Você está na página 1de 11

Medicina da memória ancestral

do povo Tabajara de Ipueiras

texto: AURITHA TABAJARA


ilustração: CARMÉZIA EMILIANO
A nossa ancestralidade

Ensina em tempo real

A cuidar da mãe-terra.

Da planta medicinal,

Como deve ser usada,

Depois de ser cultivada,

Na floresta ou no quintal.

Cada povo tem um jeito,

De ensinamento e cultura,

Muito próprio de viver,

Da caça à agricultura,

Memória e tradição,

E da minha região,

Falo da planta que cura.

No nascer de uma criança,

A parteira vai preparar

3
A água com ervas morna.

Os cueiros defumar,

Camomila ou alecrim,

Pra banhar o curumim,

A imunidade aumentar.

Depois de quarenta dias,

Com pé́ e moleira coberta,

Umbigo com a jalapa,

A lamparina desperta,

Fogo é a primeira visão

Em vez da televisão,

Crescer com a mente aberta.

E depois da quarentena,

Na cama, em sua maloca,

A mãe só cuida do filho,

Carne assada e tapioca,

4
Pirão mole da farinha,

Depois caldim da galinha,

Alimento da mandioca.

Se a criança sente dor,

Hortelã̃ pra melhorar.

Se é febre ou quebranto

Pra rezadeira rezar.

Se está nascendo dente,

A mãe toma aguardente,

E resulta no amamentar.

Quando a menina menstrua,

Sete dias sem sair,

Não come caça do mato,

Pra cólica não contrair,

Só́ toma banho com erva,

Corpo e saúde conserva

Com aroeira e cajuí.

5
A casca do jatobá́

Feito o suco de limão,

Mel, babosa e uva-tinto

Servem pra inflamação,

Noni com vinho do bom,

Bate até́ ficar no tom,

Limpa e cura o pulmão.

Se leva corte no corpo,

Azeite pra estancar,

Da mamona pequenina,

Que faz parar de sangrar,

Bota a ameixa de molho,

Derruba até́ o piolho,

Que é pra desinflamar.

6
7
FOTO: ACERVO PESSOAL

Auritha Tabajara, mulher indígena, nordestina, cearense, escritora


cordelista, contadora de histórias e terapeuta holística. É apaixonada pela
escrita desde os seis anos de idade, quando aprendeu a ler. Sua primeira
obra, Magistério indígena em verso e prosa, lançada em 2007, foi adotada
como leitura obrigatória pela Secretaria de Educação do Ceará. Escreveu
ainda Toda luta história do povo Tabajara (2008), Diário de Auritha (2009),
Coração na aldeia pés no mundo (2018), obra reconhecida com o selo FNLIJ
2019, pela qual despontou no mundo literário como a primeira escritora
cordelista indígena, A sagrada pedra encantada (2019), A grandeza Tabajara
(2019) e A lenda de Jurerê (2020). Tem vários textos em cordel publicados
em antologias indígenas e revistas on-line, tais como Maria Firmino dos
Reis, IHU e ACROBATA. Participou de muitos congressos nacionais e
internacionais, como do Projeto Circuitos dos Saberes Indígenas, promovido
pelo Itaú Cultural.

8
FOTO: ACERVO PESSOAL

Carmézia Emiliano nasceu na comunidade indígena de Maloca do Japó,


em Normandia, Roraima, em 1960. Mudou-se depois, em 1990, para a capital
Boa Vista. Começou a pintar em 1992, ao visitar uma exposição de pinturas e
ser tocada profundamente pelo universo das cores. Naquela ocasião, a artista,
que mora no estado de Roraima, reconheceu que a pintura era o canal ideal para
perenizar o rico imaginário de sua etnia, o povo Macuxi. Desde então, a artista
plástica faz no mínimo duas exposições por ano — eventos que extrapolam
o estado de Roraima e o Brasil, já ocorrendo no exterior. O reconhecimento
da artista plástica é traduzido pelas premiações em salões nacionais, pela
integração de seus quadros a importantes acervos públicos e privados e por
uma crescente e qualificada crítica. Pintando sobretudo cenas cotidianas
indígenas de Roraima, a artista macuxi participou de diversas edições da
Bienal Naïfs do Brasil.

9
Entre Parentes é uma série de encontros em 12 narrativas inéditas escritas e
ilustradas por artistas indígenas contemporâneos de diferentes etnias, sob a
curadoria de Daniel Munduruku e Mauricio Negro.
Este episódio é assinado pela escritora Auritha Tabajara (povo Tabajara) e pela
artista visual Carmézia Emiliano (povo Macuxi). Desfrute da narrativa ilustrada
e acompanhe a conversa on-line entre as parentes autoras, mediada pelos
curadores.
As convidadas conversarão sobre a história ilustrada, sobre arte e literatura de
autoria indígena e outros temas correlacionados, em um espaço de reflexão,
troca e aprendizado.

FICHA TÉCNICA
Narradores convidados:
Alexandra Tupi Krenak, Ariabo Kezo, Arissana Pataxó, Auritha Tabajara, Bu’ú
Kennedy, Carmézia Emiliano, Cleomar Tan Huare, Darlene Yaminalo Taukane,
Denilson Baniwa, Dona Liça Pataxoop, Eliane Potiguara, Gustavo Caboco, Ibã
Huni Kuin, Jaime Diakara, Juvenal Payayá, Kamuu Dan, Kanátyo Pataxoop, Lúcia
Tucuju, Márcia Wayna Kambeba, Moara Tupinambá, Naine Terena, Rosi Whaikon,
Uziel Guaynê | Jonas Zamorâ Malakuiawuá (pai e filho), Vãngri Kaingáng.

Curadoria: Daniel Munduruku | Mauricio Negro


Design gráfico: Negro Design Studio_Mauricio Negro
Produção executiva: Artéria Produções_Amanda L. Moraes
Revisão: Antonio Castro
Realização: Sesc Osasco

Você também pode gostar