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Fundamentos Essenciais de Direito Administrativo |

Introdução

DISCIPLINA
FUNDAMENTOS ESSENCIAIS DE
DIREITO ADMINISTRATIVO

CONTEÚDO

Introdução ao Direito
Administrativo

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Fundamentos Essenciais de Direito Administrativo |

Introdução

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Introdução

Sumário
Sumário ............................................................................................................................ 3
1 Introdução ................................................................................................................. 4
2 Noção de Estado e Elementos Compositores ............................................................... 5
3 Os Sentidos da Administração Pública ........................................................................ 7
4 Entendendo o Direito Administrativo ......................................................................... 8
5 Estudando as Fontes ................................................................................................ 10
5.1 Fontes Primárias .................................................................................................................... 10
5.2 Fontes Secundárias ................................................................................................................ 11
6 O Objeto do Direito Administrativo .......................................................................... 11
6.1 Norma jurídica ....................................................................................................................... 12
6.2 Princípios............................................................................................................................... 14
6.3 Princípios Explícitos ............................................................................................................... 14
6.3.1 Princípio da Legalidade ............................................................................................................................... 16
6.3.1.1 Princípio da legalidade x Princípio da reserva legal........................................................................... 17
6.3.1.2 Restrições ao princípio da legalidade ................................................................................................ 18
6.3.2 Princípio da Impessoalidade ....................................................................................................................... 18
6.3.2.1 Teoria do órgão ................................................................................................................................. 20
6.3.3 Princípio da Moralidade .............................................................................................................................. 20
6.3.3.1 Súmula Vinculante nº13 .................................................................................................................... 22
6.3.4 Princípio da Publicidade .............................................................................................................................. 23
6.3.4.1 Meios de publicação .......................................................................................................................... 24
6.3.4.2 Objetivos da publicidade ................................................................................................................... 24
6.3.4.3 Exceções ao princípio da publicidade ................................................................................................ 25
6.3.5 Princípio da eficiência ................................................................................................................................. 25
6.4 Princípios Implícitos ............................................................................................................... 26
6.4.1 Supremacia do interesse público ................................................................................................................ 27
6.4.2 Indisponibilidade do interesse público ....................................................................................................... 28
6.4.3 Princípio da Autotutela ............................................................................................................................... 28
6.4.4 Princípio da Segurança Jurídica................................................................................................................... 29
6.4.5 Princípio da Razoabilidade .......................................................................................................................... 30
6.4.6 Princípio da Proporcionalidade ................................................................................................................... 31
6.4.7 Princípio da Finalidade ................................................................................................................................ 31

7 Conclusão ................................................................................................................ 32
8 Referências Bibliográficas ........................................................................................ 32

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Introdução

1 Introdução
O Direito Administrativo surge em fins do século XVIII e início do século XIX como um
ramo autônomo do Direito constituído sobre um sistema jurídico de normas criadas
para regular as relações existentes entre o Estado, seus órgãos e o exercício das
atividades administrativas a ele vinculadas.

Esse evento só foi possível graças ao surgimento do Estado de Direito, estruturado


sobre o princípio da legalidade, e aos ideais da Revolução Francesa de 1789. Por
abandonar o regime vigorante das monarquias absolutas, os poderes do Estado que
antes se concentravam nas mãos do soberano puderam ser divididos, refletindo-se
hoje em três instâncias – Legislativo, Executivo e Judiciário –, as quais atuam de forma
harmônica, embora independente, e exercem o controle público à medida que se
submetem a ele (OLIVEIRA, 2021).

Além disso, a imposição de limites à atuação do Estado e sua submissão às normas


jurídicas elaboradas em defesa do cidadão e da coletividade conduziram à
responsabilização dos agentes executores da função administrativa por eventuais
danos causados a terceiros, algo que era impensável no período em que a vontade do
monarca era a vontade suprema.

O CONCEITO DE ESTADO DE DIREITO, ESTRUTURADO SOBRE O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE (EM


DECORRÊNCIA DO QUAL ATÉ MESMO OS GOVERNANTES SE SUBMETEM À LEI, EM ESPECIAL À LEI
FUNDAMENTAL QUE É A CONSTITUIÇÃO) E SOBRE O PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES, QUE
TEM POR OBJETIVO ASSEGURAR A PROTEÇÃO DOS DIREITOS INDIVIDUAIS, NÃO APENAS NAS
RELAÇÕES ENTRE PARTICULARES, MAS TAMBÉM ENTRE ESTES E O ESTADO
(DI PIETRO, 2019, P. 57).

Neste sentido, para entendermos o funcionamento do Direito Administrativo,


precisamos primeiramente traçar um esboço sobre o conceito moderno de Estado na
forma que é compreendido pela doutrina majoritária, para então relacioná-lo aos
princípios que norteiam o sistema jurídico a qual o Estado se submetido. É sobre esse
tema que trataremos neste módulo.

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Noção de Estado e Elementos Compositores

2 Noção de Estado e Elementos Compositores


Conforme afirma José dos Santos Carvalho Filho, o termo “Estado” pode ser enfocado
sobre diversos ângulos, porém, no sentido de sociedade política permanente, esta
denominação surge com a obra “O Príncipe”, de Maquiavel, no século XVI, indicando
as comunidades formadas pelas cidades-estados. Após a maturação desse conceito,
podemos hoje entender o Estado como um ente personalizado, que se apresenta
como pessoa jurídica de direito público, “capaz de adquirir direitos e contrair
obrigações na ordem jurídica (CARVALHO FILHO, 2020, p. 76).

Matheus Carvalho complementa afirmando que “o Estado é uma instituição


organizada política, social e juridicamente, dotada de personalidade jurídica própria
de Direito Público, submetida às normas estipuladas pela lei máxima” (2020, p. 33).

Nesse sentido, entender a composição desse “ente personalizado”, chamado de


Estado, é o primeiro passo para a assimilação de assuntos pertinentes ao Direito
Administrativo. Assim, recorremos a Alexandra Mazza (2019, p. 56) para examinarmos
os elementos que o compõem. De forma pontual, o autor explica que o “Estado é um
povo situado em determinado território e sujeito a um governo”. Aqui percebemos
nitidamente a presença de três elementos:

1. um território delimitado que engloba terra, água e ar;


2. um povo que vive neste território;
3. um governo soberano e reconhecido que representa politicamente o povo.

•Território
ESTADO •Governo
•Povo

Figura 1 – Composição do Estado.


Fonte: Núcleo Editorial Focus

O Território compreende a superfície do solo, o mar territorial e o espaço aéreo

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Noção de Estado e Elementos Compositores

delimitado e dominado pelo Estado, constituindo “a base geográfica do Estado, sua


dimensão espacial”. O Povo é “a dimensão pessoal do Estado”, é o conjunto de
indivíduos unidos para a formação da vontade e do interesse estatal. Por fim, governo,
em sentido subjetivo, “é a cúpula diretiva do Estado, responsável pela condução dos
altos interesses estatais e pelo poder político, e cuja composição pode ser modificada
mediante eleições”, ou seja, é a organização necessária ao exercício do poder político
composta por pessoas escolhidas nos moldes da Constituição Federal para definir o
futuro político da sociedade.

POVO é diferente de “população", termo demográfico usado para


indicar o “contingente de pessoas que, em determinado momento, estão
no território do Estado”, e de nação, conceito “que pressupõe uma
ligação cultural entre os indivíduos” (MAZZA, 2019, p. 56).

Observe, no quadro a seguir, alguns conceitos que não devem ser confundidos.
POVO POPULAÇÃO
identidade, cultura e número de pessoas em um
costumes. determinado espaço e tempo.
GOVERNO GOVERNABILIDADE GOVERNANÇA

pessoa ou grupo de pessoas capacidade política de


arcabouço jurídico que
escolhidas internamente para implementar medidas e
dá autoridade ao
comandar as políticas atender às demandas do
governante.
públicas. povo.

NAÇÃO não pode ser equiparada a ESTADO.


Quadro 1 - Diferenças de conceitos para entender os elementos constituintes do Estado.
Fonte: Núcleo Editorial Focus

Vistos os elementos que compõem a noção de Estados, passemos ao conceito de


Administração Pública propriamente dito.

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Os Sentidos da Administração Pública

3 Os Sentidos da Administração Pública


Na obra “Direito Administrativo” (2020), Maria Sylvia Di Pietro menciona que o
vocábulo administração “significa não só prestar serviço, executá-lo, como, outrossim,
dirigir, governar, exercer a vontade com o objetivo de obter um resultado útil”. Por
esse viés, a Administração Pública contemplaria não só as atividades de planejar e
legislar como também a de executar o planejamento (DI PIETRO, 2020, p. 183).

Dessa forma, embora a expressão Administração Pública carregue várias acepções,


podemos entendê-la, em sentido amplo (lato sensu), como o conjunto de órgãos
governamentais (com função política de planejar, comandar e traçar metas) e de
órgãos administrativos (com função administrativa de executar os planos
governamentais) e, em sentido estrito (stricto sensu), como o conjunto de órgãos,
entidades e agentes públicos que desempenham a função administrativa do Estado.

Além disso, podemos nos referir a esta expressão no sentido objetivo ou no sentido
subjetivo.

Figura 2 - Administração Pública: sentindo objetivo e subjetivo.


Fonte: Núcleo Editorial Focus

Em sentido objetivo, material ou funcional, a Administração Pública pressupõe a noção


das atividades exercidas pelos entes que a compõem na busca pela garantia do
interesse público. Assim, caracteriza-se como a própria função administrativa exercida,
de forma típica, pelo Poder Executivo. Em sentido subjetivo, formal ou orgânico,

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Entendendo o Direito Administrativo

designa a noção de quem é a administração pública, ou seja, os entes, órgãos, agentes


e entidades públicas que desempenham a função administrativa.

Entes Políticos
São representados pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios (todos com
personalidade jurídica de Direito Público). Possuem autonomia administrativa, financeira
gerencial e política.

Entidades Administrativas
São representadas pelas autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades
de economia mista (todas com personalidade jurídica de Direito Público e/ou Privado).
Diferente dos entes políticos, não possuem autonomia política.

Órgãos Públicos
São centros de competência, despersonalizados, integrantes da estrutura de uma pessoa
jurídica, incumbidos das atividades do Ente ou da Entidade a que pertencem.

Agentes Públicos
São todos aqueles que exercem, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por
eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer forma de investidura, vínculo,
mandato, emprego ou função pública.

Quadro 2 - Conjunto de agentes, órgãos e entidades públicas que exercem a função administrativa.
Fonte: Núcleo Editorial Focus

4 Entendendo o Direito Administrativo


O ponto de partida para o surgimento do Direito, explica Carvalho (2020), se concentra
na necessidade que o homem tem de travar relações interpessoais. Assim, na busca
por alcançar a justiça, o interesse coletivo e a paz social, o Estado cria normas de
condutadas, impostas a todos os cidadãos, independentemente do seu
consentimento, estruturando todo um ordenamento jurídico que pode ser dividido
em dois grandes ramos, o do Direito Público e o do Direito Privado.

Carvalho (2020, p. 38) explica que o Direito Público tem por objeto principal “a
regulação do interesse da sociedade como um todo, compondo-se de normas que

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Entendendo o Direito Administrativo

visam a disciplinar as relações jurídicas em que o Estado aparece como parte”. Em


contrapartida, o Direito Privado tem por finalidade “a regulação dos interesses
particulares, tutelando as relações travadas entre as partes como forma de possibilitar
o convívio das pessoas em sociedade e a harmoniosa fruição e utilização de seus bens.

“O ORDENAMENTO JURÍDICO SE MANIFESTA POR MEIO DE NORMAS DE CONDUTA IMPOSITIVAS,


CRIADAS POR UM ESTADO POLITICAMENTE ORGANIZADO, TENDENTE A REALIZAR A BUSCA PELA
JUSTIÇA E, PRINCIPALMENTE, COM A FUNÇÃO DE ALCANÇAR A PAZ SOCIAL”
(CARVALHO, 2020).

Em consonância, Alexandre Mazza afirma que o direito torna possível a vida em


sociedade, por ser uma linguagem prescritiva designada para disciplinar os
comportamentos humanos, tendo em vista que “o cumprimento das condutas
determinadas pelo ordenamento jurídico é reforçado pela previsão de sanções. Ao
contrário das normas morais, estéticas e religiosas, a violação das normas jurídicas
impõe ao sujeito a aplicação de sanção externa e institucionalizada” (MAZZA, 2019, p.
61).

Por fim, Di Pietro (2020, p. 180) defende que o Direito Administrativo é o ramo do
direito público “que tem por objeto os órgãos, agentes e pessoas jurídicas
administrativas que integram a Administração Pública, a atividade jurídica não
contenciosa que exerce e os bens e meios de que se utiliza para a consecução de seus
fins, de natureza pública”.

Assim, podemos sintetizar o Direito Administrativo como um ramo do Direito Público


não codificado que tem como objetivo normatizar e afirmar as relações entre órgãos,
entidades e entre as pessoas (físicas e jurídicas) e o Estado, disciplinando a função
administrativa, juntamente com as pessoas e os órgãos que a exercem.

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Estudando as Fontes

5 Estudando as Fontes
São chamados de fontes, no âmbito jurídico, os meios e formas pelos quais o Direito
vem à luz ou, como explica Mazza (2019, p. 68), “os fatos jurídicos de onde as normas
emanam”. Considerando essa definição, entendemos que as fontes do Direito
Administrativo não se resumem apenas em normas formais originárias do Estado ou
de detentores do poder político, mas contemplam, para além disso, uma pluralidade
fatos extraestatais.

A despeito das diversas classificações estudadas pela doutrina nacional e estrangeira,


no Brasil, é de consenso dividir as fontes em duas classes: fontes primárias e fontes
secundárias.

5.1 Fontes Primárias

As fontes primárias, também chamadas de originárias, maiores ou diretas, são “o


nascedouro principal e imediato das normas” (MAZZA, 2020, p. 68), portanto podem
ser resumidas no conceito de lei em seu sentido amplo. São elas:
▪ a Constituição Federal;
▪ as leis delegadas;
▪ as leis ordinárias;
▪ as leis complementares; e
▪ a jurisprudência vinculante

Assim, consistem em fontes primárias do Direito a Constituição Federal, as


Constituições dos estados-membros e as leis orgânicas do Distrito Federal e dos
municípios, além das demais espécies normativas que expressam a vontade popular
referidas no art, 59 da Constituição Federal, e a Jurisprudência, quando prevista em
Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal.

Quanto a esta última fonte, afirma Mazza que “A Súmula Vinculante é de cumprimento
obrigatório pela Administração Pública, revestindo-se de força cogente para agentes,
órgãos e entidades administrativas”. Veja a redação do art. 103-A da Constituição
Federal, que antecipa esse pressuposto.

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O Objeto do Direito Administrativo

Art. 103-A, CF. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante
decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria
constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito
vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta
e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou
cancelamento, na forma estabelecida em lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de
2004).

5.2 Fontes Secundárias

As fontes secundárias, também chamadas de derivadas, menores ou indiretas,


“constituem instrumentos acessórios para originar normas, derivados de fontes
primárias” (MAZZA, 2019, p. 68). São aquelas que estão subordinadas às fontes
primárias, tais como:
▪ a jurisprudência e as súmulas orientadoras – poder judiciário.
▪ a doutrina.
▪ os costumes.

A jurisprudência reflete as decisões reiteradas dos tribunais sobre determinado tema,


“não tem a força cogente de uma norma criada pelo legislador, mas influencia
decisivamente a maneira como as regras passam a ser entendidas e aplicadas”
(MAZZA, 2019, p. 69). Já a doutrina diz respeito às opiniões formuladas por estudiosos
do Direito, as quais, embora não possuam força vinculativa, exercem influência sobre
o administrador e, nesse sentido, constituem fontes de orientação e referência para
as decisões administrativas (OLIVEIRA, 2021; DI PIETRO, 2020). Por fim, os costumes
exprimem condutas reiteradas pelas autoridades administrativas, capazes de
estabelecer padrões de comportamento e cujo rompimento ou alteração repentina
causam incertezas e instabilidade social (MAZZA, 2019).

6 O Objeto do Direito Administrativo


O Direito Administrativo tem por objetivo afirmar as relações entre os estados –
órgãos e entidades – e entre as pessoas – física e jurídica – e o próprio estado. Dessa
forma, é responsável pelo regime jurídico administrativo, isto é, as normas
administrativas, os princípios e as regras que conduzem a esse fim.

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O Objeto do Direito Administrativo

DIREITO ADMINISTRATIVO

✓ Um ramo do direito público


✓ Não codificado
✓ Autônomo e independente
✓ Possui como fontes
▪ Originárias: leis e súmulas vinculantes
▪ Secundárias: doutrinas e costumes
✓ Tem como objeto normatizar as relações entre
▪ Estado e pessoas
▪ Estados e Estados
✓ Responsável por manter e aperfeiçoar o regime jurídico administrativo
▪ Normas administrativas: princípios e regras

6.1 Norma jurídica

Doutrinadores como Marçal Justen Filho defendem que a norma jurídica integra o
conceito de direito administrativo, uma vez que ele é formado por um conjunto de
normas de direito público que tratam sobre as práticas essenciais à realização dos
direitos fundamentais, bem como sobre a distribuição e funcionamento dos sistemas
estatais e não estatais.

No Direito Administrativo, a norma jurídica pode se apresentar de duas formas


diferentes, tanto na forma escrita e objetiva quanto na forma conceitual. De acordo
com Alexandre Mazza (2019, p. 50, 51), a doutrina moderna, ao contrário da doutrina
clássica, define a norma jurídica como “um gênero, dividido em duas espécies: a regra
(norma específica disciplinadora de comportamentos específicos) e o princípio (regra
geral de conteúdo mais abrangente do que o da norma)”. Isto é, considerando o
posicionamento moderno, “os princípios administrativos também são normas dotadas
de força cogente capaz de disciplinar o comportamento da Administração Pública”.

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O Objeto do Direito Administrativo

Portanto, grosso modo, podemos dizer que a norma jurídica é uma espécie de gênero,
do qual podemos extrair as regras e os princípios, que também são coisas totalmente
distintas. A regra geralmente se manifesta de forma escrita, é algo mais restrito e está
expresso nos atos legislativos ou administrativos. Assim, o sujeito que escreve a regra
delimita os direitos e os deveres do outro, inclusive no que tange à propriedade.

Essa situação pode ser verificada com mais facilidade quando estamos diante de um
conflito aparente de normas. Isto é, o conflito de normas ocorre quando duas ou mais
regras concorrem para o mesmo fato, mas apenas uma delas pode ser aplicada. Desta
forma, para solucionar o conflito e definir qual regra se aplica ao caso, três critérios
devem ser considerados:

a) Critério cronológico: a norma posterior predomina sobre norma anterior;


b) Critério da especialidade: a norma especial sobressai a norma geral;
c) Critério hierárquico: a norma superior prevalece sobre norma inferior.

Contudo, fazendo um paralelo entre as regras e os princípios, estes são anteriores


àqueles, pois é a partir deles que as regras são formadas. Assim, os princípios podem
estar ou não escritos, além do seu campo de aplicação ser muito mais abrangente do
que o das normas, mas nada impede que elas os limitem caso necessário.

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O Objeto do Direito Administrativo

6.2 Princípios

Como vimos, os princípios podem se subdividir em explícitos, expressos na lei, a


exemplo dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência (art. 37, CF), e em não expressos, implícitos na lei, como, por exemplo, o
princípio da supremacia do interesse público e da indisponibilidade do interesse
público. Na sequência, veremos mais sobre esses princípios e cada uma das suas
particularidades.

Ainda, é possível que os princípios expressos estejam escritos somente em algumas


leis, e não em outras. Por exemplo, embora não se encontre explícito na Lei 14.133/21,
antes do seu advento, o princípio constitucional da ampla defesa já estava garantido
no art. 5º, LV da Magna Carta, o qual confere aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral o direito ao contraditório e ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes. Neste sentido, Licínia Rossi (2020, p. 1.065)
afirma que “sempre que existir alguma litigiosidade entre Administração Pública e
administrado, é necessário que a Administração confira oportunidade de contraditório
e ampla defesa”. Assim, pautada nesta premissa constitucional, a nova Lei de Licitações
exige respeito ao princípio da ampla defesa, mesmo que de forma implícita, em face
à aplicação de eventuais sanções administrativas ligadas ao processo licitatório ou aos
contratos administrativos.

6.3 Princípios Explícitos


Os princípios expressos ou explícitos são aqueles estabelecidos na lei, seja através de
atos legislativos ou administrativos. Assim, considerando o art. 37 da Constituição
Federal, são considerados princípios expressos da Administração Pública a legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e a eficiência. Este último se tornou expresso
apenas em 1973, com a promulgação da Emenda Constitucional n. 19. Esses princípios
são conhecidos pelo mnemônico LIMPE.

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O Objeto do Direito Administrativo

Ainda, é importante mencionar que a Administração Pública não é regida somente


com base nos princípios elencados no art. 37 da Constituição Federal de 1988. A
administração também deve obedecer, por exemplo, aos princípios do contraditório
e ampla defesa (art. 5º, LV, da CF/88) e o princípio da celeridade processual (art. 5º,
LXXVIII, CF/88). Isto é, embora o Capítulo VII da Constituição focalize especificamente
a Administração Pública, não quer dizer que ela está restrita apenas àquelas regras.

Conforme vimos anteriormente, o art. 37 da Constituição Federal estabelece que a


administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios deve obedecer aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Note que a redação do artigo determina que tanto a administração direta quanto a
indireta deverão obedecer aos princípios. Por isso, é importante que você saiba
distinguir as duas espécies de administração, pois uma não se confunde com a outra.

A administração pública direta é aquela que presta diretamente os serviços


públicos, composta pelo Estado e seus órgãos (União, Estados, Distrito Federal e
Municípios), os quais são criados e extintos por meio de lei, através de um processo
chamado desconcentração.

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O Objeto do Direito Administrativo

Por outro lado, a administração pública indireta surge quando o poder público
repassa alguns de seus serviços a outras pessoas jurídicas, através de um processo
chamado descentralização. A administração indireta é composta pelas autarquias,
fundações públicas, sociedade de economia mista e empresa pública.

Na sequência, veremos cada um desses princípios de forma individualizada,


abordando todas as suas particularidades.

6.3.1 Princípio da Legalidade

Nas palavras de Alexandre Mazza (2019, p. 118), “o princípio da legalidade representa


a subordinação da Administração Pública à vontade popular. O exercício da função
administrativa não pode ser pautado pela vontade da Administração ou dos agentes
públicos, mas deve obrigatoriamente respeitar a vontade da lei.”

Outro ponto que deve ser enfatizado é a expressão da legalidade, ou seja, a forma
como ela se manifesta no setor privado e no setor público. No âmbito privado, o
princípio da legalidade se apresenta de uma forma mais ampla, pois o indivíduo pode
fazer tudo aquilo que a lei não veda. Neste sentido, dispõe o art. 5º, II, da Constituição
Federal que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei”.

Ex.: antes da promulgação da Lei 12.546/11, as pessoas podiam consumir (fumar)


cigarros em qualquer ambiente, sem maiores restrições. No entanto, após o
advento da Lei, passou a ser proibido o uso de cigarros, cigarrilhas, charutos,
cachimbos ou qualquer outro produto fumígeno, derivado ou não do tabaco, em
recinto coletivo fechado, privado ou público. Isto é, as pessoas podem agir como
bem entenderem, desde que respeitem a lei.

Por outro lado, o princípio da legalidade no âmbito público é muito mais restrito, pois
o agente só pode fazer aquilo que a lei autoriza, ou seja, o seu comportamento está
totalmente vinculado às disposições legais, conforme determina o art. 37, caput, da
Constituição Federal. Contudo, tanto no âmbito privado quanto no público, uma coisa
é certa, todos estão sob o mando da lei e ninguém está acima dela.

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O Objeto do Direito Administrativo

6.3.1.1 Princípio da legalidade x Princípio da reserva legal

De acordo com Alexandre Mazza (2019, p. 118), o princípio da reserva legal “reforça o
entendimento de que somente a lei pode inovar originariamente na ordem jurídica. O
ato administrativo não tem o poder jurídico de estabelecer deveres e proibições a
particulares, cabendo-lhe o singelo papel de instrumento de aplicação da lei no caso
concreto”. Além disso, estão inclusas no princípio da reserva legal as leis
complementares, leis ordinárias e as leis delegadas.

Por outro lado, o princípio da legalidade, como vimos anteriormente, vincula o


comportamento da Administração Pública aos limites legais, por isso, é mais
abrangente que o princípio da reserva legal, uma vez que estão elencados nele as
instruções normativas, as resoluções, os decretos, as portarias, entre outras, uma vez
que o agente está subordinado à lei. Em outras palavras, o princípio da reserva legal
está contido no princípio da legalidade, ou seja, tudo aquilo que for considerado
reserva legal, por consequência, também será legalidade.

Ex.: Imagine a seguinte situação: determinada lei estabelece que os servidores


públicos civis podem fazer greve, desde que obedeçam ao procedimento de lei
complementar. Observe que a referida lei autoriza que os servidores públicos civis
façam greve (princípio da legalidade). No entanto, eles devem obedecer ao
procedimento de lei complementar (princípio da reserva legal).

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O Objeto do Direito Administrativo

6.3.1.2 Restrições ao princípio da legalidade

No entanto, em que pese o princípio da legalidade seja considerado um dos princípios


mais importantes da Administração Pública, poderá sofrer algumas limitações. De
acordo com o jurista Celso A. Bandeira de Mello, a Constituição Federal classifica três
institutos que possuem o poder de alterar o funcionamento regular do princípio da
legalidade por meio da outorga de poderes jurídicos inexistentes em situações
cotidianas:

→ a medida provisória, trazida pelo art. 62 da CF;


→ o estado de defesa, previsto no art. 136 da CF;
→ o estado de sítio, disposto nos arts. 137 a 139 da CF.

6.3.2 Princípio da Impessoalidade

Nas palavras de Alexandre Mazza (2019, p. 125), “o princípio da impessoalidade


estabelece um dever de imparcialidade na defesa do interesse público, impedindo
discriminações (perseguições) e privilégios (favoritismo) indevidamente dispensados
a particulares no exercício da função administrativa”. Assim, podemos afirmar que o
princípio da impessoalidade pode ser interpretado de três formas distintas, pelo viés
da igualdade, da finalidade e da vedação à promoção pessoal.

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A interpretação feita pela perspectiva da igualdade tem uma relação direta com o
princípio da isonomia, isto é, essa interpretação diz que devemos conferir o mesmo
tratamento a pessoas iguais, sem qualquer distinção ou favoritismo e, um tratamento
especial às pessoas desiguais, para que se sintam amparadas na medida de suas
desigualdades. Um exemplo prático do princípio da impessoalidade pelo viés da
igualdade são as provas de concursos públicos e os processos de licitação, nos quais
a Administração Pública entrega a mesma oportunidade às pessoas que buscam ser
contratadas pelo setor público e oferece condições igualitárias de concorrer entre si.

Em contrapartida, quando o princípio da impessoalidade é analisado pelo viés da


finalidade, também podemos interpretá-lo de duas formas, pela finalidade mediata
ou pela finalidade imediata. A finalidade mediata se traduz basicamente no alcance
do interesse público, já a imediata está relacionada com o alcance da “lei” em sentido
amplo.

Por fim, quando interpretamos o princípio da impessoalidade pela face da vedação a


promoção pessoal, é necessário revisitar o disposto no art. 37, § 1º, da Constituição
Federal, observe:

§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos
deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar
nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou
servidores públicos.

Note, é proibido vincular a publicidade dos atos a imagem ou qualquer coisa que faça
lembrar as autoridades ou servidores públicos, para não caracterizar a promoção
pessoal do indivíduo, pois, conforme vimos anteriormente, a finalidade mediata e
imediata é o alcance do interesse público e a implementação do texto legal, jamais a
promoção do sujeito. Ainda, é importante lembrar que, embora o §1º mencione a
publicidade dos atos, quando o sujeito vincula sua imagem a obras, serviços,
programas, entre outros, não está ferindo o princípio da publicidade, mas sim o
princípio da impessoalidade.

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6.3.2.1 Teoria do órgão

Por estar relacionada ao princípio da impessoalidade, é importante que você tenha


uma noção da teoria do órgão, também conhecida como teoria da imputação. Essa
teoria está relacionada com a imputação dos atos praticados pelos agentes públicos
às pessoas jurídicas em que atuam. De acordo com a teoria dos órgãos, embora seja
o agente público que pratique efetivamente o ato, a manifestação não diz respeito a
ele, mas sim ao Estado, à Administração Pública do órgão ou da entidade a qual o
agente representa.

Por isso, uma parcela da doutrina vincula a teoria do órgão ao princípio da


impessoalidade, uma vez que pouco importa a pessoa que realiza o ato, uma vez que
a vontade sempre será da Administração Pública.

6.3.3 Princípio da Moralidade

Muitas teorias giram em torno do princípio da moralidade, as quais se propõe explicar


a relação entre normas morais e normas jurídicas, como, por exemplo, a teoria do
mínimo ético, a teoria dos círculos independentes e a teoria dos círculos secantes.
Contudo, não vamos nos ater a essas teses, o foco será no princípio da moralidade
propriamente dito, pela ótica do direito romano, onde moral e direito não se
confundem.

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De acordo com Alexandre Mazza (2019, p. 130), “o princípio jurídico da moralidade


administrativa não impõe o dever de atendimento à moral comum vigente na
sociedade, mas exige respeito a padrões éticos, de boa-fé, decoro, lealdade,
honestidade e probidade incorporados pela prática diária ao conceito de boa
administração”.

Assim, entendemos que o princípio da moralidade no Direito Administrativo pode ser


analisado de duas formas distintas, no âmbito público e no privado. Neste sentido,
Maria Sylvia Di Pietro (2019, p. 235-236) alega que “o princípio deve ser observado
não apenas pelo administrador, mas também pelo particular que se relaciona com a
Administração Pública”.

Desta forma, a moralidade privada é aquela aplicada às relações privadas


estabelecidas entre particulares. São os comportamentos que a sociedade em que o
indivíduo está inserido impõe como certo ou errado.

DIREITO ADMINISTRATIVO – o servidor público que trai sua esposa e gera um


filho fora do casamento não será exonerado de seu cargo por conta disso, pois,
embora a traição seja uma conduta imoral, ela permanece na esfera da
moralidade privada, a qual, no direito romano (adotado pelo Brasil), não se
confunde com a pública.

DIREITO PENAL - a prostituição é uma conduta considerada imoral perante a


sociedade, mas o ato de se prostituir não constitui crime perante o Código Penal,
apenas o ato de manter por conta própria ou de terceiros casa de prostituição
onde ocorra exploração sexual, nos termos do art. 229 do Código Penal. Assim,
podemos verificar uma clara separação entre o direito e a moral, pois, embora a
prostituição seja uma conduta reprovada pela sociedade, não é crime.

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Por outro lado, a moralidade pública está relacionada com o decoro, a probidade
administrativa e com a boa-fé objetiva. Neste ponto, é importante frisar que o direito
administrativo considera a boa-fé objetiva e não a subjetiva, uma vez que para a
administração pública a atitude sobressai a intenção.

De acordo com Alexandre Mazza (2019, p. 132), para o Direito Administrativo basta o
simples fato de a conduta violar os limites de lealdade, honestidade e correção, isso
já é suficiente para justificar “a aplicação das penas definidas no ordenamento, sendo
absolutamente irrelevante investigar fatores subjetivos e motivações psicológicas de
quem realizou o comportamento censurável”.

6.3.3.1 Súmula Vinculante nº13

Ainda, no que diz respeito ao princípio da moralidade, devemos observar a redação


da Súmula vinculante nº 13, pois, de acordo com ela, “a nomeação de cônjuge,
companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau,
inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido
em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em
comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública
direta e indireta em qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a
Constituição Federal”.

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Em outras palavras, a súmula vinculante veda o nepotismo político, isto é, a nomeação


de parentes para ocupar cargo de confiança, mas essa proibição não se estende aos
cargos de provimento efetivo, após a realização de concurso público, aos cartórios e
serventias extrajudiciais. Por fim, é válido mencionar que o nepotismo viola tanto o
princípio da moralidade pública quanto o princípio da eficiência.

6.3.4 Princípio da Publicidade

O princípio da publicidade está associado a um “contexto geral de livre acesso dos


indivíduos a informações de seu interesse e de transparência na atuação
administrativa, como se pode deduzir do conteúdo de diversas normas
constitucionais” (MAZZA, 2019, p. 137). Desta forma, podemos considerar que a
publicidade se aplica a todos os atos, uma vez que é considerado requisito de eficácia
dos atos administrativos.

Relembrando a teoria dos atos administrativos, para que o ato seja perfeito é
necessário que ele cumpra alguns requisitos de:

- EXISTÊNCIA: competência, finalidade, forma, motivo e objeto;

- VALIDADE: confronto com a norma;

- EFICÁCIA: publicidade.

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6.3.4.1 Meios de publicação

A publicidade dos atos pode ocorrer de várias formas, que podem variar de acordo
com o tipo de ato. No caso dos atos individuais, os quais são dirigidos a uma pessoa
específica, a exteriorização pode ser feita por meio da simples comunicação ao
interessado. Por outro lado, quando os atos forem gerais (atinge mais de um
indivíduo) ou individuais de efeito coletivo (inicialmente direcionado a uma pessoa,
mas podendo afetar todo o grupo), a exteriorização do ato deve ser realizada através
de uma publicação no Diário Oficial.

Desta forma, o SFT reconhece que o ato foi efetivamente publicado somente quando
ele é publicado na imprensa oficial escrita, ou seja, no Diário Oficial da União, no Diário
Oficial do Estado, do Município ou da Justiça. No entanto, por mais que o ato seja
publicado no meio oficial, a maioria das pessoas não sabem da existência do Diário
Oficial e tampouco o leem, por isso essa espécie de publicidade é chamada de
burocrática, realizada apenas para cumprir com os ditames legais.

Assim, para que o ato alcance uma publicidade efetiva e chegue até o conhecimento
do cidadão, é necessário que a Administração Pública se utilize de outros meios, como,
por exemplo, a publicação em sites, envio de e-mail ao interessado, entre outros.

6.3.4.2 Objetivos da publicidade

Ademais, é importante ressaltar os objetivos da publicidade. De acordo Alexandre


Mazza (2019), esse procedimento é adotado com o intuito de:

▪ Externar a vontade da Administração Pública;


▪ Fazer os atos chegarem ao conhecimento dos interessados;
▪ Reivindicar o conteúdo do ato;
▪ Tornar o ato válido, apto a produzir efeitos;
▪ Facilitar o controle de legalidade.

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6.3.4.3 Exceções ao princípio da publicidade

Embora a publicidade seja essencial ao ato administrativo, a doutrina considera que o


princípio comporta algumas exceções, quais sejam:

▪ Atos referentes a segurança pública


▪ Atos referentes a segurança nacional
▪ Atos de interesse da Administração Pública/ Estado

Contudo, uma parcela minoritária da doutrina não reconhece exceções ao princípio


da publicidade, mas sim a existência de uma publicidade mitigada ou restrita, pois,
sem ela, o ato é inválido e não cumpre a sua função. Além disso, a publicidade restrita,
também pode ser reconhecida como aquela publicação interna dos atos, realizada
dentro da Administração Pública.

Ex.: a publicação do edital de classificados no concurso federal da ABIN é divulgada


apenas com o número da inscrição do candidato, e nunca com o seu nome ou CPF.
No entanto, não podemos dizer que essa é uma exceção ao princípio da publicidade,
mas sim uma publicidade mitigada, pois, em que pese o ato não divulgar o nome
do aprovado, revela sua inscrição, comunicando apenas o interessado.

6.3.5 Princípio da eficiência

O princípio da eficiência nasce com o advento da Emenda Constitucional nº 19/98,


que alterou o art. 37 da Constituição Federal e incluiu o referido princípio. De acordo
com Alexandre Mazza (2019, p.142-143), “o princípio da eficiência foi um dos pilares
da Reforma Administrativa que procurou implementar o modelo de administração
pública gerencial voltada para um controle de resultados na atuação estatal”, dessa
forma, “economicidade, redução de desperdícios, qualidade, rapidez, produtividade e
rendimento funcional são valores encarecidos” por esse princípio.

Além disso, é válido mencionar que, embora sejam nomenclaturas parecidas,


eficiência não se confunde com eficácia e nem com efetividade. A eficiência está
associada ao modo de atuação da Administração Pública, os agentes devem agir de
forma mais produtiva e econômica possível, priorizando o melhor custo-benefício. Já
a eficácia está relacionada ao modo instrumental (meios) em busca de um objetivo.

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Entre as formas eficazes para atingir o objetivo deve ser escolhida a mais eficiente
(mais econômica, menos gravosa). Por fim, a efetividade se preocupa os meios
utilizados, se eles são realmente eficazes para atingir o objetivo, e está relacionada
com as metas sociais.

Ex.: em uma determinada campanha de vacinação contra o sarampo, a meta é


vacinar 10 milhões de crianças, se o resultado é atingido a campanha foi eficaz. A
meta social (efetividade) é eliminar o sarampo no Brasil. O orçamento inicial para
a campanha era de 1 milhão de reais, no entanto, ao final da campanha, o valor
gasto foi de 10 milhões de reais. Veja, a campanha de vacinação foi eficaz e efetiva,
mas não eficiente, pois ultrapassou o limite de gastos.

6.4 Princípios Implícitos

Como vimos inicialmente, os princípios podem ser classificados em explícitos e


implícitos. Os princípios explícitos são aqueles que estão expressos no texto legal,
como, por exemplo, os princípios da Administração Pública (legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência), todos estão expressos no caput
do art. 37 da Constituição Federal.

Por outro lado, os princípios implícitos são aqueles que estão ocultos na lei, mas nem
por isso são considerados inferiores ou menos importantes. Por não estarem escritos
expressamente, os princípios implícitos não apresentam um rol específico que deva
ser observado, podendo essa relação variar de um doutrinador para outro. Um grande
exemplo de princípios implícitos são os supraprincípios (indisponibilidade do interesse
público e a supremacia do interesse público), embora não estejam expressos no texto
legal, esses dois princípios são as bases do Direito Administrativo, eles formam o
chamado regime jurídico administrativo e devem sempre ser observados.

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Por serem considerados pedras de toque do Direito Administrativo, muitos outros


princípios implícitos, que também possuem relevância no âmbito da Administração
Pública, decorrem dos supraprincípios, por exemplo:

▪ Princípio da proporcionalidade;
▪ Princípio da razoabilidade;
▪ Princípio da continuidade do serviço público;
▪ Princípio da boa-fé objetiva;
▪ Princípio da finalidade;
▪ Princípio da Isonomia;
▪ Princípio da motivação;
▪ Princípio da autotutela;
▪ Princípio da segurança jurídica;
▪ Princípio da probidade administrativa;
▪ Princípio da especialidade.

6.4.1 Supremacia do interesse público

O princípio da supremacia do interesse público é tido como um dos princípios


essenciais da Administração Pública, ele se faz presente desde a elaboração da lei até
a sua execução/ implementação.

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Nas palavras de Maria Sylvia Di Pietro (p. 215, 2019), o princípio da supremacia do
interesse público “inspira o legislador e vincula a autoridade administrativa em toda a
sua atuação” e, de acordo com Mazza (p. 175, 2019), “os interesses da coletividade
são mais importantes que os interesses individuais, razão pela qual a Administração,
como defensora dos interesses públicos, recebe da lei poderes especiais não
extensivos aos particulares”.

6.4.2 Indisponibilidade do interesse público

Em contrapartida, o princípio da indisponibilidade do interesse público defende que


o administrador não pode dispor livremente do interesse público, pois o interesse
coletivo deve sobressair ao do administrador e, até mesmo, o da Administração
Pública. Neste sentido Alexandre Mazza (p. 111, 2019) afirma que “o supraprincípio da
indisponibilidade do interesse público enuncia que os agentes públicos não são donos
do interesse por eles defendido. Assim, no exercício da função administrativa os
agentes públicos estão obrigados a atuar, não segundo sua própria vontade, mas do
modo determinado pela legislação”.

Corroborando com o entendimento, Maria Sylvia Di Pietro (p. 218, 2019) defende que
“por não poder dispor dos interesses públicos cuja guarda lhes é atribuída por lei, os
poderes atribuídos à Administração têm o caráter de poder-dever; são poderes que
ela não pode deixar de exercer, sob pena de responder pela omissão”.

6.4.3 Princípio da Autotutela

O princípio da autotutela é aquele que dá um certo poder à Administração Pública


para que ela atue por conta própria. Nas palavras de Alexandre Mazza (2019, p. 145),
“o princípio da autotutela consagra o controle interno que a Administração Pública
exerce sobre seus próprios atos. [...] Consiste no poder-dever de retirada de atos
administrativos por meio da anulação e da revogação”.

Assim, o ato só será anulado quando estiverem presentes elementos que comprovem
a sua ilegalidade ou, quando estiver livre de ilegalidade, o ato será revogado por mera
conveniência ou oportunidade da Administração Pública.

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Neste sentido, a Súmula 473 do Supremo Tribunal Federal determina que “a


administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os
tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de
conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em
todos os casos, a apreciação judicial”.

Contudo, é importante lembrar que apenas os atos discricionários são passiveis de


revogação e anulação. Os atos discricionários são aqueles atos em que o agente
possui um poder de escolha frente ao caso concreto. Por outro lado, os atos
vinculados, que restringem a Administração Pública aos parâmetros legais, sem
qualquer discricionariedade por parte do administrador, só podem ser anulados
quando estiverem eivados por vícios de legalidade, esses atos jamais serão revogados
por conveniência ou oportunidade.

Além disso, como o princípio da autotutela está relacionado com o controle interno
da Administração Pública, também pode ser observado nos processos de supervisão,
revisão administrativa e de correição.

6.4.4 Princípio da Segurança Jurídica

Inicialmente, é importante que você não confunda o princípio da segurança jurídica


no âmbito administrativo com a segurança jurídica presente no âmbito judicial, pois
neste último a segurança jurídica é manifestada através do trânsito em julgado do
processo, situação que não ocorre no direito administrativo, até porque as decisões
na via administrativa podem ser discutidas judicialmente.

Desta forma, de acordo com Alexandre Mazza (2019, p. 157) podemos dizer que o
princípio da segurança jurídica está relacionado com a “garantia de estabilidade,
ordem, paz social e previsibilidade das atuações estatais”. Da mesma forma, que se
associa “à finalidade primeira da ordem jurídica que é propiciar segurança e
estabilidade no convívio social, evitando mudanças abruptas, sobressaltos e surpresas
decorrentes de ações governamentais”.

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Assim, no âmbito do direito administrativo, a segurança jurídica se manifesta no


sentido de proibir a interpretação retroativa dos dispositivos legais e das normas
administrativas. Lembrando que na Constituição Federal o princípio da segurança
jurídica não está expresso, ao contrário da Lei 9.784/99, que traz o princípio expresso
no art. 2º, parágrafo único, XIII, note:

XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do


fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação.

6.4.5 Princípio da Razoabilidade

O princípio da razoabilidade, assim como vários outros institutos jurídicos, foi


importado do direito processual norte-americano e aplicado no Brasil. Esse princípio
deriva do princípio da legalidade e é importante em todos os ramos do direito, mas
principalmente no Direito Administrativo, pois nele é essencial que o sujeito aja com
moderação e racionalidade.

Neste sentido, Alexandre Mazza (2019, p. 152) pontua que no âmbito administrativo
o princípio da razoabilidade “impõe a obrigação de os agentes públicos realizarem
suas funções com equilíbrio, coerência e bom senso. Não basta atender à finalidade
pública predefinida pela lei, importa também saber como o fim público deve ser
atendido”.

Em outros termos, o princípio da razoabilidade é um subteto, que evita decisões


ilegais e arbitrárias. É a decisão razoável do administrador, pautada na moderação e
na racionalidade. Assim, “comportamentos imoderados, abusivos, irracionais,
desequilibrados, inadequados, desmedidos, incoerentes, desarrazoados ou
inaceitáveis à luz do bom-senso não são compatíveis com o interesse público”, uma
vez que os atos resultantes dessas ações estão sujeitos a invalidação judicial ou
administrativa (MAZZA, 2019, p. 152).

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6.4.6 Princípio da Proporcionalidade

O princípio da proporcionalidade está relacionado com os meios empregados em


determinada situação e com o que essa situação pretende alcançar. De acordo com
Alexandre Mazza (2019, p. 153), “a proporcionalidade é um aspecto da razoabilidade
voltado à aferição da justa medida da reação administrativa diante da situação
concreta. Em outras palavras, constitui proibição de exageros no exercício da função
administrativa”.

Além disso, o princípio da proporcionalidade veda o excesso, principalmente no que


diz respeito aos poderes disciplinar e de polícia, em que podemos verificar diversas
punições exageradas e desproporcionais. Esse princípio também está alocado dentro
da legalidade, mas deve ser analisado como um aspecto da razoabilidade.

6.4.7 Princípio da Finalidade

O princípio da finalidade se relaciona com o princípio da impessoalidade e tem como


objetivo fazer com que a Administração Pública sempre busque a defesa do interesse
público primário. Esse princípio pode ser dividido em finalidade mediata e imediata,
também chamada de finalidade geral e específica.

A finalidade mediata ou geral se traduz na busca do interesse público, ela restringe o


emprego das prerrogativas administrativas na defesa do interesse de terceiros, alheios
ao público. Por outro lado, a finalidade imediata ou específica, está relacionada com

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Conclusão

a legalidade, quando o ato é contrário às hipóteses definidas em lei, ferindo sua


tipicidade legal.

7 Conclusão
O Direito Administrativo configura o ramo do Direito Público que tem como objetivo
normatizar e afirmar as relações entre órgãos, entidades e entre as pessoas (físicas e
jurídicas) e o Estado, disciplinando a função administrativa, juntamente com as
pessoas e os órgãos que a exercem.

Este ramo autônomo do Direito está constituído sobre fontes originárias, as quais
representam o berço da norma jurídica, tal como a Constituição Federal, as leis
delegadas, as leis ordinárias, as leis complementares e a jurisprudência vinculante,
bem como sobre fontes que destas derivam (jurisprudência, súmulas orientadoras,
doutrina e costumes) e, para além disso, fundamenta-se sobre os princípios expressos
da Administração Pública e sobre outros princípios que, embora implícitos na lei,
determinam a conduta adotada pelos agentes públicos.

Esta noção introdutória ao Direito Administrativo é fundamental para compreensão


do funcionamento da estrutura da Administração Pública como um todo. Que este
conteúdo sirva de norte para os próximos tópicos que se apresentarão na sequência
deste curso.

8 Referências Bibliográficas
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. -33. ed. –
São Paulo: Altas, 2019.
CARVALHO, Matheus. Manual do Direito Administrativo. – 7. ed. Salvador:
JusPODIVM, 2020.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 33 ed. – Rio de Janeiro:
Forense, 2020.
MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo. – 9 ed. – São Paulo: Saraiva
Educação, 2019.

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Referências Bibliográficas

OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de direito administrativo. – 9. ed. – Rio


de Janeiro: Forense, 2021.

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Referências Bibliográficas

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