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Digitalizada com CamScanner Digitalizada com CamScanner cimento das duas cimaras municipais (@ naturalmente mais tardia). A incorperaga de Sio Tomé nos bens da Coroa em tay poder. A importincia do municipio € sublinhale pela decisio régia de 1548, segundo a quala earn pasaria a tet 0 privilégio de governar at ilha ne i do capitio (Neves, 1989: 17). Esta situacio naa a inédita a0 nivel das priticas locais decowreg en ae ox de poder por morte éncia dae tazios de poder por morte ou auséneia do env mas encontra aqui tm raro reconhecimento ay” Entretanto, convém dizer que as formas de oro zacio municipal € a composicao social da vera conhecem algumas particularidades, resultantes tha respectivos contextos econdmicos € sociais, Aine os vizinhos ¢ moradores da ilha de Santiago eg Cabo Verde enviam uma carta a0 tei a 26 de Mon, 1546, onde agradecem a mercé ¢ privilegin ie poderem servir shomens bagos e pretoss nos cargos do concelho, argumentando sm 4 eee 2 que assim a terra seria clhot vigiada nos campos, nio sendo os pobres exados pelos poderosos ¢ evitando-se a faga dos scravos (MMA: 2. série, 11, 386-387), Existia um precedente para esta mercé: a 10 de Agosto de 1520 D. Manuel tinha permitido 0 acesso aos oficios do concelho da ilha de Sio Tomé aos mulatos que forem homens de bem e casados e pertencentes pa- rn istor — mercé confirmada por D. Joao Ill a 12 de Agosto de 1528 (MMA: 12'série, 1, 500-501). Esta primeira fase de fundagio de cémaras no império, circunscrita as ilhas atlinticas, transporta consigo os resultados de varios séculos de expe- riéncia no continente: a criagio das donatarias pro- cura encorajar a fixagio de populagdes, os nicleos cstabelecidos por sta vez procuram privilégios con- celhios que 0s libertem do jugo dos capities, 0s se- nhores ou o rei respondem alirmativamente a esses pedidos, enquadrando juridicamente uma estructura de poderes que €, por natureza, dispersa, mas que se apresenta, na_pritica, sabiamente articulada.. A segunda fase, resultante das conquistas na Asia e da instalagio no continente americano, prefigura uma politica central mais determinada, que de certa forma se antecipa aos desenvolvimentos da sociedade colonial local, fornecendo desde logo instrumentos de enquadramento juridico da actividade concelhia. Em todo o aso, também nessas zonas Vamos encoN= war processos conhecidos de envio de agentes & cor- te por parte das principais vereagOes, as quais proc tam obter do rei privilégios e mereés. : Nesta segunda fase, a criagio. das principais c= Imaras segue-se imediatamente a actos de conquista ‘ou de fundacio de cidades considera Qn Kncia estratégica para 0 process de colonizagio ide dominio de uma zona de costa. Esta é a si- “io que se verifica em a onde eee to do respective conselho munici ’conguista definitiva da cidade a 25 de No- de is10 ¢ a partida de Afonso de Albu fe para Malaca, em Absil de 1511, Sio Salva segunda. da itha AS CAMARAS F AS MISERICORDIAS Cuija etiagio es ti criacio estava prevista na parte Fete em 7 debe ee PB: \, 343), correspondia 4 neces amit ece Povoagio grande ¢ forter que Povoamente do (novo, fo¥EMO gers, apoiando « F © territério, a conservagio das cap) anias, © exercicio da justica € 0 provimente by negécios da fazenda. A insalgio do comsele sve nicipal, logo em 1549, mostra a vontade pol tice de P le politica do tovernador em dispor de um organise. que re irae © novo aglomerado urbano. tora as restantes comunidades portuguesa instaladas nos territérios do Estado da Inca (c mo fora dele, como € o caw ambigio do golfo de Ae —- por Magalhies Godinho, Luis lipe Thomaz e Sanjay Subrahmanyam) nio nham sido estudadas sistematicamente do ponto de Vista da sua organizacio politica, muitas delas pos sufam formas concelhias reconhecidas pelo gover- nador € pelo rei através de forse privilégios, 20 abrigo do Regimento dos oficiais das cidades, vilas ¢ lu- gares destes reinos de 1504, bem como dos artigos das Ordenagoes Manuelinas (1512-1513, ed. 1984: liv. 1 tits. xtv-L1y) sobre a eleicio ¢ as funcdes dos ofi- ciais concelhios. Goa é, sem divida, 0 concelho muis estruturado, com um papel politico decisivo na organizagio do Estado da India, sobrerudo desde que a cidade passou a assumir o estatuto de capieal em 1530 durante 0 governo de Nuno da Cunha, com a transferéncia das estruturas administrativas centrais que se mantinham em Cochim (vd. Santos, 1995). O seu poder, contudo, nio pode ser visto no am- bito meramente local, limitado 3 sua acgio face a um conjunto de instituigSes, onde avulta a criagi0 do bispado em 1534, elevado a arcebispado em 1557 (Almeida, 1930, ed. 1968: 1, 34-37), do Tribunal da Relagio em 1544, do Tribunal do Santo Oficio em 1560 ¢ da Mesa da Consciéncia em 1570 (Pereira, 1964-1965: 1, 20-21). O poder do concelho de Goa deve ser analisado em fungio de uma vasta rede de ccidades, vilas e fortalezas instaladas na orla maritima gue estruturavam 0 Estado da India, onde os res tantes concelhos assumiam um estatuto aparente- mente idéntico mas com menor peso politico, pois 36 os vereadores de Goa se correspondiam regular mente com 0 rei € enviavam os seus agentes a Lis- boa (como aconteceu logo em 1516), mantendo re- resentantes na corte, press estatuto co municipio de Goa (APO, 1876, ed, 1992: fase, 2.°) era ligeiramente superior a0s res- tantes, pois tratava-se do tinico baseado nos privilé- gios da cidade de Lisboa, cuja diferenga em relagio Sos privilégios de Evora (atribuidos em 1586 a Ma- cau) e a0s privilégios do Porto (atribuiddos em 164 3 Salvador da Bahia) residia, no primeiro caso, OA presenga de representantes dos mesteres ma vere Crguivs de Macy, 48 série, vo. vim 1 ane vTanho, 1988) e, no segundo caso, na possibil ron tan beseas mates (RAY; 1953 22123 © visse de base ao 355 CONFIGURAGOES DO IMPERIO m de > se= edmara gorav entre ouras 1 Ho ser em caso de ciais da Privilégios, 1987). Os oficia diversas imumidades judicial, cm presos com cofrentes, 2 1 ct rem Pie lesamajestade, nem podian Te ject servico militar, salvo Mando a ciade fose, nace, POU eae GMidéncia de oficiais do governo © Mrs do wsiigo de. soldados em sta casa, estavanm ives ( ani Moe carruagens para 0 us0 da CO toa, Tinham o privilégio de se corresponderem directamente com o rei e deviam ser tratados CO 3 d’el-rei quando se diet no governador no ambito de assuntos. 4 cia Reciam salirios em dinheiro e géneros duranee peigencia do cargo, bem como propinas quando tinham de assistir a procissOes religiosas, 4 mais «das quais era a procissio do Corpus Meat (enémeno comum a todo o reine), onde se Gheontrava representada toda a sociedade urbana, ‘A diferenca significativa entre a Camara de Goa ¢ a Cémara de Lisboa residia no facto de a primeira ser obrigada a acolher a presenga do capitao da forta- eva nas suas reunides, capitio nomeado pelo rei, 20 qual fora atribuido o privilegio do duplo voto hess reunides. Este elemento, que nao € despi- Gjendo, mostra bem a importincia da ligagio, no ‘iltramar, entre o poder civil e o poder militar. ‘A sociedade colonial pode ser caracterizada, sobre- tudo no contexto da Asia, como uma sociedade de fronteira, onde a fungio militar assumia um papel decisive A Camara de Goa constituiu-se no inicio com dez elementos com direito a voto: um vereador fi- dalgo, dois vereadores nobres, dois jufzes ordin’ rios, um procurador da cidade e quatro procurado- res dos mesteres. O escrivio ou secretirio, que originariamente nio tinha direito de voto, assumia um papel importante na uniformizagao dos pro- cedimentos administrativos © na transmissio das priticas do governo da cidade. Funcionarios mu- nicipais subordinados, como o almotacé, com res- ponsabilidade na fixagio ¢ inspeceio dos pregos, ou ‘© tesoureiro, que controlava todas as receitas e des- pesas, tinham uma importancia decisiva no relacio- mamento da verea¢io com a populacio. Os restan- tes funciondrios municipais sem direito de voto — 0 juiz dos érfios, o alferes, 0 porteiro, 0 contador € © vedor das obras — garantiam uma actividade re- Cee Ee de oo) Os procedimentos de valdlor pun toda us Gia ee todor ce ance, de was agen ee ea conten oa oe cals ase ecole seis eleitores que ch;iboravam, aos pares, lisas secrets com o nome le trés pessoas consideradas mais aptas para os gos vagos da vereacio. Os resultados des vaitg escolha (pautas) eram com sa primeira ppilados © embrulhad em pelouros (bolas de cera), colocadas em dif a tes sacos comsoante 0 cargo” No dia de Ane Rens era apanhado um rapaz a0 acaso nas ruas da cidade, confisco de ca mo cavaleiros da ca 356 «© qual acabava por escolher os vereadores 20 retiar o alata de cada saco (um sorteio designado come sjaneirinhas), © juramento. dos novos vereadores perante a assembleia dos homens-bons dy crtade, ma presenga do ouvidor (ou do correge. Gop. As reunides da vereagio realizavam-se pelg serps das vezes por semana, 3s qUaFS € 205 je Tudors, sendo as decisdes tomadas por voto maior. tirio, No caso de Goa, tal como acontecia com, Ticboa, @ camara estava isenta de um exame exten sua contabilidade. A camara actuava coma Povanal de. primeira instincia para casos coming tnbora pudesse haver recurso para o Tribunal dy Relaeio conforme o tipo de crime ou 0 »ontane tnvolvido no litigio. A Cimara de Goa, ove pos. crwoferras ¢.rendas importantes, super cndia q SYrribuigio ¢ arrendamento dos terrene nic pals, estabelecia € cobrava impostos muss pas, fi patsy o prego de venda de numerosas doris, wave eiziwa 4 construgao, gatantia a con cio de fontes, estradas, pontes, muros ¢ fortificy circuns. exeviam a estas fiangdes genéricas, quase todas elas obrigatdrias em qualquer cimara. Com efeito, de- tecterse desde cedo uma pritica corrente de dirigir petigdes a0 governador, emitir pareceres e trocar Porespondéncia com o rei, desenhando-se uma in- tervencio constante em assuntos de politica geral, nomeadamente quanto 4 estratégia de conducio das guerras, & organizagio da defesa local, 3 criagio de hospitais e centros de acolhimento, ao estabele- cimento de conventos, a0 comportamento dos di- ferentes poderes em presenga. Este iltimo aspecto & bastante significativo, pois a camara nao se inibe de tecer consideragdes sobre a actuagio do bispo ou do arcebispo, dos responsiveis das ordens reli- giosas, dos oficiais régios e mesmo do governador. O rei reconhecia ¢ estimulava este tipo de informi- io lateral, como se a confianga depositada no set representante directo, o governador, tivesse de ser posta 4 prova pelos restantes poderes. Este tipo de comunicagio pouco hierarquizada dava origem 4 exasperagio de_movimentos ascendentes © de cendentes de informacio e contra-informagio, & truturados em torno de faccdes da nobreza ¢ burocracia régia com ramificagdes em diversas OF ganizagdes localizadas na india e em Lisbou. At: tude do rei, a0 utilizar diversos canais de informs gio, permitia controlar o poder do govemadet hum territério longinguo, mas dava origer 4 Ut jogo descontrolado de rumores e calinias que {0 ‘nava ainda mais precéria e contingente 2 eficitt das comissbes tanuais de governo, Nese Che da actividade politica das camaras, podemos fat interferéncia ‘constante nas decisées regioml & centrais, constituindo-se este poder como uma pécie de pivd na luta entre diversas facgb8s 5 CAMARAS FAS MISERICORDIAS Entrada de 1). Joio de Castro em Goa, em 1547, Taperaria de Bruxelas, sqqundo cartbes de Michel Caxie (1535-1560) ‘Kunsthistoriches Museum, Viena) breza que atravessava nio s6 0 reino como todo 0 império. Alias, 0 facto da Camara de Goa empres- tar dinheiro ao governador em momento de crise apenas reforgava 0 seu poder negocial na interac sao politica com 0s outros poderes. Os conflitos de poderes nao tinham a ver ape~ nas com as precedéncias, como aconteceu com © Tribunal da Relagio, ou com a politica religiosa seguida pelo clero ,, assistindo-se a diversas clite social. Em 1547 estalou o conflito quando musericordia pretendeu ter isengio de servir no ‘lids, o poder negocial municipio (Boxer, 1965: 25), da cimara, embora mais visivel dada a especificidade da sua intervengio politica, nao deixava de ter 0 seu de eredora da Com paralelo na actividade financeira Toa por parte da misericordia, cuja acumulagio, de Tiquezas resultante de doagdes, legados € privilégio de gestio dos bens de defuntos a transformou na ins= tituicio com maior liquidez a longo prazo- _Na representagao dirigida a Lisboa em 1516, Camara de Goa pedia total liberdade de comércio | para os residentes catados e isengio de contribu thos oficiais da camara para os trabalhos piblicos, “Pedidos recusados, embora o rei Ihes tivesse conce= dido a reserva da maioria dos oficios municipass para os portugueses casados ¢ extabelecidos em Sots ben sono pas oases descendentes. Alias, a elite’ indo-portuguesa de Goa — Luis Filipe Thomaz como “os a ainda Ree reclamava um estatuto de des- ‘endentes (Thomaz, 1994: 262-263). A representagio de diversos sectores da sociedade colonial na verea- (Gio estava garantida através de uma concepeio dual hobres/mesteres, que modelava igualmente a orga~ hizagio das misericordias. A diferenga entre Goa e Lisboa, neste capitulo, tinha a ver com a menor di~ visio do trabalho artesanal local: em lugar de uma Casa dos Vinte ¢ Quatro, D. Jodo UL fixow para Goa uma Casa dos Doze, com direito a quatro re presentantes na vereagio. No periodo de que nos oeupanos nese Volume, @ importincia dos nobres Bindos do reino ¢ dos homens easados era bastante Significativa na composigio da vereagto, A diversi~ fitagio desta composigio, onde a nobreza guerteira segura umn peso decisivo por largas décadas, +6 ceorre no periodo seguinte, no devido a uma maior presenga de juristas (como acontece ot Por- fungal), mas a-uma certa penetragao de negocianter. MBretudo na segunda metade do séculoxvi ¢ na primeira metade do, século X¥t Me Camara de Salvador la Bahia obedece 2 una Jogiea de funcionamento semelhante, embora oF 357 Digitalizada com CamScanner CONFIGURAGOES DO IMPER 3s privilégios da vere ento regio dos Proceso de quase uum m getum exemplo de como 0 Regi- dos oficiais de 1504 © a disposigdes das Orde- des ficivas podiam conferir um quadro jurt- ao funcionamento de um: vereagao, ivel 20 jongado lapso de tempo até & equi- eeaean is atiegion ‘ia vereagio do Porto Paras ican subordinada, em termos politicos Tevet al do Braal face & capital do Estado da in- i capietreamo a Macau a0 longo de um século Se eae stonselho municipal era constituida por conhecim nha sofrido Seculo, Trata-se de Maries Marnelinas dico estivel A mes t tra. vereadores, dois juizes ordinarios € 0 procura- jor da cidade, eleitos anualmente de acordo com o ‘nodelo ji descrito atris. Os quatro procuradores dye mesteres s6 entraram para a cimara em 1641, vposat da sua representagao ter sido autorizada pela ews oitenta anos antes, facto significativo do fra~ co peso do grupo dos artesios no primeiro perfodo Ge enagio e desenvolvimento da cidade. Apesar dios anquives de Salvador terem sido destruidos du- ante 2 ocupagio holandesa da cidade em 1624- yess, existem indicios de que teria sido dificil en— contar pessoas suficientemente qualificadas para assegurar os cargos municipais na fase inicial de fancionamento, situagio que s6 se teria alterado com © crescimento da indistria do agticar (Boxer, 1965: 73), © aumento da emigragio para o Recon- cavo € 2 formagio de uma aristocracia local (¢ re- ional) composta por senhores de engenho e gran- des lavradores de cana, que mantiveram durante largo tempo relagdes endogimicas, ocupando os jmoncipais cargos do mnnici sok eens (Russell-Wood, 1968) A cidade de Salvador constituiu-se logo apés a sua fundacio como nicleo polarizador do escoa- ‘monto ds prodocso de czna-destqi aaa iam cavo (Mattoso, 1978; Schwartz, 1988). A.sua popu- lacSo atingia em 1987 of oitocentoe yeetaGamOlEte equivalia 2 cerca de quatro sullen ane atraido nao s6 agentes das casas comerciais que se encarregavam da venda do agicar em Lisboa e na Europa, mas também os senhores/ateije Ra aaaa grandes lavradores que utilizavam as estruturas exis- tentes na cidade para realizarem 0s seus negocios, obterem empréstimos destinados a investimento, procederem a contratos de arrendamento e fazerem acordos com os negociantes, Esta aristocraca eviada em tomo da exploragio da cana-de-agiicar, embora estivesse profundamente enraizada nas suas proprie= dades, onde, nam consi, enormes estrus com zona domi €zonis destin 28 sea trinta € sis, estindo outros quatro am nena com uma produgio anual de centto ¢ vine ait robas —, possuia igualmente easy na ied See gundo Gabriel Soares de Sousa, onio Gana g 2, cujo tratado escrito em 1587 constitui a principal fonte de informagoes, 358 existiriam em Salvador muitos mora com fazendas de raiz, indicando mais denne "oy adores com mil a cinco mil cruzades amual, alguns dos quais com propricdaces’®, de ‘entre vinte mil ee mil cruzados (Goats it parte, cap. xttt). Ja Péro de Magalhics qu%97r eo Uh tetesido a etletOncia 2 prep de Ging mais de duzentos e trezentos eseravo, e65£Om 1576, ed. 1984: cap. 1V).. Fandayg, Tomé de Sousa, 0 primeiro gove do Brasil, fez extensas doagées de ciyjas receitas provinham igualment: iy 28, mento de armazéns © matadouros mnicjng pagamento de impostos sobre produt. sina ® Be multas sobre violacdo dos pesos, n--diduen 0s fixados, Embora nio tenhamos - meng guros anteriores a 1625, a camara dev -r arab desde 0 inicio, cuibors sn 2 ae dimers verificada para Goa, um papel de aeeoce rede dos interesses da aristocracia local = 4 polities central de estabelecimento de mor odlios ¢ de contratos. Aliés, 0 peso politico de ss e de outta cidade pode ser avaliado a partir d= mi indicador simples, a dimensio demogrifica. E> vanto Salva. dor da Bahia teria cerca de quatro il habitants por volta de 1587, a populacio de Goa no final do século xvi é calculada em mais de sessenta mil «cristios» por Diogo do Couto (Asia, Década X, liv. 1, cap. vit). Embora Salvador também concentrase as instituicdes de administragio central (govema- dor-geral, ouvidor-geral, provedor-mor), tendo si do iniciada logo em 1549 2 construgio do Colégo dos Jesuitas e criado 0 bispado em 15st (Almeida, 1967-1971: 11, 23), 0 Tribunal da Relacio s6 vai ser estabelecido em 1609 € € preciso esperar por 1676 para que a diocese passe a arcebispado. O estabele- Cimento dos mosteiros de outras ordens religioss — franciscanos, beneditinos e carmelitas — denot uma certa lentidio, prolongando-se até 20 final do século, enquanto Goa fervilha de colégios € moe teiros desde meados do século xv1, procurando 3 ordens religiosas locais onde possam investir em novas construgdes. . © contexto social onde se insere a gestio nicipal também nao é idéntico. Em Goa, a pres ga expressiva de um grande nimero de relziesS desde as primeiras décadas de ocupagio, enquat® da por uma politica de conversio forgada, 425M sobretudo no final dos anos de 1550 € 105 2708 1560, leva a cristianizagao de uma grande Porn populagio local. Os portugueses, que se ener Tam sempre em minoria, do ponto de WE figs gtifico, situagio agravada pelo cardcter Tes emigragio feminina, deram origem 4 forme uma elite indo-europeia da qual sairam_ or adores e tradores, negociantes, rendeiros, contratagor mesmo 0 clero local. Dai 0 estabeleciment aa plexo de uma relago porosa entre a elite OCP Portugueses recém-chegados (nobres, ofeor gios, negociantes ou artesios) € as castas Digitalizada com CamScanner dos brimanes (que dominavam © sacerdécio, a ad= ministragao € as profisses letradas) © dos chardég (que constitufam uma espécie de aristocracia rural), Ghquanto as castas inferiores dos sudras (campone= kes livres ¢ artifices) ¢ dos curunbins (trabalhadores braais sem terra) desempenhavam um papel pro- donvo fundamental para a economia da cidade {ubeiro, 1962: 104 € 179). Assim, a vereagio da ci Inara de Goa, embora composta neste periodo fin- damentalmente por portugueses de origem euro- peia, teve que gerit desde cedo a diversidade de interesses entre grupos sociais onde a logica das or- dens se cruzava com a légica das castas € onde a fe~ lagio entre outsiders © insiders era extremamente ambigua, jd que a sociedade colonial tinha sido construida sobre uma sélida tradigio cultural, eco- némica € social preexistente. No caso da Bahia, nio s6 0 peso do termo face } cidade era muito mais importante, em termos econdmicos € sociais, pois estava alii concentrado 0 investimento produtivo ¢ as principais fontes de riqueza, mas também a composigao social do nd cleo urbano era completamente distinta, Nio existia ali qualquer povoado: © pequeno agregado deixado na zona pelo capitio-donatirio Francisco Pereira Coutinho, morto pelos natives em 1547, nio era significativo. Tratava-se de uma construcio de raiz, inspirada pelas estruturas tipicas das sociedades eu- ropeias da época, com a importagio simples da configuragio institucional portuguesa, que se im- plantou sem necessidade de se confrontar com tra~ dices prévias locais, pois a sociedade indigena nao er uma sociedade urbana. Contudo, a sociedade colonial af gerada nao se constituiu de todo como uma transferéncia dos modelos europeus, pois 0 ti- po de producio agricola ali praticada exigia mio- “de-obra escrava que, depois de meados do sécu- Jo xvi, comegou a ser importada de Africa. Embora © debate sobre a escravidao dos indios se prolongue até finais do século xvi, com sucessivos conflitos de interesses entre os Jesuitas e os colonos, 0 traba~ Iho escravo era estranho 4 formagio social amerin- dia daquela regio, ao contririo do que sucedia em Africa, Alids, a lei de 1570 sobre a liberdade dos in- dios proibia a redugio destes 4 escravatura fora do quadro da guerra justa, Dai a pritica de transportar mao-de-obra escrava da Senegimbia para a Bah nas décadas de 1550 € 1560, seguindo-se uma diver= sificagio dos portos de envio, nomeadamente com a emergéncia do mercado de Angola nas iiltimas décadas do século. Em todo o caso, Salvador da Bahia desempenhou desde cedo um importante papel de recepgio ¢ distribuigio do trifico de es cravos, numa média calculada de mil a dois m cativos recebidos por ano no terceiro: quartel do século xvi (Mauro, 1960: 147-181). Embora 0s er cravos afticanos fossem trabalhar, na sua grande maioria, para as plantagdes de cana-devapia ae capi le coexi tos permaneciam na capital, on: eames t populagio nativa assimilada ¢ com * AS CAMARAS FAS MISERICORDIAS Portugueses. A vereagio da cimara, composta neste Periodo inicial findamentalmente por senhwores de engenho de origem portuguesa, tinha que lidar as sim, com uma sociedade composta por uma fort Percentagem de escravos africans, nativos assimila dos ¢ uma erescente populagio crioula No Brasil, a rede de vilas € cidades demorou tempo a ser organizada, s6 assumindo contornos Mais precisos a partir das primeiras décadas do sé culo xvi, Contudo, j4 em 1532 0 rei tinha dado fo ro de vila a Sio Vicente, primeira cimara instituida naquelas partes. Nas décadas seguintes sio atribui dos forais is vilas de Iguaragu, Sio Jorge dos Hhé Santa Cruz, Olinda, Santos, Sio Paulo, Itanhaém: Rio de Janeiro. Estes agregados urbanos nio con tituem, ‘neste perfodo, uma rede, pois as distincias entre eles sio da ordem das centenas ¢ mesmo mi Ihares de quilémetros, estruturando regides iu poucas relagdes tém entre si — as ligagdes econo micas € politicas sio estabelecidas directamente com 0 centro do império ¢ outras partes do mes- mo, nomeadamente as feitorias € as fortalezas de Africa fornecedoras de escravos. O estatuto dos concelhos é idéntico, tendo o rei em diversas ocx sides negado a afirmacio de qualquer preeminéncia formal entre concelhos, atitude destinada a evitar a eclosio de tensdes desnecessirias entre os poderes locais. Contudo, esta igualdade de representagio de todos os municipios perante o poder central, subl nhada por Romero Magalhies (1985: 18 ¢ 1988: 25) nio impede a afirmagio de preeminéncias infor- mais junto da Coroa, como € 0 caso de Salvador da Bahia em relagio 20 Brasil No caso do Estado da India, embora cxistsse uma rede de fortalezas com relagdes claras de inter~ dependéncia econémica € politica, 0 seu estaruto rnem sempre foi bem definido, nio existindo estu- dos especificos sobre o funcionamento das cimaras na Asia, Contudo, sabe-se que ji anteriormente 20 governo de D. Joio de Castro (1545-1548) teria sido Feconhecido o estatuto concelhio a Cananor, Co- chim ¢ Chaul, embora Malaca s6 visse ser-lhe atri- buido estatuto idéntico por volta de 1552 (Maga- Thies, 1988: 25). Neste quadro, a afirmagio da preeminéncia informal de Goa fice as restantes ei- Manas no € facil de documentar. E verdade que 0 fei recusou em 1563 uma proposta apresentada pela Vereagio daquela cidade no sentido de juntarem tm ansembleia os procuradores de outras cidades aqui partes (ibidem). Esta medida, interpretada Como uma forma de anular a criagio de wm grupo {le pressio conttirio 3 politica pulverizadora dos poderes locas seguida pela Corot, nem sempre te~ PeMexecugio a0 nivel local, existindo varias situa- Goes, documentadas sobretudo para a primein me~ fade do século xvi, em que as_proprias camar's HGlviam juntar-se em Goa para fazerem uma pes” {G0 com maior peso junto do rei, Assim, deve ser Fatizada a ideia segundo a qual as camagss svar feralmente favoriveis ao regime de pandadey ps 359 Digitalizada com CamScanner

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