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Escrevo este texto do computador e quarto de minha filha Selena, que agora amargam sua

ausência. Escrevo, pois não tenho mais voz para falar, não tenho mais lágrimas para chorar.
O lamento, a dor e angústia que estavam no meu peito antes, agora, começam a dar lugar ao
sentimento de entendimento, aceitação e saudade.

Sentada em meio ao pequeno caos criativo que era seu quarto, encontrei um texto que falou
tão profundamente em meu coração que não consigo deixar de compartilhar com vocês, que
tanto estão nos dando forças neste momento. O texto dizia:

“Vai ter um dia em que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia é hoje. Eu esperei
minha vida inteira. E tudo está bem. Completei meus 11 anos e tinha voltado ao bairro e a
escola que cresci depois de dois anos em São Mateus (ES), e eu disse: Vai um dia que o mundo
inteiro vai estar do seu lado, e esse dia está próximo.”

Realmente o dia estava próximo para minha filha. Havia 1 mês e cinco dias que ela havia
completado 12 anos. O dia de sua morte, dia 25/11, foi também o dia do aniversário de meu
pai, e seu avô Jose. Dia 01/12 será aniversario de seu outro avô, Laudérico. Daqui a trinta dias
será Natal. Minha filha não verá os próximos jogos da copa do mundo e nunca mais se
empolgará com um gol como aquele do Richarlyson, que ela achou “incrível”.

Jamais verei do que ela seria capaz. Ela estava se tornando uma mulher poderosa, alma livre,
feminina. A promessa de uma vida inteira foi desfeita. Todo um futuro interrompido. A custo
do ódio, do desamor, do terror. Não venho aqui clamar por retaliação, pois de ódio, estou
farta.

Clamo por piedade e por segurança para nossas crianças serem as milhões de pequenas
revoluções que elas poderiam ser. Segurança nas escolas, ruas, casas. Abrigadas e protegidas
de todos os desterros do mundo. Longe da violência, drogas, armas e abusos.

Que a partida da Selena seja o início de uma nova revolução, assim como ela gostava, mas uma
revolução baseada no amor e segurança para nossas crianças de todas as etnias,
regionalidade, classe social e crença.

Esse é um lamento e um grito de uma mãe que padece com a perda de uma filha. Peço que
nos mandem orações, amor, energias boas, seja qual for sua crença. Que o mundo se una pela
Selena, assim como ela escreveu em seu texto, e por tantas outras Selenas pelo mundo.

Ass. Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto

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