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PORTUGUESES
38 O Sarravulho
39 O Porco na Lata
40 Sardinha Frita
LETOS
46 Buberts
48 Galerts
50 Salda Zupa
HOLANDESES ITALIANOS
AFRO-DESCENDENTES
ALEMÃES
60 Flor do Dendê
96 Comida e Família
64 Cozido
100 Batata Sautée
66 Acarajé
101 O Chucrute da Família Berggren
68 Quindim
102 Cuca de Maçã e Banana
ESPANHÓIS
LIBANESES
70 Família Jiménez – da Espanha ao Brasil
104 Casa de Vó
74 Puchero
106 Tabule
76 Mantecados de Amêndoas e Canela
108 Charutinhos de Folha de Uva
78 Tinto de Verano
110 Malabie
JAPONESES
BELGAS
80 Ishikawa, Perseverança de Vida
112 Família Hereman – Entre a Bélgica
82 Oyako Domburi e o Brasil
84 Anmitsu 114 Coelho com Ameixas
86 Sunomono 116 Bolo Cuffe (ou Cuca)
118 Rijstpap
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comida com pedacinhos de pão. Primeiro Andava pela horta-jardim juntando tudo o nada com a força do olfato e do paladar
batia as claras em neve com dois garfos até que era tempero para seus pratos, fazendo no processo de arquivamento de nossas
um ponto duro que ela exibia virando a misturas que nunca se repetiriam. “Cada lembranças.
vasilha de ponta-cabeça – não podia pingar prato, um prato”, dizia ele.
nadinha. Depois batia as gemas com açúcar Poderia me apresentar aqui como pe-
e juntava tudo. Cada porção trazia a sen- Suas costeletas de porco faziam a festa dagoga, doutora em Educação, pesqui-
sação de saborear nuvens que dançavam dos netos, que identificavam o avô com esse sadora da área da memória, assessora de
em nossa boca. prato. Ele comprava cortes grandes, com os- prefeituras para projetos de formação de
sos enormes. As crianças se sentiam comendo educadores, memórias e comunidades, e
Meu pai, como bom gaúcho que era, me ossos de dinossauros. Uma festa que trazia escritora de livros para todas as idades.
ensinou a reconhecer os cortes da carne e em seu bojo a relação dos coreanos com o Porém, quero trazer junto da minha for-
a assumir, como ele, que a costela na brasa porco, a carne que faz parte de uma cultura mação acadêmica as heranças das quais me
é sempre a rainha de um bom churrasco. gastronômica que se perde no tempo. orgulho muito:
O barulho da gordura pingando no fogo
e criando fagulhas avermelhadas, o cheiro Sempre gostei de cozinhar, de juntar pes- – Herdei, da família coreana, as panelas e
que se desprendia são revividos por mim soas em volta da mesa para longas refeições o belo pote de cerâmica para fazer kimchi,
quando estou em frente ao fogo da chur- recheadas de histórias. Nessa mesma mesa que atravessaram mares.
rasqueira. eu redigia meus trabalhos de faculdade,
sovava a massa do pão, fechava os pastéis, – Herdei o caderno de receitas da nonna
Ele dizia que o radici amargo com cebola escolhia o feijão – de todas as cores –, as Amabile.
era o par perfeito para ajudar na digestão lentilhas, o arroz.
das carnes gordurosas. Me ensinou a colocar – Herdei talheres usados nas primeiras
colheradas de vinho tinto no brodo e a ex- Cozinhava para a grande família e os refeições de meus netos.
perimentar frutas diferentes que trazia de amigos, sempre acreditando que o ato de
alimentar é sagrado, que a cozinha é o – Herdei filhos que cozinham, discutem
suas pescarias. Era um ser curioso e aberto sabores e temperos e guardam bem pro-
a novidades. lugar de alquimias profundas, de terapias,
de produção de conhecimentos que estão tegidas no coração as receitas que dizem
Cresci e me casei com um coreano que presentes nos alimentos oferecidos. quem eles são: ítalo-coreanos!
amava cozinhar. Assim como os italianos, Confesso que, quando tudo fica desa-
os coreanos comemoram tudo à volta da Como pesquisadora da área da memória,
tive oportunidade de estudar os processos fiador, cozinho e escrevo, assim alimento
mesa, em reuniões ruidosas, com muita a vida e perpetuo histórias.
comida, bebida e cantoria. Sua rabada com que ocorrem no cérebro relacionados às
polenta silenciava o almoço, era de suspirar. memórias de vários tipos. Fiquei impressio- Sou Margareth Brandini Park e minha
especialidade é a feijoada.
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A REGIÃO METROPOLITANA DE
CAMPINAS – UM RECORTE
Para não sucumbirmos a tentativas de As cidades que comporão nosso cardápio cafés de bisas e avós, comidas de casamento,
traçar borgeamente este mapa gastronô- foram escolhidas pela pesquisa realizada, batizados, aniversários –, e basta o aroma
mico que transbordaria feito leite de vaca que rastreou os grupos culturais de des- nas narinas para que vozes ressurjam e o
fervido, precisamos de fronteiras que ofere- taque em suas populações. Pretendemos calor das panelas e das pessoas nos envolva.
çam os limites necessários. “Borgeamente” representar grupos vindos de vários lugares
se refere à fábula de Jorge Luis Borges de trazendo seus temperos, mesas e encontros
título “Cartografia e as novas represen- gastronômicos, numa herança valiosa que
tações de tempo e espaço”, publicada no ganhou reinterpretações advindas dos in- “Mas há horas em que você precisa dar
livro História universal da infâmia (1935). gredientes locais encontrados. uma mordida em algo quente ou em uma
Nela, o escritor aborda a arte da cartografia fatia de alguma coisa doce, só para sentir
detalhada dos mapas e seus desafios. Escovando a contrapelo, nos dizeres de que o mundo é um lugar mais confortável.”
Walter Benjamin, procuramos fugir de ob-
Nigella Lawson, chef inglesa
Aqui, as comidas de nossa gente situam- viedades, já que muitas vezes uma cidade
-se na Região Metropolitana de Campinas. elege suas marcas, deixando à margem
Composta por vinte municípios e fundada outros grupos de grande relevância, por
em 19 de junho de 2000, é a segunda maior diversos motivos. Esse trabalho foi muito
do estado de São Paulo. Em torno de 3 gratificante, pois jogou luz em participa-
milhões de habitantes formam essa região ções identitárias que se acostumaram a
metropolitana. ficar na penumbra. O fogo da cozinha as
iluminou, e vamos trazê-las em seus co-
Ajustando o traçado de nosso mapa/ tidianos repletos de heranças fortes que
cardápio, escolhemos dez das cidades que ressurgem quando determinados aromas
compõem a referida região, com seus gru- se apresentam. O ambiente mágico das
pos étnicos representativos. São, respecti- cozinhas, alquímico, de transformações
vamente, Campinas – portugueses, Nova que persistem nas memórias e nos cadernos
Odessa – letos, Holambra – holandeses, amarelados e marcados pelo manuseio de
Hortolândia – afrodescendentes, Artur No- suas receitas.
gueira – espanhóis, Valinhos – japoneses,
Vinhedo – italianos, Americana – alemães, A comida nos salva. Nas receitinhas de
Jaguariúna – libaneses, Engenheiro Coelho bisas, nonnas, mães, depositamos confian-
– belgas. ça para nossas curas. Ela nos salva quando
a cada porção degustada traz de volta o
Do final do século XVIII ao começo do lugar a que demos adeus e as pessoas que
século XX, o café e a cana-de-açúcar foram estavam à mesa e não mais estão.
as atividades econômicas de maior impor-
tância na região. Na década de 1930, o A comida está presente em inúmeros
comércio e a indústria assumiram maior rituais familiares – almoços domingueiros,
destaque.
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A FOME
Muitos povos que abandonam seu lugar de origem
o fazem pelas agruras impostas por guerras, catástrofes
climáticas, conflitos que levam a fome para dentro
de seu lar.
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A SACIEDADE – A SUA E A introdução da cultura da uva em Vi-
nhedo, após o declínio da produção cafeei-
di Mutuo Soccorso Regina Margherita, que
fornecia assistência médica e ajudava os
A DOS QUE VIVEM EM ra e a presença dos italianos que vieram
para substituir a mão de obra escrava, foi
imigrantes desempregados.
SEU ENTORNO caracterizando uma cidade com identidade A escolha da pera ao vinho, pelos Gob-
bato, valorizando a fruta e o vinho em sua
marcada por italianidades. Com a importân-
Os italianos representando a cidade de Vinhedo; cia da uva, desenvolveu-se uma economia composição, dialoga perfeitamente com o
os holandeses, Holambra; os libaneses, Jaguariúna; os local que explora a fruta e seus produtos – histórico da região que escolheram para
japoneses, Valinhos; e os afrodescendentes, Hortolân- vinhos, vinagres e doces. Podemos afirmar montar seu restaurante, o Macarronada
dia; todos trazem em comum o fato de assumirem que ela foi responsável por mudar o status Italiana, casa que alimentou e alegrou
suas heranças gastronômicas como subsistência por da pequena cidade conhecida como para- por décadas a população local, os turistas,
meio de empreendimentos comerciais que perpetuam gem de viajantes para um lugar próspero. os funcionários de empresas locais e os
as mesas e os fogões de suas famílias. habitués que frequentavam seus bailes
A Festa da Uva existe desde 1948 em de sábado, sempre com música ao vivo.
Vinhedo e movimenta o turismo local. A
cidade faz parte do Circuito das Frutas do Como bem diz Debora Cravo Domin-
ITALIANOS estado de São Paulo. Seu Índice de Desen-
volvimento Humano (IDH) é um dos mais
gues Freitas, nutricionista do Sesc: “Comer
é algo corriqueiro, mas tem um potencial
Quando os Gobbato deixaram Varano altos do país. enorme para deixar as melhores lembran-
Borghi, província de Varese, na Lombardia, ças. E os sentimentos que acompanharam
rumo ao Brasil, certamente não imagina- Na década de 1990, várias empresas essas recordações? São sempre carregados
vam quantas famílias se alimentariam e instalaram-se na cidade, pois os custos de de muito amor e carinho”.
comemorariam nos domingos com suas municípios como Jundiaí e Campinas tor-
naram-se muito proibitivos. E você, caro leitor, não concorda que
massas e seus ragus à bolonhesa. Começa-
uma marca de carinho forte é caprichar
ram partilhando com amigos mais próximos
Os imigrantes italianos chegaram a Vi- num ragu picado a faca para o molho
e, décadas depois, conseguiram uma legião
nhedo em 1880. Eles vieram, em sua maioria, da pasta? Aqui encontrará a receita da
deles, que honram o espírito italiano nos
de Nápoles, Trieste, Veneza e Pádua. Como família Gobbato para se lambuzar praze-
alegres e barulhentos almoços.
em vários lugares, assim que chegavam rosamente em um almoço domingueiro
fundavam sociedades para proteger seu regado com bom vinho e belas canções!
povo. Em 1902 fundaram a Società Italiana Buon appetito!
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Marilza Link Gobbato (D. Zita)
Moinho Povos Unidos, em Holambra.
HOLANDESES
Joana Weel nos conta que a culinária
holandesa era bastante simples pela baixa
diversidade de ingredientes. Havia muita
praticidade nas receitas executadas muitas
vezes em uma única panela. Entre elas, as
sopas, sempre presentes, fizesse frio ou
calor. Suas receitas foram recuperadas em
cadernos antigos e memórias familiares e
hoje são comercializadas em Holambra.
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Joana Weel
Maria-fumaça que faz o passeio Jaguariúna/Campinas, em Jaguariúna.
LIBANESES
Miled Salomão Hossri chegou ao Brasil
no final do século XIX, vindo da região do
Vale do Bekaa, no Líbano. Cecília Nader
Hossri, vinda de Beirute, chegou no início
do século XX. Casaram-se e escolheram a
cidade de Jaguariúna para viver. O armazém
de secos e molhados garantia o sustento
e provavelmente trazia grande prazer à
vovó Cecília, que transitava entre gêneros
alimentícios e temperos, em um universo
alquímico que antecede o calor dos fogões.
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Márcia Josele Hossri Faria Coelho
JAPONESES
Quando Oscar Isao Sassaki e Masao Ishi- O que antes foi preconceito – o peixe Como não se confortar com um missô
zaki vieram para o Brasil, o destino comum cru, o arroz sem sal, as conservas – acabou quentinho, com uma tigela de arroz fume-
de ambos foi a agricultura. O primeiro nas assumindo o status de cozinha saudável gante em um dia frio? O leitor poderá ainda
lavouras de café, o segundo nas plantações e saborosa. juntar às sugestões oferecidas o delicioso
de arroz, tomate e outros legumes. Poste- pepino japonês (sunomono), cuja receita
riormente, o senhor Sassaki adquiriu uma A família, cujo sobrenome da mãe, Ka- encontrará nestas páginas.
propriedade em Valinhos, onde cultivava wasumi, significa “perseverança”, incorpora
tomate, uva e figo. O senhor Masao trilhou o conceito e investe em formação ampla A expressão itadakimasu significa gra-
seu caminho na “arte milenar da cozinha para todos os seus membros. Em Valinhos, tidão a todos aqueles que permitiram que
oriental”, nos dizeres de seus descendentes. onde se estabeleceram, oferecem, além de a refeição fosse servida. Desde aquele que
Duas famílias que se unem em um histórico suas saborosas comidas, a partilha de uma plantou, colheu, preparou até a generosida-
iniciado na relação com a terra e que se des- cultura, pela qual as pessoas de nosso país de da natureza. Uma expressão compatível
dobra na transformação de seus produtos, manifestam grande admiração. com a história de ambas as famílias aqui
com técnicas culinárias que, após décadas descritas.
de desempenho, seduziriam a população
brasileira.
Estação da Cia. Paulista de Estrada de Ferro – Museu e Acervo Municipal “Fotógrafo Haroldo Ângelo Pazinatto”, em Valinhos.
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Masao Ishizaki
AFRO-DESCENDENTES
Doné Eleonora, afrodescendente de et- para o espaço gourmet que criou, migram compõem os tabuleiros de nossas baianas.
nia desconhecida – marca de tantos que alimentos que reverenciam as entidades de Talvez o que o leitor desconheça é que
foram trazidos do continente africano –, uma religião de matriz africana. o acará, ou bola de fogo, é uma comida
filha de cozinheira baiana, trará para nos- ritual oferecida a Oyá (Iansã). A receita,
sas páginas as comidas rituais de sua gente, Relatando a história familiar e sua luta uma das trazidas por mãe Eleonora, de-
que celebra e partilha uma cosmogonia para o fortalecimento e reconhecimento safiará o leitor a executá-la para festar
rica, que sofreu e sofre várias tentativas de do patrimônio gastronômico do qual é her- à mesa com a alegria típica da cultura
apagamento e luta para sobreviver diante deira, conta-nos que o ofício de baiana do trazida por seus ancestrais.
de preconceitos. acarajé consta no Livro de Registro dos Sa-
beres como Patrimônio Cultural Brasileiro.
Sua ancestralidade africana vem da bi- O acarajé, degustado com ou sem pimenta,
savó materna, e ela lamenta não ter mais com ou sem saladinha de coentro, é sabo-
informações sobre uma parte tão importan- reado com prazer pelos brasileiros, que
te de sua história. Da cozinha de terreiro reconhecem há muito tempo as delícias que
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Eleonora Aparecida Alves de Souza Domingos – Doné Eleonora
SALGADO – DOCE ALEMÃES
Os capítulos agrupados neste subtítulo retratam O patriarca da família Berggren, Jorge A menina cresceu e, junto do marido,
as histórias de imigração de alemães, espanhóis, Frederico Gustavo Berggren, veio de Bonn, com muita dedicação e trabalho, fundou
letos e portugueses. Suas narrativas permitem um Alemanha, em 1867. E a matriarca, Emília a Gráfica Adonis, que, com a editora de
mergulho em eventos que ocorrem por ocasião dos Hulda Opelt, de Hamburgo, Alemanha, mesmo nome, espalha belos livros por nosso
inúmeros desafios colocados para aqueles que dei- em 1868. Por ocasião da Primeira Guerra país, livros esses que trazem histórias de
xam para trás sua casa, seus amigos, sua cultura, Mundial, Jorge teve muito medo de ser vários continentes. Seus personagens trans-
seus grupos religiosos, sua terra, o clima de seu expatriado por sua origem, pois não era mitem a diversidade de línguas, costumes,
país, seus costumes alimentares e idioma. naturalizado brasileiro. O acolhimento de valores e crenças.
patrícios da Villa Americana apaziguou seus
Quando se deparam com um novo lugar, preci- Suas memórias culinárias trazem o chu-
sam se adaptar à língua desconhecida, desafiadora, medos e fortaleceu suas raízes na cidade.
crute da família e a cuca, que ganha sabor
ao clima incompreendido, aos alimentos que desa-
Marilene Berggren Comelato reaviva com a inclusão da banana, farta em nosso
fiam o paladar. São tantos os desafios que inúme-
suas memórias em nossas páginas. Cami- país. A maçã da receita original recebe a
ras vezes – incontáveis – salgadas lágrimas serão
nha novamente por sua infância com o nova fruta, resultando no doce que traz as
constantes nesses dias cinzentos.
sentimento da criança que brincava com nacionalidades forjadoras da nova identi-
Com o tempo, a solidariedade de outros imi- vizinhas na rua e conta seu desconforto dade.
grantes, o clima mais ameno e a variedade de ali- por não poder frequentar o catecismo com
mentos aliam-se à determinação férrea dos grupos suas amigas, pois era filha de protestan- Fica aqui o convite para nosso leitor/
que constituem família, prosperam, educam seus tes luteranos. Como sabemos, a Primeira leitora assar uma saborosa cuca, fazer um
filhos e contam suas agruras vividas nas mesas de Comunhão costuma ser um ritual muito chá e encontrar um belo livro para acom-
domingo para forjar o caráter de sua prole. O doce importante para as famílias católicas: o panhar esse momento.
sabor da superação passará a habitar suas mesas. catecismo, o preparo das roupas, as fotogra-
fias que ficavam guardadas nos pequenos
acervos dos menos abastados. O desejo de
pertencimento dava pontadas na pequena
Marilene.
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Marilene Berggren Comelato
ESPANHÓIS
Juan Jimenez, cuja família é originária
da cidade de San Juan de Aznalfarache, na
Espanha, nos traz as memórias do ruído das
castanholas, do solado dos sapateados fla-
mencos, da sedução de cidades com histórias
riquíssimas, pelas quais passaram muitos
povos que deixaram suas marcas arquite-
tônicas, intelectuais e gastronômicas. Sua
família vivia em Cádiz, no sul da Espanha, um
lugar banhado pelo Oceano Atlântico, com
um porto de grande importância comercial.
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Juan Carlos Teixeira Jimenez
Jardim Botânico Plantarum, em Nova Odessa.
LETOS
Nansi Arais Wodewotzky recupera em
seu texto importantes características da
Letônia, ou Latvija na língua leta. Como
descendente dessa cultura, carrega várias
marcas próprias do grupo de origem, tal
como a grande afinidade com a música.
Participa de corais e é regente oficial do
coral da cidade de Nova Odessa.
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Nansi Arais Wodewotzky
PORTUGUESES • o da imigração maciça, entre 1877 e
1904;
Se pudesse, o que diria Dona Nazareth
hoje sobre o neto que cura pessoas, um
Dizia Gaspar Dias, no século XVIII: “Por- doutor, título tão almejado por aqueles que
• o da crise da grande imigração, impac- aportaram por aqui vindo de longínquas
tugal não tem outra região fértil mais pró-
tada pelos efeitos da Primeira Guerra terras? Imagine você, leitor/leitora, Dona
xima nem mais frequentada, bem como
Mundial (1914-1918). Nazareth saber que, além de curar, seu neto
não encontraram seus vassalos melhor e
mais seguro refúgio do que no Brasil. O é escritor de vários livros para adultos e
Os preconceitos, especificamente contra crianças. Provavelmente ela diria: “Vamos
português atingido por qualquer infortúnio os portugueses, cresceram muito com a
para lá emigra”. para a mesa, onde o sarravulho, o porco
República Velha (século XX), em razão de na lata e a sardinha frita nos esperam. E
um trabalho difamatório que criou estereó- vamos saborear essas gostosuras ouvindo
As estatísticas de 1855 demonstravam
tipos negativos que perduraram em alguns Amália Rodrigues cantar o fado ‘Coimbra’
que havia 625 colonos portugueses distri-
aspectos até a presente data. Não raras para aprendermos a dizer saudade!”.
buídos pelas quinze colônias de estrangei-
são as piadas os considerando ignorantes
ros existentes nas fazendas paulistas, sendo
e o desrespeito com o sotaque da língua
em Campinas assim distribuídos: Colônia
de origem.
das Dões – 37; Fazenda Antônio Rodrigues “Coimbra é uma lição
Barbosa – 22. Sessenta e cinco anos depois, Nazareth Correa Barreto, avó de Gilson de sonho e tradição
em 1920, tínhamos na cidade de Campinas Barreto, o autor do capítulo sobre as belas
4.267 portugueses declarados. Setenta e heranças portuguesas, foi uma portuguesa o lente é uma canção
nove anos depois, 10% de brasileiros de- aguerrida que trabalhou arduamente para e a Lua, a faculdade.”
claravam ter ancestralidade portuguesa. criar sua família. Perdeu cinco de seus sete
filhos de um mal comum naquela época, o
Em Campinas, a imigração portuguesa
tétano, contraído durante o parto. Falava Que tal acompanhá-los a uma mesa lusi-
apresentou três períodos distintos, segun-
com o sotaque típico de sua origem e, por tana reproduzindo as receitas trazidas por
do pesquisa do professor Paulo Eduardo
isso, era motivo de zombaria das crianças Gilson Barreto? Aqui fica o convite.
Teixeira:
da vizinhança.
• o pré-imigratório, ocorrido de 1822 a
1876, época em que fundaram a Socie-
dade Portuguesa de Beneficência, com o
intuito de oferecer atendimento médico
ao grupo;
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Gilson Barreto
SABOR UMAMI BELGAS
Umami é o nome do que seria considerado o quinto Evandro, descendente dos Hereman, nos Bélgica. Eles também produziam laranjas,
sabor básico – os outros quatro são amargo, doce, azedo conta, entre outras memórias, a incrível que eram exportadas para a Bélgica e a
e salgado. Esse conceito foi cunhado pelo pesquisador história do sucesso comercial da família Holanda.
japonês Kikunae Ikeda em 1908. A palavra, de origem que chegou ao Brasil em 1887. Junto com
japonesa, significa “gosto saboroso e agradável”. Nosso o patriarca, Joannes Franciscus Hereman, e No coração do imigrante que observava
paladar reconhece o sabor umami quando ingerimos sua esposa, Matilde de Mol, vieram os 21 fi- o navio no porto sempre esteve presente
alimentos que contêm aminoácidos e nucleotídeos. lhos de seu primeiro e segundo casamentos. o desejo da conquista do desconhecido,
Esse capital humano significativo chegou do reconhecimento, do enriquecimento
Tal como o umami, é sabor raro da família imi- para investir nas terras virgens recebidas e da volta ao local de origem como o via-
grante experimentar o privilégio de retornar ao lugar do governo para a agricultura. jante vitorioso de tempos imemoriais – o
de origem depois de uma vida exitosa no país para o conquistador de patrimônios. Os Hereman
qual emigrou. É essa a história dos Hereman. Em 1910, a Fazenda Guaiquica já tinha realizaram esse feito, por isso a alusão ao
420 alqueires, com cinco colônias: Colônia termo umami – agradável e saboroso gosto.
da Sede, da Olaria, do Meio, da Fábrica de
Farinha e da Guaiquica. Elas teriam origina- Embora hoje a cidade de Engenheiro
do o núcleo urbano de Engenheiro Coelho. Coelho conte com grandes e médias indús-
trias, a economia do município centra-se
Pedro Hereman, filho de Joannes, con- na agricultura.
seguiu alterar o traçado da ferrovia ramal
da Funilense Sorocabana para que passas- Evandro viaja às origens históricas e ras-
se pelo interior da fazenda com o intuito treia com membros da família do Brasil e
de escoar sua produção rumo ao porto e da Bélgica as memórias gastronômicas que
posteriormente à Bélgica. caracterizam sua cultura. Do clássico coe-
lho com ameixas ao pudim de arroz belga,
A família, com seus membros divididos acompanharemos os momentos desse via-
entre Brasil e Bélgica, plantava e colhia no jante atento, que sente prazer em partilhar
Brasil, e fazia a torrefação e comercializa- sua história e a mesa de seus ancestrais.
ção de seu café – o Estrella Brazileira – via
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Evandro Luís Francischetti
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O SARRAVULHO, O Nazareth Correa Barreto nasceu em 12
de junho de 1907, filha de imigrantes por-
Dizia-se: “A criança não vingou…”.
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O SARRAVULHO
O sangue coletado do porco, que escorria pela faca-
da no pescoço e gotejava numa panela. Esta ia ao fogo
e ali eram depositados os miúdos. O fígado do porco
era picado em pedaços bem pequenos, e tudo o mais
que se pudesse aproveitar. Batatas eram acrescentadas,
também picadas em pedaços pequenos, e uma série de
especiarias: folhas de louro, cebolas, dentes de alho,
sal. Sempre numa medida mágica, que se fazia pelos
dedos da Dona Nazareth. Por último, tomate picado.
E o resto do porco?
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O PORCO NA LATA
A barrigada gorda e branca era deposi- uma colher para ser utilizada como óleo, Aqui, deixamos relatado um pouco da
tada numa lata de 20 litros e ia direto para temperar um arroz, um feijão ou mesmo personalidade forte e imperativa dessa por-
o fogo. Ali, lentamente era derretida. Os fazer um pão (Ah!!! Que saudades desse tuguesa que, mesmo com suas atitudes,
restos dentro da lata, couro do porco e um pão de banha!). por vezes entendidas como injustas, tinha
pouco de carne era retirada quase escura dentro do peito um coração enorme e sabia
e colocada sobre uma madeira, como um O momento mais esperado era quando levar a vida, o lar, o árduo trabalho com
aperitivo. emergia, entre a brancura da banha na respeito e dignidade de uma verdadeira
lata, uma ponta rosada de carne do porco, heroína.
Já os grandes pedaços de carne, como o como um generoso e verdadeiro iceberg
pernil e o lombo, eram cortados em pedaços de carne em meio à banha. Surgia então Quando finalmente a decisão era to-
generosos e depositados dentro da lata um grande dilema: quanto tempo a Dona mada e a carne saía da lata, era possível
com a banha derretida do porco, já fora do Nazareth levaria para estar convencida a ouvir um ruído que o arrancar da carne
alcance do fogo. Aos poucos esses pedaços remover aquele generoso tolete de carne fazia, difícil de descrever e mais ainda de
iam desaparecendo ali dentro, enquanto o das profundezas da lata? esquecer.
nível da banha alcançava a borda da lata.
Aos poucos a banha ia esfriando e uma cor Parecia uma eternidade o passar da O preparo era sempre da mesma ma-
branca brilhante terminava de selar a lata semana, porque havia a certeza do pernil neira: a carne do porco era frita na própria
e esconder toda a carne. no domingo. O pior acontecia quando o banha, e o sal, depositado depois sobre os
fim de semana era pulado e a imaginação pedaços.
A lata ficava num canto da cozinha com do sabor era deixada para o próximo. O
uma tampa improvisada de madeira. Não poder era da Dona Nazareth e não havia E assim a vida seguia, até todo o porco
se mexia nela por nada. De quando em vez discussão: ela era a guardiã da lata, au- ser consumido e todo o processo ser reco-
a banha era delicadamente removida com toridade máxima para tomar a decisão. meçado.
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SARDINHA FRITA
Modo de preparo
O marido da Dona Nazareth era o
senhor Sebastião de Moraes Barreto,
de origem portuguesa igualmente.
Seu maior orgulho era ser primo do
famoso Dom Barreto, bispo da cidade
de Campinas de 1920 a 1941. Dom
Francisco de Campos Barreto nasceu
em Sousas, em 28 de março de 1877, e
faleceu em Campinas, em 22 de agosto
de 1941.
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LATVIJA, OU LETÔNIA Latvija, em sua topografia, acolhe rios,
lagos, colinas e planícies, vales com pasta-
répteis, aves, mamíferos (esquilos, ursos,
lontras etc.).
PARA OS BRASILEIROS gens naturais, campos cultivados e lindas
florestas com exuberantes pinheirais. Seu É o maior dos três países bálticos, com
Por Nansi Arais Wodewotzky clima é influenciado pelo Mar Báltico e 66 mil km², tendo ao norte a Estônia, ao
pelas correntes quentes do Atlântico. Com leste a Rússia, a sudeste a Polônia, ao sul a
essas características climáticas e topográ- Lituânia e a oeste o Mar Báltico.
“Quem cuida para ter um viver sadio
terá dias de saúde e felicidade.” ficas, a flora e a fauna desabrocham ao
natural pelas florestas, campos, vales, beira Sua capital, Riga, tem lindos templos,
de estradas e de rios com variadas espécies com arquitetura belíssima, e é cortada pelo
Nansi Arais Wodewotzky
de flores, musgos, cogumelos comestíveis; famoso Rio Daugava, cujas águas transpor-
frutas como morangos, amoras, mirtilos taram âmbar e peles e ainda hoje recebem
e outros. navios turísticos. Sua língua é autêntica,
sem ter derivação eslava ou germânica.
Também em sua flora encontramos car-
valhos e nogueiras, dos quais é retirada a Seu folclore consiste em danças e canti-
seiva utilizada na fabricação de bebidas. gas com poesias que exaltam a natureza e
São cultivadas macieiras, ameixeiras, cere- suas belezas, como flores e rios. A juventu-
jeiras, pereiras. Nas florestas encontramos de, o amor, o romance, o amor à pátria e ao
o pinho-de-riga, famoso mundialmente trabalho, nunca se esquecendo da bravura
pela grande concentração de resina, que dos guerreiros que defenderam a pátria
o torna resistente durante séculos. Em sua amada, e a reverência a Deus também são
fauna existem espécies diversas de peixes, enfoques preciosos para seu povo.
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O povo leto é um povo musical por (1689) também foi feita a tradução da Bíblia
natureza, sempre organizando orques- para a língua leta, e cada escola deveria ter
tras e corais tanto seculares como sacros. um exemplar do livro sagrado para estudos
e leituras diárias. Infelizmente, o ensino
O povo sofria opressão, mas a músi- religioso foi banido das escolas em 1940.
ca acalmava as ansiedades. O primeiro Professores e alunos que não concordassem
festival de música aconteceu em 1873, com as mudanças eram mortos ou depor-
quando foi entoado pela primeira vez tados para a Sibéria, onde eram torturados
o desejo de uma nação pela liberdade: até a morte. Houve um despertar religioso
“Dievs Sveti Latviju” (Deus, abençoe a no qual muitos acreditaram num Deus que
Letônia). tudo encaminha e faz acontecer.
Como a maioria da população era de Vários grupos de letos vieram para o Bra-
agricultores, todos estavam em constante sil. Em 1906 foi fundada a Colônia Leta em
contato com a natureza e acreditavam Nova Odessa. Em 1922 chegou o maior gru-
em sua força, adorando o “deus da na- po de letos ao Brasil: mais especificamente,
tureza”, o “deus Sol”, o “deus Trovão”. 2 mil pessoas vieram para o estado de São
Paulo, sendo encaminhadas para Varpa,
Em 1629-1721 houve um avivamento distrito de Tupã. Assim foi com meus avós,
religioso, período de dominação sue- tanto maternos como paternos, trazendo
ca, quando muitos ficaram satisfeitos e meu pai, com 11 anos, e minha mãe, com
apoiaram normas e leis criadas quanto 2 anos, além de tios e primos.
à disciplina nas escolas. Nesse período
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Na bagagem vinha um pouco de tudo, Outros grupos foram para Ijuí (RS) e Rio eventos tanto no Brasil como na Latvija,
incluindo roupas nada apropriadas para Novo (SC). no grande festival que acontece a cada
nosso clima, pois os letos saíram de um cinco anos. O último foi em 2018.
país onde a temperatura por vezes chega O povo leto é um povo feliz e alegre,
a 50 graus negativos. Desceram no Porto apesar do sofrimento pelo qual passaram; Na culinária destacam-se peixes prepa-
de Santos, depois embarcaram no trem povo que ama cantar e bailar, por isso na rados frescos, em conserva ou defumados,
maria-fumaça e viajaram por horas até Latvija existem centenas de corais e grupos aves, carne suína, queijos, vários tipos de
chegarem a uma das regiões mais quentes de danças que participam assiduamente de cogumelo que crescem nas florestas e fru-
do estado, na cidade de Sapezal. A ansie- festivais como Dziesmu Svetki (Festa da Can- tas como morango, framboesa e mirtilo.
dade para a chegada era grande, porém ção) e Deju Svetki (Festa da Dança).
a maioria do grupo não sabia que ainda Com a chegada à nova terra, os letos
teria uma longa jornada a pé de mais ou Abrilhantando as danças e cantigas, são tiveram muitas dificuldades tanto na ali-
menos 40 quilômetros pela mata virgem. tocados alguns instrumentos, como stabule mentação como na adaptação climática,
Foi um longo caminho repleto de desafios. (flauta), taure (buzina), dukas (gaita de foles) vivenciando momentos de extrema tris-
Nesse grupo vieram exímios musicistas, e kokle (harpa), feitos de cascas de árvores, teza, pois muitos morreram por desnu-
tanto tocando como também cantando, chifres de boi e couro. Os ambientes para trição ou desidratação (não sabiam que
trazendo na bagagem instrumentos mu- as festas eram perfumados com ervas me- precisavam tomar muita água por causa
sicais e livros, pois, além do gosto pela dicinais, e todos os locais eram enfeitados do calor).
música, valorizavam muito a leitura – a com flores.
Minha avó materna, Alvina, caminhava
maioria das famílias tinha uma pequena No Brasil também temos o Latviesu Bra- até 33 quilômetros para comprar meia
biblioteca de mais ou menos cem livros. silijas Koris (Coral Leto Brasileiro) e o Grupo dúzia de ovos para complementar a ali-
de Danças Staburaks, os quais participam de mentação. Assim, com todas essas dificul-
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dades, aprenderam a valorizar tudo o que pas zupa (sopa de pedacinhos). Num prato
era comestível. Minha mamãe, Anna, fazia colocavam farinha de trigo, uma pitada de
um alimento com sustância que aprendeu sal e um pouquinho de açúcar. Aos pou-
com a vovó Alvina, a skaba putra (sopa cos colocavam um pouco de água e iam
azeda). Ela cozinhava arroz ou milho moí- mexendo com os dedos, até formar uma
do (tipo canjiquinha) com bastante água, farofa toda desigualada. Ferviam o leite
acrescentava coalhada, um pouco de açú- com um pouco de açúcar e iam salpicando
car e um pouco de sal. Depois de uns dias os pedacinhos dentro do leite, deixando
ficava azedinha e servia para matar a sede ferver para não ficar cru. Pode-se comer
e a fome. quente ou frio.
Meu pai, Karlis Arais (Carlos Arais), e mi- Das frutas aprenderam a fazer geleias,
nha mãe, Anna Kleinchmidt, casaram-se em compotas e a famosa sopa doce de frutas,
1939. Ganharam de presente dos patrões, a salda zupa.
Sr. Eduardo e Sra. Emília Kreplin Karklis,
quatro porcas prenhas, iniciando assim uma Depois de viajarmos através da histó-
nova etapa na vida. Nos anos 1960/1970, ria, vamos cativar o paladar com algumas
meus pais foram considerados os maiores guloseimas.
pecuaristas na região de Campinas, com
mais de 2 mil cabeças de porcos, além do
gado. Com o leite faziam nata, manteiga,
coalhada e também a sopa chamada klim- Assista ao vídeo
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BUBERTS
Ingredientes
1 litro de leite
3 ovos
1 xícara de açúcar
3 colheres (sopa) de farinha de trigo
1 pitada de sal
1 colher (chá) de essência de baunilha
Compota de sua preferência
Modo de preparo
Separe as gemas das claras. Bata as gemas,
o açúcar, a farinha de trigo e o sal.
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Modo de preparo
GALERTS
Ingredientes
Miúdos como cabeça de porco, Coloque os ingredientes na panela de
pés, língua, rabo, coração (bem pressão, acrescentando cebola, alho, salsi-
limpos) nha, manjericão, um pouquinho de pimen-
ta, água até cobrir os ingredientes e meia
colher (sobremesa) de sal.
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Ingredientes Modo de preparo
SALDA ZUPA
1 copo de açúcar Numa panela coloque o açúcar e, quando
começar a dourar, junte o abacaxi, sem o
3 cravos-da-índia miolo, descascado e picado, deixe borbulhar
um pouco, coloque o cravo e a canela, junte
1 pedacinho de canela
água e deixe ferver. Enquanto isso vá pre-
1 abacaxi parando as goiabas: tire todas as sementes,
coloque-as no liquidificador, junte água e
1 goiaba bata. Pegue uma peneira e coe, descartan-
do as sementes. Junte o suco na panela e
2 mangas
também a fruta picada.
2 peras
Descasque as mangas, pique e junte na
100 g de uva-passa preta panela, assim também as peras. Adicione as
uvas-passas e as ameixas. Acrescente água
100 g de uva-passa branca para ter caldo, mais as maçãs e os pêssegos
picados.
200 g de ameixa seca sem caroço
Deixe cozinhar, prove o sabor e, por últi-
2 maçãs
mo, junte as bananas em pedacinhos. Espere
4 pêssegos levantar fervura e desligue.
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CALOR OU FRIO, Minha família veio para o Brasil emi-
grando da Holanda sofrida pela Segunda
disciplina, e hoje nossa cidade, Holambra,
tem um dos melhores IDHs do estado.
SOPA... Guerra Mundial. Naqueles tempos não ha-
via internet ou outras fontes de informação Foram se adaptando aos poucos, mas
Por Joana Weel que explicassem o que eles iriam encontrar na fala ainda existe o sotaque marcante;
neste país tropical. Da parte de minha mãe, nas interações sociais, um forte senso de
Anthonia Josephia Hendrika Swart Weel, cooperativismo; e, como não poderia deixar
“Coma e cozinhe pratos simples no dia de ser, na culinária, uma forte influência
a dia. E, quando houver um manjar, vieram meus avós e seus onze filhos. Meu
pai, Petrus Bartholomeus Weel, foi um pou- na alimentação do dia a dia.
que tudo seja uma festa. A existência
não suporta banquetes cotidianos.” co mais aventureiro e veio tentar a vida
neste país exótico sozinho. Aqui encontraram diversos ingredien-
tes que nunca tinham visto antes. Achar
héctor abad
Naqueles tempos, o Brasil ofereceu ter- matéria-prima para elaborar os pratos que
ras para imigrantes europeus, e algumas já conheciam era difícil. Com o tempo e o
levas de holandeses vieram para diferentes alcance do progresso, a vida foi se estabili-
localidades, em sua grande maioria agri- zando e a forte vontade de comer um prato
cultores, como meus ancestrais. Chegaram com gosto de infância e que lembrasse a
aqui e encontraram inúmeras dificulda- terra natal fizeram com que receitas tradi-
des, tais como a língua, o clima e a cultu- cionais voltassem ao cotidiano, ainda que
ra. Foram tempos difíceis de adaptação, com adaptações.
mas, como está no sangue dos holandeses,
enfrentaram com trabalho duro e muita A Holanda, um país frio e com baixa
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diversidade de ingredientes, gerou uma e da conscientização alimentar, em nossa O café com leite nos intervalos da manhã e
culinária muito simples. As grandes famílias casa foi inserida também uma alimentação da tarde eram obrigatórios e momentos de
influenciaram na praticidade e elaboração mais saudável e equilibrada, prezando pelo descontração, união e bate-papo, sempre
de receitas completas realizadas em uma orgânico, local, integral e feito artesanal- acompanhados de uma bolacha, torta ou
panela só. Sopas, batata, legumes e carne mente (não industrializado). ontbijtkoek. Já aos fins de semana tínhamos
são a base das principais refeições. Pães, normalmente uma macarronada aos sába-
compotas, geleias e queijos são muito co- Lembro-me desde pequena do meu in- dos, e aos domingos não podia faltar uma
muns. Na confeitaria existe um pouco mais teresse em ajudar minha mãe nos afazeres sopa. Não importa o quão quente o clima
de sofisticação, com deliciosos doces e tor- da casa. Todos os filhos eram estimulados a estivesse, a sopa estava sempre presente
tas com base de manteiga, açúcar e farinha. auxiliar nas tarefas tanto de dentro quanto – isso aos olhares estranhos de brasileiros
do jardim. Cortar a grama, lavar o carro, convidados para o almoço. Em datas come-
Cada família trouxe e manteve receitas limpar a casa e lavar roupas eram parte do morativas como aniversários, Dia das Mães
diferentes para seus lares e houve adap- cotidiano e dever comum. Mas eu gostava ou dos Pais tínhamos como prato especial
tações diversas com a culinária local e a mesmo era de estar na cozinha ajudando frango assado inteiro acompanhado de bata-
de outros países. Nada mais comum nes- a preparar as refeições. Durante a semana tas fritas (com maionese, sim, isso mesmo!!!)
tes tempos de globalização. Arroz e fei- eram feitos pratos como arroz e feijão, ba- e purê de maçãs. Para nós, esses eram os
jão entraram no cardápio, além de frutas, tata cozida ou em purê, legumes refogados, dias mais saborosos, e até hoje mantemos
saladas e comidas de outras localidades, saladas e uma carne para acompanhar. Para essa tradição.
principalmente da Itália, que tem uma forte o café da manhã tínhamos pão integral
colonização em nossa região, inserindo (muito tradicional na Holanda) com man- As refeições eram feitas com a família
massas como lasanha, macarrão, pizza etc. teiga, queijo, geleia e, nos fins de semana, inteira, sendo rezado antes um pai-nosso ou
Com o aumento do acesso à informação até chocolate granulado, outra tradição. ave-maria em holandês. Caso alguém não
chegasse a tempo, tínhamos um fogareiro
antigo a querosene para manter a comida
bem quentinha.
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Modo de preparo
ERWTENSOEP
Ingredientes
500 g de ervilha seca Deixe a ervilha de molho por pelo menos
12 horas e em seguida lave-a bem. Cozinhe
2,5 litros de água com a água, a bisteca e a costela. Quando
as carnes estiverem bem macias, tire-as da
100 g de cenoura sopa para serem desfiadas e soltas dos ossos
e reserve. Quando a ervilha estiver bem
1 alho-poró
macia, bata com um mixer. Então adicione a
2 cebolas médias cenoura e o alho-poró cortados em rodelas
e a cebola picada. Sempre mexa bem, pois
100 g de bisteca nesse ponto a ervilha gruda no fundo da
panela. Quando a cenoura estiver cozida,
100 g de costela suína adicione a bisteca e a costelinha desfiadas,
50 g de bacon em cubos além do bacon e da linguiça previamente
fritos em uma panela separada. Adicione sal
50 g de linguiça calabresa em e pimenta-do-reino a gosto. Se necessário,
rodelas adicione mais água, já que a ervilha tende
a engrossar bem.
Sal
Um momento que aprecio muito, assim
Pimenta-do-reino como a maioria dos holandeses, é a pausa
do café com leite. Na casa de minha mãe
nunca pôde faltar o ontbijtkoek, que na
tradução seria um bolo de especiarias. Ele é
feito no formato de um bolo inglês, cortado
em fatias e lambuzado com manteiga. A
mistura de mel, cacau e especiarias combina
perfeitamente com o café com leite, em
geral tomado sem açúcar.
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ONTBIJTKOEK
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Modo de preparo
STAMPPOT
Ingredientes
500 g de batata Corte em cubos grandes as batatas, as
cenouras e as cebolas. Coloque tudo em
400 g de cenoura uma panela com água até cobrir os ingre-
dientes e cozinhe até estarem macios. Dre-
150 g de cebola
ne, guardando a água de lado. Adicione a
80 g de manteiga manteiga, o leite, sal e pimenta a gosto.
Amasse bem até que forme um purê. Caso
80 ml de leite fique muito seco, adicione aos poucos a
água do cozimento.
Sal
Pimenta-do-reino
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FLOR DO DENDÊ Sou filha de uma mulher baiana nasci-
da em Ilhéus (BA), que na década de 1940
aumentar a renda da casa, uma realidade
da maioria das famílias negras brasileiras.
Por Eleonora Aparecida Alves de migrou para o Rio de Janeiro para traba- Em nosso dia a dia éramos alimentados
Souza Domingos – Doné Eleonora lhar na casa das famílias abastadas como por uma mulher baiana que se preocupava
doméstica. Chegou ao Rio aos 12 anos e só em fortalecer nosso corpo negro – então
saiu depois de casada, já mãe de três filhos. era muito pirão, cozido, muitos legumes,
“[...] como podia eu deixar essa Sua vida profissional se deu nas cozinhas mocotó, rabada e outros.
tarefa tão íntima ficar em mão das madames, capítulo esse que pulo e só
anónima? Nem pensar, nunca tal se subtraio o aperfeiçoamento da minha mãe Sou nascida na década de 1960, época
viu, sujeitar-se a um cozinhador de como cozinheira. Digo assim, pois acredito em que as meninas eram criadas “pren-
que nem o rosto se conhece. dadas“, sabiam arrumar uma casa, lavar,
que cozinhar é um dom e minha mãe nasceu
Cozinhar não é serviço, passar roupa e cozinhar.
meu neto – disse ela. com esse dom. Ela era cozinheira de forno
Cozinhar é um modo de amar os e fogão, uma banqueteira de mão cheia.
Mamãe fazia bolos lindos. Fomos criados Nascida no Rio de Janeiro, vivi até os
outros.” 15 anos em Brasília. Sou filha de baiana e
no meio do açúcar, das rosinhas de açúcar,
peneirando açúcar para ela confeitar os bo- mineiro, para mim as duas grandes cozi-
Mia Couto
los, fazendo os glacês, enrolando balas de nhas brasileiras. Acredito que as caracte-
coco; enrolando os salgados, forrando as rísticas culturais de um povo estão sempre
forminhas para as empadas... presentes em suas comidas, de uma forma
ou de outra, e que cozinhar é uma arte.
Minha ligação com a comida e a cozinha
vem desde a infância, em uma relação de Há 47 anos fui iniciada no candomblé,
sobrevivência, pois ajudávamos mamãe a meu grande referencial na vida. No can-
domblé nos sentamos com os deuses e
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dividimos o que comemos. Alimentar o No candomblé temos de saber todos os nas. É uma cozinha rica em condimentos,
sagrado para se fortalecer: nas casas de preceitos e segredos, por isso o terreiro é como pimentas, gengibre e ervas, e não
candomblé ninguém passa fome, sempre também um dos espaços de transmissão de podemos nos esquecer da batata-doce, da
temos um prato de comida para alimen- saberes de uma Casa de Candomblé. carne-seca, da rabada e muitos outros tan-
tar quem bate à porta do terreiro. Para tos ingredientes. É uma cozinha de ritual,
nós, candomblecistas, a hora da refeição Na cozinha de terreiro encontramos de sabores, saberes e muito axé!
é um momento de confraternização, de várias receitas que utilizam grãos, leite
alegria, de união e de muito axé. No de coco, camarão, dendê, azeite de oliva, Explanei um pouco sobre a cozinha de
candomblé, a comida é sempre sinal de milho de pipoca, milho de galinhas e fei- terreiro para vocês entenderem melhor
abundância, e isso se torna um sinônimo jões, como fradinho, preto e outros. Com como funcionam seus rituais, sua cultura
de distribuição de axé. o fradinho fazemos comida para Oxum, o e toda a sua concepção.
acarajé de Oyá; temos o quiabo, com que
Nos terreiros há uma mulher respon- preparamos o amalá para Xangô e o caruru
sável por cozinhar para as divindades, de Ibeji; temos a canjica branca, que utili-
conhecida como iabassê. Minha mãe, zamos na comida de Oxalá e Iemanjá. Os
uma mulher de Oxum, ocupou esse lu- tubérculos também são muito usados, como
gar no meu axé por muitos anos. Se ela o cará, o inhame, a mandioca e as farinhas
cozinhava maravilhosamente bem para de mandioca, assim como as farinhas de
as pessoas, minha escolha se deu jus- milho branca e amarela.
tamente por essa qualidade; quis que
esse mesmo tempero alimentasse as di- A cozinha de candomblé é muito varia-
vindades. da, pois tem influências africanas e indíge-
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Na década de 1990 eu me tornei sacer- é extremamente racista, e as religiões de Quero falar um pouco do tabuleiro no
dotisa no meu axé. Como citei anterior- matriz africana são muito perseguidas. qual as baianas vendem seus quitutes. Ele
mente, minha mãe ocupou por um tempo também pode ser compreendido como um
a função de iabassê no meu axé por todos Foi assim que fiz as pazes com a co- ponto fixo para comercialização, coisa que
os motivos já colocados, mas principalmente zinha. Hoje temos o glamour em torno nós, baianas do estado de São Paulo, não
por considerá-la uma excelente cozinheira. dos chefs de cozinha. O que outrora eram temos. Comercializamos em feiras de arte-
Eu tinha certeza de que nossas divindades espaços de mulheres negras, hoje são es- sanato e em eventos. A maior dificuldade
seriam bem alimentadas, com as mesmas paços ocupados, na maioria, por pessoas para uma baiana de acarajé é conseguir
garantias de dedicação de sua vida como brancas, de uma elite. Falo dessa manei- seu ponto fixo.
chef de cozinha. Porém, minha mãe já tinha ra, pois se trata de uma triste realidade
certa idade e eu tinha preocupação com e também porque eu desconhecia meu Minha história com o Flor do Dendê
essa continuidade de sabor e dedicação. Nós potencial como cozinheira. surge da necessidade de ter esse ponto
temos uma festa que realizamos aqui no fixo e da quebra de um paradigma, pois
ilê, e isso me preocupou muito: quem faria Trabalho com acarajé há quinze anos. as pessoas comem a comida que é sagrada
tudo quando ela fosse morar no Orum? O ofício da baiana de acarajé é registrado para nós, candomblecistas, e muitos desco-
no Livro de Registro dos Saberes como nhecem nossa cultura. Como já citei, nossas
Lembro-me da primeira vez que servimos Patrimônio Cultural do Brasil e mesmo cozinhas são um espaço de transmissão de
o caruru de Ibeji, comida feita com quiabo, assim não há o reconhecimento e a va- saberes.
castanha-de-caju, amendoim, leite de coco lorização das detentoras desse saber. Na
e dendê, acompanhado de vatapá e arroz. busca incansável desse respeito e reco- Hoje, no Espaço Gourmet Flor do Dendê,
Foi um sucesso, as pessoas adoraram! Mas nhecimento, entrei na Associação das tenho oportunidade de estar na cozinha
para ter crianças e pessoas para comerem Baianas de Acarajé, Mingau e Similares vivendo minhas memórias afetivas. Ao fazer
essa comida foi preciso toda uma estratégia (Abam), onde milito por nosso reconhe- um cozido, recordo-me da minha infância,
para convencê-las a entrar no ilê. Nosso país cimento. quando nos reuníamos para o preparo, jun-
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to de meu avô, homem baiano, e minha Minha ancestralidade africana vem da
mãe. Aquele domingo era uma festa em minha bisavó. Infelizmente não sei dizer de
torno da mesa, dos quindins, das balas de que parte da África ela era, pois nós, o povo
alfenim, das cocadas, da feijoada. Algumas negro, temos nossa história apagada, e a
dessas delícias são encontradas no Dendê. cozinha, em nossa família, tem esse papel
de nos conectar com a pátria-mãe. A receita
Atualmente, estou cursando Gastro- que consigo lembrar fechando os olhos traz
nomia, para o fortalecimento/reconheci- até a roupa que vovô usava, uma calça de
mento do meu trabalho, pois considero tergal azul-marinho e uma camisa vinho
minha cozinha patrimonial – uma cozinha surrada, com seu chapéu marrom-escuro.
de ritual, cozinha ancestral, onde nos sen- Mamãe, com um vestido de listras coloridas,
tamos à mesa com nossas divindades. e todos nós, seus filhos e netos, em torno
dela descascando os legumes para preparar
Abrimos todas as segundas-feiras. Em o cozido que partilho com vocês a seguir.
nosso terreiro, em dia de Exu temos o sam-
ba “Conversa de botequim”; no terreiro de
mainha podem saborear um bom acarajé,
sarapatel, bolinhos feitos de mandioca,
comidinhas de tabuleiro, bobó de cama-
rão, moquecas etc. Fazemos parte do Ro-
teiro Gastronômico e Turístico da cidade
de Hortolândia. Assista ao vídeo
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Ingredientes Modo de preparo
COZIDO
1,5 kg de carne-seca Escalde a carne-seca para tirar o exces-
so de sal e escorra em uma panela grande.
1 kg de carne de peito Coloque as carnes inteiras com muita água
1 kg de linguiça para cozinhar.
Acompanhamento
500 g de jiló
500 g de quiabo
Pirão: coloque água fria na farinha para
1 kg de abóbora que inche. Junto a essa farinha inchada colo-
que caldo do cozido e leve ao fogo mexendo
3 chuchus
sempre.
3 pimentões verdes
1 maço de cheiro-verde
Como servir
3 folhas de louro
Corte as carnes e os legumes em pedaços
5 dentes de alho grandes e os disponha em pratos separados,
servindo o caldo à parte. Essa receita serve
Obs.: acrescente os legumes e ver-
doze pessoas.
duras de que gostar. Os acima men-
cionados não devem faltar em um
cozido baiano.
Como tenho dito, minha relação com
a cozinha comum e a cozinha ancestral
se mistura. O que muitas vezes servimos
para as pessoas também alimenta nos-
sos deuses, como é o caso do acará (bola
de fogo), uma comida de Oyá que come-
mos e conhecemos como acarajé. Escolhi
essa receita, pois ela é muito significativa
para mim.
Assista ao vídeo
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ACARAJÉ
Assista ao vídeo
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QUINDIM PARA SERVIR 8 PESSOAS
Este doce que vou apresentar é uma das Sou Eleonora Aparecida Alves de
fortes memórias afetivas da minha vida. Modo de preparo Souza Domingos, ou Doné Eleonora,
Como já contei antes, nós, os filhos, aju- que quer dizer “mãe” na língua jeje. Nasci
dávamos muito minha mãe a separar as Rale o coco e não retire o leite. Co- no Rio de Janeiro e sou chef de cozinha
claras dos ovos, peneirar açúcar... e este é loque o açúcar em uma panela com um responsável pelo Espaço Gourmet Flor do
um doce de que gosto muito. Compartilho pouco de água e as gotas de limão. Leve Dendê. Compartilhei com vocês um pou-
com vocês a receita. ao fogo para obter uma calda grossa. co da minha infância, a história da minha
família e de meu povo, e a minha relação
Deixe esfriar a calda e junte as gemas com a cozinha ancestral. Para quem se in-
peneiradas, o coco ralado e a manteiga, teressar, indico os seguintes livros: Acaçá,
mexendo tudo muito bem.
Ingredientes
onde tudo começou, de Pai Cido de Òsun
Eyin; A comida baiana de Jorge Amado, de
Despeje em forminhas untadas com
Paloma Amado.
12 gemas manteiga e açúcar, e leve ao forno quen-
te em banho-maria para assar.
450 g de açúcar refinado
Retire os quindins da forminha com
1 colher (sopa) de manteiga cuidado para que não se quebrem.
1 coco ralado
Obs.: retirar os quindins só depois
Algumas gotas de limão para a calda de esfriar.
Assista ao vídeo
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FAMÍLIA JIMÉNEZ - DA Meu nome é Juan Carlos Teixeira Jime-
nez e sou filho de imigrantes espanhóis. Mi-
rez, nascida em 11 de fevereiro de 1920,
ambos de Sevilha, viviam na cidade de Cá-
ESPANHA AO BRASIL nha família é originária da pequena cidade
de San Juan de Aznalfarache, um povoado
diz, onde meu avô Juan trabalhava como
encarregado de manutenção elétrica na
Por Juan Carlos Teixeira Jimenez que fica a cerca de 5 quilômetros de Sevilha, Red Nacional de los Ferrocarriles Españo-
sul da Espanha. Como a maioria dos imi- les (Renfe), uma empresa que administra
grantes que chegaram ao Brasil, vieram em as ferrovias do país. Minha avó Ana tinha
“A culinária é a paisagem de um país
na panela.” busca de oportunidades, principalmente no uma loja de armarinhos, conhecida como
estado de São Paulo, onde deixaram como Casa Jiménez, e ao mesmo tempo cuidava
Josep Pla herança seus conhecimentos, costumes e dos filhos. Meu pai, Juan, e meu tio, José
raízes culturais. Luiz, estudavam em um colégio católico; a
pequena Ana desfrutava o colo de minha
A história inicia-se no período entre 1959 avó. Viviam uma vida tranquila, tendo em
e 1961, na cidade de Cádiz, província de vista que a Espanha passou por um período
Andaluzia, onde meus avós paternos, Juan economicamente instável após a Segunda
Jiménez Carmona e Ana Bejarano Suárez, Guerra Mundial.
juntamente com seus filhos, Juan Jiménez
Bejarano, José Luiz Jiménez Bejarano e Não se sabe ao certo o principal motivo
a recém-nascida Ana Jiménez Bejarano, que fez meu avô abandonar essa vida está-
viviam antes da imigração para o Brasil. vel e escolher emigrar. Segundo informa-
ções da família, uma das possíveis razões
Juan Jiménez Carmona, nascido em 2 seria o governo ditatorial de Francisco Fran-
Assista ao vídeo de junho de 1922, e Ana Bejarano Suá- co. O país sofria com a situação, então meu
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avô decidiu buscar melhores oportunidades de obra especializada e, por esse motivo, então recém-chegado, e sua família. Logo
para sua família e partir de barco (e não de ele ficou trabalhando por vários meses até depois começou a trabalhar na empresa
navio) com destino à Argentina. No final retornar para São Caetano do Sul para tra- Bosch, onde eram fabricados os alterna-
do mês de maio de 1960, ele embarcou balhar na empresa Siemens. dores e motores de partida automotivos.
sozinho, deixando minha avó e os filhos
na Espanha. Em 1961, meu avô mudou-se para a Minha avó cuidava da educação
cidade de Campinas, onde comprou um dos filhos e era responsável pelos afazeres
Por ser uma viagem extremamente lon- terreno no bairro Jardim Eleonor. Por or- domésticos, enquanto meu pai, já com
ga e desafiadora, o barco faria uma parada dem dele, minha avó vendeu o comércio seus 16 anos, sob influência de meu avô,
no Brasil antes de seguir. Em contato com em Cádiz e veio com os filhos para o Brasil, começou a aprender o ofício de eletricista.
passageiros do barco, que falavam de gran- desembarcando no Porto de Santos em 10
des oportunidades no Brasil, e cansado da de junho de 1961. Meu tio-avô José Luiz, minha tia-avó
difícil viagem, ele acabou desembarcando Maruja e seus filhos, Mari, Dolores e Juan
no Porto de Santos em 3 de junho de 1960 No registro de estrangeiros no Porto de Luiz, continuaram a vida na cidade de
e resolveu ficar no país. Naquela época do Santos, acabaram errando o sobrenome de Jundiaí, onde montaram uma marcenaria
pós-guerra, ouvia-se muito na Europa que meu tio José Luiz, colocando a letra G no e carpintaria.
o Brasil também era um lugar com terras Jimenez; assim, somente ele ficou com o
em abundância e riquezas. sobrenome Gimenez.
Em seguida foi para a Grande São Paulo, De Santos partiram para a cidade de
depois para Goiás trabalhar como eletricista Campinas, e pouco tempo depois meu avô
na construção de Brasília, que estava em começou a construir uma casa com a ajuda
sua fase final. Nessa época não havia mão de seu irmão, José Luiz Jiménez Carmona,
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A aventura continuou quando meu avô à casa dos novos vizinhos espanhóis. Meu cém-casado com minha mãe, e meu tio José
conheceu um senhor que transportava car- pai começou a paquerar a nova vizinha, e Luiz que estava seguindo carreira artística
gas de algodão da cidade de Artur Noguei- casaram-se no ano de 1966. Tiveram dois como cantor.
ra até a Vila Industrial, em Campinas. Em filhos, Juan Pablo e Juan Carlos.
seus vários encontros e conversas, falava-se Minha tia Ana, com seus 10 anos de ida-
muito bem da pequena cidade de Artur Como a região de Artur Nogueira tinha de, retornou com meus avós para a Espanha
Nogueira, que estava se destacando econo- abundância de terras, meu avô Juan de- sem a companhia dos irmãos. Eles fizeram
micamente, principalmente no plantio de cidiu vender a casa que possuía em Cam- seu último passeio de mãos dadas na cal-
algodão e cana-de-açúcar. Isso fez com que pinas e comprar um sítio na divisa entre çada próxima da casa de meu tio-avô José
meu avô decidisse se mudar com a família Engenheiro Coelho e Tujuguaba. Na época, Luiz, em Jundiaí.
novamente. Engenheiro Coelho era distrito de Artur
Nogueira. Ele iniciou uma plantação de Tia Ana, carinhosamente conhecida
Alugaram uma casa e meu avô abriu amoreiras para futuras criações de casu- como tia Ani, casou-se em 1976 com Sal-
uma oficina de elétrica automotiva, pois los de bicho-da-seda. Recebiam visita de vador Luque, em San Juan de Aznalfara-
na região não existia. Desde então come- técnicos da Secretaria de Desenvolvimento che, onde vive até os dias de hoje. Tiveram
çou a consertar carros e muitos caminhões Rural de Campinas, para acompanhar as quatro filhos, Salvador, Ana Lucia, Juan
dos sitiantes da cidade e dos vilarejos que criações. Antonio e David.
a ela pertenciam, como Engenheiro Coe-
lho e Holambra, além de caminhões que Infelizmente, passados alguns anos, o Meu tio José Luiz, vivendo sua adoles-
transportavam cana-de-açúcar para a Usina negócio não prosperou como desejado cência na época do auge da Jovem Guarda,
Ester, em Cosmópolis. e meu avô decidiu vender a proprieda- passou a se interessar pela música. Começou
de, retornando para a Espanha em 1970. com uma pequena banda com os amigos em
Minha mãe, Leocádia, morava em frente Ficaram no Brasil meu pai, que estava re- Artur Nogueira e, logo após o retorno de
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seus pais para a Espanha, começou a trilhar
seu caminho como músico nos anos 1970
pude conhecer minha querida avó Ana
quando pequeno, por ocasião de algumas
SOBRE OS PRATOS
em São Paulo, tocando em boates. Aperfei-
çoou-se e foi convidado a tocar contrabaixo
visitas que ela fez ao Brasil. APRESENTADOS
por quase cinco anos no grupo Originais do Em 1995, já com 17 anos, fiz minha pri-
meira viagem à Espanha para conhecer Desde pequeno, a única comida es-
Samba. No começo dos anos 1980 seguiu
pessoalmente meus tios e primos, rever panhola que eu comia era o puchero
carreira como cantor, com o nome artístico
meu pai e minha querida avó Ana, que que minha mãe fazia, um ensopado à
de Diego Jimenez. Gravou diversos discos,
infelizmente faleceu uma semana antes base de grão-de-bico com legumes e
foi premiado com dois discos de ouro em
de minha chegada. carnes, porém não gostava muito. Tal-
1986, participou de programas, como o
vez fosse a forma como ela fazia ou
Clube do Bolinha, e realizou vários shows
Hoje a família continua crescendo, tan- o tempero.
pelo Brasil. Casou-se com minha tia Rosely
e tiveram uma filha, Amanda Gimenez. to do lado brasileiro quanto do outro lado
do Atlântico, onde tive a oportunidade de Em 1997, quando tinha 19 anos, resolvi ir
conhecer minhas raízes. Agora tenho a para a Espanha morar um tempo na casa de
Meu pai se separou de minha mãe em
chance de manter viva a história de minha meu pai em San Juan de Aznalfarache e por
1982. Viveu por muitos anos na cidade de
família por meio deste livro. lá fiquei cerca de oito meses. Ele cozinhava
São Paulo trabalhando como eletricista,
alguns pratos e eu ajudava a prepará-los,
ofício herdado de meu avô. Mudou-se para
e, entre eles, estava o puchero. Aprendi a
a Espanha em 1991, onde viveu até seu
fazê-lo, pois realmente é muito saboroso
falecimento, em 2017.
e nutritivo. Hoje é um prato muito comum
Infelizmente, não consegui conhecer em minha casa, porém tive de “abrasilei-
meu avô Juan, que faleceu em 1981, porém rar” um pouco, substituindo pela calabresa
embutidos como o chorizo.
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Ingredientes Modo de preparo
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MANTECADOS DE AMÊNDOAS E CANELA
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dessa receita
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Ingredientes
TINTO DE VERANO
500 ml de vinho tinto (de
preferência seco)
500 ml de refrigerante de limão
(soda limonada)
Gelo a gosto
Rodelas de limão-siciliano ou
limão-taiti
Modo de preparo
Em uma jarra, acrescente gelo,
o vinho tinto e, em seguida, o
refrigerante. Misture com uma
colher.
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ISHIKAWA, A história do Restaurante Ishikawa se
inicia com a união de duas famílias origi-
trabalhou desde cedo no cafezal, fazendo
todo o trabalho braçal. Casou-se com uma
PERSEVERANÇA DE VIDA nárias do Japão: Ishizaki e Sassaki. descendente de japoneses, teve sete filhos
e sempre incentivou o gosto pela cultura
Por famílias Ishizaki e Sassaki A família Ishizaki morava em Ibaraki, japonesa na família. Comprou uma chácara
mas, como no Japão pós-Segunda Guerra em Valinhos, na região de Campinas, sem-
Mundial era muito difícil conseguir tra- pre trabalhando na plantação de tomate,
“A família é a base de tudo. Ter o que seguir balho, Kozo e Tsune Ishizaki e seus cinco
nos fortalece e permite que nossas origens uva e figo com a ajuda dos filhos.
filhos vieram para o Brasil no início da
permaneçam. A arte culinária é maravilhosa,
década de 1960, em busca de uma vida Assim como as duas famílias, muitos
cada movimento que é feito com a faca e as
mãos se transforma em uma obra-prima: os melhor. Depois de uma viagem de navio imigrantes japoneses vieram para o Brasil,
olhos se encantam e o estômago agradece.” que durou 48 dias, desembarcaram no Por- uns com a intenção de ficar, mas a maioria
to de Santos e foram para Ribeirão Preto pretendendo enriquecer e retornar para
Karina Ishizaki Tajima trabalhar na lavoura de arroz, tomate e o Japão após poucos anos. Os japoneses
outros legumes. Nessa época, o filho mais tiveram muita dificuldade em se adaptar ao
novo, Masao, estava com 11 anos. Brasil – idioma, hábitos alimentares, modo
de vida e diferenças climáticas acarretaram
A família Sassaki veio no final da déca- um forte choque cultural. Uma parcela con-
da de 1930. Isao Sassaki, hoje já falecido, siderável nunca aprendeu a falar português.
partiu com apenas 13 anos de idade da
província de Miyague com a família de um A família japonesa se alimentava de
tio, que precisava que homens da família produtos de sua própria horta, mas não
viessem junto, já que só tinha filhas. Isao deixava de manter suas tradições, comendo
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peixe, tomando sopa (missoshiru) e alguma de descascar laranjas, e tinha gosto pela Durante anos trabalhou como chef de
conserva de legumes. Nas festas de fim de cozinha. Alguns anos depois, na capital, foi cozinha de um famoso restaurante no bair-
ano costumavam – e ainda o fazem – co- trabalhar no restaurante de sua tia. Lá teve ro da Liberdade, onde chegou a cozinhar
mer o moti (uma porção de arroz japonês a oportunidade de aprender a arte milenar para várias pessoas famosas, como Raul
cozido e socado até virar uma massa, em da cozinha oriental. Tamanha era sua de- Seixas, Zico, Sócrates, Casagrande, corre-
japonês chamada motitsuki), considerado dicação e talento que em pouco tempo se dores de Fórmula 1, entre outros. Buscan-
um símbolo de união e uma forma de atrair destacou e, aos 19 anos, foi trabalhar no do retornar para a cidade de origem da
prosperidade, saúde e sorte, além de ser melhor restaurante de São Paulo, já como união do casal, Masao foi trabalhar em
uma oferenda para o deus de devoção de chef de cozinha e sushiman. um restaurante bastante conceituado em
cada família. Campinas. Em 2003, conseguiu realizar seu
Assim, em 1975, devido à sua expe- grande sonho de abrir seu próprio restau-
Os japoneses trouxeram muitas contri- riência, foi convidado para trabalhar no rante japonês com sua família e, em ho-
buições para o Brasil, melhorando o modo Consulado Geral do Japão em Recife, ten- menagem aos seus pais, colocou o nome
de trabalhar a terra, com verduras, legumes do cozinhado para o príncipe (e futuro de Ishikawa, composto por ishi (pedra), de
e frutas de maior qualidade, e introduzindo imperador) do Japão, o que trouxe muito Ishizaki (o sobrenome do pai), e kawa (rio),
sementes que não havia aqui, além da ali- orgulho à sua família e amigos. de Kawasumi (sobrenome da mãe), cujo
mentação, com seus hábitos mais saudáveis, significado é “perseverança”. Desde então,
e esportes, como judô e caratê. Após alguns anos, Masao decidiu voltar o restaurante Ishikawa vem mantendo a
para São Paulo. Seus pais estavam morando tradição dos pratos e temperos autênticos.
Masao Ishizaki trabalhou na lavoura em Valinhos e, em uma das visitas a eles,
em Guatapará, interior de São Paulo, aju- conheceu a filha mais velha de Isao Sassaki, A dedicação de Maria à criação de seus
dando sua família. Desde jovem já tinha Maria Setsuco Sassaki, com quem se casou e filhos foi fundamental para que Masao
habilidades manuais, vencendo concursos teve três filhos: as gêmeas Karina e Suzana pudesse se desenvolver nos restaurantes
e Alexandre. pelos quais passou e para que o restaurante
Ishikawa nascesse.
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Ingredientes Modo de preparo
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ANMITSU PARA 2 PESSOAS
Sugestões
Anmitsu é uma popular sobremesa ja- Para o kanten, coloque a gelatina e a
ponesa. É feita de pequenos cubos de ágar, água em uma panela e cozinhe, até que
uma espécie de alga, servidos em uma tigela levante fervura e fique cremoso. Coloque
Sirva em tigelas fundas, que mantêm os
com uma massa doce fervida de feijão-azu- a gelatina em um recipiente quadrado,
ingredientes de forma mais jeitosa.
qui (anko) e frutas variadas. para facilitar o corte. Não precisa levar à
geladeira. Depois de frio, corte a gelatina Evite usar coberturas de chocolate ou
em cubinhos. outros sabores, pois as sobremesas japo-
Ingredientes nesas típicas oferecem a oportunidade de
sentir a mistura de sabores “puros”.
Para o anko (pasta de feijão-azuqui): Montagem Equilibre os ingredientes na montagem,
500 g de feijão-azuqui colocando quantidades parecidas de frutas
Coloque uma bola de anko e uma de e kanten.
sorvete em uma tigelinha e acrescente a
5 a 6 colheres de açúcar
salada de frutas e o kanten em volta.
1 pitada de sal
1 litro de água
Dicas
O feijão-azuqui é um feijão de grãos
Para o kanten (gelatina de ágar-ágar):
menores que os convencionais e de cor mar-
1 pacote de 10 g de gelatina de alga rom-avermelhada. Surgiu na Ásia e ganhou
em pó o mundo graças ao sucesso da alimentação
macrobiótica, que dá grande importância
2½ copos americanos de água fria a esse tipo de grão devido a seus efeitos
depurativos no organismo.
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Ingredientes Modo de preparo
Filhos, esposa e netos contam com passos do pai, Masao, como sucessor sushi-
muito orgulho a história das famílias man, dando continuidade à tradicional
Sassaki e Ishizaki, pois vivenciaram comida japonesa, a filha Suzana é forma-
momentos que estão marcados na his- da técnica de alimentos, em Gastronomia
tória da imigração japonesa. e especializada em esculturas de frutas.
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COMIDA, CONVERSA Temos a certeza de que, quando os
Gobbato saíram de Varano Borghi, na Itália,
O macio torrone de Milão e tantas outras
iguarias estão no DNA dos italianos que
E PARTILHAS: A VIDA e escolheram o Brasil para viver, não tinham
a menor ideia de quanto espalhariam pelos
cruzam os mares e se estabelecem no Brasil,
cada um trazendo na memória a mesa de
À MESA anos afora a culinária e a alegria italianas. sua casa, cercada de aromas e trocas afe-
Por Giulio Gobbato Neto tivas. Essa memória torna-se mais que um
As comidas das nonnas e mammas con- conforto, assume a forma escolhida para
quistaram os paladares de famílias brasilei- garantir o sustento de sua família e de ou-
“É na cozinha que eu desembesto e ras que fazem de nossas mesas as mesas de tros tantos que dessa mesa se aproximam.
solto os bichos. É na cozinha que eu suas casas. Comendo, cantando e dançando,
viajo sem passaporte, sem bilhete, sem alimentam o corpo e o espírito bem ao Bruno Ernesto Gobbato veio para o Brasil
revista em aeroportos. As autoridades gosto italiano. em 1944 e trabalhou na empresa Coberplas,
querem minhas digitais? Elas estão na em Campinas. Quando Giuseppe Gobbato,
massa do pão.” Bruno e Giuseppe Gobbato vieram de o Sr. Gianinno, veio da Itália, em 1954, em
Varano Borghi, província de Varese, na Lom- um navio que atracou no Porto de Santos,
Francisco Azevedo bardia, cuja capital é Milão. Nessa região, o seu irmão, Bruno, estava lá para acompa-
arroz é muito importante na alimentação. nhá-lo a Campinas.
Milão tem um dos risotos mais famosos
do mundo, o risotto alla milanese. Não é Com o passar do tempo, Bruno E. Gobba-
de estranhar que uma região produtora to adquiriu uma indústria têxtil em Jundiaí
de carne considerada de alta qualidade se e, em 1965, com sua esposa, Nalda, e suas
orgulhe de seu filetto ai gremolata, um filé filhas, Giuliana, Rita e Maria Luísa, foram
ao molho de alho, ervas e azeite de oliva. para Balneário Camboriú (SC) à procura de
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uma vida mais tranquila. Quando lá chega- O CRESCIMENTO DA CASA foi realizado um show com o cantor Toni
ram encontraram o amigo Bruno Zavisqui Angeli, acompanhado por Tiago Banda
e sua esposa, Nella.
ITALIANA Show. O que era para ser apenas um show
Em 1975, Bruno Gobbato convidou se transformou em marca da casa: os janta-
As pessoas que veraneavam no Balneário res dançantes acompanhados sempre por
seu irmão, Giuseppe Gobbato (Sr. Gia-
sempre perguntavam ao Sr. Bruno: “Quan- música ao vivo. Os pratos mais pedidos são
ninno), e a esposa, Marilza Link Gobbato
do o senhor vai fazer aquela macarronada o macarrão à bolonhesa, a lasanha verde e
(D. Zita), com seus respectivos cunhados,
italiana com aquele delicioso molho?”. Essa o nhoque recheado com catupiry.
Roberto Link e Guilherme Link, e suas
era uma pergunta constante entre seus
esposas, Geni e Maria, para trazer o sa-
novos amigos. Em princípio, as gostosas
bor italiano para a cidade de Campinas.
comilanças não tinham a pretensão de se
tornar um negócio. Foi em 1969 que a culi- Em 1979, na cidade de Florianópolis, MEMÓRIAS CULINÁRIAS EM
nária que consideravam simples fisgou o à beira-mar surgiu outra casa italiana
paladar dos brasileiros com a inauguração FAMÍLIA
administrada por Ezio Librizzi, sobrinho
do restaurante Macarronada Italiana, em de Bruno Gobbato. Nós nos reunimos às segundas-feiras na
Balneário Camboriú. Na sala da casa foram
casa da minha mãe, D. Zita. Nosso jantar
espalhadas mesinhas e cadeiras e o embrião Foi no ano de 1995 a inauguração da tem sempre um risoto (a marca da Lombar-
do restaurante que alimentaria por décadas casa em Vinhedo, administrada por Giulio dia!), uma carne, uma salada, e macarrão
pessoas com o paladar e a cultura italiana Gobbato e Umberto Gobbato, filhos do não pode faltar! De sobremesa, frutas, um
começou a nascer. Sr. Giuseppe (Gianinno) com D. Zita. A bolo, uma compota...
festa de inauguração foi um grande su-
cesso, pois, além da boa comida italiana, Nas comemorações especiais, gostamos
do risoto ao funghi porcini, ou risoto de
verduras, uma carne, um lombo assado, um
vitel toné (uma carne que leva horas para
ser preparada. Seria como um lagarto com
molho de atum, uma verdadeira delícia!).
A sobremesa geralmente é um pudim –
ou budino, como chamam os italianos –,
frutas, manjar de coco ou pudim de leite
condensado. Costumamos decidir que cada
um leva o prato combinado anteriormente.
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Ingredientes
CAPONATA DE BERINJELA
Modo de preparo
4 berinjelas Corte as berinjelas, as cebolas e os pi-
1 pimentão vermelho mentões em cubos. Coloque em uma forma
acrescentando as nozes, o tomate seco e
1 pimentão amarelo todos os temperos. Mexa bem, cubra com
2 cebolas picadas papel-alumínio e leve ao forno com tem-
peratura de 180 °C por 2 horas, mexendo
Nozes de vez em quando. Quando estiver macio,
retire o papel-alumínio e deixe secar um
Uvas-passas brancas e pretas
pouco o líquido.
Orégano
Pode ser servido quente, com massas e
Louro carnes, ou frio, como antepasto, com um
bom pão italiano de casca crocante!
Azeite extra virgem
Vinagre de vinho branco
Tomate seco
Pimenta-do-reino
Sal
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RAGU À BOLONHESA
1 pimenta dedo-de-moça
3 folhas de louro
Um punhado de manjericão
Sal
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PERAS AO VINHO TINTO
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Giulio Gobbato Neto, comerciante, nascido
em Campinas, é filho de Giuseppe Gobbato
e Marilza Link Gobbato, e casado com Lu-
cia Zambotti Gobbato. Tem uma filha, Ca-
rollinne Gobbato. O casal é responsável
pelas tradições culinárias da Macarronada
Italiana de Vinhedo, uma casa que mora
no coração de muitos italianos e amigos
que vivem em suas mesas e em sua pista
de dança momentos inesquecíveis. Dessa
forma, os clientes se sentem como na an-
tiga salinha de Balneário Camboriú, onde
tudo começou. Um lugar aconchegante
para toda a família.
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COMIDA E FAMÍLIA HISTÓRICO FAMILIAR Rudolpho Berggren, Frida Berggren e Irma
Adda Berggren.
Por Marilene Berggren Comelato O patriarca da família Berggren no Brasil,
Jorge Frederico Gustavo Berggren, nasceu Quando Jorge chegou ao Brasil, insta-
em Bonn, Alemanha, em 15 de abril de 1867. lou-se na cidade de Campinas. Foi chefe
“Pelas histórias de lugares, eles da estação ferroviária da Fepasa. Poste-
se tornam habitáveis. Habitar é Seus pais, Fernando Emílio Berggren e Elisa
Frederica Guilhermina Berggren, tiveram riormente, na época da guerra, com receio
narrativizar.”
vários filhos, entre eles Jorge Frederico Gus- de ser expatriado para a Alemanha – não
Michel de Certeau tavo, nascido numa das muitas viagens que era naturalizado brasileiro –, mudou-se
o casal fazia periodicamente ao país de ori- para Villa Americana, para trabalhar como
gem. Jorge se casou com Emília Hulda Opelt, contador na Fábrica de Tecidos Carioba,
em cerimônia realizada em Poços de Caldas de propriedade da família Müller. Estes,
(MG), no dia 17 de setembro de 1894. também alemães, lhe deram todo o apoio.
Jorge faleceu em 18 de julho de 1938, aos
Hulda nasceu em Hamburgo, Alemanha, 71 anos de idade, em Carioba. Emília Hul-
em 30 de janeiro de 1868. Ela veio para o da faleceu em 3 de janeiro de 1953, em
Brasil com seus familiares, que se instalaram Americana.
em Joinville (SC). Emília era filha de Ernest
Opelt e de Ernestina Ber Opelt. Eu nasci na pequena cidade de America-
na, em 27 de fevereiro de 1937. Nos fundos
Jorge e Hulda tiveram cinco filhos, to- da casa, corria o então límpido Ribeirão
dos nascidos no Brasil: Frederico Carlos Quilombo, colorindo meus sonhos da me-
Berggren, Oscar Adolpho Berggren, Paulo ninice. Meu pai, Paulo Rudolpho Berggren,
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motorista da família Müller, era um homem trabalhar como mecânico, minha família Nessa infância simples de menina da
enérgico e reservado. Exigente e habilido- transferiu-se novamente para Americana. pequena cidade interiorana, ali entre a Rua
so, era cuidadoso e um pai notadamente Meu pai vendeu seu “banco de areia” na Capitão Correa Pacheco, a “Rua do Pito
bondoso. Dotado de inteligência incomum, pequena Caiubi e viemos residir próximo Aceso”, Comendador Müller, Álvaro Ribeiro
embora não tenha tido formação acadê- da tinturaria. e adjacências, vivi, convivi e aprendi a viver.
mica, foi um autodidata que se aprimorou Com saudades desse tempo, lembro-me dos
permanentemente, à medida que o tempo Seu coração, porém, ficou lá na peque- amigos de infância da família Cordenonsi:
passava e as necessidades cotidianas exi- nina Caiubi, nas margens arenosas do Rio Antonieta, Nilde, Ediney e Roviglio, Daici e
giam mais habilidades e conhecimentos. Piracicaba, de onde nunca se apartou. Cons- Luiza (Zinha), além da Rosa e do Zezinho
tantemente nos levava para passear e rever Milazzoto, e da pequena Vitória, de quem
Recordo-me que meu pai dava aula de os amigos queridos que lá deixaram. eu gostava de cuidar.
alemão para os filhos depois do jantar. Hora
sagrada, pois sentia grande necessidade de Em minha infância, já na cidade, desde Do “primeiro emprego” que consegui,
perpetuar em seus descendentes a língua os 6 anos de idade morava no centro, na guardo uma divertida recordação: raspar
pátria de seus antepassados. Rua Jorge Jones, onde convivi com meus com faca a casca da cana-de-açúcar para
contemporâneos com leveza e alegria. Em o Sr. Manzi moer e extrair caldo em sua
Depois de casado com minha mãe, Victo- minha lembranças ficaram as ruas não pa- máquina, em troca de algumas moedas,
ria Gatti, filha de Pedro Gatti e Ângela Pilla, vimentadas, a ausência de água encanada além do alento e do prazer de ganhar um
moraram alguns anos em Caiubi, às mar- da cidade ainda pequena, as brincadeiras dinheirinho só meu, graças a meu próprio
gens do Rio Piracicaba, de onde ele retirava na rua entre os cuidados de minha mãe e esforço.
areia com uma draga. Quando seu irmão a vigilância de meu pai, as travessuras, a
Oscar comprou uma tinturaria localizada frequência à “Escolinha da Dona Delmira”,
na Rua Álvaro Ribeiro e dele precisou para ao lado da residência do maestro Germano
Benencase.
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Uma das vizinhas que marcaram muito no jogo do bicho, levando uma aposta no
minha infância foi Dona Ana, a “Nhana chalé da Praça da Matriz. Quando ela ga-
Carrapato”, apelido carinhoso dado para nhava, as meninas recebiam uma moeda
a mãe de Dona Maria e avó da Zeulma do de gorjeta, que utilizavam imediatamente
Rosário Rocha. A casa de Dona Nhana fica- para comprar doces na Padaria Central, na
va nos fundos da casa da filha, com frente esquina da Igreja de Santo Antônio. Era
para a “Rua do Pito Aceso”. A tradicional uma verdadeira festa quando Dona Nhana
rua central da pequena Americana recebeu ganhava no bicho. Todos ficavam sabendo!
essa alcunha porque em todos os fins de
tarde os moradores sentavam-se à porta de
casa, acendiam cigarros de palha e ali per- FESTAS EM FAMÍLIA
maneciam fumando tranquilamente seus
“pitos”, conversando, enquanto as crianças As festas de que mais me lembro são
pulavam corda, jogavam pião ou brincavam as reuniões da família no Natal, na casa
de amarelinha na rua de chão batido. Dona da tante Irma, que morava com sua filha
Nhana, ao pé do grande fogão a lenha, en- Gladys e a avó Hulda Opelt. A tante Irma
sinava as meninas da vizinhança a ler a sorte cuidava para que todos trocassem presen-
na xícara de café, a fazer “simpatia” para tes, que sempre ficavam acomodados junto
arrumar namorado, a cravar uma faca no à árvore de Natal. As comidas presentes
pé de bananeira para desmanchar malfeito. na mesa eram alemãs e brasileiras, feitas
As meninas eram suas companheiras; todos também por tante Irma. Tante quer dizer
os dias ela as mandava fazer uma “fezinha” “tia” em alemão.
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MEMÓRIAS CULINÁRIAS DA Com o tempo, minha mãe foi adaptando
as receitas ao paladar da família. Hoje o
FAMÍLIA joelho de porco não é colocado junto com
Minha prima Gladys conta: “Lembro que o chucrute. O chucrute alemão tradicional é
minha mãe usava muito orégano, canela mais azedo e não acrescenta a batata ralada
em pó, aquele gostinho de comida de vó para dar liga. A salsicha é servida à parte,
e de mãe. Era a melhor coisa que se podia para que cada um saboreie os ingredientes
ter nas festas. Minha mãe fazia bolachas de sua preferência.
de mel para pendurar nas árvores de Natal,
e no topo da árvore a gente colocava uma
vela acesa”. “É verdade que as panelas são também
fonte de distração e que, com cuidado e
Minha avó fazia muita cuca. Jantávamos
bons ingredientes, você pode manter bem
juntos sentados à mesa, e ela gostava muito
despertos todos os apetites de quem vive
de licor. Nas noites de Natal, as crianças só
sob o mesmo teto.”
queriam saber de brincar; nós ceávamos e
depois já íamos dormir. Lembro também héctor abad
que as mulheres trocavam receitas de um
ou outro prato durante as festas.
Assista ao vídeo
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Modo de preparo
BATATA SAUTÉE
Descasque 4 batatas grandes, corte-as
em pedaços e cozinhe até amaciar (não
devem ficar muito moles). Escorra a água.
Coloque na panela 1 colher (sopa) cheia de
manteiga para dourar as batatas, chacoa-
lhando a panela para pegar bem a man-
teiga nas batatas. Coloque salsinha picada
e sirva.
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100
Ingredientes
Modo de preparo
Corte as costelinhas de porco. Tire a
pele das linguiças, corte-as em fatias e
afervente por 2 minutos. Escorra e jogue
água fria por cima. Reserve. Em uma pane-
la, coloque um pouco de azeite e o bacon
cortado em cubinhos e frite até dourar.
Junte a cebola e o alho, mexendo até dou-
rar. Adicione a costelinha e as linguiças,
mexendo sempre. Em seguida, coloque o
chucrute e um copo de água. Mexa por 5
minutos. Rale uma batata grande, junte
mais um copo de água e mexa por mais 5
minutos. Verifique o sal.
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101
Ingredientes Modo de preparo
1½ copo de leite com 10 gotas de Leve ao forno até dourar. Para verificar
essência de baunilha se está pronta, espete um palito de madeira
no meio da cuca. Se o palito sair limpo,
1 colher (sopa) de fermento em pó está pronta.
Canela com açúcar a gosto
Obs.: tem quem goste de colocar a cuca
na geladeira. Outros preferem em tempe-
ratura ambiente. BOM APETITE!!!
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102
Enviada por Gladys Giordano dos Santos
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CASA DE VÓ Nossos avós e bisavós vieram do Líbano.
Ele, Miled Salomão Hossri, da região do
Seu legado passou para as gerações fu-
turas. Sua filha Adna herdou o apreço pela
Por Márcia Josele Hossri Faria Coelho Vale do Bekaa, chegou ao Brasil no final cozinha, seguindo à risca as receitas da mãe.
do século XIX. Ela, Cecília Nader Hossri, A neta Márcia, que cresceu ao redor da avó
de Beirute, veio para o Brasil no início vivenciando o dia a dia na cozinha de casa,
“A lembrança é uma forma de encontro.” do século XX. Casaram-se e constituíram aprendeu a cozinhar muito cedo e trouxe
família na cidade de Jaguariúna, onde consigo todas as receitas da família.
Khalil Gibran
todos os filhos nasceram e foram criados:
Antônia, Antônio Maurício, Sarah, Adna e Os aromas e sabores fazem parte de
Aparecida. Tinham um armazém de secos nossa memória e lembranças. Um prato
e molhados na rua principal, em frente nos remete à infância ou ao carinho de
à igreja. um ente querido. As receitas vieram com
nossos antepassados guardadas no coração
Vovó Cecília dominava a culinária li- e escritas com muita saudade do que dei-
banesa como ninguém e adorava rece- xaram para trás. A culinária é uma forma
ber pessoas com uma mesa farta e cheia doce de expressar a cultura e os costumes
de amor. Amigos e vizinhos eram sempre de um povo, é a memória afetiva, latente
bem-vindos; a porta estava sempre aberta e inesquecível! Em cada prato colocamos
para quem quisesse apreciar suas delícias. nossas lembranças. Tudo que ficou da he-
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rança imaterial que nos foi transmitida
está representada no alimento.
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Ingredientes
TABULE
2 ramos de salsinha picada
2 tomates sem sementes cortados
em cubos pequenos
1 cebola picada
½ ramo de hortelã picado
2 colheres (sopa) de trigo para kibe
hidratado
1 colher (chá) de sal
100 ml de azeite
Suco de 4 limões
Folhas de alface lavadas e escorridas
Modo de preparo
Em um recipiente, coloque a salsi-
nha, os tomates, a cebola, a hortelã,
o trigo e o sal e misture. Regue com o
azeite e o suco dos limões, misturando
novamente.
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CHARUTINHOS DE FOLHA DE UVA
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MALABIE
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Modo de preparo
Em 2016 surgiu a ideia de compartilhar
as receitas da nossa família com o público.
da calda Estamos na quarta geração de mulheres.
Márcia, casada, tem duas filhas, Raíssa e
Leve ao fogo todos os ingredientes e Hadassa. Márcia é formada em Turismo,
deixe apurar. trabalhou com projetos turísticos, cultu-
rais e eventos. Raíssa, cientista social de
Coloque a calda já fria sobre o creme formação, trabalhou na área da educação.
em taças. Leve à geladeira. Hadassa é médica e trabalha na área da
Saúde Mental. Assista ao vídeo
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FAMÍLIA HEREMAN - Joannes Franciscus Hereman nasceu em
17 de outubro de 1838 em Aalst, Bélgica.
A maioria de seus descendentes instalou-
-se definitivamente na cidade de Engenhei-
ENTRE A BÉLGICA E Posteriormente, por volta de 1860, mudou-
-se para a cidade de Eksaarde (Exaerde),
ro Coelho e cidades vizinhas. Alguns poucos
retornaram para a Bélgica. Posteriormente,
O BRASIL pertencente ao município de Lokeren. Ca- outros produtos foram exportados para a
sou-se duas vezes e, com a última esposa, Europa, como laranja, mandioca e algodão.
Por Evandro Luís Francischetti Matilde de Mol, e seus 21 filhos, emigrou Mas o grande sucesso da família sem dú-
para o Brasil em 1887, onde receberam vida nenhuma foi o café de marca Estrella
“Pois, quando o assunto é memória terras virgens do governo brasileiro para a Brazileira, cuja etiqueta de exportação le-
gastronômica, não tive uma só agricultura. O local era o vilarejo de Guai- vava as cores verde e amarela e o brasão
conversa que não trouxesse para a quica, hoje a cidade de Engenheiro Coelho da República Brasileira.
roda os antepassados de alguém.” (SP).
Anos mais tarde, a filha de Pedro Here-
Bruna Toni Com o falecimento de Joannes em 1908, man, Helena Hereman, e seu esposo, Anto-
os filhos Theofile Hereman e Petrus Johan- nio Alves Cavalheiro, assumiram a fazenda.
nes Hereman assumiram a cultura do café, Todo o café exportado era torrado na ci-
que era plantado na Fazenda Guaiquica e dade belga de Eksaarde e distribuído aos
exportado para a Bélgica. Os irmãos eram países vizinhos.
considerados grandes empreendedores, a
ponto de conseguirem alterar o traçado da A família Hereman fez algumas viagens
estrada de ferro para que passasse dentro para a Bélgica para visitar parentes e para
de sua fazenda para coletar as sacas de reforçar os negócios que prosperavam em
café que eram enviadas ao porto de Santos. função do café. Minha avó, Celina Cavalhei-
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ro Francischetti, filha de Helena Hereman, carne, alimentavam-se apenas de vegetais. A carne de gado não era acessível
fez essa viagem em algumas ocasiões. Na Em ocasiões especiais, como feriados reli- para muitos, especialmente em tempos
década de 1970, ela me contava muitas giosos ou Ano-Novo, o coelho era o prato de guerra. Criar um coelho, por outro
histórias da Bélgica e disse que a viagem especial (toda família tinha coelhos), e um lado, ocupava relativamente pouco es-
de navio durava em torno de quarenta prato famoso era o coelho com ameixas paço e o transporte era fácil. O coelho
dias até chegar ao Porto de Antuérpia. secas. podia ser alimentado com folhas de couve
e outras sobras da cozinha, ou pastar em
Por volta de 1980, a empresa belga foi O que também se comeu muito foi o um pequeno pedaço de grama.
vendida. pensen, uma papa de sangue, comparada
com o pudim preto da Grã-Bretanha. Era Alguns fragmentos culinários foram
acompanhado de maçãs cozidas. colhidos com os familiares remanescen-
tes, principalmente os mais vividos, que
MEMÓRIAS CULINÁRIAS Em tempos difíceis, o pap, uma mistu- tiveram a oportunidade de estar mais
ra de leite e farinha (ou amido) com um próximos da época em que os Hereman
Segundo Dirk Lawers, um dos descen- pouco de pão escuro, era muito comum. tinham frequente contato com a Bél-
dentes da família Hereman que atualmen- gica. O bolo cuffe apareceu em alguns
te vive na cidade belga de Temse, no século O konijn met pruimen (coelho com amei- relatos, assim como a bolacha de café e
XIX e início do século XX, nas áreas rurais, xas) é um dos mais clássicos de todos os a batata frita.
havia muita pobreza, o que levou tantos a pratos flamengos. Tem sido amplamente
emigrar para países como o Brasil em busca apreciado desde o início dos anos 1900,
de fortuna. quando o coelho era uma importante fonte
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Ingredientes Modo de preparo
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Enviada por Dirk Lawers (Temse, Bélgica)
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Massa Esponja
Farofa
1 xícara de açúcar
1 xícara de trigo
1 colher (sopa) bem cheia de
margarina
40 g de canela
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Enviada por Fernanda Haydée Padilha (Itu-SP)
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Rijstpap, ou pudim de arroz, é uma Evandro Luis Francischetti
Modo de preparo
Antonio Alves Cavalheiro e Helena
Hereman. Filha: Celina Cavalheiro.
Adicione o leite, o arroz e o açúcar
em uma panela pesada e leve para Alcides Francischetti e Celina
Cavalheiro Francischetti. Fiho: Antonio
ferver em fogo médio, mexendo oca-
Italo Francischetti.
sionalmente com uma colher de pau
para separar os grãos. Adicione a ca-
nela em pau, a fava de baunilha e os Antonio Italo Francischetti e Maria
açafrões, tampe e cozinhe em fogo Aparecida Bonin Francischetti. Filho:
Evandro Luis Francischetti.
baixo por 30 minutos ou mais, até o
arroz ficar macio e absorver o leite.
Não mexa o arroz durante essa parte
do cozimento.
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