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SIMULADO PREPARATÓRIO PARA O ENEM- LITERATURA

Se for possível, manda-me dizer: E se te lembras do brilho das marés


– É lua cheia. A casa está vazia – De alguns peixes rosados
Manda-me dizer, e o paraíso Numas águas
Há de ficar mais perto, e mais recente E dos meus pés molhados, manda-me dizer:
Me há de parecer teu rosto incerto. – É lua nova –
Manda-me buscar se tens o dia E revestida de luz te volto a ver.
Tão longo como a noite. Se é verdade HILST, H. Júbilio, memória, noviciado da paixão. São
Que sem mim só vês monotonia. Paulo: Cia das Letras, 2018.

1- Falando ao outro, o eu lírico revela-se vocalizando um desejo que remete ao


A) ceticismo quanto à possibilidade do reencontro.
B)tédio provocado pela distância física do ser amado.
C)sonho de autorrealização desenhado pela memória.
D)julgamento implícito das atitudes de quem se afasta.
E)questionamento sobre o significado do amor ausente.
O pavão vermelho

Ora, a alegria, este pavão vermelho, É o próprio doge a se mirar no espelho.


está morando em meu quintal agora, E a cor vermelha chega a ser sonora
Vem pousar como um sol em meu joelho neste pavão pomposo e de chavelho.
quando é estridente em meu quintal a aurora. Pavões lilases possui outrora.
Clarim de lacre, este pavão vermelho Depois que amei este pavão vermelho,
sobrepuja os pavões que estão lá fora. os meus outros pavões foram-se embora.
É uma festa de púrpura. E o assemelho COSTA, S. Poesia completa: Sosígenes Costa.
a uma chama do lábaro da aurora. Salvador: Conselho Estadual de Cultura, 2001.

2.Na construção do soneto, as cores representam um recurso poético que configura uma imagem
com a qual o eu lírico

A)revela a intenção de isolar-se em seu espaço.


B)simboliza a beleza e o esplendor da natureza.
D)experimenta a fusão de percepções sensoriais.
E)metaforiza a conquista de sua plena realização.
F)expressa uma visão de mundo mística e espiritualizada.

Na sua imaginação perturbada sentia a natureza toda agitando-se para sufocá-la. Aumentavam as
sombras. No céu, nuvens colossais e túmidas rolavam para o abismo do horizonte… Na várzea, ao
clarão indeciso do crepúsculo, os seres tomavam ares de monstros… As montanhas, subindo
ameaçadoras da terra, perfilavam-se tenebrosas… Os caminhos, espreguiçando-se sobre os campos,
animavam-se quais serpentes infinitas… As árvores soltas choravam ao vento, como carpideiras
fantásticas da natureza morta… Os aflitivos pássaros noturnos gemiam agouros com pios fúnebres.
Maria quis fugir, mas os membros cansados não acudiam aos ímpetos do medo e deixavam-na
prostrada em uma angústia desesperada.
ARANHA, J. P. G. Canaã. São Paulo: Ática, 1997.

3.No trecho, o narrador mobiliza recursos de linguagem que geram uma expressividade centrada na
percepção da

A)relação entre a natureza opressiva e o desejo de libertação da personagem.


B)confluência entre o estado emocional da personagem e a configuração da paisagem.
C)prevalência do mundo natural em relação à fragilidade humana.
D)depreciação do sentido da vida diante da consciência da morte iminente.
E)instabilidade psicológica da personagem face à realidade hostil.
Ela nasceu lesma, vivia no meio das lesmas, mas não estava satisfeita com sua condição. Não
passamos de criaturas desprezadas, queixava-se. Só somos conhecidas por nossa lentidão. O rastro
que deixaremos na História será tão desprezível quanto a gosma que marca nossa passagem pelos
Pavimentos. A esta frustração correspondia um sonho: a lesma queria ser como aquele parente
distante, o escargot. O simples nome já a deixava fascinada: um termo francês, elegante, sofisticado,
um termo que as pessoas pronunciavam com respeito e até com admiração. Mas, lembravam as
outras lesmas, os escargots são comidos, enquanto nós pelo menos temos chance de sobreviver. Este
argumento não convencia a insatisfeita lesma, ao contrário: preferiria exatamente terminar sua vida
desta maneira, numa mesa de toalha adamascada, entre talheres de prata e cálices de cristal. Assim
como o mar é o único túmulo digno de um almirante batavo, respondia, a travessa de porcelana é a
única lápide digna dos meus sonhos. SCLIAR, M. Sonho de lesma. In: ABREU, C. F. et al. A prosa do mundo. São Paulo:
Global, 2009.
4.Incorporando o devaneio da personagem, o narrador compõe uma alegoria que representa o
anseio de

A)rejeitar metas de superação de desafios.


B)restaurar o estado de felicidade pregressa.
C)materializar expectativas de natureza utópica.
D)rivalizar com indivíduos de condição privilegiada.
E)valorizar as experiências hedonistas do presente.

Certa vez minha mãe surrou-me com uma corda nodosa que me pintou as costas de manchas
sangrentas. Moído, virando a cabeça com dificuldade, eu distinguia nas costelas grandes lanhos
vermelhos. Deitaram-me, enrolaram-me em panos molhados com água de sal – e houve uma
discussão na família. Minha avó, que nos visitava, condenou o procedimento da filha e esta afligiu-se.
Irritada, ferira-me à toa, sem querer. Não guardei ódio a minha mãe: o culpado era o nó. RAMOS, G.
Infância. Rio de Janeiro: Record, 1998.

5.Num texto narrativo, a sequência dos fatos contribui para a progressão temática. No fragmento,
esse processo é indicado pela

A)alternância das pessoas do discurso que determinam o foco narrativo.


B)utilização de formas verbais que marcam tempos narrativos variados.
C)indeterminação dos sujeitos de ações que caracterizam os eventos narrados.
D)justaposição de frases que relacionam semanticamente os acontecimentos narrados.
E)recorrência de expressões adverbiais que organizam temporalmente a narrativa.
Antiode

Poesia, não será esse no verso, como as


o sentido em que manhãs no tempo.
ainda te escrevo: Flor é o salto
flor! (Te escrevo: da ave para o voo:
flor! Não uma o saltofora do sono
flor, nem aquela quando seu tecido
flor-Virtude – em disfarçados urinóis). se rompe; é uma explosão
Flor é a palavra posta a funcionar,
flor; verso inscrito como uma máquina,
uma jarra de flores. MELO NETO, J. C. Psicologia da
composição Rio de Janeiro Nova Fronteira, 1997
6.A poesia é marcada pela recriação do objeto por meio da linguagem, sem necessariamente
explicá-lo. Nesse fragmento de João Cabral de Melo Neto, poeta da geração de 1945, o sujeito lírico
propõe a recriação poética de

A uma palavra, a partir de imagens com as quais ela pode ser comparada, afim de assumir novos
significados.
B um urinol, em referência às artes visuais ligadas às vanguardas do início do século XX.
C uma ave, que compõe, com seus movimentos, uma imagem historicamente ligada à palavra
poética.
D uma máquina, levando em consideração a relevância do discurso técnico-científico pós-Revolução
Industrial. E um tecido, visto que sua composição depende de elementos intrínsecos ao eu lírico.
Estrada
Esta estrada onde moro, entre duas voltas do E tudo tem aquele caráter impressivo que faz
caminho, meditar:
Interessa mais que uma avenida urbana. Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por
Nas cidades todas as pessoas se parecem. um bodezinho manhoso.
Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente. Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela
Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma. voz dos símbolos,
Cada criatura é única. Que a vida passa! que a vida passa!
Até os cães. E que a mocidade vai acabar.
Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai!
7.A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de significados profundos a partir delementos
do cotidiano. No poema, o lirismo presente no contraste entre campo e cidade aponta para

A desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos centros urbanos, o que revela sua nostalgia
com relação à cidade.
B a percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada pela observação da aparente inércia da vida
rural.
C a opção do eu lírico pelo espaço bucólico como possibilidade de meditação sobre a sua juventude.
D a visão negativa da passagem do tempo, visto que esta gera insegurança. E a profunda sensação
de medo gerada pela reflexão acerca da morte.

Primeiro surgiu o homem nu de cabeça baixa. Deus veio num raio. Então apareceram os bichos que
comiam os homens. E se fez o fogo, as especiarias, a roupa, a espada e o dever. Em seguida se criou
a filosofia, que explicava como não fazer o que não devia ser feito. Então surgiram os números
racionais e a História, organizando os eventos sem sentido. A fome desde sempre, das coisas e das
pessoas. Foram inventados o calmante e o estimulante. E alguém apagou a luz. E cada um se vira
como pode, arrancando as cascas das feridas que alcança. BONASSI, F. 15 cenas do descobrimento de Brasis.
In: MORICONI, Í. (Org.). Os cem melhores contos do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. 8.A narrativa enxuta e
dinâmica de Fernando Bonassi configura um painel evolutivo da história da humanidade. Nele, a
projeção do olhar contemporâneo manifesta uma percepção que

A recorre à tradição bíblica como fonte de inspiração para a humanidade.

B desconstrói o discurso da filosofia a fim de questionar o conceito de dever.

C resgata a metodologia da história para denunciar as atitudes irracionais.


D transita entre o humor e a ironia para celebrar o caos da vida cotidiana.
E satiriza a matemática e a medicina para desmistificar o saber científico.

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