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M491i
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-309-7656-9
17-43303
CDU: 347.91./95(44)
Aos professores e amigos
JOSÉ CARLOS BARBOSA MOREIRA,
LUIZ FUX,
PAULO CEZAR PINHEIRO CARNEIRO,
CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO,
HUMBERTO THEODORO JÚNIOR,
JOSÉ ROBERTO DOS SANTOS BEDAQUE,
JOSÉ ROGÉRIO CRUZ E TUCCI e
LEONARDO GRECO,
expoentes maiores do Direito Processual
no Brasil e no Mundo, eternamente grato
pelo exemplo e pelos valiosos ensinamentos.
Junho de 2017
O novo Código de Processo Civil preocupou-se, sobretudo, com a
funcionalidade do processo, consagrando, entre suas normas fundamentais, a
instrumentalidade, a efetividade e a eficiência como princípios determinantes
para a implantação de uma prestação jurisdicional justa, adequada e tempestiva.
Nessa linha de orientação, um dos mais relevantes institutos introduzidos no
ordenamento jurídico instrumental pátrio pela codificação de 2015 foi,
incontestavelmente, o incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR). A
inspiração mais próxima foi buscada, pelo legislador, no direito alemão, sem
embargo de que elementos procedimentais de igual espírito já fossem
conhecidos do processo civil nacional, embora tímidos e pouco explorados na
vivência de nossos tribunais. É de se lembrar, v.g., dos incidentes de
uniformização de jurisprudência e de declaração de inconstitucionalidade, além
da técnica de julgamento dos recursos repetitivos nos tribunais superiores.
A simbiose da experiência estrangeira com os antecedentes históricos de
nossa prática processual gerou, no IRDR, um instituto aprimorado com
características próprias e com alto potencial de enfretamento da enorme crise da
justiça civil gerada pela moderna sociedade dominada pela litigiosidade de
massa, crescente numa progressão avassaladora, a desafiar a capacidade de
absorção pelas estruturas arcaicas da justiça estatal.
Como toda inovação jurídica de grandes dimensões, o IRDR vem
despertando intensos debates em torno dos mais variados aspectos, desafiando os
processualistas a investigar e definir, com maior precisão, as características e o
papel atribuídos ao novel incidente processual.
Nessa perspectiva, a obra que o Professor Aluisio Gonçalves de Castro
Mendes está lançando apresenta-se como um esforço vitorioso e exemplar, visto
que logra não só definir e posicionar o IRDR dentro das estruturas do processo
civil brasileiro, como correlacioná-lo, no âmbito do direito comparado, com
figuras afins já praticadas no estrangeiro.
Ciente de que o direito é um produto histórico cultural, o autor, com
propriedade, expõe os antecedentes nacionais do instituto inovador do
CPC/2015, com exploração de interessantes apanhados jurisprudenciais.
Já à luz do instituto, tal como modelado pelo direito positivo atual, o autor
cuida de precisar-lhe a natureza e de analisar seus pressupostos processuais, seu
cabimento e seus requisitos, levando em conta, ainda, a legitimação para
provocar o incidente e a competência para admiti-lo, processá-lo e julgá-lo.
A abordagem dos aspectos procedimentais é ampla e minuciosa. Apenas a
título de exemplificação, podem ser destacados títulos como os relacionados
com a técnica da fixação da tese jurídica assentada no julgamento do IRDR;
com a importância do contraditório ampliado; com o sistema recursal a
observar.
É notável a demonstração da constitucionalidade dos mecanismos de
julgamento por amostragem e da força vinculante das teses assim enunciadas
pelos tribunais superiores. Objeções como “violação da separação entre os
Poderes”, “ofensa aos princípios do acesso à justiça e ao contraditório”, violação
à liberdade do “exercício do direito de ação”, são todas convincentemente
rebatidas.
Nesse terreno, merece ser registrada a existência de objeção que condiciona
o cabimento do IRDR à existência de processos em curso no tribunal, ao
argumento de que sua suscitação com base em procedimentos ainda no 1º grau
de jurisdição ofenderia a definição de competência dos tribunais feita pela
Constituição.
A rejeição desse entendimento foi adequadamente formulada pela tese ora
editada, diante da demonstração de que a Constituição não trata da matéria como
objeto de reserva exclusiva da ordem constitucional. A própria Constituição
deixa o tema a cargo de legislação infraconstitucional. Ademais, quando a
evolução da ordem jurídica teve de inovar ou acrescer competências para os
tribunais superiores, o STF não viu nisso ofensa à Constituição, como bem
demonstrado pelo Professor Castro Mendes.
A nosso ver, uma conclusão geral sobre o tema, pode ser estabelecida
levando em conta a posição histórica e sistemática adotada pela Suprema Corte:
as atribuições de competência formuladas pela Constituição, sem dúvida,
representam um mínimo que o legislador ordinário não pode ignorar e, muito
menos, reduzir. Não há, porém, vedação na Constituição a que o legislador
comum adicione novas atribuições às Cortes Judiciárias.
É emblemática a posição do STF, por exemplo, adotada em relação às
modernas leis que sucessivamente foram incluindo a competência para decidir
com força vinculante erga omnes. Quando, pela primeira vez, o tema foi tratado
em emenda constitucional, apenas para a ação declaratória de
constitucionalidade, o STF validou igual previsão feita em lei infraconstitucional
para a ação direta de inconstitucionalidade. E o argumento decisivo foi o de que
o fato de a regra ter sido tratada pela Constituição para uma causa, não é
empecilho para que o legislador comum a estenda a outra causa, de igual
natureza.
Idêntica foi a posição do STF em face da reclamação constitucional, que a
CF inclui apenas na competência dos Tribunais Superiores, o que, entretanto,
não deveria impedir que o legislador estadual também o ingerisse na
competência dos tribunais de justiça.
Enfim, pensamos que a linha de orientação histórica do STF permite a
conclusão de que as competências judiciais traçadas pela Constituição são um
mínimo e não um máximo, intransponível pela legislação infraconstitucional. O
dinamismo dos tempos modernos e a concorrência das múltiplas garantias
fundamentais que hão de ser implementadas pelo processo judicial impedem que
se avaliem as regras constitucionais sobre competência de maneira estática e
inflexível.
Sobre o acesso aos tribunais superiores, para expandir os efeitos do IRDR
além da circunscrição territorial do tribunal de segundo grau em que o incidente
se instaurou, houve expressa e convincente explanação do autor.
A tese do Professor Castro Mendes, a propósito, reconhece que, sem o
concurso dos Recursos Especial e Extraordinário, o IRDR não cumpriria seu
objetivo institucional de eliminar a divergência em torno de norma federal, em
todo o território nacional. Daí a previsão de medida cautelar de suspensão de
processos em todo o País, deferível pelo STF ou pelo STJ, enquanto se aguarda o
julgamento do tribunal local (art. 982, §§ 3º e 4º).
Mas a simples medida cautelar não vai além da suspensão temporária dos
processos em curso fora da jurisdição do tribunal por onde corre o IRDR. É
preciso, após a fixação da tese pelo tribunal local, que haja um julgamento de
mérito do Tribunal Superior sobre o tema objeto do IRDR.
O interesse nesse recurso especial ou extraordinário nem sempre se baseia
na sucumbência ou na insurreição contra o decidido pelo tribunal local. Aqueles
que se acham sob a jurisdição do órgão que julgar o IRDR só têm interesse em
recorrer para o STF ou STJ se foram imediatamente prejudicados pelo
julgamento do incidente.
Diversa, porém, é a situação dos promoventes da medida cautelar deferida
pelo STF ou pelo STJ, em caráter preparatório da possível extensão da eficácia
do julgamento do IRDR para todo o território nacional.
Esse desiderato, provisoriamente assegurado em sede cautelar, ficará
frustrado se contra o julgado do tribunal local, não se interpuser, em tempo hábil,
o recurso para o STF ou STJ. É que a suspensão cautelar cessará, ex lege, “se
não for interposto recurso especial ou recurso extraordinário contra a decisão
proferida no incidente” (art. 982, § 5º).
Dir-se-á que, em semelhante conjuntura, o RE e o REsp estariam sendo
manejados sem que se atendesse aos requisitos constitucionais da ofensa à
Constituição ou à Lei Federal. Mas não é bem isso o que acontece. Se se tem em
mira a garantia de obter-se a solução da questão federal com eficácia nacional, a
persistência do efeito do IRDR apenas na área de jurisdição do tribunal, em
detrimento daqueles que obtiveram a medida cautelar do art. 982, §§ 3º e 4º,
estaria, sem dúvida, acarretando-lhes violação da garantia constitucional da
isonomia e segurança jurídica, ou de ter a lei federal aplicada a todos de maneira
uniforme.
Mesmo, portanto, quando o terceiro interessado recorre ao STF ou ao STJ,
apenas para ampliar o efeito do IRDR para todo o território nacional, o faz
dentro dos requisitos constitucionais dos recursos extraordinário e especial.
É esse detalhe da recorribilidade prevista para o julgamento do IRDR que, a
meu ver, merece ponderação e realce. Na verdade, o que visou o novo CPC foi
incluir o STF e o STJ como sujeitos que também participem da função atribuída
ao IRDR, tendo em conta a necessidade inegável de que a uniformização da
interpretação e aplicação da Constituição e da lei federal nunca devem
permanecer restritas ao âmbito dos Tribunais locais. É algo semelhante ao que
levou o legislador a criar ou ampliar remédios processuais para, por exemplo,
solucionar no STJ conflitos jurisprudenciais entre os Juizados Especiais e aquela
Corte Superior, bem como a estender a reclamação constitucional, por
jurisprudência do STF e por disposição de lei comum, para defesa da autoridade
dos julgados dos tribunais locais.
Registra o estudo, a respeito dos recursos especial e extraordinário no
campo do IRDR, lições doutrinárias no sentido de que a competência definida
constitucionalmente se mostra inalterável pelo legislador ordinário.
É muito importante, todavia, advertir que os conceitos em que se apoia a
regra constitucional muitas vezes são fixados pela lei ordinária.
Por exemplo, a coisa julgada é protegida constitucionalmente contra a
retroatividade da lei. Mas a Constituição não define o que é a coisa julgada.
Assim, o legislador ordinário pode ora ampliar, ora reduzir o conceito e extensão
da incidência da coisa julgada, como por exemplo, se passa entre as ações
singulares e as ações coletivas.
Da mesma maneira, muitos institutos previstos na Constituição têm sido
ampliados não só por lei, mas até por interpretação jurisprudencial evolutiva,
como, por exemplo, no caso da reclamação e da força vinculante da decisão da
ação direta de inconstitucionalidade.
Por isso, tenho como ultrapassada pela vivência pretoriana a antiga tese da
absoluta intocabilidade das competências constitucionais.
Se, porém, esta inflexibilidade ainda pode prevalecer para as competências
políticas delineadas pela Constituição, não vale, entretanto, em caso de
competência processual, que põe em jogo as garantias dos direitos fundamentais,
cuja tutela reclama cada vez mais regras maleáveis e dinâmicas, e não rígidas,
estáticas e intocáveis.
Muitas vezes, alargar competência jurisdicional, para abranger hipóteses
novas, em vez de atritar com o sistema constitucional, o reforça e incrementa,
sem, reduzir qualquer outra competência anteriormente atribuída pela
Constituição a órgão diverso. Por exemplo: o incidente de resolução de
demandas repetitivas não existia ao tempo em que a CF definiu a competência
do STF e do STJ para os recursos extraordinário e especial. Não há, a meu ver,
ofensa à Lei Maior em ampliar o terreno de admissibilidade daqueles recursos
extremos, para neles incluir o acórdão do tribunal local em IRDR.
Na sequência, abordagens inteligentes foram feitas no ensaio ora divulgado,
sobre cognição e fundamentação na aplicação da tese assentada no IRDR ao
caso concreto, assim como seu afastamento por distinção ou superação.
Importante, ainda, foi o tratamento do tema relacionado à revisão da tese
pelo próprio tribunal que a fixou.
No fecho do riquíssimo estudo, quase uma centena de conclusões resumem
os resultados do notável esforço doutrinário desenvolvido e levado a cabo com
sucesso pelo autor. Ali, mais do que um simples rol de títulos, o leitor encontrará
um catálogo completo do pensamento exposto ao longo da obra, facilitando, a
um só tempo, uma visão de conjunto e o acesso particular a cada tema e
respectivos fundamentos.
A obra é densa, profunda, pelo rigor científico com que foi construída. É,
por outro lado, didática porque redigida em linguagem precisa e de fácil
compreensão, associando sempre a teoria aos exemplos práticos. Sua larga
utilidade, pois, dar-se-á tanto no mundo acadêmico como na atividade forense.
Pela importância e novidade do tema explorado, não poderia ser mais atual
sua publicação, de cujo sucesso estou plenamente seguro, principalmente pela
matéria com que se houve o autor na respectiva exposição.
PRINCIPAIS CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
1
A elaboração do novo Estatuto Processual Civil iniciou-se formalmente, no
Senado Federal, com a nomeação, pelo Ato nº 379, de 30.09.2009, de
Comissão de Juristas, presidida pelo Professor e Ministro do Supremo
Tribunal Federal Luiz Fux, tendo como Relatora a Professora Teresa Arruda
Alvim, composta pelos professores Adroaldo Furtado Fabrício, Benedito
Cerezzo Pereira Filho, Bruno Dantas, Elpídio Donizetti Nunes, Humberto
Theodoro Júnior, Jansen Fialho de Almeida, José Miguel Garcia Medina,
José Roberto dos Santos Bedaque, Marcus Vinicius Furtado Coelho e Paulo
Cesar Pinheiro Carneiro. Em 08.06.2010, a Comissão encaminha o
Anteprojeto ao Senador José Sarney, que, na mesma data, o apresenta como
Projeto de Lei do Senado nº 166. No dia 15.12.2010, é aprovado, no
Senado, Substitutivo apresentado, sendo remetido à Câmara dos Deputados.
Na Câmara dos Deputados, é recebido, em 22.12.2010, Projeto de Lei nº
8.046/2010. Depois de longo período em que houve amplo debate nacional,
é chancelado na Câmara novo Substitutivo, no dia 26.03.2014. Em razão
das modificações realizadas na Câmara, retorna ao Senado, onde é
aprovado, no dia 17.12.2014, novo Substitutivo oferecido no Senado, com
modificações. Em seguida, é realizada revisão final de redação e
encaminhado à sanção presidencial, ocorrida no dia 16.03.2015, com a
publicação da Lei nº 13.105 no dia 17.03.2015 e entrada em vigor no dia
18.03.2016. Em relação ao IRDR, é de se notar as variações em torno das
concepções e do texto em cada uma das fases do processo legislativo, o que
será oportunamente destacado, em diversos momentos do presente trabalho,
especialmente quando se mostrar relevante para a interpretação e aplicação
do instituto em muitos aspectos.
2
A íntegra do documento pode ser encontrada em:
<https://www.senado.gov.br/se-
nado/novocpc/pdf/1a_e_2a_Reuniao_PARA_grafica.pdf>. Acessado em
03.11.2016.
3
Nesse sentido, a lição de Cândido Rangel Dinamarco e Bruno Vasconcelos
Carrilho Lopes: “A implantação dessa técnica insere-se no contexto de um
movimento voltado a superar os inconvenientes dos microprocessos que se
multiplicam às dezenas, centenas ou quiçá milhares, todos portadores da
mesma questão jurídica a ser decidida tantas vezes quantos forem esses
microprocessos. Quando tantos casos tramitam isoladamente pelo Poder
Judiciário, sua dispersão e a repetição do julgamento da mesma quaestio
juris constituem fatores perversos de contrariedade à promessa
constitucional de tutela jurisdicional em tempo razoável (Const., art. 5º, inc.
LXXVIII), além de atentarem contra o desiderato de harmonia entre
julgados”, em Teoria Geral do novo Processo Civil: de acordo com a Lei
13.256, de 4.2.2016, São Paulo: Malheiros, 2016, p. 216, no item 154. O
recurso especial e o recurso extraordinário repetitivos e o incidente de
resolução de demandas repetitivas.
4
A correlação é feita por Luiz Fux: “Esse quantitativo de demandas estava
intimamente vinculado ao denominado “contencioso de massas”, no qual
milhares de ações em trâmite no território nacional versavam a mesma
questão jurídica, revelando ações homogêneas que não deviam ser
reguladas processualmente como aquelas que compõem a litigiosidade de
varejo. Erigiu-se, então, o denominado incidente de resolução de demandas
repetitivas instaurado em cada unidade da federação, perante o primeiro
grau de jurisdição para o tribunal, possibilitando ao juiz, às partes, à
Defensoria Pública ou ao Ministério Público provocarem uma manifestação
dos tribunais locais sobre as ações com identidade de questões jurídicas”,
em Teoria Geral do Processo, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 37.
5
Humberto Theodoro Júnior, na mesma direção, aponta que: “A sociedade
contemporânea sofreu profunda modificação no que toca aos conflitos
jurídicos e aos meios de sua resolução em juízo. As crises de direito
deixaram de se instalar apenas sobre as relações entre um e outro indivíduo
e se expandiram para compreender outras numerosas relações plurilaterais,
ensejadoras de conflitos que envolvam toda a coletividade ou um grande
número de seus membros. Surgiram, assim, os conflitos coletivos, a par dos
sempre existentes conflitos individuais. É que o relacionamento social
passou, cada vez mais, a girar em torno de interesses massificados,
interesses homogêneos, cuja tutela não pode correr o risco de ser
dispensada pela Justiça de maneira individual e distinta, isto é, com a
possibilidade de soluções não idênticas, caso a caso. Esse risco põe em
xeque a garantia basilar da democracia, qual seja, a de que, perante a lei,
todos são necessariamente iguais. Se assim é, no plano dos direitos
materiais, também assim haverá de ser no plano do acesso à justiça e da
tutela jurisdicional proporcionada a cada um e a todos que demandam. A
igualdade em direitos seria quimérica, se na solução das crises fossem
desiguais as sentenças e os provimentos judiciais. Os tribunais modernos,
portanto, têm de se aparelhar de instrumentos processuais capazes de
enfrentar e solucionar, com adequação e efetividade, os novos litígios
coletivos, ou de massa. Dessa constatação da realidade, nasceram diversos
tipos de tutela judicial coletiva, ora como modalidade de ações coletivas
(em que num só processo se define solução uniforme e geral para um grupo
de titulares de direitos individuais, semelhantes), ora como incidente
aglutinador de ações originariamente singulares (por meio do qual uma só
decisão se estende às diversas causas individuais de objeto igual). Exemplo
típico de ação coletiva é a ação civil pública manejada por um só autor, mas
em defesa de um grupo de titulares de direitos subjetivos iguais,
qualificados como direitos individuais homogêneos. Exemplo típico de
incidente de potencial efeito expansivo a mais de uma causa é o de
uniformização de jurisprudência do CPC/1973, assim como o do sistema
instituído pelo CPC/2015 de julgamento de recursos repetitivos, no âmbito
do STF e do STJ, e o de assunção de competência. O Novo Código de
Processo Civil deu um grande passo no terreno da coletivização da
prestação jurisdicional instituindo um novo incidente processual, a que
atribuiu o nome de incidente de resolução de demandas repetitivas (arts.
976 a 987), e cuja aplicação é ampla, já que pode acontecer perante
qualquer tribunal, seja da Justiça dos Estados, seja da Justiça Federal”, no
Curso de Direito Processual Civil – v. III, 49. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2016, p. 906.
6
MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Teoria Geral do Processo. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 5.
7
O autor procurou desenvolver mais a ideia de perspectiva multiportas para a
resolução coletiva de conflitos e de questões comuns no trabalho O direito
processual coletivo e o novo código de processo civil: Estudos em
homenagem ao Professor e Jurista Luiz Fux, in: ALVIM, Teresa Arruda;
BEDAQUE, José Roberto dos Santos; CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro;
MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro; O novo processo civil brasileiro:
temas relevantes – Estudos em homenagem ao Professor, Jurista e Ministro
Luiz Fux. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017 (no prelo).
8
MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações coletivas e meios de
resolução coletiva de conflitos no direito comparado e nacional. 4. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 149 e 399-416.
9
É de se registrar que o campo do Direito Processual Civil pode ser mais ou
menos amplo, de acordo com o ordenamento nacional, pois podem existir
subdivisões internas variadas no Direito Processual. Por exemplo, na
Alemanha, há o Direito Processual Administrativo, que é aplicado aos
litígios judiciais relacionados às causas envolvendo a Administração
Pública.
Capítulo 2
AS FUNÇÕES DO INCIDENTE DE
RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS
NO CONTEXTO SOCIOJURÍDICO DO MUNDO
CONTEMPORÂNEO
1
Sobre este fenômeno, dentre outros que devem ser criticamente analisados,
José Carlos Barbosa Moreira escreveu: “Não poucos críticos da situação
atual deixam entusiasmar-se por um determinado remédio que lhes parece
capaz de debelar todos os males. Só têm olhos para suposta panaceia.
Desdobram-se, a propósito de tudo e até sem propósito algum, em
exortações ao uso da receita. Há casos de autêntica obsessão. (...) A verdade
é que simplesmente não existe fórmula de validade universal para resolver
por inteiro a equação. Temos de combinar estratégias e táticas, pondo de
lado o receio de parecermos incoerentes se, para enfermidades de diferente
diagnóstico, experimentarmos remédios também diferenciados. O
simplismo das palavras de ordem, já indesejável na política, revela-se aqui
funesto.” O futuro da Justiça: alguns mitos. Temas de Direito Processual –
Oitava Série, São Paulo: Saraiva, 2004, p. 6-7.
2
Nesse sentido, CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro; PINHO, Humberto
Dalla Bernardina de (coords.), Novo Código de Processo Civil: Lei 13.105,
de 16 de março de 2015 – anotado e comparado, Rio de Janeiro: Forense,
2015, p. 569: “Uma das mais importantes inovações do Código é o
incidente de resolução de demandas repetitivas, que tem por escopo
promover uma superior concretização dos princípios da isonomia e da
segurança jurídica”.
3
Como indica Luiz Fux: “O excesso de demandas mercê de pertencer ao
campo interdisciplinar da sociologia jurídica encontra amparo na cláusula
do acesso à justiça, garantido pelo princípio constitucional de que nenhum
direito ou ameaça a direito deve escapar à apreciação do Poder Judiciário.
(...) O incidente revela-se vantajoso ao permitir a solução de milhares de
demandas com idêntica questão jurídica, por meio de solução única, mercê
de tornar obrigatória a normação adotada que irá influir, inclusive na
admissibilidade de eventuais recursos para os tribunais locais ou superiores,
porquanto fixada a tese, a sua adoção será obrigatória”, em Teoria Geral do
Processo, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2016.
4
O tema foi inicialmente tratado pelo autor no livro Ações coletivas e meios
de resolução coletiva de conflitos no direito comparado e nacional, 4. ed.,
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.
5
MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro, Problemas e reforma do Poder
Judiciário no Brasil, Revista da Escola da Magistratura Regional Federal,
v. 2. Rio de Janeiro: Escola da Magistratura Regional Federal, 2000.
6
A Alemanha é considerada o país com melhor relação entre número de
juízes por habitante (um para cada 4.100 habitantes, levando-se em conta a
existência de uma população de 82 milhões de pessoas e 20 mil juízes,
segundo Perfil da Alemanha, p. 15 e 198). Todavia, vários aspectos do
direito processual alemão foram objeto de discussão, tendo em vista a
proposta governamental de reforma do Código de Processo Civil (ZPO),
convertida em lei no mês de junho de 2001. A Zivilprozessordnung (ZPO)
alemã data de 1877 e tem passado por constantes atualizações e alterações.
7
Os dados foram extraídos diretamente do site do STF:
<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?
servico=estatistica&pagina=movimentoProcessual>. Acesso em: 2 nov.
2015.
8
A nova sistemática foi regulamentada apenas na Emenda Regimental nº 21,
de 30.04.2007, que foi publicada e entrou em vigor em 03.05.2007.
9
Dados retirados do site do STJ, disponível em:
<http://www.stj.jus.br/webstj/Processo/Boletim/verpagina.asp?
vPag=0&vSeq=263.
10
Os números foram obtidos diretamente do site do TST:
<http://www.tst.jus.br/documents/10157/054875ad-31ea-48df-83be-
c7166151f7b4>, em 02.11.2016.
11
Segundo o relatório Justiça em Números de 2016, disponível no site do
CNJ: <http://paineis.cnj.jus.br/QvAJAXZfc/opendoc.htm?
document=qvw_l%2FPainelCNJ.qvw&host=QVS%40neodimio03&anonymous=true&sh
Acesso em 2 nov. 2016.
12
Segundo o Conselho Nacional de Justiça, em Justiça em Números de 2016,
com dados referentes ao ano de 2015.
13
Veja, CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Ellen
Gracie Northfleet (trad.). Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1988
(reimpresso em 2002); CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. Acesso à
justiça: Juizados Especiais Cíveis e ação civil pública. Rio de Janeiro:
Forense, 1999; NALINI, José Renato. O juiz e o acesso à justiça. São
Paulo: RT, 1994; e FARIA, José Eduardo (org.). Direito e justiça: a função
social do Judiciário. 2. ed. São Paulo: Ática, 1994.
14
Vide ZAFFARONI, Eugênio Raúl. Poder Judiciário: crise, acertos e
desacertos. Juarez Tavares (trad.). São Paulo: RT, 1995.
15
Nesse sentido a Emenda Constitucional 45/2004. A principal medida
apresentada na primeira etapa de reforma do Poder Judiciário brasileiro foi
a criação da súmula vinculante do Supremo Tribunal Federal, que, embora
possa produzir a uniformização de julgados, não possui a capacidade de
propiciar uma drástica redução do número de processos, pois, normalmente,
os feitos demoram certo tempo até serem apreciados pela Corte Suprema.
Assim sendo, em casos de elevado número de ações propostas, quando
editada a súmula, as instâncias inferiores já terão recebido, processado e
julgado uma grande quantidade de processos, sendo o resultado, portanto,
apenas paliativo em termos de redução do contingente de feitos, como a
realidade vem demonstrando.
16
Como constou da proposta do Bundesministerium der Justiz (Ministério da
Justiça) para a reforma da Zivilprozeßordnung alemã.
17
Segundo o site: <http://www.worldometers.info/licensing/>. Acesso em: 3
nov. 2016, eram estimados nesta data 7.461.819.961 de pessoas.
18
Vide MARINONI, Luiz Guilherme. Novas linhas do processo civil. 2. ed.
São Paulo: Malheiros, 1996, p. 53 e ss.
19
A perspectiva de um processo civil para o direito do consumidor foi
reclamada e abordada por Harald Koch, no seu livro
Verbraucherprozeßrecht: verfahrensrechtliche Gewährleistung des
Verbraucherschutzes. Heidelberg: C. F. Müller Jur. Verlag, 1990. (Direito
processual do consumidor: a garantia processual da proteção do
consumidor). Vide, também, a oportuna observação feita pelo National
Consumer Council, ao ser inquirido sobre novos procedimentos para
demandas coletivas, que acabou sendo consignada no relatório final do
Lorde Woolf sobre acesso à Justiça: “As we become an increasingly mass
producing and mass consuming society, one product or service with a flaw
has the potential to injure or cause other loss to more and more people. Yet
our civil justice system has not adapted to mass legal actions. We still
largely treat them as a collection of individual cases, with the findings in
one case having only limited relevance in law to all of the others” (Como
nos tornamos, de modo crescente, uma sociedade de produção e consumo
em massa, um produto ou serviço defeituoso tem o potencial de prejudicar
ou causar dano para mais e mais pessoas. O nosso sistema judicial ainda
não está adaptado para as ações judiciais de massa. Nós ainda as tratamos,
em grande parte, como uma coleção de casos individuais, possuindo
relevância limitada o julgamento de um caso sobre todos os demais)
(Woolf, Lord M. R. Final report on access to justice. jul. 1996).
20
Vide SCHÄFER, Hans-Bernd, Anreizwirkungen bei der Class Action und
der Verbandsklage In: BASEDOW, Jürgen (org.). Die Bündelung
gleichgerichteter Interessen im Prozeß. Tübingen: Mohr Siebeck, 1999; e
ALEXANDER, Janet Cooper, An introduction to class action procedure in
the United States, que pode ser acessado em:
<https://law.duke.edu/grouplit/papers/classactionalexander.pdf>.
21
Só para se ter uma ideia, uma das maiores preocupações dos sindicatos
alemães é com o aspecto financeiro. As entidades procuram manter, sob
sigilo absoluto, vultosas economias, pois representam poder de pressão nas
negociações, tendo em vista que os sindicatos se preparam para custear os
salários da categoria durante a greve. Assim sendo, quanto mais dinheiro
em caixa, por mais tempo poderá ser mantida a greve, o que, por
conseguinte, irá influenciar no poder de barganha e na fixação do acordo.
22
O tema foi especificamente abordado por Luiz Guilherme Marinoni, Novas
linhas do processo civil, cit., p. 32-34, 53-54.
23
Studi sulle “class actions”, Milão: Cedam, 1996, p. 195 e ss.
24
Como será visto na seção seguinte.
25
Segundo boletim estatístico fornecido pelo Setor de Organização e
Informática da Seção Judiciária do Estado do Rio de Janeiro.
26
Nesse sentido, a introdução dos recursos repetitivos, nos anos de 2006 e
2008, é complementada no CPC/2015 com a criação do IRDR, fazendo
com que a sistemática seja adotada para todo o Poder Judiciário.
27
É o que ocorre, por exemplo, nas comparações com a Alemanha, que
possui, de fato, um número elevado de juízes (exatos 20.300, em janeiro de
2016; número, aliás, menor do que os 20.999 que funcionavam em
dezembro de 1999), mas esse fato também ocorre porque os
Landesgerichte, que exercem ora a função de primeiro grau de jurisdição,
ora a de revisor dos pronunciamentos dos Amtsgerichte, são órgãos
colegiados, fazendo com que haja o incremento do número de juízes em
proporção não coincidente com a de órgãos julgadores.
28
GIUSSANI, Andrea, Studi sulle “class actions”, cit., p. 197.
29
CAPPELLETTI Mauro; GARTH, Bryant, Acesso à justiça, cit.
30
GIUSSANI, Andrea, Studi sulle “class actions”, cit., p. 199.
31
Idem, p. 200.
32
No julgado Western Canadian Shopping Centres Inc. v. Dutton, 2001 SCC
46, [2001] 2 S.C.R. 534.
33
Em livre tradução: “as ações de classe propiciam eficiência e justiça,
assegurando que os malfeitores de fato e em potencial não ignorem suas
obrigações para com o público. Sem ações coletivas, aqueles que causam
danos generalizados, mas mínimos individualmente, poderão não ter que
arcar integralmente com os custos provenientes de suas condutas, porque
para cada demandante a despesa com o ajuizamento de uma ação individual
poderá exceder em muito a recompensa. A repartição de despesas (em uma
ação coletiva) reduz os custos com o ajuizamento de medidas processuais e,
assim, sendo poderá deter potenciais demandados que assumiriam, de outro
modo, que os danos de bagatela produzidos não resultariam em litígios”.
34 MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Princípio da Inafastabilidade da
Prestação Jurisdicional à Luz do Acesso à Justiça. In: TORRES, Ricardo
Lobo; KATAOKA, Eduardo Takemi; GALDINO, Flavio. Dicionário de
princípios jurídicos. São Paulo: Elsevier & Campus, 2011.
35
A análise deste aspecto somente é realizada neste tópico, sob o prisma da
função, mas será retomada em outros momentos, como no capítulo sobre o
cabimento, a suspensão dos processos individuais etc.
36
Como se sabe, a questão foi apreciada pelo Plenário do STF, no Recurso
Extraordinário nº 669.069, Rel. Min. Teori Zavascki, com trânsito em
julgado em 31.08.2016.
37
A questão foi decidida pelo Plenário do STF, no Recurso Extraordinário nº
631.240, Rel. Min. Roberto Barroso, em 03.09.2014, com a fixação de teses
e regras de transição para variados benefícios e situações diversas.
38
Vide especialmente: DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade
do processo. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1993; Instituições de Direito
Processual Civil. São Paulo: Malheiros, 2001; Fundamentos do Processo
Civil moderno. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2002; BEDAQUE, José
Roberto dos Santos. Direito e processo: influência do direito material sobre
o processo. 2. ed. São Paulo: Maheiros, 2001; Efetividade do processo e
técnica processual. São Paulo: Malheiros, 2006; Instrumentalismo e
garantismo: visões opostas do fenômeno processual? In: BEDAQUE, José
Roberto dos Santos; CINTRA, Lia Carolina Batista; EID, Elie Pierre.
Garantismo processual: Garantias processuais aplicadas ao processo.
Brasília: Gazeta Jurídica, 2016.
3.1. TEST CLAIMS (DEMANDAS TESTE), PILOT JUDGMENTS
(JULGAMENTOS PILOTO), MUSTERVERFAHREN
(PROCEDIMENTO MODELO), GROUP LITIGATION ORDER
(DECISÃO SOBRE LITÍGIOS DE GRUPO) E OUTROS
JULGAMENTOS DE QUESTÕES COMUNS OU POR
AMOSTRAGEM
1
A Inglaterra e o País de Gales editam, em 2000, o seu primeiro Código de
Processo Civil, com a previsão das decisões de litígios de grupo (Group
Litigation Order), ao lado da própria demanda-teste (test claim).
2
Vide ESCHMENT, Jörn. Musterprozesse vor dem Europäischen
Gerichtshof für Menschenrechte. Frankfurt: Peter Lang, 2010.
3
Para um estudo mais geral sobre a tutela coletiva na Alemanha, podem ser
indicadas, dentre outras que serão mencionadas, as seguintes obras:
BASEDOW, Jürgen; HOPT, Klaus J.; KÖTZ, Hein; BETGE, Dietmar. Die
Bündelung gleichgerichteter Interessen im Prozeß. Tübingen: Mohr
Siebeck, 1999; BRÖNNEKE, Tobias (Hrsg.) Kollektiver Rechtsschutz im
Zivilprozeßrecht. Baden-Baden: Nomos, 2001; BURCKHARDT, Markus.
Auf em Weg zu einer class action in Deutschland? Baden-Baden: Nomos,
2005; EINHAUS, Stefan. Kollektiver Rechtsschutz im englischen und
deutschen Zivilprozessrecht. Berlin: Duncker & Dumblot, 2008;
HALFMEIER, Axel. Popularklagen im Privatrecht. Tübingen: Mohr
Siebeck, 2006; KESKE, Sonja E. Group Litigation in European
Competition Law: A Law and Economics Perspective. Intersentia, 2010;
KOHLER, Kristin. Die grenzüberschreitende Verbraucherberbandsklage
nach dem Unterlassungsklagengesetz im Binnenmarkt. Frankfurt am Main:
Peter Lang, 2008; LANGE, Sonja. Das begrenzte Gruppenverfahren.
Tübingen: Mohr Siebeck, 2011; OR-GEL, Marc. Class arbitration: Von der
Gruppenklage zum Gruppenschiedsverfahren und zurück? Eine
Untersuchung zum U.S.-amerikanischen Schiedsverfahrensrecht. Tübingen:
Mohr Siebeck, 2013; SÄCKER, Franz Jürgen. Die Einordnung der
Verbandsklage in das Szstem des Privatrechts. München: C. H. Beck, 2006.
4
§ 93a.
5
Na exposição de motivos redigida pela comissão que elaborou o anteprojeto
do novo Código de Processo Civil brasileiro, indica-se expressamente a
inspiração no direito alemão.
6
Não obstante a fonte estrangeira, pode-se apontar que o novo instituto,
encontra raízes também nos denominados incidentes de recursos
repetitivos, previstos nos artigos 543-B e 543-C do CPC/1973,
respectivamente para os recursos extraordinário e especial, a partir dos anos
de 2006 e 2008. Estes mecanismos propiciaram razoável redução no
número de processos em tramitação no Supremo Tribunal Federal e no
Superior Tribunal de Justiça. O incidente agora proposto terá como objetivo
a redução do número de processos nos tribunais de segundo grau e a
suspensão dos processos em primeiro grau, propiciando economia, mas
também uniformidade e segurança na prestação jurisdicional.
7
Os dados são mencionados na obra de Walter Christian Schmel,
Massenverfahren vor den Verwaltungsbehörden und den
Verwaltungsgerichten: Darstellung des Problems und Überprüfung der
besonderen Regelungen zur Behandlung und Bewältigung, Berlin: Duncker
& Humblot, de 1982.
8
BVerfG, decisão de 27.03.1980, Az. 2 BvR 316/80, assim ementada:
Verfassungsrechtliche Unbedenklichkeit bei Auswahl von Musterverfahren
– Flughafen München. Es ist von Verfassungs wegen nicht zu beanstanden,
wenn ein Verwaltungsgericht für die mündliche Verhandlung von den bei
ihm anhängigen 5.724 Verfahren gegen den Planfeststellungsbeschluß für
einen Flughafen einige auswählte und die Verhandlung der anderen
einstweilen zurückstellt.
9
“Gründe: Das Verwaltungsgericht verstößt nicht gegen Verfassungsrecht,
wenn es für die mündliche Verhandlung im April, Mai, Juni und Juli 1980
von den bei ihm anhängigen 5.724 Verfahren gegen den
Planfeststellungsbeschluß für den Flughafen M. einige auswählte und die
Verhandlung der anderen einstweilen zurückstellt.
Es liegt auf der Hand, daß das vorliegende Großverfahren, an dem eine
Vielzahl von Klägern beteiligt ist und das eine komplexe
Behördenentscheidung zum Gegenstand hat, das Verwaltungsgericht vor
ungewöhnliche verfahrensrechtliche Probleme stellt. Die Frage, welche
prozessualen Maßnahmen das Gericht zur Durchführung, Vereinfachung
und Beschleunigung dieses Großverfahrens im einzelnen treffen kann,
bestimmt sich in erster Linie nach einfachem Prozeßrecht, dessen
Anwendung und Auslegung vom Bundesverfassungsgericht grundsätzlich
nicht nachgeprüft wird. Es mag dahinstehen, ob die Durchführung einer
einzigen mündlichen Verhandlung für alle 5.724 anhängigen Verfahren
überhaupt möglich wäre, was mit guten Gründen bezweifelt werden kann.
Mit seinem Vorgehen verkennt das Verwaltungsgericht jedenfalls nicht die
Tragweite der Grundrechte der Beschwerdeführer.
1. Art. 19 Abs. 4 Satz 1 GG ist nicht verletzt. Diese Vorschrift gewährleistet
einen möglichst lückenlosen gerichtlichen Schutz gegen die behauptete
Verletzung der Rechtssphäre des Einzelnen durch Eingriffe der öffentlichen
Gewalt (BVerfGE 8, 274 [326], stRspr). Sie garantiert auch die
Wirksamkeit des Rechtsschutzes; der Bürger hat einen substantiellen
Anspruch auf eine möglichst wirksame gerichtliche Kontrolle (BVerfGE
40, 272 [275], stRspr). Dies erfordert die Durchführung eines gerichtlichen
Verfahrens innerhalb angemessener Zeit. Die Bemessung der
Verfahrenskosten darf nicht in einer Weise erfolgen, die es dem Betroffenen
praktisch unmöglich macht, das Gericht anzurufen (vgl. BVerfGE 11, 139
[143]).
a) Für die Beschwerdeführer, über deren Verfahren das Verwaltungsgericht
demnächst verhandeln will, wird der Rechtsschutz nicht in
verfassungsrechtlich unzulässiger Weise erschwert. Zwar mag sich das
Prozeßkostenrisiko für sie erhöhen, wenngleich sich auch nicht ohne
weiteres mit einer Steigerung der Gerichtskosten und der Anwaltsgebühren
rechnen müssen, weil sich der Gegenstandswert bei Anfechtungsklagen
gegen Planfeststellungsbeschlüsse nach der herrschenden Meinung aus der
Beeinträchtigung des einzelnen Klägers errechnet. Die Beschwerdeführer
können im Hinblick auf Art. 19 Abs. 4 Satz 1 GG aber nicht verlangen, daß
das Prozeßkostenrisiko durch gleichzeitige Verhandlung aller beim
Verwaltungsgericht anhängiger Verfahren möglichst niedrig gehalten wird.
Das Kostenrisiko ist für sie im Rahmen des bei einem Großverfahren
Möglichen abschätzbar. Sie mußten ohnedies von vornherein damit
rechnen, daß das Verwaltungsgericht zunächst nur über einige Verfahren
verhandeln würde. Im übrigen hat keiner der Beschwerdeführer
vorgetragen, daß er zur Rechtsverfolgung außerstande sei und die für diesen
Fall vorgesehene Möglichkeit der Beantragung des Armenrechts (vgl. § 166
VwGO iVm §§ 114 ff. ZPO ) bereits vergeblich ausgeschöpft hätte.
b) Auch für die Beschwerdeführer, deren Verfahren das Verwaltungsgericht
vorerst zurückgestellt hat, wird der Rechtsschutz nicht in
verfassungsrechtlich unzulässiger Weise erschwert. Ihnen werden nach dem
Ergehen der ‚Musterurteile‘ noch alle prozessualen Möglichkeiten
offenstehen, umfassenden gerichtlichen Schutz zu erlangen. Unbeschadet
der bereits ergangenen Entscheidungen werden sie ihre besonderen
Anliegen vorbringen und eine umfassende Nachprüfung des
Planfeststellungsbeschlusses herbeiführen können. Bei einem etwaigen
Baubeginn steht ihnen die Möglichkeit offen, vorläufigen Rechtsschutz zu
begehren. Angesichts des außerordentlichen Umfangs des gesamten
Verfahrens kann derzeit auch nicht davon ausgegangen werden, daß die
zurückgestellten Verfahren unangemessen verzögert werden, wenn das
Verwaltungsgericht für sie vorerst einen Termin zur mündlichen
Verhandlung nicht anberaumt.
2. Das Vorgehen des Verwaltungsgerichts verstößt nicht gegen Art. 3 Abs. 1
GG. Das Verwaltungsgericht handelte nicht willkürlich. Es gibt sachliche
Gründe dafür, zunächst nur für einige der 5.724 Verfahren eine mündliche
Verhandlung anzuberaumen. Diese Gründe bedürfen keiner weiteren
Darlegung. Das Verwaltungsgericht ist auch bemüht, die Auswahl der zu
verhandelnden Verfahren nach sachlichen Gesichtspunkten zu treffen. Daß
für dieses Vorgehen eine besondere gesetzliche Ermächtigung in der
Verwaltungsgerichtsordnung fehlt, stößt nicht auf verfassungsrechtliche
Bedenken.
Da die Verfassungsbeschwerde offensichtlich der Verzögerung des
verwaltungsgerichtlichen Verfahrens dienen soll, ist sie mißbräuchlich im
Sinne des § 34 Abs. 5 BVerfGG. Den Beschwerdeführern wird daher
jeweils eine Gebühr in Höhe von einhundert Deutsche Mark auferlegt.
Diese Entscheidung ist unanfechtbar.” BVerfG, Beschluß vom 27.03.1980 –
Aktenzeichen 2 BvR 316/80.
10
Os dados foram indicados por Jan J. Kruppa, na obra Kapitalanleger-
Musterverfahrensgesetz (KapMuG) – Bestandsaufnahme und Perspektiven,
Hamburg: Kovac, 2011, p. 82.
11
As conversões foram feitas, respectivamente, levando em consideração os
valores de câmbio indicados pelo site https://coinmill.com e pelo jornal O
Globo (http://oglobo.globo.com/), acessados em 10.11.2016.
12
No Superior Tribunal de Justiça, a questão foi debatida especialmente no
REsp nº 1.110.549 – RS, que pode ser considerado um marco sobre o
assunto, tendo se originado de situação que guarda certa similitude com o
contexto alemão. A situação surgiu por ocasião do lapso final para o
ajuizamento de demandas relacionadas aos expurgos inflacionários em
cadernetas de poupança, quando houve um número muito elevado de novos
processos, especiamente no Rio Grande do Sul. Houve varas que receberam
milhares de processos em apenas alguns dias, tendo se tornado inviável o
processamento destas demandas, diante da falta de recursos materiais e
humanos disponíveis. Como solução para o problema, os juízes de primeiro
grau começaram a entender que deveriam priorizar as ações coletivas,
separando-as por instituição financeira, suspendendo os respectivos
processos individuais até a decisão final coletiva. Com o trânsito em
julgado da decisão coletiva, haveria, conforme o caso de procedência ou
não dos pedidos formulados coletivamente, a aplicação do resultado nos
respectivos processos individuais suspensos.
13
Por força do art. 5.º da Lei de 24.07.2010.
14
Vide o texto vigente, na íntegra, nas versões em alemão e em inglês, em
<https://www.gesetze-im-internet.de/kapmug_2012/ e https://www.gesetze-
im-internet.de/englisch_kapmug/index.html>
15
Vide BverfG (2004) 3321.
16
Mediante a Lei para a modificação do Estatuto da Justiça Social e do
Estatuto da Justiça do Trabalho (Gesetz zur Änderung des
Sozialgerichtsgesetzes und des Arbeitsgerichtsgesetzes (SGGuaÄndG), de
26.03.2008, que entrou em vigor no dia 01.04.2008, nos termos do art. 5º.
Capítulo 4
O MUSTERVERFAHREN (PROCESSO-
MODELO) DA JURISDIÇÃO ADMINISTRATIVA
E DA PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL
1
Verwaltungsgerichtsordnung (VwGO), § 93a:
(1) Ist die Rechtmäßigkeit einer behördlichen Maßnahme Gegenstand von
mehr als zwanzig Verfahren, kann das Gericht eines oder mehrere geeignete
Verfahren vorab durchführen (Musterverfahren) und die übrigen Verfahren
aussetzen. Die Beteiligten sind vorher zu hören. Der Beschluß ist
unanfechtbar.
(2) Ist über die durchgeführten Verfahren rechtskräftig entschieden worden,
kann das Gericht nach Anhörung der Beteiligten über die ausgesetzten
Verfahren durch Beschluß entscheiden, wenn es einstimmig der Auffassung
ist, daß die Sachen gegenüber rechtskräftig entschiedenen Musterverfahren
keine wesentlichen Besonderheiten tatsächlicher oder rechtlicher Art
aufweisen und der Sachverhalt geklärt ist. Das Gericht kann in einem
Musterverfahren erhobene Beweise einführen; es kann nach seinem
Ermessen die wiederholte Vernehmung eines Zeugen oder eine neue
Begutachtung durch denselben oder andere Sachverständige anordnen.
Beweisanträge zu Tatsachen, über die bereits im Musterverfahren Beweis
erhoben wurde, kann das Gericht ablehnen, wenn ihre Zulassung nach
seiner freien Überzeugung nicht zum Nachweis neuer
entscheidungserheblicher Tatsachen beitragen und die Erledigung des
Rechtsstreits verzögern würde. Die Ablehnung kann in der Entscheidung
nach Satz 1 erfolgen. Den Beteiligten steht gegen den Beschluß nach Satz 1
das Rechtsmittel zu, das zulässig wäre, wenn das Gericht durch Urteil
entschieden hätte. Die Beteiligten sind über dieses Rechtsmittel zu
belehren.
2
Sozialgerichtsgesetz (SGG), § 114a:
(1) Ist die Rechtmäßigkeit einer behördlichen Maßnahme Gegenstand von
mehr als 20 Verfahren an einem Gericht, kann das Gericht eines oder
mehrere geeignete Verfahren vorab durchführen (Musterverfahren) und die
übrigen Verfahren aussetzen. Die Beteiligten sind vorher zu hören. Der
Beschluss ist unanfechtbar.
(2) Ist über die durchgeführten Musterverfahren rechtskräftig entschieden
worden, kann das Gericht nach Anhörung der Beteiligten über die
ausgesetzten Verfahren durch Beschluss entscheiden, wenn es einstimmig
der Auffassung ist, dass die Sachen gegenüber dem rechtskräftig
entschiedenen Musterverfahren keine wesentlichen Besonderheiten
tatsächlicher oder rechtlicher Art aufweisen und der Sachverhalt geklärt ist.
Das Gericht kann in einem Musterverfahren erhobene Beweise einführen;
es kann nach seinem Ermessen die wiederholte Vernehmung eines Zeugen
oder eine neue Begutachtung durch denselben oder andere Sachverständige
anordnen. Beweisanträge zu Tatsachen, über die bereits im Musterverfahren
Beweis erhoben wurde, kann das Gericht ablehnen, wenn ihre Zulassung
nach seiner freien Überzeugung nicht zum Nachweis neuer
entscheidungserheblicher Tatsachen beitragen und die Erledigung des
Rechtsstreits verzögern würde. Die Ablehnung kann in der Entscheidung
nach Satz 1 erfolgen. Den Beteiligten steht gegen den Beschluss nach Satz
1 das Rechtsmittel zu, das zulässig wäre, wenn das Gericht durch Urteil
entschieden hätte. Die Beteiligten sind über das Rechtsmittel zu belehren.
3
No link <https://www.gesetze-im-internet.de/englisch_vwgo/index.html>,
encontra--se a tradução em inglês do parágrafo 93a do Estatuto da
Jurisdição Administrativa.
4
Os estatutos legais alemães se utilizam tradicionalmente de parágrafos (§),
em vez de artigos, embora a Grundgesetz (GG), ou seja, a Lei Fundamental
ou Constituição, se utilize destes últimos.
5
A tradicional denominação test claim parece, de fato, ser menos apropriada,
pois perpassa a ideia de algo experimental, dotado de provisoriedade. No
entanto, os casos escolhidos seriam processados e julgados, com caráter
definitivo, com a aplicação da ratio decidendi aos demais casos.
6
Parágrafos 93a da VwGO e 114a da SGG.
7
A norma administrativa (93a), em vigor desde 01.01.1991, previa,
inicialmente, um número maior que 50 processos. Entretanto, o parâmetro
foi modificado para mais de 20 procedimentos, com a aprovação da 6.
VwGoÄndG (BGBl. I S 1626), que entrou em vigor em 01.01.1997.
8
KRUPPA, Jan J. Kapitalanleger-Musterverfahrensgesetz (KapMuG) –
Bestandsaufnahme und Perspektiven, Hamburg: Kovac, 2011, p. 93-94.
9
Vide a decisão em http://www.dfld.de/Presse/LaO/2008/081103a.pdf,
acessado em 11.11.2016. Mencionada por Jan J. Kruppa, na obra
supramencionada, p. 94-95.
10
Vide: <http://www.dfld.de/Presse/LaO/2008/081103a.pdf>. Acesso em: 11
nov. 2016. Mencionada por Jan J. Kruppa, na obra mencionada, p. 94.
11
Estas são as duas possibilidades previstas no § 87a (2) e (3). A regra
atualmente, por força do § 6 da VwGO, é de que a câmara transfira o litígio
a um dos seus membros, para que processe e julgue monocraticamente, se,
nos termos da alínea (1), itens 1 e 2, a questão não apresentar
complexidade, de fato ou de direito; e a questão não requerer a aplicação de
um princípio.
12
Vide sobre a questão: Schoch/Schneider/Bier/Rudisile,
Verwaltungsgerichtsordnung: VwGO – Loseblatt-Kommentar. 31. Auf.,
Munique: C. H. Beck, 2016, § 93a Rn. 12.
13
Parágrafos 93a da VwGO e 114a da SGG.
A lei sobre procedimento-padrão para os litígios jurídicos envolvendo o
mercado de capitais (Gesetz über Musterverfahren in kapitalmarktrechtlichen
Streitigkeiten – KapMuG)1 previu, em linhas gerais, um sistema também calcado
na possibilidade de julgamento de um caso-piloto, contendo questões jurídicas
ou fáticas comuns a outros processos. Estabeleceu, assim como descrito no item
anterior, que o julgamento do caso-modelo servirá como paradigma para o
julgamento dos processos individuais, que permaneceriam suspensos durante o
processamento e julgamento do procedimento-padrão. A KapMuG fixou,
entretanto, um conjunto de regras específicas, o que acabou criando uma
razoável diferença entre este sistema e o descrito no capítulo anterior2.
Em linhas gerais, o incidente pode ser resumido em três fases, que
correspondem às três seções da lei. A primeira, perante o órgão de primeiro grau,
no qual é formulado e apreciado um requerimento de admissibilidade, havendo a
determinação de publicidade, em caso de deferimento. A segunda consiste no
processamento e julgamento do caso-piloto pelo tribunal de segundo grau. Por
fim, na terceira fase, os processos individuais serão julgados em conformidade
com o entendimento firmado no caso-modelo.
1
Vide, dentre outras referências, os seguintes trabalhos sobre o
Musterverfahren no âmbito do mercado mobiliário: BERGMEISTER,
Felix. Kapitalanleger-Musterverfahrensgesetz (KapMuG). Tübingen: Mohr
Siebeck, 2009; GEIGER, Caroline. Die Gruppenklage im
Kapitalmarktrecht. Tübingen: Mohr Siebeck, 2015; HALFMEIER, Axel;
ROTT, Peter; FEESS, Eberhard. Kollektiver Rechtsschutz im
Kapitalmarktrecht. Frankfurt School Verlag, 2010; HANISCH, Brigitte.
Das Kapitalanleger-Musterverfahrensgesetz (KapMuG). Baden-Baden:
Nomos, 2011; HEITZIG, Markus. Das Kapitalanleger-
Musterverfahrensgesetz als Lösung zur Bewältigung von Massenverfahren.
Westfälische Wilhelms-Universität, 2010; HESS, Burkhard; REUSCHLE,
Fabian; RIMMELSPACHER, Bruno (Hrsg.) Kölner Kommertar zum
KapMuG. 2. Auf. Köln: Carl Heimanns, 2014; HEUFE, Stephanie. Das
Kapitalanleger-Musterverfahrensgesetz (‚KapMuG‘). Berlin: Duncker &
Humblot, 2012; KESKE, Sonja E.. Group Litigation in European
Competition Law: A Law and Economics Perspective. Intersentia, 2010;
KILIAN, Thomas. Ausgewählte Probleme des Musterverfahrens nach dem
KapMuG. Baden-Baden: Nomos, 2007; KRENZER, Sina. Die Grundzüge
des deutschen Kapitalanleger-Musterverfahrensgesetzes (KapMuG) & der
Fall Deutsche Telekom. GRIN Verlag, 2010; KRUPPA, Jan J.
Kapitalanleger-Musterverfahrensgesetz (KapMuG) – Bestandaufnahme und
Perspektiven. Hamburg: Dr. Kovac, 2011; LESER Christoph. Die
Bindungswirking des Musterentscheids nach dem
Kapitalanlegermusterverfahrensgesetz. Baden-Baden: Nomos, 2014;
PRUSSEIT, Peter. Die Bindungswirkung des Musterentscheides nach dem
KapMuG. Sierke Verlag, 2009; RAU, Carina. Das Kapitalanleger-
Musterverfahrensgesetz vor dem Hintergrund von Dispositions-und
Verhandlungsgrundsatz. Hamburg: Dr. Kovac, 2008; REUSCHLE, Fabian.
Das Kapitalanleger-Musterverfahrensgesetz – KapMuG: Erläuterung –
Texte – Materialien. Bundesanzeiger(Verlag), 2005; RÖSSLER, Eberhard.
Das Kapitalanleger-Musterverfahrensgesetz (KapMuG) unter besonderer
Berücksichtigung der rechtlichen Stellung der Beigeladenen. Hartung-
Gorre (Verlag), 2008; SCHILLING, Alexander. Das Kapitalanleger-
Musterverfahrensgesetz und die class action im Rechtsvergleich. Hamburg:
Dr. Kovac, 2010; STEINBERGER, Elisabeth. Die Gruppenklage im
Kapitalmarktrecht. Baden- Baden: Nomos, 2016; VORWERK, Volkert;
WOLF, Christian. Kapitalanleger-Musterverfahrensgesetz. C. H. Beck,
2007.
2
Para uma análise (crítica) em termos de adequação dos instrumentos
coletivos, inclusive da KapMuG, em relação ao sistema jurídico alemão:
GOTTWALD, Peter. Kollektiver Rechtsschutz in Deutschland – nur
KapMuG oder mehr? In: MIKROULEA Alexandra et alii (org.), Festschrift
für Nikolaos Klamaris, v. II, Atenas: Sakkoulas, 2016.
3
O cadastro é mantido junto ao Bundesanzeiger, uma espécie de imprensa
oficial, que possui diversas atribuições de registro e comunicação.
4
A interpretação desta exigência ensejou dúvida, no sentido de se saber se
precisavam ser, ao todo, dez requerimentos formulados por autores de
processos diversos ou não, ou seja, se litisconsortes do mesmo processo
poderiam ser contabilizados, individualmente, para o fim de totalizar o
número estabelecido. O Bundesgerichtshof (BGH) decidiu no sentido da
possibilidade do número ser contado por litisconsorte. Desse modo, um
único requerimento subscrito por dez litisconsortes já satisfaria o requisito
numérico. BGH, Beschluss vom 16.06.2009, NJW 2009, 2539-2541. Vide
KRUPPA, Jan J. Kapitalanleger-Musterverfahrensgesetz (KapMuG) –
Bestandsaufnahme und Perspektiven, cit., p. 42-43.
5
A importância do tema foi sentida por inúmeros autores alemães. Vide,
dentre outros:LESER, Christoph. Die Bindugswirkung des
Musterentscheids nach dem kapitalan- legermusterverfahrensgesetz,
Baden-Baden: Nomos, 2014. Esta obra foi concluída no final de 2008,
quando ainda vigente a redação anterior da KapMuG. Entretanto, foi
atualizada, em termos de literatura e julgados, até setembro de 2013,
recebendo ainda, na parte final, um novo capítulo, no qual se abordou a
reforma da KapMuG e o novel § 22.
6
Há grande controvérsia na doutrina alemã sobre a terminologia e a natureza
desta vinculação, especialmente em relação aos interessados, que tiveram
os seus processos suspensos. Nesse sentido: HESS, Burkhard; REUSCHLE,
Fabian; RIMMELSPACHER, Bruno. Kölner Kommentar zum KapMuG:
Gesetz über Musterverfahren in kapitalmarktrechlichen Streitigkeiten
(Kapitalanleger-Musterverfahrensgesetz – KapMuG), cit.; HALFMEIER,
Axel, Zur Neufassung des KapMuG und zur Verjährungshemmung bei
Prospekthaftungsanspruchüchen, Der Betrieb, n. 38, 2012, p. 2145 e ss.; e
também a obra mencionada na nota anterior.
7
HESS, Burkhard; REUSCHLE, Fabian; RIMMELSPACHER, Bruno, cit.
Capítulo 6
1
O presente capítulo tomou como base o que foi anteriormente exposto em
MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações coletivas e meios de
resolução coletiva de conflitos no direito comparado e nacional. 4. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, item 3.2.
2
Uma novidade: o Código de Processo Civil inglês, p. 180.
3
Na Introdução ao Capítulo 17 do Final Report, afirmou Lord Woolf: “The
second part of my Inquiry was partly intended to deal with types of
litigation causing particular problems for the system of civil justice. It was
also designed to examine specific developments which would further access
to justice. Clearly the arrangements for multi-party actions must be near
the top of the list in both respects”.
4
“The new procedures should achieve the following objectives: (a) provide
access to justice where large numbers of people have been affected by
another’s conduct, but individual loss is so small that it makes an individual
action economically unviable; (b) provide expeditious, effective and
proportionate methods of resolving cases, where individual damages are
large enough to justify individual action but where the number of claimants
and the nature of the issues involved mean that the cases cannot be
managed satisfactorily in accordance with normal procedure; (c) achieve a
balance between the normal rights of claimants and defendants, to pursue
and defend cases individually, and the interests of a group of parties to
litigate the action as a whole in an effective manner.”
5
Nesse sentido são as palavras do Lord Chancellor, no prefácio atualizado do
Código: “On 26th April 1999, I introduced the most fundamental change to
the civil justice system in England and Wales for over 100 years. This first
phase of the civil justice reforms introduced a unified code of civil
procedure applicable to all civil courts, ending unnecessary distinctions of
practice and procedure between the High Court and the county courts”.
6
“(1) Where more than one person has the same interest in a claim – (a) the
claim may be begun; or (b) the court may order that the claim be continued,
by or against one or more of the persons who have the same interest as
representatives of any other persons who have that interest. (2) The court
may direct that a person may not act as a representative. (3) Any party may
apply to the court for an order under paragraph (2). (4) Unless the court
otherwise directs any judgment or order given in a claim in which a party is
acting as a representative under this rule – (a) is binding on all persons
represented in the claim; but (b) may only be enforced by or against a
person who is not a party to the claim with the permission of the court. (5)
This rule does not apply to a claim to which rule 19.7 applies.”
7
“(1) This rule applies to claims about – (a) the estate of a deceased person;
(b) property subject to a trust; or (c) the meaning of a document, including a
statute. (2) The court may make an order appointing a person to represent
any other person or persons in the claim where the person or persons to be
represented – (a) are unborn; (b) cannot be found; (c) cannot easily be
ascertained; or (d) are a class of persons who have the same interest in a
claim and – (i) one or more members of that class are within subparagraphs
(a), (b) of (c); or (ii) to appoint a representative would further the overriding
objective. (3) An application for an order under paragraph (2) – (a) may be
made by – (i) any person who seeks to be appointed under the order; or (ii)
any party to the claim; and (b) may be made at any time before or after the
claim has started. (4) An application notice for an order under paragraph (2)
must be served on – (a) all parties to the claim, if the claim has started; (b)
the person sought to be appointed, if that person is not the applicant or a
party to the claim; and (c) any other person as directed by the court. (5) The
court’s approval is required to settle a claim in which a party is acting as a
representative under this rule. (6) The court may approve a settlement
where it is satisfied that the settlement is for the benefit of all the
represented persons. (7) Unless the court otherwise directs, any judgment or
order given in a claim in which a party is acting as a representative under
this rule – (a) is binding on all persons represented in the claim; but (b) may
only be enforced by or against a person who is not a party to the claim with
the permission of the court.”
8
Practice Direction 19b, n. 1.
9
“A Group Litigation Order (GLO) means an order made under rule 19.11 to
provide for the case management of claims which give rise to common or
related issues of fact or law (the ‘GLO issues’).”
10
“The court may make a GLO where there are or are likely to be a number of
claims giving rise to the GLO issues.”
11
Practice Direction 19b, GLO made by court of its own initiative, n. 4:
“Subject to obtaining the appropriate consent referred to in paragraph 3.3
and the procedure set out in paragraph 3.4, the court may make a GLO of
its own initiative. (CPR 3.3 deals with the procedure that applies when a
court proposes to make an order of its own initiative)”.
12
Practice Direction 19b, n. 3.1: “An application for a GLO must be made in
accordance with CPR Part 23, may be made at any time before or after any
relevant claims have been issued and may be made either by a claimant or
by a defendant”.
13
Practice Direction 19b, preliminary steps, n. 2: “Before applying for a
Group Litigation Order (‘GLO’) the solicitor acting for the proposed
applicant should consult the Law Society’s Multi Party Action Information
Service in order to obtain information about other cases giving rise to the
proposed GLO issues”.
14
“47. If members of a group are to opt out, or to join the register, they must
know about the multi-party action. Notice may also be necessary at various
other times throughout the course of the proceedings, e.g., determination of
generic issues; on settlement. In reaching the decision on notice the court
must have in mind the cost of such notice and its usefulness: in some cases
notice may be so expensive as to be disproportionate to the costs and
benefits of the litigation, or it may not serve a useful purpose. 48. In a
multi-party action where there are many claims, each of which is small,
there is little to recommend in a rule making notice to each potential
claimant mandatory. The costs of identifying potential claimants, and
preparing and sending the notice, will make the litigation as a whole
uneconomic. In any event, where such claimants receive the notice and
choose to opt out, they will receive nothing. Because with small claims it is
uneconomic for them to litigate individually, they will almost invariably
remain members of the group. In the United States, in small claims group
actions, very few of the tens of thousands – in some cases millions – of
potential claimants actually notified choose to opt out. Accordingly, courts
must have the discretion to dispense with notice enabling parties to opt out
having regard to factors such as the cost, the nature of the relief, the size of
individual claims, the number of members of a group, the chances that
members will wish to opt out and so on. 49. Once the claims become more
substantial, however, individual notice is economically possible. It is
difficult to set a figure and the matter must be left to judicial discretion,
taking into account the factors I have already mentioned. Yet even if the
court decides that notice must be given to members of a group, it should
have a discretion as to how this is to be done – individual notification,
advertising, media broadcast, notification to a sample group, or a
combination of means, or different means for different members of the
group. In each case the court must take into account the likely cost and
benefit before deciding on the course of action. 50. The court should have a
discretion to order by whom the advertising should be undertaken. The Law
Society’s working party recommended that the Law Society should provide
further guidance to solicitors on advertisements placed in the early stages
prior to the establishment of a group action. I welcome that. The Law
Society also recommended that the timing and placement of subsequent
advertisements should be approved by the court. There is also a need to
approve the content of the advertisements and for the court to decide on the
appropriate body who should place the advertisement – either the lead
solicitor, the Law Society itself with its substantial media expertise, the
Legal Aid Board or the court itself.”
15
Practice Direction 19b, The group register, n. 6.1: “Once a GLO has been
made a Group Register will be established on which will be entered such
details as the court may direct of the cases which are to be subject to the
GLO”.
16 “19.12 – Effect of the GLO: (1) Where a judgment or order is given or
made in a claim on the group register in relation to one or more GLO issues
– (a) that judgment or order is binding on the parties to all other claims that
are on the group register at the time the judgment is given or the order is
made unless the court orders otherwise; and (b) the court may give
directions as to the extent to which that judgment or order is binding on the
parties to any claim which is subsequently entered on the group register.”
17
Practice Direction 19b, Cut-off dates, n. 13: “The management court may
specify a date after which no claim may be added to the Group Register
unless the court gives permission. An early cut-off date may be appropriate
in the case of ‘instant disasters’ (such as transport accidents). In the case of
consumer claims, and particularly pharmaceutical claims, it may be
necessary to delay the ordering of a cut-off date”.
18
Como afirma Christopher Hodges, no texto Multi-party actions: a European
approach: “The primary virtue of this approach is, therefore, its flexibility.
The Rule enables all similar cases to be transferred to a single management
court and to be managed in a consistent, but not necessarily identical,
fashion. The Rule is an enabling mechanism and leaves extensive discretion
to the managing judge. It may be, for example, that individual cases are not
resolved together, or that the result in a small number of test cases does in
fact bind all the others. The English Rule adopts a minimalist procedural
approach: all, it is suggested, that is necessary”.
19
“(1) Where a direction has been given for a claim on the group register to
proceed as a test claim and that claim is settled, the management court may
order that another claim on the group register be substituted as the test
claim. (2) Where an order is made under paragraph (1), any order made in
the test claim before the date of substitution is binding on the substituted
claim unless the court orders otherwise.”
20
“19.11 – Group Litigation Order: (1) (…). (2) A GLO must – (a) contain
directions about the establishment of a register (the “group register”) on
which the claims managed under the GLO will be entered; (b) specify the
GLO issues which will identify the claims to be managed as a group under
the GLO; and (c) specify the court (the “management court”) which will
manage the claims on the group register. (3) A GLO may – (a) in relation to
claims which raise one or more of the GLO issues – (i) direct their transfer
to the management court; (ii) order their stay (GL) until further order; and
(iii) direct their entry on the group register; (b) direct that from a specified
date claims which raise one or more of the GLO issues should be started in
the management court and entered on the group register; and (c) give
directions for publicising the GLO.”
21
Nesse sentido, encontra-se previsto na Practice Direction – Group
Litigation: “15.1 The management court may give directions – (1) for the
trial of common issues; and (2) for the trial of individual issues. 15.2
Common issues and test claims will normally be tried at the management
court. Individual issues may be directed to be tried at other courts whose
locality is convenient for the parties”.
22
“(1) This rule applied where the court has made a Group Litigation Order
(GLO). (2) In this rule – (a) ‘individual costs’ means costs incurred in
relation to an individual claim on the group register; (b) ‘common costs’
means – (i) costs incurred in relation to the GLO issues; (ii) individual costs
incurred in a claim while it is proceeding as a test claim, and (iii) costs
incurred by the lead solicitor in administering the group litigation; and (c)
‘group litigant’ means a claimant or defendant, as the case may be, whose
claim is entered on the group register. (3) Unless the court orders otherwise,
any order for common costs against group litigants imposes on each group
litigant several liability(GL) for an equal proportion of those common costs.
(4) The general rule is that where a group litigant is the paying party, he
will, in addition to any costs he is liable to pay to the receiving party, be
liable for – (a) the individual costs of his claim; and (b) an equal proportion,
together with all the other group litigants, of the common costs. (5) Where
the court makes an order about costs in relation to any application or
hearing which involved – (a) one or more GLO issues; and (b) issues
relevant only to individual claims, the court will direct the proportion of the
costs that is to relate to common costs and the proportion that is to relate to
individual costs. (6) Where common costs have been incurred before a
claim is entered on the group register, the court may order the group litigant
to be liable for a proportion of those costs. (7) Where a claim is removed
from the group register, the court may make an order for costs in that claim
which includes a proportion of the common costs incurred up to the date on
which the claim is removed from the group register. (Part 19 sets out rules
about group litigation)”.
A exposição histórica em torno da elaboração do instituto do Incidente de
Resolução de Demandas Repetitivas é importante, especialmente por dois
motivos. O primeiro, naturalmente, diz respeito à documentação e perpetuação
de todo o processo prévio e legislativo que resultou na criação do IRDR. O
segundo, que decorre do primeiro, está relacionado ao fornecimento de
elementos que propiciem a melhor compreensão do instituto, a partir de uma
interpretação autêntica e sistemática.
1
O documento, subscrito pelo presidente da Comissão, Luiz Fux e datado de
janeiro de 2010, encontra-se disponível em:
<https://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/1a_e_2a_Reuniao_PARA_grafica.pdf
acessado em 03.11.2016.
2
BRASIL. Congresso Nacional. Senado Federal. Comissão de Juristas,
Código de Processo Civil: anteprojeto. Brasília: Senado Federal, 2010.
Seguem as notas mencionadas na transcrição: “18 A preocupação com essa
possibilidade não é recente. Alfredo Buzaid já aludia a ela, advertindo que
há uma grande diferença entre as decisões adaptadas ao contexto histórico
em que proferidas e aquelas que prestigiam interpretações contraditórias da
mesma disposição legal, apesar de iguais as situações concretas em que
proferidas. Nesse sentido: “Na verdade, não repugna ao jurista que os
tribunais, num louvável esforço de adaptação, sujeitem a mesma regra a
entendimento diverso, desde que se alterem as condições econômicas,
políticas e sociais; mas repugna-lhe que sobre a mesma regra jurídica deem
os tribunais interpretação diversa e até contraditória, quando as condições
em que ela foi editada continuam as mesmas. O dissídio resultante de tal
exegese debilita a autoridade do Poder Judiciário, ao mesmo passo que
causa profunda decepção às partes que postulam perante os tribunais
(Uniformização de Jurisprudência. Revista da Associação dos Juízes do Rio
Grande do Sul, 34/139, jul. 1985). 19 No direito alemão a figura se chama
Musterverfahren e gera decisão que serve de modelo (= Muster) para a
resolução de uma quantidade expressiva de processos em que as partes
estejam na mesma situação, não se tratando necessariamente, do mesmo
autor nem do mesmo réu. (Ralf-Thomas Wittmann. Il ‘contenzioso di
massa’ in Germania, in: Giorgetti Alessandro e Valerio Vallefuoco, Il
Contenzioso di massa in Italia, in Europa e nel mondo, Milão: Giuffrè,
2008, p. 178). 20 Tais medidas refletem, sem dúvida, a tendência de
coletivização do processo, assim explicada por Rodolfo de Camargo
Mancuso: “Desde o último quartel do século passado, foi tomando vulto o
fenômeno da ‘coletivização’ dos conflitos, à medida que, paralelamente, se
foi reconhecendo a inaptidão do processo civil clássico para
instrumentalizar essas megacontrovérsias, próprias de uma conflitiva
sociedade de massas. Isso explica a proliferação de ações de cunho
coletivo, tanto na Constituição Federal (arts. 5º, XXI; LXX, ‘b’; LXXIII;
129, III) como na legislação processual extravagante, empolgando
segmentos sociais de largo espectro: consumidores, infância e juventude;
deficientes físicos; investidores no mercado de capitais; idosos; torcedores
de modalidades desportivas, etc. Logo se tornou evidente (e premente) a
necessidade da oferta de novos instrumentos capazes de recepcionar esses
conflitos assim potencializado, seja em função do número expressivo (ou
mesmo indeterminado) dos sujeitos concernentes, seja em função da
indivisibilidade do objeto litigioso, que o torna insuscetível de partição e
fruição por um titular exclusivo” (A resolução de conflitos e a função
judicial no Contemporâneo Estado de Direito. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2009, p. 379-380).
3
Houve modificações tão somente na ordem e numeração de alguns artigos.
Vide os arts. 895 a 906 do Anteprojeto e arts. 930 a 941 do Projeto nº
166/2010, na versão aprovada no Senado.
4
Sobre as duas versões, ou seja, a do Senado em primeiro turno e a da
Câmara dos Deputados, vide BUENO, Cassio Scarpinella. Projetos de novo
Código de Processo Civil comparados e anotados: Senado Federal PLS nº
166/2010 e Câmara dos Deputados PL nº 8.046/2010, São Paulo: Saraiva,
2014.
5
Os números são elevados. Somente em 2015, foram 6.360.854 casos novos
nos juizados especiais, representando 28,63% do montante protocolado em
primeiro grau. Dos processos pendentes em primeiro grau (68.475.728), no
final de 2015, 7.763.123 estavam nos juizados especiais, representando
11,33% do total de processos no primeiro grau de jurisdição. Os dados são
da Justiça em Números 2016, disponível em:
<http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pj-justica-em-numeros>, acesso
em 15 nov. 2016.
6
A proposta era de que os órgãos equivalentes nos juizados especiais, tais
como as turmas reunidas, no âmbito regional ou estadual, de acordo com a
estruturação pertinente, ficassem com a competência para os Incidentes de
Resolução de Demandas Repetitivas que fossem suscitados pelos órgãos
dos juizados especiais, sem prejuízo da vinculação às teses fixadas pelos
Tribunais Regionais ou de Justiça, quando matéria comum fosse afetada a
estes órgãos. A questão será apreciada oportunamente no capítulo destinado
à competência.
7
Trata-se do parecer final nº 956, de 2014, da Comissão Temporária
destinada a estudar o Substitutivo da Câmara ao Projeto de Lei do Senado
nº 166, de 2010, que estabelece o Código de Processo Civil, cujo relator era
o então Senador Vital do Rêgo.
8
A redação dos dispositivos era a seguinte:
“§ 1º O incidente pode ser suscitado perante tribunal de justiça ou tribunal
regional federal.
§ 2º O incidente somente pode ser suscitado na pendência de qualquer
causa de competência do tribunal.
§ 3º O pedido de instauração do incidente será dirigido ao presidente do
tribunal:
I – pelo relator ou órgão colegiado, por ofício;
II – pelas partes, pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela
pessoa jurídica de direito público ou por associação civil cuja finalidade
institucional inclua a defesa do interesse ou direito objeto do incidente, por
petição”.
9
Como será analisado no capítulo da competência.
10
No caso, o art. 991, §§ 1º a 3º, do Substitutivo da Câmara dos Deputados.
Vide parecer final, p. 179.
11
No parecer final, p. 180, alínea “e”, referindo-se ao art. 990, § 5º, do SCD.
12
No item anterior, 7.2.
13
Como mencionado anteriormente. Vide o capítulo específico sobre a
KapMuG.
14
Que correspondia ao art. 974 do parecer final apresentado. Vide página 511
do referido documento.
15
O tema será oportunamente enfrentado no capítulo pertinente à revisão da
tese jurídica.
Capítulo 8
1
Temas de direito processual: oitava série, São Paulo: Saraiva, 2004, p. 41-
52.
2
Idem, p. 47.
3
Vide, especialmente, Comparative civil procedure, de Peter Gottwald, in:
Ritsumeikan Law Review: International Edition, 2005;
Prozeßrechtsvergleichung, de Peter Gilles, Köln: Carl Heymanns, 1996; e
Einführung in die Rechtsvergleichung, de Konrad Zweigert e Hein Kötz, 3.
Auf., Tübingen: J. C. B. Mohr, 1996.
4
Sobre o caráter declaratório ou constitutivo dos pronunciamentos judiciais,
Teresa Arruda Alvim Wambier, em Precedentes e evolução do direito,
leciona que: “No fundo, não são muito diferentes as polêmicas que giram
em torno da tal já referida declaratory theory do common law (uma teoria
segundo a qual o juiz não cria direito, mas “declara” o direito preexistente)
e do “positivismo” jurídico no civil law (o juiz decide conforme a lei)”.
Para concluir que: “Todos sabem que o juiz cria direito. É mais honesto
intelectualmente reconhecê-lo de uma vez por todas e tentar estabelecer
limites para esta ‘criatividade’ ou, em outras palavras, para o tal ‘ativismo’
judicial – que são conceitos muito próximos, cuja essência, no meu
entender, como observei antes, é idêntica”.
5
Nesse sentido, José Rogério Cruz e Tucci, Parâmetros de eficácia e
critérios de interpretação do precedente judicial: “A peculiaridade da
incidência do precedente em cotejo com a aplicação da lei consiste
sobretudo na amplitude da área de discricionariedade que os juízes
possuem. A individuação da ratio decidendi é uma operação heurística de
natureza casuístico-indutiva, pela qual a regra jurídica é extraída do
confronto entre a anterior decisão e o caso concreto submetido à apreciação
judicial. A sentença do juiz do civil law, a seu turno, também pressupõe um
labor intelectual, porém, de cunho normativo-dedutivo, no qual deve ser
apresentada uma justificação das circunstâncias fáticas e jurídicas que
determinaram a subsunção destes a determinado texto de lei”.
6
Vide os livros Manual de direito civil, São Paulo: Revista dos Tribunais,
1980, e especialmente O direito, a lei e a jurisprudência, São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1974.
7
Em O direito, a lei e a jurisprudência, p. 169-170.
8
Idem, p. 178-179.
9
Vide, sobre o tema, o livro Stare decisis et non quieta movere: a vinculação
aos precedentes no direito comparado e brasileiro, de Gustavo Santana
Nogueira, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, fruto da sua dissertação de
mestrado.
10
Teoria dos direitos fundamentais, 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 90-
91.
11
A notícia sobre o fato está disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/coti-dian/ff23109823.htm>.
12
Stare decisis et non quieta movere: a vinculação aos precedentes no direito
comparado e brasileiro, p. 174-178.
13
Segundo o autor, na obra supramencionada e com lastro em Lee Strang e
Polly Price, “os precedentes sobre matéria constitucional têm uma força
menor em comparação com precedentes que interpretam leis escritas ou a
common law, por causa da grande dificuldade de se eliminar um precedente
constitucional incorreto por meios extrajudiciais” (idem, p. 175).
14
Sucedida pela Supreme Court for the United Kingdom, em 2005.
15
BYRD, B. Sharon. Einführung in die anglo-amerikanische Rechtssprache:
Introduction to anglo-american law and language. München: Beck, 1997.
16
“Practice Statement (Judicial Precedent) [1966] 3 All E. R. 77 – Before
judgments were given in the House of Lords on July 26, 1966, Lord
Gardiner, L. C., made the following statement on behalf of himself and the
Lords of Appeal in Ordinary: Their lordships regard the use of precedent as
an indispensable foundation upon which to decide what is the law and its
application to individual cases. It provides at least some degree of certainty
upon which individuals can rely in the conduct of their affairs, as well as a
basis for orderly development of legal rules. Their lordships nevertheless
recognize that too rigid adherence to precedent may lead to injustice in a
particular case and also unduly restrict the proper development of the law.
They propose therefore to modify their present practice and, while treating
former decisions of this House as normally binding, to depart from a
previous decision when it appears right to do so. In this connection they
will bear in mind the danger of disturbing retrospectively the basis on
which contracts, settlements of property and fiscal arrangements have been
entered into and also the especial need for certainty as to the criminal law.
This announcement is not intended to affect the use of precedent elsewhere
than in this House.”
17
“(...) The following excerpt is from Lord Bridge of Harwich’s speech
representing the opinion of the majority of the House of Lords in Regina v.
Shivpuri: ‘I am thus led to the conclusion that there is no valid ground on
which Anderton v. Ryan can be distinguished. I have made clear my own
conviction, which as a party to the decision (and craving the indulgence of
my noble and learned friends who agreed in it) I am the readier to express,
that the decision was wrong. What then is to be done? If the case is
indistinguishable, the application of the strict doctrine of precedent would
require that the present appeal be allowed. Is it permissible to depart from
precedent under the Practice Statement (Judicial Precedente) [1966] 1
W.L.R. 1234 notwithstanding the especial need for certainty in the criminal
law? The following considerations lead me to answer that question
affirmatively. First, I am undeterred by the consideration that the decision in
Anderton v. Ryan was so recent. The Practice Statement is an effective
abandonment of our pretention to infallibility. If a serious error embodied in
a decision of this House has distorted the law, the sooner it is corrected the
better. Secondly, I cannot see how, in the very nature of the case, anyone
could have acted in reliance on the law as propounded in Anderton v. Ryan
in the belief that he was acting innocently and now find that, after all, he is
to be held to have committed a criminal offence. Thirdly, to hold the House
bound to follow Anderton v. Ryan because it cannot be distinguished and to
allow the appeal in this case would, it seems to me, be tantamount to a
declaration that the Act of 1981 left the law of criminal attempts unchanged
following the decision in Reg. v. Smith [1975] A.C. 476. Finally, if,
contrary to my present view, there is a valid ground on which it would be
proper to distinguish cases similar to that considered in Anderton v. Ryan,
my present opinion on that point would not foreclose the option of making
such a distinction in some future case.” BYRD, B. Sharon. Einführung in
die anglo-amerikanische Rechtssprache: introduction to anglo-american
law and language, p. 10-11.
18
Vide Christoph A. Kern, The respect for court decisions in German Law. In:
MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro; WAMBIER, Teresa Arruda
Alvim. O processo em perspectiva: jornadas brasileiras de direito
processual – Homenagem a José Carlos Barbosa Moreira, p. 147-150.
19
Christoph Kern, no estudo supramencionado, abordou o tema basicamente
sob o prisma do recrutamento e carreira dos magistrados, enaltecendo que a
seleção a partir de resultados obtidos em exames, na Alemanha, assim
como no Brasil, de certo modo, contribui para a independência dos juízes.
E, no país germânico, para o fortalecimento dos precedentes. Vide p. 151-
152.
20
Conforme dados indicados no primeiro capítulo. Vide, também, nesse
sentido: MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro Mendes. Ações coletivas e
meios de resolução coletiva de conflitos no direito comparado e nacional,
4. ed., especialmente p. 31, e Poder Judiciário: problemas, propostas e
controle externo.
21
Os números são impressionantes especialmente na Corte Constitucional
alemã: entre 1951 e 1997, houve apenas nove mudanças de entendimento,
dentro de um total de 3.500 decisões. Ou seja, uma média de praticamente
uma alteração a cada cinco anos. Nesse sentido, Christoph Kern, The
respect for court decisions in German Law.
22
São 12 Turmas, denominadas Senate em alemão, Cíveis, 4 Turmas
Criminais e 8 Turmas Específicas. Todas elas especializadas para em
determinadas matérias, sem que haja competência concorrente. Há, ainda,
uma quinta turma criminal, com competência definida pelo território
específico de alguns estados.
23
The respect for court decisions in German Law, p. 154: “It should also be
noted that courts have since long held that lawyers must, in principle, know
the law and its interpretation by the courts. In particular, lawyers owe their
clients a professional duty to know all relevant precedents and to align their
legal counseling and procedural strategy with them. If the client suffers
damages as a consequence of a lawyer’s violation of this duty, the client can
sue the lawyer and his or her professional indemnity insurance company for
compensation. (…) However strict the liability is, a duty to know and
respect precedents makes only sense if the lawyer or civil servant must
expect that courts normally follow precedents. The existence of such duty
is, therefore, a sign of the high respect German courts normally show for
precedents; at the same time, it reinforces this respect.”
24
A ética dos precedentes, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.
25
Gesetz über das Bundesverfassungsgericht
(Bundesverfassungsgerichtsgesetz – BVerfGG), § 31 (1) Die
Entscheidungen des Bundesverfassungsgerichts binden die
Verfassungsorgane des Bundes und der Länder sowie alle Gerichte und
Behörden.
26
Vide, neste sentido, ROSENBERG, Leo; SCHWAB, Karl Heinz;
GOTTWALD, Peter. Zivilprozessrecht. 17. Auflage, München, 2010, § 17,
Rn. 4.
27
Como referido em trabalho anterior: MENDES, Aluisio Gonçalves de
Castro Mendes. Precedentes e jurisprudência: papel, fatores e perspectivas
no direito brasileiro contemporâneo, In: MENDES, Aluisio Gonçalves de
Castro; MARINONI, Luiz Guilherme; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim.
Direito Jurisprudencial – II, São Paulo: RT, 2014.
9.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE A JURISDIÇÃO. A
AMPLIAÇÃO DA ACEPÇÃO DE JURISDIÇÃO
1
O autor pode discorrer mais longamente sobre a jurisdição em MENDES,
Aluisio Gonçalves de Castro. Teoria Geral do Processo. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2009.
2
CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições, 2. ed., v. II, p. 11. Trad. J.
Guimarães Menegale. Notas de Enrico Tullio Liebman. São Paulo: Saraiva,
1943.
3
Supremo Tribunal Federal, quando relacionada com a Constituição da
República, e do respectivo Tribunal de Justiça, quando pertinente à
Constituição do Estado.
4
Art. 5º, inciso LXXI, da Constituição da República.
5
Art. 114, § 2º, da Carta Magna.
6
DINAMARCO, Cândido Rangel; LOPES, Bruno Vasconcelos Carrilho.
Teoria Geral do novo Processo Civil: de acordo com a Lei 13.256, de
4.2.2016. São Paulo: Malheiros, 2016, p. 242.
7
Art. 120, parágrafo único, do CPC.
8
Art. 133 e seguintes do CPC.
9
Arts. 146, §§ 1º, 2º e 3º, e 148 do CPC.
10
Art. 436, inciso III, do CPC.
11
Art. 623, parágrafo único, do CPC.
12
Sobre a discussão em torno da bipartição entre processos com dualidade de
partes e o da vinculação de procedimentos paralelos, vide HESS, Burkhard;
REUSCHLE, Fabian; RIMMELSPACHER, Bruno. Kölner Kommentar zum
KapMuG: Gesetz über Musterverfahren in kapitalmarktrechlichen
Streitigkeiten (Kapitalanleger-Musterverfahrensgesetz – KapMuG), 2.
Auflage, Köln: Carl Heymanns, 2014, p. 22.
13
Conforme anteriormente mencionado, no capítulo sobre a genealogia do
incidente.
14
Art. 983 do CPC. Grifos nossos.
15
Art. 984, § 2º, do CPC.
16
Art. 985, caput, do CPC.
17
Art. 985, inciso I, do CPC.
18
Art. 985, inciso II, do CPC.
19
Art. 985, § 1º, do CPC.
20
Art. 985, § 2º, do CPC.
21
A utilização do termo pressuposto será oportunamente enfrentada. Mas,
desde logo, justifica-se a opção, por se entender que os requisitos estão
relacionados abstratamente aos processos em geral e não às condições da
ação, na medida em que a existência ou não de processo em tramitação no
tribunal como condição sine qua non independe da aferição em concreto de
elementos como as partes, o pedido ou a causa de pedir. Nesta direção, vide
a definição de pressupostos processuais em DINAMARCO, Cândido
Rangel; LOPES, Bruno Vasconcelos Carrilho. Teoria Geral do novo
Processo Civil: de acordo com a Lei 13.256, de 4.2.2016, p. 251.
Capítulo 10
1
Como visto, no respectivo capítulo.
2
Na primeira versão do § 93a, aprovada em 17.12.1990, que entrou em vigor
a partir de 1991. O Estatuto da Justiça Administrativa data de 21.01.1960,
tendo entrado em vigor no dia 01.04.1960. A atual versão é de 19.03.1991,
com modificações pontuais posteriores.
3
Vide KRUPPA, Jan J., Kapitalanleger-Musterverfahrensgesetz (KapMuG) –
Bestandsaufnahme und Perspektiven, p. 84-88.
4
BVerwG, Beschluss vom 01.04.2009, Az. 4 B 61.08, 4 B 62.08.
5
Vide: MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações coletivas e meios de
resolução coletiva de conflitos no direito comparado e nacional. 4. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 63; HODGES, Christopher. Multi-
party actions: a European approach. Duke Journal of Comparative &
International Law, vol. 11, number 2, Spring, 2001.
6
Lei sobre procedimento-modelo nos conflitos jurídicos do mercado de
capitais (Gesetz über Musterverfahren in kapitalmarktrechtlichen
Streitigkeiten – KapMuG). A previsão numérica se encontra no § 6.
7
A ausência deste requisito (risco de ofensa à isonomia e à segurança
jurídica) serviu como fundamento, além de outros, para se inadmitir um dos
primeiros IRDRs suscitados no Tribunal Regional Federal da 2ª Região. O
Ministério Público Federal havia proposto o incidente, para a fixação da
tese de que “a presença do Ministério Público em um dos polos da demanda
é suficiente para ensejar a competência da justiça federal para apreciar e
julgar o processo”. Entretanto, a questão já se encontrava, como se
encontra, pacificada na jurisprudência, restando apenas o posicionamento
tópico de órgãos judiciais. Nesse sentido: “4. Por fim, não se mostraria
apropriada, de qualquer sorte, à vista das circunstâncias, a adoção do IRDR
para ações civis públicas e ações de improbidade administrativa propostas
pelo Ministério Público Federal, quando eventual divergência seria de uma
única turma deste Tribunal Regional Federal da 2ª Região, ao passo que o
Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal são acordes no
sentido de que a presença do MPF atrai a competência da Justiça Federal.
Basta pensar que: (i) admitido o incidente, o relator suspenderá os
processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitam no Estado ou
na região, conforme o caso (art. 982, I, do CPC); (ii) a extensão da
suspensão a todos os processos individuais ou coletivos em curso no
território nacional, como previsto nos §§ 3º e 4º do art. 982, constituiria
evidente demasia, diante da posição isolada de órgão judicante; (iii) o
recurso extraordinário ou especial, contra o julgamento de mérito do IRDR
tem efeito suspensivo, presumindo-se a repercussão geral de questão
constitucional eventualmente discutida (art. 987, § 1º, do CPC), o que
potencializa a duração da suspensão dos processos e facilitaria o recurso
extraordinário em relação a questão já tranquila na Suprema Corte.” TRF-2,
IRDR, nº 0003096-69.2016.4.02.0000 (2016.00.00.003096-9), Órgão
Especial, Rel. Des. Luiz Paulo da Silva Araujo Filho, decisão em
27.10.2016, disponibilizada em 10.11.2016.
8
Nos termos do art. 1.039, parágrafo único, do CPC. Pode-se pensar em uma
situação restrita a uma região do estado, em que haja uma quantidade
razoável de demandas repetitivas, mas que o Supremo Tribunal Federal
venha a negar a repercussão geral. No caso, a multiplicidade local de
processos e o risco de ofensa à isonomia poderão ensejar o interesse em
relação à instauração do IRDR.
9
Vide sobre o processo legislativo no capítulo sobre as origens do Incidente
de Resolução de Demandas Repetitivas no direito nacional.
10
Mesmo assim, há ordenamentos constitucionais que permitem ao legislador
ordinário o estabelecimento complementar das competências da Corte
Suprema, como ocorre no art. 93 (2) da Lei Fundamental alemã.
11
Nos termos dos arts. 113, 121 e 124, parágrafo único, da Constituição da
República, respectivamente.
12
Nesse sentido, RE 571572 ED, Re. Min. Ellen Gracie, Tribunal Pleno, j.
26.08.2009, DJe 223, RTJ, vol. 216-01, p. 540, valendo destacar na ementa:
“2. Quanto ao pedido de aplicação da jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça, observe-se que aquela egrégia Corte foi incumbida pela Carta
Magna da missão de uniformizar a interpretação da legislação
infraconstitucional, embora seja inadmissível a interposição de recurso
especial contra as decisões proferidas pelas turmas recursais dos juizados
especiais. 3. No âmbito federal, a Lei 10.259/2001 criou a Turma de
Uniformização da Jurisprudência, que pode ser acionada quando a decisão
da turma recursal contrariar a jurisprudência do STJ. É possível, ainda, a
provocação dessa Corte Superior após o julgamento da matéria pela citada
Turma de Uniformização. 4. Inexistência de órgão uniformizador no âmbito
dos juizados estaduais, circunstância que inviabiliza a aplicação da
jurisprudência do STJ. Risco de manutenção de decisões divergentes quanto
à interpretação da legislação federal, gerando insegurança jurídica e uma
prestação jurisdicional incompleta, em decorrência da inexistência de outro
meio eficaz para resolvê-la. 5. Embargos declaratórios acolhidos apenas
para declarar o cabimento, em caráter excepcional, da reclamação prevista
no art. 105, I, f, da Constituição Federal, para fazer prevalecer, até a criação
da turma de uniformização dos juizados especiais estaduais, a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça na interpretação da
legislação infraconstitucional”.
13
Nesse sentido: CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil
brasileiro, 3. ed., São Paulo: Atlas, 2017.
14
Embora sob este aspecto, o tema possa ser revisitado e aprofundado no
capítulo pertinente à competência. No presente momento, a análise estará
focada principalmente no debate pertinente aos requisitos.
15
Art. 983 do CPC.
16
O tema será retomado por ocasião da eficácia vinculativa do IRDR.
11.1. LEGITIMIDADE PARA O IRDR
11.5.2. As partes
1
Nesse sentido, devem ser mencionadas as ponderações de Luiz Guilherme
Marinoni, no livro Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas:
Decisão da questão idêntica x Precedente. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2016, e de Marcos de Araújo Cavalcanti, Incidente de Resolução
de Demandas Repetitivas (IRDR), São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
2
O tema será analisado e revisitado, de modo mais amplo e aprofundado, no
capítulo pertinente aos efeitos vinculativos da decisão. Neste momento, a
abordagem estará restrita ao aspecto subjetivo, ou da necessidade ou não de
representatividade adequada, para que possa ser apreciado o incidente e
resolvida a contento a questão jurídica comum.
3
MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações coletivas e meios de
resolução coletiva no direito comparado e nacional, p. 65-94.
4
A previsão constava no substitutivo aprovado na Câmara dos Deputados.
5
No Tribunal Regional Federal da 2ª Região tramitou processo criminal
envolvendo crime contra a ordem econômica, relacionado com consórcios.
Com base em previsão contida no Código de Defesa do Consumidor, um
número surpreendente de consorciados requereu a habilitação no processo
criminal, na condição de assistente, o que, a partir de certo momento,
acabou representando um grande problema para a tramitação do processo
dentro de uma duração razoável de tempo, tendo o relator proposto e o
colegiado acolhido, como solução, a habilitação tão somente de uma
associação de defesa dos consorciados, o que acabou colaborando para que
o processo criminal pudesse retomar o seu rumo.
6
Art. 976, § 2º, do CPC.
7
Nos termos dos arts. 948 e 949 do CPC.
Capítulo 12
1
Como no art. 977, caput; 978; 979, § 1º; e 986. Há farta menção à
expressão relator, também indicando que tudo se desenvolve no âmbito de
tribunal.
2
Sobre o tema, anteriormente abordado no presente trabalho, remete-se ao
item 8.5.3 (Estrutura e Organização do Poder Judiciário), no capítulo 8.
3
Na Justiça do Trabalho, por força de interpretação analógica e sistemática,
considerando-se também que os recursos de revista repetitivos foram
previstos pela Lei nº 13.015/2014.
4
A problemática do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas e os
Juizados Especiais, que se expõe a seguir, foi abordada pelo autor, em
conjunto com o seu orientando no doutorado, Odilon Romano Neto, em
trabalhos publicados anteriormente. Nesse sentido, MENDES, Aluisio
Gonçalves de Castro; ROMANO NETO, Odilon, Análise da relação entre o
novo incidente de resolução de demandas repetitivas e o microssistema dos
juizados especiais, Revista de Processo, v. 245, São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2015, p. 275-309; MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro;
ROMANO NETO, Odilon Romano, A constitucionalidade da aplicação do
incidente de resolução de demandas repetitivas aos juizados especiais, in:
Os juízes e o novo CPC. Salvador: JusPodivm, 2017, p. 373-411.
MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro; ROMANO NETO, Odilon
Romano, O incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR) e os
juizados especiais, in: GAJARDONI, Fernando (Org.), Repercussões do
novo Código de Processo Civil na magistratura, Salvador: JusPodivm,
2015, p. 15-59; MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro; ROMANO
NETO, Odilon, Juizados especiais e o Incidente de Resolução de Demandas
Repetitivas no novo Código de Processo Civil, in: FONSECA, Reynaldo
Soares; VELOSO, Roberto Carvalho (Orgs.), Justiça Federal: Estudos em
homenagem ao desembargador federal Leomar Amorim, Belo Horizonte:
D’Plácido, 2016, p. 19-61.
5
A Comissão Permanente de Processo Civil da Associação dos Juízes
Federais do Brasil (AJUFE) é coordenada por Aluisio Gonçalves de Castro
Mendes (Desembargador Federal do TRF-2) e composta dos seguintes
magistrados federais: Alberto Nogueira Júnior (RJ), Élio Wanderley de
Siqueira Filho (PE), Frederico Augusto Leopoldino Koehler (PE), Jorge
Luiz Ledur Brito (RS), Marcio Flávio Mafra Leal (DF), Newton Pereira
Ramos Neto (MA), Odilon Romano Neto (RJ), Oscar Valente Cardoso
(DF), Rafael Martins Costa Moreira (RS), Sérgio Renato Tejada Garcia
(RS) e Vicente de Paula Ataide Junior (PR).
6
CHASE, Oscar G. et al. Civil litigation in comparative context. St. Paul,
MN: Thomson West, 2007, p. 288.
7
“Following the lead of the establishment of the initial small claims court in
Kansas in 1912, every state in the United States has created some form of a
small claims court system” (cit., p. 293-294).
8
Conforme exposto em anterior trabalho, elaborado por um dos autores deste
artigo, foram três as ondas renovatórias apontadas por Mauro Cappelletti e
Bryant Garth, a primeira relacionada à ampliação da assistência judiciária
gratuita, a segunda relativa à valorização da tutela coletiva e a terceira, na
qual se insere a criação de juizados de pequenas causas, o desenvolvimento
de técnicas processuais combinadas, mediante aperfeiçoamento da
legislação processual, inclusive pela introdução de meios alternativos de
resolução de conflitos (MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Teoria
Geral do Processo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 57-58).
9
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant, cit., p. 15-18.
10
Idem, p. 19.
11
Para o litigante habitual, como as grandes corporações e os entes públicos, a
demora na tramitação do processo é, na generalidade dos casos, um
fenômeno administrável e, em alguma medida, até mesmo desejado, eis que
muitas vezes essas instituições se valem da morosidade processual como
um mecanismo para rolagem de sua dívida.
12
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant, cit., p. 25-26.
13
A doutrina refere ainda à criação pioneira de Conselhos de Conciliação no
estado do Rio Grande do Sul, no ano de 1982 (PEREIRA, Guilherme
Bollorini. Juizados especiais federais cíveis: questões de processo e de
procedimento no contexto do acesso à justiça. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2004, p. 32; no mesmo sentido: BOLLMANN, Vilian. Juizados Especiais
Federais: comentários à legislação de regência. São Paulo: Juarez de
Oliveira, 2004, p. 8; ROCHA, Felippe Borring. Juizados especiais cíveis:
Aspectos polêmicos da Lei nº 9.00, de 26/9/1995. 5. ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2009, p. XXXII). No entanto, a Lei nº 7.244/84 permanece
como o primeiro diploma legislativo a prever Juizados Especiais de
Pequenas Causas em âmbito nacional.
14
GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil. vol. II. Rio de Janeiro:
Forense, 2010, p. 441.
15
A exclusão das pessoas jurídicas do rol de legitimados ativos dos juizados
especiais cíveis buscou evitar que estes se tornassem órgãos de cobrança,
em especial de grandes empresas, desvirtuando a finalidade essencial
buscada com sua criação, que é a ampliação do acesso à justiça.
16
Sobre o tema, vide MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Competência
cível da Justiça Federal. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.
17
É importante lembrar, no ponto, que a Lei nº 9.099/95 não apenas não
contemplou a possibilidade de propositura de ação em face de pessoas
jurídicas de direito público, como expressamente a vedou no § 2º de seu art.
3º.
18
GOMES JUNIOR, Luiz Manoel et al. Comentários à nova lei dos juizados
especiais da fazenda pública: Lei 12.153, de 22 de dezembro de 2009. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 31.
19
Nesse sentido: GOMES JUNIOR, Luiz Manoel et al, cit., p. 37-40 e, ainda,
GRECO, Leonardo, cit., p. 442.
20
Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os estados criarão:
I – juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos,
competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis
de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo,
mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses
previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de
juízes de primeiro grau;
21
Um importante aspecto inovador do regramento constitucional foi a
extensão da competência dos juizados especiais para julgamento de causas
criminais relativas a infrações penais de menor potencial ofensivo. No
entanto, por não guardar relação direta com o objeto do presente estudo, tal
inovação não será objeto de abordagem.
22
Sobre o ponto, Felippe Borring Rocha tece crítica ao regramento da Lei nº
9.099/95, que é aplicável com maior intensidade às Leis 10.259/01 e
12.153/09: “Como se pode facilmente perceber, o legislador não foi feliz no
seu intento. A primeira crítica que salta aos olhos é que o legislador se
utilizou indevidamente do valor para definir a complexidade da causa. De
fato, o valor da causa não tem relação direta com a sua complexidade”.
(ROCHA, Felippe Borring. Juizados especiais cíveis: aspectos polêmicos
da Lei nº 9.099, de 26/9/1995. 5. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p.
26)
23
STF, Tribunal Pleno, RE 571572 ED, Rel. Min. Ellen Gracie, j. 26.08.2009,
DJe-223, 27.11.2009.
24
Nesse sentido, é de se registrar o antigo instituto do prejulgado, presente no
Código de Processo Civil de 1939 e suprimido no Código de Processo Civil
de 1973, quando substituído pelo incidente de uniformização de
jurisprudência, presente desde o Decreto 16.273, de 20 de dezembro de
1923, que conferiu nova organização à Justiça do Distrito Federal
(MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao código de processo
civil, vol. V, arts. 476 a 565. 16. ed, Rio de Janeiro: Forense, 2012.) e,
regressando ainda mais, aos assentos da Casa de Suplicação, introduzidos
em Portugal a partir das Ordenações Manuelinas, e que se integraram à
cultura processual brasileira, onde tiveram aplicação, na medida em que
recepcionados pelo Supremo Tribunal do Império, até o advento da
Constituição da República em 1891 (MANCUSO, Rodolfo de Camargo.
Divergência jurisprudencial e súmula vinculante. 4. ed. rev., atual. e ampl.,
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 217/218).
25
A Justiça Federal é atualmente organizada em cinco regiões: 1ª Região (AC,
AP, AM, BA, DF, GO, MA, MT, MG, PA, PI, RO, RR e TO), 2ª Região (RJ
e ES), 3ª Região (SP e MS), 4ª Região (RS, SC e PR) e 5ª Região (AL, CE,
PB, PE, RN, SE). A Emenda Constitucional nº 73, de 06 de junho de 2013,
criou mais quatro Regiões na Justiça Federal, a 6ª Região (integrada pelos
estados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul), a 7ª Região
(integrada unicamente pelo estado de Minas Gerais), a 8ª Região (integrada
pelos estados da Bahia e Sergipe) e a 9ª Região (integrada pelos estados do
Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima). A instalação dos novos Tribunais
Regionais Federais, no entanto, ainda não foi concretizada, em razão de
reflexos da propositura da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5017,
por meio da qual é questionada a Emenda Constitucional nº 73/2013.
26
GOMES JUNIOR, Luiz Manoel et al,. cit. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2010, p. 171. Inteiro teor do Projeto de Lei nº 4.723/04
disponível em:
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?
idProposicao=274425. Acesso em 14 maio 2015.
27
A obrigatoriedade da suspensão dos processos em curso nos Juizados
Especiais já era defendida no Enunciado nº 93 do Fórum Permanente de
Processualistas Civis: “Admitido o incidente de resolução de demandas
repetitivas, também devem ficar suspensos os processos que versem sobre a
mesma questão objeto do incidente e que tramitem perante os juizados
especiais no mesmo estado ou região” (Disponível em:
<http://portalprocessual.com/wp-content/uploads/2015/03/Carta-de-Belo- -
Horizonte.pdf>. Acesso em 22 set. 2015).
28
Parecer Final nº 956 do Senador Vital do Rêgo, p. 178-179.
13.1. A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO NOS JULGAMENTOS
DE QUESTÕES COMUNS. O SURGIMENTO DE CADASTROS
NO DIREITO ESTRANGEIRO E A EVOLUÇÃO NO DIREITO
NACIONAL
1
Portanto, mesmo que suscitado internamente no tribunal, por relator ou
órgão judicial colegiado, a distribuição para o juízo competente para o
processamento e julgamento do IRDR será necessária.
2
No Tribunal Regional Federal da 2ª Região, por exemplo, nos termos do art.
112-A, incisos I e II, do Regimento Interno, os Incidentes de Resolução de
Demandas Repetitivas são da competência das respectivas Seções
Especializadas quando a discussão versar sobre matéria restrita à
competência especializada da respectiva Seção. Entretanto, será da
competência do Pleno ou do Órgão Especial, quando a matéria envolver
arguição de inconstitucionalidade, por força do art. 97 da Constituição da
República, ou, por consequência lógica, estiver sujeita à competência de
mais de uma Seção Especializada.
3
Por exemplo, se há uma discussão relacionada à prescritibilidade de danos
provocados a entes políticos por agentes públicos em razão de atos de
improbidade, poderão ser formuladas questões sucessivas, como (a) a
pretensão indenizatória em face de agentes públicos condenados por atos de
improbidade é prescritível? (b) em caso afirmativo, qual o lapso temporal
ensejador da prescrição? (c) neste caso, qual o marco inicial para a
contagem da prescrição? (d) quais causas podem interromper a contagem da
prescrição?
4
No Tribunal de Justiça de São Paulo, por exemplo, o Incidente de
Resolução de Demandas Repetitivas registrado sob o nº 4, admitido em
18.08.2016, listou nove temas relacionados aos requisitos e efeitos do
atraso de entrega de unidades autônomas em construção aos consumidores,
para serem uniformizados.
5
“Recurso extraordinário. Repercussão geral. Prévio requerimento
administrativo e interesse em agir. 1. A instituição de condições para o
regular exercício do direito de ação é compatível com o art. 5º, XXXV, da
Constituição. Para se caracterizar a presença de interesse em agir, é preciso
haver necessidade de ir a juízo. 2. A concessão de benefícios
previdenciários depende de requerimento do interessado, não se
caracterizando ameaça ou lesão a direito antes de sua apreciação e
indeferimento pelo INSS, ou se excedido o prazo legal para sua análise. É
bem de ver, no entanto, que a exigência de prévio requerimento não se
confunde com o exaurimento das vias administrativas. 3. A exigência de
prévio requerimento administrativo não deve prevalecer quando o
entendimento da Administração for notória e reiteradamente contrário à
postulação do segurado. 4. Na hipótese de pretensão de revisão,
restabelecimento ou manutenção de benefício anteriormente concedido,
considerando que o INSS tem o dever legal de conceder a prestação mais
vantajosa possível, o pedido poderá ser formulado diretamente em juízo –
salvo se depender da análise de matéria de fato ainda não levada ao
conhecimento da Administração –, uma vez que, nesses casos, a conduta do
INSS já configura o não acolhimento ao menos tácito da pretensão. 5.
Tendo em vista a prolongada oscilação jurisprudencial na matéria, inclusive
no Supremo Tribunal Federal, deve-se estabelecer uma fórmula de transição
para lidar com as ações em curso, nos termos a seguir expostos. 6. Quanto
às ações ajuizadas até a conclusão do presente julgamento (03.09.2014),
sem que tenha havido prévio requerimento administrativo nas hipóteses em
que exigível, será observado o seguinte: (i) caso a ação tenha sido ajuizada
no âmbito de Juizado Itinerante, a ausência de anterior pedido
administrativo não deverá implicar a extinção do feito; (ii) caso o INSS já
tenha apresentado contestação de mérito, está caracterizado o interesse em
agir pela resistência à pretensão; (iii) as demais ações que não se
enquadrem nos itens (i) e (ii) ficarão sobrestadas, observando-se a
sistemática a seguir. 7. Nas ações sobrestadas, o autor será intimado a dar
entrada no pedido administrativo em 30 dias, sob pena de extinção do
processo. Comprovada a postulação administrativa, o INSS será intimado a
se manifestar acerca do pedido em até 90 dias, prazo dentro do qual a
Autarquia deverá colher todas as provas eventualmente necessárias e
proferir decisão. Se o pedido for acolhido administrativamente ou não
puder ter o seu mérito analisado devido a razões imputáveis ao próprio
requerente, extingue-se a ação. Do contrário, estará caracterizado o
interesse em agir e o feito deverá prosseguir. 8. Em todos os casos acima –
itens (i), (ii) e (iii) –, tanto a análise administrativa quanto a judicial
deverão levar em conta a data do início da ação como data de entrada do
requerimento, para todos os efeitos legais. 9. Recurso extraordinário a que
se dá parcial provimento, reformando-se o acórdão recorrido para
determinar a baixa dos autos ao juiz de primeiro grau, o qual deverá intimar
a autora – que alega ser trabalhadora rural informal – a dar entrada no
pedido administrativo em 30 dias, sob pena de extinção. Comprovada a
postulação administrativa, o INSS será intimado para que, em 90 dias, colha
as provas necessárias e profira decisão administrativa, considerando como
data de entrada do requerimento a data do início da ação, para todos os
efeitos legais. O resultado será comunicado ao juiz, que apreciará a
subsistência ou não do interesse em agir. (RE 631240, Rel. Min. Roberto
Barroso, Tribunal Pleno, j. em 03.09.2014, DJe-220, 10.11.2014)
15.1. A SUSPENSÃO DOS PROCESSOS PENDENTES
1
Vide, como exposto anteriormente, por exemplo, a decisão proferida sobre
a admissibilidade do Musterverfahren no âmbito do mercado de capitais,
realizada pelo órgão de primeiro grau, com efeito vinculativo para o
tribunal de segundo grau.
2
REsp 1.243.887/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 12.12.2011. Este
entendimento vem se mantendo, especialmente diante do trânsito em
julgado do título: “Processual civil. Embargos declaratórios no recurso
especial. Recebimento como agravo regimental. Requisitos de
admissibilidade. Execução individual de sentença coletiva. Expurgos
inflacionários em caderneta de poupança. Limites subjetivos da sentença.
Abrangência nacional da demanda. Coisa julgada. Regularidade do título.
Prosseguimento da execução. Decisão mantida. 1. Os fundamentos do
acórdão recorrido foram devidamente impugnados pelo recurso especial.
Não incidência da Súmula 283 do STJ. Não houve conotação constitucional
nas considerações contidas no acórdão recorrido. Inaplicabilidade da
Súmula 126 do STJ. 3. “A sentença genérica proferida na ação civil coletiva
ajuizada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, que condenou
o Banco do Brasil ao pagamento de diferenças decorrentes de expurgos
inflacionários sobre cadernetas de poupança ocorridos em janeiro de 1989,
dispôs que seus efeitos teriam abrangência nacional, erga omnes. Não cabe,
após o trânsito em julgado, questionar a legalidade da determinação, em
face da regra do art. 16 da Lei 7.347/1985 com a redação dada pela Lei
9.494/1997, questão expressamente repelida pelo acórdão que julgou os
embargos de declaração opostos ao acórdão na apelação” (STJ, REsp
1.348.425/DF, 4ª T., Rel Min. Maria Isabel Gallotti, j. 05.03.2013, DJe
24.05.2013). 4. Conforme a orientação jurisprudencial fixada pelo STJ, a
abrangência nacional expressamente declarada na Ação Civil Pública nº
1998.01.1.016798-9 não pode ser alterada na fase de execução, sob pena de
ofensa à coisa julgada, sendo, portanto, aplicável a todos os beneficiários,
independentemente de sua residência ou domicílio no Distrito Federal. 5.
Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao qual se nega
provimento.” (STJ, EDcl no REsp 1.329.647, 4ª T., Rel. Min. Antonio
Carlos Ferreira; j. 05.12.2013, publicado em 12.12.2013).
3
Nesse sentido, consignou o Min. Paulo de Tarso Sanseverino: “Extrai-se
dos dispositivos citados a conclusão de que somente é possível ao
presidente do STJ analisar pedido de suspensão de processos em todo o
território nacional decorrente de IRDR após a admissão do incidente pelo
tribunal de segunda instância, com as consequências previstas nos incisos
do art. 982, em especial a determinação de suspensão dos ‘processos
pendentes, individuais ou coletivos, que tramitam no Estado ou na região,
conforme o caso’ (inciso I). É que a suspensão de processos, prevista no §
3º do art. 982 do CPC, regulamentada pelo art. 271-A do RISTJ, não pode
ocorrer, de forma inaugural, por decisão desta Corte Superior de Justiça,
sendo ela decorrente de uma prévia decisão de suspensão no âmbito do
tribunal de justiça ou do tribunal regional federal. O pedido de suspensão
em IRDR possui como objeto o requerimento de ampliação da abrangência
da suspensão de processos, que, num primeiro momento, com a admissão
do IRDR no tribunal local, limita-se ao âmbito do território ou da região, a
depender da competência jurisdicional. (...) Note-se que a expressão
‘instaurado’, contida na parte final do § 3º do art. 982, deve ser interpretada
em consonância com o caput do dispositivo que qualifica o incidente como
‘admitido’. Dessa forma, o parágrafo, como subdivisão do artigo, não pode
dispor de forma contraditória à previsão do caput; logo, os incisos e
parágrafos do art. 982 disciplinam questões que se aplicam apenas ao IRDR
que já possui decisão colegiada (art. 981) de admissão do incidente. Ainda
que assim não fosse, da leitura do § 3º do art. 982, do art. 987 e do § 4º do
1.029, observo que o Código de Processo Civil estabelece a competência do
Superior Tribunal de Justiça para suspender, por decisão de seu presidente,
todos os processos individuais ou coletivos em curso no território nacional
que versem sobre a questão objeto do incidente já instaurado antevendo a
possível interposição de recurso especial contra o julgamento de mérito do
IRDR.”, decisão proferida em 12.12.2016, disponível em:
<http://www.stj.jus.br/static_files/STJ/Midias/arquivos/Noticias/SIRDR%202.pdf
acesso em 03.01.2016, ainda não publicada até a data do acesso.
4
O art. 271-A do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça conferiu
à Presidência o disposto no art. 982, § 3º, do CPC. Por sua vez, a Portaria nº
475, de 11.11.2016, da Presidência do STJ delegou ao Presidente da
Comissão Gestora de Precedentes a apreciação dos requerimentos de
suspensão de todos os processos individuais e coletivos em curso no
território nacional que versem sobre a questão objeto de incidente de
resolução de demandas repetitivas em tramitação.
Capítulo 16
PROCEDIMENTO PREPARATÓRIO DO
JULGAMENTO. INFORMAÇÕES. O PAPEL
DO RELATOR E DOS SUJEITOS DO
INCIDENTE. CONTRADITÓRIO. AMICUS
CURIAE
1
No Capítulo 12, que tratou da competência.
2
Idem.
3
Como anteriormente exposto, esta possibilidade também deve ser
considerada por ocasião do juízo de admissibilidade realizado pelo órgão
colegiado, seguindo-se, com as devidas adaptações, o modelo previsto para
o julgamento do mérito, nos termos do art. 984 do CPC.
4
Que não deve ser confundida com os fundamentos ou com os argumentos
centrais ou acessórios.
Capítulo 18
O Código de Processo Civil de 1973 era expresso, no art. 469, inciso III, em
afirmar que a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentemente no
processo, não fazia coisa julgada. Este argumento poderia servir como
fundamento para se afastar o interesse de se recorrer diretamente contra decisões
proferidas no Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas.
O CPC de 2015, no entanto, foi expresso na previsão de que faz coisa
julgada a resolução de questão prejudicial, decidida expressa e incidentemente
no processo, desde que apreciada por juízo competente, tiver ocorrido o
contraditório prévio e efetivo e não houver limitações probatórias ou que
impeçam o aprofundamento da cognição em relação à questão prejudicial.
A questão de direito a ser elucidada no Incidente de Resolução de
Demandas Repetitivas normalmente é tida como uma questão prejudicial em
relação ao mérito, embora possa ser também prejudicial de uma decisão
interlocutória não relacionada ao mérito. Pelo menos na primeira hipótese, muito
comum, como, por exemplo, nos incidentes de arguição de
inconstitucionalidade, a inovação do estatuto processual é mais um fundamento
para se afirmar o interesse de se recorrer direta e imediatamente contra a decisão
de mérito proferida no Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas.
Do mesmo modo, em relação às decisões parciais de mérito, estas agora
fazem coisa julgada e também podem ser objeto de impugnação em separado,
mediante o agravo de instrumento, nos termos do art. 1.015, inciso II, do Código
de Processo Civil.
Portanto, o sentido de decisões únicas ou em última instância, inscrito nos
arts. 102, III, e 105, III, da Constituição da República, não impede que possam
ocorrer em separado, no curso do processo, outros pronunciamentos com esta
qualidade, desde que haja a previsão de recorribilidade em separado. Por outro
lado, dentro do espírito que se procurou estabelecer na nova sistemática dos
agravos de instrumento, se fosse o caso de se restringir o cabimento dos recursos
excepcionais, seria mais lógico que se fizesse em relação a decisões isoladas em
agravos de instrumento do que nos julgamentos de mérito proferidos nos
Incidentes de Resolução de Demandas Repetitivas.
1
Como tratado no capítulo da competência.
2
A referência ao título de livro de Zigmund Bauman, Liquid Modernity,
publicado em 2000, parece apropriada, porque, no mundo contemporâneo,
as transformações são rápidas e podem ser bruscas. As pretendidas
estabilidade e segurança, no campo dos pronunciamentos judiciais, não
devem conduzir ao engessamento e insensibilidade, diante das
modificações advindas da sociedade. Do contrário em vez de referenciais,
tornar-se-ão exemplos de enunciados obsoletos, ultrapassados e sem
serventia para a sociedade, ao ponto de retirar ou reduzir drasticamente a
legitimidade das instituições judiciárias. Como exemplo marcante, podem
ser apontados os precedentes sobre a escravidão, chancelada durante algum
tempo. Se não houvesse a possibilidade de mudança e de aprimoramento,
ou a escravidão ainda estaria vigendo nos Estados Unidos ou os precedentes
naquele país estariam fadados à inobservância e ao descrédito perante a
sociedade.
3
Barbosa Moreira ressalta que, nos “Estados Unidos, não foi criado pela
Constituição Federal, nem pelas emendas ao seu texto. A Constituição deu à
Corte Suprema competência originária e competência recursal (appellate
jurisdiction) no tocante a certas causas”, Comentários ao Código de
Processo Civil – Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, vol. V, 16. ed., Rio
de Janeiro: Forense, 2012.
4
MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Competência cível da Justiça
Federal. 4. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.
5
Alexandre Vidigal de Oliveira, Justiça Federal: evolução histórico-
legislativa, p. 107.
6
Nesse sentido, o enunciado 281 da Súmula do Supremo Tribunal Federal:
“É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber na Justiça de
origem, recurso ordinário da decisão impugnada”.
7
Constituição da República, de 1981: Art. 59, § 1º Das sentenças das justiças
dos Estados em última instância haverá recurso para o Supremo Tribunal
Federal: (...).
8
“O art. 55 da Constituição de 1891 manteve, sob a denominação de Poder
Judiciário da União, os órgãos previstos no Dec. 848, de 15 de novembro de
1890, inovando, basicamente, na criação dos Tribunais Federais, embora
não tenham sido efetivamente instalados.
(...)
A Lei 221, de 20.11.1894, completou a organização da Justiça Federal,
instituindo, na sede de cada seção, três Juízes Suplentes do Substituto, com
mandatos de quatro anos e nomeados pelo Governo Federal, mediante
indicação do Juiz da Seção, e possibilitando a criação de outros, quantos
fossem necessários, bastando, para tanto, nos termos do art. 3º, § 1º,
‘decreto do Governo Federal, em vista da representação do respectivo juiz
seccional que demonstre a necessidade da creação e designe os limites das
circumscripções, podendo cada uma destas comprehender mais de dois
termos ou comarcas’. (...)
O Decreto 3.084, de 05.11.1898, regulamentou a Lei 221/1894. Nos dois
estatutos, não há menção à instalação e à competência dos Tribunais
Federais, mantendo-se o Supremo como órgão recursal dos Juízes Federais.
A Lei 4.381, de 05.12.1921, que autorizou o Poder Executivo a instituir três
tribunais, foi declarada inconstitucional pela Corte Suprema.
A Constituição de 1934 especificou, no seu art. 63, como órgãos do Poder
Judiciário, a Corte Suprema, os Juízes e Tribunais Federais, os Juízes e
Tribunais Militares; e os Juízes e Tribunais Eleitorais. Os Juízes Federais,
nos termos do art. 80, eram nomeados pelo Presidente da República, em
lista quíntupla indicada pela Corte Suprema, dentre brasileiros natos, de
reconhecido saber jurídico e reputação ilibada, entre 30 e 60 anos. Criou,
também, um Tribunal Federal, mas remeteu à lei a sua denominação e
organização.
A Constituição de 10 de novembro de 1937 limitou a composição do Poder
Judiciário ao Supremo Tribunal Federal, aos Juízes e Tribunais dos Estados,
do Distrito Federal e dos Territórios, aos Juízes e Tribunais Militares,
extinguindo, portanto, os cargos de Juízes Federais, os Tribunais Federais e
a Justiça Eleitoral.
A Magna Carta de 1946, além de restaurar a Justiça Eleitoral e criar a
Justiça do Trabalho, instituiu o Tribunal Federal de Recursos, mantendo o
Supremo Tribunal Federal e a Justiça Militar entre os órgãos arrolados no
art. 94, como sendo os que exercem o Poder Judiciário perante. A presença
da Justiça dos Estados vem destacada no Título II da Constituição,
porquanto o Título I compreende apenas a Organização Federal. Como não
foi restabelecida a Justiça Federal de primeiro grau, os Juízes de Direito
continuaram a processar e julgar os feitos cuja competência anterior era dos
Juízes Seccionais. O Tribunal Federal de Recursos, composto de nove
Juízes, sendo dois terços vindos da carreira e um terço da Advocacia e do
Ministério Público, possuía competência originária e recursal, esta
basicamente em razão da presença da União, como interessada, exceto para
as causas falimentares, e, para os mandados de segurança e habeas corpus,
quando denegatória a decisão e federal a autoridade apontada como coatora.
O art. 105 previu, ainda, a criação por lei, mediante a proposta do próprio
Tribunal Federal de Recursos e aprovação do Supremo Tribunal Federal, de
outros Tribunais Federais de Recursos em diferentes regiões do País. O
Tribunal Federal de Recursos foi instalado no dia 23 de junho de 1947,
localizado na Capital Federal, mas os mencionados Tribunais Federais
Regionais, não obstante a previsão constitucional da época, apenas foram
criados cerca de quarenta anos depois, com a Constituição de 1988. De
acordo com a Lei 87, de 09.09.1947, os Juízes do Tribunal Federal de
Recursos passaram a receber a denominação de Ministros.” In: MENDES,
Aluisio Gonçalves de Castro. Competência cível da Justiça Federal, p. 22-
23.
9
Vide José Carlos Barbosa Moreira, cit., p. 31.
10
Nos termos do art. 12, § 2º, da Constituição de 1934.
11
Conforme a nova redação dada à alínea k, do art. 101, inciso, I da
Constituição de 1946.
12
Pela ordem cronológica: RMS 15.212, DJ 24.05.1968; RMS 14.710, DJ de
23.05.1969; e RE 59.250, DJ 08.08.1969.
13
Recurso Extraordinário nº 17.437, 2ª Turma, Rel. Min. Lafayette de
Andrada, j. 19.12.1950, DJ 13.10.1962. Chama a atenção o espaço
temporal, de quase doze anos, entre o julgamento e a data da publicação.
Portanto, este julgamento, embora anterior, foi divulgado depois do
segundo pronunciamento sobre o tema, ocorrido e publicado em 1959. O
fato pode ter propiciado a postergação do conhecimento da posição do
Supremo Tribunal Federal sobre o assunto.
14
Supremo Tribunal Federal, 2ª Turma, DJ 22.07.1959, Revista Forense
193/117.
15
DJ 18.08.1965.
16
Proferida, em 04.12.1963, pelo, até então, Desembargador Adalício
Nogueira, no exercício da presidência do Tribunal de Justiça da Bahia, que,
quase dois anos depois, em 16.11.1965, seria nomeado Ministro do
Supremo Tribunal Federal. Por razão que será posteriormente exposta neste
trabalho, vale a pena transcrever o teor da decisão: “Não admito o recurso
extraordinário manifestado à fls. 492 porque intempestivamente interposto.
Com efeito, a matéria constitucional apreciada no aludido recurso foi
resolvida pelo acórdão de fls. 487488, tanto que ao mesmo alude o de fls.
490 e verso. Naquele primeiro acórdão, pois, é que se deverá recorrer,
extraordinariamente. Mas as suas conclusões foram publicadas em 18 de
julho do ano corrente (fls. 488). Ultrapassou-se, de muito, o prazo legal
para invocá-lo, desde que a sua interposição é de 25 de novembro do ano
corrente (fls. 492). Pretende-se que o recurso em causa tenha em mira o
acórdão de fl. 490. Mas este não solucionou a matéria constitucional, que
foi objeto do de fls. 487. Ele, apenas, exprime a resolução de aspecto legal
da questão, com o retorno dos autos à Câmara competente para essa
finalidade. Que o recurso visa à apreciação da matéria constitucional –
escopo do acórdão anterior. Não há dúvida. Basta ler a petição de fls. 492,
na sua íntegra, em que tal aspecto predomina.”
17
RTJ, 35/14.
18
No seu voto foi sucinto: “Efetivamente, a parte deveria ter recorrido do
acórdão do Tribunal Pleno. Não o fez. A questão constitucional, decidida a
favor do fisco, passou em julgado”.
19
Depois de mencionar o julgamento anterior, da sua relatoria, no Recurso
Extraordinário nº 57.126, reiterou o seu entendimento: “Portanto, o
Tribunal Pleno decidiu tal qual está fazendo o eminente Ministro Relator. O
recurso em mandado de segurança, quando se declara a
inconstitucionalidade de uma lei, deve ser da decisão proferida pelo
Tribunal Pleno – local, e não pela Turma, que julga posteriormente a
matéria de mérito, depois de deslindada a questão da inconstitucionalidade.
Se a parte não interpôs o recurso ordinário – no momento adequado, a
matéria se tornou preclusa, e o recurso não deve ser admitido.”
20
“Executivo. Matéria constitucional decidida pelo Pleno sem recurso. Os
autos voltaram à Câmara que negou provimento ao agravo. No recurso
extraordinário a decisão sobre a matéria transitada em julgado não pode ser
reexaminada.”
21
Com a seguinte ementa: “Mandado de segurança. Matéria constitucional
decidida pelo Pleno. Esgotando-se nela o mérito da questão, não se
conhece, por intempestivo, do recurso ordinário interposto de decisão da
Câmara, que apenas aplicou à espécie o decidido pelo plenário, já então
transitado em julgado. Precedentes do Supremo Tribunal Federal. Recurso
ordinário não conhecido” (RMS 14674, Rel. Min. Evandro Lins, 1ª Turma,
j. 07.03.1966, DJ 30.03.1966 pp-00989 Ement Vol-00649-01 pp-00095).
22
“Matéria constitucional. Recurso. 1) O recurso em matéria constitucional
deve ser interposto da decisão do Tribunal Pleno, que a tiver apreciado, e
não do subsequente julgamento da causa pela Câmara ou Turma. 2)
Precedentes: RE 17.437, RE 57.126, AG 30:769, AG 31.523, RE 22.097,
RMS 14.674.” (RMS 15020/SP – São Paulo, Rel. Min. Victor Nunes,
Tribunal Pleno, j. 31.08.1966, DJ 17.11.1966, pp-03997, Ement Vol-00674-
01 pp-00228, RTJ Vol-00038-03 pp-00616).
23
A preliminar foi rejeitada por nove (Ministros Gonçalves de Oliveira,
Hermes Lima, Adalício Nogueira, Prado Kelly, Aliomar Baleeiro, Djaci
Falcão e Luiz Gallotti, este último na qualidade de presidente) votos a
quatro (Ministros Adaucto Cardoso, Ely da Rocha, Evandro Lins e Victor
Nunes).
24
RMS 15212, Rel. Min. Gonçalves de Oliveira, Tribunal Pleno, j.
23.08.1967, DJ 24.05-1968 pp-01865 Ement Vol-00728-01 pp-00140.
25
A primeira é que o Relator, Ministro Gonçalves de Oliveira, que havia
participado de precedentes mencionados neste capítulo, esposando voto
sucinto, porém enfático, conforme acima transcrito, no Agravo de
Instrumento nº 31.523, iniciou o seu voto, logo após a leitura do relatório,
enfrentando o mérito do recurso, sem que mencionasse uma linha sequer
sobre qualquer preliminar. Estava, aparentemente, compenetrado e decidido
a resolver o mérito do recurso ordinário. Lembre-se que, no julgado
ocorrido em 1965, o relator censurou a parte por não ter recorrido da
decisão do Pleno sobre a inconstitucionalidade e afirmou que esta teria
transitado em julgado. A preliminar foi levantada tão somente pelo Ministro
Adaucto Cardoso, após pedido de vista, fazendo com que o relator se
justificasse com as seguintes palavras: “Não suscitei a preliminar agora
levantada e acolhida pelo eminente Sr. Ministro Adaucto Cardoso, porque
me deixei guiar pelo parecer da Procuradoria Geral da República, que,
como é sabido, defende, aqui no Tribunal, os interesses públicos, e o
parecer não suscitava essa preliminar.” Em seguida, ainda que não tenha
admitido que estivesse revendo o seu entendimento anterior, passou a
defender, com veemência, o conhecimento do recurso ordinário “em favor
dos direitos individuais”, sob o patrocínio do advogado José Frederico
Marques, como consignado pelo relator no seu voto. Outra nuance foi a de
que o Ministro Victor Nunes levantou, logo em seguida, de modo muito
apropriado, preliminar dentro da preliminar, levantada anteriormente em
outros julgamentos e reiterada inúmeras vezes depois, para defender a
separação das questões, conforme as suas próprias palavras: “Sr. Ministro
Gonçalves de Oliveira, não haverá dois problemas distintos na ponderação
de Vossa Excelência? O primeiro é o de saber se existe a obrigação de
recorrer da decisão do Pleno na questão constitucional, sob pena de transitar
em julgado. Resolvido este problema, é que se passará ao segundo: saber se
o recurso cabível é o ordinário ou o extraordinário, consoante a natureza do
processo.” Registre-se que o Ministro Adalício Nogueira acabou por rever o
seu entendimento anterior, in verbis: “Sr. Presidente, também acompanho o
eminente Relator, para que decidida a questão pela Turma, abra-se
oportunidade ao recurso ordinário. Nestas condições, a parte tem direito ao
recurso que é recurso extraordinário do mandado de segurança, recurso
constitucional. Ela interporá seu recurso no prazo. O eminente Ministro
Evandro Lins trouxe à baila um despacho meu, no Tribunal de Justiça da
Bahia, como Presidente, inadmitindo determinado recurso extraordinário,
mas aí há uma nuance, uma diferença. Ali caberia, apenas, o recurso
extraordinário, porque deste era caso. Aqui, há dois recursos: o recurso
ordinário interposto pelo interessado e o extraordinário interposto pela parte
pública. Acho que este recurso deve ser conhecido e então o ad quem o
aprecie como bem entender, de modo que o impetrante não fique privado de
ver resolvida a sua pretensão, através do meio constitucional, de que se
valeu”.
26
Houve a manifestação de um número bem maior de Ministros sobre a
preliminar, com a exposição de vários argumentos e exemplos plausíveis, a
demonstrar que ambas as posições eram dotadas de razoabilidade e que se
estaria efetuando muito mais uma opção política, tendo em vista que os dois
entendimentos eram tecnicamente defensáveis.
27
Recurso em Mandado de Segurança nº 15.212.
28
RE 4.710, RE 22.097, RE 57.126, Ag. I. 31.523, RMS 14.674 e RMS
15.020.
29
Grifos do próprio relator.
30
“Arguição de inconstitucionalidade das Leis ns. 1.097, de 24.3.1959 e 996,
de 8.1.1958, arts. 2º, § 1º, e art. 2º, parágrafo único, respectivamente, do
Estado. Rejeição pelo Tribunal de Justiça. Decisão mantida. Motivação.
Recurso não conhecido. (RE 59250, Rel. Min. Thompson Flores, Tribunal
Pleno, j. 10.04.1969, DJ 08.08.1969 pp-03394 Ement Vol-00770-02 pp-
00575)
31
Mesmo que sob a fórmula, dubiamente usada pelo Supremo Tribunal
Federal, do “recurso não conhecido”, como tratado por José Carlos Barbosa
Moreira, no artigo: Que significa “não conhecer” de um recurso?, Temas de
Direito Processual – Sexta série, São Paulo: Saraiva, 1997, p. 125-144.
Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?
s1=513.NUME.NAOS.FLSV.&base=baseSumulas>, acesso em 21 jan.
2017.
32
Entretanto, talvez por equívoco, o julgado esteja constando no rol das
decisões que conduziram ao enunciado nº 513 da Súmula do Supremo
Tribunal Federal.
33
José Carlos Barbosa Moreira, cit., p. 582.
34
Sobre o conceito da expressão causas na Constituição da República, no
âmbito da competência da Justiça Federal, vide MENDES, Aluisio
Gonçalves de Castro. Competência cível da Justiça Federal, 4. ed., p. 51-
53.
35
Corte Especial, j. 18.06.1993, DJ 02.07.1993, p. 13283.
36
Dinamarco, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo, cit.
37
Grifos do autor destas linhas.
38
Como também econômica e política.
39
Como decorrência da aplicação subsidiária do CPC, por todos os Tribunais
Superiores.
19.1. DELIMITAÇÃO DO TRATAMENTO DO TEMA. O
TRATAMENTO NORMATIVO GERAL DO EFEITO
VINCULATIVO NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
1
Vide, dentre outros: MARINONI, Luiz Guilherme, Incidente de Resolução
de Demandas Repetitivas: Decisão de questão idêntica, obra citada;
CAVALCANTI, Marcos de Araújo, Incidente de Resolução de Demandas
Repetitivas (IRDR), obra citada.
2
É de se observar que várias das críticas foram semelhantes às formuladas,
em tempo passado, quando da criação da denominada Súmula Vinculante,
pela Emenda Constitucional nº 45/2004. Na época, foram ampla e
fortemente formuladas, mas, em seguida, arrefeceram quase que por
completo.
3
Este tema foi analisado no capítulo 8, ao qual se remete integralmente.
4
Idem ao item anterior.
5
Este ponto foi enfrentado no capítulo 12 do presente trabalho.
6
O tema recebeu tratamento no capítulo 18.
7
Como se pode verificar na ementa: “Prejulgado do Tribunal do Trabalho.
Não constituído ato normativo, – dado que o art. 902, par. 1º da
Consolidação das Leis do Trabalho, que lhe atribuía tal caráter, foi
revogado pela Constituição de 1946, – Não pode ser objeto de
representação não conhecida”. (RP 946, Rel. Min. Xavier de Albuquerque,
Tribunal Pleno, j. 12.05.1977, DJ 01.07.1977 pp-04459 Ement Vol-01063-
01 pp-00218 RTJ Vol-00082-01 pp-00044)
8
Em razão do elevado número, indicam-se apenas alguns a título de
exemplo: RE
72001, Rel. Min. Bilac Pinto, 2ª Turma, j. 29.05.1972, DJ 29.06.1972 pp-
04247 Ement Vol-00879-02 pp-00733; RE 72000, Rel. Min. Bilac Pinto, 2ª
Turma, j. 29.05.1972, DJ 29.06.1972 pp-04247 Ement Vol-00879-02 pp-
00721; AI 69072 AgR, Rel. Min. Rodrigues Alckmin, Tribunal Pleno, j.
14.04.1977, DJ 13.05.1977 pp-03089 Ement Vol-01058-01 pp-00354; RE
86874, Rel. Min. Cordeiro Guerra, Tribunal Pleno, j. 25.10.1978, DJ
01.12.1978 pp-09734 Ement Vol-01118-02 pp-00391; e RE 98811, Rel.
Min. Décio Miranda, 2ª Turma, j. 10.08.1984, DJ 06.09.1984 pp-14334
Ement Vol-01348-03 pp-00513 RTJ Vol-00111-02 pp-00712.
9
CRUZ E TUCCI, José Rogério. O advogado, a Jurisprudência e outros
Temas de Processo Civil, São Paulo: Quartier Latin, 2010.
10
Idem.
Capítulo 20
1
O fenômeno e a tendência foram também assinalados por Bruno Dantas,
durante o Seminário Novas Tendências do Direito Processual: o novo CPC,
realizado no dia 25.11.2016, no auditório da FIRJAN, no Rio de Janeiro.
2
Conforme exposto anteriormente neste capítulo.
3
Conforme se pode comentar em relação aos artigos 977 e 986: MENDES,
Aluisio Gonçalves de Castro; SILVA, Larissa Clare Pochmann; ALMEIDA,
Marcelo Pereira. In: Novo Código de Processo Civil Comparado e
Anotado: Lei nº 13.105, de 16/03/2015, Lei nº 5.869, de 11/01/1973 e
Legislação Especial, 3. ed. Rio de Janeiro: GZ, 2016, p. 600 e 609.
Este capítulo é diminuto na sua extensão, porém espera ser sublime,
generoso e pacificador no seu significado. Longe de ser uma crítica, pretende
sugerir uma reflexão, para que o novel instituto possa seguir o caminho do
aprimoramento. Está no final, para que seja o prenúncio de novos tempos.
Não se quer falar ou repetir o que vem sendo dito ao sabor das ondas
renovatórias de Mauro Cappelletti e de Brian Garth ou das técnicas de
negociação da Escola de Harvard. As soluções consensuais encerram mais de
noventa por cento das class actions norte-americanas, índice que se encontra,
por certo, muito distante da realidade dos conflitos brasileiros. Entretanto, parece
inerente ao contexto processual universal e às diretrizes do Código de Processo
Civil brasileiro de 2015, que os mecanismos de resolução mediante consenso
estejam presentes no cenário judicial e extrajudicial.
Em termos de procedimento-padrão para o julgamento de questão comum
de direito, pode parecer, em uma primeira mirada, até mesmo incompatível a
existência de uma sistemática voltada para a realização de acordo entre os
interessados. No entanto, como explicitado no capítulo pertinente ao
Musterverfahren alemão nos litígios do mercado de capitais, isso se tornou
realidade a partir da versão de 19.10.2012 da lei sobre procedimento-padrão para
os litígios jurídicos envolvendo o mercado de capitais (Gesetz über
Musterverfahren in kapitalmaktrechtlichen Streitigkeiten – KapMuG), que
estabeleceu expressamente esta possibilidade inovadora e dotada de mecanismos
de proteção em relação à lisura e legitimidade do acordo proposto.
Note-se que, no Direito Processual Civil brasileiro, poderá haver acordo
coletivo mesmo em relação às questões processuais, desde que restrito às partes
plenamente capazes, pois, em princípio, não parece existir objeção, em razão do
caráter plúrimo, para que se admita a autocomposição, salvo alguma
peculiaridade no caso concreto que incida na vedação contida na parte final do
art. 190 do estatuto processual.
Em qualquer hipótese e ainda que não exista previsão normativa expressa,
isso não representa caráter proibitivo para a formulação de acordos que
resguardem os princípios pertinentes às soluções consensuais, dentre os quais o
esclarecimento das partes e a autonomia da vontade, e confiram legitimidade ao
pacto firmado, a partir de um percentual mínimo de aprovação ou máximo de
rejeição para que possa ser chancelado, bem como a proteção dos interessados,
com a estipulação de um sistema de comunicação e de expressão, seja para a
manifestação expressa de adesão (opt-in), seja para a autoexclusão (opt-out).
O próprio modelo alemão poderá, novamente, servir de inspiração para a
prática imediata ou para, como se disse no início deste capítulo, o
aprimoramento do sistema de resolução de questões comuns e de demandas
repetitivas, ousando os juristas, os legisladores e os tribunais brasileiros na
direção da resolução dos graves problemas que afetam a sociedade. Sonhando e
edificando, para tanto, um sistema de justiça mais racional, objetivo, efetivo,
rápido, isonômico e seguro. É o que se espera.
PRINCIPAIS CONCLUSÕES