Você está na página 1de 370

estudos &

memórias 10

SINOS E TAÇAS
JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE.
ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME
NA PENÍNSULA IBÉRICA

BELLS AND BOWLS


NEAR THE OCEAN AND FAR AWAY.
ABOUT BEAKERS IN THE IBERIAN PENINSULA

victor s. gonçalves (ed.)

CENTRO DE ARQUEOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA


FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
estudos &
memórias 10

SINOS E TAÇAS
JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE.
ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME
NA PENÍNSULA IBÉRICA

BELLS AND BOWLS


NEAR THE OCEAN AND FAR AWAY.
ABOUT BEAKERS IN THE IBERIAN PENINSULA

victor s. gonçalves (ed.)

CENTRO DE ARQUEOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA


FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
estudos & memórias Volumes anteriores de esta série:

Série de publicações da UNIARQ


LEISNER, G. e LEISNER, V. (1985) – Antas do Concelho de
(Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa)
Reguengos de Monsaraz. Estudos e Memórias, 1. Lisboa:
Direcção e orientação gráfica: Ana Catarina Sousa
Uniarch/INIC. 321 p.
Série fundada por Victor S. Gonçalves.
GONÇALVES, V. S. (1989) – Megalitismo e Metalurgia
10.
no Alto Algarve Oriental. Uma aproximação integrada.
GONÇALVES, V. S., ed. (2017) – Sinos e Taças. Junto ao
2 Volumes. Estudos e Memórias, 2. Lisboa: CAH/Uniarch/
Oceano e mais longe. Aspectos da presença campaniforme
INIC. 566+333 p.
na Península Ibérica. estudos & memórias 10. Lisboa:
UNIARQ/ FL-UL. 364 p. VIEGAS, C. (2011) – A ocupação romana do Algarve. Estudo
do povoamento e economia do Algarve central e oriental
Capa e contracapa: Victor S. Gonçalves e TVM Designers.
no período romano. Estudos e Memórias 3. Lisboa:
Capa: vaso «campaniforme» do escultor Francisco Simões,
UNIARQ. 670 p.
Edição Multiface 1/1500. Produzido em 1988 no Atelier
Vasconcelos. Francisco Simões nunca tinha visto um vaso QUARESMA, J. C. (2012) – Economia antiga a partir
campaniforme autêntico. Contracapa: detalhe da superfície de um centro de consumo lusitano. Terra sigillata
externa do vaso proveniente da necrópole do Casal e cerâmica africana de cozinha em Chãos Salgados
do Pardo, sem indicação de gruta. MNA 984.670.53. (Mirobriga?). Estudos e Memórias 4. Lisboa: UNIARQ.
Fotos Victor S. Gonçalves. 488 p.

Paginação e Artes finais: TVM designers ARRUDA, A. M., ed. (2013) – Fenícios e púnicos, por terra
Impressão: AGIR Produções Gráficas e mar, 1. Actas do VI Congresso Internacional de Estudos
300 exemplares Fenícios e Púnicos, Estudos e memórias 5. Lisboa: UNIARQ.
506 p.
ISBN: 978-989-99146-5-0 / Depósito Legal: 435 925/17
ARRUDA, A. M., ed. (2014) – Fenícios e púnicos, por terra
e mar, 2. Actas do VI Congresso Internacional de Estudos
Copyright ©, 2017, os autores.
Fenícios e Púnicos, Estudos e memórias 6. Lisboa: UNIARQ.
Toda e qualquer reprodução de texto e imagem é interdita,
698 p.
sem a expressa autorização do(s) autor(es), nos termos
da lei vigente, nomeadamente o DL 63/85, de 14 de Março, SOUSA, E. (2014) – A ocupação pré-romana da foz do
com as alterações subsequentes. Em powerpoints estuário do Tejo. Estudos e memórias 7. Lisboa: UNIARQ.
de carácter científico (e não comercial) a reprodução 449 p.
de imagens ou texto é permitida, com a condição de
GONÇALVES, V. S.; DINIZ, M.; SOUSA, A. C., eds. (2015) –
a origem e autoria do texto ou imagem ser expressamente
5.º Congresso do Neolítico Peninsular. Actas. Lisboa:
indicada no diapositivo onde é feita a reprodução.
UNIARQ/ FL-UL. 661 p.

Lisboa, 2017. SOUSA, A. C.; CARVALHO, A.; VIEGAS, C., eds. (2016) –
Terra e Água. Escolher sementes, invocar a Deusa. Estudos
em Homenagem a Victor S. Gonçalves. Lisboa: UNIARQ/
FL-UL. 623 p.
SINOS E TAÇAS
JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE.
ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME
NA PENÍNSULA IBÉRICA

BELLS AND BOWLS


NEAR THE OCEAN AND FAR AWAY.
ABOUT BEAKERS IN THE IBERIAN PENINSULA

victor s. gonçalves (ed.)


TÁBUA

Sinos, taças e coisas assim, junto ao oceano e mais longe. 6


Algumas reflexões sobre a presença campaniforme em Portugal
VICTOR S. GONÇALVES

O campaniforme de Alcalar no contexto do extremo sul 28


ELENA MORÁN

Para uma leitura sociopolítica do campaniforme do Guadiana. 38


Longas viagens com curta estada no Porto das Carretas
JOAQUINA SOARES

We are ancients, as ancient as the sun: Campaniforme, antas e gestos funerários 58


nos finais do 3.º milénio BCE no Alentejo Central
RUI MATALOTO

Approaching Bell Beakers at Perdigões enclosures (South Portugal): 82


site, local and regional scales
ANTÓNIO CARLOS VALERA • ANA CATARINA BASÍLIO

O Barranco do Farinheiro (Coruche) e a presença campaniforme 98


na margem esquerda do baixo Tejo
VICTOR S. GONÇALVES • ANA CATARINA SOUSA • MARCO ANDRADE

O povoamento campaniforme em torno do estuário do Tejo: 126


cronologia, economia e sociedade
JOÃO LUÍS CARDOSO

Entre os estuários do Tejo e do Sado na 2.ª metade do III milénio BC: 142
o fenómeno campaniforme
CARLOS TAVARES DA SILVA

Entre a Foz e a Serra: apontamentos sobre a cerâmica campaniforme 158


do povoado pré-histórico da Parede (Cascais)
VICTOR S. GONÇALVES • ANA CATARINA SOUSA • MARCO ANTÓNIO ANDRADE • ANDRÉ PEREIRA

Ritmos de povoamento e cerâmica campaniforme 170


na área da Ribeira de Cheleiros (Mafra e Sintra, Lisboa)
ANA CATARINA SOUSA

Campaniforme em Zambujal (Torres Vedras) 194


MICHAEL KUNST
Beakers in Central Portugal: social roles, confluences and strange absences 214
ANTÓNIO CARLOS VALERA

A looking in view: cultural expressions of Montejunto Bell Beakers 230


ANA CATARINA BASÍLIO • ANDRÉ TEXUGO

Bell beaker contexts in Portugal: the northern and the Douro region basin 238
MARIA DE JESUS SANCHES • MARIA HELENA LOPES BARBOSA
ALEXANDRA MARIA FERREIRA VIEIRA

El fenómeno campaniforme en el Sudeste de la Península Ibérica: 258


el caso del Cerro de la Virgen (Orce, Granada)
FERNANDO MOLINA GONZÁLEZ • JUAN ANTONIO CÁMARA SERRANO
ALBERTO DORADO ALEJOS • MARÍA VILLARROYA ARÍN

La cerámica campaniforme del Cerro de la Encina (Monachil, Granada). 276


Nuevas aportaciones al complejo cultural del Sureste
ALBERTO DORADO ALEJO • FERNANDO MOLINA GONZÁLEZ
JUAN ANTONIO CÁMARA SERRANO • JESÚS GÁMIZ CARO

Producción y consumo de cerámica campaniforme en Valencina 288


de la Concepción 00(Sevilla, España): una propuesta interpretativa
desde el análisis de los contextos de la calle Trabajadores
NUNO INÁCIO • FRANCISCO NOCETE • ANA PAJUELO PANDO
PEDRO LÓPEZ ALDANA • MOISÉS R. BAYONA

Campaniforme y Ciempozuelos en la región de Madrid 302


CORINA LIESAU VON LETTOW-VORBECK

Redefining Ciempozuelos. Bell-beaker culture in Toledo? 324


PRIMITIVA BUENO-RAMÍREZ • ROSA BARROSO-BERMEJO • RODRIGO BALBÍN-BEHRMANN

La sal y el campaniforme en la Península Ibérica: fuente de riqueza, 342


instrumento de poder ¿y detonante del origen del estilo marítimo?
ELISA GUERRA DOCE

A metalurgia campaniforme no Sul de Portugal 354


ANTÓNIO M. MONGE SOARES • PEDRO VALÉRIO • MARIA FÁTIMA ARAÚJO • RUI SILVA

Workshop Sinos e Taças (campaniformes). Algumas imagens 364


SINOS, TAÇAS E COISAS ASSIM,
JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE.
ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A PRESENÇA
CAMPANIFORME EM PORTUGAL
VICTOR S. GONÇALVES
UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (WAPS)
vsg@campus.ul.pt

6 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
R E S U M O 50 anos depois da sua primeira publicação sobre o povoado pré-histórico da
Rotura, as suas cerâmicas campaniformes, e o próprio «fenómeno campaniforme», o
autor apresentou, neste workshop que organizou, algumas reflexões sobre novos contri-
butos entretanto efectuados, com o estudo do Vale do Sorraia e a revisão dos materiais do
Casal do Pardo. Esta obra em progresso obrigou-o mesmo a rever e actualizar o texto e as
imagens apresentados em 2016. No primeiro ponto, analisam-se de um ponto de vista
crítico contribuições efectivas para o arranque em Portugal da análise sobre as cerâmicas
campaniformes, em propostas de síntese melhor ou pior fundamentadas. À má quali-
dade da arqueologia portuguesa até finais dos anos 70 do século 20 junta-se também a
escassa utilização de pistas para o entendimento do campaniforme e mesmo o desper-
dício ou incompreensão de contribuições como as do casal Leisner. No segundo ponto, é
tratado um importante componente da gramática decorativa das cerâmicas indígenas da
segunda metade do 3º milénio a.n.e., as métopes. «Infiltradas» nas cerâmicas campani-
formes, as métopes estão presentes em muitas outras formas cerâmicas e estão presente-
mente em reavaliação. O terceiro ponto regista observações sobre o grupo das cerâmicas
campaniformes e o grupo das cerâmicas folhas de acácia, usadas também nas primeiras,
mas aplicadas sobretudo em robustos recipientes contentores e em cerâmica comum
ausente das necrópoles. Em periodização, as cerâmicas do grupo folha de acácia represen-
tam mais do que um simples componente decorativo, um grupo coeso e identitário.
PALAVRAS CHAVE: Calcolítico. Centro e Sul de Portugal. 3.º milénio a.n.e. Cerâmica campani-
forme. Cerâmica folha de acácia.

A B S T R A C T 50 years after its first paper on the prehistoric settlement of Rotura (Setúbal,
Portugal), its beaker ceramics, and the “beaker phenomenon” itself, the author presents
some reflections on new contributions in the meantime carried out by the study of
the Sorraia Valley and the reappraisal of Casal do Pardo rock-cut tombs materials. This
work in progress obliged him to update the text and images presented in 2016. In the
first point, a critical point of view, is the effective contribution to the start-up in Portugal
of the analysis of beaker ceramics in better or worse summarized proposals. The poor
quality of Portuguese archeology up to the end of the 1970s also joins the scarce use of
clues for the understanding of the beaker and even the wastage or incomprehension of
contributions such as those of Georg and Vera Leisner. In the second point, an important
component of the decorative grammar of the indigenous ceramics of the second half of
the 3rd millennium BCE, the metopes, is treated. Metopes are infiltrated in beaker ceram-
ics and present in many other ceramic shapes. Presently they are under reassessment.
The third point collect observations on the group of beaker ceramics and the group of
acacia-leaves ceramics, which are also used in the former, but mostly applied in sturdy
container containers and in common ceramics absent from the necropolises. In periodi-
zation, the ceramics of the acacia leaves group represents more than a simple decorative
component, they are a cohesive and identity group.
KEYWORDS: Chalcolithic. Center and South Portugal. 3rd millenium BCE. Beaker ceramics.
Acacia leaf ceramics.

VICTOR S. GONÇALVES  SINOS, TAÇAS E COISAS ASSIM, JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A PRESENÇA CAMPANIFORME EM PORTUGAL 7
Dedicado a Carlos Tavares da Silva, um amigo A escavação dos restos de Sol 03 ensinou-nos
de longa data que, quando tínhamos 15 anos, que podem existir civilizações em que a parte
trocou dois fragmentos de potes do grupo folha é sistematicamente tomada pelo todo.
de acácia, que encontrara na Rotura, pela minha Esse erro terrível foi considerado um exemplo,
colecção de fósseis... Nunca tive jeito para o negócio, a estudar desde o Graluz.
mas a verdadeira Amizade, de rara que é, Para que se não repita !!
não tem preço. Biblioteca Central de Tandaloor, Arquivo da Morte
das Civilizações, Ciclo do fim de Sol 3

0. Antes de...
1. O «conceito campaniforme» em Portugal: 0. ANTES DE...
alguns pontos de origem e referência Campaniforme é, ainda hoje, uma expressão com
Abrindo... parâmetros demasiado latos. A nível da cerâmica,
O caso da Anta 1 de Casas do Canal abrange as formas clássicas dos vasos campanifor-
Uma «tese» regista o caos mes ditos marítimos, as «caçoilas acampanadas», que
Um livro antes e depois (e um outro logo a seguir) podem sem dificuldade serem formas evoluídas dos
A dupla intervenção de R. J. Harrison anteriores, as grandes taças «tipo Palmela», com ou
2. um indicador pouco usado: as métopes sem bordo decorado, e outras, mais pequenas, as taças
3. Os grupos cerâmicos «folha de acácia» e com pé, mas também «garrafas» ou bilhas como as da
Campaniforme em Portugal Pedra Branca, nenhuma dessas formas sendo, em sen-
Referências bibliográficas e alguns outros títulos tido estrito ou lato, em forma de sino...

FIG. 1 Monumentos e sítios com presença de cerâmicas campaniformes em Portugal, ao tempo da memória de Veiga Ferreira e uma visão
actual (actualizada em 2017). DGPC (segundo a base de dados Endovélico, cortesia de Filipa Neto).

8 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
Mas se os perfis são assim tão diversos, as decora- E não se fala aqui do «uso» das cerâmicas campani-
ções são incisas lineares, impressas pontilhadas e... formes, a definir pelas análises isotópicas, até porque
mistas. Normalmente, os componentes da gramática muitas delas foram provavelmente de uso múltiplo,
decorativa são de composição geométrica, mas tam- tanto nos povoados como mesmo nas necrópoles...
bém há alguns poucos vasos com cervídeos. As cerâmi-
cas têm ou não pasta branca nas incisões/ impressões.
Se há excelentes engobes, não podemos esquecer agua- 1. O «CONCEITO CAMPANIFORME» EM PORTUGAL:
das grosseiras. Alguns vasos (e taças) têm omphaloi no ALGUNS PONTOS DE ORIGEM E REFERÊNCIA
fundo exterior, outras fundos decorados, radiantes ou
não, por vezes decoração parcial nas paredes internas. Como terminar o que não se começou?
Confusos? Como ensinar o que não se sabe?
Na verdade, o «conceito campaniforme» é, de início, Como entender o que não é possível recuperar?
uma autêntica confusão, salvo no caso dos vasos clássi- Três perguntas da Sibila mal disposta a um peregrino estúpido,
cos e das taças. A ideia de um «pacote campaniforme», 3.º Libre Vermell de Monserrat, Catalunya
envolvendo outros artefactos para além dos cerâmicos,
como «braçais de arqueiro», botões de osso polido, armas abrindo...
de cobre ou artefactos de ouro, vai-se construindo lenta- Ele há situações cuja explicação, previsivelmente
mente e tem o seu momento de perfeição no Arqueiro fácil, se torna por vezes complexa ou inesperadamente
de Amesbury, uma das mais notáveis sepulturas «cam- difícil. E tal acontece também, em diversos contextos,
paniformes» já escavadas (Fitzpatrick, 2011). com o «conceito campaniforme». Escolhi alguns exem-
Qual a importância de uma situação como esta ser plos para análise, sobretudo por representarem posições
atentamente clarificada? distintas na origem e intenção. Mas sendo a arqueo-
Em 1971, na sequência da comunicação de 1966 ao IV logia portuguesa um mundo bizarro nada há que espe-
Colóquio Portuense de Arqueologia, tive oportunidade de rar à partida, se não leituras forçosamente subjectivas
sublinhar a vida própria dos componentes decorativos da ou, nas antípodas, desesperadamente repetitivas.
cerâmica e, assim, a própria complexidade do fenómeno Depois da síntese de Alberto del Castillo, em 1928,
campaniforme (Gonçalves, 1971, p. 115-117, 121-128, 128-138). estava disponível um excelente ponto de partida e
É certo que nos vasos campaniformes marítimos a um estimulante desafio. Mas, pouco mais de 40 anos
decoração linear e as bandas em que ela se organiza per- depois, a situação em Portugal era de uma aridez
mitem uma escassa variedade dos efeitos finais, mas impressionante.
a distribuição por perfis muito diversificados de um É certo que as cerâmicas campaniformes do Casal do
mesmo componente decorativo, mesmo quando hibri- Pardo tinham impressionado Cartailhac, como a seguir
dizado com outros, indica, mais que uma diversidade, a A. I. Marques da Costa e, sobretudo, Vera Leisner, que na
capacidade de o recriar. Assim sendo, as métopes, como caótica monografia sobre as grutas falou certo, como
adiante veremos, são um sinal de uma organização com muitas vezes o fez, e se apercebeu da extraordinária
sucesso do espaço-suporte da decoração. Uma, duas, importância dos motivos e técnicas decorativas.
três, quatro bandas de métopes associam-se por vezes Tal como acontecera com a cerâmica cardial, a repu-
a campos organizados de outra forma, incluindo faixas tação das cerâmicas ditas campaniformes devia-se à
ziguezagueantes em bandas preenchidas por linhas elegância das suas formas (no caso específico dos vasos
verticais ou oblíquas, marcando um ritmo que traduz campaniformes, sem claros precedentes visíveis), à
também o pensamento ou a criatividade do oleiro. qualidade das suas pastas e acabamentos e à sua gra-
Para além de ter sido, em momentos distintos, uma mática decorativa. E também à difusão peninsular que
moda, a cerâmica com decoração campaniforme, sobre- elas registavam. Quanto às taças, inclusive as «tipo Pal-
tudo a posterior aos vasos marítimos, traduz uma ape- mela», a história é outra e formas idênticas, mas sem
tência comum numa Europa já aberta aos conceitos de qualquer decoração, são frequentes em contextos pré-
novidade. Quer se trate de cerâmicas feitas proposita- -campaniformes ou sem campaniformes, o que, como
damente para acompanhar os mortos quer de cerâmi- sabemos, não é a mesma coisa.
cas para uso comum nos povoados, o que lhes retira à Assim, se a síntese de Castillo não originou novas
partida a filiação na categoria dos «bens de prestígio», sínteses que a recriassem, reactualizada, outra situação
ao contrário dos de ouro ou marfim, as cerâmicas cam- se verificou com os achados de campo, que não só cres-
paniformes atingiram um sucesso geográfico, a nível ceram em número como abrangeram muitas outras
europeu e norte africano, quantitativamente muito regiões da Europa, algumas inesperadas, o que reforça
superior ao obtido pelas cerâmicas do Grupo folha de a evocação do fenómeno cardial, despoletando uma
acácia. Mas essa é uma outra história. situação de algum modo idêntica.

VICTOR S. GONÇALVES  SINOS, TAÇAS E COISAS ASSIM, JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A PRESENÇA CAMPANIFORME EM PORTUGAL 9
o caso da anta 1 de casas do canal «Devemos, pois, atribuir a taça das Casas do Canal
Se outros monumentos e sítios foram identificados igualmente a uma inumação secundária, posterior a
antes em Portugal, um deles pode bem ser considerado todas as inumações na câmara? Há factos que con-
simbólico pelo feixe de questões que poderia ter despole- tradizem tal suposição. A taça da Anta das Casas do
tado: a Anta 1 de Casas do Canal (Estremoz). Escavada por Canal não impediu o acesso à câmara e não havia,
Georg e Vera Leisner (e publicada em 1955), a Anta revelou junto dela, nem resíduos de ossos humanos nem
alguns poucos materiais habituais nas séries monótonas outras dádivas funerárias.». (p. 27).
do megalitismo alentejano e… cerâmicas do grupo cam-
paniforme, particularmente uma grande caçoila acam- «A deposição da taça in situ na altura do chão primitivo,
panada, parecida, mas não idêntica, às que tinham par- posta numa laje, num lugar onde não impediu o acesso
ticipado no disparar do interesse pelos campaniformes à câmara, não exclui a possibilidade de que tivesse per-
logo no séc. 19. E um vaso campaniforme não decorado. tencido à época das inumações na câmara.». (p. 28).
Temos assim, na Anta 1 de Casas do Canal, uma
pequena, mas significativa, colecção de factos, associados: Poderia ter havido, logo aqui, várias brechas na visão
tradicionalista sobre o campaniforme, muito interes-
1. um monumento megalítico ortostático alente- santes, mas raramente repescadas por outros autores:
jano, longe da costa, com deposições de indivíduos
e de cerâmicas campaniformes, para além de outras, 1. A primeira, surge quase subliminarmente. E é par-
anteriores, «megalíticas», como viria a acontecer na ticularmente curioso que, em fins do século 20 (e
Pedra Branca (Ferreira et al, 1975), mas aí no litoral; mesmo no 21...), não tenha sido entendida por alguns:
2. um conjunto de materiais que não destoaria no a possibilidade de ainda se construírem antas de raiz
Casal do Pardo, em S. Pedro do Estoril 1 ou Alapraia, no 3.º milénio e, se considerarmos a datação de este
ambos complexos funerários de grutas artificiais tipo de campaniforme, na sua segunda metade. Mas
tipo coelheira, estes também não longe do Mar; não pareceu impossível aos Leisner que se tratasse
3. uma situação de vaso dentro de outro vaso, idên- simplesmente de um acto votivo, sem deposição de
tica ao verificado em S. Pedro do Estoril. cadáver, em monumento anterior. Não conectado
com as deposições já existentes. Uma cerimónia em
Como encararam os Leisner esta situação? honra de mortos passados, com novos artefactos?
Algumas passagens são esclarecedoras no texto de 2. a individualização de Ciempozuelos, já bem clara na
1955: época para vários autores, surge como um desenvolvi-
mento no tempo longo do fenómeno campaniforme.
«A taça das Casas do Canal insere-se, indubitàvel- E, portanto, dele separado, como uma derivação ou
mente, no segundo destes grupos [de cerâmica]. uma fase terminal. O que poderia ter levantado muito
A sua forma encontra as analogias mais pronuncia- interessantes perguntas, o que Paço, Jalhay e Veiga
das na cerâmica da Meseta toledana (Ciempozue- Ferreira não fizeram ou a que ficaram imunes.
los)10, onde, além das taças, os próprios vasos campa- 3. Finalmente, a ideia de um «povo megalítico», lin-
niformes ostentam a tendência de uma separação guisticamente uma expressão que parece abstrusa,
mais nítida do corpo e do colo e de uma saliência uma vez que, mais adequadamente, se deveria falar
mais acentuada do bordo.». (p. 21). de «povos megalíticos» ou, ainda melhor, «com prá-
ticas funerárias megalíticas», abertura que Vera Leis-
«Desta rápida visão de conjunto concluiu-se que a taça ner haveria de efectuar mais tarde. Não se contrapõe
das Casas do Canal é, até hoje, quase o único vaso cam- ainda a um «povo campaniforme», o que mostra não
paniforme em antas de corredor, não só do Alentejo apenas o rigor germânico dos Leisner como a pru-
mas de todas as províncias do interior de Portugal e dência com que eles separavam conceitos, mesmo
da Espanha. Considerando que todas as antas foram quando não estavam ainda completamente defini-
pilhadas, levanta-se a questão: se esta falta resulta dos e estabilizados na metalinguagem.
das espoliações e se o contacto do vaso campaniforme
com o povo megalítico teria sido mais íntimo do que Sem dúvida que a ausência, à época, de cronologias
os restos actuais dos espólios nos levam a crer.». (p. 25). absolutas ajudava a que situações cronologicamente
diversificadas se «misturassem» e os Leisner sabiam
«O vaso campaniforme de decoração incisa consti- disso. O achado de Casas do Canal 1 levanta incertezas
tui, porém, apenas um dos documentos de uma cor- que Vera Leisner iria reconhecer. Mas não era na teoria
rente cultural, cujas influências são também visíveis ou nos modelos sem suporte real que ela era excelente,
na cerâmica lisa da cultura megalítica.». (p. 26). mas no trabalho de campo...

10 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
A tal ponto estes fenómenos, tal como acontecera
já com os detectados na sucessão Anta – Tholos em
Reguengos de Monsaraz (Gonçalves, 2014), perturba-
ram o mundo arrumado dos Leisner que eles enviaram
o opúsculo a Vere Gordon Childe. Este responde em 8 de
Setembro de 1955:

«Thank you very much for the Antas H. de Braganza.


I am delighted to see that you are again back at work
in Portugal; I heard you had gone to Germany. This
time again you got quite interesting results, and
have given us a very useful discussion of the beaker
pottery in Iberia. Your work has made it absolutely
necessary for me to write a new version of the Dawn
of European Civilization, and I’m trying to persuade
the publishers to do this.» (DGPC/DAI, Arquivo Leis-
FIG. 2 Leisner (1955). ner. AL/02/38/04).

FIG. 3 Leisner e Leisner, 1955. Taça-caçoila da Anta 1 de Casas do Canal. Diâmetro externo da abertura: 34 cm

VICTOR S. GONÇALVES  SINOS, TAÇAS E COISAS ASSIM, JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A PRESENÇA CAMPANIFORME EM PORTUGAL 11
Que melhor elogio? E, como sempre em Childe, aber- depuis le début jusqu’a leur assimilation totale à la
tura para a constante revisão de conceitos. Mesmo fin de l’Énéolithique (Penha Verde).
aqueles de que foi autor. Um verdadeiro exemplo para L’ensemble du matériel des gisements étudiés peut
muitos, nomeadamente portugueses. Um erro é um se diviser en 3 groupes principaux:
erro. Desde que não seja intencional, nada de mau há A – Les armes et objets d’utilisation courante.
nele, se for honestamente corrigido. B – Les objets de parure ou à usage religieux.
C – La céramique lisse ou décorée avec la technique
uma «tese» regista o caos du vase campaniforme.»
Não deixa de ser curioso que alguns dos arqueólogos (Ferreira, 1966, 102).
que mais duramente criticaram a «arqueologia univer-
sitária» tenham, mais tarde ou mais cedo, escrito, ou Ora nada disto é assim, nem mesmo à época o seria.
tentado escrever, teses universitárias e alguns entrado O grupo A reúne duas categorias muito diferentes.
mesmo para os quadros de essas e outras Escolas, que O mesmo acontece com o B e o C. Não se entende.
tão violentamente tinham atacado. Lamentável é a associação de situações de duração
A tese de Octávio da Veiga Ferreira, futuro professor longa a fases mesiais ou terminais da sua utilização.
da Universidade Nova de Lisboa, é, para todos efeitos, O pacote campaniforme está normalmente represen-
a modalidade «económica» de uma tese de doutora- tado – total ou parcialmente – nas utilizações tardias de
mento francesa, de grau baixo. É também um trabalho monumentos ou sítios construídos ou usados pela pri-
quase incompreensível, que termina como poderia ter meira vez muito antes da segunda metade do 3.º milé-
começado: nio, caso das grutas artificiais, de grutas naturais e abri-
gos. Ou de monumentos megalíticos como Casas do
«La comparaison avec les céramiques de type cam- Canal ou Pedra Branca.
paniforme de Tel Halaf et de Jemdet Nasr (Mésopo- Os erros de Veiga Ferreira são também os de Afonso
tamie), de Tepe Hissar (Perse) et de Nagada (Egypte), do Paço e Jalhay, ainda que estes pensem melhor que
en particulier avec les tasses, les écuelles et les vases o paleontólogo da Rua da Academia das Ciências.
a pied (coupes à fruits) de l’Egypte pré-dynastique O Oriente estava na mente de todos, o que não é crime,
pourraient donner une idée des rélations entre la quando não se trata de um exagero absurdo.
Péninsule et le Croissant fertile.» (Ferreira, 1966, 117). O campaniforme regista, sobretudo na sua fase tar-
dia, conjugações de motivos que existem em contextos
geográficos e «culturais» muito diversos. O que não
implica colonização ou identidade étnica. Traduz linhas
dendriformes de comércio, eventualmente desloca-
ção isolada ou em pequenos grupos de comerciantes.
O próprio «pacote campaniforme» regista subtis varia-
ções: o arqueiro de Amesbury tem no seu acompanha-
mento artefactual componentes que não existem em
outros conjuntos fechados. A terrível compressão das
diversas fases de utilização funerária de um monu-
mento conduz a disparates como aquele que Schubart
corrigiu para o tholos do Monte do Outeiro (Schubart,
1965) e é um factor tipicamente destruidor do verda-
deiro entendimento da recuperação história dinâmica,
a que são tão indiferentes os pós-processualistas, como,
antes, os desprovidos de formação científica em ciên-
cias humanas...
Octávio da Veiga Ferreira conhecia bem os materiais,
FIG. 4 Ferreira, 1966.
mas, aparentemente, não a sua sequência fina ou sig-
Mas as conclusões quase abrem de uma forma extra- nificado contextual. Os seus conhecimentos de campo
ordinária: melhoraram muito através da sua colaboração com
Vera Leisner, mas ela não se interessava o suficiente
«Dans les grottes artificielles, comme celles d’ Ala- pelos campaniformes, rodeada que estava pela cons-
praia et de Carenque l’élément archaïque est rare ou trução do monumental Die Megalithgräber..., que come-
manque , ce qui paraît prouver que les grottes artifi- çara com Georg Leisner, e a cujo projecto permaneceu
cielles furent construites à des périodes successives fiel até à morte.

12 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 5 A diversidade campaniforme e, em cima, à esquerda, uma forma polémica do segundo quartel do 3.º milénio a.n.e., o copo canelado
MNA 984.670.53, Casal do Pardo, sem indicação de gruta.
Em cima, à direita, vaso campaniforme de Alapraia 2. A meio, à esquerda, MNA 984.670.54 vaso campaniforme tendendo para o perfil anguloso
(Casal do Pardo). À direita, forma de transição entre o vaso campaniforme de perfil clássico e a caçoila acampanada (Alapraia 2). De notar
as pequenas folhas de acácia e o fundo estrelado, como nas taças e nas caçoilas. Em baixo, reconstituição de taça tipo Palmela com frIso de
cervídeos. Casal do Pardo, sem indicação de gruta, MNA 984.668.3. Desenhos Guida Casella.

VICTOR S. GONÇALVES  SINOS, TAÇAS E COISAS ASSIM, JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A PRESENÇA CAMPANIFORME EM PORTUGAL 13
um livro antes e depois Quando quatro anos depois (1971) publiquei O Castro
(e um outro logo a seguir) da Rotura e o Vaso Campaniforme, a minha intenção era
Em 1968, enquanto o Maio rugia em Paris, a pres- outra. Na verdade não havia meios para uma monogra-
tigiada colecção Ancient Peoples and Places, da Tha- fia como se desejava. Esta foi uma escavação dirigida por
mes and Hudson, publicava Spain and Portugal, the mim, mas oficialmente do Museu Nacional de Arqueo-
prehistory of the Iberian Peninsula, de H. N. Savory. logia. Só que à pequena verba disponibilizada nunca se
A colecção tinha já 53 títulos, alguns dos quais notá- juntou a cedência do desenhador do Museu, o que preju-
veis (recordo particularmente Early India and Pakistan dicou tanto o registo de campo como, sobretudo, o dese-
to Ashoka, de Mortimer Wheeler, The Iberians, de Anto- nho dos materiais. O que obrigou a que se falasse mais
nio Arribas, New Grange and the bend of the Boyne, de de campaniforme que da Rotura propriamente dita.
O’Ríordáin e Glyn Daniel). Posteriormente, viria a ser No entanto, identificaram-se estratigraficamente
editado o livro que abre a Bretanha e o seu complexo diversas fases de ocupação do sítio.
megalitismo ao leitor europeu e, falando mais tarde A primeira (IIIa), a mais antiga, assente na rocha,
com os seus três autores, notei como todos eles, até com grandes ossos de bovídeos com marcas de corte,
mesmo L’Helgouac’h, excelente tocador de bombarda escassas cerâmicas, sobretudo decoradas com ungu-
e biniou, mas muito menos comunicativo que Giot ou lações. O desconhecimento de paralelismos locais, à
Briard, confessavam a satisfação que tinham tido com época, levou-me a paragens mais longínquas, no Medi-
a edição do volume. terrâneo oriental, onde são efectivamente do Neolítico
Ora Savory, longe dos tic-tacs arrítmicos da arque- antigo. Em Portugal, as cronologias absolutas viriam a
ologia portuguesa, trouxe várias novidades, desde a mostrar serem já do 3.º milénio a.n.e..
«Tagus culture», mais correctamente seria chamar-lhe O nível arqueológico ou fase seguinte com consis-
uma «cultura» das penínsulas de Lisboa e Setúbal, mas tência propria (IIb), incluía já cerâmicas com decoração
a ideia é tudo menos tonta, até uma visão geral do seu folha de acácia, mas da variante finamente incisa, por
Capítulo VII (The Beaker Culture, por ele colocada entre vezes associada no mesmo vaso a losangos preenchi-
2250 e 2000 a.n.e.), que envelheceu muito, mas que está dos com retícula incisa (Gonçalves, 1971, Est. VII, p. 233).
cheia de sugestões interessantes. Era o nível com artefactos mais abundantes, incluindo
Não havia datações de radiocarbono, muitos sítios osso polido (sovelas, furadores longos em tíbia de ovis,
viriam a ser descobertos e escavados posteriormente, cabos de instrumentos, possíveis alfinetes de cabelo,
mas a lúcida visão de Savory merecia melhor sorte e componentes discoides de colar de variscite, um vasi-
a sua influência sobre os arqueólogos portugueses nho de corpo hiperboloide...), sílex, pedra polida, um
foi mínima. Até mesmo a sua melhor contribuição moinho de mão completo, com o movente ainda
na leitura de dados de campo (a revisão de Vila Nova assente no dormente, cerâmica simbólica, artefactos de
de S.  Pedro). E isto apesar de, por iniciativa de Manuel cobre, entre os quais dois anzóis.
Farinha dos Santos, o livro ter sido traduzido para por- O nível ou fase IIa surgia com um aparente cresci-
tuguês. mento da arqueometalurgia, variada cerâmica folha de

FIG. 6 Savory, 1968. FIG. 7 Gonçalves, 1971.

14 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
acácia (com relevo para grandes potes com caneluras lar- a dupla intervenção de r. j. harrison
gas) e crucífera, anzóis de cobre com ponta revirada para Em 1977, R. J. Harrison publica The bell beaker cul-
fixar a linha, cadinho de fundição, pesos de tear espessos, tures of Spain and Portugal. E, três anos depois, The
quadriperfurados, rectangulares e quadrangulares. Beaker folk. Copper Age Archaeology in Western Europe.
A fase de abandono do sítio incluía-se em dois níveis Para um leitor distraído, apesar de os títulos indicarem
(Ia e Ib), mas tive sempre dúvidas sobre esta separação. perspectivas diferentes e escalas geográficas distintas,
Restos de uma área de consumo doméstico consis- parece uma sequência de estudos com alvos diversos, o
tiam em centenas de conchas de Venerupis decussata primeiro para leitores especializados, a que fornece um
e abundantes restos de carvão, então entregues para inventário, deficientemente organizado, mas bibliogra-
análise nos Serviços Geológicos de Portugal. ficamente útil, o segundo para leitores pertencentes
Esta estratigrafia viria a ser confirmada mais tarde a um grupo mais geral, interessados ou curiosos por
pelo radiocarbono (Gonçalves e Sousa, 2007; Gonçalves, uma realidade impressionante, a da difusão europeia
2018 no prelo), para os níveis fundacionais e para o nível (e norte-africana) de um tipo cerâmico ao mesmo tempo
IIb. Infelizmente, parece terem-se perdido os carvões dos único e diversificado.
níveis do apogeu da folha de acácia e dos campanifor- Na verdade, não é bem assim.
mes. No entanto, estes últimos são forçosamente poste- No volume de 1977, Harrison apresenta uma síntese
riores ao intervalo de tempo indicado por Beta-316626 e, tão exaustiva quanto limitada de monumentos, sítios, e
portanto, dos dois últimos séculos do 3.º milénio. Quanto artefactos «campaniformes».
à folha de acácia está bem datada no Penedo do Lexim, A primeira observação é a do título do livro: The bell
particularmente na U.E. 19, encaixando no previsto. beaker cultures quer dizer que há duas «culturas» cam-
O povoado da Rotura forneceu, assim, a possibilidade paniformes, uma para Espanha, outra para Portugal?
de um discurso organizado sobre a problemática cam- Será mesmo isto que o autor quis dizer logo na capa do
paniforme (à época, claro), sobre a possível esqematiza- livro? Se sim, e se a ambição era rever tudo, parece que
ção das cerâmicas campaniformes, mas, sobretudo, foi não foi completamente conseguida.
possível colocar o início da metalurgia do cobre num Logo no Prefácio, escreve sobre a dificuldade de acesso
intervalo de tempo claramente anterior ao dos cam- às colecções do actual Museu Nacional de Arqueo-
paniformes e basear a sequência possível de ocupação logia e, em Madrid, as coisas também não lhe corre-
numa estratigrafia, que foi a primeira avançada para as ram muito bem... No primeiro caso, escreve «Unfortu-
penínsulas de Lisboa e Setúbal. nately access to these old, muddled, and uncatalogued

DATA DATA CAL. DATA CAL.


REF. LAB. TIPO AMOSTRA CONTEXTO CONVENCIONAL (1σ) (2σ) BIBLIOGRAFIA
(BP) CAL BC* CAL BC*

OxA-5538 Artefacto sobre corno RTR-IIIa-2* 4110± 50 2857-2580 2874-2499

OxA-5537 Corno RTR-IIIa-1* 4075± 55 2848-2495 2866-2475


Gonçalves
e Sousa, 2007
OxA-5540 Furador osso RTR-IIbR-718 3810± 50 2339-2145 2460-2064

OxA-5539 Cabo de osso RTR-IIbR-714 3820± 50 2396-2150 2459-2140

Gonçalves,
Beta-316626 Furador sob tíbia de Ovis RTR-IIb 3950 ±30 2480-2460 2560-2350
no prelo, 2018

TABELA 1 Datações 14C para o «Castro» da Rotura (Gonçalves e Sousa, 2006, actualizado e recalibrado)

DATAÇÕES ABSOLUTAS DO PENEDO DO LEXIM

DATA
REF. LAB. SECTOR CONTEXTO AMOSTRA δ13C (B0/00) DATA CAL 1σ DATA CAL 2σ
CONVENCIONAL

Beta-186855 3 UE 19 osso (Homo sapiens) -19,6 3850 ±40 2437-2210 2460-2205

Beta-142451 1 UE 19 osso (Sus sus) 3820±40 2339-2156 2456-2142

TABELA 2 Datações 14C para a U.E.19 do Penedo do Lexim (Sousa, 2010a, recalibrado)

* Segundo as curvas de calibração IntCal13 (amostras da biosfera terrestre) e Marine13) de Reimer et al., 2013
e com base no programa CALIB rev7.1 (Stuiver e Reimer, 1993).

VICTOR S. GONÇALVES  SINOS, TAÇAS E COISAS ASSIM, JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A PRESENÇA CAMPANIFORME EM PORTUGAL 15
collections is strictly reserved, but such collections are
of minimal value in any case, and their nonavailabi-
lity has not hindered this work.» (Harrison, 1977, XVII).
No segundo, a aspereza é substituída por uma polidez,
que se pode explicar pela intenção de voltar a Espanha.
O que realmente viria a acontecer.
Também nos Agradecimentos se nota esta dispari-
dade e a relativa antipatia para com o pequeno aliado
do Reino Unido: em 45 pessoas e entidades objecto de
agradecimento, apenas 6 são portuguesas, entre elas se
contando apenas 3 arqueólogos...
A estrutura de qualquer livro de este tipo denuncia,
por vezes, mas nem sempre, a sua intenção. Harrison
começa pela história dos achados, continua com os
métodos que usou, define uma tipologia para as cerâ-
micas, entra pelo estuário do Tejo, segue para o norte de
Portugal e para a Galiza, a Meseta, a Andaluzia, a Cata- FIG. 8 Harrison, 1977.
lunya e o Levante e, após fechar o ciclo com o Centro da
Europa, apresenta as suas conclusões. O inventário que própria, uma vez que dura quase 400 anos... E que, his-
se segue a isto não tem qualquer utilidade, nem sequer toricamente, os trabalhos no Zambujal (e na Rotura), e
como exemplo histórico, mas contém uma ainda hoje mesmo no Casal do Pardo, ajudaram a entender. Prova-
útil bibliografia para jovens interessados com pouco velmente, tem também a ver, como Elisa Guerra Doce
acesso a textos mais antigos. (Guerra et al., 2011; Guerra, 2016) tem vindo a defender,
Legítimo é que se questione porque se deve dar com o comércio do sal, mas também com a metalurgia
importância a este livro. Bem, talvez por ele funcionar e circulação do ouro e outros bens de prestígio (Liesau
como as bóias de aviso ao logo da costa. Nem sempre von Lettow-Vorbeck, 2016). Provavelmente, repito, e em
fazem falta, mas estão lá e, eventualmente, podem ser geral, com indivíduos que efectuam comércios regio-
úteis. Mas quando olhamos com atenção os lugares nais, como os almocreves dos períodos históricos, ou
onde foram postas, se formos pescadores, percebemos mesmo a longa distância, tal como a cerâmica cardial
que nem sempre estão no sítio certo. pode ter acompanhado gramíneas e ovelhas. Ou, no
No caso de Harrison, e transversalmente, o seu maior caso destas últimas, a ideia da sua domesticação.
erro parece consistir na excessiva importância atribu- Haverá um «povo campaniforme»? duvido muito.
ída à cerâmica campaniforme de Vila Nova de S. Pedro, Claro que o livro de Harrison põe questões interes-
e, indirectamente, à continuidade e duração de uso dos santes, a anos luz da «memória» de Veiga Ferreira. Ou do
povoados fortificados. Claro que na altura não eram impressionante silêncio de Manuel Heleno. Apresenta
conhecidos sítios hoje paradigmáticos, como o Cerro bons mapas de distribuição dos achados. Não tem foto-
do Castelo de Santa Justa e Alcalar, um no Alto Algarve grafias, nem de peças nem de paisagens, e tão impor-
oriental, outro no ocidental, o Monte da Tumba, o tantes as paisagens seriam para compreender a diver-
Monte Novo dos Albardeiros, no Alentejo. sidade de ambientes que os (vasos) campaniformes
Vila Nova de S. Pedro impressionava, na sequência atingem. Para alguém que abre um livro com uma cita-
do investimento que nele fizeram Afonso do Paço e ção (oportunista, convenhamos) do grande arqueólogo
Eugénio Jalhay, mas a informação de monumentos e social que foi Vere Gordon Childe, a ausência de análises
sítios como o Zambujal e Liceia estava ainda por definir comparativas das possíveis estruturas sociais que cor-
e o Penedo do Lexim longe de ter a sua muralha a des- respondem ao 3.º milénio é um pouco chocante. Não há
coberto, o que só viria a acontecer recentemente (Sousa, ausência completa de ideias, como acontece com Veiga
2010a, 2010b). Ferreira, há algumas, mas mal fundamentadas.
Compreender hoje o Campaniforme como uma Apesar de tudo, que é muito, que pena não se terem
sequência, na pretendida coerência da evolução das atempadamente discutido as leituras de Harrison, não
cerâmicas de Vila Nova é um absurdo. Para a época, foi apenas os detalhes irritantes, como os pentes votivos
apenas um dos «palpites» de Harrison, palpite que não sobre osso polido (p. 48, Figura 26), muito anteriores ao
resultou. Na realidade, o campaniforme não é apenas campaniforme, ou a insistência não suficientemente
um grupo cerâmico, mas uma associação variável de fundamentada na continuidade estilística desde o
artefactos, não necessariamente presente em todas campaniforme marítimo até à emergência das declara-
as situações. Terá naturalmente uma sequência em si ções compósitas (p. 44-48).

16 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 9 Dois cervídeos, ponteados e incisos: em cima, cervídeo integralmente ponteado sobre taça tipo Palmela do Casal do Pardo, sem indicação
de gruta (MNA 984.668.3) e cervídeo pata curta, de técnica mista do tholos da Tituaria, este último sob reserva de análise microscópica posterior.
Fotos Victor S. Gonçalves.

VICTOR S. GONÇALVES  SINOS, TAÇAS E COISAS ASSIM, JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A PRESENÇA CAMPANIFORME EM PORTUGAL 17
Em 1980, num belíssimo exemplo da arte gráfica nhas têm suficiente força própria. Neste caso, que outra
inglesa (nem um defeito de concepção tipográfica, dese- expressão se poderia usar? Afastando a saborosa ques-
nhos simplificados, mas informativos, fotografias bem tão dos crustáceos (e do que está por detrás das suas
escolhidas, excelente papel, capa dura, o todo impresso métopes), a associação de grupos quadrangulares ou
em Espanha perante o que deve ter sido um caderno de retangulóides de linhas verticais ou oblíquas, separa-
encargos rigoroso), temos um regresso parcial, tapando, dos por espaços vazios, o todo integrado em bandas,
de algum modo buracos anteriores. Em primeiro lugar uma, duas, três, quatro... dificilmente teria melhor
porque as intenções de Harrison são agora confessa- palavra. Ainda que as métopes do Parténon, de onde a
das abertamente e bem claras: «I wrote this book at the designação provém, sejam partes narrativas, ilustradas
invitation of the General Editor of the series, Professor por três grupos de figuras mitológicas e um da Idade do
Glyn Daniel, in order to give an intelligible account of Bronze (a Gigantomaquia a Este, a Centauromaquia a
the Copper Age in Western Europe which has for long Sul, a Amazonomaquia a Oeste e finalmente, a Norte, a
time been confusing to both archaeologists and the Guerra de Tróia).
general reader.» (Harrison, 1980, 6). Trata-se assim de Para se caracterizar e descrever as métopes nas cerâ-
uma meritória tentativa de fornecer uma visão geral do micas do 3.º milénio temos que seguir várias vias:
Calcolítico europeu, ainda que este se não possa resu-
mir, muito pelo contrário, ao Campaniforme. A conclu- 1. a composição e orientação das métopes;
são do volume, porém, mostra bem a contradição que 2. a sua localização (na superfície externa o
esta condicionante traduz e quão perigosa pode ser a u no lábio da taça);
assimilação entre a Idade do Cobre e o «povo campani- 3. o número e a distribuição das bandas onde
forme». Na realidade, esta nefasta fusão tem os resul- se inserem;
tados da cozinha thai e da cozinha japonesa, que, no 4. a sua eventual associação a outros motivos,
entender de alguns são excessivamente incompatíveis. na mesma banda;
Harrison prolonga o campaniforme para o 2.º milénio e 5. a forma dos vasos em que foram usadas.
para as chefaturas da Idade do Bronze, o que está longe
de estar provado. Hoje, a comparação de dois sítios do Para começar pelo fim, não há forma de perfil incluí-
Vale do Sorraia, a quinta calcolítica do Cabeço do Pé da do no grupo campaniforme que não tenha métopes
Erra e o Barranco do Farinheiro, a 3,3 km de distância associadas. Até mesmo o vaso-tambor de Alapraia...
um do outro, mostra bem que coexistem, no Tempo e no Não há assim qualquer coincidência entre uma
Espaço, grupos com e sem campaniformes (Gonçalves e forma específica como suporte da decoração em méto-
Sousa, 2017). Tal como as datações de radiocarbono obti- pes. Podemos considerá-las como um motivo universal
das para o Cerro do Castelo de Santa Justa, Monte Novo do Centro e Sul de Portugal durante a segunda metade
dos Albardeiros, Rotura, Chibanes, Liceia, Vila Nova de S. do 3.º milénio a.n.e.,
Pedro e Zambujal evidenciam os sérios problemas que Terá o número de bandas com métopes por vaso um
as leituras simplistas acarretam. Já para não falar na significado específico?
terrível compressão cronológica que uma leitura como Que me lembre, nunca encontrei mais que quatro
a de Harrison implica... e que a realidade desmente. bandas por superfície externa do recipiente cerâmico,
mas há que ter em conta o espaço que elas ocupam.
E, obviamente, não considerar os bordos aplanados das
2. UM INDICADOR POUCO USADO: AS MÉTOPES taças tipo Palmela, que, eles próprios, também supor-
tam métopes.
métopes [ao contrário, sepotém] A primeira das questões colocadas, a da composição
é o plural de métope das métopes, é a mais fácil de responder: são marcadas
por uma orientação vertical, mais raramente oblíqua,
métopes os espaços entre elas são normalmente vazios, mas há
Porção média frontal dos crustáceos situações em que foram parcialmente preenchidos por
outros motivos, daí resultando bandas híbridas.
Métopa De tudo, resulta a existência de uma gramática
Intervallo quadrado, entre os decorativa diversificada, particularmente nas taças,
triglyphos do friso dórico. mas também em alguns vasos em forma de sino. Sinos
Dicionário online de Português e taças são coetâneos num momento avançado do
«Campaniforme», mas os primeiros parecem ser clara-
Como acontece muitas vezes, as palavras são o que mente anteriores às caçoilas acampanadas e às taças
são e precisam de contextos, até mesmo quando sozi- decoradas.

18 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
As formas cerâmicas que servem de suporte às em povoados, como Rotura e Chibanes, ou em necró-
métopes são, como já foi referido, pertencentes a vários poles, como Casal do Pardo e Alapraia. Estão profunda-
grupos, tanto o das formas abertas como o das formas mente entrosadas na gramática decorativa da segunda
fechadas. Nesta perspectiva, cite-se o caso da Pedra metade do 3.º milénio a.n.e., traduzindo uma unidade
Branca (Montum, Melides). Como se pode ver pelas de gostos que pode bem ser considerada étnica. Como,
imagens remontadas do estudo monográfico (Ferreira antes, os motivos simbólicos dos menires do Algarve
et al., 1975). ocidental. Ou, ao mesmo tempo, ou pouco antes, as
As métopes são claramente um padrão decorativo cerâmicas do grupo folha de acácia...
próprio das penínsulas de Lisboa e Setúbal, surgindo

FIG. 10 Em cima, métopes nas cerâmicas da Pedra Branca, remontadas a partir de Ferreira et al. 1975. Em baixo, materiais do Miradouro dos
Capuchos, Bübner, 1979, remontados.

VICTOR S. GONÇALVES  SINOS, TAÇAS E COISAS ASSIM, JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A PRESENÇA CAMPANIFORME EM PORTUGAL 19
FIG. 11 Métopes. Em cima, pequena taça de Alapraia 2, com banda de métopes logo abaixo do bordo. A meio, vaso-tambor (esférico alto), de
Alapraia 2, também com uma banda de métopes logo abaixo do bordo e decoração complementar semelhante à da taça. Em baixo, grande taça
tipo Palmela com quatro bandas com métopes, proveniente de Alapraia 4. Desenhos Guida Casella.

20 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 12 Métopes. Em cima, MNA 12409b, Casal do Pardo, sem indicação de gruta. Taça com uma banda de métopes e bandas preenchidas a
verticais. Em baixo, MNA 984.670.34, Casal do Pardo, sem indicação de gruta. Taça com duas bandas de métopes articuladas entre si.
Fotos Victor S. Gonçalves.

VICTOR S. GONÇALVES  SINOS, TAÇAS E COISAS ASSIM, JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A PRESENÇA CAMPANIFORME EM PORTUGAL 21
3. OS GRUPOS CERÂMICOS «FOLHA DE ACÁCIA» vários suportes há motivos semelhantes à folha de acá-
E CAMPANIFORME EM PORTUGAL cia. Mas estas decorações inserem-se sempre em per-
fis muito diferenciados, e são raras, um grupo folha de
«Outros poetas têm cantado a fama do meigo olhar acácia seria difícil de entrever sobretudo pelo carácter
do antílope e a adorável plumagem do pássaro que isolado do motivo e pela sua combinação com outros.
nunca pousa. Menos celestial, eu celebro uma cauda. Em Portugal, as sondagens efectuadas na Rotura
Se medirmos o maior tamanho da cauda de um mostraram duas sequências, em que a folha de acácia
cachalote, começando no ponto onde ela se adelgaça e o campaniforme se sucediam com localizações estra-
até atingir mais ou menos a medida de um homem, tigráficas aparentemente fiáveis e expressivas. Mas, na
ela compreende só na sua superfície superior uma realidade, o que se escavou na Rotura foram os limites
área de pelo menos cinquenta pés quadrados.» do povoado, cuja parte central tinha sido destruída por
Herman Melville, Moby Dick, p. 403 uma pedreira. Tal como em Vila Nova de S. Pedro, em
que a cerâmica campaniforme aparecia sobre as mura-
Se há, por vezes, epígrafes que não fazem sentido lhas derrubadas do povoado calcolítico, também aqui o
algum, não sendo mais que uma tentativa exibicionista, campaniforme integrava, ou era mesmo a última fase
e frequentemente desastrada, de alguns mostrarem coerente de ocupação do sítio.
que sabem ilustrar um texto com sentenças alheias, Apesar de tudo, após a Rotura, só o Zambujal ergueu
esta não pertence certamente a esse grupo abominável. de início a questão campaniforme ao nível do registo
Na verdade, os vasos campaniformes podem ser com- rigoroso e da discussão ordenada. Assim, M. Kunst irá
parados aos antílopes e às aves do 3.º milénio a.n.e. Mas colocar em equação alguns pontos essenciais, ao con-
a medida da cauda de um cachalote, como Melville bem siderar uma possível periodização do 3.º milénio na
entendeu, tem existência própria, correspondendo Estremadura:
também a um contraponto estético da dimensão dos «O estudo das cerâmicas decoradas do Zambujal,
grandes potes ou esféricos altos da cerâmica do grupo agrupadas nos três conjuntos considerados – copos
folha de acácia... e a outras coisas também. cilíndricos, decorações com «folhas entalhadas» e cam-
E se não fosse a decoração que os separa parcial- paniformes – mostra que são decisivas para a elabora-
mente, e pela técnica usada, seria pelas medidas (e pelo ção duma estruturação cronológica a combinação de
uso putativo) que separaríamos um grupo do outro. diferentes características e também a relação quanti-
Ou ainda, também adequadamente, pelos lugares tativa respectiva. (…). Tendo em consideração as carac-
onde os recolhemos: nenhum pote decorado com os terísticas atrás mencionadas, deve supor-se uma estru-
motivos do grupo folha de acácia apareceu até hoje turação em cinco horizontes sucessivos:
em sepulturas, enquanto as cerâmicas com decoração
«campaniforme», particularmente as de decoração 1 – Copos cilíndricos exclusivos;
linear ou de bandas, aparecem quer em lugares de 2 – Copos cilíndricos frequentes + escassas
povoamento quer em necrópoles. decorações com folhas entalhadas;
Após alguns devaneios sem sentido, como a discus- 3 – Copos cilíndricos frequentes + decorações
são em torno a «verdadeiras» e «falsas» folhas de acá- com folhas entalhadas frequentes + escassos
cia, a questão das réplicas sobre cerâmicas das folhas campaniformes;
de Acacia penninervis, uma conhecida angiospérmica, 4 – Decorações com folhas entalhadas frequentes
colocou-se, em termos de periodização e estratigrafia, + campaniformes frequentes + escassos copos
a partir da escavação do «Castro» da Rotura (Gonçal- cilíndricos (apenas exemplares com estratigrafias
ves, 1966; Ferreira e Silva, 1970; Gonçalves, 1971; Soares remexidas);
e Silva, 1975, Gonçalves e Silva, 1993, Gonçalves e Sousa 5 – Campaniformes frequentes + pouco frequentes
2006). decorações com folhas entalhadas + ausência copos
Numa síntese como a de Harrison (1980) pouca aten- cilíndricos, ou muito escassos.
ção é dada à folha de acácia e muito menos lhe é atri-
buída uma categoria de «fóssil director). No entanto, Até que ponto se pode generalizar, além do Zam-
mesmo minoritária, ela aparece aqui e ali. Na Holanda, bujal, a divisão do horizonte antigo numa fase sem
sobre perfis campaniformes PFB e AOO (p. 16), em cerâmica com decoração de folhas entalhadas e numa
Uddelermeer (p.25: 11); na Alemanha, em Reinhessen outra mais recente, na qual coincidem copos cilíndricos
(p. 32, 4), Neehausen (p. 39: 1, 2), Löbnitz (p. 39: 19, 11), e cerâmicas com decorações de folhas entalhadas, só se
Lochau (p. 39: 12); na Polónia, em Wojszyce (p. 59: 41), em poderá saber quando forem investigados outros luga-
Strachóv (60: 42); na Hungria, em Szigetszentmiklós res, cujos materiais confirmem a hipótese levantada
(p. 63: 46), em Tököl II (p. 66: 50, 5a); em Inglaterra, em pelo Zambujal.» (Kunst, 1996, 280).

22 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
Ora bem, é sempre interessante ver as propostas de paniforme, na sua facies tardia (Ciempozuelos) está
Miguel Kunst, até pela equidistância que ele tem mani- visivelmente separada do grupo de cerâmicas folha de
festado na análise do 3.º milénio e no seu sólido conhe- acácia. Há folhas de acácia e crucífera em ambos sítios,
cimento de estes tipos cerâmicos, ainda que as cerâmi- mas campaniformes só no Barranco.
cas do grupo folha de acácia e crucífera (estas últimas A estratigrafia e a sequência da Rotura (Gonçalves
não sendo mais que um arranjo gráfico das anteriores) e Silva, 1993) viriam abrir a questão do que, de uma
só sejam associáveis aos campaniformes num contexto forma simplificada, se chamava «pré-campaniforme».
do Extremo Ocidente peninsular, mais propriamente Não é assim por acaso que M. Kunst lê da mesma forma
florescem nas Penínsulas de Lisboa e Setúbal em mea- a sequência cronológica do Zambujal, confirmando os
dos do 3.º milénio e praticamente desaparecem em fins dados da Rotura.
do seu terceiro quartel, como se verifica, por exemplo, Ao mesmo tempo, as cronologias obtidas finalmente
no Cabeço do Pé da Erra. Mas, a menos de um quilóme- para a Rotura (Gonçalves e Sousa, 2007 e Gonçalves,
tro de este, no Barranco do Farinheiro, a realidade cam- 2018, no prelo) e a extensa série do Zambujal (Kunst e

FIG. 13 Fragmento de pote recolhido no Barranco do Farinheiro (escavações de 2017). Contrariamente a outros potes, exclusivamente decorados
com caneluras e triângulos preenchidos com oblíquas (como na Rotura ou no Penedo do Lexim), este apresenta uma banda com folhas de
acácia. Pequena taça hemisférica de Casal do Pardo 3, MNA 984.667.7. Notar a sequência da decoração: (1) duas linhas em guirlanda, com
pequenas folhas de acácia dispostas em V invertido, formando um motivo ziguezagueante logo abaixo do bordo; (2) agrupamento de sete
linhas separadoras; (3) três linhas de folhas de acácia que ocupam o espaço de onde arranca a decoração estrelada do fundo, uma decoração
idêntica à das grandes taças tipo Palmela. Desenhos Guida Casella.

VICTOR S. GONÇALVES  SINOS, TAÇAS E COISAS ASSIM, JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A PRESENÇA CAMPANIFORME EM PORTUGAL 23
FIG. 14 Barranco do Farinheiro
(escavações de 2012). Cerâmica
do Grupo folha de acácia
estratigraficamente associada
a machado de cobre.
Desenhos Guida Casella.

24 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
Lutz, 2011) confirmaram-se assim mutuamente. É inte- Haverá então um povo indígena, detentor de cerâ-
ressante notar que as datações atribuíveis aos níveis micas de um tipo, e um outro, grupo, ou grupos, de
fundacionais do sítio, anteriores à emergência da mercadores, que negoceiam o «pacote campaniforme»,
folha de acácia na Rotura, são, calibradas a 2 sigmas, quer vindo do litoral quer da Meseta? Que têm perfis
2874-2499 (OxA-5538) e 2866-2475 (OxA-5547). A fase próprios, mas cuja gramática decorativa se cola sobre
seguinte, o nível IIb, incluindo já algumas cerâmicas perfis locais? Como também é o caso das métopes?
com folhas de acácia associadas a losangos preenchi- Não vejo porque não, em todas as possibilidades.
dos com retículas, dispostos na horizontal e finamente E quanto a traços de horizontes mais antigos, sobre-
incisos, e várias outras também com incisões finas, vivendo em épocas posteriores ao seu apogeu, há pelo
foi datado de 2560-2350 (Beta-316626). Esta datação menos um copo decorado quase intacto proveniente
foi obtida a partir de um furador longo sobre tíbia de do Cabeço do Pé da Erra, num nível anterior ao da folha
ovis (RTR-IIb s/n). Outras duas datações, estas para o de acácia. E, no Barranco do Farinheiro, o Campani-
nível pleno da folha de acácia, têm como parâmetros, forme é mesmo a última ocupação, apenas cortada por
também após calibração a dois sigmas, 2460-2064 e uma intrusão da Idade do Bronze.
2459-2140 (OxA- 5540 e 5539). É sobre o abandono regis- Em Arqueologia, devemos sempre duvidar das coisas
tado neste nível que aparece a quase totalidade das simples e, ao arrepio de uma passagem que escrevi, a
cerâmicas campaniformes, sendo as diversas formas rasoura de Occam nem sempre é um bom exemplo…
impossíveis de separar: as taças tipo Palmela aparecem
espacialmente com vasos campaniformes marítimos, Lisboa, texto revisto no Outono de 2017
caçoilas acampanadas e pequenas taças.
Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares viriam pos- Uma nota final de agradecimento a Ana Catarina
teriormente a afinar a questão da sequência dentro da Sousa, que literalmente me obrigou a escrever este
sequência campaniforme (Silva e Soares, 1977) e usando texto, quando temos tanto trabalho comum em con-
uma nova aproximação, a da tecnologia decorativa. Basi- clusão, no Vale do Sorraia, no Casal do Pardo e no
camente, o campaniforme seria, numa primeira fase, Olival da Pega... Mas a simbólica oblige... sobretudo
impresso a pontilhado e, numa segunda fase, inciso. pouco mais de meio século depois de 1966.
Há, porém um pequeno problema, que nenhuma
estratigrafia até hoje confirmou, o da localização das
situações híbridas. Existem, com efeito, recipientes em REFERÊNCIAS BIBLIOG RÁFICAS
que as duas técnicas foram usadas. No caso do vaso E ALGUNS OUTROS TÍTULOS
com cervídeos do tholos da Tituaria, por exemplo, o BLASCO BOSQUED, C.; LIESAU, C. (2001) – Conjunto campaniforme
único cervídeo completo parece ter a linha cérvico dor- de Ciempozuelos. En: ALMAGRO GORBEA, M (ed.). Tesoros de la
sal incisa e as hastes impressas... Real Academia de la Historia. Real Academia de la Historia
y Patrimonio Nacional. Exposición celebrada en el Palacio Real
A convicção dos dois autores referidos tem, no
de Madrid, Abril-Julio 2001: 220-222. 
entanto, fundamentos, até porque o campaniforme
BLASCO BOSQUED, C.; LIESAU, C.; RÍOS, P. (eds.) (2011) – Yacimientos
tardio do Casal do Pardo pode muito bem distribuir-se
calcolíticos con campaniforme en la Región de Madrid: Nuevos
por dois ou mesmo três grupos, um deles com vasos estudios. Madrid: Universidad Autónoma de Madrid   
campaniformes pontilhados, outro que parece traduzir BUBNER, T. (1979) – Die äneolithische siedlung auf dem Miradouro
imitações locais, incisas, dos campaniformes impressos dos Capuchos. Madrider Mitteilungen. Heidelberg: F. H. Kerle
e uma outra, muito próxima do grupo Ciempozuelos. Verlag. 20. p. 11-42.
Uma questão de técnica, de opção do oleiro ou uma CARDOSO, J. L. (1992) – A Lapa do Bugio. Setúbal Arqueológica,
questão de diferentes tempos campaniformes? vol. IX-X, p. 89-225.
De qualquer forma, a notável contribuição de Carlos CARDOSO, J. L. (2014) – A presença campaniforme no território
Tavares da Silva e Joaquina Soares consiste na maneira português. Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. vol. 21,
p. 295-348.
como procuraram ordenar o caos em que os estudos
CARDOSO, J. L. (2014) – Manifestazioni del Vaso Campaniforme
sobre o campaniforme tinham caído e a displicência
nel territorio portoghese. In Le manifestazioni del sacro e l’età
com que as questões técnicas (não) tinham sido enca-
del Rame nella regione alpina e nella pianura padana. Studi
radas. A sua periodização, como todas as periodizações, in memoria di Angelo Rampinelli Rota. Brescia, p. 279-319.
pode vir a ser actualizada, mas, em cerâmicas, e não só, CARTAILHAC, E. (1886) – Les Âges Préhistoriques de l’Espagne et du
os originais são sempre anteriores às cópias. E estas Portugal. Paris.
registam muitas vezes traços claros (ou quase imper- CASTILLO YURRITA, A. (1928) – La Cultura del Vaso Campaniforme:
ceptíveis) de transformação e mudança... ou do subjec- Su Origén y extension en Europa. Barcelona.
tivismo do artesão (como acontece com as placas de COSTA, A. I. M. (1910) – Estações pré-históricas dos arredores de Setúbal.
xisto gravadas). Apontamentos para o seu estudo. Lisboa: Imprensa Nacional.

VICTOR S. GONÇALVES  SINOS, TAÇAS E COISAS ASSIM, JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A PRESENÇA CAMPANIFORME EM PORTUGAL 25
FERREIRA, O. V. (1966) – La Culture du Vase Campaniforme au Portugal. GUILAINE, J. (2004) – Les Campaniformes et la Méditerranée.
Serviços Geológicos de Portugal. Memória 12. Bulletin de la Société Préhistorique Française. Paris. 101:2,
FERREIRA, O. V.; SILVA, C. T. (1970) – A estratigrafia do povoado p. 239-249.
pré-histórico da Rotura (Setúbal). Nota preliminar. Actas
GUILAINE, J.; BESSE, M.; LEMERCIER, O.; SALANOVA, L.; STRAM, C.;
das I Jornadas Arqueológicas, Lisboa 1969, 2, Associação dos
VANDER LINDEN, M. (2004) – Avant-propos: les campaniformes
Arqueólogos Portugueses, p. 201-225.
aujourd’hui. Bulletin de la Société Préhistorique Française. Paris.
FERREIRA, O. V.; ZBYSZEWSKI, G,; LEITÃO, M.; NORTH, T.; SOUSA, 101:2, p. 197-200.
H. R. (1975) – Le monument mégalithique de Pedra Branca auprès
HARRISON, R. J. (1977) – The bell beaker cultures of Spain and Portugal.
de Montum (Melides). Comunicações dos Serviços Geológicos de
Cambridge: Peabody Museum, Harvard University. 257 p.
Portugal, t. LIX, p. 107-192.
HARRISON, R. J. (1980) – The Beaker folk. Copper Age Archaeology
FITZPATRICK, A. P. (2011) – The Amesbury Archer and the Boscombe
in Western Europe. London: Thames & Hudson.
Bowmen. Wessex Archaeological Report, 27. 625 p.
http://hdl.handle.net/10451/3480.
GONÇALVES, V. S. (1966) – O Castro pré-histórico da Rotura:
novos elementos para o seu estudo. IV Colóquio Portuense de INÁCIO, N. (2015) – Alfarería y Metalurgia. Contribución del análisis
Arqueologia. Lucerna. Porto. 5. p. 476-511. arqueométrico para el estudio de los patrones de producción,
distribución y consumo de cerámica en el Suroeste de la Península
GONÇALVES, V. S. (1971) – O Castro da Rotura e o Vaso Campaniforme.
Ibérica durante el III Milenio A.N.E. Tese doutoral. Universidade
Setúbal: Junta Distrital.
de Huelva.
GONÇALVES, V. S. (2014 ) – Les changements du sacré: du dolmen
KUNST, M. (1987) – Zambujal. Glockenbecherund kerblattverzierte
au tholos à Reguengos de Monsaraz (Alentejo, Portugal,
Keramik aus den Grabungen 1964 bis 1973. Mainz am Rhein:
3200-2500 a.n.e.). Actes du Colloque Fonctions, utilisations et
Verlag Philipp von Zabern (Madrider Beiträge 5, Zambujal Teil 2).
répresentations de l’espace dans les sépultures monumentals
du Néolithique européen. Aix-en-Provence, 2011, p. 143-161. KUNST, M. (1996) – As cerâmicas decoradas do Zambujal e o
faseamento do Calcolítico na Estremadura portuguesa. Estudos
GONÇALVES, V. S. (2018, no prelo em OPHIUSSA 2) – O joelho da
ovelha. Datações 14C para tíbias de ovis dos povoados da Rotura Arqueológicos de Oeiras, vol. 6, p. 257-287.
(Setúbal) e da Parede (Cascais). KUNST, M. (2001) – Invasion? Fashion? Social Rank? Consideration
GONÇALVES, V. S.; SILVA, C. T. (1993) – A estratigrafia da Rotura. concerning the Bell Beaker phenomenon in Copper Age
História de Portugal dirigida por João Medina, Vol. 1. Coordenado fortifications of the Iberian Peninsula. In NICOLIS, F. (ed. lit.) –
por Victor S. Gonçalves Lisboa: Ediclube. p. 220-221. Bell Beakers today pottery, people, culture, symbols in prehistoric
Europe. Proceedings of the of the International Colloquium Riva del
GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C. (2006) – Algumas breves reflexões
Guarda. Trento: Servizio Beni Culturali, 2001. p. 81-90.
sobre quatro datas 14C para o Castro da Rotura e o 3.º milénio nas
Penínsulas de Lisboa e Setúbal. O Arqueólogo Português. Lisboa; KUNST, M. (2005) – Bell Beakers in Portugal: A short summary.
Vol. 24, série 4, p. 231-266.  ROJO GUERRA, M.; GARRIDO PENA, R.; Garcia Martínez de
Lagrán, I., (eds.)(2005) – El Campaniforme en Ia Peninsula lberica
GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C. (2017) – The Shadows of the Rivers
y su contexto europeo. Valladolid: Universidad de Valladolid,
and the Colours of Copper. Some Reflections on the Chalcolithic
Secretariado de Publicaciones e Intercambio Editorial. p. 197-212.
Farm of Cabeço do Pé da Erra (Coruche, Portugal) and its
Resources. In Martin Bartelheim, Primitiva Bueno Ramírez KUNST, M.; LUTZ, N. (2011) – Zambujal (Torres Vedras), Investigações
and Michael Kunst (eds.), Key Resources and Sociocultural até 2007. Parte I: Sobre a precisão da cronologia absoluta
Developments in the Iberian Chalcolithic. RessourcenKulturen 6 decorrente das investigações na quarta linha da fortificação,
(Tübingen Library Publishing) Tübingen 2017 (ISBN 978-3-946552- Estudos Arqueológicos de Oeiras 18, 2011, 419-466.
12-3). LEISNER, G.; LEISNER, V. (1955) – Antas nas Herdades da Casa de
GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C. (eds.) (2010) – Transformação Bragança no concelho de Estremoz. Lisboa.
e mudança no Centro e Sul de Portugal no 3.º milénio a.n.e. LEISNER, V.; ZBYSZEWSKI, G.; FERREIRA, O. da V. (1961) – Les Grottes
Actas do Colóquio Internacional. Cascais: Câmara Municipal Artificielles de Casal do Pardo (Palmela) et la Culture du Vase
[Colecção Cascais, Tempos Antigos, #2]. Campaniforme. Memória, 8, N. S., Lisboa: Serviços Geológicos de
GUERRA DOCE, E.; DELIBES DE CASTRO, G.; ABARQUERO MORAS, Portugal.
F. J.; DEL VAL RECIO, J.; PALOMINO LÁZARO, Á. L. (2011) – LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.; BLASCO BOSQUED, C.; RÍOS
The Beaker Salt Production Centre of Molino Sanchón II, Zamora, MENDOZA, P.; VEGA DE MIGUEL, J.; MENDUIÑA GARCÍA, R.;
Spain. Antiquity. 85: 329, p. 805-818. BLANCO GARCÍA, J. F.; BAENA PRESLE, J.; HERRERA, T.; PETRI, A.;
GUERRA DOCE, E. (2016) – Salt and Beakers in the third millennium GÓMEZ PEREZ, J. L. (2008) – Un espacio compartido por vivos
BC. In GUERRA DOCE, E.; LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C. y muertos: El poblado calcolítico de fosos de Camino de las
(eds.), Analysis of the Economic Foundations supporting the Social Yeseras (San Fernando de Henares, Madrid). Complutum,
Supremacy of the Beaker Groups. Proceedings of the XVII UISPP vol. 18 (1), p. 97-120.
World Congress (1-7 September, Burgos, Spain). Volume 6: Session
LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C. (2016) – Some prestige goods as
B36. Oxford: Archeopress Archaeology, p. 95-110.
evidence of interregional interactions in the funerary practices
SCHUBART, Hermanfrid (1965) – As duas fases de ocupação do túmulo of the Bell Beaker groups of Central Iberia. In GUERRA DOCE, E.;
de cúpula do Monte do Outeiro nos arredores de Aljustrel. Revista LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C. (eds): Analysis of the Economic
de Guimarães. Guimarães. 75:14, p. 195204. Foundations Supporting the Social Supremacy of the Beaker
GUILAINE J. (1967) – La Civilisation du vase campaniforme dans les Groups. Proceedings of the XVII UISPP World Congress
Pyrénées françaises. Carcassonne. 240 p.  (1–7 September, Burgos, Spain): Volume 6 / Session B36, p. 69-94.

26 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
MATALOTO, R. (2006) – Entre Ferradeira e Montelavar: um conjunto SOARES, J. (2013) – Transformações sociais durante o 3.º milénio AC
artefactual da Fundação Paes Teles (Ervedal, Avis). Revista no sul de Portugal. O povoado do Porto das Carretas. EDIA
Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 9. 2. p. 83-108. (Memórias d´Odiana, 2.ª série, 5).
MELVILLE, H. (1851, 2005) – Moby Dick. Lisboa: Relógio d’Água. SOARES, J.; SILVA, C. T. (1975) – A ocupação pré-histórica do Pedrão e o
SALANOVA, L. (1997) – Des cloches et des coquillages: fabrication Calcolítico da região de Setúbal. Setúbal Arqueológica, 1, p. 53-153.
et ornementation des vases campaniformes en France. Tese SOARES, J.; SILVA, C. T. (1977) – O grupo de Palmela no quadro da
de doutoramento na Universidade de Paris 1. 3 vols. cerâmica campaniforme em Portugal. O Arqueólogo Português.
SALANOVA, L. (2000) – Mécanismes de diffusion des vases Lisboa. 3. 79. p. 101-112.
campaniformes: les liens franco-portugais, in Actas do SOARES, J.; SILVA, C. T. (2010) – Campaniforme do Porto das Carretas
3.º Congresso de Arqueologia Peninsular (Vila Real, Portugal, (médio Guadiana): a procura de novos quadros de referência.
setembro de 1999), vol. 4: Pré-história recente da Península ibérica In GONÇALVES, A. C.; SOUSA, A. C. – Transformação e mudança
-
(ed. V. O. Jorge), 399 409, ADECAP, Porto. no Centro e Sul de Portugal no 3.º milénio a.n.e. Actas do Colóquio
SILVA, C. T.; SOARES, J. (1997) – Chibanes revisitado. Primeiros Internacional. Cascais: Câmara Municipal, p. 225-261.
resultados da campanha de escavações de 1996. Estudos Orientais, SOUSA, A. C. (2010a) – O Penedo do Lexim (Mafra) na sequência
6, p. 33-66.  do Neolítico final e Calcolítico da Península de Lisboa. Tese
SILVA, C. T.; SOARES, J. (2006) – Territórios da Pré-História em Portugal. de doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da
Setúbal e Alentejo litoral. Tomar: Archeos. Universidade de Lisboa sob direcção de Victor S. Gonçalves.
SILVA, C. T.; SOARES, J. (2014) – O castro de Chibanes (Palmela) SOUSA, A. C. (2010b) – Penedos e muralhas. A leitura possível
e o tempo social do III milénio BC na Estremadura. Setúbal das fortificações do Penedo do Lexim. In GONÇALVES, V. S.;
Arqueológica. Setúbal. 15. p. 105-172. SOUSA, A. C., ed. (2010) – Transformação e Mudança no Centro
SOARES, J. (2003) - Os hipogeus pré-históricas da Quinta do Anjo e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. Actas do Colóquio
(Palmela) e as economias do simbólico. Setúbal: Museu de Internacional (Cascais, 4-7 Outubro 2005). Cascais: Câmara
Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal. Municipal, p. 19-42. 

VICTOR S. GONÇALVES  SINOS, TAÇAS E COISAS ASSIM, JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A PRESENÇA CAMPANIFORME EM PORTUGAL 27
O CAMPANIFORME DE ALCALAR
NO CONTEXTO DO EXTREMO SUL
ELENA MORÁN
Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (UNIARQ)
moran.elena@gmail.com

28 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
R E S U M O A análise da topografia histórica do assentamento de Alcalar permitiu iden-
tificar dois horizontes de ocupação, com arquiteturas diferenciadas que traduzem uma
distinta gestão política territorial. O horizonte com campaniforme antigo, corresponde
à fase em que é construído o monumento Alc7, coincidente com a afirmação do assenta-
mento de Alcalar, a partir de 2800 a.n.e., como centro de poder do território envolvente da
Baía de Lagos. O Povoado de Alcalar, com cerca de 25 hectares, estende-se para norte confi-
nando com uma necrópole monumental, organizada em núcleos. Na transição do 3.º para
o 2.º milénio a.n.e., o horizonte com campaniforme recente corresponde à fase final da
ocupação do assentamento de Alcalar, coincidindo com a dissolução do centro de poder.
Momento marcado pela ausência de obras públicas e pelo aproveitamento do espaço por
arquiteturas domésticas não coletivas.
PALAVRAS CHAVE: Centro de poder, estado prístino, Horizonte de Ferradeira.

A B S T R A C T The analysis of the historical topography of the Alcalar settlement allowed


us to identify two occupation horizons, with differentiated architectures that translate
different forms of territorial political management. The old horizon with bell beakers,
corresponds to the phase in which the Alc7 monument is constructed, coinciding with
the affirmation of the settlement of Alcalar, from 2800 a.n.e., as the power centre of the
surrounding territory of the Bay of Lagos. The settlement of Alcalar, with circa 60 acres,
extends to the north bordering a monumental necropolis, organized in nuclei. In the tran-
sition from the Third to the Second millennium b.c.e., the recent horizon with bell beak-
ers, corresponds to the final phase of the occupation of the Alcalar settlement, coinciding
with the dissolution of the power centre. A time marked by the absence of public works
and the use of space by non-collective domestic architectures.
KEYWORDS: Power centre, primitive state, Ferradeira Horizon.

ELENA MORÁN  O CAMPANIFORME DE ALCALAR NO CONTEXTO DO EXTREMO SUL 29


A TOPOGRAFIA HISTÓRICA DO ASSENTAMENTO a ocupação do assentamento de Alcalar entre os finais
DE ALCALAR do Neolítico e os inícios da Idade do Bronze, ou seja,
O assentamento de Alcalar compreende uma área em termos de cronologia absoluta, entre a segunda
habitacional, que ocupa uma elevação amesetada, metade do 4.º milénio e os inícios do 2.º milénio a.n.e.
conhecida na bibliografia especializada como Povo- (Morán, 2014).
ado Calcolítico de Alcalar (Silva & Soares, 1976-77: 250- Alcalar chegou a constituir, no 3.º milénio a.n.e., o
260; Arnaud & Gamito, 1978), e se prolonga nas suas mais destacado centro habitacional e político do Algarve
vertentes (Morán, 2008: 142-145; Morán, 2010), e uma ocidental, nuclearizando a rede de povoamento neo-
necrópole megalítica, localizada sobre as colinas a lítica preexistente (Morán, 2008: 140-141) e agregando
norte, constituída por agrupamentos de templos fune- um conjunto de habitats e ambientes cerimoniais e
rários monumentais com áreas cerimoniais conexas funerários (Morán, 2014: 289-292) num território cujas
(Veiga, 1886; Veiga, 1889; Leisner & Leisner, 1943: 235- fronteiras eram balizadas a norte pela Serra de Monchi-
245; Leisner & Leisner, 1959: 262-263; Morán & Parreira, que, a sul pelas águas da Baía de Lagos, a oriente pelo
2007 com a bibliografia anterior) e configurando uma curso do Rio Arade e a ocidente pela Serra de Espinhaço
demarcação espacial do assentamento que, no seu con- de Cão. É um território drenado de norte para sul por
junto, alcança una extensão máxima superior a 25 hec- um conjunto de ribeiras que desaguam na Ria de Alvor.
tares. Na área imediatamente circundante do assenta- A antiga ria, resultante do máximo da transgressão
mento identificaram-se diferentes lugares periféricos: flandriana, formava um extenso braço de mar, cuja
aglomerados habitacionais de pequena extensão e exata delimitação está ainda pendente de um ade-
ambientes funerários, que incluem túmulos megalíti- quado estudo geoarqueológico.
cos, grutas naturais e hipogeus, ocupados como sepul-
cros coletivos. Pela análise espacial e estratigráfica do
povoado pré-histórico e dos diferentes núcleos funerá- O HORIZONTE COM CAMPANIFORME ANTIGO
rios, e considerando as 23 datações absolutas já reali- Quatro fragmentos de estilo marítimo (Leisner, 1965:
zadas, foi possível estabelecer uma periodização para 258; Blance, 1971: 103) marcam em Alcalar um horizonte

FIG. 1 O assentamento de Alcalar e a sua periferia imediata: situação das áreas habitacionais (polígonos irregulares), dos edifícios
com túmulos (círculos), dos hipogeus de Monte Canelas (lonsangos) e das grutas naturais de Poio 2 e de Mulher Morta (quadrados).
Base: cartografia digital à escala 1:10000 do Município de Portimão.

30 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
com campaniforme antigo, de meados do 3.º milénio
a.n.e. Dois de eles, [n.º 422] e [n.º 452-01], de tipologia
cordada (C/ZM segundo as variantes de Harrison, 1977:
14-15), encontrados no monumento Alc7, correspon-
dem aos contextos de construção deste monumento –
[C10] e [C24] – onde convivem com outras formas cerâ-
micas, como pratos, taças carenadas, tijelas em calote
e esféricos. Um terceiro exemplar [n.º  418], com duas
fiadas paralelas de pontos impressos, foi igualmente
encontrado em contexto de construção – [C10] – do
monumento Alc7. O outro exemplar referenciado de
estilo marítimo [n.º 380] registou-se na área habitacio-
nal, no nível 07 do enchimento do fosso (tramo B) da
parcela AlcP-16L.
Para este horizonte foram obtidas seis datações
absolutas, efetuadas sobre espécies de vida curta.
Sobre conchas e ossos de mamíferos recolhidos em
contextos habitacionais de AlcP e sobre uma amostra
FIG. 2 Área escavada na parcela 16L do povoado calcolítico de
carbonizada de Pistacia lentiscus recolhida do interior
Alcalar: construções do Calcolítico pleno assinaladas em cinzento
da fogueira praticada contra a fachada do monumento claro e do Calcolítico final em cinzento escuro.
Alc7, no núcleo oriental da necrópole megalítica.
Atribuído ao Calcolítico pleno, a partir de 2800 a.n.e.,
este horizonte coincide com a afirmação de Alcalar O HORIZONTE COM CAMPANIFORME RECENTE
como centro de poder do território. O habitat organi- Dois fragmentos de cerâmica com decoração cam-
zou-se em áreas funcionais e foi dotado de cercas, que paniforme, ambos recolhidos na área habitacional do
correspondem, na sua maioria, a fossos escavados no assentamento, marcam um horizonte com campa-
subsolo calcário, os quais seriam complementados por niforme de finais do 3.º milénio a.n.e. Na superfície
cômoros de terra, paliçadas e muros de pedra. O traçado da encosta norte do habitat foi recolhido um exem-
destas cercas delimita recintos regularmente concên- plar [n.º 000] que apresenta semelhanças com outros
tricos e confere um ordenamento urbano à superfície registados nas fases 4/5 do Zambujal [Kunst, 1987:Tafel
habitada, o que permite considerar que a conceção da 20-21]. O sexto exemplar de cerâmica campaniforme
área habitacional foi planificada. As cercas, providas de [n.º 513] procede do nível 09 do enchimento superior
um complexo sistema de acesso à área interior, confi- do fosso (tramo B) da parcela AlcP-16L do habitat. O seu
guram dispositivos de proteção de superfícies com ele- estilo e posição estratigráfica corroboram a atribuição a
vada concentração de fossas, localizadas na plataforma este horizonte.
mais elevada do habitat. Apesar de algumas dessas fos- Três datas absolutas, obtidas sobre colagénio de
sas corresponderem a reservatórios de água e estarem amostras de osso humano, para contextos do povo-
associadas a canais para a recolha e adução do líquido, ado, da necrópole megalítica de Alcalar e da necrópole
o espaço doméstico é dominado por fossas de armaze- de Monte Canelas, confirmam-nos uma ocupação do
nagem e constitui um verdadeiro celeiro coletivo. As assentamento atribuído ao Calcolítico final, corres-
estruturas de habitação, em número inferior, corres- pondendo ao final do 3.º milénio a.n.e., transição para
pondem a casas circulares de barro amassado e canas o 2.º  milénio a.n.e., e ao último período do assenta-
que assentam em socos de pedra e que possuem uma mento de Alcalar como centro de poder, entre 2200 e
lareira central. A área ocupada estende-se para cotas 2000/1900 a.n.e., cuja dissolução ocorre em inícios do
mais baixas, até à necrópole monumental, pelas encos- 2.º milénio a.n.e.
tas norte, nascente e sul, também elas cercadas, corres- No povoado, este é um período marcado pela ausên-
pondendo a espaços hortícolas e ganadeiros, com uma cia de obras públicas e pelo aproveitamento do espaço
produção variada e abundante confirmada pelo estudo com arquiteturas domésticas não coletivas. Contras-
dos restos de mamíferos e plantas. tando com as casas de planta circular e lareira central
Simultaneamente alguns ambientes funerários do Calcolítico pleno, constroem-se agora casas mais
foram segregados para a periferia do assentamento, robustas e complexas. Exemplo desta arquitetura
como os edifícios tumulares de Monte Velho (um doméstica será a casa -770/-170, com planta sub-retan-
núcleo funerário com três sepulcros de tholos) e o pro- gular alargada, paredes construídas por empilhamento
vável tholos de Poio 1. de bolas de barro assentes em socos largos de pedra e

ELENA MORÁN  O CAMPANIFORME DE ALCALAR NO CONTEXTO DO EXTREMO SUL 31


compartimentos interiores realizadas com paredes de lios metálicos, às vezes nobres, como o ouro, procura-
adobe. vam perpetuar a sua importância social.
A produção especializada metalúrgica, embora já Assim, no nicho do monumento Alc3 (Veiga, 1889:
presente no Calcolítico pleno, conforme confirmam os 157-159 e estampas VI) foi depositado um conjunto de
fragmentos de crisol recuperados nos níveis inferiores artefactos que, aparentemente, acompanhavam um
da fossa -798/-182, intensifica-se agora, patente nas único indivíduo (Veiga, 1889: 169-183 e estampas VIII
manufaturas de cobre e gotas de fundição associados e IX; Parreira, 1993: 208; Soares, 2013: 397-399): 15 obje-
aos restos de fogo identificados nas proximidades da tos de cobre e 7 facas de pedra talhada podendo estas
casa -770/-170, sobre os níveis de uso após a colmatação vincular-se à prática metalúrgica, sendo usadas para
do fosso (tramo B). verter o metal dos cadinhos de fundo plano no molde
A análise espacial e estratigráfica do espaço domés- (Nocete, 2004: 290-292; Costa Caramé, 2011: 140).
tico revela uma expansão da área de habitação sobre No monumento Alc4 (Veiga, 1889: 183-187 e estampa
a área de armazenagem, sobrepondo-se ao celeiro e X) recolheu Estácio da Veiga uma ponta de tipo Palmela
às cercas que, anteriormente, o delimitavam. Situação e duas peças de ouro: uma banda para aplicação e uma
idêntica foi confirmada noutras áreas do Sul peninsular, lâmina com decoração incisa, que poderão ter sido usa-
como em El Berral (Porcuna, Jáen, Espanha), onde o apro- das como revestimento de uma peça em material pere-
veitamento do espaço coletivo por arquiteturas domés- cível, como madeira ou couro (Parreira, 1993).
ticas não coletivas resulta, segundo os seus escavadores, Nos contextos de reutilização [C 59] a [C 78] do monu-
de uma decisão política (Arteaga et al., 1991: 298). mento Alc7 (Morán e Parreira, 2004) registou-se um
A desativação do celeiro e consequentemente a pequeno fragmento de um possível braçal de arqueiro
inabilitação do sistema de cercas que o protegia é o [n.º 150-01] e um vaso carenado [n.º 217-03] cuja forma
resultado mais visível do desmoronamento das obras pode comparar-se com o pote da sepultura 1 de Ferra-
públicas assim como da dissolução do sistema de povo- deira (Schubart, 1971: 14, figura 1, a1).
amento que o centro de poder agregava, e que resultará No corredor do monumento Alc9 (Morán, 2016) foi
na constituição de assentamentos de menores dimen- registada a deposição secundária de um indivíduo
sões e autossuficientes, fazendo uso grandes vasos adulto acomodado no interior e à volta de duas taças em
contentores para o aprovisionamento e o consumo do calote esférica de diferentes diâmetros, a mais pequena
núcleo familiar. colocada no interior da grande. Pelas suas analogias
É igualmente neste horizonte mais recente que desa- formais e contextuais estas taças podem atribuir-se a
parece a diferenciação espacial entre a área funerária e um horizonte de Calcolítico final, atribuição corrobo-
a área doméstica que caracterizara o período anterior. rada pela datação de radiocarbono Beta-316624, obtida
Às unidades de habitação associam-se estruturas fune- para os restos ósseos do indivíduo entre 2198 e 1959 cal
rárias, constituídas por fossas para a deposição de ossá- BC. As taças dentro e à volta das quais se depositaram
rios como se confirma na fossa -777/-171, localizada na os restos ósseos podem comparar-se com a taça da
envolvente da casa -770/-170, e que estratigraficamente sepultura 2 de Ferradeira (Schubart, 1971: figura 1, b),
se sobrepôs às estruturas domésticas anteriores, cor- com algumas das taças do segundo horizonte sepul-
tando a canalização que abastecia o covacho -774/-169,5. cral de Monte do Outeiro (Schubart, 1965: figura 6, b, c;
Esta fossa de uso funerário apresentava na parte supe- Schubart, 1971: figura 6, b, c) ou com as taças em calote
rior uma planta quadrangular com 1 m x 0,90 m, e na do enterramento secundário do tholos Monte da Velha
base uma planta de tendência circular com 0,90 m de 1 (Soares, 2008: 43), MV1-1 e MV1-3, contexto para o qual
diâmetro, alcançando 0,55 m de profundidade máxima. se obteve uma data de radiocarbono, Beta-194027, cali-
No interior identificaram-se os restos esqueléticos de brada a 2 sigma entre 2479 e 2211 cal BC.
dois indivíduos adultos, muito fragmentados, subsis- No corredor do monumento Alc11 (Viana, Formo-
tindo completos os ossos de pequena dimensão, como sinho e Ferreira, 1953) recolheu Formosinho, em 1933,
as falanges de pés e mãos. A análise laboratorial per- uma lâmina de revestimento de ouro com decoração
mitiu remontar alguns fragmentos ósseos e identificar geométrica a repuxado, com séries de triângulos pre-
simetrias morfológicas e articulações, deduzindo-se a enchidos por traços oblíquos (motivo comum na deco-
partir da presença das mesmas partes preservadas do ração de vasos campaniformes, R14 de Kunst) e bandas
esqueleto masculino e do feminino tratar-se provavel- com preenchimento de traços verticais (Morán e Par-
mente de uma deposição primaria [Neves et al., 2009]. reira, 2007: 57).
Na necrópole megalítica, as criptas puderam agru- Nos ambientes funerários periféricos, o hipogeu I
par alguns indivíduos, mas foi a utilização dos nichos de Monte Canelas (Silva, 1997; Morán e Parreira, 2007:
que permitiu destacar aquelas personagens que pude- 78-84; Silva e Parreira, 2010) regista um nível superior
ram ser individualizados no seu interior, e cujos espó- de deposições que correspondem a uma ocupação

32 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
funerária posterior à primeira derrocada da parte supe- contextos funerários e de materiais atribuíveis a esse
rior da cripta norte. Para este nível obteve-se uma data «Horizonte de Ferradeira», com cronologias que percor-
de radiocarbono entre 2117 e 1894 cal BC, que permite rem a segunda metade do 3º milénio (Valera, 2014: 35;
situar esse horizonte no Calcolítico final, na transição Cardoso; 2010: 69). Contudo, o campaniforme e/ou os
do 3.º para o 2.º milénio a.n.e. (Morán, 2014). materiais que frequentemente o acompanham iden-
tificam-se também em contextos domésticos que con-
firmam a desativação dos recintos que caracterizaram
A QUESTÃO DO CAMPANIFORME NO ALGARVE os assentamentos do Calcolítico pleno (Mataloto, 2006:
Os contextos habitacionais e funerários que em Alca- 97, 99, 100), apesar das reticências que alguns arqueólo-
lar integram vasos campaniformes de estilo marítimo gos manifestam (Valera, 2013: 470), condicionados por
são atribuíveis ao Calcolítico pleno, aqui datável entre interpretações cosmogónicas assentes em ideologias
2800-2200 a.n.e. Estas ocorrências corroboram os regis- pós-processualistas (Valera, 2014: 98).
tos da Estremadura (Kunst, 1987: 119-129; Kunst, 2010: No território envolvente da Baía de Lagos, para além
139-142; Cardoso, 2000: 356-357; Cardoso, 2010: 60) que dos contextos do assentamento de Alcalar aqui já men-
demonstram a emergência de vasos campaniformes cionados, este horizonte é assinalado por tumulações
ainda na primeira metade do 3.º milénio a.n.e., sem que secundárias em sepulcros monumentais e sepulcros
possam aplicar-se os critérios de faseamento propostos coletivos preexistentes e por outros achados, nem
na década de 1970 (Soares e Silva, 1975: 123-124, 152-153), todos eles comprovadamente funerários (Morán e Par-
dada a coexistência no Calcolítico pleno de múltiplos reira, 2014).
padrões de decoração pontilhada (Cardoso, 2000: 355). Quanto a outras áreas do Algarve, Schubart elen-
Já os contextos habitacionais e funerários de Alca- cou, já na década de 1970, uma série de ocorrências,
lar, com ou sem campaniformes, datáveis entre 2200- incluindo os próprios achados epónimos de Ferra-
2000/1900 a.n.e., podem comparar-se com outros do deira (Schubart, 1971). Mais recentemente, a propósito
Sul e Oeste da Península Ibérica que patenteiam uma dos contextos relacionáveis identificados na Anta do
alteração nos rituais funerários, referenciada à prática Malhão, em Alcoutim (Cardoso e Gradim, 2010: 69), os
de tumulações individualizadas em sepulcros coletivos seus escavadores avançaram uma periodização estabe-
preexistentes ou em grandes cistas retangulares, fos- lecendo uma divisão em duas fases: uma mais antiga,
sas ou antelas de planta ovalada delimitada por lajes com campaniforme liso e punhal de lingueta, assente
imbricadas. Nessas tumulações regista-se a presença de na cronologia absoluta do Monte da Velha (Serpa),
vasos campaniformes e/ou objetos metálicos – punhais e, uma mais recente, comprovada pelos contextos
de lingueta, pontas de cobre variantes do tipo Palmela da Anta do Malhão e da necrópole de Ferradeira. No
– e braçais de arqueiro que frequentemente acompa- entanto, no Barlavento, as evidencias identificadas no
nham os vasos campaniformes. Se escasseiam os vasos assentamento de Alcalar e comprovadas por datação
campaniformes decorados, estão presentes cerâmicas absoluta, tanto em ambiente doméstico como funerá-
lisas: vasos de perfil sinuoso, tigelas carenadas ou taças rio, de transição do 3.º para o 2.º milénio a.n.e., confir-
em calote. mam a ocupação do assentamento no Calcolítico final,
Schubart atribuiu essas ocorrências do Sul e Oeste tanto em ambientes funerários, com reuso de estru-
da Península Ibérica a uma entidade arqueográfica que turas, como do espaço doméstico, com construção de
denominou «Horizonte de Ferradeira» (Schubart 1971; vivendas sobre os recintos do Calcolítico pleno.
Schubart 1975: 115-129) e que, segundo o seu conceito,
corresponderia a um período de «formação inicial» da
Idade do Bronze do Sudoeste que atribuiu ao Calcolítico UMA INTERPRETAÇÃO DO PROCESSO HISTÓRICO:
final e colocou em paralelo com o campaniforme tardio A QUESTÃO DO FINAL DO CALCOLÍTICO NO
e com El Argar A, tal e como Blance o definiu em 1960 TERRITÓRIO ENVOLVENTE DA BAÍA DE LAGOS
(ver Blance 1971: 153-154, 156-158). Para Harrison pareceu Ao longo do 3.º milénio a.n.e, a macro aldeia de Alca-
apropriada a designação de «Grupo de Montelavar» lar consolidou a sua situação de centro de poder num
para os contextos que associavam um punhal de cobre território que agregava diversas comunidades, disper-
e pelo menos duas pontas do tipo Palmela (Harrison, sas em pequenos habitats nas margens da Ria de Alvor,
1975). no Barrocal e nas ladeiras meridionais da Serra de Mon-
A revisão de materiais antigos (Andrade, 2016) e chique. Nessa paisagem humanizada, que oferecia uma
a investigação arqueológica recente, com incidên- ampla gama de recursos, aproveitados pelos grupos
cia especialmente na região do Alentejo no âmbito humanos que aqui habitaram, evidencia-se um pro-
da construção da barragem do Alqueva e infraestru- cesso histórico de transformações económico-sociais,
turas subsidiárias, tem permitido a identificação de que autoriza fazer remontar ao Calcolítico a formação

ELENA MORÁN  O CAMPANIFORME DE ALCALAR NO CONTEXTO DO EXTREMO SUL 33


prístina do estado neste extremo sudoeste do espaço neo, localizadas na Estremadura portuguesa, nos vales
atlântico-mediterrâneo. do Guadalquivir, do Alto Sado e do Guadiana Médio, em
Nesse contexto, o assentamento de Alcalar funcio- Antequera, na Andaluzia Oriental ou no Levante (Kunst,
nou não só como grande armazém de uma produção 2001; Nocete, 2001; Nocete, 2005).
planificada, mas também como centro de aprovisiona- É neste contexto que se explicam a renovação da
mento e redistribuição de produtos muito diversifica- simbólica dos produtos ideológicos (imagens astrais,
dos, obtidos por tributação desde os povoados produto- representações da deusa mãe), a hierarquização do uso
res agregados no seu território, o que permitiu a toda a personalizado dos artefactos e a adoção de soluções
comunidade aceder ao consumo de produtos diferentes arquitetónicas monumentais, com uma acentuada
dos que eram produzidos por cada um dos seus elemen- carga sumptuária, traduzida tanto na implantação dos
tos e que significou, deste modo, um inegável progresso povoados em lugares elevados com condições naturais
no bem-estar de todos. de defensa, como nos recintos que encerram e compar-
As funções políticas desempenhadas pelos perso- timentam as áreas de vivenda, como também nos tem-
nagens notáveis, concretamente a gestão do territó- plos funerários com túmulos de planta centralizada e
rio e dos recursos, o controlo da produção para a rede câmaras com cobertura de falsa cúpula.
de intercambio suprarregional e para a redistribuição A identificação de um Calcolítico final no assenta-
intercomunitária, foram exercidas sem recurso à vio- mento de Alcalar, se revela por um lado a continui-
lência, uma vez que as elites se apresentaram como dade do uso das criptas funerárias, revela por outro a
aval da estabilidade comunitária, como intermediá- expansão da área de vivenda sobre a área de armazém,
rias entre os homens e as divindades, assegurando a sobrepondo-se ao celeiro e às arquiteturas que o deli-
continuidade dos cultivos e o sustento da comunidade. mitavam e o cercavam, ao mesmo tempo que o habi-
O poder foi exercido e exibido com meios de coerção tat passou a incluir a função funerária, compaginando
ideológica e política, e aplicado aparentemente pelo as estruturas domésticas e o espaço de habitação com
bem da comunidade, razão pela qual os seus mem- fossas para a deposição dos mortos, ou das suas redu-
bros mais destacados viram o seu poder reforçado e o ções.
aparelho de estado afirmou-se na sua forma prístina, A desativação do celeiro e a consequente inabilita-
dando origem à política formalmente organizada, ção do sistema de cercas que o protegia é o resultado
onde o poder se baseava no controlo territorial das for- mais visível do desmoronamento das obras públicas
ças produtivas, requerendo, assim, uma crescente cen- assim como da dissolução do sistema de povoamento
tralização. agregado pelo centro de poder, e conduziria à constitui-
Terá sido o alcance social destas elites o que terá jus- ção de assentamentos de menores dimensões e autos-
tificado a competência entre linhagens por alcançar suficientes. Assim, a presença de grandes potes de
mais influência política e obter mais apoios de outras armazenamento no nível de ocupação da casa -770/-170
comunidades (Díaz del Río, 2004). Apesar de ocupar justificará um aprovisionamento em contentores para
uma posição geograficamente periférica com respeito o consumo do núcleo familiar.
aos centros de poder calcolíticos do Sul e do Oeste Estes elementos materiais que deixam vislumbrar
peninsular, as elites do território de Alcalar, mantive- no habitat uma continuidade da tradição cultural ante-
ram relações políticas de largo alcance, promovendo- rior são também visíveis na Estremadura portuguesa.
-se socialmente através da segregação das áreas de Schubart (Leisner e Schubart, 1966: 45-47; Schubart,
vivenda, do controlo do aprovisionamento, da monu- 1969: 203) observou diferenças arquitetónicas entre
mentalização dos recintos do habitat, da ostentação de Los Millares, Vila Nova de São Pedro e Zambujal com
objetos sumptuários e armas e da manipulação de pro- respeito à Pedra d’Ouro, que compara com o recinto
dutos ideológicos, assim como da construção de tem- de Lébous (Montpellier), atribuído à primeira Idade do
plos funerários monumentais. Bronze.
As reservas de produção acumuladas na grande Ao mesmo tempo que na bacia inferior do Tejo a dife-
aldeia permitiram aos mais notáveis assegurar o inter- rença arquitetónica de Pedra d’Ouro recalca a transição
câmbio de bens de consumo entre o centro de poder e entre o Calcolítico e os princípios da Idade do Bronze e
a sua periferia. Também permitiu sustentar uma rede no Sudeste, entre 2100-1700 a.n.e., se inicia com El Argar
de intercâmbio suprarregional de produtos escassos a Idade do Bronze criando-se uma fronteira política com
— cobre, sílex, rochas duras, pedras semipreciosas ou respeito a Los Millares (Arteaga 1992; Arteaga 2000a;
produtos ideológicos — e de bens de prestigio — mar- Arteaga 2000b), no Sudoeste peninsular temos evidên-
fim oriental ou âmbar mediterrânico —, dando lugar cias de um Calcolítico final como transição para a Idade
a transações entre as elites estabelecidas no centro de do Bronze, com perduração da tradição campaniforme
poder e outras do arco peninsular atlântico-mediterrâ- e outros elementos culturais, o que pode enquadrar as

34 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
mudanças observadas na cultura material de Alcalar das alternadamente a direita e esquerda, conforme
num processo comparável. Uma mudança arquitetó- o padrão das variantes S1 y S2 de Kunst (1987: 90,
nica referida à subsistência da tradição campaniforme fig. 47, 93), intercalando faixas decoradas com faixas
e afirmada cronologicamente pelo radiocarbono entre lisas. Contexto: embalado no nível de terraplanagem
2200 y 2000/1900 a.n.e., com uma etapa subsequente, da base do túmulo de Alc7.
posterior a 2000/1900 e dentro do primeiro quartel do  [Alc7 418] fragmento de parede com perfil sinuoso;
2.º milénio a.n.e., que permite falar em Alcalar de um decoração com duas fiadas de pontos impressas,
Bronze antigo como horizonte último (comprovada até paralelas e afastadas, entre elas, 4 mm, seguindo um
ao momento) da ocupação do assentamento. padrão da variante S14 de Kunst [1987: 90, fig. 47, 94].
A conclusão que se retira a este respeito radica em Contexto: embalados no nível de terraplenem da
considerar, como Arteaga propôs em devido momento base do túmulo de Alc7.
(Arteaga, 1985), que enquanto em torno ao Sudeste da  [Alc7 452-01] fragmento da parede de um vaso
Península Ibérica o Bronze Antigo representado por de perfil sinuoso; decoração que se enquadra nas
El Argar significava, com respeito a Almizaraque e Los variantes S1 y S2 de Kunst, já mencionadas, com fai-
Millares, uma retração dos sistemas de fortificação típi- xas horizontais igualmente delimitadas por linhas
cos do Calcolítico, pelo contrário, na bacia inferior do impressas cordadas. Contexto: procede da base do
Tejo, no vale do Guadalquivir e no Sudoeste, foram as nível de enchimento do cairn.
diversas tradições culturais relativas ao campaniforme
as que, desde umas trajetórias mais económico-sociais
e políticas, assumiram distintas «resistências conser-
vadoras», que implicavam, por sua vez, um desenvol-
vimento menos afetado pelas incidências fronteiriças
dos territórios estatais argáricos (Arteaga, 1992; Arte-
aga, 2000a; Arteaga, 2000b).
Porém, o colapso do sistema tributário intrínseco à
formação económico-social classista inicial (calcolí-
tica) parece ter acontecido no território envolvente da
Baía de Lagos ainda no primeiro quartel do 2.º milénio
a.n.e. Desta época são alguns cemitérios de cistas con-
tendo materiais característicos de uma fase antiga da
Idade do Bronze do Sudoeste peninsular que Schubart
denominou Bronze do Sudoeste I (Schubart, 1975). Isto
é: a partir de inícios do 2.º milénio a.n.e. manifesta-se
uma maior segregação social e um particular desen-
volvimento de elites que controlam diretamente os
recursos locais, estimulando a afirmação de lideranças
personalizadas que dominam territórios relativamente
mais restritos, controlados por pequenos assentamen-
tos autossuficientes e conduzindo à desorganização
dos circuitos de obtenção e distribuição de bens que
tinham caraterizado a economia e a sociedade do Cal-
colítico. Em suma: no período de 1900-1700 a.n.e., parece
acentuar-se um processo de fragmentação política e de
dispersão do assentamento, conduzindo ao desmem-
bramento da estrutura social que havia caracterizado
o 3.º milénio a.n.e.

CATÁLOGO DOS CAMPANIFORMES DE ALCALAR


 [Alc7 422] fragmento da parede de um vaso possi-
velmente de forma sinuosa, apresenta uma decora-
ção com faixas horizontais delimitadas por linhas
impressas cordadas e preenchidas com linhas oblí-
quas executadas com matriz pontilhada, inclina- FIG. 3 Cerâmica campaniforme decorada de Alcalar.

ELENA MORÁN  O CAMPANIFORME DE ALCALAR NO CONTEXTO DO EXTREMO SUL 35


 [AlcP 380] fragmento de parede algo sinuosa, deco- BIBLIOG RAFIA
rado com uma banda de linhas impressas de matriz ANDRADE, M. A. (2016) – Intervenções de Manuel de Mattos Silva
pontilhada, segundo o motivo S3 de Kunst; a pasta no Megalitismo da área de Avis, 1: as Antas de São Martinho
apresenta uma textura pouco compacta e ambas e Assobiador (Maranhão). Revista Portuguesa de Arqueología.
Lisboa, 19, p. 41-62.
superfícies estão mal conservadas. Contexto: povo-
ARMBRUSTER, B.; PARREIRA, R. (org.) (1993) – Inventário do Museu
ado de Alcalar, parcela 16L, no nível 07 do enchi-
Nacional de Arqueologia: Colecção de Ourivesaria: 1.º vol.:
mento do fosso (tramo B). Do Calcolítico à Idade do Bronze. Lisboa: IPM.
 [AlcP 000] fragmento de gola e parede de uma
ARTEAGA, O. (2000a) – La Sociedad Clasista Inicial y el origen del
caçoila carenada [shouldered bowl / Schultergefäss], Estado en el territorio de El Argar. Revista Atlántica-Mediterránea
que apresenta a parte superior lisa e na superfície de Prehistoria y Arqueología Social. Cádiz, 3, p. 121-219.
exterior do galbo decoração de três linhas horizon- ARTEAGA, O. (2000b) – El proceso histórico en el territorio argárico
tais impressas com matriz pontilhada, conforme de Fuente Álamo: la ruptura del paradigma del sudeste desde
padrão S13 de Kunst, e uma série horizontal de tri- la perspectiva atlántica-mediterránea del Extremo Occidente.
ângulos preenchidos, dos que son visível cinco, com In SCHUBART, H., PINGEL, O., ARTEAGA, O. (eds.) Fuente Álamo:
Las excavaciones arqueológicas 1977-1991 en el poblado de la Edad
linhas impressas de matriz pontilhada, segundo
del Bronce. Junta de Andalucía, p. 117-143.
o motivo S17 de Kunst; a pasta apresenta textura
ARTEAGA, O. (1992) – Tribalización, Jerarquización y Estado en el
muito compacta com desengordurante de quartzo territorio de El Argar. Spal. Sevilla, 1, p. 179-208.
e calcita, quase nunca superior a 0,5 mm, homoge-
ARTEAGA, O.; RAMOS, J.; ROOS, A. M.; NOCETE, F. (1991) – Balance
neamente distribuído; ambas superfícies apresen- a medio plazo del «Proyecto Porcuna». Campaña de 1991.
tam um acabado alisado cuidado. Contexto: reco- Anuario Arqueológico de Andalucía. Sevilla: Junta de Andalucía,
lhido à superfície na encosta norte do povoado. 2, p. 295-300.
 [AlcP 513] fragmento de galbo com decoração de ARTEAGA, O. (1985) – Excavaciones Arqueológicas Sistemáticas en
linhas paralelas incisas, possivelmente do motivo el Cerro de Los Alcores (Porcuna, Jaén): Informe preliminar sobre
la campaña de 1985. Anuario Arqueológico de Andalucía. Sevilla:
R16 de Kunst, seguidas de duas séries de incisões obli-
Junta de Andalucía, II, p. 279-288.
quas, possivelmente do motivo R18 de Kunst; a pasta
BLANCE, B. (1971) – Die Anfänge der Metallurgie auf der Iberischen
apresenta textura compacta e ambas as superfícies
Halbinsel [= SAM, 4]. Berlin: Gebr. Mann Verlag.
apresentam um acabado alisado. Contexto: procede
CARDOSO, J. L. (2000) – O «fenómeno» campaniforme na Estremadura
do nível 09 do enchimento superior do fosso (tramo portuguesa. In Jorge, V. O. (ed.), 3.º Congresso de Arqueologia
B) da parcela 16L do povoado. Peninsular, 4, p. 354-380.
CARDOSO, J. L. (2010) – Povoado pré-histórico de Leceia (Oeiras):
evolução arquitectónica do sistema defensivo e das técnicas
construtivas correlativas. In Gonçalves, V. S.; Sousa, A. C. (eds.),
Transformação e Mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o
3.º milénios a.n.e. Cascais: Câmara Municipal, p. 43-63.
CARDOSO, J. L.; GRADIM, A. (2010) – A anta do Malhão (Alcoutim)
e o «Horizonte de Ferrradeira». Xelb. Silves: Câmara Municipal, 10,
p. 55-72 [Actas do 7.º Encontro de Arqueologia do Algarve (Silves,
22 a 24 de Outubro de 2009)].
COSTA Caramé, M. E. (2011) – La metalurgia y sus repercusiones
económicas, sociales e ideológicas en las Comunidades del III
y II Milenio CAL ANE en el Suroeste de la Península Ibérica.
Tesis doctoral. Sevilla: Universidad de Sevilla (ms.).
DÍAZ del Río, P. (2004) – Factionalism and collective labor in copper
age Iberia. Trabajos de Prehistoria. Madrid, 61, 2, p. 85-98.
HARRISON, R.J. (1974) – A closed find from Cañada Rosal, Prov. Sevilla
and two Bell Beakers. Madrider Mitteilungen, Heidelberg, 15,
p. 77-95.
HARRISON, R. J. (1977) – The Bell Beaker Cultures of Spain and Portugal.
Cambridge, MA: Peabody Museum, Harvard University [American
School of Prehistoric Research, Bulletin no. 35].
KUNST, M. (1987) – Zambujal: Glockenbecher und Kerbblattverzierte
Keramik aus den Grabungen 1964 bis 1973. Mainz: von Zabern
[Madrider Beiträge, 5].
KUNST, M. (2001) – Die Kupferzeit der Iberischen Halbinsel. In Ulbert,
T. (ed.), Hispania Antiqua: Denkmäler der Frühzeit. Mainz: von
Zabern, p. 67- 99.

36 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
Kunst, M. (2010) – Zambujal: A dinâmica da sequência construtiva. NOCETE CALVO, F., ed. (2004) – Odiel: Proyecto de Investigación
In Gonçalves, V. S.; Sousa, A. C. (eds.), Transformação e Mudança no Arqueológica para el Análisis del Origen de la Desigualdad Social
Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. Cascais: Câmara en el Suroeste de la Península Ibérica. Sevilla: Junta de Andalucía /
Municipal, p. 131-153. Direccion General de Bienes Culturales.
LEISNER, G.; LEISNER, V. (1943) – Die Megalithgräber der Iberischen NOCETE CALVO, F. (2001) – Tercer milenio antes de nuestra era:
Halbinsel: Der Süden. Berlin: de Gruyter [Römisch-Germanische Relaciones y contradicciones centro/periferia en el Valle del
Forschungen, 17]. Guadalquivir. Barcelona: Ediciones Bellaterra.
LEISNER, G.; LEISNER, V. (1959) – Die Megalithgräber der Iberischen PARREIRA, R. (1993) – As peças de Alcalar: artefactos de ostentação
Halbinsel: Der Westen, 2. Berlin: de Gruyter [Madrider numa necrópole do III milénio a.C. In ARMBRUSTER, B.; PARREIRA,
Forschungen, 1/2]. R. (org.), Inventário do Museu Nacional de Arqueologia: Colecção
LEISNER, V., SCHUBART, H. (1966) – Die Kupferzeitliche Befestigung de Ourivesaria: 1.º vol.: Do Calcolítico à Idade do Bronze. Lisboa:
von Pedra do Ouro/Portugal, Madrider Mitteilungen. Heidelberg, IPM, p. 206-208 [catálogo n.º 101 e 102].
7, p. 9-60. SOARES, A. M. Monge (2008) – O monumento megalítico Monte
MATALOTO, R. (2006) – Entre Ferradeira e Montelavar: um conjunto da Velha 1 (MV1) (Vila Verde de Ficalho, Serpa). Revista Portuguesa
artefactual da Fundação Paes Teles (Ervedal, Avis). Revista de Arqueologia. Lisboa, 11, 1, p. 33-51.
Portuguesa de Arqueología. Lisboa, 9: 2, p. 82-108.
SCHUBART, H. (1975) – Die Kultur der Bronzezeit im Südwesten
MATALOTO, R. (2007) – Paisagem, memória e identidade: tumulações der Iberischen Halbinsel. Berlin: de Gruyter [Madrider
megalíticas no pós-megalitismo alto-alentejano. Revista Forschungen, 9].
Portuguesa de Arqueología. Lisboa, 10: 1, p. 123-140.
SCHUBART, H. (1971) – O Horizonte de Ferradeira: Sepulturas
MORÁN, E. (2001) – Aproximación al estudio geoarqueológico do Eneolítico final no Sudoeste da Península Ibérica. Revista
de Alcalar (Portimão, Algarve- Portugal) en el III milénio a.n.e.: de Guimarães. Guimarães, 81 (3-4), p. 189-215.
Evidencias arqueológicas de la existencia de una sociedad
SCHUBART, H. (1969) – Las fortificaciones eneolíticas de Zambujal
clasista inicial, Revista Atlántico- Mediterránea de Prehistoria
y Pedra do Ouro, en Portugal. In X Congreso Nacional de
y Arqueologia Social. Cádiz, 4, p. 169-205.
Arqueología (Mahón, 1967). Zaragoza: Universidad: Seminario
MORÁN, E. (2008) – Organização espacial do Povoado Calcolítico de de Arqueología / Secretaría General de los Congresos
Alcalar (Algarve, Portugal). Era Arqueologia, Lisboa, 8, p. 138-147. Arqueológicos Nacionales, p. 197-204.
MORÁN, E. (2014): El Asentamiento Prehistórico de Alcalar (Portimão, SILVA, A. M. (1997) – O hipogeu de Monte Canelas I: Contribuição
Portugal): La organización del territorio y el proceso de formación
da Antropologia de Campo e da Paleobiologia na interpretação
de un estado prístino en el Tercer milenio a.n.e. Tesis Doctoral.
dos gestos funerários do IV e III milénios a.C. In II Congresso
Universidad de Sevilla: Facultad de Geografía e Historia /
de Arqueología Peninsular, tomo II (Zamora, 1996). Zamora:
Departamento de Prehistoria y Arqueología.
Fundación Rei Afonso Henriques, p. 241-248.
MORÁN, E.; PARREIRA, R. (2007) – Alcalar: Monumentos Megalíticos.
SILVA, A. M.; PARREIRA, R. (2010) – Hipogeu I de Monte Canelas:
Lisboa: Igespar [Roteiros da Arqueologia Portuguesa, 10].
caracterização antropológica dos enterramentos in situ e das
MORÁN, E.; PARREIRA, R. (2014) – El Calcolítico Final en el entorno conexões anatómicas. In GONÇALVES, V. S.: SOUSA, A. C. (eds.),
territorial de la Bahí de Lagos (Algarve, Portugal): cambios en la Transformação e Mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o
cultura material y evidencias de transformación en la formación 3.º milénios a.n.e. Cascais: Câmara Municipal, p. 421-428.
económico-social clasista inicial, Revista Atlántico- Mediterránea
SOARES, J.; SILVA, C. T. (1975) – A ocupação pré-histórica do Pedrão
de Prehistoria y Arqueología Social. Cádiz, 16, p. 95-105.
e o Calcolítico da região de Setúbal. Setúbal Arqueológica.
NEVES, M. J.: FERREIRA, M. T.; SILVA, A. M.; MORÁN, E.; PARREIRA, R.
Setúbal: MAEDS, 1, p. 53-153.
(2009) – Vestiges ostéologiques humains en contexte d’habitat
VALERA, A. C. (2013) – As comunidades agropastoris na margem
chalcolithique: le cas d’Alcalar (Portimão, Portugal). In Des
esquerda do Guadiana: 2.ª metade do IV aos inícios do II milénio
conceptions d’hier aux recherches de demain / From Past concerns
to future research (Coloque International: Société d’Anthropologie AC. S/L: EDIA / DRCAlentejo [Memórias d’Odiana, 2.ª série:
de Paris, Paris, France, 26-30 janvier). Estudos Arqueológicos do Alqueva, 6].

NOCETE CALVO, F. (2005) – Andévalo, Patrimonio Arqueológico: VEIGA, S. P. M. Estácio da (1886) – Antiguidades Monumentais
El yacimiento de la Junta de los Ríos: modelo de recuperación, do Algarve, I. Lisboa: Imprensa Nacional.
análisis e interpretación del registro arqueológico en la presa del VEIGA, S. P. M. Estácio da (1889) – Antiguidades Monumentais
Andévalo – Huelva. Madrid: Ministerio de Medio Ambiente. do Algarve, III. Lisboa: Imprensa Nacional.

ELENA MORÁN  O CAMPANIFORME DE ALCALAR NO CONTEXTO DO EXTREMO SUL 37


PARA UMA LEITURA SOCIOPOLÍTICA
DO CAMPANIFORME DO GUADIANA.
LONGAS VIAGENS COM CURTA ESTADA
NO PORTO DAS CARRETAS
JOAQUINA SOARES
MAEDS – Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal
UNIARQ – Centro de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

38 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
R E S U M O A partir da caracterização da ocupação com cerâmica campaniforme (grupo
estilístico internacional) do sítio do Porto das Carretas, e da definição de uma esfera de
economia política alimentada por produções regionais e supra-regionais de bens de pres-
tígio e incorporações imateriais provenientes de amplas redes de interacção, discutem-se
dinâmicas de complexidade social criadas pelo jogo das diversas escalas de organização
territorial, nas quais terão participado povoados de dimensões e grau hierárquico simi-
lares aos do Porto das Carretas, bem como, no topo da hierarquia dos territórios regio-
nais, as macro-aldeias de La Pijotilla, no médio Guadiana, e Porto Torrão na bacia do Sado.
A cerâmica campaniforme parece ter desempenhado importante papel nos domínios da
identificação e sociabilidade entre as elites de tão vasta área; investido de elevado valor
social e ideológico, este artefacto sociotécnico merece-nos especial atenção na definição
das escalas de interacção propostas. A crescente hierarquização regulada por lideranças
instáveis de tipo «omnisciente» exprime-se no registo arqueológico da bacia do médio
Guadiana através de arquitecturas monumentalizadas, de depósitos funerários e rituais
de exibição de riqueza e poder, de artefactos metálicos, com destaque para ornamentos
de ouro e armas em cobre arsenical, que prefiguram a ideologia guerreira que prevalecerá
nas sociedades atlântico-mediterrâneas da Idade do Bronze.
PALAVRAS-CHAVE: Bacia do médio Guadiana; Porto das Carretas; sistema económico de bens
de prestígio; cerâmica campaniforme de estilo internacional; estilo Ciempozuelos.

A B S T R A C T Characterization
�������������������������������������������������������������������������
of the Bell Beaker phase of Porto das Carretas (Interna-
tional stylistic group) and associated political economy triggered by prestige goods eco-
nomic system and immaterial incorporations from large exchange networks. Bell Beaker
vessels attached to social and ideological meanings are considered the basic artifacts of
elites communication and sociabilities; they are the main support for our proposal of
interactions framework in the Middle Guadiana River Basin. The dynamics of the Bell
Beaker economic system is discussed focusing on the articulation of several scales of
complex networks of social interaction. Porto das Carretas operates in a local scale among
similar sized sites, as Miguens 3. The local scale acquires meaning when referred to the
upper level of the regional organization hierarchy, represented by the macro-villages of
La Pijotilla and Porto Torrão. The increasing social hierarchization associated with emer-
ging elites is expressed in monumentalized towers, «aristocratic» graves, gold and ivory
ornaments, and deposits of metallic artifacts such as weapons in arsenical copper, which
prefigure the warrior ideology that will prevail in the Atlantic-Mediterranean societies of
the Bronze Age.
KEY WORDS: Middle Guadiana River basin; Porto das Carretas; economic system of prestige
goods; International Bell Beaker pottery; Ciempozuelos style.

JOAQUINA SOARES  PARA UMA LEITURA SOCIOPOLÍTICA DO CAMPANIFORME DO GUADIANA. LONGAS VIAGENS COM CURTA ESTADA NO PORTO DAS CARRETAS 39
INTRODUÇÃO esta macro-aldeia possui cerca de 30ha de área residen-
Embora nos tenha sido proposto pela organização cial e 20 ha de necrópole, e foi dotada de complexo sis-
do simpósio a abordagem do Campaniforme da mar- tema de fortificações, com uma cidadela interior rode-
gem esquerda do Guadiana, entendemos, a partir de ada por muralha e fosso e com uma muralha exterior,
análise global da informação arqueológica disponível, com cerca de 2km, reforçada por bastiões e fosso; a sua
que o Guadiana, durante o período com campaniforme frente ribeirinha possui uma notável entrada defendida
(2500-1800 cal BC), funcionou essencialmente como via por torres (Hurtado Pérez, 2004). Ao território de San
de comunicação e não como fronteira (Soares, 2013). Blas deverão ter pertencido as torres-fortaleza de Porto
À mesma conclusão chegaram Carlos Odriozola e cola- das Carretas (Fig. 2), apenas 16km a sul e também elas
boradores (Odriozola et al., 2007) a partir da análise debruçadas sobre o rio (Fig. 6).
química de pastas de cerâmicas campaniformes prove- Em 2010 (Soares e Tavares da Silva, 2010), tivemos
nientes de sítios de ambas as margens do rio, nomea- oportunidade de realizar uma ampla (mas não exaus-
damente San Blas e La Pijotilla, Perdigões e Porto Torrão: tiva) digressão através do chamado fenómeno campa-
«the exchange follows a main East-West axis […]. In this niforme da Península Ibérica, motivados pela identifica-
sense the Guadiana River would not have been a natu- ção no Porto das Carretas (margem esquerda do médio
ral constraint for pottery transactions» (Odriozola et al., Guadiana) de um contexto fechado, datado por radio-
2007, p. 67, Fig. 6). Os mesmos autores verificaram que carbono do 3.º quartel do 3.º milénio BC (Quadro 1) e per-
cerca de 14% das cerâmicas analisadas tinham resul- tencente exclusivamente ao grupo estilístico internacio-
tado de trocas e que essas cerâmicas eram maioritaria- nal (Fig. 8). Com efeito, o isolamento crono-estratigráfico
mente de estilo internacional. deste estilo permitiu reafirmar que o seu aparecimento é
Ao contrário de uma relativa autarcia que supomos claramente anterior ao do campaniforme inciso ou con-
ter vigorado nas sociedades tribais complexas da pri- tinental, afirmação que vínhamos, aliás, sustentando,
meira metade do 3.º milénio, durante o período com com basta oposição, desde os anos 70 do século passado
campaniforme muitas das fronteiras de territórios clâ- (Soares e Tavares da Silva, 1974-77, 1984), oposição que
nicos terão caído e mesmo as fronteiras externas dos persistia em confundir a cronologia de origem com a
antigos territórios tribais ter-se-ão permeabilizado pelo do final do período de sobrevivência daquele estilo cerâ-
efeito de alianças entre supostas chefaturas instaladas mico. Recentemente essa sobrevivência foi colocada em
nas macro-aldeias de topo da hierarquia dos sistemas destaque pela associação de um vaso campaniforme
de povoamento, ou seja, para a região em análise, La internacional a sepultura individual em fossa, datada a
Pijotilla com cerca de 80 ha e Porto Torrão com uma área partir de ossos humanos (16B0304 – 3550±30BP – 2010-
estimada entre 75 a 100 ha, ambas localizadas sobre -1770 cal BC a 2 sigma) (Valera, Calvo e Simão, 2016).
extensas manchas de solos de elevada fertilidade agrí- Não é improvável que esse vaso aparentemente asso-
cola (classe A). Fluxos de nível intermédio, nomeada- ciado à inumação fosse uma peça de estimação, do tipo
mente entre San Blas e La Pijotilla, mostraram que San heirloom (Lillios, 1999; Soares, 2013, p. 381), guardado ao
Blas abasteceu La Pijotilla em cerâmicas campanifor- longo de várias gerações. A este propósito, veja-se tam-
mes de estilo Ciempozuelos (Odriozola et al., 2007) e ins- bém o depósito campaniforme ritual de La Calzadilla
trumentos metálicos (Hunt Ortiz et al., 2009); San Blas (Valladolid) (Liesau von Lettow-Vorbeck, Guerra Doce e
atingiu o máximo desenvolvimento em meados e no Delibes de Castro, 2014), onde similar comportamento
terceiro quartel do 3.º  milénio. Tenha-se presente que se encontrava expresso através da inclusão de um pro-

DATA CALIBRADA (cal BC)


DATA 14C d 13C
REF. DE LAB. CONTEXTO AMOSTRA
(BP) (‰)
1σ 2σ

Beta-196681 Corte A, Sector XXXVI, Carvão 3920±40 -25,4 2470-2340 2490-2290


Q.N.-O/12-13, C.2B2 (Pinus pinea)
(«Torre» M13; Lareira D)

Beta-204062 Corte A, Sector XXXVI, Carvão 3860±40 -23,3 2430-2280 2460-2200


Q.M14, C.2B2 (Pinus pinea)
(«Torre» M13; Lareira B)

Beta-193743 Corte A, Sector XXXVI, Carvão 3940±60 -24,1 2430-2200 2470-2130


Q.L13, C.2B2 (Olea sp.)
(«Torre» M13; Lareira A)

QUADRO 1 Porto das Carretas. Fase II (Campaniforme). Datações radiocarbónicas. Seg. Soares, 2013.

40 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 1 Distribuição da cerâmica campaniforme de estilo internacional e pontilhado geométrico. Adaptado de Alday Ruiz, 2001, com acréscimo
dos principais sítios das bacias do médio Guadiana e Sado e de Alcalar.

vável amuleto sobre osso craniano de auroque cuja Os mais precoces indicadores do novo sistema eco-
datação radiocarbónica mostrou tratar-se de uma peça nómico de bens de prestígio (cf. Soares, 2013, p. 71-77)
várias centenas de anos mais antiga que o depósito. de escala europeia, reveladores de alianças e trocas de
Contudo, o mais importante contributo do Porto longa distância surgem nas macro-aldeias de topo da
das Carretas, graças à descontinuidade da ocupação hierarquia dos sistemas de povoamento do Sudoeste
campaniforme em relação à do Calcolítico da primeira e respectivas necrópoles. A cerâmica campaniforme
metade do 3.º milénio (Fig. 3), foi ter colocado em evi- cordada, a mais antiga, de meados do 3.º milénio, foi
dência a profunda transformação ocorrida no terceiro somente identificada na região em apreço nos arqueos-
quartel do mesmo milénio, no que respeita à organiza- sítios de La Pijotilla, Porto Torrão, Alcalar; os seus trajec-
ção do território e habitat, economia e sociedade (Soa- tos de difusão, ainda por definir com clareza, poderão
res, 2013, 2016). ter sido: sudeste de França (Hurtado Pérez e Amores
A percepção das mudanças económico-sociais pa- Carredano, 1982), Meseta e Guadiana, e o litoral oci-
rece ser mais clara nas pequenas/médias fortificações dental; atenda-se à presença de cerâmica cordada no
de defesa dos territórios polarizados pelas macro- Castelo Velho de Freixo de Numão (Jorge, 1999).
-aldeias de La Pijotilla e Porto Torrão, como Porto das A distribuição da cerâmica campaniforme inter-
Carretas e Monte da Tumba respectivamente, uma vez nacional (associada ao estilo pontilhado geométrico)
que as aglomerações de primeira grandeza prosseguem ocorre muito contidamente no Sudoeste durante o
sem apreciáveis descontinuidades até ao final do Bronze 3.º quartel do 3.º milénio, exceptuando o Porto Torrão,
antigo, realizando, embora, adaptações e reorientações. onde é francamente abundante, na ordem das cente-

JOAQUINA SOARES  PARA UMA LEITURA SOCIOPOLÍTICA DO CAMPANIFORME DO GUADIANA. LONGAS VIAGENS COM CURTA ESTADA NO PORTO DAS CARRETAS 41
SÍTIOS DO ALENTEJO E ALGARVE 20. Barrada do Grilo SÍTIOS DO MÉDIO GUADIANA
1. Cabeço da Anta 21. Castelos do Torrão EM ESPANHA
2. Pombal 22. Monte da Tumba 40. Dolmen de Lácara
3. Castelo de Paiva 23. Cerros Verdes 41. La Sarteneja
4. Anta 10 de Estremoz 24. Outeiro de São Bernardo 42. Barbaño
5. Terrugem 25. Castelo Velho de Safara 43. Guadajira
6. Famão 26. Dolmen da Pedra Branca 44. Apeadero de Zarza de Alange
7. Anta das Casas do Canal 27. Anta dos Enxacafres 45. La Pijotilla
8. Fonte Ferrenha 28. Porto Torrão 46. Peñas Blancas
9. Anta de Bencafede 29. Vale de Coutos 2 47. La Palacina
10. S. Pedro 30. Tholos do Monte Cardim 6 48. Palacio Quemado
11. S. Gens 31. Tholos do Monte das Pereiras 49. Molino Perdido
12. Escoural 32. Quinta do Estácio 14 50. Los Cortinales
13. San Blas 33. Três Moinhos 51. Zayas
14. Monte da Ponte 34. Quinta do Castelo 1 52. Trasera de la Pepina
15. Miguens 35. São Brás 53. Peña de San Sixto
16. Perdigões 36. Chapéu de Ferro 54. Covacho del Monje
17. Anta 1 Vale de Carneiro 37. Vale Vistoso 55. La Zarcita
18. Porto das Carretas 38. Tholos da Vila Formosa 2
19. Monte do Tosco 1 39. Alcalar

FIG. 2 Sítios com cerâmica campaniforme do Alentejo e do Algarve e da bacia do médio Guadiana em território espanhol.

42 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
nas de exemplares, com ampla distribuição espacial, e A macro-aldeia de Porto Torrão, na área de influência
cuja produção local/regional ficou comprovada (Cabral do Grupo de Palmela, parece não ter tido a capacidade
et al., 1988). Encontra-se presente em La Pijotilla, macro- de redistribuição da cerâmica campaniforme manifes-
-aldeia onde todos os estilos foram identificados, mas tada por La Pijotilla; a área da bacia do médio Guadiana,
com domínio da cerâmica de estilo Ciempozuelos; foi em ambas as margens, inscreve-se claramente na pro-
igualmente registada nos sítios de San Blas e Perdi- víncia estilística de Ciempozuelos (García Rivero, 2006;
gões (pontilhado geométrico), bem como no Monte da Odriozola et al., 2007), com raras e ocasionais influên-
Tumba, Escoural, Monte da Ponte (Kalb e Höck, 1997), cias do grupo de Palmela (Quinta do Estácio 14). O estilo
Apeadero de Zarza de Alange, Vista Alegre, la Palacina de Ciempozuelos, como já foi referido, irá aliás penetrar
(Fig. 2), S. Gens. O campaniforme internacional/ ponti- na bacia do Sado, cruzando-se com a olaria do grupo de
lhado geométrico é excluvivo em Porto das Carretas e Palmela, por exemplo no sítio da Barrada do Grilo (San-
em Miguens 3, povoados abandonados anteriormente tos, Soares e Tavares da Silva, 1972) e em Castelos do Tor-
ao desenvolvimento do processo de regionalização das rão (Tavares da Silva e Soares, 1986).
produções cerâmicas campaniformes (Soares e Tavares Por agora, podemos considerar o Algarve um territó-
da Silva, 2010). A difusão do estilo internacional parece rio de resistência aos produtos cerâmicos campanifor-
pois ter ocorrido tanto pelo interior como pelo litoral mes (Fig. 2), pois apenas se registaram seis fragmen-
(Alday Ruiz, 2001) (Fig. 1). Estes principais eixos de inte- tos de cerâmica campaniforme no povoado de Alcalar
racção irão manter-se activos até ao final do período, com os seus 20 ha, e no Monumento 7, na camada de
mas integrados em complexas redes de troca, pelas terraplenagem da base do túmulo (Morán, 2014). Este
quais irão circular as novidades impostas pelos estilos bloqueio à cerâmica campaniforme não foi extensível
regionais, nomeadamente de Ciempozuelos e de Pal- a outros bens de prestígio em geral associados, como
mela, na fase de «popularização» da cerâmica campa- armas em cobre arsenical (punhal de lingueta e ponta
niforme; a taça tipo Palmela expande-se, embora com tipo Palmela), ouro, marfim e âmbar (Monumento 4 de
fraca expressão numérica, para áreas muito distantes a Alcalar). Elena Morán afirma (Morán, 2014, p. 292) que
norte e a sul do seu «berço» estremenho (Soares, 2003): no período V, em finais do 3.º milénio, entre 2200 e 1900
para norte é possível segui-la até ao tumulus de Chã de cal BC, a metalurgia se intensifica, o espaço doméstico
Carvalhal 1 (Baião) (Bettencourt, 2011), ou mesmo no deixa de estar confinado por fosso e a área residencial
território francês; para sul, até aos monumentos mega- concentra-se na plataforma superior, estando repre-
líticos de Pedra Branca (Ferreira et al., 1975a, b) e Enxa- sentada por aglomerado de estruturas robustas, de
cafres (Evangelista, Lago e Miguel, 2016), tholos de Vila grandes dimensões.
Formosa 2, no Alentejo litoral (Vilhena, 2016), e mesmo Em síntese, embora o ponto de partida para a
no Marrocos atlântico (Gilman, 1975); para leste, dificil- nossa reflexão seja o campaniforme do sítio do Porto
mente ultrapassará a bacia do Sado (Barrada do Grilo) das Carretas, é indispensável integrar essa realidade
bloqueada (?) pela pujança do estilo Ciempozuelos; no arqueológica em diferentes escalas territoriais, por
entanto, contactos parecem ter existido entre os grupos forma a tentarmos desconstruir o processo de tran-
estilísticos de Palmela e Carmona, a sudeste, na bacia sição das sociedades heterárquicas ou tribais com-
do Guadalquivir (Soares e Tavares da Silva, 1984), o que plexas da primeira metade do 3.º milénio para as
mostra a complexidade das redes de interacção eco- sociedades verticalmente hierarquizadas da Idade do
nómica e social que marcaram a segunda metade do Bronze (Soares e Tavares da Silva, 1998; Soares, 2016),
3.º milénio BC. em cujo âmago se forjarão as primeiras formas de
A circulação da cerâmica campaniforme (ou melhor, Estado (Soares, 2016).
do conceito, modelo e programa subjacentes) encon-
tra diversas barreiras, impostas nomeadamente pela
hierarquia da rede de povoamento (o sítio do Merca- PORTO DAS CARRETAS: DE FORTIM COMUNITÁRIO
dor, provável satélite do Porto das Carretas, na base da A TORRE-FORTALEZA DE CHEFATURA INCIPIENTE
hierarquia do povoamento regional,�������������������
não utilizou
��������������
cerâ- NO 3.˚ QUARTEL DO 3.˚ MILÉNIO BC
mica campaniforme) e pela superstrutura cultural/ide-
ológica (atenda-se à quase total ausência de cerâmica arquitectura
campaniforme no Algarve e Baixo Guadiana). A fortificação calcolítica (cerca de 1 ha) da primeira
No Alentejo, a divulgação da cerâmica campani- metade do 3.º milénio do Porto das Carretas foi destru-
forme ficou muito aquém da observada na Estrema- ída por violento e generalizado incêndio, seguindo-se
dura, pese embora o substancial contributo que a bacia uma fase de abandono não superior a uma centúria
do médio Guadiana tem vindo a dar para a alteração (Fig. 3), interrompida por nova instalação humana, no
do quadro tradicional (García Rivero, 2006) (Fig. 2). intervalo cronológico calibrado a 2 sigma de 2490-2130,

JOAQUINA SOARES  PARA UMA LEITURA SOCIOPOLÍTICA DO CAMPANIFORME DO GUADIANA. LONGAS VIAGENS COM CURTA ESTADA NO PORTO DAS CARRETAS 43
com presença de cerâmica campaniforme exclusiva-
mente de estilo internacional (Fig. 8).
Na área central da primeira fortificação, após regula-
rização e terraplenagem dos escombros que acrescen-
taram altura à superfície original do terreno, foi criada
plataforma para a edificação de novo programa arqui-
tectónico constituído por alinhamento de três torres
geminadas e internamente comunicantes, três caba-
nas e um forno metalúrgico (Figs. 4-7). Estas estruturas,
de planta circular, e embasamento em alvenaria de
xisto ligado por argila (conservado em cerca de 0,40m
de altura máxima) definem no seu conjunto um eixo
que acompanha o do esporão na direcção do rio (Fig. 6).
A parte superior seria em terra, como foi compro-
vado pelo apreciável volume de fragmentos de «terra
de construção» cozidos por incêndio, presentes na
camada de destruição deste conjunto arquitectónico
(Fig. 5). No centro do mesmo, a Torre N7 possui cerca
FIG. 3 Calibração das datas das Fases I e II da ocupação do Porto das de 5,70m de diâmetro interno e paredes robustas com
Carretas, sendo visível um corredor de descontinuidade (faixa
vertical), correspondente à fase de abandono do sítio, cuja duração
0,90m de espessura a 1,50m, nas ombreiras dos vãos
poderá ter sido de algumas décadas, imediatamente anterior ao das suas quatro portas, assegurando duas delas a liga-
estabelecimento com cerâmica campaniforme. Seg. Soares, 2013. ção às Torres M13 e R5; as duas aberturas restantes dão
para a cabana K15 dedicada a armazenagem, por sua
vez ligada à Cabana I4 (especializada em tecelagem)
e para o exterior. A Torre M13, de grande robustez e a
melhor conservada, possui cerca de 4,20m de diâmetro
interno, e a espessura das suas paredes, cerca de 1,10m;
continha os elementos de cultura material mais qua-
lificados ou de prestígio. A Torre R5, a pior conservada,
teria cerca de 4,30m de diâmetro interno e 5,80m de
diâmetro externo. Do forno metalúrgico N2, recuperou-
-se o embasamento de planta ovalada de alvenaria de
xisto com cerca de 1,60m de diâmetro máximo, sobre o
qual assentava placa de argila cozida por acção directa
do fogo e com impregnação de minério de cobre; não
existe informação sobre a eventual cobertura.
Esta organização do espaço parte de um projecto
arquitectónico intencionalmente monumentalizado
que deixa perceber a existência de lógica fracturante
na própria organização social: à elevada visibilidade
da residência fortificada, ou arquitectura do poder,
opõe-se a invisibilidade das cabanas em materiais
perecíveis, dispersas, em espaço aberto, onde deve-
riam viver os restantes elementos do grupo. O espaço
arquitectónico de cariz coercivo e simbólico construído
na Fase II do Porto das Carretas encontra semelhanças
ideológicas em contextos cronologicamente distintos,
marcados por estratégias de afirmação de lideranças
emergentes, que valorizam o papel da arquitectura na
legitimação do poder político, sobretudo em situações
de fragmentação e instabilidade, associadas a dinâmi-
cas de «feudalização». Os melhores paralelos para a
FIG. 4 Porto das Carretas. Planta do conjunto arquitectónico da
Fase II, datada do 3.º quartel do 3.º milénio BC. Assinalam-se os dois arquitectura da fase campaniforme do Porto das Car-
momentos construtivos reconhecidos (A e B). Seg. Soares, 2013. retas encontram-se em:

44 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 5 Porto das Carretas. Fase II. Planta funcional da área central do habitat. Seg. Soares, 2013.

 Torre de Miguens 3, na margem oposta do Gua- torre segmentada, com o diâmetro interno máximo
diana (concelho de Alandroal). Revelou uma ocu- de 9m, embasamento em alvenaria de xisto e parte
pação igualmente com cerâmica campaniforme de superior em terra, designada como ambiente 1,
estilo internacional/pontilhado geométrico, con- onde se concentrava a cerâmica campaniforme. Em
temporânea da do Porto das Carretas, datada do um total de 112 fragmentos de cerâmica com inte-
3.º quartel do 3.º milénio (K – 18507: 3934 ±33 BP, resse tipológico registados no relatório da escavação
cal BC 2 sigma = 2500 – 2300; K – 18508: 3902 ±38 BP, (Calado e Ribeiro, 2001), 10 possuíam decoração por
cal BC 2 sigma = 2480 – 2280) (Mataloto e Boaven- cordão plástico, dois apresentavam decoração pen-
tura, 2009). 
Neste local foi construída uma grande teada e oito ostentavam decoração campaniforme

JOAQUINA SOARES  PARA UMA LEITURA SOCIOPOLÍTICA DO CAMPANIFORME DO GUADIANA. LONGAS VIAGENS COM CURTA ESTADA NO PORTO DAS CARRETAS 45
 Torre da/db de Monte da Tumba (Tavares da Silva e
Soares, 1985; 1987), na bacia do médio Sado, perten-
cente muito provavelmente ao território da macro-
-aldeia de Porto Torrão. Durante a fase com cerâmica
campaniforme, de estilo internacional/ geométrico
pontilhado (Fase III de ocupação), a intervenção
arquitectónica (Fase D de construção) que encerrou
a vida útil do sítio ficou marcada pela edificação de
uma torre subcircular com cerca de 12m de diâmetro
externo na base (Fig. 10), localizada na área de cota
mais elevada do povoado, sobre as ruínas da fortifi-
cação anterior, seguindo um modelo de implantação
que recorda o do Porto das Carretas.

FIG. 6 Porto das Carretas. Fase II A. Reconstituição do conjunto economia


arquitectónico no contexto geomorfológico. Seg. Alfarroba, 2013. A economia de subsistência da Fase II do Porto das
Carretas baseou-se na agro-silvo-pastorícia. Os ele-
mentos de mó estão melhor representados que na Fase
I (Soares, 2013, Quadro 33). Da fauna doméstica faziam
parte o gado suíno, ovicaprino e bovino. Registou-se um
aumento, face à ocupação pré-campaniforme, da caça
a animais de médio/grande porte, nomeadamente
ao veado e auroque. Este facto também registado no
Monte da Tumba (Antunes, 1987) é por nós interpretado
como um bom indicador da práctica de uma caça de
carácter ���������������������������������������������
«aristocrático». A pesca fluvial foi documen-
tada através de elevada frequência de pesos de rede;
na Torre M13 encontrámos uma concentração de pesos
parcialmente sobrepostos, interpretada como vestígios
de uma rede de pesca muito provavelmente completa,
que terá sido cuidadosamente dobrada no local (Soares,
2013, Quadro 20).
A tecelagem atingiu nesta fase um pico de desenvol-
vimento (Soares, 2013, p. 305-312) e embora fosse prati-
FIG. 7 Reconstituição arquitectónica da Fase II A do Porto das cada em contexto de economia familiar mostrou tam-
Carretas; vista de sudoeste. In Soares, 2013.
bém capacidade de segregação espacial (Fig. 5), própria
de especialização artesanal (Cabana I4). Fragmentos de
de estilo internacional associado a pontilhado geo- linho de elevada qualidade, envolvendo machados pla-
métrico; estes poderão corresponder a seis reci- nos e preservados pelos produtos de corrosão desses
pientes, no entanto só a publicação da descrição e artefactos de cobre, têm vindo a ser identificados e estu-
desenho dos materiais poderá ratificar ou rectificar dados por António Monge Soares e colaboradores (Soa-
o número aqui avançado. O conjunto arquitectónico, res et al., 2016); de destacar a peça de linho (com pintura
a partir da documentação disponível (Calado, 2002; vermelha obtida a partir de raiz de Rubia tinctorum),
Calado e Ribeiro, 2001), pode também ser interpre- que envolvia o machado plano de cobre do túmulo 1 da
tado como torre de planta circular, com cerca de necrópole de Belle France (Algarve), datada de meados/
3,5m de diâmetro interno, inscrita em recinto con- 3.º quartel do 3.º milénio BC (Soares e Ribeiro, 2003).
cêntrico de planta subcircular, com 9m de diâme- Duas actividades marcam a descontinuidade maior
tro interno máximo, segmentado radialmente, cuja entre a ocupação da primeira metade do 3.º milénio
entrada recorda a da Torre N7 do Porto das Carretas. e a da fase com campaniforme do Porto das Carretas.
Os muros chegavam a atingir 1m de espessura, reve- Trata-se da metalurgia do cobre arsenical, claramente
lando o carácter de «fortaleza» do núcleo edificado comprovada durante o período com campaniforme e
(Fig. 9); à semelhança do observado na Fase II do ausente na fase anterior, bem como a integração do
Porto das Carretas, a torre era complementada por Porto das Carretas em redes de intercâmbio de escala
cabanas de planta circular. regional, como a rota do sal marinho do Guadiana

46 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 8 Porto das Carretas. Fase II. Cerâmica campaniforme de estilo internacional e braçal de arqueiro em quartzito polido. Seg. Soares
e Tavares da Silva, 2010.

FIG. 9 Miguens 3 (Alandroal).


Planta das estruturas
arquitectónicas da ocupação
campaniforme do 3.º quartel do
3.º milénio BC. Seg. Calado, 2002.

JOAQUINA SOARES  PARA UMA LEITURA SOCIOPOLÍTICA DO CAMPANIFORME DO GUADIANA. LONGAS VIAGENS COM CURTA ESTADA NO PORTO DAS CARRETAS 47
FIG. 10 Planta cumulativa das estruturas arquitectónicas do Monte da Tumba (Torrão). A torre campaniforme corresponde à última fase
construtiva. As fases de construção 1-3 são da 1.ª metade do 3.º milénio, a fase 4 respeita ao período com campaniforme (grupo internacional), o
n.º 5 da legenda corresponde a estruturas de fase não determinada, e o n.º 6, à reconstituição da área ocupada pela
torre campaniforme. Adaptado de Tavares da Silva e Soares, 1987.

48 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
sugerida pela presença de conchas marino-estuarinas mas também no padrão de distribuição dos artefactos
(Soares, 2013), e de escala supra-regional. (Fig. 5). A Torre M13 (Zona A) concentrava os artefactos
Ainda no que concerne à cultura material, regista- mais qualificados: cerâmica campaniforme, instrumen-
-se o prosseguimento da tradição oleira da fase ante- tos de cobre arsenical, instrumentos em pedra polida
rior, embora com redução da frequência de pratos de (braçal de arqueiro e espátula) de notável execução.
bordo almendrado e aumento das pequenas taças em Os 14 vasos campaniformes, de estilo internacional,
calote (Soares, 2013, Fig. 192). Rompendo com o tra- foram encontrados na Torre M13 (9 exs.), na Torre N7
dicional repertório oleiro, surge uma nova categoria (2 exs.), no forno metalúrgico N2 (1 ex.), e os restantes
cerâmica, o vaso campaniforme de estilo internacional dois exemplares provieram do exterior do complexo
(Fig. 8); pese embora o seu fabrico local/regional, tem edificado com embasamento de pedra. A segregação
subjacente um novo tipo morfológico (perfil em S, de espacial da cerâmica campaniforme em área central e
paredes finas), e distinto programa tecnológico (pasta socialmente valorizada foi também observada, como
relativamente depurada; superfícies bem alisadas atrás mencionámos, na torre-fortaleza de Miguens 3 e
ou mesmo polidas, tendencialmente de tonalidades nas cabanas J27 e H22/23 de San Blas.
alaranjadas). Esta cerâmica inscreve o Porto das Car-
retas no sistema económico pan-europeu de bens de
prestígio (Guilaine, Tusa, Veneroso, 2009), mesmo que MONTE DO TOSCO 1 E QUINTA DO ESTÁCIO 14:
intermediado provavelmente por La Pijotilla, a qual DISSEMINAÇÃO DO CAMPANIFORME DE ESTILO
terá sido por sua vez abastecida em cerâmica campa- CIEMPOZUELOS NO MÉDIO GUADIANA
niforme de estilo internacional pelo suposto centro No Monte do Tosco 1 (Fig. 2), povoado de altura da
produtor de La Palacina (Odriozola, 2012) (Fig. 2). Uma margem esquerda do Guadiana (confluência com a
placa de arqueiro proveniente da Torre M13, dotada de Ribeira de Alcarrache), foi identificada uma ocupação
extraordinário polimento, em quartzito de grão fino, com campaniforme tardio, em descontinuidade com
reforça a adesão do Porto das Carretas ao «pacote a do pleno Calcolítico. Aí, a cerâmica campaniforme é
campaniforme» (Fig. 8). exclusivamente de estilo Ciempozuelos; a técnica deco-
rativa do pontilhado não foi identificada nos cerca de
planta funcional e estrutura social 38 recipientes contabilizados (Valera, 2013); o preenchi-
A desigualdade social na Fase II da ocupação do mento da decoração por pasta branca encontra-se bem
Porto das Carretas reflecte-se não só na arquitectura, representado. A cerâmica campaniforme, associada a

FIG. 11 Punhais em cobre arsenical do depósito de peças metálicas de S. Brás (Serpa), atribuído ao último quartel do 3.º milénio.
Seg. Soares, 2013.

JOAQUINA SOARES  PARA UMA LEITURA SOCIOPOLÍTICA DO CAMPANIFORME DO GUADIANA. LONGAS VIAGENS COM CURTA ESTADA NO PORTO DAS CARRETAS 49
metais (punhal de lingueta), pingos de fundição e reci- o efeito visual de espinha (Fig. 14, n.º 1). O padrão deco-
pientes de armazenagem, concentrava-se na Cabana 1. rativo do n.º 3 da Fig. 14 não conserva incrustações de
É provável que Monte do Tosco 1 tenha substituído pasta branca, e parece-nos menos comum, talvez um
neste troço do rio, entre as ribeiras de Cuncos e Alcarra- híbrido resultante do cruzamento dos estilos Ciempo-
che, o entretanto abandonado Porto das Carretas, cerca zuelos e Palmela evolucionado.
de 16km a norte. Importa também referir o povoado de Finalmente, referência obrigatória para o frag-
São Pedro (Fig. 2), que forneceu no topo da sequência mento de um grande recipiente de armazenagem (Fig.
estratigráfica (Fase V), uma ocupação com campani- 14, n.º 4), que possui decoração simbólica, seguindo os
forme exclusivamente inciso, de estilo Ciempozuelos cânones da arte esquemática, com a representação
(cerca de 15 recipientes), estabelecida na parte central estilizada de par de veados-machos, incisos (sem pre-
do sítio, associada a cabanas de planta circular de base enchimento a pasta branca), cujas armações surgem
pétrea (Mataloto, Costeira e Roque, 2015). bem destacadas. Esta variante decorativa é rara e tem
Em estudo pela signatária e colaboradores (Car- surgido em cerâmica de mesa (vasos campaniformes
los Tavares da Silva e Jorge Feio), o sítio de planície da e taças); o fragmento da Quinta do Estácio 14, perten-
Quinta do Estácio 14 (concelho de Beja), na margem cente a um recipiente de armazenagem, talvez acon-
direita do Guadiana e a cerca de 14km do rio (Fig. 2), selhe a revisão das interpretações que têm vindo a ser
revelou uma ocupação com campaniforme, onde iden- elaboradas para a cerâmica campaniforme com deco-
tificámos, em um conjunto de 14 recipientes de estilo ração simbólica (Garrido Pena, Muñoz López-Astilleros,
Ciempozuelos, somente uma taça em calote decorada 2000). Este tema iconográfico surge, embora com dis-
pela técnica do linear pontilhado preenchido a pasta tinta expressão, no grupo de Palmela, executado pela
branca (Fig. 12), filiável no grupo estilístico de Palmela. técnica decorativa do linear pontilhado, nos hipogeus
As pastas são em geral grosseiras, de fabrico local, com da Quinta do Anjo, e foi interpretado como evidência
excepção das pastas da taça pontilhada atribuível ao da valorização social de práticas cinegéticas de carác-
grupo de Palmela e de uma taça com decoração incisa ter «aristocrático» protagonizadas pelas elites campa-
típica do grupo de Ciempozuelos (Fig.13, n.º 1), depu- niformes (Soares, 2003); o mesmo tema encontra-se
rada, com tonalidades rosadas, sobreposta por engobe também representado em taça tipo Palmela, mas pela
negro em ambas as superfícies. Estas duas peças cor- técnica da incisão, no monumento funerário de Titua-
respondem a outliers de um ponto de vista tecnológico. ria (Cardoso et al., 1996).
Além das formas características do grupo de Ciempo-
zuelos, regista-se uma forma para a qual não encontrá-
mos paralelos: pequena garrafa de gargalo sub-cilin- METALURGIA DO COBRE
drico e corpo esferoidal achatado (Fig. 15). Dos padrões Na margem esquerda da bacia do médio Guadiana,
decorativos destacamos as bandas de pequenos folíolos identificou-se uma primeira fase metalúrgica datada
impressos e/ou linhas quebradas com preenchimento da primeira metade do 3.º milénio em Moinho de Vala-
a pasta branca (Fig. 13 n.os 1, 3, 5) e as bandas de pontua- dares1 (Cabana 2) e Monte do Tosco 1 (Valera, 2013), mas
ções alternadas que preenchidas a pasta branca criam será claramente na segunda metade do 3.º milénio, em

FIG. 12 Quinta do Estácio 14. Taça em calote de bordo simples; pasta fina e compacta, cozedura em ambiente irregular com manchas escuras
e alaranjadas (Munsell 2.5 YR 5/6), em ambas as superfícies. Vestígios de polimento na superfície externa. Decoração geométrica aplicada na
superfície externa, segundo a técnica do linear pontilhado, com preenchimento a pasta branca. Desenho de Guida Casella.

50 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 13 Quinta do Estácio 14. 1 – Taça em calote, de tonalidade rosada e engobe negro em ambas as superfícies. Decoração aplicada no
interior e exterior, através das técnicas da incisão e impressão, com preenchimento dos motivos geométricos a pasta branca. N.os 2-5 – Vasos
campaniformes. Pastas grosseiras, semi-compactas, cozedura irregular, maioritariamente em ambiente redutor. Decoração aplicada no exterior
(n.os 2, 4), no interior e no exterior (n.º 3), no exterior e sobre o lábio (influência do grupo de Palmela evolucionado?) (n.º 5). Decoração incisa
e impressa (estilo Ciempozuelos) com preenchimento a pasta branca. Desenhos de Guida Casella.

cronologia campaniforme, que a metalurgia do cobre segunda metade do 3.º milénio, com capacidade de
atinge uma maior dispersão e visibilidade (Valério, incremento da produtividade, pois no processo produ-
Soares e Araújo, 2016). A grande maioria (mais de uma tivo o metal veio proporcionar vantajosas alternativas
centena), das peças metálicas do povoado de La Pijotilla a muitos utensílios de trabalho líticos e ósseos, com
pertence ao período com campaniforme, sendo de des- consequências no desenvolvimento das forças produ-
tacar a presença de pontas de jabalina e de punhais de tivas. O seu protagonismo não foi menor no domínio
lingueta. sociopolítico. Pela via do incremento do trabalho espe-
A intensificação da produção metálica no médio cializado (divisão técnica e social do trabalho) e da ope-
Guadiana durante o Horizonte Campaniforme é reco- racionalização de um equipamento artefactual com
nhecida para a generalidade da região e associa, como funções coercivas, as lideranças campaniformes legiti-
na Meseta, o estilo Ciempozuelos a produções de armas mam a tomada e manutenção do poder e consolidam
de cobre arsenical e a diademas de ouro, como no uma instância de economia política, progressivamente
achado, provavelmente funerário, de Montijo/Barbaño, separada e sobrejacente à tradicional economia agro-
Badajoz (Enríquez Navascués, 2007). pecuária de subsistência.
Temos vindo a considerar a metalurgia do cobre A gestão conservacionista dos instrumentos em
arsenical uma actividade motora nas sociedades da cobre, com recurso à reciclagem (Gil e Guerra, 1987)

JOAQUINA SOARES  PARA UMA LEITURA SOCIOPOLÍTICA DO CAMPANIFORME DO GUADIANA. LONGAS VIAGENS COM CURTA ESTADA NO PORTO DAS CARRETAS 51
trário do verificado com a cerâmica campaniforme, que
parece ter encontrado resistência no sul do Baixo Alen-
tejo, Algarve e bacia do Baixo Guadiana, a metalurgia
do cobre arsenical, em geral associada àquela cerâmica,
disseminou-se pelas áreas consideradas, onde foram
identificados povoados mineiros, como Cortadouro, no
vale do Mira (Tavares da Silva e Soares, 1976-77), Santa
Justa no alto Algarve oriental (Gonçalves, 1989), La
Junta e Cabezo Juré no ocidente da província de Huelva
(Nocete, 2001).
Os vestígios metalúrgicos recuperados no Porto
das Carretas (Soares, 2013, p. 315-319) representam
diferentes fases da cadeia operatória: minerais, forno
metalúrgico, escórias, cerâmica vitrificada (cadinhos)
e artefactos metálicos em cobre arsenical. A análise
química dos artefactos metálicos da Fase II do Porto
das Carretas (Valério et al., 2007) comparada com a dos
minerais permitiu admitir a hipótese de serem produ-
zidos a partir de minérios ricos em cobre sem arsénio,
disponíveis na bacia do Guadiana, a que se adiciona-
vam, na fase de redução, minérios de arsénio. Os ins-
trumentos metálicos do Porto das Carretas concentra-
vam-se na Torre M13, em associação com os restantes
artefactos mais qualificados da ocupação com cam-
paniforme do grupo internacional. Também em San
Blas se observou a concentração dos objectos de cobre
FIG. 14 Quinta do Estácio 14. Cerâmica de pastas grosseiras, semi-
-compactas, de cozedura irregular, com predomínio de ambiente (p. ex. punhal de lingueta), da cerâmica campaniforme
redutor. Superfícies bem alisadas. Decoração integrável no estilo e de vasos de armazenagem nas unidades habitacio-
Ciempozuelos. 1 – Caçoila (?) com decoração aplicada no interior nais J27 e H22/23, constituindo uma das expressivas
(bojo) e no exterior; motivos decorativos incisos e impressos (banda
de pontuações alternadas que uma vez preenchidas a pasta branca
materializações da desigualdade intrassocial que se
criam a imagem de espinha). 2 – Vaso de perfil em S de grandes instala no Sudoeste Peninsular na segunda metade do
dimensões; decoração incisa com preenchimento a pasta branca. 3.º milénio.
3 – Vaso de perfil em S. Decoração incisa sem vestígios de
incrustações de pasta branca. 4 – Fragmento de bojo de vaso
de grandes dimensões, muito provavelmente destinado
a armazenagem, com decoração campaniforme simbólica: par
de cervídeos estilizados, com armações bem representadas;
técnica da incisão sem vestígios de preenchimento a pasta branca.
Desenhos de Guida Casella.

pode explicar, pelo menos parcialmente, a relativa


escassez de artefactos metálicos nos espaços residen-
ciais bem como a constituição de depósitos metálicos,
nomeadamente no Outeiro de S. Bernardo (Ferreira,
1971; Cardoso, Soares, Araújo, 2002) e no Cerro dos
Castelos de S. Brás (Soares, 2013), ambos na margem
esquerda do Guadiana. O valor social dos instrumentos
metálicos e o seu papel na materialização das relações
de poder são evidentes, identificando os líderes «omnis-
cientes» de uma prístina «meritocracia», sobretudo
através do punhal de lingueta e ponta tipo Palmela.
O depósito metálico que acompanhava a sepultura indi- FIG. 15 Quinta do Estácio 14. Vaso tipo garrafa, de gargalo subvertical
e corpo sub-esférico lateralmente achatado. Pasta grosseira e semi-
vidual do nicho da câmara do Monumento 3 de Alcalar,
compacta, cozedura irregular, em atmosfera maioritariamente
com cinco punhais em um total de 15 peças, ilustra a redutora, superfícies bem alisadas. Decoração incisa e impressa
afirmação precedente (Estácio da Veiga, 1889). Ao con- preenchida a pasta branca. Desenho de Guida Casella.

52 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
Em San Blas, a actividade metalúrgica foi espacial- a foz do rio. La Pijotilla deverá ter continuado a deter
mente segregada em um esporão sobre o Guadiana, no uma posição cimeira na estrutura do povoamento e do
extremo NW do povoado, separada da área residencial poder da margem esquerda do Guadiana até aos iní-
por fosso. Aí foram identificados fornos metalúrgicos cios do 2.º milénio BC, ou seja, Bronze antigo, e nessa
(70x30cm de diâmetro), minerais de cobre, sobretudo medida deverá ter sido o principal centro redistribui-
carbonatos de cobre, escórias, cerâmicas com escorifi- dor da produção metálica da bacia do Guadiana, do
cações, e instrumentos metálicos (Hurtado Pérez, 2004). sal marinho proveniente da sua desembocadura, bem
As assinaturas isotópicas das peças metálicas de San como o principal protagonista na gestão das redes de
Blas mostraram que o povoado explorou várias fontes alianças de elites por onde circularam a informação e
de aprovisionamento de minerais de cobre, nomea- os bens materiais de valor social (capital do novo sis-
damente a mina de Alconchel e a zona portuguesa tema económico de bens de prestígio).
de Ossa-Morena e que a sua produção se destinou ao Os povoados de fossos e/ou estruturas defensivas
«mercado redistribuidor» de La Pijotilla (Hunt Ortiz et muralhadas de média/grande dimensão que subsistem
al., 2009). Também no que à cerâmica campaniforme na segunda metade do 3.º milénio, como San Blas e Per-
incisa respeita, San Blas abasteceu La Pijotilla, como já digões, acompanham de perto a dinâmica das macro-
foi referido (Odriozola, 2012). -aldeias do topo da hierarquia das redes de povoa-
Os depósitos metálicos do Outeiro de S. Bernardo mento, podendo, como no caso de San Blas, especiali-
(Cardoso, Soares e Araújo, 2002) e do Cerro dos Castelos zar-se economicamente (fileira metalúrgica do cobre),
de S. Brás (Soares, 2013), atribuíveis ao último quartel atingindo nesta fase um pico de desenvolvimento.
do 3.º milénio, são constituídos maioritariamente por Os sítios de pequena/média dimensão com funções
peças em cobre com As, muito embora este elemento defensivas nos sistemas de povoamento de La Pijo-
possua frequências muito variáveis; são raros os objec- tilla e Porto Torrão, como Porto das Carretas, Miguens
tos de cobre sem arsénio em ambos os contextos. No 3, Monte da Tumba, são objecto de (re)fundação com
caso do depósito de S. Brás, os três punhais (Fig. 11) pos- novo programa arquitectónico (torres monumentali-
suem a mais elevada frequência relativa de As do con- zadas em espaço aberto), a partir do 3.º quartel do 3.º
junto, com 3,9%, 4% e 7,4%. O arsénio contribuiu para milénio BC, o qual reflecte uma estrutura social muito
aumentar a dureza das peças, conferindo-lhes também desigual, com núcleo de poder local de tipo senhorial.
uma tonalidade argêntea, aspectos que podem não ter A partir do último quartel do 3.º milénio parece ter
sido resultantes de meros acasos mas, pelo contrário, ocorrido uma dispersão do povoamento, em estabele-
intencionalmente procurados (cf. a propósito, Pereira et cimentos abertos, quer de altura e fortificados em fases
al., 2016). Rui Parreira recuperou durante as escavações precedentes (São Pedro, Monte do Tosco1), quer de pla-
realizadas em S. Brás (Parreira, 1983) uma ponta de tipo nície (Quinta do Estácio 14, Barrada do Grilo).
jabalina, em cobre com vestígios de arsénio (Soares, A cerâmica campaniforme (em geral de produção
Araújo, Cabral, 1994), correlacionável com a ocupação local/regional), aparentemente um produto menor,
campaniforme que ocorreu no local após a destruição parece ter desempenhado papel crucial enquanto
da fortificação da primeira metade do 3.ºmilénio, e com objecto ideológico de reconhecimento e identificação
o referido depósito de peças metálicas. das elites e muito provavelmente de aparato nos rituais
de hospitalidade e festa inerentes à criação e manuten-
ção das redes de alianças das chefaturas incipientes que
CONCLUSÕES propomos para este período. O valor social e simbólico
No terceiro quartel do 3.º milénio BC o modelo de da cerâmica campaniforme ultrapassa o já de si elevado
sociedade tribal complexa do Calcolítico estaria esgo- investimento em trabalho qualificado aplicado no seu
tado, provavelmente devido a uma excessiva segmen- fabrico. As análises de conteúdos têm vindo a compro-
tação territorial que bloquearia o desenvolvimento var a utilização desta cerâmica ao serviço do consumo
das forças produtivas (metalurgia, tecelagem e trocas de bebidas alcoólicas (cerveja e hidromel) e, talvez,
comerciais inter-regionais). No entanto, as macro- de prováveis substâncias alucinogénias que podiam
-aldeias que polarizavam os territórios politicamente proporcionar visões atribuíveis a um mundo «supra-
organizados prosseguem as funções de coordenação -sensorial» ou sagrado (Guerra Doce, 2006; Rojo Guerra,
económica e sociopolítica, supostamente de forma Garrido Pena, García-Martínez de Lagrán, 2008; Garrido
mais centralizada, mas em ambiente de descompres- Pena e Muñoz López-Astilleros, 2000), fonte de conhe-
são territorial. cimento esotérico, cujo acesso seria reservado ao poder
O Guadiana comporta-se como o principal eixo das elites, mais que não fosse para criar distanciamento
de circulação do cobre e do sal marinho, perfazendo e distinção relativamente às comunidades por si contro-
um percurso com mais de 200Km, entre La Pijotilla e ladas.

JOAQUINA SOARES  PARA UMA LEITURA SOCIOPOLÍTICA DO CAMPANIFORME DO GUADIANA. LONGAS VIAGENS COM CURTA ESTADA NO PORTO DAS CARRETAS 53
Na bacia do médio Guadiana a distribuição da cerâ- San Blas (Odriozola, 2012), Porto Torrão, Perdigões e
mica campaniforme reflecte a estrutura hierarquizada entre estas e os mais importantes povoados na sua
do sistema de povoamento; são evidentes as restri- dependência: Porto das Carretas, Miguens 3, La Pala-
ções ao seu uso, havendo povoados que não utiliza- cina, Monte da Tumba, Monte da Ponte, entre outros.
ram esta cerâmica, como Mercador (Valera, 2013); em Um bom indicador deste processo de interacção é o
outros sítios da mesma rede regional, como Cortina- aparecimento de cerâmica campaniforme de estilo
les, a cerâmica campaniforme é manifestamente rara internacional e do associado pontilhado geométrico,
(Gil-Mascarell Bosca e Rodríguez Diaz, 1987; Hurtado no terceiro quartel do 3.º milénio (Soares e Tavares
Pérez, 1999). Em San Blas, Porto das Carretas, Miguens da Silva, 2010).
3, Monte do Tosco 1, registou-se um padrão selectivo e  Nível de Interacção Intrarregional (NIR). Regionali-
concentrado de distribuição, estando a cerâmica asso- zação da cerâmica campaniforme; criação de grupos
ciada a metais e a outros bens de prestígio em estru- estilísticos de forte afirmação identitária. No Sudo-
turas arquitectónicas centrais. Em La Pijotilla e Porto este ibérico, destaque para os estilos Ciempozuelos
Torrão a cerâmica campaniforme tem uma larga distri- e Palmela. O médio Guadiana integrou-se na pro-
buição (múltiplos contextos de apropriação) e grande víncia estilística de Ciempozuelos, com a adopção
diversidade estilistica (Kohring, 2011). do respectivo repertório morfológico e da técnica
Foi possível identificar na região vários modos decorativa da incisão, complementada pela impres-
sequenciais de interacção na segunda metade do 3.º  mi- são; ambas são frequentemente realçadas pela apli-
lénio (Quadro 2): cação de pasta branca, em grande parte obtida a
partir de material ósseo (Odriozola, 2012). A cerâmica
 Nível de Interacção Global (NIG). Redes de trocas de campaniforme de estilo Ciempozuelos encontra-se,
longo curso; participação das macro-aldeias de topo pois, muito bem representada em ambas as mar-
da hierarquia dos territórios politicamente organiza- gens do médio Guadiana: La Pijotilla, San Blas, Perdi-
dos. No que respeita ao Guadiana e áreas limítrofes: gões (Lago et al., 1998), Monte do Tosco 1, São Pedro,
La Pijotilla, Porto Torrão, Alcalar. Um bom indicador Outeiro de S. Bernardo (Bubner, 1979), Quinta do
deste processo de interacção é o campaniforme cor- Estácio 14. O máximo desenvolvimento deste estilo
dado, que surge em reduzidíssimas quantidades, em cerâmico ocorreu no último quartel do 3.º milénio,
meados do 3.º milénio. tendo-se prolongado até cerca de 1800 cal BC (Guerra
 Nível de Interacção Inter-regional (NII). Redes de tro- Doce e Liesau Von Lettow-Vorbeck, 2016; Ríos Men-
cas entre as macro-aldeias cimeiras de La Pijotilla, doza, 2011; Soares e Tavares da Silva, 2010).

SISTEMA ECONÓMICO PAN-EUROPEU DE BENS DE PRESTÍGIO. SEGUNDA METADE DO III MILÉNIO BC

Escala Global e Inter-regional Grandes áreas da Europa e parte do Norte de África. Cerâmica cordada e campaniforme
internacional. Meados e terceiro quartel do III Milénio BC.
Mecanismo principal de interacção:
alianças entre elites
NO SUDOESTE DA PENÍNSULA IBÉRICA
ESCALAS DE INTERACÇÃO

Escala Regional Interacção positiva ou negativa (alianças, vassalagem ou conflitos) entre elites das macro-
aldeias de topo dos territórios politicamente organizados, nomeadamente: La Pijotilla, Porto
Torrão, Alcalar, Valencina de la Concepción. Reformulação do pacote campaniforme. Criação
de novos grupos estilísticos (p. ex. grupos de Ciempozuelos e Palmela).

Escala Local Nível mais elevado de desigualdade social. Ruptura entre comunidades camponesas e elites
locais/regionais. «Feudalização» do poder (Soares, 2013, p. 376). Mecanismos de emulação,
nomeadamente no que diz respeito à cerâmica campaniforme, com perda de qualidade e do
significado ideológico inicial (Barrada do Grilo) ou reinvenção e adaptação a novas funções
(Quinta do Estácio 14). Último quartel do III Milénio – inícios do II Milénio BC.

QUADRO 2 Esquema geral das diferentes escalas de interacção reconhecidas a partir do registo arqueológico da bacia do médio Guadiana.
Seg. Soares, 2016.

54 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
 Nível Local (NL). Processo de emulação. O campa- BUBNER, T. (1979) – A ocupação campaniforme do Outeiro de
niforme de estilo Ciempozuelos difundiu-se larga- S. Bernardo (Moura). Ethnos, 8, p.139-151.

mente até sítios periféricos de planície, sem estrutu- CABRAL, J. M. P.; PRUDÊNCIO, M. I.; GOUVEIA, M. A.; ARNAUD, J. E.
(1988) – Chemical and mineralogical characterization of Pre-Beaker
ras defensivas, como Quinta do Estácio 14 e Barrada
and Beaker pottery from Ferreira do Alentejo (Beja, Portugal).
do Grilo já na bacia do Sado. Estas cerâmicas possuem
Proceedings of the 1988 Symposium of Archaeometry, p. 122-127.
em geral pastas grosseiras e pouco compactas, o que
CALADO, M. (2002) – Povoamento pré e proto-histórico da margem
parece indicar perca de conhecimento técnico e de direita do Guadiana. Al-madan, II S, 11, p. 122-127.
valor ideológico. A transição para o 2.º milénio parece
CALADO, M.; RIBEIRO, A. (2001) – Relatório da escavação do povoado
corresponder a uma fase de desregulação sociopolí- calcolitico de Miguens 3 (Alandroal). Campanha 2 (2000). Lisboa:
tica com muitas áreas de sombra no registo arque- Fundação da Universidade de Lisboa/Centro
ológico. Quiçá por esta razão, a escala local reforça a de Arqueologia da Universidade de Lisboa (policopiado).
sua capacidade de autossuficiência e de criatividade, CARDOSO, J. L.; LEITÃO, M.; VEIGA, O. DA; NORTH, C. T.; NORTON, J.;
conforme ilustra a cerâmica campaniforme do sítio MEDEIROS, J.; FIALHO, P. (1996): O monumento pré-histórico de
da Quinta do Estácio 14. Aproxima-se o fim de um Tituaria, Moinhos da Casela (Mafra). Estudos Arqueológicos de
Oeiras, 6, p. 135-193.
longo ciclo de desenvolvimento, em que a complexi-
CARDOSO, J. L.; SOARES, A. M.; ARAÚJO, M. F. (2002) – O espólio metálico
dade social se intensifica; somam-se a desigualdade
do Outeiro de S. Bernardo (Moura): uma reapreciação à luz de
intrassocial e a intersocial transportada pelos bens velhos documentos e de outros achados. O Arqueólogo Português,
de prestígio de outros ciclos e contextos produtivos S. IV, 20, p. 77-114.
(de um modo geral baseados em relações sociais de ENRÍQUEZ NAVASCUÉS, J. J. (2007) – Diversidad y heterogeneidad
produção com exploração), nos quais se condensa a durante los inicios de la Prehistoria reciente en la cuenca media
riqueza socialmente reconhecida e apropriada pelas del Guadiana. In E. CERRILLO CUENCA and J. M. VALADÉS SIERRA
elites campaniformes. (eds.) – Los primeros campesinos de la Raya. Aportaciones recientes
al conocimiento del Neolítico y Calcolítico en Extremadura y
Alentejo. Actas de las Jornadas de Arqueología del Museo de Cáceres
(Memorias, 6). Cáceres: Museo de Cáceres, p. 95-111.
AGRADECIMENTOS
ESTÁCIO DA VEIGA, S. P. M. (1889) – Antiguidades Monumentaes
Agradecemos ao Prof. Victor S. Gonçalves o convite do Algarve, III. Lisboa: Imprensa Nacional.
para participar na profícua reunião científica subja-
EVANGELISTA, L. S.; LAGO, M.; MIGUEL, L. (2016) – A anta dos
cente ao presente livro, à Prof.ª Ana Catarina Sousa pelo Enxacafres no contexto do megalitismo da região de Grândola
persistente incentivo à preparação deste artigo, aos e Santiago do Cacém: uma primeira nota. Apontamentos de
Drs. Luisa Pinto e Miguel Martinho da EDIA, que me Arqueologia e Património, 11, p. 21-31.
facultaram informação sobre os trabalhos arqueoló- FERREIRA, O. da V. (1971) – Um esconderijo de fundidor encontrado
gicos que têm vindo a ser financiados pela Empresa no Castro de S. Bernardo (Moura). O Arqueólogo Português, S. III, 5,
de Desenvolvimento das Infraestruturas do Alqueva, p. 139-143.

e muito especialmente à equipa técnico-científica do FERREIRA, O. da V.; ZBYSZEWSKI, G.; LEITÃO M.; NORTH, C. T.; SOUSA,
H. R. de (1975a) – A contribuição do «agro setubalense» para
Centro de Estudos Arqueológicos do MAEDS, em cujo
o conhecimento da cultura do vaso campaniforme em Portugal.
âmbito este texto foi produzido. O nosso reconheci- Setúbal Arqueológica, 1, p. 45-51.
mento vai também para o Mestre Jorge Feio que nos
FERREIRA, O. da V.; ZBYSZEWSKI, G.; LEITÃO, M.; NORTH, C. T.; SOUSA,
facultou os materiais de Quinta do Estácio 14. H. R. de (1975b) – Le Monument mégalithique de Pedra Branca
auprès de Montum (Melides). Comunicações dos Serviços
Geológicos de Portugal, 59, p. 107-192.
REFERÊNCIAS
GARCÍA RIVERO, D. (2006) – Campaniforme y território en la Cuenca
ALDAY RUIZ, A. (2001) – Vías de intercambio y promoción del
Media del Guadiana. SPAL, 15, p. 71-102.
campaniforme marítimo y mixto sobre el interior peninsular.
Cuadernos de Arqueología, 9. Universidad de Navarra, p. 111-174. GARRIDO PENA, R., MUÑOZ LÓPEZ-ASTILLEROS, K., (2000) –
Visiones sagradas para los líderes. Cerámicas campaniformes
ALFARROBA, A. (2013) – Porto das Carretas – Arquitectura e lugar.
In J. SOARES, Transformações sociais durante o III milénio AC con decoración simbólica en la Península Ibérica. Complutum 11,
no Sul de Portugal. O povoado do Porto das Carretas. Lisboa: EDIA, p. 285-300.
DRCAL e MAEDS, p. 540-574. GIL, F. B.; GUERRA, M. F. (1987) – O povoado fortificado calcolítico do
ANTUNES, M. T. (1987) – O povoado fortificado calcolítico do Monte Monte da Tumba. V – Estudo do espólio metálico por fluorescência
da Tumba. IV – Mamíferos (Nota Preliminar). Setúbal Arqueológica, de Raios X. Setúbal Arqueológica, VIII, p. 145-153.
8, p. 103-144. GIL-MASCARELL BOSCA, M.; RODRÍGUEZ DIAZ, A. (1987) –
BETTENCOURT, A. M. S. (2011) – El vaso campaniforme en el norte El yacimiento calcolitico de ‘Los Cortinales’, en Villafranca de los
de Portugal. Contextos, cronologias y significados. In PRIETO Barros (Badajoz). Archivo de Prehistoria Levantina 17, p. 123-145.
MARTÍNEZ, M. P.; SALANOVA, L. (eds.) – Las Comunidades GILMAN, A. (1975) – A later prehistory of Tanger. Marocco (Bulletin
Campaniformes en Galicia. Pontevedra: Diputación de Pontevedra, of the American School of Prehistoric Research, 29). Peabody
p. 364-414. Museum/Harvard University.

JOAQUINA SOARES  PARA UMA LEITURA SOCIOPOLÍTICA DO CAMPANIFORME DO GUADIANA. LONGAS VIAGENS COM CURTA ESTADA NO PORTO DAS CARRETAS 55
GONÇALVES, V. S. (1989) – Megalitismo e Metalurgia no Alto Algarve NOCETE, F. (2001) – Tercer milenio antes de nuestra era. Relaciones
Oriental. Lisboa: INIC/UNIARQ. y contradicciones centro/periferia en el Valle del Guadalquivir.
GUERRA DOCE, E. (2006) – Sobre la función y el significado de la Barcelona: Ediciones Bellaterra.

cerámica campaniforme a la luz de los análisis de contenidos. ODRIOZOLA, C.; HURTADO PÉREZ, V.; DIAS, M. I.; VALERA, A. C. (2007) –
Trabajos de Prehistoria, 63 (1), p. 69-84. Bell Beaker production and consumption along the Guadiana
GUERRA DOCE, E.; LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C. (eds.) (2016) – river: an Iberian perspective. Vessels: Inside and outside. Budapeste:
Analysis of the economic foundations supporting the social EMAC, p. 63-69.
supremacy of the Beaker Groups (Proceedings of the XVII UISPP ODRIOZOLA, C. P. (2012) – Sistemas técnicos de producción
World Congress, vol. 6/session B36). Oxford: Archaeopress cerámica. El Guadiana Médio durante la Edad del Cobre (Tese de
Publishing Lda, p. 55-68. doutoramento apresentada ao Instituto de Ciência de Materiais
GUILAINE, J.; TUSA, S.; VENEROSO, P. (2009) – La Sicile et l’Europe de Sevilha, Conselho Superior de Investigações Científicas, 2010).
Campaniforme. Toulouse: Archives d`Écologie Préhistorique. Sevilha: Editorial Académica Española.

HUNT ORTIZ, M. A.; HURTADO PÉREZ, V.; MONTERO RUÍZ, I.; ROVIRA PARREIRA, R. (1983) – O Cerro dos Castelos de S. Brás (Serpa).
LLORENS, S. and SANTOS ZALDUEGUI, J. F. (2009) – Chalcolithic Relatório Preliminar dos Trabalhos Arqueológicos de 1979 e 1980.
metal production and provenance in the site of San Blas (Cheles, O Arqueólogo Português, S. IV, 1, p. 149-168.
Badajoz, Spain). 2nd International Conference of Archaeometallurgy PEREIRA, F.; SILVA, R. J. C.; SOARES, A. M. M.; ARAÚJO, M.; CARDOSO, J. L.
in Europe. Milano: Associazione Italiana di Metallurgia, p. 81-92. (2016) – Metallurgical production from the Chalcolithic settlement
HURTADO PÉREZ, V. (1999) – Los inícios de la complejización social of Moita da Ladra, Portugal, DOI: 10.1080/10426914.2016.1244839
y el campaniforme en Extremadura. Spal, 8, p. 47-85. http://dx.doi.org/10.1080/10426914.2016.1244839 (consultado em:
HURTADO PÉREZ, V. (2004) – El asentamiento fortificado de San Blas 28/2/2017)
(Cheles, Badajoz). III milenio AC. Trabajos de Prehistoria, 61(1), RÍOS MENDOZA, P. (2011) – III – Nuevas datas para el Calcolítico
p. 141-155. de la Región de Madrid. Aproximación crono-cultural a los
HURTADO PÉREZ, V.; AMORES CARREDANO, F. (1982) – Relaciones primeros poblados estables. In C. BLASCO; C. LIESAU VON
culturales entre el SE francés y La Pijotilla (Badajoz): las pastillas LETTOW-VORBECK; P. RÍOS (eds.) – Yacimientos Calcolíticos
repujadas y el campaniforme cordado. Habis, 13, p. 189-209. con Campaniforme de la Región de Madrid: Nuevos Estudios
(Património Arqueológico de Madrid, 6). Madrid: Universidad
JORGE, S. O. (1999) – An all-over corded bell beaker in northern
Autónoma de Madrid, p. 73-86.
Portugal. Castelo Velho de Freixo de Numão (Vila Nova de Foz Côa).
Some remarks. Journal of Iberian Archaeology, 4, p. 107-123. ROJO GUERRA, M. A.; GARRIDO PENA, R.; GARCÍA-MARTÍNEZ DE
LAGRÁN, I. (2008) – No sólo cerveza. Nuevos tipos de bebidas
KALB, P.; HÖCK, M. (1997) – O povoado fortificado, calcolítico do Monte
alcohólicas identificadas en análisis de contenidos de cerámicas
da Ponte, Évora, II Congreso de Arqueología Peninsular, Tomo II:
campaniformes del Valle de Ambrona (Soria). Cuadernos de
Neolítico, Calcolítico y Bronce: 417-423. Zamora: Fundación Rei
Prehistoria e Arqueologia de la Universidad de Granada, 18, p. 91-105.
Afonso Henriques.
KOHRING, S. (2011) – Social Complexity as a Multi-Scalar Concept: SANTOS, M. F.; SOARES, J.; TAVARES DA SILVA, C. (1972) – Campaniforme
Pottery Technologies, ‘Communities of Practice’ and the Bell Beaker da Barrada do Grilo (Torrão-Vale do Sado). O Arqueólogo Português,
Phenomenon. Norwegian Archaeological Review, vol. 44, no. 2, 6 (S. III), p. 163-192.
p. 145-163. SOARES, A. M. M.; ARAÚJO, M. F.; CABRAL, J. M. P. (1994) – Vestígios
LAGO, M.; DUARTE, C.; VALERA, A.; ALBERGARIA, J., ALMEIDA, F.; da prática da metalurgia em povoados calcolíticos da bacia do
CARVALHO, A. (1998) – Povoado dos Perdigões (Reguengos de Guadiana, entre o Ardila e o Chança. In Arqueologia en el entorno
Monsaraz): dados preliminares dos trabalhos arqueológicos del bajo Guadiana. Huelva: Grupo de Investigación Arqueologica
realizados em 1997. Revista Portuguesa de Arqueologia, 1 (1), p. 45-152. del Patrimonio del Suroeste, p. 165-200.

LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.; GUERRA DOCE, E.; DELIBES DE SOARES, A. M. M.; RIBEIRO, M. I. M. (2003) – Identificação, análise e
CASTRO, G. (2014) – Casual or ritual: The Bell Beaker deposit of La datação de um tecido pintado proveniente de um monumento
Calzadilla (Valladolid, Spain). Quaternary International, 330, p. 88-96. megalítico da necrópole de Belle France (Monchique, Algarve,
Portugal). Resumo de Actas do V Congreso Ibérico de Arqueometria,
LILLIOS, K. T. (1999) – Objects of Memory: the ethnography and
p. 155-156.
archaeology of heirlooms. Journal of Archaeological Method
and Theory, 6 (3), p. 235-262. SOARES, A. M.; RIBEIRO, M. I. M.; OLIVEIRA, M. J.; VALÉRIO, P. (2016) –
Têxteis arqueológicos pré-históricos do território português
MATALOTO, R.; BOAVENTURA, R. (2009) – Entre vivos e mortos nos
– identificação, análise e datação (resumo de comunicação
IV e III milénios a.n.e. do sul de Portugal: um balanço relativo do
apresentada ao IX Encontro de Arqueologia do Sudoeste da
povoamento com base em datações pelo radiocarbono. Revista
Península Ibérica).
Portuguesa de Arqueologia, 12 (2), p. 31-77.
SOARES, J. (2003) – Os hipogeus pré-históricos da Quinta do Anjo
MATALOTO, R.; COSTEIRA, C.; ROQUE, C. (2015) – Torres, cabanas
(Palmela) e as economias do simbólico. Setúbal: Museu de
e memória: a Fase V e a cerâmica campaniforme do povoado
de São Pedro (Redondo, Alentejo Central. Revista Portuguesa de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal.
Arqueologia, 18, p. 81-100. SOARES, J. (2013) – Transformações sociais durante o III milénio AC
MORÁN, E. (2014) – El asentamiento prehistórico de Alcalar (Portimão, no Sul de Portugal. O povoado do Porto das Carretas. Lisboa: EDIA,
Portugal). La organización del territorio y el proceso de formación de DRCAL e MAEDS.
un estado prístino en el tercer milenio a.n.e. Tese de doutoramento SOARES, J. (2016) – Social complexity in the third millennium cal BC
apresentada à Universidade de Sevilha, Faculdade de Geografia in southern Portugal. In SOARES, J. (ed.) – Social complexity in
e História, Departamento de Pré-história e Arqueologia. a long term perspective (Setúbal Arqueológica, vol. 16), p. 77-114.

56 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
SOARES, J.; TAVARES DA SILVA, C. (1974-77) – O Grupo de Palmela no TAVARES DA SILVA, C.; SOARES, J. (1986) – Intervenção arqueológica na
quadro da cerâmica campaniforme em Portugal. O Arqueólogo vila do Torrão. Ocupação calcolítica. Actas do I Encontro Nacional
Português. Série III, 7/9, p. 102-112. de Arqueologia Urbana. Setúbal, 1985 (Trabalhos de Arqueologia, 3).
SOARES, J.; TAVARES DA SILVA, C. (1984) – Le Groupe de Palmela Lisboa: Instituto Português do Património Cultural, p. 103-114.
dans le cadre de la céramique campaniforme au Portugal. TAVARES DA SILVA, C.; SOARES, J. (1987) – O povoado fortificado
In J. GUILAINE (ed.) – L’Age du Cuivre Européen. Civilisations calcolítico do Monte da Tumba. I – Escavações arqueológicas de
a vases campaniformes. Toulouse: CNRS, p. 209-220. 1982-86 (resultados preliminares). Setúbal Arqueológica, 8, p. 29-79.
SOARES, J.; TAVARES DA SILVA, C. (1998) – From the collapse of the VALERA, A. C. (2013) – As comunidades agro-pastoris na margem
Chalcolithic mode of production to the development of the Bronze esquerda do Guadiana (2.ª metade do IV aos inícios do II milénio AC).
Age societies in the Southwest of Iberian Peninsula. In S. OLIVEIRA Lisboa: EDIA, DRCAL.
JORGE. (ed.) – Existe uma Idade do Bronze Atlântico? (Trabalhos VALERA, A. C.; CALVO, E.; SIMÃO, P. (2016) – enterramento
de Arqueologia, 10). Lisboa: IPA, p. 231-245. campaniforme em fossa da Quinta do Castelo 1 (Salvada, Beja).
SOARES, J.; TAVARES DA SILVA, C. (2010) – Campaniforme do Porto Apontamentos de Arqueologia e Património, 11, p. 13-19.
das Carretas (Médio Guadiana). A procura de novos quadros de VALÉRIO, P.; SOARES, A. M. M.; ARAÚJO, M. F. (2016) – An Overview of
referência. In V. S. GONÇALVES; A. C. SOUSA (eds.) – Transformação Chalcolithic Copper Metallurgy from Southern Portugal. Menga,
e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e.. 7, Sevilha: Junta deAndalucia, p. 31-50.
Cascais: Câmara Municipal de Cascais e UNIARQ, p. 225-261. VALÉRIO, P.; SOARES, A. M. M; ARAÚJO, M. F.; TAVARES DA SILVA, C.;
TAVARES DA SILVA, C.; SOARES, J. (1976-77) – Contribuição para SOARES, J. (2007) – Vestígios arqueometalúrgicos do povoado
o conhecimento dos povoados calcolíticos do Baixo Alentejo calcolítico fortificado do Porto das Carretas (Mourão).
e Algarve. Setúbal Arqueológica, 2-3, p. 179-272. O Arqueólogo Português, S. IV, 25, p. 177-194.
TAVARES DA SILVA, C.; SOARES, J. (1985) – Monte da Tumba (Torrão). VILHENA, J. (2016) – Pré-história recente em Odemira. In J. SOARES e C.
Eine Befestigte Siedlung Der Kupferzeit Im Baixo Alentejo. TAVARES DA SILVA (eds.) – Atlas do Património Cultural do Alentejo
Madrider Mitteilungen, 26, p. 1-21. Litoral e Costa Vicentina. Grândola: CIMAL (www.atlas.cimal.pt ).

JOAQUINA SOARES  PARA UMA LEITURA SOCIOPOLÍTICA DO CAMPANIFORME DO GUADIANA. LONGAS VIAGENS COM CURTA ESTADA NO PORTO DAS CARRETAS 57
WE ARE ANCIENTS, AS ANCIENT AS THE SUN: 1
CAMPANIFORME, ANTAS E GESTOS
FUNERÁRIOS NOS FINAIS DO III MILÉNIO AC
NO ALENTEJO CENTRAL
RUI MATALOTO

58 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
R E S U M O Este tema surge, à primeira vista, como uma realidade simples, sabida que é a
escassa implantação desta cerâmica nas realidades funerárias alentejanas. Se nos focarmos
no interior alentejano, já que a margem litoral apresenta especificidades muito particulares,
a cerâmica campaniforme, entre lisa e decorada presente em antas não passa, quanto muito,
da meia dúzia. Contudo, o «fenómeno campaniforme» e o respectivo «pacote» vai bem além
da presença destes recipientes, o que introduz contornos bastante distintos, que implicam
uma outra análise. No mesmo sentido se poderá, também, problematizar sobre o real sentido
de «anta», certa que é a existência de Megalitismo para além das antas… A presença campa-
niforme em monumentos megalíticos é usualmente descrita com epítetos como «violação»,
«intrusão», «reutilização», de claro sentido negativo, provavelmente resultante, ainda, das
velhas teorias expansionistas de fundo histórico-culturalista. Contudo, cremos que será hoje
importante reler estas presenças sobre uma perspectiva bem distinta, englobando-a dentro
de uma tendência de reintegração identitária dos monumentos que se desenvolverá princi-
palmente no milénio seguinte, ou mais além. Em território alentejano o fenómeno campa-
niforme, especialmente na sua vertente funerária, assume cada vez mais contornos muito
particulares, especialmente num momento em que, em simultâneo, novos dados vão sur-
gindo que nos transportam para uma realidade bem mais próxima às dinâmicas internacio-
nais, deixando-nos duas tendências bem marcadas, uma fortemente localista, readaptativa, e
outra «internacionalista» onde se reconhecem facilmente as dinâmicas globais.

A B S T R A C T To present the bell beaker pottery in dolmens of Alentejo is, at a first glance,
very simples since we only know a few cases, specially in inner Alentejo. However the Bell
Beaker period goes way beyond the bell beaker decoration and shapes, which need a more
wider analysis. Usually the presence of any part of the bell beaker package in dolmens, or
any kind of megalithic tomb, is called a «violation» or «intrusion». We need to start to read
this presences in a new perspective, as part of the construction of a new Identity for smaller
groups borned from the desintegration of bigger settlements, who collapse in the second
half of the third millennium BC. Nowadays we think the Bell Beaker phenomenon is ruled
in Alentejo by two different dinamics, one particulary local, that reinterpret the shapes and
meanings, and other more international, where we can see more global tendencies. To pre-
sent the bell beaker pottery in dolmens of Alentejo is, at a first glance, very simples since we
only know a few cases, specially in inner Alentejo. However the Bell Beaker period goes way
beyond the bell beaker decoration and shapes, which need a more wider analysis. Usually
the presence of any part of the bell beaker package in dolmens, or any kind of megalithic
tomb, is called a «violation» or «intrusion». We need to start to read this presences in a new
perspective, as part of the construction of a new Identity for smaller groups borned from the
desintegration of bigger settlements, who collapse in the second half of the third millennium
BC. Nowadays we think the Bell Beaker phenomenon is ruled in Alentejo by two different
dinamics, one particulary local, that reinterpret the shapes and meanings, and other more
international, where we can see more global tendencies.

RUI MATALOTO  WE ARE ANCIENTS, AS ANCIENT AS THE SUN: CAMPANIFORME, ANTAS E GESTOS FUNERÁRIOS NOS FINAIS DO III MILÉNIO AC NO ALENTEJO CENTRAL 59
«The first grave. Now we’re getting some (Gibson, 2013, p. 77) dá, de certa forma, origem ao «Para-
place. Houses and children and graves, doxo Campaniforme» (VanderLinden, 2007, p. 349) no
that’s home, Tom. Those are the things qual se assume uma clara proximidade cultural que,
that hold a man down.» todavia, surge fragmentada espacial e culturalmente,
JOHN STEINBECK, To a God Unknown, 1933 resultante de um processo de expansão multifacetado,
com cadências e intensidades distintas. Cremos mesmo
que em determinadas áreas, como aquela em que base-
amos este trabalho, o Alentejo Central, é dificilmente
1. CAMPANIFORME: QUE É? aceitável isolar um momento «Campaniforme», tão
LEITURA DE UM DESCRENTE… escasso ele é. Efectivamente, assentar toda uma fase
A proeminência social e cultural que estamos habi- cultural numa dezena de fragmentos cerâmicos, como
tuados a reconhecer ao «fenómeno Campaniforme» acontece em sítios como São Pedro (Redondo) (Mata-
é, desde a perspectiva centro alentejana, algo descon- loto et al., 2015a) ou Porto das Carretas (Soares, 2015), ou
certante. É certo que este, na sua perspectiva global mesmo escassas dezenas em sítios tão relevantes como
e abrangente, de reconhecido e destacado equilíbrio os Perdigões (Albergaria, 1998) parece-nos manifesta-
ténue entre a universalidade e o localismo, se apresenta mente exagerado. Este assunto é igualmente determi-
como um dos primeiros traços culturais transeuropeu. nante para a temática que pretendemos abordar, dada
Contudo, sabemos claramente hoje, estamos longe das a manifesta escassez de recipientes Campaniformes
perspectivas mais histórico-culturalistas de há dezenas decorados em contextos funerários no interior Sul do
de anos que nos apresentavam o dito como uma vaga país, mas onde diversos outros elementos associáveis
humana que varria a Europa do III milénio aC. Todavia, ao dito «pacote Campaniforme»são frequentes, caso
as mais recentes análises genéticas, mesmo que pro- das formas Campaniformes lisas ou das produções
venientes de outros contextos geográficos, ainda mais metálicas, como há muito vimos assinalando (Mataloto,
isolados que a fachada atlântica peninsular, caso da 2006), panorama, aliás, que se alarga a outras áreas do
Irlanda, parecem provar ou reforçar a possibilidade de interior, como foi recentemente analisado para a bacia
que durante o III milénio aC tenha existido uma forte do Tejo Internacional (Primitiva et al. 2008).
substituição da população europeia através de migra- Assim, é ainda a necessidade de enquadrar estas rea-
ções substanciais a partir das estepes a Norte do Mar lidades, muitas vezes sem proveniência estratigráfica,
Negro (Cassidy et al., 2016, p. 372), podendo as transfor- ou com esta pouco clara, que transporta o discurso para
mações culturais associadas à dispersão dos diversos o «Horizonte Ferradeira».
elementos materiais e imateriais do «pacote Campani- O «Horizonte Ferradeira», tal como foi apresentado
forme» derivar destas. O velho paradigma histórico-cul- por H. Schubart (1971), resulta, essencialmente, de uma
turalista está, certamente, de volta, em particular num construção teórica de modelo «civilizacional» profun-
momento onde a actualidade é marcada por migrações damente marcada pelos preceitos histórico-culturalis-
maciças de idêntica origem. Contudo, esta terceira revo- tas e concebida por oposição, e em complemento, a um
lução do conhecimento não deve fazer-nos esquecer modelo explicativo idealizado para outra área peninsu-
como a introdução dos diversos elementos do «pacote lar, a Estremadura portuguesa (Gonçalves, 1989, p. 79).
Campaniforme» se faz sem rupturas, em plena conso- Esta temática foi objecto, recentemente, de diversos
nância com as dinâmicas pré-existentes, e por vezes trabalhos de síntese e enquadramento (Mataloto, 2006;
com um impacto artefactual tão marginal que dificil- Mataloto et al., 2013, 303; Valera, 2014) pelo que julga-
mente conseguiremos aceitar uma substituição popu- mos despiciendo alongar-nos.
lacional contemporânea da sua dispersão. No mesmo Este «horizonte» foi um dos mais «mal-amados»
sentido apontam leituras transeuropeias que realçam da Pré e Proto-História do território actualmente por-
a efectiva inexistência de uma verdadeira continui- tuguês, tendo a sua aceitação sido raras vezes verda-
dade territorial Campaniforme, em que se nega uma deiramente assumida e, quase sempre simplesmente
profunda transformação social e cultural unívoca, mas rejeitada. Contudo, dados recentes, reintroduziram a
sim respostas múltiplas decorrentes das dinâmicas discussão, dando consistência a velhas observações
locais a estímulos e novidades culturais, sociais e pro- efectuadas com bases empíricas discutíveis, mas que
vavelmente humanas que circulam em todo o espaço começam hoje a encontrar contextos fiáveis e bases
europeu, deixando, claramente, áreas parcial ou total- cronológicas seguras que impõem a sua reintegração
mente afastadas deste processo, muito possivelmente expurgada, é certo, do seu conteúdo teórico-cultural,
derivado das dinâmicas internas de cada grupo e região mas mantendo o seu espectro cronológico e material,
(Vander Linden, 2007, p. 346). O desmantelamento do contemporâneo das outras realidades Campaniformes,
já designado «Mito da uniformização Campaniforme» sem que ambas realidades se excluam.

60 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
Este conceito, apesar de ser uma construção cul- menores com um sentido de competição e ostentação
tural globalizante, baseou-se quase em exclusivo nas totalmente distinto. Como apontámos acima, a incapa-
evidências funerárias. Actualmente é, de igual modo, cidade intrínseca destes grupos gerarem novas formas
do contexto funerário que continuam a emergir os de coordenação social e política, impostas pelas limita-
escassos novos dados, caso do enterramento do Tholos ções técnicas e culturais, inviabilizará a consolidação
do Monte da Velha 1 (Soares, 2008), dos enterramentos da posição dominante de determinadas individualida-
do Tholos da Centirã 2 (Henriques et al, 2013), do enter- des, como vinha acontecendo, reconhecíveis através do
ramento da anta do Malhão, Alcoutim (Cardoso e Gra- controlo da circulação e consumo de materiais exóticos,
dim,2010) e, principalmente, cremos, do enterramento acabando por gerar a fissão dos grupos e o desmantela-
central de Bela Vista 5 (Valera, 2014). Assim, e na esteira mento do sistema ideológico que vinham estruturando
de outros (Valera, 2014, p. 102), cremos que o «Horizonte em seu proveito.
de Ferradeira» continuará a ser um conceito de índole Assim, neste momento, todo o sistema ideológico,
essencialmente funerária, enquadrado no processo de sustentáculo fundamental da estruturação social e
transformação profunda da sociedade que decorrerá agregação das comunidades neolíticas, tende a desapa-
ao longo da segunda metade do III milénio aC, como recer, tal como as suas representações, num verdadeiro
temos vindo a defender (Mataloto e Boaventura, 2009; movimento iconoclasta (Valera, 2015). Este facto dará
Boaventura e Mataloto, 2013), e que outras leituras passo, cremos, a uma sociedade onde a diferenciação
mais recentes têm vindo igualmente a reforçar e subli- será menos evidente e gerida num grupo de dimensão
nhar (Valera, 2015). bem menor, como tem ficado patente, segundo enten-
A segunda metade do III milénio aC terá conhecido, demos, nas múltiplas necrópoles da Idade do Bronze
então, o colapsar do sistema social e cultural que se escavadas no Sul de Portugal, quer de tipo tumular (Silva
desenvolveu e consolidou ao longo do milénio anterior, e Soares, 2009; Gomes, 2015), quer de tipo hipogeico
que se traduzirá na total obliteração e transformação (Alves, et al. 2010;Filipe, et al., 2013), nas quais os bens de
dos sistemas de povoamento e culturais neolíticos grande circulação desaparecem, por oposição à sua fre-
(Valera, 2014, p. 102). Se por um lado, na esteira deste quência nos finais do III milénio aC (Valera, 2015, p. 14).
último autor (Valera, 2015, p. 11), não cremos que as expli- Por outro lado, cremos que se devem juntar a estas
cações com base no Materialismo Histórico proporcio- razões internas, que originam uma transformação
nem uma explicação directa e completa para o colapso progressiva do Todo Social, razões exógenas, como o
a que se assiste, em primeiro lugar porque o ponto de processo migratório já apontado anteriormente ou os
partida assumido por aqueles que defendem este tipo eventos climáticos que parecem afectar esta região do
de explicações está, em nosso entender, pouco docu- globo durante a segunda metade do III milénio aC, o
mentado, por outro, cremos que as evidências do total designado «Bondevent 4. 2 kyr», que se traduzirá num
colapso e desmantelamento da cosmovisão neolítica e clima bastante mais seco (Bond, et al. 1997; Berglund,
da realidade que a materializava terá muito provavel- 2003; Mejías Moreno, et al. 2014). As leituras proporcio-
mente razões endógenas, como as próprias contradi- nadas pela análise antracológica do Médio Guadiana
ções internas das sociedades do Ocidente peninsular, vêm apontar no mesmo sentido, ao situar-se neste
incapazes de transformar as necessidades crescen- momento o início da Fase II de David Duque (2004,
tes de agregação e coordenação em novas formas de p.  756), que indica a consolidação de uma paisagem
estruturação política, de fundo estatal ou proto-estatal, mais xérica e humanizada.
que possibilitem uma nova ordem, inclusivamente do O impacto do «fenómeno Campaniforme» no Alen-
ponto de vista produtivo. A capacidade de agregação tejo Central deverá, então, ser enquadrado neste con-
e coordenação de trabalho conjunto, comunitário, que texto de profunda mudança, no qual será mais um
se vinha a desenvolver desde os meados do IV milénio indicador que um elemento de transformação, numa
aC, patente na monumentalização, de base claramente sociedade em plena mutação, após quase um milénio
simbólico-ideológica dos espaços da Vida e da Morte, de intensificação e consolidação. Será neste quadro
com a edificação de cada vez maiores e mais comple- onde os velhos monumentos megalíticos, que há muito
xos monumentos megalíticos, povoados fortificados e haviam perdido a sua função social (funerária) e ideo-
recintos de fossos, decai progressivamente, depois do lógica (agregação comunitária), parecem voltar a assu-
apogeu em meados do III milénio aC, focando-se unica- mir, em contextos concretos, estas funções, mas agora
mente nestes últimos, até desaparecer por completo no num quadro social e ideológico bem distinto, como de
seu último quartel, dando passo a uma nova realidade há muito vimos defendendo (Mataloto, 2005, 2006,
comunitária e grupal onde a necessidade e capacidade 2007, 2015). Todavia, de todo cremos que a reintegração
de agregação é muito menor, de que resulta uma pai- dos velhos monumentos megalíticos decorra de uma
sagem mais fragmentada, depois da fissão em grupos mera tendência «parasitária» (Valera, 2014, p. 102), mas

RUI MATALOTO  WE ARE ANCIENTS, AS ANCIENT AS THE SUN: CAMPANIFORME, ANTAS E GESTOS FUNERÁRIOS NOS FINAIS DO III MILÉNIO AC NO ALENTEJO CENTRAL 61
antes de um verdadeiro processo identitário gerado (Valera, 2014) e Quinta do Castelo 1 (Valera, et al. 2016),
pela cisão dos grupos, que carecem agora de novos ambos na região de Beja. Todavia, cremos que se não
«axis mundi» numa realidade cultural e ideológica em deve sobrevalorizar esta «individualização» da depo-
desmantelamento, onde as marcas do Passado funcio- sição funerária neste período, pois a mesma tem fre-
narão como «elementos âncora» no desenvolvimento quentes antecedentes na região, alguns claramente
de uma nova cosmovisão e ideologia. anteriores à disseminação dos traços materiais ineren-
Efectivamente, temos que afastar por completo tes ao «fenómeno Campaniforme» (Valera, 2012, p. 107).
velhas expressões devedoras de antigos paradigmas No mesmo sentido têm apontado diversos autores que
histórico-culturalistas que encaravam a chegada e dis- identificam verdadeiros panteões familiales, especial-
seminação do «Povo» Campaniforme como uma agres- mente no vale Médio do Tejo, com a necrópole de Valle
são às comunidades indígenas, «violando, destruindo, de Higueras (Bueno, et al. 2005, p. 71; Garrido, 2014, p. 93),
parasitando» os antigos sepulcros. com evidentes paralelos na necrópole de Guadajira, no
médio Guadiana (Hurtado e GarcíaSanjuán, 1994).
Efectivamente, a dispersão, quase omnipresença, das
2. ANTAS E ALENTEJO CENTRAL – PERSPECTIVAS Antas na Paisagem ondulada do Alentejo Central é pas-
DO TERRITÓRIO E DAS CONSTRUÇÕES sível de ter criado, especialmente em momentos muito
Há pouco mais de uma década falar de prácticas específicos, lugares estruturantes na mnemónica e
funerárias no III milénio no Alentejo era falar essencial- semântica paisagística de uma dada comunidade. Con-
mente de megalitismo, e mais em particular, de Antas, tudo, e como se procurará demonstrar, esta terá sido
com um ou outro tholos … muito mais rebuscada, imbricada e complexa do que à
Contudo, a realidade mudou bastante nos últimos primeira vista podemos entender, na justa medida em
anos, e hoje sabemos que o Megalitismo, mais mega que, se por um lado a reintrodução das Antas no dis-
menos mega, corresponde apenas a uma parte das curso identitário das comunidades se poderá relacio-
práticas funerárias utilizadas durante o III milénio, nar com a sua visibilidade e força telúrica, expressão
em particular num momento avançado, onde as mes- de uma real «litolatria», especialmente quando enten-
mas parecem conhecer um processo de diversificação didas face aos usos tardios de monumentos como os
(Valera, et al., 2014). «tholoi», eventualmente feitos em continuidade, por
Assim, ao analisar as práticas funerárias Campa- outro, a escolha de pequenos sepulcros, claramente
niformes em Antas, sabemos que estamos a tratar de mais discretos na «nossa» Paisagem, poderá indiciar
uma realidade muito particular, e de certo modo muito escolhas que vão para além da visibilidade tópica e geo-
peculiar, motivada por uma escolha concreta efectuada gráfica, desde o nosso ponto de vista.
por comunidades que as já não edificavam, ainda que Neste sentido, a reactivação de cada monumento,
alguns autores continuem a defender o oposto (Bueno, com o que cremos ser a sua reintrodução nos discur-
et al. 2005, p. 71). sos identitários de uma determinada comunidade, irá
Cremos então que poderá existir, para o território em para além de uma mera encenação monumental de
questão, uma leitura bem diversa sobre as utilizações visibilidade, mas deverá enraizar-se na criação, talvez
Campaniformes em Antas daquelas documentadas pela primeira vez com alguma clareza, de uma noção
em tholoi, monumentos que, como nos demonstram os de Passado Ancestral ligado a um dado território, que se
dados de Alcalar (Morán e Parreira, 2004, p. 139), conti- materializa num monumento, nem sempre o mais des-
nuariam a ser edificados por comunidades conhecedo- tacado e grandioso, antes aquele que melhor se coaduna
ras destas novas realidades transeuropeias. com os novos discursos, territórios e comunidades. Só
Assim, num momento em que o ritual funerário assim, cremos, se pode explicar a reactivação de peque-
parece caminhar para a individualização do conten- nos monumentos, em detrimento de outros de maiores
tor e do rito, continuam a edificar-se sepulcros de cariz dimensões.
colectivo, devendo-se, pois, matizar a sobrevalorização
daquela tendência.
A individualização do contentor funerário é, justa- 3. ANTAS COM CAMPANIFORME NO ALENTEJO
mente, um dos elementos transeuropeus do pacote CENTRAL: QUE METEMOS NO PACOTE?
Campaniforme, contudo, aqui manter-nos-emos ape- Esta é uma questão muito complexa, que certa-
nas nas utilizações Campaniformes de monumentos mente não esgotaremos, nem debateremos aprofunda-
megalíticos, ainda que nos últimos tempos tenham damente aqui, algo que temos vindo a fazer nos últi-
vindo a ser dados a conhecer casos concretos de enter- mos 10 anos (Mataloto, 2006, 2007, 2015a e 2015b).
ramentos em fossa com espólios enquadráveis no É claro que dificilmente poderemos reconhecer
grande «pacote Campaniforme», caso de Bela Vista 5 um «pacote Campaniforme» igual em todo o espaço

62 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
europeu, como mencionámos acima, contudo, há cer- 3. 1. antas do alentejo central com
tamente elementos, como a individualização do rito recipientes de tradição decorativa
funerário, alguns objectos metálicos, como os punhais «campaniforme»
ou as pontas de seta/lança, a metalurgia do ouro ou Os recipientes cerâmicos com decoração Campani-
mesmo alguns traços cerâmicos que parecem abranger forme foram documentados em escassos monumentos
uma vasta área transeuropeia. megalíticos no território alentejano, restringindo-se,
Assim, quando olhamos as utilizações Campanifor- tanto quanto está disponível, a dois únicos casos: Anta
mes em Antas vemos que, se nos cingirmos apenas às 1 das Casas do Canal (Leisner e Leisner, 1955) e a Anta de
presenças de «sinos e taças» com as típicas decorações, Bencafede (Cardoso e Norton, 2004)
teremos uma presença muito reduzida, e pouco tere- A anta 1 das Casas do Canal é, talvez, um dos
mos a analisar. Porém, quando registamos os diversos monumentos com utilização Campaniforme melhor
elementos metidos no pacote Campaniforme, a reali- conhecido, sendo de certo modo exemplar, quer pela
dade, como veremos, transforma-se. Efectivamente, o qualidade da informação, quer pela publicação relati-
«Campaniforme» sem «Campaniforme» é, também ele, vamente precoce da mesma (v. Fig. 1). Localiza-se em
quase que um traço comum no espaço europeu, onde plena serra d’Ossa, junto do sopé Norte, tendo sido
as múltiplas realidades locais absorvem, transformam intervencionado pelo casal Leisner em 1953, no âmbito
e manipulam partes dos conjuntos artefactuais englo- das escavações nas Herdades da Casa de Bragança (Leis-
bados no «pacote», segundo as suas próprias crenças ner e Leisner, 1955). Corresponde a um monumento de
e dinâmicas internas, gerando uma realidade muito média dimensão, em xisto, implantado numa pequena
mais variada, múltipla e complexa que a simples ima- rechã, numa vertente declivosa sobranceira a um dos
gem «clássica» do «povo» ou do metalurgista Campa- vales de acesso a uma das mais importantes portelas
niforme, como fica bem patente em recentes sínteses da serra.
transeuropeias (Prieto e Salanova, 2013; Prieto e Sala- A intervenção permitiu verificar que o corredor
nova, 2015). estava bloqueado por um conjunto pétreo sob o qual
Todavia, e como esperamos demonstrar, espera-nos estava boa parte das cerâmicas amortizadas (v. Fig. 1
ainda um longo caminho que nos permita identificar e 2). A acidez do solo impediu a conservação de quais-
com clareza as múltiplas realidades em que se mate- quer vestígios osteológicos, que se presume possam ter
rializa o processo de transformação cultural que parece existindo, ainda que tal não seja obrigatório. Como bem
acompanhar e derivar das novas ideologias dissemina- aponta C. Gibson para outros contextos, a deposição
das com os «ventos Campaniformes» … intencional destes recipientes poderia estar associada
Comecemos, então, a nossa análise pelas presenças à celebração de rituais e festividades de clausura de
mais tradicionais. antigos monumentos, que impunham o consumo, e tal-

FIG. 1 Planta e conjunto artefactual do uso Campaniforme da Anta 1 das Casas do Canal (Estremoz) (Adap. Leisner, 1955).

RUI MATALOTO  WE ARE ANCIENTS, AS ANCIENT AS THE SUN: CAMPANIFORME, ANTAS E GESTOS FUNERÁRIOS NOS FINAIS DO III MILÉNIO AC NO ALENTEJO CENTRAL 63
tes, a presença de uma deposição funerária em posição
similar, acompanhada de espólio semelhante, na anta
de Nossa Senhora da Conceição dos Olivais (Boaven-
tura, et al., np), escassos quilómetros a Norte, como se
verá, deixa entender que a tónica das mesmas deveria
ser primordialmente funerária.
As deposições cerâmicas associadas ao putativo
enterramento Campaniforme na anta 1 das Casas do
Canal eram compostas por um vaso Campaniforme
liso, uma grande taça com decoração incisa em gran-
des bandas e em cruz na base, seguindo modelos cla-
ramente devedores dos padrões típicos de contextos
mesetenhos. Para além destes vale a pena chamar
a atenção para a presença de um copo em tronco de
cone, com base plana que, como veremos, poderá vir a
ser um bom indicador de outras presenças contempo-
râneas (v. Fig. 1).
Todos eles estavam colocados no corredor, na transi-
ção para a câmara, mas no exterior desta, sob um con-
junto de pedras, como que respeitando o espaço dos
antigos, mas associando-se a eles (v. Fig. 2).
Como ainda recentemente se voltou a enfatizar,
esta deposição estaria, verdadeiramente, a bloquear
o acesso à câmara, como que num acto de clausura e
amortização do mesmo (Gibson, 2013, p. 90), acompa-
nhando uma tendência alargada no espaço europeu,
como teremos oportunidade de comentar.
A Anta de Bencafede, situa-se cerca de 30km a Sul da
FIG. 2 Fotografias da Anta 1 das Casas do Canal durante os trabalhos
de escavação (Arquivo Leisner) (Adaptado de Boaventura, et al., np). anterior, numa área aplanada, adjacente a uma linha
água, correspondendo a um monumento também de
vez partilha, de bens alimentares, que seriam parcial- média dimensão, em granito, e corredor curto (v. Fig. 3).
mente depositados no final dos mesmos (Gibson, 2013, Segundo os dados disponíveis foi documentada a
p. 95). Todavia, e ainda que reconheçamos que ambas presença de duas pequenas taças Campaniformes inci-
situações não têm por que ser mutuamente excluden- sas, recolhidas igualmente no corredor (Cardoso e Nor-

FIG. 3 Vista geral e detalhe do corredor da Anta de Bencafede.

64 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
ton, 2004, p. 131). As formas, com carena mais vincada,
parecem distinguir-se ligeiramente do mais usual na
região, remetendo, contudo, justamente, mais para con-
textos litorais. Todavia, a decoração incisa é claramente
devedora da tradição mesetenha.
O Megalitismo a Nascente de Évora encontra-se rela-
tivamente pouco conhecido, tendo sido objecto apenas
de identificações sumárias, pelo que pouco se poderá
adicionar, em particular por que estes registos resultam
de uma recolha pontual, não resultante de uma inter-
venção arqueológica alargada. Todavia, e ainda que se
localizem num contexto totalmente distinto, não cre-
mos despiciendo o facto de esta se localizar escassas
dezenas de quilómetros a Sul da anterior, numa envol-
vente alargada dos Perdigões, situado pouco mais de
20km a sudeste, ao longo de um caminho natural de
ligação ao Guadiana.

3. 2. estamos lisos: campaniforme não


decorado em antas do alentejo central
A tradição decorativa na cerâmica do III milénio aC
do Alentejo Central sempre se apresentou bastante
modesta, com índices inferiores a 1%, como foi pos-
sível constatar nas diversas ocupações do São Pedro
em Redondo (Costeira et al., 2013, p. 399), todavia, este
facto não deve retirar relevância e sentido estético-
-simbólico aos exemplares conhecidos, com gramáticas
decorativas bastante diversas, reveladoras de sentidos
simbólico-identitários que ainda nos escapam, mas
que importa assinalar. No que ao meio funerário diz
respeito, ainda que não exista uma clara sistematiza-
ção, cremos que as tendências são semelhantes, sendo
FIG. 4 Planta e conjunto artefactual Campaniforme da Anta
a cerâmica decorada relativamente residual em termos 1 de Vale Carneiro; Planta da Anta 4 dos Gorginos e «copo
quantitativos, e de elevado sentido simbólico. Inclusi- Campaniforme» (Reguengos de Monsaraz) (Adap. Leisner, 1951).
vamente estamos em crer que muitas das pequenas
formas carenadas com decorações incisas ou em relevo extenso de monumentos megalíticos do Alentejo Cen-
documentadas nos monumentos megalíticos alenteja- tral, mas que se tem vindo progressivamente a alargar
nos pertencem a momentos bem mais avançados que com a continuação dos trabalhos.
aqueles que aqui nos ocupam, mas deixemos essa refle- Na monografia do casal Leisner sobre o território de
xão para outro local. Reguengos de Monsaraz são reconhecidos dois casos,
Assim, é com alguma naturalidade que, assumindo a Anta 1 das Vidigueiras e a Anta 1 de Vale Carneiro
a integração das evidências de fundo Campaniforme (Leisner e Leisner, [1985] 1951, p. 303 e 261, respectiva-
por uma população local, verificamos a escassez de mente), ambos em bastante mau estado de conserva-
cerâmica com estas gramáticas decorativas no Alen- ção, tendo este último surgido na câmara do monu-
tejo Central, e mais em particular nos contextos mento (v. Fig. 4 e 5).
funerários. No entanto, é relevante assinalar o modo Estes dois sepulcros, no limiar da média dimensão,
como se têm vindo a multiplicar as presenças de for- com cerca de 3 m de diâmetro de câmara, situam-se
mas Campaniformes lisas nestes contextos, o que nos na margem direita da ribeira do Álamo, em área rela-
transporta para o binómio forma-função, sem que o tivamente aplanada, apresentando Vale Carneiro uma
elemento decorativo represente um papel relevante, posição que lhe permite uma visibilidade alargada, ao
aliás, como foi já devidamente assinalado (Bueno, et al. situar-se numa ligeira lomba no grande plaino. Cremos
2008, p. 147). relevante assinalar que se situam apenas a cerca de
As cerâmicas de inspiração Campaniforme não deco- 5km de distância entre si, e pouco mais a Sul do com-
radas foram documentadas num número não muito plexo dos Perdigões.

RUI MATALOTO  WE ARE ANCIENTS, AS ANCIENT AS THE SUN: CAMPANIFORME, ANTAS E GESTOS FUNERÁRIOS NOS FINAIS DO III MILÉNIO AC NO ALENTEJO CENTRAL 65
Na margem oposta da Ribeira do Álamo, numa baixa
discreta da ribeira da Pega, encontra-se o monumental
complexo da Anta 2 do Olival da Pega (OP2) (Gonçalves,
1999), no qual se documentou um enterramento acom-
panhado por um vaso Campaniforme liso, posicio-
nado no corredor, justamente adjacente à entrada da
câmara, e aparentemente em posição elevada face ao
solo da mesma, imediatamente sob as tampas do cor-
redor (Gonçalves, 2003, p. 302). Neste mesmo complexo
monumental outro enterramento parece remeter para
este momento concreto, OP2c, correspondendo a um
enterramento individual adjacente, pelo exterior, ao
corredor, a Sul, que comentaremos adiante (Gonçalves,
1999, p. 98). No corredor de OP2, que sabemos bloqueado
em determinado momento, justamente após as deri-
vações para OP2b e d, o enterramento acompanhado
pelo vaso Campaniforme liso constituirá um momento
antigo, prévio à construção dos tholoi, implicando para
tal uma data bastante tardia para a edificação dos
mesmos, que as datações radiocarbono parecem não
confirmar ou, antes, um momento de enterramento
adjacente aos antepassados mais antigos, rejeitando
o Passado imediato que os restantes monumentos
de falsa cúpula representavam? Este último aspecto, FIG. 5 Planta e conjunto artefactual Campaniforme da Anta 1 das
e atendendo ao que conhecemos na Anta 1 das Casas Vidigueiras (Reguengos de Monsaraz) (adap. Leisner, 1951).
do Canal e na Anta da Nossa Senhora da Conceição
dos Olivais, como veremos, parece ganhar significado, tardias destes sepulcros continuará ou será retomada já
buscando-se as raízes mais profundas, em contraposi- durante a «fase Campaniforme» ainda que esta forma
ção ao Passado imediato, com o qual se queria romper. e gramática decorativa estejam ausentes, mas não
Todavia, OP2 representa por si mesma, a par de outros outros indicadores que remetem para o «pacote Cam-
casos, como os tholoi da Farisoa e Comenda, um exem- paniforme», como se verá. Deste modo, cremos que a
plo maior da relevância que as construções do Passado afirmação de que apenas 3 a 5% dos sepulcros megalí-
parecem desempenhar ainda num momento relati- ticos terão sido reutilizados em momentos tardios do
vamente recuado do III milénio aC, mas então como III milénio aC no território alentejano (Gibson, 2013,
sustentáculo de uma matriz monumental ainda muito p. 98) nos parece manifestamente forçada e pouco
marcada nestas comunidades, como fica bem patente documentada, e diríamos mesmo excessivamente
na edificação de várias câmara sepulcrais colectivas arriscada quando conhecemos casos tão emblemáticos
adjacentes à câmara megalítica, algo que desaparecerá como a anta de Santa Margarida 3, onde as reutiliza-
por completo posteriormente, dando passo a usos indi- ções deste momento não deixaram vestígios materiais
vidualizados, ou apenas múltiplos, das antigas sepul- significantes (Gonçalves, 2003).
turas, como veremos em Santa Margarida 3, ou como Pouco mais que 20km para Poente da área de
poderá ser disso exemplo o designado enterramento Reguengos é conhecida uma outra ocorrência de um
P2/G11a, no próprio OP2b (Gonçalves, 1999, p. 96). vaso Campaniforme liso recolhido no âmbito da acção
O território de Reguengos de Monsaraz, apesar da de amadores que afectou um conjunto alargado de
sua extensa planície constituir uma das mais densas monumentos na envolvente de Évora, dando origem à
concentrações de sepulcros megalíticos, apresenta, designada «Colecção do Hospital». Segundo os dados
todavia, como se viu, um número reduzido de presen- disponíveis o recipiente Campaniforme liso (ME 7690)
ças directamente Campaniformes, mesmo tendo em (v. Fig. 6) teria sido recolhido na anta dos Cabacinhitos
conta que se trata de um dos territórios mais estudados (Mataloto, 2006, p. 98)2, que corresponde a um sepulcro
e escavados desde os meados do século XX. Contudo, e de média dimensão, localizado numa baixa adjacente
como os recentes trabalhos quer em OP2, Cebolinhos ao ribeiro de Quartos, sem que seja possível saber o
ou especialmente Santa Margarida 3 (Gonçalves, 2003), posicionamento exacto da deposição Campaniforme.
quer os decorrentes nos sepulcros dos Perdigões (Valera Mais a Norte, já depois de vencida a Serra d’Ossa e
e Godinho, 2009, p. 374) o demonstram, as utilizações no sopé do Anticlinal de Estremoz, vamos encontrar a

66 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
anta de Estremoz 7 ou da Nossa Senhora da Conceição Vista 5, mas também nos exemplares da Anta 1 de Vale
dos Olivais, a qual foi objecto de escavações em 1934 por Carneiro (v. Fig. 5) ou da fase mais recente do Monte
Manuel Heleno e de um estudo mais detalhado recen- do Outeiro (Schubart, 1965: Ab. 5) (v. Fig. 14: 5 e 10 ). Este
temente, que se encontra em vias de publicação (Boa- tipo de copo é merecedor, cremos, de um comentário
ventura et al. np), e no qual se baseiam as observações um pouco mais alargado no contexto das utilizações
aqui apresentadas. Campaniformes, o que pretendemos realizar no ponto
A anta de Nossa Senhora da Conceição dos Olivais seguinte.
(NSCO) implanta-se sobre ligeira elevação, situada na
base Anticlinal de Estremoz, com ampla visibilidade
para Poente, sendo mais restrita para Nascente onde
as elevações de Estremoz a limitam. Esta implantação
posiciona-a numa área de excelente transitabilidade
natural no sentido Este-Oeste, de ligação entre a bacia
do Guadiana e a do Tejo, permitindo aceder facilmente
à costa ocidental peninsular. Por fim, situa-se apenas
cerca de 10km a Norte da emblemática Anta 1 das Casas
do Canal.
Tal como neste caso, também a deposição do con-
junto cerâmico Campaniforme se encontrava no cor-
redor, adjacente à entrada da câmara, acompanhando
um enterramento de um indivíduo adulto do sexo
masculino (Rocha e Duarte, 2009, p. 767), em decúbito
lateral contraído que jazia sob um conjunto pétreo que
parecia, também aqui, bloquear o acesso ao espaço
sepulcral.
FIG. 6 Vaso Campaniforme liso da Anta dos Cabacinhitos ou
Os dois recipientes foram documentados, segundo Anta 2 da Loba (Évora) (adap. Mataloto, 2006).
Manuel Heleno, junto das ossadas no lado Norte do cor-
redor, sem que seja claro a que parte anatómica esta-
riam adjacentes. O mandatário dos trabalhos menciona
igualmente como a taça mais ampla continha no seu
interior o copo, seguindo aparentemente um padrão
ritualizado, tal como já se verificou na Anta 1 das Casas
do Canal (Leisner e Leisner, 1955, p. 7) (v. Fig. 2), mas tam-
bém em diversos outros casos num contexto espacial
alargado, o que nos faz supor a sua ligação a quadro
ritual «Campaniforme» mais vasto.
A grande taça 2015. 03. 01, (v. Fig. 8) desprovida de
decoração, assemelha-se bastante à taça Campani-
forme decorada da Anta 1 das Casas do Canal (v. Fig.  1),
mas com uma carena mais marcada e uma maior
extroversão do bordo, acompanhando a reconstituição
do exemplar da Anta 1 de Vale Carneiro (Leisner e Leis-
ner, 1951, [1985], Est. XII), já mencionado. Por outro lado,
ainda que se aproxime do exemplar da Bela Vista 5, este
apresenta uma carena ainda mais vincada e menor
exvasamento (Valera, 2014, p. 81).
O recipiente 2015. 03. 02 corresponde ao que podemos
designar de copo, de corpo cilíndrico, estreito e fundo (v.
Fig. 8). Ainda se encontra tal como saiu do campo, com
o conteúdo de terra. Sem que possamos apontar seme-
lhanças absolutas, é claro que se enquadra no mesmo
tipo de recipiente troncocónico que acompanha com
FIG. 7 Conjunto artefactual Campaniforme da Anta de Nossa
frequência estes enterramentos, caso dos já menciona- Senhora da Conceição dos Olivais (Estremoz) (seg. Boaventura
dos da Anta 1 das Casas do Canal ou da Fossa 1 da Bela et al., np).

RUI MATALOTO  WE ARE ANCIENTS, AS ANCIENT AS THE SUN: CAMPANIFORME, ANTAS E GESTOS FUNERÁRIOS NOS FINAIS DO III MILÉNIO AC NO ALENTEJO CENTRAL 67
deixando entender um longo o período em que os reci-
pientes de inspiração Campaniforme se mantiveram
em uso, tal como os usos a eles associados. Deste modo,
o ritual fúnebre indiciado pelas formas Campanifor-
mes e afins usualmente associadas parece ter decor-
rido num tempo excepcionalmente longo, abarcando
pelo menos toda a segunda metade do III milénio aC,
evidenciando uma notável estabilidade, em particular
quando, nos séculos anteriores, se notaram rápidas e
intensas mudanças de rituais e espólios funerários.
Será este um sinal de estabilidade, ou antes de um ata-
vismo típico dos pequenos grupos que procuram novas
fontes identitárias?Há que continuar a trabalhar.
FIG. 8 Aspecto do enterramento identificado no espaço do corredor Julgamos pertinente alertarmos para dois detalhes
da Anta da Nossa Senhora das Conceição dos Olivais (Arquivo importantes: primeiro, em trabalho anterior mencio-
Manuel Heleno, MNA) (Adap. Boaventura et al., np). námos a presença de uma taça decorada em Estremoz
7 ou Anta de Nossa Senhora da Conceição dos Olivais
O recipiente mais pequeno, 2015. 03. 03 (v. Fig. 8), é o (Mataloto, 2006, p. 97), o que é manifestamente incor-
que melhor se aproxima, no conjunto, do usualmente recto; em segundo, a atribuição por Bübner (1979) de
designado «vaso Campaniforme liso», ainda que se materiais Campaniformes a Estremoz 10/Anta 2 dos
apresente mais baixo, de bordo exvasado e com carena Oiteirões é incorrecta, como tentámos demonstrar em
mais vincada. Esta forma aproxima-se, em termos mor- trabalho anterior, apesar das confusões com um frag-
fológicos, da peça documentada na necrópole de Ferra- mento cerâmico (Boaventura et al, np).
deira, e que deu origem ao tão conhecido «Horizonte» Muito recentemente, Marco Andrade, a quem agra-
(Schubart, 1971), sendo igualmente próxima, mas menos decemos, deu-nos a conhecer a presença de um reci-
funda, da peça recolhida no tholos da Centirã (Henri- piente cerâmico de morfologia muito próxima às taças
ques et al., 2013: 342). Este recipiente, pelas suas dimen- Campaniformes lisas, proveniente da Anta do Mal
sões, afasta-se sensivelmente dos usuais vasos Campa- Dorme, situada escassos quilómetros a Poente da Anta
niformes lisos, bem documentados no centro e Oeste de Nossa Senhora da Conceição dos Olivais, o que vem
peninsular (Bueno et al., 2008, p. 147), aproximando-se, reforçar um contexto regional propenso à utilização
tal como o exemplar da Fossa 1 de Bela Vista 5 (Valera, destas formas em contextos funerários.
2014, p. 81), das formas carenadas que virão a caracte- Em território alentejano, mais a Norte ou mais a
rizar a Idade do Bronze. Este conjunto sepulcral pode, Sul, outras ocorrências de cerâmicas Campaniformes e
então, com alguma facilidade integrar-se no designado afins poderiam ser reportadas, contudo, julgamos mais
«Horizonte Ferradeira», evidenciando com notável cla- profícuo comentar as outras presenças usualmente
reza como existe uma estreita e fluida linha entre este associáveis a contextos Campaniformes, as quais pare-
conceito funerário e os rituais ditos «Campaniformes», cem ter uma aceitação maior, nomeadamente em con-
constituindo-se, claramente, como um marcado regio- textos aparentemente funerários ou rituais, associados
nalismo enquadrável no espectro de mutação que pre- a antigos sepulcros megalíticos. Comentemos, então,
sidiu a disseminação dos conjuntos materiais e ideoló- este Campaniforme sem Campaniforme, e as proble-
gicos associados às cerâmicas e metais Campaniformes. máticas inerentes ao «pacote».
Do enterramento associado aos materiais Campani-
formes da Anta de Nossa Senhora da Conceição dos Oli-
vais obteve-se a dataçãoWk-17089: 3758±36 BP (Rocha 4. «E O QUE LEVA NO PACOTE?»
e Duarte, 2009, p. 768), a qual, devidamente calibrada OUTROS «CAMPANIFORMES» EM ANTAS.
(2290-2030 cal BP, seg. Boaventura, 2009, an. 2: 11), per- O número de monumentos que conheceu um uso
mite enquadrá-lo no último quartel do III milénio aC. no qual a cerâmica com decoração Campaniforme esti-
Esta datação, a par das obtidas para o Ossário 1 do tholos vesse presente é, como se viu, relativamente limitado
da Centirã (Henriques et al., 2013: 347) e Fossa 1 da Bela e se nos ativermos apenas no território interior, onde
Vista (Valera, 2014, p. 33) permite enquadrar a utilização claramente a tradição decorativa Campaniforme teve
deste conjuntos materiais e preceitos funerários nos menor implantação, tais presenças são apenas ves-
finais do milénio, enquanto a data obtida em Monte da tigiais, em particular num momento em que se têm
Velha 1 (Soares, 2008: 47), enquadrada no terceiro quar- vindo a alargar bastante as presenças Campaniformes
tel, aponta para o seu início em momentos anteriores, que, não esqueçamos, se limitam sempre a escassas

68 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
dezenas recipientes em cada sítio, com a notável excep- Clarke (1968) que, todavia, e como bem o expressa o
ção, ainda sem explicação concreta, do caso de Porto Tor- «Horizonte de Ferradeira», expurgado dos conteúdos
rão (Arnaud, 1993; Valera e Filipe, 2004), em todo o caso histórico-culturalistas mais profundos, devem ser bem
bem mais a Sul e próximo do litoral que a região aqui enquadrados nas realidades e dinâmicas locais, por
em causa. forma a evitarmos que se transformem em objectos
Todavia, de há muito que mencionámos que a pre- «extra-culturais», com leitura unívoca e globalizante,
sença Campaniforme seria muito mais que as gramáti- como nos alerta Vander Linden, 2004, p. 33). Com isto
cas decorativas, a qual sempre teve pouca implantação cremos relevante reforçar como um conjunto de mate-
nas realidades alentejanas (Mataloto, 2006). Na reali- riais dispersos, utilizados separadamente, em contex-
dade, quando começamos a analisar as restantes com- tos sepulcrais também eles distintos, remetem para
ponentes do dito «pacote Campaniforme» rapidamente uma realidade em transformação, sendo indicadores
nos apercebemos que estas estão muito mais presentes dessa mesma transformação, sem que possam, por si
e dispersas pelo território alentejano, e bem documen- só, impor conceitos e leituras únicas, desgarradas dos
tadas em utilizações de monumentos megalíticos. contextos locais. Assim, é neste sentido que, se por um
Neste momento da investigação em que nos encon- lado estamos com este último autor ao assumir que,
tramos a nível europeu, em que se valorizam os particu- do ponto de vista funerário, a reutilização frequente de
larismos regionais, ainda que integrados num conceito sepulcros funerários anteriores é uma marca evidente
global (Czebreszuk, 2004; Prieto e Salanova, 2015), a ideia do que designa de 5.º grupo, a Península Ibérica (Van-
de «pacote/package», enquanto conjunto de prestí- der Linden, 2004, p. 40), por outro estamos longe de crer,
gio que transitava pelas elites europeias, introduzida como defende, que para o nosso território a incorpora-
há muito e num contexto muito distinto (Clarke, 1976; ção do conjunto de bens do «pacote Campaniforme»
Shennan, 1976), tem perdido a sua validade, por um lado represente apenas a adição de novos objectos no con-
ideológica, por outro enquanto conjunto artefactual texto das mesmas práticas restritivas e padronizadas
que se desloca, usa e ostenta enquanto tal, para ter uma de momentos prévios (Vander Linden, 2004, p. 39); con-
abrangência maior, enquanto conjunto artefactual de tudo, reconhecemos que para contextos mais litorais
cariz transeuropeu, que se modela, adapta e usa local- da fachada atlântica tal possa acontecer. Distanciamo-
mente de modo diferenciado em cada região, durante a -nos, igualmente, deste autor quando considera que a
segunda metade do III milénio aC. Ou seja, é uma agru- individualização da deposição funerária, quer seja em
pação de artefactos que, na realidade, não tem que fazer sepultura individual, quer seja em deposições isoladas
parte de um conjunto. Esta visão regionalista, como em monumentos antigos, como o designado «Hori-
resposta a uma anterior paneuropeísta segue a própria zonte Ferradeira» pressupõe, resulte de uma influência
visão política europeia, evidenciando como esta marca, cultural argárica, por contraponto a uma influência
indelevelmente, ou visivelmente, as grandes tendências europeia Campaniforme (Vander Linden, 2004, p. 41).
da investigação. Serão as novas tendências de expansio- Efectivamente, e como dados recentes têm vindo a
nismo migratório durante o III milénio aC resultado das reforçar, sempre existiram deposições individuais, ou
tendências políticas e sociais actuais? Certamente não múltiplas, neste território, e que o preceito de enter-
estarão completamente alheadas … ramento em sepulcro colectivo passava sempre por
Mas regressemos ao «pacote Campaniforme». Assim, uma deposição individualizada, por vezes com espólio
eliminada que está a sua existência enquanto conjunto próprio, como fica patente desde o IV milénio aC em
monobloco de prestígio, símbolo de elites, assumamos Sobreira de Cima (Valera, 2013). Perante isto, e sem que
que se trata de um conceito arqueológico, que procura influências forâneas possam ter deixado de exercer a
apenas, por facilitismo, agregar um conjunto de mate- sua presença, cremos que a individualização da depo-
riais cujos modelos, e por vezes artefactos, se dispersam sição funerária terá fortes raízes nas dinâmicas locais,
pelo território europeu contemporaneamente à cerâ- potenciadas por influxos externos, mas que cremos
mica Campaniforme, resultando o seu uso e dispersão não serem claramente argáricos, até porque anteriores.
das respostas dadas pelas diversas comunidades locais, E neste aspecto, a necessidade sentida de fazer deposi-
sem terem inerentes, obrigatoriamente, um contexto ções únicas, em locais específicos, como os acessos às
social comum, e uma panóplia artefactual concreta e câmaras sepulcrais, de enterramentos únicos deve ter
pan-europeia. jogado um papel relevante na valorização da individu-
Este discurso, no qual a própria cerâmica é dispensá- alização do enterramento.
vel, ou profundamente adaptável, sem que percamos a Esta longa introdução impõe-se pela necessidade,
noção de integração numa realidade material, e even- e dificuldade, de apreendermos quais os elementos
tualmente ideológica, distinta e transregional, remete que representam estas utilizações tardias dentro do
claramente para os designados grupos politéticos de III milénio aC dentro dos sepulcros megalíticos, e qual

RUI MATALOTO  WE ARE ANCIENTS, AS ANCIENT AS THE SUN: CAMPANIFORME, ANTAS E GESTOS FUNERÁRIOS NOS FINAIS DO III MILÉNIO AC NO ALENTEJO CENTRAL 69
o seu real enquadramento, na justa medida em que a de um punhal de rebites e um braçal de arqueiro do
maioria deles resultam de escavações antigas, pouco ou Monte das Cabeceiras 4, datado dos finais do III milé-
nada documentadas, ou de algumas mais recentes que nio aC (Valério, et al. 2016, p. 30; Monge Soares infor-
não foram, ainda, cabalmente publicadas. mação pessoal, que agradecemos), com uma datação
Os elementos metálicos, nomeadamente as ditas que sobrepõe largamente o intervalo da obtida no
«armas», que surgem agora pela primeira vez de modo enterramento da Nossa Senhora da Conceição dos
claro, caso das pontas «Palmela» e os punhais de lin- Olivais, de claro fundo Campaniforme, como se viu.
gueta, são dos mais facilmente associáveis a estas O caso de Humanejos vem, de alguma forma, reforçar
utilizações «Campaniformes» porque claramente e confirmar o interesse do clássico conjunto da Gruta
integradas no dito «pacote». Contudo, dados recentes IX ou das Redondas, no qual surge justamente uma
têm vindo a complexificar estas leituras. A presença destas alabardas, associada a 10 pontas Palmela e a
de uma alabarda de rebites, dita de tipo «atlântico», um recipiente Campaniforme liso (Natividade, 1901),
muito próxima tipologicamente da recolhida nas Baú- que de algum modo podemos assumir efectivamente
tas (Senna-Martínez, 1994), junto de um enterramento como um conjunto ainda do III milénio aC. Deste modo,
de Humanejos, na região de Madrid, datado do terceiro algumas realidades que usualmente se têm associado
quartel do III milénio aC (Blasco et al., 2016, p. 27) deixa à Idade do Bronze poderão ser já parcialmente contem-
entender que algumas realidades com preensão por porâneas das realidades Campaniformes, dificultando
rebites podem, de facto, enquadrar-se neste momento. a identificação concreta dos usos de sepulcros mega-
Usualmente integradas já na Idade do Bronze, a pre- líticos na segunda metade do III milénioaC. Estamos
sença de preensão por rebites começa agora tam- também conscientes, como já afirmámos em outros
bém a ser documentada no Ocidente peninsular em locais (Mataloto, 2006; 2007; Mataloto et al., 2015), da
momentos mais antigos, como indica o caso recente impossibilidade de tomarmos conhecimento e consci-
ência de todos os usos de sepulcros megalíticos nesta
cronologia, como o caso de Santa Margarida 3 nos deixa
claro (Gonçalves, 2003), especialmente num território
em que os vestígios ósseos se preservam bastante mal,
ou que foi objecto de intensivos trabalhos de escavação
dos quais não se preservaram os restos humanos, ainda
que mencionados (veja-se o caso da passagem do casal
Leisner pelo território de Reguengos de Monsaraz).
As pontas «Palmela» são os elementos do «pacote
Campaniforme» mais fáceis de identificar, e mais
amplamente disseminados, sendo característicos do
espaço peninsular, mas também do Sul de França ou
Norte de África (v. Mataloto, 2006, p. 87). Se não são
propriamente abundantes nos sepulcros megalíticos
do território centro alentejano, os trabalhos de Manuel
Heleno, especialmente na área de Montemor, permi-
tiram registar diversos exemplares em sepulcros de
dimensão variada (Rocha, 2005, p. 181), desde a pequena
sepultura 1 do Barranco da Fraga (Heleno, 1933, p. 29v)
à Anta 2.ª do Batepé (Heleno, 1935, p. 17), de dimensões
bem mais generosas (v. Fig. 9). Em Reguengos, apenas
o caso da anta do Duque é conhecido (Pina, 1961), ainda
que outras, aparentemente mais tardias existam, como
por exemplo na Anta 2 do Poço da Gateira (Leisner e
Leisner, [1985] 1951). Todavia, de Avis a Elvas, a monogra-
fia do casal Leisner (1959) deixa-nos vários exemplos, já
listados anteriormente (Mataloto, 2006), e entretanto
reestudados (Andrade, 2016). Igualmente em Reguen-
gos seria de mencionar ainda um exemplar de ponta
FIG. 9 Anta 2 de Batepé (Arquivo Manuel Heleno), excerto do de lança losangular associado ao enterramento indivi-
Caderno de Campo n.º 24, 1935, p.  17 (em baixo); Sepultura do
Barranco da Fraga (Arquivo Manuel Heleno), excerto do Caderno
dual de OP2c, situado sob a estrutura tumular, ao lado
de Campo n.º 11, 1933, p. 20v (em cima). da entrada do corredor do complexo funerário (Gonçal-

70 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
ves, 1999, p. 98). Ainda que se conheçam diversos casos
em que estas apresentam clara convivência com cerâ-
mica Campaniforme, de que os enterramentos da Pedra
Branca são exemplo maior (Ferreira et al., 1975) na sua
presença em monumentos megalíticos, ou mesmo, uma
vez mais, o notável caso da Gruta IX ou das Redondas
(Natividade, 1901), em associação a um vaso Campani-
forme liso, no nosso território parecem surgir isoladas
dos restantes elementos do «pacote Campaniforme»,
sendo apenas de realçar o já mencionado caso do
Assobiador, onde surgem duas (Leisner e Leisner, 1959;
Andrade, 2016). Aliás, por norma os diversos elementos
deste«pacote» têm uma presença de tipo único, sem que
se conheça, com clareza, algum caso de associação como
o que se pressupõe ser o conjunto por nós publicado do
Ervedal (Mataloto, 2006; Andrade, 2016), que assume
grande diversidade e homogeneidade, com um vaso liso,
um punhal de lingueta, três pontas «Palmela» e um bra-
çal de arqueiro (v. Fig. 10). Efectivamente, já L. Salanova
assinalava a raridade destes enterramentos com exten-
sas panóplias no Ocidente Europeu (Salanova, 2005,
p. 11), ainda que casos, mal conhecidos, é certo, como a
Gruta IX ou das Redondas (Natividade, 1901), Montela-
var, (Harrison, 1977), Ervedal (Mataloto, 2006) e Monte
do Outeiro (Schubart, 1971), mas igualmente outros
clássicos no Ocidente peninsular, como Cañada Rosal,
Montilla(Harrison, 1974, p. 82 e 86) ou Fuente Olmedo FIG. 10 Conjunto artefactual Campaniforme do Museu Paes Telles
(Delibes, et al. 2009) possam atenuar essa imagem. (Ervedal) (seg. Mataloto, 2006).
O braçal de arqueiro constitui mais um dos elemen-
tos transeuropeus do «pacote Campaniforme», com
uma ampla dispersão, especialmente na metade centro
ocidental e ilhas britânicas (Fitzpatrick, 2011, p. 103). No
entanto, é sabida a sua clara permanência em contex-
tos incontestavelmente da Idade do Bronze, como ficou
patente recentemente na necrópole de Vale da Telha,
em Aljezur, no qual surge na cista 12 (Gomes, 2015, p. 30),
aproveitando-se para fazer um interessante e completo
ponto da situação em Portugal, e no contexto europeu
(Gomes, 2015, p. 90). Neste balanço deixa-se algumas
leituras sobre prováveis tendências tipológicas e a sua
dispersão, no espaço e no tempo. Efectivamente pare-
cem existir tendências gerais que assinalam a predo-
minância do tipo estreito de lados romboides e apenas
duas perfurações na fachada atlântica, de onde desta-
camos os conhecidos exemplares de AmesburyArcher
(Fitzpatrick, 2011, p. 72). Contudo, não é clara ainda uma
seriação cronológica dos diversos tipos, nomeadamente
a proposta de M. V. Gomes que admite que os mais anti-
gos sejam mais largos e curtos, face aos mais típicos
Campaniformes idênticos aos de Amesbury (Gomes,
2015, p. 95). Em contraponto a esta proposta surge o
exemplar dos Godinhos, de pequena dimensão e rela-
tivamente largo (v. Fig. 11), associado a um vaso e uma FIG. 11 Conjunto artefactual da segunda utilização da Anta dos
lâmina de ouro, que deixa entender uma cronologia já Godinhos (Mataloto, et al. 2015).

RUI MATALOTO  WE ARE ANCIENTS, AS ANCIENT AS THE SUN: CAMPANIFORME, ANTAS E GESTOS FUNERÁRIOS NOS FINAIS DO III MILÉNIO AC NO ALENTEJO CENTRAL 71
avançada (Mataloto et al., 2015, p. 68). Recentemente que ser obrigatoriamente assim, pelo menos desde o
obteve-se a datação de um enterramento do Monte das ponto de vista cronológico.
Cabeceiras 4 associado a um punhal de rebites e um A presença de armas em contextos funerários de
braçal de arqueiro, mencionada acima, cujo intervalo se momentos tardios do III milénio aC foi recentemente
situava na transição do III para o II milénio aC (Valério associada, na região de Madrid, essencialmente à pre-
at al. 2016; Monge Soares, informação pessoal). sença de enterramentos masculinos (Blasco, et al., 2016,
No contexto do Alentejo Central, e ainda que a ima- p. 32), ainda que se conheçam excepções, caso dos enter-
gem genérica seja a presença de «braçais de arqueiro» ramentos femininos 1166 e 1701 de Humanejos, nos
em contextos megalíticos na fachada atlântica (Fitzpa- quais enterramentos femininos são acompanhados de
trick, 2011, p. 107) estes, ainda que presentes, não são punhais de lingueta e dos mais comuns punções, que
propriamente frequentes. Além dos já mencionados lhes estão usualmente associados (Blasco, et al. 2016,
exemplares da Anta dos Godinhos e da Anta Grande p. 24), demonstrando assim que algumas mulheres
do Zambujeiro (Soares e Silva, 2010, p. 127), é conhecida teriam reconhecimento suficiente para serem indivi-
a presença de dois outros provenientes da 4.ª Anta do dualmente agraciadas com espólios relevantes (Liesau,
Zambujeiro (Rocha, 2005, p. 181; Heleno, cad. 18, 1933, et al., 2015, p. 121). Os dados em regiões mais próximas
p. 28), os quais permanecem, infelizmente, inéditos. são escassos, no entanto, o caso do enterramento cen-
Julgamos importante realçar um estudo relati- tral de Bela Vista 5, feminino, ao qual se encontrava
vamente recente que vem afirmar, por um lado, a associado uma ponta «Palmela» e um punção (Valera,
importância ideológica da integração dos «braçais de 2014, p. 41), vai neste sentido e impõe cuidados acresci-
arqueiro» nas panóplias Campaniformes, por outro a dos a atribuições de género sem dados concretos. Toda-
relevância das conotações cosmológicas da sua pre- via, e se atendermos aos raros casos de panóplias, estas
sença, que vai bem além da sua importância enquanto parecem associar-se fundamentalmente a indivíduos
elementos funcionais ou de prestígio, antes como parte masculinos, aos quais seria relativamente simples atri-
da imagem idealizada dos antepassados, em enterra- buir funções «guerreiras», que viessem a dar origem às
mentos de claro sentido diferenciador (Fokkens, et al. bem conhecidas panóplias e representações das mes-
2008, p. 124), algo que no contexto alentejano importa mas em momentos avançados da Idade do Bronze. Con-
valorizar na sua associação a antigos sepulcros mega- tudo, lembramos uma vez mais a verdadeira imagem
líticos. Efectivamente, neste último estudo demonstra- «quixotesca» de alguns destes personagens (Mataloto,
-se como os escassos dados disponíveis impossibilitam 2006), num momento em que, ao menos no Ocidente
uma clara sustentação do seu uso como «braçais de peninsular, a realidade patenteada pelos recintos cer-
arqueiro», na justa medida em que surgem usualmente cados, sejam de altura e pedra, ou de planície com fos-
associados ao exterior do antebraço esquerdo (Fokkens, sos e muralhas de terra, estaria em colapso avançado,
et al. 2008, p. 116). No mesmo sentido apontam análises deixando entender a desaparição do contexto social e
recentes que deixam entender a sua utilidade enquanto humano que lhe deu origem, estando-se à beira de um
«amoladores» de objectos metálicos, sendo realçada novo paradigma que aqueles personagens, de algum
a sua presença frequente em conjuntos votivos com a modo, prenunciam e que se irá afirmar ao longo de boa
presença de armas cortantes de dois fios, punhais (Del- parte da Idade do Bronze, onde se passeiam «guerreiros
gado e Rish, 2006, p. 33). sem Guerra». A diferenciação que se começa a tornar
Os punhais de lingueta são escassos nos sepul- bem mais patente nos espólios funerários, não deve
cros megalíticos centro e alto alentejanos, ainda que toldar-nos a visão, apontando para clivagens sociais
alguns se conheçam neste território, mas de proveni- de índole política, quando permanece inexistente
ência dúbia, caso do exemplar do Ervedal (Mataloto, qualquer diferenciação do espaço habitacional. Neste
2006, p. 86) ou de povoados. O exemplar de um punhal sentido, e como afirmámos supra, as múltiplas necró-
de lingueta recolhido no interior de OP2b, junto do poles da Idade do Bronze escavadas no Sul de Portugal,
designado enterramento P2/G11a (Gonçalves, 1999, p. nas quais os bens de grande circulação desaparecem
96) assume-se como o único conhecido proveniente (Alves, et al. 2010; Felipe, et al., 2013; Silva e Soares, 2009;
claramente de um contexto sepulcral do III milénio Gomes, 2015), parecem subentender uma sociedade
aC, ainda que não possa ser directamente imputado relativamente igualitária, onde a diferenciação existe,
de megalítico. Outro caso conhecido é o da sepultura mas de todo não conseguimos vislumbrar clivagens
criada na Anta do Chão da Pereira, no qual surge um decorrentes de uma forte hierarquização, seja ela de
punhal, de tipologia desconhecida (Antunes, et al., base guerreira seja político-económica.
2003, p. 235), mas que importava apurar, ainda que seja Todavia, é neste contexto que o trabalho do ouro
genericamente remetido para a Idade do Bronze o que, surge pela primeira vez, associado principalmente a
como se viu em Monte das Cabeceiras 4, não tem por- elementos de adorno, muitas vezes simples lâminas

72 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
lisas apostas sobre tecidos, caso das 14 registadas no
monumento 2 dos Perdigões (Soares, et al., 2012, p. 120)
ou a da anta dos Godinhos (Mataloto, et al., 2015, p. 68)
(v. Fig. 11). Ainda que ambos sejam de ouro nativo, e que
surjam em contextos de reuso de antigos monumen-
tos funerários, é evidente o destaque do conjunto dos
Perdigões, pela sua dimensão, mas igualmente pela sua
associação a diversos elementos de adorno em marfim,
evidenciando a integração em amplas redes de circula-
ção de bens de prestígio; no entanto, não deixa de ser
significativo o facto de não estarem associados a um
indivíduo em concreto (Valera e Godinho, 2009, p. 374).
A pequena lâmina de ouro nativo torcida, de modo
helicoidal alargado como se tivesse sido enrolada FIG. 12 Fragmentos de lâmina de ouro recolhida na Anta Grande do
ligeiramente sobre base cilíndrica, recolhida no sepul- Zambujeiro (Évora).
cro dos Godinhos (Redondo) (v. Fig. 11) (Mataloto et al.
2015, p. 68), insere-se genericamente no mesmo tipo de existir igualmente uma perfuração. A utilização destes
adornos simples, certamente apostos sobre materiais motivos Campaniformes não deixa de ser relevante
perecíveis, que se documentaram nos Perdigões e em numa região onde o gosto pelos mesmos parece ser tão
diversos contextos peninsulares, associados a enter- escasso. As lâminas recolhidas nos monumentos de 4
ramentos tardios dentro do III milénio aC em espaços e 11 Alcalar, decoradas com um reticulado e triângulos
sepulcrais ancestrais, com ocupações claramente Cam- recortados4, parece apontar no mesmo sentido, igual-
paniformes, como a necrópole hipogeica da Quinta do mente numa área onde as gramáticas Campaniformes
Anjo (Soares, 2003, p. 138) ou a gruta da Verdelha dos são escassamente documentadas, deixando entender
Ruivos (Zbyszeweski, et al., 1981). Neste aspecto seria que o seu valor simbólico-ideológico vai muito além das
ainda relevante mencionar, pela sua proximidade ao cerâmicas, podendo mesmo deixar entender que a sua
território actualmente português, o enterramento presença nas cerâmicas derive dos modelos transmiti-
efectuado no corredor do túmulo de Juan Ron (Bueno, dos pelo alto valor simbólico inerente a estes elementos
et al., 2005, p. 70), situado na região de Alcântara, onde de prestígio. Outros exemplos são conhecidos no Sudo-
se registou uma deposição de um vaso Campaniforme este peninsular, atendendo a síntese recente (Murillo-
liso e uma taça de fundo em ônfalo associadas a uma -Barroso, 2016), onde fica bem patente a presença des-
pequena chapa de ouro. tas gramáticas claramente Campaniformes em outras
Importa aqui trazer à colação os dados de Camino de lâminas de ouro presentes em sepulcros, caso de Matar-
Yesseras, Madrid, no qual, ainda que não tenham sido rubilla (Murillo-Barroso, 2016, p. 297), entre outros. Na
documentadas armas, surge um importante conjunto esteira desta autora, cremos poder ser relevante assina-
de elementos de adorno em ouro, considerados aqui lar, igualmente, o modo bastante degradado como nos
como evidentes elementos de ostentação, por oposi- chegaram os fragmentos da lâmina deste monumento,
ção às armas, símbolos de coerção (Blasco e Ríos, 2010, indiciando, segundo se tem proposto, uma destruição
p. 365). Este caso deve, então, alertar-nos para um sis- intencional e simbólica destes elementos de alto valor
tema social que valoriza de modo diferenciado elemen- intrínseco e simbólico (Murillo-Barroso, 2016, p. 308);
tos considerados de prestígio, ainda que seja prudente é claro que esta perspectiva esbarra facilmente no
manter alguma reserva sobre as variações regionais, na grande número de elementos de ouro que tem vindo a
justa medida em que são bem conhecidas as associa- ser registado sem qualquer problema, em particular os
ções de ouro a armas, caso da sepultura da Quinta da grandes diademas, com múltiplos exemplos.
Água Branca (Vila Nova de Cerveira) ou o clássico caso Para além deste elemento em ouro, na Anta Grande
de Fuente Olmedo (Guerra Doce, 2014). do Zambujeiro os indícios da presença de utilizações
As duas pequenas placas de ouro da Anta Grande tardias são escassos, ainda que se tenha levantado a
do Zambujeiro3 evidenciam claramente as gramáticas possibilidade do monumento ter sido palco de com-
decorativas associadas ao mundo Campaniforme, com plexos e intensos rituais, que implicaram a amortiza-
uma banda dupla de linhas quebradas em espinhado ção de uma pequena parte do conjunto votivo numa
marginada por uma banda em reserva de cada lado (v. fossa registada na área de acesso, datada justamente
Fig. 12); no topo conservado surgem duas perfurações da segunda metade do III milénio aC (Soares e Silva,
para preensão, provavelmente sobre um suporte têxtil; 2010, p. 100), deixando entender que o monumento
no segundo fragmento, menos bem conservado, parece estava socialmente activo, talvez já não como espaço

RUI MATALOTO  WE ARE ANCIENTS, AS ANCIENT AS THE SUN: CAMPANIFORME, ANTAS E GESTOS FUNERÁRIOS NOS FINAIS DO III MILÉNIO AC NO ALENTEJO CENTRAL 73
sepulcral, ou que o foi apenas pontualmente, mas prin- plares de adornos corporais, por outro mais um dos indi-
cipalmente como área monumental e sagrada. Cremos cadores da circulação a larga distância destes modelos
que a presença da lâmina de ouro, o braçal de arqueiro, e mesmo adornos. Neste sentido, cremos que o caso do
que mencionaremos, e o espantoso colar de âmbar, cujo «arqueiro de Amesbury», que se fazia acompanhar de
estudo temos em preparação, e que se poderá associar dois exemplares do tipo «Atlântico C», nos deve alertar,
a esta fase, poderão ter estado associados a um enter- com clareza, para a mobilidade não apenas dos bens e
ramento extraordinário, o qual poderia ter reactivado o dos modelos a larga distância, mas também das pessoas.
sentido simbólico e agregador do monumento, que se O exemplar de Estremoz ao inserir-se no designado
materializaria não apenas neste, mas igualmente na tipo «Atlântico A» evidencia claras similitudes com
realização de rituais no seu exterior, que implicaram a modelos e padrões decorativos bem presentes nas ilhas
manipulação e amortização de artefactos dos antepas- britânicas (Needham, 2011, p. 135) reforçando, de algum
sados em fossa elaborada à entrada. A erecção da Estela modo, a ligação dos contextos regionais com realidades
II, aparentemente já na Idade do Bronze (Soares e Silva, de grande circulação. A presença Campaniforme, atra-
2010, p. 102) parece dar a entender a manutenção deste vés dos diversos elementos que se disseminam pelo
carácter em momentos mais tardios. território peninsular durante boa parte da segunda
Um outro elemento em ouro descoberto no Alen- metade do III milénio aC, permite registar, para a área
tejo Central, ainda que de proveniência desconhecida, e tema em análise, os usos tardios de sepulcros mega-
mas que nada obsta a que possa ter provindo de um líticos no território centro alentejano, assumindo uma
sepulcro megalítico, dos muitos que foram de há muito relevância insuspeita se nos ativermos apenas às cerâ-
espoliados, nos reporta para as fortes ligações atlânti- micas com decoração Campaniforme, as quais, como
cas existentes neste período, ajudando a abrir bastante temos defendido, nem mesmo nas realidades de fundo
as perspectivas, que outros produtos, como âmbar ou o habitacional têm uma forte aceitação (Mataloto et al.,
marfim já indiciavam, mas para paragens mais medi- 2015b). Todavia, e que como desde sempre tem sido
terrâneas. Trata-se do dito brinco de Estremoz5, even- usualmente aceite, a presença de uma baixela Cam-
tualmente acompanhado do diadema com o qual foi paniforme, relativamente padronizada, com um vaso,
adquirido (v. Fig. 13). O brinco insere-se num modelo de decorado ou não, e uma grande taça parece responder,
jóia bem documentada na área atlântica europeia, em com alguma clareza, a um ritual de consumo em con-
geral associada a momentos tardios do III milénio aC, texto funerário, tal como foi proposto para outras regi-
constituindo, por um lado, um dos mais antigos exem- ões (Delibes et al. 2009, p. 595). No entanto, na região
ocidental do território peninsular, ao invés da grande
taça simples, que usualmente acompanha os recipien-
tes Campaniformes (Vaso e Taça) nos conjuntos mese-
tenhos, começa a verificar-se a presença frequente de
um «copo» troncocónico liso (v. Fig. 14), que fará parte
desta baixela padronizada inerente a um ritual funerá-
rio de consumo de líquidos, eventualmente cerveja ou
hidromel, como proposto para a realidade mesetenha
(Delibes et al., 2009, p. 597; Garrido Peña, 2014, p. 98).
Cremos que estes recipientes de tipo «copo» devem
começar a ser valorizados por si mesmos enquanto
indicadores desta fase, pela sua sistemática associação
a utilizações tardias, nas quais surgem, por vezes, como
elementos cerâmicos únicos, como acontece no sepul-
cro dos Godinhos (Mataloto et al., 2015: 68) (v. Fig. 11).
Estes «copos» desde cedo que começaram a ser iden-
tificados em associação a conjuntos típicos do Campa-
niforme, nomeadamente na Gruta IX ou das Redondas
(Natividade, 1901, Est. XXI n.º 176) (v. Fig. 14, n.º 6) ou do
designado «Horizonte Ferradeira», como acontece no
estrato superior do monumento de falsa cúpula do Monte
do Outeiro (Schubart, 1971, fig. 5g) (v. Fig. 14, n.º 5 e 10).
Nos últimos anos não apenas temos vindo a regis-
FIG. 13 Pendente de tipo Ermegeira ou «Atlântico A» (Needham,
2011) proveniente da área de Estremoz. Foto: http://www. matriznet. tar a sua presença em contextos bem datados, caso de
dgpc. pt. Bela Vista 5 (Valera, 2014, p. 42, fig. 2) (v. Fig. 14, n.º 1), mas

74 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 14 Copos cónicos do «pacote Campaniforme»: 1 – Bela Vista 5; 2 – Anta 1 de Vale Carneiro; 3 – Anta 4 dos Gorginos; 4 – Anta dos Godinhos;
5 – Tholos do Monte do Outeiro; 6 – Gruta IX ou das Redondas; 7 – Anta 1.ª de Bertiandos; 8 – Anta de Nossa Senhora da Conceição dos Olivais;
9 – Anta 1 das Casas do Canal; 10 – Tholos do Monte do Outeiro; 11 – Copo com decoração campaniforme da Quinta das Lapas.

também em escavações antigas e recentes em diversos apontados, mas principalmente por fazer parte de um
monumentos megalíticos alentejanos, como alguns excepcional achado, que se fazia acompanhar de outros
dos que temos vindo mencionar, caso da Anta 1 de Vale elementos de fundo «Campaniforme», como a grande
Carneiro, onde acompanhava, como vimos, uma grande taça carenada ou a ponta «Palmela». Por outro lado,
taça Campaniforme lisa (Leisner e Leisner, [1985] 1951, resulta de extrema importância, pela raridade desta
Est. XII, II) (v. Fig. 4 e 14, n.º 2) ou o exemplar da Anta dos informação, que se encontravam associados a um
Gorginos 4 (Leisner e Leisner, [1985] 1951, Est. XII, IV) (v. enterramento feminino, com uma cronologia dentro
Fig. 14, n.º 3. do último quartel do III milénio aC, estatisticamente
O exemplar do enterramento da Fossa 1 de Bela Vista indiferenciável da obtida para a anta de Nossa Senhora
5 (Valera, 2014, p. 42) assume particular interesse, não da Conceição dos Olivais, onde se registou outro destes
apenas pela clara similitude aos diversos exemplares exemplares (v. Fig. 14, n.º 8), que nos permite situar, com

RUI MATALOTO  WE ARE ANCIENTS, AS ANCIENT AS THE SUN: CAMPANIFORME, ANTAS E GESTOS FUNERÁRIOS NOS FINAIS DO III MILÉNIO AC NO ALENTEJO CENTRAL 75
FIG. 15 Elementos do «pacote Campaniforme» em Monumentos funerários do IV/III milénio aC no Alto Alentejo: 1 – Anta do Assobiador.
2 – Anta 1.ª do Garcia; 3 – Barranco da Fraga; 4 – Anta do Monte de Cima; 5 – Anta 2.ª do Batepé; 6 – Anta 1.ª de Bertiandos; 7 – Anta 3 do Vidigal;
8 – Anta da Fuletreira; 9 – Anta Grande do Zambujeiro; 10 – Anta da Nossa Senhora da Conceição dos Olivais; 11 – Anta 1 das Casas do Canal;
12 – Anta dos Godinhos; 13 – Anta 2 do Barrocal; 14 – Anta da Torre das Arcas; 15 – Anta dos Cabacinhitos/2 da Loba; 16 – Anta de Bencafede;
17 – Perdigões; 18 – Anta 1 das Vidigueiras 19 – Anta 1 de Vale Carneiro; 20 – Anta 4 dos Gorginos; 21 – Anta do Duque; 22 – Anta 2 do Olival
da Pega.

alguma certeza, a presença destes «copos» em contex- eventualmente, como propôs C. Gibson (2013, p. 90),
tos funerários nesta cronologia. corresponder a momentos de clausura e amortização
Temos vindo a registar a sua presença em outros dos monumentos, algo com qual não estamos comple-
contextos que merecem, ainda, trabalho específico, tamente de acordo.
caso do exemplar da anta 1.ª da Aldeia de Bertiandos Este tipo de «copos» encontra-se, cremos, escassa-
(v. Fig. 14, n.º 7) (informação de Marco Andrade, que mente documentado com decoração tipicamente Cam-
agradecemos), onde apareceu num nicho do lado Sul da paniforme, mas existem alguns exemplares, caso do
câmara, segundo Manuel Heleno (Heleno, 1933,cad. 16, proveniente da Quinta das Lapas (Gonçalves, 1992, p. 253)
p. 31); ou ainda o caso do exemplar da Anta 1.ª da Gar- (v. Fig. 14, n.º 11), o qual, de alguma forma, reforça a asso-
cia, surgido na câmara, onde igualmente se recolheu ciação desta forma a um contexto ritual Campaniforme
uma ponta Palmela (Heleno, 1934,cad. 22 p. 12). Recen- típico dos finais do III milénio aC. Outros vasos com deco-
temente foi documentada a sua presença na sepultura ração Campaniforme incisa, mas de carena muito baixa,
individual 9240 de El Seminário, Huelva, na qual surge como um exemplar proveniente da Quinta do Anjo (Soa-
associada a um punhal de lingueta (Martínez e Vera, res, 2003, p. 122), parecem igualmente remeter para este
2014, p. 24). Contudo, mais interessante nesta região de tipo de forma, estabelecendo, talvez, alguma forma de
Huelva, e igualmente mencionado por estes investiga- filiação. Ainda que a mais óbvia filiação destes «copos»
dores (Martínez e Vera, 2014, p. 33), é o caso do tholos se possa encontrar nos «copos canelados» não cremos,
de El Moro em Niebla, no qual um destes copos lisos, de todo, que as duas realidades se toquem, quer pelo
com uma pequena taça de fundo em ônfalo deposi- desfasamento cronológico, quer geográfico, parecendo
tada no seu interior (Piñon Varela, 2004, p. 104 e 106), esta uma forma que emerge no Sudoeste peninsular
foi recolhido na transição do corredor para a câmara, no âmbito das mutações culturais e técnicas decorren-
numa posição muito próxima à documentada nos tes nos finais do III milénio aC no Sul peninsular, e que a
diversos casos mencionados acima, o que poderá estar introdução do Campaniforme acompanha.
a remeter para um preceito ritual extensível a regiões Perante o conjunto e a diversidade de dados arrolado
bem mais vastas, tendo subjacente a valorização dos sobre as presenças de elementos do «pacote Campani-
espaços ancestrais, como o respeito pelos mesmos ou, forme» depositado nos monumentos megalíticos, ou

76 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
mais amplamente funerários, do IV e III milénio aC no recentemente (Desideri et al., 2010; Garrido, 2014, p. 100).
território centro alentejano fica claramente patente Este processo deve ser encarado em termos europeus
que o papel desempenhado pela típica gramática deco- com deslocações progressivas, onde a pressão de Leste
rativa cerâmica teve escassa implantação na região, o poderá desencadear processos subsequentes de des-
que não obsta a que os preceitos e mesmo rituais usual- locação de populações. Este quadro, cremos, mais que
mente associados a esta não tenham estado presentes e desencadear o colapso que se reconhece na segunda
sido interiorizados pelas comunidades locais (v. Fig. 15). metade do III milénio aC, irá facilitar as deslocações e
Neste sentido, tal como se constatou em regiões nucle- as alterações conceptuais, rituais, sociais e territoriais
ares do fenómeno Campaniforme, como a região de que se têm vindo a reconhecer.
Madrid, a presença dos característicos recipientes não Nesta medida, cremos que, ao menos para o terri-
estava, obrigatoriamente, associada a enterramentos tório do Alentejo Central, as utilizações funerárias de
com espólio votivo claramente diferenciado, nomea- antigos monumentos megalíticos deverão ser clara-
damente com armas e/ou elementos áureos, os quais mente integradas neste contexto de transformação
convivem perfeitamente em termos espaciais e cro- e abandono das velhas cosmogonias, representando,
nológicos com outros onde a típica cerâmica está pre- cremos, não um movimento atávico, conservador ou
sente (Liesau, et al., 2015, p. 120). Neste sentido, julgamos de resistência (Bueno, et al. 2005, p. 70; Gibson, 2013,
bastante relevante assinalar que nos finais do III milé- p. 102; Aranda Jiménez, 2015, p. 136), mas antes um
nio aC se disseminam ideias, pessoas e preceitos, que verdadeiro momento de refundação ideológica e cos-
se estendem bastante além da simples disseminação mogónica onde se desenrola não apenas a simples
de um estilo decorativo, e que se vão entrosar com os veneração de antepassados, como se cria esse mesmo
interesses e motivações locais, dos quais resultam res- Passado (Mataloto, 2006; 2007). Este processo será, em
postas variadas, entre o profundo localismo e o cosmo- boa medida, revestido de um forte localismo no qual,
politismo preconizado por certos modelos e preceitos. os novos grupos, de menor dimensão, construirão
Cremos ser neste quadro que temos, então, que procu- um Passado Novo, à sua medida, onde os elementos
rar as respostas colocadas pelas utilizações funerárias externos, nomeadamente com forte sentido ideoló-
de antigos sepulcros megalíticos. gico, como muitos componentes do «pacote Campani-
forme», serão integrados num novo discurso identitá-
rio. Neste sentido, a escolha dos velhos monumentos
5. ANTAS, CAMPANIFORME E A FALTA DELE: para a deposição de enterramentos individuais cum-
SOCIEDADE E DISCURSOS IDENTITÁRIOS prirá critérios bem diversos, que têm de ser lidos
NOS FINAIS DO III MILÉNIO AC localmente, estando bem longe da linear escolha dos
Como se afirmou acima, a segunda metade do III sepulcros de maior monumentalidade e muito menos
milénio aC conheceu um longo e profundo processo de resultará da edificação de novos (Bueno et al., 2015, p.
transformação da estruturação social, que poderíamos 71), algo que queremos ser de afastar em momentos
apelidar, sem grandes problemas, cremos, de colapso mais avançados do III milénio aC, onde outras arqui-
da cosmovisão neolítica, como A. C. Valera (2015) vem tecturas se impõem, por vezes integrando – numa
propondo. Não conseguimos deixar de ver uma verda- tentativa também ela legitimadora? –e reorganizando
deira clivagem mental com o Passado comum imediato, velhas estruturas tumulares megalíticas, como acon-
que se materializa no abandono total das antigas ocu- tece, de forma excepcional, no complexo sepulcral da
pações fortificadas, mas igualmente de fossos, tenham Anta 2 do Olival da Pega (Gonçalves, 1999).
elas origens habitacionais, reforçadas ou não por prin- Como parece ter ficado patente ao longo da des-
cípios estruturais cosmogónicos e simbólicos. crição apresentada sobre os elementos do «pacote
Por outro lado, será este período que parece assistir Campaniforme» em sepulcros essencialmente centro
ao intensificar das ligações a larga distância, à mobi- alentejanos, cremos que as deposições funerárias, ou
lidade inter-regional e, eventualmente a movimentos outras utilizações deste período, parecem corresponder
migratórios a nível europeu. Estes, propostos de há essencialmente a momentos únicos, nas quais se adi-
muito com base em dados antropológicos (Gruppe, et ciona significado a cada um deles, reintegrando-os nos
al. 1997) e mais recentemente genéticos (Cassidy, et al. discursos identitários, representando, em nossa opinião,
2016), mesmo que tenham implicado a substituição não o encerramento e clausura do mesmo (Gibson, 2013,
alargada de populações devem ter sido feitos através de p. 88), mas a reactivação através da criação de novos
um período de tempo longo, através de pequenos gru- significados que procuram o enraizamento das novas
pos de índole familiar, com capacidade para se ir adap- comunidades colocando os seus Antepassados junto
tando e integrando, como propõem aqueles primeiros destes marcos de ancestralidade. Cremos ser bastante
autores, que têm vindo a ser seguidos por outros mais relevante que, nos casos que melhor conhecemos, caso

RUI MATALOTO  WE ARE ANCIENTS, AS ANCIENT AS THE SUN: CAMPANIFORME, ANTAS E GESTOS FUNERÁRIOS NOS FINAIS DO III MILÉNIO AC NO ALENTEJO CENTRAL 77
de Nossa Senhora da Conceição dos Olivais (Boaventura, NOTAS
et al., np) ou nos casos de OP2 (Gonçalves, 1999), estes 1. Primeiros versos de Children Of The Sun, Anastasis, Dead Can
indivíduos não sofreram mobilizações ou reduções, Dance, 2012
ao invés do que usualmente acontecia em momentos 2. Actualmente, no inventário on-line do Museu de Évora (http://
www. matriznet. dgpc. pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.
anteriores, permanecendo aparentemente intactos,
aspx?IdReg=20202, consultado a 5/2/2017) esta peça encontra-se
como que ritualmente invioláveis, verdadeiros elemen- atribuída à Anta 2 da Loba, contudo, quando efectuámos a
tos fundadores intocáveis. Um caso que pode revelar a investigação para um trabalho anterior, quando ainda não
componente ideológica e ritual inerente a estas deposi- existia inventário actualizado do museu, fomos informados da
ções foi o documentado em Bela Vista 5. Ainda que não sua proveniência da Anta dos Cabacinhitos, o que efectivamente
coincidia, cremos, com a sigla CBC-73 aposta num dos fragmentos,
corresponda a um enterramento em contexto megalí-
sem que outras tivéssemos notado. Deste modo, mantemos a
tico, a deposição da fossa 1 de Bela Vista 5, cronológica
atribuição a Cabacinhitos, esperando averiguar as razões da
e culturalmente associável a estes contextos, apresenta sua atribuição à anta 2 da Loba, o que aproximaria bastante
uma «curiosidade» bastante reveladora: a manipulação a sua origem da Anta de Bencafete, na qual se recolheram os
de elementos ósseos do corpo e a reorganização dos recipientes decorados.
mesmos mantendo a aparência de articulação, como se 3. http://www. matriznet. dgpc. pt/MatrizNet/Objectos/
ObjectosConsultar. aspx?IdReg=13174
fosse determinante manter a imagem de integridade
4. http://www. matriznet. dgpc. pt/MatrizNet/Objectos/
corporal, bastante longe, portanto, das reduções dos ObjectosConsultar. aspx?IdReg=110119
momentos anteriores … 5. http://www. matriznet. dgpc. pt/MatrizNet/Objectos/
A criação de Passado, derivada, em nosso entender, ObjectosConsultar. aspx?IdReg=110128
da necessidade de construção de novos processos iden-
titários, na sequência do colapso social e ideológico
BIBLIOG RAFIA
ocorrido ao longo da segunda metade do III milénio
ALBERGARIA, J. (1998) – Recipientes cerâmicos campaniformes
aC, que terá produzido uma Paisagem «dehistoricized»
recolhidos no povoado dos Perdigões. Revista Portuguesa de
(Lemaire, 1997, p. 16), conduzirá à necessidade de reac- Arqueologia. Lisboa. 1:1, p. 105-119.
tivação de alguns sepulcros megalíticos, como «lieux ALVES, C.; COSTEIRA, C.; ESTRELA, S.; PORFÍRIO, E.; SERRA, M.; SOARES,
de mémoire» (Nora, 1989), transformados em verdadei- A. M.; MORENO-GARCÍA, M. (2010) – Hipogeus funerários do
ros Monumentos, construindo estes «locais-âncora» Bronze Pleno do Sudoeste da Torre Velha 3 (Serpa, Portugal).
da Paisagem em torno do sepultamento de um Ante- O Sudeste no Sudoeste? Zephyrus. LXVI, p. 133-153.
passado, assumindo que «…the presence of ancestors ANDRADE, M. (2016) – Intervenções de Manuel de MattosSilva
symbolically confirmed the domestication of the envi- no Megalitismo da áreade Avis. 1: as Antas de São Martinho
e Assobiador (Maranhão). Revista Portuguesa de Arqueologia.
ronment, often functioning as territorial markers and
Volume 19, p. 41–62.
stressing the durability of man’s dwelling in the lands-
ANTUNES, A.; MARTINS, A.; VILHENA, J.; VÍRSEDA SANZ, L.;
cape.», sendo justamente por isto que novas popula- CORREIA, S. (2003) – Intervenções de salvamento na área
ções, com frequência «when settling in a new environ- a afectar pelo regolfo de Alqueva: antas da bacia do Degebe.
ment , incorporated the burial monuments of ancients In GONÇALVES, V. S. (ed.) – Muita gente poucas antas? Origens,
habitants in their own spatial ordering…» (Lemaire, espaços e contextos do Megalitismo. Actas do II Colóquio
1997, p. 12). Internacional sobre Megalitismo. Lisboa: Instituto Português
de Arqueologia, p. 227-250.
Assim,quando nos finais do III milénio aC a presença
ANTUNES, A.; MARTINS, A.; VILHENA, J.; VÍRSEDA SANZ, L.; CORREIA,
de Exotica confirma a intensificação das ligações de
S. (2003) - Intervenções de salvamento na área a afectar pelo
comunidades a longa distância, e a deslocação, a nível regolfo de Alqueva: antas da bacia do Degebe. In GONÇALVES, V. S.
europeu, de pequenos grupos ou indivíduos introduz (ed.) – Muita gente poucas antas? Origens, espaços e contextos do
uma nova dinâmica demográfica, é fácil assumir o des- Megalitismo. Actas do II Colóquio Internacional sobre Megalitismo.
pertar do sentimento de pertença e a necessidade de Lisboa: Instituto Português de Arqueologia, p. 227-250
enraizamento, materializada na criação de Monumen- ARANDA JIMÉNEZ, G. (2015) – Resistencia e involución social en las
tos que afirmem «We are ancients, as ancients as the comunidades de la Edad del Bronce del sureste de la Península
Ibérica. Trabajos de Prehistoria. Madrid. 72: 1, p. 126-144.
sun…»
ARNAUD, José Morais (1993) – O povoado calcolítico de Porto Torrão
(Ferreira do Alentejo): síntese das investigações realizadas.
Redondo, Fevereiro de 2017
Vipasca. Aljustrel. 3, pp. 41–60.
BERGLUND, B. (2003) – Human impact and climate changes—
synchronous events and a causal link? QuaternaryInternational.
105, p. 7–12
BLASCO, C.; RÍOS, P. (2010) – La funcióndel metal entre los grupos
campaniformes. Oro versus cobre. El ejemplo de la Región de
Madrid. Trabajos de PreHistoria. Madrid. Vol. 67, n.º 2, p. 359-372.

78 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
BLASCO, C.; MONTERO, I.; FLORES, R. (2016) – Bell Beaker funerary CUNHA, C. (2014) – O enterramento do recinto 1 de Bela Vista 5
copper objects from the center of the Iberian Peninsula in the (Mombeja, Beja): análise bioantropológica. In VALERA, A. C.
context of theAtlantic connections. In LIESAU, C.; GUERRA DOCE , (coord.) – Bela Vista 5. Um recinto do final do 3.º milénio a. n. e.
E. (ed.) Analysis of the Economic Foundations Supporting the Social (Mombeja, Beja). Lisboa: NIA (Era Monográfica, 2), p. 37-39.
Supremacy of the Beaker Groups. Proceedings of the XVII UISPP CZEBRESZUK, J. (ed.) (2004) – Similar but Different. Bell Beakers
World Congress (Burgos, Spain), p. 19-35 in Europe. Instytut Pra-historii. UAM, Poznán.
BOAVENTURA, R. (2000) – O Campaniforme do habitat do Pombal DELGADO, S.; RISH, R. (2006) – La tumba n.º 3 de los Cipreses
(Monforte, Alto Alentejo, Portugal). In 3.º Congresso de Arqueologia y la metalurgia argárica. AlbercA, 4, p. 21-50.
Peninsular, Vila Real, Set. 1999, Actas: Pré-História Recente da
DELIBES, G., GUERRA, E.; TRESSERRAS, J. J. (2009) – Testimonios de
Península Ibérica. Porto: ADECAP, vol. 4, p. 291-300.
consumo de cerveza durante la Edaddel Cobre en la Tierra de
BOAVENTURA, Rui (2009) – As antas e o megalitismo da região de
Olmedo (Valladolid). In VAL VALDIVIESO, I.;MARTÍNEZ SOPENA,
Lisboa. Tese de Doutoramento. Faculdade de Letras. Universidade
P. (eds.), Castilla y el mundo feudal: homenaje al profesor Julio
de Lisboa. Policopiado.
Valdeón. Junta de Castilla y León. Valladolid, p. 585-599.
BOAVENTURA, R.; MATALOTO, R. (2013) – Entre mortos e vivos: nótulas
DESIDERI, J.; PRICE, D.; BURTON, J.; FULLAGAR, P. y BESSE, M. 2010:
acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal.
«Mobility evidence during the Bell Beaker period in Western
Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 16, p. 81-101.
Switzerland through strontium isotop estudy», Annual Meeting
BOAVENTURA, R.; MATALOTO, R.; NUKUSHINA, D.; ANDRADE, M. of theAmerican Association of Physical Anthropology (79; April
(n. p.) – Estremoz 7 ou a Anta de Nossa Senhora da Conceição 2010 ; Albuquerque, New Mexico: abstracts). American Journal
dos Olivais (Estremoz, Évora). O Arqueólogo Português. of Physical Anthropology, 141, Suppl. 50, 93.
BOND, G.; SHWERS, W.; CHESEBY, M.; LOTTI, R.; ALMASI, P.; MENOCAL, DUQUE ESPINO, D. M. (2004) – La gestión del paisaje vegetal en la
P.; PRIORE, P.; CULLEN, H.; HAJDAS, I.; BONANI, G. (1997) – Prehistoria reciente y Protohistoria en la Cuenca Media del
A pervasive millenial-scale cycle in North Atlantic Holocene Guadiana a partir de la Antracología. Cáceres
and glacial climates. Science. 278, p. 1257–1266.
FILIPE, V.; GODINHO, R.; GRANJA, R.; RIBEIRO, A.; VALERA, A. (2013) –
BUBNER, T. (1979) – Ocupação campaniforme do Outeiro de Bronze Age funerary spaces in Outeiro Alto 2 (Brinches, Serpa,
São Bernardo (Moura). Ethnos. Lisboa. 8, p. 139-151. Portugal): the hypogea cemetery. Zephyrus, Revista de Prehistoria
BUENO RAMIREZ, P., BARROSO BERMEJO, R., BALBÍN BEHRMANN,R. y Arqueologia, Vol. LXXI. Ediciones Universidad de Salamanca,
(2005) – Ritual campaniforme,ritual colectivo: la necrópolis p. 107-129.
de cuevas artificiales del Valle de las Higueras,Huecas,Toledo.
FERREIRA, O. V.; ZBYSZEWSKI, G.; LEITÃO, M.; NORTH, C. T.; SOUSA,
Trabajos de Prehistoria. Madrid. 62: 2, p. 67-90
H. R. (1975) – Le monument mégalithique de Pedra Branca auprès
BUENO RAMIREZ, P.; BARROSO BERMEJO, R.; VÁZQUEZ CUESTA, A. Montum, Melides. Comunicações dos Serviços Geológicos. Lisboa.
(2008) – The Beaker Phenomenon and the Funerary Contexts 59, p. 107-192.
of the International Tagus. In BUENO RAMÍREZ, P.; BARROSO
FITZPATRICK, A. P. (2011) – The Amesbury Archer and the Boscombe
BERMEJO, R.; BALBÍN-BERHMANN, R. (eds.) – Graphical Markers
Bowmen. Early Bell Beaker burials at Boscombe Down, Amesbury,
and Megalith Builders in the International Tagus – Iberian
Wiltshire. Salisbury: Wessex Archaeology (Wessex Archaeology
Peninsula. Oxford: Archaeopress(BAR International Series 1765),
Report, 27).
p. 141-155.
FOKKENS, H.; ACHTERKAMP, Y.; KUIJPERS, M. (2008) – Bracers or
CALADO, M. (2001) – Da serra d’Ossa ao Guadiana: um estudo
bracelets? About the functionality and meaning of Bell Beaker
de pré-história regional. Lisboa: Instituto Português de
wrist-guards. Proceedings of the Prehistoric Society. 74, p. 109-140.
Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia, 19).
GARRIDO, R. (2014) – Entre el consenso y la incertidumbre:
CARDOSO, J.; GRADIM, A. (2010) – A Anta do Malhão (Alcoutim)
perspectivasactualesen el estudiodel fenómeno campaniforme.
e o «Horizonte de Ferradeira». In 7.º Encontro de Arqueologia
Actas de las novenas Jornadas de Patrimonio Arqueológico en
do Algarve (Silves, 2009). Actas - Xelb, 10. Silves: Câmara
la Comunidad de Madrid (Museo Arqueológico Regional de la
Municipal de Silves, p. 56-72.
Comunidad de Madrid- 15- 16 de noviembre de 2012), p. 87-104.
CARDOSO, J. L.; NORTON, J. (2004) – As caçoilas campaniformes
GIBSON, C. (2016) – Closed for business or cultural change? Tracing
da anta de Bencafede (Évora). Revista Portuguesa de Arqueologia.
the re-use and final blocking of megalithic tombs during the
Lisboa. 7:1, p. 129-136.
Beaker period. Celticfromthe West 3. Oxbow, p. 103-110.
CASSIDY, L.; MARTINIANO, R.; MURPHY, E.; TEASDALE, M.; MALLORY,
Gibson, C. (2013) – Beakers into bronze: tracing connections between
J.; HARTWELLB, B.; BRADLEY, D. (2016) – Neolithic and Bronze Age
Western Iberia and the British Isles 2800–800 BC. In Koch,
migration to Ireland and establishment of the insular Atlantic
J.;Cunliffe, B. (ed.) Celtic from the West 2, p. 71–99.
genome. PNAS. vol. 113, n.º 2, p. 368–373.
CLARKE, D. (1976) – The Beaker network – social and economic models. GOMES, M. V. (2015) – The Vale da Telha Necropolis (Aljezur) in the
In LANTING, J. N.; VANDER WAALS, J. D. (eds) Glockenbecher Context of the Southwest Iberian Bronze Age. IAP: Universidade
Symposion (Oberried 1974), p. 459-477. Nova de Lisboa.

COSTEIRA, Catarina; MATALOTO, Rui; ROQUE, Conceição (2013) – Uma GONÇALVES, J. L. M. (1992) – Grutas artificiais da Quinta das Lapas
primeira abordagem à cerâmica decorada do 4.º/3.º milénio (Monte Redondo – Torres Vedras). Setúbal Arqueológica. Setúbal.
a. n. e. dos povoados de S. Pedro (Redondo). In ARNAUD, José 9/10, p. 247-276.
MORAIS; MARTINS, Andrea; NEVES, César (2013) - A arqueologia GONÇALVES, V. S. (1989) - Megalitismo e metalurgia no Alto Algarve
em Portugal – 150 anos. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Oriental: Uma aproximação integrada. Lisboa: UNIARQ; INIC.,
Portugueses, pp. 397–406. 2 vols.

RUI MATALOTO  WE ARE ANCIENTS, AS ANCIENT AS THE SUN: CAMPANIFORME, ANTAS E GESTOS FUNERÁRIOS NOS FINAIS DO III MILÉNIO AC NO ALENTEJO CENTRAL 79
GONÇALVES, V. S (1999) – Reguengos de Monsaraz – territórios LEMAIRE, T. (1997) – Archaeology between the invention and the
megalíticos. Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia. destruction of the landscape. Archaeological Dialogues. Vol. 4, p. 5-21.
GONÇALVES, V. S (2003) – STAM-3, a Anta 3 da Herdade de Santa LIESAU, C.; BLASCO, C.; RÍOS, P.; FLORES, R. (2015) – La mujer en el
Margarida (Reguengos de Monsaraz). Lisboa: Instituto Português registo funerário campaniforme y su reconocimiento social.
de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia, 32). Trabajos de PreHistoria. Madrid. Vol. 72, n.º 1, p. 105-125.
GRUPPE, G.; PRICE, T. D.; SCHRÖTER, P.; JOHNSON, C.; BEARD, B. (1997) MARTÍNEZ FERNÁNDEZ, M. J.; VERA RODRÍGUEZ, J. C. (2014) –
Mobility of Bell Beaker people revealed by stontium isotope ratios Los enterramientos de la edad del bronce del yacimiento de La
of tooth and boné: a study of Southern Bavarian skeletal remais. Orden-Seminario (Huelva). Rituales funerarios y diferenciación
Applied Geochemistry, Vol. 12, p. 517-525. sexual en la transición del tercer al segundo milenios cal a. C.
en Andalucía Ocidental. Huelva Arqueológica. Huelva. 23, p. 11-46.
GUERRA DOCE, E. (2014) – La tumba de un príncipe en Fuente
Olmedo: un referente para el estúdio del campaniforme en MATALOTO, R. (2006) –Entre Ferradeira e Montelavar: um conjunto
tierras vallisoletanas. Actas do VII Curso Conocer Valladolid. artefactual da Fundação Paes Teles (Ervedal, Avis). Revista
Ayuntamineto de Valladolid: Real Academia de Bellas Artes Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 9: 2, p. 83-108.
de la Purísima Concepción de Valladolid, p. 13-21. MATALOTO, R. (2007) –Paisagem, memória e identidade: tumulações
HARRISON, R. J. (1974) – A Closed Find from Cañada Rosal, Prov. Sevilla megalíticas no pós-megalitismo alto-alentejano. Revista
and Two Bell Beakers. Madrider Mitteilungen. Heidelberg. 15, Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 10: 1, p. 123-140.
p. 77-94 MATALOTO, R. (2010) – O 3.º/4.º milénio a. C. no povoado de São
HARRISON, R. J. (1977) The Bell Beaker Cultures of Spain and Portugal. Pedro (Redondo, Alentejo Central): fortificação e povoamento na
Cambridge: Harvard University. planície centro alentejana. In GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C. (eds.)
– Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º
HELENO, M. (1933) – Anta (?) ou sepultura do Barranco da Fraga (AM).
e o 3.º milénios a. n. e. Cascais: Câmara Municipal, p. 263–295.
In Caderno n.º 13: Escavações nos arredores do Siborro. Arquivo
Manuel Heleno. Manuscrito. Disponível no Museu Nacional MATALOTO, R.; BOAVENTURA, R. (2009) – Entre vivos e mortos nos
de Arqueologia, p. 29-34. IV e III milénios a. n. e. do Sul de Portugal: um balanço relativo
do povoamento com base em datações pelo radiocarbono. Revista
HELENO, M. (1933) – Aldeia de Bertiandos. Anta 1.ª da Aldeia dos
Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 12: 2, p. 31-77.
Mart(…) (BO). In Caderno n.º 16: Escavações nos arredores do
Siborro. Arquivo Manuel Heleno. Manuscrito. Disponível no MATALOTO, R.; BOAVENTURA, R.; NUKUSHINA, D.; VALÉRIO, P.;
INVERNO, J.; SOARES, R.; RODRIGUES, M.; BEIJA, F. (2015) –
Museu Nacional de Arqueologia, p. 29-39.
O sepulcro megalítico dos Godinhos (Freixo, Redondo): usos
HELENO, M. (1933) – Anta 4.ª do Zambujeiro (CG). In Caderno n.º 18:
e significados no âmbito do Megalitismo alentejano. Revista
Escavações nos arredores do Siborro. Arquivo Manuel Heleno.
Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 18, p. 55-79.
Manuscrito. Disponível no Museu Nacional de Arqueologia,
MATALOTO, R.; COSTEIRA, C.; ROQUE, C. (2015a) – Torres, cabanas
p. 28-30.
e memória: a Fase V e a cerâmica campaniforme do povoado
HELENO, M. (1934) – Anta 1.ª da Garcia (DM). In Caderno n.º 22:
de São Pedro (Redondo, Alentejo Central). Revista Portuguesa
Escavações nos arredores do Siborro. Arquivo Manuel Heleno. de Arqueologia. 18, p. 81-100.
Manuscrito. Disponível no Museu Nacional de Arqueologia,
MATALOTO, R.; MARTINS, J. M. M.; SOARES, A. M. (2013) – Cronologia
p. 12-16.
absoluta para o Bronze do Sudoeste: periodização, base de dados,
HELENO, M. (1935) – Anta 2.ª do Batepé (DU). In Caderno n.º 24: tratamento estatístico. Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras.
Escavações nos arredores do Siborro. Arquivo Manuel Heleno. 20, p. 303-338.
Manuscrito. Disponível no Museu Nacional de Arqueologia,
MATALOTO, R.; ROCHA, L. (2007) –O monumento ortostático
p. 11-35.
do Caladinho (Redondo, Alentejo Central). In Actas do III Encontro
HENRIQUES, F. R.; SOARES, A. M. Monge; ANTÓNIO, T. F.; CURATE, F.; de Arqueologia do Sudoeste Peninsular. Aljustrel: Câmara
VALÉRIO, P.; ROSA, S. (2013) – O Tholos Centirã 2 (Brinches, Serpa): Municipal, p. 107-116.
construtores e utilizadores; práticas funerárias e cronologias.
MEJÍAS MORENO, M., BENÍTEZ DE LUGO ENRICH, L., POZO TEJADO,
In JIMÉNEZ ÁVILA, J.; BUSTAMANTE ÁLVAREZ, M.; GARCÍA
J.; MORALEDA SIERRA, J. (2014) – Los primeros aprovechamientos
CABEZAS, M. (eds.) –Actas del VI Encuentro de Arqueología del
de águas subterráneas en la Península Ibérica. Las motillas de
Suroeste Peninsular. Villafranca de los Barros: Ayuntamiento,
Daimiel en la Edad del Bronce de La Mancha. Boletín Geológico y
p. 319-355.
Minero, 125, (4), p. 455-474.
HURTADO, V.; GARCÍA SANJUÁN, L. (1994) – La necrópolis de Guadajira
MORÁN, E., PARREIRA, R. (2004) – Alcalar 7: Estudo e reabilitação de
(Badajoz) y la transición a la Edad del Bronce e la cuenca media del
um monumento megalítico. Lisboa: IPPAR.
Guadiana. SPAL. Universidade de Sevilha. 3, p. 95-144.
MURILLO-BARROSO, M. (2016) – El oro deltholos de Montelirioen
LEISNER, G.; LEISNER, V. [1985] (1951) – Antas do Concelho de Reguengos
el contexto de la tecnologia áurea de Valencina. In FERNÁNDEZ
de Monsaraz. Lisboa: Instituto para a Alta Cultura (reeditado por FLORES, Á.; GARCÍA SANJUÁN, L.; DÍAZ-ZORITA BONILLA, M.
Uniarq/INIC, 1985). Montelirio. Ungran monumento megalítico de la Edaddel Cobre.
LEISNER, G.; LEISNER, V. (1955) – Antas nas herdades da Casa de Junta de Andalucía, p. 285-309.
Bragança no concelho de Estremoz. Lisboa: Fundação Casa de NATIVIDADE, M. (1901) – Grutas de Alcobaça. Porto. Imprensa Moderna.
Bragança.
NEEDHAM, S. (2011) – Gold basket-shaped ornaments from graves
LEISNER, G.; LEISNER, V. (1959) – Die Megalithgräber der Iberischen 1291 (Amesbury Archer) and 1236. In FITZPATRICK, A. P. – The
Halbinsel: der Westen. Berlin: Walther de Gruyter & Co. 1: 2. Amesbury Archer and the Boscombe Bowmen. Early Bell Beaker
LEISNER, V.; PAÇO, A.; RIBEIRO, L. (1964) – Grutas artificiais de São Pedro burials at Boscombe Down, Amesbury, Wiltshire. Salisbury: Wessex
do Estoril. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Archaeology (Wessex Archaeology Report, 27): 129-138.

80 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
NORA, Pierre (1989) – Between memory and history: les lieux de SOARES, A. M.; ALVES, L.; FRADE, J.; VALÉRIO, P.; ARAÚJO, M.
mémoire. Representations. Oakland, CA. 26 Special Issue: Memory F.;CANDEIAS, A.; SILVA, R.; VALERA, A. (2012) – Bell Beaker Gold
and Counter-Memory, p. 7–24. Foilsfrom Perdigões (Southern Portugal) – Manufactureand Use.
PINA, H. L. (1961) – A Anta da Herdade do Duque. Revista de Guimarães. Proceedings of the 39th International Symposium for Archaeometry,
Guimarães. 71, p. 13-26. p. 120-124.

PIÑÓN VARELA, F. (2004) – El Horizonte cultural megalítico en el área SOARES, A. M. (2008) - O monumento megalítico Monte da Velha 1
de Huelva. Junta de Andalucía. (Arqueologia monografias). (MV1) Vila Verde de Ficalho, Serpa). Revista Portuguesa de
Arqueologia. Lisboa. 11: 1, p. 33-51.
PRIETO MARTÍNEZ, M.; SALANOVA, L. (ed.) (2013) – Current researches
on Bell Beakers. Proceedings of the 15th International Bell Beaker SOARES, J. (2003) – Os Hipogeus pré-históricos da Quinta do Anjo.
Conference: From Atlantic to Ural. As economias do simbólico. Setúbal: Museu de Arqueologia
e Etnografia do Distrito de Setúbal.
PRIETO MARTÍNEZ, M.; SALANOVA, L. (coords) (2015) The Bell Beaker
transition in Europe. Mobility and local evolution during the SOARES, J. (2010) – Dólmen da Pedra Branca. Datações radiométricas.
Musa. Setúbal. 3, p. 70-82.
3rd millemium BC. Oxbow books.
SOARES, J. (2014) – Transformações sociais durante o III milénio AC
ROCHA, L. (2005) – As origens do megalitismo funerário no Alentejo
no Sul de Portugal. O povoado do Porto das Carretas. Lisboa: EDIA,
Central: a contribuição de Manuel Heleno. Tese de Doutoramento.
DRCAL e MAEDS.
Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Policopiado. SOARES, J.; SILVA, C. T. (2010) – Anta Grande do Zambujeiro –
arquitectura e poder. Intervenção arqueológica do MAEDS,
ROCHA, L.; DUARTE, C. (2009) – Megalitismo funerário no Alentejo
1985-87. Musa. 3, p. 83-129.
Central: Os dados antropológicos das escavações de Manuel
Heleno. In POLO CERDÁ, M.; GARCÍA-PRÓSPER, E. (eds.) – VALERA, António Carlos, ed. (2013) - Sobreira de Cima: necrópole de
Investigaciones histórico-médicas sobre salud y enfermedad en el hipogeus do Neolítico (Vidigueira, Beja). Lisboa: Era Arqueologia.
Pasado: Actas del IX Congreso Nacional de Paleopatologia, Morella VALERA, A. C. (2014) – Bela Vista 5. Um Recinto do Final do 3.° milénio
(Castelló). Valencia: Grupo Paleolab & Sociedad Española de a. n. e. (Mombeja, Beja). Lisboa: NIA (Era Monográfica 2).
Paleopatologia, p. 763-781. VALERA, A.; CALVO, E.; SIMÃO, P. (2016) – Enterramento campaniforme
SALANOVA, L. (2005) – Los orígenesdel Campaniforme: descomponer, em fossa da Quinta do Castelo 1 (Salvada, Beja). Apontamentos de
analizar, cartografiar / The origines of the Bell Beakers Arqueologia e Património. 11, p. 13-19.
phenomenon: breakdown, analysis, mapping. In ROJO-GUERRA, VALERA, A. C.; FILIPE, I. (2004) – O povoado do Porto Torrão (Ferreira
M.; GARRIDO-PENA, R.; GARCÍA-MARTÍNEZ DE LAGRÁN, I. (ed.) do Alentejo): novos dados e novas problemáticas no contexto da
El Campaniforme en la Península Ibérica y su contexto europeo. calcolitização do Sudoeste peninsular. Era-Arqueologia, 6, Lisboa,
Valladolid. Universidad de Valladolid & Junta de Castilla y León, ERA Arqueologia/Colibri, p. 28-61.
p. 7–27.
VALERA, A. C.; GODINHO, R. (2009) –A gestão da morte nos Perdigões
SCHUBART, H. (1965) – As duas fases de ocupação do túmulo (Reguengos de Monsaraz): novos dados, novos problemas. Estudos
de cúpula do Monte do Outeiro, nos arredores de Aljustrel. Arqueológicos de Oeiras,17, p. 371–387.
Revista de Guimarães, 75 (1-4), p. 195-204.
VALERA, A.; SILVA, A.; C. CUNHA, C.; EVANGELISTA, L. (2O14) –
SCHUBART, H. (1965) – Zwei Beleguns phasen im Kuppelgrab Funerary practices and body manipulations at Neolithic and
Monte do Outeiro bei Aljustrel (Portugal). Madrider Mitteilungen. Chalcolithic Perdigões ditched enclosures (South Portugal). In
6, p. 65-73. Valera, A. (ed.) Recent Prehistoric Enclosures and Funerary Practices.
SCHUBART, H. (1971) – O Horizonte de Ferradeira: sepulturas do BAR Internat. Ser. 2676 (Oxford 2014), p. 37–57.
Eneolítico final no sudoeste da Península Ibérica. Revista de VALERA, A. C. (2015) – Social change in the late 3rd millennium BC
Guimarães. Guimarães. 81: 3-4, p. 189-215. in Portugal: the twilight of enclosures. Tagungendes Landes
SENNA-MARTINEZ, J. C. (1994) – «Subsídios para o estudo do Bronze museums für Vorgeschichte Halle. Band 13, p. 1-19.
Pleno na Estremadura Atlântica: (1) A alabarda de tipo «Atlântico» VALÉRIO, P.; MONGE SOARES, A.; ARAÚJO, F. (2016) – An Overview of
do Habitat das Baútas (Amadora)». In: Zephyrus. Salamanca. Chalcolithic Copper Metallurgy from Southern Portugal. Menga –
XLVI-XLVII, p. 149-170. Revista de Prehistoria de Andalucía. Vol. 7, p. 30-50.
SHENNAN, S. (1976) Bell Beakers and their context in central Europe. VANDER LINDEN, M. (2004) – Polythetic networks, coherent people.
In LANTING, J. N.; VANDER WAALS, J. D. (eds.) Glockenbecher A new historical hypothesis for the Bell Beaker phenomenon.
Symposion (Oberried 1974), Fibula-Van Dishoeck, Haarlem, In CZEBRESZUK, J. (ed.) Similar but different. Bell Beakers in Europe,
p. 231–239. p. 33-60.
SILVA, C.; SOARES, J. (2009) – Práticas funerárias no Bronze pleno ZBYSZEWSKI, G.; FERREIRA, O. da V.; LEITÃO, M.; NORTH, C. T.; NORTON,
do Litoral Alentejano: o Monumento II do Pessegueiro. Estudos J. (1981) – As jóias auríferas da gruta pré-histórica da Verdelha dos
Arqueológicos de Oeiras, 17, 389-420. Ruivos (Vialonga-Portugal).

RUI MATALOTO  WE ARE ANCIENTS, AS ANCIENT AS THE SUN: CAMPANIFORME, ANTAS E GESTOS FUNERÁRIOS NOS FINAIS DO III MILÉNIO AC NO ALENTEJO CENTRAL 81
APPROACHING BELL BEAKERS AT PERDIGÕES
ENCLOSURES (SOUTH PORTUGAL):
SITE, LOCAL AND REGIONAL SCALES
ANTÓNIO CARLOS VALERA
Era Arqueologia S.A. / ICArEHB-Ualg
antoniovalera@era-arqueologia.pt

ANA CATARINA BASÍLIO


ICArEHB-Ualg
catarinasbasilio@gmail.com

82 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
A B S T R A C T A synthesis of the available data regarding the presence of decorated Bell
Beaker pottery in the ditched enclosures of Perdigões (Reguengos de Monsaraz, Évora)
is presented. The minimum number of recipients, their stylistic classification as well as
the description of the main decorative patterns, will be provided. Beaker chronology and
the spatial and contextual distribution of beaker materials in Perdigões will be discussed,
underlining the absence of beaker pottery in contemporaneous funerary contexts. Per-
digões will be integrated in the beaker regional context, again underlining the rarity of
beaker decorated pottery in funerary contexts, contrasting with the «Horizonte de Fer-
radeira» and with what happens in other European regions. It is also stressed the stylistic
plurality in large ditched enclosures contrasting with a mono thematic tendency of the
smaller sites. In conclusion, it will be assumed that the bell beaker pottery is an addi-
tion to a social path already established, integrated into regional terms and with specific
social roles, producing different spatial and contextual distributions, stressing that the
phenomena cannot be understood as having the same specific roles in the social arena.
KEYWORDS: Bell Beaker, Perdigões, Ditched Enclosure, South Portugal, Late Chalcolithic.

R E S U M O Realiza-se uma síntese sobre os dados disponíveis relativos à presença de


cerâmica campaniforme decorada nos recintos de fossos dos Perdigões (Reguengos de
Monsaraz, Évora). O número mínimo de recipientes, a sua classificação estilística e descri-
ção dos principais padrões decorativos serão apresentados. Será discutida a cronologia e
a distribuição espacial do campaniforme nos Perdigões, sublinhando a ausência em con-
textos funerários contemporâneos. Os Perdigões serão integrados no contexto campani-
forme regional, sublinhando a raridade em contextos funerários, contrastando com com
o «Horizonte de Ferradeira» e com o que acontece noutras regiões europeias. Será igual-
mente realçada a pluralidade estilítica nos grande recintos de fossos em contratse com as
tendências monotemáticas dos sítios mais pequenos. Em conclusão será argumentado
que a cerâmica campaniforme é uma adição a uma trajectória social já em curso, inte-
grada em termos regioais e com desempenhos sociais específicos, resultando em distri-
buições contextuais e espaciais diferentes, sublihando que o fenómeno não poderá ser
apreciado como indicador dos mesmos desempenhos específicos na arena social.
PALAVRAS-CHAVE: Campaniforme, Perdigões, Recinto de Fossos, Sul de Portugal, Calcolítico
Final.

ANTÓNIO CARLOS VALERA, ANA CATARINA BASÍLIO  APPROACHING BELL BEAKERS AT PERDIGÕES ENCLOSURES (SOUTH PORTUGAL): SITE, LOCAL AND REGIONAL SCALES 83
1. INTRODUCTION interior filled with diagonal lines alternating the orien-
For long the presence of decorated Bell Beaker pot- tation from band to band; this same bands separated
tery was considered rare in South Portugal, particularly by simple lines; groups of three simple horizontal lines
in the interior plains of Alentejo region. Although the forming bands; or just a sequence of horizontal lines.
distribution maps in international literature continue In one case, there are incised horizontal bands filled
to represent the area as «beaker void», the fact is that with vertical lines incised or obtained through combed
this region has been revealing a significant presence impressions.
of decorated beaker pottery (for the previous synthesis The incised group is basically constituted by vari-
see Valera 2006; Valera, Rebuge, 2011). There are now 27 ations in the use of three major elements (frequently
sites reported to have decorated beakers, distributed filled with white paste): the set of horizontal lines; the
between settlements, some funerary contexts and V sequences of stripes (also in the inside of some rims);
large ditched enclosures, being one of them the com- the short vertical strips (Figs. 6 and 7). Those elements
plex of enclosures of Perdigões, located in Reguengos are present and organised in a great variety of com-
de Monsaraz, Évora (Fig. 1). binations in a vast number of Ciempozuelos beakers.
The presence of decorated beaker pottery at Per- At Perdigões, a specific pattern is represented in a very
dgões has been specifically addressed in two papers so naturalistic way (existing another exemplar with the
far. Firstly, when the ditched enclosures were detected same pattern, but more schematic) that clearly rep-
and initially surveyed in 1997 (Albergaria, 1998) and resents a sequence of plants, probably in a ploughed
more recently, in the context of the analysis of a spe- field suggested by the sets of parallel lines (Fig. 6: 2).
cific decorative pattern, when other findings from cur- As it was already argued (Valera, 2015a), when this
rent excavations were also reported (Valera, 2015a). This pattern is compared with other Ciempozuelos pat-
third approach to beakers in Perdigões corresponds, terns several homologies arise and a general process
however, to a first synthesis of the site’s available data of schematic representation of a specific message is
(until the end of 2016) regarding the Bell Beaker pottery, suggested: a decorative pattern representing an idea
addressing contexts and chronology, questioning the related to crops developing into a procedure of icono-
social role of beakers at the enclosure and integrate it graphic decomposition and recreation, supported by
in the local and regional scales. a mental process of part / whole relationship (Idem).
Apart from this, there two fragments with horizontal
bands of herringbone incisions.
2. BELL BEAKER DECORATED POTTERY The geometric dotted group is represented by just
AT PERDIGÕES DITCHED ENCLOSURES one fragment (Fig. 5: 9), that presents a variation of the
patterns also present in the Ciempozuelos tradition.
2.1. pots, styles and other (usually) Finally, there is a fragment of a carinated bowl with
associated materials incised triangles filled by diagonal lines (Fig. 5: 11) and a
So far 59 fragments of decorated Bell Beakers were fragment of a base with an ungulate impression (Fig. 5:
recovered at Perdigões, corresponding to a minimum 10) typical of the beaker shape vessels with scattered
number of 44 pots. In terms of decoration styles, 10 rep- ungulate impressions known in the region at Caladinho,
resent the International group (where the band, linear Fonte Ferrenha (Mataloto et al. 2015) or Porto Torrão, at
and mixt variants are present), 32 belong to incised Fraga da Pena in central Portugal (Valera, 2000, 2007,
group mainly related to the Ciempozuelos patterns present volume), in several sites of Portuguese Estrema-
from central Iberia, 1 to the geometric dotted decorative dura (Cardoso et al., 1993) or but also in Western Andalu-
grammars and 1 to a scattered ungulate pattern. zia (Harrison et al. 1976), in Galiza (Prieto-Martínez et al.
The shapes are more difficult to determine due to 2003), and outside Iberia (França. Inglaterra e Holanda
high fragmentation and reduced size of most of the – Harrison et al. 1994; Besse, Desideri, 2005).
fragments, but the classic bell beaker shape is present, Some beakers from Perdigões were integrated into
associated with International and Incised groups, and a comparative archaeometric study with la Pijotilla,
also the carinated bowls, related mainly to the later. San Blás and Porto Torrão. In the overall studied assem-
The decorative grammars are not particularly diver- blage, the results showed that 14% of the samples
sified, especially if we take into consideration the vari- would correspond to exchanges and that 8% (of those
ability that we can observe at Porto Torrão or at several 14%) were International and Geometric dotted beakers,
sites from Portuguese Estremadura. In the Interna- with only 2% corresponding to incised beakers (Odrio-
tional group (Figure 5: 1-8), there is some variation in zola, Hurtado, Dias e Valera, 2008), suggesting the later
the construction of the parallel bands: the traditional as an influence more locally rooted (which the predom-
horizontal bands formed by two parallel lines with the inance in numbers supports).

84 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 1 Location of Perdigões enclosure
in Portugal (1) and in the local scale
of Ribeira de Vale do Álamo valley:
Perdigões (2A); other local sites with
decorated beakers: Miguens 3 (2B),
Porto das Carretas (2C), Monte do
Tosco 1 (2D); distribution of beaker
sherds in Perdigões (3).

Apart from the beaker ceramics, there are other central area of the enclosures, between ditches 6 and 7.
materials usually associated to Bell Beakers, both in Another 5 come from deposits and a pit structure asso-
Iberia and continental Europe, that also appear in Per- ciated to the later occupations detected in the open
digões. That is the case of several copper tools (like a area excavation in the center of the enclosures and 2
dagger and several awls – Fig. 8), ivory buttons, ivory come from the top layers of Ditch 1 near the NE gate.
lunulae (part of the assemblages of beaker graves in Crossing these locations with the surface distribution
central Europe), flint daggers and gold. of beaker sherds we get a significant concentration in
the central area of the enclosures (Fig. 1: 3). Although
2.2. contexts and chronologies this distribution should be taken with careful1, it seems
A significant number of the beaker sherds were col- to be in accordance with the areas where, through
lected at the surface or in ploughed layers, so only a excavation, late occupations during the 3rd millennium
part comes from well-preserved contexts. Of the later, BC were detected. The excavations developed around
12 come from a bottom layer of a negative structure NE gate revealed a complex sequence of structures,
detected in a small survey done in 1997 close to the some of them posterior to the filling of the ditches 1

ANTÓNIO CARLOS VALERA, ANA CATARINA BASÍLIO  APPROACHING BELL BEAKERS AT PERDIGÕES ENCLOSURES (SOUTH PORTUGAL): SITE, LOCAL AND REGIONAL SCALES 85
and 2 (Suárez et al. 2015). There, beakers only appear in 3. A PRELIMINARY APPROACH TO THE SOCIAL ROLE
the top layers of the survey done in Ditch 1 (Lago et al. OF DECORATED BELL BEAKERS AT PERDIGÕES
1998), dated from the last quarter of the 3rd millennium If a couple of sherds in the late deposits inside Ditch
BP (Márquez Romero et al. 2013; Valera, Silva, Márquez 1 in the NE gate area doesn’t allow any assumptions
Romero, 2014). about the social role of beakers in the site, apart from
But it is at the center of the enclosures that, recently, confirming their late circulation by peripheral areas of
a complex sequence of occupations from the middle/ the enclosures, the contexts of the central area, still in
second half of the 3rd millennium BC have been under excavation, are providing interesting clues to interpret
excavation and where a small number of beaker sherds the presence of bell beakers at Perdigões.
were collected in some preserved open-air deposits A first observation is that in each context (with the
(outside of negative structures and covering some pits exception of the small surveyed area of 1997 in the cen-
and ditches from previous Neolithic and Chalcolithic tral area) the number of beaker sherds is always very
occupations). These deposits were formed during the small. In fact, so far the overall number for the entire
middle/third quarter of the 3rd millennium BC, and site is only of 44 pots. Therefore, taking the size of the
are associated (by chronology and stratigraphy) to the site, the presence of beakers seems to be relatively
construction of a circular stone hut with radial walls, restricted (although that image may change in the
or alignments of stones, and to some funerary fea- future – see note 1).
tures, corresponding to the depositions of large quan- The available chronologies for the contexts with
tities of human cremated remains in two pits or in beakers, though, show contemporaneity with other
open air, and to a semicircular stone cairn containing contexts without beakers in several areas of the enclo-
a small cist, in the center of the surveyed area (Valera, sures (Fig. 2). This is revealing that the incorporation
Silva, et al. 2014) (Fig. 3). The beaker fragments appear of beaker pottery in Perdigões does not seem to corre-
in a layer that, in the western area of the survey, cov- spond to any kind of interruption of the social dynam-
ered a previous Chalcolithic semi-circular structure ics of the site, although may be associated with a period
and some Neolithic and Chalcolithic pits, and in layers where certain innovations and intensification of previ-
involving the circular stone hut at NE of the excavated ous practices were occurring, like the new constructions
area. Others were recorded in a pit under a circular in stone, the intensification of metallurgical activity, the
stone cairn next to that same hut, but posterior. The increase of interaction and consumption exotic materi-
pit was excavated in the previous deposits that were als or the diversification of funerary practices inside the
involving the hut, and the collected pottery (includ- enclosures.
ing some beaker fragments of International style and In fact, and according to presently dated contexts
ungulate impressions) was very eroded, suggesting with beaker sherds, the presence of decorated Bell Beaker
that it was remobilized and later integrated into these pottery at Perdigões is roughly bounded between 2580
fillings. This structure (Cairn 1) and other deposits that and 2000 BC (Fig. 2). For that period, the current data
cover the stone hut were dated from the last two cen- is showing that the practice of structure depositions
turies of the 3rd millennium BP, corresponding to the in ditches 1, 4 and 7 (some containing human remains)
latest occupations of the site detected so far (Valera, et was continuing to occur, as well as the recutting prac-
al. in preparation). tices in previous fillings. Tomb 1, and especially Tomb
This area also present a significant amount of evi- 2 were being reused, the later with materials usually
dences of copper metallurgy, with tens of ores, melting associated to beakers. Gate NE was being profoundly
remains, tools and some ceramic artefacts associated reshaped during this time span, and the available chro-
to metallurgical work (Figs. 3 and 8), some of them nology for Ditch 1 suggests that its construction, with
with the same stratigraphic provenance of the beaker its ideological bonds of astronomic orientations of
sherds. However, most of the tools – awls – were associ- the gates (Valera, 2010), was done by the time beakers
ated to the pits with cremated remains (together with were circulating at Perdigões. This was occurring at the
anthropomorphic figurines in ivory and stone idols – same general time that, in the center of the site, stone
Valera, Evangelista, 2015; Valera, 2015b), but where no structures were being built and used, associated to
beaker pottery was recorded. In fact, the same absence important evidences of metallurgical work and where
of beaker pottery from funerary contexts was observed just 12m to south-west, funerary contexts of second-
in Tombs 1 and 2 in the eastern limits of the enclosures, ary depositions of cremated human remains were tak-
where usually associated items occur: gold foils, ivory ing place (Fig.  3). In material culture, apart from the
button with «V» shape perforation, flint daggers and presence of beakers, of what seems to be an increase
ivory lunulae (an element common in beaker contexts of the metallurgical work of copper and of some new
in Central Europe, but unusual in western Europe). ideotechnic items and exotic raw materials in funer-

86 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 2 Available radiocarbon dates for the middle /
second half of the 3rd millennium BC in Perdigões.
The rectangles indicate dates for contexts with
beaker pottery.

ary contexts (such as the anthropomorphic figurines in ing the trend that was being developed since previous
the contexts of cremated remains, the increase of ivory moments. What is suggested is that the arrival of beak-
and the use of gold in Tomb 2 reutilization), no signifi- ers at Perdigões is coincident with (and participated in)
cant and structural changes were yet detected regard- the intensification of some of the main traits that were
ing the first half of the 3rd millennium BC2. Bell Beaker characterizing the social trajectories of the communi-
pottery, though, seems to be just another item added ties that were gathered there: a growing social demand
in short numbers, probably of prestige value, that was for monumentality and exotic materials, a grow-
incorporated in the social practices that were already ing social competition generating emulative behav-
taking place in Perdigões, participating in a late phase iors based in a growing social inequality, though still
of the biography of the site, when the levels of inter- expressed more in collective terms through contexts
action and social competition seem to reach its peak where no individual status is discernible in the collec-
before a generalized collapse (Valera, 2015c). We could tiveness of the mass of bones and cremated remains
hardly see in the presence of beakers in Perdigões some of secondary depositions that characterized the funer-
«ethnic differentiation» (although the isotopic studies ary structures known so far in the 3rd millennium BC at
in course show a significant number of outsiders, their Perdigões. In fact, at Perdigões, beakers not just are kept
remains are in the funerary contexts where beakers are out of funerary contexts, but those contexts do not pre-
absent – in fact, the high number of outsiders has more sent any purpose of individualization (contrasting to
to do with the levels of interaction and the nature of what is known in many European regions).
an aggregation site), or detect any structural rupture or It is never too much to underline that, if almost the
a different social and ideological organization regard- totality of exotic materials (like ivory items, cinnabar,

ANTÓNIO CARLOS VALERA, ANA CATARINA BASÍLIO  APPROACHING BELL BEAKERS AT PERDIGÕES ENCLOSURES (SOUTH PORTUGAL): SITE, LOCAL AND REGIONAL SCALES 87
gold, large quartz crystals, a variety of figurines and have the potential to induce and replicate social status.
other ideothecnic items, etc.) were being deposited Something similar could be happening in the central
in the funerary contexts, possibly in a framework of area of Perdigões, and if we consider the presence of the
squandered practices of social emulation (Valera et depositions of human cremated remains in pits and in
al. 2015; Valera, 2016; Valera, in press), beaker pottery open air in the same general area, the remains of prac-
is always absent in those contexts, even when usu- tices that also implicate some sort of transubstantiation
ally associated items are present. And they are also using fire, then the idea of an interpenetration of prac-
absent from contemporaneous contexts of structured tices in a same space (that we usually tend to assume
depositions (if we considered that the fragments in that are separated in meaning and space) could start to
the pit under Cairn 1 were unintentionally introduced make sense.
as previous elements integrated into the matrix of the Another possibility may be considered for the frag-
sediments used in the filling of the pit). This is showing ments incorporated in the structured depositions in
that what we traditionally call «prestige goods» does the pit under Cairn 1, if we assume that their integra-
not have a generalised and homogeneous social role tion there was intentional. As it was recently suggested
and that at Perdigões beakers were used differently for the late phase of S.Pedro site (Mataloto et al. 2015),
and in different stages from other recognisably valued beakers may appear associated to practices of closing
and emblematic items. Those stages, though, are not in the context of ritualised evocations of ancestors
yet fully understood and more field work is needed to and ceremonies performed to reinforce memory and
better characterise the contexts where beakers oper- identity. Something of this sort could explain the late
ated in Perdigões and where they acquired their social presence of some fragments of International beaker
significance at the site. Some exploratory suggestions, pottery, together with a limestone idol, in the layers
though, could be made taking into consideration this covering the concentration of faunal remains in the pit,
specific central area where some beaker pottery is before the context was sealed with a stone cairn.
associated to a metallurgical activity and where funer- The contradictory (to modern western eyes) con-
ary contexts related to the use of fire are also present. texts that are present in the central area of Perdigões
This association of beakers and copper, namely in a in the middle / 2nd half of the 3rd millennium BC could
period where clear metal weapons start to appear in be, in fact, linked by a more permeable and relational
the metal repertoire (Valera et al., 2013), is usually inter- organisation of the human activities. Mixtures of
preted as a manifestation of the prestige of elite groups, things, mixtures of practices and meanings that would
using these elements of material culture to induce and built the sense of that part of the enclosure, of the cen-
reproduce certain levels of social inequality. In this con- tre of a central place (in cosmological ideological terms,
text, this association of beakers to metallurgical areas and not in territorial hierarchic ones), through a period
was recently interpreted as a way of reinforcing the when we can observe the need for monumentality, for
ideological value of metal production through the ritu- large enterprises involving the congregation of a sig-
alization of the production procedures. It was suggested nificant number of people and for dramatic and more
that the presence of beakers in metallurgical contexts exuberant forms of exhibition (with emphasis on the
could be related to propitiatory ceremonies intended manipulation of human remains). At this stage, though,
to interfere in favour of the good outcome of the task, this should be taken as a possible path for understand-
comparing the circumstance with the presence of beak- ing an area still in excavation generating questions
ers in contexts of salt production in the northern Meseta that lead research of this complex context.
region, and evoking historical examples from pre-indus-
trial societies (Delibes de Castro et al., 2016). In fact, a
production that implicates some sort of apparent tran- 4. PERDIGÕES, BEAKERS AND THE LOCAL /
substantiation off the outcome and some level of «mys- REGIONAL SCALES
tery» has the potential to induce the ritualization of the At a local scale, considered to comprehend the val-
production procedures and, by doing so, using the tech- ley of Ribeira do Álamo, Perdigões is the only site that
niques themselves as elements of social differentiation. revealed the presence of decorated Bell Beaker pottery,
This hypothesis developed to explain some contex- although several residential sites and more than a
tual associations in the Duero valley provides us with hundred megalithic monuments are known along the
an example of what could be one version of the diver- valley, roughly between Perdigões and the Guadiana
sified social roles of beakers outside funerary contexts, river (Fig.  1: 2). If the megalithic contexts were inten-
not just in feasting practices organized to maintain and sively surveyed by the Leisner couple in the middle of
reproduce the social order and social interaction, but also the XX century and by more recent interventions by
in the sacralisation of strategic economic activities that V. Gonçalves, giving strength to the absence of beak-

88 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 3 Plan of the excavated central area of Perdigões enclosures with the representation of the Chalcolithic structures and deposits and
distribution of metallurgical elements and metal objects.

ers in those funerary contexts, the same cannot be with previous occupations. Miguens 3 seems to repre-
said about the residential areas, that were punctually sent an ex novo occupation, while at Porto das Carretas
excavated or just prospected at the surface. So, if the and Monte do Tosco 1 the contexts with beakers corre-
absence of beakers from local funerary contexts seems spond to re-occupations of abandoned sites and are in
to be a historical fact, their absence in the residential clear discontinuity with them. The same occurs on the
sites might be a distortion of research. This idea could site of S. Pedro, about 30 km north, where again the con-
be reinforced by the fact that beakers, in the second half texts with beaker pottery correspond to a re-occupation
of the 3rd millennium BC, are present in small sites or in of an already abandoned walled enclosure (Mataloto et
reoccupations of abandoned earlier walled enclosures al, 2015). If these occupations were unbounded, at Per-
in immediate neighboring territories, distant no more digões large ditches were still operational and being
than 20/25 km from Perdigões, in Miguens 3 (Calado, filled, defining large enclosed spaces. The construction
2002), Porto das Carretas (Soares, Silva, 2010) and Monte and filling of ditches during the middle / second half of
do Tosco 1 (Valera, 2013) (Fig. 1: 2B-D). the 3rd millennium BC, with beaker pottery in the fill-
However, these beaker contexts, or more adequately ings, is known in other large and small enclosures of
said, these contexts with beakers, although relatively Southwest Iberia: ditch 3 of nº9 of Avenida da Andalu-
close to Perdigões and certainly contemporaneous of sia area of Valencina de la Concepción (Mederos Martín,
it during at least some part of the second half of the 2016) and Loma del Real Tesoro II (Frossmann, 2016) in
3rd millennium BC, correspond to different situations. western Andalusia, Porto Torrão (Valera, Filipe, 2004) in
First, their beaker assemblages are all mono thematic in Alentejo or Barranco do Farinheiro (Gonçalves et al. pre-
terms of style, with the exclusivity of International style sent volume) in Ribatejo.
in Miguens 3 and Porto das Carretas and the exclusivity There are, nevertheless, some similarities between
of Incised Ciempozuelos style in Monte do Tosco 1. Sec- those surrounding sites with beakers and Perdigões: the
ondly, these contexts with beakers are not in continuity presence of beaker pottery associated to stone circular

ANTÓNIO CARLOS VALERA, ANA CATARINA BASÍLIO  APPROACHING BELL BEAKERS AT PERDIGÕES ENCLOSURES (SOUTH PORTUGAL): SITE, LOCAL AND REGIONAL SCALES 89
structures (in all the quoted), sometimes with radial lute chronology of Monte da Velha 1, Bela Vista 5 and
walls (Perdigões, Miguens 3, Porto das Carretas), and Centirã shows (Soares, 2008; Valera, 2014; Henriques
the association to copper metallurgical areas or cop- et al. 2013), but have their major presence precisely in
per materials (Perdigões, Porto das Carretas, Monte do funerary contexts. A contrast that does not occur in
Tosco 1). But while in some of the other sites beakers are other Iberian regions, like the Estremadura, Beira Alta,
appearing in contexts with stratigraphic discontinuity or Minho in Portugal or the area of Madrid, the Duero
with previous occupations, what has been leading some valley or Galiza in Spain, (Cardoso, 2014; Valera, 2000;
to considerer that the arrival of beakers at the region is Rebuge, 2004; Garrido-Pena et al., 2005; Bueno Ramirez
coincident with a new social reality, at Pedigões they et al. 2008; Criado Boado, Vázquez Varela, 1993) where
are added to a trajectory where no ruptures are observ- decorated beakers are common or have their main
able, only intensification of what was already occurring. presence in funerary contexts, replicating a circum-
An image of integration in continuity has also been stance also common in continental Europe.
suggested to the neighboring regions of Tierra de Bar- Again, this seems to suggest that beakers may
ros in Spanish Extremadura (Hurtado, 2005; García Riv- assume diversified social roles in different areas, rein-
ero, 2006) and Andalusia (Lazarich González, 2005) and forcing the idea of the complexity and diversity of the
for other European regions (Thomas, 2005), such as the phenomenon, its regional reinterpretations and «extra-
South of France, where a line of continuity is stressed cultural» dimension (Burgess, Shennan, 1976; Chapman,
and where the diversified rhythm, intensity and distri- 1987; Salanova, 2005; García Rivero, 2006; Linden, 2006b).
bution of the beaker phenomena is related and condi- In several areas of Iberia differences in style distribu-
tioned by pre-existent regional diversity (Linden 2006a; tions have been interpreted in the context of identity
2006b). management and interaction between stylistic areas
In fact, the local scenario of Álamo valley seems to be (Garrido Pena et al. 2005, Hurtado, 1999). In fact, the
replicated on a more regional scale. While the small sites Alentejo hinterland is a zone of connection between
tend to be stylistically mono thematic, the large ditched three areas of strong stylistic identity: the Lisbon and
enclosures tend to congregate a plurality of styles (Valera, Setúbal peninsulas, the middle Guadiana Basin and the
2006; Valera, Rebuge, 2011), although usually having Guadalquivir valley. This geographical location stimu-
one that is prevailing. That is the case of Porto Torrão lates an important role in the interaction between
or, already in Spain, the case of Pijotilla (Hurtado, 2005), these regions, traduced in the development of direc-
where beakers also seem to appear in continuity. And tions of contact but also of mechanism of differentia-
this is not a simple question of chronology, for the avail- tion, and beakers seem to express that through prefer-
able data shows that the different styles coexisted during able areas of influence and through a stylistic border
the second half of the 3rd millennium BC in Perdigões or between the Sado and the Guadiana basins.
in Porto Torrão. The later has a clear connection with the interior of
On the other hand, at this larger scale, decorated the Iberian Peninsula, related to Ciempozuelos incised
beakers also rarely appear in funerary contexts and patterns and morphologies, being predominant or
the same general situation has been identified in the exclusive in most sites (Perdigões, Monte do Tosco 1,
neighbouring areas of Spanish Extremadura and West- Outeiro de São Bernardo; Anta de Bencafede, S. Pedro
ern Andalusia (Hurtado, 2005; Lazarich González, 2005; etc.). The International style is considerably less fre-
Garcia Rivero, 2006). In all Alentejo, only six graves quent, although may appear in exclusivity in some con-
have decorated beaker pots: three megalithic monu- texts (Miguens 3, Porto das Carretas, Quinta do Castelo
ments, Antas das Casas do Casal, Bencafede and Enx- 1), and the geometric dotted style is just punctual (1 frag-
acafres (Leisner, Leisner, 1959; Cardoso, Norton, 2004, ment at Perdigões; 1 fragment at Outeiro de S. Bernardo;
Evangelista et al. 2016), two tholoi, Cardim 6 and Pedra 1 fragment at S. Brás) and tend to reproduce Ciempozue-
Branca (Valera et al. 2014; Veiga Ferreira et al., 1975) and los patterns. The situation is inverse in the Sado basin.
a pit burial in Quinta do Castelo 1 (Valera, Calvo, Simão, There the geometric dotted style is dominant at Porto
2016), and only four of them belong to the hinterland of Torrão (Valera, Filipe, 2004) and exclusive in Monte da
Alentejo (Fig. 4). Beakers seem to have their main social Tumba (Silva, Soares, 1987). The incised style is clearly
use outside graves, in residential or aggregation sites, dominated by the same general Palmela geometric
sometimes associated to an important presence of cop- patterns and morphologies at Barrada do Grilo, Pedra
per artefacts or copper metallurgy (Perdigões, Porto das Branca, Vale Vistoso or Enxacafres (Santos et al. 1972;
Carretas, Monte do Tosco 1, Outeiro de São Bernardo). Ferreira et al. 1975; Soares, Silva, 1976/77; Evangelista et
This contrasts seriously with the undecorated beak- al. 2016), and the Ciempozuelos style has a low repre-
ers of the so-called «Horizonte de Ferradeira» that is sentation at Porto Torrão, globally showing a privileged
contemporaneous of the decorated beakers, as the abso- connection with Portuguese Estremadura. Curiously,

90 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
in another without having to base the differences in
chronological or cultural terms. For instance, it would
be the specific social roles of a large ditched enclosure
as Perdigões, namely the ability to aggregate significant
numbers of people and assemble exotic materials from
several provenances, that explain why only these large
enclosures show the tendency for stylistic plurality
(although with a dominating style) in decorated beaker
pottery. As stages for social dispute, identity manage-
ment and interaction, these are sites of «mixtures».

5. FINAL REMARKS
With the advance of functionalism, the beaker pot-
tery and associated assemblages began to be detached
from ethnic and cultural connotations and started to
be regarded as resources serving processes of social
change and interaction. Nevertheless, at a larger scale
of analysis, the phenomenon maintained a certain
universality of interpretation, considered to reflect
FIG. 4 Distribution of sites with decorated beaker pottery in a same general social reality: an element of discrimi-
Alentejo and Algarve, with indication of the main routes of nated consumption of prestige items and an indicator
influence.
of social inequality used in strategies of legitimation,
negotiation and reinforcement of power and identity
though, the International beakers, usually seen as an management. If this general social role is still more or
influence from the littoral, are less common in the Sado less universally accepted, the fact is that the contexts
basin than in the Guadiana basin. This could be due to where Bell Beakers occur (or where it is rejected) are not
specificities of the trajectories of interaction: there are homogeneous, but asymmetric. An asymmetry related
some indications that the contact between the mid- to the ways social dynamics are structured in a certain
dle Guadiana basin and the Lisbon Peninsula would be territory, to the diversified roles and life trajectories of
done especially through the valleys of Sorraia and Santo each site, to the level of engagement in local and inter
Estevão rivers, part of the left basin of Tagus river and regional social relations. The available data suggests
less through the Sado valley, more related to the Setúbal that beakers asymmetry is manly not a question of
Peninsula (Fig. 4). chronology and of culture, but a question of diversified
But if stylistic distinctions exist between these two social roles that beakers may assume contextually in a
river basins, generating two stylistic areas in Alentejo plural and complex social path.
in what concerns decorated beakers, differences also At Perdigões the incorporation of decorated beakers
exist internally, with sites, sometimes close to each (and associated materials) seems to occur in continuity
other in space and time, presenting different mono with what was going on at the enclosures, suggesting
thematic assemblages. This circumstance, not yet that at the regional scale of the Portuguese Guadiana
fully understood, could be addressed in a same general basin, as in the Spanish Extremadura and Western
theoretical frame of identity management and diversi- Andalusia, no structural changes regarding the previ-
fied social roles that beakers may assume, even inside ous situation were associated to beaker introduction
coherent stylistic areas such as the middle Guadiana (despite in some sites beakers appear in ex novo occu-
basin. In an historical context characterized basically pations or are associated to reoccupations in strati-
by continuity, this would mean that the particularities graphic discontinuity). On the contrary, it seems that
of the distribution of decorated beakers and of their decorated beakers are added to a developing process
styles is mainly related, not just to the ways interaction of social competition and identity management, with
is established, but to the context of acceptance and to the intensification of the levels of interaction and con-
the processes of integration (attributed meanings and sumption of exotic materials (Valera, 2016). However, in
social roles) in local social dynamics. this general trend, the social roles of decorated beakers
These local dynamics provide the reasons for asym- would be contextually diversified and (in contradiction
metric distributions and would explain the presence with the undecorated beakers of «Horizonte de Ferra-
of some materials in one context and their absence deira») played manly outside funerary contexts.

ANTÓNIO CARLOS VALERA, ANA CATARINA BASÍLIO  APPROACHING BELL BEAKERS AT PERDIGÕES ENCLOSURES (SOUTH PORTUGAL): SITE, LOCAL AND REGIONAL SCALES 91
FIG. 5 Decorated beaker pottery from Perdigões: 1-8 International style; 9. Geometric dotted style; 10. Ungulate; 11. Incised triangles.

92 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 6 Decorated beaker pottery from Perdigões: incised Ciempozuelos style.

ANTÓNIO CARLOS VALERA, ANA CATARINA BASÍLIO  APPROACHING BELL BEAKERS AT PERDIGÕES ENCLOSURES (SOUTH PORTUGAL): SITE, LOCAL AND REGIONAL SCALES 93
FIG. 7 Decorated beaker pottery from Perdigões: incised Ciempozuelos style.

94 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 8 Metallurgical elements from the central area of Perdigões: 1-7 copper awls; 8. copper dagger; 9. ceramic mold; 10. arrow head; 11-12
metallurgical tubes.

ANTÓNIO CARLOS VALERA, ANA CATARINA BASÍLIO  APPROACHING BELL BEAKERS AT PERDIGÕES ENCLOSURES (SOUTH PORTUGAL): SITE, LOCAL AND REGIONAL SCALES 95
NOTES
1. This circumstance should be evaluated having in mind three GARRIDO-PENA, R.; ROJO-GUERRA, M.; MARTÍNEZ DE LAGRÁN, I. G.
facts: First, that the deep ploughing of the site brought to the (2005) – Bell Beakers in Central Iberia (the Inner Meseta). In. M. A.
surface thousands of archaeological materials in a general Rojo-Guerra; R. Garrido-Pena; I. G. Martínez de Lagrán (coords.) –
similar way, what would make surface distributions some- El campaniforme en la Península Ibérica y su contexto Europeu,
how representative; second, that the surface distributions Vallodalid, p. 411-456.
were distorted by unauthorized collecting of materials at the GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C.; ANDRADE, M. (present volume) –
following times of discovery that were never published, and O Barranco do Farinheiro e a presença campaniforme na
third, that so far only 1,5 of the site has been archaeologically margem esquerda do Tejo. Sinos e Taças. Junto ao oceano e mais
excavated. além. Aspectos da presença campaniforme na Península Ibérica.
2. A specific study of the material assemblages of the contexts Lisboa.
with beakers is now starting to evaluate the levels of continu- HARRISON, R. J.; BUBNER, T.; HIBBS, V. H. (1976) – The Beaker pottery
ity and innovation in material culture during this period at from El Acebuchal, Carmona (Prov. Sevilla). Madrider Mitteilungen.
Perdigões. 17, p.79-141.
HARRISON, R. J.; MORENO LÓPEZ, G.; LEGGE, A. J. (1994) – Moncín:
un poblado de la Edad del Bronce (Borja, Zaragoza). Voleción
BIBLIOG RAPHIC REFERENCES Arqueologia. 16, Gobierno de Aragón.

ALBERGARIA, J. (1998) – Recipiente cerâmicos campaniformes HENRIQUES, F.; SOARES, A. M.; ANTÓNIO, T.; CURATE, F.; VALÉRIO,
P.; ROSA, S. (2013) – O Tholos de Centirã 2 (Brinches, Serpa).
recolhidos no povoado dos Perdigões. In M. Lago, C. Duarte,
Construtores e utilizadores; práticas funerárias e cronologias.
A. Valera, J. Albergaria, F. Almeida, A. F. Carvalho – Povoado dos
Actas del VI Encuentro de Arqueologia del Suroeste Peninsular,
Perdigões (Reguengos de Monsaraz): dados preliminares dos
p. 319-355.
trabalhos arqueológicos realizados em 1997. Revista Portuguesa
de Arqueologia. 1:1, p. 45-152. HURTADO, V. (1999) – Los inicios de la complejización social y el
campaniforme en Extremadura. SPAL. 8, p.47-83.
BESSE, M.; DESIDERI, J. (2005) – Bell Beaker diversity: settlements,
burials and ceramics. In. M. A. Rojo-Guerra; R. Garrido-Pena; I. G. HURTADO, V. (2005) – El campaniforme en Extremadura.
Martínez de Lagrán (coords.) – El campaniforme en la Península Valoración del processo de cambio socioeconómico en las
Ibérica y su contexto Europeu, Vallodalid, p. 61-105. cuencas médias del Tajo y Guadiana. In M. A. Rojo-Guerra,
R. Garrido-Pena e I. García-Martínez de Lagrán (coords.) –
BUENO RAMIREZ, P.; BARROSO BERMEJO, R.; VÁZQUEZ CUESTA, A.
El campaniforme en la Península Ibérica y su contexto
(2008) – The Beaker phenomenon and the funerary contexts
europeo. Universidad de Vallodolid. Junta de Castilla y León.
of the International Tagus. Graphical Markers and Megalithic
p. 321-335.
Builders in the International Tagus, Iberian Peninsula. BAR
International Series 1765, p. 141-155. LAGO, M.; DUARTE, C.; VALERA, A. C.; ALBERGARIA, J.; ALMEIDA,
F.; CARVALHO, A. F. – Povoado dos Perdigões (Reguengos de
CALADO, M. (2002) – Povoamento Pré e Proto-Histórico da margem
Monsaraz): dados preliminares dos trabalhos arqueológicos
direita do Guadiana. Almadan. II série. 11. p.122-127.
realizados em 1997. Revista Portuguesa de Arqueologia. 1:1,
CARDOSO, J. L. (2014) – A presença campaniforme no território p. 45-152.
português. Estudos Arqueológicos de Oeiras. 21. Oeiras. Câmara
LAZARICH GONZÁLEZ, M. (2005) – Bell Beakers in Andalusia.
Municipal de Oeiras. p. 295-348.
In M. A. Rojo-Guerra; R. Garrido-Pena; I. G. Martínez de Lagrán
CARDOSO, J. L.; CARREIRA, J. R.; VEIGA FERREIRA, O. (1993) – Cerâmicas (coords.) El campaniforme en la Península Ibérica y su contexto
unguladas do povoado calcolítico da Penha Verde. Almadan. Europeu, Vallodalid, p. 351-387.
2. II Série. p. 35-38.
LEISNER, G.; LEISNER, V. (1959) – Die Megalithgräber der Iberischen
CARDOSO, J. L.; NORTON, J. (2004) – As caçoilas campaniformes da Halbinsel: Der Westen 2, Lieferung, Berlin.
anta de Bencafede (Évora). Revista Portuguesa de Arqueologia. 7.
LINDEN, M. (2006a) – For Whom the Bell Tolls: Social Hierarchy
p.129-136.
vs Social Integration. The Bell Beaker Culture of Southern France
CRIADO BOADO, F.; VAZQUEZ VARELA, J. M. (1993) – La cerámica (Third Millennium BC). Cambridge Archaeological Journal.
campaniforme en Galicia. Cuadernos do seminario de Sargadelos. p. 317-332
42. 2.ª Edición.
LINDEN, M. (2006b) – Le phénomène campaniforme dans l’Europe du
DELIBES DE CASTRO, G.; GUERRA DOCE, E.; ABARQUERO MORAS, J. 3ème millénaire avant notre ère: Synthèse et nouvelles perspectives.
(2016) – Rituales campaniformes en contextos no funerarios: la BAR International Series 1470. p. 70-73.
factoría salinera de Molino Sanchón II (Villafáfila, Zamora). Arpi, MÁRQUEZ ROMERO, J. E.; MATA VIVAR, E.; JIMÉNEZ JÁIMEZ, V.;
04, Extra, p. 286-297. SUÁREZ PADILLA, J. (2013) – Dataciones absolutas para el fosso 1
EVANGELISTA, L.; LAGO, M.; MIGUEL, L. (2016) – A anta dos Enxacafres de Perdigões (Reguengos de Monsaraz, Portugal): Reflexiones
no contexto do megalitismo da região de Grândola e Santiago sobre su cronologia y temporalidade. SPAL. p. 17-27.
do Cacém: uma primeira nota. Apontamentos de Arqueologia MATALOTO, R.; COSTEIRA, C.; ROQUE, C. (2015) – Torres, Cabanas
e Património. 11. p. 21-32. e Memória: a Fase V e a cerâmica campaniforme do povoado
FROSSMANN, A. (2016) – Descubierto un recinto circular del de S. Pedro (Redondo, Alentejo Central). Revista Portuguesa de
Calcolítico al noroeste de Sevilla, http://www.nationalgeographic. Arqueologia, 18, p. 81-100.
com.es/historia/actualidad/descubierto-recinto-circular- MEDEROS MARTÍN, A. (2016) – La cronologia actual de los sistemas
calcolitico-noreste-sevilla_10604 de fosos del poblado calcolítico de Valencina de la Concepción
GARCÍA RIVERO, D. (2006) – Campaniforme y territorio en la cuenca (Sevilla) en el contexto del Sur de la Península Ibérica. Arpi. O4.
media del Guadiana. SPAL. 15. p. 71-102. Extra. p. 298-323.

96 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
ODRIOZOLA, C.; HURTADO, V.; DIAS, M. I.; VALERA, A. C. (2008) – VALERA, A. C. (2015c) – Social change in the late 3rd millennium BC
Produção campaniforme e consumo de campaniformes no vale in Portugal: The twilight of enclosures. In H. Meller/R. Risch/
do Guadiana: uma perspectiva ibérica. Apontamentos de R. Jung/H. W. Arz (eds.) – 2200 BC – Ein Klimasturz als Ursache
Arqueologia e Património, 8, p. 45-52. für den Zerfall der Alten Welt? 2200 BC – A climatic breakdown
PRIETO-MARTÍNEZ, M. P.; COBAS-FERNÁNDEZ, I.; CRIADO BOADO, F. as a cause for the collapse of the old world?. 7. Mitteldeutscher
(2003) – Patterns of spatial regularity in late prehistoric material Archäologentag vom 23. Bis 26. Halle 13,1–2, p. 409-427.
cultures styles of the NW Iberian Península. In Alex Gibson (ed.) – VALERA, A. C. (2016) – The «exogenous» at Perdigões. Approaching
Prehistoric Poterry. People, pattern and purpose, BAR International interaction in the late 4th and 3rd millennium BC in Southwest
Series 1156, p. 147-187. Iberia. Key resources and Social-Cultural developments in the
REBUGE, J. (2004) – Uma proposta para reconceptualizar Iberian Chalcolithic.
a materialidade arqueológica: o campaniforme no Norte de VALERA, A. C. (present volume) – Beakers in Central Portugal:
Portugal e regiões contíguas. Trabalhos de Antropologia confluences and strange absences, Sinos e Taças. Junto ao oceano
e Etnologia. Vol. 44 (1-2), p. 111-186. e mais além. Aspectos da presença campaniforme na Península
SALANOVA, L. (2005) – The origins of the Bell Beaker phenomenon: Ibérica. Lisboa.
breakdown, analysis, mapping. In. M.A. Rojo-Guerra; R. Garrido- VALERA, A. C. (in press) – Landscapes of complexity in South Portugal
-Pena; I.G. Martínez de Lagrán (coords.) – El campaniforme en la during the 4th and 3rd millennium BC. Megaliths, Societies,
Península Ibérica y su contexto Europeu, Vallodalid, p. 7-27. Landscapes. Early monumentality and social differentiation
SILVA, C. T.; SOARES, J. (1987) – O povoado fortificado calcolítico in Neolithic Europe.
do Monte da Tumba. I – escavações de 1982-86 (resultados VALERA, A. C.; BASÍLIO, A. C.; CABAÇO, N. (in preparation) – Echoes
preliminares). Setúbal Arqueológica. VIII. Setúbal, p. 29-79. from feasting in the transition to Bronze Age at Perdigões.
SOARES, A. M. (2008) – O monumento megalítico Monte da Velha 1 VALERA, A. C.; CALVO, E.; SIMÃO, P. (2016) – Enterramento
(Vila Verde de Ficalho, Serpa). Revista Portuguesa de Arqueologia. campaniforme em fossa da Quinta do Castelo 1(Salvada, Beja).
11:1, p. 33-51. Apontamentos de Arqueologia e Património. 11, p. 13-20.
SOARES, J.; SILVA, C. T. (2010) – Campaniforme do Porto das Carretas VALERA, A. C.; EVANGELISTA, L. S. (2014) – Anthropomorphic
(médio Guadiana). A procura de novos quadros de referência. figurines at Perdigões enclosure: naturalism, body proportion
In V. S. Gonçalves, A. C. Sousa (eds.), Transformação e mudança and canonical posture as forms of ideological language. Journal
no centro e sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. Cascais, of European Archaeology. 17-2. p. 286-300.
p. 225-261. VALERA, A. C.; FILIPE, I. (2004) – O povoado do Porto Torrão (Ferreira
SUÁREZ, J.; MÁRQUEZ, J. E.; CARO, J. L.; MATA, E.; CUEVAS, P.; JIMÉNEZ, do Alentejo). ERA Arqueologia. 6. p. 28-61.
V.; ALTAMIRANO, E.; MILESI, L.; CRESPO, E. (2015) – Excavaciones VALERA, A. C.; GONÇALVES, A.; EVANGELISTA, L. (2013) – Metais e
arqueológicas en la Puerta 1 del yacimiento de Perdigões metalurgia. In. A. C. Valera (coord.) As comunidades agropastoris
(Reguengos de Monsaraz, Portugal). Universidad de Málaga. na margem esquerda do Guadiana. 2.ª metade do IV aos inícios
Campaña de 2013. Actas del VII Encuentro de Arqueología del do II milénio AC. Memórias d’Odiana. 6. 2.ª Série. EDIA/DRCALEN.
Suroeste Peninsular. p. 279-298. p. 283-301.
VALERA, A. C. (2000) – O fenómeno campaniforme no interior centro VALERA, A. C.; REBUGE, J. (2011) – O Campaniforme no Alentejo:
de Portugal: o contexto da Fraga da Pena, Pré-História Recente contextos e circulação. Um breve balanço. Arqueologia do norte
na Península Ibérica. Actas do 3.º Congresso de Arqueologia alentejano. Comunicações das 3.as Jornadas. Câmara Municipal
Peninsular. Porto. ADECAP. p. 269-290. de Fronteira. p. 111-121.
VALERA, A. C. (2006) – A margem esquerda do Guadiana (região VALERA, A. C.; SANTOS, H.; FIGUEIREDO, M.; GRANJA, R. (2014) –
de Mourão), dos finais do 4.º aos inícios do 2.º milénio AC. Era Contextos funerários na periferia do Porto Torrão: Cardim 6
Arqueologia, 7, Lisboa, p. 136-210. e Carrascal 2. 4.º Colóquio de Arqueologia do Alqueva. O plano de
VALERA, A. C. (2007) – Dinâmicas locais de identidade: estruturação rega (2002-2010). Memórias d’Odiana. 2.ª Série. 14. Edia/DRCALEN.
de um espaço de tradição no 3.º milénio AC (Fornos de Algodres, p. 83-95.
Guarda). Braga. CMFA/TA. VALERA, A. C.; SCHUHMACHER, T. X.; BANERJEE, A. (2015) – Ivory in
VALERA, A. C. (2010) – Mapping the cosmos – a cognitive approach the Chalcolithic enclosure of Perdigões (South Portugal): the
to iberian prehistoric enclosures. In A. Valera, L. Evangelista social role of an exotic raw material. World Archaeology. 47:3.
(eds.) The idea of enclosure in recent iberian Prehistory. BAR. p. 390-413.
International Series. p. 99-108. VALERA, A. C.; SILVA, A. M.; MÁRQUEZ ROMERO, J. E. (2014) –
VALERA, A. C. (2013) – As comunidades agropastoris na margem The temporality of Perdigões enclosures: absolute chronology
esquerda do Guadiana. 2.ª metade do IV aos inícios do II milénio of the structures and social practices. SPAL. 23, p. 11-26.
AC. Memórias d’Odiana. 6. 2.ª Série. EDIA/DRCALEN. VALERA, A. C.; SILVA, A.M.; CUNHA, C.; EVANGELISTA, L. S. (2014) –
VALERA, A. C. (2014) – Bela Vista 5. Um recinto do Final do 3.º milénio Funerary practices and body manipulations at Neolithic and
a.n.e. (Mombeja, Beja). Era Monográfica. 2. Lisboa. Nia-Era. Chalcolithic Perdigões ditched enclosures (South Portugal).
VALERA, A. C. (2015a) – Ciempozuelos beaker geometric patterns: In A. C. Valera (ed) Recent Prehistoric Enclosures and Funerary
a glimpse into their meaning. Apontamentos de Arqueologia Practices. Oxford: BAR International Series 2676. p. 37-57.
e Património, 10, p. 47-51. VEIGA FERREIRA, O. da; ZBYSZEWSKI, G.; LEITÃO, M.; NORTON, C. T.;
VALERA, A. C. (2015b) – The diversity of ideotechnic objects at SOUSA, H. R. (1975) – Le monument mégalithique de Pedra
Perdigões enclosure: a first inventory of items and problems. Branca auprés de Montum (Melides). Comunicações dos Serviços
Arpi. 3. Alcalá de Henares. p. 238-256. Geológicos de Portugal. Lisboa. 59. p. 107-192.

ANTÓNIO CARLOS VALERA, ANA CATARINA BASÍLIO  APPROACHING BELL BEAKERS AT PERDIGÕES ENCLOSURES (SOUTH PORTUGAL): SITE, LOCAL AND REGIONAL SCALES 97
O BARRANCO DO FARINHEIRO (CORUCHE)
E A PRESENÇA CAMPANIFORME NA MARGEM
ESQUERDA DO BAIXO TEJO
VICTOR S. GONÇALVES
UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (WAPS)
vsg@campus.ul.pt

ANA CATARINA SOUSA


UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (WAPS)
sousa@campus.ul.pt

MARCO ANTÓNIO ANDRADE


UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (WAPS)
Fundação para a Ciência e Tecnologia
marcoandrade@campus.ul.pt

98 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
R E S U M O O Barranco do Farinheiro corresponde a um conjunto de vários núcleos de
ocupação calcolítica situados no rebordo da escarpa mio-pliocénica sobranceira à planície
aluvionar do Sorraia. Os trabalhos arqueológicos, incidindo exclusivamente no núcleo 2
(BFR-2), permitiram identificar uma estrutura negativa com uma sequência de sedimen-
tação bastante interessante. São distinguíveis dois momentos de ocupação/utilização: o
primeiro, representado pelos níveis inferiores de colmatação. O segundo, representado
pelos níveis superiores, está datado da segunda metade do 3.º milénio a.n.e. Este segundo
momento de ocupação/utilização é caracterizado pela presença de cerâmicas decoradas
do grupo «folha de acácia», às quais se encontram estratigraficamente associadas cerâ-
micas campaniformes (lisas e decoradas). Com base nos dados recolhidos no Barranco do
Farinheiro, ensaia-se uma tentativa de caracterização das ocupações campaniformes na
margem esquerda do baixo Tejo, avançando-se que a escassez de sítios até ao momento
registada (contrapondo-se à densa ocupação eliminada na margem direita) poderá ser
resultado de contingências arqueográficas, e não propriamente de uma efectiva ausência
de ocupação do espaço.
PALAVRAS CHAVE: Baixo Tejo, Sorraia, Coruche, 3.º milénio a.n.e., Campaniforme

A B S T R A C T The archaeological site of Barranco do Farinheiro corresponds to a set of dif-


ferent chalcolithic occupation areas located on the edge of the Mio-Pliocenic escarpement
overhanging the alluvial plain of the Sorraia River. The excavation works were focused
exclusively on Area 2 (BFR-2) and allowed to identify a negative feature filled with an
interesting sedimentation sequence. Two moments of occupation/use are discernible: a
first one, represented on the lower levels of the colmatation sequence; a second one, rep-
resented on the upper levels, already dated from the second half of the 3rd millennium
BCE. This second occupation/use episode is characterized by the presence of decorated pot-
tery of the «acacia-leaf» group, stratigraphically associated with beaker pottery (plain and
decorated). Based on the data collected in Barranco do Farinheiro, the authors rehearse a
preliminary attempt to characterize the beaker occupations on the left bank of the lower
Tagus River, showing that the scarcity of sites therein identified (in opposition to the
intense occupation known on the right bank) could be probably explained by archaeo-
graphic contingencies, not exactly by a lack of effective use of the territory.
KEYWORDS: Lower Tagus River, Sorraia, Coruche, 3rd millennium BCE, bell beaker.

VICTOR S. GONÇALVES, ANA CATARINA SOUSA, MARCO ANTÓNIO ANDRADE  O BARRANCO DO FARINHEIRO (CORUCHE) E A PRESENÇA CAMPANIFORME NA MARGEM ESQUERDA DO BAIXO TEJO 99
1. ABRINDO... esquerda do Baixo Tejo, do Neolítico ao Calcolítico,
O sítio arqueológico do Barranco do Farinheiro foi usando o vale do Sorraia como estudo de caso (com
identificado no âmbito do projecto ANSOR – Antropi- incidência particular na área do actual concelho de
zação do Vale do Sorraia, encontrando-se o seu estudo Coruche).
incluído numa das actuais linhas de investigação do Este sítio integra-se no contexto de uma rede de povo-
Grupo de Trabalho sobre as Antigas Sociedades Cam- amento calcolítico principalmente disposta ao longo da
ponesas da UNIARQ (Centro de Arqueologia da Univer- margem direita do Sorraia, sobre a escarpa mio-plio-
sidade de Lisboa), tendo como objectivo a caracteriza- cénica sobranceira à sua planície aluvionar – rede esta
ção das antigas sociedades camponesas na margem que inclui, para além do Barranco do Farinheiro, os sítios

FIG. 1 Situação do Barranco do Farinheiro. À esquerda: no Ocidente peninsular; à direita, em cima: no contexto do Calcolítico na Estremadura
e Ribatejo; à direita, em baixo: no contexto das ocupações do Calcolítico do vale do Sorraia (93: Monte da Foz; 94: Monte da Quinta 2; 95: Cabeço
do Pé da Erra; 96: Barranco do Farinheiro; 97: Casas Novas; 98: Catarroeira; 99: Monte dos Lacraus). Base cartográfica: R. Boaventura/M. Langley.

100 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 2 Situação oro-hidrográfica dos
sítios intervencionados no âmbito
do projecto ANSOR. BFR: Barranco
do Farinheiro (encontrando-se
representados os três núcleos de
ocupação identificados); CPE: Cabeço
do Pé da Erra; CNV: Casas Novas.
Levantamento: C. M. Coruche.

dos Gamas, Monte dos Lacraus, Catarroeira, Cabeço do campaniformes, no contexto dos diagramas de inte-
Pé da Erra e Entre Águas. Com efeito, são escassas e racção das antigas sociedades camponesas da segunda
inconclusivas as evidências de povoamento registadas metade do 3.º milénio a.n.e.
na margem esquerda, sendo apenas de salientar o sítio Este trabalho pretende assim apresentar algumas
de Casas Novas, caracterizado sobretudo pela sua ocu- observações preliminares sobre os dados recolhidos no
pação do Neolítico antigo (Gonçalves, 2009; Gonçalves Barranco da Farinheiro, integrados nos contextos de
e Sousa, 2015), mas onde se registou também uma ocu- estudo acima mencionados, ensaiando-se uma tenta-
pação ténue do Calcolítico final, ou o contexto funerário tiva de caracterização da ocupação campaniforme na
de Monte da Barca, atribuível possivelmente à primeira margem esquerda do baixo Tejo.
metade do 3.º milénio a.n.e. (Gonçalves, 2011).
Neste sentido, juntamente com o Barranco do Fari-
nheiro, foram até ao momento objecto de trabalhos 2. O BARRANCO DO FARINHEIRO: DEFINIÇÃO
de escavação os sítios de Casas Novas e Cabeço do Pé E CARACTERIZAÇÃO
da Erra (Gonçalves e Sousa, 2014) – abrangendo assim O sítio do Barranco do Farinheiro localiza-se geogra-
toda a diacronia cronológica estabelecida como espec- ficamente na área designada como «Charneca do Riba-
tro de investigação para o projecto ANSOR. As quatro tejo», na área de influência do baixo Tejo (na sua margem
campanhas de escavação conduzidas no Barranco do esquerda). Situa-se administrativamente na freguesia
Farinheiro entre 2012 e 2015 permitiram, de acordo com da Erra (actual União de Freguesias de Coruche, Fajarda e
a informação contextual aí registada, levantar várias Erra), concelho de Coruche, distrito de Santarém.
questões pertinentes no âmbito do estudo das antigas Corresponde a um provável conjunto de vários
sociedades camponesas do Sudoeste peninsular. núcleos de ocupação calcolítica (loci BFR-1 a 3), locali-
Em primeiro lugar, salienta-se a utilidade dos dados zado a 3,3 quilómetros a Este do Cabeço do Pé da Erra
recolhidos para a discussão sobre sítios dotados de fos- (com o qual mantém uma excelente relação de inter-
sos, seja pela sua potencial funcionalidade, pela sua -visibilidade), estando incluído na mesma micro-uni-
distribuição geográfica (neste caso concreto, na área dade paisagística. Estes núcleos de ocupação implan-
do Ribatejo) ou pela caracterização das suas sequências tam-se no rebordo da escarpa constituída pela erosão
de ocupação/utilização. Em segundo lugar, destaca-se dos depósitos terciários de enchimento do Tejo (Mio-
a sua contribuição para o debate sobre os caminhos de -Pliocénico detrítico), no interflúvio Ribeira da Erra-
difusão e os patamares crono-culturais das cerâmicas -Rio Sorraia, em posição sobranceira à planície aluvio-

VICTOR S. GONÇALVES, ANA CATARINA SOUSA, MARCO ANTÓNIO ANDRADE  O BARRANCO DO FARINHEIRO (CORUCHE) E A PRESENÇA CAMPANIFORME NA MARGEM ESQUERDA DO BAIXO TEJO 101
FIG. 4 Em cima, levantamento topográfico da área de escavação
de BFR-2, com implantação da estrutura negativa identificada
e indicação do seu possível traçado. Em baixo: perfil topográfico
FIG. 3 Aspectos paisagísticos de BFR-2 (indicado pelas setas).
da área de escavação de BFR- 2, com indicação da localização da
Em cima: vista Oeste, em relação à planície aluvionar do Sorraia;
estrutura negativa (incremento vertical de 10%). Levantamento:
em baixo: vista a partir do povoado do Cabeço do Pé da Erra.
C. M. Coruche.

nar deste último curso de água – dominando, para os e a sua integração na área ocupada – constituída como
quadrantes SE e SW, toda esta extensa área de várzea. uma estreita plataforma no extremo de um esporão de
Com efeito, o amplo vale do Sorraia constitui um dos encostas íngremes, destacado da linha de cumeada esta-
corredores de ligação preferenciais entre o vale do Tejo belecida pelo interflúvio Ribeira da Erra-Rio Sorraia.
(e consequentemente, a área estremenha) e o interior Apesar da relativamente reduzida área escavada
alentejano, facto igualmente potenciado pela navega- (36 m2), foi possível confirmar que a realidade identi-
bilidade daquele rio até tempos recentes. O Barranco ficada correspondia a uma estrutura negativa de tipo
do Farinheiro (e os restantes sítios componentes da fosso ou fossa, com características assaz peculiares.
sua rede de povoamento) encontra-se assim instalado Com efeito, delimitou-se um segmento escavado nos
precisamente em posição de controlo em relação a este depósitos mio-pliocénicos, de traçado sensivelmente
caminho natural, sendo igualmente de considerar a rectilíneo, disposto em dois patamares altimetrica-
disponibilidade de recursos bióticos e abióticos propor- mente diferenciáveis, com uma sequência de sedi-
cionada por esta extensa área de várzea. mentação bastante interessante – aparentemente
Até ao momento, os trabalhos de escavação incidiram reflectindo dois momentos de ocupação/utilização
exclusivamente no núcleo 2 (BFR-2), afectado por proces- crono-culturalmente distintos, dispostos todavia ao
sos erosivos possivelmente motivados pela extracção de longo de todo o 3.º milénio a.n.e.
areias em data incerta. Com efeito, à altura da sua identi-
ficação, o talude resultante destas acções expunha uma
estrutura negativa seccionada por estes mesmos proces- 3. OS EPISÓDIOS DE OCUPAÇÃO/UTILIZAÇÃO
sos erosivos. Era visível toda uma complexa sequência DO BARRANCO DO FARINHEIRO: ESTRATIGRAFIA
estratigráfica colmatando o interior desta estrutura, na E ESTRUTURAS
qual se incluía abundante espólio arqueológico de cro- Como referido, os trabalhos realizados em BFR per-
nologia calcolítica. Uma primeira limpeza deste talude mitiram isolar dois momentos de ocupação/utilização
(realizada em 2012) permitiu atestar a importância distintos, crono-culturalmente diferenciáveis com
arqueográfica do sítio, programando-se os trabalhos base no espólio recolhido nos depósitos de colmata-
para a plataforma superior, de modo a aferir as caracte- ção da estrutura negativa. O primeiro destes episódios
rísticas tipológico-funcionais da estrutura identificada será possivelmente integrável na primeira metade do

102 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
3.º milénio a.n.e., sendo o segundo episódio já datável tricamente diferenciáveis (cotas absolutas de base dis-
da sua segunda metade. postas entre 51,00 m e 52,30 m), bem delimitados por
A escavação e utilização original da estrutura nega- um remate semi-circular (configurando uma espécie
tiva será obviamente referente ao primeiro momento de «degrau» com cerca de 1 m de altura). Em termos
de ocupação (sendo a única estrutura directamente de profundidade, em relação à cota original do terreno,
relacionável com esta fase identificada na área esca- esta interface apresenta cerca de 1,90 m e cerca de 0,40
vada). Trata-se, como dito, de uma estrutura negativa m (tramo mais profundo e menos profundo, respecti-
escavada nos depósitos mio-pliocénicos, de traçado vamente).
sensivelmente rectilíneo (embora seja perceptível uma Os depósitos de colmatação relativos a esta fase,
ligeira curvatura) e secção transversal em U, com perto preenchendo a metade inferior da estrutura negativa,
de 2 m de largura, disposto em dois patamares altime- caracterizam-se por níveis de sedimento silto-are-

FIG. 5 A estrutura negativa identificada em BFR-2, ao nível de base. À esquerda: planta ao nível de base; à direita: secções transversais
(A-B, C-D e E-F) e longitudinal (G-H), notando-se as diferenças altimétricas registadas ao longo do seu traçado (localização das secções
indicada na imagem da esquerda).

FIG. 6 Sequência estratigráfica de colmatação da estrutura negativa identificada. As duas fases de ocupação/utilização encontram-se
separadas pelo estrato designado como UE 5, correspondendo a um depósito de areias provenientes da desagregação das paredes da
estrutura, sem espólio arqueológico.

VICTOR S. GONÇALVES, ANA CATARINA SOUSA, MARCO ANTÓNIO ANDRADE  O BARRANCO DO FARINHEIRO (CORUCHE) E A PRESENÇA CAMPANIFORME NA MARGEM ESQUERDA DO BAIXO TEJO 103
noso (UEs 6, 7, 8 e 14) com abundante espólio arqueo- referindo-se exclusivamente ao tipo crescente. Apesar
lógico. Em relação específica à cerâmica, esta refere- desta concentração, o estado fragmentado das peças,
-se exclusivamente a recipientes lisos (à excepção de para além da sua identificação no interior de uma estru-
dois elementos, cuja presença nestes níveis é discu- tura negativa, não permite considerar esta ocorrência
tida abaixo), onde figuram formas características da como uma área de actividade relacionada com a tece-
primeira metade do 3.º milénio a.n.e., como o são os lagem; a nossa interpretação é que se poderá tratar de
típicos pratos de bordo almendrado. Muito significa- depósitos resultantes de acções de limpeza e descarte de
tivo é o nível de base (UE 7), incluindo um empedrado uma área de tear. A este contexto encontrava-se suges-
formado por seixos de quartzito, sobre o qual se encon- tivamente associada um agulha de cobre, para além de
trava depositado um pequeno conjunto de fragmentos algumas poucas cerâmicas campaniformes.
de «ídolos de cornos». Outra característica deste «nível de ocupação» é a
O segundo episódio de ocupação/utilização, igual- deposição de recipientes inteiros junto à parede Oeste,
mente circunscrito ao interior da estrutura negativa, nomeadamente na UE 3 (pote com decoração do grupo
caracteriza-se por um nível de ocupação (UE 4) que «folha-de-acácia» associado a machado de cobre) e UE
incluía outras realidades estratigráficas e estruturais 16 (esferoidal liso). A identificação de deposições seme-
significativas. Esta ocupação ter-se-ia efectuado já com lhantes foi igualmente registada em outros sítios de
a estrutura negativa meio colmatada, correspondendo fossos peninsulares, relacionadas com áreas de acesso,
a um momento pleno da segunda fase de ocupação/ conforme demonstrado nos exemplos de Perdigões,
utilização e possivelmente aproveitando o espaço Bela Vista 5 e Camino de las Yeseras (Milesi et al., 2013;
abrigado que a estrutura ainda ofereceria (mantendo Márquez-Romero et al., 2013; Valera, 2014; Liesau et al.,
ainda cerca de 1 m de profundidade). 2013-2014; sobre a polémica deposição simbólica de
A realidade designada como UE 4A refere-se a uma recipientes em contexto habitacional, cf. Cardoso, 2011;
concentração de forma sensivelmente elíptica de nódu- Mataloto e Costeira, 2016) – reafirmando assim a inter-
los de argila cozida, à qual se associavam seixos termo- pretação para a estrutura de BFR, mesmo em etapas
clastados, restos de fauna mamalógica (bos sp., sus sp., tardias em que a estrutura não mantivesse já a pleni-
ovis-capra) e carvões. Poderá assim corresponder a uma tude da sua funcionalidade original.
estrutura de combustão de tipo forno desmantelada – Um dos factores que permite diferenciar estes níveis
algo sugerido igualmente pela presença de blocos de daqueles descritos anteriormente e referentes à pri-
argila modelada, assim como placas de argila alisada meira fase de BFR é precisamente a presença de cerâmi-
que poderiam pertencer respectivamente às paredes e à cas decoradas características da segunda metade do 3.º
base desta estrutura. Junto a esta realidade foi identifi- milénio a.n.e., incluindo as decorações do grupo «folha
cado um conjunto de recipientes cerâmicos em conexão de acácia» e do grupo campaniforme, ambos estratigra-
(correspondendo maioritariamente a pequenas taças ficamente associáveis. Para além disso, ambos episódios
em calote) e um pequeno empedrado constituído por de ocupação/utilização encontram-se separados por um
seixos de quartzito de pequena dimensão (UE 12). Estes nível estéril (UE 5), correspondendo a depósitos prove-
contextos estariam provavelmente relacionados com nientes da desagregação das paredes da estrutura nega-
actividades de cozinha, desfrutando (como dito acima) tiva e imediatamente acima da qual se registou o «nível
do espaço abrigado que a estrutura ainda constituiria. de ocupação» designado como UE 4.
A presença de estruturas de combustão no interior Estas duas fases são assim perfeitamente diferenciá-
de estruturas negativas (do tipo fosso ou fossa) sobre veis, estando separadas tanto por um hiato de ocupação
depósitos de colmatação (e referente assim a etapas como pelas características particulares da cultura mate-
mais tardias de ocupação destes contextos), encontra-se rial identificada – nomeadamente (e como dito acima)
igualmente registada noutros exemplos arqueográficos pela presença de cerâmicas decoradas nos níveis supe-
– sendo de referir os casos de Porto Torrão (Santos et al., riores, estando ausentes nos níveis inferiores de colma-
2014) e Alcalar (Morán, 2014), demonstrando que os perí- tação da estrutura negativa.
odos de ocupação destes sítios se estendem para além Toda esta sequência estratigráfica se encontrava
da perda da funcionalidade original ou da desactivação selada por um espesso estrato composto por nódulos de
destas estruturas negativas. argila cozida, podendo corresponder a um nível de der-
Uma outra realidade directamente associada a esta rube de uma estrutura complementar à estrutura nega-
segunda fase de BFR é a fossa designada como UE 17. tiva ou ao seu encerramento intencional – de qualquer
Trata-se de uma estrutura negativa de contornos sensi- maneira, correspondendo à fase de abandono do sítio.
velmente circulares, escavada nos depósitos da primeira Tendo em conta a dimensão da área escavada, BFR
fase. No seu enchimento foi identificado um conjunto forneceu ainda uma quantidade notável de espólio
numeroso de elementos de tear (perto de 200 registos), arqueológico, contabilizando-se cerca de 1406 registos

104 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 7 Nível de ocupação
correspondente à segunda fase de
utilização da estrutura de negativa
identificada em BFR, com indicação
das diversas estruturas registadas no
seu espaço interior.

individuais de artefactos e objectos – que se traduzem


numa ratio de 46,67/m2 (ou de 112,48/ m2, se apenas
confinados ao interior da estrutura negativa). Cerca de
28,24% destes registos correspondem a elementos reco-
lhidos nos níveis da Fase 1, registando-se um volume
consideravelmente superior de elementos relativos à
Fase 2 (cerca de 71,76% dos registos individuais). Esta
discrepância poderá estar relacionada com utilizações
distintas nestas duas fases, resultando em considerá-
veis diferenças na quantidade de espólio presente.

28,24% GRÁFICO 2 Relação percentual do espólio recolhido em BFR


, por fase de ocupação/ utilização e por tipo de artefacto/objecto.
71,76%
CER: cerâmica; PL: artefactos de pedra lascada; PP: artefactos de
pedra polida; PAF: artefactos de pedra afeiçoada; ACD: artefactos
cerâmicos diversos; SAG: artefactos relacionados com o sagrado;
MTL: artefactos metálicos; FMM: fauna mamalógica; CRV: carvão;
MP: matéria-prima; OUTROS: outros artefactos e objectos.
– Fase 1 – CER: 210 registos · Fase 2 – CER: 580 registos
– Fase 1 – PL: 38 registos · Fase 2 – PL: 95 registos
– Fase 1 – PP: 1 registo · Fase 2 – PP: 0 registos
Fase 1
– Fase 1 – PAF: 8 registos · Fase 2 – PAF: 32 registos
– Fase 1 – ACD: 0 registos · Fase 2 – ACD: 217 registos
Fase 2
– Fase 1 – SAG: 8 registos · Fase 2 – SAG: 2 registos
– Fase 1 – MTL: 0 registos · Fase 2 – MTL: 2 registos
GRÁFICO 1 Relação percentual dos registos individuais de BFR, – Fase 1 – FMM: 22 registos · Fase 2 – FMM: 22 registos
por fase ocupação/utilização. – Fase 1 – CRV: 78 registos · Fase 2 – CRV: 17 registos
– Fase 1: 397 registos – Fase 1 – MP: 19 registos · Fase 2 – MP: 31 registos
– Fase 2: 1009 registos – Fase 1 – OUTROS: 13 registos · Fase 2 – OUTROS: 11 registos

VICTOR S. GONÇALVES, ANA CATARINA SOUSA, MARCO ANTÓNIO ANDRADE  O BARRANCO DO FARINHEIRO (CORUCHE) E A PRESENÇA CAMPANIFORME NA MARGEM ESQUERDA DO BAIXO TEJO 105
4. A SEGUNDA FASE DE OCUPAÇÃO/UTILIZAÇÃO dradas por caneluras horizontais finas (registando-se
DO BARRANCO DO FARINHEIRO: CULTURA MATERIAL um único caso de presença de métopes junto ao bordo
E CRONOLOGIA ABSOLUTA da pequena taça em calote C.5-10). Este estilo encontra-
Um dos factores que potencia a diferenciação destas -se aplicado em pequenas caçoilas ou pequenos vasos
duas fases de ocupação de BFR é precisamente a pre- acampanados (B.6-8, C.6-6, C.6-36) e em pequenas taças
sença de cerâmicas decoradas nos estratos superiores, em calote (C.5-10). Neste conjunto, merece destaque a
estando estas ausentes nos estratos inferiores – reali- taça C.6-30, apresentando este mesmo motivo deco-
dade estratigraficamente estabelecida pelo hiato de rativo (linhas ziguezagueantes enquadradas por cane-
ocupação constituído pela UE 5. luras horizontais) preenchido a «pasta branca» (possi-
Com efeito, os níveis inferiores apresentam cerâmi- velmente derivada de osso, de acordo com o comum no
cas exclusivamente lisas, tendo sido registados apenas Sudoeste peninsular, seg. Odriozola et al., 2012), estando
dois fragmentos cerâmicos decorados (A.6-359 e B.6- igualmente decorada na superfície interno por linha
177), que no entanto colam com um outro fragmento ziguezagueantes disposta abaixo do bordo – enqua-
recolhido em níveis superiores (B.6-153), tratando- drando-se aparentemente nos tipos de Ciempozuelos
-se aparentemente de uma intrusão potenciada pelo (cf. Blasco Bosqued et al., 1994). Também o exemplar
desenvolvimento vertical das raízes do sobreiro pre- C.6-310 se poderá enquadrar neste tipo, podendo a
sente no quadrado A.6 (para o qual se obteve autori- decoração que apresenta corresponder a uma espessa
zação de abate de modo a prosseguir os trabalhos de banda formada por linhas paralelas partindo de linhas
escavação). ziguezagueantes perpendiculares, motivo normal-
As cerâmicas decoradas de BFR dividem-se em dois mente aplicado sobre o fundo das caçoilas típicas
grandes grupos genéricos: as cerâmicas campanifor- deste grupo (bandas dispostas ortogonalmente entre
mes e as cerâmicas do grupo «folha de acácia» – apre- si, desenvolvendo-se verticalmente a partir do motivo
sentando ambas valores percentuais sensivelmente decorativo do colo e convergindo para o omphalus).
idênticos (7,64% e 7,82%, respectivamente), mas visivel- O estilo pontilhado encontra-se representado por
mente minoritários quando comparados com a cerâ- 7,32% do total dos recipientes campaniformes (lisos e
mica lisa (84,54%, relativos apenas aos registos referen- decorados), com decorações obtidas pela impressão de
tes à Fase 2 e excluindo-se recipientes campaniformes matriz denteada (pente) formando composições geo-
lisos contabilizados juntamente com os recipientes métricas (bandas de triângulos adossados, principal-
campaniformes decorados). mente evidente em C.6-78).
Estilos compósitos, associando a técnica incisa ao
pontilhado, encontram-se representados por 2,44% do
7,64%
7,82%
total dos recipientes campaniformes (lisos e decora-
dos), sendo de referir a taça C.6-115, uma característica
taça tipo Palmela da área estremenha, com decoração
formada por bandas de triângulos de contorno ponti-
84,54%
lhado e preenchimento inciso (traços oblíquos), tendo o
bordo decorado com traços reticulados incisos.
Será de destacar a ausência dos estilos marítimos
(pontilhado ou inciso) – podendo-se referir somente
Cerâmica lisa
um fragmento potencialmente enquadrável no género
Cerâmica «folha de acácia»
de bandas incisas (A.6-11), curiosamente apresentando
Cerâmica campaniforme
pastas distinta da dos restantes recipientes campani-
GRÁFICO 3 Relação percentual das cerâmicas lisas, campaniformes formes.
e do grupo «folha de acácia» atribuíveis à segunda fase de ocupação Claramente dominantes são os recipientes cam-
de BFR.
paniformes lisos, distinguíveis das formas lisas «de
– Cerâmica lisa: 454 registos
– Cerâmica campaniforme: 41 registos fundo comum» tanto pela morfologia específica que
– Cerâmica folha de acácia: 42 registos apresentam (quando se trata de vasos acampanados)
como pelas características das pastas (mais depuradas),
No conjunto dos recipientes campaniformes, vários correspondendo assim a 73,17% do total dos recipientes
estilos decorativos são distinguíveis – havendo um campaniformes – representados por vasos acampa-
claro predomínio do estilo inciso (17,07% do total dos nados, pequenas caçoilas e taças em calote. Este valor
recipientes campaniformes, lisos e decorados), carac- discrepante em relação aos exemplares decorados não
terizando-se por composições geométricas generica- será assim tão excessivamente elevado quando compa-
mente formadas por linhas ziguezagueantes enqua- rado com outros contextos crono-culturalmente equi-

106 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
paráveis – como, entre outros, o sítio do Freixo (com
62,5% de recipientes campaniformes lisos, seg. Andrade 17,07%
e Ramos, 2013).
7,32%
Todavia, este volume elevado de recipientes cam-
73,17% 2,44%
paniformes lisos em BFR poderá ser ilusório, con-
siderando-se a possibilidade de que muitos destes
fragmentos poderão pertencer ao mesmo vaso, princi-
palmente (e embora poucas tenham sido as colagens
obtidas) o conjunto recolhido no quadrado B.6 – apre-
sentando pastas idênticas e correspondendo basi- Inciso

camente à mesma forma. No entanto, optou-se por Pontilhado

considerá-los individualmente (exceptuando aqueles Compósito

que permitiram colagem efectiva, obviamente) por se Liso

registarem igualmente fragmentos com formas distin-


GRÁFICO 4 Relação percentual dos tipos decorativos campaniformes
tas (nomeadamente taças em calote) mas com pastas
identificados em BFR-2.
semelhantes – revelando uma certa homogeneidade – Campaniforme liso: 30 registos
de fabrico entre formas distintas. Seja como for, e se – Campaniforme pontilhado: 3 registos
corresponderem de facto a um mesmo vaso (aqueles – Campaniforme inciso: 7 registos
– Campaniforme compósito: 1 registo
recolhidos em B.6), a reconstituição gráfica permite
evidenciar que se trata de uma forma claramente cam- posta por largos triângulos com o vértice para cima,
paniforme: um típico vaso acampanado, conforme preenchidos com traços oblíquos e acoplados a con-
demonstrado na Figura 11. juntos de três caneluras horizontais largas, com para-
O conjunto das cerâmicas decoradas do grupo «folha lelos formais extremos em exemplares recolhidos no
de acácia» encontra-se representado maioritariamente Penedo do Lexim (Sousa, 2010) Penha Verde (Cardoso,
pelos típicos potes com impressões largas, semelhantes 2010-2011), Liceia (Cardoso, 1994) ou Rotura (Gonçalves,
aos registados em contextos calcolíticos das penínsulas 1971), por exemplo.
de Lisboa e Setúbal, como, entre outros exemplos, nos Em termos de distribuição espacial, não se regista
povoados fortificados do Penedo do Lexim (Sousa, 2010), uma significativa distinção vertical e horizontal entre
Liceia (Cardoso, 1994 e 2000), Moita da Ladra (Cardoso as cerâmicas campaniformes e as cerâmicas do grupo
et al., 2013) ou Zambujal (Kunst, 2006). Trata-se de potes «folha de acácia», principalmente se esta distribuição
robustos, de bordo envasado, com uma canelura larga for analisada de um ponto de vista genérico – sendo
abaixo da linha do bordo, e duas caneluras rematando apenas de notar as ocorrências campaniformes nos
o motivo em «folha de acácia» (principalmente repre- níveis de topo, principalmente na UE 2 (correspondente
sentados pelo recipiente B.6-46). As semelhanças entre ao nível de abandono do sítio).
os diversos fragmentos incluídos neste tipo poderiam No entanto, e com uma análise de pormenor, nota-
sugerir que se trataria de um número restrito de reci- -se uma certa incidência das cerâmicas campaniformes
pientes (apesar de escassas colagens terem sido conse- na metade Norte da área escavada (possivelmente rela-
guidas). No entanto, e citando os exemplos apontados cionadas com a fossa UE 17) e das cerâmicas do grupo
acima, a «homogeneidade conceptual» é uma caracte- «folha de acácia» na metade Sul (aparentemente asso-
rística particular destes potes, com exemplares muito ciadas às estruturas UE 4A e 12). Mas, em rigor, estes não
semelhantes reconhecidos nos diversos sítios escavados. são depósitos diferenciais – dado que tanto cerâmicas
Outras variantes deste grupo encontram-se repre- campaniformes como do grupo «folha de acácia» se
sentadas pelas impressões em «crucífera» (representa- encontram disseminadas por todas a área escavada
das por C.5-2), igualmente semelhantes aos recolhidos (embora quase exclusivamente limitados ao interior da
nos sítios acima mencionados. Regista-se também as estrutura negativa), estando espacialmente associadas
«folhas de acácia» finas obtidas por incisão – aqui repre- a nível tanto horizontal como vertical – como o demons-
sentadas por A.5-9 (semelhante às recolhidas no Cabeço tra a presença de fragmentos campaniformes incluídos
do Pé da Erra, aplicadas em pequenos esféricos) ou na UE 3, acompanhando o pote LC-6. Podemos assim
A.6-359 (vaso de paredes rectas de superfícies brunidas). afirmar, quase que sem reservas, que ambos grupos
Os motivos geométricos, igualmente característi- aparentemente terão coexistido em BFR, num intervalo
cos deste grupo, estão principalmente representados de tempo bastante bem definido (como se verá abaixo),
pelo vaso LC-6 (incluído na já referida deposição desig- e como uma densidade ainda significativa – dado que
nada como UE 3, associado ao machado de cobre LC-7), o número de elementos pelo total da área escavada se
correspondendo a um grande pote com decoração com- compreende numa ratio de 1,36/m2, correspondendo a

VICTOR S. GONÇALVES, ANA CATARINA SOUSA, MARCO ANTÓNIO ANDRADE  O BARRANCO DO FARINHEIRO (CORUCHE) E A PRESENÇA CAMPANIFORME NA MARGEM ESQUERDA DO BAIXO TEJO 107
FIG. 8 Cerâmicas campaniformes decoradas recolhidas
em BFR.

FIG. 9 Pormenor do preenchimento a pasta branca da


decoração do recipiente C.6-30.

108 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 10 Cerâmicas campaniformes lisas recolhidas em BFR-2.

uma ratio de 4,1/m2 se atendermos apenas à sua distri-


buição pelo espaço interno da estrutura negativa (consi-
derando mesmo elementos excêntricos a este) .
Acompanhando estes dois grupos específicos de reci-
pientes cerâmicos, encontrava-se um conjunto ainda
considerável de recipientes lisos, designados como «de
fundo comum», ascendendo (como referido acima) a
84,54% dos registos cerâmicos referentes à Fase 2.
Trata-se de formas maioritariamente abertas, carac-
terísticas do 3.º milénio a.n.e., com especial referência
para os pratos e taças de bordo espessado (registando-se
igualmente formas idênticas de bordo não espessado).
No conjunto destas últimas, encontram-se formas
semelhantes àquelas que caracterizam as produções
campaniformes do tipo Palmela (taças de bordo plano,
espessado internamente, aqui representadas por B.6-24
e B.6-98, por exemplo); no entanto, por se tratarem de
formas cujo uso se prolonga desde a primeira metade do FIG. 11 Reconstituição gráfica, a partir dos fragmentos recolhidos no
3.º milénio a.n.e., não foram consideradas no campo das quadrado B.6, de recipiente campaniforme liso.

VICTOR S. GONÇALVES, ANA CATARINA SOUSA, MARCO ANTÓNIO ANDRADE  O BARRANCO DO FARINHEIRO (CORUCHE) E A PRESENÇA CAMPANIFORME NA MARGEM ESQUERDA DO BAIXO TEJO 109
FIG. 12 Cerâmicas do grupo «folha de acácia» recolhidas em BFR.

cerâmicas campaniformes lisas – sendo assim incluí- «folha de acácia» é precisamente as características dos
das no conjunto dos recipientes «de fundo comum» seus fabricos – sendo assim perfeitamente diferenciá-
(com os quais inclusivamente partilha as características veis por uma análise macroscópica. Os recipientes cam-
das pastas). paniformes apresentam pastas muito homogéneas,
Encontram-se também presentes, no campo das for- com escassos componentes não plásticos, de calibre
mas abertas, as taças de bordo exvertido ou taças de muito fino, compostos (por ordem de frequência) por
bordo em aba, e taças em calote simples (com diâme- grãos de quartzo (de angulosos a sub-rolados), moscovi-
tros dispostos entre ±35 cm e ±10 cm). As formas fecha- tes, piroxenas e óxidos de ferro (escassos). As cerâmicas
das incluem igualmente taças em calote e esféricos (de do grupo «folha-de-acácia» apresentam pastas com-
bordo simples ou exvertido). pactas, com componentes não plástico de calibre fino a
Um dos factores que permite distinguir estes ele- médio, compostos (por ordem de frequência) por grãos
mentos daqueles incluídos nos grupos campaniforme e de quartzo (maioritariamente angulosos), feldspatos,

110 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 13 Recipiente do grupo «folha de acácia» e
machado de cobre recolhidos no depósito designado
como UE 3, referente à segunda fase de ocupação de
BFR.

FIG. 14 Distribuição horizontal (em cima)


e vertical (em baixo) das cerâmicas campaniformes
e do grupo «folha de acácia» recolhidas em BFR.
Na distribuição vertical, a linha indica a separação
estratigráfica entre as duas fases registadas,
correspondendo à interface de topo da UE 5
(hiato de ocupação); um único elemento decorado
se encontra abaixo deste estrato, correspondendo
possivelmente a uma perturbação, dado ter sido
possível a sua recolagem com elementos recolhidos
nos níveis superiores.

VICTOR S. GONÇALVES, ANA CATARINA SOUSA, MARCO ANTÓNIO ANDRADE  O BARRANCO DO FARINHEIRO (CORUCHE) E A PRESENÇA CAMPANIFORME NA MARGEM ESQUERDA DO BAIXO TEJO 111
FIG. 15 Cerâmicas lisas recolhidas nos níveis da segunda fase FIG. 16 Cerâmicas lisas recolhidas nos níveis da segunda fase
de ocupação de BFR-2. De notar a semelhança de B.6-98 com as de ocupação de BFR-2. De notar a semelhança de B.6-24 com as
características taças de tipo Palmela. características taças de tipo Palmela.

moscovites, piroxenas e minerais verdes (possivel- Os artefactos de pedra lascada, referentes à Fase 2
mente olivinas, embora se reconheça a fácil deteriora- (95 registos), incluem-se em todas as classes tecnoló-
ção destes elementos durante a cozedura dos recipien- gicas (excluindo, por não representados na colecção, a
tes). As cerâmicas lisas de fundo comum apresentam já matéria-prima e os materiais de preparação/reaviva-
pastas pouco homogéneas, de semi-compactas a pouco mento). Os produtos de debitagem estão representados
compactas, com abundantes elementos não plásticos, por lascas (maioritariamente em xisto silicioso, com
mais grosseiros, compostos (por ordem de frequência) um menor número de exemplares em sílex, quartzo
por grãos de quartzo (maioritariamente sub-rolados), hialino e quartzito), lâminas (três exemplares em sílex
felsdpatos e moscovites (escassas) – registando-se e um exemplar em quartzo) e lamelas (em quartzo,
igualmente alguns exemplares como componentes quartzito e xisto silicioso). Os núcleos incluem exem-
orgânicos (osso e elementos vegetais). plares em quartzo (dois deles correspondendo a peças
Para além das cerâmicas, outros artefactos e objectos esquiroladas) e quartzito (seixo-núcleo). Os utensílios
são reportáveis à Fase 2 de BFR incluindo-se em catego- são dominados pelas pontas de seta de base côncava
rias distintas (salientando-se a ausência de artefactos ou recta (maioritariamente em xisto silicioso, sendo
de pedra polida), revelando o possível carácter multi- residuais os exemplares em sílex), havendo igualmente
-funcional da estrutura negativa durante este episódio registos de lascas retocadas (em xisto silicioso, sílex e
de ocupação/utilização. quartzo) e um denticulado. Os sub-produtos de talhe

112 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 17 Comparação macroscópica (×50) das pastas das cerâmicas campaniformes, do grupo «folha de acácia» e
lisas da segunda fase de ocupação de BFR-2, notando-se as diferenças de calibre dos componentes não plásticos.
O segmento de escala corresponde a 2,5 mm.

VICTOR S. GONÇALVES, ANA CATARINA SOUSA, MARCO ANTÓNIO ANDRADE  O BARRANCO DO FARINHEIRO (CORUCHE) E A PRESENÇA CAMPANIFORME NA MARGEM ESQUERDA DO BAIXO TEJO 113
FIG. 18 À esquerda, distribuição
horizontal dos elementos de tear
atribuíveis à segunda fase de ocupação
de BFR, notando-se a sua concentração
no depósito designado como UE 17;
à direita, exemplos dos elementos de
tear recolhidos no depósito designado
como UE 17.

FIG. 19 Outros artefactos recolhidos


nos níveis atribuíveis à segunda
fase de ocupação de BFR: em cima,
pontas de seta de xisto silicioso (A.5-3
corresponde a uma pré-forma); em
baixo: agulha de cobre recolhida no
depósito designado como UE 17.

114 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 20 Outros artefactos recolhidos nos níveis atribuíveis à segunda fase de ocupação de BFR: possível algaraviz de forja cerâmico recolhido
no depósito designado como UE 17 e fragmento de queijeira.

caracterizam-se por esquírolas e restos de talhe, de Elementos de fauna mamalógica (bos sp., sus sp., ovis-
sílex, xisto silicioso e quartzo hialino. -capra) e carvões encontram-se especialmente na UE 4,
A pedra afeiçoada encontra-se principalmente repre- aparentemente relacionados com a estrutura designada
sentada por percutores e bigornas usando seixos de como UE 4A – facto que possibilitou, como dito acima, a
quartzo e quartzito como suporte. Regista-se também sua interpretação como estrutura de combustão do tipo
alguns fragmentos de elementos de mó (dormentes forno relacionada com actividades de cozinha.
e moventes de granito e grano-diorito, relativamente A matéria-prima, referindo-se a elementos em bruto
escassos na Fase 1), uma «placa» de arenito afeiçoada (não trabalhados), encontra-se representada por frag-
(C.6-266) e um «peso de rede» em xisto (B.5-20). mentos de granito e xisto ardosiano – ambos ausentes
Os artefactos cerâmicos diversos encontram-se no substrato geológico local.
representados principalmente pelos elementos de tear, Outros artefactos e objectos incluem nódulos de
concentrados na fossa UE 17 (perto de 200 registos) e argila modelada, ou artefactos cerâmicos de signifi-
correspondendo exclusivamente ao tipo crescente. Esta cado desconhecido.
concentração poderá ser resultado, como dito acima, da Para esta fase de ocupação/utilização de BFR-2
limpeza e descarte de uma área de tear. Dentro desta foram já obtidas datações absolutas, sobre amostras de
categoria, foi igualmente recolhida uma «manga» de carvões recolhidos nas UEs 3 e 4, fornecendo os seguin-
cerâmica (C.6-182), tratando-se de um artefacto de ten- tes resultados:
dência cilíndrica, sem fundo, com um diâmetro exces-
sivamente pequeno para se tratar de um «suporte» e Beta-331680: 3930±30 BP (UE 3, sob o vaso LC-6),
demasiado grande para se tratar de um algaraviz – a Beta-386974: 4010±30 BP (UE 4, A.5-17)
sua funcionalidade continua assim por definir, devendo Beta-425876: 3900±30 BP (UE 4, A.5-28)
ser referido que foi identificada na UE 17, associado aos
elementos de tear. Outros artefactos cerâmicos diver- Calibradas, com recurso ao programa Calib 7.0.1
sos incluem as queijeiras, tendo sido identificadas em (© M. Stuiver e P. J. Reimer, 2013) e utilizando a curva
número estatisticamente irrelevante (dois elementos). IntCal13.14c (Reimer et al., 2013, Radiocarbon 55: 4), estas
Os artefactos relacionados com o sagrado são relati- datações forneceram os seguintes intervalos a 2σ, com
vamente escassos nos níveis da Fase 2, resumindo-se a 95,4% de probabilidade:
dois possíveis fragmentos de «ídolos de cornos» (acei-
tando esta interpretação para este tipo de artefactos). Beta-331680: 2550-2300 cal BC
Os artefactos metálicos encontram-se representa- Beta-386974: 2616-2469 cal BC
dos por apenas dois elementos: o machado de cobre Beta-425876: 2469-2298 cal BC
LC-7 identificado em associação ao pote do grupo
«folha de acácia» LC-6 no depósito UE 3, e uma agulha As datações Beta-331680 e Beta-425876 afiguram-se
de cobre (C.6-87) recolhida na fossa UE 17 em sugestiva como estatisticamente semelhantes, dispondo-se ao
associação aos elementos de tear. Não foram recolhidos longo do terceiro quartel do 3.º milénio a.n.e., podendo-
cadinhos, pelo que não é até ao momento defensável a -se apontar este intervalo como correspondendo ao
produção local destes artefactos. momento pleno de ocupação/utilização da Fase 2 de BFR

VICTOR S. GONÇALVES, ANA CATARINA SOUSA, MARCO ANTÓNIO ANDRADE  O BARRANCO DO FARINHEIRO (CORUCHE) E A PRESENÇA CAMPANIFORME NA MARGEM ESQUERDA DO BAIXO TEJO 115
de povoados fortificados, ainda ocupados durante o
início da segunda metade do 3.º milénio a.n.e., que se
organiza em relação directa com este curso de água, na
sua margem direita.
Com efeito, são notórias as divergências entre ambas
margens do Tejo durante o 3.º milénio a.n.e., não só a
nível da densidade populacional registada como tam-
bém a nível da própria tipologia dos sítios. Se na mar-
gem direita encontramos povoados de altura muralha-
dos (principalmente Vila Nova de São Pedro, Pragança,
Ota, Pedra do Ouro, Castelo e Moita da Ladra, formando
a já referida «linha» instalada em relação ao Tejo), na
margem esquerda temos sítios implantados em áreas
GRÁFICO 5 Datações 14C para a segunda fase de ocupação de BFR, abertas ou sobre elevações (por vezes dotados de fos-
recalibradas em 2016 com recurso ao programa Calib 7.0.1
(© M. Stuiver e P. J. Reimer, 2013), utilizando a curva IntCal13.14c
sos, como o Cabeço do Pé da Erra). Porém, as manifes-
(Reimer et al., 2013, Radiocarbon 55: 4). Intervalo 2σ com 95,4% tas divergências nas estratégias de povoamento entre
de probabilidade. ambas margens poderão estar relacionadas apenas
com as diferentes características geomorfológicas (e
– sendo particularmente significativa a datação refe- respectivos contextos geológicos) destas duas regiões
rente à UE 3 (Beta-331680), tendo a amostra de carvão – possibilitando diferentes estratégias de implantação
sido recolhida em associação directa ao vaso LC-6 e ao
machado LC-7 (lembrando igualmente que esta «bolsa»
também continha cerâmicas campaniformes). Todavia,
dever-se-á referir que a datação Beta-386974 poderá
recuar este episódio até meados do 3.º milénio a.n.e.
(centrando-se a sua média em ±2530 cal BC), podendo
contudo ser sempre interpretada com um possível ter-
minus ante quem para a ocupação da Fase 2 de BFR.

5. O BARRANCO DO FARINHEIRO E A QUESTÃO


CAMPANIFORME NA MARGEM ESQUERDA
DO BAIXO TEJO
A quantidade e diversidade dos contextos campani-
formes da área da Estremadura portuguesa (e em parti-
cular na área estrita das penínsulas de Lisboa e Setúbal,
espacialmente as desembocaduras do Tejo e do Sado)
tem permitido encarar esta área não só como um dos
possíveis focos de emergência do fenómeno campani-
forme, como também como uma das áreas preferen-
ciais para o seu desenvolvimento espontâneo durante a
segunda metade do 3.º milénio a.n.e. (cf. Harrison, 1977;
Cardoso, 2000, 2001 e 2004; Salanova, 2000 e 2014).
Esta «densidade demográfica», materializada na
significativa multiplicidade de espaços habitacionais
e espaços funerários correlativos, faria supor que regi-
ões limítrofes apresentassem, se não um regime de
ocupação tão intenso, pelo menos uma malha de povo-
amento substantiva (agindo possivelmente como espa-
ços subordinados). Seria natural, neste sentido, que a
margem esquerda do baixo Tejo (para nascente da área FIG. 21 O Calcolítico na área da Estremadura e baixo Vale do Tejo.
Os contextos com cerâmicas campaniformes encontram-se
estrita da península de Setúbal) registasse um maior
indicados pelos símbolos vermelhos, notando-se a diferença no
número de sítios do que aqueles que são actualmente número de sítios identificados em ambas áreas. Base cartográfica:
conhecidos – tendo em conta principalmente a «linha» R. Boaventura/M. Langley.

116 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
mesma maneira, ambos sítios terão sido ocupados em
simultâneo, atendendo a certas semelhanças da cultu-
ral material (de que se destaca a presença de cerâmi-
cas do grupo «folha de acácia») e às próprias datações
absolutas até ao momento obtidas, fazendo correspon-
der estatisticamente a Fase 2 de BFR (datada do terceiro
quartel do 3.º milénio a.n.e.) à Fase 2/3 de Cabeço do Pé
da Erra (Fase 2 datada de meados do 3.º milénio a.n.e, e
Fase 3 datada do seu último terço) – devendo-se refe-
rir igualmente a proximidade entre ambos (separados
por cerca de 3 km, mantendo uma evidente relação de
inter-visibilidade), enquadrando-os na mesma rede de
povoamento.
No entanto, nenhum elemento claramente campa-
niforme foi até ao momento identificado no Cabeço do
Pé da Erra – o que é notório, especialmente tendo em
conta a extensão da área escavada (cerca de 436 m2,
FIG. 22 Núcleos de ocupação calcolítica identificados na margem contrapondo-se aos 36 m2 escavados em BFR).
esquerda do baixo Tejo, indicando-se os núcleos do Sorraia médio
(95: Cabeço do Pé da Erra; 96: Barranco do Farinheiro; 97: Casas
Assim, para além de BFR, apenas em Casas Novas se
Novas; 98: Catarroeira; 99: Monte dos Lacraus), Muge (100: Sobral registam até ao momento ocupações campaniformes.
do Martim Afonso; 101: Adúa 1; 102: Vale de Lobos 4; 103: Olival Este sítio, principalmente caracterizado por uma ocu-
de Vasques; 104: Forno do Tijolo 2; 105: Porto do Sabugueiro)
pação sólida do Neolítico antigo cardial (cf. Gonçalves,
e Almeirim-Alpiarça (106: Alto dos Cacos; 107: Cabeço da Bruxa;
108: Alto do Castelo; 109: Tanchoal). Os símbolos preenchidos 2009; Gonçalves e Sousa, 2014 e 2015), revelou igual-
a vermelho indicam ocupações com cerâmicas ou elementos mente uma ocupação ténue e superficial do Calcolí-
campaniformes. De destacar a «linha» de povoados fortificados tico final – identificável pela recolha de alguns poucos
registada na margem direita do Tejo (15: Vila Nova de São Pedro;
16: Pragança; 17: Ota; 27: Pedra do Ouro; 28: Castelo; 43: Moita da elementos de cerâmica campaniforme. Correspondem
Ladra). Base cartográfica: adaptada de R. Boaventura/M. Langley. a recipientes enquadráveis exclusivamente no estilo
inciso, com decorações compostas por composições
e distintas tipologias de sítios. Estas divergências não geométricas (bandas horizontais preenchidas, faixas e
serão assim explicadas exclusivamente por factores linhas ziguezagueantes).
culturais, sendo evidentes as relações, lidas principal-
mente nas características dos espólios recuperados,
entre ambas margens do Tejo.
Dentro deste contexto específico, e de acordo com
os dados actualmente disponíveis, é contudo possível
definir diagramas de povoamento sensivelmente orga-
nizados na margem esquerda do baixo Tejo, formando
núcleos de ocupação particulares extensíveis por toda
a diacronia do Calcolítico. Distinguem-se assim três
núcleos principais: o núcleo do Sorraia médio, o núcleo
de Muge e o núcleo de Almeirim-Alpiarça – caracteri-
zados por sítios instalados em relação ao Tejo ou seus
subsidiários directos, dominando extensas planícies
aluvionares.
No núcleo do Sorraia médio, no que à segunda
metade do 3.º milénio a.n.e. diz respeito (e especifi-
camente ao fenómeno campaniforme), destaca-se o
sítio do Cabeço do Pé da Erra – não pela presença de
cerâmicas campaniformes, mas precisamente pela
sua efectiva ausência. Com efeito, este sítio apresenta
características em tudo idênticas a BFR – desde logo, as
próprias particularidades tipológicas de ambos sítios,
com estratégias de implantação e realidades análogas, FIG. 23 Cerâmicas campaniformes recolhidas em Casas Novas,
reflectindo dinâmicas semelhantes de ocupação. Da correspondendo exclusivamente a motivos incisos.

VICTOR S. GONÇALVES, ANA CATARINA SOUSA, MARCO ANTÓNIO ANDRADE  O BARRANCO DO FARINHEIRO (CORUCHE) E A PRESENÇA CAMPANIFORME NA MARGEM ESQUERDA DO BAIXO TEJO 117
Encontra-se instalado em relação directa com o Sor- Outros elementos enquadráveis no designado «pa-
raia, em plena área de várzea a escassas dezenas de cote campaniforme» foram igualmente identificados
metros do seu curso, podendo corresponder aparente- na área de Muge – como os «braçais de arqueiro» de
mente a uma ocupação esporádica de curto espectro xisto dos sítios de Porto do Sabugueiro e Quinta do Dias
temporal – o que explicaria a escassa representativi- – elementos usualmente (embora não exclusivamente)
dade arqueográfica dos elementos campaniformes reservados a contextos funerários. Contudo, não exis-
(menos de uma dezena de elementos, num total de tem outros elementos disponíveis para confirmar esta
cerca de 404 m2 de área escavada). hipótese, tratando-se de dados desarticulados que não
No núcleo de Muge, foi identificada uma série de possibilitam leituras rigorosas (por exemplo, no Porto
sítios ocupados durante o 3.º milénio a.n.e. e dispostos do Sabugueiro, as escavações recentes não possibilita-
em ambas margens da ribeira homónima até à sua ram a identificação de níveis de ocupação calcolítica
confluência com o Tejo. Encontram-se implantados em preservados in situ, possivelmente obliterados pelas
área aberta, sem aparentes preocupações de carácter subsequentes ocupações da Idade do Ferro e do perí-
defensivo, configurando possivelmente amplas áreas odo romano; informação pessoal de Ana Margarida
de ocupação com dispersão horizontal (Andrade et al., Arruda).
2015; Andrade, 2017). Deste conjunto, destacam-se os Para o núcleo de Almeirim-Alpiarça, os dados, apesar
sítios de Sobral do Martim Afonso, Forno do Tijolo 2 e de fragmentados, são mais curiosos – distinguindo-se
Vale de Lobos 4 – onde se recolheram cerâmicas campa- vários sítios com características interessantes (como
niformes exclusivamente enquadráveis no estilo inciso Castelo de Alpiarça, Tanchoal, Cabeço da Bruxa e Alto
(merecendo especial destaque o fragmento recolhido dos Cacos).
em Vale de Lobos 4, correspondendo a uma caçoila Para o Castelo de Alpiarça, é referida a recolha,
muito aberta de ombro marcado com decoração incisa durante as intervenções de Gustavo Marques (Harri-
aplicada no fundo, com óbvia «inspiração» nos mode- son, 1977, p. 155), de uma taça em calote com decoração
los de Ciempozuelos). pontilhada; para o Tanchoal (também proveniente das

FIG. 24 Cerâmicas e elementos campaniformes recolhidos na área de Muge: cerâmicas campaniformes incisas de Sobral do Martim Afonso
(SMA.94.22), Forno do Tijolo 2 (FTJ-2.93.1) e Vale de Lobos 4 (VLB-4.94.1); «braçais de arqueiro» de Porto do Sabugueiro (PSAB/08 979)
e Quinta do Dias (QTD.93.1).

118 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 25 Cerâmicas campaniformes recolhidas na área de Almeirim-Alpiarça: Cabeço da Bruxa (em cima: à esquerda, adaptado de Kalb e Höck,
1980, Taf. 21, sem escala no original; à direita: escavações recentes de Ana Margarida Arruda, UNIARQ); Alto dos Cacos (em baixo, adaptado de
Pimenta et al., 2012, p. 27, fig. 21).

escavações de Gustavo Marques), refere-se a recolha de habitacionais, com campaniforme maioritariamente


uma taça de pé lisa (tipo fruitstand) e de uma caçoila inciso.
trilobada com decoração pontilhada e possível preen- O sítio de Alto dos Cacos (Pimenta et al., 2012) é prin-
chimento a «pasta branca». cipalmente caracterizado pela sua ocupação romano-
As características particulares destes elementos (e o -republicana, tendo sido escasso o espólio calcolitico
seu estado de conservação) poderiam indicar contextos identificado (exclusivamente à superfície). Aqui se
funerários, principalmente os elementos do Tanchoal – destaca, contudo, uma taça de tipo Palmela com deco-
referindo-se a formas de certo modo raras no contexto ração incisa, com métopes dispostas abaixo da linha
campaniforme ibérico. Em relação específica à fruis- do bordo e linhas reticuladas incisas aplicadas sobre
tand, esta assemelha-se ao exemplar liso recolhido na o lábio – revelando um sítio instalado em área aberta,
gruta do Porto Covo (cf Gonçalves, 2008). Apesar de se em relação directa com o Tejo (reflectindo estratégias
remeter normalmente a contextos funerários – desta- de implantação semelhantes às registadas na área de
cando-se os exemplares de São Pedro do Estoril 1 (cf. Muge).
Gonçalves 2005) ou El Achebuchal (cf. Harrison et al., No entanto, dentro destas leituras estruturalistas do
1976), a sua presença em contextos habitacionais está território ocupado, há que ter em conta a parcialidade
também comprovada – em particular para a área da dos dados disponíveis. Com efeito, BFR trata-se do único
Estremadura portuguesa, no sítio do Freixo (cf. Andrade sítio, para além das últimas intervenções no Cabeço da
e Ramos, 2013). Bruxa (da responsabilidade de Ana Margarida Arruda),
Para o sítio do Cabeço da Bruxa, implantado numa que dispõe de trabalhos de escavação recentes devi-
pequena elevação em plena várzea do Tejo, é referido damente documentados. Assim, as leituras esboçadas
que a recolha de uma ponta de tipo Palmela e escassas para a margem esquerda serão sempre tendenciosas, e
cerâmicas campaniformes (destacando-se uma caçoila baseadas maioritariamente em recolhas de superfície
combinando motivos pontilhados e incisos) indicaria e escavações antigas ou mal documentadas.
também um espaço de cariz possivelmente funerário Seja como for, os dados disponíveis são já suficien-
(Kalb e Hock, 1980 e 1981-1982). No entanto, as esca- tes para levantar uma série de questões pertinentes
vações recentes de Ana Margarida Arruda (no âmbito aos estudos das antigas sociedades camponesas do
do Projecto FETE) indicam contextos eminentemente 3.º milénio a.n.e. (principalmente e no âmbito deste tra-

VICTOR S. GONÇALVES, ANA CATARINA SOUSA, MARCO ANTÓNIO ANDRADE  O BARRANCO DO FARINHEIRO (CORUCHE) E A PRESENÇA CAMPANIFORME NA MARGEM ESQUERDA DO BAIXO TEJO 119
balho, da sua segunda metade) na margem esquerda Garcia Rivero, 2006 e 2008; Odriozola et. al., 2009; Valera
do baixo Tejo. e Rabuge, 2011), não é facilmente explicável a sua apa-
Desde logo se destaca a ausência de campanifor- rente ausência na área da «Charneca do Ribatejo», óbvia
mes enquadráveis no estilo «marítimo» na margem área de ligação entre a Estremadura portuguesa e o
esquerda (sendo contudo de considerar o fragmento Alentejo, assumindo-se precisamente o vale do Sorraia
A.6-11 recolhida em BFR-2, possivelmente atribuível à como um dos principais corredores de circulação.
variante incisa, como referido acima) – especialmente Será de referir, todavia, a presença relativamente
representado na área estremenha em sítios fortifica- expressiva de campaniformes de influência do Grupo
dos, como Liceia (Cardoso, 1997-1998), Moita da Ladra de Ciempozuelos no Alentejo, como por exemplo em
(Cardoso et al., 2013), Penha Verde (Cardoso, 2010-2011), São Pedro (Mataloto et al., 2015) ou Monte do Tosco
Outeiro da Assenta (Cardoso e Martins, 2009), Outeiro (Valera, 2013) – indicando que, apesar de as influências
de São Mamede (Cardoso e Carreira, 2003), Zambujal litorais atingirem o interior, as influências continentais
(Kunst, 1987a, 1987b e 1996), Vila Nova de São Pedro são dominantes (mesmo que em etapas sensivelmente
(Paço e Sangmeister, 1956; Paço, 1964) e Chibanes (Silva diacrónicas). Teríamos assim talvez uma presença geo-
e Soares, 2014), possivelmente já desde o segundo quar- graficamente circunscrita durante a primeira «fase»
tel do 3.º milénio a.n.e. (cf. Cardoso, 1997-1998, 2000 e campaniforme (todavia com alguns indícios de interac-
2014; Kunst e Lutz, 2010-2011). ção), registando-se uma distribuição mais significante
Será igualmente de considerar, pelo oposto, a curiosa em fases seguintes, principalmente com o desenvolvi-
escassez ou total ausência, não só do estilo «marítimo» mento de grupos/identidades locais a partir dos pri-
como de qualquer outro estilo campaniforme, em meiros campaniformes.
outros povoados fortificados contemporâneos desta A presença de elementos característicos tanto do
área, como Penedo do Lexim (Sousa, 2010) ou Outeiro Grupo do Baixo Tejo como do Grupo de Ciempozue-
Redondo (Cardoso, 2009, 2010 e 2010; Cardoso et al., los em BFR (evidente nos recipientes C.6-115 e C.6-30,
2010-2011), com datações que estendem a sua ocupação respectivamente) é precisamente reveladora desta
até à 2.ª metade do 3.º milénio a.n.e., se não mesmo até tendência – dispondo de datações absolutas estatisti-
aos seu último quartel. camente equiparáveis aos contextos «pós-marítimos»
Por outro lado, o estilo «marítimo» é pouco fre- dos Grupos do Baixo Tejo e Ciempozuelos (cf. Cardoso,
quente ou mesmo inexistente (sendo os elementos 2014; Blasco et al., 2007; Liesau et al., 2008; Ríos, 2013).
campaniformes dominados pelos motivos pontilhados Uma tão ampla distribuição dos tipos característi-
e incisos) em sítios abertos datados do último terço do cos de Ciempozuelos, considerado como o equivalente
3.º milénio a.n.e., correspondendo já a uma etapa de mesetenho dos tipos do Baixo Tejo (caracterizados
desestruturação do povoamento calcolítico pleno – e pelas decorações pontilhadas geométricas), não será
de que poderão ser exemplos os sítios de Casal Cordeiro assim tão absurda, se admitirmos a sua difusão ao
5 (Sousa, 2013), Parede (Gonçalves et al., neste volume), longo do Tejo a partir da Meseta (Garrido-Pena, 2000;
Monte do Castelo (Cardoso et al., 1996), Freira (Cardoso Garrido-Pena et al., 2005; Bueno Ramírez et al., 2008),
et al., 2013) e Montes Claros (Cardoso e Carreira, 1995). ou até mesmo pelo interior alentejano (invocando o
Assim, poderemos questionar se a aparente ausência referido corredor natural de circulação constituído
de campaniformes «marítimos» na margem esquerda pelo vale do Sorraia). Com efeito, já R. Harrison (1977)
do Tejo se poderá dever a questões cronológicas ou evidenciara, mais do que o contrário, a influência do
culturais – podendo esta área ser encarada como uma Grupo de Ciempozuelos nos estilos tardios do Grupo
território periférico sem grande representatividade das do Baixo Tejo (nomeadamente no estilo inciso, «evo-
cerâmicas campaniformes ou, em alternativa, ocupada luindo» a partir do pontilhado geométrico local), com
posteriormente ao advento das primeiras cerâmicas a aplicação de decorações particulares do primeiro
campaniformes na Estremadura portuguesa estando grupo em recipientes característicos do segundo grupo
apenas representados os estilos mais tardios. – como as típicas bandas verticais incisas (convergindo
Contudo, devemos relembrar a presença de campa- para o fundo do recipiente) patentes nas caçoilas de
niformes «marítimos» no interior alentejano, como nos tipo Ciempozuelos, aplicadas em taças de tipo Palmela
Perdigões (Lago et al., 1998) ou Porto das Carretas (Soares do estilo inciso.
et al., 2007; Soares e Silva, 2010; Soares, 2013), podendo- Neste sentido, se assumirmos o interior alente-
-se referir igualmente Porto Torrão (Valera e Filipe, 2004), jano como o limite teórico ocidental da «expansão»
embora para este último sítio uma ligação pelo vale do dos tipos campaniformes de Ciempozuelos, não será
Sado, a partir da península de Setúbal, seja mais óbvia. estranho encontrarmos elementos de tipos distintos
Assim, tendo em conta que cerâmicas campaniformes (tanto da Meseta espanhola, como da Estremadura por-
«marítimas» se encontram no interior alentejano (cf. tuguesa) em sítios da área da «Charneca do Ribatejo»

120 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
(como BFR), agindo precisamente está região como elo campaniformes e cerâmicas do grupo «folha de acácia»
de ligação de áreas geo-culturalmente distintas. poderão ter coexistido desde a sua fundação, conforme
Outro ponto de interesse é precisamente a presença parecem demonstrar as datações obtidas – sendo tam-
de cerâmicas do grupo «folha de acácia» estratigrafi- bém de referir o sítio de Casal Cordeiro 5, correspon-
camente associadas a cerâmicas campaniformes em dendo já a outro padrão de povoamento, talvez um
BFR Tratando-se de um tipo específico da área estre- pouco mais tardio (Sousa, 2013).
menha, revela mais uma vez as frequentes relações
entre ambas áreas. E como referido acima, as datações
absolutas disponíveis para a Fase 2 de BFR são estatis- 6. CONCLUINDO?...
ticamente equiparáveis àquelas dos contextos «pós- Pelo demonstrado acima, parece que não se poderá
-marítimos» dos Grupos do Baixo Tejo e Ciempozuelos continuar a encarar a margem esquerda do baixo Tejo
– assim como o são, nesta segunda vertente de análise, como uma «terra de ninguém», com uma efectiva
às de contextos de utilização tardia das cerâmicas do ausência de utilização do espaço durante a segunda
grupo «folha de acácia». metade do 3.º milénio a.n.e. A caracterização da ocupa-
É óbvia a anterioridade das cerâmicas do grupo ção desta área que se pretendeu esboçar permite mos-
«folha de acácia» (correspondente a um momento trar que a escassez de sítios até ao momento registada
pleno de ocupação dos sítios fortificados estremenhos) (opondo-se à densa ocupação registada na margem
em relação ao advento das primeiras cerâmicas cam- direita) poderá ser resultado apenas de contingências
paniformes, conforme demonstrado no nível IIb da arqueográficas, e não propriamente de uma efectiva
Rotura (Gonçalves, 1971) ou nos níveis da Fase IB de Chi- ausência de utilização do espaço. Com efeito, alguns
banes (Silva e Soares, 2014) – surgindo posteriormente dos sítios mencionados eram desconhecidos até há
(em sucessão estratigráfica) as cerâmicas campanifor- bem pouco tempo – podendo trabalhos de prospecção
mes (primeiramente do estilo «marítimo»), estando e escavação devidamente orientados revelar outro tipo
ainda em uso as cerâmicas do grupo «folha de acácia». de realidade.
O que é de todo admissível, dado que a introdução de Com efeito, estão agora referenciados uma série de
um novo item num dado sistema cultural não implica sítios instalados em relação específica com o paleo-
necessariamente a substituição imediata dos compo- -estuário do Tejo e seus afluentes directos, confor-
nentes de fundo desse mesmo sistema. mando diagramas de povoamento de certo modo coe-
No Zambujal, embora o momento pleno campani- rente, de características modulares configurando vários
forme se registe na Fase 4 (segunda metade do 3.º milé- clusters de ocupação.
nio a.n.e., ainda com o povoado em pleno uso), é suge- O que se evidencia, no estado actual dos nossos
rido que talvez a sua presença se evidencie desde a Fase conhecimentos e como acima demonstrado, é pois a
3 (Fases 3b e 3c, meados do 3.º milénio a.n.e.), ainda que ocorrência na margem direita do baixo Tejo de grande
em percentagens pouco significativas, em conjunto número de ocupações campaniformes, com a presença
com as cerâmicas do grupo «folha de acácia» (Kunst, de cerâmicas do estilo «marítimo» melhor represen-
1996 e 2010; Kunst e Lutz, 2010-2011) – sendo que é efec- tadas nos grandes povoados fortificados (Zambujal,
tivamente apenas na Fase 4 que ambos tipos coexistem Liceia, Moita da Ladra, Vila Nova de São Pedro…), sendo
em pleno. residual (ou inexistente) nos pequenos povoados aber-
Em Liceia, as primeiras cerâmicas campaniformes tos, correspondentes já a uma etapa de desagregação
registam-se na área intra-muros, no topo da camada do povoamento calcolítico pleno (Casal Cordeiro 5, Frei-
C2 (sobre níveis de derrube das muralhas, com data- ria, Montes Claros…).
ções dispostas entre meados do 3.º milénio a.n.e. até ao A menor densidade de sítios registada na margem
seu último quartel), registando-se contudo a presença esquerda, estando aparentemente ausente o estilo
de cerâmicas do grupo «folha de acácia» desde a base «marítimo» (sendo exclusivos os estilos pontilhado e
deste nível, mantendo a sua frequência até ao topo, inciso, com claro domínio dos últimos), permite con-
coexistindo assim com as cerâmicas campaniformes siderar para esta área duas leituras interpretativas:
(Cardoso, 1997-1998, 2000 e 2014). Tal parece suceder a nível cultural, a ocupação desta área poderá corres-
também em Vila Nova de São Pedro, surgindo as cerâ- ponder a um território periférico, sem um modelo de
micas campaniformes aparentemente sobre níveis povoamento tão consistente, possivelmente dedicado
de derrube (Paço e Sangmeister, 1956). Correspondem a actividades específicas (podendo-se destacar a pro-
assim a momentos de certa contracção do povoamento dução de sal, nesta região); em alternativa, a nível cro-
nestes sítios. nológico, poderá corresponder a um momento tardio
Em outros sítios, como Moita da Ladra (Cardoso et al., de ocupação campaniforme, no limite Este dos grupos
2013) ou Penha Verde (Cardoso, 2010-2011), cerâmicas campaniformes estremenhos. Obviamente que uma

VICTOR S. GONÇALVES, ANA CATARINA SOUSA, MARCO ANTÓNIO ANDRADE  O BARRANCO DO FARINHEIRO (CORUCHE) E A PRESENÇA CAMPANIFORME NA MARGEM ESQUERDA DO BAIXO TEJO 121
hipótese explicativa não invalida a outra, podendo ser REFERÊNCIAS BIBLIOG RÁFICAS
complementares. ANDRADE, M. A. (2017) – O sítio pré-histórico do Sobral do Martim
Neste sentido, poderemos sempre questionar quais Afonso (Salvaterra de Magos, Portugal): um curioso contexto do
os caminhos de penetração para o interior, tendo em Neolítico final/Calcolítico na margem esquerda do baixo Tejo.
Ophiussa. Lisboa. 1
conta a presença de campaniforme «marítimo» em
sítios como Perdigões ou Porto das Carretas. A carên- ANDRADE, M. A.; NEVES, C.; LOPES, G. (2015) – Beyond the Mesolithic
shell middens: a chrono-cartographic overview of the ancient
cia de uma rede de sítios que legitimasse a manuten-
peasant communities in Muge. In BICHO, N.; DETRY, C.; PRICE,
ção destes caminhos (e a própria difusão de cerâmicas D.; CUNHA, E. (eds.) – Muge 150th: The 150th Anniversary of the
campaniformes para o interior) dificulta a definição Discovery of the Mesolithic Shellmiddens. Cambridge: Cambridge
dos mesmos. No entanto, estes aparentes vazios de Scholars Publishing. 2, p. 29-44.
ocupação de áreas mais interiores poderão ser apenas ANDRADE, M. A.; RAMOS, E. N. (2013) – O espólio campaniforme
ilusórios: mesmo podendo ser ténues as relações entre do sítio pré-histórico do Freixo (Reguengo do Fetal, Batalha).
áreas distintas durante o advento das primeiras cerâ- In ARNAUD, J. M.; MARTINS, A.; NEVES, C. (coords.) – Arqueologia
em Portugal. 150 anos. Lisboa: Associação dos Arqueólogos
micas campaniformes, a sua proliferação com o desen-
Portugueses, p. 481-487.
volvimento de grupos e identidades locais é evidente
ARNAUD, J. M. (1993) – O povoado calcolítico de Porto Torrão
– devendo ser recordada também a presença densa no
(Ferreira do Alentejo). Síntese das investigações realizadas.
interior alentejano, em reutilizações de monumentos Vipasca. Aljustrel. 2, p. 41-60.
megalíticos, se não das cerâmicas campaniformes pro-
BARROSO BERMEJO, R.; LÓPEZ JIMÉNEZ, O.; BUENO RAMÍREZ, P.;
priamente ditas, pelo menos de outros elementos do BALBÍN BEHRMANN; VÁSQUEZ CUESTA, A.; PEÑA CHOCARRO,
designado «pacote campaniforme»). L.; ODRIOZOLA LLORET, C. P.; SAINZ DE LOS TERREROS, J. Y.;
Assim, temos sempre que assumir os percursos de URIBELARREA DEL VAL, D. (2015) – Campaniforme no funerario
difusão campaniformes como um caminho de múl- en la provincia de Toledo: el yacimiento de Las Vegas. De nuevo el
tiplos sentidos. A «Charneca do Ribatejo», correspon- Valle de Huecas. Trabajos de Prehistoria. Madrid. 72: 1, p. 145-157.

dendo basicamente à margem esquerda do baixo Tejo, BLASCO BOSQUED, M. C.; SÁNCHEZ-CAPILLA ARROYO, M. L.; MILLÁN, A.;
ARRIBAS FERNÁNDEZ, J. G.; GUTIÉRREZ SÁEZ, C.; (1994) – La cerâmica.
terá funcionado como área de circulação entre o litoral
In BLASCO BOSQUED, M. C. (ed.) – El horizonte campaniforme de
e o interior, como área de cruzamentos culturais – como
la región de Madrid en el centenario de Ciempozuelos. Madrid:
o demonstra o caso de BFR, com a associação entre Universidad Autónoma de Madrid, p. 101-136.
cerâmicas campaniformes do Grupo do Baixo Tejo e BLASCO, C.; DELIBES, G.; BAENA, J.; LEISAU, C.; RÍOS, P. (2007) – El poblado
do Grupo Ciempozuelos, e de ambos com cerâmicas calcolítico de Camino de las Yeseras (San Fernando de Henares,
do grupo «folha-de-acácia», a partir do terceiro quartel Madrid): un escenario favorable para el estúdio de la incidência
do 3.º milénio a.n.e. – sendo assim necessário redefinir campaniforme en el interior peninsular. Trabajos de Prehistoria.
Madrid. 64: 1, p. 151-163.
estes caminhos de penetração, ou mais propriamente
estes caminhos de interacção, e a própria difusão das BUENO RAMÍREZ, P.; BALBÍN BEHRMANN, R.; BARROSO BERMEJO, R.
(2000) – Valle de las Higueras (Huecas, Toledo, España). Una
cerâmicas campaniformes.
necrópolis Ciempozuelos con cuevas artificiales al interior de
Da mesma maneira, há que considerar sempre a la Península. Estudos Pré-Históricos. Viseu. 8, p. 49-80.
evolução diferencial de sítio para sítio, obedecendo a BUENO RAMIREZ, P.; BARROSO BERMEJO, R. & VÁZQUEZ CUESTA, A.
dinâmicas culturais internas das comunidades – admi- (2008) – The Beaker phenomenon and the funerary contexts
tindo assim, à luz dos dados actualmente disponíveis, of the International Tagus. In BUENO RAMIREZ, P.; BARROSO
que esquemas lineares de leitura poderão não ser tão BERMEJO, R.; BALBÍN-BEHRMANN (eds.) – Graphical Markers
adaptáveis às realidades culturais em análise como se and Megalithic Builders in the International Tagus, Iberian
Peninsula. Oxford: Archaeopress (BAR International Series 1765),
pensava, sendo sempre de admitir a coexistência possí-
p. 141-155.
vel de vários grupos e correntes de influência.
BUENO RAMÍREZ, P.; BARROSO BERMEJO, R.; BALBÍN BEHRMANN, R.
(2007-2008) – Campaniforme en las construcciones hipogeas
Lisboa, Inverno de 2016/2017 del megalitismo reciente al interior de la Peninsula Ibérica.
Veleia. Vitoria-Gasteiz. 24-25, p. 771-790.
BUENO RAMIREZ, P.; BARROSO BERMEJO, R.; BALBÍN BEHRMANN, R.
AGRADECIMENTOS (2012) – Les grottes artificielles et le campaniforme à l’intérieur
A equipa agradece à família Godinho, particular- de la Péninsule Ibérique: la necrópole de Valle de las Higueras.
In SOHN, M.; VAQUER, J. (dirs.) – Sépultures collectives et mobiliers
mente a Rita Godinho e Francisco Cortez, as facilida-
funéraires de la fin du Néolithique en Europe occidentale. Toulouse:
des concedidas para os trabalhos no local, e à Câmara
École des Hautes Études en Sciences Sociales, p. 359-381.
Municipal de Coruche o financiamento necessário para
BUENO RAMIREZ, P.; BARROSO BERMEJO, R.; BALBÍN-BEHRMANN, R.
os trabalhos de campo. (2005) – Ritual campaniforme, ritual colectivo: la necrópolis
de cuevas artificiales del Valle de las Higueras, Huecas, Toledo.
Trabajos de Prehistoria. Madrid. 62: 2, p. 67-90.

122 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
CARDOSO, J. L. (1994) – Leceia 1983-1993. Escavações do povoado CARDOSO, J. L.; MARTINS, F. (2009) – O povoado pré-histórico do
fortificado pré-histórico. Oeiras: Câmara Municipal (Estudos Outeiro da Assenta (Óbidos). Estudos Arqueológicos de Oeiras.
Arqueológicos de Oeiras, número especial). Oeiras. 17, p. 261-356.
CARDOSO, J. L. (1997-1998) – A ocupação campaniforme do povoado CARDOSO, J. L.; SOARES, A. M. M. (1990-1992) – Cronologia absoluta
pré-histórico de Leceia (Oeiras). Estudos Arqueológicos de Oeiras. para o campaniforme da Estremadura e do Sudoeste de Portugal.
Oeiras. 7, p. 89-153. O Arqueólogo Português. Lisboa. 4.ª série, 8-10, p. 203-228.
CARDOSO, J. L. (2000) – O «fenómeno» campaniforme na Estremadura CARDOSO, J. L.; SOARES, A. M. M.; MARTINS, J. M. M. (2010-2011) –
portuguesa. In JORGE, V. O. (ed.) – Actas do 3.º Congresso de Fases de ocupação e cronologia absoluta da fortificação calcolítica
Arqueologia Peninsular. Porto: ADECAP. 4 (Pré-História Recente do Outeiro Redondo (Sesimbra). Estudos Arqueológicos de Oeiras.
da Península Ibérica), p. 353-380. Oeiras. 18, p. 553-578.
CARDOSO, J. L. (2001) – Le phénomène campaniforme dans les CARDOSO, J. L.; SOARES, A. M. M.; MARTINS, J. M. M. (2013) – O povoado
basses vallées du Tage et du Sado (Portugal). In NICOLIS, F. (ed.) – campaniforme fortificado da Moita da Ladra (Vila Franca de Xira,
Bell Brakers today. Pottery, People, Culture, Symbols in Prehistoric Lisboa) e a sua cronologia absoluta. O Arqueólogo Português.
Europe. Proceedings of the International Colloquium. Trento: Lisboa. 5.ª série, 3, p. 213-253.
Provincia Autonoma di Trento. 1, p. 139-154. GARCÍA RIVERO, D. (2006) – Campaniforme y território en la cuenca
CARDOSO, J. L. (2004) – An interpretation of the Bell Beaker cultural media del Guadiana. SPAL. Sevilha. 15, p. 71-102.
sequence in the Tagus Estuary region: data from Leceia (Oeiras). GARCÍA RIVERO, D. (2008) – Campaniforme y rituales estratégicos en
Journal of Iberian Archaeology. Porto. 6, p. 147-156. la Cuenca Media e Baja del Guadiana (Suroeste de la Península
CARDOSO, J. L. (2009) – Espólios do povoado calcolítico fortificado Ibérica). Oxford: Archaeopress (BAR International Series, 1837).
de Outeiro Redondo (Sesimbra): as colheitas do arq. Gustavo GARRIDO-PENA, R. (2000) – El campaniforme en la Meseta Central
Marques. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 12: 1, p. 73-114. de la Península Ibérica (c. 2500-2000 AC). Oxford: Archaeopress
CARDOSO, J. L. (2010) – O povoado calcolítico fortificado do Outeiro (BAR International Series, 892).
Redondo (Sesimbra). Resultados das escavações efectuadas em GARRIDO-PENA, R.; ROJO-GUERRA, M.; MARTÍNEZ DE LAGRÁN, I.
2005. In GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C. (eds.) – Transformação (2005) – El campaniforme en la meseta central de la Península
e Mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. Ibérica. In ROJO-GUERRA, M.; GARRIDO-PENA, R.; MARTÍNEZ DE
Actas do Colóquio Internacional. Cascais, Câmara Municipal LAGRÁN, I. (coords.) – El campaniforme en la Península Ibérica
(Cascais Tempos Antigos, 2), p. 97-129. y su contexto europeo. Valladolid: Universidad de Valladolid
CARDOSO, J. L. (2010-2011) – O povoado calcolítico da Penha Verde (Arte y Arqueologia, 21), p. 411-435.
(Sintra). Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 18, p. 467-551. GONÇALVES, J. L. M. (1990-1992) – Olelas e Pragança. Duas
CARDOSO, J. L. (2011) – Deposições rituais de vasos cerâmicos em fortificações calcolíticas da Estremadura. O Arqueólogo Português.
contextos domésticos: os exemplares do povoado calcolítico Lisboa. 4.ª série, 8/10, p. 31-40.
fortificado do Outeiro Redondo (Sesimbra). Revista Portuguesa GONÇALVES, V. S. (1971) – O castro da Rotura e o vaso campaniforme.
de Arqueologia. Lisboa. 14, p. 85-106. Setúbal: Junta Distrital de Setúbal.
CARDOSO, J. L. (2012) – O sítio campaniforme de São Gregório GONÇALVES, V. S. (1982) ‑ O povoado calcolítico do Cabeço do Pé
(Caldas da Rainha). Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 15, da Erra (Coruche). Clio. Lisboa. 4, p. 7-18.
p. 31-45.
GONÇALVES, V. S. (1983-1984) ‑ Cabeço do Pé da Erra (Coruche):
CARDOSO, J. L. (2013) – O povoa do pré-histórico do Outeiro contribuição da Campanha 1 (83) para o conhecimento do seu
Redondo (Sesimbra). Resultados da primeira fase de escavações povoamento calcolítico. Clio/Arqueologia. Lisboa. 1, p. 69-75.
arqueológicas (2005-2008). In CARDOSO, J. L. (ed.) – Carlos Ribeiro GONÇALVES, V. S. (2005) – Cascais há 5000 anos. Tempo, Símbolos
(1813-1882). Geólogo e Arqueólogo. Homenagem da Câmara e Espaços da Morte das antigas Sociedades Camponesas.
Municipal de Oeiras e da Academia das Ciências de Lisboa In GONÇALVES, V. S. (coord.) – Cascais há 5000 anos. Cascais:
nos 200 anos do seu nascimento. Oeiras: Câmara Municipal Câmara Municipal, p. 63-195.
(Estudos Arqueológicos de Oeiras, 20), p. 641-730.
GONÇALVES, V. S. (2008) – A utilização pré-histórica da gruta
CARDOSO, J. L. (2014) – Absolute chronology of the Beaker de Porto Covo (Cascais). Cascais: Câmara Municipal (Cascais
phenomenon North of the Tagus estuary: demographic and Tempos Antigos, 1).
social implications. Trabajos de Prehistoria. Madrid. 71: 1,
GONÇALVES, V. S. (2009) – Um sítio do Neolítico antigo no vale
p. 56-75.
do Sorraia: Casas Novas (Coruche). Uma primeira notícia.
CARDOSO, J. L.; CARDOSO, G.; ENCARNAÇÃO, J. (2013) – O campaniforme Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 12: 2, p. 5-30.
de Freira (Cascais). Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 20,
GONÇALVES, V. S. (2011) – As placas de xisto gravadas (e os báculos)
p. 525-588.
do sítio do Monte da Barca (Coruche). Lisboa: UNIARQ (Cadernos
CARDOSO, J. L.; CARREIRA, J. R. (1995) – O povoado pré-histórico da UNIARQ, 7).
de Montes Claros (Lisboa). Resultados das escavações de 1988.
GONÇALVES, V. S.; DAVEAU, S. (1983-1984) ‑ Programa para o estudo
Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 5, p. 277-298. da antropização do Baixo Tejo e afluentes: Projecto para o estudo
CARDOSO, J. L.; CARREIRA, J. R. (2003) – O povoado calcolítico do da antropização do Vale do Sorraia (ANSOR). Clio/Arqueologia.
Outeiro de São Mamede (Bombarral): estudo do espólio das Lisboa, 1, p. 207-211.
escavações de Bernardo de Sá (1903/1905). Estudos Arqueológicos GONÇALVES, V. S.; DAVEAU, S. (1985) ‑ A evolução holocénica do Vale
de Oeiras. Oeiras. 11, p. 97-228. do Sorraia e as particularidades da sua antropização (Neolítico
CARDOSO, J. L.; NORTON, J.; CARREIRA, J. R. (1996) – Ocupação e Calcolítico). In Actas da I Reunião do Quaternário Ibérico. Lisboa:
calcolítica do Monte do Castelo (Leceia, Oeiras). Estudos Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa. 2,
Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 6, p. 287-299. p. 187-197.

VICTOR S. GONÇALVES, ANA CATARINA SOUSA, MARCO ANTÓNIO ANDRADE  O BARRANCO DO FARINHEIRO (CORUCHE) E A PRESENÇA CAMPANIFORME NA MARGEM ESQUERDA DO BAIXO TEJO 123
GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C. (2006) – Algumas breves reflexões KUNST, M.; LUTZ, N. (2010-2011) – Zambujal (Torres Vedras),
a propósito de quatro datas 14C para o Castro da Rotura, no investigações até 2007. Parte 1: sobre a precisão da cronologia
contexto do 3.º milénio a.n.e. nas Penínsulas de Lisboa e Setúbal. absoluta decorrente das investigações na quarta linha de
O Arqueólogo Português. Lisboa. 4.ª série, 24, p. 233-266. fortificação. Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 18,
GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C. (2014) – Coruche e as antigas p. 419-466.
sociedades camponesas. In Coruche, o céu, a terra e os homens. KUNST, M.; MORÁN, E.; PARREIRA, R. (2013) – Zambujal (Torres Vedras,
Coruche: Câmara Municipal, p. 29-67. Lisboa): relatório das escavações de 2002. Revista Portuguesa
GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C. (2015) – O sítio do Neolítico antigo de Arqueologia. Lisboa. 16, p. 103-131.
de Casas Novas (Coruche). Leituras preliminares. In GONÇALVES, LAGO, M.; DUARTE, C.; VALERA, A. C.; ABELGARIA, J.; ALMEIDA, F.;
V. S.; DINIZ, M.; SOUSA, A. C. (eds.) – 5.º Congresso do Neolítico CARVALHO, A. F. (1998) – Povoado dos Perdigões (Reguengos
Peninsular. Lisboa: UNIARQ (Estudos & Memórias, 8), de Monsaraz): dados preliminares dos trabalhos arqueológicos
p. 236-255. realizados em 1997. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa.
HARRISON, R. J. (1977) – The Bell Beaker Cultures of Spain and 1: 1, p. 45-152.
Portugal. Cambridge: Peabody Museum/Harvard University LECHUGA CHICA, M. A.; SOTO CIVANTOS, M.; RODRÍGUEZ-ARIZA,
(Bulletin, 35). M. O. (2014) – El poblado calcolítico “Venta del Rapa” (finales
HARRISON, R. J.; BUBNER, T.; HIBBS, V. A. (1976) – The Beaker pottery III milenio cal. BC.), Mancha Real, Jaén. Un recinto de fosos
from El Acebuchal, Carmona (Prov. Sevilla). Madrider Mitteilungen. entre las estribaciones de Sierra Mágina y el Alto Guadalquivir.
17, p. 79-141. Tradajos de Prehistoria. Madrid. 71: 2, p. 353-367.
LEISNER. V.; SCHUBART, H. (1966) – Die kupferzeitliche Befestigung
JALHAY, E.; PAÇO, A. (1945) – El castro de Vilanova de San Pedro.
von Pedra do Ouro/Portugal. Madrider Mitteilungen. 7,
In Actas y Memorias de la Sociedad Española de Antropología,
p. 9-60.
Etnografía y Prehistoria. Madrid. 20, p. 55-141.
LIESAU, C.; BLASCO, C.; RÍOS, P.; VEJA, J.; MENDUIÑA, R.; BLANCO, J. F.;
KALB, Ph.; HÖCK, M. (1980) – Cabeço da Bruxa, Alpiarça (Distrikt
BAENA, J.; HERRERA, T.; PETRI, A.; GÓMEZ, J. L. (2008) – Un espácio
Santarém). Vorbericht über die grabung im Januar und Februar
compartido por vivos y muertos: el poblado calcolítico de fosos
1979. Madrider Mitteilungen. Heidelberg. 21, p. 91-108.
de Camino de las Yeseras (San Fernando de Henares, Madrid).
KALB, Ph.; HÖCK, M. (1981-1982) – Cabeço da Bruxa, Alpiarça (Distrito
Complutum. Madrid. 19: 1, p. 97-120.
de Santarém). Relatório preliminar das escavações de Janeiro
LIESAU, C.; VEJA, J.; DAZA, A.; RÍOS, P.; MENDUIÑA, R. BLASCO, C.
e Fevereiro de 1979. Portugalia. Porto. 2-3, p. 61-69.
(2013-2014) – Manifestaciones simbólicas en el acceso Noreste
KUNST, M. (1987a) – Zambujal: Glockenbecher und kerbblattverzierte
del Recinto 4 de Foso en Camino de las Yeseras (San Fernando
Keramik aus den Grabungen 1964 bis 1973. Mainz: Verlag Philipp de Henares, Madrid). SALDVIE. Saragoça. 13-14, p. 53-69.
von Zabern (Madrider Beiträge, 5.2).
MÁRQUEZ-ROMERO, J. E.; JIMÉNEZ-JÁIMEZ, V. (2010) – Recintos de
KUNST, M. (1987b) – Bell Beaker Sherds In Zambujal. In WALDREN, W.; fosos. Genealogía y significado de una tradición en la Prehistoria
KENNARD, R. C. (eds.) – Bell Beakers of the Western Mediterranean. del suroeste de la Península Ibérica (IV-III milénios AC). Málaga:
Definition, Interpretation, Theory and New Site Data. Oxford: Universidad de Málaga.
Archaeopress ( BAR lnternational Series 331ii), p. 591-009.
MÁRQUEZ-ROMERO, J. E.; SUÁREZ PADILLA, J.; MATA VIVAR, E.;
KUNST, M. (1995) – Cerâmica do Zambujal: novos resultados JIMÉNEZ-JÁIMEZ, V.; CARO HERRERO, J. L.; CUEVAS ALBADALEJO, P.
para a cronologia da cerâmica calcolítica. In KUNST, M. (ed.) – (2013) – Actuaciones arqueológicas realizadas por la Universidad
Origens, Estruturas e Relações das Culturas Calcolíticas de Málaga en el yacimiento de Perdigões (Reguengos de
da Península Ibérica. Actas das I Jornadas Arqueológicas de Monsaraz, Portugal): trienio 2011-2013. Apontamentos de
Torres Vedras. Lisboa: IPPC (Trabalhos de Arqueologia, 7), Arqueologia e Património. Lisboa. 9, p. 61-76.
p. 21-29.
MATALOTO, R.; COSTEIRA, C. (2016) – Gesto do simbólico II –
KUNST, M. (1996) – As cerâmicas decoradas do Zambujal recipientes fragmentados em conexão nos povoados do 4.º/3.º
e o faseamento do Calcolítico da Estremadura portuguesa. milénio a.n.e. de São Pedro (Redondo). In SOUSA, A. C.; CARVALHO,
Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 6, p. 257-286. A.; VIEGAS, C. (eds.) – Terra e Água. Escolher sementes, invocar
KUNST, M. (2001) – Invasion? Fashion? Social Rank? Consideration a Deusa. Estudos em homenagem a Victor S. Gonçalves. Lisboa:
concerning the Bell Beaker phenomenon in Copper Age UNIARQ (Estudos
fortificatons of the Iberian Peninsula. In NICOLIS, F. (ed.) – & Memórias, 9), p. 189-207.
Bell Brakers today. Pottery, people, culture, symbols in Prehistoric MATALOTO, R.; COSTEIRA, C.; ROQUE, C. (2015) – Torres, cabanas e
Europe. Proceedings of the International Colloquium. Trento: memória: a Fase V e a cerâmica campaniforme do povoado
Provincia Autonoma di Trento. 1, p. 81-90. de São Pedro (Redondo, Alentejo Central). Revista Portuguesa
KUNST, M. (2005) – Bell Beakers in Portugal: a short summary. de Arqueologia, Lisboa. 18, p. 81-100.
In ROJO-GUERRA, M.; GARRIDO-PENA, R.; MARTÍNEZ DE LAGRÁN, MILESI, L.; CARO J. L.; FERNANDEZ, J. (2013) – Hallazgos singulares en
I. (coords.) – El campaniforme en la Península Ibérica y su el contexto de la puerta 1 del complejo arqueológico de Perdigões,
contexto europeo. Valladolid: Universidad de Valladolid Portugal». Apontamentos de Arqueologia e Património. Lisboa. 9,
(Arte y Arqueologia, 21), p. 213-225. p. 55-60.
KUNST, M. (2010) – Zambujal. A dinâmica da sequência construtiva. MORÁN, E. (2014) – El asentamiento prehistórico de Alcalar
In GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C: (eds.) – Transformação (Portimão, Portugal). La organización del territorio y el proceso
e Mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénio a.n.e.. de formación de un estado pristino en el tercer milenio a.n.e.
Cascais: Câmara Municipal (Cascais Tempos Antigos, 2), Dissertação de Doutoramento apresentada à Universidade
p. 123-145. de Sevilha.

124 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
ODRIOZOLA, C.P.; HURTADO PÉREZ, V.; DIAS, M. I.; VALERA, A. C. SOARES, A. M. M.; SOARES, J.; SILVA, C. T. (2007) – A datação
(2009) – Bell Beaker production and consumption along the pelo radiocarbono das fases de ocupação do Porto das
Guadiana River: an Iberian perspective. In BIRÓ, K. T.; SZILÁGYI, V.; Carretas: algumas reflexões sobre a cronologia do
KREITER, A. (eds.) – Vessels: Inside and Outside. Proceedings of the Campaniforme. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa.
Conference EMAC’07 – 9th European Meeting on Ancient Ceramics. 10: 2, p. 127-134.
Budapest: Hungarian National Museum, p. 63-70. SOARES, J. (2013) – Transformações sociais durante o III milénio AC
ODRIOZOLA, C. P.; HURTADO, V.; GUERRA DOCE, E.; CRUZ-AUÑÓN, no Sul de Portugal. O povoado do Porto das Carretas. Évora:
R.; DELIBES DE CASTRO, G. (2012) – Los rellenos de pasta blanca EDIA/DRCALEN (Memórias d’Odiana 5, 2.ª série).
en cerámicas campaniformes y su utilización en la definición
SOARES, J.; SILVA, C. T. (1974-1977) – O Grupo de Palmela no quadro
de límites sociales. In DIAS, M. I.; CARDOSO, J. L. (eds.) – Actas
da cerâmica campaniforme em Portugal. O Arqueólogo Português.
do IX Congresso Ibérico de Arqueometria. Oeiras: Instituto
Lisboa. 3.ª série, 7/9, p. 102-112.
Superior Técnico/Instituto Tecnológico e Nuclear/Sociedad de
Arqueometría Aplicada al Patrimonio Cultural/Câmara Municipal SOARES, J.; SILVA, C. T. (1975) – A ocupação pré-histórica do Pedrão
de Oeiras (Estudos Arqueológicos de Oeiras, 19), p. 143-154. e o Calcolítico da região de Setúbal. Setúbal Arqueológica.
Setúbal. 1, p. 53-153.
PAÇO, A. (1964) – Castro de Vila Nova de S. Pedro. XIV: vida
económica. XV: o problema campaniforme. XVI: metalurgia SOARES, J.; SILVA, C. T. (2010) – Campaniforme do Porto das Carretas
e análises espectrográficas. Anais da Academia Portuguesa da (médio Guadiana). A procura de novos quadros de referência.
História. Lisboa.2.ª série, 14, p. 135-165. In GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C: (eds.) – Transformação
e Mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénio a.n.e..
PAÇO, A; SANGMEISTER, E. (1956) – Vila Nova de S. Pedro – eine
Cascais: Câmara Municipal (Cascais Tempos Antigos, 2),
befestigte Siedlung der Kupferzeit in Portugal. Germania.
p. 225-261.
34: 3/4, p. 211-230.
SOUSA, A. C. (2010) – O Penedo do Lexim e a sequência do
PIMENTA, J.; HENRIQUE, E.; MENDES, H. (2012) – O acampamento
Neolítico final e Calcolítico da Península de Lisboa. Dissertação
romano do Alto dos Cacos, Almeirim. Almeirim: Associação
de Doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da
de Defesa do Património Histórico e Cultural de Almeirim.
Universidade de Lisboa. 2 vols., policopiado.
RÍOS, P. (2013) – New dating of the Bell Beaker Horizon in the
SOUSA, A. C. (2013) – Casal Cordeiro 5 e o povoamento (com)
region of Madrid. In PRIETO MARTÍNEZ, M. P.; SALANOVA, L.
campaniforme na área da ribeira de Cheleiros. In ARNAUD, J. M.;
(coords.) – Current researches on Bell Beakers. Proceedings of the
MARTINS, A.; NEVES, C. (coords.) – Arqueologia em Portugal.
15th International Bell Beaker Conference: From Atlantic to Ural.
150 anos. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses,
Santiago de Compostela: Copynino – Centro de Impresión Digital,
p. 469-480.
p. 97-109.
SALANOVA, L. (2000) – Mécanismes de diffusion des vases VALERA, A. C. (2008) – O recinto calcolítico dos Perdigões: fossos
campaniformes: les liens franco-portugaise. In JORGE, V. O. (ed.) – e fossas do Sector I. Apontamentos de Arqueologia e Património.
Actas do 3.º Congresso de Arqueologia Peninsular. Porto: ADECAP. Lisboa. 3, p. 19-27.
4 (Pré-História Recente da Península Ibérica), p. 399-409. VALERA, A. C. (2012) – Mind the gap. Neolithic and Chalcolithic
SALANOVA, L. (2014) – The frontiers inside de western Bell Beaker enclosures of south Portugal. In GIBSON, A. (ed.) – Enclosing
block. In CZEBRESZUK, J. (ed.) – Similar bur Different. Bell Beakers the Neolithic. Recent studies in Britain and Europe. Oxford:
in Europe. Leiden: Sidestone Press (2nd edition), p. 63-75. Archaeopress (BAR International Series, 2440), p. 165-183.

SANTOS, R.; REBELO, P.; NETO, N.; VIEIRA, A.; REBUJE, J.; SÁ, A. P.; VALERA, A. C. (2013) – As comunidades agropastoris na margem
CHÉNEY, A.; RODRIGUES, F.; CARVALHO, A. F. (2014) – Intervenção esquerda do Guadiana. 2.ª metade do IV aos inícios do
arqueológica em Porto Torrão, Ferreira do Alentejo (2008-2010): II milénio AC. Évora: EDIA/DRCALEN (Memórias d’Odiana 6,
resultados preliminares e programa de estudos. In 4.º Colóquio 2.ª série).
de Arqueologia do Alqueva. O Plano de Rega (2002-2010). Évora: VALERA, A. C. (2014) – O recinto de Bela Vista 5 (Mombeja, Beja):
EDIA/DRCALEN (Memórias d’Odiana 14, 2.ª série), p. 74-82. enquadramento, arquitecturas e contextos. In VALERA, A. C.
SAVORY, H. N. (1972) – The Cultural Sequence at Vila Nova de S. Pedro. (coord.) – Bela Vista 5. Um recinto do final do 3.º milénio a.n.e.
A Study of the Section Cut Through the Innermost Rampart of (Vidigueira, Beja). Lisboa: NIA (Era Monográfica, 2),
the Chalcolithic Castro in 1959. Madrider Mitteilungen. 13, p. 23-37. p. 9-32.

SILVA, C. T. (1971) – O povoado pré-histórico da Rotura. Notas sobre VALERA, A. C.; FILIPE, I. (2004) – O povoado do Porto Torrão (Ferreira
a cerâmica. In Actas do II Congresso Nacional de Arqueologia. do Alentejo). Novos dados e novas problemáticas no contexto
Coimbra. 2, p. 175-192. da calcolitização do Sudoeste peninsular. Era Arqueologia.
SILVA, C. T.; SOARES, J. (2014) – O Castro de Chibanes (Palmela) Lisboa. 6, p. 28-61.
e o tempo social do III milénio BC na Estremadura. In SILVA, VALERA, A. C.; REBUGE, J. (2011) – O campaniforme no Alentejo:
C. T.; SOARES, J. (eds.) – II Encontro de Arqueologia da Arrábida. contextos e circulação. Um breve balanço. In CARNEIRO, A.;
Homenagem a A. I. Marques da Costa. Setúbal: Museu de OLIVEIRA, J.; ROCHA, L.; MORGADO, P. (eds.) – Arqueologia do
Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal/Assembleia Norte Alentejano. Comunicações das 3.ª Jornadas. Lisboa: Edições
Distrital de Setúbal (Setúbal Arqueológica, 15), p. 105-172. Colibri/Câmara Municipal de Fronteira, p. 111-121.

VICTOR S. GONÇALVES, ANA CATARINA SOUSA, MARCO ANTÓNIO ANDRADE  O BARRANCO DO FARINHEIRO (CORUCHE) E A PRESENÇA CAMPANIFORME NA MARGEM ESQUERDA DO BAIXO TEJO 125
O POVOAMENTO CAMPANIFORME
EM TORNO DO ESTUÁRIO DO TEJO:
CRONOLOGIA, ECONOMIA E SOCIEDADE
JOÃO LUÍS CARDOSO
Universidade Aberta (Lisboa)
Centro de Estudos Arqueológicos do Concelho de Oeiras (Câmara Municipal de Oeiras)
cardoso18@netvisao.pt

126 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
R E S U M O A nítida predominância em cada uma das estações campaniformes apresen-
tadas, pertencentes à região ribeirinha do estuário do Tejo, das produções corresponden-
tes a apenas um dos grupos campaniformes definidos para esta região na década de 1970,
parece ser o resultado da natureza dos estabelecimentos, afigurando-se, com base nas data-
ções absolutas obtidas, independente da respectiva cronologia, abarcando – com excepção
da Cabana FM de Leceia e da necrópole em gruta natural da Verdelha dos Ruivos – toda a
segunda metade do 3.º milénio a.C. Com efeito, enquanto nos sítios fortificados, como Leceia,
Penha Verde e Moita da Ladra, são as produções do Grupo Internacional que predominam, já
nos sítios abertos como Monte do Castelo e Freiria, são as do Grupo Inciso que se afiguram
quase exclusivas, dado que o Grupo de Palmela se acantona principalmente em torno do
estuário do Sado. A evidente complexidade do «fenómeno» campaniforme na região em
apreço já não se coaduna com o modelo de existência dos três grupos sucessivamente mais
modernos que têm sido até agora considerados (Grupo Internacional; Grupo de Palmela e
Grupo Inciso). E a assinalável antiguidade das produções tradicionalmente reportadas a
qualquer um deles, conforme foi comprovado na Cabana FM de Leceia pelas datações por
AMS, onde ocorrem conjuntamente, confirmando resultados anteriores, tem presentemente
diversos paralelos conhecidos, alguns deles recentemente publicados. Como principal con-
clusão, podemos considerar na Baixa Estremadura – uma das mais importantes regiões à
escala europeia para a discussão da origem e difusão do «fenómeno» campaniforme – a
existência de uma formação social com características culturais próprias, cuja existência
acompanhou o desenvolvimento local do Calcolítico, sugerindo a existência de dois vectores
culturais independentes e coexistentes, com prováveis implicações de ordem social.
PALAVRAS-CHAVE: campaniforme; estuário do Tejo; cronologia absoluta; economia e sociedade.

A B S T R A C T The general predominance in all the sites presented of bell beaker produc-
tions of one of the three Beaker groups tradicionally considered in the Portuguese Estrema-
dura since the decade of 1970, seems to result from the nature of the establishments rather
than from their chronology, covering a time span corresponding to all the second half of
the 3rd Millennium BC. Thus, while ceramics of the International Group predominate in the
fortified sites, such as Leceia, Penha Verde and Moita da Ladra, it is the Incised Group that
appears almost exclusively in the open sites (Monte do Castelo, Freiria), the Palmela Group
seems to be a more circumscribed group around the Sado Estuary. Moreover, as shown by
the data from FM hut at Leceia, which incorporates productions of all three groups, its chro-
nology, in the second quarter of the 3rd millennium BC, confirmed by the AMS dates, has sev-
eral parallels, some of them recently published. As a major conclusion, we can consider in
the Lower Estremadura – one of the most important region in the Europe for the discussion
of the origin and diffusion of the Beaker «phenomenon» – the existence of a Beaker social
formation with its own cultural characteristics, that accompanied along the development
of the local Chalcolithic communities, though was never confused with them.
KEYWORDS: Bell Beaker; Tagus estuary; absolute chronology; economy and social organization.

JOÃO LUÍS CARDOSO  O POVOAMENTO CAMPANIFORME EM TORNO DO ESTUÁRIO DO TEJO: CRONOLOGIA, ECONOMIA E SOCIEDADE 127
2. SÍTIOS E MATERIAIS (Fig. 2)

2.1. povoado pré-histórico de leceia


São duas as áreas de distribuição de espólios campa-
niformes que devem ser consideradas neste sítio arque-
ológico de primeira grandeza (Fig. 3), com significados
sócio-culturais distintos: a área situada no interior da
fortificação e a identificada no exterior daquela (Fig. 4).

FIG. 2 localização dos sítios estudados.

FIG. 1 principais sítios campaniformes do território português.

1. INTRODUÇÃO
As investigações sobre as características que assumiu
o «fenómeno» campaniforme no território português
(Fig.  1), designadamente no respeitante ao seu fasea-
mento interno e sua correspondência com o registo
material identificado, conheceram recentemente impul-
sos diversos e em alguns casos decisivos (Cardoso, 2014a).
Em particular, no que respeita à Estremadura portu-
guesa, os elementos obtidos relativamente a cada um
dos sítios campaniformes que serão de seguida apre-
sentados, e em cuja escavação ou publicação o signa- FIG. 3 Leceia. Fotografia aérea da área escavada do povoado até 1991
tário interveio directamente, desde há mais de 25 anos, (foto G. Cardoso).
impunham uma síntese que foi entretanto publicada
(Cardoso, 2014 b), correspondendo esta comunicação a interior da fortificação
uma revisão das principais conclusões, de ordem cro- No interior da fortificação dominam os vasos com
nológica, económica e social então apresentadas, na decoração a pontilhado, situação com paralelo nos
perspectiva de se conhecerem as características sociais outros dois sítios fortificados estudados – Penha Verde
e económicas das comunidades que, no decurso do (Cardoso, 2010/2011) e Moita da Ladra (Cardoso, 2014 c).
3.º  milénio a.C. ocuparam a região ribeirinha da mar- A cronologia absoluta abarca toda a segunda metade do
gem norte do estuário do Tejo, uma das mais importan- 3.º milénio a.C. tal qual o observado naqueles dois sítios
tes, a nível europeu, para a discussão da génese e difu- fortificados, para além de outros da mesma região com
são do campaniforme. idêntica presença.

128 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
A distribuição espacial dos materiais campani-
formes indica a sua concentração na área nuclear da
estação arqueológica, correspondente à ocupação mais
recente da mesma, no decurso do Calcolítico Pleno/
Final. Com efeito, sem que a área restante do espaço
defendido tenha deixado de ser habitada, verifica-se
uma efectiva retracção da ocupação humana na pas-
sagem do Calcolítico Inicial (fase das produções dos
copos canelados) para o Calcolítico Pleno/Final (fase
das produções de cerâmicas decoradas com motivos
«folha de acácia» e «crucífera» associadas a produ-
ções campaniformes, no caso representadas essencial-
mente por vasos marítimos.

exterior da fortificação
No exterior da fortificação, avulta a existência de
duas cabanas campaniformes, de planta elipsoidal
construídas a escassos metros da primeira linha defen-
siva (Cardoso, 1997/1998) (Fig. 5).

cabana fm
Apesar da vida curta desta estrutura, determi-
nada pela sua própria natureza, de planta elipsoidal e
munida de uma entrada, definida por soleira (Fig. 6),
os espólios campaniformes que se concentravam no
seu interior evidenciam assinalável heterogeneidade.
FIG. 4 Leceia. Planta da área escavada com as duas cabanas de
planta elipsoidal e com a delimitação da zona de maior concentração
de vestígios no interior da fortificação.

FIG. 5 Leceia. Espólios campaniformes do interior da fortificação (desenhos de B. L. Ferreira).

JOÃO LUÍS CARDOSO  O POVOAMENTO CAMPANIFORME EM TORNO DO ESTUÁRIO DO TEJO: CRONOLOGIA, ECONOMIA E SOCIEDADE 129
seguinte distribuição tipológica no respeitante aos gru-
pos mais abundantes de recipientes (Fig. 7):

Vasos marítimos decorados a pontilhado – 13


Caçoilas de ombro com decoração incisa – 11
Taças em calote com decoração a pontilhado – 23
Taças Palmela com decoração a pontilhado – 7
Taças Palmela com decoração incisa – 7

cabana en
Trata-se da cabana de planta elipsoidal, tal como
a Cabana FM, embora de menores dimensões (Fig. 8).
FIG. 6 Leceia. Vista geral do embasamento da Cabana FM, de planta A distribuição tipológica das produções campanifor-
elipsoidal, munida de uma entrada, definida por laje colocada de mes recolhidas no seu interior, que correspondiam à
cutelo, definindo soleira (foto de J. L. Cardoso). totalidade das cerâmicas decoradas ali identificadas é a
seguinte no respeitante aos três grupos de recipientes
Os mesmos não poderiam ter vindo de outras áreas mais abundantes (Fig. 9):
da estação e não se apresentam rolados, prova de que
resultaram de uma única fase de acumulação, coeva Grandes caçoilas com decoração a pontilhado – 4
da ocupação da cabana. As cerâmicas decoradas são Grandes caçoilas com decoração incisa – 2
exclusivamente campaniformes. Pode assim concluir- Taças Palmela com decoração incisa – 4
-se que os 108 fragmentos campaniformes recolhidos
no espaço interior da cabana correspondem aos detri- Comparado estes resultados com os relativos ao con-
tos produzidos no decurso da sua ocupação, por certo junto recolhido na Cabana FM, nota-se uma notória
durante um período limitado de tempo, possuindo a diminuição do reportório formal e decorativo, o que se

FIG. 7 Leceia. espólios da Cabana FM (desenhos de B. L. Ferreira).

130 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 8 Leceia. Vista geral do embasamento da cabana EN de planta
elipsoidal, como a Cabana FM (foto de J. L. Cardoso).

FIG. 9 Leceia. Materiais campaniformes recolhidos no interior da


Cabana EN que constituíam, tal como na Cabana FM, a totalidade
das produções cerâmicas decoradas (desenhos de B. L. Ferreira).

poderia atribuir às menores dimensões da cabana, não 2.2. monte do castelo


fosse o facto de tais diferenças terem características Trata-se de local muito circunscrito de sector da
qualitativas e não apenas quantitativas. encosta direita da ribeira de Barcarena, a cerca de
É nítido o domínio da técnica incisa e a falta abso- 1 km a Sul de Leceia (Fig. 10), onde tudo leva a crer que,
luta de vasos marítimos, ao contrário do verificado na aquando da realização de uma lavra mais profunda
Cabana FM, onde dominava a técnica a pontilhada e do terreno, tenha sido atingido um fundo de cabana
aqueles abundavam. campaniforme, cujos materiais vieram à superfície
A cronologia é mais recente que a obtida para a (Cardoso; Norton; Carreira, 1996). Entre estes, con-
cabana FM, o que é consentâneo com a tipologia dos tava-se o resto de dente de boi doméstico submetido
espólios recolhidos. a datação.

JOÃO LUÍS CARDOSO  O POVOAMENTO CAMPANIFORME EM TORNO DO ESTUÁRIO DO TEJO: CRONOLOGIA, ECONOMIA E SOCIEDADE 131
FIG. 10 Monte do Castelo. Conjunto das cerâmicas campaniformes recolhidas (desenhos de B. L. Ferreira).

A recolha circunstancial então realizada mostrou


que as produções incisas eram exclusivas, conforme
indica a respectiva distribuição (Fig. 10):

Vasos marítimos incisos – 5


Taças em calote incisas – 8
Caçoilas incisas – 6
Esféricos incisos – 2
Taças Palmela incisas – 2

Não sendo caso único, pois de há muito é conhecido


um vaso marítimo com decoração incisa de uma das
grutas artificiais de Palmela (Cardoso, 2014 a, Fig. 2) é
interessante a aplicação consistente da técnica incisa
à decoração de vasos marítimos, pois tradicional-
mente tais produções, consideradas as mais antigas da
sequência de cerâmicas campaniformes, seriam previ-
sivelmente decoradas exclusivamente a pontilhado.

2.3. freiria
Trata-se de pequeno povoado aberto onde as cerâ-
micas decoradas campaniformes eram exclusivas,
ocorrendo em camada arqueológica que se desenvol-
via por encosta suave, sob uma villa romana, ou sob a
ocupação da Idade do Ferro ali também identificada. FIG. 11 Freiria. Estrutura de combustão campaniforme no interior de
Apesar das severas perturbações na camada pré-his- cabana de planta sub-circular (fotos de G. Cardoso).

132 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
tórica, foi possível identificar diversas estruturas entre se tinha já observado no Monte do Castelo. Da mesma
as quais várias lareiras estruturadas, algumas delas forma, as escassas taças Palmela a pontilhado, que cor-
relacionadas com uma cabana de planta sub-circular porizariam um dos grupos tradicionais da Estrema-
(Fig. 11). dura, encontram-se claramente subordinadas às suas
As produções campaniformes, recolhidas em número homólogas incisas.
assinalável, apresentando-se exclusivas entre as produ- O conjunto, sendo claramente dominado pelas
ções calcolíticas decoradas, ostentam a seguinte distri- caçoilas incisas de médias e grandes dimensões, inclui,
buição tipológica (Cardoso; Cardoso; Encarnação, 2013) ainda, algumas formas escassas, como as garrafas ou
(Fig. 12): os vasos esféricos (desde os de grande capacidade aos
de pequeno tamanho), ou mesmo formas até agora não
Vasos marítimos a pontilhado – 8 assinaladas no registo campaniforme da Estremadura,
Vasos marítimos incisos – 21 com destaque para os esféricos altos, alguns com o
Caçoilas incisas – 234 lábio decorado (como as taças Palmela).
Caçoilas a pontilhado – 35
Taças em calote incisas – 60 2.4. gruta da ponte da lage
Taças em calote a pontilhado – 8 Trata-se de cavidade natural, talvez com a entrada
Taças Palmela incisas – 34 afeiçoada, aberta nos calcários duros recifais do Ceno-
Taças Palmela a pontilhado – 6 maniano superior formando cornija junto da margem
esquerda da ribeira da Laje (Fig. 13).
Este notável conjunto campaniforme evidencia O espólio campaniforme, recuperado nas escavações
assinalável homogeneidade interna, sendo dominado realizadas em 1879 sob as ordens de Carlos Ribeiro, foi
pelas decorações incisas, entre as quais, ocorrem diver- recentemente estudado de forma exaustiva (Cardoso,
sos vasos marítimos, reproduzindo os motivos de ban- 2013); evidencia grandes afinidades com o de Freiria,
das produzidos usualmente por pontilhado, tal qual com largo domínio das produções incisas, sendo admis-

FIG. 12 Freiria. Produções campaniformes (desenhos de B. L. Ferreira e de F. Martins).

JOÃO LUÍS CARDOSO  O POVOAMENTO CAMPANIFORME EM TORNO DO ESTUÁRIO DO TEJO: CRONOLOGIA, ECONOMIA E SOCIEDADE 133
FIG. 13 Gruta da Ponte da Laje. Enquadramento da implantação da gruta, situada no centro da foto, na década de 1940 (foto arquivo J. L. Cardoso).

FIG. 14 Gruta da Ponte da Laje. Cerâmicas campaniformes (desenhos de F. Martins).

134 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
sível que se trate de um dos espaços funerários daquele
povoado, conclusão reforçada pela cronologia de ambos
ser em boa parte idêntica. A distribuição tipológica das
formas identificáveis é a seguinte (Fig. 14).

Caçoilas incisas – 12
Caçoilas a pontilhado – 3 (sendo uma de ombro)
Taças Palmela incisas – 9
Taças Palmela a pontilhado – 1

2.5. penha verde


Trata-se de povoado de altura, implantado na
encosta setentrional da serra de Sintra, com indícios de
ter sido muralhado. Os espólios indicam uma fase de
ocupação principal, remontando ao Calcolítico Pleno/
Final, caracterizada pela associação de produções cerâ-
micas de carácter regional do grupo «Folha de acácia»
e «crucífera», associadas a produções campaniformes.
Reconheceram-se duas cabanas de planta circu-
lar, construídas com lajes calcárias justapostas, as
quais foram procuradas fora da área granítica onde se
implanta o povoado (Fig. 15).
Uma destas unidades habitacionais (Cabana 2) rela-
cionava-se com um depósito de acumulação de detritos
domésticos dela oriundos (Fosso).
A distribuição das produções campaniformes pelos
diversos loci explorados foi recentemente caracterizada
de forma exaustiva (Cardoso, 2010/2011) e evidencia a
predominância dos vasos marítimos a pontilhado (41 FIG. 15 Penha Verde. Cabanas 1 e 2 de planta circular (in Zbyszewski
e Ferreira, 1958, Figs. 1 e 4).
exemplares), a que se somam mais 17 da variante linear
pontilhada e 1 incisa (Fig. 16).

FIG. 16 Penha Verde. Cerâmicas campaniformes recolhidas nas Cabanas 1 e 2.

JOÃO LUÍS CARDOSO  O POVOAMENTO CAMPANIFORME EM TORNO DO ESTUÁRIO DO TEJO: CRONOLOGIA, ECONOMIA E SOCIEDADE 135
As caçoilas com decoração geométrica a pontilhado
estão representadas por 20 exemplares, mais cinco que
as caçoilas incisas.
As taças Palmela são exclusivamente incisas (8
exemplares) e idêntica tendência se observa nas taças
em calote, das quais cinco das seis que foram compul-
sadas possuem decoração incisa.
Nota-se, globalmente, uma clara predominância das
decorações a pontilhado associadas a vasos marítimos,
podendo admitir-se que certas produções considera-
das mais tardias como as taças Palmela incisas, sejam
o resultado de uma prolongada ocupação do sítio,
como sugere o resultado das datas de radiocarbono
disponíveis que indicam três momentos de ocupação
diferenciados, todos inseríveis na segunda metade do
3.º milénio a.C. Em todos os contextos, as produções
campaniformes estão associadas a produções calcolí-
ticas regionais («folha de acácia»).

2.6. moita da ladra (vila franca de xira)


Este povoado fortificado implantava-se no todo de
uma chaminé basáltica (Fig. 17), hoje muito arrasada em
resultado da lavra de uma pedreira que esteve, contudo,
na origem da escavação integral do sítio. (Cardoso, 2014c)
As cerâmicas campaniformes recolhidas associam-
-se, tal como nos dois povoados de altura supra refe-
ridos (Leceia e Penha Verde), a produções calcolíticas
regionais («folha de acácia») correspondendo, tal como
na Penha Verde a apenas uma única ocupação arqueo-
FIG. 17 Moita da Ladra. Vista aérea do sítio, implantado no topo de lógica do local. Tal como naqueles dois locais, predomi-
uma chaminé basáltica dominando todo o estuário interior do Tejo nam as produções campaniformes a pontilhado, aqui
(fotos de J. L. Cardoso / B. L. Ferreira) praticamente exclusivas, observando-se a associação
FIG. 18 Moita da Ladra. Cerâmicas campaniformes (desenhos de F.
de vasos marítimos ao pontilhado geométrico e a total
Marins e de B. L. Ferreira): ausência da taça Palmela (Fig. 18):

136 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
Vasos marítimos com decoração a pontilhado – 31 não utilização da necrópole, indica período curto de
Vasos marítimos com decoração linear tumulações, confirmado pelos resultados do radiocar-
a pontilhado – 13 bono.
Vasos ou caçoilas com decoração a pontilhado
geométrico – 23
Caçoilas de ombro com decoração a pontilhado – 16
Esféricos com decoração a pontilhado – 1
Taças em calote com decoração a pontilhado – 1
Caçoilas de ombro incisas – 1

2.7. gruta de verdelha dos ruivos


Trata-se de gruta natural, identificada ocasional-
mente no decurso de lavra de pedreira (Fig. 19 ). A es-
cavação permitiu a identificação de quase trinta
tumulações, distribuídas por quatro níveis distintos;
nos casos em que foi possível determinar a posição
dos corpos, estes apresentavam-se em decúbito lateral,
com as pernas e os braços encolhidos, depositados em
covachos recobertos por lajes (Fig. 20). A pequenez da
cavidade natural ainda conservada, correspondendo à
sua parte mais profunda, bem como a sequência do
FIG. 19 Gruta da Verdelha dos Ruivos. Aspecto da gruta natural
seu enchimento, feita de forma uniforme e sem solu- utilizada como necrópole colectiva exclusivamente no decurso do
ções de continuidade, correspondente a períodos de campaniforme (foto arquivo O. V. F. / J. L. C.).

FIG. 20 Gruta da Verdelha dos Ruivos. Planta dos quatro níveis de tumulações campaniformes. Note-se a posição dos
corpos, em decúbito lateral, com os braços e pernas encolhidos (in Ferreira e Leitão, 1981).

JOÃO LUÍS CARDOSO  O POVOAMENTO CAMPANIFORME EM TORNO DO ESTUÁRIO DO TEJO: CRONOLOGIA, ECONOMIA E SOCIEDADE 137
FIG. 21 Gruta da Verdelha dos Ruivos. Cerâmicas campaniformes. (in Ferreira e Leitão, 1981, mod.).

Foram escassos os recipientes recolhidos, embora 3.1. cronologia absoluta


coexistindo formas muito distintas (Fig. 21):  1. Com base na Fig. 22 pode concluir-se que o início da
presença campaniforme na região ribeirinha do Tejo
Vasos marítimos com decoração a pontilhado – 1 se situa cerca de 2700 cal BC, atendendo aos resulta-
Vasos com decoração linear a pontilhado – 1 dos obtidos na Cabana FM de Leceia.
Caçoilas de perfil suave com decoração incisa – 2  2. Tanto os sítios de altura como os sítios abertos
Caçoilas de ombro com decoração a pontilhado – 1 coexistiram ao longo de toda a segunda metade do
Caçoilas de grandes dimensões com decoração 3.º milénio cal BC, conforme indicam as datações
incisa – 1 de radiocarbono correspondentes, tornando-se os
Taças Palmela com decoração a pontilhado – 1 segundos predominantes no último quartel do refe-
Taças Palmela com decoração incisa – 6 rido milénio.
Taças em calote com decoração a pontilhado – 1  3. As duas cabanas campaniformes de Leceia, edifica-
Recipientes inclassificáveis com decoração incisa – 6 das no exterior da primeira linha defensiva (a mais
exterior) coexistiram com a ocupação do interior da
fortificação, embora ambas as cabanas possuam cro-
3. DISCUSSÃO nologias estatisticamente distintas.
Com base nas observações acima apresentadas  4. À data da construção da cabana FM, cerca de
e cruzando as mesmas com a cronologia absoluta 2700 cal BC, as produções campaniformes seriam
obtida para as respectivas estações objecto de caracte- ainda muito escassas no interior da fortificação,
rização, é possível apresentar os seguintes tópicos de pois nos depósitos coevos aquelas não foram regis-
discussão: tadas.

138 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 22 Datações absolutas pelo método do radiocarbono obtidas para as estações estudadas.

JOÃO LUÍS CARDOSO  O POVOAMENTO CAMPANIFORME EM TORNO DO ESTUÁRIO DO TEJO: CRONOLOGIA, ECONOMIA E SOCIEDADE 139
 5. A presença campaniforme no interior da fortifica- dominante os recipientes destinados ao armazena-
ção é apenas coeva da construção da cabana cam- mento.
paniforme EN, embora existam grandes diferenças  4. Mesmo dentro de uma única estação pode obser-
entre a tipologia das produções cerâmicas campa- var-se diferenciação entre os espólios campaniformes
niformes provenientes de ambos os locais, a seguir oriundos dos diversos loci. Assim, enquanto no inte-
caracterizadas. rior da fortificação de Leceia dominam os vasos marí-
timos e associados, na Cabana EN eles estão total-
3.2. tipologia das produções mente ausentes, apesar de ambas as ocupações serem
No respeitante à distribuição tipológica das produ- coevas. A presença das grandes caçoilas com decora-
ções cerâmicas campaniformes face à natureza das ções a pontilhado ou incisas recolhidas na Cabana EN,
estações e à sua cronologia absoluta (diacronia), é pos- tornam aquele conjunto semelhante ao que seria de
sível apresentar as seguintes conclusões, com base na esperar encontrar num sítio habitacional aberto.
informação empírica recolhida para este trabalho:  5. No que respeita às necrópoles, a tipologia das pro-
duções cerâmicas dá igualmente indicações interes-
 1. A coexistência numa unidade arquitectónica de santes. Com base em tais características, é possível
vida curta como é a cabana FM de Leceia de produ- associar a utilização da gruta da Ponte da Lage ao
ções campaniformes tipologicamente muito distin- povoado aberto de Freiria, situado a cerca de 2 km
tas, às quais se tem atribuído valor cronológico (Soa- para NW, enquanto que a gruta da Verdelha dos Rui-
res; Silva, 1974/1977) – Grupo Internacional; Grupo de vos não deve corresponder à necrópole do povoado
Palmela e Grupo Inciso – embora no caso em apreço de altura fortificado da Moita da Ladra, também a
nenhum dos grupos referidos se destaque quantita- cerca de 2 km de distância, dado o facto de os espó-
tivamente dos restantes, mostra que não é admis- lios dos dois sítios serem totalmente distintos, ape-
sível atribuir significado cronológico aos referidos sar de parcialmente coevos.
grupos, embora os mesmos possam ocorrer isolada-
mente. No que à região a norte do Tejo diz respeito, é É bem possível que as populações campaniformes,
lícito aceitar a existência no registo arqueológico, do não aproveitassem indistintamente as sepulturas dos
Grupo Internacional (onde avulta o vaso marítimo seus antecessores; seriam selectivos, destinando as gru-
decorado a pontilhado) e do Grupo Inciso em condi- tas naturais a um segmento da sociedade, reservando
ções bem diferenciadas arqueograficamente. os monumentos mais elaborados e onde a intervenção
 2. Porém, como tais grupos podem ocorrer em dos antepassados fosse mais evidente, para tumulação
estreita associação, como é o caso da Cabana FM de dos elementos mais destacados da comunidade. Tal é a
Leceia, importa encontrar outras razões para a sua conclusão a que se pode chegar quando se observam os
existência, que não sejam as de carácter cronológico, belos vasos marítimos e caçoilas de cuidada execução a
a única justificação que tradicionalmente tem sido pontilhado das grutas artificiais de Alapraia e de Casal do
apresentada. Com efeito, as estações campanifor- Pardo, desconhecidas nas grutas naturais da região como
mes estudadas, apesar de globalmente coevas ao as duas estudadas. Esta hipótese, que importa aprofun-
logo da segunda metade do 3.º milénio a.C., tanto dar, conduz à última questão desta comunicação.
quanto é possível concluir pelo radiocarbono, exi-
bem fortes diferenças no perfil tipológico das produ- 3.3. incidências sociais
ções campaniformes respectivas.  1. Parece evidenciar-se a coexistência de duas estra-
 3. A explicação para tais diferenças reside nas carac- tégias de povoamento na região, uma baseada em
terísticas específicas de cada um dos sítios. Assim, grandes povoados fortificados, outra, mais móvel e
enquanto que, nos povoados fortificados estudados discreta, representada pelas duas cabanas de Leceia,
(Leceia, Penha Verde e Moita da Ladra), dominam as que, não por acaso, se implantaram no exterior do
produções de cerâmicas campaniformes finas e de dispositivo defensivo, constituído em importante
alta qualidade, representadas sobretudo pelos vasos pólo económico à escala regional. Em ambas os
marítimos e produções associadas, com decorações espólios campaniformes são exclusivos, o que con-
geométricas a pontilhado, nos sítios abertos, sejam duz a considerar a possibilidade de terem coexistido,
pequenos povoados como Freiria, sejam núcleos no decurso do Calcolítico da Baixa Estremadura, dois
familiares ainda mais pequenos, como o Monte do grupos humanos socialmente distintos.
Castelo, os vasos marítimos são muito escassos, ou A coexistência entre esses dois grupos seria pacífica:
mesmo ausentes, encontrando-se substituídos por de outra forma não se compreenderia a associa-
produções mais grosseiras, decoradas pela técnica ção estratigráfica, nos sítios fortificados estudados
incisa, ocorrendo de forma insistente ou mesmo neste trabalho, de produções de raiz local («folha de

140 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
acácia» e «crucífera») a produções campaniformes, fica concentrada na Baixa Estremadura («folha de
no decurso de toda a 2.ª metade do 3.º milénio a.C. acácia» e «crucífera») e produções campaniformes,
(Leceia, Penha Verde e Moita da Ladra). verificada nos sítios de altura e, ao mesmo tempo,
 2. A predominância, nos sítios fortificados referidos, a segregação espacial observada entre produções
de vasos marítimos, caracterizados pela sua alta campaniformes e não-campaniformes observadas
qualidade, entre as produções cerâmicas campani- numa mesma estação (caso de Leceia, entre o inte-
formes, pode relacionar-se com o consumo de líqui- rior da fortificação e as duas cabanas campaniformes
dos entre os quais produtos alcoólicos fermentados, existentes na sua adjacência imediata). Conclusão: a
associados às elites campaniformes, que a partir possibilidade de ter existido uma efectiva formação
daqueles locais, passariam a assumir a adminis- social campaniforme na região do estuário do Tejo,
tração dos territórios adjacentes. Por estes últimos coexistindo de forma independente com a comu-
se dispersava o segmento menos diferenciado das nidade calcolítica não campaniforme, concentrada
comunidades campaniformes, entregue à explo- nos povoados fortificados, retomando-se assim, com
ração agro-pastoril, em sítios abertos nos quais novas bases arqueológicas, a velha questão da efec-
os vasos marítimos são notoriamente escassos, tiva existência de um «Beaker Folk» cujas origens
mas onde as produções de carácter local do grupo poderiam sem dúvida situar-se na região em apreço,
«folha de acácia» e «crucífera» também não ocor- cujas as manifestações campaniformes se inscrevem
rem. Importa para já registar este facto, que carece entre as mais antigas do ocidente europeu.
de interpretação, talvez simplesmente pelo facto de
os seus utilizadores se concentrarem nos povoados
fortificados de altura, não ocupando de forma per- REFERÊNCIAS BIBLIOG RÁFICAS
manente os campos adjacentes. CARDOSO, J. L. (1997/1998) – A ocupação campaniforme do povoado
pré-histórico de Leceia (Oeiras). Estudos Arqueológicos de Oeiras.
Oeiras. 7, p. 89-153.
CARDOSO, J. L. (2010/2011) – O povoado calcolítico da Penha Verde
4. CONCLUSÔES
(Sintra). Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 18, p. 467-552.
O processo de interpretação integrado dos dados que
CARDOSO, J. L. (2013) –A necrópole campaniforme da gruta da Ponte
neste momento existem – o próprio registo material e da Lage (Oeiras): estudo dos espólios cerâmicos e metálicos
as informações acerca da cronologia absoluta das mani- e respectiva cronologia absoluta. Estudos Arqueológicos de Oeiras.
festações campaniformes na região ribeirinha do estu- Oeiras. 20, p. 589-604.
ário do Tejo – foi o objectivo deste estudo. O desenvolvi- CARDOSO, J. L. (2014a) – Manifestazioni del vaso campaniforme nel
mento das investigações em curso irão, por certo, carrear território portoghese. In De MARINIS, R. C. (ed.) – Le manifestazioni
mais informação, necessária para o cada vez mais rigo- del sacro e l’Età del Rame nella regione alpina e nella pianura
padana. Studi in memoria di Angelo Rampinelli Roca. Brescia:
roso conhecimento do que terá realmente acontecido,
Euroteam, p. 279-319.
a nível demográfico e social, sendo certo que os bons
CARDOSO, J. L. (2014b) – Absolute chronology of the Beaker
modelos dependem da qualidade dos dados em que se phenomenon North of the Tagus estuary: demographic and
devem sempre basear: para já, e a nível dos principais social implications. Trabajos de Prehistoria. Madrid.71 (1), p. 56-75.
resultados decorrentes deste estudo devem ser subli- CARDOSO, J. L. (2014c) – O povoado calcolítico fortificado da Moita
nhados os seguintes aspectos, para futura discussão: da Ladra (Vila Franca de Xira, Lisboa): resultados das escavações
efectuadas (2003-2006). Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras.
21, p. 217-294.
 1. Ao nível da organização interna das comunidades
CARDOSO, J. L.; CARDOSO, G.; ENCARNAÇÃO, J. d’(2013) –
campaniformes duas observações e uma conclusão.
O campaniforme de Freiria (Cascais). Estudos Arqueológicos
Primeira observação: existe coexistência entre sítios de Oeiras. Oeiras. 20, p. 525-588.
campaniformes de altura e sítios campaniformes CARDOSO, J. L.; NORTON, J.; CARREIRA, J. R. (1996) – Ocupação
abertos, demonstrada pelo radiocarbono. Segunda calcolítica do Monte do Castelo (Leceia, Oeiras). Estudos
observação: verificam-se assinaláveis diferenças na Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 6: 287-299. De col. com
tipologia e qualidade das produções campaniformes J. Norton e J. R. Carreira.
predominantes nos dois tipos de sítios. Conclusão: FERREIRA, O. V.; LEITÃO, M. (1981) – Portugal Pré-Histórico.
existiu segmentação social entre os grupos sociais Seu enquadramento no Mediterrâneo. Mem Martins: Publicações
Europa-América.
que ocupavam os dois tipos de sítios, com o seg-
SOARES, J.; SILVA, C. T. (1974/1977) – O Grupo de Palmela no quadro
mento dominante da sociedade ocupando os povo-
da cerâmica campaniforme em Portugal. O Arqueólogo Português.
ados fortificados de altura. Lisboa. Série 3, 7/9, p. 101-112.
 2. Ao nível das relações intercomunitárias, uma obser- ZBYSZEWSKI, G.; Ferreira, O. V. (1958) – Estação pré-histórica da Penha
vação e uma conclusão. Observação: a coexistência Verde (Sintra). Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal.
entre produções cerâmicas com distribuição geográ- Lisboa. 39, p. 37-57.

JOÃO LUÍS CARDOSO  O POVOAMENTO CAMPANIFORME EM TORNO DO ESTUÁRIO DO TEJO: CRONOLOGIA, ECONOMIA E SOCIEDADE 141
ENTRE OS ESTUÁRIOS DO TEJO E DO SADO
NA 2.© METADE DO III MILÉNIO BC:
O FENÓMENO CAMPANIFORME
CARLOS TAVARES DA SILVA
Centro de Estudos Arqueológicos (MAEDS)
ctavaressilva@gmail.com

142 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
R E S U M O Procede-se a um balanço da informação disponível relativa ao Horizonte Cam-
paniforme (2.ª metade do III milénio BC) da Península de Setúbal. Identificam-se e carac-
terizam-se, com base em novos dados, os grupos estilísticos Internacional, de Palmela e
de Palmela evolucionado/Inciso que, em termos gerais, parecem coincidir com diversas
fases do processo de transformação económico-social responsável pelo colapso do modo
de produção característico da 1.ª metade do III milénio. Na desintegração dessas socie-
dades comunitárias atender-se-á em particular à vasta expansão geográfica sobretudo
do vaso campaniforme internacional (adoptado como artefacto de prestígio), reveladora
de processos de interacção transregionais de larga escala; à fragmentação e dispersão do
povoamento; à tendência para a passagem da sepultura colectiva para a individual; à con-
sagração das armas (de cobre arsenical) nos rituais funerários; à ostentação de elementos
de adorno, designadamente de ouro e marfim; à substituição dos artefactos ideotécnicos
pelos de carácter sociotécnico.
PALAVRAS-CHAVE: cerâmica campaniforme; Horizonte Campaniforme; grupos estilísticos
Internacional; de Palmela e Inciso; Península de Setúbal.

A B S T R A C T A synthesis regarding the Bell Beaker period (2nd half of the third millennium
cal BC) of the Setúbal Peninsula is presented. On the basis of new data, the International,
Palmela and evolved Palmela stylistic groups are characterized and associated to the
socioeconomic transformations that occurred in the second half of the third millennium
cal BC. The arrival of the International Bell Beaker pottery at the region occurred when
the Chalcolithic communitarian societies enter in a profound crisis. That prestige item
signals a new interaction system that spread over a huge European geography. Onward,
the settlement pattern returns to the open and flat landscapes; political power got more
centralized. There is a progressive shift from the collective funerary ritual to individual
inhumations graves. Mainly in the funerary record it is evident the emergence of elites
whose chiefs are the center of a new heroic ideology based on weapons (of arsenical cop-
per) and on exotic and rare adornments made in gold and ivory; the traditional Chalco-
lithic ideo-technical artifacts are replaced by socio-technical items.
KEYWORDS: Setúbal Peninsula; Bell Beaker pottery; International, Palmela and evolved
Palmela stylistic groups.

CARLOS TAVARES DA SILVA  ENTRE OS ESTUÁRIOS DO TEJO E DO SADO NA 2.ª METADE DO III MILÉNIO BC: O FENÓMENO CAMPANIFORME 143
Na História da Arqueologia portuguesa, a Península
de Setúbal distingue-se, entre outros aspectos, por duas
importantes contribuições para o estudo do Horizonte
Campaniforme: uma ocorrida nos anos 60 do século
XIX quando, pelas escavações arqueológicas realizadas
na Rotura por Carlos Ribeiro, da Comissão Geológica de
Portugal, se verifica o primeiro reconhecimento de cerâ-
mica campaniforme (Cardoso, 2014); outra, da década de
1960, quando novas escavações efectuadas no mesmo
arqueossítio, revelaram uma das primeiras sequências
estratigráficas para o Calcolítico português, situando o
Campaniforme no final desse período (Ferreira & Tava-
res da Silva, 1970; Tavares da Silva, 1971; Gonçalves, 1971),
quando até aí essa cerâmica era identificada com a tota-
lidade do então designado Eneolítico, como é patente
na obra La culture du vase campaniforme au Portugal
de O. da Veiga Ferreira, publicada em 1966. Entretanto,
outros arqueossítios com cerâmica campaniforme,
FIG. 1 Sítios (povoados e necrópoles) com cerâmica campaniforme
identificados na Península de Setúbal (Figs. 1-3), foram da Península de Setúbal, citados no texto.
sendo objecto de estudo, tendo fornecido elementos
que permitem abordar os seguintes aspectos: a diversi-
dade e evolução estilísticas da cerâmica campaniforme;
o sistema de povoamento e a organização sociopolítica
da 2.ª metade do III milénio BC.

FIG. 2 Sítios (povoados e necrópoles) com cerâmica campaniforme do sector oriental da Arrábida, citados no texto.

144 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 3 Distribuição dos estilos cerâmicos do III milénio BC por alguns dos principais sítios de habitat da Península de Setúbal.

EVOLUÇÃO ESTILÍSTICA E CRONOLOGIA


A análise da decoração e morfologia da cerâmica
campaniforme da Estremadura portuguesa, em geral,
e da Península de Setúbal, em particular, levou-nos a
distribuí-la por três grupos estilísticos (Soares & Tava-
res da Silva, 1974-77): internacional, de Palmela e de
Palmela evolucionado/inciso. Estes grupos teriam sido
sequenciais, podendo ter coexistido parcialmente.

grupo estilístico internacional


É constituído essencialmente por dois tipos de reci-
pientes, ambos de grande expansão geográfica: o vaso
campaniforme propriamente dito («internacional»
ou «marítimo») e a caçoila acampanada. O primeiro,
em campânula invertida, abrange vasta área do con-
tinente europeu; na Estremadura portuguesa, com
pastas bem depuradas, é quase sempre decorado por
bandas horizontais preenchidas por traços oblíquos
cuja inclinação alterna de banda para banda. A caçoila
acampanada, que, ao longo da fachada atlântica penin-
sular atinge a Galiza, apresenta motivos decorativos
geométricos mais complexos. A técnica utilizada é a
impressão pontilhada / linear pontilhada. Na Penín-
sula de Setúbal, este grupo estilístico está represen-
tado sobretudo em povoados calcolíticos fortificados
com sequências estratigráficas pré-campaniformes
bem marcadas (Rotura, Chibanes, Outeiro Redondo),
ocorrendo no topo dessas sequências (Figs. 4 e 6), na FIG. 4 Perfil estratigráfico da Rotura. A cerâmica campaniforme
2.ª metade do III milénio BC. surge somente no nível superior. Seg. Tavares da Silva & Soares, 1986.

CARLOS TAVARES DA SILVA  ENTRE OS ESTUÁRIOS DO TEJO E DO SADO NA 2.ª METADE DO III MILÉNIO BC: O FENÓMENO CAMPANIFORME 145
FIG. 5 Cronologia radiométrica para o Castro da Rotura
pré-campaniforme. Seg. Gonçalves & Sousa, 2006.

FIG. 6 Rotura, nível superior. Cerâmica campaniforme do grupo


estilístico internacional: vasos campaniformes propriamente
ditos (n.os 1 a 7) e caçoilas acampanadas (n.os 8 a 12). Seg. Tavares
da Silva & Soares, 1986.

146 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
Em contextos funerários, designadamente nos hipo- horizontais com séries de ziguezagues e/ou de triângu-
geus da Quinta do Anjo (Soares, 2003) e na Lapa do los preenchidos por traços oblíquos, é aplicada a mor-
Bugio (Cardoso, 1992), o grupo internacional é franca- fologias cerâmicas preexistentes: pratos de bordo espes-
mente escasso. Dos tês grupos referidos, é sem dúvida sado e largo; taças em calote de grande diâmetro e de
o de origem mais antiga: apresenta-se como o de maior bordo espessado, já presentes no repertório do Neolítico
expansão geográfica, a nível europeu, dando origem, final e que, ao receberem decoração no lábio, passam a
nas diversas regiões, a grupos regionais. constituir o que designamos por taça tipo Palmela; taças
Na Península de Setúbal, essa maior antiguidade é em calote de bordo simples; esferoidais e até cadinhos
corroborada pelas seguintes observações: de fundição. Um conjunto cerâmico deste tipo (Fig. 7) foi
exumado do único e pouco espesso estrato de ocupação
1) No Estrato 1 da Rotura, onde o campaniforme inter- do povoado de cumeada das Malhadas (Palmela), iso-
nacional é muito frequente, a cerâmica decorada por lando-se estratigraficamente, pela primeira vez, o grupo
«folha de acácia», de origem pré-campaniforme, está de Palmela (Soares & Tavares da Silva, 1974-1977). Este
ainda presente; arqueossítio ocupa uma alta colina, por um lado, junto
2) Nas Malhadas e no Pedrão (situado, este último, aos férteis vales da Pré-Arrábida e, por outro, sobranceira
apenas a 500m da Rotura), onde se isolou o grupo à planície plistocénica do Tejo. A presença, no estrato de
de Palmela, a «folha de acácia», bem como o grupo ocupação, de numerosas conchas de moluscos marino-
internacional estão ausentes (Soares & Tavares da -estuarinos de que se destaca a espécie Venerupis decus-
Silva, 1974-77; 1975). sata (ameijoa), indica actividade de recolecção nas mar-
gens dos estuários Tejo/Sado. A caça (veado e coelho),
Na Estremadura portuguesa, mas fora da Península bem como a criação de gado (ovelha/cabra e boi) foram
de Setúbal, mais precisamente no Zambujal, o grupo igualmente documentadas. Os únicos testemunhos
internacional surgiu isolado numa estrutura de com- da prática da agricultura restringem-se, por enquanto,
bustão dedicada à actividade metalúrgica, considerada a escassos elementos de foice (denticulados de sílex).
do primeiro período do Horizonte Campaniforme (Har- Numerosos cadinhos, minério e escórias de fundição de
rison, 1977, p. 43). cobre indicam relevante actividade metalúrgica.
Este grupo estilístico foi datado na Fase II do Porto Duas amostras de conchas de Venerupis decussata
das Carretas (Torre M13), onde ocorreu isolado estrati- foram analisadas radiocarbonicamente, fornecendo
graficamente, no 3.º quartel do III milénio BC – amos- datas (Beta-126090: 4140±70BP; Beta- 126091: 3980±70BP)
tras Beta 196681, Beta 204062 e Beta 193743 (Soares & que, uma vez calibradas (Progr. Calib Rev 6.1.0., Marine
Tavares da Silva, 2010). No Castro da Rotura, o limite 09) correspondem ao último terço do III milénio BC.
superior correspondente às datas calibradas a dois No Castro de Chibanes, mais precisamente no
sigma, relativas aos níveis pré-campaniformes é de Estrato 2A do Locus I15 (Fase IC das sucessivas ocupa-
2460 cal. BC (Fig. 5) (Gonçalves & Sousa, 2006). ções pré e proto-históricas deste castro), sobrejacente a
O campaniforme internacional teria sido adoptado nível rico em cerâmica com decoração de tipo «folha de
provavelmente no 3.º quartel do III milénio, como arte- acácia» (sem campaniforme) e com vestígios da prática
facto de prestígio (atenda-se à qualidade das pastas e da metalurgia do cobre (Fase IB), foram postas a des-
ao tratamento das superfícies, verdadeiramente excep- coberto estruturas de combustão relacionáveis com a
cionais); teria substituído o «copo» decorado por «folha metalurgia do mesmo metal (Fig. 8), a par de cadinhos
de acácia» de meados do III milénio, que, por sua vez, de fundição (Fig. 9) e de um recipiente-forno metalúr-
havia substituído o «copo» canelado da 1.º metade do gico (caçoila acampanada decorada pela técnica linear-
mesmo milénio. -pontilhada). Associada a esta actividade metalúrgica,
surgiu abundante cerâmica com decoração campani-
grupo estilístico de palmela forme, toda linear-pontilhada (Fig. 9), distribuída pelas
A técnica decorativa própria do estilo campaniforme seguintes formas: taça baixa de bordo espessado – taça
internacional (o pontilhado/linear-pontilhado) teria tipo Palmela –, taça em calote de bordo simples, vaso
sido rapidamente assimilada e vulgarizada pela forma- campaniforme propriamente dito e caçoila acampa-
ção social da segunda metade do III milénio, regionali- nada. O vaso campaniforme é decorado por bandas
zando-se e dando, assim, origem ao grupo estilístico de horizontais preenchidas por traços oblíquos; as restan-
Palmela. Ao mesmo tempo que continuava em uso o tes formas apresentam sobretudo motivos da série dos
vaso campaniforme propriamente dito e a caçoila acam- ziguezagues. Estão ainda presentes motivos em xadrez,
panada, a técnica do pontilhado/linear-pontilhado (a triângulos preenchidos por traços oblíquos e, com fre-
incisão contínua é ainda muito rara), desenhando temas quência muito baixa, losangos preenchidos por traços
essencialmente formados por combinações de traços verticais e espinha.

CARLOS TAVARES DA SILVA  ENTRE OS ESTUÁRIOS DO TEJO E DO SADO NA 2.ª METADE DO III MILÉNIO BC: O FENÓMENO CAMPANIFORME 147
FIG. 7 Malhadas. Cerâmica lisa e campaniforme do grupo estilístico de Palmela. Seg. Soares & Tavares da Silva, 1974-1977.

148 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
DATA CALIBRADA* (cal BC)
d 13C DATA 14C
REF. DE LAB. CONTEXTO TIPO DE AMOSTRA
(‰) (BP)
1s 2s

Beta-187508 Locus J1.C.5 Carvão vegetal -24,0 4170±70 cal BC 2880-2835 (22%) cal BC 2904-2573 (100%)
(Fase IA1) cal BC 2816-2666 (77%)
cal BC 2642-2640 (1%)

Beta-162911 Locus I15.C.4 Carvão -25,0 4210±60 cal BC 2899-2850 (31%) cal BC 2916-2620 (99,7%)
(Fase IA1) (Quercus sp.) cal BC 2813-2742 (47%) cal BC 2602-2601 (0,2%)
cal BC 2728-2694 (19%) cal BC 2591-2590 (0,1%)
cal BC 2686-2680 (3%)

Beta-296423 Locus H7.C.4C2 Carvão vegetal -23,1 4030±40 cal BC 2616-2616 (0,6%) cal BC 2835-2817 (3%)
(Fase IA) cal BC 2580-2481 (99,4%) cal BC 2665-2644 (3%)
cal BC 2639-2468 (94%)

Beta-187509 Locus J1.C.4 Carvão vegetal -24,4 3970±70 cal BC 2577-2429 (77%) cal BC 2838-2814 (2%)
(Fase IA2) cal BC 2425-2401 (10%) cal BC 2675-2277 (96%)
cal BC 2381-2348 (13%) cal BC 2252-2228 (1%)
cal BC 2222-2210 (1%)

Beta-296422 Locus J1.C.4 Carvão -24,2 3900±40 cal BC 2465-2343 (100%) cal BC 2479-2280 (97%)
(Fase IA2) (Arbutus unedo) cal BC 2250-2230 (2%)
cal BC 2219-2211 (1%)

Beta-296424 Locus J1.C.2 Carvão -23,2 3920±40 cal BC 2472-2396 (65%) cal BC 2562-2534 (4%)
(Fase IB) (Arbutus unedo) cal BC 2393-2391 (2%) cal BC 2493-2289 (96%)
cal BC 2385-2345 (33%)

Beta-246672 Locus I15.C.2B Carvão vegetal -23,9 3950±40 cal BC 2563-2534 (22%) cal BC 2571-2513 (23%)
(Fase IB) cal BC 2494-2447 (44%) cal BC 2503-2336 (75%)
cal BC 2446-2437 (5%) cal BC 2323-2307 (2%)
cal BC 2420-2404 (11%)

Beta-164906** Locus L12/ Conchas 0,0 4200±80 cal BC 2388-2090 (100%) cal BC 2444-1980 (100%)
P10.C.6B/4B (Ruditapes
(Fase ID) decussatus)

* Calculada a partir das datas convencionais de radiocarbono, utilizando a curva de calibração IntCal09 radiocarbon Cal (Reimer et al., 2009) através
do programa CALIB REV.6.1.0 (Stuiver & Reimer, 1993).
** Calibrada pela curva marine 09.14c (Reimer et al., 2009) com DR=95±15.

QUADRO 1 Chibanes, Fase I (Calcolítico e Bronze Antigo). Datações radiocarbónicas.

FIG. 8 Chibanes, Fase IC (Locus I15, C. 2A). Estruturas de combustão (K13, C11 e D10) ao serviço da metalurgia do cobre e associadas a cerâmica
campaniforme do grupo de Palmela. Seg. Tavares da Silva & Soares, 2014.

CARLOS TAVARES DA SILVA  ENTRE OS ESTUÁRIOS DO TEJO E DO SADO NA 2.ª METADE DO III MILÉNIO BC: O FENÓMENO CAMPANIFORME 149
FIG. 9 Chibanes, Fase IC (Locus I15, C. 2A). Cadinho de fundição e cerâmica campaniforme do grupo de Palmela. O n.º 8, com decoração linear-
pontilhada muito alterada por acção do calor, pertenceu a uma vasilha-forno metalúrgica. Seg. Tavares da Silva & Soares, 2014.

A aparente associação, na Fase IC de Chibanes, do O grupo estilístico de Palmela está ainda bem repre-
vaso campaniforme às cerâmicas do grupo de Palmela sentado em outros sítios de habitat como o Pedrão (Soa-
corresponderá à situação de neste grupo estilístico sub- res & Tavares da Silva, 1975), Pai Mouro (Tavares da Silva
sistir o vaso campaniforme, ou o Estrato 2A do Locus I15 & Soares, 1986) e Moinho da Fonte do Sol (Soares, Bar-
constituirá um palimpsesto que integrou dois grupos bieri & Tavares da Silva, 1972), bem como em contextos
estilísticos diferentes pertencentes a momentos distin- funerários, particularmente bem estudados na Quinta
tos do processo evolutivo da cerâmica campaniforme? do Anjo (Leisner, Zbyzewski & Ferreira, 1961) e na Lapa
De notar, como salientámos em outro lugar, que Chiba- do Bugio (Cardoso, 1992).
nes não revelou ainda qualquer contexto onde o grupo
internacional seja exclusivo: «Os momentos iniciais do grupo estilístico de palmela evolucionado/
Campaniforme ou não se fizeram representar [em Chi- inciso
banes], ou o eventual escasso número de recipientes A rápida evolução do grupo de Palmela conduziu, sob
desses momentos não marcou presença [em contexto a acção de influências continentais, do grupo de Ciem-
bem definido] na restrita área até agora escavada» pozuelos, à emergência, ainda na 2.ª metade do III milé-
(Tavares da Silva & Soares, 2014, p.162-163). nio, do grupo de Palmela evolucionado/inciso. Em um
No que respeita à cronologia da Fase IC, esta não foi primeiro momento, a técnica da incisão surge asso-
até agora datada radiocarbonicamente. Porém, veri- ciada ao pontilhado/linear-pontilhado nos mesmos
ficamos que o horizonte estratigráfico que lhe corres- contextos e, por vezes, nos mesmos recipientes, como
ponde é, por um lado, sobrejacente ao nível da Fase IB, se verificou na Fase ID de Chibanes (Fig. 10). Em um
com abundante cerâmica de tipo «folha de acácia» e segundo momento, a incisão será exclusiva, ou quase
datação radiocarbónica de meados /terceiro quartel do (Miradouro dos Capuchos, em Almada – Fig. 11). A par
III milénio, e, por outro, anterior ao estrato da Fase ID, da técnica, a temática decorativa é igualmente evolu-
com campaniforme do grupo Palmela evolucionado e cionada. Deste modo, no estrato correspondente à Fase
datável radiocarbonicamente do último quartel do III ID de Chibanes (C. 6B do Locus L12 e C.4B do Locus P10),
milénio BC, pelo que é admissível situar a Fase IC no os motivos decorativos são mais diversificados e com-
intervalo cronológico de 2300-2200 cal BC (Tavares da plexos (por vezes formando combinações de grande
Silva & Soares, 2014). barroquismo) que os da decoração exclusivamente

150 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 10 Chibanes, Fase ID (Loci L12/P10, Cs. 6B/4B). Cerâmica campaniforme com decoração linear-pontilhada e incisa do grupo de Palmela
evolucionado/inciso. Seg. Tavares da Silva & Soares, 2014.

CARLOS TAVARES DA SILVA  ENTRE OS ESTUÁRIOS DO TEJO E DO SADO NA 2.ª METADE DO III MILÉNIO BC: O FENÓMENO CAMPANIFORME 151
ção radiocarbónica de amostra de conchas de Venerupis
decussata (Beta-164906: 4200±80 BP) e levando em con-
sideração as cronologias das subfases precedentes da
sequência ocupacional da Fase I do Castro de Chibanes
(Tavares da Silva & Soares, 2014, p. 152).
Em Freiria (Cascais), dataram-se radiocarbonica-
mente duas amostras de ossos de animais domésticos
recolhidas em um dos raros contextos considerados
fiáveis com cerâmica campaniforme do grupo inciso.
Obtiveram-se os seguintes resultados: Beta- 260301:
3770±40 BP (2340-2040 cal BC, a 2 sigma); Beta-296577:
3630±40 BP (2130-1890 cal BC, a 2 sigma). «Conside-
rando os intervalos das duas datações obtidas, é lícito
admitir para a ocupação de carácter habitacional [...]
uma cronologia essencialmente situada no último
quartel do 3.º milénio a.C., prolongando-se pelos inícios
do milénio seguinte» (Cardoso, Cardoso & Encarnação,
2013, p. 543).
As actividades económicas reveladas pelos artefac-
tos e ecofactos exumados dos níveis da Fase ID de Chi-
banes abrangem a criação de gado, acompanhada de
provável produção de queijo, a recolecção de moluscos
estuarinos (principalmente da espécie Venerupis decus-
sata), a pesca, a produção de instrumentos líticos (em
retracção quando comparada com a das fases anterio-
res) e a metalurgia do cobre.

FIG. 11 Miradouro dos Capuchos. Cerâmica campaniforme do grupo


inciso, acompanhada por queijeira (n.º 7). Seg. Harrison, 1977.

linear-pontilhada da Fase IC (Tavares da Silva & Soares,


2014). Dos novos motivos, salientam-se, pela sua maior
frequência, as bandas rectilíneas preenchidas por tra-
ços verticais, as bandas em ziguezague e preenchidas
por traços também verticais, e as bandas rectilíneas
preenchidas por xadrez (Fig. 12). Um aspecto impor-
tante a notar, pelo que revela da assimilação de influên-
cias do grupo de Ciempozuelos, consiste na presença de
decoração na superfície interna, imediatamente abaixo
do bordo, de alguns recipientes.
No que se refere à morfologia, mantêm-se, funda-
mentalmente, as mesmas formas em ambos os grupos
(inclusivamente o vaso campaniforme propriamente
dito), mas notam-se novas variantes: caçoilas acam-
panadas com o bojo carenado; taça tipo Palmela pos-
suindo o espessamento do bordo de secção acentua-
damente triangular, formando aresta interna muito
FIG. 12 Chibanes, Fases IC e ID. Motivos decorativos de cerâmica
vincada. campaniforme (técnicas linear-pontilhada e incisa). Os motivos 1, 2,
A Fase ID de Chibanes, que corresponde à decadên- 5, 6 a, 8, 9, 11b, 13 e 19 são comuns aos grupos estilísticos de Palmela
e Palmela evolucionado/inciso; os n.os 17 e 21 são exclusivos do grupo
cia (manifestada pelo derrube de muralhas) e final da
de Palmela e os n.os 3, 4, 6b, 7, 10, 11a, 11c, 11d, 12, 14, 15, 16, 18, 20, 22 e 23
ocupação do III milénio, foi atribuída cronologicamente são exclusivos do grupo de Palmela evolucionado/inciso. Seg. Tavares
ao último quartel do mesmo milénio, com base na data- da Silva & Soares, 2014.

152 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 13 Hipogeus da Quinta do
Anjo. Cerâmica campaniforme
do grupo de Palmela. Seg. Leisner,
1965 (n.os 1-4) e Pereira & Bubner,
1974-77 (n.º 5).

FIG. 14 Hipogeus da Quinta do


Anjo. Cerâmica campaniforme
do grupo inciso. Seg. Leisner,
1965.

CARLOS TAVARES DA SILVA  ENTRE OS ESTUÁRIOS DO TEJO E DO SADO NA 2.ª METADE DO III MILÉNIO BC: O FENÓMENO CAMPANIFORME 153
SISTEMA DE POVOAMENTO
O grupo internacional teria chegado no 3.º quartel
do III milénio aos povoados fortificados da Península
de Setúbal com ocupação pré-campaniforme. Esses
povoados integravam um sistema de povoamento con-
centrado, representado principalmente por Chibanes,
Rotura e Outeiro Redondo (Fig. 15). O mesmo grupo esti-
lístico ocorre, em percentagens reduzidas, nas necrópo-
les do III milénio da Quinta do Anjo, Lapa do Bugio e
hipogeu 2 de São Paulo, em Almada (informação pes-
soal de Luís Barros).
Com o grupo de Palmela, verifica-se uma dispersão
do povoamento (Fig. 16): por um lado, os povoados forti- FIG. 15 Sector oriental da Arrábida. Povoados com cerâmica
campaniforme do grupo internacional.
ficados que haviam sido habitados no Calcolítico antigo
e médio e aquando do grupo campaniforme internacio-
nal continuam a ser ocupados (Rotura e sobretudo Fase
IC de Chibanes); por outro, surgem novos povoados,
em geral de pequenas dimensões (Pedrão, Pai Mouro,
Moinho da Fonte do Sol, Malhadas), implantados em
lugares de altura, detentores de condições naturais de
defesa, mas desprovidos de estruturas defensivas de
natureza pétrea. Assim, altera-se o padrão locativo mais
comum do povoamento da 1.ª metade do III milénio: o
concentrado dá lugar ao povoamento disperso.
Os ambientes sepulcrais, nomeadamente os hipo-
geus da Quinta do Anjo e a Lapa do Bugio, utilizados
FIG. 16 Sector oriental da Arrábida. Povoados com cerâmica
campaniforme do grupo de Palmela.

FIG. 17 Pontas de tipo Palmela, de cobre, provenientes dos hipogeus da Quinta do Anjo. Seg. Leisner, 1965.

154 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 18 Elementos de adorno (botões de osso e marfim e espiral de ouro), exumados dos hipogeus da Quinta do Anjo. Seg. Leisner, 1965
(n.os 1 a 6) e Soares, 2003 (n.º 7).

desde o Neolítico final, oferecem um número significa- Nos sepulcros da Quinta do Anjos, bem como na
tivo de recipientes cerâmicos pertencentes a este grupo Lapa do Bugio, o campaniforme inciso torna-se domi-
estilístico. Da primeira destas necrópoles exumaram-se nante.
numerosos artefactos metálicos (pontas de lança tipo
Palmela de cobre – Fig. 17 – e espiral – Fig. 18 –, folhas e
tubos de ouro), de pedra (braçais de arqueiro), de osso e ORGANIZAÇÃO SOCIOPOLÍTICA
marfim (botões com perfurações em V – Fig. 18), peças O Horizonte Campaniforme coincide, em termos
que ocorrem com este grupo cerâmico e com o inciso. sociopolíticos, com o período de transição entre as for-
No Miradouro dos Capuchos (Almada), um povoado mações sociais comunitárias da 1.ª metade do III milé-
aberto, o grupo inciso surge isolado (Bubner, 1979). Fora nio e as acentuadamente hierarquizadas da Idade do
da Península de Setúbal, mas na Estremadura, são já Bronze. O colapso do modo de produção que caracteri-
numerosos os sítios abertos onde a decoração cam- zou a sociedade do Calcolítico inicial e pleno da Estre-
paniforme incisa é exclusiva ou quase: Montes Claros madura portuguesa e, por conseguinte, também da
(Harrison, 1977); Negrais, Pianos II, Funchal II, Alto do Península de Setúbal, ficou a dever-se às contradições
Montijo (Carneiro, 1991); Freiria (Cardoso, Cardoso & internas, económico-sociais, inerentes a esse modo
Encarnação, 2013). de produção. Contradições «que viriam a bloquear o
Nota-se, pois, que o povoamento correspondente a desenvolvimento das forças produtivas: por um lado,
este grupo estilístico continua a ser disperso, incluindo a elevada fragmentação dos territórios / inexistências
agora, não só povoados de altura (Fase ID de Chibanes), de estâncias de poder supralocais / forte competição
mas também sítios abertos, sem defesas naturais. por solo agrícola / guerra generalizada, e, por outro, a

CARLOS TAVARES DA SILVA  ENTRE OS ESTUÁRIOS DO TEJO E DO SADO NA 2.ª METADE DO III MILÉNIO BC: O FENÓMENO CAMPANIFORME 155
impossibilidade de desenvolvimento da metalurgia no mais vastos que os do período do campaniforme inter-
quadro da compartimentação territorial e sociopolítica nacional, quando o sistema de povoamento era concen-
[...]. Esta compartimentação limitava a procura, dificul- trado.
tava o acesso às matérias primas, impedia a especiali- A análise, no âmbito das economias do simbólico, a
zação da actividade metalúrgica» (Soares & Tavares da que procedeu Joaquina Soares (2003), dos monumen-
Silva, 1998 e 2000; Soares, 2003, p. 196). tos sepulcrais da Quinta do Anjo levou-a a identificar
Logo no 3.º quartel do III milénio, com a chegada do destacados personagens que aí teriam sido tumula-
campaniforme internacional, assistimos à emergência dos, relacionando-os com a consagração das armas (de
de um fenómeno de expansão geográfica a uma escala cobre arsenical) nos rituais funerários, com a ostenta-
sem precedentes (Tavares da Silva & Soares, 2006). ção de numerosos elementos de adorno (de marfim e
As amplas redes de interacção transregionais terão ouro) aí depositados, em suma, com a substituição dos
fortes implicações «não só nas economias locais, esti- artefactos ideotécnicos pelos de carácter sociotécnico.
mulando a produção e o consumo, mas também no A mesma autora propõe então, como modelo sociopo-
processo de complexidade social, ao criarem condições lítico para o último quartel do III milénio, um sistema
favoráveis à apropriação do poder pelas elites por via caracterizado: pela desagregação da estrutura comu-
[...] da emulação competitiva» (Soares, 2003, p. 102). nitária da 1.ª metade desse milénio, que dará lugar a
A dispersão do povoamento, coincidente com o apa- estrutura de tipo chefatura incipiente; pela apropriação
recimento do grupo estilístico de Palmela e que parece dos excedentes por chefes guerreiros que assumiriam
acentuar-se aquando do grupo inciso, pode precisa- lideranças personalizadas; e pelo reinvestimento de
mente indicar a formação de centros de poder (Fase IC excedentes de bens de prestígio, ao serviço da promo-
de Chibanes, por exemplo) que passarão a dominar e ção de líderes em que se concentraria a riqueza acumu-
a «defender» os novos povoados, integrando territórios lada (Soares, p. 207).

PERÍODO ESTRUTURA SOCIAL APROPRIAÇÃO DOS EXCEDENTES REINVESTIMENTO DOS EXCEDENTES

Neolítico final Comunidades segmentárias. Por linhagens com mais prestígio, Estruturas de carácter mágico-religioso
Relações de produção assentes recorrendo a mecanismos de (recintos megalíticos e sepulturas
no parentesco. ritualização-culto dos antepassados. colectivas; rituais dirigidos para
Sociedade tributária pré-estatal. o reforço da coesão grupal; competição
interlinhageira).

Calcolítico inicial Comunidades de base Por chefes comunitários. Estruturas de interesse colectivo
e pleno residencial, organizadas (p. ex. fortificações); festas; rituais;
por relações de parentesco produções de carácter ideotécnico
e vizinhança. destinadas ao reforço da coesão
intragrupal.

Bronze Antigo Desagregação da estrutura Por chefes-guerreiros – lideranças Economias de bens de prestígio;
(campaniforme comunitária calcolítica. personalizadas. promoção dos líderes e de suas
evolucionado) alianças supralocais.
Concentração de riqueza e prestígio,
fomento da desigualdade e de
complexidade sociais.

QUADRO 2 Modalidades de apropriação e de reinvestimento dos excedentes nas sociedades do final do Neolítico, do Calcolítico e do Bronze
antigo (fase tardia do Horizonte Campaniforme) da Estremadura. Seg. Soares, 2003, modificado.

156 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
REFERÊNCIAS BIBLIOG RÁFICAS
BUBNER, T. (1979) – Die Aneolithische Siedlung auf dem Miradouro PEREIRA, M. A. Horta; BUBNER, T. (1974-77) – Novos materiais de
dos Capuchos. Madrider Mitteilungen. Heidelberg. 20, p. 11-42. Palmela. O Arqueólogo Português. Lisboa. 7-9 (S.III), p. 113-118.
CARDOSO, J. L. (1992) – A Lapa do Bugio. Setúbal Arqueológica. Setúbal, SOARES, J. (2003) – Os hipogeus pré-históricas da Quinta do Anjo
9-10, p. 229-245. (Palmela) e as economias do simbólico. Setúbal: Museu de
CARDOSO, J.L. (2014) – Manifestazioni del Vaso Campaniforme Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal.
nel território portoghese. In MARINIS, R. C. DE (ed.) – SOARES, J.; BARBIERI, N.; TAVARES DA SILVA, C. (1972) – O povoado
La manifestazioni del sacro e l’etá del Rame nella regione alpina calcolítico do Moinho da Fonte do Sol (Quinta do Anjo, Palmela).
e nella pianura padana. Edizioni Euroteam, p. 279-319. Arqueologia e História. Lisboa. S. 9, 4, p. 235-268.
CARDOSO, J. L.; CARDOSO, G.; ENCARNAÇÃO, J. (2013) – SOARES, J.; TAVARES DA SILVA, C. (1974-1977) – O Grupo de Palmela
O campaniforme de Freiria (Cascais). Estudos Arqueológicos no quadro da cerâmica campaniforme em Portugal. O Arqueólogo
de Oeiras. Oeiras, 20, p. 525-588. Português. Lisboa, Série 3, 7/9, p. 102-112.
CARDOSO, J. L.; SOARES, A. M. MONGE; MARTINS, J. M. MATOS SOARES, J.; TAVARES DA SILVA, C. (1975) – A ocupação pré-histórica do
(2010-2011) – Fases de ocupação e cronologia absoluta da Pedrão e o Calcolítico da região de Setúbal. Setúbal Arqueológica.
fortificação calcolítica do Outeiro Redondo (Sesimbra). Setúbal. 1, p. 53-153.
Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras, 18, p. 553-578. SOARES, J.; TAVARES DA SILVA, C. (1998) – From the collapse of the
CARNEIRO, A. (1919) – Contribuição para o estudo do Calcolítico Chalcolithic mode of production to the development of the
e do Bronze inicial na região de Sintra. Actas das IV Jornadas Bronze Age societies in the Southwest of Iberian Peninsula.
Arqueológicas. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses, In JORGE, S. O. (ed.). Existe una Idade do Bronze Atlântico? Lisboa:
p. 227-236. IPA, p. 231-245.
FERREIRA, O. da V. (1966) – La culture du vase campaniforme SOARES, J.; TAVARES DA SILVA, C. (2000) – Capturar a mudança na
au Portugal. Lisboa: Serviços Geológicos de Portugal. Pré-história recente do Sul de Portugal. Actas do 3.º Congresso
FERREIRA, O. da V.; TAVARES DA SILVA, C. (1970) – A estratigrafia de Arqueologia Peninsular. Porto: ADECAP. p. 213-224.
do povoado pré-histórico da Rotura (Setúbal): nota preliminar. SOARES, J.; TAVARES DA SILVA, C. (2010) – Campaniforme do Porto
In Actas das I Jornadas Arqueológicas (Lisboa, 1969). Lisboa: das Carretas (Médio Guadiana). A procura de novos quadros de
Associação dos Arqueólogos Portugueses. 2, p. 203-225. referência. In GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A.C. (eds) – Transformação
GONÇALVES, V. S. (1971) – O Castro da Rotura e o vaso campaniforme. e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e.
Setúbal: Junta Distrital de Setúbal. Cascais: Câmara Municipal; Lisboa: UNIARQ, p. 225-261.

GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C. (2006) – Algumas breves reflexões TAVARES DA SILVA, C. (1971) – O povoado pré-histórico da Rotura:
a propósito de quatro datas 14C para o Castro da Rotura, no notas sobre a cerâmica. In Actas do II Congresso Nacional de
contexto do 3.º milénio a.n.e. nas Penínsulas de Lisboa e Setúbal. Arqueologia (Coimbra, 1970). Lisboa: Junta Nacional de Educação,
O Arqueólogo Português. Lisboa. S. IV, 24, p. 233-266. 1, p. 175-192.
HARRISON, R. J. (1977) – The Bell Beaker culture of Spain and Portugal. TAVARES DA SILVA, C.; SOARES, J. (1986) – Arqueologia da Arrábida.
Peabody Museum/Harvard University. Lisboa: Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação
LEISNER, V. (1965) – Die Megalithgräber der Iberischen Halbinsel: der da Natureza.
Westen. Berlim: Walter de Gruyter & Co. Col. Madrider Forshungen TAVARES DA SILVA, C.; SOARES, J. (2006) – Territórios da Pré-história
Band 1/3. em Portugal: Setúbal e Alentejo Litoral. Tomar: CEIPHAR – Centro
LEISNER, V.; ZBYZEWSKI, G.; FERREIRA, O. da V. (1961) – Les grottes Europeu de Investigação da Pré-histórica do Alto Ribatejo.
artificielles de Casal do Pardo (Palmela) et la culture du vase TAVARES DA SILVA, C.; SOARES, J. (2014) – O Castro de Chibanes
campaniforme. Lisboa: Serviços Geológicos de Portugal. (Palmela) e o tempo social do III milénio BC na Estremadura.
Memória 16, Nova Série. Setúbal Arqueológica. Setúbal. 15, p. 105-172.

CARLOS TAVARES DA SILVA  ENTRE OS ESTUÁRIOS DO TEJO E DO SADO NA 2.ª METADE DO III MILÉNIO BC: O FENÓMENO CAMPANIFORME 157
ENTRE A FOZ E A SERRA:
APONTAMENTOS SOBRE A CERÂMICA
CAMPANIFORME DO POVOADO
PRÉ-HISTÓRICO DA PAREDE (CASCAIS)
VICTOR S. GONÇALVES
UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (WAPS)
vsg@campus.ul.pt

ANA CATARINA SOUSA


UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (WAPS)
sousa@campus.ul.pt

MARCO ANTÓNIO ANDRADE


UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (WAPS)
Fundação para a Ciência e Tecnologia
marcoandrade@campus.ul.pt

ANDRÉ PEREIRA
IUNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (WAPS)
pereira.andre@sapo.pt

158 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
RESUMO O povoado pré-histórico da Parede foi identificado e escavado na década de
50 do século passado, tendo revelado ocupações (não necessariamente contínuas) datá-
veis de entre o último quartel do 4.º milénio e o último quartel do 3.º milénio a.n.e. Para
além das ocupações relativas ao Neolítico final (cujas características da cultura material
serviram de base à definição do «Parede Gruppe» de Konrad Spindler), revelou ocupa-
ções atribuíveis ao Calcolítico inicial e ao Calcolítico final, tendo sido aparentemente
abandonado durante o Calcolítico pleno. As ocupações referentes ao Calcolítico final
caracterizam-se principalmente pelas cerâmicas campaniformes (contabilizando cerca
de centena e meia de fragmentos), correspondendo já a uma etapa de destruturação
do povoamento calcolítico datável do último terço do 3.º milénio a.n.e. – com um claro
domínio dos estilos pontilhado e inciso geométrico, sendo relativamente escassos os
elementos do estilo «marítimo» (nas variantes de bandas e linear). Pretende-se assim
apresentar uma abordagem preliminar à última fase de ocupação do povoado da Parede,
enquadrando-o crono-culturalmente nas ocupações coevas da baixa Península de Lis-
boa, no contexto geral do Grupo Campaniforme do Baixo Tejo.

ABSTRACT The prehistoric settlement of Parede, identified and excavated in the 1950’s,
revealed occupations (not necessarily continuous) dating between the last quarter of
the 4th millennium and the last quarter of the 3rd millennium BCE. In addition to the Late
Neolithic occupations (which material culture was used as the basis for Konrad Spindler’s
definition of the «Parede Gruppe»), it revealed also Early Chalcolithic and Late Chalcoli-
thic occupations, being apparently abandoned during the Middle Chalcolithic. The Late
Chalcolithic occupations are mainly characterized by the presence of bell beaker pottery
(about 150 sherds), already corresponding to a destructurization stage of the Chalcolithic
population networks during the last third of the 3rd millennium BCE – with a clear domi-
nance of the geometric styles (stippled and incised), being relatively scarce the elements
of the «maritime» style (in the banded and linear variants). The aim of this contribution
is to present a preliminary approach to the last occupation phase of the settlement of
Parede, framing it, in chronological and cultural terms, in the coeval occupations of the
lower Lisbon peninsula and in the general context of the Bell Beaker Group of the Lower
Tagus.

VICTOR S. GONÇALVES, ANA CATARINA SOUSA, MARCO ANTÓNIO ANDRADE, ANDRÉ PEREIRA  ENTRE A FOZ E A SERRA: 159
APONTAMENTOS SOBRE A CERÂMICA CAMPANIFORME DO POVOADO PRÉ-HISTÓRICO DA PAREDE (CASCAIS)
1. INTRODUÇÃO
O povoado pré-histórico da Parede, identificado e
escavado em meados do século passado, forneceu uma
quantidade significativa de espólio arqueológico indi-
cando ocupações (não necessariamente contínuas) que
se estendem do último quartel do 4.º milénio a.n.e. até
ao último quartel do seguinte.
Desde logo se assumiu como paradigma evidente
das culturas do Neolítico final da Península de Lisboa,
sendo precisamente usado como base por Konrad Spin-
dler para a definição do seu «Parede Gruppe». Para além
deste importante registo para a compreensão das anti-
gas sociedades camponesas de finais do 4.º milénio a.n.e.
da Estremadura portuguesa, salienta-se igualmente
a sua importância historiográfica, tendo sido uma das
primeiras escavações em Portugal onde, como afirmam
os seus escavadores, se aplicou o método Wheeler. FIG. 1 À esquerda, situação do povoado da Parede no Extremo
Ocidente peninsular. À direita, situação do povoado da Parede
A ocupação deste povoado foi aparentemente inter-
(indicado pelo círculo vazio) no contexto das ocupações
rompida durante o Calcolítico pleno (evidente pela campaniformes da baixa Península de Lisboa (apenas povoados);
ausência de cerâmicas do grupo «folha-de-acácia»), os círculos maiores correspondem a povoados fortificados
voltando a ser ocupado pelas comunidades porta- (1 – Castelo; 2 – Moita da Ladra; 3 – Penedo do Lexim; 4 – Leceia;
5 – Penha Verde); base cartográfica: Google Maps, 2015.
doras de cerâmicas campaniformes do último terço
do 3.º  milénio a.n.e. O conjunto artefactual cerâmico,
muito diversificado, inclui elementos dos estilos
«marítimo», pontilhado geométrico, inciso e compó-
sito (associação entre impresso e inciso), inscrevendo
este sítio num dos principais grupos campaniformes
ibéricos: o Grupo do Baixo Tejo.
Inclui-se assim numa malha de povoamento carac-
terizada por sítios abertos, e espaços sepulcrais corre-
lativos, implantados ao longo da margem esquerda da
desembocadura do Tejo (distribuídos entre os conce-
lhos de Cascais, Oeiras e Lisboa), paisagem económica
e social que seria possivelmente gerida pelo povoado
fortificado de Leceia.
Esta contribuição pretende assim ser uma aborda-
gem preliminar à última fase de ocupação do povoado
da Parede, enquadrando-o a nível cronológico e cultural
nas ocupações coevas da baixa Península de Lisboa e no
contexto geral do Grupo Campaniforme do Baixo Tejo.

2. O POVOADO PRÉ-HISTÓRICO DA PAREDE


O povoado pré-histórico da Parede localiza-se no
«Bairro Octaviano», na freguesia homónima do conce-
lho de Cascais, sendo a sua área central (localizada sob
a Escola Básica n.º 2 da Parede) enquadrada pelas ruas
Camilo Castelo Branco, Bernardim Ribeiro e Almeida
Garrett.
Identificado em 1953 por Eduardo Prescott Vicente e
Eduardo da Cunha Serrão, foi objecto de escavação nos FIG. 2 Localização do povoado da Parede na malha urbana do
anos de 1955, 1956 e 1957. Estes trabalhos foram diri- «Bairro Octaviano» (adaptado de Paço et al., 1957, p. 8).

gidos pelos seus descobridores em colaboração com


Afonso do Paço – sendo a última campanha dirigida

160 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 3 Planta da escavação, com
indicação das estruturas identificadas,
do povoado da Parede (adaptado de
Serrão, 1983, p. 126, fig. 3).

exclusivamente por este último, após afastamento dos Evidenciando as fragilidades deste modelo inter-
primeiros por altercações com Afonso do Paço (nomea- pretativo simplista baseado apenas nos dados de 1957
damente, e entre outros motivos, a utilização de mem- (e ignorando a deslocação de espólio entre estratos),
bros da Mocidade Portuguesa nos trabalhos de escava- Eduardo da Cunha Serrão esboça três «horizontes cul-
ção). Forneceu uma quantidade bastante expressiva turais» alternativos com base na posição estratigráfica
de espólio arqueológico, enquadrado numa sequência genérica do espólio (Serrão, 1983): Parede I, relativo ao
estratigráfica significativa e numa série de estruturas Neolítico final; Parede II, relativo ao Calcolítico inicial;
de habitat, indicando ocupações (não necessariamente Parede III, relativo ao Calcolítico final. Teríamos assim,
contínuas) que se estendem desde o último quartel do segundo Eduardo da Cunha Serrão (1983, p. 119), «dois
4.º milénio a.n.e. até ao último quartel do seguinte, ofe- povoados sobrepostos» (Parede I e Parede II), com uma
recendo uma suposta área de ocupação dispersa por «ocupação superficial campaniforme» (Parede III).
cerca de 50 km2 (Serrão, 1983, p. 144) – extensão que nos A ocupação deste povoado, iniciado no Neolítico
parece excessiva, podendo corresponder não a uma final, terá sido, assim e aparentemente, interrompida
única ocupação espacialmente contínua mas a vários ainda antes do Calcolítico pleno (evidente pela ausên-
núcleos, actualmente de difícil caracterização devido cia de cerâmicas do grupo «folha-de-acácia»), vol-
ao crescimento urbano. tando a ser ocupado pelas comunidades portadoras
Desde logo se assumiu como paradigma evidente de cerâmicas campaniformes do último terço do 3.º
das culturas do Neolítico final da Península de Lisboa, milénio a.n.e. Neste contexto, propomos (e um pouco
sendo precisamente usado por Konrad Spindler como de encontro à leitura de Eduardo da Cunha Serrão) o
base para a definição do seu «Parede Gruppe», de isolamento de conjuntos artefactuais genéricos para
acordo com as associações artefactuais aí registadas a caracterização das fases de ocupação do povoado da
(Spindler, 1976). Para além deste relevante registo para Parede, independentemente da sua posição estrati-
a compreensão das antigas sociedades camponesas gráfica:
de finais do 4.º milénio a.n.e. da Estremadura portu-
guesa (ressalvando-se contudo a desconstrução deste  3100-2900 a.n.e.:
modelo já realizada por um de nós; cf. Gonçalves, 2003), Neolítico final, com taças carenadas, recipientes de
salienta-se igualmente a sua importância para a histo- bordos denteados e esféricos mamilados;
riografia da Arqueologia nacional, tendo sido uma das  2900-2600 a.n.e:
primeiras escavações em Portugal onde, como afirmam Calcolítico inicial, com copos e taças caneladas (não
os seus escavadores, se aplicou o método Wheeler. necessariamente em sequência «cultural» directa
Segundo Afonso do Paço, a ocupação do povoado com a fase anterior);
da Parede dividir-se-ia em dois «horizontes culturais»  2300-2100 a.n.e.:
(Paço, 1964): Parede I, com taças carenadas, recipientes Calcolítico final, com cerâmicas campaniformes e
de bordos denteados e copos canelados; Parede II, com potencialmente artefactos de cobre (apesar da sua
cerâmica campaniforme. atribuição estratigráfica não ser segura).

VICTOR S. GONÇALVES, ANA CATARINA SOUSA, MARCO ANTÓNIO ANDRADE, ANDRÉ PEREIRA  ENTRE A FOZ E A SERRA: 161
APONTAMENTOS SOBRE A CERÂMICA CAMPANIFORME DO POVOADO PRÉ-HISTÓRICO DA PAREDE (CASCAIS)
Encontram-se disponíveis duas datações absolutas poderão ser encarados meramente como motivos deco-
para o povoado da Parede, obtidas sobre artefactos de rativos supervivenciais.
osso recolhidos durante a intervenção de 1957 – nome- O estilo «marítimo» encontra-se não tão expressi-
adamente, Beta-190859: 4230±40  BP e Beta-188388: vamente representado, dividindo-se entre as bandas
4230±40 BP (Gonçalves, 2005, p. 70). Calibradas, forne- impressas (6,33% do conjunto) e, minoritariamente, as
ceram os seguintes intervalos: 2900-2690 Cal BC 2σ e bandas incisas (1,90% do conjunto, incluindo residual-
2870-2500 Cal BC 2σ, respectivamente. Estas datações mente a variante linear incisa).
serão correspondentes ao horizonte Parede II de Cunha
Serrão, referente ao Calcolítico inicial, sendo estatisti-
2,53% 1,90%
camente idênticas àquelas obtidas para os níveis com
1,90%
copos e taças caneladas de Leceia (Cardoso, 1997) e 6,33%

Penedo do Lexim (Sousa, 2010).

60,13% 27,21%

3. A CERÂMICA CAMPANIFORME DO POVOADO


PRÉ-HISTÓRICO DA PAREDE
O conjunto isolado no âmbito deste estudo inclui
cerca de centena e meia de elementos, referindo-se
exclusivamente a cerâmicas campaniformes decora-
das – sendo apenas estes os componentes considera- Marítimo (impresso) Marítimo (inciso)
dos para os dados apresentados abaixo. Será de con- Pontilhado geométrico Inciso geométrico
siderar igualmente a hipótese óbvia da presença de
Compósito Indeterminado
cerâmicas campaniformes lisas, ainda não contabiliza-
das com rigor e assim não abrangidas no tratamento
estatístico. GRÁFICO 1 Relação percentual dos estilos decorativos da cerâmica
campaniforme do povoado da Parede.
A nível dos estilos decorativos, é evidente o domínio
das cerâmicas decoradas com a técnica incisa (60,13% Em relação às formas, e independentemente dos
do conjunto), seguindo-se a técnica pontilhada (27,21%
do conjunto) e a técnica compósita (2,53% do conjunto, Vaso acampanado

aliando incisões com impressões pontilhadas). Os moti-


vos decorativos (independentemente de serem impres- Taça bordo plano

sos ou incisos) referem-se a composições geométricas,


Taça hemisférica
repartindo-se entre bandas preenchidas (incluindo fai-
xas reticuladas), linhas simples, faixas e linhas zigue- Esferoidal
zagueantes, composições triangulares ou losangula-
res – sendo que em alguns elementos estes motivos se Grande recipiente

encontram associados num mesmo recipiente. 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40%
Regista-se igualmente a presença (não muito signi- Marítimo Pontilhado Inciso Compósito

ficativa) de métopes dispostas abaixo da linha do bordo


(aplicada em recipientes do estilo inciso, como P.2945.56, GRÁFICO 2 Relação percentual das formas da cerâmica
e pontilhado, como P.02 e P.663.56), assim como deco- campaniforme do povoado da Parede, com base nos elementos
ração dos lábios com linhas reticuladas, linhas parale- com forma reconhecível, distinguindo-se vasos acampanados
(ou pequenas caçoilas), taças de bordo plana (taças de tipo
las oblíquas, linhas concêntricas em relação à linha do Palmela), taças hemisféricas, esferoidais e grandes recipientes
bordo enquadrada por traços perpendiculares e ban- (possivelmente vasos bojudos de tipo «garrafa»). Os elementos com
das de triângulos opósitos – sendo aplicada em taças forma reconhecível correspondem a 35,44% do total dos elementos
campaniformes recolhidos no povoado da Parede.
de bordo plano com espessamento interno, nos estilos
pontilhado e inciso.
Dever-se-á referir que alguns elementos incluídos estilos decorativos registados, estas estão maiorita-
no estilo inciso parecem apresentar decorações de tra- riamente representadas pelas taças de bordo plano
dição do Calcolítico pleno – nomeadamente, os motivos com espessamento interno (taças de tipo Palmela,
geométricos característicos das cerâmicas da famí- com decoração aplicada sobre o lábio) e vasos acam-
lia «folha de acácia», evidentes nos recipientes P.740, panados ou pequenas caçoilas – ambos em proporções
P.108.56 e P.2906.56. Não havendo registos desta fase sensivelmente idênticas, correspondendo respectiva-
cronológica no povoado da Parede, estes elementos mente a 35,71% e 39,28% do total dos elementos com

162 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
forma reconhecível. Menos representadas, encon-
tram-se formas como as taças hemisféricas (10,72%
do total dos elementos com forma reconhecível) e os
esferoidais (5,36% do total dos elementos com forma
reconhecível). A presença de grandes recipientes tam-
bém está atestada, pelo menos julgando pelas pare-
des relativamente espessas de alguns recipientes (por
exemplo: P.577.57, P.654.56 e P.1414.56), sendo contudo
de morfologia indeterminável com rigor mas possi-
velmente referentes a grandes vasos bojudos de tipo
«garrafa» (8,93% do total dos elementos com forma
reconhecível).
Apesar de a maioria dos elementos recolhidos no
povoado da Parede (cerca de 64,56% do total dos ele-
mentos campaniformes analisados) corresponderem
a recipientes cuja forma é impossível de definir com
rigor, dado a pequena dimensão dos fragmentos, as for- FIG. 4 Campaniforme marítimo do povoado da Parede. P.2434
mas representadas parecem reflectir catálogos que se apresenta preenchimento a «pasta branca».

FIG. 5 Campaniforme do estilo pontilhado geométrico do povoado da Parede.

VICTOR S. GONÇALVES, ANA CATARINA SOUSA, MARCO ANTÓNIO ANDRADE, ANDRÉ PEREIRA  ENTRE A FOZ E A SERRA: 163
APONTAMENTOS SOBRE A CERÂMICA CAMPANIFORME DO POVOADO PRÉ-HISTÓRICO DA PAREDE (CASCAIS)
FIG. 6 Campaniforme do estilo pontilhado geométrico do povoado da Parede. P.2945.56 apresenta preenchimento a «pasta branca». P.663.56 e
P.2945.56 apresentam métopes abaixo da linha do bordo.

FIG. 7 Campaniforme do estilo pontilhado geométrico do povoado da Parede.

164 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 8 Campaniforme do estilo inciso geométrico do povoado da Parede.

repetem em outros sítios crono-culturalmente coevos oxidantes, com elementos não plásticos de calibre fino
nas Península de Lisboa e Setúbal. Refira-se contudo (maioritariamente calcários). As superfícies são maiori-
o interessante facto de, nos vasos acampanados (ou tariamente alisadas, por vezes aproximando-se a polidas.
pequenas caçoilas) e nas taças de bordo plano, os pri- Refira-se ainda o facto de alguns dos elementos
meiros apresentarem maioritariamente decoração de (cerca de 3,16% do conjunto) apresentarem preenchi-
tipo pontilhado geométrico e as segundas apresenta- mento a «pasta branca», perceptível em recipientes
rem maioritariamente decoração de tipo inciso. dos estilos «marítimo» (P.2434 e 2886.56, por exemplo),
A pasta dos elementos analisados apresenta-se gene- pontilhado geométrico (P.02 e P.2945.56, por exemplo) e
ricamente compacta, de textura muito homogénea, com inciso (P.2904.56 e P.2924,56, por exemplo).
maior representatividade de cozeduras e arrefecimentos 4. O POVOADO DA PAREDE NO CONTEXTO DAS

VICTOR S. GONÇALVES, ANA CATARINA SOUSA, MARCO ANTÓNIO ANDRADE, ANDRÉ PEREIRA  ENTRE A FOZ E A SERRA: 165
APONTAMENTOS SOBRE A CERÂMICA CAMPANIFORME DO POVOADO PRÉ-HISTÓRICO DA PAREDE (CASCAIS)
FIG. 9 Campaniforme do estilo compósito do povoado da Parede.

OCUPAÇÕES CAMPANIFORMES DA BAIXA PENÍNSULA al., 1964; Leisner, 1965; Gonçalves, 2005, 2008 e 2009;
DE LISBOA Cardoso, 2013).
Segundo Eduardo da Cunha Serrão, «os homens que Os sítios de habitat referidos acima, enquadráveis
fabricavam o vaso campaniforme [...] deixaram os seus no último terço do 3.º milénio a.n.e., (segundo as data-
testemunhos sobre as ruínas do povoado, tudo levando ções obtidas tanto para contextos habitacionais como
a crer que mais esporadicamente do que os seus ante- funerários com características culturais idênticas às do
cessores; na verdade, desta Parede III não ficaram estru- povoado da Parede, cf. Cardoso, 2014b) poderão ser inse-
turas que testemunhassem uma ocupação persistente» ridos num período de destruturação do povoamento
(Serrão, 1983, p. 146). calcolítico pleno – sendo de notar a curiosa coincidên-
O povoado da Parede corresponde assim a um sítio cia espacial de muitos destes sítios com áreas habita-
aberto, implantado em encosta suave, a cerca de 900 m cionais anteriores (do Neolítico final), indiciando um
do litoral. Inclui-se numa malha de povoamento carac- retorno a estratégias de povoamento características
terizada por sítios de características idênticas implan- de etapas cronológicas anteriores, definidas por uma
tados ao longo da margem direita da desembocadura malha mais disseminada.
do Tejo (e privilegiando o fácil acesso a este), entre a sua É de destacar, neste sentido, a relativa escassez nes-
foz e a serra de Sintra, distribuídos entre os concelhos tes sítios de estilos decorativos tradicionalmente assu-
de Cascais (Estoril, Murtal, Trajouce, Talaíde, Arneiro, midos como mais antigos. Com efeito, aqui dominam
Freiria e Alto da Cidreira; cf. Cardoso, 1991; Cardoso et os motivos decorativos incisos (como se comprova
al., 2013; Sousa, 2005; Gonçalves e Sousa, 2010; Rebelo no caso do povoado da Parede) – contrapondo-se ao
et al., 2013), Oeiras (Liceia; Leião, Carrascal, Carnaxide, registado nos povoados fortificados da área, com uma
Casal dos Barronhos e Monte do Castelo; cf. Andrade significativa representatividade dos estilos marítimo
e Gomes, 1959; Cardoso, 1994, 1996, 1997, 1997-1998 e e pontilhado geométrico. Neste contexto geográfico
2010-2011b; Cardoso e Cardoso, 1993; Cardoso et al., 1996 e crono-cultural específico, será de referir o caso de
e 2015) e Lisboa (cf. Montes Claros, Vila Pouca, Alto das Leceia, que ainda marcaria económica e socialmente
Perdizes, Casa Pia e Praça da Figueira; Jalhay e Paço, a paisagem ocupada (Cardoso, 1994, 1997, 1997-1998 e
1947; Jalhay et al., 1945; Cardoso e Carreira, 1995 e 1997). 2005).
Espaços funerários correlativos encontram-se igual- Desta maneira, e a nível crono-cultural, o povoado
mente nesta área, destacando-se os casos de Porto Covo, da Parede enquadrar-se-á entre os últimos momentos
Poço Velho, Alapraia, São Pedro do Estoril e Ponte da do Calcolítico pleno (correspondendo ao advento das
Laje – correspondendo basicamente a grutas naturais cerâmicas campaniformes de estilo «marítimo» nos
e grutas artificiais, intensamente utilizadas enquanto povoados fortificados já demograficamente contraí-
espaços sepulcrais durante a segunda metade do 3.º dos) e o Calcolítico final (caracterizado por um povoa-
milénio a.n.e. (Jalhay e Paço, 1941; Paço, 1955; Leisner et mento disperso, em áreas abertas, com uma presença

166 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
densa de cerâmicas campaniformes do estilo geomé- ausência de pontilhado geométrico (estando o estilo
trico inciso). «marítimo» ausente ou resumido à variante incisa).
A comparação dos estilos decorativos presentes (por O povoado da Parede inclui-se assim, durante a sua
percentagem de frequência) nestes diversos sítios é ocupação campaniforme (atribuível ao último terço
assaz reveladora do contexto crono-cultural onde o do 3.º milénio a.n.e.), numa vasta rede de povoamento
povoado da Parede se enquadrará. Aparentemente, modular que se «dispersa» pela Península de Lisboa
situar-se-á num episódio cronológico posterior às pri- após a destruturação das redes de povoamento carac-
meiras produções campaniformes presentes em sítios terísticas do Calcolítico pleno. Em termos particulares,
como Leceia (área intra-muros), Penha Verde e Moita da inscreve-se num contexto de ocupações incidindo prin-
Ladra, com uma forte densidade do estilo «marítimo» cipalmente na área da desembocadura do Tejo, mas que
(impresso e inciso, com predomínio do primeiro) e com será extensível a espaços mais interiores dos concelhos
datações dispostas entre o segundo e o terceiro quartel de Sintra, Mafra, Amadora e Loures (cf., por exemplo,
do 3.º milénio a.n.e. (seg. Cardoso, 2014b). Cardoso e Carreira, 1996; Carreira e Lopes, 1994; Sousa,
No povoado da Parede, apesar do claro domínio do 2010 e 2013). As particularidades que caracterizam
estilo inciso, denota-se uma presença ainda significa- estes sítios, lidas principalmente nas características
tiva do estilo pontilhado geométrico (e mesmo do estilo específicas dos motivos decorativos e na morfo-tipolo-
marítimo, também maioritariamente pontilhado), gia dos recipientes (destacando-se as taças de tipo Pal-
colocando-o talvez num patamar crono-cultural inter- mela), permitem precisamente encarar esta área como
médio entre as ocupações registada nas Casas FM e EN uma área com identidade própria dentro do contexto
de Leceia (aproximando-se estatisticamente dos valo- campaniforme pan-europeu, incluída num dos princi-
res aí registados) e sensivelmente anterior a contextos pais grupos campaniformes ibéricos, desenvolvendo-se
mais tardios como Leião, Freria e Monte do Castelo (con- espontaneamente a a partir de meados do 3.º milénio
textos datados do último terço do 3.º milénio a.n.e., com a.n.e, centrado na região do baixo Tejo.
valores basicamente centrados no seu último quartel,
seg. Cardoso, 2014b), onde se regista tanto o predomínio Lisboa, Inverno de 2017
do estilo geométrico inciso como a escassez ou mesmo REFERÊNCIAS BIBLIOG RÁFICAS

Monte Castelo

Leião

Freiria

Leceia (EN)

Leceia (FM)

Leceia (fort.)

Penha Verde

Moita da Ladra

Parede

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Marítimo Pontilhado Inciso Compósito

GRÁFICO 3 Relação percentual dos estilos decorativos da cerâmica campaniforme do povoado da Parede, em comparação com os povoados
de Moita da Ladra (seg. Cardoso, 2014c), Leceia (área intra-muros, Casa FM e Casa EN, seg. Cardoso, 1997-1998), Penha Verde (seg. Cardoso,
2010-2011a), Leião (seg. Cardoso, 2010-2011b), Monte do Castelo (seg. Cardoso et al., 1996) e Freiria (seg. Cardoso et al., 2013). A quantificação
do estilo «marítimo» inclui indistintamente as variantes pontilhadas e incisas.

VICTOR S. GONÇALVES, ANA CATARINA SOUSA, MARCO ANTÓNIO ANDRADE, ANDRÉ PEREIRA  ENTRE A FOZ E A SERRA: 167
APONTAMENTOS SOBRE A CERÂMICA CAMPANIFORME DO POVOADO PRÉ-HISTÓRICO DA PAREDE (CASCAIS)
ANDRADE, G. M.; GOMES, J. J. F. (1959) – Estudo da estação
pré-histórica de Carnaxide. In Actas e Memórias do I Congresso de Montes Claros (Lisboa). Resultados das escavações de 1988.
Nacional de Arqueologia (Lisboa, 1958). 1, p. 137-146. Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 5, p. 277-298.
CARDOSO, G. (1991) – Carta Arqueológica de Cascais. Cascais: Câmara CARDOSO, J. L.; CARREIRA, J. R. (1996) – Materiais campaniformes
Municipal. e da Idade do Bronze do concelho de Sintra. Estudos Arqueológicos
CARDOSO, J. L. (1994) – Leceia 1983-1993. Escavações do povoado de Oeiras. Oeiras. 6, p. 317-340.
fortificado pré-histórico. Oeiras: Câmara Municipal (Estudos CARDOSO, J. L.; CARREIRA, J. R. (1997) – Contribuição para
Arqueológicos de Oeiras, número especial). o conhecimento da ocupação pré-histórica de Lisboa: os materiais
CARDOSO, J. L. (1996) – Materiais arqueológicos inéditos do povoado da Praça da Figueira. Olisipo. Lisboa. 2.ª série, 5, p. 7-12.
pré-histórico de Carnaxide (Oeiras). Estudos Arqueológicos CARDOSO, J. L.; NORTON, J.; CARREIRA, J. R. (1996) – Ocupação
de Oeiras. Oeiras. 6, p. 27-45. calcolítica do Monte do Castelo (Leceia, Oeiras). Estudos
CARDOSO, J. L. (1997) – O povoado de Leceia (Oeiras), sentinela do Tejo Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 6, p. 287-299.
no terceiro milénio antes de Cristo. Lisboa/Oeiras: Museu Nacional CARDOSO, J. L.; SOARES, A. M. M. (1990-1992) – Cronologia absoluta
de Arqueologia/Câmara Municipal de Oeiras. para o campaniforme da Estremadura e do Sudoeste de Portugal.
CARDOSO, J. L. (1997-1998) – A ocupação campaniforme do povoado O Arqueólogo Português. Lisboa. 4.ª série, 8-10, p. 203-228.
pré-histórico de Leceia (Oeiras). Estudos Arqueológicos de Oeiras. CARDOSO, J. L.; SOARES, A. M. M.; MARTINS, J. M. M. (2013) – O povoado
Oeiras. 7, p. 89-153. campaniforme fortificado da Moita da Ladra (Vila Franca de Xira,
CARDOSO, J. L. (2000) – O «fenómeno» campaniforme na Estremadura Lisboa) e a sua cronologia absoluta. O Arqueólogo Português.
portuguesa. In JORGE, V. O. (ed.) – Actas do 3.º Congresso Lisboa. 5.ª série, 3, p. 213-253.
de Arqueologia Peninsular. Porto: ADECAP. 4 (Pré-História Recente CARDOSO, J. L.; SOUSA, A. C:; ANDRÉ, M. C. (2015) – O povoado do
da Península Ibérica), p. 353-380. Carrascal (Oeiras). Estudo das ocupações do Neolítico final
CARDOSO, J. L. (2001) – Le phénomène campaniforme dans les basses e do Calcolítico. Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 22,
vallées du Tage et du Sado (Portugal). In Bell Beaker Today. Pottery, p. 139-234.
People, Culture, Symbols in Prehistoric Europe (Riva del Garda, CARREIRA, J. R.; CARDOSO, J. L.; LOPES, F. P. (1996) – A estação
1998). Trento: Provincia Autonoma di Trento. 1, p. 139-154. pré-histórica do Casal de Barronhos (Oeiras). Estudos
CARDOSO, J. L. (2004) – An interpretation of the Bell Beaker cultural Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 6, p. 301-316.
sequence in the Tagus stuary region: data from Leceia (Oeiras). CARREIRA, J. R.; LOPES, F. P. (1994) – A ocupação pré-histórica de
Journal of Iberian Archaeology. Porto. 6, p. 147-156. Casas Velhas (Mafra). In Actas das IV Jornadas Arqueológicas
CARDOSO, J. L. (2005) – As cerâmicas campaniformes do povoado da Associação dos Arqueólogos Portugueses (Lisboa, 1993). Lisboa:
pré-histórico de Leceia (Oeiras). Uma proposta de interpretação Associação dos Arqueólogos Portugueses, p. 137-146.
do fenómeno campaniforme na região do estuário do Tejo. GONÇALVES, V. S. (1971) – O castro da Rotura e o vaso campaniforme.
In CARVALHO, D.; VILA MAIOR, D.; TEIXEIRA, R. A. (eds.) – Setúbal: Junta Distrital de Setúbal.
Des(a)fiando discursos. Homenagem à Prof. Doutora Maria Emília
GONÇALVES, V. S. (2003) – Sítios, «Horizontes» e Artefactos. Estudos
Ricardo Marques. Lisboa: Universidade Aberta, p. 151-157.
sobre o 3.º milénio no Centro e Sul de Portugal. 2.ª edição. Cascais:
CARDOSO, J. L. (2010-2011a) – O povoado calcolítico da Penha Verde Câmara Municipal.
(Sintra). Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 18, p. 467-551.
GONÇALVES, V. S. (2005) – Cascais há 5000 anos. Tempo, Símbolos
CARDOSO, J. L. (2010-2011b) – Ocupação campaniforme de Leião e Espaços da Morte das antigas Sociedades Camponesas.
(Oeiras). Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 18, p. 9-32. In GONÇALVES, V. S. (coord.) – Cascais há 5000 anos. Cascais:
CARDOSO, J. L. (2013) – A necrópole campaniforme da gruta da Ponte Câmara Municipal, p. 63-195.
da Lage (Oeiras): estudo dos espólios cerâmicos e metálicos GONÇALVES, V. S. (2008) – A utilização pré-histórica da gruta de
e respectiva cronologia absoluta. Estudos Arqueológicos de Oeiras. Porto Covo (Cascais). Cascais: Câmara Municipal (Cascais Tempos
Oeiras. 20, p. 589-604. Antigos, 1).
CARDOSO, J. L. (2014a) – A presença campaniforme no território GONÇALVES, V. S. (2009) – As ocupações pré-históricas das Furnas
português. Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 21, p. 295-348. do Poço Velho (Cascais). Cascais: Câmara Municipal (Cascais
CARDOSO, J. L. (2014b) – Absolute chronology of the Beaker Tempos Antigos, 3).
phenomenon North of the Tagus estuary: demographic and GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C. (2010) – O povoado do Estoril, os seus
social implications. Trabajos de Prehistoria. Madrid. 71: 1, p. 56-75. furadores de sílex e os seus tempos. In GONÇALVES, V. S.; SOUSA,
CARDOSO, J. L. (2014c) – O povoado calolítico fortificado da Moita A. C. (eds.) – Transformação e Mudança no Centro e Sul de Portugal:
da Ladra (Vila Franca de Xira, Lisboa): resultados das escavações o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. Cascais: Câmara Municipal (Cascais
efectuadas (2003-2006). Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. Tempos Antigos, 2), p. 155-222.
21, p. 217-294. HARRISON, R. J. (1977) – The Bell Beaker Cultures of Spain and Portugal.
CARDOSO, J. L.; CARDOSO, G. (1993) – Carta Arqueológica do Concelho Cambridge: Peabody Museum/Harvard University (Bulletin, 35).
de Oeiras. Oeiras: Câmara Municipal (Estudos Arqueológicos de JALHAY, E.; PAÇO, A. (1941) – A gruta II da necrópole de Alapraia.
Oeiras, 4). Anais da Academia Portuguesa da História. Lisboa. 4, p. 107-141.
CARDOSO, J. L.; CARDOSO, G.; ENCARNAÇÃO, J. (2013) – JALHAY, E.; PAÇO; A. (1947) – Lisboa há 4000 anos: a estação pré-
O campaniforme de Freira (Cascais). Estudos Arqueológicos histórica de Montes Claros (Monsanto). In Lisboa e o seu termo.
de Oeiras. Oeiras. 20, p. 525-588. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses. 1, p. 49-58.
CARDOSO, J. L.; CARREIRA, J. R. (1995) – O povoado pré-histórico

168 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
JALHAY, E.; PAÇO, A.; RIBEIRO, L. (1945) – Estação pré-histórica de PAÇO, A. (1964) – Povoado Pré-Histórico da Parede (Cascais). Cascais:
Montes Claros – Monsanto. Revista Municipal. Lisboa. 21/22, Câmara Municipal.
p. 17-28. PAÇO, A.; SERRÃO, E. C.; VICENTE, E. P. (1957) – Estação eneolítica de
KUNST, M. (1987) – Zambujal: Glockenbecher und kerbblattverzierte Parede (Cascais). Reconhecimento de 1955. In XXII Congresso
Keramik aus den Grabungen 1964 bis 1973. Mainz: Verlag Philipp Luso-Espanhol. Coimbra: Associação Portuguesa para o Progresso
von Zabern (Madrider Beiträge, 5.2). das Ciências, p. 411-429.
KUNST, M. (1995) – Cerâmica do Zambujal: novos resultados para a REBELO, P.; NETO, N.; SANTOS, R. (2013) – O povoado pré-histórico
cronologia da cerâmica calcolítica. In KUNST, M., (ed.) – Origens, do Murtal (Cascais). In ARNAUD, J. M.; MARTINS, A.; NEVES, C.
Estruturas e Relações das Culturas Calcolíticas da Península Ibérica. (coords.) – Arqueologia em Portugal. 150 anos. Lisboa: Associação
Actas das I Jornadas Arqueológicas de Torres Vedras. Lisboa: IPPC dos Arqueólogos Portugueses, p. 489-494.
(Trabalhos de Arqueologia, 7), p. 21-29. SERRÃO, E. C. (1983) – A estação pré-histórica da Parede. Documentos
KUNST, M. (1996) – As cerâmicas decoradas do Zambujal e o inéditos sobre estratigrafia e estruturas (Campanha de 1956).
faseamento do Calcolítico da Estremadura portuguesa. Estudos O Arqueólogo Português. 4.ª série, 1, p. 119-147.
Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 6, p. 257-286. SOUSA, A. C. (2005) – Lugares dos vivos. Redes de povoamento no 4.º
KUNST, M. (2010) – Zambujal. A dinâmica da sequência construtiva. e 3.º milénio a.n.e. Cascais e o estuário do Tejo. In GONÇALVES, V. S.
In GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C: (eds.) – Transformação e (coord.) – Cascais há 5000 anos. Cascais: Câmara Municipal, p. 44-61.
Mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénio a.n.e.. SOUSA, A. C. (2010) – O Penedo do Lexim e a sequência do Neolítico
Cascais: Câmara Municipal (Cascais Tempos Antigos, 2), final e Calcolítico da Península de Lisboa. Dissertação de
p. 123-145. Doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da
LEISNER, V. (1965) – Die Megalithgräber der Iberischen Halbinsel: Universidade de Lisboa. 2 vols., policopiado.
der Westen. Berlin: Walther de Gruyter & Co. 1: 3. SOUSA, A. C. (2013) – Casal Cordeiro 5 e o povoamento (com)
LEISNER, V.; PAÇO, A.; RIBEIRO, L. (1964) – Grutas artificiais de São Pedro campaniforme na área da Ribeira de Cheleiros. In ARNAUD, J. M.;
do Estoril. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. MARTINS, A.; NEVES, C. (coords.) – Arqueologia em Portugal. 150
LEITÃO, M.; NORTH, C. T.; NORTON, J.; FERREIRA, O. V., ZBYSZEWSKI, G. Anos. Lisboa: Associação de Arqueólogos Portugueses. p. 469-480.
(1984) – The prehistoric cave at Verdelha dos Ruivos (Vialonga), SPINDLER, K. (1976) – Die neolitische Parede-Gruppe in Mittelportugal.
Portugal. In GUILAINE, J. (ed.) – L’Age du Cuivre européen. Madrider Mitteilungen. 17, p. 21-75.
Civilisations á vases campaniformes. Paris: CNRS, p. 221-239. VICENTE, E. P.; SERRÃO, E. C. (1958) – Estação eneolítica da Parede:
PAÇO, A. (1955) – Necrópole de Alapraia. Anais da Academia notícia do seu achado. Trabalhos de Antropologia e Etnologia. 16,
Portuguesa de História. 2.ª série, 6, p. 21-140. p. 5-24.

VICTOR S. GONÇALVES, ANA CATARINA SOUSA, MARCO ANTÓNIO ANDRADE, ANDRÉ PEREIRA  ENTRE A FOZ E A SERRA: 169
APONTAMENTOS SOBRE A CERÂMICA CAMPANIFORME DO POVOADO PRÉ-HISTÓRICO DA PAREDE (CASCAIS)
RITMOS DE POVOAMENTO E CERÂMICA
CAMPANIFORME NA ÁREA DA RIBEIRA
DE CHELEIROS (MAFRA E SINTRA, LISBOA)
ANA CATARINA SOUSA
UNIARQ – WAPS. Faculdade Letras da Universidade de Lisboa
sousa@campus.ul.pt

170 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
R E S U M O A Estremadura portuguesa apresenta uma elevada densidade de sítios e de
cerâmica de estilo campaniforme, correspondendo a uma das áreas chave para a com-
preensão da génese e difusão do fenómeno campaniforme. A natureza da informação
é contudo muito desigual, com um elevado número de escavações antigas sem contex-
tualização estratigráfica. A informação disponível parece indicar que existiu uma difusão
diferenciada das cerâmicas campaniformes no mesmo território. Parece assim evidente
a necessidade de entender o fenómeno através de uma leitura territorial, sendo possivel-
mente redutores os estudos de caso centrados exclusivamente em grandes povoados ou
em necrópoles de excepção.O presente artigo centra-se numa área de estudo definida em
termos naturais pela bacia hidrográfica da Ribeira de Cheleiros, abrangendo parte dos
actuais concelhos de Mafra e Sintra. Os trabalhos de arqueologia preventiva e de inves-
tigação intensa desenvolvidos nesta região durante as últimas décadas proporcionaram
um importante corpus de informação que inclui sítios com cerâmica campaniforme, dos
quais foram escavados 11. A análise inclui a distribuição genérica dos diversos estilos
campaniformes (marítimo, pontilhado e inciso) pelo território. Serão também discutidas
as presenças e as ausências, uma vez que se registam grandes assimetrias, sendo espe-
cialmente relevante a (quase) ausência de cerâmica campaniforme no povoado fortifi-
cado do Penedo do Lexim e a sua presença em sítios abertos, como em Casal Cordeiro 5.
Apresenta-se uma proposta diacrónica da disseminação das cerâmicas campaniformes
neste território, o qual poderá constituir um importante caso de estudo para compreen-
der o fenómeno do Campaniforme na Península de Lisboa.
PALAVRAS-CHAVE: Campaniforme, Paisagem, Povoamento, Lisboa.

A B S T R A C T The Portuguese Estremadura has a high density in beaker sites and finds,
and is clearly one of the keys areas for the understanding of the birth and spreading of
the beaker phenomenon. However, due to a large number of early excavations which do
not provide adequate stratigraphic context, the quality of the information available is
somewhat uneven. The known data seems to support an unequal presence of bell beaker
pottery throughout a single territory. Therefore, it seems important to understand the
beaker phenomenon from a territorial standpoint thus avoiding the potentially reductive
studies which focus on large settlements or in exceptional necropolises. This article is
centered on a study-area naturally defined by the river basin of the Ribeira de Cheleiros,
which is part of the modern councils of Mafra and Sintra. The research projects and res-
cue archaeology which have taken place in this region over the last decades have resulted
in a major corpus of information which includes sites with bell beaker potter, 11 with
excavations. The analysis will include a generic distribution of the several bell beaker
styles (maritime, dotted and incised) in the territory. The asymmetrical distribution of
these wares in several sites will also be addressed, most relevantly in the case of the near
absence of beaker wares in the fortified settlement of Penedo do Lexim and their presence
in opens sites such as Casal Cordeiro 5. A proposal for the various stages of dissemination
of beaker pottery this territory will also be presented, which might be an important case
study for understanding the beaker phenomenon in the Lisbon Peninsula.
KEYWORDS: Bell Beaker, Landscape, Settlement, Lisbon.

ANA CATARINA SOUSA  RITMOS DE POVOAMENTO E CERÂMICA CAMPANIFORME NA ÁREA DA RIBEIRA DE CHELEIROS (MAFRA E SINTRA, LISBOA) 171
1. A ÁREA DA RIBEIRA DE CHELEIROS
NA ESTREMADURA PORTUGUESA
A Estremadura portuguesa apresenta uma elevada
densidade de sítios com cerâmica de estilo campani-
forme, correspondendo claramente a uma das áreas
chave para a compreensão da génese e difusão do fenó-
meno campaniforme. Esta densidade de ocorrências de
cerâmica campaniforme, tem sido interpretada recor-
rentemente para sustentar uma origem local do cam-
paniforme (Castillo, 1929; Sangmeister, 1976; Salanova,
2000; Kunst, 2005).
Em recente inventário (Sousa et al., 2016), foram
quantificados 146 sítios com cerâmica campaniforme
na Estremadura, dos quais 121 se concentram na Penín-
sula de Lisboa, claramente a área com maior densidade
no actual território português. Comparativamente
com o último levantamento exaustivo publicado (Har-
rison, 1977) regista-se um acréscimo exponencial de
59%. Este aumento reflecte a intensidade da pesquisa
arqueológica em Portugal nas últimas décadas, quer
ao nível da investigação quer ao nível da arqueologia
preventiva.
A natureza da informação é contudo muito desi-
gual, escasseando os contextos com contextualização
estratigráfica. Atendendo que se tratam frequente-
mente de sítios com longas fases de ocupação (algu-
mas desde o Neolítico), dificilmente se reconstituem FIG. 1 Sítios com campaniforme na Estremadura e a área em estudo.
Mapa elaborado por Filipa Neto. SI Endovelico / DGPC.
associações contextuais e se correlacionam datações
absolutas.
O presente artigo centra-se numa área de estudo 2. NATUREZA DA INFORMAÇÃO
definida em termos naturais pela bacia hidrográfica Remontam ao século 19 as primeiras pesquisas
da Ribeira de Cheleiros, abrangendo parte dos actuais arqueológicas na área de Mafra e Sintra: Estácio da
concelhos de Mafra e Sintra, no terminus da Plataforma Veiga (Veiga, 1878), Carlos Ribeiro (Ribeiro, 1880) e Maxi-
litoral a Norte da Serra de Sintra. Nesta área regista-se a miano Apolinário (tholoi de São Martinho). Ao longo
presença de 30 sítios com a presença de cerâmica cam- do século 20, registaram-se escavações pontuais, des-
paniforme. tacando-se os trabalhos de E. Cunha Serrão e Prescott
Face à longa história das pesquisas na Estremadura, Vicente em Negrais (Serrão e Vicente, 1956) e Olelas
a micro-escala de análise configura-se como uma ferra- (Serrão e Vicente, 1959) bem como as escavações de
menta essencial para uma leitura integrada e sistemá- O. Veiga Ferreira na Anta das Pedras Grandes (Ferreira
tica de padrões de povoamento. et al., 1977) e no tholos da Tituaria (Cardoso et al., 1996).
Nas últimas duas décadas (1996-2017) a signatária Quando iniciei as pesquisas na região, parecia existir
tem desenvolvido diversos projectos de investigação e uma maior densidade de sítios em Sintra, quase pare-
salvaguarda nesta área, especialmente no concelho de cendo Mafra “terra de ninguém” (Sousa, 1998). Com a
Mafra (Sousa, 1998, 2010). Os trabalhos de arqueologia implementação de um plano sistemático de investiga-
preventiva e de investigação intensa que aqui desen- ção e salvaguarda em Mafra a partir de 1997, a situação
volvi proporcionaram um importante corpus de infor- inverteu-se. O inventário total de sítios com ocupações
mação incluindo a escavação em 15 habitats do Neo- integráveis no 4.º e 3.º milénio a.n.e. ascende actual-
lítico / Calcolítico, dos quais 10 apresentam cerâmica mente a 36, dos quais 23 sítios se situam na margem
campaniforme. direita (Mafra) e 13 na margem esquerda (Sintra).
Este artigo está assim orientado para a abordagem Quanto à presença de campaniforme, a situação pre-
do fenómeno campaniforme através de uma leitura sente é também reveladora: em 1998 apenas se conhe-
territorial, a qual procura identificar os padrões de cia em Mafra um único contexto com campaniforme
povoamento e exploração de recursos bem como da (Casas Velhas) mas o número de sítios ascende agora
organização social. a 12.

172 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
CNS SÍTIO ARQUEOLÓGICO TIPO CONCELHO C14 TRABALHO CAMPANIFORME BIBLIOGRAFIA

Sousa e Fernandes,
24076 Cabecinho da Capitôa 2 Povoado aberto Mafra Escavação 
2006; Sousa, 2010
23717 Cabeço de Palheiros 2 Povoado aberto Mafra Escavação  Sousa, 2010
Povoado Serrão, 1982-83;
1804 Cabeço dos Cartaxos Mafra
fortificado Sousa, 1998
Sousa e Gonçalves,
22982 Casal Barril Mina sílex Mafra  Escavação
2011
25788 Casal Cordeiro 5 Povoado aberto Mafra  Escavação  Sousa, 2013
17421 Casal Romeirão Achado isolado Mafra  Sousa, 2010
Carreira e Lopes,
3735 Casas Velhas Povoado aberto Mafra 
1994
Sousa e Gonçalves,
29929 Cova da Baleia Achado isolado Mafra  Escavação 
2015
22688 Gonçalvinhos Fosso Mafra Escavação Sousa, 2010
22985 Gorcinhos Povoado aberto Mafra  Sousa, 2010
Necrópole. Portal do
37044 Lizandro 1 Mafra Escavação 
Abrigo Arqueólogo
27639 Louriceira Habitat Mafra Sousa, 2010
Marreiros Habitat aberto Mafra
Povoado
664 Penedo do Lexim Mafra  Escavação Sousa, 2010
fortificado
Miranda, 2007;
2036 Pinhal Quinta Mato Grande Habitat aberto Mafra Escavação 
Sousa, 2010
16631 Quinta dos Loureiros 1 Povoado aberto Mafra  Sousa, 2010
36801 Quintal 1 Povoado aberto Mafra Escavação Sousa, 2010
Sousa e Pereira,
24065 Serra do Pipo 1 Povoado aberto Mafra Escavação 
2006; Sousa, 2010
36805 Serra do Pipo 2 Povoado aberto Mafra Escavação Sousa, 2010
30749 Sobreiro Povoado aberto Mafra Escavação Sousa, 2010
24055 Sopé Cabecinho da Capitôa Povoado aberto Mafra Escavação  Sousa, 2010
3913 São Julião (núcleo D) Concheiro Mafra  Escavação Sousa et al., 2016
3060 Alto do Montijo Povoado aberto Sintra 
27479 Alvarinhos Indeterminado Sintra Sousa, 2010
Habitat Cardoso e Carreira,
27469 Anços Sintra 
afloramentos 1996; Sousa, 1998
Habitat Vicente e Martins,
688 Barreira Sintra
afloramentos 1970; Sousa, 1998
977 Folha das Barradas Gruta artificial Sintra Escavação Ribeiro, 1880
Habitat Carneiro, 1990;
1780 Funchal Sintra 
afloramentos Sousa, 1998
Habitat Davis e Simões,
18046 Lapiás de Lameiras Sintra  Escavação 
afloramentos 2015
Habitat Serrão e Vicente,
1882 Negrais Sintra Escavação 
afloramentos 1956
659 Odrinhas Indeterminado Sintra
Povoado Serrão e Vicente,
1835 Olelas Sintra  Escavação 
fortificado 1958; Sousa, 1998
Ferreira et al., 1977;
91 Pedras da Granja Anta Sintra  Escavação 
Boaventura, 2009
Habitat
2683 Penedo da Cortegaça Sintra Escavação  Gomes, 1978;
afloramentos
19467 Magoito Concheiro Sintra  Escavação Soares, 2003

TABELA 1 Povoamento do 4.º e 3.º milénio na área da Ribeira de Cheleiros e a presença campaniforme.

ANA CATARINA SOUSA  RITMOS DE POVOAMENTO E CERÂMICA CAMPANIFORME NA ÁREA DA RIBEIRA DE CHELEIROS (MAFRA E SINTRA, LISBOA) 173
informação ao nível estratigráfico. Devemos contudo
evidenciar que a informação recolhida, embora siste-
mática, está fortemente condicionada por vários facto-
res que afectam a visibilidade e preservação: natureza
dos trabalhos arqueológicos, características geo-arque-
ológicas, alterações pós deposicionais.
Em termos globais, a maior parte das ocorrências
corresponde a povoados, apenas se registando três con-
textos com campaniforme associáveis a necrópoles:
Anta das Pedras da Granja e Grutas de Olelas em Sintra
e Abrigos do Lisandro em Mafra.

3. POVOAMENTO
Na área da Ribeira de Cheleiros conhecem-se 19
sítios de habitat com cerâmica campaniforme, os quais
apresentam distintos tipos e morfologias de implan-
tação, representatividade da cerâmica campaniforme,
estilos ou grupos presentes.
Como foi referido, a informação é bastante desigual,
existindo muito sítios não escavados e outros cuja
escavação não foi ainda publicada. Poucos sítios apre-
sentam datações absolutas associadas, sendo possível
que exista um faseamento que é agora genericamente
englobado na segunda metade do 3.º milénio.
A análise aqui apresentada seleccionou apenas os
sítios com mais informação disponível organizando-se
em grandes categorias: povoados fortificados, povoa-
dos abertos, povoados abertos junto de afloramentos.

3.1. povoados fortificados


Em Cheleiros apenas estão identificados dois povo-
FIG. 2 Sítios com campaniforme na Ribeira de Cheleiros.
ados fortificados: Penedo do Lexim e Olelas. Situando-
2. Quinta dos Loureiros; 3. Casal Cordeiro 5; 4. Casal Romeirão; 5.
Casas Velhas; Serra do Pipo 1; 15. Cabecinho da Capitôa 2; 16. Sopé -se em margens opostas da Ribeira de Cheleiros, distam
Cabecinho da Capitôa; 17. Pinhal Quinta Mato Grande; 22. Penedo apenas 7 km entre si, evidenciam situações muito dis-
do Lexim; 7. Anços; 28. Negrais; 29. Lameiras; 30. Alto do Montijo; 31.
tintas quanto à presença da cerâmica campaniforme.
Penedo da Cortegaça; 32. Olelas; 37. Antas das Pedras Grandes; 38.
Lisandro.
penedo do lexim
O Penedo do Lexim (Mafra) constitui o único dos
Deve ser destacado que as novas ocorrências regis- sítios arqueológicos da área da Ribeira de Cheleiros
tadas no concelho de Mafra correspondem maioritaria- com um projecto de investigação recente.
mente a detecções no decurso de acompanhamento de Este povoado apresenta uma história de investiga-
obra, em sítios completamente invisíveis ao nível dos ção centenária que remonta ao século 19 com Está-
trabalhos de superfície, evidenciando a importância cio da Veiga (Veiga, 1879), Possidónio da Silva e Carlos
da salvaguarda arqueológica na produção de conheci- Ribeiro (Sousa, 2010). As primeiras escavações foram
mento. A maior parte das intervenções arqueológicas realizadas em 1970 e 1974, sob a direção de José Morais
realizadas nas últimas duas décadas decorreu em con- Arnaud (Arnaud et al., 1971; Arnaud, 1974-75). Entre 1998
texto de arqueologia preventiva, com excepção do pro- e 2004, desenvolvi um projeto de investigação centrado
jecto de investigação no Penedo do Lexim desenvolvido no Penedo do Lexim (Sousa, 2010), com uma área esca-
entre 1998 e 2010 (Sousa, 2010). vada de 393 m2 durante seis campanhas de escavação.
A intensidade da pesquisa na área da Ribeira de Che- A ocupação desta chaminé vulcânica está estru-
leiros permite avançar para uma abordagem de carác- turada em três plataformas naturais: 1. a plataforma
ter territorial com alguma segurança, quer na leitura superior, núcleo central do sítio (locus 1); 2. a plataforma
da distribuição dos sítios quer ao nível da discussão da intermédia localizada a média encosta, incluindo vários

174 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
DATA DATA DATA
REF. LAB. SECTOR CONTEXTO AMOSTRA δ13C (0/00)
CONVENCIONAL CAL BC 1σ CAL BC 2σ
Beta-175774 3b UE 16 osso (Ovis aries) -20,2 4100±40 2880-2680 2890-2620
Beta-186854 1 UE 19 osso (sus sus) -20,5 4080±50 2870-2630 2880-2580
Beta-175775 3b UE 10 osso (Bos sp) 21,2 4080±40 2830-2570 2860-2490
Sac-2067 1 UE 19 osso (sus sus) -20,74 3820±50 2396-2150 2459-2140
Sac-2069 3b UE 7b osso -21,2 3930±45 2480-2344 2568-2118
Beta-186855 3 UE 19 osso (Homo sapiens) -19,6 3850 ±40 2400-2220 2460-2200

Beta-142451 1 UE 19 osso (Sus sus) 3820±40 2547-2141 2310-2200

Sac-2168 5 UE 8 osso,(Sus sus) 3760±50 2280-2051 2343-2026

Sac-2158 3b UE 7 concha, Venerupis decussata 3880±60** 2463-2292 2557-2148

Sac-2156 1 UE 9 osso, (Sus sus) 3640 ±40 2125-1939 2188-1887

Beta-310022 6 UE 5 Osso (Homo sapiens) 3700 ±30 2137-2036 2198-1981


* Calib 5.0.1, (Stuiver e Reimer, 1983)
** Correcção de efeito de reservatório oceânico (Iap = 380+30 anos) – Soares, 1993

TABELA 2 Datações absolutas do Penedo do Lexim.

núcleos delimitados por afloramentos rochosos (locus (89%) verificamos que a data se limita ao 3.º milénio
2, 3, 4, 5, 6) e 3. uma plataforma inferior, na base do sítio (2151-2018). Tratando-se de um abrigo com longa ocu-
(Sousa, 2010). As grandes fases de ocupação identifica- pação (Calcolítico, Bronze Final, Romano), a data tem de
das (Neolítico final, Calcolítico inicial, Calcolítico pleno, ser considerada com prudência, tal como sucede geral-
Idade do Bronze Final, Romano) surgem de forma des- mente para as datações de povoados.
continuada, existindo de alguma forma uma ocupação Apesar da reduzidíssima presença de campaniforme
horizontal dispersa nas diferentes plataformas. no Penedo do Lexim, deve referir-se que existem datações
A cerâmica campaniforme está praticamente absolutas que documentam uma ocupação tardia, de
ausente de Penedo do Lexim, facto já referenciado por finais do 3.º milénio. Esta ocupação tardia, sem campa-
José Arnaud nas primeiras escavações (Arnaud, 1974-77). niforme, está documentada cronometricamente no topo
Apenas na última campanha de escavações (em 2004) do povoado (locus 1) e na muralha intermédia (locus 5).
foram identificados três fragmentos campaniformes. Deve ainda referir-se que nas imediações do Penedo
Os fragmentos apresentam dimensão diminuta, corres- do Lexim surgem sítios com abundante campaniforme
pondendo a um fragmento de fundo e a dois bojos (sem (Anços e Olelas) o que indica que o sítio não terá sido
reconstituição de forma). Indicam claramente tratar-se abandonado, reflectindo um modelo assimétrico de
de campaniforme marítimo. difusão do campaniforme durante a segunda metade
Os três fragmentos foram recolhidos no locus 6, junto do 3.º milénio.
a um abrigo sob rocha, sendo particularmente relevante
o facto de não ter sido recolhido qualquer fragmento
campaniforme no topo do Penedo do Lexim (locus 1),
onde se registam todas as fases de ocupação do sítio.
A amostra Beta-310022 (inédita) encontra-se asso-
ciada aos únicos fragmentos campaniformes recolhi-
dos no Penedo do Lexim. Trata-se de um fragmento
de crânio humano de um adulto (Miranda, 2006) asso-
ciado a dentes humanos e vário material doméstico
(cerâmica, fauna, pedra lascada). No Penedo do Lexim a
presença de ossos humanos apenas está documentada
nos abrigos sob rocha. No abrigo locus 3, associado a
cerâmica do grupo folha de acácia, foi obtida uma data-
ção do terceiro quartel do 3.º milénio (Beta-186855). A
amostra associada ao campaniforme é mais tardia, do
FIG. 3 Planta geral de Penedo do Lexim com sectores
último quartel do 3.º milénio / transição para o 2.º milé- intervencionados. Os únicos fragmentos campaniformes foram
nio. Se considerarmos o intervalo com mais confiança recolhidos no locus 6.

ANA CATARINA SOUSA  RITMOS DE POVOAMENTO E CERÂMICA CAMPANIFORME NA ÁREA DA RIBEIRA DE CHELEIROS (MAFRA E SINTRA, LISBOA) 175
de escavação entre 1988 e 1992, obtendo as primeiras
datações radiocarbónicas (Marques Gonçalves, 1997;
Marques Gonçalves, 1990-92). Recentemente foram
efectuados estudos específicos dos materiais exuma-
dos nestes trabalhos arqueológicos: Neolítico antigo
(Simões, 1999), Neolítico final e Calcolítico (Sousa, 1998)
e recentemente uma abordagem exclusivamente cen-
trada no campaniforme (Sousa e Martín, no prelo).
Este sítio implanta-se na extremidade de uma cume-
ada, na Serra de Olelas, estando ainda hoje por definir
claramente os limites e as dimensões deste complexo
arqueológico. Nunca foi desenvolvido um projecto de
investigação integrado para a Serra de Olelas por isso
a nossa leitura centra-se em duas áreas: a área amura-
FIG. 4 Penedo do Lexim. Abrigo locus 6 onde foram recolhidos os lhada escavada por Cunha Serrão e Prescott Vicente e
fragmentos campaniformes. Foto Valter Ventura.
posteriormente por João Ludgero Gonçalves e as grutas,
sondadas por Carlos Ribeiro e Mello Nogueira, dos “ser-
viços geológicos”.
A estrutura defensiva identificada situa-se no topo da
Serra, virada para a vertente Norte, configurando uma
planta sub-quadrangular e três torreões arredondados.
A área envolvida por estas estruturas é no entanto muito
reduzida. À superfície é possível detectar a presença
de possíveis muralhas delimitadoras situadas limites
externos da plataforma superior, possivelmente confi-
gurando uma área de ocupação muito maior (Sousa e
Martín, no prelo). Podemos assim considerar a provável
existência de um pequeno reduto central e de linhas
exteriores de muralha nas áreas mais vulneráveis,
modelo similar a outros povoados fortificados estreme-
nhos. Fora da área murada escavada, identifica-se uma
plataforma com abundantes materiais, designada por
“Terreno A” por Prescott Vicente e Cunha Serrão.
As grutas situam-se no escarpado vale da Calada.
Carlos Ribeiro e Mello Nogueira noticiam a presença
de vestígios arqueológicos em três cavidades (abrigos
sob rocha): Cova da Raposa, a Cova do Biguino e a Cova
FIG. 5 Fragmentos de cerâmica campaniforme marítima recolhidos
Grande. 
no Penedo do Lexim. Fotografia Victor S. Gonçalves (VSG)
A sequência de ocupação do “complexo de Olelas”
ter-se-á iniciado no Neolítico antigo sendo provável a
olelas ocupação continua desta serra desde inícios do 5.º milé-
A detecção de Olelas, sítio situado na margem nio até finais do 3.º milénio a.n.e. As datações são con-
esquerda da Ribeira de Cheleiros (Sintra), remonta a tudo insuficientes para toda esta sequência, incluindo
1878, com Carlos Ribeiro (Ribeiro, 1879, p. 95). Em inícios uma amostra obtida sobre concha (com os inerentes
do século 20, realizaram-se novos trabalhos no povoado problemas de calibração) e datas com um elevado des-
e nas grutas do Vale da Calada conduzidos por Vergí- vio padrão. As seis datas disponíveis (Marques Gonçal-
lio Correia (Correia, 1914) e Mello Nogueira (Nogueira, ves, 1997) estão balizadas entre meados do 4.º milénio e
1933). Eduardo da Cunha Serrão e Eduardo Prescott meados do 3.º milénio.
Vicente viriam a realizar sucessivas campanhas arque- Com os constrangimentos de uma análise baseada
ológicas em 1952, possivelmente em 1953, 1957 e 1958 em materiais antigos e uma sequência radiométrica
(Serrão e Vicente, 1958; Vicente e Serrão, 1959), identifi- insuficiente, estes elementos parecem indicar que a his-
cando-se então as estruturas de muralhas e torres, ini- tória da ocupação de Olelas e Penedo do Lexim foi con-
cialmente interpretadas como tholoi. Posteriormente sideravelmente distinta. Apesar de contemporâneos,
João L. Marques Gonçalves realizou várias campanhas os dois sítios revelam um “desacerto” dos principais

176 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
momentos de ocupação. Nos finais do 4.º milénio é Ole-
las que parece corresponder ao principal núcleo de povo-
amento da Ribeira de Cheleiros (a par de Negrais). No
Calcolítico inicial, entre 2800 e 2600 a.n.e, seria Penedo
do Lexim que assumiria um local central. Em meados
do 3.º milénio ter-se-ia registado uma subsequente fase
de retracção da ocupação em Lexim e maior importân-
cia de Olelas, evidenciada nas diferentes frequências
de cerâmica campaniforme. Este modelo de ocupação
“alternante” necessita de ser confirmado com novas
investigações mas a informação disponível parece indi-
car que existiriam talvez uma sobreposição dos terri-
tórios de influência destes dois povoados, apesar de se FIG. 6 Complexo de Olelas: área de implantação do povoado
situarem em margens distintas da Ribeira de Cheleiros. fortificado.
Os materiais arqueológicos recolhidos nas várias
intervenções arqueológicas encontram-se depositados
no Museu Geológico (recolhas de Carlos Ribeiro / Mello
Nogueira) e no Museu Arqueológico de São Miguel de
Odrinhas (escavações de Prescott Vicente e Cunha Ser-
rão, João Ludgero Gonçalves). O conjunto foi analisado
globalmente (Simões, 1999; Sousa, 1998; Sousa, 2010),
tendo sido alvo de um estudo sistemático para o espó-
lio campaniforme no âmbito de trabalho académico
(Sousa e Martín, no prelo).
O conjunto de cerâmicas campaniformes de Olelas
ascende a 43 fragmentos. Os materiais apresentam-
-se muito fragmentados, tendo sido apenas possível
reconstituir a forma de 11 peças. O espólio conserva as
indicações de proveniência do acervo, possibilitando
uma leitura espacial genérica. A maior parte do con-
junto (18 fragmentos) foi recolhida no interior da torre
1, designada como “monumento 1” por Prescott Vicente
e Cunha Serrão, surgindo também ossos humanos,
principal factor que levou inicialmente os escavadores
a classificarem esta estrutura como um tholos (Ser-
rão e Vicente, 1958; Vicente e Serrão, 1959). O segundo
maior conjunto foi recolhido no denominado “terreno
A”, fora do reduto central (14 fragmentos). A escassez
de cerâmica campaniforme na torre 2 / monumento 2
(apenas um fragmento) levou os escavadores a propor
FIG. 7 Cerâmica campaniforme de Olelas. Desenhos de Filipa Martín.
uma funcionalidade e cronologia mais antiga para esta
estrutura.
O pequeno conjunto de cerâmica campaniforme
de Olelas inclui uma diversidade de estilos ou grupos
decorativos, sendo o grupo inciso o mais representa-
tivo (30 fragmentos) e também o conjunto com mais
fragmentos classificáveis. O conjunto de cerâmica cam-
paniforme marítimo restringe-se a seis fragmentos,
apresentando-se bastante fragmentados. O campani-
forme de estilo pontilhado geométrico está represen-
tado por cinco fragmentos. É especialmente relevante
a presença de um possível fragmento de cerâmica com
decoração cordada (OL/NC/82/70). A documentação
conservada no Museu Arqueológico de São Miguel de FIG. 8 Possível cerâmica cordada de Olelas. Fotografia de Filipa Martín.

ANA CATARINA SOUSA  RITMOS DE POVOAMENTO E CERÂMICA CAMPANIFORME NA ÁREA DA RIBEIRA DE CHELEIROS (MAFRA E SINTRA, LISBOA) 177
Odrinhas indica que este fragmento de bojo foi reco- sos. Foram escavadas três áreas que parecem corres-
lhido à superfície no “terreno A”, plataforma externa ponder a unidades habitacionais.
ao reduto central mas possivelmente limitado por uma Na Área 1, foi detectada uma estrutura semicircu-
segunda linha de muralha. O mau estado de conser- lar (UE 5) que deverá corresponder ao derrube de uma
vação do fragmento impede uma classificação clara, cabana com vários níveis de ocupação e de abandono,
encontrando-se com as superfícies erodidas. incluindo um pavimento. Em associação a esta estru-
tura de tipo cabana, foi identificado um nível de ocupa-
3.2. povoados abertos ção. No «interior» da cabana foi identificado um empe-
A designação de povoados «abertos» é usada em drado (UE 6) composto por blocos de calcário e arenito
oposição aos povoados «fechados», murados por fossos (pequena dimensão) e seixos de quartzito. Na proxi-
ou por muralhas. A maior parte dos sítios com cam- midade da área da cabana foram detectadas concen-
paniforme da área de Cheleiros pode ser classificado trações pétreas (buracos de poste? – UE 14), bem como
como “habitat aberto” (11/19). Contudo, na ausência de uma área de combustão colmatando uma pequena
escavações, esta classificação é incerta. fossa, correspondendo a uma lareira em cuvette (UE 17).
Atendendo a que os povoados abertos se implantam Na Área 3 foi identificada uma cabana de forma
usualmente em áreas aplanadas ou de vertente e con- semi-circular (UE 18), composta por blocos de calcário e
siderando o intenso uso agrícola desta região, a conser- arenito de média dimensão, adossada a uma depressão
vação deste tipo de sítios está usualmente afectada. Na no afloramento, possívelmemente antrópica.
verdade, exceptuando o caso dos habitats de Monsanto Apesar da dispersão dos núcleos e do carácter aberto
como Vila Pouca ou Montes Claros e de Parede (cf. Gon- do povoado, podemos considerar que Casal Cordeiro 5
çalves et al., 2017, este volume), nunca nenhum dos mui- corresponde a uma unidade de povoamento perma-
tos “povoados abertos” com campaniformes, situados nente, registando-se o leque de actividades comum
da Península de Lisboa, foi alvo de uma escavação. em povoados desta natureza. Regista-se a presença de
Revestem-se assim de especial importância as abundante cerâmica, com recipientes de diferentes for-
intervenções de arqueologia preventiva na na área da mas e dimensões, utensílios em pedra lascada (corte,
Ribeira de Cheleiros: Lameiras em Sintra e cinco sítios perfuração, eventualmente foices) e toda a cadeia
em Mafra, intervencionados na sequência da A21 operatória do talhe do sílex, fragmentos de queijeiras,
(Sousa, 2008). utensílios em osso polido, percutores, elementos de
moagem. Destaque para presença de um número con-
casal cordeiro 5 siderável de metalurgia do cobre, incluindo fragmentos
Casal Cordeiro 5 situa-se perto da vila da Ericeira, de utensílios e pingos de fundição.
no limite setentrional da bacia hidrográfica da Ribeira Para além dos artefactos, foram ainda recolhidos res-
de Cheleiros. Localiza-se numa área muito próxima tos faunísticos na área 1. Destaca-se a importância da
do Atlântico (aproximadamente 2 km), com contacto fauna malacológica (Miranda, 2006b), com a presença
visual directo sobre o mar. Possivelmente estará asso- dominante de Mytillus sp. (76%), espécie de substrato
ciado a outros contextos com campaniforme das ime- rochoso acessível em quaisquer das praias da Ericeira.
diações, como Quinta dos Loureiros ou os Abrigos do A fauna mamalógica não foi ainda estudada, apresen-
Lizandro. Todos estes sítios foram identificados por Car- tando-se em mau estado de perservação. Saliente-se a
los Costa. detecção de uma mandíbula de Bos.
No âmbito das intervenções preventivas associadas O sector 1 e 2 apresentam uma estratigrafia aparen-
à Auto-Estrada A21 foram realizadas extensas sonda- temente monofásica, com uma espessa camada super-
gens prévias neste sítio tendo vindo a ser detectados ficial (cerca de 1 m) que cobre um nível de ocupação,
contextos preservados em fase de acompanhamento integrando as várias estruturas, que assentam directa-
da obra. Os trabalhos de escavação decorreram entre 1 mente sobre o substrato geológico.
de Março a 27 de Junho de 2006 (Sousa e Miranda, 2006;
Sousa, 2013), num total de 272 m2 de área escavada. Para REF. LAB. CONTEXTO AMOSTRA δ13c
IDADE DATA DATA
(ANOS BP) CAL BC 1σ CAL BC 2σ
além deste núcleo conservado foram detectadas várias
Thais
concentrações de materiais arqueológicos�����������
descontex- Sac-2160 U.E. 8
haemastoma
+1,34 4100±40* 2266-2135 2336-2049
tualizadas, designadas como Casal Cordeiro 2 e 4. 2856- 2883-
Sac-2159 U.E. 8 Patella sp. +1,34 4520±50*
A extensão dos trabalhos permite classificar Casal 2798 2614
* Correcção de efeito de reservatório oceânico
Cordeiro 5 como sítio aberto, não tendo sido detectada (Iap = 380+30 anos) – Soares, 1993
qualquer barreira física que delimitasse a área de ocu-
TABELA 3 Datações de Casal Cordeiro 5. Calibrações segundo Stuiver
pação. O elevado grau de dispersão de achados em todo et al. (1998) e com base no programa CALIB ver 5.0.1 (Stuiver e Reimer,
Casal Cordeiro sugere uma situação de núcleos disper- 1993).

178 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
Apesar da estratigrafia indicar uma única fase de não apresentavam colagéneo suficiente, tendo apenas
ocupação, as duas datações absolutas parecem eviden- sido possível datar amostras sobre concha. Face à pre-
ciar dois momentos, o primeiro dos quais na primeira sença de duas datas que não se recobrem, será funda-
metade do 3.º milénio a.C. e a segunda dos últimos mental proceder a novas datações, sobre amostras de
séculos do 3.º milénio. As amostras de osso analisadas osso ou de carvão.

PEDRA PEDRA PEDRA OSSO


CERÂMICA METALURGIA TOTAL
LASCADA POLIDA AFEIÇOADA POLIDO
N.º % N.º % N.º % N.º % N.º % N.º % N.º %
Sector 1 49 38% 3 30% 5 50% 0 0% 3582 70% 3 43% 3642 69%
Sector 2 5 4% 1 10% 1 10% 0 0% 444 9% 0 0% 451 9%
Sector 3 4 3% 0 0% 0 0% 0 0% 610 12% 0 0% 614 12%
Acompanhamento 71 55% 6 60% 4 40% 1 100% 448 9% 4 57% 534 10%
Total 129 100% 10 100% 10 100% 1 100% 5084 100% 7 100% 5241 100%

TABELA 4 Artefactos de Casal Cordeiro 5.

A cerâmica lisa corresponde à maior parte dos reci- decoradas com linhas horizontais (74%), impressões
pientes cerâmicos, com expressivos 92%, integrando de folha de acácia (23%) e cerâmica com decoração
formas simples (pratos, taças, taças em calote, taças em geométrica – triângulos (3%). A definição do chamado
calote alta, esféricos e potes), estando ausentes as for- “grupo decorativo folha de acácia” foi proposto a propó-
mas compostas (formas carenadas). sito de uma releitura da sequência da Rotura (Gonçal-
Importa salientar a ausência de cerâmicas tipologi- ves e Sousa, 2006), incluindo cerâmicas decoradas com
camente integráveis no Neolítico final (bordos dentea- as conhecidas impressões foliformes, bem como uma
dos, taças carenadas) e do Calcolítico inicial (grupo das gramática associada de caneluras fundas (linhas hori-
cerâmicas caneladas finas). zontais com caneluras muito fundas e motivos geomé-
Ao nível da cerâmica decorada destaca-se a presença tricos executados maioritariamente com a técnica da
de dois grupos decorativos distintos. canelura). Estes três padrões podem surgir isolados ou
O Grupo folha de acácia encontra-se representado em associação, sendo muito rara uma combinação de
por 34 fragmentos de cerâmica, incluindo cerâmicas dois ou mais padrões. O estudo individualizado de cada

FIG. 9 Planta geral e fotos das cabanas identificadas no Sector 1 (em cima) e 3 (em baixo), Casal Cordeiro 5.

ANA CATARINA SOUSA  RITMOS DE POVOAMENTO E CERÂMICA CAMPANIFORME NA ÁREA DA RIBEIRA DE CHELEIROS (MAFRA E SINTRA, LISBOA) 179
foi intervencionado um sítio datado da Antiguidade
Tardia (Sousa et al., 2005).
Foram efectuadas várias sondagens no topo e na
vertente, num total de 36m2 de sondagens manuais.
Não se detectaram contextos preservados, surgindo
os materiais em posição secundária. Possivelmente a
ocupação teria ocorrido no topo, mas a erosão a que foi
exposto fez “subtrair” quer os níveis de ocupação pré-
-históricos, quer mesmo o paleossolo. A meia encosta
foram detectadas concentrações de cerâmica fragmen-
tada em conexão, disposta em alinhamentos.
O sítio de Cabeço de Palheiros 2 corresponde a mais
uma situação de erosão que temos vindo a detectar na
área da Ribeira de Cheleiros: quando não existem bar-
reiras como os afloramentos do Penedo do Lexim, a pre-
servação sedimentar nos topos foi muito afectada. Para
além desta erosão muito antiga, o plantio de eucaliptos

FIG. 10 Cerâmica campaniforme de Casal Cordeiro 5. Desenho de


André Pereira e Marco Andrade.

um destes componentes resulta numa perspectiva


redutora, uma vez que os três são elementos de uma
mesma gramática decorativa.
O Grupo campaniforme encontra-se representado
por 15 fragmentos de cerâmica, que inclui fragmentos
FIG. 11 Aspecto dos trabalhos em Cabeço de Palheiros 2.
de cerâmica campaniforme de vários estilos. Domina o
campaniforme inciso (84%), incluindo taças tipo Palmela.
O campaniforme marítimo é muito escasso, apenas
com três exemplares, um dos quais recolhido na área 3,
associado à estrutura habitacional e os restantes foram
recolhas dispersas durante o acompanhamento de obra.
A coexistência entre cerâmicas decoradas do grupo
folha de acácia e cerâmicas campaniformes está docu-
mentada em outros contextos como em Penha Verde,
Sintra (Cardoso, 2010-2011) ou Leceia (Cardoso, 2014).
Recentemente foi detectada uma situação similar na
margem esquerda do Estuário do Tejo, em Barranco
do Farinheiro, Coruche (cf. Gonçalves et al., 2017b neste
volume).

cabeço de palheiros 2
Cabeço de Palheiros 2 (freguesia de Igreja Nova,
concelho de Mafra), implanta-se no topo de uma ele-
vação do Complexo Vulcânico de Lisboa, integrando-se
na mesma unidade de paisagem do que o Penedo do
Lexim, na margem esquerda da Ribeira de Cheleiros.
O sítio foi detectado e escavado em Dezembro de
2006, no âmbito da construção da A21 (Sousa e Miranda, FIG. 12 Indústria lítica de Cabeço de Palheiros 2. Desenho de
2006; Sousa, 2008). Na mesma elevação (vertente Norte) Henrique Matias

180 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
(que remonta há mais de 30 anos) exerceu um factor de Muchalforro, subsidiária da Ribeira de Cheleiros.
perturbador que conduziu à quase integral destruição Nenhum dos sítios referidos apresenta níveis conser-
do sítio. vados, sem densidades de materiais significativas ou
Os depósitos escavados constituem, provavelmente, presença de estruturas. A explicação tafonómica para
as únicas evidências desta ocupação calcolítica, não se esta situação está relacionada com intensidade dos tra-
conservando estruturas ou níveis de ocupação. Trata- balhos agrícolas não pode ser aplicada indiscriminada-
-se de um pequeno conjunto de materiais classificá- mente, uma vez que na zona foi também identificado
veis (total 104 peças) correspondendo ao remanescente o sítio do Bronze Final de Cabecinho da Capitôa, que
de um sítio arqueológico desmantelado. Destaca-se a revelou a presença de vários depósitos em bom estado
ausência de pedra polida, metalurgia ou de fauna. de conservação, incluindo um colar de contas de âmbar
Não se conservando matéria orgânica para datação (Sousa, 2008).
absoluta, a obtenção de uma cronologia através da cul- Cabecinho da Capitôa 2 localiza-se numa suave ver-
tura material é dificultada pelo carácter incaracterís- tente, concentrando-se os vestígios numa área muito
tico das cerâmicas. Apesar do número de fragmentos restrita. Os trabalhos arqueológicos decorreram em
de cerâmica (217), são escassos os fragmentos classifi- Agosto de 2006 (Sousa, Miranda e Fernandes, 2006).
cáveis (21). A cerâmica decorada corresponde apenas a Foram efectuadas quatro sondagens, num total de 22
dois fragmentos, um dos quais um bordo com decora- m2 escavados.
ção incisa e impressa claramente campaniforme e um As sondagens efectuadas evidenciaram a inexistên-
bojo com incisões que poderá também corresponder a cia de quaisquer níveis preservados, tendo sido obser-
uma decoração tipo campaniforme. A indústria lítica é vados revolvimentos mecânicos, materiais recentes
muito reduzida (21 peças) estando representadas todas e alguns materiais calcolíticos muito fragmentados e
as etapas da debitagem. Salienta-se a presença de den- erosionados. Não podemos saber se se trata efectiva-
ticulados sobre lasca e a ausência de foliáceos (projec- mente de um sítio arqueológico muito destruído ou de
teis ou lâminas). materiais em posição secundária considerando a abun-
dância de sítios nas imediações.
o núcleo pipo – capitôa Entre o pequeno conjunto de cerâmica decorada (16
Na área de Cabecinho da Capitôa / Serra do Pipo registos) destaca-se a presença de cerâmica campani-
(freguesia de Igreja Nova, concelho de Mafra), foi iden- forme com uma variedade de estilos: Campaniforme de
tificado uma área com elevada densidade de sítios com estilo marítimo inciso, estilo integrável no Calcolítico
campaniforme: Cabecinho da Capitôa 2, Sopé do Cabe- final – Bronze inicial nas Beiras; Campaniforme inciso,
cinho da Capitôa, Serra do Pipo 1, Serra do Pipo 2, Pinhal incluindo um fragmento de taça tipo Palmela; Campa-
da Quinta do Mato Grande. Estes sítios foram identifi- niforme pontilhado geométrico.
cados por Carlos Costa no âmbito do acompanhamento O sítio do Sopé do Cabecinho da Capitôa, está implan-
arqueológico da A21 e escavados posteriormente pelo tado numa área de vale, a 150 m de Cabecinho da Capi-
Gabinete de Arqueologia de Mafra (Sousa, 2008). tôa 2 e a 75 m de Pinhal da Quinta da Mata Grande. Os
A Serra do Pipo situa-se na margem direita da Ribeira trabalhos de escavação decorreram entre Julho e Agosto
de Cheleiros, numa área com intensa ocupação agrí- de 2006 (Sousa, Pereira e Silva, 2006).
cola e florestal. Trata-se de uma crista junto à Ribeira A ocupação foi caracterizada através de uma escava-
ção de 60 m2, com 32 m2 de sondagens manuais e 28 m2
de sondagens mecânicas.
Os contextos encontram-se também muito altera-
dos, com níveis de revolvimento originados pela acção
da maquinaria e pela actividade agrícola e silvícola. Os
materiais pré-históricos poderiam ter sido remobiliza-
dos de áreas de topo, ficando “presos” numa depressão
natural e por isso, rapidamente incorporados nas suas
camadas superficiais.
As cerâmicas encontram-se em relativo bom estado
de preservação comparativamente com o estado dos
materiais recolhidos em Cabecinho da Capitôa 2, loca-
lizado a escassas centenas de metros. Entre a cerâmica
manual regista-se a presença de 35 bordos e 23 bojos
FIG. 13 Núcleo da Serra do Pipo / Capitôa com localização de Serra
do Pipo 1, Cabecinho da Capitôa 2, Sopé do Cabecinho da Capitôa e decorados, contabilizando um total de 58 recipientes
Pinhal da Quinta do Mato Grande. classificáveis. As cerâmicas lisas reportam-se sobre-

ANA CATARINA SOUSA  RITMOS DE POVOAMENTO E CERÂMICA CAMPANIFORME NA ÁREA DA RIBEIRA DE CHELEIROS (MAFRA E SINTRA, LISBOA) 181
FIG. 14 Aspecto dos trabalhos arqueológicos em Cabecinho da
Capitôa 2, Mafra.

FIG. 15 Cerâmica campaniforme de Cabecinho da Capitôa 2.


Fotos VSG.

FIG. 16 Sondagens realizadas em Sopé do Cabecinho da Capitôa.

tudo a formas simples, abertas, correspondendo maio-


ritariamente a taças em calote.
A indústria de pedra lascada é quase exclusivamente
em sílex (62 registos), com um número considerável
de material residual (43,5%). Em termos de debitagem
regista-se a importância das lascas, registando-se
ainda as lâminas e as lamelas. A utensilagem é escassa
(3,2%), reportando-se a um furador sobre lâmina e uma
raspadeira circular sobre lasca.
Pinhal da Quinta do Mato Grande situa-se numa
suave vertente profundamente afectada pelas surribas
para vinhas. Os trabalhos de escavação decorreram em
Agosto de 2006, com direcção de Marta Miranda e co-
-direcção da signatária (Miranda e Sousa, 2006). As son- FIG. 17 Cerâmicas campaniformes de Sopé do Cabecinho da Capitôa.
dagens manuais abrangeram uma área total de 32 m2 Desenho Ana Patrícia Magalhães.

182 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 18 Cerâmica campaniforme recolhida em Pinhal da Quinta do FIG. 19 Cerâmica campaniforme incisa do Pinhal da Quinta do Mato
Mato Grande Grande. Foto VSG.

nas quais se observa a presença de materiais romanos tência de quaisquer níveis preservados (Sousa e Inácio,
e calcolíticos e modernos. Apesar da existência de aflo- 2006). Os trabalhos decorreram em Maio de 2006, sob
ramentos que permitiriam suster a erosão detectada direcção da signatária e co-direcção de Isabel Inácio
noutros sítios desta cronologia (como Cabeço de Palhei- (Sousa e Inácio, 2006). A área escavada no topo e ver-
ros 2), os trabalhos agrícolas terão afectado profunda- tente perfaz 52 m2 com nove sondagens 2x2m e uma
mente esta área. sondagem 2x4m, não se tendo encontrado quaisquer
A maior parte do espólio foi recolhido em prospecção contextos preservados. Os escassos materiais pré-his-
e acompanhamento. Nas sondagens apenas foram iden- tóricos recolhidos surgem em associação a cerâmicas
tificados três artefactos de pedra lascada. O conjunto de recentes.
materiais inclui cerâmica campaniforme (7 registos), Não foram recolhidas cerâmicas campaniformes,
todos do grupo inciso. Em relação à pedra lascada (sílex), mas a presença de um punhal de cobre, recolhido em
estão representadas as várias etapas da cadeia operató- acompanhamento, indicia uma ocupação calcolítica,
ria, incluído lascas retocadas e uma raspadeira circular. contemporânea de Cabecinho da Capitôa 2, Sopé do
Na localidade da Serra do Pipo verificou-se uma situa- Cabecinho da Capitôa.
ção idêntica, também com a presença de dois sítios, Apesar do mau estado de conservação registado
Serra do Pipo 1 e 2, a curta distância. Este núcleo situa- nestes quatro sítios, podemos considerar que a área
-se a 500 m de Cabecinho da Capitôa, inscrevendo-se de Cabecinho da Capitôa / Pipo evidencia uma inten-
na mesma unidade de paisagem. No sítio da Serra do sidade de ocupação durante o Calcolítico final. Estão
Pipo 1, as sondagens efectuadas evidenciaram a inexis- totalmente ausentes vestígios integráveis no Calcolí-

CERÂMICA CERÂMICA PEDRA PEDRA PEDRA


METALURGIA TOTAL
CAMPANIFORME LISA LASCADA AFEIÇOADA POLIDA
N.º % N.º % N.º % N.º % N.º % N.º % N.º %
Cabecinho da
16 43% 6 16% 15 41% 0 0% 0 0% 0 0% 37 100%
Capitôa 2
Sopé do Cabecinho
27 7% 277 75% 63 17% 1 0% 0 0% 0 0% 368 100%
da Capitôa
Pinhal da Quinta
7 18% 0 0% 33 83% 0 0% 0 0% 0 0% 40 100%
Grande
Pipo 1 0 0% 196 94% 11 5% 0 0% 1 0% 1 0% 209 100%

TABELA 5 Artefactos de Cabecinho da Capitôa 2, Sopé do Cabecinho da Capitôa, Pinhal da Quinta Grande e Pipo 1.

ANA CATARINA SOUSA  RITMOS DE POVOAMENTO E CERÂMICA CAMPANIFORME NA ÁREA DA RIBEIRA DE CHELEIROS (MAFRA E SINTRA, LISBOA) 183
Doriga e Simões, 2015). A ausência de trabalhos de esca-
vação dificulta a interpretação destes sítios, pouco se
podendo avançar assim na sua classificação morfoló-
gica. Muitos destes sítios aparentam ter uma história de
ocupação longa, em alguns casos remontando ao Pale-
olítico Médio (Lameiras) e quase todos com ocupações
do Neolítico final e Calcolítico final com campaniforme.

negrais (almargem do bispo, sintra)


Negrais representa uma estratégia de ocupação do
espaço muito particular já que é resultado da paisagem
única que é oferecida pelos campos de lapiás. Situa-se
na margem esquerda da Ribeira de Cheleiros, no actual
concelho de Sintra, freguesia de Almargem do Bispo.
A identificação de Negrais por Eduardo da Cunha Ser-
rão e Prescott Vicente remonta a finais dos anos 50, com
sucessivas publicações por Cunha Serrão mas sem esca-
vações (Serrão e Vicente, 1965, 1981; Serrão, 1979, 1980,
1981). Apesar da extensão dos artigos, que documentam
realidades muito importantes como a dispersão do povo-
amento, o levantamento gráfico das manchas de lapiás
FIG. 20 Punhal de cobre recolhido na Serra do Pipo 1. Foto VSG. e a publicação de materiais arqueológicos, a informação
disponível limita-se a dados descontextualizados, usando
tico inicial e pleno, bem atestados no Penedo do Lexim, circunstancialmente leituras dos cortes das pedreiras.
situado a escassos quilómetros. Estão também ausen- Negrais traduz uma modalidade de ocupação do
tes as cerâmicas decoradas do grupo folha de acácia. espaço disseminada, com núcleos diferenciados em
Face a este povoamento disseminado, poderemos vários sítios do lapiás que, em alguns momentos,
estar perante uma das situações: foram ocupados simultaneamente, provavelmente nos
momentos terminais do Calcolítico, inícios da Idade
• presença de um povoado importante, nas imedia- do Bronze (Simões e Sousa, 1999). A identificação dos
ções, ainda não identificado, correspondendo as vários núcleos de povoamento não parece corresponder
recolhas a materiais off site; a uma mancha extensa, mas a sítios específicos, onde
• modelo de ocupação com frágeis estruturas, grupo existiu intensa ocupação pré-histórica, proto-histórica
pequeno, com fraca expressão estrutural e estrati- e romana. Cunha Serrão e Prescott Vicente abordaram
gráfica. todos os sítios identificados como um único conjunto,
mas não deixam de referir três grandes núcleos de
3.3. povoados abertos em lapiás povoamento: Zona I – Negrais (Zona Iv – Pedraceiras),
e em afloramentos Zona II – Barruncheiros, Zona III – Fonte Figueira.
Os campos de lapiás ou os afloramentos basálti- Os materiais depositados no Museu de Odrinhas
cos, exerceriam uma protecção tutelar de um espaço, ascendem a 1209 registos, dos quais 502 correspon-
marcando as áreas de ocupação e propiciando apoio dem a cerâmicas, 184 com decoração campaniforme.
à implantação de estruturas. O significado destas evi- Existiu certamente uma recolha não sistemática que
dências para as comunidades que habitavam a área da potenciou o conjunto campaniforme mas o contin-
Ribeira de Cheleiros é de difícil percepção, com possí- gente é ainda assim bastante elevado. Não se regista
veis significados cruzados de sagrado-doméstico, natu- a presença de qualquer fragmento de estilo marítimo,
ral-construído. sendo quase exclusivamente constituído por cerâmicas
Foram identificadas ocupações pré-históricas junto do grupo inciso (177/184) e escassos fragmentos integrá-
de áreas de afloramentos verticais em diversos pontos veis no grupo pontilhado geométrico (6/184). Mais uma
da Ribeira de Cheleiros, sempre na margem esquerda vez esta ocupação “aberta” corresponde a uma fase
da Ribeira de Cheleiros, em Sintra: Negrais, Anços, Fun- avançada do campaniforme.
chal, Lameiras, Barreira. Muitos dos contextos estão já definitivamente per-
Deste universo, apenas o sítio de Lameiras foi esca- didos com o avanço das construções no núcleo urbano
vado mas é ainda escassa a informação publicada sobre da aldeia de Negrais. Contudo, o excelente estado
a ocupação calcolítica (Davis e Simões, 2016; Lopes de preservação que este substracto geológico propi-

184 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
cia (patente para Lameiras, por exemplo), evidencia o
potencial de uma futura investigação neste complexo.

anços (almargem do bispo, sintra)


Situado na margem esquerda da Ribeira de Cheleiros
(Sintra), em margem oposta ao Penedo do Lexim, Anços penedo do lexim
apresenta-se em perfeita intervisibilidade com este
sítio distando escassa distância.
A informação actualmente disponível parece indicar
que as ocupações dos dois sítios não foram contempo-
râneas durante o 3.º milénio, se considerarmos a cerâ-
mica como indicador relativo. Ambos sítios parecem
registar uma ocupação do Neolítico final, mas Anços
não regista qualquer evidência de materiais integráveis
no Calcolítico inicial e pleno. Situação inversa se regista
no Calcolítico final com campaniforme, profusamente
representado em Anços e praticamente ausente em
Penedo do Lexim. Apesar dos limites de uma caracte-
rização baseada em dados de superfície, a sequência de
Penedo do Lexim – Anços, coloca um conjunto de ques-
tões relacionadas com a falência do modelo de povoa- anços
mento que os sítios fortificados parecem configurar.
A primeira referência a este sítio remonta a Estácio
da Veiga, que analisa o topónimo (Veiga, 1876). Foi ape-
nas nos anos 80 do século 20 que são recolhidos os pri- FIG. 21 Localização de Anços e de Penedo do Lexim.
meiros materiais, posteriormente publicados (Cardoso
e Carreira, 1996; Sousa, 1998). de material de debitagem em sílex (158 registos, 88%
Em termos de morfologia de ocupação, podemos ser do conjunto). Destaca-se o elevado número de núcleos
individualizar três plataformas. Uma área central mais recolhidos, contrastando com o Penedo do Lexim.
proeminente, profusamente ocupada por afloramentos, As cerâmicas campaniformes são abundantes
destacando-se um grande monólito que parece um ver- embora bastante fragmentadas. O estilo inciso é o mais
dadeiro “menir natural”. Na Sudoeste registam-se duas frequente (50%), seguindo-se o ponteado geométrico
plataformas, uma plataforma intermédia delimitada (42%). O marítimo é muito residual, apenas se regis-
por afloramentos e uma outra aberta. Na plataforma tando um fragmento inciso e outro impresso. Registe-
aberta foi recolhido um elevado número de materiais -se ainda um possível fragmento cordado.
arqueológicos, indicando que provavelmente os traba-
lhos agrícolas já terão destruído parte da estratigrafia. 3.4. modelos de povoamento
Em algumas das prospecções efectuadas identificou-se Apesar de existirem grandes lacunas de informação,
uma mancha escura na plataforma aberta que parece nomeadamente no que se refere a cronologias abso-
corresponder a uma área de intensa ocupação antró- lutas, podemos genericamente avançar com algumas
pica, eventualmente correspondendo a uma cabana. tendências gerais na área da Ribeira de Cheleiros.
O conjunto encontra-se em estudo pela signatária O elevado número de sítios arqueológicos em Che-
com Victor S. Gonçalves. A utilização doméstica encon- leiros parece configurar um povoamento disseminado,
tra-se inequivocamente denunciada pela abundância eventualmente com sítios de ocupação curta.

FIG. 22 Cerâmicas campaniformes de Anços. Foto VSG.

ANA CATARINA SOUSA  RITMOS DE POVOAMENTO E CERÂMICA CAMPANIFORME NA ÁREA DA RIBEIRA DE CHELEIROS (MAFRA E SINTRA, LISBOA) 185
Numa leitura diacrónica do 4.º ao 3.º milénio a.n.e. 50%

(Sousa, 2010), verificamos que o final do Calcolítico 45% 44%

constitui o período que regista o mais elevado número 40%


de sítios arqueológicos em toda a Bacia Hidrográfica de 35%
Cheleiros, num total de 19 ocorrências. 30%
A fragmentação do povoamento em finais do 3.º 25%
22%
milénio parece verificar-se ao longo de toda a Estrema-
20%
dura. Contudo, apesar do número de sítios arqueológi- 17%
15%
cos ser elevado, são escassos os contextos escavados, o 11%
10%
que dificulta a nossa interpretação. 6%
5%
Contextos como os da Serra do Pipo parecem evi-
denciar que o conceito de “sítio arqueológico” é por 0%
topo esporão vertente vale planície
vezes limitativo: Pipo 1, Cabecinho da Capitôa 2, Sopé
GRÁFICO 1 Tipos de implantação dos povoados com campaniforme.
do Cabecinho da Capitôa e Quinta do Mato Grande são
vários habitats ou constituem núcleos dispersos de um Está documentada a presença de cerâmicas campani-
mesmo núcleo populacional? Idêntico raciocínio pode- formes em sítios de altura, alguns dos quais já ocupados
ríamos avançar para Negrais ou para os sítios de Mon- previamente como Alto do Montijo, Olelas ou Penedo do
santo, em Lisboa. Lexim. Além da continuidade de ocupações registam-
O modelo de sítios consubstanciado em Casal Cordeiro -se novas ocupações, como Cabeço de Palheiros, ou em
5, com núcleos dispersos, parece assim corresponder a sítios de esporão com boa visibilidade, como Anços.
uma tendência de povoamento, já prenunciada desde As implantações mais frequentes ocorrem em ver-
o Calcolítico pleno. Podemos ainda considerar a existên- tente, correspondendo a 44% do total de sítios da
cia de “clusters” de sítios, os quais podem corresponder Ribeira de Cheleiros. Em alguns casos não existe qual-
a unidades dispersas de um mesmo sítio arqueológico. quer dúvida do carácter intencional desta ocupação
A ausência de dados sobre a dimensão dos sítios aberta, em vertente, como sucede com o sítio de Casas
também tem de ser considerada na leitura da malha Velhas ou Negrais. A leitura geoarqueológica efectuada
de povoamento. Face a um aumento exponencial do para Cabeço de Palheiros 2, permitiu concluir que em
número de sítios entre o Calcolítico pleno e o final (de alguns dos casos, os contextos em vertente correspon-
5 para 18), as possibilidades de interpretação oscilam dem a um posicionamento secundário de sítios de topo
sempre nas linhas já apresentadas para a transição que foram fortemente erosionados. Este poderá ser o
Neolítico final / Calcolítico inicial: oscilações demográ- caso de Cabecinho da Capitôa 2 e eventualmente Sopé
ficas ou dimensão dos núcleos de povoamento. Apesar do Cabecinho da Capitôa, circunstância que poderá
do aumento em 180% do número de sítios, não temos diminui o número de sítios em vertente.
quaisquer dados que indiciem crescimento demo- A inexistência de estratégias de controlo de paisa-
gráfico em finais do Calcolítico. Por outro lado, face à gem encontra-se também documentada na presença
escassez de dados sobre a dimensão dos sítios, parece- de sítios em vales e em áreas de planície, como os sítios
-nos plausível conceber que se verificou uma redução de Gorcinhos e Casal Cordeiro 5. Parece registar-se uma
da dimensão dos povoados calcolíticos na segunda grande heterogeneidade ao nível das modalidades de
metade do 3.º milénio a.n.e., a avaliar pela contracção ocupação, contrastando com o panorama identificado
da área ocupada em povoados fortificados como Leceia para a primeira metade do 3.º milénio que está sempre
e Zambujal, na Estremadura, ou Porto das Carretas e associado a áreas de altura, com boa visibilidade.
São Pedro, no Alentejo.
O aumento do número de sítios e a sua dispersão são
globalmente homogéneos, surgindo em ambas as mar- 4. O MUNDO FUNERÁRIO
gens da Ribeira de Cheleiros (concelhos de Mafra e Sin- Desde as primeiras investigações que os contextos
tra). Comparativamente com as fases de ocupação da funerários constituem o eixo central para os modelos
primeira metade do 3.º milénio, regista-se uma maior interpretativos. No século 19, necrópoles como Palmela
densidade de sítios junto ao mar. Esta tendência surge (1876) a Ciempozuelos (1894) irão consubstanciar os pri-
um pouco por toda a Estremadura: os povoados forti- meiros grupos do calcolítico peninsular.
ficados usualmente situam-se sempre em área ligeira- A presença de cerâmicas campaniformes de carácter
mente recuada face à fachada atlântica, nunca a menos excepcional como as de São Pedro do Estoril e Fuente
de 5 km do mar. Olmedo, irão fundamentar uma imagem de “bem de
Em termos das modalidades de povoamento, regista- prestígio” em autores como David Clarke (1976). Também
-se uma diversidade de tipos de implantação. o denominado “pacote campaniforme” apenas surge

186 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
em poucas necrópoles, conhecendo-se quase um caso Acrescem os depósitos funerários pontuais presentes
por país: Casal do Pardo em Portugal, Fuente Olmedo no Penedo do Lexim (Sousa, 2010) e em Olelas (Serrão
em Espanha, Wallers em França, Lunteren na Holanda e Vicente, 1959).
e agora recentemente Amesbury no Reino Unido. A lei- Na Gruta artificial da Folha das Barradas não foi
tura da funcionalidade dos vasos campaniformes asso- recolhido qualquer material campaniforme. Parece
ciado a bebidas alcoólicas é inicialmente avançada por tratar-se de uma necrópole com utilização restrita no
Gordon Childe (1947), retomada por A. Sherratt (1987) e tempo e com um espólio reduzido, com um número res-
agora reavaliada face a análise de conteúdos em reci- trito 33 indivíduos (Boaventura, 2009, p. 296). Apesar de
pientes de necrópoles (Guerra Doce, 2005). tipologicamente surgirem alguns materiais que podem
A imagem do campaniforme associado a uma fase remeter para o 4.º milénio, a datação obtida indica a
de crescente desigualdade social, com circulação de primeira metade do 3.º milénio (Boaventura, 2009, p, 5
larga escala de bens de prestigio está assim estreita- Anexos) mas seria importante obter mais datações. Na
mente relacionada com o mundo funerário. área anexa a Cheleiros, outros monumentos hipogeicos
Esta leitura social e cultural tem vindo a ser com- apresentam usos campaniformes importantes como o
plementada com novas análises de caracter antropo- complexo megalítico da Praia das Maçãs, em área rela-
lógico: do vaso campaniforme a atenção desvia-se para tivamente próxima.
as populações portadoras do mesmo. Nos últimos anos, Apesar de existirem vários topónimos que denun-
vários estudos genéticos e isotópicos têm permitido ciam a presença de Antas na área da Ribeira de Che-
novas abordagens e propor alternativas interpretativas leiros, apenas se conhece um monumento ortostático:
sobre as populações campaniformes. São exemplo deste a anta de Pedras da Granja também conhecida por
facto o recente projecto do estudo do DNA das popula- Pedras Altas (Zbyszewski et al., 1977), Pedra Erguida,
ções do Neolítico ao Bronze, com análise de 100 amos- Pedras Brancas ou de Meirames (Serrão, 1982-83), e
tras associadas ao campaniforme (Olalde et al., 2017) ou Várzea (Cunha e Silva, 2000). Este monumento foi
os estudos de mobilidade e dieta, constituem importan- intervencionado sucessivamente por Cunha Serrão
tes elementos que podem indicar deslocação de popula- (1982-83) na década de 50 e pela equipa dos Serviços
ções (Vander Linden, 2012; Waterman et al., 2014). Geológicos de Portugal na década de 70 (Zbyszewski et
Estas abordagens macro não podem ser compreendi- al., 1977). Segundo a (re)leitura efectuada recentemente
das sem um estudo rigoroso das especificidades regio- por Rui Boaventura, o monumento apresentaria planta
nais. No caso das necrópoles da região de Lisboa, com poligonal de sete esteios (Boaventura, 2009, p. 177), não
um extenso historial de ocupação e com escavações existindo evidências da presença de corredor.
antigas será necessário proceder a uma rigorosa crí- Os estudos antropológicos apontam para um
tica das fontes e proceder a um programa sistemático número mínimo de apenas 16 indivíduos, embora a
de datações, como foi realizado para as Grutas de Poço dispersão de materiais e o “desaparecimento” de algu-
Velho e Porto Côvo em Cascais (Gonçalves, 2008; 2009) mas peças coloque este universo subavaliado. Este
ou para as antas da região de Lisboa (Boaventura, 2009). monumento foi datado (Boaventura, 2009), incluindo
Com a presença quase exclusiva em necrópoles evidências de uma utilização da primeira metade do
megalíticas preexistentes e com um longo historial de 3.º milénio: Beta-225171: 2860-2470 cal BC 2 s (Boaven-
pesquisas, a recuperação das conexões resulta muito tura, 2009, p. 4, volume 2). Apesar das lacunas do registo
complexa, por isso as principais propostas teóricas estratigráfico e da dispersão do espólio, pode-se avançar
para o actual território português centram-se em povo- com uma cronologia de construção ainda na segunda
ados: Rotura (Gonçalves, 1971; Soares e Silva, 1974-76), metade do 4.º milénio e uma utilização no 3.º milénio
Leceia (Cardoso e Soares, 1990; Cardoso, 2014); Zambujal provavelmente até “ao terceiro quartel do 3.º milénio”
(Kunst, 1987, 2001) ou Porto das Carretas (Soares, 2013). (Boaventura, 2009, p. 183), registando-se a ausência de
No caso da área da Ribeira de Cheleiros, parece existir campaniforme inciso ou de motivos geométricos.
um vazio de necrópoles que contrasta com uma maior Também o uso de cavidades naturais como espaço
densidade a Sul (Sintra) e a Este (Loures, Odivelas), onde sepulcral é muito limitado na área de Cheleiros. Apesar
surgem abundantes necrópoles, quase sempre com da Estremadura apresentar um substrato geológico cal-
campaniforme. cário que permitiu o surgimento de inúmeras cavida-
Apenas se identificaram até ao momento três espa- des cársicas, sobretudo na área do Maciço Calcário, são
ços sepulcrais localizados na área da Ribeira de Chelei- escassas as cavidades conhecidas na área de Cheleiros,
ros. Apesar do conjunto ser muito reduzido, cobre quase limitando-se a Olelas e a abrigos no Lisandro e no Lexim.
toda a diversidade sepulcral que se regista no 3.º milé- A existência de cavidades cársicas no vale da Calada,
nio: grutas artificiais (Folha das Barradas), grutas natu- junto a Olelas, já é conhecida desde o século passado
rais (Serra de Olelas e Lisandro), anta (Pedras da Granja). devido aos trabalhos de Carlos Ribeiro. Desde essa

ANA CATARINA SOUSA  RITMOS DE POVOAMENTO E CERÂMICA CAMPANIFORME NA ÁREA DA RIBEIRA DE CHELEIROS (MAFRA E SINTRA, LISBOA) 187
época, apenas se fizeram breves incursões nas grutas, dos importantes contextos campaniformes em cavi-
revendo-se os materiais arqueológicos recolhidos no dades designadas por Lizandro 1 (CNS 37044): “Abrigos
século XIX (Correia, 1914; Nogueira, 1933; Ferreira, 1977). com vestígios de inumações associados a espólio cerâ-
Em Olelas, o substrato geológico calcário e a presença mico e lítico, nomeadamente cerâmica campaniforme
de cavidades cársicas, forneceu um espaço sepulcral e botões em osso” (Portal do Arqueólogo, Sistema de
natural para inumação. A relação povoado fortificado Informação Endovélico). Estas necrópoles situam-se em
– gruta natural é frequente em vários povoados forti- área relativamente próxima de Casal Cordeiro 5 (5 km).
ficados (Columbeira, Pragança e mesmo Leceia), mas o Os dados recentemente identificados no vale do
significado do uso desses espaços funerários é distinto Lisandro evidenciam que o vazio de necrópoles na área
da construção de monumentos megalíticos, até porque, de Cheleiros poderá ser efeito de uma deficiente visi-
em todos os casos, é escassa a informação do tipo de bilidade dos contextos sepulcrais e que ainda existe a
utilização funerária a nível das práticas rituais e do seu possibilidade de recentrar a análise dos povoados para
enquadramento cronológico. as necrópoles também na área da Ribeira de Cheleiros.
No vale da Calada, conhecem-se três grutas: Cova
da Raposa, gruta com dupla abertura com um con-
junto de galerias e corredores nos quais foram reco- 5. CRONOLOGIA E CAMPANIFORMES:
lhidos materiais dispersos incluindo pedra lascada, UMA PERSPECTIVA TERRITORIAL
afeiçoada, cerâmica lisa e campaniforme (taça tipo Apesar do presente artigo incluir num mesmo bloco
Palmela), elementos de adorno (contas de pedra verde todos os sítios com campaniforme, é inegável a existên-
e botão com perfil em V) e fauna; Cova do Beguino, cia de diferentes dinâmicas e de um faseamento mais
pequena gruta, muito estreita com materiais seme- fino. Desde o aparecimento das primeiras cerâmicas
lhantes aos da Cova da Raposa, mas também com campaniformes, ainda em meados do 3.º milénio, até
cerâmica impressa e incisa de tradição antiga; Gruta à generalização das cerâmicas campaniformes incisas,
do Arco, cavidade de corredores sinuosos, explorada na charneira para a Idade do Bronze existem grandes
muito parcialmente por Carlos Ribeiro. Rui Boaven- mudanças sociais, culturais e económicas.
tura e João Luís Cardoso referem em nota de rodapé A questão é frequentemente colocada na definição
de estudo dedicado ao Carlos Ribeiro “O estudo que da filogenia dos chamados grupos ou estilos decorativos
se espera dar à estampa em breve, concluiu que as (Gonçalves, 1971; Soares e Silva, 1974-77; Cardoso, 2014).
grutas de Cova da Raposa e Cova Grande serão uma Em Cheleiros, o campaniforme marítimo é clara-
mesma realidade” (Boaventura e Cardoso, 2014, p. 42). mente minoritário, em termos do número total de
Recentemente foram identificados contextos cam- sítios e da sua representatividade nos conjuntos. Ape-
paniformes na margem norte do Rio Lisandro, junto nas se encontram fragmentos de campaniforme marí-
à praia. Já Félix Alves Pereira refere a presença de uso timo em 7 dos 19 sítios. Na generalidade dos casos,
destes abrigos (Pereira, 1914) mas os materiais depo- trata-se de sítios que apresentam ocupações do Calco-
sitados no Museu Nacional de Arqueologia (chamada lítico pleno, como Olelas, Casal Cordeiro 5 ou Penedo
Furna das Amoreiras), são de cronologia recente. Em do Lexim. Noutros casos o campaniforme marítimo é
2017, no decurso de trabalhos de arqueologia preven- já inciso, mais tardio, surgindo em sítios sem ocupação
tiva dirigidos por Alexandra Valente foram identifica- prévia, como em Cabecinho da Capitôa 2, Sopé do Cabe-
cinho da Capitôa e Gorcinhos. O carácter restrito da cir-
culação destas cerâmicas encontra-se evidenciado pela
sua distribuição na área geográfica da Ribeira de Che-
leiros. Das oito unidades de povoamento identificadas,
apenas quatro registaram a presença de campaniforme
marítimo (impresso ou inciso).
O posicionamento das cerâmicas campaniformes
marítimas nos níveis de abandono dos povoados for-
tificados, circunstância documentada para quase todos
os sítios, dificulta a sua definição arqueométrica e con-
textual clara. Neste sentido, a datação de contextos
fechados como os do Lisandro reveste-se de especial
importância, prevendo-se o desenvolvimento desta
linha de investigação para futuros projectos.
FIG. 23 Vale da Calada, Olelas, onde se localizam as cavidades com É ainda pouco claro o papel que as fortificações
uso funerário. teriam exercido na fase final do Calcolítico�����������
e em arti-

188 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
culação com o campaniforme, uma vez que os dados A questão da ausência de cerâmica campaniforme no
obtidos para sítios de referência como Leceia e Zambu- Penedo do Lexim e da proximidade do sítio de Anços, loca-
jal são contraditórios. lizado a menos de 1 km, reveste-se de particular interesse.
Na Estremadura apenas no Penedo do Lexim, Outeiro Ainda que na última campanha de escavações realizada
Redondo e Columbeira não registam a presença de se tenham recuperado três fragmentos com decoração
campaniforme apesar de estar documentada cronome- campaniforme, essa presença não é significativa, sendo
tricamente a ocupação até finais do 3.º quartel do 3.º certo que os habitantes deste povoado não a incorpora-
milénio nos dois primeiros sítios. ram no seu reportório artefactual. Esta ausência pode
Podemos considerar duas perspectivas que se interli- ser interpretada face a um abandono prematuro do sítio,
gam: cronologia absoluta e relativa. mas algumas das datações absolutas obtidas são com-
Em relação a Leceia, é referido sistematicamente que paráveis a contextos congéneres com campaniforme.
o campaniforme surge numa fase tardia do sítio, quando Existem indubitavelmente contextos datados numa cro-
a fortificação se encontra já em ruínas: “a presença cam- nologia avançada no Calcolítico final, nomeadamente a
paniforme, na área intramuros, se verificou numa altura datação associada ao campaniforme. Para compreender
em que todo o dispositivo defensivo se encontrava já fran- esta dualidade, será absolutamente necessário proceder
camente degradado e mesmo, nalguns casos, totalmente a trabalhos de escavação e datação absoluta em Anços.
arrasado” (Cardoso, 1997/1998, p. 90). O campaniforme Fora do entorno imediato do Penedo do Lexim,
detectado na área central do povoado é maioritaria- encontramos contextos com campaniforme, na mesma
mente marítimo (em 52 peças, 24 são de estilo marítimo). cronologia. Em Casal Cordeiro 5 (Ericeira), surge, em
Além desta ocupação “central”, regista-se ainda um associação directa, campaniforme e folha de acácia,
contexto extra-muralhas, onde surge uma maior diver- com coincidência da cronologia absoluta nos dois sítios.
sidade dos padrões decorativos e formais, com exem- Se considerarmos o campaniforme marítimo como um
plares decorados com pontilhado geométrico e inciso. bem de prestígio, resulta pouco compreensível que
Esta integração estratigráfica geral do sítio está con- surja em sítios abertos como Casal Cordeiro 5 e estejam
tudo em contradição com as datações antigas obtidas ausentes de um sítio tão marcante paisagisticamente
para as duas cabanas exteriores que fazem recuar a como Penedo do Lexim.
emergência do campaniforme quase à fase 2 de Leceia: A questão dos estilos ou grupos domina o estudo do
“The results of the three dates obtained are consistent campaniforme desde o inicio das pesquisas. Contudo,
with each other and prove that the chronology of the escasseiam os contextos datados que possam esclare-
Beaker FM hut, and consequently its content dated cer as relações entre os vários grupos por isso actual-
from the 2nd quarter of the 3rd millennium BC, prior mente existem autores como Carlos Tavares da Silva e
to the chronology of the Beaker presence inside the Joaquina Soares que continuam a adoptar o campani-
fortification.” (Cardoso, 2014b, p. 61). Vários autores têm forme trifásico (marítimo, palmela, inciso) na Estrema-
questionado a antiguidade das datações quer ao nível dura (Soares, 2013) e outros que consideram mecanis-
da interpretação do sítio quer num quadro geral do mos de circulação diferenciados num mesmo espaço
campaniforme ibérico (Soares e Silva, 2010, p. 208-209). temporal (Cardoso, 2015).
Sendo as datações “absolutas”, será necessário ampliar Os sítios da Ribeira de Cheleiros que apresentam
o leque de datações a outros contextos, domésticos ou decorações campaniformes ponteadas com motivos
funerários, para poder admitir uma tal antiguidade e geométricos são claramente superiores aos sítios com
a inexistência de qualquer faseamento estilístico no marítimo, ascendendo a 12 ocorrências. Exceptuando
campaniforme de Lisboa. Penedo do Lexim, todos os sítios que apresentavam a
No Zambujal, pelo contrário, as datas obtidas apontam presença de campaniformes marítimos registam tam-
para uma introdução antiga do campaniforme (marí- bém grupo decorativo ponteado geométrico, surgindo
timo) na história do sítio, com uma distribuição sectorial, ainda em novos sítios como Gorcinhos, Funchal, Sopé
não generalizada ao conjunto do povoado e em associa- do Cabecinho da Capitôa, Quinta dos Loureiros, Odri-
ção à prática metalúrgica (Kunst, 2001). No caso de Zam- nhas, Casas Velhas, Negrais ou Alto do Montijo. Com
bujal, apenas estão publicados sistematicamente os cam- este grupo decorativo verifica-se, uma fase de “explo-
paniformes marítimos (Kunst, 1987), desconhecendo-se a são” do número de sítios, dispersos por todo o territó-
quantificação de campaniformes geométricos e incisos, rio. Das unidades de povoamento identificadas, ape-
com a respectiva inserção no faseamento do sítio. As nas uma não apresenta qualquer sítio com cerâmicas
novas datações obtidas para o Zambujal, com amos- campaniformes decoradas com motivos geométricos
tras de vida curta, evidenciam um rejuvenescimento da ponteados: trata-se justamente da área da Ribeira da
sequência (Kunst, 2010), colocando o campaniforme nos Mata / Tostões, unidade de paisagem onde se enquadra
finais da primeira metade do 3.º milénio. Penedo do Lexim. Os dados disponíveis parecem indi-

ANA CATARINA SOUSA  RITMOS DE POVOAMENTO E CERÂMICA CAMPANIFORME NA ÁREA DA RIBEIRA DE CHELEIROS (MAFRA E SINTRA, LISBOA) 189
MARÍTIMO PONTEADO
MARÍTIMO INCISO CORDADO INCISO
SÍTIO DE HABITAT IMPRESSO GEOMÉTRICO TOTAL
N.º % N.º % N.º % N.º % N.º %
Quinta dos Loureiros 2 29% 3 43% 2 29% 7
Casal Cordeiro 5 2 11% 1 5% 16 84% 19
Casal Romeirão 0 0% 0 0% 1 100% 1
Casas Velhas 3 5% 19 30% 41 65% 63
Gorcinhos 0 0% 18 29% 44 71% 62
Cabeço dos Palheiros 2 0 0% 0 0% 1 100% 1
Cabecinho da Capitôa 2 5 31% 2 13% 9 56% 16
Sopé Cabecinho da Capitôa 1 4% 4 15% 22 81% 27
Pinhal Quinta Mato Grande 0 0% 0 0% 8 100% 8
Penedo do Lexim 3 100% 0 0% 0 0% 3
Funchal 0 0% 1 3% 29 97% 30
Odrinhas 0 0% 0 0% 5 100% 5
Anços 1 3% 1 3% 16 42% 1 3% 19 50% 38
Negrais 0 0% 6 3% 177 97% 183
Alto do Montijo 1 1% 13 13% 1 1% 89 86% 104
Olelas 8 16% 8 16% 34 68% 50

TABELA 6 Presença de cerâmica campaniforme nos povoados da Ribeira de Cheleiros.

car que a ausência de cerâmica campaniforme que se niforme inciso domina em quase todos os conjuntos.
regista no Penedo do Lexim é comum a toda a unidade Como estes conjuntos são praticamente todos descon-
de paisagem onde este povoado se insere. textualizados, não podemos compreender se se trata de
Deve ainda registar-se a possível presença de três ocupações sobrepostas ou se efectivamente estes três
fragmentos de cerâmica com decoração cordada. A pre- grupos decorativos eram usados em simultâneo.
sença desta cerâmica em Olelas e Alto do Montijo foi O conjunto de Casal Cordeiro 5, onde estão presen-
destacada por R. Harrison (Harrison, 1977). No entanto, tes todos os estilos decorativos num mesmo estrato,
em texto de síntese sobre a problemática da cerâmica parece corroborar a leitura de Leceia, no que se refere
campaniforme cordada no território português, Susana à coexistência dos estilos decorativos (Cardoso, 2015).
Oliveira Jorge (Jorge, 2002) apenas considera a sua Será necessário datar contextos fechados apenas com
presença em Porto Torrão (Arnaud, 1993) e no Castelo cerâmica campaniforme marítima para poder compre-
Velho (Jorge, 2002). Recentemente foi recolhido um ender melhor a génese do processo e a sua rápida difu-
fragmento de cerâmica cordada no recinto de fossos da são por este território.
Forca, Maia (Bettencourt, 2011). Será necessário proce-
der a um estudo de pormenor dos exemplares de Sintra
(Anços, Olelas, Alto do Montijo) pois a sua classificação 6. RUPTURA E CONTINUIDADE
carece de maior rigor, não se enquadrando nas decora- A leitura de um território, de tempo longo, permite
ções comuns da cerâmica cordada. colocar em perspectiva a mudança e a continuidade
A disseminação do povoamento culmina no final do com a emergência da cerâmica campaniforme.
Calcolítico, com a presença de numerosas ocorrências A ruptura está patente nos modelos de povoamento,
de sítios com campaniforme inciso (17). Apenas em dois economia e tecnologias.
sítios ocorre a presença de campaniforme inciso sem Ao nível do modelo de povoamento, a primeira
outros estilos decorativos: Cabeço de Palheiros 2 e Casal metade do 3.º milénio a.n.e., evidencia uma concen-
Romeirão. Para a generalidade dos sítios verifica-se um tração em maiores núcleos populacionais e uma maior
processo contínuo de ocupação, ainda que não seja pos- preocupação com a defensabilidade. A segunda metade
sível compreender se estes locais foram habitados em do 3.º milénio regista uma fragmentação do povoa-
permanência na segunda metade do 3.º milénio. mento em núcleos de menor dimensão e sem quaisquer
A quantificação relativa dos vários tipos de campa- estratégias defensivas.
niforme parece ainda indicar que, paralelamente ao Muitos habitats com campaniforme têm uma ocu-
processo de expansão territorial, ocorre a generalização pação sequência Neolítico final -Calcolítico final com
do campaniforme inciso tipo de cerâmica nas comu- campaniforme, com aparente abandono durante a pri-
nidades calcolíticas. Em termos absolutos, o campa- meira metade do 3.º milénio (Sousa, 1998). Registamos

190 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
essa situação em Negrais, Anços, Funchal, Casas Velhas, dância de sítios com campaniforme um indicador da
Penedo da Cortegaça mas também em outros sítios da origem estremenha para o Campaniforme?
Península de Lisboa, como Parede (cf. Gonçalves et al., Algo está a mudar em meados do 3.º milénio. E não é
este volume), Carrascal (Cardoso et al., 2015) ou os sítios apenas a decoração da cerâmica mas uma teia imbrin-
de Monsanto. Como a maior parte dos sítios apenas se cada de comportamentos sociais, tecnologias, sagrado.
conhece através dos materiais de superfície, a interpre- Sabemos também que existem grande mobilidade
tação estratigráfica é limitada. O sítio do Carrascal (Oei- entre estas comunidades, como evidencia o arqueiro de
ras) constitui um dos escassos sítios com escavações Amesbury e outros viajantes. Possivelmente a questão
recentes, podendo dar alguma informação sobre este interna e as aportações externas não são propostas que
faseamento. Neste sítio, a fase campaniforme é muito se auto excluem.
restrita, surgindo campaniforme inciso nos estratos A profusão de sítios com campaniforme na Baixa
superiores de abandono, directamente sobre a camada Estremadura necessita também de ser compreendida
do Neolítico final, estando ausentes as cerâmicas do com uma cronologia mais fina. A falta de datações
grupo folha de acácia (Cardoso et al., 2015, p. 155). absolutas está a compactar uma realidade que é prova-
A ruptura com o modelo anterior está também bem velmente de longa duração.
evidenciada noutras esferas do registo arqueológico, Depois de mais de um século a debater a origem do
nomeadamente na cultura material. Em termos tec- campaniforme, a questão está longe de estar resolvida.
nológicos, podemos registar uma continuidade Neolí- A área da Ribeira de Cheleiros evidencia a complexi-
tico final – Calcolítico inicial – Calcolítico pleno, mas na dade do tema, quer ao nível da tafonomia dos sítios
indústria de pedra lascada e cerâmica parecem existir quer ao nível da dificuldade em obter cronologias. E
grandes diferenças na segunda metade do 3.º milénio. também mostra caminhos para desenvolver futuras
As indústrias líticas são particularmente importan- pesquisas, com estudos sistemáticos de tecnologias,
tes neste âmbito, uma vez que correspondem a uma padrões decorativos, crono-estratigrafias associadas a
evidência da cultura material que, genericamente, leituras de paisagem, paleoeconomia, práticas funerá-
apresenta um maior tradicionalismo. Comparando as rias, mobilidade.
indústrias líticas dos sítios com campaniforme com os Mafra, texto revisto em Setembro de 2017
conjuntos do Penedo do Lexim, são claras as diferenças:
as grandes peças foliáceas estão praticamente ausentes,
o número de lascas é superior aos suportes alongados REFERÊNCIAS BIBLIOG RÁFICAS
suportes, o número de projécteis é reduzido e regista- ARNAUD, J. M.; OLIVEIRA, V. S.; JORGE, V. O. (1971) – O povoado
-se a abundante presença de denticulados com claros fortificado neo e eneolítico do Penedo do Lexim (Mafra): campanha
preliminar de escavações (1970). O Arqueólogo Português. Lisboa.
sinais de lustre de cereal. Em relação às cerâmicas, para
S.3:5 (1971) 97-132.
além das notórias diferenças ao nível dos padrões deco-
ARNAUD, J. M. (1974-77) – Escavações no Penedo do Lexim (Mafra) 1975:
rativos, com a presença dominante das gramáticas cam- notícia preliminar. O Arqueólogo Português. Lisboa. S.3:8-9 (1974-77)
paniformes, as diferenças registam-se ainda a nível das 398-406.
pastas, mais depuradas, mas com escassos tratamentos ARNAUD, J. M. (1993) – O povoado calcolítico de Porto Torrão (Ferreira
de superfície, engobes ou espatulamentos, abundantes do Alentejo): síntese das investigações realizadas. Vipasca. Aljustrel.
1 (1993) 41-60.
nas cerâmicas do Calcolítico inicial e pleno, dominando
BETTENCOURT, A.M.S. (2011) - El vaso campaniforme en el norte
as cerâmicas de cozedura oxidantes. Nas formas, existe
de Portugal. Contextos, cronologías y significados. In PRIETO-
uma continuidade, permanecendo conjuntos de morfo- -MARTÍNEZ, M. P. E SALANOVA, L. (eds.) - Las comunidades
logia simples, baseados na calote de esfera. campaniformes en Galicia. Cambios sociales en el III y II milénios
A ausência de conjuntos faunísticos estudados entre BC en el NW de la Península Ibérica. Pontevedra: Diputación de
os sítios com campaniforme dificulta a leitura paleoe- Pontevedra, p. 363-374.
BOAVENTURA, R. (2009) – As antas e o Megalitismo da região de Lisboa.
conómica, mas a diversidade de ecossistemas onde se
Lisboa: [s.n.], 2009. Tese de doutoramento apresentada à Faculdade
implanta esta malha de povoamento parece indicar a de Letras de Lisboa. 2 vol. Policopiado.
heterogeneidade de recursos explorados. BOAVENTURA, R.; CARDOSO, J. L. (2014) – Carlos Ribeiro (1813-1882)
Por outro lado, a continuidade é evidente quer nas e as antas de Belas: um contributo para a História da Ciência em
gramáticas decorativas de alguns componentes (Kunst, Portugal no século XIX. Estudos Arqueológicos de Oeiras, 21, p. 35-80.
1996) quer no uso em continuidade de espaços domés- CARDOSO, J. L. (2014) – Absolute chronology of the Beaker phenomenon
North of the Tagus estuary: demographic and social implications.
ticos e necrópoles, mesmo espaços de menor visibili-
In Trabajos de Prehistoria. Madrid. Vol. 71, N.º 1, p. 56-75.
dade como as grutas artificiais (Gonçalves, 2003).
CARDOSO, J. L.; LEITÃO, M.; FERREIRA, O. da Veiga; NORTH, C. T.; NORTON,
De Castillo a Sangmeister, a questão de partida é J.; MEDEIROS, J.; SOUSA, P. F. (1996b) – O monumento pré-histórico
sempre a mesma: qual a origem do campaniforme? de Tituaria, Moinhos da Casela (Mafra). Estudos Arqueológicos de
De Palmela ao Zambujal, a dúvida permanece: é a abun- Oeiras. Oeiras. 6 (1996) 135-195.

ANA CATARINA SOUSA  RITMOS DE POVOAMENTO E CERÂMICA CAMPANIFORME NA ÁREA DA RIBEIRA DE CHELEIROS (MAFRA E SINTRA, LISBOA) 191
CARDOSO, J. L. (1997-1998) – A ocupação campaniforme do povoado GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C. (in print) – The shadows of the rivers
pré-histórico de Leceia (Oeiras). Estudos Arqueológicos de Oeiras. and the colours of copper. Some reflections on the chalcolithic
Oeiras. 7, p. 89-153. farm of Cabeço Do Pé Da Erra (Coruche, Portugal) and its resources.
CARDOSO, J. L. (2010/2011) – “O povoado calcolítico da Penha Verde In BARTELHEIM,. M.; BUENO, P. (eds.) – Key Resources and Socio-
(Sintra)”. Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras, 18, p. 467-551. cultural Developments in the Iberian Chalcolithic.
CARDOSO, J. L.; SOARES, A. M. M.; MARTINS, J. M. M. (2010-2011) – HARRISON, R. J. (1977) – The Bell Beaker Cultures of Spain and Portugal.
Fases de ocupação e cronologia absoluta da fortificação calcolítica Cambridge, Mass.: Peabody Museum.
do Outeiro Redondo (Sesimbra). Estudos Arqueológicos de Oeiras. HARRISON, R.J. (1977) - The bell beaker cultures of Spain and Portugal.
Oeiras. 18, p. 553-578. Cambridge: Peabody Museum, Harvard University. 257 Harvard
CARDOSO, J. L.; CARREIRA, J. L. (1996) – Materiais campaniformes e da University (Bulletin 35).
Idade do Bronze do concelho de Sintra. In Estudos Arqueológicos de JORGE, S. O. (2002) – Um vaso campaniforme cordado no Norte de
Oeiras, 6. Oeiras, p. 263-276. Portugal: Castelo Velho de Freixo de Numão (V. N. de Foz Côa).
CARNEIRO, Ângela (1991) - Contribuição para o estudo do Calcolítico Revista da Faculdade de Letras. Porto: Faculdade de Letras da
e do Bronze Final na região de Sintra. In Actas das 4.as Jornadas Universidade do Porto, 1, pp. 27-50.
Arqueológicas, Lisboa, 1990. Lisboa: Associação dos Arqueólogos KUNST, M. (1987) – Bell Beakers sherds in Zambujal. In WALDREN, W. H.;
Portugueses, p. 227-236. KENNARD, R. C. (ed.) – Bell beakers of the Western Mediterranean:
CARREIRA, Júlio Roque e LOPES, Fernando Pina (1994) – A ocupação definition, interpretation, theory and new site data: the Oxford
préhistórica de Casas Velhas (Mafra). In Actas das 5.as Jornadas international conference, 1986. Oxford: B.A.R. (BAR. International
Arqueológicas, Lisboa, 1993. Lisboa: Associação dos Arqueólogos series. 331). 2. p. 591-601.
Portugueses, vol. 2, p. 137-146. KUNST, M. (1987) – Zambujal. Glockenbecherund kerblattverzierte
CASTILLO, A. (1929) - La cultura del vaso campaniforme. Su origen Keramik aus den Grabungen 1964 bis 1973. Mainz am Rhein: Verlag
y extensión en Europa. Facultad de Filosofía y Letras. Barcelona. Philipp von Zabern (Madrider Beiträge 5, Zambujal Teil 2).
CHILDE, V. G. (1930) – “The Origin of the Bell-Beaker”. Man XXX: 200-201. KUNST, M. (2001) – Invasion? Fashion? Social Rank? Consideration
CORREIA, V. (1914) – II Uma volta pelas serras da Olela. O Archéologo concerning the Bell Beaker phenomenon in Copper Age
Português. Lisboa. 19 (1914) 205-209. fortifications of the Iberian Penninsula. In NICOLIS, F. (ed. lit.) –
DAVIS, S. J.; SIMÕES, T. (2016): The velocity of ovis in prehistoric times: Bell Beakers today: pottery, people, culture, symbols in prehistoric
the sheep bones from early Neolithic Lameiras, Sintra, Portugal. In Europe: proceedings of the of the International Colloquium Riva del
DINIZ, M.; NEVES, C.; FALTA TEXTO??? Guarda, Trento. Trento: Servizio Beni Culturali, 2001. p. 81-90.
FERREIRA, O. V. (1966) – La culture du vase campaniforme au Portugal. KUNST, M. (2005) – Bell Beakers in Portugal: A short summary. ROJO
Lisboa: Serviços Geológicos de Portugal. GUERRA, M.; GARRIDO PENA, R.; Garcia Martínez de Lagrán, I. (eds.)
FERREIRA, O. da V., NORTH, C. T., NORTON, J., LEITÃO, M; ZBYSZEWSKI, – (2005) – El Campaniforme en Ia Peninsula lberica y su contexto
G. (1977) – Le monument de “Pedras da Granja” ou de “Pedras Altas” europeo. Valladolid: Universidad de VaJiadolid, Secretariado de
dans la “ Várzea de Sintra”. In Ciências da Terra. Lisboa. 3, p. 197-239. Publicaciones e Intercambio Editorial. p. 197-212.
FRANÇA, J. C; FERREIRA, O. da V. (1951) – A estação préhistórica do LÓPEZ DORIGA, I. L. & SIMÕES, T. (2015) – Los cultivos del Neolítico
Alto do Montijo (Sintra). In Trabalhos da Sociedade Portuguesa de Antiguo de Sintra: Lapiás das Lameiras y São Pedro de Canaferrim:
Antropologia e Etnologia. Porto. 13:12, p. 34-45. resultados preliminares. In GONÇALVES, V. S.; DINIZ, M.; SOUSA,
GARRIDO PENA, R. (2007) – El fenómeno campaniforme: un siglo A. C. (eds.) – Actas do 5.º Congresso do Neolítico Peninsular. Lisboa:
de debates sobre un enigma sin resolver. CACHO, C.; MAICAS, R.; UNIARQ, p. 98-107.
MARTÍNEZ, M. I.; MARTOS, J. A. (coords.) – Acercándonos al pasado: MIRANDA, M. (2006) – Fauna malacológica de Casal Cordeiro 5. Anexo ao
Prehistoria en 4 actos. Madrid: Museo Arqueológico Nacional. P. 1-16. Relatório de Trabalhos Arqueológicos apresentado ao IGESPAR, IP.
GONÇALVES, V. S. (1971) – O Castro da Rotura e o Vaso Campaniforme. MIRANDA, M. (2006) – O material osteológico humano do Penedo do
Setúbal: Assembleia Distrital de Setúbal. 271 p. Lexim: Locus 3/3b e o Locus 6. Boletim Cultural. Mafra. (2006) 334-359.
GONÇALVES, V. S. (2003) – Sítios, «Horizontes» e artefactos. Estudos MIRANDA, M. (2007b) – Relatório Final Pinhal da Quinta do Mato
sobre o 3.º milénio no Centro e Sul de Portugal. 2.ª edição revista Grande (Mafra). Mafra: Câmara Municipal, 2007. Relatório de
e aumentada com dois novos textos. Câmara Municipal de Trabalhos Arqueológicos apresentado ao IGESPAR.
Cascais. MIRANDA, M.; SOUSA, A. C. (2006) – Pinhal da Quinta da Mata Grande
GONÇALVES, V. S. (2008) – As ocupações pré-históricas das furnas do (Igreja Nova). Relatório de Trabalhos Arqueológicos apresentado ao
Poço Velho (Cascais). Cascais: Câmara Municipal de Cascais. IGESPAR, IP.
GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C. (2006) – Algumas breves reflexões MÜLLER, J.; HINZ, M.; ULLRICH, M. (2015) – Bell Beakers – Chronology,
sobre quatro datas 14c para o Castro da Rotura e o 3.º milénio nas Innovation and Memory: A Multivariate Approach. PRIETO
Penínsulas de Lisboa e Setúbal. O Arqueólogo Português. Lisboa. MARTÍNEZ, M. P.; SALANOVA, L. (eds.) (2015) – The Bell Beaker
S.4:24 (2007) 233-266. Transition in Europe: Mobility and Local Evolution During the
GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C.: ANDRADE, M. A. (2017) – O Barranco 3rd Millennium BC. Oxford & Philadephia: Oxbow Books. p. 57-68.
do Farinheiro e a presença campaniforme na margem esquerda NOGUEIRA, A. M. (1933) – Estação pré-histórica de Olelas (Elementos
do Tejo. In GONÇALVES, V. S. – Sinos e taças. Junto ao Oceano e mais para o seu estudo). Lisboa: [s.n.], 1933. (Lisboa: Instituto Superior de
longe. Aspectos da presença campaniforme na Península Ibérica. Ciências).
Lisboa: UNIARQ. Colecção Estudos e Memórias. RIBEIRO, C. (1878) – Estudos prehistóricos em Portugal: II: monumentos
GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C.: ANDRADE, M. A.; PEREIRA, A. F. megalíticos da visinhanças de Bellas. Lisboa: Academia Real das
(2017) – Entre a Foz e a Serra: apontamentos sobre a cerâmica Ciências de Lisboa, 1878. 86 p.
campaniforme do povoado pré-histórico da Parede (Cascais). SALANOVA, L. (2000) – Mécanismes de diffusion des vases
In GONÇALVES, V. S – Sinos e taças. Junto ao Oceano e mais longe. campaniformes: les liens franco-portugais. 3.º Congresso de
Aspectos da presença campaniforme na Península Ibérica. Lisboa: Arqueologia Peninsular (Vila Real, 1999). Actas. Porto: ADECAP.
UNIARQ. Colecção Estudos e Memórias. 4, p. 399-409.

192 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
SALANOVA, L., (2000) – Mécanismes de diffusion des vases SOUSA, A. C.; INÁCIO, I. (2006a) – Relatório final Serra do Pipo 1
campaniformes: les liens franco-portugais, in Actas do 3.º Congresso (Igreja Nova). Mafra: Câmara Municipal, 2006. Relatório policopiado
de Arqueologia Peninsular (Vila Real,Portugal, setembro de 1999), entregue ao IGESPAR.
vol. 4: Pré-história recente da Península ibérica (ed. V. O. Jorge), SOUSA, A. C.; SILVA, A. M.; PEREIRA, C. (2007) – Relatório Final Sopé do
399–409, ADECAP, Porto. Cabecinho da Capitôa (Mafra). Mafra: Câmara Municipal, 2007.
SANGMEISTER, E. (1976) – Das Verhaltnis der Glockenbecherkultir Relatório policopiado entregue ao IGESPAR.
zu den einheimischen Kulturen der Iberishen Halbinsel. SOUSA, A. C. (1998) – O Neolítico final e o Calcolítico na área da Ribeira
Glockenbeckersymposion Oberried 1974. Bussum: p. 423-438. de Cheleiros. (Trabalhos de Arqueologia 11). Lisboa: Instituto
SHERRATT, A. (1987) –“Cups that Cheered”. In W.H. Waldren; R.C. Português de Arqueologia, 275 p.
Kennard (eds.) – Bell Beakers of the Western Mediterranean. SOUSA, A. C. (2008) – Arqueologia na A21: uma análise preliminar dos
Definition, interpretation and data. The Oxford international trabalhos arqueológicos 2004-2007. Boletim Cultural. Mafra. (2008)
Conference 1986. BAR 331. Oxford: 81-114 411-497.
SERRÃO, E. C.; VICENTE, E. P. (1958) – O castro eneolítico de Olelas: SOUSA, A. C. (2010) – O Penedo do Lexim e a sequência do neolítico
primeiras escavações. Comunicações dos Serviços Geológicos de final e calcolítico da Península de Lisboa. Tese de doutoramento
Portugal. Lisboa. 40 (1958) 87-125. apresentada à Universidade de Lisboa. 
SERRÃO, E. C.; VICENTE, E. P. (1959) – O castro eneolítico de Olelas - os SOUSA, A. C. (2013) – Casal Cordeiro 5 e o povoamento (com)
monumentos n.º 1 e n.º 2. In Congresso Nacional de Arqueologia, campaniforme na área da Ribeira de Cheleiros. In ARNAUD, J;
1, Lisboa, 1958 - Actas e memórias do I Congresso Nacional de MARTINS, A.; NEVES, C. – Arqueologia em Portugal. 150 Anos (Actas
Arqueologia realizado... Lisboa: Instituto de Alta Cultura, 1959. Vol. 1, do Congresso, Novembro de 2012). Lisboa, Associação de Arqueólogos
p. 299-316. Portugueses, p. 469-480.
SERRÃO, E. C.; VICENTE, E. P. (1959a) – Escavações em Sesimbra, SOUSA, A. C.; MIRANDA, M. (2006) – Relatório Final Casal Cordeiro 5
Parede e Olelas: métodos empregados. In Congresso Nacional (Ericeira). Mafra: Câmara Municipal. Relatório policopiado entregue
de Arqueologia, 1, Lisboa, 1958 - Actas e memórias do I Congresso ao IGESPAR.
Nacional de Arqueologia realizado... Lisboa: Instituto de Alta Cultura, SOUSA, A. C.; MIRANDA, M.; FERNANDES, C. (2006) – Relatório Final
1959. p. 317-335. Sopé do Cabecinho da Capitôa (Mafra). Mafra: Câmara Municipal.
SERRÃO, E. C. (1979) – O complexo Arqueológico do Lapiás de Negrais Relatório policopiado entregue ao IGESPAR.
(Sintra) - I. Arqueologia. Porto. 2 (1979) 30-36. SOUSA, A. C.; GONÇALVES. V. S. (2011) – Gathering, stocking and
SERRÃO, E. C. (1979a) – Sobre a periodização do Neolítico e Calcolítico knapping flint during the portuguese Chalcolithic: The Casal
do território português. In Mesa Redonda sobre o Neolítico e o Barril file. In Flint mining and quarrying techniques in Pre and
Calcolítico em Portugal, 1, Porto, 1978 – Actas da I Mesa Redonda Protohistoric times. The 2nd International conference of the UISPP
sobre o Neolítico e o Calcolítico em Portugal. Porto: GEAP, 1979. Commission. BAR. p. 157-169.
(Trabalhos do Grupo de Estudos Arqueologicos do Porto; 3 ). SOUSA, A. C.; MARTÍN, F. (no prelo) – A propósito do campaniforme em
p. 147-175. Olelas, Sintra. Al-madan.
SERRÃO, E. C. (1980) – O complexo Arqueológico do Lapiás de Negrais SOUSA, A. C.; BASÍLIO, A. C.; DIAS, I.; NETO, F. (2016) – Cerâmica
(Sintra) - II. Arqueologia. Porto. 3 (1980) 36-42. campaniforme no Centro e Sul de Portugal. O estado da questão em
SERRÃO, E. C. (1981) – O complexo Arqueológico do Lapiás de Negrais 2016: sítios e produção bibliográfica. Poster. Workshop Sinos e taças.
(Sintra) - III. Arqueologia. Porto. Junto ao Oceano e mais longe. Aspectos da presença campaniforme
SERRÃO, E. C.; VICENTE, E. P. (1956) – Note preliminaire sur la station na Península Ibérica. UNIARQ / Faculdade de Letras de Lisboa.
eneolithique de Negrais. In BELTRAN, A., ed. lit. - Congresos 12 e 13 de Maio de 2013.
Internacionales de Ciencias prehistóricas e protohistóricas: actas de VANDER LINDEN, M. (2012) – Demography and Mobility in North-
la IV Sesión, Madrid, 1954. Zaragoza: Libreria General, 1956. p. 601-611. Western Europe during the third millennium cal. BC. PRESCOTT,
SERRÃO, E. C.; VICENTE, E. P. (1956) – Note préliminaire sur la station C.; GLORSTAD, H. (2012) - Becoming European: The transformation
énéolithique de Negrais. In Congresos Internacionales de Ciencias of third millennium Northern and Western Europe. Oxford: Oxbow
Prehistoricas y Protohistoricas, 4ª, Madrid, 1954. Zaragoza: p. 133-143. Books. p. 19-29.
SERRÃO, E. C.; VICENTE, E. P. (1958) – O castro eneolítico de Olelas. VEIGA, S. P. M. Estácio da (1879) – Antiguidades de Mafra ou relação
Primeiras escavações. In Comunicações dos Serviços Geológicos de arqueológica das características dos povos que senhoriaram aquele
Portugal. Lisboa. 39, p. 87-127. território antes da instituição da Monarquia Portuguesa: memória
SIMÕES, T.; SOUSA, A. C. (1999) – As ocupações neolíticas em lapiás: o apresentada à Academia Real das Sciencias de Lisboa. Lisboa:
caso de Negrais (Sintra). Saguntum. Valéncia. Extra 2 (1999) 513-520. Academia Real das Ciências, 1879.
Número extraordinário que recolhe as actas do: Congrés de Neolitic ZBYSZEWSKI, G.; FERREIRA, O. da Veiga; LEITÃO, M.; NORTH, C. T.;
a la Peninsula Ibérica, 2, Valencia, 1999. NORTON, J. (1977) – Le monument de Pedras da Granja ou de Pedras
SIMÕES, T. (1999) – O Sítio Neolítico de São Pedro de Canaferrim (Sintra). Altas dans la Varzea de Sintra. Ciências da Terra. Lisboa. 3 (1977)
Lisboa: Instituto Português de Arqueologia, 1999. (Trabalhos de 197-239.
Arqueologia; 12).
SOARES, J. (2013) – Transformações sociais durante o 3.º milénio AC no
sul de Portugal. O povoado do Porto das Carretas. EDIA (Memórias
d’Odiana, 2.ª série, 5).
SOARES, J.; SILVA, C. T. (1974-1977) – O Grupo de Palmela no quadro da
cerâmica campaniforme em Portugal. O Arqueólogo Português
Lisboa. Série 3, 7-9, p. 102-112.
SOUSA, A. C.; CARDOSO, M. (2006) – Relatório final Serra do Pipo 2
(Igreja Nova). Mafra: Câmara Municipal, 2006. Relatório policopiado
entregue ao IGESPAR.

ANA CATARINA SOUSA  RITMOS DE POVOAMENTO E CERÂMICA CAMPANIFORME NA ÁREA DA RIBEIRA DE CHELEIROS (MAFRA E SINTRA, LISBOA) 193
CAMPANIFORME EM ZAMBUJAL
(TORRES VEDRAS)
MICHAEL KUNST
Instituto Arqueológico Alemão de Madrid
Calle Serrano 159 – 28002 Madrid, Espanha
michael.kunst@dainst.de

194 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
R E S U M O Zambujal é um povoado fortificado do Calcolítico na Estremadura portuguesa
(concelho Torres Vedras; distrito Lisboa). Depois de uma descrição da história da investiga-
ção desse lugar sigue uma valorização das datações radiocarbónicas calibradas pela nova ver-
são 4.3 do programa OxCal, que acaba com uma nova, hipotética cronologia absoluta para
as 5 fases de conceções construtivas entre mais ou menos 2850 e 1740 calBC. A descrição
da cerâmica campaniforme de Zambujal e da sua cronologia relativa está combinada com
este novo modelo da cronologia absoluta deste povoado. Resulta que o campaniforme em
Zambujal surge seguramente antes de 2500 calBC, possivelmente entre 2650 e 2600 calBC.
Mostra-se também largas tradições da decoração campaniforme, mas com outras decora-
ções ou lisa,possivelmente a derivar desde o mundo ritual como mostra a comparação com
os ídolos em forma de placas de xisto e também em forma de cilíndros calcáreos. Num des-
ses, encontrado em Zambujal, foram descoberto restos de uma pintura escura em bandas de
riscos cruzados e de triângulos. Este facto em combinação da observação que o “serviço” da
cerâmica campaniforme na Estremadura portuguesa tem uma larga tradição já desde o iní-
cio do Calcolítico, está interpretado como um desenvolvimento local deste estilo decorativo
tal como os costumes (rituais? ou profanos?) da utilização destes objetos cerâmicos. O artigo
acaba com considerações sobre câmbios climáticos entre o Atlántico e o Sub-Boreal que pos-
sivelmente em combinação com o crescimento da população depois da neolitização pode
ter provocado conflitos graves que podem ter acabados em guerras, dado que a guerra devia
ter recebido uma maior importância no III milénio a. C. como mostram o crescimento de
povoados fortificados no oeste, centro e sul da Península Ibérica em combinação do invento
da ponta de seta de sílex com retoque plano e a sua forte presença nessa época – por exemplo
só em Vila Nova de São Pedro mais que 6000 exemplares. Finaliza o artigo com a consideração
que o chamado “Bell Beaker package” (segundo S. J. Shennan) ou “Bell Beaker set” (segundo
C. Strahm) pode ter representado as pessoas a que pertenciam estes objetos como guerreiros.

A B S T R A C T Zambujal is a fortified settlement of chalcolithic date in the Estremadura region


of Portugal (concelho Torres Vedras; district Lisbon). A description of the investgative history
of this site is followed by an evaluation of the radiocarbon dating as calibrated by the new ver-
sion 4.3 of the OcCal programme. This provides a new hypothetically absolute chronology for
the five phases of architectonical development recognized at the site between appoximately
2850 and 1740 calBC. When this new model for the absolute chronology of Zambujal is consid-
ered together with a description of the bell beaker pottery, including its relative chronology,
found at the site, there can be no doubt that bell beaker pottery first appeared there before
2500 calBC, and probably between 2650 and 2600 calBC. It can also be shown that the type
of decoration on bell beakers belonged to a long tradition probably derived from the ritual
world. This is suggested by the type of decoration found on decorated schist plaques which
are thought to be idols, and also on the cylindrical limestone idols. One cylinder idol found at
Zambujal had traces of dark paint in the form of parallel bands filled with hatched lines or
triangles. This fact, together with the observation that the typical pottery types (or ‘set’) that
accompany bell beaker pottery in Portuguese Estremadura are part of a long tradition going
back to the beginning of the Chalcolithic, is interpreted as a local development of the decora-
tive style as well as of customs (ritual or mundane?) in the use of this pottery. The article then
considers whether the climate change between the Atlantic and the Sub-Boreal eras and the
increase in population following the neolithic period may have led to serious conflict in the
region and may even have developed into open warfare in the 3rd millenium B.C. This is sug-
gested by the increasing number of fortified settlements built in the west, centre and south
of the Iberian peninsula and the invention of the flint arrow head with flat retouch which
is found in large numbers in this period – for example at Vila Nova de São Pedro alone, over
6000 arrowheads were found in the excavation. The article ends with a suggestion that the
so called “Bell Beaker package” (according to S. J. Shennan) or “Bell Beaker set” (according to
C. Strahm) may indicate that the persons to whom they belonged were warriors.

MICHAEL KUNST  CAMPANIFORME EM ZAMBUJAL (TORRES VEDRAS) 195


HISTÓRIA DA INVESTIGAÇÃO DE ZAMBUJAL também os resultados dessa sondagem (Jalhay, 1946).
O povoado fortificado do Zambujal está situado no Mais tarde, nos anos 1959 a 1961, Belo e Trindade com
concelho de Torres Vedras, cerca de 50 kms. a Norte apoio de Afonso do Paço fizeram escavações em Zam-
de Lisboa, na margem direita da Ribeira de Pedrulhos, bujal com 13 sondagens, a maior parte a acompanhar
um afluente sul do Rio Sizandro (Fig. 1), que na época as muralhas. A morte de Ricardo Belo em 1961 inter-
do 3.º milénio a. C. ainda apresentava uma antiga baía rompeu as escavações. Em 1963 Vera Leisner chegou a
mar não muito profunda, bastante próximo de Zam- Torres Vedras para preparar o segundo volume da série
bujal (cerca de 1  km) (Hoffmann 1987, p. 111-118; Hoff- sobre as sepulturas megalíticas no Oeste da Península
mann, 1990). Assim, não seria possível entrar naquela Ibérica publicadas na série «Madrider Forschungen»
baía desde o mar com barcos apropriados para viagem do Instituto Arqueológico Alemão e, assim, chegou a
marítima (Kunst et al., 2016, p. 57). conhecer o Senhor Trindade, que lhe mostrou as esca-
O chamado Castro do Zambujal foi encontrado por vações paradas em Zambujal. Ela, em Madrid, infor-
Leonel Trindade depois de 1932 na sequência das suas mou Hermanfrid Schubart desse sítio, e, mais tarde,
escavações em conjunto com Aurélio Ricardo Belo arranjou um encontro com Leonel Trindade, que gene-
na gruta da Cova da Moura (Spindler, 1981). Em 1944 rosamente convidou Schubart para continuar com as
realizou uma primeira sondagem, onde encontrou suas escavações. Schubart, por sua vez, conseguiu a
um muro curvado com duas faces. Por intervenção de colaboração de Edward Sangmeister, na época profes-
Belo foi chamada a atenção do padre Eugénio Jalhay, sor na Universidade de Friburgo (Alemanha), que tinha
que em nome da «Secção de Escavações, Epigrafia e trabalhado nos anos 1954 e 1955 no Instituto Arqueo-
Numismática da Junta Nacional da Educação» inspe- lógico Alemão de Madrid, e nessa época tinha parti-
cionou essa escavação o que resultou na classificação cipado nas escavações em Los Millares e Vila Nova de
desta estação calcolítica como Monumento Nacio- São Pedro (Kunst, 2017b, p. 426-443, 445). Assim, os dois,
nal, através do decreto n.º 35817, publicado no 20 de em colaboração com Trindade, realizaram seis campa-
Agosto de 1946 no Diário do Governo. Jalhay publicou nhas de escavações em Zambujal – 1964, 1966, 1968,
1970, 1972, 1973 – organizadas e financiadas pelo Insti-
tuto Arqueológico Alemão de Madrid, e com um apoio
da Universidade de Friburgo, Alemanha (Sangmeister;
Schubart, 1981, p. 4-7).
Em 1994, iniciou-se uma nova campanha de escava-
ções na sequência de um novo plano para a museali-
zação do sítio, que só actualmente – em 2017 – começa
a ser elaborado dentro do Projecto «Portugal 2020».
Para a realização das novas escavações foi necessário
implantar um sistema topográfico independente de
pontos físicos na escavação, dado que o ponto Zero das
escavações anteriores foi escavado em 1968, por causa
da escavação da barbacã, que antes não era reconhe-
cível. O novo sistema (Höck, 2007) foi instalado por
professores da Universidade da Beira Alta em Covilhã,
Martin Höck e Rui Fernandes. Este sistema está ligado
à Rede Geodésica Portuguesa (Höck, 2007). Todas as
novas campanhas de escavações – 1994, 1995, 2001,
2002, 2004, 2007, 2012 – foram dirigidas pelo autor
deste artigo, as duas campanhas de 1994 e 1995 em
colaboração de Hans-Peter Uerpmann (Kunst, 2007,
p. 97), e a campanha de 2002 em colaboração de Elena
Morán e Rui Parreira (Kunst et al., 2013). A última inter-
venção foi uma campanha topográfica em colaboração
com Christian Hartl-Reiter e Doris Schäffler, com pros-
peções geo-físicas em colaboração com Helmut Becker
e Anne-Sophie Flade-Becker (Kunst no prelo b; Becker;
FIG. 1 Localização do povoado fortificado calcolítico de Zambujal
Flade-Becker, no prelo).
(conc. Torres Vedras, distr. Lisboa) na Estremadura portuguesa e na
Península Ibérica. Mapas desenhados por Laureno de Frutos;
e compostos por Elisa Puch.

196 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
A CRONOLOGIA DE ZAMBUJAL as partes à vista estão bem endireitadas e as partes que
Sangmeister e Schubart descobriram que no povo- ficam dentro dos muros são irregulares. O espaço entre
ado calcolítico de Zambujal, ainda há estruturas conser- estas duas faces, entre 50 cm e 1 m de largura, está pre-
vadas até uma altura de quase 4 metros (Sangmeister; enchido por pedras irregulares de diferentes tamanhos.
Schubart, 1981, p. 37: «o muro “a” está em parte conser- As pedras das faces são normalmente lages de diferen-
vado até quase 4 m»), o que não sucede em nenhuma tes espessuras. Em vez de argamassa foi utilizado argila
das ruínas de um povoado dessa época na Península misturado com fragmentos de cerâmica, ossos e, às
Ibérica até hoje conhecida. Trata-se de muralhas de vezes, outros elementos vegetais, quase como o tem-
uma fortificação que contém torres maciças e tam- peramento na cerâmica» (Sangmeister; Schubart, 1981,
bém uma barbacã com seteiras, da primeira metade do p. 9). Este sistema cronológico é um sistema indepen-
3.º  milénio a. C. (Sangmeisgter; Schubart, 1981, p. 226- dente dos materiais encontrados durante as escava-
-238) e torres ocas, da segunda metade do 3.º milénio  ções. Assim foi possível elaborar estatísticas das distri-
a. C. (Sangmeister; Schubart, 1981, p. 243-247). Por esta buições dos materiais – como fragmentos de cerâmica,
razão também está conservada uma estratigrafia bas- ossos, objectos de pedra etc. – sobre essas fases de cons-
tante completa para o 3.º milénio a. C., não em toda a trução, sem cair em problemas de raciocínios circulares
extensão do povoado, mas na zona central, entre a pri- (Kunst, 2010a, p. 141-142).
meira e a segunda linhas das muralhas de fortificação Para a cronologia absoluta existe actualmente uma
(por exemplo na área «VX» em Sangmeister; Schubart, série de 39 datações radiocarbónicas já discutidas em
1981, p. 52-72). publicações anteriores (Kunst; Lutz, 2011, p. 438-461).
Através das observações sobre as relações entre as Uma nova série de um perfil da secção 46 na área AP,
faces dos muros e as camadas estratigráficas, e tam- escavado nas campanhas de 2002 a 2007 e a sua publi-
bém de observações das funções de troços das mura- cação está de momento em preparação, e outra série
lhas, por exemplo a relação entre as seteiras da barbacã vai ser datada proximamente. Um grande problema
e as entradas na segunda linha das muralhas, Sang- para uma cronologia absoluta do Calcolítico da Penín-
meister e Schubart puderam identificar um sistema sula Ibérica é a calibração das datas do 3.º milénio cal
de cinco diferentes fases de construção (conceitos de BP (Reimer et al., 2013, p. 1881, fig. 5; e as novas calibra-
construção) com várias sub-fases (fases de construção), ções pelo programa OxCal: https://c14.arch.ox.ac.uk/
que servem como a estrutura básica para a cronolo- oxcal/OxCal.html). Na tabela 1 apresentam-se as 39
gia relativa (Sangmeister; Schubart 1981, p. 226-262; mencionadas datas radiocarbónicas de Zambujal cali-
ver também Kunst, 2010a, p. 136-139): «Os muros estão bradas com indicação, na primeira coluna, do número
construidos com originalmente duas faces, uma exte- de inventário da amostra e a sua cronologia relativa às
rior e outra interior. Estas são feitas de pedras dos quais fases de construção de Zambujal.

DATA CAL BC
ZAMBUJAL INV. N.º N.ª DO LABOR. AMOSTRA MAT. DATA BP
(OXCAL 4.3)
Z-E-776-26 KIA-27565 Cervus elaphus 4445±31 3333-2936 (95,5%)
(antes Este 1) calcaneum 3316-3110 (68,2%)
Z-92-973-61-01 KIA-27559 Ossos de animais 4238±29 2910-2706 (95,4 %)
(antes Este 1?) indefinidos 2910-2860 (67,5%)
2904-2780 (68,2%)
Z-1180 (antes 1a) KIA-7260 Osso de animal 4134±43 2875-2581 (95,4%)
indefinido 2874-2616 (89,1%)
2864-2627 (68,2%)
Z-92-944-61-01 KIA-27558 Osso de animal 4129±31 2872-2582 (95,4%)
(Este 1) indefinido 2858-2630 (68,2%)
Z-829 (1a) KN-4509 Osso de animal 3960±44 2577-2308 (95,4%)
indefinido 2568-2350 (68,2%)
Z-1526 (1a) KIA-7258 Osso de animal 3891+40 2474-2210 (95,4%)
indefinido 2462-2340 (68,2%)
Z-68204 (1a) KIA-7259 Osso de animal 3801±43 2456-2058 (95,4%)
indefinido 2296-2144 (68,2%)
Z-1660 (1b) KIA-7256 Osso de animal 3951±55 2618-2286 (95,4%)
indefinido 2566-2348 (68,2%)

MICHAEL KUNST  CAMPANIFORME EM ZAMBUJAL (TORRES VEDRAS) 197


DATA CAL BC
ZAMBUJAL INV. N.º N.ª DO LABOR. AMOSTRA MAT. DATA BP
(OXCAL 4.3)
Z-840 (1c) KIA-7257 Osso de animal 3836±39 2460-2152 (95,4%)
indefinido 2396-2205 (68,2%)
Z-971 (1c) GrN-7009 Carvão vegetal 4200±40 2900-2638 (95,4%)
2818-2664 (67,1%)
2889-2700 (68,2%)
Z-92-1019-61-01 (Este 2) KIA-27561 Ovelha/cabra 4155±32 2878-2631 (95,4%)
Artiodactylus/humerus 2871-2674 (68,2%)
Z-92-1019-61-02 (Este 2) KIA-27562 Ovelha/cabra 4049±25 2832-2486 (95,4%)
molares 2619-2496 (68,2%)
Z-705 (2) KN-4988 Osso de animal 3980±40 2618-2347 (95,4%)
indefinido 2568-2466 (68,2%)
Z-1499 (2) KN-4990 Osso de animal 3934±51 2574-2286 (95,4%)
indefinido 2548-2342 (68,2%)
Z-672 (2) KN-4989 Osso de animal 3917±50 2567-2212 (95,4%)
indefinido 2474-2310 (68,2%)
Z-700 (2) GrN-6671 Carvão vegetal 4170±55 2892-2586 (95,4%)
2878-2677 (68,2%)
Z-1499 (2) GrN-7002 Carvão vegetal 4050±40 2850-2472 (95,4%)
2828-2490 (68,2%)
Z-598 (2b/c) KIA-7261 Osso de animal 3842±37 2460-2202 (95,4)
indefinido 2400-2206 (68,2%)
Z-E-603-01 KIA-27563 Ovelha/cabra 4065±37 2854-2486 (95,4%)
(antes Este 3b?) molar 2834-2496 (68,2%)
Z-1540 (3b) GrN-7003 Carvão vegetal 4055±40 2851-2474 (95,4%)
2832-2492 (68,2%)
Z-1470 (3b) GrN-7004 Carvão vegetal 3995±35 2619-2459 (95,4%)
2566-2474 (68,2%)
Z-E-765-01 KIA-27564 Osso de animal 3992±24 2572-2468 (95,4%)
(Este 3) indefinido 2564-2474 (68,2%)
Z-1501 (3c) GrN-7008 Osso de animal 3980±35 2580-2349 (95,4%)
indefinido 2566-2468 (68,2%)
Z-1466 (3c) GrN-7005 Carvão vegetal 4055±40 2851-2474 (95,4%)
2832-2492 (68,2%)
Z-638 (3c/4a) GrN-6670 Carvão vegetal 4150±105 3010-2465 (95,4%)
2879-2620 (68,2%)
Z-92-987-61-01 KIA-28668 Grãos de cereal 3999±29 2574-2469 (95,4%)
(antes Este 4) Triticum aestivum/durum 2566-2476 (68,2%)
Z-92-987-61-02 KIA-28669 Grãos de cereal 4001±28 2574-2470 (95,4%)
Antes Este 4 Triticum aestivum/durum 2566-2479 (68,2%)
Z-92-935-40-01 KIA-27557 Ovelha/cabra 3996±23 2572-2470 (95,4%)
(antes Este 4) Proximal, Phalanx 2564-2476 (68,2%)
Z-92-903-61-02 KIA-27555 Sus (javali) 3941±32 2566-2309 (95,4%)
(depois Este 3b) Scapula 2488-2348 (68,2%)
Z-92-903-61-09 KIA-27556 Ovelha/cabra 3965±32 2574-2348 (95,4%)
(depois Este 3b) dentes 2566-2461 (68,2%)
Z-1459 (4a-c) GrN-7006 Carvão vegetal 4090±40 2866-2492 (95,4%)
2850-2573 (68,2%)
Z-633 (4b) GrN-6669 Carvão vegetal 4025±95 2874-2300 (95,4%)
2853-2460 (68,2%)
Z-1509 (4b) GrN-7007C Carvão vegetal 3950±65 2624-2209 (95,4%)
2567-2346 (68,2%)

198 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
DATA CAL BC
ZAMBUJAL INV. N.º N.ª DO LABOR. AMOSTRA MAT. DATA BP
(OXCAL 4.3)
Z-622 (4c/d) GrN-6668 Carvão vegetal 3625±65 2198-1776 (95,4%)
2123-1898 (68,2%)
Z-79 (3/4) KN-J-115 Carvão vegetal 3530±65 2030-1691 (95,4%)
1942-1767 (68,2%)
Z-E-793-04 KIA-27566 Carvão vegetal 3467±36 1886-1691 (95,4%)
Este 5? 1876-1700 (68,2%)
Z-1169 (5) KN-4506 Osso de animal 3847±34 2458-2205 (95,4%)
indefinido 2431-2210 (68,2%)
Z-898 (5) KN-4507 Osso de animal 3466±53 1918-1645 (95,4%)
indefinido 1878-1698 (68,2%)
Z-92-981-61-01 KIA-27641 Carvão vegetal 2381±40 741-385 (95,4%)
(depois Este 5) 510-399 (68,2%)

TABELA 1 39 datas radiocarbónicas de Zambujal, calibradas pelo programa OxCal v4.3.2 (Bronk Ramsey 2017) conforme da curva atmosférica
IntCal13 (Reimer et al., 2013)

O grande problema da cronologia absoluta de Zam- tido na primeira muralha da área, ta-tb, e assim tam-
bujal, como em todos os lugares do 3.º  milénio  a.  C., bém provir de uma época mais antiga. Como até agora
são as irregularidades na curva de calibração. Como a sua datação radiocarbónica é a mais antiga de Zam-
exemplo está mostrado na Fig. 2 o plot da calibração bujal, e não há mais datas dessa época e os achados da
das três datas para a primeira ocupação ou da época primeira ocupação antes da fase 1a de construção, é
antes desta primeira ocupação do lugar pela população muito pouco provável que seja uma data de um povo-
calcolítica, mas, em todo caso, ainda antes das primei- ado já à volta de 3000 cal BC no lugar. Esta hipótese
ras construções de muralhas. Sangmeister e Schubart está apoiada pela data KIA-27559 com o seu máximo
chamam esta fase, o horizonte de cabanas vegetais (em entre 2910 e 2860 cal BC, pertencido à camada vir-
alemão Laubhütten-Horizont, ver Sangmeister; Schu- gem debaixo da IV linha das fortificações (Kunst; Lutz
bart 1981, p. 227), ou a fase antes da fase de construção 2011, p. 441, fig. 22 a). Então, o povoamento na área de
1a. Desta fase só se identificaram muito poucos restos Zambujal tem começado, provavelmente, depois de
debaixo de alguns muros da primeira fase, no centro do 2860 cal BC. A data KIA-7260 pertence, outra vez, a um
povoado assim como na IV linha da fortificação. Como momento de grandes irregularidades da curva de cali-
já existem nesta fase fragmentos de copos canelados bração.
(Kunst, 1996, p. 262) podemos já considerá-la como um
Calcolítico Inicial.
As denominações das áreas de Zambujal, dos núme-
ros de cortes das escavações, dos muros e estruturas
são publicadas em planos de várias publicações e aqui
não repetidas por causa de espaço (ver Sangmeister;
Schubart, 1981, p. 20, Abb. 3; Abb. 4 a seguir da página
26;Beilage 1 e 2 e Kunst, 2010a, p. 135, fig. 4; para a IV
linha, ver Kunst, 2010a, p. 145, fig. 15; Kunst et al., 2013,
p. 109, fig. 5.).
A primeira data (KIA-27565) provém da IV linha e
data do fim do 4.º milénio, mesmo em um momento
onde a curva da calibração tem grandes irregularida-
des (Fig. 2). Trata-se de um calcâneo de um veado do
derrube do primeiro muro, mas possivelmente per-
tencente à camada por debaixo deste primeiro muro
da IV linha (Kunst; Lutz, 2011, p. 439-440). O osso pode
pertencer ao derrube do muro tb. Neste caso hipoteti-
camente poderia ser de um animal caçado na época
FIG. 2 Calibração pelo programa OxCal das três datas radiocarbónicas
da construção ou, como se conservam muito bem os de camadas antes da primeira fase de construção de Zambujal.
ossos na zona de Zambujal, o osso poderia ser embu- Imagem do programa OxCal.

MICHAEL KUNST  CAMPANIFORME EM ZAMBUJAL (TORRES VEDRAS) 199


A data KIA-7260, porém, pertence a um osso de ovelha ou cabra – KIA-27561 e KIA-27562 –, apresentam
animal encontrado numa camada do pátio H, corte uma boa fiabilidade e podem ser consideradas como
33, debaixo do muro gl, onde se recolheram bastantes datas do fim da fase Este 2, antes da construção do
materiais arqueológicos, pelo menos 182 fragmentos muro td, que define o início da fase Este 3 (Kunst; Lutz,
de cerâmica. A sua cronologia pode pertencer à pri- 2011, p. 434 e 442). Estas datas têm os seguintes valores
meira fase de ocupação, antes da fase de construção 1a, da calibração, segundo o programa OxCal v.4.3:
mas também pode já pertencer à fase de construção 1a.
A conclusão para esta data é, que não se pode excluir  KIA-27561 R_Date(4155,32)
o início da colonização de Zambujal antes de 2800 cal 68.2% probability
BC, sobretudo por causa da data KIA-27559, depois de 2871 BC (14.5%) 2838 BC
2860 cal BC. Mas também seria possível que o povo- 2814 BC ( 6.0%) 2801 BC
amento só tenha sido iniciado até, mais ou menos, 2780 BC (47.7%) 2674 BC
2600 cal BC. 95.4% probability
Vamos, então, a analizar as datas para a fase de cons- 2878 BC (18.8%) 2831 BC
trução 1 de Zambujal. Nesta primeira fase construiram 2821 BC (76.6%) 2631 BC
uma fortificação com torres maciças e com muros
radiais entre as diferentes linhas de fortificação a divi-  KIA-27562 R_Date(4049,25)
dir o povoado em diferentes pátios. 68.2% probability
A data KIA-27558 data paralelamente a essa data do 2619 BC (10.1%) 2606 BC
início do povoamento. A amostra vem do pé do muro 2600 BC (26.6%) 2564 BC
ta-tb, o mais antigo da IV linha de fortificação, então, data 2532 BC (31.4%) 2496 BC
ou o momento da construção do muro ou ainda a camada 95.4% probability
por baixo. Mais uma vez temos para este momento uma 2832 BC ( 2.9%) 2819 BC
data entre mais ou menos 2860 e 2600 cal BC. 2658 BC ( 0.9%) 2652 BC
As três datas para a fase de construção 1a – KN-4509, 2634 BC (91.7%) 2486BC
KIA-7258 e KIA-7259 – são definitivamente demasiado
recentes para esta fase como vão mostrar as seguin- Então, um dos dois ossos, o KIA-27561, é mais antigo
tes datações. São amostras de ossos de animais reco- do que o outro, e, deste modo, pode ser proveniente de
lhidos nas reservas do Museu muitos anos depois das uma fase anterior. Quanto a outra data, mais recente,
suas escavações entre 1968 a 1973, onde elas não eram deve datar, mais ou menos, o fecho da entrada entre
registradas tridimensionalmente. Aprendemos por os muros tm e tn (Kunst; Lutz, 2011, p. 426 e 442). Isto
esse facto, que só vale a pena datar por radiocarbono significa, que a fase Este 2 deve-se datar antes de 2486
amostras dos quais são conhecidas exactamente os cal BC, talvez já antes de 2600 cal BC, porque a data
seus lugares do achado, melhor com as suas coorde- encontra-se também numa secção irregular da curva
nadas respectivas. A mesma crítica é válida para as de calibração e com uma probabilidade de 68,2% data o
amostras de ossos da fase de construção 1b (KIA-7256) fim da fase Este 2 entre 2600 e 2500 cal BC.
e 1c (KIA-7257), sendo a segunda data é mais recente Este resultado está apoiado pela data KIA-27563,
que a primeira. Mas a outra data para a fase de cons- que data anterior a Este Interior 3b. Um dente de ove-
trução 1c, GrN-7009, é muito mais antiga e seria mais lha ou cabra encontrava-se debaixo do lajeado TD, o
ou menos contemporânea com as datas da fase antes que seria um terminus post quem para esse lajeado,
da fase de construção 1a; mas esta data, por um lado e então também para o vaso globular lá encontrado
pertence à mesma parte da curva de calibração entre (Kunst; Lutz, 2011, p. 442). Esta data é parecida à data
2900 e 2640 cal BC com grandes irregularidades, mas de KIA-27562:
com um segundo máximo da probabilidade de 67,1%
entre 2818 e 2664 cal BC. Por outro lado, a data GrN-  KIA-27563 R_Date(4065,37)
7009 é uma data de uma amostra de carvão vegetal, 68.2% probability
onde o efeito de madeira antiga tem-se que ter em 2834 BC ( 6.8%) 2818 BC
consideração. 2662 BC ( 5.1%) 2648 BC
A fase de construção 2 de Zambujal mostra também 2636 BC (42.4%) 2565 BC
uma total concordância em relação às datas para a fase 2525 BC (13.9%) 2496 BC
de construção 1. Nesta fase foi construída a barbacã e 95.4% probability
várias pequenas portas na segunda linha da fortifica- 2854 BC (11.5%) 2812 BC
ção. As amostras das duas datas da fase de construção 2746 BC ( 2.6%) 2725 BC
2 da IV linha foram obtidas sobre ossos e dentes de 2697 BC (81.3%) 2486 BC

200 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
Esta data cai também com mais probabilidade entre Para a fase de construção 3c existem três datas, mas
2700 e 2500 cal BC. a data GrN-6670 podemos excluir, porque é demasiado
Na IV linha, então, data a fase 2 com muita probabi- impreciso, uma vez que apresenta um intervalo de
lidade antes de 2500 cal BC, se não antes de 2600 cal BC. confiança de ±105 anos. Restam as datações GrN-7005
As outras datas para a fase de construção 2 são e GrN-7008, que também têm uns máximos paralelos
menos fiáveis por serem também datações de ossos em 2580 a 2450 cal BC.
não exactamente localizados na estratigrafia por medi- Da IV linha de fortificação existem duas datas de
das tridimensionais. Mas também um dos ossos, a data grãos de trigo – KIA-28668 e KIA-28669 –, que provêm
KN-4988, data com máxima probabilidade entre 2600 e da camada 2 debaixo da torre maciça TA da IV linha de
2500 cal BC. Este osso é da camada de cor ocre clara no fortificação. A cronologia desta torre seria «este exte-
corte 47 da zona VX (ver a «hellockerfarbene Schicht» rior 3b». Esta fase pode ser contemporânea à fase de
em Sangmeister; Schubart, 1981, p. 71)������������������
. Esta camada per- construção 4 do centro do povoado, assim, os grãos de
tence à fase de construção 2: trigo datam uma camada antes da fase de construção 4
o que seja uma data postquem para a fase de constru-
 KN-4988 R_Date(3980,40) ção 4. Por causa da calibração é difícil saber em que
68.2% probability época datam estes grãos, embora de que são materiais
2568 BC (40.3%) 2517 BC de corta vida. Estratigraficamente podem pertencer as
2500 BC (27.9%) 2466 BC Fases 1 a 3.
95.4% probability Assim pode-se considerar que a fase de construção 3
2618 BC ( 0.6%) 2610 BC data, mais ou menos, entre 2600 e 2450 cal BC. A data-
2582 BC (90.4%) 2399 BC ção da fase de construção 2 é mais ou menos paralelo,
2382 BC ( 4.4%) 2347 BC possívelmente não perdurou muito tempo.
Com a fase de construção 4 construiram-se tor-
Esta data com 68,2% de probabilidade pode datar res ocas encostadas às faces exteriores das muralhas.
entre 2568 e 2466 cal BC. As outras datas de ossos, defi- Existem quatro datações radiocarbónicas. As amostras
nitivamente demasiado recentes, referem-se às amos- das datas GrN-7006 e GrN-6669 são de carvão vegetal.
tras de ossos KN-4990, KN-4989 e KIA-7261. A conclu- As referentes datas são demasiado antigas, possivel-
são, que são demasiado recentes vem do facto, que as mente por causa do efeito de madeira antiga. Também
datas para a fase de construção 3 são maioritariamente pode ser que não pertencem a fase 4 da construção
mais antigos. porque ambas datas vêm de camadas que não podem
Na fase de construção 3 as seteiras da barbacã foram ser consideradas como achados fechados (��������Sangmei-
tapadas por um novo muro exterior, e também as ster; Schubart, 1981, p. 264-265). A amostra de carvão da
pequenas portas na II linha de fortificação foram fecha- data GrN-7007-C provém da fogueira da casa ZZ. Com
das e os espaços internos enchidas por pedras e terra, 65 anos o seu intervalo de confiança é bastante grande,
assim surgiram grandes plataformas elevadas. assim a data é paralela às datações para a fase 3 mas
Existem datas para a fase de construção 3b. A data- também chega até 2209 cal BP. A amostra para a data
ção GrN-7003 de carvão vegetal data muito parecido GrN-6668 foi recolhida no corte 47 da camada debaixo
como a acima mencionada data KIA-27562: do derrube 3 e data o final da fase 4 entre 2198 e 1776
cal BC.
 GrN-7003 R_Date(4055,40) Falta apenas analisar a fase de construção 5. Nesta
68.2% probability fase as torres A e B foram ligadas por um muro que
2832 BC ( 4.5%) 2820 BC fez do centro do povoado uma cidadela com muros
2632 BC (40.2%) 2560 BC de uma espessura enorme, até 16 metros. A amos-
2536 BC (23.5%) 2492 BC tra da data KN-4506 pertence ao derrube negro por
95.4% probability fora da casa V no Sul no limite entre os cortes 71 e 72.
2851 BC ( 8.9%) 2812 BC O derrube é nomeadamente da fase de construção 5,
2742 BC ( 1.4%) 2728 BC mas o derrube pode trazer achados de muralhas mais
2694 BC (85.1%) 2474 BC antigas. Neste caso a datação entre 2458 e 2205 cal
BC parece pertencer mais bem da fase de constru-
Trata-se de um carvão vegetal da fogueira III da casa V ção 4. As outras duas datações da fase de construção 5
(Sangmeister; Schubart, 1981, p. 264). Também esta data confirmam-se completamente: KIA-27566 e KN-4507.
se encontra entre 2700 e 2500 cal BC. As outras duas datas A primeira é da IV linha de fortificação e pode provir
para esta fase de construção são GrN-7004 e KIA-27564 da camada posterior ao muro tj da torre semi-circular
também têm um máximo entre 2600 e 2470 cal BC. TB, mas anterior do seu reforço th. Mas também não

MICHAEL KUNST  CAMPANIFORME EM ZAMBUJAL (TORRES VEDRAS) 201


está totalmente claro se esta camada foi remexida
pela actividade agrícola moderna nessa zona. Se a data
estiver mesmo na mencionada camada seria uma data
post quem para o muro th, considerado como fase  5
na IV linha da fortificação (Kunst; Lutz, 2011, p. 447).
A datação desta amostra de carvão vegetal é 1886 a
1691 cal BC, mas com um certo foco entre 1876 a 1742
cal BC. A segunda data, KN-4507, data com 94,9% pro-
babilidade entre 1918 a 1658 cal BC com 41,9% pro-
babilidade entre 1830 e 1739 cal BC. Este osso vem
do mesmo derrube negro situado a Sul da casa V, tal
como a amostra da data KN-4506.
A partir dessas considerações podemos tentar esta-
belecer uma, até agora, hipotética cronologia absoluta
para as fases de construção de Zambujal:

 Primeira ocupação do sítio antes das primeiras


muralhas: 2850-2800
Fase 1 de construção: 2800-2650
Fase 2 de construção: 2650-2600
Fase 3 de construção: 2600-2450
FIG. 3 Exemplo da decoração monótoma pontilhada de um
Fase 4 de construção: 2450-1900
vaso campaniforme de Zambujal (chamado estilo marítimo); os
Fase 5 de construção: 1830-1740 fragmentos provêm das escavações de L. Trindade antes de 1964 com
os números de inventário: Z-59500-342+341+340+339. Foto: D-DAI-
MAD-MLA-DG-14-2015-0253 (fotógrafa: María Latova, 2015).
No futuro, mais séries de datações radiocarbónicas
de materiais orgânicos com coordenadas tridimensio-
nais, especialmente para as fases 1 e 4, são precisas para los (nas taças), teve uma certa informação, que mais
verificar esta datação hipotética baseada nas datas 14C tarde, e em outras regiões, já não foi respeitada.
já obtidas. Quase toda a cerâmica campaniforme de Zambujal
mostra uma decoração pontilhada, impressa por um
pente. O pente deve ter tido uma certa curvatura, por-
A CRONOLOGIA DO CAMPANIFORME que as impressões dos dentes são sempre mais peque-
EM ZAMBUJAL nos nos ambos bordos do pente, e cada vez maiores até
Para a cronologia do campaniforme as mais signifi- o centro do pente, e também os pentes tinham na maio-
cantes observações são as seguintes: ria 10 a 13 dentes (Kunst, 1987, p. 97), além disso os den-
É claro, que o campaniforme em Zambujal surge na tes são muito similares. Face a estes factos, Laure Sala-
fase de construção 3, mas não se pode excluir a possibi- nova propõe que estes tipos de pentes eram bordos de
lidade de ter iniciado na fase 2, como mostram os acha- conchas da espécie Cerastoderma edule, berbigão (nas
dos de alguns fragmentos (Kunst, 1987, p. 116-119). escavações de 1964 a 1973 foram encontrados 207 frag-
Isto significa segundo a cronologia absoluta acima mentos, que podem pertenecer a um número mínimo
proposta, que o campaniforme surge seguramente de indivíduos de 107, ver von den Driesch; Boessneck,
antes de 2500 a. C., e possivelmente já antes de 2600 a. C., 1981, p. 313, Tab. 2.). Esta autora realizou experiências
quer dizer entre 2650 e 2600 a. C. que comprovam esta proposta. Entre os moluscos
Nos primeiros momentos existem associados os encontrados nas escavações de Zambujal, o Berbigão é
chamados vasos marítimos e taças com decorações com 107 exemplares (von den Driesch; Boessneck, 1981)
em triângulos; os vasos marítimos têm um perfil em bem representado, o que foi interpretado que também
S e uma decoração monótoma de bandas horizontais eram restos de refeições (von den Driesch; Boessneck,
preenchidas por impressões de bordos de um pente, 1976, p. 105). Mas também foram utilizadas outros tipos
desde o bordo até o fundo alternando bandas em que de conchas (Salanova, 2001, p. 92).
as impressões estão uma vez em posição de acima à Na fase de construção 5 ainda existe campaniforme.
direita e em baixo à esquerda, e outra vez em posi- Possivelmente estão associados a esta fase os escassos
ção de acima à esquerda e em baixo à direita (Fig. 3). fragmentos de campaniforme com decoração incisa, o
Parece, então, que a decoração, que foi feita ou em ban- que são no total só nove (ou dez) fragmentos (Kunst,
das horizontais (nos vasos tipo copos) ou em triângu- 1987, p. 92, Abb. 49; p. 111-113; Tafel 24):

202 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
Os restantes fragmentos campaniformes, 539 frag-
N.º DO FASE DE SECÇÃO
mentos das escavações de 1964 a 1973, apresentam
INVENTÁRIO CONSTRUÇÃO (CORTE)
exclusivamente decorações pontilhadas (Kunst, 1987,
Z-890-197 5 72 p. 96).
Z-450-2 1a5 39 Nas fases em que aparecem cerâmicas campanifor-
mes existem também cerâmicas com decoração em
Z-776-33 Superfície 70 – Estrutura (barbacã?) S
forma de folha da acácia e folha de crucífera (Kunst,
Z-38-10 Superfície 53 1987, p. 195-197; Kunst, 2010a, p. 139-141),���������������
mas estas per-
tencem a vasos globulares (Fig. 4), mais um exemplo
Z-340-503 Superfície Caminho do Olival
para a informação desconhecida que traz a decoração
Z-571-1&3 3(4)* 39 – Torre L das cerâmicas. Experiências com conchas de bordos
Z-569-7 Superfície 39/46 lisos apontam para uma grande possibilidade que as
decorações de foliáceas terem sido realizadas também
Z-68188-6 5 39 – Torre L, corredor superior por conchas, mas de bordos lisos (Kunst, 1987, p. 153).
Z-825-21 2-4 70 – Estrutura (barbacã?) S Este facto indica que a cerâmica campaniforme uti-
liza, aproximadamente, o mesmo padrão como a folha
* Os dois fragmentos são pequenos, assim pode bem ser que da acácia ou crucífera: bandas paralelas preenchidas
tenham sido remobilizados na fase 5 por uma fenda mais abaixo,
isto é provável, porque parece que os fragmentos Z-569-7 e por impressões, ou paralelas (folha da acácia) ou em
Z-68188-6 pertencem à mesma taça, ver Kunst, 1987, p. 111-113; zig-zag, que faz triângulos (folha crucífera), mas só
também podem pertencer à fase 4 ou 3. executado por conchas de bordos perfilados a fazerem
TABELA 2 Fragmentos de campaniformes incisos. impressões pontilhadas.

FIG. 4 a) Desenho de um vaso globular com decoração de folhas de acácia de Zambujal do complexo Z-1459 da fase de construção 4 a-c; b) foto
do mesmo fragmento de cerâmica. Desenho de Margarida Saraiva; foto: D-DAI-MAD-PAT-DG-031-2015-032 (fotógrafo: John Patterson, 2015).

MICHAEL KUNST  CAMPANIFORME EM ZAMBUJAL (TORRES VEDRAS) 203


Para a cronologia do campaniforme é muito inte-
ressante o conjunto de materiais identificados no
nível da ocupação da torre B (Fig. 5). Esta torre é uma
das construções que definem o início da fase de cons-
trução 4 no centro da fortificação (linha I) (��������
Sangmei-
ster; Schubart, 1981, p. 46-48). Em colaboração com o
arquitecto Felix Arnold fizemos uma reconstrução
dessa torre (Kunst; Arnold, 2011, p. 467-483). No seu
nível da ocupação, o que é a camada C (Sangmeister;
Schubart, 1981, p. 46-47)��������������������������
, que contem muitos peque-
nos restos de carvão vegetal e muitas lascas de ossos
queimados, encontram-se restos de vários recipientes
cerâmicos (Kunst; Arnold, 2011, p. 448-466). Entre estes
FIG. 5 Zambujal, vista de Nordeste à torre B da fase de construção 4, destaca-se o prato de bordo espessado com superfície
com a estratigrafia da área VX: imediatamente por baixo da torre B
a casa V da fase 3, por baixo dela uma camada da fase 2, e por baixo
negra e brunida (Kunst; Arnold, 2011, p. 464, fig. 45), um
dela a casa X, directamente por cima da rocha, que pertence a fase 1 vaso globular com bandas que não estão preenchidas
como também, mais a Norte, o muro im-in. Foto: D-DAI-MAD-SCHU- por folhas de acacia mas com losangos preenchidos
DIA-12267 (fotógrafo: Hermanfrid Schubart, 1972).
por linhas paralelas cruzadas (Fig. 6), um tipo cerâ-

FIG. 6 Zambujal, vaso globular com losangos preenchidas por FIG. 7 Zambujal, fundo de um vaso campaniforme marítimo, do
linhas paralelas cruzadas, encontrado na camada C – a camada complexo Z-274 (Kunst 1987, Taf. 14 I-M), encontrado na camada C –
da utilização – da torre B (ver Kunst;Arnold 2011, p. 449-458). Foto: a camada da utilização – da torre B (ver Kunst; Arnold, 2011,
D-DAI-MAD-PAT-DG-031-2015-040 (fotógrafo: John Patterson, 2015). p. 449-458). Foto: D-DAI-MAD-MLA-DG-006-2016-053 (fotógrafa:
María Latova, 2016).

FIG. 8 Zambujal, taça grande com decoração campaniforme com triângulos; os fragmentos encontravam-se na maioria na camada C da torre B
(ver Kunst; Arnold, 2011, p. 449-458).Foto: D-DAI-MAD-PAT-DG-031-2015-044 (fotógrafo: John Patterson, 2015).

204 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
46) fragmentos e instrumentos de sílex e osso, e um
machado de pedra polida, em conjunto com as cerâ-
micas indicam que este lugar era um lugar habitado.
Parte de esta camada C deve estar erodida como indi-
cam dois fragmentos do vaso globular que se encon-
traram nas camadas da fase 4 na área VX ao leste da
torre B (Kunst; Arnold, 2011, p. 457).
Reveste-se de especial interessa o facto, que a torre
B do Zambujal tenha sido erguida numa época plena
campaniforme! Quer dizer, contrariamente a outras
propostas (Cardoso, 1994, p. 136; mais tarde talvez um
pouco mais moderado em Cardoso, 2006, p. 41-42), na
fase campaniforme ainda construíam novos elemen-
tos da arquitectura defensiva do sítio, nomeadamente
FIG. 9 Zambujal, pequena taça com uma parede muito fina e engobe nas fases de construção 3 e 4, e também 5 (Sangmeister;
preta, também pertencente da camada C da torre B, complexo Z-274, Schubart, 1981, p. 237-251).
com dois excepções, um fragmento de Z-296 (camada E) e um de
Z-289 (camada D) (ver Kunst; Arnold, 2011, p. 449-458). Foto: D-DAI-
MAD-PAT-DG-031-2015-047 (fotógrafo: John Patterson, 2015).
DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DO CAMPANIFORME
mico que em outros sítios pertence ao chamado Cal- EM ZAMBUJAL
colítico pleno, como por exemplo em Leceia (Cardoso, No Zambujal não há campaniforme em todas as
2006, p. 215, fig. 176) e Penedo de Lexim (Sousa, 2000, areas escavadas. Este facto pode ser interpretado crono-
p. 72, n.º  1) ou em Outeiro Redondo (Sesimbra), onde logicamente, como em Los Millares, ou funcionalmente.
João Luis Cardoso argumenta, que a camada com essa Em Zambujal parece ser que a segunda interpretação
cerâmica pertence ao Calcolítico inicial (Cardoso, 2011, é válida, porque os achados de cerâmicas campanifor-
p. 88-90, fig.  7). Regista-se também fragmentos de mes só se encontram nas areas das primeira e segunda
vasos campaniformes marítimos (Kunst; Arnold, 2011, linhas de fortificação (Kunst, 1987, p. 173-186). As novas
p. 458, fig. 40) por exemplo Fig. 7, e uma taça grande escavações desde 1994 verificam essa interpretação,
com decoração campaniforme com triângulos (Kunst; porque na IV linha de fortificação não foi encontrado
Arnold, 2011, p. 449-452) (Fig. 8), além disso existem até hoje nenhum fragmento campaniforme, mas cro-
um vaso com parede muito fina e engobe negra nologicamente a IV linha parece ter existido durante
(Kunst; Arnold, 2011, p. 462-463) (Fig. 9) e fragmentos todas as fases do povoado como mostram as activida-
de recipientes muito grandes com bordos engrossados des de construções que reflectam o faseamento das pri-
(Kunst; Arnold, 2011, p. 461, fig. 41) �����������������
e numerosos frag- meiras duas linhas de fortificação do povoado, também
mentos sem decoração (como em Kunst; Arnold, 2011, a cronologia absoluta, e a existência de tipos de cerâ-
p. 462-463, fig. 42; fig. 44, b. c). Outros elementos como micas contemporâneas ao campaniforme como, por
uma colher de cerâmica (Kunst; Arnold, 2011, p. 465, fig. exemplo, o vaso globular reconstruido (Fig. 10).

FIG. 10 Zambujal, vaso


globular da IV linha de
fortificação, encontrado
na camada por cima do
lageamento TD, possivelmente
a camada da utilização de
uma casa, a que pertencia
aquele lageamento TD, muito
possivelmente da fase de
construção 3, contemporânea
à casa V existente antes da
torre B (ver Kunst; Lutz, 2011,
p. 464-465). Desenho de
Margarida Saraiva

MICHAEL KUNST  CAMPANIFORME EM ZAMBUJAL (TORRES VEDRAS) 205


FIG. 11 Zambujal, fragmentos de três placas de xisto decoradas: a) Z-515-70; b) Z-59500-2380 (T-253); c) Z-455-1 (ver Uerpmann; Uerpmann, 2003,
p. 181-182). Fotos: a) D-DAI-MAD-MLA-DG-008-2015-187; b) D-DAI-MAD-MLA-DG-008-2015-183; c) D-DAI-MAD-MLA-DG-008-2015-191 (fotógrafa:
María Latova, 2015).

O CAMPANIFORME PARECE SER UM Também L. Salanova tem verificado que a maior


DESENVOLVIMENTO AUTÓCTONE NO CENTRO quantidade de cerâmica campaniforme em Europa
DE PORTUGAL encontra-se na zona arredor do estuário do rio Tejo,
Como já em diferentes publicações foi explicado, o quer dizer na Estremadura Portuguesa (Salanova, 2000,
campaniforme em Zambujal não parece ser um ele- p. 187, fig. 116; Salanova, 2001, p. 96).
mento de importação de uma outra região, correspon- Um outro elemento interessante é a placa de xisto
dendo a um elemento indígeno. Esta conclusão refere- decorada, que muitas vezes está considerada como um
-se às seguintes observações: elemento do Neolítico Final, pré-calcolítico, mas data-
O campaniforme não foi importado desde outras ções radiocarbónicas indicaram uma larga perduração
regiões, dado que os copos canelados parecem ter sido desse elemento culto/religioso como já em 1989 foi
substituidos, pouco a pouco pelos vasos campanifor- indicado por Victor S. Gonçalves: «não há dúvida que
mes (Kunst, 2010a, p. 139-141), que, além disso, têm uma existem placas de xisto com figurações geométricas na
forma bastante parecida só que a carena do fundo vai segunda metade do 4.º milénio e na primeira do 3.º, em
ser mais arredondada, um facto já observado por B. anos de calendário» (Gonçalves, 1989, p. 296). Também
Blance (Blance, 1971, p. 115; Amaro, 2012, p. 242). se encontram no Zambujal três fragmentos de placas
O conjunto de cerâmicas com decoração campani- de xisto decoradas (Fig. 11). No meu ponto da vista, tam-
forme, quer dizer o «serviço» campaniforme está com- bém a decoração do campaniforme tem muitos atri-
posto pelos mesmos elementos como o «serviço» das butos iguais às decorações das placas do xisto. Surge a
cerâmicas com copos canelados, o copo (ou vaso cam- pergunta se estes elementos mais antigos talvez sobre-
paniforme), o prato ou taça com bordo engrossado, e vivem nas decorações do campaniforme e também
outras taças, especialmente as pequenas (Kunst, 2001; nos vasos globulares com decorações de triângulos em
Blance, 1971, p. 115). bandas paralelas como na fig. 10? Um indício para um
L. Salanova era capaz de observar desengorduran- contacto entre placas de xisto decoradas e cerâmica
tes nos vasos campaniformes mais antigos da Breta- campaniforme mostra a publicação do monumento
nha, que são vulcânicos (Cardoso; Salanova; Querré, megalítico da Pedra Branca de Montum (Melides), onde
2005, p. 28; Querré; Salanova, 1995, p. 42), um material, numa camada superior foram encontrados dois enter-
que está presente na zona entre Sintra, Mafra e Torres ramentos com espólios campaniformes, e a cada um
Vedras. Nos seus estudos sobre os copos canelados G. desses indivíduos pertencia uma placa de xisto (Fer-
Amaro verificou este facto nos materiais cerâmicos reira et al., 1975, p. 120-130).
de Zambujal, onde ele mostrou, que os vasos campa- Também existem em Zambujal alguns denomina-
niformes eram produzidos tecnologicamente iguais dos ídolos cilíndricos de calcário (fragmentos e inteiros).
aos copos canelados, enquanto a cerâmica comum Um destes parece apresentar vestigios de uma decora-
foi elaborada de uma outra maneira (Amaro, 2012, ção pintada numa cor escura, possivelmente era negra,
p. 240). que hoje em dia só é visível numa luz muito baixa.

206 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 12 Zambujal, ídolo cilíndrico de calcário Z-59007-1 (T-251), provindo do corte 7 das escavações de 1959 a 1961, era um corte acompanhando
as muralhas à sul da torre B nas áreas EG e GH. Este corte não era muito profundo e não atingiu a rocha firme. Em pouca luz (a; b) vê-se um
desenho em cor preta ou cinzenta na foto digital em cor (a), marcado no desenho em vermelho (a) e sobreposto por cima de uma foto a preto
e branco (c). O desenho mostra semelhanças às decorações campaniformes. Foto a: D-DAI-MAD-PAT-DG-021-2012-007, outra vez em branco e
negro (b) (fotógrafo: John Patterson, 2012); desenho de Elisa Puch.

O fotógrafo John Patterson fez várias experiências com nha), onde a neolitização já começou na segunda parte
diferentes iluminações, o que resultou na presentação do 6.º milénio a. C. numa altura de cerca de 1130 m (La
fotográfica aquí publicada (Fig. 12a.b). A desenhadora Revilla del Campo) (Rojo et al., 2008, p. 26.) e 1150 m (La
E. Puch conseguiu desenhar os restos visíveis desse Lámpara) (Rojo et al., 2008, p. 78.) sobre o nível do mar.
desenho o que foi projectado sobre a foto (Fig. 12c). Este Mais tarde, no mundo megalítico ao fim do 4.º milé-
desenho também é parecido aos desenhos das placas nio a. C., lugares a uma altitude de 1335 metros sobre
de xisto assim como da cerâmica campaniforme. o nível do mar foram habitados, como mostra La Feixa
Parece, então, que há também no culto dessa povoa- del Moro nos Pirineos (Llovera, 1992, p. 265). Também
ção calcolítica de Zambujal uma tradução de larga dura- as análises polínicas em áreas montanhosas mostram
ção, que já começou pelo menos no 4.º milénio a. C., o um grande impacto humano na alteração da vegetação
que, do meu ponto da vista, também fala em favor de (López-Sáez et al., 2014, p. 106-110) mas também ocorre-
umas raizes do campaniforme em Portugal. ram, globalmente, ao longo do holoceno perceptíveis
câmbios climáticos, especialmente no 4.º milénio a. C.
com grandes quedas de temperaturas (Blümel, 2002;
NEOLITIZAÇÃO E CÂMBIOS CLIMÁTICOS Eitel, 2007, p. 308-309; ver também Diniz et al. 2016,
A neolitização na Península Ibérica começou no p. 144-145). A partir do 5.º milénio a. C. o Sahara torna-se
início da segunda metade do 6.º milénio a. C. (Davis; sempre mais seco, e isto provoca uma grande fuga das
Simões, 2016, p 62; Diniz et al., 2016, p. 140) e provocou povoações dessas regões, cada vez mais desérticos, a
muito provavelmente uma multiplicação enorme da outras zonas mais férteis (Kuper; Kröpelin 2006, p. 805-
povoação (Rojo et al., 2008, p. 227-241). Desde o início 806; Eitel, 2007, p. 307-310). O 5.º milénio a. C. é mesmo
do Neolítico encontramos povoamento de grande alti- caracterizado por grandes quedas bruscas de tempe-
tude como mostra por exemplo o projecto executado raturas como a chamada oscilação de Piora detectado
pelo Instituto Arqueológico Alemão em conjunto com nos Alpes (Blümel, 2006, p. 29). Em outra ocasião já foi
a Universidade de Valladolid em Ambrona (Sória, Espa- tratado o possível impacto dos câmbios climáticos ao

MICHAEL KUNST  CAMPANIFORME EM ZAMBUJAL (TORRES VEDRAS) 207


desenvolvimento do processo histórico dos IV e III milé- tholoi, são utilizados para os mortos, o que pode indicar
nios a. C. na Península Ibérica (Kunst, 2010b, p. 117-125). também como uma continuidade de utilização destes
É interessante que, mesmo no início do campa- sepulcros, embora existam outras opiniões. Parece-
niforme em Zambujal, entre as fases de construção -me evidente que se devem considerar as sepulturas
3b e 3c (Waterman et al., 2016, p. 184), aconteceu uma colectivas como sepulturas familiares, que eram uti-
mudança na alimentação das ovelhas e cabras a indicar lizadas por várias gerações. Só mais tarde surgem, no
uma transição entre um ambiente mais seco no início âmbito campaniforme, as sepulturas individuais, como
para um ambiente com mais precipitações na época por exemplo Pago de la Peña (Villanueva del Puente,
mais recente (Waterman et al., 2016, p. 186-187). Ao con- Zamora) (Maluquer, 1960; Harrison, 1977, p. 160-162)
trário, foi detectado nos estudos polínicos na zona mon- (Fig. 13), nos quais é possível saber com mais certeza
tanhosa do Sistema Central da Península Ibérica entre quais são os objetos que pertencem a um só indivíduo.
2700 e 1900 cal BC uma tendência a condições mais Nestes casos observa-se que existe em toda Europa
secas (López-Sáez et al., 2014, p. 109). nas sepulturas campaniformes um típico conjunto de
objectos, que foi chamado por Christian Strahm o «Bell
Beaker Set» (Strahm, 2004, p. 113). Este «Bell Beaker Set»
CAMPANIFORME, ARMAS E GUERRA compõe-se segundo Strahm de o vaso campaniforme,
Talvez os indicados câmbios climáticos no IV milé- a taça com pésinhos, várias pontas de seta de sílex, as
nio em combinação com um crescimento demográfico abotoadeiras de osso, o punhal de cobre com placa de
resultou em mais conflictos, e, finalmente, guerras? punho rectangular e as pontas de Palmela – distingue-
(Kunst, 2000, p. 131-140; Kunst; Arnold, 2011, p. 432-433.) -se em alguns items no Oeste de Europa do Europa
Interessante é neste contexto observar os conflitos central, pela presença das pontas de Palmela e taças
mortais no final dessa época no Norte da Península Ibé- de Palmela no Oeste e os chamados abotoadeiras de
rica como em Atalayuela (Barandiarán, 1978), San Juan osso e taças com pésinhos em Europa central e orien-
ante Portam Latinam (Vegas, 1999; Vegas et al., 1999) tal. Era Stephen James Shennan, que 1975 por primeira
e no Hipogeo de Longar (Armendáriz; Irigaray, 1994; vez descreveu o chamado «Bell Beaker package» (Shen-
Armendáriz; Irigaray, 1995) e o crescimento de fortifica- nan, 1975, p. 175) a acrescentar ao chamado Bell Beaker
ções no Sul (Cámara; Molina, 2013, p. 104-114; Gonçalves Set de Strahm os objectos braçal de arqueiro, botão
et al., 2013; Márquez; Jiménez, 2010, p. 516-518; Kunst; com perforação em V, sovelas e brincos, o que Strahm
Arnold, 2011, p. 432, fig. 1). excluiu porque estes items existem também em con-
No âmbito das fortificações, então, parece desen- juntos da Idade do Bronze Antigo. Mas para o Calcolí-
volver-se o fenómeno campaniforme, como foi acima tico o botão de perforação em V e o braçal do arqueiro
explicado. Também, pelo menos no início, as mesmas são mesmo típicos para o fenómeno campaniforme,
sepulturas colectivas, como as grutas artificiais e os por isso, no meu ponto da vista, seria razoável contar
com esses items no Bell Beaker Set, em um sentido do
Bell Beaker package de Shennan. Em Zambujal foram
encontrados também tais objectos (Fig.  14), não como
um achado fechado, mas estos objectos soltos em dife-
rentes lugares na estratigrafia e na área de Zambujal.
O que destaca nestas peças que muitas vezes se encon-
tram em conjunto nas sepulturas é que são sepulturas
nas quais os homens sepultadas levam consigo todos
os tipos de armas da época. Pode-se, então, considerar
essas pessoas como guerreiros; Juan António Câmara
e Fernando Molina falam até de uma «casta guerreira»
(como por exemplo em Pago de la Peña, ver mais acima,
nas sepulturas colectivas, como por exemplo em São
Pedro do Estoril, a maior parte dos objectos não pode-se
associar a determinados individuos, ver Leisner et al.,
FIG. 13 Pago de la Peña (Villabuena del Puente, Zamora, Espanha);
1964, p. 53-55). Por isso não espanta que uma das peças
o conjunto campaniforme, estilo de Ciempozuelos, de uma sepultura mais típicas desta época na Península Ibérica é a ponta
individual com um vaso campaniforme, uma taça chamada caçoila, de seta de sílex com retoque plano (Fig. 15), por exemplo
uma taça pequena, um braçal de arqueiro, um punhal de lingueta,
só em Vila Nova de São Pedro contou Beatrice Blance
um botão cónico de osso com perfuração em V, um anel de osso,
fios de ouro. Foto: D-DAI-MAD-WIT-R-166-94-09 (fotógrafo: Peter mais que 6000 pontas de seta de sílex (Blance, 1971,
Witte, 1994). p. 63).

208 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 14 Objectos de Zambujal que pertencem ao chamado «Bell Beaker Package» (segundo Shennan (Shennan, 1975): a) vaso campaniforme
marítimo (todos os fragmentos são de complexos superficiais); b) taça com decoração puntilhada em triângulos (dos quatro fragmentos que
colam um ao outro, na parte direita da taça, um fragmento é da fase 2 e outro da fase 3c, todos da área da casa V); c-d) taça do tipo Palmela com
decoração puntilhada (possivelmente do fim da fase 4); e-h) quatro pontas de seta de sílex [e) Z-1562-6, fase 2b; f) Z-99999-39 sem datação;
g) Z-353-500 superfície; h) Z-329-31 fase 3 a/b]; i) Z-406-1 punhal de lingueta de cobre (fase 1); k) Z-273-30 ponta de Palmela (superfície);
l) Z-131-1 ponta de Palmela (fase 4/5); m) botão de osso com perfuração em V (fase 4d); n) Z-AP-175-1 fragmento de um braçal de arqueiro (fase
3/4). Fotos a-d: a) D-DAI-MAD-PAT-DG-031-2012-035; b) D-DAI-MAD-PAT-DG-031-2012-033; c) D-DAI-MAD-PAT-DG-031-2012-037;
d) D-DAI-MAD-PAT-DG-031-2012-038 (fotógrafo: John Patterson, 2015); fotos e-g: e) D-DAI-MAD-MLA-DG-005-2016-098; f) D-DAI-MAD-MLA-
DG-007-2015-211; g) D-DAI-MAD-MLA-DG-007-2015-213; h) D-DAI-MAD-MLA-DG-007-2015-217 (fotógrafa: María Latova, 2015 e 2016); fotos
i-k: i) D-DAI-MAD-PAT-DG-08-2012-005; k) D-DAI-MAD-PAT-DG-08-2012-152 (fotógrafo: John Patterson, 2012); fotos l-n: l) DAI-MAD-MLA-
DG-008-2015-113; m) D-DAI-MAD-MLA-DG-008-2015-064; n) D-DAI-MAD-MLA-DG-008-2015-061 (fotógrafa: María Latova, 2015).

MICHAEL KUNST  CAMPANIFORME EM ZAMBUJAL (TORRES VEDRAS) 209


os restos de vasos campaniformes se concentram no
centro do povoado, dentro da segunda linha de fortifi-
cação, onde também foram encontrada uma conta de
ouro (Z-1547; na camada de cor ocre claro da fase 2, ao sul
da casa V, mas anterior), e quatro peças de marfim (dos
complexos Z-831, Z-68186, Z-113) (ver também Bertemes,
2015, p. 197.) da área M da segunda linha da fortificação,
mesmo em frente dessa muralha, da torre D (parte sul
da primeira linha) e de uma camada com carvões do
corte 15 na área VX, datada entre as fases 1 a 3.
No catálogo da exposição Krieg. Eine archäologische
Spurensuche do Museu de Halle (Alemanha) em 2015
e 2016, é publicado na página 196 uma reconstrução
de um guerreiro campaniforme������������������
(����������������
que também pode-
-se ver na exposição Histórias do Zambujal no Museu
Municipal Leonel Trindade em Torres Vedras, Portugal),
elaborado pelo pintor Karol Schauer, que mostra um
homem «campaniforme» com o seu arco de reflexo e
o braçal de arqueiro aplicado num protector do braço
em couro, e também no fundo da imagem o seu cavalo.
Ossos de cavalo também são encontrados em Zambujal
(von den Driesch; Boessneck, 1976, p. 70-73) e o arco de
reflexo está reproduzido numa estela de Petit Chasseur
(Sion, Suiça) (Gallay, 1995, p. 181-182). Com os arcos de
reflexo pode-se dar mais velocidade e força à flecha o
que também deixa o tendão com mais força saltar para
a posição inicial, o que significa que vai bater contra o
braço da mão que segura o arco. Por isso é preciso pro-
tejer este braço por um braçal de arqueiro.
No fim deste artigo permito-me avançar para o
seguinte cenário hipotético para o 3.º milénio a. C.
na Península Ibérica: em virtude de um crescimento
demográfico em combinação de câmbios climáticos
a guerra ganhou mais importância, especialmente
no sul da península, onde surgiram muitas fortifica-
ções, algumas com grandes dimensões, chamadas
macro-aldeias como por exemplo no caso de Marro-
FIG. 15 Torres Vedras, Museu Municipal Leonel Trindade: parede da quíes Bajos (Zafra et al., 1999; Zafra et al., 2003). Tam-
exposição Histórias do Zambujal a mostrar uma «chuva de pontas de bém Zambujal parece hoje ter tido na época do Cal-
seta» e a arquitectura e a defesa da fortificação. Foto: D-DAI-MAD-
MLA-DG-23-2016-246 (fotógrafa: María Latova, 2016).
colítico uma extensão bastante grande pelo menos
26 ha (Becker; Flade-Becker, 2017; Kunst, 2017a). Neste
ambiente surgiu sobre o substrato do Calcolítico ini-
Em vários casos também destacam as sepulturas cial com os copos canelados, na zona da Estremadura
campaniformes pelos objectos valiosos, como os fios portuguesa o fenómeno campaniforme, talvez uma
de ouro em Pago de la Peña (Harrison, 1977, p. 162), ou ideologia (Strahm, 2004, p. 113) na qual o guerreiro
os anéis de ouro em São Pedro do Estoril (Leisner et al., teve um papel especial. Nesta zona, então, encontra-se
1964, estampa XV, p. 95-98), o que pode indicar que não o núcleo para a difusão do fenómeno campaniforme
eram guerreiros comuns, mas talvez guerreiros de uma em outras regiões, seria isto assim uma continuação
função de comandante (ver também Bertemes 2015, do que Victor Gonçalves já obeservou referente aos
197) . Esta ideia é apoiada pelo facto que em Zambujal artefactos votivos de calcário (Gonçalves, 2003, p. 166) .

210 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
BIBLIOG RAFIA
AMARO, G de C. (2012) – La cerámica con decoración acanalada y DINIZ, M. ; NEVES, C.; MARTINS, A. M. (2016) – Sociedades neolíticas
bruñida en el contexto pre-campaniforme del Calcolítico de la e comunidades científicas: Questões aos trajectos da história,
Extremadura portuguesa: nuevos aportes a la comprensión del em: M. DINIZ; C. NEVES; A. MARTINS (coord.) – O Neolítico em
proceso de producción de cerámicas en la Prehistoria Reciente de Portugal antes do horizonte 2020: perspectivas em debate,
Portugal, BAR International Series 2348 (Oxford 2012). AAP Monografias 2 (Lisboa 2016), p. 131-153.
ARMENDÁRIZ MARTIJA, J; IRIGARAY SOTO; S. (1994) – Resumen de VON DEN DRIESCH, A.; BOESSNECK , J. (1976) – Die Fauna vom
las excavaciones arqueológicas en el hipogeo de Longar (Viana, Castro do Zambujal (Fundmaterial der Grabungen von 1966 bis
Navarra, Trabajos de Arqueología de Navarra 11, Pamplona 1994, 1973, mit Ausnahme der Zwingerfunde), in: Studien über frühe
p. 270-275. Tierknochenfunde der Iberischen Halbinsel 5 (München 1976),
ARMENDÁRIZ MARTIJA, J; IRIGARAY SOTO; S. (1995) – Violencia p. 4-129.
y muerte en la prehistoria: el hipogeo de Longar. Revista de VON DEN DRIESCH, A. , BOESSNECK , J. (1981) – Die Fauna von
Arqueología. 168, Madrid 1995, p. 16-28. Zambujal, in: E. Sangmeister – H. Schubart, Zambujal. Die
BARANDIARÁN, I. (1978) – La Atalayuela: fosa de inhumación Grabungen 1964 bis 1973, mit Beiträgen von A. V. D. DRIESCH u. J.
colectiva del Eneolítico en el Ebro Medio, Principe de Viana 39, BOESSNECK, M. HOPF, G. SPERL, B. KLEINMANN, Madrider Beiträge
Pamplona 1978, p. 381-422. 5, 1 (Mainz 1981), p. 303-314.

BECKER, H.;. FLADE-BECKER, A. S (2017) – Zambujal 2013, Teil 2: EITEL, B. B. (2007) – Kulturentwicklung am Wüstenrand – Aridisierung
Magnetische Prospektion, Madrider Mitteilungen 58, 2017, p. 31-56. als Anstoß für frühgeschichtliche Innovation und Migration, in:
G. A. WAGNER (ed.), Einführung in die Archäometrie (Heidelberg
BERTEMES, F. (2015) – Krieg und Gewalt zur Zeit der Glockenbecher- 2007), p. 301-319.
leute, in: H. MELLER; M. SCHEFZIK (eds.) – Krieg. Eine
archäologische Spurensuche, Begleitband zur Sonderausstellung VEIGA FERREIRA, O.; ZBYSZEWSKI, G.; LEITÃO, M.; NORTH, C.;
im Landesmuseum für Vorgeschichte Halle (Saale) 6. November REYNOLDS DE SOUSA, H. (1975) – Le monument mégalithique
2015 bis 22. Mai 2016 (Halle (Saale) 2015), p. 193-200. de Pedra Branca auprès de Montum (Melides), Comunicações
dos Serviços Geológicos de Portugal 59, Lisboa 1975, p. 107-192.
BLANCE, B. (1971) – Die Anfänge der Metallurgie auf der Iberischen
Halbinsel, Studien zu den Anfängen der Metallurgie 4 (Berlin 1971). GALLAY, A. (1995) – Les stèles anthropomorphes du site mégalithique
du Petit-Chasseur à Sion (Valais, Suisse), Notizie Archeologiche
BLÜMEL, W. D. (2002) – 20.000 Jahre Klimawandel und Bergomensi 3, Bergamo 1995, p. 167-194.
Kulturgeschichte. Von der Eiszeit in die Gegenwart,
Wechselwirkungen, Jahrbuch der Universität Stuttgart 2002, GONÇALVES, V. S. (1989) – Manifestações do sagrado na pré-história
Stuttgart 2002, p. 2-19. do ocidente peninsular: 1. Deusa(s)-Mãe, placas de xisto
e cronologias, uma nota preambular, Almansor – Revista de
BLÜMEL, W. D. (2006) – Klimafluktuationen, Determinanten für die Cultura 7, Montemor-o-Novo 1989, p. 289-302.
Kultur- und Siedlungsgeschichte?, Nova Acta Leopoldiana NF 94,
Nr. 346, 2006, p. 13-36. GONÇALVES, V. S. (2003) – Sítios, «Horizontes» e Artefactos. Leituras
críticas de realidades perdidas (Estudos sobre o 3.º milénio no
CÁMARA SERRANO, J. A.; MOLINA GONZÁLEZ, F. (2013) – Indicadores Centro e Sul de Portugal) (Cascais 2003)2.
de conflicto bélico en la prehistoria reciente del cuadrante
sudeste de la Península Ibérica: El caso del Calcolítico, Cuadernos GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C.; COSTEIRA, C. (2013) – Walls, Gates
de Prehistoria y Arqueología de la Universidad de Granada 23, and Towers. Fortified Settlements in the South and Centre
Granada 2013, p. 99-132. of Portugal: Some Notes about Violence and Walls in the
3rd Millenium BCE. Cuadernos de Prehistoria y Arqueología
CARDOSO, J. L. (1994) – Leceia 1983-1993. Escavação do povoado de la Universidad de Granada 23, Granada 2013, p. 35-97.
fortificado pré-histórico, Estudos Arqueológicos de Oeiras,
número especial (Oeiras 1994). HARRISON, R. J. (1977) – The Bell Beaker Cultures of Spain and
Portugal, American School of Prehistoric Research, Peabody
CARDOSO, J. L. (2006) – As cerâmicas decoradas pré-campaniformes Museum, Harvard University Bulletin 35 (Cambridge,
do povoado pré-histórico de Leceia: suas características e Massachusetts 1977)
distribuição estratigráfica, Estudos Arqueológicos de Oeiras 14,
Oeiras 2006, 9-276. HÖCK, M. (2007) – O sistema de coordenadas no Zambujal a partir
de 1994. Revista Portuguesa de Arqueologia 10, 1, Lisboa 2007,
CARDOSO, J. L. (2011) – Deposições rituais de vasos cerâmicos em p. 119-122.
contextos domésticos: os exemplares do povoado calcolítico
fortificado do Outeiro Redondo (Sesimbra), Revista Portuguesa HOFFMANN, G. (1987) – Holozänstratigraphie und
de Arqueologia 14, Lisboa 2011, 85-106. Küstenlinienverlagerung an der andalusischen Mittelmeerküste,
Berichte aus dem Fachbereich Geowissenschaften der Universität
DAVIS, S. J. M.; SIMÕES, T. (2016) – The velocitz of ovis in prehistoric Bremen 2 (Bremen 1987).
times: The sheep bones from early neolithic Lameiras, Sintra,
Portugal, em: M. DINIZ; C. NEVES; A. MARTINS (coord.) – HOFFMANN, G. (1990) – Zur holozänen Landschaftsentwicklung
O Neolítico em Portugal antes do horizonte 2020: perspectivas im Tal des Rio Sizandro (Portugal), Madrider Mitteilungen 31,
em debate, AAP Monografias 2 (Lisboa 2016), p. 51-66. 1990, p. 21-33.

DINIZ, M. (2015) – O Neolítico antigo no Ocidente Peninsular: JALHAY, E. (1946) – O monumento pre-histórico do Casal do Zambujal
reflexões a partir de algumas lacunas no registo arqueográfico, em: (Tôrres Vedras), Brotéria 42, 1946, p. 387-393.
V. S. GONÇALVES; M. DINIZ; A. C. SOUSA (eds.) – 5.º Congresso do KUPER, R.; KRÖPELIN, S. (2006) – Climate-Controlled Holocene
Neolítico Peninsular, Actas, Faculdade de Letras da Universidade Occupation in the Sahara: Motor of Africa’s Evolution,
de Lisboa, 7-9 Abril 2011 (Lisboa 2015), p. 287-298. Science 313, 11 August 2006, p. 803-807.

MICHAEL KUNST  CAMPANIFORME EM ZAMBUJAL (TORRES VEDRAS) 211


KUNST, M. (1987) – Zambujal. Glockenbecher und kerbblattverzierte KUNST, M.; UERPMANN, H.-P. (2002) – Zambujal (Torres Vedras,
Keramik aus den Grabungen 1964 bis 1973, Madrider Beiträge 5, 2 Lisboa): relatório das escavações de 1994 e 1995, Revista
(Mainz 1987). Portuguesa de Arqueologia 5, 1, Lisboa 2002, p. 67-120.
KUNST, M. (1996) – As cerâmicas decoradas do Zambujal e o LEISNER, V.; PAÇO, A. do; RIBEIRO, L. (1964) – Grutas artificiais de
faseamento do Calcolítico da Estremadura Portuguesa, Estudos São Pedro do Estoril (Lisboa 1964).
Arqueológicos de Oeiras 6, 1996, p. 257-287.
LLOVERA I MASSANA, X. (1992) – Visita i discussions sobre La Feixa
KUNST, M. (2000) – A Guerra no Calcolítico na Península Ibérica, del Moro (Juberri, Andorra), in: Estat de la Investigació sobre el
ERA Arqueologia 2, 2000, p. 128-142. Neolític a Catalunya, 9è Col.loqui internacional d’arqueologia de
KUNST, M. (2001) – Invasion? Fashion? Social Rank? Consideration Puigcerdà, Centenari del naixement de P. Bosch Gimpera del
concerning the Bell Beaker phenomenon in Copper Age 24 al 26 d’abril de 1991 (Andorra 1992), p. 265-267.
fortifications of the Iberian Peninsula, in: F. NICOLIS (ed.) – Bell LÓPEZ-SÁEZ, J. A.; ABEL-SCHAAD, D.; PÉREZ-DÍAZ, S.; BLANCO-
Beakers Today. Pottery, people, culture, symbols in prehistoric -GONZÁLEZ, A.; ALBA-SÁNCHEZ, F.; DORADO, M.; RUIZ-ZAPATA, B.;
Europe. Proceedings of the International Colloquium Riva del GIL-GARCÍA, M. J.; GÓMEZ-GONZÁLEZ, C.; FRANCO-MÚGICA, F.
Garda (Trento, Italy) 11-16 May 1998 (Trento 2001), p. 81-90. (2014) – Vegetation history, climate and human impact in the
KUNST, M. (2007) – Zambujal (Torres Vedras, Lisboa): relatório Spanish Central System over the last 9000 years, Quaternary
das escavações de 2001, Revista Portuguesa de Arqueologia 10, 1, International 353, 2014, p. 98-122.
Lisboa 2007, p. 95-118. MALUQUER DE MOTES, J. (1960) – Nuevos hallazgos de la cultura del
KUNST, M. (2010a) – Zambujal. A dinâmica da sequência construtiva, vaso campaniforme en la Meseta, Zephyrus 11, Salamanca 1960,
em: V. S. GONÇALVES; A. C. SOUSA (eds.) – Transformação e p. 119-130.
Mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e.,
MÁRQUEZ ROMERO, J. E. ; JIMÉNEZ JÁIMEZ, J. E. (2010) – Recintos de
Actas do Colóquio Internacional (Cascais, 4-7 Outubro 2005),
fosos. Genealogía y significado de una tradición en la Prehistoria
Colecção Cascais Tempos Antigos 2 (Cascais 2010), p. 131-153.
del suroeste de la Península Ibérica (IV-III milénios AC) (Málaga
KUNST, M. (2010b) – Kupferzeit und Umwelteinflüsse. Überlegungen 2010).
zum 4. und 3. Jahrtausend v. Chr. auf der Iberischen Halbinsel, in:
QUERRÉ; G. ; SALANOVA, L. (1995) – Les céramiques campaniformes
T. ARMBRÜSTER; M. HEGEWISCH (eds.) – Beiträge zur Vor- und
du Sud-Finistère, em: M. VENDRELL-SAZ; T. PRADELL; J. MOLERA;
Frühgeschichte der Iberischen Halbinsel und Mitteleuropas,
M. GARCIA (eds.) – Estudis sobre ceràmica antiga. Actes del
Studien in honorem Philine Kalb – On Pre- and Earlier History
simposi sobre ceràmica antiga (Barcelona 1995), p. 41-44.
of Ibéria and Central Europe, Studies in honour of Philine Kalb,
Studien zur Archäologie Europas 11 (Bonn 2010), p. 111-129. REIMER, P. J.; BARD, E.; BAYLISS, A.; WARREN BECK, J.; BLACKWELL,P.
G.; BRONK RAMSEY, C.; BUCK, C. E.; CHENG, H.; LAWRENCE
KUNST, M. (2017a) – Zambujal 2013, Teil 1, Eine kupferzeitliche
EDWARDS, R.; FRIEDRICH, M.; GROOTES,P. M.; GUILDERSON, T. P.;
befestigte Großsiedlung? Vermessungsarbeiten und
HAFLIDASON, H.; HAJDAS, I.; HATTÉ, C.; HEATON, T. J.; HOFFMANN,
Prospektionen, mit einen Anhang von Anika Herb, Madrider
D. L.; HOGG, A. G.; HUGHEN, K. A.; KAISER, K. F.; KROMER,B.;
Mitteilungen 58, 2017, p. 1-30.
MANNING, S. W.; NIU, M.; REIMER, R. W.; RICHARDS, D. A.; SCOTT, E.
KUNST, M. (2017b) – Edward Sangmeister (1916-2016). Ein Nachruf auf M.; SOUTHON, J. R.; STAFF, R. A.; TURNEY, C. S. M.; VAN DER PLICHT,
den ersten Prähistoriker am DAI Madrid, Madrider Mitteilungen J. (2013) – IntCal13 and Marine13 radiocarbon age calibration
58, 2017, p. 418-472. curves 0-50,000 years cal BP, Radiocarbon 55, 4, 2013, p. 1869-1887.
KUNST, M.; ARNOLD, F. (2011) – Sobre a reconstrução de estruturas
ROJO GUERRA, M. A; KUNST, M.; GARRIDO PENA, M; GARCÍA
defensivas do Calcolítico na Península Ibérica com base
MARTÍNEZ-DE-LAGRÁN; Í.; MORÁN DAUCHEZ, G. F. (2008 ) –
na Torre B de Zambujal (Torres Vedras, Lisboa), O Arqueólogo
Paisajes de la memoria: Asentamientos del Neolítico Antiguo en
Português Série 5, 1, Lisboa 2011, p. 429-488.
el Valle de Ambrona (Soria, España), Serie Arte y Arqueología 23
KUNST, M.; DAMBECK, R.; THIEMEYER, H. (2016) – Climatic and (Valladolid 2008).
Environmental Changes on the Iberian Península. The
SALANOVA, L. (2000) – La question du Campaniforme en France et
Sizandro and Alcabrichel Project and some Considerations
dans les îles anglo-normandes. Productions, chronologie et roles
on Neolithisation and the Beginning of the Bell-Beaker-
d’un standard céramique, Documents préhistoriques 13 (Paris
Phenomenon, in: M. REINDEL; K. BARTL; F. LÜTH; N. BENECKE –
2000).
Palaeoenvironment and the Development of Early Settlements.
Proceedings of the International Conferences Palaeoenvironment SALANOVA, L. (2001) Technological, ideological or economic European
and the Development of Early Societies (Sanl urfa/Turkey, union? The variability of Bell Beaker decoration, in: F. Nicolis (ed.),
5-7 October 2012), The Development of Early Settlement in Arid Bell Beakers Today. Pottery, people, culture, symbols in prehistoric
Regions (Aqaba/Jordan, 12-15 November 2013), Forschungscluster Europe. Proceedings of the International Colloquium Riva del
1, Menschen – Kulturen – Traditionen. Studien aus den Garda (Trento, Italy) 11-16 May 1998 (Trento 2001) 91-102.
Forschungsclustern des Deutschen Archäologischen Instituts 14 SANGMEISTER , E. ; SCHUBART, H. (1981) – Zambujal. Die Grabungen
(Rahden/Westf. 2016), p. 51-62. 1964 bis 1973, mit Beiträgen von A. v. d. Driesch u. J. Boessneck, M.
KUNST, M.; MORÁN, E.; PARREIRA, R. (2013) – Zambujal (Torres Vedras, Hopf, G. Sperl, B. Kleinmann, Madrider Beiträge 5, 1 (Mainz 1981).
Lisboa): relatório das escavações de 2002, Revista Portuguesa de SCHUHMACHER, T. X. (2012) Elfenbeinstudien Faszikel 2:
Arqueologia 16, Lisboa 2013, 103-131. Chalkolithische und Frühbronzezeitliche Elfenbeinobjekte
KUNST, M.; LUTZ, N. (2011) – Zambujal (Torres Vedras), Investigações auf der Iberischen Halbinsel, Studien zu Herkunft, Austausch,
até 2007. Parte I: Sobre a precisão da cronologia absoluta Verarbeitung und sozialer Bedeutung von Elfenbein, mit
decorrente das investigações na quarta linha da fortificação, einem Beitrag von A. Banerjee, Iberia Archaeologica 16, 2
Estudos Arqueológicos de Oeiras 18, 2011, p. 419-466. (Mainz 2012).

212 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
SHENNAN, S. J. (1975) -Die soziale Bedeutung der Glockenbecherkultur WATERMAN, A. J. ; LILLIOS, K. T.; TYKOT, R. H.; KUNST, M. (2016) –
in Mitteleuropa, Acta Archaeologica Carpathica 15, Krakow 1975, Environmental change and economic practices between the
p. 173-179. third and second millennia BC using isotope analyses of
SOUSA, A. C. (2000) – Penedo do Lexim, Campanha 1999, Cadernos ovicaprid remains from the archeological site of Zambujal
de Arqueologia de Mafra 1 (Mafra 2000). (Torres Vedras), Portugal, Journal of Archaeological Science:
Reports 5, 2016, p. 181-189.
SPINDLER, K. (1981) – Cova da Moura. Die Besiedlung des Atlantischen
Küstengebietes Mittelportugals vom Neolithikum bis an das Ende ZAFRA DE LA TORRE, N.; HORNOS MATA, F.; CASTRO LÓPEZ, M. (1999) –
der Bronzezeit, Madrider Beiträge 7 (Mainz 1981). Una macro-aldea en el origen del modo de vida campesino:
Marroquíes Bajos (Jaén) c. 2500–2000 cal. ANE, Trabajos de
STRAHM, C. (2004) – Das Glockenbecher-Phänomen aus der Sicht
der Komplementär-Keramik, in: J. CZEBRESZUK (ed.) – Similar Prehistoria 56, 1, 1999, p. 77–102
but Different. Bell Beakers in Europe (Poznań 2004), p. 101-126. ZAFRA DE LA TORRE, N; CASTRO LÓPEZ, M; HORNOS MATA, F. (2003) –
VEGAS ARAMBURU, J. I. (1999) – El enterramiento neolítico de Sucesión y simultaneidad en un gran asentamiento: La cronología
San Juan ante Portam Latinam, Museo de Arqueología de Álava: de la macro-aldea de Marroquíes Bajos, Jaén. c 2500–2000 CAL
Exposiciones (Vitoria 1999). ANE, Trabajos de Prehistoria 60, 2, 2003, p. 79–90.

VEGAS ARAMBURU, J. I. ; ETXEBERRIA, F.; FERNÁNDEZ, M. S. ; ZILHÃO, J. (2004) – Radiocarbon Evidence for Maritime Pioneer
HERRASTI, L.; ZUMALABE, F. (1999) – La sepultura colectiva de San Colonization at the Origins of Farming in West Mediterranean
Juan ante Portam Latinam (Laguardia, Álava), em: J. BERNABEU- Europe, in: M. GONZÁLEZ MORALES; G. A. CLARK (eds.) –
AUBÁN; T. OROZCO-KÖHLER (eds.) – Actes del II Congrés del The Mesolithic of the Atlantic Façade: Proceedings of the
Neolític a la Península Ibèrica, Universitat de Valencia 7-9 d’Abril, Santander Symposium, Anthropological Research Papers 55
1999, Saguntum Extra 2 (Valencia 1999), p. 439-445. (Arizona 2004), p. 121-132.

MICHAEL KUNST  CAMPANIFORME EM ZAMBUJAL (TORRES VEDRAS) 213


BEAKERS IN CENTRAL PORTUGAL:
SOCIAL ROLES, CONFLUENCES
AND STRANGE ABSENCES
ANTÓNIO CARLOS VALERA
Era Arqueologia S.A.
ICArEHB-Ualg
antoniovalera@era-arqueologia.pt

214 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
A B S T R A C T The actual available data regarding the Bell Beaker presence in Beira Alta,
Central Portugal hinterland, is presented, providing an inventory of recipients per con-
text and analysing their stylistic variability, underlining the predominance of funerary
contexts, but noting that the majority of recipients came from just one context: the cer-
emonial enclosure of Fraga da Pena. This context is debated with more detail, establish-
ing a relation between the social role of the monumental site and the performance of
beakers. Pointing out the feeble presence of the phenomenon in the region, the apparent
late arrival of beakers in relation to other Iberian areas is discussed as well as the diversi-
fied social roles beakers may assume. The importance conceded to interaction as a cen-
tral variable in the process of social change in the region is debated. In that context, an
evaluation of the integration of Beira Alta in the spheres of circulation of Beakers is done:
analysing the distribution of ungulate style, emphasising a relation with Estremadura
and questioning some connections and strange absences, like the influences from North
of Portugal (regarding the combed decorations applied to beaker shapes) an the apparent
isolation from Northern Meseta (regarding Ciempozueos style).
KEYWORDS: Bell Beaker, Beira Alta, Central Portugal, Portugal, Late Chalcolithic.

R E S U M O Apresentam-se os dados actualmente disponíveis para a presença de cam-


paniforme na Beira Alta, interior do centro de Portugal, inventariando-se o número de
recipientes por contexto e analisando a sua variabilidade estilística, realçando-se o predo-
mínio dos contextos funerários, mas sublinhando que a maioria dos recipientes campa-
niformes da região se concentram num único sítio: o recinto cerimonial da Fraga da Pena.
Este último contexto é analisado de forma mais detalhada, estabelecendo uma relação
de sentido entre o desempenho social do sítio monumental e a presença campaniforme.
Afirmando a fraca expressão do fenómeno na região, discute-se o carácter aparentemente
mais tardio do aparecimento de campaniformes na região relativamente a outras e a
diversidade de desempenhos socials que os campaniformes podem assumir. A importân-
cia concedida à interacção como variável fovorecida no processo é igualmente debatida.
Nesse contexto, faz-se uma reavaliação da integração da região no contexto peninsular da
circulação do campaniforme, analisando-se a distribuição do estilo impresso ungulado,
sublinhando-se uma relação de abertura à Estremadura e ao Norte de Portugal (relacio-
nadas com aplicações de decorações penteadas a recipientes acampanulados) e um estra-
nho encerramento a influências mesetenhas (associadas ao campaniforme inciso).
PALAVRAS-CHAVE: Campaniforme, Beira Alta, Centro de Portugal, Calcolítico Final.

ANTÓNIO CARLOS VALERA  BEAKERS IN CENTRAL PORTUGAL: SOCIAL ROLES, CONFLUENCES AND STRANGE ABSENCES 215
1. INTRODUCTION this paper revisits the subject, questioning the diversity
The Bell Beaker presence in the Beira Alta region of social roles of beakers in the region and debating the
(part of the hinterland of central Portugal – Fig. 1) has integration in transregional networks of circulation,
been documented since the works of Vera Liesner in underling some preferential connections and some
the region in the middle of the XX century (Leisner, strange absences.
1998). Later, the issue was specifically address in 1982
and 1994 (Senna-Martinez, 1982; 1994), when the first
explanatory models was developed, and had its latest 2. BELL BEAKERS IN BEIRA ALTA:
discussions in the transition to the present century THE AVAILABLE DATA
(Valera, 1998; 2000). Since then no significant debate There are 17 sites with decorated and undeco-
and information was added regarding the Bell Beaker rated Bell Beaker pottery known in Beira Alta region
phenomena, with the exception of the argumentation (Table  1). These sites may be divided in three categories:
about the Fraga da Pena context (Valera, 2007) and the 13 funerary contexts (all reutilizations of megalithic
notice of some fragments in some megalithic monu- monuments), 3 residential contexts and 1 ceremonial
ments (Cruz, 2001). So, more than providing new data, enclosure.

FUNERARY NON FUNERARY

Quinta da Assentada
Penedo da penha
Orca de Pendilhe
Moinhos de Rua
Outeiro do Rato

Penedo do Com

Orca de Juncais
Orca de Forles

Fraga da Pena
Seixo da Beira

Rapadouro 3
Rapadouro 1
Castenairas
Bobadela

Linhares
Sobreda

TOTALS
STYLES
Seixas

Bands 2 1 1 1 1 1 5 12

INTERNATIONAL Linear 1 1 2 4

Bands and linear 2 1 1 1 1 6

GEOMETRIC DOTTED 1 2 1 1 1 2 8

Harringbone bands 1 1

INCISED Bands of lines 1 1

Bands of traces 1 1

Dotted bands 2 2
IMPRESSED
Ungulate 11 11

INCISED AND IMPRESSED 1 1

UNDECORATED 1 1 9 11

3 2 3 3 3 1 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 32 58
TOTALS
23 35

TABLE 1 Contexts with decorated and undecorated bell beaker pottery in Beira Alta.

216 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 1 Locations of the sites with bell beakers in Beira Alta. 1. Orca de Seixas; 2. Rapadouro 1 and 2; 3. Orca de Pendilhe; 4. Castenairos; 5. Moinho
de Rua; 6. Forles; 7. Juncais; 8. Penedo do Com; 9. Fraga da Pena; 10. Quinta da Assentada; 11. Penedo da Penha 1; 12. Linhares; 13. Outeiro do Rato;
14. Seixo da Beira; 15. Sobreda; 16. Bobadela. The semi-circles correspond to megalithic monuments; the squares to residential sites; the circle to
a ceremonial site.

This assemblage of sites may be clustered in two als is also extremely rare in the region, occurring in just
geomorphological areas: the middle Mondego basin at two contexts: Outeiro do Rato (apart from three beaker
south and the central plateau of river Paiva basin and pots, it was recorded a copper awl and a spiral in gold)
high basins of Vouga and Dão rivers in the north (Fig. 1). and Orca de Seixas (also three beaker pots together
Four monuments with beakers are known in the first with a copper ax, a Palmela arrow head and a archer
area: Bobadela, Sobreda, Seixo da Beira and Outeiro brassard) (Leisner 1998; Senna-Martinez 1994).
do Rato (Senna-Martinez 1982, 1994; Senna-Martinez, In fact, the perception of a reduced impact of beaker
Amaro 1987; Senna-Martinez 1994). The other nine pottery is even higher if we underline the fact that
monuments are in the northern area: Arca do Penedo 32 (55,2%) of those 58 beakers come from just one site
do Com (Gomes, Carvalho 1993), Orca dos Moinhos (Fraga da Pena). However, if a major concentration is in
de Rua (Gomes, Carvalho 1993), Orca de Castenairas that place, interpreted as a ceremonial center (Valera
(Leisner 1998; Senna-Martinez 1994; Leisner 1998), 2007), the majority of sites with this ceramics corre-
Orca de Seixas (Kalb 1987; Senna-Martinez 1994; Leis- spond to megalithic funerary contexts. The numeric
ner 1998), Casa da Moura de Pendilhe, Orca de Forles, relation of the duality between funerary and none
Orca de Juncais (Leisner 1998) and monuments 1 and funerary sites provides an image that is in accordance
3 of Rapadouro (Cruz 2001). All these monuments cor- with other Iberian and Continental regions, where
respond to Neolithic constructions, so the presence of the funerary contexts are well represented or prevail-
beaker pottery is always in contexts of reutilization. ing over other types of sites, but in contrast with what
The three residential contexts with beaker pottery are happens in the South of Portugal or with the adjacent
all located in the middle Mondego basin: the shelter of area of the Northwest of Portugal, where the image is
Penedo da Penha 1 (Estevinha, Senna-Martinez, Valera inverse (Valera, Basílio present volume; Bettencourt
1989; Senna-Martinez 1994), Linhares (Valera 1999) and 2011). But in Beira Alta this duality goes behind context
Quinta da Assentada (Valera, 2007). Finally, the ceremo- and shows other interesting contrasts, namely regard-
nial enclosure (Fraga da Pena – Valera 1997; 2007) is in ing style.
an eastern transitional area between the two geomor- The decorated beakers that occur in funerary con-
phological units. texts follow the classic stylistic patterns of the Inter-
These 17 sites globally provided a minimum num- national and Geometric dotted groups, while in none
ber of recipients of only 58, a number that reveals the funerary contexts these stylistic patterns are in minor-
reduced impact that the beaker phenomena seem to ity or do not exist and other decorations predominate.
have had in the region. That is also reinforced by the This could suggest that more classic beakers were cir-
fact that the traditional beaker assemblages of materi- culating as exogenous objects used mainly in funerary

ANTÓNIO CARLOS VALERA  BEAKERS IN CENTRAL PORTUGAL: SOCIAL ROLES, CONFLUENCES AND STRANGE ABSENCES 217
FIG. 2 Bell beakers from megalithic monuments in Beira Alta: 1. Outeiro do Rato (after Senna-Martinez, 1994); 2-3. Orca de Seixas (after Leisner,
1998); 4-5. Castenairos (after Leisner, 1998); 6. Juncais (after Leisner, 1998); 7-9. Seixo (after Leisner, 1998); 10-12. Bobadela (after Leisner, 1998).

218 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 3 Fraga da Pena. 1-3. Band and linear styles; 4-9. Undecorated beakers.

ANTÓNIO CARLOS VALERA  BEAKERS IN CENTRAL PORTUGAL: SOCIAL ROLES, CONFLUENCES AND STRANGE ABSENCES 219
FIG. 4 Fraga da Pena. 1-5. Ungulate style. Impressed band style.

220 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
contexts, while local productions would favour other
stylistic expressions. An almost absolute lack of archae-
ometric studies focused on the provenance of beakers
makes it difficult to evaluate circulation based in other
criteria than style, but the only study carried out (in
Fraga da Pena) shows that, if the majority of beakers
are local productions, four are importations and that
three of them (one was undecorated) correspond pre-
cisely to two International style decorations and one
dotted imitation of that same style (Dias, et al. 2000;
Dias et al. 2008).
A contextual duality associated to a stylistic con-
trast reinforces the idea that beakers did not have in
this region, as in others, a unique homogeneous social
role, but rather, played active parts I the construction of
specific vigorous contexts, as it seems quite evident in
Fraga da Pena.

3. THE PARTICULARITIES OF BEAKERS AT FRAGA


DA PENA
Fraga da Pena, located in the municipality of Fornos
de Algodres, Guarda, emerges as the most significant
context in the region in what concerns bell beaker pot-
tery (Valera 1997; 2007). There, the interpretation of
the social role of beakers cannot be detached from the
general characteristics of the site and of the contex-
tual circumstances it reveals. The site was set against a
huge granitic tor situated near the top of the extremely
abrupt slope of the right bank of Muxagata stream (a
subsidiary of Mondego river), at an altitude of 740m,
more than 350m above the valley bottom (Fig. 5). This FIG. 5 Fraga da Pena. 1. View (from a central higher platform) of
the tor with the two enclosures; 2. View of the Easter face of the tor
provide the site with a spectacular view over the val- (view from the bottom of the valley); 3. View of the inside of the
ley and its confluence with the Mondego river, hav- enclosures from a lateral higher platform.
ing as horizon the high mountain of Serra da Estrela.
The western side of the tor (the one facing the slope)
was used to support the construction of a small walled A sort of theatre was created there with outstanding
enclosure with two enclosed areas (attached to each sound propagation. No inside evidences of residential
other and at slightly different altitudes – Fig. 5, 6). Each structures were detected, just a lot of pottery sherds,
enclosure is delimited by a thick stone wall (the inner very few knapped stone materials, a stone idol, adorn-
one with three reinforcing bastions), that enclosed ment elements, concentrations of yellow shattered
very small areas (110m2 in the upper inside enclosure; nodules of diorites (that grounded would provide yel-
100m2 in the lower outside one). These two enclosures low pigments, like the ones present in one painting
functioned as a stage for the higher grounds of the detected in the tor), residual elements of polished stone
slope, where a topography with some platforms pre- tools, some few gridding stones and one copper awl.
sented evidences of contemporaneous occupation. In This context was dated by radiocarbon from the last
fact, the small interior areas of the enclosures are vis- quarter of the 3rd / transition to the 2nd millennium BC
ible and easily controlled from these close but higher (Valera, 2007: 252).
platforms, making any defensive purpose futile (Fig. This impressive scenario was reinforced by shadow/
5). The tor is an impressive element (that was certainly light games. With a generic Northeast-Southwest ori-
previously meaningful), with an impressive loca- entation, the tor creates a wall that during the morn-
tion and landscape, and was used to create two small ings leave the enclosures in the shadow, especially
enclosed scenarios dominated from higher stand- the higher interior one that is directly attached to the
ing points in the slope that formed natural benches. massive rock wall of the tor. Using natural fractures, a

ANTÓNIO CARLOS VALERA  BEAKERS IN CENTRAL PORTUGAL: SOCIAL ROLES, CONFLUENCES AND STRANGE ABSENCES 221
part of the rock was removed in the bottom core of the space of the enclosure, running in parallel to a stone
tor, creating a passage from the inner enclosure to the alignment that prolong the west limit of the entrance.
other side of the tor, accessing a sort of «balcony» over Exactly at the end of that stone alignment it was depos-
an abrupt cliff with a spectacular view over the val- ited an almost complete International style beaker pot
ley (Fig. 7). Apart of the potential of this «balcony» for (Fig. 3: 1). This distribution, in contrary to what was
the performance of ritualized practices, the passage is observed regarding other pottery assemblages, does
orientated to 120º, to the sun rising in winter solstice. not seems to be random, suggesting that more com-
Then, at dawn, the sun’s light would pass through this plete pots were deposited or broken in central areas
passage and illuminate part of the inner enclosure in of both enclosures, and that sherds were spread along
the shadow, dramatically reinforcing the symbolic the pathway between both enclosed spaces. Adding
power of the site. to that, we can observe a predominance of ungulate
In this global scenario, the distribution of bell and undecorated beakers (the most representative in
beaker pottery inside the enclosures is particularly the site) in the outside enclosure, while the geometric
suggestive (Fig. 6). There were recipients fragmented doted and International styles (less representative) are
in situ in the centre and some sherds in the south lim- predominant in the inner enclosure, suggesting a spa-
its of the external enclosure. Then there were sherds tial duality regarding the use of beakers inside Fraga
spread along the inner wall, marking the trajectory da Pena. Another spatial duality was noted in relation
that would lead to the entrance of the internal and to the occupations of the outside platforms, where no
higher enclosure. At the entrance there was another beaker pottery was recorded and combed incise deco-
sherd, and three more aligned and penetrating in the rations dominate (Fig. 8: 1-4).

FIG. 6 Distribution of bell beakers in the plan of Fraga da Pena FIG. 7 Location of the passage in the tor of Fraga da Pena and of the
enclosures. «balcony» in the cliff over the valley.

222 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 8 Combed incised band decorations. 1-4. Exterior occupations of Fraga da Pena; 5-8. Late phase of Malhada; 9. Quinta das Rosas;
10-11. Buraco da Moura de São Romão.

ANTÓNIO CARLOS VALERA  BEAKERS IN CENTRAL PORTUGAL: SOCIAL ROLES, CONFLUENCES AND STRANGE ABSENCES 223
Therefore, in Fraga da Pena beakers were only to be of local communities and to a trajectory of social com-
used inside the enclosures, showing a tendency for a plexity less exuberant than in other Iberian regions
stylistic spatial duality between those two enclosed (Senna-Martinez, 1994), generating a late demand for
areas, where no domestic structures were identified, prestige goods. In fact, the arriving of beakers to this
and where material categories associated to daily region has been considered a late phenomenon situ-
activities were extremely rare or none existent. The ated in the last centuries of the 3rd millennium BC, inte-
spatial distributions also suggest some sort of mean- grating the genesis of the Bronze Age. By doing so, a
ingful deposition and in situ fragmentation of beaker beaker Chalcolithic phase is questioned and considered
pots and a deposition of fragments along internal non-existent (idem).
pathways. In the global context, beakers seem to be The chronological problem of the advent of beakers
associated to specific and most probably ritualized in Beira Alta is, though, an open one. If Fraga da Pena
social practices that would participate in the construc- has been dated by radiocarbon from the last quarter
tion of the symbolic meaning and social role of the site of the 3rd millennium BC and beakers are associated
and, recursively, to withdrawing its social significance with pottery morphologies that can be ascribed to an
from that exquisite scenario and social actions there early Bronze Age, no other beaker context in the region
were carried out there. The all monumental setting has been dated in absolute terms. The argument for a
suggests that ceremonial practices were taking place late chronology of the beakers from megalithic monu-
inside (possibly also using the passage through the tor ments has been supported by an alleged association
and the «balcony» over the cliff) and that those cere- to early Bronze Age morphologies and to a late intro-
monies were performed for an audience standing out- duction of metallurgy in the region. However, the
side, in the higher platforms in front of the enclosures. association between beakers and late morphologies
Situated in a moment of transition between the is questionable, for most of the megalithic contexts
Chalcolithic and the initial Bronze Age, the construc- have been submitted to several phases of reuse and
tion and use of Fraga da Pena occurs also in a moment materials show different taphonomic circumstances,
where a local identity, revealing lower levels of transre- so the contextual associations are not secure (for a
gional interaction, seems to be opening and starting to critique see Valera 1998: 224-227). On the other and, if
integrate larger networks of relations. This is expressed for long there was no information about copper met-
by the reduced presence of the local emblematic stylis- allurgy in the region, suggesting a late introduction
tic pottery patterns in the local sites of the late 3rd mil- possibly already in the Bronze Age, the discovery of a
lennium BC (Fraga da Pena, Quinta das Rosas, Quinta crucible with copper remains in the site of Malhada
da Assentada), and the adherence to other stylistic dated from the middle 3rd millennium BC (Valera, 2007;
expressions of wider coverage, like, for instance, the Dias et al. 2008), shows the practice of copper metal-
dominant combed incised ceramics centred in the high lurgy in the region during the Chalcolithic, even if not
Douro valley, but that is also dominating the decorated with the same exuberance of other regions. So, there
pottery in the contexts outside the enclosures at Fraga is still some significant uncertainty regarding the
da Pena and in other close contemporaneous sites like precise moment of the arriving of the first beakers in
Quinta das Rosas (Valera 2007). Beakers appear in Fraga the region. Namely the International ones, that could
da Pena as part of this local opening and transition, very well go back to the middle / third quarter of the
and played their role in a ceremonial place that seems 3rd millennium BC, especially if we take into considera-
designed to manage the relations of power in a process tion that beakers occur in the surrounding areas with
of integration in social relations of larger amplitude: chronologies around the middle of the 3rd millennium
a manipulation of new emblematic objects of wider BC or slightly earlier, like it seems to happen in the
transregional expression in a monumental ceremonial North of Portugal (Bettencourt 2011) and in the central
site with local reminiscences, helping to resolve the Meseta (Garrido-Pena et al. 2005).
social tensions resulting from an ending social order But the problem is also laying in the insufficient
and to promote and conform the new social relations characterization of the economic bases of the social
in construction (idem: 616). trajectories of the local communities. A first model
(Senna-Martinez 1994) put emphasis in an intensifica-
tion of husbandry and in exchange of raw materials
4. BEAKERS AT THE REGIONAL SCALE OF BEIRA ALTA (ex. amphibolite for flint). That would have generated
At a regional scale the beaker phenomena has a faint a higher social complexity (although not so exuberant
expression: a reduced number of sites, of number of ves- as in other regions) and the development of social ine-
sels and of the traditional beaker material assemblages. qualities, creating a need for the consumption of pres-
This rarity has been related to a higher conservatism tige goods by the end of the 3rd millennium BC. Social

224 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
inequality is related to the control of critical resources regions in Portugal, there are no evidences of other
and, in face of the absence of evidences of a strong types of graves in the period and, in face of that fact,
agrarian system, the control of the transregional inter- the known 13 megalithic monuments with beakers
action is considered capable of supporting that social is certainly a reduced number. If in this region beaker
differentiation. So, recursively, emerging social ine- contexts are predominantly megalithic monuments,
qualities would have encouraged the development of it is excessive to see in that an expression of a beaker
transregional exchanges and their control would have funerary manner.
incremented that growing social inequality. Beakers Furthermore, there is no evidence that those reu-
would have been integrated in the process as pres- tilizations corresponded in fact to concrete funerary
tige goods and added to a material culture considered practices involving the deposition of bodies. There is
«poor» it that respect (idem: 184). However, again the a total absence of human remains, and that may be
theoretical construction is based in insufficient direct due to taphonomy or to the fact that no human bod-
evidences about the subsistence system (just some ies (or human bones) were deposited together with
pollen information, but no preserved seeds or signifi- the beaker materials, in many cases corresponding to
cant faunal remains are known for the Late Neolithic simple sherds. So, the association of beaker to funer-
and Chalcolithic in the region) and does not consider ary depositions is simply an assumption, even in face
other important variables, such as demography, spe- of the suggestive assemblage present in the monu-
cialization, monumentality, iconography, technology, ment of Orca de Seixas (three beaker pots, a copper
architecture, funerary practices, landscape, etc.. The ax, a Palmela arrow head and an archer brassard).
specific social role played by beakers or metal objects, The few depositions known (or some of them), that
going behind the general epithet of prestige goods, take place in monuments that are located in two of
can only be established by taking into consideration the largest concentrations of megalithic monuments
the nature and dimension of the social inequalities of the region, could very well correspond to symbolic
and power, but also by bringing other variables into gestures, rather than to concrete funerary procedures.
the inquiry. As it was pointed out to the North of Portugal (Betten-
As seen above for Fraga da Pena, architecture and court, 2011), the presence of beaker pottery in some
monumentality create scenarios that recursively con- megalithic monuments may be interpreted as an
form practices and uses, generating settings for objects adoption of ancient sacred places as forms of appro-
to perform specific social roles and assume specific priation of a legitimating past in the context of social
meanings. To use Eliade’s words about archaic ontolo- change. More than representing burials of differenti-
gies, «(…) les objets du monde extérieur n’ont de valeur ated individuals (even if in some cases they might
intrinsèque autonome. (…) parce qu’ils participent, d’une have occurred), they could correspond to practices
manière ou d’une outre, à une réalité qui les transcende. integrating an ideological process of conforming an
(…) L’óbject apparaît comme un réceptacle d’une force emerging social order, playing a role similar to the one
extérieure qui le différencie de son milieu et lui confère proposed to the context of Fraga da Pena, but through
sens et valeur» (Eliade 1969: 15). Beakers in that context a different strategy: a symbolic control of old power-
seem to have had a «meaning», a «value» and a «pur- ful symbols related to ancestors and tradition in one
pose» provided by the context that cannot be reduced side, a construction ex novo of a monumental site for
to the status of prestige good. And the same may be ceremonial purposes in the other (even if it reproduces
argued, for instance, regarding the funerary question. architectonic principles present in local previous sites,
Traditionally, there has been an association between like Castro de Santiago – Valera, 2007). In the case of
beakers and individual burials, following the patterns the depositions in megalithic monuments, the rites
observed in continental Europe and in some areas of could be considered as repetition archetypes (Eliade
Iberia. Though, not all Iberian regions follow that pat- 1969) typical of pre-modern societies, where ritual is
tern, and, as we have seen, in some of them the pres- a repetition of primordial actions, in this case acts of
ence of beakers in funerary contexts is rare. In others, original consecration by ancestors, renewing a com-
like the Beira Alta, the majority of the contexts with munion (and a power) through that replication.
beakers are funerary, but corresponding to late depo- The social value of beakers (being an entire pot or
sitions in Neolithic megalithic monuments. Many of just a fragment) would not be inherent, but something
these monuments were already closed when late dep- bounded to the forms and contexts of use (although
ositions were done during the 3rd millennium BC and we may recognize a certain level of homology regard-
after (Cruz, 1998; 2001), so we cannot talk strictly about ing the social trajectories where these ceramics occur),
a continuity, but rather of a reuse, possibly with already not favouring regional or transregional uniform mod-
different meanings and different purposes. As in other els (Barret 1994; Thomas 2005; Salanova, 2005; Linden,

ANTÓNIO CARLOS VALERA  BEAKERS IN CENTRAL PORTUGAL: SOCIAL ROLES, CONFLUENCES AND STRANGE ABSENCES 225
2006). Offers for propitiatory favours or appeasement economic and ideological circumstances that were
of ancestors or other beings, elements operating in sce- associated to each network. Objects of different prov-
narios of negotiation of power or of religious consecra- enances, having travel different paths, establishing
tions, symbols of individual or group status, the social different relations between different regions and com-
use of beakers would vary and so would its value and munities (possibly different languages) and reproduc-
active capacities. tion and local reinterpretations, all carry a complexity
But that variability would not result exclusively and a diversity of social relations that is diluted by the
from the contexts and the forms of use, but also from classic designation of prestige goods.
the biographies of the recipients and of their styles: In the context of this complex web of relations to
their social value would also vary according to their aspects emerge with particular interest: the question
origin and forms of circulation. of local expression of combed incised decorations that
could be considered reinterpretations of beaker pat-
terns and the unique presence of ungulate decorations
5. SOME QUESTIONS ABOUT THE CIRCULATION at Fraga da Pena.
OF BEAKER IN BEIRA ALTA The distribution of combed incised decorations in
As discussed above, a model that associates the cir- the central-north Portugal presents a significant con-
culation of beaker to the circulation of metallurgical centration in the high basin of the Douro basin and
products in the region, both seen as prestige goods, Trás-os-Montes (Valera, 2007: 612). There, these style
was proposed (Senna-Martinez 1994). If in general has high percentages in the decorated pottery (usu-
terms that association could be plausible, considering ally above 70/80%), that is itself dominant in the pot-
that certain categories of objects may be integrated in tery assemblages in sites like Castelo de Aguiar (Jorge
polythetic assemblages that circulate, reducing both 1986), Buraco da Pala (Sanches 1997), Castelo Velho
items to a hegemonic category of prestige good culmi- de Freixo de Numão (Jorge 2002) or Catanheiro do
nates again in a simplification of their social abilities Vento (Vale 2003), in a phase that is considered to be
and of their potential differences. representative of the regional Late Chalcolithic. Using
Apart from the obvious differences in specific uses, mainly local traditional shapes (spherical, globular,
there are other disparities between pots and metals hemispherical, ellipsoidal), there are cases where the
that have social significance. The most important is combed incised bands are applied to clear beaker
the fact that beakers could easily be produced locally shapes, for instance in Castelo de Aguiar and Buraco
and metals not, since there is no copper in the region. da Pala (Jorge 1986; Sanches 1997), something that is
Only by recasting was metallurgy possible, and that also known in Galiza in Gandaras de Budiño (Criado
explains in part the rarity of evidences of metallurgy Boado, Vázquez Varela 1982).
and the reduced inventory of copper objects. This In Beira Alta we can also observe the increasing of
should have had quite significant implications in cir- the combed incised decorations in the later contexts
culation of both types of items and in their social value of the 3rd millennium BC. Their percentage is higher
and performance. Stylistic influences could arrive in the decorated pottery of the later phases of Mal-
through few beaker prototypes and be reproduced or hada habitat (Valera 2007) and Buraco da Moura de
reinterpreted using local morphologies or decorative São Romão (unpublished material) and is clearly pre-
patterns. The possibilities of recreation and adoption dominant in Linhares, Murganho 1, Quinta das Rosas
are much more diverse than in objects that were dif- and the exterior occupations of Fraga da Pena (Valera
ficult to produce locally and had most of them to be 1999; Valera 2007), although never with the high per-
imported, a fact that would also inhibit the develop- centages that are characteristic of the North of Portu-
ment of specialization regarding metallurgical pro- gal. These increase of combed decorations in Beira Alta
cedures and the correspondent social implications was related to the movement of overture of the region
(Valera, Gonçalves, Evangelista 2013). On the other to larger scales of interaction and developments in
hand, due to its geographic position, the region could the social structure that had implications in the local
receive beaker stylistic influences form several sur- identities. Local emblematic forms of expression were
rounding areas (Northwest, North Meseta, the inner progressively collapsing in face of styles and symbols
Tagus basin, the Estremadura or the coastal area of of wider circulation responding to relations of higher
the lower Mondego basin) a situation that was much amplitude of the emergent elites (Valera, 2007: 613).
more restrictive for metallurgical products. This means The coincidence of the appearance of Bell Beaker in
that the two types of items did not share the same the region with the growing domination of combed
exact networks of circulation (possibly just sharing decorations, that have a significant distribution in the
an Estremadura connection) nor the political, social, Northwest of Iberia during the last centuries of the 3rd

226 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
/ beginning of the 2nd millennium BC, suggests that Parpantique Horizon was defined (Revilla Andia 1985;
both stylistic expressions were part of the integration Jimeno Martínez, 1988; Harrison et al. 1994, Delibes de
of the region in larger networks of interaction. Castro 1985; Delibes de Castro, Fernández Manzano,
However, although the increasing of the combed 2000) having as one identifying element the scattered
incised decoration, including the organization in hori- ungulate patterns. This Archaeological Horizon (a typi-
zontal bands, may be considered as an influence and cal Historical Culturalism material assemblage) was
a result of a reinforcement of reltions with the north- dated to the last centuries of the 3rd / beginning of the
ern region of the Douro valley and Trás-os-Montes, its 2nd millennium BC in several sites (Parpantique, Mor-
application on clear beaker shapes is almost absent in cuera Cueva Maja Pico Romero Moncín, Santioste, Sta.
Beira Alta. That could, in part, be due to the high lev- Cruz Salceda), being at least in part contemporaneous
els of fragmentation of the pottery that doesn’t allow of the Ciempozuelos phenomenon, but both decora-
the perception of the shapes in many cases. But it is tion rarely are found in a same site. It is also contempo-
unquestionable that the main shapes that exhibit raneous of Fraga da Pena, so it is tempting to establish
these decorations are hemispherical or globular bowls, some sort of connection, due to the unique situation
that is to say, the most traditional local shapes dur- of the Beira Alta site and its proximity and natural
ing the chalcolithic (Fig. 8). Only one exception was geographic relation with the Meseta. But this lead us
recorded in the cave of Buraco da Moura de São Romão, to another important and contradictory circumstance
where bands of combed incisions were applied in in Beira Alta regarding the interaction involving beak-
a morphology that could be considered close to a ers: there are no traces of influences of the Ciempo-
beaker shape (Fig. 8: 11) with parallels in Buraco da Pala zuelos style. That is somehow surprising, if we take
(Sanches 1997). into consideration that Ciempozuelos influences is
As it was considered for the North of Portugal (Jorge well represented in the Alentejo region in the south
1986; Sanches 1997), we may look to these combed (Valera, Basílio in present volume) and even in the
styles of Beira Alta as part of a regional reinterpreta- north of Portugal there are some occurrences reported
tion of Bell Beaker patterns, maintaining a same gen- (Rebuge 2004). The actual data available to the Beira
eral tendency for horizontal sequences of bands that Alta, though, suggests that the region was closed to
cover the whole or significant parts of the pots, but that stylistic influence that reached significant parts
using traditional local shapes and traditional decora- of Iberia, what could be interpreted as another sign of
tive motives (combed incised bands usually restricted resistance by more conservative societies to the social
to the rim zone are present there since the Early Neo- change in course or as need for identity differentiation
lithic), in a process of absorption and reinterpretation regarding a focus of expanding influence in the central
that was similarly proposed for the Beakers of the meseta.
Palmela Group in Portuguese Estremadura (Soares, But the scattered ungulate patterns applied to beaker
Silva 1974/77). An intense translation to local forms morphologies are known in other regions of western
of expression of the bell beaker more classic patterns Iberia. In the Northwest, there is the Galician case of
could also help to explain the reduced presence of Devesa del Rey (Prieto-Martinez et al. 2003) and in the
those beakers, at the same time that could enhance Southwest the case of a recipient in the Andalusian site
their social value, explaining, for instance, the spatial of Acebuchal (Harrison et al. 1976) or the recent identi-
dichotomy of observed in Fraga da Pena (more clas- fied sherds in Perdigões (Valera, Basílio, present vol-
sic and transregional beaker shapes and decorations ume) and in Porto Torrão. However, the major concen-
inside the enclosures; combed patterns in the outside tration seems to occur in Estremadura, in sites like Vila
of the enclosures). But this translation could also be Nova de São Pedro, Penedo, Rotura, Leceia, Penha Verde
a sort of resistance to an increasing process of social (Cardoso et al. 1993) and Moita da Ladra (Cardoso. 2014).
inequality, through a massif adapted reproduction A connection with Estremadura could be suggested
of a symbol («democratization») used as source and here, reinforcing a relation already admitted for the
tool of differentiation and power in a process of social Intenational and Geometric dotted styles (Senna-
change. Martinez 1994). But is also interesting to note that the
The other interesting circumstance regarding the shapes of some of the ungulate beakers of Fraga da
circulation of beakers is the unique presence of ungu- Pena, with higher necks, are closer to beaker morphol-
late patterns at Fraga da Pena (Fig. 4), where they are ogies of continental Europe where (France, UK, Hol-
preponderant. The closest area with a similar pattern, land) the ungulate patterns also occur (Harrison et al.
although not applied in beaker shapes, is the North- 1994). According to the archaeometric study, the origin
ern Meseta, especially the central and oriental parts, of this particular assemblage of beaker is local, form-
but also with some extensions to the west. There, the ing a specific group with a more careful and distinc-

ANTÓNIO CARLOS VALERA  BEAKERS IN CENTRAL PORTUGAL: SOCIAL ROLES, CONFLUENCES AND STRANGE ABSENCES 227
tive production in contrast with all the other groups BIBLIOG RAPHIC REFERENCES
that were defined (Dias et al. 2000; 2005), indicating BARRET, J. (1994) – Fragments from Antiquity: an archaeology of social
that a specific meaning was already assumed in the life in Britain – 2900-1200 BC. Oxford. Blackwell Publications.

production phase. Yet, being a unique situation in the BETTENCOURT, A. M. (2011) – El vaso campaniforme en el Norte de
region, and presenting a decorative pattern known in Portugal. Contextos, homologías y significados. In: M. P. Prieto
Martínez, L. Salanova (coord.) – Las comunidades campaniformes
several other regions, an external stylistic influence
en Galicia. Cambios sociales en el III y II milénios BC en el NW
is the most probable scenario, reinforcing the excep- de la Península Ibérica. Pontevedra, p. 363-414.
tionality of the site. It is not clear, though, where that CARDOSO, J. L. (2014) – O povoado calcolítico fortificado da Moita da
influence might have come from. But the origin, or the Ladra (Vila Franca de Xira, Lisboa): resultados das escavações
more or less imprecise notion of it, would hardly have efectuadas (2003-2006). Estudos Arqueológicos de Oeiras. 21.
been indifferent to the status of these pots. Oeiras. Câmara Municipal de Oeiras. p. 217-294.
CARDOSO, J. L.; CARREIRA, J. R.; VEIGA FERREIRA, O. (1993) – Cerâmicas
unguladas do povoado calcolítico da Penha Verde. Almadan.
2. II Série. p. 35-38.
6. CONCLUDING
CRIADO BOADO, F.; VAZQUEZ VARELA, J. M. (1993) – La cerámica
Considering the general social trajectory that
campaniforme en Galicia. Cuadernos do seminario de Sargadelos.
framed the advent and spread of bell beaker pottery 42. 2.ª Edición.
in Chalcolithic Iberia, characterized by an increment CRUZ, D. J. (2001) – O Alto Paiva: megalitismo, diversidade tumular
of emergent forms of social inequality and competi- e práticas rituais durante a Pré-História Recente. Dissertação de
tion and by an increasing use of exuberant forms of doutoramento, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra,
ideological communication (through architecture, Coimbra, policopiado.

iconography, landscapes, technological investment, DELIBES DE CASTRO, G. (1985) – El Calcolítico. La aparición de la


production and circulation of exotic materials, etc.), metalurgia. Historia de Castilla y Leon, 1 – La prehistoria del Valle
del Duero. Cap. 3, p. 36-52.
the faint presence of beakers in Beira Alta (that can be
DELIBES DE CASTRO, G.; FERNÁNDEZ MANZANO, J. (2000) –
associated to an also pale manifestation of those other
La trayectoria cultural de la Prehistoria Reciente (6400-2500 BP)
expressions) may correspond to a slower and more en la Submeseta Norte española: principales hitos de un proceso.
conservative course and, simultaneously, to dynamics Pré-História Recente da Península Ibérica. Actas do 3.º Congresso
of resistance to the social change in progress. de Arqueologia Peninsular. 4. Porto. ADECAP. p. 95-122.
Even so, indicators that those processes are in course DIAS, M. I.; PRUDÊNCIO, M. I.; PRATES, S.; GOUVEIA, A.; VALERA, A. C.
in the region do exist and beaker pottery is one of the (2000) – Tecnologias de produção e proveniência de matéria-
elements of material culture that participates in that -prima das cerâmicas campaniformes da Fraga da Pena (Fornos
de Algodres – Portugal). Pré-História Recente na Península Ibérica
trajectory, showing a flexibility of performances serv-
(Actas do 3.º Congresso de Arqueologia Peninsular). Porto, ADECAP.
ing the emerging social order and suggesting some p. 253-268.
sort of tension between the arriving influences and DIAS, M .I.; VALERA, A. C.; PRUDÊNCIO, M. I. (2008) – Evidência
local recreations. The unbalanced confluence of dif- de metalurgia calcolítica na Beira Alta: o cadinho da Malhada
ferent influences and local formulas of absorption or (Fornos de Algodres). Apontamentos de Arqueologia e Património. 1.
resistance give beakers some ambiguity, making them Lisboa. Era Arqueologia. p. 7-10.

components of the process of change and increasing ELIADE, M. (1969) – Le mythe de l’éternel retour. Paris. Gallimard.
interaction and, simultaneously, elements used to ESTEVINHA, I.; SENNA-MARTINEZ, J. C.; VALERA, A. C. (1989) –
declare privileged connections or rejections and be O complexo I do Penedo da Penha, Vale de Madeiros (Canas de
Senhorim): alguns resultados preliminares da campanha 1(987).
active in identity assertion.
Actas do I Congresso Arqueológico de Viseu. Viseu. p. 125-142.
Finally, it becomes clear that unitary models can-
HARRISON, R. J.; MORENO LÓPEZ, G.; LEGGE, A. J. (1994) – Moncín:
not express this versatility of beakers, given by the un poblado de la Edad del Bronce (Borja, Zaragoza). Voleción
complexity that emerges from different provenances, Arqueologia 16, Gobierno de Aragón.
networks of circulation, contexts of use and forms of GARRIDO-PENA, R.; ROJO-GUERRA, M.; GARCÍA-MARTÍNEZ DE
absorption. Beakers are a sign of the times in the 3rd/ LAGRÁN, I. (2005) – El campaniforme en la Meseta central de
early 2nd millennium BC, but they signal those times la Península Ibérica. In. M. A. Rojo-Guerra; R. Garrido-Pena;
I. G. Martínez de Lagrán (coords.) – El campaniforme en la
in many different ways, playing diversified roles and
Península Ibérica y su contexto Europeu, Vallodalid, p. 411-435.
assuming plural meanings in the context of complex
GOMES, L. F.; CARVALHO, P. S. (1993). Novos elementos sobre o vaso
social relations. This versatility can hardly be clarified
campaniforme da Beira Alta. Estudos Pré-Históricos. 1. Viseu.
by a simple categorization like prestige goods. p. 29-49.
JIMENO MARTÍNEZ, A.; REVILLA, M.ª L. (1988) – Asentamientos de la
Edad del Bronce en la Provincia de Soria: Consideraciones sobre
los contextos culturales del Bronce Antiguo. Noticiario
Arqueológico Hispano. 30. p. 85-119.

228 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
JORGE, S. O. (1986) – Povoados da Pré-História recente (III inícios do SENNA-MARTINEZ, J. C. (1994) – Notas para o estudo da génese
II milénio a.C.) da região de Chaves-Vila Pouca de Aguiar da Idade do Bronze na Beira Alta: o fenómeno campaniforme.
(Trás-os-Montes Ocidental). IAFLP. Porto. Trabalhos de Arqueologia de EAM. 2. Lisboa. Edições Colibri.
JORGE, S. O. (2002) – Castelo Velho de Freixo de Numão: um recinto p. 173-200.
monumental pré-histórico do Norte de Portugal. Património SENNA-MARTINEZ, J. C.; AMARO, R. M. C. (1987) – Campaniforme
Estudos. Lisboa. IPPAR. p. 145-164. tardío e inícios da Idade do Bronze na Orca do Outeiro do Rato,
Lapa do Lobo: nota preliminar. Da Pré-História à História.
HARRISON, R. J.; BUBNER, T.; HIBBS, V. H. (1976) – The Beaker pottery
Homenagem a Octávio da Veiga Ferreira. Lisboa. Editorial Delta.
from El Acebuchal, Carmona (Prov. Sevilla). Madrider Mitteilungen.
p. 265-271.
17. p. 79-141.
SOARES, J.; SILVA, C. T. (1974-77) – O grupo de Palmela no quadro da
HARRISON, R. J.; MORENO LÓPEZ, G.; LEGGE, A. J. (1994) – Moncín:
cerâmica campaniforme em Portugal. O Arqueólogo Português.
un poblado de la Edad del Bronce (Borja, Zaragoza). Voleción
Série 3. 7/9. Lisboa. p. 101-112.
Arqueologia, 16. Gobierno de Aragón.
THOMAS, J. (2005) – ¿Ceremonias de los Jinetes? In M. A. Rojo-Guerra;
KALB, P. (1987) – Monumentos megalíticos entre Tejo e Douro.
R. Garrido-Pena; I. G. Martínez de Lagrán (coords.) – El campaniforme
El Megalitismo en la Península Ibérica. Madrid. Ministério da
en la Península Ibérica y su contexto Europeu, Vallodalid, p. 107-135.
Cultura. p. 95-109.
VALE, A. M. (2003) – Castanheiro do Vento (Horta do Douro, V.ª N.ª de
LEISNER, V. (1998) – Die Magalithgräber der Iberichen Halbinsel.
Foz Côa). Contributo para o estudo dos resultados das primeiras
Der Westen. 1. Berlin. Walter de Gryter.
campanhas de trabalhos (1998-2000). Dissertação de Mestrado
LINDEN, M. (2006) – Le phénomène campaniforme dans l’Europe du apresentada à Universidade do Porto. Porto.
3ème millénaire avant notre ère: Synthèse et nouvelles perspectives.
VALERA, A. C., (1997) – Fraga da Pena (Sobral Pichorro, Fornos
BAR International Series 1470. p. 70-73.
de Algodres): uma primeira caracterização no contexto da rede
PRIETO-MARTÍNEZ, M. P.; COBAS-FERNÁNDEZ, I.; CRIADO BOADO, F. local de povoamento. Estudos Pré-Históricos. 5. Viseu. p. 55-84.
(2003) – Patterns of spatial regularity in late prehistoric material
VALERA, A.C. (1998) – A génese da Idade do Bronze no Mondego
cultures styles of the NW Iberian Península. In Alex Gibson (ed.)
Interior: análise de alguns aspectos das suas construções
Prehistoric Poterry. People, pattern and purpose, BAR International arqueográficas e historiográficas. Trabalhos de Arqueologia
Series 1156, p. 147-187. da EAM. 3-4. Lisboa. Edições Colibri. p. 215-251.
REBUGE, J. (2004) – Uma proposta para reconceptualizar VALERA, A. C. (1999) – O habitat pré-histórico de Linhares (Santa
a materialidade arqueológica: o campaniforme no Norte de Comba Dão – Viseu). Trabalhos de Arqueologia da EAM. 5. Lisboa.
Portugal e regiões contíguas. Trabalhos de Antropologia Colibri. p. 51-62.
e Etnologia. Vol. 44 (1-2), p. 111-186.
VALERA, A. C. (2000) – O fenómeno campaniforme no interior centro
REVILLA ANDIA, M.ª L. (1985) – El Parpantique. Carta Arqueológica de Portugal: o contexto da Fraga da Pena., Pré-História Recente na
de Soria. Tierra de Almazán. Publicaciones de la Diputación Península Ibérica. Actas do 3.º Congresso de Arqueologia
Provincial de Soria. p. 113-144. Peninsular. Porto. ADECAP. p. 269-290.
SALANOVA, L. (2005) – The origins of the Bell Beaker phenomenon: VALERA, A.C. (2007) – Dinâmicas locais de identidade: estruturação
breakdown, analysis, mapping. In. M. A. Rojo-Guerra; R. Garrido- de um espaço de tradição no 3.º milénio AC (Fornos de Algodres,
Pena; I. G. Martínez de Lagrán (coords.) – El campaniforme Guarda). Braga. CMFA/TA.
en la Península Ibérica y su contexto Europeu, Vallodalid,
VALERA, A. C.; BASÍLIO, A.C. (present volume) – Approaching Bell
p. 7-27.
Beakers at Perdigões enclosures (South Portugal): site, local and
SANCHES, M. J. (1997) – Pré-História Recente de Trás-os-Montes e Alto regional scales. Sinos e Taças. Junto ao oceano e mais além.
Douro. O abrigo do Buraco da Pala (Mirandela) no contexto Aspectos da presença campaniforme na Península Ibérica. Lisboa.
regional. Porto. SPAE. VALERA, A. C.; GONÇALVES, A.; EVANGELISTA, L. S. (2013) – Metais e
SENNA-MARTINEZ, J. C. (1982) – Materiais campaniformes do metalurgia. In. A.C. Valera (coord.) – As comunidades agropastoris
Concelho de Oliveira do Hospital (Distrito de Coimbra). Clio. 4. na margem esquerda do Guadiana. 2.ª metade do IV aos inícios
p. 19-34. do II milénio AC. Memórias d’Odiana. 2.ª série. 6. p. 283-301.

ANTÓNIO CARLOS VALERA  BEAKERS IN CENTRAL PORTUGAL: SOCIAL ROLES, CONFLUENCES AND STRANGE ABSENCES 229
A LOOKING IN VIEW:
CULTURAL EXPRESSIONS
OF MONTEJUNTO BELL BEAKERS
ANA CATARINA BASÍLIO
ICArEHB-Ualg
catarinasbasilio@gmail.com

ANDRÉ TEXUGO
Independent researcher
andrelopes@campus.ul.pt

230 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
A B S T R A C T When we started our investigation regarding the Bell Beaker occupation and spread
in Serra do Montejunto (Portugal) we had as initial aim, to carry an analysis concerning the
ceramic, but also an examination of the real importance and influence of this hill in the surround-
ing landscape. The Bell Beaker ceramics are still strongly influenced by the historic-culturalism
way of looking to and reading the objects. Our study, that reflects not only our investigation con-
text but also the ideas of the authors read, can be enrolled in a modern way of looking at Human-
kind, that is more aware of Human consciousness, with its ease and mobility, the way it struc-
tures and believes the space, knowing and accepting a mutual relationship of influences, through
which we attempt to test the possibility of meanings and expressions of ceramic forms, contacts
and decorations (Valera, 2015). In our view, the Beaker dynamics show us that European contact
networks are defined and expressed in the set studied, where two of the detected shapes seem to
have an affinity with the southern regions of France and the British Isles (Kohring, 2011). This brief
study identified realities that remained, so far forgotten in the scientific community, and opened
the door to the study of Serra do Montejunto as an archaeological site itself, with high potential
and symbolism not only in prehistoric times but also in the running days.
KEYWORDS: Bell Beaker, Late Prehistory, Estremadura, Landscape Archaeology and Montejunto hill.

RESUMO No inicio da nossa investigação em torno da ocupação e dispersão Campaniforme na Serra


do Montejunto (Alenquer, Portugal) tínhamos, como objectivo, levar a cabo uma análise relativa à
componente material, mas também proceder a um ensaio em torno da real importância e influên-
cia desta elevação na paisagem. As cerâmicas Campaniformes são ainda fortemente influencia-
das pela maneira histórico-culturalista de ver e ler os objectos. Tendo esta premissa estabelecida, e
tentado de certa forma «actualizá-la», o nosso estudo tenta, em muito pela influência do contexto
da investigação e pelos autores com os quais tivemos contacto, estabelecer pontes entre métodos
antigos com uma inscrição teórica mais associável às maneiras contemporâneas de olhar para a
Humanidade, com um maior grau de flexibilidade e mobilidade teórica, reconhecendo-se assim, à
partida, uma consciência Humana que afecta os processos de estruturação no espaço e no mundo,
aceitando-se um processo de relações de influências, através das quais podemos construir e tes-
tar posicionamentos e ideias sobre significados e expressões das formas, contactos entre comu-
nidades e decorações (Valera, 2015). No nosso entender, as dinâmicas Campaniformes mostram-
-nos que as redes de contactos europeias já estariam minimamente definidas, estando expressas
no conjunto estudado, onde duas das formas identificadas mostram uma clara afinidade com
as regiões a Norte de Portugal (Valera, 2007), Sul de França e as Ilhas Britânicas (Kohring, 2011).
Este estudo identifica e retorna a realidades que têm sido esquecidas da comunidade científica,
abrindo uma oportunidade no estudo da Serra do Montejunto como um sítio arqueológico em si,
com grande potencial e simbolismo desde períodos Pré-Históricos, até aos nossos dias.
PALAVRAS-CHAVE: Campaniforme, Pré-História Recente, Estremadura, Arqueologia da Paisagem e
Serra do Montejunto.

ANA CATARINA BASÍLIO, ANDRÉ TEXUGO  A LOOKING IN VIEW: CULTURAL EXPRESSIONS OF MONTEJUNTO BELL BEAKERS 231
OVERVIEWS
The Serra do Montejunto is located between the
municipality of Alenquer and Cadaval, belonging to
the Central region of Portugal. It has an extension of 15
km by 7 km in width, reaching, at the highest point, 666
meters. The Serra do Montejunto constitutes an NE-SW
orientation compartment, corresponding to a geologi-
cal accident that creates a physical and visual impact
on the surrounding landscape, polarising the entire
landscape that surrounds it (Fig. 1). Due to its alignment
– almost coinciding with the coastline, which is about
20 km away – Montejunto constitutes and integrates,
on the Montejunto-Estrela axis, an important climac-
teric border (anticlinal) that separates, meteorologi-
cally, the North and the South of the country, making
living conditions very different.
The territory presents us, from the geological point
of view, Oxfordian limestones, with weak aptitude to FIG. 1 The Location of Montejunto Hill in the Iberian Peninsula.
carve (Aubry et al., 2014). On a predominantly limestone
base emerges a type of vegetation that results from brave cat (Pimenta, 2014). Larger species may have had
human action, it is worth mentioning, in the Furadouro this landscape as the last stronghold, protected from
Valley, a small forest composed of chestnut trees, cedars the intense human action, such as deer, aurochs and
and oaks, constituting the best approximation to what possibly the horse.
would have been the primitive vegetation of the region Montejunto also works as the «heart» of the Estre-
during Prehistory (Fig. 2). It is presumed, with due care, madura region, owing to the numerous rivers and
that it would be inhabited by species associated with water springs, usually seen as natural communication
this type of vegetation, such as foxes, badger, hen and channels. The main headwaters are the ones who origi-

FIG. 2 South View of Montejunto, taken from the right bank of the Rio de Ota.

232 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
nate Ota River, associated with the Fortified settlement been associated to traces of human presence, especially
of Ota (Texugo, 2016) and Judeu stream, 11 km from Vila in Prehistoric times (Fig. 3). Alongside this reality, the
Nova de São Pedro, located at the Southeast side, but monumental landscape of Montejunto contains plenty
also Real River, at the Northwest side, linking Outeiro of sites with strategic positioning, as well as control and
da Assenta and Outeiro de São Mamede, all of them are dominance regarding the surrounding landscape.
Chalcolithic settlements with a Bell Beaker occupation/ The two theoretically different sites were chosen as
presence (Basílio, 2015; Basílio, Texugo, 2017). case studies to comprehend the real expression, and
To study the Bell Beaker phenomenon, we are usu- influence, of Bell Beaker precepts and know-how in
ally taught to think on a European level, almost for- the communities that used Montejunto, one typically
getting that each site has singularities that have to be associated with funerary practices, Furadouro and
understood in a specific geographical and temporal Curral das Cabras Gafas Caves, and other, Pragança,
context if we accept and assume the role of agency. assumed as a fortified settlement. This sites had pre-
Another reality that is now starting to be questioned, mature archaeological interventions, being impossible
is the assumed dichotomy between settlements and to access to the contextual information.
other «living» spaces, and the sites related to the sym- Concerning the cave contexts, the Furadouro caves
bolic and sacred worlds, most of the times associated complex, with a total of 7 caves identified, was dis-
with funerary practices and/or contexts, being this the covered and intervened between 1880 and 1893, by
reason why we used two theoretically different sites, two major archaeological institutions at the time, the
with opposite functionalities. Comissão dos Serviços Geológicos de Portugal (Geologi-
cal Commission) and the National Museum of Archae-
ology (Gonçalves, 1990-1992b). They are located at the
ARCHAEOLOGICAL FRAMING: BELL BEAKER «SITES» Furadouro Valley, in the Southeast slope associated
AT MONTEJUNTO with the Ota River spring, with a parallel development
The Montejunto Hill provides the conditions for the in the West limestone scarps, not being observable
formation and development of natural caves that, in the between them. The Bell beaker sherds were all from
majority of cases, present previous human occupations the cave III, but these caverns present an occupation
– by now a total number of 43 caves/cavities/algars have from the beginning of the Neolithic (in cave IV) up to

FIG. 3 Military cartography 1: 25,000 no. 350, 351, 362 and 363, with the indication of the main river springs. 1) Furadouro and 2) Pragança.

ANA CATARINA BASÍLIO, ANDRÉ TEXUGO  A LOOKING IN VIEW: CULTURAL EXPRESSIONS OF MONTEJUNTO BELL BEAKERS 233
FIG. 4 Indicators of the existence of European networks/contacts. 1) Classic Beakers (Kohring, 2011), 2) Fraga da Pena (Valera, 2007), 3) Curral das
Cabras Gafas (Basílio, 2015).

the Bronze age (Gonçalves, 1990-1992b). The Curral das its outstanding position, at 334 meters height, in the
Cabras Gafas site is a small cavity, with an unknown strand. Is last intervention, in 1988, clarified the walled
location, where a single occupation was identified, perimeter, 15 meters long and 10 wide (Gonçalves, 1990-
expressed in the Bell Beaker vessel, with an interna- 1992a), raising questions concerning the categoriza-
tional style decoration (Gonçalves, 1990-1992b). tion of the site as a fortified settlement, to which we
Pragança, one of the most investigated sites in Mon- associate the implantation of the site, totally exposed
tejunto, controls the north-western landscape through to Northern winds, making the habitability of the site

234 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
extremely difficult, mirrored in the lack of permanent bly prior to the presence of Bell Beaker vessels (Basílio,
structures, possibly implanted under the current vil- 2015; Basílio, Texugo, 2017), illustrating an adaptation
lage (Basílio, 2015; Basílio, Texugo, 2017). At the chrono- phase where cultural and technological innovations
logical level, the occupation of Pragança dates back to don’t originate a significant alteration in the devel-
the Neolithic period, but the implantation of the wall opment of materials and in the archaeological record
is dated from the beginning of Chalcolithic, based on (Fokkens, 2012). This «experimentation» phase, where
dates between 2866 and 2470 cal BC (Gonçalves, 1990- the dichotomy between Northwest and Southeast is
1992a), a period in which similar structures are built significant, is followed by the Bell Beaker period where
(Gonçalves et al., 2013). the pre-existing oppositions remain intact. The North-
Even though one can’t access the contextual and west area has a higher diversity of Peninsular and
sequential information, the ceramics, their shapes and extra-peninsular contacts, illustrated in different ves-
the decorative language, allow us to read influences sel forms and decorations, contrasting with a South-
and contacts, and also to access the individuals behind east that works as an unified «cultural region» sharing
the vessels and the culture. Pragança proved to be and similarities in the presence of Bell Beaker decorations,
work as a «confluence» place, due to the extremely dif- forms, and in the ways that is used and the contexts
ferent Bell Beaker sherds in terms of decoration (Inter- where it appears (Basílio, 2015; Basílio, Texugo, 2017).
national, geometric and a regionalism called «Espin- (Fig. 5)
hado», typical from the Northwest of Montejunto), The identified opposition provided us with an
surface treatment and clay origin (Basílio, 2015; Basílio, image where different social rhythms are easily
Texugo, 2017). We are possibly facing a trading post or understood, more specifically differences in the tran-
a meeting point for social practices in an Estremadura sition and adaptation process (Amaro, 2010/2011) to
(Basílio, 2015; Basílio, Texugo, 2017) where this type of new mental and conceptual frameworks, that derived
ceramics appears to be intrinsically linked to funerary from an increasing development of socialisation pro-
practices and rites (Valera, Rebuge, 2011; Valera, Basílio, cesses, contacts, experiences and influences (Linden,
present volume), opposing to places like Porto Torrão 2014). The communities that indicate a belonging to
or Perdigões, in Alentejo, that present a clear relation- the same contact network share general characteris-
ship between Bell Beaker and «settlements»/habitats tics, such as funerary, decorative and spatial specifici-
(Valera, Rebuge, 2011; Valera, Basílio, present volume).
In the meantime, in Furadouro and Curral das
Cabras Gafas, we were able to identify some shapes
that have parallels in the Northern region of Portugal,
in Fraga da Pena (Valera, 2007) but also in United King-
dom (Kohring, 2011), accentuating the need to look at
this societies more as «nomads», travellers and, con-
sequently, complex, than sedentary and stagnated
(Basílio, 2015; Basílio, Texugo, 2017) (Fig. 4).

MEANWHILE…
It is clear that the Montejunto Hill functions as a
«landscape designer» since it is not only a visual but
also a physical marker that directly influences the
Nature, whether the fauna or flora, generating and
accentuating different environments in each of its
sides. This impact is materialised in a variance between
the Northwest and Southeast structuring distinctive
biotypes in which Montejunto functions as a bound-
ary. Those borders are possible to find not only in Past
Societies, and their archaeological record, but also in
present communities that are still nearby – visible, as
an example, in toponymy. In the period of time con-
cerning this work, the transition from Chalcolithic and ties, not associated, in the first moments, with social
Bronze age, it is possible to see the presence of regional fragmentation, but yes with contacts and experiences.
interpretations and usages of comb technique, possi- FIG. 5 «Large storage vessel» from cave II of Furadouro Valley.

ANA CATARINA BASÍLIO, ANDRÉ TEXUGO  A LOOKING IN VIEW: CULTURAL EXPRESSIONS OF MONTEJUNTO BELL BEAKERS 235
FIG. 6 Illustrative Scheme representing the operation of a temporary hierarchy.

We don’t argue that a stratified society can begin its tejunto, even though we have scarce data, this process
development in this phase, but we have to be aware can be slightly observed (Basílio, 2015; Basílio, Texugo,
that this leaderships can represent a temporary real- 2017).
ity that is created when, and if, necessary, dissolving
when the purpose of its creation is complete (Johnson,
2009). (Fig. 6) BIBLIOG RAPHIC REFERENCES
Even though the number of Bell Beaker sherds is AMARO, G. (2010/2011) – Continuidade e Evolução nas cerâmicas
rather small when compared with other sites, such as Calcolíticas da Estremadura: um estudo arqueométrico das
Porto Torrão (Valera, Filipe, 2004) or Molina Sanchón cerâmicas do Zambujal. Estudos Arqueológicos de Oeiras.
Oeiras: Câmara Municipal de Oeiras. 18. p. 201-233
II (Delibes de Castro et al., 2016), with 924 fragments
associated with archaeological layers, it is possibly one AUBRY, T.; LLACH, J.; MATIAS, H. (2014) – Matérias-primas das
ferramentas em pedra lascada da Pré-história do Centro
of the biggest concentrations in Portuguese Estrema-
e Nordeste de Portugal. In DINIS, P.; GOMES, A.; MONTEIRO-
dura, with a minimal number of 55 vessels (Basílio, -RODRIGUES, S. (coords.) – Proveniências de Materiais Geológicos:
2015; Basílio, Texugo, 2017), illustrating the need for abordagens sobre o Quaternário de Portugal. Braga: Associação
new readings for Montejunto, specially readings that Portuguesa para o estudo do Quaternário, pp. 165-192.
try to comprehend this particular hill as an archaeo- BASÍLIO, A. C. (2015) – A Cerâmica Campaniforme e Pontilhada
logical site per si, where the relationships between na Serra do Montejunto. Dissertação de Licenciatura entregue
Human, communities, Nature, space and landscape à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 66 p.

are taken into account. These associations are starting BASÍLIO, A. C.; TEXUGO, A. (2017) – Ensaio sobre a cegueira: Olhar
to be essential in any archaeological speech since we o Montejunto pelo «Campaniforme». In COELHO, I. P.; TORRES,
J. B.; GIL, L. S.; RAMOS, T. (coords.) – Entre ciência e cultura:
are actually dealing with Societies that are becoming
da interdisciplinaridade à transversalidade da Arqueologia,
more and more complex which present relatively sim- Actas das VII Jornadas de Jovens em Investigação Arqueológica.
ple relations with their environment, when compared p. 119-128.
with modern days (Texugo, 2016). DELIBES DE CASTRO, G.; GUERRA DOCE, E.; ABARQUERO MORAS, J.
As a final remark, we would like to emphasise the (2016) – Rituales Campaniformes en contextos no funerários:
idea that Montejunto is a place where various realities La factoría Salinera de Molino Sanchón II (Villafáfila, Zamora).
flow together, turning this hill into an important land- ARPI. p. 286-297.
scape marker, that works as a place of protection, as FOKKENS, H. (2012) – Backgound to dutch beakers: a critical review
well as a place with higher value and importance. The of the dutch model. In FOKKENS, H.; NICOLIS, F. (eds.) – Backgound
to beakers: inquiries into regional cultural backgrounds of the Bell
question concerning the main functionality of Pra-
Beaker complex. Leiden: Sidestone Press. pp. 9-35.
gança needs empirical data/confirmation, that strays
GONÇALVES, J. (1990-1992a) – Olelas e Pragança. Duas fortificações
the scope of this study, even though it seems that the
calcolíticas da Estremadura. O Arqueólogo Português. 4.ª série.
identified indicators point us to a reality that, so far, 8-10. pp. 31-40.
has not been identified in Portuguese Estremadura.
GONÇALVES, J. (1990-1992b) – As grutas da serra de Montejunto
We can only find parallels in Sobreira de Cima, where a (Cadaval). O Arqueólogo Português. 4.ª série. 8-10. pp. 41-201.
natural elevation works as a cultural boundary, as well GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A.; COSTEIRA, C. (2013) – Walls, Gates and
as Montejunto, suffering an increase in its importance Towers. Fortified settlements in the South and Centre of Portugal:
due to a necropolization process (Valera, 2013). In Mon- Some notes about violence and walls in the 3rd millennium BCE.

236 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
CPAG, 23, pp. 35-97. VALERA, A. (2015) – Ciempozuelos Beaker geometric patterns:
HARRISON, R. J. (1977) – The Bell Beaker cultures of Spain and Portugal. a glimpse into their meaning. Apontamentos de Arqueologia
Cambridge: Peabody Museum. Harvard University. e Património. Lisboa: ERA/Colibri. 10, pp. 47-51.

JOHNSON, M. (2009) – Archaeological theory: An introduction. VALERA, A. (2013) – A necrópole da Sobreira de Cima no contexto
Oxford: Blackwell. das práticas funerárias neolíticas no Sul de Portugal. In VALERA, A.
(coord.) – Sobreira de cima: necrópole de Hipogeus do Neolítico
KOHRING, S. (2011) – Social Complexity as a multi-scalar concept.
(Vidigueira, Beja). Era Monográfica 1. Lisboa: Núcleo de
Pottery Technologies, «Communities of Practice» and the Bell
Investigação Arqueológica. pp. 113-129.
Beaker Phenomenon. Norwegian Archaeological Review. 44. 2.
VALERA, A. (2007) – Dinâmicas locais de identidade: estruturação
pp. 145-163.
de um espaço de tradição no 3.º milénio AC (Fornos de Algodres,
LINDEN, M. V. (2014) – Polythetic Networks, coherent people: Guarda). Braga: Município de Fornos de Algodre/Terras de
A new historical hypothesis for the Bell Beaker phenomenon. Algodres – Associação de Promoção do Património de Fornos
In CZEBRESZUK, J. (ed.) – Similar but different: Bell Beakers de Algodres. 654 p.
in Europe. Leiden: Sidestone press. pp. 173-192.
VALERA A.; BASÍLIO, A. C. (present volume) – Approaching Bell
PIMENTA, C. (2014) – Microvertebrates. In CARVALHO, A. (ed.) – Beakers ate Perdigões enclosures (South Portugal): Site, local
Bom Santo cave (Lisbon) and the middle Neolithic societies and regional scales. Sinos e taças. Junto ao Oceano e mais além.
of southern Portugal. Faro: Universidade do Algarve, pp. 61-75. Aspectos da presença Campaniforme na Península Ibérica.
(Promotoria Monográfica, 17). Lisboa.
TEXUGO, A. (2016) – O 4.º e 3.º milénio no sítio da Ota (Alenquer): VALERA, A.; FILIPE, I. (2004) – O povoado do Porto Torrão (Ferreira
perscrutando por entre colecções antigas e projectos recentes. do Alentejo). Era Arqueologia. 6. pp. 28-61.
Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras
VALERA, A.; REBUGE, J. (2011) – O Campaniforme no Alentejo:
da Universidade de Lisboa, sob orientação científica de
Contextos de circulação. Um breve balanço. A Arqueologia do
Ana Catarina Sousa.
Norte Alentejano. Comunicações das 3.as Jornadas. Câmara
Municipal de Fronteira. pp. 111-121.

ANA CATARINA BASÍLIO, ANDRÉ TEXUGO  A LOOKING IN VIEW: CULTURAL EXPRESSIONS OF MONTEJUNTO BELL BEAKERS 237
BELL BEAKER CONTEXTS IN PORTUGAL:
THE NORTHERN AND THE DOURO
REGION BASIN 1
MARIA DE JESUS SANCHES
CITCEM – Transdisciplinary «Culture, Space and Memory» Research Centre
and Faculty of Arts – Porto University
mjsanches77@gmail.com

MARIA HELENA LOPES BARBOSA


CITCEM – Transdisciplinary «Culture, Space and Memory» Research Centre
and Faculty of Arts – Porto University
h_barbosa@hotmail.com

ALEXANDRA MARIA FERREIRA VIEIRA


CITCEM – Transdisciplinary «Culture, Space and Memory» Research Centre
and Polytechnic Institute of Bragança
alexxandra.vieira@gmail.com

238 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
R E S U M O Este texto realizará a síntese dos sítios com cerâmica campaniforme na região
norte de Portugal e bacia do Douro, discutindo sumariamente as bases sobre as quais
assentam as propostas interpretativas anteriores. Dando particular realce a dois contex-
tos – o do Crasto de Palheiros e o da Pastoria–, bem como a outros que têm datas de C14,
defenderemos que o fabrico, circulação e uso da cerâmica campaniforme corresponde
não a um fenómeno unitário, temporalmente curto, mas antes plurifacetado na sua longa
duração de c. de 8 séculos (entre c. de 2700 e 2000/1900 a.C.), e, bem assim, das implicações
inerentes a essa longa cronologia.
PALAVRAS-CHAVE: campaniforme; Norte e Centro de Portugal; cerâmica; estilísticas locais e
regionais.

A B S T R A C T This paper will perform the analytical synthesis of the set of sites that have
bell beaker ceramics (campaniforme) in northern Portugal and the Douro basin region,
briefly discussing the bases on which the previous interpretative proposals rests. With
particular emphasis on two contexts – Crasto de Palheiros and Pastoria – as well as oth-
ers that have C14 dates, we will argue that the manufacture, circulation, and use of bell
beaker ceramics corresponds not to a unitary temporally short phenomenon, but rather
a mutifaceted one given its long duration of about eight centuries (between about 2700
and 2000/1900 BC). So, our discussion would focus on the interpretative implications that
may stem from this long term use.
KEYWORDS: bell-baker; Northern and Central Portugal; local and regional ceramic stylistics.

MARIA DE JESUS SANCHES, MARIA HELENA LOPES BARBOSA, ALEXANDRA MARIA FERREIRA VIEIRA  BELL BEAKER CONTEXTS IN PORTUGAL: THE NORTHERN AND THE DOURO REGION BASIN 239
1. SYNTHETIC APPROACH TO THE BELL BEAKER local or regional styles circulated (Valera, 2007: 514-519).
PROBLEMATIC IN THE NORTH AND CENTER Fixing the material manifestation of the campani-
OF PORTUGAL SINCE THE 1980s forme in both places in the second half of the 3rd mil-
It was mainly from the 1980s that different authors, lenium BC (although only with C14 dates in the Fraga
supported by the increase of excavations according da Pena), both authors link it with larger, long-lasting
to updated methodologies and correlative studies of interaction phenomena (beginning at least at the
materialities, have been presenting in a more sus- beginning of the 3rd millenium BC), which would have
tained way interpretative modes for the occurrence of intensified in this period through more standardized
bell beaker ceramics in the north and central Portugal. forms (in ceramic stylistics, artifacts, ornaments), indi-
Given that in many cases they are close in their posi- cating the emergence of local or regional leaderships
tions, we will treat them in a summarized way, high- (Valera, 2007: 514-519).
lighting the points of approach and divergence. On the other hand, Domingos Cruz (1992), on the
Susana Lopes, starting from Pastoria’s ceramics and purpose of the monograph of Mamoa de Chã do Carval-
metallic artefacts, inaugurates a new way of treating hal 1, which contained a campaniforme burial, makes a
bell beaker ceramics, analysing in detail the forms and synthesis of what is known up to then; he is followed
contexts of local evolution and transformation of pot- by Senna-Martinez (1994) who sees in Central region
tery stylistics (in general) in the settlements of Alto of Portugal the campaniforme «package» (ceramics,
Tâmega – Corgo region, where she highlights that the weapons, ornaments) as a materializer of the processes
phenomena of communal and extra communal inter- of social complexity, located at the beginning of the 2nd
action – where traditionally the interpretations of bell millenium BC. The contribution of Sandra Barbosa is
beaker ceramics are inscribed – can only be analysed done in order to understand the campaniforme occu-
by prior knowledge of other factors, with an emphasis pation of what was then known in Crasto de Palheiros
on the economic and social strategies of the different (its possible functions), making the first regional inte-
groups and, as well, in the symbolic role of these arte- gration of this site (Barbosa, S. 1999).
facts (Jorge, 1986: 771-786). In the settlement of Pastoria João Rebuge develops, in 2004, a major reflection on
(see below, point 3.2), the campaniforme/bell beaker how the campaniform is traditionally addressed, not-
is adopted without ruptures in a process of stylistic ing that this tends to be regarded as static and sepa-
transformation internal to the region, which already rate materiality in relation both to other materialities,
comes from the first half of the 3rd  millenium BC., or to individual contexts, both in historical- culturalist
which denotes, in the second half of the 3rd millenium approaches as in processual ones. And it follows the
BC., in all the region of Chaves, structural changes due perpetuation of circular – analytical interpretative
to a greater extralocal and extra-regional interaction. models that limit the introduction of new explanatory
In this case, ceramic stylistics is highlighted as an ele- ones (Rebuge, 2004) which, in any case, have already
ment that is in the «first line of information exchange» begun to emerge, as is deduced from the above discus-
(Idem: 786) and she focuses on the particular role of this sion.
style in a domestic context. In 2004 Susana Lopes considers that there is no way
In the same vein, one of the authors of this text to clearly establish a campaniform inner diachrony (in
(Sanches, 1997) and A. C. Valera (2000; 2007) tried to its various styles) in Northern Portugal, but admits, as
understand, in the first case with the study of the Tua in 1986, that it may have been a short-lived phenom-
sites (with emphasis on Buraco da Pala), in the second, enon, «somewhere in the 3rd millennium BC.» (Jorge,
the Alto Mondego region (with emphasis on Fraga 2002: 41).
da Pena) – the processes of assimilation and regional Ana Bettencourt (Bettencourt, 2011), unlike the
transformation of the stylistics that have extralocal approaches that put this materiality at the end of the
character (classic campaniforme and their imitations/ 3rd/2nd millenium BC, situates the use of this ceramic
transfigurations), and the social and political uses that in the 1st half of the 3rd millenium, on the basis of the
ceramics could have had in each one of those places. absolute dates of Crasto de Palheiros Enclosure/pre-
In only two cases – Pastoria and Fraga da Pena – were cinct, Buraco da Pala rock shelter and ditch Enclosure of
chemical analyzes of the pottery carried out, which was Forca. It is important to point out that the author sepa-
a significant step forward in addressing the nature of rates chronologically and culturally this period from
the exchanges, and in Pastoria campaniformes all are of the following – 3rd quarter of the 3rd/beginnings of the
local manufacture following extralocal models (trans- 2nd millenium BC –, taking into account the fact that the
formed) and, in Fraga da Pena, A. C. Valera emphasizes an funerary contexts of Northern Portugal during this last
extremely important element, which is that at a regional period do not already contain campaniform ceramics.
and extra-regional scale both campaniformes and other Referring concretely to: Meninas do Crasto 4, Outeiro

240 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 1 Map of the North of Portugal and Douro basin showing archaeological sites having bell beaker (campaniform) ceramics.
Triangles – funerary sites; squares – non funerary sites; full circles – non characterizable sites; circles – other sites.

MARIA DE JESUS SANCHES, MARIA HELENA LOPES BARBOSA, ALEXANDRA MARIA FERREIRA VIEIRA  BELL BEAKER CONTEXTS IN PORTUGAL: THE NORTHERN AND THE DOURO REGION BASIN 241
dos Gregos 1, Quinta da Água Branca, Sítio do Vale Fer- rier makes and breaks up, depending on specific facets
reiro and funerary pit graves of Boucinhas/Regueiras. of the communities that were addressed. The campani-
The present text seeks to synthesize what is known up form pottery configures only one of these aspects, to be
to now and to briefly discuss (using statistics) the claims discussed in this text. We chose the statistical approach
on which the already listed interpretative proposals are of the set of different sites because it seems to us that
based on. Giving particular emphasis to two contexts (as this is still the one method that allows us to configure
there are texts size limitations) – Crasto de Palheiros and the campaniform question within the constraints of
Pastoria –, we will defend that the manufacture, circula- the investigation, and thus to admit that these conclu-
tion and use of campaniform ceramics corresponds not sions are extremely provisional.
to a unitary phenomenon but rather to a multifaceted The 55 known sites with campaniform pottery –
and differentiated one, which has varied expression Table  1 and Fig. 1 –, were divided into the following 3
according to the regions, in the line of S. Jorge, S. Barbosa, primary categories. Funerary: dolmens, miscellaneous
J. Rebuje and A. Valera (Jorge, 1986; idem, 2002; Barbosa, mamoas (barrows)/tumuli /cairn – 33 cases. Non-funer-
1999; Rebuje, 2004; Valera, 2006). Besides that we add to ary: settlements; walled enclosures; ditch enclosures;
our discussion their long duration of about at least eight caves/rock shelters; sites that are difficult to charac-
centuries with the interpretative implications that may terize–18 cases. Other– refers to 4 sites that do not
stem from this long term use. have what we call classical campaniform, but local or
regional stylistics (and/or forms) articulable with bell
beaker models (or campaniform-related).
2. WHAT THE STATISTICAL TREATMENT OF SITES BY We would not need statistics to conclude that as
CATEGORIES AND THEIR GEOGRAPHICAL DISPERSION excavations increase, particularly in open and enlarged
CAN DEMONSTRATE areas, so does the number of sites that reveal having
Our approach focuses on the North and Center of campaniform ceramics, and, for that reason, in the last
Portugal, being the area covered by the basin of the decades those have increased exponentially. 78% of the
river Douro one that allowed us to use the south basin cases are in fact known through excavations and the
of this river as to outline the limits of this study. How- remaining 22% correspond to findings through field
ever, in the general analytical charts we also include surveys. On the other hand, such excavations and subse-
Fraga da Pena site because it is located on the plateaux quent complete studies of the ceramic collections have
that establishes the connection between the hydro- allowed us to equate stylistics and forms that cross those
graphical basins of the Douro and the Mondego rivers. characteristics of the campaniform, creating «hybrids»,
It is a relatively extensive region that includes very these are named, from S. Jorge (1986) imitations, or local
diverse ecosystems, but which can roughly be divided styles of imitation, and so we also keep the term.
into two areas: the shoreline, atlantic, of smaller extent, The first perception is that funerary sites represent
demarcated from the interior, continental, by the align- about 65% of the cases, indicating, at first reading, that
ment of mountains that follow in a barrier (generally it would be in these burial rituals that this material-
orientated from NE to SW), that includes Serra do Gerês, ity of exogenous origin, or manufactured according to
Alvão-Marão (North of the Douro), and Caramulo-Mon- exogenous and broad models, circulated. However, the
temuro (South of the Douro). This defines a very nar- statistics also indicate here that as excavations increase
row coastal area encompassing the basins of (lower) in the area within the settlements, this difference tends
Minho, Lima, Cávado, (low) Tâmega (low) Douro and to be diluted, since only 72% of the non-funerary sites
(low) Paiva. And an extensive interior region, or hin- were excavated, compared to 83% of a funerary kind.
terland that gradually associates orographically and We cannot, therefore, lightly say that campaniform
climatically to the Meseta region (in Spain), both also ceramics affect mainly funerary contexts, but rather
marked by the Douro basin. that it runs through several situations, but the rate of
However, and without appealing to any geographic findings remaining very low on all sites and, in most
determinism, nor to the predetermination of dominant cases, where there are extensive excavations, such
interaction circuits depending on the courses of the ceramics appear in spatially well-defined areas, such as
rivers or mountain passes, the prehistoric settlement Crasto de Palheiros, Pastoria and Regadas.
of the areas that we consider here to be already hin- The same can be said when we internally contrast
terland–Alto Tâmega, Serra da Padrela and Alto Paiva the 3 classes of funerary sites, where 73% are dolmens
– show evidence, since the 4th millennium BC, both with orthostatic chamber and/or corridor (in second or
in megalithic monuments, as in other materialities later reutilizations), with subcircular and low tumuli
(including rock art), of a clear interaction with either (mamoas/barrows), holding only 9%. Mamoas/barrows
more coastal groups and more interior ones. This bar- in general, whose data comes mainly from surveys, rep-

242 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
ARCHAEOLOGICAL MUNICIPALITY TIPOLOGY BELL BEAKER BIBLIOGRAPHIC
SITE TYPE REFERENCES
Mamoa 1 da Portela do Pau Melgaço Dolmen without Maritime: linear; geometric Jorge et al., 1997
corridor
Mamoa 3 da Portela do Pau Melgaço Tumulus without Geometric Jorge et al., 1997
megalithic structures
Dólmen da Barrosa Caminha Corridor dolmen Pontilhado geométrico (?) Jorge, 1986; Cruz, 1992

Mamoa de Aspra Caminha Mamoa/tumulus Maritime: banner; geometric Cruz, 1991

Chã de Arcas 1 Arcos de Valdevez Mamoa/tumulus Maritime: linear Jorge, 1986; Cruz, 1992

Dólmen da Pedreira/ Viana do Castelo Corridor dolmen Maritime Bettencourt, 2009


S. Romão do Neiva 1
Mamoa de Eireira Viana do Castelo Corridor dolmen Marítimo: banner Cruz, 1992;
Bettencourt, 2011
Mamoa de Chafé Viana do Castelo Dolmen without Marítimo: banner Jorge, 1986; Cruz, 1992;
corridor Silva, 2003
Mamoa do Carreiro da Vila Verde Dolmen without Geometric Sampaio et al., 2013
Quinta corridor (?)
Alto da Maronda Vila Verde Mamoa/tumulus Maritime: geometric Bettencourt, 2011

Antela da Portelagem Esposende Corridor dolmen Geometric Bettencourt, 2009;


Bettencourt, 2010
Bouça do Rápido 3 Esposende Corridor dolmen Maritime Bettencourt, 2009

Lugar de Vargo Fafe Funerary ??? Geometric Bettencourt, 1991/92

Mamoa de Guilhabreu Vila do Conde Mamoa/tumulus Maritime: linear Jorge, 1986; Cruz, 1992

Mamoa 2 do Leandro Maia Corridor dolmen Maritime: banner Valera & Antunes,
2008; Bettencourt 2010
Mamoa 5 do Leandro Maia Corridor dolmen Geometric Bettencourt 2010;
Bettencourt, 2011
Chã do Carvalhal 1 Marco de Canaveses Mamoa /tumulus with Maritime; geometric; incised; Jorge, 1986; Cruz, 1992
chamber of cist type Palmela; undecorated
Dólmen 1 de Chã Parada Baião Corridor dolmen Maritime: linear;geometric Jorge, 1986;
Cruz, 1992
Mamoa de Vale de Juros Baião Dolmen without Geometric Cruz, 1992;
corridor Carneiro et al., 1987
Mamoa de Outeiro de Ante 2 Baião Dolmen without Geometric Jorge, 1986;
corridor Cruz, 1992
Monte Maninho/Mamoa Baião Dolmen without Geometric Cruz, 1987
de Chã do Carvalhal 3 corridor (?)
Mamoa 1 de Madorras Sabrosa Corridor dolmen Maritime: linear; geometric Jorge, 1986; Cruz, 1992;
[Ciempozuelos/Palmela (?)] Gonçalves & Cruz, 1994
Mamoa Estante 2 Alijó Mamoa /tumulus (with Maritime or geometric (?) Nunes, 2003
chambre of cist type?)
Mamoa 2 de Carvalhelhos Boticas Mamoa/tumulus Incised Jorge, 1986;
Cruz, 1992
Mamoa 1 de Carvalho Mau Castelo de Paiva Mamoa/tumulus Maritime or Geometric (?) Silva, 1995

Orca de Seixas Moimenta da Beira Corridor dolmen Maritime: banner Cruz, 2001:185

Monumento 1 do Rapadouro Vila Nova de Paiva Mamoa /tumulus with Geometric Cruz, 2001: 183-185,196
chambre of cist type
Monumento 3 do Rapadouro Vila Nova de Paiva Mamoa /tumulus with Linear Cruz, 2001
chambre of cist type
Castonairas 1 Vila Nova de Paiva Corridor dolmen Maritime: linear; Senna-Martinez &
(Orca das Castonairas) undecorated Pedro, 2000; Cruz,
2001:185

TABLE 1.1. Archaeological sites having bell beaker (campaniforme) ceramics in northern Portugal and the Douro basin. Mamoa = barrow.

MARIA DE JESUS SANCHES, MARIA HELENA LOPES BARBOSA, ALEXANDRA MARIA FERREIRA VIEIRA  BELL BEAKER CONTEXTS IN PORTUGAL: THE NORTHERN AND THE DOURO REGION BASIN 243
ARCHAEOLOGICAL CONCELHO TIPOLOGY BELL BEAKER BIBLIOGRAPHIC
SITE TYPE REFERENCES

Dólmen 1 de Chão de Brinco Cinfães Corridor dolmen Maritime Senna-Martinez &


Pedro, 2000
Orca de Pendilhe Vila Nova de Paiva Corridor dolmen Geometric Cruz, 2001:185

Orca do Porto Lamoso Vila Nova de Paiva Corridor dolmen Maritime: banner, linear Cruz, 2001;
or dos Moinhos de Rua Gomes & Carvalho, 1993
Orca de Forles Satão Corridor dolmen Maritime: banner Cruz, 2001:185,

Penedo do Com Penalva do Castelo Corridor dolmen Maritime: banner Gomes & Carvalho, 1993

Castelo de Fraião Valença Settlement (?) Marítime: linear (?) Almeida et al., 1995

Monte da Penha Guimarães Settlement (?) Geometric Sampaio et al., 2009;


Bettencourt, 2011
Estela Póvoa do Varzim Settlement undecorated Bettencourt, 2011

Bouça da Cova da Moura Maia Megalithic(?) Precinct Geometric; incised Bettencourt, 2010a;
Bettencourt et al., 2012
Leandro 3 Maia Settlement (?) Geometric Bettencourt, 2011

Forca Maia Ditched enclosure Corded (AOC) Bettencourt, 2010a;


Bettencourt, 2011
Tapado da Caldeira Baião Settlement Maritime: linear; geometric; Jorge, 1980; Cruz, 1992
incised (Ciempozuelos)
Pedreira Alijó Settlement Maritime: banner Inédito. Information by
Joana Castro Teixeira
Regadas Alijó Settlement Maritime: banner Inédito. Information by
Joana Castro Teixeira
Pastoria Chaves Settlement Maritime: linear; geometric; Jorge, 1986; Cruz, 1992
local styles; undecorated
Crasto de Palheiros Murça Walled Enclosure/ Maritime: linear and Sanches (ed.), 2008;
precinct internacional; geometric; Barbosa, 1999
incised; corded (AOC)
Chã das Lameiras Moimenta da Beira Settlement Maritime: banner; geometric Cruz, 2001:388 and
Fig. 56 of vol. II
Tambores (or Castelo Vila Nova de Foz Côa Settlement (?)/ Maritime: linear; Incised Museu do Côa, on line
Velho III) Walled precinct (?)
Castanheiro do Vento Vila Nova de Foz Côa Walled Enclosure/ Maritime: linear Jorge et al., 2002
precinct
Castelo Velho de Freixo Vila Nova de Foz Côa Walled Enclosure/ Corded (AOC) Jorge, 2002
de Numão precinct
Castelão I Figueira de Castelo Settlement (?)/ Incised Museu do Côa, on line
Rodrigo precinct (?)
Fraga da Pena Fornos de Algodres Walled Enclosure/ Marítime; printed with cane; Valera, 2007
precinct printed with nail; printed
with spatula; undecorated
Buraco da Pala Mirandela Others – rock shelter Bell beaker forms and local Sanches, 1997
styles
Lorga de Dine Vinhais Others – cave Local styles Sanches, 2017
(in press)
Castelo de Aguiar Vila Pouca de Aguiar Others – Settlement Local styles Jorge, 1986

S. Lourenço Chaves Others – Settlement Local styles Jorge, 1986

TABLE 1.2. Archaeological sites having bell beaker (campaniforme) ceramics in northern Portugal and the Douro basin (second part).
Mamoa=barrow.

244 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
resent 12% of the cases, but they do not allow us to go territory of the Tua River, despite a great number of
beyond the observation that they will be funerary, not excavations, no campaniforme pottery has been identi-
being aware at all of their chronology since both in the fied until now, only hybrids/imitations, in Lorga de Dine
North and in the Center of Portugal and Galicia they (along with some metallic artefacts)(Sanches, 2017, in
are constructed mamoas/tumuli in all sizes through- press), and metal artefacts frequently associated with
out the 4th millenium BC, and mamoas/tumuliprogres- bell beaker (dagger, arrowhead in copper and bone ring,
sively lower and smaller (with or without orthostatic in the caves of Ferreiros/Monte Pedriço – M. do Douro)
structures inside) throughout the 3rd and early 2nd mil- (Sanches, 1992), which are not the subject of this study.
leniumBC (Cruz, 1992: 97-98; idem, 2001: 307-310).
If the marked disproportion between dolmens and
small tumuli (to adopt Domingos Cruz’s denomination 3. CONTEXTS CHOSEN FOR DISPLAY:
because he refuses to speak of «megalithism» in the CRASTO DE PALHEIROS ENCLOSURE
North and Center from the end of the 4th millennium AND PASTORIA SETTLEMENT
BC), is extremely significant, this fact shows a certain
preference for the appropriation of the traditional 3.1. crasto de palheiros
monuments that refer to long-established ancestral The Crasto de Palheiros site (Palheiros, Murça –
territories and ontologies. However, this finding, which V.ª Real) was excavated since 1995 and has several pub-
we intuit is close to reality, must be considered. Except lications, we will be highlighting for the purposes of
in regions where systematic excavation of complete this text, the following: Barbosa, S., 1999; Amorim, 1999;
funerary necropolis are carried out, as is the case, for Sanches (ed.), 2008; Barbosa, H., 2015; Sanches, 2016.
example, of Serra da Aboboreira (Aboboreira moun- This site, located in the Mirandela basin, at a short
tain) or of the Alto Paiva region (Fig. 1), where smaller distance from the Buraco da Pala rock shelter, consists
monuments are also excavated, then the proper opposi- of a bizarre hill with quartzite escarpments, that was
tion can be made. In fact, Mamoa de Chã de Carvalhal 1 transformed into a precinct/walled enclosure during
shows a typical bell beaker burial, revealing coherence the beginning of the 3rd millennium BC through power-
between ceramic stylistcs and «campaniform» metals ful embankments in stone and clayey earth, over which
– 10 (or 11) campaniform vessels, 5 Palmela type arrow- walls in perishable materials were built (Crasto I). The
head and 2 daggers, both in copper (Cruz, 1992) – which Upper (or Interior) Enclosure, outlined by outcrops, a per-
highlights perfect consonance of constructive local tra- ishable wall and powerful enbankment, is topographi-
ditions related to the Neolithic, with models of innova- cally superimposed on the Lower (or Outer) Enclosure,
tive artefacts, with wide regional and extra-regional cir- because the latter surrounds the former (Sanches, 2016:
culation of the 2nd half of the 3rd millenium BC. Fig. 2 to 6). It is in the Upper Enclosure that the clas-
Within the set of archaeological sites, in principle, sic bell beaker ceramics are found. The hill also has, in
non-funerary, 36% are open settlements, 28% are enclo- its north and northwest side, occupations that extend
sures (walled and ditched), 28% could not be character- themselves outside the Outer Enbankment, but these
ized by lack of excavations (and we must add up to this are still poorly known. Thus, what is considered here
group 9% in cave/rock shelter). Anyway, it appears that is only the top of the hill, which has durable structures
the diversity is great and although walled enclosures (the enclosure surrounded by embankments) and not
seem to be rarer than open settlements, these data, the entire area occupied in Prehistory2.
though impressive (for the small amount under analy- In the Upper Enclosure, two areas were excavated:
sis), point us to the conclusion that (during that which one in the eastern part – PSL – Upper Eastern Platform,
we believe was the long duration of the bell baker) this and the other in the northern area – PSN – Upper North-
pottery does not denote situations or unitary social ern Platform (in this one the excavation was incom-
practices, but rather the contrary, that this would relate plete) (Fig. 3 and 5). In the Lower Enclosure two areas
to a wide range of factors inherent to different local were excavated too: one in the eastern area and the
settlement networks, ie, to the variable role that certain other in the northern area, allowing to confirm that (i)
material items would assume. in the latter there are remains of the so-called «domestic
The geographical dispersion of archaeological sites occupations» under the Lower/Outer Enbankment, and
with bell baker/campaniforme tends to be regular. (ii) that the different sections of this outer Enbankment
Therefore, the map of Fig. 1 clearly reveals that it is were not coetaneous in their construction. Although
mainly due to the development of research projects, on stratigraphically it is not possible to establish a real
the one hand, and the geographical incidence of small diachrony between the creation of the Upper Enclo-
and large rescue archaeological works, on the other, that sure and that of the Lower Enclosure in its eastern zone,
new identifications are made. However, in the eastern the ceramic stylistics (forms and decorations) – which

MARIA DE JESUS SANCHES, MARIA HELENA LOPES BARBOSA, ALEXANDRA MARIA FERREIRA VIEIRA  BELL BEAKER CONTEXTS IN PORTUGAL: THE NORTHERN AND THE DOURO REGION BASIN 245
FIG. 2 Crasto de Palheiros Upper Northern Platform (PSN). We point out the approximate contour of the condemnation structure – Upper sub
circular Terminal Structure (ETS). On the right side the Embankment is already observable.

FIG. 3 Upper sub circular Terminal Structure – ETS (see Fig.2). We have highlighted its outline and, in the centre, the area below which we have
found the sub circular Stone Structure (EP2 [39]).

246 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 4 Stratigraphic profile N-S of the Upper sub circular Terminal Structure: [33]+[34] – ETS– terminal condemnation; [41] stratigraphic context
of use of [39]; [39] – the sub circular Stone Structure 2 – [EP2] having, at least, 2 condemnations; [41] occupation level (not fully excavated).

FIG. 5 Sub circular Stone Structure (EP2) at the end of the excavation. We have highlighted the area from which the coal that resulted in the
dating of C14 Ua-22284 was collected.

MARIA DE JESUS SANCHES, MARIA HELENA LOPES BARBOSA, ALEXANDRA MARIA FERREIRA VIEIRA  BELL BEAKER CONTEXTS IN PORTUGAL: THE NORTHERN AND THE DOURO REGION BASIN 247
is more conservative in layer 2 of the PSL (and in PSN obtained the date: Ua-22284: 4035 ± 45 BP-2850 to 2469
[43]) (Fig.  4)  –, suggest that the Upper Enclosure was BC (2σ cal.).
built before the Lower Enclosure, although the C14 dates The bell beaker ceramics come from the upper
did not allow such clear discrimination (layer 2 had no (revolved) stratigraphic units but mainly from the con-
charcoal to date). The dates of the Lower Enclosure in demnation stratigraphic units we designate [33] (+
its eastern zone – and also in the northern zone, that is, [34]), and from the level of occupation stratigraphically
when this latter area wasn’t yet architecturally circum- related with [41] and [39] (Fig. 4).
scribed – are already published (Sanches (ed.), 2008: 45). On both platforms, beaker/campaniform correspond
They allow us to suppose an absolute contemporaneous to the terminal moment of occupation, but while here,
use of the Upper Enclosure and of the Lower Enclosure in PSN (northern area) it is dominantly related to con-
in their Eastern area, prior to the condemnation of any demnation and, to a lesser extent, with occupation, in
of them, in the period between about 2740 and 2480 BC. PSL (eastern area) no fragment was exhumed in the
But they also admit that the Upper Enclosure has had condemnation level (carapace), but only in the occupa-
slightly earlier condemnations than the Lower. tion layer that underlies it ([20] and [cam.1]).
Indeed, in the Upper Enclosure the two dates whose Copper metallurgy, although not very expressive, is
context is trustworthy (undisturbed) gave the follow- indicated in both areas by casting remains, spike/riv-
ing results. CSIC 1280– 4087 ± 34 BP – 2860-2495 AC (cal ets, tiny deformed plates, slag, 2 axe fragments, and in
2σ): this sample comes from the upper half of the occu- PSN also by crucible fragments (not yet analyzed).
pation layer [20], a restricted area with a hearth anda The bell beaker also appears in its version of the
polygonal structure filled with sterile sediments, a slab maritime complex and of the geometric group (which
with cups and a little vase buried upright in the soil is quite diversified), and a much eroded fragment, that
and covered with clay (Barbosa, S. 1999: Fig. 9; Sanches, seems corded, has been collected in the PSN (Figure 6,
2016: Fig. 7). The carapace of condemnation sealed this no. 3; 5 to 8). We must hold in high account the type 8
layer. The 60 fragments of bell beaker ceramic come containers – bell-shaped with a simulation of carena,
from that stratigraphic unit [20]3 and also from layer that are similar to the Acebuchal «cup» –, that are sys-
1, ie, from an area of 88 m2. Layer 1 was the name given tematically related with an extremely standardized
to the layer in the area where it was not overlain by the incised decoration [I1a] (see decorative organizations
stone’s intentional «sealing», and [20] when the layer in Sanches (ed.), 2008). They have just as good or better
already had it. A fireplace, other structures and remains careful surface treatment than the classic campani-
of consumption of domestic animals, cereals and leg- forme, although they have dark brown oxidizing cook-
umes are found in this layer 1 (and also in layer [20]). ing surfaces, as opposed to the reddish brown campan-
In PSN, only the upper levels were excavated, and iformes (Fig. 6, no. 1 and 2; Fig. 7, no. 8).They also relate,
those were disturbed by the occupation of the Iron Age in at least one case, to the organization V3, which rep-
(Crasto III), and by the erosion, except for an area of licates, in its combed printed version, the bell decoratif
20 m2 (Fig. 2 to 5), following the identification of a sub bands, thus being similar in shape and decoration to
circular «sealing» structure (carapace), similar to a bar- the Pastoria container (Fig. 8, no. 8). In these contain-
row or tumulus, formed by slabs of different sizes, clayey ers, the form [8] and the decorative organization itself
earth, ceramic fragments, percussion artefacts, quartz- [I1a] – which is incised –, should be valued, as this is
ite flakes and pebbles, mill stones – which we named also very rare. Actually, the vertical panels of alternat-
the Terminal Circular Structure – ETS (Fig. 2 and 3). ing crosslinked with space voids, join sometimes in a
Digging deep into this limited area allowed us to star design at the bottom of the container.This decora-
understand that this was really the condemnation tive organization (which we call the «immitation» of
structure of this very narrow zone, which is drawn incised campaniforme) is also associated with little
on a narrow platform outlined by a stone alignment closed globular vessels, small bowls and high bowls
built over the Enbankment.Between that and the rock (Fig. 6, no. 1), setting up a formal panoply similar to that
outcrop it draws up an occupation layer [41] that sur- of the group of bell beakers forms. However, while the
rounds and follows a stone subcircular structure [EP2 = latter set – which we call the exceptional ceramics of
39], that we have found already condemned (Fig. 4 and the Crasto, but which we could also name as its incised
5). From its interior were exhumed ceramic fragments, tableware – is found in all the excavated areas (always
among which an incomplete broken recipient (with in very small percentages), the printed maritime and
bell-shaped profile and decorated by comb according to geometric styles are confined to the Upper Enclosure.
the [I2/metope] organization). Burned sediments [of 41] In the Upper Enclosure, and particularly in the PSL,
surrounded and are contemporaries of this subcircular type 8 containers added to the campaniformes repre-
structure (Fig. 4 and 5) and it was from them that we sent about 10% of the total. In this proportion, 5,4% are

248 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
bell beaker, and 4,6% are type 8 containers. Likewise, To conclude, and thus to give more credibility to
it is also worth comparing the dimensions since these the old dates associated with bell beaker in the Upper
type 8 pots look like drinking glasses, ranging in size Enclosure, we add that, in the Lower Enclosure a bell-
from 0,47 and 1,164 liters, being the bell-shaped vari- shaped pot was exhumed in the stratigraphic level [112],
ation in PSL greater: between 0,94 and 5,75 liters. Nei- with the following date: Ua-18528: 4060 ± 50 – 2860-
ther of them have any traces of being used over a fire. 2472 cal BC. And another one comes from the basis of
The beaker set consists of 60 fragments, of which a [109.1] level, but where the charcoal sample was desig-
minimum of 14 and a maximum of 18 containers were nated as [109.2] (Barbosa, H., 2015) (Table 2). The result
reconstituted in the PSL area (plus 4 fragments associ- of the latter sample is as follows: Ua-22212: 4065 ± 45
ated with the Ciempozuelos complex, see note 2) (Fig. 7, BP–2859-2475 cal. BC.
no. 5 to 7). And 69 fragments in the PSN area, but the
fragmented state of the latter only allow us to advance 3.2. pastoria
that they can belong to 25 different containers, although It is an open settlement in Redondelo-Chaves (V.ª
only 9 small size forms have been clearly identified (all Real), Alto Tâmega that was excavated and published
of these fit in the PSL typology: Fig. 8, no. 8). monographically by Susana Lopes (Jorge, 1986), and
Considering the fragmented state of the ensemble, this is the publication on which we will base our expo-
it is observed that the decoration is evenly distributed sition. The settlemet with about 0,4 hectares extends
between the maritime and the geometric complex, along diverse slope platforms, the excavated one being
but in the PSN group the decoration is more baroque the widest among them, which is outlined in a spur
than that observed in the PSL (Fig. 6, no. 3). On the other (Local 3 – South of the forest road).
hand, it is worth pointing out that this is the site in the The classic bell beaker ceramics – 2 decorated pots (of
North of Portugal that displays more quantity of «clas- a geometric decoration) – and 1 without any decoration,
sic» bell beaker. But statistics can also aid in a better have a very angular profile, and come from the 2nd and
understanding of the actual weight of the bell beaker last occupation level of Local 3 (140 m2), which also pro-
ceramic within the set of decorated ceramics (since no vided 1 pricker, 1 chisel and 1 curved knife, all made out
smooth fragments were identified). In the eastern area of arsenical copper. But the 54 bell beaker fragments
(PSL) it represents 5,2% and in the northern area, in the (some of which from the superficial layer) allowed to
contexts that integrate the Upper Terminal Structure observe 5 decorative variants within the maritime and
(PSN), it is slightly higher: 7.4%. They are nonetheless geometric dots.
sufficiently low, which gives it an exceptional character Susana Lopes spatially and chronologically relates
and neither the context in which they are found nor this 2nd occupation of Local 3 with the occupation of
the quality of most of their pastes or surface treatment, Local 2 in the northern area of the forest road, areas that
allow us to assume that they could be used routinely. primitively would have been a continuous space. From
In addition to the incised campaniform [I1a], the the latter comes an Acebuchal type container («bowl»)
styles that translate local bell beaker decorative ver- with a combed additive decoration [V-1.i] (Fig. 8, no. 8)
sions, especially the additive combed bands [V5], are and, in ancient findings, an arsenical copper dagger
distributed throughout all areas of the Crasto too. As was recovered too.
well as the metopes drawn through comb incision Althoughthe whole site has a domestic character,
given that both are found with some frequency associ- the detailed description of how the oldest occupa-
ated with carefully crafted containers. This fact actu- tion was sealed in a restrited area [c. 4] and prepared
ally discriminates the context of use of the printed the «floor» for the most recent occupation [c. 3 and 2]
(«classic») bell beaker in the Crasto, but these contexts through a dense stone filling – which included mills
must have been varied since in the eastern area of ​​the and many other archaeological material –, presents
Enclosure its use could be performed commensality, some similarities with the «sealing» materialized in
and in the northern area the fragments seems to be the Terminal Structure of the Upper Platform of the
(dominantly?) object of intentional deposition – as Crasto de Palheiros.
fragments that would refer to other practices and/ Other aspects of this Local 3 indicate that this was
or as construction material. This occurs mainly in the a particular area, of which we highlight the existence
Upper Terminal Structure that seals the central part of central structures flanking/circumscribing an area
of the platform, as was verified by the fragmentation with broken pots «in situ» (Jorge, 1986: 463-506, 548-
and conservation studies of its ceramics – that shows 552, 855), which reveals us intentional depositions as
rare remounted fragments–, that are aspects of a more well. In addition to stone mills, arrowheads (in shale,
enlarged and accomplished study but whose results flint and corneal), axes and adzes, the remaining pot-
we won’t expose due to length requirements. tery is highly decorated (80%) and, within the whole, a

MARIA DE JESUS SANCHES, MARIA HELENA LOPES BARBOSA, ALEXANDRA MARIA FERREIRA VIEIRA  BELL BEAKER CONTEXTS IN PORTUGAL: THE NORTHERN AND THE DOURO REGION BASIN 249
high percentage of decorations is related to the beaker but Susana Lopes proposes the approximate period
sequence in its additive/international version (espe- between 2000-1900 BC (non calibrated), based on
cially decorative organization IV and V), but there are the internal evolution of ceramics, on the typology of
also, although rare, decorative organizations inspired metals, on bell beaker ceramics and on C14 of Castelo
by the Ciempozuelos style. de Aguiar II settlement (Table 2). (Jorge, S., 1986: 559).
Within the level of ceramic stylistics, the campani- In calibrated chronologies the settlement would date
forme still coincides with the «overcoming of morpho- from the the second half of the 3rd millenium BC.
logical regionalism observed in the previous phase» Finally, in our oppinion, it is possible that this plat-
(JORGE, 1986: 544) thus, to a dominant Atlantic interac- form of the Pastoria also configures a particular space
tion, but where the central Iberian interaction is still within the whole area of the settlement (that is incom-
present. The chemical study of campaniform pastes pletely excavated). Pastoria settlement although well
led to the conclusion that they come from local manu- studied, deserves that its data should be revised in the
facturing. The settlement does not have absolute dates, light of new paradigms.

FIG. 6 Crasto de Palheiros’s ceramics. 1 –semi spherical bowl –, and 2 – type 8 recipient –, both having a [I1a] decorative organization;
3 – fragments of the bell beaker recipients (maritime and geometric) of the Upper Northern Platform (PSN).

250 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
have symbolic decoration and others have «designs»
related to it (solar and animal/cervid figures) (Fabián,
2006: 58-63). Actually, this symbolic iconography is
incisively marked on the Serra de Passos (Mirandela)
rock shelter paintings, in a ceramic vessel that comes
from level I of Buraco da Pala rock shelter (Sanches,
Morais & Teixeira, 2016) and in another pot exhumed in
the Eastern Superior Platform (PSN) of Crasto de Palhei-
ros. It is relevant to consider the absolute chronology of
this level I of Buraco da Pala (before 2500 BC) (Table 2)
as it displays in this chronology such bell beaker imita-
tions, in the form of additive comb decoration, of bell
beaker-like forms and, although rare, of type 8 vessels
(«bowl» Acebuchal) with the [I1a] decorative organiza-
tion (Fig. 8, no. 4 to 7). In the Chaves region the metope
decorative organization (and additive decoration, in
general) becomes more significant in the first half of
the 3rd millennium BC (in Vinha da Soutilha), which
reveals close connections with Estremadura-Portugal
in that period (Jorge, 1986: 781-786).
In the current state of knowledge about the chro-
TABLE 2. Graphical representation of C14 dating (cal 2σ BC), of
nology of the bell beaker culture in Estremadura and
the following sites: BP – Buraco da Pala rock shelter; CP – Crasto Alentejo, J. L. Cardoso recently argued, based on C14, in
de Palheiros enclosure; Forca – enclosure; CA – Castelo de Aguiar stratigraphies and typological sequences of ceramics,
settlement; FP – Fraga da Pena enclosure. Highlighted through
that bell beaker/campaniforme pottery can be dated,
horizontal dashed lines are the datings from context directly related
to bell beaker ceramics (maritime groups, geometric and corded at least, from the 2nd quarter of the 3rd millennium BC
ware). (Calibration acc. Reimer et al, 2013). (Cardoso, 2014). Hence, we consider settled, just as that
researcher, that the same ancient chronologies should
not be a surprise in northern Portugal, region which, as
4. DISCUSSION AND CONCLUSIONS mentioned above, for a long time displays (Eg. in Vinha
Faced with the data set out above, and with the sup- da Soutilha I and II, whose chronology does not exceed
port of Table 2, the following can be put forward. the middle of the 3rd millennium BC) close relationships,
In the North of Portugal and the Douro basin, the especially in pottery stylistics, with Estremadura. Fur-
bell beaker ceramics can be chronologically framed thermore, in this Workshop Ana C. Sousa also referred
between around 2800/2700 and 1900/1800 BC or, if we that in Casal do Cordeiro (Estremadura) the campani-
want to restrict the date ranges in its statistical overlap, form would be dated as being part of the 2nd quarter of
between 2700-1900 BC (Table 2), being that these dates the 3rd millennium BC (see text inserted in this volume),
come mainly from the dating of enclosures: Forca, in outlining it in that extended region as a long-term phe-
the coastal area north of the Douro; Crasto de Palhei- nomenon. In our region, besides the Atlantic networks,
ros (in Tua’s basin) and Fraga da Pena (Alto Mondego), those with the hinterland (particularly with the inte-
in the hinterland. The corded bell beaker is present in rior region of the Iberia) must be considered since the
Forca (coastal), in Castelo Velho F. Numão, and in Crasto beginning of the 3rd millennium BC.
de Palheiros (in the hinterland), but it is only dated by A closer look at these settlements of the 1st half of
C14 in the first enclosure, and certainly also in Crasto de the 3rd millennium reveal that the bell beaker ceram-
Palheiros. This reveals that, like the maritime and geo- ics circulates in contexts with little developed copper
metric (and even local versions of incised bell beaker), it metallurgy (simple instruments such as axes, prickers,
circulates in the north of Portugal at an early date and/ little amorphous plaques), along with, of course, other
or approximately the same period of the other local objects of exception, such as variscite stone adorn-
styles. In fact, the contact networks on a peninsular ments, flint artefacts (cloths in wool and linen?) and,
scale during the 3rd millennium BC, must have been var- perhaps, other ceramic vessels. It is not possible to
ied because we know that in the Meseta, in the settle- know the exact dates, within the 3rd millennium BC, for
ments of the region of Ávila there are in the first half of the occurrence of copper artefacts in the walled enclo-
the 3rd millennium BC (Eg. in Aldeagordillo, dated by C14) sures of V.ª N.ª de Foz Côa, but the symbolic («oculado»)
bell shaped vessels (but not bell beaker). Some of them vessel of Castelo Velho, recovered in the same ambi-

MARIA DE JESUS SANCHES, MARIA HELENA LOPES BARBOSA, ALEXANDRA MARIA FERREIRA VIEIRA  BELL BEAKER CONTEXTS IN PORTUGAL: THE NORTHERN AND THE DOURO REGION BASIN 251
FIG. 7 1 – Central area of Chã de Carvalhal 1, having a chamber and a monolith, from where the bell beaker ceramic was collected; 2 and 3 –
ceramics of the same monument; 4 – bell beaker recipient from Pastoria; 5 to 7 – ceramics of the Upper Eastern Platform of Crasto de Palheiros
(PSL); 8 -Table of bell beaker forms from Crasto de Palheiros. (1 to 3 acc. Cruz, 1992; 4 acc. Jorge, 1986; 5 to 7 acc. Barbosa, S., 1999 and Sanches
(ed.), 2088).

252 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 8 Ceramics that mimic the bell beaker decoration (bell beaker imitations). 1 to 3 – Castelo de Aguiar settlement; 4 to 7 – Buraco da Pala
rock shelter; 8 to 9 – Pastoria settlement; 10 to 12 – Lorga de Dine cave. (1, 2, 3, 8, 9, acc. Jorge, 1986; 4 to 7 acc. Sanches, 1997; 10 to 12 – photos
by Manuel Santos – D. Diogo de Sousa Museum).

MARIA DE JESUS SANCHES, MARIA HELENA LOPES BARBOSA, ALEXANDRA MARIA FERREIRA VIEIRA  BELL BEAKER CONTEXTS IN PORTUGAL: THE NORTHERN AND THE DOURO REGION BASIN 253
ence of the corded fragment (Jorge, 2002), can point out formally more standardized, exhumed in Pastoria
to ancient chronologies. (knife, dagger, chisel, picker), Chã de Carvalhal 1 (two
Other exceptional sites, like Buraco da Pala (level I) daggers and five Palmela arrowheads), and Orca de
(Table 2 and Fig. 8, no. 4 to 7), or Lorga de Dine4 (Fig. 8, Seixas (axe, Palmela arrowhead in copper and a wrist
no. 10 to 12) (this cave doesn’t have C14 dating), exhibit guard). We will not mention other types of burial that,
bell beaker imitations in their ceramics, along with a although having metals, do not have bell beaker ceram-
metallurgy still not standardized:axe and tuyere in ics, but we must emphasize that in this period, and if
copper, beads and a small plaque in gold at Buraco da we refer to the entire Northwest of the Iberian Penin-
Pala; and small axe, chisel and picker in Lorga de Dine5. sula, the funerary diversity is very striking in terms of
However, it is still premature to settle fine chronologies structures (where there are already clear incinerations,
that join, without any doubt, formally more complex such as the one at the cist of Agro de Antas-Toques,
metallurgy with bell beaker pottery as if it were a uni- Coruña), as artefacts (Bettencourt, 2010).
tary «package»in its materiality and in the phenomena The phenomena of deposition of vessels (and/or frag-
of social complexity on a regional scale. In addition, the ments) were observed in Fraga da Pena (Valera, 2007)
polymetallic character of this metallurgy of the begin- and in Crasto de Palheiros (of bell beaker/campani-
ning of the 3rd millennium BC shows, in the case of Gali- forme and of other typologies), Pastoria (Jorge, 1986) and
cia, that the exploitation of a great diversity of «mines» Castelo Velho (only of other typologies) (McFadyen, 2016
is not compatible with large-scale exchange of metal and bibliography cited there), revealing that the deposi-
objects (Comendador Rey, 1998:227). It is therefore tion of complete or partial units (of ceramics and other
admissible that, in the case of metals, the exchange «artefacts») is not exclusive of burial places. This points,
networks were territorially more circumscribed. Circu- during the 3rd and beginning of the 2nd millenium BC,
lar reasoning should, therefore, be the subject of reflec- to analogical communities that incorporate the social
tion and consideration. and territorial senses into their various arenas of com-
There are no absolute dates for the reuse of megalithic munity negotiation. It is probable that the high ceramic
monuments, therefore their second or third use can go fragmentation and the «orphan fragments» that seem
through the 3rd millennium and even the beginning of to be an apanage of this set of sites of the North of Por-
the 2nd millennium BC, as mentioned above. However, due tugal (and of other peninsular and european regions),
to the fact that most of the funerary sites are still in the indicates not only the circulation of pots as a units, but
dolmens (in the regions where they exist), such prefer- of their fragments as well, meaning that each fragment
ence allow us to think that these communities and their is not just related to the object from which it came from
leaderships still refer socially to traditional territories but «is in fact the object in itself». However, «fragmen-
and kinship structures of ancestral identification (Bueno; tation» and «deposition» has not univocal readings
Barroso; Balbin, 2010). Despite this, this period demon- (McFadyen, 2016). In any case, in quantitative terms, bell
strates an increase in all the economic activities of agro- beaker pottery is extremely rare, even in widely exca-
pastoral and artisanal basis, and, also, the increase of the vated sites (settlements and enclosures), and it tends to
exchange of raw materials or rare artifacts (variscite, flint, focus on specific areas, which really points, whatever
etc.). Indeed, the relation of the funerary phenomenon its chronology, to its particular character, although this
with the domestic/dwelling one, ie, the organization of «statute» could have been shared, in different degrees,
the settlement in all its aspects during the 3rd millennium with other materialities.
BC (and beginning of the 2nd), still has many possibilities In the 3rd millenium along with the dolmens and
to be explored, and the one which would attribute to dol- cists with tumulus, new arenas of social performance
mens «powers more focused on local character» (Bueno, are emerging – rock shelters, walled and ditched
2010:71), would be one of the hypotheses to explore. enclosures, specific areas within open settlements,
Although the division between the 1st half and the such as Pastoria or Regadas – in a diversification that
2 half of the 3rd millennium BC is purely formal, it is
nd
seems to indicate alternative or complementary situ-
still the one that best seems to accommodate the data, ations of power negotiation (of gender, age, ethnic, or
especially the metallic one and/or its iconographic other) where leadership continues to be bestowed and
representation (in the form of weapons). Thus, in the renewed by communities (in a narrower or broader
second half of the 3rd millennium BC, the campaniform sense). The situations of intracommunity and extra-
is still in use, both in funerary contexts, as exemplified community commensality, with their rules of access,
by the Mamoa Chã de Carvalhal 1, Orca de Seixas (and would configure social distinctions where the power
maybe Rapadouro 3 and Estante 2), as in settlements of some leaders could emerge and consecrate. Like-
(Pastoria and possibly Regadas). However, in this period wise, such powers could be manifested in situations of
it is also associated with copper (and gold) artefacts, destruction of wealth – such is the case that we believe

254 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
occurred in the Buraco da Pala rock shelter (Sanches, mainstream foreign exchange networks, in which
2016) – or of continued work, for centuries, as one that new products are incorporated, such as arms (Palmela
would require the construction and permanent remod- arrowheads, daggers, etc.), to speak only of those that
eling and maintenance of walled enclosures. are more extended from the geographical point of view.
We believe that in Crasto de Palheiros the incised bell- But there are others, of course.
shaped panoply and, also that of good manufacture– As a final observation, and as a complementary
with stylistics within the very formalized combed tech- explanation both to the short, but especially to the
nique –, would configure, in the Lower Enclosure (and long duration, we believe that bell beaker ceramics can
perhaps at certain times of the year also in the Upper be simultaneously understood within formal mecha-
Enclosure) situations of food and beverage sharing with nisms – as an agent that performs an action – and
a relatively free access to certain types of negotiations. within iconic mechanisms, in the sense in which, icon-
These situations would occur during the routine man- ographically, they would report qualities (contents) of
agement of community life of people living in the outly- other entities, being able to transform themselves into
ing settlements of Crasto de Palheiros like Navalho and those other entities, which opens up enormously the
Mãe d’Água in Mirandela, and of Salto and Estirada in semantic field of the analogies (Descola, in line).In this
Murça, for example (Sanches, 2016). In the Upper Enclo- sense, both formal similarity and local fabrics, as well
sure, an area naturally exposed by topography, but hid- as transfigurations/imitations, would reveal that some-
den by walls and other structures, the ceremonial con- thing resembling appearance would ultimately refer to
sumption of certain beverages and food, with particular very diverse realities, functions, and mechanisms of
«table ware» – the «classic» bell beaker – could support use in other spheres, as indeed happens with all the
this need for more restricted access to commensality materialities. Basketry, patterns of fabrics – indicated
practices, because these were related to the regional by frequent loom and spindle weights–, and, above all,
managment of the territory, where exchange/gift-giv- the increasing importance that personal clothing gains
ing (including marriage exchanges) and the external in the 3rd millennium BC – visible in steles and statues
recognition of different confrontational leaderships menhirs, for example (Bueno, 2010, Cruz and Santos,
was becoming necessary (Sanches, 2016). 2010)–, could be some of the iconic elements of refer-
In conclusion, we reject the simple diffusion and ence both for ceramic decoration in general (decorated
incorporation schemes, not because simplicity is with metopes, triangles, wreaths, etc.), as well as for
not elegant, but because, whether shorter or longer the bell beaker and for those ceramics that «imitate»
chronologies are chosen, we still do not have enough them. As a whole these would broaden that universe
archaeological tools (a detailed description of archaeo- of analogies which, combining ontology and praxis,
logical processes) which, by anthropological support, would compel us to study them together.
would enable us to access more conceptual models. Finally, following our previous exposition, the study
The short chronologies, to be confirmed (and noth- of bell beaker in the Northern and Douro basin regions
ing indicates that this can happen), have the possibility in Portugal can’t be treated as an autonomous research
of formulating models more propitious to the conjunc- program, but rather as one that would focus on the
tural transformations and to the greater valorization of aspects of the manufacture and use of different mate-
bell beaker ceramics as a «social actor» or as an agent rialities that integrate the material and conceptual
capable of catalyzing, or even triggering, socio-political «building» of the agro-pastoral communities of the 3rd
changes, in accordance with the regional ontologi- and beginning of the 2nd millenium BC.
cal and organizational background. Such models even
Gaia-Porto-Portugal, February 26th, 2017
admit differentiated systems of identification and use
(in the dolmens, in the settlements, etc.).
If we accept that bell beaker ceramics extend over ACKNOWLEDGEMENTS
long term chronologies, the contexts and practices of We are grateful: to Rafael Morais and João Fortuna
their circulation and incorporation diversify exponen- Madureira for their support in the elaboration of the
tially, meaning that the bell beaker phenomena in itself Figures in this text; to João Francisco Sanches for the
can no longer be treated in the same way unless we revision of the translation of the text into English;to
can stipulate, in this long durée, more short periods of Joana Castro Teixeira for the information about Rega-
time. But in the long-term case, having something that das settlement; to D. Diogo de Sousa Museum for the
apparently remains through time (the ceramic decora- autorization of use of the Lorga de Dine photos; and to
tion), this stabilization may have multiple explanations. Ana Catarina Sousa for the invitation to participate in
The simplest one is that this means nothing more than the workhop «Bells and bowls, peoples and artefacts.
the long-term maintenance of the long-established- About the beaker presence in Portugal and Spain».

MARIA DE JESUS SANCHES, MARIA HELENA LOPES BARBOSA, ALEXANDRA MARIA FERREIRA VIEIRA  BELL BEAKER CONTEXTS IN PORTUGAL: THE NORTHERN AND THE DOURO REGION BASIN 255
NOTES
1 The authors are part of the Research Project UID/HIS/04059/2013 BETTENCOURT, A. M. S.; ALVES, L. B.; RIBEIRO, A. T.; MENEZES, R. T.
(FCT) and this work was supported too by FEDER through the (2012) – Gravuras rupestres da Bouça da Cova da Moura (Ardegães,
COMPETE 2020 ((POCI-01-0145-FEDER-007460). Maia, Norte de Portugal) no contexto da Pré-história Recente
2 Crasto also has a well-preserved occupation of the Iron Age (Crasto da bacia do Leça. Gallaecia, 31. Universidade de Santiago de
III), which visibly affected the Chalcolithic occupation layers, but Compostela, pp. 47-62.
the hill kept its main topographical features. Therefore, this attests BUENO RAMIREZ, P. (2010) – Ancestros e imágenes antropomorfas
to the substantive and long-lasting architectural transformation muebles en el ámbito del megalitismo occidental: las placas
operated in Prehistory. decoradas. In CACHO, C.; GALÁN, E.; MARTOS, J. – Ojos que nunca
3 From this layer [20] come three incised ceramic fragment associ- se cierram. Ídolos en las primeras sociedades campesinas. Madrid:
ated with the Ciempozuelos complex (Xc, Xe1, Xe2); and from [cam. Museo Arqueologico Nacional, pp. 39-77.
1] came 1 excised-like fragment (X1a). Thus it sums 4 fragments in
BUENO RAMIREZ, P.; BARROSO BERMEJO, R.; BALBIN BEHERMANN, R.
the PSL (Sanches (ed.), 2008, Fig. II.24).
(2010) – Metal and the symbols of ancestors
4 This cave would have had funerary functions along with others
in Northern Iberia. In BETTENCOURT, A.; SANCHES, M.; ALVES, L.;
more difficult to characterize, even so those should not have been
FABREGAS, R.(eds.) – Conceptualising Space and Place, BARS2058,
«domestic» (Sanches, 2017, in press).
pp. 71-87.
5 According to the inventory of the archaeological materials of
Lorga de Dine excavations, carried out by the Portuguese Society CARDOSO, J. L. (2014)– A presença campaniforme no território
of Speleology and integrated in the D. Diogo de Sousa Museum português. Estudos Arqueológicos de Oeiras, 21. Oeiras: Câmara
(Braga). Municipal de Oeiras, pp. 295-348.
CARNEIRO, A. L.; CLETO, J.; MOREIRA, M.; FARO, S. (1987) – Novas
mamoas no concelho de Baião.Arqueologia. Porto: GEAP. Vol. 15,
pp. 158-160.
CITED WORKS
Castelão. Museu do Côa, on line. Available at http://www.arte-coa.pt/
ALMEIDA, C. A. B.; SOEIRO, M. T. C. M.; BARROCA, M. J. (1995) – Estação
index.php?Language=pt&Page=Saberes&SubPage=Ocupacao
arqueológica do Castelo de Fraião (Boivão, Valença). Portugália.
Humana&Sitio=68 (accessed January 20, 2017).
Porto. Nova Série: 16, pp. 311-322.
COMENDADOR REY, B. (1998) – Los Inicios de la Metalurgia en
AMORIM, I. S. B. (1999) – Crasto de Palheiros (Murça). As ocupações
el Noroeste de la Peninsula Iberica. Coruña [Brigantium, 11.]
da Pré-Historia e da Proto-Historia na Plataforma Inferior.
Dissertação do Mestrado em Arqueologia (polycopied). CRUZ, D. J. (1987) – A escavação arqueológica da Mamoa de
Faculdade de Letras da Universidade do Porto. «Monte Maninho» (Serra da Aboboreira – Baião). Trabalhos de
Antropologia e Etnologia. Porto: SPAE. vol. 27 (1-4), pp. 65-88.
BARBOSA, M. H. (2015) – O Contributo do material cerâmico do Crasto
de Palheiros para o entendimento de processos de uso e construção CRUZ, D. J. (1992) – A mamoa 1 de Chã de Carvalhal no contexto
do Talude e Plataforma Inferior. Dissertação do Mestrado em arqueológico da Serra da Aboboreira. Coimbra: Instituto de
Arqueologia (polycopied). Faculdade de Letras da Universidade Arqueologia da Faculdade de Letras de Coimbra [Conimbriga,
do Porto. Anexos 1].

BARBOSA, S. C. (1999) – O Crasto de Palheiros-Murça. Contributo para o CRUZ, D. (2001) – O Alto Paiva: Megalitismo, Diversidade Tumular e
entendimento do fenómeno campaniforme em contexto doméstico Práticas Rituais Durante a Pré-história Recente. Coimbra: Faculdade
no Norte de Portugal, Dissertação de Mestrado. Faculdade de de Letras da Universidade de Coimbra. 2 vols.,[Tese de doutoramento
Letras da Universidade do Porto (polycopied) em História: Pré-história e Arqueologia (polycopied)].
BETTENCOURT, A. M. S. (1991-92) – Achado de um vaso campaniforme CRUZ, D.; SANTOS, A. T. (2010) – As estátuas-menires da serra da Nave
na Serra do Maroiço, Fafe. Cadernos de Arqueologia. Braga. 2.ª (Moimenta da Beira, Viseu) no contexto da ocupação pré-histórica
série: 89, pp. 233-236. do Alto Paiva e da Beira Alta. In VILAÇA, R. – Estelas e Estátuas-
BETTENCOURT, A. M. S. (2009) – Pré-História do Minho. Do Neolítico menires da Pré à Proto-história. Actas das IV Jornadas Raianas.
à Idade do Bronze. In VVAA – Minho, Traços de Identidade. Braga: Sabugal: Câmara Municipal e Sabugal+, CEAUCP Instituto de
Universidade do Minho, pp. 70-118. Arqueologia da FLUC, pp. 117-142.

BETTENCOURT, A. M. S. (2010a) – Comunidades Pré-históricas da bacia FABIÁN GARCIA, F. (2006) – El IV y el III Milenio AC en el Valle Amblés
do Leça. In O Rio da Memória: Arqueologia no Território do Leça. (Ávila). Arqueologia de Castilla y León – Série de Monografias
Matosinhos: Câmara Municipal de Matosinhos. (Vol. 5). Salamanca: Junta de Castilla e León.

BETTENCOURT, A. M. S. (2010b) – Burials, corpses and offerings GOMES, L. F. C; CARVALHO, P. S. (1993) – Novos elementos sobre o vaso
in the Bronze Age of NW Iberia as agentes of social identity campaniforme na Beira Alta. Estudos Pré-Históricos. Viseu: CEPBA:
and memory. In BETTENCOURT, A.; SANCHES, M.; ALVES, L.; Centro de Estudos Pré-históricos da Beira Alta, no. 1, pp. 29-49.
FABREGAS, R. (eds.) – Conceptualising Space and Place, BARS2058, JORGE, S. O. (1980) – A estação arqueológica do Tapado da Caldeira,
pp. 33-45. Baião. Portugália. Nova série: 1. Porto: Instituto
BETTENCOURT, A. M. S. (2011) – El vaso campaniforme en el norte de de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade
Portugal. Contextos, cronologías y significados. In PRIETO- do Porto, pp. 29-50.
MARTÍNEZ, M. P.; SALANOVA, L. (eds.) – Las comunidades JORGE, S. O. (1986) – Povoados da Pré-história Recente (III.º – inícios
campaniformes en Galicia. Cambios sociales en el III y II milénios do II.º Milénios AC) da Região de Chaves – V.ª P.ª de Aguiar. Porto:
BC en el NW de la Península Ibérica. Pontevedra: Diputación de Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade
Pontevedra, pp. 363-374. do Porto.

256 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
JORGE, S. O. (2002) – Um vaso campaniforme cordado no Norte SANCHES, M. J. (ed.) (2008) – O Crasto de Palheiros (Fragada do Crasto),
de Portugal: Castelo Velho de Freixo de Numão (V. N. de Foz Côa). Murça-Portugal. Murça: Município de Murça.
Revista da Faculdade de Letras. Porto: Faculdade de Letras da SANCHES, M. J. (2016) – Animal bones, seeds and fruits recovered
Universidade do Porto, 1, pp. 27-50. from Crasto de Palheiros. A contribution to the study of diet
JORGE, V. O.; MURALHA, J.; PEREIRA, L.; COIXÃO, A. S. (2002) – and commensality in the recent Pre-History and Iron Age
Castanheiro do Vento and the significance of monumental of Northern Portugal». In VILAÇA, R.; SERRA, M. (eds.) – To feed
Copper and Bronze Age sites in northern Portugal. In Monuments the body, to nourish the soul, to create sociability. Food and
and landscape in Atlantic Europe. London: Routledge, pp. 36-50. commensality in pre and protohistoric societies. CEPBA & IAFLUC
JORGE, V. O.; BAPTISTA, A. M.; SILVA, E. J. L.; JORGE, S. O. (1997) – As & Palimpsesto, pp. 79-119.
Mamoas do Alto da Portela do Pau (Castro Laboreiro, Melgaço). SANCHES, M. J. (2017, in press) – Os primeiros habitantes do território
Trabalhos de 1992 a 1994. Porto: Sociedade Portuguesa de bragançano: Pré-história e Proto-história [de c. de 30 000 AC
Antropologia e Etnologia [Textos, no. 2]. à viragem da Era]. In SOUSA, F. (ed.) Bragança. Desde as origens
McFADYEN, L. K. (2016) – Actions in time: after the breakage of à revolução liberal de 1820. Bragança. CEPESE and Município de
pottery and before the construction of walls at the site of Castelo Bragança.
Velho.Estudos do Quaternario, 15. APEQ: Associação Portuguesa SANCHES, M. J.; MORAIS, R.; TEIXEIRA, J. C. (2016) – Escarpas rochosas
para o Estudo do Quaternário, pp. 71-90. e pinturas na Serra de Passos/Sta Comba (Nordeste de Portugal).
NUNES, S. A. (2003) – Monumentos sob tumulus e meio físico no In SANCHES, M. J.; CRUZ, D. – Artes Rupestres da Pré-história e da
território entre o Corgo e o Tua (Trás-os-Montes): aproximação à Proto-história: Estudo, Conservação e Musealização de Maciços
questão. Porto: FLUP. Dissertação de Mestrado apresentada à Rochosos e Monumentos Funerários. [Estudos Pré-históricos, 18],
Faculdade de Letras da Universidade do Porto (polycopied). 2 vols. Viseu: CEPBA – Centro de Estudos Pré-históricos da Beira Alta,
pp. 71-118.
REIMER, P. J.; BARD, E.; BAYLISS, A.; BECK, J. W.; BLACKWELL, P. G.;
BRONK RAMSEY, C.; BUCK, C. E.; CHENG, H.; EDWARDS, R. L.; SENNA-MARTINEZ, J. C.; PEDRO, I. (eds.) (2000) – Por Terras de Viriato:
FRIEDRICH, M.; GROOTES, P. M.; GUILDERSON, T. P.; HAFLIDASON, Arqueologia da Região de Viseu. Viseu. Governo Civil
H.; HAJDAS, I.; HATTÉ, C.; HEATON, T. J.; HOGG, A. G.; HUGHEN, K. do Distrito de Viseu e Museu Nacional de Arqueologia.
A.; KAISER, K. F.; KROMER, B.; MANNING, S. W.; NIU, M.; REIMER, R. SILVA, E. J. L. (1995) – Megalitismo da Bacia do Douro (margem sul).
W.; RICHARDS, D. A.; SCOTT, E. M.; SOUTHON, J. R.; TURNEY. C. S. M.; In Actas do 1.º Congresso de Arqueologia Peninsular, vol. 2
VAN DER PLICHT, J. (2013) – IntCal13 and MARINE13 radiocarbon [Trabalhos de Antropologia e Etnologia]. Porto: SPAE-Sociedade
age calibration curves 0-50000 years calBP, Radiocarbon, 55(4). Portuguesa de Antropologia e Etnologia. Tomo 35, 1. pp. 35-46.
DOI: 10.2458/azu_js_rc.55.16947 SILVA, E. J. L. (2003) – Novos dados sobre o Megalitismo do Norte
REBUGE, J. (2004) – Uma proposta para reconceptualizar de Portugal. In Muita gente, poucas antas? Origens, espaços
a materialidade arqueológica: o Campaniforme no Norte e contextos do Megalitismo. Actas do II Colóquio Internacional
de Portugal e regiões contíguas. Trabalhos de Antropologia sobre Megalitismo. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia
e Etnologia. 44 (1-2). Porto: SPAE – Sociedade Portuguesa [Trabalhos de Arqueologia; 25], pp. 269-279.
de Antropologia e Etnologia, pp. 111-186. Tambores. Museu do Côa, on line. Available at http://www.arte-coa.
SAMPAIO, H. A.; BETTENCOURT, A. M. S.; ALVES, M. I. C. (2009) – pt/index.php?Language=pt&Page=Saberes&SubPage=Ocupacao
O Monte da Penha, Guimarães, como cenário de acções de Humana&Sitio=64 (accessed January 20, 2017)
incorporação e de comemoração do espaço na Pré-história da VALERA, A. C. (2000) – O fenómeno campaniforme no interior
bacia do Ave. In BETTENCOURT A. M., ALVES L. B. (eds.) – Dos centro de Portugal: o contexto da Fraga da Pena. In Pré-História
montes, das pedras e das águas. Formas de interacção com o espaço Recente na Península Ibérica – Actas do 3.º Congresso de
natural da pré-história à actualidade. CITCEM, APEQ, pp. 55-76. Arqueologia Peninsular. Porto: ADECAP – Associação para
SAMPAIO, H. A.; MACIEL, T.; BETTENCOURT, A. M. S.; SIMÕES, P. M. M. P. o Desenvolvimento e Cooperação em Arqueologia Peninsular,
(2013) – A mamoa do Carreiro da Quinta, Lage, Vila Verde, NO pp. 269-290.
de Portugal: resultados de uma escavação de emergência. VALERA, A.C. (2007) – Dinâmicas Locais de Identidade. Estruturação
Conímbriga: Revista de Arqueologia. Coimbra:Universidade de um espaço de tradição no 3.º milénio AC (Fornos de Algodres,
de Coimbra. Instituto de Arqueologia. Vol. 52, pp. 37-65. Guarda). Fornos de Algodres: Município de Fornos de Algodres.
SENNA-MARTINEZ, J. C. (1994) – Notas para o estudo da génese da VALERA, A.C.; ANTUNES, S. (2008) – A Mamoa 2 do Leandro (Maia,
Idade do Bronze na Beira Alta: o fenómeno campaniforme. In Porto). Intervenção de minimização no âmbito do alargamento
Trabalhos de Arqueologia da EAM. Lisboa. Colibri. 2, pp. 163-190. da A3. Apontamentos de Arqueologia e Património. Lisboa: NIA,
SANCHES, M. J. (1992) – Pré-História recente no Planalto Mirandês. vol. 3, pp. 7-17.
Porto: GEAP- Grupo de Estudos Arqueológicos do Porto VVAA – Antropologia da natureza de Philippe Descola. Interview.
[Monografias Arqueológicas, no. 3]. Scielo, on line. https://www.google.pt/search?q=sociedades+tote
SANCHES, M. J. (1997) – Pré-História recente de Trás-os-Montes micas&ie=utf-8&oe=utf-8&client=firefox-b-ab&gfe_rd=cr&ei=-
e Alto Douro. 2 vols. Porto: Sociedade Portuguesa de Antropologia JmhWM3KHpCt8weh2JHoCQ#q=sociedades+totemicas+em+
e Etnologia [Textos, no. 1]. descola

MARIA DE JESUS SANCHES, MARIA HELENA LOPES BARBOSA, ALEXANDRA MARIA FERREIRA VIEIRA  BELL BEAKER CONTEXTS IN PORTUGAL: THE NORTHERN AND THE DOURO REGION BASIN 257
EL FENÓMENO CAMPANIFORME EN
EL SUDESTE DE LA PENÍNSULA IBÉRICA:
EL CASO DEL CERRO DE LA VIRGEN
(ORCE, GRANADA)
FERNANDO MOLINA GONZÁLEZ
molinag@ugr.es

JUAN ANTONIO CÁMARA SERRANO


jacamara@ugr.es

ALBERTO DORADO ALEJOS


a.dorado.alejos.@hotmail.com

MARÍA VILLARROYA ARÍN


maria_9_blo@hotmail.com

Departamento de Prehistoria y Arqueología


Facultad de Filosofía y Letras • Universidad de Granada
Campus Universitario de Cartuja, s/n • 18071, Granada (España)

258 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
R E S U M O O Cobre Recente do Cerro de la Virgen (Orce, Granada) destaca-se não só pelas suas
estruturas construídas, tanto em termos de habitat (estruturas de adobe) no que respeita ao
sistema de fortificação, mas pela abundância relativa de cerâmica campaniforme. Neste tra-
balho são analisados ​​cerâmicas decoradas correspondentes à campanha de escavações de
1986, no âmbito do Projecto Millares. O estudo morfométrico e tecnológico (através da DRX
e lupa binocular) em combinação com a contextualização cronoestratigráfica dos resultados
permitiu observar que também aqui se pode ver a evolução dos estilos, o carácter local dos
materiais decorados recuperado na excavaçao e também certas discrepâncias com o estilo
do Sudeste, como de feito manifesta-se em Los Millares. Além disso, discute-se o significado
da concentração (relativa) destes materiais em contextos domésticos de certos jacimentos
e áreas, em relação à criação de verdadeiras entidades territoriais no sudeste da Península
Ibérica é discutido.

A B S T R A C T The Recent Copper Age at Cerro de la Virgen (Orce, Granada) is notable for its
built structures, with respect to habitat (mud-brick dwellings) and its fortification system,
but also for the relative abundance of Bell Bakers ceramics. In this paper have been analyzed
the decorated ceramics corresponding to the excavation campaign that took place at the site
in 1986 under the Project of Los Millares. The morphometric and technological study (by XRD
and study by binocular magnifying glass) in combination with the chronostratigraphic con-
textualization of the findings has allowed to note that also here can be seen the evolution of
styles, the local character of most decorated recovered materials and certain discrepancies
with the Southeast Bell Beaker style as manifested in Los Millares. Moreover, the significance
of the (relative) concentration of these items in domestic contexts of certain sites and areas,
in relation to true polities formation in the Southeastern Iberian Peninsula, is discussed.

R E S U M E N El Cobre Reciente del Cerro de la Virgen (Orce, Granada) destaca no sólo por sus
estructuras construidas, tanto en lo que respecta al hábitat (viviendas de adobe) como en lo
que se refiere al sistema de fortificación, sino por la abundancia relativa de cerámica campa-
niforme. En este trabajo se analizan los materiales cerámicos decorados correspondientes a
la campaña de excavación que tuvo lugar en el yacimiento en 1986, en el marco del Proyecto
Millares. El estudio morfométrico y tecnológico (a través de DRX y estudio por lupa binocular)
en combinación con la contextualización cronoestratigráfica de los hallazgos ha permitido
señalar que también aquí se puede constatar la evolución de estilos, el carácter autóctono de
la mayoría de los materiales decorados recuperados y algunas diferencias respecto al estilo
campaniforme del Sudeste tal y como se manifiesta en Los Millares. Además se discute el sig-
nificado de la concentración (relativa) de estos materiales en contextos domésticos de deter-
minados yacimientos y áreas de éstos, en relación con la creación de verdaderas entidades
territoriales en el Sudeste de la Península Ibérica.

FERNANDO MOLINA GONZÁLEZ, JUAN ANTONIO CÁMARA SERRANO, ALBERTO DORADO ALEJOS, MARÍA VILLARROYA ARÍN  259
EL FENÓMENO CAMPANIFORME EN EL SUDESTE DE LA PENÍNSULA IBÉRICA: EL CASO DEL CERRO DE LA VIRGEN (ORCE, GRANADA)
FIG. 1 Localización del Cerro de la Virgen (Orce, Granada).

INTRODUCCIÓN 1980; Cámara et al., en prensa a). Por último, las prospec-
El Cerro de la Virgen (Orce, Granada) es un yaci- ciones arqueomagnéticas han permitido afirmar que, al
miento fundamental en lo que respecta al estudio del igual que en otros yacimientos calcolíticos del Sudeste,
Cobre Reciente en el Sudeste de la Península Ibérica el tramo de fortificación indagado en el sector meridio-
(Fig. 1). Desde las primeras intervenciones arqueológicas nal sólo era una parte de un sistema que pudo incluir
de W. Schüle (Schüle y Pellicer, 1962) se pudo apreciar la varias murallas concéntricas que protegían y dividían el
singularidad del yacimiento. En lo que se refiere a sus asentamiento (Becker y Brandheim, 2010). En otro sec-
fases calcolíticas, debemos citar en primer lugar sus tor del yacimiento un canal, interpretado como acequia,
estructuras de habitación que son cabañas circulares de discurría paralela a otro tramo de la muralla (Schüle,
grandes dimensiones con importantes zócalos de adobe 1980, 1986).
(Kalb, 1969), al menos presentes desde la denominada Por otra parte, y en relación con el objeto central de
fase IIA del yacimiento y, por tanto, coetáneas a todo este trabajo, W, Schüle llamó la atención sobre la abun-
el desarrollo del Campaniforme (Schüle, 1980), aun con dancia relativa de cerámica campaniforme (en torno a
diferencias funcionales entre las distintas áreas excava- un 5% del total), si bien planteó que no se observaba un
das (Delgado, 2013). También los sistemas de fortifica- desarrollo secuencial de los distintos estilos decorativos
ción son espectaculares con una muralla principal cons- sino que, en la amplia secuencia del Cobre Reciente del
truida a partir de la superposición de hiladas en las que yacimiento, estilos impresos (hipotéticamente anti-
se combinan capas de barro y piedras bien trabajadas guos) e incisos se asociaban.
y dispuestas en «espina de pez» reforzadas con postes En 1986 tuvo lugar una campaña de excavación, en el
de madera embutidos (Schüle, 1980; Cámara et al., en marco del Proyecto Millares, centrada en la realización
prensa a). Además esta muralla estaba compuesta por de sondeos destinados a la obtención de una documen-
diferentes lienzos paralelos y adarves intermedios sobre tación que permitiera evaluar especialmente diferentes
un escarpe de roca recortada, sufriendo a lo largo del aspectos relacionados con los cambios ambientales y
tiempo diferentes modificaciones que particularmente las estrategias de subsistencia desarrolladas en el yaci-
complicaron o cerraron determinados accesos (Schüle, miento, así como una mayor concreción de la secuencia

260 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
del yacimiento. De hecho, ya los estudios arqueofaunís-
ticos habían mostrado importantes cambios temporales
(Driesch, 1972) que se vieron confirmados con los nue-
vos análisis y la comparación con distintos yacimientos
del área (Rodríguez et al., 1996a, 1996b; Buxó, 1997) y que
se pueden resumir en un aumento de la aridez y la dis-
minución radical de los suidos en la cabaña ganadera en
el tránsito al II Milenio A.C., mientras entre los cereales
siempre fue el trigo el más utilizado (Buxó, 1997).
Los materiales cerámicos decorados con estilo cam-
paniforme correspondientes a esta última campaña de
excavación son el principal objeto de estudio de este
trabajo. Aunque ya de las intervenciones de W. Schüle
se disponía de una cierta cantidad de dataciones, si bien
algunas de ellas de problemática contextualización
estratigráfica (Castro et al., 1996), la secuencia obtenida
en 1986 permitió obtener un cierto número de muestras
con procedencia estratigráfica clara que se han utilizado
para la periodización del yacimiento (Molina et al., 2004).
El inicio del estudio sistemático de la necrópolis del
Cerro de la Virgen hizo necesario datar directamente los
huesos humanos recuperados (Cámara y Molina, 2009),
dado que sólo una muestra de las datadas previamente
estaba asociada a carbón recuperado en una sepultura
(Castro et al., 1993-94). Los resultados del análisis con-
textual de las sepulturas en relación con las datacio-
nes disponibles y las hipótesis sobre la expresión de la FIG. 2 Suma de probabilidades de las dataciones disponibles para
cada una de las fases del Cerro de la Virgen según la curva IntCal13
jerarquización social en el mundo argárico a través de y el programa Calib 7.0.2 (Reimer et al., 2013).
los ajuares y los contenedores funerarios (Molina et al.,
2014), y un intento de desentrañar diferencias en con-
sumo a partir de análisis de isótopos estables (Molina venciones de 1986 (Molina et al., 2004). Como veremos,
et al., 2016) han sido ya publicados y no serán discutidos materiales campaniformes están aún presentes en la
aquí, al quedar además fuera del objeto de este trabajo. fase IIIA, qun Bronce Antiguo local (previo al Bronce
Otra serie de muestras se pudo recuperar de una argárico de la región) (Schüle, 1980; Molina et al., 2004),
intervención limitada de cerramiento de los cortes cer- cuyas fechas la situarían aproximadamente entre 2150
canos a la muralla. Aunque la procedencia en sucesión y 1950 cal A.C.
estratigráfica de las muestras no ofrece dudas, su obten-
ción directa de los perfiles, obligó a recurrir en muchos
casos a muestras de vida larga lo que no facilita la reso- OBJETIVOS, HIPÓTESIS Y METODOLOGÍA
lución de los problemas cronológicos del yacimiento ya El principal objetivo de este trabajo es la caracte-
conocidos (Cámara et al., en prensa a). rización de las funciones socio-simbólicas de la cerá-
En cualquier caso, gracias al amplio número de mica campaniforme en el Cerro de la Virgen durante la
dataciones disponibles (56, de ellas 23 correspondien- segunda mitad del II Milenio A.C. y las posibles varia-
tes a contextos de hábitat calcolíticos), el estudio en ciones que se pudieran dar a lo largo de ese periodo de
conjunto de las dataciones procedentes de cada una tiempo. En relación con ese objetivo general se plantea
de las fases conocidas en el yacimiento nos permite indagar sobre el carácter autóctono o alóctono de deter-
plantear, a partir de la Suma de Probabilidades según el minados materiales y los usos específicos que determi-
programa Calib 7.0.2, una cronología aproximada para nados tipos de artefactos decorados pudieran tener en
cada una de las fases del Cobre Reciente (Fig. 2), que se ese periodo. Aunque los datos son todavía escasos, los
puede resumir así: la fase I sería ligeramente anterior resultados disponibles sobre la concentración de mate-
al 2500-2450 A.C., la fase IIA se situaría entre 2500-2450 riales campaniformes en determinados yacimientos
y el 2350 A.C., la fase IIB entre 2350 y 2250 A.C., y la fase o áreas específicas dentro de ellos nos permiten suge-
IIC entre 2250 y 2150 A.C., teniendo en cuenta que en la rir como hipótesis que en el Sudeste el Campaniforme
fase IIC se han integrado las fases II-3 y II-4 de las inter- fue usado, al menos tras el desarrollo de estilos loca-

FERNANDO MOLINA GONZÁLEZ, JUAN ANTONIO CÁMARA SERRANO, ALBERTO DORADO ALEJOS, MARÍA VILLARROYA ARÍN  261
EL FENÓMENO CAMPANIFORME EN EL SUDESTE DE LA PENÍNSULA IBÉRICA: EL CASO DEL CERRO DE LA VIRGEN (ORCE, GRANADA)
les, como un elemento de identificación social y como cia o no de las afirmaciones de W. Schüle (1980) en rela-
símbolo concentrado en los centros de poder y, dentro ción con el desarrollo en paralelo en el yacimiento de
de ellos, en las áreas en que residían las élites (Molina los diferentes estilos. Una ulterior corrección ha tenido
y Cámara, 2005). Si bien, en este sentido, los datos espa- lugar a través del peso de los fragmentos para evaluar
ciales procedentes del yacimiento del Cerro de la Vir- posibles desplazamientos de material que enmascara-
gen son aun más escasos (Delgado, 2013), hemos suge- ran la hipotética evolución. En segundo lugar hemos
rido que, al menos durante la Edad del Bronce, el área procedido a realizar un análisis morfométrico sobre los
excavada del yacimiento fue ocupada por personas de fragmentos que permiten reconstruir la forma com-
alto nivel social a tenor de los ajuares de las sepulturas pleta del recipiente, incrementando en este caso la
(Molina et al., 2014). Podemos plantear que en el periodo muestra a partir de los dibujos publicados por W. Schüle
precedente algo similar pudo tener lugar, lo que podría (1980). Este estudio nos proporcionará unos primeros
venir probado por la entidad de las construcciones resultados que nos permitan caracterizar las posibles
(Kalb, 1969). De ser esto cierto, podemos hipotizar que funciones específicas de los recipientes decorados y los
los elementos campaniformes estuvieron implicados límites en su variabilidad para poder discernir posibles
particularmente en actividades de consumo específi- patrones formales en su producción, además de, más
cas que identificaban a la élite, a su vez cohesionándola raramente, poder sugerirnos la presencia de elementos
y separándola del resto, algo ya planteado para otras exóticos (por su forma anómala entre los patrones más
áreas (Waldren, 1995; Kim, 2005; Heyd, 2007; Saraw, frecuentes del yacimiento). Ambos aspectos, patrones
2007; Turek, 2015; Iversen, 2016), aunque en nuestro caso, (tecnológicos) y circulación pueden ser mejor estudia-
en ausencia de datos funerarios, no podemos discutir la dos a partir de un estudio técnico usando en un primer
inclusión de las identidades individuales en el contexto momento el análisis macroscópico por lupa binocular
de la identidad global de la élite que indudablemente para caracterizar especialmente los tratamientos que
dirigiría la primera de la misma forma que influiría la sufrió la matriz y la pasta y el origen de los desgra-
identidad de los dominados (Barth, 1969; Bahrani, 2006; santes (incluyendo si fueron añadidos o no) y, en un
Cámara et al., en prensa b). De forma más específica, la segundo momento, usar la Difracción de Rayos X (sobre
mayor parte de los restos recuperados corresponderían una muestra más reducida elegida según los resultados
a cerámica cuidada, repitiendo patrones decorativos, del estudio anterior) fundamentalmente para caracte-
una vez éstos se habían asentado como propios de la rizar los minerales presentes y realizar apreciaciones
zona dominada por una determinada comunidad (Fig. sobre factores como la temperatura de cocción o la pro-
3). Si, como en Millares (Arribas y Molina, 1987; Molina y cedencia de las materias primas. Sin que sea necesario
Cámara, 2005), el patrón se extendió a otro tipo de obje- la identificación exacta de las fuentes de suministro,
tos habría que pensar que éstos estarían relacionados los minerales presentes y otras diferencias técnicas nos
con las mismas actividades aunque posiblemente con indicarán o no la posibilidad de elementos alóctonos en
fases diversas de la actividad de exhibición/cohesión la muestra de cerámicas estudiada. Esto se tratará de
implicada. El uso «simbólico» de estos objetos (no por nuevo en combinación con la contextualización estrati-
tanto necesariamente sagrado) explicaría su demanda gráfica de los hallazgos y su relación con un estudio del
con determinadas particularidades y su homogeneidad desarrollo cronológico de estas manifestaciones (a par-
técnica a la vez que fomentaría su circulación (como tir de las dataciones obtenidas en las diferentes campa-
objeto cuidado en sí, como contenedor o como vajilla ñas) lo que permitirá discutir de forma más exhaustiva
que acompañaba sus propietarios). las hipótesis antes referidas, aunque, obviamente, de
Para poder indagar sobre los indicadores que podrían forma preliminar y en relación particularmente con
caracterizar la adecuación o no de estas hipótesis y, la extensión o restricción del uso del Campaniforme,
fundamentalmente, ayudarnos en la consecución de o determinados grupos de este tipo de cerámica, como
nuestros objetivos, hemos procedido a seguir una serie identificador. De igual modo se analizará la relación de
de pasos que implican, en primer lugar, el análisis de estos datos con la forma, y la posible función especí-
la decoración presente en los fragmentos cerámicos fica, para discutir la función social del Campaniforme
decorados localizados en la campaña de excavación de o de algunos de los elementos incluidos en el conjunto.
1986, prestando atención no sólo a la técnica empleada Finalmente se discutirá la vinculación de determi-
(impresa a peine, impresa con espátula, incisa, con apli- nados ejemplares al denominado «Campaniforme
caciones de pasta, etc.) y, en menor medida, al motivo del Sudeste», valorando también los datos de otros
(bandas, zig-zag, decoración figurativa), sino a la posi- yacimientos del área como Los Millares como mejor
ción en el recipiente (particularmente cuando se sitúa manera de explicar la presencia de estos objetos en los
en el interior). La variabilidad obtenida se ha combinado contextos domésticos específicos, evaluando hasta qué
con un estudio estratigráfico para analizar la consisten- punto las similitudes o diferencias tienen que ver con

262 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 3 Selección de vasijas con decoración campaniforme del Cerro de la Virgen.

la circulación de una ideología de identificación de la las variaciones secuenciales de los aspectos técnicos
élite en la que la cerámica campaniforme estaría impli- de la cerámica campaniforme del Cerro de la Virgen,
cada, como otros elementos, armas y objetos de adorno se han seleccionado 58 muestras procedentes de con-
por ejemplo (Saraw, 2007; Iversen, 2016; Pau, 2016). tenedores cerámicos localizados en los cortes 27 y 28,
así como dos muestras de pasta blanca con el fin de
determinar la composición mineralógica de los distin-
MUESTRA Y RESULTADOS tos elementos campaniformes. Si excluimos aquellos
Tras el estudio macroscópico mediante lupa binocu- fragmentos localizados en niveles del Bronce Antiguo
lar, para la realización de unas consideraciones sobre local (fase III.a), este conjunto supone un 2’15% del

FERNANDO MOLINA GONZÁLEZ, JUAN ANTONIO CÁMARA SERRANO, ALBERTO DORADO ALEJOS, MARÍA VILLARROYA ARÍN  263
EL FENÓMENO CAMPANIFORME EN EL SUDESTE DE LA PENÍNSULA IBÉRICA: EL CASO DEL CERRO DE LA VIRGEN (ORCE, GRANADA)
total de fragmentos recuperados en las intervenciones es, el 7,14% de las vasijas campaniformes de la fase II.2,
arqueológicas de 1986 en los niveles del Cobre Reciente y desapareciendo en la fase II.3, momento en que se
con Campaniforme (fase II). Si consideramos sólo el produce el auge de otras técnicas decorativas (Fig. 4).
total de fragmentos que permiten identificar la forma Esta tendencia viene confirmada por los porcentajes
(bordes, galbos…), los fragmentos con decoración cam- del peso de los fragmentos que corresponden de la pro-
paniforme, que reúnen este requisito, suponen el 6% ducción marítima clásica, el cual desciende del 8,97%,
del material selecto. Especialmente este último valor en la fase II.1, al 5,49% en la fase II.2, momento en que se
es comparable al ofrecido por W. Schüle, por lo que hay desvanece. Este mismo patrón ha podido comprobarse
que pensar que la concentración de cerámica campa- en aquellos contenedores con decoración marítima de
niforme es similar en toda el área excavada de la parte tipo evolucionado (vasos que alternan bandas impre-
meridional del asentamiento. sas rellenas de líneas oblicuas en direcciones opuestas),
Respecto al estudio analítico, hay que decir que ha aunque en este caso se observa una permanencia en el
sido realizado mediante Difracción de Rayos X en el Cen- empleo del modelo ornamental que alcanza la fase II.3,
tro de Instrumentación Científica de la Universidad de lo que no ocurre, como señalábamos, con aquellas vasi-
Granada en el cual se utilizó un difractómetro BRUKER jas pertenecientes al marítimo clásico. En este sentido,
D8 ADVANCE, con detector rápido (Lynxeye), radiación podemos ver cómo los valores son inferiores en la fase
Cu Kα, (configuración θ - 2θ, Δθ=0,04° con 2 s de integra- II.1, tres fragmentos que representan 11,1% del total de
ción por paso, 2θ=5-70°) y en condiciones ambientales la producción campaniforme, para aumentar un punto
fijas (25ºC) mediante el método tradicional de polvo, para en la fase II.2, con cuatro individuos y una representa-
lo cual las muestras fueron molidas en mortero de ágata tividad del 14,29%, momento en que esta técnica deco-
hasta obtener la granulometría óptima (60μ) (Moore y rativa comienza a descender hasta su desaparición en
Reynolds, 1989). Los resultados obtenidos fueron com- la fase II.4. Esta dinámica queda bien representada en
parados con PDF2, base de datos elaborada por el ICDD, las mediciones obtenidas mediante el peso de los dis-
mediante XPowder (Martín, 2006) y el método Reference tintos fragmentos, pasando del 11,45% de la fase II.1, al
Intensity Ratios normalizado (Chung, 1974; Martín, 2004). 31,23% de la fase II.2 y disminuyendo hasta alcanzar el
Esta técnica ha permitido realizar una semicuantifica- 7’42% del peso relativo respecto a la restantes vasijas
ción de las fases cristalinas cuya interpretación aportará con decoración campaniforme.
datos sobre las tendencias en las composiciones y nos El declive de las producciones marítimas puede
aproximará a las temperaturas de cocción de los distin- documentarse de igual forma en la cerámica con deco-
tos elementos analizados y, parcialmente, a los materia- ración impresa a peine, fundamentalmente cuencos
les usados en la pareparación de la arcilla. que acompañan a los vasos de estilo marítimo desde
La lupa binocular también ha sido usada en la carac- su aparición, de tal modo que su presencia en la fase
terización de la decoración de aquellos fragmentos II.1, es mucho mayor que en las anteriores, comienza
cuya identificación fuera más problemática, analizán- a reducirse en la fase II.2, pasando así de diez a cinco
dose posteriormente la distribución porcentual de frag- fragmentos hasta verse disminuida a uno solo en la
mentos (y peso) por las diferentes fases definidas en el fase II.4, produciéndose un leve repunte en la fase III.1.
yacimiento. La representatividad de esta técnica ornamental des-
La muestra utilizada para el análisis morfomé- ciende así del 37,04% de la fase II.1 al 4,35% de la fase
trico consta de 36 fragmentos. Las variables utilizadas II.4, momento tras el cual se produce un ligero incre-
han sido las empleadas habitualmente por el Grupo mento hasta alcanzar el 9,09% del número relativo de
de Estudios de la Prehistoria Reciente de Andalucía la cerámica campaniforme de la fase III.1. Por su parte, el
(GEPRAN, HUM274): Diámetro del borde (Diabo), Altura porcentaje de peso relativo por fase nos permite abun-
total (Altto), Diámetro de estrechamiento (Diaes), dar en este argumento, de tal modo que hallamos unos
Altura de estrechamiento (Altex), Diámetro de máximo valores que alcanzan el 45,83%, en la fase II.1, y dismi-
(Diama), Altura del diámetro máximo (Altma) y Ángulo nuyen hasta el 0’89% en la fase II.4, incrementándose
del Borde (Angbo) (Contreras, 1986; Moreno, 1993; Con- levemente al 8,60% en la fase subsiguiente.
treras y Cámara, 2000; Aranda, 2001; Fernández, 2005, No obstante, y contrariamente al comportamiento
2010; Dorado et al., 2015) observado en las producciones marítimas e impresas,
Se ha observado cómo los contenedores con deco- se ha determinado cómo la cerámica con decoración
ración marítima clásica (vasos que alternan bandas incisa, tanto aquellas que presentan decoración al
impresas rellenas de líneas oblicuas con una misma exterior, como aquellas en las que también comparece
dirección), representada por cuatro fragmentos, alcanza al interior, ve incrementada su número y representati-
el 14,8% de la producción campaniforme de la fase II.1, vidad a lo largo de la secuencia estratigráfica. De este
disminuyendo a la mitad en la fase subsiguiente, esto modo, aquellos fragmentos que únicamente presen-

264 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
tan decoración incisa al exterior quedan representa- jas. Su aparición se documenta a partir de la fase II.3,
dos en la fase II.1 por diez fragmentos, constituyendo con cuatro fragmentos que constituyen el 12,90% de la
el 37,03% del total de la cerámica campaniforme de cerámica campaniforme -momento en que se observa
esta fase, aumentando a veintiuno en la fase II.3, esto el mayor porcentaje de representatividad de esta téc-
es, el 67,74%, y disminuyendo en la fase III.1 a diecisiete, nica en el registro-, manteniéndose en la fase subsi-
lo que representa el 77,17% de las vasijas campanifor- guiente y disminuyendo levemente en la fase III.1, aun-
mes de dicha fase. Se observa así no sólo su incremento que hemos de señalar que su representatividad relativa
desde las primeras fases, sino también una permanen- aumenta al caer drásticamente las producciones marí-
cia en los modelos de producción cerámica que nos per- timas e impresas. Como hemos señalado en otras téc-
miten ya señalar el arraigo y tradición de estas técnicas nicas decorativas, el peso relativo parece incidir nue-
decorativas que desaparecerán en los albores de la Edad vamente en la fijación de los patrones seguidos por
de Bronce a inicios del II Milenio A.C.. Más aún, la mayor los alfareros campaniformes, de modo que hallamos
representatividad de esta técnica cerámica coincidirá un 46,35% de volumen de cerámicas incisas al interior
con la aparición, en la fase II.3, de las decoraciones inci- en la primera fase en que aparece (II.3), que aumenta a
sas al interior. Ahora bien, será nuevamente el peso 57,44% en la siguiente y disminuye drásticamente en la
relativo el que nos permita determinar la relevancia de fase III.1, situándose en el 5,06%.
esta técnica decorativa respecto de las restantes pro- Por su parte, los resultados analíticos obtenidos
ducciones, ya que aumenta desde el 33,74% de la fase mediante Difracción de Rayos X se configuran como una
II.1 al 86,34% de la fase III.1. fórmula de primer orden a fin de determinar las tenden-
Por último, hemos de señalar una variante del cias composicionales del conjunto cerámico estudiado.
modelo decorativo prototípico de la cerámica incisa, En este sentido, los resultados semicuantitavos han sido
como es el uso de esta técnica en el interior de las vasi- sometidos a un análisis estadístico mediante Clúster

FIG. 4 Evolución secuencial de las decoraciones campaniformes del Cerro de la Virgen.

FERNANDO MOLINA GONZÁLEZ, JUAN ANTONIO CÁMARA SERRANO, ALBERTO DORADO ALEJOS, MARÍA VILLARROYA ARÍN  265
EL FENÓMENO CAMPANIFORME EN EL SUDESTE DE LA PENÍNSULA IBÉRICA: EL CASO DEL CERRO DE LA VIRGEN (ORCE, GRANADA)
FIG. 5 Dendrograma del análisis de agrupación realizado a partir de la composición obtenida mediante Difracción de Rayos X.

(Aitchison, 1986; Shennan, 1992) que nos ha permitido (4%) y trazas de Clorita (1%) y mica Paragonita (1%). Los
observar tres grandes agrupaciones, dos de las cuales Carbonatos en este grupo se comportan como la fase
responden a las variaciones halladas en los ratios de Car- cristalina mayoritaria, siendo la Calcita (46%) la princi-
bonato Cálcico y Cuarzo identificados en la muestra total pal; la Dolomita (3’02%), no obstante, nos remite a valo-
(Fig. 5). Por otro lado, se ha determinado un tercer grupo res similares a los hallados en el grupo anterior y el Yeso
que refleja la variación composicional respecto a los no ha sido documentado. Respecto a las fases neoforma-
restantes grupos que queda marcada por el alto conte- das destacan los bajos valores de Diópsido (2%) y Gehle-
nido en Yeso de la Pasta Blanca utilizada como elemento nita (1%), reproduciendo los mismos valores del Grupo 1.
decorativo, grupo al que atenderemos más adelante. Se trata, por tanto, de dos grupos que, aunque gene-
Así, un primer grupo -Grupo 1- se compone por 42 rales, reflejan perfectamente las variaciones composi-
de las muestras analizadas, obteniéndose unos valores cionales establecidas a partir de los valores de Cuarzo
medios que permiten establecer un conjunto bien defi- y Carbonato Cálcico, fases principales del Grupo 1 y 2,
nido, en el que el Cuarzo (65%) se constituye como la respectivamente. Con todo, estas composiciones nos
fase cristalina mayoritaria (tab. 1). Entre los feldespatos han permitido abundar en las técnicas de manufactura
se han identificado valores bajos de Feldespato Potá- de la cerámica campaniforme, como es la temperatura
sico (3%) y Plagioclasa Cálcica (2%). Por su parte, entre de cocción, estimada entre los 600 y los 700º C. En este
los filosilicatos y otros minerales de la arcilla destaca sentido, la escasa presencia de minerales de la arcilla
la mica Moscovita (9%), habiéndose hallado también como la clorita -sólo documentada en algunos frag-
trazas de mica Paragonita (2%). Entre los carbonatos, se mentos- nos indican cocciones superiores a los 550º C
han identificado bajos valores de Calcita (8%), Dolomita (Maritan et al., 2007), mientras que la identificación de
(3’02%) y, en algunos casos, valores muy bajos de Yeso micas como paragonita y moscovita nos marcan un
(0’09%). Entre las fases neoformadas destacan Diópsido techo calórico que se sitúa entre los 700 y 800º C, res-
(2%) y trazas de Gehlenita (1%), apenas perceptibles en pectivamente (Comodi y Zanazzi, 2000; Buxeda y Tsan-
algunos difractogramas. tini, 2009). La misma información parece reportarnos la
Un segundo grupo -Grupo 2- estaría compuesto por presencia de carbonatos, como la Dolomita y la Calcita,
un total de 26 muestras, observándose una disminución las cuales se destruyen a partir de los 750 y los 850º C,
sustantiva en los valores de Cuarzo (32’08%) respecto al (Peters y Iberg, 1978; Fanlo y Pérez, 2011). Esta tempera-
grupo anterior. Asimismo, aunque también ínfimos, los tura habría de ser sobrepasada en algunos momentos
valores de Feldespatos disminuyen a la mitad: Feldes- durante la cocción ya que se han identificado escasos
pato Potásico (1%) y Plagioclasa Cálcica (1%). Respecto a elementos neoformados, como son el Diópsido y la
los Filosilicatos, destaca nuevamente la mica Moscovita Gehlenita (Capel, 1986:116), elementos identificados en

266 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
otras producciones correspondientes a contextos de y la técnica decorativa. Así, se observa cómo el uso de
igual cronología en el SW, como Valencina de la Con- arcillas correspondientes al Grupo 1 incrementa diacró-
cepción (Inácioet al., 2012). Se ha de señalar, asimismo, nicamente pasando de 6 individuos en la fase II.1 a 12
la presencia de estas mismas cantidades de fases de en la fase II.3, momento en que se produce la cota más
alta temperatura en las muestras obtenidas en la Pasta elevada de uso de estas materias primas, disminuyendo
Blanca utilizada como decoración de algunas cerámicas progresivamente hasta 2 fragmentos en la fase III.1. Por
campaniformes, lo que nos podría indicar que sufrieron el contrario, las materias primas adscritas al Grupo 2
la misma afección calórica que las arcillas y, por ende, sufren un comportamiento muy diferente, aumen-
se ha de entender que estas se añadirían previamente a tando de 4 fragmentos en la fase II.1 a 6 en la fase II.2
la cocción, y no tras ella. Este hecho implica que la Pasta y disminuyendo en la fase II.3, con un leve repunte en
Blanca se añade al contenedor cuando se encuentra en la fase subsiguiente, para disminuir nuevamente en la
estado de cuero, de modo que su fijación a la matriz le fase III.1, con sólo dos fragmentos. Sin duda, representa
procure una mayor permanencia en la pared. un interesante modelo que nos podría indicar una posi-
Respecto a la procedencia de las materias primas, se ble disminución de uso de las arcillas correspondientes
advierte la existencia de ciertas vasijas que no poseen al Grupo 2 debido a una escasez de este recurso en la
elementos que puedan adscribirse al entorno del Cerro zona. Por otro lado, al atender a las técnicas decorati-
de la Virgen. Se detecta la presencia de rocas sedimen- vas, se ha determinado el uso preferencial de materias
tarias que se adscriben a áreas más meridionales y que primas vinculadas al Grupo 1 para las producciones de
estarían vinculadas con el complejo Nevado-Filábride. tipo marítimo evolucionado y las decoraciones incisas,
Esta apreciación, obtenida mediante macroscopía, en ambas vertientes -exterior e interior (Fig. 6a). Sólo
podría sugerir la aparición de vasijas alóctonas en el yaci- los contenedores con decoración marítima clásica se
miento (como por ejemplo muestran las vasijas V-4807, componen preferencialmente por aquellas materias
V-4791-4792 y V-5114), aunque este extremo deberá ser primas vinculadas al Grupo 2 (Fig. 6b). Por su parte, las
confirmado con otro tipo de análisis (XFR, por ejemplo). decoraciones realizadas mediante impresión a peine se
Por otro lado, al vincular estas agrupaciones mine- disponen equitativamente en sendos grupos.
ralógicas con las técnicas productivas y su disposición A pesar de que la cerámica aparece muy fragmen-
secuencial, la relación diacrónica nos reporta interesan- tada, se ha podido realizar estudios morfométricos que
tes datos sobre el uso de materias primas, habiéndose nos han mostrado siete tipos diferentes según se deriva
podido observar una tendencia entre el uso de arcillas de sus dimensiones (Fig. 7). Así, un primer tipo se corres-

FIG. 6 Matrices cerámicas observadas mediante estereoscopía para cada uno de los grupos composicionales establecidos para el Cerro de la
Virgen.

FERNANDO MOLINA GONZÁLEZ, JUAN ANTONIO CÁMARA SERRANO, ALBERTO DORADO ALEJOS, MARÍA VILLARROYA ARÍN  267
EL FENÓMENO CAMPANIFORME EN EL SUDESTE DE LA PENÍNSULA IBÉRICA: EL CASO DEL CERRO DE LA VIRGEN (ORCE, GRANADA)
ponde con los Cuencos Semiesféricos de distinta capa- entre las fases II.1 y III.1 del yacimiento parecen equi-
cidad, lo que ha provocado su división en tres subtipos: parables con las fases IIA y IIIA de W. Schüle (1980),
I.A, I.B y I.C. El segundo quedaría formado por los Vasos confirmándose la existencia de una fase precampani-
Carenados, seguido de los Platos Biselados, los cuales forme (fase I) de muy corta duración y la presencia de
se constituyen como el tercer tipo. El cuarto tipo esta- esta cerámica en la fase III.1 que representa un Bronce
ría conformado por las Cazuelas Carenadas. El tipo V lo Antiguo local previo a las influencias argáricas y, espe-
forman los Vasos Campaniformes de distinto tamaño, cialmente, al uso del ritual de enterramiento bajo las
mientras que el sexto se compone por las Ollas. Por casas acompañados de elementos de ajuar (Schüle,
último, por sus características formales, el tipo VII que- 1980; Molina et al., 2004, 2014). Sin embargo en este
daría conformado por las Copas de Peana Ancha. Bronce Antiguo, la cerámica campaniforme presente
Hemos de señalar la relación existente entre la téc- podría ser el resultado de fenómenos de amortización
nica utilizada y la forma de los recipientes y, aparente- y/o de alteraciones postdeposicionales, en este caso
mente por tanto, su función. Sin embargo, ninguno de relacionadas con las modificaciones llevadas a cabo en
los elementos presentaba características técnicas que la construcción de viviendas de muy diferente carácter
sugirieran su preparación para ser expuestos continua- a las casas de adobe de la fase campaniforme.
mente al fuego, tratándose, fundamentalmente, de ele- Por otro lado, aun con los problemas de relación de
mentos destinados al consumo y, en menor medida, al determinadas fases de la secuencia estratigráfica res-
almacenaje a pequeña escala. pecto a las dataciones disponibles y las alteraciones
Por último, las muestras obtenidas de Pasta Blanca producidas por las ocupaciones posteriores, y especial-
nos remiten a un comportamiento mineralógico radi- mente por las fosas medievales (Molina et al., 2004),
calmente diferente a cualquiera de los grupos anterio- resulta evidente que los estilos no aparecen, y, sobre
res. Su composición se reduce a proporciones medias- todo, no desaparecen sincrónicamente en el yacimiento,
bajas de Cuarzo (13%) y Calcita (19%), siendo la fase al contrario de lo que había planteado W. Schüle (1980).
mayoritariael Yeso (67’05%) (Fig. 8). Se trata, sin duda, de De hecho las primeras cerámicas de esta clase docu-
una gran aportación a la discusión de la composición mentadas, teniendo en cuenta que su primera presen-
de estas pastas como inclusiones ornamentales, ya que cia tiene lugar en un momento relativamente avanzado
hasta el momento no se ha considerado el uso de esta (2450 cal A.C.), pertenecen mayoritariamente a vasos de
materia prima -el Yeso- como base para la realización estilo marítimo internacional y/o recipientes, en espe-
de pasta blanca en los modelos campaniformes. De cial cuencos, impresos a peine que suelen acompañar a
este modo, se ha observado cómo en el valle del Gua- los primeros (fase II.1). Posteriormente aumentan otros
diana Medio se realiza mediante hueso pulverizado estilos como el inciso, que suele estar acompañado de
(Odriozola y Hurtado, 2007; Odriozola, 2009), en el área impresiones a espátula o punzón. Incluso los recipientes
gallega se realiza con Talco y en las zonas meseteñas se decorados con bandas (derivados del estilo marítimo)
produce a partir de Carbonato Cálcico, como muestran muestran variantes sea en la anchura de las bandas,
los casos de Pajares de Adaja y Fuente Olmedo (Martín y sea en la orientación de los motivos incluidos en ellas,
Delibes, 1989) y Ciempozuelos (Blasco y Arribas., 1994), o en la técnica empleada para la realización de éstos
aunque en momentos posteriores, ya en cerámica de (con muchos menos ejemplares impresos a peine). En
tradición Cogotas I, su elaboración se realiza a partir de la fase II.3 el dominio de los ejemplares incisos resulta
hueso machacado según ha podido determinarse en abrumador y algunos de éstos presentan decoración
El Pelambre (Martín y Martín, 2009: 194). Estos nuevos al interior, a veces de carácter simbólico por la presen-
resultados nos permiten añadir una nueva práctica que cia de motivos figurativos (especialmente soliformes),
aumenta la complejidad de un fenómeno tan extenso algo frecuente en Los Millares, donde se ha relacionado
como es el Campaniforme, o la misma inclusión de (Arribas y Molina, 1987; Molina y Cámara, 2005) con la
pasta blanca que supera los límites cronológicos de pervivencia de alguno de los motivos característicos de
éste, y aporta nuevos datos que ayuden a resolver los las cerámicas «simbólicas» precampaniformes con zoo-
límites geográficos de las distintas tradiciones (Odrio- morfos, ondas-tatuajes y soliformes (Martín y Cámalich,
zola et al., 2012). 1982) que se han interpretado en diverso modo, desde
la oposición/integración de sexos hasta el culto astral
(Escoriza, 1991; Martínez y Afonso, 2003; Escacena, 2011-
CONCLUSIONES 12, 2015). En cualquier caso, la continuidad es sólo parcial
El análisis de la distribución secuencial de los ele- y los motivos se simplifican. En la fase II.4 los ejempla-
mentos campaniformes y de los que representan los res con decoración simbólica desaparecen y en la III.1 la
distintos estilos de esta clase cerámica ha permitido decoración interior está totalmente ausente en la zona
demostrar dos hechos. Por un lado, su concentración excavada en 1986.

268 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 7 Gráfico de dispersión según los resultados del Análisis de Componentes Principales de variables morfométricas de materiales cerámicos
con decoración campaniforme del Cerro de la Virgen.

FIG. 8 Detalle de pasta blanca (arriba) y difractograma y resultados de éstos (abajo).

FERNANDO MOLINA GONZÁLEZ, JUAN ANTONIO CÁMARA SERRANO, ALBERTO DORADO ALEJOS, MARÍA VILLARROYA ARÍN  269
EL FENÓMENO CAMPANIFORME EN EL SUDESTE DE LA PENÍNSULA IBÉRICA: EL CASO DEL CERRO DE LA VIRGEN (ORCE, GRANADA)
FIG. 9 Algunos de los asentamientos con mayor concentración de cerámica campaniforme del Sudeste: 1) Fuente de Bujéjar (Puebla de Don
Fadrique); 2) El Puntal (Aldeire); 3) Cerro de la Virgen (Orce); 4) Almizaraque (Cuevas de Almanzora); 5) Los Millares (Santa Fe de Mondujar),
y; 6) Ciavieja (El Ejido).

En lo que se refiere a los aspectos tecnológicos de empleadas para preparar alimentos que implicaran su
esta cerámica, la muestra analizada a través de macros- exposición al fuego. De hecho, parece existir una mayor
copía y DRX nos ha permitido sugerir la existencia relación de esta separación en grupos de materiales con
de dos grandes grupos a partir de las proporciones de consideraciones funcionales que determinaron la elec-
Cuarzo o de Carbonato Cálcico. Existe una cierta rela- ción o no de uno u otro tipo de materia prima, como se
ción entre los estilos referidos anteriormente y esta deriva de la relación existente entre las formas y su com-
división técnica, ya que los estilos más antiguos utili- posición. De este modo, se ha podido observar cómo los
zan sedimentos calcáreos (grupo 2) que parecen estar cuencos semiesféricos, los distintos vasos campanifor-
vinculados a producciones locales, dada la situación del mes y fuentes poseen mayores proporciones de cuarzo,
cerro. A falta de análisis más específicos que, caracteri- aunque no exclusivamente, ya que se han documentado
zando elementos traza, nos puedan ayudar a identifi- algunas fuentes y cuencos con mayores proporciones de
car elementos alóctonos (como XRF en curso de reali- Carbonato Cálcico; por el contrario, las ollas ovoides sí se
zación), solo podemos sugerir que algunos materiales componen de mayores proporciones de Carbonato Cál-
metamórficos identificados a través de la macroscopía cico. Con todo, no parece que ninguno de los recipientes
tengan relación con el Complejo Nevado-Filábride. estuviera destinado a su exposición al fuego no sólo por
Estos resultados sugieren que en el proceso de afir- el tratamiento superficial que recibieron y, en general,
mación de la tradición alfarera campaniforme en el el escaso grosor de sus paredes, sino también por sus
yacimiento se optó en primer lugar por sedimentos características técnicas. Todo ello nos lleva a sugerir que
calcáreos que fueron derivando hacia otras materias fueron recipientes de consumo que, por sus característi-
primas en fases sucesivas. Sin embargo, ni estas cerá- cas (tratamiento de las superficies y decoración), debie-
micas fueron cocidas a altas temperaturas, ni fueron ron ser empleados en circunstancias particulares.

270 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
Otro resultado interesante, aunque secundario res- durante el Calcolítico, existieron comunidades con
pecto a los objetivos de este trabajo, ha sido la carac- tradiciones diferentes, aun con la circulación de deter-
terización de la pasta blanca como yeso usado para minados objetos y materias primas (Molina, 1988). Ello
completar la decoración de ciertos recipientes. Estos viene apoyado también por otros rasgos del patrón de
resultados varían respecto de aquellos obtenidos asentamiento y la asociación de las sepulturas (cuando
(hueso, carbonato cálcico y caolinita) en la mayoría de se conocen) a las zonas de hábitat y que muestran
los análisis hasta ahora realizados en otros espacios importantes diferencias entre las distintas áreas del
peninsulares (Odriozola, 2009 p. ej.). Sudeste configurándose a veces con claridad verdade-
En relación con estos aspectos evidentemente no ras fronteras en evolución. Este último rasgo ha sido
sólo será necesaria una profundización en los análisis bien documentado en el Pasillo de Tabernas (Almería)
técnicos y especialmente en aquéllos que nos permi- donde se puede situar parte de la frontera oriental de
tan una mejor identificación de las materias primas la formación social dominada por Los Millares (Cámara,
empleadas en relación con una posible circulación de 2001; Spanedda et al., 2014, 2015) pero otras diferencias
los elementos a amplias distancias como resultado entre áreas también son claras, como la dispersión de
de demandas específicas (XRF por ejemplo) sino que megalitos remarcando rutas de desplazamiento en
también deberemos analizar la distribución de los todo el valle del Andarax, Tabernas, Nacimiento y río
elementos campaniformes en el espacio. La presencia Gor (bajo el control de Los Millares), la existencia en la
de este tipo de materiales en el yacimiento alcanza zona más inmediata al asentamiento principal de los
números que destacan entre los contextos peninsu- Millares de una línea de fortines de control (Molina
lares, habiéndose calculado en torno a un 6% de los y Cámara, 2010; Cámara et al., 2014; Spanedda et al.,
restos cerámicos selectos. Tal concentración podría 2014), la demarcación de los yacimientos principales
indicar, en nuestra opinión, la importancia del Cerro de la zona oriental de Almería con pequeñas necrópolis
de la Virgen a nivel político pero también podría refe- que los circundan y la existencia de fortines en zonas
rirse a especificidades del área excavada en éste. Las estratégicas para controlar toda la cuenca (Martínez
concentraciones de materiales campaniformes en et al., 1991; Cámara, 2001). De hecho, en la zona orien-
determinadas zonas de los poblados han sido referi- tal los Altiplanos granadinos, Hoya de Baza-Huéscar,
das especialmente en el oeste de la Península Ibérica no se conocen dispersiones de megalitos que ayuden
(Kunst, 1996; Hurtado, 2004; Blasco et al., 2005, 2008, a marcar rutas de desplazamiento, no hay fortines que
2011; Liesauet al., 2008; Cardoso, 2014) y es particular- defiendan los asentamientos principales y las áreas de
mente evidente en el Sudeste en el poblado de Los explotación inmediata, aunque estos asentamientos
Millares (Arribas y Molina, 1987; Molina y Cámara, estén especialmente fortificados (Schüle, 1980; Moreno,
2005), gracias a sus excavaciones en extensión. Se 1993) y apenas hay referencias a sepulturas cerca de las
podría pensar así, a la espera de realizar excavaciones zonas de hábitat si exceptuamos los posibles rundgrä-
en otras áreas del Cerro de la Virgen, que la zona inves- ber de Cúllar (Moreno, 1993). Ello no quiere decir que
tigada era un sector particular y privilegiado dentro el sistema de organización territorial no esté perfecta-
del poblado. De hecho, el estudio de las sepulturas mente estructurado como se demuestra en el área de
argáricas, correspondientes a los momentos posterio- Cúllar-Chirivel (Moreno et al., 1991-92), donde el con-
res, nos ha llevado a plantear que en la zona excavada trol de determinados recursos pudo ser ejercido tam-
debieron residir las élites, o parte de las ellas, de este bién desde yacimientos especializados en el control
asentamiento (Molina et al., 2014, 2016). Esta asocia- (Moreno et al., 1991-92). Si relacionamos tal fragmenta-
ción entre materiales campaniformes y la residencia ción política con los yacimientos que han ofrecido una
de capas privilegiadas de la población podría exten- mayor concentración de cerámica campaniforme en el
derse a la interpretación de algunas transformaciones Sudeste (fig. 9), el panorama parece casi reproducir la
en determinados poblados (Silva y Soares, 2010). fragmentación del territorio argárico posterior (Molina
En cualquier caso, aun inscribiéndose en el Calcolí- y Cámara, 2004), e incluso teniendo en cuenta que algu-
tico del Sudeste, el campaniforme del Cerro de la Virgen nos aún no han sido excavados, como Fuente de Bugejar
presenta ligeras diferencias respecto al más conocido (Puebla de Don Fadrique) (Fernández y Serrano, 1990) y
de Los Millares. Por ejemplo la decoración de las ollas El Puntal (Aldeire) (Raya, 1987) en las zonas más cerca-
parece más habitual (aunque se debe tener en cuenta nas al Cerro de la Virgen y en otros no se han indagado
que un gran número de los recipientes decorados no los niveles calcolíticos, como en el Cerro de la Encina
ha podido reconstruirse) y, desde luego, no conocemos (Monachil, Granada) (Dorado et al., este vol.). De hecho,
hasta ahora en el yacimiento situado en los Altiplanos en algunos casos como el Cerro de la Virgen o El Man-
Granadinos ninguna orza con decoración campani- zanil (Fresneda, 1983; Carrilero, 1992), el centro político
forme. Estos rasgos sugieren que dentro del Sudeste, se mantuvo en el mismo lugar.

FERNANDO MOLINA GONZÁLEZ, JUAN ANTONIO CÁMARA SERRANO, ALBERTO DORADO ALEJOS, MARÍA VILLARROYA ARÍN  271
EL FENÓMENO CAMPANIFORME EN EL SUDESTE DE LA PENÍNSULA IBÉRICA: EL CASO DEL CERRO DE LA VIRGEN (ORCE, GRANADA)
En nuestra opinión, entre otras cosas, a partir de BECKER, H. y BRANDHERM, D. (2010): «Eine Testmessung zur
la concentración de una cerámica destinada sólo a la magnetischen Prospektion am Cerro de la Virgen 1998 (Prov.
Granada, Spanien)», en ARMBRUESTER, T. y HEGEWISH, M.
exhibición y el consumo como la campaniforme, que
(eds.): BeiträgerzurVor- und Frühgeschichte der Iberischen
reproduce al principio esquemas internacionales y
Halbinsel und Mitteleuropas. Studien in honorem Philine Kalb,
después presenta sus propios esquemas comarcales StudienzurArchäologieEuropas 11, Verlag Dr. Rudolf Habelt GmbH,
como signos identitarios de comunidades (pero tam- Bonn, p. 267-272.
bién de élites), las poblaciones mantuvieron fuertes BLASCO, C. y ARRIBAS, J. (eds.) (1994): El Horizonte campaniforme de
relaciones con su entorno más inmediato con las for- la región de Madrid en el centenario de Ciempozuelos. Madrid:
maciones sociales vecinas hasta el punto de formar la Departamento de Prehistoria y Arqueología. Universidad
base para la posterior expansión de las comunidades Autónoma de Madrid.

argáricas. Independientemente de la extensión pro- BLASCO, C., LIESAU, C., DELIBES, G., BAQUEDANO, E., RODRÍGUEZ, M.
(2005): Enterramientos campaniformes en ambiente doméstico:
puesta para esas unidades territoriales (Legarra, 2014;
el yacimiento de Camino de las Yeseras (San Fernando de Henares,
Molina y Cámara, 2004; Lull et al., 2010, de la menor a
Madrid), El campaniforme en la Península Ibérica y su contexto
la mayor extensión propuesta) es evidente que amplias europeo (M.Á. Rojo, R. Garrido, I. García (coords.), Arte y Arqueología
zonas del Sudeste estuvieron relacionadas y el mundo 21, Universidad de Valladolid, Valladolid, 2005, pp. 457-472.
de finales del III Milenio A.C. fue un precedente en ese BLASCO, C.; DELIBES, G.; RÍOS, P.; BAENA, J. y LIESAU, C. (2008): Camino
y otros aspectos de la organización social como en la de lasYeseras (San Fernando de Henares, Madrid): Impact of Bell
misma exhibición del papel guerrero expresado en la Beaker Ware on a Chalcolithic Settlement within the Central Area
ostentación de armas (aun cuando la deposición en las of the Iberian Peninsula, Bell Beaker in everyday life. Proceedings
of the 10th Meeting «Archéologie et Gobelets» (Florence-Siena-
tumbas colectivas haga difícil la lectura de su vincula-
VillanuovasulClisi, May 12-15, 2006) (M. Baioni, V. Leonini, D. Lo
ción) y el uso de la violencia, abierta o estructural, en Vetro, F. Martini, R. Poggiani Keller, L. Sarti, eds.), Museo Fiorentino
el mantenimiento de la organización social (Lull et al., di Preistoria «Paolo Graziosi», Firenze, 2008, pp. 301-310.
2015; Cámara et al., 2016). BLASCO, C.; LISEAU, C. y RÍOS, P. (eds.) (2011): Yacimientos calcolíticos
con campaniforme en la región de Madrid: nuevos estudios,
Patrimonio Arqueológico de Madrid 6, Madrid.
AGRADECIMIENTOS BUXEDA, J. y TSANTINI, E. (2009): «Les àmfores ibèriques del derelicte
El presente estudio se inscribe en el desarrollo de los de Cala San Vicenç i la seva contrastació amb les àmfores de la
proyectos Dieta y Movilidad en la Prehistoria Reciente de Palaià Polis d’Empúries: Evidències des de la seva caracterització
arqueomètrica», El vaixellgrecarcaic de Cala San Vicenç (X. Nieto,
Andalucía. Un estudio de la jerarquización social a partir
M. Santos, Eds), Monografies del CASC 7, pp. 373-392.
del registro funerario (P12-HUM-1510), financiado por la
BUXÓ, R. (1997): Arqueología de las plantas. La explotación económica
Consejería de Economía, Innovación, Ciencia y Empleo
de las semillas y los frutos en el marco mediterráneo de la
de la Junta de Andalucía, y Estrategias agropecuarias y Península Ibérica, Crítica, Barcelona, 1997.
consumo en la Edad del Bronce del Sur de la Península CÁMARA, J. A. (2001): El ritual funerario en la Prehistoria Reciente
Ibérica. Análisis de Plantas, Animales y Restos Humanos del sur de la Península Ibérica, British Archaeological Reports.
(HAR2016-80057-P), financiado por el Ministerio de Eco- International Series 913, Oxford, 2001.
nomía y Competitividad. CÁMARA, J. A. y MOLINA, F. (2009): «El análisis de la ideología de
emulación: el caso de El Argar», Cuadernos de Prehistoria y
Arqueología de la Universidad de Granada 18, p. 163-194.
CÁMARA, J.A.; AFONSO, J.A. y MOLINA, F. (2016): «A Marxist Approach
BIBLIOG RAFÍA
to Violence: Iberian Southeast in Late Prehistory», en GARCÍA-
AITCHISON, J. (1986): The Statistical Analysis of Compositional Data. PIQUER, A. y VILA-MITJÀ, A. (eds.): Beyond War: Archaeological
Londres, Chapman and Hall.
Approaches to Violence, Cambridge Scholars Publishing,
ARANDA, G. (2001): El análisis de la relación forma-contenido de Cambridge, p. 93-114.
los conjuntos cerámicos del yacimiento arqueológico del Cerro
CÁMARA, J. A.; ALCARAZ, F. M.; MOLINA, F.; MONTUFO, A. M. y
de la Encina (Granada, España), British Archaeological Reports.
SPANEDDA, L. (2014): «Monumentality, Visibility and Routes
International Series 927, Oxford.
Control in Southeastern Iberian Megalithic Sites», en SCHULZ
ARRIBAS, A. y MOLINA, F. (1987): «New Bell Beaker discoveries in the PAULSSON, B. y GAYDARSKA, B. (eds.): Neolithic and Copper Age
Southeast Iberian Peninsula», en WALDREN, W. H. y KENNARD,R. Monuments: Emergence, function and the social construction of
C. (eds.): Bell Beaker discoveries of the western Mediterranean. the landscape, British Archaeological Reports. International Series
Definition, interpretation, theory and new site data (The Oxford 2625, Archaeopress, Oxford, pp. 89-106.
International Conference, 1986), British Archaeological Reports.
CÁMARA, J.A.; MOLINA, F.; PÉREZ, C. y SPANEDDA, L. (en prensa a):
International Series 331 (I), Oxford, p. 129-146.
«A new reading on Chalcolitic fortifications at Cerro de la Virgen
BAHRANI, Z. (2006): «Race and ethnicity in Mesopotamian (Orce, Granada. Spain)», en GONÇALVES, V. S. y SOUSA, A. C. (Orgs.):
antiquity», World Archaeology, 38:1, p. 48-59. Within Ditches And Walls. Settlements, Fortifications, Enclosures,
BARTH, F. (1969): Ethnic Groups and Boundaries: The Social Monuments, Villages and Farms in the Third Millenium BCE , XVII
Organization of Culture Difference, Boston. World UISPP Congress (Burgos, 1-7 September 2014).

272 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
CÁMARA, J. A.; MOLINA, F.; SPANEDDA, L. y NÁJERA, T. (en prensa b): ESCORIZA, T. (1991): La representaciones ideológico-simbólicas
«Costruzione e perpetuazione delle identità sociali. L’utilizzo del en la formación social de Los Millares durante el III Milenio a.C.,
rituale funerario nel sud-est della penisola iberica durante l’età Tesis Doctoral, Universidad de Granada, 1991.
del bronzo antico e medio (2100-1350 cal. A.C.)», Antropologia FANLO J., y PÉREZ, F. (2011): «Consecuencias de la incorporación
e antropologia della morte. III Incontro di studi di antropologia de carbonato cálcico en el material cerámico», EstratCrític 5-3,
e archeologia a confronto. Romarché 2015 (20-22 maggio 2015) pp. 61-68.
CAPEL, J. (1986): Estudio mineralógico y geoquímico de sedimentos y FERNÁNDEZ, J. y SERRANO, D. (1990): «Un poblado de la Edad
cerámicas arqueológicas de algunos yacimientos de La Mancha,
del Cobre en Puebla de Don Fadrique (Granada)», Archivo de
Oretum 2.
Prehistoria Levantina XX, Valencia, 1990, p. 255-277.
CARDOSO, J. L. (2014): «Cronología absoluta del fenómeno
FERNÁNDEZ, S. (2005): «Estudio morfométrico de la producción
campaniforme al Norte del estuario del Tajo: implicaciones
cerámica del yacimiento arqueológico de la Edad del Bronce
demográficas y sociales», Trabajos de Prehistoria 71:1, p. 56-75.
de la Motilla del Azuer», Arqueología y Territorio, 2, p. 61-68.
CASTRO, P. V.; CHAPMAN, R. W.; GILI, S.; LULL, V.; MICÓ, R.; RIHUETE, C.;
FERNÁNDEZ, S. (2010): Los complejos cerámicos del yacimiento
RISCH, R. y SANAHUJA, Mª.E. (1993-94): «Tiempos sociales de
arqueológico de la Edad del Bronce de la Motilla del Azuer
los contextos funerarios argáricos», Anales de Prehistoria
(Daimiel, Ciudad Real), Tesis Doctoral, Universidad de Granada.
y Arqueología 9-10, Murcia, p. 77-105.
HEYD, V. (2007): «Families, prestige goods, warriors and complex
CASTRO, P. V.; LULL, V. y MICÓ, R. (1996): Cronología de la Prehistoria
societies: Beaker groups and the 3rd millennium cal BC»,
Reciente de la Península Ibérica y Baleares (c. 2800-900 cal ANE),
Proceedings of the Prehistoric Society 73, p. 327-380.
British ArchaeologicalReports. International Series 652, Oxford,
1996. HURTADO, V. (2004): El asentamiento fortificado de San Blas (Cheles,
Badajoz). III Milenio A.C., Trabajos de Prehistoria 61:1, Madrid, 2004,
CHUNG, F. (1974): «Quantitative interpretation of X-ray diffraction
pp. 141-155.
patterns: Matrix lushing method of quantitative multicomponent
analisys», Journal of Applied Crystallography 7, p. 519-525. INÁCIO, N., NOCETE, F., NIETO, ALDANA, P.L., PAJUELO, A., BAYONA,
M.R. y ABRIL, D. (2012): «Cerámica común y Campaniforme en
COMODI, P. y ZANAZZI, P.F. (2000): «Structural thermal behavior
Valencina de la Concepción (Sevilla): indagando su procedencia
of paragonite and itsdehydroxylate: a high temperature
a través del análisis arqueométrico». Estudos Arqueológicos de
single-crystal study», Physics and Chemistry of Minerals 27-6,
Oeiras (Actas do IX Congresso de Ibérico de Arqueometría), 19, pp.
pp. 377-385.
95-104.
CONTRERAS, F. (1986): Aplicación de métodos y análisis estadísticos
IVERSEN, R. (2016). «Arrowheads as indicators of interpersonal
a los complejos cerámicos de la Cuesta del Negro (Purullena,
violence and group identity among the Neolithic Pitted
Granada), Tesis Doctoral, Univ. Granada, 1986.
Ware hunters of southwestern Scandinavia».Journal of
CONTRERAS, F. y CÁMARA, J.A. (2000): El poblado de la Edad del
AnthropologicalArchaeology, 44, 69-86.
Bronce de Peñalosa (Baños de la Encina, Jaén). La cerámica,
KALB, Ph. (1969): «El poblado del Cerro de la Virgen de Orce
Análisis Histórico de las Comunidades de la Edad del Bronce del
piedemonte meridional de Sierra Morena y Depresión Linares- (Granada)», XCongreso Nacional de Arqueología (Mahón, 1967),
Bailen. Proyecto Peñalosa. (F. Contreras, Coord.), Arqueología. Zaragoza, p. 216-225.
Monografías 10, Consejería de Cultura. Dirección General de KIM, J.-I. (2005): Formation and Change in Individual Identity between
Bienes Culturales. Sevilla, p. 77-128. the Bell Beaker Culture and the Early Bronze Age in Bavaria, South
DELGADO, S. (2013): Tecnotipología y distribución espacial del Germany, British Archaeological Reports. International Series
material macrolítico del Cerro de la Virgen de Orce (Granada). 1450, Archaeopress, Oxford.
Campañas 1963-1970. Una aproximación paleoeconómica, British KUNST, M. (1996): «As cerámicas decoradas do Zambujal e o
ArchaeologicalReports. International Series 2518, Archaeopress, faseamento do Calcolítico da Estremadura Portuguesa»,
Oxford. Estudos Arqueológicos de Oeiras6, p. 257-286.
DORADO, A.; MOLINA, F.; CÁMARA, J.A. y GÁMIZ, J. (este vol.): LEGARRA, B. (2014): «Estructura territorial y estado en la cultura
El fenómeno campaniforme en el Cerro de la Encina (Monachil, argárica», Menga. Revista de Prehistoria de Andalucía 4,
Granada). Aportaciones al complejo cultural del Sureste, Sinos pp. 149-171.
e taças. Junto ao Oceano e mais longe. Aspectos da presença LIESAU, C.; BLASCO, C.; RÍOS, P.; VEGA, J.; MENDUIÑA, R.; BLANCO, J. F.;
campaniforme na Península Ibérica (Lisboa 12-13maio 2016)
BAENA, J.; HERRERA, T.; PETRI, A. y GÓMEZ, J. L. (2008): «Un espacio
DORADO, A.; MOLINA, F.; CONTRERAS, F.; NÁJERA, T.; CARRIÓN, F.; compartido por vivos y muertos: El poblado calcolítico de fosos
SÁEZ, L.; DE LA TORRE, F. y GÁMIZ, J. (2015): «El Cerro de Cabezuelos de Camino de las Yeseras (San Fernando de Henares, Madrid)».
(Jódar, Jaén): un asentamiento del Bronce Final en el Alto Complutum, 19(1), p. 97-120.
Guadalquivir», Cuadernos de Prehistoria y Arqueología de la
LULL, V.; MICÓ, R.; RIHUETE, C. y RISCH, R. (2010): «Las relaciones
Universidad de Granada, 25, p. 257-347.
políticas y económicas de El Argar», Menga. Revista de Prehistoria
DRIESCH, A. (1972): Osteoarchäologische Untersuchungen auf der de Andalucía 1, p. 11-36.
Iberischen Halbinsel. München: UNI-Druck.
LULL, V.; MICÓ, R.; RIHUETE-HERRADA, C. y RISCH, R. (2015):
ESCACEMA, J.L. (2015): «Cielos fosilizados», Quaderns de Prehistòria «Transitional and conflict at the end of the 3rd millennium BC
i Arqueologia de Castelló 33, p. 43-61. in south Iberia», enMeller, H. y Arz, H. W.; Jung, R. y Risch, R. (eds.):
ESCACENA, J.L. (2011-2012): «El firmamento en un cuenco de cerámica. 2200 BC – A climatic breakdown as a cause for the collapse of
Viaje a las ideas calcolíticas sobre la bóveda celeste», Cuadernos de the old world? 7th Archaeological Conference of Central Germany
Prehistoria y Arqueología de la Universidad Autónoma de Madrid (October 23-26, 2014 in Halle), Tagungen des Landesmuseum
37-38, p. 153-194. fürVorgerschichte Halle 12:I, Halle, p. 365-408.

FERNANDO MOLINA GONZÁLEZ, JUAN ANTONIO CÁMARA SERRANO, ALBERTO DORADO ALEJOS, MARÍA VILLARROYA ARÍN  273
EL FENÓMENO CAMPANIFORME EN EL SUDESTE DE LA PENÍNSULA IBÉRICA: EL CASO DEL CERRO DE LA VIRGEN (ORCE, GRANADA)
MARITAN, L.; MAZZOLI, C. y FREESTONE, I. (2007): «Modelling MOLINA, F.; CÁMARA, J. A.; DELGADO, A.; JIMÉNEZ, S. A.; NÁJERA,
changes in mollusc shell internal microstructure during firing: T.; RIQUELME, J. A. y SPANEDDA, L. (2016): «Problemas
implications for temperature estimation in shell bearing pottery», cronológicos y análisis de dieta en la Edad del Bronce de
Archaeometry, 49-3, p. 529-541. los Altiplanos granadinos: el caso del Cerro de la Virgen
MARTÍN, J. D. (2004): Using XPowder: A software package for Powder (Orce, Granada, España)»,Del neolític a l’edat del bronze en el
X-Ray diffraction analysis. Web: www.xpowder.com [visto el 20 Mediterranioccidental.Estudis en Homenatge a Bernat Martí
junio de 2015]. Oliver. Serie de Trabajos Varios del Servicio de Investigación
Prehistórica del Museo de Prehistoria de Valencia (TV SIP) 119,
MARTÍN, J. D. (2006): «XPowder. Programa para análisis cualitativo
p. 451-463.
y cuantitativo por Difracción de Rayos X», MACLA 4-5,
MOORE, D. y REYNOLDS, R. (1989): X-ray diffraction and the
pp. 35-44.
identification and analysis of clay minerals, Oxford University
MARTÍN, D. M. y CÁMALICH, M. D. (1982): «La «Cerámica Simbólica»
Press.
y su problemática (Aproximación a través de los materiales de la
MORENO, M.ª A. (1993): El Malagón: un asentamiento de la Edad
Colección L. Siret)», Cuadernos de Prehistoria de la Universidad de
del Cobre en el Altiplano de Cúllar-Chirivel. Tesis Doctoral.
Granada 7, p. 267-306.
Univ. Granada. 1993.
MARTÍN, J. y MARTÍN, F. J. (2009): «Caracterización de una pasta
MORENO, M.ª A.; CONTRERAS, F. y CÁMARA, J. A. (1991-92): «Patrones
blanca de rellenos en las decoraciones cerámicas de la Edad
de asentamiento, poblamiento y dinámica cultural en las tierras
del Bronce de El Pelambre», en El horizonte cogotas I de la
altas del sureste peninsular. El pasillo Cúllar-Chirivel durante la
Edad del Bronce y el período tardoantiguo en Bronce y el período
Prehistoria Reciente». Cuadernos de Prehistoria de la Universidad
tardoantiguo en el valle medio del Esla, León: Tragsa,
de Granada 16-17 (1991-92), Granada, p. 191-245.
p. 321-369.
ODRIOZOLA, C. P. (2009): «The two sides of the Guadiana: Inlayed
MARTÍN, R. y DELIBES, G. (1989): La cultura del vaso campaniforme
pottery from 3rd millennium BC alongside the Guadiana
en las campiñas meridionales del Duero: el enterramiento
River (Spain and Portugal)». En BIRÓ, T. K. (Ed.): Vessels: inside
de Fuente Olmedo (Valladolid). Valladolid: Junta de Castilla
and outside. Papers presented at EMAC ‘07, 9th European
y León.
Meeting on Ancient Ceramics, Budapest: Hungarian National
MARTÍNEZ, G. y AFONSO, J. A. (2003): «Formas de disolución de Museum.
los sistemas sociales comunitarios en la Prehistoria Reciente
ODRIOZOLA, C. y HURTADO, V. (2007): «The Manufacturing Process
del sur de la Península Ibérica», Revista Atlántica-Mediterránea
of 3rd Millennium BC Bone Based Incrusted Pottery Decoration
de Prehistoria y Arqueología Social 6, p. 83-114.
from the Middle Guadiana River Basin (Badajoz, Spain)», Journal
MARTÍNEZ, G., GARRIDO, O., PADIAL, B. (1991): «Excavación de of Archaeological Science 34, p. 1749-1803.
urgencia en El Cerrillo (Chercos)», Anuario Arqueológico de
ODRIOZOLA, C.; HURTADO, V.; GUERRA, E.; CRUZ-AUÑÓN, R.; DELIBES
Andalucía 1989:III, Sevilla, p. 40-46.
DE CASTRO, G. (2012): «Los rellenos de pasta blanca en cerámicas
MOLINA, F. (1988): «El Sudeste.», en DELIBES, G. FERNÁNDEZ- campaniformes y su utilización en la definición de límites
MIRANDA, M. MARTÍN, A. y MOLINA, F. (eds.): El Calcolítico de sociales». Estudos Arqueológicos de Oeiras (Actas do IX Congresso
la Península Ibérica. Congresso Internazionale L’Età del Rame in de Ibérico de Arqueometría), 19, p. 143-154.
Europa (Viareggio, 15-18 Ottobre, 1987), Rassegna di Archeologia 7, PAU, C. (2016): Los objetos de adorno en el Mediterráneo Occidental
Firenze, p. 256-262. en época campaniforme y su trascendencia social, Tesis doctoral,
MOLINA, F. y CÁMARA, J. A. (2004): «La Cultura del Argar en el área Universidad de Granada, Granada.
occidental del Sudeste», en HERNÁNDEZ, L. y HERNÁNDEZ, M.S. PETERS, T. y IBERG, R. (1978): «Mineralogical changes during firing
(Eds.): La Edad del Bronce en tierras valencianas y zonas limítrofes, of calcium-rich brick clays», Ceramic Bulletin 57, pp. 503-509.
Ayuntamiento de Villena/Instituto Alicantino de Cultura Juan
RAYA, M. (1987): «Prospecciones arqueológicas superficiales en
Gil-Albert, Villena, p. 455-470.
el borde oriental de la Depresión de Guadix (Granada, 1985)»,
MOLINA, F. y CÁMARA, J. A. (2005): Guía del yacimiento arqueológico Anuario Arqueológico de Andalucía 1985:II, Sevilla, pp. 103-108.
Los Millares, Empresa Pública de Gestión de Programas
RODRÍGUEZ, M. O.; VALLE, F. y ESQUIVEL, J. A. (1996a):
Culturales, Consejería de Cultura. Junta de Andalucía, Sevilla,
«The vegetation from the Guadix-Baza (Granada, Spain)
2005.
during the Copper and Bronze Ages based on Anthracology»,
MOLINA, F. y CÁMARA, J. A. (2010): «Los Millares y su dominio sobre III Convegno Internazionale di Archeologia e Informatica
el valle del Andarax», PH. Boletín del Instituto Andaluz de (Roma 22-25 novembre 1995) (P. Moscati, Cur.). Archeologia
Patrimonio Histórico73, Sevilla, p. 60-65. e Calcolatori 7, p. 537-558.
MOLINA, F., CÁMARA, J. A., CAPEL, J., NÁJERA, T., SÁEZ, L. (2004): RODRÍGUEZ, M. O.; RUIZ, V.; BUXÓ, R. y ROS, M. T. (1996b):
«Los Millares y la periodización de la Prehistoria Reciente «Paleobotany of a Bronze Age community. Castellón Alto (Galera,
del Sudeste», Simposios de Prehistoria Cueva de Nerja. II. La Granada, Spain)», L’Archéometrie dans les pays européens da
problemática del Neolítico en Andalucía. III. Las primeras langua latine et l’implication de l’Archéometrie dans les grandes
sociedades metalúrgicas en Andalucía, Fundación Cueva de Nerja, travaux de sauvetage archéologiche. Actes du Coll. d’Archéometrie
Nerja, p. 142-158. 1995 (Perigueux, Dordogne, France). Revue d’Archémetrie Suppl.
MOLINA, F.; CÁMARA, J. A.; AFONSO, J. A. y NÁJERA, T. (2014): Rennes, p. 191-196.
«Las sepulturas del Cerro de la Virgen (Orce, Granada). SARAUW, T. (2007): «Male symbols or warrioridentities?
Diferencias cronológicas y diferencias sociales», Revista The «archeryburials» of the Danish Bell Beaker Culture»,
Atlántica-Mediterránea de Prehistoria y Arqueología Social 16, Journal of Anthropological Archaeology 26:1, Orlando,
p. 121-142. p. 65-87.

274 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
SCHÜLE, W. (1980): Orce und Galera: zwei Siedlungen aus dem 3 SPANEDDA, L.; ALCARAZ, F. M.; CÁMARA, J. A.; MOLINA, F. y MONTUFO,
bis 1 Jahrtausend v. Chr. Im Südosten der Iberischen Halbinsel I: A. M. (2015): «Demografía y control del territorio entre el IV y
übersichtüber die Ausgrabungen 1962-1970, Phillip von Zabern, el III milenios A.C. en el Pasillo de Tabernas (Almería, España)»,
Mainz am Rhein. en GONÇALVES, V. S; DINIZ, M. y SOUSA, A. C. (eds.): Actas del V
SCHÜLE, W. (1986): «El Cerro de la Virgen de la Cabeza, Orce (Granada). Congresso do Neolítico Peninsular (Lisboa, 7-9 de abril de 2011),
Consideraciones sobre su marco ecológico y cultural», Homenaje Estudos & Memórias 8, Centro
a Luis Siret (1934-1984), Consejería de Cultura, Sevilla, p. 208-220. de Arqueologia da Universidade de Lisboa, Lisboa, p. 359-368.

SCHÜLE, W. y PELLICER, M. (1966): El Cerro de la Virgen, Orce TUREK, J. (2015): «Bell Beaker stone wrist-guards as symbolic
(Granada), Excavaciones Arqueológicas en España 46, Madrid. male ornament. the significance of ceremonial warfare in
3rd millennium Bc central Europe», enPRIETO, M. P. y SALANOVA,
SHENNAN, S. (1992): Arqueología cuantitativa, Ed. Crítica, Barcelona.
L. (eds.):The Bell Beaker Transition in Europe: Mobility and local
SILVA, C. T. da y SOARES, J. (2010): «O povoado fortificado do Porto evolution during the 3rd millennium BC, Oxbow Books, London,
das Carretas», en GONÇALVES, V. S. y SOUSA, A. C. (eds.):  pp. 28-40.
Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º
WALDREN, W. H. (1995): «The function of Balearic Bell Beaker pottery
e o 3.º milénios a.n.e. Actas do Colóquio Internacional. Cascais
as a ceremonial and votive object», en WALDREN,
(6-9 de Octubre - 2005) (Colecção Cascais, Tempos Antigos, 2,
W. H.; ENSENYAT, J. A. y KENNARD, R. C. (Eds.): Ritual, rites and
Câmara Municipal, Cascais, p. 225-261.
religion in Prehistory. IIIrd Deya International Conference of
SPANEDDA, L.; AFONSO, J. A.; CÁMARA, J. A.; MOLINA, F.; MONTUFO, Prehistory. Vol.I, British Archaeological Reports. International
A. M.; PAU, C. y HARO, M. (2014): «Tomb Location and Grave Goods: Series 611, Oxford, p. 239-264.
Continuous Use and Destruction in the Rio de Gor Megalithic
Necropoleis», en SCHULZ PAULSSON, B. y GAYDARSKA, B (eds.):
Neolithic and Copper Age Monuments: Emergence, function and the
social construction of the landscape, British Archaeological Reports.
International Series 2625, Archaeopress, Oxford, p. 107-124.

FERNANDO MOLINA GONZÁLEZ, JUAN ANTONIO CÁMARA SERRANO, ALBERTO DORADO ALEJOS, MARÍA VILLARROYA ARÍN  275
EL FENÓMENO CAMPANIFORME EN EL SUDESTE DE LA PENÍNSULA IBÉRICA: EL CASO DEL CERRO DE LA VIRGEN (ORCE, GRANADA)
LA CERÁMICA CAMPANIFORME DEL CERRO
DE LA ENCINA (MONACHIL, GRANADA).
NUEVAS APORTACIONES AL COMPLEJO
CULTURAL DEL SURESTE
ALBERTO DORADO ALEJOS
a.dorado.alejos.@hotmail.com

FERNANDO MOLINA GONZÁLEZ


molinag@ugr.es

JUAN ANTONIO CÁMARA SERRANO


jacamara@ugr.es

JESÚS GÁMIZ CARO


jegamiz@ugr.es

Departamento de Prehistoria y Arqueología


Facultad de Filosofía y Letras
Universidad de Granada
Campus Universitario de Cartuja, s/n
18071, Granada (España)

276 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
R E S U M O Neste artigo vamos mostrar um conjunto de taças e fontes com decoraçao cam-
paniforme procedentes do sítio arqueologico do Cerro de la Encina (Monachil, Granada)
localizados em diferentes espaços que permaneceu inédito até agora. A abordagem tec-
nológica feita por estereoscopia nos permitiu distinguir duas areas de matérias-primas
localizadas nos espaços imediatos, mas também aprofundar a existência de um povoado
anterior sobre esses estágios mais conhecidos – como são o Bronze Argárico e o Bronze Final
do Sudeste –, menor do que nas fases subsequentes. Observando os caracteres formais, as
técnicas e os motivos decorativos comproba-se sua relaçao com as fases recentes do Cobre
del Sureste. Assim, a situaçao do Cerro de la Encina responde a un povoado cujas elites eco-
nómicas e sociais possuem, como assim fizeram no Cerro de la Virgen e Los Millares, um
controle de produção desta cerâmica campaniforme.
PALAVRAS CHAVE: Campaniforme, tecnologia cerâmica, Cobre Recente, Sureste Peninsular,
Secuencia Decorativa.

A B S T R A C T In this paper we present a group of Bell-Baker ceramics from Cerro de la


Encina (Monachil, Granada), found in different areas of the site. These sherds have
remained unpublished until now. The technological approach carried out by stereoscopy
allowed us to differentiate three raw material catchment areas located in the nearby geo-
logical context. The existence of a Chalcolithic settlement, smaller than later and better
known Argaric and Final Bronze Age sites – is also suggested by this analysis. Through
their formal features and technical and decorative motifs, we can ascribe them to the
Recent Copper Age Southeast Beaker style. Thereby, Cerro de la Encina is proposed as a
Late Chalcolithic central settlement whose economic and social elites would exert control
of production and consume of Bell-Baker pottery, as occurs in other sites of the Southeast
such as the Cerro de la Virgen and Los Millares.
KEYWORDS: Bell-Baker, Ceramics Technology, Recent Cooper Age, Southeast of the Iberian
Peninsula, Decorative Sequence.

ALBERTO DORADO ALEJOS, FERNANDO MOLINA GONZÁLEZ, JUAN ANTONIO CÁMARA SERRANO, JESÚS GÁMIZ CARO  LA CERÁMICA 277
CAMPANIFORME DEL CERRO DE LA ENCINA (MONACHIL, GRANADA). NUEVAS APORTACIONES AL COMPLEJO CULTURAL DEL SURESTE
INTRODUCCIÓN miento quedó dividido en cuatro grandes zonas: A, B,
El sitio arqueológico del Cerro de la Encina se localiza C y D según las distintas unidades geomorfológicas
en el término municipal de Monachil (Granada), sobre identificadas. Desde este momento, las intervenciones
un cerro conformado por tres mesetas escalonadas se centraron en aquellas zonas con depósitos del hori-
ubicadas junto al río Monachil (fig. 1). Hacia el norte, y zonte argárico y la cultura del Bronce Final del Sureste
separada por una suave vaguada, el asentamiento se y especialmente en la meseta central del poblado (Zona
prolonga por una amplia meseta limitada por dos espo- A) donde, entre 1968 y 1983, se documentó una amplia
lones rocosos en sentido E-W. secuencia de ocupación (Arribas et al., 1974).
Las primeras noticias acerca del yacimiento nos El material que mostramos en el presente docu-
llegan en 1922, cuando J. Cabré publica dos sepulturas mento fue hallado en las Zonas B-W, situado junto a
argáricas halladas en la ladera suroeste, donde se loca- la actual acequia en la que se pudo hallar un contexto
lizaron dos y cuatro inhumaciones, respectivamente primario, y en la Zona C, al reparar una parata agrícola
(Cabré, 1922). Con posterioridad, en el año 1946, M. colapsada. Así, se incluyen varios fragmentos de cerá-
Tarradell realizaría varios sondeos en la plataforma mica campaniforme, varias fuentes biseladas con y
inferior de la meseta central en la que los escasos relle- sin decoración y una pesa de telar, que si bien algunos
nos le llevaron a sugerir que el poblado, arrasado por han sido estudiados con anterioridad (Carrilero, 1983,
las tareas agrícolas, carecía de potencial arqueológico 1991), han permanecido inéditos hasta el momento. De
(Tarradell, 1947-48). En el año 1952, con motivo del Con- este modo, tanto por su decoración como por su forma,
greso de Arqueología de Campo celebrado en Granada, podemos señalar su adscripción a un horizonte del
se realizó un sondeo cuyos resultados nunca fueron Cobre Reciente, momento en que se inicia la ocupación
publicados. del asentamiento que probablemente tendría continui-
No sería hasta el año 1968 cuando se iniciara un dad hacia las subsiguientes fases argáricas.
proyecto de investigación sistemática desarrollado por Por otro lado, se ha realizado un análisis tecnológico
el Dpto. de Prehistoria y Arqueología de la Universi- de la cerámica con el fin de determinar la secuencia
dad de Granada, cuyas excavaciones fueron dirigidas de producción que se halla tras los patrones producti-
por D. Antonio Arribas y D. Fernando Molina. El yaci- vos campaniformes. Son muchos los estudios que en

FIG. 1 Localización, topografía y zonificación del Cerro de la Encina (Monachil, Granada). En rojo, zonas en las que se hallaron los fragmentos
que se presentan en este trabajo.

278 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
los últimos años han abordado desde una perspectiva una banda horizontal rellena de impresiones obli-
arqueométrica estas producciones con el fin de deter- cuas (fig. 2:4).
minar aspectos concretos de su composición y las  Vaso globular procedente de la Zona C. Su decoración
estrategias de captación de materias primas (Inácio et se forma por dos bandas horizontales incisas bajo el
al., 2012; González Vilchez et al., 1999) o sus elementos borde que cierran un campo de zig-zags con desarro-
constitutivos (Martín Valls y Delibes de Castro, 1989; llo horizontal realizados por impresión de espátula
Blasco et al., 1994; Lazarich, 1999; Odriozola y Hurtado, (fig. 2:5).
2007; Odriozola, 2009; Odriozola et al., 2012; Molina et  Borde de vaso campaniforme hallado en la Zona B.
al., este vol.). No obstante, hasta ahora no se ha aten- Su decoración se realiza mediante tres bandas hori-
dido a los procesos formativos de la decoración; por ello, zontales incisas bajo el borde que cierran un campo
hemos desarrollado un método derivado de la estra- de zig-zag realizado por impresión de espátula
tigrafía muraria (Parenti, 1990, 2000) al que hemos (fig. 2:6).
denominado Secuencia Decorativa, con el fin de inducir  Cuenco semiesférico pequeño localizado en la Zona
algunos de los gestos técnicos que se encuentran tras la B-W (M-71-L1-IIc-268). Bajo el borde presenta impre-
realización de la decoración y que, consideramos, pue- siones de espátula formando zig-zag y, bajo ellas,
den ayudar a profundizar en la construcción de las enti- cinco líneas incisas con desarrollo horizontal (fig. 2:7).
dades culturales definidas (Harrison, 1987).  Borde de vaso campaniforme de tamaño medio
hallado en la Zona B-W (M-71-L1-IB-202). Similar al
anterior, presenta bajo el borde impresiones de espá-
DESCRIPCIÓN DE LOS MATERIALES tula formando zig-zag y, bajo estas, seis líneas inci-
Si bien consideramos que el número de fragmentos sas con desarrollo horizontal (fig. 2:8).
es reducido, entendemos que este conjunto de vasijas  Cuenco hondo de borde entrante hallado en la
de estilo campaniforme, así como las distintas fuentes Zona A. La decoración se realiza mediante impre-
de borde biselado localizadas, sin decoración, nos va a sión creando dos franjas con desarrollo horizontal
permitir realizar una serie de consideraciones sobre rellenas de líneas oblicuas atravesadas por otra
el proceso de producción cerámico y, más aún, cono- horizontal. Bajo ella se realizan, también mediante
cer parte de la materialidad del que consideramos el impresión, cinco zig-zags con desarrollo horizontal.
primer poblamiento documentado en el Cerro de la (fig. 2:9)
Encina. El conjunto se compone de una serie de vasos y  Fuente honda de borde biselado localizada en la
fuentes que pasamos a describir: Zona B-W (M-71-L1-IB-204). Sin decoración (fig. 2:10).
 Fuente con borde recto localizada en la Zona B-W
 Vaso ovoide hallado en superficie (Zona B). La deco- (M-71-L1-IB-203). Sin decoración (fig. 2:11).
ración se forma por la alternancia de bandas vertica-  Fuente de borde biselado localizada en la Zona B-W
les y horizontales realizadas con incisión y delimita- (M-71-L1-IA-164/ M-71-L1-IA-148). Sin decoración
das en su zona superior por un zig-zag realizado con (fig. 2:12).
impresión de espátula. Bajo este campo se desarro-  Pesa de telar ovoide con doble perforación hallada
llan triángulos rellenos de líneas oblicuas realizadas en la Zona B-W (M-71-L1-IB-201) (fig. 2:13).
por incisión (fig. 2:1).
 Fuente de borde biselado con decoración al interior
localizada en superficie (Zona C). Decoración basada HACIA UNA IDENTIFICACIÓN DE LA SECUENCIA DE
en la alternancia de campos horizontales rellenos PRODUCCIÓN DE LA CERÁMICA CAMPANIFORME
de líneas oblicuas y reticulado. Hacia el labio, líneas En este apartado atenderemos a los modelos de pro-
verticales cierran la panoplia decorativa. La técnica ducción cerámicos a partir de los cuales son creados los
decorativa a partir de la cual se realiza es la incisión conjuntos, según la secuencia de producción expuesta
(fig. 2:2). por O. S. Rye (1981), con el fin de determinar las posi-
 Cuenco semiesférico pequeño localizado en la Zona bles relaciones existentes – o no – entre unas y otras
B-W (M-71-L1-IIc 269). El tercer fragmento parece producciones. Así, en primer lugar, atenderemos a las
adscribirse a un vaso de pequeñas dimensiones. La materias primas que conforman dichos contenedores
decoración se realiza mediante líneas horizontales según las observaciones realizadas mediante estereos-
incisas cerradas en su parte inferior por líneas ver- copía (Orton et al., 1993; Cuomo di Caprio, 2007; Gámiz
ticales incisas y delimitadas abajo por un zig-zag de et al., 2013). Los resultados en este aspecto, según las
impresión de espátula (fig. 2:3). composiciones, muestran una procedencia del entorno
 Vaso marítimo hallado en la Zona C. La decoración, próximo del propio asentamiento, aunque se han de
realizada mediante impresión de peine, representa señalar tres posibles áreas de captación.

ALBERTO DORADO ALEJOS, FERNANDO MOLINA GONZÁLEZ, JUAN ANTONIO CÁMARA SERRANO, JESÚS GÁMIZ CARO  LA CERÁMICA 279
CAMPANIFORME DEL CERRO DE LA ENCINA (MONACHIL, GRANADA). NUEVAS APORTACIONES AL COMPLEJO CULTURAL DEL SURESTE
FIG. 2 Conjunto cerámico con decoración campaniforme (1-9), fuentes (10-12) y pesa de telar (13) halladas en las zonas B y C del Cerro de la
Encina (Monachil, Granada).

280 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
De este modo, el Grupo 1 estaría conformado por grasante con mayor presencia en la muestra (fig. 2: 2, 3,
contenedores de cocción reductora, compuestos por 9 y 10)1. La morfología del desgrasante se caracteriza por
desgrasantes identificados como cuarzo y mica mos- baja esfericidad y las aristas se presentan subredon-
covita, aunque existen variaciones internas que han deadas, lo que podría indicarnos un origen vinculado al
determinado la realización de dos subgrupos: curso fluvial del río Monachil (fig. 3.c).
Para concluir, restaría el Grupo 3 realizado con mate-
 1.A – Se caracteriza por la única presencia de cuar- rias primas radicalmente diferentes a las utilizadas
zos y micas moscovitas de pequeño tamaño, aunque para la conformación de los contenedores cerámicos.
en la matriz también pueden presentase pequeños Nos estamos refiriendo a la pesa de telar (fig. 2: 13), la
nódulos de carbonato cálcico (fig. 2: 1, 4, 7 y 12). Los cual nos marcaría el aprovechamiento de un tercer tipo
desgrasantes poseen una alta esfericidad y sus aris- de materias primas, que no son en ningún caso utili-
tas se encuentran redondeadas (fig. 3.a). zadas para la realización de vasijas campaniformes, al
 1.B – Presencia de cuarzos de mayor tamaño y micas menos, para los casos estudiados.
moscovitas, con escasa presencia de nódulos de car- Un segundo paso en la secuencia de producción cerá-
bonato cálcico (fig. 2: 5, 6, 8 y 11). Los desgrasantes mica sería el modelado. Para el caso de estudio, pode-
tienden a la esfericidad pero sus aristas son suban- mos concluir que todos los ejemplares, a excepción de
gulosas y angulosas (fig. 3.b). la pesa de telar, se han realizado mediante técnicas de
modelado simple: ahuecado. Esta inferencia la obte-
Por su parte, el Grupo 2 quedaría constituido por nemos a través de dos vías: por un lado, se han podido
aquellos contenedores con presencia de cuarzos, micas observar algunas trazas ascendentes en los cuerpos
moscovitas y micaesquistos, siendo éste último el des- cerámicos que denotan la presión vertical necesaria

FIG. 3 Detalles de matrices (a-c), tratamientos de superficie (e-f) y detalle de técnicas y motivos decorativos (g-i) de la cerámica campaniforme
del Cerro de la Encina (Monachil, Granada).

ALBERTO DORADO ALEJOS, FERNANDO MOLINA GONZÁLEZ, JUAN ANTONIO CÁMARA SERRANO, JESÚS GÁMIZ CARO  LA CERÁMICA 281
CAMPANIFORME DEL CERRO DE LA ENCINA (MONACHIL, GRANADA). NUEVAS APORTACIONES AL COMPLEJO CULTURAL DEL SURESTE
para la óptima conformación del contenedor y, por otro, poseer este mismo tratamiento de superficie, sino que
por la propia disposición de los desgrasantes respecto a se aplica el espatulado en el total de los casos, lo que
las paredes, fenómeno producido durante el amasado nos lleva a pensar en una funcionalidad muy diferente,
de las materias primas y por la presión ascendente que como sería la del consumo de alimentos en contextos
ejecuta el alfarero durante esta fase de la producción. sociales también diferentes.
Respecto a los tratamientos de superficie, éstos pare- Una vez realizados estos tratamientos, se pasa a rea-
cen haberse realizado previamente a la decoración, lizar, con el recipiente en “estado de cuero”, la decora-
identificándose el bruñido para los vasos con decora- ción mediante distintas técnicas. En este caso, hemos
ción campaniforme y el espatulado para las restantes. podido definir el uso de, al menos, tres técnicas diferen-
Sólo en un vaso (fig. 2: 1) se observa un previo espatu- tes: en primer lugar, la incisión, la cual se destina a la
lado sobre el que se realiza, posteriormente, el bruñido. ejecución de líneas horizontales, verticales y oblicuas;
En este sentido, hemos de señalar la importancia de en segundo lugar, impresiones de espátula, las cuales
esta técnica para la obtención de un cuerpo cerámico son utilizadas para conformar zig-zags; y, por último,
de relativa compacidad, evitándose la reproducción de impresiones de peine que han podido ser documenta-
poros en las fases siguientes al aumentar la presión das en el vaso de estilo marítimo y en el vaso con borde
ejercida sobre las matriz arcillosa (Echallier, 1984), y entrante, descrito por M. Carrilero (1983, 1991), que se
ayudando a la evacuación del agua interna añadida utilizan para formar líneas horizontales, zig-zags y para
en fases previas (Capel et al., 1995; Velde y Druc, 1999). rellenar con trazos cortos las bandas creadas por las
Por otra parte, es evidente que el bruñido dota a la cerá- mismas líneas impresas.
mica, tras la cocción, de un brillo que la hace particu- Por otro lado, hemos podido observar, a partir de
larmente llamativa, lo que sería de relativa importancia un estudio secuencial de la decoración (método que
en una producción que no estaría destinada a su expo- hemos denominado como Secuencia Decorativa), el
sición al fuego, sino a la exhibición durante el consumo. patrón seguido en la realización de los distintos cam-
Respecto a las fuentes sin decoración, éstas no parecen pos ornamentales de un vaso ovoide (fig. 2:1). Con ello se

FIG. 4 Identificación de la Secuencia Decorativa observada en la ornamentación campaniforme de una vaso ovoide (izquierda) y detalle del
fragmento (derecha) procedente de la Zona B.

282 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
pretende determinar los distintos gestos técnicos reali- alisado superficial, se efectúa un tercer gesto, también
zados por el alfarero cuyo fin es establecer un posible mediante incisión, en el que se realizan líneas hori-
patrón en la producción ornamental (fig. 4) que ayude zontales que conformarán los distintos campos de la
a definir producciones de uno o varios alfareros o, más decoración. En cuarto lugar, se vuelve a la realización
genéricamente, tradiciones alfareras. Este método bien de impresiones de espátula en zig-zag, para concluir
podría ayudar a abundar en la identificación de mode- mediante incisión, en un último paso, a efectuar líneas
los de producción campaniformes, como parece haber- oblicuas que cierran los anteriores campos en su parte
los en las incrustaciones de pasta blanca (Martín Valls inferior. De este modo, observamos cómo la ejecución
y Delibes de Castro, 1989; Blasco et al., 1994; González de la pieza se realiza mediante las técnicas de incisión
Vilchez et al., 1999; Lazarich, 1999; Odriozola y Hurtado, e impresión y es necesario corregir parte de los trazos
2007; Odriozola, 2009; Odriozola et al., 2012; Molina et a fin de permitir la elaboración de los distintos moti-
al., este vol.), o como se propuso en su día a partir de los vos decorativos. Asimismo, se ha determinado un corto
motivos y su distribución en los vasos (Harrison, 1987). espacio de tiempo entre la realización de unos elemen-
El sistema nos podría permitir identificar ahora áreas tos y otros, ya que la pasta sigue fresca y es desplazada
geográficas circunscritas con distintas tradiciones. cuando se realizan los trazos subsiguientes.
De este modo, podemos ver cómo, en primer lugar, Este mismo procedimiento ha podido observarse
se elabora la decoración impresa en zig-zag mediante en las restantes producciones campaniformes (fig. 2: 3,
espátula que se sitúa en la parte superior del frag- 5, 6, 7 y 8), a excepción de una fuente con borde bise-
mento, para pasar, en segundo lugar, a realizar una serie lado (fig.  2: 2) y el fragmento de campaniforme marí-
de líneas verticales – de forma individual – efectuadas timo (fig. 2: 4), ambos procedentes de la Zona C. En el
mediante incisión que afectan a tres cuartas partes de primer caso se observa un cambio en la ejecución de la
la pieza, aproximadamente, y quedan reflejadas en la decoración (fig. 5a), de modo que el alfarero comienza,
conformación de los campos realizados con posterio- en primer lugar, con las impresiones oblicuas del inte-
ridad. Tras eliminar parte de estas líneas mediante un rior del labio, para pasar posteriormente a realizar las

FIG. 5 Secuencia Decorativa identificada en una fuente (a) y un vaso marítimo (b) procedentes de la Zona C.

ALBERTO DORADO ALEJOS, FERNANDO MOLINA GONZÁLEZ, JUAN ANTONIO CÁMARA SERRANO, JESÚS GÁMIZ CARO  LA CERÁMICA 283
CAMPANIFORME DEL CERRO DE LA ENCINA (MONACHIL, GRANADA). NUEVAS APORTACIONES AL COMPLEJO CULTURAL DEL SURESTE
líneas incisas horizontales que se convertirán en un Campaniforme en el Sureste de la Península Ibérica.
reticulado; seguidamente, el reticulado se concluye con Así pues, al atender tanto a los vasos y fuentes con
la creación de líneas verticales. En un cuarto paso con- decoración campaniforme, como a las distintas fuen-
fecciona las impresiones de espátula situadas sobre el tes de borde biselado o la propia pesa, identificamos un
reticulado, el cual se cierra con una línea horizontal, y se asentamiento previo al Bronce Argárico en el Cerro de
concluye la decoración mediante incisiones transversa- la Encina, de menores dimensiones, y a partir del cual
les al labio. Por su parte, el vaso marítimo utiliza una debió existir una cierta continuidad en la ocupación
herramienta radicalmente diferente a las anteriores, lo hasta su abandono a finales del Bronce Final, aun no
que nos indica, además, otra tradición alfarera (fig. 5b). existiendo continuidad entre el asentamiento argárico
Así, se realizan primero las impresiones mediante y el del Bronce Final del SE (Molina, 1978).
peine que delimitan los campos horizontalmente, para Incluso con el escaso número de fragmentos deco-
pasar, en segundo lugar, a rellenar el campo con líneas rados, podemos considerar que, como en otros grandes
oblicuas mediante impresiones también de peine. yacimientos calcolíticos del Sudeste, la concentración
Respecto a la cocción, último paso de la secuencia de material campaniforme debió ser alta al menos en
de producción, hemos se advertir un ambiente gene- determinadas zonas (Molina et al., este vol.), lo que ven-
ralmente reductor común a todos los contenedores; dría demostrado por la proporción de esos elementos
decimos generalmente ya que se observan manchas decorados respecto a todos los elementos del Cobre
oxidantes en algunas de las superficies. Este fenómeno Reciente recuperados.
se produce como resultado de un escaso control de la Al atender a sus características tecnológicas, puede
oxigenación de la cámara de cocción, como de hecho advertirse un uso extendido de materias primas locali-
se observa también en las variaciones tonales de las zadas en el entorno del asentamiento, aunque con cier-
matrices cerámicas. No obstante, existen ciertas varia- tas variaciones internas que se denotan de la diversifi-
ciones respecto a los tonos de los distintos grupos que cación en la captación de materias primas (fig. 6). Esta
indican, además, el comportamiento diferenciado de diversificación ha podido ser documentada en otros
las arcillas ante un mismo paraguas tecnológico. Así, asentamientos con material campaniforme, como
el Grupo 1 se caracteriza por superficies generalmente es Valencina de la Concepción (Sevilla), donde se han
grises oscuras, el Grupo 2 por superficies pardo-rojizas determinado hasta tres grupos de arcillas ubicados en
y el Grupo 3 por beige claras, casi amarillentas. Estas el entorno próximo (Inácio et al., 2012) o Los Millares
variaciones en los cromatismos han sido trabajadas (Capel et al., 2001). Así, ha podido observarse cómo la
por varios autores, quienes señalan la relación directa pesa de telar utiliza materiales de tipo calcáreo que no
entre las materias primas, su composición mineraló- son utilizados en ningún caso por las restantes produc-
gica y geoquímica, y las tonalidades de las superficies ciones, hecho que parece denotar también espacios de
(Cuomo di Caprio, 2007). producción muy diferentes. De este modo, proponemos
En este sentido, hemos de considerar que bajo unos que la pesa de telar fuera realizada en ámbitos vincu-
mismos patrones de producción cerámica, los croma- lados a otros espacios de producción como es la elabo-
tismos obtenidos habrían de ser los mismos, o encon- ración de textil, lo que no ocurre con las vasijas con y
trarse en el mismo espectro. No obstante, al alterar uno sin decoración campaniforme, las cuales parecen usar
de los procesos de producción, como sería la selección materias primas muy diferentes a ésta. Asimismo, es
de materias primas, estos valores se ven afectados, interesante señalar cómo tanto las vasijas decoradas
dotando al cuerpo cerámico de unos resultados muy como aquellas sin decoración no responden a un uso
diferentes. Este es el caso que nos ocupa. Si bien es cierto específico de materias primas respecto a una produc-
que no se han realizado análisis mediante técnicas más ción concreta, sino que éstas se utilizan en la conforma-
resolutivas, como pueden ser la Difracción de Rayos X, ción de distintos elementos cerámicos, algo que parece
Petrografía o Fluorescencia de Rayos X, la macroscopía también observarse en el asentamiento del Cerro de la
ayuda a establecer grupos previos, como así lo hacen Virgen (Molina et al., este vol).
las gamas cromáticas y la composición mineralógica Respecto a las superficies, destaca un uso extendido
identificada en la muestra. del bruñido como técnica destinada a la regularización
de la superficie entre las vasijas con decoración cam-
paniforme, siendo el espatulado específico de aqué-
CONSIDERACIONES FINALES llas sin decoración. Por otro lado, hemos observado
Estos elementos cerámicos, aunque exiguos dados cómo la incisión y la impresión de espátula superan su
los conjuntos hallados en otros asentamientos del SE, representatividad, con mucho, a otras técnicas como la
se constituyen como un grupo de especial relevancia al impresión por peine, documentada en dos fragmentos
permitirnos aportar nuevos datos acerca del complejo (fig. 2: 4 y 9). En cuanto a la cocción, consideramos que la

284 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
técnica utilizada no hubo de ser muy diferente a tenor Los Millares, a determinadas áreas domésticas y al
de las variaciones tonales halladas en las superficies ámbito funerario (en ciertas tumbas solamente) (Arri-
y en la matriz de los distintos fragmentos, lo que evi- bas y Molina, 1987; Cámara y Molina, 2005; Afonso et al.,
dencia un mismo patrón de producción en el conjunto, 2011). Así, vemos cómo en otros poblados la cerámica
a excepción del uso diferenciado de materias primas, campaniforme es muy escasa en el Sudeste, donde ade-
como señalábamos. más se aprecian diferencias entre las distintas zonas.
Con todo, tanto formas como decoraciones nos remi- De este modo, existen áreas con mayor frecuencia de
ten a dos momentos cronoculturales que podrían expli- vasos decorados y la decoración de fuentes no está tan
car una cierta continuidad en el Cobre Reciente del Cerro presente en las zonas granadinas como en Los Millares.
de la Encina. Por un lado, el vaso marítimo se enmarca- Estos aspectos podrían ser estudiados también a partir
ría dentro de las producciones propias del Cobre Tar- del análisis de la Secuencia Decorativa, aquí sugerida, o
dío, mientras que los restantes fragmentos, formarían de la procedencia exacta de las materias primas de ele-
parte del llamado Campaniforme del Sureste, donde se mentos específicos (a través de XRF, por ejemplo), para
inserta, además, la propia pesa de telar con paralelos demostrar la fragmentación política del Sudeste en
en el Cerro de la Virgen (Schüle, 1980: tafel 97, 101). Se esos momentos de fines del Calcolítico que precedieron
trata de un estilo propio con formas decoradas que se la expansión de los símbolos y modelos urbanísticos
desarrolló en esta región durante el Cobre Final y cuyas y funerarios que conocemos como Cultura del Argar
características pueden observarse en asentamientos (Molina et al., este vol.), dentro de la cual la fragmenta-
como el Cerro de la Virgen (Schüle, 1980) y Los Milla- ción política sigue existiendo (Molina y Cámara, 2004).
res (Arribas y Molina, 1987). Ahora bien, estos asenta- Aunque la densidad de material campaniforme recu-
mientos tienen en común ser núcleos centrales, donde perado en el Cerro de la Encina, respecto a las mínimas
se ubican élites que dominan política y económica- intervenciones realizadas, que puedan haber alcanzado
mente un amplio territorio y poseen el control de la estos depósitos (y en superficie), los hallazgos surgie-
producción de la cerámica campaniforme y, sobre todo, ren un centro productor y una cierta importancia que
de su consumo que queda restringido, como muestra podría tener relación con la categoría política del lugar

MATERIAS PRIMAS MATERIAS PRIMAS MATERIAS PRIMAS


GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 3

Modelado

Tratamientos de Superficie
Fesa de telar

Vasijas com decoración


Vasijas sin decoración
Campaniforme

Cocción

CROMATISMOS CROMATISMOS CROMATISMOS


GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 3

FIG. 6 Secuencia de producción propuesta para los conjuntos estudiados del Cerro de la Encina (Monachil, Granada).

ALBERTO DORADO ALEJOS, FERNANDO MOLINA GONZÁLEZ, JUAN ANTONIO CÁMARA SERRANO, JESÚS GÁMIZ CARO  LA CERÁMICA 285
CAMPANIFORME DEL CERRO DE LA ENCINA (MONACHIL, GRANADA). NUEVAS APORTACIONES AL COMPLEJO CULTURAL DEL SURESTE
ya en época calcolítica. No obstante, hay que advertir CABRÉ, J. (1922) – Una necrópolis de la Primera Edad de los Metales
que en la misma Vega de Granada existen referencias en Monachil, Granada. Memorias de la Sociedad Española
de un asentamiento con gran concentración de mate- de Antropología, Etnografía y Prehistoria I, Madrid.

rial campaniforme como es El Manzanil (Loja) (Fres- CÁMARA, J. A. (1998) – Bases teóricas y metodológicas para el estudio
del ritual funerario utilizado durante la Prehistoria Reciente
neda, 1983; Carrilero, 1992), el cual se vincula a una
en el sur de la Península Ibérica, Tesis Doctorales Microfilmadas,
importante necrópolis conocida como la Covacha de la
Universidad de Granada, Granada.
Presa (Carrasco et al., 1977). Sin embargo, hay que tener
CAPEL, J.; DELGADO, R.; PÁRRAGA, J.; GUARDIOLA, J. L. (1995) –
en cuenta que este último asentamiento se sitúa en la Identificación de técnicas de manufactura y funcionalidad de
zona más alejada de la Vega y que, al menos durante la vasijas cerámicas en estudios de lámina delgada, Complutum, 6,
Edad del Bronce, ambas zonas pertenecieron a unida- p. 311-318.
des territoriales diversas (Cámara, 1998). CAPEL, J.; MOLINA, F.; NÁJERA, T.; LINARES, J.; HUERTAS, F. (2001) –
Aproximación al estudio de procedencia y tecnología de
fabricación de las cerámicas campaniformes del yacimiento de
la Edad del Cobre de los Millares, en PARDO, M. L.; GÓMEZ, B. M.;
AGRADECIMIENTOS
RESPALDIZA, M. A. (eds.) – III Congreso Nacional de Arqueometría
Este estudio ha sido realizado en el marco de los pro- (1999, Sevilla), Universidad de Sevilla, p. 207-214.
yectos de investigación Dieta y Movilidad en la Prehis-
CARRASCO, J.; GARCÍA, M.; ANÍBAL, C. (1977) – Enterramiento
toria Reciente de Andalucía. Un estudio de la jerarquiza- eneolítico colectivo en la «Covacha de la Presa» (Loja, Granada),
ción social a partir del registro funerario (P12-HUM-1510), Cuadernos de Prehistoria y Arqueología de la Universidad de
financiado por la Consejería de Economía, Innovación, Granada, 2, p. 105-171.
Ciencia y Empleo de la Junta de Andalucía, y por el CARRILERO, M. (1983) – La cerámica campaniforme en la provincia
proyecto Estrategias agropecuarias y consumo en la de Granada, Cuadernos de Prehistoria y Arqueología de la
Edad del Bronce del Sur de la Península Ibérica. Análi- Universidad de Granada, 8, p. 175-198.

sis de Plantas, Animales y Restos Humanos (HAR2016- CARRILERO, M. (1991) – El fenómeno campaniforme en el Sureste
de la Península Ibérica, Tesis Doctoral. Universidad de Granada.
80057-P), financiado por el Ministerio de Economía y
CUOMO DI CAPRIO, N. (2007) – Ceramica in archaeologua 2: antiche
Competitividad.
tecniche di lavoraziones e moderni metodi di indagine, Studia
Archaeologica 144, Roma.
FRESNEDA, E. (1983) – El Poblado Prehistórico de ‘El Manzanil’
NOTA
(Loja, Granada), XVI Congreso Arqueológico Nacional (Murcia,
1 Atendiendo a la descripción que da M. Carrilero (1991), el cuenco 1982), Zaragoza, p. 135-140.
hondo con borde entrante hallado en la Zona A (fig. 2:9), y que no
GÁMIZ, J., DORADO, A.; CABADAS, H. V. (2013) – Análisis de cerámica
ha podido localizarse para la realización del presente estudio, que-
prehistórica con estereomicroscopía: una guía revisada sobre la
daría adscrito al Grupo 2, ya que la pasta es de color gris y rojiza por
descripción de las fases de producción, Cuadernos de Prehistoria
los extremos, como él mismo afirma, lo que parece coincidir con
y Arqueología de la Universidad de Granada 23, p. 365-385.
este grupo.
GONZÁLEZ, M. C.; GARCÍA, G.; GONZÁLEZ, F.; GONZÁLEZ, M.;
FERNÁNDEZ, F. (1999) – Estudio Arqueométrico de un Conjunto
de Piezas Cerámicas del Yacimiento Arqueológico Valencina
BIBLIOG RAFÍA
de la Concepción (Sevilla). En CAPEL, J. (coord.) – Arqueometría
AFONSO, J. A.; CÁMARA, J. A.; MARTÍNEZ, G.; MOLINA, F. (2011) –
y Arqueología. Universidad de Granada, p. 69-76.
Objetos en materias primas exóticas y estructura jerárquica de las
HARRISON, R. (1987) – Beaker cultures of Iberia. France and the West
tumbas de la necrópolis de Los Millares (Santa Fe de Mondújar,
Mediterranean Islands, en GUILAINE, J. (ed.) – L’âge du Cuivre
Almería, España), Menga. Revista de Prehistoria de Andalucía,
Monografía 1, p. 295-334. Européen. Civilisation à vases campaniformes. Paris: CNRS-CRPT.

ARRIBAS, A. y MOLINA, F. (1987) – New Bell Beaker discoveries in the INÁCIO, N.; NOCETE, F.; NIETO, ALDANA, P. L.; PAJUELO, A.; BAYONA,
Southeast Iberian Peninsula, en WALDREN, W. H.; KENNARD, R. C. M. R.; ABRIL, D. (2012) – Cerámica común y Campaniforme en
(eds.) – Bell Beaker discoveries of the western Mediterranean. Valencina de la Concepción (Sevilla): indagando su procedencia
Definition, interpretation, theory and new site data (The Oxford a través del análisis arqueométrico. Estudos Arqueológicos de
International Conference, 1986), British Archaeological Reports. Oeiras (Actas do IX Congresso de Ibérico de Arqueometría), 19,
International Series 331 (I), Oxford, p. 129-146. p. 95-104.

ARRIBAS, A.; PAREJA, E.; MOLINA, F.; ARTEAGA, O.; MOLINA, F. (1974) LAZARICH, M. (1999) – El Campaniforme en Andalucía Occidental.
– Excavaciones en el poblado de la Edad de Bronce «Cerro de la Cádiz: Universidad de Cádiz.
Encina»: Monachil, Granada (el corte estratigráfico n.º 3). MARTÍN, R.; DELIBES, G. (1989) – La cultura del vaso campaniforme
Excavaciones Arqueológicas en España 81. Ministerio de Cultura. en las campiñas meridionales del Duero: el enterramiento de
Madrid. Fuente Olmedo (Valladolid). Valladolid: Junta de Castilla y León.
BLASCO, M. C. (ed.) (1994) –El horizonte campaniforme de la región de MOLINA, F. (1978) – Definición y sistematización del Bronce Tardío
Madrid en el centenario de Ciempozuelos, Madrid: Universidad y Final en el sureste de la Península Ibérica. Cuadernos de
Autónoma de Madrid. Prehistoria de la Universidad de Granada, 3, p. 159-233.

286 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
MOLINA, F.; CÁMARA, J. A. (2004) – La Cultura del Argar en el área ORTON, C.; TYERS, P.; VINCE, A. (1993) – Pottery in Archaeology,
occidental del Sudeste, en HERNÁNDEZ, L.; HERNÁNDEZ, M. S. Cambridge University Press.
(eds.) – La Edad del Bronce en tierras valencianas y zonas limítrofes, PARENTI R. (1990) – Il metodo stratigrafico e l’edilizia storica,
Ayuntamiento de Villena/Instituto Alicantino de Cultura Juan in Il modo di costruire, en Atti del convegno «Il modo di costruire».
Gil-Albert, Villena, p. 455-470. Roma, 6-7-8 giugno 1988, Roma, p. 297-309.
MOLINA, F.; CÁMARA, J. A. (2005) – Guía del yacimiento arqueológico PARENTI R., (2000) – Architettura, archeologia della. En FRANCOVICH
Los Millares, Empresa Pública de Gestión de Programas Culturales, R., MANACORDA D. (a cura di) – Dizionario di Archeologia. Temi,
Consejería de Cultura. Junta de Andalucía, Sevilla. concetti e metodi, Roma-Bari.
ODRIOZOLA, C. P. (2009) – The two sides of the Guadiana: Inlayed RYE, O. S. (1981) – Pottery Technology: Principles and Reconstruction.
pottery from 3rd millennium BC alongside the Guadiana River Traxacum, Washington D.C.
(Spain and Portugal). En BIRÓ, T. K. (ed.) – Vessels: inside and
SCHÜLE, W. (1980) – Orce und Galera. Zwei Siedlungen aus dem
outside. Papers presented at EMAC ‘07, 9th European Meeting on
3. bis l. Jahrtausend v. Chr. im Südosten der Iberischen Halbinsel.
Ancient Ceramics, Budapest: Hungarian National Museum.
I Übersicht über die Ausgrabungen 1962-1970. Philipp von Zabern.
ODRIOZOLA, C.; HURTADO, V. (2007) – The Manufacturing Process Mainz am Rheim.
of 3rd Millennium BC Bone Based Incrusted Pottery Decoration
TARRADELL, M. (1947-1948) – Investigaciones arqueológicas en la
from the Middle Guadiana River Basin (Badajoz, Spain). Journal
provincia de Granada, Ampurias IX-X, Barcelona, p. 223-236.
of Archaeological Science 34, p. 1749-1803.
VELDE, B.; DRUC, I. (1999) – Archaeological Ceramic Materials:
ODRIOZOLA, C.; HURTADO, V.; GUERRA, E.; CRUZ-AUÑÓN, R.; DELIBES
Origin and Utilization. Springer, Berlin.
DE CASTRO, G. (2012) – Los rellenos de pasta blanca en cerámicas
campaniformes y su utilización en la definición de límites
sociales. Estudos Arqueológicos de Oeiras (Actas do IX Congresso
de Ibérico de Arqueometría), 19, p. 143-154.

ALBERTO DORADO ALEJOS, FERNANDO MOLINA GONZÁLEZ, JUAN ANTONIO CÁMARA SERRANO, JESÚS GÁMIZ CARO  LA CERÁMICA 287
CAMPANIFORME DEL CERRO DE LA ENCINA (MONACHIL, GRANADA). NUEVAS APORTACIONES AL COMPLEJO CULTURAL DEL SURESTE
PRODUCCIÓN Y CONSUMO DE CERÁMICA
CAMPANIFORME EN VALENCINA DE
LA CONCEPCIÓN (SEVILLA, ESPAÑA):
UNA PROPUESTA INTERPRETATIVA
DESDE EL ANÁLISIS DE LOS CONTEXTOS
DE LA CALLE TRABAJADORES
NUNO INÁCIO
UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Grupo de Investigación MIDAS III Milenio ANE (HUM-610)
Departamento de Historia I. Universidad de Huelva
nunominacio@gmail.com

FRANCISCO NOCETE
Grupo de Investigación MIDAS III Milenio ANE (HUM-610)
Departamento de Historia I. Universidad de Huelva
nocete@dhis1.uhu.es

ANA PAJUELO PANDO


Grupo de Investigación TELLUS. Prehistoria y Arqueología en el Sur de Iberia (HUM-949)
Departamento de Prehistoria y Arqueología. Universidad de Sevilla
anapajuelo@gmail.com

PEDRO LÓPEZ ALDANA


Grupo de Investigación TELLUS. Prehistoria y Arqueología en el Sur de Iberia (HUM-949)
Departamento de Prehistoria y Arqueología. Universidad de Sevilla
aldanaostrogodo@gmail.com

MOISÉS R. BAYONA
Grupo de Investigación MIDAS III Milenio ANE (HUM-610)
Departamento de Historia I. Universidad de Huelva
moises.rodriguez@dhis1.uhu.es

288 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
R E S U M E N El asentamiento de Valencina de la Concepción (Sevilla, España) es un refe-
rente en la arqueología prehistórica peninsular, no sólo por sus grandes tumbas, sino
también por su gran magnitud. A pesar de las innumerables evidencias sólo reciente-
mente la componente cerámica ha sido objeto de un amplio estudio que ha permitido
proponer un primer modelo de organización técnica y social de la producción alfarera. Por
el contrario, la presencia de cerámica campaniforme es relativamente escasa y se reduce
a pequeños fragmentos procedentes de contextos superficiales o de excavaciones arqueo-
lógicas antiguas. No obstante, trabajos arqueológicos recientes en el área habitacional del
asentamiento ubicada en la parte más alta del asentamiento han aportado novedosas
informaciones y una lectura adicional sobre estas producciones. La presencia de un gran
número de registros campaniformes abría la posibilidad de evaluar las características de
la materias primas utilizadas y de los procesos de manufactura, explorar su significado
simbólico y plantear propuestas alternativas de interpretación sobre el papel de estas
producciones cerámicas como vehículos de legitimación de poder.
PALABRAS-CLAVE: Campaniforme; Bienes de Prestigio; Materias-Primas; Control Político;
Poder Simbólico

A B S T R A C T The settlement of Valencina de la Concepción (Seville, Spain) is one of the


most important sites in the Iberian Prehistory, not only for its great tombs, but also due to
its magnitude. Unlike utilitarian vessels, frequent in the archaeological record, the pres-
ence of bell beaker ceramics is relatively scarce and is reduced to small fragments from
superficial contexts or early archaeological excavations. However, recent archaeological
work in the upper part of the settlement has provided new information and additional
readings on these productions. The presence of a large number of bell beaker sherds found
in association with prestige goods gave us the possibility to evaluate the manufactur-
ing processes and explore their symbolic meaning, proposing alternative interpretations
about the role of these items as vehicles for the legitimation of power.
KEYWORDS: Bell Beaker Pottery; Prestige Goods; Raw Materials; Political Control; Simbolic
Power

NUNO INÁCIO, FRANCISCO NOCETE, ANA PAJUELO PANDO, PEDRO LÓPEZ ALDANA, MOISÉS R. BAYONA  PRODUCCIÓN Y CONSUMO DE CERÁMICA CAMPANIFORME 289
EN VALENCINA DE LA CONCEPCIÓN (SEVILLA, ESPAÑA): UNA PROPUESTA INTERPRETATIVA DESDE EL ANÁLISIS DE LOS CONTEXTOS DE LA CALLE TRABAJADORES
INTRODUCCIÓN hiosciamina, cannabis e incluso opiáceos (Guerra Doce,
Bajo el nombre de campaniforme aparece, desde 2006).
principios del siglo XX, todo un reportorio que, en base En los últimos años se ha observado en el panorama
a unas determinadas formas cerámicas (vasijas con ibérico una paulatina preocupación por analizar el
forma de campana invertida) y unas técnicas/motivos fenómeno campaniforme desde perspectivas regiona-
decorativos específicos, fijaba periodos históricos abso- les (Rojo-Guerra et al., 2005), incorporando distintos y
lutamente dispares entre sí, englobándolos bajo un novedosos enfoques teóricos con el apoyo de técnicas
epígrafe uniforme, el de la «Cultura del Vaso Campani- de análisis arqueométrico aplicados a los numerosos
forme» e identificándolos con pueblos, círculos cultura- elementos del «pack» campaniforme que ha permitido
les, etnias, razas, flujos migratorios, etc. (Orihuela, 1999: proponer nuevos significados alrededor de las comuni-
205). En efecto, el Campaniforme suponía estudiar una dades que utilizaron estos ítems.
etapa más del desarrollo de la Prehistoria, entre la Edad No obstante, al contrario por ejemplo que en Anda-
del Cobre (Calcolítico) y la Edad del Bronce, en base a lucía Oriental, donde una tradición teórica más consoli-
una preocupación obsesiva por su origen, primero den- dada y el desarrollo de varios proyectos de investigación
tro del paradigma oriental del ex oriente lux y después han contribuido al debate sobre el significado de estas
centrando el debate en Europa como origen del fenó- producciones, en Andalucía Occidental los trabajos sobre
meno, entre la Península Ibérica, Centroeuropa o los el campaniforme han estado orientados principalmente
Países Bajos (Garrido-Pena, 2000 y 2005). a estudios de carácter tipológico y estilístico (Lazarich,
Los trabajos de Clarke (1976) supusieron una ruptura 1999 y 2005). En este sentido, el yacimiento prehistórico
teórica definitiva sobre la forma de estudiar el campa- de Valencina de la Concepción es paradigmático de una
niforme, estableciendo las bases teóricas funcionalistas tradición teórica con raíces en el historicismo. Así pues,
sobre las transformaciones económicas y sociales aso- a pesar de los tímidos intentos por enfatizar la impor-
ciadas a este fenómeno. Así, el campaniforme y otros tancia del asentamiento prehistórico de Valencina de
elementos de la cultura material que a menudo se aso- la Concepción, todavía a finales de la década de los 80
ciaban a éstas vasijas (botones de hueso con perforacio- se discutía su desarrollo interno y la adscripción crono-
nes en «V», puñal de lengüeta en cobre, punta palmela lógica y cultural en base a la presencia y/o ausencia de
en cobre, adornos de oro, brazaletes de arquero, etc.) determinados ítems cerámicos como el campaniforme
pasaron a ser interpretados como «ítems de prestigio» (Caro, 1989; Martín de la Cruz y Miranda, 1988).
utilizados por elites guerreras, inscritos en amplias redes Las características del conjunto prehistórico de Valen-
comerciales y cuya posesión marcaba la existencia de cina de la Concepción le conceden un gran protagonismo
asimetrías sociales. Este autor sugiere que las cerámicas en el entramado social que se desarrolla en el Sur de la
campaniformes serían producidas por artesanos espe- Península Ibérica desde la segunda mitad del IV hasta
cializados para el intercambio y debían tener un valor finales del III Milenio A.N.E. La ordenación territorial del
social como marcadores del rango o del status de sus bajo Guadalquivir durante la primera mitad del III Mile-
poseedores, ya que se trataban de producciones de ele- nio A.N.E. se expresa desde un armazón social complejo
vada calidad que implicaban una inversión de tiempo y que alcanzará su máxima expresión alrededor del 2500
trabajo superior si se comparaban con otros recipientes. A.N.E. Por esas fechas, según las dataciones de radiocar-
Una de las más recientes y sugestivas aportaciones al bono actualmente disponibles, Valencina de la Concep-
estudio del campaniforme se centra en los análisis para ción representaba la cabeza de un territorio que contro-
determinar el contenido orgánico de los recipientes. En laba toda la cuenca baja del Guadalquivir y los territorios
algunos trabajos de A. Sherratt (1997) este autor llega a periféricos, convirtiéndole en un centro de poder (Costa
proponer que la cerámica campaniforme se encuentra Caramé, et al., 2010; García Sanjuan et al., 2013; López
asociada a elites guerreras y a rituales masculinos de Aldana y Pajuelo, 2001 y 2011; Nocete, 2001; Nocete et al.,
ostentación del poder relacionados con el consumo de 2008, 2011 y 2013; Pajuelo y López Aldana, 2001 y 2016). Su
bebidas como la cerveza e hidromiel, e incluso con la ubicación en las proximidades del antiguo estuario del
ingestión de sustancias psicotrópicas durante ocasio- Guadalquivir y de los recursos mineros del norte y oeste,
nes especiales como fiestas, rituales o celebraciones, le transformaron en una «puerta de entrada» con capa-
utilizadas como poderosos instrumentos de legitima- cidad de articular, controlar y redistribuir los recursos
ción ideológica, de consolidación del orden social o de de origen regional (cobre, variscita, sílex, tufita, mármol,
coacción simbólica. El incremento de las investigacio- oro, cinabrio, etc.) y transcontinental (marfil), y en un
nes alrededor del análisis de contenidos ha permitido centro de transformación de los mismos en productos,
identificar en los últimos años y en varios contextos como evidencia la existencia áreas artesanales dedica-
peninsulares una serie de sustancias psicoactivas como das a la metalurgia o a la fabricación de objetos de marfil
la cerveza, hidromiel, alcaloides alucinógenos como la (Nocete et al., 2013; Nocete, 2014) (Fig. 1).

290 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
La componente cerámica de Valencina de la Concep-
ción sólo recientemente ha sido objeto de un amplio
estudio inserto en el proyecto de Tesis Doctoral realizado
por el primer signatario del presente trabajo (Inácio,
2015), lo que ha permitido proponer un primer modelo
de organización técnica y social de la producción alfarera
en este yacimiento. El análisis de las materias primas y
de las tecnologías de fabricación de la cerámica común
documentada en una amplia área ubicada al sureste del
asentamiento, en el área del barrio metalúrgico, ha per-
mitido observar una tendencia hacia una mayor estan-
darización de los procesos de producción, lo que sugiere
una transformación en la organización social de la pro-
ducción alfarera y plantear la hipótesis de la existencia
de un modelo económico y social organizado alrededor
de unidades supradomésticas que evidencian ya un
cierto grado de especialización económica.
Por todo lo expuesto, la presencia de un gran número FIG. 1 Localización del asentamiento prehistórico de Valencina de
de registros campaniformes en las excavaciones arqueo- la Concepción y poblamiento del III Milenio a.n.e. alrededor del
lógicas en la calle Trabajadores abría un nuevo ámbito paleoestuario del Guadalquivir.

de investigación, ya que ofrecía no sólo la oportunidad


de analizar su significado, sino que permitía evaluar los
patrones de producción, distribución y consumo de estas
producciones cerámicas y contrastar los datos con loso-
btenidos por el análisis de la cerámica de uso común.

LOS CONTEXTOS DE LA CALLE TRABAJADORES Y EL


CAMPANIFORME EN VALENCINA DE LA CONCEPCIÓN
Los contextos arqueológicos de la calle Trabajado-
res se ubican en el sector habitacional y productivo del
asentamiento prehistórico de Valencina de la Concep-
ción (Cruz-Auñón y Arteaga, 1999), sobre una meseta al
noroeste del casco urbano. Según la Carta Arqueológica
de Valencina de la Concepción (Vargas, 2004), esta zona
presenta una elevada potencia estratigráfica y una gran
concentración de elementos arqueológicos, identifica-
dos durante intervenciones arqueológicas de excava-
ción o de seguimiento a lo largo de los últimos años en
varios solares localizados en las proximidades (Fig. 2).
El sector central del solar excavado se configura
como el de mayor complejidad en cuanto a la secuen-
cia estratigráfica de las estructuras identificadas. En FIG. 2 Ubicación de los contextos arqueológicos en el asentamiento
términos generales, el registro arqueológico se caracte- prehistórico de Valencina de la Concepción donde fueron
documentadas cerámicas campaniformes (Cartografía elaborada
riza por una gran complejidad de estructuras excava- por J. C. Mejías).
das en las margas calcáreas que forman el subsuelo, de
varias dimensiones y con agujeros para colocación de
postes de soporte de la cubierta (Fig. 3). La presencia de existencia de prácticas de ritualización de este espacio
estructuras de combustión, cerámica de consumo (pla- social. En este área, la estructura más reciente muestra
tos y fuentes) y preparación para el consumo (ollas) y un nivel diferenciado de información, ya que en su inte-
la abundante fauna asociada, revelan la existencia de rior, asociado a un área de consumo y preparación para
áreas domésticas generalizadas. Sin embargo, el regis- el consumo se han documentado tres hachas de cobre
tro de depósitos funerarios humanos, cráneos y partes de diferentes tamaños y características, apiladas y con
del esqueleto axial en conexión anatómica, señalan la improntas o marcas adheridas de fibra vegetal. Otro de

NUNO INÁCIO, FRANCISCO NOCETE, ANA PAJUELO PANDO, PEDRO LÓPEZ ALDANA, MOISÉS R. BAYONA  PRODUCCIÓN Y CONSUMO DE CERÁMICA CAMPANIFORME 291
EN VALENCINA DE LA CONCEPCIÓN (SEVILLA, ESPAÑA): UNA PROPUESTA INTERPRETATIVA DESDE EL ANÁLISIS DE LOS CONTEXTOS DE LA CALLE TRABAJADORES
nadas, aunque presentes, son claramente minoritarios.
El hallazgo de campaniformes en las intervenciones
arqueológicas de la calle Trabajadores constituye hasta
el momento la mayor concentración de este tipo de
cerámica en todo el asentamiento. A pesar de las nume-
rosas intervenciones arqueológicas que se han desarro-
llado en las últimas décadas en Valencina de la Concep-
ción, la cerámica campaniforme ha sido escasamente
documentada y procede a menudo de hallazgos super-
ficiales o de contextos estratigráficos imprecisos. Es el
caso, por ejemplo, de los fragmentos campaniformes
identificados en los sondeos llevados a cabo en 1975 en
FIG. 3 Estructuras arqueológicas documentadas en la calle
el Cerro de la Cabeza, asociados a una probable estruc-
Trabajadores. tura habitacional identificada en el denominado Corte
A (Fernández y Ruiz, 1978; Fernández y Oliva, 1986) y
los elementos metálicos de importancia y que define que ha llevado a estos autores a caracterizar este hori-
este contexto, en relación directa con el hallazgo de las zonte cultural en todo el asentamiento, o las referencias
hachas, es una lámina de oro batido que ha aparecido a algunos fragmentos de cerámica recuperadas en las
retorcida en forma de lazo (López Aldana y Pajuelo, excavaciones de La Gallega (Martín y Ruiz, 1992).
2013; Pajuelo y López Aldana, 2016; Nocete et al., 2014). Recientemente, ha sido documentado un conjunto
En el sector sur del área excavada fue detectada una igualmente significativo de cerámica campaniforme
estructura circular en un excelente estado de conserva- en las excavaciones realizadas en el Pabellón Cubierto
ción, al no haber sido afectada por ninguna intrusión o (Ortega, 2013). En total se han identificado cerca de tres
incidencia contemporánea. La secuencia estratigráfica centenares de fragmentos de cerámica campaniforme,
interna muestra un contexto arqueológico donde des- la gran mayoría de ellos de pequeño tamaño y con
taca la presencia de cerámica decorada de estilo cam- aspecto muy rodado, lo que sugiere un contexto depo-
paniforme, así como otros elementos de carácter simbó- sicional erosivo.
lico, como un ídolo cilindro oculado realizado en caliza. Los contextos arqueológicos aquí referidos (Cerro de
Aunque no asociadas directamente a los niveles Cabeza, La Gallega y Pabellón Cubierto) se encuentran
campaniformes, las dataciones radiométricas (Ua localizados al nordeste de la calle Trabajadores y se
43929 4070±42 BP; Ua 43928 3858±30 BP) obtenidas en insertan dentro del sector habitacional y productivo del
el contexto de la calle Trabajadores permiten observar asentamiento prehistórico de Valencina de la Concep-
una larga diacronía de ocupación, que se distribuye ción (Cruz-Auñón y Arteaga, 1999 y 2001), aunque en
entre el segundo y el tercer cuarto del III Milenio A.N.E. el caso del Cerro de la Cabeza sean conocidos registros
La superposición de estructuras, señala una ocupación funerarios asociados a una tumba de tipo tholos.
ininterrumpida y masiva de este espacio social, coin- Asimismo, en el área funeraria al sureste del asenta-
cidente con el momento de máxima expansión del miento, en el término municipal de Castilleja de Guz-
asentamiento, de la construcción de sus tumbas más mán, en el área conocida como Señorío de Guzmán,
monumentales y con la intensificación de su actividad se ha excavado un conjunto funerario constituido por
metalúrgica (Nocete et al., 2011).  cinco tumbas, donde dos de ellas, de tipo tholos, han
La presencia de cerámica campaniforme es uno de ofrecido conjuntos campaniformes, incluyendo reci-
los elementos más relevantes identificados en la exca- pientes decorados (Arteaga y Cruz-Auñon, 1999; López
vación del solar nº 14/18 de la calle Trabajadores. En total Aldana et al., 2015; Pajuelo y López Aldana, 2016 ). En
se han identificado 336 fragmentos de cerámica cam- la Tumba 1 se han documentado dos fragmentos, uno
paniforme, la mayoría de los cuales registrados en una perteneciente a una forma acampanada con decora-
única estructura que parece haber sido previamente ción impresa y otro correspondiente a un borde de un
sellada mediante la deposición ritual de restos huma- cuenco. En la Tumba 5 se han registrado cuatro fragmen-
nos. En términos generales, el conjunto campaniforme tos, uno correspondiente a un morfotipo acampanado
es muy homogéneo, predominando los estilos decora- con decoración del estilo Marítimo, y tres fragmentos,
tivo de tipo Marítimo y Punteado Geométrico, algunos probablemente pertenecientes al mismo cuenco, con
con motivos impresos asociados (Fig. 4). Además, habría decoración geométrica. En ambos los casos, habría que
que señalar la presencia de relleno de pasta blanca aso- enfatizar que además de las cerámicas campaniformes
ciada a todos los estilos decorativos. Los motivos incisos el ajuar estaba constituido por otros elementos de pres-
y los recipientes no decorados con morfologías acampa- tigio, incluyendo una lámina de oro.

292 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
La utilización de la parafernalia campaniforme en señala la presencia de un grupo social con capacidad
algunas tumbas de falsa cúpula en Valencina de la de controlar la circulación de materias primas y que se
Concepción (Arteaga y Cruz-Auñón, 1999), pone de expresan como grupo dominante desde el monopolio
relieve la utilización de los rituales funerarios y de la del uso de los productos simbólicos (cerámicas decora-
memoria genealógica como elementos de legitima- das, oro, ídolos, etc.) que han funcionado como aparatos
ción y fuente de prestigio que emana desde los ances- ideológicos de concentración del liderazgo.
tros. En este sentido, se observa como en Valencina La información aportada por la intervención de
de la Concepción el ritual funerario, al igual que otros la calle Trabajadores señala la presencia de una elite
rituales de vida, se comporta como vehículo de propa- social con capacidad de controlar la circulación de
ganda para legitimar los intereses sociales en las rela- materias primas de procedencia externa y, ajenos a la
ciones de poder entre diferentes individuos o grupos producción de elementos discriminantes como el cobre,
(Shanks y Tilley, 1982). se expresan como grupo dominante desde el monopo-
Además, habría que enfatizar que la importancia lio del uso y manipulación de algunos ítems simbóli-
de los contextos arqueológicos de la calle Trabajadores cos (cerámicas decoradas, oro, ídolos, etc.) que pudieron
son reforzados por la asociación espacial de la cerámica funcionar coactivamente como aparatos ideológicos.
campaniforme con elementos singulares como las
terracotas ginemorfas (Nocete, 2001 y 2004), los núcleos
de tufita procedentes de las canteras del Andévalo, frag- MATERIAS-PRIMAS Y MANUFACTURA:
mentos de ídolos placa decorados, bétilos, tres hachas LA CONTRIBUCIÓN DE LA ARQUEOMETRÍA
de cobre con un peso superior a 4 Kg y láminas de oro, La caracterización de las materias primas, la deter-
ausentes en las otras áreas del asentamiento y que tra- minación de su procedencia y la reconstrucción de los
dicionalmente vienen siendo asociados a las elites. Ello procesos de manufactura se han realizado mediante

FIG. 4 Cerámica campaniforme documentada en los contextos de la calle Trabajadores.

NUNO INÁCIO, FRANCISCO NOCETE, ANA PAJUELO PANDO, PEDRO LÓPEZ ALDANA, MOISÉS R. BAYONA  PRODUCCIÓN Y CONSUMO DE CERÁMICA CAMPANIFORME 293
EN VALENCINA DE LA CONCEPCIÓN (SEVILLA, ESPAÑA): UNA PROPUESTA INTERPRETATIVA DESDE EL ANÁLISIS DE LOS CONTEXTOS DE LA CALLE TRABAJADORES
el análisis petrográfico, mineralógico (Difracción de
Rayos-X) y químico (ICP-MS, ICP-ES y Microscopio Elec-
trónico de Barrido). Los resultados han sido contrasta-
dos con el análisis de la cerámica común documentada
en los mismos contextos arqueológicos y posterior-
mente con la cerámica estudiada procedente de los
contextos del barrio metalúrgico (Inácio, 2015).
La gran mayoría de los recipientes campaniformes
analizados, que incluye ejemplares lisos y otros decora-
dos con todos los estilos identificados, fueron manufac-
turados con arcillas calcáreas. La observación de lámi-
nas delgadas en microscopio óptico reveló una matriz
arcillosa de composición carbonatada y la presencia de
microfósiles lo que sugiere la utilización de arcillas tercia-
rias de la cuenca del Guadalquivir (Gálan y Pérez, 1989).
Las inclusiones, que están presentes en un porcentaje
que oscila entre 12-19%, están constituidas fundamen-
talmente por inclusiones de cuarzo, calcarenita, calcita,
y en menor proporción de feldespatos, caliza micrítica,
inclusiones arcillosas y fragmentos de roca plutónica y
metamórfica (Fig. 5). La presencia, aunque minoritaria
en algunas muestras, de fragmentos de roca de origen
ígnea y metamórfica plutónica, así como de minerales
ferromagnesianos en la fracción gruesa, sugiere la uti-
lización probable de depósitos aluviales de los arroyos
procedentes del norte de la provincia como desgrasante.
Aunque algunas muestras de cerámica común de los
contextos de la calle Trabajadores evidencien caracterís-
FIG. 5 Microfotografías de lámina delgada obtenidas en microscopio
ticas mineralógicas similares a las cerámicas campani-
petrográfico (nicoles cruzados). A) Matriz arcillosa carbonatada con
formes, éstas se diferencian por exhibir pastas más com- microfósiles perteneciente a un recipiente campaniforme no decorado
pactas debido a la utilización de arcillas con desgrasante (Escala = 0,2 mm). B) Matriz arcillosa carbonatada con microfósiles
más fino (< 2 mm) y en menor porcentaje de inclusiones perteneciente a un recipiente campaniforme con decoración
geométrica (Escala = 0,2 mm). C) Matriz arcillosa carbonatada con
en comparación con el restante reportorio cerámico. microfósiles de un recipiente campaniforme del estilo «Marítimo»
Sólo dos recipientes campaniformes han sido manu- (Escala = 0,1 mm). D) Matriz arcillosa de un recipiente campaniforme
facturados con arcillas no calcáreas, procedentes pro- con decoración geométrica (Escala = 1 mm). E) Matriz arcillosa de un
recipiente campaniforme con decoración geométrica (Escala = 0,2 mm).
bablemente de entornos geológicos foráneos. Una de F) Matriz arcillosa de un recipiente campaniforme no decorado.
las muestras, correspondiente a un recipiente decorado Se observan inclusiones de roca plutónica de composición intermedia
con el estilo punteado geométrico, presenta igual- con plagioclasas y anfíboles (Escala = 1 mm). G) Matriz arcillosa de
un recipiente de cerámica común. Se observan inclusiones de roca
mente un pasta muy compacta, con menor contenido
plutónica de composición intermedia/básica con plagioclasas,
en inclusiones (12%) y de menor tamaño (< 1,1 mm), anfíboles y piroxenas (Escala = 1 mm). H) Matriz arcillosa de un
constituida fundamentalmente por una arena fina/ recipiente de cerámica común. Se observan inclusiones de roca
media de cuarzo, cuya mineralogía no ha permitido plutónica de composición ácida (Escala = 1 mm).

determinar su origen. Otro recipiente analizado, por el


contrario, exhibe características mineralógicas y textu- de Nueva Valencina, en el denominado barrio metalúr-
rales similares a la gran mayoría de la cerámica común, gico, donde se ha comprobado igualmente la utiliza-
es decir, mayor contenido en inclusiones y de tamaño ción preferencial de arcillas secundarias procedentes
más grueso. Además, la presencia de cuarzo, plagiocla- de entornos geológicos dominados por rocas ígneas
sas, anfíboles y fragmentos de roca plutónica sugieren y metamórficas, ubicados a más de 12 km al norte del
la zona del batolito de la Sierra Norte de Sevilla como yacimiento (Inácio, 2015; Inácio et al., 2012).
probable origen de la materia prima utilizada (Rosa, Por todo lo expuesto, se puede decir que además
1992; Rosa y Castro, 2004). de la utilización diferenciada de tierras en relación a
Estos resultados son similares a los aportados por el la cerámica común, se ha observado que la cerámica
análisis arqueométrico de las cerámicas procedentes campaniforme de Valencina de Concepción presenta
de los contextos del Instituto de Enseñanza Secundaria un tratamiento tecnológico más elaborado de la mate-

294 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
ria prima, con la selección de un desgrasante más fino, del Guadalquivir (Odriozola et al., 2012). En este sentido,
que raramente sobrepasa 1 mm, y en menor proporción habría que enfatizar que el relleno de pasta blanca en las
porcentual. Este tratamiento más cuidado de la pasta cerámicas campaniformes viene siendo identificado en
cerámica se refleja en el recipiente y en sus superficies, varios contextos arqueológicos peninsulares, no sólo en
menos rugosas y exentas de irregularidades, permi- Andalucía Occidental (Lazárich, 1999 y 2004; Odriozola
tiendo menores grosores y tratamientos esmerados et al., 2012), sino también en la cuenca media del Gua-
de la superficie exterior, con bruñidos cuidados y, a diana (Odriozola y Hurtado, 2007), Ciempozuelos (Blasco,
menudo, decoración. 1994), La Meseta (Martín y Delibes, 1989), Galicia (Lantes-
En el caso de las decoraciones con relleno de pasta Suárez et al., 2010) o Francia (Salanova, 2000).
blanca, su análisis químico realizado en el microsco-
pio electrónico de barrido señala una composición
carbonatada en la mayoría del muestreo analizado. LA ORGANIZACIÓN DE LA PRODUCCIÓN
El análisis mineralógico por Difracción de Rayos-X ha La acumulación y la asociación en un mismo con-
permitido identificar calcita (CaCO3) como única fase texto de un conjunto de elementos que se pueden
mineralógica presente. Ello sugiere que el relleno de identificar con las elites que vivieron en Valencina de la
pasta blanca de la mayoría de las cerámicas campani- Concepción, nos lleva a retomar la hipótesis sobre que
formes de la calle Trabajadores se realizó mediante la el campaniforme ha actuado verdaderamente como
utilización de cal (CaO) -procedente de la combustión de bien de prestigio, comportándose como elemento de
calcita- y su posterior hidratación con agua (Ca(OH)2). legitimación ideológica de las relaciones de materia-
Referir, que con el paso del tiempo, una pequeña parte lización del poder (DeMarrais et al., 1996), formando
del contenido en cal sufre un proceso de carbonatación parte de la parafernalia simbólica utilizada por las eli-
por efecto del contacto con el CO2 de la atmosfera (o del tes para exhibir su riqueza (Fig. 7).
suelo), lo que favorece la aparición de pequeños crista- Las sociedades atribuyen diferentes significados
les de calcita, de fácil identificación en los difractogra- y valores a los distintos tipos de bienes, incluyendo
mas analizados (Fig. 6). aquellos objetos hechos con la misma materia prima,
No obstante, en dos muestras se ha detectado un como la cerámica (Cobb, 2000). Los bienes de prestigio
elevado contenido en P2O5, lo que sugiere la utilización desempeñan un papel importante en la estructuración
de relleno de pasta blanca de distinta composición quí- de las relaciones entre individuos o grupos ya que pue-
mica, que probablemente corresponde a la adición de den ser utilizados para exhibir, ostentar y materializar
un fosfato de la variedad apatito. El análisis mineraló- simbólica e ideológicamente los poderes instituidos
gico de las muestras de polvo extraídas ha identificado (Brumfiel y Earle, 1987; Costin y Earle, 1989; Earle, 2002).
hidroxiapatito (Ca5(PO4)3OH), lo que podría corresponder En términos generales, los elementos elegidos para
con la fase biogénica (hueso) o con la fase mineralógica. materializar el poder presentan un cierto número de
No obstante, dada la presencia en otros contextos penin- características o propiedades que les permiten cumplir
sulares de rellenos de pasta blanca producidos a través con esas funciones y servir de apoyo a los mecanismos
de la trituración de hueso (Odriozola y Hurtado, 2007) no de cohesión/inversión de las relaciones sociales (Spiel-
habría que descartar su presencia en la cerámica campa- mann, 2002). En primer lugar, estos bienes deben estar
niforme de Valencina de la Concepción, lo que amplia- apartados de las actividades cotidianas de subsisten-
ría, por primera vez, su distribución territorial al valle cia. Además, el valor social de un bien de prestigio se
produce a menudo a partir de una materia prima difícil
de trabajar, exótica, rara, difícil de conseguir o que pro-
cede de largas distancias y cuyo acceso implica la exis-
tencia de mecanismos de intercambio o circulación.
A menudo, estos bienes requieren conocimientos espe-
cializados y una mayor inversión de trabajo, ya que el
tiempo invertido en las diferentes cadenas operativas
es superior (Kerner, 2010).
Como se ha detallado, en el caso de la cerámica cam-
paniforme de Valencina de la Concepción, las vasijas
parecen ser fabricadas con arcillas de mejor calidad,
con pastas más depuradas, acabados esmerados y la
FIG. 6 Análisis en microscopio electrónico barrido: imagen de
exhibición de profusas decoraciones en las superficies,
electrones retrodispersados y espectro del análisis químico del
relleno de pasta blanca. Arriba: muestra de composición fosfatada; algunas con motivos que presentan un elevado carácter
Abajo – muestra de composición carbonatada. estético y simbólico. El alto valor simbólico intrínseco

NUNO INÁCIO, FRANCISCO NOCETE, ANA PAJUELO PANDO, PEDRO LÓPEZ ALDANA, MOISÉS R. BAYONA  PRODUCCIÓN Y CONSUMO DE CERÁMICA CAMPANIFORME 295
EN VALENCINA DE LA CONCEPCIÓN (SEVILLA, ESPAÑA): UNA PROPUESTA INTERPRETATIVA DESDE EL ANÁLISIS DE LOS CONTEXTOS DE LA CALLE TRABAJADORES
FIG. 7 Registro arqueológico documentado en los contextos de la calle Trabajadores: terracota ginemorfa, ídolos bétilos, hachas de cobre,
lámina de oro y ídolo cilíndrico decorado.

asociado al cuidado en su elaboración técnica y decora- La manipulación simbólica del significado de deter-
tiva los convierten en objetos singularmente importan- minados elementos de la cultura material es un dispo-
tes para sus usufructuarios/poseedores ya que su exhi- sitivo estratégico en la centralización y consolidación
bición y manipulación en momentos concretos para las de los poderes políticos, ya que transmiten un mensaje
comunidades (fiestas, celebraciones, ritos de iniciación con un significado percibido por toda la comunidad.
y hospitalidad) sirvieron para los propósitos de legiti- Estas formas tangibles y compartidas de expresar ideas,
mación de los grupos dominantes (Garrido-Pena, 2005). creencias, valores o normas es un proceso estratégico
En este sentido, habría que enfatizar que la competición en el que los líderes asignan recursos para fortalecer y
por el prestigio y por el poder toma forma a menudo en legitimar instituciones de poder (DeMarrais et al., 1996:
festines, banquetes o rituales de comensalidad. 16). Las estructuras de significación son direccionadas

296 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
y movilizadas para legitimar los intereses de un grupo, o grupos sociales. El control sobre la producción de
rivalizar con otros grupos, permitiendo la creación de determinados ítems surge igualmente como un meca-
una identidad como líderes o como grupos dominantes nismo de control sobre la sociedad ya que en ocasiones
(Giddens, 1979: 188). las actividades productivas se desarrollan en ámbitos
La materialización de un conjunto de ideas, creen- espaciales próximos o bajo la vigilancia directa de las
cias, valores y normas, comunes y reconocidas por toda elites sociales (Sinopoli, 1988).
la comunidad (DeMarrais et al., 1996), permite crear Como se ha expuesto, en el caso de Valencina de la
un elemento objetivo de manipulación estratégica Concepción, la utilización preferencial de arcillas loca-
mediante su incorporación, por ejemplo, en los procesos les para la producción de la gran mayoría de los reci-
productivos. En este sentido, puesto que el proceso de pientes campaniformes de Valencina de la Concepción,
materialización de la ideología es, sobre todo, un proceso podría indicar la existencia de mecanismos de control
de producción, para mantener el valor social de estos directo de los procesos de aprovisionamiento o del pro-
aparatos ideológicos y el monopolio de su uso, las elites ceso productivo en su totalidad.
tienden a desarrollar mecanismos de control de la pro- No obstante, frente a la homogeneidad en las cade-
ducción y distribución, mediante la limitación del uso nas operativas de la cerámica común que evidencian la
de determinados recursos, controlando las tecnologías existencia de una receta compartida a nivel comunita-
utilizadas en la producción o, en casos más extremos, rio, las cerámicas campaniformes manifiestan algunos
a través del control de la fuerza de trabajo (Friedman y cambios en los procesos de producción. El surgimiento
Rowlands, 1977). En términos generales, el control sobre de la cerámica campaniforme no presenta una ruptura
la producción inhibe el desarrollo de procesos de emu- completa en relación a la cerámica utilitaria ya que, para
lación o reproducción de estos aparatos ideológicos. su producción, se han utilizado arcillas similares a las
A este respecto, D. Miller (1982: 89), a propósito de los empleadas en la manufactura de algunas cerámicas de
Dangwara de la India central, señala que algunos indi- uso común. No obstante, se observan innovaciones en
viduos o grupos en su deseo por alcanzar rangos socia- las diversas cadenas operativas. En primer lugar, el pro-
les superiores pueden adoptar el uso de ciertos ítems o cesado de la materia prima ha sido desarrollado según
estilos asociados a ese grupo superior. Asimismo, si el un tratamiento tecnológico diferenciado de las pastas,
grupo anterior desea mantener su posición superior con la utilización de arcillas con desgrasante de menor
debe intentar evitarlo, por ejemplo controlando los tamaño permitiendo, de este modo, elaborar recipien-
mecanismos de producción y distribución, o adoptar tes distintos con paredes más finas, compactas y menos
nuevos símbolos y significados colectivos al objeto de porosas. Estas nuevas formas cerámicas exigen igual-
mantener el poder y el orden social. Además, el control mente la adopción de procedimientos tecnológicos más
sobre la circulación y distribución de algunos ítems complejos y de gestos técnicos más cuidados, ya que el
permite expandir el dominio simbólico sobre amplias riesgo de quebrarse la vasija durante su manufactura
regiones, formando alianzas, manipulando identidades, es manifiestamente superior. En segundo lugar, las coc-
fortaleciendo la cohesión intergrupal y definiendo fron- ciones reductoras, el tratamiento de las superficies, casi
teras y limites sociales (Odriozola et al., 2012). siempre bruñidas, y la decoración incisa e impresa con
El surgimiento de contextos de producción depen- motivos rellenos con pasta blanca sugieren un mayor
dientes se encuentra vinculado a complejos engranajes tiempo dedicado en la elaboración de cada recipiente.
sociopolíticos, de entre los cuales el más importante es La utilización de pasta blanca en las decoraciones de los
la aparición de un liderazgo que utiliza esos bienes para vasos campaniformes apunta la existencia de conoci-
demarcar y reforzar las distancias sociales (Brumfiel y mientos técnicos avanzados, ya que el dominio de esta
Earle, 1987). En este sentido, E. Brumfiel y T. Earle fue- técnica requirió la adopción y el aprendizaje de recetas
ron los primeros autores en explicar la naturaleza polí- tecnológicas desconocidas hasta ese momento en la
tica de los sistemas económicos sobre las bases de la actividad alfarera de Valencina de la Concepción. Este
existencia de una producción que se puede desarrollar nuevo modelo tecnológico implicó la introducción de
según el grado de dependencia de los agentes socia- nuevos procesos de trabajo, más complejos y especializa-
les de la producción. Lo que distingue una producción dos, y nuevas herramientas que han requerido un mayor
independiente de una producción vinculada es que tiempo invertido para la materialización de cada pieza,
ésta suele estar asociada a la producción de ítems con superior al de cualquier recipiente no campaniforme. La
alto valor económico, simbólico, ideológico y social que información aportada señala que la cerámica campani-
confieren determinado estatus. Este proceso presenta forme fue mentalmente concebida e intencionalmente
un fuerte carácter político ya que tiene como objetivo producida de forma distinta a la cerámica común, obe-
mantener la producción y distribución de determina- deciendo a una receta técnica distinta a la desarrollada
dos bienes bajo una autoridad dictada por individuos para la producción de recipientes de uso doméstico.

NUNO INÁCIO, FRANCISCO NOCETE, ANA PAJUELO PANDO, PEDRO LÓPEZ ALDANA, MOISÉS R. BAYONA  PRODUCCIÓN Y CONSUMO DE CERÁMICA CAMPANIFORME 297
EN VALENCINA DE LA CONCEPCIÓN (SEVILLA, ESPAÑA): UNA PROPUESTA INTERPRETATIVA DESDE EL ANÁLISIS DE LOS CONTEXTOS DE LA CALLE TRABAJADORES
FIG. 8 Registro funerario documentado en los contextos de la calle Trabajadores.

Los datos sugieren que la cerámica campaniforme mente a ser utilizada en una ceremonia o ritual. En este
fue producida probablemente por un número reducido sentido, Clark (1995) señala que este tipo de objetos sue-
de unidades de producción vinculadas al grupo social len presentar un volumen de producción reducido pre-
que habitó el área central de Valencina de la Concep- cisamente debido a la especificidad de su producción.
ción, pudiéndose hablar de la existencia de artesanos Así pues, se puede explicar la relativa heterogeneidad
especializados en la realización de este tipo de cerá- evidenciada en los procesos de aprovisionamiento aso-
mica. No obstante, la presencia limitada y reducida de ciados a la producción de recipientes campaniformes,
registros de cerámica campaniforme en todo el asenta- ya que estas cerámicas de prestigio son ítems únicos y
miento de Valencina de la Concepción sugiere una pro- especiales que a menudo expresan las fenomenologías
ducción de carácter extraordinario, orientada exclusiva- propias de sus productores (Costin, 1991).

298 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
No es de descartar, sin embargo, el desarrollo de for- importancia visual (ostentación, exhibición, etc.) de las
mas alternativas de control sobre la producción, por prácticas de fragmentación y del ritual asociado (Chap-
ejemplo mediante la creación de narrativas imbuidas man, 2008), creando un mayor impacto escénico sobre
de creencias, leyendas, tabús o cosmogonías que limi- la comunidad mediante su transformación en enchan-
ten ideológicamente la producción de ciertos elementos ting objects (Spielmann, 2002). En el caso de Valencina
de prestigio. En este sentido, O. Gosselain y A. Livings- de la Concepción, los contextos arqueológicos de la calle
tone Smith (2005) señalan que los procesos de produc- Trabajadores señalan la presencia de otros elementos
ción alfarera en algunas comunidades africanas están de prestigio que han sido igualmente identificados con
rodeados de mecanismos ideológicos que apartan a señales de fracturación, como un ídolo cilíndrico ocu-
algunas personas de los procesos de aprovisionamiento lado que aparece cortado justo en la base de los ojos (Fig.
y preparación de las materias primas cerámicas. Este 7). Además, habría que referir el surgimiento de un crá-
podría haber sido el mecanismo utilizado para contro- neo humano sin esqueleto post-craneal, lo que puede
lar la producción de vasijas campaniformes basado en indicar la práctica de sacrificios humanos, quizás
��������������
refren-
el control de los sistemas de conocimiento y creencias dado por la presencia en algunos fragmentos de cráneo
colectivas. La producción artesanal puede ella misma (parietal, frontal y temporal), vértebras cervicales y radio
estar cargada de un fuerte contenido simbólico, en una de marcas de corte que pudieran estar relacionadas con
entramado social donde productores y no productores acciones de descarnamiento o desmembramiento (Her-
codifican y descodifican determinados mensajes polí- rero, 2015) (Fig. 8).����������������������������������������
En el área próxima al hallazgo del con-
ticos e ideológicos (Inomata, 2001). En efecto, el poder junto de hachas de cobre que corresponden a un depó-
simbólico es un poder invisible que sólo puede ejercerse sito intencional cerrado, ya que aparecieron apiladas
con la complicidad de todos aquellos que forman parte y con improntas o marcas adheridas de algún tipo de
de la comunidad, funcionando como instrumento de fibra vegetal, se han detectado igualmente nueve crá-
comunicación y de conocimiento y cumpliendo la fun- neos humanos con escasa presencia de esqueleto post-
ción política de instrumentos de imposición y legitima- craneal y dos ídolos placas decorados, ambos fragmen-
ción de la dominación (Bourdieu, 2011). tados y pertenecientes a ejemplares diferentes (López
Aldana y Pajuelo, 2013). Todo ello refuerza la idea de que
los recipientes campaniformes son uno de los elemen-
CONSUMO Y AMORTIZACIÓN: UNA PROPUESTA tos de la performance en los rituales practicados en este
ALTERNATIVA DE INTERPRETACIÓN área del asentamiento de Valencina de la Concepción.
El hecho de que todos los recipientes campaniformes
recuperados en los contextos arqueológicos de Valen-
cina de la Concepción aquí analizados presenten un CONCLUSIÓN
elevado grado de fracturación, no descarta la existencia No podemos disociar el surgimiento de la ideología
de rituales que implican su fractura intencionada, tra- campaniforme a mediados del III Milenio A.N.E., y de
tándose de productos específicamente fabricados para todas sus formas de materialización, sin referir las pro-
una exclusiva amortización en un ambiente imbuido fundas transformaciones sociales que ocurren en el Sur
de una fuerte carga simbólica. Esta práctica de que- de la Península Ibérica desde los finales del IV Milenio
brar recipientes en ocasiones especiales viene siendo A.N.E. La consolidación e intensificación de la economía
documentada por ejemplo en los ajuares de tumbas agraria supuso la emergencia de las primeras socieda-
megalíticas (Nocete et al., 1999) y se mantiene hasta la des económica y políticamente complejas y los prime-
actualidad en varias culturas, asociada a costumbres, ros centros de poder como Valencina de la Concepción.
creencias y rituales supersticiosos (véase a este res- En su interior se observa una sociedad cada vez más
pecto las aportaciones y reflexiones críticas de Chap- dividida entre productores y consumidores, y el surgi-
man, 2000). Como se ha comentado anteriormente, miento de los primeros sectores artesanales especia-
ello ocurre igualmente con los recipientes campanifor- lizados, algunos de los cuales, como la producción de
mes documentados en las tumbas de la necrópolis de marfil y probablemente del cobre, se destinan a conso-
Valencina de la Concepción. Como señala Garrido-Pena lidar el poder de una pequeña elite social. No obstante,
(2005), la presencia de vasos rotos en contextos funera- en el caso del Campaniforme, su surgimiento en Valen-
rios podría estar relacionada con majestuosos silicernia cina de la Concepción no se destina solamente a conso-
depositados en las tumbas, resultado de un banquete lidar los liderazgos sociales, sino que más bien surge de
ceremonial desarrollados en honor del fallecido. una necesidad cada vez más evidente de legitimar ese
En este sentido, la utilización de vasijas decoradas con orden social, no sólo mediante el control de la fuerza de
pasta blanca, estéticamente más atractivas que las cerá- trabajo sino también mediante la manipulación de los
micas comunes, podría ser un elemento que refuerza la símbolos y significados colectivos.

NUNO INÁCIO, FRANCISCO NOCETE, ANA PAJUELO PANDO, PEDRO LÓPEZ ALDANA, MOISÉS R. BAYONA  PRODUCCIÓN Y CONSUMO DE CERÁMICA CAMPANIFORME 299
EN VALENCINA DE LA CONCEPCIÓN (SEVILLA, ESPAÑA): UNA PROPUESTA INTERPRETATIVA DESDE EL ANÁLISIS DE LOS CONTEXTOS DE LA CALLE TRABAJADORES
BIBLIOG RAFÍA
ARTEAGA MATUTE, O.; CRUZ-AUÑÓN BRIONES, M.ª R. (1999) – GALÁN, E.; PÉREZ, J. L. (1989) – Geología de Sevilla y alrededores
Las nuevas sepulturas (tholoi) y los enterramientos bajo túmulos y características geotécnicas de los suelos del área urbana.
(tartesios) de Castilleja de Guzmán (Sevilla). Excavación de Ayuntamiento de Sevilla. Sevilla.
urgencia de 1995. Anuario Arqueológico de Andalucía 1995, GARCÍA SANJUÁN, L.; VARGAS, J. M.; HURTADO, V.; RUIZ, T.; CRUZ-
volumen III, Junta de Andalucía, Sevilla, p. 640-651. AUÑÓN, R. (2013) – El asentamiento prehistórico de Valencina de
BLASCO, M.ª C. (ed.) (1994) – El horizonte campaniforme de la región la Concepción (Sevilla). Investigación y Tutela en el 150 aniversario
de Madrid en el Centenario de Ciempozuelos. Universidad del descubrimiento de La Pastora. Universidad de Sevilla, Sevilla.
Autónoma de Madrid. GARRIDO-PENA, R. (2000) – El Campaniforme en La Meseta Central
BOURDIEU, P. (2011) – O Poder Simbólico. Edições 70, Lisboa. de la Península Ibérica (c. 2500-2000 AC.). BAR International
BRUMFIEL, E.; EARLE, T. (1987) – Specialization, Exchange, and Complex Series 892, Archaeopress, Oxford.
Societies: An Introduction. In E. BRUMFIEL; T. EARLE (eds.) – GARRIDO-PENA, R. (2005) – El Laberinto campaniforme: Breve Historia
Specialization, Exchange, and Complex Societies. Cambridge de un reto intelectual. In ROJO GUERRA, M. A.; GARRIDO PENA, R.;
University Press, p. 1-9. GARCÍA-MARTÍNEZ DE LAGRÁN, Í. (eds.) – El Campaniforme en la
CARO, A. (1989) – Consideraciones sobre el Bronce Antiguo y Pleno. In Península Ibérica y su contexto europeo/Bell Beakers in the Iberian
Tartesos, Arqueología, Protohistórica del Bajo Guadalquivir, p. 85-97. Península and their european context. Salamanca, Universidad de
CHAPMAN, J. (2000) – Fragmentation in archaeology: People, places, Valladolid, p. 29-60.
and broken objects in the Prehistory of South Eastern Europe, GIDDENS, A. (1984) – The Constitution of Society. Outline of the Theory
Routlege, London. of Structuration. Cambridge
CHAPMAN, J. (2008) – Object Fragmentation and Past Landscape. GOSSELAIN, O. P.; LIVINGSTON-SMITH, A. (2005) – The source. Clay
In David, B.; Thomas, J. (ed.) – Handbook of Landscape Archaeology, selection and processing practices in the sub-saharian Africa.
Left Coast Press, p. 187-201. In A. LIVINGSTONE-SMITH, D. BOSQUET; R. MARTINEAU (eds.) –
CLARK, J. (1995) – Craft Specialization as an Archaeological Category. Pottery manufacturing processes: reconstitution and interpretation.
Research in Economic Anthropology, vol. 14, p. 267-294. BAR International 1349, Archaeopress, p. 33-47.
CLARKE, D. L. (1976) – The Beaker Network social and economic models. GUERRA DOCE, E. (2006) – Sobre la función y el significado de la
In LANTING, J. N.; VAN DER WAALS, J. D. (eds.) – Glockenbecher cerámica cam­paniforme a la luz de los análisis de contenidos.
Symposion (Oberried 1974), p. 459-477. Trabajos de Prehistoria, vol. 63, p. 69-84.
COBB, C. (2000) – From Quarry to Cornfield. The Political Economy HERRERO CORRAL, A. M. (2015) – Informe antropológico de los restos
of Mississipian Hoe Productions. The University Alabama Press. óseos humanos de la UE 2 de la Estructura 1 de C/Trabajadores 14-18
COSTA CARAMÉ, M. E.; DÍAZ-ZORITA BONILLA, M.; GARCÍA SANJUÁN, (Valencina de la Concepción, Sevilla). Inédito.
L. ; WHEATLEY, D. W. (2010) – El asentamiento de la Edad del Cobre INÁCIO, N. (2015) – Alfarería y Metalurgia. Contribución del análisis
de Valencina de la Concepción (Sevilla). Demografía, metalurgia arqueométrico para el estudio de los patrones de producción, distribución
y organización espacial. Trabajos de Prehistoria, vol. 67(1), p. 87-118. y consumo de cerámica en el Suroeste de la Península Ibérica durante
COSTIN, C. L.; EARLE, T. K. (1989) – Status distinction and legitimation el III Milenio A.N.E. Tesis Doctoral, Universidad de Huelva.
of power as reflected in changing patterns of consumption in Late INÁCIO, N.; NOCETE CALVO, F.; NIETO LIÑÁN, J. M.; LÓPEZ ALDANA,
Prehispanic Peru. American Antiquity, vol. 54, p. 691-714. P. M.; PAJUELO, A.; RODRÍGUEZ BAYONA, M.; ABRIL, D. (2012) –
COSTIN, C.L. (1991): Craft Specialization: Issues in defining, Cerámica común y campaniforme en Valencina de la Concepción
documenting, and explaining the organization of production. (Sevilla): Indagando su precedencia través del análisis
In SCHIFFER, M. B. (ed.) – Ar­chaeological methods and theory. arqueométrico. Estudos Arqueológicos de Oeiras (Actas del
The University of Arizona, p. 1-56. IX Congresso Ibérico de Arquometria), vol. 19, p. 95-104.
CRUZ-AUÑÓN BRIONES, R.; ARTEAGA MATUTE, O. (1999) – Acerca INOMATA, T. (2001) – The power and ideology of artistic creation.
de un campo de silos y un foso de cierre prehistóricos ubicados Elite Craft specialists in Classic Maya society. Current Anthropology,
en «La Estacada Larga» (Valencina de la Concepción, Sevilla). vol. 42, p. 321-349.
Excavación de urgencia de 1995. Anuario Arqueológico de KERNER, S. (2010) – Craft Specialisation and Its Relation with Social
Andalucía 1995, vol. III, Junta de Andalucía, p. 600-607. Organisation in the Late 6th to Early 4th Millennium BCE of
CRUZ-AUÑÓN, R.; ARTEAGA, O. (2001) – La Alcazaba. Un espacio social The Southern Levant. Paléorient, vol. 36(1), p. 179-198.
aledaño a la periferia del poblado prehistórico de Valencina de la LANTES-SUÁREZ, O., PRIETO-MARTÍNEZ, M.P.; MARTÍNEZ, A. (2010) –
Concepción (Sevilla). Excavación de Urgencia de 1996. Anuario Caracterización de Pastas Blancas incrustradas en decoraciones
Arqueológico de Andalucía 1996, p. 701-709. de campaniformes gallegos. Indagando sobre su procedencia.
DEMARRAIS, E.; CASTILLO, L. J.; EARLE, T. (1996) – Ideology, Materialization, Actas del VIII Congreso Ibérico de Arqueometría, Teruel, p. 87-99.
and Power Strategies. Current Anthropology, vol. 37, p. 15-31. LAZARICH, M.ª (1999) – El Campaniforme en Andalucía Occidental.
EARLE, T. K. (2002) – Bronze Age Economics. The beginning of political Servicio de Publicaciones de la Universidad de Cádiz, Cádiz.
economies. Cambridge, Westview. LAZARICH, M.ª (2005) – El Campaniforme en Andalucía. In M.A.
FERNÁNDEZ GÓMEZ, F.; OLIVA ALONSO, D. (1986) – Valencina de ROJO-GUERRA, R.; GARRIDO-PENA; I. GARCÍA-MARTÍNEZ (eds.) –
la Concepción (Sevilla). Excavaciones de urgencia. Revista de El Cam­paniforme en la Península Ibérica y su contexto europeo/Bell
Arqueología, vol. 58, p. 19-33. beakers in the Iberian Península and their european context.
FERNÁNDEZ GÓMEZ, F.; RUIZ MATA, D. (1978) – El ‘Tholos’ del Cerro Valladolid, Universidad de Valladolidlid, p. 351-370.
de la Cabeza en Valencina de la Concepción (Sevilla). Trabajos de LÓPEZ ALDANA, P. M.; PAJUELO PANDO, A.; MEJÍAS-GARCÍA, J. C.; CRUZ-
Prehistoria, vol. 35, p. 193-224. AUÑÓN, M. R. (2015) – Variabilidad Funeraria en las Sociedades del
FRIEDMAN, J.; ROWLANDS, M. J. (1977) – Notes toward an Epigenetic III Milenio en el Sector Señorío de Guzmán de Valencina-Castilleja
Model of the Evolution of «Civilization». In J. FRIEDMAN; M. J. (Sevilla). In ROCHA, L.; BUENO-RAMIREZ, P.; BRANCO, G. (eds.) –
ROWLANDS (eds.) – The Evolution of Social Systems, Duckworth, Death as Archaeology of Transition: Thoughts and Materials. BAR
p. 201-278. International Series 2708, Oxford, p. 257-274.

300 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
LÓPEZ ALDANA, P.; PAJUELO PANDO, A. (2001) – Estrategias político- ODRIOZOLA, C. P.; HURTADO, V.; GUERRA DOCE, E.; CRUZ-AUÑÓN, R.;
-territoriales de un poder central. Revista Atlántico Mediterránea DELIBES DE CASTRO, G. (2012) – Los rellenos de pasta blanca en
de Prehistoria y Arqueología, vol. 4, p. 207-227. cerámicas campaniformes y su utilización en la definición de
LÓPEZ ALDANA, P.; PAJUELO PANDO, A. (2011) – Las primeras límites sociales. Estudos Arqueológicos de Oeiras 19. (Actas del
sociedades estatales del Bajo Guadalquivir. In DOMÍNGUEZ PÉREZ, IX C.I.A.) Lisboa, p. 143-154.
J. C. (coord.) – Gadir y el Círculo del Estrecho Revisados. Propuestas ODRIOZOLA, C.P.; HURTADO, V. (2007) – The manufacturing process
de la Arqueología desde un Enfoque Social. Universidad de Cádiz, of 3rd millennium BC bone based incrusted pottery decoration
p. 119-127. from the Middle Guadiana river basin (Badajoz, Spain), Journal
LÓPEZ ALDANA, P.; PAJUELO PANDO, A. (2013) – La secuencia ocupacional of Archaeological Science, vol. 34(11), p. 1794-1803.
durante el III milenio ANE en C/ Trabajadores 14-18 (Valencina de ORIHUELA, A. (1999) – Historia de la Prehistoria: el suroeste de la
la Concepción, Sevilla). In GARCÍA SANJUÁN, L.; VARGAS JIMÉNEZ, península ibérica. Diputación Provincial de Huelva. Huelva.
J. M.; HURTADO PÉREZ, V.; RUIZ MORENO, T.; CRUZ-AUÑÓN ORTEGA GORDILLO, M. (2013) – El registro estratigráfico en el Pabellón
BRIONES, R. (eds.) – El Asentamiento Prehistórico de Valencina de Cubierto de Valencina de la Concepción (Sevilla). In GARCÍA
la Concepción (Sevilla): Investigación y Tutela en el 150 aniversario SANJUÁN, L.; VARGAS JIMÉNEZ, J. M.; HURTADO PÉREZ, V.; RUIZ
de Descubrimiento de La Pastora. Universidad de Sevilla, p. 157-169. MORENO, T.; CRUZ-AUÑÓN BRIONES, R. (eds.) – El Asentamiento
MARTÍN DE LA CRUZ, J. C.; MIRANDA, J. M. (1988) – El poblado Prehistórico de Valencina de la Concepción (Sevilla): Investigación
calcolítico de Valencina de la Concepción (Sevilla): Una revisión y Tutela en el 150 aniversario de Descubrimiento de La Pastora.
crítica. Cuadernos de Prehistoria y Arqueología, vol. 15. Universidad Universidad de Sevilla, p. 113-130.
Autónoma de Madrid, p. 37-67. PAJUELO PANDO, A.; LÓPEZ ALDANA, P. M. (2001) – Ideología y control
MARTÍN ESPINOSA, A.; RUIZ MORENO, M. T. (1992) – Excavación político durante el III milenio a.n.e. en el Bajo Guadalquivir. Revista
calcolítica de urgencia en la finca ‘La Gallega’ 1.ª fase. Valencina Atlántico Mediterránea de Prehistoria y Arqueología,
de la Concepción, Sevilla. Anuario Arqueológico de Andalucía 1990. vol. 4, p. 229-255.
Volumen III, Junta de Andalucía, p. 455-458. PAJUELO PANDO, A.; LÓPEZ ALDANA, P. M. (2016) – Prestige indicators
MARTIN, R.; DELIBES, G. (1989) – La Cultura del Vaso Campaniforme and Bell Beaker ware at Valencina de la Concepción (Sevilla, Spain).
en las campiñas meridionales del Duero: el enterramento de Fuente- In GUERRA DOCE, E.; LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C. (eds.)
Olmedo. Junta de Castilla y León, Valladolid. – Analysis of the Economic Foundations Supporting the Social
MILLER, D. (1982) – Structures and strategies: an aspect of the Supremacy of the Beaker Groups. Oxford. Archaeopress
relationship between social hierarchy and cultural change. Archaeology, p. 55-68.
In I. HODDER (ed.) – Symbolic and structural archaeology, ROJO-GUERRA, M.A.; GARRIDO-PENA, R.; GARCÍA-MARTÍNEZ, I. (2005)
Cambridge University Press, p. 89-98. – El Campaniforme en la Península Ibérica y su Contexto Europeo.
NOCETE, F. (2001) – Tercer Milenio antes de Nuestra Era. Relaciones Universidad de Valladolid y Junta de Castilla y León.
y contradicciones centro/periferia en el Valle del Guadalquivir. ROSA, J.; CASTRO, A. (2004) – Magmatismo de la Zona Sudportuguesa.
Bellaterra. Barcelona. In J. A. VERA (ed.) – Geologia de España, SGE-IGME, Madrid,
NOCETE, F. (2014) – Las sociedades complejas (IV y III Milenio cal B.C.) p. 215-222.
en la Iberia Meridional. Protohistoria de la Península Ibérica: ROSA, J. (1992) – Petrología de las rocas básicas y granitóides del
Del Neolítico a la Romanización (ed. M. Almagro-Gorbea), batolito de la Sierra Norte de Sevilla. Tesis Doctoral, Universidad
Fundación Atapuerca – Universidad de Burgos, pp. 83-94. Sevilla.
NOCETE, F. (Coord.) (2004) – ODIEL. Proyecto de Investigación SALANOVA, L. (2000) – La question du campaniforme en France et dans
Arqueológica para el análisis del origen de la desigualdad social les îles Anglo-Normandes. Édition du CTHS, Société Préhistorique
en el suroeste de la Península Ibérica. Monografías de Arqueología Française.
n.º 19. Consejería de Cultura, Junta de Andalucía, Sevilla. SHANKS, M.; C. TILLEY (1982) – Ideology, symbolic power and ritual
NOCETE, F.; LIZCANO, R.; BOLAÑOS, C. (1999) – Más que Grandes communication: a reinterpretation of neolithic mortuary practices.
Piedras. Patrimonio, Arqueología e Historia desde la Primera In I. HODDER (ed.) – Symbolic and Structural Archaeology,
Fase del Programa de Puesta en Valor del Conjunto Megalítico Cambridge, Cambridge University Press, p. 129-154.
de El Pozuelo (Zalamea la Real, Huelva). Consejería de Cultura SHERRATT, A. (1997) – Economy and Society in Prehistoric Europe.
de la Junta de Andalucía. Sevilla. Changing Perspectives. Edinburg University Press.
NOCETE, F.; QUEIPO, G.; SÁEZ, R.; NIETO, J. M.; INÁCIO, N.; BAYONA, SINOPOLI, C. (1988) – The Organization of Craft Production at
M. R.; PERAMO, A.; VARGAS, J. M.; CRUZ, R.; GIL-IBARBUCGI, J. I.; Vijayanagara, South India. American Anthropologist, vol. 90,
SANTOS, J. F. (2008) – The smelting quarter of Valencina de la p. 580-597.
Concepción (Seville, Spain): the specialised copper industry SPIELMANN, K. (2002) – Craft Specialization, and the Ritual Mode
in a political centre of the Guadalquivir Valley during the Third of Production in Small-Scale Societies. American Anthropologist,
millennium BC (2750-2500 BC). Journal of Archaeological Science, vol. 104(1), p. 195-207.
vol. 35, p. 717-732. VARGAS JIMÉNEZ, J. M. (2004) – Carta Arqueológica de Valencina
NOCETE, F.; SÁEZ, R.; BAYONA, M.R.; PERAMO, A.; INACIO, N.; ABRIL, de la Concepción (Sevilla). Consejería de Cultura de la Junta de
D. (2011) – Direct chronometry (14C AMS) of the earliest copper Andalucía. Sevilla.
metallurgy in the Guadalquivir Basin (Spain) during the Third
millennium BC: First Regional Database. Journal of Archaeological
Science, vol. 38, p. 3278-3295.
NOCETE, F.; SÁEZ, R.; BAYONA, M.R.; NIETO, J.M.; PERAMO, A.; LÓPEZ, P.;
GIL-IBARGUCHI, J.I.; INÁCIO, N.; GARCIA, S.; RODRÍGUEZ (2014) –
Gold in the Southwest of the Iberian Peninsula during the
3rd Millenium BC. Journal of Archaeological Science, vol. 41, p. 691-704.

NUNO INÁCIO, FRANCISCO NOCETE, ANA PAJUELO PANDO, PEDRO LÓPEZ ALDANA, MOISÉS R. BAYONA  PRODUCCIÓN Y CONSUMO DE CERÁMICA CAMPANIFORME 301
EN VALENCINA DE LA CONCEPCIÓN (SEVILLA, ESPAÑA): UNA PROPUESTA INTERPRETATIVA DESDE EL ANÁLISIS DE LOS CONTEXTOS DE LA CALLE TRABAJADORES
CAMPANIFORME Y CIEMPOZUELOS
EN LA REGIÓN DE MADRID 1
CORINA LIESAU VON LETTOW-VORBECK
Dpto. de Prehistoria y Arqueología
Universidad Autónoma de Madrid.
Corina.liesau@uam.es

302 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
R E S U M E N Se pretende ofrecer una breve revisión histórica y el estado actual de la cuestión
del Campaniforme en el ámbito de Madrid. Gracias a numerosas excavaciones en extensión
y recientes hallazgos, ha sido posible definir este horizonte con nuevas dataciones y precisar
su rango cronológico, además de reconocer su incidencia en la progresiva desaparición de los
rasgos comunitarios calcolíticos hacia un desarrollo de patrones estructurales y funerarios
cada vez más individualizados. Gran interés ha suscitado la confirmación de la integración
de modelos funerarios campaniformes en determinadas áreas de varios yacimientos calco-
líticos en pleno desarrollo, donde se distinguen de forma significativa del sustrato sin cam-
paniforme. Destacan los primeros por las complejas estructuras tumbales y los ajuares, pero
también por sus ritos funerarios que incluyen alteraciones postdeposicionales de los inhu-
mados. Con la revisión de materiales de excavaciones antiguas y el estudio de nuevos regis-
tros funerarios se ha podido avanzar hacia un mejor conocimiento de la estructura social
campaniforme, que presenta diferentes categorías de liderazgo y determinadas asociacio-
nes en función del género. Así mismo, los estudios arqueométricos han sido claves para la
caracterización del origen de determinadas materias primas y artefactos que evidencian la
existencia de importantes redes de intercambio, dado lo exótico y lejano de sus procedencias.
PALABRAS CLAVE: Península Ibérica central, calcolítico, campaniforme, ciempozuelos, arqueo-
metría, arqueología funeraria.

A B S T R A C T This presentation aims to outline the present state of Bell Beaker research in
the Madrid area. Thanks to numerous extensive excavations, recent findings and new dat-
ings it has been possible to define this horizon and determine its chronological span. It has
also been possible to note its influence on the progressive disappearance of Chalcolithic
communal burial practices and on the shift towards more individual structural and funerary
patterns. The noting of the adoption of Bell Beaker funerary practices in certain areas of sev-
eral Chalcolithic sites during this period, where they can be clearly distinguished from the
substrate without Bell Beaker items, has attracted much attention. The former stand out as
a result of their complex tomb structures and grave goods, but also because of their funerary
rituals that include post-depositional alterations of the buried ancestors. The reassessment
of materials excavated in the past together with the study of new funerary records has ena-
bled us to attain better knowledge of the Bell Beaker social structure, which presents differ-
ent leadership categories and certain associations in relation to gender. The archaeometric
studies carried out have also been key when establishing the origins of certain raw materials
and artefacts proving the existence of important exchange networks given the exotic nature
and distant origins of the goods found. 
KEY WORDS: Central Iberia, chalcolithic, bell beaker, ciempozuelos, archaeometry, funerary
archaeology.

CORINA LIESAU VON LETTOW-VORBECK  CAMPANIFORME Y CIEMPOZUELOS EN LA REGIÓN DE MADRID 303


1. DESDE SU DESCUBRIMIENTO HASTA AL SIGLO XX tanto limitada (Obermaier 1917; Castillo, 1928; Loriana,
En el temprano conocimiento del fenómeno campa- 1942; Martínez Navarrete, 1987). Como resultado de
niforme en la región de Madrid jugó un papel relevante estos hallazgos se publicaron numerosos estudios pun-
la Real Academia de la Historia y la creación de un Gabi- tuales, trabajos monográficos y tesis doctorales para
nete de Antigüedades en 1763 donde se custodian entre ámbitos geográficos más o menos amplios. Desde los
otros bienes patrimoniales, sus colecciones arqueoló- primeros descubrimientos de los materiales campani-
gicas (Almagro, 2001, p. 45). En los siglos XVIII-XIX era formes había una necesidad de avanzar en el conoci-
costumbre coleccionar antigüedades, aunque ya por miento sobre su origen y la difusión de estas prácticas
aquel entonces para la Academia primaba el interés funerarias ciertamente estandarizadas. Dado que la
en conocer con ellas la Historia de España como prueba familiaridad en las formas y decoraciones de los respec-
instrumental de la verdadera historia (Anes, 2001, p. 27). tivos lotes de vajillas, piezas metálicas y ornamentos
Uno de los lotes prehistóricos más representativos obedecían a un fenómeno paneuropeo y mediterráneo
es una colección de vajillas y otras piezas campanifor- se plantearon numerosas hipótesis en torno a su géne-
mes recuperados en 1894 al ejecutarse unas obras de sis y desarrollo. Destacan para la Meseta importantes
carretera en el término madrileño de Ciempozuelos. La aportaciones como las de A. del Castillo (1928); E. Sang-
extraordinaria calidad de estas vistosas piezas fue el meister, (1963); G. Delibes (1977); R. Harrison (1977); R.
desencadenante para que el anticuario perpetuo Don Harrison y A. Gilman, (1977) que han sentado la base de
Antonio Vives interviniera durante tres días en una serie gran parte de los fundamentos teóricos en relación con
de tumbas en el terreno de la denominada Cuesta de la el origen y desarrollo de estos grupos, sus estilos cerá-
Reina. En seguida se dan a conocer los primeros resul- micos y otros ajuares. Con los avances arqueométricos
tados de esta intervención (Riaño et al., 1894) y al año arqueobiológicos, algunos postulados sobre la movili-
siguiente hubo una segunda intervención en el Cerro del dad en el Calcolítico vuelven a suscitar hoy gran interés
Castillejo, esta vez financiada por el marqués de Cerralbo y discusión entre los especialistas actuales (Salanova,
(Blasco et al., 1998). Desde entonces el interés por conocer 2005; Desideri y Besse, 2010).
lo que representan aquellas gentes y sus emblemáticos Con el desarrollo de los primeros trabajos arqueomé-
ajuares funerarios sigue tan vivo como antaño. tricos a finales de los años sesenta y setenta y las pri-
Pero no sólo aquellas cerámicas campaniformes meras dataciones radiocarbónicas se empezaron a
estilo Ciempozuelos llamaron la atención a los estu- estudiar los contextos con las características de la cerá-
diosos, sino también tuvieron interés científico en pro- mica, las piezas metalúrgicas y los procesos de reduc-
fundizar sobre aspectos tecnológicos y las característi- ción y fundición atestiguados en cerámicas campani-
cas antropológicas de los inhumados. Especial énfasis formes (Rovira, 1989; Priego y Quero, 1992).
le dedicaron a los cráneos que fueron analizados con A finales del siglo XX el carácter interdisciplinario
los parámetros morfométricos habituales de la época. estaba ya plenamente consolidado como lo evidencian
Desde los primeros estudios se percibe un gran empeño las monografías dirigidas por la profesora C. Blasco
en determinar la filiación racial de las gentes campani- donde se presentaron varios estudios sobre el estado de
formes, baranjando si podían tener un origen foráneo la cuestión del Campaniforme madrileño y se incorpora-
o no (Antón, 1897; Desealers, 1917). Estas ideas persis- ron nuevas líneas de investigación de Sistemas de Infor-
tieron durante tiempo, especialmente en la búsqueda mación Geográfica y el análisis del territorio, aspectos
de tipos braquicéfalos y occipital plano (Gerhardt, 1953; simbólicos, tecnologías lítica y metalúrgica, análisis de
Bubner, 1976), aunque ya Alberto del Castillo, con buen pastas cerámicas, la Arqueobiología, las dataciones, entre
criterio, manifestó que no había una unidad étnica otros (Blasco et al., 1994, 1998). A medida que se excava-
(Castillo, 1928, p. 202). Fruto de una intuición erudita y ron nuevos yacimientos, se emprendieron otros trabajos
consciente de que todavía no era el momento adecuado de investigación con nuevos enfoques y planteamientos
para interpretar estos restos humanos, la Real Acade- teórico o teórico-metodológicos como la tesis doctoral de
mia de la Historia, de forma pionera, mandó consolidar R. Garrido (2000) hacia una interpretación social y eco-
con gasas y cola de conejo los cráneos de Ciempozuelos. nómica del Campaniforme en la Meseta y, en un marco
Ello, desde luego, los preservó hasta su nuevo estudio más general del III y II milenio BC., la de P. Díaz del Río
un siglo después (Blasco et al., 1998; Liesau y Pastor, (2001).
2003).
A lo largo del siglo XX aparecen numerosos hallaz-
gos y un gran interés en el estudio global de los mismos 2. NUEVOS HALLAZGOS Y NUEVOS MÉTODOS
en el ámbito europeo. En la región de Madrid se fue DE ESTUDIO EN EL SIGLO XXI
ampliando el inventario de hallazgos fortuitos y otros En la última década, la expansión urbanística y de
provenientes de excavaciones con una información un infraestructuras en la región de Madrid, junto con una

304 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
intervención a gran escala de la arqueología profesio- En relación con los registros sedimentológicos y
nal ha supuesto un considerable avance en el cono- arqueobiológicos, sin duda alguna, el avance en las técni-
cimiento de nuevos yacimientos con campaniforme cas de excavación y de recuperación – cribado, flotación,
(Rojo et al., 2005; Blasco et al., 2011; VVAA, 2014). Gran triado – junto con los estudios tafonómicos in situ y la
parte de estas intervenciones se realizaron en exten- toma de muestras en los trabajos de campo han permi-
sión, un factor clave para comenzar a entender si hubo tido completar y ampliar considerablemente muchos
o no un impacto campaniforme en las comunidades aspectos de las labores cotidianas y funerarias de estas
calcolíticas de la Meseta y empezar a comprender su comunidades prehistóricas y los nuevos datos que apor-
dinámica de ocupación en los espacios domésticos y tan los análisis puntuales de la Biología molecular, son
funerarios. Aunque la arqueología de gestión ha hecho sorprendentes. A ello se suma el potencial empírico de
grandes descubrimientos, muchos registros campa- interpretación con la Arqueometría para determinar las
niformes siguen inéditos mientras que otros tantos características físicas y químicas de muchas materias
ofrecen tan solo breves noticias de los hallazgos. El primas orgánicas e inorgánicas. Los análisis arqueomé-
esfuerzo en integrar estos datos parciales hacia una tricos han dejado obsoletas e incluso engañosas algunas
visión de conjunto del calcolítico madrileño y del cam- hipótesis teóricas entorno la estructura y desigualdades
paniforme en el marco de los cada vez más numerosos sociales de estas comunidades, sus dinámicas de explota-
recintos de fosos queda patente con la tesis doctoral de ción e intercambio de las materias primas, el valor social
P. Ríos (2011) (Fig. 1). o simbólico de sus artefactos y elementos de adorno.

FIG. 1 Localización de yacimientos con Campaniforme en la región de Madrid (puntos grises). En negro, yacimientos mencionados en el texto:
1. La Magdalena (Alcalá de Henares); 2. Camino de las Yeseras (San Fernando de Henares); 3. Salmedina (Villa de Vallecas); 4. El Juncal (Getafe);
5. Humanejos (Parla); 6. Cuesta de la Reina (Ciempozuelos).

CORINA LIESAU VON LETTOW-VORBECK  CAMPANIFORME Y CIEMPOZUELOS EN LA REGIÓN DE MADRID 305


3. RANGO TEMPORAL DEL CAMPANIFORME nados depósitos. Hasta la fecha tenemos casi un cen-
EN LA REGIÓN DE MADRID tenar de dataciones de contextos funerarios y domés-
La escasa visibilidad de las ocupaciones con cam- ticos de varios yacimientos que permiten esbozar los
paniforme en el ámbito doméstico o productivo en siguientes hitos cronológicos (Fig. 2):
yacimientos de campos de hoyos y las pocas fechas
publicadas para los registros funerarios madrileños,  Las fechas más antiguas del Calcolítico en aquellos
ha obligado a dedicar importantes partidas presu- yacimientos sin ocupaciones neolíticas previas,
puestarias de numerosos proyectos de investigación comienzan a finales del IV Milenio cal BC (Camino
de nuestro equipo a sentar una base de datos fiable de las Yeseras).
para conocer la dinámica de ocupación de algunos  El comienzo del Campaniforme en la Región de
poblados (Blasco et al., 2011; Ríos, 2013, Ríos et al., Madrid se reconoce fundamentalmente en el regis-
2014). Aunque las dataciones antiguas sobre carbón y tro funerario. Abarca desde casi el 2600 al 1740 cal BC,
de TL son tenidas en cuenta en los estudios actuales, donde aparecen los primeros estilos decorativos tra-
las dataciones por AMS son más precisas para definir dicionalmente considerados más antiguos de su cerá-
las secuencias cronológicas en yacimientos de larga mica: Campaniforme Internacional en sus variantes
ocupación. Ello ha renovado sustancialmente anti- de marítimo impreso e impreso geométrico punti-
guos tópicos sobre el escaso poblamiento en el inte- llado (Humanejos, El Juncal, Camino de las Yeseras).
rior peninsular durante el Neolítico y el Calcolítico, al  El estilo Campaniforme Ciempozuelos se confirma
que se negaron varios autores a considerarlo como un como más tardío, lo que también tradicionalmente
área deshabitada. El tiempo les ha dado la razón, con- se ha definido como estilo derivado de Harrison, o
firmándose una intensificación agrícola y agregación el reflujo de Sangmeister. Su cronología no parece
poblacional anterior a la aparición de la metalurgia remontarse a fechas anteriores del 2200 y perdura
(Martínez Navarrete, 1987; Rubio, 2000; Díaz del Río, hasta el 1740 cal BC (Camino de las Yeseras), aún pen-
2003; Bueno et al., 2007-08; Blasco et al., 2016). Aunque diente de lo que puedan aportar R. Flores, R. Garrido y
queda mucho camino por recorrer, dada la compleji- su equipo en Humanejos, en fase de estudio.
dad estratigráfica en los campos de hoyos, demues-  Las tumbas campaniformes más antiguas no difie-
tran patrones de asentamiento poco estructurados y ren en su estructura funeraria, ni en su carácter
tan solo los recintos permiten conocer algunas de sus colectivo del resto de tumbas calcolíticas sincróni-
actividades y manifestaciones simbólicas en determi- cas. Se comienza a observar una mayor individuali-

FIG. 2 Selección de muestras de C14 AMS sobre hueso de diferentes tumbas campaniformes Magdalena (Mag), Humanejos (Hum), Camino
de las Yeseras (Yes) excepto la de la cabaña 013 de El Ventorro, que es sobre carbón (Priego y Quero, 1992:368). Gráfico de dataciones obtenido
a partir del programa Oxcal 4.2, Intcal 13.

306 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
zación funeraria a partir del 2300-2100 cal BC, según presentan extensiones muy variables. P. Ríos distingue
las necrópolis. Con el desarrollo de Ciempozuelos, no entre poblados muy grandes, de en torno a 15 a 20 has
sólo se enfatiza la individualidad de la tumba, sino como Camino de las Yeseras (San Fernando de Henares),
que se delimitan áreas funerarias para acoger a un Humanejos (Parla), Soto de Henares (Torrejón de Ardoz)
selecto número de individuos (Camino de las Yese- o Las Matillas (Alcalá de Henares) y Poblados grandes
ras). Las cámaras funerarias en sus dimensiones, que serían aquellos que suelen tener una extensión
profundidad, complejos sistemas de cierre están en entre 6-10 has como Fuente la Mora (Leganés), El Espi-
relación con la relevancia social de los inhumados nillo (Madrid) o Arenero de Soto (Getafe) además de
(Humanejos, Camino de las Yeseras, Salmedina). Poblados medianos con una extensión de entre 1-5 has
 En los campos de hoyos con recintos de fosos, el cam- como el Ventorro (Madrid), Gózquez (San Martín de
paniforme aparece de forma dispersa en estos fosos, la Vega), Buzanca 1 (Ciempozuelos), Polvoranca M-50
una vez que están prácticamente colmatados, por (Leganés). Tampoco faltan poblados pequeños, como
lo que dichas estructuras parecen estar en desuso o Perales del Río (km. 9 de la carretera de San Martín de la
abandono a mediados del III milenio cal BC. Vega), La Loma de Chiclana (Madrid) o El Juncal (Alcalá
de Henares) (Ríos, 2011, p. 186).
A pesar de que las grandes superficies excavadas
4. EL CAMPANIFORME EN CONTEXTOS en algunos yacimientos abarcan varias hectáreas de
NO FUNERARIOS extensión, no ha sido posible una identificación clara
A fecha de hoy, en la región de Madrid se documen- de espacios habitacionales propios campaniformes.
tan más de un centenar de yacimientos con materiales Con ello se confirman aspectos también conocidos en
campaniformes, la mayoría de ellos en poblados que otras regiones:

FIG. 3 Camino de las Yeseras: Planimetría del recinto de fosos calcolítico con la localización de tres áreas funerarias y una fosa (A-21)
campaniformes. Las estrellas rojas indican hallazgos de cerámicas campaniformes en contextos de hábitat.

CORINA LIESAU VON LETTOW-VORBECK  CAMPANIFORME Y CIEMPOZUELOS EN LA REGIÓN DE MADRID 307


 No se definen espacios más complejos ni apare- Chapman, 2000; Woodward, 2002), sencillamente
cen nuevos modos de ocupación. Las formas de se identifica mejor con estos registros que con las
vida no cambian sustancialmente con respecto a vajillas lisas.
la primera mitad del III Milenio y el primer cuarto
del II Milenio cal BC, es decir a lo largo de casi ocho Además de estos poblados de campos de hoyos con
siglos que perdura esta tradición funeraria. Tal vez o sin fosos, se conocen otros yacimientos calcolíticos
sólo apuntar cierta concentración de estructuras con campaniforme dedicados a la extracción y mani-
domésticas y funerarias al Sureste del poblado de pulación de recursos, como la sal. En la proximidad de
Camino de las Yeseras, más próximo al valle del las Salinas de Espartinas en Ciempozuelos destacan
Henares (Fig. 3). importantes registros cerámicos (Valiente, 2005-2006,
 Destaca la anecdótica presencia de cerámica cam- 2009; Valiente et al., 2002). Todavía son intervencio-
paniforme en zonas de hábitat que, por ejemplo nes puntuales por lo que no se puede precisar la téc-
para Camino de las Yeseras no supera el 0.1% res- nica de elaboración aunque, por el elevado número
pecto a la cerámica común (Blasco et al. 2014) (Fig. de fragmentos cerámicos, se sugiere la del briquetage,
3), un 2% para Perales del Río, el Pedazo del Muerto o de forma similar a las explotaciones salineras de las
el Ventorro (Blasco et al., 1889; Priego y Quero, 1992; lagunas zamoranas de Villafáfila. La factoría campani-
López, Ortiz y Rodríguez, 1996). La cabaña 013 de El forme de Molino Sanchón II ha sido exhaustivamente
Ventorro ha sido reinterpretada en varias ocasiones, estudiada por la escuela de Valladolid que interpreta
definida como estructura con actividades reiteradas éste y otros tantos sitios del lugar como centros de pro-
no productivas (Díaz del Río, 2001, p. 237, 250), y en ducción de panes de sal (Delibes y del Val, 2007-2008;
la Ríos, sin embargo señala que es un tipo de estruc- Abarquero et al., 2012; Guerra, 2016). Gracias también
tura no excepcional dada su semejanza con las de a recientes prospecciones en la región meridional de
otros yacimientos (Ríos, 2011, p. 224), mientras que Madrid y en Toledo se documenta una mayor concen-
recientemente se ha propuesto como un tramo tración de yacimientos campaniformes muy próximos
de foso (Blanco, 2014). La escasa presencia de cerá- a la famosa necrópolis de Ciempozuelos (Sanguino y
mica campaniforme en áreas de hábitat también se Oñate, 2011). Otros dos yacimientos toledanos próxi-
advierte en otros yacimientos del ámbito meseteño mos como Pantoja o el Pontón Chico se ubican junto
(Garrido 2000; Carmona, 2013) como en otros tantos a recursos salobres, mientras que las evidencias de la
peninsulares (García Rivero, 2008). sal en Los Picos-El Fontarrón en el entorno del Valle de
 Si a este resultado le añadimos que las piezas cerá- las Higueras permite constatar esta actividad en fechas
micas no se encuentran de forma dispersa, sino que más tempranas, es decir, durante la primera mitad del
en Camino de las Yeseras el lote más importante se III Milenio cal BC (Muñoz, 2002; Arribas, 2010; Bueno et
concentra en una cabaña, la interpretación de estos al., 2010).
registros debe ser otra que la de una mera acumu- Un recurso cercano a la mayoría de los yacimientos
lación casual. Excepcionalmente nos encontramos madrileños es el sílex. Generalmente de gran calidad,
con la mitad de algún recipiente y nunca con reci- es explotado de forma intensiva desde el Neolítico
pientes completos. La gran mayoría son pequeños como se ha podido documentar con centenares de
fragmentos campaniformes con las superficies ero- pozos de la mina de Casa Montero (Consuegra et al.,
sionadas (Liesau et al., 2013p.143). Esta acumulación 2004; Consuegra y Díaz del Río, 2015). Durante el III
diferencial de piezas campaniformes en determi- Milenio el sílex sigue siendo un recurso abiótico de
nadas estructuras se conoce también en otros yaci- primer orden, dada su abundancia en muchos yaci-
mientos del estuario del Tajo o del Suroeste, donde mientos, incluso la existencia de un taller en Camino
Delibes y del Val especifican para aquellos con evi- de las Yeseras confirma la talla de piezas estandariza-
dencias de una actividad metalúrgica que trataba das a modo de preformas, aunque hasta la fecha no ha
de materializar visualmente el control de la acti- podido ser datado (Ríos, 2011, p. 391-410). Pero además
vidad por parte de la élite y acaso obtener sanción de una talla expeditiva y funcional conocemos tam-
religiosa apelando para ello a una heráldica (Deli- bién en este yacimiento la existencia de grandes lajas
bes y del Val, 2007-8, p. 800). Así mismo, su apari- de sílex tabular y nódulos, materiales que fueron traí-
ción en unas cabañas del yacimiento de San Blas dos de afloramientos cercanos o subidos de las terrazas
las contextualizan en un espacio mágico-religiosos inferiores de los ríos próximos al emplazamiento en la
evidente, dada la importante acumulación de pie- terraza superior. En varias tumbas campaniformes no
zas simbólicas en su interior (Hurtado, 2004, p. 152; se escatima en invertir un importante esfuerzo de tra-
García Rivero, 2008, p. 71). La fragmentación inten- bajo para sellar con estas grandes lajas las entradas de
cionada no es, por tanto, nada nuevo (Brück, 1999; profundos hipogeos. Con ello y — dadas las condicio-

308 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
nes geológicas del terreno — parecen imitar estructu- p. 293-297). A pesar de ello, para la región de Madrid no
ras monumentales megalíticas resaltando aún más la se pueden descartar vestigios de una actividad meta-
relevancia social de los allí inhumados. Sin embargo, lúrgica anterior a la primera mitad del III Milenio cal
para tumbas de menor rango como las de tipo fosa o BC, dada la parcialidad de las excavaciones en casi todos
pequeñas covachas excavadas junto a los hipogeos, se los sitios y la ausencia generalizada de piezas de cobre
emplearon grandes nódulos de sílex y cuarcitas y con en tumbas colectivas calcolíticas sin campaniforme. De
un pequeño túmulo funerario (Liesau et al., 2008; Vega todas formas, su ausencia en los registros funerarios
et al., 2010). no campaniformes tan solo permite distinguir entre
La región madrileña también dispone de abundan- aquellos que se afanan en engalanar a sus muertos con
tes recursos arcillosos para satisfacer las necesida- piezas de alto poder adquisitivo de, tal vez de aquellos,
des de materia prima para la producción alfarera y la que nunca compartieron esa mentalidad dejándolas a
construcción (Blasco et al., 1994; Ríos, 2011). A pesar del los vivos y a sus descendientes.
importante registro de vajillas campaniformes recupe- Independientemente de unas tradiciones u otras, lo
radas y los estudios centrados en sus estilos y técnicas que en la mayoría de los casos sí se confirma es que
decorativas, sus capacidades y acabados, no abundan esta metalurgia a finales del III Milenio a.C. responde a
análisis arqueométricos que puedan autentificar su pequeñas explotaciones que transforman los minera-
procedencia. Precisamente este es un tema de gran les de cobre procedentes de las cuencas altas del Jarama,
interés para averiguar el origen local o foráneo de sus Manzanares o del Guadarrama (Blasco et al., 1994,
pastas, cuando se ha puesto bastante énfasis en que p. 67). Hasta fechas relativamente recientes se ha con-
estas vajillas son un elemento de intercambio, dada su siderado la metalúrgica campaniforme de la Meseta
rica ornamentación y su elevado valor social (Garrido, de escaso nivel tecnológico. Las reducciones se rea-
2000). Bien es cierto que estos análisis pueden tener lizan en vasijas-horno con carbón vegetal, crisoles y
resultados limitados como, por ejemplo, por la incorpo- moldes simples (Rovira y Montero, 1994; Rovira et al.,
ración de fragmentos cerámicos machacados en su fun- 2011). Tampoco parecen presentarse aleaciones inten-
ción de desgrasantes para otros nuevos (García Rivero, cionadas para este horizonte y es la forja en frío la que
2008). Pero no dejan de ser importantes para conocer el remata las piezas en su tratamiento final. En el caso de
aprovechamiento del potencial geológico del entorno los punzones calcolíticos, muchos de ellos no presen-
de cada sitio. De momento, los análisis de caracteriza- tan ningún acabado de la pieza (Montero, 2010, p. 184).
ción mineralógica realizados para yacimientos como Tipológicamente los puñales triangulares y piezas
Perales del Río, Juan Francisco Sánchez, Arenero Soto foliáceas recuerdan a prototipos líticos, dando una sen-
y para Camino de las Yeseras permiten confirmar una sación de escasa utilidad y eficiencia en sus filos, como
procedencia eminentemente local de las mismas, como también muestra el propio puñalito de Ciempozue-
también la aplicación de finos engobes que preparan los (Rovira et al., 2011p. 298). Sin embargo, el hallazgo
las superficies para una óptima y depurada decoración contextualizado de una alabarda con remaches obliga
incisa o impresa (Blasco et al., 1994; Ríos et al., 2011). a reconsiderar la cuenca media-alta del Tajo en otra
Otro tipo de actividad productiva es la metalurgia del escala de producción e intercambio (Blasco, Montero,
cobre con producciones más bien encaminadas a su uso Flores, 2016).
doméstico que para un intenso intercambio de piezas,
algo que se ha sugerido para la mayoría de los yaci-
mientos peninsulares (Kunst, 2013). Queda pendiente 5. EL CAMPANIFORME EN CONTEXTOS FUNERARIOS
determinar si para la región de Madrid los grupos cam-
paniformes son los verdaderos protagonistas de esta 5.1. el espacio de los difuntos: ¿necrópolis
innovación tecnológica como en su día fue interpretado o convivencia de los vivos con los muertos?
para el Ventorro o el Arenero de Soto. Las adherencias de A pesar de la parcialidad de las excavaciones de la
escorias de cobre en el interior de fragmentos cerámicos mayoría de los yacimientos calcolíticos se pueden per-
campaniformes, permitieron acuñar con ello el término filar algunas novedades en la organización espacial
de vasijas-horno (Priego y Quero 1992, Rovira y Mon- funeraria. Si bien es cierto que desconocemos a cuan-
tero, 1994). En Camino de las Yeseras, donde también tos horizontes de ocupación corresponden la gran den-
se han encontrado objetos de un fundidor en un hoyo sidad de estructuras documentadas en estos poblados,
— crisol, tobera, escorias de cobre — no se puede hacer los espacios mortuorios campaniformes se organizan
esta asociación de forma tajante, al presentar una data- de modo diferente, dependiendo también del sustrato
ción de C14 por AMS de 3835+40 BP, cal BC 2460-2190 geológico y del entorno en el que se ubican. A falta de
(Ua-35018), aunque si coincidente con la aparición de los estudios espaciales más exhaustivos, se pueden desta-
primeros campaniformes impresos (Rovira et al., 2011, car los aspectos siguientes:

CORINA LIESAU VON LETTOW-VORBECK  CAMPANIFORME Y CIEMPOZUELOS EN LA REGIÓN DE MADRID 309


 Existen necrópolis que, en un sentido amplio, des- entierran con los ritos funerarios campaniformes, sino
tacan por la agrupación de tumbas en un espacio las de sus contemporáneos que siguen con antiguas
próximo, caso de Salmedina y La Magdalena donde tradiciones de raigambre neolítica. Pero aquí no pre-
diferentes tipos de tumbas están alineados (Berzosa sentan la monumentalidad habitual de otros ámbitos
y Flores, 2005; Heras, Galera y Bastida, 2011, 2014 a). peninsulares, y si la hubo, no sobrevivió a la intensa
En esta categoría también se tendría que incluir la ocupación prehistórica e histórica posterior madrile-
antigua necrópolis de la Cuesta de la Reina en Ciem- ños.
pozuelos (Riaño et al., 1894; Blasco et al., 1998). Así El tipo de tumba puede variar según cada yaci-
mismo, la no lejana estación del valle de Huecas, tan miento y su respectivo sustrato geológico, pero por
solo a unos 40 km hacia el suroeste del yacimiento regla general se abandonan las inhumaciones en
de Humanejos tiene sus monumentos funerarios hoyos, que suelen ser el tipo de tumba más antiguo
alineados en lo alto de una mesa caliza. Bajo su y vinculado a campaniforme marítimo (Camino de
visera se han excavado una serie de cuevas artifi- las Yeseras, Humanejos). Con algo más de 1 m. de
ciales, cerradas con muros de mampostería y barro profundidad, su diámetro puede ser muy variable y
(Bueno et al., 2005; 2007-08). alcanzar hasta 4 m. de diámetro (Humanejos). Oca-
 Sin embargo, en otros yacimientos no existen tales sionalmente nos encontramos también con fosas
concentraciones tumbales, sino que se percibe tan que presentan lajas hincadas delimitando la cámara
solo cierta cercanía de estructuras funerarias con funeraria cubiertas por otras y con claras reminiscen-
campaniforme pero también y otras calcolíticas cias megalíticas (Salmedina). Lo más novedoso en la
colectivas en el área sureste del yacimiento, (Camino arquitectura funeraria son los hipogeos que pueden
de las Yeseras). Con el tiempo se pasa de fosa a unas aparecer de forma aislada (Humanejos) o formando
estructuras más complejas que quedan definidas parte de un área funeraria (Camino de las Yeseras)
por las denominadas áreas funerarias, que delimi- (Fig. 8). Su profundidad parece estar en relación
tan a modo de grandes cubetas un espacio reservado directa con la importancia de los personajes inhu-
desde cuyo margen interior se han excavado hipo- mados y llegar hasta los 3 m, por lo que requieren
geos y covachas. Las dimensiones de las áreas fune- de empinados accesos escalonados hacia la cámara
rarias como las de las propias tumbas varían en fun- (Camino de las Yeseras, Humanejos). Las improntas
ción de la categoría social de los inhumados, desde de postes o vigas en los accesos escalonados indican
unos 30m2 (área funeraria 1 y 3) hasta 60 m2 (área un tiempo prolongado de construcción, exposición y
funeraria 2). La densidad de estructuras entorno cierre provisional a modo de chamizo o tejadillo con
a estas áreas parecen indicar su integración en un vigas de madera, probablemente de encina y cañizo,
ambiente de hábitat (Liesau et al., 2008; 2013; Ríos et antes de la clausura definitiva de la tumba. La cámara
al., 2014; Liesau y Blasco, 2015). presenta un sellado de lajas monumentales de sílex
 Una tercera variante es la que presenta otro gran tabular, mientras que el acceso escalonado se rellena
campo de hoyos como Humanejos (Parla) aunque con grandes nódulos de sílex o cuarcitas del lecho flu-
todavía en proceso de estudio (Flores, 2011; Flores y vial para rematar las tumbas con un túmulo (Camino
Garrido, 2014). En él, las tumbas campaniformes pre- de las Yeseras) (Fig. 4).
sentan una ubicación dispersa pero en las proximi- En las áreas funerarias de Camino de las Yeseras
dades y en paralelo de su río epónimo. aparecen tumbas más pequeñas que son covachas
 En esta región son excepcionales los registros cam- excavadas en su base como claros antecedentes de
paniformes en cuevas y estructuras megalíticas. El tradiciones posteriores de la Edad del Bronce (La Mag-
dolmen de Entretérminos, aunque situado en un dalena, Camino de las Yeseras). Con el término de cova-
área de presierra algo alejada, demuestra como en cha seguimos las mismas directrices establecidas para
otros muchos casos peninsulares, una reutilización el mundo argárico, al tratarse de pequeñas cámaras
de este sepulcro de corredor más antiguo por uno funerarias excavadas en el subsuelo desde el margen
o varios individuos con ajuares campaniformes de lateral de la cubeta funeraria, y donde, a escasa profun-
prestigio. didad, se alojan uno o varios cuerpos (Blasco et al., 2005;
Liesau et al., 2008). Sus dimensiones varían en función
5.2. la arquitectura funeraria del número de individuos previstos, si hay depósitos
campaniforme secundarios (Salmedina) o el rango de los inhumados.
Con las excavaciones recientes ha sido posible Al contrario de los hipogeos, que se colmatan lenta-
estudiar el mundo funerario desde mediados el ter- mente con los sedimentos infiltrados, los cuerpos de
cer milenio BC de una forma conjunta, contrastando las covachas se descomponen, generalmente, en un
no sólo las estructuras funerarias de aquellos que se espacio colmatado (Fig. 7).

310 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
5.3. sobre ritos funerarios y la memoria el ocre o/y el cinabrio, que ya se detectó en su día en
de los ancestros Huecas (Bueno et al., 2005). Una vez depositados sus
Frente al rito calcolítico colectivo, en el que a través ajuares, es espolvoreado sobre el cuerpo. Pero apenas
de los estudios tafonómicos se ha podido observar es visible con el empleo de mortajas impregnadas con
la forma en la que se inhuma a los difuntos, hay otra este mineral y solo el análisis de tierras junto al esque-
clara innovación de aquellos que siguen el rito cam- leto permiten detectarlo. Su uso es bastante exclusivo,
paniforme. En los primeros, una vez realizado el hoyo al documentarse sobre todo en aquellas tumbas que
o acondicionado otro más antiguo, no acceden a ese incluyen piezas como el oro y marfil entre sus ajuares
espacio mortuorio — tal vez por un tabú ideológico- (Liesau y Blasco, 2011-2012) (Fig. 5a y b).
simbólico — y desde el exterior de la tumba se ejecuta A pesar de todos estos gestos tan meditados, algunas
la secuencia de inhumación sucesiva o inmediata de tumbas se abren y se altera su contenido. Inicialmente
los cuerpos, generalmente sin el estado del rigor mortis. podía barajarse la idea de meros actos de expolio, pero
Desde allí se aúpa el cadáver, se introducen los pies en una serie de indicios sientan las bases para pensar en
la fosa para posteriormente ser arrojados o caer por su una deliberada extracción de huesos y ajuares del con-
propio peso al fondo de la misma, lo que provoca postu- texto primario. Se trasladan las porciones más repre-
ras extremas y caóticas, especialmente para los últimos sentativas de sus esqueletos — cráneo, huesos largos,
individuos en una tumba múltiple, es decir con inhu- costillas — para volver a incluirlos en otras tumbas o
maciones inmediatas en el tiempo (Gómez et al., 2011; contextos singulares (Liesau et al., 2014b). Desgracia-
Aliaga 2014). Así mismo, también presentan depósitos damente estas costumbres han mermado mucho el
secundarios reducidos en los que no descartamos una potencial informativo de los restos antropológicos
exposición previa de los cadáveres en algún lugar del desde los primeros descubrimientos de Ciempozue-
yacimiento, dado que no son infrecuentes huesos alte- los donde ya se menciona tan solo una calota craneal
rados por los perros que los mordisquean y dispersan rodeada de ajuar (Riaño et al., 1894). En Humanejos y
por el suelo de ocupación. en Camino de las Yeseras alguna de las tumbas apenas
Este patrón contrasta visiblemente con los enterra- contenían restos humanos aunque si muchos ajuares
mientos campaniformes y otros en transición, donde cerámicos (Gómez et al., 2011; Flores y Garrido, 2014).
también para la región madrileña destaca una cuida- Se advierte además, otros dos tipos de depósitos
dosa colocación de los cuerpos en decúbito lateral y con relacionados con el mundo funerario, pequeños hoyos
las piernas flexionadas (Camino de las Yeseras, Huma- adyacentes a las tumbas y otros aislados dentro del
nejos, Salmedina, La Magdalena) (Figs. 5 y 7). Ocasio- campo de hoyos en el que se integran. En el primer caso,
nalmente aparecen individuos muy contraídos y con pequeñas cubetas superficiales albergan vasos y cuen-
las piernas hiperflexionadas dando la sensación del cos campaniformes, muchos de ellos completos o parti-
uso de mortajas que envuelven al difunto (Humane- dos por la mitad, como en Salmedina, La Magdalena y
jos). Tampoco son infrecuentes los depósitos secunda- El Juncal (Berzosa y Flores, 2005; Heras, Cubas y Bastida
rios (Ciempozuelos, Camino de las Yeseras, Salmedina). 2014b; Martínez et al., 2015). Parece bastante obvio que
No hay una orientación del cuerpo normalizada, ni puedan obedecer a ritos póstumos dedicados a los inhu-
tampoco una colocación hacia un lado según género, mados en una tumba ya clausurada. Su presencia en, al
algo que varía en función del yacimiento y de la propia menos tres yacimientos, podría constatar la celebración
orientación de la tumba. La colocación de los diferen- de aniversarios y actos conmemorativos y con ello, una
tes ajuares no sigue un orden estricto, aunque suele ser prolongación de los ritos fúnebres a lo largo del tiempo.
frecuente encontrar un set cerca de la cabeza (Huma- Los hoyos aislados que contienen ocasionalmente
nejos), pero también entre los brazos y junto o entre algún hueso humano, presentan una lectura mucho
las piernas (tibias) (Camino de las Yeseras) o a los pies más compleja. En aquellos registros que incluyen pie-
(Salmedina, Humanejos) (Fig. 5a). Los ajuares metálicos zas de cobre, puntas Palmela o puñales y vajilla cam-
suelen situarse en o junto a las manos, y el brazalete de paniforme aluden a la posibilidad de estar ante un
arquero en el interior de la muñeca (Humanejos). Los cenotafio (El Juncal,). En otros, es el estudio exhaustivo
elementos de prestigio y de adorno suelen estar cerca de cada uno de los materiales el que tiene que ofrecer
de la cabeza, cuello o pecho (Camino de las Yeseras, la clave para su interpretación. La incorporación de
Humanejos y La Magdalena) (Fig. 5b), aunque también cerámica simbólica facilita tal lectura y fue definida
puede haberlos en las piernas, piezas que tendrían que en su día por R. Garrido y K. Muñoz como el reflejo de
ver probablemente con la vestimenta del difunto (Lie- las visiones sagradas de los líderes en un marco social e
sau, 2016). ideológico en conflicto que pretende ejercer, a través de
En tumbas campaniformes relevantes se incorpora ceremonias con la ingesta de ciertas sustancias y/o alu-
otro elemento interesante en el ritual funerario como cinógenos, una legitimación de unos conocimientos y

CORINA LIESAU VON LETTOW-VORBECK  CAMPANIFORME Y CIEMPOZUELOS EN LA REGIÓN DE MADRID 311


FIG. 4 Hipogeos de Camino de las Yeseras: cerramiento del acceso a las cámaras funerarias con grandes lajas de sílex tabular y nódulos,
a) área funeraria 2 y b) área funeraria 1. (Fotos de Argea, S.L.).

FIG. 5 a) Salmedina: inhumación individual en nicho de la fosa 2, con cazuela a sus pies y espolvoreado con pigmento rojo y en la imagen d) se
representa su ajuar, cuenco, punzón y puñal de cobre recuperados del interior de la cazuela (Foto: Rojo et al., 2005, p.489 y 490); c) detalle de dos
botones con perforación en V y lámina áurea en espiral de la fosa 2. b) La Magdalena: Inhumación individual de una mujer joven en fosa con
nicho (Foto: Heras, Galera y Bastida, 2014, p. 218). Delante de su cara fue hallado un botón de marfil prismático en V y un punzón de cobre (e)
(Foto: Heras, Cubas y Bastida, 2014: 196).

312 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
un poder que justifica las diferencias sociales y econó- mente un centenar y medio de individuos recuperados
micas entre los grupos (Garrido y Muñoz, 2000, p. 296). de registros calcolíticos en los que hay nuevos estudios,
Desgraciadamente la mayoría de los hallazgos madrile- como la multitudinaria fosa colectiva de El Perdido (n=
ños proceden de excavaciones antiguas y están descon- 78) (Sonlleva et al., 2014; La Voz del Henares, 2016) o la
textualizados. Sin embargo, en un hoyo vallisoletano de cueva de El Rebolosillo (Pérez, 2015) (n=21)). Pero por las
La Calzadilla, la anecdótica presencia de restos huma- limitaciones de este texto y, a sabiendas de la escasa
nos en combinación con un considerable número de información disponible, intentamos extraer algunas
vajillas fracturadas, cerámica simbólica y fauna singu- conclusiones de los estudios sobre los individuos cam-
lar ha podido representar un acto de homenaje y clau- paniformes (n) hasta ahora publicados: Ciempozuelos
sura de todo un linaje campaniforme, donde no sólo la (n=4), Camino de las Yeseras (n=18), Humanejos (n=13?),
cerámica, si uno hueso de uro fue considerado como La Magdalena (n=9), Salmedina (n=7?); el Juncal (n=1?)
una reliquia. Siendo en este caso depósitos mucho más (Sampedro y Liesau, 1898; Gómez et al., 2011; Flores y
modestos que en otros ámbitos europeos, no se alejan Garrido, 2014; Heras, Galera y Bastida 2011; 2014a; Mar-
de conceptos simbólicos e ideológicos similares a los de tínez et al., 2015).
otros grupos campaniformes continentales o atlánticos Mientras que en los enterramientos colectivos cal-
(Delibes y Guerra, 2004; Liesau, Guerra y Delibes, 2013). colíticos en hoyo se observa una presencia notoria de
Tanto en unos como en otros rituales, los análisis de mujeres, y sobre todo de mujeres asociadas con uno o
contenidos son contundentes y demuestran la prepara- varios infantiles, (Camino de las Yeseras, Humanejos),
ción y el consumo de diferentes comidas y brebajes alco- los hombres aparecen de forma ocasional (Camino de
hólicos, incluidos a la tumba en el momento del sepelio las Yeseras, Humanejos)(Gómez et al., 2011; Blasco et
(Bueno et al., 2005; Guerra, 2006; Rojo et al., 2006). al., 2014). Están presentes todas las categorías de edad,
desde infantiles I y II, juveniles y adultos jóvenes, ya
5.4. las gentes campaniformes: de la que la mayoría no alcanzan la madurez o a la senilidad.
antropología física a los modos de vida Parece muy probable que los vínculos materno-filiales
Desde la mera recolección y estudio de los cráneos sean la tendencia dominante en los sepelios colectivos,
humanos hace más de un siglo a los resultados de los confirmación que se espera obtener en breve, gracias a
estudios antropológicos actuales se ha logrado un los análisis de ADNmt en curso.
avance verdaderamente espectacular. En los trabajos Excepto en algún caso aislado, en la mayoría de
de campo ha sido fundamental abordar desde la pers- las tumbas colectivas calcolíticas destaca la ausencia
pectiva tafonómica los enterramientos, la asignación generalizada de ajuares en materiales no perecederos.
de elementos esqueléticos a individuos, como todo el Como norma, destaca el depósito en un lugar central
trabajo posterior de laboratorio para la determinación del hoyo de piedras de molino, no necesariamente
de la edad, género, paleodietas, patologías, o los mar- amortizados cuando son ¿arrojados? al fondo de la
cadores de estrés, y de movilidad, etc. El nivel de infor- fosa. Entre posibles ofrendas perecederas se encuen-
mación es cada vez más preciso sobre los individuos y tran granos de trigo desnudo, cebada y gramíneas sil-
permite en algunas ocasiones determinar incluso su vestres (Peña- Chocarro, Ruiz y Sabato, 2011). Probable-
filiación. Eso sí, los resultados pueden variar sustancial- mente reflejen una carga simbólica como una ofrenda
mente en función de las condiciones de conservación de tránsito o alimentaria, a la vez que muestran una
de los esqueletos y los métodos empleados, y donde identidad laboral, dado que muchas mujeres debieron
todavía los resultados han sido poco esclarecedores dedicarse de forma intensiva a la molienda del cereal
(Blasco et al. 2013, p. 45). y otras actividades manuales, como demuestran sus
Las últimas excavaciones en extensión han revelado entesopatías en sus brazos y manos. Los hombres se
otro dato interesante y es que el mundo funerario cal- ven más afectados en las clavículas y extremidades
colítico en la Meseta sigue siendo bastante pobre en inferiores a causa de levantamientos de pesadas cargas
manifestaciones funerarias. Si bien es cierto, que las (Gómez et al., 2011). Los primeros análisis de paleodie-
tumbas campaniformes o no campaniformes no son tas apuntan a una ingesta rica en nutrientes vegetales
lo suficientemente significativas para representar una y pobre o media en carne roja de las mujeres frente a
población real en alguno de los momentos de ocupa- los varones (Trancho y Robledo, 2011). La población de
ción dejan, al menos entrever, cambios interesantes en Camino de las Yeseras (n=88) muestra los episodios de
Camino de las Yeseras. Se confirma una hipótesis gene- estrés habituales — hipoplasias del esmalte, criba orbi-
ralmente asumida pero no probada, que es el cambio talia —, y destaca en presentar una baja tasa en caries
a la individualización, pero el abandono de la inhuma- dentales (Gómez et al., 2011).
ción colectiva ocurre de forma gradual. Hasta la fecha En los enterramientos campaniformes aparecen
se dispone de estudios antropológicos de aproximada- mayoritariamente varones jóvenes, adultos y maduros,

CORINA LIESAU VON LETTOW-VORBECK  CAMPANIFORME Y CIEMPOZUELOS EN LA REGIÓN DE MADRID 313


FIG. 6 Cráneos de individuos campaniformes con posibles o evidentes huellas de violencia (a-c): a) Esplacnocráneo de varón senil del hipogeo
del área funeraria 1 de Camino de las Yeseras con trauma en la nariz y una posterior desviación de los nasales. b) Cráneo de un varón adulto
de Humanejos lesionado por un útil contundente que ha seccionado la cortical en el borde superior, mientras que el inferior evidencia una
avulsión del frontal por apalancamiento. c) Cráneo de adulto maduro de Ciempozuelos con una trepanación poligonal incisa (Fotos en Liesau
et al., 2014, figs.3-5). d) Cráneo en norma superior de la mujer inhumada en la covacha del área funeraria 2 con una deformación intencionada
en la infancia que ha provocado el aplastamiento del occipital un ensanchamiento de los parietales (Foto: Gómez et al., 2011, Fig. 45). e) Falange
proximal de un individuo de gran talla del área 21 de Camino de las Yeseras en comparación con otra de una talla estándar (Foto: J. L. Gómez).
f) Reconstrucción hipotética del varón de gran talla recuperado en Camino de las Yeseras, según Consuegra y Díaz del Río (2013, p. 68).

314 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
mientras que los infantiles de corta edad y las mujeres las Yeseras que presenta una desviación de los huesos
están claramente infrarrepresentados (Camino de las nasales, posiblemente causado por un fuerte trauma
Yeseras, Humanejos). También resulta significativo que en la nariz (Fig. 6a), mientras que otro hombre de com-
varios de ellos sean adultos maduros, incluso superen plexión robusta de Humanejos sobrevivió a una lesión
los 60 años de edad. Aunque la información antropo- craneal con un arma afilada que le arrancó parte del
lógica es a veces muy limitada por la alteración recu- hueso frontal (Fig. 6b). La trepanación con superviven-
rrente de las tumbas, parece bastante probable que cia de otro varón maduro de Ciempozuelos alude a otro
destacaron, además de por su avanzada edad, por ser posible trauma o acto de violencia (Fig. 6c). Otro registro
personajes claves por su conocimiento, experiencia, llamativo es el de otro varón adulto recuperado de una
poder y linaje. Todo ello puede ser justificativo para fosa colectiva de Camino de las Yeseras. Se trata de un
ejercer el control sobre la producción e intercambio de hombre que sufrió probablemente de gigantismo, tal
determinados recursos en su propio beneficio y de la vez a causa de una alteración hormonal y, desde luego,
comunidad, o ser merecedores de esas pompas fúne- debió ser una visión impactante para la población tener
bres al haber protagonizado o ser víctimas de deter- que alzar vista a un hombre que podía superar los 2 m.
minados enfrentamientos violentos. En este sentido de estatura frente a la media de los hombres no supe-
no pasa desapercibido un varón senil de Camino de raba 1,60 cm y la de las mujeres con 1,50 m (Fig. 6f y f).

FIG. 7 Camino de las Yeseras: Inhumación doble en covacha del área funeraria 2, a) mujer de entre 20 y 30 años de edad en decúbito
lateral con un infantil (1 a 5 años) bajo su cadera y piernas. La mujer reposa sobre una almohada de gramíneas y tiene entre sus brazos
dos cuencos superpuestos que se muestran arriba en la figura b). El cuenco inferior estaba bocabajo sobre el niño al fondo de la covacha. (Foto:
a, de Argea S.L.).

CORINA LIESAU VON LETTOW-VORBECK  CAMPANIFORME Y CIEMPOZUELOS EN LA REGIÓN DE MADRID 315


La presencia de las mujeres en los registros campa- todo vegetariano, enriquecido con un aporte lácteo
niformes ha aportado grandes novedades en torno a su en su dieta pero, en términos generales, no muestra
rol en las comunidades calcolíticas. Gracias a los estu- importantes diferencias en relación con otras mujeres
dios antropológicos abandonamos, por fin, uno de los no campaniformes (Trancho y Robledo, 2011, p. 145).
tópicos clásicos que postulan a la sociedad campani-
forme como constituida fundamentalmente por gue- 5.5. los ajuares campaniformes en las tumbas
rreros- arqueros, que implantan un nuevo orden social de madrid: una sociedad plural
e ideológico sobre las comunidades del III milenio BC En estas breves líneas no podemos a exponer cada
todavía muy arraigadas en costumbres neolíticas. Sin uno de los ajuares característicos de las comunida-
embargo, dentro de esta todavía limitada muestra se des campaniformes, remitiéndonos a las numerosas
han podido perfilar diferentes categorías sociales en tesis doctorales y trabajos mencionados al inicio del
las mujeres, donde la mera ausencia de vajillas cam- texto. Destacamos, por tanto las novedades que, lejos
paniformes no debe de ser el Leitmotiv de excluirlas de de poder encajarse en los patrones tradicionalmente
este selecto círculo. Pueden ser portadoras de puñales, definidos, nos hablan de una gran variabilidad de ritos
y punzones, e incluso presentar cinabrio, como algu- y ajuares, incluso en un mismo yacimiento. Faltan
nos de los infantes con los que comparten la tumba, y muchos contextos por estudiar y este breve esbozo tan
donde infantiles con punzones de cobre en sus manos solo pretende mostrar una pluralidad social con catego-
marcan ya un claro hito hacia el estatus hereditario rías y formas de liderazgo pendientes de definir, dada la
y de género de las sociedades argáricas (Liesau et al., gran complejidad de sus ritos funerarios.
2015). Las incertidumbres empiezan con quién recibe
Aunque en el ámbito funerario campaniforme son sepultura cuando, a pesar de haberse excavado grandes
los individuos masculinos los mejor representados, yacimientos, siguen siendo pocos los individuos inhu-
también hay necrópolis como la Magdalena donde ocu- mados. Otra cuestión a discutir es la propia cerámica,
rre precisamente lo contrario: de 5 tumbas se han recu- pilar básico para diferenciar a unos y a otros: la inclu-
perado 11 individuos, de los que 6 son mujeres, 1 hombre, sión de piezas campaniformes impresas o incisas refle-
1 infantil y 3 indeterminados (Heras, Galera y Bastida, jan un patrón, ¿pero cuál es el patrón de aquellos que se
2011, 2014a; Cabrera, Galera y Heras et al., 2014). Una entierran con formas campaniformes lisas? ¿Acaso solo
inhumación intacta presenta una joven con un punzón recibieron pinturas efímeras para el ritual funerario y
de cobre y un botón de marfil como ajuar, además de ello qué implica en relación con aquellos que reciben
una cerámica lisa (Fig. 5b y e). En las demás necrópolis piezas con decoraciones permanentes?
la representatividad femenina es visiblemente menor Otra gran incertidumbre es la alteración de las tum-
y en tumbas masculinas relevantes, las mujeres que les bas para el traslado de los difuntos. ¿Cómo podemos
acompañan juegan un papel secundario en su posición, hacer una lectura social con toda la problemática que
como por sus ajuares. Parece probable que en estas tum- conlleva, si los objetos de cobre más preciados en ese
bas dobles primen los lazos de consanguinidad con el traslado de difuntos, tan sólo fueron un préstamo tem-
líder y la consideración de la mujer como progenitora poral a los muertos y vuelven a ser reintegrados des-
del linaje. pués en el mundo de los vivos? ¿Acaso esto explica por
Muchas mujeres campaniformes murieron siendo qué yacimientos como Camino de las Yeseras no pre-
adultas jóvenes, patrón habitual para todas las socieda- sente armas, pero si abundantes objetos suntuosos?
des preindustriales, relacionado con las dificultades de De los nuevos registros funerarios publicados se
parto, entre otras (Aliaga, 2014). De momento, las mues- puede observar como la individualización y asociación
tras esqueléticas son muy limitadas para extraer con- de ajuares a cada inhumado cobra mucha importan-
clusiones sobre marcadores de estrés, pero en Camino cia. Afecta a hombres y algunas mujeres, inhumados
de las Yeseras destaca una joven mujer del área funera- de forma individual, aunque esto no se hace para los
ria 2, que no evidencia una actividad física notable en infantiles que siempre están acompañados (Aliaga
sus brazos. Sin embargo, no fue una persona corriente et al., 2015). El ajuar cerámico es escaso — uno o a dos
sino es un caso único y extraordinario para el campani- cuencos — en aquellos que se inhuman en tumbas sen-
forme europeo, al presentar una deformación craneal cillas y con una menor inversión de trabajo como las
inducida en su infancia que ha provocado un ensan- covachas o fosas (Camino de las Yeseras).
chamiento de los parietales. Descartado un proceso En covachas de mayor tamaño o fosas se pueden
patológico, esta deformación se debe exclusivamente encontrar hombres y algunas mujeres que, en Camino
a criterios culturales o estéticos (Gómez et al., 2011, de las Yeseras, comparten el área funeraria con aquellos
p. 130; Liesau et al., 2015). Los resultados de los análisis inhumados en grandes hipogeos. Un vaso y un cuenco
de paleodieta en esta mujer indican un consumo sobre como ajuar representarían otro nivel o función social

316 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 8 a) vista aérea del área funeraria 2 de Camino de las Yeseras. En el Centro del perímetro de la estructura se ubica el hipogeo y en los
laterales varias covachas. (Foto: Argea, S.L.); b) Hipogeo con acceso escalonado del área funeraria 2 en cuyo interior se localizó una inhumación
individual de un joven con un tocado áureo alrededor de su cabeza (c) y junto a ella una cazuela estilo Ciempozuelos con decoración simbólica
de ciervos y ciervas o ciervos con las astas muedadas (d); e) Selección de piezas en materia dura de origen animal procedentes de diferentes
tumbas: N.º 1,5,7,8: Camino de las Yeseras, ajuar del joven recuperado en el hipogeo de la figura 8b; botón hemiesférico con perforación en
V y cuentas de collar, todo ello realizado en marfil de elefante antiguo. N.º 4: Camino de las Yeseras, botón con dos pequeños apéndices y
perforación simple realizado en diente de cachalote. N.º 2, 3, 9,10 y 11: Botones de caparazón de tortuga y cuentas de collar de dos tumbas
de Humanejos con inhumaciones masculinas que contienen importantes ajuares campaniformes, actualmente en fase de estudio. Están
realizados en marfil de elefante antiguo.

CORINA LIESAU VON LETTOW-VORBECK  CAMPANIFORME Y CIEMPOZUELOS EN LA REGIÓN DE MADRID 317


donde también pueden estar presentes piezas de cobre lizadas a partir de materia dura de origen animal. La
-un punzón para mujeres o un puñal en hombres-, ade- región de Madrid presentaba un auténtico vacío de
más de morteros, molinos o cerámica lisa (Camino de estos ornamentos, cuestión que se ha superado con
las Yeseras). las adecuadas técnicas de recuperación. Como uno de
En una categoría propia se sitúan varones jóvenes nuestros objetivos era poder discriminar su origen, los
o adultos maduros y seniles que suelen presentar el análisis arqueométricos han revelado que gran parte
clásico set con cazuela, vaso y cuenco, o sólo cazuela de estos registros corresponden a marfil de elefante
(Humanejos, Camino de las Yeseras, Salmedina) (Fig. 5a antiguo (Fig. 8e; 1, 2, 3 y 5-11), aunque también hay de
y c). No todos presentan armas, pero aquellos que apa- elefante africano (Camino de las Yeseras y Ciempo-
recen con puntas de Palmela, suelen tener también un zuelos) (Ríos y Liesau, 2011; Liesau y Moreno, 2012; Lie-
puñal y brazal de arquero. Eventualmente tienen tam- sau, 2016). La similitud tipológica y tecnológica de las
bién algún elemento de adorno o de prestigio como cuentas entre Camino de las Yeseras y Humanejos y
cuentas de collar o botones en marfil con perforación en su abundancia podrían indicar la existencia de algún
V. En el ámbito madrileño, la variscita no ha podido ser taller local en esta región. Pero los resultados también
relacionada con inhumaciones campaniformes, como si confirman extensas redes de intercambio por las que
ocurre en el valle de Huecas (Bueno et al., 2005, p. 74-75). llegan al interior peninsular piezas elaboradas en mar-
Lo más próximo a lo que pueden representar linajes fil exógeno, como el elefante africano. Así mismo, un
o grupos de liderazgo están aquellos personajes que botón realizado en diente de cachalote apunta con toda
desbordan en número los ajuares del tradicional set probabilidad a unas redes de intercambio en las que,
como también el propio package. Destacan entre otros, además de otros registros, llegan estos preciados obje-
los elementos suntuosos como las cuentas o placas tos del estuario del Tajo (Fig. 8e, 4) (Liesau, 2016).
de oro, piezas de marfil a lo que hay que añadir el uso Por último, unos materiales a los que hasta la fecha
del cinabrio como otro ítem importante en los rituales se les ha prestado escasa atención, son los pigmentos
funerarios del ámbito madrileño. En su condición de rojos. El análisis de sedimentos, adherencias a huesos
arqueros-guerreros, destaca un varón maduro acompa- humanos, cerámica o industria ósea, ha dado como
ñado por una mujer joven de Humanejos. Junto a él un resultado que la mayoría de ellos son cinabrio, aunque
importante lote cerámico, además de una extraordina- también hay mezclas con ocres férricos (Ríos y Lie-
ria panoplia (Gómez et al., 2011; Blasco, Montero, Flores, sau, 2011; Liesau y Blasco, 2012; Liesau, 2016). Los resul-
2016). Su cuerpo estaba profusamente espolvoreado tados han sido contundentes en avalar vestigios de
con cinabrio y a sus pies una cazuela envuelta en un cinabrio para las tumbas más relevantes de Camino
posible cinturón o textil, dado que numerosos botones de las Yeseras, Humanejos, Ciempozuelos y La Mag-
y cuentas estaban colocados en fila por encima y por dalena. Un mineral escaso, actualmente en estudio, y
debajo de ella. Por su tipología presenta una clara filia- probablemente de procedencia lejana (Almadén) que
ción atlántica y por el rito, parece muy acorde con los representa otro elemento más en la lista de los lotes de
hallazgos de mortajas, prendas de vestir o casacos recu- prestigio (Fig. 5a). Aquí, por tanto, oro, marfil y cinabrio
perados en la gruta 1 de San Pedro do Estoril reinterpre- cobran entidad propia para aquellas tumbas de líderes
tados por V. Gonçalves (2005). que, una vez colocados los cuerpos y sus ajuares, fueron
Las recientes excavaciones revelan otro aspecto espolvoreados con el polvo triturado del mineral con-
destacable para esta región. Un nutrido grupo de tum- forme a unas normas bien establecidas que rigen sus
bas incluyen orfebrería áurea, ajuar que parece estar pompas fúnebres.
reservado sólo a los varones (Camino de las Yeseras,
Salmedina, Humanejos) (Fig. 5c). Uno de los casos más
espectaculares es un joven inhumado en un hipogeo de 6. REFLEXION FINAL
Camino de las Yeseras con un tocado o diadema de oro A pesar de las excavaciones en extensión de los últi-
compuesta por una veintena de piezas de origen alu- mos años, el registro campaniforme en los espacios
vial y una cazuela con decoración simbólica de ciervos domésticos y productivos refleja una continuidad em
que alternan con ciervas o ciervos con las astas muda- modos de vida con la etapa tradicionalmente definida
das (Liesau et al., 2008; Blasco y Ríos, 2010) (Fig. 8c y d). como precampaniforme y el pleno apogeo de Ciem-
Además de las placas o láminas perforadas, las piezas pozuelos. Queda pendiente si asisten o protagonizan
más frecuentes son pequeñas láminas de oro enro- el fin de los recintos de foso. Su concepto del rito de la
lladas formando cuentas (Humanejos, Camino de las muerte muestra una nueva perspectiva que enfatiza al
Yeseras) o tiras en espiral (Salmedina) (Fig. 5c). individuo frente a sus contemporáneos no campanifor-
Otra novedad son los resultados un tanto sorpren- mes. Pero este proceso se produce de forma gradual, en
dentes de los análisis en botones en V o cuentas rea- cuyos inicios sigue vivo el espíritu de las inhumaciones

318 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
colectivas y el traslado de los huesos de los ancestros y ter comunal y confunden a los arqueólogos, cuando
es, por tanto, nada nuevo. No obstante con el desarro- diferentes estilos cerámicos muestran una aparente
llo de Ciempozuelos, se manifiesta una mayor preocu- sincronía en su hábitat y en los registros funerarios.
pación en dar visibilidad a sus estructuras funerarias, Pero esta reflexión nos obliga también a valorar si
incluso en demandar amplias áreas funerarias entre las aquellas estructuras sin restos humanos o con unas
que distinguen tumbas principales de otras de menor pocas esquirlas óseas corresponden realmente a tum-
rango. Son panteones, espacios de los muertos respeta- bas primarias, o si son más bien estructuras que cus-
dos por los vivos para celebrar allí actos de comensali- todian temporalmente a los muertos envueltos en sus
dad a lo largo del tiempo. fardos o esteras. Allí están, en la casa de los muertos, a
Las tumbas campaniformes de la región madrileña la espera de ser inhumados con otros allegados, o hasta
destacan por una gama muy variable de ajuares, pero a que se finaliza la preparación del profundo hipogeo que
su vez también por la abundancia de piezas de cobre y demandan y que requiere del esfuerzo de toda la comu-
adornos exóticos. Representan indudablemente a una nidad para su clausura (tumba 9 de Humanejos y A-21
elite, de personajes variados, y ¡bastante numerosos! de Camino de las Yeseras).
que acumula un poder y prestigio sentando con ello Con un, a veces obsesivo trasiego de los ancestros o
el germen de otro nuevo criterio diferenciador como los huesos que quedan de ellos y sus vajillas fractura-
es el principio hereditario. Pero como señala G. Delibes das, nos encontramos con unos registros cada vez más
(2011, p. 48) esta riqueza puede también deberse al con- pobres que pueden ser confundidos con tumbas expo-
trol de algunos recursos críticos como el metal o la sal. liadas o vertidos en hoyos simples. Pero para librarse de
Aquí podríamos añadir alguno más, como la posible lo que en su día representaron esas piezas decoradas,
explotación y elaboración de piezas de marfil integrada sus cerámicas simbólicas, incluso aquellos huesos ani-
en redes de intercambio a escala regional o suprarre- males custodiados como reliquias de un linaje, se obli-
gional. De acceso restringido a personajes relevantes, gan a celebrar otro rito en el que no falta el consumo
sobre todo hombres, exhiben estos nuevos y capricho- de carnes tiernas y libaciones con brebajes alcohólicos.
sos ornatos en vida o en el rito de la muerte. Solo así, los recuerdos de los ancestros, custodiados
Si sumamos a estos registros la frecuente aparición generación tras generación, pueden quedar sellados
de ornatos áureos, incluso en varias tumbas de un yaci- para siempre en una ceremonia de clausura digna de
miento, esta riqueza tampoco parece un dato casual. todo aquello que en su día representaron.
Probablemente refleje un control de la extracción y En agradecimiento a la amable invitación del profe-
manipulación de algunos recursos auríferos aluviales sor Victor Gonçalves a contribuir en este homenaje con-
de la cuenca alta del Henares o de algunos tramos del cluimos esta aportación con un abanico de reflexiones
Tajo. Si estas élites las disfrutan en beneficio propio y finales que cuestionan más de lo que aportan, pero que
como valioso elemento de trueque, no es de extrañar responden a multitud de observaciones en el estudio
que en sus necrópolis sumemos al package otro ele- de unas manifestaciones funerarias que siguen siendo
mento codiciado, el cinabrio. Un privilegio del que dis- tan enigmáticas y expresivas como desde el primer día
frutan unos pocos, pero que, además de su potente colo- de su descubrimiento.
rido cargado de connotaciones simbólicas, adquiere
otra dimensión cuando asistimos a su complejo rito del
traslado póstumo de los muertos. NOTA
La vajilla campaniforme no deja de ser una vajilla 1 Trabajo realizado en el marco del proyecto HAR2016-77600-P: La
extraordinaria, empleada para el uso funerario y en sociedad calcolítica en el interior peninsular:Origen y desarrollo
ceremonias complejas. Se adjunta a los difuntos de de los grandes poblados de la Prehistoria Reciente. Estudios inter-
disciplinares. Ministerio de Economía y Competitividad. Gobierno
forma diferente, según los cánones establecidos en
de España
cada lugar, género y categoría social. Pero si en la mayo-
ría de los grandes yacimientos su presencia fuera de las
tumbas se limita a un puñado de pequeños fragmentos,
cabe entonces preguntarse, si estas piezas, no son vaji- BIBLIOG RAFÍA

llas desechadas en algún evento de los vivos, sino fruto ABARQUERO MORAS, F. J.; GUERRA DOCE, E.; DELIBES DE CASTRO, G.;
PALOMINO LÁZARO, Á. L; DEL VAL RECIO, J. (2012) – Arqueología de
de una deliberada recolecta del ámbito de los muertos.
la sal en las Lagunas de Villafáfila (Zamora): Investigaciones sobre
Representan vajillas fracturadas en ceremonias que
los cocederos prehistóricos. Valladolid, Junta de Castilla y León.
celebran la recuperación de un difunto para su trasla- Arqueología en Castilla y León, Monografías 9.
dado a otra morada. Esos pequeños fragmentos son los ALIAGA ALMELA, R. (2014) – Sociedad y Mundo Funerario en el III
que mantienen viva la memoria de los ancestros y serán y II Milenio a.C. en la región del Jarama. British Archaeological
custodiados durante generaciones en cabañas de carác- Reports, International Series, 2630. Archaeopress, Oxford.

CORINA LIESAU VON LETTOW-VORBECK  CAMPANIFORME Y CIEMPOZUELOS EN LA REGIÓN DE MADRID 319


ALIAGA ALMELA, R.; LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.; RÍOS BLASCO BOSQUED, C.; LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.; RÍOS
MENDOZA, P.; BLASCO BOSQUED, C.; GALINDO, L. (2015) –Infant MENDOZA, P. (eds.) (2011) – Yacimientos calcolíticos con
Burials during the Copper and Bronze Ages in the Iberian campaniforme en la Región de Madrid: Nuevos estudios.
Jarama River Valley: A Preliminary Study about Childhood in Patrimonio Arqueológico de Madrid, 6. Universidad Autónoma
the Funerary Context during III–II millennium BC. In SÁNCHEZ de Madrid. Madrid.
ROMERO, M.; ALARCÓN GARCÍA, E.; ARANDA JIMÉNEZ, G. (eds.) – BLASCO BOSQUED, C.; LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.; RÍOS
Children, Spaces and Identity. Oxbow Books, Oxford, p. 243-260. MENDOZA, P. (2013) – Achievements and blunders in the
ALMAGRO-GORBEA, M. (2001) – El Gabinete de Antigüedades: application archaeometric techniques for the study of a
colecciones y anticuarios. In ALMAGRO-GORBEA, M. (ed.) – Tesoros chalcolithic site with Bell Beakers In PRIETO MARTÍNEZ, M. P.;
de la Real Academia de la Historia. Real Academia de la Historia SALANOVA, L. (coords.) – Current researchers on Bell Beakers.
y Patrimonio Nacional, Madrid, p. 45-58. Proceedings of the 15th International Bell Beaker Conference: From
ANES y ÁLVAREZ DE CASTRILLÓN, G. (2001) – La Real Academia de Atlantic to Ural. 5th-9th May 2011, Poio (Pontevedra, Galicia, Spain).
la Historia: pasado y presente. In ALMAGRO-GORBEA, M. (ed.) – Galician ArchaeoPots, Santiago de Compostela, p. 41-50.
Tesoros de la Real Academia de la Historia. Real Academia de la BLASCO BOSQUED, C.; LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.; RÍOS
Historia y Patrimonio Nacional, Madrid, p. 25-32. MENDOZA, P. (2014) – El Horizonte campaniforme en la Región
de Madrid a la luz de las nuevas actuaciones. Actas de las
ANTÓN FERRÁNDIZ, M. (1897) – Cráneos antiguos de Ciempozuelos.
IX Jornadas de Patrimonio Arqueológico de la Comunidad
Boletín de la Real Academia de la Historia XXX, p. 467-483.
de Madrid, Madrid, p. 105-126.
ARRIBAS, R. (2010) – El yacimiento arqueológico de la Edad del Bronce de
BLASCO BOSQUED, C.; GALINDO, L.; MARCOS SÁNCHEZ, V.; RÍOS
Pontón Chico, Seseña, Toledo. In MADRIGAL, A.; PERLINES, M. (eds.) –
MENDOZA, P.; LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C. (2016) –
Actas de las II Jornadas de arqueología de Castilla-La Mancha (Toledo
Ampliando el registro del Neolítico en el interior peninsular:
2007) 1. Toledo: Junta de Castilla-La Mancha, p. 72-100.
ocupaciones inéditas en tres yacimientos de la región de Madrid.
BERZOSA DEL CAMPO, R.; FLORES DÍAZ, M. (2005) – El conjunto
Del neolític a l’edat del bronze en el Mediterrani occidental.
funerario campaniforme del vertedero de «La Salmedina»
Estudis en homenatge a Bernat Martí Oliver. Servicio de
(Distrito Villa de Vallecas, Madrid). In ROJO-GUERRA, M.;
Investigación Prehistórica del Museo de Prehistoria de Valencia,
GARRIDO-PENA, R.; GARCÍA-MARTINEZ DE LAGRÁN, I. – SIP 119, p. 257-267.
El campaniforme en la Península Ibérica y su contexto europeo.
BLASCO BOSQUED, C.; MONTERO RUIZ, I.; FLORES FERNANDEZ, R.
Universidad de Valladolid, p. 481-494.
(2016) – Bell Beaker funerary copper objects from the center of
BLANCO GONZÁLEZ, A. (2014) – ¿Rutinas caseras o fiestas the Iberian Peninsula in the context of the Atlantic connections.
comunitarias? Tafonomía y remontaje de la cerámica calcolítica In GUERRA DOCE, E.; LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C. (eds.) –
de El Ventorro (Madrid) Complutum, 2014, Vol. 25 (1), p. 89-108. Analysis of the Economic Foundations supporting the Social
BLASCO BOSQUED, C. (ed.) (1994) – El Horizonte campaniforme de la Supremacy of the Beaker Groups. Proceedings of the XVII UISPP
Región de Madrid en el centenario de Ciempozuelos. Patrimonio World Congress (1-7 September, Burgos, Spain). Volume 6: Session
Arqueológico de Madrid, 2.Universidad Autónoma de Madrid. Madrid. B36. Oxford: Archeopress Archaeology, p. 19-35.
BLASCO BOSQUED, C.; CAPRILE, P.; CALLE, J.; SÁNCHEZ-CAPILLA, M.ª L. BUBNER, T. (1976) – Acerca de la población campaniforme de la
(1989) – Yacimiento campaniforme en el Valle del Manzanares Península Ibérica. Cuadernos de Prehistoria y Arqueología
(Perales del Río, Getafe, Madrid). Estudios de Prehistoria Castellonense 3, p. 51-59.
y Arqueología Madrileño, p. 83-113. BRÜCK, J. (1999) – Ritual and rationality: Some problems of
BLASCO BOSQUED, C.; BAENA PRESLEY, J.; LIESAU VON LETOW- interpretation in European Archaeology. Journal of European
VORBECK, C. (1998) – La Prehistoria madrileña en el Gabinete de Archaeology, 2 (3), p. 313–344.
antigüedades de la Real Academia de la Historia. Los yacimientos BUENO RAMÍREZ, P.; BARROSO BERMEJO, R.; BALBÍN BEHRMANN, R.
Cuesta de la Reina (Ciempozuelos) y Valdocarros (Arganda del Rey). de (2005) – Ritual campaniforme, ritual colectivo: La necrópolis
Patrimonio Arqueológico de Madrid, 3. Universidad Autónoma de cuevas artificiales del Valle de las Higueras, Huecas, Toledo.
de Madrid. Madrid. Trabajos de Prehistoria 62, n.º 2, p. 67-90.
BLASCO BOSQUED, C.; LIESAU VON LETOW-VORBECK, C.; DELIBES DE BUENO RAMÍREZ, P.; BARROSO BERMEJO, R.; BALBÍN BEHRMANN, R.
CASTRO, G.; BAQUEDANO PÉREZ, E.; RODRÍGUEZ CIFUENTES, M. de (2007-08) – Campaniforme en las construcciones hipogeas del
(2005) – Enterramiento campaniforme en ambiente doméstico: megalitismo reciente al interior de la Península Ibérica. Veleia,
el yacimiento de Camino de Las Yeseras (San Fernando de 24-25, p. 771-790
Henares, Madrid). In ROJO GUERA, R.; GARRIDO PENA, R.; GARCÍA- BUENO RAMÍREZ, P.; BARROSO BERMEJO, R.; BALBÍN BEHRMANN,
MARTÍNEZ DE LAGRÁN, I. (coords.) – El Campaniforme en la R. de (2010) – Entre lo visible y lo invisible: registros funerarios
Península Ibérica y su contexto europeo, Universidad de Valladolid de la Prehistoria Reciente de la Meseta Sur. In BUENO RAMÍREZ,
– Junta de Castilla y León, Valladolid, p. 457-479. P.; GILMAN, A.; MARTÍN MORALES, C.; SÁNCHEZ PALENCIA, F. J.
BLASCO BOSQUED, C.; DELIBES DE CASTRO, G.; BAENA PRESLEY, J.; (eds.) – Arqueología, sociedad, territorio y paisaje: Estudios sobre
LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.; RÍOS MENDOZA, P. (2007) – Prehistoria Reciente, Protohistoria y Transición al mundo romano
El poblado calcolítico de Camino de las Yeseras (San Fernando de en homenaje a M.ª Dolores Fernández-Posse. Madrid: CSIC,
Henares, Madrid). Un escenario favorable para el estudio de la p. 53-73.
incidencia campaniforme en el interior peninsular, Trabajos de CABRERA-JIMÉNEZ, C.; GALERA OLMO, V.; HERAS MARTÍNEZ, C. (2014)
Prehistoria, 64 (1), p. 151-163. – El Campaniforme en la submeseta sur: Estudio antropológico
BLASCO BOSQUED, C.; RÍOS MENDOZA, P. (2010) – La función del metal de los restos esqueléticos de la Magdalena I (Alcalá de Henares).
entre los grupos campaniformes. Oro versus cobre. El ejemplo de la Actas de las IX Jornadas de Patrimonio Arqueológico de la
Región de Madrid. Trabajos de Prehistoria, 67 (2), p. 359-372. Comunidad de Madrid, Madrid, p. 127-135.

320 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
CARMONA BALLESTERO, E. (2013) – Calcolítico en la Cuenca Media GERHARDT, K. (1953) – Die Glockenbecherleute in Mittel-und
del Arlanzón (Burgos, España). Comunidades campesina, procesos Westdeutschland. E. Schweizerbart’sche Verlagsbuchhandlung,
históricos y transformaciones. British Archaeological Reports, Stuttgart.
International Series 2559, Oxford. GÓMEZ PÉREZ, J. L.; BLASCO BOSQUED, C.; TRANCHO GALLO, G.;
CASTILLO, Alberto del (1928) – La cultura del vaso campaniforme. RÍOS MENDOZA, P.; GRUESO, I.; MARTÍNEZ, M.ª S. (2011) –
(Su origen y extensión en Europa). Barcelona. Los protagonistas. In BLASCO BOSQUED, C.; LIESAU VON LETTOW-
CHAPMAN, J. (2000) – Fragmentation in Archaeology. Routledge, New York. VORBECK, C.; RÍOS MENDOZA, P. (eds.) (2011) – Yacimientos
calcolíticos con campaniforme en la Región de Madrid: Nuevos
CONSUEGRA, RODRIGUEZ, S.; GALLEGO GARCÍA, M.; CASTAÑEDA
estudios. Patrimonio Arqueológico de Madrid, 6. Universidad
CLEMENTE, N. 2004: Minería neolítica en Casa Montero (Vicálvaro,
Autónoma de Madrid, p. 100-132
Madrid), Trabajos de Prehistoria, 61 (2), p. 121-140.
GONÇALVES, V. S. (2005) – Cascais há 5000 anos. Tempos, Símbolos
CONSUEGRA, RODRIGUEZ, S.; DIAZ DEL RÍO ESPAÑOL, P. (2015) –
e Espaços da Morte das antigas Sociedades Camponesas.
La cronología absoluta de la minería de sílex en Casa Montero
In GONÇALVES, V. S. (ed.): Cascais há 5000 anos. Cascais:
(Madrid). In GONÇALVES, V. S.; DINIZ, M.; SOUSA, A.C. (eds.) –
Câmara Municipal de Cascais, p. 63-195.
5.º Congreso do Neolítico Peninsular. Estudos & Memórias, 8,
p. 405-411 GUERRA DOCE, E. (2006) – Sobre la función y el significado de la
cerámica Campaniforme a la luz de los análisis de contenidos.
DELIBES DE CASTRO, G. (1977) – El vaso campaniforme en la Meseta
Trabajos de Prehistoria. 63: 1, p. 69-84.
Norte española. Studia Archaeologica, 46. Universidad de
Valladolid. Valladolid. GUERRA DOCE, E. (2016) – Salt and Beakers in the third millennium
BC. In GUERRA DOCE, E.; LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C. (eds.)
DELIBES DE CASTRO, G. (2011) – El pan y la sal. La vida campesina
– Analysis of the Economic Foundations supporting the Social
en el valle medio del Duero hace cinco mil años. Real Academia
de Bellas Artes de la Purísima Concepción de Valladolid. Valladolid. Supremacy of the Beaker Groups. Proceedings of the XVII UISPP
World Congress (1-7 September, Burgos, Spain). Volume 6: Session
DELIBES DE CASTRO, G.; DEL VAL RECIO, J. (2007-2008) – La explotación
B36. Oxford: Archeopress Archaeology, p. 95-110.
de la sal al término de la Edad del Cobre en la Meseta central
española: ¿fuente de riqueza e instrumento de poder de los jefes HARRISON, R. J. (1977) – The Bell Beaker Cultures of Spain and Portugal.
Ciempozuelos? Veleia. 24-25, p. 791-811. American School of Prehistoric Research Bulletin, 35, Cambridge-
Massachussets. 1977.
DELIBES DE CASTRO, G.; GUERRA DOCE, E. (2004) – Contexto y posible
significado de un cuenco Ciempozuelos con decoración simbólica HARRISON, R.; GILMAN, A. (1977) – Trade in the second and third
de ciervos hallado en Almenara de Adaja (Valladolid). Zona millennia b.C. between the Magreb and Iberia. In Ancient Europe
Arqueológica 4, p. 116-125. and the Mediterranean. Studies in honour of Hugo Wencker,
Warminster, p. 91-104.
DESELAERS, H. (1917) – Cráneos eneolíticos de Ciempozuelos. Boletín de
la Real Academia de la Historia, LXXI, p. 18-38. HERAS MARTÍNEZ, C.; GALERA OLMO, V.; BASTIDA RAMIREZ, A.
(2011) – La fase campaniforme del yacimiento de La Magdalena.
DESIDERI, J.; BESSE, M. (2010) – Swiss Bell Beaker Population
In BLASCO BOSQUED, C.; LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.;
Dynamics: Eastern or Southern Influences? Archaeological and
RÍOS MENDOZA, P. (eds.) (2011) – Yacimientos calcolíticos con
Anthropological Sciences, 2, p.157–173.
campaniforme en la Región de Madrid: Nuevos estudios.
DIAZ DEL RÍO ESPAÑOL, P. (2001) – La formación del paisaje agrario Patrimonio Arqueológico de Madrid, 6. Universidad Autónoma
en el III y II milenios BC. Arqueología, Paleontología y Etnografía. de Madrid, p. 17-22.
9. Comunidad de Madrid. Madrid.
HERAS MARTÍNEZ, C.; GALERA OLMO, V.; BASTIDA RAMIREZ, A. (2014a)
DIAZ DEL RÍO ESPAÑOL, P. (2003) – Recintos de fosos del III milenio AC – Enterramientos y ritual funerario en una necrópolis calcolítica
en la Meseta peninsular. Trabajos de Prehistoria, 60, n.º 2. Madrid;
con campaniforme en la submeseta sur: El yacimiento de
p. 61-78.
«La Magdalena I» (Alcalá de Henares). Actas de las IX Jornadas
FLORES FERNANDEZ, R. (2011) – El yacimiento de Humanejos (Parla, de Patrimonio Arqueológico de la Comunidad de Madrid.
Madrid). In BLASCO BOSQUED, C.; LIESAU VON LETTOW-VORBECK, Madrid. Museo Arqueológico Regional. Alcalá de Henares,
C.; RÍOS MENDOZA, P. (eds.) (2011) – Yacimientos calcolíticos con p. 213-227.
campaniforme en la Región de Madrid: Nuevos estudios. Patrimonio
HERAS MARTÍNEZ, C.; CUBAS, M.; BASTIDA RAMÍREZ, A. (2014b) –
Arqueológico de Madrid, 6. Universidad Autónoma
Signos y símbolos en el registro funerario: Ajuares de la necrópolis
de Madrid, p. 9-16.
calcolítica con campaniforme de «La Magdalena I»
FLORES FERNANDEZ, R.; GARRIDO PENA, R. (2014) – Campaniforme (Alcalá de Henares, Madrid). Actas de las IX Jornadas de Patrimonio
y conflicto social: Evidencias del yacimiento de Humanejos Arqueológico de la Comunidad de Madrid. Madrid. Museo
(Parla, Madrid). In p. 159-167. Arqueológico Regional. Alcalá de Henares, p. 187-198.
GARCÍA RIVERO, D. (2008) – Campaniforme y rituales estratégicos HURTADO, V. (2004) – El asentamiento fortificado de San Blas
en la Cuenca Media y Baja del Guadiana (Suroeste de la Península (Cheles, Badajoz). III Milenio a.C. Trabajos de Prehistoria, 61, 1,
Ibérica). British Archaeological Records, International Series, 1873. p. 141-155.
GARRIDO PENA, R. (2000) – El campaniforme en la meseta Central de la KUNST, M. (2013) – The Innovation of Copper Metallurgy on the
península Ibérica. (c 2500-2000 A.C.), British Archaeological Records, Iberian Peninsula: Its Significance for the Development of
International Series 892. Oxford. Social Complexity in the 3rd Millennium BC. In BURMEISTER, S.;
GARRIDO PENA, R.; MUÑOZ LÓPEZ ASTILLEROS, K. (2000) – Visiones HANSEN, S.; KUNST, M.; MÜLLER-SCHEESSEL, N. (eds.) –
sagradas para los líderes: Cerámicas campaniformes con Metal Matters. Innovative Technologies and Social Change
decoración simbólica en la Península Ibérica», Complutum, 11, inPrehistory and Antiquity. Menschen – Kulturen – Traditionen 12,
p. 285-302. Rhaden, p. 181-208.

CORINA LIESAU VON LETTOW-VORBECK  CAMPANIFORME Y CIEMPOZUELOS EN LA REGIÓN DE MADRID 321


LA VOZ DEL HENARES (2016) – Torres de la Alameda el hallazgo LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.; RÍOS MENDOZA, P.; VEGA DE
de un nuevo silo demuestra que el yacimiento arqueológico de MIGUEL, J.; MENDUIÑA GARCÍA, R.; BLASCO BOSQUED, C. (2014b)
El Perdido es mayor de lo que se pensaba. Información comarcal – Buscando los ancestros: La manipulación de los restos de las
del Corredor del Henares. http://www.lavozdelhenares.es/ tumbas campaniformes en Camino de Las Yeseras (San Fernando
index.php?option=com_content&view=article&id=8149 De Henares, Madrid). Actas de las IX Jornadas de Patrimonio
Consulta:20.12.2016. Histórico en la Comunidad de Madrid. Dirección General de
LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C. (2016) – Some prestige goods as Patrimonio Histórico. Comunidad de Madrid, Madrid, p. 137-148.
evidence of interregional interactions in the funerary practices LÓPEZ COVACHO, L.; ORTIZ DEL CUETO, J. R.; RODRÍGUEZ CIFUENTES,
of the Bell Beaker groups of Central Iberia. In GUERRA DOCE, E.; M. (1996) – El yacimiento prehistórico de Pedazo del Muerto
LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C. (eds) – Analysis of the Economic (Pinto Madrid). In VVAA, Reunión de Arqueología Madrileña S.C.,
Foundations Supporting the Social Supremacy of the Beaker Groups. Madrid, p. 213-215.
Proceedings of the XVII UISPP World Congress LORIANA; MARQUÉS DE 1942 – «Nuevos hallazgos de vaso
(1–7 September, Burgos, Spain): Volume 6 / Session B36, p. 69-94. campaniforme en la provincial de Madrid». Archivo español
LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.; PASTOR ABASCAL, I. (2003) – The de Arte y Arqueología, XV: 159-167.
Ciempozuelos Necropolis Skull: A Case of Double Trepanation? LOSADA, Helena 1976 – El dolmen de Entre términos (Madrid)».
International Journal of Osteoarchaeology, 13, p. 213-221. Trabajos de Prehistoria, 33. 209-221
LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.; BLASCO BOSQUED, C. (2011-12) MARTÍNEZ NAVARRETE, I. (1987) – Los primeros metalúrgicos.
– Materias primas y objetos de prestigio en ajuares funerarios In 130 años de Arqueología Madrileña. Real Academia de Bellas
como testimonios de redes de intercambio en el Horizonte Artes de San Fernando. Comunidad de Madrid, p. 60-81.
campaniforme. Cuadernos de Prehistoria y Arqueología de
MARTÍNEZ CALVO, V.; MORENO GARCÍA, E.; GALLEGO ESQUINAS,
la Universidad Autónoma de Madrid, 37-38, p. 209-222.
C.; LÓPEZ JIMÉNEZ, O. (2015) – El yacimiento inédito de El Juncal
LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.; BLASCO BOSQUED, C. (2015) – (Getafe). Primera aproximación. La Arqueología en el trazado
La diversidad campaniforme en el mundo funerario: algunos ferroviario del Sur de la Comunidad de Madrid. ADIF AV, Mare
ejemplos de la Cuenca Media/Alta del Tajo en el interior Nostrum: 243-280.
peninsular. ARPI, Arqueología y Prehistoria del Interior Peninsular,
MONTERO RUIZ, I. (2010) – Tecnología de la metalurgia de base cobre.
3, p. 272-286.
In MONTERO RUIZ, I. (coord.) – Manual de Metalurgia. Museo
LIESAU, C.; MORENO, E. (2012) – Marfiles campaniformes de Arquelógico Regional de la Comunidad de Madrid. Madrid,
El Camino de las Yeseras (San Fernando de Henares, Madrid). p. 161-188.
In BANERJEE, A.; LÓPEZ PADILLA, J. A.; SCHUHMACHER, T. X. (eds.)
MUÑOZ LÓPEZ-ASTILLEROS, K. (2002) – El hallazgo metálico de
– Elfenbeinstudien. Marfil y Elefantes en la Península Ibérica y el
«La Paloma» en el contexto de la Edad del Bronce del Tajo Central:
Mediterráneo occidental. Coloquio Internacional. Contribución
Una revisión actualizada. Estudios de Prehistoria y Arqueología
invitada. Museo Arqueológico de Alicante. Iberia Archaeologica,
Madrileñas 12, p. 79-93.
16. Faszikel 1, p. 83-94.
OBERMAIER, H. (1917) – El yacimiento prehistórico de Las Carolinas
LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.; GUERRA DOCE, E.; DELIBES DE
(Madrid). Memorias de la Comisión de Investigaciones prehistóricas
CASTRO, G. (2013) – Casual or ritual: The Bell Beaker deposit of
y paleontológicas, 16, p. 23-35.
La Calzadilla (Valladolid, Spain), Quaternary International, 330,
p. 88-96. http://dx.doi.org/10.1016/j.quaint. 2013.10.04. PEÑA-CHOCARRO, L.; RUIZ-ALONSO, M.; SABATO, D. (2011) –
Los macrorestos vegetales. In BLASCO BOSQUED, C.; LIESAU VON
LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.; BLASCO BOSQUED, C.; RÍOS
LETTOW-VORBECK, C.; RÍOS MENDOZA, P. (eds.)
MENDOZA, P.; GÓMEZ PÉREZ, J. L. (2014a) – Indicios de violencia
(2011) – Yacimientos calcolíticos con Campaniforme en la
en la región de Madrid en el marco del Calcolítico peninsular.
Región de Madrid: Nuevos estudios. Patrimonio Arqueológico
GLADIUS, n.º 34, p. 7-36.
de Madrid, 6.Universidad Autónoma de Madrid, p. 261-275.
LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.; BLASCO BOSQUED, C.; RÍOS
PÉREZ VILLA, A. (2015) – Pautas funerarias y demográficas de la
MENDOZA, P.; FLORES FERNÁNDEZ, R. (2015) – La mujer en el
Edad del Bronce en la Cuenca Media y Alta del Tajo. Bibliotheca
registro funerario campaniforme y su reconocimiento social.
Praehistorica Hispana, XXX1.
Trabajos de Prehistoria, 72 (1), p. 105-125, ISSN: 0082-5638 doi:
10.3989/tp.2015.12146. PRIEGO FERNÁNDEZ DEL CAMPO, C.; QUERO CASTRO, S. (1992) –
El Ventorro, un poblado prehistórico de los albores de la metalurgia.
LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.; BLASCO BOSQUED, C.; RÍOS
Estudios de Prehistoria y Arqueología Madrileñas, 8.
MENDOZA, P.; VEGA DE MIGUEL, J.; MENDUIÑA GARCÍA, R.; BLANCO
GARCÍA, J. F.; BAENA PRESLE, J.; HERRERA, T.; PETRI, A.; GÓMEZ RIAÑO, J. F., RADA; DELGADO, J. D.; CATALINA J. (1894) – Hallazgo
PEREZ, J. L (2008) – Un espacio compartido por vivos y muertos: prehistórico en Ciempozuelos». Boletín de la Real Academia
El poblado calcolítico de fosos de Camino de las Yeseras (San de la Historia, XXV, p. 436-450.
Fernando de Henares, Madrid). Complutum, vol. 18 (1), p .97-120. RÍOS MENDOZA, P. (2011) – Territorio y sociedad en la Región de Madrid
LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.; RÍOS MENDOZA, P.; ALIAGA durante el III milenio a.C. El referente del yacimiento de Camino
ALMELA, R.; DAZA PEREA, A.; LLORENTE RODRIGUEZ, L.; BLASCO de las Yeseras. Patrimonio Arqueológico de Madrid, 7. Universidad
BOSQUED, C. (2013) – Hut structures from the Bell Beaker horizon: Autónoma de Madrid.
housing, communal or funerary use in the Camino de las Yeseras RÍOS MENDOZA, P. (2013) – New dating of the Bell Beaker Horizon in
site (Madrid), in PRIETO MARTÍNEZ, M. P.; SALANOVA L. (coords.) – the region of Madrid. In PRIETO MARTÍNEZ, M. P.; SALANOVA L.
Current researchers on Bell Beakers. Proceedings of the (coords.) – Current researchers on Bell Beakers. Proceedings of
15th International Bell Beaker Conference: From Atlantic to the 15th International Bell Beaker Conference: From Atlantic to
Ural. 5th-9th May 2011, Poio (Pontevedra, Galicia, Spain). Galician Ural. 5th-9th May 2011, Poio (Pontevedra, Galicia, Spain). Galician
ArchaeoPots, Santiago de Compostela, p. 139-151. ArchaeoPots. Santiago de Compostela, p. 97-109.

322 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
RÍOS MENDOZA, P.; LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C. (2011) – SANGMEISTER, E. (1963) – La civilisation du Vase Campaniforme.
Elementos de adorno, simbólicos y colorantes en contextos Les Civilisations Atlantiques. Rénnes.
funerarios y singulares. In BLASCO BOSQUED, C.; LIESAU SANGUINO VÁZQUEZ, J.; OÑATE BAZTÁN, P. (2011) – Nuevos
VON LETTOW-VORBECK, C.; RÍOS MENDOZA, P. (eds.) (2011) – yacimientos campaniformes en el entorno de Cuesta de La Reina
Yacimientos calcolíticos con Campaniforme en la Región de (Valdemoro y Ciempozuelos, Madrid). In BLASCO BOSQUED, C.;
Madrid: Nuevos estudios. Patrimonio Arqueológico de Madrid, LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.; RÍOS MENDOZA, P. (eds.)
6.Universidad Autónoma de Madrid, p. 357-370. – Yacimientos calcolíticos con Campaniforme en la Región de
RÍOS MENDOZA, P.; LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.; BLASCO Madrid: Nuevos estudios. Patrimonio Arqueológico de Madrid, 6.
BOSQUED, C. (2014) – Funerary practices in the ditched enclosure Universidad Autónoma de Madrid, p. 23-27.
of Camino de las Yeseras: ritual, temporal and spatial diversity. SONLLEVA JIMÉNEZ, D.; GALERA OLMO, V.; HERAS MARTÍNEZ, C.
In VALERA, A. (ed.) – Recent Pre-history enclosures and Funerary (2014) – El enterramiento colectivo de época calcolítica del
Practices, Proceedings of the International Meeting held at yacimiento de «El Perdido» (Torres de la Alameda). Una visión
Gulbenkian Foundation (Lisbon, Portugal, november 2012). BAR desde la antropología física. In Actas de las IX Jornadas de
International Series, 2676, p. 139-148. Patrimonio Histórico en la Comunidad de Madrid. Dirección
RÍOS MENDOZA, P.; GARCÍA GIMÉNEZ, R.; ALIAGA ALMELA, R.; BLANCO General de Patrimonio Histórico. Comunidad de Madrid, Madrid,
GARCÍA, J. F. (2011) – Las cerámicas: caracterización y contenido. p. 175-186.
In BLASCO BOSQUED, C.; LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.; RÍOS TRANCHO GALLO, G.; ROBLEDO, B. (2011) – Reconstrucción
MENDOZA, P. (eds.) – Yacimientos calcolíticos con Campaniforme paleonutricional de la población del Camino de las Yeseras
en la Región de Madrid: Nuevos estudios. Patrimonio Arqueológico (San Fernando de Henares, Madrid). In BLASCO BOSQUED, C.;
de Madrid, 6. Universidad Autónoma de Madrid, p. 319-346. LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.; RÍOS MENDOZA, P. (eds.) –
ROJO-GUERRA, M.; GARRIDO-PENA, R.; GARCÍA-MARTINEZ DE Yacimientos calcolíticos con Campaniforme en la Región de
LAGRÁN, I. (coord.) (2005) – El campaniforme en la Península Ibérica Madrid: Nuevos estudios. Patrimonio Arqueológico de Madrid,
y su contexto europeo. Universidad de Valladolid. Junta de Castilla 6.Universidad Autónoma de Madrid, p. 133-153.
y León. VALIENTE CÁNOVAS, S. (2005-2006) – Algunos datos sobre la
ROJO GUERRA, M.; GARRIDO-PENA, R.; GARCÍA-MARTÍNEZ DE explotación de sal desde la Prehistoria hasta la Edad Media,
LAGRÁN, I. (2006) – Beer and Bell Beakers: drinking rituals in en la zona sur de Madrid y en el límite con Toledo. Boletín
Copper Age Inner Iberia. Proceedings of the Prehistoric Society 72, de la Asociación Española de Amigos de la Arqueología, 44,
p. 243-265. p. 49-62.
ROVIRA LLORENS, S. (1989) – Recientes aportaciones para el VALIENTE CÁNOVAS, S.; AYARZAGÜENA SANZ, M.; MONCÓ GARCÍA,
conocimiento de la metalurgia primitiva en la provincia de Madrid: C.; CARVAJAL GARCÍA, D. (2002) – Excavación arqueológica en
Un yacimiento campaniforme en Perales del Río (Getafe, Madrid). las salinas de Espartinas (Ciempozuelos) y prospecciones en su
Actas del XIX Congreso Nacional de Arqueología. Vol. I, p. 355-367. entorno. Archaia 2, p. 33-45.
ROVIRA LLORENS, S.; MONTERO RUIZ, I. (1994) – Metalurgia VALIENTE CÁNOVAS, S. (2009) – Estudio de las cerámicas a mano
campaniforme y de la Edad del Bronce en la Comunidad de decoradas de las Salinas de Espartinas -Ciempozuelos, Madrid.
Madrid. In BLASCO BOSQUED, C. (ed.) – El Horizonte Campaniforme In La explotación histórica de la sal: investigación y puesta en valor.
de la región de Madrid en el centenario de Ciempozuelos. UAM, Actas I Congreso Internacional. Salinas de Espartinas. Ciempozuelos,
Madrid. Patrimonio Arqueológico del Bajo Manzanares, 2, p. 137-171. Madrid. Madrid: Sociedad Española de Historia de la Arqueología,
ROVIRA LLORENS, S.; BLASCO BOSQUED, C.; RÍOS MENDOZA, P.; p. 207-236.
MONTERO RUIZ, I.; CHAMÓN, J. (2011) – La Arqueometalurgia. VVAA. (2014) – Actas de las IX Jornadas de Patrimonio Arqueológico
In BLASCO BOSQUED, C.; LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C.; RÍOS de la Comunidad de Madrid. Dirección General de Patrimonio
MENDOZA, P. (eds.) – Yacimientos calcolíticos con Campaniforme en Histórico. Museo Arqueológico Regional de la Comunidad
la Región de Madrid: Nuevos estudios. Patrimonio Arqueológico de de Madrid (15 y 16 de noviembre de 2012). Madrid.
Madrid, 6. Universidad Autónoma de Madrid, p. 291-317. VEGA DE MIGUEL, J.; BLASCO BOSQUED, C.; LIESAU VON LETTOW-
RUBIO DE MIGUEL, I. (1999-2000) – Las primeras sociedades agrícolas VORBECK, C.; RÍOS MENDOZA, P.; BLANCO GARCÍA, J. F.; MENDUIÑA
en Madrid: Neolítico y Calcolítico precampaniforme. Boletín de GARCÍA, R.; ALIAGA ALMELA, R.; MORENO GARCÍA, E.; HERRERA
la Asociación española de amigos de la Arqueología. N.º 39-40. T.; PETRI, A.; GÓMEZ PÉREZ, J.L. (2010) – La singular dualidad de
La Arqueología madrileña en el final del siglo XX: desde la enterramientos en el poblado de silos calcolítico de Camino de las
Prehistoria hasta el año 2000. Madrid, p. 105-126. Yeseras (San Fernando de Henares, Madrid), Munibe Suplemento.
SALANOVA, L. (2005) – Los orígenes del Campaniforme. Descomponer, Actas del Congreso Internacional sobre Megalitismo y otras
analizar, cartografiar. In ROJO GUERRA, R.; GARRIDO PENA, R.; manifestaciones funerarias contemporáneas en su contexto social,
GARCÍA-MARTÍNEZ DE LAGRÁN, I. (coords.) – El Campaniforme económico y cultural, 11 al 15 de Junio de 2007. Beasain. Idiazabal
en la Península Ibérica y su contexto europeo, Universidad de (Guipúzcoa), XXXIV, p. 7-36.
Valladolid – Junta de Castilla y León, Valladolid, p. 7-28. WOODWARD, A. (2002) – Beads and Beakers: Heirlooms and
SAMPEDRO, C.; LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C. (1998) – El relics in the British Early Bronze Age, Antiquity, 76, 294,
yacimiento campaniforme de la Cuesta de la Reina (Ciempozuelos). p. 1040-1047.
Los restos antropológicos. In BLASCO BOSQUED, C.; BAENA
PREYSLER, J.; LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C. – La Prehistoria
madrileña en el Gabinete de Antigüedades de la Real Academia
de la Historia. Los yacimientos Cuesta de la Reina (Ciempozuelos) y
Valdocarros (Arganda del Rey). Dpto. de Prehistoria y Arqueología
de la U.A.M. Patrimonio Arqueológico del Bajo Jarama, 3, p. 34-55.

CORINA LIESAU VON LETTOW-VORBECK  CAMPANIFORME Y CIEMPOZUELOS EN LA REGIÓN DE MADRID 323


REDEFINING CIEMPOZUELOS.
BELL-BEAKER CULTURE IN TOLEDO?
PRIMITIVA BUENO-RAMÍREZ
Area de Prehistoria. Universidad de Alcalá. Spain
p.bueno@uah.es

ROSA BARROSO BERMEJO


Area de Prehistoria. Universidad de Alcalá. Spain
rosa.barroso@uah.es

RODRIGO DE BALBÍN-BEHRMANN
Area de Prehistoria. Universidad de Alcalá. Spain
rodrigo.balbin@uah.es

324 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
R E S U M E N La cerámica campaniforme estilo Ciempozuelos es el grupo más representativo y
extenso de formas incisas del Sur de Europa. Los estilos que la acompañan son variantes con
mayor o menor calado, que se desarrollan de forma simultánea con los mismos códigos gráfi-
cos, contextos funerarios y habitacionales. Su definición material estrechamente asociada al
mundo funerario ha ido concretándose y matizándose en los aspectos que hemos resumido
aquí brevemente. Estos superan ampliamente tanto su definición geográfica clásica , como
su inserción en las dinámicas sociales y culturales de la Prehistoria Reciente. Uno de nuestros
objetivos es determinar el destacado papel de las áreas interiores de la Península en estas cro-
nologías. La representatividad de las decoraciones incisas en las cerámicas campaniformes de
la Meseta Sur es un potente argumento que sumado a otros (oro, cobre, marfil, ámbar, cinabrio),
refleja la necesidad de una profunda reinterpretación del impacto de los estilos ibéricos incisos
y su simbología en el conjunto del campaniforme europeo. Falta mucho camino por recorrer,
pero se ha abierto una vía que camina en direcciones muy semejantes a las que se establecen
en los contextos del III milenio cal BC. de Andalucía, Algarve o Alentejo donde los recintos de
fosos, los recintos amurallados, los dólmenes y los hipogeos son los elementos monumentales
y de trabajo colectivo que definen las relaciones sociales de los grupos que habitaron estos
espacios. En la situación actual, la agenda del Campaniforme Ciempozuelos, ha de abandonar
los tópicos del sigo XX (raza, sexo ,individualidad), para aportar referencias de carácter econó-
mico, social y ritual que permitan comprender las casuísticas poblacionales del interior penin-
sular, y su proyección tanto atlántica como mediterránea, lo que incluye también a Africa.
PALABRAS CLAVE: Ciempozozuelos. Cerámica incisa. Fórmulas simbólicas. III milenio cal. B.C.
Mundo funerario. Recintos de foso y poblados fortificados.

A B S T R A C T Ciempozuelos pottery forms the most representative and widespread group of


incised ware in southern Europe. The styles accompanying it are variations of greater or lesser
importance that developed at the same time as the graphic codes themselves, funerary sites
and settlements. Its material definition, closely associated with funerary deposits, has been
determined and nuanced in the aspects briefly described here. These go far beyond its classic
geographical definition and its insertion in social and cultural dynamics during recent prehis-
tory. One of our objectives has been to determine the major role played by sites in the inland
plateaus. The representativeness of figurative decorations on incised bell beakers in the south-
ern Plateau is a powerful argument to add to others (gold, copper, ivory, amber, cinnabar), and
reflect on the need for a profound re-interpretation of the impact of Iberian incised styles on
the symbolism of European bell beakers. Much still remains to be done, but a path has been
found that leads in very similar directions to those followed in the case of third millennium
sites in Andalusia, Algarve and Alentejo, where ditched enclosures, walled enclosures, dolmens
and hypogea are the monumental elements created by collective labour that defined the social
relations of the communities that lived in those areas. In this current context, the agenda of
Ciempozuelos bell beaker culture should abandon twentieth century clichés (race, sex, indi-
viduality) and contribute references of an economic, social and ritual nature to achieve a better
understanding of the population casuistic in inland Iberia and its projection towards both the
Atlantic and the Mediterranean, which also includes Africa.
KEY WORDS: Ciempozuelos. Incised ware. Symbolic formulas. III millennium cal. B.C. Funerary
remains. Ditches and walled enclosures.

PRIMITIVA BUENO-RAMÍREZ, ROSA BARROSO-BERMEJO, RODRIGO DE BALBÍN-BEHRMANN  REDEFINING CIEMPOZUELOS. BELL-BEAKER CULTURE IN TOLEDO? 325
1. INTRODUCTION necropolises that began to be built in the second half of
The traditional consideration of Ciempozuelos bell- the fourth millennium cal BC attest the variety of archi-
beaker pottery as a style that appeared in inland Iberia tectonic formulas: especially small monuments, cham-
in late stage of this type of record in Europe, has changed bers with a long passage, tombs with a corbel vault and,
in recent years. This change is directly connected to an above all, hypogea (Bueno, Barroso, Balbin, 2004, 2008).
archaeology that is more interested in social networks Some of the new aspects have arisen out of the
that explain the high degree of interaction that the research carried out in inland Iberian, where sites like
sometimes rich third millennium grave goods repre- the necropolis of Higueras Valley, in the south, and La
sent. From a pottery culture (Clarke, 1970) to a funera- Sima dry stonework in the north, have broken the con-
ry culture (Delibes, 1977; Blasco, 1994; Garrido, 2000) cept of the exclusively individual burials associated
to wider interpretations that incorporate this pottery with the bell-beaker culture (Bueno, Barroso, Balbín
within a standardised package of grave good with 2005b, 2016a). Other aspects derive from the results of
roots in the megalithic ritual (Bueno, Balbín, Barroso, systematic surveying in south-west Portugal in areas
2000, 2005a), bell-beakers and other plain and deco- with a high density of hypogea and interest in the asso-
rated ware form the repertoire of items associated with ciation between these necropolises and large ditched
various funerary architectures, such as ditched and for- sites, of which Perdigões is clearly the most important
tified sites. The issues currently posed in a definition (Valera, 2013).
of Ciempozuelos culture affect its geographic delimi- Two factors are essential to determine the current
tation, its chronology and also the funerary context reality of our knowledge of this ceramics style: to look
in which individual burials become just another type, beyond the frontiers inside the Iberian Peninsula,
together with the collective sites that continue to be which involves a geographic determination of its posi-
common. Third millennium constructions, normally in tion among the incised styles in southern Europe; and

FIG. 1 FIG. 1 An updated version of Bueno et al. 2008. Iberian bell-beaker’s styles. Valle de las Higueras location in the middle of Iberian
Peninsula.

326 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
to study in greater detail the previous and later phases regarded as marginal to the cultural events assumed to
as a way to approach its social and ritual meaning. In have taken place in other parts of the Iberian Peninsula
sum, to overcome interpretations of the object, which (Bueno, Barroso, Balbín, 2008; Soares, Tavares, 2010).
was the leitmotiv of historicist archaeology and con- These interpretations have been nuanced in two
tinues to be in some cases in European archaeology, ways. First, evidences that the funerary sites are more
and of which bell beakers are perhaps the clearest diverse than supposed by the association of Ciempo-
examples. Bearing in mind both premises, a reap- zuelos/individual burial (Barroso et al. 2015; Bueno,
praisal of Ciempozuelos bell beakers cannot be limited Barroso, Balbín, 2005b,2008). The ample studies on the
to Toledo, the area traditionally cited as the “cradle” of relationship between bell beakers and collective funer-
this widespread cultural panorama (Castillo, 1922). ary records from our team do not need repeating here.
A new reading of classic references, especially the To be precise, in the cases documented in the interior,
description of Riaño (Riaño, Rada y Delgado, Catalina, especially in the area of the Tagus valley where the
1894), based on the archaeological sites in Higueras Val- nerve centre of this style was situated, the appearance
ley, has opened a new perspective in the sector, with of hypogea burials organised in cemeteries and asso-
greater representativeness of southern Europe for the ciated with villages is increasingly abundant since the
characterisation of incised styles. A series of hypogea publication of the necropolis in Higueras Valley in the
structures of various designs, exemplifies this new Province of Toledo (Bueno, Balbín, Barroso, 2000). It was
image of Ciempozuelos, not only in Toledo but in the then proposed that the study published by Riaño in
Iberian Peninsula as a whole. Their discovery, docu- the nineteenth century that defined the Ciempozuelos
mentation and interpretation raised the question style was influenced by the hypothesis of “bell-beaker
of the representativeness of hypogea necropolises individuality” then in vogue (Blasco, 1994). The Ciempo-
in inland Iberia, associated with incised bell-beaker zuelos necropolis described by Riaño contained hypo-
deposits in the third millennium cal BC (Barroso et al. gea, in each of which several individuals were buried
2014, 2015; Bueno, Balbin, Barroso, 2000; Bueno, Barroso, accompanied by bell beakers in the Ciempozuelos style.
Balbin, 2005b, 2012, 2016b). Their incorporation in an First Higueras Valley and then a series of hypogea
area occupied at least from the fifth millennium cal BC, of different morphologies dated in the third millen-
with evidence of funerary and dwelling sites, provides nium cal BC published since 2000 , confirm the large
important points of reference to understand this type body of evidence that connect bell beaker deposits with
of cemetery in the social and ideological framework collective burials. The close relationship with hypogea
of the settlement of farming groups in the Neolithic. necropolises in the south of the Iberian Peninsula is
The construction of necropolises in areas near ditched unquestionable, and raises the issue of third millen-
enclosures and fortified sites extends the cultural and nium cultural expressions in the interior. Its inclusion
chronological context in the south-west, revealing in the range of interactions characterised by bell beak-
complex social mechanisms, quite different from the ers enables an understanding of the level of expansion
ideas normally held for inland Iberian regions (Bueno, and extension of Ciempozuelos decorative formulas,
Barroso, Balbín, 2011). which was hard to comprehend with the marginalisa-
tion of the interior that was assumed until the 1990s
(Bueno, Barroso, Balbín, 2011).
2. CIEMPOZUELOS BELL-BEAKER SITES A general interpretation of the sites, number of
IN INLAND IBERIA tombs, sex of the individuals and chronologies, based
on the hypogea in the southern Meseta consoli-
2.1. death and incised bell beakers dated our hypothesis and opens up a perspective that
The clear association between this pottery type and undoubtedly will be enriched both in this sector and
individual funerary sites constitutes the only record in the northern Plateau, where this type of record has
in the whole of inland Iberia. The northern Plateau not been looked for, with a few exceptions (Vidal, 1990;
(Delibes, 1977) and southern Plateau (Blasco, 1994; Gar- Alonso, 2015). The constant use of collective burials,
rido, 2000) would be the bastions of a social interpre- without a break from the fifth to the third millennia
tation of important persons buried in isolated sites. cal BC, has been confirmed (Bueno, Balbín, Barroso,
There would be no organised necropolises and no 2005a). However, the most important point may be the
villages either. Information about the use of mega- realisation that bell beakers maintained their impor-
liths associated with bell beakers was not taken into tance over a long period, from the second third of the
account, despite the evidence found in the second half third millennium cal BC to at least the end of the mil-
of the twentieth century in Andalusian necropolises lennium. The long period covered by bell-beaker sites
and the hypogea in the Lisbon area, as the interior was was determined by results from rescue excavations

PRIMITIVA BUENO-RAMÍREZ, ROSA BARROSO-BERMEJO, RODRIGO DE BALBÍN-BEHRMANN  REDEFINING CIEMPOZUELOS. BELL-BEAKER CULTURE IN TOLEDO? 327
(numerous in the communities of Madrid and Toledo), a hundred (Barroso, 2016: 272). The 30 individuals in
which added quantitatively more significant samples. Chamber 3 at Higueras Valley is, so far, the largest group
At the moment, the necropolis in Higueras Valley, of well-dated remains found in a single tomb in inland
together with Yuncos and Humanejos necropolises, are Iberia. This number is similar to that of some hypogea
the oldest, while Camino de las Yeseras in one of the chambers in Algarve (Moran and Parreira,2004) and
most recent (Barroso et al. 2014). It is now necessary to Alentejo (Valera 2015).
establish patterns for a more detailed analysis of the The sex and age profiles are representative of natu-
data, which tend to be studied in an overview, refer- ral population patterns and have been related to archi-
ring to the incidence of some allochthonous records in tectures for family use (Barroso et al. 2014; Bueno, Bar-
connection with the bell-beaker tombs. In addition, the roso, Balbín, 2005b). The large numbers of recent studies
detailed study of the aggregation of diverse tombs will devoted to the role of women have underscored the
be able to establish patterns of the use of the necropo- presence of females in bell-beaker sites in Madrid (Liesau
lises and their persistence in a period that covers the et al. 2015). It should be recalled that, as in other funerary
last part of the fourth millennium and the whole of the sites in the south-west, some selections of young males
third millennium cal BC. The comparison of these chro- (vide Castillejo), young individuals accompanied by
nologies with the greater knowledge of various types secondary burials of adult or senile individuals (Cas-
of settlements will be able to propose a very different tillejo, Cave 5), children (Cave 3), and women with chil-
panorama from the classic definition of Ciempozuelos. dren (Cave 3b) are known, as well as selections of women
The hypogea necropolises in the interior amount to (Montelirio dolmen) or of a woman with males (Cave 3,
a large number of tombs, essentially more than known central chamber). These are therefore specialisations or
in the Lisbon area, although it seems reasonable that very specific uses in the framework of larger cemeteries
fuller research in the west will equalise the number of in which family groups of men, women and children are
tombs in each area. The nine tombs in Higueras Valley, most common. It is necessary to propose explanations
together with five at Humanejos and the three hypo- adapted to each of these cases to obtain interpretations
gea and the same number of pits at Camino de Yeseras, that are convincing in the framework of a European sys-
confirm a funerary record larger than known in the tematisation, where some of these selections were made
Lisbon area. The total number of individuals interred in by dividing up funerary spaces, from the time of the old-
Higueras Valley, Humanejos and Yeseras comes to over est megalithic sites (Dron et al. 1996).

FIG. 2 Plans of hipogea: Madrid and Toledo.

328 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
ANTHROPOLIGICAL DATES ANTHROPOLIGICAL DATES
SITE NO. SITE NO.
(SEX AND AGE) (SEX AND AGE)

JARAMA II JORDÁ – MESTRES 1999 A-36 E02 I4 1 1 woman: 20-25 years

10 1 child // 3 young indet. // 6 adults indet. A-2 Covacha 1 2 1 woman: 20-30 years // 1 child: 1-5 years

EL CASTILLEJO A-2 Covacha 2 1 1 indet.

6 adults male // 3 adults indet // 1 older A-2 Hipogeo 1 1 male?: 16-18 years
Cámara 17?
adult male // 1 child indet. 7 years

Plataforma 2 1 adult indet. // 1 young male A-3 Covacha 1 2 1 woman: 20-30 years // 1 indet.

1 woman: ±20 years //


VALLE DE LAS HIGUERAS A-3 Covacha 2 8?
male?: 35-45 years // 6 indet.
Cueva 1 1? 1 older adult indet.
A-1 Hipogeo 3 3 adults: 54-64; 54-64; 1 indet.
C. 3 – Nicho 3a 2 2 children indet.: 5-9; 2-4 years
1 older adult male; 1 adult: 20-30 years;
A-1 Covacha 3/4?
1 child indet.; 1 indet.?
1 woman? Adult; 2 children indet.: 5-9;
C. 3 – Nicho 3c 3
2-4 years
HUMANEJOS – GÓMEZ et al. 2011
C. 3 – Nicho 3b 2 1 young adult indet. // 1 older adult
woman: 18-20 years // 3 children indet.:
UE 1166 4/5? 7±2; 4±1 years; 18±6 months // 1 adult
5 adults indet. // 2 adults female //
indet.?
C. 3 – Cámara 11 2 older adults male // 1 young indet. //
1 child. indet.
3 males: 20-25; 20-25; <30 years //
UE 455 5 1 young adult indet. // 1 child indet.:
2 adults male // 1 adult female // 5
12 years
C. 3 – Antecámara 12? adults indet. // 4 children: 1-4; 2-4;
< 10 years; 6-12 months
UE 1701 2 woman?: ±20 years // 1 indet.
Cueva 5 2 1 older adult male // 1 adult indet.
UE 556/558 2 1 adult indet. // 1 woman indet.
Cueva 7 – Cámara 1 1 adult male
UE 680 1 1 child: 6 years
Cueva 7 – Nicho 2 1 adult indet. // 2 children: 2; < 2 years
UE 1853 1 1 adult male
1 adult indet. // 1 adult male // 1 young:
Cueva 8 4/5
< 11 years // 1/2 young: 1; 2 years? UE 1938 2 1 adult male // 1 adult female

Cueva 9 1 1 adult indet. LA SALMEDINA – BERZOSA – FLORES 2005

GOZQUEZ – DÍAZ DEL RIO 2003 Fosa 1 2 1 indet. // 1 child indet.

Fosa 1 1 indet.
Fosa 2-3 6 6 indet.
CAMINO DE LAS YESERAS – LIESAU et al. 2008; GÓMEZ et al. 2011
EL DESTETE – JIMÉNEZ 2002
3 women: < 27; 18-20; 26-31 years //
A-15 C4 5 Túmulo 4 4 indet.
2 children indet.: 6 months; 2,5 years

A-21 E06-1 4 3 adults indet. // 1 child indet.: 5 ± 1 years ARENERO DE SOTO – BLASCO ET AL. 1994

2 women: 12; 18-20 years // 8 children 1 1 male: 20-30 years


A-10 C3 10 indet.: 6-12 months; 12-14; 12; 12; 6±2;
6±2; 4-5; 4±1 years JUAN FCO. SÁNCHEZ – BLASCO et al. 1994
2 males: adult; 20-30 years // woman:
F-139 4 2 1 male: 15-20 years // 1 child
+ 30 years // 1 indet.

F-492 1 1 woman IGL. DE LA MAGDALENA – OÑATE et al. 2001

6 women: 20-30; 20-30; 20-30; 20-30; 1 1 older adult male


A-85 C5 6
20-25; 15-20 years
LA MAGDALENA – HERAS ET AL. 2011
A-16 I3 1 1 young adult indet.
2 women: older adult; young adult //
Hipogeo 4
A-36 E03-XI 2 1 male: 27-30 years // 1 indet. 2 indet.

A-10 D2 2 2 males: 45; 14-20 years Covacha UT 5005 2 2 indet.

TABLE 1 Funerary chalcolithic remains of the Iberian Meseta. Quantity, sex and age, from Barroso et al., 2014. The bell-beaker association is
highlighted.

PRIMITIVA BUENO-RAMÍREZ, ROSA BARROSO-BERMEJO, RODRIGO DE BALBÍN-BEHRMANN  REDEFINING CIEMPOZUELOS. BELL-BEAKER CULTURE IN TOLEDO? 329
FIG. 3 Calibrated C14 dates of chalcolithic funerary contexts from Meseta Sur from Barroso et al., 2014.

330 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 4 Cave 3, Valle de las Higueras, Huecas, Toledo, Spain. In the middle: virtual reconstruction of the cave, with its chambers and niches;
variscite, trivia arctica and amber necklaces from the secondary chamber. Top: Ciempozuelos vessel from niche·3b with beer residues,
Ciempozuelos ensemble from niche 3a, bone necklaces from niche 3a, non-decorated pottery with honey residues from the secondary
chamber. Bottom: ensemble of non-decorated Ciempozuelos vessel from niche 3c, non-decorated pottery with food residues, copper awls and
lithic arrowheads from the principal chamber.

Some more recent cemeteries that still contain some Decorated pottery may be an interesting point of
bell beakers, like Las Mayores (Barroso, 2016) can be reference to date the time of most exhibitions associa-
added to the record of collective tombs in necropolises ted with the realm of death, and provide evidence to
with a typology and chronology linked to the Argar determine the standardisation of megalithic grave
culture, which developed at the same time as the most goods, as a system of generalised absorption of ideo-
recent uses of necropolises in the Guadalquivir valley logical mechanisms. Everyone exhibits, but some with
and small hypogea monuments in the south-east. The greater visibility than others, in necropolises that may
contemporaneity of these sites with the Argaric world reach a large number of tombs
consolidated the temporal duration of collective family Commensality has been used as a significant ritual
tombs which also become increasingly noticeable at gesture, documented at least since the ancient mega-
Argar itself (Aranda, Molina, 2006). At the same time, liths. Analyses on the contents of ceramic vessels have
cemeteries dated between the second half of the third found beer and honey in the interior of the Iberian
millennium and the first half of the second millennium Peninsula. Honey appears as early as the V millen-
cal. BC., open up a new panorama for the study of funera- nium BC in Azután (Bueno et al. 2005 a) and beer since
ry rituals in the interior during the Bronze Age, when the III millennium BC in the necropolis of Valle de las
bell beakers and Cogotas ware appear with apparent Higueras and some sites in the Madrid area (Bueno et
continuity. Pottery of this type at Huecas and in some al. 2005b, 2016b).
of the more recent chronologies suggests an occupa- All together, it seems reasonable to note that burials
tion at that time. Inland Iberia confirms the diversity of with bell beakers imply a stage in the development of
funerary rituals throughout recent prehistory in a way ancestor rituals, in which early and recent phases associ-
that has already been accepted in other parts of Europe ated with Ciempozuelos bell beakers can also be observed.
(Briard, 1984; Bradley, Fraser, 2010). The repertoire of tombs dated in the south-west points
Metallurgy of acknowledged importance on the in the same direction (Linares, García Sanjuán, 2010;
Atlantic seaboard, ivory and amber from the Mediter- Aranda et al. 2013). In the current situation, Ciempozuelos
ranean and Africa, variscite from Andalusia, Nord of should be analysed within wider assessments for a set
Meseta and Catalonia, and cinnabar probably from the of dates that form part of the development of megalith-
mines at Almadén, in addition to alluvial gold, which is ism, through the system of the use of tombs, for its syn-
a convincing local product, comprise a series of grave chronicity with megalithic constructions in other Iberian
goods with an evident European scope. architectures, and because of its relationship with the ages

PRIMITIVA BUENO-RAMÍREZ, ROSA BARROSO-BERMEJO, RODRIGO DE BALBÍN-BEHRMANN  REDEFINING CIEMPOZUELOS. BELL-BEAKER CULTURE IN TOLEDO? 331
of recent megalithism in Europe (Bayliss, Whittle, 2007; Work organising these data must accept the prob-
Sheridan, 2004). Solely by taking this type of evidence into lem of the origin of part of these records in salvage
account, it will be possible to reflect on the duration of col- archaeology, which explains some large differences
lective tombs and their social and ideological impact on between dates of the same record published in dif-
the formation of Bronze Age groups. ferent places. Balsera et al. 2015 contribute a power-
ful argument to the interpretation of these records
2.2. life and incised bell beakers in an interior that was previously depopulated. They
The constant reference to funerary sites as exclu- acknowledge their relationship with the situation in
sively representing the Ciempozuelos style ended up the south-west, as we pointed out some time ago, and
defining a kind of ghost habitat. There were no Ciem- note important absences and abandonments, in the
pozuelos settlements. While progress in the study of same way that other authors have done for the west
funerary sites is undoubted, it has equally been made in (Valera, 2013). Bell beakers would be indicators of the
other fields. Habitat, mining areas and possible places abandonment of fortified sites, as Arribas suggested
concentrating social rituality amount to new contexts for classic sites like Malagón (Arribas, 1977) and as Car-
for the documentation of incised bell beakers. While doso has done more recently for Leceia (Cardoso, 2014).
the classic area is the basis of our study, new finds in In the ditched enclosures, the first half of the third mil-
the detection of Chalcolithic enclosures, in their asso- lennium would involve the materialisation of a phase
ciation with hypogea necropolises and in the defini- that is generally more recent than that of the walled
tion of areas with high population densities comprise enclosures. Although the authors do not say so, it can
unique points of reference for new interpretations of be deduced that bell beakers would reflect a short cycle
the Chalcolithic in the Iberian Peninsula. concentrated in two phases that personify the aban-
The difference between the interior and the rich donment of the walled enclosures and the maximum
south-west was based on presence of fortified sites importance of ditched enclosures, all between the end
and ditched enclosures in the latter region, as they of the fourth millennium and the middle of the third
were looked on as the new point of reference for the millennium cal BC. That is, one phase without bell
study of inequality due to their association with met- beakers and another with bell beakers.
allurgical products and necropolises (Nocete, 2004; This is an interesting interpretation that does not
García Sanjuán et al. 2013). However, the documenta- solve two issues: the reality of the long chronologies
tion of Higueras Valley prompted the possibility of of incised styles, with good references in inland Iberia
similar records in the southern Plateau (Bueno, Barroso, (Barandiarán, 1978; Andres, Barandiarán, 2004), and
Balbín, 2011, 2012), and this has been fully confirmed; the data that continue to be gathered in Andalucía
first through the retrieval of data by salvage archaeo- (Cámara et al.2012), or in Portugal, where some ditched
logy, with clear problems in describing nuances and enclosures, of which Perdigões is the most emblematic,
particularities of the records (Liesau et al. 2008), and attest processes of the reuse of the sites (Valera et al.
second through the results of organised projects seek- 2014), in situations similar to those detected at sites in
ing evidence. However, evidence of fortified sites is still Europe (Parkinson, Duffy,2007).
missing. The site in Toledo still remains to be confirmed The period of the late fourth and third millennia cal
(Carrobles, Mendes, 1991) but its proximity to the com- BC that many of our necropolises represent suggests
pact nucleus of La Jara in Cáceres supports the proposal nuances for the division between walled and ditched
(Bueno, González Cordero, Rovira, 2000). enclosures as a consecutive sequence without any
The perspective outlined by Díaz del Río (2001) does relationship with each other. Even more so, when the
not differ much from the one in Ríos (2011). The hypo- necropolises associated with them repeat the same
gea are added to habitat sites of considerable physical architectonic typologies and funerary uses. Our per-
importance (e.g. Humanejos or Yeseras about 20H), but ception is that the chronological difference between
the authors insist on the absence of necropolises, the walls and ditches is much less than the assumption
lack of definition of tomb typologies, and the recent of consecutive phases implies. In addition, the logic of
age of these sites, in order to disassociate them from the records in such contexts as funerary sites suggests
those known in other sites of the same type in the longer chronologies in line with the most recent inter-
south-west of Iberia, including Toledo (Bueno, Barroso, pretation of the time of Perdigões (Bueno, Barroso, Bal-
Balbín 2011, i.p.). This is an interpretation restricted to bin, i.p.).
actualist territories that loses all meaning if it is con- In the same line of reasoning, evidence of old settle-
sidered that some of the most compact data are related ments underneath walled or ditched enclosures (Gon-
to the River Guadarrama where it crosses Toledo and çalves and Sousa, 2010; Jorge 2003) has also been found
Madrid. in the interior (Bueno, Barroso, Balbin, i.p.; Schmitt, i.p.)

332 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
and is a further argument supporting the hypothesis of spread styles and of particular developments, are not
a link between Neolithic and Chalcolithic records. The new in European archaeology and the oldest examples
documentation of ditched enclosures in the area of the lie in communication systems like Palaeolithic Art.
Tagus ford near Azután dolmen is a clear example, not In this sense, both cardial and bell beaker pottery are
only because of the information provided but because understandable in the framework of exchange systems
many of our interpretations are made without taking of great temporal and geographic depth, and which
into account the possibility of sites in an area still unex- were fully established by the third millennium cal BC.
plored. These become absences that are accepted while One of the most visible characteristics of bell beakers
the necessary studies are not carried out. The interior of is surely their profuse decoration in which geometric
the Iberian Peninsula as a whole is a good example of and figurative motifs are important. The most recent
this (Bueno, Barroso, Balbin, 2013) characterisations of these recipients, their decorations
Systematic geophysical surveying in this area, based and their relationships with other styles have been
on the possibilities noted by our previous studies perfectly expressed in the volume by R. Garrido (2000)
(Bueno, Balbín, Barroso, 2005a; Bueno, Barroso, Balbín, and more recent studies (Pérez Jordá et al. 2011; Prieto,
2013; i.p) has resulted in the finds of several ditched Salanova, 2013; Rojo, Garrido, 2006; Rojo, Garrido, García-
enclosures. The most important of these is Los Prados, Martínez, 2005).
an area of 50 ha, which may be larger, marked by two The importance of undecorated forms in this pot-
enclosures with a sinuous surface area, displaying clear tery type is a reality (Bueno, Barroso, Balbin, 2008: fig.
similarities with the oldest western enclosures, espe- 13.2), both in versions with bell beaker profiles and in
cially Moreiros 2 (Valera, Becker, Boaventura, 2013) and more common versions associated with decorated pot-
Perdigões (Valera, Silva, Márquez, 2014). The larger size tery. This is the case of Higueras Valley (Bueno, Barroso,
and older age of Los Prados (Schmitt, i.p.) in the fifth Balbín, 2005: 83) and other hypogea sites in the inte-
millennium cal BC underscores the need for a reflec- rior, as well as being one of the most repeated associa-
tion of the representative nature of Neolithic and Chal- tions in general at bell beaker sites in Europe (Besse,
colithic populations in the interior. 1996). Emphasising the study of bell beakers over other
The long duration of these enclosures implies a items has exaggerated their role in third millennium
necessary nuancing of the hypothesis that walls and assemblages, as has occurred with the recognition of
ditches were enclosure solutions in chronological suc- a “package” of accompanying objects that fades when
cession (Bueno, Barroso, Balbín, i.p.). If we apply this research highlights other aspects (Salanova, 2000;
reflection to their relationship with the bell beaker cul- Bueno, Barroso, Balbín, 2005).
ture, it would be logical to disassociate this pottery type Underpinning the symbolic and social significance
from its presence or absence in walled and ditched sites. of the honourable burial of important warriors has not
It would be better to assess in which of these enclosures taken place parallel to the search for references to this
it is found (as there are older and more recent sites in symbology in the items themselves accompanying the
their total diachronic development) and their asso- famous grave goods. In this respect, Ciempozuelos is
ciation with particular structures, especially tombs or still a place with great research potential (Blasco and
areas devoted to metal-working. Additionally, it should Baena 1996;Garrido and Muñoz 2000). Without wish-
not be forgotten that both fortified and ditched enclo- ing to develop typological and thematic facets, Ciem-
sures are related to hypogea necropolises as well as to pozuelos is the only European style in which figura-
necropolises with corbelled vaults tombs in which bell tive decoration has been identified (apart from some
beakers are particular frequent. exceptions in neighbouring style as Carmona, Palmela
or other incised Iberian styles). The motifs of suns, red
deer and anthropomorphs are identical to those found
3. MATERIALITY AND SYMBOLOGY OF CIEMPOZUELOS on the oldest Neolithic and chalcolithic decorated pot-
BELL BEAKERS tery and on the decorated pottery, which is a compel-
It is a commonplace to relate the role of bell beakers ling argument in favour of the old idea of a thematic
in the European Chalcolithic to that of cardial pottery connection between the oldest impressed ware and
in the Neolithic. Both have been used as powerful fos- incised bell beakers. Superimposing the map of Ibe-
sil-directors from which their presence or absence was rian bell beakers on the maps of Palmela points, dag-
used to justify colonisations, chronologies and phases gers, buttons with a V-shaped perforation, amber and
for farming cultures in southern Europe. Smaller scale ivory adornments and the funerary structures where
studies have shown the strength of patterns and forms they are found, the agreement is even more striking.
linked to smaller areas, within a general style. These Incised pottery is another of the items accompanying
types of formulas, which combine the reality of wide- collective and individual funerary records in much of

PRIMITIVA BUENO-RAMÍREZ, ROSA BARROSO-BERMEJO, RODRIGO DE BALBÍN-BEHRMANN  REDEFINING CIEMPOZUELOS. BELL-BEAKER CULTURE IN TOLEDO? 333
the first three-quarters of the third millennium cal BC appear in a funerary version at collective sites. Even
in practically the whole of the Iberian Peninsula. Some more interestingly, they appear framed in geometric
examples of the Palmela and Guadalquivir styles are patterns closely related to the designs on bell beakers.
found in the same symbolic sphere as Ciempozuelos, As, in addition, these geometric designs characterise the
while Ciempozuelos itself extends its presence towards garments on figurines and stelae that are found in col-
the west and south of the peninsula (Bueno, Barroso, lective tombs or are associated with them, as least from
Balbín, 2008: fig.13.1; Cardoso, Norton, 2006:135); one the fourth millennium cal BC (Bueno, 2010; Bueno, Bal-
good example is the decorated bowl from San Blas in bín, Barroso, 2005b , 2010a), the symbolic arguments all
the Guadiana valley (Hurtado, 2004), identical to some lead in one direction. Bell beaker decoration in southern
of the most representative examples of the Ciempozue- Europe materialises symbolic discourses deeply rooted
los style in the southern Plateau. in ancestor rituals. The recipients, as portable objects,
These ceramics are totally synchronic with the time allow a spread and dissemination of these discourses
of the greatest importance of Iberian Schematic Art, in over a much wider area than can be seen in the oldest
the late fourth and third millennia cal BC (Martínez, stages of graphic expressions in early megalithism. In
2006); a whole series of paintings and engravings the third millennium cal BC, funerary decorations are
found on surfaces in the open air and at funerary sites. found on the Atlantic seaboard (Brittany, Orkney Islands
The quantitative importance of these symbols has been and British Isles), in central and Nord of Europe (Ger-
assessed on many occasions and will not be discussed many and the Russian plains) (Bueno et al. 2015; Bradley
further here (Bueno, Balbín 2009; Bueno, Barroso, Bal- et al. 2000; Eogan, 1997; O’Sullivan, 2009; Guilaine, 2015;
bin, 2010; Bueno, Balbín, Barroso, 2009, 2010). However, Salanova, 2015; Sheridan, 2004; Shee, 1981, 1997), and in
it is illuminating that the Iberian Peninsula is the part of the Mediterranean basin, areas also reached by weap-
southern Europe in which these kinds of symbol most ons like Palmela points, variscite, ivory, amber and gold.

FIG. 5 Incised red deer and sun figures on Ciempozuelos bell-beaker style: a) San Blas (Cheles, Badajoz) from Hurtado, 2004: Lam. VI; b and
c) Palmela (Portugal) from Soares, 2003: Fig. 90 y 91; d and f) Los Millares (Almería) (MAN); e) Las Carolinas (Madrid).

334 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 6 Incised sun-eyes figures on: Las Vegas, Huecas, Toledo, photo an design from Barroso et al., 2015. Incised pottery of Cerro de la Virgen de
Orce, Granada from Schüle and Pellicer 1966. Decorated slab from Trincones, Alcántara, Cáceres, from Bueno et al., 1999.

Vessels decorated with geometric garments well known graphic systems in the generation of symbols that are
in older periods and metal weapons, are the basis of the found widely in Europe and, consequently, the role of the
figurines of warriors that accompany some of the most incised styles that Ciempozuelos represents. Even more
important tombs. so, bearing in mind their importance in inland regions,
One of our objectives, since the beginnings of our first supposedly distant from the location of Schematic Art,
research, has been to determine the major role played which is concentrated in Andalusia. The direct dates
by sites in the inland plateaus to explain a large part of obtained for oculate figures in Cuenca (Ruiz et al. 2012),
the processes being described (Bueno, Barroso Balbin; the idols at Juan Barbero, Fuente de la Mora and Pinto
Bueno et al., 2009). The representativeness of figura- in Madrid (Martínez Navarrete, 1984; Martínez, López,
tive decorations on incised bell beakers in the south- Moreno, 2014), and the increasingly large repertoire
ern Plateau is a powerful argument to add to others of paintings and engravings (Lancharro, 2016) reveal a
(Armbruster and Comendador, 2015; Murillo et al., 2015 ; panorama that is more diverse than known previously
Schuhmacher, Banerjee, 2012; Laporte 2010; Liesau, 2016; and closer to the situation in the south of the peninsula.
Rojo, Garrido, 2006) and reflect on the need for a pro- The intensity of salt production associated with these
found re-interpretation of the impact of Iberian incised sites (Abarquero et al. 2012; Barroso et al. i.p.) together
styles on the symbolism of European bell beakers. with a more than plausible exploitation of alluvial gold
Just as the social position and identity of the commu- in which the Tagus played a major role (Barroso, Bueno,
nities was supported by the funerary settings provided Balbin, 2003) , are convincing arguments to understand
by the megaliths, the symbolic discourse of Ciempo- the notable occupation of inland regions. In addition
zuelos pottery suggests that these points of reference the area was advantageously placed to control the
continued to form part of ritual exhibitions in the third movements of raw materials and other trade, especially
millennium cal BC across the whole of Europe, many of on the routes connecting the south and north of the
which were also played out in megalithic monuments. Iberian Peninsula and the way towards the European
We should therefore consider the influence of Iberian plains.

PRIMITIVA BUENO-RAMÍREZ, ROSA BARROSO-BERMEJO, RODRIGO DE BALBÍN-BEHRMANN  REDEFINING CIEMPOZUELOS. BELL-BEAKER CULTURE IN TOLEDO? 335
336 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
4. REAPPRAISING CIEMPOZUELOS social relations of the communities that lived in those
Ciempozuelos pottery forms the most representa- areas. In this current context, the agenda of Ciempozue-
tive and widespread group of incised ware in southern los bell beaker culture should abandon twentieth century
Europe. The styles accompanying it are variations of clichés (race, sex, individuality) and contribute references
greater or lesser importance that developed at the same of an economic, social and ritual nature to achieve a bet-
time as the graphic codes themselves, funerary sites ter understanding of the population casuistic in inland
and settlements. Its material definition, closely associ- Iberia and its projection towards both the Atlantic and
ated with funerary deposits, has been determined and the Mediterranean, which also includes Africa.
nuanced in the aspects briefly described here. These go The acknowledged relationship between the Iberian
far beyond its classic geographical definition (Toledo), Peninsula and other parts of the Atlantic and Mediter-
and its insertion in social and cultural dynamics during ranean worlds in the third millennium cal BC inclu-
recent prehistory. ding DNA data (Clark 2009; Gibson, 2013; Guerra,
Its duration encompasses much of the third millen- Liesau, 2016; Prieto, Salanova, 2015; Olade et al., 2017;
nium cal BC, with its most outstanding expression dur- Rojo et al., 2005; Salanova, 2000 ; Van der Linden, 2007)
ing the second half of the millennium, a time in which together with the material items and evidence of the
adornments, exotic objects and metallic pieces develop symbolic references of Ciempozuelos /incised styles
quantitatively (Bueno, Barroso, Balbín, 2005; Odrio- pottery underscore the role of inland regions of the Ibe-
zola et al. i.p.). Ciempozuelos bell beakers in Madrid rian Peninsula in the control, management and char-
have been dated to 2200-1700 (Ríos, Blasco, Aliaga, acterisation of the rituals that underpinned the social
2012), but the dates in Toledo link with those at sites organisation of the producers and consumers of these
in the Ebro valley, Basque Country and Andalusia and pottery types.
guarantee the diachronicity noted above, and which
is shown by Higueras Valley. The whole third millen-
nium is represented by records including bell beakers, ACKNOWLEDGEMENTS
and more precise sequences should be established to This study forms part of the results of the project
overcome the classic dichotomy of pre-bell beaker/bell HAR2015-68595-P (Ministerio de Economía y Competi-
beaker which was fixed in the early studies of Los Mil- tividad. Spain). The authors would like to thank V. Gon-
lares (Almagro, Arribas, 1963) and which, in the current çalves and Ana Catarina Sousa for inviting us to partici-
state of our knowledge, is not very illuminating. Dates pate in this volume.
are to be expected in the Madrid area for the oldest
necropolises with Ciempozuelos bell beakers. Later on,
both Cave 5 and Cave 7 in Higueras Valley demonstrate BIBLIOG RAPHY
the long duration of the necropolis in which decorated ABARQUERO, F.; GUERRA, E.; DELIBES, G.; PALOMINO, A. L.; DEL VAL,
ware continued to be important. The study in progress J. M. (2012) – Arqueología de la Sal en las Lagunas de Villafáfila
of some of the more recent necropolises (Barroso, 2016) (Zamora): Investigaciones sobre los cocederos prehistóricos. Junta
will surely contribute data to enhance the understand- de Castilla y León: Arqueología en Castilla y León 9.

ing of these scarce records, which repeat the situation ALMAGRO BASCH, A.; ARRIBAS PALAU, A. (1963) – El poblado
y lanecrópolis megalítica de Los Millares (Santa Fé de
at similar megalithic sites in northern Portugal (Bet-
Mondújar,Almería). Madrid: Bibliotheca Praehistorica Hispana
tancourt, 2010; Cruz et al., 1998) and the south of the
Alonso, C. (2015) – La tumba colectiva de El Hundido (Monasterio de
Iberian Peninsula (Schubart, 1971; García Sanjuán, 1998).
Rodilla, Burgos) y su ritual funerario durante el Neolítico Final
Much still remains to be done, but a path has been y el Calcolítico. Trabajos de Prehistoria 72: 1, p. 84-104.
found that leads in very similar directions to those fol- ANDRES, T.; BARANDIARAN, I. (2004) – La tumba calcolítica de la
lowed in the case of third millennium sites in Andalusia, Atalayuela, treinta y cinco años después. Saldvie. 4, p. 85-124.
Algarve and Alentejo, where ditched enclosures, walled ARANDA, G.; GARCÍA SANJUÁN, L.; LOZANO, A.; COSTA. M. E. (2013) –
enclosures, dolmens and hypogea are the monumental Nuevas dataciones radiométricas del dolmen de Viera (Antequera,
elements created by collective labour that defined the Málaga). Menga 04, p. 235-259.
ARANDA, G.; MOLINA, F. (2006) – Wealth and power in the Bronze
Age of the south-east of the Iberian Peninsula: the funerary
FIG. 7 Top: Ensemble of Ciempozuelos bell-beaker pottery with record of Cerro de la Encina. Oxford journal of archaeology 25:
ranges of incised triangles of Cueva 3, Valle Higueras necropolis, 1, p. 47-59.
Toledo, Spain, decorated slab of Alentejo, Portugal. In the middle:
Sejos menhir’s, Cantabria, Spain, with geometric decoration and ARMBRUSTER,B.; COMENDADOR, B. (2015) – Early gold technology
bell-beaker incised dagger, and Petit Chasseur armed statue, Suisse. as an indicator of circulation processes in Atlantic Europe.
Bottom: painted and incised Peña Tú stelae, Asturias, Spain, and PRIETO and SALANOVA (eds.) – The Bell Beaker transition in
decorated engraved and painted slab of Santa Cruz dolmen, Asturias, Europe. Mobility and local evolution during the 3rd millennium BC.
Spain. Photos by R. de Balbín Behrmann. Oxbow Books, p. 140-149.

PRIMITIVA BUENO-RAMÍREZ, ROSA BARROSO-BERMEJO, RODRIGO DE BALBÍN-BEHRMANN  REDEFINING CIEMPOZUELOS. BELL-BEAKER CULTURE IN TOLEDO? 337
ARRIBAS, A. (1977) – El Ídolo de El Malagón (Cullar Baza, Granada). BUENO RAMÍREZ P. (2010) – Ancestros e imágenes antropomorfas
Cuadernos de prehistoria y arqueología de la Universidad de muebles en el ámbito del megalitismo occidental: las placas
Granada 2, p. 63-86. decoradas. In CACHO, C.; MAICAS, R.; GALÁN, E.; MARTOS, J. A.
(coord.) – Ojos que nunca se cierran. Ídolos en las primeras
BALSERA, V.; BERNABEU, J.; COSTA-CARAMÉ, M.; DIAZ-DEL-RÍO, P.;
sociedades campesinas. Madrid. Ministerio de Cultura.
GARCÍA-SANJUÁN, L.; PARDO, S. (2015) – The radiocarbon
chronology of southern Spain’s Late prehistory (5600-1000 CAL BUENO RAMIREZ, P.; BALBIN BEHRMANN, R. (2009) – Marcadores
BC.): a comparative review. Oxford Journal of Archaeology 34:2, gráficos y territorios tradicionales en la Prehistoria de la Península
p. 139-156. Ibérica. Cuadernos de Prehistoria de la Universidad de Granada 19,
p. 65-100.
BARANDIARÁN, I. (1978) – La Atalayuela: fosa de inhumación
colectiva del Eneolítico en el Ebro Medio. Príncipe de Viana BUENO RAMIREZ, P.; BALBIN BEHRMANN, R.; BARROSO, R. (2000)
39:152-153, p. 381-422. – Valle de las Higueras (Huecas, Toledo, España). Una necrópolis
Ciempozuelos con cuevas artificiales al interior de la Península.
BARROSO, R.; BUENO, P.; BALBÍN, R. de, (2003) – Primeras producciones
Estudos Pré- históricos VIII, p. 49-80.
metálicas en la cuenca interior del Tajo: Cáceres y Toledo. Estudos
Pré-históricos 10, p. 87-107. BUENO RAMIREZ, P.; BALBIN BEHRMANN, R.; BARROSO, R. (2005a)
– Áreas de habitación y áreas funerarias en la cuenca interior del
BARROSO, R.; BUENO, P.; BALBÍN, R. de.; LANCHARRO, M. A. (i.p.) –
Tajo, el dolmen de Azután (Toledo), Alcalá de Henares. Servicio de
Production and Consumption of Salt in the Inland Tagus Valley
Arqueología de la Diputación de Toledo y Universidad de Alcalá
in Prehistory. In press. Key Resources and Socio-cultural
de Henares.
Developmenst in the Iberian Chalcolithic. Ressourcen Kulturen-
University of Tübingen, i.p. BUENO RAMIREZ, P.; BALBIN BEHRMANN, R.; BARROSO, R. (2005b)
– Hierarchisation et métallurgie: statues armées dans la Péninsule
BARROSO, R.; BUENO, P.; BALBÍN, R. de.; VÁZQUEZ, A.; GONZÁLEZ, A.
Ibérique. L’ Anthropologie 109, p. 577-640.
(2014) – Nekropolen des 3. Jahrtausends v. Chr. im Zentrum der
Iberischen Halbinsel. Madrider 55, p. 1-28. BUENO RAMIREZ, P.; BALBIN BEHRMANN, R.; BARROSO, R. (2009)
– Constructores de megalitos y marcadores gráficos. Diacronías
BARROSO, R.; BUENO, P.; VÁZQUEZ, A.; GONZÁLEZ, A.; PEÑA, L. (2015)
y sincronías en el atlántico ibérico. In BALBIN BEHRMANN, R.;
– Enterramientos individuales y enterramientos colectivos en
BUENO RAMIREZ, P.; GONZALEZ ANTON, R.; DEL ARCO, C. (eds.)
necrópolis del megalitismo avanzado del interior: la cueva 9
– Grabados rupestres de la fachada atlántica europea y africana.
de Valle de las Higueras. II.º Congresso Internacional sobre
Oxford: British Archaeological Report series, 2043, p. 149-172.
Arqueologia de Transição: O Mundo Funerário. British
Archaeological Reports International Series 2708, p. 165-176. BUENO RAMIREZ, P.; BALBIN BEHRMANN, R.; BARROSO, R. (2010)
– Grafías de los grupos productores y metalúrgicos en la cuenca
BARROSO BERMEJO, R.; BUENO RAMÍREZ, P.; VÁZQUEZ CUESTA, A.;
interior del Tajo. La realidad del cambio simbólico. In V. S.
ODRIOZOLA LLORET, C. P.; URIBELARREA DEL VAL, D.; LÓPEZ
GONÇALVES; A.C. SOUSA (eds.) – Transformação e Mudança
JIMÉNEZ, O.; YRAVEDRA SAINZ DE LOS TERREROS, J. (2015) – no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. Cascais.
Campaniforme no funerario en la provincia de Toledo: el Câmara Municipal de Cascais, p. 489-517.
yacimiento de Las Vegas. De nuevo el Valle de Huecas. Trabajos
BUENO RAMIREZ, P.; BALBIN BEHRMANN, R.; BARROSO, R.; ALDECOA,
de Prehistoria, 72(1), p. 145-157.
A.; CASADO, A. (1999) – Arte megalítico en Extremadura: los
BAYLISS, A.; WHITTLE, A. (2007) – Histories of the dead: building dólmenes de Alcántara. Cáceres. Estudos Pré-Históricos 7, p. 85-110.
chronologies for five southern British long barrows. Cambridge
BUENO RAMIREZ, P.; BALBIN BEHRMANN, R.; BARROSO, R.; LOPEZ
Archaeological Journal 17:1. (supplement).
QUINTANA, J. C.; GUENAGA LISAZU, A. (2009) – Frontières et art
BESSE, M. (1996) – Le Campaniforme en France: l’analyse de la mégalithique. Une perspective depuis le monde pyrenéen.
céramique d’accompagnement. British Archaeological Reports L’Anthropologie 113, p. 882-929.
Series, 635.
BUENO RAMÍREZ, P.; BALBÍN BEHRMANN, R.; LAPORTE, L.; GOUEZIN,
BETTENCOURT, A. (2010) – Burials corpses and offerings in the P. H.; COUSSEAU, F.; BARROSO, R.; HERNANZ, A.; IRIARTE, M.;
Bronze age of NW Iberia as agents of social identity and memory. QUESNEL, L. (2015a) – Natural and artificial colors: the megalithic
A. M. S. BETTENCOURT; M. J. SANCHES; L. B. ALVES; R. FÁBREGAS monuments of Brittany. Antiquity 89, p. 55-71.
–Conceptualising Space and Place. Proceedings of the XV UISPP
BUENO RAMIREZ, P.; BARROSO, R.; BALBIN, R. de (2004) – Construcciones
World Congress (Lisbon, 4-9 September 2006). Vol. 41, BAR
megalíticas avanzadas de la cuenca interior del Tajo. El núcleo
International Series 2058, p. 33-45.
cacereño. Spal 13, p. 83-112.
BLASCO, C. (ed.) (1994) – El horizonte campaniforme de la región de
BUENO RAMIREZ, P.; BARROSO, R.; BALBIN, R. de (2005) – Ritual
Madrid en el centenario de Ciempozuelos. Madrid: Universidad
campaniforme, ritual colectivo: la necrópolis de cuevas artificiales
Autónoma de Madrid. Departamento de Prehistoria y Arqueología.
del Valle de las Higueras, Huecas, Toledo. Trabajos de Prehistoria,
BRADLEY, R.; FRASER, E. (2010) – Bronze Age Barrows on the 62: 2, p. 67-90.
Heathlands of Southern England: Construction, Forms and
BUENO RAMIREZ, P.; BARROSO, R.; BALBIN, R. de (2008) –
Interpretations, Oxford Journal of Archaeology 29, p. 15-33.
Campaniforme en las construcciones hipogeas del megalitismo
BRADLEY, R.; PHILLIPS, T.; RICHARDS, C.; WEBB, M. (2000) – Decorating reciente al interior de la Península Ibérica. Veleia, 24-25, p. 771-790.
the houses of the dead: incised and pecked motifs in Orkney
BUENO RAMIREZ, P.; BARROSO, R.; BALBIN, R. de (2010a) – Metal and
chambered tombs, Cambridge Archaeological Journal 11:1,
the symbols of ancestors in Northern Iberia. In Proceedings of the
p. 45-67.
XV UISPP World Congress (Lisbon, 4-9 September 2006). Vol. 41,
BRIARD J. (1984) – Les tumulus d’Armorique, Paris, Picard. L’Âge du British Archaeological Reports. International Series 2058, Oxford:
Bronze en France, 3. Archaeopress, p. 71-87.

338 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
BUENO RAMIREZ, P.; BARROSO, R.; BALBIN, R. de (2011) – Entre lo DÍAZ DEL RÍO, P. (2001) – La formación del paisaje agrario: Madrid en
visible y lo invisible: registros funerarios de la Prehistoria reciente el III y II milenio BC. Arqueología, Paleontología y Etnografía 9.
de la Meseta Sur. In BUENO, P; GILMAN, A.; MARTÍN, C.; SÁNCHEZ Comunidad de Madrid. Madrid.
PALENCIA, J. (eds.) – Arqueología, Sociedad, Territorio y Paisaje. DRON, J. L.; LE GOFF, I.; HÄNNI, C. (1996) – Approches architecturale,
Biblioteca Praehistórica hispana XXVIII, p. 53-73. anthropologique et génétique d’un ensemble de tombes à couloir:
BUENO RAMIREZ, P.; BARROSO, R.; BALBIN, R. de (2012) – Les grottes la Bruyère-du-Hamel à Condé-sur-Ifs (Calvados). Bulletin de la
artificielles et le Campaniformes à l’intérieur de la péninsule Société préhistorique française, 93(3), p. 388-395.
ibérique: la nécropole de Valle de las Higueras. In Sépultures EOGAN, G. (1997) – Overlays and underlays: aspects of megalithic art
collectives et mobiliers funéraires de la fin du Néolithique en Europe succession at Brugh na Bóinne, Ireland. In BELLO, J. M. (ed.) –
occidentale. Archives d’Écologie Préhistorique. Toulouse, p. 359-381. III Coloquio Internacional de arte megalítico. Brigantium 10,
BUENO RAMIREZ, P.; BARROSO, R.; BALBIN, R. de (2013) – Interior p. 217-234.
regions and places of collective memory: the megalithism of the GARCÍA SANJUÁN, L. (ed.) (1998) – La Traviesa. Ritual Funerario y
interior basin of the Tagus, Iberian Peninsula. A reflection after Jerarquización Social en una Comunidad de la Edad del Bronce
reading of the Tara project. In M. O’SULLIVAN, C. SCARRE, M. de Sierra Morena Occidental. Spal Monografías 1. Sevilla.
DOYLE (eds.) – Tara from the past to the future. Wordwell. Ireland: Universidad de Sevilla.
484-501.
GARCÍA SANJUAN, L.; VARGAS, J. M.; HURTADO, V.; RUIZ, T.; CRUZ-
BUENO RAMIREZ, P.; BARROSO, R.; BALBIN, R. de (2016a) – Between AUÑÓN, R. (eds.) (2013) – El asentamiento prehistórico de
east and west: Megaliths in the centre of the Iberian Peninsula. Valencina de la Concepción (Sevilla): Investigación y tutela
In LAPORTE, L.; SACRRE, C. (eds.) – The Megalithic Architectures of en el 150 aniversario del descubrimiento de la Pastora.
Europe (UK 2016).Oxbow Monographs, p. 157-166.
GARRIDO, R. (2000) – El campaniforme en la Meseta Central de la
BUENO RAMIREZ, P.; BARROSO, R.; BALBIN, R. de (2016b) – Entre vasijas Península Ibérica (c.2500- 2000 AC). British Archaeological
y cerveza. El mundo funerario del interior peninsular en el Reports International Series 892. Oxford.
III milenio cal. BC. Anejos a Cuadernos de Prehistoria de la UAM.
GARRIDO, R.; MUÑOZ LÓPEZ ASTILLEROS, K. (2000) – Visiones
BUENO RAMIREZ, P.; BARROSO, R.; BALBIN, R. de (in press) – Ancestor’s sagradas para los líderes. Cerámicas campaniformes con
images as marks of the past. The dolmen of Azután, Toledo. Spain . decoración simbólica en la Península Ibérica. Complutum, 11,
Key Resources and Socio-cultural Developmenst in the Iberian p. 285-300.
Chalcolithic. Ressourcen Kulturen- University of Tübingen, i.p.
GIBSON, C. (2013) – Beakers into Bronze: tracing connections between
BUENO, P.; GONZÁLEZ CORDERO, A.; ROVIRA, S. (2000) – Áreas de western Iberia and the British isles. 2800-800 BC. In KOCH, J.;
habitación y sepulturas de falsa cúpula en la cuenca extremeña CUNLIFFE, B. (eds.) – Celtic in the West 2. Rethinking the Bronze Age
del Tajo: acerca del poblado con necrópolis del canchal en Jaraíz and the Arrival of Indo-European in Atlantic Europe. Oxbow Books,
de la Vera (Cáceres). Extremadura arqueológica VIII, p. 209-242. p. 71-100.
CÁMARA-SERRANO, J. A.; SPANEDDA, L.; SANCHEZ-SUSÍ, R.; GARCÍA- GONÇALVES, V., SOUSA, A. C. (eds.) (2010) – Transformaçâo e mudança
CUEVAS, M. F.; GONZÁLEZ-HERRERA, A.; NICAS-PERALES, J. (2012) – no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milenios a.n.e. Cascais.
La cronología absoluta de Marroquíes (Jaén) en el contexto de
GUERRA-DOCE, E.; LIESAU VON LETOW-VORBECK, L. (2016) – Analysis
la Prehistoria Reciente del Alto Guadalquivir. Antiquitas, n.º 24,
of the economic foundations supporting the social supremacy
p. 81-94.
of the Beakers groups. Archaeopress Archaeology.
CARDOSO, J. L. (2014) – Absolute chronology of the Beaker
GUILAINE, J. (2015) – Les hypogees protohistoriques de la Mediterranee.
phenomenon North of the Tagus estuary: demographic and social
Arles et Fontvieille. Ed. Errance. Arles
implications. Trabajos de Prehistoria 71:1, p. 56-75.
HURTADO, V. (2004) – El asentamiento fortificado de San Blas (Cheles,
CARDOSO, J. L.; NORTON, J. (2004) – As caçoilas campaniformes da
Badajoz). III milenio a.C. Trabajos de Prehistoria 61:1, p. 141-155.
anta de Bencafede (Évora), Revista Portuguesa de Arqueologia,
7.1, p. 129-136. JORGE, S. O. (2003) – Recintos murados da Pré-Historia Recente. Porto/
Coimbra.
CARROBLES, J; MÉNDEZ, V. (1991) – Introducción al estudio del
Calcolítico en La Jara toledana. Anales Toledanos, p. 7-24. LANCHARRO, M. A. (2016) – Grafías y territorios megalíticos en la cuenca
interior del Tajo. Toledo, Madrid y Guadalajara. UAH. Inédito.
CASTILLO, A. del. (1922) – La cerámica incisa de la cultura de las
cuevas de la Península Ibérica y el problema de origen de la LIESAU, C. (2016) – Some prestige goods as evidence of interregional
especie del vaso campaniforme. Anuario de la Universidad de interactions in the funerary practices of the Bell Beaker groups
Barcelona, 1-20. of Central Iberia. In GUERRA, E.; LIESAU, C. (eds.) – Analysis of the
Economic Supporting the Social Supremacy the Beaker Groups.
CLARK, P. (ed.) (2009) – Bronze Age Connections: Cultural Contact
Proceedings of the XVII UISPP World Congress (1–7 September,
in Prehistoric Europe. Oxford. Oxbow Books.
Burgos). Archaeopress publishing LTD: 69-93
CLARKE, D. L. (1970) – Beaker Pottery of Great Britain and Ireland.
LIESAU, C.; BLASCO, C.; RIOS, P.; FLORES, R. (2015) – La mujer en el
Cambridge. Cambridge University Press.
registro funerario campaniforme y su reconocimiento social.
CRUZ, D. J.; GOMES, L. F.; CARVALHO, P. H. S. (1998) – O grupo de tumuli Trabajos de Prehistoria 72:1, p. 105-125.
da Casinha Derribada (Concelho de Viseu). Resultados
LIESAU, C.; BLASCO, C.; RÍOS, P.; VEGA, J.; MENDUIÑA, R.; BLANCO, F. F.;
preliminares da escavaçao arqueológica dos monumentos 3, 4, e 5.
BAENA, J.; HERRERA, T.; PETRI, A.; GÓMEZ, J. L. (2008) – Un espacio
Conimbriga 37, p. 5-76. compartido por vivos y muertos: El poblado calcolítico de fosos
DELIBES, G. (1977) – El Vaso campaniforme en la Meseta Norte de Camino de las Yeseras (San Fernando de Henares, Madrid).
Española. Studia Archeologica 41. Valladolid. Complutum 19:1, p. 87-120.

PRIMITIVA BUENO-RAMÍREZ, ROSA BARROSO-BERMEJO, RODRIGO DE BALBÍN-BEHRMANN  REDEFINING CIEMPOZUELOS. BELL-BEAKER CULTURE IN TOLEDO? 339
LINARES, J. A.; GARCIA SANJUAN, L. (2010) – Contribuciones a la RÍOS, P. (2011) – Territorio y sociedad en la región de Madrid durante
cronología absoluta del megalitismo andaluz. Nuevas fechas el III milenio A.C. El referente del yacimiento de Camino de las
radiocarbónicas de sitios megalíticos del Andévalo Oriental Yeseras. Patrimonio arqueológico de Madrid 7.
(Huelva). Menga 01, p. 135-150. RÍOS, P.; BLASCO, C.; ALIAGA, R. (2012) – Entre el Calcolítico y la Edad
MARTINEZ GARCÍA, J. (2006) – La pintura rupestre esquemática del Bronce. Algunas consideraciones sobre la cronología
en el proceso de transición y consolidación de las sociedades campaniforme. Cuadernos de Prehistoria y Arqueología de
productoras. In Actas del Congreso de Arte rupestre esquemático la UAM 37-38, p. 195-208.
en la Península Ibérica: Comarca de los Vélez, 5-7 de Mayo 2004,
ROJO, M. A.; GARRIDO, R. (2006) – Un peculiar vaso campaniforme
p. 33-56
de estilo marítimo del túmulo de la Sima, Miño de Medinaceli
MARTINEZ NAVARRETE, M. I. (1984) – El comienzo de la metalurgia (Soria, España): reflexiones en torno a las técnicas decorativas
en la provincia de Madrid: la cueva y el cerro de Juan Barbero campaniformes y los sistemas de intercambios a larga distancia.
(Tielmes, Madrid). Trabajos de Prehistoria 41, p. 17-128. Trabajos de Prehistoria 63:1, p. 133-147.
MARTÍNEZ, V.; LÓPEZ, O.; MORENO, E. (2014) – El poblado calcolítico ROJO, M.; GARRIDO, R.; GARCÍA-MARTÍNEZ, I. (coords.) (2005) –
de El Juncal (Getafe, Madrid). In Actas de las novenas jornadas de El campaniforme en la Península Ibérica y su contexto europeo.
Patrimonio Arqueológico en la Comunidad de Madrid (Museo Valladolid. Valladolid. Junta de Castilla y León.
Arqueológico Regional de la Comunidad de Madrid – 15-16 de
RUIZ, J. F.; HERNANZ, A.; ARMITAGE, R. A.; ROWE, M. W.; VIÑAS, R.;
noviembre de 2012). Madrid. CAM, p. 149-158.
GAVIRAVALLEJO, J. M.; RUBIO, A. (2012) – Calcium oxalate AMS.
MORÁN, E.; PARREIRA R. (2004) – Alcalar 7. Estudo e reabilitação 14. C dating and chronology of post-Palaeolithic rock paintings
de um monumento megalítico. MC.IPPAR. Lisboa in the Iberian Peninsula. Two dates from Abrigo de los Oculados
MURILLO, M.; COSTA, M. E.; DÍAZ GUARDAMINO, M.; GARCÍA, L.; (Henarejos, Cuenca, Spain). Journal of Archaeological Science 39,
MORA, C. (2015) – A Reappraisal of Iberian Copper Age Goldwork: p. 2655-2667.
Craftmanship, Symbolism and Art in a Non-funerary Gold Sheet SALANOVA, L. (2000) – La question du Campaniforme en France
from Valencina de la Concepción. Cambridge Archaeological et dans les îles anglo-normandes. Comité des travaux historiques
Journal 25 (3), p. 565-596. et scientifiques socété préhistorique française.
NOCETE, F. (coord.) (2004) – ODIEL: Proyecto de Investigación SALANOVA, L. (2015) – Behind the warriors: belle beakers and
Arqueológica para el análisis de la desigualdad social en el identities in atlantic Europe (third millenium BC). I. Koch and
Suroeste de la Península Ibérica. Monografías de Arqueología, 19 B. Cunliffe eds: Celtic from the west 3, p. 13-34.
(Consejería de Cultura, Junta de Andalucía), Sevilla.
SCHMITT, F. (in press) – Enclose where the river flows – New
ODRIOZOLA, C.; VILLALOBOS, R.; BUENO-RAMÍREZ, P.; BARROSO, R.;
investigations on the Southern Meseta and the ditched
FLORES, R.; DIAZ-DEL-RIO, P. (in press) – Identification of key
enclosures of Azután (Toledo). Key Resources and Socio-cultural
resources and the reconstruction of their role in the dynamics
Developmenst in the Iberian Chalcolithic. Ressourcen Kulturen-
of socio-cultural manifestations and their diversity in the
University of Tübingen, i.p.
Chalcolithic on the Iberian Peninsula. Key Resources and Socio-
cultural Developmenst in the Iberian Chalcolithic. Ressourcen SHEE, E. (1981) – The megalithic art of Western Europe, Clarendon
Kulturen- University of Tübingen, i.p. Press, Oxford.

OLALDE, I.; BRACE, S.; ALLENTOFT, M. E.; ARMIT, I.; KRISTIANSEN, K.; SHEE, E. (1997) – Megalithic art in a settlement context: Skara Brae
ROHLANDS, N.; MALICKI, S.; BOOTH, T.; SZÉCSÉNY-NAGY, A.; and related sites in the Orkney islands. Brigantium 10,
ALTENA, E.; LIPSON, M.; LAZARDIS, I.; PATTERSON, N. J. et al. (2017) – p. 377-89.
The beaker Phenomenon and the genomic transformation of SHERIDAN, J. A. (2004) – Scottish Food Vessel Chronology Revisited.
Northwest Europe. bioRχiv, 2017, p. 1-28. In GIBSON, A. M.; SHERIDAN, J. A. (eds.) – Sickles to Circles:
O’SULLIVAN, M. (2009) – Living stones. Decoration and ritual in Britain and Ireland at the Time of Stonehenge. Stroud, Tempus.
4th and 3rd millennium BC. Ireland. In R. DE BALBÍN, P. BUENO, p. 243-269.
R. GONZÁLEZ, C. DEL ARCO AGUILAR (eds.) – Grabados rupestres SCHUBART, H. (1971) – O Horizonte Ferradeira. Sepulturas do
de la fachada atlántica y africana. Bar Internacional Series 2043, Eneolítico Final no Sudoeste da Península Ibérica. Revista
p. 5-12. de Guimarães. Guimarães 81, p. 189-215.
PEREZ JORDÁ, G.; BERNABEU AUBÁN, J.; CARRIÓN MARCO, Y.; GARCÍA- SCHÜLE, W.; PELLICER, M. (1966) – El Cerro de la Virgen, Orce
PUCHOL, O.; MOLINA BALAGUER, L. L.; GÓMEZ PUCHE, M. (eds.) (Granada). Excavaciones Arqueológicas en España, 46.
(2011) – La Vital (Gandia, Valencia). Vida y muerte en la Ministerio de Cultura, Madrid.
desembocadura del Serpis durante el III y el I milenio a.C. T.V. 113.
SCHUMACHER, T. X.; BANERJEE, A. (2012) – Procedencia e
Museu de Prehistòria de València-Diputación de Valencia.
interecamibio de marfil en el Calcolítico de la Península Ibérica.
PRIETO, M. P.; SALANOVA, L. (coords.) (2013) – Current researches In BORREL, M.; BORRELL, F.; BOSCH, J.; CLOP, X.; MOLIST, M. (eds.)
on Bell Beakers Proceedings of the 15th International Bell Beaker – Redes en el Neolítico. Circulación e Intercambio de Materias,
Conference: From Atlantic to Ural. 5th-9th May 2011 Poio Pontevedra, Productos e Ideas en el Mediterráneo Occidental (VII-III milenio
Galicia, Spain. a. C.). Ajuntament de Gavá. Gavá, p. 289-298.
PRIETO, M. P.; SALANOVA, L. (2015) – The Bell Beaker transition in SOARES, J.; TAVARES DA SILVA, C. (2010b) – Campaniforme do Porto
Europe. Mobility and local evolution during the 3rd millennium BC. das Carretas (Médio Guadiana). A procura de novos quadros
Oxbow Books. de referência. In GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C. (eds.) –
RIAÑO, J. F.; RADA Y DELGADO, J.; CATALINA, J. (1894) – Hallazgos Transformação e mudança no Centro e Sul de Portugal: o 4.º e o
prehistóricos en Ciempozuelos. Boletín de la Real Academia 3.º milénios a.n.e. Cascais. Câmara Municipal de Cascais e Uniarq,
de la Historia XXV, p. 436-450. p. 225-261.

340 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
VALERA, A. C. (2013) – Cronologia dos recintos de fossos da pré-história VALERA, A. C.; SILVA, A. M.; MÁRQUEZ, J. E. (2014) – The Temporality
recente em território portugués. In Arqueologia em Portugal – of Perdigões Enclosures: Absolute Chronology of Structures and
150 Anos. Lisboa. Associação dos Arqueólogos Portugueses. Social Practices. Spal 23, p. 11–26.
VALERA, A. C. (2015) – Social change in the late third millenium BC VANDER LINDEN, M. (2007) – For equalities are plural: reassessing
in Portugal: the Twilight of enclosures. Tagungen des the social in Europe during the third millennium BC. World
Landesmuseums für Vorgeschichte. Halle. Band 13, p. 1-17. Archaeology 39 (2), p. 177-193.
VALERA, A. C.; BECKER, H.; BOAVENTURA, R. (2013) – Moreiros 2 VIDAL ENCINAS, J. M. (1990) – La Candamia. Numantia III.
(Arronches, Portalegre): Geofisica e cronología dos recintos Arqueología en Castilla y León. Valladolid.
interiores. Apontamentos de Arqueologia e Património 9, p. 37–46.

PRIMITIVA BUENO-RAMÍREZ, ROSA BARROSO-BERMEJO, RODRIGO DE BALBÍN-BEHRMANN  REDEFINING CIEMPOZUELOS. BELL-BEAKER CULTURE IN TOLEDO? 341
LA SAL Y EL CAMPANIFORME EN LA
PENÍNSULA IBÉRICA: FUENTE DE RIQUEZA,
INSTRUMENTO DE PODER ¿Y DETONANTE
DEL ORIGEN DEL ESTILO MARÍTIMO?
ELISA GUERRA DOCE
Departamento de Prehistoria, Arqueología, Antropología Social y CC.TT. Historiográficas
Universidad de Valladolid
Plaza del Campus s/n – 47011 Valladolid (España)
elisa.guerra@uva.es

342 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
R E S U M E N Entre los mecanismos a los que a mediados del III milenio cal BC las gen-
tes campaniformes pudieron recurrir para lograr su encumbramiento social, el control
sobre la producción y distribución de sal parece haber ocupado un destacado lugar en
la Península Ibérica. Este trabajo reúne evidencias en este sentido y además, analiza la
posible relación del origen del campaniforme o, más concretamente, de las piezas más
internacionales del package, los vasos de estilo Marítimo, con la producción de sal en la
Estremadura portuguesa.
PALABRAS CLAVE: campaniforme. Sal. Distribución. Estuario del Tajo. Esqueuomorfos.

A B S T R A C T Among the mechanisms that Beaker individuals might have drawn upon
by the mid-3rd millennium cal BC in order to attain wealth and power, and consequently
acquire a social position, Iberian Beaker groups might have assumed control over the pro-
duction and circulation of salt. This paper is aimed at further exploring this issue, and
assessing the possible link between the origin of the Beaker phenomenon, or, more specifi-
cally, the Maritime Beaker pots, and the production of salt in the Portuguese Estremadura
region.
KEY-WORDS: Bell Beaker. Salt. Circulation. Tagus estuary. Skeuomorphs.

ELISA GUERRA DOCE  LA SAL Y EL CAMPANIFORME EN LA PENÍNSULA IBÉRICA: FUENTE DE RIQUEZA, INSTRUMENTO DE PODER ¿Y DETONANTE DEL ORIGEN DEL ESTILO MARÍTIMO? 343
1. INTRODUCCIÓN tes du sel francesas, o las rotas do sal que desde Aveiro,
En la actualidad la interpretación más extendida y Setúbal, o Alcácer do Sal distribuían a escala interna-
aceptada sobre el fenómeno campaniforme es la que cional la sal portuguesa, por mencionar sólo algunas
ve en sus distintivas piezas un conjunto de símbolos de de las existentes en el continente europeo (Menéndez
prestigio que, durante la segunda mitad del III milenio Pérez, 2008).
cal BC habrían compartido las elites sociales del cen- No es de extrañar, por tanto, que las gentes con cam-
tro y oeste de Europa. El horizonte campaniforme no paniforme mostraran un gran interés por hacerse con el
sería, por tanto, un período cronológico, una etapa de la control sobre tan preciado bien. Así al menos pudo ocu-
Prehistoria, sino la manifestación arqueológica de una rrir en la Península Ibérica donde la asociación de cerá-
ideología que, a través de las redes de intercambio ya micas campaniformes a espacios con recursos salinos
existentes desde el Neolítico, se habría difundido entre es un hecho cada vez más habitual, lo que podría estar
las sociedades calcolíticas desde la Fachada Atlántica subrayando la importancia de la sal para los grupos
hasta los Cárpatos o, más acertadamente, entre los Ciempozuelos, quienes habrían encontrado en la dis-
individuos de alto estatus en estos territorios (Cunliffe tribución de este producto otra fuente más para lograr
2001: 215-216). riqueza, poder y posición social (Delibes & del Val, 2007-
Los mecanismos que favorecieron a las gentes con 2008). Es precisamente esta idea y el propio título del
campaniforme su encumbramiento social parecen artículo de Delibes y del Val en el que fue desarrollada,
guardar relación con el control sobre ciertas activida- la que ha dado pie a este trabajo. De este modo, tomando
des y sobre la producción y distribución de preciados como referente el yacimiento de Molino Sanchón II, en el
bienes (Guerra & Liesau, eds., 2016). La metalurgia del que nuestro equipo ha llevado a cabo dos campañas de
cobre pudo ser el detonante de este proceso, al menos excavación (2009 y 2013) bajo la dirección del profesor
en los territorios del norte de Europa (caso de las Islas Germán Delibes de Castro, nos planteamos, en primer
Británicas) donde la aparición del package campani- lugar, valorar el alcance socioeconómico que el control
forme va en paralelo a la de los primeros objetos metá- sobre la producción y distribución de este recurso pudo
licos (Fitzpatrick, 2011), pero no así en la Península Ibé- tener para los grupos campaniformes peninsulares.
rica, donde la experimentación con los minerales de Y, en segundo lugar, nos proponemos analizar la posible
cobre se remonta al V milenio cal BC (Montero y Ruiz relación del origen del campaniforme o, más concreta-
Taboada, 1996). No obstante, la presencia de vestigios mente, de las piezas más internacionales del package,
de actividad metalúrgica en espacios con cerámica los vasos de estilo Marítimo, con la producción de sal en
campaniforme (decorada además con motivos simbó- la Estremadura portuguesa (Guerra, 2016).
licos en algunos casos) (De Blas & Rodríguez del Cueto,
2015; Guerra et al., 2015: 178) o la propia utilización de
esta vajilla en las labores de reducción y fundición 2. CERÁMICAS CAMPANIFORMES EN ESPACIOS
(Guerra, 2006: 77-78; Tavares da Silva & Soares, 2014: CON RECURSOS SALINOS: ¿RECLAMANDO DERECHOS
152) son indicativas del interés de los sectores sociales DE EXPLOTACIÓN?
con campaniforme por hacerse con la tutela de la pro- Los estudios de Arqueología Espacial llevados a cabo
ducción del metal en el solar hispano. Igualmente se en el interior peninsular en los últimos años coinci-
asocian a los campaniformes ciertas materias primas den en señalar la evidente proximidad de yacimientos
y productos exóticos como el oro, el cinabrio, el marfil y, campaniformes o piezas de su equipamiento, principal-
de manera bastante evidente en la Península Ibérica, la mente cerámicas del grupo Ciempozuelos, a recursos
sal (Guerra & Liesau, eds., 2016). salinos de diversa naturaleza (Fig. 1). Así ha podido cons-
Centrándonos en este último producto, la sal cons- tatarse en la Submeseta Norte donde Germán Delibes
tituye un bien de primera necesidad para las socieda- hace tiempo llamó la atención sobre la vinculación de
des agropastoriles tradicionales –de ahí su extendida muchas de las tumbas individuales de la «Civilización
denominación de «oro blanco»– lo que la ha conver- Ciempozuelos» localizadas en las campiñas meridiona-
tido en una sustancia de enorme aprecio. Teniendo en les del Duero (Fuente Olmedo y Portillo, en Valladolid;
cuenta que su distribución geográfica no es uniforme, Pajares de Adaja, en Ávila; o Samboal y Villaverde de
existiendo territorios ricos en sal y territorios faltos de Íscar, en Segovia) a someras lagunas endorreicas de
ella, a lo largo de la historia los centros productores y carácter salino, a las que localmente se denomina lava-
los lugares en los que se llevaba a cabo su distribución jos o bodones (Delibes et al. 2007).
se han ido erigiendo en enclaves estratégicos, que- Más hacia el este, en la comarca de Tierra de Medi-
dando conectados unos y otros a través de las denomi- naceli, Soria, en donde se han excavado destacadas
nadas rutas de la sal, entre las que podríamos citar a la tumbas campaniformes como las del Túmulo de la
Via Salaria romana, la AlteSalzstraße alemana, las rou- Sima o La Peña de la Abuela (Rojo et al., 2005) y posi-

344 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 1 Localización de los yacimientos campaniformes próximos a espacios salinos que se mencionan en el texto: 1. Fuente Olmedo (Valladolid);
2. Portillo (Valladolid); 3. Pajares de Adaja (Ávila); 4. Samboal (Segovia); 5. Villaverde de Íscar (Segovia); 6. Túmulo de la Sima (Miño de Medinaceli);
7. Peña de la Abuela (Ambrona); 8. Pantoja (Toledo); 9. Humanejos (Parla, Madrid); 10. Valle de Higueras (Huecas, Toledo); 11. Cuesta de la Reina
(Ciempozuelos, Madrid); 12. Salinas de Espartinas (Ciempozuelos, Madrid); 13. Pontón Chico (Seseña, Toledo); 14. Fuente Camacho (Granada);
15. El Perical (Alcolea de las Peñas, Guadalajara); 16. Valle Salado (Añana, Vitoria); 17. Molino Sanchón II (Villafáfila, Zamora).

bles cenotafios que incluyen piezas del equipamiento la metalurgia campaniforme peninsular. Sin embargo,
campaniforme (Rojo et al., 2014), existen numerosos tras el descubrimiento de una nueva alabarda entre
humedales cuyo atractivo para las poblaciones prehis- las piezas de ajuar del varón campaniforme enterrado
tóricas pudo ser uno de los factores tras el proceso de en la U 1853 de la necrópolis madrileña de Humanejos,
neolitización del Valle de Ambrona (García Martínez de en Parla (Blasco, Montero & Flores, 2015), no hay moti-
Lagrán, 2008). Pero lo que nos interesa subrayar aquí es vos para dudar de la cronología campaniforme de La
su carácter salino, responsable de que algunas de estas Paloma y de su condición de ajuar funerario.
lagunas hayan sido explotadas comercialmente, al La riqueza de los ajuares de la necrópolis del Valle
menos desde época romana (Malpica et al., 2011a). de Higueras (Huecas, Toledo) podría encontrar, asi-
Esta misma situación se repite al otro lado del Sis- mismo, explicación en la explotación de la sal, un
tema Central, donde el impresionante conjunto metá- recurso disponible en las proximidades del cemente-
lico campaniforme de la Finca de La Paloma, en Pantoja rio, y cuya distribución habría facilitado a los grupos
(Toledo), fue recuperado en las proximidades de Fuente campaniformes el acceso a adornos de prestigio y
Amarga, nuevamente un manantial salobre (Muñoz materiales de circulación europea (Bueno, Barroso &
López Astilleros, 2002: 86). Las circunstancias de este Balbín, 2012: 20). Cabe mencionar que muy próximo al
hallazgo, fruto no de una excavación controlada sino Valle de Higueras se encuentra el asentamiento cal-
de la extracción de arcilla por un particular, han difi- colítico de Los Picos-El Fontarrón, con restos de sal en
cultado enormemente su adscripción cronocultural. una cerámica de la cabaña 8 asociada a una fecha C14
A ello también ha contribuido la presencia de dos ala- de primera mitad del III milenio cal BC (Bueno, Barroso
bardas en el conjunto, a las que parecía difícil vincular a & Balbín, 2010: 59).

ELISA GUERRA DOCE  LA SAL Y EL CAMPANIFORME EN LA PENÍNSULA IBÉRICA: FUENTE DE RIQUEZA, INSTRUMENTO DE PODER ¿Y DETONANTE DEL ORIGEN DEL ESTILO MARÍTIMO? 345
Tampoco parece fortuito el hecho de que la célebre es cierto que la datación de muestras de las maderas
necrópolis de la Cuesta de la Reina, en Ciempozuelos utilizadas en la construcción de los pozos de capta-
(Madrid), localidad de la que toma su nombre el estilo ción de salmuera del sitio francés de Fontaines Salées,
campaniforme más difundido en el interior peninsular Saint-Père-sous-Vézelay (Yonne) nos llevan al último
(Riaño, Rada y Delgado & García y López, 1894) se ubi- cuarto del III milenio cal BC, pero hay que subrayar que
que en el Bajo Jarama, entre las provincias de Toledo y no se han encontrado allí cerámicas campaniformes
Madrid, un territorio rico en recursos salinos. El atrac- (Bernard, Pétrequin & Weller, 2008). En cualquier caso,
tivo que estos pudieron ejercer explicaría, además, la las evidencias de explotación de sal en el continente
alta densidad de yacimientos prehistóricos que se han europeo durante el III milenio BC se circunscriben al
documentado en esta zona hasta la fecha, muchos de sector sudoccidental, ya que como ha señalado el prof.
los cuales han entregado cerámicas Ciempozuelos Anthony Harding, una de las máximas autoridades en
(Sanguino & Oñate, 2011; Valiente 2005-2006) y quizás Arqueología de la Sal ‘taking the third millennium as a
no esté de más recordar que el yacimiento de Huma- whole, one has to admit that there is little specific evi-
nejos se encuentra a escasos veinte kilómetros de aquí. dence anywhere, other than some isolated radiocarbon
Mencionamos ahora dos sitios por haber sido objeto dates that suggest activity was proceeding (for instance
ambos de excavación arqueológica: las Salinas de at Băile Figa, Romania)’ (Harding 2013: 88). Quedémo-
Espartinas, en la propia localidad madrileña de Ciem- nos, por tanto, con estos factores: sal/campaniformes/
pozuelos (Valiente et al., 2002; Valiente & Ramos 2009) Península Ibérica.
y Pontón Chico (Seseña, Toledo) (Arribas, 2010), a los que Volviendo al solar hispano, la proximidad de yaci-
volveremos después. mientos campaniformes a recursos salinos podría
En el sur peninsular también se ha constatado esta entonces no ser accidental, sino que este hecho tras-
asociación del campaniforme a recursos salinos, la cual, luciría el interés de las gentes campaniformes por
por el momento, se concreta en unas cuantas cerámicas controlar la explotación de la sal, como han puesto de
Ciempozuelos recuperadas en el cocedero de salmuera relieve las excavaciones efectuadas en varias factorías
de época medieval de Fuente Camacho (Loja, Granada) salineras que han proporcionado cerámicas campani-
(Terán & Morgado, 2011). formes directamente en los espacios de producción. Así
Insistentemente son cerámicas Ciempozuelos las se constata en los cocederos del Valle Salado de Añana
que aparecen vinculadas a la sal si bien conocemos (Vitoria) que si bien comenzaron a funcionar en el Neo-
algún caso que escapa de esta tónica. En Salinas de lítico, grupos campaniformes se harían con su gestión a
Espartinas, estas conviven con las de tipo Dornajos finales del III milenio, de ahí la presencia de un puñado
(Valiente, 2009). Por su parte, en el valle de Ambrona de cerámicas Ciempozuelos en las áreas de procesado
se reconocen piezas de estilo Marítimo y Puntillado (Plata & Martínez, 2014). Similar situación se observa en
Geométrico (Rojo et al., 2005). Una veintena de kiló- Salinas de Espartinas, donde el imponente montículo
metros al SW, en la comarca de Sigüenza, provincia de artificial conformado por los desechos cerámicos o bri-
Guadalajara, que hizo de la explotación de la sal obte- quetage derivados de la ebullición de salmuera, denun-
nida en el valle del río Salado la fuente de su riqueza cia la larga trayectoria de esta factoría cuyos orígenes se
y prosperidad desde época medieval, conviven los esti- remontan a la Prehistoria Reciente (Valiente et al. 2002;
los Ciempozuelos y Marítimo (Malpica et al., 2011b: 182; Valiente & Ramos 2009). También aquí las evidencias
Morère, 2007: 6-7). En uno de estos sitios seguntinos, El permiten asociar esta actividad a las élites campanifor-
Perical, en Alcolea de las Peñas, además se han detec- mes gracias al hallazgo de una treintena de fragmentos
tado ciertas depresiones cuadrangulares rebajadas en de su distintiva cerámica (Valiente 2005-2006), al igual
la roca que pudieron servir como balsas de decantación que en el cercano yacimiento de Pontón Chico, donde
en las fases iniciales del procesado de salmuera (Jimé- un cuenco Ciempozuelos aparece asociado a indicado-
nez Guijarro, 2011). Resulta interesante señalar aquí que res relacionados con la producción de sal ígnea (peanas
la presencia de especies Marítimas en los yacimientos de arcilla, estructuras de combustión, niveles de cenizas
de Sigüenza y en varios yacimientos sorianos se ha y carbones) (Arribas, 2010).
explicado por la existencia de rutas de intercambio a Pero es en el cocedero de Molino Sanchón II, loca-
través del interior peninsular que, aprovechando el lizado en las Lagunas de Villafáfila (Zamora), un con-
curso del Tajo conectaría su desembocadura, en Lisboa, junto de esteros de carácter salino, donde la presencia
con los Pirineos (Alday, 2001). campaniforme se manifiesta con mayor rotundidad.
Hasta donde sabemos, únicamente los grupos Este yacimiento que ha sido objeto de dos campañas de
campaniformes de la Península Ibérica mostraron excavación (2009 y 2013) afectando a una superficie de
interés por la sal ya que, por el momento, las eviden- 72 m2 (Abarquero et al., 2012; e.p.) ha permitido recuperar
cias arqueológicas no permiten sugerir otra cosa. Bien un millar amplio de cerámicas campaniformes (Fig. 2).

346 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 2 Grupos tipológicos de las cerámicas campaniformes de Molino Sanchón II: I. Grandes vasos carenados; II. Cuencos; III. Vasos; IV. Cazuelas;
V. Recipientes globulares.

La ocupación del yacimiento se desarrolló en tres fases: mico total de Molino Sanchón II, integrado por 52.500
las más moderna (fase III) corresponde a una necrópo- efectivos por lo que la cerámica campaniforme repre-
lis medieval, mientras que en las dos restantes (Fases senta únicamente un 1,7% – algo, por otra parte habi-
I y II) Molino Sanchón II funcionó como un centro tual en los yacimientos campaniformes no funerarios-.
especializado en la producción de sal por ebullición. Por lo que respecta a las variedades estilísticas, salvo un
En función de las dataciones absolutas disponibles pequeño fragmento aparecido en la fase Ia-b durante
para la ocupación prehistórica, obtenidas a partir de la campaña de 2009, el cual muestra una serie de líneas
carbones y huesos de fauna, la sub fase Ia-b se habría de puntos impresos que recuerda enormemente al
desarrollado entre ca. 2400-2200 cal BC, a la que habría Marítimo Lineal, la colección se enmarca sin problemas
seguido la subfase Ic para la que únicamente contamos en el grupo Ciempozuelos, eso sí con representación de
con una fecha sobre carbón (PoZ-35223 = 3765 ± 35 BP), las variantes Silos/Vaquera y Molino.
y finalmente la fase II, se sitúa a caballo entre el III y Descartada su utilización directa en las labores sali-
II milenios cal BC (Abarquero et al., e.p.). La colección neras, a la vista de los bajos porcentajes de cloruro que
campaniforme, a día de hoy seguramente la más abun- presenta la vajilla campaniforme en comparación con
dante a nivel peninsular en cuanto a número de res- las producciones cerámicas del yacimiento implicadas
tos, se reparte de la siguiente manera: un centenar de en el proceso productivo (Odriozola & Martínez-Blanes,
fragmentos carecen de contexto, al haber sido recogi- 2012), nos planteamos su función simbólica. De este
dos en el transcurso de prospecciones superficiales del modo, la cerámica campaniforme en Molino Sanchón
entorno o estar incluidos en los rellenos de las tumbas II serviría como distintivo con el que materializar la
medievales de la Fase III; los otros 924 trozos se recupe- reivindicación de las élites campaniformes sobre los
raron durante la excavación de los estratos correspon- derechos de explotación del oro blanco (Guerra et al.
dientes a la ocupación prehistórica (878 proceden de la 2011; 2015), empleándola en el transcurso de ceremo-
fase I y sólo 46 de la fase II). Esta abundancia, no obs- nias rituales de carácter propiciatorio (Abarquero et al.,
tante, resulta relativa si atendemos al conjunto cerá- 2012; Delibes; Guerra & Abarquero, 2016).

ELISA GUERRA DOCE  LA SAL Y EL CAMPANIFORME EN LA PENÍNSULA IBÉRICA: FUENTE DE RIQUEZA, INSTRUMENTO DE PODER ¿Y DETONANTE DEL ORIGEN DEL ESTILO MARÍTIMO? 347
3. ¿Y ANTES DEL APOGEO DEL CAMPANIFORME? briquetage cuyo peso puede que ronde una tonelada
EVIDENCIAS DE LA INTENSIFICACIÓN DE LA (Valera; Tereso & Rebuge, 2006: 293) mientras que en
EXPLOTACIÓN DE LA SAL EN LA ESTREMADURA Ponta da Passadeira, Barreiro (Soares 2008: 361; 2013a),
PORTUGUESA A COMIENZOS DEL CALCOLÍTICO donde se han excavado 120 m2 se supera esa cantidad.
Parece que en la Península Ibérica la sal habría Ya en el estuario del Sado, las evidencias que Possanco
comenzado a explotarse con cierta intensidad avan- (Comporta) ofrece con relación a la explotación de sal
zado el Neolítico. Ya hemos mencionado el Valle Salado, son similares (Soares & Tavares, 2013: 163), al igual que
en Añana, donde mucho antes de que los campanifor- Praia do Forte Novo (Quarteira), en el Algarve, donde
mes hicieran acto de presencia, hay indicios de activi- se han recuperado 7.562 fragmentos cerámicos en una
dad salinera por el método de cocción de mueras desde pequeña cata de 13 m2 (Rocha, 2013).
la primera mitad del V milenio cal BC (Martínez Torre- Estas impresionantes acumulaciones de briquetage
cilla; Plata & Sánchez Zufiaurre, 2013). Las labores de y peanas claramente demuestran que la producción de
extracción de sal gema en la Muntanya de Sal, un dia- sal no estaría únicamente destinada al abastecimiento
piro salino que aflora en la Vall Salina de Cardona (Bar- de las poblaciones locales sino al intercambio (Valera;
celona), se enmarcan en el Neolítico Medio (4500-3500 Tereso & Rebuge, 2006: 296). En este sentido, Joaquina
cal BC), y ya entonces el producto comenzó a circular en Soares (2013a) ha profundizado sobre la circulación de
las redes de intercambio a nivel regional y suprarregio- la sal en una red de intercambios a escala regional que
nal (Fíguls; Weller & Grandia, 2011). En este sentido cabe conectaría a las comunidades del litoral atlántico con
señalar el hallazgo de restos de sal en una cerámica del las de la cuenca media del Guadiana y que puede ras-
asentamiento neolítico de Ca l´Oliaire, en Berga (Mar- trearse arqueológicamente gracias al hallazgo en estas
tín et al., 2007), a unos 30 km al NE de Cardona. zonas de interior de conchas de moluscos marinos, con
A partir de finales del IV milenio cal BC, será en el algunos casos muy notables como la tumba 3 de La Pijo-
cuadrante sudoccidental de la Península Ibérica donde tilla por distar más de 200 km de la costa (Soares, 2013b:
se observa una intensa actividad relacionada con la 384). Este modelo sugiere una división socioterritorial
producción de sal en yacimientos de la costa atlántica, del trabajo, en la que las gentes del estuario del Tajo se
denunciada por las ingentes acumulaciones de brique- dedicarían a la pesca, el marisqueo y el procesado de
tage en las que se distinguen algunas peanas de barro agua marina para la obtención de sal, mientras que las
y centenares de cascotes cerámicos que se mezclan sin del interior tendrían una clara orientación agropastoril.
ningún orden entre niveles de cenizas y carbones. Así Las tierras interiores también habrían aportado mine-
ha podido constatarse en los sitios del Neolítico Medio rales de cobre, de probarse que las piezas metálicas de
de Barrosinha o Malhada Alta, en el estuario del Sado los grandes poblados calcolíticos de la desembocadura
(Soares & Tavares, 2013: 160). En La Marismilla (Puebla del Tajo (Zambujal o VNSP), fueron confeccionadas
del Río, Sevilla), un yacimiento del Neolítico Final loca- con los cobres de las mineralizaciones de Zona Ossa
lizado en la paleodesembocadura del Guadalquivir que Morena, en la Sierra de Huelva (Müller et al., 2007). Sea
se lleva al 3000 a.C por la tipología de la colección cerá- como fuere, en última instancia estos intercambios
mica, las evidencias son similares, si bien en este caso, acabarían desembocando en fracturas y desigualdades
la ausencia de carbones y cenizas ha llevado a barajar sociales a escala regional, y por lo que a la sal respecta,
la posible utilización de excrementos secos de bóvidos ésta junto con las conchas se convertirían en «agentes
como combustible (Escacena; Rodríguez de Zuloaga & de desigualdade e de complexidade social, emum mundo
Ladrón de Guevara, 1996). em profunda transformação como o do III milenio cal BC,
En el tránsito entre el IV y el III milenio cal BC, cultu- no SW ibérico» (Soares, 2013a: 189). En la segunda mitad
ralmente a caballo entre el Neolítico Final y el Calcolítico del III milenio cal BC la cultura material de algunos de
Inicial, se produce una intensificación de la explotación los enclaves de la cuenca media del Guadiana (Porto
de la sal en el área comprendida entre los estuarios del das Carretas, Mercador) sugiere una mayor fluidez en la
Tajo y el Sado, lo que vendría indicado por las acumula- circulación de bienes de prestigio, si bien faltan aún por
ciones de desechos cerámicos que llegan a contarse por localizarse en el litoral las factorías de sal que les habrían
decenas de millares en algunos enclaves de este terri- suministrado el preciado recurso (Soares, 2013b: 384).
torio al que, no haría falta recordarlo, tradicionalmente Toda esta rica documentación sobre la intensificación
se ha considerado la cuna del campaniforme. Tipoló- de la producción de sal en la Estremadura portuguesa a
gicamente se reparten entre los corniformes de cerá- comienzos del III milenio cal BC es la que nos ha llevado
mica, y sobre todo, grandes recipientes abiertos de per- a lanzar una propuesta sobre el origen del campani-
fil cónico y fondo plano. Por ejemplo, la excavación en forme, según la cual los vasos de estilo Marítimo cons-
Monte da Quinta 2, Benavente, que afectó a una super- tituirían una imitación de los cestillos de fibras vegeta-
ficie de 30 m2, entregó una impresionante colección de les utilizados para la comercialización de la sal desde el

348 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
estuario del Tajo hacia el norte de Europa (Guerra, 2016).
La idea de que las cerámicas de estilo Internacional fue-
ran esqueuomorfos, es decir, imitaciones en barro de
auténticos cestos fue lanzada hace más de un siglo por
Louis Siret (1913), a la vista de las evidentes similitudes
formales de algunos de estos vasos acampanados con
las conocidas bolsitas de esparto de la Cueva de los Mur-
ciélagos (Albuñol, Granada) (Fig. 3). Esta circunstancia
nos hizo reflexionar sobre la posible utilización de con-
tenedores orgánicos en las labores de moldeado de la sal
en las factorías campaniformes peninsulares, sirviendo
además como estuches para la posterior distribución del
producto, algo que está bien documentado etnográfica y
arqueológicamente (Guerra; Abarquero & Delibes, e.p.) FIG. 3 Comparación de uno de los cestillos de esparto de la Cueva
de los Murciélagos de Albuñol, Granada (fotografía del Museo
(Fig. 4). Uno de los principios básicos de la distribución
Arqueológico Nacional de Madrid), a la izquierda, y un vaso
de sal en sociedades tradicionales es que el oro blanco Marítimo de Alapraia 2 (fotografía de Victor Gonçalves), a la derecha.
se compacte para conformar los denominados panes de
sal, que deben ser duros y estandarizados en cuanto a
forma y peso para, por un lado, facilitar su transporte y,
por otro, identificar al productor (Gouletquer & Weller
2015: 24). Como señala Oliver Weller (2004: 109) «No se
trata exclusivamente de producir sal, sino de hacer panes
de sal de calidades, volúmenes y pesos estandarizados. El
pan de sal se convierte en un objeto social, un marcador
que identifica al grupo productor. Con esta presentación
circulará fácilmente, podrá partirse sin perder el valor de
uso y ser almacenado en buen estado durante años».
Si hay una pieza en el registro arqueológico europeo
que mejor refleja la idea de estandarización y circula-
ción es, sin lugar a dudas, la cerámica campaniforme
de estilo Marítimo (Salanova, 2000). Desde su cuna,
en la Estremadura portuguesa, se habría difundido
por la fachada atlántica europea (Cardoso, 2014; Sala- FIG. 4 Recreación del modelado de la sal en cestillos a partir de
las evidencias arqueológicas documentas en la factoría de Molino
nova, 2004) seguramente a través de una ruta por mar
Sanchón II (Villafáfila, Zamora).
abierto con escalas en Galicia, la Bretaña y el entorno
báltico, de ahí las similitudes técnicas en la decoración
de bandas impresas a concha (Salanova& Prieto, 2011). (Almeida, 2005). Con más razón habrían necesitado
Por tanto, partiendo de estas premisas y retomando sal las comunidades calcolíticas de Galicia, donde las
nuestra propuesta, no nos resistimos a señalar una condiciones climáticas pudieron haber dificultado la
serie de circunstancias que pueden no ser casuales. explotación de sal marina con anterioridad a la época
Es precisamente este mismo itinerario el que siguie- romana (Castro, 2006). La presencia de residuos de sal
ron los comerciantes portugueses en sus intercambios en un vaso campaniforme Marítimo del túmulo 242 de
comerciales con el norte de Europa desde la Edad Media As Pontes de García Rodríguez (La Coruña) (Fernández
hasta finales del siglo XVIII activando así una flore- Ibáñez, 1991) podría suponer, desde esta perspectiva un
ciente ruta de la sal, que desde los puertos de Setúbal y argumento añadido.
Aveiro permitía la distribución del mineral luso (Antu-
nes, 2008). A pesar de la existencia de centros locales
de producción, se prefería la sal portuguesa debido a su 4. A MODO DE REFLEXIÓN
alta calidad (Barros, 2005), de ahí que en la corte de los De resultar cierta esta propuesta, los centros pro-
zares rusos se usara en determinados platos la de Setú- ductores de sal de la Estremadura portuguesa habrían
bal en vez del producto local (Kraikovski & Lajus, 2005). intensificado la actividad hacia finales del IV e inicios
En la Edad Media los comerciantes portugueses del III milenio cal BC para distribuir el producto a escala
hacían escala en la región de Galicia, ya que los textos internacional. La sal, además, habría posibilitado la
medievales refieren la importación de sal de Aveiro conservación de alimentos con lo que habría facilitado

ELISA GUERRA DOCE  LA SAL Y EL CAMPANIFORME EN LA PENÍNSULA IBÉRICA: FUENTE DE RIQUEZA, INSTRUMENTO DE PODER ¿Y DETONANTE DEL ORIGEN DEL ESTILO MARÍTIMO? 349
los viajes a distancias cada vez mayores. En este sen- Europa en donde, desde el Neolítico la sal se explotaba
tido, el famoso arquero de Amesbury, que siendo origi- con intensidad y hay sólidas evidencias de su distri-
nario de Centroeuropa acabó sus días en el sur de Ingla- bución en redes de intercambio a larga distancia. No
terra, acompañado por un ajuar funerario que reclama hay necesidad de sal portuguesa y como resultado, los
conexiones con diversos puntos de Europa (Fitzpatrick, vasos del Grupo Internacional son desconocidos allí
2011) es un buen exponente del alcance de los desplaza- (Guerra, e.p.). Por su parte, en el interior peninsular los
mientos en la Europa del III milenio cal BC. grupos Ciempozuelos comenzaron a explotar recursos
Es posible que en sus escalas por la costa atlántica, los salinos con cierta intensidad (Molino Sanchón II) lo que
navegantes portugueses hubieran necesitado reponer haría innecesaria la importación del oro blanco desde
el suministro de sal y así se explicaría la similitud de los el estuario del Tajo. Así encontraría una explicación la
recipientes cerámicos empleados en labores salineras de escasa o nula representación del Estilo Marítimo en
las factorías portuguesas y los recuperados en algunos ciertos territorios (caso de las campiñas meridionales
recintos de fosos de la Francia atlántica entre el Loira y del Duero). ¿Serían entonces las cerámicas Ciempozue-
el Gironda (Cassen & Weller, 2013: 271, fig. 6). La circula- los, con nuevas tonalidades, ornamentación y técnicas
ción del oro blanco pudo haberse realizado en pequeños decorativas, una imitación también de contenedores
cestillos elaborados con fibras vegetales, de los que hay orgánicos con un estilo diferente en un intento por
constancia etnográfica en labores de almacenamiento diferenciar productores de sal? (Fig. 5).
(Peña Chocarro et al. 2015) y una buena documentación Por ahora nos movemos en el terreno de las hipó-
en relación con la sal (Guerra; Abarquero & Delibes, e.p.). tesis a falta de contar con nuevos datos arqueológicos
Hacia la segunda mitad del III milenio cal BC, los que permitan o no corroborarlas. Por supuesto que un
vasos Marítimos, que pudieron haber encontrado su fenómeno tan complejo y multidimensional como es el
inspiración en estos saquitos destinados a la distribu- campaniforme no puede explicarse únicamente a par-
ción de la sal, serían el reflejo material de esas rutas tir de la distribución de la sal pero es un factor a tener
de la sal por el occidente europeo, frenándose brusca- en cuenta. Tendremos que esperar al hallazgo de evi-
mente su expansión en las regiones más orientales de dencias de actividad salinera en la Estremadura portu-

FIG. 5 Improntas de cestería en barros y cerámicas de Molino Sanchón II (Villafáfila, Zamora).

350 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
guesa en contextos de la segunda mitad del III milenio BUENO RAMÍREZ, P.; BARROSO BERMEJO, R.; & BALBÍN
cal BC, para ver efectivamente si es posible confirmar la BEHRMANN, R. DE (2010) – Entre lo visible y lo invisible:
registros funerarios de la Prehistoria Reciente de la
vinculación de la sal al Grupo Internacional. De nuevo
Meseta Sur. In BUENO, P.; GILMAN, A.; MARTÍN MORALES,
la clave parece encontrarse en el estuario del Tajo. C.; SÁNCHEZ PALENCIA, F. J. (eds.), Arqueología, sociedad,
territorio y paisaje: Estudios sobre Prehistoria Reciente,
Protohistoria y Transición al mundo romano en homenaje
AGRADECIMIENTOS a M.ª Dolores Fernández-Posse. Madrid: CSIC, p. 53-73.
Deseamos expresar nuestro agradecimiento a Fran- BUENO RAMÍREZ, P.; BARROSO BERMEJO, R.; & BALBÍN
cisco Tapias López por su ayuda en la preparación de BEHRMANN, R. DE (2012) – 5.000 años atrás: Primeros
agricultores y metalúrgicos del Valle de Huecas (Huecas,
las figuras.
Toledo). Madrid: Universidad de Alcalá de Henares.
CARDOSO, J. L. (2014) – Absolute chronology of the Beaker
BIBLIOG RAFÍA phenomenon North of the Tagus estuary: demographic
and social implications. Trabajos de Prehistoria. 71: 1,
ABARQUERO MORAS, F. J.; GUERRA DOCE, E.; DELIBES DE CASTRO,
p. 56-75.
G.; LÓPEZ SÁEZ, J.Á. (e.p.) – La explotación de la sal durante la
Prehistoria en las Lagunas de Villafáfila (Zamora): CASSEN, S.; WELLER, O. (2013) – Idées et faitsrelatifs à la
Los cocederos de Molino Sanchón II y Santioste. Cuaternario production des selsmarins et terrestres en Europe, du Vie
y Geomorfología. au IIIe millénaire. In SOARES, J. (ed.), Pré-História das Zonas
Húmidas: Paisagens de Sal. Setúbal, Museu de Arqueologia
ABARQUERO MORAS, F. J.; GUERRA DOCE, E.; DELIBES DE CASTRO,
e Etnografia do Distrito de Setúbal, p. 255-304. Setúbal
G.; PALOMINO LÁZARO, Á. L.; DEL VAL RECIO, J. (2012) –
Arqueológica 14.
Arqueología de la sal en las Lagunas de Villafáfila (Zamora):
Investigaciones sobre los cocederos prehistóricos. Valladolid: CASTRO CARRERA, C. (2006) – La salina romana de «O Areal»,
Junta de Castilla y León. Col. Arqueología en Castilla y León, Vigo (Galicia). In HOCQUET, J. C.; SARRAZIN, J. L. (dirs.), Le Sel
Monografías 9. de la Baie: Histoire, archéologie, ethnologie des sels atlantiques.
Rennes: Presses universitaires de Rennes, p. 105-122.
ALDAY RUIZ, A. (2001) – Vías de intercambio y promoción del
campaniforme marítimo y mixto sobre el interior peninsular. CUNLIFFE, B. (2001) – Facing the Ocean: The Atlantic and Its
Cuadernos de Arqueología de la Universidad de Navarra. 9, Peoples 8000 BC-AD 1500. Oxford: Oxford UniversityPress.
p. 111-174. DE BLAS CORTINA, M. A.; RODRÍGUEZ DEL CUETO, F. (2015) –
ALMEIDA, C. A. B. DE (2005) – A exploração do sal na costa La cuestión campaniforme en el Cantábrico Central y
portuguesa a Norte do Rio Ave. Da Antiguidade Clássica las minas de cobre prehistóricas de la sierra del Aramo.
à Baixa Idade Média. In AMORIM, I. (coord.), I Seminário Cuadernos de Prehistoria y Arqueología de la Universidad
Internacional sobre o sal portugués. Porto: Instituto de História Autónoma de Madrid. 41, p. 165-179.
Moderna da Universidade do Porto, p. 137-170. DELIBES DE CASTRO, G.; DEL VAL RECIO, J. (2007-2008) –
ANTUNES C. A. P. (2008) – The commercial relationship between La explotación de la sal al término de la Edad del Cobre en
Amsterdam and the Portuguese salt-exporting ports: Aveiro and la Meseta central española: ¿fuente de riqueza e instrumento
Setubal, 1580-1715. Journal of Early Modern History. 12, p. 25-53. de poder de los jefes Ciempozuelos? Veleia. 24-25,
p. 791-811.
ARRIBAS, R. (2010) – El yacimiento arqueológico de la Edad del
Bronce de Pontón Chico, Seseña, Toledo. In MADRIGAL, A.; DELIBES DE CASTRO, G.; FERNÁNDEZ MANZANO, J.; RODRÍGUEZ
PERLINES, M. (eds.), Actas de las II Jornadas de arqueología RODRÍGUEZ, E.; DEL VAL RECIO, J. (2007) – Molino Sanchón II:
de Castilla-La Mancha (Toledo 2007) 1. Toledo: Junta de Un salín de época campaniforme en Las Lagunas de Villafáfila
Castilla-La Mancha, p. 72-100. (Zamora). In MORÈRE MOLINERO, N. E. (ed.), Las salinas
BARROS CARDOSO, A. (2005) – O sal português nos cais de y la sal de interior en la Historia: Economía, medioambiente
Londres e nos outros portos das Ilhas Britânicas (Séc. XVIII). y sociedad, vol. 1. Madrid: Dykinson (Actas del Congreso
In AMORIM, I. (coord.), I Seminário Internacional sobre o Internacional 6-10 de septiembre de 2006, Sigüenza,
sal portugués. Porto: Instituto de História Moderna da Guadalajara), p. 47-72.
Universidade do Porto, p. 211-230. DELIBES DE CASTRO, G.; GUERRA DOCE, E.; ABARQUERO
BERNARD, V., PÉTREQUIN, P., WELLER, O. (2008) ­– Captages en MORAS, F.J. (2016) – Rituales campaniformes en contextos
bois à la fin du Néolithique: les Fontaines Salées à Saint-Père- no funerarios: La factoría salinera de Molino Sanchón II
sous-Vézelay. In WELLER, O.; DUFRAISSE, A; PÉTREQUIN, P. (Villafáfila, Zamora). ARPI: Arqueología y Prehistoria del
(eds.), Sel, eau etforêt: D´hier à aujourd´hui. Besançon: Presses interior peninsular. 4 Extra (Homenaje a Rodrigo de Balbín
Universitaires de Franche-Comté, Cahiers de la MSH Ledoux Behrmann), p. 286-297
12, p. 299-333. Col. Homme etenvironnement 1. ESCACENA CARRASCO, J. L.; RODRÍGUEZ DE ZULOAGA
BLASCO BOSQUED, C.; MONTERO, I.; FLORES, R. (2016) – Bell MONTESINO, M.; LADRÓN DE GUEVARA SÁNCHEZ, I. (1996) –
Beaker funerary copper objects from the center of the Iberian Guadalquivir salobre: Elaboración prehistórica de sal
Peninsula in the context of the Atlantic connections. In marina en las antiguas bocas del río. Sevilla: Confederación
GUERRA DOCE, E.; LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C. (eds.), Hidrográfica del Guadalquivir.
Analysis of the Economic Foundations supporting the Social FERNÁNDEZ IBÁÑEZ, C. (1991) – Conservación y restauración
Supremacy of the Beaker Groups. Proceedings of the XVII de cerámica campaniforme: Trabajos desarrollados en uno
UISPP World Congress (1-7 September, Burgos, Spain). Volume 6: de los recipientes del monumento megalítico de As Pontes.
Session B36. Oxford: Archeopress Archaeology, p. 19-35. Gallaecia. 12, p. 153-169.

ELISA GUERRA DOCE  LA SAL Y EL CAMPANIFORME EN LA PENÍNSULA IBÉRICA: FUENTE DE RIQUEZA, INSTRUMENTO DE PODER ¿Y DETONANTE DEL ORIGEN DEL ESTILO MARÍTIMO? 351
FIGULS, A.; WELLER, O.; GRANDIA, F. (2010) – La Vall Salina de HARDING, A. (2013) – Salt in Prehistoric Europe. Leiden: Sidestone
Cardona: los orígenes de la minería de la sal gema y las Press.
transformaciones socioeconómicas en las comunidades del JIMÉNEZ GUIJARRO, J. (2011) – The Beginning of the Salt
neolítico medio catalán. In ABARQUERO MORAS, F. J.; GUERRA Exploitation in Spain: Thinking about the Salt Exploitation in
DOCE, E. (eds.), Los yacimientos de Villafáfila (Zamora) en el the Iberian Peninsula during Prehistoric Times. In ALEXIANU,
marco de las explotaciones salineras de la prehistoria europea. M.; WELLER, O.; CURCĂ, R. G. (eds.), Archaeology and
Valladolid: Junta de Castilla y León, p. 49-83. Col. Actas. Anthropology of Salt: A Diachronic Approach. Proceedings
FITZPATRICK, A. P. (2011) – The Amesbury Archer and the Boscombe of the International Colloquium, 1-5 October 2008. ‘Al. I. Cuza’
Bowmen. Bell Beaker burials at Boscombe Down, Amesbury, University (Ias.i, Romania): Oxford: Archaeopress, p. 123-133,
Wiltshire. Wessex: Wessex Archaeology (Wessex Archaeology Col. British Archaeological Reports International Series
Report, 27). 2198.
GARCÍA MARTÍNEZ DE LAGRÁN, I. (2008) – Los humedales KRAIKOVSKI, A. V.; LAJUS, J. A. (2005) – The adventures of
y las zonas endorreicas en los modelos de colonización del Portuguese salt in Russia from the 17th to the 20th century.
interior peninsular durante el Neolítico Antiguo: el valle de In AMORIM, I. (coord.), I Seminário Internacional sobre o
Ambrona y el valle del Ebro. Actas de las I Jornadas de Jóvenes sal portugués. Porto: Instituto de História Moderna da
en Investigación Arqueológica: Dialogando con la cultura Universidade do Porto, p. 279-285.
material. Madrid, 3-5 de septiembre de 2008. Vol I, p. 155-162. MALPICA CUELLO, A.; MORÈRE MOLINERO, N.; FÁBREGAS
GOULETQUER, P.; WELLER, O. (2015) – Techniques of salt GARCÍA, A.; JIMÉNEZ GUIJARRO, J. (2011b) – Land Organisation
making: from China (Yangtze River) to their world context. and Salt Production in Region of the Salado
In BRIGAND, R.; WELLER, O. (eds.), Archaeology of Salt: River (Sigüenza, Province of Guadalajara, Spain): Ancient
Approaching an Invisible Past. Leiden: Sidestone Press, p. 13-27. and Medieval Times. Results of the First Campaing 2008.
GUERRA DOCE, E. (2006) – Sobre la función y el significado de In ALEXIANU, M.; WELLER, O.; CURCĂ, R. G. (eds.), Archaeology
la cerámica Campaniforme a la luz de los análisis de and Anthropology of Salt: A Diachronic Approach. Proceedings
contenidos. Trabajos de Prehistoria. 63: 1, p. 69-84. of the International Colloquium, 1-5 October 2008. ‘Al. I. Cuza’
University (Ias.i, Romania): Oxford: Archaeopress,
GUERRA DOCE, E. (2016) – Salt and Beakers in the third
p. 179-185. Col. British Archaeological Reports International
millennium BC. In GUERRA DOCE, E.; LIESAU VON LETTOW-
Series 2198.
-VORBECK, C. (eds.), Analysis of the Economic Foundations
supporting the Social Supremacy of the Beaker Groups. MALPICA CUELLO, A.; MORÈRE MOLINERO, N.; JIMÉNEZ
Proceedings of the XVII UISPP World Congress (1-7 September, GUIJARRO, J.; GARCÍA-CONTRERAS RUIZ, G. (2011a) – Paisajes
Burgos, Spain). Volume 6: Session B36. Oxford: Archeopress de la sal en la Meseta castellana desde la Prehistoria a la Edad
Archaeology, p. 95-110. Media: el valle del Salado (Guadalajara). In JIMÉNEZ PUERTAS,
M.; GARCÍA-CONTRERAS RUIZ, G. (eds), Paisajes históricos
GUERRA DOCE, E. (e.p.) – Assessing the role of salt in the spread
y Arqueología Medieval. Granada: Alhulia, p. 233-276
of the Beaker Phenomenon across Western Europe during
the Third Millennium BC. In First International Congress on MARTÍN, A., JUAN-TRESSERRAS, J., MARTÍN, J.; VILLALBA, P. (2007)
the Anthropology of Salt (20–24 August 2015) «Al. I. Cuza» – Indicios de sal en el yacimiento neolítico de Ca l’Oliaire
University of Ias.i, Ias.i, Romania. (Berga, Barcelona). In FÍGULS, A. & WELLER, O. (eds.),
1.a Trobada internacional d’arqueologia envers l’explotació de
GUERRA DOCE, E.; ABARQUERO MORAS, F. J.; DELIBES DE
la sal a la prehistòria i protohistòria. Cardona, 6-8 de desembre
CASTRO, G. (e.p.) – A technological approach to the
del 2003. Cardona: Institut de Recerques envers la Cultura,
production sequence at the Beaker brine-boiling site
p. 175-198. Arqueologia Cardonensis I.
of Molino Sanchón II (Villafáfila, Zamora, Spain): Some
hypotheses about the moulding of salt and its absence in MARTÍNEZ TORRECILLA, J. M.; PLATA MONTERO, A.; SÁNCHEZ
the archaeological record. In First International Congress on ZUFIAURRE, L. (2013) – Paisaje Cultural del Valle Salado
the Anthropology of Salt (20–24 August 2015) «Al. I. Cuza» de Añana. Intervención arqueológica en el extremo sur.
University of Ias.i, Ias.i, Romania. Arkeoikuska. 12, p. 48-53.
GUERRA DOCE, E.; ABARQUERO MORAS, F. J.; DELIBES DE CASTRO, MENÉNDEZ PÉREZ, E. (2008) – Las rutas de la sal. Oleiros
G.; PALOMINO LÁZARO, Á. L.; DEL VAL RECIO, J. (2015) – (La Coruña): Netbiblo.
Bell Beaker pottery as a symbolic marker of property rights: MONTERO RUIZ, I.; RUIZ TABOADA, A. (1996) – Enterramiento
The case of the salt production centre of Molino Sanchón colectivo y metalurgia en el yacimiento neolítico de
II, Zamora, Spain. In PRIETO MARTÍNEZ, M. P.; SALANOVA, L. Cerro Virtud (Cuevas de Almanzora, Almería). Trabajos de
(eds.) – The Bell Beaker Transition in Europe: Mobility and local Prehistoria. 53: 2, p. 55-75.
evolution during the 3rd millennium BC. Oxford: Oxbow Books, MORÈRE MOLINERO, N. (2007) – La sal en el desarrollo histórico
p. 169-181. de Sigüenza. Los primeros siglos. In MORÈRE MOLINERO,
GUERRA DOCE, E.; DELIBES DE CASTRO, G.; ABARQUERO MORAS, N. E. (ed.), Las salinas y la sal de interior en la Historia:
F. J.; DEL VAL RECIO, J.; PALOMINO LÁZARO, Á. L. (2011) – Economía, medioambiente y sociedad, vol. 1. (Actas del
TheBeaker Salt Production Centre of Molino Sanchón II, Congreso Internacional 6-10 de septiembre de 2006, Sigüenza,
Zamora, Spain. Antiquity. 85: 329, p. 805-818. Guadalajara). Madrid: Dykinson, p. 3-30.
GUERRA DOCE, E.; LIESAU VON LETTOW-VORBECK, C. (eds.) (2016) MÜLLER, R.; GOLDENBERG, G.; BARTELHEIM, M.; KUNST, M.;
– Analysis of the Economic Foundations supporting the PERNICKA, E. (2007) – Zambujal and the beginnings
Social Supremacy of the Beaker Groups. Proceedings of the of metallurgy in southern Portugal. In LA NIECE, S.; HOOK,
XVII UISPP World Congress (1-7 September, Burgos, Spain). D.; CRADDOCK, P. (eds.), Metals and Mines: Studies in
Volume 6: Session B36. Oxford: Archeopress Archaeology. Archeometallurgy. London: Archetype, p. 15-25.

352 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
MUÑOZ LÓPEZ-ASTILLEROS, K. (2002) – El hallazgo metálico de SIRET, L. (1913) – Questions de chronologie et d´ethnographie
«La Paloma» en el contexto de la Edad del Bronce del Tajo ibériques. Tome I: De la fin du Quaternaire a la fin du Bronze.
Central: Una revisión actualizada. Estudios de Prehistoria Paris: Paul Geuthner.
y Arqueología Madrileñas. 12, p. 79-93. SOARES, J. (2008) – Economias anfíbias na costa sudoeste ibérica
ODRIOZOLA LLORET, C. P.; MARTÍNEZ-BLANES, J. M. (2012) – IV/III milenios BC: O caso da Ponta da Passadeira (Estuário
Cerámica para la producción de sal en Villafáfila: estudio do Tejo). In HERNÁNDEZ PÉREZ, M. S.; SOLER DÍAZ, J. A.;
tecnofuncional a la luz de los análisis de pasta. In ABARQUERO LÓPEZ PADILLA, J. A. (eds.), Actas del IV Congreso de Neolítico
MORAS, F. J.; GUERRA DOCE, E.; DELIBES DE CASTRO, G.; Peninsular. Alicante 27-30 Noviembre 2006. Tomo II. Alicante:
PALOMINO LÁZARO, Á. L.; VAL RECIO J. DEL (eds.), Arqueología Museo Arqueológico de Alicante, p. 356-364.
de la sal en las Lagunas de Villafáfila (Zamora): Investigaciones SOARES, J. (2013a) – Sal e conchas na Pré-História portuguesa.
sobre los cocederos prehistóricos. Valladolid: Junta de Castilla O povoado da Ponta da Passadeira (estuário do Tejo).
y León, p. 435-465. Col. Arqueología en Castilla y León, In SOARES, J. (ed.), Pré-História das Zonas Húmidas:
Monografías 9. Paisagens de Sal. Setúbal: Museu de Arqueologia e Etnografia
PEÑA CHOCARRO, L.; PÉREZ JORDÁ, G.; MORALES MATEOS, do Distrito de Setúbal, p. 171-196. Setúbal Arqueológica 14.
J.; ZAPATA, L. (2015) – Storage in traditional farming SOARES, J. (2013b) – Transformações sociais durante o III milénio
communities of the Western Mediterranean: Ethnographic, AC no sul de Portugal. O povoado do Porto das Carretas.
historic and archaeological data. Environmental Archaeology. Alqueva: EDIA (Empresa de desenvolvimento e Infra-
20:4, p. 379-389. estructuras do Alqueva) (Memórias d’Odiana 2.ª série).
PLATA MONTERO, A.; MARTÍNEZ TORRECILLA. J. M. (2014) – SOARES, J.; TAVARES DA SILVA, C. (2013) – Economia agro-
Explotación salinera. Excavación en el sector 25. Arkeoikuska. -marítima na Pré-História do estuário do Sado. Novos dados
13, p. 55-63. sobre o Neolítico da Comporta. In SOARES, J. (ed.) –
RIAÑO, J. F.; RADA Y DELGADO, J. D. DE LA; GARCÍA Y LÓPEZ, J. C. Pré-História das Zonas Húmidas: Paisagens de Sal. Setúbal:
(1894) – Hallazgo prehistórico en Ciempozuelos. Boletín Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal,
de la Real Academia de la Historia. 25, p. 436-450. p. 145-170. Setúbal Arqueológica 14.
ROCHA, L. (2013) – A Praia do Forte Novo. Un sítio de produção TAVARES DA SILVA, C.; SOARES, J. (2014) – O Castro de Chibanes
de sal na costa algarvia? InSoares, J. (ed.), Pré-História (Palmela) e o tempo social do III milénio BC na Estremadura.
das Zonas Húmidas: Paisagens de Sal. Setúbal: Museu de Setúbal Arqueológica. 15 (II Encontro de Arqueologia da
Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal, p. 225-232. Arrábida. Homenagem a A. I. Marques da Costa), p. 105-172.
Setúbal Arqueológica 14. TERÁN, J.; MORGADO, A. (2011) – El aprovechamiento prehistórico
ROJO GUERRA, M.A.; KUNST, M.; GARRIDO PENA, R.; GARCÍA de sal en la Alta Andalucía: El caso de Fuente Camacho
MARTÍNEZ DE LAGRÁN, I.; MORÁN DAUCHEZ, G.(2005) (Loja, Granada). Cuadernos de Prehistoria y Arqueología
– Un desafío a la eternidad: Tumbas monumentales del de la Universidad de Granada 21, p. 221-249.
Valle de Ambrona. Valladolid: Junta de Castilla y León. Col. VALERA, A. C.; TERESO, J. P.; REBUGE, J. (2006) – O Monte da
Arqueología en Castilla y León, Memorias 14. Quinta 2 (Benavente) e a produção de sal no Neolítico Final/
ROJO GUERRA, M.A.; GARRIDO PENA, R.; GARCÍA MARTÍNEZ Calcolítico Inicial do estuário do Tejo. In Actas do 4.º Congresso
DE LAGRÁN, I.; TEJEDOR RODRÍGUEZ, C. (2014) – de Arqueologia Peninsular. Faro: Universidade do Algarve,
Beaker barrows (not) for the dead: El Alto I & III, Las Cuevas/ p. 291-305.
El Morrón and La Perica (Soria, Spain). Cuadernos de VALIENTE CÁNOVAS, S. (2005-2006) – Algunos datos sobre la
Prehistoria y Arqueología de la Universidad Autónoma de explotación de sal desde la Prehistoria hasta la Edad Media,
Madrid. 40, p. 31-40. en la zona sur de Madrid y en el límite con Toledo. Boletín
SALANOVA, L. (2000) – La question du Campaniforme en France de la Asociación Española de Amigos de la Arqueología 44,
et dans les Iles anglo-normandes: productions, chronologie et p. 49-62.
rôles d´un standard ceramique. Paris: Société Préhistorique VALIENTE CÁNOVAS, S. (2009) – Estudio de las cerámicas a
Française. mano decoradas de las Salinas de Espartinas – Ciempozuelos,
SALANOVA, L. (2004) – Le rôle de la façade atlantique dans Madrid. In La explotación histórica de la sal: investigación
la genèse du Campaniforme en Europe. Bulletin de la Société y puesta en valor. Actas I Congreso Internacional. Salinas
Préhistorique Française. 101: 2, p. 223-226. de Espartinas. Ciempozuelos, Madrid. Madrid: Sociedad
Española de Historia de la Arqueología. p. 207-236.
SALANOVA, L.; PRIETO MARTÍNEZ, M. P. (2011) – Una aproximación
al empleo de la concha para decorar la cerámica VALIENTE CÁNOVAS, S., AYARZAGÜENA SANZ, M., MONCÓ
campaniforme en Galicia. En PRIETO MARTÍNEZ, M. P.; GARCÍA, C.; CARVAJAL GARCÍA, D. (2002) – Excavación
SALANOVA, L. (coords.), Las Comunidades Campaniformes arqueológica en las salinas de Espartinas (Ciempozuelos)
en Galicia. Cambios sociales en el III y II milenios BC en el NW y prospecciones en su entorno. Archaia. 2, p. 33-45.
de la Península Ibérica. Pontevedra: Diputación de Pontevedra, VALIENTE CÁNOVAS, S.; RAMOS, F. (2009) – Las salinas de
p. 297-307. Espartinas: Un enclave prehistórico dedicado a la explotación
SANGUINO, J.; OÑATE, P. (2011) – Nuevos yacimientos de la sal. In La explotación histórica de la sal: investigación
campaniformes en el entorno de Cuesta de La Reina y puesta en valor. Actas I Congreso Internacional. Salinas
(Valdemoro y Ciempozuelos, Madrid). In BLASCO, C.; de Espartinas. Ciempozuelos, Madrid. Madrid: Sociedad
LIESAU, C.; RÍOS, P. (eds.), Yacimientos calcolíticos con Española de Historia de la Arqueología, p. 167-182.
campaniforme en la Región de Madrid: Nuevos estudios. WELLER, O. (2004) – Los orígenes de la producción de sal:
Madrid: Universidad Autónoma de Madrid, p. 23-27. evidencias, funciones y valor en el Neolítico europeo.
Col. Patrimonio Arqueológico de Madrid 6. Pyrenae. 35: 1, p. 93-116.

ELISA GUERRA DOCE  LA SAL Y EL CAMPANIFORME EN LA PENÍNSULA IBÉRICA: FUENTE DE RIQUEZA, INSTRUMENTO DE PODER ¿Y DETONANTE DEL ORIGEN DEL ESTILO MARÍTIMO? 353
A METALURGIA CAMPANIFORME
NO SUL DE PORTUGAL
ANTÓNIO M. MONGE SOARES
Centro de Ciências e Tecnologias Nucleares, Instituto Superior Técnico,
Universidade de Lisboa, Campus Tecnológico e Nuclear,
Estrada Nacional 10 (km 139,7), 2695-066 Bobadela LRS
amsoares@ctn.tecnico.ulisboa.pt

PEDRO VALÉRIO
Centro de Ciências e Tecnologias Nucleares, Instituto Superior Técnico,
Universidade de Lisboa, Campus Tecnológico e Nuclear,
Estrada Nacional 10 (km 139,7), 2695-066 Bobadela LRS
pvalerio@ctn.tecnico.ulisboa.pt

MARIA FÁTIMA ARAÚJO


Centro de Ciências e Tecnologias Nucleares, Instituto Superior Técnico,
Universidade de Lisboa, Campus Tecnológico e Nuclear,
Estrada Nacional 10 (km 139,7), 2695-066 Bobadela LRS
faraujo@ctn.tecnico.ulisboa.pt

RUI SILVA
i3N/CENIMAT, Department of Materials Science, Faculty of Science and Technology,
Universidade NOVA de Lisboa, Campus de Caparica, 2829-516 Monte da Caparica.
rjcs@fct.unl.pt

354 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
R E S U M O Análises quantitativas por micro-espectrometria de fluorescência de raios X,
dispersiva de energias (micro-EDXRF) de artefactos metálicos, complementadas por micros-
copia óptica, microscopia electrónica de varrimento com micro-análise por raios X (SEM-
-EDS) e testes de microdureza Vickers, foram utilizadas para determinar a composição ele-
mentar e a manufactura de artefactos metálicos calcolíticos. Também uma base de dados
constituída por datas de radiocarbono de contextos com vestígios metalúrgicos calcolíticos
foi tida em conta para ancorar a evolução desta metalurgia primitiva. Assim, a metalur-
gia do cobre terá tido início na primeira metade do III Milénio a.C., enquanto a do ouro
provavelmente se inicia na segunda metade desse milénio, associada ao aparecimento
do Campaniforme. Os dados das análises metalúrgicas efectuadas mostram o uso gene-
ralizado da martelagem seguida de recozimento na cadeia operatória, enquanto os cobres
campaniformes apresentam concentrações de arsénio mais elevadas que os atribuíveis
ao Calcolítico Pleno. Enquanto os artefactos de cobre campaniforme apresentam uma dis-
tribuição gaussiana dos teores de arsénio, os atribuíveis ao Calcolítico não campaniforme
apresentam uma distribuição lognormal. No entanto, algumas tipologias metálicas calco-
líticas, tais como machados planos, punhais e pontas de seta, apresentam uma tendência
para concentrações distintas de arsénio, mais elevadas, por exemplo, nos punhais e pontas
de seta, e diminutas ou mesmo ausentes nos machados planos. Os novos dados, bem como
as implicações de uma metalurgia distinta no Campaniforme, serão objecto de discussão.

A B S T R A C T Quantitative analyses by micro-EDXRF, complemented by optical micros-


copy, SEM-EDS and Vickers microhardness testing were used to investigate the metal com-
position and manufacture during the Chalcolithic. Also a data-base of radiocarbon dates
from archaeological contexts with Chalcolithic metallurgical vestiges was built up in order
to get a framework where anchoring the evolution of this early metallurgy. Thus, it can be
said that the copper metallurgy in Southern Portugal has emerged during the 1st half of the
3rd millennium BC, while the gold metallurgy probably begins in the second half of this
millennium, linked to the emergence of the Bell Beaker Culture. Analytical evidence shows
the common use of forging and annealing, while the copper-based artefacts belonging
to the Bell Beaker Culture have higher arsenic contents than those assigned to the Full
Chalcolithic. Whereas arsenic contents of Beaker copper-based artefacts present a Gauss-
ian distribution similar to that one of Middle Bronze Age of this region, the remaining ones
present a lognormal distribution. Moreover, some Chalcolithic metallic typologies, namely
flat axes, daggers and arrowheads, have a tendency to distinct arsenic contents, higher in
the case of daggers and arrowheads, and reduced or even absent in flat axes. These new
data, as well as the implications of this distinctive metallurgy, will be discussed.

ANTÓNIO M. MONGE SOARES, PEDRO VALÉRIO, MARIA FÁTIMA ARAÚJO, RUI SILVA  A METALURGIA CAMPANIFORME NO SUL DE PORTUGAL 355
INTRODUÇÃO Ibérica (Nocete, Sáez e Nieto, 2004; Pérez Macías, Mar-
A metalurgia do cobre – redução de minérios de tins e Osa Fernández, 2013), designadamente óxidos e
cobre e tratamento termomecânico do metal obtido carbonatos, para a produção do cobre utilizado nessa
para a produção de artefactos – surge no sul de Portu- metalurgia primitiva.
gal durante o Calcolítico Pleno, encontrando-se os vestí- Em meados do III Milénio a.C. surge, no sul do país,
gios metálicos mais antigos em contextos datados pelo uma nova entidade cultural, o Campaniforme, cujas
radiocarbono na primeira metade do III Milénio  a.C. manifestações se prolongam até aos inícios do pri-
(Valério, Soares e Araújo, 2016). A investigação já rea- meiro quartel do II Milénio a.C. (Mataloto, Martins e
lizada sobre a composição elementar dos artefactos Soares, 2013). Podemos considerá-la como uma fase
metálicos calcolíticos desta região permite verificar de transição entre o Calcolítico e a Idade do Bronze
que estes são de cobre (Cu) com um conteúdo variável que, sucintamente, se poderá caracterizar por grandes
de arsénio (As) (2,2 ± 1,6 %, n=108). A distribuição do teor transformações nos sítios de habitat (redução da área
de As no conjunto de artefactos estudado é lognormal, ocupada, abandono de estruturas habitacionais exis-
com valores de concentração deste elemento químico tentes e construção de novas), modificação no ritual
entre 0 e 7 % (Fig. 1), o que é consistente com as con- funerário (substituição das necrópoles colectivas por
centrações naturais de As nos minérios de cobre (Ibi- enterramentos individuais, embora ainda utilizando,
dem, p.  41). Esta distribuição lognormal também está frequentemente, monumentos funerários megalíti-
de acordo com a metodologia utilizada pelos metalur- cos pré-existentes) e inovações na cultura material,
gistas calcolíticos para a redução dos minérios, uma vez nomeadamente no domínio da cerâmica (novas for-
que não utilizavam fornalhas, mas simples lareiras ou mas e decorações – a designada cerâmica campani-
fogueiras, em que a carga (minério moído) era colocada forme), no instrumental metálico (pontas tipo Pal-
num cadinho ou vaso aberto colocado no chão e coberto mela e punhais de lingueta, por exemplo) e, mesmo,
por madeira ou carvão, de que resultava a obtenção de no processamento de um novo metal, o ouro. Como
uma atmosfera pouco redutora e uma «escória» alta- fase de transição englobará, com certeza, manifesta-
mente viscosa que continha no seu interior os glóbu- ções culturais que uns considerarão como atribuíveis
los metálicos assim obtidos (Rovira, 2016). Embora as ao Calcolítico, enquanto que outras serão já conside-
determinações de razões isotópicas de chumbo, quer radas como do Bronze Antigo. Mais de meio milhar de
nos artefactos e vestígios de produção metalúrgica anos poderá, eventualmente, ser considerado como
(escórias e «prills»), quer nos minérios de cobre, sejam demasiado tempo para uma transição cultural deste
ainda escassas para o sul de Portugal, a evidência já tipo, mas perante os dados disponíveis preferimos
disponível indicia a utilização das formações minerais não estabelecer um intervalo temporal de pequena
lenticulares da Zona de Ossa Morena (Gauss, 2015) e extensão como fronteira entre o Calcolítico e o Bronze
dos minerais secundários existentes na Faixa Piritosa Antigo.
Com o intuito de identificar eventuais inovações
técnicas no domínio da metalurgia do cobre atribuí-
veis ao Campaniforme, que os novos tipos de artefac-
tos metálicos que surgem nesta época poderiam indi-
ciar, foram utilizadas diversas metodologias analíticas
para determinar a composição elementar e a cadeia
operatória utilizada na manufactura dos artefactos
metálicos. Procedeu-se, para isso, e para além de novas
datações por radiocarbono de contextos campanifor-
mes, a análises quantitativas por micro-espectrome-
tria de fluorescência de raios X, dispersiva de energias
(micro-EDXRF), complementadas por microscopia
óptica, microscopia electrónica de varrimento com
micro-análise por raios X (SEM-EDS) e testes de micro-
dureza Vickers. Além deste trabalho de investigação,
fez-se um levantamento das análises realizadas ante-
riormente sobre artefactos metálicos atribuíveis a esta
fase cultural. É o resultado deste trabalho que daremos
conta a seguir.
FIG. 1 Histograma de teores de As de artefactos de contextos
calcolíticos do sul de Portugal.

356 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
A CRONOLOGIA DO CAMPANIFORME aí inumado, o qual tinha como dádivas funerárias três
NO SUL DE PORTUGAL vasos cerâmicos, um punção e uma ponta tipo Palmela
Se a cronologia do Campaniforme, como já foi refe- (Valera, 2014). Por sua vez, o enterramento do hipogeu
rido atrás, corresponde essencialmente à segunda 156 do Monte das Aldeias (Pedrogão, Vidigueira), tam-
metade do III Milénio a.C., podendo prolongar-se pelos bém atribuível ao Horizonte de Ferradeira, tinha como
primeiras dezenas de anos do II Milénio, são poucas, no dádiva funerária uma taça contendo no seu interior
entanto, as datas absolutas estreitamente associadas uma «alêne» envolvida por fragmentos de um tecido
a artefactos metálicos e/ou a vestígios metalúrgicos de linho, o qual foi datado pelo radiocarbono (Beta-
desta época. As existentes apresentam-se no Quadro I. 338483) (Valério, Soares e Araújo, 2016). Por fim, de uma
Faz-se notar que as amostras que proporcionaram outra estrutura funerária do Horizonte de Ferradeira, a
as 3 últimas datas do Quadro I provinham de contextos Fossa 2 do Monte das Cabeceiras 4 (Salvada, Beja), foi
campaniformes associados a jóias de ouro, designada- datado (Sac-3061) um esqueleto humano, o qual tinha
mente um contexto do monumento Sepulcro 2 dos Per- como dádivas funerárias, além de um vaso em cerâ-
digões (Reguengos de Monsaraz), que continha mais de mica, um braçal de arqueiro em pedra e um punhal de
uma dezena de fragmentos de lâminas e folhas de ouro rebites em cobre (Valério, Soares e Araújo, 2016).
(Soares et al., 2014; Valera, Silva e Márquez, 2014), sendo,
por outro lado, a data da gruta artificial 1 de S. Pedro do
Estoril obtida a partir de uma falange (de uma mão) A METALURGIA DO COBRE DURANTE
que tinha a envolvê-la uma espiral em ouro (Gonçalves, O CAMPANIFORME
2005). São estas as únicas datas de radiocarbono obti- Se a metalurgia do cobre se iniciou, no sul de Por-
das a partir de contextos seguros contendo artefactos tugal, na primeira metade do III Milénio a.C., é a par-
de ouro atribuíveis ao Campaniforme. tir de meados desse milénio que se regista uma maior
Quanto às datas correspondentes a artefactos de concentração desses vestígios em diversos contextos,
base cobre, as obtidas para o sítio do Porto das Carretas quer habitacionais, quer funerários (Soares e Cabral,
(Mourão) correspondem a contextos da fase II de ocupa- 1993; Valera, Gonçalves e Evangelista, 2013; Vidigal et
ção (Campaniforme) daquele povoado (Soares, Soares al., 2016). Além disso, também se tem identificado uma
e Silva, 2007). Nestes contextos foram registados uma tendência para uma maior frequência para ligas de
lareira com possível utilização metalúrgica, minérios cobre arsenical a partir dessa altura (Valério et al., 2016).
de cobre e artefactos metálicos (uma espátula, um pos- Os artefactos calcolíticos habitualmente considerados
sível fragmento de lâmina e um fragmento disforme) como armas, tais como os punhais (muitas vezes, consi-
(Valério et al., 2007). Da Fossa 1 do monumento da Bela derados mais como objectos de prestígio), apresentam
Vista 5 (Mombeja, Beja), atribuível ao designado Hori- normalmente teores mais elevados de arsénio do que
zonte de Ferradeira, foi datado o esqueleto feminino os artefactos considerados simplesmente como ins-

DATA CALIBRADA (cal BC)


SÍTIO REF. LAB. AMOSTRA CONTEXTO DATA 14C (BP)
1σ 2σ

Porto das Carretas Beta-196681 Pinus pinea Fase II 3920±40 2472-2346 2562-2289

Porto das Carretas Beta-204062 Pinus pinea Fase II 3860±40 2455-2235 2464-2206

Porto das Carretas Beta-193743 Olea sp. Fase II 3840±40 2400-2206 2461-2154

Bela Vista 5 Beta-330091 Costela humana Fossa 1 3740±30 2200-2058 2274-2035

Monte das Aldeias Beta-338483 Fio de linho Hipogeu 156 3670±30 2131-1981 2138-1958

Monte das Cabeceiras 4 Sac-3061 Osso humano Fossa 2 3670±40 2133-1978 2194-1940

Perdigões Beta-308789 Osso humano Sepultura 2 3840±30 2387-2207 2456-2202

Perdigões Beta-308792 Osso humano Sepultura 2 3890±30 2457-2345 2468-2291

S. Pedro do Estoril 1 Beta-178468 Falange da mão Gruta artificial 3790±40 2287-2145 2401-2045

QUADRO I Datas de radiocarbono de contextos campaniformes com artefactos metálicos.

ANTÓNIO M. MONGE SOARES, PEDRO VALÉRIO, MARIA FÁTIMA ARAÚJO, RUI SILVA  A METALURGIA CAMPANIFORME NO SUL DE PORTUGAL 357
trumentos (punções, espátulas, cinzéis, por exemplo).
Também a cadeia operatória habitualmente associada
à manufactura destes instrumentos é a designada
cadeia curta: a seguir à operação de vazamento em
molde, a forma final do artefacto é obtida através de
ciclos de martelagem e recozimento (V+M+R). Já quanto
aos artefactos possuidores de gume, este é obtido por
uma martelagem final (cadeia longa: V+M+R+MF). No
entanto, o endurecimento obtido por martelagem não
parece estar correlacionado com o teor de As no arte-
facto (Fig. 2), o que indicia um desconhecimento pelos
metalurgistas primitivos das propriedades inerentes à
presença de As na liga (Valério, Soares e Araújo, 2016).
A escolha preferencial da liga Cu-As para os artefactos
considerados como armas poderá estar apenas relacio-
nada com a cor da liga – não tão avermelhada como a
do cobre puro, tendendo antes para uma cor algo pra-
FIG. 2 Teor de As versus dureza dos artefactos não sujeitos à cadeia
teada – que seria preferida para os artefactos de prestí-
longa de tratamentos termomecânicos provenientes de contextos
gio. Por outro lado, os machados planos são, em muitos calcolíticos do sul de Portugal.
casos, de cobre puro, alguns deles com estruturas de
vazamento praticamente inalteradas, o que tem levado
a considerá-los, pelo menos alguns deles, como possí-
veis lingotes (Soares et al., 1996).
Na investigação arqueometalúrgica que temos
vindo a desenvolver para o período Campaniforme, a
determinação da composição elementar do metal de
base cobre utilizado nesse período permite já algu-
mas inferências que nos parecem importantes para
um melhor conhecimento da evolução metalúrgica
durante a Pré-história no sul de Portugal. Assim, no
Quadro II e na Fig. 3, apresentam-se as composições ele-
mentares dos artefactos atribuídos a esta Fase Cultu-
ral. Embora a amostragem (cerca de 40 determinações
de composição) necessite de ser expandida para uma
maior fiabilidade das conclusões a retirar, parece, desde
já, verificar-se uma modificação, em relação ao período
anterior, no tipo de liga preferencialmente utilizado: o
teor médio de As (2,8 ± 1,6 % As, n=43) é superior ao do
período anterior e, mais importante, a distribuição de FIG. 3 Histograma de teores de As de artefactos de contextos
campaniformes do sul de Portugal.
teores desse elemento já não se pode considerar como
lognormal, parecendo antes tender para uma distribui-
ção gaussiana, aproximando-se daquela que se veri- 1987). Os maiores teores de As poderão resultar de uma
fica para o Bronze Pleno nesta região do país (Valério escolha selectiva, pela cor, dos nódulos metálicos apri-
et al., 2016). Além disso, a liga de Cu-As parece ser pre- sionados na escória resultante da operação de redução
ferencialmente utilizada independentemente do tipo ou da utilização de minérios ou misturas de minérios
de artefacto, seja arma ou instrumento. Os machados secundários mais ricos neste elemento.
planos, contudo, parecem continuar a ser constituídos Quanto à utilização preferencial da cadeia curta ou
preferencialmente por cobre puro, o que fortalece a da cadeia longa na manufactura dos artefactos, ainda
hipótese de, pelo menos alguns deles, se tratarem de não existem dados suficientes para verificar se existiu
verdadeiros lingotes. Por outro lado, o teor em ferro da ou não alguma modificação com o surgimento do Cam-
liga de cobre utilizada continua a poder considerar-se paniforme, embora seja plausível uma tendência para
como vestigial, o que indicia a continuação da mesma uma maior frequência de utilização da cadeia longa
tecnologia na redução dos minérios de cobre (sobre esta com o objectivo de obter uma maior dureza dos arte-
problemática veja-se, por exemplo, Craddock e Meeks, factos.

358 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
SÍTIO CONTEXTO ARTEFACTO Cu (%) As (%) Fe (%)

Espátula 94,0 5,9 0,12


Povoado
Porto das Carretas Lâmina (?) 96,3 3,6 <0,10
(Ocupação campaniforme)
Fragmento disforme 98,3 1,6 <0,10

Ponta de seta 97,9 2,0 <0,05


Povoado
Porto Torrão Punhal de lingueta 93,6 6,4 <0,05
(Ocupação campaniforme)
Serra 95,3 4,7 <0,05

Machado plano 98,8 0,4 <0,05

Punhal 95,5 4,5 <0,05

Punhal 97,7 2,3 <0,05

Punhal 95,6 4,4 <0,05


Povoado
Três Moinhos Fragmento disforme 96,2 3,8 <0,05
(Ocupação campaniforme)
Ponta Palmela 97,6 2,3 <0,05

Lâmina (espátula) 98,8 1,2 <0,05

Cinzel 96,3 3,7 <0,05

Serra 96,6 3,3 <0,05

Punhal 99,2 0,8 0

Ponta Palmela 97,4 2,6 0

Ponta Palmela 96,3 3,7 0,01

Ponta Palmela 97,1 2,8 0,01

Ponta Palmela 99,9 tr. 0

Ponta Palmela 98,0 2,0 0


Hipogeus funerários
Quinta do Anjo
(Ocupação campaniforme) Ponta Palmela 98,9 1,1 0

Ponta Palmela 98,7 1,3 <0.001

Punhal 93,6 6,4 Tr.

Punção 96,5 3,5 0

Cinzel 97,6 2,4 <0,001

Cinzel 99,1 0,9 <0,001

Punhal 98,3 1,7 <0,05


Fossa
Monte das Cabeceiras 4 Rebite 98,2 1,7 <0,05
(Horiz. de Ferradeira)
Rebite 98,3 1,7 <0,05

Hipogeu funerário
Monte das Aldeias Punção («alêne») 95,7 4,3 <0,05
(Horiz. de Ferradeira)

Hipogeu
Corte do Alho Ponta de seta 96,7 3,2 <0,05
(Horiz. de Ferradeira)

Ponta Palmela 98,2 1,8 —


Hipogeu funerário
Bela Vista 5
(Horiz. de Ferradeira) Punção 98,5 1,5 —

Sepultura desconhecida
Outeiro dos Bravos (Moura) Punhal de lingueta 95,8 4,2 <0,05
(Horiz. de Ferradeira)

ANTÓNIO M. MONGE SOARES, PEDRO VALÉRIO, MARIA FÁTIMA ARAÚJO, RUI SILVA  A METALURGIA CAMPANIFORME NO SUL DE PORTUGAL 359
SÍTIO CONTEXTO ARTEFACTO Cu (%) As (%) Fe (%)

Ponta Palmela 97,7 2,2 <0,05


Anta
Anta do Malhão
(Horiz. de Ferradeira) Punhal 96,5 3,4 <0,05

Sepultura megalítica
Lousal Ponta Palmela 95,0 5,0 0,03
(Horiz. de Ferradeira)

Cista grande com 6 lajes


Odemira Machado plano 99,5 0,5 0
(Horiz. de Ferradeira)

Tholos
Monte do Outeiro Punção 97,1 2,8 0
(Horiz. de Ferradeira)

Tholos (Monumento 4)
Alcalar Ponta Palmela 98,1 1,9 0
(Horiz. de Ferradeira)

Punhal de lingueta 97,9 2,1 0


Fossa (?)
Aljezur
(Horiz. de Ferradeira) Ponta Palmela 96,5 3,5 0

QUADRO II Composições elementares de artefactos metálicos de cobre campaniformes do sul de Portugal (ver referências bibliográficas
específicas para os diversos resultados analíticos em Valério, Soares e Araújo, 2016).

A METALURGIA DO OURO DURANTE Campaniforme, quando aparecem as primeiras jóias


O CAMPANIFORME de ouro, estas consistem em formas simples, designa-
Os artefactos em ouro chegaram até nós em menor damente lâminas ou tiras, geralmente com espessuras
número dos que os que lhe são contemporâneos em da ordem de algumas, poucas, centenas de micróme-
cobre. Resultam, na sua maior parte, de descobertas tros, ou em arame, formando espirais (anéis e contas).
ocasionais, desconhecendo-se os contextos que lhe As tiras apresentam-se muitas vezes lisas (Fig. 4), uti-
estão associados. No entanto, alguns foram recolhidos lizadas possivelmente como diademas, podendo algu-
em escavações arqueológicas, geralmente em contex- mas apresentar decorações simples (Fig. 5), ou, então,
tos funerários, a atestar o elevado estatuto social do apresentar-se enroladas, originando pequenas contas
indivíduo ou indivíduos inumados e permitindo, por de forma cilíndrica.
outro lado, elaborar tipologias importantes para uma No Quadro III encontam-se algumas composições
atribuição cronológico/cultural às jóias áureas reco- elementares destas jóias primitivas de ouro encontra-
lhidas em contextos desconhecidos. Assim, durante o das no sul do país.

FIG. 4 Fragmento de tira de ouro proveniente do Sepulcro 2 dos Perdigões.

FIG. 5 Lámina de ouro com decoração ondulada do Sepulcro 2 dos Perdigões.

360 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
SÍTIO REFERÊNCIA TIPO Ag (%) Cu (%)

Au 2653 Lâmina 3-5 0,34

Alcalar Au 2654 Lâmina c. 1 0,13

Au 3006 Lâmina c. 3 0,04

Au 2635 Diadema c. 9 0,15

Au 2636 Diadema c. 15 0,14


Estremoz
Au 2637 Diadema c. 17 0,16

Au 2638 Pendente 13 0,01

Au 2588 Espiral 16 0,14

Évora Au 2589 Espiral 16 0,15

Au 2590 Diadema 21 0,05

Au 2647 Espiral 13 0,03

Au 2648 Conta tubular c. 8 c. 0,04

Au 2649 Conta tubular c. 7 c. 0,04


Quinta do Anjo
Au 2650 Conta tubular c. 8 c. 0,04

Au 2651 Lâmina c. 10 0,05

Au 2673 Lâmina c. 11 0,06

Três Moinhos — Lâmina 5,5 <0,1

Porto Torrão — Lâmina 8,3 <0,1

Anta dos Godinhos — Lâmina 9,2 <0,1

10511 Tira rectangular 5,5 <0,1

11041 Lâmina 3,8 <0,1

11866 Lâmina decorada 1,0 <0,1

11867 Lâmina 0,8 <0,1

11458 Lâmina 2,9 <0,1

11452 Lâmina 0,9 <0,1

11460 Lâmina 0,7 <0,1


Perdigões
(Sepulcro 2)
11453 Lâmina 0,7 <0,1

11455 Lâmina 3,2 <0,1

11451 Lâmina 0,8 <0,1

11465 Lâmina 3,2 <0,1

11459 Lâmina 3,1 <0,1

11454 Lâmina 0,6 <0,1

11450 Tira rectangular 3,0 <0,1

QUADRO III Composições elementares de jóias de ouro campaniformes de Alcalar, Estremoz, Évora e Quinta do Anjo (Hartmann, 1982), Três
Moinhos e Porto Torrão (Soares et al., 1996), Anta dos Godinhos (Mataloto et al., 2015) e Sepulcro 2 dos Perdigões (Soares et al., 2014).

ANTÓNIO M. MONGE SOARES, PEDRO VALÉRIO, MARIA FÁTIMA ARAÚJO, RUI SILVA  A METALURGIA CAMPANIFORME NO SUL DE PORTUGAL 361
Deverá, também, notar-se que a obtenção de espes-
suras tão finas para as lâminas implica a utilização
de vários ciclos de martelagem e recozimento, meto-
dologia já conhecida da metalurgia do cobre. Como
resultado dessa cadeia operatória resultam microes-
truturas com grãos maclados como se pode observar
na Fig. 6.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No referente à metalurgia do cobre, a partir de mea-
dos do III Milénio a.C., coetâneo com as diversas modi-
ficações ocorridas na cultura material que caracteriza
o Campaniforme, verifica-se no sul de Portugal um
aumento dos registos referentes a artefactos metáli-
cos e respectivos vestígios de produção, bem como o
aparecimento de novas formas, como as pontas tipo
Palmela e os punhais de lingueta. Além do incremento
do número de artefactos e do aparecimento de novos
tipos, a análise da sua composição elementar revela
que o teor em As tende para uma distribuição gaus-
siana que se aproxima da determinada para o Bronze
Pleno, afastando-se da distribuição lognormal típica do
Calcolítico Pleno desta região do país e de outras regi-
FIG. 6 Imagens de secções de duas lâminas de ouro do Sepulcro ões da Península Ibérica (Fig. 7). Se se observam essas
2 dos Perdigões observadas ao microscópio óptico – notem-se os
modificações, o mesmo já não acontece com a tecnolo-
grãos maclados, indicativo de que as lâminas sofreram ciclos de
martelagem e recozimento. gia envolvida na redução dos minérios, como os muito
baixos teores em ferro indicam. Também a cadeia ope-
Os teores em prata e cobre indicam que estas jóias ratória utilizada na manufactura dos artefactos parece
terão sido obtidas a partir de ouro de aluvião, uma vez não ter registado qualquer evolução, uma vez que as
que, neste, a prata apresenta-se com teores até 20-30 poucas análises microestruturais já efectuadas não
% e os do cobre raramente excedem 1% (Pérez-García, permitem inferir, com fiabilidade, se a cadeia curta ou
Sánchez-Palencia e Torres-Ruiz, 2000). Por outro lado, a longa tem a preferência nesta época.
a variabilidade dos teores de prata nesta amostragem Quanto à metalurgia do ouro, que faz a sua aparição
poderá ser indicativa de origens geográficas diversas precisamente durante o Campaniforme, verifica-se a
para as pepitas utilizadas na sua manufactura. utilização de tratamentos termomecânicos (ciclos de

FIG. 7 Histogramas de teores de As de artefactos de cobre do sul de Portugal: A – Calcolítico; B – Campaniforme; C – Bronze Pleno.

362 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
martelagem e recozimento), já conhecidos da meta- PÉREZ MACÍAS, J. A.; MARTINS, A.; OSA FERNÁNDEZ, O. R. (2013) –
lurgia do cobre, que permitem a obtenção de lâminas Primeiras evidências de mineração do cobre em Aljustrel.
Um cadinho Calcolítico proveniente do Castelo. Vipasca. 2.ª série.
de espessura muito fina. A proveniência desse ouro é,
Aljustrel: Câmara Municipal. 4, p. 9-18.
com certeza, aluvionar, como as concentrações de prata
ROVIRA LLORENS, S. (2016) – La metalurgia calcolítica en el suroeste
e cobre indiciam, embora não seja ainda possível deter-
de la Península Ibérica: una interpretación personal. MENGA.
minar uma proveniência geográfica específica, que Revista de Prehistoria de Andalucia. 07, p. 53-65.
poderá ser diversa, até pela quase ausência de análises
SOARES, A. M. M.; ALVES, L. C.; FRADE, J. C.; VALÉRIO, P.; ARAÚJO, M. F.;
de ouro aluvionar no nosso país. CANDEIAS, A.; SILVA, R. J. C.; VALERA, A. C. (2014) – Bell Beaker Gold
Em resumo, poderá afirmar-se a inexistência de Foils from Perdigões (Southern Portugal) – Manufacture and Use.
inovações tecnológicas na metalurgia campaniforme, In SCOTT, R. B.; BRACKMANS, D.; CARREMANS, M.; DEGRYSE, P.
embora se verifique o surgimento da utilização de (eds.) – Proceedings of the 39th International Symposium for
Archaeometry, Leuven (2012). p. 120-124.
um novo metal, o ouro, enquanto que no referente à
metalurgia do cobre surge uma maior variabilidade SOARES, A. M. M.; ARAÚJO, M. F.; ALVES, L.; FERRAZ, M. T. (1996) –
Vestígios metalúrgicos em contextos do Calcolítico e da Idade do
tipológica artefactual a par de uma preferência pelo
Bronze no Sul de Portugal. In MACIEL, M. J. (coord.) – Miscellanea
cobre arsenical, qualquer que seja o tipo de artefacto em Homenagem ao Professor Bairrão Oleiro. Lisboa: Edições
manufacturado, com a possível excepção dos macha- Colibri. p. 553-579.
dos planos que parecem continuar a exibir teores de SOARES, A. M. M; CABRAL, J. M. P. (1993) – Cronologia Absoluta para
cobre muito puro. o Calcolítico da Estremadura e do Sul de Portugal. In JORGE, V. O.
(ed.) – Actas do 1.º Congresso de Arqueologia Peninsular (Porto,
12-18 de Outubro de 1993), Vol. II [Trabalhos de Antropologia e
BIBLIOG RAFIA Etnologia]. 33(3-4), p. 217-236.

CRADDOCK, P. T.; MEEKS, N. D. (1987) – Iron in ancient copper. SOARES, A. M. M.; SOARES, J.; SILVA C. T. (2007) – A datação pelo
Archaeometry. 29, p. 187-204. radiocarbono das fases de ocupação do Porto das Carretas:
algumas reflexões sobre a cronologia do Campaniforme, Revista
PÉREZ-GARCÍA, L. C.; SÁNCHEZ-PALENCIA, F. J.; TORRES-RUIZ, J. (2000)
Portuguesa de Arqueologia. 10(2), p. 127-134.
– Tertiary and Quaternary alluvial gold deposits of Northwest
Spain and Roman mining (NW of Duero and Bienzo Basins). VALERA, A. C. (2014) – Bela Vista 5. Um Recinto do Final do 3.º Milénio
Journal of Geochemical Exploration.71(2), p. 225−240. a.n.e. (Mombeja, Beja). ERA Monográfica 2. Lisboa: Núcleo de
Investigação Arqueológica – ERA.
GAUSS, R. (2015) – Zambujal und die Anfänge der metallurgie in der
Estremadura (Portugal), Iberia Archaeologica. 15(1), Wasmuth, VALERA, A.; GONÇALVES, A.; EVANGELISTA, L. S. (2013) – Metais
Berlin. e Metalurgia. In VALERA, A. (ed.), As Comunidades Agropastoris
na Margem Esquerda do Guadiana (Memórias d’Odiana,
GONÇALVES, V. S. (2005) – Cascais há 5000 anos. Cascais: Câmara
2.ª Série, 6). p. 283-301.
Municipal.
VALERA, A. C.; SILVA, A. M.; MÁRQUEZ ROMERO, J. E.(2014) –
HARTMANN, A. (1982) – Prähistorische Goldfunde aus Europa. Studien
The temporality of perdigões enclosures: absolute chronology
zu den Aufängen der Metallurgie, 3(1). Berlin.
of the structures and social practices. Spal. 23, p. 11-26.
MATALOTO, R.; BOAVENTURA, R.; NUKUSHINA, D.; VALÉRIO, P.;
VALÉRIO, P.; SOARES, A. M. M.; ARAÚJO, M. F. (2016) – An Overview of
INVERNO, J.; MONGE, R.; RODRIGUES, M.; F. BEIJA, F. (2015) –
Chalcolithic Copper Metallurgy from Southern Portugal. MENGA.
O sepulcro megalítico dos Godinhos (Freixo, Redondo): usos
Revista de Prehistoria de Andalucia. 07, p. 31-50.
e significados no âmbito do Megalitismo alentejano. Revista
Portuguesa de Arqueologia. 18, p. 55-79. VALÉRIO, P.; SOARES, A. M. M.; ARAÚJO, M. F.; SILVA,C. T.; SOARES, J.
MATALOTO, R.; MARTINS, J. M. M.; SOARES, A. M. M. (2013) – (2007) – Vestígios arqueometalúrgicos do povoado calcolítico
Cronologia absoluta para o Bronze do Sudoeste. Periodização, base fortificado do Porto das Carretas (Mourão). O Arqueólogo
de dados, tratamento estatístico. Estudos Arqueológicos de Oeiras. Português. Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia. 25, p. 177-194.
Oeiras: Câmara Municipal. 20, p. 303-338. VALÉRIO, P.; SOARES, A. M. M.; ARAÚJO, M. F.; SILVA, R. J. C.; BAPTISTA, L.
NOCETE, F.; SÁEZ, R.; NIETO, J. M. (2004) – La producción de cobre (2016) – Middle Bronze Age Arsenical Copper Alloys in Southern
en Cabezo Juré: estudio químico, mineralógico y contextual Portugal. Archaeometry. 58(6), p. 1003-1023.
de escorias. In NOCETE, F. (ed.) – Odiel. Proyecto de investigación VIDIGAL, R. O.; VALÉRIO, P.; ARAÚJO, M. F.; SOARES, A. M. M.;
Arqueológica para el Análisis del Origen de la Desigualdad MATALOTO, R. (2016) – Micro-EDXRF study of Chalcolithic
Social en el Suroeste de la Península Ibérica (Seville 2004). copper-based artefacts from Southern Portugal. X-Ray
p. 273-295. Spectrometry. 45, p. 63-68.

ANTÓNIO M. MONGE SOARES, PEDRO VALÉRIO, MARIA FÁTIMA ARAÚJO, RUI SILVA  A METALURGIA CAMPANIFORME NO SUL DE PORTUGAL 363
WORKSHOP SINOS E TAÇAS
(CAMPANIFORMES).
ALGUMAS IMAGENS
Todas as fotos de Iris Dias, à excepção da primeira, de Vítor Santos.
Reenquadramentos de VSG.

364 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
De cima para baixo, da esquerda para a direita. Devido à mobilidade FIG. 3 Maria de Jesus Sanches, da FLUP. Apresentando
dos conferencistas na mesa, as etiquetas com os nomes nem sempre os campaniformes do Norte de Portugal.
correspondem aos indivíduos.
FIG. 4 Victor S. Gonçalves. UNIARQ-WAPS. Apresentando
os campaniformes das Grutas artificiais 2 e 4 de Alapraia.
FIG. 1 Exposição de posters. Apresentação de novos elementos
do Projecto ANSOR 2. FIG. 5 Ana Catarina Sousa. UNIARQ-WAPS, falando do Projecto
ANSOR 2.
FIG. 2 Abertura oficial dos trabalhos. Os Directores da UNIARQ-
WAPS e da Faculdade de Letras de Lisboa, Victor S. Gonçalves FIG. 6 António Valera (ERA Arqueologia). Falando do campaniforme
e Paulo Farmhouse Alberto. nas Beiras e no povoado dos Perdigões.

WORKSHOP SINOS E TAÇAS (CAMPANIFORMES). ALGUMAS IMAGENS 365


FIG. 7 Miguel Kunst. DAI. Madrid. Apresentando os campaniformes FIG. 11 Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares. MAEDS e UNIARQ-
do Zambujal. WAPS. Apresentando, respectivamente, os campaniformes da
FIG. 8 Marco Andrade. UNIARQ-WAPS. Península de Setúbal e a presença campaniforme no Porto das
Carretas.
FIG. 9 Nuno Inácio. UNIARQ-WAPS. Apresentando os
campaniformes de Valencina de la Concepción. FIG. 12 Elisa Guerra Doce. Universidade de Valladolid. Apresentando
uma provável associação entre o sal e os campaniformes.
FIG. 10 António Monge Soares. ITN. Apresentando a metalurgia
«campaniforme».

366 SINOS E TAÇAS. JUNTO AO OCEANO E MAIS LONGE. ASPECTOS DA PRESENÇA CAMPANIFORME NA PENÍNSULA IBÉRICA
FIG. 13 Aspecto de uma das sessões. Na mesa, e da esquerda
do observador para a direita, Corina Liesau von Lettow-Vorbeck,
António Cámara Serrano, Marco Andrade, Elisa Guerra Doce
e Miguel Kunst.
FIG. 14 Corina Liesau von Lettow-Vorbeck. Universidade Autónoma
de Madrid. Apresentando os campaniformes da região de Madrid.
FIG. 15 Alberto Dorado e António Cámara. Universidade de Granada.
Apresentando os campaniformes de Cerro de la Virgen.
FIG. 16 Elena Morán e Rui Parreira, Câmara de Lagos e DGPC.
UNIARQ-WAPS. Apresentando os campaniformes de Alcalar.
FIG. 17 Victor S. Gonçalves, fechando a sessão e (pensava) um ciclo
longo de reflexão sobre o campaniforme. Afinal, os achados do
Verão de 2017 no Barranco do Farinheiro, em Coruche, e no Casal
do Pardo (Palmela) viriam recordar-lhe que nunca se deve dizer
nunca (a não ser às vezes e, mesmo assim...).

WORKSHOP SINOS E TAÇAS (CAMPANIFORMES). ALGUMAS IMAGENS 367

Você também pode gostar