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2013) em 1536 e terminaria apenas em 1821, aquando a revolução liberal portuguesa. Criada
pelo papa, no século XIII, reformada e reconstituída uniformemente, o Santo Ofício marcou
profundamente a vivência na cidade de Coimbra na Época Moderna. Este tribunal eclesiástico
fazia parte da constelação de poderes judiciais que coexistiram durante o Antigo Regime e
contava com o apoio da Coroa e o trabalho acirrado de bispos e inquisidores, que permitiram a
sua solidez e infabilidade.
Os penitentes iam descalços, com uma vela na mão, vestidos com casacos negros sem mangas.
Sobre os casacos endossavam os sambenitos de linho amarelo, nos quais, dependendo do
estatuto de cada um, podia haver cruzes pintadas a vermelho, diabos, chamas de fogo e nos
relaxados, a sua própria imagem mandada executar por pintores dias antes.
De seguida, o auto continuava no cadafalso, grande estrutura de madeira que podia comportar
até 300 pessoas. A cerimónia prosseguia com um sermão, marcado por linguagem ríspida e
ofensiva, atacando visceralmente os cristãos-novos e exaltando a importância do Santo Ofício
na manutenção da ordem cristã. Após o sermão, que podia durar entre 30 minutos e 1 hora,
um padre subia ao púlpito para ler o édito da fé e iniciar a leitura individual das sentenças.
Era aqui que se atingia o pico da cerimónia e do espetáculo. O Santo Ofício congratulava-se
com o sucesso da sua ação pacificadora de almas; para os réus, o sentimento era amargo,
marcado pela vergonha e arrependimento. Após a leitura das sentenças dos réus
reconciliados, era-lhes absolvida a excomunhão pelo inquisidor mais velho.
De seguida, era a vez dos relaxados. Confiados à justiça secular, retiravam-se do estrado,
depois de acorrentados e esperavam a aplicação da pena de morte. Em Coimbra, a execução
dava-se próximo da ponte de Santa Clara, em barracas de madeira erguidas nos areais do rio
Mondego.
Após a sua morte, existiam mecanismos de relembrar a sua memória: através de listas com os
nomes, crimes e penas dos condenados. Eram-lhe também retirados os sambenitos e
pendurados no interior das igrejas.
Por fim, pode concluir-se que a Inquisição, enquanto ritual de punição, era também uma
cerimónia marcada pela teatralidade e simbolismo. A comunidade via este acontecimento com
êxtase e no fim sentia-se imaculada, pois o Santo Ofício havia punido aqueles que
transgrediam os dogmas cristãos. Para além disso, os sermões, as procissões, a violência das
punições e a disposição dos nomes e crimes nas igrejas, tinham a função de dissuadir a
comunidade de praticar tais heresias e confirmar o poder supremo de Deus.