Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ayahuasca - Apostila
Ayahuasca - Apostila
Medicina Sagrada
1
Sumário:
A História da Ayahuasca………………………….………………….…………………..…...4
A Miração......................................................................................................................11
Rituais e Cerimonias………………...……………………………………………………….26
2
Conhecendo o Chá Ayahuasca
A Ayahuasca a nível físico é somente um chá preparado com duas plantas (Cipó de
Mariri + Folhas de Chacrona), mas a nível espiritual é um potente facilitador da saúde
física (pois concretiza curas inexplicáveis pela Ciência Oficial) e da saúde da Alma.
Mariri Chacrona
A História da Ayahuasa
3
A História da Ayahuasca (Hoasca ou Oaska)
Existiu a milhares e milhares de anos, antes do dilúvio universal, um Rei de nome
Inca.
Este Rei tinha uma conselheira que se chamava Oaska.
Era uma mulher misteriosa que tinha o poder de adivinhar tudo que viria a acontecer,
qualquer dificuldade que o Rei tinha, ia aconselhar-se com sua conselheira e ela
orientava-o no que era necessário, e assim o reinado prosperava.
Tudo Oaska dirigia. Mas um dia Oaska morreu.
O Rei ficou triste com o acontecimento, mas não teve outra coisa a fazer a não ser
cavar uma sepultura e sepultar Oaska. E assim fez...
Ficou assim o Rei Inca zelando por aquela sepultura e vinham sempre em visita.
Uma dia vêm o Rei em visita à sepultura de Oaska e viu nascido no centro da
sepultura um pé de árvore.
O Rei olhou, examinou e viu que aquela árvore era diferente de todas as árvores e não
tinha nome. Então diz o Rei: “-Essa árvore nasceu na sepultura de Oaska, essa árvore
é Oaska”. Nome dado pelo Rei Inca.
Nesses tempos nasce no mesmo reinado um menino de nome Tihuaco.
Este menino, inteligente, cresceu e chegou a ser Marechal de confiança do Rei Inca.
Marechal Tihuaco já conhecia a história da mulher misteriosa contada pelo Rei.
Um dia vem o Rei em visita à sepultura da Oaska acompanhado de seu Marechal
Tihuaco.
Chegando na sepultura diz o Rei: “-Tihuaco, quem sabe se nós tirássemos folhas
dessa árvore... quem sabe nós não poderíamos conversar com o espírito de Oaska
para descobrirmos seus segredos e mistérios... Vamos experimentar!”
Tirou então algumas folhar, preparou um chá e disse: “-Tihuaco, bebe esse chá e veja
se pode falar com o espírito da Oaska para descobrir seus segredos e mistérios”.
Tihuaco bebeu e a Força de Oaska veio crescendo e crescendo, veio circundando-o e
crescendo, chegando ao ponto de Tihuaco não suportar e morrer dentro da Força.
O Rei ficou desorientado pelo acontecimento, mas não teve nada a fazer a não ser
cavar outra sepultura e sepultar Tihuaco. E assim o fez...
Cavou uma sepultura e sepultou Tihuaco, e ficou assim o Rei zelando por aquelas
duas sepulturas.
Um dia veio o Rei em visita à sepultura da Oaska e à sepultura de Tihuaco e viu
nascido no centro da sepultura de Tihuaco um pé de cipó diferente de todos os cipós e
não tinha nome.
Então diz o Rei: “-Esse cipó nasceu na sepultura de Tihuaco, então esse cipó é
Tihuaco”.
Algum tempo depois o Rei Inca também veio a morrer. Contudo mesmo ao morrer
tinha o pensamento preso em Oaska, porque queria descobrir os segredos e mistérios
dela.
4
Passa-se o tempo...
Muitos e muitos anos depois nasceu um menino que recebeu o nome de Salomão.
Este menino era todo dotado de Ciência e de Sabedoria. Sendo sábio, até hoje
combate a curiosidade.
Salomão estudou de si e tornou-se o rei da Ciência. O Rei Salomão.
E a história da mulher misteriosa circulava o mundo.
Um dia, chegou aos ouvidos de Salomão a história da mulher misteriosa. E só ele
mesmo, como Rei da Ciência, poderia descobrir os mistérios e segredos de Oaska
sendo ele o conhecedor de toda Ciência.
Um dia vem então o Rei Salomão acompanhado de seu vassalo Caiano na procura da
descoberta dos mistérios. Caiano esse, reencarnação do próprio Rei Inca.
Chegando naquele antigo reinado já transformado em tapera, Salomão encontrou a
sepultura de Oaska e a sepultura de Tihuaco.
Chegando na sepultura de Oaska, diz Salomão tocando na árvore: “-Desta árvore, que
tiraram as folhas e fizeram um chá e deram a Tihuaco beber, Tihuaco bebeu e morreu
dentro da Força, venho a denominar Chacrona, que quer dizer Chá Temeroso, para
aqueles que não o respeitam...”
Em seguida dirigiu-se à sepultura de Tiuaco e, encontrando ali um cipó, tocando-o
confiou que nele existia o Marechal. Salomão então diz: “-Tihuaco é Mariri, Tihuaco é
Marechal...”
Declara então Salomão: “-Eu venho fazer a união do vegetal, do Mariri com a
Chacrona...”
“É O MARIRI COM A CHACRONA EM UNIÃO É QUEM NOS CONDUZ É O MARIRI
COM A CHACRONA
OS DOIS UNIDOS É QUEM NOS CONDUZ O MARIRI NOS DÁ A FORÇA E A
CHACRONA NOS DÁ A LUZ É O MARIRI COM A CHACRONA EM UNIÃO É QUEM
NOS CONDUZ É O MARIRI COM A CHACRONA
OS DOIS UNIDOS É QUE NOS CONDUZ O MARIRI NOS DÁ A FORÇA E A
CHACRONA NOS DÁ A LUZ O MARIRI ESBLANDE FORÇA E A CHACRONA
ESPLANDECENDO EM LUZ AO MARIRI EU PEÇO FORÇA E À CHACRONA EU
PEÇO LUZ.
DO MARIRI RECEBEMOS FORÇA E DA CHACRONA RECEBEMOS LUZ É O
MARIRI COM A CHACRONA EM UNIÃO É QUEM NOS CONDUZ É O MARIRI COM
A CHACRONA
OS DOIS UNIDOS É QUEM NOS CONDUZ O MARIRI É O REI DA FORÇA E A
CHACRONA RAINHA DA LUZ O MARIRI TRANSMITE FORÇA E A CHACRONA
CLAREANDO EM LUZ
CAI, CAIA SERENO, SERENO DE LUZ CAIA, CAIA SERENO, SERENO É A LUZ
CAIA, CAIA SERENO, SOBRE TODA LUZ CAIA, CAIA SERENO, MESTRE QUER
TODOS NA LUZ
A UNIÃO QUEM NOS CONDUZ LUZ, LUZ DIVINA LUZ”
5
Então Salomão tirou alguns pedaços do cipó e algumas folhas da árvore, uniu esses
mistérios e preparou um chá e chamou seu vassalo Caiano e disse com palavras
firmes:
“-Caiano, beba esse Chá, receba a Comunhão do Vegetal e siga firme para receber
todo o Poder de Oasca, todo Poder do Vegetal, todos os segredos e mistérios da
Hoaska... Toda vez que a Força vier crescendo e você ver que não suporta, lembre-se
que Tihuaco é Mariri e que ele morreu dentro da Força, ele é o Rei da Força...”
Caiano bebeu e a Força do Vegetal veio crescendo e crescendo, Caiano vendo que
não ia suportar, lembrou-se da voz do Mestre Salomão e chamou:
“TIHUACO É MARIRI TIHUACO É MARECHAL TIHUACO É O GRANDE REI NO
SALÃO DO VEGETAL TIHUACO É MARIRI MARIRI É MARECHAL O MARECHAL
É O GRANDE REI NO SALÃO DO VEGETAL”
Caiano então diz ao Mestre Salomão: “-Mestre, eu vi tudo, entrei nos encantos da
Natureza e vi tudo”.
Salomão repreende Caiano: “-Caiano, como é que tu viu tudo? Se os encantos são de
Natureza Divina? Vivem fechados e para se penetrar deve-se pedir licença à Natureza
Divina, que na minha língua é Minguarana...”
“...OH! MINGUARANA TU ABRIREI O TEU ENCANTOS E TRAREI... TRAREI OS
TEUS ENCANTOS...”
Continua Salomão: “-Os encantos então estão abertos, temos que pedir porém, para a
Natureza Divina nos levar...”
“...Ô MINGUARANA TU CLAREI O TEU ENCANTE E CLAREI CLAREI OS TEUS
ENCANTOS EU VIM ABRIR MEU ORATÓRIO AO DIVINO ESPÍRITO SANTO Ô
MINGUARANA TU ABRE O TEU ENCANTE E CLAREI CLAREI OS TEUS
ENCANTOS
EU VOU ABRIR MEU ORATÓRIO AO DIVINO ESPÍRITO SANTO
Ô MINGUARANA TU NOS LEVAREI AO TEU ENCANTE E TRAREI TRAREI O TEU
ENCANTE
EU ABRI MEU ORATÓRIO AO DIVINO ESPÍRITO SANTO LUZ, LUZ DIVINA LUZ...”
Então se revelou assim Caiano como o primeiro oasqueiro, e quando precisamos,
chamamos:
“...CAIANO MESTRE CAIANO É O PRIMEIRO OASQUEIRO EU CHAMO CAIANO
CHAMO BURRACHEIRA EU CHAMO CAIANO CHAMO BURRACHEIRA
CAIANO MESTRE CAIANO É OASQUEIRO SEM FIM EU CHAMO O REI
OASQUEIRO CLAREIA OS SEUS CAIANINHOS EU CHAMO O REI OASQUEIRO
CLAREIA OS SEUS CAIANINHOS
CAIANO MESTRE CAIANO É QUEM É A LUZ DO CAMINHO É A ESTRADA DO
VEGETAL OS DEGRAUS É SEUS CAIANINHOS
CAIANO MESTRE CAIANO VEM PELA LUZ VERDADEIRA CLAREIA AOS SEUS
CAIANINHOS TODOS PEDE BURRACHEIRA CLAREIA OS SEUS CAIANINHOS
TODOS PEDE BURRACHEIRA...”
6
Caiano continuou fazendo e distribuindo o Vegetal para as pessoas, mostrando o que
esse Vegetal podia fazer-lhes, ensinando a caminhada de ser direito na vida.
Equilibrando, firmando o pensamento de cada um...
Chegou finalmente o dia em que Caiano teve que deixar também este plano de
existência, ficando o Vegetal esquecido por muito tempo.
Um dia no Astral, Caiano recebe Ordem Superior para restaurar o Vegetal na Terra e
pergunta: “-Quando?”. A resposta: “-Ir agora!”.
Com essa palavra dita, Caiano reencarnou com o nome Iagora, no meio dos nativos
das montanhas dos Andes onde hoje é o Peru, ensinando essa mesma história
contada acima e pedindo sempre por Força.
O Mestre Iagora então é muitas vezes lembrado e chamado com essa expressão de
seu nome, pedindo orientação que sempre vêm chegando.
Por relembrar a história do Rei Inca junto aos nativos deste lugar, eles começaram a
chamar Mestre Iagora de Rei Inca, vindo a emprestar o nome de sua antiga
encarnação ao Império Inca do Andes.
Veio também Mestre Iagora a desencarnar, e seus discípulos todos se dispersaram
pelos Andes e Alto-Amazônas, e vieram a ser conhecidos posteriormente esses
homens como os Mestres da Curiosidade.
Mas o Mestre é sempre o Mestre, e lá onde estava, sentiu a necessidade de recriar a
União do Vegetal, voltando a encarnar.
Nasceu no Brasil chamando-se José Gabriel da Costa, sendo este, o mesmo Rei Inca,
sendo o mesmo Mestre Caiano, sendo o mesmo Mestre Iagora, esse é o Mestre
Gabriel em uma só Força e em uma só Luz, mostrando, ensinando, equilibrando,
colocando todos dentro de um caminho Firme.
José Gabriel, sempre guiado por uma Força Superior serviu à esse Reino Astral de
diversas formas, até que encaminhou-se para a Floresta Amazônica onde trabalhou
como seringueiro e lá recebeu o Sacramento do Vegetal novamente.
Relembrando suas encarnações passadas adentrou nas matas à procura dos Mestres
da Curiosidade para com eles receber sabedoria, mas decepção... Aos os encontrar
constatou que eles mesmo não sabiam nada. O que lá viu e reaprendeu é um segredo
particular, mas como Avatar nos traz também sua luz...
A viagem ao coração perdido da floresta não havia sido em vão. Fora uma viagem
iniciática de qualquer forma e dela voltando, Mestre Gabriel refunda a União do
Vegetal para o benefício de toda a humanidade, para trazer aos homens a perene
sabedoria da união entre os Homens e a Natureza, possibilitando sempre haver de
agora em diante, disponível, Luz, Paz & Amor para que todos reencontrem seu
caminho ao Divino.
7
Burracheira e Objetivo do Trabalho Realizado.
8
Chá de Ayahuasca é Droga?
Em tempos passados, o chá já foi tachado, pelos que não o conheciam, de "droga",
"alucinógeno" ou "entorpecente". Ora por falta de um referente para classificá-lo, ora
por inexperiência com o chá, a mídia acabou veiculando muitas reportagens
equivocadas a respeito do assunto, a maioria fruto de (pré)conceitos descabidos.
9
Não é Alucinógeno, é Enteógeno
A primeira vista este chá normalmente é classificado pela sociedade como ‘droga’ ou
‘alucinógeno’. Isto de forma alguma deve desmerecer a Ayahuasca ou as pessoas que
dela fazem uso, melhor seria esclarecermos que de acordo com a nomenclatura
científica utilizada no mundo inteiro se denomina ‘droga’ qualquer substância, de
origem animal, vegetal ou mineral, que, uma vez introduzida em um organismo vivo,
produz alterações de ordem fisiológica, desta forma também podemos classificar como
droga o café, o açúcar, o guaraná, o chimarrão, etc. Lembramos também que muitas
drogas são usadas para salvar vidas.
10
A Miração
A "miração" é um termo que foi cunhado na tradição do Santo Daime pelo Mestre
Irineu para designar o estado visionário que a bebida produz. O verbo "mirar"
corresponde a olhar, contemplar. Dele deriva-se o substantivo "mirante", que é um
local alto e isolado onde se pode descortinar uma vasta paisagem. A palavra "miração"
une contemplação mais ação (mira+ação), o que expressa de maneira clara que o
termo foi cunhado por pessoas que eram plenamente conscientes da viagem do Eu no
interior da experiência visionária, característica do êxtase xamânico.
Durante esse tempo sagrado da miração estão abertas as portas para muitas direções
espirituais. O canal com o nosso Eu Superior se torna mais nítido. Podemos dialogar
com ele e também receber muitas instruções úteis sobre aspectos práticos da nossa
vida. Tudo que pensamos nessa sintonia com a miração está longe de ser um mero
devaneio. O pensamento se torna uma vibração que modela, conserta, cura e cria.
A miração é um sonho divino, um sonho plasmador de vida. Padrinho Sebastião Mota
dizia que primeiro tudo se resolve na miração para depois ser transposto e realizado
em matéria.
Esse nível de consciência atingido pela "miração" vem quase sempre acompanhado
de uma voz interior que guia, acompanha ou dirige o processo. Esta é, ao meu ver, a
faceta mais incomum e maravilhosa da "miração" do Daime. Durante o seu transcurso
nossa consciência participa dos fenômenos psíquicos, noéticos e espirituais, através
dos nossos corpos sutis. Através deles, o nosso Eu comparece nos momentos
decisivos e brevíssimos onde se decide sobre o nosso destino em meio às vagas
probabilidades do mar de indeterminações quânticas.
11
Dessa forma, imprimimos movimento ao que é imutável e eterno, manifestamos vida e
fecundamos a matéria por seu intermédio. Ajudamos a tecer a trama do próprio
destino, a complexa textura dos eventos geradores da realidade e da vida. Isso
significa que, no êxtase da "miração", estamos travando um diálogo com Deus,
estamos trabalhando com Ele, estamos sendo convocados para essa grande
responsabilidade de sermos co-criadores do universo.
12
Tentamos aqui, violando o item da inefabilidade da experiência mística, expressar de
alguma maneira com as palavras, essa sensação extraordinária que é trabalharmos
projetados em nossos corpos sutis nas oficinas seráficas da criação divina. Isso
ocorre, como já vimos, mediante à atuação do Eu Superior no interior das imagens
visionárias, como se a "miração" fosse um jogo interativo de "realidade virtual
espiritual". Para que esse processo traga benefícios que possam ser incorporados ao
ser, exige-se deste uma postura passiva-receptiva e um padrão mental positivo e
elevado. Dessa forma é que a barquinha da consciência pode navegar nas ondas do
mar sagrado, que é a Mente, e se manter com as velas enfunadas em meio ao mau
tempo e aos maus pensamentos.
Para finalizar esse ponto, gostaríamos de nos referir sucintamente a duas questões
conexas à nossa abordagem de estado de consciência xamânico da "miração". Trata-
se do carma e da mediunidade, aspectos ligados ao tema da cura xamânica. Num
certo sentido, a cura espiritual já é a própria imersão do Eu nesses estados elevados
de consciência, fazendo com que ele amplie a sua visão interna sobre as causas dos
desequilíbrios que geram as doenças. Nessas vivências visionárias do Eu no interior
da "miração" também ocorre dele se lembrar de fatos relativos às suas vidas
passadas, facilitando a compreensão de padrões kármicos que precisam ser
interrompidos nessa encarnação.
Por isso consagramos o ser divino presente nessas plantas amigas e professoras do
homem e a "miração" que ela nos fornece. Mesmo que o seu uso responsável seja
sempre benéfico, é porém dentro de um contexto ritual e religioso, que sentimos uma
maior segurança para a utilização profilática e terapêutica dos enteógenos.
13
Ayahuasca Como Opção Espiritual
Com certeza, uma poção com a Ayahuasca, (assim como a seiva de outras plantas
tradicionais e de uso ritualista), é capaz de proporcionar o auxílio que precisamos para
redirecionar o nosso destino; orientar a humanidade em direção à realização do homo-
sapiens verdadeiro: um ser ponderado, compreensivo, compassivo, tolerante, flexível
e integrado.
O caminho dos vegetalistas, ou ayahuasqueiros, por ser mais intenso que muitas
outras disciplinas, pode parecer de alguma maneira mais fácil por proporcionar um
contato mais precoce e mais intenso com o numinoso. Tal contato pode inspirar
compromisso e abrir as portas para mais força e criatividade, mais graça, para superar
os conteúdos incômodos.
Porém, a Ayahuasca não é um caminho para todos; substâncias psicoativas não são
pontes, ou atalhos, apenas vias mais rápidas. A escolha deve ser baseada no
conhecimento amplo dos fatores envolvidos. Esclarecer-se requer a resolução de
materiais e conflitos inconscientes; aqueles que aspiram a essa realização precisam
avaliar a sua disposição e coragem, decidir o compasso e a intensidade com a qual
desejam se encontrar com essa psicodinâmica, essa “purgação” ou purificação na
linguagem dos adeptos da Ayahuasca.
14
Ayahuasca como instrumento de auto-observação:
Esta amplificação, como uma lupa, permite uma (re)visitação intensiva e absorta dos
conteúdos mentais – recordações, idéias, fantasias, pensamentos, emoções, medos,
esperanças, sensações em gerais. Na dependência da ética e valores morais atuais
do indivíduo, além de influir na intensidade e no foco das percepções, a experiência
pode motivar a re-significação dos conteúdos sendo observados. Valores morais e
atitudes são revistas.
A função de uma substância com a Ayahuasca é muitas vezes mal entendida. Muitos
pensam que pelo fato de terem tido experiências maravilhosas, já obtiveram as
respostas e foram de alguma maneira transformados. Em alguns aspectos foram, mas
muitos descobrem a realidade de que existem muitas camadas de condicionamento e
ignorância a separar a mente superficial do núcleo do ser.
Para o investigador espiritual sério, assim como para os que buscam conhecimento
verdadeiro, a característica mais importante é a honestidade. Isto significa a coragem
para olhar para o que se apresenta no processo, pela habilidade de admitir as suas
falhas quando se tornam aparentes e pela determinação de mudar os seus
comportamentos em função do que se revela.
15
O conteúdo e natureza das experiências que essa substância induz não são, portanto,
produtos artificiais resultantes da sua interação farmacológica com o cérebro, mas
expressões autênticas da psique que revela seu funcionamento e potenciais em níveis
inacessíveis no estado ordinário de consciência.
Na medida em que o indivíduo consegue ver as coisas de uma maneira não distorcida,
vendo claramente não apenas o seu passado mais também a presunção e cegueira da
sua própria cultura e grupos de referencias, ele necessita, além de tolerar a decepção
e o sofrimento, superar sentimentos de desamparo.
Nem sempre é fácil ter de ver e aceitar que não somos assim tão vítimas, mas sim
responsáveis pelas nossas vidas; aceitar ser capaz, reconhecer o seu potencial e a
responsabilidade que isso requer implica coragem e determinação. Podemos até
recusar crer que fazemos jus a muita beleza e alegria, bem estar profundo, sem nada
ter de pagar além de ser o que já se é; apenas sendo o que já somos. O
gerenciamento emocional produtivo dessa reavaliação, a reorganização psíquica,
implica um grau suficiente de equilíbrio e bom senso para que se tomam atitudes
judiciosas sem precipitações.
A hipótese denominada em inglês de “set and setting” foi inicialmente formulada por
Timothy Leary nos anos 60 no âmbito das pesquisas iniciais com agentes psicoativos
e foi rapidamente aceita pelos demais pesquisadores da área. A teoria geral determina
que o conteúdo de uma experiência com substância psicoativa é uma resultante da
interação de três fatores básicos.
16
Os fatores essenciais são: o “set”, que traduzo como sendo o “fator pessoal”, isto é
aquele que o individuo traz consigo, os seus conteúdos (intenção, atitudes,
personalidade, humor, etc.); o “setting” ou “fator ambiental” corresponde a todos os
elementos externos ativos e capazes de influir a experiência (fatores interpessoais,
social, ambiental, o âmbito). A substancia em si, o “Chá” age como um gatilho, ou
catalisador, a conectar e por em interação os fatores citados numa dinâmica
especifica, criativa e intensa.
É evidentemente impossível definir qual dos fatores é o mais importante tanto quanto é
impossível dizer qual o lado mais essencial de um triângulo isóscele. Contudo “o
âmbito” é a vertente da experiência que pode ser programada, estudada, ensaiada e
cuidadosamente preparada para um melhor proveito.
17
Triangulação – o fator ambiental:
(Nota) Cepticismo: atitude ou doutrina segundo a qual o homem não pode chegar a
qualquer conhecimento indubitável, quer nos domínios das verdades de ordem geral,
quer no de algum determinado domínio do conhecimento.
18
Triangulação – o chá:
19
Integração da experiência – efeitos práticos:
Torna-se evidente que a utilização de uma substância como a Ayahuasca é mais útil
dentro de um contexto e de uma disciplina tendo como objetivo o crescimento e a
evolução espiritual, um programa chamando atenção para os valores éticos e morais
fundamentais. Uma disciplina adequada fornece um corpo de ética capaz de apoiar as
mudanças requeridas, clarificando os objetivos, mantém a mente focada e aberta para
o aprofundamento crescente da experiência.
Uma visão, mesmo rápida, de uma realidade maior pode mudar a vida de uma pessoa
se ela resolve integrar essa visão à sua realidade.
Receber uma luz não é igual a aplicar essa luz no dia a dia; não há conexão inerente
entre uma experiência mística de unidade e a expressão ou manifestação daquela
unidade na vida cotidiana. Este ponto é talvez óbvio, contudo frequentemente
esquecido por aqueles que debatem se, em princípio, um agente psicoativo pode ou
não ter valor no âmbito da busca espiritual. Qualquer que seja a fonte ou a origem da
iluminação, as revelações só poderão ter efeitos práticos com a permissão e
dedicação do individuo.
20
Significado da Serpente na Ayahuasca
21
A Serpente Cósmica e o DNA
O uso das imagens das serpentes não se dá apenas entre os xamãs amazônicos, mas
por quase todo o mundo. Elas são utilizadas na Ásia, no Mediterrâneo e na Austrália
para efetivar a representação da força básica da vida, sobretudo porque a sabedoria
da serpente é tida como a fonte do conhecimento. A imagem da serpente é vista
frequentemente como um elo de ligação entre o céu e a terra; sob esta mesma visão,
encontra-se também a imagem da cobra associada com diferentes ideias de
ascensão. Seguindo o texto de Narby, ele nos diz que “na literatura da biologia
molecular, a forma do DNA não se restringe a ser descrita através de uma analogia
com duas serpentes gêmeas, uma vez que ela, é comparada mais precisamente com
uma corda ou um cipó, ou mesmo com uma escada.” (p. 93).
22
Sabe-se que o DNA é o código molecular usado para toda a vida deste planeta, quer
seja animal, vegetal, ou humana. Ele está presente em cada uma das células de todos
os corpos, ou seja, em todas as plantas ou em qualquer animal, fungo, ou ser humano.
A partir daí, Narby propôs a hipótese de que, por meio das visões, talvez os xamãs
estejam tentando conduzir suas próprias consciências à dimensão do molecular, de
maneira que possam ler a informação de como combinar os inibidores-MAO com os
hormônios cerebrais, de como reconhecer as correspondências entre as plantas
curativas e as doenças, e por aí afora.
Sua descrição biológica da molécula do DNA expõe com brilhantismo muitos aspectos
que correspondem aos insights dos xamãs; mesmo porque, como eles mesmos dizem,
a origem de tais insights está nas suas visões das serpentes e na sua mitologia das
serpentes cósmicas.
Se alguém esticasse o DNA contido no núcleo de uma célula humana, seriam obtidos
somente dez átomos ao largo de 1.80m de fio…
O DNA de uma pessoa é tão longo que poderia rodear a Terra cinco milhões de vezes;
isto é análogo ao que se diz a respeito das serpentes que rodeiam o mundo! (pp.
87~88).
Afora isso, o código molecular do DNA tem se mantido inalterado desde o início da
vida deste planeta, pois somente a arrumação das “letras” deste código é que vai
mudando conforme a evolução das diferentes espécies. “Tal como as serpentes
míticas, o DNA se apresenta como o mestre da transformação. Todas as informações
que existem nas células do DNA são feitas do ar que respiramos, da paisagem que
vemos, e da vasta diversidade de seres vivos dos quais fazemos parte.” (p. 92). Narby
chega a dizer que a serpente dupla do DNA é que constitui de fato a fonte do
conhecimento, quer seja adquirido por meio da ayahuasca ou de outras técnicas que
levem a estados alterados da consciência, tais como a batucada, o jejum, o
isolamento, ou os sonhos. E ainda diz que a tão propalada luminosidade que ocorre
nas visões xamanísticas deveria ser posta em relação ao fato de que a molécula do
DNA emite biofótons, justamente porque a luz molecular só emerge com a redução da
iluminação externa. Enfim, mesmo que a hipótese de Narby não ofereça nenhum dado
novo, ou provas substanciais, ela possui implicações revolucionárias que reconciliam
os pontos de vista diametralmente opostos da ciência e do xamanismo.
23
Lenda:
Em uma de suas caçadas o indio caçador chega a beira de um lago onde encontrou
um pé de jenipapo, fruta muito procurada por diversos animais. Parou, e ficou de
tocaia esperando a caça que aparecesse. Depois de um longo tempo apareceu uma
anta (awa). Ao invés de comer as frutas, a anta pegou três delas e se dirigiu para o
lago onde as jogou para baixo, para cima e no meio. Logo começou a sair muita
espuma do meio do lago. No meio da espuma boiou uma mulher clara de cabelos
compridos e lisos e muito bonita. Era uma mulher jibóia que subiu para a terra,
abraçou, beijou e teve relações com awa.
Quando awa foi embora a mulher sumiu dentro do lago. O caçador então saiu de
dentro da tocaia e fez do mesmo jeito que awa. Pegou três frutas, jogou dentro do
lago. Demorou pouco tempo e começou a sair a espuma e novamente apareceu uma
linda mulher que subiu para o beira do lago.
24
Encontrando o caçador começaram a conversar. Ele falou, contou que viu tudo que a
anta fez e que decidiu fazer o mesmo. Ela disse: - Eu não sou daqui, moro muito longe
e perguntou: - Você tem mulher? Ele respondeu: - Tenho. E você tem marido? Ela
falou: - Somente um namorado. Então ele pediu: - Vamos namorar? Namoram, fizeram
amor e ela gostou muito e não quis mais deixa-lo. Ela chamou ele para morarem
juntos e ele aceitou.Foi com ela para a terra da jibóia, debaixo da água, no outro
mundo.
Chegando lá foi apresentado aos parentes dela que gostaram muito dele. Morou lá por
doze anos e teve três filhos com a jibóia.
Um dia a mulher jibóia começou a preparar cipó para tomar com seu povo. Ele quis
saber o que era e ela disse que era um chá para ver coisas bonitas. Então o caçador
disse que ia tomar também. Ela disse que era muito forte e ele era muito novo ali e
não poderia tomar. Ele insitiu e tomou.
Quando a miração chegou ele viu que seu sogro era uma jibóia e o estava engolindo.
Então começou a gritar, e enquanto gritava contava sua vida. Então dentro da miração
descobriu que sua mulher era uma jibóia e que ele estava encantado.
Quando a miração acabou ele ficou muito triste e desconfiado. Os parentes da mulher
jibóia não ficaram mais gostando dele. Então o caçador descobriu que sua mulher
jibóia estava planejando mata-lo e fugiu pra junto de sua antiga família deste lado do
mundo. Contou tudo que se passara com ele e ficou morando com seu cunhado.
Depois de um tempo ele voltou a caçar na beira do lago. Seus filhos com a jibóia
preocupados com seu desaparecimento passaram a procura-lo e o encontraram na
beira do lago e então começaram a engoli-lo. Não conseguiram e chamaram sua mãe.
Quando ela estava engolindo ele até a cintura ele começou a gritar chamando seus
outros parentes do mundo de cá:
No final desse mito existem duas versões. Numa delas os parentes conseguem tirar o
caçador da jibóia. Ele todo quebrado passa um tempo doente na rede. Diz ao cunhado
que quando morrer na sua sepultura nascerá na parte direita um cipó e na esquerda
uma árvore. Diz como deve fazer e usar o chá (Ayauaska) dizendo que ele estará
dentro dele ensinando.
Na outra versão, os parentes matam a jibóia. O caçador, então, antes de morrer, pede
que os enterrem um a lado do outro. Fala que na sua sepultura nascerá um cipó e na
sepultura da jibóia nascerá uma árvore
Diz, então: - Tira o cipó, corta um palmo de comprido, bate com um pedaço de pau,
tira a casca,bota água junto com a folha da árvore e cantando pode cozinhar por um
tempo. E diz também: - Quando tomar o chá eu e a Jibóia estaremos dentre dele
ensinando e explicando tudo pra você.
25
Rituais e Cerimônias
26
A Igreja do Santo Daime:
Fundada nos princípios dos anos 30, por Raimundu Irineu Serra, a Santo
Daime é provavelmente a mais conhecida tradição do consumo de ayahuasca.
É uma crença católica cristã integradora de idiossincrasia com o uso de um
planta entogénica indígena que manifesta o deus interior. Isto é interessante à
luz da inquisição de há quatro séculos, que causou a quase destruição dos
xamãs (de ayahuasca) e das suas cosmologias, com o apoio das autoridades
em nome do catolicismo.
A Santo Daime tem sessões festivas em datas fixas, incluindo o natal, o ano
novo, e por vezes casamentos e aniversários. Cantam e dançam enquanto se
formam em linhas, com um grupo de pessoas a tocar guitarra e por vezes
outros instrumentos, como o órgão electrónico, a flauta, ou o clarinete. Muitos
participantes chocalham a maraca, feita de lata ou alumínio e com sementes
dentro. As sessões festivas duram normalmente sete horas, e dão-se à noite.
A Daime é servida até cinco vezes durante a sessão. Depois da segunda
rodada há um intervalo, durante o qual os participantes saem do local e
relaxam.
27
A igreja do Santo Daime é conhecida pelos seus cantos ou hinos, que se diz
serem recebidos pelo mundo astral sob a influência da Daime, pelo padrinho ou
por outros membros proeminentes. Estas são as únicas instruções desta igreja,
e constituem o núcleo de uma sessão. Em termos de funcionalidade, podem
comparar-se aos ícaros dos xamãs da ayahuasca (hinos cantados pelo xamã
para apoiarem o consumidor na sua viagem espiritual).
União do Vegetal:
As sessões têm lugar sob a guia de um Mestre que distribui o chá e dirige a
experiência colectiva e as individuais. Isto faz-se sobretudo através do canto
de chamadas - hinos especiais sobre a origem da ayahuasca (chamada
de burracheira), o sentido dos seus efeitos e da vida de um ayahuasqueiro
(alguém que bebe regularmente). As pessoas ouvem música e podem fazer
perguntas ao líder e falar com o grupo.
28
Para além das sessões oficiais, há sessões durante os feriados cristãos (natal,
páscoa), os dias de vários santos cristãos (São João, São Pedro), no
aniversário da fundação da UDV, no dia da mãe, no dia do pai e durante
o reveillon (passagem de ano). Os ayahuasqueiros experientes também
têmsessões instrutivas, nas quais os consumidores exploram os aspectos mais
isotéricos da UDV. O último tipo de sessão é o preparo, na qual se prepara
ovegetal e, como no feitio do Santo Daime, se bebe a poção.
Barquinha:
Fundada em 1945, em Rio Branco, Brasil, esta igreja mistura elementos da
religião afro-brasileira Umbanda e da Santo Daime. O nome refere-se ao barco
que o fundador, Frei Daniel Pereira de Mattos, viu numa visão. Na sua mente a
barquinha representava a viagem espiritual. A Barquinha tem mais rituais que a
Santo Daime e a UDV, aparentemente servindo uma poção também mais
forte.
29
Legislação da Ayahuasca no Brasil
1992 – O COFEN decidiu liberar oficial e definitivamente a ayahuasca por haver ampla
comprovação de efeitos benéficos, com base no controle exercido pelos centros que
utilizavam ayahuasca com seriedade (1986-1992) ***. Segundo observação da
Comissão Multidisciplinar (médicos, antropólogos, psicólogos, enfim, todas as
correntes do saber), a substância estimulava comportamentos construtivos, com
grandes ajustes sociais e psicológicos dos participantes. Também foi constatado um
forte senso de coesão social e cooperativismo entre os participantes da Comunidade
do Daime.
Em análise multidisciplinar;
de órgãos públicos;
da experiência comum;
30
Tendo em vista todo esse respaldo, a Câmara de Assessoramento Técnico-Científico
resolveu manter a legalização do uso da ayahuasca e sugeriu a instituição de um
Grupo Multidisciplinar de Trabalho (GMT), com a função de levantar e acompanhar o
uso ritualizado da ayahuasca, bem como acompanhar as pesquisas sobre sua
utilização terapêutica. Esse grupo é composto por representantes dos mais variados
segmentos do conhecimento humano, tais como: antropológicos, farmacológicos,
bioquímicos, psicológicos, psiquiátricos, jurídicos, sociais, além de Seis representantes
dos grupos religiosos ayahasqueiros do Brasil.
*** em 1982 já havia sido formada a primeira comissão multidisciplinar, também
formada por médicos, psicólogos, antropólogos, além de representantes do Ministério
da Justiça, Polícia Federal, Exército, etc. Essa comissão deveria averiguar in loco o
fenômeno Santo Daime.
O uso ritualiístio da Ayahuasca é garantido, no Brasil, pela Resolução n. 04 do
CONAD – (por Luís Pereira:)
“Durante décadas o governo brasileiro vem estudando as atividades da Ayahuasca e
inicialmente dois pareceres técnicos do antigo Conselho Federal de Entorpecentes
(Confen), por iniciativa da União do Vegetal, pesquisou o uso religioso do chá em duas
oportunidades, em 1986 e em 1992, por meio de comissão mista interdisciplinar.
Conforme relatório do Conselho Federal de Entorpecentes, assinado pelo Dr.
Domingos Bernardo Gialluisi da Silva Sá, foi concluído que as plantas utilizadas na
elaboração da Ayahuasca ficassem excluídas da lista de produtos proscritos pela
Dimed (Divisão Médica do Confen). Essa conclusão foi aprovada pelo plenário do
Confen, baseada em pesquisa feita por um Grupo de Trabalho nomeado pelo
Ministério da Justiça. O relatório atesta que não há qualquer fato comprovado de que a
Ayahuasca provoque prejuízos sociais. Cito aqui – por julga-los eloqüentes – alguns
trechos do parecer do Confen de 1986, aprovador por unanimidade e assinado pelo
Dr. Domingos Bernardo de Sá, que presidiu o Grupo de Trabalho incumbido de
examinar a questão: “Padrões morais e éticos de comportamento em tudo
semelhantes aos existentes e recomendados em nossa sociedade, por vezes até de
um modo bastante rígido, são observados nas diversas seitas. Obediência à lei
pareceu sempre ser ressaltada”. “Os seguidores das seitas parecem ser pessoas
tranqüilas e felizes. Muitas atribuem reorganizações familiares, retorno de interesse no
trabalho, encontro consigo próprio e com Deus, etc., através da religião e do chá”. “O
uso ritual do chá parece não atrapalhar e não ter conseqüências adversas na vida
social dos seguidores das diversas seitas. Pelo contrário, parece orienta-los no sentido
da procura da felicidade social, dentro de um contexto ordeiro e trabalhador”. Perante
estes e outros fatos, no dia 2 de junho de 1992, o conselho decidiu liberar
definitivamente a utilização da Ayahuasca para fins religiosos em todo o território
nacional. Segundo a então presidente do Confen, Ester Kosovsky, “a investigação,
desenvolvida desde 1985, baseou-se numa abordagem interdisciplinar, levando em
conta o lado antropológico, sociológico, cultural e psicológico, além de análises
fitoquímicas.” O relator do processo de investigação, Domingos Carneiro de Sá,
explicou que o fato fundamental para a liberação da bebida foi o comportamento dos
usuários e a seriedade dos centros que utilizam o chá em seus rituais: Não foram
observadas atitudes anti-sociais dos participantes dos cultos, ao contrário,
constataram os efeitos integrados e reestruturantes com indivíduos que antes de
participarem dos rituais apresentavam desajustes sociais ou psicológicos. São muitas
as instituições religiosas que hoje, no Brasil, fazem uso da Ayahuasca. E há entre elas
muita diversidade de rituais e doutrinas. Mas, em comum, pode-se dizer que todas se
empenham para evitar o uso inadequado do chá e para esclarecer os objetivos
construtivos de suas respectivas instituições.
31
Com essa finalidade, foi assinada em 191, em comum acordo entre as maiores
instituições usuárias da Ayahuasca, uma “Carta de Princípios”, estabelecendo
procedimentos éticos comuns em torno do uso da Ayahuasca, e, sobretudo, buscando
regular o relacionamento das seitas com os veículos de comunicação, de modo a
evitar a perpetuação de equívocos, prejudiciais a todos.”
Recentemente, em 2006, por ocasião do Seminário da Ayahusca em Rio Branco do
Acre, foi instituido o Grupo Multi-disciplinar de Trabalho para os estudos da
Ayahuasca, conforme resolução n. 04 do Conad, que por sua vez, após meses
intensos de investigação implementaram o atual “Documento de Deontologia”, que
visa trazer ainda mais legalidade as atividades dos grupos legalmente constituídos.
Este relatório final foi aprovado pelo GMT em 23 de Novembro de 2006.
Finalmente, no dia 26 de Janeiro de 2010, foi publicado no Diário Oficial da União –
No. 17 – na página 58, a Resolução N.1 do CONAD, dando por aprovado o Relatório
Final do GMT.
Importante Saber:
32
Dos cuidados e restrições:
Comercialização: As entidades comprometem-se a não comercializar a Ayahuasca,
mesmo a seus adeptos, sendo seus custos de produção, transporte, estocagem e
distribuição às filiais de responsabilidade do Centro.
Curandeirismo: A prática do curandeirismo, proibida pela legislação brasileira, deve
ser evitada pelas entidades signatárias. As propriedades curativas e medicinais da
Ayahuasca – que essas entidades conhecem e atestam – requerem uso adequado e
devem ser compreendidas do ponto de vista espiritual, evitando-se todo e qualquer
alarde publicitário que possa induzir a opinião pública e as autoridades a equívocos.
Pessoas incapacitadas: Será vedada terminantemente a participação nos rituais
religiosos, bem como o uso da Ayahuasca, às pessoas em estado de embriaguez ou
sob efeito de substâncias proscritas (alucinógenas). A participação de menor de idade
só será permitida com a autorização dos pais ou responsáveis.
Da difusão de informações: Grande parte das controvérsias e contratempos em torno
do uso da Ayahuasca – inclusive junto às autoridades constituídas, decorre dos
equívocos difundidos pelos veículos de comunicação. Isso impõe da parte das
entidades usuárias especial zelo no trato das informações em torno da Ayahuasca,
sendo indispensável:
Que cada instituição, ao falar aos veículos de comunicação, esclareça
obrigatoriamente sua entidade, ressaltando que não fala pelas demais entidades
usuárias.
Que cada instituição restrinja a pessoas experientes de sua hierarquia o direito de falar
aos veículos de comunicação, tendo em vista os riscos decorrentes da difusão
inconsequente do tema, por parte de pessoas com ele pouco familiarizadas.
Quando estiver em pauta um tema comum às instituições usuárias, deve-se buscar
entendimento prévio em torno do que será difundido, de modo a resguardar o
interesse geral e a correta compreensão dos objetivos de cada uma.
33