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SUMÁRIO

SUMÁRIO
GREGO ANTIGO
INSTRUMENTAL
DAVI D PES S OA D E LI R A

Ideia – João Pessoa – 2021

SUMÁRIO
Todos os direitos e responsabilidades sobre os textos são do autor.

Capa/Diagramação: Magno Nicolau


Revisão: Claude Valentin René Detienne
Milton Marques Junior

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD

L768g Lira, David Pessoa de.


Grego antigo instrumental [recurso eletrônico]/
David Pessoa de Lira. - João Pessoa: Ideia, 2021.
7.3 mb PDF

ISBN 978-65-5608-119-9

1. Grego antigo instrumental. 2. Grego antigo -


gramática. 3. Língua grega antiga - ensino. I. Tí-
tulo

CDU 811.14’01
Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária Gilvanedja Mendes, CRB 15/810

EDITORA
www.ideiaeditora.com.br
contato@ideiaeditora.com.br

SUMÁRIO
Dedico a
Rizia Fabrício,
minha amada,
que me incentivou a publicar esta obra.

SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS

Ao meu grande amigo e irmão Prof. Dr. Claude Valentin


René Detienne, que tem sido um verdadeiro garimpeiro
acadêmico, pela sua presteza e gentileza em ler os
escritos de deste trabalho e apreciá-los com um olhar
acuradamente filológico.
Ao amigo Milton Marques Junior, grande acadêmico e
literato paraibano, o qual tem conservado o estudo
clássico em plena imortalidade e perenidade.
Aos meus alunos de Grego Instrumental, pelo acom-
panhamento nos estudos e por suas observações na
apostila da disciplina.
À minha esposa, Rizia Fabrício, que contribuiu para que
eu levasse adiante esta pesquisa, ouvindo e compar-
tilhando do conhecimento e das informações filosó-
ficas, pela paciência e pela compreensão, sem as quais
eu não poderia ter levado adiante esta pesquisa.
À minha família, minha mãe, meus irmãos e minhas
irmãs, pelo incentivo e confiança que depositaram em
mim desde cedo.

SUMÁRIO
Ἑϱμῆς μὲν γὰϱ ὁ διδάσϰαλός μου, πολλάϰις μοι
διαλεγόμενος ϰαὶ ἰδίᾳ ϰαὶ τοῦ Τατ ἐνίοτε
παϱόντος, ἔλεγεν ὅτι δόξει τοῖς ἐντυγχάνουσί
μου τοῖς βιϐλίοις ἁπλουστάτη εἶναι ἡ σύνταξις
ϰαὶ σαφής, ἐϰ δὲ τῶν ἐναντίων ἀσαφὴς οὖσα ϰαὶ
ϰεϰϱυμμένον τὸν νοῦν τῶν λόγων ἔχουσα, ϰαὶ
ἔτι ἀσαφεστάτη, τῶν Ἑλλήνων ὕστεϱον
βουληϑέντων τὴν ἡμετέϱαν διάλεϰτον εἰς τὴν
ἰδίαν μεϑεϱμηνεῦσαι...

Pois, de fato, Hermes, meu mestre, muitas vezes


dialogando comigo tanto privadamente como, às
vezes, com Tat estando presente, disse: a sintaxe
parecerá ser simples e clara para as pessoas que
se deparam com os meus livros, mas, contra-
riamente, sendo obscura e tendo o sentido
oculto das palavras; e ainda mais obscura [será]
quando os gregos, mais tarde, quiserem traduzir
o nosso idioma para o seu próprio...

Corpus Hermeticum 16.1-2

SUMÁRIO
SUMÁRIO

PREFÁCIO ............................................................................................................. 10
O GREGO ANTIGO COMO INSTRUMENTO ............................................................ 10
APRESENTAÇÃO ................................................................................................... 15
HISTÓRICO DA LÍNGUA GREGA ............................................................................. 19
1 FONÉTICA (ΦΘΟΓΓΟΛΟΓΙΚΟΝ) ....................................................................... 25
1.1 LETRAS E PRONÚNCIA (ΓΡΑΜΜΑΤΑ ΚΑΙ ΦΘΟΓΓΟΣ) ................................................... 26
1.2 PROSÓDIA (ΠΡΟΣΩΙΔΙΑ) ...................................................................................... 44
1.3 SINAL DE ASPIRAÇÃO (ΣΗΜΕΙΟΝ ΠΝΕΥΜΑΤΟΣ).................................................................. 52
1.4 SINAIS DE PONTUAÇÃO (ΤΑ ΣΗΜΕΙΑ ΤΗΣ ΣΤΊΞΕΩΣ) ........................................................... 54
2 MORFOSSINTAXE – ORAÇÃO NOMINAL ............................................................ 57
SUBSTANTIVO GREGO................................................................................................ 61
OS GÊNEROS (ΓΕΝΗ) ................................................................................................ 61
OS CASOS (ΠΤΩΣΕΙΣ)................................................................................................ 63
I DECLINAÇÃO (SUBSTANTIVOS FEMININOS)................................................................... 65
II DECLINAÇÃO (SUBSTANTIVOS MASCULINOS E NEUTROS) ............................................... 69
I DECLINAÇÃO (SUBSTANTIVOS MASCULINOS) ................................................................ 73
SUBSTANTIVOS CONTRACTOS DE I DECLINAÇÃO .............................................................. 75
SUBSTANTIVOS CONTRACTOS DE II DECLINAÇÃO ............................................................. 77
ARTIGOS MASCULINO, FEMININO E NEUTRO ................................................................. 79
ADJETIVOS DE I E II DECLINAÇÃO ................................................................................. 82
A POSIÇÃO DO ADJETIVO ........................................................................................... 84
ADJETIVOS CONTRACTOS DE I E II DECLINAÇÃO............................................................... 87
O CASO GENITIVO: FORMA E FUNÇÃO POSSESSIVA DO NOME........................................... 89
O VERBO GREGO ..................................................................................................... 90
ESQUEMA GERAL DOS VERBOS GREGOS........................................................................ 95
PRESENTE DO INDICATIVO DO VERBO ΕΙΜΙ .................................................................... 96
FRASES NOMINAIS .................................................................................................... 98

SUMÁRIO
PRONOMES DEMONSTRATIVOS .................................................................................... 99
PRONOME ΑΥΤΟΣ, -Η, -Ο ......................................................................................... 103
PRONOMES PESSOAIS .............................................................................................. 104
3 MORFOSSINTAXE – ORAÇÃO VERBAL ............................................................. 108
1. VERBOS EM –Ω COM RADICAL EM VOGAL – NÃO CONTRACTOS ................................... 108
1.1 PRESENTE E FUTURO INDICATIVO ATIVO................................................................. 108
1.2 IMPERFEITO E AORISTO DO INDICATIVO ATIVO DOS VERBOS EM – Ω. ........................... 112
1.2.1 AUMENTO .................................................................................................... 114
2. VERBOS EM –Ω COM RADICAL EM VOGAL –CONTRACTOS ........................................... 116
2.1 PRESENTE E FUTURO INDICATIVO ATIVO................................................................. 118
2.2 IMPERFEITO E AORISTO DO INDICATIVO ATIVO......................................................... 119
3. VERBOS EM –Ω COM RADICAL EM CONSOANTE OCLUSIVA .......................................... 121
4. VERBOS EM –Ω COM RADICAL EM CONSOANTE LÍQUIDA E NASAL................................. 122
ΑDVÉRBIOS ........................................................................................................... 124
AS PREPOSIÇÕES E SEUS EMPREGOS BÁSICOS ................................................................ 125
NUMERAIS ............................................................................................................ 130
CONJUNÇÕES E PARTÍCULAS CONECTIVAS .................................................................... 133
CLASSIFICAÇÃO OU NOME DAS PALAVRAS QUANTO À TONICIDADE .................................... 141
PRESENTE, IMPERFEITO E FUTURO DO INDICATIVO ATIVO DO VERBO ΕΙΜΙ .......................... 146
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 147

SUMÁRIO
10 | D a v i d Pessoa de Lira

Prefácio
O Grego Antigo como Instrumento
Milton Marques Junior
Professor de Línguas e Literaturas Clássicas
da Universidade Federal da Paraíba

O professor David Pessoa de Lira, da Universidade Federal


de Pernambuco, vem a público com o lançamento de seu Grego
antigo instrumental, fruto de sua experiência de pesquisa e,
sobretudo, de ensino da língua de Homero, Platão e Calímaco. Esta
é o que nós podemos chamar de uma boa notícia, nestes tempos
em que o saber, que vinha descendo a ladeira, desabou em queda
livre, pela falta de um projeto exequível de educação para o nosso
país.
Indo na contramão do que está acontecendo, o professor
David Pessoa faz parte de uma nova leva de jovens professores de
grego e de latim, disseminados pelas universidades brasileiras,
com a difícil missão de ensinar línguas clássicas a alunos que, em
linhas gerais, estão em falta com o seu próprio idioma e,
pressionados pelas novidades da tecnologia, deixaram de lado o
hábito de ler, de escrever e de estudar. O professor David, no
entanto, não se entrega e vai buscar na sua experiência a maneira
que lhe parece melhor para o ensino do grego. Como o objetivo
não é falar grego, visto que o grego antigo difere do grego
moderno, como o português do galego-português – guardando-se
as devidas proporções, é claro –, essa língua é apresentada como
Grego Antigo Instrumental | 11

instrumento que permitirá uma primeira e segura abordagem de


textos gregos, guiando os alunos a voos mais altos, desde que
observadas as orientações da morfossintaxe da língua helênica e,
claro, que o estudante contribua com a sua parte, aplicando-se a
enfrentar a gramática, a habituar-se na investigação do léxico e a
fazer os seus exercícios, obedecendo a um preceito simples, mas
não menos eficaz, que o nosso mestre Henrique Murachco repetia
como um mantra em sala de aula: “Grego se aprende com a mão”.
Cabe, no entanto, trazer à tona a pergunta que se ouve
constantemente: Por que estudar grego e ainda mais o grego
antigo? As explicações e justificativas poderiam ser muitas. O
professor David Lira argumenta, na sua “Apresentação”, que “o
grego é depósito memorial de várias artes e ciências”. É uma boa
explicação, não resta dúvida. A substância que a cultura grega
deixou como legado impregna a cultura ocidental há, pelo menos,
2500 anos. Não há como nos desviar dessa influência, no sentido
mais etimológico do termo, sentido benéfico, portanto, de algo que
corre para dentro para lá ficar. Está em tudo, nas ciências, nas
artes, na antroponímia, na toponímia, nos costumes, na religião.
Língua e cultura que fundam e moldam o pensamento ocidental, o
grego se erige em cima de duas maravilhosas epopeias heroicas,
fundantes da narrativa hespéria – Ilíada e Odisseia –; uma epopeia
didática, na sistematização da origem dois Deuses – Teogonia –;
um poema religioso, estabelecendo o conceito de dias fastos e
nefastos, e o sentido maior de Justiça – Trabalhos e dias –, tudo
isso no século VIII a.C., tornando Homero e Hesíodo dois gigantes,
cujas obras determinaram que essa língua e sua cultura são
incontornáveis. Sem falar na reinvenção da literatura, com a
Tragédia, e do pensamento, com a Filosofia, de onde saem a
política, a democracia e a ciência.
12 | D a v i d Pessoa de Lira

É impossível, portanto, ignorar uma cultura que, desde


cedo tratou da criação de centros de estudos, da formação de
bibliotecas, deu início a um processo de tradução das obras de sua
época, por saber o quão é importante conhecer a cultura do outro
e ainda fez os primeiros estudados sistemáticos da obra homérica,
criando um sistema de referenciação que possibilitava o seu
estudo e a troca de informações, independente de onde estivesse o
estudioso, desde que ele tivesse em mãos uma edição estabelecida
dessas obras.
Mas não para por aí. No mundo atual, se alguém quer ser
um pastor eficiente, que busca a exegese do texto do Evangelho,
não há como fugir do estudo do grego, língua que unia a bacia do
Mediterrâneo, como segunda língua, língua comum, a ϰοινή, e na
qual o Evangelho foi escrito, para que a “boa mensagem” fosse
levada a todos, incluindo os gentios, não apenas aos judeus.
Se a pergunta persiste na variante “Por que estudar o grego
antigo, se a língua grega, diferente da língua latina, persiste na
Grécia atual?”, podemos dizer que esse estudo se faz necessário
porque não dá para entender os textos do grego antigo, apenas
com o estudo do grego atual, cuja sintaxe, morfologia e até mesmo
a fonética divergem bastante. A melhor resposta para o estudo do
grego antigo, contudo, acredito estar no texto do Corpus
Hermeticum, que o professor David Pessoa de Lira utiliza com
epígrafe:

“A sintaxe parecerá ser simples e clara para as pessoas que se


deparam com os meus livros, mas sendo obscura e tendo o sentido
contrário das palavras; e ainda mais obscura será quando os
gregos, mais tarde, quiserem traduzir o nosso idioma para o seu
próprio...”
Grego Antigo Instrumental | 13

Que não se procure no livro do professor David as


respostas para todas as angústias que o estudo de uma língua
como o grego provoca em quem se atreve a enfrentá-la. Trata-se
de um primeiro passo, mas um passo importante e firme, que dará
o embasamento necessário ao estudante para a imersão nos textos
sempre desafiadores dos autores arcaicos, clássicos e alexandrinos
dessa língua.
Ressaltamos, portanto, a importância do Grego antigo
instrumental, do professor David Pessoa de Lira, sobretudo pelo
fato de que ainda são insuficientes os métodos de estudo do grego,
em língua portuguesa, produzidos por nós próprios e adaptados à
nossa maneira de pensar. Diga-se o óbvio: cada professor tem um
modo particular de ensinar a sua disciplina. Se ele produz um
material que reflita o seu modo de pensar o estudo da língua,
acreditamos ser uma solução didática das mais relevantes, pois
será para o estudante, a continuidade, em casa, daquilo que lhe é
apresentado em sala de aula.
O professor David age com cautela quando apresenta
apenas as duas primeiras declinações e um estudo inicial de
verbos, por saber que aí já existe material suficiente para o
embasamento da língua. Com a utilização paulatina do material na
sala de aula, ele poderá constatar o que funciona e o que não
funciona, e a tendência é ir aperfeiçoando o livro, chamando a
atenção para detalhes da língua que só se percebem com o seu
estudo e o seu ensino frequente.
Mesmo que se chame a atenção para a natureza
intrinsecamente híbrida da língua grega, como a língua latina, uma
natureza morfossintática, é preciso deixar claro que todas as
línguas apresentam morfologia e sintaxe, mas no caso do grego
esses dois componentes estão entranhados. Assim, como costumo
dizer aos meus alunos de latim, a língua grega é uma língua visual,
14 | D a v i d Pessoa de Lira

pois se pode apreender a sintaxe de uma palavra mesmo quando


ela se encontra descontextualizada.
Ressalte-se, enfim, que esse ensinamento calcado na
compressão da morfossintaxe, como o faz o professor David de
Lira, é fundamental para o aprendizado da língua a partir de sua
estrutura morfológica, não pela memorização. A memorização se
perde com o tempo; a compreensão da estrutura morfológica é
uma apreensão que se internaliza na mente.
Que as lições deste livro – Grego antigo instrumental –
sejam a abertura para a chegada de um novo exemplar, para
aprofundamento do estudo dessa língua que nos encanta há
gerações e gerações.
Grego Antigo Instrumental | 15

Apresentação

O livro Grego Antigo Instrumental não é senão uma


representação de uma gramática instrumental com o objetivo de
frisar as palavras mais usualmente empregadas pelos estudantes
da Disciplina de Grego Instrumental dos eminentíssimos Cursos
de Letras e Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco. O
conteúdo desse livro foi organizado inicialmente para atender os
estudantes desses cursos. Não obstante, ele é útil para qualquer
pessoal interessada na língua, visto que o grego é depósito
memorial de várias artes e ciências.
Após o período do estudo, os estudantes poderão fazer uso
da língua grega como uma ferramenta relevante nas pesquisas
exegéticas e na leitura. Para que eles possam proceder dessa
forma, faz-se necessário também que os mesmos lancem mão ou
recorram à gramática, dicionário (léxico) e suplementos literários
na sua atividade de análise e consulta. Destarte, todas as questões
de ordem gramatical e textual devem ser resolvidas de acordo com
regras morfossintáticas próprias da gramática grega, atendendo e
satisfazendo suas nomenclaturas, conceitos e definições grama-
ticais.
Assim, o Grego Antigo Instrumental introduz os estudantes
na origem e desenvolvimento da língua grega até o Período
Helenístico tardio (Histórico da Língua Grega). Ademais, permite
que eles aprendam a ler, escrever e transliterar o grego antigo, ou
seja, ter domínio na Fonética grega antiga. Outrossim, o leitor
pode conhecer e distinguir as Classes Gramaticais, as funções
16 | D a v i d Pessoa de Lira

desse idioma, ou seja, distinguir e aplicar os aspectos formais e


funcionais (Morfossintaxe). Com o Grego Antigo Instrumental, o
aluno tem conhecimento vocabular da língua helênica, sabendo
empregar e identificar as palavras.
Ademais, as definições das palavras não se esgotam através
de uma simples lista vocabular, nem tampouco o número e a
seleção de palavra são as mais fiéis ao interesse de muitos colegas
docentes e discentes do curso. O emprego de cada palavra é
aquele adequado aos assuntos gramaticais abordados. Por esta
razão, elas não abrangem várias acepções, mas aquelas mais
usuais.
O Grego Antigo Instrumental abrange mais de trezentas
palavras, incluindo paradigmas e vocábulos listados. Os exemplos
de palavras, orações e textos são marcadamente do Corpus
Hermeticum (Corp. Herm.), por se tratar de textos cuja linguagem e
estilo, mesmo sendo alexandrinos, não se fixam a qualquer dialeto.
O grego do Corpus Hermeticum é aticizante. “O grego “aticizante” é
um grego helenístico modelado nos padrões literários do grego
clássico dos grandes autores do quarto e quinto séculos a.E.C.”1 A
linguagem mística do Corp. Herm. faz recordar o paganismo e o
cristianismo dos primeiros séculos da Era Comum. Sua linguagem
tautológica, com termos técnicos que pertencem à filosofia grega,
lembra a linguagem ora platônica ora estoica. Em todo caso, um
estudo propedêutico e instrumental da língua grega não se limita
aos exemplos do Corpus Hermeticum, mas também busca seus
referenciais intertextuais dos autores gregos que, de alguma
forma, fizeram uso do grego ático e da koinē.

1
“Atticizing” Greek is a style of Hellenistic Greek that is modeled on the literary
standards of the Classical Greek of the great Attic authors of the fourth and fifth
centuries BCE. McLEAN, 2014, p. 7.
Grego Antigo Instrumental | 17

Deveras, o estudo do grego, aqui, é principalmente do ático


e da koinē. O grego abordado é filosófico-religioso e poético. Trata-
se de uma introdução ou propedêutica concernente ao aspecto
fonético e morfossintático, principalmente aos aspectos formais e
funcionais da língua grega, estritamente sua morfologia nominal e
verbal. Objetiva, assim, apresentar as duas primeiras declinações
dos substantivos; a primeira classe de adjetivos; a conjugação do
indicativo do verbo εἰμί; a conjugação dos verbos em –ω no
presente, imperfeito, futuro e aoristo do indicativo ativo; os
principais advérbios e as formas dos modais; as principais
preposições e seus casos; e as conjunções e partículas conectivas.
No presente livro, buscou-se, nesta fase, evitar que os
alunos lidem com grandes complicações gramaticais, deixando
para um momento ulterior o contato com outros modos e vozes
verbais. Ademais, buscou trabalhar apenas com os números
singular e plural, colocando o número dual em nível mais
avançado. A gramática é dividida em três partes, a saber: 1.
Fonética; 2. Morfossintaxe – Oração Nominal; 3. Morfossintaxe –
Oração Verbal.
No que concerne à morfossintaxe, o Grego Antigo Instru-
mental começa com o grupo dos nomes, o qual compreende as
palavras que se configuram como substantivos, adjetivos, artigos,
de maneira que possam exercer suas funções como sujeito ou
objetos na oração, observando suas inflexões no que diz respeito
aos morfemas. A posteriori, analisa-se o conjunto de inflexões
verbais no grupo peculiar, começando com orações não verbais.
Adentrando nas particularidades dos verbos, reforça-se o aspecto
da transitividade e complementação na oração. Ainda relacionado
ao grupo de verbos, destacaram-se as composições de orações
simples
18 | D a v i d Pessoa de Lira

Como o Grego Antigo Instrumental apresenta uma


característica idiorrítmica, o aluno pode disponibilizar, pelo
menos, 30 minutos diários para leitura, estudo e exercício do
idioma. Ele deve exaurir todas as dúvidas sobre o assunto que
tenha estudado. E isso requer um esforço e dedicação exclusiva
para leitura, além do acompanhamento do professor.
É necessário que as informações sejam evidenciadas e
explanadas conceitualmente antes mesmo das instruções da
língua grega. Sendo assim, busca-se uma metodologia didático-
pedagógica eficaz, de maneira que o estudo do grego possa se
tornar algo aprazível e relevante para o público em geral, tendo
como resultado uma possível conciliação do estudo do idioma com
as atividades profissionais e acadêmicas.
Grego Antigo Instrumental | 19

Histórico da Língua Grega

A língua grega é do tronco indo-europeu, assim como o


latim, o sânscrito, a língua dos antigos persas e medos, o inglês, o
alemão, o francês, o italiano, o português, espanhol e muitas
outras línguas. Os falantes indo-europeus viveram onde é agora o
oeste da Rússia, mas sua migração começou posteriormente, mais
ou menos em 3000 a.E.C. Esses falantes desceram para regiões da
Índia, Irã, Europa etc.2 Os grupos dos aqueus, jônios e dóricos, que
se chamam hoje em dia de gregos e que se fixaram na Grécia em
diferentes tempos pelo período de 2000-1000 a.E.C., viveram lá
desde então e conservaram sua identidade, não só na Grécia, mas
em outras ilhas, países mediterrâneos e na Ásia Menor por 2500
anos.3
O dialeto4 ou língua de cada grupo étnico formava um todo
independente com características próprias de cada etnia. Isso não
quer dizer que a diferença fosse gritante ou exagerada, mas
apenas variantes simples que podem ser explicadas sem maiores

2
Costuma-se chamar indo-europeu, árico ou indo-germânico um extinto idioma
falado nas planícies da Rússia Meridional ou na Ásia Central em uma época
imprecisa. Só se conhece o indo-europeu através de sua reconstituição do estudo
comparativo de várias línguas. Essas línguas se dividem em dois grandes ramos, a
saber, o asiático e o europeu. O asiático é constituído das línguas indiana, iraniana,
armênia e hitita. O europeu compreende as línguas grega, itálica, céltica, báltica,
eslava, germânica e albanesa (GIORDANI, 2012, p. 359).
3
BETTS; HENRY, 2010, p. 8.
4
As variações dos falares gregos possibilitaram conjecturar hipoteticamente a
existência de uma língua-mãe grega comum e pré-histórica (GIORDANI, 2012, p.
360-361).
20 | D a v i d Pessoa de Lira

complicações. Entre as obras de Homero, Ilíada e Odisseia,


compostas mais ou menos em 700 a.E.C., podem ser observadas
diferenças dialetais. Desde então até o tempo de Alexandre
(morreu em 323 a.E.C), é perceptível a quantidade de textos
gregos que apontam para a sobrevivência dos quatro maiores
grupos dialetais (jônico, dórico, árcado-cipriota e ático), os quais
mostram, em alguns casos, a diferença existente entre eles.5
Embora a língua épica seja artificial, os dialetos que
compunham esses poemas não eram, e existem evidências que a
língua grega já era dividida em dialetos dois mil anos antes da Era
Comum. Assim, é uma evidência inequívoca a existência dessa
variedade de dialetos (jônico, eólico e ático) nas obras mais
antigas da literatura grega, a saber, a Ilíada e a Odisseia, embora
sua datação, estilo e composição sejam motivo de controvérsia.6
De qualquer forma, esses dialetos vieram a constituir línguas
próprias de diferentes gêneros literários, como o épico, a poesia
elegíaca e o lírico, mesmo que esses dialetos tenham
desaparecido:
1) O jônico era falado nas Ilhas do Egeu, com exceção do
litoral sul da Grécia, e de Lesbos para o norte, mas era
falado na área central e no litoral da Ásia Menor, na
Foceia, nas colônias de Cálcis e Erétria, no Helesponto,
na Sicília e Cumas (Itália) e Marselha (Gália). É
justamente nas Ilhas do Egeu e na Ásia Menor que se
iniciam as atividades culturais e intelectuais gregas,
começando com a figura de Homero até os filósofos
pré-socráticos. Entre os séc. VII e VI a.E.C., os poetas
começaram a usar o jônico como dialeto de diversos
gêneros, tais como o lirismo, a poesia elegíaca e o

5
BETTS; HENRY, 2010, p. 8; GIORDANI, 2012, p. 361.
6
BETTS; HENRY, 2010, p. 8.
Grego Antigo Instrumental | 21

drama, sendo o dialeto da prosa literária e usado


também por Heródoto.7
2) O eólico era a língua falada em Lesbos, Tessália, Beócia
e em algumas colônias junto à costa da Ásia Menor. É o
dialeto empregado por Safo e Alceu (séc. VI a.E.C.) na
poesia lírica. Entretanto, o eólico nunca chegou a ser
usado de forma independente nos períodos subsequen-
tes. Ele sempre era usado com outro dialeto na
literatura, como, por exemplo, com o dialeto dórico.8
3) O dialeto dórico era falado no Peloponeso (com
exceção da Arcádia), em Rodes, em Creta, na Caria, na
Sicília, na Dorida e na Itália Meridional ou Magna
Grécia, e na Cirenaica. Os autores que escreveram em
dórico foram Píndaro da Beócia, Teócrito e Arqui-
medes. Encontram-se o dialeto dórico em vários
fragmentos das comédias de Epicarmo, em algumas
passagens de Aristófanes. O dórico literário era uma
língua eclética e artificial.9
4) Por fim, o ático é derivado do jônico, sendo o dialeto
falado na região ática, onde se situa Atenas. Era a
linguagem falada em Atenas (entre os séc. V e III a.E.C.).
Com a hegemonia política de Atenas e o fim da guerra
contra os persas (em 479 a.E.C.), o dialeto ático foi
estabelecido firmemente como língua propriamente
literária, vindo a concorrer com o jônico e o eólico e se
tornando o principal dialeto da Grécia Antiga. Assim, o
ático se tornou a língua da tragédia e da comédia (de
Ésquilo, Sófocles, Aristófanes e Menandro), da história,

7
RAGON, 2012, p. 286, 295-296; JAY, 1994, p. 1; FREIRE, 2001, p. 250;
BETTS; HENRY, 2010, p. 8; GIORDANI, 2012, p. 361.
8
RAGON, 2012, p. 296-298; FREIRE, 2001, p. 247-248; BETTS; HENRY, 2010,
p. 8; GIORDANI, 2012, p. 363.
9
RAGON, 2012, p. 296-298; FREIRE, 2001, p. 247-248; BETTS; HENRY, 2010,
p. 9; GIORDANI, 2012, p. 363.
22 | D a v i d Pessoa de Lira

da filosofia, da oratória e da política (Tucídides,


Xenofontes, Platão, Isócrates, Lísias, Demóstenes e
Ésquines).10

Porém, apesar de sua primazia cultural, Atenas foi abalada


politicamente de maneira a ficar eclipsada. Na metade do quarto
século a.E.C., Filipe II, pai de Alexandre o Grande (382-336 a.E.C),
representou o novo poder no mundo grego, a saber, o poder
macedônico. E sob seu comando, a Macedônia, um reino do norte
da Grécia, expandiu-se para as mais antigas cidades-estado do sul,
de forma que as ambições territoriais de Filipe chegaram ao seu
objetivo, mas foram levadas adiante por seu filho, Alexandre o
Grande (356-323 a.E.C.). Depois de consolidar o domínio sobre a
Grécia, Alexandre sobrepujou sucessivamente o Império Persa,
que englobava o que chamamos atualmente de Oriente Médio e
Egito. Com a sua morte, todo o seu império foi dividido em reinos
entre seus generais (gregos).
O grego ático, depois de Alexandre Magno, se expandiu
largamente tanto na literatura como no comércio sobre toda a
área de sua conquista. Era ático parcialmente, pois os soldados de
Alexandre e mercadores que seguiam a corte eram provenientes
de várias regiões gregas ou do mundo helenístico que absorveram
elementos de outros dialetos gregos e eram capazes de absorver
elementos de outras línguas de povos do Oriente Próximo e Médio.
O grego ático, já modificado, passou a ser a língua oficial e
comum.11 Três séculos mais tarde, os romanos finalmente
ganharam o controle de todos os países do Mediterrâneo na parte
oriental e conservaram o grego como língua comum.12
Três motivos explicam o predomínio do grego ático, a
saber: a) a universalidade da prosa ática; b) hegemonia intelectual

10
FREIRE, 2001, p. 255; BETTS; HENRY, 2010, p. 9; JAY, 1994, p. 1;
GIORDANI, 2012, p. 361.
11
JAY, 1990, p.1.
12
BETTS, 2010, p. 6.
Grego Antigo Instrumental | 23

de Atenas no mundo grego; c) o grego ático era um meio termo


entre as variações dialetais.13 As conquistas de Alexandre tiveram
importante contribuição e consequências não só políticas como
também linguísticas. A cultura grega foi expandida sobre todas as
terras conquistadas no Mediterrâneo oriental e uma língua franca
emergiu que, com algumas exceções, gradualmente substituiu e se
impôs sobre velhos dialetos e o mesmo ocorreu na Grécia.
Esta nova língua foi chamada, como supramencionado, de ο
dialeto comum ou ἡ ϰοινὴ διάλεϰτος.14 Esse também é chamado de
grego alexandrino ou helenístico. Alexandrino, talvez por causa de
Alexandre ou da influência da cidade de Alexandria, no Egito. O
termo helenístico advém da expansão helênica sobre o mundo
oriental, com a sua cultura e língua. O grego koinē começa desde a
influência macedônica e existiu durante o Império Romano até o
período bizantino. Era basicamente um desenvolvimento do
dialeto ático, mas sem muitas complexidades. Alguns dos seus
vocábulos vieram de outros dialetos gregos ou de quaisquer
outras línguas nativas dos países que as usavam. Era a língua
falada pelo homem grego no dia-a-dia, nas ruas e praças. A forma
como essa língua era falada pelos habitantes da parte oriental do
Mediterrâneo refletia a cultura local.15
Em todo caso, não se pode confundir a terminologia comum
com vulgar. Nem todos que falavam a koinē eram iletrados,
pescadores, judeus com seus semitismos, romanos com seus
latinismos nem escritores do Novo Testamento. A koinē era uma
língua que também tinha seus eruditos e puristas. Basta dar uma
olhada nas obras do poeta Luciano para perceber o seu purismo. A
partir disso, pode-se dizer que o texto do Novo Testamento foi
escrito em grego koinē, mas nem todos os textos escritos em koinē
podem ser analisados e estudados tomando como paradigma o
Novo Testamento (NT) e vice-versa. Havia a koinē falada no Egito,

13
GIORDANI, 2012, p. 364.
14
JAY, 1990, p.1.
15
BETTS; HENRY, 2010, p. 9; BETTS, 2010, p. 7; GIORDANI, 2012, p. 363-364.
24 | D a v i d Pessoa de Lira

em Roma, na Síria etc. Cada qual com seus aspectos linguísticos


conservadores em maior ou menor grau em relação ao grego ou a
sua língua nativa. O NT apresenta um grego sui generis usado na
Palestina do primeiro século. Muitas diferenças entre este e a
koinē falada em outras partes do Império Romano vem do
ambiente judaico. Se comparar o grego neotestamentário com o
grego ático, encontrar-se-ão vários elementos semíticos do
hebraico e aramaico naquele, seja no estilo, seja nas expressões
idiomáticas, seja gramaticalmente ou na transliteração.16 Tudo
isso faz parte da dinamicidade da língua. A koinē não é simples-
mente língua vulgar que está abaixo de um exemplo padrão
clássico17, mas uma língua comum no sentido em que todos
podiam se comunicar.
Pode-se notar que, na Grécia Antiga, havia várias línguas
literárias e um dos traços da Literatura Grega é justamente a
variedade dessas línguas. Deve-se levar em consideração que a
língua literária grega se diferenciava do sermo vulgaris pela
organização gramatical, pelo estilo, pela artificialidade e compo-
sição. Essas línguas literárias não pertenciam necessariamente a
uma determinada pólis, mas a um conjunto de cidades. Essa língua,
como instrumento da literatura, apresenta uma riqueza vocabular,
uma liberdade de composição das palavras e frases, e um
encadeamento musical.18

16
BETTS, 2010, p. 7-8.
17
BETTS, 2010, p. 6-7.
18
GIORDANI, 2012, p. 364-366.
Grego Antigo Instrumental | 25

1 Fonética (Φϑογγολογιϰόν)

O filólogo e pai da Linguística moderna, Ferdinand de


Saussure, foi o primeiro a distinguir a Fonética da Fonologia. Até o
século XIX, era muito comum designar a fisiologia dos sons por
Fonética. Segundo o filólogo e linguista suíço, esse termo parece
impróprio para designar a natureza dos sons. Para ele, Fonética é
a ciência que lida com o processo histórico e a evolução própria
dos sons.
Sendo assim, a Fonética é uma ciência histórica e, por isso,
analisa os acontecimentos e as transformações dos sons topolo-
gicamente e cronologicamente. Ao contrário disso, a Fonologia, de
maneira atemporal, analisa os mecanismos da articulação que
permanecem inalterados. Mas é bem verdade que a Fonética lida
com os sons propriamente ditos e com os aspectos físicos
envolvidos em sua produção enquanto a Fonologia busca
estabelecer uma análise funcional e organizacional dos sons. Em
última análise, a Fonologia trata de um estabelecimento
combinatório de sons possíveis em uma determinada língua. Do
ponto de vista hjelmsleviano, a Fonética trata da substância e do
conteúdo dos sons enquanto a Fonologia estuda a forma, a
estrutura e o padrão.
Por muito tempo, e ainda persiste assim hodiernamente, a
Fonética tem designado a parte da Gramática que estuda os sons
de maneira geral. Qualquer estudante de língua latina e grega
antiga pode encontrar, na secção de Fonética, uma gama de
26 | D a v i d Pessoa de Lira

informações que confundem as duas ciências. Isso ocorre em


qualquer Gramática normativa de várias línguas.
Destarte, aqui, o interesse é fonético, mas a Fonologia é
assaz importante para entender a organização dos sons e seus
padrões.

1.1 Letras e Pronúncia (γράμματα ϰαὶ φϑόγγος)


O alfabeto grego tem sido usado até hoje, durante 2750
anos, desde 750 a.E.C. É o mais velho alfabeto em contínuo uso até
os dias atuais. Foi o primeiro alfabeto a usar o sistema de símbolos
ou sinais separados para vogais e consoantes. As letras também
serviam para representar os numerais.
Segundo Heródoto, o alfabeto foi introduzido na Grécia por
uma figura mítica chamada Cadmo. De fato, o alfabeto grego é uma
adaptação e desenvolvimento do alfabeto fenício-cananeu, sendo a
ordem (sequência) e o nome das letras de origem fenícia. Deste
mesmo alfabeto surge o alfabeto hebraico. Desde que os gregos
adaptaram esse alfabeto a sua cultura, os significados dos nomes
se perderam. Os nomes das letras ou se mantiveram ou foram
mudados sutilmente de acordo com a fonologia grega. O nome da
letra alpha tem a mesma raíz do aleph cananita cujo significado é
“touro” ou “boi” e beta tem a mesma raiz de beth que significa
“casa”. Note que o nome das letras fenícias se conservou no
hebraico.
De fato, os nomes das letras fenícias eram palavras que
começavam com o som representado pela letra. No entanto, é
preciso notar que algumas letras, incorporadas e modificadas
mais tarde pelos gregos, receberam nomes com significados
gregos. Como por exemplo, “omikron” e “omega” que significam
respectivamente “o pequeno/ breve” e “o grande/ longo”. O
mesmo acontece com “epsilon” e “upsilon” que significam
Grego Antigo Instrumental | 27

respectivamente “simples e” e “simples u”. Hoje em dia, as letras


gregas são usadas como símbolos matemáticos e científicos,
nomes de partículas na física, nomes de estrelas etc. A mais
notável mudança no alfabeto grego, a partir do alfabeto fenício, foi
a introdução das vogais. Quase todos os alfabetos que apresentam
vogais são de origem grega, embora haja exceções. O alfabeto
grego pode ter sido a origem de vários outros alfabetos, como do
gótico, do glagolítico, do cirílico e do copta, assim como do
alfabeto latino.
As vogais ou os sinais vocálicos não eram representados
nos alfabetos de origem semítica, embora fossem representadas
no alfabeto ugarítico, matres lectionis eram usadas, isto é,
consoantes com função de vogais ou com essa denotação. No
entanto, matres lectionis nunca foram usadas sistemática e
largamente.
O alfabeto grego dividia o sistema sígnico em duas
categorias: as consoantes e as vogais, em que os signos conso-
nantais sempre tinham acompanhamento vocálico de modo a criar
uma unidade pronunciável. Os gregos também criaram outros
signos como o phi, o khi, e o psi. Eles foram criados por causa da
falta das aspiradas no alfabeto fenício. No grego ocidental, o khi
era usado com som de ks, daí o valor do x latino, derivado do
alfabeto grego ocidental. A priori, havia variadas e diferentes
versões do alfabeto grego usado nas diferentes cidades-estado
gregas. Estes alfabetos locais são chamados de epicóricos, e são
divididos em dois grandes grupos: o grupo Calcidiano ou ocidental
(que se desenvolveu no alfabeto etrusco; e em outros alfabetos
italianos, principalmente no alfabeto latino) e o grupo Iônico/
Jônico ou oriental (que se desenvolveu no alfabeto grego atual).19

19
Alguns estudiosos costumam dividir em três grupos: verde, azul e vermelho. O
grupo vermelho (que se desenvolveu no alfabeto etrusco), o grupo verde (que se
28 | D a v i d Pessoa de Lira

Atenas usava originalmente a escrita Ática empregada em textos


das leis e de Homero. Este alfabeto só apresentava letras de alpha
a upsilon, e a letra eta (H) como símbolo para o /h/ aspirado e não
para o e longo.
Pelo século quarto a.E.C., o alfabeto epicórico foi substituído
pelo alfabeto jônico. Assim, Atenas adotou o alfabeto jônico como
padrão. Como Atenas passa a ser a pólis hegemônica, referência
política e cultural, seu alfabeto começou a ser utilizado por outras
cidades. Daí, os outros alfabetos desapareceram com o passar do
tempo. As letras maiúsculas do alfabeto grego moderno são
semelhantes àquelas do alfabeto jônico, escritas em uncial. As
letras pequenas ou minúsculas são apenas desenvolvimento das
letras cursivas que apareceram no período bizantino depois do
ano 800 E.C.
Primitivamente se escrevia em linhas ou da direita para
esquerda ou alternando da direita para esquerda e da esquerda
para direita (boustophedon). Mais ou menos em 500 a.E.C., a
direção da escrita mudou para horizontais correndo da esquerda
para direita. No fim do III a.E.C, organizou-se, em Alexandria, a
Gramática Grega, sendo Aristófanes de Bizâncio o inventor dos
acentos e dos sinais de aspiração. Os manuscritos gregos mais
antigos eram redigidos em uncial sem sinais diacríticos (acentos e
aspirações) e de pontuação, e sem espaço entre as palavras. No
século IX, os manuscritos cursivos começaram a aparecer
juntamente com os unciais. No entanto, os manuscritos unciais só
aparecem até o século X. No século XI, o domínio absoluto é dos
cursivos. Só a partir do século VIII, os sinais de acentuação,
pontuação e aspiração começaram a ser usados largamente.

desenvolveu em outros alfabetos italianos, principalmente no alfabeto latino) e o


grupo azul (que se desenvolveu no alfabeto grego atual).
Grego Antigo Instrumental | 29

1.1.1 O Alfabeto Grego (τὸ Ελληνιϰὸν άλφάβητον)20

Letras

Maiús. Minús. Designação Nome Translit. Pronúncia

ἄλφα a, ā Soa como a em bola e aa em


Α α alpha
caatinga
Β β βῆτα bēta b Soa como b em boi
Γ γ γάμμα gamma g Soa como g em gaiola
Δ δ δέλτα delta d Soa como d em Davi.
Ε ε ἒ ψιλόν epsīlon e Soa como e em destro.
Ζ ζ ζῆτα zēta z Soa como z em zebu
Η η ἦτα ēta ē Soa como ee em veemência.
Θ ϑ ϑῆτα thēta th Soa como th em thing (ingl.)
Ι ι ἰῶτα iōta i, ī Soa como i em fácil e ii xiita
Κ ϰ ϰάππα kappa k Soa como k em kibutz (hebr.)
Λ λ λάμβδα lambda l Soa como l em lata.

20
O Alfabeto Grego possui 24 letras. No grego antigo, havia outras letras que
entraram em desuso ou foram substituídas, ou assumiram outra natureza, ou que
ainda se conservaram como numerais, a saber, Ϡ, Ϝ, Ϛ, Ϟ. Essas são chamadas de
soantes (φόνα). As letras ι e υ vieram a substituir o j e oϜ respectivamente. As
soantes l, m, n, r assumiram a função de consoantes. A letra qoppa Ϟ (Ϟόππα,
κόππα) ficava entre o π e o ρ, e correspondia ao nosso q. O digamma ou vau Ϝ
(Ϝαῦ, δίγαμμα) ficava entre o ε e o ζ, e correspondia ao som [w]: ὄϜις ovis, Ϝοῖκος
vicus, Ϝεσπέρα vesper. O nome digamma advém do fato que a letra representa dois
gammas sobrepostos. De qualquer forma, uma letra chamada stigma ou sti Ϛ’
(Ϛῖγμα, στῖγμα) substitui o digamma como o numeral 6 assim como Ϟ’ é 90 e Ϡ’ é
900. O sampi Ϡ (Ϡαμπῖ, σαμπῖ) situado depois do ω, corresponde a [sp]. Alguns
gramáticos afirmam que havia uma outra letra chamada yod ou iota consonantal (Υ,
ι), cujo som seria [j] ou [y], pois a evolução da língua exige tal pronúncia em épocas
variadas, embora outros neguem que tenha existido tal letra. O que se sabe é que
nenhum grafema para esse som tenha sobrevivido, mas a justificativa para algumas
formações tem origem na presença de tal fonema. Essas formações devem ser
estudadas em um capítulo ulterior da fonética no curso de grego.
30 | D a v i d Pessoa de Lira

Μ μ μῦ mū m Soa como m em maré21


Ν ν νῦ nū n Soa como n em nada22
Ξ ξ ξῖ xī x Soa como x em taxi
Ο ο ὂ μιϰρόν omikron o Soa como o em pobre.
Π π πῖ, πεῖ pī p Soa como p em pato
ῥῶ rhō r, rh Soa como r em caro e como r de
Ρ ρ
rato
Σ σ, ς σίγμα sigma s Soa como s em sapo e mas.
Τ τ ταῦ tau t Soa como t em tatu.
ὒ ψιλόν upsīlon u, ū, y Soa como u em lune e ruse (fr.);
Υ υ
ou u em eu
φῖ ph Soa como ph em Philips® e como
Φ φ phī
f em faca
Χ χ χῖ khī kh Soa como ch em ich (germ.)
Ψ ψ ψῖ psī ps Soa como ps em psicologia
Ω ω ὦ μέγα ōmega ō Soa como oo em cooperar.

Notas:

• A letra bēta pode ser grafada de duas formas: β no início (ou no


meio) de palavras, e ϐ no meio (ou no fim em vocábulos
estrangeiros). Em geral, usamos β em todos os casos.
• A letra gamma Γ γ tem uma pronúncia de um [g] duro ou velar como
nas palavras inglesas get e give. O som de [g] duro diante de e e i
corresponde ao som do dígrafo português gu. Então, γα, γε, γη, γι, γο,
γυ, γω correspondem a ga, ge (gué), gē (guê), gi (gui), go, gy (guy), gō.
No entanto, a letra gamma Γ γ pode ter um som nasalizado quando
vier antes de γ, ϰ, ξ, χ (consoantes guturais). Sendo assim, γγ tem a

21
Nunca nasaliza a vogal anterior como no português: amam.
22
Nunca nasaliza a vogal anterior como no português: banana.
Grego Antigo Instrumental | 31

pronúncia [ng]; γϰ soa [nk]; γξ tem um som de [nks]; γχ é


pronunciado [nkh].
• A letra delta Δ δ é sempre linguodental. E, por isso, ela tem como
ponto de articulação o ápice (lâmina) da língua e os dentes incisivos
superiores. Essa letra é pronunciada como o d italiano em di fiori.
Mesmo diante de “i”, ela tem o som linguodental, nunca de africada
(com tendência à fricativa), ou seja, nunca chiada como alguns
brasileiros pronunciam a palavra dia [dʒia].
• A letra zēta (ζ) era pronunciado como dz, ds, zd no Período Clássico,
sendo um encontro de σ e δ, δ e σ. No entanto, essa pronúncia deve
ter sido modificada com o passar do tempo. E possivelmente não foi
pronunciada como consoante dupla nos tempos do grego alexandrino
ou koinē.
• A letra kappa cursiva pode ser grafada intercambeavelmente de duas
formas: κ, ϰ.
• A letra thēta minúscula ϑ é pronunciada como o som do th inglês,
como na palavra thing, diferenciando-a do som do tau (τ). A letra
thēta minúscula θ pode ser grafada intercambiavelmente de forma
mais cursiva: ϑ.
• A letra lambda Λ λ deve soar precisamente como [l] alveolar. Sendo
assim, essa letra tem como ponto de articulação o ápice (ou a lâmina)
da língua e os alvéolos. Por exemplo, no fim de uma sílaba, o lambda
Λ λ deve ser pronunciado com a ponta da língua tocando os alvéolos.
Esse fonema é muito característico da língua hispânica, da
portuguesa lusitana e dos traços linguísticos de algumas regiões do
Sul do Brasil. De fato, o [l] alveolar no fim de alguma sílaba, no
português brasileiro, tende a se transformar em um [u] velar ou em
uma semivogal [w]. Então, é comum pronunciarem respectivamente
as palavras mal e sul dessa forma [maw] e [suw]. No grego, é preciso
evitar pronunciar o lambda Λ λ como [u] velar ou como semivogal [w]
no final da sílaba, e sim com um som preciso de [l] alveolar.23

23
[l] pronunciada como uma consoante constritiva lateral alveolar, ou seja, ela
tende a ser uma velar antes que uma alveolar, aproximando-se do som de u. Por
32 | D a v i d Pessoa de Lira

• A letra mū Μ μ deve ser precisamente pronunciada como m, como em


maré e como na palavra inglesa him. Embora seja uma consoante
nasal, deve-se evitar tanto quanto possível a nasalização da vogal
anteposta a essa letra. Nunca pronunciar o mū Μ μ como o m de
tambor [tãbor]. Por exemplo, a palavra λάμβδα NÃO deve ser
pronunciada [lãbda], mas [lambda]. Seria como se pronunciasse la-
mbda.
• A letra nū Ν ν segue a mesma regra anterior da letra mū Μ μ. Ela tem
o som precisamente de n como em nada e como na palavra inglesa
thin. Mesmo sendo uma consoante nasal, deve-se evitar tanto quanto
possível a nasalização da vogal colocada antes da letra nū Ν ν. Nunca
pronunciar essa letra como o n de tanto [tãto]. Por exemplo, a palavra
πάντα NÃO deve ser pronunciada [pãta], mas [panta]. Seria como se
pronunciasse pa-nta. Tudo isso porque, na língua grega, não há
indicação de vogal nasal. E por isso, não há dígrafos que representam
vogais nasais. Sendo assim, mū e nū não se juntam com vogais para
formar dígrafos vocálicos nasais.
• A letra grega (grego antigo) rhō ρ é sempre vibrante no meio e no fim
de palavra. No início de palavras, o rhō ρ recebia uma aspiração
áspera ou espírito forte (spiritus asper), fazendo com que seu som
fosse mais gutural ou velar. E.g.: ῥ [rh]. No meio de palavras, em
forma dupla ρρ [rr], o primeiro rhō recebia a aspiração branda ou
espírito fraco (spiritus lenis) e o segundo recebia uma aspiração
áspera. E.g.: ῤῥ [rrh]. Por esta razão, o som fica mais gutural ou velar.
Assim, no início de palavras, ou no meio (com dois rhōs seguidos), o
som tende a ser mais aspirado (mais gutural ou velar) como na
palavra rato e carro (pronúncia carioca ou nordestina).
• A letra sigma cursiva é grafada de duas formas: σ no início e meio de
palavras, e ς no final. Essa letra sempre se pronuncia como [s], nunca
pronunciar como [z], nem mesmo entre vogais. Primitivamente, o
sigma teve vários formatos (como um W, um S, um Z, um E), em geral,

isso, costuma-se dizer que ela é uma lateral alveolar vozeada velarizada. Cf.
CEGALLA, 2008, p. 28-30.
Grego Antigo Instrumental | 33

o sigma na escrita uncial era lunado, em forma de “C”, tanto no início


e meio, como no fim de palavras.
• Τ τ é sempre linguo-dental como o t italiano da palavra platino.
Mesmo diante de “i”, ele tem o som de linguo-dental, nunca de
africada (com tendência à fricativa), ou seja, nunca como os cariocas
e paraenses pronunciam a palavra tia [t∫ia].
• A letra khī (χ) deve ser pronunciada como o ch escocês em loch ou
como ch alemão em Ich, ou como o j espanhol em mujer. Embora, para
a grande maioria dos gramáticos, o khī (χ) soa como um k aspirado,
alguns autores pronunciam como o ch italiano em perché, ou como
um simples [k].
• A letra phī cursiva pode ser grafada intercambiavelmente de duas
formas: ϕ, φ.

No ático clássico, há uma evidência para a categoria de aspiradas


que os sons escritos de ϑ, φ, χ eram aspirados plosivos, como o th, ph, kh
no sânscrito ou como o t, p, k na língua hindi. A combinação do som seria
entre a oclusiva e um h aspirado. Isso evidencia que não se tratavam de
sons fricativos como no grego moderno, a saber, a lábio-dental φ, a
línguo-dental ϑ e a velar ou palatal χ. Não há dúvida de que essas
aspiradas plosivas se desenvolveram em fricativas. A tarefa dos filólogos
é justamente provar que esse desenvolvimento não se deu cedo, no séc.
V ou IV a.E.C.24

1.1.1.1 As vogais (φωνήεντα)25

Dessas 24 letras, sete são vogais (φωνήεντα), que se grafam


diferentemente de acordo com o som próprio de cada uma.

24
ALLEN, W. Sidney. Vox Graeca: A Guide to The Pronunciation of Classical
Greek. 3. ed. Cambridge: Cambridge University Press, 1994. p. 18-29.
25
Vogais são fonemas sonoros ou sons laríngeos, que passam pela boca
entreaberta, chegando ao exterior sem produzir ruídos. Diferentemente das
consoantes e das semivogais, as vogais são independentes, e a partir de si mesmas,
elas podem formar sílabas sem auxílio de outros elementos.
34 | D a v i d Pessoa de Lira

Chamam-se vogais porque produzem som a partir de si mesmas.


Assim, das letras do alfabeto grego, as vogais são sete: α, ε, η, ι, ο,
υ, ω; e cada uma apresenta um som de acordo com sua duração
longa, breve, e longa ou breve. As vogais são fonemas ou sons
provenientes da laringe que passam pela boca entreaberta
chegando livremente ao exterior sem fazer ruídos. Diferentemente
das consoantes e das semivogais, as vogais são independentes, e, a
partir de si mesmas, elas podem formar sílabas sem auxílio de
outros elementos.
Embora, na língua portuguesa, grafemos cinco vogais, a
saber, a, e, i, o, u; há sete fonemas vocálicos de acordo com o
timbre aberto e fechado e de acordo com o papel da cavidade
bucal/ oral, [a], [é], [ê], [i], [ó], [ô], [u]. Segundo a Nomenclatura
Gramatical Brasileira (NGB), as vogais são classificadas de acordo
com a zona de articulação, o papel das cavidades bucal/ oral e
nasal, a intensidade e timbre. Mas não existe a classificação de
duração. Isso porque não há vogais longas, breves, e longas ou
breves.
No grego, as vogais, segundo a duração, são breves, longas e
comuns26 (podendo ser longas ou breves). Assim, das vogais, duas
são exclusivamente longas (μαϰρά), a saber, η e ω; duas são
exclusivamente breves (βραχέα), a saber, ε e ο; três são comuns,
mistas (duplas, de dois tempos - δίχρονα), a saber, α, ι e υ. São
chamadas mistas (duplas) porque se alongam ou se abreviam, ou
seja, porque podem ser longas ou breves.
As vogais breves são pronunciadas mais rapidamente
enquanto as longas dobram o tempo de uma vogal breve. Por isso,
costuma-se utilizar o sinal diacrítico macron ( ¯ ) na transliteração
das vogais longas, como em ā, ē, ī, ō, ū.

26
Também chamadas de mistas ou duplas.
Grego Antigo Instrumental | 35

Na prática, quando se realiza uma leitura em voz alta, não


há necessidade de se preocupar com a duração da vogal, mas deve
diferenciar o som de uma vogal breve de uma longa.
Então:

ε (transliterado e) soa como um e na palavra destro;


ο (transliterado o) soa como um o nas palavras copa e pobre;
η (transliterado ē) foneticamente se aproxima de ee na palavra
veemência; ω (transliterado ō) foneticamente se aproxima de
oo na palavra cooperar.

De uma forma geral, deve-se compreender que:

α (transliterado a ou ā) tem valor fonético que se aproxima de um


a da palavra bola ou de aa em caatinga;
ι (transliterado i ou ī) tem valor fonético que se aproxima de um i
da palavra fácil ou de ii em xiita.
υ (transliterado u ou ū, ou y) foneticamente se aproxima de um u
das palavras francesas lune, ruse e sûr ou de um ü das palavras
alemães Tür, Müller e Mühle. Ou seja, seu valor fonético deve
ser intermediário entre o [u] e o [i], ou um [u] pronunciado
como um [i] gutural.27 Embora, para a maioria dos gramáticos,
o upsīlon soa distintamente de um simples som de [i], pode
apresentar um valor fonético de um simples y, como nas
palavras inglesas system, hobby e city. Pronunciar como y pode
ajudar pela simplicidade da articulação, principalmente para os
falantes de língua portuguesa, mas se deve ter cuidado para não

27
Para produzir esse esse valor fonético, basta colocar os lábios em posição
adequada para pronunciar o u mas falar i; ou dizer um i contínuo e mudando
gradativamente os lábios para formar u; ou colocar os lábios quase dispostos para
assobiar e falar i.
36 | D a v i d Pessoa de Lira

confundir o upsīlon com o iōta. Quando o upsīlon forma um


ditongo, unindo-se a outra vogal, tem o som de u simples, como
em automóvel. Os gramáticos anglo-americanos geralmente
pronunciam υ como um simples [u] em qualquer um dos casos
citados acima independentemente da situação.28

Assim como no português, não existem vogais longas e


breves; no grego, não há vogais fechadas e abertas (de acordo com
o timbre) nem vogais nasais ou nasalizadas (de acordo com o
papel da cavidade nasal). Sendo assim, no grego, não há grafemas
ou sinais diacríticos de nasalização das vogais como há no
português. E, por isso, não há dígrafos que representam vogais
nasais nem o sinal diacrítico til. Ademais, o acento circunflexo, no
grego, era usado para indicar em que sílaba o acento de
entonação do grego antigo caía (ou que tipo de entonação era),
além de indicar a duração longa das vogais e sílabas. Cf. sobre as
letras mū e nū e sobre o acento circunflexo e seu uso.

28
Como já foi dito, as vogais α, ι, υ podem ser breves ou longas. Sua duração não é
indicada pela ortografia, sendo complicado para o estudante que inicia seus estudos
do grego identificar a duração dessas vogais. Para fins didáticos e para auxiliar os
estudantes do grego, utilizam-se ᾱ, ῑ, ῡ, acentuadas com sinal diacrítico macron,
para designar as vogais comuns longas. Convencionou-se que as vogais α, ι, υ (sem
o sinal diacrítico < ¯ >) indicam que não são comuns longas e, obviamente, são
ditas comuns breves. No entanto, pode ocorrer o uso do sinal diacrítico breve
(brevis) < ˘ > nas vogais ᾰ, ῐ, ῠ para designar as vogais comuns breves: ᾰ, ῐ, ῠ. Esses
sinais e suas diferenciações são utilizados em textos e dicionários para fins didáticos
e acadêmicos, além de servir nas transliterações ou transcrições acadêmicas. Nesse
curso, quando houver comparação entre essas duas classes de vogais, as vogais
comuns longas serão indicadas com o macron e as comuns breves serão indicadas
com breve ou sem qualquer sinal diacrítico. O macron (μακρόν) < ¯ > significa
longo, é um sinal diacrítico colocado sobre uma vogal que originalmente, na métrica
greco-romana, destacava, indicava ou marcava a sílaba longa ou a vogal longa,
enquanto que o breve (brevis) ( ˘ ) é um sinal diacrítico que era originalmente usado
em uma vogal para designar a sílaba breve ou a vogal breve.
Grego Antigo Instrumental | 37

Esquematicamente poder-se-ia apresentar as vogais gregas


dessa forma:

B é o conjunto das vogais breves.


L é o conjunto das vogais longas.

B L

ε α η
ι
ο υ ω

ο
B – L = {são única e exclusivamente breves} = {ε, ο}
L – B = {são única e exclusivamente longas} = {η, ω}
B∩L = {comuns} = {α, ι, υ}
B = {ᾰ, ε, ῐ, ο, ῠ}
L = {ᾱ, η, ῑ, ῡ, ω}

Apenas para fins didáticos, utilizamos ᾱ, ῑ, ῡ, acentuadas


com sinal diacrítico macron (μαϰρόν), para designar as vogais
comuns longas. Convencionou-se que as vogais α, ι, υ (sem o sinal
diacrítico < ¯ >) indicam que não são comuns longas e por isso se
dizem, obviamente, comuns breves. É uma convenção frequente
indicar somente as vogais longas com o macron (μαϰρόν):
entende-se que a vogal sem nenhum macron (μαϰρόν) é breve.
38 | D a v i d Pessoa de Lira

No entanto, pode ocorrer o uso do sinal diacrítico breve


(brevis) < ˘ > nas vogais ᾰ, ῐ, ῠ para designar as vogais comuns
breves. ᾰ, ῐ, ῠ ou α, ι, υ se referem às vogais comuns breves.29
Esses sinais e suas diferenciações são utilizados em textos e
dicionários para fins didáticos e acadêmicos, além de servir nas
transliterações ou transcrições acadêmicas.

1.1.1.1.1 Ditongos (δίφϑογγος)

As vogais ásperas ou protáticas (προταϰτιϰά) são cinco: α,


ε, η, ο, ω. São chamadas protáticas porque, antepostas ao ι e υ,
formam sílabas, como αι e αυ.
As semivogais (brandas ou doces) ou vogais hipotáticas
(ὑποταϰτιϰά) são duas: ι e υ. Também o υ às vezes é protática do ι,
como em μυῖα e ἅρπυια. As semivogais são fonemas átonos que se
unem a uma vogal, de maneira a formar uma única sílaba.
Neste sentido, o ditongo (δίφϑογγος) é a união de uma
vogal e uma semivogal na mesma sílaba. A partir disso, os ditongos
são divididos em duas categorias: próprios e impróprios
(pseudoditongos).

29
O macron (μακρόν) ( ¯ ) significa longo, é um sinal diacrítico colocado sobre uma
vogal que originalmente , na métrica greco-romana, destacava, indicava ou marcava
a sílaba longa ou a vogal longa, enquanto que o breve (brevis) ( ˘ ) é um sinal
diacrítico que era originalmente usado em uma vogal para designar a sílaba breve ou
a vogal breve.
Grego Antigo Instrumental | 39

Os ditongos próprios (ϰύριαι)

Vogal breve protática ditongo Translit. pronúncia


+ semivogal ι
ᾰ ι αι ai de pai
ε ι ει ei de rei
ο ι οι oi boi
ῠ ι υι ui de Rui

Vogal breve protática ditongo Translit. pronúncia


+ semivogal υ
α υ αυ au de pau
ε υ ευ eu de meu
ο υ ου ou de
Carrefour®

Vogal longa e áspera ditongo Translit. pronúncia


+ semivogal υ
η υ ηυ ēu de meu
ω υ ωυ ōu de outro

Os ditongos impróprios (pseudoditongos - ϰαταχρηστιϰαί)

Vogal longa e áspera ditongo Translit. pronúncia


+ semivogal ι
ᾱ ι ᾳ a̅ em caaba ou
em mar
η ι ῃ e̅ em veemência
ou em ter
ω ι ῳ o̅ em cooperar
ou em dor
40 | D a v i d Pessoa de Lira

Nesses últimos, a semivogal iota não é pronunciada. De


fato, a pronúncia desse iota, na formação do ditongo com vogal
longa e áspera, caiu em desuso, aproximadamente, no ano 100
a.E.C. Na Idade Média, estudiosos bizantinos restauraram o uso
dessa letra com finalidade acadêmica. No entanto, esses ditongos
são pronunciados como ᾱ, η, ω. O iota escrito abaixo das vogais
longas é chamado de iota subscrito (ὑπογεγραμμένον ἰῶτα).
Quando segue uma vogal longa maiúscula, ele fica adscrito
(προσγεγραμμένον ἰῶτα), como Αι, Ηι, Ωι.

1.1.1.1.2 O Hiato e ο Sinal de Diérese (διαίρεσις): Quando uma


dessas combinações supramencionadas não for pronunciada como
ditongo, a segunda letra (ι ou υ) é marcada com um sinal de
diérese (διαίρεσις), também conhecido como trema
(διαλυτιϰά) ( ¨ ), representando, assim, um hiato. O hiato é um
encontro de duas vogais em sílabas distintas. Exemplos: ἀΐδιον,
ἀϊδίου, νοΐ, ἄϋπνος, ἀΰπνου.

1.1.1.1.3 Contração Vocálica (συναίρεσις)

Além do ditongo e hiato (diérese), há um outro encontro


vocálico, na palavra, que se chama contração ou sinérese
(συναίρεσις). Chama-se contração o encontro, colisão ou a fusão
de duas vogais (vogal e ditongo) em uma só vogal longa ou
ditongo. Exemplos: Ἑρμέας > Ἑρμῆς; νόος > νοῦς; ὁράει > ὁρᾷ.
Grego Antigo Instrumental | 41

α ε η ι ο υ ω αι ᾳ ει ῃ οι ου ῳ
α ᾱ ᾱ ᾱ αι ω αυ ω αι ᾳ ᾱ ᾳ ῳ ω ῳ
ᾳ ᾳ
ε η ει η ει ου ευ ω ῃ ῃ ει ῃ οι ου ῳ
η η η η ῃ ω ηυ ω ῃ ῃ ῃ ῃ ῳ ω ῳ
ο ω ου ω οι ου ου ω ῳ ῳ οι ῳ οι ου ῳ
ου οι
ω ω ω ω ῳ ω ωυ ω ῳ ῳ ῳ ῳ ῳ ω (υ) ῳ

1.1.1.1.3.1 Regras de Contração (ϰανόνες συναιρέσεως):

1. Quando duas vogais são iguais ou possuem o som fundamental,


elas se contraem em uma longa correspondente ao mesmo
timbre. Ex.: ᾰ+ᾱ=ᾱ; ε+η=η; ο+ω=ω.
Exceção: ε+ε=ει; ο+ο=ου. Neste caso, ει e ου são falsos ditongos
que substituem, respectivamente, η e ω.
2. Quando a vogal é igual à primeira do ditongo, ela desaparece ou
cai. Ex.: α+αι=αι; ο+οι=οι.
3. Prevalece o timbre da primeira (seguindo a ordem), caso não
haja o timbre “o”. Ex.: ε+α=η; η+α=η; α+ε=ᾱ; α+η=ᾱ.
4. Caso haja o timbre “o” (ο, ω) como uma das vogais componentes,
este deve prevalecer, resultando em uma contrata ω; e se houver
um ι, este deve ser subscrito.
Exceção: ε+ε=ει; ο+ο=ου. Neste caso, ει e ου são falsos ditongos
que substituem, respectivamente, η e ω.
Exceção:ε+ο=ου; ο+ε=ου; ε+ ου=ου.
ε+οι=οι; ο+ει=οι; o + ῃ=οι.
5. O ι, se estiver subscrito, permanecerá como tal na contração.
Caso não esteja subscrito, distinguir-se-ão duas hopóteses: a) se
a contrata for uma vogal longa, subscreve-se o ι; b) se não
resultar em vogal longa, não será subscrito o ι.
6. Palavras dissilábicas geralmente não se contraem: νέος, ἔαρ. Uma
exceção se encontra em νόος > νοῦς.
42 | D a v i d Pessoa de Lira

* Não há necessidade de se assenhorear ou dominar toda a


contração vocálica até chegar no estudo de substantivos e verbos
contractos. Amiúde, convém aprender as contrações que envolvem
as vogais componentes α, ε, ο como primeiras da ordem no
encontro vocálico.
O quadro (de contração) segue as principais contrações que
deverão ser aprendidas no estudo subsequente e ulterior da
morfologia grega. Assim, ele não deve ser decorado, mas
consultado. Observa-se que alguns encontros supramencionados
não resultam em contrações, mas em ditongos, sobre os quais já
discorreu.

1.1.1.2 As consoantes (σύμφονα):

As consoantes (σύμφονα) são dezessete (letras), a saber,


β, γ, δ, ζ, ϑ, ϰ, λ, μ, ν, ξ, π, ρ, σ, τ, φ, χ, ψ. São chamadas
consoantes porque elas por si só não têm som, mas, sendo
colocadas em ordem com as vogais, produzem som.30 Dessas, as
semissonoras (ἡμίφωνα), espirantes ou constritivas, são oito (ζ,
ξ, ψ, λ, μ, ν, ρ, σ) e as mudas (ἄφωνα) ou oclusivas são nove (β, γ,
δ, ϰ, π, τ, ϑ, φ, χ). Dessas, as simples desvozeadas ou surdas
(ψιλά) são três (ϰ, π, τ); as aspiradas (δασέα) são três (ϑ, φ, χ);
e as moderadas (μέσα) dessas são três vozeadas ou sonoras, a
saber, β, γ, δ. Entre as consoantes, existem três que são duplas
(διπλᾶ): ζ, ξ, ψ. São chamadas duplas porque cada uma delas é
composta de duas consoantes. O ζ é composto de σ e δ; o ξ do ϰ e
σ; o ψ do π e σ. As imutáveis (ἀμετάβολα) são quatro, isto é, λ,
μ, ν, ρ. Elas são chamadas imutáveis porque não mudam na

30
Consoantes são ruídos produzidos pela resistência que os órgãos bucais
estabelecem mediante a passagem do ar. Na língua grega, assim como no Português,
a vogal é o elemento básico, suficiente e indispensável para a formação de uma
sílaba. Ao contrário das vogais, as consoantes e semivogais são dependentes das
vogais para formar sílabas.
Grego Antigo Instrumental | 43

conjugação do futuro dos verbos nem nas declinações dos nomes.


Elas são mais conhecidas como líquidas (ὑγρὰ).
Note que as palavras gregas podem terminar com qualquer
vogal, mas só podem terminar com as consoantes ν, ρ, ς, ξ, ψ. As
consoantes ξ e ψ se enquadram nesse caso porque apresentam um
som sibilante ς em sua composição (ξ= γς, ϰς, χς; ψ = βς, πς, φς).

Função da cavidade31 → Orais Nasais


ἔρινα
Modo de articulação → Oclusivas ἄφωνα Espirantes

Ordem Ordem Ordem


↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓
Função das cordas
Sonora Surda Aspirada Sonora Surda Sonora
(pregas) vocais →

→ Labiais β π φ μ
χειλιϰά
→ Dentais δ τ ϑ ν
ὀδοντιϰά
Classe

→ Guturais γ ϰ χ γ
οὐρανιϰά
→ Sibilantes ζ σ, ς
συριστιϰά
→ Líquidas λ, ρ
ὑγρά

31
De forma geral, quanto à função da cavidade, as consoantes podem ser orais e
nasais. As consoantes orais podem ser oclusivas ou constritivas (espirantes). Quanto
ao ponto de articulação, elas podem ser labiais, dentais ou guturais. As consoantes
que apresentam o mesmo ponto de articulação pertencem à mesma classe, e, por
isso, são cognatas. Quanto à função das cordas ou pregas vocais, elas podem ser
sonoras (vozeadas), surdas (desvozeadas) e aspiradas. As consoantes que apresentam
a mesma função das cordas vocais pertencem à mesma ordem, por isso, são
chamadas de coordenadas.
44 | D a v i d Pessoa de Lira

1.2 Prosódia (προσῳδία)


A prosódia (προσῳδία) é a parte da Fonética que objetiva
indicar exatamente a tonicidade das palavras ou sua acentuação
tônica. No entanto, a prosódia não só se limita a isso. Outrossim, a
prosódia busca fixar as regras que determinam a medida ou a
quantidade das sílabas em longas e breves. Sendo assim, existem
dois objetos que se estudam na prosódia: a quantidade
(ποσότης) e a tonicidade (τονισμός).
Em uma palavra de duas ou mais sílabas, geralmente existe
uma que se destaca por ser pronunciada ou proferida com mais
intensidade, é o que chamamos de sílaba tônica. Nessa recai o
acento tônico, isto é, o acento prosódico ou de intensidade. É
verdade que o acento tônico é um fato fonético e não pode ser
confundido com o acento gráfico que às vezes o indica. Isso mostra
que nem sempre a sílaba tônica é acentuada. De fato, essa
diferenciação existe em quase todas as línguas, como na língua
portuguesa que pode acentuar graficamente ou não a palavra de
acordo com suas regras, mas pode manter várias palavras sem
acentuação gráfica. Não obstante, não se deixa de conhecer a
sílaba tônica. A ausência de acentos gráficos faz parte dessa
diferenciação, como na língua latina, no sânscrito, alemão ou
inglês. No caso das três primeiras, existem regras fonéticas que
permitem identificar a sílaba tônica. Há também o acento de
insistência que é produzido quando se quer enfatizar uma ideia,
uma palavra, além de expressar sentimentos fortes (emoção,
alegria, raiva ou medo). Nesse caso, o falante emite a sílaba tônica
ou a primeira sílaba da palavra com uma duração além do normal.
Ex.: Era um peixe deeeeste tamanho. Foi um dia maaaaravilhoso.
Devemos considerar a distinção entre exportação e importação. Isso
é eminente ou iminente? Esse realce, insistência ou ênfase sonora
se chama de acento de insistência ou acento enfático. Embora uma
Grego Antigo Instrumental | 45

sílaba tônica de um vocábulo seja enfatizada de acordo com sua


intensidade ou tonicidade, isso não quer dizer que o acento de
insistência ou enfático caia sempre na sílaba tônica.32
Embora seja sabido que a sílaba métrica não pode ser
confundida com a sílaba gramatical, é de suma importância
aprender a distinguir a entonação e as sílabas átonas e tônicas
formadas a partir de palavras no verso. Quem estuda e conhece a
métrica grega sabe o quanto é importante o entendimento a
respeito da acentuação, entonação, tonicidade etc. Da mesma
forma, isso ajuda a compreender a versificação, o metro, o
processo de redução do número de sílabas métricas, o ritmo, o
encadeamento etc., na língua portuguesa. Assim como se dá na
identificação de palavras tônicas e átonas, a contagem das sílabas
métricas só é possível auditivamente e oralmente, quando cada
palavra ou sílaba é proferida no verso. A métrica se dedica a fixar
as regras de organização das sílabas longas e breves que formam
os elementos rítmicos que compõem os versos.
Por convenção, há duas maneiras de se pronunciar as
palavras gregas:

a) pela quantidade de sílabas (ποσότης συλλαβῶν):


εἴδωλον [eidōlon].
b) pela acentuação (τονισμός): εἴδωλον [eidōlon].

Sabe-se que, na Antiguidade, o ritmo natural da língua


grega era caracterizado pela quantidade, alternando entre sílabas
longas e breves em dadas condições. Essa característica
quantitativa advém amiúde da língua indo-europeia. Desde o
restabelecimento dos acentos na escrita, a pronúncia de acordo
com a acentuação se proliferou cada vez mais, exceto nas escolas

32
CEGALLA, 2008, p. 40.
46 | D a v i d Pessoa de Lira

francesas, belgas, inglesas e holandesas. No entanto, observar-se-á


mais adiante que, no grego, os acentos gráficos não passam de
notações lexicais de entonação (não de tonicidade).

1.2.1 As Sílabas (συλλαβαί)

A sílaba corresponde a um fonema ou a um grupo de


fonemas emitidos em um impulso de voz. Ela compreende
(σύλληψις) uma consoante com vogal (ou vogais). Por sua
capacidade vocálica, ela também pode ser formada a partir de uma
das vogais sem necessariamente vir agregada a consoantes e
semivogais.

* Em uma palavra grega existem tantas sílabas quantas vogais ou


ditongos. Exceto o iota subscrito (ὑπογεγραμμένον ἰῶτα),
nenhuma outra letra é impronunciável.
* A quantidade de sílabas (ποσότης συλλαβῶν) não pode ser
confundida com o número de sílabas (ἀριϑμὸς τῶν
συλλαβῶν). O número de sílabas indica se há uma, duas, três
ou mais sílabas enquanto a quantidade indica se uma
determinada sílaba é breve ou longa.
* Segundo o número de sílaba, a palavra pode ser:
1 monossílaba (μονοσύλλαβος): παῖς;
2 dissílaba (δισύλλαβος): ϰόσμος;
3 trissílaba (τρισύλλαβος):ἄνϑρωπος;
Mais de 3 sílabas > polissílaba (πολυσύλλαβος): φιλόσοφος.
* As sílabas são geralmente designadas de última (λήγουσα),
penúltima (παραλήγουσα) e antepenúltima
(προπαραλήγουσα). A primeira sílaba se chama inicial
(ἀρϰτιϰή).
Grego Antigo Instrumental | 47

1.2.1.1 Silabismo (συλλαβισμός) ou Divisão (χωρισμός)


silábica

Ao separar as sílabas, procura-se colocar a vogal ou o


ditongo com a consoante ou com o conjunto de consoantes
precedentes em uma mesma sílaba. Esse procedimento é
denominado de silabismo (συλλαβισμός).
1ª Regra: Consoante forma uma sílaba com a vogal que a segue.
Ex.: ἱ-ϰα-νός.
2ª Regra: Duas consoantes ou mais (inclusive as consoantes
duplas ξ, ψ, ζ) também devem formar sílaba com a vogal seguinte.
Os grupos μν, στ, πτ, πν, ϰν, μν não se separam. Ex.: ἄ-στρον, πί-
πτω, δεί-ϰνυ-μι, τέ-ϰνον, ἄ-ξι-ον, γυ-μνός, γυ-μνό-ω, ὕ-μνος, ὑ-
μνέ-ω, ϰρη-μνός, τέ-μνω.
Exceção:

1. Se as duas consoantes forem iguais ou geminadas, a


primeira se une à vogal precedente e a segunda se liga à
vogal seguinte. Ex.: ἄγ-γε-λος, Ἄμ-μων, ἀλ-λάσ-σω.
2. As consoantes líquidas e nasais λ, μ, ν, ρ e a gutural
nasalizada γ, antes de outra consoante, formam sílabas com
a vogal precedente. Ex.: ἀ-δελ-φός, λαμ-πρός, Ποι-μάν-
δρης, Ἑρ-μῆς, ὄγ-ϰος.
3. Nos encontros consonantais entre muda desvozeada (π, ϰ,
τ) e sua aspirada (φ, χ, ϑ), a primeiro pertence à sílaba
anterior e a segunda, à posterior. Ex.: Σάπ-φω, Βάϰ-χος.

4ª Regra: Toda vogal que não formar ditongo com a seguinte


ficará só e formará uma sílaba precedente à parte. Ex.: ἱ-ε-ρός, ἱ-έ-
ραξ, ἰ-α-τρός, σο-φί-α.
48 | D a v i d Pessoa de Lira

5ª Regra: Em palavras compostas, faz-se necessário verificar o


ponto de unificação entre palavras, dividindo as partes
componentes. Ex.: συν+ί-στη-μι, ἐν+τυ-χί-α.

1.2.1.2 A quantidade de sílabas (ποσότης συλλαβῶν)

A sílaba longa (μαϰρὰ συλλαβή) vem a ser, segundo suas


formas, pela natureza (φύσει) e pela posição (ϑέσει).
Por natureza:

a) Quando for produzida por letras longas (μαϰρὰ


στοιχεῖα), como φωνή.
b) Quando tiver uma das comuns, mistas ou duplas
(δίχρονα) segundo o arranjo, como ἁρμονίᾱ.
c) Quando tiver um dos ditongos (δίφϑογγος), como
δαίμων.

E por posição:
a) Quando terminar ou finalizar em duas consoantes, como
ἅλς. Nesse caso, a sílaba breve por natureza pode ser
longa por posição quando ela é seguida de duas ou mais
consoantes, ou por consoantes duplas, ἅπαξ.
b) Quando anteceder duas consoantes sobre uma vogal
breve ou abreviada, como ὑγρός.
c) Quando finalizar em uma consoante simples e tiver, em
seguida, uma consoante inicial [de outra sílaba], como
ἔργον (cf. a regra acima).
d) Quando anteceder uma consoante dupla, como ἄξιος.

A sílaba breve (βραχεῖα συλλαβή) vem a ser, segundo


suas formas, duas:
Grego Antigo Instrumental | 49

a) quando tiver uma das breves (βραχέα) por natureza,


como βρέφος.
b) uma sílaba breve por natureza se conserva como breve
por posição, quando ela for seguida de duas consoantes,
uma muda surda (desvozeada) ou aspirada e outra
líquida, ou ainda por uma sonora e um ρ.

1.2.2 A Acentuação das palavras (τονισμός)

No grego, todas as palavras, com exceção de pouquíssimas


(maioria monossilábica átona), recebem acento (τόνος) gráfico, ou
seja, sinal gráfico de acentuação. Isso indica que todo acento
tônico recebe um acento gráfico. Diferentemente do português, a
língua grega acentua todas as palavras, com exceção de palavras
átonas por natureza (proclíticas) ou daquelas que perdem seu
acento, tornando-se átonas (enclíticas). Exemplo de palavras sem
acentuação: ὁ, οἱ, ἡ, αἱ, ἐϰ (ἐξ), εἰς (ἐς), ἐν, ὡς, εἰ, οὐ (οὐϰ, οὐχ), τις,
μου.

1.2.2.1 Sinais Ortográficos – Sinal de Acentuação (σημεῖον τόνου)

Na língua grega, são três os acentos gráficos:


Agudo (ὀξεῖα) < ´ >, grave (βαρεῖα) < ` > e circunflexo
(περισπωμένη) <  >, < ~ > ou < ^ >, para indicar em que sílaba o
acento de entonação do grego antigo caía (ou que tipo de
entonação era). Pelos primeiros séculos da Era Comum (Cristã)
as três variedades de entonação mudaram para simples acento
(não de entonação, mas de intensidade). O acento gráfico não era,
primitivamente, um sinal de intensidade ou de tonicidade de uma
sílaba, mas de entonação. Isso porque o acento grego tinha uma
característica musical e marcava uma elevação de voz em uma
50 | D a v i d Pessoa de Lira

determinada sílaba. Esse acento de entonação marcava a altura;


sendo assim, a sílaba com maior tom era entoada com maior
altura.
Se se observar o traço dos acentos, percebe-se o seguinte:
o agudo < ´ > indica uma subida ;
o grave < ` > indica uma descida ;
o circunflexo < ^ > indica uma subida e uma descida ao mesmo
tempo ;
Note que o acento circunflexo pode ser grafado com um dos
três estilos <  >, < ~ > ou < ^ >. A palavra circunflexo significa
curvado em forma de círculo <  >. Nunca confundir o estilo de
acento circunflexo < ~ > com o sinal de nasalização til da língua
portuguesa. Esse circunflexo < ~ > é uma forma cursiva estilizada
de circunflexo curvado < > com uma “perninha”. Outra
observação é que, no grego, o circunflexo não indica sílaba ou
vogal fechada, mas alongada.
Além das sílabas longas ou breves, dependendo da natureza
e posição das vogais (longas, breves, comuns) quando formam
sílabas na palavra, elas podem ser tônicas e átonas.
Fazer uso da representação de intensidade é importante
para a leitura em voz alta do texto grego. Algumas palavras sem
acento devem ser pronunciadas suavemente ou de forma átona;
em palavras com simples acento (a vasta maioria), deve proferir
com intensidade a sílaba ou dar um acento tônico como no
português. A dúvida geralmente é gerada quando as palavras têm
dois acentos: alguns gramáticos dizem que dever-se-ia
intensificar a sílaba do primeiro acento e desconsiderar a
segunda; outros afirmam que se deve considerar os dois para
evitar que palavras enclíticas átonas sejam pronunciadas como
tônicas.33
33
BETTS, 2010, p. 4-5, 234-236 (appendix 7); BETTS; HENRY, 2010, p.4-6, 338-
339(appendix 8).
Grego Antigo Instrumental | 51

1.2.2.1.1 Regras de Acentuação (ϰανόνες τοῦ τονισμοῦ):

1. acento agudo (como no português) pode se apresentar nas três


últimas sílabas. Pode ser usado em vogais longas ou breves.
2. acento agudo pode estar nos três lugares possíveis. Deve-se notar,
no entanto, que para estar na antepenúltima, a sílaba final deve ser
breve. Ex.: ἐ-λά-βε-τε. ἄνϑρωπος, λόγος, ἀγαϑός.
3. as palavras oxítonas, quando seguidas de palavra acentuada,
mudam o acento agudo < ´ > para acento grave < ` >. Por isso, só se
usa acento grave na última sílaba e no meio de frase. Ex.: ἀγαϑὸς
ἦν.34
4. há outro acento, além dos acentos agudo e grave, a saber, o
circunflexo (< ~ > ou < ^ > - as duas formas se correspondem: uma
subida e uma descida, e traço arredondado ou reto). Só pode incidir
na última ou na penúltima sílaba e esta sempre longa por natureza.

34
No português, há palavras polissilábicas ou trissilábicas que apresentam, além da
tônica, sílaba subtônica, com acento secundário. Ex.: café > cafezinho; só >
somente. As sílabas subtônicas eram tônicas, elas deixaram de ser por acréscimos de
afixos, fenômenos de ordem fonéticas etc. Antes da reforma ortográfica de 1971 da
língua portuguesa, as sílabas subtônicas eram indicadas por um acento secundário
(grave ou circunflexo). Ex.: só → sòmente. Com o acordo entre a Academia
Brasileira de Letras e a Academia das Ciências de Lisboa, o acento secundário
(grave ou circunflexo) foi eliminado, de modo a não grafar acento grave em
subtônica. Além da subtônica e tônica, há sílabas átonas (pretônicas ou postônicas,
segundo sua posição antes ou depois da tônica). Ex.: Heroizinho – átona pretônica:
he; subtônica (anteriormente tônica): roi; tônica: zi; átona postônica: nho/ herói –
átona pretônica: he; tônica: rói. Facilmente – subtônica (anteriormente tônica): fa;
átona pretônica (anteriormente postônica): cil; tônica: men; átona postônica: te/
fácil– tônica: fá; postônica: cil.
No entanto um sinal gráfico (acento grave, similar ao acento secundário de
subtônicas que existia na língua portuguesa) é utilizado para indicar um fenômeno
semelhante à subtonicidade: Se a última sílaba for tônica e acentuada com agudo, ela
pode passar a ser átona recebendo um acento grave. É verdade que as sílabas
deixam de ser tônicas e passam a ser átonas por modificações fonéticas etc. Note que
esse fenômeno, no português, seria de subtonicidade, mas se a sílaba anteriormente
tônica, numa derivação, viesse a ser átona (classificação nesse caso é de
subtonicidade).
52 | D a v i d Pessoa de Lira

Ex.: ϑυρῶν. Para estar na penúltima sílaba, a última tem de ser


breve. Ex.: δῶρον.
5. nos ditongos, o acento recai na semivogal ou na segunda vogal
(hipotática - ὑποταϰτιϰόν). Ex.: ϰαὶ, πνεῦμα, πνεύματος, δοῦλος,
δούλου.
6. às vezes o acento ajuda a diferenciar o ditongo do hiato se for
utilizado na primeira vogal (protática-προταϰτιϰόν). Ex.: ἄϋπνος,
ἄυπνος. Assim, neste caso, alguns editores não empregam o sinal de
diérese, por ser ele redundante.

1.2.2.1.2 Classificação das Palavras quanto ao Acento

As palavras são classificadas de acordo com acento em:


a) Oxítona (ὀξύτονος) – palavra que recebe acento agudo (ὀξεῖα)
na última sílaba. Ex.: ποταμός.
b) Paroxítona (παροξύτονος) – palavra que recebe acento agudo
(ὀξεῖα) na penúltima sílaba. Ex.: λόγος.
c) Proparoxítona (προπαροξύτονος) – palavra que recebe
acento agudo (ὀξεῖα) na antepenúltima sílaba. Ex.: ἄνϑρωπος.
d) Perispômena (περισπωμένη) – palavra que recebe acento
circunflexo (περισπωμένη) na última sílaba. Ex.: ϑυρῶν.
e) Properispômena (προπερισπωμένη) – palavra que recebe
acento circunflexo (περισπωμένη) na penúltima sílaba. Ex.:
δῶρον.
f) Barítona (βαρύτονος) – palavra que recebe acento grave
(βαρεῖα) na sílaba final. Ex.: ἀγαϑὸς ἦν. Ou palavra que não
recebe acento na sílaba final. Ex.: δῶρον, λόγος, νίϰη.

1.3 Sinal de Aspiração (σημεῖον πνεύματος)


No grego, todas as palavras que começam com vogal ou
ditongo recebem um sinal diacrítico de aspiração chamado de
espírito (spiritus - πνεῦμα).
Grego Antigo Instrumental | 53

Existem dois tipos de aspiração: uma fraca ou branda chamada de


espírito fraco (spiritus lenis - ψιλή) <᾿>; e uma aspiração forte,
áspera ou rude chamada de espírito forte (spiritus asper - δασεῖα)
<῾>.

1.3.1 Aspirações ou Espíritos (πνεύματα)

O espírito forte tem um som de “h” aspirado como na


palavra inglesa hot. O espírito fraco tem um som de “h” mudo
como da palavra portuguesa homem. Já que esse “h” não é
pronunciado, não é necessário representá-lo na transliteração.
Ex.: ἀνήρ [anēr], ἁρμονία [harmoniā].

1.3.2 Algumas regras

1. Se na mesma sílaba inicial com vogal (única) houver um


acento agudo, o espírito (forte ou fraco) ficará ao lado
esquerdo do acento. Ex.: ἄνϑρωπος, ἥρως.
2. Se na mesma sílaba inicial com vogal (única) houver um
acento circunflexo, o espírito (forte ou fraco) ficará abaixo do
acento. Ex.: ἦρα, ᾧ.
3. Se a palavra começar com vogal maiúscula (única), tanto o
espírito quanto o acento vão para o lado esquerdo da vogal.
Ex.: Ἄνϑρωπος, Ἥρως, Ὧδε.
4. Se a sílaba inicial for um ditongo, o espírito (forte ou fraco)
ficará na semivogal ou na segunda vogal (hipotática -
ὑποταϰτιϰά). Ex.: οὐρανός, οἶνος, αἷμα.
5. Todas as palavras que começam com υ e ρ recebem espírito
forte. ῥήτωρ, ὑμᾶς.
Quando no meio da palavra houver dois rhōs, o primeiro
recebe espírito fraco e o segundo, espírito forte. Ex.: Πύῤῥος.
54 | D a v i d Pessoa de Lira

Deve-se, contudo, observar que nem todos os editores


empregam os espíritos nesse caso.
6. Quando se escreve unicamente com maiúscula, não se
empregam os acentos nem espíritos.

1.4 Sinais de Pontuação (τὰ σημεῖα τῆς στίξεως)

α΄) O ponto final (ἡ τελεία στιγμή) (.) – Por meio desse, os perí-
odos são separados um dos outros, parte do discurso que contém
um sentido totalmente completo e pleno. O ponto final é escrito
como em português.
Exemplo: ἀϑάνατος γὰρ ὢν ϰαὶ πάντων τὴν ἐξουσίαν ἔχων, τὰ
ϑνητὰ πάσχει ὑποϰείμενος τῇ εἱμαρμένῃ.
β΄) O ponto suspenso (ἡ μέση στιγμὴ ou ἄνω στιγμὴ) (˙) – Por
meio desse, partes de um período se separam um dos outros, con-
tendo um sentido completo em si. O ponto e vírgula e dois pontos
têm a forma de um ponto suspenso ou no alto da linha.
Exemplo: τῆς περιόδου πεπληρωμένης ἐλύϑη ὁ πάντων σύνδεσμος
ἐϰ βουλῆς ϑεοῦ· πάντα γὰρ ζῷα ἀρρενοϑήλεα ὄντα διελύετο ἅμα τῷ
ἀνϑρώπῳ ϰαὶ ἐγένετο τὰ μὲν ἀρρενιϰὰ ἐν μέρει, τὰ δὲ ϑηλυϰὰ
ὁμοίως.
γ΄) A vírgula (ἠ ὑποδιαστολή ou τὸ ϰόμμα) (,) – Por meio da
vírgula, separam-se entre si as orações subordinadas das princi-
pais e todo nome do caso declinado de outros vocábulos de oração
subordinada. A vírgula é escrita como na língua portuguesa.
Exemplo: – φησὶν ἐμοὶ πάλιν, Ἔχε νῷ σῷ ὅσα ϑέλεις μαϑεῖν, ϰἀγώ
σε διδάξω.
δ΄) O ponto interrogativo (τὸ ἐρωτηματιϰόν) (;) – Esse é es-
crito em vocábulos, sentenças e períodos que são proferidos inter-
Grego Antigo Instrumental | 55

rogativamente. O ponto de interrogação tem a forma do ponto e


vírgula do português.
Exemplo: Τί βούλει ἀϰοῦσαι ϰαὶ ϑεάσασϑαι, ϰαὶ νοήσας μαϑεῖν ϰαὶ
γνῶναι;
ε΄) A exclamação (τὸ ϑαυμαστιϰόν ou ἑπιφωνηματιϰόν) (!) -
Esse é escrito no final de uma sentença, período, vocábulo ou frase
simples, evidenciando espanto, admiração ou exclamação.

1 EXERCÍCIO (ἌΣΚΗΣΙΣ)
1. Εscolha 5 consoantes e forme sílabas (com todas as vogais e
ditongos), e em seguida translitere.
Exemplo: βα, βᾱ, βε, βη, βι, βῑ, βο, βυ, βῡ, βω, βαι, βᾳ, βαυ, βει, βευ,
βοι, βου, βῃ, βηυ, βῳ, βωυ, βυι
ba, bā, be, bē, bi, bī, bo, bu(by), bū(by) bō, bai, ba̅ , bau, bei, beu,
boi, bou, be̅ , bēu, bo̅, bōu, bui

2. Leia e translitere as seguintes palavras.


ἄγγελος, ἀϰμή, ἀνάϑεμα, ἀνάλυσις, ἀντίϑεσις, ἄρωμα, ἄσβεστος,
αὐτόματον, ἀφασία, βάϑος, γένεσις, διάγνωσις, δόγμα, δρᾶμα,
ζώνη, ἦϑος, ἠχώ, ϑέατρον, ϑερμός, ἰδέα, ϰάμηλος, ϰίνημα, ϰίνησις,
ϰλῖμαξ, ϰόσμος, ϰρίσις, ϰριτήριον, ϰῶλον, μανία, μέτρον,
μητρόπολις, μίασμα, νέϰταρ, νέμεσις, ὀρφανός, ὀρχήστρα, πάϑος,
παραλυτιϰός, σϰηνή, στίγμα, τραῦμα, ὕβρις, ὑπόϑεσις, φαντασία,
χάος, χαραϰτήρ, χάσμα, ψυχή.

3. Leia e translitere o fragmento do livro de Pomandres, Corpus


Hermeticum 1.1-3:
1 Ἐννοίας μοί ποτε γενομένης περὶ τῶν ὄντων ϰαὶ μετεωρισϑείσης
μοι τῆς διανοίας σφόδρα, ϰατασχεϑεισῶν μου τῶν σωματιϰῶν
αἰσϑήσεων, ϰαϑάπερ οἱ ὕπνῳ βεϐαρημένοι ἐϰ ϰόρου τροφῆς ἢ ἐϰ
ϰόπου σώματος, ἔδοξά τινα ὑπερμεγέϑη μέτρῳ ἀπεριορίστῳ
56 | D a v i d Pessoa de Lira

τυγχάνοντα ϰαλεῖν μου τὸ ὄνομα ϰαὶ λέγοντά μοι, Τί βούλει


ἀϰοῦσαι ϰαὶ ϑεάσασϑαι, ϰαὶ νοήσας μαϑεῖν ϰαὶ γνῶναι; – 2 φημὶ
ἐγώ, Σὺ γὰρ τίς εἶ; – Ἐγὼ μέν, φησίν, εἰμὶ ὁ Ποιμάνδρης, ὁ τῆς
αὐϑεντίας νοῦς· οἶδα ὃ βούλει, ϰαὶ σύνειμί σοι πανταχοῦ. 3 – φημὶ
ἐγώ, Μαϑεῖν ϑέλω τὰ ὄντα ϰαὶ νοῆσαι τὴν τούτων φύσιν ϰαὶ
γνῶναι τὸν ϑεόν· πῶς, ἔφην, ἀϰοῦσαι βούλομαι. – φησὶν ἐμοὶ
πάλιν, Ἔχε νῷ σῷ ὅσα ϑέλεις μαϑεῖν, ϰἀγώ σε διδάξω.

4. Classifique as palavras de acordo com os acentos gráficos e sua


posição na palavra, explicando ou justificando o acento
empregado.
ἀνάϑεμα
ζώνη
ϰόσμος
ψυχή
ζωῆς
5. Empregue o acento corretamente, de acordo com as regras
gerais de acentuação, na sílaba indicada.
δαιμονιον
νησος
οινος
διδασϰαλος
6. Acentue corretamente as seguintes palavras.
OBS.: ᾰ é breve e ᾱ é longo.
τραπεζᾰ
ϑαλασσᾱς
ἀληϑειᾳ
Grego Antigo Instrumental | 57

2 Morfossintaxe – Oração Nominal

Como a língua grega é formal e funcional ao mesmo tempo,


aprende-se, simultaneamente, sobre as formas que uma palavra
pode assumir ou tomar (morfologia) e o uso (emprego) dessas pa-
lavras para construir uma frase ou oração (sintaxe). No grego, os
assuntos gramaticais são estudados morfossintaticamente (for-
malmente e funcionalmente). Você aprende os princípios e fun-
damentos da forma e função ao mesmo tempo. Quando se fala do
estudo morfossintático da palavra, refere-se tanto ao estudo ou
análise das formas que a palavra pode assumir, ou seja, o seu as-
pecto formal, o qual é conferido pelas unidades ou elementos mór-
ficos (ou morfemas: raiz, radical, tema, prefixos, sufixos, vogal te-
mática) quanto ao estudo da disposição das palavras, com o intui-
to de formar orações, períodos, parágrafos e discursos.

A ESTRUTURA DAS PALAVRAS

A raiz é o elemento originário e irredutível em que se


concentra a significação das palavras do ponto de vista histórico
ou diacrônico. É geralmente monossilábica, encerrando sentido
lato, geral e comum às palavras da mesma família etimológica.
Exemplo: λέγω (verbo) e λόγος (substantivo) têm a mesma raiz:
λεγ- que indica o falar, a palavra etc. Por exemplo, a raiz noc da
palavra latina nocere tem sentido geral de causar dano. Histórica,
etimológica e diacronicamente, prendem-se a ela as palavras
nocivo, nocividade, inocente, inocentar, inócuo etc.
58 | D a v i d Pessoa de Lira

“Etimologicamente, o substantivo grego γνῶσις e o verbo


γιγνώσϰω, o substantivo sanscrítico janam e as palavras latinas
(g)nosco, gnarus, (g)notus vêm da mesma raiz primitiva γνω-,
jana-, jña- e gno-. Todas essas palavras têm o sentido primário de
conhecimento ou percepção (LIRA, 2015, p. 169-170)”.
O radical é a parte invariável e comum em relação à
desinência e a outros elementos. É o elemento básico, significativo
e, mais ou menos, invariável das palavras, considerado do ponto
de vista gramatical e pragmático dentro de uma língua. Existem
dois tipos de radicais:

a) o radical nominal, ou seja, dos substantivos, adjetivos e


pronomes. Exemplo: o radical de λόγος é λογ-.
b) o radical verbal ou radical verbal modo-temporal, ou
seja, dos verbos, indicando seu tempo ou aspecto em um
determinado modo. O radical modo-temporal de λύω é λυ-
(λύω menos ω); o radical modo-temporal de λέγω é λεγ-
(λέγω menos ω). Tanto λύω como λέγω estão no tempo
presente do modo indicativo na voz ativa. Sendo assim, os
radicais modo-temporais λυ- e λεγ- se dizem radicais do
presente do indicativo. Radical do presente indicativo
também é chamado de radical verbal geral pelo fato de
que, em verbos regulares (como λύω, λέγω), o radical do
presente é idêntico à raiz (λυ-, λεγ-). Muitas vezes a raiz e
o radical se confundem. O radical do futuro do indicativo
forma-se adicionando um sigma (σ) (desinência sigmática
que tem função de desinência modo-temporal) ao radical
geral (i.é., λυ+ σ > λυσ-). O radical do imperfeito do
indicativo forma-se antepondo um ἐ ao radical geral (i.é., ἐ
+ λυ > ἐλυ-). Esse prefixo é chamado de aumento porque
ele aumenta o comprimento do radical, caracterizando os
Grego Antigo Instrumental | 59

tempos passados, como o imperfeito, o aoristo e o mais-


que-perfeito. O radical do aoristo do indicativo forma-se
antepondo um ἐ e adicionando um sigma (σ) posposto ao
radical geral (i.é., ἐ + λυ + σ > ἐλυσ-). No estudo de verbos,
os radicais temporais certamente voltarão a ser
explicados ou explicitados.

O tema é a junção do radical mais uma vogal temática, ou seja, é o


radical acrescido de uma vogal temática. Existem dois tipos de
temas:
a) o nominal, aquele dos substantivos e adjetivos. Exemplo: o
tema de λόγος é o radical λογ- mais a vogal temática -ο-,
ou seja, λογ+ ο = λογο.
b) o verbal, aquele dos verbos. Exemplo: o tema de λύ+ο+μεν
é o radical λυ- mais a vogal temática -ο-, ou seja, λύ+ο =
λύο.

Note que, no verbo, todo radical é seguido por uma vogal


temática -ο- ou -ε-. Isso é mais claramente visto na 1ª e 2ª
pessoa do plural. Essas vogais caracterizam os verbos e alguns
tempos como temáticos. Elas também aparecem no presente,
futuro e imperfeito. No entanto, no aoristo, no perfeito e no
mais-que-perfeito, são peculiarmente aglutinadas com vogais
características desses tempos.
A desinência é um sufixo colocado no fim de palavras que
variam (declinação, conjugação), indicando gênero, caso, número
(são desinências caso-numerais ou caso-sintáticas - na
declinação); ou pessoa, número, tempo, modo (modo-temporais e
número-pessoais - na conjugação). Exemplo: λόγ+ο+ς (nominal),
λέγ+ο+μεν (verbal).
60 | D a v i d Pessoa de Lira

A terminação é o agrupamento de letras móveis que se


juntam ao radical verbal ou nominal para formar os modos e
tempos nos verbos, e os casos e números nos substantivos,
adjetivos etc. Em muitos casos, trata-se do conjunto vogal temática
+ desinência. Exemplo: a terminação de λέγομεν é -ομεν; de λόγος
é -ος.

AS CLASSES GRAMATICAIS: A CLASSIFICAÇÃO E A FLEXÃO DAS PALAVRAS

A primeira Gramática Grega foi organizada por Dionísio


Trácio, em Alexandria, no século III a.E.C. Essa obra é mais
conhecida como Arte Gramática (Τέχνη Γραμματιϰή ou Ars
Grammatica). Dionísio, em sua Arte Gramática, dividiu as classes
(μέρη) de palavra (λόγος) ou as partes do discurso (τοῦ λόγου
μέρη) em oito: nome (ὄνομα), verbo (ῥῆμα), particípio (μετοχή),
artigo (ἄρϑρον), pronome (ἀντωνυμία), preposição (πρόϑεσις),
advérbio (ἐπίρρημα), conjunção (σύνδεσμος).
Note que ele incluiu o particípio como classe, além do que,
não levou em consideração as classes dos adjetivos, numerais35, e
parte dos pronomes36
De forma geral, dividimos as classes gramaticais gregas
desta forma: substantivo, artigo, adjetivo, pronome, numeral,
verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição.
Dessas dez classes, seis, a saber, os artigos, substantivos, os
adjetivos, os pronomes, parte dos numerais e verbos, são

35 Os numerais (ἀριϑμητιϰόν) foram colocados entre os Nomes como uma


subclasse. Mesmo assim, numerais eram especificamente os cardinais (ἀπόλυτον).
Os ordinais (ταϰτιϰόν) formavam outra subclasse dos Nomes.
36 Dionísio tinha como Pronomes somente aqueles chamados pessoais e seus
correlatos, como os possessivos. Os outros eram subdivisões dos Nomes, como
interrogativos (ἐρωτηματιϰὸν), indefinidos (ἀόριστον), os que indicam parte ou
metade (ἐπιμεριζόμενον), os anafóricos (ἀναφοριϰόν) etc.
Grego Antigo Instrumental | 61

chamadas de variáveis ou declináveis (ϰλιτά) porque se flexionam.


A flexão nominal (ὀνομάτων ϰλίσις), ou seja, dos substantivos,
adjetivos, pronomes e numerais, é chamada de declinação (ϰλίσις),
e a flexão verbal (ῥημάτων ϰλίσις) é chamada de conjugação
(συζυγία).
O nome “declinação” também se aplica a um grupo de
palavras (substantivo e adjetivo) que se flexionam (declinam) da
mesma forma, assim como a palavra “conjugação” que pode se
referir a um grupo de verbos que são conjugados da mesma forma.
Caso semelhante ocorre no português quando se fala em
conjugação, pode-se entender o ato de flexionar o verbo, ou um
dos agrupamentos de verbos segundo a terminação do infinitivo.
Sendo esse infinitivo caracterizado por uma vogal temática, a qual,
entre outras finalidades, ajuda-nos a determinar a conjugação a
que pertence um verbo (1ª conjugação - verbos que terminam em
–ar; 2ª conjugação – verbos que terminam em –er; 3ª conjugação –
verbos que terminam em –ir). Determinar a que conjugação um
verbo pertence, auxilia-nos a perceber que esse verbo se conjuga
como um outro com a mesma vogal temática, de maneira que
todos são conjugados de forma análoga, ou seja, por analogia. Por
exemplo, quando falamos em verbos da 1ª conjugação, isso
implica em um conjunto de verbos com vogal temática “a” e com
desinência infinitiva, e que se conjugam analogamente, como falar,
brincar, pular, dançar etc. Os advérbios, as preposições e
conjunções são chamados de indeclináveis (ἄϰλιτα).

Substantivo Grego

Os Gêneros (γένη)
No grego, assim como no português, leva-se em
consideração o gênero que um determinado substantivo assume.
62 | D a v i d Pessoa de Lira

O gênero grego não depende exclusivamente do significado da


palavra para indicar se a palavra é masculina, feminina ou neutra.
Em algumas línguas, como no inglês, o significado da palavra é o
fator preponderante para designar seu gênero, já que não existem
terminações que o indiquem. Em muitos casos, não se saber dizer
o porquê de uma palavra em grego ter aquele determinado
gênero. Porém, de forma geral, poder-se-ia dizer que: são
masculinos os substantivos que indicam os seres do sexo
masculino, além dos nomes dos ventos, rios e meses; são
femininos os nomes das cidades e de alguns países; são neutros os
substantivos que indicam os nomes de frutas, os diminutivos em –
ον, os nomes das letras do alfabeto e os infinitivos. Mas nem
sempre o neutro denota seres inanimados. Em todo caso, isso não
explica a razão por que os gregos optavam designar uma
determinada palavra por um ou outro gênero. Esse mesmo
problema pode ocorrer na língua portuguesa ou em qualquer
língua. Quase sempre é possível identificar o gênero a partir das
desinências ou das terminações do nominativo e do genitivo
singular. Isso se assemelha muito ao português, no qual os
substantivos masculinos geralmente terminam em -o e os
substantivos femininos geralmente terminam em -a.
Sendo assim,
a) Os substantivos cuja terminação no nominativo singular
é em -α ou -η são palavras femininas. Ex.: ἐννοί-α, τροφ-
ή, δόξ-α.
b) Os substantivos cuja terminação no nominativo singular
é em -ος, que, com pouquíssimas exceções, são palavras
masculinas. Ex.: ϰόπ-ος.
c) Os substantivos cuja terminação no nominativo singular
é em -ον são todas palavras neutras. Ex.: μέτρ-ον.
Grego Antigo Instrumental | 63

d) Palavras cuja terminação no nominativo singular é em -


ας ou -ης são palavras masculinas. ταμί-ας, ποιητ-ής,
Ποιμάνδρ-ης.
NB: Existe uma diferença entre os seguintes substantivos
quanto ao gênero: ἡ αὐϑεντία – a autoridade e ὁ
αὐϑεντίης – o mestre (a autoridade)

Os Casos (πτώσεις)
No português, não existe nenhuma desinência ou
terminação que indique a função sintática da palavra na oração
(desinências ou de terminações caso-funcionais), com exceção das
formas dos casos reto e oblíquos dos pronomes pessoais. No
entanto, existem desinências genéricas (de gênero), numerais (de
número); desinências número-pessoais, modo-temporais etc.
Essas desinências, na língua portuguesa, ajudam a construir
orações mais livres independentemente da posição das palavras. É
bem verdade que isso não é sempre assim, mas se constroem
orações com mais liberdade do que na língua inglesa, que depende
da ordem das palavras. Veja esse exemplo: a) Filipe ama Helena; b)
Filipe Helena ama; c) Ama Filipe a Helena. Note que foi preciso
usar uma preposição a diante do objeto direto (agora
preposicionado) na oração. Cada uma daquelas palavras tem uma
função sintática própria, Filipe é sujeito e Helena é objeto direto.
Em geral, não há nada que indique qual é o sujeito ou objeto, a não
ser aquela preposição a, que surge para distinguir sujeito de
objeto. A organização da oração grega não leva em conta a posição
da palavra para identificar qual é a função da palavra na oração. A
forma da palavra (declinação) já indica qual é a sua função e o que
indica na oração. Os substantivos gregos possuem terminações ou
desinências que não só indicam gêneros e números, mas as
funções sintáticas nas orações. No grego, as funções sintáticas de
64 | D a v i d Pessoa de Lira

um substantivo são indicadas pelos seus casos, e as desinências


em cada caso sinalizam a função da palavra na oração.
1. Ὀνομαστιϰή - aquele que executa a ação na oração tem
função sintática subjetiva ou de sujeito, e se diz no caso
nominativo (N.). Quem ou o que agiu? Ademais, o sujeito é o ser
do qual se diz algo. 2. Γενιϰή - a locução ou expressão adjetiva,
que exprime posse, qualidade, pertença e origem. Sintaticamente
tem função de adjunto adnominal, e se diz no caso genitivo (G.).
De quem ou do que é isso? De onde é ele? 3. Δοτιϰή - a função
sintática objetiva ou de objeto indireto se diz no caso dativo (D.).
A quem foi dado, prometido ou dito? 4. Αἰτιατιϰή - o
complemento dos verbos de predicação incompleta tem aquela
função sintática objetiva ou de objeto direto, e se diz no caso
acusativo (A.). Quem tu viste? O que tu viste? O que Poimandres
deu a Hermes? 5. Κλητιϰή - quando se endereça a alguém, o caso
vocativo (V.) é usado. O vocativo é um termo acessório que é
usado para chamar, ou interpelar pessoa, animal ou coisa
personificada à qual se dirige. Sendo assim, o vocativo se refere
sempre à segunda pessoa do discurso, podendo ser uma pessoa,
um animal, uma coisa real ou uma entidade abstrata
personificada. Geralmente se antepõe ao substantivo uma
interjeição vocativa, apelativa, de chamamento ou pedido (ó, olá,
eh!). Note que o vocativo é um termo à parte da estrutura da
oração, não se anexando ao sujeito ou ao predicado. E, por isso,
não se configura como o nominativo, genitivo, dativo ou acusativo.
No grego, muitas vezes, um substantivo no vocativo é precedido da
interjeição ὦ. Por exemplo, ὦ Ἀσϰληπιέ ó Asclépio. O estudante
não precisa se preocupar intensamente em decorar o vocativo,
mas é significantemente necessário que ele consiga identificar e
explicar esse caso. Às vezes, o vocativo não é seguido com tanto
rigor no Grego Helenístico, podendo utilizar o nominativo em seu
Grego Antigo Instrumental | 65

lugar. Outrossim, na maioria dos modelos declinacionais, o


vocativo é idêntico ao nominativo.
Ademais, as terminações no grego indicam a que classe ou
agrupamento (chamado de declinação) determinada palavra
pertence. Cada declinação apresenta um grupo de terminações
funcionais que indicam tanto o caso (nominativo, genitivo,
dativo, acusativo) como o número (singular ou plural).

I Declinação (Substantivos Femininos)


A grande maioria dos substantivos de I declinação é de
gênero feminino e cuja terminação é –α ou –η. Ex.: ἡμέρ-α dia, ἀρχ
– ή início, δόξ – α, glória. Os poucos substantivos restantes são de
gênero masculino cuja terminação é –ας ou –ης. A desinência – α
(de alguns substantivos) muda para –η no genitivo e no dativo
singular, exceto se o – α for precedido de ε, ι, ρ (letra final no
radical). No entanto, todas as palavras da I declinação têm as
mesmas terminações plurais. O α precedido de ε, ι, ρ é chamado
de α puro ao passo que o α não precedido de ε, ι, ρ é chamado de
α impuro ou misto. Os substantivos femininos de I declinação são
declinados como se segue:

Em -α puro Em -η Em -α impuro
Singular Plural Singular Plural Singular Plural
N. ἐνέργει - α ἐνέργει - αι ψυχ - ή ψυχ - αί δόξ - α δόξ - αι
G. ἐνεργεί - ας ἐνεργει - ῶν ψυχ - ῆς ψυχ - ῶν δόξ - ης δοξ - ῶν
D. ἐνεργεί - ᾳ ἐνεργεί - αις ψυχ - ῇ ψυχ - αῖς δόξ - ῃ δόξ - αις
A. ἐνέργει - αν ἐνεργεί - ας ψυχ - ήν ψυχ - άς δόξ - αν δόξ - ας
V. ἐνέργει - α ἐνέργει - αι ψυχ - ή ψυχ - αί δόξ - α δόξ - αι
66 | D a v i d Pessoa de Lira

Notas Explicativas (Σημειώσεις)

1. A maioria dos substantivos terminados em α puro tem um α


final longo (ᾱ), exceto substantivos, tais como ἀλήϑειᾰ, διάνοιᾰ,
ἐνέργειᾰ, σφαῖρᾰ, μοῖρᾰ, ἀσφάλειᾰ, ὑγίειᾰ, ἀσϑένειᾰ, προπέτειᾰ
etc., os quais possuem um α final breve (ᾰ).
2. A terminação do acusativo singular (-αν), amiúde, é breve,
exceto nos substantivos cuja terminação do nominativo é um α
final longo (ᾱ). Exemplos de substantivos em α final breve (ᾰ):
ϑάλασσᾰν, ἀλήϑειᾰν, ἐνέργειᾰν, μοῖρᾰν, ὑγίειᾰν. Exemplos de
substantivos em α final longo (ᾱ): ἰδέᾱν, ἁρμονίᾱν, ἐπιϑυμίᾱν,
ἀϑανασίᾱν, φαντασίᾱν, χώρᾱν.
Enquanto as regras da acentuação permitem, o acento do
nominativo se conserva.
➢ As sílabas finais longas e acentuadas apresentam acento
circunflexo no genitivo e dativo singular e plural. Exemplos:
ψυχή > ψυχῆς, ψυχῇ, ψυχῶν, ψυχαῖς. Cf. a ocorrência no Corp.
Herm.: σπορά > σπορᾶς, δεξιά > δεξιᾶς, φορά > φορᾶς, διαφορά
> διαφορᾷ,
➢ Os substantivos proparoxítonos tendem a ser paroxítonos no
genitivo e dativo singular, e no dativo e acusativo plural.
Exemplos: ἐνέργειᾰ > ἐνεργείας, ἐνεργείᾳ, ἐνεργείαις, ἐνεργείας -
διάνοιᾰ > διανοίας, διανοίᾳ, διανοίαις*, διανοίας.
➢ A terminação do nominativo e vocativo plural (-αι) é breve:
σφαῖραι, ϑάλασσαι.
➢ A terminação do genitivo singular e do acusativo plural (-ας) é
longa: σφαίρας, ἀληϑείας.
➢ O genitivo plural é sempre perispômeno.

VOCABULÁRIO DAS PALAVRAS FEMININAS DA I DECLINAÇÃO

ἀϑανασία, -ας imortalidade


αἰτία, -ας causa, motivo, culpa, responsabilidade
ἀλήϑεια, -ας verdade, veracidade, realidade, sinceridade
Grego Antigo Instrumental | 67

ἀνάγϰη, -ης necessidade, exigência, lei natural, rigor; fatalidade,


destino
ἀξία, -ας dignidade
ἀρετή, -ῆς virtude
ἁρμονία, -ας harmonia, estrutura do universo, harmonia dos sete
regentes
ἀρχή, -ῆς princípio, origem
γῆ, -ῆς terra
διάνοια, -ας inteligência; pensamento, intelecto, mente; opinião;
intenção
διαφορά, -ᾶς diferença
δόξα, -ης opinião; glória
εἱμαρμένη, -ης heimarmene, destino, fado
ἐνέργεια, -ας energia, força, atividade, ação divina
ἐξουσία, -ας autoridade
ἐπιϑυμία, -ας desejo, vontade, querer; luxúria
ἐπιστήμη, -ης ciência, disciplina
εὐλογία, -ας louvor, eulogia; boa linguagem
εὐσέϐεια, -ας piedade, reverência (aos Deuses e pais), lealdade,
caráter para a piedade; religião
εὐφημία, -ας uso de palavras auspiciosas, auspiciosidade,
eufemismo; oração e louvor, culto; honra, boa reputação;
panegírico
ζωή, -ῆς vida
ζώνη, -ης zona, uma das esferas planetárias
ἡδονή, -ῆς prazer
ἡμέρα, -ας dia
ϑάλασσα, -ης (variação ϑάλαττα, -ης) mar
ϑέα, -ας visão, viso
ϑεραπεία, -ας culto, cultura, cura, tratamento
ϑρησϰεία, -ας religião, serviço de Deus
68 | D a v i d Pessoa de Lira

ἰδέα, -ας visão, ideia, forma, semblante, qualidade de estilo


ϰαϰία, -ας maldade
ϰαρδία, -ας coração, mente; inclinação, desejo, propósito
λύπη, -ης dor corporal oposta a ἡδονή ou dor mental, tristeza
μεταϐολή, -ῆς transição, mudança; metábole, trânsito, migração
(eufemismo para ϑάνατος (morte)); mudança, vicissitude; moção
dos astros
μορφή, -ῆς forma, aparência; tipo, sorte
ούσία, -ας substância, essência
παλιγγενεσία, -ας regeneração
πρόνοια, -ας providência
προσηγορία, -ας apelação, nome, título; saudação amigável,
familiaridade; endereçamento; substantivo comum
σελήνη, -ης lua, mês
τέχνη, -ης arte, exercício
τιμωρία, -ας retribuição, vingança
τροφή, -ῆς comida, nutrição, sustância, alimento
ὕλη, -ης matéria, mundo
ὑπερϐολή, -ῆς altitude; superioridade
φαντασία, -ας aparência, percepção, apresentação, imagem;
imaginação, faculdade da imaginação, imaginação criativa, uso
imaginário
φϑορά, -ᾶς destruição, ruína, morte, deterioração, perda; perigo;
sedução; aborto
φωνή, -ῆς som, tom, fala, voz; sons animais; faculdade da fala;
frase, dito; conversa
χώρα, -ας espaço, sala, lugar, estação, região, distrito, território
ψυχή, -ῆς alma; sopro, espírito; alma que se foi; vida; coração;
desejo, apetite; coragem
Grego Antigo Instrumental | 69

II Declinação (Substantivos Masculinos e Neutros)


A II declinação é constituída de palavras masculinas (– ος)
e neutras (– ον), ou seja, a segunda declinação é subdividida em
dois grupos:
O grupo de substantivos, cuja terminação no nominativo
singular é em – ος, que, com pouquíssimas exceções, é o grupo de
palavras masculinas. Ex.: ἄνϑρωπ - ος homem.
O grupo de substantivos, cuja terminação no nominativo
singular é em – ον, é o grupo de todas as palavras neutras. Ex.: ζῷ -
ον vivente.
Os substantivos masculinos e neutros de II declinação são
declinados como se segue:

Masculino Neutro
Singular Plural Singular Plural
N. ἄνϑρωπ - ος ἄνϑρωπ - οι N. ζῷ - ον ζῷ - α
G. ἀνϑρώπ - ου ἀνϑρώπ - ων G. ζῴ - ου ζῴ - ων
D. ἀνϑρώπ - ῳ ἀνϑρώπ - οις D. ζῴ - ῳ ζῴ - οις
A. ἄνϑρωπ - ον ἀνϑρώπ - ους A. ζῷ - ον ζῷ - α
V. ἄνϑρωπ - ε ἄνϑρωπ - οι V. ζῷ - ον ζῷ - α

Notas Explicativas (Σημειώσεις)

1. As terminações do genitivo e dativo (tanto do singular e do


plural) do segundo grupo são iguais àquelas do primeiro
grupo.
2. O genitivo plural de todos os substantivos, independen-
temente da declinação, possui a mesma terminação em –ων.
70 | D a v i d Pessoa de Lira

3. A terminação do nominativo e vocativo plural (-οι) é breve:


ἄνϑρωποι, ϑάνατοι.
4. O nominativo, acusativo e vocativo plural de todos os
substantivos neutros, em qualquer uma das declinações,
possuem a terminação em -α.
5. Note que quando substantivos de II declinação (e também de I
declinação) apresentar a sílaba final com um acento agudo
(quando forem palavras oxítonas) no caso nominativo, como
ϑεός Deus, o acento se torna circunflexo no genitivo e dativo
tanto singular como plural, ex.: N. ϑεός, G. sing. ϑεοῦ, D. sing.
ϑεῷ, G. plur. ϑεῶν, D. plur. ϑεοῖς.

Observação:

Duas observações devem ser levadas em consideração no


que diz respeito às palavras de II declinação:
1. A primeira se refere aos substantivos neutros. Esse gênero
não denota necessariamente objetos inanimados ou abstratos.
Ex.: παιδίον criança, τέϰνον filho, criança, ζῷον vivente, ser
vivente. Ademais, o gênero neutro não significa a junção ou
união dos gêneros masculino e feminino simultaneamente. O
neutro é a ausência de gênero ou sem-gênero (οὐδέτερον).
2. A segunda se refere ao fato de que existem pouquíssimos
substantivos que se declinam como λόγος que são de gênero
feminino, exigindo, assim, artigos femininos: ἡ ὁδός a estrada,
a via, τῆς ὁδοῦ da estrada, da via. Muito raramente alguns
desses podem ser identificados como femininos por meio de
seu significado.
Grego Antigo Instrumental | 71

VOCABULÁRIO DAS PALAVRAS MASCULINAS, FEMININAS E NEUTRAS


DE II DECLINAÇÃO

ἄνεμος, -ου vento, tempestade


ἄνϑρωπος, -ου homem, humanidade (masc./ fem.)
ἀριϑμός, -οῦ número
Ἀσϰληπιός, -οῦ Asclépio
δημιουργός, -οῦ demiurgo, criador do mundo visível
δοῦλος, -ου servo, escravo
ζῆλος, -ου emulação
ζῷον, -ου vivente, animal, ser vivente
ἥλιος, -ου sol Ἥλιος, -ου Hélio
ἦχος, -ου eco
ϑάνατος, -ου morte
ϑεός, -οῦ Deus
ϑηρίον, -ου fera, animal selvagem
ϑυμός, -οῦ alma, vida; vontade, desejo; apetite; resolução;
pensamento, mente, coração, senso; coragem, espírito, paixão; ira
ἰός, -οῦ ferrugem
ϰόσμος, -ου mundo, cosmo, ornamento
Κρόνος, -ου Crono
λογισμός, -οῦ consideração, pensamento, reflexão, conclusão,
julgamento
λόγος, -ου palavra, discurso, tratado, doutrina
μέτρον, -ου medida
μόναρχος, -ου monarca
μουσουργός, -οῦ músico
μυστήριον, -ου mistério, segredo revelado por Deus, verdade
religiosa ou mística
νόμος, -ου lei
72 | D a v i d Pessoa de Lira

νόος, -ου37 mente, intelecto, conhecimento


νόσος, -ου doença (fem.)
ὁδός, -οῦ caminho, senda, trilha, via (fem.)
ὄρνεον, -ου pássaro
οὐρανός, -οῦ céu
ὀφϑαλμός, -οῦ olho
τέϰνον, -ου filho, criança
τόπος, -ου lugar, espaço
υἱός, -οῦ filho
ὕμνος, -ου hino
ὕπνος, -ου sono
φίλος, -ου amigo
φόβος, -ου medo, temor, admiração
χαλϰουργός, -οῦ ferreiro
χόρος, -ου coro
χωρίον, -ου espaço, lugar

37
A palavra νοῦς denota mente. No Corp. Herm., νοῦς ocorre sempre no singular e
com formas heteroclíticas: ou como substantivo masculino contracto νόος (νοῦς) de
segunda declinação ou como νοῦς de terceira declinação, embora as formas de νόος
sejam as mais incidentes (FREIRE, 2001, p. 24, 32, 258; JAY, 1994, p. 109;
DELATTE; GOVAERTS; DENOOZ, 1977, p. 124-125) (cf. LIRA, 2015, p. 140).
Nos textos herméticos, o νοῦς exerce a função de veículo da revelação divina,
diferentemente de espírito (que é apenas ar, sopro, gás, princípio vital dos seres).
Na Epístola aos Romanos, o verbo γινώσϰω (do qual deriva γνῶσις) tem uma
relação de acepção metonímica com νοῦς (cf. RUSCONI, 2003, p. 321). Referente
ao νοῦς como órgão da gnose, cf. SCOTT, 1985, v. 2, p. 140; DODD, 2005, p. 28.
Sobre as acepções de νοῦς, cf. MORWOOD; TAYLOR, 2002, p. 222; PEREIRA,
1998. p. 391; LIDDELL; SCOTT; JONES, 1996, p. 1180-1181; FOBES, 1959, p.
284. As funções do Espírito de Deus e o divino νοῦς, cf. SCOTT, 1985, v. 1, p. 7-8;
DODD, 2005, p. 27-28, 216-219, 221-224, 304. (cf. LIRA, 2015, p. 143).
Grego Antigo Instrumental | 73

I Declinação (Substantivos Masculinos)


Sabe-se que a I declinação é constituída majoritariamente
de palavras femininas cuja terminação é –α ou –η. Ex.: ἡμέρ-α dia,
ἀρχ – ή início, δόξ – α, glória. Há também poucos substantivos
restantes cuja terminação no nominativo singular é em – ας ou –ης
que são palavras masculinas. Ex.: ταμί - ας entendente, ποιητ - ής
criador, feitor, poeta, Ποιμάνδρ-ης Poimandres. Os substantivos
masculinos de I declinação são declinados como se segue:

№ Substantivos em – ας e –ης

N. ποιητ - ής Ποιμάνδρ - ης νεανί - ας


Singular

G. ποιητ - οῦ Ποιμάνδρ - ου νεανί - ου


D. ποιητ - ῇ Ποιμάνδρ - ῃ νεανί - ᾳ
A. ποιητ - ήν Ποιμάνδρ - ην νεανί - αν
V. ποιητ - ά Ποιμάνδρ - η νεανί - α

N. ποιητ - αί νεανί - αι
G. ποιητ - ῶν νεανι - ῶν
Plural

D. ποιητ - αῖς νεανί - αις


A. ποιητ - άς νεανί - ας
V. ποιητ - αί νεανί - αι

Notas Explicativas (Σημειώσεις)


74 | D a v i d Pessoa de Lira

1. Note que os substantivos masculinos em – ας são declinados


como substantivos femininos terminados em α puro (σοφία
sabedoria) ao passo que os substantivos masculinos em –ης
são declinados como substantivos femininos em –η (ζωή vida,
ζώνη zona, cinto).
2. Sobre o vocativo de substantivos em –ης:
➢ O vocativo dos substantivos próprios em –ης tem desinência –
η. Exemplo: Ποιμάνδρης > Ποιμάνδρη.
➢ Todos os substantivos em -της (ἀϰροατής, δεσπότης,
δυνάστης, διοιϰητής, ϰτίστης, ποιητής, προφήτης,
τεχνίτης) têm vocativo em -ᾰ
3. Note que muitos substantivos comuns com –ης envolvem
masculinidade ou ocupações viris das épocas antigas. Ex.:
δεσπότης senhor, τεχνίτης artista, artesão, mestre-de-obra.
Isso se deve justamente ao sufixo –της, o qual indica o agente.
4. Ademais, os vocábulos, cuja terminação é em – ας, são raros.
Note que o artigo deve ser masculino em concordância com os
substantivos supracitados.

* Decline os seguintes substantivos: Ἰμούϑης, τεχνίτης e νεανίας.

VOCABULÁRIO DAS PALAVRAS MASCULINAS DA I DECLINAÇÃO

ἀϰροατής, -οῦ ouvinte; fiel; árbitro, mediador; seguidor, de uma


escola
γενάρχης, -ου governador dos seres criados
δεσπότης, -ου déspota, senhor, mestre
διοιϰητής, -οῦ organizador, governador, regente (referente aos
planetas)
δυνάστης, -ου rei
Ἰμούϑης*, -ου Imhotep
Grego Antigo Instrumental | 75

ϰτίστης, -ου criador, gestor


νεανίας, -ου jovem, rapaz
ποιητής, -οῦ feitor, criador
Ποιμάνδρης, -ου Poimandres
προφήτης, -ου profeta
ταμίας, -ου entendente
τεχνίτης, -ου artista, artesão, mestre-de-obra

Substantivos Contractos de I Declinação


Os substantivos contractos de I Declinação se apresentam
em número ínfimo e geralmente não se diferem dos outros, exceto
pela acentuação. Os principais substantivos são:

Regras de contração:

ᾰ+ᾱ = ᾱ, ou seja, -ᾰᾱ se contrai em -ᾶ.


ε+ᾱ = η, ou seja, -εᾱ se contrai em ῆ, mas se η for
precedido de ρ vira ᾶ; depois de qualquer outra letra, fica
ῆ.
№ Substantivos

feminino masculino
N. μνᾶ γῆ Βορρᾶς Ἑρμῆς
(μνάα) (γέα) (Βορράας) (Ἑρμέας)
Singular

G. μνᾶς γῆς Βορροῦ Ἑρμοῦ


(μνάας) (γέας) (Βορράου) (Ἑρμέου)
D. μνᾷ γῇ Βορρᾷ Ἑρμῇ
(μνάᾳ) (γέᾳ) (Βορράᾳ) (Ἑρμέᾳ)
A. μνᾶν γῆν (γέαν) Βορρᾶν Ἑρμῆν
(μνάαν) (Βορράαν) (Ἑρμέαν)
76 | D a v i d Pessoa de Lira

V. μνᾶ γῆ (γέα) Βορρᾶ Ἑρμῆ


(μνάα) (Βορράα) (Ἑρμέα)

N. μναῖ Ἑρμαῖ
(μνάαι) (Ἑρμέαι)
G. μνῶν Ἑρμῶν
Plural

(μναῶν) (Ἑρμεῶν)
D. μναῖς Ἑρμαῖς
(μνάαις) (Ἑρμέαις)
A. μνᾶς Ἑρμᾶς
(μνάας) (Ἑρμέας)
V. μναῖ Ἑρμαῖ
(μνάαι) (Ἑρμέαι)

Notas Explicativas (Σημειώσεις):

1. No Corp. Herm., dos substantivos contractos de I declinação, os


únicos que incidem são γῆ (γέα), Βορρᾶς (Βορέας) e Ἑρμῆς
(Ἑρμέας). Esses ocorrem apenas no singular.
2. No plural, Ἑρμῆς (Ἑρμέας), ou seja, οἱ Ἑρμαῖ (Ἑρμέαι) designa
as estátuas de Hermes.
3. O substantivo γῆ (γέα) não possui plural.
4. O substantivo Βορρᾶς (Βορράας) pode ser escrito na forma
não contracta, a saber, Βορέας. Na forma contracta, usa-se um
ρ duplo.
Grego Antigo Instrumental | 77

VOCABULÁRIO DOS SUBSTANTIVOS CONTRACTOS DE I DECLINAÇÃO

Ἀϑηνᾶ (Ἀϑηνάα), -ᾶς Atena


συϰῆ (συϰέα), -ῆς figueira
γαλῆ (γαλέα), -ῆς doninha

Substantivos Contractos de II Declinação


Os substantivos contractos de II declinação são raros e
geralmente se diferem de λόγος e δῶρον pela acentuação,
excetuando o nominativo e o acusativo singular. Em geral, εο, οε,
οο transforman-se em ου. Diante das vogais longas e ditongos, ε e
ο são absorvidos.

Regras de contração:

ο+ο = ου, ou seja, -οο se contrai em –οῦ.


ο+ε = ου, ou seja, -οε se contrai em –οῦ.
ε+ο = ου, ou seja, -εο se contrai em οῦ.
ε+α = ᾱ, ou seja, -εα se contrai em ᾶ (referente ao neutro
plural).
ο+οι = οι, ou seja, -εοι se contrai em οῖ.
ο+ ου = ου, ou seja, -οου se contrai em –οῦ.
ο+ω = ω, ou seja, -εω se contrai em -ῶ.
ο+ῳ = ῳ, ou seja, -οῳ se contrai em –ῷ.

Os substantivos contractos masculinos e neutros de II


declinação são declinados como se segue:
78 | D a v i d Pessoa de Lira

Masculino Neutro
Singular Plural Singular Plural
N. νοῦς (νόος) νοῖ (νόοι) N. ὀστοῦν (ὀστέον) ὀστᾶ (ὀστέα)
G. νοῦ (νόου) νῶν (νόων) G. ὀστοῦ (ὀστέου) ὀστῶν(ὀστέων)
D. νῷ (νόῳ) νοῖς (νόοις) D. ὀστῷ (ὀστέῳ) ὀστοῖς (ὀστέοις)
A. νοῦν (νόον) νοῦς (νόους) A. ὀστοῦν (ὀστέον) ὀστᾶ (ὀστέα)
V. νοῦ (νόε) νοῖ (νόοι) V. ὀστοῦν (ὀστέον) ὀστᾶ (ὀστέα)

Notas Explicativas (Σημειώσεις)

1. No Corp. Herm., νοῦς (νόος) incide como substantivo


contracto de II declinação ou como um substantivo de III
declinação a exemplo de βοῦς, βοός. No entanto, o uso de
νοῦς, νοός (como substantivo de III declinação) é tardio.
2. No Corp. Herm., ὀστοῦν só ocorre na forma não contracta,
isto é, como ὀστέον.
3. No Corp. Herm., dos substantivos contractos de II declinação,
os únicos que incidem são νοῦς (νόος) e ὀστοῦν (ὀστέον).

VOCABULÁRIO DOS SUBSTANTIVOS CONTRACTOS DE II DECLINAÇÃO

ἔϰπλους (ἔϰπλοος), ἔϰπλου porto de partida, navegação


πλοῦς (πλόος), πλοῦ viagem
πρόχους (πρόχοος), πρόχου jarro
ῥοῦς (ῥόος), ῥοῦ correnteza, corrente, onda, inundação
χοῦς (χόος), χοῦ poeira
Grego Antigo Instrumental | 79

Artigos Masculino, Feminino e Neutro

Masculino Neutro Feminino

Singular Plural Singular Plural Singular Plural

N. ὁ οἱ N. τό τά N. ἡ αἱ

G. τοῦ τῶν G. τοῦ τῶν G. τῆς τῶν

D. τῷ τοῖς D. τῷ τοῖς D. τῇ ταῖς

A. τόν τούς A. τό τά A. τήν τάς

Exemplos:
ὁ ἄνϑρωπος

substantivo de II declinação, gênero masculino,


número singular, caso nominativo.
artigo de gênero masculino, número singular, caso
nominativo.
Note que o substantivo ἄνϑρωπος, por ser de gênero
masculino e estar no número singular e no caso nominativo,
recebe um artigo masculino, singular e nominativo - ὁ.
τῷ ϑεῷ

substantivo de II declinação, gênero masculino,


número singular, caso dativo.
artigo de gênero masculino, número singular, caso
dativo.
80 | D a v i d Pessoa de Lira

Note que o substantivo ϑεός, por ser de gênero masculino e


estar no número singular e no caso dativo - ϑεῷ, recebe um artigo
masculino, singular e dativo – τῷ.
Notas Explicativas (Σημειώσεις)
Algumas observações devem ser levadas em consideração
no que diz respeito ao emprego dos artigos no Corpus
Hermeticum:

1. Os artigos gregos tendem a concordar com os substantivos em


gênero, número e caso, além de qualificar os substantivos. Ex.:
τῶν ζῴων dos viventes (genitivo plural); τοὺς λόγους as
palavras (acusativo plural). Em todo caso, note que não se
deve pressupor que a forma do artigo seja sempre parecida
com a terminação do substantivo com o qual ele concorda. É
sabido que há palavras que se declinam como palavras
masculinas de II declinação, mas são femininas; e, outrossim,
existem algumas palavras que se declinam como palavras
femininas de I declinação, mas são masculinas. Resumindo: a)
toda palavra definida de gênero masculino deve receber o
artigo masculino que concorda com o número e o caso
daquela; b) toda palavra definida de gênero feminino deve
receber o artigo feminino que concorda com o número e o
caso daquela; c) toda palavra definida de gênero neutro deve
receber o artigo neutro que concorda com o número e o caso
daquela.
2. Com exceção dos artigos ὁ e τό, as formas dos artigos são
parecidas com as terminações dos substantivos em cada caso.
3. Não há artigo no caso vocativo, ou seja, o artigo não possui
caso vocativo. Isso se dá, primeiramente, porque artigo não é
empregado em discurso (endereçamento) direto, justamente
porque o vocativo é um termo acessório que é usado para
Grego Antigo Instrumental | 81

chamar, ou interpelar pessoa, animal ou coisa personificada à


qual se dirige. O vocativo é um termo à parte da estrutura da
oração, e não se configura como o nominativo, genitivo, dativo
ou acusativo. Como supramencionado, no grego, muitas vezes,
um substantivo no vocativo é precedido da interjeição ὦ. Por
exemplo, ὦ Ἀσϰληπιέ ó Asclépio.
4. Quando traduzir um substantivo comum no singular sem o
artigo, um ou uma deve suprir essa ausência no português
quando o contexto assim exigir. Ex.: ζητήσατε χειραγωγὸν
procurai um guia.
5. Os nomes próprios personativos, no português, só recebem
artigo quando denota intimidade e lhes confere uma certa
conotação familiar. No grego, com substantivos próprios per-
sonativos (e títulos honoríficos), seu uso é opcional. Exemplo
de nome próprio personativo ὁ Ἑρμῆς ou Ἑρμῆς Hermes.
6. No grego, é opcional o uso de artigo definido com substantivos
abstratos: ὁ ϑάνατος ou ϑάνατος, ἡ ἀϑανασία ou ἀϑανασία, ἡ
ζωή ou ζωή.
7. Quanto à palavra ϑεός Deus, o emprego do artigo é opcional.
Exemplo: ὁ ϑεός ou ϑεός. No português, não se usa o artigo
diante do nome Deus, exceto se ele for restringido: o Deus do
amor, o Deus fenício, o Deus de Troia etc.
8. Os artigos são empregados com substantivos, geralmente no
plural, para indicar uma classe ou grupo geral e indefinido.
Exemplo: embora οἱ ἄνϑρωποι possa também significar os
seres humanos ou os homens (determinados e particulares), a
construção οἱ ἄνϑρωποι pode significar seres humanos ou os
homens (como um grupo ou uma classe).

Como se pode notar, o C.H. IV.3-6a descreve a classe geral da


humanidade e outras mais específicas: οἱ ἄνϑρωποι (os homens)
compreendem a classe geral dos seres humanos (hiperônimo); os
82 | D a v i d Pessoa de Lira

τέλειοι ἄνϑρωποι (homens perfeitos) e οἱ λογιϰοί (os lógicos) são οἱ


ἄνϑρωποι particulares e específicos, ou seja, são hipônimos. O
texto evidencia que a humanidade é dividida em duas categorias
de acordo com a possessão do conhecimento (νοῦς). Constata-se,
que para autor desse texto, a humanidade é dividida em duas
classes específicas. Por essa razão, no nível profundo do texto,
existem dois significados em oposição: νοῦς versus λόγος (LIRA,
2015).

Adjetivos de I e II Declinação
São chamados de adjetivos de primeira e segunda declina-
ção aqueles que se declinam como palavras masculinas e neutras
de segunda declinação (em -ος e –ον respectivamente) e como
palavras femininas de primeira declinação (em -α ou -η). Esses
adjetivos também são chamados de adjetivos de I classe. Se o
adjetivo tiver o radical terminado em ε, ι, ρ, a desinência do seu
feminino será α puro ao passo que o α não precedido de ε, ι, ρ se
traforma em η.
ϰαλός belo, nobre é declinado:

MASCULINO FEMININO NEUTRO


SINGULAR SINGULAR SINGULAR
N. ϰαλ - ός ϰαλ - ή ϰαλ - όν
G. ϰαλ - οῦ ϰαλ - ῆς ϰαλ – οῦ
D. ϰαλ - ῷ ϰαλ - ῇ ϰαλ - ῷ
A. ϰαλ - όν ϰαλ - ήν ϰαλ - όν
V. ϰαλ - έ ϰαλ - ή ϰαλ - όν
PLURAL PLURAL PLURAL
N. ϰαλ - οί ϰαλ - αί ϰαλ - ά
G. ϰαλ - ῶν ϰαλ - ῶν ϰαλ - ῶν
D. ϰαλ – οῖς ϰαλ – αῖς ϰαλ – οῖς
A. ϰαλ - ούς ϰαλ - άς ϰαλ - ά
V. ϰαλ - οί ϰαλ - αί ϰαλ - ά
Grego Antigo Instrumental | 83

ἅγιος santo é declinado como se segue:

MASCULINO FEMININO NEUTRO


SINGULAR SINGULAR SINGULAR
N. ἅγι - ε ἁγί - α ἅγι - ον
G. ἁγί - ου ἁγί - ας ἁγί - ου
D. ἁγί - ῳ ἁγί - ᾳ ἁγί - ῳ
A. ἅγι - ον ἁγί - αν ἅγι - ον
V. ἅγι - ος ἁγί - α ἅγι - ον
PLURAL PLURAL PLURAL
N. ἅγι - οι ἁγί - αι ἅγι - α
G. ἁγί - ων ἁγί - ων ἁγί - ων
D. ἁγί – οις ἁγί – αις ἁγί – οις
A. ἁγί – ους ἁγί - ας ἅγι - α
V. ἅγι - οι ἁγί - αι ἅγι - α

No vocabulário (e nos dicionários) estes adjetivos são


citados como ϰαλός, - ή, - όν; ἅγιος, -α, -ον. Alguns adjetivos
de primeira e segunda declinação não têm nenhuma forma
feminina separada (são adjetivos com duas terminações) e
empregam as formas com – ος semelhantemente para o masculino
e feminino. Geralmente, adjetivos que apresentam duas formas
são compostos e derivados. Nesse sentido, eles apresentam só duas
formas: a forma em – ος para masculino e feminino, e a forma em
– ον para o neutro. Por isso, são chamados de adjetivos com
duas formas (biformes).
Estes são, na grande maioria, compostos. Exemplo:
ἀνϑρωποϰτόνος assassino (ἄνϑρωπος homem, humano + ϰτόνος
matador); ἔντιμος honrado (ἐν em + τιμή honra). Compostos com
o prefixo negativo ἀ- (ἀν- diante de vogal) são comuns, ex.:
ἄπιστος infiel, descrente (ἀ não, des-, in- + πιστός crente, fiel);
ἀνάξιος indigno (ἀν não, des-, in- + ἄξιος digno). Estes adjetivos
84 | D a v i d Pessoa de Lira

são citados na forma ἀνϑρωποϰτόνος, - ον; ἔντιμος, - ον; ἄπιστος, -


ον; ἀνάξιος, - ον. Exemplos em concordância com substantivos
femininos: ἡ ἄγαμος δούλη a serva descasada; αἱ ἔντιμαι παιδίσϰαι
as donzelas (escravas) dignas.
Adjetivos comuns com duas terminações que não são
compostos, mas derivados, são: αἰώνιος eterno, ἁμαρτωλός
pecador, οὐράνιος celeste.
Mais exemplos de adjetivos compostos e derivados:

COMPOSTOS DERIVADOS
ἀϑάνατος imortal βασίλειος real
ἄδιϰος injusto βάρϐαρος
bárbaro

A Posição do Adjetivo

O adjetivo atributivo modifica ou qualifica diretamente o


substantivo.
1. Quando o substantivo qualificado não tem nenhum artigo:
• Um adjetivo usualmente vem depois de seu substantivo.
Por exemplo: ἄνϑρωπος ἐχϑρός homem hostil. Porém, um
adjetivo pode vir antes sem qualquer alteração ou
diferença de significado. Exemplo: ἅγιος λόγος.
2. Quando o substantivo qualificado é acompanhado de
artigo:
• O adjetivo é sempre precedido de um artigo definido.
• Em todo caso, existem três possibilidades de configurar a
posição atributiva do adjetivo com artigo, com uma
pequena diferença de significado: a) Primeira posição
atributiva - um adjetivo atributivo pode ocupar a mesma
Grego Antigo Instrumental | 85

posição como no inglês38, ou seja, sempre antes do


substantivo: ὁ ἅγιος λόγος a palavra santa; ὁ ϰαλὸς ϰόσμος
o belo mundo. b) Segunda posição atributiva - o adjetivo
segue o substantivo, possuindo seu próprio artigo (o o
adjetivo concorda com o substantivo, inclusive recebendo
seu artigo): ὁ λόγος ὁ ἅγιος a palavra santa. c) Terceira
posição atributiva - o adjetivo possui um artigo enquanto
o substantivo não possui nenhum: λόγος ὁ ἅγιος a palavra
santa. Isso geralmente ocorre mais com particípios, que
funcionam adjetivamente, do que com os adjetivos. Ade-
mais, geralmente ocorre em construções com substantivo
próprio: Ἑρμῆς ὁ Τρισμέγιστος Hermes Trismegisto.
• O adjetivo predicativo não possui artigo definido e está fora
do complexo artigo-substantivo. Ele não qualifica ou
modifica apenas o substantivo mais todo o sintagma
nominal que funciona como sujeito da oração. a) Primeira
posição predicativa: ὁ ἄνϑρωπος ἀγαϑός o homem é bom.
b) Segunda posição predicativa: ἀγαϑὸς ὁ ἄνϑρωπος bom
é o homem. Considera-se como funcionando
predicativamente, e, assim, o significado é o homem é bom
tanto para ὁ ἄνϑρωπος ἀγαϑός quanto para ἀγαϑὸς ὁ
ἄνϑρωπος. O adjetivo pode ser substantivado quando
precedido por um artigo, assim como ocorre no português.
Exemplo: τὸ ἀγαϑόν o Bem.

VOCABULÁRIO DOS ADJETIVOS DE I E II DECLINAÇÃO

ἀγέννητος, -όν inengendrato


ἀδύνατος, -ον impossível

38 A posição de um adjetivo como adjunto adnominal, no português, pode ser antes


ou depois do substantivo.
86 | D a v i d Pessoa de Lira

ἀΐδιος, -ον eterno


αἰσϑητός, (-ή), -όν sensível
αἴτιος, -α, -ον causador
ἀϰίνητος, -ον imóvel
ἀνϑρώπινος, -η, -ον humano
ἀνόμοιος, -ον dessemelhante, desigual
ἀργός, -ον inútil, preguiçoso
ἀσώματος, -ον incorporal
ἄφϑαρτος, -ον incorruptível, imortal
ἄψυχος, -ον sem alma, sem espírito, sem vida
βασιλιϰός, -ή, -όν real, régio
γεννητός, -ή, -όν engendrado
διάλυτος, -η, -ον dissolúvel
δυνατός, -ή, -όν poderoso, possível
ἔμψυχος, -ον diz-se de quem tem a alma viva
ϑεῖος, -α, -ον, divino, sagrado, santo, sublime, sobrenatural,
augusto
ϑερμός, -ή, -όν quente
ἰσχυρός, -ά, -όν forte
ϰαϑαρός, -ά, -όν puro
ϰαϰός, -ή, -όν mau, vicioso
ϰενός, -ή, -όν vazio
νοερός, -ά, -όν mental
νοητός, -ή, -όν inteligível
οἰϰεῖος, -α, -ον doméstico
ὀλίγος, -η, -ον pouco
ὅλος, -η, -ον todo
ὅμοιος, -α, -ον semelhante
πάϑητος, -η, -ον sofrível, passível, passivo, apaixonado
τέλειος, -α, -ον perfeito, iniciado
φανερός, -ά, -όν manifesto
Grego Antigo Instrumental | 87

Adjetivos Contractos de I e II Declinação


Os adjetivos contractos de I e II declinação são em pequeno
número e são declinados como os substantivos νοῦς (νόος) e
ὀστοῦν (ὀστέον). Esses adjetivos, amiúde, designam a
característica material ou o multiplicativo. Alguns desses
adjetivos apresentam as três formas do gênero (τριϰατάληϰτα)
e são acentuados na última sílaba; outros possuem apenas duas
formas do gênero (διϰατάληϰτα) e são acentuados na penúltima
sílaba. χρυσοῦς (χρύσεος), -ῆ, οῦν dourado, áureo, d’ouro, de
ouro é declinado:

MASCULINO FEMININO NEUTRO


SINGULAR SINGULAR SINGULAR
N. χρυσοῦς χρυσῆ χρυσοῦν
G. χρυσοῦ χρυσῆς χρυσοῦ
D. χρυσῷ χρυσῇ χρυσῷ
A. χρυσοῦν χρυσῆν χρυσοῦν
V. χρυσοῦ(ς) χρυσῆ χρυσοῦν
PLURAL PLURAL PLURAL
N. χρυσοῖ χρυσαῖ χρυσᾶ
G. χρυσῶν χρυσῶν χρυσῶν
D. χρυσοῖς χρυσαῖς χρυσοῖς
A. χρυσοῦς χρυσᾶς χρυσᾶ
V. χρυσοῖ χρυσαῖ χρυσᾶ

ἀργυροῦς (ἀργύρεος), -ᾶ, -οῦν prateado, argênteo, de prata é


declinado como se segue:

MASCULINO FEMININO NEUTRO


SINGULAR SINGULAR SINGULAR
N. ἀργυροῦς ἀργυρᾶ ἀργυροῦν
88 | D a v i d Pessoa de Lira

G. ἀργυροῦ ἀργυρᾶ ἀργυροῦ


D. ἀργυρῷ ἀργυρᾷ ἀργυρῷ
A. ἀργυροῦν ἀργυρᾶν ἀργυροῦν
V. ἀργυροῦ(ς) ἀργυρᾶ ἀργυροῦν
PLURAL PLURAL PLURAL
N. ἀργυροῖ ἀργυραῖ ἀργυρᾶ
G. ἀργυρῶν ἀργυρῶν ἀργυρῶν
D. ἀργυροῖς ἀργυραῖς ἀργυροῖς
A. ἀργυροῦς ἀργυρᾶς ἀργυρᾶ
V. ἀργυροῖ ἀργυραῖ ἀργυρᾶ

εὔνους (εὔνοος), εὔνουν benevolente, bondoso é declinado da


seguinte forma:

MASCULINO E FEMININO NEUTRO


SINGULAR PLURAL SINGULAR PLURAL
N. εὔνους εὖνοι εὔνουν εὔνοα
G. εὔνου εὔνων εὔνου εὔνων
D. εὔνῳ εὔνοις εὔνῳ εὔνοις
A. εὔνουν εὔνους εὔνουν εὔνοα
V. εὔνου εὔνοι εὔνουν εὔνοα

Notas Explicativas (Σημειώσεις)

1. ἀργυροῦς (ἀργύρεος) apresenta um α puro no nominativo


singular feminino, a saber, ἀργυρᾶ. Note o seguinte: ε+ᾱ = η,
ou seja, -εᾱ se contrai em ῆ, mas se η for precedido de ε ou ρ
vira ᾶ; depois de qualquer outra letra, fica ῆ. Declina-se como
ἀργυροῦς (ἀργύρεος), -ᾶ, οῦν: σιδηροῦς (σιδήρεος), -ᾶ, οῦν
sideral, sidéreo, de ferro. Outros exemplos: ἐρεοῦς, -ᾶ, -οῦν
de lã; ϰεραμεοῦς, -ᾶ, -οῦν argiloso, argiláceo, de argila.
Grego Antigo Instrumental | 89

2. Os adjetivos multiplicativos em -πλόος, -ῆ, οῦν se declinam


como χρυσοῦς. Exemplo: ἁπλοῦς (ἁπλόος), -ῆ, οῦν simples;
διπλοῦς (διπλόος), -ῆ, οῦν duplo; τετραπλοῦς (τετραπλόος), -
ῆ, οῦν quatro vezes.
3. Note que os adjetivos que apresentam duas formas do gênero
(διϰατάληϰτα) são compostos. Exemplo: ἄνους (ἄνοος),
ἄνουν insensato; ἄπλους (ἄπλοος), ἄπλουν inavegável, não
navegável. O segundo elemento da composição pode ser
νοῦς (νόος), πλοῦς (πλόος), ῥοῦς (ῥόος), χοῦς (χόος)
Esses adjetivos se declinam como εὔνους (εὔνοος), εὔνουν.
4. Os adjetivos com duas formas do gênero (διϰατάληϰτα)
apresentam o nominativo, acusativo e vocativo plural em –
οα.
5. Declina-se como χρυσοῦς (χρύσεος), -ῆ, οῦν: χαλϰοῦς
(χάλϰεος), -ῆ, οῦν bronzeado, brônzeo, de bronze.

O Caso Genitivo: Forma e Função Possessiva do Nome


As locuções adjetivas genitivas funcionam, obviamente,
como adjetivos e sua função sintática é de adjunto adnominal de
posse ou restrição. No entanto, o caso genitivo pode ser
empregado também como complemento nominal, complemento
verbal ou adjunto adverbial (o que deve ser estudado
ulteriormente).
No grego, as locuções adjetivas genitivas podem
apresentar posições diferentes daquelas que temos em
português. Ex.: ἡ σοφία τοῦ ϑεοῦ a sabedoria de Deus e → ἡ τοῦ
ϑεοῦ σοφία lit. a de Deus sabedoria (perceba que o artigo de
σοφία precede a locução). Essas duas formas são possíveis no
inglês, the wisdom of God e the God's wisdom. Ademais, temos
outra possibilidade, a saber, ἡ σοφία ἡ τοῦ ϑεοῦ lit. a sabedoria a
de Deus. Todas as três formas têm o mesmo significado.
90 | D a v i d Pessoa de Lira

Ao agrupamento de palavras nominais dá-se o nome de


sintagma. Exemplo: ὁ ἄνϑρωπος o homem. Na Linguística, o
sintagma é uma unidade analítico-sintática composta por um
núcleo. No sintagma nominal, seu núcleo é constituído de um
substantivo. As demais palavras, colocadas entre o artigo e o
substantivo, pertencem ao mesmo sintagma. Exemplo: ἡ ἄλογος
μορφή a forma irracional. Como já supramencionado, as palavras
descritivas (como adjetivos), colocadas entre o artigo e o nome,
estão numa posição atributiva (atribuindo ao substantivo
características). As palavras que se agregam ao mesmo sintagma
formam locução. Diz-se que essas palavras são os atributos dos
nomes ou substantivos.

O Verbo Grego
No verbo grego, a pessoa, o número, o tempo, o modo e a
voz são apresentados pelo radical modo-temporal e pela
desinência número-pessoal.
A primeira pessoa no discurso indica: quem fala, ou seja, eu
(ἐγώ) ou nós (ἡμεῖς); a segunda pessoa no discurso indica: a/ com
quem fala, isto é, tu (σύ) ou vós (ὑμεῖς); a terceira pessoa no
discurso indica: de/ sobre quem se fala, ou seja, ele (αὐτός), ela
(αὐτή), eles (αὐτοί), elas (αὐταί), Afrodite (Ἀφροδίτη), Asclépio
(Ἀσϰληπιός). O mesmo conceito de número empregado nos
substantivos é empregado nos verbos, ou seja, singular e plural.
Assim como no português, o verbo grego indica, pela sua
desinência ou terminação, a pessoa do discurso.
Os tempos indicam o momento em que a ação do verbo
aconteceu. Já o modo indica as diversas maneiras de um fato se
realizar. Exemplo, o modo indicativo é usado para expressar fatos
(ex.: Sócrates ensinou sobre o amor). Pode-se dizer que o radical
temporal e a terminação número-pessoal de λύσουσιν indicam que
Grego Antigo Instrumental | 91

o verbo está na terceira pessoa do plural no futuro indicativo ativo


do verbo λύω solto, por isso, significa soltarão. É supérfluo
adicionar o pronome pessoal eles porque isso já é indicado pela
própria desinência número-pessoal. A voz apresenta a relação do
sujeito com o verbo. Exemplo: a voz ativa é a voz usada quando o
sujeito é o agente real, feitor ou realizador da ação (Platão
escreveu o diálogo chamado Timeu).
Deve-se ter em mente as seguintes informações
supramencionadas sobre a formação morfológica dos verbos:
O tema é a junção do radical mais uma vogal temática, ou
seja, é o radical acrescido de uma vogal temática. Exemplo: o tema
verbal de λύ+ο+μεν é o radical λυ- mais a vogal temática -ο-, ou
seja, λυ+ο = λυο-.
Note que, no verbo, todo radical é seguido por uma vogal
temática -ο- ou -ε-. Isso é mais claramente visto na 1ª e 2ª
pessoa do plural. Essas vogais caracterizam os verbos e alguns
tempos como temáticos. Elas também aparecem no presente,
futuro e imperfeito. No entanto, no aoristo, no perfeito e no
mais-que-perfeito, são peculiarmente aglutinadas com vogais
características desses tempos.
A desinência é um sufixo colocado no fim de palavras que
variam (declinação, conjugação), indicando gênero, caso, número
(são desinências caso-numerais ou caso-sintáticas - na
declinação); ou pessoa, número, tempo, modo (modo-temporais e
número-pessoais - na conjugação). Exemplo: λόγ+ο+ς (nominal),
λέγ+ο+μεν (verbal).
A terminação é o agrupamento de letras móveis que se
juntam ao radical verbal ou nominal para formar os modos e
tempos nos verbos, e os casos e números nos substantivos,
adjetivos etc. Exemplo: a terminação de λέγομεν é –ομεν.
92 | D a v i d Pessoa de Lira

Muitas vezes consideramos a vogal temática com a


desinência como um único elemento para fins didáticos. Pois
perceberemos que estes dois elementos se fundem em alguns
casos.

Assim como no português, o verbo grego indica, pela sua


desinência ou terminação, a pessoa do discurso:
➢ fal-o indica a 1ª pessoa do singular (eu) (pres.ind.at.) do
verbo falar;
➢ fal-as indica a 2ª pessoa do singular (tu) (pres.ind.at.)
do verbo falar;
➢ fal-a indica a 3ª pessoa do singular (ele) (pres.ind.at.)
do verbo falar.

Não é necessário, no grego, utilizar pronomes pessoais pa-


ra conjugar o verbo, exceto se for para dar ênfase, visto que parte
da informação sobre a pessoa do discurso é dada pelas desinên-
cias número-pessoais (do verbo).
A enunciação/ o nome do verbo em grego é dado pela 1ª
pessoa do singular do indicativo ativo do verbo, forma pela qual
habitualmente o verbo é citado nos livros de referência. Exemplo,
o verbo soltar é o verbo solto (λύω). Não é dado no infinitivo como
no português, espanhol, inglês etc. No entanto, em léxico,
glossário, vocabulário ou dicionário, para fins didáticos, costuma-
se apresentar o significado para esses verbos na forma infinitiva
soltar, ser-estar, dar. Os verbos gregos pertencem a um dos dois
grupos chamados de conjugações. Esses são distinguidos uns dos
outros pela terminação ou desinência da primeira pessoa do
singular no presente indicativo ativo.
As antigas desinências número-pessoais dos tempos
primários (presente, futuro e perfeito) foram as seguintes:
Grego Antigo Instrumental | 93

nº pes. PRONOMES ANTIGAS DESINÊNCIAS


1ª ἐγώ -μι eu
sing. 2ª σύ -σι tu
3ª αὐτός, -ή, -ό -τι ele, ela
1ª ἡμεῖς -μεν nós
plur. 2ª ὑμεῖς -τε vós
3ª αὐτοί, -αί, -ά -ντι eles, elas

Essas desinências número-pessoais restaram de primitivos


pronomes pessoais. Com o passar do tempo, a junção das vogais
temáticas (-ο- e -ε-) com essas desinências resultou no seguinte:

nº pes. VOGAL TEMÁTICA + DESINÊNCIA


1ª -ο-μι eu -ομι
sing. 2ª -ε-σι tu -ες
3ª -ε-τι ele, ela -εσι
1ª -ο-μεν nós -ομεν
plur. 2ª -ε-τε vós -ετε
3ª -ο-ντι eles, elas -ονσι

Note que a vogal temática -ο- antecede as desinências que


se iniciam com μ ou ν. A vogal temática -ε- antecede as demais
desinências. Embora se encontre quase todas essas terminações
na conjugação dos verbos gregos, é bem verdade que a maioria
dos verbos impôs modificações:
1. A vogal temática -ο- se alongou para –ω e dispensou a
desinência da primeira pessoa do singular, a saber, -μι. A
terminação –ω passou a ser a desinência número-pessoal de
muitos verbos (primeira pessoa do singular).
94 | D a v i d Pessoa de Lira

2. Na segunda pessoa do singular, -εσι deu origem a -ες e a –εις


(por compensação)
3. Na terceira pessoa do singular, -ετι se transformou em -εσι.
No entanto, o σ entre vogais caiu e resultou em -ει
4. Na terminação –οντι veio a ser –ονσι, o ν caiu por questão
eufônica e a vogal temática -ο- se alongou, por compensação,
para ου, dando origem a -ουσι.

Assim, o resultado dessa combinação entre vogais


temáticas e as desinências número-pessoais em alguns verbos foi
este:

nº pes.
1ª -ω
sing. 2ª -εις
3ª -ει
1ª -ομεν
plur. 2ª -ετε
3ª -ουσι

A conjugação temática compreende os verbos com


desinência ou terminação em -ω (esse é o maior grupo verbal).
Ex.: λύω solto. A conjugação atemática compreende os verbos com
desinência ou terminação em -μι. Ex.: εἰμί sou-estou, δίδωμι dou.
Entretanto, essas duas conjugações têm a mesma origem.
Grego Antigo Instrumental | 95

Esquema Geral dos Verbos Gregos

não contractos: υ - λύω

radical em vogal
α -πλανάω

contractos ε - ποιέω

ο - πληρόω

labial - βλέπω
Em -ω

em oclusiva
gutural - φεύγω

dental – ψεύδω
radical em consoante
λω - βάλλω

μω - νέμω
em líquida
νω - φαίνω

ρω - φϑείρω
96 | D a v i d Pessoa de Lira

ἵστημι – στα-

τίϑημι – ϑε-

radical em vogal δίδωμι – δο-


φημί – φα-
εἶμι – ἰ-
Em -μι ἵημι – ἱε-

δείϰνυμι – δειϰ-

radical em consoante

εἰμί – ἐσ-

Presente do Indicativo do Verbo εἰμί


O verbo εἰμί é um verbo irregular. Embora seja classificado
como um verbo em –μι, ele tem pouco em comum com outros
verbos dessa categoria.

nº pes. PRONOMES PRESENTE DO VERBO ΕΙΜΙ


1ª ἐγώ εἰμί sou, estou, existo
sing. 2ª σύ εἶ és, estás, existes
3ª αὐτός, -ή, -ό ἐστί(ν) é, está, existe
1ª ἡμεῖς ἐσμέν somos, estamos, existimos
plur. 2ª ὑμεῖς ἐστέ sois, estais, existis
3ª αὐτοί, -αί, -ά εἰσί(ν) são, estão, existem
Grego Antigo Instrumental | 97

O infinitivo presente do verbo εἰμί é εἶναι ser, estar, existir.


Sua raiz é ἐς- (ἐσ-).

nº pes. PRONOMES PRESENTE DO VERBO ΕΙΜΙ


1ª ἐγώ εἰμί = ἐσ-μι
sing. 2ª σύ εἶ = ἐσ-σι
3ª αὐτός, -ή, -ό ἐστί(ν) = ἐσ-τι
1ª ἡμεῖς ἐσμέν = ἐσ-μεν
plur. 2ª ὑμεῖς ἐστέ = ἐσ-τε
3ª αὐτοί, -αί, -ά εἰσί(ν) = ἐσ-ντι = σε-ντι = ἑντι
PRESENTE DO INFINITIVO εἶναι= ἐσ-ναι

O verbo εἰμί não exprime uma ação causada pelo sujeito


sobre um objeto. Sendo assim, ele nunca rege objeto direto
(acusativo). Tudo aquilo que se predica sobre o sujeito, ou o que é
dito sobre esse, é posto no nominativo. O verbo εἰμί é um verbo
de ligação, e como tal, ele deve servir de nexus ou elo entre o
sujeito e tudo aquilo que se predica sobre o sujeito em oração.
O verbo εἰμί funciona como verbo de ligação em frases
nominais. Esse tipo de oração possui um predicado nominal
cujo núcleo é um nome (substantivo, adjetivo ou pronome) que se
liga ao sujeito por um verbo de ligação, no nosso caso, o verbo εἰμί.
Esse núcleo é constituído por um termo (nome) que atribui
qualidade e característica ao sujeito, ou seja, exprime atributo,
estado ou modo de ser do sujeito. Esse termo (nome), que
funciona como núcleo do predicado nominal, atribuindo qualidade
e característica ao sujeito, é chamado de predicativo do sujeito.
Observe que o predicativo do sujeito pode ser um substantivo,
adjetivo ou pronome.
O sujeito é o ser do qual se diz algo. O sujeito é constituído
de um substantivo, pronome ou expressão substantivada. O
98 | D a v i d Pessoa de Lira

predicado é o termo que contém a declaração referida ao sujeito,


ou seja, trata-se de algo que é declarado sobre o sujeito. Tanto o
sujeito (no caso nominativo) quanto o predicado (nominal ou
verbal) constituem os termos essenciais de uma oração.

Frases Nominais
Em português, pode-se expressar a identidade entre dois
termos justapostos. Por exemplo: “bem-aventurados os pobres” é
uma oração completa, mesmo tendo o verbo “são” implícito. Ao
reescrever a frase com o verbo ser, não há perda de sentido ou
significado: “bem-aventurados são os pobres”. Geralmente as
frases nominais se apresentam sem o verbo. Exemplo: Tudo
fechado e escuro. Conversa fiada.
O grego pode exprimir uma ideia completa em uma frase
nominal, composta de sujeito e predicado (substantivou ou
adjetivo). Assim, a ideia se expressa em bloco como se fosse uma
equação. Essa equação é o que se pode chamar de frase nominal.
Nessa frase, nenhum verbo é necessário. Exemplo: μέτρον ὁ
ἄνϑρωπος (o homem [é] uma medida).
No entanto, se houver a necessidade de expressar o verbo,
esse deve indicar a ideia de equação. No grego, os termos podem
vir justapostos sem perda de significado, mesmo tendo os verbos
ἐστι(ν) e εἰσι(ν) ou outro verbo que denote identidade entre os
termos. Exemplo: ἅγιος ὁ ϑεὸς ou ὁ ϑεὸς ἅγιος Deus [é] santo - ὁ
ϑεός ἐστιν ἅγιος Deus [é] santo. A inclusão do verbo ἐστι(ν), como
cópula ou nexus, ligando o sujeito ao predicativo, permitiu que o
tempo e o modo viessem a ser expressos, incluindo suas variações,
mas o grego costumava omitir verbos em frase nominativa. Isso
porque a frase nominativa não possui a noção de pessoa, número,
tempo, aspecto e modo. A equação (a relação) é suficiente para
expressar uma ideia completa. Ademais, o indicativo presente vale
Grego Antigo Instrumental | 99

também como atemporal (verdade permanente). Como já se


mencionou, a ordem dos dois elementos não interfere no sentido,
não obstante o primeiro termo ser mais enfático (ἀσώματος ὁ
τόπος o lugar é incorpóreo). O adjetivo ἀσώματος funciona
predicativamente, não recebendo artigo.
As orações nominais podem ser escritas com verbos que
estabelecem o nexo e a identidade entre os termos. Nesse caso, os
verbos ἐστι(ν) e εἰσι(ν) podem ser empregados. Os verbos
ἐστι(ν) e εἰσι(ν) são enclíticos e se apoiam na palavra anterior.
Assim, dificilmente ele poderá vir no início da oração. Não
obstante, ele pode vir no fim da oração. Exemplo: ὁ ϑεὸς οὐ νοῦς
ἐστιν Deus não é intelecto. Em geral, se o predicativo do sujeito for
um substantivo, esse não recebe artigo: ἡ εὐσέϐεια ἐστὶ γνῶσις
ϑεοῦ a piedade é o conhecimento de Deus, ὁ ἄνϑρωπος ζῷόν ἐστι o
homem é um animal. Se o predicativo for um adjetivo
substantivado pelo artigo, a omissão não deve ser aplicada: ὁ ϑεός
ἐστι τὸ ἀγαϑόν Deus é o Bem.

Pronomes Demonstrativos
Os pronomes demonstrativos (δειϰτιϰαὶ ἀντωνυμίαι)
indicam o lugar, a posição ou a identidade dos seres. Eles chamam
a atenção às pessoas e coisas, sendo usado com função substantiva
e adjetivas. Na língua portuguesa temos, entre outros pronomes:
este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aquela(s), mesmo(s),
mesma(s), próprio(s), própria(s).39
A língua grega possui três pronomes demonstrativos (ὅδε,),
cada qual com sua forma (gêneros, números e casos) e sentido
como aqueles supramencionados. Os pronomes ὅδε, ἥδε, τόδε
significam respectivamente este, esta, isto. Eles expressam que

39
Cf. CEGALLA, 2008, p. 183.
100 | D a v i d Pessoa de Lira

algo ou alguém sobre o qual se fala está próximo do falante. Os


pronomes οὗτος, αὕτη, τοῦτο são normalmente traduzidos
respectivamente como esse, essa, isso. Outrossim, οὗτος pode ser
traduzido como este ou aquele. O sentido dependerá bastante do
contexto em que οὗτος está sendo empregado. De qualquer forma,
trata-se da designação de algo ou alguém que se encontra próximo
com quem se fala. Os pronomes ἐϰεῖνος, ἐϰείνη, ἐϰεῖνο são
geralmente traduzidos como aquele, aquela, aquilo, expressando
que algo ou alguém de quem se fala está distante dos
interlocutores.40
No grego helenístico, os pronomes ὅδε, ἥδε, τόδε entraram
em desuso. No Corp. Herm., sua incidência é ínfima diante do uso
de οὗτος, αὕτη, τοῦτο, os quais assumem seu sentido. Os
pronomes ὅδε, ἥδε, τόδε se declinam como artigos. Nota-se que
eles recebem uma partícula enclítica –δε. Eles se declinam da
seguinte forma:

Masculino Neutro Feminino


Singular Plural Singular Plural Singular Plural
N. ὅδε οἵδε N. τόδε τάδε N. ἥδε αἵδε
G. τοῦδε τῶνδε G. τοῦδε τῶνδε G. τῆσδε τῶνδε
D. τῷδε τοῖσδε D. τῷδε τοῖσδε D. τῇδε ταῖσδε
A. τόνδε τούσδε A. τόδε τάδε A. τήνδε τάσδε

40
FREIRE, 2001, p. 56; BETTS; HENRY, 2010, p. 77; JAY, 1994, p. 1; BETTS,
2010, p. 68; PERFEITO, 2013, p. 106; ΤΖΑΡΤΖΑΝΟΣ, 1965, σ. 83; Cf. CEGAL-
LA, 2008, p. 183.
Grego Antigo Instrumental | 101

Em alguns contextos, οὗτος, αὕτη, τοῦτο se referem à


pessoa ou coisa que é supramencionada ou de que se acabou de
falar. Os pronomes ὅδε, ἥδε, τόδε se referem à pessoa ou coisa de
que se vai falar ou que está para ser mencionada ou elencada.
Exemplo: a) οὗτοί εἰσιν οἱ λόγοι τοῦ Ἑρμοῦ (essas são as palavras
de Hermes [supramencionadas]); οἵδε εἰσὶν οἱ λόγοι τοῦ Ἑρμοῦ
(estas são as palavras de Hermes [como seguem]).
Os pronomes οὗτος, αὕτη, τοῦτο como se segue:

MASCULINO FEMININO NEUTRO


SINGULAR SINGULAR SINGULAR
N. οὗτος αὕτη τοῦτο
G. τούτου ταύτης τούτου
D. τούτῳ ταύτῃ τούτῳ
A. τοῦτον ταύτην τοῦτο
V. ὦ οὗτος ὦ αὕτη
PLURAL PLURAL PLURAL
N. οὗτοι αὗται ταῦτα
G. τούτων τούτων τούτων
D. τούτοις ταύταις τούτοις
A. τούτους ταύτας ταῦτα
V.

Os pronomes ἐϰεῖνος, ἐϰείνη, ἐϰεῖνο se declinam da


seguinte forma:

MASCULINO FEMININO NEUTRO


SINGULAR SINGULAR SINGULAR
N. ἐϰεῖνος ἐϰείνη ἐϰεῖνο
G. ἐϰείνου ἐϰείνης ἐϰείνου
D. ἐϰείνῳ ἐϰείνῃ ἐϰείνῳ
102 | D a v i d Pessoa de Lira

A. ἐϰεῖνον ἐϰείνην ἐϰεῖνο


V.
PLURAL PLURAL PLURAL
N. ἐϰεῖνοι ἐϰεῖναι ἐϰεῖνᾰ
G. ἐϰείνων ἐϰείνων ἐϰείνων
D. ἐϰείνοις ἐϰείναις ἐϰείνοις
A. ἐϰείνους ἐϰείνας ἐϰεῖνα
V.

Notas Explicativas (Σημειώσεις)

1 Os pronomes ἐϰεῖνος, ἐϰείνη, ἐϰεῖνο seguem a declinação


como adjetivos triformes de I classe, como o adjetivo ϰαλός,
exceto pela falta do ν nominativo e acusativo singular do
neutro.
2 Os pronomes οὗτος, αὕτη, τοῦτο se declinam da mesma forma,
exceto pela primeira sílaba, a qual segue as seguintes regras:
a) A primeira sílaba é uma vogal aspirada no caso nominativo
assim como os artigos definidos. b) O τ ocorre nos demais
casos como incide também nos artigos definidos. b) Onde
incidem no final α e η, o ditongo inicial muda de ου para αυ.
3 Em todo caso, existem duas possibilidades de configurar a
posição atributiva dos pronomes demonstrativos junto ao
sintagma nominal no complexo artigo-substantivo. Os
pronomes demonstrativos, com função adjetiva atributiva, não
possui artigo definido e está fora do complexo artigo-
substantivo. No grego, quando o demonstrativo é empregado,
o substantivo deve reter o artigo diferentemente do que
ocorre na língua portuguesa. Assim como ocorre com os
adjetivos com função predicativa, o pronome demonstrativo
não qualifica ou modifica apenas o substantivo mais todo o
Grego Antigo Instrumental | 103

sintagma nominal. O pronome demonstrativo não pode ficar


entre o artigo e o substantivo: a) Primeira posição: οὗτος ὁ
ϰόσμος esse mundo. b) Segunda posição: ὁ ϰόσμος οὗτος esse
mundo. Considera-se como funcionando predicativamente,
mas o significado é atributivo: esse mundo serve de tradução
tanto para ὁ ϰόσμος οὗτος quanto para οὗτος ὁ ϰόσμος.
4 Os pronomes οὗτος e αὕτη ocorre no vocativo com ou sem a
interjeição vocativa ὦ: ὦ οὗτος, ὦ αὕτη. Esse emprego tem um
sentido exclamativo, servindo para interpelar: Tu por aqui! Ei!
Tu aí! Ei, ei!41 Exemplo: ὦ οὗτος, σὺ εἶ ὁ Ποιμάνδρης; Ei! Tu és
Poimandres?

PRONOME αὐτός, -ή, -ό


O pronome αὐτός, -ή, -ό é considerado como um pronome
enfático-demonstrativo, significando próprio(a), mesmo(a).
Assim como os outros demonstrativos, ele também ocupa
a função de adjetivo. O pronome αὐτός, -ή, -ό pode se apresentar
na função atributiva de duas formas, a saber:
a) Como os demais pronomes demonstrativos, tendo o
significado de (ele) mesmo, (ela) mesma, (ele) próprio,
(ela) própria, a coisa mesma (ipse, self). Exemplo: 1)
αὐτὸς ἐγώ εἰμι ὁ Νοῦς eu mesmo sou o Nous. 2) τὸ ἀγαϑὸν
αὐτός ἐστιν ὁ ϑεὸς o Bem é o próprio Deus. No primeiro
caso, αὐτός poderia ser usado no nominativo e concordar
com o sujeito subentendido. Exemplo: αὐτός εἰμι ὁ Νοῦς
eu mesmo sou o Nous. Em todo caso, nota-se que αὐτός, -ή, -
ό, com seu sentido enfático, não se usa dentro do
sintagma nominal no complexo artigo-substantivo.

41
RAGON, 2012, p. 177; FREIRE, 2001, p. 49.
104 | D a v i d Pessoa de Lira

Exemplo: αὐτός ὁ ϑεὸς ou ὁ ϑεὸς αὐτός o próprio Deus ou


Deus mesmo.
b) Não obstante, αὐτός, -ή, -ό pode ter o sentido de o
mesmo, a mesma (the same). Em seu uso atributivo, ele
vem dentro do sintagma nominal precedido de artigo.
Exemplo: ὁ αὐτός ϑεὸς ou ϑεὸς ὁ αὐτός o mesmo Deus. A
ideia de igual a, como, o mesmo que se expressa pela
construção τὸ αὐτὸ ϰαὶ ou τὰ αὐτὰ ϰαὶ. Exemplo: ἡ
περιφορὰ τὸ αὐτὸ ϰαὶ ἡ περὶ τὸ αὐτὸ ϰεντρον ϰίνησις (a
circunvolução é o mesmo que a moção ao redor do mesmo
centro).

No Corp. Herm., a 3ª pessoa (singular e plural, em


qualquer caso) é indicada pelos pronomes demonstrativos
οὗτος, αὕτη, τοῦτο / ἐϰεῖνος, ἐϰείνη, ἐϰεῖνο/ αὐτός, αὐτή, αὐτό.
Para usar enfaticamente a terceira pessoa no grego, amiúde,
emprega-se οὗτος, αὕτη, τοῦτο/ ἐϰεῖνος, ἐϰείνη, ἐϰεῖνο. Na
verdade, era primitivamente um pronome enfático e
demonstrativo. No entanto, os casos oblíquos da terceira foram
supridos por αὐτόν, -ήν, -ό, que é declinado como o adjetivo ϰαλός,
exceto pela falta do ν nominativo e acusativo singular do neutro,
como ocorre com οὗτος, αὕτη, τοῦτο / ἐϰεῖνος, ἐϰείνη, ἐϰεῖνο.

Pronomes Pessoais
Os pronomes primitivos são aqueles pronomes pessoais
que correspondem a 1ª, 2ª e 3ª pessoas do singular e plural, e que
não derivam de outros. Ex.: ἐγώ eu, σύ tu, ἵ ele, ela, ἡμεῖς nós,
ὑμεῖς vós, σφεῖς eles, elas.
Grego Antigo Instrumental | 105

1ª PES. 2ª PES.
SING. PLUR. SING. PLUR.

N. ἐγώ eu ἡμεῖς nós σύ tu ὑμεῖς vós

G. ἐμοῦ, μου de ἡμῶν de nós, σοῦ, σου de ὑμῶν de vós,


mim, meu nosso ti, teu vosso
D. ἐμοί, μοι a ἡμῖν a nós, σοί, σοι a ti, ὑμῖν a vós, vos
mim, me nos te
A. ἐμέ, με me ἡμᾶς nos σέ, σε te ὑμᾶς vos

Dionísio Trácio utiliza o pronome ἵ, οὗ, οἷ, ἕ para indicar a


3ª pessoa do singular. É verdade que os gregos, no Período
Clássico, não utilizavam nenhum pronome para indicar a 3ª
pessoa do singular, exceto nos casos oblíquos com os pronomes
demonstrativos.42 Σφεῖς, σφῶν, σφίσι(ν), σφᾶς eram utilizados
no grego ático para designar a 3ª pessoa, mas aos poucos foram
sedendo espaço ao plural de αὐτός, οὗτος, ἐϰεῖνος.
Aqui, a princípio, interessam os casos nominativo e
genitivo. Os demais casos serão utilizados em orações verbais
como objetos verbais e preposicionais. A 3ª pessoa (singular e
plural, em qualquer caso) será indicada, preferencialmente,
pelos pronomes demonstrativos οὗτος, αὕτη, τοῦτο/ αὐτός,
αὐτή, αὐτό.
Identifique a ocorrência dos pronomes pessoais no
livro de Pomandres, Corpus Hermeticum 1.1-3:
1 Ἐννοίας μοί ποτε γενομένης περὶ τῶν ὄντων ϰαὶ
μετεωρισϑείσης μοι τῆς διανοίας σφόδρα, ϰατασχεϑεισῶν μου τῶν

42
Dionísio Trácio, Ars Grammatica, 17. Cf. DIONYSII THRACIS. Ars
Grammatica. Εd. Gustav Uhlig. Lipsiae: B.G. Teubner, 1883. p. 67.
106 | D a v i d Pessoa de Lira

σωματιϰῶν αἰσϑήσεων, ϰαϑάπερ οἱ ὕπνῳ βεϐαρημένοι ἐϰ ϰόρου


τροφῆς ἢ ἐϰ ϰόπου σώματος, ἔδοξά τινα ὑπερμεγέϑη μέτρῳ
ἀπεριορίστῳ τυγχάνοντα ϰαλεῖν μου τὸ ὄνομα ϰαὶ λέγοντά μοι, Τί
βούλει ἀϰοῦσαι ϰαὶ ϑεάσασϑαι, ϰαὶ νοήσας μαϑεῖν ϰαὶ γνῶναι; – 2
φημὶ ἐγώ, Σὺ γὰρ τίς εἶ; – Ἐγὼ μέν, φησίν, εἰμὶ ὁ Ποιμάνδρης, ὁ τῆς
αὐϑεντίας νοῦς· οἶδα ὃ βούλει, ϰαὶ σύνειμί σοι πανταχοῦ. 3 – φημὶ
ἐγώ, Μαϑεῖν ϑέλω τὰ ὄντα ϰαὶ νοῆσαι τὴν τούτων φύσιν ϰαὶ
γνῶναι τὸν ϑεόν· πῶς, ἔφην, ἀϰοῦσαι βούλομαι. – φησὶν ἐμοὶ
πάλιν, Ἔχε νῷ σῷ ὅσα ϑέλεις μαϑεῖν, ϰἀγώ σε διδάξω.

Classifique a ocorrência de acordo com a pessoa e o caso.

2. EXERCÍCIO - ΑΣΚΗΣΙΣ
1. Traduza:
a) ἡ εἱμαρμένη ἐνέργεια τῶν διοιϰητῶν ἐστι.
b) ἡ πλάνη ἡ ἀπουσία τοῦ ἀγαϑοῦ ἐστι.
c) ὁ ϰόσμος πλήρωμά ἐστι τῆς ϰαϰίας.
d) ἡ εὐσέϐεια δέ ἐστι ϑεοῦ γνῶσις.
e) ἡ γνῶσις ϑεία σιωπή ἐστι.
f) γνῶσις δέ ἐστιν ἐπιστήμης τὸ τέλος.
g) ἐπιστήμη δῶρον τοῦ ϑεοῦ.
h) ὁ ϰόσμος σφαῖρά ἐστι
i) ϰοινωνία ἐστὶ ψυχῶν
j) ἡ φϑορὰ ἀπώλεια.
k) ἡ ἰδέα ἐστὶν εἰϰὼν τῆς ψυχῆς.
l) τὰ ἀνϑρώπεια ἀγαϑὰ.

2. Classifique cada grupo de palavras como oração


nominal ou sintagma nominal (do tipo artigo-
substantivo). Traduza cada grupo.
a) ἀϑάνατος ἡ ψυχή
Grego Antigo Instrumental | 107

b) ἡ ἀϑάνατος ψυχή
c) ψυχή ἡ ἀϑάνατος
d) ἡ ψυχή ἡ ἀϑάνατος
e) ψυχή ἀϑάνατος
f) ἀϑάνατος ψυχή
g) ἀϑάνατος ἡ ψυχή ἐστι.
h) ἡ ψυχή ἐστι ἀϑάνατος.
i) ἡ ψυχή ἀϑάνατός ἐστι.

3. Preencha os espaços com adjetivos adequados.


a) ὁ ____________ δεσπότης ____________.
b) ἡ ____________ ϰαρδία ____________.
c) ____________ ϰαὶ ____________ ὁ δοῦλος.
d) ____________ τὸ ____________ τέϰνον.
e) ____________ ὁ λόγος ὁ _____________.

4. Componha dez orações nominais com palavras da


Apostila de Orações Nominais.

Vocabulário:
ἀπουσία, -ας, ἡ ausência πλήρωμα, -ατος, τὸ completude
ἀπώλεια, -ας, ἡ destruição σιωπή, -ῆς, ἡ silêncio
γνῶσις, -εως, ἡ conhecimento τέλος, -ους, τὸ fim
δέ conj. e, mas
δῶρον, -ου, τό dom, presente
εἰϰών, -όνος, τὸ imagem
ϰαί conj. e
ϰοινωνία, -ας, ἡ comunhão
πλάνη, -ης, ἡ engano
108 | D a v i d Pessoa de Lira

3 Morfossintaxe – Oração Verbal

1. Verbos em –ω com Radical em Vogal – Não Contractos

1.1 Presente e Futuro Indicativo Ativo


Na língua portuguesa, podemos expressar o presente com o
próprio tempo presente (eu solto), mas podemos construir
locuções verbais (conjugação perifrástica) com o verbo auxiliar
estar mais um gerúndio para indicar uma ação progressiva e
contínua em um determinado período de tempo. Ex.: Tu não notas
que eu estou falando? É justamente para indicar que naquele
momento, no agora, alguém está realizando a ação (semelhante
ao present continuous tense do inglês). No grego, só existe uma
única forma do presente, mas pode significar que alguém realiza
ou está realizando a ação, dependendo do contexto. Assim, λύουσι
pode significar soltam ou estão soltando. Do mesmo modo,
λύσουσι poderia significar soltarão ou estarão soltando.

Esquema morfológico para o presente e futuro:

√ λύ - ο - μεν

vogal desinência
temática número-
pessoal

terminação
Grego Antigo Instrumental | 109

√ λύ - σ - ο - μεν

desinência vogal desinência


modo- temática número-
temporal pessoal

terminação
Os verbos terminados em – ω são conjugados no presente e
futuro indicativo ativo como se segue:

№ pes. Tempo Presente Tempo Futuro


1ª λύ-ω solto λύσ-ω soltarei
Singular

2ª λύ-εις soltas λύσ-εις soltarás


3ª λύ-ει solta λύσ-ει soltará
1ª λύ-ομεν soltamos λύσ-ομεν soltaremos
Plural

2ª λύ-ετε soltais λύσ-ετε soltareis


3ª λύ-ουσι(ν) soltam λύσ-ουσι(ν) soltarão
Infinitivo λύ-ειν soltar λύσ-ειν haver de soltar

Notas Explicativas (Σημειώσεις):

1 Nota-se que λύω é um verbo regular, cujo radical do presente


é idêntico à raiz (λυ-). Sendo assim, o radical do presente do
indicativo ativo é um radical verbal geral e paradigmático,
de maneira que tomar-se-á esse radical para construir o
radical de outros tempos.
110 | D a v i d Pessoa de Lira

2 O radical do futuro do indicativo forma-se adicionando um


sigma (σ) (desinência sigmática que tem função de desinência
modo-temporal) ao radical geral (i.é., λυ+ σ > λυσ) e se
aplicam as mesmas terminações número-pessoais do
presente.
3 Em narrativas gregas, é comum o uso do presente histórico ou
do presente vívido. Presente histórico tem correspondência
com o passado. Pode ser perfeitamente substituído pelo
aoristo ou imperfeito (que será estudado mais adiante).
4 O ν final apresentado entre parênteses no final da 3ª pessoa
plural é chamado de ν eufônico ou ν móvel. Ele deve ser
usado no final de palavras somente quando elas precedem
outras que começam com vogais e ditongos ou no final de
orações.
5 Uma regra no grego ático diz que um verbo que tem um
substantivo neutro plural como sujeito deve sempre estar no
singular (ou seja, na terceira pessoa do singular). Ex.: τὰ
ϑνητὰ πάσχει (os mortais sofre(m) – Corp. Herm.). Essa
regra nem sempre é seguida no grego koinē: o sujeito da
oração que estiver constituído de substantivo neutro plural
poderá apresentar o verbo no singular ou plural. O plural
neutro, assim como os outros gêneros no plural, exige um
verbo no plural, pois o verbo deve concordar com o sujeito em
número. Mesmo que o verbo esteja no singular, a tradução de
acordo com a concordância portuguesa exige plural, esteja o
verbo no singular ou plural.
6 A organização das palavras nas sentenças gregas é similar
àquela nas sentenças no português. No grego, porém, a função
sintática de uma palavra é indicada por sua forma através das
terminações funcionais ou desinências, de maneira que a
ordem das palavras pode variar muito mais do que no
Grego Antigo Instrumental | 111

português. Isso serve principalmente para enfatizar uma


palavra ou frase. Se, no português, desejasse enfatizar solta da
sentença o irmão solta a criança, articular-se-ia o verbo com
grande peso ou ênfase (em escrita, poder-se-ia sublinhar ou
colocar em negrito ou itálico). No grego, a ênfase poderia ser
convergida por uma mudança de ordem de palavras; ex.: ὁ
ἀδελφὸς λύει τὸ τέϰνον viria a ser λύει ὁ ἀδελφὸς τὸ
τέϰνον solta o irmão a criança ou λύει τὸ τέϰνον ὁ
ἀδελφὸς solta a criança o irmão (nos dois casos poder-se-ia
usar o objeto direto preposicionado no português, à
criança). No inglês, a ordem das palavras é extremamente
rigorosa porque existe um link entre as palavras e suas
funções na oração. Não seria possível, no inglês, construir
organizações como a do grego e a do português.
7 O advérbio de negação οὐ(ϰ) (que significa não) precede os
verbos e enfatizam a negação. Ex.: οὐ λύω não solto.
Emprega-se οὐϰ diante de vogal e ditongo com espírito
fraco, por exemplo, οὐϰ ἀϰούω não ouço; e οὐχ diante de
vogal com espírito forte, por exemplo, οὐχ αἱρετίζω não
escolho.
8. Não existe nenhuma forma polida ou familiar para a segunda
pessoa, nem qualquer tipo de variante, como no francês,
alemão e outras línguas modernas. A segunda pessoa singular
deve exprimir o endereçamento a uma única pessoa, e a
segunda do plural quando se endereça a mais de uma pessoa.
Os pronomes portugueses correspondentes são sempre tu (2ª
pes. sing.) e vós (2ª pes. plur.). O inglês arcaico tinha as formas
pronominais apropriadas para isso, thou (2ª pes. sing.) e ye
(2ª pes. plur.). Hoje em dia thou é usado em textos literários e
nas versões bíblicas quando querem transmitir certo respeito,
112 | D a v i d Pessoa de Lira

mas thou era usado indistintamente para se referir à segunda


pessoa.

1.2 Imperfeito e Aoristo do Indicativo Ativo dos Verbos em


– ω.
Tanto no português quanto no grego há um tempo
imperfeito (eu dava dinheiro aos pobres; ou em forma de
conjugação perifrástica, eu estava dando dinheiro aos pobres);
normalmente chamado de passado contínuo em inglês; em grego
ele seria melhor chamado de passado imperfeito. E há, no grego,
um aoristo (eu dei dinheiro aos pobres; normalmente chamado de
passado indefinido ou passado simples em inglês; no português,
esse tempo equivale ao pretérito ou passado perfeito simples). O
imperfeito grego também se refere à ação habitual no passado,
que se traduz como eu costumava dar dinheiro aos pobres, mas o
aoristo (no indicativo) simplesmente se refere a uma ação ou
estado que ocorreu no passado sem definir necessariamente
quando houve a ocorrência ou em que momento do passado isso
se deu.
Em λύω e outros verbos que começam com consoante, o
radical do imperfeito consiste do radical do presente (λυ-) com um
ἐ prefixado, gerando ἐλυ-. Esse prefixo é chamado de aumento
porque ele aumenta o comprimento do radical.
O radical do aoristo é formado em um de dois modos: O
aoristo fraco (primeiro), em que σ é adicionado ao radical do
presente: λυ + σ > λυσ- (o radical é idêntico ao do futuro). O
aoristo forte (segundo), em que o radical do presente é
modificado em algumas formas, tais como mudança de vogal etc.
É necessário aprender se o aoristo de um verbo particular é
forte ou fraco, mas a maioria é composta de aoristo fraco. O
aumento deve ser usado com os dois aoristos no indicativo. (Ex.: o
Grego Antigo Instrumental | 113

radical do aoristo indicativo de λύω é ἐλυσ-, mas não em todos os


modos).
Existem similaridades entre as terminações ou desinências
do imperfeito e aoristo fraco, mas nesse último, a vogal
imediatamente seguindo o radical é α em cinco das seis formas,
enquanto no imperfeito existe o mesmo padrão de sons de o- e ε-
como no presente.
VERBO λύω
nº pes. IMPERFEITO AORISTO
1ª ἔ-λυ-ον ἔ-λυ-σ-α
sing. 2ª ἔ-λυ-ες ἔ-λυ-σ-ας
3ª ἔ-λυ-ε(ν) ἔ-λυ-σ-ε(ν)
1ª ἐ-λύ-ομεν ἐ-λύ-σ-αμεν
plur. 2ª ἐ-λύ-ετε ἐ-λύ-σ-ατε
3ª ἔ-λυ-ον ἔ-λυ-σ-αν
Infinitivo: λύ-σαι

Enquanto o aoristo indicativo focaliza algo que aconteceu


no passado como um simples evento, o imperfeito indicativo
enfatiza a ação como um processo contínuo ou habitual. A escolha
entre uma ação contínua e habitual depende do contexto. A
diferença entre os dois tempos usualmente depende de como se
percebe o passado acontecendo. No contexto particular, pode-se
ver isso simplesmente como algo que ocorreu no passado (em
grego, o aoristo aqui seria usado), mas, em outro contexto, pode-se
descrever algo contínuo ou repetido (no grego, o imperfeito seria
usado para ambos). O termo aspecto é usado para esta distinção
em perspectiva. Os dois tempos do indicativo descrevem algo que
aconteceu no passado, mas o aoristo indicativo expressa um
aspecto momentâneo enquanto que o imperfeito um aspecto
contínuo ou habitual.
114 | D a v i d Pessoa de Lira

1.2.1 Aumento

Como supramencionado, o aumento é o ἐ prefixado nos


tempos históricos ou secundários (imperfeito, aoristo, mais-que-
perfeito) do indicativo ativo, isto é, no tempo passado. Em outras
palavras, diz-se que o aumento ἐ é uma sílaba inicial que
caracteriza os tempos secundários do indicativo. Deve-se notar
que o aumento é essencialmente silábico e temporal,
caracterizando foneticamente um aspecto do aumento silábico ou
uma consequência analógica desse aspecto.
O aumento silábico ἐ se antepõe aos verbos que se iniciam
por consoante. Os verbos que começam pela consoante ρ
duplicam essa letra depois do aumento. Ex.: ῥίπτω > ἔρριπτον.
Quando o radical do verbo começa com uma vogal, o
aumento geralmente alonga a vogal inicial. Dá-se o nome, neste
caso, de aumento temporal. Assim:
α se alonga para η: ἀϰούω > ἤϰουον (ouvir)
ε se alonga para η: ἐσϑίω > ἤσϑιον (comer)
ο se alonga para ω: ὀνομάζω > ὠνόμαζον (chamar)
ι se alonga para ῑ: ἱϰετεύω > ἱϰέτευον (suplicar)
υ se alonga para ῡ: ὑβρίζω > ὕβριζον (insultar)
αι se alonga para ῃ: αἰσϑάνομαι > ᾐσϑανόμην (sentir)
ᾳ se alonga para ῃ: ᾄδω > ᾔδον (cantar)
αυ se alonga para ηυ: αὐξάνω > ηὔξανον (aumentar)
οι se alonga para ῳ: οἰϰίζω > ᾤϰιζον (edificar)

Notas Explicativas (Σημειώσεις):

1 Verbos que começam com o ditongo ευ têm aumento em ηυ ou se


conserva o ευ. Exemplo: εὑρίσϰω > ηὕρισϰον ou εὕρισϰον (encontrar)
2 Verbos que se iniciam com η, ει, ῑ, ου, ω não recebem aumento
(alongamento).
Grego Antigo Instrumental | 115

3. Ocasionalmente alguns verbos que começam com a vogal ε têm o


alongamento para ει. O verbo ἔχω (ter) tem o imperfeito εἶχον, mas seu
radical do presente de fato é σεχ- ou ισχ-. O aoristo de ἔχω é ἔσχον. O
radical do aoristo é σχ-. Às vezes, no Corp. Herm., ἔχω é apresentado na
sua forma primitiva ἴσχω.

VOCABULÁRIO DOS VERBOS EM –Ω COM RADICAL EM VOGAL – NÃO


CONTRACTOS

ἀϰούω ouvir, escutar


ἀριστεύω ser o melhor, exceder, sobrepujar, primar, sobressair
ἀρύω puxar (água)
βασιλεύω ser rei, reinar
δεσμεύω aprisionar, por em cadeia, encadear, prender
ϑρησϰεύω observar religiosamente, cultuar, seguir os preceitos
ϰαϑαρεύω purificar-se, limpar-se, guardar-se puro ou limpo
ϰελεύω exortar, ordenar, comandar; permitir
ϰινδυνεύω correr o risco, estar em perigo
ϰωλύω prevenir, checar
λύω soltar, livrar, libertar, desenlaçar
πιστεύω acreditar, crer, confiar
πολεύω virar o solo com arado; querer saber sobre
πομπεύω conduzir, escotar, seguir uma procissão
φύω produzir, gerar, fazer crescer; vir a ser, ser por natureza

EXERCÍCIO - ΑΣΚΗΣΙΣ

(a) Decline os substantivos abaixo:


ϰόσμος/ ἄνϑρωπος/ δημιουργός / δαιμόνιον/ ἀλήϑεια/ ἀνάγϰη/
ἀξία / ψυχή / ἁμαρτία/ ϑάλασσα
(b) Conjugue os seguintes verbos no presente do indicativo
ativo:
116 | D a v i d Pessoa de Lira

ἀϰούω/ ἀρύω/ ϰελεύω/ πολεύω/ δεσμεύω/ ϑρησϰεύω/ λύω /


ϰαϑαρεύω
(c) Analise as palavras avulsas:
ϰαϑαρεύουσιν/ ἀριστεύομεν/ βασιλεύετε/ πολεύει/ πιστεύεις/
κελεύουσιν/ ἔχομεν/ φύει/ ϑρησϰεύετε
(d) Traduza as orações:
τὸ ἀγαϑὸν ϰαϑαρεύει τῆς ϰαϰίας.
ὁ λόγος ϰινδυνεύει ϰελεύειν τὴν ϰαϰίαν.
(e) Analise as orações:
ἡ παρουσία μού ἐστι βοήϑεια minha presença é uma ajuda.
ἡ σιωπή μού ἐστι ἀγαϑή meu silêncio é bom.
ὁ Ἑρμῆς ἐστιν ὁ διδάσϰαλός μου Hermes é o meu mestre.
ἡ ζωογονία αὐτοῦ πυϰνή a produção de vida dele é grande.

2. Verbos em –ω com Radical em Vogal –Contractos


Os verbos contractos são aqueles terminados em –αω, –εω,
–οω. São verbos cujo radical termina em α, ε ou ο. Esses verbos
são conjugados como λύω, mas, no presente e imperfeito, sofrem
contrações, ou seja, verbos em –αω, –εω, –οω devem serguir as
regras de contração vocálica no encontro de α, ε, ο com as desi-
nências número-pessoais.
O infinitivo sofre contração, levando em consideração que
o infinitivo é em –εν [não em –ειν]. Deve-se observar que o futuro
e o aoristo são conjugados como futuro e aoristo do verbo λύω >
λύσω e ἔλυσα, mas α, ε, ο, que precedem o –ω, se alongam:

πλανάω > f. πλανήσω, a. ἐπλάνησα (enganar)


α, ε em η
ποιέω > f. ποιήσω, a. ἐποίησα (fazer)
ο em ω: πληρόω > f. πληρώσω, a. ἐπλήρωσα (encher, preencher)
Grego Antigo Instrumental | 117

Os verbos em –αω, precedidos de ι, ε, ρ, não seguem a regra


supramencionada quando se conjugam no futuro e aoristo. Assim,
aplica-se a regra do alpha puro.
μειδιάω > μειδιάσω (sorrir)
δράω > δράσω (fazer, realizar)
ἐάω > ἐάσω (permitir)
O verbo ζάω se contrai como se fosse ζήω. O mesmo ocorre
com χράομαι > χρήομαι.

Quadro de regras de contrações

Nos verbos contractos em –αω


α + ε ou η se contrai em ᾱ
α + ει ou ῃ se contrai em ᾳ
α + ο, ω, ου se contrai em ω
α + οι se contrai em ῳ
Nos verbos contractos em–εω
ε + ε se contrai em ει
ε + ο se contrai em ου
ε antes de vogal longa e ditongo é absorvido
Nos verbos contractos em–οω
ο + ε se contrai em ου
ο + ο se contrai em ου
ο + η se contrai em ω
ο + ω se contrai em ω
ο + ει se contrai em οι
ο + ῃ se contrai em οι
ο + ου se contrai em ου
118 | D a v i d Pessoa de Lira

2.1 Presente e Futuro Indicativo Ativo


Dos verbos contractos em –αω

№ pes. Tempo Presente Tempo Futuro


1ª πλανά-ω πλανῶ πλανήσω
Singular

2ª πλανά -εις πλανᾷς πλανήσεις


3ª πλανά -ει πλανᾷ πλανήσει
1ª πλανά -ομεν πλανῶμεν πλανήσομεν
Plural

2ª πλανά -ετε πλανᾶτε πλανήσετε


3ª πλανά -ουσι(ν) πλανῶσι(ν) πλανήσουσι(ν)
Infinitivo πλανά -εν πλανᾶν πλανήσειν

Dos verbos contractos em –εω

№ pes. Tempo Presente Tempo Futuro


1ª ποιέ-ω ποιῶ ποιήσω
Singular

2ª ποιέ-εις ποιεῖς ποιήσεις


3ª ποιέ-ει ποιεῖ ποιήσει
1ª ποιέ-ομεν ποιοῦμεν ποιήσομεν
Plural

2ª ποιέ-ετε ποιεῖτε ποιήσετε


3ª ποιέ-ουσι(ν) ποιοῦσιν ποιήσουσι(ν)
Infinitivo ποιέ-εν ποιεῖν ποιήσειν
Grego Antigo Instrumental | 119

Dos verbos contractos em –οω

№ pes. Tempo Presente Tempo Futuro


1ª πληρό-ω πληρῶ πληρώσω
Singular

2ª πληρό-εις πληροῖς πληρώσεις


3ª πληρό-ει πληροῖ πληρώσει
1ª πληρό-ομεν πληροῦμεν πληρώσομεν
Plural

2ª πληρό-ετε πληροῦτε πληρώσετε


3ª πληρό-ουσι(ν) πληροῦσι(ν) πληρώσουσι(ν)
Infinitivo πληρό-εν πληροῦν πληρώσειν

Analise e traduza as orações abaixo:


ὁ ϰόσμος ποιεῖ χρόνον.
ὁ νοητὸς ϰόσμος τὸν αἰσϑητόν ϰόσμον πληροῖ.
ὁ νοῦς τὰ ϑεῖα δημιουργεῖ.

2.2 Imperfeito e Aoristo do Indicativo Ativo


Dos verbos contractos em –αω

№ pes. Tempo Imperfeito Tempo Aoristo


1ª ἐ-πλάνa-ον ἐπλάνων ἐπλάνησα
Singular

2ª ἐ-πλάνa-ες ἐπλάνaς ἐπλάνησας


3ª ἐ-πλάνa-ε(ν) ἐπλάνa(ν) ἐπλάνησε(ν)
1ª ἐ-πλανά-ομεν ἐπλανῶμεν ἐπλανήσαμεν
Plural

2ª ἐ-πλανά-ετε ἐπλανᾶτε ἐπλανήσατε


3ª ἐ-πλάνa-ον ἐπλάνων ἐπλάνησαν
Infinitivo πλανῆσαι
120 | D a v i d Pessoa de Lira

Dos verbos contractos em –εω

№ pes. Tempo Imperfeito Tempo Aoristo


1ª ἐ-ποίε-ον ἐποίουν ἐποίησα
Singular

2ª ἐ-ποίε-ες ἐποίεις ἐποίησας


3ª ἐ-ποίε-ε(ν) ἐποίει ἐποίησε(ν)
1ª ἐ-ποιέ-ομεν ἐποιοῦμεν ἐποιήσαμεν
Plural

2ª ἐ-ποιέ-ετε ἐποιεῖτε ἐποιήσατε


3ª ἐ-ποίε-ον ἐποίουν ἐποίησαν
Infinitivo ποιῆσαι

Dos verbos contractos em –οω

№ pes. Tempo Imperfeito Tempo Aoristo


1ª ἐ-πλήρο-ον ἐπλήρουν ἐπλήρωσα
Singular

2ª ἐ-πλήρο-ες ἐπλήρους ἐπλήρωσας


3ª ἐ-πλήρο-ε(ν) ἐπλήρου(ν) ἐπλήρωσε(ν)
1ª ἐ-πληρό-ομεν ἐ-πληροῦμεν ἐπληρώσαμεν
Plural

2ª ἐ-πληρό-ετε ἐ-πληροῦτε ἐπληρώσατε


3ª ἐ-πλήρο-ον ἐπλήρουν ἐπλήρωσαν
Infinitivo πληρῶσαι

Analise e traduza as orações abaixo:


ἐπλήρωσας ἡμᾶς τῆς ἀγαϑῆς ϰαὶ ϰαλλίστης ϑέας.
ἰὸν ὁ χαλϰουργὸς οὐϰ ἐποίησεν.
ἐποίησε τὴν μεταϐολὴν ὁ ϑεὸς.
τὸν ϰόσμον ἐποίησεν ὁ δημιουργός.
Grego Antigo Instrumental | 121

3. Verbos em –ω com Radical em Consoante Oclusiva


Os verbos em consoantes oclusivas se conjugam como o
verbo λύω. No entanto, nestes verbos, a oclusiva final do radical
encontra a desinência sigmática (σ) do futuro e aoristo. Faz-se
necessário recordar os princípios sobre os encontros vocálicos.

Função da cavidade → Orais


Modo de articulação → Oclusivas
ἄφωνα
Ordem
↓ ↓ ↓
Função das cordas (pregas) Sonora Surda Aspirada
vocais →

→ Labiais χειλιϰά β π φ
Classe → Dentais ὀδοντιϰά δ τ ϑ
→ Guturais γ ϰ χ
οὐρανιϰά

Entre as consoantes, existem três que são duplas (διπλᾶ): ζ,


ξ, ψ. São chamadas duplas porque cada uma delas é composta de
duas consoantes. O ζ é composto de σ e δ; o ξ do ϰ e σ; o ψ do π e
σ. As consoantes ξ e ψ se apresentam com um som sibilante ς em
sua composição (ξ= γς, ϰς, χς; ψ = βς, πς, φς). Para formar o
futuro do verbo com radical em oclusiva, a consoante no final do
radical do presente é combinada com sigma (σ), gerando uma
contração. Daí, qualquer labial no encontro com a sibilante (σ)
se transforma em um ψ. Assim, β, π ou φ + σ = π + σ = ψ. De igual
modo, qualquer gutural no encontro com a letra (σ) se transforma
122 | D a v i d Pessoa de Lira

em um ξ. Dessa forma, γ, ϰ ou χ + σ = ϰ + σ = ξ. Outrossim,


qualquer dental diante da sibilante (σ) cai. Exemplo: δ, τ ou ϑ + σ
= σ. Essa mesma também inclui ζ + σ = σ.
ἄγω rad. ἀγ- ἄξω, ἤξα
βλέπω rad. βλεπ- βλέψω ἔβλεψα
διδάσϰω rad. διδαχ- διδάξω, ἐδίδαξα
ϑαυμάζω rad. ϑαυμαζ- ϑαυμάσω ἐϑαύμασα
ϰολάζω rad. ϰολαζ- ϰολάσω ἐϰόλασα
λέγω rad. λεγ- λέξω, ἔλεξα
τάσσω rad. ταγ- τάξω, ἔταξα
χαρίζω rad. χαρίζ- χαρίσω ἐχάρισα

4. Verbos em –ω com Radical em Consoante Líquida e


Nasal
Os verbos em líquidas e nasais estão aparentemente
relacionados com os verbos contractos. No entanto, pela
origem, eles são verbos cujo sufixo primitivo –jω entrou em
contato com as letras λ, ρ, μ, ν, resultando várias reações. O futuro
e o aoristo apresentam formas sui generis, seguindo a inclusão de
uma vogal ε entre o radical e a desinêntica sigmática. Ex.: βάλλω <
βαλjω rad. βαλ- > βαλ-έ-σ-ω = βαλῶ / ἔβαλον; νέμω< νεμjω rad.
νεμ- > νεμ-έ-σ-ω = νεμῶ; φαίνω < φανjω rad. φαν- > φαν-έ-σ-ω =
φανῶ; φϑείρω < φϑερjω rad. φϑερ- > φϑερ-έ-σ-ω = φϑερῶ. No
aoristo, a penúltima sílaba do radical se alonga com a caída da
desinência sigmática. Ex.: ἔνεμσα > ἔνειμα; ἔφανσα > ἔφηνα;
ἔφϑερσα > ἔφϑειρα; ἔστελσα > ἔστειλα / στέλλω, στελῶ
Grego Antigo Instrumental | 123

VOCABULÁRIO DOS VERBOS EM –Ω COM RADICAL EM CONSOANTE E


RADICAL EM VOGAL – CONTRACTOS

ἄγω conduzir, dirigir, guiar


αἱρέω (εἷλον) pegar, capturar, conquistar, vencer, entender
ἀρτάω apertar, fixar
βάλλω lançar, colocar
βλέπω ver, olhar
γεννάω engendrar, gerar, produzir
δημιουργέω criar
διδάσϰω ensinar
ἐνεργέω * trabalhar, ser ativo
ἐράω (ἠράσϑην) amar
εὐφημέω bendizer
εὐχαριστέω agradecer
ϑαυμάζω admirar-se
ϑεωρέω olhar, ver, observar, contemplar
ϰαλέω † chamar
ϰινέω mover
ϰοινωνέω participar de, ter parte em
ϰολάζω castigar, punir
ϰρατέω ser forte ou poderoso; conquistar; assenhorear
λαλέω conversar, falar
λέγω dizer, eleger
λυπέω entristecer
μειδιάω sorrir
νέμω dividir, distribuir
νοέω pensar, meditar, compreender
οἰϰέω viver com (genitivo), habitar ou residir (acusativo)
στέλλω lançar, enviar
τάσσω ordenar, organizar
124 | D a v i d Pessoa de Lira

ὑμνέω cantar hino


φϑείρω destruir, arruinar
φοβέω temer, ficar com medo
χαρίζω agradecer, agraciar
χωρέω começar, ir adiante, dar passagem, ter lugar para, suceder,
conter

Αdvérbios
Os advérbios (ἐπιρρήματα) formam uma classe de palavras
indeclináveis ou uma parte indeclinável do discurso, segundo o
que é dito do verbo ou o que é atribuído ao verbo. Pode-se chamar
os advérbios de modificadores adverbiais. É fato que o advérbio é
uma palavra que não só modifica o sentido do verbo, mas também
do adjetivo e do próprio advérbio. Pois, embora a maioria dos
advérbios modifique o verbo, acrescentando-lhe uma
circunstância, os de intensidade também modificam adjetivos e
advérbios. Do ponto de vista da sintaxe, a função do advérbio é de
adjunto adverbial, um termo acessório.
Ex.: João escreveu bem. João é muito inteligente. Ele se comunica
muito bem.
No grego, muitos advérbios, principalmente modais, são
formados adicionando –ως ao radical do adjetivo. Para efeito, isso
significa a mudança do ν final do genitivo plural masculino do
adjetivo para ς. Exemplo: ἄφατος indizível (gen. plur. m. ἀφάτων),
adv. ἀφάτως indizivelmente; ἀσύναϑρος inarticulado (gen. plur. m.
ἀσυνάρϑρων), adv. ἀσυνάρϑρως inarticuladamente. Alguns
advérbios são formados do neutro nominativo/acusativo singular
do adjetivo: μιϰρόν por um curto espaço de tempo ou por pouco
tempo; πρῶτον primeira vez, primeiramente. Outros não
apresentam final especial: νῦν (νυνί) agora, εὖ bem.
Grego Antigo Instrumental | 125

Os advérbios são quase sempre antepostos imediatamente


à palavra que eles modificam. Exemplo: ἀφάτως τεταραγμένην
indizivelmente agitada.

VOCABULÁRIO DOS ADVÉRBIOS

ἀεί sempre
ἄλλως doutro modo; em vão; meramente, simplesmente; além; já
ἄνω para cima, em cima, acima
ἄνωϑεν de cima
εἰϰότως provavelmente, naturalmente, de fato, deveras,
sinceramente, francamente
ἐναντίως contrariamente
ἐνϑάδε para lá, lá, aqui, agora
ἔτι ainda, já
εὖ bem
ϰαί também
ϰάτω para baixo, embaixo, abaixo
μέχρι distante, dentro
νῦν agora
ὁμοίως semelhantemente
ὄντως realmente, de fato, atualmente
οὐϰέτι não
οὕτως deste modo ou desta maneira
πάλιν de volta; de novo, novamente; mais uma vez
τεταγμένως ordenadamente

As Preposições e seus empregos básicos


Preposição (πρόϑεσις) é uma palavra anteposta tanto na
combinação (σύνϑεσις) como na sintaxe (σύνταξις) de todas as
classes de palavra. Todas as preposições são em número de
126 | D a v i d Pessoa de Lira

dezoito43, das quais as monossilábicas são seis: ἐν, εἰς, ἐϰ, σύν,
πρό, πρός, as quais não se modificam; as dissilábicas são doze:
ἀνά, ϰατά, διά, μετά, παρά, ἀντί, ἐπί, περί, ἀμφί, ἀπό, ὑπό,
ὑπέρ.
O termo caso oblíquo é usado para se referir ao genitivo,
dativo e acusativo como um grupo. Em adição aos usos e funções
dos casos dados, esses casos também são usados após as
preposições, que realizam a mesma função no grego assim como
no inglês e português, i.é. eles definem a relação entre a palavra
que elas regem e o resto da oração em que elas são usadas. Em
grego, a palavra regida é normalmente substantivo ou pronome.
Cf. as regras para as preposições que indicam o movimento e o
descanso ou repouso.
Como supramencionado, o termo caso oblíquo é empregado
para designar os casos genitivo, dativo e acusativo como um
grupo. Isso lembra o português, embora esse só utilize essa
designação em termos pronominais. No entanto, os casos oblíquos
aqui são todas aquelas funções sintáticas que designam o adjunto
adnominal (locução adjetiva) de posse [genitivo], complementos
verbais preposicionados (objetos indiretos) [dativo],
complementos verbais (objetos diretos) [acusativo]. Em adição às
funções e usos dados acima, esses casos também são usados após
preposições, e exercem funções de adjuntos adverbiais (locuções
ou expressões adverbiais) ou complementos circunstaciais, i.é.,
elas definem a relação entre a palavra que elas regem e todo o
resto da oração na qual elas são usadas. As palavras regidas, no

43 Podendo aumentar o número mediante o uso de advérbios com função de


preposição. Uma informação: segundo alguns especialistas, primitivamente as
preposições eram modificadores adverbiais. Isso pode ser explicado facilmente
pelo uso intercambiável ora de preposições ora de advérbios nas locuções
adverbiais.
Grego Antigo Instrumental | 127

grego, geralmente são substantivos ou pronomes. Algumas


preposições apenas regem um único caso, outras podem reger
dois ou três casos.
As regras básicas para essas preposições que indicam
movimento ou moção e parada ou descanso.
➢ Preposições que indicam movimento avante (adiante, em
frente, em direção a) regem (i.é. exigem, são seguidas por) o
caso acusativo.
→ Com a função ilativa que, através de uma locução adverbial
ou complemento circunstancial, dá a ideia de algo que entra
em algum lugar. Ex.: εἰς τὸν ϰύϰλον para dentro do círculo,
no círculo (ingl. into the circle).
→ Com a função lativa que, através de uma locução adverbial
ou complemento circunstancial, dá a ideia de lugar até onde
se dirige alguém ou alguma coisa. Ex.: πρὸς τὸν ϰύϰλον
para o círculo, em direção ao círculo (ingl. τowards the
circle).
➢ Preposições indicando movimento ou moção a partir de
(desde) regem (i.é. exigem, seguidas por) o caso genitivo.
→ Com a função ablativa que, através de uma locução
adverbial, expressa procedência ou algo que sai de algum
lugar. Ex.: ἀπὸ τοῦ ϰύϰλου do círculo, desde (a partir do) o
círculo (ingl. away from the circle).
→ Com a função elativa que, através de uma locução
adverbial, expressa saída ou a ideia de algo que se move
para fora de algum lugar. Ex.: ἐϰ τοῦ ϰύϰλου de dentro para
fora do círculo (ingl. out of the circle).
➢ Preposições que indicam descanso ou posição fixada
regem o caso dativo.
→ Com função locativa que, através de uma locução adverbial
de lugar ou complemento circunstancial, indica a ideia de
lugar onde se realiza a ação. Ex.: ἐν τῷ ϰύϰλῳ no círculo
(ingl. in the circle).
128 | D a v i d Pessoa de Lira

Observações

Preposições que terminam em vogal, tal como α, ε ou ο,


perdem essa vogal quando precedem uma palavra que se inicia
com vogal ou ditongo. Ex.: ἀπ’ ἀρχῆς ἀορίστου (= ἀπὸ ἀρχῆς
ἀορίστου) do início indefinido; δι’ ἀνάγϰην (= διὰ ἀνάγϰην) por
necessidade; μετ’ αὐτοῦ consigo (com ele). Essa perda é chamada
elisão. A elisão acontece por fatores fonéticos: geralmente a
última sílaba da palavra precedente se torna átona (recebendo
acento grave) e a palavra se diz barítona. E, noutros casos, a
palavra precedente é barítona por natureza. Se a vogal ou
ditongo da segunda palavra tiver um espírito forte, e se a letra
diante de α, ε ou ο for π ou τ, essa letra vem a ser φ ou ϑ
respectivamente, ἀφ’ υἱοῦ (= ἀπὸ υἱοῦ) de um filho, μεϑ’ υἱοῦ (=
μετὰ υἱοῦ) com um filho.

VOCABULÁRIO DAS PRESPOSIÇÕES E SEUS PRINCIPAIS CASOS

ἀμφί ao redor, no entorno, próximo (G.)


ἀνά para cima (A.); sobre (D.)
ἀντί contra (G.)
ἀπό de, desde (G.)
διά através de (G.); por causa de (A.)
εἰς em, para dentro (A.)
ἐϰ de, de dentro para fora (G.)
ἐν em, com (D.)
ἐπί sobre (D.); sobre, acerca de (G.)
ϰατά contra (G.); segundo, de acordo com (A.); para baixo (A.)
μετά com, junto com (G.); depois de (A.)
μέχρι até (G.)
παρά perto de, em (D.); da parte de (G.)
Grego Antigo Instrumental | 129

περί ao redor (A.); acerca de (G.)


πρό diante de (G.)
πρός em direção a (A.); perto de (D.); de perto de (G.)
σύν com (D.)
ὑπέρ por causa de, em nome de (G.); em cima (A., G.)
ὑπό por causa de, sob o poder de (G., D.); embaixo (A.)

4. EXERCÍCIO - ΑΣΚΗΣΙΣ

Atribua o caso correspondente a cada preposição de acordo


com a moção indicada no desenho do ϰύϰλος abaixo:

ὑπέρ
περί
παρά
διά
ἀνά

πρός εἰς ἐν ἐϰ ἀπό

ϰατά

ὑπό
130 | D a v i d Pessoa de Lira

Numerais

Os numerais (ἀριϑμητιϰά) são palavras que descrevem


determinada quantidade ou medida, sendo nomes adjetivos,
substantivos e adverbiais.

Designação
№ Represen- Cardinal Ordinal Adverbial
tação
grega
1 α΄ εἷς, μία, ἓν πρῶτος, -η, -ον ἅπαξ
2 β΄ δύο δεύτερος, -α, -ον δὶς
3 γ΄ τρεῖς, τρία τρίτος, -η, -ον τρὶς
4 δ΄ τέτταρες, τέταρτος, -η, -ον τετράϰις
τέτταρα
5 ε΄ πέντε πέμπτος, -η, -ον πεντάϰις
6 Ϛ΄ ἓξ ἕϰτος, -η, -ον ἑξάϰις
7 ζ΄ ἑπτὰ ἕβδομος, -η, -ον ἑπτάϰις
8 η΄ ὀϰτὼ ὄγδοος, -η, -ον ὀϰτάϰις
9 ϑ΄ ἐννέα ἔνατος, -η, -ον ἐνάϰις
10 ι΄ δέϰα δέϰατος, -η, -ον δεϰάϰις
11 ια΄ ἕνδεϰα ἐνδέϰατος, -η, -ον ἑνδεϰάϰις
12 ιβ΄ δώδεϰα δωδέϰατος, -η, -ον δωδεϰάϰις

Os numerais ordinais são declinados como adjetivos


triformes de I classe em -ος, -η, -ον assim como os cardinais a
partir de 200 (διαϰόσιοι -αι -α). Os outros cardinais são
indeclináveis, com exceção dos quatro primeiros.44 Segundo o
gênero, 1 é triforme, a saber, uma forma masculina, uma feminina

44
FREIRE, 2001, p. 56; BETTS; HENRY, 2010, p. 77; BETTS, 2010, p. 68; PER-
FEITO, 2013, p. 106; ΤΖΑΡΤΖΑΝΟΣ, 1965, σ. 83.
Grego Antigo Instrumental | 131

e outra neutra. O número 2 é monoforme, apresentando uma


forma para os três gêneros. 3 e 4 são biformes, apresentando uma
forma para o masculino e feminino e outra para o neutro.

M F N MFN MF N MF N
N. εἶς μία ἕν δύο τρεῖς τρία τέτταρες τέτταρα
G. ἑνὸ μιᾶς ἑνός δυοῖν τριῶν τεττάρων
D. ἑνὶ μιᾷ ἑνί δυοῖν τρισὶ τέτταρσι
A. ἕνα μίαν ἕν δύο τρεῖς τρία τέτταρας τέτταρα

Deve-se notar que δύο pode incider de forma inde-


clinável.45 Exemplo: διὰ τούτων τὰ πάντα τῶν δύο, ϰόσμου ϰαὶ
ἀνϑρώπου (através destes dois, do mundo e do homem, todas as
coisas existem). Outro exemplo: ὁ δύο λόγοις σχολάζων ϰαὶ ἀϰοαῖς
σϰιαμαχεῖ (o que perde tempo com duas conversas e escutas luta
com as sombras).
Os numerais cardinais (ἀπόλυτα) expressam uma deter-
minada quantidade de seres em sua totalidade, indepen-
dentemente de outros seres. Por outro lado, os ordinais (ταϰτιϰά)
expressam a ordem, ou seja, a disposição, a qual compreende uma
cadeia de seres. Essas duas designações de numerais possuem
uma função adjetiva.46 Além das funções adjetivas e adverbiais dos
numerais, encontram-se também os substantivos numerais, tais
como μονάς, -άδος mônada; ὀγδοάς, -άδος ogdoada; ἐνάς, -άδος
unidade.47
Depois de ἅπαξ, δὶς e τρὶς, os demais numerais adverbiais
recebem um sufixo –άϰις. Assim, τετράϰις significa quatro vezes e
os demais seguem o mesmo na formação. Não há formas numerais

45
ΤΖΑΡΤΖΑΝΟΣ, 1965, σ. 82.
46
ΤΖΑΡΤΖΑΝΟΣ, 1965, σ. 83.
47
FREIRE, 2001, p. 58; ΤΖΑΡΤΖΑΝΟΣ, 1965, σ. 84.
132 | D a v i d Pessoa de Lira

distributivas como no latim, a saber, singuli, bini, terni etc. Os


distributivos são amiúde formados com o uso das preposições
ϰατά, ἀνά ou εἰς mais o numeral cardinal no acusativo. Por
exemplo, ϰαϑ’ ἓν cada um. Algumas vezes se emprega σύν para dar
a ideia de distribuição. Os multiplicativos (πολλαπλασιαστιϰά) se
formam a partir do radical dos cardinais e dos seus multiplicativos
respectivos mais o sufixo -πλοῦς, -ῆ, -οῦν. Exemplo: διπλοῦς
dúplice. Outrossim, os proporcionais (ἀναλογιϰά) são formados a
partir do radical dos numerais cardinais e adverbiais mais o sufixo
–πλάσιος, -α, -ον. Exemplo: διπλάσιος duplo.48
Quando se usa a representação dos numerais, havendo uma
sequência de números, deve-se colocar o acento superior apenas
na última letra.
+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
Leia e analise a ocorrência dos numerais no texto do Corpus
Hermeticum 13.7b:
– Μία αὕτη, ὦ τέϰνον, τιμωρία ἡ ἄγνοια· δευτέρα λύπη· τρίτη
ἀϰρασία· τετάρτη ἐπιϑυμία· πέμπτη ἀδιϰία· ἕϰτη πλεονεξία· ἑβδόμη
ἀπάτη· ὀγδόη φϑόνος· ἐνάτη δόλος· δεϰάτη ὀργή· ἑνδεϰάτη
προπέτεια· δωδεϰάτη ϰαϰία· εἰσὶ δὲ αὗται τὸν ἀριϑμὸν δώδεϰα
– Um suplício é este, ó filho: a ignorância; segundo, a tristeza;
terceiro, a intemperança; quarto, o desejo; quinto, a injustiça;
sexto, a ambição; sétimo, a fraude; oitavo, a inveja; nono, o dolo;
décimo, a ira, décimo primeiro, a precipitação; décimo segundo, o
vício; e esses são em número de doze.
Identifique as palavras de I declinação enumeradas e decline três
(03) dessas palavras.

48
FREIRE, 2001, p. 57; BETTS; HENRY, 2010, p. 78; BETTS, p. 69, 233-234;
PERFEITO, 2013, p. 107; ΤΖΑΡΤΖΑΝΟΣ, 1965, σ. 82-83.
Grego Antigo Instrumental | 133

Conjunções e Partículas Conectivas


Conjunção (σύνδεσμος) é uma palavra que conecta
pensamento com ordem e que dá o fluido (fluidez) de
interpretação. É uma palavra invariável ou indeclinável que
conecta ou liga orações no mesmo texto ou palavras na mesma
oração. Sua função é juntar (latim conjungo junto). Ela pode
juntar palavras da mesma natureza, como o menino e a menina,
liso e colorido, acuradamente e velozmente.
Ex.: João e Maria moram em Recife (a conjunção e liga
duas palavras: João, Maria).
João vive em Olinda, mas ele ama Recife (a conjunção
mas liga duas orações: João vive em Olinda, ele ama
Recife).
Assim como as preposições apresentam sua origem como
advérbios, as conjunções mostram sua característica advérbio-
preposicional em alguns empregos.
Ex.: Antes que vocês cheguem (antes que é uma
conjunção que remonta ao advérbio antes e à
preposição ou locução preposicional antes de).

Segundo Dionísio Trácio, das conjunções, existem as copu-


lativas49e as disjuntivas50 (alternativas, correlativas, discretivas),
as sinápticas51 (comissurais, continuativas), as parassinápticas52
(subcontinuativas), as causais53, as silogísticas54 ou proposicionais

49
συμπλεϰτιϰοί – coniunctiones copulativae.
50
διαζευϰτιϰοί – coniunctiones disiunctivae.
51
συναπτικοί – coniunctiones condicionales.
52
παρασυναπτιϰοί – coniunctiones causales.
53
αἰτιολογιϰοί – coniunctiones causales: finais e explicativas.
54
συλλογιστιϰοί – coniunctiones rationativae, collectivae, rationales.
134 | D a v i d Pessoa de Lira

(conclusivas), e as suplementares55. Todavia, em geral, dividem-se


essas conjunções em duas categorias ou classes, a saber:
Conjunções Coordenadas (Conectivos ou Partículas Conectivas
Coordenativas) e Conjunções Subordinadas (Conectivos ou
Partículas Conectivas Subordinativas).

CONJUNÇÕES COORDENADAS (Conectivos ou Partículas Conectivas


Coordenativas)

Elas ligam orações sem fazer com que uma fique


subordinada ou dependente da outra, sem que uma complete o
sentido da outra.

Ex.: οἱ ἐλλόγιμοι οὐχ ὁμοίως τοῖς ἄλλοις πάσχουσιν,


ἀλλὰ οὐ ϰαϰοὶ ὄντες πάσχουσι (A conjunção ἀλλὰ liga
duas orações, mas não faz com que uma fique
subordinada ou complemente o sentido da outra: são
duas orações independentes e de sentido completo). As
orações que recebem essas conjunções (como mas) são
chamadas de Orações Coordenadas Sindéticas.

CONJUNÇÕES SUBORDINADAS (Conectivos ou Partículas Conectivas


Subordinativas)

São aquelas que ligam duas orações que indicam comple-


mento, subordinação, dependência etc. de uma em relação a outra.
Ex.: ὅτε ἦν ἀσώματος ἡ ὕλη, ὦ τέϰνον, ἄταϰτος ἦν (quando a
matéria era incorporal, ó filho, era desordenada).
A matéria era desordenada quando era incorporal (a
conjunção quando liga duas orações, e faz com que uma fique

55
παραπληρωματιϰοί – coniunctiones expletivae.
Grego Antigo Instrumental | 135

subordinada ou complemente o sentido da outra: são duas


orações dependentes; note que as orações, de certa forma,
apresentam sentido completo, mas se perguntar quando aquele
fato aconteceu ou quando se deu aquele estado, então a outra se
torna complementar e necessária). As orações que recebem essas
conjunções são chamadas de Orações Subordinadas.
Α) Conjunções Coordenadas (Conectivos ou Partículas Conectivas
Coordenativas) são subdivididas em:
Adversativas ou Copulativas Disjuntivas;
Conclusivas;
Copulativas ou Aditivas;
Disjuntivas ou Alternativas.
Β) Conjunções Subordinadas (Conectivos ou Partículas Conectivas
Subordinativas) são subdivididas em:
Causais;
Comparativas;
Concessivas;
Condicionais;
Consecutivas;
Finais;
Temporais.

Notas Explicativas (Σημειώσεις):

Nem sempre a língua portuguesa utiliza as conjunções


para fazer um link ou um nexus entre várias palavras, frases ou
orações. Na modalidade oral, é possível até mesmo utilizar de
ênfase, nuance, variação de tom para expressar esse nexus. Por
outro lado, poderíamos utilizar orações conectadas umas às
outras sem mesmo haver conjunção, é o caso das Orações
Coordenadas Assindéticas e Orações Subordinadas Reduzidas
136 | D a v i d Pessoa de Lira

(e que, a rigor, são assindéticas porque não possuem conectivos;


mas a NGB – Nomenclatura Gramatical Brasileira utiliza o termo
reduzida).
O grego também faz uso desses processos, mas com mais
propriedade e perfeição do que a língua portuguesa, pois o uso
de particípios e infinitivos se faz imprescindível para tal
construção. No entanto, o grego utiliza muito mais as
conjunções do que a língua portuguesa usa, visto que aquele
idioma é um tanto meticuloso e preciso nas construções frasais
e de oração.
Mesmo quando não se empregam conjunções, utilizam-
se partículas conectivas. Essas partículas são palavras curtas e
indeclináveis, e algumas das quais são enclíticas ou
pospositivas, isto é, elas não podem aparecer como primeira
palavra da frase ou oração em que são empregadas. Segundo
Eric G. Jay,

Partícula em gramática é um termo geral para qualquer palavra


pequena que é indeclinável. Assim, as negativas οὐ e μή,
preposições, e conjunções são partículas. Mais especificamente
essas palavras são chamadas partículas quando são usadas
para dar alguma ênfase a uma palavra particular ou expressão,
como μέν e δέ, γέ, pelo menos, e ἄν.56

Outras são conjunções propriamente, como ϰαί e ἀλλά, e


não são enclíticas ou pospositivas.
Ex.: ἀλλὰ ϰαταλείπει τὴν τοιαύτην ψυχὴν τῷ σώματι.
As conjunções ϰαί e δέ são muito usadas no Corp. Herm. A
partícula conectiva δέ é classificada como adversativa, mas pode

56 JAY, Eric G. New Testament Greek: An Introductory Grammar. London: S.P.C.K.


Society for Promoting Christian Knowledge, 1990 (Publicado em 1958 e corrigido
em December 1987). 350 p. p. 57.
Grego Antigo Instrumental | 137

apenas expressar, na língua portuguesa, uma oração


coordenada assindética ou uma coordenada sindética aditiva.
No texto grego, pode haver a partícula, mas sua tradução é
desnecessária. No português, isso seria uma oração coordenada
assindética.
Exemplo: ὕλης μὲν γὰρ τὸ λεπτομερέστερον ἀήρ, ἀέρος δὲ
ψυχή, ψυχῆς δὲ νοῦς, νοῦ δὲ ὁ ϑεός. Literalmente: Pois, deveras, o
ar é mais minucioso do que a matéria; e a alma, do que o ar; e a
mente, do que a alma; e Deus, do que a mente (coordenada
sindética aditiva).
➢ Pois, deveras, o ar é mais minucioso do que a matéria, a alma
do que o ar, a mente do que a alma, Deus do que a mente
(coordenada assindética).
➢ Pois, deveras, o ar é mais minucioso do que a matéria, a alma
do que o ar, a mente do que a alma, e Deus do que a mente
(coordenada assindética).

De fato, a partícula conectiva δέ expressa um leve


contraste, diferentemente de ἀλλά, que expressa um contraste
mais forte. δέ pode ser traduzida como e, mas também,
enquanto, mas e porém.
Exemplo: ὁ μὲν ϰόσμος ὑπὸ τοῦ ϑεοῦ ϰαὶ ἐν τῷ ϑεῷ, ὁ δὲ
ἄνϑρωπος ὑπὸ τοῦ ϰόσμου ϰαὶ ἐν τῷ ϰόσμῳ.
Literalmente: o mundo foi feito por Deus e em Deus, mas
também que o homem foi feito pelo mundo e no mundo.
A partícula conjuntiva enclítica conclusiva γάρ também
pode ser empregada como uma partícula declarativa explicativa
ou causal. Ela sempre é pospositiva. A mesma tem o significado
de pois, entre outros sinonímicos adequados. No Português, o
pois explicativo é sempre anteposto ao verbo, enquanto o pois
conclusivo é sempre posposto.
138 | D a v i d Pessoa de Lira

Ex.:
O destino é implacável, deves, pois, conformar-te. (pois
conclusivo)
O destino é implacável, pois deves conformar-te. (pois
explicativo)
Deves conformar-te, pois o destino é implacável. (pois causal)

A partícula γάρ geralmente tem uma força causal, e vem


em uma oração, depois de ter feito uma afirmação ou
interrogação, ou ordem/exortação afirmativa ou negativa, com o
propósito de confirmá-la e fundamentá-la.
Ex.: ἀναϐλέψατε τοῖς ὀφϑαλμοῖς τῆς ϰαρδίας· ϰαὶ εἰ μὴ
πάντες δύνασϑε, οἵ γε ϰαὶ δυνάμενοι· ἡ γὰρ τῆς ἀγνωσίας
ϰαϰία ἐπιϰλύζει πᾶσαν τὴν γῆν...
Literalmente: Olhai com os olhos do coração! E se vós
todos não podeis, pelo menos, deveras, os que podem;
pois a maldade da ignorância transborda toda a terra...

Já a partícula conjuntiva enclítica (pospositiva) conclusiva


οὖν expressa conclusão, consequência, sequência, conclusão
silogística ou proposicional.
Ex.: ἀδύνατον οὖν τὸ ἀγαϑὸν ἐνϑάδε ϰαϑαρεύειν τῆς
ϰαϰίας.
Literalmente: Portanto, é impossível o bem aqui se
purificar da maldade.
Às vezes ϰαί é precedido por uma enclítica τε (e), dando
o sentido de assim como, tanto quanto, ambos X e Y. Ex.:
ἐσϑίω τε ϰαὶ πίνω como assim como bebo, como e também
bebo, como tanto quanto bebo. τε...ϰαί podem se apresentar
separados.τε...ϰαί apresenta uma conotação aditiva e
comparativa ao mesmo tempo.
Grego Antigo Instrumental | 139

Vocabulário das Conjunções e Partículas Conectivas

ἀλλά mas (advs.)


ἀλλὰ μήν por outro lado (advs.)
ἄν se (cond.)
ἄρα pois, portanto, ergo latino (concl.)
ἅτε porque, cum latino (caus.)
γάρ pois57, com efeito, logo (concl.)
γοῦν pois, portanto, itaque latino (concl.)
δέ porém (advs.)
διό portanto, por isso
ἐάν se (cond.)
εἰ se (cond.)
εἰ ϰαί se bem que, embora, conquanto, ainda que, ainda quando
(conc.)
εἰ μή se não, a não ser que (cond.)
εἴτε... εἴτε... quer...quer... (cop. disj.)
ἐπεί porque, quia latino (caus.); ἐπεί depois que (temp.)
ἐπειδή porque, cum latino (caus.)
ἕως até que (temp.)
ἤ ou (cop. disj.)
ἤ... ἤ... ou...ou... (cop. disj.)
ἤν se (cond.)
ἵνα para que, a fim de que (fin.)
ἵνα μή para que não
ϰαί e (cop.)
ϰαὶ γάρ com efeito (concl.)
μή para que não (fin.)

57 No Português, esse pois conclusivo é sempre posposto ao verbo. Ex.: Deves,


pois, firmar-te. No grego, há algumas dessas conjunções que são proclíticas, ou seja,
sempre estão postas depois da primeira palavra da oração.
140 | D a v i d Pessoa de Lira

μηδέ nem, e não (cop.)


μήτε nem, e não (cop.)
ὅπως para que, a fim de que (fin.)
ὅπως μή para que não (fin.)
ὅταν quando (temp.)
ὅτε quando (temp.)
ὅτι porque, quia latino (caus.)
οὐ μόνον... ἀλλὰ ϰαί não só...mas também
οὐδέ nem, e não (cop.)
οὖν pois, portanto, igitur latino (concl.)
τε e (cop.)
τοιγαροῦν pois, portanto (concl.)
ὡς de sorte que, de forma que, de maneira que, de modo que
(cons.); para que, a fim de que (fin.); como, assim como, tão ou
tanto como, tal como, que nem, feito58 (comp.)
ὥσπερ como, assim como, tão ou tanto como, tal como, que nem,
feito (comp.)
ὥστε de sorte que, de forma que, de maneira que, de modo que
(cons.)

EXERCÍCIO - ΑΣΚΗΣΙΣ

Atribua o sentido de cada conjunção indicada nas orações a


seguir:

1. ὡς οἱ πολλοὶ δοϰοῦσι, ϰαὶ σὺ δοξάζεις.


2. ἀγαϑαὶ ἐνέργειαι οὐ μόνον ἐν οὐρανῷ, ἀλλὰ ϰαὶ ἐπὶ γῆς εἰς
τὸν ϰατώτατον βυϑὸν ϰαὶ ἄϐυσσον διήϰουσιν.
3. ϰαὶ ἔμεινεν οὕτω τὰ πάντα τοῦ αἰσϑητοῦ ϰόσμου μέχρι
περιόδου τέλους.

58 Feito é o equivalente a como e do mesmo modo que.


Grego Antigo Instrumental | 141

4. ὁ ϑεὸς ζωὴν ϰαὶ ψυχὴν ϰαὶ ἀϑανασίαν ϰαὶ μεταϐολὴν ποιεῖ,


ϰαὶ γὰρ βλέπεις ϰαὶ λαλεῖς ϰαὶ ἀϰούεις ϰαὶ περιπατεῖς ϰαὶ
νοεῖς ϰαὶ πνεῖς.
5. τὸ ἀγαϑόν ἐν οὐδενί ἐστιν, εἰ μὴ ἐν μόνῳ τῷ ϑεῷ.
6. συνέχει δὲ τοῦτον ὁ αἰών, εἴτε δι’ ἀνάγϰην εἴτε πρόνοιαν
εἴτε φύσιν.

VOCABULÁRIO DO EXERCÍCIO

τὰ πάντα todas as coisas


ὁ ϰατώτατος βυϑὸς ϰαὶ ἄϐυσσος a profundeza mais inferior e o
abismo
ἐν οὐδενί em nada
ὁ αἰών o aeon, o aion, o éon, duração, período, eternidade
φύσις natureza
ἐν οὐδενί em nada
περιπατέω caminhar
πνέω respirar
δοξάζω pensar, crer, supor, presumir
δοϰέω pensar, crer, supor, presumir; parecer; aparecer

Classificação ou Nome das Palavras quanto à Tonicidade


As palavras podem ser tônicas e átonas. Isso depende de
como a intensidade é proferida. Palavras tônicas têm autonomia
fonética, sendo proferidas com uma forte intensidade na frase,
exemplo: O Sol e o céu nos fascinam. São monossilábicos tônicos:
é, má, si, dó, nó, nós, eu, tu, ré, pôr etc. Palavras átonas são aquelas
que não apresentam autonomia fonética, sendo sua intensidade
mais fraca, como se fossem sílabas átonas de vocábulo aos quais
se apoiam.
142 | D a v i d Pessoa de Lira

A menina se divertia com os gatos no jardim.


(Amenina sedivertia comosgatos nojardim.)
O garoto divertia-se olhando os gatos da casa.
(Ogaroto divertia-se olhand' osgatos dacasa.)

Há monossilábicos átonos que se apoiam, foneticamente,


na palavra posterior ou na palavra anterior. No primeiro caso, diz-
se que houve uma próclise59, sendo que os monossílabos são
proclíticos:
A menina se divertia...
(A+ menina se+divertia = Amenina sedivertia)

No segundo caso, dizemos que houve uma ênclise60, sendo


que os monossílabos são enclíticos:
...divertia-se...
(divertia+se = divertia-se)

Há alguns monossilábicos que, dependendo de sua posição,


podem ser tônicos ou átonos.
Não diga isso. (átono)
Digo não. (tônico)
Não digo não. (tônico)
Assim não. (tônico)
Para que me chamaste? (átono)
Chamaste-me para quê? (tônico)

Em geral, na sua vasta maioria, os vocábulos átonos são


monossilábicos. No entanto, há vocábulos átonos dissilábicos: as

59 πρόϰλισις – προϰλίνω (inclinar-se diante de ou para diante de).


60 ἔγϰλισις – ἐγϰλίνω (inclinar-se, apoiar-se).
Grego Antigo Instrumental | 143

conjunções e suas contrações para, pera (arcaico), pelo, pela e as


conjunções como, porque.
É verdade que só identificamos os vocábulos átonos e
tônicos quando são proferidos na frase. Isso explica que não se
pode classificar as palavras como tônicas e átonas facilmente,
senão dentro de uma frase.
Além disso, vocábulos homógrafos, sendo um tônico e
outro átono, na grafia ou escrita, o tônico recebe acento gráfico.
João não pára! (tônico)
Isso é para ti! (átono)
Embora seja sabido que a sílaba métrica não pode ser
confundida com a sílaba gramatical, é de suma importância
aprender a distinguir a entonação e as sílabas átonas e tônicas
formadas a partir de palavras no verso. Quem estuda e conhece a
métrica grega, sabe o quanto é importante o entendimento a
respeito da acentuação, entonação, tonicidade etc. Da mesma
forma, isso ajuda a compreender a versificação, metro, processo
de redução do número de sílabas métricas, ritmo, encadeamento
etc., na língua portuguesa. Assim como se dá na identificação de
palavras tônicas e átonas, a contagem das sílabas métricas só é
possível auditivamente e oralmente, quando cada palavra ou
sílaba é proferida no verso.
As proclíticas gregas são átonas por natureza e por isso
desprovidas de acento gráfico. Mas é verdade que algumas delas
deixam de ser átonas e passam a ser acentuadas por posição.

No grego, as proclíticas são dez.


a) ὁ, ἡ, οἱ, αἱ (artigos).
b) ἐϰ, εἰς (ἐς), ἐν (preposições).
c) ὡς, εἰ (conjunções).
d) οὐ (οὐϰ, οὐχ) (advérbio de negação).
144 | D a v i d Pessoa de Lira

Casos em que as proclíticas passam a ser tônicas:

A negação οὐ (e suas variantes οὐϰ, οὐχ) passa a ser tônica no


final de uma frase e antes de pontuação.
Σὺ μὲν οἶδας, ἐγὼ δὲ οὔ.
Εἶτα σὺ μὲν δύνασαι ταῦτα, ὁ ϑεὸς δὲ οὔ;
- Οὔ, τέϰνον, ἀλλὰ φωνῇ·
- Οὔ, τέϰνον, ἀλλὰ ϰαὶ πολυϰίνητος μόνη...

A conjunção ὡς, quando significa assim; equivale a οὕτως.


ὥς εἶπεν
Toda proclítica antes de enclítica passa a ser tônica e recebe
acento.
οὐϰ ἔν τινι ϰινεῖται
As enclíticas são acentuadas, mas perdem ordinariamente
seus acentos.
No grego, as enclíticas são:
μοῦ, μοί, μέ, σοῦ, σοί, σέ (pronome pessoal).
τὶς61 (pronome indefinido).
πού, ποῖ, ποϑέν, πῄ, πώ, πώς, ποτέ62 (advérbio indefinido).
O presente indicativo de εἰμί, φημί. Com exceção da segunda
pessoa do singular: εἶ e φῄς
Partículas γέ, τέ , ἄν etc.
As enclíticas perdem o acento:
Depois de uma oxítona, esta leva acento agudo e não grave.
ὁ υἱός μου.
ἡ σιωπή σου.

61 Nunca confundir com o pronome interrogativo τίς que é sempre tônico e


acentuado com agudo, nunca enclítico.
62 Não confundir com os advérbios interrogativos ποῦ, ποῖ, πόθεν, πῇ, πῶ, πῶς,
πότε.
Grego Antigo Instrumental | 145

Depois de uma paroxítona, se a enclítica for monossilábica;


se for dissilábica, a enclítica conserva o acento.
δαιμόνων τις.
τὸ ἔργον ἐστί.
Depois de proparoxítonas ou properispômenas, estas
conservam seus próprios acentos e recebem um agudo na
última sílaba.
σῶμά ἐστι.
ἄνϑρωπός τις.
Depois de uma perispômena.
εὐχαριστῶ σοι
ἐρῶ σοι
ἐρῶ τινα
Uma enclítica depois de outra.
ἔστι τις.
ἄν τις.

Exceção de οὐϰ εἰμί, οὐϰ εἰσίν, οὐϰ ἐστέ. Mesmo assim, há


aqueles que acentuam οὔϰ. Ou ainda escreve οὐϰ ἔστι.

As enclíticas são acentuadas:

Depois de uma paroxítona, e se a enclítica tiver duas sílabas.


τὸ ἔργον ἐστί.
Quando seguem várias enclíticas. Exemplo: Εἴ τίς τί σοί φησιν.
Quando há elisão, perdendo a palavra anterior o acento da última
sílaba, exceto em ἀλλ’ (ἀλλά) e τοῦτ’ (τοῦτό). Exemplos: ἀγαϑός
δ’ἐστίν. τοῦτ’ ἔστιν, ἀλλ’ ἔστιν.
Quando essas enclíticas são εἰμί, φημί e estão no início de frase
(isso é uma exceção, pois, por natureza, a enclítica nunca começa
uma frase). Exemplos: εἰμὶ ἐγώ. φησὶν ὁ Λόγος.
146 | D a v i d Pessoa de Lira

Quando essa enclítica é ἔστι(ν) e significa existe ou é possível.


Quando ἔστι(ν) vem no início da frase. Quando ἔστι(ν) vem depois
de: εἰ, ϰαὶ, οὐϰ, μή, ὅτι, ποῦ, ὡς, τοῦτ’, ἀλλ᾿. Exemplos: ἔστιν ϑεός.
οὐϰ ἔστι.

Presente, Imperfeito e Futuro do Indicativo Ativo do Verbo


εἰμί
nº pes. PRESENTE IMPERFEITO FUTURO
1ª εἰμί ἤμην ἔσομαι
sing. 2ª εἶ ἦς63 ἔσει64
3ª ἐστί(ν) ἦν ἔσται
1ª ἐσμέν ἦμεν65 ἐσόμεϑα
plur. 2ª ἐστέ ἦτε ἔσεσϑε
3ª εἰσί(ν) ἦσαν ἔσονται

63 ἦσϑα
64 ἔσῃ
65 ἤμεϑα
Grego Antigo Instrumental | 147

Referências

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Stoughton; New York McGraw Hill, 2010. 292p. (Teach Yourself Books).
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