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15/05/22, 22:43 Júlio Machado Vaz: 

″Se for necessário marcha-atrás nas restrições, tenho dúvidas quanto à reação da população″

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Júlio Machado Vaz: "Se for necessário marcha-atrás nas restrições, te…

INÍCIO / SOCIEDADE

Júlio Machado Vaz: "Se for necessário


marcha-atrás nas restrições, tenho
dúvidas quanto à reação da população"
Os efeitos da pandemia na saúde mental dos portugueses em análise no divã do
psiquiatra, que assume que "já esteve deprimido". Acredita no potencial da tecnologia,
mas não teme que substitua o médico. Sobre a eutanásia, é um dos assinantes do
manifesto e diz que "ficaria muito surpreendido se não caíssemos numa situação de, em
termos legais, isso ter sido aprovado e, em termos operacionais, começarmos a
caminhar em terreno enlameado e que torna o trajeto muito lento".

Júlio Machado Vaz.© Leonel de Castro/Global Imagens

Rosália Amorim e
Pedro Cruz (TSF)
13 Maio 2022 — 07:00
P siquiatra, professor universitário e comunicador, há mais de
30 anos que nos habituamos a vê-lo, ou a ouvi-lo, a tentar
explicar temas complexos em palavras simples. Não gosta que lhe
chamem sexólogo, mas foi por aí que se tornou conhecido dos
portugueses, um rótulo que lhe ficou colado à figura e à voz. Entre
TÓPICOS a televisão e a rádio, nunca deixou de dar consultas, há uma
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15/05/22, 22:43 Júlio Machado Vaz: ″Se for necessário marcha-atrás nas restrições, tenho dúvidas quanto à reação da população″
Entrevista DN TSF
década abandonou a faculdade, o ambiente estava, diz ele,TSF
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Júlio Machado Vaz 
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irrespirável. Depois de anos de pandemia e restrições, a saúde
entrevista
Júlio Machado Vaz: "Se for necessário
mental entroumarcha-atrás nas O
na ordem do dia. restrições, te…
nosso convidado é Júlio
Sociedade
Machado Vaz, 72 anos.

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casos diários

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máscaras e nos testes

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vaga "a começar a desenhar-se", diz relatório

Depois de dois anos de pandemia estamos todos a precisar de


ir ao divã ou só alguns?

Alguns estão, mas não devemos confundir, aliás, o meu querido


professor Coimbra de Matos explicava isso como ninguém: não
devemos confundir tristeza com depressão, portanto, acrescentaria
que também não devemos confundir profundo cansaço com
depressão. É sempre perigoso quando começamos a psiquiatrizar
sentimentos que acabam por ser normais, perante os desafios que
nos aparecem pela vida, e estes dois anos têm sido um desafio
grande, inesperado, e que continua. Isso leva-nos longe, não sei se
concordam, mas há um sentimento em muitos de nós que foi
decretar o fim da pandemia e ponto final. Por outro lado,
começamos a ler que talvez estejamos no início de uma sexta
vaga, portanto, há aspetos que transformam o momento em que
vivemos, tem-se estado muito mais ocupado com a guerra na
Ucrânia, mas transforma-se numa situação curiosa. Isto porque
tenho sinceras dúvidas de que se for considerado necessário fazer
travão às quatro rodas e fazer alguma marcha-atrás, tenho muitas
dúvidas quanto à reação da maioria da população.

Não foi na verdade decretado, mas temos todos já esse


sentimento de libertação.

Tem toda a razão. O verbo decretar tem um peso quase Diário da


República, empreguei-o no sentido em que as pessoas, umas
conscientemente e outras inconscientemente, assumiram que esta

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primavera marcava o fim da pandemia. Há muita gente queTSF


já fala
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na pandemia no passado e a realidade é mais complexa do que
Júlio Machado Vaz: "Se for necessário marcha-atrás nas restrições, te…
isso.

As restrições a que fomos sujeitos, os confinamentos, o medo


de uma doença totalmente desconhecida e altamente
contagiosa, de alguma forma criaram desequilíbrios
emocionais em cada um de nós, e na própria sociedade, que
levarão muito tempo a resolver, ou não?

Mais uma vez, não podemos generalizar. Houve pessoas que


passaram sem grandes sacudidelas, por isso houve outras que
tiveram e ainda têm problemas, mas em que a recuperação -
partindo do princípio de que não estamos a caminho da décima
quinta vaga -, se fará de modo rápido e sem problemas maiores.
Mas temos de assumir, e os meus colegas responsáveis pela
saúde mental fizeram isto desde o início, que há consequências
psicológicas que, algumas delas, justificam até diagnósticos
psiquiátricos e que têm uma característica que é quase irónica, que
parece "de mau gosto", prolongam-se no tempo. Ou seja, o tempo
da doença biológica, digamos assim, não é o mesmo tempo das
consequências a nível da saúde mental.

"Nas consequências de confinamento,


até em profissionais de saúde,
observaram-se casos de stress pós-
traumático quatro e cinco anos depois
dos acontecimentos."

Estes efeitos da pandemia podem sentir-se ao nível emocional


por quanto tempo?

Só tínhamos tido experiências, embora em muito menor escala,


sobre as consequências de confinamento, até em profissionais de
saúde, e observaram-se casos de stress pós-traumático quatro e
cinco anos depois dos acontecimentos. E, ainda por cima,
afetavam o comportamento dos profissionais de saúde, um

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exemplo: havia colegas meus, três ou quatro anos depois, quando


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numa consulta normalíssima de seguimento a pessoa à sua frente
Júlio Machado Vaz: "Se for necessário
tossia, tinhammarcha-atrás
um movimento nas restrições,
automático dete…
recuo. As coisas
ficaram de tal maneira incrustadas que ainda influenciam o
comportamento pessoal, ainda por cima de um profissional de
saúde.

Portanto, um estado de alerta constante.

É verdade, e se quisermos ir ao diagnóstico, porque tive o cuidado


de dizer que será uma minoria, mas que existe, há muito ainda a
ideia em Portugal que o stress pós-traumático é algo que só afeta
ou afetou quem esteve na guerra colonial. E aqui permitirão que
renda a minha homenagem ao meu grande amigo e recentemente
perdido, o dr. Afonso de Albuquerque que se bateu nessa área
como ninguém. Mas não é verdade, começamos a observar
situações de stress pós-traumático, observaremos situações de
agravamento de patologias pré-existentes, e aparecerão distúrbios
de ansiedade e distúrbios depressivos.

Dados recentes mostram que a sociedade portuguesa está


muito mais desperta para a problemática da saúde mental.
Mais de dois terços dos portugueses consideram que se trata
de uma área de intervenção prioritária. Na sua opinião, resulta
dos últimos dois anos ou simplesmente do facto de se falar
mais do tema, inclusive na comunicação social?

Sim, tem-se falado mais do tema. Não podemos esconder o sol


com a peneira e temos um problema de iliteracia na saúde, mas
que está incluído num problema de iliteracia no geral. A saúde
mental foi sempre encarada - e agora estou a falar mesmo nos
profissionais e pelos profissionais -, como, digamos assim, a
enjeitada do ramo da medicina. A queixa psicológica foi sempre
considerada menos credível, menos "honesta", do que a queixa
física. Quando conversamos e alguém refere algo que tem a ver
com ortopedia, medicina interna, etc., não nos passa pela cabeça
duvidar da seriedade da questão, da necessidade de procura de
ajuda, mas com a saúde mental não é assim.

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 17 "Os homens têm uma pressão socialTSF
ainda maior para considerar o
Júlio Machado Vaz: "Se for necessário marcha-atrás nas restrições, te…
sofrimento psicológico como uma
demonstração de fraqueza (...) foram
educados com aquelas frases como
"um homem não chora".

A dor da alma não está catalogada.

Não e, ainda por cima, há um efeito género, ou seja, os homens


têm uma pressão social ainda maior para considerar o sofrimento
psicológico como uma demonstração de fraqueza. Portanto, é
muito vulgar recebermos homens que estão em estados mais
adiantados de sofrimento psicológico, porque eles acham que já
deveriam ter conseguido resolver aquilo. Ainda foram educados
com aquelas velhas frases como "um homem não chora", "mostra
que és um homem", etc.. Mas as falhas claras, as insuficiências
melhor dizendo, ao nível da saúde mental existiam antes da
pandemia, a pandemia só veio aprofundar essas feridas. Tenho lido
com prazer as declarações do professor Miguel Xavier, do meu
velho amigo o professor Leuschner Fernandes e, portanto, tenho a
esperança que isto sirva para de uma vez por todas - não vai
acontecer de uma semana para a outra -, se perceba que não
podemos andar pelo país inteiro a dizer às pessoas que a saúde é
uma questão global, da parte psicológica, da parte física, um dos
adjetivos da moda é uma visão holística da pessoa, e depois no
concreto os meus colegas dizerem-me que quando pedem para
referenciar alguém para uma consulta, por exemplo, de psiquiatria
ou psicologia, essa consulta leva meses e meses até se realizar. É
impensável.

Tem esperança que tenha impacto nas políticas públicas do


Ministério da Saúde ao nível da saúde mental?

É verdade, veja o número de psicólogos nos cuidados de saúde


primários.

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Mas, ao mesmo tempo, Portugal é o país onde se receita mais


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antidepressivos e ansiolíticos. Na sua opinião, trata-se de um
Júlio Machado Vaz: "Se for necessário
excesso marcha-atrás
de prescrições ounas
derestrições,
um número te…
anormal de casos?
No sentido em que, seremos nós, por definição, um povo
triste, dado a estados de alma negativos, com o fado, a
fatalidade e o luto, ou isso são as tais heranças da mesma
lógica de "um homem nunca chora"?

Tenho uma posição muito ambivalente em relação a isso. Sempre


achei que tínhamos um bocado de azar em sermos vizinhos dos
espanhóis, porque eles têm uma alegria de viver, uma capacidade
de encher aquelas magníficas praças enormes de carrinhos de
bebé para beberem uma "copa" antes de irem jantar às dez da
noite, etc., que a nós nos faz sempre parecer macambúzios. Mas
não alinho nada, por outro lado, nessa história de que estamos
sempre atacados por um espírito de um fado, não, os portugueses
não são assim tão dotados de especificidades a nível do humor.
Não creio que seja isso que está em causa, o que acontece é que
perante determinadas situações, a população apercebe-se daquilo
que lhe vai dentro. O facto de se ter começado a falar mais de
saúde mental também foi importante, é verdade, mas arriscar-me-
ia a dizer que terá sido mais importante para aqueles que decidem,
para aqueles que planeiam, do que propriamente para aqueles que
estão habituados a que, cada vez que nessas áreas procuram
ajuda, terem respostas de todo insuficientes.

"Doença psiquiátrica implica escutar. A


esmagadora maioria dos meus colegas,
sobretudo nos cuidados de saúde
primários, não tem essa possibilidade.
Nessas situações, é mais fácil
prescrever."

Mas já não temos o rácio mais alto de medicamentos


antidepressivos em Portugal?

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15/05/22, 22:43 Júlio Machado Vaz: ″Se for necessário marcha-atrás nas restrições, tenho dúvidas quanto à reação da população″

Em primeiro lugar, as condições de trabalho influenciam. Como


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compreende, o sofrimento psicológico - e repare que tenho o
Júlio Machado Vaz: "Se for necessário
cuidado de nãomarcha-atrás nas restrições,
dizer "a doença te…
psiquiátrica" -, implica que se tenha
possibilidade de escutar as pessoas. A esmagadora maioria dos
meus colegas, sobretudo nos cuidados de saúde primários, não
tem essa possibilidade. Nessas situações, é mais fácil prescrever,
é mais rápido, e isso acontece. Por outro lado, vivemos numa
sociedade que está muito virada para soluções rápidas e, por isso,
também não é raro que do lado da própria pessoa que tem as
queixas, haja a nostalgia de uma pastilha que vai resolver tudo.
Portanto, nessa altura, acaba por se formar uma espécie de
tempestade perfeita, em que dos dois lados da secretária há um
movimento de mútuo acordo para a medicação. Aí, regressaria ao
que disse anteriormente a respeito da tristeza e da depressão:
enquanto as depressões - o que não significa que não haja apoio
psicoterapêutico -, pressupõem uma ajuda medicamentosa, não faz
sentido nenhum estar a medicar a tristeza. A tristeza é algo tão
natural como a alegria e demasiadas vezes nós profissionais,
psiquiatras ou não, porque é bom não esquecer que não são só os
psiquiatras que receitam medicação psiquiátrica, por vezes
estamos a sobremedicar. Portanto, esses números, em termos de
literacia de saúde dos próprios profissionais, são números que são
preocupantes em termos do país.

Há pouco falou das condições de trabalho: trabalhamos de


mais, ganhamos de menos, ou seja, grande parte da vida útil é
passada a trabalhar com pouco espaço e tempo para o lazer?
A semana de quatro dias, por exemplo, poderia ter um efeito
no sentido de melhorar o bem-estar na sociedade?

Poderia. É uma coincidência que me ponha essa questão porque


ontem mesmo gravei com a Inês sobre o ócio, um texto belíssimo
de Robert Louis Stevenson, A Capacidade do Ócio.

Mas não há tempo para ele ultimamente.

Temos uma visão pejorativa da própria palavra, mas o ócio não é


não fazer nada, o ócio pode ser muito produtivo. Por exemplo,
havia nos clássicos a noção que enquanto o ócio era destinado ao
trabalho intelectual, o negócio era destinado ao trabalho ligado à
sobrevivência. Quando me fala na semana de quatro dias, o que

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tenho dificuldade é em falar nisso isoladamente, porque isso vem


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no seguimento de outras ideias, muitas delas aplicadas como, por
Júlio Machado Vaz: "Se for necessário
exemplo, marcha-atrás
a flexibilização do nas restrições,
trabalho. te…paredes-meias com
Isto vive
questões como a crise da natalidade, mas também o maior
empoderamento dos trabalhadores. Sabemos que a rentabilidade é
maior quando os trabalhadores, em qualquer tipo de área, têm a
noção que eles próprios têm uma determinada autonomia para que
as tarefas sejam levadas a cabo, e não que estão inseridos numa
espécie de cadeia de produção completamente automatizada.

Recordo-vos aquela imagem extraordinária de Chaplin nos Tempos


Modernos, em que saía da fábrica e começava a apertar os botões
dos casacos das pessoas na rua porque era isso que ele fazia
todos os dias. A priori e por aquilo que me é dito pelas pessoas que
estudam o tema, a semana de quatro dias não tem nada que me
assuste, não é uma questão de preguiça como diz muita gente.
Gostaria de recordar que houve uma altura em que foi preciso
haver lutas sociais para não se trabalhar ao sábado, para nós o fim
de semana é mais ou menos um direito adquirido. A questão não
está aí, a questão está na organização de trabalho, e se se provar
que com quatro dias por semana o trabalho não sofre com isso,
que isso pode ajudar, de certa forma, em termos da problemática
do desemprego, a minha questão é, porque não? Nós não
inventámos a roda, há países que estão a experimentar esse
sistema, vamos ver as avaliações que já existem, e um dia, porque
não?

Recentrando na importância de colocar os cidadãos à frente


da doença, isso realmente aconteceu com a pandemia ou a
covid-19 ultrapassou tudo e todos? Fomos abalroados pela
covid-19, mesmo nos serviços de saúde e passou à frente
daquilo que é o interesse do cidadão?

Fomos. Fomos porque a manta é curta, como diz o povo, e,


portanto, uma inevitável concentração de recursos numa
determinada área, como foi e tem sido a área da pandemia, fez
com que outras áreas e o metabolismo basal dos serviços em
geral, e dos cuidados de saúde em particular, foram muito
afetados. As pessoas queixam-se ainda, mas queixavam-se

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amargamente, que não conseguiam entrar em contacto com os


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profissionais de saúde. Por outro lado, é bom também dizer isto, os
Júlio Machado Vaz: "Se for necessáriode
profissionais marcha-atrás nas restrições,
saúde queixavam-se te…
amargamente de que lhes
eram acometidas funções que não deveriam ser da sua
responsabilidade, e que os impediam de prosseguir a sua atividade
normal mínima, naquilo que é o mais nobre da profissão, que é a
consulta com o doente. É evidente que a tecnologia ajudou em
termos das questões do confinamento, as comunicações por e-
mail, etc., mas quer queiramos quer não, houve um prejuízo
enorme da atividade, ainda por cima, da área fulcral do SNS que
são os cuidados de saúde primários, que já viviam em dificuldades,
e que ficaram completamente submersos com a situação que
atravessámos. Isto é evidente que tem consequências, mas havia
problemas que vinham de trás, qualquer um de vocês já ouviu
aquela expressão de que "gosto muito do meu médico de família,
mas ele só olha para o ecrã do computador", ou seja, problemas na
relação médico-paciente.

"A inteligência artificial abre-nos


perspetivas magníficas a nível da
imagiologia, a nível da capacidade de
articular os serviços (...), mas dentro
dos seus limites que têm a ver com a
lógica."

Já todos ouvimos falar muito de tecnologia na saúde, fala-se


muito do avanço da robótica, da inteligência artificial e por
isso pergunto, que papel fica reservado ao tal humanismo
essencial à medicina?

Enquanto estava à espera de estabelecer ligação convosco, estava


a ler na diagonal um artigo enviado pelo professor Espiga de
Macedo, uma amizade de 60 anos, e o artigo era sobre as
questões do diagnóstico, a relação médico-doente, etc.. E dizia
algo que assino por baixo: a inteligência artificial abre-nos

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perspetivas magníficas a nível da imagiologia, a nível da


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capacidade de articular os diversos serviços, da informação
Júlio Machado Vaz: "Se for necessário
circular, marcha-atrás
etc.. Depois, nas restrições,
era a opinião de quemte…
escrevia o artigo, há
determinadas funções de integração, tanto do tratamento como do
diagnóstico, em que a inteligência artificial tem muito mais
dificuldades, e em que o médico continua a ser mais eficaz. Mas
antes de tudo isto há outra coisa: o que é que esperamos da
medicina? Uma relação entre duas pessoas com todo o auxílio que
a inteligência artificial nos pode dar? Aliás, recentemente, um
colega meu nos Estados Unidos, depois de sublinhar todos os
avanços da inteligência artificial, quando lhe perguntaram o que
valorizava mais em tudo isso, sorriu e disse, "estou com uma
enorme esperança de que a inteligência artificial me permita ter o
tempo para ver cada doente, que tinha há 20 ou 30 anos". Isto
conta muito, e até me podem dizer, e aqui também há diferenças
nos estudos entre os mais velhos e os mais jovens, os mais jovens
estão mais disponíveis para aplicações, contactos à distância, para
um diagnóstico que é dado pela própria máquina ou algoritmo, mas
isso não significa que depois não haja a nostalgia do contacto
humano. Não podemos pedir à inteligência artificial que funcione
fora dos seus limites, e os seus limites têm a ver com a lógica.
Somos um animal que muitas vezes é profundamente ilógico e isso
é algo com que temos de lidar em consulta, ao longo do
tratamento. Houve agora uma pequena/média discussão por causa
de um critério em relação ao desempenho dos meus colegas das
USF tipo B, com a questão das interrupções de gravidez e com as
infeções sexualmente transmissíveis e isso já foi retirado. Vejamos,
isto tem a ver com uma nostalgia de que me lembro de há 30 ou 40
anos, por exemplo em relação às infeções sexualmente
transmissíveis, e depois há aquela hipocrisia que é falarmos disto
como se apenas se referisse aos mais jovens, o que é uma
redonda e anafada mentira. Mas a nostalgia era a seguinte: se as
pessoas estiverem devidamente informadas, não haverá
comportamentos de risco. Isto pura e simplesmente não é verdade
porque em determinadas situações as pessoas tentam a sorte,
portanto, ir buscar a uma situação dessas a prova de uma
determinada incompetência do profissional de saúde, não faz
sentido rigorosamente nenhum. E reparem que nem sequer

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abordei isto pelo prisma de liberdade das pessoas, não é preciso ir


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aí, basta ter a noção de que a informação só por si não garante
Júlio Machado Vaz: "Se for necessário
nada marcha-atrás
em relação nas restrições,
ao comportamento te…
das pessoas.

"Assumi que tinha estado deprimido. E


colegas meus telefonaram-me dizendo
'o que tu fizeste é suicidário. Quem é
que agora te vai consultar?'. E não foi
isso que aconteceu. Havia pessoas que
iam ter comigo e diziam "talvez o
senhor perceba".

O senhor é um psiquiatra que já teve uma depressão, já


confessou isso e explicou porquê.

Permita-me só, por deformação profissional, pôr a coisa de outra


maneira? Estive deprimido. Sabe porquê? Quando dizemos "teve
uma depressão", parece que outro diagnóstico psiquiátrico está
numa esquina, terrivelmente chateado, por não ter nada que fazer,
passamos nós e cai-nos em cima. Não é assim. Não é uma
entidade externa. Numa determinada altura nós estamos
deprimidos. E, com um bocado de sorte, depois deixamos de estar.

O facto de ter estado deprimido ajuda-o a perceber melhor


quem tem diante de si?

Eu acho, e aqui tenho que deixar uma palavra de agradecimento


do dr. Jaime Milheiro, que foi o meu psicanalista há 40 anos. Estou
profundamente convencido de que se não fui mais longe em
autoconhecimento, a culpa foi minha porque ele fez, na minha
opinião um ótimo trabalho e hoje faz-me o favor de ser um bom
amigo. Se, por um lado, eu tive a opção - e não estou a dizer que
foi a melhor -, houve alturas da minha vida em que eu pensei que
não era assim que as coisas se deviam passar, mas fiz psicanálise
e não fiz terapia medicamentosa. Eu próprio era psiquiatra e tinha a
sensação de que é mais do que legítimo que tentemos fazer

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abrandar os sintomas com medicação, mas eu tinha a sensação de


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que o fulcro da questão não era esse. Que havia um padrão na
Júlio Machado Vaz: "Se for necessário
minha marcha-atrás
vida que nas restrições,
era preciso deslindar, e quete…
sem isso não iria lá.
Portanto, em termos de autoconhecimento foi bom. Um psiquiatra,
um psicólogo, um médico de medicina geral e familiar, que se
conhece melhor, em geral tem melhor capacidade de empatizar
com quem está à sua frente. No meu caso particular, houve um
pormenor, hoje em dia engraçado, já não sei em que entrevista, eu
assumi que tinha estado deprimido. E colegas meus, muito bem-
intencionados, telefonaram-me dizendo "o que tu fizeste é
suicidário. Quem é que agora te vai consultar?". E não foi isso que
aconteceu. O que aconteceu é que havia pessoas que iam ter
comigo e diziam "eu ouvi aquilo, eu li aquilo, talvez o senhor
perceba". Ou seja, quando uma pessoa me dizia "eu estou
completamente desmotivado, não tenho um objetivo na vida, ando
triste, etc.", e eu dizia "se calhar tem aquela sensação
desagradável que é custar-nos até abrir a persiana de manhã". Não
era raro a pessoa dizer "é exatamente isso". E isto para a pessoa é
reconfortante. Do outro lado alguém entende. Cuidado que não
estou a dizer que haja workshops para deprimir os psiquiatras.

A que médicos vai o médico Júlio Machado Vaz? E como


funciona essa relação paciente-médico quando o próprio
paciente é médico? É uma luta, uma discussão, é um debate?

Essa é uma daquelas perguntas que só me apetece dar a resposta


clássica: "só na presença do meu advogado". Porque nós os
médicos, com enorme frequência, sendo médicos de outro médico,
e sendo doentes de outro médico, furamos completamente as
regras. Primeiro, porque não é nada raro que as nossas consultas
sejam em conversas de corredor ou num jantar em que estamos
com o colega ou, porque também somos médicos, perante uma
medicação que aceitámos oficialmente chegamos cá fora e
imediatamente adaptamo-la porque achamos que aquele
medicamente não precisa de ter aquela dose, aquele outro talvez a
uma outra hora. Somos muito indisciplinados. E isso não é bom.
Lembro-me de um livro que li, sobre relação entre médico e doente,
e que se debruçava sobre essa questão. Um colega meu
trabalhava com um prémio Nobel na área da neurologia e estava
preocupado com determinados sintomas. Então, em conversa
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estilo café, deu-lhe nota das suas preocupações. E o outro TSF


mais
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velho, mais experiente, mais sábio disse-lhe "sabes o que tens que
Júlio Machado Vaz: "Se for necessário
fazer?", "não, marcha-atrás
o quê?", "achonas
querestrições, te…
tens que ir ao médico". Ou seja,
nessas alturas, temos que nos convencer que precisamos de uma
consulta e vamos a uma consulta. Não é passar tangentes e ouvir
palpites. É irmos a uma consulta, ouvir, queixarmo-nos, depois
fazermos os exames que nos são prescritos, mas sem fazer batota
pelo meio. Aliás, em termos de formação em medicina, há escolas
médicas que põem os alunos, durante alguns dias, em enfermaria,
na posição dos doentes. E isso é muito revelador porque conseguir
pôr-se nos sapatos do outro, é uma vantagem extraordinária. E não
é uma coisa fácil.

Vamos agora mudar ligeiramente de sapatos para ir até à


faculdade. Deixou a faculdade porque estava irrespirável, e
estou a citá-lo. Irrespirável porquê? O que é que o fez deixar a
faculdade?

Numa determinada altura, com razão ou sem ela, houve alguém do


Instituto de Ciências Abel Salazar que teve uma atitude para
comigo que me fez sentir indesejado na escola. Nessa altura
pensei em tomar a decisão e tomei-a porque podia.

Mas sentiu uma certa ditadura do pensamento?

Senti uma profunda deselegância para comigo. E não gostei


porque estive décadas no Instituto Abel Salazar e, como se
costuma dizer, vesti a camisola do instituto desde os primeiros
tempos em que se dizia que quem estava no instituto ou era
comunista ou era retornado, tive a honra de trabalhar, não na
mesma área, mas lado a lado com pessoas como o Nuno Grande,
etc., e, talvez eu estivesse já a azedar com a idade, mas achei que
tinha sido vítima de uma garotice, e lembrei-me de uma frase de
meu pai que costumava dizer que tinha aversão a agressividade e
confrontos, e dizia uma frase que não era dele que é: quando se
vai a um restaurante e o serviço é mau, não se volta. E eu pensei,
não me estou a sentir confortável e vou-me embora. E posso ter
alguma razão, porque eu vim-me embora e o único órgão de
Biomédicas que escreveu um e-mail a desejar-me felicidades foi a
Associação de Estudantes. E pensei assim, primeiro fiquei
chocado, mas é o órgão mais importante para mim. E deixe-me

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15/05/22, 22:43 Júlio Machado Vaz: ″Se for necessário marcha-atrás nas restrições, tenho dúvidas quanto à reação da população″

dizer aqui uma coisa. Durante algum tempo em Biomédicas, eu era


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o único exótico que levava para as aulas slides, de pintura ou de
Júlio Machado Vaz: "Se for necessário
poesia, marcha-atrás
e agora nas restrições,
tenho a enorme te…em Biomédicas, uma
alegria de ter
disciplina opcional de poesia com o João Luís Barreto Guimarães.
E fiquei muito contente.

É um dos assinantes do manifesto da eutanásia, e o Partido


Socialista quer voltar a discutir o tema. Qual será a solução
que acha que vamos ter?

Quer que lhe seja franco? Acho que formalmente, o projeto ou os


projetos, se houver um acordo serão aprovados. Depois, a
passagem à prática será qualquer coisa que o povo costuma dizer:
demorou tanto com as obras de Santa Engrácia. E, portanto, ficaria
muito surpreendido se não caíssemos numa situação de, em
termos legais, isso ter sido aprovado e, em termos operacionais,
começarmos a caminhar em terreno enlameado e que, portanto,
torna o trajeto muito lento. Mas pode ser o pessimismo de uma
velha raposa que já viu muitas batalhas nas mais diversas áreas.

PA R T I L H A R

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15/05/22, 22:43 Júlio Machado Vaz: ″Se for necessário marcha-atrás nas restrições, tenho dúvidas quanto à reação da população″

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