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VASCONCELOS, José Antonio. Reflexões: filosofia e cotidiano (ensino médio). 1ª edição.

São Paulo: SM 2016.

efletindo

p. 230: O que é ética? Qual a diferença entre ética e moral? Em que condições uma
pessoa pode assumir a responsabilidade moral pelas ações que praticou?

R: do que trata o drama do romance Menino de Engenho, de José Lins Rego, em que o
menino apresenta emoções confusas por causa do sumiço dos pais (embora para o leitor e
criados à sua volta é sabido que os mesmos foram assassinados, menos para o personagem),
tendo à volta pessoas que sabem o que aconteceu, porém, sem se importarem em contar ao
menino o ocorrido, temos um exemplo de provocação ética para quem o lê, porque as
vivências do menino que sente falta dos pais são capazes de nos suscitar alguns sentimentos:
pena, porque perdera a companhia dos pais e tem, como primeiro capítulo, a angustia de não
conseguir dormir por falta dos mesmos; revolta, contra o assassino; curiosidade, pois, em
relação ao motivo do crime; angustia do destino incerto do menino, etc. A problemática moral
e ético surge daí, porque tais emoções, de acordo com leitores como nós, que vivemos em
sociedades industrializadas e urbanas, isto é, que por meio de determinada cultura política, a
partir de partidos políticos e de militância de movimentos sociais diversos, na tentativa de
manter articulação entre instituições e sociedade, preconizam e reivindicam a defesa de
direitos, a cidadania e o igualitarismo, por exemplo, em uma sociedade que banalizou a morte
por assassinato. Então, o romance Menino de Engenho é capaz de provocar uma problemática
ética porque as vivências do personagem, assim como as situações que a envolvem, uma vez
nos levando a uma identidade com tais situações, pois, nos provoca sentimentos como os de
indignação, de ressentimento ou mesmo de revolta, face aos valores éticos que os homens
morais que valorizam bens como a justiça, a liberdade, por exemplo, se sensibilizam, ao
tomar consciência ou conhecimento de um episódio de violência.

Posto isso, cabe frisar que a moral tem um significado próximo ao de ética, embora a
palavra moral derive do latim mos, moris, por sua vez, a palavra ética deriva do grego ethos,
ethikós. Embora o senso comum as use como tendo um sentido equivalente, autores diversos
indicam que existe uma diferença de significado entre ambas.

De acordo, por exemplo, com o professor Danilo Marcondes (PUC-Rio), senão


vejamos:
“(...) a ética está mais preocupada em detectar os princípios de uma vida conforme à
sabedoria filosófica, em elaborar uma reflexão sobre as razões de se desejar a justiça
e a harmonia e sobre os meios de alcança-las. A moral está mais preocupada na
construção de um conjunto de prescrições destinadas a assegurar uma vida em
comum justa e harmoniosa”1.

N’outras palavras, a moral é entendida como um conjunto de regras de conduta, um


código de conduta, o que define, a partir da cultura de uma sociedade (seus hábitos e
costumes), quais ações são “boas” e quais ações são “más”, enquanto a ética constitui uma
reflexão filosófica sobre a moral.

A ética pressupõe, pois, um sistema de valores. Dizer que algo possui um valor
significa fazer uma avaliação, uma qualificação positiva ou negativa à coisa, acontecimento,
atividade (ação) em questão. Quando se diz, por exemplo, que o Estado brasileiro não presta,
que o direito brasileiro é seletivo e injusto ou que a corrupção é um grande mal, estamos
emitindo juízos de valor, de cariz ético.

A ética pressupõe, também, que o agente moral – a pessoa que faz algo que contribui
positivamente para o igualitarismo ou humanização da sociedade ou não – seja responsável,
consciente e livre em relação às suas ações. Quando se diz que alguém assume
responsabilidade pelo que faz, é porque pode ser culpado, se o que faz é errado, ou digno de
mérito, se faz algo positivo. Em suma, para que alguém possa assumir qualquer
responsabilidade é necessário que sua ação seja livre e consciente. E ser livre e consciente em
uma sociedade de consumo só pode ser possível através de um meio: a ascese.

1
JAPIASSU, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

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