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Ayahuasca

Medicina Sagrada

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Sumário:

Conhecendo o Chá Ayahuasca………………….………………….………………………..3

A História da Ayahuasca………………………….………………….…………………..…...4

Burracheira e o Objetivo do Trabalho Realizado...……………………………...………….8

Chá de Ayahuasca é Droga?................................................……………………...……...9

Não é Alucinógeno, é Enteógeno……………..……..………………………………..……10

A Miração......................................................................................................................11

Ayahuasca como Opção Espiritual................................................................................14

Significado da Serpente na Ayahuasca.........................................................................21

Lenda: Jibóia, a Guardiã do Nixi Pae (Ayahuasca).......................................................24

Rituais e Cerimonias………………...……………………………………………………….26

Legislação da Ayahuasca no Brasil…......………………………….………………….…..30

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Conhecendo o Chá Ayahuasca

Ayahuasca é um chá medicinal de poder espiritual milagroso, que cura doenças do


corpo e da alma.

Esta bebida é também conhecida como Vinho das Almas!

A Ayahuasca a nível físico é somente um chá preparado com duas plantas (Cipó de
Mariri + Folhas de Chacrona), mas a nível espiritual é um potente facilitador da saúde
física (pois concretiza curas inexplicáveis pela Ciência Oficial) e da saúde da Alma.

Já existem inúmeros estudos científicos importantes comprovando os benefícios da


Ayahuasca, como por exemplo, a pesquisa inédita da USP (Universidade de São
Paulo) de Ribeirão Preto, no tratamento de pacientes com depressão, que na primeira
etapa, já demonstraram sucesso na cura dos pacientes. Inclusive a taxa de
recuperação de drogados através do uso ritualístico da Ayahuasca, é extremamente
alta. Doenças como depressão, stress, traumas, medo, nervosismo, irritação,
obesidade são sanadas por completo com o uso da Ayahuasca.

Ampliar a consciência é alcançar um estado mental que permite uma reflexão


profunda, semelhante à meditação, nos fazendo enxergar o real estado que nos
encontramos, para que possamos nos melhorar a cada dia.

No Brasil a Ayahuasca vem sendo utilizada há milênios pelos povos indígenas da


região amazônica e recentemente pela União do Vegetal e pelo Santo Daime. A
proposta básica destes e de diversos outros grupos é atingir o autoconhecimento
através de experiências de tipo místico-espiritual, onde por meio de visões e estados
de expansão da consciência chega-se a um estado de integração total com o cosmos,
com a natureza e com o Criador.

Honrando as tradições, vivenciamos a espiritualidade sem nenhum vínculo religioso.

Mariri Chacrona

A História da Ayahuasa

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A História da Ayahuasca (Hoasca ou Oaska)
Existiu a milhares e milhares de anos, antes do dilúvio universal, um Rei de nome
Inca.
Este Rei tinha uma conselheira que se chamava Oaska.
Era uma mulher misteriosa que tinha o poder de adivinhar tudo que viria a acontecer,
qualquer dificuldade que o Rei tinha, ia aconselhar-se com sua conselheira e ela
orientava-o no que era necessário, e assim o reinado prosperava.
Tudo Oaska dirigia. Mas um dia Oaska morreu.
O Rei ficou triste com o acontecimento, mas não teve outra coisa a fazer a não ser
cavar uma sepultura e sepultar Oaska. E assim fez...
Ficou assim o Rei Inca zelando por aquela sepultura e vinham sempre em visita.
Uma dia vêm o Rei em visita à sepultura de Oaska e viu nascido no centro da
sepultura um pé de árvore.
O Rei olhou, examinou e viu que aquela árvore era diferente de todas as árvores e não
tinha nome. Então diz o Rei: “-Essa árvore nasceu na sepultura de Oaska, essa árvore
é Oaska”. Nome dado pelo Rei Inca.
Nesses tempos nasce no mesmo reinado um menino de nome Tihuaco.
Este menino, inteligente, cresceu e chegou a ser Marechal de confiança do Rei Inca.
Marechal Tihuaco já conhecia a história da mulher misteriosa contada pelo Rei.
Um dia vem o Rei em visita à sepultura da Oaska acompanhado de seu Marechal
Tihuaco.
Chegando na sepultura diz o Rei: “-Tihuaco, quem sabe se nós tirássemos folhas
dessa árvore... quem sabe nós não poderíamos conversar com o espírito de Oaska
para descobrirmos seus segredos e mistérios... Vamos experimentar!”
Tirou então algumas folhar, preparou um chá e disse: “-Tihuaco, bebe esse chá e veja
se pode falar com o espírito da Oaska para descobrir seus segredos e mistérios”.
Tihuaco bebeu e a Força de Oaska veio crescendo e crescendo, veio circundando-o e
crescendo, chegando ao ponto de Tihuaco não suportar e morrer dentro da Força.
O Rei ficou desorientado pelo acontecimento, mas não teve nada a fazer a não ser
cavar outra sepultura e sepultar Tihuaco. E assim o fez...
Cavou uma sepultura e sepultou Tihuaco, e ficou assim o Rei zelando por aquelas
duas sepulturas.
Um dia veio o Rei em visita à sepultura da Oaska e à sepultura de Tihuaco e viu
nascido no centro da sepultura de Tihuaco um pé de cipó diferente de todos os cipós e
não tinha nome.
Então diz o Rei: “-Esse cipó nasceu na sepultura de Tihuaco, então esse cipó é
Tihuaco”.
Algum tempo depois o Rei Inca também veio a morrer. Contudo mesmo ao morrer
tinha o pensamento preso em Oaska, porque queria descobrir os segredos e mistérios
dela.

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Passa-se o tempo...
Muitos e muitos anos depois nasceu um menino que recebeu o nome de Salomão.
Este menino era todo dotado de Ciência e de Sabedoria. Sendo sábio, até hoje
combate a curiosidade.
Salomão estudou de si e tornou-se o rei da Ciência. O Rei Salomão.
E a história da mulher misteriosa circulava o mundo.
Um dia, chegou aos ouvidos de Salomão a história da mulher misteriosa. E só ele
mesmo, como Rei da Ciência, poderia descobrir os mistérios e segredos de Oaska
sendo ele o conhecedor de toda Ciência.
Um dia vem então o Rei Salomão acompanhado de seu vassalo Caiano na procura da
descoberta dos mistérios. Caiano esse, reencarnação do próprio Rei Inca.
Chegando naquele antigo reinado já transformado em tapera, Salomão encontrou a
sepultura de Oaska e a sepultura de Tihuaco.
Chegando na sepultura de Oaska, diz Salomão tocando na árvore: “-Desta árvore, que
tiraram as folhas e fizeram um chá e deram a Tihuaco beber, Tihuaco bebeu e morreu
dentro da Força, venho a denominar Chacrona, que quer dizer Chá Temeroso, para
aqueles que não o respeitam...”
Em seguida dirigiu-se à sepultura de Tiuaco e, encontrando ali um cipó, tocando-o
confiou que nele existia o Marechal. Salomão então diz: “-Tihuaco é Mariri, Tihuaco é
Marechal...”
Declara então Salomão: “-Eu venho fazer a união do vegetal, do Mariri com a
Chacrona...”
“É O MARIRI COM A CHACRONA EM UNIÃO É QUEM NOS CONDUZ É O MARIRI
COM A CHACRONA
OS DOIS UNIDOS É QUEM NOS CONDUZ O MARIRI NOS DÁ A FORÇA E A
CHACRONA NOS DÁ A LUZ É O MARIRI COM A CHACRONA EM UNIÃO É QUEM
NOS CONDUZ É O MARIRI COM A CHACRONA
OS DOIS UNIDOS É QUE NOS CONDUZ O MARIRI NOS DÁ A FORÇA E A
CHACRONA NOS DÁ A LUZ O MARIRI ESBLANDE FORÇA E A CHACRONA
ESPLANDECENDO EM LUZ AO MARIRI EU PEÇO FORÇA E À CHACRONA EU
PEÇO LUZ.
DO MARIRI RECEBEMOS FORÇA E DA CHACRONA RECEBEMOS LUZ É O
MARIRI COM A CHACRONA EM UNIÃO É QUEM NOS CONDUZ É O MARIRI COM
A CHACRONA
OS DOIS UNIDOS É QUEM NOS CONDUZ O MARIRI É O REI DA FORÇA E A
CHACRONA RAINHA DA LUZ O MARIRI TRANSMITE FORÇA E A CHACRONA
CLAREANDO EM LUZ
CAI, CAIA SERENO, SERENO DE LUZ CAIA, CAIA SERENO, SERENO É A LUZ
CAIA, CAIA SERENO, SOBRE TODA LUZ CAIA, CAIA SERENO, MESTRE QUER
TODOS NA LUZ
A UNIÃO QUEM NOS CONDUZ LUZ, LUZ DIVINA LUZ”

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Então Salomão tirou alguns pedaços do cipó e algumas folhas da árvore, uniu esses
mistérios e preparou um chá e chamou seu vassalo Caiano e disse com palavras
firmes:
“-Caiano, beba esse Chá, receba a Comunhão do Vegetal e siga firme para receber
todo o Poder de Oasca, todo Poder do Vegetal, todos os segredos e mistérios da
Hoaska... Toda vez que a Força vier crescendo e você ver que não suporta, lembre-se
que Tihuaco é Mariri e que ele morreu dentro da Força, ele é o Rei da Força...”
Caiano bebeu e a Força do Vegetal veio crescendo e crescendo, Caiano vendo que
não ia suportar, lembrou-se da voz do Mestre Salomão e chamou:
“TIHUACO É MARIRI TIHUACO É MARECHAL TIHUACO É O GRANDE REI NO
SALÃO DO VEGETAL TIHUACO É MARIRI MARIRI É MARECHAL O MARECHAL
É O GRANDE REI NO SALÃO DO VEGETAL”
Caiano então diz ao Mestre Salomão: “-Mestre, eu vi tudo, entrei nos encantos da
Natureza e vi tudo”.
Salomão repreende Caiano: “-Caiano, como é que tu viu tudo? Se os encantos são de
Natureza Divina? Vivem fechados e para se penetrar deve-se pedir licença à Natureza
Divina, que na minha língua é Minguarana...”
“...OH! MINGUARANA TU ABRIREI O TEU ENCANTOS E TRAREI... TRAREI OS
TEUS ENCANTOS...”
Continua Salomão: “-Os encantos então estão abertos, temos que pedir porém, para a
Natureza Divina nos levar...”
“...Ô MINGUARANA TU CLAREI O TEU ENCANTE E CLAREI CLAREI OS TEUS
ENCANTOS EU VIM ABRIR MEU ORATÓRIO AO DIVINO ESPÍRITO SANTO Ô
MINGUARANA TU ABRE O TEU ENCANTE E CLAREI CLAREI OS TEUS
ENCANTOS
EU VOU ABRIR MEU ORATÓRIO AO DIVINO ESPÍRITO SANTO
Ô MINGUARANA TU NOS LEVAREI AO TEU ENCANTE E TRAREI TRAREI O TEU
ENCANTE
EU ABRI MEU ORATÓRIO AO DIVINO ESPÍRITO SANTO LUZ, LUZ DIVINA LUZ...”
Então se revelou assim Caiano como o primeiro oasqueiro, e quando precisamos,
chamamos:
“...CAIANO MESTRE CAIANO É O PRIMEIRO OASQUEIRO EU CHAMO CAIANO
CHAMO BURRACHEIRA EU CHAMO CAIANO CHAMO BURRACHEIRA
CAIANO MESTRE CAIANO É OASQUEIRO SEM FIM EU CHAMO O REI
OASQUEIRO CLAREIA OS SEUS CAIANINHOS EU CHAMO O REI OASQUEIRO
CLAREIA OS SEUS CAIANINHOS
CAIANO MESTRE CAIANO É QUEM É A LUZ DO CAMINHO É A ESTRADA DO
VEGETAL OS DEGRAUS É SEUS CAIANINHOS
CAIANO MESTRE CAIANO VEM PELA LUZ VERDADEIRA CLAREIA AOS SEUS
CAIANINHOS TODOS PEDE BURRACHEIRA CLAREIA OS SEUS CAIANINHOS
TODOS PEDE BURRACHEIRA...”

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Caiano continuou fazendo e distribuindo o Vegetal para as pessoas, mostrando o que
esse Vegetal podia fazer-lhes, ensinando a caminhada de ser direito na vida.
Equilibrando, firmando o pensamento de cada um...
Chegou finalmente o dia em que Caiano teve que deixar também este plano de
existência, ficando o Vegetal esquecido por muito tempo.
Um dia no Astral, Caiano recebe Ordem Superior para restaurar o Vegetal na Terra e
pergunta: “-Quando?”. A resposta: “-Ir agora!”.
Com essa palavra dita, Caiano reencarnou com o nome Iagora, no meio dos nativos
das montanhas dos Andes onde hoje é o Peru, ensinando essa mesma história
contada acima e pedindo sempre por Força.
O Mestre Iagora então é muitas vezes lembrado e chamado com essa expressão de
seu nome, pedindo orientação que sempre vêm chegando.
Por relembrar a história do Rei Inca junto aos nativos deste lugar, eles começaram a
chamar Mestre Iagora de Rei Inca, vindo a emprestar o nome de sua antiga
encarnação ao Império Inca do Andes.
Veio também Mestre Iagora a desencarnar, e seus discípulos todos se dispersaram
pelos Andes e Alto-Amazônas, e vieram a ser conhecidos posteriormente esses
homens como os Mestres da Curiosidade.
Mas o Mestre é sempre o Mestre, e lá onde estava, sentiu a necessidade de recriar a
União do Vegetal, voltando a encarnar.
Nasceu no Brasil chamando-se José Gabriel da Costa, sendo este, o mesmo Rei Inca,
sendo o mesmo Mestre Caiano, sendo o mesmo Mestre Iagora, esse é o Mestre
Gabriel em uma só Força e em uma só Luz, mostrando, ensinando, equilibrando,
colocando todos dentro de um caminho Firme.
José Gabriel, sempre guiado por uma Força Superior serviu à esse Reino Astral de
diversas formas, até que encaminhou-se para a Floresta Amazônica onde trabalhou
como seringueiro e lá recebeu o Sacramento do Vegetal novamente.
Relembrando suas encarnações passadas adentrou nas matas à procura dos Mestres
da Curiosidade para com eles receber sabedoria, mas decepção... Aos os encontrar
constatou que eles mesmo não sabiam nada. O que lá viu e reaprendeu é um segredo
particular, mas como Avatar nos traz também sua luz...
A viagem ao coração perdido da floresta não havia sido em vão. Fora uma viagem
iniciática de qualquer forma e dela voltando, Mestre Gabriel refunda a União do
Vegetal para o benefício de toda a humanidade, para trazer aos homens a perene
sabedoria da união entre os Homens e a Natureza, possibilitando sempre haver de
agora em diante, disponível, Luz, Paz & Amor para que todos reencontrem seu
caminho ao Divino.

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Burracheira e Objetivo do Trabalho Realizado.

"Burracheira" é o nome dado ao efeito da Oaska no espírito humano e significa "força


estranha". Revela a dimensão espiritual e a existência do Sagrado.

Durante o tempo em que essa força se manifesta, o discípulo experimenta grande


clareza e discernimento e recebe ensinamentos sobre a própria existência. Dada a
profundidade e a intensidade das revelações que a Oaska proporciona, a burracheira
nem sempre é uma experiência fácil, embora seja sempre benéfica e purificadora.

Durante esses momentos, é imprescindível a presença do Mestre que é consciente


espiritualmente, ou seja, recordado de sua missão e de sua ligação com a obra, capaz
de viver em sintonia permanente com a Força Superior.

Seguindo pela União do Vegetal, o discípulo compreende que o caminho da


iluminação consiste em perder, e não em obter: perder o ego, a ignorância, as ilusões,
desfazer-se da casca, voltar a ser um. Assim, acaba o jogo do "parecer ser" e começa
a conquista do ser, único caminho a proporcionar equilíbrio, beleza e brilho ao espírito
humano.

O objetivo do trabalho realizado com o Chá é livrar a humanidade da ilusão, ensinando


o homem a se conduzir.

O chá é um instrumento poderoso porque proporciona a cada um o auto-conhecimento


e a regeneração espiritual, através do reconhecimento dos próprios erros e de auto-
superação.

O chá destampa o inconsciente e abre o caminho para o auto-entendimento

Segundo Mestre Gabriel, recriador da União do Vegetal neste século, a experiência de


beber esse misterioso chá é tão significativa que todos deveriam vivê-la ao menos
uma vez na vida, dado o seu poder de trazer à tona as verdades existenciais que
estão gravadas dentro de cada um.

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Chá de Ayahuasca é Droga?

Em tempos passados, o chá já foi tachado, pelos que não o conheciam, de "droga",
"alucinógeno" ou "entorpecente". Ora por falta de um referente para classificá-lo, ora
por inexperiência com o chá, a mídia acabou veiculando muitas reportagens
equivocadas a respeito do assunto, a maioria fruto de (pré)conceitos descabidos.

Em 1986 a Oaska é liberada por órgãos governamentais para utilização em rituais


religiosos e, consequentemente, deixa de ser considerada como entorpecente ou
alucinógeno. Além disso, seus benefícios, tanto no nível físico como no mental e
espiritual têm sido continuamente constatados. Assim, por exemplo, as pessoas
viciadas em álcool, tabaco e outras drogas acabam se livrando delas depois de
algumas sessões. O índice de abstinência desses vícios na União do Vegetal é de
100%, justamente pela compreensão que a pessoa adquire, através da luz e da força
proporcionados pela Oaska, da nocividade dos vícios a nível espiritual.

 Após 18 anos de estudos, o Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas do


Brasil retirou, a ayahuasca da lista de drogas alucinógenas definitivamente. A
ayahuasca já havia sido excluída desta lista em caráter provisório desde
setembro de 1987. Em 26 de janeiro de 2010, o Governo Brasileiro dispôs a
regulamentação de seu uso para fins religiosos.

 A Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu que o governo estadunidense


não pode impedir a filial da União do Vegetal no Estado do Novo México de
utilizar o chá ayahuasca em seus rituais religiosos. O veredicto atesta que o
grupo religioso está protegido pelo Religious Freedom Restoration Act,
aprovado pelo congresso em 1993.

 A ONU emitiu um parecer favorável recomendando a flexibilização das leis em


todos os países do mundo no que se refere à ayahuasca.

No final de 1996, é veiculada pela mídia internacional a notícia de que estudos e


experiências realizadas com o chá o reconheciam não mais como alucinógeno, mas,
ao contrário, como um instrumento de combate à dependência de drogas, além de
eficiente no tratamento de depressão, pânico, ansiedade e outros problemas
psicológicos e espirituais.

Diante dessas descobertas e visando usufruir de seus resultados de forma comercial e


mercenária, um renomado laboratório norte-americano patenteou o chá. O absurdo da
pretensão culminou com a perda da patente, mas o episódio em si, pelo menos
permite que dele se tirem conclusões significativas, como por exemplo o fato de a
Ayahuasca ser de todos e de ninguém, e ainda a reconsideração da imagem do chá
pela mídia internacional, que o apresenta agora como benfeitor.

9
Não é Alucinógeno, é Enteógeno

A primeira vista este chá normalmente é classificado pela sociedade como ‘droga’ ou
‘alucinógeno’. Isto de forma alguma deve desmerecer a Ayahuasca ou as pessoas que
dela fazem uso, melhor seria esclarecermos que de acordo com a nomenclatura
científica utilizada no mundo inteiro se denomina ‘droga’ qualquer substância, de
origem animal, vegetal ou mineral, que, uma vez introduzida em um organismo vivo,
produz alterações de ordem fisiológica, desta forma também podemos classificar como
droga o café, o açúcar, o guaraná, o chimarrão, etc. Lembramos também que muitas
drogas são usadas para salvar vidas.

Porém, como socialmente se associa a palavra ‘droga’ as substâncias destrutivas e


desestruturadoras, que causam dependência física e/ou psíquica, provocando
desequilíbrios sociais, convém esclarecer de forma enfática que a Ayahuasca não se
enquadra nesta categoria já que o uso dela não desequilibra, não causa dependência,
nem destrói, muito pelo contrário, as pessoas que dela fazem uso são pessoas que
buscam continuamente melhorar a si mesmas através do autoconhecimento, da
evolução espiritual, e pregam a paz mundial, a harmonia entre os povos, o respeito
pela natureza, etc., metas essas que só se atinge na plenitude das faculdades físicas
e mentais.

Os que classificam a Ayahuasca como ‘alucinógeno’ também cometem impropriedade


conceitual, segundo o antropólogo norte-americano Gordon Wasson, em entrevista à
revista Globo Ciência. Ele distingue ‘estados alterados de consciência’ ou
‘alucinações’ de ‘estados ampliados de consciência’ – sendo estes alcançados com a
ingestão de Ayahuasca em contexto religioso, sob a supervisão de um dirigente
responsável. Para alguns pesquisadores, a classificação da Ayahuasca como
"alucinógeno" é uma imprecisão, pois a mesma não causa perda do contato com a
realidade - como pressupõe o termo - mas sim um grau ampliado de percepção que
permite a compreensão daquela realidade com maior clareza ou transcendência.

Nesse sentido, pesquisadores da área de Etnobotânica têm proposto a classificação


da Ayahuasca como "Enteógeno", ou seja, substância que "gera uma experiência de
contato com o divino", causando uma sensação generalizada de aproximação com o
Sagrado e facilitando o autoconhecimento e o aprimoramento do ser humano.

Até o momento, ninguém jamais conseguiu demonstrar qualquer afirmação negativa


contra o uso ritualístico da Ayahuasca ou mesmo que contrarie o que sempre
afirmamos, que a mesma utilizada em contexto religioso, é benéfica à saúde física e
espiritual do ser humano.

Não se conhece um único caso de alguém dependente física ou mentalmente da


Ayahuasca. Da mesma forma, não se tem conhecimento de nenhuma pessoa que,
utilizando-a em rituais religiosos, sob a orientação de pessoas experientes, tenha
sofrido qualquer espécie de dano. O que há habitualmente é justamente o contrário,
ou seja, numerosos casos de pessoas que reestruturaram a vida familiar e
profissional, a partir do uso em contexto religioso.

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A Miração

A "miração" é um termo que foi cunhado na tradição do Santo Daime pelo Mestre
Irineu para designar o estado visionário que a bebida produz. O verbo "mirar"
corresponde a olhar, contemplar. Dele deriva-se o substantivo "mirante", que é um
local alto e isolado onde se pode descortinar uma vasta paisagem. A palavra "miração"
une contemplação mais ação (mira+ação), o que expressa de maneira clara que o
termo foi cunhado por pessoas que eram plenamente conscientes da viagem do Eu no
interior da experiência visionária, característica do êxtase xamânico.

O momento culminante de nosso trabalho é quando dentro da força do nosso


sacramento, recebemos as visões, as quais denominamos mirações. Na miração não
somos meros expectadores da nossa visão. Ao invés disso somos protagonistas de
uma ação que se passa num mundo real e ao mesmo tempo numinoso. Nesse estado
é que somos convidados a apresentar nosso conhecimento e aprender um pouquinho
mais. O que decidimos e vivemos nesse plano, parece ter uma forte influência naquilo
que consideramos ser nosso estado usual de consciência e de realidade.

Durante esse tempo sagrado da miração estão abertas as portas para muitas direções
espirituais. O canal com o nosso Eu Superior se torna mais nítido. Podemos dialogar
com ele e também receber muitas instruções úteis sobre aspectos práticos da nossa
vida. Tudo que pensamos nessa sintonia com a miração está longe de ser um mero
devaneio. O pensamento se torna uma vibração que modela, conserta, cura e cria.
A miração é um sonho divino, um sonho plasmador de vida. Padrinho Sebastião Mota
dizia que primeiro tudo se resolve na miração para depois ser transposto e realizado
em matéria.

A Miração o convida para ser protagonista totalmente responsável pelo seu


desdobramento astral e vôo espiritual.
Estamos querendo dizer que dentro da miração o estado de ação e contemplação são
como as faces complementares de uma mesma moeda. A mente, antes de dar partida
ao fluxo de imagem da miração, experimenta várias outras fases de preparação. Tem
que distinguir a genuína experiência visionária da imaginação pura e simples, dos
jogos mentais de projeção e visualização. As imagens visionárias, os eventos
visionários que envolvem o nosso Eu dentro da "miração" são de ordem psico-noética,
isso é, ocorrências numa ordem de realidade contígua ao mundo espiritual. O que nos
permite afirmar que a "miração" ativa os nossos corpos sutis e os libera par agir dentro
do cenário feérico e numinoso da realidade xamânica.

Esse nível de consciência atingido pela "miração" vem quase sempre acompanhado
de uma voz interior que guia, acompanha ou dirige o processo. Esta é, ao meu ver, a
faceta mais incomum e maravilhosa da "miração" do Daime. Durante o seu transcurso
nossa consciência participa dos fenômenos psíquicos, noéticos e espirituais, através
dos nossos corpos sutis. Através deles, o nosso Eu comparece nos momentos
decisivos e brevíssimos onde se decide sobre o nosso destino em meio às vagas
probabilidades do mar de indeterminações quânticas.

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Dessa forma, imprimimos movimento ao que é imutável e eterno, manifestamos vida e
fecundamos a matéria por seu intermédio. Ajudamos a tecer a trama do próprio
destino, a complexa textura dos eventos geradores da realidade e da vida. Isso
significa que, no êxtase da "miração", estamos travando um diálogo com Deus,
estamos trabalhando com Ele, estamos sendo convocados para essa grande
responsabilidade de sermos co-criadores do universo.

A falta de mérito e de coragem durante o vôo xamãnico poderia desestabilizar a


"miração", ou o que é pior, fazer com que o fio narrativo da experiência visionária
tenda para um desfecho desfavorável. Nesses reinos espirituais de deslumbrante
beleza, parece que impera uma terrível justiça. O homem não está programado para
ser perfeito. Ele tem que biológica, psicológica, social, moral e espiritualmente falando,
escolher ser perfeito. Isso se faz através da faca de dois gumes do seu livre arbítrio.
Graças a ele, o homem por um lado supera em estatura os deuses, devas e
querubins, enquanto que por outro, se torna presa fácil da ambivalência de sua frágil
inconsistência humana.

O Budismo Tibetano se refere a esta eclosão súbita da ruptura do ego frente ao


sublime, como sendo o momento em que, dentro da meditação, o meditador, sob a
inspiração da Dakini (aspecto feminino do Buda), enfrenta as entidades terrificantes
que se postam diante do Nirvana. Quando o ego consegue se apossar do Eu, a
consciência já expandida se retrai novamente. Nesses momentos, as visões podem se
tornar negativas, até mesmo terrificantes e isso está associado aos efeitos purgativos
e miméticos da bebida enteógena indutora da "miração".

Reconhecido porém o impostor, é a hora da consciência, à semelhança da esfinge,


lançar o seu desafio: Decifra-me ou te devoro! Somos cobrados a apresentar um
desempenho compatível com a nossa presunção de alcançar a imortalidade. Se nessa
hora não tivermos verdade para apresentar, o monstro elemental por nós mesmo
criado, nos come. O Poder nos cobra sempre a nossa transformação para podermos
continuar no caminho. Pois sem a verdade no ser, o caminho se torna perigoso para o
impostor.

É o que Sebastião Mota, um dos principais "padrinhos" do Daime chama da


necessidade de "ser em vez de parecer". Ser verdadeiro é pois a ciência para
entramos totalmente seguros nos estados elevados de consciência e deles
conseguirmos sair, trazendo no retorno novas aquisições para continuarmos a Busca.
Nos níveis sutis, a verdade atrai a verdade. O ser manifestado enquanto verdade é a
matéria prima da criação. Quanto mais estamos na verdade, mais se apresenta a nós
na miração aquilo que precisamos ser. E Deus nos usa como peças do seu quebra-
cabeças divino, nos inspira amor e nos torna cúmplices da sua obra. A verdade do ser
é exata, nela nada falta nem sobra. Não há lugar para condicionamentos mentais,
hábitos viciosos disfarçados de caráter, máscaras ou papéis sociais. Se o nosso
coração nos acusa, é porque não temos verdade. E sempre que esta falta de verdade
interromper a nossa "miração", desestabilizando-a, devemos aproveitar o seu
momento sagrado para pedir ao Poder que nos conceda a chance de nossa
transformação.

O sofrimento e o desconforto, que às vezes essa disciplina nos acarreta, depois


sempre é sentida como benéfica. Eis a autêntica terapia xamânica, uma terapia de
conversão à verdade, onde nos afastamos das ilusões e das samsaras nos tornando
cada vez mais conscientes do nobre script que o Criador nos reservou.

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Tentamos aqui, violando o item da inefabilidade da experiência mística, expressar de
alguma maneira com as palavras, essa sensação extraordinária que é trabalharmos
projetados em nossos corpos sutis nas oficinas seráficas da criação divina. Isso
ocorre, como já vimos, mediante à atuação do Eu Superior no interior das imagens
visionárias, como se a "miração" fosse um jogo interativo de "realidade virtual
espiritual". Para que esse processo traga benefícios que possam ser incorporados ao
ser, exige-se deste uma postura passiva-receptiva e um padrão mental positivo e
elevado. Dessa forma é que a barquinha da consciência pode navegar nas ondas do
mar sagrado, que é a Mente, e se manter com as velas enfunadas em meio ao mau
tempo e aos maus pensamentos.

Para finalizar esse ponto, gostaríamos de nos referir sucintamente a duas questões
conexas à nossa abordagem de estado de consciência xamânico da "miração". Trata-
se do carma e da mediunidade, aspectos ligados ao tema da cura xamânica. Num
certo sentido, a cura espiritual já é a própria imersão do Eu nesses estados elevados
de consciência, fazendo com que ele amplie a sua visão interna sobre as causas dos
desequilíbrios que geram as doenças. Nessas vivências visionárias do Eu no interior
da "miração" também ocorre dele se lembrar de fatos relativos às suas vidas
passadas, facilitando a compreensão de padrões kármicos que precisam ser
interrompidos nessa encarnação.

Já o fenômeno da mediunidade, não se resume apenas ao transe e à incorporação.


Num outro sentido, ele trata também da miríades de pequenos "eus" que orbitam em
torno do nosso Eu central. E que à primeira distração nossa, entram por dentro da
casa e assumem o lugar do dono. Em alguns estágios da "miração" podemos perceber
esses "eus" como seres. Podemos perceber que cada pensamento que flui na nossa
mente é um ser e com isso, aprendemos a melhor ajustar o nosso dial mediúnico para
captar apenas a freqüência dos seres que nos interessam. Mas nem sempre podemos
escolher o que chega à nossa mente. Portanto esse canal mediúnico também nos
ajuda a auto-doutrinar os maus pensamentos e afastar as más influências psíquicas e
espirituais que podem se tornar nossos futuros obsessores.

Algumas vezes, através da "miração", temos uma percepção clara da realidade


espiritual da vida além do corpo. Penetramos assim no mistério que a nossa
ignorância chama de morte, mas que não passa de uma transição para um outro
estado de consciência. Voltar dessa experiência da "morte" com conhecimento do que
isso seja, significa ter renascido e recebido o mais alto grau de iniciação, independente
do credo que cada um professe.

Por isso consagramos o ser divino presente nessas plantas amigas e professoras do
homem e a "miração" que ela nos fornece. Mesmo que o seu uso responsável seja
sempre benéfico, é porém dentro de um contexto ritual e religioso, que sentimos uma
maior segurança para a utilização profilática e terapêutica dos enteógenos.

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Ayahuasca Como Opção Espiritual

As plantas sagradas, como um remédio, podem nos auxiliar a conscientizar um senso


ampliado de identidade, provendo o estímulo necessário para a superação do hábito
de restringir a nossa consciência de “eu” ao mundo das abstrações ou ao dos desejos
egóico e pueris.

Com certeza, uma poção com a Ayahuasca, (assim como a seiva de outras plantas
tradicionais e de uso ritualista), é capaz de proporcionar o auxílio que precisamos para
redirecionar o nosso destino; orientar a humanidade em direção à realização do homo-
sapiens verdadeiro: um ser ponderado, compreensivo, compassivo, tolerante, flexível
e integrado.

O caminho dos vegetalistas, ou ayahuasqueiros, por ser mais intenso que muitas
outras disciplinas, pode parecer de alguma maneira mais fácil por proporcionar um
contato mais precoce e mais intenso com o numinoso. Tal contato pode inspirar
compromisso e abrir as portas para mais força e criatividade, mais graça, para superar
os conteúdos incômodos.

Certamente, com um investimento enorme de tempo e esforço, estas mesmas expe-


riências podem ser obtidas pelos que dominam a ciência da meditação. Para
investigadores cuja prática espiritual deve ser integrada com a necessidade de
trabalhar e prover ao seu sustento, o uso adequado dessa tecnologia milenar pode
tornar o pro-cesso da realização exeqüível. Para os que, mergulhados nessa nossa
“sociedade de competitividade e consumo”, encontram o tempo para meditar essas
experiências poderão vir a representar um salto qualitativo nas suas práticas.

Porém, a Ayahuasca não é um caminho para todos; substâncias psicoativas não são
pontes, ou atalhos, apenas vias mais rápidas. A escolha deve ser baseada no
conhecimento amplo dos fatores envolvidos. Esclarecer-se requer a resolução de
materiais e conflitos inconscientes; aqueles que aspiram a essa realização precisam
avaliar a sua disposição e coragem, decidir o compasso e a intensidade com a qual
desejam se encontrar com essa psicodinâmica, essa “purgação” ou purificação na
linguagem dos adeptos da Ayahuasca.

A Ayahuasca revela que o conhecimento que temos do mundo, da existência, é um


estado ou processo psicossomático. A experiência mística realiza a descrição
cientifica da relação ecológica de todos os seres, do campo quântico e unificado; essa
experiência implica desapego e transformação, isto é a drenagem do conceito de
“ego”.

Se a nossa intenção é sincera, se temos coragem e generosidade o suficiente, então


vale a pena estudar todas as técnicas úteis para a realização espiritual – a Ayahuasca,
utilizada com motivação certa, habilidade e integridade, pode contribuir muito para o
alívio do sofrimento, dando acesso à sabedoria e visão necessária para a união
mística.

14
Ayahuasca como instrumento de auto-observação:

A percepção, habitualmente embotada, permite apenas aprender e acessar uma


fração distorcida de realidade; uma realidade revestida de projeções pessoais e
pressuposições. A propriedade central dos “enteógenos” ou “psico-integradores” é
com certeza levantar o véu, amplificando a experiência.

A Ayahuasca amplifica a capacidade psicossomática de responder a gradações mais


sutis de estímulos além de muitas vezes integrar as diversas faculdades sensoriais em
processos sinestésicos. Esse efeito de aumentar a capacidade de experienciar, de
avaliar e apreciar por si mesmo, é central para a compreensão do seu significado.

Esta amplificação, como uma lupa, permite uma (re)visitação intensiva e absorta dos
conteúdos mentais – recordações, idéias, fantasias, pensamentos, emoções, medos,
esperanças, sensações em gerais. Na dependência da ética e valores morais atuais
do indivíduo, além de influir na intensidade e no foco das percepções, a experiência
pode motivar a re-significação dos conteúdos sendo observados. Valores morais e
atitudes são revistas.

Aqui temos uma tecnologia que alterando a composição bioquímica do instrumento e


dos meios de processamento da informação, permite a inativação temporária dos
filtros culturais e psicodinâmicos que nos bastidores da mente agem determinando,
formatando e hierarquizando, nossas experiências quotidianas.

Pode se de fato aprender muito, crescer e liberar energia psíquica revendo,


transformando, eliminando, aceitando e se reconciliando com conteúdos incômodos.

Como caminho iniciático: Sinceridade e Coragem:

A função de uma substância com a Ayahuasca é muitas vezes mal entendida. Muitos
pensam que pelo fato de terem tido experiências maravilhosas, já obtiveram as
respostas e foram de alguma maneira transformados. Em alguns aspectos foram, mas
muitos descobrem a realidade de que existem muitas camadas de condicionamento e
ignorância a separar a mente superficial do núcleo do ser.

A Ayahuasca e outras plantas instrutoras podem levar à transposição dessas barreiras


permitindo o acesso à nossa essência, necessitando, contudo persistência e
comprometimento no sentido de mudar e remover os velhos hábitos que tendem a
reaparecer.

Muitos imaginam que a repetição da experiência irá manter um estado de lucidez e


visão, de fato pode, mas freqüentemente, a mudança requer trabalho duro e esforço
dedicado; algumas vezes a experiência transforma, outras vezes mostra o possível,
aponta o caminho, a responsabilidade de implementar as mudanças nos pertence.

Para o investigador espiritual sério, assim como para os que buscam conhecimento
verdadeiro, a característica mais importante é a honestidade. Isto significa a coragem
para olhar para o que se apresenta no processo, pela habilidade de admitir as suas
falhas quando se tornam aparentes e pela determinação de mudar os seus
comportamentos em função do que se revela.

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O conteúdo e natureza das experiências que essa substância induz não são, portanto,
produtos artificiais resultantes da sua interação farmacológica com o cérebro, mas
expressões autênticas da psique que revela seu funcionamento e potenciais em níveis
inacessíveis no estado ordinário de consciência.

Para aquele cuja intenção real é instalar uma transformação psico-espiritual, a


Ayahuasca pode funcionar como catalisador natural a revelar e liberar intuições e
conhecimentos oriundos das facetas mais elevadas do ser, permitindo o acesso a uma
sabedoria fundamental relativa ao universo e à nossa posição como indivíduo.

O grande valor da Ayahuasca, trazidos à nossa atenção pelas sociedades indígenas, é


que ela dissolve os limites da mente inconsciente; ela dá acessos aos conteúdos
reprimidos e esquecidos. Ela possibilita o reconhecimento das configurações
universais da psique, os arquétipos de humanidade, junto com um leque mais
abrangente de conhecimentos e maneiras de conscientizar, até eventualmente a
vivência dos diversos aspectos da união mística.

Como caminho iniciático: Tolerância

Uma substância como a Ayahuasca oferece opções terapêuticas já que tende a


dissolver a fragmentação e a compartimentagem interna, a revelar mecanismos de
defesas diversos como “projeção”, “negação” ou “deslocamento”, possibilitando o
esclarecimento dos sectarismos e pontos de vistos intransigentes.

Na medida em que o indivíduo consegue ver as coisas de uma maneira não distorcida,
vendo claramente não apenas o seu passado mais também a presunção e cegueira da
sua própria cultura e grupos de referencias, ele necessita, além de tolerar a decepção
e o sofrimento, superar sentimentos de desamparo.

Nem sempre é fácil ter de ver e aceitar que não somos assim tão vítimas, mas sim
responsáveis pelas nossas vidas; aceitar ser capaz, reconhecer o seu potencial e a
responsabilidade que isso requer implica coragem e determinação. Podemos até
recusar crer que fazemos jus a muita beleza e alegria, bem estar profundo, sem nada
ter de pagar além de ser o que já se é; apenas sendo o que já somos. O
gerenciamento emocional produtivo dessa reavaliação, a reorganização psíquica,
implica um grau suficiente de equilíbrio e bom senso para que se tomam atitudes
judiciosas sem precipitações.

Triangulação – Ayahuasca como um fenômeno tríplice: a pessoa, o ambiente e o


chá:

Sobre a influência da Ayahuasca, a intensidade dos estímulos – tanto por amplificação


e enriquecimento de detalhes e pontos de vistas perceptuais quanto pelo maior
influxos de dados perceptivos – aumenta consideravelmente as possibilidades de
respostas à experiência. Devido a essa magnificação da percepção, uma atenção
especial tem se dado à qualidade dos estímulos provenientes tanto do indivíduo
quanto do meio onde o chá esta sendo utilizado.

A hipótese denominada em inglês de “set and setting” foi inicialmente formulada por
Timothy Leary nos anos 60 no âmbito das pesquisas iniciais com agentes psicoativos
e foi rapidamente aceita pelos demais pesquisadores da área. A teoria geral determina
que o conteúdo de uma experiência com substância psicoativa é uma resultante da
interação de três fatores básicos.

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Os fatores essenciais são: o “set”, que traduzo como sendo o “fator pessoal”, isto é
aquele que o individuo traz consigo, os seus conteúdos (intenção, atitudes,
personalidade, humor, etc.); o “setting” ou “fator ambiental” corresponde a todos os
elementos externos ativos e capazes de influir a experiência (fatores interpessoais,
social, ambiental, o âmbito). A substancia em si, o “Chá” age como um gatilho, ou
catalisador, a conectar e por em interação os fatores citados numa dinâmica
especifica, criativa e intensa.

É evidentemente impossível definir qual dos fatores é o mais importante tanto quanto é
impossível dizer qual o lado mais essencial de um triângulo isóscele. Contudo “o
âmbito” é a vertente da experiência que pode ser programada, estudada, ensaiada e
cuidadosamente preparada para um melhor proveito.

Triangulação – o fator pessoal:

Como a Ayahuasca revela o nosso lado oculto, abrindo as portas do inconsciente


numa linguagem psicológica, um enorme leque de opções e qualidade de experiência
se apresenta. Na realidade essa poção psicoativa revela e liberta o que está dentro da
pessoa, tornando a mente manifesta (ou seja, efeito “psicodélico” como “manifestação
da mente”). A mente se torna sujeita a observação e, por isso mesmo, a
transformação.

A fluidez e a qualidade do deslocamento do ayahuasqueiro nesse labirinto psíquico


depende antes do tudo do fator pessoal, do “conteúdo” que inclui os elementos do
inconsciente pessoal, o registro da experiência de vida, assim como os mecanismos
condicionantes em operação – recatos e defesas – a determinar a liberdade de
opções, a qualidade, riqueza e legitimidade das interpretações, enfim, os principais
desafios do indivíduo.

Outro aspecto importante do conteúdo consiste nos valores e critérios pessoais;


atitudes, aspirações, expectação, intenção e ética. Estes elementos irão influenciar a
atração da atenção e determinarão o modo da pessoa lidar com o material psíquico
revelado.

17
Triangulação – o fator ambiental:

O fator ambiental se refere aos fatores externos ao indivíduo e capazes de influenciar


a experiência: o lugar onde o chá é servido; a atmosfera do ponto de vista cultural,
espiritual e emocional; como o indivíduo está sendo atendido; a quantidade de
pessoas envolvidas; o tipo de liderança aplicada na experiência são alguns dos fatores
a considerar.

Normalmente o indivíduo se torna bastante impressionável quando sofre os efeitos de


substâncias como a Ayahuasca, estado decorrente da magnificação perceptual já
mencionada. Esse efeito acoplado como o aumento da perspicácia, capacidade
metafórica e habilidade em gerar psico-associações criativas, alimenta o lado noético
e o imaginário da experiência.

É obvio que essa “impressionabilidade” não significa que o ayahuasqueiro é mais


facilmente suscetível de influência do que o homem comum ou do que os fiéis das
religiões de massas, por exemplo. O grau de credulidade, ingenuidade, ou então de
cepticismo (ver nota) de um indivíduo reflete opções cognitivas, filosóficas, assim
como traços de personalidade profundos e estáveis, até mesmo inerentes, que não
serão transbordados pela “força e influência” do chá. Ao contrário, são justamente
esses conteúdos profundos do indivíduo – inclusive tendências básicas como
credulidade ou cepticismo – que determinam a maneira de significar a experiência.

O tipo e da qualidade do sistema de crenças, da visão, pertinente ao âmbito social no


qual a experiência irá ocorrer assim como o tipo de liderança e dinâmica dos trabalhos
são fatores essenciais, capazes de influenciar em grande parte a harmonia e
tranqüilidade da experiência; possuir uma boa descrição do âmbito onde se irá
comungar a poção é um fator importante. Uma liderança não muito interventiva e
tranqüila favorece o acesso e estudo dos conteúdos pessoais, o exame e integração
da sua própria trajetória, o encontro de caminhos e conceitos próprios.

Um facilitador precisa ser paciente, empático, familiarizado com os processos da


experiência; ele pode ser muito efetivo sabendo refletir os pontos essenciais, fazer
perguntas, observações aparentemente casuais. Cantos, músicas, atitudes e até
mesmo orientações diretas bem dosadas, podem ser importante para facilitar uma
experiência suave e rica.

O ayahuasqueiro descobrirá que dividindo possíveis dificuldades com companheiros


receptivos e compreensivos poderá gerar claridade e conforto. Finalmente, e na
maioria das vezes, o melhor guia é a nossa própria consciência e esse processo
interno não deve ser interferido a não ser quando solicitado.

Rituais inspiradores, universais e holísticos, ambientes naturais, atividades


espontâneas e criativas, permitem a focalização da atenção para regiões psíquicas
interessantes.

Os próprios conteúdos, junto com a configuração de ambiente, a qualidade do chá, a


própria intenção e a do grupo, configuram um processo singular, uma “gestalt”, um
“ser maior”, o próprio eu transpessoal da experiência. Reconhecer e ter certeza de
estar em sintonia e harmonia com esse “ser maior” gerado pelo evento é a chave de
uma experiência de grupo bem sucedida.

(Nota) Cepticismo: atitude ou doutrina segundo a qual o homem não pode chegar a
qualquer conhecimento indubitável, quer nos domínios das verdades de ordem geral,
quer no de algum determinado domínio do conhecimento.

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Triangulação – o chá:

Investigações demonstram a variabilidade do chá na sua composição química. Fatores


dependentes, das plantas e lugar de origem, da hora da colheita, do preparo
(quantidade relativa das duas plantas, grau do apuro e tipo de água utilizada – fatores
com pH, teor mineral da água) todos influenciam a qualidade do chá e, portanto os
seus efeitos. A quantidade utilizada durante uma cerimônia é também um fator
decisivo.

Quantidades habituais ou moderadas permitem uma observação melhor dos seus


próprios conteúdos, um estudo detalhado da sua própria psicodinâmica. Quantidades
maiores são necessárias para se “viajar no astral” na linguagem dos usuários de
algumas seitas. A utilização de grandes quantidades de chá, acima de 300 mililitros,
numa única tomada é mais bem aproveitada em ambiente especifico, mais reservados
com uma supervisão adequada e favorece o tipo de vivência descritas na
fenomenologia como “experiências místicas”.

Com uma prática adequada e um considerável trabalho sobre si mesmo é possível se


chegar aos mesmos resultados com dosagens menores.

Integração da experiência – reações:

Como as defesas do ego são desafiadas, sentimentos reprimidos e recordações


afloram na consciência, podendo criar algum nível de ansiedade – uma reação
semelhante ao enfrentado em situações inusitadas ou de desfecho incerto como
praticar esportes radicais, participar de competições esportivas ou ainda se submeter
a alguma prova. Uma experiência desse tipo é geralmente muito proveitosa por
ensinar mais.
Reações adversas mais sérias ainda não foram descritas com o uso da Ayahuasca,
em parte porque o chá tem sido utilizado com critério e responsabilidade, em doses
adequadas, e que a Ayahuasca não tem sido promovido como sendo remédio e
solução para curar as crises emocionais de pessoas seriamente transtornadas.

Triagens para eliminar os prováveis candidatos a reações adversas, como as


personalidades esquizóides e pre-psicóticas, os neuróticos com instabilidade de
identidade e níveis altos de ansiedades, os usuários de drogas e medicamentos psico-
ativos possibilitam a realização de Cerimônias tranqüilas, seguras, criativas e de
inestimável valor espirituais.

19
Integração da experiência – efeitos práticos:

Experiências como as proporcionadas pela Ayahuasca são por natureza


transcendental, transpessoais, porque alargam a experiência e visão da realidade,
diminuem o império do ego sobre a personalidade, facilitam uma mudança de valores.

Torna-se evidente que a utilização de uma substância como a Ayahuasca é mais útil
dentro de um contexto e de uma disciplina tendo como objetivo o crescimento e a
evolução espiritual, um programa chamando atenção para os valores éticos e morais
fundamentais. Uma disciplina adequada fornece um corpo de ética capaz de apoiar as
mudanças requeridas, clarificando os objetivos, mantém a mente focada e aberta para
o aprofundamento crescente da experiência.

É o indivíduo, a sua intenção que determinam se a experiência será mística e


religiosa, evolutiva ou não. Bastante preparo é necessário para se chegar a uma
experiência mística, mesmo usando Ayahuasca e um trabalho de integração efetivo é
necessário para que a experiência seja de fato transformadora. Se o estado de
consciência ampliado induzido pela experiência conduz ou não a mudanças positivas
e duradouras, depende da intenção e dedicação do usuário.

Uma visão, mesmo rápida, de uma realidade maior pode mudar a vida de uma pessoa
se ela resolve integrar essa visão à sua realidade.

Receber uma luz não é igual a aplicar essa luz no dia a dia; não há conexão inerente
entre uma experiência mística de unidade e a expressão ou manifestação daquela
unidade na vida cotidiana. Este ponto é talvez óbvio, contudo frequentemente
esquecido por aqueles que debatem se, em princípio, um agente psicoativo pode ou
não ter valor no âmbito da busca espiritual. Qualquer que seja a fonte ou a origem da
iluminação, as revelações só poderão ter efeitos práticos com a permissão e
dedicação do individuo.

20
Significado da Serpente na Ayahuasca

A manifestação da serpente é comum no imaginário, ela está presente


universalmente, em todos os estados visionários, do sonho das crianças às visões dos
místicos e buscadores. Para os astecas, a serpente que morde o próprio rabo era
símbolo de eternidade, isto é, o tempo circular que sempre volta sobre si mesmo,
eternamente começando, criando e destruindo. No Egito, usada como talismã, era
portadora de longevidade, saúde e vitalidade; a serpente Ureus, aparecia na coroa dos
faraós, como uma personificação de Rá, o Sol, e simbolizava poder divino, sabedoria e
energia. Na hinduísmo, a serpente é conhecida como Ananta, representa o infinito,
símbolo da eternidade dos ciclos. É um sinal de vida, de imortalidade, de cura
(símbolo de Esculápio o curandeiro, filho de Apolo), representa o início da vida, a força
ancestral, a expressão mais primária, o começo de todos os desenhos, a própria
morfose, a criatividade; é o símbolo da deusa natureza, grande mãe criadora. É o
símbolo misterioso da Chacrona.

A serpente significa flexibilidade e transmutação; o reservatório cósmico de todos os


potenciais e latências. Por isso a serpente é também um sinal de fertilidade,
fecundidade e prosperidade, assim como da sabedoria e conhecimento. Por ser
simples, e, nessa simplicidade, ser o início de todas as formas, ela simboliza a
essência, a unicidade prístina. Por ser apenas uma linha, e ter no interior de si uma
língua bífida, ilustra, num sentido mais profundo e sagrado, a resolução da polaridade
em unidade, como o símbolo do Tao; no México antigo é símbolo dos gêmeos
univitelinos.

Na nossa experiência, a visão da serpente, símbolo da medicina (principalmente


dentro de uma experiência onde também se percebe mandalas ou formas geométricas
multicoloridas), indica com frequência a fertilização de um processo de mudança e de
cura, a resolução de um conflito, a aquisição de um caráter, de uma virtude ou
faculdade, a realização de uma intuição, o nascimento de uma visão, de uma
compreensão, ou, o surgimento de uma opção.

21
A Serpente Cósmica e o DNA

Vivendo na Suíça, o antropólogo e conservacionista canadense Jeremy Narby deu


recentemente uma contribuição revolucionária para a integração entre a compreensão
científica da ayahuasca e o modo xamanístico deste conhecimento (Narby, 1998). Na
obra The Cosmic Serpent, o autor narra como suas experiências com os xamãs da
tribo Ashininca da floresta amazonica peruana levaram-no a reexaminar os
fundamentos da biologia molecular, até chegar a uma hipótese que reconcilia os
ensinamentos dos ayahuasqueiros com as descobertas da ciência moderna. Narby
estava ciente do conflito irreconciliável entre a visão de mundo xamanística, segundo a
qual pode-se obter um saber seguro e aplicável para a cura a partir das visões
induzidas pela ingestão de plantas enteogenas, e a concepção científica, para a qual
as visões da ayahuasca não passam de simples alucinações causadas pelas toxinas
das plantas. Não se dando por satisfeito, ele iniciou uma jornada visando uma
reconciliação destas duas perspectivas aparentemente contraditórias, e decidiu levar a
sério os ayahuasqueiros, movido pela convicção de que seria possível estabelecer um
conhecimento medicinal válido a partir das plantas mestres. Esta decisão ganhou força
por suas próprias experiências com a ayahuasca. Ele praticou o método do empirismo
radical, uma vez que sua própria experiência tornou-se a base de uma busca pelo
conhecimento; até porque ele nunca excluiu a experiência, temendo que ela pudesse
não se encaixar nas teorias prevalecentes.

De acordo com as descobertas pessoais de Narby, e segundo ainda as narrativas aqui


expostas, as visões das serpentes, algumas vezes gigantescas e outras luminosas,
são extremamente comuns nas experiências com a ayahuasca.

Os ayahuasqueiros disseram a Narby que o espírito da serpente é a mãe deste


preparado, além de ser a fonte do saber e da força curativa que dele advém. E por
isso, são encontradas, ao longo dos trabalhos artísticos dos índios, as muitas imagens
de serpentes que dançam ou se movem, em duplas ou múltiplas. Quando Narby
começou a ler a volumosa literatura da biologia molecular, no intuito de encontrar
algumas pistas que esclarecessem como o cérebro é afetado durante os estados
alterados da consciência, ele concluiu que a molécula do DNA, na sua forma de uma
dupla voluta enroscada, talvez pudesse ser a contraparte molecular para as serpentes
da ayahuasca.

O uso das imagens das serpentes não se dá apenas entre os xamãs amazônicos, mas
por quase todo o mundo. Elas são utilizadas na Ásia, no Mediterrâneo e na Austrália
para efetivar a representação da força básica da vida, sobretudo porque a sabedoria
da serpente é tida como a fonte do conhecimento. A imagem da serpente é vista
frequentemente como um elo de ligação entre o céu e a terra; sob esta mesma visão,
encontra-se também a imagem da cobra associada com diferentes ideias de
ascensão. Seguindo o texto de Narby, ele nos diz que “na literatura da biologia
molecular, a forma do DNA não se restringe a ser descrita através de uma analogia
com duas serpentes gêmeas, uma vez que ela, é comparada mais precisamente com
uma corda ou um cipó, ou mesmo com uma escada.” (p. 93).

22
Sabe-se que o DNA é o código molecular usado para toda a vida deste planeta, quer
seja animal, vegetal, ou humana. Ele está presente em cada uma das células de todos
os corpos, ou seja, em todas as plantas ou em qualquer animal, fungo, ou ser humano.
A partir daí, Narby propôs a hipótese de que, por meio das visões, talvez os xamãs
estejam tentando conduzir suas próprias consciências à dimensão do molecular, de
maneira que possam ler a informação de como combinar os inibidores-MAO com os
hormônios cerebrais, de como reconhecer as correspondências entre as plantas
curativas e as doenças, e por aí afora.

Sua descrição biológica da molécula do DNA expõe com brilhantismo muitos aspectos
que correspondem aos insights dos xamãs; mesmo porque, como eles mesmos dizem,
a origem de tais insights está nas suas visões das serpentes e na sua mitologia das
serpentes cósmicas.

Se alguém esticasse o DNA contido no núcleo de uma célula humana, seriam obtidos
somente dez átomos ao largo de 1.80m de fio…

O núcleo de uma célula é, portanto, equivalente em volume a dois milionésimos de


uma cabeça de alfinete. E assim 1.80m de do DNA acondiciona com rapidez todo o
seu volume através do gesto de enroscar-se incessantemente sobre si mesmo,
harmonizando assim o comprimento extremo e a pequenez infinitesimal, exatamente
como procedem as serpentes míticas. Segundo as estimativas, o ser humano comum
é composto de muitos bilhões de células. O que significa dizer que há mais 201
bilhões de DNA no corpo humano…

O DNA de uma pessoa é tão longo que poderia rodear a Terra cinco milhões de vezes;
isto é análogo ao que se diz a respeito das serpentes que rodeiam o mundo! (pp.
87~88).

Afora isso, o código molecular do DNA tem se mantido inalterado desde o início da
vida deste planeta, pois somente a arrumação das “letras” deste código é que vai
mudando conforme a evolução das diferentes espécies. “Tal como as serpentes
míticas, o DNA se apresenta como o mestre da transformação. Todas as informações
que existem nas células do DNA são feitas do ar que respiramos, da paisagem que
vemos, e da vasta diversidade de seres vivos dos quais fazemos parte.” (p. 92). Narby
chega a dizer que a serpente dupla do DNA é que constitui de fato a fonte do
conhecimento, quer seja adquirido por meio da ayahuasca ou de outras técnicas que
levem a estados alterados da consciência, tais como a batucada, o jejum, o
isolamento, ou os sonhos. E ainda diz que a tão propalada luminosidade que ocorre
nas visões xamanísticas deveria ser posta em relação ao fato de que a molécula do
DNA emite biofótons, justamente porque a luz molecular só emerge com a redução da
iluminação externa. Enfim, mesmo que a hipótese de Narby não ofereça nenhum dado
novo, ou provas substanciais, ela possui implicações revolucionárias que reconciliam
os pontos de vista diametralmente opostos da ciência e do xamanismo.

23
Lenda:

A Jibóia, Guardiã do Nixi Pae (Ayauaska) entre os Huni


Kui(Kaxinawás)

O mito do surgimento da Ayauaska, contado entre os Huni Kui (Kaxinawás) em várias


versões, narra a história de um indio caçador e de uma mulher encantada.

Em uma de suas caçadas o indio caçador chega a beira de um lago onde encontrou
um pé de jenipapo, fruta muito procurada por diversos animais. Parou, e ficou de
tocaia esperando a caça que aparecesse. Depois de um longo tempo apareceu uma
anta (awa). Ao invés de comer as frutas, a anta pegou três delas e se dirigiu para o
lago onde as jogou para baixo, para cima e no meio. Logo começou a sair muita
espuma do meio do lago. No meio da espuma boiou uma mulher clara de cabelos
compridos e lisos e muito bonita. Era uma mulher jibóia que subiu para a terra,
abraçou, beijou e teve relações com awa.

Na tocaia o homem descobriu o segredo de awa e somente observando apaixonou-se


pela mulher encantada.

Quando awa foi embora a mulher sumiu dentro do lago. O caçador então saiu de
dentro da tocaia e fez do mesmo jeito que awa. Pegou três frutas, jogou dentro do
lago. Demorou pouco tempo e começou a sair a espuma e novamente apareceu uma
linda mulher que subiu para o beira do lago.

24
Encontrando o caçador começaram a conversar. Ele falou, contou que viu tudo que a
anta fez e que decidiu fazer o mesmo. Ela disse: - Eu não sou daqui, moro muito longe
e perguntou: - Você tem mulher? Ele respondeu: - Tenho. E você tem marido? Ela
falou: - Somente um namorado. Então ele pediu: - Vamos namorar? Namoram, fizeram
amor e ela gostou muito e não quis mais deixa-lo. Ela chamou ele para morarem
juntos e ele aceitou.Foi com ela para a terra da jibóia, debaixo da água, no outro
mundo.

Chegando lá foi apresentado aos parentes dela que gostaram muito dele. Morou lá por
doze anos e teve três filhos com a jibóia.

Um dia a mulher jibóia começou a preparar cipó para tomar com seu povo. Ele quis
saber o que era e ela disse que era um chá para ver coisas bonitas. Então o caçador
disse que ia tomar também. Ela disse que era muito forte e ele era muito novo ali e
não poderia tomar. Ele insitiu e tomou.

Quando a miração chegou ele viu que seu sogro era uma jibóia e o estava engolindo.
Então começou a gritar, e enquanto gritava contava sua vida. Então dentro da miração
descobriu que sua mulher era uma jibóia e que ele estava encantado.

Quando a miração acabou ele ficou muito triste e desconfiado. Os parentes da mulher
jibóia não ficaram mais gostando dele. Então o caçador descobriu que sua mulher
jibóia estava planejando mata-lo e fugiu pra junto de sua antiga família deste lado do
mundo. Contou tudo que se passara com ele e ficou morando com seu cunhado.

Depois de um tempo ele voltou a caçar na beira do lago. Seus filhos com a jibóia
preocupados com seu desaparecimento passaram a procura-lo e o encontraram na
beira do lago e então começaram a engoli-lo. Não conseguiram e chamaram sua mãe.
Quando ela estava engolindo ele até a cintura ele começou a gritar chamando seus
outros parentes do mundo de cá:

-Venham parentes. As jibóias estão me engolindo!

No final desse mito existem duas versões. Numa delas os parentes conseguem tirar o
caçador da jibóia. Ele todo quebrado passa um tempo doente na rede. Diz ao cunhado
que quando morrer na sua sepultura nascerá na parte direita um cipó e na esquerda
uma árvore. Diz como deve fazer e usar o chá (Ayauaska) dizendo que ele estará
dentro dele ensinando.

Na outra versão, os parentes matam a jibóia. O caçador, então, antes de morrer, pede
que os enterrem um a lado do outro. Fala que na sua sepultura nascerá um cipó e na
sepultura da jibóia nascerá uma árvore

Diz, então: - Tira o cipó, corta um palmo de comprido, bate com um pedaço de pau,
tira a casca,bota água junto com a folha da árvore e cantando pode cozinhar por um
tempo. E diz também: - Quando tomar o chá eu e a Jibóia estaremos dentre dele
ensinando e explicando tudo pra você.

Enterraram o caçador e a jibóia. Depois de seis meses, o cunhado foi na sepultura,


encontrou o cipó e a árvore. Fez tudo como o caçador havia dito. Mirou muito e viu o
futuro, o presente e o passado.

25
Rituais e Cerimônias

Cura Tradicional Amazônica:

Um xamã é uma pessoa familiar com os estados alterados da consciência, que


entra nesses estados para curar pacientes. Normalmente induzido por uma
mistura de plantas psicadélicas e música, o transe xamã permite que a pessoa
perceba parte do que não consegue perceber durante o estado de consciência
normal. Este transe é normalmente usado para curar doenças, para
adivinhação ou profecias, ou para comunicar com o mundo dos espíritos.

A ayahuasca é obviamente uma ferramenta xamã, se não a mais importante


ferramente amazónica. Segundo muitos índios curanderos (curandeiros) muitos
dos seus conhecimentos botânios provêm directamente da embriaguez com a
ayahuasca. Nas sessões de cura, normalmente feitas à noite e em dias fixos da
semana, há cerca de 4 a 8 doentes presentes. O ritual começa por volta das
oito ou nove da noite, e dura cerca de sete horas. Tem lugar na casa do xamã
ou “clínica”, em escuridão total, a qual estimula o elemento visionário da
ayahuasca.

O xamã bebe a ayahuasca para poder ver as causas espirituais da doença do


seu paciente. Por vezes o paciente também bebe. Na maioria das vezes o
xamã canta ícaros ou “canções de força” para convidar os espíritos benignos e
para aplicar a cura. Por vezes os pacientes são convidados a sentarem-se com
o xamã, que cantará então suavemente e para cada um em especial.

O tabaco é uma ferramena importante nesta tradição, juntamente com


a chapada (um molho de folhas). O fumo do tabaco é soprado por cima da
ayahuasca e do paciente, para atrair energias positivas. A chapada é usada
como um instrumento de percussão, batendo no ar a intervalos regulares.
Outras ferramentas são vários perfumes, incenso, chocalhos, cristais e outros
objectos de força. No dia a seguir à cura de ayahuasca há normalmente mais
tratamento individual envolvendo outras plantas medicinais.

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A Igreja do Santo Daime:

Fundada nos princípios dos anos 30, por Raimundu Irineu Serra, a Santo
Daime é provavelmente a mais conhecida tradição do consumo de ayahuasca.
É uma crença católica cristã integradora de idiossincrasia com o uso de um
planta entogénica indígena que manifesta o deus interior. Isto é interessante à
luz da inquisição de há quatro séculos, que causou a quase destruição dos
xamãs (de ayahuasca) e das suas cosmologias, com o apoio das autoridades
em nome do catolicismo.

Chamam Daime à poção de ayahuasca, e esta é o sacramento dos


chamados trabalhos (sessões). Para além de se consumir a poção, todos os
rituais têm lugar num local fechado, totalmente iluminado, e são guiados
pelo padrinho. Esta é hoje em dia uma tradição conhecida, com muitos centros
no Brasil e vários na Europa.

Embora a Santo Daime tenha quinze tipos de sessões, abrangendo 4 a 800


participantes, distinguem-se cinco sessões principais. A concentração ou
meditação dá-se duas vezes por mês. Todos os presentes tomam a poção no
início da sessão, e geralmente há uma segunda rodada mais tarde.
A concentração dá-se durante cerca de duas horas, durante as quais os
pacientes se sentam em silêncio. Antes e depois desde período de silêncio há
rezas e cantos. Normalmente a sessão começa às oito da noite e dura cerca de
seis horas.

A Santo Daime tem sessões festivas em datas fixas, incluindo o natal, o ano
novo, e por vezes casamentos e aniversários. Cantam e dançam enquanto se
formam em linhas, com um grupo de pessoas a tocar guitarra e por vezes
outros instrumentos, como o órgão electrónico, a flauta, ou o clarinete. Muitos
participantes chocalham a maraca, feita de lata ou alumínio e com sementes
dentro. As sessões festivas duram normalmente sete horas, e dão-se à noite.
A Daime é servida até cinco vezes durante a sessão. Depois da segunda
rodada há um intervalo, durante o qual os participantes saem do local e
relaxam.

Por vezes um pequeno número de participantes tem uma sessão íntima,


chamada trabalhos de estrela, em referência à mesa em forma de estrela no
centro do local em que se dão as sessões. Há outro tipo de sessão que
acontece apenas raramente - a missa para os mortos.

Ao ar livre, o quinto tipo de sessão é a preparação da poção, chamado feitio.


Servem-se grandes doses de Daime enquanto se canta. A trepadeira
ayahuasca é colhida e triturada com um martelo por cerca de oito a catorze
homens. A chacrona foi colhida e lavada pelas mulheres antes do início do
feitio. Ajudado pelos membros da comunidade, é o padrinho quem prepara a
poção e decide qual o método de preparação e as quantidades dos
ingredientes.

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A igreja do Santo Daime é conhecida pelos seus cantos ou hinos, que se diz
serem recebidos pelo mundo astral sob a influência da Daime, pelo padrinho ou
por outros membros proeminentes. Estas são as únicas instruções desta igreja,
e constituem o núcleo de uma sessão. Em termos de funcionalidade, podem
comparar-se aos ícaros dos xamãs da ayahuasca (hinos cantados pelo xamã
para apoiarem o consumidor na sua viagem espiritual).

União do Vegetal:

A maior parte da seguinte descrição é copiada, com a simpática autorização do


autor, do livro alemão “Ayahuasca, eine Kritik der psychedelischen Vernunft”,
escrito por Govert Derix, um filósofo holandês.

A União do Vegetal foi fundada a 21 de Fevereiro de 1961, em Porto Velho


Rondonia, no Brasil, por um seringueiro chamado José Gabriel da Costa.
Quando trabalhava num seringal na Bolívia, José Gabriel conheceu índios
nativos que o apresentaram à ayahuasca na própria selva. O ritual
desenvolvido a partir das suas ideias é repetido no primeiro e terceiro sábado
de cada mês, em todo o Brasil, por cerca de dez mil homens e mulheres. Há
cerca de 40 a 50 rituais a cada seis meses, onde se serve a ayahuasca,
normalmente em doses mais leves que a Daime.

As sessões têm lugar sob a guia de um Mestre que distribui o chá e dirige a
experiência colectiva e as individuais. Isto faz-se sobretudo através do canto
de chamadas - hinos especiais sobre a origem da ayahuasca (chamada
de burracheira), o sentido dos seus efeitos e da vida de um ayahuasqueiro
(alguém que bebe regularmente). As pessoas ouvem música e podem fazer
perguntas ao líder e falar com o grupo.

Como a Santo Daime, a UDV está a ganhar popularidade em todos os tipos de


ambientes, com centros (chamados núcleos) em todas as cidades principais do
Brasil e algumas na Europa. União é uma referência rudimentar à unificação de
princípios aparentemente desligados. Um exemplo simples é a unificação das
várias plantas usadas na poção. Na UDV, a trepadeira Banisteriopsis
caapi chama-se mariri e representa força. A Psychotria viridischama-
se chacrona e representa luz. Outro exemplo de união é a unificação dos
princípios masculinos e femininos. Os membros da UDV referem-se a vários
tipos de unificação, e especialmente à união com o universo na sua totalidade
através da bebida vegetal ayahuasca, com a frase fazer a ligação.

Como tantas outras religiões, a UDV organizou os seus encontros e


festividades num calendário anual. Estes têm lugar num local fechado,
iluminado, onde os participantes se sentam em poltronas. Os encontros mais
importantes são as sessões de escala, as quais têm lugar no primeiro e terceiro
sábados de cada mês. Começam às oito da noite, e acabam à meia-noite e um
quarto.

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Para além das sessões oficiais, há sessões durante os feriados cristãos (natal,
páscoa), os dias de vários santos cristãos (São João, São Pedro), no
aniversário da fundação da UDV, no dia da mãe, no dia do pai e durante
o reveillon (passagem de ano). Os ayahuasqueiros experientes também
têmsessões instrutivas, nas quais os consumidores exploram os aspectos mais
isotéricos da UDV. O último tipo de sessão é o preparo, na qual se prepara
ovegetal e, como no feitio do Santo Daime, se bebe a poção.

As sessões oficiais no primeiro e terceiro sábados de cada mês usam o


seguinte programa:

 Beber ayahuasca juntos (20.00h)


 Focagem no efeito do chá (até cerca das 21.00h)
 O líder da cerimónia começa a cantar as primeiras chamadas para guiar
as pessoas no processo de fazerem a ligação

 Experimentar o efeito do chá, oportunidade de falar com o grupo e fazer


perguntas, ouvir música pop com letras com mensagens e cantar (até
às 23.30h)
 O mestre canta chamadas de fecho ou de adeus (por volta da meia-
noite)

Barquinha:
Fundada em 1945, em Rio Branco, Brasil, esta igreja mistura elementos da
religião afro-brasileira Umbanda e da Santo Daime. O nome refere-se ao barco
que o fundador, Frei Daniel Pereira de Mattos, viu numa visão. Na sua mente a
barquinha representava a viagem espiritual. A Barquinha tem mais rituais que a
Santo Daime e a UDV, aparentemente servindo uma poção também mais
forte.

Em algumas sessões baseadas nos rituais da Umbanda, os membros da


Barquinha, frequentemente vestidos de marinheiros, entram em transe e
“incorporam” espíritos. Durante algumas sessões dança-se a gira, uma dança
em círculo da tradição Umbanda. Três vezes por ano há uma peregrinação,
ou romaria, durante um período que pode durar trinta sessões nocturnas com
consumo do chá. As sessões não-festivas, ou salmos, são cantadas por um
cantor, e o resto das pessoas cantam sentadas os refrães. Este hinos são
normalmente muito mais longos que os da Santo Daime.

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Legislação da Ayahuasca no Brasil

Em 1986 o Dr. Domingos Bernardes da Silva Sá concluiu, através de seus estudos,


que o Ayahuasca não deveria ser incluída na lista dos produtos proibidos pela DIMED
– Divisão Médica do COFEN em razão de sua concentração de DMT (nesse caso,
muitas outras substâncias também deveriam ser incluídas nessa lista: café, suco de
laranja, etc.).

O uso ritualizado da Ayahuasca obteve respaldo legal do COFEN – Conselho –


Conselho Federal de Entorpecentes, que foi extinto em 1998, tendo suas atividades
absorvidas pelo então SENAD – Secretaria Nacional Anti-Drogas. Foram duas
resoluções:

1992 – O COFEN decidiu liberar oficial e definitivamente a ayahuasca por haver ampla
comprovação de efeitos benéficos, com base no controle exercido pelos centros que
utilizavam ayahuasca com seriedade (1986-1992) ***. Segundo observação da
Comissão Multidisciplinar (médicos, antropólogos, psicólogos, enfim, todas as
correntes do saber), a substância estimulava comportamentos construtivos, com
grandes ajustes sociais e psicológicos dos participantes. Também foi constatado um
forte senso de coesão social e cooperativismo entre os participantes da Comunidade
do Daime.

2004 – O tempo passa e mudam os diretores das instituições, os nomes das


instituições, os presidentes e também as tecnologias e os recursos da ciência.
Naquele ano, o então Presidente do CONAD – Conselho Nacional Anti-Drogas pediu o
parecer de uma “Câmara de Assessoramento Técnico-Científico” para o processo de
legitimização do uso da ayahuasca, o qual estava completando 18 anos (desde seu
início em 1986, quando saiu da lista da DIMED, até 2004). O novo dirigente do
CONAD, ao assumir a responsabilidade de presidir aquela instituição, que legalizou o
uso da Ayahuasca, e sentindo a necessidade de se respaldar e fazer uma reavaliação
da questão, determinou novos estudos e novas averiguações, tendo a Ayahuasca sido
novamente aprovada. Essa Câmara de Assessoramento Técnico-Científico, concluiu
que a legalização estava respaldada e alicerçada:

 Em análise multidisciplinar;

 No direito constitucional do exercício do culto de tradição milenar para a


evolução da humanidade;

Ampla gama de informações sobre o assunto, obtidas:

 de profissionais de diversas áreas do conhecimento humano;

 de órgãos públicos;

 da experiência comum;

 do reconhecimento nos diversos segmentos da sociedade civil, etc.

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Tendo em vista todo esse respaldo, a Câmara de Assessoramento Técnico-Científico
resolveu manter a legalização do uso da ayahuasca e sugeriu a instituição de um
Grupo Multidisciplinar de Trabalho (GMT), com a função de levantar e acompanhar o
uso ritualizado da ayahuasca, bem como acompanhar as pesquisas sobre sua
utilização terapêutica. Esse grupo é composto por representantes dos mais variados
segmentos do conhecimento humano, tais como: antropológicos, farmacológicos,
bioquímicos, psicológicos, psiquiátricos, jurídicos, sociais, além de Seis representantes
dos grupos religiosos ayahasqueiros do Brasil.
*** em 1982 já havia sido formada a primeira comissão multidisciplinar, também
formada por médicos, psicólogos, antropólogos, além de representantes do Ministério
da Justiça, Polícia Federal, Exército, etc. Essa comissão deveria averiguar in loco o
fenômeno Santo Daime.
O uso ritualiístio da Ayahuasca é garantido, no Brasil, pela Resolução n. 04 do
CONAD – (por Luís Pereira:)
“Durante décadas o governo brasileiro vem estudando as atividades da Ayahuasca e
inicialmente dois pareceres técnicos do antigo Conselho Federal de Entorpecentes
(Confen), por iniciativa da União do Vegetal, pesquisou o uso religioso do chá em duas
oportunidades, em 1986 e em 1992, por meio de comissão mista interdisciplinar.
Conforme relatório do Conselho Federal de Entorpecentes, assinado pelo Dr.
Domingos Bernardo Gialluisi da Silva Sá, foi concluído que as plantas utilizadas na
elaboração da Ayahuasca ficassem excluídas da lista de produtos proscritos pela
Dimed (Divisão Médica do Confen). Essa conclusão foi aprovada pelo plenário do
Confen, baseada em pesquisa feita por um Grupo de Trabalho nomeado pelo
Ministério da Justiça. O relatório atesta que não há qualquer fato comprovado de que a
Ayahuasca provoque prejuízos sociais. Cito aqui – por julga-los eloqüentes – alguns
trechos do parecer do Confen de 1986, aprovador por unanimidade e assinado pelo
Dr. Domingos Bernardo de Sá, que presidiu o Grupo de Trabalho incumbido de
examinar a questão: “Padrões morais e éticos de comportamento em tudo
semelhantes aos existentes e recomendados em nossa sociedade, por vezes até de
um modo bastante rígido, são observados nas diversas seitas. Obediência à lei
pareceu sempre ser ressaltada”. “Os seguidores das seitas parecem ser pessoas
tranqüilas e felizes. Muitas atribuem reorganizações familiares, retorno de interesse no
trabalho, encontro consigo próprio e com Deus, etc., através da religião e do chá”. “O
uso ritual do chá parece não atrapalhar e não ter conseqüências adversas na vida
social dos seguidores das diversas seitas. Pelo contrário, parece orienta-los no sentido
da procura da felicidade social, dentro de um contexto ordeiro e trabalhador”. Perante
estes e outros fatos, no dia 2 de junho de 1992, o conselho decidiu liberar
definitivamente a utilização da Ayahuasca para fins religiosos em todo o território
nacional. Segundo a então presidente do Confen, Ester Kosovsky, “a investigação,
desenvolvida desde 1985, baseou-se numa abordagem interdisciplinar, levando em
conta o lado antropológico, sociológico, cultural e psicológico, além de análises
fitoquímicas.” O relator do processo de investigação, Domingos Carneiro de Sá,
explicou que o fato fundamental para a liberação da bebida foi o comportamento dos
usuários e a seriedade dos centros que utilizam o chá em seus rituais: Não foram
observadas atitudes anti-sociais dos participantes dos cultos, ao contrário,
constataram os efeitos integrados e reestruturantes com indivíduos que antes de
participarem dos rituais apresentavam desajustes sociais ou psicológicos. São muitas
as instituições religiosas que hoje, no Brasil, fazem uso da Ayahuasca. E há entre elas
muita diversidade de rituais e doutrinas. Mas, em comum, pode-se dizer que todas se
empenham para evitar o uso inadequado do chá e para esclarecer os objetivos
construtivos de suas respectivas instituições.

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Com essa finalidade, foi assinada em 191, em comum acordo entre as maiores
instituições usuárias da Ayahuasca, uma “Carta de Princípios”, estabelecendo
procedimentos éticos comuns em torno do uso da Ayahuasca, e, sobretudo, buscando
regular o relacionamento das seitas com os veículos de comunicação, de modo a
evitar a perpetuação de equívocos, prejudiciais a todos.”
Recentemente, em 2006, por ocasião do Seminário da Ayahusca em Rio Branco do
Acre, foi instituido o Grupo Multi-disciplinar de Trabalho para os estudos da
Ayahuasca, conforme resolução n. 04 do Conad, que por sua vez, após meses
intensos de investigação implementaram o atual “Documento de Deontologia”, que
visa trazer ainda mais legalidade as atividades dos grupos legalmente constituídos.
Este relatório final foi aprovado pelo GMT em 23 de Novembro de 2006.
Finalmente, no dia 26 de Janeiro de 2010, foi publicado no Diário Oficial da União –
No. 17 – na página 58, a Resolução N.1 do CONAD, dando por aprovado o Relatório
Final do GMT.

Importante Saber:

No I CONGRESSO INTERNACIONAL DA AYAHUASCA, ocorrido em novembro de


1992 em Rio Branco (Estado do Acre), foi elaborada uma Carta de Princípios para a
utilização da ayahuasca, que define importantes diretrizes como:

Do preparo e do uso da Ayahuasca: A Ayahuasca é um produto da união do


Banisteriopis Caapi (mariri ou jagube) e da Psychotria Viridis (chacrona ou rainha),
fervidos em água. Seu uso, que é tradicional entre os povos da Amazônia, deve ser
restrito, nos centros urbanos, aos rituais religiosos autorizados pelas direções das
entidades usuárias, em locais apropriados, sendo vedada a sua associação a
substâncias proscritas.

Dos rituais religiosos: Respeitada a liturgia de cada uma e tendo em vista as


peculiaridades do uso da Ayahuasca, as entidades se comprometem a zelar pela
permanência dos usuários nos locais dos templos enquanto estiverem sob o efeito do
chá.

Do plantio e cultivo: As entidades têm direito ao plantio e cultivo dos vegetais


necessários à obtenção da bebida, em face à depredação do habitat natural onde eles
se encontram mais acessíveis.

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Dos cuidados e restrições:
Comercialização: As entidades comprometem-se a não comercializar a Ayahuasca,
mesmo a seus adeptos, sendo seus custos de produção, transporte, estocagem e
distribuição às filiais de responsabilidade do Centro.
Curandeirismo: A prática do curandeirismo, proibida pela legislação brasileira, deve
ser evitada pelas entidades signatárias. As propriedades curativas e medicinais da
Ayahuasca – que essas entidades conhecem e atestam – requerem uso adequado e
devem ser compreendidas do ponto de vista espiritual, evitando-se todo e qualquer
alarde publicitário que possa induzir a opinião pública e as autoridades a equívocos.
Pessoas incapacitadas: Será vedada terminantemente a participação nos rituais
religiosos, bem como o uso da Ayahuasca, às pessoas em estado de embriaguez ou
sob efeito de substâncias proscritas (alucinógenas). A participação de menor de idade
só será permitida com a autorização dos pais ou responsáveis.
Da difusão de informações: Grande parte das controvérsias e contratempos em torno
do uso da Ayahuasca – inclusive junto às autoridades constituídas, decorre dos
equívocos difundidos pelos veículos de comunicação. Isso impõe da parte das
entidades usuárias especial zelo no trato das informações em torno da Ayahuasca,
sendo indispensável:
Que cada instituição, ao falar aos veículos de comunicação, esclareça
obrigatoriamente sua entidade, ressaltando que não fala pelas demais entidades
usuárias.
Que cada instituição restrinja a pessoas experientes de sua hierarquia o direito de falar
aos veículos de comunicação, tendo em vista os riscos decorrentes da difusão
inconsequente do tema, por parte de pessoas com ele pouco familiarizadas.
Quando estiver em pauta um tema comum às instituições usuárias, deve-se buscar
entendimento prévio em torno do que será difundido, de modo a resguardar o
interesse geral e a correta compreensão dos objetivos de cada uma.

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