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Marcos Marcionilo
CONSELHO EDITORIAL:
Ana Stahl Zilles [Unisinos]
Angela Paiva Dionisio [UFPE]
Carlos Alberto Faraco [UFPR]
Egon de Oliveira Rangel [PUC-SP]
Henrique Monteagudo [Universidade de Santiago de Compostela]
José Ribamar Lopes Batista Jr. [UFPI/CTF/LPT]
Kanavillil Rajagopalan [UNICAMP]
Marcos Bagno [UnB]
Maria Marta Pereira Scheme [UFES]
Rachel Gazolla de Andrade [PUC-SP]
Roberto Mulinacci [Universidade de Bolonha]
Roxane Rojo [UNICAMP]
Salma Tannus Muchail [PUC-SP]
Sírio Possenti [UNICAMP]
Stella Maris Bortoni-Ricardo [UnB]
Louis-Jean Calvet
As políticas
LINGUÍSTICAS
Tradução:
Isabel deOlíveira Duarte
Jonas Tenfen
Marcos Bagno
Prefácio:
Gilvan Müller de Oliveira
Título original: Les politiques linguistiques
© Louis-JeanCalvet
Cl 68a
Calvet, Louis-Jean, 1942-
As políticas linguísticas / Louis-Jean Calvet; prefácio Gilvan Müller de Oliveira ;
tradução Isabel de Oliveira Duarte, Jonas Tenfen, Marcos Bagno. - São Paulo: Parábola
Editorial: IPOL, 2007.
. -(Na pontada língua; 17)
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ISBN: 978-85-88456-60-0
PREFÁCIO............................................................................... 7
y fc?
UI. A abordagem “instrumentalista”: P. S. Ray e V. Tauli
fô &
IV O segundo modelo de Haugen...............................
V A contribuição dasociolinguística “nativa”..............
Conclusão.........................................................................
Capítulo m. OS INSTRUMENTOS DO
Si
PLANEJAMENTO LINGUÍSTICO.........................
I. O equipamento das línguas....................................
8 8 8
A escrita......................................................................
O léxico ......................................................................
gg <3
A padronização........................................................
Do “in vivo” para o “in vitro”...............................
n. O ambiente linguístico............................................
333 53
BIBLIOGRAFIA...................................................................... 161
ÍNDICE DE NOMES............................................................... 165
PREFÁCIO
NAS ORIGENS DA
POLÍTICA LINGUÍSTICA
m - A abordagem “instrumentalista”:
P.S.RayeV.Tauli
Não faltam definições que apresentam a língua
como um “instrumento de comunicação”, sendo fácil
observar o caráter restritivo de tais definições, que ig
noram aquilo que é essencial na língua, isto é, seus
vínculos com a sociedade. As abordagens estruturalis-
tas da língua foram criadas com base nessa restrição,
e foi contra ela que se desenvolveu uma nova maneira
de abordar os fatos das línguas, que foi batizada de
“sociolinguística”, mas que constitui de fato a linguís
26 AS POLÍTICAS LINGUÍSTICAS
Forma Função
(planejamento (cultura da língua)
linguístico)
do problema
b) escolha de uma
norma
b) sintaxe terminologia
c) léxico b) desenvolvimento
estilístico
AS TIPOLOGIAS
DAS SITUAÇÕES PLURILÍNGUES
I - Ferguson e Stewart
Paralelamente aos primeiros textos sobre o planeja
mento linguístico que, como vimos, se interessavam es
sencialmente pela ação sobre a língua e, por isso, não
levavam em conta as situações plurilíngues (apesar de
elas serem amplamente majoritárias no mundo), no iní
cio dos anos 1960 apareceram tentativas de equacionar
as situações plurilíngues e a primeira delas foi, sem dúvi
da, o artigo de Charles Ferguson sobre a diglossia1. O
autor apresentava modelos de situações nas quais coe
xistem duas variedades de uma mesma língua (ele deu
quatro exemplos: árabe clássico / árabe dialetal, alemão-
padrão / alemão suíço, grego catarévussa / grego demótico,
francês / crioulo haitiano), variedades que são utilizadas
em situações precisas: o que ele chamava de “variedade
alta” era utilizada nos discursos políticos, nos sermões,
nas mídias etc., e o que chamava de “variedade baixa” se
empregava nas conversações familiares, na vida cotidia
na, na literatura popular etc. Posteriormente, Joshua
Fishman ampliou esse modelo, abandonando a ideia de
relação genética entre essas duas “variedades”1
2: a partir
de então, considera-se que há diglossia cada vez que se
manifesta uma repartição funcional de usos entre duas
línguas ou entre duas formas de uma mesma língua; as
sim há diglossia tanto entre o árabe clássico e o árabe
dialetal como entre uma língua europeia e várias línguas
africanas. Esse conceito vai conquistar um enorme su
Atributos
Tipos de
língua
Padronização Autonomia Historicidade Vitalidade
+ + + 4- padrão
+ 4- 4- clássica
+ + artificial
+ 4- 4- vernácula
4- 4- dialeto
4- crioula
— — — - pidgin
Classe 6: hebraico Cr
(leia-se: um clássico religioso)
latim Crs
(leia-se: um clássico, religioso, ensinado)
II - As propostas de Fasold
Essa abordagem ilustrada pelos trabalhos de
Ferguson e Stewart foi deixada de lado durante muito
tempo até que Ralph Fasold a retomasse, em 19849.
Primeiro, ele resumiu os textos de Ferguson e de Stewart
que acabamos de citar; em seguida, retomou o proble
ma de um ponto de vista ligeiramente diferente:
— por um lado, ele destaca uma certa previsibilida
de das funções assumidas pelas línguas, não é qual
quer língua que pode assumir qualquer função;
— por outro lado, ele raciocina unicamente em
termos de atributos e de funções, de modo que
uma língua deve possuir certos atributos para
preencher determinada função. Seu ponto de
vista é resumido no seguinte quadro:
m - A grade de Chaudenson.
Na década de 1990, Robert Chaudenson tentou
elaborar um instrumento de medida e de comparação
do status e do corpus da língua francesa nos países da
francofonia11. Sua abordagem consistia em situar os
diferentes países analisados a partir das funções (ou
status) e dos usos (ou corpus) de uma língua (no caso,
o francês, mas pode-se, como destaca o autor, seguir o
mesmo procedimento para qualquer língua: inglês,
espanhol etc.); esses países aparecem representados
por pontos em um gráfico bidimensional.
E claro que o problema aqui é saber como medir
o status (considerado por Chaudenson num sentido
clássico) e o corpus (definido por ele como o volume de
produção linguística realizado na língua e a natureza11
100 -1
90 -
80 -
70 Ruanda
T] 60 - ♦ Madagascar
I 50-
Maurício
40 -
30 -
20 -
10
0 -
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Corpus
Situação em relação ao francês
AS TIPOLOGIAS DAS SITUAÇÕES PLURILÍNGUES 5 1
100 n
90 -
80 - árabe
_, 70 -
2 60 - francês
á 50 -
40 -
30 -
20 -
berbere
10 -
0 -
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Corpus
As línguas do Marrocos
90 - ♦
80 - francês
70 -
60 J
50
40 J
30 - songhai
20 - peul bambara
10 - tamasheq
♦
0 -
0 10 20 30 40 50 60 70
As línguas do Mali
100
90 francês 1960
80
70
60
50
40 francês 2000 sango 2000
30
20
10 sango 1960
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Corpus
República Centro-africana
Conclusão
De modo mais geral, os modelos tipológicos que
apresentamos neste capítulo estão longe de esgotar o
que conviria saber sobre uma situação para pensar
uma eventual política linguística. De fato, para elabo
rar um modelo capaz de elucidar a complexidade das
situações, seria conveniente considerarmos diferentes
fatores, dos quais a lista seguinte nos dá uma idéia:
1. Dados quantitativos: quantas línguas e quantos
falantes para cada uma delas.
2. Dados jurídicos: status das línguas em conta
to, reconhecidas ou não pela Constituição,
utilizadas ou não na mídia, no ensino etc.
3. Dados funcionais: línguas veiculares (e sua
taxa de veicularidade), línguas transnacionais
(faladas em diferentes países fronteiriços); lín
guas gregárias, línguas de uso religioso etc.
4. Dados diacrônicos: expansão das línguas, taxa
de transmissão de uma geração a outra etc.
5. Dados simbólicos: prestígio das línguas em
contato, sentimentos linguísticos, estratégias
de comunicação etc.
6. Dados conflituais: tipos de relações entre as
línguas, complementaridade funcional ou con
corrência etc.
Podemos perceber que se é fácil, por um lado, me
dir ou delimitar os quatro primeiros tipos de fatores
desde que, evidentemente, sejam feitas as pesquisas ne
cessárias, por outro, os dois últimos são mais comple
xos e, sobretudo, difíceis de introduzir em um modelo
dicotômico. Mas, pelo afa de apresentar esquemas bem
AS TIPOLOGIAS DAS SITUAÇÕES PLURILÍNGUES 59
OS INSTRUMENTOS DO
PLANEJAMENTO LINGUÍSTICO
A escrita
O léxico
A padronização
II - O ambiente linguístico
Quando se caminha pelas ruas de uma cidade,
quando se desembarca num aeroporto ou quando se
liga a televisão em um quarto de hotel, recebe-se imedia
tamente um certo número de informações sobre a situa
ção linguística através das línguas utilizadas nos carta-
Nível de intervenção
geográfico jurídico
internacional constituição
nacional lei
regional decretos
resoluções
recomendações
Modo de intervenção
Conteúdo da intervenção
Nomeara língua
NomearasJunções
O direito à língua
Conclusão
Seja para equipar as línguas, intervir no ambien
te linguístico ou para legislar, o planejamento linguís
tico constitui in vitro uma espécie de réplica dos fenô
menos produzidos continuamente in vivo. A linguísti
ca nos tem ensinado que as línguas não podem ser
decretadas, mas que são produtos da história e da
prática dos falantes, que elas evoluem sob a pressão
de fatores históricos e sociais. E, paradoxalmente,
AS POLÍTICAS LINGUÍSTICAS
86
Os “decretoslinguísticos”
As leis linguísticas
A ortografia
As indústrias da língua
abddyeêfggbhikkhkmn nwnyoôprsshttyuwyz.
Bamako 1966 ê e ô 0
Guiné e é 0 õ
Costa do Marfim e £ 0 0
Burkina Fasso e £ 0 □
Mali e é 0 ó
Senegal e é ô 0
a, b, d, j, e. é, f, g, h, i, k, 1, m, n, ny, n, o, ó, p, r, s, sh, t, c, u, w, y, z.
Língua utilizada
Nivel Periodo colonial Depois da Independência
Suisse”, in: Istvan Fodor; Claude Hagège (orgs.), La reforme des langues.
Hamburg: Buske Verlag, 1983, vol. I, p. 532.
12. M. Duval-Valentin, op. cit., p. 469.
13. C. Rubattel, “Une crise du français en Suisse romande?”,
in: Jacques Maurais (org.), La crise des langues. Governo de Québec/
Paris: Le Robert: 1985, p. 87.
1 28 AS POLÍTICAS LINGUÍSTICAS
Na Europa
Afrancofonia
O francês no mundo
Sem referência cultural própria, essa língua também não tem co
munidade. Ela não é a língua falada de ninguém na realidade da
vida cotidiana (...) Essa falta de referência comunitária da língua
árabe moderna foi oportuna para os defensores da arabização: por
isso eles tentam, contra todas as evidências, estabelecer uma confu
são entre essa língua e a língua materna. Os exemplos na história
das controvérsias em que a reivindicação da arabização é expressa
em reivindicação da língua materna são abundantes24.
No Marrocos
Na Tunísia
Na Argélia
A E
Aasen, I. 23,113 ElFassi, M. 148
Academia Francesa, 23
Alisjabana, S. T. 14 F
Aracil. L. 16,18,33,34,161 Fasold, R. 46,47,48,49,51,
Atatürk, M.K. 23,108,109,116 56, 59, 162
Ferguson, C. 13, 14,15,18,
B
33,38,39,40,41,42,43,
Balladur, E. 99
44, 46, 59, 128, 162
Balegh, H. 51
Fishman, J. 13, 14, 15,18, 38,
Bazin. L. 110,112,161
161, 162
Bella, B. 153
Benhima, 149 G
Ben Salah, A. 151 Galtier, G. 107,162
Bourguiba, H. 136,138,151 Giscard d’Estaing, V. 143
Bright, W. 12,13,162 Glück.H. 15
Byron, J. 14
Grandguillaume, G. 145,147,
C 150, 155, 162
Calvet, L.-J. 7, 9,18, 161 Gumperz 13
Catafago, A. 115, 161 Guespin, 17
Chaudenson, R. 18,49,51,59,
140, 144, 161 H
Círculo de Praga 19 Hamel, R.E. 16,79,162
Cirilo 11 Haugen, E. 12, 13, 18, 19, 20,
21, 22, 23, 24, 25, 28, 30,
D 32,113, 162
Das Gupta, J. 13,14, 15, 162 Hymes 13
De Gaulle, C. 131
DeFrancis, J. 15 J
Duval-Valentin, M. 126,128, Jakobson, R. 23
129, 162 Jernudd, B. 13, 14, 15, 164
166 AS POLÍTICAS LINGUÍSTICAS
K P
Kin, Pa 89 Panini 21
Kloss, H. 28,129,163 Pompidou. G. 143
Knecht, P. 126, 163 Prudent, L.-F. 33, 163
Knudsen. K. 113
Komisi Bahasa Indonesia 31,124 R
Korais 23 Ray, P. S. 25, 26, 28, 163
Richelieu, 23
L Rocard, M. 99, 100
Labov, W. 13 Rubattel, C. 127,163
Labrousse, P. 124,125,163 Rubin, J. 13, 14, 15, 164
Lafont, R. 33, 163
Laporte, P.-E. 15, 163 S
Salt, H. 118,164
M Samarin 13
Mammeri, M. 154 Sambhota, T. 11
Marcellesi, 17 Santos, B. 9
Meillet, A. 19, 161 Sedar Senghor, L. 136
Metódio 11 Simon, H. 22
Mistral, F. 23 Stewart, W. 38, 42, 43, 45, 46,
Mitterrand, F. 139,143 59, 164
Murville, M. C. de 142
Mzali, 151 T
Tauli, V. 25,27,28,164
N Tse Tung, M. 89
Nebrija, 23 Turé, S. 82, 83
Ninyoles, R. 15, 18, 163 Turi,J. 76, 164
Nyerere,J. 120
V
O Varela, L. 9
O’Barr, J. 14,163
O'Barr, W. 14, 163 w
Ophuysen, C, Van 123 Whiteley, W. 118, 159,164
Orwell, H. 159 Wilson, W. 141
NA PONTA DA LÍNGUA
1. Estrangeirismos —guerras em torno da lingua, Carlos Alberto Faraco [org.]
2. Lingua materna — letramento, variação e ensino
Marcos Bagno, Michael Stubbs & Gilles Gagné
3. História concisa da linguística, Barbara Weedwood
4. Sociolinguística — uma introdução crítica, Louis-Jean Calvet
5. História concisa da escrita, Charles Higounet
6. Para entender a linguística — epistemologia elementar de uma disciplina,
Robert Martin
7. Introdução aos estudos culturais, Armand Mattelart & Erik Neveu
8. A pragmática, Françoise Armengaud
9. História concisa da semiótica, Anne Hénault
10. A semântica, Irène Tamba
11. Linguística computacional — teoria &. prática
Gabriel de Ávila Othero & Sérgio de Moura Menuzzi
12. Linguística histórica — uma introdução ao estudo da história das línguas,
Carlos Alberto Faraco
13. Lutar com palavras — coesão e coerência, Irandé Antunes
14. Análise do discurso — história e práticas, Francine Mazière
15. Mas o que é mesmo “gramáticaCarlos Franchi
16. Análise da conversação: princípios e métodos, Catherine Kerbrat-Orecchioni
17. As políticas linguísticas, Louis-Jean Calvet
18. Práticas de letramento no ensino: leitura, escrita e discurso
Carlos Alberto Faraco, Maria do Rosário Gregolin, Gilvan Müller de
Oliveira, Telma Gimenez & Luiz Carlos Travaglia
19. Relevância social da linguística: linguagem, teoria e ensino
Luiz Percival Leme Britto, Marcos Bagno, Neiva Maria Jung, Esméria de
Lourdes Saveli & Maria Marta Furlanetto
20. Todo mundo devia escrever, Georges Picard
21. A argumentação, Christian Plantin
22. Tradição oral & tradição escrita, Louis-Jean Calvet
23. Tradução — história, teorias e métodos, Michael Oustinoff
24. Gramática de bolso do português brasileiro, Marcos Bagno
25. Cinco ensaios sobre humor e análise do discurso, Sírio Possenti