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D I S C I P L I N A Energia

Fontes alternativas de energia

Autores

José Ferreira Neto

Luiz Carlos Jafelice

aula

14
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Ministro da Educação
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Ivana Lima
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Revisora das Normas da ABNT
Verônica Pinheiro da Silva

Divisão de Serviços Técnicos


Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

Ferreira Neto, José.


   Energia: Interdisciplinar  /  José Ferreira Neto, Luiz Carlos Jafelice.  – Natal, RN: EDUFRN, 2007.
   336  p.: Il.

   1.  Energia.  2. Ondas.  3. Campo elétrico.  4. Campo Magnético.  I. Jafelice, Luiz Carlos.  II. Título

ISBN  978-85-7273-377-9
CDD  333.79
RN/UF/BCZM 2007/53 CDU  620.91

Copyright © 2007  Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da
UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Apresentação

D
ando continuidade ao nosso estudo sobre as fontes energéticas, enfatizaremos, nesta
aula, as fontes alternativas de energia. Apresentaremos, inicialmente, as formas nas
quais a energia se encontra disponibilizada por tais fontes, para, em seguida, estudar
as tecnologias de transformação em outras formas de energia, bem como as maneiras de
utilização destas pelo consumidor final (indústria, comércio, pessoa física).

Trataremos, então, das fontes ditas alternativas, tais como: energia eólica, energia
solar térmica, energia solar fotovoltaica, energia das ondas do mar e energia das
marés. Daremos destaque, também, aos possíveis problemas ambientais decorrentes
da disseminação dessas fontes de energia. Como veremos, estes praticamente inexistem
– quando a implantação dessas fontes é corretamente conduzida –, em comparação àqueles
causados por outros tipos de fontes energéticas.

Ao longo desta aula, sempre que for conveniente, nos basearemos em situações-
problema (por meio de exemplos e de atividades) que envolvam os processos tecnológicos
empregados na utilização dessas fontes de energia. Ao resolvê-las, você poderá verificar seu
aprendizado em relação ao conteúdo estudado, interpretando e criticando os resultados.

Objetivos
Reconhecer e compreender as principais fontes
1 alternativas de energia.

Descrever situações presentes no mundo vivencial e


2 nos equipamentos tecnológicos que funcionam a partir
das fontes alternativas de energia.

Realizar previsões numéricas sobre a produção e


3 consumo de energias alternativas a partir de situações-
problema do cotidiano.

Aula 14  Energia 


Fontes alternativas de energia

N
esta aula, iniciaremos o estudo das fontes alternativas de energia. Dizemos “fontes
alternativas” em contraponto às fontes tradicionais, como os combustíveis fósseis
(petróleo, gás e carvão mineral), a hidroeletricidade e a energia nuclear. Tendo em
vista que ainda não se tem perspectiva de implementação no país de fontes energéticas
alternativas como energia do hidrogênio, pilhas a combustível e magneto-hidrodinâmica,
não as abordaremos nesta disciplina. Os interessados, contudo, poderão obter maiores
informações sobre estas em Tolmasquim (2003) e em outras fontes bibliográficas
impressas ou eletrônicas.

Como já afirmamos em aulas anteriores, as fontes tradicionais estão se esgotando


rapidamente e, além disso, contribuem de forma acentuada para os impactos ambientais,
associados à poluição do ar, do solo e dos recursos hídricos.

Por outro lado, as fontes alternativas de energia, além de altamente renováveis,


produzem baixos impactos ambientais e são tidas como veículos importantes na busca do
desenvolvimento sustentável, com a capacidade de atingir objetivos econômicos e sociais
necessários ao reordenamento da forma como vivemos.

Nesse sentido, as fontes alternativas de energia terão participação cada vez mais
relevante na matriz energética mundial. Estimativas apontam que tais fontes devem
contribuir com cerca de 10% da demanda total, no final da próxima década. Devido à sua
grande variedade, daremos ênfase àquelas que se apresentam com maior potencial de
aproveitamento em nosso país.

 Aula 14  Energia


Energia eólica

A
energia eólica é a fonte energética proveniente do aproveitamento da energia cinética
dos ventos, cujo agente de renovação é uma parcela da radiação solar recebida
continuamente pala Terra. Dessa forma, podemos dizer que os ventos representam,
de forma indireta, uma das diversas nuanças da energia solar.

Isso se explica porque, quando regiões vizinhas absorvem quantidades diferentes da


radiação solar incidente, cria-se entre elas uma diferença de temperatura. Em conseqüência,
também é produzida uma diferença de pressão, ficando a região de maior temperatura com
menor pressão e a de menor temperatura com maior pressão, de forma que o ar da região
de maior pressão tende a se deslocar para a de menor pressão, até que o equilíbrio seja
alcançado. É esse ar em movimento que chamamos de vento.

A transformação da energia cinética dos ventos em outras formas de energia e na


realização de trabalho não é um fato atual. A história nos conta que os egípcios utilizavam
a força dos ventos para a navegação no rio Nilo há cerca de 3.000 a.C., conforme
ilustramos na Figura 1.

Figura 1 - Embarcação egípcia antiga

Nesse tipo de embarcação, o vento realiza trabalho sobre as velas, fornecendo-lhes


energia cinética para que todo o conjunto possa se deslocar com sua carcaça, carga e
passageiros.

Com a evolução tecnológica, foram inventados os moinhos de vento com a finalidade


de moer grãos, bombear água e realizar trabalho mecânico em serras e tornos nas serrarias.
Nesses moinhos (Figura 2), a energia dos ventos que incidem sobre suas pás é transformada

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em energia cinética de rotação das mesmas, que, por sua vez, têm seu eixo de rotação
acoplado, através de engrenagens, aos eixos de pedras de moagem (mós), bombas de sucção,
serras ou tornos mecânicos, possibilitando, assim, a realização de determinado trabalho.

Figura 2 - Moinhos de vento

Na energia eólica, o conteúdo energético é disponibilizado na forma de energia cinética dos


ventos, que, para se transformar em energia útil, geralmente deve passar por uma seqüência
de transformações. Por exemplo, analisemos tal seqüência em um moinho de grãos:

energia cinética de translação (do vento) → energia cinética de rotação (das


pás e do eixo do moinho) → energia cinética de rotação da mó (pedra de moer)
→ trabalho mecânico (na moagem dos grãos).

Atividade 1
Descreva a seqüência de transformações de energia que ocorre em um moinho
de vento utilizado para bombear água.

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Atividade 2
Na seqüência de transformações de energia em um moinho de grãos,
exemplificada antes da atividade 1, o último estágio envolve “trabalho mecânico
(na moagem dos grãos)”.

Por que há “trabalho mecânico” na moagem de grãos? O que está realizando


trabalho sobre o quê, nesse caso? (Se necessário, reveja o conceito de trabalho
em Física, estudado nas aulas 3 e 4, Trabalho I e Trabalho II, respectivamente.)

sua resposta

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A partir do invento dos geradores elétricos, pequenos cata-ventos (Figura 3(a)) foram
utilizados para acionar o rotor de um gerador e assim produzir energia elétrica. Esses
pequenos fornecedores de energia elétrica foram de grande utilidade por várias décadas,
quando, normalmente, eram utilizados em fazendas, casas de campo e de praia, ou em
comunidades isoladas. Porém, com a implantação das grandes redes de distribuição de
energia elétrica, eles foram gradativamente desativados.

a b c

Figura 3 - (a) Pequeno cata-vento; (b) aerogerador moderno; (c) fábrica de aerogeradores.

Com o prenúncio da exaustão das reservas mundiais de combustíveis fósseis e


a enorme demanda de energia da sociedade moderna, intensas atividades de pesquisa e
desenvolvimento estão sendo realizadas na busca de sistemas de aproveitamento da energia
dos ventos que sejam, ao mesmo tempo, eficientes e de baixo custo.

Chamados de aerogeradores (Figura 3(b)), os sistemas modernos que transformam


energia dos ventos em energia elétrica apresentaram grande desenvolvimento e tiveram suas
dimensões aumentadas (Figura 3(c)). Por exemplo, no ano de 1985, o diâmetro dos rotores
era de 15 metros e estes produziam 50 kW de potência, enquanto no ano 2000 já existiam
rotores que alcançavam 112 metros de diâmetro e produziam 4.500 kW de potência.

A potência transmitida para um aerogerador depende da velocidade do vento, da


área das pás e de sua inclinação em relação à direção do vento. Fazendo uso da mecânica
newtoniana, dos fatores geométricos e eletromecânicos, chega-se à seguinte expressão para
o cálculo da potência que pode ser extraída de uma turbina eólica:

1
P = ρ · CP · η · A · v 3
2

onde: ρ é a densidade do ar, CP é o coeficiente de potência, η é a eficiência de conversão


eletromecânica, A é a área do rotor e v é a velocidade frontal do vento.

 Aula 14  Energia


O parâmetro CP, também denominado coeficiente de Betz, representa a eficiência
com que a turbina pode extrair energia de determinado fluxo de ar. Teoricamente, seu valor
máximo é 0,593, ou seja, apenas 59,3 % da energia contida no vento pode ser extraída pela
turbina do aerogerador.

O gráfico da Figura 4 mostra a evolução mundial da capacidade instalada para sistemas


eólicos de produção de energia durante os anos 1990 e uma previsão para os primeiros
anos deste século.

50

40
Capacidade acumulada (GW)

30

20

10

0
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006

Atual Previsão feita em 1999 Previsão feita em 1997

Figura 4 - Evolução e previsão da capacidade instalada

Esses dados de evolução e previsão mostram que tem aumentado significativamente,


em termos mundiais, o movimento de adesão ao uso da energia eólica como uma fonte
ecologicamente correta e importante na produção de energia elétrica.

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Energia solar térmica

Q
uando nos referimos à energia solar térmica, estamos tratando do aproveitamento
da energia solar por dispositivos que transformam diretamente a radiação solar
em energia térmica. Nos processos de aproveitamento da energia solar em energia
térmica, são utilizados vários tipos de dispositivos, tais como os coletores planos, coletores
concentradores, secadores de grãos e destiladores de água.

Daremos ênfase, então, ao estudo dos coletores planos por serem os mais utilizados em
nosso país, predominantemente, em instalações para aquecimento de água que funcionam
com temperaturas inferiores a 60° C. Nesse sentido, são encontrados em residências,
edifícios, escolas, piscinas e pré-aquecimento industrial. Uma vez que tais coletores geram
a energia térmica que antes era provida pelo uso de eletricidade, diz-se que esse processo
é entendido como geração virtual de energia elétrica – perceba que nesses casos não há,
de fato, a transformação de energia solar em energia elétrica, apenas ocorre que a energia
solar coletada é utilizada para desempenhar tarefas (como o aquecimento da água de um
banho, por exemplo), que normalmente são realizadas às custas de energia elétrica (como o
aquecimento da resistência elétrica, em um chuveiro elétrico, por exemplo).

As instalações que utilizam coletores planos são relativamente simples do ponto de


vista tecnológico. Em geral, são constituídas basicamente do coletor, canos e reservatórios,
conforme ilustramos na Figura 5(a), e geralmente são instalados nos telhados das residências,
conforme Figura 5(b).

a b
3
10

Fonte: Tolmasquim (2003, p. 244).


6 8
2
4
5 7

Figura 5 - Sistema termosolar de pequeno porte

A instalação representada na Figura 5(a), anterior, é constituída dos seguintes


componentes:

1)  coletor solar plano;

2) caixa externa com isolação térmica para minimizar as perdas de calor para o
meio ambiente;

 Aula 14  Energia


3)  caixa d’água comum;

4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10)  encanação, registros, saídas e entradas de água.

Esse tipo de instalação funciona como um sifão: a água fria da caixa d’água (3) desce
através do cano (4) e entra na caixa externa (2) através da entrada (5) e, pela saída (7),
desce para o coletor. Ao ser aquecida, a água torna-se menos densa e, então, sobe para a
parte superior da caixa externa, pela entrada (6). Pela saída (8), a água quente é liberada
para o consumo. O cano (10) serve para evitar excesso de pressão no sistema e a saída (9)
é utilizada quando se deseja usar água fria.

O componente principal desse tipo de sistema é o coletor solar, cuja finalidade é absorver
a energia proveniente do Sol na forma de onda eletromagnética e transformá-la em energia
térmica, a qual, então, é usada para elevação da temperatura da água. O coletor consiste
essencialmente de uma serpentina feita com um tubo metálico pintado de preto, através do
qual circula a água a ser aquecida. Tal serpentina é soldada a uma chapa metálica, denominada
placa coletora, também pintada de preto. O conjunto (serpentina + placa coletora) é colocado
numa caixa isolada termicamente na parte inferior e tampada com vidro na parte superior,
por onde penetra a radiação solar.

A Figura 6 mostra a disposição dos principais componentes de um coletor solar,


que são:

n   serpentina (tubos para circulação do líquido);

n   placa coletora (chapa de metal enegrecida);

n   isolante térmico (isolamento de fibra de vidro);

n   tampa de vidro (lâmina de vidro).

Tampa de vidro

Placa coletora

Serpentina

Isolante térmico

Caixa

Figura 6 - Principais componentes de um coletor solar

Aula 14  Energia 


Nesse coletor, a serpentina, por onde passa a água a ser aquecida, serve para aumentar
a área de contato com a placa coletora e a área a ser exposta à radiação solar, enquanto suas
superfícies pintadas com tinta preta têm a finalidade de absorver o máximo de radiação;
assim, todo o conjunto absorve de forma mais eficiente a energia vinda do Sol. Como a
serpentina e a placa coletora são feitas de metal, que é um bom condutor de calor, a energia
da radiação absorvida é transmitida com facilidade para a água. A cobertura tem a função
de reter o calor no interior do coletor, uma vez que o vidro é transparente às parcelas do
infravermelho próximo ao visível da radiação solar, porém, absorve eficientemente a
radiação infravermelha emitida pelo aquecimento da serpentina e da placa coletora, que é
então reemitida, predominantemente, para o interior do coletor, constituindo uma forma de
efeito estufa que ajuda no aquecimento da água.

A Figura 7 mostra, comparativamente, a evolução do mercado de coletores solares


instalados na Europa e no Brasil durante a década de 90 do século passado.

1800

1600
Área Instalada por ano (mil m2)

1400

1200

1000

800

600

400

200

0
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
Ano Brasil Eu

Figura 7 - Evolução do mercado anual de coletores solares

Como podemos perceber nesse gráfico, a participação brasileira na implantação de


sistemas para aproveitamento direto da energia solar com fins de aquecimento ainda é bastante
insignificante, apesar de todos os “alardeados” esforços divulgados nas últimas décadas.

10 Aula 14  Energia


Atividade 3
Faça uma pesquisa sobre secadores de grãos e destiladores de água que
funcionam à base de energia solar.

Descreva, de forma resumida, o funcionamento de cada um desses


dispositivos.

sua resposta

Aula 14  Energia 11


Energia solar fotovoltaica

A
energia solar fotovoltaica constitui uma forma que aproveita a energia solar para
transformá-la diretamente em energia elétrica. Essa forma de aproveitamento
começou na década de 50 do século passado, quando as células solares foram
utilizadas como sensores de radiação luminosa. Com a corrida espacial, as pesquisas e
o desenvolvimento dessa forma de produção de energia tiveram grande sucesso, quando
passou a ser a principal fonte energética dos satélites artificiais, atendendo às suas
necessidades operacionais e de comunicação.

As células fotovoltaicas são feitas de placas delgadas de materiais denominados


semicondutores, que têm como principal característica a propriedade de ser isolante a baixas
temperaturas e condutor de eletricidade na temperatura ambiente.

No estado tecnológico atual das células solares, as mais eficientes são aquelas
fabricadas de silício monocristalino (Si). No entanto, ainda são fabricadas células solares
de vários materiais, como silício amorfo (a-Si), telureto de cádmio (Cd-Te) etc. A Figura
8, a seguir, mostra a evolução da eficiência das células solares fabricadas com materiais
diferentes, desde 1950 até o ano 2000.

25
Si
CIGS
20 CdTe
a-Si
Cu2S
15
Eficiência (%)

10

0
1950 1960 1970 1980 1990 2000
Ano

Figura 8 - Evolução da eficiência das diversas tecnologias de células solares

Observe que a eficiência das células de Si evoluiu nesse período, indo de 1%, no início
da década de 1950, até chegar aos 25%, no ano 2000; e ainda manteve um patamar em torno
de 8% de eficiência absoluta sobre aquelas fabricadas com outros materiais.

A Figura 9(a) mostra, de forma esquemática, uma célula solar construída de silício
monocristalino. Nela, podemos destacar os elementos descritos logo a seguir.

12 Aula 14  Energia


a b

Fonte: <http://www.cresesb.cepel.br/tutorial/tutorial_solar.htm#item-4>.
Contato Frontal

Silicio tipo “n”

Acesso em: 05 nov. 2007.


Junção “pn”

Contato de Base Silicio tipo “p”

Figura 9 - (a) Esquema de célula solar; (b) célula solar real.

n  Silício tipo “n” – placa de silício monocristalino na qual foi adicionada, como impureza,
uma pequena percentagem de átomos de fósforo, (P), resultando no chamado silício
tipo-n, o qual, devido às impurezas colocadas, deixa de ser mau condutor de eletricidade
e passa a conduzir eletricidade pela presença de elétrons livres.

n  Silício tipo “p” – placa de silício monocristalino na qual foi adicionada, como impureza,
uma pequena percentagem de átomos de boro, (B), resultando no chamado silício tipo-
p, o qual, devido às impurezas colocadas, deixa de ser mau condutor de eletricidade e
passa a conduzir eletricidade pela ausência de elétrons, que, neste caso, são chamados
buracos e possuem carga positiva. Nesse tipo de condução elétrica, “os buracos se
movem” em sentido contrário ao dos elétrons.

n  Junção “pn” – região da união do silício tipo-n e tipo-p, onde elétrons se misturam com
os buracos, isto é, onde cada elétron livre – antes do lado “n” – neutraliza um buraco
do lado p. Logo, o acúmulo de elétrons do lado p e a falta deles do lado n cria uma
diferença de potencial, que cresce até chegar a um determinado valor e permanece
constante quando o equilíbrio é alcançado.

n  Contato frontal – camada metálica depositada sobre o lado “n” da célula; apresenta a
forma de grade para que a radiação incidente possa penetrar e atingir a junção. Tem como
função fazer a ligação elétrica da célula com o dispositivo que se quer energizar.

n  Contato de base – camada metálica depositada sobre o lado “p” da célula; apresenta
a forma de grade para que a radiação incidente possa penetrar e atingir a junção. Tem
como função fazer a ligação elétrica da célula com o dispositivo que se quer prover de
energia elétrica.

Aula 14  Energia 13


Tal célula tem, na realidade, o aspecto da Figura 9(b) e converte a radiação solar em
eletricidade da seguinte forma: quando a junção “pn” é exposta à radiação solar, parte da
radiação será absorvida pelos elétrons gerando pares elétron-buraco; como na junção existe
uma diferença de potencial elétrico e, portanto, um campo elétrico diferente de zero, logo, as
cargas geradas pela radiação serão aceleradas, gerando, assim, uma corrente elétrica através da
junção, que dá origem a uma nova diferença de potencial, chamada de efeito fotovoltaico.

Devido a essa diferença de potencial, quando os contatos da célula forem conectados


por fios a dispositivos elétricos – como lâmpadas, baterias e resistências –, haverá uma
circulação de corrente elétrica através dos mesmos. Tal corrente poderá: acender a lâmpada,
carregar a bateria ou elevar a temperatura da resistência.

A potência gerada pela célula fotovoltaica pode ser determinada, facilmente, a partir das
medidas da diferença de potencial e da corrente fornecida ao dispositivo, bastando para isso
fazer o produto dessas duas grandezas, isto é:

P = V · I,

onde V é a diferença de potencial e I,a corrente elétrica.

Uma célula solar típica de silício é capaz de fornecer uma diferença de potencial elétrico
de 0,5 volts e gerar uma corrente entre 30 e 60 miliampères. Para se obter maiores tensões
(diferença de potencial), várias dessas células são associadas em série. Por exemplo, para
carregar uma bateria de 12 volts, em geral, são associadas em série cerca de 30 células,
formando um painel solar, conforme mostrado na Figura 10(a); e quando se quer que a carga
seja rápida, isto é, que uma maior corrente elétrica seja fornecida à bateria durante a carga,
associa-se em paralelo vários desses painéis, conforme vemos na Figura 10(b).

a b

Figura 10 - (a) Painel solar; (b) associação de painéis solares.

14 Aula 14  Energia


Para acionar motores ou aquecedores resistivos, deve-se saber quais as necessidades
de potência de tais aparelhos, para, então, determinar o número de células a serem colocadas
em série, em cada painel, e o número de painéis que devem ser ligados em paralelo.

Atividade 4
Descreva a seqüência de transformações de energia que ocorre desde a captação
por uma célula fotovoltaica até seu consumo por um televisor.

sua resposta

Aula 14  Energia 15


Energia das ondas e das marés
Nos mares e oceanos, temos duas importantes fontes alternativas de energia: as ondas
e as marés, que são naturalmente renováveis e, quando aproveitadas para produzir energia,
causam baixos impactos ambientais.

As ondas do mar são originadas pelos ventos, os quais, por sua vez, têm origem na
radiação solar, conforme já explicamos no início desta aula. Já as marés – movimento
periódico das águas do mar, no qual estas se elevam e se baixam em relação a um nível de
referência fixado no solo – são produzidas pela ação gravitacional conjunta da Lua e do Sol
e, ainda, pelo movimento de rotação da Terra.

As ondas do mar são caracterizadas pelo movimento de subida e descida da água


perpendicularmente à crista das ondas e, portanto, possuem energia cinética, a qual pode
ser transformada em outras formas de energia.

Pode-se chegar, segundo Tolmasquim (2003, p. 486), a

uma expressão para o fluxo de energia por unidade de frente de onda. Usando a teoria
linear de onda (o que é em geral justificado enquanto a onda não quebra) e considerando
a onda em águas profundas (profundidade H maior do que a metade do comprimento
de onda, λ/2 ), tem-se que o fluxo de energia de uma onda senoidal, por unidade de
frente de onda, é dado por:

ρ · g2 2 ,
P = H ·T
32π

onde ρ é a massa específica da água, g é a aceleração da gravidade, H é a altura da


onda – ou seja, a distância vertical entre a crista e o cavado da onda –, e, finalmente, T
é o período desta onda. (TOLMASQUIM, 2003, p. 486).

A partir dessa expressão, podemos fazer estimativas para o fluxo de energia das ondas
de uma determinada região da costa brasileira. Porém, essas estimativas serão apenas de
utilidade teórica, pois, ainda segundo Tolmasquim (2003), quando é levado em conta o mar
real, onde características das ondas como altura, período e direção não são consideradas
constantes, mas variáveis aleatórias, a potência, por unidade de comprimento da frente de
ondas, deve ser determinada pela expressão:

2
P (kW/m) = 0, 49HS · TS ,

onde HS é a altura significativa e TS o período médio das ondas.

16 Aula 14  Energia


Exemplo 1
Considere que na costa do Rio de Janeiro os valores típicos para as ondas são: altura
média, H, da ordem de 1,5 metros e período das mesmas de aproximadamente 8 segundos.
Determine o valor teórico do fluxo de energia, por unidade de frente de onda.

Considere a massa específica da água igual a 1.000 kg/m3 e a aceleração da gravidade


g igual a 9, 8 m/s2.

Solução
Dado que o fluxo de energia por unidade de frente de onda pode ser calculado por:
ρ · g2 2
P = H ·T,
32π

substituindo os valores dados, temos:

1.000 · 9, 82
P = · 1, 52 · 8 = 17.204, 6 W/m ∼
= 17, 2 kW/m.
32 · 3, 14

Atividade 5
Determine a potência, por unidade de comprimento da frente de ondas, para os
dados do exemplo 1, levando em conta a situação de mar real.

Aula 14  Energia 17


Note que, ainda segundo Tolmasquim (2003, p. 487), “[...] a vinte metros acima da
superfície do mar, a energia eólica é de 2-6 vezes mais densa que a energia solar. [...] a
energia das ondas é cerca de 5 vezes mais densa que a energia eólica e portanto de 10-30
vezes mais densa que a energia solar.” Daí, podemos considerar tanto os ventos quanto as
ondas como “formas concentradas de energia solar”.

Os dispositivos tecnológicos utilizados para transformar a energia das ondas em


energia elétrica são os conversores hidro-mecânicos, Figura 11, que vêm sendo estudados
e aperfeiçoados a partir dos resultados de pesquisas em andamento.

b
a
entrada de ar saída de ar

Turbina
gerador

Deslocamento
das ondas

Figura 11 - Conversores hidro-mecânicos

O conversor da Figura 11(a) funciona da seguinte forma:

n  o movimento oscilatório das ondas produz uma variação para cima e para baixo do nível

da água na parte submersa do conversor; tal movimento provoca variações de pressão


no ar confinado na câmara;

n  com essas variações de pressão, o ar é forçado a passar pela turbina pneumática e gira
seu eixo, que está conectado a um gerador de energia elétrica;

n  um sistema de válvulas controlado de forma sincronizada permite que seja gerada
energia tanto nas compressões como nas rarefações do ar contido na câmara.

Já o conversor da Figura 11(b) funciona da seguinte maneira:

n  o movimento oscilatório das ondas produz um movimento oscilatório na plataforma


articulada, a qual, através de seu braço, move um pistão, ou mesmo o eixo, de um
gerador elétrico.

18 Aula 14  Energia


O aproveitamento das marés para fins energéticos, geralmente, é obtido através da
construção de uma barragem junto ao mar, conforme mostrado na Figura 12.

Figura 12 - (a) Esquema de uma barragem; (b) barragem para aproveitamento da energia das marés.

Esse tipo de barragem funciona da seguinte forma:

n  na maré alta, devido ao desnível da água entre o mar e a barragem, a água passa,
através de uma turbina, do mar para a barragem, enchendo seu reservatório;

n  a turbina tem seu eixo ligado a um gerador que, por sua vez, produz energia elétrica;

n  na maré baixa, devido ao desnível da água entre a barragem e o mar, a água passa, através

de uma turbina, da barragem para o mar, esvaziando o reservatório da barragem;

n  a turbina tem seu eixo ligado a um gerador que, por sua vez, produz energia elétrica.

Como sabemos, o Brasil possui um litoral com mais de 9.000 quilômetros de extensão.
Considerando-se apenas as regiões Sul e Sudeste, por exemplo, estima-se que exista um
potencial energético de cerca de 40 GW. Dessa forma, entendemos que o aproveitamento
da energia das ondas do mar é uma das fontes mais promissoras dentre aquelas que serão
responsáveis pelo suprimento de energia em nosso país.

Aula 14  Energia 19


Resumo
Nesta aula, a exemplo da aula anterior, também demos continuidade ao nosso
estudo sobre as fontes energéticas. Aqui, contudo, exploramos as potencialidades
das chamadas fontes alternativas de energia, estudando, em particular, as
seguintes: eólica, solar térmica, solar fotovoltaica e as provenientes das ondas
do mar e das marés. Analisamos algumas tecnologias de transformação dessas
fontes em outras formas de energia e as maneiras como são utilizadas pelo
consumidor final. Vimos que as fontes alternativas de energia praticamente não
causam problemas ambientais, em comparação com aqueles causados pelo uso
de outros tipos de fontes energéticas. Estudamos algumas situações-problema
no exemplo e nas atividades propostas, visando reforçar seu aprendizado do
ponto de vista da quantificação e da contextualização de situações cotidianas
ou outras, envolvendo a região e o país.

Auto-avaliação
Descreva a seqüência de transformações de energia que ocorre em um cata-vento
1 utilizado para gerar energia elétrica, desde a energia cinética dos ventos até o
consumo da energia por uma lâmpada.

Considere que na costa do Rio Grande do Norte os valores típicos para as ondas
2 são: altura média, H, da ordem de 1,2 metros, e período, T, de aproximadamente
6 segundos.

a)  Determine o valor teórico do fluxo de energia por unidade de frente de onda.

b) Determine a potência, por unidade de comprimento da frente de ondas, levando


em conta a situação de mar real neste caso (use para Hs e Ts os mesmos valores
fornecidos, respectivamente, para H e T no enunciado desta questão).

c) Escolha um dispositivo, ou um aparelho, elétrico ou eletrônico, que você tenha


em sua casa (ventilador, rádio, lâmpada etc.) e obtenha a potência dele (em
geral, ela pode ser obtida das próprias especificações inscritas no dispositivo,
ou no aparelho, pelo fabricante).

20 Aula 14  Energia


Suponha que você pudesse dispor de um conversor hidro-mecânico que lhe
forneceria a potência estimada no item anterior para uma frente de onda de 100
metros de comprimento.
Calcule a potência de que você disporia neste caso.

d) Avalie se a potência calculada no item anterior seria suficiente ou não para


garantir o pleno funcionamento do dispositivo (ou aparelho) elétrico (ou
eletrônico) que você escolheu no item anterior. Exponha sua avaliação e a
conclusão a que você chegou.

Mencionamos que as regiões Sul e Sudeste podem, em conjunto, fornecer um


3 potencial energético de cerca de 40 GW, devido às marés.

a) Estime o número médio de watts que pode ser fornecido por quilômetro,
devido às marés, no trecho costeiro das regiões mencionadas.

Dica: você precisará encontrar em alguma fonte bibliográfica – impressa ou


eletrônica – qual a extensão costeira conjunta das regiões Sul e Sudeste do país.

b) Suponha que essa mesma média é a que pode ser obtida através de toda a
costa brasileira e estime o potencial energético total que o Brasil pode extrair
das marés.

c) Compare o valor estimado no item anterior com o consumo projetado para o


Brasil no ano 2020 (busque tal informação em alguma fonte bibliográfica).

Suponha que: i) no ano 2020, o país já tivesse construído 1.000 km de barragens


para aproveitamento da energia das marés; e ii) a eficiência média desse
aproveitamento correspondesse a 60% daquele referente aos dados fornecidos
anteriormente para as regiões Sul e Sudeste.
Nessa situação, a energia fornecida pelas marés corresponderia a qual porcentagem
da energia total consumida pelo Brasil em 2020?

d) Reflita e responda: na sua opinião, em função das estimativas que obteve no


item anterior, o Brasil deve investir na pesquisa e construção de barragens
para aproveitamento da energia das marés ou não? Justifique sua reposta.

Aula 14  Energia 21


2.

sua resposta
a)

b)

c)

d)

3.

a)

22 Aula 14  Energia


b)

c)

d)

Aula 14  Energia 23


Vamos retomar alguns conceitos importantes que trabalhamos no início desta disciplina
e relacioná-los com os conteúdos estudados nesta aula.

1) A esta altura da disciplina, quase em seu final, é oportuno você rever a proposta inicial
dela e consolidar aquilo que fomos construindo ao longo das aulas.

Agora, você deve estar bem mais familiarizado(a), por exemplo, com o conceito de
energia em Física e teve oportunidade de exercitar em várias situações o olhar da energia.
Reveja o que denominamos “olhar da energia” na aula 1 (Energia em Física).

Faça um relato sucinto para descrever o tópico “fontes alternativas de energia”, que
estudamos na presente aula, segundo a perspectiva de um “olhar da energia”.
sua resposta

24 Aula 14  Energia


2) Retome o mapa conceitual que trabalhamos no início desta disciplina. Em particular,
analise novamente o mapa conceitual 3 (é o último mapa da aula 2 – Formas e conservação
da energia), o qual era, até aquele momento, o mapa conceitual mais “completo” que
montamos em nosso estudo.

Copie aquele mapa conceitual no espaço a seguir.

a) Reflita sobre as formas fundamentais e as formas derivadas de energia destacadas


nesse mapa e sua relação com o trabalho físico.

b) Identifique quais daquelas formas de energia classificamos, nas últimas aulas, como
fontes tradicionais e quais identificamos como fontes alternativas.

Note que não há nenhuma relação direta entre tipos de “formas” e tipos de “fontes”.

Se você não conseguir identificar algumas dessas fontes naquele mapa, inclua o que
estiver faltando no mapa que você reproduziu no espaço anterior.

c) Analise onde e como você incluiria nesse mapa os combustíveis fósseis (petróleo, gás e
carvão mineral) e a hidroeletricidade. Faça essa inclusão no mapa anterior.

Aula 14  Energia 25


d) Inclua também neste as relações que estariam faltando entre certas formas de energia.

Por exemplo, analise como você relacionaria energia solar e energia eólica nesse mapa.
Mas essa energia solar é a térmica ou a fotovoltaica? Como você diferenciaria essas duas
últimas formas no mapa?

e) Analise como você incluiria nesse mapa as outras fontes alternativas de energia (das
ondas do mar, do hidrogênio, pilhas a combustível e magneto-hidrodinâmica) e, em
seguida, faça tais inclusões.

Se tiver dificuldades nesta atividade, então, antes de consultar o instrutor ou o professor,


busque nas aulas desta disciplina os conceitos envolvidos. Estude-os novamente. Aproveite
a oportunidade para fazer uma revisão geral desses conceitos – afinal, o conceito de energia
e os outros a ele associados são fundamentais em Física, uma vez que nos possibilitam
desenvolver uma nova forma de interpretar o mundo físico, através de uma visão unificadora:
o olhar da energia. Nesse sentido, convém que você se familiarize com esses conceitos e
conheça-os profundamente, tanto em teoria como em suas contextualizações na prática.
Após essa revisão, faça o que está sendo pedido nesta atividade.

f) Explique a seguir as inclusões que você fez (de forma diagramática) no mapa anterior e
o porquê de tê-las feito dessa forma (e não de outra).

Referências
ACIOLI, José de Lima. Fontes de energia. Brasília: Ed. UnB, 1994.

BRANCO, Samuel Murgel. Energia e meio ambiente. São Paulo: Moderna, 2000.

CARMONA, Humberto de Andrade. Energia e movimento. Fortaleza: Demócrito Rocha,


2002.

TOLMASQUIM, Maurício Tiomno (Org.). Fontes renováveis de energia no Brasil. Rio de


Janeiro: Interciência, 2003.

YOUNG, H.; FREEDMAN, R. A. Física IV: ótica e física moderna: Sears e Zemansky. 10. ed.
São Paulo: Addinson Wesley, 2003.

26 Aula 14  Energia


Anotações

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Anotações

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