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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO

1.1. O sentido profundo do texto

1.2. Minúcias sobre a Bíblia Sagrada

1.3. A questão da autoria

1.4. Ataques contra a Bíblia

1.5. A definição de Hermenêutica e termos relacionados

1.6. Funções da Hermenêutica

2. A BÍBLIA SAGRADA

2.1. Particularidades sobre a Bíblia

2.2. Por que a Bíblia não pode ser considerada um clássico?

2.3. Por que a Bíblia não caiu no esquecimento?

2.4. As consequências da Bíblia

2.5. O poder transformador da Bíblia

2.6. Dois axiomas sobre a Bíblia

3. O ESPÍRITO SANTO E A BÍBLIA

3.1. Restrições acerca da interpretação da Bíblia

3.2. A participação do Espírito Santo na interpretação bíblica

4. O ESTUDO NA INTERPRETAÇÃO

4.1. Questões complementares acerca da leitura da Bíblia

4.2. A Bíblia pode ser entendida?

5. A PRÁTICA DA HERMENÊUTICA

5.1. O Salmo 23

5.2. Os nomes de Deus

6. A TRANSPOSIÇÃO DOS ABISMOS

6.1. Os muitos abismos

6.2. O abismo cultural


6.3. O abismo geográfico

6.4. Abismo linguístico

6.5. O abismo gramatical


INTRODUÇÃO
O sentido profundo do texto
E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías,
e disse: Entendes tu o que lês? E ele disse: Como
poderei entender, se alguém não me ensinar? E
rogou a Filipe que subisse e com ele se
assentasse. E o lugar da Escritura que lia era
este: Foi levado como a ovelha para o matadouro;
e, como está mudo o cordeiro diante do que o
tosquia, Assim não abriu a sua boca. Na sua
humilhação foi tirado o seu julgamento; E quem
contará a sua geração? Porque a sua vida é
tirada da terra. E, respondendo o eunuco a Filipe,
disse: Rogo-te, de quem diz isto o profeta? De si
mesmo, ou de algum outro? Então Filipe, abrindo
a sua boca, e começando nesta Escritura, lhe
anunciou a Jesus.
Atos 8:30-35

Esses versículos formam uma das histórias mais hermenêuticas da Bíblia Sagrada,
de forma que quando começamos a perceber os detalhes e desdobramentos dos
termos, entendemos que há muitos cristãos que estão perdidos em suas leituras, tal
qual o eunuco..

Numa primeira leitura, o texto pode parecer conter pouco sentido, mal passando de
um relato desimportante. Porém observemos alguns pontos sobre a leitura do texto
de Isaías:

1. A mera leitura das palavras da página de uma Bíblia não significa


necessariamente que o leitor compreenderá seu significado. A
hermenêutica vem para suprir esse abismo entre nós e a Bíblia.

2. O episódio do evangelista mostra que uma orientação adequada ajuda


as pessoas a interpretarem o que lêem na Bíblia Sagrada. Nesse caso,
Filipe age como um hermeneuta para o eunuco.

A pergunta é “compreendes o que vens lendo?” Isso indica a


possibilidade de o leitor não estar entendendo, mas também a
possibilidade de que entenda.

Quando o tesoureiro pede que ele o explique, reconhece que não


consegue interpretar as Escrituras sozinho, necessitando de auxílio. A
partir disso, podemos entender que Deus tem dado graça a alguns de
seu servos para suprir nossas dúvidas sobre as Escrituras

3. Uma terceira lição que pode ser tirada do texto é esta: é necessário que
reconheçamos que precisamos de ajuda para entender texto, pois
sozinhos não temos condições de aprender e decifrar esse conjunto de
histórias.

4. Há ainda um quarto ponto: devemos sempre nos atentar aos seis


abismos presentes nos textos da narrativa Bíblica.

I. Abismo cronológico;

II. Abismo geográfico;

III. Abismo cultural;

IV. Abismo linguístico;

V. Abismo literário;

VI. Abismo sobrenatural;

Esses abismos estão posicionados entre nós e a Bíblia Sagrada. Para


conhecermos o texto precisamos da hermenêutica que funcionará como
a ponte de ligação entre o leitor e um livro escrito há muitos anos atrás,
num lugar, cultura e língua estranhas a nós e sob influência divina.

Minúcias sobre a Bíblia Sagrada

O que é a Bíblia? Por que na nossa Bíblia há o termo Bíblia Sagrada? Sagrado deriva
do latim “Sacratu”, e refere-se a algo que merece veneração ou respeito religioso. A
palavra “bíblia” significa “coleção de pequenos livros”, de forma que o que a torna
especial é a palavra “sagrada”.

A origem da Bíblia Sagrada:

A origem da Bíblia está agregada à história de uma planta muito comum na ribeiro do
rio Nilo (Egito) chamada papiro (derivada do latim “PAPYRUS”). No Egito, o papiro
chegava a crescer até a altura de quatro metros.
Poderá o papiro crescer senão no pântano? Sem
água cresce o junco? Mal cresce e, antes de ser
colhido, seca-se, mais depressa que qualquer
grama.
Jó 8:11,12

O que é Papiro?

É uma matéria prima usada na fabricação do papel. Eles cortavam seu caule e, a
partir dele, faziam tiras que virariam folhas de papel. Esse papel tornou-se algo tão
especial que a elite do império romano usava-o para seus escritos, portanto tratava-
se de um material muito caro.
● É daí que veio a palavra “Bíblia”, porque essa película (ou folha) tirada do caule
do papiro chamava-se “biblos” (palavra grega que significa “livro”).

● O plural de “Biblion” em grego é “Biblia”. Bíblia significa, portanto, “os livros” ou


“coleção de livros”.

● Do Egito, o papiro passou para a Síria, Sicília e Palestina, que é a terra onde
foi escrita a Bíblia.

A questão da autoria

Sendo Deus seu verdadeiro autor, a Bíblia foi escrita por homens inspirados e
dirigidos pelo Espírito Santo. Cerca de 40 diferentes autores que representavam 19
diferentes ocupações (pastores, fazendeiros, pescadores, cobradores de impostos,
médicos, reis, etc.) que viveram num período de cerca de 1600 anos.

Ataques contra a Bíblia

A Bíblia está traduzida em 2565 idiomas diferentes. Desde 1816 até hoje calcula-se
que já foram vendidas mais de 6 bilhões de Bíblias. Foi o primeiro livro a ser impresso
por Gutemberg (1440) e até hoje existe uma cópia desta edição nos EUA.

A definição de Hermenêutica e termos relacionados

O que exatamente vem a ser hermenêutica? Em que ela difere da exegese ou da


exposição? A palavra hermenêutica é oriunda do grego “hermeneu” e do substantivo
“hermeneia”, palavras associadas à mitologia grega, mais precisamente ao deus
Hermes, o mensageiro de pés alados. Hermes tinha a função de transformar o
entendimento.

Afirma-se que foi Hermes quem descobriu a linguagem verbal e escrita, tendo sido o
deus da literatura e eloquência. Dentre outras coisas, era mensageiro e intérprete dos
deuses, principalmente de seu pai, Zeus. Assim, o verbo “hermeneu” passou a
significar o ato de levar alguém a compreender algo em seu próprio idioma.

Em nossa língua, o verbo “interpretar” às vezes é empregado com sentido de


explicação e, em outras, tradução. Nas 19 vezes em que o termos “hermeneu” ou
“hermeneia” aparece, o sentido quase absoluto é de tradução. Assim, o papel da
hermenêutica é pegar um conteúdo do grego ou hebraico e trazê-lo para o português.

Assim sendo, a diferença se dá no seguinte:


● Hermenêutica: tem a função de apurar o sentido do texto;

● Exegese: tem a função de verificar o sentido do texto;

● Exposição: tem a função de transmitir o texto;

● Homilética: tem a função de transmitir o sentido do texto sob a forma de


pregação;

● Pedagogia: tem a função de aplicar o texto sob forma de ensino;

Funções da Hermenêutica

A Hermenêutica é uma ciência e, como tal, enuncia princípios, investiga as leis do


pensamento e da linguagem e classifica seus fatos e resultados. Como arte, ensina-
nos como esses princípios devem ser aplicados e comprova a validade deles,
mostrando o valor prático que tem na elucidação das passagens mais difíceis.
Portanto, a arte da Hermenêutica desenvolve e constitui um método exegético válido.

Em que consiste, então, a exegese e a exposição? A exegese pode ser definida como
a verificação do sentido do texto bíblico dentro de seu contexto histórico e literal.

A exposição é a transmissão do significado do texto e de sua aplicabilidade ao ouvinte


moderno. Enquanto a exegese é a interpretação propriamente dita da Bíblia Sagrada,
a hermenêutica consiste nos princípios pelo quais se verifica o sentido das
passagens.

● A primeira função da hermenêutica é compreender o ambiente histórico e


cultural do texto;

● A segunda, explicar o real sentido do texto utilizando de todos os recursos


linguísticos, históricos, culturais e geográficos substituindo-se de todos os
recursos explicativos passíveis;

● A terceira função é transpor os abismos existentes entre o leitor e o texto


original;

● A quarta função é auxiliar o leitor a compreender o conteúdo dos escritos;

A Hermenêutica apresenta três etapas:

● Observação

● Interpretação

● Aplicação
A observação pode ser assemelhada a um cirurgião abrindo uma região do corpo
afetada por algum mal. Ao investigar, ele verifica a presença de um tumor, uma
hemorragia, um tecido com pigmentação anormal ou talvez algum tipo de obstrução.

A averiguação sucinta algumas perguntas: O que significa isso? Como pode ser
explicada essa ocorrência? Que tipo de tumor deve ser esse? Observando o que
vemos no texto bíblico, devemos então manejá lo corretamente:
Procura apresentar-te a Deus aprovado, como
obreiro que não tem de que se envergonhar, que
maneja bem a palavra da verdade.

2 Timóteo 2:15

Há dois termos a serem analisados aqui: Manejar (orthotomoulta) e Aprovado


(dokumo). Dokumo carrega os significado de uma moeda, dessa forma percebemos
que o apóstolo Paulo assemelha o pregador a uma moeda que soa legitimamente.

O verbo manejar remete à construção de tendas, onde o corte da pele do animal deve
ser perfeito para que haja a costura. Orthotomoulta é a combinação de “reto” (ortho)
e “cortar” (tomeo).

Como Paulo fabricava tendas, é possível deduzimos que o apóstolos estivesse


empregando um termo relacionado a seu ofício. Quando fazia tendas, Paulo fazia uso
de determinados moldes daquela época, de forma que e as tendas eram feitas de
retalhos de peles de animais costurados uns aos outros.

Cada pedaço deveria ser cortado de tal forma que se encaixasse bem com as outras
peças. Assim podemos perceber que Paulo estava dizendo que se os pedaços não
forem bem cortados, o todo ficará desconjuntado. O mesmo ocorre com as Escrituras:
se as diferentes partes não forem interpretadas corretamente, a mensagem como um
todo pode resultar em erro.

Quer seja no estudo da Bíblia Sagrada, quer seja na sua interpretação, é dever do
cristão ser preciso, minucioso e exato em suas empreitadas. Ao ler a Bíblia, muitos
saltam diretamente da observação para a aplicação, passando por cima da etapa
essencial da interpretação..
A BÍBLIA SAGRADA
Particularidades sobre a Bíblia

● Ela tinha tudo para fracassar;

● Sua sobrevivência é espantosa;

● Tem sérios problemas editoriais:

I. Literários: o grego Koiné é inferior ao grego erudito;

II. Pequenas contradições;

III. Frases incorretas;

IV. Histórias bizarras. Ex: não houve uma reunião de pauta, os 40 autores
não se encontraram para que cada um soubesse o que iria escrever.

Por que a Bíblia não pode ser considerada um clássico?

Algumas razões:

● Porque o escritor do clássico não pode ser do “povão”;

● O clássico tem que ter apelo estético e chamar atenção dos intelectuais;

● Tem que ter histórias que nos prendam (Mt 1 e Lc 3);

● O clássico também não pode ser escrito com gramática pobre ;

Por que a Bíblia não caiu no esquecimento?

● Segundo Voltaire (nascido em 1694 na França) afirmou em 1776, em 100 anos


a Bíblia seria apenas uma peça de museu. No entanto, a Bíblia tem
transformado países, sociedades e milhões de vidas através da história;

● Em 303 d.C., o imperador Diocleciano mandou queimar cada cópia da Bíblia


Sagrada;

● Em 1199, o Papa Inocêncio III proibiu a tradução da Bíblia para a língua


francesa e mandou matar que a lesse.

● Em 1564, o Papa Pio IV promulgou a lei que permitia a apenas algumas


pessoas - os ricos - a leitura da Bíblia;

● O Papa Clemente VIII proibiu a Bíblia Sagrada;


● O Rei Ferdinando II mandou queimar aproximadamente dez mil Bíblias na
praça da cidade;

● Foi John Wycliffe quem traduziu a Bíblia Sagrada para o inglês. Em 1384, foi
condenado por heresia. Mataram-no, enterraram seu corpo e tiraram seus
ossos. Em 4 de maio de 1415, pegaram seus restos mortais e queimaram;

● A Bíblia foi proibida em vários países: Irã, Iêmen, Afeganistão, Arábia Saudita,
China, Coreia do Norte, Uzbequistão.

● A arqueologia, a história, a filosofia e a ciência confirmaram a Bíblia. Nenhum


outro livro inspirou tantos mártires como as Escrituras Sagradas.

As consequências da Bíblia

1. Se não fosse a Bíblia Sagrada, não haveria a Reforma Protestante. O pai desse
movimento é Martinho Lutero. Ele publicou as suas 95 teses na porta da igreja
em Wittenberg em 31 de outubro de 1597;

2. Se não fosse a Bíblia, tanto a ciência quanto a literatura tomariam um rumo


completamente diferente;

3. Sem a Bíblia, Abraham Lincoln não teria libertado os negros em 1863. Ele
disse: sem a Bíblia, eu jamais poderia saber o que é certo e o que é errado.

O poder transformador da Bíblia

● Jorge Lytton (1709 a 1773) era um barão nacionalista inglês, escritor e político.
Ele queria provar que a conversão de Paulo era uma novela e, estudando a
Bíblia, acabou por se converter, passando a escrever sobre o apóstolo Paulo;

● William Ramsey era um especialista em História Romana. Ele quis investigar


a história do apóstolo Paulo e acabou se convertendo no processo;

● Lew Wallace (1872 a 1905) queria redigir um livro para detonar a Bíblia, mas
acabou se convertendo, tornando-se autor de Ben-Hur;

● Antony Flew era considerado o maior filósofo do século XX. Decidiu ler a Bíblia
Sagrada e se converteu, acabando por escrever o livro “Um ateu garante: Deus
existe”;
Dois axiomas sobre a Bíblia

Um axioma é uma verdade evidente por si mesma. Isto é, é uma afirmação aceita
sem que seja necessária a apresentação provas para demonstrar sua validade. Assim
sendo, podemos destacar dois axiomas acerca das Sagradas Escrituras:

1. A Bíblia é um livro humano: embora a Bíblia seja uma obra sobrenatural de


Deus, é sempre importante nos atentarmos ao fato de que ela também é um
livro como qualquer outro.

As Sagradas Escrituras foram escritas em idiomas que permitissem a


comunicação de conceitos aos leitores. Assim sendo, os sinais ou símbolos da
Bíblia foram nela colocados por meio da ação de escritores humanos com o
objetivo de comunicar uma mensagem a alguém.

Essa é, afinal, a finalidade da comunicação por escrito: ajudar os leitores a


entenderem determinada coisa, isto é, transmitir uma ideia. A comunicação
falada ou escrita sempre contém três elementos:

● Aquele que fala, isto é, que busca transmitir a ideia que tem em mente
utilizando-se de símbolos linguísticos compartilhados por ele e seu
interlocutor;

● A mensagem, isto é, a ideia do orador ou escritor codificada em forma


de texto;

● Os ouvintes, isto é, os receptores da mensagem compartilhada por


aquele que fala;

Este axioma apresenta as seguintes características:

● Cada palavra foi registrada em linguagem escrita obedecendo os


sentidos gramaticais;

● Todo texto foi escrito para alguém que se encontrava num contexto
histórico e geográfico;

● O escrito foi afetado pelo meio cultural em que cada autor o escreveu;

● Cada texto era entendido tendo em mente seu contexto;

● Cada escrito bíblico adquiriu o caráter do estilo literário específico;

2. A Bíblia é um livro divino

Na qualidade de veículo de comunicação, as Sagradas Escrituras são um livro


tal como qualquer outro, onde as palavras foram registradas pelas mãos de
pessoas com linguagem humana. Dessa forma, o primeiro axioma manda-nos
prestar atenção nas regras naturais de gramática e sintaxe.
No entanto, a Bíblia é também um livro singular, diferente de qualquer outro na
história do universo, porque nos foi dado pelo próprio Deus, o que fica evidente
por meio de suas próprias reivindicações de inspiração:
Toda a Escritura é divinamente inspirada,
e proveitosa para ensinar, para redargüir,
para corrigir, para instruir em justiça;

2 Timóteo 3:16

Embora Deus tenha usado autores humanos para escrever as Escrituras, as


palavras que registraram foram inspiradas por Ele. Assim sendo, inspiração é
a obra sobrenatural do Espírito Santo por meio da qual Ele orientou e
supervisionou os escritores bíblicos para que o que colocassem no papel fosse
a palavra de Deus.

Essa supervisão dos escritos constitui uma ação verbal e completa. É verbal
pelo fato de o Espírito Santo ter orientado a escolha das palavras (que não
podem ser divorciadas dos pensamentos), e completa porque abrangeu todos
as textos da Bíblia. A Bíblia é, portanto, infalível quanto à verdade é definitiva
em autoridade.

A palavra grega para inspirado é “Teopneustia” cujo sentido é “soprado por


deus”. Devido à sua origem de natureza divina, a versão original da Bíblia
Sagrada se vê completamente livre de erros ou inconsistências.

A maneira como o Espírito Santo proporcionou sua inspiração é apresentada


em 2 Pedro 1:21:
Porque a profecia nunca foi produzida
por vontade de homem algum, mas os
homens santos de Deus falaram
inspirados pelo Espírito Santo.

2 Pedro 1:21

Os escritores registravam as palavra que Deus lhes dava a medida que eram
movidos pelo agir do Espírito. Este orientava o que escreviam, como no caso
de um veleiro que é conduzido com o vento. Pelo meio da inspiração, eles
relataram por escrito as verdades que Deus revelou sobre Si mesmo aos
autores.

O segundo axioma revela-nos, portanto, que:

● Pelo fato de ser um livro divino a Bíblia é inerrante;

● Sendo um texto de autoria divina, é fonte inesgotável de sabedoria;

● Na condição de literatura inspirada, apresenta total e perfeita unidade e


coesão;
● Por ser divina, a Bíblia Sagrada apresenta muitos mistérios.
O ESPÍRITO SANTO E A BÍBLIA
Restrições acerca da interpretação da Bíblia

Todo aquele que não for regenerado não pode compreender totalmente o significado
da Bíblia Sagrada, ou seja, quem não é salvo está cego espiritualmente para os
mistérios revelados nas Escrituras.
Nos quais o deus deste século cegou os
entendimentos dos incrédulos, para que lhes não
resplandeça a luz do evangelho da glória de
Cristo, que é a imagem de Deus.

2 Coríntios 4:4

Um dos primeiros obstáculos para a correta interpretação da Bíblia Sagrada é a


regeneração. Um homem comum não tem esperanças de compreender o texto em
seus sentidos mais profundos.
Ora, o homem natural não compreende as coisas
do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura;
e não pode entendê-las, porque elas se
discernem espiritualmente.

1 Coríntios 2:14

Evidentemente, isto não significa dizer que quem não é salvo não tem condições
intelectuais de entender o que as o texto das Escrituras dizem. Antes, significa afirmar
que tal indivíduo não possui a capacidade espiritual de receber e assimilar as
verdades espirituais encontradas na Bíblia.

Martinho Lutero certa vez disse que os regenerados podem entender a gramática de
João 3:16 “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito,
para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”, mas eles
não agem em decorrência dos atos ali descritos.

É nesse sentido que são incapazes de conhecer as coisas do Espírito de Deus. Quem
não é salvo não acolhe as verdades das Escrituras porque elas atingem em cheio a
natureza pecaminosa.

A hermenêutica de 1 Coríntios 2:14 revela-nos que o verbo traduzido como “aceitar”


é “dechomai”, que significa “acolher”. Isso quer dizer que uma pessoa em quem o
Espírito Santo não habita pode entender mentalmente o que a Bíblia diz, mas rejeita
a mensagem e se recusa a assimilá-la. O termo é o mesmo usado nos seguintes
versículos:
Ora, estes foram mais nobres do que os que
estavam em Tessalônica, porque de bom grado
receberam a palavra, examinando cada dia nas
Escrituras se estas coisas eram assim.

Atos 17:11
E vós fostes feitos nossos imitadores, e do
Senhor, recebendo a palavra em muita tribulação,
com gozo do Espírito Santo. De maneira que
fostes exemplo para todos os fiéis na macedônia
e Acaia.

1 Tessalonicenses 1:6,7

O primeiro obstáculo entre o leitor e o texto é que a natureza pecaminosa não


consegue assimilar a verdade por estar num nível muito inferior a ela.

A passagem de 1 Co 2:14 também afirma que o irregenerado não entende as coisas


espirituais. O verbo “compreender” não implica intelecto, mas sim a experiência de
vida. O que não é salvo não é capaz de experimentar a palavra de Deus porque não
acolhe suas verdades, pois apenas os regenerados possuem esse poder

É preciso mais que a regeneração, entretanto. Reverência e interesse por Deus


também são fundamentais para a correta interpretação das Sagradas Escrituras. Uma
atitude de apatia ou de arrogância em relação à Bíblia não colabora para o
entendimento correto da verdade de Deus. As Escrituras são chamadas de Santas,
devendo ser tratadas como tal..

Outros requisitos são o espírito de oração e humildade. O intérprete precisa sempre


reconhecer que, ao longo dos séculos, outras leitores da Bíblia lutaram para
compreender o sentido de muitas das mesmas passagens Bíblicas com as quais
agora ele se depara, e por isso talvez tenham adquirido alto conhecimento sobre
esses textos das escrituras.

Da mesma forma, nenhum intérprete é infalível, portanto ele precisa sempre estar
disposto a admitir a possibilidade de sua interpretação de determinada passagem não
estar certa.

Ao ler as escrituras, deve haver também a disposição de obedecê-las, e colocar em


prática o que foi dito na Palavra de Deus. Quando uma pessoa verifica como o Senhor
atuou na vida dos personagens bíblicos e compreende os preceitos das instruções
bíblicas para a vida de cada um, ela deve se dispor a seguir tais exemplos e
orientações. A não reverência pela palavra revela orgulho, relutância e falta de
oração: empecilhos para o entendimento do que a Bíblia diz.

O intérprete também precisa depender do Espírito Santo, pois o Espírito bendito não
é apenas o autor legítimo da palavra escrita, mas também seu expositor supremo e
autêntico.
A participação do Espírito Santo na interpretação bíblica

1. Sua participação não significa que as interpretações de alguém serão


infalíveis. Inerrância, infalibilidade, essas são características dos manuscritos
originais, não seus intérpretes.

2. A obra do Espírito Santo na interpretação não quer dizer que ele desvende
para alguns intérpretes um sentido oculto diferente do sentido literal da
passagem.

3. Como já dissemos, o cristão que esteja vivendo em pecado é suscetível de


interpretar erroneamente a Bíblia, pois seu coração e mente não estão em
harmonia com o Espírito Santo.

4. O Espírito Santo guia-nos a toda a verdade (Jo 16:13), o verbo “guiar” significa
ir à frente ou conduzir ao longo de um caminho ou estrada. Jesus prometeu
aos discípulos que o Espírito Haveria de esclarecer e expandir o que ele os
havia dado.

Depois da ascensão de Cristo, o Espírito Santo desceu no Pentecostes para


habitar nos fiéis e os discípulos entenderam então as passagens de Jesus com
relação à si próprio, sua morte e ressurreição.
Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele
vos guiará em toda a verdade; porque não falará
de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e
vos anunciará o que há de vir.

João 16:13

5. O papel do Espírito Santo na hermenêutica bíblica significa que ele não


costuma conceder vislumbres intuitivos e repentinos sobre o sentido dos textos
bíblicos. Muitas passagens podem ser entendidas à primeira vista, já o sentido
de outras só é esclarecido gradualmente, depois de um estudo cuidadoso.

6. A participação do Espírito Santo na hermenêutica não pressupõe uma atuação


misteriosa que não se pode explicar nem averiguar. O papel do Espírito Santo
na interpretação indica que a Bíblia foi dada para que todos os crentes
entendessem. Sua interpretação não pertence a uma elite minoritária de
eruditos.

7. Entretanto, essas exigências espirituais não garantem automaticamente que


qualquer interpretação da bíblia esteja correta. Estamos falando de pré-
requisitos, não garantias.
O ESTUDO NA INTERPRETAÇÃO
Questões complementares acerca da leitura da Bíblia

Além das questões espirituais, existem outros pontos que facilitam a leitura e o estudo
da Bíblia. A vontade de estudar é fundamental. Pode-se incluir aí, entre outras coisas,
o conhecimento dos textos bíblicos, da história da bíblia e da teologia.

As questões de ordem prática não podem ser resolvidas exclusivamente por meios
espirituais: não se pode orar a Deus pedindo por informações sobre a autoria de
Hebreus, por exemplo, e esperar que uma resposta clara venha do céu.

Semelhantemente, não cabe ao estudioso das Sagradas Escrituras dobrar seus


joelhos em oração em busca de respostas especiais sobre outras questões
elementares sobre a Bíblia e esperar por uma revelação exclusiva.

O estudante a Bíblia precisa aproximar-se das escrituras com equilíbrio e bom senso,
procurando ser o mais objetivo possível, sem opiniões preconcebidas. Tudo isso quer
dizer que a média dos leigos não tem condições de entender a Bíblia, precisando
cursar uma escola bíblica ou um seminário para poder interpretar as Escrituras
corretamente.

Evidentemente, isso não implica que as páginas da Bíblia Sejam restritas a uma
minoria: o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus e é um ser racional,
emotivo e volitivo. Ele possui a capacidade intelectual de compreender as Escrituras
como revelação de Deus escrita nas línguas humanas.

Por outro lado, não podemos eliminar a necessidade de professores. Certas pessoas
receberam o dom de ensinar, a exemplo dos quase 3.000 discípulos que receberam
a salvação no dia do pentecostes e perseveravam na doutrina dos apóstolos.

Pedro e João entravam no templo e ensinavam, e continuaram a ensinar o povo todos


os dias. Barnabé e Saulo ensinavam a numerosa multidão em Antioquia. Paulo
permaneceu em Corinto por um ano e meio ensinando, e também o fez em Éfeso,
publicamente e de casa em casa, foi acusado de ensinar todos em toda a parte, até
mesmo quando estava preso em Roma.

Se cada crente fosse capaz de entender completamente as escrituras por conta


própria, então por que os apóstolos estavam tão envolvidos na tarefa de ensinar os
crentes? Além disso, por que o dom do ensino é dado a certas pessoas na igreja até
os dias de hoje?

Esse ensinamento pode ser transmitido pessoalmente ou mediante instruções


escritas nos comentários. A atitude de manter-se aberto para receber a direção do
Espírito Santo por meio de outros pode ajudar o estudante da Bíblia a evitar alguns
perigos já mencionados.
A Bíblia pode ser entendida?

Os estudiosos da Bíblia referem-se às vezes à clareza das Escrituras, mas se a Bíblia


é realmente clara, por que necessitamos de regras ou princípios de interpretação?
Por que um cristão que vá ler a Bíblia precisaria da ajuda de mestres ou de escritos
como os comentários conforme acabamos de discutir?

Certas pessoas respondem que é impossível entender as Escrituras, elas se propõem


a ler uma passagem bíblica decididas a desvendar seu significado, mas acabam
descobrindo que este lhes foge ao alcance. Para elas, a Bíblia parece ser tudo menos
cara.

Se as Escrituras são claras, pra que discutir a interpretação? Realmente há certas


passagens da Bíblia que são difíceis de compreender. Acontece, entretanto, que sua
mensagem é básica e suficientemente simples para que qualquer indivíduo possa
compreender.

As Escrituras em si não são obscuras, e os ensinamento bíblicos não estão fora do


alcance de uma pessoa comum, como já afirmamos. Da mesma forma, a Bíblia
também não foi escrita para ser um quebra-cabeças, um livro de segredos e enigmas
concebido de forma confusa e incompreensível.

O fato de a Bíblia ser um livro é sinal de que foi feita para ser entendida. Na qualidade
de revelação escrita de Deus, ela revela-nos Seu caráter, planos e regras. Os autores
humanos cujos escritos foram guiados pela inspiração do Espírito Santo pretendiam
ser compreendidos, não fazendo uso de enigmas obscurantistas.

Como disse certa vez Martinho Lutero: o sacerdócio de todos os crentes significa que
a Bíblia é acessível e pode ser entendida por todos os cristãos. Essa afirmação
contrapunha-se à pretensa obscuridade da Bíblia sustentada pela igreja católica
romana, que afirmava que somente a igreja poderia desvendar os significados das
Sagradas Escrituras.

Mesmo assim, existem problemas de comunicação entre o escritor original e o leitor.


O que para o autor era nítido pode não ficar muito claro para o leitor imediato. Daí a
necessidade de interpretação para remover os obstáculos à comunicação e ao
entendimento. A exegese e a interpretação são, portanto, necessárias para ajudar a
expor as clarezas que as Escrituras possuem em si mesmas.
A PRÁTICA DA HERMENÊUTICA
O Salmo 23
O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará.
Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me
mansamente a águas tranqüilas. Refrigera a
minha alma; guia-me pelas veredas da justiça,
por amor do seu nome. Ainda que eu andasse
pelo vale da sombra da morte, não temeria mal
algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu
cajado me consolam. Preparas uma mesa
perante mim na presença dos meus inimigos,
unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice
transborda. Certamente que a bondade e a
misericórdia me seguirão todos os dias da minha
vida; e habitarei na casa do Senhor por longos
dias.

Salmo 23

Há quem compreenda imediatamente o significado do texto, mas para aqueles que


dedicam seu tempo esforçando-se para estudar as escrituras, novas camadas de
entendimento se fazem manifestas.

Há leitores que encontrarão dificuldades na interpretação dessa passagem, é aí que


se precisa entrar no estudo cuidadoso.

O termo “meu” em “O SENHOR é meu pastor”, por exemplo, funciona como pronome
possessivo. O texto não afirma, entretanto, que Deus seja propriedade do salmista,
uma vez que o radical hebraico carrega o significado de comunhão.

Os nomes de Deus

No Salmo 23, Davi fala sobre os vários nomes de Deus. No Velho Testamento, Deus
se apresenta com uma miríade de nomes:

● “O SENHOR é meu pastor” apresenta “Jeová-Raah”

● “Nada me faltará” e “preparas uma mesa” é “Jeová-Nissi”, o Senhor que provê;

● “Deitar-me faz em verdes pastos…” implica “Jeová-Shalom”, O Senhor é minha


paz;

● “Refrigera minha alma”, “Jeová-Rapha”, o Senhor que cura;

● “não temeria mal algum, porque tu estás comigo” é “Jeová-Shammah”

Primeiro o autor fala de Deus, depois passa a dar algumas características das
ovelhas, estabelecendo paralelos entre a vida cristã e os pastos verdejantes, águas
tranquilas e o vale da sombra da morte. A ovelha também não enxerga muito bem,
de forma que deve ser guiada por seu pastor.

A observação desses fatores torna a leitura muito mais rica, demonstrando a


importância da quinta observação acerca da participação do Espírito Santo na correta
interpretação das Sagradas Escrituras:

● “Muitas passagens podem ser entendidas à primeira vista, já o sentido de


outras só é esclarecido gradualmente, depois de um estudo cuidadoso.”
A TRANSPOSIÇÃO
DOS ABISMOS
Os muitos abismos

A Bíblia está muito distante de nós, não sendo escrita na cultura, idioma, circunstância
e geografia em que vivemos. Existe, portanto, um enorme abismo posicionado entre
os leitores do século XXI e as Sagradas Escrituras. Para que eu possa aproximar-me
da Bíblia, preciso transpor esses abismos com o auxílio da Hermenêutica.

O abismo cultural

Cultura é definida como o conjunto dos moldes de comportamento, crenças,


instituições e valores espirituais e materiais característicos de determinada
sociedade, de forma que a cultura envolve o que as pessoas pensam, crêem, fazem
e produzem.

Estamos falando de suas crenças, formas de comunicação, costumes, hábitos e


elementos materiais como ferramentas, habitações, armas, etc. A cultura de um
indivíduo abrange vários níveis de relacionamento e influências: suas relações com
outras pessoas e grupos, a função que exerce na família, classe social, nação e
governo ao qual está sujeito, sua religião, preferências políticas, operações militares
de seu Estado, suas leis, a arquitetura, agricultura, comércio, economia, geografia,
literatura, etc…

Quando abrimos as escrituras, é como se estivéssemos entrando num país estranho.


Da mesma forma como ficamos confusos com a maneira de agir das pessoas de
outros países, podemos ficar confusos com o que lemos na Bíblia. Assim, é
importante conhecermos os personagens bíblicos, o que pensavam, no que
acreditavam, o que diziam, faziam e produziam...

À medida em que procedemos assim, temos mais condições de compreender e


transmitir essas informações com maior grau de exatidão. Se não nos atentarmos a
essas questões culturais, podemos ser acusados de projetar na Bíblia nossos
conceitos ocidentais no mundo oriental.

Transpor o aspecto cultural permite-nos conhecer o sentido literal e socialmente


designado da palavra, expressão ou hábito. A expressão literal fica aleijada sem o
estudo das culturas, como acontece com a história bíblica, as questões culturais não
são pormenores.
Política Religião Economia

Daniel 5:7,16 Êxodo 23:19 Jó 22:6


Filipenses 3:20 1 Reis 19 Rute 4:8,17
Jonas 1 Colossenses 2:3
Rute 4:1 1 Coríntios 8

Leis Agricultura Vestimenta

2 Reis 2:9 1 Samuel 12:17 Provérbios 6:27


Colossenses 1:15, Salmos 1:4 Jó 38:3
Amós 4:1
Jó 39:1
Lucas 13:32
Marcos 11:12-14

O abismo geográfico

Semelhantemente ao caso do abismo cultural, a Bíblia Sagrada foi escrita em


condições geográficas que muito diferem das nossas. Através do estudo, entretanto,
és possível que realizemos a leitura das Escrituras como uma forma de adentrar um
mundo desconhecido, passando a compreender seus mistérios.

Vida Doméstica Geografia

Oséias 7:1 João 4:4


João 13:23 1 Samuel 23:29
Tiago 5:14 Lucas 10:30
Mateus 6:17
Lucas 7:46

Há certos princípios a serem observados para se descobrir o real significado dos


costumes bíblicos. Às vezes fica difícil saber se devemos seguir ou continuar
discutindo quando abordamos questões de costumes culturais, para tomar essa
decisão, devemos nos atentar a esses pontos:

● Veja se o costume naquela cultura tem um significado diferente em nossa


cultura;

● Se o costume tem significado diferente para nós, descubra o princípio


permanente que o norteia;

● Verifique se esse princípio pode ser expressado num equivalente cultural;


Abismo linguístico

Nossa Bíblias não foram originalmente escritas em nosso idioma. Isso é um fato.
Tanto a grafia hebraica quanto a grega são distintas. Os textos bíblicos foram escritos
em hebraico, grego e algumas porções em aramaico.

Além de possuir diversos vocábulos derivados de outros idiomas do ramo semita,


quando os hagiógrafos se comunicavam, faziam tanto pela palavra falada quanto pela
escrita. Para que suas mensagens fossem entendidas em sua completude, precisar
pelo menos coordenar sua fala e escrita de acordo com a gramática vigente.

Por sua vez, essa gramática é a língua pela qual as escrituras foram produzidas.
Como tal, possui sintaxe, morfologia, fonemas e estruturas diferentes da nossa, de
forma que é quase impossível àqueles que não possuem conhecimento das línguas
originais entender as escrituras em seu idioma de origem.

O Hebraico

O termo “hebraico” deriva-se do patriarca Heber, contemporâneo de Sem. Foi


de Héber que o povo oriundo de Abraão recebeu o nome de Hebreus. O
alfabeto hebraico é constituído de 22 letras consoantes, seu formato é
quadrático e lê-se de trás para frente. Dentro do hebraico não há letras
maiúsculas e minúsculas.

O Aramaico

O aramaico é uma língua dotada de semelhanças do hebraico. Possui o


mesmo alfabeto do hebraico, diferindo nos sons e, do mesmo modo que o
hebraico, não possui vogais. Geralmente as partes escritas em aramaico são
mensagens de gentios a judeus, ou de gentios a gentios, jamais de judeus a
judeus. São trechos significativos pronunciados nesse idioma do antigo
testamento.

O Grego

O grego é a terceira língua que compõe as Escrituras Sagradas. O novo


testamento foi escrito na língua grega. A única exceção foi o evangelho de
Mateus, escrito em aramaico, mas que, por sua vez, foi traduzido para o grego
Koiné.

O alfabeto grego consta de 24 letras, sendo a primeira Alfa e última, Omega.


O grego das escrituras neotestamentárias é denominado grego Koiné, uma
variação falada por qualquer pessoa. Tornou-se uma língua universal
principalmente depois das conquistas de Alexandre Magno no ano 330 a.C.
Todo estudante deve sempre ter em mente que o Novo Testamento é escrito
em grego, mas com mentalidade semita ou hebraica. Não basta apenas
conhecer a língua para compreender o Novo Testamento, é também
necessária empatia com a cultura hebraica.

O Antigo Testamento foi traduzido do hebraico para o grego Koiné em


Alexandria no ano 280 a.C. por um grupo de eruditos judeus helênicos. Essa
tradução foi reconhecida como a septuaginta.

Ela permitiu que a língua grega absorvesse a cultura hebraica enquanto essa
assimilava a riqueza de vocabulário e a universalidade do idioma grego. Essa
união sempre esteve em busca do enlace ou do divórcio, esta é a razão de
muitos intérpretes procurarem explicar diversos texto bíblicos usando a cultura
hebraica apesar de o texto estar no grego.

O Koiné foi tão universalmente difundido que Paulo escreve à igreja em Roma
não em latim, mas em grego. O grego usado por Lucas e pelo autor de Hebreus
é o mais literário, enquanto o de Apocalipse, o mais comum.

Toda a Bíblia foi escrita nessa três línguas por cerca de 40 escritores, muitos dos
quais sendo responsáveis por escrever mais de um livro. Os autores possuíam as
mais variadas funções possíveis, desde príncipes até pessoas simples como
boiadeiros ou pescadores. Todos esses escritores, bem como a cultura de seu tempo,
deixaram impressões nas Sagradas Escrituras

O abismo gramatical

Vários fatores destacam a importância de atentar para a gramática bíblica:

1. A natureza da inspiração: Se cremos que a Bíblia foi verbalmente inspirada


como esclarecido em outros tópicos, então acreditamos que cada palavra nela
contida é importante. Talvez nem todas as palavras e frases tenham a mesma
importância, mas todas elas tem uma finalidade. Do contrário, por que Deus as
teria incluído?

A interpretação gramatical é o único método que respeita integralmente a


inspiração verbal das Escrituras. Se uma pessoa não acredita que a Bíblia foi
verbalmente inspirada, seria uma contradição, e no mínimo estranho, se ela se
preocupasse com os aspectos gramaticais.

2. O objetivo da exegese: o objetivo da exegese bíblica é descobrir o que o texto


diz e quer dizer. E não atribuir-lhe outro sentido. João Calvino sempre dizia que
a primeira preocupação do intérprete é permitir que o autor diga o que ele
realmente disse em vez de lhe impor o que acha que ele deveria dizer.
Os pensamentos são expressados por meio de palavras, que são os elementos
que constituem as frases. Assim sendo, para descobrir os pensamentos de
Deus, precisamos estudar Suas palavras e como elas são combinadas nas
frases. Se negligenciarmos o significado das palavras e a maneira como são
empregadas, não teremos como saber quais interpretações são corretas.

A afirmação de que é possível atribuir à Bíblia o sentido que se deseja só é


verdadeira quando se despreza a interpretação gramatical.

3. O problema da comunicação: já se constatou que um cidadão comum usa


aproximadamente 30.000 palavras por dia em conversas normais. Quanto
mais uma pessoa falar, mais será a probabilidade e ser mal-interpretada.

Um orador ou escritor pode ser mal interpretado se os ouvintes ou leitores não


souberem exatamente o que ele quis dizer com determinada palavra ou frase,
por exemplo.

Às vezes numa conversa uma pessoa diz para a outra “pensei que estavas
querendo dizer isso”. Dessa forma, fica mais fácil comunicar o que se quer
dizer acrescentando outras palavras.

Nossa meta de estudo da hermenêutica é descobrir com a maior exatidão possível o


que Deus quis dizer com cada uma das palavra e frases que colocou nas Escrituras.
Para muitos leitores, o problema agrava-se pelo fato de a Bíblia ter sido escrita em
outras línguas. Como então conhecer exatamente o significado dos textos sem saber
o hebraico, aramaico e grego?

Suponhamos que você abra uma Bíblia em alemão e tente ler. Se você não souber a
língua e quiser conhecer o sentido das palavras, poderá empregar uma das seguintes
opções: aprender a língua ou pedir que outra pessoa que saiba alemão traduza.

O mesmo acontece com a interpretação bíblica. Nosso objetivo é chegar o mais perto
possível do sentido original, para tanto, precisamos aprender as suas línguas originais
ou, se não for possível, recorrer a quem as conheça.

Não queremos dizer com isso que uma pessoa não pode conhecer, estimar e ensinar
a Bíblia sem conhecer aquelas línguas. Deus já usou muitos expositores capazes que
não sabiam hebraico, aramaico ou grego para pregar e ensinar. Da mesma forma, a
vida espiritual de muitas pessoas que não conheciam as línguas originais já foi
grandemente abençoada ao estudarem uma tradução da Bíblia em sua língua.

A questão, entretanto, é hermenêutica e consiste em ser possível alcançar uma


precisão maior quando se conhece as línguas bíblicas. Como se descobre o sentido
das palavras? Há quatro fatores que determinam o sentido das palavras:
1. Examinar a etimologia das palavras. Etimologia diz respeito à origem e
evolução das palavras. Os alvos dela são recuperar o sentido da palavra em
questão e descobrir como ela evoluiu;

2. Descobrir o emprego das palavras. Como já dissemos, normalmente a


etimologia de um termo não ajuda a esclarecer seu significado, portanto
precisamos descobrir como o autor costuma empregá-lo.

A maneira como ele a empregou em seu contexto quase sempre ajuda a


esclarecer o sentido. Isso tem uma importância especial quando certa palavra
abrange sentidos diferentes dependendo de como é empregada.

3. Descobrir os significados das palavras semelhantes. Perceber a diferença


entre uma palavra e seus sinônimos pode ajudar a reduzir o número de
significados possíveis.

É importante não atribuir a determinada palavra o sentido de seus sinônimos,


mas sim procurar descobrir como as palavras apresentam variações de
sentido. Ás vezes essas variações não são claras, pois os sinônimos podem
ter sido praticamente idênticos.

4. Examinar o texto. O exame do contexto é extremamente importante por três


razões:

4.1. As palavras, locuções e frases podem assumir sentidos múltiplos, e o


estudo de seu emprego em determinado contexto pode auxiliar-nos a
distinguir qual dentre os vários sentidos é o mais provável;

4.2. Os pensamento normalmente são expressos por uma sequência de


palavras ou frases, de forma que o sentido de qualquer termo específico
é quase sempre determinado pelos elementos que o precedem e
sucedem;

4.3. Desconsiderar o contexto normalmente acarreta em interpretações


falsas. A interpretação bíblica deve sempre levar em conta os vários
tipos de contextos.

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