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Resumo: Na virada do século XIX para o século XX, passaram pela cidade de Campos dos
Goytacazes diversos exibidores ambulantes que fizeram uso do cinematógrafo em suas
apresentações. Este artigo pretende investigar as características particulares de alguns
desses exibidores com a finalidade de analisar os diferentes modos de trabalho e exibição.
Abstract: At the turn of the 19th to the 20th century, several travelling exhibitors passed
through the city of Campos dos Goytacazes who made use of the cinematograph in their
presentations. This article intends to investigate the particular characteristics of some of
these exhibitors in order to analyze the different modes of work and exhibition.
O presente artigo busca examinar as exibições que ocorreram na cidade com base nas
definições feitas por Deac Rossel em seu artigo sobre exibidores ambulantes nos primórdios
do cinema, intitulado “A Slippery Job: travelling exhibitors in early cinema671” (2000). Rossel
utiliza a abordagem sociológica sobre a flexibilidade interpretativa de um artefato tecnoló-
gico (BIJKER; HUGHES; PINCH, 1989), onde um artefato pode ter diferentes sentidos para
diferentes grupos sociais. E procura definir, dentro do grupo social dos exibidores ambu-
669 - Trabalho apresentado no XXIV Encontro SOCINE na sessão: Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil
– Sessão 5.
670 - Pesquisador e Técnico em Audiovisual (Instituto Federal Fluminense). Possui graduação em Cinema (Universidade Estácio de Sá - RJ) e
especialização em Artes Visuais: Cultura e Criação (Senac - RJ).
1128 671 - “Um Ofício Escorregadio: Exibidores ambulantes nos primórdios do cinema.”
lantes, quatro tipos principais: Exibidores teatrais, exibidores independentes, exibidores de
grandes feiras, e exibidores efêmeros, ou amadores. A partir de fontes originais da imprensa
campista, são levantadas algumas das exibições que ocorreram entre 1897 e 1905, para uma
análise sobre suas especificidades e as possíveis relações com os quatro diferentes tipos de
exibidores definidos por Rossel (2000).
Germano Alves e sua esposa, Apolônia Pinto, eram figuras conhecidas no meio tea-
tral brasileiro. Não há menções à atriz nos anúncios e matérias de jornais campistas, mas Exibidores ambulantes em Campos dos Goytacazes, de 1897 a 1905
Apolônia Pinto provavelmente integrava a empresa da Companhia de Variedades naquelas
apresentações entre agosto e setembro em Campos. Logo após a temporada na planície
goitacá, em outubro de 1897, na cidade de Curitiba (PR), a Companhia foi anunciada como
pertencente a “Empresa Apollonia Pinto, dirigida por Germano Alves”, e em novembro de
1897, em Bagé (RS), como “Empresa Apollonia-Germano”. (LEITE, 2011)
A companhia teatral dirigida pela atriz Apolônia Pinto já visitara Campos dos Goy-
tacazes, em turnê, no ano de 1883, alternando-se entre o Teatro São Salvador e o Teatro
Empyreo. (TINOCO, 1975, p.53). Em 1897, a Companhia de Variedades pode ter seguido uma
rota já conhecida das turnês teatrais de Apolônia, e negociado com pessoas dos locais ante-
riormente frequentados. Em 1908, Apolônia Pinto e Germano Alves retornaram novamente
ao Teatro São Salvador, em Campos, desta vez apesentaram exclusivamente números tea-
trais sem a presença das variedades e do aparelho cinematógrafo. (O Tempo, 14.10.1908, p.3)
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A segunda exibição de um cinematógrafo em Campos parece ter ocorrido na tem-
porada de 12 a 21 de maio de 1899, sob responsabilidade de Arthur Rockert, que exibiu um
Cinematographo Edison no Teatro São Salvador. Pelos comentários na imprensa, é pos-
sível notar que o aparelho inicialmente apresentou “problemas de trepidação”, que foram
resolvidos “graças ao mecânico que o Sr. Rockert trouxe da Capital”. (Monitor Campista,
20.05.1899, p.1) Arthur Rockert, radicado em Campos, trabalhou como importador de jornais
da Europa, tecidos, máquinas de costura, cartões-postais, entre outros produtos. Todos os
seus empreendimentos eram anunciados constantemente em jornais campistas. O empresá-
rio também fez parte da diretoria de clubes carnavalescos e de recreação, mas não exerceu,
anteriormente a 1899, espetáculos no ramo da exibição de cinematógrafo. Este fato poderia
categorizá-lo como um exibidor amador, porém, como define Rossel (2000), este tipo de
exibidor geralmente voltava aos seus afazeres anteriores após uma empreitada efêmera, o
que não aconteceu no caso de Arthur Rockert. Outras apresentações de cinematógrafo sob
sua responsabilidade foram encontradas.
O empresário realizou, pelo menos, mais duas exibições fora de Campos dos Goyta-
cazes: Um “Cinematographo Edison W. Rochert [sic]”, foi exibido em Itapetininga (SP), em
27 de maio de 1900 (LEITE, 2011, p.137), e há relato sobre um “Cinematographo Edison” que
estrearia em Juiz de Fora (MG), em junho de 1900. Em Minas, a imprensa relatou que “a ma-
china desses maravilhosos quadros será posta em ação pelo eletricista W. Rockert”. (Jornal
do Commercio (MG), 15.06.1900, p.2)672
Em julho de 1901, também no Teatro São Salvador, em Campos, foram exibidas ima-
Tiago Bravo Pinheiro de Freitas Quintes
gens em movimento pela empresa sob direção de Mr. Garcia, em um aparelho anunciado
como “Grande Biographo Lumiére - Modelo 1901. O qual foi exibido no grande salão de
festas da Exposição de Paris, tendo obtido o 1o prêmio, isso por ser o aparelho mais aper-
feiçoado.” (Gazeta do Povo, 25.07.1901, p.3) Nota-se, no anúncio, também uma chancela do
exibidor como “representante na América do Sul da Societé Generale des Cinematographes
e Biographes de Paris”. Seguindo as definições de Rossel (2000), Mr. Garcia pode ser classi-
Talvez os artistas já contassem com experiências prévias no manejo dos bonecos, e não há
indícios de que seguiram carreira como exibidores ambulantes.
Outro tipo de exibidor definido por Rossel (2000) são os exibidores de grandes feiras.
Apesar de ser possivelmente o grupo mais abundante, é também o mais difícil de ser encon-
trado e analisado. Diversões de variadas modalidades participavam desses grandes eventos,
e as próprias feiras eram a atração principal. Portanto, era incomum que o responsável por
uma daquelas diversões publicasse anúncios em jornais.
Conclusões
No início do século XX alguns exibidores ambulantes desistem deste ofício, como
ocorreu com Germano Alves e Apolônia Pinto, exibidores teatrais que voltaram aos seus
afazeres iniciais. O mesmo pode ter ocorrido com os artistas da Companhia de Fantoches
Automáticos. Já Arthur Rockert, classificado como exibidor independente, se aperfeiçoou
no ramo da exibição. Na imprensa campista, em 1899, é ressaltado que o “empresário” bus-
cou um “mecânico” do Rio de Janeiro para ajustar o aparelho. Já na imprensa mineira, em
1900, Rockert foi chamado de “eletricista”. Nota-se a tentativa de classificar as funções de
quem realizava a exibição do cinematógrafo, mas tanto o termo exibidor como o termo pro-
jecionista não estavam estabelecidos.
Referências bibliográficas
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Tiago Bravo Pinheiro de Freitas Quintes
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Referências hemerográficas
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