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Resumo: Este trabalho trata do estudo da falha de uma palheta de turbina a vapor que ocorre de forma repe-
titiva. Foram investigadas várias hipóteses de falha: no projeto; no material; avaliação das condições de vi-
bração e outros aspectos típicos de projeto (diagrama de Campbell, Safe Diagram, frequência de passagem
de injetores, fator de segurança, esforços na palheta oriundos do vapor e da força centrífuga, etc.). As avali-
ações foram comparadas com dimensionamento das tensões que atuam nas palhetas, encontrados analitica-
mente e através de elementos finitos FEA (Finite Element Analysis). Desta forma encontrou-se a condição
esperada de vida da palheta, estimada através das tensões determinadas e também pelo estudo estatístico dos
dados da falha, através da distribuição de Weibull. Desta forma a causa da falha na palheta foi identificada e
foi proposta uma solução para que a palheta atenda as condições operacionais da planta em termos de vida
útil e confiabilidade.
Palavras chave: Palheta de turbina; análise de falha; fadiga.
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faixa de 80% nos países onde a matriz energética não é O ciclo termodinâmico que mais se aproxima do ciclo
majoritariamente hídrica [1]. real de turbina a vapor é o ciclo de Rankine [9], que está
As palhetas das turbo máquinas são seus componen- apresentado na Figura 1 (a) e é uma variação do ciclo de
tes mais críticos e estão diretamente ligados ao seu ren- Carnot, no qual o trabalho realizado pelo vapor em uma
dimento e à sua vida útil [2]. O desenvolvimento das turbina pode ser representado por um diagrama tempera-
palhetas, como também das turbinas, tem se baseado em tura-entropia T-S, mostrado na Figura 2 (b).
ferramentas de projeto avançadas e na experiência tec- A transformação da energia potencial do vapor em
nológica de cada fabricante, baseada em aplicações exis- energia mecânica de rotação ocorre de diversas maneiras
tentes [3]. Atualmente os projetos de turbo máquinas, no interior das turbinas. Cada forma de transformação de
dos grandes fabricantes, são executados através de Aná- energia possui características diferentes em termos de
lise de Elementos Finitos ou FEA (Finite Element comportamento da pressão e velocidade envolvidas [7, 8]
Analysis) e CFD (Computational Fluid Dynamics), utili- e consequentemente nos danos que podem produzir.
zando softwares como ANSYS®, ANSYS® CFX®, Turbinas Curtis (ou de impulso/ação) – foram
BLADE GEN®, etc. A outra forma é o dimensionamento desenvolvidas com o objetivo de evitar a perda
analítico, que é dificultado pela escassez de material [4]. por energia cinética na saída. Essas turbinas são
Considerando o elevado grau de carregamento sob montadas com 2 ou mais filas de palhetas mó-
condições de fadiga, este mecanismo deve ser levado em veis, intercaladas por palhetas fixas que atuam
consideração quando se projeta as palhetas de uma tur- redirecionando o fluxo de vapor.
bina a vapor [5]. Adicionalmente à fadiga, outros meca- Turbinas Rateau (ou de reação) – nessas a
nismos de degradação devem ser levados em considera- expansão do vapor é dividida entre as palhetas
ção no projeto de palhetas de turbina a vapor, tais como a móveis e fixas, em 2 ou mais fileiras de bocais,
corrosão, a fluência (Creep) e as vibrações [6]. nos quais ocorre um escalonamento de pressões.
As turbinas a vapor modernas são classificadas de Turbinas de estágios combinados (impulso e
várias formas com relação à sua construção. Em relação reação) – construídas com os dois tipos de ex-
ao modo de atuação do vapor no rotor, as turbo máquinas tração da energia do vapor em um mesmo con-
podem ser classificadas como [7, 8]: junto rotor, condição essa que se mostrou mais
vantajosa do ponto de vista econômico.
• turbinas de ação - quando a expansão do vapor
ocorre unicamente nos órgãos fixos, constituídos de Normalmente os estágios de impulso (Curtis) se des-
injetores ou palhetas fixas; tinam as altas pressões, porque as características constru-
• turbinas de reação - quando a expansão do vapor tivas deste tipo de turbina proporcionam uma queda de
ocorre também no rotor e desta forma a pressão na pressão maior com uma eficiência melhor para um baixo
entrada do vapor é maior do que na saída; número de estágios. Os estágios de reação (Rateau) são
• turbinas de ação e reação - são turbinas mistas, empregados para as baixas pressões, porque suas carac-
sua parte inicial de alta pressão, é construída para terísticas construtivas proporcionam uma maior eficiên-
ação e a outra parte, de baixa pressão, para reação. cia em pressões menores.
1.1 Projeto de Palhetas e Forças Atuantes Força atuante na direção do fluxo [11, 12],
G
As palhetas são componentes essenciais das turbinas, nas palhetas guia: P Pg (C1 C 2) t n ( p p) (9)
g 1 2
pois são responsáveis por transformar a energia do vapor
G
em movimento do rotor, implicando diretamente no ren- nas palhetas móveis: ( ) (p p ) (10)
dimento geral das turbinas. Seu projeto e fabricação
P Pm
g w1 w2 t b 1 2
Transformação da energia em movimento nas palhe- Tensão de flexão devido a pressão de vapor [2, 8]:
tas móveis em um estágio de impulso ( = = 0,95) [7,
M
8, 11]: σ Fvapor
x
(15)
(3)
W y
Quadro 1. Notação dos símbolos e unidades empregadas nas equações contidas neste trabalho.
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quais as pressões podem chegar a 29 MPa e às tempera- importantes que devem ser considerados são: os materi-
turas que podem superar 1033,15 K, condições que fa- ais, geometria e as demais características que têm in-
vorecem o aparecimento de fadiga e de fluência (creep). fluência na frequência natural da palheta e do conjunto
Normalmente os materiais empregáveis se afunilam em geral [13].
em uma gama pequena, quase pré-definida, devido as Tipicamente a avaliação das palhetas de uma turbina
características de custo, disponibilidade e facilidade de é realizada utilizando o diagrama de Campbell, que rela-
ser trabalhado. É possível dizer que as escolhas partem ciona as frequências naturais com a rotação do equipa-
de aços com Cromo, Tungstênio, Níquel e Titânio [12]. mento, e o diagrama de interferência (Safe), que relacio-
Para aplicações de baixa pressão são tipicamente empre- na uma frequência ao modo de vibração. Os diagramas
gados os aços AISI 403, AISI 410, AISI 420Cb, AISI se complementam, indicando as possíveis ressonâncias.
422, sendo que o AISI 403 é encontrado em aproxima- Devido à necessidade de estimar as tensões causadas
damente 90% das palhetas de turbinas a vapor tradicio- por ressonâncias associadas à interação do jato de vapor
nais [13], em todos os estágios, devido a sua alta resis- com a palheta, foram desenvolvidos métodos analíticos
tência ao escoamento, à tração, à corrosão e erosão e simplificados, dos quais, têm-se uma das equações que
capacidade de amortecimento (damping). estimam a tensão de vibração na palheta [14]:
(17)
1.3 Carregamentos transientes
O fator de ampliação da resposta ressonante, causada
As vibrações mecânicas são um fator importante a se pela excitação harmônica da rotação, é estimado por:
considerar no projeto das turbinas. As principais caracte-
rísticas vibracionais que são observadas na avaliação (18)
dinâmica das turbinas a vapor e das máquinas em geral,
são as frequências, amplitudes e os modos de vibração
presentes. Esses últimos podem ser constituídos por fle- A frequência de passagem dos injetores (NPF), re-
xão, torção, radiais, axiais ou em todas as direções. Ba- sultante da variação do fluxo de vapor entre a saída do
injetor e a entrada na palheta, pode ser descrita por:
sicamente são avaliadas as frequências naturais (n) das
palhetas, rotor ou disco, carcaça; de forma individual ou (18)
em conjuntos montados [12, 13, 14].
A ressonância, que é a coincidência de uma das for-
ças de excitação com alguma das frequências naturais de 1.4 Objetivo
um sistema, deve ser evitada em todos os equipamentos e
especialmente nas palhetas, sob pena danos severos. As- Neste estudo foi analisado um caso de falha repetitivo
sim sendo, os modos de vibração e as frequências natu- e intermitente de palhetas de um conjunto, mostrado na
rais das palhetas e do disco devem ser conhecidas ainda Figura 2, empregado em uma turbina a vapor multiestá-
na fase de projeto, de forma a realizar o dimensiona- gio de condensação TERRY® modelo F6, com 5 rodas
mento vibracional apropriado. Neste caso, os parâmetros Rateau e 1 roda Curtis com dois estágios de velocidade.
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As frequências naturais podem ser encontradas em os seguintes critérios, o critério de Goodman, Goodman
[16]. Os devidos cálculos levaram à: Modificado e o critério de Soderberg [15, 16].
Para o caso estudado, o gráfico de Campbell, Figura Tabela 6. Resumo dos Fatores de Segurança (fs) e
5, e o diagrama Safe, Figura 6, confirmam a necessidade Número de ciclos (Nf) para falha da Palheta avaliada.
do uso da cinta para atenuar a tensão de vibração, porque
as coincidências de frequências (FNR e FNP) ou resso-
nâncias encontradas indicam que existem tensões provo- Para comparar os dados apresentados na Tabela 6
cadas por vibrações que devem ser consideradas. com os dados reais, empregou-se a metodologia de
Para estimar a vida da palheta foram utilizadas as Weibull para obter uma vida média pelo uso de uma re-
tensões encontradas por FEA para condição normal de gressão empregando a expressão de probabilidade de
trabalho da palheta, ou seja, com o conjunto montado. falha de Weibull com três parâmetros [16] para analisar
Para o cálculo do fator de segurança (fs) foram aplicados os dados reais de falha:
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Referências
(20)
[1] BEN 2014. Relatório Síntese - Balanço Energético
Considerando o cálculo de probabilidade pelo critério de Nacional. Empresa de Pesquisa Energética – EPE.
Johnson e Bernard, foram obtidos os seguintes parâme- 2013, 54 p.
tros para a distribuição de Weibull [16]: [2] SATYANARAYANA, P. Parametric modeling and
dynamic characterization for static strength of steam
Johnson - =1,4; x0=918,3 dias; xu=177,1 dias. turbine moving blades. Int. Journal of I. R. in Science,
Bernard - m=1,5; x0=824,8 dias; xu=230,8 dias. Engineering and Technology, v. 2. Jul. 2013.
[3] MISEK, T.; KUBÍN, Z. Static and Dynamic Analysis
O tempo médio para falha pode ser obtido soman- of 1 220 mm Steel Last Stage Blade for Steam Tur-
do-se os parâmetros x0+xu. Assim, utilizando os dois bine. Applied and Computational Mechanics, pp.
conjuntos de parâmetros obtidos, estima-se que a falha 133–140. Nov. 2008.
ocorre a cada 1.076 dias ou 2,94 anos em média [16]. [4] ESSS 2013 Conference & Ansys Users Meeting.
O critério de Goodman modificado considera a ten- Atibaia (SP): Anais. Abril, 2013.
são de vibração [14], por isso este torna-se o critério ide- [5] MESTANEKA, P. Low cycle fatigue analysis of a
al para análise deste equipamento, mesmo que esta tenha last stage steam turbine blade. Faculty of Applied
sido atenuada pelo aro. Considerando este critério e os Sciences, University of West Bohemia in Pilsen,
valores extremos de 1,11 e 4,83 anos, mostrados na Ta- Univerzitnı 22, 306 14 Plzen, Czech Republic, 2008.
bela 6, ao se empregar o limite de fadiga corrigido [6] BERTINI, L. Explanation and Application of the
(FcorT) obtêm-se uma média de 2,97 anos para a falha. SAFE Diagram. RASD 2013 - 11 International
Este valor é bem próximo aos valores reais obtidos pela Conference, Pisa, Italy, jul. 2013.
interpretação dos dados reais através da análise de Wei- [7] MACINTYRE, A. J. Equipamentos Industriais e de
bull, traduzidos pelas probabilidades de Johnson e Ber- processo. 1ª ed.: Rio de Janeiro: LTC – Livros Téc-
nard [16]. nicos e Científicos Editora S.A, 1997, 278 p.
[8] LORA, E.E; NASCIMENTO, M.A.R. Geração
Termoelétrica Planejamento, Projeto e Operação
4. Conclusões vol. 1. Ed. Interciência, 2004, 631 p.
[9] BLOCH, H. P.; SINGH, M. P. Steam turbines De-
Com base nas avaliações realizadas foi possível con- sign, Applications and Re-Rating. 2ª ed. New York:
cluir que, a vida da palheta está dentro do esperado para MacGraw Hill, 2009, 433 p.
as condições do projeto, ou seja, ocorrerá uma falha por [10] SHLYAKHIN, P. Steam Turbines - Theory and
fadiga em um período de cerca de 3 anos conforme va-
Design. Moscow: Mir Publishers,1974, 238 p.
lores médios previstos e validados neste trabalho. A ten-
são elevada no aro e na cinta indica uma frágil fixação da [11] GORLA , R. S. R.; KHAN, A. A. Turbomachinery
ponta da palheta, que irá se danificar, alargando o furo Design and Theory. 2ª ed. Cleveland, Ohio, U.S.A:
do aro, diminuindo a rigidez da palheta, favorecendo um Marcel Dekker, 2003, 404 p.
aumento de tensão na raiz da palheta. Com base nas aná- [12] STUCH, Z. Steam Turbine Blade Design. Twelfth
lises realizadas é possível considerar as seguintes solu- Annual Freshman Conference. April 2012.
ções para proporcionar uma vida útil com maior confia- [13] HEYMANN, F.J. Steam Turbine blade: Considera-
bilidade para a palheta na condição atual de operação: tion in Design and a Survey of Blade Failures.
a) Substituição do material da palheta e do aro, Westinghouse Eletric Corporation - Eletric Power
por um de maior resistência a fadiga; Research Institute. August 1981.
b) Alteração do projeto da raiz da palheta, dimi- [14] SINGH, M. P.; LUCAS, G. M. Blade Design and
nuindo as tensões atuantes na palheta. Analysis for Steam Turbines. 1ª ed. New York:
A eficácia verificada pelo uso conjunto da distribui- MacGraw Hill, 2011, 213 p.
ção de Weibull e do método de Goodman modificado
[15] MORAIS, W.A.; SAMPAIO JR., H.D. Fadiga nos
para prever a vida em fadiga da palheta indica que é pos-
sível empregar as equações e cálculos envolvidos, como Aços Estruturais. Revista do Aço, São Paulo, v. 10,
por exemplo, os fatores de correção de vida em fadiga p. 20 - 28, 23 dez. 2013.
definidos, para modelar alterações no projeto ou nas [16] SILVA, R. A. F. da. Estudo de Falha em Palheta de
condições de funcionamento do equipamento de modo a Turbina a Vapor. 2015. Dissertação de Mestrado -
evitar sua falha recorrente. Universidade Santa Cecília (UNISANTA).
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