e Emily está sozinha agora
com a Morte)

MORTE: (Caminhando ao encontro da garota) - Vamos! Já esperei tempo demais! Sua hora chegou! (A Morte ergue
a foice para ceifar a vida de Emily, caminha em direção à garota e se prepara para o ato)

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EMILY: (Riscando os fósforos) - Não! Eu quero minha vó! Eu quero a minha vó! (Emily une as mãos, fecha os olhos,
faz posição de lótus e diz calmamente, porém, com firmeza) Eu quero a minha avó! (A Morte está prestes a baixar a
foice, mas é interrompida por Alzira)

ALZIRA: (Com serenidade e firmeza) - Afaste-se de minha neta, Sra Morte.

MORTE: (Perplexa) - Mas como é possível? Todos os fósforos se apagaram. E você ainda continua aí.

ALZIRA: (Serena e dócil) - Ela não precisa mais de fósforos. A luz, que se acendeu dentro dela, nem a mais violenta
das nevascas poderá apagar. O amor é uma chama que nem a morte consegue extinguir. Ela agora é minha
responsabilidade. Pode partir agora. Creio que você ainda tem muita colheita para fazer. Deixe-nos a sós, por favor.

MORTE: - Sendo assim, presumo que meus serviços não são mais necessários por aqui.

ALZIRA: - Como eu disse. Ela foi, é e sempre será minha responsabilidade.

MORTE: - Compreendo. Neste caso, adeus. (A morte dá um sinal e todos os silfos e ondinas saem de cena)

ALZIRA: - Adeus, velha amiga. (Alzira se aproxima de Emily e quando toca nela, esta desfaz a posição de lótus e
aninha a cabeça no colo da avó)

EMILY: (Com voz tremula e fraca. A mão de Emily toca o rosto da avó) - Vovó, você voltou!

ALZIRA: - Eu nunca parti, minha neta. Eu sempre estive aqui.

EMILY: - Agora eu acredito nisso, vovó. Vovó eu estou morrendo.

ALZIRA: - Não, minha neta. A morte é apenas uma ilusão. Você está renascendo. Está se tornando uma linda
borboleta e juntas voaremos para sempre polinizando um imenso jardim de estrelas, onde não existe tristeza,
solidão ou frio. Neste jardim sempre é Primavera.

EMILY: (Sussurando) - Vovó...

ALZIRA: - Sim, querida.

EMILY: - Acho que agora, entendi a metáfora da borboleta.

ALZIRA: - Que bom, minha neta. Que bom que você agora compreendeu tudo.

EMILY: - Sim... Te amo, vovó.

ALZIRA: - Te amo, Emily. Sonhe com os anjos, minha linda.

(A avó beija a testa de Emily, Emily fecha os olhos e a luz calmamente se apaga)

FIM DA PEÇA

FINAL ALTERNATIVO: DIFERENTE DO DESFECHO DO CONTO DE HANS CHRISTIAN ANDERSEN

ALZIRA: - Se é o que deseja, pode vir. Nada te impede, minha flor? Mas você tem certeza de que partir comigo é
realmente o que você deseja?

EMILY: (Desanimada) - Estou cansada dessa vida, vovó. Não tenho escola! Passo frio e fome! Meu pai me bate
quando não consigo vender fósforos! Estou cansada.
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ALZIRA: - Mas isto não é vida! Viver é algo totalmente diferente disso!

EMILY: - Mas o que eu posso fazer? Sou apenas uma criança!

ALZIRA: - É exatamente isso que o mundo dos poderosos quer que você diga. Que é indefesa, que é incapaz, que é
fraca, que é apenas uma criança. Mas você pode mudar sua história!

EMILY: - Mas como?

ALZIRA: - Acredite! Não desista! Lute! Sempre há algo ou alguma coisa que está ao nosso alcance! Portanto,
Descubra o que está em seu alcance e persista! Insista nisso, sem desanimar! E então, você verá sua realidade se
transformar!

EMILY: (Abraça novamente a avó com muita força) - Ah, vovó! Como eu estou feliz com este teu abraço gostoso e
quentinho! (Sente algo estranho) Vovó? Vovó? Você está ficando fria! Você está ficando gelada! Vovó, fale comigo!
Vovó! Vovóóóóóóóó! (A avó se distancia para fora do palco. Blecaute. A luz volta à cena e Emily está sozinha agora
com a Morte)

MORTE: (Caminhando ao encontro da garota) - Vamos! Já esperei tempo demais! Sua hora chegou! (A Morte ergue
a foice para ceifar a vida de Emily, caminha em direção à garota e se prepara para o ato)

EMILY: (Riscando os fósforos) - Não! Eu quero minha vó! Eu quero a minha vó! (Emily une as mãos, fecha os olhos,
faz posição de lótus e diz calmamente, porém, com firmeza) Eu quero a minha avó! (A Morte está prestes a baixar a
foice, mas é interrompida por Alzira)

ALZIRA: (Com serenidade e firmeza) - Afaste-se de minha neta, Sr. Morte.

MORTE: (Perplexa) - Mas como é possível? Todos os fósforos se apagaram. E você ainda continua aí.

ALZIRA: (Serena e dócil) - Ela não precisa mais de fósforos. A luz, que se acendeu dentro dela, nem a mais violenta
das nevascas poderá apagar. O amor é uma chama que nem a morte pode extinguir. Ela agora é minha
responsabilidade. Pode partir agora. Creio que você ainda tem muita colheita para fazer. Deixe-nos a sós, por favor.

MORTE: (Revoltada) - Mas a hora dela chegou! Não podemos alterar o curso da natureza!

ALZIRA: - Enquanto houver vida, ainda há esperança! Lutar pela vida até o último segundo de existência, faz parte da
natureza.

MORTE: - Como vocês humanos são tolos! Quero abreviar o sofrimento desta pobre criança, mas ela prefere
definhar pouco a pouco! Pois bem, farei como querem, então. Vou ficar aqui e esperar o corpo de sua neta ser
consumido pelo frio intenso, até a último suspiro doloroso e sofrido dela. E depois vou levá-la comigo. (Com
sarcasmo) Vai ser um espetáculo curioso de observar! Pena que não trouxe a minha pipoca! Faz tempo que a morte
não se senta para apreciar a vida se extinguir lentamente (Nisto, entra um dos elementais com um saco de pipoca e
entrega à Morte) Oh, pra mim, muito obrigado! (Começa a comer)

EMILY: - Vovó, eu estou com medo! Não estou aguentando mais de frio. Estou com muito sono.

ALZIRA: - Resista, minha neta. Lembre-se: sempre há algo que podemos fazer! Pense, pense!

MORTE: - Isto mesmo, Emily! Esfrie a cabeça! Fique com a cuca fresca! Ah! Ah! Ah!

ALZIRA: - Não dê bola pra ele, Emily! Concentre-se! Concentre-se!

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EMILY: - Sempre a algo que está a nosso alcance! Sempre a algo que está a nosso alcance! (Tendo uma ideia) Já sei.
Posso fazer uma bola de neve e apagar a lamparina do poste. Isso vai chamar a atenção de alguém. (Faz um bola de
neve e joga no poste, mas erra) Droga! Estou com pouca força.

ALZIRA: - Tente de novo, Emily. Não desista.

EMILY: (Faz uma bola de neve e lança na lamparina. A neve apaga a labareda) – Yes! Consegui! (Faz outra e mira
durante um tempo fazendo suspense. Joga e acerta) Consegui. (Mas, cai e fica de joelhos ao chão) Não aguento mais.

MORTE: - Tic, tac, tic, tac... O tempo está acabandoooooo!

ALZIRA: - Não desista, Emily!

EMILY: - Só me resta pedir “Socorro”. Socorro! (A cada vez que repete a palavra “Socorro”, Emily a repete em tom
mais baixo até cair desfalecida ao chão) Socorro! (Pequena pausa) Socorro! (Outra pausa) Socorro! (Última pausa)
So-cor-ro! (Deita no palco)

ALZIRA: - Não! Emily! Resista! Acorde, Emily! Não se entregue!

MORTE: - Bem, acho que agora é a minha deixa! (Levanta-se pega a foice e aproxima-se da menina. Mas, de repente,
Agenor aparece em cena, gritando o nome dela)

AGENOR: (Gritando) - Emily! Oh meu Deus, Emily! (Corre até ela. Coloca-a sentada. Retira o casaco e põe sobre ela)

EMILY: (Com fraqueza) - Seu Agenor, que bom te ver... Desculpe pelas lamparinas... Fui eu quem as apagou...

AGENOR: - Oh, não ligue pra isso, menina. Se você não as tivesse apagado, o barão não teria me enviado para
acendê-las. E eu jamais te encontraria. Ele fica do alto da varanda de sua majestosa casa, só observando as luzes da
cidade. É só isso que importa pra ele! Vamos. Vou te levar pra um lugar quentinho!

EMILY: - Mas, sr. Agenor, e as luzes. O sr. Não vai acendê-las!

AGENOR: - Não, menina. Tua vida é mais importante que estas luzes artificiais. E eu não vou errar de novo com você.
Não vou deixar o barão me impedir de fazer o que é certo! Se ele quiser, ele mesmo que venha acender suas luzes
(Mudando de tom) Agora vamos! (Sai carregando a menina ou ajudando a mesma a caminhar. Alzira fica com um
sorriso bem visível, enquanto a Morte fica com cara de desaprovação. Quando Agenor e Emily saem do palco, a
Morte grita)

MORTE: (Grita) - Maldição! Eu odeio finais felizes! Odeio!

ALZIRA: (Faz uma dancinha) - Yahoo! Yahoo! Quem foi que vencer a parada! (Imita o gesto de vitória do atleta Bolt)
Quem foi? Quem foi? Quem foi?

MORTE: - Bem, presumo que meus serviços não são mais necessários por aqui. Me recuso a ficar mais um minuto
aqui para ser trollado por você, sua hater.

ALZIRA: - Hater não! Eu sou lover! E é como eu disse. Ela foi, é e sempre será minha responsabilidade (Mudando de
tom) Agora, preciso voltar para as estrelas. Adeus, velha amiga (Alzira sai do palco)

MORTE: - Vamos embora. Não somos mais necessários por aqui. (A morte dá um sinal e todos os silfos e ondinas
saem de cena, ficando apenas a Morte) Bem, fazer o que, né! Um dia é da caça, o outro é do caçador! É a vida! (De
repente, escuta alguém gritando e entrando em cena enfurecido)

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BARÃO: - Acendedor! Acendedor! Seu imprestável! Mando ele fazer um simples trabalho de acender um poste! Mas
nem isso ele é capaz de fazer! Miserável! Mas ele vai ver só! Vou colocá-lo no olho-da-rua! Onde está este poste
agora? Hunf! Se quer algo bem feito, faça você mesmo!

MORTE: (Com sorriso no olhar. Fazendo um aparte para a plateia) - Ora, ora, ora, mas o que temos aqui? Sabe, acho
que posso me acostumar com este lance de “final feliz!” (Esfrega as mãos) Ô sr. Barão! Barão!

BARÃO: - Pois não, cavalheiro?

MORTE: - Notei que o senhor mencionou que está a procura de um poste apagado.

BARÃO: (Com excitação) - Sim! Sim! Estou sim!

MORTE: - Venha comigo que eu lhe mostro onde estão. Olhe... (Mostra a foice ao barão) Tenho até um acendedor,
caso o senhor precise.

BARÃO: (Examinando com certo desprezo) - Um tanto estranho, mas deverá servir. E então, vamos aos postes.

MORTE: - Vamos então. O caminho é por alí. Por gentileza, o senhor primeiro.

BARÃO: - Obrigado. (O barão passa e sai de cena)

MORTE: - Disponha. (A morte esfrega as mãos novamente e diz) Como disse, acho que posso me acostumar com
este negócio de “final feliz” (Faz um dancinha, dá um beijo na foice e sai de cena)

FIM DA PEÇA

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