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FI LO
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Ι^_C3 M .A. I .A.
I A brunofregnibassetto
HISTÓRIA EXTERNA
DAS LÍNGUAS ROMÂNICAS
|e d usP
Bruno Fregni Bassetto, professor
prática de docência.
|e d usP
E D IT O R A DA U N IV E R S ID A D E D E S Ã O P A U L O
C O M IS S Ã O E D IT O R IA L
FILOLOGIA
ROMANICA brunofregnibassetto
VOLUME I
Ia edição 2001
2a edição 2005
2a edição, Ia reimpressão 2013
Bibliografia.
ISBN 978-85-314-0601-0
00.5383 CDD-440
Direitos reservados à
Abreviaturas ...................................................................................................................11
P refácio.................................................................................................. 13
Introdução........................................................................................................................17
Conceito de Filologia R om ânica................................................................ 17
Diacronia das Línguas R o m ân icas........................................................................41
4. A R o m â n ia .............................................................................................................177
Conceito de R om ânia.............................................................................................177
Períodos da România ............................................................................................ 179
România Antiga ............................................................................................... 179
România Medieval .......................................................................................... 179
România Moderna .......................................................................................... 181
Fases da Evolução das Línguas R om ânicas........................................................ 183
Fase Latina ....................................................................................................... 184
Fase Romance ................................................................................................... 185
Fases das Línguas Românicas M odernas...................................................... 186
Classificação das Línguas R om ânicas................................................................ 248
Classificação de Friedrich D i e z .....................................................................249
Outras C lassificações......................................................................................250
A România Contínua ......................................................................................256
Características e Inter-relacionamento das Línguas Românicas ......................260
Balcano-Romance............................................................................................ 260
Reto-Romance ................................................................................................ 263
Ítalo-Romance...................................................................................................264
Galo-Romance ................................................................................................ 265
Ibero-R om ance................................................................................................ 270
Bibliografia ..................................................................................................................275
SUMÁRIO I 9
A b r e v ia t u r a s
prefácio 15
In t r o d u ç ã o
CONCEITO DE FILOLOGIA
[...] και Λακεδαιμόνιοι Χ'ιλονα και των γερόντων έποίησαν, ήκιστα φιλόλογοι
δντες [...]·
[...] e os espartanos (homenagearam) a Quilon e o colocaram entre os gerontas, embora fossem bem
pouco filólogos [...]
Sabe-se que Quílon é um dos chamados sete sábios; foi poeta lírico e epis-
tológrafo, tendo vivido no século VI a.C.. A fama lhe deu aquela dignidade por parte
de seus conterrâneos, conhecidos como bem pouco dados ao cultivo da palavra.
Nessa passagem, “filólogo” conserva o significado etimológico de “amigo da
palavra” ou que gosta de falar ou de ouvir.
Há outras ocorrências do vocábulo em Aristóteles e sobretudo em Platão
(Teeteto, 146a; Fedro, 236e; Leis, 641 e; República, 582e; Laques, 188e). Nenhum
desses tópicos, porém, é suficientemente claro quanto ao conteúdo semântico de
“filólogo”. Veja-se, por exemplo, o seguinte:
Minha posição, ό Níquia, é simples em relação às palavras. Ou se quiseres, não simples mas
dupla. Pois tenho a impressão de amar as palavras e também de odiá-las.
Nesse texto, como em outros de Platão, “filólogo” não parece ter significado
específico ou técnico; acontece o mesmo com termos afins, como πολύλογος e
βραχύλογος, respectivamente, “que fala muito” ou “loquaz” e “de fala curta” ou
Postea autem quam haec coepi φιλολογώ τερα, iam Varro mihi denuntiaverat magnam
sane et gravem προσφώνησιν. (AciAllicum, XII, 13,3)
Mas depois que dei início a essas obras mais cuidadas literariamente, Varrão já me anun
ciara uma grande e certamente profunda consagração.
Cícero compara os discursos que antes escrevia com obras de outros gêneros
que passou a escrever e considera as últimas “mais filológicas” que as primeiras.
Conhecemos o caráter altamente literário de seus discursos; qual será então o signi
ficado desse comparativo? Levando-se em conta o caráter mais pragmático do gêne
ro oratório, “mais filológico” parece estar relacionado à gratuidade dos temas abor
dados, como o destino, a amizade, a velhice e a natureza dos deuses, no qual se busca
apenas a cultura e o exercício do raciocínio. Cícero não traduziu nem transliterou o
termo grego certamente por não encontrar no latim um correspondente. No mesmo
Ad Atticum, o termo volta a ocorrer, mas em caracteres latinos:
Ergo illam Α καδημικήν, in qua homines nobiles illi quidem sed nullo modo philologi
nimis acute loquuntur, ad Varronem transferamus. (XIII, 12,3)
3. República, 582e.
INTRODUÇÃO j 19
Portanto, transfiramos para Varrâo aquela Acadêmica, na qual aqueles homens, nobres sem
dúvida, mas de forma alguma filólogos, falam de modo por demais contundente.
Cícero distingue nobreza e cultura; os homens são nobres, mas não têm o refi
namento intelectual requerido pelo ambiente acadêmico - não são filólogos, o que é
denunciado pelo modo de falar. O mesmo conteúdo semântico têm as ocorrências do
termo em Ad Familiares, XVI, 21, 4 e Ad Atticum, 11,17.
Foram inventariadas 56 ocorrências em autores gregos e latinos, sobretudo em
Estrabão (séculos I a.C.-I d.C.), Arriano (século II d.C.), Ateneu (séculos 11-111 d.C.),
Longinus (213-273 d.C.), Plutarco (42-126 d.C.), Estobeu (450-500 d.C.), além dos
já citados. O nosso vocábulo é usado com o significado de “amigo do estudo ou do
conhecimento”, “amante da leitura” e, algumas vezes, “amigo da palavra falada”
(como em Plutarco - Vidas Paralelas, — Catão Maior, 22, 1-2). Quase sempre,
porém, o termo está relacionado a homens de letras e autores de qualquer tipo de obra
escrita. Encontra-se também “filologia” e, mais raramente, “filologar” (como em
Arriano - Dissertationes Epitecti, III, 10, 10-11; Ateneu - Os Deipnosofistas, 160 e-
f), no sentido de “dissertar com erudição”.
Gaius Suetonius Tranquillus, historiador romano do tempo dos imperadores
Trajano e Adriano (séculos l-II d.C.), em De Grammaticis et Rhetoribus, parte da
obra De Viris Illustribus, nos explica o que se entendia por “filólogo” em sua época:
tendo apresentado Lucius Ateius Praetextatus como nascido em Atenas, prisioneiro
de guerra em 86 a.C. e como tal levado a Roma, auxiliar de Salústio na montagem
de Breviarium Rerum Romanarum, por fim acrescenta: “[...] Philologus ab semet
nominatus”. O motivo dessa autodenominação está explicado numa carta que Ateius
Praetextatus escreveu a seu amigo Lélio Herma:
[...] escreveu ter conseguido grande avanço nas letras gregas e algum progresso nas latinas.
Philologi adpeilationem adsumpsisse videtur, quia sic ut Eratostbenes, qui primus hoc cog
nomen sibi vindicavit, multiplici variaque doctrina censebatur. Quod sane ex commentariis eius
adparet, quanquam paucissimi extent; de quorum tamen copia sic altera ad eundem Hermam epis
tola significat: “Hylen nostram alliis memento commendare, quam omnis generis coegimus, uti scis,
octingentos in libros!”. (De Gram. eI Rhet., 5-10)
Parece ter tomado a denominação de Filólogo porque, como Eratóstenes, que por primeiro
reivindicou para si próprio esse cognome, era considerado por seu multiplice e variado conheci-
Eratóstenes (275-194 a.C.), de quem fala Suetônio, era de Cirene na Líbia, norte
da África; foi discípulo de Calímaco (século 111 a.C.) e de Lisânias, também tutor real a
convite de Ptolemeu, o Euergetes, e depois chefe da famosa biblioteca de Alexandria,
sucedendo a Apolonius Rhodius. E considerado o sábio mais versátil de seu tempo. Os
especialistas alexandrinos contemporâneos chamavam-no βήτα, isto é, muito próximo do
máximo, e também o denominavam κένταθλος, isto é, aquele que se distingue em todos
os gêneros ao mesmo tempo. Esse expoente da humanidade considerava que “filólogo”
era o adjetivo que melhor o caracterizava, no que foi seguido por Ateius Praetextatus.
Considerando-se que, a julgar pelos poucos fragmentos de que dispomos, o
melhor da obra de Eratóstenes versa sobre Geografia, não é correto restringir o
campo do filólogo romano ou grego à literatura ou às artes. Eratóstenes e Ateius são
sábios, que dispunham de amplos conhecimentos sobre “todos os gêneros”, isto é,
todos os ramos da Ciência, obviamente incluindo gramática e problemas de lingua
gem. Nesse contexto, “filólogo” tem um conteúdo semântico bem específico.
Entretanto, outros textos mostram que persiste a ausência de univocidade do
termo, embora as discrepâncias semânticas não sejam tão aberrantes. Considere-se o
seguinte texto de Lucius Annaeus Seneca (4 a.C./ 1 d.C.-65), em que se esclarecem
as especialidades do “filósofo”, do “filólogo” e do “gramático”:
Cum Ciceronis librum dc re p. prendit hinc philologus aliquis, hinc grammaticus, hinc
philosophiae deditus, alius alio curam suam mittit. Philosophus admiratur contra iustitiam dici tam
multa potuisse. Cum ad hanc eandem lectionem philologus accessit hoc subnotat: duos Romanos
reges esse quorum alter patrem non habet, alter matrem. Nam dc Serui matre dubitatur: Anci pater
nullus, Numae nepos dicitur.
Praeterea notat eum quem nos dictatorem dicimus et in historiis ita nominari legimus, apud
antiquos magistrum populi vocatum. Ilodieque id exstat in auguralibus libris et testimonium est,
quod qui ab illo nominatur magister equitum est. Aeque notat Romulus periisse solis defectione;
provocationem ad populum etiam a regibus fuisse: id ita in pontificalibus et aliqui sunt argui qui
putant et Fenestella. Eosdem libros cum grammaticus explicuit, primum verba expse-reapse dici a
Cicerone, id est re ipsa, in commentarium refert, nec minus sepse, id est, se ipse. Deinde transit ad
ea quae consuetudo sacculi mutavit, tamquam ait Cicero: “Quoniam sumus ab ipsa calce eius inter
pellatione revocati”. Hanc quam nunc in circo creiam vocamus calce antiqui dicebant. Deinde
Ennianos colligit uersos et in primis illos de Africano scriptos [...] Ennium hoc ait Homero se sub
ripuisse, Ennio Virgilium. (Cartas, Lv. XVIII, 30ss.)
Quando pega o livro de Cícero De Republica um certo filólogo aqui, um tal gramático ali,
acolá alguém dado à Filosofia, cada um revela ao outro sua preocupação. O filósofo se admira de
introdução | 21
que se tivesse podido afirmar tantas coisas contra a justiça. Quando o filólogo chega a esse mesmo
ponto observa o seguinte: há dois reis romanos, um dos quais não tem pai c o outro não tem mãe.
Pois pairam dúvidas sobre a mãe de Servus; não se conhece o pai de Ancius, sendo apenas consi
derado neto de Numa. Nota ainda que aquele a quem chamamos o ditador e lemos que assim era
denominado nas histórias, entre os antigos era designado por mestre do povo. Ainda hoje consta
nos livros de augurios e há prova de que, quem era designado por aquela expressão, de fato era o
mestre da cavalaria. Observa ainda que Rômulo morreu durante um eclipse do sol; que houve pro
vocação contra o povo da parte também dos reis: assim está nos (livros) pontificais c há alguns
peritos que pensam assim, como Fenestella4. Quando o gramático abre os mesmos livros, primei
ramente comenta que as palavras expse-reapse foram ditas por Cícero, isto é, “pela própria coisa”,
ainda mais sepse, isto é, “ele mesmo”. Passa depois para aquilo que o uso secular mudou, como
diz Cícero: “Pois fomos chamados de volta do fim da carreira por seu grito”. Aquilo que agora, no
circo, chamamos cretam (“cal”, “giz”) os antigos diziam calcem. Em seguida, reúne versos de
Ênio, em primeiro lugar aqueles referentes ao Africano. [...] Afirma que Ênio tirou isso de Homero
e Virgílio, de Ênio.
Ευθύς ούν οί φιλολογώτατοι των νεανίσκων επι τούς άνδρας ιεντο και
συνήσαν, άκροώμενοι και θαυμάζοντες αύτοΰς.
Então, os mais β /ólogos dos jovens se aproximaram logo e cercaram os homens, ouvindo-
os com atenção e admirando-os.
4. Fenestella (35 a.C.-36 d.C.) escreveu uma História Romana, em 22 livros, das origens até 57 a.C.. As cita
ções, que dele foram feitas, sobretudo por Ascônio, mostram ter tido grande autoridade antes do período
Ciceroniano. Os fragmentos que chegaram até nós revelam um acurado senso critico e grande dedicação ao
estudo dos problemas sociais e institucionais da Roma antiga.
Και πάλιν εν διαλέχει άποβλέποντες πρός τους παρόντας τάς μεν ιδιωτι
κός λέξεις παραπέμψομεν τήν δέ άστειοτέραν καί φιλολόγον συνήθεαιν
μεταδιώξομεν. ώς γάρ ή φιλολόγος γαλάται παρά τοΐς ’ιδιώταις, ούτως ή
'ιδιωτική παρά τοΐς φιλολόγοις.
Αλλά γάρ ά λις ΰπερ τής εις τά υψηλά των σχημάτων κρήσεως έκ παρεν-
θήκης τοσαΰτα πεφιλολογήσθαι, Τερεντιανέ φΐλτατε.
Muitos, porém, já dissertaram bastante, por digressão, sobre o uso das figuras em relação
ao sublime, caríssimo Terenciano.
Desses textos pode-se concluir que o termo “filólogo” denota, quase sempre,
uma idéia de refinamento intelectual, de amplos conhecimentos gerais ou específi
cos, de cultura em geral e de domínio da linguagem em particular. Entretanto, não se
chegou à univocidade do termo. Textos contemporâneos dos citados acima trazem o
termo em sua acepção não-específica, próxima da etimológica, como o tópico
seguinte de Ateneu, autor dos séculos II-I1I d.C., em Os Deipnosofistas, 39b:
INTRODUÇÃO | 23
Φησίν Άληξις καί ότι
οίνος
φιλολόγους πάντας
ποιεί τους πλείονα
πίνοντες αυτόν.
Zenão dizia dos alunos que uns eram filólogos, mas outros, logófilos.
Καί ó φιλόσοφος ó καθ ημάς συνέσται μέν έαυτώ τε καί τώ θεώ διά
φιλοσοφίας, συνέσται δέ τοίς άνθρώποις διά τών ύφειμένων του λόγου δυνάμεων.
Ε ο filósofo entre nós se encontrará consigo mesmo e com Deus através da filosofia; encon-
trar-se-á com os homens através das forças subjacentes à palavra. Terá, pois, conhecimentos como ■
filólogo; c, como filósofo, julgará tanto as partes como o todo.
Primus igitur, quantum opinamur, studium grammaticae in urbem intulit Crates Mallotes,
Aristarchi aequalis, qui missus ad senatum ab Attalo rege inter secundum et tertium Punicum bel
lum sub ipsam Ennii mortem, cum regione Palatii prolapsus in cloacae foramen crus fregisset per
omne legationis simul et valetudinis tempus, plurimas fecit adsidueque disseruit ac nostris exem
plum fuit ad imitandum. (2, 1-3)
Portanto, o primeiro, ao que saibamos, a introduzir o interesse pela gramática na Cidade foi
Crates de Maios, contemporâneo de Aristarco, que, enviado ao senado pelo rei Átalo entre a segun
da e a terceira guerra púnica, perto da própria morte de Ênio, tendo caído numa abertura do esgoto
na região do Palatino e quebrado a perna, durante todo o tempo da legação e da convalescença, pro
cedeu frequentemente a leituras públicas e dissertou com frequência, dando aos nossos um exemplo
a ser imitado.
A visita de Crates a Roma foi em 168 a.C.; ele foi o primeiro diretor da biblio
teca de Pérgamo e escreveu sobre Homero, Hesiodo, Eurípedes e Aristófanes, entre
outros, sob uma perspectiva filosófica e conservadora. Não era, portanto, um simples
“gramático”, isto é, alguém que só se preocupava com problemas especificamente de
língua, segundo a caracterização de Sêneca. A dificuldade consiste em precisar o
conteúdo semântico de “Gramática”. Ainda no De Grammaticis et Rhetoribus, 4, 2,
Suetônio informa:
i
INTRODUÇÃO j 25
Appellatio grammaticorum Graeca consuetudine invaluit sed initio litterati vocabantur.
Esse texto confirma a sabida influência grega sobre a cultura latina e nos
ajuda a recompor a terminologia do ponto de vista histórico, já que semanticamente
se fica na mesma: γράμμα, γράμματος é littera em latim. Suetônio fornece outros
esclarecimentos:
Cornelius quoque Nepos libello quo distinguit litteratum ab erudito, “litteratos vulgo quidem
appellari” ait “eos qui aliquid diligenter et acute scienterque possint aut dicere aut scribere”, ceterum
proprie sic appellandos poetarum interpretes, qui a Graecis grammatici nominentur. (//;., 4, 2-3)
Também Cornelius Nepos, no livrinho em que distingue literato de erudito, afirma que
comumente são chamados literatos os que são capazes de dizer ou escrever algo de modo especial,
com profundidade e conhecimento de causa, aliás devendo ser assim chamados propriamente de
intérpretes dos poetas, aqueles que seriam denominados gramáticos pelos gregos.
Tendo-se lido para ele Sobre os Princípios e O Amante de Antigiiidades de Longinus, diz
ele: “Longinus é filólogo, mas filósofo de modo algum”.
Este episódio mostra que os especialistas sabiam delimitar com bastante pre
cisão os diversos campos do conhecimento e não admitiam intromissões. Cassius
Longinus faz análise literária de Platão c, por isso, é “filólogo” e não “filósofo”, já
que não discute suas idéias. Por outro lado, Eunapius (345-420 d.C.), em Vita
Sophistarum, chama Iionginus “biblioteca viva e museu ambulante”, o que o torna
um erudito, um filólogo como Eratóstenes e Atcius. Contudo, os comentários
literários que levaram Plotino a qualificar Cassius Longinus de “filólogo” pertence à
seara própria do “gramático” grego ou do “literato” latino, segundo Suetônio. Pelo
que se conhece de Cassius Longinus, pode-se dizer que o filólogo desse período é
também, ou pode ser, analista c crítico literário, ramo que faz parte do universo cul
tural do “sábio” ou do “erudito”, segundo os padrões da época. Em nenhum dos
6. Cf. Festugière, Proclus: commentaire sur le Timée, Paris, URIN-SNRS, 1966, p. 124 (Proclus, 87, 14-15).
INTRODUÇÃO I 27
autores pesquisados encontrou-se qualquer referência à pesquisa etimológica,
semântica ou formal do léxico como atividade característica ou própria do filólogo,
que eventualmente pode exercê-la.
Quando o cristianismo se impõe, começa a rarear a ocorrência do termo. Não
é encontrado em Santo Agostinho (354 a 430), ou em Anicius Manlius Severinus
Boethius (480-583), nem em Izidoro de Sevilha (602-634), cujas Etymologiae, quase
enciclopédicas, não fazem qualquer menção a filólogo ou à filologia. Desse período,
destaca-se apenas Martíanus Capella com De Nuptiis Mercurii et Philologiae, da
primeira metade do século V: a Filologia, cercada ancilarmente pelas sete artes, sobe
ao céu para se casar com Mercúrio, o deus da eloqüência. Capella é apenas um com
pilador; na segunda parte, trata superficialmente das sete artes. Filologia em Capella
deve ser entendida no sentido grego, de conhecimentos vastos e múltiplos, com
inclusão das artes em geral e da literatura em particular.
Tudo indica, pois, que o termo “filólogo” deixou de ser corrente a partir do
século VI no Ocidente. A nova mentalidade cristã levou os estudiosos a outra visão
do mundo, a outra mentalidade dominada sobretudo por problemas religiosos; tenta
va-se suprimir tudo o que não se pudesse cristianizar. Também a cultura greco-latina
passou por esse crivo; textos clássicos eram copiados por necessidade didática, ser
vindo de modelo estilístico no aprendizado do latim, e isso para um número relativa
mente pequeno de aficcionados, sobretudo da classe alta. O próprio clero desconhe
cia o latim, tanto que o papa Zacarias (741-752) se viu obrigado a reconhecer como
válido o batismo administrado com a fórmula: “In nomine de Patria, et Filia et
Spiritua Sancta.”
A tentativa de Carlos Magno (768-814) de reverter essa situação não produziu
os resultados esperados, como também a reforma de Cluny, no século XI. Enquanto
uma restrita intelectualidade ainda se dedicava ao latim, a língua e a literatura gregas
eram praticamente esquecidas em toda a Europa. Apenas com os primeiros movimen
tos do Renascimento, voltam a ser estudadas; assim, em 1396, Emmanuel Chrysolora
vem de Constantinopla a Florença como professor de grego, depois de um hiato de
700 anos.
Nos séculos XV e XVI, surgem renomados humanistas e a filologia é retoma
da com a pesquisa “real” dos antigos, buscando uma explicação compreensiva dos
textos. Nessa perspectiva, é preciso citar especialmente a trilogia formada por José
Justo Escalígero (1540-1653), Cláudio de Saumaise (1588-1653) e Isaac Casaubon
(1559-1614). Ligado a esses três e, de certa forma, seu guia, Júlio César Escalígero
(1484-1558), exerceu grande influência tanto pela disputa mantida com Erasmo de
Roterdam (1467-1536) como por suas edições das obras deTeofrasto e de Aristóteles,
a publicação dos seus Poetices Libri VII (1561), de teoria literária, e o De Causis
Linguae Latinae, considerada a primeira proposta de uma gramática latina específi-
INTRODUÇÂO I 2 9
cimento humano, como a geografia, a história, a filosofia, a mitologia, a teodiccia c
outras especialidades, se faz quando o conteúdo especifico do texto o exigir.
Entretanto, entre essas posições encontram-se muitas variações, tanto que mui difi
cilmente se encontram duas definições iguais de filólogo ou de filologia. A maior
diferença está na amplitude semântica do termo, que vai desde “sábio”, com conhe
cimentos cm todos os ramos da ciência, ate àquele que estuda apenas a palavra escri
ta. Rccordcm-se os graus litterator, litteratus, grammaticus c philologus entre os
romanos c γραμματιστής, γραμματικός c φιλόλογος entre os gregos. Moder-
namente, essas distinções perderam o significado e surgiram outras denominações,
como glotólogo, lingüista etc. Não poucos qualificados de filólogos seriam apenas
literatos ou gramáticos entre os antigos; outros, ao contrário, são mais merecedores
do qualificativo “filólogo” que os antigos, cm vista da gama mais ampla de conheci
mentos de que dispõem.
Os séculos XVII c XVIII foram produtivos cm relação aos estudos lingüísticos
em geral: publicaram-se gramáticas, devendo-se destacar a Grammaire Générale et
Raisonnée (“Gramática Geral e Razoada”) de Port Royal; há muitos estudos de
fonéticas, muitas propostas de reforma ortográfica, pesquisas e teorias sobre a
origem das línguas (devendo-se destacar Giambattista Vico (1668-1744) com
Scienza Nuova), questões estilísticas (as famosas Remarques de Vaugelas), abor
dagem filosófica da linguagem (Hobbes, Spinosa, Locke, Leibniz, Condillac), inter-
relações das línguas c outros aspectos. São, porém, muito esparsas as referências à
filologia, já que esses séculos são eminentemente teóricos.
O conhecimento do sânscrito, aprofundado no século XIX, é um marco impor
tante na história do estudo da linguagem e da filologia. As primeiras alusões ao sâns
crito estão em algumas cartas de Sassetti, do século XVI. Mcncionc-se também a
publicação Memória, do jesuíta Coeurdoux, que teve alguma repercussão, tanto que
o abade Barthélemy, de Paris, lhe pediu uma gramática c um dicionário sânscritos,
em 1763. Contudo, o interesse pelo sânscrito se generalizou entre os estudiosos com
a comunicação que William Jones fez à Sociedade Asiática de Bengala, em 1786, na
qual refere as relações observadas entre o sânscrito de um lado, e o grego, o latim, o
celta, o gótico e o antigo persa, de outro. Ainda no século XVIII, Paulin de Saint-
Barthélemy, por dezesseis anos (1774-1790) missionário cm Malabar, publicou
várias obras sobre o sânscrito: Grammatica Sanscridana (Roma, 1790) c De antiqui
tate et affinitate linguae zendicae, sanscridanae et germanicae (Pádua, 1799).
Embora se publiquem gramáticas do sânscrito na Inglaterra, como as de Carrey,
Forster, Colebrooke e Wilkins, e até um dicionário (Wilson), é em Paris, no Colégio
da França, que surge o grande centro de investigação do Sânscrito sob a direção de
Silvestre de Sacy, em 1806. Com ele, pesquisam e trabalham Alexander Hamilton,
Chézy, Quatremère, Rémusat, Fauriel, os irmãos Schlegel, Humboldt e Franz Bopp.
7. Para Raynouard, as línguas românicas não derivaram diretamente do latim; mas do latim vulgar se derivou
uma “ língua romana”, que ele identifica com o provençal e do qual as outras línguas seriam derivadas.
Aliás, já Dante Alighieri, no De Vulgari Eloquentia, afirmara que o provençal é a língua-mãe do italiano e
do castelhano.
INTRODUÇÃO
Friedrich Diez (Giessen, 1794 - Bonn, 1876), formado segundo os princípios
do romantismo alemão, aplicou às línguas românicas o método histórico-comparati-
vo que Franz Bopp usara no estudo das línguas indo-européias e Jacob Grimm no das
línguas germânicas. Diez começou estudando obras castelhanas antigas, resultando
Altspanische Romanzen, de 1818; passou depois ao provençal, a conselho de Goethe,
a quem fizera a visita quase obrigatória a todos que tivessem alguma pretensão
acadêmica; segundo indicação de Goethe, começou pela leitura das obras de
Raynouard. Resultaram desse estudo Die Poesie der Troubadours (“A Poesia dos
Trovadores”), de 1826; Leben und Werke der Troubadours. Ein Beitrag zur nãheren
Kenntnis des Mittelalters (“Vida e Obras dos Trovadores. Uma Contribuição para um
Conhecimento mais aproximado da Idade Média”), de 1829. Do provençal e do
castelhano, Diez passou a estudar outras línguas românicas e, entre 1836 e 1843,
publicou sua Grammatik der romanischen Sprachen (“Gramática das Línguas
Românicas”), em três volumes; e em 1854, Etymologisches Wòrterbuch der romanis
chen Sprachen (“Dicionário Etimológico das Línguas Românicas”). Logo na
primeira página de sua Gramática, Diez faz derivar diretamente do latim vulgar as
seis línguas românicas, que ele havia considerado como tais entre todas as variedades
estudadas. O ponto de partida das línguas românicas é a língua falada pelos romanos,
não a forma escrita, literária, diferentemente do que pensaram Dante Alighieri e
Raynouard. Por isso F. Diez é considerado o pai da Filologia Românica.
As lacunas da obra de Diez, compreensíveis em um pioneiro, foram elimina
das por Wilhelm Meyer-Lübke (1861-1936). Com sua Grammatik der romanischen
Sprachen (Leipzig, 1890/1892), título idêntico ao da gramática românica de Diez,
amplia consideravelmente o campo românico, pois estuda e inclui todas as línguas e
dialetos. Concebida dentro dos princípios dos neogramáticos, essa Gramática ainda
hoje representa a mais segura codificação da romanística, embora superada em
alguns aspectos, sobretudo fonéticos. Seu Romanisches Etymologisches Wòrterbuch
(“Dicionário Etimológico Românico”), publicado entre 1911 e 1920, embora não
contenha ainda todo o vocabulário românico, continua fundamental para a romanís
tica; completa e supera o de Diez e o Lateinisch-romanisches Wòrterbuch de G.
Kõrting (1845-1913). Apesar de sua formação neogramática, perceptível também em
outras obras como a sua Italienische Grammatik (“Gramática Italiana”) de 1890 e
Einführung in das Studium der Romanischen Sprachwissenschaft (“Introdução ao
Estudo da Lingüística Românica”), Meyer-Lübke soube avaliar e aceitar as contribui
ções de correntes novas, como a Geografia Lingüística e Wõrter und Sachen
(“Palavras e Coisas”), da qual foi um dos fundadores.
No âmbito da dialetologia românica, destaca-se Graziadio Isaia Ascoli (1829-
1907), com Saggi Ladini (“Ensaios Ladinos”) (1873), mostrando que o rético, mesmo
fragmentado dialetalmente, constitui de fato uma língua e não apenas ebenbiirtige
INTRODUÇÃO | 33
Levando em conta a posição de destaque de Saussure e a grande aceitação que
teve sua teoria lingüística, convém analisar com mais detalhe o que diz sobre o con
ceito de Filologia, em Cours de Linguistique Générale, obra póstuma, publicada por
dois discípulos seus - Charles Bally (1865-1947) e Alberto Sechehaye (1870-1946)
- e m 1916, com base em anotações de aulas. Aí Saussure estabelece as seguintes
fases do estudo da linguagem:
A primeira fase é assim caracterizada:
Grammaire, inaugurée par Ics grccs, continuée principalement par les français - fondéc sur
la logique et depourvue de toute vie scientifique et désintéressée sur la langue elle-même.
Gramática, inaugurada pelos gregos, continuada sobretudo pelos franceses - fundada sobre
a lógica c desprovida de qualquer vida científica e desinteressada da própria língua.
Não parecem justas essas afirmações; basta considerar o caráter não normati
vo da Gramática de Dionísio Trácio, a primeira a surgir no Ocidente. Também não se
pode ignorar totalmente a tradição gramatical latina, embora sua contribuição não
seja altamente considerável; dizer que os franceses foram os principais continuadores
dos gregos é desconhecer a escola irlandesa dos séculos V-VII, além das escolas
árabes de Kufah e Bassora, por exemplo. E também, no mínimo, um exagero negar
aos estudos gramaticais e lingüísticos dos gregos todo caráter cientifico.
A fase seguinte é a filológica:
Ensuite parut la philologie. II existait déjà à Alexandrie une école “philologique”, mais ce
terme est surtout attaché au mouvement scientifique créé par Friedrich August Wolf à partir de 1777
et qui poursuit sous nos ycux.
La langue n’cst pas 1’unique objet de la philologie, qui veut avant tout fixer, interpreter,
commenter Ies textes; cette première étude amène à s’occuper aussi de 1’histoire littéraire, des
moeurs, des institutions etc; partout eile use de sa méthode propre, qui est la critique. Si elle abor
de Ies questions linguistiques, c’est surtout pour comparer des textes de différentes époques, deter
miner la langue particulièrc à cltaque auteur, déchiffrer et expliquer des inscriptions dans une langue
archalque et obscure. (Cours, p. 13-14)
A língua não é o único objeto da filologia, que pretende, antes de tudo, fixar, interpretar e
comentar os textos; esse primeiro estudo faz com que se ocupe também com a história literária, cos
tumes, instituições etc.; em toda parte ela usa seu método próprio, que é a critica. Se aborda as
questões linguísticas, é cspecialmente para comparar textos de épocas diferentes, determinar a lín
gua particular de cada autor, decifrar e explicar inscrições numa língua arcaica e obscura.
Para Saussure, portanto, a filologia é a ciência que estuda textos e tudo quanto
for necessário para tornar esses textos acessíveis: a língua utilizada e todo o universo
cultural que essa língua representa; isso implica o conhecimento de uma série conside
rável de outras ciências, como história, geografia, epigrafia, paleografia, hermenêuti
ca, exegese, edótica, literatura etc. Daí, o filólogo “deve avere un’emdizione molto
introdução | 35
vasta”, resume Cario Tagliavini8. Esse enfoque evoca as figuras de Eratóstenes,
Longinus e Ateius, que tinham o mesmo conceito de filologia; a diferença entre um
filólogo clássico e um moderno está nos meios e no instrumental técnico à disposição
do moderno, além da ampliação enorme dos campos do conhecimento, que os séculos
foram operando. Hoje é praticamente impossível alguém dominar todos os ramos do
conhecimento. Mudaram-se, portanto, as condições gerais, a humanidade progrediu
cada vez mais rapidamente até chegar ao avanço vertiginoso atual da ciência. Nessa
perspectiva, o que Saussure considera filologia se afigura como algo lógico, e não que
bra o conteúdo semântico do termo, transmitido pela biografia do termo.
Uma pesquisa a respeito das definições de “filologia” em autores renomados
mostra que o termo continua polissêmico. Se cada autor dá sua definição, como veri
ficou Emílio M. Martínez em seu Diccionario Gramatical, s.v., é porque, segundo
Ernest Renan:
La philologie est, de toutes le branches de Ia connaissancc luimaine, celle dont il est le plus
difficile de saisir le but et runité9.
A filologia é, dentre todos os ramos do conhecimento humano, aquele do qual é mais difí
cil depreender a finalidade e a unidade.
CONCEITO DE ROMÂNICO
Entendida como ficou definida, a filologia pode ser germânica, clássica, esla
va, românica etc., conforme seu objeto específico. Assim, a filologia será “români-
INTRODUÇÃO 37
ca” se tiver como objeto específico as línguas e os dialetos que se originaram do
latim vulgar, e suas respectivas literaturas de qualquer espécie, desde as origens até
sua situação atual.
“Românico” é um derivado parassintético de “romano”, que é por sua vez pro
veniente de “Roma”. Os habitantes de Roma eram chamados “Romani”, em oposi
ção aos “Latini” e, posteriormente, a outros povos do Império Romano. Os latinos
eram os habitantes da planície do Latium, um povo de origem mista, vivendo em
numerosas comunidades pequenas, “populi”; nos séculos VI-IV a.C., foram se agru
pando em associações maiores, cujos fundamentos eram religiosos; a maior delas foi
a de Júpiter Latiaris, no Monte Albano, presidida por Roma. A partir do século III
a.C., Roma se impôs sobre os demais povos, tornando mais distintos os conceitos
“latino” e “romano”. “Romano” tinha, origínariamente, um conteúdo étnico e políti
co, como nas expressões “civis Romanus” ou “populus Romanus”. Depois, com a
expansão do Império, o direito civil manteve em evidência o significado político de
“Romano”. Com o edito de Caracala, de 212 d.C., que concedeu a cidadania romana
a todos os habitantes livres do Império, todos passaram a ser chamados romanos; o
termo assumiu um conteúdo coletivo e passou a designar os povos mais diversos.
Do ponto de vista linguístico, todos os que falavam latim eram chamados
“Romani” em qualquer parte do Império. Desse fato surgiu o derivado România
(roman(us) + -ia), da mesma foram que se formaram Gallia, Lusitania, Britannia etc.,
para designar o conjunto dos territórios onde se falou latim e, posteriormente, os ter
ritórios onde se fala uma língua românica. O termo aparece pela primeira vez em
Paulo Orósio, no século V, num tópico em que afirma ser intenção de Ataulfo, o
Godo, fazer nascer a Gótia sobre as ruínas da România. As antigas denominações
Imperium Romanum, Orbis Romanus são substituídas pela nova designação.
Com a queda do Império Romano no século VI, “Romanus” e “Romania”
ficaram semanticamente restritos ao campo lingüístico e cultural; “Romani” desig
nava os que falavam uma língua derivada do latim - uma “Romana Lingua”. Essa
expressão está documentada no Art. 17 dos cânones do Concilio de Tours, do ano
813, no qual se ordena aos pregadores em geral e aos bispos em particular que tradu-
zam suas homílias “in rusticam Romanam linguam aut Thiotiscam” (ver texto com
pleto à p. 173).
Os mesmos dizeres são novamente encontrados no II Concilio de Reims, reu
nido naquele mesmo ano na antiga Durocortorum Civitas Remorum; o cânon XV
não cita diretamente uma variedade lingüística “romana rustica”, mas ordena que
os sermões e as homílias sejam proferidos “secundum proprietatem linguae”
(“segundo as diferenças de língua”). Entretanto, ο I Concilio de Mogúncia, realiza
do em 847, volta a repetir a mesma prescrição, exatamente com os mesmos termos,
do Concilio de Tours.
port. romance
ant. cast. romanz e romance
ant. prov. romans
ant. fr. romanz
rét. rumantsch e romontsch
it. romanzo
INTRODUÇÃO I 39
semântica do termo, de designativo da língua utilizada para o próprio texto. Nessas
narrativas predominava a emoção, não raro exagerada, proporcionando ao termo
“romântico”, dado aos apreciadores dessa literatura, uma conotação pejorativa. Com
J. G. von Herder (1744-1803), que deu ao romantismo um valor estético próprio, res
peitável; com os irmãos Grimm, que recolheram contos, narrativas e lendas entre
lenhadores e carvoeiros, e com von Arnim e Brentano, que fizeram o mesmo com os
cantos populares, o movimento romântico se firmou. Formaram-se com isso novos
campos semânticos, com base em “romano”.
A denominação România continuou sendo usada em regiões do antigo
Império Romano, em que não surgiu um centro de projeção maior que lhes impuses
se outro nome. É o que se verifica na Península Balcânica, onde se encontra a
Romênia, no território da antiga Dácia, e cuja língua se chama limba romana ou
romaneascã; os habitantes da região ao sul do Danúbio são chamados aromâni, e os
de uma pequena região do nordeste da Península da Istria se denominam rnmeri.
Essas denominações supõem um período em que todos os habitantes dos Bálcãs eram
chamados simplesmente de “romani”; não tinham nenhum laço político estável, por
serem nômades e, por isso, o rom. român tem o significado também de “pastor” e
“escravo”, conteúdo semântico dado pelos dominadores eslavos. A falta de centros
políticos, administrativos e comerciais fez com que os habitantes da antiga Récia
também atribuíssem a si mesmos o nome de “romani” por oposição aos “barbari”;
daí proveio rumantsch ou romontsch com que se designa a variedade lingüística dos
Grisões na atual Suíça, além do nome do próprio povo: pievel romontsch.
O nome “România” continua ainda na província italiana da Romagna
(< Romania), nome atribuído por Constantinopla no período em que essa província
italiana fazia parte do Império do Oriente, e assumido pelos vizinhos lombardos.
Além dos já citados, em diversos campos semânticos, Roma e Romano deram
origem a um número considerável de derivados. Ficando apenas no português, por
motivo de brevidade, tomado como exemplo, encontram-se;
romã, de romana mala, “fruta romana” (antes de 1377), com os derivados ver
náculos romanal, romãzeira, romeira, romãzeiral·,
romagem (< prov. romeatge (1533));
romaico (< ρομα,ικός, grego mod., “relativo a Roma ou aos romanos”);
romança (< it. romanza', daí a variante romanza);
romanceiro (< cast. romancero);
romancista (1623), romancear (século XVII);
romanesco (< fr. romanesque\ século XIX);
romanidade',
romanin (< it. romanino, “moeda dos papas de Avinhão”);
Toda variedade lingüística pode ser estudada, sob o ponto de vista diacrônico,
em sua história externa ou interna. Sob o prisma da história externa, investigam-se a
origem da língua ou do dialeto, o território ocupado e possíveis expansões, as influên
cias do substrato, do superstrato e do adstrato, os fatos políticos, econômicos, sociais
e culturais que, de alguma forma, influíram em sua evolução; além disso, podem ser
importantes para a correta compreensão de sua evolução, o número de seus falantes,
o volume de obras que dela se serviram, a penetração de seu léxico, principalmente,
nos falares dos povos vizinhos etc. Este é o objeto de estudo do presente volume.
A história interna estuda a língua em sua evolução interna, ou seja, nos vários
níveis linguísticos - fonético, morfológico, sintático, léxico e mesmo estilístico até
INTRODUÇÃO 41
certo ponto. Em Filologia Românica, esses dois aspectos são pesquisados no latim e
suas variedades, sobretudo a vulgar, e nas línguas e dialetos românicos. Os textos
constituem a base de pesquisa; mas é importante que essa base seja realmente con
fiável. Essa confiabilidade é obtida através do trabalho filológico da Edótica, cujos
passos principais são indicados a seguir.
F il o l ó g ic o
CRÍTICA TEXTUAL
RECENSIO
14. C ódice designa um lexlo manuscrito, geralmente antigo, grafado em papiro ou pergaminho. Não se confun
de com nenhuma acepção de “ código” .
Recorde-se ainda que, naquele tempo, cada edição constava apenas de um exemplar,
escrito à mão; toda multiplicação era feita da mesma maneira. Os copistas, embora
frcqücntasscm escola específica existente cm Roma, erravam em seu trabalho por dis
tração, cansaço, má leitura e até por decisão própria. Se os próprios autores clássicos,
como Cícero c Marcial, se referem a obras suas com erros e defeitos, é possível ima
ginar o grande número de erros e defeitos de toda espécie nas cópias feitas durante
séculos, como nos 400 códices da De Consolatione Philosophiae, de Boethius16.
Nem sempre é fácil completar a recensio, sobretudo, se a obra estiver em
códices, que percorrem muitas vezes caminhos estranhos através de leilões, furtos,
doações c muitas circunstâncias estranhas. Como exemplos, Petrarca encontrou em
Liège, na França, dois discursos de Cícero, até então desconhecidos, um dos quais
era o Pro Archia·, Afrânio Peixoto arrematou manuscritos dos séculos XVII e XVIII,
que continham poesias de Gregório de Matos Guerra, num leilão em Lisboa. Os
manuscritos de Cláudio Manuel da Costa foram arrematados num leilão da bibliote
ca particular do poeta José Maria Herédia, em Paris, por Caio de Melo Franco.
COLLATIO CODICUM
O TRABALHO FILOLÓGICO I 45
ou texto literário, com que se altera o original, fato denominado “interpolação” e que,
segundo Lachmann, é suficiente para levar à eliminação do documento; contudo, as par
tes não contaminadas de um texto podem ajudar a se chegar mais perto do arquétipo ou
do original perdido. Outro princípio da crítica textual diz que “recentiores non sunt dete
riores” (“os mais recentes não são [necessariamente] os piores”), ou seja, um manuscrito
mais antigo, e assim supostamente mais próximo do arquétipo, não é necessariamente
melhor que um mais recente, pois este pode ter tido como fonte um códice mais perfeito
e completo que os demais. Cita-se como exemplo concreto dessa possibilidade o caso do
manuscrito P, do Livro de Alexandre, datado do século XV, considerado por especialistas
como Miiller e Llorach mais perfeito e íntegro que os testemunhos dos séculos XIII e XIV.
Se na tradição impressa a collatio é relativamente fácil pela multiplicação em
série, com manuscritos exigem-se minuciosos exames e procedimentos específicos.
Assim, caso um manuscrito apresente, em determinado tópico, a ausência de uma ou
mais palavras, ou algum termo deslocado ou ininteligível, e um outro manuscrito tem
furos ou borrões no mesmo tópico, infere-se com clareza que o primeiro é cópia do
segundo. Outros critérios são o confronto dos erros comuns, dos pontos críticos, das
interpolações etc., através dos quais é possível estabelecer as relações de “consangui
nidade” entre os diversos códices ou as famílias de códices.
Depois desse estudo, passa-se à classificação dos textos, segundo terminolo
gia própria: o texto original do autor se denomina autógrafo·, uma cópia imediata do
autógrafo é um apógrafo\ o texto existente ou postulado como fruto da reconstitui
ção e considerado o mais próximo do original, ou “o original das cópias existentes”,
tem o nome de arquétipo ou exemplar ceterorum na nomenclatura de Lachmann; sob
outro ponto de vista, o arquétipo também é chamado codex interpositus, por estar
situado entre o original e os manuscritos existentes. Como nem todos os manuscritos
provêm diretamente de um arquétipo, entre esse e um grupo de manuscritos por vezes
se interpõe um subarquétipo, existente ou reconstituído.
ESTEMÁTICA
Nem todos, porém, adotam esse sistema para designar os códices. Há os que os
indicam por meio da letra inicial do nome da instituição ou do lugar onde foram encon
trados, ou ainda do nome de seu proprietário, como se pode ver no estema dos manuscri
tos da Ars Grammatica, de Dionísio Trácio, no estabelecimento feito por Gustav Uhlig17:
(U)
____________________ |____________________
____(B)_
(C)
I I
V (E)
H____A
f
O TRABALHO FILOLÓGICO I 47
convenção edótica geral, não há esse problema, como se pode verificar no estema de
Ars Donati, de Louis Holtz; note-se que o autor indica a transmissão transversal não
por linha pontilhada, mas pela letra ou letras do “terminus a quo”, entre parênteses,
como por exemplo (G) (ver p. 49).
EMENDATtO
Eu asy como a amor do recebimento estendí os meus ramos e os meus ramos são de õrra e de graça.
O termo recebimento não faz sentido algum na frase. Como, porém, se trata de uma
citação bíblica, do livro do Eclesiástico, 24:22, facilmente se descobre o erro com o recur
so à fonte: “Ego quasi terebinthus extendi ramos meos, et rami mei honoris et gratiae.” O
termo “terebinto” era certamente desconhecido e estranho ao copista e por isso foi substi
tuído por outro que pareceu semelhante ao original, pelo menos ao próprio amanuense.
-L.
O
DONATO
Ano
500
600
700
800
900
1000
A emendatio ope conjecturae envolve a intuição do filólogo c o conhecimen
to profundo que deve ter do autor, da arte e da época do texto estudado. Essas quali
dades lhe permitem até recriar passagens mutiladas ou totalmcnte danificadas por
manchas, desgastes ou perfurações dos códices. Essa intuição vem sendo cientifica
mente amparada pela psicologia da cópia, ou melhor, pela psicologia da atenção. A
atenção é o suporte psicológico da boa ou má transcrição de qualquer texto. O can
saço, as interrupções do trabalho pelas mais diversas razões, as falhas de memória na
retenção dos segmentos a transcrever, os erros de leitura ocasionados pelos movi
mentos dos olhos do original para a cópia e vice-versa, a semelhança dos termos
parônimos, dos homógrafos heterofônicos e incontáveis outros motivos são objetos
da psicologia da atenção. O filólogo, conhecendo bem essa psicologia da atenção,
está em boas condições para a emendatio ope conjecturae.
Os erros podem ser também causados pela cultura, pela profissão, pelo sentimen
to patriótico, pela religião ou nacionalidade do copista. Assim, o copista culto, que conhe
cia o tópico de Virgílio, “summa papavera carpit” (Eneida, IV, 486), copiou “papavera”
em vez de “summa cacumina carpit” ao transcrever Ovidio. Termos mais raros e, por
isso, desconhecidos são substituídos pelos parônimos fonéticos, como no Miles
Gloriosus de Plauto, o copista substituiu heminas (v. 831) porfeminas (“venda de lã para
os olhos” e “mulheres” - numa indesejável modificação semântica, portanto). Um copis
ta de origem germânica escreverá, como pronuncia, suafis por suavis ou fotum por votum.
Um documento impresso do Auto das Barcas, de Gil Vicente, conservado na Biblioteca
Nacional de Madri, mostra que o tipógrafo desconhecia a língua com que trabalhava,
introduzindo grande número de castelhanismos como libros, estoy, tenemos, otra etc.
O fato de os copistas tentarem sempre tornar os textos mais inteligíveis, subs
tituindo o que lhes parece menos usual, levou Karl Lachmann ao princípio da “lectio
difficilior preferenda est facioliori” (“a leitura mais difícil deve ser preferida à mais
fácil”). O conhecimento que o filólogo deve ter do estilo do autor, das condições lin-
güísticas de sua época faz com que respeite o princípio do “usus scribendi”, aplica
do desde a época dos alexandrinos. O exemplo de respeito a esse princípio foi dado
por Aristarco, que consultava a “consuetudo” antes de se decidir por alguma varian
te dos manuscritos de Homero.
Na emendatio ope conjecturae, merecem atenção especial as interpolações,
mais freqüentes nos documentos de história e de direito, como também as glosas
explicativas, inserções de correções e anotações marginais no próprio texto da cópia;
mais complicantes são as glosas interlineares, mais facilmente incorporadas ao pró
prio texto. Mais comum é a substituição da palavra pela glosa, embora haja casos cm
que a palavra glosada se mantém.
Há ainda muitos aspectos que a emendatio deve levar devidamente cm conta;
o que se disse, porém, é suficiente para mostrar tanto as dificuldades como a impor-
CRÍTICA HISTÓRICO-LITERÁRIA
AUTENTICIDADE
O TRABALHO FILOLÓGICO 51
DATAÇÃO
Determinar a data, o ano ou, pelo menos, a época em que o documento foi
escrito pode ser muito útil para a compreensão de seu conteúdo, de sua forma,
finalidade e outros aspectos, já que um escrito, de uma forma ou de outra, é um
reflexo de sua época. Esse trabalho, porém, pode ser difícil e nem sempre conclu
dente, mesmo com uso de acurados critérios internos e externos. Quanto à datação
do Appendix Probi, por exemplo, divergem entre si Gaston Paris, W. A. Baehrens,
Sittl, Kübler, Ullmann e Foerster; entretanto, desse debate, levando-se em conta a
finalidade do Appendix, que seria preparar funcionários para o palácio imperial,
recrutados dentre a classe social mais baixa, conhecedora apenas do latim vulgar,
considerando-se ainda que, a partir do século IV, predominavam os cristãos nessa
classe social e a respeito dos quais não há qualquer referência, inferiu-se que o
documento deve ser anterior ao século IV. Fixou-se então seu aparecimento entre
200 e 320 d.C..
O próprio conteúdo da obra pode fornecer subsídios valiosos para sua data
ção. Assim, Octavius, uma apologia do cristianismo e uma das primeiras obras da
literatura cristã, de Marcus Minucius Felix (200-240 d.C.), faz referências ao discur
so de um inimigo declarado do cristianismo, um certo Fontanus; sabe-se que esse dis
curso contra os cristãos foi proferido em 170. Por outro lado, S. Cipriano cita várias
vezes o Octavius de Minucius Felix em Quod idola dii non sint, obra também de
caráter apologético. Embora seja difícil estabelecer a cronologia das obras de S.
Cipriano, pode-se tomar o ano de seu martírio, 258, como “terminus ad quem”; o
“terminus a quo” é dado pelo discurso de Fontanus, isto é, 170. Pode-se desse modo
afirmar com segurança que o Octavius foi escrito entre 170 e 258. Apesar da relati
va imprecisão, a datação estabelecida por esse processo filológico é perfeitamente
aceitável.
FONTES
CIRCUNSTÂNCIAS
O TRABALHO FILOLÓGICO I 53
ma probabilidade, que ele tivesse vindo de lá; assim, o autor do Appendix Probi
seria um africano, residindo em Roma e trabalhando em um paedagogium (“escola
para escravos”) de que talvez fosse proprietário. Esse paedagogium estava sem
dúvida situado no vico capitis A fricae, local em que havia um monumento em home
nagem à África, em forma de busto, monumento de cuja existência há outras ates-
tações. Conhecem-se também outras inscrições que atestam a existência dessa esco
la para escravos e nas quais se encontram os mesmos “erros” que o Appendix
corrige, como o de considerar caput Africae como expressão invariável, sem dúvida
pertencente à língua falada.
O conhecimento das circunstâncias torna mais acessíveis as Cartas Chilenas
sob vários aspectos. A situação político-social explica o anonimato da obra, bem
como o próprio título; era preciso satirizar, verberar a opressão, protestar contra o
exagero dos impostos, contra a “derrama” injusta, mas também evitar, se possível, as
represálias, através do disfarce de alguém supostamente distante, em Santiago do
Chile. O estilo e a forma em verso ligam o documento ao movimento cultural e à
época do Arcadismo. As circunstâncias políticas e sociais opressivas fazem brotar o
nativismo, que vai culminar com a Inconfidência Mineira. O cenário é Ouro Preto,
antiga capital da Província de Minas Gerais, principal produtor do ouro, tão deseja
do pela metrópole. Neste documento, os dados fornecidos pelos critérios internos são
comprovados pelos externos, principalmente pela História e Literatura.
SORTE
LINGUAGEM DO TEXTO
O TRABALHO FILOLÓGICO 55
pio em Mt. 5,3 - ή βασιλεία τω ν ουρανών, (“ο reino dos céus”) - fato que só
em Mateus ocorre 35 vezes contra apenas cinco no singular, além de numerosos
hebraismos léxicos, não deixam qualquer dúvida quanto à língua materna dos evan
gelistas. O apuro maior ou menor da linguagem está relacionado com o grau de cul
tura do autor, como se nota no grego mais burilado do médico Lucas, embora seja a
variedade usualmente comum; Mateus, João e Marcos usam a mesma “koiné”, mas
de forma mais simples e popular.
A linguagem deixa entrever as influências recebidas pelo autor, sua filosofia,
suas preferências léxicas e sintáticas, sua cultura, a provável filiação a algum movimen
to filosófico ou literário etc. No trabalho de Crítica Histórico-Literária, o filólogo des
tacará um ou vários aspectos, conforme o objetivo ou as necessidades de cada caso.
Encontram-se também casos particulares de linguagem tão específica que
quase chegam a constituir um idioleto ou idiolalia, como dizia Ascoli, isto é, uma lin
guagem caracteristicamente individual, embora haja também quem negue essa pos
sibilidade, argumentando que a língua é necessariamente coletiva. Contudo, se o
vocabulário, os torneios frasais, o estilo em geral tornarem um autor identificável
pela leitura de algumas linhas, não é ilógico falar de idioleto “lato sensu”; basta con
siderar casos como o de João Guimarães Rosa, sobretudo em Grande Sertão:
Veredas, Primeiras Estórias e Tutaméia.
AVALIAÇÃO CRÍTICA
Como último passo desta etapa, o filólogo fará uma avaliação crítica final da
obra sob dois aspectos: seu valor documental e seu valor literário. Um texto como o
Appendix Probi não tem valor literário; como documento, porém, é de grande valor
para os estudos românicos, porque apresenta duas normas latinas em oposição, uma
das quais, a vulgar, relaciona as formas que explicam as românicas correspondentes,
bem como as tendências fonéticas permanentes, como a síncope da pós-tônica, por
exemplo. Por outro lado, a Cena Trimalchionis do Satyricon de Petrônio apresenta
valor literário e estético com a caracterização cômica de um novo-rico; o aspecto lin
guístico desse texto é particularmente interessante para a Filologia Românica, preci
samente por ter Petrônio colocado na boca de Trimalquião vários vulgarismos que
conferem ao contexto um tom cômico, mas que, ao mesmo tempo, nos foram trans
mitidos, o que de outra forma dificilmente o seriam.
Há textos que, inegavelmente, juntam o valor documental ao literário, como o
De Bello Gallico de Caio Júlio César; o valor documental é histórico, étnico, político,
geográfico, estratégico-militar etc., enquanto o grande valor literário e estilístico da
prosa de César é universalmente reconhecida; portanto, um aspecto não exclui o outro.
EXEGESE DO PORMENOR
A Vulgata dá a essa passagem a seguinte tradução: Respondit Jesus et dixit ei: Amen, amen
dico tibi, nisi quis renatus fuerit denuo, non potest videre regnum Dei.
O TRABALHO FILOLÓGICO 57
Comparando a tradução da Vulgata, na qual se basearam muitas das traduções
correntes em varias línguas, com o texto original grego, percebem-se algumas incorre
ções significativas: em primeiro lugar, γεννάο μαι, voz média de γεννάω (“gerar”,
“fazer nascer”), tem o sentido de “criar”, “fazer nascer de si mesmo” e, como resulta-
tivo, “nascer”. Poder-se-ia também interpretar a forma do texto γεννηθή (subjuntivo
aoristo) como passiva - “se não for gerado” - sem maiores implicações semânticas. De
qualquer modo, não há no verbo grego nenhuma idéia de repetição, o que mostra a ine
xatidão da tradução latina “renatus fuerit”.
Descartada essa possível base verbal, o problema podería estar no advérbio
t άνωθεν, sintético formado de άνω, “em cima”, e da partícula que indica procedência
- θεν; o conteúdo semântico de άνωΐΐεν é, portanto, “vindo de cima” ou “de cima para
baixo”, exatamente o expresso pelo vocábulo quando se encontra nos clássicos, como
em Tucídides (4,75): ύδατος άνωθεν γενομένου... (“tendo-se originado uma chuva
de cima a baixo...”). Não se encontra nos clássicos nenhuma ocorrência do termo com
o significado de “outra vez” ou “novamente”. Entretanto, no grego comum e mais recen
te da chamada κοινή (διάλεκτος), o vocábulo pode ter adquirido o sentido secundá
rio de “outra vez” por ampliação semântica, conforme se pode inferir da pergunta de
Nicodemos. Note-se, contudo, que Nicodemos usa o termo δεύτερον (v. 4) e não
άνωθεν; aquele realmente significa “uma segunda vez” ou “outra vez”. Na resposta,
volta a ser usado o termo-chave, ao qual o interlocutor não havia dado a devida atenção:
Esse novo nascimento se faz “pela água e pelo espírito”, através da ação de Deus
e não pela volta ao seio materno, como o entendera Nicodemos, sem relação com aspec
tos físicos. Daí, não é exata a tradução da Vulgata, bem como de todas as baseadas nela
como a tão difundida no Brasil, de João Ferreira de Almeida:
Em verdade, em verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
Α λλά τότε μέν ούκ ε'ιδότες θεόν εδουλεύσατε τοις φύσει μή ούσιν θεοίς·
νύν δε γνόντες θεόν, μάλλον δέ γνωσθέντες ύπό θεού, πώς επιστρέφετε πάλιν έπι
τά άσθενή και πτωχά στοιχεία, οίς πάλιν άνωθεν δουλεύσαι θέλετε;
Outrora, é verdade, não conhecendo a Deus, servistes aos deuses que, na realidade, não o são.
Mas agora, conhecendo a Deus, ou melhor, sendo conhecidos por Deus, como é possível voltardes nova-
mente a esses fracos e miseráveis elementos, aos quais vos quereis escravizar outra vez?
O texto grego é particularmente interessante: usa duas vezes πάλιν e uma vez
ά ν ω θ ε ν . O primeiro é um advérbio, acusativo relacionai de *πάλις, substantivo da
família do verbo πέλομαί, “voltar”, “retornar”; o advérbio significava então inicial
mente “para trás” e depois “de novo”, significado único já nos tempos homéricos. Não
há, portanto, qualquer dúvida quanto ao conteúdo semântico desse advérbio.
Entretanto, o que mais chama a atenção no texto aos Gálatas é o fato de
πάλιν e de άνωθεν serem usados juntos, justapostos. Parece muito pouco prová
vel que se trate de simples pleonasmo, porque cada qual tem seu conteúdo semânti
co suficientemente definido, sem precisar perdê-lo no contexto frasal, através de uma
fusão pleonástica. Da mesma forma, o estilo do autor, Paulo, não leva a supor um
pleonasmo; escreve densamente, embora sem deixar de ser ágil. Ainda que conheces
se a retórica, declara não apreciar os artifícios da eloqüência humana (Ts. 1,5; 1 Cor.
2,4s; 2 Cor. 11,6). Portanto, ver nesse caso um pleonasmo não se coaduna com o esti
lo, a linguagem e a intenção do autor.
Pelo contexto, podemos atribuir a cada um dos termos seu significado etimo-
lógico: π ά λ ιν denota a volta à antiga escravidão, a falsos deuses e άνωθεν expres
sa a perda da dignidade de filho de Deus e herdeiro de seu reino (v. 6) e, portanto,
um rebaixamento; o vocábulo adquire com isso um valor semântico e expressivo
especial, certamente irredutível a um simples pleonasmo sem maior força significa
tiva. Em conclusão, a tradução correta e fiel desse tópico deve ser:
O TRABALHO FILOLÓGICO I 59
EDIÇÃO
EDIÇÃO CRÍTICA
EDIÇÃO DIPLOMÁTICA
EDIÇÃO PALEOGRÁFICA
O TRABALHO FILOLÓGICO I 61
Nos últimos decênios, os computadores vêm substituindo muitas dessas téc
nicas editoriais e de produção e reprodução de textos; trata-se de uma tecnologia
ainda em pleno desenvolvimento, mas que tem facilitado muito todo tipo de publica
ção. Dentre os muitos avanços, basta citar os bancos de dados que permitem ao com
putador corrigir automaticamente os erros de ortografia.
Sob outros pontos de vista, citam-se ainda outros tipos de edição, como:
a. Edição comentada
Ao texto são apostas explicações, esclarecimentos e notas sobre pontos presu
mivelmente obscuros, ou termos específicos ou técnicos, vocábulos polissêmicos,
alusões etc. A exegese do pormenor costuma ser de grande utilidade nesse contexto.
b. Edição escolar
As características desse tipo de edição são determinadas pelos objetivos visa
dos junto ao público-alvo. Deve ser facilitada e adequada à fácil compreensão de seu
conteúdo e tem, por isso, muitos pontos de contato com a edição comentada, deven
do apresentar muitas notas e explicações, sempre que se fizerem necessárias. O valor
de tais edições, sobretudo de obras literárias, é diminuído em razão da supressão de
tópicos considerados inconvenientes, o que lhes tira a integridade.
c. Edição popular
Os objetivos da edição popular são a difusão da obra em grande escala e a sua
consequente popularização. Além da adequação do próprio texto ao público-alvo,
este tipo de edição caracteriza-se sobretudo pelo emprego de papel mais barato, com
posição cerrada e formato compacto com o objetivo de diminuir os custos e tornar a
obra acessível ao povo em geral.
F il o l o g ia R o m â n ic a
MÉTODO HISTÓRICO-COMPARATIVO
rom. a lasa
it. sul e ant. lassare
it. mod. lasciare
log. lassare
eng. lascher
friul. lasá
fr. laisser
prov. laisar
cast. ant. lexar
port. ant. leixar
Nota-se que há dois grupos de formas, um com /1/ e outro com /d/ iniciais, cujos ter
ritórios se sobrepõem, pelo menos em parte, na Ibéria: port. e cast. têm leixar e lexar
nas respectivas fases antigas e deixar e dejar modernamente, enquanto o sicil. e o
prov. oeste e o cat. só têm e tiveram a forma com /d/ inicial.
Portanto, a forma portuguesa “deixar” deve ser colocada nesse contexto români-
co mais amplo e não é certamente correto derivá-la através de mutações que são carac
terísticas do port., como a síncope do /1/ intervocálico, sem a qual não se chegaria à
forma atual; aliás, o maior problema da cadeia evolutiva suposta está na falta de docu
mentação da forma *deeixar. O cast., cuja forma supõe o mesmo étimo, não sincopa o
/1/, como também o cat.: lat. dolorem > cast. dolor, port. dor, lat. colorem > cast. color,
cat. color, port. cor, lat. malum > cast. maio, cat. mal, port. mau. Desse modo, a forma
portuguesa seria um fato isolado e incomum, chegando a uma forma convergente por
um caminho possível, mas de fato não trilhado, já que as formas correspondentes nas
outras línguas e dialetos românicos do mesmo étimo invalidam essa derivação.
E preciso, portanto, explicar a razão da existência das duas variantes na
România. O possível cruzamento analógico com dare (dare + laxare - REW 4955)
não é admissível tanto fonética como semanticamente. Entretanto, encontram-se em
latim vários casos em que /1/ e /d/ são intercambiáveis, sem alteração de significado,
por influência comprovada inicial dos sabinos ou dos gregos: olor - odor; alipes -
adipes (Appendix Probi 178); lingua - dingua20; lacrima - dacrima; solium - sedeo.
Com isso, é lícito supor a existência no latim vulgar tanto de laxare como de daxa-
re, fato que explica as variantes românicas.
No português, deixar é registrado apenas a partir do século XV; pode-se dedu
zir daí que essa era a variante da língua falada e leixar, a de caráter mais erudito, que
se arcaizou. Desleixo e desleixado são derivados de laxare, mas com outro prefixo -
dis—ou de+ex-, mais antigos. Os vocábulos eruditos do português, semanticamente
afins, têm laxare como étimo: laxação, laxante, laxar, laxativo, laxidão, laxiorismo,
laxiorista, laxiorístico, laxismo, laxista e laxo.
Essas considerações, segundo o método histórico-comparativo, permitem
concluir que daxare era uma variante popular, por influência sabina, de laxare·, essa
*excappare: port. escapar, cast. escapar, cat. escapar, prov. escapar, fr. échapper, it.
scappare, rom. scapa.
*pariculum: port. parelho (parelha), cast. parejo, cat. parelio, prov. parelh, fr. pareil,
friul. pareli, eng.paral’, it. parecchio.
*rasicare: port. rasgar, cast. rasgar, cat. rascar, prov. rascar, fr. ant. raschier, log.
razigare, venez. raskar, lomb. raskar.
66 I E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
O método histórico-comparativo, porém, não obteve os mesmos resultados
satisfatórios em todos os níveis da linguagem. Na fonética, na morfologia, no léxico
e questões afins o método revelou-se profícuo. Sua aplicação à sintaxe apresenta
maiores dificuldades porque nesse nível é mais difícil comprovar a regularidade e a
constância das correspondências em que o método se fundamenta. O campo sintáti
co é o mais sujeito às particularidades tanto individuais como coletivas, conforme se
pode verificar, por exemplo, no emprego românico do subjuntivo, precisamente o
modo que expressa o ponto de vista do falante.
Em todo caso, o estudo de certos aspectos sintáticos pelo método histórico-com
parativo, segundo o conceito de pancronia de Walther von Wartburg-1, foi produtivo.
Assim, as formas on do francês e hom do provençal foram consideradas uma
criação literária do francês e do provençal antigos para denotar a indeterminação do
sujeito, sem vinculação com o lat. horno ou com o mcinn germânico. Os corresponden
tes encontrados nas outras línguas românicas (it. uonio, cast. ant. ome, cast. mod. hom-
bre, port. arc. ome) teriam adquirido aquela função sintática por influência do francês
e/ou do provençal. Posteriormente, porém, se demonstrou que homo, já em Catão (De
Agricultura 157, 8 e 48, 1-2), era usado com essa função sintática, equivalendo ao
nosso “se”, como em “Deve-se respeitar a lei”. Se a expressão já se encontra no latim
arcaico, pode-se supor que tenha tido uso corrente no latim vulgar, já que este conser
vou muitas características daquele. Aplica-se aqui o princípio da filologia de só supor
a existência de uma expressão, palavra ou função no latim vulgar nos casos em que
ela se encontre em várias línguas românicas, sem possibilidade de ter surgido de modo
independente em cada uma delas. Inversamente, caso um termo se encontre em uma
só língua, maior é a probabilidade de que se trate de uma criação própria. Contudo, é
preciso levar em conta que se trabalha com um princípio metodológico genérico; cada
caso deve ser estudado de modo individual. Mesmo quando um termo foi conservado
21. Saussure introduziu, nos estudos linguísticos, os termos sincronia, diacronia e pancronia. Sincronia, termo
criado pelo antropólogo inglês Alfred Reginald Radcliffe-Brown (1881-1955), foi usado por Saussure (1916)
para designar o estudo lingüístico com abstração do elemento tempo, restringindo-o ao eixo das simultanei-
dades. A diacronia, para Saussure, estuda a língua em sua evolução no tempo, no eixo das sucessões. A sin
cronia estuda “estados de língua”, momentos em que as modificações, por mínimas, não têm importância
considerável. O conceito saussuriano de pancronia designa um tipo de abordagem da língua que transcende
os sistemas particulares, as línguas consideradas individualmente (sistemas denominados “idiossincrônicos”
por L. Hjelmslev (1928), como sinônimo de “gramática descritiva”); a pancronia busca fixar leis gerais da
estrutura e do funcionamento do sistema da língua, do qual os diversos sistemas lingüísticos são apenas casos
particulares. Walther von Wartburg dá o nome de pancronia à confluência da sincronia com a diacronia. Sob
esse ponto de vista, só se consideram completos os estudos dos fatos lingüísticos, se forem levados em conta
tanto o sistema como a sua evolução no tempo. Essa evolução é a história do mesmo sistema.
MÉTODO IDEALISTA
22. O seguinte tópico da página 165 da Esletica come sciema dei I 'espressione e linguística genemle mostra o
pensamento de Croce: “ I problemi scientifici delia linguística sono i medesimi di quelli delPestetica e gli
errori e le verità delPuna sono gli errori e le verità delPaltra.”
mots ou formes peu sürs, sans précision de lieux, de temps, de circonstances, de valeur, recueillis
dans des conditions si diverses qu’ils sont rarement comparables entre eux. Au mieux, ce sont de
matériaux de dictionnaire que viennent compléter les dictionnaires de langue littéraire: dictionnai-
rc, cimetièrc: on ne fait pas un tableau de vie avec les noms des épitaphes25.
palavras ou formas pouco seguras, sem exatidão de lugares, de tempo, de circunstâncias, de valor,
recolhidas em condições tão diferentes que dificilmente são comparáveis entre si. No máximo, são
matérias de dicionário que vêm completar os dicionários da língua literária: dicionário, cemitério:
não se .faz um quadro de vida com os nomes dos epitáfios.
25. M. Roques, Jules Gilliéron. Paris, 1926, p. 9. /Ipui/Tagliavini, Le Origini ilelle Lingue Neolatine, p. 26.
| E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
güísticos foram montados, que convém citar. Os suíços Karl Jaberg (1887-1958) e
Jakob Jud (1882-1952) fizeram o Sprach- und Sachcitlas Italiens und Südschweiz
(“Atlas Lingüístico e de Coisas da Itália e do Sul da Suíça”), conhecido pela sigla
AIS, em 8 volumes “in folio”, entre 1928 e 1940. Impresso em duas cores, inclui as
cidades e ordena os mapas por grupos de matérias e em ordem alfabética. Os auto
res consideraram importante o elemento antropológico e por isso incluíram a pesqui
sa de “coisas” nos questionários, segundo os princípios dos métodos Wõrter und
Sachen e da Onomasiologia, de que se tratará mais adiante.
Matteo Bartoli (1873-1946) e Giuseppe Vidossi (1878-1969) iniciaram o
Atlante Linguístico Italiano (ALIt) com apoio da Società Filologica Friulana; o núme
ro de perguntas é elevado e o questionário abrange aspectos mais amplos. A guerra
impediu os trabalhos e o empreendimento perdeu Bartoli e o capaz aplicador Ugo
Pellis, lingüista friulano. A obra foi depois reiniciada por Benvenuto Terracini (1886-
1968). Das ilhas, foi publicado o Saggio di Atlante Linguístico delia Sardegna, em
1964, por Terracini e T. Franceschi. O melhor atlas da Córsega é o de Gino Bottiglioni
(1887-1963), o Atlante Linguístico Etnográfico Italiano delia Corsica (ALE1C).
Na Península Ibérica, Antonio Griera (*1887), discípulo de Jules Gilliéron em
Paris, iniciou o Atlas Linguistic de Catalunya em 1912; sua publicação, porém, só foi
concluída em 1964 por causa da guerra civil espanhola. Tomás Navarro (*1884) ini
ciou, em 1925, o Atlas de la Península Ibérica, cujo primeiro volume só foi publica
do em 1962 também devido à guerra civil e mundial. Por essa razão também o mate
rial coletado foi levado para a França, depois para os Estados Unidos, voltando a
Madri só em 1951. Em Portugal, Paiva Boleo preparou o Atlas Linguístico de Portugal
(ALP), através do método pouco seguro de questionário por correspondência.
Aproveitando as experiências acumuladas através dos outros atlas, os rome
nos, sob a direção de Sextil Pugcariu (1877-1948), organizaram Atlasul Linguistic
Român (ALR) em duas séries: ALR I, com 2.160 perguntas para serem formuladas em
301 localidades e publicadas em tamanho normal dos outros atlas do gênero; o ALR
11, com 4.800 perguntas, aplicadas em 85 localidades, em mapas quatro vezes meno
res. Os pesquisadores e redatores do ALR I, Sever Pop (1901-1961), e do ALR II, Emil
Petrovic (1898-1968), publicaram também pequenos atlas, respectivamente ALRM I
e ALRM II, com mapas coloridos e elaboração de alguns problemas fonéticos, mor-
fológicos e léxicos. Alguns problemas de caráter internacional, como guerras e a ces
são da Modávia à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, dificultaram bastan
te esse empreendimento.
Como se vê, a moderna România européia foi mapeada, embora não se tenha
ainda o resultado total final desse vultoso trabalho. Atualmente, a tendência é regio
nalizar os atlas linguísticos, tornando-os mais particularizados, uns apenas linguísti
cos, outros também antropológicos ou etnográficos. São exemplos os atlas do lionês
MÉTODO ONOMASIOLÓGICO
76 I E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
com Romanische Wortschõpfung (“Criação Vocabular Românica”), publicado em
1875, como apêndice à Grammatik der romanischen Sprachen (“Gramática das
Línguas Românicas”). Fora do domínio românico, A. Fr. Pott estudou os nomes do
arco-íris (Bennenungen des Regenbogens) em línguas do mundo todo (1853); Jakob
Grimm publicou Über die Namen des Donners (“Sobre os Nomes do Trovão”) (1853
também) e F. Miklosich pesquisou Die slavischen Monatsnamen (“Os Nomes
Eslavos dos Meses”) (1868).
Contudo, com Cario Salvioni (1858-1920) e seu trabalho sobre as denomina
ções italianas do vagalume (1892) e com o romanista suíço Ernest Toppolet (1870-
1939) e seu estudo sobre os nomes românicos de parentesco, estabeleceram-se os
princípios da onomasiologia científica, também chamada “lexicologia científica”
por Toppolet.
Depois da publicação dos atlas lingüísticos, a onomasiologia foi usada em
numerosos estudos, dos quais são exemplos Die romanischen Namen der Kõrperteile
(“Os nomes Românicos das Partes do Corpo”) de Adolf Zauner (1870-1943), publica
do em 1902; I nomi romanzi delle stagioni e dei mesi (“Os Nomes Românicos das
Estações e dos Meses”) de Clemente Merlo (1879-1960), editado em 1904 com o sub
título Saggio di Onomasiologia (“Ensaio de Onomasiologia”) . No domínio da língua
portuguesa, há Designações Portuguesas para “Embriagues”, de H. Kroll, e As
Designações para “Fígado ” nas Línguas Românicas (1958) de Serafim da Silva Neto.
O método onomasiológico permite ver a cultura do povo cuja língua se estu
da, costumes, ocupações, instrumental, crenças e crendices, moradia, enfim, sua
mundividência. Permite sentir a linguagem viva, traduzindo a vivência cultural do
povo. Assim, o lagarto, por exemplo, é considerado amigo do homem e seu vigia,
despertando-o na eminência duma picada de cobra; essa crença, encontrada na Itália,
Récia e França, transparece nas designações do lagarto: sic. guardal-omu, rét. war-
thaomu, eng. salvaón (vardcí ou salva, “salvar”, + om, “homem”), lomb. salvacristiàn
(cris tiàn, “homem”), fr. dial. éveillette (“que acorda”). Da mesma forma, o animal
carnívoro europeu, a doninha, parecida com o furão brasileiro, é considerado a encar
nação de um mágico: por isso recebe as seguintes denominações afetivas para cap-
tar-lhe as boas graças: cast. comadreja (“comadrezinha”), fr. belette (“belezinha”), it.
donnola (“damazinha”), rom. nevastã (“noiva”); mesmo fora do domínio românico,
encontram-se al. sul Schõntierlein (“belo bichinho”), dinam. Kjõnne (“linda coisi-
nha”) e no sueco Jungfru (“senhorita”).
Pela onomasiologia, é possível caracterizar as atividades de uma região e situá-
las no tempo. A população da Sardenha, muito conservadora, atualmente se dedica
tanto à pecuária como à agricultura; entretanto, estudos onomasiológicos provaram
que inicialmente sua atividade se restringia à pecuária: o vocabulário sardo referente
à vegetação, aos pastos e à pecuária é geralmente pré-romano, enquanto o relaciona-
78 I E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
1. Havendo palavras diferentes em fases cronológicas distintas para um significa
do, a forma da área mais afastada ou de acesso difícil costuma ser a mais anti
ga. Nesse sentido, consideram-se áreas afastadas os extremos da România, isto
é, a Ibéria, de um lado, e a Romênia, de outro; o acesso pode ser difícil pela
interposição de montanhas, mar e outros acidentes geográficos. Aplicando-se
essa norma, haedus (“cabrito”) é mais antigo que caprilius por se ter mantido
no log. edu c no rom. ied, variedades de área de difícil acesso ou de região
afastada, enquanto caprittus ficou no prov. cabrit, daí para o fr. cabri, cat.
cabrit, cast. cabrito, port. cabrito e it. capretto - formas consideradas mais
recentes, vindas do latim tardio. A área do Logudoro, a de acesso mais difícil
da Sardenha, deve apresentar formas mais antigas se comparadas às da Itália,
área central:
3. São mais antigas as palavras conservadas em áreas mais amplas que as correspon
dentes encontradas em áreas mais restritas. Assim, dos pares causa e lucru, frigi-
causa > port. cousa (ou coisa), cast. cosa, cat. cosa, prov. cauza, fr. chose,
eng. coza, friul. coze, log. ant. casa, vegl. causa;
frigidum > port. frio, cast. frio, cat. fred, prov. freg, fr. froid, it. freddo, eng.
fraid, friul .fred, log .frittu;
findere > port. fender, cast. hender, cat. fendre, prov. fendre, fr. fendre, eng.
sfender, iX.fendere;
frater > nap. frate, it. ant.frate, sic.frati, log.fradi, eng. frar e fra, friul. fradi,
piem .frâire, prov. fra ire, fr. frère, rom. frate. No português os derivados/racfe
e frei, bem como a correspondente castelhana fray, sofreram restrição semân
tica, designando cada um dos membros de uma Ordem religiosa; a forma frei
é usada sempre que for seguida do nome próprio e só particularmente em
outras situações, quando se usa apenas frade.
Os termos provenientes do segundo elemento desses pares encontram-se em áreas
bem mais restritas e por isso são mais recentes:
Essas duas palavras herdadas pelo romeno são mais antigas que as duas do outro
par, fugindo a esta “norma de área”, mas está perfeitamente de acordo com a
segunda. Nas demais regiões românicas, conservaram-se as formas mais recentes:
lat. cochleariu (< gr. κοχλιάρ ι Οv) > port. colher, cast. cuchara, fr. cuiller,
it. cuchiaio;
spissus > port. espesso, cast. espeso, fr. épais, it. spesso.
80 I E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
vador que o do Império em geral. Assim, comedere permaneceu na Ibéria: port.
comer, cast. comer, mas it. mangiare (< manducare)', avunculus ficou no fr.
onde, mas o it. tem zio (< thius); e li(n)gula encontra-se no rom. lingunt, enquan
to o it. conservou a forma mais recente cuchiaio (< cochleariu).
Casos contrários também se verificam, como as já citadas lat. volere > it. volere
e lat. quaerere > log. kerrere, das quais a forma italiana é mais antiga que a cor
respondente logudoresa.
Essas cinco “normas de área” poderíam ser reduzidas a duas ou três, como se
notou acima. Essa metodologia é esquemática demais, pois os fatos lingüísticos não
podem reduzir-se a fórmulas rígidas, sem levar em consideração as grandes variações
causadas por fatores sociais, estilísticos, dos diversos estratos etc. Além disso, a con
firmação prática dessas “normas” tem sido bastante relativa, já que fatos contrários
ao que elas estabelecem não são tão raros quanto se podería esperar. Alguma contri
buição pode ser delas obtida, quando combinadas entre si e com outros métodos; aju
dam a estabelecer as características gerais e as tendências das línguas e dialetos
românicos, mas a contribuição específica dessa corrente foi mais negativa que posi
tiva, porque suas normas carecem da abrangência e da precisão indispensáveis.
82 E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
Contudo, a Teoria das Ondas não abrange a totalidade do fato lingüístico;
apenas o observa e o acompanha, o estuda no espaço, mas não explica sua natureza
ou as causas múltiplas que podem produzi-lo. Combinada com elementos da geo
grafia linguística, da lingüística espacial e de outros métodos pode ser útil à
Filologia Românica.
MÉTODOS AFINS
86 I E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
3
O r ig e m d a s
L ín g u a s R o m â n ic a s
O R IG E M D AS L ÍN G U A S R O M Â N IC A S 89
Com a conquista da chamada Magrui Graecia, que compreendia boa parte do
sul da Itália, muitos gregos foram levados para Roma em 272 a.C., entre eles Lívio
Andrônico, que viria a ser o iniciador da literatura latina. Em 240, Lívio apresentou
em Roma sua primeira peça teatral, provavelmente uma tragédia segundo Cícero
(Brutus, 72) e Titus Pomponius Atticus (110-32 a.C.) em Liber Annalis·, ambos se
basearam nas pesquisas de Varrão, pois a peça se perdeu. Lívio fez também uma
adaptação da Odisséia de Homero ao mundo romano, sob o nome de Odissia. Nasceu
assim a literatura latina, que conta ainda com Névio (poesia épica e dramática), Ênio
(épica, dramática e lírica com a introdução do hexametro dactílico), Lucilio (sátira),
Marcus Publius Cato (prosa) e Plauto (comédia). Desse modo, embora com grande
influência grega, começou a formação de outra norma lingüística, escrita e sempre
mais estilizada, o sermo litterarius ou classicus. O período áureo do latim literário
vai de 81 a.C., com o primeiro discurso de Cícero que chegou até nós, Pro Quintio,
a 14 d.C., ano da morte do imperador Augusto. Essa norma conservou-se uniforme
por oito séculos aproximadamente e só com dificuldade se encontram particularida
des regionais, como a patavinitas do historiador Tito Lívio.
Essas diversas normas lingüísticas não eram desconhecidas pelos autores lati
nos. Cícero (106-43 a.C.) e Quintiliano (30-95 d.C.) distinguem claramente a urba
nitas da rusticitas, respectivamente em De Oratore 111, 11, 42 e em Institutio
Oratoriae, XI, 3, 10. Profundo conhecedor do latim, Cícero menciona também em
outras passagens essas variedades, com em Ad Familiares, IX, 21:
Quid tibi ego in epistulis videor? Nonne plebeio sermone agere tecum... Epistulas vero cotidianis
verbis texere solemus.
Que pareço eu a ti nas cartas? Não pareço tratar contigo na língua do povo... Pois costumamos tecer
as cartas com as palavras do dia a dia.
Didicisti enim non posse nos Amafmii aut Rabirii similes esse, qui nulla arte adhibita de rebus ante
oculos positis vulgari sermone disputant [...]
Aprendeste, pois, que nós não podemos ser semelhantes a Amaflnio ou a Rabirio, que sem arte algu
ma discutem sobre as coisas que lhes caem sob os olhos numa linguagem vulgar.
Não se pode supor que Cícero, no primeiro texto, afirmasse estar usando a
norma gramaticalmente incorreta da massa inculta; também não afirma que Amaflnio
(filósofo estóico) e Rabirio (poeta épico) do segundo texto se expressassem na norma
popular: diz apenas faltar-lhes aquela forma artística esmerada, própria do sermo lit-
-» Português
- » Galego
Castelhano
-> Catalão
Provençal
- * Francês
Rético
-> Sardo
- » Italiano
-» Dalmático
Romeno
O R IG E M D A S L ÍN G U A S R O M Â N IC A S [ 91
a. O sermo classicus ou litterarius: burilado, artístico, sintético, só escrito, que atin
giu o ápice estilístico no período áureo da literatura latina entre 81 a.C. c 14 d.C.,
tanto na prosa com Cícero, César e Salústio, como no verso com Virgílio,
Horácio, Ovidio, Lucrécio e Catulo. É uma cstilização do sermo urbanus.
b. O sermo urbanus: a língua falada pelas classes cultas de Roma, certamente cor
reto do ponto de vista gramatical, mas sem os refinamentos e a estilização da
variedade literária, denominada vulgaris por Cícero. Os falantes dessa norma
eram também os principais detentores da norma literária.
c. O sermo plebeius: essencialmente falado, era a norma da grande massa popular
menos favorecida, analfabeta. Foi metodicamente ignorada pelos gramáticos e
escritores romanos, mas era viva e real; apresenta variantes sobretudo no léxico,
segundo o modo de vida dos falantes, distinguindo-se o sermo rusticus, o castren
sis e o peregrinus.
b. Mais ANALÍTICO
De acordo com sua origem indo-européia, o latim era uma língua essencial
mente sintética, rica em recursos flexionais, com os quais expressava muitas funções
e relações entre os termos da oração. As deficiências desse sistema flexionai eram
supridas por torneios analíticos. A perda sempre crescente das flexões no latim vul
gar tornou-o cada mais analítico pelo uso de preposições, advérbios, pronomes c ver
bos auxiliares para expressar funções e relações entre os termos. As preposições
O R IG E M D A S L ÍN G U A S R O M Â N IC A S I 93
substituem as flexões casuais. O futuro passa a ser expresso por perífrase com ver
bos auxiliares, como cantare habeo ou cantare volo·, emprega-se o indicativo onde o
clássico usava o subjuntivo: Quid debeo dicere? por Quid dicam?
Muito clara é a tendência analítica do latim vulgar ao eliminar as formas sin
téticas da voz passiva dos verbos no infectum, através da generalização do modelo
analítico do perfectum·, amor (“sou amado”), amabar (“era amado”) e amabor (“serei
amado”) foram substituídas por amatus sum, amatus eram c amatus ero, criando-se as
formas, inexistentes na norma culta, amatus fui, amatus fueram, amatus fuero. Com
isso, eliminou-se a dualidade de formas na expressão da voz passiva, prevalecendo o
processo analítico, que foi conservado pelas línguas românicas cm todas as formas
passivas, formadas pelo participio + aux. ser (< esse), ressalvando-se apenas o rome
no, que emprega a fi(< fieri) em lugar de esse.
Um tipo particular de forma sintética observa-se nos chamados verbos
depoentes, como ulciscor (“vingar-se”), obliviscor (“esquecer-se”), patior (“sofrer”),
que tinham forma passiva, mas sentido ativo. Causavam muitas confusões e por isso
desapareceram bastante cedo, sendo substituídos por formas ativas, como se pode ver
na Carta do Rustius Barbarus a seu amigo Pompeu (início do século II d.C.):
Sicut unus pater familias Itis de rebus loquor. (Cicero, De Oratore, I, 132)
Na Vulgata, os exemplos são ainda mais claros, como o encontrado em Mateus 26,29:
É certo que os artigos se firmaram como tais na fase romance. O fato, porém,
de que todas as línguas românicas os têm, permite afirmar a existência deles no latim
vulgar.
No léxico, o latim vulgar conservou as tendências das origens, quando as
acepções abstratas tinham por base sempre um termo designativo de algo concreto:
putare significava etimologicamente “podar” e só posteriormente “julgar” (pois para
“podar” de modo correto é preciso “julgar” os ramos a fim de selecionar os mais
viçosos); rivalis era aquele que repartia as águas do rio (rivus) para irrigação ou para
o gado e depois “competidor”, pela insuficiência da água disponível; versus era o
sulco deixado pelo arado e posteriormente “linha de escrita”; altus, “alimentado”
(part. pass. de alere) e depois “que cresceu pela alimentação”, “alto”; sapere, “sabo
rear”, “ter gosto”, depois “saber”, “ser entendido”.
Na sintaxe, a ausência do hábito da abstração leva os falantes do latim vulgar
a preferir as frases não ligadas entre si, sem expressar explicitamente as relações de
dependência. Predomina a justaposição, inexistindo a complicada correlação dos
O R IG E M D A S L ÍN G U A S R O M Â N IC A S 95
tempos. São comuns os torneios assindéticos do tipo Volofacias (“Quero que faças”),
Cave cadas (“Tome cuidado para que não caias”). As inscrições fornecem muitos
exemplos de períodos assindéticos, como os seguintes:
d. Mais EXPRESSIVO
Considerando-se o caráter eminentemente falado do latim vulgar, deve-se
supor nessa comunicação a ênfase, a espontaneidade e a afetividade, antigas tendên
cias do latim. Essa característica explica as consoantes geminadas em nomes bem
populares, como *pappa ou *atta, “pai”, mamma, “mãe”, nassus depois nasus,
“nariz”, bucca, “boca”, guttur, “garganta”, braccium ou bracchium, “braço”, lippus,
“ramelento”, gibbus, “corcunda”, flaccus, “caído”, “de orelhas compridas”, siccus,
“seco” e outros. Em muitos desses vocábulos, a etimologia não explica as gemina
das, a não ser em razão da expressividade popular em tais termos correntes de con
teúdo concreto29. O mesmo se observa nos nomes de animais domésticos, como
vacca (mas sânscr. vaçã), “vaca”, gallum, “galo” e caballus, “cavalo”.
A reduplicação é outro recurso expressivo de origem popular: gurgulio ou
curculio, “caruncho”, populus, de origem itálica (cf. umbro poplu), “povo”, excep
cional em relação ao tipo indo-europeu.
Alguns sufixos verbais e nominais de origem popular são carregados de
expressividade; assim os verbos de sentido inicialmente freqüentativo em -tare, for
mados à base do supino do verbo originário, como *specio - spectare; cano - can-
29. Para outros exemplos e maiores aprofundamentos, vejam-se Meillet, Esquisse d'une histoire de Ia langue
laíine, p. 166 ss. e Maurer, O Problema do Latim Vulgar, p. 184 ss.
O R IG E M D AS L ÍN G U A S R O M Ã N IC A S j 97
tivos e com isso perderam a conotação característica, como se verifica na maioria dos
correspondentes românicos.
Ut enim sermone eo debemus uti qui notus est nobis ne, ut quidam, Graeca verba inculcan
tes, iure optimo irrideamur.
Assim, pois, devemos usar aquela linguagem que nos é conhecida, para que, como alguns
que introduzem palavras gregas, não sejamos ridicularizados com toda razão.
A LATINIZAÇÃO
O R IG E M D AS L ÍN G U A S R O M Â N IC A S I 99
por meio de conquistas e de hábeis alianças, alargava-se também o espaço territorial
do latim. Crescendo com o Império, decaiu com ele, mas não morreu: em situações
geográficas e em condições sociais, econômicas e culturais diferentes, do latim vul
gar, falado pelas populações deixadas pelo refluxo político de Roma, nasceram as
línguas românicas, que o perpetuam.
Como já se viu, toda a Península Itálica, com exceção apenas da parte ao norte
dos rios Macra e Rubicão, fazia parte do Império de Roma. Etnicamente, porém, era
um conglomerado de raças, destacando-se:
a. Os ctruscos, entre os rios Arno e Tibrc c conhecidos por Tusci, donde o nome de
Toscana para o território ocupado, e também por Tyrrheni, daí Tirreno, o mar ao
oeste. Possuidores de elevada civilização no séculoVl a.C., chegaram a dominar
Roma e a ocupar a costa tirrena ao sul, até a Campanha, fixando-se em Cápua,
Nola e Pompéia e, ao norte, até a Emília e a Valpadana. Dos etruscos vêm prova
velmente os nomes da própria Roma (Ruma) c do rio Tibre (etr. Thepre, lat.
Tiberis)·, o alfabeto latino foi inspirado pelo etrusco, que se baseou, por sua vez,
no alfabeto grego. Quanto à origem, discute-se se a língua etrusca era autóctone
ou asiática, ligada ao indo-europeu; as muitas inscrições conhecidas, como a
“telha” de Cápua, a placa de chumbo de Magliano, o cipo de Perúgia, são em
geral breves e de natureza funerária e por isso só com nomes próprios; as mais
longas são poucas e de interpretação difícil. Os romanos adotaram dos etruscos o
uso dos três nomes (praenomen, nomen, cognomen), como Marcus Tullius Cicero
por exemplo, diversamente de todos os outros povos indo-europeus; também
alguns nomes romanos correspondem exatamente a semelhantes etruscos, como
etr. A ide = lat. Aulus, etr. Fapi = lat. Fabius, etr. Petrumi = lat. Petronis e outros.
Na toponímia, são de origem etrusca Chianti < etr. Clante, Módena < etr. Muta-
na (“túmulo”), Volterra < etr. Velathri, Todi < etr. Tular (“cipo”, “coluna com ins
crições”), lat. Tuder. O sufixo -na, com as variantes -ena, -enna, -ina, identificam
nomes etruscos como Ravenna, Porse(n)na, Caecina, Maecenas.
b. Os chamados povos itálicos incluíam os umbros, os oscos, os samnitas, os volseos,
os sabinos, os auruncos e os picenos. Lingüisticamente, dividiam-se em dois gru
pos: latino-falisco, ou seja, o latim e o dialeto de Falerii, cidade situada no territó
rio etrusco, onde hoje se encontra Cività Castellana, na província de Viterbo; e o
osco-umbro (ou umbro-sabélico ou itálico propriamente dito) compreendia os
seguintes dialetos: 1. O osco dos antigos samnitas, falada no Samnium, Campanha,
parte da Lucânia e do Abruzo e em Messina, na Sicilia. E conhecido através de
aproximadamente 200 inscrições, das quais as mais importantes são a Tabula
Bantina e o Cippus Abellanus; 2. Os dialetos sabélicos, pouco conhecidos, eram
falados no território entre o Samnium e a Umbria; o pelinho, o marrucino, o vesti-
EXÉRCITO ROMANO
O R IG E M D A S L ÍN G U A S R O M À N IC A S I 103
O soldado era inicialmente recrutado na Itália, dentre a plebe; com a expansão,
porém, a Península não dispunha de contingentes suficientes para suprir todas as
necessidades do serviço militar. Por isso passou a ser recrutado nas províncias já
romanizadas, cuja língua usual era obviamente o latim vulgar. Políbio nos dá uma
idéia da movimentação de soldados ao citar um documento de 225 a.C., que conta para
aquela época, antes da segunda guerra púnica, 423.000 soldados aliados para 325.000
de cidadãos romanos. Dadas as crescentes necessidades, o serviço militar passou a ser
obrigatório para todos os itálicos em 89 a.C.. Antes da guerra civil, César e Pompeu
passaram a recrutar provincianos não cidadãos; César recrutou sobretudo nas Gálias
Cisalpina e Transalpina. O imperador Augusto (63 a.C-14 d.C.) dava preferência ao
soldado da Itália, mas permitia o recrutamento nas províncias mais romanizadas, prin
cipalmente nas cidades. As tropas ditas “auxiliares” (auxilia) eram constituídas só de
estrangeiros, muitas vezes homens incultos do campo; constituíam metade de um
exército de aproximadamente 300.000 homens no início do século I d.C.. No fim
desse século, a Itália não fornece mais legionários, como se deduz da ausência de
nomes itálicos no cemitério de Carnuntum, na Panônia; eles provêm de fato das pro
víncias mais romanizadas e as tropas auxiliares, das menos integradas.
Esses dados mostram a importância do exército como fator de difusão do
latim vulgar sob a forma usada nas províncias de origem ou aprendida no exército, o
sermo militaris ou castrensis, variante do latim vulgar. Em contato permanente com
a população subjugada, eram milhares de indivíduos latinizando, difundindo a cultu
ra e a língua latinas, sem que o percebessem.
COLÔNIAS MILITARES
COLÔNIAS CIVIS
Traianus, victa Dacia, ex toto orbe Romano infinitas co copias hominum transtulerat ad agros et
urbes colendas. (Breviarium ab urbe coiulita, VIII, 6)
Vencida a Dácia, Trajano havia transferido para lá imensas quantidades de homens de todo o mundo
romano, pára que habitassem os campos e as cidades.
Com isso, a latinização da Dácia foi tão rápida e profunda que em aproximadamen
te cinqüenta anos estava definitivamente integrada ao Império, conservando a latini-
dade mesmo quando abandonada por Roma e invadida pelos bárbaros.
O peso e a importância das colônias civis no processo de latinização é eviden
te; eram milhares e milhares de pessoas falando o latim em contato direto e constan-
O R IG E M D AS L ÍN G U A S R O M Â N IC A S [ 105
te com a população autóctone. A rede de relações, que inevitavelmente se estabele
ciam, levava a uma uniformização lingüística e cultural (ver mapa 3, p. 355).
ADMINISTRAÇÃO ROMANA
OBRAS PÚBLICAS
a. Estradas
Como instrumento de acesso rápido entre as regiões pelo exército, pelos men
sageiros, comerciantes e pela população em geral, as estradas tiveram grande impor
tância na consolidação do Império e no processo de latinização. Conhece-se bem a
história de dezenove viae, algo realmente excepcional para a época, como a famosa
Via Appia, que data de 312 a.C., principal ligação pavimentada com o sul da Itália até
Brundisium, com 234 milhas (337 km); a Aemilia, construída em 187 a.C. e fator
fundamental da rápida romanização da Gália Cisalpina; a Aemilia Scauri (107 a.C.);
a Annia (153 a.C.), no norte da Itália; a Aurélio, na Etrúria, rumo ao norte; a Cássia
e a Cloelia, ambas na Etrúria; a Domitia, do Ródano na Gália até a Hispânia; a
Egnatia (130 a.C.), da costa do Adriático até Bizâncio; a Flaminia (220 a.C.), de
Roma ao mar Adriático com várias ramificações; a Latina, antiga via irradiadora em
direção ao sul da Itália; a Popilia, norte e sul até Rhegium; a Postumia (148 a.C.),
direção norte da Itália até Gênova e Provença atual e para o leste até Aquilea e
Bálcãs; a Cloelia Augusta, na Raetia e na Germânia, e outras.
As estradas sempre merecem muita atenção de imperadores, cônsules, censo
res e questores, que as pavimentavam com pedras e mantinham um serviço constan
te de manutenção tanto que trechos delas ainda hoje existem.
c. Teatros
O conhecido interesse dos romanos pelo teatro e representações levou-os a
construir prédios para esse fim em todo o império. Embora baseados em modelos
gregos, os teatros romanos evoluíram e, na época imperial, os arquitetos chegaram a
modificar detalhes importantes dos protótipos gregos, como a columnatio. Desde o
primeiro construído em Roma por Pompeu, cm 55 a.C., muitos teatros foram ergui
dos em cidades de alguma importância em todas as províncias, como por exemplo
Termesso na Pisidia, Nicopolis no Epiro, Bostra, Es-Suhba e Gérasa na África, Aries,
Orange e Lion na Gália, Mérida e Sagunto na Ibéria. Representavam-se comédias,
patominas, exibições de mimos, de saltimbancos c espetáculos circenses.
Não há informações precisas sobre o idioma usado nesses espetáculos; supõe-
se que as línguas locais fossem ocasionalmente empregadas, mas o latim, em normas
variáveis segundo o tipo de espetáculo, teve papel preponderante. Desse modo é pos
sível avaliar o peso dos teatros no processo de latinização.
d. Outros edifícios
A presença romana se fazia sentir ainda através de outros edifícios públicos, como
o fórum, templos, basílicas, monumentos (arcos, colunas) e bibliotecas, sobretudo nas
cidades maiores. Marcavam o grau de cultura e civilização de Roma e difundiam o latim.
Quanto a escolas públicas, o Império não teve uma organização especial, embora o impe
rador ordinariamente pudesse conferir títulos e imunidade a professores; as escolas eram
COMÉRCIO
INSCRIÇÕES POPULARES
a. Inscrições parietais
Essas inscrições foram gravadas com estilete, menos comumente a carvão, em
muros, paredes, monumentos, banheiros etc.; são conhecidas como “graffiti”. Existe
um tipo considerado oficial, formas mais ou menos fixas e estereotipadas, contendo
louvores aos deuses, elogios fúnebres, loas a figuras nobres ou proeminentes, atas
públicas ou particulares e outros assuntos semelhantes; essas são de pouco interesse
para a Filologia Românica, a não ser as da época final do Império. As que interessam
são populares, por seu caráter aliterário e de expressão clara da linguagem corrente
das classes incultas. Todas essas inscrições foram reunidas por Th. Mommsen, sob
auspícios da Academia de Berlim, no Corpus Inscriptionum Latinarum e conhecido
pela sigla CIL, a partir de 1862, em 16 volumes, subdivididos em várias partes; cada
volume contém as inscrições duma cidade ou região. Coletâneas posteriores foram
completando, por regiões correspondentes às antigas províncias romanas, as inscri
ções recolhidas pelo CIL; estão disponíveis as da Algéria, Tunísia, antiga África
Proconsular, Marrocos, Gália Narbonense, Espanha (latina e visigoda), Itália, Síria,
Panônia, Dácia, Astúrias, Galícia e outras. Paralelamente, foram publicadas outras
coletâneas mais específicas, como a Inscriptiones Latinae Christianae Veteres, de E.
Diehl (1924-1930) e a Inscriptiones Latinae Selectae, de H. Dessau (1892-1916).
O R IG E M D AS L IN G U A S R O M Â N IC A S j
O material epigráfico disponível é, portanto, muito abundante. De particular
interesse filológico são as inscrições de Pompéia e de Herculano, cidades soterradas
pela erupção violenta do Vesúvio em 79 d.C.; as escavações encontraram inscrições
muito bem conservadas pelas cinzas, que nos permitem uma visão do modo de vida de
uma cidade da província. Relatam a ração alimentar dos escravos, os resultados dos
jogos de dados, a data de nascimento de um burrinho, declarações de amor ou de ódio,
de inveja, de alegria, erotismo etc. Só as recolhidas em Pompéia são cerca de 15.000;
os próprios pompeanos julgavam exagerada tanta pichação, segundo se vê na inscrição:
Admiror, paries, te non cecidisse ruinis, qui tot scriptorum taedia sustineas. (CIL, IV, 1904)
Admiro-me, parede, não teres caído em ruínas, tu que agiientas o tédio de tantos escritores.
Em geral, esses escritos denotam a precária escolaridade dos escreventes pela abun
dância de vulgarismos, ausentes na epigrafia oficial. Um exemplo:
Viva todo aquele que ama, morra aquele que não sabe amar! Morra duas vezes todo aquele que proí
be amar.
São bem perceptíveis algumas tendências do latim vulgar: a apócope de certas con
soantes finais, como o /-t/ nas formas verbais (amaft], valia[t], peria[ij, vota[t])\ em
valia há a fuga do hiato, transformado em ditongo (valia por valea), preparando a
futura palatalização (cf. port. valha)·, a força da analogia na linguagem corrente em
non scit pelo tradicional e clássico nescit, o hiperurbanismo no uso do genitivo de
preço bis tanti pelo usual bis tanto·, e o arcaísmo vota por veta.
Outro exemplo (CIL, IV, 3948):
No aspecto fonético, note-se a redução do ditongo /au/ a /o/ em caupo > copo
(“taberneiro”), fenômeno de origem rústica e bastante difundido (Claudius >
Clodius, cauda > coda, paupere > popere, fauce > foce), embora o ditongo /au/ se
tenha mantido em algumas línguas românicas, como no provençal e no romeno. A
síncope da nasal em vedes por vendes verifica-se também em algumas línguas româ-
nicas, como no português e no gascão. A indistinção entre /i/ e /e/ átonos em vendes
b. Tabellae defixionum
São inscrições, também conhecidas como “plaquinhas de execração”, geral
mente de metal (chumbo, estanho, bronze), havendo-as também de mármore ou de
terracota. Gravavam-se nelas fórmulas cabalísticas, entregando aos deuses do infer
no os inimigos ou rivais, ou tentando neutralizar malefícios e maldições. Foram
encontradas em toda parte do Império, principalmente no norte da África; têm cará
ter eminentemente popular, da autoria de escravos, gladiadores, soldados e libertos.
Inscrevia-se o nome do amaldiçoado, mas nunca o do amaldiçoante. São freqüentes
as descrições pormenorizadas da pessoa, as repetições e as palavras cabalísticas, as
combinações de letras latinas e gregas com finalidade mágica e invocatória, como
este início de uma tabella do século III, encontrada em Hadrumentum:
Alimbeu
columbeu
petalimbeu [...]
Te rogo qui infer | nales partes tenes, con | mendo tibi iulia Faustil | la, Marii filia, ut eam
ceie | rius abducas infernalis partibus in num | eru tu abias.
Rogo a ti, que dominas as regiões infernais, encomendo-te Júlia Faustila, filha de Mário,
para que a leves para baixo o mais rapidamente possível para as regiões do inferno e a con
serves no número dos teus.
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falta do /h-/ mostra que as aspiradas não eram mais pronunciadas. Em infernalis por
infernalibus houve confusão de declinaçòes, incluindo-se um adjetivo da 3a. entre os
da 2a. por semelhança de flexão casual.
c. Inscrições tumulares
Essas inscrições são encontradas em todas as regiões do Império e distribuídas
por vários séculos. Trata-se de inscrições de caráter permanente, geralmente em
pedra ou mármore, e por isso mais cuidadas; daí ser indispensável submeter seus
dados a uma sólida crítica. Além de seguirem formulários e modelos, pode haver
erros cometidos pelo incisor ao copiar o que o ordinator havia escrito no papiro, per
gaminho ou em tabuinha encerada.
A norma lingüístiea vai desde a literária, em alusões à Eneida de Virgílio até
ao mais típico latim falado; apenas na época latina mais tardia, as inscrições tumula
res se nivelam lingüisticamente pelo latim vulgar.
Exemplo, de Colônia (d l., XIII, 8481):
ln oh tumolo regiescet in pace bone memorie Leo vixet annus XXXXXII transiel nono Ids.
ühtuberes.
Neste túmulo, Leo descansa na paz da boa memória; viveu 52 anos; faleceu no nono dia dos idos de
outubro.
Aqui descansa a serva de Deus, que de todo o seu possuiu esta casa, a quem as amigas choram e
estão em busca de consolação; pede por este único descendente que deixaste sobrevivendo; (a ti)
eterno descanso, e continuarás causa de felicidade. Dia 14“ das calendas dc outubro. Aqui descan
sam também Cucurbitino e Abundâncio. Sob nossos senhores Graciano V e Teodósio Augustos.
PAPIROS ANTIGOS
Por ser um material muito frágil, o papiro antigo é raro nas partes ocidentais
do Império. Mas nas regiões áridas do Egito e Próximo Oriente foram descobertos
numerosos documentos nesse material, a maioria dos quais em grego e cerca de 400
em latim. Cerca de uma centena desses papiros latinos são literários, com textos de
Certamente, não há nesse tópico nenhuma alusão ao latim vulgar, embora o reprova
do possa pertencer ao uso popular.
O que os gramáticos e retores atestam é a existência de uma variedade “vul
gar”, “rústica” e “antiga”. O ideal da boa linguagem era o latim da Urbs, a urbani
tas·, tudo quanto diferisse dessa norma, pertencia à rusticitas, à vulgaritas, como
escreveu Quintiliano (Institutio Oratoriae, XII, 10,40):
Nam mihi aliam quandam videtur habere naturam sermo vulgaris, aliam viri eloquentis oratio.
Pois a linguagem vulgar parece-me ter uma certa natureza, enquanto outra é a do discurso de um
orador.
O mesmo Quintiliano afirma (VI, 3, 17) que a rusticitas [denominada barbaries por
Aulus Gellius (século II d.C.), citando o gramático Nigidius (século 1 d.C.)] difere da
norma culta dos oradores in verbis et sono et usu, isto é, no vocabulário, na pronún
cia e na construção. Não dá, porém, exemplos nem detalhes. Algumas informações
são fornecidas de modo indireto, como a redução do ditongo /au/ a /o/ em Festus
(202, 13), considerada alteração característica da rusticitas:
Orata genus piseis appellatur a colore auri quod rustici “orum” dicebant, ut auriculas “oriculas”.
Denomina-se “orata” (por “aurata”) uma espécie de peixe por causa da cor de ouro, que os campo
neses pronunciavam “orum” (por “aurum”), da mesma forma que diziam “oriculas” por “auriculas”
(“orelhas”).
c. Tratado de Veterinária
Mulomedicina Chironis é a tradução do tratado de Quíron, de quem se conhe
ce apenas o primeiro nome. O tradutor mostra tão pouco conhecimento do latim que
os numerosos e variados vulgarismos levaram alguns autores a considerá-la obra de
um copista inexperiente. A escassez de bibliografia latina sobre o assunto motivou a
Vegécio Renato (fins do século IV d.C.), que reescreveu a obra de Quíron e de outros
Agnellinas vero carnes aut de edis optimae sunt qualiter volueris, aut vaporatas aut elixas
in iuscello; etiam et assas bonas sunt. (Ed. de Liechtenlian, 5)
As carnes de cordeiro, porém, ou de cabrito são ótimas como quiseres, cozidas no vapor ou
no molho; assadas também são boas.
RELATOS DE PEREGRINAÇÕES
Item ab Hiericho ad mare mortuo milia novem. Est aqua ipsius valde amarissima, ubi in
totum nullius generis piscis est nec aliqua navis, et si qui hominum miserit se ut natet, ipsa aqua eum
versat, (p. 24)
O R IG E M D AS L ÍN G U A S R O M Â N IC A S
6), locus de evangelio (XXXVI, 4). O verbo sedere aparece com freqíiência, quase
sempre com sentido de “ser” do português e do castelhano, como em XXV, 1:
Sane quia hic consuetudo sic est, ut de omnibus presbyteris, qui sedent, quanti volunt, prae
dicent [...]
Certamente porque o costume aqui é que preguem todos os presbíteros que estão presentes
e quantos quiserem [...]
Os demonstrativos ille e ipse são usados com muita freqüência, mas em mui
tos tópicos semanticamente esvaziados e próximos ao artigo românico:
Haec ergo vallis ipsa est, in cuius capite ille locus est, ubi sanctus Moyses, cum pasceret
pecora [...] (II, 2)
Este é, pois, o vale em cujo cume está o lugar onde santo Moisés, quando apascentava o
gado [...]
[...] dicitur ibi oratio apta loco et diei, dicitur etiam mnis ymnus [sic] aptus et legitur ipse locus de
evangelio ubi dixit discipulis suts [...] (XXXVI, 2)
ali é dita [uma] oração adequada ao lugar e ao dia, diz-se também um hino adequado e lê-se o
lugar do evangelho onde diz aos seus discípulos [...]
Por outro lado, o texto conserva as formas sintéticas características do latim lite
rário, tanto no comparativo de superioridade dos adjetivos, como na voz passiva dos
tempos verbais no infectum', os verbos depoentes mantêm suas características; não são
raras as construções literárias como o acusativo com infinitivo, o ablativo absoluto e o
participio conjunto. Esses fatos fazem com que a Peregrinatio não possa ser conside
rada um monumento do latim vulgar. Veja-se o seguinte trecho como exemplo:
[...] leguntur lectiones aptae, dicuntur psalmi vel antiphone [sic], fit oratio, benedicuntur cathecu-
meni et sic fedeles, et fit missa. Missa autem facta, accedunt omnes [...] et sic revertuntur unusquis-
quis ad domum suam [...] (XLII, in fine)
[...] lêem-se lições adequadas, recitam-se salmos ou antífonas, faz-se oração, abençoam-se catecú-
menos e também fiéis e se faz a missa. Terminada a missa, porém, todos se aproximam [...] e cada
um volta para sua casa [...]
S aty rico n
T e s t a m e n t u m Po r c e l l i
T a b e l a s A l b e r t in a s
TEXTOS CRISTÃOS
Iterum Pilatus interrogavit eum dicens: Non respondes eis quicquam? Ecce quanta te accusant.
De novo Pilatos interrogou-o dizendo: Não lhes respondes alguma coisa? Eis de quantas coisas te
acusam.
Glossários são elencos de palavras ao lado das quais é aposta outra, que a tra
duz ou explica, da língua do leitor ao qual se destina. Originaram-se das anotações
marginais ou interlineares em passagens menos claras; essas anotações foram depois
reunidas e ordenadas por critérios diversos. O termo “glossário” tem como base o
termo grego γλώσσα (“palavra”, “língua”); já em Aristóteles (Retórica, 1410 b 12
e Poética, 1457 b 4) tem também o significado de “palavra rara ou estrangeira que
precisa de explicação”. Edições de referência são a de G. Lõwe e G. Gõtz, Corpus
Glossariorum Latinorum, em cinco volumes (Leipzig, 1889-1923), aos quais foram
depois juntados os dois volumes complementares do Thesaurus glossarum emenda
tarum, como os volumes VI e VII da coleção; complementar é ainda a edição de W.
M. Lindsay (Paris, 1926-1931) dos Glossaria Latina iussu Academiae Britannicae
edita em cinco volumes.
Para a Filologia Românica nem todos os dados dessas fontes têm o mesmo
valor; muitos, porém, são extremamente valiosos para o estudo do léxico. Note-se
que foram escritos por pessoas cultas, que liam os textos, refletindo com isso o nível
cultural da época, relativamente baixo.
O Glossário de R eichenau
Do glossário alfabético:
As Glossas de K assel
181 - Indica mih quomodo nomen habet homo iste: Sage mir uueo namum
habet deser man. (“Dize-me que nome tem este homem”.)
A parte latina tem elementos de várias regiões (Itália, Récia e Gália) e repre
senta o chamado baixo latim, mesclado com vulgarismos, mais numerosos que os
encontrados no glossário de Reichenau. O uso das surdas pelas sonoras, como em
parba por barba, mostra que a língua materna do autor era o germânico; note-se tam
bém o barbarismo na ausência de concordância nominal em meo capilli, meo colli e
meo parba e o desaparecimento completo das declinações.
O Glossário do Vaticano
G l o s s á r io P s e u d o - iz i d o r i a n o
Entre os vocábulos desse glossário, alguns não são comuns, como bostar ou
bostare, “curral”, “cocheira”, encontrado no port. ant. bostal e no cast. ant. bostar
incurrit [kaderat]
Non se circumveniat qui talis est [non se cuempetet elo uamne en sivi]
implere dissimulant [tardarsan por implire]
talia plura conmittunt [tales muitos fazen]
alicotiens [alquandas beces]
Os H er m eneu m ata
a. Hermeneumata Montepessulana
São conservados em Montpellier, no sul da França, donde lhe advém o nome;
alguns dados do texto levam a afirmar que foram escritos na Itália. O manuscrito data
b. Hermeneumata Monacensia
Constam em dois manuscritos conservados em Munique, na Alemanha. O arqué
tipo data talvez do século IX e as duas cópias são do século XII, feitas na própria
Alemanha. Os termos gregos glosados estão escritos em caracteres latinos e a translite-
ração nem sempre é muito fiel. Alguns exemplos:
c. Hermeneumata de Monza
Constam em um códice conservado na Biblioteca Capitular de Monza, na Itália;
trata-se de um glossário italiano-grego do século X. A parte grega é atribuída a um
51 gallo - aletora (ά λ έκ το ρ α )
59 dominica - curiaci (κ υ ρ ια κ ή )
31 de mandegare- desmetinaosefaimo (δός μ ε τ ί ν α Ί σ α φ ά [γ ]ω μ ε [ν ]).
Todos os dados recolhidos das fontes acima citadas não são suficientes para a
reconstrução completa do latim vulgar. Não existindo nenhum escrito totalmente em
latim vulgar, por ter sido apenas falado, essas fontes indiretas, além de incoerentes,
não conseguem cobrir seu universo. Certamente essa norma falada utilizava um
vocabulário seguramente mais extenso em relação àquele que ficou registrado oca
sionalmente em documentos. Entretanto, as línguas românicas herdaram e usam mui
tos vocábulos ainda não documentados por aquelas fontes. Assim, havendo consen
so entre as línguas românicas em relação a um determinado vocábulo não
A FRAGMENTAÇÃO DA ROMÂN1A
CAUSAS INTERNAS
D e s p o v o a m e n t o d o I m p é r io
E m pobrecim ento e Im p o s t o s
D ec a d ên c ia M il it a r
O exército romano, mantido sempre sob uma disciplina muito rígida, era o
braço direito e o ponto de apoio dos imperadores. Por causa da crescente instabilida
de política, social e econômica, os imperadores apoiaram-se sempre mais em suas
legiões, dando privilégios aos oficiais e depois aos soldados. Com Septimio Severo
(193-211), esses privilégios se tornaram tão exagerados que levaram à chamada “anar
quia militar”. Desde que Alexandre Severo (231-235), filho de Septimio, foi assassi
nado, o senado reconheceu como imperadores vinte e seis generais, sem contar os que
usurparam indevidamente o título. Todos tiveram morte violenta entre guerras civis
incessantes. O período dessa anarquia militar durou 50 anos (235-285), até que o
imperador Diocleciano (284-305) conseguiu restabelecer a ordem e reorganizou o
Império, implantando um sistema descentralizado, que esvaziou as pressões militares.
Apesar das reformas de Diocleciano e da subseqiiente de Constantino, o
Grande (307-337), não havia meios suficientes para a defesa do Império; os efeti-
O s VÂNDALOS
Os G odos
A B ritânia
A Britânia foi abandonada por volta de 410 por Constantino Ille ocupada pelos
pictos da Caledonia e pelos escotos da Irlanda. Pelo ano 450, desembarcaram na ilha
os anglos, os saxões e os jutos, vindos do continente e empurraram os antigos habi
tantes para o leste, o país de Gales e uma parte foi para a Península da Armória, sobre
tudo bretões, donde o nome posterior Bretanha. No contexto da luta dos bretões com
os invasores surge a lenda do rei Artur. Fundaram-se sete Estados independentes, só
unificados por Ecbert de Wessex, que fora educado na corte de Carlos Magno, entre
802 e 839. A romanização pouco profunda da Britannia não conseguiu fazer nascer na
ilha uma língua românica; contudo, deixou ao inglês uma grande herança léxica,
reforçada posteriormente por numerosos empréstimos sobretudo do francês.
Os Francos
Em meados do século III (258), o povo dos francos estava estabelecido à direi
ta do rio Reno, entre os saxões ao norte e os burgúndios e alamanos ao sul. Sem aban
donar seus territórios, os francos aos poucos avançam pelo norte e nordeste da Gália,
chegando ao rio Soma no século V Os reis de diversas tribos francas (ripuários, sálios)
fundam pequenos reinos que foram reduzidos à unidade pela força por Clóvis (482-
511); esse rei conquistou em seguida todos os territórios ainda em poder de Roma
entre os rios Soma e Loire, ao vencer Syagrius em 486. Obtém sucessivas vitórias con-
Os Lombardos
Os A lam an o s
Os Á rabes
romana, difundida por Cluny, e a escrita maiúscula gótica foi abandonada em favor da
minúscula de tipo francês; de lá veio a representação gráfica das palatais /lh/ e /nh/. Por
outro lado, Afonso VI destacou do reino de León o Condado Portucalense - que se
estendia de fato do Minho ao Mondego e, de direito, até ao rio Tejo - e o dá como feudo
ao conde Henrique de Borgonha, em reconhecimento por serviços prestados. Deu-lhe
também Dna. Teresa, sua filha natural, como esposa. Admite-se que Dna. Teresa não se
conformou em ser apenas condessa, enquanto sua meia-irmã, Urraca, era rainha. Por
isso, estimula a já forte disposição do marido de intervir na guerra civil existente entre
Castela, León e Galiza. Ao mesmo tempo, combate os árabes e firma cada vez mais seus
próprios domínios, até falecer em 1112 ou 1114. Dna. Teresa assume o Condado
Portucalense e passa a chamar-se Regina Tarasia de Portugal. Apóia ora um ora outro
dos contendores, procurando tirar vantagens. Em 1126, com a morte da rainha Urraca,
ocupa o trono de Aragão Afonso Vil, que força Dna. Teresa a lhe prestar vassalagem,
mas o filho D. Afonso Henriques se rebela e vence a batalha de São Mamede, perto de
Guimarães, em 24 de junho de 1128. Foi o primeiro passo para a independência total.
Depois da batalha de Ourique (1139), Afonso se proclama rei de Portugal, reconhecido
como tal por Afonso VII em 1143. Prossegue na conquista dos territórios árabes ao sul;
em 1147 conquista Lisboa, ajudado por cruzados alemães, franceses, ingleses e flamen
gos; em 1159 e de novo em 1165 toma Évora; Beja, Cáceres, Serpa e Juromenha são
conquistadas em 1166. A confirmação do reino de Portugal pela Igreja só veio em 1179,
quando o papa Alexandre III concedeu a Afonso Henriques o título de rei. Somente sob
Afonso III (1246-1277), Portugal incorpora o extremo sul, Al-gharb (“terra do
Ocidente”), embora de limites indefinidos na época, indo além do rio Guadiana em ter
ritório andaluz (ver mapa 8, p. 363).
Além da Península Ibérica, os árabes estabeleceram-se na Sicilia (827) e na
Córsega (850). Na Sicilia, o domínio árabe se estendeu até a chegada e a conquista
da ilha pelos normandos, que tomaram Messina em 1061 e Palermo em 1072.
Contudo, os normandos respeitaram a cultura implantada durante os dois e meio
séculos de dominação árabe; esse período foi suficiente para deixar traços na topo-
nímia e introdução de numerosos empréstimos léxicos e alguns nomes de família,
além de muito raros traços fonéticos. Também na Sicilia, o árabe permaneceu um
adstrato superposto, não tendo conseguido sobreviver como língua. Apenas na ilha
de Malta, o dialeto românico em formação foi substituído por outro magrevino,
muito modificado posteriormente por grande influência italiana, que foi sempre a
língua literária da ilha.
Concluindo, o conjunto dessas causas acabaram destruindo politicamente o
Império Romano do Ocidente, cujo fim sobreveio em 476, quando Odoacro, general
germânico a serviço do Império Ocidental, depôs Rômulo Augústulo, o último impera
dor. O Império do Oriente, constituído definitivamente em 395, sobrevive por séculos
Todo esse universo de fatores de várias ordens é que vai explicar a formação
das línguas românicas. Com base nesses fatores, sobretudo de natureza externa, é
possível caracterizar cada uma delas e mostrar por que, de uma variedade razoavel
mente uniforme, como foi o latim vulgar, surgiram línguas diversas ainda que irmãs.
Nesse processo de diferenciação, é preciso lembrar que a latinização não foi
uniforme em todas as partes do Império Romano, conforme já se discriminou acima.
E as línguas românicas vão surgir e se desenvolver nas províncias em que a latiniza
ção tinha lançado raízes mais profundas e resistentes a mudanças políticas e sociais,
bem como a intermináveis guerras e invasões. Distinguem-se várias etapas nesse pro
cesso de evolução do latim vulgar para as línguas e dialetos românicos.
FASE DE B1L1NGÜISMO
152 I E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
osco, ainda que de modo lento. Da mesma forma, houve bilingüismo na Gália (celta
e latim), na Ibéria (ibérico e latim), na Sicilia (árabe e dialeto siciliano) etc.
SUBSTRATO
154 I E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
mas coexiste. Esse fato ocorreu por exemplo, na Ibéria com o fonema /f/ emitido
como /h/ aspirado, influência do substrato ibérico e do adstrato basco; os iberos não
dispunham do fonema /f/, substituindo-o por uma aspiração - o fonema mais próxi
mo de que dispunham. Isso ocorreu inicialmente na região dos Montes Cantábricos
e na Gasconha, limítrofes dos bascos; encontra-se no castelhano e no gascão, apenas
com a diferença de que o gascão aspira sempre o /f/, enquanto o castelhano o conser
va quando seguido de /r/ ou de ditongo, como \at. focum > cast.fuego, gasc. huèc; lat.
frigidu > cast. frio, gasc. heret (com epêntese de um /e/ antes do /r/); nos demais
casos, tanto o castelhano como o gascão seguem o mesmo caminho: lat.filu > cast.
hilo, gasc. hièu\ \ai.furnu > cast. horno, gasc. hiirnu. Entre as línguas e dialetos da
Península Ibérica, o castelhano é o único que apresenta essa mutação, singular tam
bém, além do gascão entre as línguas românicas em geral: lat .folia > port. folha, cat.
fulla, prov. folha, fr.feuille, eng.fògla, h.foglia, log.fodza, vegl. fuola, rom.fo a ie -
e somente no cast. hoja e no gasc. huelho.
As classes cultas castelhanas consideravam a pronúncia do /f/ aspirado, um
barbarismo ou um vulgarismo c mantinham a emissão do /f/. Considerando-se que
quem escrevia o fazia em latim e a escrita se restringia às camadas mais elevadas da
população, compreende-se que as primeiras atestações de termos com /h/ por /f/, só
aparecem no século IX, freqüentemente junto com outros com /f/, como Fortiz em
documentos oficiais e Hortiz na linguagem popular, encontrados em Aragão, e até
oce, do lat .fauce, sem /h/, em 923. Essa duplicidade de formas, nas normas culta e
popular respectivamente, persistiu até o final do século XV, quando as formas com /h/
entraram na norma culta. Foi aspirado durante os séculos XV e XVI, tomando-se mudo
no século XVII (/f/ > /h/ > /φ/). Com a reconquista, essa influência do substrato ibero
estendeu-se para o sul, numa luta entre esses dois fonemas que ainda não terminou.
Essas verificações relativas à ação persistente do substrato permitem superar
certas descontinuidades entre fatos lingüísticos, de quatro a dez séculos, demonstran-
do-se que na realidade não houve nenhum hiato ou ruptura, já que /-nn-/ por/-nd-/ e
/h/ por /f/ sempre permaneceram correntes entre o povo, embora sem serem notados
e anotados; latentes, porém ativos. Essa duplicidade de formas, existente durante
séculos no substrato, é a melhor refutação da tese dos neogramáticos de que os sons
mudam rapidamente e com precisão mecânica, de que as mutações estão completas
tão logo se manifestem. Refuta igualmente a teoria fonológico-estruturalista das
“casinhas” vazias e depois cheias na estrutura, já que de fato as supostas “casinhas”
nunca estiveram vazias, pois estiveram sempre ocupadas e preenchidas pela variante
advinda da ação do substrato, não conhecida30.
30. Cf. Vidos, Manual de Linguística Románica, pp. 212-216; Menéndez Pidal, Origenes dei Espanol, passim.
156 E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
dificuldade na emissão do /{/, a tendência a uma vogal protética sempre que a pala
vra começa por /r/ (lat. rege > bas. errege, rota > errota, ripa > erripa, rugia > arru
gia, “canal ou passagem nas minas”), entre outras, comuns também ao gascão.
SUPERSTRATO
158 I E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
exemplos: lomb. spehon (“observar atentamente”) > it. spiare (> fr. épier, cat. espiar,
cast. espiar, port. espiar)·, lomb. baile ou palk > it. balcone e palco·, lomb. banka e
panka > it. banca e panca - alguns dos quais se difundiram nas línguas do Ocidente
com significado por vezes específico (ver mapa 7, p. 361).
Com a conquista do reino lombardo pelos francos (Cf. p. 144), torna-se mais
difícil distinguir se os empréstimos francos vêm diretamente do novo dominador ou
se o caminho foi o do galo-romance. Há casos em que a fonética ajuda a seguir a via
correta: sabe-se que o /w/ germânico inicial passa a /gu/ nas línguas românicas;
assim, os termos românicos correspondentes ao germ. windan (> fr. guinder, cast.
guindar, port. guindar, it. ghindare) só podem ter vindo através do galo-romance, já
que conservam /gu/ como dígrafo. Entretanto, pela união política os empréstimos
francos se tornaram mais numerosos, sobretudo os relativos aos novos usos e costu
mes, às novas instituições jurídicas e administrativas etc.
Na morfologia, são de origem germânica, especificamente franca ou lombar-
da, certos empréstimos de sufixos, que se difundiram entre as línguas românicas.
Assim -isk por exemplo passou ao provençal como -esc e daí ao italiano sob a forma
-esco, difundindo-se depois às demais línguas românicas como em port. burlesco
(> *burula, “brincadeira”, “gracejo”), it. burlesco, fr. burlesque, prov. burlesc, cat.
burlesc, cast. burlesco, rom. burlesc, eng. burlesc. Entretanto, esse sufixo não era des
conhecido pelas demais línguas indo-européias; daí, ter havido quem questionasse
esse empréstimo. De fato, o indo-europeu dispunha do sufixo -islco, -iska, segundo
Brugmann e Delbriic ( Vergleichende Grammatik der Indogermanischen Sprachen II,
tomo 1, p. 501 s.); no grego, formava diminutivos, com παις > παιδίσκος,
παδ'ισκη (“menininho”, “menininha”); δεσπότης > δεσποτίσκος (“senhorzi-
nho”), άνθρωπος > άνθρωπίσκος (“homenzinho”); no latim, formava adjetivos,
embora mais raros: priscus (< prae + iscus > priiscus > priscus), “antigo”; mariscus
(de mas, maris, “varão”), “masculino”; no celta aparece em nomes de povos, como
Taurisci, Vivisca gens, e em nomes de lugar, por exemplo, Viviscum, Matriscum,
Seniscum', no germânico, -iska é um formante muito produtivo, indicando modo, rela
ção e procedência e também forma adjetivos, como gót. mannisks, ant. a. al. mennisc,
“humano”; gót. gudisks, “divino”; funisks, “ardente”; muitos adjetivos formados com
esse sufixo encontram-se no antigo alto alemão, como kindisk, “infantil”; kuningisk,
“real”; burgisk, “urbano”; spanisk, “hispânico”; romisk e rumisk, “romano”; antarisk,
“estranho”; altisk, “velho” etc.; é encontrado também no lituano sob a forma -iszka:
bèrniszkas, “servil”; deviszkas, “divino” etc. Conclui-se que esse sufixo é uma heran
ça do tronco comum indo-europeu; em vários ramos sua produtividade se reduziu bas
tante, como no latim e no celta, ou se restringiu semanticamente, como no grego, em
que tem sempre sentido diminutivo; sendo muito produtivo no germânico franco, revi
gorou-se também nas línguas românicas pela coincidência com o já existente pela
O R IG E M D A S L ÍN G U A S R O M Â N IC A S j 159
herança latina. No português, os termos emprestados ao grego, como asterisco
(“pequeno astro”), menisco (“pequena lua”) serviram de modelo a outras formações,
como chuvisco, pedrisco, bem como em verbos com denotação diminutiva do tipo
chuviscar, bebericar, lambiscar, mordiscar, namoricar. Observe-se ainda que este
sufixo mantém o /i/, enquanto -esco, semanticamente não diminutivo, vem com /e/:
grotesco, picaresco, pitoresco, carnavalesco, nababesco, livresco, animalesco - e traz
certa conotação pejorativa. Tanto o aspecto semântico como o fonético mostram que
se trata de empréstimos diferentes, embora se possa fazê-los remontar a uma base
única indo-européia.
Ainda em relação aos sufixos, havia no germânico antigo -ing, resultante da
combinação de dois elementos sufixais indo-europeus, l-n-l e 1-kJ (<-ko ou -ka); com
desdobramento da nasal vocálica (l-n-l > l-in-l) e a sonorização /-k/ > l-gl, resultou
-ing, designativo de origem, como Salingi, de pessoas, de seres vivos em geral, ou
considerados como tais: ant. a. al. kuning, “rei”, mahting, “homem poderoso”, husin-
ga (pl.) “deuses do lar”) etc. Encontrado também em outras línguas indo-européias,
como o islandês antigo, esse sufixo era corrente nos idiomas dos godos, francos,
lombardos etc., dos quais passou como empréstimo para as línguas românicas sob a
forma -engo ou -ingo. Na Itália, há topônimos formados por nome de pessoa mais o
sufixo -engo, provenientes do superstrato gótico, como por exemplo, Buttanengo, na
região de Novara ao norte do país (< gót. *Bòttiliggs) e Malarengo (< gót.
Malaharjis) na região de Brescia; outros topônimos provêm do superstrato lombar-
do, que se distingue do gótico pela mutação /-tt-/ > l-zz-l > l-ss-l, em Bussolengo
(Verona) por exemplo, além de se formarem topônimos tanto de nomes lombardos
como de latinos: Massalengo (lomb. mazó) e Pastrengo (lat. pastor). Contudo, nem
toda ocorrência desse sufixo necessariamente é proveniente do superstrato germâni
co, já que se conhece um sufixo pré-romano em -enc.
Na Ibéria, -engo forma sobretudo adjetivos: port. solarengo, cast. solariego
(mas cat. pairai)', port. avo engo; port. mulherengo, cast. mujeriego; port. realengo,
abadengo, reguengo, monstrengo e outros. O sufixo -ardo (< germ. -hart) forma pri
meiramente nomes de lugares e de pessoas, como Bernhart > Bernard (o), Reginhart
> fr. Renard; depois passa a formar nomes comuns, difundindo-se da França para a
Ibéria e Itália; exemplo é gót. bansts (“celeiro”) > fr. ant. bastard, mod. bâtard, prov.
bastart; cat. bastard, cast. bastardo, port. bastardo, it. bastardo, rom. bastard
(“expressão jurídica eufemística para designar o filho gerado fora do matrimônio
legal, no ‘celeiro’, não no ‘palácio’”). Esse empréstimo se tornou bastante produtivo,
sobretudo no italiano e no português, do qual são exemplos galhardo, felizardo, mos-
cardo, javardo, tabardo e outros.
No romeno, a influência e as possíveis contribuições do superstrato germâni
co são poucas e controversas. Gamillscheg enumerou 26 empréstimos gépidas, mas
O R IO E M D A S L ÍN G U A S R O M Â N IC A S | 161
vos: a) -ac: buimac (“perturbado”), burlac (“solteirão”); b) -cã (forma o feminino a
partir do masculino): român/româncã (“romeno/romena”), orãsean/orãseanca
(“urbano/urbana”), sãtean/sãteancã (“aldeão/aldeã”); c) -ealã : pirotealã (“sonolên
cia”), minjealã (“sujeira”), perpelealã (“tormento”); d) -nic: abraznic (“insolente”),
polusnic (“criado”), voinic (“valente”); e) -itã: mlãditã (“raminho”), mranitã (estru
me”), ocnitã (“nicho”). Dentre os prefixos, rãs- (rãz- ante vogal ou consoante sono
ra) foi bastante produtivo no significado básico de “repetição” ou “intensificação”,
como em rãscintãtor (“repetidor de canto”), rãsciti (“reler”), rãscoace (“cozinhar
além do conveniente”); rãzbunare (“vingança”), rãzbate (“penetrar”).
Considera-se como empréstimo eslavo o prefixo ne-, de sentido negativo, que
substitui in- comum às línguas românicas. Entretanto, no próprio latim, o ne- era o
prefixo usado com esse sentido com verbos, como scio/nescio, volo/nolo (< nevolo
> no(y)olo > nolo) e com substantivos, por exemplo,fas/nefas; subsiste em formas
antigas, como *necessis, nefandus, nefastus, neuter, nemo, nullus, nunquam, nus
quam etc. In- era empregado sobretudo com adjetivos e advérbios, como pro-
bus/improbus e improbe. Embora sempre tenha havido concorrência entre as duas
formas, in- expandiu-se consideravelmente na época imperial, na qual aparece em
muitos neologismos, principalmente em Ovidio (indelebilis, indigestus, innabilis,
indefletus, irriquietus etc.). Posteriormente, a linguagem literária, técnica e, em par
ticular, eclesiástica ampliaram consideravelmente o uso de in- na formação de adje
tivos e de substantivos, traduzindo o ót- privativo grego. Por outro lado, tanto ne
co mo in- remontam à raiz indo-européia comum /n/, da qual provieram o ά(ν)-
grego, o a- iraniano, o un- germânico, o an- celta, o ne- eslavo, o a- do sânscrito, o
an- osco-umbro e o in- latino diante de consoante, forma variante de ne-, Essas con
siderações sugerem cautela em atribuir sem mais ao substrato eslavo a presença do
ne- negativo no romeno, já que ele existia na base latina, embora enfraquecido; o
largo emprego do ne- no eslavo, sem dúvida, reviveu no balcano-romance a produti
vidade perdida. Nesse sentido, é inegável a influência eslava, pois o romeno é a única
língua românica que emprega comumente esse prefixo: nearticulat (“inarticulado”);
necinste (“desonra”); nedrept (“incorreto”); nedespãrtit (“inseparável”); nesigur
(“inseguro”); nechibzuire (“irreflexão”) etc.
Essa grande influência do superstrato eslavo sobre o romeno deveu-se em
grande parte ao cristianismo, conforme se notou acima. Enquanto no Ocidente a
Igreja utilizava o latim eclesiástico e depois a “rustica romana lingua” em seus ser
mões, nos Bálcãs o eslavo substituiu o grego na liturgia em fins do século IX; com
isso, os principados romenos, ao norte do Danúbio, adotaram o eslavo eclesiástico
como língua oficial nos séculos X e XI. A convivência política e religiosa com os
eslavos continuou, sobretudo quando Ionitta foi coroado “rei dos búlgaros e dos vala-
cos” em 1204. O povo, porém, continuou a falar o romance. No século XIV, os prin-
162 I E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
cipados da Valáquia e da Moldávia tornaram-se independentes, mas a Transilvânia
continuou sob o domínio húngaro. Mesmo assim, os primeiros documentos valacos
e moldavos, do século XIV, ainda são redigidos em eslavo, ou seja, em médio búlga
ro. Essa situação perdura ainda por mais dois séculos, nos quais a Igreja Ortodoxa e
os governos eslavos impediram o aparecimento de obras em romeno. O primeiro
texto em romeno é a carta de Neacsul, de Címpulung, ao juiz Hans Benkner, de
Brasov na Transilvânia, em 1521. Depois disso, multiplicam-se consideravelmente,
as publicações de livros religiosos em romeno, como conseqüência da “profissão de
fé luterana” de Augusburgo (1530), sobretudo traduções feitas pelo diácono Coresi.
Convém notar que Coresi, natural de Tírgoviste, ao sul da Transilvânia, adotou seu
dialeto, modificando bastante os textos, provenientes de Muramures, e do norte da
Transilvânia. A grande difusão de suas obras fez com que a variante lingüística nelas
usada viesse a se tornar a língua literária romena nos séculos posteriores, cujos albo
res, porém, remontam ao século XVI.
ADSTRATO
O R IG E M D AS L ÍN G U A S R O M A N IC A S 163
a grande diferença de língua e de cultura foi fator que impediu maior aproximação e
possível fusão dos dois povos. Situação semelhante ocorreu com o grego e o latim
durante o período em que a Grécia pertenceu ao Império Romano; nesse caso, a
causa da permanência da situação de adstrato foi a superioridade cultural grega, além
da presença relativamente pequena dos romanos no território grego.
Pode-se afirmar que esse aspecto torna o adstrato diferente do substrato e do
superstrato: no adstrato nenhuma das línguas intervenientes desaparece; apenas con
vivem e se influenciam. No caso dos árabes da Península Ibérica e dos romanos na
Grécia, houve convivência no mesmo território, pelo que se pode denominar tal
situação de “adstrato superposto”, historicamente mais raro. Normalmente, com cer
teza mais de acordo com a acepção dada por M. Valkhoff, o idealizador do termo,
calcado conforme o modelo dos dois anteriores, adstrato designa a influência entre
duas línguas correntes em territórios limítrofes, a que se pode então denominar “ads
trato justaposto”, pelo fato de não ocuparem simultaneamente o mesmo território.
Exemplos desse adstrato justaposto são o antigo castelhano e o basco, as línguas da
Gália e o latim da “Província”, até a conquista de Caio Júlio César (51-50 a.C.), as
línguas germânicas e o latim antes das invasões, e o dialeto romeno da Transilvânia
e o húngaro desde o tempo dos Habsburgos, embora haja aspectos circunstanciais
mais ou menos importantes em cada caso. Conclui-se que o adstrato superposto exer
ça normalmente mais influência que o justaposto, tendo em vista o contato mais ínti
mo entre as duas línguas.
Assim, o domínio árabe na Ibéria e na Sicilia, nesta por dois séculos e meio
(827-1061) e de onde foram expulsos pelos normandos, não logrou constituir um
superstrato lingüístico, mas foi apenas um adstrato superposto, uma vez que as duas
populações, românica e árabe, mantiveram seus respectivos idiomas, embora com
influências mútuas. Na ilha de Malta, porém, na qual as barreiras étnicas, religiosas,
culturais e sociais não estavam tão consolidadas como na Ibéria e na Sicilia, formou-
se um dialeto semita que, com a contribuição de numerosos elementos italianos pos
teriores, constitui o maltes, meio de expressão cultural e literário da ilha. Na Sicilia,
porém, a contribuição do adstrato árabe se reduziu a empréstimos léxicos, topônimos
e nomes de família.
Na Ibéria, a longa permanência dos árabes legou às línguas e aos dialetos
românicos grande contribuição léxica. Donos de uma cultura diferente, hauriram-na
em parte de contatos com civilizações do Oriente, anteriormente conquistado. Os
empréstimos léxicos, comparáveis em importância e em quantidade aos do germâni
co franco ao francês, inicialmente foram os de conteúdo semântico concreto nos sécu
los 1Χ-ΧΙΙ: substantivos em sua maioria e pouquíssimos adjetivos e verbos, que fica
ram geralmente restritos ao português e ao castelhano, pois são menos numerosos no
catalão por motivos históricos (conquista de Barcelona, estabelecimento da “Marca da
64 I E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
Espanha” e do Condado de Barcelona por Carlos Magno, já em 812. (Cf. p. 149). Al
guns exemplos: port. alcachofra, cast. alcachofa, cat. escarchofa; port. aldeia, cast.
a Idea (mas cat. llogarret); port. arrabalde, cast. arrabal, cat. raval; port. alcova,
cast. alcoba, cat. alcova·, port. almofada, cast. almohada, (mas cat. coixi)·, port. tare
fa , cast. tarea, (mas cat. tasca, fr. tâche); port. azul, cast. azul, (mas cat. blau, blavor,
fr. bleu < germ. blau)·, port. alcáçar, cast. alcázar, cat. alcàsser (forma arabizada do
lat. castra, significando “fortaleza” ou “palácio real”); port. acicate, cast. acicate,
(mas cat. agullò) etc. Há empréstimos que só se encontram em português, como
açude, alface, alfaiate etc. Quanto ao número de empréstimos léxicos árabes, diver
gem os romanistas; W. D. Elckoc somou cerca de 4.000; Antenor Nascentes
(Dicionário Etimológico I, Introd.) enumera 609 e Serafim da Silva Neto (História
da Língua Portuguesa, p. 343) estima esse número entre 400 e 1.000 no português.
À medida que desenvolviam suas atividades na Península, os árabes transmi
tiam a nomenclatura correspondente ao romance; assim, deixaram nomes de produ
tos da terra (acelga, açafrão, algodão, alfafa, abricó, azeite, arroz [empréstimo árabe
ao grego όριζα ou δρίζον, por sua vez empréstimo do iraniano], limão e laranja [de
origem persa], açúcar), termos referentes à moradia {bairro, azulejo, alfombra, almo
fada, jarra, taça [de origem persa], alvanel), às vestimentas (aljuba [fr. jupe], jibão,
albornoz, alfaiate, recamar), à administração e à guerra (alcaide, califa, aguazil;
almirante, arsenal, atalaia, adail, alfanje, aljava, alferes, acicate, ginete), ao comér
cio {aduana, armazém, arroba, almude, maravedi, quintal [medida de peso]). Como
substantivo abstrato cita-se apenas alvoroço·, de adjetivos, apenas baldio, mesquinho,
cadimo, algarvio, e os nomes de cor azul (de origem persa), carmesim e escarlate.
Por vezes, termos árabes formam grupos de cognatos, como ár. bátil (“inútil”) > port.
baldo, baldio, debalde (cast. en balde), baldado, baldar (cast. baldar, cat. baldar).
A aglutinação do artigo definido árabe al, cujo /1/ é assimilado por algumas
consoantes subseqüentes (cf. adelo, anadel, agúmia, arrais, açafate, azagaia, açuce-
na, atabaque) nos empréstimos encontrados nas línguas da Ibéria, se deve ao fato de
grande parte dos invasores serem berberes, mouros incultos, cuja língua não tinha
artigos; por isso, os próprios transmissores do árabe aglutinavam o artigo ao nome,
dando à população românica, que aprendia o idioma de ouvido, a clara impressão de
que se tratava realmente de um vocábulo único. Entretanto, tal aglutinação não se deu
aos empréstimos árabes ao siciliano, porque os invasores da ilha eram árabes, mais
cultos, que não aglutinavam sistematicamente o artigo como os berberes. Comparem-
se: ár. al mahzin (“depósito”) > sic. magasenu > it. magazzino, fr. magazin, mas port
armazém, cast. almacén (e cat. magatzeni)·, ár. al dar-assinàa (“casa de construção”)
> sic. darsena (“dique seco”), da qual surgiram muitas variantes na Itália, intemacio-
nalizando-se a forma vêneta arsenal·, ár. as-sukkar > it. zucchero, fr. sucre, cat. sucre,
eng. zucher (al. Zucker, ingl. sugar), mas port. açúcar, cast. azúcar, ár. az-zaferan >
66 I E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
nômicos”, usados para determinar a posição média do sol, da lua e dos cinco princi
pais planetas, dias da semana etc., passou ao port. almanaque, cast. almanaque, it.
almanacco etc. no sentido de “calendário”. O termo está em manuscrito espanhol do
século XIII, citado também nesse século por Roger Bacon (Opera, XV, 120).
Na química, deve-se aos árabes a difusão de alguns termos da química medie
val; do grego bizantino χυμε'ια, os árabes formaram al-kimiya, donde port. alqui
mia, cast. alquimia, it. alchimia, documentado já no século XIII e emprestado às lín
guas do Ocidente, no sentido de “pedra filosofal, substância que transforma metais
comuns em ouro”. O nome árabe mais comum dessa pedra filosofal, porém, era al-
ksir (< gr. ξηρόν, “seco”) > port. elixir, cast. elixir, fr. elixir, it. elisire, rom. elixir,
com o significado de “licor mágico” e “remédio maravilhoso”. Outro empréstimo
árabe às línguas modernas é al-kuhl ou al-kuhul, significando “pó para tingir sobran
celhas e pálpebras”, produzido a partir do antimônio; no português e no castelhano
antigos, álcool designava o antimônio, portanto, o metalóide sólido, de cor branca-
azulada; entretanto, no próprio árabe há referências a preparados líquidos também
denominados “álcool”. Mas foi Teofrasto Paracelso, que, no início do século XVI,
denominou “álcool” a substância volátil extraída do vinho; atualmente, port. álcool,
cast. alcohol, cat. alcohol, fr. álcool, eng. alcohol, it. álcool, rom. álcool (al. Alkohol,
íng. álcool) designa a substância volátil extraída de açúcares e amiláceos.
No domínio dos jogos, provêm do árabe vários termos muito difundidos, como
toda a terminologia referente ao xadrez, aprendida com os persas, que a haviam empres
tado por sua vez dos indianos. Do antigo indiano shaturang(a) tiraram o ár. shitranj, isto
é, “de quatro membros”, por ser composto idealmente de quatro tipos de armas: carros,
cavalos, peões e elefantes; daí port. xadrez, ant. cast. axedreç, mod. ajedrez, fr. échecs,
prov. escac, cat. escacs, it. scacchi. A finalidade do jogo é imobilizar o rei adversário;
daí ter-se trazido também o termo persa shah, “rei”, em shah mat, “o rei (está) morto”,
quando se atinge aquela finalidade, originando port. xamate, cast.jaque y mate ou jaque
mate, fr. échec et mat, it. scacco matto\ influência do castelhano jaque e do francês
échec trouxe xeque ao português, termo denotativo de ameaça ao rei, que substituiu o
primitivo xa em xamate, dando a forma atual xeque-mate ou apenas mate, “morto”. No
francês, échec passou a ser usado em expressões como donner échec, no sentido de “pôr
impedimento”, “controlar”, passando depois a significar “cédula de pagamento”, senti
do adotado pelo inglês sob a forma check, de onde voltou ao francês como cheque e daí
se difundiu para as línguas modernas na acepção de “cheque bancário”.
Ainda no jogo de xadrez, na concepção antiga havia dois elefantes postados
ao lado do rei e da rainha, respectivamente; em árabe, al-fil é “elefante”, palavra que
foi contaminada pela parônima ár. al-faris, “porta-bandeira”, originando port. alfe-
res, cast. alférez, fr. alfier, it. alfiere, designativo das figuras que substituíram as dos
elefantes do primitivo jogo de xadrez e receberam novas designações, com port.
O R IG E M D A S L ÍN G U A S R O M A N IC A S I 169
molimã, “epidemia”; neogr. νόστιμος > rom. nostim, “gentil”, “amável”; neogr.
πλήκτω > rom.plictisi, “aborrecer”; neogr. καλαμάρι > rom. cãlimarã, “tinteiro”.
Por fim, o romeno conta cerca de 50 empréstimos do albanês, alguns dos
quais são muito antigos, mostrando uma notável afinidade entre o romeno, o dalmá-
tico e o albanês. Atribui-se tal afinidade à continuidade geográfica, ao substrato ilí-
rio-trácio comum e ao isolamento das duas línguas românicas. Em relação a esse
substrato comum, a dificuldade está em se localizar o berço do romeno, ou melhor,
do proto-romeno: se na Dácia de Trajano, ao norte do rio Danúbio, ou ao sul. Muitos
romanistas, dentre os quais se destaca Alexandru Philippide (1859-1933), julgam que
o berço do proto-romeno foi à direita do Danúbio, onde teria havido uma simbiose
com o albanês. A ausência de elementos germânicos antigos, o caráter búlgaro dos
mais antigos empréstimos eslavos e as concordâncias com o albanês são os argumen
tos filológicos para essa localização. Admitindo-se que o albanês seja continuação de
um dialeto trácio-ilírico, apesar do pouquíssimo conhecimento que se tem dessas
duas línguas indo-européias (o trácio, do grupo satem, e o ilírio do kentum), havería
um substrato comum que explica, com certa segurança, a correspondência entre anti
gos empréstimos ao romeno e os termos encontrados no albanês: rom. mal, “margem
escarpada”, alb. mal, “monte”. (Cf. Dacia Maluensis da época do imperador Marco
Aurélio (161-180 d.C.) e Dacia Ripensis, terra natal de Aureliano (215-275), onde
também venceu godos e vândalos); rom. argea, “cabana de verão onde se tece o
linho”, alb. ragal, “cabana”; rom. abur, “vapor”, alb. avul; rom. brad, “abeto”, alb.
breth; rom. mazãre, “ervilha”, alb. mothule etc. Esses empréstimos podem ser dire
tos do substrato ou através do albanês. Do adstrato e, portanto, mais recentes, são alb.
budze > rom. buzã, “lábio”; alb. grumas > rom. grumaz, “garganta”; alb. kopil > rom.
copil, “menino”, “criança”; alb. thap > rom. [ap, "bode”.
Em conclusão, o exposto mostra a existência de uma complexa rede de inter-
relações dos idiomas, que se influenciam mutuamente, em grau maior ou menor con
forme o prestígio da cultura que representam, conforme as diversas situações de subs
trato, superstrato e adstrato. Em que pesem as dificuldades provenientes do pouco
conhecimento de que se dispõe sobretudo do “terminus a quo” em relação sobretudo
ao substrato, não se pode negar a produtividade desses conceitos, quando usados com
critério. Não é raro que alguma dessas três situações se altere no decurso do tempo,
podendo mesmo confundir-se, tornando difícil caracterizá-las com clareza e precisão,
como no caso do trácio-ilírico, do albanês e do romeno. Mudança de uma condição a
outra temos no celta, que foi adstrato do latim antes das conquistas de Caio Júlio César;
depois da incorporação da Gália ao Império, veio a tomar-se substrato do latim. No
século VI, os celtas da Britânia ocuparam e colonizaram a Bretanha francesa e a língua
celta se tomou superstrato do romance da região, tendo sido até então adstrato; com a
posterior colonização francesa da Bretanha, essa variedade celta tornou-se outra vez
O R IG E M D A S L ÍN G U A S R O M Â N IC A S j 171
decalques encontrados, por exemplo, no alemão: lat. patria terra > al. Vaterland\ lat.
conscientia > al. Gewissen; lat. misericors > al. barmherzig; lat. omnipotens > al. all-
màchtig; lat. compassio > Mitleid; lat. exceptio > al. Ausnahme; lat. obiectum > al.
Gegenstand\ lat. curriculum vitae > al. Lebenslauf. Outros decalques foram feitos pelo
alemão sobre o modelo românico, sobretudo francês, como em fr. expression > al. aus-
druck\ fr. expressif> al. ausdruckvoll·, fr. impression > al. Eindruck etc., cm que o con
teúdo semântico é latino e românico e apenas os elementos formais são alemães,
segundo acontece com os decalques em geral. Aliás, decalques de vocábulos latinos
estão presentes praticamente em todas as línguas ocidentais: lat. progressus (> port.
progresso, cast. progresso, cat. progrés, fr. progrès, eng. progress, it. progresso, rom.
progres) > al. Fortschritt, dinamarquês Fremskrid, sueco framsteg, holandês vooruit-
gang, tcheco pokrok, croata napredak, ncogr. πρόοδος, húng. haladás.
O latim medieval serviu de modelo também cm outros níveis lingüísticos; na
sintaxe, era parâmetro da prosa literária das línguas românicas ocidentais, que man
tiveram desse modo a tradição. Trata-se, pois, de influência culta.
O exposto acima refere-se mais à variante denominada “latim medieval pro
fano”, segundo o esquema da p. 91. Entretanto, o “latim eclesiástico” sem dúvida
teve maior peso como fonte de empréstimos para as nascentes línguas românicas.
Continuação do literário, o eclesiástico é o latim dos Padres da Igreja, dos documen
tos oficiais etc. Obviamente, não era o clássico de Cícero ou de César, mas também
não se identifica com o chamado latim vulgar, nem com o “latim cristão” dos primei
ros séculos. Será útil caracterizar essas variedades.
A todos nós pareceu necessário que cada bispo faça homílias, que contenham os ensinamentos indis
pensáveis, com os quais os fiéis sejam instruídos... E que cada um procure traduzir com clareza
essas homílias para a rústica romana língua ou teodisca, de modo que todos possam compreender
mais facilmente o que se diz.
Essa determinação mostra que, naquele início do século IX, o povo não mais
entendia, e muito menos falava, o latim, em sua variedade vulgar, falada, que já se havia
transformado na “rustica romana lingua”, ao lado da simplesmente “teodisca” ou ger
mânica; é clara a oposição entre essas variedades e o latim eclesiástico, até então usado
nos sermões e no qual estão redigidas as determinações do Concilio. Note-se o adjeti
vo “rustica”, denotando o caráter inculto daquela norma na visão dos que usavam o
latim eclesiástico culto. A expressão “Romana lingua”, mas sem o qualificativo “rusti
ca”, encontra-se em outro documento, datado de 14/2/842, os Juramentos de Estras
burgo. Redigidos em latim medieval pelo cronista Nitardo, os Juramentos trazem tam
bém o primeiro texto nessa “Romana lingua”, ao lado da tradução na “teodisca lingua”.
São quatro juramentos, com os quais Luís, o Germânico, e Carlos, o Calvo, filhos de
Luís, o Pio, depois da batalha de Fontenoy-en-Puisaye (841), renovaram sua aliança
contra o irmão Lotário. Luís, o Germânico, era rei dos francos orientais, em cuja terra
se usava língua germânica, enquanto Carlos, o Calvo, era rei dos francos ocidentais,
cuja língua era o galo-romance. Nesse contexto, Luís, o Germânico, prestou seu jura
mento na “Romana lingua” para que os soldados de seu irmão pudessem entender,
enquanto Carlos, o Calvo, fez o mesmo na “teodisca lingua” para que o exército de Luís
também pudesse entendê-lo; depois, o exército de cada um dos reis jurou em sua pró
pria língua. Note-se que os reis Carlos e Luís conheciam as duas línguas, enquanto os
soldados somente falavam uma, a “romana” ou a “teodisca”. Filologicamente, os
Juramentos de Estrasburgo são importantes porque delineiam o quadro linguístico do
século IX na Europa ocidental: o latim medieval, como a língua escrita da cultura e duas
variantes populares, faladas, genericamente denominadas “Romana lingua” e “teodis
ca lingua”. Confirma-se com isso a verificação do Concilio de Tours de que o povo não
mais entendia o latim.
O R IG E M D AS L ÍN G U A S R O M A N IC A S I 173
adaptar-se às condições lingüísticas dos novos convertidos, em sua maioria provenien
te das classes sociais inferiores. Essa característica é perceptível na ítala ou Vetus
Latina, com seus numerosos plebeísmos. Entretanto, desde os primeiros tempos, a
Igreja teve seus doutores, conhecedores do latim culto e conscientes dessas duas varie
dades lingüísticas, como Santo Agostinho (354-430) ao dizer: “Melius est reprehen
dant nos grammatici quam non intelligant populi” (“É preferível que os gramáticos
nos repreendam do que os povos não nos entenderem”) {Com. in Psalm. 138, 20).
Com a chamada “paz constantiniana”, decorrente do Edito de Milão (313),
verifica-se um nova fase, criativa, mas de caráter erudito, que será o latim eclesiásti
co propriamente dito, a lingua permanente da Igreja. O latim cristão, porém, era uma
língua de caráter técnico e religioso, calcada sobre a κοινή grega dos primeiros tem
pos do cristianismo; nessas condições é que surgem as traduções bíblicas para o
latim, mantendo-se o mais fielmente possível os torneios, as expressões e as constru
ções do original grego, que contém, por sua vez, muitos hebraísmos.
Roma e África do Norte são os dois maiores centros iniciais de formulação do
pensamento cristão em latim; da África provêm os mais antigos documentos cristãos
em latim, destacando-se Acta Martyrum Scillitanorum e Passio Perpetuae et
Felicitatis, escritos por volta de 180. Ligados à África são também Tertulíano
(Quintus Septimius Florens Tertulianus, 160-240), nascido em Cartago, Santo
Agostinho (Aurelius Augustinus) nascido em Tagasta (atual Algéria), São Cipriano,
bispo de Cartago (248), e Marcus Minucius Felix (200-240), de provável origem afri
cana. Esses autores cristãos, porém, conheciam bem os clássicos latinos, dos quais
receberam grande influência. Recorde-se o sonho de São Jerônimo, contado por ele
mesmo: Diante de Cristo, declara-lhe ser cristão, ao que Cristo lhe responde com
severidade: “Mentiris, Ciceronianus es, non Christianus; ubi thesaurus tuus, ibi et cor
tuum” (“Mentes; és ciceroniano e não cristão, pois onde estiver teu tesouro, ali tam
bém estará teu coração”). Portanto, os dirigentes eclesiásticos, os doutores das
Igrejas e as pessoas cultas que abraçavam o cristianismo, conheciam uma variedade
do latim, muito próximo ao da decadência. Essa variedade, com maior ou menor
influência do latim clássico, tornou-se língua eclesiástica; paralelamente, o povo cris
tão usava uma variedade popular, baseada no “latim vulgar”, enriquecida com nume
rosos empréstimos gregos e adaptações semânticas de termos latinos para expressar
a visão cristã do mundo.
Como empréstimos gregos, o latim cristão apresenta, entre outros, anathema,
angelus, apostata, baptisma e baptizare, catechumenus, charisma, erisma, diabolus,
diaconus, eucharistia, ecclesia, eleemosyna, episcopus, evangelium, martyr, myste
rium, neophytus, presbyter, synodus etc. Outros termos gregos foram adaptados ao
léxico latino, segundo as características e tendências da norma vulgar, por tradução
aproximada, como σαρκικός > carnalis·, πνευματικός > spiritalis·,
174 I E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
άποκάλυψις > revelatio; επιφάνεια > epifania; λόγος > verbum; μεγαλεία >
magnalia; παλιγγενεσία > regeneratio; άποκατάστασις > restauratio.
Outros termos foram semanticamente adaptados, por metáfora ou por metoní-
mia, para expressar a visão cristã, como por exemplo, em lavacrum, “banho frio” >
“batismo”, peccare, “tropeçar” > “infringir um mandamento”, “pecar”; virtus,
“força” > “qualidade moral”; salus, “bem-estar” > “salvação da alma”; gratia, “bene
ficio” > “dom divino”; mysterium, “algo secreto” > “verdade revelada”; confiteri,
“reconhecer o erro cometido” > “confessar” (a fé ou os pecados).
Nos campos morfológico e sintático, é difícil apontar características do cha
mado latim cristão que o distingam claramente do latim vulgar. Na prática, tudo
quanto se afirma de um é possível afirmar do outro, como o emprego do neutro plu
ral pelo singular (retia por retes, “rédea”, ligna por lignum, “lenha”, ou pira por
pirum, “pera”), ou mudança de conjugação dos verbos, fato muito comum em todas
as línguas românicas, ou ainda a preferências por diminutivos, que é uma caracterís
tica do latim vulgar (Cf. p. 97). O cristianismo não modificou a língua falada pelo
povo, mas alterou e modificou a mentalidade, a cosmovisão e com isso também o
modo de expressar essa nova realidade mais com um léxico adequado do que com
novas estruturas morfológicas e sintáticas.
Inicialmente, o latim usado pela Igreja estava mais próximo da variedade vul
gar, uma vez que os próprios apóstolos, em sua maioria, não eram homens letrados,
e o maior número dos que abraçavam a nova fé eram pessoas humildes e incultas.
Posteriormente, a partir do século IV, o latim eclesiástico se aproxima da norma lite
rária através dos escritos dos Padres e Doutores da Igreja, ainda que mantenha pon
tos de contato com a língua do povo, sobretudo nos primeiros séculos. Essa norma
eclesiástica, porém, manteve nos diversos níveis lingüísticos tudo quanto era neces
sário à clara expressão do pensamento. Nesse aspecto, o latim eclesiástico e o cha
mado latim profano não se distinguem senão pela temática abordada (ver esquema na
p. 91). Enquanto o latim vulgar, e com ele o latim cristão, se fragmentava em nume
rosos dialetos, durante a fase “romance” das línguas românicas, o latim, herdeiro da
tradição literária romana, tomou-se a língua da Igreja, das escolas e das ciências,
desde a queda do Império Romano até o Renascimento, quando as línguas români
cas começaram a fazer-lhe concorrência mais séria.
O latim medieval, dito profano, foi utilizado geralmente por pessoas cultas
que o aprendiam e o utilizavam em obras de todos os gêneros (história, medicina,
matemática, jurisprudência, filosofia, crônicas, narrativas etc.). Sua utilização era
O R IG E M D A S L ÍN G U A S R O M Â N IC A S | 175
mais individual, não era imposto e, por isso, manteve-se em níveis lingüísticos geral
mente aceitáveis.
No latim eclesiástico, porém, houve períodos de decadência, em que até as
fórmulas rituais sofriam mutilações. Lembre-se novamente o fato de o papa Zacarias
(741-752) ter sido levado a reconhecer a validade do batismo ministrado por padres
com a estranha fórmula “In nomina de Patria, et Filia et Spiritua Sancta”. Nesse con
texto, situa-se a chamada Renascença Carolíngea no século IX. Carlos Magno (768-
814) percebeu a grande decadência do clero em geral; temendo mau entendimento
das Escrituras, o perigo resultante para a missão salvadora da Igreja, convocou gran
des mestres, como Alcuíno, da Inglaterra, Paulo Diácono, Pedro de Pisa e Paulino de
Aquiléia, da Itália, e Teodulfo, da Espanha, para elevar o nível cultural do clero. Por
ordem do imperador, dioceses e abadias fundaram escolas, onde se ensinava o latim
ciceroniano; a conseqüência foi a separação clara entre o latim e o romance, elimi
nando-se o “latim arromançado”. Na Espanha, a chamada Reforma de Cluny reabi
litou o latim clássico, sobretudo sob o rei Afonso VI (1072-1109).
O efeito desses movimentos de reforma e de aprimoramento foram duradouros
e o conhecimento do latim aprofundou-se consideravelmente, inclusive com o apareci
mento de numerosos escritores, poetas, teólogos e pensadores, firmando-se ainda mais
o latim como língua literária e científica, pelos menos até o século XVIII, mesmo
depois que as línguas modernas românicas, germânicas e eslavas se haviam firmado.
Pelo menos até o Renascimento, todas as obras eram escritas em latim, bem como as
leis, as ordenações régias ou eclesiásticas, testamentos, escrituras e documentos em
geral nos tabelionatos e até as receitas médicas; como decorrência desse excesso de uso
do latim, não entendido pela população, o governo português determinou, em 1498,
que essas receitas fossem escritas em português, impondo penas ao médico que as exa
rasse em latim, bem como ao boticário que as aviasse. O mesmo aconteceu na França,
em 1539, quando o rei Francisco I mandou, com a ordenação conhecida como Villers-
Cotterêts, que todas as sentenças fossem registradas e transmitidas aos interessados em
francês e não mais em latim, a fim de se evitarem más interpretações. Também nas
escolas, o ensino era ministrado em latim. As primeiras tentativas de se usar a língua
materna foram as de Port-Royal, no século XVII; nas “Petites Ecoles” passou-se a
empregar o francês no aprendizado do latim, do grego e de todas as demais disciplinas.
E nesse imenso acervo cultural e literário, adstrato sempre disponível, que as
línguas românicas vão buscar os elementos lingüísticos, de que necessitassem em
todos os níveis; trata-se, portanto, de influência culta, mas muitas vezes assimilada
pela língua falada, de tal modo que frequentemente se torna difícil reconhecê-la.
•Representou ainda um grande laço de união entre as línguas românicas do Ocidente,
conferindo-lhes certas semelhanças, independentemente das de sua origem, o que
não aconteceu com o romeno, isolado desses influxos por diversos motivos.
A R o m â n ia
CONCEITO DE ROMÂNIA
PERÍODOS DA ROMÂNIA
ROMÂNIA ANTIGA
ROMÂNIA MEDIEVAL
A ROMÂNIA 179
ainda por cerca de dez séculos; ali, porém, o predomínio da língua e da cultura gregas
sempre foi incontestável, embora o latim tivesse sido a língua oficial por muito tempo.
Assim, com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, o conceito de
România passou a ser principalmente cultural e lingüístico e eventualmente político.
A România Medieval abrange as regiões em que se continuou a falar o latim vulgar,
agora em rápido processo de fragmentação rumo a dialetos e línguas românicas atra
vés da fase romance. Trata-se de uma România reduzida, composta pela Itália, Récia,
Gália, Ibéria, ilhas mediterrâneas, Dalmácia e Dácia, territórios onde, grosso modo,
nasceríam os dialetos e as línguas românicas. Perderam-se as já citadas regiões fra
camente romanizadas; os Bálcãs, como o atestam dados do substrato em vários pon
tos, desromanizaram-se mais lentamente. A Dalmácia continuou pertencendo ao
Império do Ocidente na divisão de 395, depois da morte de Teodósio, o Grande,
enquanto a região do leste, dita “Praevalitana” passou a pertencer ao do Oriente.
Assim, a antiga Dalmácia permaneceu por mais um século e meio sob a influência
de Roma, tendo sido dominada por Constantinopla em 535; com isso, sua evolução
lingüística acompanhou em parte a das línguas românicas ocidentais. Explica-se
desse modo que o ragusano, dialeto da região de Ragusa ao sul, só tenha desapareci
do no século XV; e o dalmático, língua falada ao longo da costa do mar Adriático e
cujo último reduto foi a ilha de Veglia ou Querso (esl. Krk), donde o nome veglioto,
descoberto e estudado por Matteo Bartoli, desapareceu somente no fim do século
XIX (ver mapa 12, p. 367).
A perda desse território da România começou durante a Idade Média; os dia
letos românicos foram sendo lentamente empurrados em direção ao mar, tomando-se
substrato das línguas eslavas hoje ali dominantes. A Dácia, mesmo isolada e total
mente cercada por falares não românicos, nunca deixou de fazer parte da România,
bem como pequenas ilhas lingüísticas onde se falam variedades consideradas dialetos
do romeno.
Na Gália, perdeu-se a parte oriental da Bélgica e parte da Bretanha, ocupada
pelos bretões celtas provenientes, no século VI, das ilhas britânicas e falantes de uma
variedade lingüística do ramo celta britânico, como o címrico e o cômico. Na
Península Ibérica, exclui-se apenas o País Basco, na divisa com a França e ao longo
do golfo de Biscaia; seu território, porém, vem sendo diminuído através dos séculos;
hoje abrange aproximadamente a metade do espaço que ocupava no século XVI.
No continente africano, as perdas da România foram grandes. A África
Romana constava da Africa Proconsularis (região da antiga Cartago), da Mauretania
Caesarensis, Tingitana e Numidia, ou seja, do Marrocos à Tripolitânea em termos
atuais. Todo o norte africano havia sido bem romanizado até Leptis Magna, na pro
víncia da Africa Proconsularis-, nos territórios mais ao oriente, a presença grega era
grande e a latinização extremamente tênue. Com a invasão dos vândalos e a subse-
ROMÂNIA MODERNA
A ROMÂNIA 181
A Algéria pertenceu à França de 1830 a 1962, ano em que lhe foi concedida a inde
pendência completa, condicionada apenas à concessão de garantias aos franceses ali
residentes. Em 1906, cerca de 13% da população era francesa; com a independên
cia, muitos desses franceses denominados "pieds noirs” (“pés pretos” ) emigraram.
Por causa do grande número de variedades dialetais autóctones, o francês ainda
hoje é a língua de cultura tanto nos países do norte da África (Argélia, Tunísia,
Marrocos) como nos territórios centrais do continente, que foram antigas posses
sões francesas.
No Oriente, o português se fixou nos pequenos enclaves conquistados na
índia: Diu, Damão, Goa, Mangalor; com a ocupação militar desses territórios por
Nehru, em 1961, a situação do português ficou difícil. Já em Macau, na foz do rio
Sikiang na China, o português evoluiu para um dialeto crioulo ainda hoje existente,
tendo acontecido o mesmo em Java, Málaca e Singapura e em alguns pontos da ilha
do Ceilão, onde se fala o crioulo malaio-português. Também o castelhano das
Filipinas veio a se transformar em um tipo crioulo. De modo semelhante, na ilha de
Curaçao, próxima da Venezuela, nas Antilhas, formou-se uma variedade crioula,
denominada “papiamento”, com base inicial portuguesa mas atualmente com forte
influência castelhana, que dispõe até de modesta literatura e é usada em jornais e
revistas, embora a ilha seja uma possessão holandesa11. Em fins do século passado,
as possessões francesas no Oriente compreendiam a Cochinchina (1862), o
Cambodja (1863), o território do atual Vietnam (1883), Laos (1893) e Tonkin, ao
norte (1884); na Península da índia, pertenceram à França os enclaves de Yanaon,
x '
31. Como exemplo das características gerais de um dialeto crioulo, segue um texto em papiamento, publicado
no jornal Bon Dia Aruba, em Oranjestad, capital da ilha Aruba, que com as de Curaçao c Bonaire constitui
o pequeno arquipélago de domínio holandês no Caribe; o texto é de 29 de julho de 1994:
“Nos norma y balornan a desaparecé
E ehempelnan aki ta demostrá bon clá cu nos gobernantenan tampouco no ta conciente di nos cultura.
E concientisacion di nos cultura a cuminsá na scol, pero no mediante di gobierno, pero mediante un comision
boluntario. PAPIAMENTO, nos idioma nacional, tainbe ta un parti importante di nos cultura. Tambe na e
parti aki nos mester pone mas atencion, principalmente awor cu nos tin masha hopi influencia di otro idioma.
Seis ana pasa a lanta e comision PAPIANDO PAPIAMENTO. Meta di comision mencioná ta pa promové
Papiamento. Tabatin diferente actividad y c último proyecto tabata e pôster “JufTrouw ik heb een boter mee-
gebrengt”, eu a sali a ana aki y eu ta trata e problema di idioma den ensenansa.
Actualmente e promé eurso di Papiamento Grado Tres [Papiamento L.O.] na Aruba ta tumando lugar na
Instituto Pedagogieo Arubano. Pa e curso e vaknan cu ta wordo duna ta. fonética, fonologia y graniatica di
Papiamento. Riba e tereno di Papiamento a haci diferente investigacion cientifico. Actualmente Instituto di
Cultura junto cu Departamento di Knsefianza ta traha riba e investigacion di frecuencia di palabra. Manera
nos a ripará tin hopi trabao pa haci riba e tereno di cultura. Mester pon mas atencion na historia cultural di
Aruba y esaki principalmente den ensenanza. Pesey analizá bon bo vota, busca esun eu bo ta sinti eu Io por
aportá mas riba e tereno aki. Deposita bo voto eu nos cultura y nos edueaeion den mente. Ta algo cu mester
di un renovacion y continuacion”.
a r o m â n ia 183
românicas, passando-se por uma fase intermediária comumente denominada “roman
ce” e que eventualmente poderá ser subdividida.
FASE LATINA
Esta fase latina corresponde ao período em que o latim vulgar e urbano era a
língua do Império, isto é, aproximadamente do século VI a.C. ao século V ou VI d.C.,
durante os quais intervieram todos os fatores internos e externos que, posteriormen
te, farão surgir as línguas românicas. Embora o “terminus a quo” seja o latim vulgar,
os fatos mostram que a relativa coesão interna da norma vulgar foi mantida, enquan
to o latim da administração e outras instituições centralizadoras atuavam como cata
lisadores. Com o desaparecimento da norma urbana, no início do século VI aproxi
madamente, a vulgar entrou em processo de fragmentação mais ou menos rápido
conforme a região. A rapidez da fragmentação foi determinada por fatores como o
grau de latinização e a ação dos substratos e superstratos, além das variações diale
tais do próprio latim vulgar.
Quanto a essas variedades do latim vulgar, muito se tem discutido. Levados
pelo propósito de dar às línguas românicas uma fonte única, romanistas do século
passado exageram em salientar uma homogeneidade quase absoluta, dificilmente
sustentável. Contudo, as divergências de pormenor entre as línguas românicas postu
lam bases latinas vulgares diversificadas e explicadas pela época em que a região foi
latinizada, pelas distâncias em relação ao centro e pela dificuldade de acesso e de
comunicação. Desse modo, as regiões de colonização mais ajitiga teriam um latim
mais arcaico, enquanto as mais recentes apresentariam uma língua mais evoluída. A
distância da Ibéria e da Dácia, em relação a Roma, explicaria os arcaísmos do latim
vulgar dessas regiões, o mesmo acontecendo com a Sardenha, pelas dificuldades de
acesso, além das inibições normais decorrentes de se considerar a ilha como terra de
degredo. Essas circunstâncias, porém, podem ter sido atenuadas pela presença da
administração e os outros fatores apontados.
Por outro lado, são também inegáveis as numerosas concordâncias panromâ-
nicas no léxico, na fonética, na morfologia e na sintaxe. Em conclusão, pode-se afir
mar que o latim vulgar, como toda língua ou dialeto falado em regiões amplas, apre
senta uma uniformidade básica com variantes mais ou menos notáveis. Exemplo de
grande uniformidade é dado pelo latim literário, escrito, sendo muito raras as exce
ções nessa norma, como a controvertida “patavinitas” de Tito Lívio (59 a.C.-17 d.C.).
O governador da Gália Cisalpina, Asinius Pollio, segundo relato de Quintiliano (Ins
titutio Oratoriae, de 1.5.56 e 8.1.3), criticou o sabor provinciano de certas expressões
de Tito Lívio, contrastantes com a autêntica urbanitas romana, por usar regionalis-
FASE ROMANCE
Esta fase abrange o período em que o latim vulgar começa a se modificar até
se transformar nas línguas românicas modernas. Trata-se de um processo lento, que
se estende por séculos e acabou por alterar estruturalmente o latim vulgar e fragmen
tar sua unidade no plano territorial. Cronologicamente, é muito difícil estabelecer
datas, mesmo aproximadas; entretanto, admite-se que a perda da quantidade vocáli-
ca e sua substituição pelo acento de intensidade e outras modificações fonéticas se
deram nos séculos IV e V As modificações morfológicas e sintáticas, como a substi
tuição dos casos por torneios preposicionados, a criação dos artigos, a conjugação
passiva só analítica, as formas verbais perifrásticas etc. tornam-se claras apenas nos
séculos VII ou VIII. Essas breves averiguações mostram que não houve nenhum limi
te cronológico claro entre o latim e as línguas românicas, não sendo, portanto, pos
sível dizer quando o latim vulgar deixou de ser falado, pois foi um processo gradual
sem maiores injunções, cujo “terminus ad quem” são as línguas românicas.
Chegou-se, assim, a uma época em que esse conjunto de modificações fez
com que o latim já não fosse mais entendido. A esse tipo de linguajar se deu o nome
de romance, originário do Romanice fabulare, oposto ao Latine loqui. A primeira
atestação, muito clara, da existência desse romance é o já citado cânon 17 das reso
luções do Concilio de Tours. Sabendo-se que qualquer modificação em grandes ins
tituições, como a Igreja, é lenta, pode-se afirmar com segurança que já antes do sécu
lo IX o povo em geral ou grande parte dele só falava o romance e não entendia mais
latim, conhecido apenas por aqueles que freqüentavam as escolas e essas eram pou
cas, destinadas preferencialmente a nobres e clérigos.
Da mesma forma que o latim vulgar, as variedades não foram escritas. Os que
escreviam, faziam-no em latim medieval, sob as mais diversas denominações, como
latim patrístico, litúrgico, eclesiástico, dos diplomas, das chancelarias, notarial, dos
tabeliães etc., ainda que nesses documentos se encontrem muitos termos romances,
mais numerosos que os do latim vulgar em textos literários. A atitude das pessoas cul
tas em relação ao romance era semelhante à dos escritores e gramáticos latinos relati
vamente ao sermo plebeius. Entretanto, em razão de essa elite culta, não houve de fato
interrupção entre a literatura latina tardia e a literatura latina medieval; os modelos para
a prosa e para o verso continuaram a ser os clássicos, residindo a dificuldade, cada vez
maior, no manejo de uma língua não mais falada ordinariamente; nesse contexto, sur-
a r o m â n ia 185
gem os glossários (ver p. 127), destinados a facilitar a leitura de textos em latim, lín
gua que já soava diferente, como quando lemos textos do português arcaico.
O processo modificador, em direção ao romance e às línguas românicas, come
çou bem cedo sob a influência dos substratos e dos adstratos, já durante o período do
bilingüismo. Datam desses primórdios os empréstimos léxicos das línguas itálicas (tos-
cano, prenestino, paduano etc.), que Quintiliano considera como verba peregrina
(“palavras estrangeiras”), embora afirmando “licet omnia Italica pro Romanis habeam”
(“ainda que considere romanas todas as [palavras] itálicas”) em sua Institutio Oratoriae
1.5.56. Com a queda do Império, as forças do substrato e do superstrato aceleram o pro
cesso, ocasionando o que W. von Wartburg denominou Ausgliederung, desmembra
mento ou fragmentação lingüística da România.
A evolução desse processo modificador e fragmentador era percebida por
observadores, como São Jerônimo (348-420), discípulo de Aelius Donatus, ao afir
mar que o latim se modificava “et regionibus quotidie... et tempore” (Comm. ad. Gal.
2.3). A hipérbole expressa pelo quotidie (“diariamente”) denota a rapidez da frag
mentação lingüística aos olhos do autor. Os regionalismos e os empréstimos léxicos
se multiplicam e se fortalecem. A ausência de um fator de unificação, como havia
sido, por exemplo, a administração romana, facilitou a ação, embora inconsciente,
das tendências modificadoras na fonética, na morfologia, na sintaxe e no léxico. No
período romance, a fragmentação da România foi tão grande que nenhuma varieda
de lingüística conseguiu a princípio destacar-se como comum a alguma região mais
vasta, conforme se vê na história de cada uma das línguas românicas.
AROMÂNIA I 187
extraordinária unidade linguística, explicada pelo fato de ter como modelo a língua
oficial da chancelaria do reino de Aragão.
A língua literária italiana fundamenta-se nas obras de Dante Alighieri (1265-
1321), Francesco Petrarca (1304-1374) e Giovanni Boccaccio (1313-1375), escritas,
em parte, no dialeto toscano ou, mais precisamente, florentino. Quando a Accadenda
delia Crusca, influenciada pelas Prose delia volgar língua, publicadas em 1525 por
Pietro Bembo, escolheu como modelo de seu primeiro dicionário a língua daquela
famosa tríade, especialmente a de Boccaccio, o florentino do século XIV se consa
grou como a língua literária da Itália, caso único entre as línguas românicas. Esse
retorno ao modelo medieval, já literário, explica a manutenção das mesmas feições
linguísticas, tanto que um leitor italiano de hoje não encontra maiores dificuldades
em compreender a Divina Commedia de Dante, a não ser uma ou outra expressão. A
grande aceitação da variante florentina entre os intelectuais obstou que outros diale
tos chegassem à condição ambicionada de língua literária.
No conjunto das línguas românicas, os motivos principais que levam uma
variedade dialetal à categoria de língua literária são de ordem cultural e política.
Onde nenhum desses motivos foi suficientemente forte, nenhuma variedade lingüís-
tica conseguiu sobrepor-se às demais; é o que se deu com o rético, em cujo ramo oci
dental pelo menos cinco dialetos ainda disputam o privilégio de ser a língua literária.
Na Romênia, a falta de unidade política fez com que a verdadeira literatura romena
só surgisse no século XIX.
Em conclusão, cada língua românica tem sua história característica e uma tra
jetória própria, que convém conhecer. Vejamos, a seguir, os principais tópicos da his
tória externa de cada uma delas; eventualmente, serão citados também fatos da his
tória interna.
O Ro m e n o
Traianus, victa Dacia, ex toto orbe Romano infinitas eo copias hominum transtulerat ad agros et ur
bes colendas. (Breviarium ab urbe condita, VIII, 6)
88 j E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
(
Vencida a Dácia, Trajano havia transferido para lá imensas quantidades de pessoas para habitar as
cidades e cultivar os campos.
Essa substituição de população era comum depois das conquistas iniciais de Roma,
tornando-se muito rara posteriormente. No caso da Dácia, ela explica o fato dessa
região ter sido latinizada no curto período de cinqüenta anos.
O abandono precoce da região por Roma teve consideráveis conseqiiências
culturais e lingüísticas. Enquanto as línguas românicas do Ocidente mantinham con
tato permanente com o latim medieval da Igreja, das escolas, da administração e dos
documentos oficiais, o romeno permaneceu no âmbito da cultura bizantino-eslava,
cuja língua oficial e religiosa era inicialmente o grego. Depois, com a constituição
dos principados eslavos, passou-se a usar o eslavo antigo e o médio búlgaro; esse
eslavo então empregado foi denominado também “paleoeslavo” ou “antigo eslavo
eclesiástico”, escrito com o alfabeto cirílico. O Estado romeno começou a se consti
tuir, quando Ionitza Asan foi coroado “rei dos búlgaros e dos valacos” em 1204.
Enquanto os húngaros se apoderavam da Transilvânia, ao norte, a Valáquia e a
Moldávia se tornaram principados independentes no século XIV. A Valáquia, que os
nativos, mantenedores mais fiéis da tradição latina, chamavam Tarã Romaneciscã,
ocupava o território ao norte do rio Danúbio até aos montes Cárpatos. Destaca-se,
nesse período, a figura de Besarab, voivoda de Arge§, região do centro da România,
que venceu os húngaros, sendo por isso celebrado em poemas épicos como o Negru-
Voda, o fundador da Valáquia. A voivodia ou principado da Moldávia foi fundada por
Bogdan, voivoda da região de Muramurej, ao norte, libertando-se dos húngaros em
1359. No século XV, as duas voivodias foram submetidas pelos turcos. Em 1859,
conseguiram a independência e a união de ambas formou a Romênia moderna, reco
nhecida internacionalmente em 1878.
A longa e atribulada história da Romênia se reflete, obviamente, em sua cul
tura e em sua língua. Nos primeiros documentos, a língua usada é o médio búlgaro;
o paleoeslavo substituiu o grego eclesiástico em fins do século IX, quando a Igreja
búlgara se declarou independente da de Constantinopla. Em 1020, a Igreja romena se
uniu à búlgara, ainda que os romenos tenham sido cristianizados por missionários
ocidentais, conforme o comprovam os termos cristãos mais antigos, de origem lati
na, como angelu > inger (“anjo”), basilica > bisericã (“igreja”), paganu > pagin
(“pagão”, “não-batizado”) etc.
Esses primeiros escritos são livros religiosos dos séculos XIII e XIV, prove
nientes da Moldávia; não se tem certeza se documentos anteriores, como o Savina
Kniga (“Evangelho”) e o Codex Suprasliensis, ambos do século XI, foram escritos
nas regiões do norte. A maioria dos documentos oficiais e particulares se perdeu; pre
servaram-se apenas os posteriores ao século XIV e algumas crônicas, ainda mais tar-
A ROMÂNIA I 189
dias. Através dos escritos que se conservaram, verifica-se que de vez em quando aflo
ram nomes próprios, apelidos e topônimos romenos entre o médio búlgaro. Na
Romênia, portanto, essa língua teve o mesmo papel que o latim medieval no
Ocidente: era a língua da escrita e da Igreja, enquanto o romance era a linguagem do
povo. Da mesma forma que se encontram vulgarismos romances nos documentos em
latim no Ocidente, nos escritos búlgaros acham-se palavras romenas ou torneios sin
táticos próprios da língua materna do copista ou do autor. Exemplos desse fato, ante
riores ao século XVI: ales, “resultado” de alege < lat. alegere > eligere, “escolher”;
buor < bour < lat. bubalus, “búfalo” e “antílope”; cumnat < lat. cognatus, “cunha
do”; jude < lat. iudex, “juiz”; lac < lat. lacus, “lago”; portar < lat. portarius, “por
teiro”. Reflexos claros do romeno falado são os nomes próprios, já com o artigo defi
nido posposto: Albul, Amarul, Albeçtii; encontram-se também formas intermediárias
da cadeia evolutiva, como os nomes próprios Urícle e Urecle, de 1412 e 1437 respec
tivamente, em que o grupo /-ci-/ ainda não havia passado a l-ch-l, que soa IkJ: lat.
auricula > auricla > rom. ureche, “orelha”.
Nas regiões do norte pertencentes à Hungria, bem como na Transilvânia que,
embora independente, mantinha relações de vassalagem com a coroa húngara, o
latim era a língua da cultura, das escolas, das leis, dos tribunais e, em parte, até da
administração desde o século XI. Nesses documentos húngaros encontram-se tam
bém elementos populares romenos, especialmente nomes próprios e topônimos; a
dificuldade está em saber se esses nomes representam de fato designações populares,
ou se são apenas adaptações de termos de outras origens, já que a língua usada era o
latim. Um exemplo incontestável, porém, encontra-se em um documento do início do
século XIII, no qual se cita um vassalo de Arad, distrito de Bihor, de nome Fichur,
correspondente ao romeno ficior ou fecior < lat. *fetiolum, “filhinho”. Fichur é
encontrado no húngaro, no século XVIII, como sobrenome (ver mapa 10, p. 365).
A partir da metade do século XIV, durante cerca de dois séculos, o eslavo foi a
língua oficial das chancelarias e da Igreja nos territórios romenos, o que impediu o
romeno de firmar-se como língua escrita. Somente em 1521, aparece o primeiro docu
mento escrito em romeno, ainda assim com a introdução e a saudação final em eslavo;
é uma carta, escrita pelo grão senhor boiardo Neacgu de Cimpulung ao juiz Hans
Benkner, da cidade de Brasov, comunicando uma incursão dos turcos pelo rio Danúbio.
Usa o alfabeto cirílico da época, mas denomina a região da Valáquia Tarã Romaneascã.
Os primeiros escritos religiosos em romeno são de meados do século XVI,
conservados em quatro códices. Contêm parte dos Evangelhos e dos Atos dos
Apóstolos, uma tradução em prosa dos salmos e duas outras versões também dos sal
mos (de Verone(e e de Hurmuzachí). Os muitos erros, repetições, omissões e interpo-
lações deixam claro que são cópias de códices mais antigos. Em geral, supõe-se que
sejam traduções feitas sob inspiração luterana, cuja reforma se estendeu rapidamen-
AROMÂNIA | 191
b. Mácedo-romeno ou aromeno (“aromân”), cujos falantes são denominados vlachs
pelos cronistas bizantinos já no século X; é falado ao sul do rio Danúbio de modo
disperso; é encontrado na Grécia (Tessália e Epiro), na Bulgária em várias loca
lidades e, especialmente na Macedônia, na região de Bitola. Com base nessa
variedade foram feitas muitas tentativas no sentido de restaurar o romeno comum.
c. O megleno-romeno ou meglenítico - designação desconhecida pelos próprios
falantes, que se autodenominam vlashi - é falado na região nordeste de Salônica,
tendo como centros as cidades de Nanta, Cupa, Tarnareca; abrange ainda grupos
de emigrados na Dabrógea e na Ásia Menor. Em romeno, diz-se “meglenoromân”.
d. O ístrio-romeno (“istroromân”) é falado numa pequena região próxima ao Monte
Maior, na região centro-oriental da Península da Istria, e em outras pequenas con
centrações ao norte. Atualmente, todos os ístrio-romenos são bilíngües pela con
vivência com os croatas (ver mapa 11, p. 366).
Embora haja diferenças entre os quatro dialetos romenos, sobretudo por causa
dos empréstimos léxicos de outras línguas, com as quais convivem, é exagerado con
siderá-los como outras tantas línguas românicas nos Bálcãs. No que se refere ao mol-
davo, o problema é certamente mais político que linguístico. A chamada “questão
moldava” tem raízes históricas.
O principado da Moldávia, região na parte norte oriental da antiga Dácia,
incluiu, do século XIV ao início do XIX, a Bessarábia, cujo território se situa ao leste,
entre os rios Dniestre e Prut, e onde se desenvolveram variantes daco-romenas com
características moldavas. Com o tratado de paz de Bucareste (1812), a Bessarábia foi
incorporada à Rússia, à qual ficou unida até o fim da Primeira Guerra Mundial em
1918, quando voltou a pertencer à Romênia. Com algumas dezenas de milhares de
romenos, que habitavam a região além do rio Dniestre, foi constituída, em 1924, a
República Socialista Soviética da Moldávia, unida à Ucrânia. Em agosto de 1940, a
Bessarábia foi separada da Romênia e incorporada à República da Moldávia. Essa
atribulada história da região de fato não apresenta fatores importantes que pudessem
acentuar as diferenças dialetais; na Moldávia, apenas não se acompanhou de perto a
relatinização da língua romena no século XIX, nem se passou a usar o alfabeto lati
no, mas se continuou a escrever com o alfabeto cirílico até 1905, quando se adotou
o alfabeto russo parcialmente romenizado. O movimento separatista se acentuou a
partir de 1924, quando passaram a denominar seu idioma “limba moldoveneascã”; os
resultados, porém, foram inexpressivos, dada a exigüidade de seu território.
Lingüistas e filólogos soviéticos, por evidentes razões políticas, empenham-
se em transformar o moldavo numa língua autônoma; desse modo, havería no Oriente
duas línguas românicas, o que é sustentado também por alguns lingüistas romenos.
Com o recente esfacelamento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, as ten-
O Dalm a tic o
a r o m â n ia | 193
Sobre o dialeto da ilha de Veglia, o veglioto, o mais antigo testemunho consta
em um relatório de Giambattista Giustiniani, magistrado veneziano, datado de 1553;
como síndico de Veneza, Giustiniani inspecionava as cidades litorâneas (Querso,
Ossero, Arbe, Nona, Traú, Espálato, Sebenico, Lessina, Ragusa, Zara), e anotou as lín
guas faladas na região: o vêneto, o servo-croata e um idioma particular da ilha de
Veglia, considerado por ele como um calmone (“gíria”) de algum falar eslavo. Dá a
entender que a língua “dalmatina” ou “franca” só podia ser usada pelos homens,
enquanto as mulheres deviam fazer uso do eslavo.
Outras possíveis referências ao veglioto, como a de Conrad Gesner, no
%
Mithridates (1555), a de Farlati, no Illyricum Sacrum (fins do século XVIII) e a de
Grappin e Cassas (Voyage pittoresque et historique de VIstrie et de la Dalmatie, de
1802), não o identificam com clareza; assim, a Voyage pittoresque identifica a língua
ouvida na região com o “ilírico”. Somente em meados do século XIX, especialistas
começam a estudá-lo mais acuradamente; o lingüista Bernardino Biondelli (1804-
1886) foi considerado o “descobridor do dalmático” por Sever Pop (La Dialetologie,
I, p. 649). Embora Biondelli nada tenha publicado, seu pedido de informações, dirigi
do ao médico Giambattista Cubich, morador da ilha, despertou em Cubich um gran
de interesse pelo dialeto local. Em 1861, a revista Ulstriano começa a publicar parte
das pesquisas realizadas por Cubich. Tomando conhecimento dessas publicações,
Ascoli inseriu uma longa nota em seus Saggi Ladini (1873) sobre esse dialeto, na qual
diz: “In questo dialetto, che noi diremo, tanto per dargli un nome, veglioto [...]”
(“Neste dialeto, que nós chamaremos, apenas para lhe dar um nome, veglioto [...]”).
O nome “veglioto” de Ascoli foi bem-aceito de modo geral, bem como as apro
ximações lingüísticas que estabeleceu com o romeno e os dialetos istrianos de Rovigno
e Dignano. Motivado pela publicação de Ascoli, o professor de línguas clássicas
Antônio Ive publicou, em 1886, um artigo intitulado “UAntico Dialetto de Veglia”,
ainda hoje de grande valor pelos textos e pelo vocabulário que contém; encontra-se o
vol. IX do Archivio Glottologico Italiano. Esses estudos despertaram o interesse espe
cial de Matteo G. Bartoli, que procurou salvaguardar o dialeto prestes a desaparecer da
ilha. Foi a Veglia três vezes, em 1897, 1899 e 1901; em 1897, entrevistou longamente
o último veglioto, Antonio Udina, dito Burbur, falecido no ano seguinte. Com o mate
rial dessas entrevistas e de muitas outras pesquisas, Bartoli escreveu Das Dalmatische,
Altromanische Sprachreste von Veglia bis Ragusa und ihre Stellung in der Appenino-
Balkanischen Romania (“O Dalmático, Resíduos Lingüísticos de Românico Antigo de
Veglia a Ragusa e sua Posição na România Apenino-Balcânica”). A obra foi escrita em
alemão, porque constituiu a tese de láurea do autor na Universidade de Viena, tendo
sido publicada pela Kaiserliche Akademie der Wissenschaften, em 1906, em dois volu
mes. Nesse trabalho, Bartoli resume a contribuição de outros autores, como Ascoli,
Mussafia, Schuchardt, Meyer-Lübke; apresenta os resultados de sua pesquisa das fon-
AROMÂNIA | 195
último reduto foi a ilha de Veglia (esl. Krk) e cujo último falante foi, como se viu,
Antonio Udina, o Burbur (ver mapa 12, p. 367).
Os documentos em dalmático são poucos e nenhum deles tem caráter literá
rio. O primeiro documento, em que aflora certo número de elementos romances é um
testamento do século X, escrito em latim medieval e reproduzido por Giovanni Lucio
em Historia di Dalmazia et in particulare di Traú, Spalato e Sebenico, publicada em
Veneza, em 1674. Em um inventário ragusano mais antigo (1280), encontram-se mui
tos vocábulos claramente dalmáticos, porém isolados. Os primeiros documentos
redigidos em dalmático são duas cartas, conhecidas como “zaratinas” por terem sido
escritas na cidade de Zara ou a ela dirigidas; uma é de 1325 e a outra, de 1397. As
duas cartas tratam de pendências judiciais.
O que se conhece do dalmático se deve às coletâneas de Biondelli, Cubich,
Ive e, sobretudo, Matteo Bartoli, que organizou todo o material disponível.
O It a l ia n o
AROMÂNIA | 197
Bonvesin de la Riva, Giacomino da Verona, Uguccione da Lodi e Gerardo Patecchio.
Também em outras regiões da Itália despontam manifestações literárias, como na
Umbria, com São Francisco de Assis, na Toscana e em Bolonha. Contudo, nessa
época, o principal centro literário formou-se na corte de Frederico II, rei da Sicilia,
para o qual convergiram poetas e literatos de todas as partes da Itália; essa escola foi,
de fato, a primeira tipicamente italiana, denominada “siciliana”, apesar de apenas dez
dos seus vinte e nove poetas serem sicilianos; isso “quia regale solium erat Sicilia”.
Entretanto, foi na Toscana, especificamente em Florença, que surgiu a língua li
terária italiana, baseada no dialeto toscano-florentino. Impressionado com a língua lite
rária provençal, que havia atingido grande aceitação entre os poetas, independentemen
te de variantes dialetais, como uma κοινή das cortes, Dante Alighieri (1265-1321)
procurou uma forma linguística que reunisse o que de melhor houvesse nas diversas
variedades da Itália; essa κοινή deveria posteriormente ser adotada como língua literá
ria em todas as regiões da Itália, já que nenhuma das variantes correntes lhe parecia dis
por das qualidades literárias necessárias, que havia observado no provençal. Descarta,
de início, o toscano em particular, segundo declara no Capítulo III do Livro I em De
Vulgari Eloquentia: “Quod in quolibet idiomate sunt aliqua turpia, sed pro ceteris tus-
cum est turpissimum” (“Pois em qualquer idioma sempre há algo feio mas, diante dos
outros, o toscano é feíssimo”).
Não tendo encontrado a κ ο ινή desejada entre os falares italianos, Dante
Alighieri, quando resolveu a usar “il volgare”, lançou mão do florentino, apesar de
sua relutância inicial, tanto que poucas são as formas não florentinas na Commedia
e empregadas por razões estéticas na boca de não toscanos, embora haja também lati-
nismos e galicismos. A localização geográfica central de Florença, as condições his
tóricas da época e o uso da mesma língua por outros dois grandes nomes, Francesco
Petrarca, com as conhecidas Rimas e seus clássicos sonetos, e Giovanni Boccaccio,
com Decamerone, difundiram o florentino por toda a Itália como língua literária;
fizeram também desaparecer a pretendida língua literária de base vêneta do norte, já
com algum prestígio no século XIII.
Em torno da língua literária italiana, levantou-se a chamada “questione delia
lingua”, cujas controvérsias se estenderam por séculos. Uma corrente pretendia que
o modelo a ser seguido fosse o toscano antigo dos três grandes autores, a “florentini-
dade” antêntica. O principal defensor dessa posição, juntamente com Antonio
Cèsare, P. Giordani e G. Leopardi, foi Pietro Bembo com Prose delia vulgar lingua
(1525); Bembo aí propõe, como modelo, o toscano de Petrarca para a poesia e o de
Boccaccio para a prosa. Opunham-se a essa corrente os que pretendiam como mode
lo literário o florentino falado, tais como Benedetto Varchi (1503-1565) e
Giambattista Gelli (1498-1563). Em 1582, foi fundada em Florença a Accadenda
delia Crusca (it. crusca significa “farelo”, expressão burlesca) com a finalidade de
O S a r d o
AROMÂNIA | 199
chamada população “mediterrânea” ocupou a Sardenha e a Córsega pelo menos até o
fim do período neolítico; deixaram muitos vestígios, sobretudo nos notáveis “nuraghi”,
construções cônicas, consideradas expressões da arquitetura megalítica. No século VI
a.C., foi ocupada em parte por gregos e cartagineses; aliados, etruscos e cartagineses,
expulsaram os gregos depois de tê-los vencido na batalha de Alalia (537 a.C.), ficando
os cartagineses com a Sardenha e os etruscos com a Córsega. Diante dessas invasões,
os autóctones refugiaram-se nas montanhas centrais da ilha. Em 238 a.C., os romanos
conquistaram tanto a Sardenha como a Córsega, aproveitando-se de uma revolta dos
mercenários cartagineses. A latinização foi lenta, embora profunda, com uma luta cons
tante contra a população autóctone do interior e também contra a população puniciza-
da das regiões litorâneas. As duas ilhas tornaram-se província romana em 227, até os
tempos do Império, quando a Córsega foi transformada numa província independente.
Os romanos não tinham simpatia pelos sardos, por considerá-los venais e
maus, como escreveu Sextus Pompeius Festus (século II d.C.): “Sardi uenales: alius
alio nequior” (“Os sardos são venais; um pior que o outro”). A Sardenha foi consi
derada uma terra conquistada, que devia enviar dinheiro e mantimentos a Roma, e até
o Império, não lhe foi concedida nenhuma cidade livre; com alguma frequência, ser
via de terra de exílio. As constantes revoltas dos nativos só cessaram em 114 a.C.,
depois de uma severa repressão, mas o banditismo continuou. Apenas no último
século a.C., a Sardenha atingiu alguma prosperidade e uma integração mais profun
da ao Império Romano, especialmente com a exploração das minas de prata e de
ferro. Mas nunca chegou a ser uma região próspera. Mesmo assim, a considerável
autonomia permitida pelos romanos foi importante fator para a aceitação da cultura
latina, que transmitiu aos nativos as técnicas da agricultura, que desconheciam por
serem pastores, como o demonstra o léxico sardo atual.
A Sardenha pertenceu ao Império até 455 d.C., ano em que foi conquistada
pelos vândalos; em 535, os bizantinos, sob o imperador Justiniano, a reconquistaram
para o Império do Oriente. Sob vândalos e bizantinos, a administração da Sardenha
ficou subordinada à da África, o que explica as semelhanças lingüísticas da latinida-
de sarda com a africana. Nessa época, foi sensível a imigração de elementos hetero-
glotas, geralmente forçada, já que o isolamento da ilha a tornava adequada como
lugar de degredo.
Embora de identificação um tanto insegura, pode-se atribuir a esses diversos
substratos vários elementos lingüísticos presentes nos dialetos sardos. Dentre os filólo-
gos que estudaram o sardo, destaca-se Max Leopold Wagner (1880-1962), em particu
lar no que tange ao substrato pré-românico, com Historische Lautlehre des Sardischen
(“Fonética Histórica do Sardo”). Wagner atribui à influência do subsubstrato mediter
râneo, entre outros traços: os fonemas cacuminais, encontrados também na Sicilia e no
sul da Itália e semelhantes às consoantes enfáticas do berbere, como lat. caballu > log.
AR O M Â N IA | 201
O tratado de Viena, em 1815, constituiu o Reino de Piemonte-Sardenha, que incluía
também a Savóia; esse reino durou até 1860. Foi dele que partiu o movimento de uni
ficação da Itália, completada com a tomada dos Estados Pontifícios e a queda dos
Bourbons em Nápolis. A Sardenha se torna parte integrante da Itália; com isso, a
influência do italiano sobre os dialetos sardos tem sido crescente, principalmente nos
centros urbanos como Cagliari ao sul e Sássari ao norte.
Os documentos antigos da Sardenha são numerosos e homogêneos; a grande
maioria apresenta caráter jurídico, mas seu valor lingüístico é considerável, pois for
necem valiosos subsídios para a história do direito italiano. Não possuem, porém,
nenhum valor literário. Alguns são do século XI ou XII, tendo como base lingüística
o logudorês. O isolamento da ilha, a ausência de uma tradição jurídica e a necessida
de de tornar os documentos jurídicos compreensíveis aos interessados fizeram com
que se adotasse o romance local como língua jurídica. Formou-se, assim, um “volga-
re illustre”, a cuja base logudoresa se acrescentaram particularidades regionais. Esses
documentos contêm registros de privilégios, cartas de alforria, testamentos etc.,
havendo alguns escritos com caracteres gregos.
Muito mais numerosos são os chamados “condagos” (it. condaghi), documen
tos de questões jurídicas, de assentamentos ou o conjunto desses assentamentos. O
nome revela certamente influência bizantina, pois κουχάκιου, cujo significado primi
tivo é “rótulo”, no grego bizantino significava “documento”, geralmente oficial, e tam
bém “tomo” e “volume”, a acepção em que se usa “condagos” nos textos sardos. Esses
documentos encontram-se, sempre, nas igrejas e nos mosteiros, que eram os locais onde
esse tipo de escrituração era feito. De alguns desses “condagos”, como a Condaghe di
San Michele di Savenor, só chegou até nós uma tradução espanhola do século XVII.
Existem, porém, outros no original e conservados integralmente, como o Condaghe di
San Pietro di Silki, convento perto de Sássari, que contém cópias de documentos do
próprio convento e de outros dele dependentes; data da segunda metade do século XII,
tendo sido continuado até ao século XIII; o dialeto utilizado é o logudorês. Importantes
do ponto de vista lingüístico são ainda Condaghe di San Nichola de Tndlas, com os atos
do mosteiro de 1113 até a primeira metade do século XIII, e Condaghe di S. Maria di
Bonàrcado, dos séculos XII e XIII, esse redigido em campidanês.
Apesar de sua pequena extensão territorial, a Sardenha apresenta vários dia
letos, que formam quatro grupos principais: a) o logudorês, considerado a variante
sarda mais representativa; foi usado por escritores e poetas como um “volgare illus
tre”. Tem três variedades regionais; o nuorês, com centro em Nuoro, a sudeste do
Logudoro, considerado por alguns como um dialeto diferenciado; o central, em torno
de Bonorva, estendendo-se pelo sudeste do Logudoro; e o setentrional, cujo centro é
a cidade de Ozieri. b) o campidanês, na parte sul da ilha, no território do Campidano,
cujo maior centro é Cagliari. c) o galurês, no território da Gallura, na parte norte
O Rético
a românia I 203
Bálcãs. “Reto-romance” é preferido pelos romanistas alemães (Ratoromanisch), em
bora a área linguística do rético não coincida com o território da antiga Récia roma
na, pois somente as variedades ocidentais se encontram nesse território, enquanto as
orientais estão no antigo Noricum e na região do Friul. Ernest Gamillscheg e Fr.
Schiirr propuseram Alpenrômanisch (“Romance Alpino”), termo também impreciso e
amplo demais. No Brasil, a designação mais comum é “rético”, com freqüência acom
panhada de uma outra, adotada por Theodoro Henrique Maurer Jr., Serafim da Silva
Neto, Sílvio Elia (também “reto-romance” e “ladino”), Joaquim Mattoso Câmara Jr.
(também “ladino”) e outros. Na tradição da Universidade de São Paulo, sempre se tem
usado “rético” por motivos práticos, embora reconhecendo a inexatidão do termo.
Contudo, a “questione ladina”, da qual o problema do nome é apenas uma
parte, reside de fato na contestada unidade linguística do rético. Os lingüistas e filó-
logos que negam essa unidade ao rético são, em geral, italianos, destacando-se Cario
Battisti e Cario Salvioni; o mais radical é Battisti que nega não apenas uma unidade
linguística rética, como também uma unidade histórica e genética entre os três ramos:
o ocidental dos Grisões, o central dolomítico e o oriental, friulano; para ele, os dia
letos ocidentais dos Grisões se ligam diretamente com os falares lombardos através
das variantes lombardo-ladinas, e os centrais e orientais seriam a continuação direta
do vêneto. Outros filólogos, porém, como Tagliavini e Caspar Pult, baseados em pes
quisas feitas pelo Instituto de Glotologia da Universidade de Pádua, concluem que
existe uma inegável unidade rética, ainda que estreitamente ligada aos falares italia
nos vizinhos. Entretanto, as fronteiras lingüísticas entre o friulano e os dialetos vene
tos setentrionais são claras; por outro lado, são numerosos os traços lingüísticos
comuns ao rético dos Dolomitas (em território italiano e austríaco) e aos dialetos do
alto rio Adige; mas não é difícil distinguir o dialeto dos Grisões do de seu vizinho
lombardo alpino. Os Grisões têm plena consciência da individualidade de sua língua,
que, desde a Idade Média, percorreu um caminho diferente tanto do italiano como do
francês e do lombardo.
Desde 1938, depois de um plebiscito no qual votaram a favor 90% dos eleito
res, a Constituição da Federação Suíça (Art. 116) reconhece o reto-romance como a
quarta língua nacional (Nationalsprache), mas não como língua oficial
(Amtssprache), o que é reservado ao alemão, ao francês e ao italiano, nos quais
devem ser redigidos os atos oficiais, leis etc. O rético pode ser usado como língua
oficial dentro de seu próprio território pela autoridade local. Essa restrição deve-se à
falta de unidade linguística do próprio rético e à pequena porcentagem populacional
(apenas 1%) em relação ao total do país (ver mapa 15, p. 370).
A história conhecida da Récia e sua língua começa no ano 15 a.C., quando
Druso e Tibério, enteados do imperador Augusto, conquistaram a região depois de
duros combates com a selvagem população alpina. Em meados do século I d.C., esta-
A ROMÃNIA | 205
com a publicação de suas traduções, que tiveram considerável difusão e iniciaram a
tradição literária da língua. Contudo, a primeira obra propriamente literária, não nas
cida de motivação religiosa, foi Chianzun da Ia guerra dal Chiasté d'Miisch, de Gian
Travers (1528)32.
O fato de se ter iniciado a literatura rética com duas variantes lingüísticas tor-
nou-se um obstáculo para a formação de uma língua literária única. Os usuários do
puter e do vallader não chegaram a um acordo nesse sentido, o que levou os escrito
res de outras regiões ao emprego de seu próprio dialeto. Desse modo, o pastor pro
testante Stefan Gabriel, embora originário da Engadina Baixa, escreveu em sobres-
selvano (al. Oberwaldisch - outra variedade dialetal) Ilg ver sutaz da pievel giuvan
(“O verdadeiro consolo das pessoas jovens”), publicado em 1611, em que são nota
das as influências do vallader. No mesmo ano, o padre capuchinho Gion Antoni
Calvenzano, de origem lombarda mas estabelecido na região da Subselva {al.
Unterwalden), publicou um catecismo católico em subselvano, outra variedade lin-
güística. Pouco depois, apareceram obras escritas em sobremirano, dialeto da região
de Oberhalbstein e do rio Albula, nos Grisões. Várias tentativas de unificação da lín
gua literária não tiveram êxito, tanto as antigas como as mais recentes. Chegou-se
mesmo a pensar numa espécie de síntese das variantes existentes, o interrumantsch,
de caráter administrativo e instrumental, que parece, contudo, inviável, por falta de
condições. Atualmente, os dialetos literários que apresentam maior vitalidade são o
sobresselvano e o vallader (/valáder/).
As cinco variedades do rético, portanto, com o status de línguas escritas, de
leste a oeste, são o ladin da Engadin’ota ou puter, o ladin da Engadina Bassa ou val
lader, o surmiran (“sobremirano”), o sutsilvan (“subselvano”) e o sursilvan (“sobres
selvano”). Ao lado dessas variedades dialetais literárias, existem numerosos dialetos,
designados genericamente por rético ou reto-romance ocidental, ou rumantsch e
romontsch, donde a forma aportuguesada romanche. Esse conjunto do rético ociden
tal se estende pela Suíça no cantão dos Grisões, na região do chamado Biindner
Oberland, de Oberalp a Reichenau (sobresselvano), na Engadina Alta e Baixa, de
Zernez à fronteira com a Áustria (ver mapa 15, p. 370).
O chamado rético central encontra-se na Itália, na região dolomita, cujo cen
tro é o maciço do Sella; os vales, onde ainda se fala essa variedade lingüística, são os
de Fassa, Gardena, Badia, Marebbe, Livinallongo, Ampezzo e Comélico, mais ao
oriente. As regiões para o oriente, como grande parte do Cadore, apenas conservam
32. Trata-se de uma pequena epopéia, com 704 versos em puter, em versos rimados, sobre uma das guerras dos
Grisões contra a fortaleza de Musso, junto ao lago de Como. Travers (1483-1563) escreveu para seu próprio
entretenimento (“in otio suo meditavit”) sem pretender publicá-la. Narra suas próprias experiências, pois
participou dos acontecimentos como capitão dos Grisões de Valtelina.
a r o m â n ia | 207
com as variedades idiomáticas circunvizinhas, pela ausência de uma vigorosa litera
tura em pelo menos duas secções e por outros fatores, têm levado os romanistas a
longas discussões sobre a chamada “questione ladina”, ainda sem conclusão ou con
senso. Ascoli e Theodor Gartner (1843-1925), especialistas no assunto, consideravam
os três ramos como oásis de uma antiga unidade lingüística, quebrada pelas infiltra
ções de idiomas vizinhos. Cario Battisti e Cario Salvioni, como se viu, negaram ao
rético qualquer unidade, mesmo a primitiva, não reconhecendo qualquer relação
entre o rético ocidental dos Grisões, o central dolomítico e o oriental friulano.
Ernesto Giacomo Parodi (1862-1923) e Matteo Bartoli concluíram apenas que o réti
co realmente está mais próximo do italiano do que de outras línguas. Cario Tagliavini
admite aquela unidade lingüística primitiva; afirma também que de fato há maior afi
nidade com o alto italiano e que algumas formas caracteristicamente réticas são
encontradas bem mais ao sul do que se acreditava, conforme as pesquisas do Instituto
de Glotologia da Universidade de Pádua.
Já antes, em 1882, na 5a. edição da Grammatik der Romanischen Sprachen,
Friedrich Diez havia escrito que o rético, por ele denominado Schurwalsche, por
várias razões não podia ter o mesmo status de “ebenbürtige Schwester” (“irmã
gêmea”) que as outras seis variedades românicas, que considerou línguas e não dia
letos. Entretanto, outros romanistas, como Jakob Jud e Walther von Wartburg, Caspar
Pult, B. E. Vidos, entre outros, admitem o rético como língua românica com caracte
rísticas fonéticas, morfológicas, léxicas e sintáticas próprias. As divergências se refe
rem mais aos prováveis relacionamentos com as línguas vizinhas. No campo fonéti
co, os três ramos têm em comum, por exemplo: a) o /s/ como índice de plural: lat.
muni > rét. oc. mir, centr. mur e or. mur, com os respectivos plurais, mirs, mures,
murs; b) conservação dos grupos consonânticos iniciais /bl-/, /cl-/, /gl-/, /fl-/ e /pl-/,
como em lat. clave > rét. oc. kla f centr. kle, or. klaf\ lat. glacies > rét. oc. e centr.
glatsch, or. glatscha; c) a palatalização do Ici e do /g/ seguidos de /a/: lat. caballus >
rét. oc. chavals, centr. tschavcil, or. chavál; lat. gallina > rét. oc. djilinya, centr. djili-
na e or. djalina.
Essas características fonéticas afastam o rético do italiano e o aproximam do
galo-romance. Quanto à manutenção do l-sl, o sobresselvano mantém-no nos neutros
latinos, como em lat. pectus > pez; tempus > temps, da mesma foram que o ant. fr. pi:
e tems. O francês também conserva os grupos consonânticos citados (clé ou clef
“chave”; glace, “gelo”). Contudo, a palatalização do /c-/ e do /g-/ seguido de /-a/ ocor
reu no francês entre os séculos VI e VIII, enquanto no rético, sobretudo na secção cen
tral, é mais recente. Assim, na toponímia, encontram-se documentados Kanal, no vale
do rio Adige (desde 1392), Kasten < lat. Castellum, no vale de Funes, Kompatsch <
lat. Campaceum, na região de Luson e Stelvio. Trata-se, portanto, do mesmo fato lin
guístico, mas de épocas bem diferentes e sem relação de interdependência. O mesmo
208 | E L E M E N T O S DE F IL O L O G IA R O M Â N IC A
se pode dizer da vocalização do /-1/ seguido de /-t-/, como lat. alteru > rét. oc. auter,
centr. auter, eng. oter, em fr. autre, it. altro. Entretanto, enquanto no galo-romance
essa vocalização se deu entre os séculos III e V, nas variantes réticas ocidental e cen
tral ela não é anterior ao século XV; os documentos em rético ocidental do fim do
século XIV aos do início do século XVI trazem topônimos que conservam ainda o /-1/,
tais como Puntalta (depois Puntata) e Gualt (moderno Guad). No friulano, esse voca
lização não ocorre: lat. altu > friul. alt; *altiare > altsá (port. “alçar”). São, portanto,
fatos coincidentes mas de épocas diferentes, atribuíveis a tendências internas.
Entre o franco-provençal do Cantâo de Vaiais, na Suíça, e o rético dos Grisões,
ocorre o fenômeno notável dos chamados “ditongos endurecidos” (al. verhârtete
Dipfithonge), nos quais a semivogal /i/ ou /u/ se consonantiza para impedir a mono-
tongação, como nos seguintes exemplos: lat. nive > lat. vulg. neve > neive > rét. oc.
nekf, franc-prov. nele; \i\t.flore > flour > rét. oc.flokr; lat. si ti > lat. vulg. sete > seit
> rét. oc. sekt, franc.-prov. schek. E um fenômeno regional, bastante restrito e de
explicação difícil, já que não acontece nas outras duas secções réticas nem é geral no
franco-provençal.
No léxico, observam-se pontos de convergência entre os três ramos, que apon
tam para uma primitiva unidade: lat. vulg. soliculus > rét. oc. sulegl, centr. soreje ou
sorogle, or. sorèli (fr. soleil, mas ital. sole, “sol”); lat. dragiu (do celta) > rét. oc.
dratg, centr. drai ou d rei, or. dras (mas it. crivello, “crivo”). O léxico rético reflete
também certas contingências históricas; sabe-se quão importantes foram as dioceses
durante a Idade Média. Assim, os vales que pertenceram à diocese de Coira, no
Cantão dos Grisões, mantêm uma terminologia religiosa e eclesiástica diversa daque
la usada nos vales pertencentes então à diocese de Como ou de Milão. Alguns exem
plos, primeiramente com o termo da diocese de Coira e em seguida o corresponden
te da de Como ou de Milão: lat. incipere (“começar”) > scheiver (“carnaval”, com
idéia de “começo” da quaresma), e carnelevare > carnavá (it. carnevale); lat. quin
quagesima > tschunqueismas, e lat. ecles. pentecostes > pentecoste; hebdomas >
emda, e septimana > setimana (it. settimana); basilica > baselgia, e ecclesia > gesa
(it. chiesa); signum > zen, e campana > campana (it. campana, “sino”); lat .patrimis
> padrin, e lomb. godazzo > giidaz e guidaz (“padrinho”). Os termos das circunscri-
ções diocesanas de Como e de Milão são de um dialeto lombardo, com influências
italianas. E interessante observar que essas diferenças léxicas confirmam as posições
de H. Morf, Jakob Jud, P. Gardette, A. Tierbach, F. Schürr e outros, de que as sedes
episcopais centralizavam as atividades, sobretudo festivas, de seus diocesanos.
Explicam-se, assim, as fronteiras lingüísticas e dialetais, uma vez que os limites das
dioceses geralmente coincidiam com as fronteiras administrativas das antigas civita
tes romanas, ou mesmo das províncias; essas, por sua vez, eram estabelecidas sobre
as divisões étnicas e tribais que os conquistadores romanos habilmente respeitavam.
A ROMÂNIA | 209
Por outro lado, essa situação centralizadora impedia comunicações mais freqüentes
entre as diversas dioceses, com reflexos lingüísticos claros, já que facilitava a ação
dos substratos e dos superstratos, como se observa no caso das dioceses de Coira,
Como e Milão.
Enfim, admite-se uma unidade original das três variedades réticas, ainda que
sem consenso dos romanistas, unidade não destruída pelas diversidades fonéticas e
léxicas, aliás não tão acentuadas sobretudo entre as secções ocidental e central,
enquanto a oriental friulana sofre maior influência do vêneto e do italiano. São,
porém, inegáveis as correspondências do rético tanto com o galo-romance como com
o ítalo-romance.
O Pr o v e n ç a l
A ROMÂNIA I 21 I
mente de 950, é a Chanson de Sainte-Foy d ’Agen, com 593 versos octossílabos, redi
gidos no dialeto limosino. Dentre os mais antigos textos em prosa, dos séculos IX-
XI, citam-se a tradução dos capítulos XIII a XVII do Evangelho de São João e dos
Sermons et préceptes religieux.
E sabido, porém, que foram os trovadores os brilhantes consagradores do pro-
vençal. Muito antes dos trouvères (poetas e jograis do norte, que usavam a langue
d'oil) e desvinculados dos ciclos épicos, glória do norte da França, os trovadores ela
boraram uma poesia lírica extremamente refinada, tanto no conteúdo como na forma,
com uma versificação e uma prosódia de grande riqueza, acompanhadas por melo
dias de caráter litúrgico. O ideário da lírica trovadoresca consiste em uma concepção
original do amor (o fin 'amors), baseada na idealização da mulher segundo ética
humanista, a exaltação da damna em uma joie d 'amors, o aperfeiçoamento moral do
amante, levado pelas qualidades morais (verta) da dama. Esses elementos tornaram
a lírica trovadoresca um dos pontos altos da poesia e do pensamento universais,
atraindo os talentos poéticos europeus de toda a França, da Península Ibérica, da
Itália e até mesmo da Alemanha. Por isso, nos séculos XI, XII e XIII, o provençal é a
língua-tipo da poesia lírica, como o galego-português o será mais tarde na Ibéria. O
florescimento dessa língua literária foi facilitado pela aceitação que os trovadores
tiveram junto aos senhores feudais, a reis e a imperadores, não apenas na Provença
mas em muitas cortes européias.
As primeiras poesias dos trovadores aparecem em torno do ano 1100; consi
dera-se Guilherme VII (1071-1127), conde de Poitiers e duque da Aquitânia, o pri
meiro dos trovadores. Embora não se tenha a obra completa de todos, são conheci
dos os nomes de mais de 400 poetas líricos, dentre os quais destacam-se Arnaut
Daniel, Bernart de Ventadour, Aimeric de Pegulhan, Bertran de Born, Girault de
Borneilh, Jaufre Rudel, Gaucelm Faidit, Raimbaut de Vaqueiras, Guiraud Riquier e
Joffre de Foxa.
Do ponto de vista lingüístico, o que mais chama a atenção, desde suas primei
ras manifestações, é a grande unidade dessa língua poética; as diferenças dialetais
são mínimas em todo o território, independentemente da origem do trovador. Não
houve um estágio literário dialetal, como aconteceu com o francês; todos os trovado
res, mesmo os italianos e catalâes, adotam de imediato a “koiné” da época. A esco
lha da língua literária se fez sem imposições, de modo espontâneo, ao que parece pela
imitação da língua dos primeiros grandes trovadores. Os dialetos certamente existiam
e se empregavam familiarmente, mas pouco influíram na língua literária, de modo
que não houve predominância política de um dialeto sobre outro. Pensou-se que a
base dessa língua comum fosse o limosino; de fato, porém, essa suposição partiu dos
elogios à “parladura de Limosi” de Raimon Vidal no tratado Las Razós de Trobar.
Embora seja um problema de difícil especificação, admite-se que a “koiné” literária
A ROMÂNIA 21 3
Paralelamente, inicia-se a infiltração mais persistente do francês, embora encon
trando muita resistência até fins do século XV. Entre 1350 e 1400, as regiões interme
diárias entre as línguas d'o il e d ’oc adotam o francês como língua administrativa e de
comunicação. No extremo sul da costa mediterrânea e na região dos Pireneus, só por
volta de 1600 o francês se estabelece como a língua administrativa; a língua falada, cor
rente, porém, continua a ser o provençal, de modo que o edito de Villers-Cotterêts
(1539), que determinou o uso exclusivo do francês em todos os atos do judiciário,
excluindo tanto o latim como o provençal, apenas sacramentou uma situação de fato. O
francês é a língua oficial e o provençal é a falada pelo povo. Contudo, a literatura pro
vençal não desapareceu de todo; há novelas, contos, vidas de santos, sermões, tratados
de ciências naturais e medicina, além de anais de crônicas de várias cidades e até uma
enciclopédia, Elucidari de las proprietals de totas res naturais, de Gaston de Foix.
Precisamente quando o provençal deixa de ser língua oficial, aconteceu um
primeiro renascimento literário, graças às obras de Pey de Garros (1525-1583) na
Gasconha, Ballaud de La Ballaudière (1543-1588) na Provença, e Aurger de Galhard
(1532-1597) em Languedoc. Influenciados pelo petrarquismo, querem transformar o
provençal num “volgare illustre” e protestam veementemente contra as imposições
reais do francês; destaca-se nesse protesto o tolosano Pèire Godolin (1580-1649), que
apresentou, em 1631, um autêntico manifesto em favor da língua d ’oc, capaz de res
ponder a todas as exigências da expressão literária, com vocabulário rico, com vocá
bulos sem correspondência mesmo no latim ou no grego. Se nada de prático conse
guiram no campo político, esses autores do primeiro renascimento mantiveram pelo
menos o interesse pela língua e a tradição literária.
O segundo renascimento do provençal, denominado Félibrige, começou com
a reunião, no castelo de Font-Ségugne, perto de Avignon, de sete jovens poetas pro-
vençais (Frederico Mistral, José Roumanille, Teodoro Aubanel, Anselmo Mathieu,
Afonso Tavan, Paulo Giéra e João Brunet). Pretendiam restaurar a língua e a litera
tura provençais com um programa bem definido de ortografia e de gramática, além
de uma nova visão das relações entre língua e literatura. O nome félibre (“poeta”,
“escritor” da língua d ’oc) foi encontrado por Mistral numa composição popular; seu
significado etimológico é obscuro, fato que, segundo ele, conferia ao movimento um
tom de encantamento e de mistério. Com a divulgação feita através de um novo órgão
de imprensa, o Armana Prouvençau (“Almanaque Provençal”) e o êxito de Mirèio de
Frederico Mistral, o novo movimento se consagrou e partiu em busca de seus objeti
vos, assim definidos por Mistral em suas Memórias de 1906:
A ROMÁNIA | 215
regiões norte. Com exceção do gascão, apresentam notável unidade lingüística. Jules
Ronjat destacou dezenove traços característicos, dos quais onze fonéticos, cinco mor-
fológicos, dois léxicos e um sintático, em relação às línguas e aos dialetos românicos
vizinhos (ver mapa 17, p. 372).
Vejam-se alguns exemplos:
Na fonética, /u/ > /ii/ como no francês, no rético e nos dialetos do norte da
Itália: lat. luna > prov. luna, fr. luna, eng. lüne, mas cat. lluna, cast. luna, port. lua.
Um outro aspecto fonético do provençal é a não nasalação de vogais seguidas de
fonemas nasais, contrariamente ao que acontece no francês, franco-provençal e no
português. No provençal, como no italiano e no castelhano, as vogais nessa situação
conservam o timbre da vogal oral correspondente. A ditongação do /e/ e do /o/ bre
ves latinos só se dá nos casos em que houver /i/ ou /u/ na sequência: lat. vetulu > prov.
vielh, mas it. vecchio, port. velho; lat. lectu > prov. lieit ou liech, cat. Ilieit > llit, mas
fr. lit, it. letto, cast. lecho, port. leito; lat. octo > prov. ueit, uech e uòch, mas it. otto,
port. oito; lat. oculu > prov. uelh ou uòlh, mas it. occhio, cast. ojo, port. olho; lat. bove
> prov. buòu, cast. buey, mas it. bove, log. boe, cat. bou, port. boi; lat. focu > prov.
fougu > fuòc, it. fuoco, cast. fuego, mas rom. foc, cat. foc, port. fogo. Em todas as
outras condições, essas duas vogais breves latinas se mantêm em provençal com tim
bre aberto, não ocorrendo a ditongação espontânea: lat. decem > prov. dètz, rom.
zece, log. dege, port. dez, mas it. dieci, eng. diesch, cast. diez; lat. lit. caelum > lat.
vulg. celu > prov. cèl, log. kelu, cat. cel, mas it. cielo, eng. schiel, fr. ciei, cast. cielo;
lat. rota > prov. ròda, cat. roda, log. roda, port. roda, mas it. ruota, cast rueda. O pro
vençal mantém, portanto, em grande parte, o vocalismo tônico de sete fonemas; ape
nas o /p/, proveniente do correspondente longo latino, passa a /u/ no século XIV: lat.
dolore > prov. ant. dolor > mod. dulur; flore > flor > flur; esse fechamento é carac
terístico do provençal. Contrariamente ao francês e geralmente ao franco-provençal,
o provençal conserva o /a/ tônico: lat. capra > prov. cabra e chavra, fr. ant. chievre >
mod. chèvre, franc-prov. chievre; lat. pratu > prov. prat, fr. pré, franc-prov. pra; como
se vê, o franco-provençal, palatalizando apenas nos casos em que precede uma pala-
tal (capra > chievre), ocupa uma posição intermediária. Como o romeno, o proven
çal conserva o ditongo /au/ latino, em oposição às outras línguas românicas: lat. auru
> prov. aur, rom aur, mas fr. or, it. oro, cat. or, cast. oro, port. ouro; lat. audire > prov.
auzir, rom. auzi, mas it. udire, fr. ant. oir, cat. ohir, oure, cast. oir, port. ouvir.
Na morfologia, o provençal se distancia do francês e se aproxima das línguas
da Ibéria pela conservação das desinências número-pessoais dos verbos, tornando
dispensável o uso dos pronomes pessoais retos: canti, cantas, canta, cantam, cantatz,
cantan; no francês e no franco-provençal, pelo menos quatro das seis formas coinci
dem na pronúncia, o que exige o uso do pronome. Note-se a flexão característica /-i/
para a primeira pessoa singular, diversa do cat. eant, cast. e port. canto, fr. je chante.
a. O Gascão
Ainda que aparentado ao provençal, o gascão, do ponto de vista linguístico, é
tão diferenciado que há romanistas que o consideram uma língua autônoma. Por isso,
é necessário conhecê-lo pelo menos em suas linhas gerais.
Ronjat denomina o gascão, juntamente com o bearnês, “aquitano”. E falado na
Gasconha, limitado ao sul pelo Pireneus, ao oeste pelo Atlântico, ao leste pelo rio
Garona desde sua foz até a cidade de Tolosa, entrando ainda pelo curso do rio Ariège,
afluente do Garona, ao sul. Contudo, o rio Garona é o principal ponto de referência nos
limites lingüísticos entre o gascão e os demais dialetos da região (ver mapa 17, p. 372).
Já os antigos provençais consideravam o gascão língua estrangeira, tão estran
geira quanto o francês, o inglês, o castelhano e o lombardo, segundo as Leys d ’A mors
(11, 388). Muitas de suas características são em razão do substrato ibérico, próprio do
território sul-ocidental da antiga Gália, fato que aproxima o gascão do castelhano, do
aragonês e, sobretudo, do basco. Os historiadores antigos atestam a presença de
povos diferentes tanto étnica como lingiiisticamente na Gália. No tempo de César e
no século I d.C., os aquitanos, que teriam ocupado toda a extensão norte da vertente
dos Pireneus, eram claramente distintos dos celtas e de outras populações celtizadas,
dos quais eram separados grosso modo pelo rio Garona, como aliás o diz César:
“Gallos ab Aquitanis Garumna flumen dividit” {De Bello Gallico, I). No contexto do
Império Romano, a região foi primeiramente denominada Provincia Aquitana Tertia,
depois Novempopulania e, finalmente, Vasconia, do nome do povo vascão, ancestral
dos atuais gascões. Esses vascões eram numerosos, tanto que no século VI fizeram
A R O M Â N IA I 217
muitas incursões pelo sudoeste da Gália. Já se disse que as influências germânicas
foram mais acentuadas ao norte, sobretudo as dos francos, pois o reino visigodo de
Tolosa (ver pp. 142-143) deixou escassos vestígios. O sul permaneceu mais fiel às
tradições e à cultura latina, originando-se daí uma oposição nem sempre velada entre
as duas regiões e sensível no decurso da História.
As características étnicas e o relativo isolamento da região explicam o siste
ma fonológico original e a base lexical peculiar do gascão; muitos desses elementos
encontram-se também do outro lado dos Pireneus, com coincidências até com o por
tuguês. O isolamento da Gasconha se acentuou ainda mais em relação aos territórios
vizinhos, pois levou vida politicamente autônoma sob os seus duques (ver mapa 17,
p. 372).
Dentre as características lingüísticas do gascão, destacam-se as seguintes:
A ROMÂN1A | 219
Documentos antigos em gascão não são numerosos. Ao lado de algumas
palavras vulgares que aparecem em documentos de registros abaciais de La
Réole, La Sauve-Majeure, Sorde-FAbbaye e outras, de fins do século XII, exis
te uma cobla em gascão no conhecido descort (tipo de poesia) de Raimbaut de
Vaqueiras, em que há também versos em provençal, francês, italiano e galeco-
português. Entre os documentos em prosa, citam-se alguns pergaminhos com
atos da “Commandarie du Temple” de Montsaunès, sendo o mais antigo de
setembro de 1179. Também o “Libro d ’oro” de Baiona conservou alguns textos
notáveis em gascão. Poucos são os escritos antigos, de valor literário; entre eles,
cita-se a tradução da Disciplina Clericalis de Pedro Afonso, num manuscrito da
biblioteca de Madri.
b. O Franco-Provençal
No outro lado do território francês, na região centro-oriental, mas abrangen
do também parte da Itália, no Piemonte, das proximidades de Turim até Aosta, e
ainda da Suíça Romanda, encontra-se outro grupo de dialetos, diferentes tanto do
francês e do italiano, como do provençal. Foi denominado franco-provençal por G. I.
Ascoli em seus Schizzi franco-pmvenzali (1878), que usou os mesmos critérios lin
guísticos empregados em Saggi Ladini, pelos quais reconheceu a independência do
rético. Outros romanistas denominam-no “francês sul-oriental” ou ainda “médio-
rodanês”. Os limites de seu território, porém, são bastante incertos, sobretudo ao
norte. A Suíça Romanda é o território mais amplo e mais denso do domínio franco-
provençal, cujo uso, entretanto, tende a diminuir. O avanço é do francês, a língua de
cultura ensinada nas escolas. De fato, o franco-provençal nunca foi uma língua dita
de civilização; há numerosos documentos oficiais, como “chartes” (escrituras de títu
los de propriedade, de compra e venda, registros de outorga de títulos, de atas públi
cas e particulares etc.), mas sua literatura é pobre (ver mapa 18, p. 373).
Do ponto de vista lingüístico, porém, trata-se de uma variedade bem caracte
rizada, segundo assinalou Ascoli:
II franco-provenzale insieme reunisce, con alcuni suoi caratteri specifici, piú altri caratteri,
che parte son comuni ai francese, parte lo sono al provenzale, e non proviene già da una tarda con-
fluenza di elementi diversi, ma bensè attesta Ia sua propria indipendenza istorica, non guari dissimi
le da quella per cui fra di loro si distinguono gli altri principali tipi neo-latini. (Schizzi, p. 71)
A ROMÂNIA 221
prov. cargar. São características do franco-provençal as palatalizações de consoantes,
como Id + /a/ passa a /ts/: lat. campu > tsã;furca >fuertse; /g/ + /a/ passa a /dz/: gal
bini/ > dzuono (fr.jaune). Em algumas regiões, sobretudo na Savóia, /ts/ passa a /s/
com possibilidade de várias evoluções posteriores.
Diversamente do francês e do provençal, o franco-provençal conserva o /o/
final, proveniente do /u/ breve latino: lat.fabru > franc.-prov. ant. /avra, fr. ant.fevre,
prov. fabre (“artífice”); lat. intro > franc.-prov. entro, fr. entre, prov. entre; lat. vulg.
quattro > franc.-prov. quatro, fr. quatre, prov. quatre; lat. debitu > franc.-prov. dedo,
fr. dette, prov. depte, deute ou deude (“dívida”); lat. desidero > franc.-prov. desiro, fr.
j e désire, prov. ieu dezeji.
O léxico é muito conservador, contando com vários elementos pré-românicos,
o que não é estranho em um território de montanhas; considerável é o número de
empréstimos do superstrato burgúndio. Por outro lado, a fragmentação dialetal é
grande, podendo-se afirmar que cada vale tem sua variedade linguística própria.
Em nenhum momento de sua história, como observou P. Àbischer em
Chrestomathie franco-provençale (1950), os falantes do franco-provençal tiveram o
ideal de fazer de seu idioma uma língua literária. Mesma na Savóia, em Grenoble ou
em Lyon, os que escreviam, faziam-no em francês, em burguinhão ou mesmo em latim.
Por isso, nenhum dialeto conseguiu o status de língua literária; em várias regiões, como
na Savóia, os primeiros documentos franco-provençais só aparecem no século XVI.
Hermann Suchier (1848-1914), em Die Mundart der Strassburger Eide (“O
Dialeto dos Juramentos de Estrasburgo”), de 1902, chegou à conclusão de que a
variedade dos juramentos, feitos na “romana lingua”, seria um dos dialetos franco-
provençais; baseava-se na posição geográfica intermediária entre o francês e o pro
vençal, o que permitiría que os soldados de Carlos, o Calvo, provenientes de todas as
regiões da Gália, entendessem o que se jurava. Essa hipótese, porém, não tem funda
mentos sólidos. Os primeiros e indiscutíveis traços do franco-provençal encontram-
se no mais antigo poema românico sobre Alexandre Magno, do qual se conservou
fragmento de 105 estrofes monorrimas; está redigido em provençal e data do século
XI. Da metade do século XIII, existem vários documentos em franco-provençal, como
uma lista dos vassalos do conde de Forez, um escrito jurídico de Neuchâtel (1265),
um recibo de um cobrador de impostos (1271) e um longo documento relativo à
administração e à jurisdição dos condes de Vienne (1276). Também do século XIII é
a Lenda de São Bartolomeu, cuja língua lembra a de Lyon.
Representam produtos da literatura dialetal, a obra de Marcelino Allard no
dialeto de Forez, do início do século XVII, o monólogo satírico La vieille lavandière
de Grenoble, certamente de Laurent de Briançon, da primeira metade do século XVI;
Laurent é também autor do poemeto Le bonquet dela Faye, com 454 versos, de algu
mas canções de Natal no dialeto da Savóia e de algumas farsas no dialeto de
A vós será dito quem era essa canalha. Os saboianos contra nossas muralhas três escadas encosta
ram e por elas trezentos subiram. Tendo entrado, chegaram ao corpo de guarda, onde fizeram uma
rude montada. Eles tinham tenazes e martelos, que eram feitos com bom aço.
O Francês
A ROMÂNIA 223
Nessas condições, a história do francês, ou língua “d’oc”, deveria ser diferente.
Contrariamente ao que aconteceu no sul, em que existiram uma surpreendente κοινή
literária e uma brilhante literatura lírica, no norte as primeiras manifestações literárias
foram dialetais, entre as quais não figura o francês. Até o século XII, não há uma língua
literária uniforme, reflexo da ausência de unidade política, social e linguística. Desde a
ascensão de Hugo Capeto (987), o primeiro rei a ignorar o franco e a usar única e cons
tantemente o frâncico, até Luís XI (1461-1492), a história da França resume-se basica
mente na luta da realeza contra o feudalismo, cujo estrutura favorecia a descentralização.
Por isso, até o fim da Idade Média, as poesias épicas foram redigidas no dialeto anglo-
normando; composições líricas e épicas surgem na Champanha e na Picardia e as pri
meiras crônicas são escritas no dialeto champanhês. Centros culturais são as cortes de
Chrétien de Troies (Champanha), Artois, Arras (Picardia) e Rouen (Normandia).
Entretanto, quando Paris se projeta como capital real, em fins do século XIII, com Luís
IX, o Santo, o modesto dialeto de íle-de-France, o frâncico, passa também a se projetar
literariamente, até tornar-se a língua nacional no século XV. Em fins do século XIV, os
citados centros regionais haviam perdido importância política e cultural, passando a
segundo plano. O movimento centrípeto em relação a Paris foi acelerado pela unificação
nacional, uma conseqüência da Guerra dos Cem Anos (1337-1453), durante a qual Paris
foi um centro de referência e polarização. O grande desenvolvimento de Paris sob Carlos
VII (1422-1461), com a consequente centralização da cultura, projetou ainda mais o frân
cico. Também a invenção da imprensa, logo e largamente utilizada pelos reis franceses,
muito ajudou na difusão do frâncico, já que era a língua usada em numerosos impressos.
Portanto, fatores políticos, históricos e culturais fizeram com que o frâncico,
inicialmente sem maior projeção e importância, se tornasse a língua oficial e literá
ria da França em período de tempo relativamente breve. Foi uma trajetória diferente
da do italiano, por exemplo, para o qual, como se viu, valeu o critério cultural, com
as obras de Dante, Petrarca e Boccaccio elevando o dialeto florentino a língua nacio
nal e literária.
Quanto à situação atual dos dialetos franceses, A. Meillet (Les langues dans
iEurope nouvelle, p. 108) chegou à seguinte conclusão:
Les savants qui, dans Ia moitié septentrionale de Ia France, veulent étudier les parlers locaux
n’en trouvent plus que de traces; dans des villes aussi petites que Remiremont (dans les Vosges), le par
ier local ifexiste plus qu’à 1’état de souvenir. Dans les simples villages, le patois meurt rapidcmcnt. On
voit approcher le moment oii, dans toute Ia France du Nord, jusqu’ à Bordeaux, jusq’au Massif Central
et jusq’au sud de Lyon, il ifexistera plus que le français commun, plus ou moins correctement parlé.
Os especialistas que, na metade norte da França, quiserem estudar os falares locais não vão
encontrar senão vestígios; nas cidades pequenas como Remiremont (nos Volges), o falar local só
A ROMÂNIA I 225
inculto de Paris, do ditongo oi > óe> oé > οά > uá, que acabou entrando na língua culta
com a Revolução Francesa, pela qual as classes proletárias assumiram o poder.
Em pequenos territórios da França, falam-se ainda variedades linguísticas não
românicas: o basco é falado em três regiões (Labourd, Basse Navarre e Soule) dos
Pireneus; o bretão, variedade do céltico insular, afim do címrico e do córnico, implanta
do na Península Armórica no século VI, é falado na Basse Bretagne, estando em regres
são desde o século X; é usado por cerca de um milhão de pessoas, quase todas bilíngües.
Nas proximidades de Dunquerque e Hazenbrouck, fala-se o flamengo; e em parte da
Alsácia e da Lorena, o alemão é usado por cerca de dois milhões e meio de pessoas.
Lingüisticanrente, o francês é a língua românica mais diferenciada sob vários
aspectos, em virtude da conjugação de fatores particularmente fortes do substrato e
do superstrato. Dentre as particularidades do francês, destacam-se no vocalismo: pas
sagem do /a/ átono final a /e/, sendo também a única vogal que permanece nessa
posição: lat. porta > fr. porte·, mas lat. portu > fr. port; morte > morf, lupu > loup\
em sílaba livre, / e /, / e / e / o/, / p / s e ditongam por ditongação espontânea, como
em lat. mele > fr. miei (mas prov. mel, port. mel), através de mel > meei > meei e
finalmente miel\ lat. cor > fr. ant. cuer, mod. coeur (mas prov. cor e port. cor [em
“saber de cor”]); em sílaba travada, porém, não se dá a ditongação, como em lat. cor
pus > fr. ant. cors, mod. corps, prov. cors, port. corpo·, lat. perdit > fr. ant. pert, prov.
pert, port. perde. Nesse aspecto, o castelhano difere dessas línguas por ditongar tanto
em sílaba livre como travada: miei, muerte, cuerpo, pierde.
No consonantismo, muito cedo o francês sonorizou e depois sincopou as vela
res surdas intervocálicas: lat. maturu > fr. ant. meiir, mod. mür, mas prov. madur,
port. maduro·, lat. sapere > fr. savoir, mas prov. saber, port. saber, lat. rota > fr. roue,
mas prov. ròda, port. roda. Palataliza o / c / e o /g/ seguidos de /a/: lat. caballu > fr.
cheval, mas prov. cavai, port. cavalo·, lat. castellu > château, mas prov. castel, port.
castelo-, lat. gallu > fr. ant. jal, prov. gal, port. galo-, essa palatalização, porém, não
ocorre no normando nem no picardo.
A substituição do acento de intensidade por um tipo de acento frasal e as fre-
qüentes síncopes e apócopes na emissão tornaram o francês uma língua oxítona, em
oposição ao provençal e ao catalão, eminentemente paroxítonas; além disso, as nume
rosas palatalizações, com reflexos tanto sobre o vocalismo como sobre o consonantis
mo, as abundantes nasalações deram ao francês uma fisionomia articulatória bastante
original, diferenciada tanto das outras línguas da România como da própria França.
Entre as línguas românicas é o francês que dispõe dos documentos mais anti
gos. Dois dos Juramentos de Estrasburgo, pronunciados a 14 de fevereiro de 842,
perfazem o primeiro documento escrito numa língua românica, que procura transcre
ver a fala corrente a fim de ser entendida pelo exército de Carlos II, o Calvo, cujos
soldados não conheciam outra língua. Apesar de amplo estudo feito por eminentes
O Catalão
I des de les terres musulmanes hauria passat finalmente a Itália i Catalunya; trasmissió no
sois inversemblant per si mateixa, sinó contradita rodonament pcl fct que eis moros no van usar mai
un mon semblant. (Op. cit., p. 69)
cristãos vizinhos na reconquista dos territórios ao sul (ver p. 150). Em fins do sécu
lo IX, dentro do sistema feudal, o condado era um feudo do reino de Navarra, torna
do hereditário para a família Geoffroi em 888. As conquistas se sucederam: primei
ramente o litoral; no ano de 1230, Jaime I, o Conquistador (1213-1260), incorporou
as ilhas Baleares (Maiorca, Minorca e Ibiza) e Valência (1238); em 1268, os catalães
conquistaram Múrcia, mais ao sul, já constituindo um reino único com Aragão, cuja
língua oficial era o catalão. Em 1344, Pedro IV, de Aragão, fixou as formas de trata
mento “segons grau de cascun” nas Ordinacions sobra b regiment de tots los
Officials de la seva cort. Quando o reino de Aragão se uniu ao de Castela, em 1479,
aumentou a influência do castelhano sobre o catalão.
Lingüística e literariamente, a história do catalão divide-se em três fases: a
nacional, dos primórdios ao século XV; a da decadência, nos séculos XVI, XVII e
XVIII; e o da renascença, de meados do século XIX ao nosso século.
A fase nacional compreende o período em que Catalunha e Aragão perfaziam
um só reino, mas 80% da população falava o catalão; nessa época, o rival do cata
lão não era o castelhano, mas o latim e o provençal. No século XII, os poetas cata
lães escreviam na língua d ’oc, também chamada “limosino”, e só em parte em
catalão. Pelo fim da Idade Média, porém, as obras são escritas em catalão puro. Por
volta de 1300, já dispõe de produção em muitos gêneros literários, inclusive histó
ria, filosofia e teologia; Ramon Llull (1235-1316) é o grande destaque desse perío
do, cuja obra imensa versa sobre muitos assuntos, sobretudo temas filosóficos, enci
clopédicos e históricos; a parte em catalão abrange cerca de trinta volumes. O século
XIII viu florescer a crônica, a narrativa em prosa e em verso, o apólogo e os temas
religiosos; as traduções da Bíblia circulavam já em 1234. Destaca-se Arnau de
Vilanova, cuja obra científica foi escrita, em parte, em catalão. Escreveram-se ou
traduziram-se muitos livros sobre matemática, astronomia e medicina; por volta de
1350, Joan Jacme escreveu um tratado de oftalmologia. No campo dos estudos gra
maticais, Ramon Vidal de Basalú (1160-1230) é autor da mais antiga gramática,
A ROMÂNIA | 229
conservada, de uma língua moderna. Entre 1371 e 1380, surgiram dicionários de
rima; no século seguinte, publicam-se dicionários diversos. Do século XIV foram
conservados textos dramáticos, que se tornaram o ponto de partida das grandes
peças teatrais castelhanas do Renascimento. Língua de um Estado de longa tradição
parlamentar, o catalão conta ainda com numerosas obras de caráter oratório, com
reflexos no direito; assim, o Código de Direito Marítimo, elaborado pelo “Consolat
de Mar”, teve aceitação internacional.
No século XV, o catalão atinge o apogeu como língua literária. Depois da união
política com Castela, começa a decadência no século seguinte. A relativa liberdade
inicial foi restringida depois da guerra civil (1701-1713); o castelhano foi imposto
como língua oficial; mesmo assim, os tribunais e as escolas conseguiram manter o
catalão até 1858. A poesia e as canções populares de toda a Catalunha tiveram então
considerável desenvolvimento; nas homílias e temas religiosos nunca se deixou de
usar o catalão, como também na vida familiar, no comércio e na correspondência.
A Renaixença começou em 1833, quando Caries Aribau (1798-1862) escre
veu Oda a la Pátria, fazendo uso de uma língua rica, estilizada e realmente literária,
mostrando que não houvera solução de continuidade, apensar dos séculos de estag
nação e decadência. Sob inspiração do Romantismo, prosperaram a poesia, a prosa
literária e, logo depois, os escritos científicos e técnicos, com reflexos nas atividades
governamentais e administrativas. Datas importantes dessa Renaixença são 1859,
com a restauração dos Jocs Florais (segundo os Jeux Floraux, de Tolosa, espécie de
concurso poético, instituídos em 1323); 1864, início da grande obra dramática de
Pitarra; 1877, publicação de L ’A tlàntida, o primeiro grande poema bem-sucedido;
1883, publicação de La Papallona, o primeiro romance de Narcís Oller; em 1900,
assume caráter permanente o primeiro jornal diário La Veu de Catalunya (“A Voz da
Catalunha”); 1907, fundação da academia científica Instituí d'Estudis Catalans, que
teria um congênere para os estudos provençais, o Instituí dE tudes Occitanes, em
1945). Em 1931, o catalão recobrou o caráter oficial; logo depois da guerra civil
(1936-1939), porém, todas essas conquistas da Renaixença foram novamente supri
midas pelo “caudilho” Francisco Franco, o que levou os catalães a lhe oporem todo
tipo de resistência e oposição. Só conseguiram reaver a liberdade, inclusive a linguís
tica, com o estabelecimento da monarquia parlamentar sob o rei Juan Carlos
Bourbon, em 1978 (ver mapa 19, p. 374).
O catalão é hoje falado na chamada Catalunha Histórica (Catalunya ou E!
Principal), que compreende Barcelona, Gerona, Tarragona e Lérida; em pequena
parte limítrofe de Aragão, em amplos territórios das regiões de Valência e Alicante,
ao sul e nas ilhas Baleares; fora do território da Espanha, é língua oficial da peque
nina República de Andorra, nos Pireneus, nas fronteiras da Catalunha e de Aragão;
em território francês, é falado no Roussillon, a antiga Septimania dos godos (cat.
A R O M Â N IA I 231
pede > cast. pie cat. peu prov. pe
septem > siete set set
mola > muela mola mola
porta > puerta porta porta
b. O castelhano não ditonga o /e/ e o /o/ breves e tônicos diante de palatal, enquan
to o catalão e o provença! os ditongam:
c. Em castelhano conservam-se o /e/ e o /o/ átonos finais, com exceção do /e/ pre
cedido de /d/, mas são apocopados no catalão e no provençal:
lat. veclu > cast. viejo cat. ve// prov. vielh (“velho”)
palia > paja palia palha (“palha”)
b. Tanto o catalão como o castelhano palatalizam /-nn-/, mas não o provençal, que
o reduz a /-n-/:
c. O ditongo latino /au/ se reduz a /o/ nas duas línguas ibéricas, mas se mantém no
provençal (como no romeno e geralmente no sardo):
O Castelh an o
A ROMÂNIA [ 235
nome no século IX. As influências do substrato ibérico, continuadas pelas do adstra-
to basco (ver pp. 154-155), deram ao castelhano essa feição lingüística diferenciada
em relação ao pan-ibero-romance. A supremacia política, cultural, literária e lingüís
tica do castelhano despontou de sua força interna, mas se deveu também ao enfraque
cimento do reino de Navarra e à decadência do de León, firmando-se a partir da
segunda metade do século XI, quando assumiu o comando da reconquista. Enquanto
os dialetos de León, Navarra e Aragão se mostravam indecisos quanto à fixação de
determinadas mutações, por exemplo, os ditongos espontâneos /ué/ e /ié/, indecisão
revelada pelo emprego de alomorfes, como poblo, puoblo, e puablo, ou certo, cierto
e ciarto, o castelhano já usava as formas ditongadas pueblo, cierto, puerta, cielo etc.
Da mesma forma, propagaram-se as mutações típicas do castelhano /f/ > /h/, /cl/ e /li/
> /j/, /ct/ > /ch/ [tch], /j/ inicial > /φ/, durante os séculos XII a XV.
O prestígio cultural e literário do castelhano aumentou sobretudo com o rei
Afonso X, o Sábio (1252-1284), cuja corte foi um centro de irradiação do castelha
no como língua literária; o próprio Afonso X é autor das conhecidas Cantigas de
Santa Maria e do primeiro tratado de xadrez (1283), além de outras obras. Em sua
corte, a principal atividade cultural era a tradução; obras árabes sobre os mais diver
sos assuntos foram traduzidas quase exclusivamente por judeus, cuja aversão pelo
latim, por ter sido a língua de seus perseguidores, os levou a traduzir para o castelha
no, fato que o favoreceu em vários sentidos. Desse modo, razões políticas, literárias
e culturais levaram o castelhano a se tornar a língua oficial da Espanha, suplantando
lentamente as outras variedades, semelhantemente ao que ocorreu com o frâncico.
Desde o final do século XV, o castelhano foi a língua literária de toda a Espanha.
Como já se viu, o castelhano é a língua mais diferenciada da Península
Ibérica. O menor grau de latinização da região de Castilla, la Vieja, habitada por
várias raças ibéricas (cântabros, várdulos e autrigões) e efetivamente incorporada ao
Império Romano apenas no ano 19 a.C., explica a maior independência lingüística do
castelhano em relação ao latim e seu desenvolvimento posterior, em contraste com as
outras línguas e dialetos peninsulares, que se desenvolveram em regiões mais profun
damente latinizadas (ver mapa 19, p. 374).
Os dialetos espanhóis são relativamente uniformes. De norte a sul, os princi
pais são:
a. o leonês, cujo território atual abrange a província de León, parte das Astúrias, a
região ocidental de Villafranca dei Bierzo e de Ponferrada; para o sul, estreita-se
até se restringir as pequenas regiões em Zamora, Salamanca e Extremadura. Está
ligado lingüisticamente ao mirandês, da região norte de Portugal, sendo por isso
denominado de co-dialeto por José Leite de Vasconcelos. Aliás, o leonês tem
características que o aproximam do português: /au/ > /ou/ como em lat. causa >
a r o m â n ia | 237
é equivalente à Chanson de Roland. Composto por volta de 1140, sugere a existência
de uma epopéia anterior; foi conservado num único manuscrito de 1307, uma cópia
feita por Pedro Abad, só publicada em 1779 por Tomás Antonio Sánchez em
Collección de poesias antiguas castellanas. Foi composto na província de Sória, no
extremo sul-leste de Castilla, la Vieja, ao que parece por trovador de Medinaceli; a lín
gua é o castelhano arcaico, com influências aragonesas. Soma 3730 versos, divididos
em dois hemistíquios, com métrica irregular; celebra a personagem histórica de El Cid
Campeador, cujo nome era Rodrigo Díaz de Vivar (1026 ou 1040-1099). Divide-se em
três cantares: Cantar dei Destierro, Cantar de las Bodas e Cantar de Corpes. Dada a
importância do texto para a Filologia Românica e em especial para o castelhano, con
vém transcrever alguns versos, citados por Tagliavini (Le Origini, p. 506):
Todos já estavam vestidos quando meu Cid isso falou; haviam pegado as armas e estavam sentados
sobre os cavalos. Viram pela encosta abaixo o exército (força) dos francos (= catalães); perto do fim
da encosta, próximo ao terreno plano, mandou-os atacar meu Cid, o qual em boa hora nasceu; isso
os seus fazem com vontade e com agrado; os pcndões e as lanças tão bem vão usando, ferindo uns
e derrubando outros. Venceu essa batalha aquele que em boa hora nasceu; fez prisioneiro o conde
dom Remont; dele ganhou a Colada (uma espada), que vale mais de mil marcos.
O Po r t u g u ê s
A ROMÂNIA | 239
se considerava relegada a segundo plano pelo pai, autoproclamou-se “conde pela
graça de Deus”, iniciando o movimento pela independência política. Seu filho,
Alfonso Henriques, vencendo a batalha de Ourique (1139), foi proclamado rei por
suas tropas; fixou a capital em Coimbra, até a conquista de Lisboa em 1147. Seus
sucessores continuam a guerra contra os árabes em direção ao sul, até que o rei
Alfonso III completou a conquista, vencendo os árabes nos Algarves em 1250.
Os limites do Portugal medieval e moderno não coincidem com os da antiga
província romana, a Lusitânia. Em 197 a.C., os atuais territórios de Portugal com toda
a Ibéria constituíam uma só província romana. Sob o imperador Augusto (63 a.C.-14
d.C.), a Ibéria foi dividida em três províncias: a Tarraconensis (norte do rio Douro e
parte oriental norte da Península), Lusitânia (sul do Douro, incluindo Salamanca ao
leste, com limites indo em direção ao sul, ladeando Toledo, seguindo depois o curso
do rio Anas [atual Quadiana], com Emerita Augusta por capital); e a Bética (região da
Península ao sul, capital Córduba). Essa divisão foi feita em 27 a.C.; nova subdivisão
foi processada pelo imperador Constantino (285-337 d.C.), que das três fez outras
sete, ficando a Lusitânia limitada ao norte pelo rio Douro, ao oeste e sul pelo Atlântico
e a leste suas fronteiras eram ligeiramente mais alargadas que as atuais.
Lingüisticamente, no Condado Portucalense usava-se o mesmo dialeto que na
Galiza, sendo por isso conhecido como galego-português ou português-galego. Ao
sul do Douro, formou-se o “romance moçárabe”, que sobreviveu até meados do sécu
lo XIII, pelo menos no extremo sul. Com a conquista dessa região pelos portugueses
do norte, o moçárabe foi absorvido, deixando escassos vestígios e é praticamente
desconhecido. Alguns topônimos mostram que esse dialeto tinha tendências diferen
tes do português, como a manutenção do /1/ e do /n/ intervocálicos, sincopados no
português já no século XI, mas conservados no sul: Myrtilis > *Mirtula > Mèrtola\
basilica > baselga; ár. wadi (“rio”) + Ana > Odiancr, o próprio nome da capital man
tinha o /n/ intervocálico, só o perdendo posteriormente: ár. Al-Ashbuna > cast. ant.
Lisbona, port. mod. Lisboa.
Por outro lado, a expansão rumo ao sul fez com que o português se afastasse
do galego, enquanto absorvia o romance moçárabe. Mesmo assim, entre o português
e o galego existem mais semelhanças que diferenças. Assim, o galego mantém, da
mesma forma que o português, o sistema vocálico de sete fonemas, sendo fonológi-
ca a distinção entre / e / e / e /, por exemplo, ves (“tu vês” [de ver]) e vès (“tu vens”
[de vir]); presa (“presa”) e presa (“pressa”); preto (“perto”) e preto (“preto”,
“negro”), e entre / o / e / o/: corvo (“curvo”) e corvo (“corvo”) ;podo (“eu podo” [de
podar] e podo (“eu posso”); tola (“boba”) e tola (“montão”). Em discordância com o
castelhano, conserva sempre o /f-/ inicial latino como o português: lat .filum > gal.
fio, port .fio, mas cast. hilo; lat. ferrum > gal .ferro, port. ferro, cast. hierro; lat. folia
> gal. folia-, port. folha, cast. hoja (ver mapa 19, p. 374).
A ROMÂNIA | 241
a (prep.) + o > ao (port. e gal.); a + a > à (port. e gal.) e com o artigo no plural a +
as > às e, a + os > aos; de + o(s) > do(s), de + a(s) > da(s) (port. e gal.); em/en +
o(s) > no(s), em/en + a(s) > na(s). Com as preposições com e por, o galego conser
va contrações que se arcaizaram em português: con + o > co, con + os > cos, con +
a > coa, con + as > coas; por + o > polo, por + a > pola etc. No português moder
no, as formas polo, pola, polos, polas foram substituídas por pelo, pela, pelos, pelas,
o que resultou da confluência semântica das preposições per e por. As mesmas con
trações se dão também com os artigos indefinidos: port. de + um > dum; em + um
> num etc; gal. de + un > dun; en + un > nun etc. Essas preposições se contraem
também com os pronomes pessoais da terceira pessoa e os demonstrativos em ambas
as línguas: gal. dei - delia; port. dele - dela; gal. daquel, daqueloutro, daquilo, dese,
deste etc., e port. daquele, daqueloutro, daquilo, desse, deste etc.
O artigo indefinido galego apresenta uma palatalização (ao menos inicialmen
te) na forma feminina, desconhecida em português: gal. un - uns, unha - unhas; mas
port. um - uns, uma - umas. As formas dos pronomes possessivos são coincidentes:
In Christi nomine, Amen. Eu eluira Sanchiz offeyro o meu corpo áás virtudes de San Saluador
do moensteyro de Vayram, e offeyro co’no meu corpo todo o herdamento que ey en Centegãus e as
tres quartas do padroadigo d’essa eygleyga e todo hu herdamento de Crexemil, assi um das sestas
como todo u outro herdamento: que u aia u moenteyro de Vayram por en saecula saeculorum.
A ROMÀNIA ; 243
de qualquer ditongação espontânea {corpo, cast. cuerpo; herdamento, cujo corres
pondente castelhano é heredamiento). O verbo haver, de lat. habere, ainda conserva
o sentido latino de “possuir” (ey e aia, mod. hei e haja).
Em relação aos dialetos, já se viu que a reconquista levou-os a uma relativa
homogeneidade. Mesmo assim, distinguem-se os dialetos: a) interamnense, entre os
rios Minho e Douro, do qual são variedades o alto-minhoto, o baixo-minhoto e o
baixo-duriense; b) transmontano, da região de Trás-os-Montes, tendo o raiano e o
alto-duriense como variedades; c) beirão, da região da Beira Alta e Baixa, incluindo
Coimbra e Aveiro; d) meridional, que abrange o estremenho (Estremadura), o alente-
jano, que inclui a variedade de Olivanza na Espanha, e o algarvino bem ao sul,
Os chamados dialetos insulares são falados nas ilhas dos Açores e da Madeira
e estão ligados ao algarvino; apresentam algumas características: nos Açores, o /u/
soa /ii/ como em francês, /ou/ > /o/ e /o/ > /u/, por exemplo, flor >flur; também /-ão/
> /-3/, como mão > mã. Na ilha da Madeira, também o /o/ soa como /u/ e o /i/ tem
um som deserito por Gonçalves Viana como intermediário entre o do /1/ e de /lh/,
semelhante ao eslavo i.
Com as grandes descobertas marítimas do século XVI e as subseqüentes colo
nizações (ver pp. 181-182), o português foi levado a todos os continentes. Já em
1441, Nuno Tristão chegou ao Cabo Branco, e à Senegâmbia em 1445; Diogo Gomes
e Antônio de Nola chegaram ao arquipélago do Cabo Verde e às ilhas de Ano-Bom;
São Tomé e Príncipe foram descobertas em 1470. Os navegadores portugueses foram
abordando sucessivamente o Zaire, o Congo e Benim. Bartolomeu Dias passou pelo
Cabo das Tormentas em 1488, abrindo o caminho para a língua portuguesa em dire
ção ao Oriente, enquanto o Brasil era incorporado ao domínio português em 1500.
Como resultado da ocupação de tantos territórios e de séculos de colonização, fala-
se hoje o português em Angola, Moçambique, Mombaça, Melinde e Quiloa; dialetos
crioulos encontram-se na Guiné, no arquipélago do Cabo Verde e nas ilhas de S.
Tomé, Ano-Bom e Príncipe. Na Ásia, o português crioulizou-se em Diu, Damão,
Bombaim (onde é chamado “norteiro”), Caul e Baçaim, em Mangalor, Cananor, Maé
e Cochim; não se crioulizaram as variedades de Goa, que foi a antiga capital do impé
rio português no Oriente, e do litoral de Coromandel, na Península da índia. Mas são
crioulos os falares de Macau, enclave em território chinês, das ilhas Malaias, de Java,
Singapura e Málaca; na ilha de Timor fala-se um dialeto português na região norte-
oriental e um crioulo em parte do Ceilão (ver mapa 21, p. 376).
No Brasil, o português é basicamente o mesmo de Portugal, tanto na norma
culta e literária, como na popular; de modo geral, porém, o português falado brasi
leiro é mais conservador que o de Portugal. Depois de quase cinco séculos, apontam-
se algumas diferenças entre o português falado em Portugal e no Brasil. Na fonética,
algumas divergências são:
A ROMÂNIA I 245
f. Os pronomes pessoais ditos oblíquos são tônicos no Brasil e totalmente átonos
em Portugal. Assim, me, te, se, lhe aqui são pronunciados /mi/, /ti/, /si/, /lhi/, em
Portugal perdem totalmente a tonicidade, sendo emitidos /mV, /t’/, /s7, /lhV, for
mando uma só unidade com o verbo com o qual estão relacionados. Obviamente,
essa diversidade de emissão tem reflexos sintáticos inevitáveis.
g. No Brasil, normalmente não se confundem os fonemas /b/ e /v/, cuja alternância
é corrente em Portugal, onde vou soa [bou], viste, [biste], burro [vurro], vento
[bento] etc. Apenas alguns vocábulos são usados indiferentemente com /b/ ou /v/
como vassoura ou bassoura, varrer ou barrer, assobiar ou assoviar.
A ROMÂNIA [ 247
pastelaria confeitaria (pastelaria, “lugar onde se vendem apenas
pastéis”)
revisor fiscal (revisor, “corretor”)
sopeira empregada (sopeira, “terrina”)
Não se pode afirmar que o pai da Filologia Românica tivesse intenção de pro
por uma classificação das línguas românicas. Diez de fato preocupou-se em distinguir,
entre os falares da România, quais deveria considerar língua e quais deveria enumerar
entre os dialetos. Nessa perspectiva, fica mais fácil compreender os critérios por ele
empregados nessa distinção em sua Grammatik der romanischen Sprachen (I, p. 1):
Seis línguas românicas chamam nossa atenção pelas características de sua gramática ou
pela importância de sua literatura: duas orientais, o italiano e o valaco; duas sul-ocidentais, o espa
nhol e o português; duas norte-ocidentais, o provençal e o francês [...].
A ROMÂNIA I 249
um idioma independente, embora bem aparentado com aquele Ao negar inicial
mente o status de língua ao catalão, Diez não levou em consideração sua literatura mais
antiga que a do castelhano, nem o fato de ter sido a língua oficial do vasto império do
reino de Aragão; de fato, o catalão deixou de ser considerado língua pelo critério polí
tico, implícito: faltava-lhe um território independente. Por outro lado, o provençal, cuja
língua e literatura Diez conhecia muito bem, também não dispunha de território inde
pendente, e assim mesmo foi considerada língua. Em relação ao português, se Portugal
não fosse um país independente e o português uma língua oficial, certamente seria con
siderado um dialeto castelhano, como o galego, apesar de sua valiosa literatura e “as
características de sua gramática” (ver mapa 22, p. 377).
Diez não inclui entre as línguas românicas também o sardo, ainda que lingüis-
ticamente bem caracterizado sob diversos aspectos fonéticos, morfológicos e léxicos;
nos critérios adotados, porém, faltavam-lhe a literatura e o território autônomo, sendo
por isso ligado por Diez ao italiano. Em relação ao rético, por ele denominado
Schurwàlsche, e de fato indicativo apenas da variedade do Cantão dos Grisões, a
ausência de uma literatura própria expressiva, a diversidade dialetal sem que uma das
variedades se destacasse e a falta de expressão política levaram Diez a não conside-
rá-lo uma língua. Põe-se aqui a “questione ladina”; se o autor tivesse levado em con
sideração o conjunto dos dialetos réticos - ocidentais (valáder, puter, engadino), cen
trais (dolomíticos) e orientais (friulano) - certamente teria assumido a posição dos
romanistas posteriores, principalmente levando em conta a antiga e ininterrupta tra
dição de uma das literaturas líricas populares mais belas e ricas da Itália, como as v/7-
lotte. Quanto ao dalmático, Diez não chegou a conhecê-lo, embora o dialeto veglio-
to no seu tempo ainda fosse falado na ilha de Veglia.
Portanto, os critérios de Diez foram lingüísticos, políticos, literários e geográ
ficos; de fato, porém, esses critérios serviram mais para uma possível distinção entre
o que seja língua e o que seja dialeto. Para isso, basta considerar sua hesitação em
relação ao catalão. E o critério meramente geográfico não é suficiente para uma clas
sificação científica, segundo a árvore porfiriana, por exemplo.
OUTRAS CLASSIFICAÇÕES
A R O M Â N IA 251
/c/ [k] > /g/; /p/ > /b/ (> /v/ > /φ/); /t/ > /d/.
lat .ficu > port .figo, cast. higo, cat .figa, prov.figa, fr. ant .fi, fr. moA.figue, eng. fic,
log. figu; mas it. fico, sic.fiku, corso fiku, gasc. hik, vegl. faika, mác.-rom. hic,
megl.-rom. icã (rom. smochinã < esi. ant. smokvina);
lat .focu > port .fago, cast./nego, cat .foc, prov.fuec, fr. feu, eng. fõg, friul./wg, log.
fogu; mas it .fuoco, vegl.foku, rom .foc,
lat. formica > port. formiga, cast. hormiga, cat. formiga, prov. formiga, fr. fourmi,
eng.furmia, log. formiga-, mas it. formica, vegl.formaika, rom.furnicã.
lat. popiilu > port. pobolo > poboo > povoo > povo, cast. pobolo > poblo > puoblo
> pueblo, cat. poble, prov. poble, fr. ant. pueble, fr. mod. peuple (regressão erudi
ta), eng. põvel, log. pobulu; mas it. popolo, rom. popor;
lat. *cepulla > port. cebola, cast. cebolla, cat. cebolla, prov. cebola (> fr. ciboulé),
eng. ciguola e log. kibudda; mas it. cipolla, dalm. kapula (> vegl. kapul); o rom.
tem ceapã < lat. caepa, “cebola”;
lat. sapone > port. sabão, cast. jabón, cat. sabá, gasc. sablun, prov. sabo, fr. savon,
friul. savon, eng. savun, log. sabone; mas it. sapone, vegl. sapaun, rom. sapun.
lat. matum > port. maduro, cast. maduro, cat. madur, prov. madur, fr. miir, eng.
madiir, friul. madur, log. maduru; mas it. maturo, vegl. matoir(e), rom. matur;
lat. catena > port. cadeia, cast. cadena, cat. cadena, prov. cadena, gasc. kadine, fr.
chaine, eng. kadaina, friul. kadena, log. kadena; mas it. catena, vegl. kataina,
mác-rom. catina;
lat. octo > port. oito, cast. oito > ocho, cat. vuit, prov. uech; fr. huit, eng. och, friul.
vot, (log. otto); mas it. otto, vegl. guapto, rom. opt;
lat. nocte > port. noite, cast. noite > noche, cat. nit (< naeit), prov. nuech, fr. nuit, eng.
not, friul. not, (log. notté)\ mas it. notte, rom. noapte;
lat. lacte > port. leite (< laite), cast. leite > leche, cat. llet (< llieit), prov. lach, fr. lait,
eng. lat, friul. lait, (log. latte)·, mas it. latte, rom. lapte.
lat. nos > port. nós, cast. nos (nosotros), cat. nos (nosaltres), prov. nos, fr. nous, eng.
nus, friul nus\ mas it. noi, vegl. noi, rom. noi;
lat. duos > port. dois, cast. dos, cat. dos, prov. dos, fr. deus > deux, eng. dus, (friul.
doi), log. duos·, mas it. due, vegl. doi, rom. doi.
A ROMÂNIA I 253
quer forma, nos romances italiano e romeno o /-s/ final desapareceu completamente,
embora se conservasse nos outros e em localidades restritas, como Pompéia, cujas
inscrições atestam a estabilidade desse fonema; convém lembrar, porém, que
Pompéia, no meio século anterior à erupção do Vesúvio, desfrutava de uma privile
giada situação econômica, social e cultural.
Enquanto as consoantes finais, sobretudo /-m/ e /-t/, eram apocopadas em
toda a România, no Ocidente o /-s/ final resistiu em virtude de suas claras funções
morfológicas nos nomes e nos verbos. No Oriente, o desaparecimento do /-s/ final
alterou profundamente todo o sistema das declinações. Não se pronunciando mais o
/-s/ do acusativo plural e o /-m/ do singular, houve confluência de formas com a con-
seqüente neutralização da idéia de número:
Modo Indicativo:
Presente cinti cintali, “cantas” - “cantais” (a cinta)
lucresi lucrari, “trabalhas” - “trabalhais” (a lucra)
taci tãceti, “calas” - “calais” (a tacea)
faci faceti, “fazes” - “fazeis” (a face)
cobori coboriti, “desces” - “desceis” (a cobori)
Modo Subjuntivo:
/0 :
Presente sã cinli - sã cinta[i, “cantes” - “canteis”
sã lucrezi - sã lucrati, “trabalhes” - “ trabalheis”
sã taci - sã tãce{i, “cales” - “caleis”
sã faci - sã faceti, “faças” - “façais”
sã cobori - sã coborif, “desças” - “desçais”
A R O M Â N IA I 255
to, apenas lenizando a sonora (/b/ > /v/): lat. cantabas > it. cantavi e cantabatis > can-
tavate; desse modo, no italiano, o problema não é tão sensível.
Portanto, em linhas gerais, esses critérios estritamente lingüísticos distinguem
razoavelmente bem os dois ramos. Convém observar, porém, que o sardo ocupa,
nesse contexto, uma posição particular, uma vez que conserva o /-s/ final, mas não
sonoriza as surdas intervocálicas, segundo se observa nos exemplos dados, além de
assimilar o /c/ do grupo /ct/; mesmo assim é incluído entre as línguas do ramo oci
dental. Observe-se ainda que, mesmo ao sul da linha La Spezia-Rimini, existem
regiões com os traços lingüísticos do Ocidente, como a zona fronteiriça entre a
Lucânia e a Calábria e a do sul de Ancona. E preciso mencionar ainda o fenômeno
verificado na antiga Etrúria, cujo território corresponde aproximadamente ao da Tos-
cana moderna, denominado gòrgia toscana, “garganta toscana”; consiste na aspira
ção das consoantes surdas intervocálicas, inclusive por fonética sintática: it. fico >
tose. fih o (“figo”), poco > poho (“pouco”), mi ca > miha (“migalha”); la casa > la
hasa (“a casa”). A área de aspiração do /-c-/ é mais ampla que a do /-t-/ (it. dito >
tose. ditho [“dedo”], stato > statho [“estado”]), enquanto a do /-p-/ é muito reduzida;
exemplos de /-t-/ > /-ph-/: it. cupola > tose. cuphola (“cúpula”), lupo > lupho
(“lobo”), scopa > scopha (“vassoura”). E sabido que o etrusco tinha os três fonemas
aspirados, representados na grafia pelas letras gregas correspondentes (φ, θ, χ); por
isso, atribui-se essa característica gòrgia toscana à influência do substrato etrusco,
embora não haja unanimidade entre os romanistas.
Essas questões, entre outras, mostram quão relativa é qualquer classificação
das línguas românicas, mesmo baseada em critérios lingüísticos, em princípio, aceitá
veis. Apesar dos muitos problemas que enfraquecem essa classificação, tornando-a
bastante relativa, mesmo assim não deixa de ter seu valor principalmente de caráter
prático, sendo por isso mantida pela maioria dos romanistas (ver mapa 22, p. 377).
A ROMÂNIA CONTÍNUA
A ROMÂNIA I 257
terior à tradição latina”. O norte da África, por exemplo, cuja latinização se iniciou
no século III a.C., chegou a ter centros florescentes de cultura latina; vicissitudes his
tóricas, porém, em particular as invasões dos vândalos e dos árabes, não permitiram
que ali surgisse sequer um dialeto românico, uma vez que a tradição latina foi total
mente destruída. Nos Bálcãs, as regiões mais romanizadas da Panônia, do Ilírico e
Mésia foram perdendo lentamente a tradição latina e o romance balcânico acabou por
tornar-se substrato das línguas eslavas dominantes, restando apenas ilhas de falar
românico de populações, além disso, bilíngües, como os falantes do ístrio-romeno.
Nesse contexto, o dalmático foi sendo empurrado em direção ao Adriático, até seu
desaparecimento com Udina, Burbur, em 1898.
Com base nesses dois princípios, Amado Alonso propõe o que denominou
Romãnia Contínua, na qual a divisão da România em Oriental e Ocidental conserva
um valor relativo. Assim, até o século III, quando a Dácia foi abandonada pelas
legiões e pela administração, ela formava um conjunto com a Dalmácia e a Itália,
levando-se em conta o tratamento dado ao /-s/ final, por exemplo. A partir daí, o
romance da Dácia ficou isolado e não lhe foi possível conservar a tradição latina,
como na Itália, que não sofreu a forte influência bizantina e eslava como o romeno.
Por isso, Alonso isola o romeno e o dalmático, que passam a constituir o ramo orien
tal a partir do século IV, enquanto o italiano, conservando melhor a tradição latina,
se aproxima sempre mais das línguas românicas do Ocidente, fato mais consentâneo
com a realidade lingüistica; realmente, o italiano está mais próximo do provençal e
demais línguas ocidentais que do romeno.
A partir do século V, o romance do norte da Gália passa a sofrer forte influên
cia dos francos, germanos que não haviam sido romanizados anteriormente; em con
sequência, a língua francesa se afasta consideravelmente dos parâmetros latinos e
com isso do provençal, catalão, castelhano etc. Em vista disso, Alonso separa tam
bém o francês da România Contínua, a partir do século VI. Assim, o francês e o
romeno não se enquadram em nenhum grupo, principalmente por suas particularida
des lingüísticas, enquanto as outras línguas românicas se inter-relacionam mais facil
mente pela maior fidelidade à tradição latina. Posição semelhante à de Amado
Alonso têm A. Meillet (Linguistique historique et linguistique générale, p. 310) e Th.
H. Maurer (A Unidade da România Ocidental, p. 13). Baseados também em fatos
culturais e lingüísticos, situam só o romeno no ramo oriental e as outras integram o
ramo ocidental (ver mapa 23, p. 378).
Entretanto, considerando o caráter basicamente latino tanto do romeno como
do francês, B. E. Vidos (Manual, pp. 296-297) julga que não se deve excluí-los da
România Contínua. Através dos dialetos, é possível integrar todas as línguas sem
interrupção, do Oriente ao Ocidente. O ponto de partida é a unidade originária, sobre
a qual se desenvolveram as línguas românicas. Começando pelo Oriente, Vidos mos-
A ROMÂNIA I 259
não-européia observam-se zonas de fronteira lingüística, como ao longo dos limites
entre o Brasil e seus vizinhos, sobretudo Argentina, Paraguai, Bolívia, Peru e
Colômbia, onde não são raros os empréstimos léxicos.
CARACTERÍSTICAS E INTER-RELACIONAMENTO
DAS LÍNGUAS ROMÂNICAS
BALCANO-ROMANCE
A r o m â n ia | 261
(Grammaire, I, p. 202). O argumento é aceitável, tendo-se em vista que /e/ e /o/ bre
ves, em boa parte das línguas românicas, se ditongam, o que leva a supor que tenham
sido os primeiros a sofrerem a ditongação espontânea e uma posterior monotongação.
No léxico, o dalmático foi muito conservador, bastante relacionado com o
romeno e com os elementos latinos do albanês. Contudo, as afinidades lingüísticas do
dalmático são ainda muito discutidas entre os romanistas; C. Tagliavini relaciona-o
com o romeno e o albanês, enquanto Matteo Bartoli, sem dúvida o maior conhecedor
dessa língua, liga-a estreitamente aos dialetos sul-italianos e, particularmente, aos da
região da Apúlia e dos Abruzos, geograficamente frontais à Dalmácia. Bartoli baseou-
se, para isso, no substrato ilírico comum a essas regiões, já que os messápios da Apúlia
eram ilíricos, e também no fato de que o movimento para as colônias militares e o
comércio com a Dalmácia partiam da Itália meridional; só mais tarde Veneza veio a
tornar-se o grande centro comercial, que dominou totalmente o mar Adriático e suas
rotas. Muitos romanistas aceitaram a posição de M. Bartoli; Clemente Merlo (1879-
1960), porém, procurou mostrar as afinidades do dalmático, especialmente do veglio-
to, com o rético. De uma forma ou de outra, o dalmático é o elo de ligação entre o bal-
cano-romance com as línguas românicas ocidentais, seja com o ítalo-romance
segundo Bartoli, com sua designação de România Apenino-Balcânica, seja com o
reto-romance através do friulano e do vêneto, a partir da posição de Merlo. Contudo,
é possível conciliar as duas posições, admitindo-se aquela influência italiana primei
ra, recuada no tempo, ficando com isso relacionada com os fenômenos do substrato,
enquanto a penetração do rético só se inicia com a projeção de Veneza, república aris
tocrática, como grande potência marítima e centro comercial nos séculos XII a XV.
Controlando toda a região norte-oriental da Itália e seu comércio, Veneza dominou a
ístria e toda a costa dálmata por volta de 1400, até Ragusa. Assim se explica o supers
trato vêneto-rético do dalmático (ver mapa 11, p. 366).
Em que pesem essas diferenças, o termo balcano-romance é mais pertinente
que ítalo-romance, galo-romance ou ibero-romance, porque não se funda sobre uma
base política nem étnica, uma vez que seu substrato é constituído pelo trácio e pelo
ilírico, mas está em conformidade com a realidade lingüística, reflexo duma unidade
geográfica e cultural, mais claramente delimitável que a dos outros blocos. Traços
típicos do balcano-romance, encontrados também nas línguas são românicas:
a. A assimilação do /c/ do grupo /-ct-/ > /-pt-/ ou /-ft-/: lat. lucta > rom. luptã, alb.
lufié; lat. coxa > rom. coapsã, alb. kofshè\ serv.-croat. kopsa, maced. coapsa.
Note-se o mesmo metaplasmo, sempre que o /c/ for seguido de consoante.
b. Os pronomes demonstrativos eram pospostos ao substantivo e por isso também os
artigos definidos se pospõem, como acontece também com outras línguas balcâ
nicas, o albanês e o búlgaro: lat. homo illu > rom. omul (om+[u]l); frater ille >
RETO-ROMANCE
a r o m â n ia | 263
coincide com o da antiga Récia, como o Alto Ádige, que pertencia ao Nórico, e o
norte oriental da Itália.
ÍTALO-ROMANCE
GALO-ROMANCE
A ROMÂNIA I 265
aoút (“agosto”), ou (“onde”), e ou (“ou”). No século XI, deixou-se de pronunciar o /-1/
final e, no século XIII, também o /-s/ final, originando novas homonímias, como fois
(“vez"),foie (“fígado”) efoi (“fé”), mais sensíveis, porém, na conjugação verbal: can
tas > chantes; cantat > chantef, cantabas > chantais; cantabat > chantaif, para evitar
a homonímia verbal, fez-se obrigatório o uso do pronome pessoal.
Essa acentuada evolução fonética do francês estabeleceu uma distinção muito
clara entre o léxico herdado e os termos eruditos e semi-eruditos, introduzidos na lín
gua a partir especialmente do século XIV por necessidade científica. Afrancesaram-
se termos abstratos latinos, sem correspondentes na língua; caso houvesse, não eram
de uso geral, pareciam inadequados, além de apresentarem, por vezes, muitas varian
tes; assim, cécité (< lat. caecitatem) se impôs e tornou arcaicas aveugloison, aveu-
glerie, aveugleté, aveuglesse, aveugleüre e aveuglissement; o mesmo aconteceu com
lat. maturitatem > fr. maturité, que substituiu meiireté; e lat. calvitiem > fr. calvitie
impôs-se a chauvece, chauveur, chauveure, derivados de chauve. A maior fidelidade
do léxico das outras línguas românicas, mesmo dentro do galo-romance, ao latim evi
tou, pelo menos em parte, essa ruptura formal entre o léxico herdado e os emprésti
mos posteriores. Comparem-se os seguintes exemplos: lat. articula > port. artelho
(prov. artelh) com as formas eruditas articular e articulação·, lat. digitu > port. dedo
(cast. dedo, cat. dit, prov. det, fr. doigt [dwá], eng. daint, friul. det, it. dito, log. didu,
vegl. detco, rom. deget) com digital, digitação; lat. auricula > lat. vulg. oricla > port.
orelha (cast. oreja, cat. orella, prov. aurelha, fr. oreille, friul. oregle, eng. uragla, log.
oryia, it. orecchio, vegl. orakla, rom. urechè) com auricular.
Por motivos políticos, econômicos e culturais, o francês foi guindado a uma
posição de destaque no contexto românico e mesmo não românico, exercendo sem
pre grande influência. Na Itália, o influxo francês se intensificou com a incorporação
do império lombardo e a formação do grande império de Carlos Magno, de modo que
a presença francesa foi intensa nos séculos IX e X; no início do século XI, os norman
dos, então já de língua francesa, conquistaram o sul da Itália e a Sicilia; peregrina
ções sempre numerosas vinham da França e várias ordens religiosas, como os clunia-
censes, os cistercienses e os cartusianos, estabeleceram-se na Itália. A confluência
desses fatos históricos explica a contribuição lingüística do galo-romance ao italiano
desde as origens, com o aporte de vocábulos francos e de outras origens. Na literatu
ra, a lírica provençal foi modelo para a primeira floração literária surgida na corte do
reino da Sicilia no século XIII, com escritores que compuseram em francês e em pro
vençal. Dessa época provém o it. giullare, do prov. joglar (< lat. iocularis, que por
via direta dá o it. giocolare)', o francês antigo jogler e joculer é a base do it. gioco-
liere; lat. ministerialis > fr. menestrèl > it. menestrello (port. menestreí); prov. troba-
dor > it. trovatore. Vêm por empréstimo também nomes de instrumentos musicais
(viola, liuto [“alaúde”], cennamella [“flauta”]), da falcoaria, do feudalismo e do sis-
266 I E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
tema administrativo; são exemplos desses últimos fr. hommage, termo feudal que
expressava inicialmente o juramento de fidelidade do vassalo a seu suserano, origem
do it. omaggio, enquanto prov. omenatge > cast. homenaje, port. homenagem·, tam
bém o fr. baron (< germ. baro [“homem livre”]) > it. barone, cast. barón, port. barão;
lat. comite > fr. comte, prov. conte > it. conte (cat., cast. e port. conde); do lat. comes
stabuli (“administrador das cavalariças” e depois “diretor da cavalaria”) > fr. conné-
table > it. ant. connestabile e contestabile, mod. contestàbile (port. condestável);
germ. marahskalk (“empregado que cuida dos cavalos”) > fr. maréchal > it. mares-
ciallo e port. marechal. Outros empréstimos referem-se a nomes de armas, de cultu
ra como gaul. leuca (“milhar”) > prov. légua > it. lega, port. légua; lat. pagus >
pagensis (“circunscrição”, “região”) > fr. pays > it. paese (cast. país, port. pais).
No século XVII1, o iluminismo francês refletiu-se na Itália, como aliás em
toda a România; o mesmo aconteceu com a Revolução e as modificações na visão do
mundo e da cultura dela resultantes.
Na Península Ibérica, inicialmente foi maior a influência do provençal nas três
línguas da região, fato explicado pela cruzada de Simon de Montfort contra os albigen-
ses, a devastação e pobreza resultantes (ver p. 213); sem o apoio de seus protetores,
empobrecidos, os trovadores se refugiaram nas cortes ibéricas e italianas, levando con
sigo o provençal. Mesmo assim, a influência francesa foi considerável nos séculos XII e
XIII, quando a migração de franceses para a Ibéria aumentou, favorecida por casamen
tos de reis espanhóis com princesas francesas e provençais, tendo sido considerável a
contribuição francesa para as guerras da Reconquista. Quando o francês se tornou a lín
gua oficial também da região sul da França nos séculos XIV e XV, aumentou também
sua influência ao sul dos Pireneus. Da mesma forma que na Itália, as ordens monásticas
de origem francesa se fixaram também na Ibéria e sua presença foi particularmente
importante em Portugal. As constantes peregrinações de franceses a Santiago de
Compostela criaram o “caminho francês”, assim chamado devido ao número de peregri
nos procedentes da França e de franceses estabelecidos ao longo dele.
Em Portugal, a presença francesa está intimamente ligada ao próprio nasci
mento do país na fundação do Condado Portucalense com D. Henrique, senhor de
Besançon, na Borgonha. Daí a multiforme influência no país nos campos da política,
do comércio, da cultura e das artes, com a vinda de cavaleiros, colonos e eclesiásti
cos franceses. Ainda que não restritos às línguas da Península Ibérica, são emprésti
mos tomados ao francês, por exemplo, além dos já mencionados acima, fr.forêt, prov.
forest > port. floresta, cast. floresta, it. foresta, do lat. forestis (silva), significando
“mata reservada de caça”, “mata real”; a forma portuguesa e castelhana sofreu con
taminação semântica de “flor”; fr. claire voie (“clara via”) > port. clarabóia, cast. cla
rabóia; lat. cappellu > fr. chapeau > port. chapéu, mas it. cappello, prov. capell, cat.
capell; termos relativos às finanças difundiram-se, como fr. endosser (< dos, “cos-
A r o m â n ia I 267
tas”) > port. endossar, cast. endosar, fr. finer (“pagar”) > finance (“recursos mone
tários” > “negócios monetários”) > port. finanças, it. finanza\ fr. financier > port.
financeiro, it. finanziarío-, it. aggio (“sobretaxa exigida em relação ao valor nominal
do metal da moeda” em Ravena) > fr. agios > port. ágio; it. aggiotaggio > fr. agiota-
ge > port. agiotagem, cast. agiotaje; fr. assemblée > port. assembléia, cast. asamblea,
it. assemblea. Dos muitos termos militares, destacam-se fr. général > port. general,
cast. general, it. generale·, fr. brigadier (< it. brigata, “divisão de exército”) > port.
brigadeiro, cast. brigadier, fr. lieutenant (lieu + tenant, “ocupante de um posto”) >
port. tenente (com supressão do substantivo); fr. sergent > port. sargento, cast. sar
gento, it. sergente; fr. recrue, com base no participio passado de emite (“crescer”),
significando “o que vem aumentar de novo” o exército, forma o verbo recruter
(1691), donde port. recrutar e recruta, cast. reclutar e recluta, it. reclutare e rècluta,
como também os derivados, fr. recrutement > port. recrutamento etc.; commandant
> port. comandante, cast. comandante, it. comandante·, fr. déroute > port. derrota,
cast. derrota, cat. derrota', fr. arrière-garde > port. retaguarda, cast. retaguardia, cat.
reraguarda, it. retroguardia.
Na relatinização do romeno, iniciada no século passado, o francês e, um
pouco menos, o italiano serviram de modelo para a incorporação de todo um léxico
de origem latina. Entretanto, segundo observou Th. H. Maurer (A Unidade da
România Ocidental, p. 76), o romeno deu preferência a um vocabulário panromâni-
co, isto é, aos termos pertencentes ao conjunto das línguas românicas, ainda que essa
disseminação se devesse a uma anterior influência francesa ou italiana. Assim,
mesmo com as palavras às quais se costuma atribuir origem francesa, o ponto de par
tida da forma é o latim e as línguas românicas em geral; o francês representou uma
espécie de modelo formal e semântico, o que não impede que haja no romeno, da
mesma forma que nas outras línguas românicas, numerosos galicismos. Uma compa
ração entre as formas acolhidas pela relatinização do romeno e as correspondentes
românicas mostra que todas as línguas ocidentais dispõem desses termos, com pou
cas exceções. Exemplos de termos da relatinização romena com os correspondentes
franceses (italianos ou latinos):
A ROMÂNIA I 269
rager mas rom. descuraja) e acolhe por vezes o empréstimo num sentido específico
(doctor, “médico”, curte, “corte de um rei”), casos de empréstimos semânticos.
Outras vezes lança mão de elementos do sistema vernáculo e imita apenas o modo de
composição (fr. prétendu, rom. pretins·, fr. résigner, modelo de resemna [re + semna]
e fr. déplorer [de + ploraré], modelo de deplínge [de + plangere]. Sem dúvida, o fran
cês foi o modelo adotado nesse processo de relatinização do romeno, as formas foram
as latinas e o conteúdo semântico foi o românico moderno, embora seja clara a pre
sença de numerosos galicismos, comuns igualmente nas demais línguas românicas.
Enquanto a influência do francês sobre o romeno é tardia, na Itália e na Ibéria
o galo-romance se fez presente bem mais cedo. Basta lembrar a presença do proven-
çal no condado barcelonês já no século IX, com as conseqüências sobre o catalão,
precisamente na época em que este se formava; no século XII, poetas catalães escre
viam em provençal (ver p. 229), o que não aconteceu com o castelhano, ainda que a
influência francesa tenha levado o reino de Navarra e, depois, o de Castela a substi
tuir a escrita gótica pela francesa. Em Portugal, a primeira escola literária é geral
mente conhecida como “provençal”; desse período ficaram empréstimos como tro
vador, menestrel, rouxinol, burel etc. Com a decadência da literatura provençal, a
francesa a substituiu, especialmente a partir do século XVIII, exercendo grande
influência na literatura portuguesa, como também na brasileira, cujos reflexos são
claramente perceptíveis na temática, nos gêneros e nos empréstimos.
IBERO-ROMANCE
A ROMÂNIA I 271
provençal, mas inexistente no francês e no italiano, que contam apenas com as for
mas compostas (fr.j'avais chanté, it. io avevo cantato - port. eu cantara e eu tinha
cantado).
A influência do ibero-romance sobre as outras línguas da Românica está rela
cionada com fatos históricos, políticos e econômicos. Assim, o catalão e, posterior
mente, o castelhano influenciaram o italiano, quando do domínio aragonês em
Nápolis e na Sicilia nos séculos X1II-X1V e a presença do castelhano na Itália nos
séculos XVI-XVII, como também na Sardenha (ver pp. 200-201). Datam dessa época
os empréstimos castelhanos ao italiano, por exemplo, cast. mozo > it. mozzo (“criado
de cavalariça”, “grumete”), lindo > lindo (“belo”), crianza > creanza (“educação”),
desenvoltura > disinvoltura (“desembaraço”), sociego > sussiego (“gravidade”). Na
morfologia, o italiano tomou emprestado o sufixo castelhano -illa > -iglia: cast.
manilla > it. maniglia (“algemas”), mantilia > mantiglia (“mantilha”), pastilla >
pastiglia (“pastilha”). Na literatura, várias comédias da primeira metade do século
XVI trazem numerosos castelhanismos, havendo mesmo autores que escreveram em
castelhano; a temática freqüentemente era espanhola, como as duas farsas de Iacoppo
Sannazzaro (1456-1530) sobre a conquista do reino árabe de Granada, o último redu
to árabe na Espanha, em 1492, encerrando o longo período da reconquista.
Com as grandes descobertas, o português e o castelhano entraram em conta
to com novas realidades e numerosos termos exóticos que as designavam; o prestígio
político, de que a Espanha dispôs nos séculos XVI e XVII, e nesse último também
literário devido ao gongorismo, facilitou a penetração de termos castelhanos em
outras línguas, como cast. bizarro > fr. bizarre, it. bizarro, port. bizarro (> bas. bizar,
“barba”); cast. camarada (< it. camerata) > fr. camarade, prov. camarada, port.
camarada (“colega de quarto”); cast .fanfarrón > port .fanfarrão, ív.fanfaron, it .fan-
farone; cast. barraca > it. baracca > fr. baraque; cast. corredor (de uma fortificação)
> fr. corridor, it. corridore > corridoio; cast. carapacho > fr. carapace, it. carapace,
port. carapaça. Dentre os americanismos, introduzidos na Europa através do caste
lhano, citam-se cast. maíz (< taino) > fr. mais, it. mais, port. mais (al. Mais, ingl.
maize); cast. tabaco (< haitiano) > fr. tabac, it. tabacco, cat. tabac, port. tabaco (al.
Tabaky, cast. batata ou patata (< aruaque) > it. patata, port. batata, cat. batata, fr.
patate (batate no século XVI) (ing. potato, al. Batate, “batata-doce”); cast. cacao
(< nauatl kakauatl) > fr. cacao, it. cacao, port. cacau (al. Kakao); cast. chocolate
(< nauatl tschokoatl) > fr. chocolat, it. cioccolato, cat. xocolata e port. chocolate (al.
Schokolade); cast. tomate (< asteca tomatl) > fr. tomate, cat. tomaca, port. tomate (al.
Tomate)·, cast. canibal (caribe) > fr. cannibal, it. cannibale, port. canibal.
Os portugueses expandiram seus domínios também no Oriente, donde trouxe
ram vários produtos e seus nomes, como sagu (malaio) > cast. sagu, it. sagit; port.
manga (do tamil, através do malaio) > fr. mangue, it. mango, cast. manga; port.
272 | E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
bambu (malaio) > cast. bambu, fr. bambou, it. bambu (al. Bambus (rohr)). Notável é
o termo banana, proveniente de uma língua africana da Guiné: o nome da fruta é
nana, e o ba- é um morfema gramatical, índice de pluralidade, mas anteposto; daí
banana significa “bananas”. Também alguns termos vernáculos portugueses passa
ram a outras línguas; por exemplo, pintada > fr. pintade, cast. pintada-, port. feitiço >
fr. fetiche, cast. hechizo, ú.feticcio; port. crioulo > fr. créole, it. crèolo, cast. criollo
(al. Kreolé).
Segundo se vê dos exemplos dados, os termos trazidos pelos navegadores
designam coisas concretas, plantas, frutas, animais etc. e que se internacionalizaram.
Por outro lado, as línguas da Ibéria, convivendo num mesmo território, obviamente
se influenciam mutuamente através do comércio, do intercâmbio cultural, do turismo
e dos meios de comunicação. O catalão e o galego, cujos falantes são integrantes de
uma nação que tem o castelhano como língua oficial, estão mais sujeitas a influxos
sobretudo léxicos. No português, os empréstimos léxicos tomados ao castelhano no
decurso do tempo são muitos, dos quais são exemplos amistoso, apetrecho, camari
lha, caudilho, castanhola, colcha, cordilheira, endechas, façanha, fandango, hedion
do, mochila, neblina, novilho, pandeiro, pirueta, realejo, rebelde, trecho.
Essa breve incursão comparativa por entre os blocos das línguas românicas
mostra que a família não se desfez, mas mantém contatos permanentes entre si, umas
mais que outras, e com isso solidificam os traços de parentesco, perfazendo de fato
uma România “contínua”, integrada, conforme a visão de B. E. Vidos, especialmen
te depois da relatinização do romeno. Cada língua, cada dialeto conserva suas carac
terísticas, devidas a fatores diversos, expostos em linhas gerais no que ficou dito
neste trabalho; contudo, essas características próprias, mesmo nas que mais se dis
tanciaram do tronco comum, não apagam a origem comum a todas, os traços funda
mentais herdados do latim vulgar.
A ROMÂNIA 273
B ib l io g r a f ia
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Os textos dos autores gregos e latinos, transcritos no decurso deste trabalho, foram retirados das
edições criticas de The LOEB Classical Library, Harvard Univcrsity Press, ou dc Bcllcs Lcttrcs,
Paris, ou de B. G. Teubner, Stuttgart. Dada a convergência básica das versões, não nos pareceu
importante discriminar topicamcnte a fonte utilizada.
A u t o r e s C it a d o s
IN D IC E DOS A U T O R E S C IT A D O S I 283
J Lucio, Giovanni, 196
Jaberg, KarI, 73; 76 Lücking, G., 227
Jacme, Joan, 229 Lucrécio, 43; 92
Jâmblico, 27 Ludolf, Job, 29
Jerônimo, São, 124; 126; 186 Liidtke, H„ 257
Joinville, 227
Jones, William, 30 M
Jordanes, 146; 178 Machado, Elza, 61
Jud, Jakob, 73; 76; 195; 208; 209; 265 Machado, José Pedro, 61
Juvenal, 123 Maior, Petru, 260
Maiorescu, Títu, 191
K Malos, Crates de, 25
Kõrting, G., 32 Manzoni.AL, 199; 264
Koschwitz, E., 227 Marcelino, Amiano, 140
Kroll, H„ 77 Marcial, 45; 123
Krusch, B., 135 Mário, 104
Kiibler, A., 52 Martínez, E. M„ 36
Matius, Caius, 134
L Matoré, G., 84; 85
Lachmann, KarI, 43; 44; 46; 50 Maurer, Th. Henrique, 96; 204; 265, 268
Lambino, Dionísio, 44 Maurus, Terentianus, 123
Largo, Escribônio, 119 Meier, Harri, 231
Latino, Discórides, 119 Meillet, A., 96; 224; 225
Latino, Oribásio, 119 Meringer, Rudolf, 74; 76
Laurian, A. T., 261 Merlo, Clemente, 77; 195; 197; 262
Lausberg, H., 36 Meyer-Liibke, 32, 33, 64, 66, 78, 136, 194, 195,
Leclerc, Jean, 44 231,233,250
Lefèvre, 29 Mésiger, J., 29
Leibniz, 30 Miazzi, M. L. R, 195
Lélio Herma, 20 Micu, Samuel, 260
Leopardi, G., 198 Miklosich, R, 77
Lerch, Eugen, 70 Mistral, Frederico, 214; 215
Lisânias, 21 Mitzka, W„ 70
Lindsay, W. M„ 127 Mommsen, Th., 111
Lipsio, Justo, 44 Morandi, Luigi, 76
Livio, Tito, 90; 101; 103; 185 Monfort, Simon de, 213
Llorach, E. Alarcos, 46 Morf, H„ 209
LluII, Ramon, 229 Miiller, Max, 46; 63
Locke, 30 Musa, Muhammad Ibn, 166
Lodi, Uguccione da, 198 Musafin, A., 194
Loiola, Inácio, 154
Longinus, Cassius, 20, 23; 27; 29, 36 N
Lopes, Fernão, 243 Nascentes, Antenor, 165
Lot, R, 227 Navarro, Tomás, 73; 74
Lõwe, G., 127 Nebrija, A., 29
Lucilio, 90 Nepos, Cornelius, 26
ADJETIVO ADSTRATO
analitismo nos graus do lat. vulgar., 93 árabe superposto, 149; 164
diminutivos afetivos, 97 árabe na Ibéria, 148; 149; 164
empréstimos do ár., 165; 166 empréstimos, 165; 166; 167; 168
empréstimos germ., 157 basco, do cast., 155; 236
graus na Peregrinatio, 122 cat. e cast., do sardo, 201
sufixo gr. Λσκος, 159 condições, 163; 164
sufixo germ. -iska, 159 criação de Valkoff, 33
definição, 163
ADMINISTRAÇÃO justaposto, 164
árabe, 148 latino, do rom., 171; 260
lat., língua da Húng., 190 produtividade, 170
lombarda na Itália, 158; 159 rom.: turc., Iiúng. gr., alb., 169; 170
ver parastrato ALBANÊS
/Ae/ > /e/, 114; 115 afinidade léxica com o rom. e o dalrn., 161; 170
ver “monotongação” empréstimos ao rom., 170
semelhanças com o dalm., 195
AFÉRESE simbiose com o rom., 170
de /g/ e /j/ iniciais no cast., 235; 236 substrato ilirio-trácio, 170
ÁFRICA ALBIGENSES
bibliotecas, 109 hereges, 213
centro do pensamento cristão, 174 ligados à decadência do prov., 213
colônias romanas, 102 reflexos na Ibéria, 267
conquistada por portugueses e espanhóis, 150; 181
domínio árabe, 148 ALFABETO
guerras pímicas, 102 cirilico no rom., 190
inscrições, 111 substituição pelo latino, 191; 260; 261
italiano, língua franca da Líbia, 199 cirilico e russo no moldavo, 192
ligação com a Sardenha, 200 cirilico no eslavo, 189
perda da tradição lat., 152; 258 etrusco, origem do latino, 100
perdas na România Medieval, 180; 181 grego, base do etrusco, 100
província romana, 88; 102 grego em documentos sardos, 202
Proconsularis, 106 em papiros do Oriente, 115
reino dos vândalos, 141; 180; 181 substituição do gótico pelo latino na Espanha, 271
“Tabellae Albertini”, 124
“Tabellae Defixionum”, 113 AL-GHARB, 151
teatros, 108
“vico capitis Africae”, 53 ALGHERO
bilingüismo, 231
AGLUTINAÇÃO enclave cat. na Sardenha, 203
do artigo no ár. ibérico, 165
AGRICULTURA
ÁGUA colônias agrárias, 105
abastecimento, 108 terminologia agrícola latina no sardo, 200
“curadores aquarum”, 108 tratados, fontes do lat. vulg., 118
serviços nas Províncias, 108
serviços cm Roma, 108 AGRI DECUMATES, 102; 139; 179
ALAMANOS ALJAMIA
influência na Récia, 145; 205 “língua estrangeira”, 163
território, 145 romance ibérico, 149
território invadido, 145
vencidos pelos francos, 145 ALPENROMANISCH, 204
ALANOS AMERICANISMOS
aliados dos vândalos, 141 no. cast., 272
na Lusitânia, 141 nas línguas européias, 272
relação com os eslavos, 146 no port. do Brasil, 247
288 I E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
AMTSSPRACHE, 204 AQUITANIA
denominações, 217
ANDALUZ pátria do I° trovador, 212
atlas, 73 província romana, 217
conquista romana, 102 território, 2 1 7 ; 218
influência árabe, 235 sede do reino visigodo, 223
origem do andaluz moderno, 235; 236, 237 Sílvia da Aquitânia, 121
origem de “Andaluzia”, 141 ver Novêmpopulania e Vascônia
território em parte port., 151
AQUITANO
civilização aquitano-pirenaica, 219
ANGEVINO
gascâo-bearnês (Ronjat), 217
dialeto fr„ 225
território, 217; 218
território, 225
ÁRABES
ANGLOS conquistas, 148; 149
na Britânia, 143 domínio na Sicilia, Sardenha e Córsega, 151; 200
empréstimos léxicos, 152; 164
ANTROPÔNIMOS domínio na Ibéria, 164; 165; 166; 167; 168
bascos no cast., 154 empréstimos, 164; 165; 166; 167; 168
francos e godos, 157 domínio no norte da África, 181
lombardos, 157 quebra da tradição lat., 258
nomes de povos no celta em -iscas e -ardo, 159; expulsãp da Ibéria, 234
160 história do povo, 147
origem, 147; 148
APARATO CRÍTICO Maomé e o islamismo, 148
na edição crítica, 60 Província romana da Arábia, 148
resultado da collatio, 45 reinos na Ibéria, 234
relações com os ibéricos, 151
APÓCOPE
das consoantes finais na Romênia, 254 ARAGONÊS
-conseqiiências, 254 caráter pirenaico, 257
do /e/ em fr., 226 dialeto espanhol, 237
do /e/ e /o/ no cat. e no prov., 231; 232 língua do reino de Aragão, 150; 151
do /m/ do acus., 114; 115; 132 na Sicilia, Sardenha e Nápolis, 150
do /t/ dos verbos, 112; 115 território, 237
de vogal no cat., 270 união ao Condado Barcelonês, 150
de vogal no gasc., 72
ARAUCANO
de vogais no fr., 265
língua falada no Chile, 239
APPENDIX PROBI
AR1BI ou ARABU, 148
“Appendix ad Probum", 51; 55
autoria, 5 1; 52 AROMENO, 192
dados, 55; 65; 91; 97; 117; 135
datação, 52 ARQUITETURA
o que é, 51 nos teatros, 108
ÍN D IC E TEMÁTICO | 291
ibérico-latim, 153 C
ístrio-romano, 192; 258
dos moçárabes, 235 CACUMINAIS
osco-latim, 152; 153 exemplos no sardo, 156
no Paraguai, 239 extensão territorial, 101; 156; 197; 201
na Récia (Constança), 204; 205 origem, 101
romance-árabe na Ibéria e na Sicilia, 163; 164 tipo de fonema, 101
entre os valões, 225
CAMOX, 156
BOÉCIO (BOETHUS)
códices De Consolatione Philosophiae, 45 CAMPIDANÊS
poema em provençal, 211 características, 203
dialeto sardo, 202
BRASIL “condaghi” em campid., 202
descoberta, 181; 244
diferenças semânticas léxicas entre Brasil e Por CAMPOS
tugal, 247; 248 “de força”, 84
empréstimos léxicos tupis e africanos, 247 linguísticos de Trier, 84; 85
fonemas nasais, 245 “notionnels”, 84
influências francesas, 270 “Wortfeld”, 84
o port. do Brasil, 244; 245; 246; 247; 248
CANADÁ
BRETÃO implantação do fr., 181
afim do címrico e córnico, 226
bilingüismo, 226 CANTAR DEL MIOCID
expulsão para a Armória, 143 comentário linguístico, 238; 239
lenda do rei Artur, 143 composição c divisões, 238
onde é falado na França, 226 língua, 187; 238; 239
variedade do céltico insular, 180; 226 texto (excerto), 238
tipo de verso, 238
BRITÂNIA
abandono pelos romanos, 143 CARJAS, 149; 237
conquistas e latinização, 89; 143
grau de latinização, 152; 179 CARTAGO, CARTAGINESES
invasões dos anglos, escotos, jutos, pictos e sa- cartagineses na Sardcna, 200
xões, 143 guerras púnicas, 25; 88; 102
serviços romanos de água, 108
CATALÃO CHAMPANHES
adstrato superposto ao sardo, 201 atlas lingüístico, 73
características, 231; 232; 233; 234 dialeto francês, 225
cast., língua oficial, 230 nas primeiras crônicas, 224
Catalunya Francesa, 231
conquistas ao sul, 229 CHANSON
conservação do /1/ no grupo /It/, 270 de gestes, 227
dialeto para F. Diez, 249; 250 de Roland
dialetos, 231 data, redações, 227
diferenciação no contexto ibérico, 231; 270 língua, 187; 227
documentação, 229; 230 de Sainte-Foy d’Agen, 212
ÍNDICE T E M Á T IC O I 293
CHARTE COLLATIO CODICUM
tipo de documento, 220 definição, 45; 46
procedimento, 46
CHURWÀLSCHE
o rético (F. Diez), 208; 250 COLLEGIA MERCATORUM, 110
CORSO CRITÉRIOS
características, 197 dc classificação das línguas românicas
dialeto toscano, 197 de F. Diez, 249; 250
fr., língua oficial, 197 dc M. Bartoli, 251
variedades dialetais, 197 linguísticos da divisão da România em Ociden
tal e Oriental, 251; 252; 253; 254; 255; 256
CRIOULO avaliação, 256
cast. nas Filipinas e em Curaçao, 182; 183; 239; internos e externos no trabalho filológico, 48;
248 51; 54
texto em papiamento, 182 da România Contínua, 256;#257; 258; 259; 260
cast, e port. no Oriente, 182
port. na África, 244 CRUSCA
port. na Ásia, 244 Accadenda, 198
taki-taki, ingl., 248 expressão burlesca, 198
ligação com a “questione delia língua”, 198
CRISTIANISMO Vocabulário, 199
autores cristãos, 126; 174
contribuições linguísticas, 125; 174; 175 CULINÁRIA
decadência do lat. entre o clero, 28; 176 tratados, fontes do latim vulgar, 120
ÍN D IC E T E M Á T IC O J 295
CURA URBIS, 108 história externa, 193; 194; 195; 196
influência do vêneto, 195
CURATORES AQUARUM, 108 passiva com fieri, 263
substrato trácio-ilírio, 170; 262
território, 180; 193
D
DATAÇÃO
/D/ - /I/ do Appendix Probi, 51
intercâmbio, 65 do Odavins, 52
causa, 65 em que consiste, 52
DÁC1A DECALQUES
abandono pelos romanos, 188 alemães sobre o latim, 171; 172
arcaísmos e sua causa, 184 alemães sobre o francês, 172
colônias, 105 ficatum sobre συκω τόν, 134
grau de latinização, 188 latinos cristãos sobre o grego, 125; 174
latinização rápida, 105; 257 em línguas ocidentais, 172
Maluensis e Ripensis, 170 sobre o grego em Dioscórides Latino, 119
parte do império bizantino, 136
parte da România, 180 DECLINAÇÕES
província romana, 102; 188 confundem-se 2“ e 3a no lat. vulg., 114
região românica isolada, 136; 189 confusão entre nominativo e acusativo, 115;
relatinização, 136; 261; 268; 269; 270 119; 120; 121; 129; 134
desaparecimento
DACO-ROMENO, 191 no Glossário de Kassei, 129
nas Glossas Emiiianenses, 132
DALMÁC1A dois casos no galo-romance, 233
domínio do vêneto, 195 reduzidas no lat. vulg., 92
estratos estudados por Matteo Bartoli, 33; 251 no romeno, 261
evolução ocidental, 180 substituição por preposições, 92; 120
latinização, 257
parte do Império do Ocidente, 261 DEPOENTES, 94; 116; 124
parte da România Medieval, 180 ver“verbo”
Praevalilana, 180
DESPALATALIZAÇÂO
DALMÁTICO do /-IIW, 153
afinidade com o balcano-romance, 170; 195; ver “yeismo”
262
afinidade com o reto-romance, 262 DESPOVOAM ENTO
características do léxico, 261; 262 do Império Romano, 138
na classificação de M. Bartoli, 195; 251 causas, 138
desconhecido de Diez, 250 consequências, 139
dialetos, 195
ditongação, 195; 262 DIACRONIA
documentação, 196 definição, 67
extensão à ístria, 258 das línguas românicas, 183
ín d ic e t e m á t ic o | 297
escolar, 62 gépidas ao rom., 160; 161
fac-similada, 61 germânicos ao lat., 99
paleográfica, 61 ao rom., 161
popular, 62 gregos antigos e médios ao rom., 169
“princeps”, 44 ao lat. cr., 125
semidiploniática, 61 ao lat. vulg., 98
hebraicos ao lat. cr., 125
EDITO húngaros ao rom., 169
de Caracala, 38 ibéricos ao lat., 99
de cidadania plena e menor, 103 it. às línguas ocidentais, 264
de cidadania a soldados aposentados, 104 ao sardo, 202
latinos comerciais a línguas do mundo, 109
EMENDATIO cr. ao rom., 189
definição, 48 medievais às línguas românicas, 172
“ope codicum” ou “coniecturae”, 48 posteriores ao fr., 266
lombardos ao it., 145; 157
EMILIANENSES, 131 morfológicos
ver “Glossários” francos e lombardos (sufixos) ao fr., 159; 160
germ. ao fr., 157; 271
EMPOBRECIMENTO número de ár. ao port., 165; 271
causa da decadência, 139 panromânicos ao rom., 268
permeabilidade do lat. vulg., 98
EMPRÉSTIMOS port. às línguas européias, 272
africanos ao port. do Brasil, 247 prov. ao it. 266; 267
albaneses ao rom., 170 ao port., 270
ár. às línguas ibéricas, 164; 165 rom. ao búlgaro, 190
ár. ao siciliano, 151 saboienses ao sardo, 201; 202
ausência suevos ao port., 142
de ár. e germ. no sardo, 201 tupis ao port. do Brasil, 247
castelhanos turcos ao rom., 147; 168; 261
ao it., 272 verbos e adjetivos germ. ao fr., 157; 271
às línguas européias, 272 visigodos às línguas ibéricas, 143; 158; 271
ao port., 272; 273
ao sardo, 201 EPÊNTESE
cat. ao sardo, 201 de /e/ em /br/ em inscrições, 114
eslavos ao rom., 147; 168; 261 de /e/ no gascão, 155
etruscos ao lat., 100 de /e/ ou /i/ no port. do Brasil, 245
fonéticos de /i/ no port. europeu, 245
aspiração etrusca ao toscano, 256
francos ao fr., 158 ERUDITO
proparoxítonos ár. mantidos em port., 168 distinto do popular, 253
fr. às línguas ocidentais, 267 identificação fácil no fr., 253
ao it., 266; 267
ao port., 267 ESCLAVENOS
ao rom., 261; 268; 269; 270 povo eslavo, 146
francos ao fr., 157; 271 território, 146
ÍN D IC E T E M Á T IC O 299
anarquia militar, 139 das línguas românicas, 183
aposentadoria, 104 latina, 184; 185
colônias militares, 104; 105 romance, 185; 186
contingentes, 104 moderna, 186; 187; 188
fator de latinização, 103; 104
organização, 103 FÉL1BRE, 214
origem dos soldados, 104
privilégios, 139 FÉLIBRIGE
recrutamento na decadência, 140 objetivos e participantes, 214; 215
serviço obrigatório. 104 resultados, 215
tempo de serviço, 104 segundo renascimento prov., 214
tropas auxiliares, 104
“sermo castrensis” ou “militaris”, 91; 104; 107 FENÍCIOS
suporte da unidade do lat. vulg., 107; 171 na Sardenha, 200
no sul da Gália, 223
EUFEMISMOS
afetivos, 77 FILOLOGIA
exemplos, 77 ciências auxiliares, 30; 35; 57
conceito, 17-37
Ηπαρ συκωτόν, 75 para gregos e romanos, 17-27
na Idade Média, 28
nas Idades Moderna e Contemporânea, 31;
F 32; 33; 34; 35
no Renascimento, 28; 29; 30
/f/ > /h/ em Saussure c F. A. Wolf, 34; 35
no cast., 155; 232; 234; 236 e os estudos histórico-comparativos, 32
no Cid, 238 definições, 36; 37
no gascão, 2 18 e a Chanson de Roland, 227
no leonês, 237 fases da biografia do termo, 37
/f/110 safardita, 183; 237 objeto (Saussure e Rcnan), 36
/f/ > /v/ no sardo, 201 “praeceptrix linguisticae”, 86
FALISCO FILÓLOGO
língua do grupo itálico, 87 biografia do termo, 17-37
território, 101 nos autores gregos, 17; 18; 22; 23; 24; 25
nos autores latinos, 19; 25; 26
FAMÍLIA na Idade Média, 28
de línguas, 3 1 na Idade Moderna, 31; 32; 33
indo-européia, 29; 87 na Idade Contemporânea, 34; 35; 36
no Renascimento, 28; 29; 30
FANARIOTAS, 169 definição, 36
fases do conceito, 37
FASES hiato no uso do termo desde o século VI, 28
da biografia de “filólogo”, 37
do catalão, 229 FLAMENGO
do estudo da linguagem, segundo Saussure, 34; 35 na região de Dunquerque, 226
ÍN D IC E T E M Á T IC O
FRANCOS origem da autora da Peregrinatio, 121
colônias no Império, 140 semelhanças e diferenças em relação ao port.,
cultura, 144 240; 241; 242
desaparecimento da língua, 157 separação do port., 240
diferenças norte-sul, 144 sistema vocálico, 240
expansão territorial, 143 superstrato suevo, 141
habitantes da Catalunha para os árabes, 228
ocupação desigual da França, 144 GALEGO-PORTUGUÉS
relações com a Catalunha, 228 língua trovadoresca, 243
superstrato na Gália, 157; 210; 223; 265 língua-tipo da poesia no século XIV, 212; 213
território inicial, 143 território, 242; 243
tribos, 144
vitória sobre os visigodos em Tolosa, 143 GÁLIA
avanço dos francos, 143
FRIULANO bilingüismo, 153; 157
elo entre România Oriental e Ocidental, 259; 262 colônias romanas, 105
influências na Istria, 259 conquista da
literatura lírica, 207 Cisalpina, 88; 99; 104
manutenção do /1/ em /lt/, 209 Narbonense, 88; 106
rético oriental, 207 Transalpina (Comata ou Melenuda), 104
Società Filologica Friulana, 73 diferentes graus da latinização, 257
território, 207 druídas, 103
empréstimos da Cisalpina ao lat. vulg., 99
FUEROS, 143 fonte de recrutamento militar, 104
hunos na Gália, 141
FUTURO línguas românicas, 223
construção com volere no balcano-romance, 263 Lyon como capital, 221
construção perifrástica Narbonense no CIL, III
nas Gl. Emilianenses, 132 perdas na România Medieval, 180
no lat, vulg., 94 províncias, 89
em Oribásio, 119 substratos e superstratos, 157; 223
indistinção entre presente e futuro nas inscri subsubstrato no sul, 156
ções, 113; 114 “valir” na Ocidental, 146
mesóclise no ant. cast., 131; 271 via Aemilia para a Cisalpina, 107
mesóclise no ant. cat. e prov., 271
no port. moderno, 271 GALICISMO
perdido no lat. vulg., 114; 116 na Commedia de Dante, 198
presente e pretérito, 271 eliminados do prov. por Mistral, 215
verbos no fut. nos Juramentos de Estrasbwgo, 271 nas línguas românicas, 228
no rom., 268
G GALO-ITÁLICOS
dialetos, 154
GALEGO alto-itálicos ou setentrionais, 196
conserva o /f/, 240 elo de ligação na România Contínua, 259
elimina nasais finais, 241 quais são, 196
Í N D I C E T E M Á T IC O | 303
GLOTÓLOGO das Linguas Romanicas
sinônimo dc “filólogo”, 30 dc F. Dicz, 32; 231; 249
de W. Meyer-Liibke, 32
GODOS de Port Royal, 30
história ligada aos eslavos, 146 românica mais antiga (R. V. de Besalú), 229
influência de superstrato, 157 Sanscridana, 30
origem, 142 do sânscrito, 30
queriam construir a Gótia, 178 Vergleichende der indogermanischen Sprachen,
prestadores de serviços no Império, 140 159
vencidos na Dácia, 170
visigodos e ostrogodos, 142; 143 GRAMÁTICOS
campo de estudo (Sêneca), 21; 22
GÓRGIA TOSCANA
Crates de Malos, introdutor dos estudos em
exemplos, 256
Roma, 25
o que é, 256
distintos dos “gramatistas”, 26; 27; 30
substrato ctrusco, 256
e os eruditos, 25; 27
e os filólogos e filósofos, 20; 21; 22
GOTHALANDIA
fixam a língua lírica prov., 213
base de “Catalunha”, 228
fontes do lat. vulg., 116; 117
etimologia inaceitável, 228
“gramatista”, o que eram, 26
GÓTICO em Sêneca, 2 1; 22
língua dos germanos orientais, 141 ver “neogramático”
dos godos e vândalos, 141
GRANADA
GRAECIA MAGNA vel MAIOR, 101 expressão da cultura ár., 150
farsas de I. Sannazzaro sobre a reconquista, 272
GRAFFITI, 111 ultimo reduto ár. na Ibéria, 150
ver “inscrições” e “fontes do lat. vulg.”
GREGO
GRAMÁTICA adstrato do lat., 98
Ars Donati, 48 colônias
Ars Grammatica (Dositeu), 132 na Magna Grécia, 90; 102
codificações do prov., 213 de Massilia, 210
Comparada (Bopp), 3 1; 35 Nápolis, “urbs quasi Graeca”, 102
Comparée cies langues de I 'Europe Latine, 3 1 na Sardenha, 200
conteúdo e significados do termo, 26 no sul da Gália, 223
De Causis Linguae Latinae, 28 desinteresse por outras línguas, 29
Descritiva (Hjelmslev), 67 em documentos sardos, 202
Dionysii Thracis Ars Grammatica, 34; 47; 52 empréstimos
Donat Proensal (H. Faidit), 213 cristãos, 125; 174
Instituta Artium (V Probus), 51; 117 ao lat., 98
interesse inicial em Roma, 25 ao rom., 135; 169
Istorique des parlers provençaux modernes, 2 15 esquecido na Idade Média, 29
Italienische Grammatik (W. Meyer Liibke), 32 Influência
de ia langue romane, 31 nos centros culturais, 109
De Lingua Latina (Varrão), 53 na nomenclatura gramatical latina, 26
HEBRAICO HISTÓRIA
empréstimos ao lat, cr„ 125 externa e interna, 41; 188
ÍN D IC E T E M Á T IC O | 305
Francorum, 135 IBEROS
da lingua e da arte em Vossler, 68 empréstimos ao lat. vulg, 99; 156
Romana (Fenestella), 22 procedência, 210
della tradizione e critica dei testo, 43 raças, 236
dos topôn imos, 77 substrato na Ibéria, 153; 154; 155; 156; 236
no sul da Gália, 210; 223
HISTÓRICO-COMPARATIVO território, 155; 156; 210
método, 63-68
aplicação, 64 IDEALISMO
aplicado às linguas, 3 1 na ciência da linguagem segundo Vossler, 68
associado à Filologia, 32 princípios, 70
criação de F. Bopp, 3 1
produtividade IDIOLALIA, 56
léxica, 66 ver “idioleto”
na reconstituição léxica, 67
nos outros níveis, 67; 68 IDIOLETO
na sintaxe, 67 definição, 56
usado por J. Grimm e F. Diez, 32 em J. G. Rosa, 56
HOMEOGRAFIA, 61 ILÍRIO
identificado com o dalmático de Veglia, 194
HOMONÍMIA língua indo-européia do grupo kentum, 170
no gascão, 72; 73 messápio-ilírio, 262
no francês, 83; 266 substrato
no latim, 124 do alb., 170
na Apúlia,'262
HUNOS do it. do norte, 196
derrota na Gália e desaparecimento, 141
destruidores do reino visigodo, 142 IMPOSTOS
roteiro das marchas, 141 causa
da decadência do Império, 139
das Cartas Chilenas, 54
espécies (capitis, decumae, soli), 106
isenção das colônias romanas, 105
/i / > /ei/ na Teoria das Ondas, 82 nas províncias, 106
os publicanos, 106; 107
IBÉRIA
ver “Hispânia” INDO-EUROPEU
base Inl de sufixo negativo, 162
IBERO-ROMANCE descoberta do sânscrito, 30; 35
caráter das línguas, 270 estudado por F. Bopp, 63
contribuições léxicas, 272; 273 grupo itálico, 87; 100
particularidades linguísticas, 271 povos
primeiro documento, 131 albanês, 170
substrato, 153 eslavos, 146
superstrato, 272 latino, 87; 100
INSCRIPTIONES ISLAMISMO
Latinae Christianae Veteres, 11 I ver“árabe”
Latinae Selectae, I 11
ISOGRAFIA, 61
INTEGRIDADE
na crítica histórico-literária, 55 ÍSTRIA
perda em edições escolares, 62 características atuais, 259
estratos pesquisados por Bartoli, 33; 251
INTERCÂMBIO influência italiana nos dialetos, 197
de /b/ e /v/ istrio-romenos, 192
nas inscrições, 115 ligação entre os ramos oriental e ocidental, 258;
na Mulomedicina, I 18 259
em Oribásio, 119 os rumeri, 40
nas Tabelas /libertinas, 125
de /d/ e /I/ no sabino e no grego, 65 ÍSTRIO-ROMENO
antigo caráter oriental, 259
INTERPOLAÇÀO dialeto romeno, 192
definição, 46 território, 258
espécies, 50 falantes bilíngües, 192
influências do friulano e do vêncto, 259
INTERRUMANTSCH
pretendida síntese dos dialetos réticos, 206 ÍTALA
ver “Vetus Latina”
INVASÕES
causa da decadência do Império, 140 ÍTALO-ROMANCE
grandes invasões, 140-152 caráter conservador, 264
alamanos, 143; 145 empréstimos lombardos, 157; 158; 159
árabes, 147; 148; 149; 150; 151; 152 fidelidade maior ao lat., 264
ásdingos, 141; 142 ligação com o dalm., 262
burgúndios, 143 ligado ao galo-romance pelo lombardo, 259
eslavos, 146; 147 posição do sardo, 265
JAPÍGIOS E MESSÁPIOS
documentação, 101 L
língua, 101
messápios, substrato na Apúlia, 262 LACETANI
território, 101 habitantes da região de Barcelona, 229
ín d ic e t e m á t ic o | 309
proibido em receitas médicas, 176 em que consiste, 103
sem influência sobre o rom., 134; 260 superficial
única língua literária, 28 nos Agri Decumates, 102
na Britannia, 102
LATIM VULGAR na região do Reno, 179
atestação dos gramáticos, 117 técnicas, 103
base do lat. cr., 174
das línguas românicas, 32 LAT1NO-FALISCO
caráter arcaico na Ibéria, Dácia e Sardenha, 184 território, 100
características, 92; 93; 94; 95; 96; 97; 98; 99
analítico, 93 LEGES BARBARORUM, 135
concreto, 95
expressivo, 96 LEXAR E DEIXAR, 64; 65
permeável a influências, 98
simples, 92 LENIZAÇÃO
denominações, 91; 92 /b/ > /v/ no imperfeito do indicativo, 256
diferenciação, 111; 171
fontes, 111-138 LEONÊS
fragmentação, 184 atlas, 74
causas, 184 características, 236; 237
e o lat. eclesiástico, 175 dialeto cast., 236
no Oriente, 179 infinitivo pessoal, 271
quando desapareceu, 173 ligado ao mirandês, 236, 248
relação com o “urbanus”, 184 próximo ao port., 236
com o “sermo vulgaris”, 91 território, 236
“terminus a quo” das línguas românicas, 138;
170; 183; 260 LEX
uniformidade básica, 184 Ribuaria, 135
vocabulário, 135; 136 Romana Raetica Curiensis, 135
vulgaritas em Quintiliano, 117 Salica, 135
MESSÁPIO
/-M B-/
documentação, 101
> /-m-/ no gasc., 219
época, 101
> /-mm-/ nos dialetos it. meridionais, 154;
e ilírios, substrato na Apúlia e nos Abruzos, 262
197
território, 101
influência do substrato osco-umbro, 154
mantidos nos dialetos galo-itálicos, 154
M1RANDÊS
MEDICINA características, 248
contribuição árabe, 166 co-dialeto port., 236
tratados, fontes do lat. vulg., 119 ligado ao leonês, 236
MEDITERRÂNEA MOÇÁRABE
cultura pré-românica, 101 bilingüismo, 235
extensão e características da “Unidade”, 101; características arcaicas, 235
156; 157 colônias ao norte, 150
língua, 101 conservação de /-I-/ e /-n-/ intervocálicos no
origem das cacuminais, 101 port., 240
na Sardenlia, 156; 200 “muladíes”, 149
os nuraghi, 200 quem eram, 149; 163; 235
substrato na Itália, 197 romance, 149; 163
subsubstrato, 156; 200 território, 240
MÉDIO-RODANÊS MOLDÁVIA
sinônimo de franc.-prov., 220 cessão à URSS, 192
empréstimos turcos, 168
MEGLENO-ROMENO fundação, 189
dialeto rom., 192 independência política, 193
NEOGRAMÁTICOS
MONTEPESSULANA, 132
ênfase ao fator psicológico, 68
ver “hermeneumata”
ênfase à fonética, 74
MONUMENTA GERMANIAE HISTORICA, ideal, 74
135 ligações de Meycr-Liibke e de M. Bartoli, 33; 78
princípios na Filologia Romanica, 64
MONZA, 134 relação com Wõner und Saclien, 76
ver “hermeneumata” teses refutadas pela ação do substrato, 155
MOTS NEOLINGÜÍSTICA
-clés (palavras-chave), 85 conclusões, 81
-tèmoins (testemunho), 85 denominações, 78
método, 33; 78; 79; 80; 81
MUAXAS, 149 “norme areali”, 78; 79; 80; 81
relação com a Geografia Linguística, 78
MULADÍES, 149; 163
NEOLOGISMO
MUNUS EDUCATIONIS, 109
denotativo de mudança social, 85
com in- na época imperial, 162
N
NEUTRO
NASALAÇÀO desaparecimento no lat. vulg., 93; 120
existente no fr., franc.-prov. e port., 216 flutuação em Pctrônio, 123
inexistente no prov., 216 plural da 2“. declinação considerado singular da
Ia, 134; 175
NATIONALSPRACHE, 204
NORICUM
NAUATL conquista, 102
língua do México, 239 emigrados colonizam a Récia, 205
empréstimos léxicos, 272 território do rét. or., 204
ÍNDICE TEMÁTICO |
NORMANDO adjetivos cognatos, 211
conquista da Sicilia e do sul da Itália, 151; 266 instituições linguísticas, 216
dialeto francês, 225 origem do nome, 211
influência na Sicilia, 164 território, 211
não palataliza /c/ e /g/ + /a/, 226
OCCITANO
NORME AREALI conjunto dos falares do sul da França, 211; 2 15
as cinco de Bartoli, 78; 79; 80; 81 literatura, 211
o que são, 78 oposto ao francês, 211
ver “métodos” ver “provençal”
NORTEIRO ODISSIA, 90
dialeto crioulo port., 244
ONOMASIOLOGIA
NOVEMPOPULANIA criação do termo, 33
um nome da Aquitânia, 217 definição, 33; 76
território gascão, 217 lexicologia científica, 77
ver “Vascônia” método, 76; 77; 78
métodos derivados, 84; 85
NOVO TESTAMENTO primeiros trabalhos, 33; 76; 77
fonte do lat. vulg., 125 relações com
revela a organização romana nas províncias, 103 a etimologia, 78
textos na exegese do pormenor, 57; 58; 59 a geografia lingüística, 73; 76
tradução rética, 205; 206 Wõrter und Sachen, 78
ver “Vulgata” e “Vetus Latina”
ORBIS ROMANUS, 177; 179
NUMERAIS
grafias populares, 114; 115; 125 ORDINATOR, 114
no lat. vulg., 93
sistema de algarismos arábicos, 166 ORGANIZAÇÃO
subtração por adição, 93 agrária e jurídica na Provença, 211
civil do Império, 104
NUORÊS, 202 comercial do Império, 109
dos Estados Pontifícios, 144; 145
NURAGHI, 200 do exército romano, 103; 104
do Império nos papiros do Oriente, 116
dos lombardos na Itália, 145
O do mundo árabe, 148
na Ibéria, 149
OBRAS PÚBLICAS das províncias, 89; 103; 104; 105; 106; 107;
abastecimento de água, 108 108; 109
estradas, 107
fatores de latinização, 110 ORTOGRAFIA
outros edifícios, 108 fixada no it. pela Accadentia delia Crusca, 199
teatros, 108 no prov. pelo Félibrige, 214
OCCITÂNIA incoerências gráficas
OSTROGODOS PALEOESLAVO
empréstimos ao it., 158 denominações, 189
influência reduzida, 142 grafia cirilica, 189
invasores do Oriente, 141 língua oficial dos principados rom., 189
presença na Sardenha, 201 substituiu o grego, 189
ramo dos godos, 142
reino na Itália, 142 PALIMPSESTOS, 124
território, 142
vencidos pelos bizantinos, 142 PANCRONIA
acepção de Hjelmslev, Saussure e Wartburg, 67
definição, 67
P
PAN-IBERO-ROMANCE
PAEDAGOGIUM, 54 época, 233; 234
posição do cat., 234
PALATALIZAÇÃO o que é, 233
no artigo indefinido feminino no gal., 242 reconstituição de M. Pidal, 233
de /c/ e /g/ + /a/ no fr., 208; 226
> lts-1 e ldz-1 no franc.-prov., 222 PAPIAMENTO
no rét., 208 base port., 248
inexistente no norm. e pic., 226 dialeto crioulo, 182
/cl-/ e /ly-/ > /111-/ ou /II-/ no prov. e cat., 232 texto, 182
PRÓTESE
PRAESES RAETIAE, 205
de /a/ ante /r-/ no gasc., 2 18
no arag. e no basco, 156; 157; 218
PREFIXOS de /a/ ou /i/ ante /r/ no sardo, 201
d is-, de + ex no port., 65
ne- no lat. e no rom., 162 PROTO-ROMANCE, 39; 40
raiz indo-europcia/n/, 162
rãs c rãz no rom., 162 PROTO-ROMENO
berço, 170
PREPOSIÇÕES
a com infinitivo, 246 PROVENÇAL
combinações e contrações no port. e no gal., 241 autores, 212; 213; 214
de pelo genitivo na Peregrinatio, 120; 122 características, 216; 217
de substituiu ab e ex, 93 codificações gramaticais, 213
em com verbos de movimento, 247 declínio com os albigenses, 213; 267
in sem idéia de movimento, 121 denominações, 211
regem acusativo, 110; 115; 120; 126 dialetos, 215; 216
substituem casos, 93; 120; 132 estudos de A. Schlegel e Raynouard, 31
uso diverso no port. de Portugal c do Brasil, 246 Félibrige, 215
uso nos tratadistas, 119 história externa, 210-217
ÍNDICE TEMÁTICO I 3 1 9
prestígio perene, 171 ROMANIA
projeção atual, 264 atestações, 178
resumo histórico, 100; 103 Contínua, 256; 257; 258; 259; 260
Romaníola, 178 complementação de Vidos, 258-259
sem influência no rom., 136 critérios de A. Alonso, 257; 258
teatros, 108 criação do termo, 40; 178
definição, 40; 178
ROMAGNA derivações, 40; 4 1
adjetivo étnico, 178 extremos, 79
origem do nome, 40 fragmentação, 138-152; 186
causas internas, 138; 139; 140
ROM AN
causas externas, 140-152
“commun” nos Juramentos de Estrasburgo, 227
Linha La Spezia-Rimini, 196
oposto a “langue du roi”, 2 11
Moderna, 181; 182; 183
sinônimo de prov., 211
expansão na África, 181; 182
ROMANA LINGUA na América, 181; 182; 183
“romance”, 39; 187 no Canadá, 181; 182
“rustica”, 162 no Oriente, 183; 184
Ocidental e Oriental, 82; 178; 196; 249; 251
ROMANCE oposta a “Barbaries”, 177
balcano-romance, 260 a “Lombardia”, 178
condições históricas, 260; 261 origem do nome, 38
o dalmático, 261; 262 outras denominações, 37; 38; 178
palavras lat. únicas, 161 períodos, 179; 180; 181; 182; 183
o romeno, 260; 261 antigo, 179
substrato do eslavo, 146 medieval, 179; 180; 181
traços característicos, 262; 263 moderno, 181; 182; 183
validade do termo, 262 significações, 178
fase de evolução do lat., 175; 183; 184; 185 superstratos germânicos, 157; 186
gênero literário, 39 “Romaniae eversores”, 142; 178
logudorês, “volgare illustre”, 202 territórios perdidos, 180
origem, 39
período histórico, 187 ROMÂNIA CONTÍNUA
sinônimo de língua românica, 39 critérios de A. Alonso, 257; 258
ponto de partida, 257
ROMANCHE, 206 complementação de B. E. Vidos, 258; 259; 273
ver “rético” perspectivas, 259
posição do fr. e do rom., 258
ROMANCIUM, 39
o que é, 258
ROMANDA (SUÍÇA)
território frac.-prov., 220 ROMANICE FABULARE, 39; 185
fr., língua oficial, 221
ROMANÇO
ROMANESCO “língua românica”, 39
dialeto de Roma, 199
difusão atual, 264 ROMANE LOQUI, 39
ROMENO
SABÉLICO
base da língua literária, 163; 191
dialetos, 100; 101
berço do proto-rom., 170
língua do grupo itálico, 87
na classificação de Diez, 249
território, 100
cm outras, 250; 251
condições históricas, 260
SABINOS
continuador do nome dc Roma, 39
permutavam /I/ e /d/, 65; 66
contribuição à reconstituição do lat. vulg., 136; povo itálico, 100
137
dialetos, 191; 192 SACHFORSCHUNG, 75
empréstimos
albaneses, 170 SAMNITAS
gregos, 169 falantes do osco, 87; 100
húngaros, 169 guerras contra Roma, 88
turcos, 169 parte do grupo itálico, 87
eslavo, língua oficial nos séculos X c XI, 162
formação do plural, 254 SÂNSCRITO
formas verbais, 254; 255; 256 dicionário dc Wilson, 30
fundação da nação, 189 Grammatica Sanscridana, 30
herança latina, 260; 261 Memória de Cocurdoux, 30
história externa, 188; 189; 190; 191; 192; 193 métodos c técnicas, 30; 31
latinização, 257 obras dc F. Bopp, 31; 35
ÍNDICE TEMÁTICO J
Paris, centro de estudos, 30 dialeto sardo, 203
primeiras alusões, 30 território, 203
em Saussure, 35
William Jones, 30; 35 SATYRICON
autoria, 123
SANTONGÊS flutuação do neutro, 123
dialeto fr., 225 formas diminutivas, 124
território, 225 gênero literário, 123
sátira na Cena Trimalcliionis, 123
SARDO
vulgarismos intencionais, 123
antigo infinitivo pessoal, 271; 272
ausência de germanismos, 201 SAXÕES
caráter conservador, 264 na Britânia, 143
características, 201 colônias e empréstimos na Transilvânia, 161
os condaglii, 202 entrepostos em Brajov, 161
conserva as consoantes surdas intervocálicas,
256; 265 SEDERE
o /s/ do plural, 256; 265 sentido de esse na Peregrinatio, 122
não vocaliza o /c/ do grupo /ct/, 256; 265
dialeto do it. para Diez, 250 SEFARDITAS
dialetos, 202 judeus de fala port., 183; 248
documentação antiga, 202 de fala cast., 183; 237
empréstimos savoienses e it., 201; 202 “ladino”, 183; 237
enclaves aloglotas, 203 língua, 183; 237
fonte especial do Iat. vulg., 136; 137 onde estão, 183; 237
história externa, 199; 200; 201; 202; 203
ilha de degredo, 184, 200 SEPTIMÂNIA, 149
influência cat. e cast., 136; 150
SICANOS e SÍCULOS
isolamento territorial, 171; 200
documentação, 101
léxico pastoril pré-romano, 77; 78; 200
origem, 101
língua, não dialeto, 250; 251
território, 101
os numghi, 200
origem da cacuminal /dd/, 156; 197
SICÍLIA
“parque natural da România”, 265
características dialetais, 197
parte do ítalo-romance, 265
centro literário de Frederico II, 198
posição “sui generis”, 265
colônias lombardas, 196
relação com o lat. da África, 136
domínio árabe, 164
termos lat. exclusivos, 265
cast. e cast., 150; 201
traços específicos, 203
normando, 164
subsubstrato mediterrâneo, 200; 201
empréstimos árabes, 164
SÁRMATAS escola siciliana, 198
colônias na Gália, 140 híbridos ár.-romances, 168
presença na Dácia, 188 parte da Magna Grécia, 101
ponto de partida da difusão dos empréstimos
SASSARÊS árabes, 165
características, 203 primeira província romana, 88
SOBRESSELVANO
SINTAXE
dialeto rético, 206
acusativo pelo nominativo em fontes do lat.
Obenvaldisclt, 206
vulg., 119, 120; 121; 126
colocação dos termos na Vetus Latina, 126
SOCIETÀ FILOLOGICA FRIULANA, 73
dos pronomes átonos cm port., 246
concordância verbal nas inscrições, 114 SOLECISMOS
na Peregrinatio, 12 1
condenados pelos gramáticos, 116
confusão dos casos no lat. vulgar, 110
declinação de dois casos em fr., 233 SONORIZAÇÃO
empréstimos do lat. medieval, 253 das oclusivas surdas intervocálicas no Ramo
evolução sintática em M. Empiricus, 119 Ocidental, 251
fixação da sintaxe românica, 185 surdas permanecem na ístria, 259
indeterminação do sujeito no prov., 67; 217 /k/ > /g/ no sufixo germânico -ing, 160
infinitivo pessoal no leonês antigo, 271 /t/ > /d/ no fr., 252
no port. e gal., 271 no port. e gal., 241
no sardo antigo, 271
influência franca na colocação fr., 157; 158 SPRACHGEIST
do lat. crist., 175 “espírito da língua”, 69
ÍNDICETEMÁTICO I 323
SPRACHL1CHE FELDER no sul da Itália, 156
"campos linguísticos”, 84 /II/ > /dd/, 197
pirenaico (camox), 156
STAMMBAUMTHEORIE
teoria da árvore genealógica, 81; 82 SUEVOS
aliados dos vândalos, 141
STUDIOSUS PHILOLOGIAE, 34 conquistadores da Récia II, 205
influência, 142
SUBJUNTIVO língua germânica oc., 143
cultismo nos Juramentos de Estrasburgo, 187 reino na Galiza, 142
emprego românico, 67 superstrato do port., 142
imperfeito lat. conservado no sardo, 203 vencidos pelos visigodos, 143
expressa irrealidade no prov., 217
substituído pelo indicativo no lat. vulg., 94 SUFIXOS
usado como imperativo no prov., 217 contaminação de -and com ár. azar em fr., 168
eslavos -nic, -i$te, -aci, -ca, -eala etc. no rom.,
SUBSELVANO 147; 162
dialeto rético, 206 etruscos -na, -ena, -enna no lat., 100
fr. - ette, 93
SUBSTRATO franco -isk - esc no prov., 159
ação lenta, 154 > -esco no it., port. etc., 159
celta, do fr„ 223; 226; 262 germânico -ing > cast., it., port. -engo, 160
no norte da Itália, 145; 154 -hart > fr., it., port., -ardo, 160
conceito, 153 indo-europeu -isko > gr. ισκος e lat. -iscus, 159
criação do termo, 33 port. -esco, -iscar, 160
do gascão (aquitano), 217 latinos expressivos
ibérico, 155 diminutivos, 97; 124
ilírio-trácio do alb., 170 freqiientativos (-tare), 96
do dalm., 170 pejorativos (-a, -on), 97
do rom., 170 não ditongação de -er e -era no gascão, 2 19
itálico, do it., 251 visigodos -arde, -ardo, -engo nas línguas ibéri
lat., do eslavo balcânico, 180; 184; 251 cas, 143
mediterrâneo, da Sardenha, 156
do sul da Itália, 156 SUJEITO
osco-umbro na Itália, 154 formas de indeterminação no prov., 217
pré-românico, na Récia, 207 honio no lat., 67
produtividade do conceito, 170 nas línguas românicas, 67
tupi, do port. do Brasil, 153
variedades no Império, 153 SUPERSTRATO
vários na Provença, 210 burgúndio, do fran.-prov., 222
vêneto-rét. no dalm., 262 criação do termo, 33; 157
definição, 157
SUBSUBSTRATO eslavo, do rom., 162
conceito, 156 franco e burgúndio, na França, 144; 157; 158;
diversos na Provença, 210 223; 226; 265
mediterrâneo, na Sardenha, 156 graus diversos na Gália, 223
324 I E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
lombardo, na Itália, 158; 1% TERMINUS
ostrogodo, na Itália, 158 "a quo”, o lat. vulg., e “ad quem”, as línguas ro-
suevo, em Portugal, 143 mânicas, 66; 138; 170; 183; 260
visigodo, na Ibéria, 158 “a quo” no stemma codicum, 48
TESTAMENTUM PORCELLI
T
fonte do lat. vulg., 124
/t/ > /ts/, 82
Teoria das Ondas, 81; 82; 83 TEUTOS ou TEUTÒES
colônias na Gália, 140
TABELLAE opostos a “Romani”, 39
A Ibertinae, 124; 125 território, 39
defixionum, 91; 113; 114
TEXTO
TAKI-TAKI cast. antigos, 237
crioulo do ingl., 248 cat. antigos, 229
cristãos, 125; 126
TARÃ ROMÂNEASCÃ 147 fr. antigos, 226; 227; 228
franc.-prov. antigos, 222
TEATROS
gascões antigos, 220
columnatio, 108
latinos tardios, fontes do lat. vulg., 123; 124; 125;
idioma dos espetáculos, 108
126
cm todo o Império, 108
objeto da crítica textual, 44
TEORIA objeto da Filologia, 29; 34
da “árvore genealógica”, 82 port. antigos, 243
do “campo”, 85 primeiros moldavos, 189
dos “campos linguísticos”, 85 primeiro rom., 190
das gerações, 85 reconstituído, 60; 61
fonológico-cstruturalista, 155 “exemplar de colação”, 45
linguística de Saussure, 34
das Ondas, 33; 81; 82; 83 TEODISCA LÍNGUA
onde era falada, 227
TERMINOLOGIA oposta a “romana”, 39; 173
administrativa c eclesiástica català no sardo, 201
agrícola do sardo, 200 TOPÔNIMOS
árabe de produtos agrícolas, 165 ár. na Ibéria, 168
da classificação dos textos, 46 na Sicilia, 168
do comércio no Império, 109 etruscos, 100
eclesiástica, 169; 201 da Dalmácia, 33
jurídica no Testamentum Porcelli, 124 formados com gót. -engo na Itália, 160
literária e científica emprestada do fr. pelo rom., francos na Gália, 144
261 godos, 157
da pesca, empréstimo do cat. ao sardo, 201 da ístria, 33
religiosa no rético, 209 lombardos na Itália, 158
rural na Gália dos francos, 144 messápios, 101
do xadrez, empréstimo ár., 167 objeto da onomasiologia, 78
ÍNDICETEMÁTICO | 325
rom. em textos búlgaros, 190 u
sículos, 101
da “Unidade Mediterrânea”, 156 /u/ > /ii/
uniformes no substrato rét., 207 no fr., prov., rét. e dialetos it., 216
sem palatalização do /k/, 208
UMBRO
TOSCANO documentação, 101
base do it., 197 empréstimos ao lat., 98; 99
no corso, conservador da tradição lat., 264 língua itálica, 87; 153
gòrgia, 256 território, 101
léxico, 264 ver “osco-unibro”
326 I E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M A N IC A
VALÃO conservação do mais que perfeito simples no
atlas, 73 port., cat e prov., 271; 272
características, 225 depoentes na Cena, 124
dialeto fr., 225 derivados expressivos no lat. vulg., 96
desaparecimento dos depoentes, 94; 116; 124
VÂNDALOS empréstimos germ. ao fr., 157
alianças com outros povos germânicos, 141; 142 época do aparecimento da passiva analítica, 185
ásdíngos e sílingos, 141 formas analíticas no lat. vulg., 94
na Ibéria, 141 compostas do mais que perfeito no fr. e no
origem, 141 it., 272
posse da Sardenha, 200; 201 do futuro e da passiva no lat. vulg., 94
primeiro reino bárbaro na África, 141; 181 do imperfeito e do perfeito do indicativo no
“Romaniae eversores”, 142; 178 gascão,219
supressão da tradição latina na África, 258 homonímia em fr., 72; 266
indistinção entre a primeira plural do presente e
VASCÔNIA
perfeito no port., 245
um dos nomes da Aquitânia, 217
infinitivo flexionado em port., 242; 271
ver “Novempopulania”
no gai., leon. e sard., 271
VATICANO, 129 manutenção das flexões número-pessoais no
ver “glossários” prov., 217
morfemas e -// nas segundas pessoas no rom.,
VEGLIOTO 254; 255
afinidade com o rét., 262 mudanças de conjugação no lat. cr., 175
desconhecido por Diez, 250 pmvebal por pluebat, 124
dialeto dalm., 194 prevalência da terceira conjugação sobre a
documentação antiga, 194 segunda no sardo, 203
origem do nome, 194 quatro conjugações no rom., 261
período de sobrevivência ao eslavo, 146 subjuntivo no imperativo negativo no prov., 217
último falante anotado por M. Bartoli, 33; 196 uso do pretérito perfeito simples nas línguas
rom., 271
VENEDI ou VENETI, 146 de a fl no balcano-rom., 263
ver “eslavos” rada por eo, 133
voz passiva no balcano-rom., 263
VÊNETO
dialetos, 196
VETERINÁRIA
falado na costa dálmata, 194
tratados, fontes do lat. vulg., 118; 119
influência sobre o dalm. e o veglioto, 195; 262
sobre o rét., 2 10
VETUS LATINA
limites com o friul., 204; 207
Afia e ítala, 126
VERBA PEREGRINA, 186 construções vulgares, 126; 174
influência do grego, 126
VERBO plebeísmos, 174
auxiliares da passiva, 94 tradução bíblica, 126; 174
consequências da supressão do /s/ final no ver ver “Vulgata”
bo rom., 253; 254; 255
no it., 254; 255 VILLERS-COTTERÊTS, 176; 214; 225
ÍNDICETEMÁTICO | 327
VILLOTTE VOLGARE
poesia lírica it., 250 “illustre”de Dante, 198
do log., 202
V1SIGODOS do port., 243
cultura, 142 do prov., 198
desaparecimento da língua, 158 retorno do prov. a “volgare illustre” no século
empréstimos do superstrato, 158 XVII, 214
influência, 143
invasões no Oriente e Itália, 142 VOLSCO
organização social na Ibéria, 143 documentação, 101
pedido de entrada no Império, 142 povo itálico, 87
presença na Dácia, 188 território, 101
ramo dos godos, 142
reino em Tolosa e Espanha, 142; 223 VOZ
vitória sobre os suevos, 143 auxiliares românicos na passiva, 94
eliminação da passiva sintética no lat. vulg., 94;
VITIA ET VIRTUTES ORATIONIS, 116
116; 124; 129
dos depoentes, 94
VLACHS
em Petrônio, 124
aromenos, 192
nas Glossas de Reichenau, 129
VOCABULÁRIO época do aparecimento da passiva analítica, 185
formas sintéticas em Teodósio (século IV), 121
delli Accademici delia Cntsca, 199
passiva com fieri no balcano-romance, 263
ver “dicionário”
substituição da passiva pela ativa nos tratados, 119
VOCALISMO
átono de cinco no Brasil, 245 VULGATA
redução no lat. vulg., 92; 93 exemplo de artigo indefinido, 95
tônico de sete no port. e gal., 240 no Glossário de Reichenau, 127
Der Vokalismus der Vulgãrlatein, 8 1 textos, 57; 58
tipo dc tradução, 126
VOCALIZAÇÃO tradução dc S. Jerônimo, 126
do /c/ de /-ct-/ > /u/ nos co-dialetos, 248 ver “Vetus Latina”
no cat., 232
no gal. e port., 241
no ramo ocidental, 253 W
conservação de /-It-/ no cat., 270
do /I/ > /u/ no fr., 157 /w/ germ. >/gu-/ nas línguas rom., 159
no friul, 209 /w/ > /w/ no valão, 225
no galo-romance, 209
no rét., 209 WELLENTHEORIE, 81
do /I/ > /i/ no cast. ant., 132 ver “Teoria das Ondas”
do /I/ de /-It-/, 270
do /-I/ final > /-u/ no gasc., 218 WÕRTER UND SACHEN
afinidade com a onomasiologia, 33
VOIVODA Atlas, 76
príncipe romeno, 189 etapas do método, 75
X
Z
XADREZ
terminologia introduzida pelos ár., 167; 168 ZEITGEIST
“espírito da época”, 69
XÁR1AS, 149 não explica os fatos linguísticos, 69; 70
ZÉJEL, 149
IN DICE T E M Á T IC O j 329
Ín d ic e d e Pa l a v r a s
Este índice relaciona as palavras que foram analisadas ou arroladas como exemplo; transcreve-se a
forma que a palavra apresenta no texto, independentemente de outras considerações.
334 I E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
cabayo (cast. amer.), 239 cantar (prov.), 221 cattus (ibér., afr.), 99
cabra (prov.), 216 cantare (lat.), 96; 97 cauda (lat.), 112
cabri (fr.), 79 cantilena (port.), 264 caudilho (port.), 273
cabrit (prov., cat.), 79 cap(p)onem (lat.), 97 cauhar (gasc.), 218
cabrito (port., cast.), 79 capell (prov., cat.), 267 causa (lat., prov., leon.), 233;
cacao (cast., fr., it.), 272 capitinae (lat.), 124 236
cacau (port.), 272 cappello (it.), 267 causa (lat., vegl.), 80
cacumen (lat.), 98 cappellu (lat.), 267 cauza (prov.), 80
cadeia (port.), 252 capretto (it.), 79 cavai (prov.), 226
cadena (cast., cat., prov.), 252 caprittus (lat.), 79 cavallo (cast. ant.), 238
cadimo (port.), 165 capum (lat.), 97 cavush (tur.), 169
caecitatem (lat.), 266 cara (lat.), 98 Caxambu (port.), 247
Caesaraugusta (lat.), 168 Caraguatatuba (port.), 247 caye (cast. amer.), 239
cáfila (port.), 168 Carangola (port.), 247 cebola (port., prov.), 252
caipora (port.), 247 carapace (fr., it.), 272 cebolla (cast., cat.), 252
caje (cast. amer.), 239 carapaclio (cast.), 272 cécité (fr.), 266
cal (cat., prov.), 137 caparaça (port.), 272 cel (cat.), 216
calamus (lat.), 98 cardonem (lat.), 97 cèl (prov.), 216
calcitrare (lat.), 265 cardu(u)m (lat.), 97 cenk (húng.), 169
caldo (it.), 264 care (rom.), 137 cennamella (it.), 266
calendaria strena (lat.), 265 cargar (prov.), 222 cent (cat.), 271
calentura (camp.), 201 carierã (rom.), 269 centu (lat.), 271
califa (port.), 165 carmesim (port.), 165 *cepulla (lat.), 252
calvitie (fr.), 266 carnalis (lat. cr.), 174 cérebro (port.), 161
calvitiem (lat.), 266 carnavá (rét.), 209 cerebrum (lat.), 161
cama (gasc.), 219 carnavalesco (port.), 160 cerf (fr.), 264
camarada (port., prov., cast.), 272 carnelevare (lat.), 209 cero(cast.), 166
camarilha (port.), 273 carnevale (it.), 209 certo (cast. dial.), 236
camera (lat.), 98 carpete (port.), 247 cervo (it.), 264
camarade (fr.), 272 cartucho (port.), 264 cetate (rom.), 169
camarata (it.), 272 caruru (port.), 247 chaine (fr.), 252
camisola (port.), 264 cas (gal.), 241 chalare (lat.), 98
camos (prov.), 156 casa (log. ant.), 80 chama (port., gal.), 241
camoscio (it.), 156 casa (lat., port., it.), 79 chamois (fr.), 156
camox (lat.), 156 casa (prov.), 221 chanter (fr.), 221
camozza (it.), 156 castanhola (port.), 273 chapeau (fr.), 267
campana (lat., rét., it.), 209 castel (prov.), 226 chapéu (port.), 267
camurça (port.), 156 castelo (port.), 226 charger (fr.), 221
candeeiro (port.), 247 castèt (gasc.), 218 chargier (fr. ant.), 221
candomblé (port.), 247 castètsch (gasc.), 218 charisma (lat. cr.), 125
cane (it.), 254; 264 castra (lat.), 165 château (fr.), 226
cani (it.), 254 casulas (lat.), 124 chaud (fr.), 264
canibal (cast.), 272 cata (lat.), 98 chauveure (fr.), 266
canibal (port.), 272 catechumenus (lat. cr.), 125 chauve (fr.), 253
cannibal (fr.), 272 catena (lat., it.), 252 chauvece (fr.), 266
cannibale (it.), 272 catina (mác.-rom.), 252 chauveur (fr.), 266
cano (lat.), 96 cattum (lat.), 72 chavál (rét. or.), 208
ín d ic e d e p a l a v r a s I 335
chavals (rét. oc.), 208 claire voie (fr.), 267 condestável (port.), 267
chave (port., gal.), 241 clamare (lat.), 241 conejo (cast.), 235
cliavra (prov.), 216 clarabóia (cast.), 267 conello (arag. ant.), 235
check (ingl.), 167 clarabóia (port.), 267 conelyo (moçár.), 235
cheio (port.), 241 clave (lat.), 241 confeitaria (port.), 248
cheo (gal.), 241 clé (fr.), 208 confiteri (lat. cr.), 175
chèque (fr.), 167 clef (fr.), 208 conil (fr. ant.), 235
cheque (port.), 167 co (gal.), 241 conilh (prov.), 235
chestiune (rom.), 269 cos (gal.), 242 coniugare (lat.), 203
chcval (fr.), 226 coas (gal.), 242 connestabile (int. ant.), 267
chèvre (fr.), 216 coapsã (rom., mac.), 262 connétable (fr.), 267
cliez (fr.), 221 çoban (tur.), 169 construi (rom.), 269
chien (fr.), 264 coccinu (lat.), 263 consulta (rom.), 310
chiesa (it.), 209 cochleariu (lat.), 80 conte (prov., it.), 267
chieu (franc.-prov.), 221 coda (lat. vulg.), 112 contestábile (it.), 267
chievre (fr. ant.), 216 code (fr.), 263 copia (rom.), 261
chievre (franc.-prov.), 216 codex (lat.), 263 copie (rom.), 269
chiffler (fr.), 99 codi (prov., cat.), 263 copil (rom.), 69; 170
chiffre (fr.), 166 código (it.), 263 cordilheira (port.), 273
chiflar (cat.), 99 código (port., cast.), 263 coroa (port.), 245
chilie (rom.), 169 coelho (port.), 235 corona (lat.), 98
chillar (cast.), 99 coeur (fr.), 226 corpo (port.), 226
chocolate (port., cast.), 272 cognatus (lat.), 190 corps (fr.), 226
choisir (fr.), 157 coisa (port.), 80; 237 corredor (cast.), 272
chorda (lat.), 98 coiuccm (lat. vulg.), 115 corridoio (it.), 272
chose (fr.), 80 coixi (cat.), 165 corridore (it.), 272
chover (port.), 124 colaphus (lat.), 98 corrúpito (port.), 245
chuiva (gal.), 241 colcha (port.), 273 cors (fr. ant., prov.), 226
chuva (port.), 241 coleonem (lat.), 97 cort (arag.), 234
chuviscar (port.), 160 colher (port.), 80 corvo (gal.), 240
chuvisco (port.), 160 com (port.), 241 cosa (cast., cat.), 80; 233
ciarto (cast. dial.), 236 comadrcja (cast.), 77 cotschcn (eng.), 263
cibouie (fr.), 252 combate (rom.), 269 cousa (port.), 80, 237
ciei (fr.), 216; 264 comedere (lat.), 81; 270 coxa (lat.), 262
cielo (it., cast), 216; 264 comer (port., cast.), 81; 270 coza (eng.), 80
cien (cast.), 271 comisión (gal.), 241 coze (friul.), 80
cierto (cast.), 236 comissió (cat.), 241 crapula (lat.), 98
cifra (port., cast., it.), 166 comite (lat.), 267 creanza (it.), 272
ciguola (eng.), 252 commissione (lat.), 241 credere (it.), 264
cinque (lat. vulg.), 203 companio (lat. vulg.), 99 creier (rom.), 161
cinste (rom.), 161 compassio (lat.), 172 créolc (fr.), 273
cioban (rom.), 147; 169 completa (rom.), 261 crèolo (it.), 273
cioccolato (it.), 272 compune (rom.), 269 crepa (rom.), 80
ciolan (rom.), 193 comte (fr.), 267 crepare (lat.), 80
cipher (ingl.), 166 comú (cat.), 241 crianza (cast.), 272
cipolla (it.), 252 con (cast.), 241 criollo (cast.), 273
duitatem (lat.), 169 conde (port., cast., cat.), 267 crioulo (port.), 273
336 I E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
erisma (lat. er.), 174 désire (fr.), 222 drag (rom.), 147; 161
crivello (it.), 209 desiro (franc.-prov.), 222 dragiu (celt.), 209
croire (fr.), 264 despistar (port.), 247 drai (rét. centr.), 209
crusca (it.), 198 det (prov., friul.), 266 dras (rét. or.), 209
esinos (hiing.), 169 deteo (vegl.), 266 dratg (rét. oc.), 209
cual (cast., friul.), 137 dette (fr.), 222 drei (rét. centr.), 209
cubiculum (lat.), 124 dètz (prov.), 216 dresa (rom.), 269
cuchara (cast.), 80 deude (prov.), 222 dromir (gasc.), 219
cucliiaio (it.), 80 dente (prov.), 222 dsingás (húng.), 169
cudesch (eng.), 263 deux (fr.), 253 due (it.), 253
cuer (fr. ant.), 226 deviszkas (litu.), 159 dulur (prov.), 216
cuerpo (cast.), 226 dez (port.), 216 dum (port.), 242
cu ilier (fr.), 80 dezeji (prov.), 222 dun (gal.), 242
cuius (lat.), 270 diabolus (lat. cr.), 174 duos (lat., log.), 253
cujo (port.), 270 diaconus (lat. cr.), 125; 174 dura (rom.), 269
cum (lat.), 241 didu (log.), 266 dus (eng.), 253
cumnat (rom.), 190 dieci (it.), 216 dzuono (franc.-prov.), 222
cuphola (tosc.), 256 diek (dalm.), 261
curculio (lat.), 96 diesch (eng.), 216 E
curriculum vitae (lat.), 172 diez (cast.), 216
curte (rom.), 270 digitação (port.), 266 e (gasc.), 2 19
curupira (port.), 247 digital (port.), 266 eau (fr.), 253, 264
cuscuz (port.), 247 digitu (lat.), 266 *eboreus (lat.), 168
cuyo (est.), 270 dik (dalm.), 261 ecclesia (lat. cr.), 125; 174
cyma (lat.), 98; 169 disinvoltura (it.), 272 échapper (fr.), 66
cymae (lat.), 124 discuta (rom.), 269 echar (cast.), 235
dit (cat.), 266 échec et mat (fr.), 167
D ditlio (tosc.), 256 échecs(fr.), 167
dito (it.), 266 edu (log.), 98
daint (eng.), 266 djalina (rét. or.), 208 Eid (al.), 245
dais (dalm.), 161 djilina (rét. centr.), 208 Eindruck (al.), 172
debalde (port.), 165 djilinya (rét. oc.), 208 eleemosyna (lat. cr.), 125; 174
deberi (port.), 245 do (s) (port., gal.), 242 elex (lat.), 98
décourager (fr.), 269; 270 doctor (rom.), 269 Elfenbein (al.), 168
dedo (fran.-prov.), 222 dodecimo (lat. vulg.), 125 clisire (it.), 167
dedo (port., cast.), 266 doi (friul., vegl., rom.), 253 élixir (fr.), 167
dege (log.), 216 doigt (fr.), 266 elixir (port., cast., rom.), 167
deget (rom.), 266 doir (dalm.), 195 elm (prov.), 157
delegacia (port.), 247 dois (port.), 253 elmo (port., cast., it.), 157
densus (lat.), 80, 161 dolor (prov. ant.), 216 emboscada (port.), 264
déperc (log.), 203 domo (log.), 79; 203 emda (rét.), 209
dépiri (camp.), 203 domusionem (lat.), 124 emojiona (rom.), 269
déplorcr (fr.), 270 doninha (port.), 77 empregada (port.), 248
depte (prov.), 222 donnola (it.), 77 en balde (cast.), 165
derrapar (port.), 247 dos (cast., prov., cat.), 253 enarzu (log.), 265
des (rom.), 80, 161 do shkruaj (alb.), 263 encia (cast.), 235
desenvoltura (cast.), 272 doutori (port.), 245 endechas (port.), 273
I n d ic e d e p a l a v r a s I 337
endosar (cast), 268 explicajie (rom.), 269 fervere (lat.), 79
endossar (port.), 268 expressif (fr.), 172 fete (fr.), 225
endosser (fr.), 267 expression (fr.), 172 feticcio (it.), 273
enebro (cast.), 235 Exu (port.), 247 fetiche (fr.), 273
enero (cast.), 235 ey (port. ant.), 244 *fetiolum (lat.), 190
enferkire (log.), 265 feu (fr.), 81, 252
enfermidade (gal.), 241 F Feuchtigkeit (al.), 245
enténer (gasc.), 219 feuille (fr.), 155
entre (fr., prov.), 222 fablado (cast. ant.), 238 fevre (fr. ant.), 222
entro (franc.-prov.), 222 fabre (prov.), 222 fi (fr. ant.), 252
épais (fr.), 80 façanha (port.), 273 fiar (dalm.), 195
épier (fr.), 159 faika (vegl.), 252 fiat (friul.), 75
epifania (lat. cr.), 175 faisan (fr.), 72 fic (eng.), 252
episcopus (lat. cr.), 125; 174 falce (lat.), 78 ficat (rom.), 75
era (gasc.), 218 falei (port.), 245 ficatum (lat.), 75
eredesveorum (lat. vulg.), 125 famille (fr.), 225 Fichur (húng.), 190
ericionem (lat.), 97 fandango (port.), 273 ficior (rom.), 190
ericium (lat.), 97 fanfaron (fr.), 272 fico (it.), 252
errege (base.), 157 fanfarrão (port.), 272 ficum (lat.), 75; 252
erripa (base.), 157 fanfarrón (cast.), 272 fides (lat. cr.), 125
errota (base.), 157 fanfarrone (it.), 272 fiera (cast.), 271
escacs (cat.), 167 fara (lomb.), 158 fierbe (rom.), 79
escapar (port., cast., cat., prov.), faraina (dalm.), 195 fiesse (vai.), 225
66 farina (prov.), 218 figa (cat., prov.), 252
escarlate (port.), 165 farke (log.), 78 figà (venez.), 75
espeso (cast.), 80 fauce (lat.), 112; 155 fígado (port.), 75
espesso (port.), 80; 161 favro (franc.-prov.), 222 figáu (carnp.), 75
espiar (port., cast., cat.), 159 fazen (cast. ant.), 238 figlie (it.), 201
esquadra (port.), 247 fechar (port.), 245 figlio (it.), 264
esquia (gasc.), 218 fecior (rom.), 190 figo (port.), 75; 252
esquina (prov.), 218 fedge (cat., prov.), 75 figu (log.), 252
estaca (port., cast., cat., prov.), fegato (it.), 75 figue (fr.), 252
158 feitiço (port.), 273 filio (tose.), 256
estona (gasc.), 219 fekuat (vegl.), 75 fiku (sic. corso), 252
estrecho (cast.), 270 felizardo (port.), 160 fila (port.), 247
estreito (port.), 270 fembra (cat.), 232 fildej (rom.), 168
estret (cat., prov.), 270 femier (fr.), 72 filo (leon.), 237
étroit (fr.), 270 femina (it.), 201 fils (fr.), 264
eucharistia (lat. cr.), 125; 174 fentna (prov.), 232 filu (lat.), 155
Eule (al.), 245 fender (port.), 80 *fimarium (lat.), 72
evangelium (lat. cr.), 25; 174 fendere (it.), 80 finanças (port.), 268
éveillette (fr.), 77 fendre (cat., prov., fr.), 80 finance (fr.), 268
evori (prov., cat.), 168 fera (lat., cat.), 271 financeiro (port.), 268
exeappare (lat.), 66 ferir (cast. ant.), 238 financier (fr.), 268
exceptio (lat.), 172 ferro (port., gal.), 240 finanza (it.), 268
exemplu (rom.), 269 ferrolho (port.), 72 finanziario (it.), 268
expandere (lat.), 154 ferver (port.), 79 findere (lat.), 80
k u y u ( lo g . ) , 2 7 1 le g u a ( p o r v . ) , 2 6 7 lu a ( g a s c . ) , 2 1 8
le ir ó s ( g a l. ) , 2 41 lu a ( p o r t . ) , 2 1 6
L le it ã o ( p o r t . ) , 2 5 3 lu c r t i ( la t . , r o m . ) , 7 9 ; 8 0
I c it e ( p o r t . , m o ç á r . , g a l. ) , 2 3 5 ; lu c t a ( la t . ) , 2 6 2
lã ( p o r t . ) , 2 4 1 l e it e ir o ( p o r t . ) , 2 5 3 l i in a ( p r o v . ) , 2 3 3
la h a s a ( t o s c . ) , 2 5 6 le it e r ia ( p o r t . ) , 2 5 3 lu n a ( p r o v . c a s t.) , 2 1 6 ; 2 3 3
là b ( h ú n g . ) , 1 6 9 le it o ( p o r t . ) , 2 1 6 lu n e ( f r . ) , 2 1 6
la c ( r o m . ) , 1 9 0 le it o s o ( p o r t . ) , 2 5 3 lu p h o ( t o s c . ) , 2 5 6
la c h ( p r o v . ) , 2 5 3 le n s ( la t . ) , 9 7 lu p t ã ( r o m . ) , 2 6 2
la c te ( la t . v u lg . ) , 2 5 3 ; 2 7 0 le n t ic u la ( la t . ) , 9 7 lu p u s ( la t . ) , 9 8
lá c te o ( p o r t . ) , 2 5 3 le t t o ( i t . ) , 2 1 6 L u r e t u ( is t r . - r o m . ) , 2 5 9
la c t ic u lo s u s ( la t . ) , 1 2 4 le u c a ( g a l. ) , 2 6 7 lu t u ( la t . ) , 2 7 0
la c t o b io s e ( p o r t . ) , 2 5 3 li ( n ) g u la ( la t . ) , 8 0 ; 161 lu v a ( p o r t . ) , 1 58
la c t o c r o m o ( p o r t . ) , 2 5 3 li e c l i ( p r o v . ) , 2 1 6
la c to s e ( p o r t . ) , 2 5 3 lie it (p ro v .), 2 1 6 M
la c to s o ( p o r t . ) , 2 5 3 lig n a ( la t . c r .) , 1 75
la c u s ( la t . ) , 1 9 0 li m ã o ( p r o t . ) , 1 6 5 m à (c a t.), 241
la g a s t ( g a s c . ) , 2 1 9 li n c e d ( r o m . ) , 161 m ã ( a ç o r ia n o ) , 2 4 4
la h te ( m o ç á r . ) , 2 3 5 li n d o ( c a s t., it . ) , 2 7 2 m a c e llu m ( la t . ) , 9 8
la it ( f r „ f r i u l . ) , 2 5 3 lin g u r ã ( r o m . ) , 8 0 ; 161 m a c h in a ( la t . ) , 9 8
la it e ( m o ç á r . ) , 2 3 5 li n u ( la t . ) , 2 7 0 m a c u m b a (p o rt.), 2 4 7
la k u ( i s t r . - r o m . ) , 2 5 9 lip p u s ( la t . ) , 9 6 m a d re ( it .) , 2 6 4
la m b is c a r ( p o r t . ) , 1 6 0 l i p s i ( r o m . ) , 1 65 m a d u r ( c a t . , p r o v ., e n g . , f r i u l . ) ,
la m n a ( la t . v u lg . ) , 1 2 4 L is b o a ( p o r t . ) , 2 4 0 252
la m p a s ( la t . ) , 9 8 L is b o n a ( c a s t. a n t . ) , 2 4 0 m a d u ro (p o rt.), 2 2 6 ; 2 5 2
la n g u id u s ( la t . ) , 161 liv r e s c o ( p o r t . ) , 1 6 0 m a g n u s ( la t . ) , 7 9
la p is ( la t . ) , 9 8 lla n t a ( c a s t.) , 2 4 1 m a io r d o m u ( la t . ) , 2 4 5
la p te ( r o m . ) , 2 5 3 lla m a r ( c a s t.) , 2 41 M a is ( a l. ) , 2 7 2
la r a n ja ( p o r t . ) , 1 65 lla t i (c a t.), 2 7 0 m a is ( f r . ) , 2 7 2
la t ( e n g . ) , 2 5 3 lla v e ( c a s t.) , 2 4 1 m a is ( i t . ) , 2 7 2
la t i n u ( la t . ) , 2 7 0 ll e n o ( c a s t.) , 2 4 1 m a is ( p o r t . ) , 2 7 2
la tt e ( i t . , lo g . ) , 2 5 3 lie t ( c a t.) , 2 3 5 ; 2 5 3 ; 2 7 0 m a iz ( c a s t . ) , 2 7 2
L ã u f e r ( a l. ) , 1 6 8 Ili (c a t.), 2 7 0 m a iz e ( i n g l . ) , 2 7 2
la v a c r u m ( la t . c r .) , 1 2 5 ; 1 7 5 l l i t (c a t.), 2 1 6 m a l ( r o m . , a lb . ) , 1 7 0
la x io r i s m o ( p o r t . ) , 6 5 llo g a r r e t ( c a t . ) , 1 65 m a m m a ( la t . v u lg . ) , 9 6
la x io r i s t a ( p o r t . ) , 6 5 U o t (c a t.), 2 7 0 m a n ( g a l. ) , 2 4 1
l a x io r i s t ic o ( p o r t . ) , 6 5 l l o v e r ( c a s t.) , 1 2 4 m a n á ( c a t. o c .) , 2 3 1
la x is t a ( p o r t . ) , 6 5 llu n a ( c a t.) , 2 1 6 ; 2 3 3 m a n d ig a r e ( lo g . ) , 2 7 1
la x o ( p o r t . ) , 6 5 l l u v i a ( c a s t.) , 2 41 n ta n d in g a ( p o r t . ) , 2 4 7
L e b e n s la u f ( a l. ) , 1 7 2 * lo f a (g ó t.) , 158 m a n d io c a ( p o r t . ) , 2 4 7
le c lie ( c a s t.) , 2 3 5 ; 2 4 1 ; 2 5 3 l o i k ( d a l n t . ) , 1 95 m a n d u c a r e ( la t . ) , 2 7 1
le c h o ( c a s t . ) , 2 1 6 lo q u e r e ( la t . v u lg . ) , 1 2 4 m a n g a ( m a la io , p o r t ., c a s t.), 2 7 2
le g a ( i t . ) , 2 6 7 lo u p ( f r . ) , 2 2 6 m a n g a r (p ro v .), 271
342 | E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M A N IC A
manger (fr.), 271 mennisc (ant. a. al.), 159 muela (cast.), 232
mangiare (it.), 81; 271 mère (fr.), 264 muert (vai.), 225
mango (it.), 272 Mértula (port.), 240 muerte (cast.), 226; 232
mangue (fr.), 272 mesquinho (port.), 165 mujeriego (cast.), 160
manigare (log.), 271 mesti (vai.), 225 mulgere (lat.), 72
maniglia (it.), 272 métier (fr.), 225 mulherengo (port.), 160
manilla (cast.), 272 metiri (lat.), 271 multipli (rom.), 254
manjuga (prov.), 271 mèu (gasc.), 218 multiplu (rom.), 254
mannisks (gót.), 159 meiir (fr. ant.), 226 munca (húng.), 169
mannu (log.), 79 meüreté (fr.), 266 munguzá (port.), 247
manonka (vegl.), 271 miei (fr. cast.), 226 munt (cat.), 270
mantiglia (it.), 272 rniha (tose.), 256 mur (cat.), 233
manuciolum (lat.), 124 militar (port.), 245 mur (fr.), 226; 252
Manueli (port.), 245 minca (rom.), 271 miir (prov.), 233
maracanã (port.), 247 ministerialis (lat.), 266 mur (rét. centr.), 208
marahskalk (germ.), 267 ministro (port.), 245 murdar (tur., rom.), 169
maravedi (port.), 165 mínjealã (rom.), 162 mure (lat.), 263
mare (it.), 264 mir (rét. oc.), 208 muro (cast.), 233
maréchal (fr.), 267 *Mirtula (lat. vulg.), 240 muros (sard.), 203
marechal (port.), 267 misella (lat.), 124 muro (log.), 203
maresciallo (it.), 267 mistrie (rom.), 169 musafir (tur., rom.), 147; 169
marfil (cast.), 168 Mitleid (al.), 172 Myrtilis (lat.), 240
mari (fr.), 270 mlãdijã (rom.), 162 mysterium (lat. cr.), 174
marido (port., cast.), 270 mochila (port.), 273
mariscus (lat.), 159 Moema (port.), 247 N
marit (cat., prov.), 270 mola (cat., prov.), 232
maritu (lat.), 270 molere (lat.), 72 nababesco (port.), 160
martur (rom.), 169 moment (rom.), 269 nadir (port., cast., it., rom.), 166
martyr (lat. cr.), 169; 174 monachus (lat.), 75 nah al-fil (ár.), 168
mate (port.), 167 monge (port.), 75 naid (dalm.), 195
matoir(e) (vegl.), 252 Mongibello (it.), 168 namoricar (port.), 160
matur (rom.), 252 monstrengo (port.), 160 nepaut (dalm.), 195
maturitatem (lat.), 266 mont (arag.), 234 napredak (croat.), 172
maturité (fr.), 253; 266 mont (fr., prov., cat.), 270 nas(s)us (lat.vulg.), 96
maturo (it.), 252 monte (lat., port., cast.), 270 najiune (rom.), 269
niaturu (lat.), 252 moqueca (port.), 247 naturã (rom.), 269
màu (gasc.), 218 mordiscar (port.), 160 nauk (dalm.), 195
mazãre (rom.), 170 mordomo (port.), 245 nausea (lat.), 263
média (port.), 247 mort (cat., prov.), 225 nazir (ár.), 166
medir (port., cast.), 271 mortu (lat.), 225 neam (rom.), 169
mein (al.), 82 mosaico (port.), 264 nearticulat (rom.), 162
mel (port., prov.), 226 moscardo (port.), 160 neblina (port.), 273
menestrel (port., fr.), 266 mothule (alb.), 170 nebun (rom.), 168
menestrello (it.), 266 moudre (fr.), 72 *necessis (lat.), 162
menino (port.), 245 mozo (cast.), 272 nechibzuire (rom.), 162
menisco (port.), 160 mozzo (it.), 272 necinste (rom.), 162
menjar (cast. ant.), 271 mranijã (rom.), 162 nedespãrjit (rom.), 162
ÍNDICEDEPALAVRAS I 343
nedrept (rom.), 162 O original (rom.), 269
nefandus (lat.), 162 oriya (log.), 97; 266
nefas (lat.), 162 obiectum (lat.), 172 oro (it., cast.), 216; 233
nefastus (lat.), 162 obliscere (lat. vulg.), 1(6 orphanus (lat.), 75
nek (franc.-prov.), 209 occhio (it.), 216 ospãj (rom.), 161
nekf (rét. oc.), 209 oce (cast. ant.), 155 oter (eng.), 209
nem (liúng.), 169 och (eng.), 253 otro (cast.), 270
nemo(lat.), 162 ocho (cast.), 253 otto (it., log.), 216; 253
neophytus (lat. cr.), 174 ocnijã (rom.), 162 ou (fr.), 266
nepticula (lat.), 97 octo (lat.), 234; 253 ou (fr.), 266
neptis (lat.), 97 oda (turc.), 169 oure (cat.), 216
nervos (rom.), 269 odaie (rom.), 147; 169 ouro (port.), 216
nescio (lat.), 162 oferi (rom.), 269 outro (port., leon.), 237; 270
nesigur (lat.), 162 ohir (cast. ant.), 216 ouvir (port.), 216
neuter (lat.), 162 oir (cast.), 216 ovo (cast. ant.), 238
neve (port.), 247 oir (fr. ant.), 216 ovo (port., gal.), 241
nfonne (tose.), 154 oito (port.), 216; 253 ovu (lat.), 241
nichil (lat. vulg.), 121 ojo (cast.), 216
ninguém (port.), 245 oláh (húng.), 147 P
nisip (rom.), 79 olasz (húng.), 147
nit (cat.), 253 Olaszország (húng.), 147 pà (cat.), 241
no(s) (port., gal.), 242 oleum (lat.), 98 paca (port.), 247
noapte (rom.), 253 olho (port.), 216 padeiro (port ), 245
noclie (cast.), 241; 253 omaggio (it.), 267 padente (log.), 265
nocte (lat.), 253 omenatge (prov.), 267 padre (it.), 264
noi (it., vegl., rom.), 253 ornine (log.), 203 padrin (rét.), 209
noite (port., gal.), 241; 253 omnipotens (lat.), 174 padriu (log.), 265
nolo (lat.), 162 omul (rom.), 262 paese (it.), 267
nos (lat., cast., cat., prov.), 253 oncle (fr.), 81 pagensis (lat.), 267
nós (port.), 253 ondulação (port.), 245 pagín (rom.), 189
nosch (eng.), 263 onus (lat., log.), 265 pagus (lat.), 267
nostim (rom.), 170 opinie (rom), 269 pain (fr.), 221
not (eng.), 253 opiniune (rom.), 269 paira (dalm.), 195
notte (it., log.), 253 opt (rom.), 253 pairai (cat.), 160
nous (fr.), 253 or (fr., cat.), 216; 233 país (port.), 267
novilho (port.), 273 orakla (vegl.), 97; 266 paja (cast.), 232
nuanjã (rom.), 269 ora§eancã (rom.), 162 palco (it.), 159
nuech (prov.), 253 ordenança (port.), 247 palha (prov.), 232
nuit (fr.), 253 orecchio (it.), 97; 266 palia (lat. vulg.), 232
nuke (log.), 203 oreglia (it. ant.), 97 palk (lomb.), 159
nullus (lat.), 162 oreille (fr.), 97; 266 palia (cat.), 232
num (port.), 242 oreja (cast.), 97; 266 paloma (gasc.), 219
nun (gal.), 242 orel’e (friul.), 97 palomma (tose.), 154
nunquam (lat.), 162 orelha (port.), 97; 245; 266 palumba (lat.), 154; 219
nus (eng., friul.), 253 orella (cat.), 97; 266 pan (prov., franc.-prov.), 221
nusquam (lat.), 162 órfão (port.), 75 panatariu (lat.), 245
not (friul.), 253 oricla (lat. vulg.), 266 panca (it.), 159
IN D IC E D E P A L A V R A S i 345
preguntare (sard.), 271 quibebe (port.), 247 retaguarda (port.), 268
presa (gal.), 240 quiçamã (port.), 247 retaguardia (cast.), 268
presbyter (lat. cr.), 174 quilombo (port.), 247 retia (lat. cr.), 175
pretinde (rom.), 269 quindim (port.), 247 retroguardia (it.), 268
pretins (rom.), 270 quinquagesima (lat.), 209 revelatio (lat. cr.), 175
preto (gal.), 240 quintal (port.), 165 revisor (port.), 248
primeiro (port.), 245 ridere (it.), 264
primore (lat., log.), 269 R ringraziare (it.), 201
prinj (rom.), 269 rire (fr.), 264
priscus (lat.), 159 raa (leon.), 237 risco (port.), 264
produce (rom.), 269 ragal (alb.), 170 rocca (lat. vulg.), 99
profila (rom.), 269 ragionato (it.), 201 roda (port, cat., log.), 216; 226
progrés (cat.), 172 raína (gal.), 241 ròda (prov.), 216; 226
progrès (fr.), 172 rana (lat.), 237 român (rom.), 161
progres (rom.), 172 rancura (cast.), 218 românaj (rom.), 161
progreso (cast.), 172 rascar (cat., prov.), 66 româncã (rom.), 161
progress (eng.), 172 raschier (fr. ant.), 66 românesc (rom.), 161
progresso (port.), 172 rãsbunare (rom.), 162 rornâni (rom.), 161
progressus (lat.), 172 rãsciti (rom.), 162 Româniã (rom.), 161
promite (rom.), 269 rãscintãtor (rom.), 162 romisk (ant. a. al.), 159
protesta (rom.), 269 rãscoace (rom.), 162 roue (fr.), 226
prunc (rom.), 161 rasgar (port. cast.), 66 rouxinol (port.), 270
puablo (cast. dial.), 236 rasicare (lat.), 66 rovinava (it.), 201
puarta (dalm.), 195 raskar (venez., lomb.), 66 rueda (cast.), 216
pueble (fr. ant.), 252 raval (cat.), 165 rumisk (ant. a. al.), 159
pueblo (cast.), 252 rãzbate (rom.), 162 ruota (it.), 216
puente (cast.), 270 razigare (log.), 66 ruspan (milan.), 145
puerco (cast.), 241 realejo (port.), 273 ruspi (lomb.), 145
puerta (cast.), 232 realengo (port.), 160 ruspio (vên.), 145
puerto (cast.), 232 rebelde (port.), 273
puio (arag.), 234 recamar (port.), 165 S
pumex (lat.), 98 rece (rom.), 80
punire (lat.), 98 recens (lat.), 80 sa(s) (log.), 203
puoblo (cast. dial.), 236 Rècife (port. bras.), 245 sa seu (log.), 201
puolma (dalm.), 195 reclama (rom.), 269 sabão (port.), 252
ridicul (rom.), 269 sabbia (it.), 79
Q redondo (port.), 245 saber (port., prov.), 226
regeneratio (lat. cr.), 175 sablun (gasc.), 252
quaerere (lat.), 79 Reginhart (germ.), 160 sabó (prov., cast.), 252
qual (port.), 137 reguengo (port.), 160 sabone (log.), 252
quale (it.), 137 regula (rom.), 269 sabulum (lat.), 79
qualis (lat.), 137 Renard(fr.), 160 saci (port.), 247
quanno (it. dial.), 197 reproduce (rom.), 269 sáfaro (port.), 168
quatre (fr., prov.), 222 reraguarda (cat.), 268 sagu (it.), 272
quatro (franc.-prov.), 222 resemna (rom.), 270 sagu (malaio, cast., port.), 272
quel (fr., eng.), 137 résigner (fr.), 270 saibro (port.), 79
queperit (lat. vulg.), 125 restauratio (lat. cr.), 175 sali (port.), 245
salus (lat. cr.), 175 septem (lat.), 241 spanne (tose.), 154
salvacristiàn (lomb.), 77 septimana (lat.), 209 spatha (lat.), 98
salvaón (eng.), 77 serbiret (log.), 203 *specio (lat.), 96
•sanguem (lat.), 195 servulus (lat.), 124 spectare (lat.), 96
sapaun (vegl.), 252 set (prov., cat.), 232 spehon (lomb.), 159
sapé (port.), 247 sete (port., gal.), 241 spera (rom.), 269
sapere (lat.), 226 setimana (rét.), 209 speranja (rom.), 269
sapone (lat., it.), 252 settimana (it.), 209 spesso (it.), 80
sappinus (lat. vulg.), 99 seu (cat.), 201 spiare (it.), 159
sapun (rom.), 252 sfender (eng.), 80 spiritalis (lat. cr.), 174
saracura (port.), 247 shah (persa), 167 spissus (lat.), 80; 161
Saragusta (ár.), 168 shaturang(a) (ind. ant.), 167 stainberga (lomb.), 145
sarcina (lat., rom.), 68 shifr(ár.), 166 stakka (gót.), 158
sarri (bearn.), 156 shitranj (ár.), 167 stamberga (it.), 145
sarri (gasc.), 219 shtepi (alb.), 161 statho (tose.), 256
sarrio (arag.), 156 shunya (sânscr.), 166 strictu (lat.), 270
sãteancã (rom.), 162 sibilare (lat.), 98 striga (lat.), 98
sjiintã (rom.), 269 siblar (prov.), 99 stunda (germ.), 219
sau (gasc.), 218 siccus (lat.), 96 su (log.), 203
saudade (gal.), 241 siete (cast.), 232; 241 su kadçiu (log.), 203
saul (dalm.), 195 siffler (fr.), 99 su pilu (sard.), 203
savoir (fr.), 226 sifilare (lat.), 98 suang (dalm.), 195
savon (fr., friul.), 252 si fiar (prov.), 99 suart (dalm.), 195
scacchi (it.), 167 sigillum (lat.), 97 suau (arag.), 243
scacco matto (it.), 167 silbar (cast.), 99 subscribsi (lat.vulg.), 125
scapa (rom.), 66 silvaticus (lat.), 79 sucuri (port.), 247
scappare (it.), 66 jiuera (rom.), 99 suefio (cast.), 241
scheiver (rét.), 209 sivilá (friul.), 99 suilai (camp.), 99
schek (franc.-prov.), 209 skatja (frísio), 219 §uira (rom.), 99
scliiel (eng.), 216 slab (rom.), 147 sulai (camp.), 99
Schokolade (al.), 272 sociego (cast.), 272 sulegl (rét. oc.), 209
Schõntierlein (al.), 77 sole (it.), 209; 264 suppa (germ.), 99
scopha (tose.), 256 soleil (fr.), 209; 264 suride (rom.), 269
scrofa (lat.), 98 soli (port.), 245 sururuca (port.), 247
scump (rom.), 161 soliculus (lat.), 209 suscrissi (lat. vulg.), 125
scurra (lat.), 97 soliversator (lat.), 124 sussiego (it.), 272
seguridade (gal.), 241 somnium (lat.), 241 susura (rom.), 269
sei (port.), 245 sonho (port.), 241 suvenir (rom.), 269 t
sekt (rét. oc.), 209 sono (gal.), 241 synodus (lat. cr.), 174
selvático (it.), 79 sopeira (port.), 248 szallás (húng.), 169
semenar (prov.), 218 soreje (rét. centr.), 209
semer (gasc.), 218 sorèli (rét. or.), 209 T
semt (ár.), 166 Sorocaba (port.), 247
senecem (lat.), 265 sorogle (rét. centr.), 209 tabac (fr., cat.), 272
sénege (log.), 265 sorvete (port.), 247 tabacco (it.), 272
senti (cat.), 231 sos (log.), 203 tabaco (port., cast.), 272
sentiment (rom.), 269 spanisk (ant. a. al.), 159 Tabak (al.), 272
ÍN D IC E D E P A L A V R A S | 347
tabardo (port.), 160 trovador (port.), 270 vache (fr.), 225
taça (port.), 165 trovar (prov., port.), 75 vadde (calabr.), 201
tâclic (fr.), 165 trovare (it.), 75 vak (norm.), 225
talão (port.), 97 trovatore (it.), 266 vani (cat. algh.), 231
talis (lat.), 137 trufie (rom.), 169 vappa (lat.), 97
talione (ít.), 97 trup(rom.), 147; 161 varão (port.), 97
taló (prov., cat.), 97 tsã (franc.-prov.), 222 varos (húng.), 169
talon (fr., friul.), 97 tsardsí (franc.-prov.), 221 varrer (port.), 246
talonem (lat.), 97 tsãntá (franc.-prov.), 221 vascella (lat.), 124
talum (lat.), 97 tschavál (rét.centr.), 208 vassoura (port.), 246
tamanduá (port.), 247 tschkoatl (nauatl), 272 vasus (lat. vulg.), 123
também (port.), 245 tschunqueismas (rét.), 209 vatapá (port.), 247
(ap (rom.), 170 tuber (lat.), 99 vecchio (it.), 216
tapete (port.), 247 tufer (lat.), 99 vechiu (rom.), 97
tareá (cast.), 165 tumba (lat.), 98 veclus (lat. vulg.), 97; 232
tarefa (port.), 165 tuota (dalrn.), 195 vedere (it.), 264
tasca (cat.), 165 vegl (eng.), 97
tatu (port.), 247 U velho (port.) 97; 216
taur (prov.), 233 vell (cat.), 97; 232
tauru (lat.), 233 ua (gasc.), 218 vemina (galur.), 201
temetis (lat.), 241 Ubirajara (port.), 247 vendéder (eng.), 253
temeis (port.), 241 udire (it.), 216 vendedor (port. cast., prov.), 253
temedes (gal.), 241 uech (prov.), 216; 253 vendeur (fr.), 253
temps (sobres.), 208 neit (prov.), 216 venditore (it.), 253
tems (fr. ant.), 208 uelh (prov.), 216 vendre (fr.), 225
terra (it.), 264 uevo (cast.), 241 vencdor (cat.), 253
terre (fr.), 264 uinum (lat.), 156 verbum (lat. cr.), 174
tésseret (log.), 203 ulufe (tur.), 169 verna (lat.), 97
tliap (alb.), 170 un(s) (gal.), 242 verruculum (lat.), 72
thesaurum (lat. vulg.), 123 unha(s) (gal.), 242 verutus (lat.), 265
tipiti (port.), 247 unic (rom.), 269 ves (gal.), 240
tirer (fr.), 72 uòch (prov.), 216 vettsu (log.), 97
tola (gal.), 240 uòlh (prov), 216 viant (dalm.), 195
tomaca (cat.), 272 uomo (it.), 264 vicaire (fr.), 72
Tomate (al.), 272 uragla (eng.), 266 victitare (lat.), 97
tomate (port., fr.), 272 ural’a (eng.), 97 viddoli (galur.), 201
tomatl (nauatl), 272 ureche (rom.), 97; 190 vide (port.), 78
tóner (gasc.), 219 Uricle (rom.), 190 vieil (fr.), 97
toro (cast., cat.), 233 urubu (port.), 247 viejo (cast.), 97; 232
tra(n)smutare (lat.), 265 urupema (port.), 247 vieklo (vegl.), 97
traire (fr.), 72 uualha (germ.), 146 vielh (prov.), 97; 216; 232
travailler (fr.), 225 uzár (prov.), 156 vieli (friul.), 97
trecho (port.), 273 vin (gasc.), 219
tresari (rom.), 269 V vinde (vai.), 225
trobador (prov.), 266 vinea (lat.), 78
trona (cat., log.), 201 vaca (gasc.), 219 vinha (port.), 78
trouver (fr.), 75 vacca (lat.), 96; 225 vinus (lat. vulg.), 123
Eburacum
Britannia
Londinium
' 43-47 i
Inferior
O 'h '
Superior W
% ®
^e/9/cs, / %
Lutetia
Raetia Noricum
Caucasus
Aquitania
Burdigala,
Narbonensis Pontus Euxinus
Narbo
Massilia (Mar Negro)
Caesaraugusta
Corsicai Roma / %
Byzamtum
<s>%-
Tarraco Macedonia
Neapolis
Sardinia
Pergamum
Lycaonia
Carthago Nova Sicilia Athenae
Achai
Mare I b e r i c ^ Carthago
Melita Dura-Europus
Numidia Rhodus
Hadrumetum
Damascus
Tingitana Cyprus
Babylon
Cyrene Alexandria
1 Províncias Senatoriais
Leptis
1 Províncias Imperiais
Cyrene
Nações Aliadas Memphis
MAPAS I 353
2. POVOS DA ITÁLIA ANTIGA
Réticos
Ligures
Gregos
IKricos
Etruscos
Faliscos
Itálicos
Cartagineses
(Fen(cios)
Siculos
irrCtlurnum
-*\Eburacum
J Glevym — Li ndum )
^ U lpiaTraiano
Aquae gulis3 ^ Camoludunum)
•Π" Aquisgranum
P * C 7 .
λ ^."Verulamium Coi. Agripina G
Londinium Telbiacum
ΤΤΓAquae Mattiacorum
viqmagus 1__S'fculiobona m i üu Moguntiacum
n n r J w TTJ^Rotomagus
CaesaromagusnIá l TTiáINoviodunum . . . .
— 1 L u tetia ^ ^Aiinustnmamjs ™ r Civitas Aquensis
Lutetia A u gu stom a gu s u v a A u gu sta V indelicorum ■Vindobona NapocaO
Agedincum11· ^Cambodunum
_ Vesontio TirBrigantium 1Tr Carnuntum
τ·Μ τττ λ Apulum'
Avaricum Biturigum __ ™ ___ Viri
n 1TM Augustodunum Aventicum Comum Scarbantia Ulpia Traiana
1 Mediolanum VO Poetovio Aquincum
TTia Santonum O Lugudunum Ρ β Augusta Pragtpria Sirmium
M Vienna^ N e A u g u sta T a u r i n o r u f i C / \ Mursa'"'
Emona sisquia Drobeta
TTteBurdigaia τπη -+ -) w Ppla
^ m i Pollentia Bononia \ Ratiaria^- Pontus Euxinus
TolosauTa. -nj^Nemausus /'Z . Florentia b La Claudia Aequum Callatis
Scupi (Mar Negro)
τ Massilia nsae ” Ti^jAfequm ^
Narbo M artiusy*"-Jtwi" o » . _3BlNicaea \ 4 Q<«Spotetum Salonae
Flaviobriga Develtum
/ lulii Vj p0l s' Çf e Firmum Narona
Sinope
Cluniãljj]
/ Mariaríá ‘ ! ^ rentN _ V“ T , Epidaurus
Caesaraugusta Dyrrhachium
larcino Tusculum'1^ — iceria Philippi
Termes V Byllis F Heraclea Pontica
Tarraco 0& Turris Libisonis. Cumae-· Nicaea
Herculanum , VButhrotum
Praesidium lulium Saguntum Pollentia — ^ fS ^ P r u s a
Pompei' Diurni
V a le n tia ./ p ,,m Forum Traiani P b ^ 'rActium Aezani
Olisipo ~ir Norba Caesarina
O Corduba
Orchomenus’ 41Hierapolis
jjj- Aphrodisias Iconium
* Italica xucci ~ir Salaria Panormus. Termae. Vibo Valentia
, Olbasa
L— ... r Carthago Novav ^Hirperaeae Comama idus
Atenas Dura-Europus
Hasta Regi! Acinipo / i p j Catina Ninica Antiochia
Saldae Chullu Aerae.
lt-SI Syracusae Halicarnassus
Gades^·^/ . Carthago farsus ■A p a m e a
Rusicade Patara
Icosium
Zama 5 ^ Cnossus
° Λβ Palmyra
T in g i s ^ ^ I Rusadd Clupea Melita
Cartenna J Thelepte.
Zilis ~T — . , TmJ TCurubis Heliopolis
Lixus V (Dppidum Novum
Lambaesis £ Thubursicum Creta
Leptis Minoi^ Hadrumetum
Babba
Thamugadi Cyprus Berylus
Acholla ·πη Q f l Gadara
O Volubilis Claudia Ptolemais
Thaenae Q iG e ra sa
Samara
Cyrene Hi Emmaus
D ireito s R e s e r v a d o s B . F. B a s s e tt o
MAPAS I 355
M apa 4
4. MIGRAÇÕES DOS POVOS GERMÂNICOS NO SÉC. ΙΠ d.C.
s. Vândalos»,
^ « '/j Ásdingos )
^ I S í l i n g o e r ^ +/- 25°)
Treveri
Marcomanos n ^
/ Va
SV 2 __Quadas
Argentorate^. j Alamanos
Parisii
Visigodos /1
(depois de 270) y
Verona Dácia (abandonada em 270) Pityus
Aquiieia
Burdigala Ravenna
-jç Tolosa Naissus -jç. Pontus Euxinus
Narbo a Florentia Nicopolis (Mar Negro) Trapezus
Regnum
Tarraco Partharum
Caesaraugusta m
Corsica Roma
(Sassamdarum
tThessalunica W Heraclea ab 224 a.D.)
^ Toledo
Olisipo
Sardinia; 'fr Caesarea
Pergamum ^ Ancyra
Edessa
Carthago Nova
Messana ★
^ Hispal Ephesus Nisibis
Sicilia
V y Syracusae
Carthago Antiochia
Tingis Palmira
^vlMelita 3 Rhodus ★
Creta Aelia Capitolina
(Jeru salem)
Cyprus
D ireito s R e s e r v a d o s B. F. B a s s e tt o
MAPAS I 35 7
M apas 5 e 6
5. MIGRAÇÕES DOS POVOS GERMÂNICOS DESDE O FINAL DO SÉCULO IV
Anglos
Vândalos
Ásdingos
Sílingos J /
n | Quadas
Burgundios Suevos
até 438 ( (400) Gépidas
Parisii
Aureliani J l/
Verona
Reino visraodo Visigodos
\ deToldsa
(376)
Naissus
Ataulto Pontus Euxinus
Suevos .. Nicopolis (Mar Negro)
asd e 411) Narbo
p in g o s (411
Corsica Regnum
(yzantium Partharum
ilantinopl;
Alanos Ataulfo (+ 415) (Sassanidarum
Neapolis
Heraclea ab 2 2 4
Pergamum
Messana
Uhenae ★ Edessa
Asdingos
Rhegium •inthus Ephesus
V ândalos Sicilia ★ Nisibis
Syracusae
Antiochia
Vândalos^
(439-534) P Rhodus
★
Palmira
i Aelia Capitolina
Cyprus " (Jerusalem)
D ireitos R e s e r v a d o s B. F. B a s s e t t o
MAPAS I 359
6. REINOS GERMÂNICOS EM 480
D ireito s R e s e r v a d o s B. F. B a s s e tto
360 í E L E M E N T O S DE F IL O L O G IA R O M Â N IC A
M apa 7
7. SITUAÇÃO POLÍTICA DA EUROPA NO SÉC. IV (ATÉ A MORTE DE TEODORO, O GRANDE - 526)
D ireito s R e s e r v a d o s B. F. B a s s e tt o
MAPAS | 361
M apas 8 e 9
D ireito s R e s e r v a d o s B. F. B a s s e tt o
Córsega
Aragão Roma
Barcelona
Lisboa
iranada
Ceuta
* 1431 ^5 Malta
Melila Barbáricos
1497
MAPAS 363
9. SUBSTRATOS NA IBÉRIA, GÁLIA, ITÁLIA E CIVILIZAÇÃO DE LA TÈNE
Civilização de La Tène
★
La Tène — Réticos
V fcJI I ç l U o J s
Ligures ■
\Etruscos\
x %
Siculos
364 E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
10. REGIÕES HISTÓRICAS DO ROMENO (DOMÍNIO DO DACO-ROMENO)
MAPAS 365
11. OS DIALETOS ROMENOS NA EUROPA ATUAL
366 I E L E M E N T O S DE F IL O L O G IA R O M Â N IC A
12. PENINSULA DA ÍSTRIA E SEUS DIALETOS
m apas I 367
13. PRINCIPAIS DIALETOS DA ITÁLIA
368 I E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
14. A SARDENHA E SEUS DIALETOS
Dialetos Grupos do
Anglonès não Sardos Gennargentu
MAPAS | 369
15. LÍNGUAS DA SUÍÇA
D ireito s R e s e r v a d o s B. F. B a s s e tt o
370 E L E M E N T O S D E F IL O L O G IA R O M Â N IC A
- ............. .................. - - ■ — .... ..........■■— —j
MAPAS | 373
19. PRINCIPAIS DIALETOS DO PORTUGUÊS, CASTELHANO E CATALÃO
/'
Lim ites: Leonès S Antigos do Leonês - Aragonês
i Aragonês
MAPAS í 375
376
I
ELEMENTOS DE FILOLOGIA ROMÂNICA 21. REGIÕES DE FALA PORTUGUESA NO MUNDO
o
o
1. B rasil
2. P o rtu g a l
3. A ç o re s , Ilha d a M a d e ira
4. A rq u ip é la g o d o C a b o V e rd e
o
5. G u in é , S e n e g â m b i a c
6. B e n in to
7.
8.
S ã o T o m é e P rin c ip e
C o n g o , Z a ire , A n g o la
0)
9. M o ç a m b iq u e o
10. M om çaba O
11. D iu, D a m ã o , B o m b a im , G o a ,
M a m g a lo r, M a é , C o c h im , C a n a n o r
12. J a v a , Tim or, S i n g a p u ra , Ilh a s M a la ia s
13. M a c a u
14. Ilh a s M á la c a s
22. ROMÂNIA OCIDENTAL E ORIENTAL
0 0 ! í u BI W ° υΒ
U)
23. ROMÂNIA CONTÍNUA (SEGUNDO A. ALONSO E VIDOS)
u>
oo
E L E M E N T O S DE F IL O L O G IA R O M Â N IC A
24. AS LÍNGUAS ROMANICAS E ALGUNS DE SEUS DIALETOS NA EUROPA ATUAL
D ire ito s R e s e r v a d o s B. F. B a s s e tt o
u>
Ό
25. A ROMÂNIA MODERNA - LÍNGUAS ROMÂNICAS NO MUNDO
00
o Oceano Glacial Ártico
A t
ELEMENTOS DE FILOLOGIA ROMÂNICA
1. Q u e b e c (C a n a d á)
2 . M é x ic o e A m é ric a C e n tra l
3 . A n tilh a s ( C u b a , H aiti, C u r a ç a o , P o rto
R ic o , M a rtin ic a )
4 . A m é ric a d o S u l
5. E u r o p a ( P o rtu g a l, E s p a n h a , F r a n ç a ,
B é lg ic a , Itá lia , S u í ç a , R o m ê n ia )
6 . A ç o r e s e M a d e ir a
7 . A r q u ip é la g o d o C a b o V e rd e
8 . G u in é , S e n e g â m b i a e B e n in
9 . I lh a s d e S ã o T o m á e P r ín c ip e
10. C o n g o , Z a irte , A n g o la e M o ç a m b iq u e ,
M om baça
D iu, D a m ã o , B o m b a im , G o a , M a n g a lo r,
M a é , C o c h im , C a n a n o r
J a v a , T im or, S i n g a p u r a , I lh a s M a la ia s
M acau,
I lh a s M á la c a s
F ilip in a s
I lh a s B a ix a s , M a r q u e s a s ,
T u b u a í, Ilh a s d a S o c i e d a d e
Título Elementos de Filologia Românica Vol. I:
História Externa das Línguas Românicas
Autor Bruno Fregni Bassetto
Produção Ana Lucia Novaes
Marilena Vizentin
Projeto Gráfico Ana Lucia Novaes
Capa Marcos Keith Takahashi
Mapas Ponto & linha
Editoração Eletrônica Ponto & Linha
Revisão Técnica Luiz Alberto Cabral
Revisão de Texto Luicy Caetano de Oliveira
Revisão de Provas Fábio Duarte Jolv
Tania Mano Maeta
Marilena Vizentin
Divulgação Regina Brandão
Cinzia de Araújo
João Argentin Neto
Secretaria Editorial Eliane dos Santos
Formato 18 x 25,5 cm
Tipologia Times New Roman 10/14,5
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Tiragem 3 000
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