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Coleção Globo Livros História


 

A Revolução de 1989, Queda do Império Soviético, Victor Sebestyen A


História Perdida de Eva Braun, Angela Lambert O Expresso Berlim-Bagdá, Sean
McMeekin Napoleão, André Maurois Declínio e Queda do Império Otomano,
Alan Palmer Diário de Berlim Ocupada 1945-1948, Ruth Andreas-Friedrich
Churchill, o Jovem Titã, Michael Shelden O Conde Ciano, Sombra de Mussolini,
Ray Moseley Napoleão, a Fuga de Elba, Norman Mackenzie Churchill e Três
Americanos em Londres, Lynne Olson
LYNNE OLSON
 

CHURCHILL
E
TRÊS AMERICANOS EM LONDRES
 
 
Tradução

Joubert de Oliveira Brízida


 
 
Copyright © 2010 by Lynne Olson
Copyright © da tradução 2012 by Editora Globo
Tradução publicada sob acordo com Random House,
um selo de The Random House Publishing Group,
uma divisão de Random House, Inc.

 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida
— por qualquer meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação etc. — nem
apropriada ou estocada em sistema de banco de dados sem a expressa autorização da editora.

 
Texto xado conforme as regras do novo Acordo Ortográ co da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

Título original: Citizens of London

Editor responsável: Carla Fortino Assistente editorial: Sarah Czapski Simoni Tradução: Joubert de Oliveira Brízida Revisão: Ana Maria

Barbosa Capa: Rafael Nobre / Babilonia Cultura Editorial Foto da capa: Roger Viollet / Getty Images
4ª capa: Library of Congress, Prints and Photographs Division [LC-USZ62-111193]

Diagramação para ebook: Benedito Sérgio Carvalho de Souza

1ª edição, 2013

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Olson, Lynne

Churchill e três americanos em Londres / Lynne Olson; tradução Joubert de Oliveira Brízida. — São Paulo : Globo, 2013

Título original: Citizens of London ISBN 978-85-250-5444-9

 
1. Churchill, Winston, 1874-1965 2. Estados Unidos — Relações internacionais — Grã-Bretanha 3. Estados Unidos — Relações
militares — Grã-Bretanha 4. Grã-Bretanha — Relações internacionais — Estados Unidos 5. Grã-Bretanha — Relações militares — Estados
Unidos 6. Guerra Mundial, 1939-1945 — Estados Unidos 7. Guerra Mundial, 1939-1945 — Grã-Bretanha — História diplomática 9.
Harriman, W. Averell, 1891-1986 10. Murrow, Edward, R., 1908-1965 11. Winant, John G., 1889-1947

 
13-01208 CDD: 940.54012
 

Índices para catálogo sistemático: 1.. Estados Unidos e Grã-Bretanha : Relações internacionais : Guerra Mundial, 1939-1945 : História
diplomática 940.54012

2..Grã-Bretanha e Estados Unidos : Relações internacionais : Guerra Mundial, 1939-1945 : História diplomática 940.54012

 
Direitos de edição em língua portuguesa
adquiridos por Editora Globo S.A
Av. Jaguaré, 1485 – 05346-902 – São Paulo, SP
www.globolivros.com.br
 
Dedicado a Stan e Carly, com amor.
Epígrafes
Nos anos vindouros, os homens falarão sobre esta guerra e dirão, “Eu fui
soldado,” “Eu fui marinheiro,” ou “Eu fui aviador.” Outros dirão com
igual orgulho: “Eu fui um cidadão de Londres.”
Eric Sevareid, outubro de 1940
 
Não há outro lugar em que eu quisesse estar agora que não na Inglaterra.
John Gilbert Winant, março de 1941
 
Se estivermos juntos, nada é impossível.
Se estivermos divididos, tudo falhará.
Winston Churchill, setembro de 1943
 
Foi uma guerra terrível, mas se você tivesse a idade adequada e estivesse
no lugar certo... foi espetacular.
Pamela Churchill Harriman
 

Sumário
Capa
Folha de Rosto
Créditos
Dedicatória
Epígrafes
Agradecimentos
Prólogo
1. Não há outro lugar em que eu quisesse estar agora
2. Você é o melhor repórter da Europa
3. A oportunidade de toda uma vida
4. Ele ganha con ança conosco ao redor
5. Membros da família
6. Mr Harriman goza de toda a minha con ança
7. Quero entrar nela com vocês – desde o começo
8. Pearl Harbor atacada?
9. Criando a aliança
10. Um inglês falou em Grosvenor Square
11. Ele nunca nos abandonará
12. Combatemos os názis ou dormimos com eles?
13. Os aliados esquecidos
14. Um manto de privilégios
15. Piloto de caça – ontem, hoje e sempre
16. Cruzar o oceano não faz de ninguém um herói
17. Vocês nos verão alinhados com os russos
18. Será que o diabo dessa coisa vai funcionar?
19. Crise na aliança
20. Finis
21. Sempre me sentirei um londrino
22. Sem ele, todos perdemos um amigo
Caderno de Fotos
Notas
Bibliogra a
Índice
Agradecimentos
 
Minhas primeiras expressões de agradecimento têm de ir para o
falecido Edward R. Murrow porque, não fosse ele, eu não teria escrito este livro,
nem os dois precedentes. Todos os três tratam, de maneiras diversas, da
Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial. É um assunto que me fascinou
desde que meu marido, Stan Cloud, e eu começamos nossa pesquisa para The
Murrow Boys, um livro que escrevemos há mais de uma década sobre Murrow e
os correspondentes que ele contratou para criar a CBS Notícias. Os oito anos
que Murrow passou na Inglaterra, a maioria deles durante a guerra, foram os
mais grati cantes de sua vida. Suas brilhantes reportagens sobre o país e seu povo
não apenas granjearam-lhe reputação internacional como também zeram dele
um protagonista-chave na formatação e sustentação da aliança de tempo de
guerra com a Inglaterra.
Portanto, quando decidi escrever um livro sobre essa aliança e sobre os
homens que a forjaram e mantiveram viva, nada mais natural que selecionasse
Murrow como um dos três principais personagens da história. As dezenas de
entrevistas que Stan e eu tivemos com Janet, a viúva de Murrow; os rapazes de
Murrow sobreviventes; e tantos outros que trabalharam cerradamente com ele,
acrescentaram muita coisa para este volume. Também contribuiu a pesquisa
adicional que z nos documentos de Edward R. Murrow e Janet Brewster
Murrow existentes no Mount Holyoke College – uma coleção que inclui novo
conjunto de cartas e diários dos Murrows, oferecido à faculdade pelo lho Casey.
Eu gostaria de agradecer a Patricia Albright, bibliotecária responsável pelos
arquivos do Mount Holyoke, pela generosa ajuda.
Agradeço também à Divisão de Manuscritos da Biblioteca do Congresso,
cujo edifício guarda os documentos de Averell e Pamela Harriman. Tenho
especial débito de gratidão com o Dr. John E. Haynes, especialista da biblioteca
em políticas e governos do século XX, por proporcionar-me acesso aos
documentos de Pamela Harriman, agora em processo de abertura para os
pesquisadores, os quais lançaram nova luz sobre o relacionamento dela com
Harriman e Murrow. De particular interesse são as transcrições de uma série de
longas, francas e provocadoras entrevistas que ela deu ao seu biógrafo,
Christopher Ogden. Sou grata a Chris e a Rudy Abramson, biógrafo de
Harriman, por seus perspicazes comentários sobre os dois Harrimans.
Pesquisar a vida de John Gilbert Winant, o terceiro personagem importante
do livro, foi um prazer e um desa o especial. Esse tímido ex-embaixador e
governador de New Hampshire é, em grande parte, gura desconhecida nos
Estados Unidos de hoje; um dos objetivos principais do livro foi mostrar quão
importante foi seu trabalho para o sucesso da parceria anglo-americana. O par de
semanas que passei nos arquivo da Biblioteca Franklin D. Roosevelt, fazendo
pesquisa nos documentos de Winant, foi imensamente profícuo, em boa parte
por causa do conhecimento enciclopédico e da irrestrita ajuda de Bob Clark,
arquivista-chefe da biblioteca, e de sua equipe.
Também apreciei a gentileza e generosidade de William Gardner, secretário
de estado de New Hampshire, que gastou considerável tempo de sua apertada
agenda para rastrear fontes que conheciam Winant ou possuíam informações
sobre ele. Bill Gardner, que sabe melhor a história de New Hampshire do que
qualquer outra pessoa que jamais conheci, passou um dia inteiro do outono de
2008 apresentando-me vasta variedade de fontes e levando-me para um giro por
Concord, capital do estado, enquanto me dava sua própria avaliação de Winant e
de sua complexa personalidade. Através de Bill, fui apresentada Dean Dexter,
um ex-legislador de New Hampshire e devotado amigo de Winant, que me
presenteou com a gravação de reveladoras entrevistas que fez com Abbie Rollins
Caverly, outrora assistente de Winant. A Bill, Dean, Bert Whittemore e outros
em New Hampshire, que me ajudaram a melhor conhecer Winant, meus
agradecimentos. Sou igualmente grata a Rivington Winant por partilhar comigo
as lembranças de seu pai e pela afável hospitalidade que ele e a esposa, Joan, me
proporcionaram em Manhattan e Oyster Bay, em Nova York.
Muito obrigada também a Edwina Sandys, Ru Rauch, John Mather, Phyllis
Bennett, Ray Belles, Larry DeWitt, Nancy Altman, Susanne Belovari, Paul
Medlicott, Kirstin Downey, ao reverendo W. Jameson Parker e a Pat e Cassie
Furgurson.
Trabalhar neste livro foi uma experiência feliz, graças em grande parte ao
fato de ter Susanna Porter como minha editora. O entusiasmo de Susanna pelo
livro, seu apoio e encorajamento o tempo todo, e sua e ciente e perceptiva edição
foram o clímax de uma colaboração maravilhosa. Gail Ross, minha agente e
amiga de longa data, é um fenômeno na sua capacidade de casar autores com os
editores certos; ela demonstrou de novo por que é uma das melhores no ofício.
Meus mais profundos agradecimento e apreço a minha lha, Carly, e a meu
marido, Stan, que é o melhor editor e escritor que conheço. Devo-lhe mais do que
posso expressar.
Prólogo

 
Numa noite gelada do início de 1947, um americano alto,

magro e com o cabelo algo em desalinho saiu de um teatro no West End de


Londres. Outros frequentadores, que ganhavam a rua de teatros próximos,
pararam para olhar. Eles já tinham visto aquele rosto anguloso de homem, com
postura ligeiramente inclinada à frente, nos noticiários dos tempos de guerra e
nas fotos dos jornais, e a maioria logo o reconheceu. Quando ele e seus dois
acompanhantes desciam a Shaftesbury Avenue, foram cercados por grande
número de pessoas. “Boa noite, Mr Winant,” foi o que se ouviu repetidas vezes.
Alguns homens saudaram-no retirando os chapéus. Uma senhora estendeu o
braço e tocou-lhe timidamente o sobretudo.
Para os que o cercavam, a visão de John Gilbert Winant trazia à lembrança
noites esfumaçadas do começo de 1941 quando Winant, o embaixador
americano na Inglaterra, caminhava pelas ruas de Londres durante os mais
pesados bombardeios da Blitz, os nove meses de aterrorizantes ataques aéreos
alemães contra as cidades inglesas. Ele perguntava a todos que encontrava –
bombeiros, vítimas atordoadas, voluntários da defesa civil retirando corpos dos
escombros – o que poderia fazer para ajudar. Naqueles tempos perigosos,
recordou um londrino, Winant “nos convenceu [1] de que ele era um vínculo
entre nós mesmos e milhões de seus compatriotas, os quais, em virtude de sua
dedicação, nos falavam diretamente aos corações.”
Contudo, embora fosse instantaneamente reconhecido na Inglaterra, poucos
americanos já tinham ouvido falar de Winant. E menos ainda tinham
consciência do papel crucial que ele desempenhara na formação e manutenção
da aliança entre os Estados Unidos e a Inglaterra na Segunda Guerra Mundial.
Nas décadas seguintes, aquela extraordinária parceria – a mais cerrada e bem-
sucedida aliança de tempo de guerra – passaria a ser conhecida como a “relação
especial” que ajudou a vencer o con ito armado, a preservar a democracia e a
salvar o mundo. Com o passar dos anos e com a conformação das lendas que
envolveram a aliança, o modo de sua criação pareceu quase seguir uma ordem
predeterminada: primeiro, Winston Churchill conclamando sua nação a resistir
sozinha contra Hitler; depois, Franklin D. Roosevelt e os Estados Unidos vindo
socorrer Churchill e os ingleses.
Todavia, em março de 1941, quando Winant chegou a Londres para assumir
sua função, esse nal feliz parecia longe de ser atingido. Nos seis meses
anteriores, a Luftwa e havia matado dezenas de milhares de ingleses com os
bombardeios de Londres e de outras cidades. As forças armadas do Reino Unido,
que careciam de armamento e munições, estavam na defensiva por todos os
lados. Os submarinos alemães operavam à vontade no Atlântico, pondo a pique
substanciais toneladas de marinha mercante e ameaçando estrangular
lentamente as linhas inglesas de suprimento. A fome pairava no ar para a
população como uma possibilidade concreta, assim como uma invasão alemã
através do Canal. “Estávamos [2] pendurados por um o,” lembrou o marechal
de campo Lord Alanbrooke, o militar de maior patente no Exército durante a
guerra. O próprio Winant escreveria mais tarde: “Houve muitas ocasiões em que
se pensou que a areia escoaria por completo e tudo acabaria.”
Como os ingleses bem sabiam, sua única esperança de salvação estava na
ajuda da América. No entanto, essa ajuda até então vinha sendo insu ciente,
mesmo quando o futuro da Inglaterra se tornava cada vez mais sinistro. Muitos
em Washington já tinham até riscado o país do mapa. Como poderia aquela
pequena ilha, independentemente de seu glorioso passado militar, resistir a um
invasor que vinha derrubando nações em seu caminho como se fossem pinos de
boliche? Entre os que acreditavam na derrota inevitável da Inglaterra estava
Joseph P. Kennedy, antecessor de Winant como embaixador americano, o qual,
como zeram alguns milhares de americanos residentes no Reino Unido, voltara
para os Estados Unidos no ápice da Blitz.
Winant, ao contrário, deixou claro desde o início, que viera para car.
“Houve um homem que permaneceu conosco, que jamais acreditou em nossa
rendição, e esse homem foi John Gilbert Winant,” registrou Ernest Bevin, gura
de proa no governo de Churchill. Decorridos poucos dias da chegada do novo
embaixador, um subordinado da embaixada observou que ele “transmitira para
toda a nação inglesa o seguro sentimento de que era um amigo.”
Winant, entretanto, não foi o único americano em Londres a encorajar os
ingleses e pressionar por uma aliança anglo-americana. Dois outros – W. Averell
Harriman e Edward R. Murrow – foram também personagens de destaque
naquele drama. Harriman, o agressivo e ambicioso chairman da Union Paci c
Railway, chegou à capital inglesa logo depois de Winant para ser o administrador
do programa Lend-Lease de ajuda americana. Murrow, o chefe da CBS News na
Europa, estava sediado em Londres desde 1937.
Como americanos mais importantes em Londres durante os primeiros anos
da guerra, Winant, Harriman e Murrow foram participantes-chaves no debate
ocorrido na América se a Inglaterra, o último país europeu que se mantinha de
pé contra Hitler, deveria ser salva. Enquanto Murrow defendia a causa inglesa
em suas transmissões radiofônicas para o povo americano, Harriman e Winant
mediavam entre um desesperado primeiro-ministro e um cauteloso presidente,
tão descon ado de seus oponentes isolacionistas em casa quanto inicialmente
cético a respeito das chances inglesas. A famosa amizade que se desenvolveu
entre esses dois líderes dominadores e egocêntricos – “prima-donas,” [3] como os
chamou Harry Hopkins, principal assistente de Roosevelt – nem despontava no
horizonte àquela época.
Nos anos posteriores à guerra, a maior parte da atenção e muito do crédito
pelo triunfo da aliança anglo-americana foram dados à colaboração íntima entre
Roosevelt e Churchill. Examinados com muito menor cuidado foram os papéis
desempenhados por homens como Winant, Harriman e Murrow no preparo do
caminho para a parceria dos dois líderes, numa ocasião em que Roosevelt e
Churchill não apenas eram estranhos como também suspeitavam um do outro e
eram até mutuamente hostis.
Mandados a Londres como ouvidos e olhos de Roosevelt, Winant e
Harriman deveriam avaliar a capacidade de resistência e sobrevivência da
Inglaterra. Ambos chegaram rapidamente à conclusão de que o Reino Unido
resistiria, e deixaram patente para Washington que se postariam ao lado dele. Os
dois enviados passaram a interceder junto a Roosevelt e seus principais auxiliares
para que proporcionassem a máxima ajuda possível e até mesmo para que
entrassem em guerra. Em linguagem mais velada, Murrow fez o mesmo em suas
transmissões de rádio.
Sabendo quão importantes os três eram para a sobrevivência de seu país,
Churchill os cortejou tão incansavelmente quanto mais tarde o faria com
Roosevelt. O primeiro-ministro mantinha uma política de portas abertas em
relação a Murrow. Winant e Harriman tornaram-se integrantes do círculo
íntimo, com acesso sem precedentes a Churchill e aos membros do seu governo.
Raramente – antes e então – a diplomacia foi tão pessoal. Essa intimidade
estendeu-se às relações dos três americanos com membros da família do primeiro-
ministro. Na realidade, tão intensos foram os vínculos com os Churchills que
Harriman, Winant e Murrow tiveram casos amorosos de tempo de guerra com
mulheres da família do primeiro-ministro.
Quando os japoneses bombardearam Pearl Harbor e os Estados Unidos
nalmente entraram na guerra, o apoio resoluto dos três a uma aliança entre sua
terra natal e a Inglaterra por m fruti cou. Sua importância no forjamento de tal
união pode ser mais bem ilustrada pelo paradeiro dos três no dia 7 de dezembro
de 1941. Enquanto Winant e Harriman jantavam com Churchill em Chequers,
Murrow estava na Casa Branca com Roosevelt.
 
Segundo todos os relatos , a cena naquela noite de inverno no
refúgio campestre do primeiro-ministro foi de grande júbilo. Tão logo ouviram a
notícia sobre Pearl Harbor, todos os presentes pressentiram que sua longa
ansiedade chegara ao m: a América entraria na guerra. De acordo com um dos
observadores, Churchill e Winant chegaram a ensaiar alguns passos de dança
pela sala. Mas a aliança anglo-americana, saga complexa, estava apenas
começando.
Malgrado a fachada de companheirismo pintada por Churchill em suas
memórias, a parceria sempre foi frágil e mal-humorada desde o momento de seu
nascimento. Os dois países podiam compartilhar as mesmas língua e herança,
mas seus líderes políticos e militares, de Churchill e Roosevelt para baixo, tinham
pouquíssimo entendimento e conhecimento uns dos outros. Ignorantes a respeito
da história e da cultura do futuro parceiro, os dois aliados tendiam a pensar em
estereótipos quanto aos seus primos de além-mar, com escassa avaliação de suas
respectivas di culdades políticas e militares.
Suspeitas, tensões, preconceitos e rivalidades ameaçaram descarrilar a nova e
singular confederação antes mesmo que ela se rmasse. E os problemas foram
exacerbados pela atitude condescendente inglesa em relação aos americanos e
pelo ressentimento dos EUA com a Inglaterra. Como observou Sir Michael
Howard, historiador militar inglês: “Os ingleses chegaram [4] à aliança com o
ponto de vista que os americanos tinham tudo a aprender, e os eles estavam lá
para ensiná-los. Os americanos abordaram a parceria com a noção de que se
alguém tinha que ensinar alguma coisa não eram os ingleses, que haviam sido
derrotados repetidas vezes e não possuíam um bom exército.”
Nesse ambiente carregado, o papel de mediador revestiu-se de importância.
Enquanto Roosevelt e Churchill justi cadamente se orgulhavam da direta e
estreita comunicação de um com o outro, tanto Winant quanto Harriman
continuaram agindo como intérpretes e apaziguadores entre os líderes,
explicando pensamentos e ações de um e de outro. Além disso, Winant trabalhou
para mitigar as tensões e promover a cooperação entre as guras dos altos
escalões militares e governamentais dos dois países. Segundo o Times de
Londres, o embaixador americano foi o “adesivo” que ajudou a manter unida a
aliança de tempo de guerra. “Não foi Mr Winant [5] que tornou a cooperação
dos povos de língua inglesa na mais íntima aliança registrada na história,”
publicou o jornal depois da guerra. “Mas Mr Winant criou e sustentou o
entendimento mútuo no presente – e a identidade de objetivo para o futuro –
que possibilitou tal intimidade.”
Juntando forças com Murrow e o general Dwight D. Eisenhower, primeiro
comandante de forças americanas na Inglaterra, Winant procurou também
ilustrar os cidadãos dos dois países a respeito uns dos outros, assim como aparar
as arestas surgidas com os mal-entendidos e as di culdades que aumentaram sem
parar quando a guerra se aproximou de seu clímax. Essas tensões foram
especialmente sentidas na exaurida Inglaterra à medida que os americanos
chegavam em vastas quantidades a m de preparar a invasão da Europa. Em
meados de 1943, a presença americana em Londres – como no resto da Grã-
Bretanha – era esmagadora. Para onde se olhasse, parecia que uma nova base
aérea ou um novo campo de instrução americanos estavam sendo construídos
num país do tamanho da Georgia ou de Michigan. As ruas e os pubs da capital
inglesa regurgitavam de tempestuosos e altivos GIs em gozo de licença.
Como centro nervoso do planejamento dos aliados para a guerra na Europa,
Londres era o lugar onde se estar no início dos anos 1940. “Em blackout,
bombardeada, cara e difícil de viver, ela ainda era magní ca – a Paris da Segunda
Guerra Mundial,” registrou um historiador. Civis americanos ricos e bem
relacionados, de banqueiros investidores de Nova York a diretores de
Hollywood, sonhavam em ser designados para lá em missões governamentais
temporárias, com justeza a considerando a mais excitante e vibrante cidade do
mundo naqueles tempos agitados.
Fossem militares ou civis, os americanos em Londres e no restante do país
ganhavam bem mais e viviam consideravelmente melhor que a maioria dos
ingleses, que lutavam diariamente contra a penúria. A imensa diferença em
padrão de vida se re etia nos modos totalmente distintos segundo os quais os dois
aliados experimentavam a guerra: um deles na linha de frente, sofrendo as
privações e os infortúnios; o outro a milhares de quilômetros distante das
batalhas, seus cidadãos mais prósperos que nunca.
Tais disparidades provocavam tensões fortes e incessantes à proporção que a
América exionava os músculos como maior e mais forte parceiro da aliança.
Pelo m da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos despontavam como a
maior potência econômica, militar e política do mundo – e com isso revelavam
uma eira de complexidades e contradições. De um lado, Roosevelt e seu
governo advogavam liberdade, justiça e igualdade para todas as nações; de outro,
o governo americano não deixava dúvidas na mente dos ingleses – e das nações
europeias menores constituintes da mais ampla aliança ocidental – que a
América estava agora no leme da condução da guerra e que dominaria o mundo
de pós-guerra. “Esta é uma vitória americana,” [6] proclamava em editorial o
Chicago Tribune em 1944, “e a paz tem de ser também americana.”
Embora plenamente conscientes de que a intervenção americana os estava
resgatando de Hitler, os ingleses e outros europeus viam os salvadores lançando
seu invulgar peso por todos os cantos sem a menor consideração pelas
consequências internacionais de suas ações no longo prazo. Identi cavam uma
arrogância e um equivocado senso de destinação por parte dos americanos, os
quais, com pouco conhecimento do globo além de suas fronteiras e limitada
experiência anterior em lidar com ele, mesmo assim planejavam assumi-lo e,
sozinhos, conduzi-lo à sua maneira. Uma inglesa, que trabalhava no QG naval
dos Estados Unidos em Londres, costumava dizer aos seus companheiros
americanos de trabalho que “eles precisavam conhecer um pouco mais do mundo
antes de poderem liderá-lo.”
 
Ao longo de toda a guerra , Gil Winant e Ed Murrow, bons amigos
que defendiam a reforma social e econômica no pós-guerra, assim como a
cooperação internacional, exempli cavam o lado idealista da América. Averell
Harriman, um rematado pragmático que tencionava ampliar seu próprio poder e
in uência, bem como os de seu país, era o emblema da excepcionalidade
americana. Na era do pós-guerra, essa era a visão do mundo de Harriman e de
outros que, como ele, dominavam a política externa dos Estados Unidos. Na
companhia de velhos amigos e colegas como Dean Acheson, Robert Lovett e
John McCloy (coletivamente conhecidos como “os Sábios”), Harriman trabalhou
para criar a Pax Americana em todo o planeta.
Nas décadas que se seguiram à guerra, a abordagem de Winant para as
relações internacionais – “concentração nas coisas [7] que unem a humanidade, e
não nas que a dividem” – foi considerada simplista e ingênua. Firmeza passou a
ser o mantra quando a América, brandindo seu poderio militar e econômico,
dispôs-se a impor sua própria ideologia e sua maneira de fazer as coisas ao resto
do mundo.
Não tardou, no entanto, para que o mundo se rebelasse. Cansados de receber
ordens, outros países começaram a rejeitar cada vez mais a liderança americana e,
no alvorecer do século XXI, muitos deles insistiram em jogar segundo suas
próprias regras. Enfrentando rápido declínio na in uência e no poder que
haviam reivindicado apenas sessenta anos antes, os Estados Unidos, com o
advento do governo Barack Obama, começou a reconhecer a necessidade de
promover a cooperação global em vez de apenas os interesses americanos, e de
construir genuínas parcerias com outras nações.
Enquanto entende melhor o mundo, a América faria muito bem se voltasse
os olhos para o sucesso da aliança anglo-americana na Segunda Guerra Mundial
– e para o trabalho pioneiro desenvolvido por Winant, Murrow, Eisenhower e
outros em mantê-la unida quando o nacionalismo e outras forças ameaçaram
desintegrá-la. Pouco depois de os Estados Unidos lançarem as bombas atômicas
em Hiroshima e Nagasaki, em 1945, Winant discursou em cerimônias de
inauguração de um monumento no sudeste da Inglaterra em homenagem às
forças americanas que desembarcaram na França no Dia-D. Nas suas
observações, difundidas pela BBC, o embaixador declarou que o homem só
sobreviveria àquele novo e perigoso período “se aprendesse a viver
amistosamente em conjunto” e se agisse “como se o bem-estar da nação vizinha
fosse quase tão importante quanto o de sua própria nação.” Winant admitiu que
a consecução de tais objetivos seria tarefa supremamente difícil. “Porém,”
acrescentou, “o Dia-D também era. Se ele foi realizado, qualquer outra coisa
também pode ser – se realmente nos interessarmos em fazê-la.”
1

“Não Há Outro Lugar Onde Eu Quisesse


Estar Agora
 
Na estação ferroviária de Windsor, um senhor magro e

frágil, envergando o uniforme cáqui de marechal do exército inglês, esperava


pacientemente quando a composição se aproximou e, com o ruído característico
dos freios, estremeceu até parar por completo. Logo a seguir, a porta laqueada de
um dos vagões se abriu, e o novo embaixador americano na Inglaterra desceu do
trem. Com sorriso aberto, George VI estendeu a mão para John Gilbert Winant.
“Muito prazer [8] em recebê-lo aqui,” disse o Rei.
Com esse gesto simples, o Rei, de quarenta e cinco anos de idade, fez
história. Nunca antes um monarca inglês abandonara o protocolo real e se
aventurara fora de seu palácio para recepcionar um enviado estrangeiro recém-
chegado. Até aquele encontro na estação de Windsor, esperava-se que um novo
embaixador na Inglaterra seguisse o minucioso ritual de apresentar suas
credenciais à Corte de St. James. Envergando elaborado traje protocolar, ele era
conduzido em carruagem de época, completa com cocheiros, lacaios e cavaleiros
de escolta, até o Buckingham Palace, em Londres. Lá, era recebido pelo Rei em
audiência privada, normalmente agendada para semanas após a chegada do novo
embaixador à capital inglesa.
Porém, naquela tumultuada tarde de março de 1941, não havia tempo para
tal pompa e circunstância. Enquanto uma multidão de repórteres ingleses e
americanos observava, o Rei entrou em animada e breve conversa com Winant, o
embaixador respeitosamente de cabeça descoberta, trajando um amarrotado
sobretudo azul-marinho e segurando um chapéu de feltro cinza. Então, George
VI levou Winant até um automóvel que os esperava para conduzi-los ao Castelo
de Windsor a m de tomarem chá com a Rainha, ato que seria seguido por uma
reunião de noventa minutos entre os dois.
Com a sobrevivência da Inglaterra seriamente ameaçada, o gesto sem
paralelo do Rei deixava claro que os tradicionais re namentos da corte deveriam
ser esquecidos, pelo menos durante a guerra. Contudo, mais signi cativo ainda, o
gesto sublinhava a desesperada necessidade de ajuda americana, juntamente
com a esperança de que Winant, diferente de seu predecessor derrotista, Joseph
P. Kennedy, persuadisse seu governo de que a ajuda agora era vital.
Kennedy, antigo especulador de Wall Street e ex-chairman da Comissão de
Valores Mobiliários dos Estados Unidos, havia se alinhado perfeitamente à
política de apaziguamento do primeiro-ministro anterior, Neville Chamberlain.
Durante seus três anos em Londres, não fez segredo de sua crença de que “as
guerras eram ruins [9] para os negócios, e pior para seus negócios,” como
escreveu o jornalista James “Scotty” Reston. O embaixador americano acreditava
tão rmemente nisso que chegou a usar de sua posição o cial a m de reservar
espaço, já então muito escasso nos navios mercantes, para suas próprias
transações na exportação de bebidas. Depois que Chamberlain e o primeiro-
ministro francês entregaram de mão beijada a maior parte da Tchecoslováquia a
Adolf Hitler em Munique, em setembro de 1938, Kennedy observou
alegremente para Jan Masaryk, ministro tcheco na Inglaterra: “Não é
maravilhoso [que a crise terminou]? A nal de contas, agora já posso ir para Palm
Beach!”
Em outubro de 1940, no auge dos ataques aéreos alemães contra Londres e
outras partes da Inglaterra, ele voltou em de nitivo para os Estados Unidos,
declarando que “a Inglaterra acabou” e “sou mil por cento pelo apaziguamento.”
Após o encontro com o presidente Roosevelt na Casa Branca, disse aos
jornalistas que iria “devotar meus esforços para aquilo que a mim parece a maior
causa para o mundo de hoje (...) ajudar o Presidente a manter os Estados Unidos
fora da guerra.”
O declarado desejo de Kennedy por uma acomodação com Hitler tornou a
tarefa de seu sucessor muito complicada. A missão de Winant era, segundo o
New York Times, “uma das maiores e mais difíceis que o Presidente poderia dar.
Ele tem de explicar a um país que vem sendo diariamente bombardeado, por que
uma nação, segura a 3 mil milhas de distância (...) quer ajudar, mas não quer
É
lutar. É constrangedor dizer isso a uma pessoa cuja residência acaba de ser
destruída por uma bomba.”
Na manhã de 1º de março, pouco depois de o Senado aprovar sua indicação,
Winant, com cinquenta anos, pousou num aeroporto nas proximidades do porto
meridional de Bristol, que sofrera um duro bombardeio da Luftwa e havia
algumas semanas. Antes de ser rapidamente levado para o trem real especial a
m de empreender a jornada até Windsor, o novo embaixador não perdeu tempo
para demonstrar que não era Joe Kennedy. Solicitado por um repórter da BBC a
dizer algumas palavras ao povo inglês, ele parou por um momento e então falou
calmamente ao microfone: “Estou muito feliz [10] por estar aqui. Não há outro
lugar em que eu quisesse estar agora que não na Inglaterra.”
No dia seguinte, sua observação estava nas primeiras páginas da maioria dos
jornais ingleses. The Times de Londres, evidentemente considerando o
comentário um bom presságio, desviando-se de sua sisudez, enfeitou sua
reportagem com aspectos poéticos quando reportou que “um incidente
signi cativo” ocorrera pouco antes da chegada do embaixador. “Quando o avião
circulava para aterrissar,” contou o Times a seus leitores, “o céu cou carregado e
despencou uma súbita chuva torrencial. Porém, quando a aeronave pousou
suavemente, a tempestade cessou tão de repente quanto começara, e o sol
atravessou as nuvens acompanhado de um brilhante arco-íris.”
Infelizmente para a Inglaterra, eram bem poucos os arcos-íris no horizonte do
início de 1941. Depois de lutar sozinha por nove meses contra a mais poderosa
potência militar do mundo, o país — nanceira, emocional e sicamente exausto
— enfrentava uma di culdade que “não era apenas extrema” nas palavras do
historiador John Keegan, “mas sem precedentes em sua gravidade.”
Apesar de a Alemanha ter fracassado em subjugar a Royal Air Force durante
a Batalha da Inglaterra, no verão e outono de 1940, a Luftwa e continuava a
devastar Londres, Bristol e outras cidades inglesas. Uma invasão pelo mar era
uma possibilidade em futuro próximo. O maior perigo imediato, porém, era a
ameaça dos submarinos às linhas de suprimento britânicas. Os U-Boats alemães
no Atlântico punham a pique centenas de milhares de toneladas de navios
mercantes por mês, com perdas que mais que dobravam em menos de quatro
meses.
No m de um dos invernos mais rigorosos de todos os tempos, a Inglaterra
mal se mantinha em pé, com pouca alimentação, aquecimento escasso e
esperanças de nhando. A importação de alimentos e de matérias-primas caíra
para quase a metade dos níveis de pré-guerra, os preços disparavam e havia grave
carência de tudo, da carne à madeira.
Na semana anterior à chegada de Winant à Inglaterra, um dos secretários
particulares de Winston Churchill entregou ao primeiro-ministro os últimos de
uma série de relatórios sobre afundamentos na marinha mercante. Quando o
secretário observou quão “desanimadoras” eram as notícias, Churchill olhou para
ele. “Desanimadoras?” — exclamou. —“Aterrorizantes! Se continuar nesse ritmo
será o nosso m.” Os funcionários alemães dos altos escalões concordavam.
Naquele mesmo mês, o ministro do Exterior Joachim von Ribbentrop disse ao
embaixador japonês em Berlim que “neste momento a Inglaterra [11] está
experimentando sérios problemas no suprimento de alimentos (...) O importante
agora é pôr a pique número su ciente de navios para reduzir as importações
inglesas a níveis inferiores ao nível mínimo absolutamente necessário para a
existência.”
 
Submetida a um cerco de submarinos, navios de guerra e aviões
inimigos, a Inglaterra só sobreviveria, acreditava Churchill, se uma América
muito relutante pudesse de alguma forma ser persuadida a entrar na guerra. Ele
continuava a alimentar essa esperança, mesmo enquanto o presidente Roosevelt
dizia repetidas vezes que os Estados Unidos eram — e continuariam — neutros.
“O experiente político que é o Presidente está sempre tentando achar um
caminho de ganhar a guerra para os aliados — e, se fracassar nesse intento, de
garantir a segurança dos Estados Unidos — sem que os EUA tenham de
mergulhar na guerra,” con denciou o embaixador inglês em Washington ao
Foreign O ce, o qual, como o Departamento de Estado americano, era
responsável por promover os interesses do país no estrangeiro.
Ainda assim, era difícil culpar Roosevelt pela cautela. A nal de contas, os
próprios ingleses tinham se esforçado para permanecerem fora da guerra nos
anos 1930, cando inertes enquanto Hitler ascendia ao poder e começava sua
conquista da Europa. No interesse da paz — da paz inglesa — o governo
Chamberlain zera pouco ou quase nada no m dos anos 1930 para evitar que
país após país fosse engolido pela Alemanha. No caso dos Sudetos da
Tchecoslováquia, a Inglaterra, na conferência de Munique, foi até cúmplice na
sua tomada. Então, nos dias de caos de junho de 1940, os ingleses, espantados,
viram-se enfrentando a Alemanha sozinhos. Com seu futuro beirando o
calamitoso, esperavam que os Estados Unidos prestassem mais atenção a eles do
que eles mesmos tinham dedicado à Europa.
Churchill, o combativo novo primeiro-ministro, afagava, rogava e cortejava
sem descanso o presidente Roosevelt para conseguir mais ajuda. Nos seus
discursos, FDR reagia de forma magní ca. Prometia toda a assistência menos a
guerra e, após a Alemanha vencer a França e deslanchar a Batalha da Inglaterra,
declarou: “Para que a Inglaterra sobreviva, temos de agir.” Todavia, julgavam os
ingleses, as ações americanas não faziam jus às palavras do Presidente: a ajuda
enviada era invariavelmente muito pequena e tardia. Mais perturbador ainda,
sempre vinha acompanhada de um emaranhado de condicionantes.
Em troca de cinquenta contratorpedeiros americanos bastante velhos,
cedidos no verão de 1940, o governo Roosevelt exigiu que lhe fosse concedido o
arrendamento por noventa e nove anos de bases militares na Terra Nova, nas
Bermudas e em seis possessões inglesas no Caribe. A negociação, como todos
sabiam, era bem mais vantajosa para os Estados Unidos do que para a Inglaterra,
e o governo britânico cou profundamente ressentido. Apesar disso, não teve
alternativa e aceitou aquilo que considerou termos grosseiramente injustos. “Isso
está cheirando [12] às exigências feitas pela Rússia à Finlândia,” registrou
amargamente em seu diário John Colville, secretário particular de Churchill.
Os ingleses sentiram-se ainda mais lesados quando os contratorpedeiros da
Primeira Guerra Mundial chegaram. Dilapidados e obsoletos, eles não podiam
ser empregados sem extensas e custosas reparações. “Achei que eram os piores
destróieres que jamais vi,” esbravejou um almirante inglês. “Embarcações pobres
com armamento horrendo e instalações chocantes.” Igualmente irritado,
Churchill, no entanto, foi convencido por seus assistentes a expressar suas
preocupações em linguajar mais diplomático. Num cabograma enviado a
Roosevelt no m de 1940, o primeiro-ministro disse: “Até agora só fomos capazes
de empregar em ação muito poucos de vossos cinquenta contratorpedeiros por
causa dos diversos defeitos que eles naturalmente apresentaram quando expostos
às intempéries no Atlântico por terem permanecido inativos por tanto tempo.”

À
À medida que a situação inglesa se agravava, o preço da assistência
americana se tornava mais oneroso. Desde novembro de 1939, quando Roosevelt
persuadira um Congresso relutante a emendar a Lei da Neutralidade, que bania
vendas de armas dos EUA para países em guerra, fora permitido à Inglaterra
adquirir armas e equipamentos americanos. Porém, segundo os termos da
emenda, o material tinha de ser pago em dólares à vista, e os compradores
deveriam transportar as compras em seus próprios navios.
No ano que se seguiu, pesadas aquisições de armamento haviam drenado a
maior parte dos dólares e das reservas de ouro da Inglaterra. Para continuar com
os embarques de material, o Tesouro inglês foi forçado a pedir emprestado ouro
das reservas do governo belga no exílio em Londres. Tão séria se tornou a
situação do ouro que o ministro das Finanças sugeriu ao Gabinete que
considerasse a requisição de anéis de casamentos e outras joias daquele metal
precioso da população inglesa. Churchill aconselhou o adiamento da medida.
Essa ideia radical, disse ele, só deveria ser adotada “se quisermos [13] assumir
algum ato extremo para envergonhar os americanos.”
O primeiro-ministro e outros funcionários ingleses alertaram repetidas vezes
ao governo Roosevelt que o país estava cando sem dólares, mas a administração
dos EUA recusava-se a acreditar. O Presidente, o secretário do Tesouro Henry
Morgenthau e o secretário de Estado Cordell Hull estavam convencidos de que
as riquezas do Império Britânico eram praticamente ilimitadas. Se os ingleses
precisassem de mais dinheiro, poderiam simplesmente liquidar alguns de seus
investimentos nas Américas do Norte e do Sul. Morgenthau em especial
pressionou os ingleses a vender a investidores americanos algumas valiosas
empresas como a Shell Oil, a American Viscose, a Lever Brothers e a Pneus
Dunlop. Quando o governo britânico protestou que tais vendas
(presumivelmente a preços de liquidação) seriam um desastre para a economia de
pós-guerra do país, Morgenthau retrucou que não era tempo para preocupações
dessa natureza.
Tendo contado com muitos aliados em sua longa e colorida história, a
Inglaterra fora bastante hábil em usá-los em prol de seus próprios objetivos e
interesses. Agora, no entanto, a poderosa potência imperial se via forçada a
submeter-se a uma ex-colônia, que havia se transformado em seu mais formidável
concorrente comercial. A humilhação se tornava mais amarga porque os ingleses
percebiam a determinação americana em tirar proveito econômico de seus
infortúnios.
O governo dos EUA não ofereceu desculpa alguma. Para que os ingleses
recebessem qualquer auxílio, Roosevelt e seus assessores acreditavam, o povo
americano precisava estar convencido que seu próprio país estava levando
vantagem em toda negociação. “Buscamos evitar todos os riscos, todos os perigos,
mas queremos a garantia de todos os lucros,” disse o senador isolacionista
William Borah.
O governo sentiu-se obrigado a assegurar ao povo americano que não
permitiria que os ardilosos e maquinadores ingleses atraíssem os Estados Unidos
para outra guerra europeia. Na verdade, Roosevelt partilhava dessa opinião sobre
os ingleses, tendo declarado certa vez a um auxiliar: “Quando se senta em torno
de uma mesa com um inglês, ele normalmente consegue 80 por cento da
negociação e ca-se com o que sobrar.” A imagem que o governo fazia de si
próprio de esperto negociador ianque provocou uma resposta emocional em larga
parcela da população. Quando Herbert Agar, editor do Louisville Courier-
Journal, vencedor do Prêmio Pulitzer e contumaz intervencionista, disse a seus
colegas de redação que a América estava conseguindo da Inglaterra “bem mais
[14] do que merecia,” cou consternado ao notar os companheiros “se mostrarem
felizes em vez de preocupados.”
 
Assim, enquanto o mundo se deparava com a maior crise de sua
história, suas duas mais poderosas democracias, ligadas por língua e legado
comuns, e por delidade à liberdade individual, estavam divididas por um
preconceito e uma falta de entendimento que se ampliaram para um cisma desde
a quase-aliança da Primeira Guerra Mundial. Seus famosos e egocêntricos
líderes, enquanto isso, suspeitavam um do outro ao ponto do antagonismo.
Winston Churchill e Franklin Roosevelt haviam se visto pela primeira vez
num jantar o cial em Londres, quando a Grande Guerra caminhava para o m.
Então secretário-adjunto da Marinha, Roosevelt, com trinta e seis anos, integrava
uma comissão na capital inglesa num giro de avaliação da situação europeia.
Embora charmoso e bem-humorado, ele não chamava muita atenção naquele
estágio inicial de sua carreira governamental. Para um de seus colegas em
Washington, “Roosevelt era atraente e amistoso, mas não um peso-pesado.” De
acordo com o ex-secretário da Guerra Henry Stimson (que, mais de trinta anos
depois, seria nomeado para a mesma função no gabinete de Roosevelt), ele era
“um moço inexperiente e irreverente.” Imperturbável com críticas dessa
natureza, Roosevelt sempre procurou ser “a alegria da festa” e “jamais cedeu de
bom grado os holofotes para ninguém.”
Porém, na noite de 29 de julho de 1918, os holofotes no jantar do Gray's Inn
se dirigiram para um homem também acostumado a ser o centro das atenções e
cujo ego era, antes de mais nada, ainda maior que o de Roosevelt. Aos quarenta e
três anos, Winston Churchill já desempenhara cinco funções de destaque no
Gabinete inglês no curso de seus agitados dezoito anos de carreira parlamentar.
Então ministro do Material Bélico, ele estava preocupado naquela noite com
uma série de greves nas fábricas que ameaçavam interromper o esforço de guerra
inglês. Churchill não teve interesse algum por — ou tempo para — um arrogante
rapaz funcionário americano chamado Franklin Roosevelt — e, aparentemente,
deixou o fato por demais evidente.
Passados vinte anos daquele jantar, FDR ainda não tinha engolido o que
considerava uma descortesia de Churchill. “Sempre desgostei [15] dele, desde o
tempo em que fui à Inglaterra em 1918,” disse o Presidente a Joseph Kennedy,
em 1939. “Ele agiu como um pedante no jantar a que compareci, comportando-
se como um lord, acima de todos nós.” Nos anos posteriores, Churchill não era
capaz de se lembrar do encontro com Roosevelt, o que irritava a este ainda mais.
Quando Churchill tentou agendar uma reunião com FDR durante uma
viagem à América em 1929, o recém-eleito governador de Nova York esnobou-o.
Ao longo dos anos 1930, Roosevelt, como muitos na terra natal de Churchill, o
considerava um victoriano idoso e ultrapassado. Ao irromper a Segunda Guerra
Mundial e o Presidente começar uma correspondência com Churchill, que fora
alçado de morto político ao cargo de Primeiro Lord do Almirantado, FDR disse a
Kennedy que só o zera porque “há uma forte possibilidade de ele se tornar
primeiro-ministro, e quero marcar posição desde já.”
Quando Churchill, de fato, assumiu o cargo, Kennedy, que o detestava,
reforçou a já desfavorável impressão de Roosevelt com seguidas a rmações de
que o primeiro-ministro era antiamericano e contra FDR. Outra suposição de
Kennedy — que Churchill tentava atrair os Estados Unidos para a guerra
somente para preservar o Império Britânico — revigorou a antiga suspeita do
Presidente quanto ao imperialismo inglês. Para Roosevelt, o embaixador
descreveu Churchill como um homem “sempre bebericando de uma garrafa de
uísque,” ponto de vista também compartido pelo subsecretário de Estado Sumner
Welles, que tachava Churchill de “beberrão crônico” e “homem de terceira ou
quarta categoria.” Roosevelt, aparentemente, aceitava essa visão de Churchill
como uma pessoa seriamente apegada à bebida; quando informado de sua
ascensão ao nº 10 de Downing Street, o Presidente pilheriou que “supunha ser
Churchill o melhor homem de que a Inglaterra dispunha, embora estivesse
bêbado a metade do tempo.”
De sua parte, Churchill esgotou a paciência com o que considerava repetidas
tentativas de Roosevelt e da América de tirar vantagem da situação
desesperadora em que se encontrava a Inglaterra, apropriando-se de seus
recursos nanceiros e militares. “Não camos com coisa alguma dos Estados
Unidos que não tenhamos pago,” disse ele, indignado, ao seu secretário do
Exterior, Lord Halifax, em dezembro de 1940, “e aquilo com que camos não
teve papel essencial em nossa resistência.”
Ele ainda remoia uma sugestão anterior de FDR para que a Inglaterra
concordasse em enviar sua Marinha para o Canadá na eventualidade de uma
invasão alemã. Pouco depois de o primeiro-ministro receber essa proposta, um
auxiliar o encontrou “arqueado numa atitude [16] de raiva tensa, como uma fera
acuada pronta para dar o bote.” Na sua resposta “a esses malditos ianques,”
Churchill insistiu em dizer que “nunca concordaria com o menor compromisso
de nossa liberdade de ação e não toleraria um anúncio derrotista desses.”
Como tinha feito muitas vezes antes, e frequentemente o faria no futuro,
Lord Halifax convenceu Churchill a moderar o linguajar do cabograma.
Segundo Halifax e o Foreign O ce, a Inglaterra não tinha alternativa senão ser
generosa com a América nas negociações em curso para ajuda. Churchill, que
discordava veementemente, queria negociação dura. Ele queria diminuir o
número de bases inglesas em troca dos contratorpedeiros americanos e se opunha
à proposta de compartilhar tecnologias avançadas militar e industrial com a
América, declarando: “Não estou com pressa de passar nossos segredos até que
os EUA estejam bem mais perto da guerra do que agora.” Entretanto, capitulou
nos dois aspectos. Além das bases, a Inglaterra repassou aos militares dos Estados
Unidos dados de projetos de foguetes, de aparelhos de pontaria para a artilharia e
dos novos motores Merlin; planos embrionários para o motor a jato e a bomba
atômica; e protótipos de um sistema-radar su cientemente pequeno para ser
montado em aviões. Diversos desses avanços desempenhariam papel crucial no
esforço futuro dos aliados.
Pelo m de dezembro de 1940, Roosevelt, com grande estardalhaço,
anunciou um novo plano de ajuda à Inglaterra. Envolvido pelos temores a
respeito da sobrevivência de seu país, Churchill não tinha como saber o enorme
impacto que a proposta, na verdade, provocaria na Inglaterra e na guerra. Tudo
que sabia era que, antes, o Presidente zera vastas e vagas promessas, e que
pouca coisa resultara delas.
Ele estava certo em pensar assim porque, até então, a abordagem de FDR,
para a a ição da Inglaterra, tinha sido cautelosa e vacilante. Porém, no m de
dezembro, o Presidente percebeu que a Grã-Bretanha estava cando de fato sem
dinheiro e que a América tinha que fazer bem mais para evitar a derrota do
último país que ainda resistia a Hitler. Em resposta a uma longa, eloquente e
desesperada carta de Churchill, ele desvendou um novo plano inovador que
permitiria ao governo emprestar e arrendar equipamento bélico a qualquer nação
que o Presidente considerasse vital para a defesa dos Estados Unidos. O
programa Lend-Lease, declarou FDR, transformaria a América no “arsenal da
democracia.”
Na Câmara dos Comuns, Churchill quali cou o Lend-Lease como “a mais
[palavra inventada por ele] unsordid [17] ação na história de qualquer país,” mas,
privadamente, não cou muito impressionado. Em vez de expressar sua
satisfação para Roosevelt, escreveu uma nota impetuosa, questionando detalhes
do plano e ressaltando que ele demoraria alguns meses para ser efetivo, mesmo
que aprovado pelo Congresso. No meio-tempo, como poderia seu país
nanceiramente pressionado pagar pelo armamento que precisava com urgência
naquele momento? Abalada com a virulência da minuta de Churchill, a
embaixada britânica em Washington instou para que ele a abrandasse e
oferecesse inequívocos agradecimentos a Roosevelt pela nova oferta de
assistência. O primeiro-ministro, relutantemente, concordou com uma expressão
de reconhecimento, mas conservou o ceticismo e a ansiedade. “Lembre-se, Sr
Presidente,” escreveu, “não sabemos o que o senhor tem em mente, ou
exatamente o que os Estados Unidos irão fazer, e estamos lutando por nossas
vidas.”
No despontar de 1941, a apreensão de Churchill a respeito do precário
futuro de seu país e seu ressentimento com os Estados Unidos por não estarem
fazendo mais para ajudar eram compartilhados por crescente número de seus
concidadãos. Quando os ingleses foram perguntados numa pesquisa de opinião
pública que países não integrantes do Eixo gozavam da maior consideração, os
Estados Unidos apareceram em último lugar. “A percentagem de crítica
desfavorável em relação à América — nossa amiga — iguala-se à da Itália — nossa
inimiga,” concluíram os analistas da pesquisa.
Foi durante esse período crescentemente intoxicado que Joseph Kennedy
nalmente apresentou sua demissão do cargo de embaixador dos Estados Unidos
na Inglaterra. Kennedy contribuíra decisivamente para o alargamento do fosso
entre os dois países e entre seus líderes. Seu sucessor teria agora a tarefa
extremamente difícil de tentar diminuir o distanciamento.
Para assumir o problemático cargo, o Presidente recorreu a um ex-governador
na região da Nova Inglaterra, tímido e com grande di culdade de expressão
verbal, um homem que já havia sido considerado provável sucessor do próprio
Roosevelt.
 
Nos anos 1920 e início dos 30 , John Gilbert Winant despertara a
atenção nacional como o mais jovem e mais progressista governador do país.
Todavia, em 1936, essa ascendente estrela republicana, com aspirações
presidenciais, jogara por terra seu futuro político ao atacar o GOP [Grand Old
Party — o Partido Republicano] por suas contundentes críticas ao New Deal.
Perplexo com o autossacrifício idealista de Winant, Roosevelt, cuja própria
devoção aos ideais jamais vencera seus instintos pela sobrevivência política,
chamou-o “o utópico John [18].”
Como o Presidente, Winant provinha de antiga e bem relacionada família de
Nova York, com antepassados holandeses. Filho de um corretor imobiliário, ele
cresceu no Upper East Side de Manhattan, estudante medíocre, mas ávido leitor
que se encantava com os romances de Charles Dickens e as biogra as de seu
herói de toda a vida, Abraham Lincoln. Seus pais, que tinham um casamento
“extremamente infeliz” e se divorciaram mais tarde, eram mesquinhos nas
demonstrações de amor e afeição por ele e por seus três irmãos, disse certa vez à
sua secretária. O pai de Winant, relatou um amigo, “sempre lhe dissera que fosse
visto, e não ouvido.”
Com doze anos, o menino sensível e amante de livros foi enviado para a St.
Paul's, exclusiva escola secundária aninhada no sopé dos Montes Brancos de
New Hampshire, nas cercanias de Concord, capital do estado. Foi o momento
de nitivo na vida de Winant. Ele adorava a escola e, ainda mais, amava as matas
e as ondulantes colinas de New Hampshire; como estudante, caminhava por
horas nos montes Bow que dominavam St. Paul's. Muitos anos depois, diria a um
repórter “que os montes signi cavam mais para ele do que qualquer outro lugar
do mundo. Lá, sentia-se em casa.”
Tendo como modelo as escolas públicas inglesas como Eton, St. Paul's
tentava inculcar em seus alunos, a maioria vinda de famílias ricas de Nova York,
Boston e Filadél a, a importância do serviço público. “Nossa função não é tentar
nos adequarmos ao mundo a uente e próspero que nos cerca, e sim, através de
suas crianças, modi cá-lo,” declarava o Dr Samuel Drury, reitor de St. Paul's.
Enquanto a maior parte dos estudantes não tinha a intenção de virar as costas
para “o mundo rico e próspero,” Winant desenvolvia um entusiasmo pela
reforma social que iria perdurar por toda a sua vida.
Durante seus anos em St. Paul's, ele se tornou um dos principais líderes
estudantes, demonstrando um recém-descoberto talento para persuadir e
galvanizar colegas. Poucos anos mais tarde, após se afastar de Princeton, em
função do baixo rendimento acadêmico, ele retornou à escola para ensinar
História Americana. Determinado a instilar consciência social em seus
estudantes, Winant foi, nas palavras de Tom Matthews, um de seus alunos,
“professor incrivelmente inspirador, transmitindo a convicção ardente de que os
Estados Unidos eram um país maravilhoso, a experiência mais gloriosamente
esperançosa que o homem jamais zera.” Durante as noites, os estudantes
apinhavam seu pequeno quarto, atulhado de livros, para continuar os debates
iniciados na sala de aula sobre Lincoln, Je erson e outras guras do panteão de
heróis de Winant. “Como a maioria [19] dos meninos de St. Paul's da minha
geração, eu admirava John Gilbert Winant ao ponto da idolatria,” disse
Matthews que, trinta anos mais tarde, se tornaria editor-chefe da revista Time.
No dia seguinte à entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial,
Winant parou de ensinar e pagou de seu bolso a viagem à França onde se tornou
piloto do incipiente corpo de aviação dos EUA. Suas habilidades como aviador
eram um tanto instáveis, como ele reconheceu depois para os amigos Ed e Janet
Murrow; no ar, até que “tudo ia bem,” mas precisava de “muita sorte” para
decolar e pousar. “Parece que ele quebrou um bom número de aviões,” escreveu
Janet Murrow a seus pais. “De fato, é surpreendente que ainda esteja vivo.”
Foi, de fato, surpreendente, já que Winant possuía uma coragem indomável
que o fazia se apresentar como voluntário para missões de observação sobre as
linhas inimigas, que outros consideravam suicidas. Quando ele pousou após uma
de tais missões, uma das asas de seu avião tinha sido rasgada por shrapnel, a
capota do motor estava toda perfurada e parte da hélice faltava. Tendo se alistado
como soldado raso, Winant terminou a guerra como capitão no comando de um
esquadrão de observação nas proximidades de Verdun.
Logo depois de retornar para casa, Winant casou-se com Constance Russell,
uma rica moça da sociedade cujo avô fora presidente do National City Bank de
Nova York (hoje Citibank). Muitos dos amigos e conhecidos do casal achavam
que o par era desencontrado: ela não tinha qualquer interesse por política,
história e reforma social — as principais preocupações do marido — e preferia
fazer compras, dar festas, ir ao teatro e passar muito tempo em locais como
Southampton e Bar Harbor. “Era um daqueles matrimônios da alta sociedade em
que, acredito, os dois não passavam muitos momentos juntos,” lembrou Abbie
Rollins Caverly, cujo pai se tornara um dos amigos mais próximos e aliado
político de Winant. “Os dois tinham pouca coisa em comum. Ele cava acordado
à noite meditando sobre como poderia melhorar as coisas. Ela adorava oferecer
recepções.”
Passada a guerra, Winant fez ele mesmo algum dinheiro com investimentos
em poços de petróleo no Texas. O casal se instalou para uma vida de luxo em
apartamento na Park Avenue, limusine com motorista, mordomo e criadas, iate e
um haras com cavalos árabes. Ao mesmo tempo, contudo, ele não abriu mão de
seu amor por New Hampshire ou por seu crescente interesse pelo serviço
público, que o levaram a uma rápida passagem pela assembleia legislativa de
New Hampshire antes de partir para a França.
Em 1919, os Winants compraram uma grande casa branca em estilo colonial
na capital Concord, a uns quatrocentos metros de St. Paul's. De sua biblioteca
com muitos volumes alinhados, um retrato de Thomas Je erson pintado por
Gilbert Stuart e primeiras edições de Dickens e John Ruskin, Winant podia
vislumbrar seu local favorito no mundo, os montes Bow recobertos de pinheiros.
Enquanto sua esposa gastava a maior parte do tempo em Nova York, ele fez da
casa em Concord sua base eleitoral e, em 1920, foi eleito para o senado estadual.
A gradual transformação do tímido e gaguejante jovem idealista no político
bem-sucedido causou surpresa por si mesma. O fato de a mudança ter ocorrido
em um estado rural e altamente conservador como New Hampshire foi
marcante. No Senado, Winant se tornou líder da minúscula ala liberal do GOP,
apresentando legislação para limitar em quarenta e oito horas a semana de
trabalho de mulheres e crianças, regulamentar os padrões do trabalho e abolir a
pena capital. A maioria de seus colegas de legislatura vinha das áreas rurais, com
pequeno conhecimento das — ou interesse nas — lamentáveis condições de vida
e de trabalho nas fábricas de têxteis e outras indústrias de New Hampshire.
Apesar de seus colegas rejeitarem a agenda legislativa de Winant, este se recusou
a desistir daquilo que a maioria das pessoas via como sua quixotesca busca pela
reforma.
Em 1924, com trinta e cinco anos, Winant anunciou sua decisão de
concorrer ao cargo de governador, deixando uma cópia de seu anúncio no
escritório do jornal de maior circulação no estado, o Manchester Union-Leader.
Frank Knox, o dono do jornal, considerado nome quase certo do Partido
Republicano para a corrida pelo governo do estado, enterrou a notícia em meras
quatro linhas nas páginas internas. A candidatura de Winant, na opinião da
velha guarda republicana, era motivo de riso. Quem aquele nova-iorquino liberal
pensava que era? Os eleitores de New Hampshire nunca o aceitariam — um
arrivista rico, um intelectual e um péssimo orador a ser rejeitado.
Sem dúvida, eles estavam certos quanto à sua capacidade para discursar.
Alto e pensativo, seu per l lembrando um Lincoln re nado, ele se punha tenso
ante as plateias da campanha, seu rosto no com aparência compenetrada e os
cabelos tão desalinhados quanto o terno da Brooks Brothers, as grossas
sobrancelhas despencando sobre os olhos cinzentos encovados e penetrantes.
Com as mãos abrindo e fechando, ele lutava para achar a palavra ou frase certa
para expressar o que queria dizer. Por vezes, gastava minutos até encontrá-las,
resultando em pausas agonizantes tanto para os circunstantes nervosos que o
ouviam quanto para o próprio Winant. “Gente da plateia [21] queria ajudá-lo
gritando a palavra que ele buscava,” disse um residente em New Hampshire.
Depois de um dos discursos de Winant, uma mulher murmurou para a sua
companhia: “É uma coisa terrível. Um rapaz tão gentil — e tão traumatizado de
guerra.”
Entretanto, o curioso foi que sua maneira de falar aos trancos ajudou-o a
angariar apoio no curso de suas viagens pelo estado. Reservados e taciturnos por
natureza, os eleitores de New Hampshire viram nele um contraste bem-vindo
com os políticos loquazes que normalmente encontravam. Apesar de
desajeitados, os pronunciamentos de Winant eram carregados de calor humano e
sinceridade — e despertavam em seus ouvintes um senso de con ança. A plateia
“começava sentindo pena de Winant,” reportou o New York Times. “Terminava
de pé nos corredores, dando vivas ao orador.”
Nas primárias, Winant enfrentou a oposição da máquina republicana estatal,
assim como da maioria dos jornais e dos interesses dos negócios de New
Hampshire. Mesmo assim, derrotou confortavelmente Knox e, depois, esmagou o
candidato democrata nas eleições gerais. Aliás, depois de perder para Winant,
Frank Knox se tornou proprietário e editor do Chicago Daily News e secretário
da Marinha no governo Roosevelt Como chefe do executivo de New Hampshire,
Winant foi homem bem à frente do seu tempo, dedicando-se por completo à
justiça econômica e à mudança social, que se equiparavam ou eram até melhores
que os instintos reformistas de Franklin Roosevelt, e de longe ultrapassavam os
da maioria de seus outros colegas governadores em todo o país. Ele gostava de
dizer que aprendera republicanismo com seu herói Abraham Lincoln, o qual,
Winant declarou, dava mais valor aos direitos humanos do que aos de
propriedade. Durante a Depressão, o governador conseguiu pressionar
vitoriosamente pela criação de novos e radicais programas de bem-estar estatal
que acabaram formatando o New Deal, inclusive uma expansão das obras
públicas, ajuda para os idosos, auxílio emergencial para as mulheres e crianças
dependentes e uma lei de salário mínimo. Winant conseguiu in ltrar um
repórter do Concord Daily Monitor numa reunião do Conselho Executivo,
poderoso órgão do governo que agia como um veri cador das ações do
governador e cujos encontros vinham sendo sempre fechados. No dia seguinte, o
jornalista escreveu uma reportagem de primeira página sobre as deliberações do
conselho e, a partir de então, as reuniões passaram a ser abertas ao público.
Winant também reorganizou e modernizou a máquina administrativa do
estado e conseguiu aprovar leis concernentes à reforma bancária, restrições à
in uência das ferrovias e à expansão do poder da comissão do serviço público
estatal para regular as companhias prestadoras de serviços. “Tanto as ferrovias
[22] quanto as fornecedoras de energia têm de se submeter ao interesse público,”
disse ele aos legisladores de New Hampshire. O New York Herald Tribune diria
mais tarde que Winant “conseguiu introduzir mais legislação progressista do que
New Hampshire jamais conheceu.”
Sem surpreender, as ferrovias, as prestadoras de serviços, as fábricas de
têxteis e outros interesses especiais no estado se mostraram hostis a virtualmente
todas as iniciativas do governador. O mesmo ocorreu com os conservadores
empedernidos de seu próprio partido. Mas a sua popularidade era enorme com
os eleitores, que o elegeram para três mandatos, fato sem precedentes no estado.
“Não entendo Winant e nunca o entendi,” observou um político de New
Hampshire. “Mas tiro meu chapéu para ele. Ele sabe ganhar eleições.”
(Ironicamente, sua reeleição por imensa maioria de votos em 1932 proporcionou
ao presidente Herbert Hoover, seu rival ideológico, uma quantidade de votos
proporcionais que lhe garantiu uma estreita vitória em New Hampshire, um dos
somente cinco estados em que o desa ante democrata à presidência, Franklin
Roosevelt, não venceu Hoover.) Estava patente que muito da popularidade de
Winant como governador se devia à sua profunda identi cação com as pessoas e
a compaixão que dedicava aos necessitados. Anos mais tarde, Dean Dexter, que
já fora legislador em New Hampshire, o compararia aos personagens idealistas
que o ator James Stewart desempenhou em Mr Smith Goes to Washington (A
Mulher Faz o Homem) e noutros lmes. Para Winant, “toda política pública era
pessoal,” observou um historiador. “Era a respeito de gente, por vezes pessoas
especí cas, e do efeito da política sobre elas.” A porta de seu escritório estava
sempre aberta para quem quisesse vê-lo; na maioria dos dias, os corredores do
palácio do governador cavam apinhados de gente querendo alguns minutos do
tempo do chefe do executivo. Não era raro Winant fazer uso de seu próprio
dinheiro para pagar uma conta de médico, cobrir uma despesa de educação ou
ajudar a dar partida num pequeno negócio de um empobrecido residente no
estado ou um companheiro veterano da Primeira Guerra Mundial que solicitasse
sua ajuda. Durante a Depressão, ele instruiu a polícia de Concord para que
alojasse os sem-teto nas cadeias da cidade, os alimentasse de manhã e enviasse a
conta para ele. Ao caminhar para o trabalho, tirava dinheiro da carteira para dar
aos desempregados que se recostavam, pegando sol, nas paredes de granito do
palácio governamental. Winant, disse um amigo, “pratica o mandamento cristão
[23] 'Dê seus bens para alimentar os pobres' com mais fervor do que qualquer
pessoa que jamais conheci.”
Quando deixou o cargo em 1935, os princípios e ideais de Winant haviam
sido endossados pela maior parte dos legisladores do estado, independentemente
do partido. Cerca de três décadas mais tarde, Robert Bingham, consultor
legislativo de Winant, a rmaria: “Sempre que se desejava mensurar a e cácia de
um governador, comparavam-no com a dos três mandatos de Winant.” Em 2008,
William Gardner, que por muito tempo foi secretário de estado em New
Hampshire, lembrou quão impressionado cara após assumir a função ao
constatar a intensidade com que os residentes do estado “reverenciavam e
amavam” Winant. “As pessoas ainda falam sobre ele quando vou até lá. Ele era
especial. De todos os governadores que tivemos, ele, de fato, signi cava alguma
coisa para o povo e de uma maneira muito especial.”
 
De Washington, o presidente Roosevelt monitorava com
considerável interesse o sucesso de Winant em New Hampshire. Visivelmente
parecidos em sua devoção à reforma social, os dois tinham trabalhado em
conjunto como governadores. Winant apoiara decisivamente desde o início o
New Deal de Roosevelt, e New Hampshire era em geral o primeiro estado a
implementar os muitos e novos programa de assistência social que Roosevelt
introduziu nos seus primeiros anos de governo. Pelo outono de 1933, Winant
empregou fundos do New Deal para deslanchar doze dos mais importantes
projetos de obras públicas e distribuir toneladas de alimentos aos desvalidos de
New Hampshire.
O presidente, que “adorava sgar brilhantes e promissores republicanos a m
de cooptá-los,” já tinha recrutado a ajuda de Winant como assessor não o cial
para o trabalho e outras questões. Em 1934, ele nomeou o governador para
che ar um conselho especial de sindicância que ajudou a dar m a uma nociva
greve do sindicato unido dos trabalhadores têxteis.
Como Roosevelt bem sabia, Winant despontava cada vez mais como o
homem que encabeçaria a cédula republicana nas eleições de 1936. Depois do
fracasso do GOP em 1932, estava claro que o partido precisava de uma
“transfusão de sangue novo [24]”; como uma das mais fulgurantes estrelas do
partido, Winant era visto como possível indicado para concorrer à Presidência.
Um de seus patrocinadores era o afamado editor de jornal do Kansas,
William Allen White, que o elogiava como “a liderança republicana no
horizonte.” O comentarista Walter Winchell declarou num programa de rádio
que Winant era cultivado pelo New York Herald Tribune, in uente jornal pró-
republicano, para ser o próximo candidato do GOP. As revistas Time e Collier's
reportaram que ele tinha boas chances de indicação, e o Boston Evening
Transcript publicou em manchete de primeira página: “Winant caminha para o
topo da lista de presidenciáveis.” De acordo com a revista American, o
governador de New Hampshire “capturou o imaginário do país. (...) Ele é rico.
Não consegue discursar. Mas quer fazer alguma coisa pelo povo. E faz.” Cartas
começaram a uir para Concord, vindas de toda a nação, instando Winand a
concorrer. “O senhor, pessoalmente, conta com a estima e o apreço deste
departamento em maior dose do que qualquer outro funcionário público, seja do
Partido Democrático, seja fora dele,” escreveu um empregado da Agência
Federal de Auxílio Emergencial. Até Raymond Moley, elemento-chave do brain
trust, o círculo de boas cabeças do New Deal de Roosevelt, embarcou na
caravana de Winant, a rmando que “trocaria de bom grado cinquenta
deputados, vinte senadores, seis embaixadores e alguns membros do ministério
por um governador Winant.”
A explosão da popularidade de Winant, todavia, estava fadada ao colapso.
Mesmo que se apresentasse como candidato no partido em 1936, é provável que
os problemas de dicção o teriam prejudicado seriamente. Mas esse não era o
ponto em discussão porque Winant, como apoiador do New Deal, jamais
disputaria contra Roosevelt. Ele decidira pôr suas ambições presidenciais de
lado, pelo menos até que o atual detentor do cargo deixasse a função.
Roosevelt, supostamente, não estava muito seguro disso. No m de 1934, ele
nomeou Winant como primeiro representante americano na Organização
Internacional do Trabalho (OIT), agência patrocinada pela Liga das Nações e
sediada em Genebra. Alguns encararam a nomeação como trama maquiavélica
para retirar Winant do cenário político. Entre os que pensavam assim estava
Frances Perkins, a descontraída ministra do Trabalho do Presidente, que era
admiradora de Winant. Certo dia, no Escritório Oval, Perkins perguntou ao
Presidente, à queima-roupa, se essa era mesmo a intenção dele. “Não, não [25],
eu não tinha isso em mente,” protestou FDR. “Winant é um bom homem para a
função.” Ao relembrar o fato, Perkins disse que, depois, o Presidente abaixou a
cabeça e cou olhando xamente para sua escrivaninha.
Qualquer que fosse o raciocínio de Roosevelt para oferecer-lhe o cargo,
Winant, absolutamente crente de que os Estados Unidos precisavam quebrar a
concha de seu isolacionismo, não teve a menor dúvida em assumir a missão. A
despeito de sua emergência como potência econômica líder do mundo após a
Primeira Guerra Mundial, os EUA hesitavam em aceitar qualquer das
responsabilidades inerentes à sua nova e dominante posição internacional. “A
maioria dos americanos,” observou a revista Time, “ainda encara a diplomacia
internacional com toda a repugnância de uma dama victoriana a considera sexo.”
O país recusara liar-se à Liga das Nações e, quando a depressão mundial se fez
sentir, no início dos anos 1930, insistira para que os aliados do tempo da guerra
pagassem a totalidade de seus débitos para com os Estados Unidos. Ao mesmo
tempo, o país aumentara suas tarifas, tornando impossível o pagamento dos
débitos e ajudara a empurrar a Europa para um declínio econômico maior ainda.
“Desde a guerra, nossa atitude é que não necessitamos de amigos, e que a opinião
pública mundial não tem importância,” Franklin Roosevelt, que a seguir seria
eleito governador de Nova York, escreveu numa edição de 1928 da revista
Foreign A airs. Segundo o historiador Warren Kimball, “os americanos
mergulhavam e saíam da cena europeia ao seu bel-prazer,” querendo “liderar
pelo exemplo distante, em vez de o fazerem pelo cometimento ativo.”
Na América, rmou-se a crença de que o país fora puxado para a Primeira
Guerra Mundial pela propaganda inglesa e pelos banqueiros dos EUA e
compradores de armas, que agiram em prol da Inglaterra. Enquanto uma nova
guerra pairava sobre a Europa, o Congresso, crescentemente isolacionista, na
tentativa de proteger os Estados Unidos de futuros con itos, aprovou as Leis da
Neutralidade e proibiu empréstimos e investimentos para países em guerra.
Explicitando o estado de espírito nacional, Ernest Hemingway escreveu em
1935: “Do caldo infernal que ferve na Europa, não temos necessidade de beber.
(...) Fomos muito tolos ao nos deixarmos sugar uma vez para uma guerra europeia,
e nunca mais deveremos ser chupados de novo.”
A OIT foi o único produto da Liga das Nações ao qual os Estados Unidos
iriam se liar. Antigo defensor da missão da agência de melhorar os salários e as
condições de trabalho dos operários de todo o mundo, Winant mudou-se para
Genebra para assumir o cargo. Sua estada no QG da OIT, todavia, foi breve. Ao
m de apenas cinco meses, por recomendação de Frances Perkins, Roosevelt o
convocou de volta a Washington para assumir uma das mais importantes funções
no governo: chairman da nova Câmara da Seguridade Social.
 
Em agosto de 1935, malgrado a feroz oposição republicana, o
Congresso aprovou a Lei da Seguridade Social, a mais abrangente peça de
legislação social jamais promulgada nos Estados Unidos e a mais marcante
conquista do New Deal. Ao tornar disponível o seguro-desemprego e os
benefícios aos idosos para todos os americanos que se quali cassem, a lei
rede niu e ampliou consideravelmente a responsabilidade do governo para com
seus cidadãos. Ela foi tão revolucionária que o governo temeu que fosse sabotada
por seus muitos críticos antes mesmo de se tornar efetiva. Em função da
ferocidade da oposição do GOP, Roosevelt insistiu para que um proeminente
republicano liberal — Winant — che asse o conselho de Seguridade Social que
administraria a nova lei.
Pelo ano e meio seguinte, Winant e seus companheiros conselheiros
trabalharam incansavelmente para criar e promover um novo programa sem
paralelo. Com um Senado atrasando propositalmente a votação de seu
orçamento, a Câmara funcionou com escassos recursos nanceiros em diversos
dos meses iniciais, ocupando por favor instalações do novo prédio do
Departamento do Trabalho e operando com uma equipe que era apenas a coluna
vertebral da necessária, assim mesmo com membros emprestados de outras
repartições do governo. Durante o New Deal, muitas agências governamentais
eram verdadeiros cadinhos de energia e experimentações, mas nenhuma utuava
tanto à beira do caos quanto os improvisados escritórios da Seguridade Social,
onde “homens entravam [26] e saíam correndo sem cessar, e praguejavam contra
a lentidão dos elevadores.”
Bem no centro desse frenesi se posicionava Winant, que dirigia ele mesmo
em Washington como o zera em Concord, e desfrutava de poucas horas de sono
a cada noite em sua mansão alugada em Georgetown. “Ele não tinha noção
alguma de tempo, de refeições ou de sono, ou de qualquer coisa referente à sua
própria conservação da resistência,” lembrou um auxiliar. “Trabalhava na hora
das refeições e nem se lembrava que nada comera.”
No cômputo geral, Winant era um péssimo administrador, o desespero de
sua equipe e de outros membros da Câmara por sua ine ciência e seus atrasos.
Sua mesa vivia com pilhas de documentos por assinar, a sala contígua ao
escritório repleta de pessoas esperando para vê-lo. Seu sistema de arquivo
consistia em en ar os papéis importantes nos bolsos. Porém, mesmo seus mais
severos críticos admitiam que ele era um líder extraordinário, um visionário com
a capacidade de despertar inspiração. “Ele foi, sem a menor [27] sombra de
dúvida, um dos maiores personagens da vida pública americana durante os
últimos vinte anos,” declarou Frank Bane, primeiro diretor executivo da
Seguridade Social. “Poucas pessoas deixaram tão signi cativa impressão de como
deveria ser um executivo como o governador Winant.”
Como face pública da Seguridade Social, Winant tornou-se gura bastante
familiar em Capitol Hill e em todo o país, fazendo repetidas viagens ao interior
para ilustrar seus concidadãos americanos sobre o novo programa. Sob sua
liderança, a Câmara de Seguridade Social, apesar da falta de recursos e da
equipe minúscula, criou em pouco mais de um ano uma organização de âmbito
nacional, com 12 escritórios regionais e 108 agências na ponta da linha, e,
durante esse período, desembolsou mais de 215 milhões de dólares em benefícios
para os idosos de trinta e seis estados. Todo o trabalho importante para criação do
sistema de Seguridade Social como hoje existe foi feito sob a che a de Winant.
Apesar disso, o GOP e grande parte da comunidade de negócios da nação
tinham a intenção de liquidar a Seguridade Social. Esperando convencer Alf
Landon, o progressista governador de Kansas e indicado republicano para a
corrida presidencial de 1936, a apoiá-lo, Winant supriu-o com informação
con dencial a respeito do programa. Mas Landon perdera o controle de sua
campanha eleitoral para os rematados conservadores do partido e, no nal de
setembro de 1936, ele fez um vigoroso ataque contra a Seguridade Social,
prometendo acabar com ela se eleito.
Sentindo-se traído, Winant decidiu que não poderia mais car calado;
pediria demissão da Câmara da Seguridade Social e abriria o verbo contra
Landon. Seus colegas de conselho e outros assessores zeram o máximo de
esforços para dissuadi-lo de cometer aquilo que consideravam suicídio político.
Repudiar o GOP, argumentavam eles, signi caria o m de sua carreira política e
de qualquer esperança de ocupar o cargo mais elevado de todos. Até o Presidente
tentou convencê-lo. Mas Winant permaneceu irredutível. Depois de pedir
demissão, ziguezagueou pelo país fazendo discursos e falando no rádio em apoio
à Seguridade Social.
Na última semana da campanha, o Comitê Republicano Nacional distribuiu
aos empregados milhões de pan etos, parecendo um boletim o cial do governo,
que foram en ados nos envelopes de pagamento dos trabalhadores. Os pan etos
alertavam que um futuro Congresso iria desviar os recursos da Seguridade Social
para outros propósitos e anunciava que os trabalhadores poderiam esperar uma
redução de um por cento nos salários — o custo de sua contribuição para a
Seguridade Social — a menos que agissem contra Roosevelt no dia da eleição.
Winant cou tão ofendido com essa sujeira de última hora que fez um
pronunciamento para toda a nação dois dias antes da eleição, atacando a
iniciativa republicana como “política rasteira [28]” e apoiando a reeleição do
presidente Roosevelt.
Seu apoio ao Presidente foi a gota d'água para o GOP e pôs m a qualquer
chance de ele concorrer à Presidência como candidato republicano. Porém a
atitude provou, como um amigo lhe escreveu, que “pelo menos um homem nos
altos escalões possuía convicções genuínas e coragem para defendê-las a
qualquer custo. (...) Entendo que muitos irão considerar o que você fez um ato
idealista sem esperança e o cobrirão de ridículo. Mas idealismo é um atributo do
qual este mundo desordenado precisa desesperadamente.”
O presidente, aparentemente, concordava. Após sua vitória esmagadora,
enviou Winant de volta à OIT em Genebra; o ex-governador de New
Hampshire tornou-se diretor da organização. Com a guerra ameaçando eclodir,
Winant também serviu como um emissário de FDR para a Europa, despachando
frequentes relatórios para a Casa Branca sobre suas viagens e encontrando-se
com líderes do continente europeu. “Mais do que qualquer outro americano que
conheço na vida pública, ele entende as forças sociais e as mudanças que vêm
sendo efetivadas na última década, tanto em casa como na Europa,” escreveu em
seu diário William Shirer, correspondente em Berlim da CBS, após um almoço
com Winant. Shirer acrescentou: “Creio que ele daria um bom presidente para
suceder Roosevelt em 1944, se este último conseguir seu terceiro mandato.”
Quando os názis ocuparam a Tchecoslováquia em março de 1939, Winant
viajou para Praga num gesto de simpatia e solidariedade para com os tchecos. Ele
estava na França durante a Blitzkrieg de Hitler de 1940, deixando Paris poucas
horas antes de as tropas alemãs entrarem na cidade. Depois da queda da França,
Roosevelt pediu-lhe que checasse o estado de espírito da Inglaterra, o único país
que restava de pé contra a Alemanha. Após um rápido giro pela ilha durante a
Batalha da Inglaterra, ele respondeu que o moral público era imbatível: “Eles
aguentarão [29] qualquer bombardeio que vier.” Ernest Bevin, o ministro inglês
do Trabalho, diria mais tarde que Winant foi o único americano com quem se
encontrou naquele período “que me transmitiu a sensação de que alguma pessoa
no mundo ainda tinha fé na Inglaterra.” Percebendo a crítica escassez inglesa em
armas e suprimentos, Winant instou o Presidente a enviar ajuda com a maior
brevidade possível: a guerra da Inglaterra, disse ele, era a guerra dos EUA.
Tratava-se de um assessoramento que contradizia diretamente os cabogramas e
cartas que Roosevelt recebia de Joseph Kennedy.
Em seguida à renúncia de Kennedy como embaixador, Roosevelt não se
apressou (gastou tempo demasiado, segundo muitos de seus assistentes) para
nomear um sucessor. Ele queria alguém que fosse simpático à Inglaterra, que
pudesse ganhar a con ança de Churchill e de outras guras do governo, e os
persuadisse a serem pacientes enquanto o Presidente fazia o possível para
encaminhar corretamente a causa deles. Ao mesmo tempo, FDR, com um olho
no futuro, desejava que o novo enviado estabelecesse vínculos fortes com o
Partido Trabalhista, pois achava que o partido assumiria a liderança do país
durante ou depois da guerra. Felix Frankfurter, Frances Perkins e outros new
dealers de destaque disseram a Roosevelt que só existia um homem com per l tão
diversi cado e complexo: John Gilbert Winant.
No m de janeiro de 1941, poucos dias depois de seu terceiro discurso de
posse, Roosevelt convocou Winant a Washington. Durante o encontro no
Escritório Oval, o Presidente perguntou ao diretor da OIT sobre os líderes
europeus que tinha conhecido e sobre as condições da Inglaterra e dos países
ocupados pelos alemães. Não houve menção ao cargo de embaixador. Tanto com
Winant como com outros auxiliares, o amor infantil de Roosevelt pelo sigilo e um
incompreensível senso de diversão faziam-no esconder notícias a respeito de
nomeações. Ele deixaria que Winant tivesse conhecimento de sua nova função,
como outros já haviam tomado conhecimento das suas, através da imprensa.
Poucos dias mais tarde, os principais jornais do país publicaram que FDR
estava mandando o nome de Winant ao Senado para ser referendado como
embaixador na Corte de St. James. Decorridas três semanas, ele estava a caminho
de Londres.
 
Na Inglaterra, a notícia da indicação de Winant foi saudada
com satisfação. Qualquer outra pessoa que não Joseph Kennedy sem dúvida teria
recebido afetuosa acolhida, mas a reação à nomeação de Winant foi
particularmente jubilosa. “Não haveria outro nome [30] que pudesse ser mais
bem-aceito,” escreveu o News Chronicle. O Manchester Guardian declarou: “Ele
é um americano pelo qual o inglês sente imediata simpatia, e poucos americanos
têm tão calorosa admiração e consideração por este país e seu povo quanto ele.”
O Times de Londres registrou: “Há algo de cavaleiro errante nele, já que acredita
em seus princípios com quase romântica paixão.”
Em função do trabalho desenvolvido na OIT, sublinharam os jornais
ingleses, Winant já conhecia muito bem diversos membros de proa do governo
Churchill, inclusive Bevin e o novo ministro do Exterior Anthony Eden. Os
jornais prosseguiram realçando as dramáticas diferenças entre Winant e
Kennedy tanto em personalidade quanto em aparência. “Muitas vezes no
passado pensava-se que (...) os embaixadores americanos, enquanto gozavam a
liberdade nas melhores casas de campo, pouco conheciam da verdadeira
Inglaterra,” ressaltou explicitamente o Star. “Mas a excelente compleição
metálica e forte da personalidade de Winant fará com que ele se lance em
horizontes mais amplos. (...) Hoje ele travará contato com os ingleses comuns e
seu coração estará com eles.”
Quando o trem de Winant encostou na estação londrina de Paddington, após
seu encontro com o rei George VI, o embaixador estava feliz com a amistosa
recepção do monarca e da imprensa inglesa. Mas seu primeiro encontro com a
mais hercúlea gura da Inglaterra estava por acontecer. Como Winston
Churchill, ainda angustiado com o ncar americano de pés, reagiria ao novo
enviado dos EUA?
Dois dias depois, quando Churchill o convidou para jantar nas reforçadas
salas de guerra em Whitehall, Winant teve a resposta. Sem demonstrar qualquer
vestígio do buldogue belicoso que o tornara famoso, o primeiro-ministro estava
obviamente com um astral conciliador. Ao longo de toda a refeição, ele e Winant
discutiram o último problema que infernizava as relações anglo-americanas: a
relutância inglesa em completar sua parte do acordo contratorpedeiros por bases,
anunciado quase seis meses antes. Embora a Inglaterra tivesse recebido os
destróieres, seu governo ainda não tinha formalmente concordado com uma das
cláusulas do quid pro quo — o arrendamento de bases nas colônias inglesas do
Caribe. Ressentimentos com o acordo provocados em Whitehall, na Câmara dos
Comuns e nas próprias colônias tinham sido fortes demais.
Churchill garantiu a Winant que resolveria o impasse. No dia seguinte, ele
convocou uma reunião de diversos ministros do Gabinete em Downing Street,
com Winant presente como observador. Enquanto os outros debatiam a questão
— “aquela gura encorpada [31] levemente inclinada para a frente” —
caminhava para lá e para cá na sala totalmente absorto com seus próprios
pensamentos, sem dar a mínima para os demais presentes. De súbito, quando a
discussão já se prolongava por alguns minutos, o primeiro-ministro descartou
todas as objeções como imateriais e sobrepujou as preocupações expressas por
seus assistentes militares. Na opinião de Churchill era muito mais importante
esticar a política americana de neutralidade até ela quebrar do que “manter nosso
orgulho e preservar a dignidade de umas poucas pequenas ilhas.” Não tardou
para a comissão de negociação Inglaterra-Estados Unidos dar sua aprovação nal
ao acordo.
 
Duas semanas após sua chegada à Inglaterra , Winant, com a
cabeça ligeiramente baixa, percorreu cautelosamente seu caminho através do
apinhado salão de baile do Savoy Hotel, seguindo Churchill e o conde de Derby
até a mesa principal. A ocasião era um almoço de gala em homenagem a Winant,
patrocinado pela Pilgrim Society, uma organização que objetivava o
estreitamento das relações anglo-americanas. Sentada ante o embaixador,
Churchill e Lord Derby, que presidia a organização, estava a elite do mundo
inglês governamental e dos negócios — virtualmente todo o Gabinete, assim
como os militares das mais altas patentes, industriais de destaque e donos e
editores de jornais.
Quase ao m do almoço, Churchill levantou-se e, virando-se para o
embaixador, não deixou dúvida na mente de ninguém que tencionava fazer de
Winant um aliado no seu galanteio à América. “Mr Winant,” ele retumbou, suas
palavras levadas à nação pela BBC, “o senhor chegou a nós num memorável
ponto de in exão da história do mundo. Rejubilamo-nos por tê-lo entre nós
nesses dias de tempestades e privações porque no senhor temos um amigo e el
camarada que 'nos reportará e a nossa causa da maneira correta.'”
Na conclusão de seu discurso, o primeiro-ministro declarou: “O senhor,
Embaixador, partilha do nosso objetivo. O senhor compartilhará dos nossos
perigos. O senhor compartilhará nossos interesses. Compartilhará dos nossos
segredos. E chegará o dia em que o Império Britânico e os Estados Unidos
compartilharão (...) na coroa da vitória.” A plateia irrompeu em aplausos e,
enquanto se sentava, o “lord da linguagem [32],” como um jornalista chamava
Churchill, sabia que havia conseguido mais uma vez. “Cada palavra foi
carregada de signi cado, cada frase, uma expressão de fé e coragem,” escreveu o
Sunday Times. “Na ocasião, ele não poderia ter se saído melhor.”
Agora era a vez de Winant responder. Ele levantou-se, segurando as folhas
de seu discurso, e olhou em volta para a plateia, trocando o peso do corpo de um
pé para o outro, “bem parecido com o menino que iria ler suas primeiras linhas
escritas numa festa,” de acordo com um observador. Houve uma longa pausa.
Então calmamente, porém um tanto hesitante, ele começou a falar. Diferente de
Churchill, Winant “não era um orador,” como o Daily Herald disse no dia
seguinte. “Leu, e não muito bem, cada palavra que estava escrita, sem tirar os
olhos do papel. Mas suas palavras foram mais do que simples oratória. Foram
uma declaração de fé.”
A América, disse Winant, foi nalmente sacudida de sua letargia e “entrou
em ação. Com seus recursos e mão de obra, ela proporcionará as ferramentas —
os navios, aviões, canhões, munições e alimentos — para todos aqueles aqui e em
outros lugares que defendem com suas vidas fronteiras livres.” Contudo, embora
penhorasse o suporte da América à Inglaterra, ele deixou claro que não tinha
vindo para elogiar seu próprio país pela lenta ajuda. Estava ali para pagar tributo
à determinação e à coragem da Inglaterra e de seus cidadãos. “Nos dias de hoje, é
honra e destino do povo inglês guarnecer a cabeça de ponte das esperanças da
humanidade. É vosso privilégio resistir aos impiedosos e poderosos ditadores que
pretendem destruir as lições de dois mil anos de história. O destino vos
encarregou de lhes dizerem: 'Por aqui não passarão.'”
Nesse ponto, Winant parou e passeou o olhar pelo salão. Com a voz
crescendo de tom, ele declarou: “Os anos perdidos já se foram. A estrada à frente
é penosa. Um novo espírito se instalou. Os povos livres estão de novo cooperando
para ganhar um mundo livre, e nenhuma tirania irá frustrar suas esperanças.” Os
aliados, a rmou, “com a ajuda de Deus construirão uma cidadela de liberdade
tão robustecida que a força nunca mais tentará sua destruição.”
A reação da audiência ao apaixonado, ainda que algo truncado,
pronunciamento do embaixador espelhou a das multidões em New Hampshire
durante sua primeira campanha para governador: começou com um sentimento
de piedade por ele e terminou com estupenda ovação. Como os cidadãos do seu
estado, os britânicos presentes ao almoço pareceram ver no reservado e
desajeitado Winant um espírito aparentado e demonstraram tal sentimento com
aplausos e vivas intensos.
No dia seguinte, os jornais ingleses da mesma forma não pouparam
entusiasmo. Empregando “linguagem de grandeza simples [33],” publicou o
Evening Standard, Winant “conseguira um feito que poucos oradores podem
igualar: falou depois de Mr Churchill com total sucesso.” O Daily Mirror
estampou em grande manchete de primeira página: “O ENVIADO
DOS EUA FALA PARA VOCÊ — O POVO
INGLÊS!” Um colunista do Star escreveu: “Quase todos com quem falei
esta manhã perguntaram-me: 'Você ouviu a transmissão do discurso de Winant
pelo rádio?' Ouvi — e quei sensibilizado.”
Segundo o Sunday Times, “foi um extraordinário triunfo.”
2

“Você É o Melhor Repórter da Europa”


 
Quando Gil Winant chegou à embaixada dos Estados

Unidos em Londres, cou intrigado ao descobrir que a casa outrora ocupada


por John Adams, primeiro enviado americano à Inglaterra, cava poucos passos
distantes de seu escritório. Tanto a embaixada quanto a residência de Adams
estavam situadas na Grosvenor Square, um dos endereços mais na moda da
capital desde que Sir Richard Grosvenor a projetara no início do século XVIII. A
partir da época de sua construção, observou um escritor contemporâneo, o
espaçoso quadrado cercado de árvores “era a mais magní ca [34] praça de toda a
cidade.”
A casa alugada por John e Abigail Adams de 1785 a 1788 estava entre as
algumas dezenas de residências georgianas construídas no perímetro da praça,
que tinha no seu centro uma dourada estátua de George I envolvida por jardins
bem cuidados e caminhos recobertos de cascalho. Era um local adorável e
charmoso para se viver — caso não se fosse o primeiro enviado dos EUA a uma
Inglaterra ainda ressentida com a perda de suas rebeldes colônias americanas.
Como muitos de seus compatriotas, os vizinhos aristocráticos dos Adams (um
dos quais era Lord North, primeiro-ministro da Inglaterra durante a Guerra
Revolucionária) trataram o casal americano com presunçoso desdém. “Um
embaixador da América!” — torceu o nariz o Public Advertiser, jornal londrino.
“Deus do céu, como isso soa mal!” Poucos nos círculos o ciais ingleses esperavam
que a nação surgida do nada vingasse, porém, enquanto ela sobrevivesse,
achavam que o melhor seria ignorar seu representante. Sobre os ingleses, os
Adams escreveram para um amigo nos Estados Unidos: “Eles nos detestam.” No
meio-tempo, Abigail queixava-se “da civilidade estudada e da disfarçada frieza”
dos ingleses, que, disse ela, “encobriam corações malignos.” Ela escreveu a sua
irmã em 1785: “Nunca tentarei fazer amizade com esse tipo de gente, porque
eles não gostarão de mim nem um pouco mais do que gosto deles.” Três anos
mais tarde, quando o Congresso aprovou a solicitação dos Adams para deixarem
Londres, Abigail cou numa felicidade só. “Daqui a alguns anos [35],” escreveu,
“talvez seja agradável residir aqui na qualidade de ministro americano, mas, com
o (...) atual humor dos ingleses, ninguém deve invejar esta embaixada.”
Como posteriores representantes dos EUA descobririam, a atitude superior
dos ingleses em relação a seus primos americanos mostrou poucos sinais de
abatimento. Nathaniel Hawthorne, que serviu como cônsul dos EUA em
Liverpool, em meados dos anos 1850, escreveu: “Essa gente tem-se em tão alta
conta e é tão desdenhosa com quaisquer outros, que requer mais generosidade do
que possuo para que haja uma boa relação com eles.” Cerca de três décadas
depois, o famoso editor James Russell Lowell, um dos sucessores de Adams na
Corte de St. James, cou igualmente exasperado: “A única maneira segura de
criar uma relação saudável entre os dois países é tirando da cabeça dos ingleses a
noção de que devemos ser para sempre tratados como uma espécie de inglês
inferior e deportado.”
No entanto, em 1941 a situação era bem diferente. Os ingleses agora
precisavam demais da América para cederem ao desejo de demonstrações
públicas de superioridade. Se Abigail Adams pudesse fazer uma fantasmagórica
visita a Grosvenor Square, provavelmente caria surpresa com o novo status do
embaixador dos EUA e também com as mudanças na própria praça.
Embora Grosvenor Square continuasse sendo um endereço muito procurado,
diversas de suas grandes mansões haviam sido postas abaixo e substituídas nos
anos 1930 por edifícios de apartamentos de luxo no estilo neogeorgiano e por
prédios de escritórios, um dos quais era então ocupado pela embaixada dos
Estados Unidos. O nº 9 de Grosvenor Square, onde os Adams haviam residido,
estava entre as poucas casas do século XVIII que não tinham sido demolidas. A
guerra provocara ainda mais mudanças. As bombas alemãs tinham arrasado
diversos prédios da praça e, no seu centro poeirento, estavam estacionados
veículos de serviço e baixas cabanas de madeira haviam tomado o lugar dos
gramados e da quadra de tênis. As cabanas eram ocupadas por membros do
Serviço Auxiliar Feminino da Força Aérea (Women Auxiliary Air Force — as
WAAF), cuja missão era controlar os balões de barragem, carinhosamente
apelidados de “Romeus,” que utuavam no céu acima da praça.
O contraste entre o tratamento inglês dispensado a John Adams e a Gil
Winant era igualmente surpreendente. Não mais um novo-rico menosprezado,
os Estados Unidos eram então cruciais para o prosseguimento da existência da
Grã-Bretanha como país livre, e seu enviado não era apenas bem-vindo como
também continuadamente bajulado pelo rei inglês, por líderes do governo e pela
mídia. Quando Winant deu sua primeira entrevista coletiva na embaixada,
pouco tempo após sua chegada, tantos jornalistas pediram credenciais que ele foi
obrigado a dividi-la em duas sessões — uma para os repórteres ingleses e
europeus e outra para os correspondentes americanos.
Embora o novo embaixador recebesse melhor tratamento dos ingleses do que
John Adams, em outros aspectos ele guardava similaridades com o primeiro
enviado dos EUA. Uma descrição de John Adams por seu amigo Jonathan
Sewell poderia muito bem ser aplicada a Winant: “Ele não sabe dançar [36],
beber, jogar, elogiar, prometer, se vestir, xingar com os outros gentlemen, falar
macio e ertar com as damas; em suma, não possui atributo ou requinte algum
que caracterizam o cortesão.”
Winant continuou demonstrando sua habitual timidez nos dois encontros
com a imprensa, mãos nervosas, voz suave e hesitante, palavras “pronunciadas
tão lentamente,” segundo um jornalista inglês, “que a taquigra a era
desnecessária.” Com dezenas de ashes espocando em sua face, ele caminhava
inquieto em torno de sua sala enquanto os repórteres disparavam perguntas.
Winant confessou aos jornalistas que tinha pouco a dizer, mas depois que
estivesse mais bem informado, os reuniria novamente para conversar um pouco
mais. Tal mutismo normalmente teria eriçado a pele dos calejados escribas de
Fleet Street. No entanto, mais uma vez, Winant foi um sucesso:
“EXCELENTE IMPRESSÃO DEIXADA POR
WINANT EM LONDRES,” foi a manchete em letras garrafais do
Evening Star no dia seguinte. “Nos primeiros cinco minutos da entrevista,”
observou o News Chronicle, “ cou óbvio que ele já tinha conquistado a boa
vontade dos correspondentes de toda a Inglaterra e do Império com sua simpatia,
timidez e óbvias sinceridade e honestidade.”
Os repórteres também destacaram as diferenças entre Winant e seu gregário
e boquirroto antecessor, Joseph Kennedy, que havia contratado um ex-
correspondente do New York Times como encarregado das relações públicas em
Londres e que cortejava assiduamente os corpos de jornalistas americanos e
ingleses. “Deixando-se de lado sua visão política, Mr Kennedy era um favorito da
imprensa,” escreveu Bill Stoneman do Chicago Daily News, após a coletiva de
Winant com os repórteres americanos. “Mas foi quase generalizado consenso,
entre os que ainda não conheciam Mr Winant, que sua maneira quieta de se
expressar seria uma benesse por aqui.”
Ninguém estava mais convencido disso do que um alto e magro
correspondente de rádio sentado bem à retaguarda no escritório de Winant
durante a entrevista coletiva. Joseph Kennedy, para dizer o mínimo, jamais fora
um favorito de Edward R. Murrow. Durante diversas semanas passadas ele havia
se empenhado em Washington pela substituição de Kennedy, que odiava, por
Winant, que muito admirava.
 
Por volta de 1941, Ed Murrow havia se tornado o americano
mais conhecido em Londres, o jornalista que, de acordo com a revista Scribner's,
“tem mais in uência [37] sobre a reação americana às notícias estrangeiras do
que um navio repleto de gente da mídia.” Ele e os homens que havia contratado
como correspondentes da CBS eram então as principais fontes de notícias
europeias para muitos, se não a maioria, de seus conterrâneos.
Todavia, quatro anos antes, quando Murrow tentou se liar à Associação
Americana de Correspondentes no Exterior na Inglaterra, aquela augusta
organização recusara seu requerimento. O motivo para a rejeição era inatacável:
Murrow não tinha um só dia de experiência jornalística a seu crédito quando
chegou pela primeira vez em Londres, em 1937. Como diretor europeu de
entrevistas e palestras da CBS, ele fora enviado para ser uma espécie de
agenciador, um funcionário cuja tarefa era providenciar radiodifusões de vários
tipos, de debates na Liga das Nações a concertos de coros de meninos em Viena e
Praga. Naquela ocasião, nem a CBS, nem a NBC, a outra importante rede de
rádio dos Estados Unidos, tinham repórteres próprios para circular pelo globo e
transmitir para ouvintes em território americano.
Murrow, no entanto, dispôs-se a mudar esse estado de coisas. Quando
cresceu a ameaça de guerra, ele convenceu William Paley, chairman da CBS, a
deixá-lo contratar seu próprio grupo de correspondentes, que chegaram a ser
conhecidos anos mais tarde como os “Murrow Boys.” Na ocasião em que a
Alemanha começou seu incessante ataque aéreo contra Londres, em setembro de
1940, apresentou-se o evento pelo qual Murrow vinha se preparando desde que
chegara à Europa. A Blitz era perfeita para o rádio: podia ser transmitida em
tempo real, tinha drama humano e, sobretudo, som — o gemido das sirenes, o
sibilo das bombas, a explosão e o estrondo dos canhões antiaéreos. Nenhum
outro meio podia levar aos lares americanos a realidade de um ataque aéreo de
maneira tão poderosa.
Ouvir as transmissões de Murrow, com sua famosa abertura “Aqui,
Londres!” tornou-se um hábito nacional nos Estados Unidos. Trabalhando
dezoito horas por dia, sobrevivendo em grande parte à base de café e cigarros,
Murrow emergiu como o Boswell da Londres de tempo de guerra, descrevendo
em pequenas joias de detalhes como as pessoas lutavam para levar as vidas,
mesmo quando sua cidade e seu mundo ameaçavam despedaçar-se em torno
delas. “Você é o melhor [38] repórter de toda Europa,” escreveu para Murrow o
editor e dono do St. Petersburg Times, Nelson Poynter. “Digo isso porque faz um
trabalho tão abrangente quanto os melhores deles e, além do mais, tem oferecido
aos seus ouvintes os pequenos fatos da vida que tornam real o desagradável
pesadelo.”
Nas suas reportagens, Murrow conseguiu também conquistar a con ança
dos que o escutavam. Se ele deixava implícito, como fazia cada vez com maior
frequência, que a Inglaterra não poderia prosseguir sozinha, que a América tinha
que se juntar à guerra, ora muito bem, talvez tivesse razão, pensava grande parte
de sua audiência. Centenas de americanos escreveram a Murrow para dizer que
suas transmissões os tinham tirado do distanciamento neutro no apoio aos
ingleses. Em setembro de 1940, uma pesquisa Gallup reportou que 39 por cento
dos americanos eram favoráveis à ajuda dos EUA à Inglaterra. Um mês mais
tarde, quando as bombas despencaram sobre Londres e Murrow levou a
realidade para as salas de estar americanas, 54 por cento acharam que deveria
haver mais ajuda.
Em 1941, o Clube da Imprensa de Ultramar, em Nova York, elegeu Murrow
o melhor repórter de rádio do ano anterior. Aos trinta e dois anos, ele se
transformou em autêntica celebridade. Reportagens em jornais e revistas foram
escritas sobre ele, e suas transmissões eram impressas como colunas de jornais
nos Estados Unidos. “Você é o homem no ar nº 1,” escreveu-lhe de Nova York
seu colega de CBS William Shirer. “Ninguém aqui encosta em você, nem tem
sua quantidade de fãs.”
Murrow se tornou o homem a ser visitado em Londres, a pessoa com quem os
provenientes de Washington procuravam informação e orientação sobre o
governo britânico e o povo inglês. Entre os que quiseram vê-lo estava Harry
Hopkins, o assessor mais próximo de Roosevelt, que convidou Murrow para
jantar poucas horas depois de chegar em missão especial para o Presidente, em
janeiro de 1941. Hopkins fora a Londres, disse ele a Murrow, para servir como
“elemento catalisador entre duas prima-donas. Quero tentar conseguir um
conhecimento de Churchill e dos homens com quem ele se reúne depois da
meia-noite.”
Murrow foi capaz de dizer a Hopkins o que ele precisava saber por causa de
seu fácil acesso a Churchill e a outros funcionários dos altos escalões do governo
inglês. Plenamente consciente da importância do transmissor de notícias da CBS
e de outros in uentes jornalistas americanos para a causa inglesa, o primeiro-
ministro se mostrou diligente em cultivá-los desde que ascendeu ao poder. Os
americanos, disse um repórter inglês com certa dose de inveja, eram “tratados
como deuses de lata [39] porque eram tão úteis.” Quando funcionários britânicos
recusaram a solicitação de Murrow para fazer reportagens ao vivo durante a
Blitz, a questão foi repassada a Churchill, que imediatamente aprovou a ideia.
Qualquer coisa que pudesse convencer a América a vir em socorro da Inglaterra
tinha logo as bênçãos do primeiro-ministro.
No nal de 1940, Murrow e Churchill começaram a se ver num nível mais
pessoal depois que as duas esposas se tornaram amigas enquanto trabalhavam no
“Pacotes para a Inglaterra,” um programa patrocinado pelos americanos com o
objetivo de coletar roupas e outros suprimentos para os cidadãos ingleses
expulsos de suas residências pelos bombardeios. Ed e Janet Murrow passaram a
ser convidados assíduos do nº 10 de Downing Street; certa vez, quando Murrow
passou por lá para pegar a esposa, depois de um almoço com Clementine
Churchill, o primeiro-ministro apareceu na porta de seu escritório e acenou para
que Murrow entrasse. “É bom vê-lo,” trovejou o primeiro-ministro. “Você tem
tempo para uns uísques?”
Como muitos de seus colegas americanos, as simpatias de Murrow estavam
com os ingleses. A neutralidade da América, que seus patrões apoiavam, era uma
política que não funcionava, julgava Murrow, pois falhava em levar em conta a
estrondosa diferença moral entre a Alemanha názi e os aliados. Quando cobriu a
incorporação da Áustria à Alemanha em 1938, Murrow testemunhara
brutamontes názis incendiando lojas de propriedade de judeus, forçando rabinos
a se ajoelharem para esfregar calçadas, e chutando judeus até a inconsciência.
Certa noite, enquanto tomava uns drinques num bar de Viena, um homem com
feições semitas ao seu lado tirou uma navalha do bolso e cortou o próprio
pescoço. Depois que retornou a Londres, Murrow não conseguiu tirar da cabeça
as brutalidades que havia presenciado. Perguntou a uma amiga da BBC se ela
deixaria que ele lhe relatasse o que tinha acontecido. Anos mais tarde, essa amiga
disse: “Ainda tenho gravada em minha mente uma imagem do horror da cena — e
a agonia com que ele a descreveu para mim.” Segundo o economista John
Kenneth Galbraith, amigo de Murrow, “Ed pareceu-me horrorizado com a
experiência do Anschluss.”
Obcecado com a ameaça que a Alemanha representava para o mundo e
convicto da importância da sobrevivência da Inglaterra, Murrow pouco escondia
seu menosprezo por Joseph Kennedy e por seus seguidores da posição pró-
apaziguamento. Embora nunca tivesse criticado Kennedy diretamente em seus
relatórios, certa vez ele transmitiu, com muita satisfação, extratos de uma coluna
de revista escrita por Harold Nicolson, um deputado antiapaziguamento, que
desencava o embaixador. Tão grande era a aversão de Murrow por Kennedy que,
pouco depois da guerra, ele não poupou um amigo por visitar o ex-embaixador
em sua propriedade de Palm Beach. Estar com Kennedy, disse Murrow, era o
mesmo que visitar Hermann Göring, o vice de Hitler. Murrow estava
convencido de que, “de uma forma ou de outra, a Inglaterra [40] sairá dessa,”
relembrou Eric Sevareid, um dos Murrow Boys. “E cava furioso com os que
assumiam atitude derrotista, mesmo em conversas particulares.”
Quando Murray descobriu, no nal de 1940, que Kennedy estava
retornando aos Estados Unidos, imediatamente começou a interceder em favor
de Gil Winant como sucessor do embaixador. A despeito da diferença de vinte
anos, Murrow e Winant haviam se tornado amigos desde o início dos anos 1930,
durante o tempo em Genebra de Winant na OIT. “Ed tinha grande consideração
por [Winant], relembrou um amigo de ambos. Os dois, disse outro conhecido,
tinham muito em comum — “Ambos bastante reservados, absolutamente
dedicados, totalmente sintonizados na mesma frequência.” Com uma forte
consciência social, Murrow, como Winant, “esperava que os indivíduos de seu
governo tivessem altos padrões morais,” disse Sevareid nos anos 1960. “Ele
acreditava numa política externa baseada em princípios morais, coisa em que
muito poucas pessoas de então já não mais faziam fé.”
Apesar de muito admirar Roosevelt, Murrow demonstrava crescente
impaciência com a hesitação americana em vir em ajuda da Inglaterra. Em
Winant, ele via espelhados seu próprio senso de urgência e seu apaixonado
compromisso com ideais — atributos que ele sonhava vislumbrar no Presidente e
em outros políticos dos EUA. “Espero que a vida esteja muito boa para você na
América, e que suas narinas não sejam assaltadas pelo odor da morte (...) que
permeia a atmosfera daqui,” escreveu ele a um amigo nos Estados Unidos. Para
outro, sublinhou: “Se a luz do mundo tiver que vir do Ocidente, é melhor que
alguém comece a acender umas fogueiras.”
Sobre Murrow, um amigo inglês lembrou: “Ele se preocupava, se preocupava
muito, que seu próprio país não estivesse consciente dos fatos da vida. E que se
Hitler e Cia. não fossem detidos aqui, a próxima parada seria em Manhattan.”
 
Enquanto Ed Murrow e Gil Winant se pareciam em muitos
aspectos, seus históricos eram totalmente diferentes. O pai de Murrow era
pequeno fazendeiro cuja produção mal dava para a subsistência da família em
Polecat Creek, Carolina do Norte; ele decidiu então mudar-se levando esposa e
quatro lhos para o estado de Washington, no noroeste dos EUA, quando Ed
tinha cinco anos, para trabalhar em acampamentos de madeireiros. A família não
teve água encanada dentro de casa antes de Murrow completar quatorze anos, e
não teve um telefone durante todo o tempo em que ele viveu com os pais.
Idealista e, ao mesmo tempo, intensamente ambicioso, Murrow era crítico
dos privilégios não merecidos e acreditava piamente que os jornalistas deveriam
ser defensores dos menos favorecidos. No entanto, sua ambição o levava a desejar
ser admitido nos clubes e salões das classes altas americana e inglesa. Em
Londres, não dispensava os ternos de risca de giz de Saville Row, um dos
métodos que empregava para apagar os vestígios de suas origens muito humildes.
Eric Sevareid jamais esqueceu a primeira vez que teve contato com Murrow —
“um jovem americano [41] envergando belíssimo terno sob medida, de colarinho
duro e falando muito à vontade no telefone com madame fulana de tal. Sua
tranquilidade e so sticação do linguajar (...) eram difíceis de acreditar.”
Porém, quanto mais Murrow se afastava de suas raízes rurais e empobrecidas,
mais culpado se sentia por fazê-lo. Chegou a a rmar aos amigos em Londres que,
por vezes, achava que devia ter continuado no estado de Washington como
lenhador, seu trabalho de verão quando cursou a escola secundária e a faculdade.
Murrow costumava dizer que “havia certa felicidade naquela vida,” e que
“nunca mais experimentou aquele tipo de satisfação,” lembrou um amigo.
Leitor voraz, Murrow frequentou o Washington State College, onde se
bacharelou em oratória, liou-se à mais prestigiada fraternidade do campus e foi
eleito presidente do diretório acadêmico. Depois que se formou em 1930, atuou
como presidente da Federação Nacional de Estudantes da América, uma agência
que representava os diretórios acadêmicos de cerca de quatrocentas faculdades e
universidades. Depois trabalhou no Instituto de Educação Internacional,
primordialmente como organizador do intercâmbio de estudantes e de
conferências nos Estados Unidos e na Europa. Nas suas frequentes viagens ao
estrangeiro, Murrow fez diversos e importantes contatos, inclusive com o
destacado socialista inglês Harold Laski, que também era muito amigo de
Winant. Em 1933, através de seu trabalho no instituto, Murrow se envolveu com
a ajuda a eminentes acadêmicos e cientistas alemães, entre eles Paul Tillich,
Martin Buber e Hans J. Morgenthau, a m de que emigrassem para a América,
fugindo da Alemanha názi. Aquela experiência, disse ele mais tarde, foi “a mais
ricamente [42] compensadora de todas as empreitadas de que jamais participei.”
No ano seguinte, com vinte e seis anos, ele se casou com Janet Brewster, uma
bonita morena formada em Mount Holyoke e nascida em Connecticut, cujas
raízes familiares podiam ser retraçadas até o May ower. Calma e reservada na
aparência, Janet amava a aventura, tinha sagaz senso de humor e ideias próprias.
Na faculdade, ela rejeitou o conservantismo republicano dos pais e se tornou
aplicada democrata new dealer. Antes de conhecer Murrow, sua ambição era
mudar-se para Nova York e se tornar assistente social.
Em 1935, a CBS contratou Murrow como diretor de entrevistas e palestras.
Dois anos mais tarde, foi enviado para Londres a m de supervisionar os
programas culturais, educacionais e os noticiários da Inglaterra e do continente.
Enquanto a Europa caminhava para a guerra, Murrow desenvolvia um frenético
show de um homem só, viajando pelas capitais europeias para preparar debates,
palestras de guras internacionais e comentários de conhecidos correspondentes
estrangeiros, assim como para cobrir eventos que iam de concertos a concursos de
cães.
Com Hitler prestes a anexar a Áustria, Nova York concordou, no início de
1938, em expandir a operação da rede europeia. Murrow contratou William
Shirer, veterano corresponde no estrangeiro sediado em Berlim. Na ocasião em
que os názis entraram marchando em Viena, em março, Murrow e Shirer
vislumbraram as chances de se rmarem como repórteres de rádio e de fazer
história radiofônica. Algumas noites depois do Anschluss, os dois organizaram a
primeira rede de notícias ao vivo jamais operada para a América, com Murrow
reportando de Viena, Shirer e a deputada trabalhista Ellen Wilkinson, de
Londres, e diversos correspondentes de jornais americanos a partir de Paris,
Berlim e Roma. A última transmissão saiu de Washington, onde o senador Lewis
Schwellenbach, um isolacionista da Comissão de Relações Exteriores do Senado,
declarou: “Se o restante do mundo quiser se envolver numa briga, o problema é
dele.”
A rede ao vivo foi um grande sucesso para a CBS. Murrow e Shirer tinham
provado que o rádio não apenas era capaz de difundir notícias, como
normalmente o fazia, mas também de colocá-las dentro de um contexto, ligando-
as a notícias de outras fontes — e fazer isso com velocidade e oportunidade sem
precedentes. Eles igualmente colocaram em movimento uma cadeia de eventos
que levaria, em apenas um ano, à emergência do rádio como a principal mídia de
notícias da América, e ao começo do domínio da CBS, que durou décadas, no
jornalismo radiofônico.
 
Durante o governo de Neville Chamberlain como primeiro-
ministro inglês e líder do Partido Conservador, Murrow, embora jamais criticasse
nas suas transmissões a política do governo de conciliação com Hitler,
frequentemente reportava o que os oponentes antiapaziguamento de
Chamberlain diziam acerca da política. Por seu turno, Downing Street e grande
parte de Whitehall faziam muitas críticas a ele. “Deixaram por demais [43] claro
que não gostam de algumas coisas que tenho dito ultimamente,” escreveu
Murrow a seus pais no início de 1939. “Pode ser que eu seja expulso do país
antes de a guerra começar. Diversas pessoas, que ocupam cargos importantes,
têm me dado conselhos paternais, dizendo que seria do meu próprio interesse
transmitir palestras favoráveis a este país.”
Funcionários recomendavam que ele seguisse a linha da British Broadcasting
Corporation, a única fonte de notícias pelo rádio da maior parte do povo inglês.
Apesar de a BBC ser subsidiada pelo governo e, no m, tivesse de prestar contas
ao Parlamento, supunha-se que tinha independência editorial. Sir John Reith, o
diretor-geral, via, entretanto, de maneira diferente o alvará da estação. Seu
raciocínio era o seguinte: “Partindo-se do pressuposto de que a BBC é para o
povo e de que o governo também é, logo a BBC tem de ser favorável ao governo.”
Sob Reith, a BBC abafava notícias que Chamberlain julgava não palatáveis e se
baseava quase totalmente em fontes o ciais para a difusão dos noticiários; não
proporcionava nem análise nem contexto do que estava acontecendo, tampouco
perspectivas alternativas. Na esteira da crise de Munique, um alto funcionário
da BBC escreveu um memorando con dencial aos seus superiores acusando-os
de embarcarem numa “conspiração do silêncio.” O público, investiu o
funcionário, fora mantido “na ignorância” e a ele fora negado “conhecimento
essencial” do que se passava.
Murrow não tinha a intenção de seguir o exemplo da BBC. Além dos
relatórios duros sobre as políticas de Chamberlain, ele convidava Winston
Churchill e outros deputados conservadores antiapaziguamento a m de que se
pronunciassem pelo rádio, via CBS, para a América. A companhia americana era
a única válvula de escape para a maioria dos parlamentares rebeldes que haviam
sido banidos das radiodifusões da BBC em função de suas opiniões.
A maioria dos críticos de Chamberlain no Partido Conservador fazia parte
da rede de ex-alunos de escolas de prestígio que dominavam a sociedade e o
governo ingleses, e eles receberam muito bem Murrow e a esposa Janet em seu
círculo de elite. Ao longo de toda a estada dos Murrows na Inglaterra eles foram
frequentes convidados para almoços, jantares e recepções nos exclusivos clubes
privados do elegante bairro de Mayfair, assim como para ns de semana em
senhoriais casas de campo. Muito bom atirador, Murrow caçava perdizes e
faisões com Lord Cranborne, futuro marquês de Salisbury, na propriedade da
família, em Hertfordshire, uma das mais tradicionais da aristocracia inglesa. O
menino de Polecat Creek era um dos poucos não britânicos que chamava
Cranborne, ex-subsecretário do Foreign O ce e um dos mais abertos opositores
de Chamberlain, pelo apelido de criança — “Bobbety.”
Era também assiduamente incluído na lista dos convidados para ns de
semana de caça em Ditchley, mansão do século XVIII em Oxfordshire e uma das
mais opulentas casas de campo inglesas cujo dono era outro rebelde, Ronald
Tree. Neto de Marshall Field, magnata das lojas de departamentos de Chicago, o
fantasticamente rico Tree havia crescido na Inglaterra e fora eleito para o
Parlamento em 1933. Sua esposa, Nancy, era sobrinha de Nancy Astor, uma
bela moça nascida na Virgínia, EUA, que se tornara, na idade adulta, a primeira
mulher eleita para a Câmara dos Comuns.
Envolvido pelo abstrato, porém rígido, sistema de classes inglês, Murrow não
se sentia culpado (embora por vezes casse na defensiva) por suas relações com
pessoas das mais altas camadas da sociedade. Ele não julgava os amigos pela
classe, costumava dizer; de qualquer maneira “essas pessoas [44] são valiosas
para mim.” Janet Murrow tinha resposta mais preconceituosa: as mulheres
daqueles círculos muito re nados com frequência a ignoravam, preferindo
concentrar-se no seu vistoso e in uente marido. “Elas tinham uma maneira
rápida e e ciente,” lembrou-se, “de fazer você sentir que não era particularmente
útil a elas.” Uma empedernida ianque de Connecticut, ela também não
apreciava muito o que classi cava de super cialidades no estilo de vida da classe
alta inglesa. Após um m de semana em Ditchley, escreveu em seu diário: “É
uma bela casa — palácio — clube campestre — ou sei lá o quê. Mas como
complicam a vida! Muita gente reunida! Conversas demais; muito barulho. Por
que fazem isso?”
 
Em setembro de 1939, a relutante declaração inglesa de guerra
à Alemanha pôs um m em grande parte da frivolidade que Janet Murrow
achava tão detestável. E transformou a vida dela, bem como virou de cabeça para
baixo a de virtualmente todos os habitantes do país. Mais de um milhão de
pessoas, independentemente de ricas ou pobres, foram evacuadas de suas
residências ou as deixaram voluntariamente, constituindo a maior migração na
Inglaterra desde a Grande Praga de 1665. Casas foram interditadas, famílias
separadas, carreiras abandonadas, escolas, lojas e escritórios fechados.
O embaixador Kennedy recomendou que todos os americanos na Inglaterra
deixassem o país com a maior brevidade possível. Mais de dez mil cidadãos dos
EUA, inclusive sua própria esposa e lhos, aceitaram o conselho e partiram com
a velocidade permitida pelas acomodações nos navios — a maioria nas quarenta e
oito horas seguintes à declaração de guerra. Longas las de americanos (e de não
poucos ingleses) serpenteavam à frente da embaixada dos Estados Unidos à
procura de deixar o país.
Em Londres, os sinais da guerra estavam por todos os cantos. Barricadas de
sacos de areia e de arame farpado protegiam o Parlamento, o nº 10 de Downing
Street e outros prédios governamentais, enquanto balões de barragens, presos a
cabos, utuavam sobre a cidade. Soldados e policiais montavam guarda em
pontes e túneis, atentos contra possíveis sabotadores. As vitrines das lojas eram
cobertas por painéis de madeira ou tinham coladas faixas de papel marrom para
evitar que estilhaçassem com as explosões das bombas. Os espalhafatosos
anúncios luminosos de Picadilly Circus e as marquises iluminadas dos teatros do
West End permaneciam apagados em virtude de blackout, e as águas não mais
dançavam nos chafarizes de Trafalgar Square.
Destacando-se bem acima de Portland Place, a Broadcasting House, de onde
Murrow fazia suas radiodifusões para a América, tinha sido particularmente bem
reforçada. O quartel-general da BBC, um gigantesco edifício branco em forma de
triângulo a poucos quarteirões de Regent's Park, era considerado alvo
preferencial de sabotadores e bombas. Sacos de areia foram empilhados a
consideráveis alturas em torno das entradas, e sentinelas portando fuzis
guarneciam as maciças portas de bronze da frente, com ordens de atirar para
matar, se necessário. Os graciosos interiores em art déco do prédio foram
divididos por partições de aço e portas à prova de gás. Seus murais com técnica
trompe l'oeil estavam cobertos com forte material à prova de som. Os assentos do
salão de concertos da BBC foram retirados com o objetivo de criar um gigantesco
dormitório para os empregados, com colchões alinhados no palco e na plateia.
A divisão de noticiários foi o único departamento importante da BBC a
permanecer na Broadcasting House durante a guerra; os demais, inclusive o
departamento de entretenimento, foram evacuados para prédios em outras partes
de Londres e do país. O coração da BBC News — a sala de controle geral, os
estúdios e a redação — foi transferido para baixo do subsolo, três andares
inferiores ao nível da rua. Bem enterrados no subterrâneo, com tubulações
fazendo barulho acima de suas cabeças e o cheiro de repolho se in ltrando da
cantina, editores, locutores, escritores e outros membros da equipe trabalhavam
vinte e quatro horas por dia para produzir os programas com as notícias mais
atualizadas.
Murrow e os outros radiorrepórteres americanos transmitiam a partir do
estúdio B-4, um diminuto cômodo subterrâneo antes usado para armazenar
mantimentos da cantina. O “estúdio” era dividido por uma cortina improvisada.
De um lado, a cabine de transmissão, consistindo de uma mesa, microfone e duas
cadeiras; do outro, armários de arquivos, cabides de roupas e um catre,
normalmente utilizado por um cansado repórter, engenheiro ou censor.
 
Tão dramáticas quanto as mudanças físicas na BBC, porém ainda
mais surpreendentes, foram as alterações no estilo e na loso a da estação. Antes
de setembro de 1939, ela era, como lembrou um empregado, “um lugar [46]
agradável, confortável, aculturado e repousante, distante do mundo dos negócios
e das lutas.” O homem responsável pela criação daquele ambiente erudito,
presunçoso e levemente puritano foi John Reith, o qual, desde a concepção da
rede, em 1922, recomendou que os locutores usassem dinner jackets enquanto
estivessem ao microfone. Depois de proferir uma palestra sobre a BBC em 1937,
Virginia Woolf descreveu sua atmosfera como “triste e discreta” e “oh, tão
adequada, oh, tão amável.”
Quando chegou pela primeira vez a Londres, Murrow, numa reunião com
Reith, deixou patente que ele e a CBS não tinham a intenção de adotar a atitude
de nariz empinado da BBC. “Quero que meus programas sejam tudo, menos
intelectuais,” disse ele. “Quero que eles tenham pés no chão e sejam entendidos
pelo homem comum da rua.” Com indiferente aceno da mão, Reith replicou.
“Então você vai arrastar o rádio para o nível do Hyde Park Speaker's Corner
(Canto dos Oradores).” Murrow fez que sim com a cabeça. “Exatamente.”
No início de 1940, Reith foi nomeado para che ar o novo Ministério da
Informação; mesmo antes de sua saída, a BBC começou uma metamorfose que a
tornaria, pelo m da guerra, na fonte mundial mais con ável de notícias. Ela
também se transformou, como um dos membros da equipe da estação colocou,
“no verdadeiro [47] lar espiritual de Ed.”
Um bom número de novos produtores e editores, muitos deles repórteres da
imprensa escrita, foi contratado, trazendo com ele um surto de energia e de
experiência jornalística para a redação. R.T. Clark, um acadêmico dos clássicos e
ex-editorialista do Manchester Guardian, foi posto à frente do serviço de
noticiário nacional. No dia em que a Inglaterra declarou guerra à Alemanha,
Clark, com um cigarro pendurado na boca, sinalizou uma mudança sísmica na
política de notícias da BBC quando anunciou para sua equipe: “Muito bem,
irmãos, agora que a guerra chegou, a tarefa de vocês é dizer a verdade. Se não
tiverem certeza de que se trata da verdade, não usem a notícia.” Sua declaração
foi muito bem recebida não só pelos novos contratados, como também por um
grupo de antigos integrantes da equipe que eram francamente contra a
manipulação das notícias na BBC e contra a recusa da estação em permitir a
radiodifusão de críticas ao governo Chamberlain. Muitos deles eram amigos de
Murrow, o qual permaneceu sentado bem no fundo da redação enquanto Clark
fazia o anúncio, acrescentando seus aplausos àquela genuína conclamação pela
verdade.
Como as redes americanas de rádio, a BBC não possuía correspondentes
próprios, nacionais ou no estrangeiro, e recebia a maioria de suas matérias dos
jornais ou de agências de notícias pelo telégrafo. Isso mudou sob Clark:
reportagens produzidas in loco pelos jornalistas da BBC se tornaram importante
característica da estação, em paralelo com mais interpretações dos eventos, a par
de maiores vitalidade e vigor nos boletins noticiosos. Ao longo de toda a guerra,
Clark e outros funcionários da BBC lutaram para manter a independência da
rede, resistindo inúmeras vezes às tentativas do governo, tanto o de Chamberlain
quanto o de Churchill, para usar a estação com propósitos de propaganda. No
início de seu mandato como primeiro-ministro, um resmungão Churchill
costumava tachar a BBC de “um dos mais importantes neutros;” em resposta, a
BBC declarou que a manutenção do moral nacional, por mais louvável que fosse,
não era desculpa para uma “deliberada distorção da verdade.” Na maioria das
vezes, a estação conseguiu manter o governo afastado da redação. Em 1944,
George Orwell, normalmente mordaz, registrou: “A BBC [48], no que se refere a
notícias, ganhou imenso prestígio. (...) 'Deu isso no rádio,' é agora quase
equivalente a 'Sei que tem de ser verdade.'”
A evolução da BBC em tempo de guerra provocou impacto importante em
Murrow, cujo próprio estilo e loso a de transmissão de notícias ainda evoluíam
também. “Estávamos difundindo as más notícias por completo, os communiqués
terríveis,” disse um editor da BBC, “e isso se mesclou com o desejo de Murrow de
dizer a verdade, mesmo que dura e vergonhosa. Houve total casamento de ideias
nesse sentido.” Ainda que Murrow fosse um empregado da CBS, a BBC foi a
primeira organização real de noticiários com a qual ele se associou de perto. Ele e
os colegas ingleses estavam criando algo novo; compartiam as mesmas noções
sobre verdade e independência; à medida que a guerra progredia, eles aprendiam
e cresciam juntos.
Uma in uência crucial sobre Murrow foi Clark, que se tornou uma espécie
de mentor e conselheiro. Depois das transmissões noturnas do americano, os dois
conversavam por horas no confuso e subterrâneo escritório de Clark, abarrotado
de livros, a fumaça de seus onipresentes cigarros espiralando para o teto. Não era
raro Murrow convidar Clark e outros membros da BBC ao seu apartamento na
Hallam Street, bem próximo da Broadcasting House, para continuarem a
conversa com copos de bourbon americano na mão. Nas palavras de um
participante daquelas sessões grupais da madrugada, “Todos nós considerávamos
[Ed] um integrante da equipe, não apenas porque a BBC lhe cedia as instalações,
e sim porque ele se ajustava a ela. (...) Murrow foi imediatamente aceito porque
era aceitável. Nós éramos muito britânicos; ele, muito americano. (...) Mas
percorríamos a mesma estrada. Nos cômodos da Broadcasting House o nome de
Ed Murrow está inscrito em letras douradas. Ele foi um de nós.”
 
Nem Murrow, tampouco a BBC tiveram importantes notícias a
transmitir durante os primeiros oito meses daquilo que, no início, foi um con ito
simulado, conhecido como Bore War, “Guerra Chata” pelos ingleses, e “Drôle de
Guerre” por seus aliados franceses. (Os neutros americanos a denominaram
Phony War, “Guerra de Mentira.”) A Inglaterra e a França zeram pouco mais
do que lançar milhões de pan etos de propaganda em território inimigo, impor
um bloqueio naval contra a Alemanha e enviar algumas patrulhas através da
Linha Maginot, a tão louvada cadeia de forti cações na fronteira franco-alemã.
Esse período sonolento terminou abruptamente em abril de 1940 quando Hitler
invadiu a Noruega e a Dinamarca, e então, um mês mais tarde, seus panzers
rolaram poderosamente pelos Países Baixos e penetraram na França. Em junho,
os franceses capitularam, e a Inglaterra, com aproximadamente um décimo das
forças desdobradas pela Alemanha, cou sozinha para enfrentar a potência
destruidora germânica.
A retumbante e combativa retórica no novo primeiro-ministro inglês,
Winston Churchill, inspirou seus compatriotas, mas só a inspiração não tinha
capacidade de impedir o avanço alemão. “Até onde posso ver [49], estamos, após
anos de vagarosa preparação, completamente despreparados,” registrou em seu
diário Sir Alexander Cadogan, subsecretário permanente do Foreign O ce. Um
relatório do governo observou: “Todo mundo a zanzar como se quisesse en ar a
cabeça num forno a gás.”
Mais uma vez o embaixador Kennedy alertou os americanos que ainda
estavam na Inglaterra para que fugissem do país, e alguns milhares deles,
inclusive jornalistas, se foram. Quando os pais de Janet Murrow a instaram a
fazer o mesmo, ela retrucou com um rme “Não.” “Nós decidimos há um ano
que a única coisa a fazer era viver perigosamente e não fugir dos fatos,” escreveu
ela. Mais tarde, acrescentou: “Simplesmente não é possível ir embora e desfrutar
de paz quando o mundo que conheci por aqui está prestes a entrar no período
mais sombrio de sua história. Espero que vocês entendam.”
Contudo, enquanto muitos americanos partiam, outros chegavam, em
particular muitos correspondentes dos EUA que haviam coberto a debacle dos
aliados na França e na Bélgica. Entre esses, diversos pesos-pesados proeminentes
do jornalismo americano cujas reportagens haviam se originado em Adis Abeba,
Praga ou Madrid. Havia o elegante Vincent Sheean, exagerado na bebida, cujas
memórias, Personal History, tinham inspirado o lme Foreign Correspondent
(Correspondente de Guerra) de Alfred Hitchcock, como também in uenciado
toda uma geração de repórteres americanos. Igualmente brilhante (e beberrão)
era Quentin Reynolds, bem-sucedido correspondente de guerra da revista
Collier's. Homem corpulento e cordato, Reynolds, com seus 120 quilos, era, nas
palavras do New York Times, “contagiante entusiasta,” cujos traços de
personalidade e outros atributos eram excepcionalmente populares nos Estados
Unidos.
Os recém-chegados juntaram-se a Murrow e a outras dezenas de americanos
que haviam permanecido em Londres após a queda da França a m de mandar
reportagens pelas redes de rádio, para os jornais, agências de notícias e para as
revistas dos EUA. “Nunca antes [50], estou segura, houve tal concentração de
jornalistas em área tão pequena,” escreveu Janet Murrow aos pais. “Eles já estão
prontinhos para saltar na garganta uns dos outros.”
Os americanos que tinham acabado de chegar eram olhados com certa
descon ança e mesmo hostilidade por alguns de seus correspondentes ingleses.
Harry Watt, um diretor de lmes documentários noticiosos, os via como “aves de
rapina e chacais da guerra, que admitiam estar lá para reportar a queda da
Inglaterra. Estavam preparados para ver toda a Europa conquistada e já tinham
até as novas manchetes escritas.” Nem mesmo as batalhas aéreas entre a
Luftwa e e a RAF, que começaram no verão de 1940, satisfaziam o apetite dos
americanos pelo desastre. Lá pelo meio da Batalha da Inglaterra, Eric Sevareid
da CBS, um dos que haviam coberto a derrota da França, juntou-se a dois colegas
e construíram um memorial falso da guerra com pedaços de concreto, uma lata
de tomates em conserva e algumas papoulas murchas. A inscrição numa das
lascas de concreto dizia: “Aqui jazem três representantes da imprensa que
morreram de tédio à espera da invasão, 1940.”
O tédio, porém, logo seria o menor dos problemas deles.
 
Numa quente e sonolenta tarde do começo de setembro, Ed
Murrow, Vincent Sheean e Ben Robertson, um correspondente da revista PM de
Nova York, pararam na extremidade de um campo cultivado, alguns quilômetros
ao sul de Londres. Eles haviam dirigido o dia todo, descendo o estuário do
Tâmisa, no conversível Talbot Sunbeam de Murrow, para ver batalhas aéreas
entre Spit res e Messerschmitts. A procura tinha sido infrutífera e eles pararam
para comprar maçãs de um granjeiro. Deitados na grama para saboreá-las,
preguiçosamente ouviam o ruído dos grilos e o zumbido das abelhas. A guerra
parecia muito distante. Em poucos minutos, todavia, ela chegou impetuosa.
Escutando o ronco de motores de aviões, os americanos viram, a seguir, o céu
car coalhado por ondas e ondas de bombardeiros com a suástica pintada na
fuselagem e nas asas, que claramente não se dirigiam para os alvos do dia anterior
— as defesas da costa e as bases da RAF do sul da Inglaterra. Seguindo a curva do
Tâmisa, eles rumavam diretamente para Londres.
Numa questão de minutos o céu sobre a capital encheu-se de um vermelho
incandescente e brilhante; fumaça negra em vagalhões formavam uma vasta
nuvem que abarcava como um cobertor grande parte do horizonte. Quando os
estilhaços das granadas antiaéreas começaram a cair sobre os jornalistas
americanos, eles mergulharam numa vala próxima de onde, atônitos, observaram
a quase interminável procissão de aeronaves inimigas voando para o norte.
“Londres está queimando. Londres está queimando [51],” Robertson repetia sem
cessar. Retornando à cidade, eles viram chamas varrendo o East End,
consumindo docas, tanques de petróleo, fábricas, conjuntos habitacionais
apinhados de gente e tudo o mais que estivesse no caminho. Centenas de pessoas
haviam morrido, milhares feridas ou expulsas de suas residências. Iluminadas por
uma lua vermelho-sangue, mulheres empurravam carrinhos de bebê atulhados
com os pertences que haviam conseguido salvar.
Aquela noite horrível assinalou o início da Blitz: a partir de 7 de setembro,
Londres iria sofrer cinquenta e sete noites seguidas de incessante bombardeio.
Até então, nenhuma outra cidade na história havia sido submetida a tão furioso
ataque; Varsóvia e Roterdam tinham sido severamente bombardeadas pelos
alemães meses antes, mas não pelo período de tempo do assalto a Londres.
Embora a classe trabalhadora do East End tenha suportado frequentes
castigos naquele outono, nenhum bairro de Londres deixou de ser afetado. As
áreas elegantes de compras em Bond Street e Regent Street foram despedaçadas,
os pavimentos caram tão cobertos com estilhaços de vidros das janelas das lojas
de departamentos que a cena se assemelhou à passagem de uma grande
tempestade de neve fora da estação. Na Oxford Street, o edifício da loja John
Lewis era uma ruína queimada. O nº 10 de Downing Street sofreu alguns
estragos com as bombas, assim como o Ministério das Colônias, o Tesouro e o
quartel dos House Guards. Quase nenhuma janela do Ministério da Guerra
cou intacta depois de uma das incursões aéreas, e o Buckingham Palace foi
atingido diversas vezes. Como escreveu o diplomata canadense Charles Ritchie
em seu diário, todo habitante de Londres, independentemente de onde vivia,
cou “em constante perigo de vida, como os animais na selva.”
Isso incluía os correspondentes americanos de guerra, que não mais eram
observadores imparciais, com a possibilidade de testemunharem a ação na linha
de frente e depois se retirar para a segurança da retaguarda a m de escrever suas
matérias. Provindos de um país que se orgulhava de ser imune a ataque de uma
potência estrangeira, alguns tiveram problemas para reconhecer o fato de que a
segurança não era mais uma opção. “Vocês não podem fazer isso comigo. Eu sou
americano,” lembrou Eric Sevareid de ter pensado na primeira noite da Blitz.
“Por sorte,” concluiu ele, “aquele pensamento passou rápido.”
A experiência pessoal dos repórteres na Blitz se tornou elemento-chave em
suas coberturas. Suas simpatias pelos londrinos foram reforçadas pelo fato de que
eles, também, eram residentes de uma Londres sob fogo. Sentiam o mesmo temor
paralisante quando escutavam o agudo sibilo de uma bomba caindo, e o mesmo
sentimento de alívio quando ela explodia em algum local distante. “Como
qualquer pessoa [52], passei também a entender a sensação da fragilidade da
existência humana,” escreveu Ben Robertson. “Nunca nos libertávamos do senso
de que a morte estava próxima — havia sempre a tensão.”
Mesmo assim, para alguns repórteres americanos, a vida não era tão perigosa
quanto a de muitos cidadãos da capital. Com as contas pagas pelos generosos
patrões, eles podiam se dar ao luxo de viver nos modernos e caros hotéis e
edifícios de apartamentos da cidade, cujas estruturas de aço, supunha-se,
ofereciam proteção consideravelmente maior do que grande parte das
construções residenciais de Londres. Ben Robertson era hóspede do Claridge's,
Vincent Sheean, do Dorchester, Quentin Reynolds alugava um apartamento na
Lansdowne House, em Berkeley Street, onde mantinha três peixinhos dourados
no bidê permanentemente cheio d'água e partilhava um mordomo com outro
repórter americano.
Em novembro de 1940, os correspondentes do New York Times e do New
York Herald Tribune mudaram-se para o Savoy, onde abriram escritórios. Outros
repórteres chegaram em seguida. O Savoy jactava-se de possuir não apenas um
dos mais profundos e luxuosos abrigos antiaéreos da cidade, localizado no River
Room subterrâneo, cujas pesadas cortinas e orquestra de salão ajudavam a abafar
o barulho das barragens de canhões no lado de fora. Bastava passar pelas portas
rotatórias do Savoy para se sair do caos da guerra e desfrutar “dos mesmos luxo e
brilho e das pessoas especiais que se pode encontrar em qualquer bom hotel de
Nova York,” escreveu o colunista Ernie Pyle. “Todos os empregados da recepção
trajavam smokings; os bell-boys, uniformes cinzentos. Os ascensoristas usavam
colarinhos de pontas viradas.” Um hóspede de tempo de guerra disse: “Uma vez
dentro do Savoy, era difícil saber se havia guerra a quilômetros de distância.” O
American Bar do hotel se tornou o local favorito dos jornalistas dos EUA — tanto
que Douglas Williams, o ministro da Informação o cial, transferiu suas reuniões
noturnas para aquele bar, onde ele se encontrava com a imprensa, coquetel na
mão.
 
Apesar de Ed Murrow ir ao Savoy para um drinque ou jantar
ocasional, ele não seguiu o exemplo dos colegas que passaram a residir lá. Ed e
Janet continuaram no seu edifício de apartamentos em Hallam Street, que estava
então deserto, salvo por mais um residente. A vizinhança de elegantes casas com
terraços construídas no nal do século XVIII e início do XIX (estilo Regency) e os
pequenos prédios de apartamentos próximos à Broadcasting House, alvo
importante dos bombardeios alemães, haviam se tornado perigosas para se morar.
Embora o edifício dos Murrows jamais tenha sido afetado, muitas das casas e
lojas do entorno foram totalmente destruídas. O escritório da CBS, também
próximo à BBC, foi bombardeado nos primeiros dias da Blitz; quando se mudou,
foi atingido mais duas vezes.
Por ter vivido em Londres mais tempo do que a maioria dos seus
correspondentes americanos, Murrow conhecia melhor a cidade e,
supostamente, gostava mais dela. Quando as bombas choviam, ele preferia vagar
pelos bairros do que car sentado em bares de hotel ou entrevistando
parlamentares ou funcionários de Whitehall. É claro que ele cobria as atividades
governamentais, porém, com mais frequência, deixava-se vencer pela compulsão
de sair às ruas, geralmente durante os raids mais pesados, para veri car como o
povo de Londres estava se comportando. Seus amigos da BBC o apelidaram de
“mensageiro do inferno [53],” pois, todo desarrumado, empoeirado e “muito
chocado,” ele retornava à Broadcasting House todas as noites para relatar o que
tinha visto no lado de fora e, depois, repetir a descrição das cenas para seus
ouvintes.
“As palavras não têm a devida força,” disse ele certa vez. “Não há palavras
para descrever com exatidão o que está ocorrendo.” No entanto, em suas
transmissões, ele conseguia encontrá-las. Era um virtuoso das palavras, um
mestre para pintar retratos verbais de um drama que ainda parecia distante e
incompreensível para muitos americanos. Somente injetando nos seus ouvintes o
coração e a mente de outros, acreditava Murrow, a guerra começaria a ter real
signi cado para eles. “Fez tudo de concreto e especí co,” lembrou-se Sevareid.
“Chegou ao osso descarnado das coisas.” Através da “palavra falada,”
acrescentou Godfrey Talbot da BBC, Murrow era capaz “de repassar uma
imagem de como as coisas eram, de como cheiravam, de como queimavam. (...) De
modo que os ouvintes cavam com a impressão de estar ao lado dele nas ruas de
Londres.”
Numa das transmissões, ele descreveu os trabalhadores do resgate cavando
túneis nos escombros de uma casa bombardeada, levantando gentilmente corpos
debilitados “que mais pareciam bonecas [54] quebradas, abandonadas e cobertas
de poeira.” Após visitar um abrigo improvisado em uma das estações do metrô de
Londres, ele falou sobre “o frio e sufocante fog” que penetrara no abrigo e
descreveu como, depois da visita, ele subiu as escadas “para a escuridão úmida da
noite, acompanhado pelo som triste das tosses.” Em outra reportagem, Murrow
repassou para sua audiência a atividade de uma bateria antiaérea em Londres:
“Eles operam em mangas de camisa, rindo e praguejando enquanto carregam
com granadas os seus canhões. Os detectores e designadores de alvos giram
lentamente em suas cadeiras reclinadas. As lentes de seus binóculos noturnos
parecem olhos de uma coruja gigante contra a luz azul-alaranjada que arrota das
bocas do tubos dos canhões.”
Os londrinos citados por Murrow em suas radiodifusões eram aqueles pelos
quais tinha maior admiração. Malgrado toda a satisfação que auferia das suas
relações com os ricos e poderosos da Inglaterra, ele sentia muito maior a nidade
com o inglês mediano — e com a classe de trabalhadores que suportava o maior
peso da Blitz — “as pessoas comuns, que viviam em pequenas casas, que não
usavam uniformes, que não recebiam condecorações por bravura,” mas que eram
“excepcionalmente corajosas, resistentes e ponderadas.” Na Batalha de Londres,
as tropas da linha de frente não eram os ricos e bem-vestidos do West End, e sim
os bombeiros, os guardas, os médicos, as enfermeiras, os clérigos, os reparadores
de linhas telefônicas e outros trabalhadores que todas as noites arriscavam suas
vidas para ajudar os feridos, coletar os mortos e fazer a cidade assediada voltar à
vida. Nas suas reportagens, Murrow focou repetidas vezes nesses “heróis
anônimos” que prosseguiam nas suas tarefas enquanto bombas caíam ao seu
redor — “esses homens com os rostos enegrecidos, olhos injetados de sangue,
combatendo incêndios, essas mocinhas que se abraçavam aos grandes volantes
das pesadas ambulâncias, esses policiais que permaneciam de guarda, ao lado de
bombas não explodidas.”
Como outros repórteres americanos, Murrow cou impressionado com a
calma, a força interior e o humor irônico dos londrinos durante aqueles dias e
noites de horror. Gostava de repetir para os amigos a pergunta que um morador
lhe zera no auge de um ataque da Luftwa e: “Você acha que somos realmente
corajosos — ou será que é apenas falta de imaginação?” Como Eric Sevareid
observou, “era isso que ele apreciava nos ingleses. Eram estáveis. Não entravam
em pânico nem se deixavam levar pelo emocional.”
Em meados de outubro, uma bomba explodiu no edifício da BBC, destruindo
a biblioteca de músicas e diversos estúdios, e matando sete empregados, alguns
deles amigos de Murrow. A explosão ocorreu enquanto o locutor Bruce Belfrage
lia o noticiário das nove horas. Os ouvintes perceberam claramente o estampido,
uma breve pausa e um sussurro: “Vocês estão bem? [55]?” Então, depois de
sacudir a poeira da pauta, Belfrage continuou a transmissão. Murrow, que estava
na BBC naquela ocasião, disse aos seus ouvintes: “Tenho visto coisas terríveis
nesta cidade... mas nunca ouvi um homem, mulher ou criança insinuar que a
Inglaterra levante os braços e se renda.”
De fato, em meio à devastação, a maioria dos londrinos demonstrou aferrada
determinação de levar a vida de modo tão normal quanto possível; era a maneira
que tinham para demonstrar seu desdém por Hitler. A cada manhã, milhões de
pessoas deixavam os abrigos ou porões e, a despeito das constantes interrupções
nos sistemas de trens e metrô, iam para o trabalho como de hábito, muitos
pedindo carona ou andando quinze ou mais quilômetros por dia. Seus caminhos,
muitas vezes com longos desvios por causa de edifícios desabados, ruas
impedidas e bombas não explodidas, podiam levar horas. Sobre a equipe de
empregados do Claridge's, Ben Robertson registrou após um ataque aéreo
particularmente severo: “Todos tinham os olhos vermelhos e pareciam cansados,
mas estavam lá.” A residência do garçom-chefe fora destruída durante a noite,
mas ele se apresentou para o trabalho, como também o fez a arrumadeira do
quarto de Robertson. “Ela cara soterrada por três horas no porão de sua casa,”
disse outra arrumadeira a Robertson. “Três horas! E ela veio, normalmente,
trabalhar nesta manhã.”
 
A despeito do medo, da dor e da destruição causados pela Blitz,
havia uma excitação no ar, uma aura de energia quanto a viver em Londres
durante aquele período que, na opinião de muitos que lá estavam, jamais seria
igualado. A ameaça da morte parecia apenas engrandecer o regozijo e a elevação
da alma pela sobrevivência. “Anda-se pelas ruas... e todo mundo no caminho
pulsa com vida,” anotou em seu diário Quentin Reynolds. Ben Robertson
observou mais tarde: “Nesta crise, a cidade se redescobriu; está vivendo como
jamais viveu (...) Sai-se agora à rua no amanhecer com a sensação de que,
pessoalmente, estamos ajudando a salvar o mundo.”
Os correspondentes americanos que deixavam Londres para breves períodos
de descanso nos Estados Unidos, ou em outros países neutros, estavam ansiosos
por se verem livres dos incessantes receios e terrores. Contudo, ao chegarem a
seus santuários, muitos percebiam um senso de alienação nas pessoas que lá
residiam, que não tinham a menor ideia do que era viver num campo de batalha,
e cavam logo a itos para voltarem a Londres. A experiência de Robertson, que
passou alguns dias na neutra Irlanda, foi típica: “Chegar a Dublin foi [56] como
atingir o céu vindo do campo de batalha de Londres. Todo o peso da guerra foi
retirado de meus ombros, as luzes estavam acesas, havia um generalizado
sentimento de leveza e, de súbito, me senti livre.” Ao mesmo tempo, ele observou
que se tratava de uma experiência “profundamente perturbadora.” “Toda aquela
boa vida fazia com que eu me sentisse inquieto. A impressão era de que, distante
de Londres (...) não havia como deixar de car preocupado. Ficava-se apreensivo a
respeito da capital e sobre todos os conhecidos que lá viviam.”
Em geral, para os repórteres que deixavam Londres para sempre, cava
arraigado sentimento de perda. Em meados de outubro, Eric Sevareid, adoentado
e exausto, foi transferido pela CBS para Washington. Quatro meses antes, após a
queda da França, o nativo de Minnesota, com vinte e sete anos, chegara à
Inglaterra altamente contrariado. Como muitos americanos, viera com
considerável grau de anglofobia e aversão, entre outros sentimentos, pelo modo
com que certos ingleses — “matronas formais, o ciais de carreira do exército,
funcionários públicos de altos cargos” entre eles — faziam-no sentir-se
desconfortável e incomodado em virtude daquilo que percebia como atitude
presunçosa e superior. Tendo testemunhado o colapso do mui exaltado exército
francês, ele também duvidava da capacidade dos ingleses convencidos, insulares,
de resistirem a Hitler.
Já no m do mesmo mês suas dúvidas e antagonismos haviam desaparecido.
Outrora um “estranho americano” em Londres, ele agora se considerava parte
daquela combativa comunidade. A Inglaterra e sua capital, escreveu anos depois,
“mostraram para o mundo uma face que ele ainda não tinha visto naquela
guerra. Durante os dias gloriosos e vívidas noites de 1940, o estado de espírito
dos ingleses demonstrado em pleno desespero tocou o ânimo de outros homens...
Foram esses espírito e exemplo que superaram os derrotistas nos Estados
Unidos... Os americanos pensavam estar salvando a Inglaterra — e estavam
mesmo. Mas o espírito britânico e o exemplo também estavam salvando a
América.”
Quando Sevareid voltou para casa, começou a frisar para aqueles que o
queriam ouvir a importância de ajudar os ingleses. Muitos correspondentes
americanos que permaneceram em Londres também tiveram seus próprios
papéis a desempenhar no esforço de propaganda pró-Inglaterra. Sabedores da
in uência de Murrow e de outros sobre a opinião pública americana,
funcionários de Whitehall procuraram as vantagens da simpatia e da
identi cação que esses repórteres tinham com a Grã-Bretanha e seu povo. “Eles
são extremamente [57] amistosos em relação a nós e podemos con ar que nossa
causa está sendo bem reportada, desde que ela lhes seja repassada de forma
adequada e rápida,” escreveu Ronald Tree, que passou a trabalhar para o
Ministério da Informação em maio de 1940.
Alguns jornalistas americanos, inclusive o próprio Murrow, concordaram em
narrar documentários noticiosos ingleses aos seus concidadãos, mostrando a
determinação britânica para se opor ao massacre alemão. O mais famoso deles foi
um curta-metragem com cerca de dez minutos, London Can Take It! (Londres
aguenta!), sobre a reação dos londrinos à Blitz, narrado por Quentin Reynolds. O
Ministério da Informação havia sugerido originalmente que Mary Welsh, uma
repórter da Time & Life em Londres (e futura esposa de Ernest Hemingway)
zesse os comentários, mas o diretor do lme, Harry Watt, odiou a ideia de uma
narradora feminina e optou por Reynolds.
No entanto, os produtores do lme tiveram muita di culdade com o astro da
Collier's. Tendo previamente provado sua coragem nas zonas de guerra de todo o
mundo, ele se recusou a deixar o American Bar subterrâneo no Savoy para cobrir
as incursões noturnas germânicas, admitindo mais tarde o quanto “odiava e
temia” os ataques aéreos. Reynolds também não possuía experiência com rádio e,
inicialmente, “berrou” os comentários, que havia escrito “como se fosse um
vendedor de feira livre.” Watt e sua equipe conseguiram nalmente gravar a voz
de Reynolds no bar do Savoy, “quase lhe en ando o microfone goela abaixo,”
para produzir um rosnar sussurrado que foi um sucesso na América. “Sou um
repórter neutro,” começava sua narração. “Tenho visto pessoas de Londres viver
e morrer... e posso lhes garantir que não há pânico, medo ou desespero na capital
da Inglaterra.”
A Warner Brothers, que distribuiu London Can Take It! nos Estados Unidos,
produziu com rapidez seiscentas cópias do curta-metragem no início de
novembro de 1940; o lme foi exibido em oito cinemas só no centro de Nova
York. Um êxito de bilheteria, no nal, o curta passou em mil e duzentos cinemas
de todo o país. Apenas o nome de Reynolds apareceu nos créditos do lme,
levando seus conterrâneos americanos a acreditarem que se tratava de um relato
pessoal não polarizado de um repórter dos EUA — “uma crença [58] de que
Quent fez questão de mostrar as situações como elas se apresentaram,” lembrou-
se Watt.
Reynolds, que fora aos Estados Unidos para promover o curta-metragem,
retornou a Londres “uma gura internacional,” acrescentou Watt, “e passou a
nos divertir durante todo o tempo com a sussurrante sotto voce.” Mas o que
realmente divertiu a equipe inglesa que fez o lme e os compatriotas de
Reynolds em Londres foi um pôster que ele trouxe no qual aparecia com
capacete metálico, olhando desa adoramente para o céu e desviando com o
braço direito uma bomba de quinhentas libras. “A situação no Savoy deve ter sido
bem mais quente do que imaginamos,” observou Watt.
Enquanto Reynolds trabalhava no London Can Take It!, Murrow escrevia e
gravava os comentários de This Is England (Aqui, Inglaterra), um longa
metragem que também documentava a resistência inglesa à Blitz, porém muito
mais detalhado do que o curta de Reynolds. Foi dito que Churchill chorou
quando assistiu ao lme de Murrow, e que o presidente Roosevelt também o
exibiu na Casa Branca. A película foi, igualmente, um grande sucesso.
 
Na defesa da causa inglesa , não há dúvida de que Murrow e outros
repórteres americanos muitas vezes ultrapassaram a divisa entre jornalismo e
propaganda. No mínimo, eles violavam os padrões jornalísticos da objetividade
— reportar notícias sem preconceitos, opiniões ou pontos de vista. A objetividade
é um critério que vem sendo debatido desde que o jornalismo surgiu; na
perspectiva de muitos, se não da maioria dos jornalistas, é um padrão impossível
de ser alcançado uma vez que os repórteres não são robôs, com circuitos
eletrônicos absolutamente sem memória no lugar de cérebros.
Mas objetividade e neutralidade eram consideradas mantras na CBS News
desde o início da guerra, a partir do momento em que o governo Roosevelt,
temendo que as redes de rádio fomentassem a febre da guerra em suas
audiências, começou a dar indícios de que as colocaria sob controle federal.
Notando que o rádio era um “calouro” no trato de histórias de con itos armados,
o secretário de imprensa da Casa Branca, Stephen Early, alertou para que as
redes se comportassem como “bons meninos.”
No começo das hostilidades, William Paley, chairman da CBS, decretou que
a análise seria permitida em sua estação, porém não a opinião. Murrow
esmigalhou tal política desde o começo. A rede, embora o censurando
ocasionalmente, pouco fez para detê-lo. “Ele não ngiu [59] ser neutro ou
objetivo,” observou Eric Sevareid. “Como repórter, seu coração e sua alma
estavam com 'a causa.' Mostrava-se convicto de que deveríamos entrar na guerra.”
Murow escreveu ao irmão no início de 1941: “Não desejo usar o estúdio como
tribuna privilegiada, mas estou convencido de que conversas muito claras têm
que ser entabuladas, mesmo que seja ao preço de ser rotulado como 'incentivador
de guerras.' (...) Acho que estamos muito mais atrasados do que a maioria por aí
considera.”
Murrow subscrevia o conceito de objetividade exposto anos antes por um
diretor-geral da BBC, Sir Hugh Carleton Greene, que disse que a estação era
objetiva, “salvo no que dizia respeito às verdades fundamentais da vida. Ele
jamais propôs ser objetivo quanto à injustiça, intolerância ou preconceito.” Na
Europa, a rmou Murrow à esposa, pessoas estavam morrendo e “mil anos de
história e civilização eram esmagados” enquanto a América permanecia inerte.
Como se poderia ser objetivo e neutro nessa questão? “Ele queria que os
americanos assumissem suas responsabilidades,” disse o correspondente da BBC
Thomas Barman. “Ou eles viam todo o Mundo Ocidental ir por água abaixo... ou
se levantavam e lutavam.”
Em 30 de setembro de 1940, no segundo aniversário do acordo de Munique
e m do primeiro mês da Blitz, Murrow foi sarcástico com seus ouvintes: “Talvez
vocês possam relaxar como o zeram as pessoas daqui depois de Munique...
Entretanto, pensem no que aconteceu nos últimos dois anos e tentem ignorar o
que ocorrerá nos próximos dois — caso possam.” Contudo, não era normal
Murrow recorrer a esse tipo de advocacia franca, se bem que com palavras
escolhidas, para tentar in uenciar a opinião pública americana. Ele o fazia
através de quadros pintados com palavras sobre os ingleses em guerra. “Murrow
e seus colegas ofereciam algo bem próximo ao drama: a experiência indireta
daquilo que viviam e observavam,” ressaltou o historiador da radiodifusão Erik
Barnouw. “Ele punha no ouvinte o chapéu de outro homem. Nenhum meio
melhor de in uenciar a opinião jamais foi encontrado.”
Ainda assim, apesar de suas transmissões serem geralmente elogiosas aos
ingleses, Murrow não deixava de apontar o que considerava defeitos do país e de
seus líderes. Era, por exemplo, um dos críticos mais mordazes da propensão do
governo inglês pelo sigilo, que levava a uma censura extremamente rígida e à
ocultação de notícias da guerra. Também desancava o governo por não
providenciar abrigos aéreos decentes para os residentes do East End e de outras
regiões de trabalhadores. “Todos os abrigos [60] são buracos fedorentos,”
escreveu sua esposa para casa.
 
Quando 1940 caminhou para seu triste m, Murrow, como a maioria
dos londrinos, estava exaurido. Era impossível para qualquer pessoa ter uma
noite decente de sono durante a Blitz; uma felicidade era descansar por três ou
quatro horas. Com a continuação dos bombardeios, a romancista Elizabeth
Bowen escreveu que os residentes da cidade “separavam a alma do corpo” pelo
cansaço. “A noite anterior e a noite vindoura encontravam-se lá pelo meio-dia
num arco de tensão. Trabalhar e pensar doía.”
Porém, mesmo quando os ataques da Luftwa e começaram a arrefecer em
novembro, Murrow, que perdera quinze quilos nos quatro meses passados,
continuava vivendo e trabalhando como um possuído. “Parecia um fantasma,
pálido e abalado,” recordou um colega da CBS. “Pensei que ele fosse capotar.”
Cada vez mais mal-humorado e com o pavio curto, ele passava pouco tempo com
a esposa, que mais tarde escreveu: “Por vezes ele parecia não ter energia de sobra
para mim.” Disse um amigo: “Ele interioriza os eventos do mundo, que uem
através dele como um córrego. A queda da Inglaterra signi caria tanto para ele
quanto a perda de um lho para qualquer de nós.”
Tirando proveito de uma trégua nos bombardeios no nal de dezembro, Janet
Murrow persuadiu o marido a passarem um Natal relativamente calmo em casa.
Contudo, em 29 de dezembro, a quietude do feriado na capital foi abalada
quando os germânicos desencadearam uma tempestade de fogo de dez horas
sobre a City, o centro nanceiro e comercial da Inglaterra e um dos bairros mais
históricos de Londres. As chamas devastadoras, só comparáveis às que varreram a
área no Grande Incêndio de 1666, destruíram, entre outros marcos da cidade,
oito igrejas projetadas por Christopher Wren e grande parte do Guildhall
medieval, sede da prefeitura municipal desde William, o Conquistador.
Milagrosamente, a Catedral de St. Paul, destacando-se em meio ao inferno de
labaredas, conseguiu sobreviver. Quando Murrow caminhava para casa bem
cedo na manhã seguinte, notou que “as janelas no West End estavam
avermelhadas com o fogo re etido, e as gotas de chuva pareciam sangue nas
vidraças.”
Duas noites depois, ele falou, mal disfarçando a emoção e à beira da ira,
contrastando as celebrações da Véspera do Ano-Novo que seus ouvintes estavam
desfrutando com a gélida experiência da maioria dos residentes londrinos:
“Vocês não sofrerão [61] um ataque aéreo ao amanhecer, como provavelmente
suportaremos. Poderão passear hoje à noite por ruas iluminadas. Suas famílias
não estão desagregadas pelos ventos da guerra. Poderão dirigir seus potentes
automóveis até onde o dinheiro e o tempo permitirem.”
E concluiu: “A vocês não foram prometidos sangue, esforço, suor e lágrimas.
Todavia, é opinião de quase todos observadores informados por aqui que a
decisão que vocês tomarem ofuscará qualquer coisa que ocorra neste ano que
teve início há algumas horas em Londres.”
A decisão, sabia ele, poderia decidir o destino da Inglaterra.
3

A Oportunidade de Toda Uma Vida


 
Seis semanas após a desafiadora transmissão de Murrow na
Véspera do Ano Novo, Franklin Roosevelt convidou W. Averell Harriman para
um encontro no Escritório Oval. No meio de uma conversa sem pé nem cabeça
entre os dois, o Presidente mencionou en passant que pretendia despachar
Harriman para Londres a m de supervisionar o uxo da assistência americana
prevista no programa Lend-Lease, prestes a ser aprovado depois de contundente
batalha no Congresso.
Para o herdeiro, de quarenta e nove anos, de uma das maiores fortunas
construídas na América com as ferrovias, aquela conversa com o Presidente foi
estranhamente desconcertante. Ali estava FDR falando como se já tivesse sido
decidido havia muito tempo que Harriman ocuparia aquele cargo vital, quando
apenas poucas semanas antes a Casa Branca havia rechaçado sua oferta como
voluntário para prestar serviços ao governo. Na realidade, até aquele momento,
Roosevelt tinha mostrado pouco interesse em nomear Harriman para qualquer
função de importância. No decorrer dos trinta e cinco anos de conhecimento
mútuo, o Presidente não se impressionara quer pela inteligência, quer pela
personalidade do homem de cabelos escuros e queixo quadrado sentado diante
de si do outro lado da escrivaninha.
Os dois tinham numerosos laços sociais. Ambos haviam crescido em amplas
propriedades ao longo do rio Hudson; Harriman fora amigo do irmão mais novo
de Eleanor Roosevelt, Hall; e as mães dos dois se conheciam havia muito tempo.
Além disso, a irmã mais velha de Harriman, Mary Rumsey, fervorosa
reformadora social e new dealer, che ava a Câmara Consultiva do Consumidor
governamental e era uma colega próxima da esposa do Presidente.
Todavia, apesar dessas ligações, os Roosevelts, que constituíam uma das
famílias mais aristocráticas e destacadas do vale do Hudson, nunca aceitaram
muito bem os nouveaux riches Harrimans, cuja vasta fortuna derivava de meios
que muitas pessoas consideravam ilícitos. Como o homem que havia
transformado a Union Paci c na mais dominante ferrovia do país, E.H.
Harriman, pai de Averell, ganhara notoriedade internacional como um dos mais
poderosos, inescrupulosos e despóticos homens de negócios americanos.
Segundo o presidente Theodore Roosevelt, o patriarca da família Harriman
estava entre os mais ilustres “malfeitores de grande fortuna [63]” que os Estados
Unidos jamais produziram.
Enquanto Franklin Roosevelt optou pela vida pública, Averell Harriman
seguiu as pegadas do pai como vigoroso e agressivo homem de negócios. Em
termos emocionais o oposto de FDR, Harriman não tinha qualquer traço do
charme, espírito gregário, interesse nas pessoas e temperamento ameno do
Presidente. Odiava mexericos e conversa ada, e era conhecido por sua absoluta
falta de senso de humor, especialmente sobre si próprio. Brusco e impaciente, era
intensamente pragmático, mesmo com suas amizades mais próximas. Harriman
“não era bom em relações humanas,” disse Robert Meiklejohn, seu assistente de
muitos anos. “Só Deus sabe quantas milhares de horas passei em sua companhia,
mas não consigo me lembrar de um bom caso a respeito de sua vida pessoal.”
Embora Harriman já tivesse feito inúmeros negócios ao tempo do encontro
na Casa Branca e então fosse o chairman da Union Paci c, Roosevelt o via
praticamente só como esportista e playboy. Ele se tornara campeão de polo no
m dos anos 1920, devotando mais de um ano ao jogo; e na década de 1930,
criara em Sun Valley, Idaho, uma das mais requintadas estações de esqui do país.
Malgrado sua circunspecta personalidade, Harriman, duas vezes casado,
granjeara a reputação de inveterado mulherengo, com pelo menos um
escandaloso caso de amor a seu crédito. Era considerado muito atraente por
inúmeras mulheres — de boas maneiras e tímido, com um laivo de
vulnerabilidade e, a despeito de sua parcimônia, tendia a gastar rios de dinheiro
com as namoradas. “Boa aparência, rico e um tanto distante naqueles tempos, ele
era o predileto das mulheres,” lembrou John McCloy, um dos secretários
assistentes da Guerra do governo Roosevelt que, como advogado de Wall Street,
fora do conselho da Union Paci c.
Harriman também tinha a fama de distribuir dinheiro caso isso o ajudasse em
Washington. “Costumava subsidiar políticos... para ter acesso ao poder,”
observou McCloy. Da mesma forma que Winant, Harriman deixara o Partido
Republicano para apoiar a eleição de Roosevelt à Presidência. Entretanto,
diferentemente do novo embaixador na Inglaterra, o envolvimento de Harriman
com o New Deal não se originava no interesse em ajudar o homem comum, mas
em promover a recuperação dos negócios após a Depressão. E também, diferente
de Winant, ele gostava de se cobrir por todos os lados. Depois da eleição de 1940,
Roosevelt mencionou para seu oponente republicano, Wendell Willkie, que
Harriman havia contribuído com US$25.000 para sua campanha.
“Con dencialmente, Franklin [64], ele contribuiu com US$25.000 para a
minha,” disparou Willkie de volta. Mais ainda, Harriman declarara a um amigo
antes da eleição que, se Willkie ganhasse, ele teria o maior prazer de se juntar ao
seu governo.
Nas bordas do New Deal desde 1933, Harriman estava desesperado por um
cargo de maior projeção na equipe de Roosevelt. E, apesar de todas as suas
dúvidas quanto à ambição, lealdade e propósitos de Harriman, o Presidente
nalmente cedeu ao aconselhamento de Harry Hopkins, seu assessor mais
chegado e um dos que Harriman havia cultivado, de dar uma chance ao
endinheirado empresário. Ele iria para Londres como o elemento de ligação de
Roosevelt do programa Lend-Lease junto a Churchill e ao governo inglês.
Era o emprego que Harriman queria — na verdade, cobiçava. No entanto,
embora vibrando com a nomeação, cou um pouco frustrado ao perceber a
atitude indiferente do Presidente em relação ao Lend-Lease. Apesar de gostar de
estar no centro dos acontecimentos, ele ansiara pela posição porque acreditava
piamente que os Estados Unidos tinham a obrigação de salvar a Inglaterra do
desastre. “Estamos querendo enfrentar um mundo dominado por Hitler?” —
perguntara num discurso no Yale Club de Nova York, poucos dias antes do
encontro com Roosevelt. “Se a resposta for negativa, ainda temos tempo para
ajudar a Inglaterra. (...) Nosso maior erro seria proporcionar uma assistência
desanimada e insu ciente.”
Depois da reunião no Escritório Oval, contudo, ele não teve certeza se o
Presidente partilhava de seu senso de urgência. Ao longo de toda a conversa,
Roosevelt foi vago a respeito dos parâmetros do Lend-Lease e, na realidade,
quanto às atribuições de Harriman, não lhe oferecendo orientação ou lhe dando
outra instrução que não fosse dar uma olhada pela Inglaterra “e recomendar tudo
o que pudermos fazer, que não seja a guerra, para manter as Ilhas Britânicas
utuando.” O presidente “foi um pouco nebuloso sobre com quem eu deveria
trabalhar do lado de cá porque ainda não tinha detalhado a organização do Lend-
Lease,” escreveu Harriman num memorando para si mesmo logo após o encontro.
“Disse que me comunicasse com ele a respeito de quaisquer assuntos que eu
considerasse su cientemente importantes.”
Mais tarde, naquele mesmo dia, quando anunciou a nomeação de Harriman
aos jornalistas da Casa Branca, Roosevelt também foi super cial e impreciso.
Harriman, disse o Presidente, partirá para Londres “tão logo [65] o programa de
defesa sob o Lend-Lease, a lei do Lend-Lease — chamem vocês como quiserem —
estiver aperfeiçoado. Suponho que vocês perguntarão sobre o título da função,
por isso pensei em inventar um. (...) Decidimos que seria muito boa ideia chamá-
lo um 'acelerador.'” E sorriu: “Esta é nova para vocês.”
“Senhor Presidente,” indagou um dos jornalistas, “qual a relação de Mr
Harriman com a embaixada de lá? Ele representará diretamente o senhor?” Com
um pigarro, Roosevelt replicou: “Não sei e não dou a mínima!” Quando outro
repórter perguntou a quem Harriman se reportaria em Washington, o Presidente
retrucou: “Não sei e não me interessa isso.”
No entanto, à medida que Harriman pensava mais sobre a questão, a
nebulosidade de Roosevelt, apesar de preocupante de um lado, por outro, era a
oportunidade de toda uma vida. Com poucas restrições às suas ações, ele poderia,
caso fosse ajudado pela sorte, transformar o cargo em algo muito mais
signi cativo e importante do que aquilo que qualquer pessoa, inclusive o
Presidente, tinha em mente. E se conseguisse concretizar o intento, ele poderia —
nalmente — sair da sombra superabrangente de E.H. Harriman.
 
Como rapaz, Averell já era consideravelmente mais alto que
seu diminuto pai, porém, em outros aspectos, ele nunca achou que estivesse à sua
altura. Um titã dos negócios americanos, o mais velho dos Harrimans despertara
temor em quase todos — dos seus competidores em estradas de ferro aos foras da
lei Butch Cassidy e Sundance Kid, que regularmente roubavam seus trens até
que Harriman colocou um bando de detetives da Agência Pinkerton em sua
perseguição.
O Harriman moço vivia em constante pressão para concretizar as
expectativas do pai. Sua relação com E.H., segundo o biógrafo Rudy Abramson,
foi “uma interminável lição de disciplina, empenho e autoaprimoramento.” Sua
enteada observou que Averell “não se divertia. Foi uma criança que jamais
aprendeu a se expressar.” Tendo recebido pouco afeto ou provas evidentes de
amor e encorajamento dos pais, Harriman “precisou de reforço em sua
autoestima” ao longo de toda a vida, disse um amigo.
Ele frequentou Groton, escola secundária da elite no norte de
Massachusetts, a qual, como St. Paul's, baseava seu modelo na inglesa Eton.
Estudante mediano, Harriman ingressou em Yale, onde foi selecionado para a
“Skull and Bones,” a sociedade secreta mais prestigiada da faculdade e se tornou
treinador da equipe de remo dos calouros da universidade. Decidido a recuperar
a antiga supremacia no remo de Yale sobre Harvard, pediu uma licença de seis
semanas durante seu segundo ano acadêmico a m de viajar para a Inglaterra e
tomar lições com os mestres do esporte — as tão elogiadas guarnições de Oxford.
Essa forma de competitividade intensa era típica de Harriman. “Mergulhava de
cabeça [66] em qualquer tipo de competição,” lembrou o ex-secretário da Defesa
Robert Lovett, cujo pai fora amigo íntimo de E.H. Harriman e que conhecia
Averell desde criança. “Ele conseguia tudo que era necessário — os melhores
cavalos, treinadores, equipamentos, sua própria pista de boliche ou gramado de
croquet — e treinava como um louco para ser o vencedor.”
Embora seu rendimento escolar em Yale fosse tão medíocre como fora o de
Groton, a educação de Harriman naquelas duas instituições de ensino lhe
proporcionaram uma vantagem invulgar. Da mesma forma que os lhos dos
industriais ingleses que estudavam em Eton e Oxford, ele auferiu o acesso à elite
da rede dos old-boys, “a turma,” que dominava os establishments de negócios,
social e governamental. Entre seus companheiros de Yale estavam Lovett e Dean
Acheson, os quais, como o próprio Harriman, desempenhariam papéis
proeminentes na emergência dos Estados Unidos como potência líder nas
décadas de 1940 e 1950.
Quatro anos após Harriman se graduar por Yale, os Estados Unidos entraram
na Primeira Guerra Mundial, porém, diferentemente da maioria de seus colegas
de faculdade, ele decidiu não se alistar. Em vez disso, com o suporte nanceiro da
mãe, comprou um estaleiro em Chester, na Pensilvânia, esperando tirar proveito
da explosiva demanda de marinha mercante provocada pela guerra. Segundo a
mãe, Averell “tentava equiparar em transporte marítimo o que o pai conseguira
como homem das ferrovias.” Ele acabou controlando uma das maiores frotas de
marinha mercante do mundo. Entretanto, quando a guerra terminou, a empresa
começou a perder muito mais dinheiro do que ganhava e, em 1925, ele a vendeu
para uma rma alemã.
Harriman passou a maior parte dos anos 1920 correndo atrás de negócios por
toda a Europa: uma concessão de manganês na União Soviética, minas de carvão
na Silésia, companhias de fornecimento de água e linhas de bondes em Colônia,
siderúrgicas e uma usina de energia elétrica na Polônia. Durante suas viagens,
conheceu as mais importantes guras na Inglaterra e no Continente, entre elas
Vladimir Lênin, Benito Mussolini e Winston Churchill, que era então ministro
inglês das Finanças. No decurso de toda a sua muito longa existência, Harriman
procurou se encontrar e fazer amizade com pessoas poderosas, colecionando-as,
escreveu E.J. Kahn Jr. no New York Times, como um latelista trabalha com os
selos raros. “Averell é um perseguidor [67] do poder,” disse um dos seus
auxiliares. “Sua atitude sempre foi: 'Só existe um sujeito com quem vale a pena
conversar em qualquer situação — o que está no topo — e eu sou quem fala com
ele.'”
Chairman da rma de investimentos da família — a W.A. Harriman & Co.”
— Harriman foi muito mais bem-sucedido como negociador do que como
administrador. Após adquirir um bom negócio, ele normalmente mostrava pouco
interesse por sua operação real, e a maioria de suas empresas fracassou. Sua
reputação de playboy estava bastante rme e, na opinião de outros sócios da
W.A. Harriman, a companhia estaria bem melhor se seu chairman gastasse
menos tempo se divertindo e dedicasse mais atenção aos negócios durante suas
longas viagens ao exterior.
A imagem de amante das diversões foi reforçada em 1928 quando ele se
licenciou por longo tempo do mundo dos negócios a m de devotar incansável
energia para dominar sua nova obsessão, o polo. Depois de se tornar um dos
melhores jogadores do país, retornou ao império dos empreendimentos da família
ocupando o cargo de chairman do conselho da Union Paci c. Na busca de
desenvolver novo tráfego de turistas para sua ferrovia, ele gastou a maior parte de
alguns dos anos seguintes em construções e promoção de Sun Valley,
transformando-o numa das mais populares estações de esqui da nação.
Porém, por maior que fosse o sucesso da Sun Valley, tanto ela quanto seu
fundador foram julgados muito fúteis pelas elites de negócios e política do país.
O fato de Harriman ter tentado tirar vantagem da Primeira Guerra Mundial, em
vez de nela combater, era também fator negativo. Alguns dos amigos de Yale
consideraram vergonhoso o seu comportamento. “Averell era visto como bem
abaixo do padrão de excelência durante aqueles dias,” registrou Bob Lovett, o
qual, a exemplo de Gil Winant, fora piloto na França durante aquela guerra. A
questão era muito delicada para o próprio Harriman que, anos mais tarde,
reconheceu: “Em termos intelectuais, eu podia raciocinar que havia feito a coisa
certa, de vez que o transporte marítimo era o genuíno gargalo da Primeira Guerra
Mundial. Porém, em termos emocionais, nunca me senti inteiramente à
vontade.”
Cada vez mais impaciente e ávido por embarcar em novas aventuras,
Harriman voltou suas atenções, no início dos anos 1930, para Washington e o
New Deal. Graças à administração ativista de Roosevelt, o poder no país havia se
transferido de Wall Street para Pennsylvania Avenue, e Harriman, que jamais
havia se envolvido em política, estava ansioso por tomar parte na ação
desenvolvida na capital.
Contudo, ele estava bem mais interessado em revigorar os negócios
americanos do que no foco do New Deal, que era promover a reforma econômica
e social. Quando, nalmente, conseguiu uma posição, foi como assistente
especial de Hugh Johnson, chefe da Agência Nacional de Recuperação, que,
como Harriman, estava centrado na retomada dos empreendimentos. Em 1934,
foi nomeado administrador-chefe da Câmara da Recuperação Industrial
Nacional, mas nunca recebeu um cargo de destaque no New Deal e, após um
ano em Washington, voltou à Union Paci c. Mesmo assim, permaneceu em
cerrado contato com o governo, enviando frequentes bilhetes e presentes a
Roosevelt, tais como faisões caçados em sua propriedade no interior do estado de
Nova York e garrafas de vinho de excelentes safras. Também manobrou para se
encaixar no Business Advisory Council do Presidente, um grupo de destacados
empresários (apelidados de “milionários domados por Roosevelt” pelos críticos
do New Deal) que servia de elo entre o governo e os grandes negócios.
Quando o governo deu início a uma hesitante mobilização para a guerra na
primavera de 1940, Roosevelt convocou diversos líderes empresariais e
industriais a Washington para ajudá-lo a orientar o esforço. Harriman não estava
entre eles e cou profundamente ressentido com a exclusão, não apenas por
causa de sua sede de poder, mas porque acreditava mesmo que os Estados
Unidos deveriam ser mais rmes na luta contra Hitler e Mussolini. Como outras
guras importantes de Wall Street, que haviam investido na reabilitação do
continente europeu depois da Primeira Guerra Mundial, Harriman era um
internacionalista que julgava ter a América uma responsabilidade para com o
resto do mundo, em especial com a Europa. “Quem quer que diga [68] que não
somos afetados [pela guerra na Europa] e por seus resultados, não está vendo a
realidade,” disse ele no início de 1940. “Os Estados Unidos têm uma missão
neste momento particular da história do mundo.” Como alguns de seus amigos
viam a situação, o apego de Harriman à intervenção era uma maneira de
compensar sua fuga do serviço militar na Primeira Guerra Mundial, que
continuava sendo um grande desconforto.
Fosse qual fosse a razão, ele permaneceu falando abertamente sobre a
necessidade de o governo e a comunidade empresarial americanos oferecerem à
França e à Inglaterra quaisquer suprimentos e armamentos que elas precisassem.
Sempre que viajava a serviço para a Union Paci c, escreveu a um amigo, achava
que as pessoas com quem se encontrava estavam propensas a proporcionar mais
ajuda à Inglaterra e à sua aliada França do que Roosevelt e seus assistentes
julgavam, apesar de ansiosos por liderarem a partir da Casa Branca. “Existe um
sentimento [69] de frustração,” acrescentou Harriman. “Todos querem saber o
que iremos fazer como nação e o que podem fazer como indivíduos para ajudar.”
Ele claramente se incluía entre os frustrados.
Em junho de 1940, Harriman foi, por m, convocado a Washington para
assessorar o governo sobre a melhor maneira de coordenar o transporte de
matérias-primas para o esforço de mobilização. Mas considerou irrelevante a
tarefa e, desde o dia em que chegou à capital, propôs-se a encontrar uma maneira
de desempenhar papel mais ativo e substantivo na guinada da América para a
guerra. Para ajudá-lo a concretizar tal objetivo, ele recorreu a um mestre da
intriga em Washington o qual, dizia-se, combinava as mais astutas qualidades de
Maquiavel, Svengali e Rasputin: seu amigo Harry Hopkins.
 
Com sua incomparável influência e o acesso ao presidente ,
Hopkins, com cinquenta e um anos, era em geral considerado o segundo homem
mais poderoso em Washington. Ocupando posição próxima a Roosevelt, ele era
também o mais insultado.
Aparência adoentada, o assessor presidencial, com olhar penetrante e feições
bem de nidas, vinha sendo o farol do New Deal por quase uma década,
virtualmente a partir do primeiro dia em que chegou à capital para dirigir a
administração dos maciços programas de emergência de ajuda e oferta de
empregos. O trabalho de Hopkins era gastar dinheiro e, como sublinhou um
historiador, “ele gastou mais do que qualquer outro homem na história do
mundo” — acima de nove bilhões de dólares. Sob sua supervisão, milhões de
pessoas receberam o seguro-desemprego e foram recolocados no trabalho, quase
sempre em obras do governo que iam da construção de estradas e prevenção de
enchentes à escrita de livros e à pintura de murais.
Um fanático quando se tratava de ajudar os pobres, Hopkins, outrora
assistente social, via sua missão como a de proporcionar o maior número possível
de empregos no mais curto período de tempo. Contanto que a tarefa fosse
cumprida, ele não preocupava particularmente com o modo como era
concretizada. Segundo Harold Smith, diretor da Repartição do Orçamento de
Roosevelt, “Hopkins não se considerava [70] limitado por quaisquer noções
preconcebidas, inibições legais e... absolutamente por nenhum respeito à
tradição.” Ele foi acusado por muitos críticos de ser negligente e impulsivo na
gerência dos programas sob sua responsabilidade, resultando em ine ciência,
corrupção e desperdício generalizados no trato com os recursos nanceiros do
governo. “Harry jamais teve a mínima noção sobre o valor do dinheiro,” disse o
chefe de uma organização bene cente de Nova York para a qual Hopkins
trabalhara nos anos 1920.
Enquanto os oponentes conservadores do New Deal eram os mais veementes
na condenação a Hopkins e seus métodos, ele também tinha sua parcela de
inimigos entre os adeptos do Presidente. Muitos funcionários da administração —
entre eles o secretário do Interior Harold Ickes, quase sempre vencido por
Hopkins em seus frequentes duelos burocráticos — ressentiam-se de sua
intimidade com o Presidente e o consideravam in uência maligna e carga
política para Roosevelt. O papel crucial que Hopkins desempenhou na tentativa
de expurgo dos democratas conservadores do Congresso, em 1938, e suas táticas
brutais, como principal operador político de FDR, para garantir as indicações de
Roosevelt e Henry Wallace durante a convenção presidencial de 1940,
contribuíram em grande dose para tal hostilidade.[*] Homem de aguda
sagacidade, “uma língua que parecia faca muito bem a ada e temperamento de
um tártaro,” Hopkins reagia aos seus críticos zombando deles, o que mais os
enfurecia. Convocando repórteres ao seu desleixado escritório, com papéis
espalhados por todos os lados, para responder às últimas acusações, ele se
esparramava na cadeira, pés sobre a mesa e dava profundas tragadas no
indefectível cigarro. Então, lembrou Marquis Childs, do St. Louis Post-Dispatch,
“atacava de volta seus perseguidores. (...) Raramente era tático ou tinha tato. Não
era preciso muito esforço para arrancar dele um cáustico e irado menosprezo por
todos [os seus inimigos].”
Hopkins podia distribuir insultos, seguro da simpatia do Presidente por sua
lealdade prática, hábil e absoluta ao homem que chamava de “Boss.” Pessoa
de nitivamente íntima na Casa Branca, ele estava instalado desde 1939 no
quarto que servira de estúdio para Abraham Lincoln, não muito distante do
quarto de FDR. Sua posição era privilegiada, como bem sabia, e tinha fundada
certeza de que ninguém poderia desalojá-lo dali.
Em certa ocasião, Hopkins chegou a ter veleidades políticas próprias,
considerando a possibilidade de concorrer à Presidência em 1940, se Roosevelt
desistisse do cargo após os dois tradicionais mandatos. O Presidente, é claro, não
desistiu, porém mesmo que tivesse se afastado do pleito, Hopkins jamais poderia
ter perseguido esse sonho. Em 1937, pouco depois do falecimento de sua
segunda esposa, ele foi operado de câncer no estômago. A cirurgia, que removeu
a maior parte do estômago, foi bem-sucedida, mas, pelo resto de sua
relativamente curta vida, ele sofreu severas de ciências nutricionais e cava
frequentemente tão adoentado que não podia trabalhar. Apesar disso, nos
intervalos dos surtos de enfermidades, Hopkins insistia em voltar às suas
atribuições. Durante os oito seguintes e dolorosos anos, ele iria prestar os mais
valiosos serviços ao Presidente, tendo Averell Harriman atuando como um de
seus principais auxiliares.
 
A amizade de Hopkins com Harriman foi uma decorrência da
inclinação do primeiro pelos elevados padrões de vida e pelas ligações com ricos
e famosos. Desde o tempo em que chegou a Nova York como jovem assistente
social, Hopkins, que nasceu em Grinnell, Iowa, mesclava uma devoção pelos
pobres com uma inclinação pelos nightclubs, bares ilegais de venda e consumo de
bebidas alcoólicas e corridas de cavalos. Depois de se tornar gura de destaque
do New Deal, duas décadas mais tarde, ele cortejou os membros relativamente
progressistas da elite de negócios de Nova York — e foi por eles também
cortejado, assim como pelos círculos literários e artísticos do estado. Seus ns de
semana eram normalmente passados na propriedade de Harriman com quarenta
quartos no vale do Hudson, ou na mansão de Long Island do famoso editor de
jornais Herbert Bayard Swope, onde jogava croquet e pôquer com guras do
naipe de Bernard Baruch, William Paley, George S. Kaufman e John Hay
Whitney.
Nem vistoso, nem bonito, Hopkins era divertido e charmoso quando queria
— qualidades que soube usar na sua permanente “caça” às mulheres. “Ele cava
feliz [72] e bastante orgulhoso sempre que a imprensa hostil o tratava como um
'playboy'” — escreveu o autor de peças teatrais Robert Sherwood. “Isso o fazia se
sentir-se glamuroso.”
Hopkins e Harriman eram amigos desde 1933, mas sua ligação cou mais
estreita no nal de 1938, quando Roosevelt decidiu fazer de Hopkins seu
ministro do Comércio. Sabedor que Hopkins não tinha nada de predileto entre
muitos líderes empresariais nos Estados Unidos, sem falar entre os membros do
Comitê do Comércio do Senado, que teriam que sancionar a indicação,
Roosevelt solicitou a Harriman que o ajudasse naquela questão. O chairman da
Union Paci c convenceu o Conselho Assessor de Negócios, que presidia na
ocasião, a endossar o nome de Hopkins, bem como solicitou cartas de
recomendação de outros proeminentes empresários. A campanha teve sucesso e
depois que Hopkins foi con rmado, Harriman acompanhou-o a Des Moines,
onde, em seu primeiro pronunciamento como ministro, ele minimizou seu
histórico de reformador social e prometeu promover a recuperação dos negócios
“com toda a energia e poder ao meu alcance.” Harriman, escreveu mais tarde um
amargo Harold Ickes, “estava sempre pronto a dar tapinhas nas costas de Harry
Hopkins, da mesma forma que Hopkins o afagava.”
O tempo de Hopkins como ministro foi abreviado em virtude de sua
recorrente enfermidade. Depois de car hospitalizado por vários meses, ele
voltou a prestar serviços a Roosevelt em novembro de 1940, dessa vez como
operador-chefe do Presidente em tempo de guerra e encarregado de
supervisionar a mobilização industrial e o rearmamento do país. Trabalhando
sobre uma mesa feita com caixas de papelão no seu quarto na Casa Branca,
Hopkins, que não tinha título ou cargo o cial, foi incansável em incitar, punir e
encorajar os capitães dos negócios e da indústria para que atingissem metas de
produção por muitos consideradas impossíveis.
Em janeiro de 1941, com o projeto de lei do Lend-Lease transitando no
Congresso, FDR deu a seu assessor principal uma nova missão: viajar a Londres
a m de determinar as necessidades para a defesa da Inglaterra e, ainda mais
importante, julgar por si mesmo se o país poderia se opor à Alemanha. Enquanto
se preparava para a tarefa, Hopkins deixou claro que tencionava resistir aos
famosos talentos persuasivos de Winston Churchill, cujo ego, achava, era
consideravelmente maior do que sua capacidade. “Suponho que Churchill está
convencido de que é o maior homem do mundo!” — exclamou para um amigo.
“Harry,” replicou o amigo, “se você está indo para Londres com esse preconceito,
como um diacho de um chauvinista de cidadezinha do interior, é melhor
cancelar a passagem agora.”
Em Londres, Churchill reagiu com um intrigado “Quem?” quando lhe foi
dito que um certo Harry Hopkins estava chegando para vê-lo por orientação do
Presidente. Seus assessores logo o puseram a par de quem se tratava, explicando
quão próximo Hopkins era de Roosevelt e a importância de impressioná-lo bem.
Hopkins fora informado, disseram-lhe, que Churchill era anti-Roosevelt.
Tornava-se vital que o primeiro-ministro convencesse o americano que não era
nada disso e que tinha grande consideração pelo Presidente.
Churchill fez isso — e mais. Ordenou que um trem especial transportasse
Hopkins para Londres a partir do aeroporto em que pousasse e o recepcionou em
Downing Street e em Chequers, a casa de campo o cial do primeiro-ministro, no
Buckinghamshire. Seus ministros receberam instruções para suprirem o
americano com qualquer informação que requisitasse. Acompanhando Hopkins
em giros por seu golpeado país, o primeiro-ministro apresentou-o como
“representante pessoal [73] do presidente dos Estados Unidos.”
Nas cinco semanas que Hopkins passou na Inglaterra, ele e o líder inglês
tornaram-se bons amigos. Embora a relação entre Churchill e Roosevelt
recebesse considerável mais atenção dos historiadores, a amizade entre Hopkins
e Churchill foi, de fato, muito mais afetuosa e pessoal. A despeito de seus
históricos completamente diferentes, o primeiro-ministro descobriu uma relação
quase aparentada com o enviado de FDR. Também ousado e combativo, gostou
da irreverência de Hopkins, seu sarcasmo bem-humorado e a maneira franca de
falar. Ficou também impressionado com a dedicação e a determinação do
americano, para não falar de sua coragem em se submeter ao frio úmido de um
inverno inglês quando estava tão obviamente enfermo, mantendo-se rme com a
verdadeira farmácia que levava consigo aonde fosse. Nas suas memórias,
Churchill referiu-se a Hopkins como “aquele homem extraordinário... um farol
desmoronando de onde eram emitidos os feixes de luz que orientavam as grandes
esquadras até os ancoradouros.”
De sua parte, Hopkins tornou-se declarado admirador do primeiro-ministro
bem antes de a visita terminar. Churchill não era nem anti-Roosevelt, tampouco
anti-América, escreveu a FDR. E disse mais: “Churchill é o governo em toda a
acepção do termo. (...) Não encontro palavras para sublinhar que ele, somente ele,
é a pessoa com quem o senhor deve ter um completo encontro de ideias.”
Apesar de seu jocoso e aberto sarcasmo, Hopkins cou um pouco
reverentemente temeroso em sua experiência na Inglaterra — ns de semana em
Chequers e na Ditchley de Ronald Tree, mordomo particular no Claridge's,
almoço com o Rei e a Rainha no Buckingham Palace. Ali estava ele, um caipira
de Idaho, lho de fabricante de arreios para animais, servindo agora de
con dente para o primeiro-ministro da Inglaterra e conviva de almoço com a
Rainha da Inglaterra. Esse mesmo sentimento de insegurança veio de novo à
tona, como ele confessou ao colunista Marquis Childs, quando teve um encontro
com Stalin na ocasião em que a guerra já ia mais avançada. “A mim pareceu um
[74] trágico... e pungente comentário sobre o homem e... sobre a América,”
lembrou Childs. “Em certo sentido, foi o comentário sobre o fantástico papel de
responsabilidade e liderança no qual tínhamos sido arremessados e sobre nosso
despreparo para ele porque, numa ocasião como aquela, não cabia car pensando
que se era lho de um fabricante de arreios.”
O envolvimento emocional de Hopkins com Churchill e a Inglaterra cresceu
à medida que a visita progredia — um envolvimento re etido nas improvisadas
observações do americano num jantar em sua homenagem, na Escócia, em
meados de janeiro de 1941: “Suponho que os senhores queiram saber o que direi
ao Presidente no meu retorno,” disse ele aos convidados sentados à sua frente.
Então, virando-se para Churchill, citou um verso bíblico do Livro de Ruth:
“Aonde você for, eu irei; onde você dormir, dormirei eu; seu povo será meu povo,
e seu Deus, meu Deus.” Após uma pausa, acrescentou: “Mesmo até o m.” Os
olhos de Churchill caram marejados de lágrimas. As observações de Hopkins,
saídas do íntimo de seu coração, deram-lhe e aos seus concidadãos um novo surto
de esperança de que a América estava próxima a deixar sua neutralidade — uma
esperança que, infelizmente para eles, não condizia com a realidade.
Quando voltou aos Estados Unidos, Hopkins era “um homem
completamente mudado,” com um “mais acentuado senso de urgência,” nas
palavras dos colunistas Joseph Alsop e Robert Kintner. Antes de partir, em
meados de fevereiro, passou um cabograma a Roosevelt: “Esta ilha precisa de
nossa ajuda agora, senhor Presidente, com tudo o que pudermos lhe dar... nossa
ação decisiva neste momento pode ser a diferença entre a derrota e a vitória deste
país.”
Na ocasião em que seu hidroavião pousou no porto de Nova York em
fevereiro de 1941, Hopkins foi recebido nas docas por Gil Winant, cuja
nomeação para embaixador acabara de ser anunciada, e também por Averell
Harriman. Pouco antes de Hopkins seguir para Londres, Harriman havia
implorado permissão para que o acompanhasse. “Deixe-me carregar [75] sua
pasta, Harry,” alegou. “Já me encontrei com Churchill várias vezes e conheço
Londres muito bem.” Hopkins recusou a companhia, mas deixou escapar que o
Presidente “talvez tenha alguma coisa” para ele mais tarde. Disposto a não deixar
passar a oportunidade, Harriman assegurou sua participação no comitê de
recepção a Hopkins.
No dia seguinte à sua chegada a Washington, Hopkins convenceu Roosevelt
de que precisava de alguém em Londres para coordenar a ajuda do Lend-Lease.
Essa pessoa, disse ele, era Averell Harriman. Com alguma vacilação, o Presidente
concordou e, um dia depois, convidou Harriman à Casa Branca.
 
Quando o Senado, por fim (e mui relutante), aprovou a lei do
Lend-Lease em 8 de março, FDR disse aos jornalistas: “Aqui em Washington
estamos pensando em rapidez, e rapidez agora. Espero que a expressão —
'rapidez, e rapidez agora' — chegue a todos os lares da nação.”
Todavia, como Harriman percebeu enquanto se preparava para a nova
missão, o pronunciamento de Roosevelt tinha pouca base na verdade. Embora
Washington viesse batalhando com a nco para se revigorar no começo de 1941,
ela ainda não tinha descoberto a virtude da rapidez. Para os jornalistas que
cobriam as atividades da lânguida e lenta cidade, depois de trabalharem na
desesperada Inglaterra que lutava para sobreviver, tudo aquilo parecia
serenidade e alheamento — “tudo muito em ordem e asseado em contraste com
os escombros e o mau cheiro da bombardeada Londres.”
James Reston do New York Times, o qual, como Eric Sevareid, fora
transferido de Londres para Washington no outono de 1940, classi cou seu novo
posto como “um lugar agradável, caso você viva na região 'certa' da cidade e não
leia nem pense.” De seu lado, Sevareid considerou Washington “um parque
coberto de folhas e sonhador” e “um subúrbio limpo e bem cercado da nação,”
isolado da realidade e incapaz de captar o caos que se alastra pelo globo. David
Brinkley, que chegou a Washington de tempo de guerra como “foca” de um
jornal da Carolina do Norte, mais tarde se referiu à capital como “uma cidade e
um governo totalmente despreparados para assumir as responsabilidades globais
subitamente lançadas sobre seus ombros.”
Tropeçando e tentando energizar-se para se tornar uma capital importante
no mundo, Washington atravessava período de furiosa improvisação. “É difícil
exagerar-se a perplexidade e a frenética incerteza que prevaleceram em
Washington naqueles dias,” registrou Robert Sherwood, que mudara de autor de
peças para preparador dos discursos de Roosevelt no m de 1940. Tendo
prometido a ajuda do Lend-Lease à Inglaterra e agora às voltas com o preparo da
América para uma possível guerra, Washington estava com diversas prioridades
urgentes, inclusive controle de preços, alocação de matérias-primas e
reformulação das fábricas existentes, assim como construção de novas para o
esforço da defesa.
Na opinião de muitos, a missão de produção e mobilização para a defesa
deveria ter sido designada para uma única agência do governo, che ada por um
funcionário com poder de coerção sobre os negócios e indústrias privados. Henry
Stimson, Henry Morgenthau e Bernard Baruch estavam entre os que instavam
Roosevelt a nomear tal czar da mobilização. Mas o Presidente não lhes dava
ouvidos. Refratário como sempre em delegar autoridade e poder, ele insistia em
deter o controle administrativo. No início de janeiro de 1941, criou a Agência de
Gerência da Produção (O ce of Production Management — OPM), a primeira
de uma série delas cuja missão ostensiva era administrar a economia de guerra.
Mas não seria dado à OPM poder autêntico: ela não podia forçar as indústrias a
se converterem para atender a produção de material bélico em vez de bens para a
população civil. E, com a revitalização da economia, as indústrias privadas
relutavam em negar aos consumidores novos carros e outros artigos que eles
demandavam — ou em se privar dos lucros decorrentes. Em consequência, a
OPM seguiu claudicando, fazendo o que podia, porém incapaz de concretizar o
urgente e abarcante esforço que o Presidente conclamava.
“O programa de produção [76] daqui não está em absoluto condizente com a
realidade,” Vincent Sheean, que chegara aos Estados Unidos em breve visita,
escreveu para Ed Murrow. “Todas as altissonantes conversas sobre 'defesa' e
'ajuda à Inglaterra' são mais estardalhaço do que realidade. (...) O povo realmente
não entende (...) coisa alguma sobre a seriedade do momento.”
Com a autoridade a ele concedida pela lei do Lend-Lease, Roosevelt
determinou que qualquer novo material bélico produzido nos Estados Unidos
fosse repartido 50-50 entre as forças armadas inglesas e americanas. Porém, como
Harriman notou enquanto peregrinava pelas repartições do governo, os chefes de
Estado-Maior americanos se opunham fortemente a abrir mão de armas e outros
suprimentos escassos que eram desesperadamente necessitados por suas próprias
forças singulares. Tanto o chefe do Exército, general George Marshall, como o da
Marinha, almirante Harold Stark, estavam convencidos da necessidade da ajuda
à Inglaterra: na realidade, durante meses, eles vinham insistindo com o
Presidente para proporcionar mais assistência do que ele estava disposto a dar.
Não obstante, com a situação tão carente das suas forças e com a lentidão e
aleatoriedade com que eram procedidas a mobilização e a produção bélica
americanas, os chefes militares resistiam em conceder à Inglaterra qualquer coisa
que pudesse ser importante para a própria defesa da América.
No começo de 1941, os Estados Unidos eram uma potência militar de quinta
categoria, com suas forças ocupando um modesto décimo sétimo lugar em
efetivos, comparadas com outras do mundo. Por muito tempo de nhando por
falta de apoio nanceiro pelo Congresso e pela Casa Branca, o Exército tinha
pouco mais de 300 mil homens (a maioria recém-recrutada), comparados com os
4 milhões da Alemanha e o 1,6 milhão da Inglaterra. Não existia uma só divisão
blindada, e os recrutas treinavam com cabos de vassouras no lugar dos fuzis e
estruturas de madeira imitando armas anticarro. O Exército estava em condições
tão ruins, segundo um historiador militar, que não seria capaz de “repelir
incursões [77] de bandidos mexicanos através do rio Grande.” Embora a
Marinha estivesse um pouco melhor, perto da metade de seus navios de guerra
datava da Primeira Guerra Mundial. O Corpo Aéreo do Exército, enquanto isso,
contava com apenas duzentos aviões de combate.
Após diversas reuniões com os chefes e outros altos o ciais, Harriman
anotou: “Estamos tão carentes que qualquer coisa doada pelo Exército e pela
Marinha sairá de nosso próprio sangue; não existe praticamente excedente algum
e não existirá por muitos meses.” Os urgentes pedidos de Harry Hopkins por
mais ajuda à Inglaterra não sensibilizavam os altos escalões militares, que
julgavam ter sido ele encantado pela magia de Churchill. “Não podemos levar a
sério requisições que surgem de madrugada regadas a vinho do Porto,”
resmungou um o cial de elevado posto, numa óbvia referência aos tête-à-têtes das
altas horas entre o assessor presidencial e o primeiro-ministro.
A questão da ajuda cava ainda mais complicada pela intensa anglofobia de
muitos militares americanos, convictos de que a Inglaterra em breve seria
derrotada e de que quaisquer suprimentos enviados aos ingleses logo cairiam em
mãos alemãs. No m de 1940, o secretário da Marinha, Frank Knox, confessou a
um auxiliar que “ cara perturbado ao descobrir que os o ciais da Marinha eram
muito derrotistas em seus pontos de vista.” Knox atribuiu grande parte de tal
derrotismo a “um discurso proferido para os o ciais pelo embaixador Kennedy
quando retornou aos Estados Unidos.”
Apenas poucos dias após a nomeação, Harriman percebeu que tinha uma
tarefa monumental à sua frente. Para convencer os militares americanos de que o
material bélico e outros equipamentos seriam mais valiosos em mãos inglesas do
que nas deles, precisava persuadir Churchill e os ingleses a darem convincentes
provas de que o equipamento urgentemente necessitado seria empregado de
imediato. Teriam também que revelar seus mais sensíveis segredos militares,
inclusive informações sobre sua própria produção e reservas. “Sem
entendimento [78] e aceitação da estratégia de guerra [de Churchill],” escreveu
Harriman noutro memorando para si mesmo, “nossos militares ncarão o pé.”
Mais importante ainda, o Presidente precisaria ser persuadido a aprovar bem
mais ajuda à Inglaterra do que os suprimentos enviados pelo Lend-Lease, os
quais, ainda assim, não chegariam às costas inglesas antes de vários meses. A
exemplo de Stimson, Stark e de alguns outros membros da alta administração,
Harriman acreditava que a Marinha americana tinha de começar a proteger os
navios mercantes ingleses em sua travessia do Atlântico extraordinariamente
perigosa. Roosevelt, no entanto, resistia intransigentemente à ideia de quaisquer
comboios navais. Seu governo vendera a noção do Lend-Lease ao Congresso e ao
povo como maneira de manter a América fora da guerra, pleiteando que aquele
era o melhor meio de barrar a Alemanha sem a necessidade de enviar soldados
americanos para lutar (Claude Pepper, representante da Flórida e um dos poucos
fervorosos defensores do Lend-Lease no Senado, pôs a questão de forma um
pouco mais grosseira. Declarou que a Inglaterra, com a ajuda americana, agiria
“como uma espécie de mercenário, combatendo pela América.” Roosevelt sabia
que os navios de escolta aumentariam a chance de os EUA se envolverem em
troca de disparos com as forças navais e aéreas alemãs — risco que ele não estava
disposto a assumir, ao menos por enquanto.
Após uma reunião nal com Roosevelt antes de partir para Londres no
começo de março, Harriman começou a cismar sobre quão comprometido o
Presidente estava com a sobrevivência da Inglaterra. Os indícios, pensou, não
eram animadores. “Saí achando que o Presidente não estava encarando aquilo
que eu considerava realidade da situação, qual seja, a grande possibilidade de a
Alemanha (...) castigar tanto o transporte marítimo inglês que o país casse sem
capacidade de resistir,” escreveu Harriman enquanto seguia para a Inglaterra.
“Ele não pareceu disposto a liderar a opinião pública ou a forçar a discussão do
problema, mas esperava, sem qualquer suporte do raciocínio, que nossa ajuda
material levasse os ingleses a fazerem o trabalho. Temo que, se as coisas correrem
mal para a Inglaterra, uma ajuda mais especí ca seria muito tardia.”
 
Quando Harriman chegou a Bristol em 15 de março, foi
recepcionado pelo assistente naval de Churchill e rapidamente transferido para
um avião militar, que voou para um aeroporto próximo a Chequers, cerca de
oitenta quilômetros ao norte de Londres. Poucas horas depois, o representante
americano do Lend-Lease era conduzido para o quarto do primeiro-ministro no
seu refúgio campestre; apesar de resfriado e acamado, Churchill pôs-se logo a
trabalhar. “Ele tem pessoalmente [79] conversado comigo a respeito de todos os
aspectos da guerra,” escreveu depois Harriman para a esposa Marie, que cara
em Nova York. “A Batalha do Atlântico e outras situações da luta travada pelo
tráfego marítimo são consideradas por ele a campanha decisiva.” Foi só Harriman
dizer a Churchill que precisava ter acesso a todas as informações sobre os
recursos e necessidades militares da Inglaterra, não importava quão sensíveis ou
secretas, para o primeiro-ministro replicar que ele teria tudo o que quisesse.
Fazendo eco ao que já dissera a Winant, acrescentou: “Nada lhe será ocultado.”
Na quase totalidade, Churchill cumpriu a palavra dada aos dois americanos,
consultando-os sobre ampla gama de assuntos. De acordo com seu secretário
John Colville, a embaixada americana “por pouco não se tornou uma extensão do
nº 10 de Downing Street. Como outros colegas, z frequentes idas para
[reuniões com Winant] no nº 1 de Grosvenor Square.” Mais de uma vez,
Churchill enviou Colville à embaixada para que Winant checasse seus
discursos. O secretário do primeiro-ministro lembrou-se de uma ocasião em que o
embaixador “fez quatro pertinentes observações a respeito do efeito das palavras
de Churchill sobre a opinião pública dos EUA. Fiquei muito impressionado com
sua natural esperteza e sagacidade. Mais tarde, expliquei as ponderações ao PM,
que as aceitou.”
Ainda que fossem assíduos seus contatos com o nº 10 de Downing Street,
Winant criou laços ainda mais cerrados com o Foreign O ce e com Anthony
Eden, que substituiu Lord Halifax como ministro do Exterior no começo de
1941. De fato, a colaboração entre o embaixador americano e Eden era tão fácil e
íntima que eles não faziam registros de suas conversações o ciais — uma prática
sem precedente na diplomacia internacional, como realçou Eden. “Logo no
início [80] de nosso trabalho conjunto,” disse ele, “Mr Winant e eu entendemos
que não poderíamos tocar nossas tarefas se cada entrevista entre nós — e, por
vezes, foram duas ou mais num só dia — tivesse que car sujeita a registro
detalhado.” Os dois normalmente se encontravam no cavernoso escritório de
Eden, onde Winant ocasionalmente fazia um comentário provocador sobre o
retrato de George III, que se destacava pendurado acima da escrivaninha do
chanceler inglês, antes de se lançarem nas discussões de amplo espectro, desde os
problemas de suprimento até as relações de seus respectivos países com a França
de Vichy. “Tínhamos uma incomum relação informal,” escreveu Winant depois,
“baseada não só na amizade pessoal como também na consideração que cada um
de nós dedicava ao país do outro e ao seu próprio.”
Um mês após sua chegada, Harriman escreveu a Roosevelt sobre “o total
respeito e con ança que seu embaixador desfruta entre todas as classes da
Inglaterra. Ele se tornará antes de ir embora, acredito, o mais querido americano
que jamais pisou na Inglaterra. Suas simpatias são cordiais, sua devoção,
completa, e seu julgamento, sólido.”
Na embaixada americana, Winant continuou sendo o administrador
medíocre que fora na Câmara da Seguridade Social — “um dos piores do
mundo,” de acordo com Theodore Achilles, o attaché político da embaixada.
Esquecia de compromissos e mantinha funcionários ingleses e outros dignitários
esperando por horas na antessala. Para desespero dos seguranças, o embaixador
realizava suas visitas com documentos ultrassecretos en ados nos bolsos. Muitas
vezes, sua equipe encontrava cabogramas con denciais espalhados sobre as
mesas e no chão de seu apartamento. Em determinada ocasião, ele se esqueceu
de avisar a governanta que Churchill viria para jantar. Quando o primeiro-
ministro chegou, não havia coisa alguma para servir.
Malgrado todas as suas falhas, no entanto, Winant era um líder inspirador,
da mesma forma que o fora em Washington. Rapidamente congregou a equipe
que, na época do antecessor, vivia assaltada por atritos e mal-estares. Sob a
orientação de Winant, a embaixada alimentou Washington com um uxo de
informações sobre os acontecimentos ingleses na guerra que mais tarde
ajudariam o esforço bélico americano, desde os últimos avanços no tratamento
cirúrgico de ferimentos e queimaduras até as notícias sobre defeitos nas lagartas
dos blindados que evitaram que os militares dos EUA cometessem os mesmos
erros nos projetos de seus próprios tanques.
Em maio de 1941, Ed Murrow escreveu a um amigo em Nova York: “Talvez
você gostasse [81] de conhecer tanto Winant quanto Harriman que estão
fazendo um trabalho de primeira classe por aqui, e a atual embaixada americana
funciona com uma velocidade e uma e ciência como nunca vi.” Entretanto, por
mais importante que considerasse Winant, Churchill estava, no momento,
concentrado no representante do Lend-Lease, cuja in uência considerava mais
crucial àquela altura para a sobrevivência de seu país. A situação cava mais
grave a cada dia: as perdas marítimas continuavam a escalar, e Hitler preparava
claramente uma invasão da Grécia, país historicamente sob proteção britânica.
No norte da África, a Alemanha parecia pronta para ajudar a Itália, cujas tropas
ine cientes haviam sido destroçadas pelos ingleses. Desesperadamente
necessitado de navios, aviões, armamentos e equipamentos, Churchill estava
determinado a cortejar e seduzir o recém-chegado americano, exatamente como
zera com Winant e Hopkins, para conseguir o que queria.
Poucos dias após a chegada, Harriman recebeu um escritório no Almirantado
e acesso aos cabogramas e documentos secretos sobre produção e suprimentos.
Frequentou reuniões de um dos subcomitês de guerra que tratava da Batalha no
Atlântico e teve repetidas reuniões com ministros dos transportes marítimos, dos
suprimentos, da produção aeronáutica, dos alimentos e da economia de guerra.
“Cada um dos ministros (...) forneceu-me as informações mais con denciais,”
escreveu ele. “Por vezes, eu cava constrangido por não lhes poder dizer, em
resposta às suas perguntas, exatamente que ajuda os Estados Unidos estavam
dispostos a dar.” Em vez de um cão de guarda do auxílio americano, os ingleses o
tratavam, disse Harriman, “como um parceiro em vasta empreitada.” Numa carta
ao presidente da Union Paci c, declarou: “Sou aceito como praticamente um
membro do Gabinete” — e, para a esposa, disse orgulhosamente: “Tenho estado
com o primeiro-ministro pelo menos uma vez por semana e, normalmente,
também nos ns de semana.” Dos primeiros oito ns de semana de Harriman na
Inglaterra, sete foram passados em Chequers, a convite de Churchill. “O
nervosismo era muito grande,” lembrou-se anos mais tarde, “eu me sentia como
um rapaz do interior arremessado exatamente no centro da guerra.”
Empolgado com o novo senso de poder, ele se dispôs a criar seu próprio
império. A equipe de oito homens do Lend-Lease ocupou vinte e sete cômodos
de Grosvenor Square nº 3, um edifício de apartamentos perto da embaixada; o
imenso escritório de Harriman, “que mais parecia [82] coisa de Mussolini,” no
dizer de um auxiliar, fora a sala de estar de um luxuoso apartamento.
Winant, que havia recusado morar na mansão o cial do embaixador
americano, em Kensington, residia também no nº 3 de Grosvenor Square.
Querendo estar próximo à embaixada, alugou um apartamento simples de três
quartos no mesmo edifício, enquanto, para horror da governanta, alimentava-se
totalmente com as rações dos civis ingleses.
Como um dos homens mais ricos dos Estados Unidos, Harriman não tinha
interesse em seguir o exemplo de Winant de um estilo espartano de vida.
Instalou-se na suíte do térreo do Dorchester Hotel, construído dez anos antes e
considerado o edifício mais seguro de Londres durante os ataques aéreos. O
prédio era exaltado também por ser excepcionalmente à prova de som: os
assoalhos e tetos dos quartos eram isolados com algas marinhas comprimidas e as
paredes externas, com cortiça. Localizado no coração de Mayfair, o Dorchester
hospedava integrantes do Gabinete inglês, membros deslocados da realeza
europeia, e líderes de governos, generais e almirantes de todo o mundo, bem
como opulentos londrinos, entre eles Somerset Maugham, que abandonou suas
residências estruturalmente mais fracas durante a guerra. Uma senhora da
sociedade de Londres chamava o Dorchester “aquele refúgio dourado dos ricos.”
Outros o quali cavam como “a moderna Babilônia de tempo de guerra” e “uma
fortaleza protegida por sacos de dinheiro.”
Ao passo que os londrinos se viam às voltas com a crescente escassez de
alimentos, os clientes do restaurante do Dorchester — o qual, como outros
estabelecimentos de alimentação em Londres, não era racionado — faziam
refeições à base de morangos, ostras e salmão defumado, acompanhadas por
música executada pela orquestra do hotel. “Jamais vi tanto luxo, tanto gasto de
dinheiro ou mais consumo de alimentos do que na noite de hoje, e a pista de
dança estava lotada,” observou um membro tory do Parlamento após jantar no
Dorchester numa noite de Blitz. “O contraste entre a iluminação e a animação
no interior, e o blackout e o rugir dos canhões no lado de fora, era assustador.”
Esse alto padrão de vida em meio a tanta morte e destruição não agradava ao
gosto de todos. “Jamais me senti à vontade nos salões de jantar dos hotéis Savoy,
Dorchester e Ritz depois que a Blitz começava,” escreveu Ben Robertson. “A
comida e a música penetravam em sua consciência enquanto centenas de
milhares estavam em abrigos antiaéreos e morria gente por todos os lados.” Ed
Murrow cava igualmente consternado com as dramáticas discrepâncias nas
condições de vida entre os londrinos sob fogo. Numa de suas transmissões,
ressaltou as diferenças entre o esquálido e inseguro abrigo público do outro lado
da rua do Dorchester e o requintado refúgio próprio no subsolo do hotel,
completo com fofos edredons e travesseiros brancos e macios sobre camas
confortáveis.
Harriman, contudo, não expressava tais escrúpulos: afeiçoou-se ao
Dorchester — e à sua nova vida em Londres — com o maior entusiasmo. Como
último “vip” americano no cenário, ele foi inundado com atenções e convites.
“Minha correspondência [83] tem sido incrível,” escreveu à esposa. “Jamais
soube que tinha tantos amigos e conhecidos na Inglaterra. (...) Convites — ns de
semana para durar até o dia do Juízo Final — jantares, almoços, coquetéis etc.
etc.” Já altamente engajado no seu passatempo de colecionar pessoas, ele disse a
Marie: “Fui interrompido pelo primeiro-ministro da Austrália que veio ao meu
quarto. Ele é agradável — sem afetações — na segunda vez que o vi já o chamei
de 'Bob.'”
 
Enquanto desfrutava de sua repleta agenda social , Harriman
era obrigado a ajustá-la aos espaços surgidos em seus agitados dias de trabalho.
Da mesma forma que Winant, teve de enfrentar problemas espinhosos nas
relações anglo-americanas desde o dia em que chegou. Entre eles avultava a ira
pela insistência do governo dos Estados Unidos para que a Inglaterra vendesse
importantes ativos em troca da assistência americana. Roosevelt esperava que
Churchill o ajudasse a abrandar os receios dos isolacionistas de que, com a
aprovação do Lend-Lease, a Inglaterra estivesse levando vantagem sobre os EUA.
No começo de 1941, o Presidente ordenou o despacho de um contratorpedeiro
americano para a África do Sul a m de coletar ouro inglês no valor de £50
milhões, que lá estavam retidos, e trazê-los na volta à América. Seu governo
também coagiu a Inglaterra a vender a American Viscose Corporation, uma
companhia têxtil de propriedade inglesa, para um grupo de banqueiros
americanos, os quais prontamente a revenderam por preço muito mais elevado.
As ações americanas “se assemelhavam às de um xerife recolhendo os
últimos bens de um impotente devedor,” escreveu um furioso Churchill para
Roosevelt num cabograma que jamais foi enviado. “O senhor não se importará,
tenho certeza, de eu dizer que, se os americanos não se aliarem a nós em todas as
medidas, não poderemos garantir a derrota da tirania názi e o ganho do tempo
necessário para o rearmamento de seu país.” Para um dos integrantes do seu
Gabinete, o primeiro-ministro explodiu: “Até onde posso ver [84], não estamos
sendo apenas esfolados, mas descarnados até os ossos.” Apesar de Harriman ter
feito o máximo para amainar a raiva inglesa quanto à impiedosa tática
negociadora americana, o ressentimento persistiu até o m da guerra. “Como os
ingleses odeiam o fato de serem socorridos pelos americanos,” escreveu em seu
diário o diplomata canadense Charles Ritchie. “Eles sabem que têm de engolir
isso, porém, Deus meu, como lhes atravessa a garganta.”
Enquanto Harriman tratava da questão dos ativos ingleses, ele e Winant se
depararam com outra di culdade: a crescente expectativa de Churchill e muitos
de seus compatriotas de que os Estados Unidos entrariam na guerra pelo nal da
primavera ou começo do verão de 1941. Havia diversas razões para essa
equivocada crença, entre elas o discurso de “aonde você for, eu irei” de Harry
Hopkins; um comentário de Wendell Willkie que, se Roosevelt fosse eleito em
1940, os Estados Unidos estariam na guerra por volta de abril; e a aprovação do
próprio Lend-Lease. Até Hopkins tentara minimizar tal esperança, como agora o
faziam Harriman e Winant.
Embora o Lend-Lease fosse um passo gigantesco na escalada do
envolvimento americano, os enviados do país alertavam para que ele não fosse
visto como decisivo. Vezes sem conta, procuraram deixar claro aos funcionários e
ao povo inglês a força do movimento isolacionista nos Estados Unidos e as
excentricidades da política e do governo do país, em particular o sistema de
independência dos poderes. Churchill, que tinha mãe americana, gostava de se
vangloriar de conhecer muito bem o sistema político dos EUA. Na verdade, ele e
membros do seu governo jamais captaram por inteiro quão diferente ele era de
seu próprio sistema parlamentar, onde o executivo e a legislação estavam
amarrados juntos no Parlamento, e onde as divisões partidárias eram, em sua
maior parte, mantidas sob controle.
Winant e Harriman viviam destacando que Roosevelt não liderava o
Congresso da forma que Churchill manobrava o Parlamento. Pela Constituição
dos Estados Unidos, só o Congresso, e não o Presidente, podia declarar guerra. E,
na primavera de 1941, os legisladores americanos, muitos deles isolacionistas,
estavam longe de querer isso.
[*]Muitos no Partido Democrata, mesmo alguns entre os ardorosos seguidores de FDR, se sentiram
incomodados quando o Presidente quebrou a tradição e buscou um terceiro mandato. Os democratas
caram também insatisfeitos com a insistência de Roosevelt para que Wallace, que era secretário da
Agricultura e impopular entre a maioria dos éis membros do partido, fosse indicado para a vice-presidência
na sua chapa.
4

“Ele Ganha Con ança


Conosco ao Redor”
 
O 16 de abril de 1941 foi um belo dia — quente e ensolarado — e
Janet Murrow resolveu aproveitá-lo ao máximo. Com paciência, seduziu o
marido a deixar o trabalho por tempo su ciente para levá-la a jantar no L'Etoile,
um pequeno bistrô francês no Soho, que se tornara seu restaurante favorito na
Inglaterra.
As ruas naquela noite estavam tomadas por outros residentes londrinos que
se deleitavam com o clima. O inclemente inverno acabara, narcisos e jacintos
oresciam por todos os lados. Mas o verdadeiro revigorante para os espíritos era a
ausência de bombardeiros alemães: não ocorrera ataque aéreo importante por
mais de um mês. Os londrinos haviam nalmente começado a perder “aquele
aspecto horrível, cansado [85] e assombrado que tinham, com os olhos vermelhos
e encovados no rosto... consequências do terror e das noites insones,” escreveu
uma mulher em seu diário. O medo que assaltava as mentes ao anoitecer
começava rapidamente a se dissipar.
Até Ed Murrow dava sinais de relaxamento. Durante o jantar, ele e Janet
trocaram impressões sobre amigos, livros, lmes — sobre tudo, menos a guerra.
Ao saírem do restaurante, pararam em mesas próximas a m de cumprimentar
amigos da BBC, para os quais o L'Etoile era também um local predileto.
Gozando o frescor do ar da primavera e a lua cheia que tornava
consideravelmente mais fácil o caminhar em blackout, o casal se dirigiu para casa
passando por belas residências em cor creme, já com a pintura descascando, e
ocasionais espaços com montes de escombros, onde uma residência ou loja
existira.
Pouco antes de atingirem seu edifício de apartamentos, ouviram o familiar e
diabólico silvar das sirenes, um barulho distante de motores de aviões e o som
abafado de explosões na direção sul. Mas a adorável noite ainda pedia uma
esticada, e Murrow sugeriu que zessem uma parada no Devonshire Arms, o pub
da vizinhança, outro ponto favorito de encontro do pessoal da BBC. Janet, no
entanto, teve um mau presságio. Como qualquer outro residente de Londres, ela
sabia que lua cheia normalmente signi cava incursões pesadas de bombardeiros.
Mas havia algo mais no ar: sua premonição, escreveu mais tarde, recomendava
não ir ao pub naquela noite. “Estou realmente com medo [86],” disse ao marido.
“Eu caria feliz se você fosse para casa comigo.” Muito relutante, ele concordou.
Nem bem eles haviam aberto a porta do apartamento, seus ouvidos quase
estouraram com o barulho produzido por aviões acima do prédio — centenas
deles, pensou Janet — e estrondosas salvas de canhões antiaéreos seguiram-se
rapidamente às explosões das bombas. Subindo as escadas até o terraço, o casal
viu a cidade iluminada por incêndios: faíscas riscavam o céu como fogos de
artifício, fachos dos projetores ziguezagueavam e incêndios grassavam por todos
os cantos.
De repente, eles ouviram um som horripilante, o agudo sibilo de uma bomba
que parecia vir exatamente na direção deles; ato contínuo, eles se agacharam
abaixo da escada, com os braços protegendo as cabeças. Uma explosão
ensurdecedora balançou o prédio, jogando-os contra a parede. “É o escritório,”
gritou Murrow, e eles voltaram correndo para o terraço. De lá, testemunharam
uma cena dantesca: a Duchess Street, onde cava o escritório da CBS, estava em
chamas, como, de resto, todas as ruas próximas. Casas começavam a desmoronar
com estrépito assustador, e o pungente e acre cheiro da poeira de argamassa
enchia o ar. O Devonshire Arms havia desaparecido. A bomba, que por pouco
não atingiu o edifício dos Murrows, caiu exatamente sobre o pub, deixando
apenas um buraco negro em seu lugar. Uma coluna de poeira, destroços, fumaça
e centelhas criou uma forma de cogumelo no céu.
Pegando seu capacete metálico, Murrow despencou escada abaixo e saiu do
prédio. Da janela do quarto, Janet, aterrorizada como nunca estivera na vida, viu
as chamas, sabendo que “muitos de seus amigos haviam partido.” O mundo,
escreveu em seu diário, “estava de cabeça para baixo.”
 
A poucos quilômetros de distância , em Grosvenor Square, Gil
Winant trabalhava em seu escritório quando as sirenes começaram a soar.
Momentos mais tarde, ele ouviu o silvo de uma bomba e uma tremenda explosão,
seguida do barulho de vidro quebrando: todas as vidraças das janelas de seu
escritório haviam se estilhaçado. Levantando-se do chão, o embaixador,
acompanhado de dois auxiliares e de sua esposa, que acabara de chegar a
Londres para uma visita, subiram ao teto da embaixada a m de ter uma ideia dos
danos. Uma bomba incendiária tinha in amado o edifício vizinho da esvaziada
embaixada italiana, e os empregados da legação dos Estados Unidos trabalhavam
freneticamente para apagar o incêndio. No outro lado da rua, uma linda mansão
georgiana fora demolida. Na Oxford Street das proximidades, as chamas
devoravam uma das mais importantes lojas de departamentos de Londres. O
bairro de Mayfair, exatamente como a vizinhança dos Murrows perto do
Regent's Park, estava um inferno, como também quase o restante de Londres.
Com a continuação do ataque, Winant e o attaché político da embaixada,
Theodore Achilles, saíram às ruas para veri car in loco os estragos. Usando seu
amassado chapéu de feltro, o embaixador ignorou o estrondo afastado das
explosões de bombas e os estilhaços que caíam à sua volta. Ele e Achilles
caminharam quilômetros através de poeira e fumaça tão densas que era difícil
vislumbrar qualquer coisa a poucos metros de distância. Passaram pelas ruínas
ainda fumegantes de um prédio de onde os corpos de jovens enfermeiras eram
retirados. Visitaram abrigos repletos de gente e pararam para ver um bombeiro
no alto de uma escada extensível combater as chamas no teto de uma construção,
aparentemente indiferente às bombas que explodiam ao seu redor. Vezes sem
conta, o embaixador perguntou às pessoas que encontrava — guardas, policiais,
bombeiros, encarregados de resgates, gente nos abrigos — se havia alguma ajuda
que ele pudesse dar.
Uma atitude típica de Winant, anotou Achilles mais tarde. Ele se lembrou
das primeiras palavras que o embaixador lhe dirigiu quando chegou a Londres:
“Agora que estou aqui [87], o que posso fazer para ajudar?” Toda a abordagem de
Winant para seu trabalho, acrescentou Achilles, “se baseava em termos
humanos. Aos que preparavam relatórios sobre a situação na Grã-Bretanha, ele
costumava dizer repetidas vezes: 'Forneçam-me os dados em número de sapatos,
em quantidade de roupas.' Encarava as incursões aéreas sob a forma de
indivíduos, da tragédia humana que resultava dos bombardeios noturnos.”
Winant e Achilles andaram até o amanhecer, um pouco depois que soou o
aviso de “passou o perigo” às 5h, após oito horas de bombardeio ininterrupto. O
céu estava então azul e o sol brilhava, mas só para quem olhava diretamente para
cima; ao nível dos olhos, um manto de fumaça cinza ainda cobria a cidade.
Quando o embaixador e o attaché, cansados, se dirigiram de volta à embaixada,
bombeiros lançavam jatos d'água sobre os restos ainda ardentes de prédios
enquanto os afortunados londrinos, cujas residências se encontravam intactas —
ainda que um tanto abalados — empunhavam vassouras e pás para limpar os
locais de escombros e cacos de vidro.
Já no escritório, Winant telefonou para amigos e conhecidos, tanto ingleses
quanto americanos, a m de saber se estavam bem. Uma das chamadas foi para
os Murrows. Estavam bem, respondeu Janet, apesar de terem perdido o estúdio e
demais instalações, pela terceira vez até então, e mais de trinta pessoas haviam
morrido no Devonshire Arms, entre os quais muitos amigos deles. Escrevendo
mais tarde naquele mesmo dia para a mãe sobre a ferocidade do ataque, ela
observou: “Não vejo razão [88] alguma para alguém estar vivo nesta manhã.”
Diversas pessoas reconheceram Winant naquela noite, e as notícias sobre
suas perambulações pelo West End se alastraram rapidamente por toda a
Inglaterra, primeiro de boca em boca e depois através de notícias de jornais e da
BBC. Não foram poucos os artigos que realçaram o gritante contraste entre o
novo embaixador e seu predecessor, o qual, antes de retornar aos Estados Unidos
no auge da Blitz, escapava todas as noites para um refúgio próximo a Windsor.
Para muitos ingleses, a presença de Winant nas ruas de Londres durante o
terrível ataque de 16 de abril e nas incursões que ainda viriam era a primeira
evidência tangível de que os americanos realmente se preocupavam com o que
lhes acontecia. “Sua personalidade fascinou todo o país, como nenhum outro
embaixador dos tempos modernos foi capaz de fazer,” observou Virginia Cowles,
jornalista americana que trabalhou por breve período para Winant em Londres.
“Ele se tornou um símbolo para o povo da Grã-Bretanha (...) e tornou o escritório
do embaixador americano conhecido para virtualmente toda a gente de lá.”
Sir Arthur Salter, subsecretário inglês de transportes marítimos e amigo de
Winant, concordou. Na opinião de Salter, o embaixador “exempli cou para o
povo inglês o melhor lado da América. (...) Mostrou que estava profunda e
emocionalmente ligado aos ingleses e à sua luta contra Hitler e o nazismo.
Acreditava em tudo por quanto a Inglaterra combatia.” Em decorrência, disse
Salter, muitos ingleses “criaram uma inquestionável crença” de que Winant
estava certo quando frisava a importância de vínculos estreitos entre a Inglaterra
e os Estados Unidos tanto durante quanto depois da guerra.
 
Pelas estimativas, 1.100 londrinos morreram durante as incursões
de 16 de abril — a noite mais devastadora da Blitz até então. Mas tal quantidade
se manteve por apenas três dias porque em 19 de abril os bombardeiros
germânicos atacaram Londres novamente, matando acima de 1.200 pessoas.
Mais de meio milhão de residentes londrinos perderam suas casas nos dois
ataques.
A capital, no entanto, não foi a única cidade inglesa a sofrer o martírio de
bombardeios especialmente terríveis naquela primavera. Como parte da
abrangente tentativa alemã de decepar a linha vital de suprimentos da Inglaterra
e de interromper a produção de material bélico, a Luftwa e atacou as principais
cidades industriais e portuárias do país, entre elas Manchester, Portsmouth,
Cardi , Plymouth, Liverpool e Bristol. Em Liverpool, seis noites consecutivas de
bombardeios dani caram ou destruíram quase a metade das docas da cidade,
reduzindo a quantidade de suprimentos que podiam ser descarregados de navios
aportados a um quarto da tonelagem normal.
Profundamente preocupado com o estado de espírito dos que viviam fora de
Londres, Churchill passou grande parte de seu tempo em visitas de
encorajamento moral das cidades bombardeadas, muitas vezes levando com ele
Harriman e Winant. “Ele ganha [89] con ança conosco ao redor,” escreveu
Harriman a Roosevelt. Porém, como notou o enviado, Churchill tinha outra
razão para exibir os americanos. Sempre que se dirigia às pessoas do interior, ele
apresentava os dois como representantes de Roosevelt — “sua maneira de
garantir aos circunstantes que a América os apoiava.”
Apenas poucos dias antes do primeiro ataque de abril a Londres. Winant e
Harriman viajaram com o primeiro-ministro por diversas cidades muito atingidas
no sul da Inglaterra e no País de Gales. Como parte do giro, Winant deveria
receber o título de doutor honoris causa da Universidade de Bristol das mãos de
Churchill, chanceler da ordem daquela universidade.
Depois da visita a Swansea, a comitiva de Churchill chegou a Bristol em
meio a pesada incursão aérea, a sexta experimentada pelo movimentado porto
marítimo nos últimos cinco meses. Do trem do primeiro-ministro, estacionado
sob um túnel ferroviário nos arredores da cidade, ele e seu grupo assistiram
pesarosos as bombas destruírem uma vasta faixa de Bristol, das docas ao centro
da cidade. No alvorecer, reiniciaram a jornada passando por muitos destroços
com incêndios ainda grassando, ruas inundadas pelos encanamentos rompidos e
residentes procurando mortos e feridos nas ruínas. John Colville escreveu mais
tarde em seu diário: “foi uma devastação que nunca julguei possível.”
Todavia, quando a gente nas ruas identi cava a gura robusta, com os
onipresentes charuto e bengala, deixava de lado todos os pensamentos sobre
infortúnios, pelo menos por um momento, e corria ao seu encontro. Era sempre
assim, escreveu Winant a Roosevelt. “As notícias sobre sua [90] presença
circulavam rapidamente de boca em boca e, antes que ele pudesse ir muito longe,
multidões o cercavam e as pessoas gritavam, “Alô, Winnie,” “O bom e velho
Winnie,” “Você jamais nos deixará mal,” “Esse é um homem.”
Nas anotações que fez durante a visita a Bristol, Harriman descreveu os
passos de Churchill pela cidade: “Ele passa em revista a Guarda Territorial —
tropa per lada, porém com sorriso estampado em seus rostos quando ele surge.
Para e pergunta sobre determinada medalha — 'Da última guerra, não é?' Depois,
os guardas ARP (Air Raid Precautions) responsáveis pelas medidas de proteção
contra incursões aéreas, em seguida os bombeiros voluntários e, por m, as
mulheres.” Contudo, por comovente que fosse a atuação do primeiro-ministro,
Harriman cou ainda mais impressionado com o povo de Bristol. A certa altura,
uma senhora idosa, que acabara de ser resgatada de sua casa muito dani cada, foi
levada à frente para se encontrar com Churchill. Eles conversaram por pouco
tempo, mas logo a senhora disse com pressa: “Desculpe eu não poder falar mais
com o senhor. Tenho que ir limpar minha casa.”
Registrando rapidamente em suas notas as conversas dos residentes de
Bristol com Churchill, Harriman — aquele outrora empresário que raramente
demonstrava emoção — se mostrou sentimentalista, até melodramático: “Eles
enfrentaram a batalha, sentiram o gosto do fogo inimigo... zeram sua parte...
orgulhosos e sem temor. 'Viu o que eles zeram — os hunos,' diziam. 'Eles virão
de novo, mas nossos rapazes os pegarão, e faremos novas sepulturas!' 'No m,
venceremos, não é verdade?'”
As mesmas provas de desa o caram patentes na Universidade de Bristol,
que não adiou a cerimônia de entrega dos títulos honorí cos a Winant e a dois
outros dignitários, apesar de o Grande Salão da universidade, onde teria lugar o
evento, ter sido bombardeado, assim como outros prédios do campus.
Virtualmente todos os membros do corpo docente da universidade e os
formandos que se encontravam alinhados para a cerimônia tinham passado a
noite combatendo incêndios ou noutros trabalhos de resgate. Eles entraram em
las ordenadas pela pequena sala onde a cerimônia se realizou, com os olhos
injetados de sangue, sionomias cansadas e rostos ainda com traços de sujeira, e
roupas enegrecidas e úmidas por baixo das becas acadêmicas, e capelos e palas
ricamente coloridos ainda recendendo a fumaça.
O cheiro acre de fumaça penetrava também pelas vidraças quebradas das
janelas enquanto a algumas centenas de metros de distância os bombeiros
lançavam água nos focos de chamas dos prédios próximos. No intervalo de
alguns minutos, os participantes da cerimônia podiam ouvir explosões de bombas
de ação retardada. Quando Churchill começou a entrega dos diplomas, a mulher
do prefeito de Bristol desmaiou — um incidente “que pareceu sublinhar [91] a
tensão e o pesadelo de horas recentes,” escreveu Winant.
Na oportunidade em que o primeiro-ministro deixou Bristol naquela tarde,
centenas de habitantes foram à estação para as despedidas. Vendo-os dando vivas
enquanto a composição se afastava, Churchill tampou o rosto com um jornal
para esconder as lágrimas. “Eles têm muita fé,” disse a Harriman e Winant. “É
uma grave responsabilidade.”
Por sua vez, Harriman cou tão impressionado com a coragem dos residentes
de Bristol que enviou substancial ajuda em dinheiro vivo para Clementine
Churchill, solicitando que ela a repassasse ao prefeito da cidade para aqueles que
tinham perdido suas casas. No seu bilhete de agradecimento, Mrs Churchill
disse esperar “que todo aquele pesar e dor possam reunir nossos dois países
permanentemente e que possam aprimorar o conhecimento recíproco. De
qualquer maneira, aconteça o que acontecer, não nos sentimos mais sozinhos.”
 
Em muitos de seus cabogramas e cartas para Roosevelt e Harry
Hopkins, Harriman e Winant insistiam não apenas na determinação e o valor do
povo inglês, mas também no papel crucial que o cidadão comum vinha
desempenhando no con ito. A expressão “guerra do povo” cou muito
desgastada pelo uso, mas não há a menor dúvida de que o extraordinário esforço
voluntário na Inglaterra di cilmente foi igualado por alguns outros países
combatentes, se é que existiram, na Segunda Guerra Mundial.
Sempre que os governos locais ou nacional deixavam de atender a uma
necessidade ou de resolver um problema, os voluntários preenchiam o vazio. Sua
resposta às condições deploráveis nas estações de metrô de Londres e em outros
locais de abrigos antiaéreos foi um exemplo. Na maioria dos refúgios, as
autoridades não haviam tomado providências para alimentação, aquecimento,
camas, banheiros ou instalações de lavanderia. “O fedor era medonho — o cheiro
da urina e dos excrementos misturado com o do fenol e o do suor e sujeira de
humanos sem banho,” descreveu um dos usuários de abrigos no início da Blitz.
Voluntários logo se apresentaram com a solução. Banheiros foram
construídos com materiais das demolições; alimentos foram levados; apareceram
beliches e fogões, assim como poltronas e rádios em alguns refúgios. As
administrações de Londres e de outras comunidades, envergonhadas com as
reações e com a má qualidade deles, providenciaram mudanças estruturais e
outras melhorias nos abrigos. Pelo m da Blitz, a maioria fora transformada em
locais razoavelmente confortáveis para se passar as noites longas e perigosas.
O mesmo foi verdade para os centros de repouso, onde os que tiveram suas
casas destruídas podiam se refugiar. As autoridades governamentais tinham sido
afogadas pela maciça quantidade de sem-tetos, resultante das incursões aéreas
alemãs; só em Londres, 1,4 milhão de pessoas — um em cada seis residentes —
havia perdido suas casas pela primavera de 1941. Mais uma vez os voluntários
entraram em ação, providenciando camas portáteis, refeições, habitação
temporária e outros serviços.
O que provocou particular admiração nos observadores americanos como
Winant e Harriman foi o papel marcante que as mulheres desempenharam no
esforço voluntário. “É o espírito [92] das mulheres inglesas que está conduzindo
este país através da experiência horripilante dos bombardeios,” escreveu
Harriman a um amigo. À esposa observou: “As mulheres são o esteio principal da
Inglaterra.” Após uma visita a Londres, mais tarde naquela guerra, o secretário
do Tesouro Henry Morgenthau registrou em seu diário: “O que as mulheres
estão fazendo na Inglaterra é simplesmente inacreditável. (...) Não fossem elas, a
Inglaterra estaria hoje desmoronada.”
A maior parte das mulheres a que Harriman e Morgenthau se referiam era
integrante de uma organização chamada Women's Voluntary Service — WVS
(Serviço Voluntário Feminino), criada pela eminente viúva do marquês de
Reading, uma das mulheres mais notáveis da Inglaterra do século XX. Seu
marido, ex-embaixador nos Estados Unidos e que também servira como vice-rei
da Índia, acreditava que o futuro da democracia dependia de um melhor
entendimento entre os Estados Unidos e a Inglaterra. Ela concordava. Após a
morte de Lord Reading em 1935, ela passou diversos meses na América.
Viajando por todo o país como Lady Reading, cou em hotéis a um dólar por
noite e trabalhou como lavadora de pratos para melhor conhecer a classe
operária. Entre as pessoas com quem fez amizade durante a estada estava
Eleanor Roosevelt. Mais tarde, em Londres, cou amiga dos Murrows e de
Winant.
Em 1938, o Ministério do Interior perguntou a Lady Reading se ela poderia
constituir uma organização a m de recrutar mulheres para o trabalho de defesa
civil na eventualidade da guerra. Ela aceitou o desa o, mas insistiu que a missão
do WVS fosse grandemente expandida. Qualquer trabalho que precisasse ser
feito, disse ela, seria missão de seu grupo.
Quando foi declarada a guerra em 1939, as integrantes do WVS, em seus
tradicionais terninhos de lã verde axadrezada e suéteres vermelhas, ajudaram a
evacuar crianças de Londres para outras cidades. Poucos meses depois, quando
as exauridas tropas britânicas foram tiradas do porto francês de Dunquerque,
mulheres da WVS esperavam por elas nas docas e estações ferroviárias com
sanduíches e chá quente fumegando. Depois que Hitler ocupou a maior parte do
Continente, aquele “magní co corpo [93] de abnegadas mulheres,” no dizer de
um dos prefeitos ingleses, ajudou a encontrar habitação para milhares de
refugiados europeus que fugiram para a Inglaterra. O grupo fez o mesmo para os
sem-teto do próprio país durante a Blitz. Essas mulheres administraram centenas
de centros de repouso, albergues, cantinas e livrarias móveis, e distribuíram
milhares de toneladas de vestuário e outros suprimentos, recolhidos na América e
na Commonwealth, para os necessitados.
Pelo m da guerra, a maioria das mulheres inglesas tinha se envolvido, de
uma forma ou de outra, com o con ito armado: a maior parte das que não
serviram nas forças armadas ou nos serviços de defesa civil, ou foram empregadas
em fábricas ou noutros empreendimentos ligados à guerra, trabalhou, ao menos
em tempo parcial, no Serviço Voluntário Feminino. Pelo imenso serviço prestado
ao esforço de guerra de seu país, Lady Reading se tornou a primeira mulher
indicada para a Câmara dos Lordes.
 
Não obstante, por valente e vital que fosse o esforço civil inglês,
ele não podia fazer tudo. Por exemplo, não tinha capacidade para deter os
estragos causados pelos submarinos alemães na marinha mercante, tampouco
podia afastar outros perigos que ameaçavam o país na primavera de 1941. Viver
na Inglaterra durante aqueles desgastantes meses — os piores da guerra — foi
como “viver um pesadelo, com alguma calamidade constantemente pairando
sobre as cabeças,” escreveu Harriman para Harry Hopkins.
Com o passar dos dias, as perdas de toneladas marítimas cresceu em
proporções astronômicas. Os novos cruzadores alemães Gneisenau e Scharnhorst
juntaram-se à alcateia de submarinos para caçarem navios mercantes ingleses
como se fossem patinhos em estande de tiro de parque de diversões. A tonelagem
de material afundado em abril — 700 mil toneladas — foi mais do que o dobro
das perdas do mês anterior. Na realidade, os danos eram tão calamitosos que
Churchill determinou ao Ministério da Informação que suspendesse seus
boletins, temeroso de afetar o moral público.
Naquele período, a Inglaterra cou tão perto da extrema fome como jamais
esteve durante toda a guerra. O racionamento de alguns artigos alimentícios
passou então a ser draconiano; as pessoas eram limitadas, por exemplo, a trinta
gramas de queijo e a uma quantidade mínima de carne por semana, e a 250
gramas de presunto e margarina por mês. Alguns alimentos, como tomates,
cebolas, ovos e laranjas quase desapareceram por completo das prateleiras.
Começou também o racionamento de roupas e a maior parte dos itens de
consumo, das caçarolas aos fósforos, era quase impossível encontrar. “Não há
dúvida de que [94] a situação dos alimentos está muito pior,” registrou o general
Raymond Lee, adido militar da embaixada americana, que retornara a Londres
em abril após três meses de serviço temporário em Washington. “As pessoas
também me impressionam por estarem bem mais sérias do que em janeiro.”
O correspondente Vincent Sheean, que chegou a Londres vindo dos Estados
Unidos mais ou menos ao mesmo tempo, cou espantado não apenas com a
crescente gravidade das condições de vida na capital, mas também com o preço
que elas tinham cobrado de seus colegas americanos de pro ssão. Ed Murrow,
Ben Robertson e Bill Stoneman, com os quais tomou uns drinques certa noite,
estavam magros e com os olhos encovados no rosto; Murrow em especial parecia
bem mais velho do que seus trinta e três anos de idade. “Você não vai mais
encontrar o alto astral e o 'vamos aguentar' do ano passado,” disse o repórter da
CBS a Sheean. “A gente... está cando um tanto amarga. Toda aquela novidade
passou. O período heroico acabou. A alimentação tem alguma coisa a ver com
isso — todos estão provavelmente um pouco desnutridos.”
As louvadas bravura e determinação dos ingleses ainda estavam em
evidência, porém começavam a dar mostras de profundas rachaduras depois de
oito meses de bombardeios e privações crescentes. Por mais corajosos que os
britânicos pudessem ser, não eram super-homens. A questão de por quanto
tempo sua determinação iria perdurar, em particular nas cidades que não
Londres, era uma das que preocupavam Churchill e outros tomadores de
decisões do país.
O ministro do Interior, Herbert Morrison, “está inquieto [95] com os efeitos
das incursões nas províncias sobre o moral,” escreveu o subsecretário da
Informação, Harold Nicolson, em seu diário no início de maio. “Ele vive
insistindo que as pessoas não podem suportar inde nidamente esse intenso
bombardeio e que, mais cedo ou mais tarde, o moral das cidades desabará.”
Embora cidades menores como Portsmouth, Plymouth e Bristol não tivessem
cado sujeitas ao castigo noturno que Londres recebera, os danos que
experimentaram com as incursões aéreas tinham sido mais amplos e devastadores
do que na espraiada capital, onde ainda existiam vastas áreas não atingidas pelas
bombas. As cidades provinciais também careciam dos maiores recursos de
Londres: não tinham quilômetros de metrô para servir como abrigos antiaéreos
improvisados, nem acesso aos numerosos serviços de resgate e combate a
incêndios ou de alimentação, vestuário e outros serviços de emerg§encia
disponíveis na capital.
Entretanto, na opinião de Winant, a erosão do moral no país tinha tanto a ver
com o sofrimento da vida diária quanto com os renovados ataques aéreos. “A
fadiga e a monotonia... os transportes interrompidos... a poeira... as roupas
esfarrapadas e gastas... o tédio que surge com o desejo de coisas... nenhum vidro
para reparar as vidraças ... tropeçar no blackout a caminho de casa...
racionamento de eletricidade e combustível — tudo isso contribui para uma
desanimadora imagem mesmo para os mais determinados.”
Após mais de vinte meses de guerra, a luta parecia in ndável, sem alívio à
vista em qualquer ponto do horizonte. “Tudo o que o país realmente quer é
alguma certeza de como a vitória será alcançada,” escreveu Harold Nicolson. “As
pessoas não aguentam mais conversas sobre a justeza de nossa causa e sobre
nosso triunfo nal. O que elas querem mesmo são fatos indicadores de como
derrotaremos os alemães. Não tenho a menor ideia de como daremos a elas esses
fatos.”
Nem Churchill podia, tampouco qualquer outro no governo. Os únicos fatos
que tinham à disposição eram os decepcionantes desastres do Exército inglês —
uma série de cercos, evacuações e derrotas. Em abril, a Alemanha varreu os
Bálcãs, dominando a Grécia e, após in igir sérias baixas, destroçando as forças
inglesas que lá estavam. Os britânicos se retiraram para a ilha de Creta, porém
em maio foram de novo expulsos pelos alemães. Foi a quarta evacuação na guerra
para as forças inglesas — e a mais humilhante até então. “Um grave dano incidiu
de forma geral sobre o moral inglês,” anotou Robert Sherwood, “e, em particular,
resultaram disputas desagradáveis entre as três forças singulares britânicas.”
Uma piada ferina circulou na Inglaterra de que a sigla BEF — “British
Expeditionary Force” — na verdade signi cava “Back Every Friday” (uma
retirada a cada sexta-feira).
Entrementes, uma eira de anteriores triunfos ingleses sobre os italianos na
Líbia virara poeira quando o general Erwin Rommel e seu Afrika Korps
chegaram para socorrer seus aliados. Em apenas dez dias, os alemães
recuperaram quase todo o território que os ingleses haviam tomado em três meses
e, ao fazê-lo, lançaram os Tommies de volta ao Egito. A vitória de Rommel, que
Churchill classi cou como “um desastre [96] de primeira magnitude,” foi uma
calamidade estratégica para a Inglaterra, ameaçando seu acesso ao petróleo do
Oriente Médio e seu controle sobre o Canal de Suez, caminho vital para a Índia
e o Extremo Oriente.
No país, havia uma dúvida crescente a respeito da capacidade combatente e
da determinação das tropas inglesas, preocupações expressas privadamente por
Churchill e membros de seu governo. “A evacuação caminha razoavelmente bem
— isso é tudo que temos de realmente bom!” — Alexander Cadogan registrou em
seu diário durante a retirada inglesa da Grécia. “Nossos soldados são os mais
patéticos amadores arremessados contra pro ssionais. (...) Cansados, deprimidos e
derrotistas!”
Durante esses tempos decepcionantes, o próprio Churchill cou também sob
forte ataque parlamentar por sua conduta da guerra, em especial pela ordem que
deu transferindo tropas do Oriente Médio, em abril, para desembarcá-las na
Grécia — uma movimentação de forças favorável a Rommel. Num debate de
maio na Câmara dos Comuns, diversos representantes espancaram a liderança
do primeiro-ministro e aquilo que viam como decisões equivocadas. Apesar de
enfurecido com as críticas, Churchill reconheceu um clima de “desalento e perda
de con ança” no país. Dirigindo-se à Casa, a rmou: “Sinto que estamos lutando
pela vida e pela sobrevivência, dia a dia e hora a hora.”
Dolorosamente consciente de que a única esperança da nação era a
intervenção dos EUA, Churchill intercedeu a Winant e Harriman por mais
ajuda com uma intensidade que beirou a obsessão. Winant começou a lastimar
suas visitas de m de semana a Chequers, onde o primeiro-ministro arengava
sem parar e depois subia para uma soneca, deixando um membro do Gabinete ou
qualquer outro alto funcionário para dar continuidade à argumentação. Após
uma hora, ou perto disso, ele retornava, descansado e novinho em folha, para
outro round com o desgastado embaixador. Que bem faziam os artigos do Lend-
Lease, perguntava Churchill repetidas vezes, se eles jamais chegavam à
Inglaterra? Queria que a Marinha americana protegesse os comboios de navios
mercantes, porém, bem mais que isso, desesperava-se para a América entrar na
guerra.
No nal de março, líderes militares ingleses e americanos se reuniram em
Washington para debater uma possível ação conjunta quando — e se — os
Estados Unidos viessem a participar do combate. Concordaram que o esforço
principal contra a Alemanha teria lugar no Atlântico e na Europa. De acordo
com os planejadores, um grande destacamento da Marinha americana seria
desdobrado para proteger os navios mercantes ingleses, enquanto cerca de trinta
submarinos dos EUA operariam contra os vasos de guerra inimigos. Os ingleses
caram satisfeitos com os planos, mas eles não saíram do papel, uma vez que
Roosevelt não mostrou interesse por sua implementação.
Em 3 de maio, um Churchill desanimado deixou bastante claro o que
realmente a Inglaterra necessitava dos Estados Unidos, e não eram
contratorpedeiros, aviões ou proteção naval para os comboios. Pela primeira vez
desde junho de 1940, ele rogou a Roosevelt que declarasse guerra à Alemanha.
“Senhor Presidente [97], estou certo de que o senhor não me interpretará mal se
eu lhe disser exatamente o que se passa em minha cabeça,” a rmou o primeiro-
ministro em cabograma para a Casa Branca. “O único contrapeso de nitivo que
posso ver (...) seria se os Estados Unidos se aliassem imediatamente a nós como
potência beligerante.”
Atenderia o Presidente ao pleito do primeiro-ministro? Ou o rogo acabaria,
como tantas outras mensagens de Churchill, engolido pela inércia de
Washington como uma mensagem dentro da garrafa lançada no oceano? Essas
perguntas foram ponderadas não só por ansiosos ingleses como também pelos
representantes da América em Londres. “Tudo isso vai ser uma corrida contra o
tempo,” escreveu em seu diário o adido militar dos EUA, general Lee. “A questão
é se nosso apoio chegará su cientemente a tempo para dar alento a uma causa
que está gradualmente de nhando.”
Roosevelt esperou uma semana para responder. Quando sua alegação
nalmente chegou a Downing Street, cou evidente que ele ainda não partilhava
o mesmo senso de urgência experimentado na Inglaterra — ou, para falar a
verdade, o que era sentido por elementos-chave de seu próprio governo. No
mínimo, na opinião dos chefes de Estado-Maior dos Estados Unidos e da maioria
dos membros do ministério, proteção americana deveria ser dada aos comboios
ingleses para estancar a hemorragia das perdas marítimas. “A situação é [98]
obviamente crítica no Atlântico,” escreveu o almirante Stark a um colega. “Do
meu ponto de vista, ela é desesperançada [a menos que] tomemos fortes medidas
para salvá-la.” Num discurso, o secretário da Marinha, Frank Knox, declarou:
“Não podemos deixar que nossos bens sejam afundados no Atlântico.” Knox,
Henry Stimson, Henry Morgenthau e Harry Hopkins estavam entre os que
instavam Roosevelt a agir decisivamente. Mas o Presidente descartava os
conselhos, do mesmo modo como rejeitara a reivindicação de Churchill pela
beligerância dos EUA. Em vez disso, assegurara ao primeiro-ministro, como o
zera antes com frequência, que a assistência americana chegaria em breve.
Não havia dúvida de que FDR estava muito preocupado com a situação
dramática da Inglaterra naquela primavera, mas só estava disposto a dar
pequenos passos incrementais para ir em seu socorro. Expediu um decreto, por
instância de Harriman, permitindo que os suprimentos americanos fossem
diretamente entregues às tropas inglesas no Oriente Médio, e não descarregados
na Inglaterra e, depois, reembarcados. Também permitiu a reparação de navios
de guerra ingleses em estaleiros americanos — outra recomendação de Harriman
— e o treinamento de pilotos ingleses em bases aéreas americanas.
Além disso, o Presidente ampliou a autoproclamada zona de segurança do
país no Atlântico, autorizando os navios e aviões dos EUA a patrulharem mais de
dois terços da extensão marítima entre a América e a Inglaterra. Quando a guerra
irrompera, em 1939, a América decretou uma área de não beligerância que se
estendia a trezentas milhas de distância de ambas as costas e era monitorada por
forças dos Estados Unidos. A decisão de Roosevelt de ampliar a zona no
Atlântico em abril de 1941 possibilitou que aviões e navios americanos
patrulhassem o oceano até a Groenlândia e alertassem os ingleses, caso
detectassem submarinos e atacantes de superfície alemães. Mas o Presidente
também deixou patente que não deveria haver disparos da forças americanas, a
menos que atacadas primeiro.
A maior vigilância americana era decerto útil aos ingleses, mas pouco fazia
para acabar com a ferocidade dos U-Boats. Como as patrulhas dos EUA eram
proibidas de atacar os navios alemães, só os britânicos seguiram com a missão de
proteger seus comboios, e as perdas continuaram aumentando. Nas primeiras
três semanas de maio, os submarinos alemães puseram a pique vinte navios
mercantes ingleses na ampliada zona de segurança americana.
Os homens mais próximos ao Presidente estavam desnorteados, exasperados
e cada vez mais alarmados com aquilo que viam como passividade e relutância
em tomar atitudes mais corajosas. O ex-embaixador William Bullitt escreveu a
Harriman: “O Presidente está esperando [99] que a opinião pública se manifeste,
e a opinião pública aguarda orientação do Presidente.” A maioria dos membros
do ministério e muitos dos outros auxiliares mais chegados a Roosevelt, entre eles
Bullitt e o juiz da Suprema Corte Felix Frankfurter, estavam então convencidos
de que a estratégia “tudo menos a guerra” não era mais su ciente para socorrer a
Inglaterra. “Eu disse a Hopkins que (...) se tivermos de salvar a Inglaterra, é
necessário que entremos nessa guerra,” registrou em seu diário Henry
Morgenthau, “e que precisamos da Inglaterra, se não for por outro motivo, como
trampolim para bombardear a Alemanha.” O secretário do Tesouro acrescentou:
“Acho que tanto o Presidente quanto Hopkins estão titubeando sobre o que
fazer. (...) [Hopkins] pensa que o Presidente é avesso a entrar na guerra e que
preferiria seguir a opinião pública do que liderá-la.” Morgenthau, como outros do
círculo de amizades de FDR, sentia que o Presidente esperava por um incidente
provocador que lhe tirasse dos ombros o ônus da responsabilidade e lhe desse
uma desculpa para proteger os comboios ingleses e mesmo declarar guerra.
Em abril, Stimson, Knox, o secretário do Interior Harold Ickes e o ministro da
Justiça Robert Jackson organizaram uma reunião secreta para discutir como
poderiam pressionar Roosevelt a parar a hesitação e assumir mais o controle. “Só
sei que, por todos os lados, encontro insatisfação com a falta de liderança do
Presidente,” anotou Ickes em seu diário. “Ele ainda tem o país na mão se quiser
liderá-lo. Mas não o terá por muito tempo, salvo se zer alguma coisa.”
Stimson, com seus setenta e três anos, que fora duas vezes secretário da
Guerra e uma vez secretário de Estado, decidiu ele mesmo tomar a iniciativa.
Uma das guras mais respeitáveis de Washington, era o único membro do
ministério com estatura moral e política para dizer de chofre ao Presidente que
ele falhava em sua responsabilidade de liderar. Em vez de contar com a opinião
pública para decidir o que fazer, Stimson disse a FDR, ele tinha que orientar essa
opinião. “Alertei-o de que,” escreveu o secretário da Guerra, “(...) sem uma
liderança de sua parte, era inútil esperar que o povo, voluntariamente, assumisse
a iniciativa de deixá-lo saber se o seguiria ou não.”
O Presidente, mais uma vez, fez ouvidos de mercador ao conselho de
Stimson. Determinado a preservar a unidade da nação, ele não daria qualquer
passo que contrariasse a maioria do país, a menos que compelido por Hitler a
fazê-lo. “Que parcela [100] de nosso estilo democrático de vida será comandada
por Mr Gallup é pura especulação,” resmungou o almirante Stark para um
colega.
Contudo, era difícil determinar exatamente o que os americanos queriam na
primavera de 1941. Pesquisas de opinião Gallup mostravam esmagador apoio ao
auxílio à Inglaterra, porém, quando perguntados se a Marinha deveria proteger
os navios ingleses os americanos se dividiam por igual sobre a questão. Mais de
80 por cento da população se opunham à entrada dos Estados Unidos na guerra
para resgatar a Inglaterra, embora aproximadamente o mesmo percentual
aceitasse que os EUA teriam que se defender sozinhos, mais cedo ou mais tarde,
contra a Alemanha. “A realidade é que existia ainda muita apatia,” disse Frances
Perkins. A guerra “estava demasiado longe. A maioria da gente tinha grande
di culdade de visualizá-la. Não se sentia sensibilizada ou incomodada com o que
estava em jogo. Na verdade, não se preocupava.”
Da perspectiva dos intervencionistas, os resultados das pesquisas mostravam
o fracasso de Roosevelt em ilustrar o público americano sobre um fato crucial da
vida: que o perigo representado pela Alemanha aos Estados Unidos era imediato,
e não um que só exigisse preocupação em algum período do futuro nebuloso. “O
povo como um todo simplesmente não entende que um controle de Hitler da
Europa, Ásia, África e dos mares abertos nos colocaria a mercê dos názis pelo
menos quanto a 25 recursos essenciais,” escreveu Chet William, funcionário do
governo federal e amigo de Murrow, para o radialista. “Fatos como esse não
foram explicados.”
Belle Roosevelt, esposa de Kermit, primo de Eleanor Roosevelt, e amiga
chegada do Presidente e sua esposa, confrontou FDR a respeito de sua relutância
em ilustrar as pessoas. “Por que você não explica os fatos, por mais sombrios que
sejam, ao povo americano?” — perguntou. “Podemos enfrentar os fatos? Se não
pudermos não é ainda mais essencial que nós, como nação, aprendamos a fazer
face a eles? Não é parte de suas atribuições nos ensinar a enfrentar a realidade?”
Como Roosevelt via o problema, todavia, ela e outros críticos
intervencionistas não entendiam a complexidade da situação que o atormentava.
Ao mesmo tempo que a opinião pública podia estar embaçada e confusa, a do
Congresso, aparentemente, não estava: segundo uma pesquisa, por exemplo,
cerca de 80 por cento dos congressistas se opunham aos comboios navais, mesmo
que “necessários para evitar uma derrota inglesa pelas mãos de Hitler.” E
enquanto as principais guras do governo de FDR o instavam a ser mais
militante, outros, cujas dúvidas sobre a capacidade de a Inglaterra travar a guerra
e mesmo de sobreviver eram reforçadas por suas recentes derrotas, acreditavam
que o Presidente já fora muito longe na ajuda aos ingleses.
Entre os que aconselhavam cautela estavam o secretário de Estado Cordell
Hull e diversos de seus secretários-assistentes, inclusive Adolf Berle e
Breckinridge Long. “A opinião mundial [101] é que [os ingleses] estão acabados,”
registrou Long em seu diário. “Escutamos isso na América do Sul, no Extremo
Oriente e na África Ocidental.”
O Departamento da Guerra também tinha seu quinhão de negativistas.
Embora os chefes civis da defesa — Stimson e Knox — e os chefes militares —
Marshall e Stark — favorecessem uma abordagem mais agressiva para auxiliar a
Inglaterra, muitos o ciais de alta patente eram contrários a tais medidas. A
Stimson, Knox queixou-se de “como tinha de combater a timidez de seus
próprios almirantes a respeito de qualquer atitude agressiva, de como todas as
suas estimativas e todos os seus assessoramentos se baseavam no fracasso dos
ingleses.”
O secretário da Guerra, no meio-tempo, tinha suas próprias di culdades com
o Exército. O general Marshall podia ser a favor dos comboios navais dos EUA,
mas ele e seus estrategistas dos altos escalões, muitos dos quais eram mesmo anti-
ingleses, resistiam à ideia de a América se envolver com a guerra antes que o
Exército, ainda muito mal equipado e sem efetivos compatíveis, estivesse
operacional. Na ocasião em que um militar do Exército, colega de Raymond Lee,
retornou a Londres após algumas semanas em Washington, ele disse ao general
que era “chocante ver como tantos o ciais de elevados postos na América tinham
adotado uma atitude derrotista e não possuíam o menor entusiasmo por
encaminhar de modo algum o apoio dos Estados Unidos à Inglaterra.”
 
Para os americanos em Londres , a primavera e o verão de 1941
constituíram um período agonizante e frustrante. Washington, com a sua má
vontade para encarar uma possível derrota da Inglaterra, parecia para eles estar
em outro planeta. “Existe pensamento idealista em excesso, muito pessimismo
idiota, coisas demais deixadas ao acaso, exageradas noções democráticas do
'muito pouco e muito tarde,'” espumou Raymond Lee, um dos mais ferrenhos
proponentes da causa inglesa dentro da embaixada americana. “Só quando se
está aqui é que se percebe a atualidade e a pressão da emergência.”
Averell Harriman se mostrava ainda mais irado. “É impossível [102] para
mim compreender a atitude de avestruz da América,” escreveu a um amigo. “Ou
temos, ou não, interesse no resultado dessa guerra. (...) Caso tenhamos, por que
não percebemos que cada dia de atraso da nossa participação direta (...) representa
o extremo risco ou de perdermos ou de multiplicarmos por semana de retardo a
di culdade para ganhá-la?” Para a esposa, Harriman depreciou a expansão
promovida por Roosevelt das patrulhas americanas no Atlântico, que descreveu
como “empregar navios de guerra para espiar em vez de atirar. Será que o país
perdeu o orgulho? Vamos continuar nos escondendo atrás das saias dessas pobres
mulheres britânicas que realizam a defesa civil por aqui? (...) Não pense que estou
deprimido. Estou apenas furioso.”
Repetidas vezes, ele e Winant pressionaram o Presidente e seus auxiliares
por mais ação vigorosa e por mais envolvimento direto. “A força da Inglaterra
está se esvaindo,” Harriman telegrafou a Roosevelt em abril. “Em nosso próprio
interesse, con o que a Mrinha americana será diretamente empregada antes que
nosso parceiro que muito debilitado.” Como representante do Lend-Lease, fez o
que pôde para acelerar o uxo da ajuda à Iglaterra, como, por exemplo, persuadir
os despachantes americanos a arrumarem suas cargas de modo que os estivadores
ingleses pudessem descarregá-las com maior rapidez. Também sugeriu iniciativas
como a reparação de navios britânicos em estaleiros americanos, o que fez a
América dar mais um passo, se bem que pequeno, na direção da beligerância.
Em Downing Street e nas repartições governamentais em Whitehall não
restava dúvida de que Harriman e Winant desejavam que seu país entrasse na
guerra. Churchill, que se reunia com os dois americanos praticamente todos os
dias, disse ao Gabinete que se sentia “muito encorajado” com a atitude de ambos.
“Esses dois cavalheiros,” disse, “[estão] aparentemente ansiando para que a
Alemanha cometa algum ato belicoso ostensivo que libere o Presidente de sua (...)
promessa de manter o país fora da guerra.”
Para os dois, o equilíbrio em suas ações era difícil de ser mantido. Com efeito,
eles serviam a dois governos: eram representantes importantes de seu país na
Inglaterra enquanto também serviam como agentes de Churchill ao transmitirem
as necessidades inglesas para os Estados Unidos. Porém, como deixaram bastante
claro para os funcionários britânicos, o dever prioritário deles era de lealdade ao
chefe do Executivo e ao seu país. Eles eram, disse John Colville, “dois homens
que não só representavam sua nação com capacidade exemplar, mas que também
conseguiam se tornar amigos pessoais próximos de Churchill, sua família e seu
grupo sem, por um momento, perderem a independência de pensamento e ação.”
Ambos os americanos deram o melhor de si para ajudar Churchill a “vender”
suas opiniões ao Presidente e a outros integrantes do governo. Através do íntimo
conhecimento que tinham das personalidades e políticas de Washington,
auxiliaram o primeiro-ministro e membros do governo inglês a interpretarem
respostas de Roosevelt e seus assistentes, assim como tomaram parte na
preparação das minutas de propostas de Churchill e de outras mensagens para a
Casa Branca. Além disso, sugeriram ao primeiro-ministro que abrandasse o tom
de seus cabogramas cada vez mais insistentes e rabugentos para FDR. Certa vez,
quando Harriman fez uma dessas propostas, Churchill, irritado, rejeitou-a de
pronto. Harriman, no entanto, não desistiu, e o primeiro-ministro, de muito má
vontade, disse que iria pensar sobre o assunto. No dia seguinte, ele entregou a
Harriman uma nova minuta de cabograma com a recomendação incorporada.
Na oportunidade em que Churchill começou a escamotear os números que
mostravam as perdas marítimas inglesas na primavera, Harriman e Winant o
aconselharam a rever a decisão, declarando que ele deveria divulgar mais dados,
e não menos. Para convencer o público e o governo americanos sobre a
necessidade de mais ativo envolvimento, disseram eles, era essencial que fosse
revelada a completa gravidade da crise enfrentada pela Inglaterra, tanto sobre a
marinha mercante quanto nos fronts militares. “O que a América requer [103]
não é propaganda e sim fatos,” declarou Harriman num pronunciamento.
Todavia, essa foi matéria especí ca em que Churchill não cedeu.
Ao mesmo tempo, num esforço de ajudar a preparar o caminho do primeiro-
ministro no front político, Winant tentou aclarar quem era Churchill e explicar
suas atribuições tanto para os críticos no exterior como até mesmo na Inglaterra.
Quando alguns decepcionados membros do Parlamento inglês pressionaram o
primeiro-ministro a abrir mão de sua posição como ministro da Defesa (de fato,
um acúmulo de funções sem precedentes no governo inglês), Winant lhes disse
que, ao desempenhar os dois cargos, Churchill se tornava habilitado a tratar em
bases mais igualitárias com Roosevelt, no que se referia às questões da guerra, do
que se delegasse suas responsabilidades militares para qualquer outra pessoa. E
quando os recém-chegados correspondentes americanos reclamaram contra o
fato de Churchill não promover entrevistas coletivas como o Presidente fazia,
Winant justi cou dizendo que, no sistema parlamentarista, o primeiro-ministro
mantinha o povo informado através das sessões semanais de perguntas na
Câmara dos Comuns. E acrescentou que os parlamentares se ressentiriam
bastante se Churchill os desbordasse e mantivesse o povo informado pela mídia.
 
Em 10 de maio, dia em que Roosevelt respondeu negativamente ao
pleito de Churchill pela beligerância dos Estados Unidos, os bombardeiros
alemães retornaram a Londres. Por devastadores que tivessem sido os ataques
anteriores, nada se comparou à selvageria e à destruição dessa nova tempestade
de fogo. Na manhã seguinte, mais de dois mil incêndios grassavam sem controle
pela cidade, de Hammersmith no oeste a Ramford no leste, cerca de trinta
quilômetros distantes entre si.
Os danos em marcos de Londres foram catastró cos. O Queen's Hall,
principal local de concertos da cidade, cou em ruínas, enquanto mais de um
quarto de milhão de livros foram incinerados e diversas galerias destruídas no
British Museum. Bombas atingiram o St. James's Palace, a Abadia de
Westminster, o Big Ben e o Parlamento. O medieval Westminster Hall, ainda
que muito dani cado, foi salvo, mas o mesmo não aconteceu com o plenário da
Câmara dos Comuns, cenário de alguns dos mais dramáticos eventos na história
moderna inglesa. Completamente tomada pelo fogo, a sala, com seu celebrado
teto de madeira, se transformou num amontoado de destroços a céu aberto.
Todas as importantes estações ferroviárias, exceto uma, caram inoperantes,
assim como muitas estações e linhas do metrô. Um terço das ruas da Grande
Londres resultou interditado, e quase um milhão de pessoas caram sem gás,
água e eletricidade.
A perda de vidas foi ainda mais calamitosa: nunca na história de Londres
tantos de seus residentes — 1.436 — morreram numa só noite. Entre os mortos
estavam Alan Wells, editor da BBC de notícias do exterior para o público local, e
sua esposa Claire, vizinhos e amigos próximos de Ed e Janet Murrow. Os Wells,
ambos bombeiros voluntários, tentavam extinguir as chamas de uma bomba
incendiária próximo da casa deles, quando outra bomba de alto-explosivo
detonou por perto.
Desde que a Blitz começou, aproximadamente 43 mil civis britânicos foram
mortos por bombas, quase a metade deles em Londres. Quanto à primavera de
1941, bem mais mulheres e crianças inglesas morreram na guerra do que
integrantes das forças armadas do país. Mais de dois milhões de casas foram
dani cadas ou destruídas; na área central de Londres, só uma casa em cada dez
escapou totalmente ilesa.
Poucos dias após a incursão aérea, numa pequena igreja da vizinhança, os
Murrows compareceram ao serviço religioso em memória dos Wells, o último dos
diversos funerais a que tinham ido nos poucos meses passados. Mais ou menos na
mesma hora, Winston Churchill fez uma melancólica visita às ruínas do plenário
da Câmara dos Comuns. Por certo, mais do que qualquer outro membro do
Parlamento, ele podia dizer que aquele era seu lugar. Ali, zera a estreia como
parlamentar havia mais de quarenta anos. Ali, nos anos 1930, ele alertou o
Parlamento e o país sobre os perigos do apaziguamento. Ali, foi travado, em maio
de 1940, o momentoso debate sobre a conduta da guerra por Neville
Chamberlain que desaguou na ascensão de Churchill ao poder. E ali, enquanto a
Inglaterra combatia sozinha, ele pronunciou seus altissonantes discursos de
desa o à ameaça alemã. Enquanto o primeiro-ministro passava os olhos pelos
estragos no plenário, lágrimas escorriam por seu rosto.
 
Em 15 de maio, num discurso na União de Língua Inglesa (English-
Speaking Union), em Londres, Gil Winant notou que do outro lado da rua do
Parlamento e da Abadia de Westminster, uma estátua de seu herói, Abraham
Lincoln, continuava de pé. “Como americano [105],” disse Winant, “estou
orgulhoso de que Lincoln permaneça lá, em meio a tanta destruição, como um
amigo e sentinela (...) e um lembrete de que em [sua própria] grande luta pela
liberdade, ele esperou, calmamente, por apoio para as coisas pelas quais lutou e
morreu.”
Aquela velada comparação de Lincoln com o povo inglês foi seguida por uma
declaração do embaixador, não tão sutil, de que estava rmemente ao lado da
Inglaterra — e achava que era hora de seu país também estar. “Estávamos todos
dormindo enquanto homens cruéis e maldosos arquitetavam a destruição,”
observou. “Todos nós tentamos nos convencer da crença de que não éramos
guardiães de nossos irmãos. Mas estamos começando a entender que precisamos
tanto de nossos irmãos quanto eles precisam de nós.”
Como o Times de Londres e o New York Times realçaram, o emprego que
Winant fez do “nós” em seu discurso, um dos mais poderosos que jamais
pronunciou, era endereçado tanto aos Estados Unidos quanto à Inglaterra. “Nós
tornamos nossas tarefas in nitamente mais difíceis porque fracassamos em fazer
ontem o que de bom grado fazemos hoje,” declarou. “Retardar mais fará a guerra
se prolongar e aumentará os sacrifícios pela vitória. Vamos parar de nos
perguntar se é necessário fazer mais agora. Vamos nos perguntar o que mais pode
ser feito hoje, de modo que tenhamos menos a sacri car amanhã.”
5

Membros da Família
 
No fim de semana do forte ataque aéreo a Londres de 10 de
maio, Winston e Clementine Churchill eram convidados de Ronald e Nancy
Tree em Ditchley, sua propriedade campestre próxima a Oxford. Sete meses
antes, os Trees haviam sugerido que, sempre que houvesse lua cheia nos ns de
semana, Churchill fosse para Ditchley em vez de Chequers, de vez que a casa de
campo o cial do primeiro-ministro — uma mansão elisabetana fria e
desconfortável por causa dos ventos encanados — era considerada alvo
preferencial na eventualidade de uma incursão inimiga. Churchill, que adorava a
opulência de Ditchley, não se fez de rogado, levando para a propriedade de Tree
todo o seu grupo treze vezes nos dois anos seguintes.
Os membros do círculo mais chegado ao primeiro-ministro passavam o m de
semana gozando da pródiga hospitalidade de Tree. Entre eles estava Averell
Harriman, ao qual Clementine Churchill pediu um favor no mínimo estranho. A
lha Mary dos Churchills, então com dezoito anos, havia recentemente
espantado os pais com a notícia de seu namoro sério e promessa de noivado com
o lho de vinte e oito anos e herdeiro do conde de Bessborough, que ela havia
conhecido pouco tempo antes. Clementine nada tinha contra o rapaz, disse a
Harriman, mas estava certa de que Mary não o amava, além de ser muito jovem
para saber o que estava fazendo e “simplesmente cara [107] deslumbrada com o
entusiasmo.”
Mary recusara os pedidos da mãe para que reconsiderasse o compromisso.
Quando Clementine solicitou a Winston que falasse com a lha, ele concordou,
porém, assoberbado que estava com a condução da guerra, nunca encontrava
tempo para a conversa. Desesperada, Clementine recorreu a Harriman. Ele
tinha duas lhas, disse ela. Sabia como as mocinhas agiam. Faria ele o favor de
tentar convencer Mary?
A solicitação era, vista de diversos ângulos, peculiar. Sobretudo revelava
como, em poucas semanas, Harriman — e também Winant — tinha se tornado
não apenas uma gura-chave para o governo do primeiro-ministro como também
um membro de facto da família Churchill. Desde a chegada à Inglaterra, um ou
os dois americanos tinham passado todos os ns de semana com o primeiro-
ministro e sua família em Chequers ou Ditchley.
Para desânimo de Clementine, Churchill resistira à sua opinião de que os
ns de semana no campo deveriam ser calmos e repousantes, tréguas para as
loucuras de tempo de guerra em Londres. Ele jamais conseguiu ver vantagem em
separar o trabalho da vida familiar e, nos anos entreguerras, recepcionara um
uxo incessante de visitantes políticos e militares em Chartwell, a casa de campo
que os Churchills possuíam em Kent. Durante a guerra, seus ns de semana de
retiro abundavam de generais, almirantes, marechais do ar, ministros do
Gabinete, líderes governamentais estrangeiros e um salpico de integrantes da
família. Por vezes, existiam até três turnos de convidados: alguns apenas para o
almoço, outros para o jantar e outros ainda para todo o m de semana.
Com Churchill em casa, a vida em Chequers e Ditchley estava sempre perto
do caos. Segundo seus seguranças pessoais, a vida com o primeiro-ministro “era
menos agendada [108] do que incêndio orestal e menos pací ca do que um
furacão.” Secretárias se agitavam por todos os lados, telefones tilintavam
irritantemente; carros o ciais, checados pelas sentinelas militares, entravam e
saíam; mensageiros chegavam e partiam com seus malotes regulamentares.
Quando não envolvidos em conferências ultrassecretas, os convidados jogavam
tênis e croquet, ou como fazia Sir Charles Portal, chefe do Estado-Maior da Força
Aérea, relaxava retirando ervas daninhas dos jardins de Ditchley. No centro da
ação, o primeiro-ministro a baforar seu charuto, quando não estava comandando
as reuniões, entretinha os convivas durante o almoço e o jantar. Churchill
“adorava uma plateia às refeições,” escreveu seu biógrafo Roy Jenkins. “Ele não
era sempre tão bom em conversas a dois, mas com uma mesa podia ser brilhante.
E seu brilho divertia e inspirava os convivas, porém também dava um impulso
essencial a seu próprio moral e entusiasmo.”
Harriman e Winant, além de fazerem parte do círculo o cial, foram atraídos
para a vida dos Churchills e lhos de uma maneira não desfrutada por outros
visitantes. Ambos se tornaram amigos íntimos do primeiro-ministro e de sua
família, convidados, como sublinhou John Colville, “tanto pelo prazer da
companhia quanto pelo trabalho a realizar.”
Ainda assim, a ideia de aconselhar Mary Churchill sobre seu caso amoroso
decerto pareceu, ao menos inicialmente, um desa o um tanto assustador para
Harriman. Suas duas lhas haviam sido criadas pela mãe, que se divorciou dele
quando elas eram muito jovens; ele passara muito pouco tempo com as meninas
enquanto cresciam. A maioria de suas recentes experiências com mocinhas tinha
sido como amante, e não como tio conselheiro. Não obstante, concordou,
corajosamente, em fazer como Clementine pedira. Pegando Mary de lado para
uma conversa de coração aberto, ouviu pacientemente enquanto a moça expunha
seu lado da história e, depois, falou para ela sobre as incertezas da guerra e os
perigos de se tomar uma decisão apressada a respeito de um passo tão vital e
transformador da vida como o casamento. A própria Mary já vinha sendo
assaltada por dúvidas a respeito de seu noivado e, após a conversa com Harriman,
decidiu adiá-lo; pouco mais tarde, o relacionamento terminou por completo.
“Gostaria de agradecer [109] sinceramente sua simpatia e ajuda,” escreveu a
moça a Harriman logo depois. “Achei muito gentil de sua parte — quando você é
tão ocupado e tem tantos compromissos importantes para o seu tempo — ouvir
com tamanha paciência um recital de minhas tolices e dores do coração! Você me
ajudou bastante — e fez com que eu me tomasse com maior seriedade — o que foi
excelente!”
Para Harriman, o fato de Clementine Churchill o ter selecionado para a
função de padre confessor de Mary, não importa quão desconfortável tivesse sido
na ocasião, foi uma fonte de tremenda satisfação. Seu acesso íntimo aos
Churchills abrandou boa dose da ferroada que havia sentido com sua exclusão
por tanto tempo da equipe do New Deal de Roosevelt. Apesar de o círculo
fechado ao qual fora admitido ser o do primeiro-ministro inglês, e não o do
presidente americano, ele estava agora sob a luz dos holofotes, justamente como
sempre ansiou.
No seu galanteio a Churchill e família, Harriman dedicou as mesmas energia
e determinação que devotou ao polo e a outros de seus entusiasmos. Quando
chegou a Londres para o desempenho de sua missão, ele presenteou Clementine
com um pequeno saco de tangerinas que conseguira em Lisboa. A expressão de
deleite dela fez com que ele percebesse quão severamente as restrições às
importações de alimentos haviam afetado até o lar do primeiro-ministro. A partir
de então, Harriman, homem conhecido por sua parcimônia, passou a ser o Papai
Noel para os Churchills, oferecendo-lhes itens que havia muito tempo tinham
sumido das lojas inglesas — presunto defumado da Virgínia, frutas frescas,
lenços, meias femininas, charutos Havana.
Além de favorecer a inclinação de Churchill por amigos ricos e luxo,
Harriman estava disponível toda a vez que o primeiro-ministro precisasse
conversar, independentemente do lugar e da hora. Muitas vezes já era quase
meia-noite quando ele recebia uma chamada telefônica de Downing Street 10 ou
do estúdio de Churchill em Chequers solicitando sua presença para algumas
mãos de “bezique,” um complicado jogo de cartas que era uma das maneiras
favoritas de relaxamento do primeiro-ministro. Enquanto jogavam até duas ou
três da madrugada, Churchill, fascinado que era pelo amealhar e perda de
grandes fortunas, regalava seu endinheirado companheiro com histórias de como
havia perdido grande quantia de dinheiro na quebra de Wall Street em 1929. A
despeito de tal desastre, ele fantasiava para Harriman sobre “a maravilhosa vida
[110] que um especulador deveria levar.” O primeiro-ministro também usava
Harriman como caixa de ressonância para seus pensamentos sobre os últimos
acontecimentos na guerra e as relações anglo-americanas. Era um exercício útil
para os dois, com Harriman discernindo o que se passava pela mente de
Churchill, e Churchill obtendo as opiniões de Harriman sobre ações e reações de
Roosevelt e seu governo.
Contudo, intrigante foi o fato de Harriman, obcecado e ambicioso como era,
decidir pôr em risco a privilegiada posição que detinha com Churchill e família,
logo depois de a ter conseguido, ao começar um caso amoroso com Pamela
Churchill, a nora de vinte e um anos do primeiro-ministro.
 
Os dois se conheceram num almoço em Chequers, no m de maio de
1941, menos de duas semanas após a chegada a Londres do representante
americano do Lend-Lease. Como Harriman, a Pamela de cabelo castanho-
avermelhado e olhos azuis tinha uma predileção por cultivar homens importantes
e fascinação pelo poder político. Segundo todos os relatos, ela cou
imediatamente cativada por aquele empresário, quase trinta anos mais velho, que
era, segundo informação de uma amiga, “o americano mais poderoso em
Londres.” Durante o almoço, Harriman procurou extrair dela informações sobre
Churchill e sobre o barão da imprensa Lord Beaverbrook, velho amigo e
conselheiro do primeiro-ministro e um dos mais in uentes e controversos
homens da Inglaterra. Harriman, ela disse mais tarde, “era um caipira da
América. Não sabia coisa alguma” sobre o cenário político no Reino Unido de
então. Mas também se recordou de como a ela pareceu “maravilhosamente
vistoso” — “muito atlético, bronzeado e saudável.” Olhando rmemente
Harriman com a intensidade de um feixe de laser, Pamela deslanchou aquilo que
seus amigos quali cavam como “dança do acasalamento,” fazendo perguntas,
ouvindo, extasiada, seus comentários e sorrindo abertamente a qualquer tentativa
dele de gracejo.
Ela havia conquistado o sogro com a mesma maneira amável de ertar e,
quando o fez, tornou-se uma de suas companhias favoritas. Com o marido
Randolph no Oriente Médio e o lho de seis meses, Winston, aos cuidados de
uma babá na casa de campo, ela passava a maior parte do tempo em Downing
Street 10 e em Chequers, jogando cartas com Churchill, ouvindo suas histórias e
confortando-o sempre que o via preocupado e deprimido.
Na realidade, virtualmente desde o início de seu casamento, Pamela tinha
bem melhor relação com Winston e Clementine do que com o marido, então com
vinte e sete anos. Filha de Lord Digby, empobrecido aristocrata de Dorset, ela
conhecera Randolph Churchill poucos dias antes de a guerra começar. Temerosa
de car “aprisionada em Dorset [111] pelo resto da vida,” ela se desesperava,
disse mais tarde, por “novos horizontes e desa os. (...) Eu queria experimentar o
que existisse para ser experimentado.” Randolph propôs casamento na noite
seguinte ao primeiro encontro, e o matrimônio teve lugar duas semanas depois.
Para ambos, a união foi “tão fria e calculista como uma negociação empresarial,”
escreveu Sally Bedell Smith, uma das biógrafas de Pamela. “Ele queria um
herdeiro, e ela desejava nome e posição.” Os dois conseguiram o que almejavam,
porém, sem surpresas, a relação foi um desastre emocional desde o começo.
Mimado e estragado pelo pai, Randolph era muito falante e talentoso
escritor, que podia ser charmoso e jovial quando estava disposto. Na maior parte
das vezes, no entanto, era um pedante desagradável, dado à bebida, ao jogo e à
caça às mulheres, fontes constantes de vergonha para os pais. Randolph, disse
Mary Churchill, “podia ser bastante assustador — muito barulhento e estourado.
Se estivesse num daqueles dias, era capaz de discutir até com uma cadeira.” Bem
mais cáustico na sua avaliação de Randolph, John Colville escreveu em seu
diário: “Uma das mais condenáveis pessoas que jamais conheci; ruidoso,
impertinente, choramingão e ostensivamente desagradável. (...) Na mesa de
refeições, raramente demonstrava afabilidade pelo pai, que o adorava.” Em
fevereiro de 1941, para grande alívio de Pamela, o regimento de Randolph foi
transferido para o Egito, e ela, por m, se sentiu livre para desfrutar do furor
erótico que tomou conta da Londres do tempo de guerra.
O ditado “Viva hoje, porque amanhã podemos estar mortos” podia ser lugar-
comum das guerras, mas sem dúvida ecoou pela capital inglesa em 1941 — nos
hotéis, nightclubs, pubs e palácios, salas da situação e quartos de dormir. “Um
difundido galanteio [112] pairava no ar, um sentimento de que ninguém é de
ninguém,” observou um escritor inglês. “Espalhou-se pelo país a noção de que,
em Londres, todos estavam apaixonados.” O fatalismo romântico e a vaidade
foram intoxicantes para muitos americanos que se depararam com tais
liberalidades durante a guerra. Para eles, como para muitos ingleses e exilados
europeus, que passaram determinado período na capital, a moralidade
convencional foi deixada de lado por algum tempo. “As barreiras normais para se
ter um caso amoroso com alguém foram jogadas para o alto,” lembrou o chefe da
CBS William Paley, que passou diversos meses em Londres durante a guerra.
“Se a coisa parecia boa, você se sentia bem, ora, nada a lamentar.”
Somando-se a essa desinibida atmosfera havia o novo e excitante senso de
liberdade e independência experimentado pelas jovens mulheres inglesas.
Crescidas numa sociedade na qual poucas mulheres trabalhavam fora ou
frequentavam a universidade, elas esperavam continuar recatadamente em
segundo plano, demandando pouco mais do que a satisfação de servirem aos
maridos e criarem os lhos. Essa previsível e moderada existência foi, contudo,
abalada quando a Inglaterra declarou guerra à Alemanha. Centenas de milhares
de mulheres, até mesmo debutantes como Pamela, que mal sabia fritar um ovo, se
alistaram para trabalhar nas indústrias de defesa ou foram recrutadas para o
Serviço Auxiliar Feminino da Força Aérea (Women's Auxiliary Air Force —
WAAF) e para outras unidades militares. Como uma ex-debutante lembrou: “Foi
a liberação, sentime livre.” As mulheres começaram a usar calças compridas.
Apareciam em público sem meias femininas. Fumavam, bebiam e faziam sexo
extramarital — com mais frequência, menos escrúpulos e menor remorso que
suas mães e avós. As poucas mulheres americanas na capital foram infectadas por
similar senso de liberdade. “Londres foi o Jardim do Éden para as mulheres
naqueles dias,” lembrou a correspondente da revista Time & Life, Mary Welsh,
“com uma serpente dependurada em cada árvore ou poste de iluminação,
oferecendo presentes tentadores, companhia e afeto excitante, se bem que
temporário.”
Pamela Churchill se pôs na vanguarda desse antecipado movimento de
liberação feminina, conseguindo um emprego no Ministério dos Suprimentos e
um quarto no Dorchester Hotel. Anos depois, ela se lembrou de ter pensado
enquanto caminhava por um dos corredores do hotel, “Aqui estou eu [113], com
vinte anos de idade, totalmente livre [e] curiosa por saber quem vai entrar na
minha vida.” Quando conheceu Averell Harriman, imediatamente decidiu que
era ele. Foi uma conquista espetacularmente fácil. Harriman já era hedonista
bem antes de chegar a Londres, e nem precisou da mentalidade de carpe diem,
que imperava na cidade, para se convencer de que deveria se divertir. Nos anos
1920, ele tivera uma longa ligação amorosa com Teddy Gerard, atriz e cantora de
nightclubs que se apresentara no Ziegfeld Follies. E houve muitas outras
mulheres com o passar dos anos; pouco antes de partir para Londres, ele
mergulhara num a air com a bailarina Vera Zorina, então casada com George
Balanchine.
Seu caso com Pamela provavelmente começou em meio ao devastador raid
da Luftwa e sobre Londres, ocorrido em 16 de abril, pouco mais de duas
semanas após se conhecerem. Os dois eram convidados de um jantar no
Dorchester em homenagem a Adele Astaire Cavendish, irmã de Fred Astaire e
esposa de Lord Charles Cavendish, lho do nono duque de Devonshire.
Enquanto Gil Winant perambulava naquela noite pelas ruas do oeste de
Londres e Ed Murrow testemunhava a destruição de seu escritório e a de seu pub
favorito, Harriman e seus companheiros de jantar assistiam aos incêndios de um
dos quartos do oitavo andar do Dorchester e depois se recolheram à
comparativamente mais segura suíte de Harriman no térreo.
Quando os outros foram embora, Pamela, aparentemente, cou na suíte. Bem
cedo na manhã seguinte, John Colville viu Harriman e a nora de seu chefe
caminhando de braços dados pelo Horse Guards Parade e examinando a
devastação da noite anterior. Mais tarde naquele mesmo dia, Harriman escreveu
à esposa. “Na noite passada a Blitz foi real — talvez a mais ampla de toda a
guerra. (...) Bombas caíram por todos os lados. Desnecessário dizer que meu sono
foi intermitente.” Ele incluiu detalhes das conversas ocorridas no jantar e listou
os nomes dos presentes, com uma notável exceção — Pamela Churchill.
Inicialmente, pelo menos, o casal escondeu ao máximo o relacionamento.
Eram mutuamente circunspectos e “agiam como se amigos fossem” quando na
companhia de outros, disse um conhecido. Não obstante, as pessoas começaram a
notar — e falar. Duncan Sandys, marido de Diana, lha mais velha de Churchill,
“interceptou olhares e sentiu vibrações” entre os dois, e correu o boato que
Harriman fora visto, bem tarde em determinada noite, caminhando na ponta dos
pés pelo vestíbulo de Chequers.
Entre os que deduziram a verdade estava Lord Beaverbrook, que encorajou a
ligação desde o começo. Proprietário de três importantes jornais diários, Max
Beaverbrook fora ostensivo defensor do apaziguamento com Hitler até maio de
1940. Todavia, quando a Inglaterra passou a ser diretamente ameaçada pela
Alemanha, ele se empenhou pelo esforço de guerra com a mesma energia que,
antes, a ele se opusera.
Clementine Churchill odiava Beaverbrook, chamando-o de “micróbio [114]”
e “demônio engarrafado” e implorando ao marido que não privasse muito de sua
companhia. “Alguns julgavam que ele era o diabo personi cado,” lembrou Drew
Middleton, então correspondente em Londres da Associated Press. “Eu o achava
amoral e friamente calculista. Era um homem de grande energia, insensível
brutalidade mental, paixão pelo mexerico (muitas vezes parecia só pelo prazer da
intriga) e uma vasta generosidade.” Certa vez, quando Bill Paley foi convidado
para jantar na residência de Beaverbrook, Ed Murrow o alertou que o magnata
da imprensa “tinha particular prazer em extrair informação indiscreta de seus
convidados enchendo-os de bebida.”
Beaverbrook — que, como ministro dos Suprimentos de Churchill, era
encarregado da maior parte da produção inglesa de guerra — era especialmente
bem conhecido por sua prodigalidade para amplo círculo de mulheres amigas,
inclusive Pamela, para quem ele se tornou uma espécie de benfeitor. Dava-lhe
conselhos, emprestava-lhe dinheiro para saldar as dívidas de jogo de Randolph e
hospedava seu lho bebê e a babá em Cherkley, propriedade no campo que
possuía em Surrey. Tendo plena consciência de quanto a Inglaterra precisava da
ajuda americana e quão importante Harriman era para que tal auxílio fosse
conseguido, Beaverbrook defendeu o romance de Pamela com o americano.
Como Churchill, o titã da imprensa estava determinado a arrastar os Estados
Unidos para a guerra, e acreditava piamente que a ligação entre Harriman e
Pamela poderia ser usada como ferramenta em tal esforço. Um homem que
equiparava a informação ao poder, ansiava fervorosamente descobrir mais sobre o
que os americanos pensavam e planejavam — algo que poderia fazer, pensava,
com a ajuda de Pamela. Não tardou para que os amantes fossem convidados com
frequência a Cherkley, e a nora do primeiro-ministro se transformou num canal
paralelo para Beaverbrook para conhecimento do que se passava em Grosvenor
Square. “Ela transmitia tudo o que sabia sobre todos para Beaverbrook,” disse o
jornalista americano Tex McCrary. O caso amoroso também trazia benefícios
para Harriman. “Era muito valioso [115] para ele (...) ter alguém tão perto do
poder inglês,” disse mais tarde Pamela. “Fazia uma enorme diferença.”
Na tentativa de esconder sua relação, Harriman e Pamela foram muito
ajudados pela chegada, em junho, da lha dele, Kathleen, de vinte e três anos de
idade, que viera para fazer companhia ao pai por alguns meses. Recentemente
formada pelo Bennington College, ela conseguira, com a ajuda de Harriman, um
emprego temporário no birô de Londres do Serviço de Notícias Internacionais de
William Randolph Hearst. Sem saber inicialmente do a air, Kathleen fez
amizade íntima com Pamela, e quando os Harrimans se mudaram para uma suíte
maior no Dorchester, Pamela foi morar com eles. Mais tarde naquele verão, as
duas jovens, com o dinheiro de Harriman, alugaram uma pequena casa de campo
em Surrey para os ns de semana. Ele as visitava com frequência.
Como era perspicaz, não demorou muito para que Kathleen descobrisse o
que acontecia entre o pai e sua nova melhor amiga. Tendo crescido num meio
so sticado e mundano onde casos extraconjugais como aquele eram comuns, ela
manteve o segredo. Também não era muito chegada à madrasta e parecia
considerar Harriman mais um amigo generoso do que pai. Desvendado o
romance, ela decidiu permanecer em Londres inde nidamente para manter um
olho no pai e servir de camu agem.
Nada obstante, a despeito do esforço de todos, a relação, no m, tornou-se
amplamente conhecida tanto em Londres quanto em Washington. Harry
Hopkins repassou as novas para o presidente Roosevelt, o qual, segundo
Hopkins, “divertiu-se muito com a notícia.” O próprio Hopkins cou um pouco
inquieto, “temendo histórias de que o enviado do Presidente estragava o
casamento do lho do primeiro-ministro,” disse Pamela mais tarde ao historiador
Arthur Schlesinger Jr.
Pamela e Harriman sabiam que estavam brincando com fogo. O a air,
observou ela, “poderia ter dado errado,” provocando um escândalo que teria sido
prejudicial para todos os envolvidos. Até hoje não cou claro se Winston e
Clementine Churchill sabiam do que se passava sob seu próprio teto em
Chequers nas semanas e meses após o início do relacionamento. De acordo com a
lha do meio, Sarah, os Churchills e lhos valorizavam demais a privacidade
pessoal. “Não fazemos perguntas de um ou de outro e não nos metemos em
assuntos alheios,” disse Sarah Churchill. “Respeitamos apaixonadamente a
privacidade de nossas vidas e a de outras pessoas.”
Ao mesmo tempo, é difícil acreditar que nenhum dos Churchills suspeitasse
bem antes daquilo que ocorria. Para Clementine, que tinha uma relação
angustiada com o lho impertinente, o conhecimento do romance não teria sido
difícil de aceitar. Mas Churchill, que amava o lho apesar de seus maus modos,
as notícias sobre a in delidade certamente seriam recebidas como um rude
choque. No entanto, quaisquer que fossem seus sentimentos, ele precisava de
Harriman e dos americanos, e não tinha a intenção de deixar que questões
pessoais interferissem no interesse nacional. Além do mais, Pamela havia
provado ser útil canal entre ele e Harriman, repassando aos dois homens
informações e percepções que colhera junto a um e outro.
Pamela, de sua parte, estava convicta de que os Churchills tinham plena
consciência do caso. Contudo, a rmou que jamais foi questionada por nenhum
dos dois. A certa altura da guerra, Churchill comentou casualmente com ela:
“Sabe, [116] andam dizendo um monte de coisas sobre Averell em relação a
você.” Ela replicou: “Bem, muitas pessoas não têm o que fazer em tempo de
guerra e passam a fofocar,” “Concordo plenamente,” disse Churchill — e nunca
mais tocou no assunto.
 
Enquanto Harriman se envolvia com , Gil Winant
Pamela

desenvolvia estreitas relações pessoais com diversos membros da família


Churchill. O embaixador tinha a capacidade, como observou o amigo Felix
Frankfurter, de fazer com que todas as pessoas que conhecia “se sentissem os
indivíduos mais importantes na face da terra” — um atributo que o tornou muito
querido pelos Churchills. “Um homem de charme calmo e intensamente
concentrado, Gil rapidamente encantou todos nós,” escreveu mais tarde Mary
Churchill Soames, “vivendo nossas alegrias e tristezas, piadas e querelas (nestas
últimas, normalmente como paci cador).”
A despeito de sua timidez e ocasional falta de jeito, Winant produzia esse
mesmo efeito em outras pessoas que conhecia nos encontros o ciais. John
Colville o descreveu como um “idealista gentil e sonhador, adorado pela maioria
dos homens e mulheres” — uma caracterização apoiada por comentários sobre o
embaixador nos diários e cartas de muitos proeminentes ingleses daquele tempo.
“Quando Winant entra numa sala,” a rmou uma mulher que o conhecia, “todos,
de alguma forma, se sentem melhor.” Outro disse: “Há algo de (...) magnético
nele.” O parlamentar conservador Chips Channon notou como a jovem e bela
duquesa de Kent, sentada ao lado de Winant num almoço em Chequers, “ cou
enfeitiçada” por ele. Harold Nicolson chamou Winant de “um dos homens mais
charmosos que jamais conheci,” acrescentando que, “o excelente caráter do
homem vai abrindo caminho à sua frente.” Lord Moran, médico particular de
Churchill, ponderou no seu diário: “Outros homens [117] têm que conquistar a
con ança daqueles que conhecem; Winant tem a faculdade de desbordar esse
estágio: antes que pronuncie uma só sílaba, as pessoas já desejam se encontrar de
novo com ele.”
Até mesmo o general Alan Brooke, o irascível e sarcástico Chefe do Estado-
Maior Geral Imperial (CIGS), que em geral não elogiava a maioria dos
americanos, deixou-se levar pelo feitiço de Winant. Numa reunião o cial certa
noite, Lord Moran notou, espantado, que Brooke, apaixonado por pássaros,
conversava animadamente com Winant sobre o valor de se buscar conforto na
natureza, em particular durante tempos de guerra. “Lá estava Winant falando
com entusiasmo (...) e Brooke — um novo Brooke para mim — ansioso por sua vez
de comentar,” registrou Moran no seu diário. “Quando Winant fez uma pausa, as
palavras de Brooke jorraram em cascata.” Os dois se tornaram bons amigos e,
anos mais tarde após a guerra, o então marechal Lord Alanbrooke disse que
considerava sua ligação com Winant “uma dessas grandes dádivas que a guerra
ocasionalmente proporciona como um antídoto para todos os seus horrores.”
Mas existia uma gura importante que continuava algo impermeável ao
tímido charme de Winant: o próprio Winston Churchill. O primeiro-ministro
gostava do embaixador. Tinha admiração e respeito por ele, declarando em mais
de uma ocasião: “Winant me refortalece sempre que o vejo.” Ainda assim,
Churchill se sentia um tanto desconfortável ao lado do embaixador e preferia
muito mais a companhia de Harriman e Harry Hopkins. “O PM se sente atraído
pelo otimismo de Winant, mas (...) prefere a inteligência picante de Hopkins, pela
mesma razão que é seduzido por Max Beaverbrook,” escreveu Moran. Como
Beaverbrook, os amigos mais chegados de Churchill tendiam a ser homens
exibicionistas, de raciocínio rápido, com um “toque de malandragem,” que
gostavam de jogar, beber e conversar até altas horas. Como observou com justeza
Roy Jenkins, o primeiro-ministro “gostava dos espertalhões.” E isso era uma coisa
que John Gilbert Winant decididamente não era — um espertalhão.
Clementine Churchill, por outro lado, apreciava bem mais Winant do que
Harriman. Embora agradecida pela intercessão dele no caso da lha Mary e
adorasse jogar croquet com o americano (os dois jogavam muito bem), o conceito
que, em geral, tinha dele, nas palavras do escritor Christopher Ogden, era de
“mais um rico homem de negócios e ambicioso manipulador premeditado,” o
qual, como muitos dos amigos endinheirados e gananciosos de Churchill,
“tentavam isolá-la cada vez mais do marido.” Winant, achava Clementine, se
interessava e tinha simpatia por ela. Segundo Mary Soames, Winant “entendia
intuitivamente [118]” a natureza complicada de sua mãe e as tensões e estresses
de sua vida; em decorrência, Clemetine muitas vezes o usava como con dente —
o que raramente fazia com outras pessoas.
 
Para os hóspedes e convidados de Downing Street , Chequers
ou Ditchley, Clementine Churchill era uma an triã elegante, inteligente e gentil,
que fazia o que estivesse ao seu alcance para deixá-los à vontade. Muitos
empregavam a palavra “charmosa” para descrevê-la. Harry Hopkins a quali cou
como a “mais charmosa e divertida” de todas as pessoas que conheceu na
Inglaterra; Janet Murrow disse que ela era “charmosa, animada e atraente”; e
Eleanor Roosevelt usou praticamente as mesmas palavras — “muito atraente,
com aspecto jovem e charmosa.”
Entretanto, Mrs Roosevelt suspeitava da existência de uma outra
Clementine Churchill por trás daquela fachada calma e autocontrolada: “Sente-
se que, por ser uma pessoa pública, ela teve que assumir um papel que acabou se
incorporando a seu ser, mas pode-se especular como seria ela na verdade.” Como
esposa do presidente dos Estados Unidos, Eleanor Roosevelt sabia muita coisa
sobre papéis públicos versus realidade, e sua astuta percepção a respeito da
correspondente no governo inglês estava, de fato, correta. Escondida pela
aparência serena e equilibrada que Clementine Churchill mostrava ao mundo
estava uma mulher apaixonada, emocionalmente frágil, solitária e, com
frequência, profundamente infeliz.
Por mais de trinta anos, Clementine zera do marido a razão de sua vida,
dedicando pouco tempo a outras coisas ou pessoas — os lhos, amigos, bem como
suas próprias necessidades e desejos. Certa vez, ela disse a Pamela Churchill que
“quando casou com Winston, decidiu devotar sua vida totalmente a ele. (...) Ela
vivia para Winston.” Ele, contudo, não correspondia a toda aquela atenção.
Apesar de, sem dúvida, amá-la e de depender bastante dela, como deixam
evidente suas centenas de cartas afetuosas e plenas de ternura, Churchill era, nas
palavras de John Pearson, um biógrafo da família, um “egoísta completo” que
jamais destinou muito tempo à esposa. Sua perene busca pelo poder político e
por seus próprios interesses pessoais quase sempre teve precedência sobre os dela
e os dos lhos. “De coração, ele a adorava, mas não acho que alguma vez lhe
ocorreu que ela pudesse precisar de um pouco mais,” observou Pamela. E
concluiu: “Os Churchills esperavam que suas mulheres os entendessem
totalmente, [mas] eles não gastavam muito tempo tentando entender suas
mulheres.”
Ao longo de todo o casamento dos Churchills, Clementine foi atormentada
por preocupações nanceiras graças à insistência de Winston em levar um
luxuoso e extravagante estilo e vida que, na maior parte do tempo, o casal não
podia bancar. “Fico facilmente [119] satisfeito,” ele gostava de dizer, fazendo
então uma pausa para acrescentar com sionomia marota, “com o que há de
melhor.” Os problemas dos Churchills com dinheiro foram intensi cados pela
propensão ocasional dele pelo jogo e especulação no mercado de ações, e
também pela compra em 1922 de Chartwell, uma mansão vitoriana de tijolos
vermelhos, em péssimo estado de conservação, com o terreno coberto por
vegetação malcuidada e uma espetacular vista da região campestre de Kent.
Distante uns trinta quilômetros ao sul de Londres, deveria ser local de repouso
no campo para os Churchills e lhos. Indignada pelo fato de não ter sido
consultada para a compra, Clementine acreditava que ela seria um dreno sem
m para o dinheiro, enquanto fossem donos dela, como de fato foi. Sua mãe,
recordou Mary Churchill Soames, vivia ralhando com os lhos “por não
desligarem as luzes. A casa era um enorme fardo para ela.”
Embora Churchill e a esposa tivessem origens aristocráticas, nenhum dos
dois possuía dinheiro de família. E o salário parlamentar de Winston era
relativamente pequeno. Para bancar seu dispendioso estilo de vida, ele dependia
dos livros e artigos que escrevia, os quais, apesar de prolí cos, nem sempre
cobriam as vastas quantias necessárias. Numa determinada oportunidade, para
pagar as contas mensais, Clementine vendeu um colar de rubis e diamantes que
Winston lhe dera como presente de casamento. Quando alguém lhe perguntou,
anos mais tarde, como Churchill era capaz de conciliar, sem muito esforço, as
atividades da escrita, da pintura e o envolvimento com política e governo, ela
replicou com certo amargor que “ele jamais fez o que não quis fazer, e sempre
teve alguém para, depois, pôr em ordem a bagunça que fazia.”
Durante a guerra, Churchill cou, mais do que nunca, no centro dos
acontecimentos; em Chequers e Ditchley, o mundo rodava à sua volta. Enquanto
Clementine tomava as providências para que todos os hóspedes o ciais fossem
devidamente recebidos, não muitos deles lhe davam atenção nem, aliás, eram
atenciosos com as poucas outras mulheres convidadas para as reuniões de m de
semana. “Um m de semana aqui é muito diferente que em qualquer outro
lugar,” escreveu Kathleen Harriman para a irmã após uma estada em Chequers
no verão de 1941. “Em momento algum a guerra é esquecida. (...) As mulheres
atrapalham demais. Elas deixam [a sala de jantar] tão logo a refeição termina e
não se espera que quem por muito tempo depois que os homens saem da
reunião, o que, por vezes, só ocorre bem depois da meia-noite.”
Na opinião de Kathleen, Clementine era muito generosa “ao car em plano
secundário [120]” em relação ao marido. Ela disse à irmã: “Todos na família o
tratam como Deus e ela é deixada um tanto de lado; quando alguém lhe dedica
um pouco de atenção, ela se mostra radiante. (...) Porém, não que com a
impressão de que é uma pobre coitada, em absoluto. Tem ideias próprias, mas
toda a sua intensidade como pessoa só entra em ação se ele quiser.”
Apesar de Clementine possuir sutil e agudo senso de humor, bem como
ponderadas opiniões sobre a maioria dos assuntos, ela raramente tentava
introduzir seus pensamentos na torrente de argumentos e pontos de vista
vocalizados pelo marido e seus convidados durante as refeições. Nas raras
ocasiões em que ela ensaiava o início de uma conversa sobre determinado tópico,
a tentativa em geral era abafada. Com a continuação da guerra, ela começou a se
refugiar cada vez com mais frequência em seu quarto de dormir na hora das
refeições, solicitando a Pamela, ou a qualquer das outras convidadas regulares,
que zessem as honras da casa. Na opinião de Pamela, Clementine fez mais
refeições servidas em bandejas no seu quarto do que na companhia de Churchill
e, de fato, passou cerca de 80 por cento de sua vida sozinha.
Por conseguinte, não foi surpresa quando ela se apegou tão afavelmente ao
novo embaixador americano, que deixou claro que gostava da companhia e da
conversa dela. Logo após a chegada de Winant a Londres, Clementine o
convidou para almoçar em Downing Street, mas fez a ressalva de que Churchill,
provavelmente, não estaria presente. “Isso soa como se eu estivesse tentando
evitar que você e Winston se encontrem!” — escreveu ela. “Essa não é minha
travessa intenção, porém de fato me ocorreu que, se ele não estiver lá para
monopolizar sua atenção, talvez eu tenha a oportunidade de desfrutar ainda mais
de sua companhia.”
O embaixador e a esposa do primeiro-ministro eram espíritos a ns em uma
série de aspectos. Ambos eram tímidos e reservados por natureza, permitindo
que poucas pessoas soubessem o que se passava em seu íntimo. Ambos
compartiam também um senso de idealismo, uma dedicação ao conceito de que
cabia ao governo a responsabilidade de cuidar dos desvalidos. Como Winant,
Clementine Churchill fora uma espécie de radical desde a juventude. Ainda
mocinha, ela adorara a escola e desejara frequentar a universidade, um caminho
raro a seguir pelas jovens da classe alta de sua geração; sua mãe, incomodada com
a ideia, não permitiu. Ao longo de toda a vida, Clementine advogou a
independência nanceira para as mulheres (se bem que ela mesma jamais
experimentou tal independência) e, antes mesmo de que o voto feminino se
tornasse realidade, ela apoiou fervorosamente o direito de as mulheres
participarem dos sufrágios.
Como integrante engajada do Partido Liberal, ela cou algo frustrada
quando Churchill deixou o partido, em 1924, para se aliar de novo aos
conservadores. Apesar de, lealmente, ter também mudado sua liação partidária,
Clementine jamais perdeu o interesse em melhorar a vida dos ingleses pobres ou
a hostilidade aos colegas tories do marido que se opunham a essas reformas.
Odiava Lord Beaverbrook e a maioria dos outros amigos ricos de Churchill, não
apenas pelo que considerava seus estilos de vida vazios e dissolutos, como
também pela sua indiferença em relação aos cidadãos menos privilegiados da
nação. “Não deixe que [121] o glamour da elegância & re namento (...) cegue
você,” escreveu certa vez ao marido. “O pessoal charmoso que você agora tem
conhecido (...) é ignorante, vulgar e preconceituoso. Eles não engolem a ideia de
que as classes mais baixas podem ser independentes & livres.”
Clementine jamais foi tímida quando se tratou de deixar aqueles que a
irritavam saberem exatamente como se sentia. Durante um m de semana no
Blenheim Palace, o duque de Marlborough, dono de Blenheim e primo em
primeiro grau de Churchill, disse a ela que não deveria escrever ao arqui-inimigo
dos tories — o ex-primeiro-ministro liberal David Lloyd George — em papel com
o timbre de Blenheim. Ao ouvir isso, ela depositou a caneta sobre a mesa, foi para
seu quarto, colocou seus pertences na mala e, ignorando os pedidos do duque,
retornou a Londres. Noutra ocasião, depois que Clementine se voltou, furiosa,
contra um dos adeptos do marido, Churchill registrou com algum orgulho e
mesmo espanto: “Ela caiu sobre ele como um jaguar de uma árvore!”
Durante as duas guerras mundiais, Clementine traduziu seu interesse pelas
reformas com um envolvimento ativo nos esforços para melhorar as condições de
vida da classe trabalhadora do país. Na Primeira Guerra Mundial, gerenciou
nove cantinas para os trabalhadores na indústria bélica no norte de Londres,
chegando a alimentar até cinco mil homens e mulheres por dia. Durante a Blitz,
intercedeu por pagamentos do governo para os que trabalhavam como
voluntários na defesa civil e desenvolveu importante papel no aprimoramento
dos abrigos antiaéreos de Londres. Depois de inundada de cartas sobre as
condições deploráveis dos abrigos, Clementine fez uma série de visitas sem aviso
prévio a diversas regiões da capital para veri car por si própria quão ruim era a
situação. Seus relatórios subsequentes ao marido sobre a calamitosa falta de
higiene e de confortos básicos foram, em grande parte, responsáveis pelas
melhoras que o governo introduziu nos refúgios. Quando as notícias sobre o seu
envolvimento se espalharam, outros exemplos da inércia e ine ciência do
governo foram levados à sua atenção por, entre outros, parlamentares, sacerdotes,
assistentes sociais e médicos. Ela gastou considerável tempo tentando ajudar
também a resolver tais problemas, muitas vezes depois de debater os assuntos
com Winant.
 
Para o embaixador americano , a inclusão no círculo familiar de
Churchill causou ocasionais alívios em sua pesada carga de trabalho, porém, mais
importante ainda, conferiu-lhe um sentimento de participação. Viciado em
trabalho durante toda a vida adulta, passou pouco tempo com a família enquanto
desempenhava as atribuições de governador, de chefe da Seguridade Social e na
OIT. Sua lha Constance estava então casada; o lho mais velho estudava em
Princeton e o mais novo, na Deer eld Academy, uma escola secundária no oeste
de Massachusetts. Embora a esposa de Winant fosse periodicamente a Londres,
o casal tinha um relacionamento desapegado. Abbie Rollins Caverly, velha amiga
de família dos Winants, disse que o embaixador era “uma das pessoas mais
solitárias [122] que jamais conheceu. Acho que ele, por vezes, necessitava
desesperadamente de alguém para conversar e, em casa, ninguém lhe dava
ouvidos.”
Embora gostasse de estar com Clementine e os outros Churchills em
Chequers, Winant viu-se cada vez mais gravitando em torno da companhia de
Sarah, lha favorita do primeiro-ministro, então com vinte e sete anos.
Independente e de caráter forte como o pai, a ruiva de olhos verdes era apelidada
de “a Mula” pela família. A exemplo das outras duas irmãs, considerava-se uma
“ lhinha do papai,” mas era a única com coragem su ciente para enfrentá-lo.
Como era também verdade para as irmãs, Sarah era produto de uma infância
emocionalmente difícil. Na Inglaterra, não era incomum as crianças de classe
alta terem pouco contato com os pais, mas no lar dos Churchills a prática era
levada a extremos. “Como crianças, logo nos conscientizamos de que as
principais atenções e tempo de nossos pais eram consumidos por tarefas muito
importantes, ao lado das quais nossas demandas e preocupações eram triviais,”
recordou Mary. “Nunca esperamos que qualquer dos dois comparecesse às peças
teatrais, entrega de prêmios ou atividades esportivas na escola. (...) Quando nossa
mãe conseguia nos honrar com sua presença nessas importantes ocasiões,
cávamos extasiadamente agradecidas.”
Churchill delegou a criação dos lhos à esposa; absorvido por sua carreira e
outros interesses, com frequência estava longe do círculo familiar durante os
feriados escolares e outras ocasiões importantes dos lhos. Deixada sozinha para
a criação da garotada, Clementine quase sempre optou por ela mesma. Apesar de
amar os lhos, segundo todos relatos, inclusive o dela, jamais foi boa mãe. “Em
primeiro lugar [123], a esposa, e em segundo, muito longe, a mãe,” foi como uma
amiga a descreveu. Certa vez ela disse a Mary “que todo o meu tempo e energia
eram gastos só para cuidar de [Winston]. Nunca sobrava coisa alguma.” As
gestações e os nascimentos dos lhos deixavam-na física e emocionalmente
exausta — tanto que, em 1918, esperando o quarto rebento e assaltada por
di culdades de dinheiro, ela ofereceu o bebê a uma amiga que não tinha lhos. A
mulher, surpresa, aceitou, mas Clementine pensou melhor sobre sua bizarra e
inopinada sugestão, e nunca mais falou a respeito.
Dois anos e meio mais tarde, em agosto de 1921, os Churchills deixaram os
quatro lhos, inclusive Marigold, o bebê que Clementine impensadamente
oferecera, com uma babá no sul da Inglaterra, enquanto ela competia num
torneio de tênis e Winston tratava de negócios em Londres. Marigold, com dois
anos de idade, que já estava acometida de infecção na garganta desde o período
das férias de verão, de repente teve uma septicemia. Acorrendo rapidamente ao
seu leito de doente, os pais estavam com a menina quando ela faleceu uma
semana depois. De acordo com Sarah, a mãe jamais se recuperou completamente
de seu pesar pela morte de Marigold e de sua culpa por estar ausente durante a
enfermidade da lha.
Mesmo assim, Clementine não abandonou a prática, estabelecida bem cedo
em seu casamento, de gozar longos períodos de descanso da família,
normalmente em estâncias hidrominerais no continente europeu. Lá,
recuperava-se da agitação de sua vida com os lhos e com o marido absorvente e
recobrava as forças para enfrentá-la novamente. Quando se encontrava em casa,
ela era, nas palavras de Mary, “um misto de ternura e severidade,” enquanto
Sarah a achava “uma gura autoritária com a qual não se podia argumentar.” Ao
passo que Mary e Sarah foram se chegando a Clementine como jovens adultas,
Diana, a lha mais velha, teve uma relação problemática com a mãe, que
perdurou pelo resto de sua vida. Mary, que mais tarde escreveu uma biogra a
simpática de Clementine, observou: “Apesar de os lhos [124] a amarem e a
reverenciarem, nela não encontravam uma pessoa divertida ou uma
companheira.”
Winston, por outro lado, era as duas coisas. Durante as raras oportunidades
em que passava períodos concentrados de tempo com os lhos, era relaxado,
afetuoso, amante de travessuras, quase uma criança. Brincava com eles e os
recrutava para diversas expedições e projetos, inclusive para assentar tijolos
numa parede em Chartwell. As lhas o adoravam, e ele retribuía seu amor. Mas
o preferido sempre foi Randolph, que ele estragava descaradamente e sempre
perdoava, não importava quão atroz tivesse sido seu comportamento. Churchill e
o lho, que o pai via como seu herdeiro político, muitas vezes se engajaram em
discussões tremendas e em tom alto de voz à mesa de refeições, com outros
convivas dando palpites, enquanto Sarah e Mary observavam em silêncio. Das
conversas durante os jantares, o sobrinho de Winston, Peregrine Churchill disse:
“Todos aqueles egos dominadores! Toda aquela interminável falação sobre
política! Depois de certa idade, senti necessidade de me afastar de todos aqueles
Churchills. Caso contrário eles teriam me sufocado.” Anos mais tarde, Diana
diria à lha que casara com o primeiro pretendente para “escapar daquelas
in ndáveis conversas em torno da mesa de jantar de Chartwell.”
 
Na infância, Sarah Churchill foi uma criança doente, solitária e
sonhadora. Idolatrava o pai, porém cava intimidada com seu humor sutil e
rápido e com sua obsessão pelo trabalho. “Se eu realmente quisesse dizer-lhe ou
perguntar-lhe alguma coisa importante, não con ava em minha língua para
expressá-la corretamente e então escrevia um bilhete,” anotou ela mais tarde.
“Essa se tornou a melhor maneira de comunicação, e a menos cansativa e
esbanjadora de tempo para ele.” Todavia, por baixo daquele exterior doce, tímido
e calmo escondiam-se características de tenacidade e rebelião não encontradas
nem em Diana tampouco em Mary.
Quando Sarah debutou aos dezoito anos de idade, cou conhecida como a
“bolshie deb” por causa de sua ostensiva aversão pelo que via como luxuoso,
porém super cial, estilo de vido dos amigos abastados dos Churchills — a mesma
opinião que tinha a mãe, e que tanto aborrecia o pai. A lha o irritou ainda mais
quando, aos vinte anos, arranjou emprego de dançarina num dos teatros de
revistas de Londres. Desde menina, Sarah se interessava bem mais pelas
atividades artísticas do que pelo meio político no qual fora criada. Mocinha,
começou a escrever poesias, uma distração que a acompanhou por boa parte da
vida. Ansiosa por deixar sua marca no mundo da criação, persuadiu os pais a
deixarem que ela frequentasse aulas de dança. Amou a experiência, e quando
contratada para o coro de dançarinas da revista Follow the Sun, lembrou: “Saí
daquele teatro [125] sentindo-me três centímetros mais alta. De súbito, a vida
tinha um signi cado. (...) Por m, começara a aventura.”
Winston e Clementine, no entanto, jamais se conformaram com a ideia de
terem uma lha atuando em palco. Quando outros, inclusive a irmã Mary,
sustentavam que Sarah tinha verdadeiro talento para representar e dançar, os
pais a rmavam o contrário. In uenciado pela opinião do chefe a respeito da
capacidade de Sarah, John Colville, que foi ver uma de suas atuações numa peça
no West End de Londres, surpreendeu-se por achar que ela, de fato, “teve bom
desempenho.”
Sarah desconcertou mais ainda os pais aos vinte e um anos, quando anunciou
seus planos de casamento com Vic Oliver, um comediante judeu austríaco, de
trinta e oito anos, duas vezes divorciado e astro da Follow the Sun. Explodindo de
raiva, Churchill recusou estender a mão para Oliver quando foram apresentados
e logo o quali cou “comum como a sujeira.” Na tentativa de convencer Sarah a
modi car seus planos, o pai, disse ela mais tarde, “dirigiu-se a mim como se
estivesse fazendo um pronunciamento público,” para alertar-me sobre os perigos
representados por “aquele vagabundo itinerante.”
Contudo, Sarah se manteve rme. Seguiu Oliver para Nova York, onde ele
estrelava nova revista, e Churchill prontamente enviou Randolph, em
perseguição cerrada, no transatlântico seguinte. Apelidando Sarah de “a
debutante fugitiva,” os jornais de Londres e Nova York, o que não constituiu
surpresa, se fartaram com a história, publicando manchetes tais como
“CORRIDA ATRAVÉS DO ATLÂNTICO” e
“IRMÃO PERSEGUE CUPIDO.” O pai contratou detetives
particulares e advogados para tentar suspender o casamento, mas fracassou.
Sarah casou-se com Oliver no m de 1936 e o trouxe de volta à Inglaterra, onde
os dois atuaram, a princípio juntos e depois separadamente, em companhias que
se deslocavam por todo o país apresentando seu repertório, e também no West
End.
A despeito das brigas anteriores com os pais, Sarah era vista como a
paci cadora da família, a conciliadora que tentava mediar as discussões
familiares e manter todos unidos. Era muito amiga das irmãs, e as jovens lhas de
Diana, Edwina e Celia Sandys, a adoravam. Ela foi, Edwina Sandys sublinhou,
“uma criatura mágica [126] para mim quando criança. Esvoaçava, entrando e
saindo de nossas prosaicas vidas, como se fosse um duende travesso. Era linda e
absolutamente charmosa.” Conhecida por seu “picante e irreverente sorriso
maroto,” Sarah foi abençoada com um senso de humor altamente desenvolvido.
“Alguns dos mais divertidos momentos da minha vida foram partilhados com
ela,” acrescentou Edwina. “Ríamos até chorar.” Sobre Sarah, um repórter
jornalístico iria mais tarde observar: “Mais do que qualquer outra pessoa que eu
tenha entrevistado, ela valorizava a vida, fazendo tudo parecer mais cor-de-rosa,
mais engraçado, mais glamoroso. Ao mesmo tempo, era vulnerável. Almejava que
você gostasse dela e cava sensibilizada quando percebia isso.”
À medida que Sarah conseguia melhores e mais diversi cados papéis teatrais
no nal dos anos 1930, sua con ança aumentava e diminuía sua dependência do
marido, charmoso, mas controlador. Ao mesmo tempo, ela descobriu que Oliver
vinha tendo casos amorosos com outras jovens. Na ocasião em que Sarah
conheceu Winant, na primavera de 1941, o casamento dela estava por um o.
Numa carta à irmã, Kathleen Harriman escreveu que “Sarah é uma pessoa
incrivelmente agradável, mas já não penso o mesmo de seu marido Vic.” A lha
de Harriman acrescentou: “Ela me parece desesperadamente infeliz, mas
aguenta rme e permanece com Vic por causa do pai. O palco é sua única saída
para não enlouquecer.”
Todavia, sem que Kathleen soubesse, Sarah encontrara outro consolo: sua
crescente amizade com Winant, na companhia do qual passava considerável
tempo em Chequers e em Londres. Com a relação entre os dois se aprofundando
no decurso de poucos meses, ela começou a relatar-lhe seus problemas, assim
como sonhos e esperanças para o futuro. Atraído por sua afabilidade, sutileza e
atenção, Winant, por seu turno, deixou cair aquilo que Alan Brooke chamou de
“cortina de ferro de sua reserva” e passou a con ar nela de maneira que jamais
zera com qualquer outra pessoa.
Em meio à maior crise na história da Inglaterra, o embaixador americano
percebeu que estava se apaixonando pela lha do primeiro-ministro.
6

“Mr Harriman Goza de


Toda a Minha Con ança”
 
Em 30 de maio de 1941, centenas de pessoas se debruçavam

no parapeito do terraço panorâmico do aeroporto La Guardia de Nova York


para dar boas-vindas a Gil Winant de volta ao país. Estavam lá em resposta à
matéria de primeira página do New York Times que reportava a chegada
inesperada e inexplicável do embaixador para reuniões com o Presidente e outras
guras da alta administração. Encabulado com o aglomerado de gente que dava
vivas e aplaudia, Winant, meio sem jeito, levantou o chapéu enquanto
caminhava do avião para o terminal. No lado de fora, enfrentou verdadeira
bateria de câmeras cinematográ cas. “Isso é pior do que [127] um bombardeio,”
resmungou, antes de polida, mas rmemente, se recusar a fazer qualquer
comentário sobre o porquê de sua vinda aos Estados Unidos.
Os jornais americanos e ingleses não demonstraram hesitação ao
especularem sobre o motivo da súbita visita. “Não há dúvida de que Mr Winant
apressou-se em vir para cá a m de dizer o que a Inglaterra mais necessita, e
deixar claro que tal necessidade é urgente (...) que a guerra chegou a ponto
crítico,” escreveu a colunista Anne O'Hara McCormick no New York Times. Um
correspondente do londrino Daily Mail reportou que lhe fora dito por uma “alta
autoridade de Washington” que a “reunião entre Winant e Roosevelt é tão
importante quanto um encontro do Presidente com o próprio Mr Churchill.
Trata-se de uma conferência estratégica.”
Em Londres, Winant e Harriman vinham se sentindo crescentemente
distanciados do que acontecia em Washington e no restante dos Estados Unidos.
O tráfego de cabogramas de Roosevelt, Hopkins e outros vinha tomando
irregularidade, e as cartas muitas vezes levavam mais de um mês para chegar da
América, isso quando enviadas. (Grande parte da correspondência entre os
Estados Unidos e a Inglaterra nesse período foi perdida nos afundamentos dos
navios mercantes.) Harriman queixou-se a FDR de que existia “quase uma
muralha chinesa” de silêncio entre Londres e a capital americana. “Minhas
fontes de informações são totalmente os ministros ingleses,” escreveu ao
Presidente. “Minha utilidade aqui será diretamente proporcional ao grau com
que eu for mantido informado sobre os fatos e pensamentos em Washington.”
O pouco que ele e Winant sabiam sobre a situação na América podia
signi car desastre para a Inglaterra. Segundo as últimas pesquisas, a
percentagem de americanos que aceitavam arriscar a guerra pela ajuda à
Inglaterra vinha declinando. Os primeiros despachos de alimentos do Lend-
Lease — ovos desidratados, leite em pó, bacon, grãos e carne enlatada — haviam
chegado ao Reino Unido no m de maio, proporcionando algum alívio. Mas
pouco viera dos demais artigos. Armas, aviões, tanques e outros equipamentos
bélicos ainda não eram produzidos em grande quantidade nos Estados Unidos, e
não havia navios su cientes para levar à Inglaterra a incipiente produção que
saía das linhas de montagem. A despeito da conclamação do governo, a indústria
americana relutava em promover uma conversão em larga escala para fabricar
material bélico. Mais ainda, alguns gurões empresariais, como o fabricante de
automóveis Henry Ford, eram ferrenhos isolacionistas e se recusavam a atender
pedidos para a Inglaterra. Uma investigação do Senado revelou que as metas de
produção do governo não haviam sido atingidas e que uma considerável
quantidade de empresas, que não aceitavam contratos com o governo, eram
acusadas de corrupção e desperdício. “Estamos anunciando [128] ao mundo (...) o
grande caos que vivemos,” disse, desgostoso, um senador democrata. A menos
que os Estados Unidos intensi cassem sua mobilização, alertou um relatório do
governo, sua produção bélica seria ultrapassada pela inglesa e a canadense no
prazo de um ano.
De fato, a situação do Lend-Lease era tão desanimadora no verão de 1941
que William Whitney, um dos auxiliares mais importantes de Harriman em
Londres, demitiu-se em protesto contra o fracasso americano em fazer mais.
“Estamos iludindo as gentes nos dois lados do Atlântico, deixando pensarem que
hoje corre um uxo constante de material bélico do Lend-Lease através do
oceano quando, na realidade, ele é pequeno ou nenhum,” escreveu Whitney em
sua carta de demissão. “Minha opinião é que o governo (...) deveria mostrar ao
Congresso e ao povo que, enquanto alardeamos uma inimizade a Hitler pelo
apoio à Inglaterra, estamos cumprindo uma parcela pequena do trabalho.”
Três dias antes de Winant retornar à América, o Presidente aparecera para
sinalizar uma signi cativa mudança de curso. A rmando querer evitar que a
Alemanha controlasse o Atlântico, Roosevelt declarara emergência nacional
ilimitada e parecera assegurar que os Estados Unidos em breve começariam os
comboios: “A entrega do suprimento [129] necessário à Inglaterra é imperativa.
Digo que isso pode ser feito; tem de ser feito; será feito.” Para muitos na América
e na Inglaterra, a declaração de FDR soara “quase como um chamamento às
armas.” Seu discurso, observou Robert Sherwood, foi “tomado como um
compromisso solene; a entrada dos Estados Unidos na guerra contra a Alemanha
foi considerada inevitável e iminente.” Porém, numa entrevista coletiva do dia
seguinte, Roosevelt, como já o zera antes várias vezes, retrocedeu de quaisquer
noções de beligerância: não haveria escolta de comboios, pelo menos naquele
momento, nem luta. Da perspectiva de Dean Acheson, então secretário-
assistente de Estado, o Presidente, com grande parte de seu governo e com a
maioria do país, pareceu “paralisado entre a apreensão e a ação.”
Armado com conhecimento de primeira mão sobre a perigosa posição da
Inglaterra, Winant, que, nas palavras do general Raymond Lee, estava “com
todos os nervos esgarçados e recorrendo a qualquer expediente” para levar os
Estados Unidos à guerra, dispôs-se a pressionar Roosevelt e seu governo o quanto
pudesse. Num memorando aos seus subordinados do Foreign O ce, Anthony
Eden escreveu: “Winant pediu-me hoje que considerasse o que — exceto a
guerra — os EUA poderiam fazer para ajudar-nos. (...) Fiquei com a sensação de
que ele não se preocuparia se suas propostas implicassem riscos de guerra.”
Em Washington, Winant, a convite de Roosevelt, hospedou-se na Casa
Branca. Nas suas reuniões com o Presidente e outros membros da administração,
mostrou com ênfase o futuro desesperador que esperava pela Inglaterra e seu
povo. Eles precisavam urgentemente de ajuda militar, em especial aviões e
tanques, assim como proteção naval americana para os comboios. Não havia
nenhum laivo de verdade nos boatos correntes de que a Inglaterra estava prestes
a buscar uma paz negociada, disse o embaixador. Mas se os Estados Unidos não
proporcionassem su ciente ajuda, alertou, a determinação inglesa de resistir,
ainda que resoluta, poderia começar a enfraquecer. “Não podemos esperar
demais.”
FDR reagiu — até certo ponto. Autorizou o envio de quatro mil fuzileiros
para a Islândia a m de substituir os ingleses na missão de sua defesa, um passo
que instalou tropas americanas mais perto da Inglaterra em caso de invasão.
Também determinou proteção naval aos navios mercantes e de transporte de
tropas dos EUA numa extensão até a Islândia, com instruções para atirar, se
necessário, à simples visão de ameaça; os comboios ingleses permaneceram
desprotegidos. Em público, o Presidente minimizou a urgência da visita do
embaixador.
Quando Winant retornou à Inglaterra, Churchill providenciou um avião
para pegá-lo numa base aérea na Escócia e levá-lo imediatamente a Chequers.
Ao chegar, o embaixador transmitiu ao primeiro-ministro as novas ações
americanas, e Churchill, ainda que um pouco animado, percebeu que estavam
longe de su cientes para evitar o desastre. “Se Munique [130] foi a hora menos
gloriosa da Inglaterra, os meados de 1941 certamente foi a dos Estados Unidos,”
escreveu mais tarde um historiador.
 
De volta ao trabalho em Londres , Winant se viu obrigado a
enfrentar outro problema: sua relação cada vez mais problemática com Averell
Harriman. Tirando proveito da descrição nebulosa de sua missão — um
“mandato excelente, que não me atava as mãos de jeito algum” — o ambicioso
Harriman se envolvia cada vez mais com assuntos que nada tinham a ver com o
Lend-Lease. Como homem de negócios e esportista, ele era conhecido havia
muito tempo por empregar táticas cortantes e ombradas para ganhar posição. Em
um dos treinos que precederam um dos campeonatos de polo dos anos 1920, por
exemplo, ele insistiu com Manuel Andrada, do time adversário, que perturbasse
o desempenho de Laddie Sanford, de sua própria equipe, que com Harriman
disputava uma vaga na esquadra que iria à competição. “Laddie não era homem
corajoso, e Andrada era um dos mais impetuosos,” disse Harriman mais tarde. “O
resultado foi que ele deu uma forte arremetida em Sanford e o mandou longe.
Não sei se Laddie era melhor jogador que eu, mas não estava bem naquele dia,
isso posso dizer. É um incidente divertido, mas eu estava determinado a voltar ao
time. Simplesmente não podia acreditar que não era melhor que Laddie. Sabe
por que: ele era frouxo.”
Anos mais tarde, quando Harriman foi a Washington para assessorar o
governo Roosevelt a respeito do transporte de matérias-primas, decidiu que se
apropriaria das atribuições do empresário que aconselhava o governo sobre
ferrovias e o restante da atividade de transportes — a função que desejava
assumir. Em Londres, ele se meteu na seara de Winant quase da mesma maneira.
Embora Harriman tivesse assegurado num memorando a Roosevelt que “estamos
trabalhando juntos como uma equipe” e acrescentasse que “jamais trabalhei em
ambiente mais agradável, devido em grande parte à generosa personalidade de
Gil,” operava com pequena consideração pelo embaixador. No seu diário,
Raymond Lee reclamou que Harriman usava sua posição para “interferir em
todos [131] e quaisquer assuntos,” anotando que Winant “vinha sendo paciente
demais.” Harriman controlava sua própria folha de pagamento e comunicações,
reportando-se diretamente a Roosevelt e Hopkins, e convidava visitantes o ciais
de Washington, que não tinham relação alguma com sua missão, para usar os
escritórios do Lend-Lease como base em Londres e de consultá-lo a respeito de
suas conversações com funcionários ingleses.
Mas era o cuidadoso tratamento que dedicava a Churchill que produzia para
ele os mais valiosos dividendos na expansão do propósito e in uência de seu
trabalho. Em junho, enquanto Winant se reunia na capital americana com
Roosevelt, o primeiro-ministro, no rescaldo dos recentes fracassos militares do
seu país, pediu a Harriman que fosse ao Oriente Médio e à África para avaliar a
situação das tropas e instalações inglesas e determinar o que os EUA podiam
fazer para ajudar. Para quem não tinha credenciais diplomáticas na Inglaterra e
cujo país nem estava em guerra, tratava-se, sob qualquer critério que fosse
apreciada, de uma extraordinária designação. Para seus comandantes militares
nas regiões visitadas, o primeiro-ministro deixou claro que Harriman deveria ser
recebido como seu próprio representante pessoal e que lhe fossem oferecidas as
mesmas oportunidades de inspeção dadas a um membro do Gabinete de Guerra
inglês. “Mr Harriman goza de minha total con ança e tem as relações mais
íntimas com o Presidente e com Mr Harry Hopkins. Ninguém pode fazer mais
pelos senhores. (...) Recomendo que seja dada a Mr Harriman sua mais atenciosa
consideração.” Harriman, como foi fácil compreender, cou radiante com a
designação. “Não creio que o tenha visto tão entusiasmado em relação a qualquer
outra coisa,” escreveu Kathleen Harriman à irmã.
Durante a expedição de cinco semanas, Harriman viajou cerca de vinte e
cinco mil quilômetros, cruzando por todos os lados o Oriente Médio e muito da
África. Inspecionou portos, docas, instalações de montagem de aviões, diques
para reparação de navios e conversou com dúzias de soldados, pilotos,
funcionários civis, mecânicos e outros ingleses envolvidos na luta contra os
alemães. É intrigante que seu acompanhante militar no Cairo foi nada menos do
que o homem a quem ele traía em Londres. Randolph Churchill, então o cial de
relações públicas do QG inglês, fora selecionado pelo próprio pai para agir como
ajudante de Harriman enquanto o americano zesse seu giro pelas instalações
militares e conferenciasse com os o ciais ingleses de alta patente na capital
egípcia. Sobre Harriman, Churchill escreveu ao lho: “Fiz grande [132] amizade
com ele e o tenho em alta estima. Ele faz o que pode para nos ajudar.”
Harriman, que jamais deixara que o coração comandasse a razão,
aparentemente não se perturbou por se encontrar naquela delicada situação, e
conversou amigavelmente com o lho de Churchill sobre Pamela e sobre o que se
passava em Londres. Poucos dias depois, Randolph, que àquela altura
claramente não sabia do caso amoroso da esposa, escreveu para Pamela falando
de quanto gostara de Harriman: “Achei-o absolutamente charmoso, & foi muito
agradável ter a possibilidade de ouvir tantas notícias de você & de todos os meus
amigos. (...) Ele falou deliciosamente a seu respeito & temo ter um sério rival!” Ao
pai, Randolph escreveu ainda mais elogiosamente sobre Harriman: “Ele
de nitivamente se tornou meu americano favorito. (...) Claramente se considera
mais seu auxiliar que de Roosevelt. Penso que ele é o mais objetivo e o mais
esperto dos que gravitam à sua volta.”
Do Cairo, Harriman enviou a Churchill um relatório completo e sem meias
palavras sobre as muitas de ciências que observara nas operações inglesas no
Oriente Médio, inclusive desperdício de equipamento; falta de coordenação
entre a RAF, exército e marinha; e “um senso de tranquilidade demasiada e falta
de urgência” no QG do Cairo. Focalizou, sobretudo, a escassez de armamentos e
suprimentos vitais — carros de combate, navios, combustíveis, viaturas de
transporte e até mesmo peças sobressalentes. Enquanto as outras di culdades
eram claramente problemas da área de atuação de Churchill, as carências eram
questões que só a ajuda americana poderia sanar.
O empenho, a obstinação pelo trabalho e o questionamento persistente do
enviado dos EUA durante o cansativo giro de inspeção provocou respeito, ainda
que um pouco ressentido, de muitos daqueles que tiveram suas atribuições
esquadrinhadas. Um amigo inglês repassou a Harriman uma conversa que ouvira
entre dois funcionários de Whitehall: “Mr Harriman é muito persistente, não é?”
Resposta: “Suponho que sim.” “Ele faz perguntas muito incisivas e
constrangedoras.” Resposta: “Oh, faz mesmo?” “Faz, insiste em ter uma resposta
e consegue.”
Também Churchill cou muito impressionado com os esforços de Harriman,
porém, como o representante do Lend-Lease iria descobrir quando voltou a
Londres no início de julho, o primeiro-ministro estava então preocupado com
assuntos mais prementes do que a desordem no Oriente Médio. Em 22 de junho,
Hitler deixara de lado o Pacto de Não Agressão de 1939 com Iosef Stalin e
invadira a União Soviética com mais de dois milhões de combatentes. Mais tarde,
naquela mesma noite, Churchill zera pronunciamento pelo rádio para toda a
nação prometendo ajuda total à União Soviética, a despeito da opinião que tinha
sobre os líderes daquele governo como “os inimigos mortais [133] da liberdade
civilizada.” Por mais que o primeiro-ministro desprezasse o “iníquo regime” de
Stalin, precisava que os russos aguentassem o peso do novo assalto alemão, a m
de retirar a carga da luta dos ombros ingleses, de modo que ele e seu
enfraquecido país pudessem respirar e se reagrupar.
Foi então que, poucos dias após a invasão alemã, Harry Hopkins chegou a
Londres com o convite a Churchill para se encontrar com Roosevelt no mês
seguinte, ao largo da costa da Terra Nova — o primeiro encontro entre os dois
depois do malfadado jantar no Gray's Inn em 1918. Tão logo soube da reunião,
Harriman decidiu que dela participaria. Churchill, ansioso por causar boa
impressão no Presidente, não era avesso à ideia de ter o simpático americano ao
seu lado para dar-lhe conselhos e tranquilizar-lhe a con ança. Em consequência,
o americano não teve di culdade em convencer o primeiro-ministro de que
deveria fazer parte de sua comitiva. Mas ao retornar a Washington, no nal de
julho, para fazer um relatório sobre sua viagem ao Oriente Médio, Harriman
tomou conhecimento, para seu pesar, de que Roosevelt não tinha a intenção de
convidá-lo.
FDR desejava um encontro pequeno e mais íntimo com Churchill, que
contasse com a presença de uns poucos assessores. Quando Churchill insistiu na
inclusão dos chefes militares mais antigos dos dois países, o Presidente a custo
concordou. Mas recusou acrescentar Harriman à comitiva, malgrado a
intercessão de Harry Hopkins e apelos do próprio Harriman, o qual lhe disse que
Churchill esperava vê-lo por lá. Entretanto, no último momento, Churchill
adicionou Sir Alexander Cadogan, do Foreign O ce, à lista engordada de
participantes do encontro, e Roosevelt nalmente cedeu, estendendo um convite
a Harriman e ao subsecretário de Estado Sumner Welles para que se juntassem à
comitiva presidencial.
 
Bem cedo na manhã de 9 de agosto , o encouraçado inglês Prince of
Wales, ainda exibindo as cicatrizes de seu recente embate com o monstro naval
alemão — o Bismarck — deslizou entrando na Placentia Bay da Terra Nova. No
passadiço, Winston Churchill, tenso, espreitava o horizonte enevoado,
procurando os navios americanos que conduziam o grupo de Roosevelt.
O primeiro-ministro encarava sua iminente reunião com o Presidente como o
mais decisivo dos encontros de sua vida. Durante a viagem de cinco dias a partir
da Inglaterra, mostrara-se nervoso, ainda que alegre; seu segurança pessoal
observou que Churchill “provavelmente jamais [134] se comportara com tanta
exuberância e excitação,” desde os dias escolares em Harrow. Outro dos
auxiliares do primeiro-ministro disse: “Ele estava rmemente decidido, de 1940
em diante, a evitar que qualquer coisa obstruísse o caminho de sua amizade com
o Presidente, da qual tanta coisa dependia.”
Harry Hopkins, que acompanhava Churchill no Prince of Wales, estava
igualmente ansioso. Como dissera antes a Ed Murrow, tanto o primeiro-ministro
quanto o Presidente eram prima-donas, acostumados a serem o centro das
atenções e a decidir como melhor lhes aprouvesse. Era sua tarefa, disse Hopkins,
“manter esses dois em relações próximas e amistosas.”
Quando o camu ado Prince of Wales, escoltado por contratorpedeiros,
cruzou a entrada da baía, Churchill divisou as silhuetas indistintas da esquadra
americana — cinco contratorpedeiros e o cruzador pesado Augusta, navio
capitânia da armada dos EUA no Atlântico. Subindo a bordo do Augusta,
enquanto a banda dos fuzileiros executava “God Save the King,” ele foi
recepcionado por um radiante Franklin Roosevelt, rmemente apoiado no braço
do lho Elliott. “Finalmente nos encontramos,” declarou o Presidente. Churchill,
também com aberto sorriso, concordou com a cabeça: “Sim, é verdade.”
Ao longo dos quatro dias da conferência, Averell Harriman borboleteou nos
bastidores, agindo como assessor de Churchill, ligando-se pouco com Roosevelt e
outros americanos. Inseguro sobre a impressão que estava causando no
Presidente, Churchill repetidas vezes perguntou a Harriman: “Ele gosta de mim,
Averell? Você acha que ele gosta de mim?” A resposta era a rmativa, se bem que
Churchill, inicialmente, tivesse aborrecido um pouco Roosevelt ao car batendo
na mesma tecla de quão feliz estava por nalmente se encontrar com o
Presidente depois de tantos meses de cabogramas e telefonemas. Com sionomia
algo carrancuda, FDR lembrou-lhe o jantar no Gray's Inn de trinta e três anos
antes. “Papa esquecera completamente que os dois haviam se encontrado então,”
observou Mary Soames anos mais tarde. “Ele não tinha sido alertado ou
relembrado, e o encontro simplesmente fugiu de sua privilegiada memória.”
Mesmo que Roosevelt, segundo se dizia, jamais tivesse superado seu
aborrecimento com Churchill a respeito do que considerava menosprezo, ele
estava tão determinado quanto o primeiro-ministro a fazer da conferência um
sucesso, e riu muito do lapso na memória de Churchill.
Na verdade, segundo a maioria dos relatos, ambos os líderes mantiveram seus
formidáveis egos sobre cerrado controle durante a conferência. Elliott Roosevelt,
lho de trinta anos do Presidente, que estava acostumado a ver o pai “dominando
qualquer [135] reunião da qual participasse,” cou surpreso ao constatar que, nos
encontros com Churchill, ele realmente ouvia. O primeiro-ministro, de sua parte,
era assíduo em fazer deferências a FDR e, seguidas vezes, se descreveu como
“tenente do Presidente.” Ao m do almoço do primeiro dia, os dois já estavam se
chamando de “Franklin” e “Winston.”
Apesar de a amizade entre os dois líderes não ter sido tão íntima como
Churchill depois proclamou, Robert Sherwood a rmou que o americano e o
inglês estabeleceram “uma intimidade fácil, uma informalidade cercada de
piadas... e certa dose de franqueza” no decurso dos quatro dias de relações na
conferência. Depois da última sessão embarcada que tiveram, Roosevelt
recomendou aos seguranças pessoais de Churchill que “tomassem conta dele,
pois está prestes a se tornar o maior homem do mundo. Na realidade,
provavelmente já é o maior.” O Presidente diria mais tarde à esposa que a
conferência da Terra Nova “tinha quebrado o gelo,” (...) “sabia agora que
Churchill, o qual pensava ser o típico John Bull, era homem com o qual podia
realmente trabalhar.” Sobre Roosevelt, Churchill escreveu anos depois: “Senti
uma afeição muito grande, que cresceu com o passar dos anos de camaradagem.”
Todavia, a despeito de toda cordialidade daquele encontro inicial de tempo
de guerra e da demonstração de satisfação exteriorizada por Churchill na sua
conclusão, o resultado da conferência foi uma esmagadora desilusão para os
ingleses. Antes de atravessar o Atlântico, Churchill dissera a um grupo de
primeiros-ministros dos Domínios considerar que Roosevelt não teria convocado
a conferência se não estivesse preparado para entrar na guerra. “Eu preferiria ter
uma declaração de guerra agora e nenhum suprimento por seis meses do que o
dobro dos suprimentos e nenhuma declaração,” a rmara a seus aliados. No
primeiro encontro de Churchill com o Presidente, Elliott Roosevelt cita o
primeiro-ministro como tendo dito: “O senhor tem de se aliar a nós! Se não
declarar guerra, à espera que eles desfechem o primeiro golpe, eles atacarão
depois que tivermos sucumbido, e o primeiro golpe deles será também o último!
(...) O senhor tem de entrar para sobreviver!”

O Presidente, contudo, rejeitou o pleito de Churchill, explicando que o


Congresso e o povo americano não estavam com estado de espírito favorável à
entrada na guerra. De fato, durante a semana da conferência de Placentia Bay, o
projeto de lei estendendo em um ano a duração do serviço militar obrigatório
para uma convocação limitada, apresentado aos parlamentares em 1940, chegou
perigosamente perto da derrota na Câmara dos Deputados, sendo aprovado por
apenas um voto.
Para minorar o desapontamento causado por sua recusa, Roosevelt prometeu
a Churchill que os Estados Unidos se tornariam mais “provocativos” no
Atlântico ao proporcionarem escoltas armadas para navios mercantes americanos
e também ingleses até a Islândia. Deixou igualmente claro “que buscaria um
[136] 'incidente' que o justi casse para o início das hostilidades.” Além disso, o
Presidente se comprometeu a solicitar ao Congresso mais cinco bilhões de
dólares para o Lend-Lease, bem como acelerar a entrega de aviões e tanques à
Inglaterra. Em troca, persuadiu o primeiro-ministro a se juntar a ele na
conclamação dos objetivos e princípios que deveriam governar o mundo pós-
guerra, inclusive o direito de todas as nações à autodeterminação. Denominada
Carta do Atlântico, essa declaração de propósitos da guerra foi o único resultado
da conferência anunciado publicamente.
Após voltar para casa, Churchill disse de mau humor ao lho: “O presidente,
não obstante sua afabilidade e boas intenções, é movido, pensam muitos de seus
admiradores, pela opinião pública, em vez de formatá-la e liderá-la.” O
desconsolo do primeiro-ministro com o colapso das esperanças foi compartilhado
por muitos de seus conterrâneos. “A inundação é imensa (...) e tudo o que a
América nos dará é roupas secas caso cheguemos a lugar seguro,” realçou o
Times. “Entendemos a atitude (...) mas acreditamos que não seria muito custoso
aos seus recursos se ela entrasse na água. Pelo menos até a cintura. Dizemos isso
porque estamos sinceramente desapontados com a contribuição americana para o
socorro.”
Quando Roosevelt promoveu uma entrevista coletiva para garantir ao povo
americano que a conferência da Terra Nova não levara os Estados Unidos para
mais perto da guerra, Churchill disparou um telegrama para Hopkins a respeito
do efeito desanimador sobre o Parlamento e o povo inglês causado pela
declaração do Presidente. “Não sei o que acontecerá se a Inglaterra entrar em
1942 combatendo sozinha,” concluía a mensagem do primeiro-ministro.
 
Mas, embora a conferência pudesse ter terminado em frustração
para Churchill, ela proporcionou grati cante retorno para Harriman. Graças à
interferência de Hopkins, ele conseguiu ser nomeado delegado-chefe dos EUA
numa missão anglo-americana de alto nível ao novo e mui relutante aliado — a
União Soviética.
Imediatamente após a invasão alemã da Rússia, Roosevelt se mostrou algo
cauteloso em apoiar a promessa de Churchill de ajuda total a Stalin. Não
duvidava que os soviéticos tinham grande necessidade de tal assistência: nas
primeiras poucas semanas do ataque, a Wehrmacht conquistara território da
União Soviética com a mesma velocidade atingida na Polônia e na Europa
Ocidental. Por volta de agosto, o exército russo já estava próximo do colapso, e
suas tropas careciam de tudo, dos tanques aos aviões, dos fuzis aos coturnos.
Porém havia substancial oposição nos Estados Unidos, em particular entre os
católicos, à proposta de qualquer auxílio à ditadura comunista; muitos
americanos acreditavam que os názis e os comunistas deveriam se destruir uns
aos outros. George Marshall e outros chefes militares alertaram o Presidente de
que a assistência aos russos resultaria em signi cativa redução de recursos para os
Estados Unidos e a Inglaterra.
Não obstante, enquanto os soviéticos aguentassem — e estavam aguentando
por tempo muito maior do que qualquer um no Ocidente julgara possível —
aliviariam a Inglaterra dos bombardeios alemães e de uma possível invasão. A
calamitosa incursão aérea de 10 de maio sobre Londres foi o último ataque
inimigo importante à Inglaterra em 1941, porque a Luftwa e estava agora
engajada na nova missão de combater os soviéticos. No East End de Londres,
vitrines das lojas e janelas dos apartamentos estavam enfeitadas com sinais pró-
russos, um dos quais dizia: “Eles nos deram noites calmas.” Por sua vez, Roosevelt
acreditava que, além de ajudar a Inglaterra, a persistente resistência soviética
poderia também diminuir a pressão para que os Estados Unidos entrassem na
guerra. Na oportunidade em que se encontrara com Churchill, em agosto, o
Presidente já tinha decidido enviar a Stalin toda a ajuda necessária.
Quando os dois concordaram em Placentia Bay em enviar uma delegação
conjunta a Moscou para trabalhar sobre o acordo de ajuda com os russos,
Hopkins, a pedido de Harriman, sugeriu o nome do “acelerador” do Lend-Lease
para che ar a delegação americana. Ao fazer a proposta do nome de seu amigo,
Hopkins ressaltou que Harriman negociara, havia cerca de vinte anos,
concessões de manganês com os soviéticos. No entanto, a descrição que Hopkins
fez de Harriman como ex-empresário habilidoso e experiente de Nova York
estava longe da verdade: ele partira para aquelas negociações do passado com
pequeno conhecimento da Rússia e seu povo, e fora ludibriado até mesmo pelo
incipiente governo soviético, que cou com as reservas mais ricas de manganês
para si mesmo e, mais tarde, forçou Harriman a liquidar tudo. Harriman também
não disse a Hopkins, ou a qualquer outro, que ainda tinha mais de um milhão de
dólares em investimentos russos, inclusive mais de quinhentos mil dólares de
títulos do governo russo referentes à liquidação de seu contrato de manganês.
Obviamente, Harriman tinha suas próprias razões pessoais para assegurar que os
Aliados Ocidentais zessem o que estivesse ao seu alcance para evitar a derrota
dos russos.
Seu equivalente inglês na missão a Moscou foi Lord Beaverbrook, que, a
exemplo de Harriman, não tinha experiência em negociações diplomáticas.
Mesmo assim, ao chegarem à capital soviética, os dois zeram questão de excluir
os embaixadores dos respectivos países das conversações com Stalin,
sabidamente um obstinado e esperto negociador. Os dois embaixadores —
Laurence Steinhardt dos Estados Unidos e Sir Sta ord Cripps da Inglaterra —
tinham considerável vivência no trato com os soviéticos, e pouquíssimas ilusões
sobre a vontade do governo em cooperar com a Inglaterra e os EUA. Os chefes
das missões diplomáticas instaram Harriman e Beaverbrook a exigirem, no
mínimo, um quid pro quo de Stalin — informações detalhadas sobre produção,
recursos e planos de defesa soviéticos (ou seja, tudo o que a Inglaterra fora
forçada a fornecer aos Estados Unidos antes de receber sua ajuda) em troca de
armamentos e suprimentos.
Os chefes das delegações, contudo, rejeitaram de pronto as recomendações.
O objetivo da missão, disse Harriman a Steinhardt, era “dar, dar, e dar, [138] sem
expectativa de qualquer retorno.” Não surpreendeu que Stalin, além das
insolentes reprimendas que fez a Harriman e Beaverbrook pela pobreza da ajuda
ocidental até então, estivesse em completo acordo com tal missão. Ao líder russo
foi proporcionado virtualmente tudo que solicitou — uma cornucópia de armas,
viaturas, aviões, suprimentos e matérias-primas — sem nenhuma condicionante.
Ao deixar Moscou, um exultante Harriman estava convicto de que a missão
conjunta ajudara a erradicar qualquer “suspeita que pudesse existir entre o
governo soviético e os outros dois.” Alguns integrantes das delegações não
estavam tão seguros disso. Entre eles o general Hastings “Pug” Ismay, secretário
militar do Gabinete de Guerra inglês e o cial de ligação de Churchill com seus
Chefes de Estado-Maior, que mais tarde escreveu: “Ninguém pode negar [139]
que era de nosso próprio interesse dar aos russos os recursos necessários. (...)
Porém era certamente desnecessário, e até pouco inteligente, permitir que eles
nos intimidassem da maneira como o zeram.”
Mesmo assim, a despeito dos severos sacrifícios provocados pela
transferência de tanto material bélico para os soviéticos, sacrifícios que
atingiriam especialmente a Inglaterra, Churchill e Roosevelt aprovaram o
acordo. A partir das primeiras semanas da invasão alemã, Stalin começou a
solicitar da Inglaterra demandas que eram impossíveis de concretizar naquela
oportunidade — um Novo Front no norte da França, por exemplo, e o despacho
de vinte e cinco a trinta divisões inglesas para a Rússia. Os dois líderes ocidentais
temiam que, se uma quantidade maciça de armas e suprimentos não fosse
imediatamente enviada, Stalin poderia fazer uma paz em separado com Hitler —
perspectiva que o chefe russo nada fez para desencorajar.
No seu relatório ao Presidente a respeito do encontro em Moscou, Harriman
declarou que o embaixador Steinhardt não tinha mais condições de
desempenhar com sucesso suas atribuições na capital soviética em vista de seu
ceticismo sobre os russos, e recomendou que ele fosse substituído. Roosevelt
acatou o conselho. Tendo concorrido para afastar Steinhardt, Harriman então
manobrou para assumir o papel não o cial de ligação entre a Casa Branca,
Downing Street e o Kremlin. Era o cargo que ambicionava para sua vida, no qual
capitalizaria benesses pelos próximos quatro anos e bem além.
7

“Quero Entrar Nela com Vocês — Desde o


Começo”
 
Numa ocasião em que o governo americano ainda relutava em
pôr em situação de risco seus militares, foi celebrado na Catedral de St Paul, em
Londres, um serviço religioso em memória de um americano que perdera a vida
na luta contra a Alemanha. Na cripta da catedral marcada por cicatrizes de
bombas, algumas centenas de pessoas, entre elas Gil Winant, se reuniram em 4
de julho de 1941 para o descerramento de uma placa em homenagem a William
Fiske III, que, nas palavras gravadas no metal, “morrera para que a Inglaterra
[140] pudesse viver.”
Primeiro cidadão dos EUA a se alistar na Royal Air Force e primeiro piloto
americano a morrer em ação durante a guerra na Europa, Billy Fiske nascera em
Nova York, mas passara a adolescência e o início de sua vida adulta na Europa.
Viciado em velocidade e aventuras, Fiske, lho de um rico corretor de ações,
dirigia um Bentley “envenenado” e, quando rapaz e com pouco mais de vinte
anos, ganhara duas medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos no arriscado esporte
da veloz descida no gelo em trenós. Ele era, disse um amigo, “o protótipo do moço
dourado — boa aparência, riqueza, charme, inteligência — tinha isso tudo.”
Formado por Cambridge, Fiske disse aos amigos ingleses nos anos de 1930 que,
se a guerra viesse, “quero entrar nela com vocês — desde o começo.”
Porém, no momento em que o con ito irrompeu, em setembro de 1939,
Fiske, com vinte e oito anos, descobriu que, para honrar a promessa, seria um fora
da lei em seu próprio país. Na tentativa desesperada de manter os Estados
Unidos fora da guerra, o governo americano promulgou uma série de
regulamentações que, entre outras coisas, tornava ilegal o alistamento no serviço
militar de uma potência em guerra, viajar em navio beligerante ou usar
passaporte americano para ir a um país estrangeiro a m de se alistar. Os que
transgredissem essas regulamentações cariam sujeitos a uma multa de dez mil
dólares, alguns anos de prisão e perda da cidadania americana.
Desbordando as restrições ao declarar falsamente a cidadania canadense,
Fiske juntou-se à RAF menos de três semanas após a declaração de guerra da
Inglaterra à Alemanha. Foi designado para o 601º Esquadrão, conhecido como
“Esquadrão dos Milionários,” tantos eram os rapazes endinheirados integrantes
de suas leiras, diversos dos quais amigos de Fiske de antes da guerra. Os pilotos
do esquadrão forravam as jaquetas de seus uniformes com seda vermelha e os
sobretudos com pele de marta; ganhavam e perdiam centenas de libras em jogos
de pôquer enquanto aguardavam voar e combater. “Eram arrogantes [141] e
tremendamente vistosos; era provável que os outros esquadrões tivessem raiva
deles,” observou Rose, esposa de Fiske. Mas também eram excelentes pilotos, e
ainda que Fiske tivesse apenas noventa horas de voo solo quando se alistou na
RAF, logo alcançou o padrão dos seus colegas de esquadrão. “Inacreditável quão
bom ele era,” disse mais tarde Sir Archibald Hope, comandante do 601º.
“Captava tudo rapidamente. (...) Era, em sua essência, um piloto de caça.”
Em 16 de agosto de 1940, durante um dos mais pesados ataques da
Luftwa e contra as bases aéreas da RAF na Batalha da Inglaterra, o Hurricane
de Fiske foi atingido; mesmo severamente queimado, ele conseguiu levar seu
dani cado avião de volta à base. Dois dias depois, faleceu em virtude dos
ferimentos e queimaduras. “Ele não tinha a obrigação de lutar por este país,”
declarou o ministro inglês da Força Aérea, Sir Archibald Sinclair, na cerimônia
de St. Paul's. “Não era inglês. (...) Deu a vida por seus amigos e pela causa comum
dos homens livres de todas as partes do mundo, a causa da liberdade.” Sentados
naquele dia nos bancos da catedral e envergando o uniforme azul da RAF
estavam diversos outros americanos que participaram da Batalha da Inglaterra.
No total, sete cidadãos dos EUA voaram durante aquela batalha, juntando-se a
mais de quinhentos outros pilotos não ingleses, inclusive poloneses, tchecos,
belgas, franceses, neozelandeses e sul-africanos. De todos os membros daquela
força aérea poliglota, apenas os americanos violavam leis de seu próprio país por
voarem.
Na oportunidade da cerimônia em homenagem a Fiske, milhares de
americanos tinham desrespeitado as proibições do país e se alistado nas forças
armadas britânicas. Cerca de trezentos voavam na RAF, outras dezenas haviam
se juntado ao exército inglês. Como também mais de cinco mil integravam as
forças canadenses na Inglaterra. Ao passo que a maioria era constituída por
rapazes amantes da aventura, havia um bom número de gorduchos e grisalhos de
boa situação nanceira, com pro ssões que iam de banqueiros de investimento a
advogados e arquitetos. Residentes por muito tempo de Londres, faziam parte da
única unidade americana na Home Guard, o Exército Territorial inglês,
voluntários civis com a missão de proteger a Inglaterra em caso de invasão alemã.
A Home Guard fora criada em junho de 1940 depois da retirada inglesa de
Dunquerque e da queda da França. Mais de um milhão de homens atenderam à
convocação, inclusive cerca de setenta empresários e pro ssionais americanos
que viviam na capital. “Nossos lares [142] estão aqui, e queremos mostrar, de
maneira prática, que estamos prontos, na companhia dos ingleses, em partilhar a
responsabilidade pela defesa de seu solo,” disse Wade Hayes, um banqueiro de
investimentos e comandante do grupo. “Também queremos dar um exemplo
para a gente de nosso país.”
No entanto, inicialmente, os americanos enfrentaram forte oposição tanto
dos ingleses quanto do governo americano. Os regulamentos ingleses barravam o
acesso de estrangeiros ao Exército Territorial, e Joseph Kennedy cou
irritadíssimo com o fato de a nata da comunidade americana de expatriados
voluntários não apenas se recusar em voltar para a América como também
planejar combater em prol da Inglaterra. O embaixador alertou Hayes, que
servira no Estado-Maior do general John Pershing durante a Primeira Guerra
Mundial, que a criação da unidade “poderia resultar na perseguição a todos os
cidadãos americanos como franc-tireurs [guerrilheiros], quando os alemães
ocupassem Londres.” Nem a admoestação de Kennedy tampouco sua ameaça de
revogar a cidadania americana de Hayes tiveram qualquer efeito. No nal,
George VI agiu em benefício dos americanos, expedindo uma ordem especial
que os tornava quali cados para integrarem o Exército Territorial.
Como os demais integrantes da Home Guard em todo o país, os americanos
tinham instrução militar diversas vezes por semana — após o trabalho e nos ns
de semana. Porém, em gritante contraste com seus colegas ingleses, que
treinavam com forcados e facas de cozinha atadas às extremidades de cabos de
vassoura, os expatriados americanos, com dinheiro do próprio bolso, tinham se
armado com fuzis automáticos Winchester e submetralhadoras Thompson,
obtidos nos Estados Unidos. A inveja das unidades inglesas ao constatarem o
armamento so sticado e as dezoito viaturas blindadas que os americanos
possuíam logo provocou o apelido de “gângsteres” por causa das metralhadoras
Tommy.
Entre os militares ingleses havia considerável ceticismo, para não falar coisa
pior, a respeito da efetividade do Exército Territorial, super cialmente treinado,
para ajudar a barrar uma invasão germânica. Mas em julho de 1940, os
americanos provaram aos altos escalões do exército inglês que sua unidade, no
mínimo, não deveria ser subestimada. Durante as manobras, os empresários
americanos capturaram o quartel-general de uma brigada do exército que
protegia uma base aérea importante nas cercanias de Londres, guardada por
aproximadamente quinhentos combatentes regulares armados com
metralhadoras Bren e outras armas automáticas pesadas. Deslocando-se
rapidamente e dominando uma sentinela, os americanos lançaram granadas de
gás através das janelas do quartel-general, arrombaram a porta, desmontaram a
central telefônica, amarraram diversos o ciais ingleses e se apossaram de cartas
topográ cas secretas e outros documentos. Os ingleses protestaram que o ataque
fora lançado cedo demais. Os americanos replicaram que haviam atacado nos
primeiros momentos permitidos pelas diretrizes das manobras. “Os alemães
[143],” acrescentaram, “também não vão esperar.”
 
A capitulação da França resultou também no primeiro in uxo de
pilotos americanos para a Inglaterra. Ainda não conscientes de quão séria era
considerada sua ofensa pelas autoridades estabelecidas dos EUA, três dos
primeiros voluntários se apresentaram na embaixada americana em Londres, em
junho de 1940, foram censurados pelo embaixador Kennedy por “porem em
risco a neutralidade dos EUA” e receberam ordem de voltar aos Estados Unidos
no primeiro navio. Em vez disso, eles se dirigiram diretamente ao Ministério do
Ar inglês e se alistaram em tempo de combater na Batalha da Inglaterra.
Os americanos que se juntaram à RAF haviam crescido na era de Charles
Lindbergh, quando a simples ideia da aviação cativava os jovens de todo o
mundo. A maioria deles já era constituída por pilotos experientes. Alguns
tinham a pro ssão de aspergir por via aérea inseticidas em plantações, outros
faziam exibições aéreas ou eram pilotos de testes; um deles era aviador dos
estúdios da Metro-Goldwyn-Mayer, em Los Angeles, cujo trabalho era
transportar pela Califórnia astros e estrelas do cinema e outros VIPs de
Hollywood. Eles tinham chegado à Inglaterra por uma diversidade de motivos,
porém na maior parte com uma característica comum: apego ao perigo,
velocidade e emoção. Bom número deles tentara alistar-se no Corpo Aéreo do
Exército americano mas não conseguira aprovação nos rigorosos testes físicos
exigidos; a RAF, prestes a enfrentar o ataque da Luftwa e, não podia se dar ao
luxo de ser tão discriminadora. Quase todos estavam ansiosos para voar os novos
caças ingleses de excelente performance — os Hurricanes e Spit res — dos quais
tanto tinham lido e ouvido falar.
Um desejo de romance e aventura também tinha sua parcela de atuação.
Alguns americanos queriam seguir as pegadas da Lafayette Escadrille, um grupo
arrojado de aviadores americanos que se alistara para combater ao lado dos
franceses na Primeira Guerra Mundial. Outros tinham assistido ao lme Hell's
Angels (Anjos do Inferno), de Howard Hughes, retratando pilotos americanos na
força aérea inglesa durante a guerra de 1914-18, e viram-se nos mesmos papéis
na nova guerra. Ali estava a chance de “encontrarem louras lindas [144], como a
Jean Harlow que tinham visto na tela,” observou James Childers, um coronel dos
EUA que escreveu um livro sobre os americanos na RAF. Aquele seria o próximo
“Big Show... e eles, como quaisquer rapazes normais, queriam vê-lo e dele
participar. Não desejavam perder coisa alguma.”
Uns poucos, entretanto, se apresentaram como voluntários por razões mais
idealistas. Diversos deles lembraram depois da guerra que as transmissões de Ed
Murrow os tinham inspirado a se alistarem. “Achei que aquela era uma guerra da
América tanto quanto da Inglaterra e da França,” disse um veterano da Batalha
da Inglaterra. Outro moço americano estava a bordo do Athenia, o transatlântico
inglês torpedeado por submarino alemão, em setembro de 1939, enquanto
navegava para Nova York. “Numa avassaladora raiva” contra a Alemanha pela
perda de mais de cem de seus companheiros de viagem, ele retornou à Inglaterra
e juntou-se à RAF. Ainda outro cidadão dos EUA alistou-se depois que o avô e a
avó foram mortos na invasão alemã da Holanda.
Qualquer que tivesse sido o motivo para combaterem, todos sabiam que
violavam as leis de seu país. Embora agentes do FBI fossem distribuídos nos
pontos de passagem da fronteira com o Canadá para evitar que cidadãos dos
EUA atravessassem para se incorporar às forças armadas inglesas e canadenses, a
maioria dos que tentaram escapulir para o país vizinho conseguiu, e de lá
embarcaram em navios para a Inglaterra. Os que foram detidos e enviados de
volta normalmente tentaram de novo, e a maior parte foi bem sucedida na
segunda vez.
Uma vez cruzado o Atlântico, os americanos recebiam três semanas de
instrução de pilotagem e eram então designados para diversos esquadrões da
RAF. Lá, eram recebidos cordialmente, se bem que com certo pé atrás, pelos seus
colegas ingleses, uma vez que se comportavam com atrevimento e ousadia,
porém, em sua maioria, se mostravam imensamente bons camaradas. Um piloto
inglês descreveu dois aviadores dos EUA, que se apresentaram prontos para o
serviço no seu esquadrão como “americanos típicos [145]... sempre prontos para
observações jocosas (frequentemente em relação à autoridade).” Mais tarde o
mesmo inglês escreveu sobre os espantosos “vocabulário, exuberância e
variedade” que introduziram no esquadrão.
Pelo m da Batalha da Inglaterra, tantos americanos tinham se alistado na
RAF que receberam permissão para formar sua própria unidade, conhecida
como Eagle Squadron (Esquadrão Águia). A ideia de um esquadrão só com
pilotos dos EUA partiu de Charles Sweeny, um rico empresário americano de
Londres, com vinte e oito anos de idade, que era então organizador-chefe e
membro da liderança da unidade dos EUA do Exército Territorial. Tendo se
criado na Inglaterra e retornado para lá após se formar em Yale, Sweeny sentia
grande a nidade tanto por seu país natal como pela pátria de adoção e estava
convencido de que “a guerra não poderia ser vencida sem o concurso dos EUA.”
Com os ingleses praticamente encurralados nas cordas, e a Alemanha prestes a
deslanchar um maciço assalto aéreo, Sweeny julgou que os americanos tinham
de ajudar a Inglaterra no combate aéreo. Juntamente com o tio, um irmão e
outros ricos expatriados dos EUA, organizou uma rede de recrutamento para
pilotos nos Estados Unidos e providenciou os recursos nanceiros para levá-los à
Inglaterra.
Em junho de 1940, Sweeny procurou Lord Beaverbrook e Brendan Bracken,
assistente mais próximo de Churchill, e apresentou a ideia de um esquadrão da
RAF que tivesse por modelo a Lafayette Escadrille. Bracken repassou a proposta
a Churchill, que percebeu instantaneamente o poderoso instrumento de
propaganda que o esquadrão americano poderia ser, e endossou a ideia com
entusiasmo. Jovens americanos combatendo e morrendo pela Inglaterra
enquanto seu país permanecia distante, poderia, do seu ponto de vista, chegar
mesmo a minar a neutralidade do país. Em outubro de 1940, a RAF incorporou à
sua organização o 71º Esquadrão, com dois outros esquadrões criados no ano
posterior. No total, 244 americanos voaram nos três esquadrões durante os dois
anos de guerra que se seguiram.
 
Graças aos seus feitos heroicos , que repeliram a Luftwa e na
Batalha da Inglaterra, todos os pilotos da RAF foram considerados heróis do país
a partir do verão de 1940. Os aviadores americanos receberam a mesma
inequívoca afeição do povo proporcionada aos seus colegas ingleses. Motoristas
de ônibus não deixavam que pagassem as passagens, garçons e donos de pubs
ofereciam-lhes refeições e bebidas de graça. Um piloto escreveu aos pais em
Minnesota: “Esse pessoal [146] tem quase veneração pelos pilotos da Royal Air
Force. (...) Gente do povo já me disse: 'Não há palavras para expressar o que
sentimos por vocês, rapazes!' 'Vocês são maravilhosos,' 'Vocês são os maiores
heróis que jamais tivemos.'”
Mas sempre existia uma medida extra de entusiasmo pelos ianques. “Eles
estão sempre nos dizendo 'Graças a Deus vocês estão aqui, e graças a Deus nos
ajudam,'” escreveu um piloto do Esquadrão Águia. Outro observou: “Parecia que
nunca estavam satisfeitos com o que nos proporcionavam. Eles nos davam o
melhor que tinham, a melhor comida, o melhor de tudo.”
Os aviadores americanos se tornaram os “queridinhos” de Londres,
convidados para teatros, chás dançantes da sociedade, ns de semana em
elegantes casas de campo. O irmão do rei, o duque de Gloucester, estendeu um
convite a diversos rapazes americanos para o camarote real no Royal Albert Hall
a m de que assistissem a um concerto da Orquestra Filarmônica de Londres.
Também tratados como celebridades por seus compatriotas que viviam ou
trabalhavam na capital inglesa, os pilotos tinham convite permanente dos
correspondentes americanos do Savoy para lá beberem e comerem sempre que
estivessem de licença. Foram igualmente frequentes hóspedes no luxuoso
apartamento de Quentin Reynolds em Berkeley Square.
Diferentemente das hordas de americanos que invadiram a Inglaterra antes
do Dia-D, os primeiros voluntários dos EUA se transformaram em parte
integrante das forças armadas e da sociedade inglesa. Ainda não tinha sido
popularizada a expressão overpaid, oversexed, and over here [dinheiro demais,
sexo demais e estão aqui]. Os pilotos ingleses geralmente acolhiam os aviadores
americanos com entusiasmo, embora surgissem, de tempos em tempos, sadias
rivalidades anglo-americanas. Numa festinha particularmente memorável e
regada a champanhe, foi reencenada a derrota do general Cornwallis na Batalha
de Yorktown, em 1781, com um esquadrão americano “armado” com extintores
de incêndio contra uma unidade inglesa “equipada” com sifões de bar de ar
comprimido. Depois da “batalha,” um piloto inglês melancolicamente reclamou:
“Mais uma vez (...) os americanos levaram vantagem.”
O comportamento exuberante dos pilotos dos EUA, por vezes até brigão —
um “bando maluco de caubóis selvagens,” classi cou um inglês — foi recebido
com tolerância pelo povo, o qual, em sua maioria, jamais conhecera antes um
ianque. Sobre os integrantes de um dos esquadrões americanos, uma revista
inglesa escreveu: “Suas aventuras [147] (...) ainda são lembradas com espanto
pelos habitantes da cidade perto de sua base.” Quando um veterano americano
da Batalha da Inglaterra casou-se com uma jovem e rica herdeira inglesa, seus
companheiros do Esquadrão Águia zeram voos rasantes sobre o jardim onde
acontecia a recepção, assim como sobre Epping, uma cidade próxima.
Respondendo às queixas de alguns moradores da comunidade, o prefeito de
Epping declarou: “Olhem aqui, esses caras estão arriscando suas vidas por nós.
Se eles querem celebrar o casamento de um companheiro, é bom mesmo que o
façam.”
A admiração dos bretões por aqueles desinibidos pilotos era recíproca por
parte da maioria dos americanos. Mesmo aqueles que não tinham real interesse
em ajudar a causa inglesa quando se alistaram na RAF acabaram encantados
com a bravura e a determinação demonstradas pelo povo na resistência a Hitler.
“Ele foi, sem a menor sombra de dúvida, o povo mais corajoso que jamais vi,”
disse um americano. “Apesar de suas cidades estarem em frangalhos, nunca vi
um inglês perder a fé.” Outro piloto americano declarou: “Lutar lado a lado com
essa gente foi o maior dos privilégios.”
Depois da guerra, Bill Geiger, que estudara no Pasadena City College, da
Califórnia antes de ir para a Inglaterra, lembrou-se do exato momento em que
sentiu que a causa inglesa era sua também. Ao deixar a loja de um alfaiate em
Londres, após tirar as medidas para seu uniforme da RAF, ele notou um homem
trabalhando no fundo de um grande buraco na rua, cercado de barreiras. “O que
ele está fazendo?” perguntou Geiger a um policial. “Sir,” respondeu o bobby, “ele
está desativando uma bomba.” Todos os que estavam de pé por ali — o bobby, os
pedestres e o homem no buraco — estavam “muito calmos, frios e controlados,”
recordou-se Geiger. E acrescentou: “Acaba-se invadido por aquele tipo de
coragem e não tarda para que a gente se surpreenda dizendo: 'Agora quero ser
parte disso. Quero fazer parte desse povo. Quero fazer parte daquilo que vejo e
sinto aqui.'”
 
Como Winston Churchill esperava , o anúncio da criação do
Esquadrão Águia, em outubro de 1940, desencadeou um frenesi na mídia.
Jornalistas americanos e ingleses enxamearam a base do esquadrão em Kirton
Lindsey para saber mais sobre aqueles rapazes que haviam desa ado as leis de
seu país para lutar pela Inglaterra, e in amados artigos e programas de rádio logo
se espalharam. Os americanos foram inundados por visitantes o ciais, entre eles
Archibald Sinclair, o príncipe Bernhard da Holanda, o autor teatral Noël
Coward e o marechal do ar Sholto Douglas, do Comando de Caças da RAF.
Toda semana, a BBC transmitia um programa para os Estados Unidos tendo
como foco um ou mais dos integrantes do Esquadrão Águia, e Ed Murrow
entrevistou diversos deles para a CBS.
Embora o material da mídia fosse emocionante, toda aquela atenção era
perturbadora e desconcertante para uma unidade que não estava nem perto de
operacional. O esquadrão ainda não recebera seus Spit res, porém mesmo que os
tivesse, seus pilotos estavam longe de prontos para voá-los. Antes de se alistar na
RAF, a maioria dos americanos não passara por qualquer instrução militar, e
muito poucos toleravam os regulamentos da caserna. De fato, como lembrou um
dos líderes do Esquadrão Águia que tinha alguns deles sob sua responsabilidade:
“Eles foram sabotadores [148] da tradição militar.” Ao mesmo tempo,
acrescentou: “Nenhum deles carecia de bra moral para o cumprimento da
missão.”
Foram necessários mais de três meses para transformar aquela rapaziada
rebelde e individualista numa unidade coesa e bem instruída. Por m, em janeiro
de 1941, o 71º Esquadrão tornou-se operacional, logo seguido pelo 121º e o 133º
Esquadrões. Poucos meses depois, quando as três unidades aéreas americanas
começaram a demonstrar seu valor, Hollywood se apresentou.
O produtor Walter Wanger, que já zera os lmes Stagecoach (A última
diligência) e Foreign Correspondent (Correspondente de guerra), procurou Harry
Watt, diretor inglês de documentários, que já dirigira London Can Take It!, com
a ideia de produzirem um lme sobre o 71º Esquadrão usando como
protagonistas os próprios pilotos. O lme mais recente de Watt, Target for
Tonight (Alvo para hoje à noite), zera uma mesclagem inteligente de tomadas
reais com montagens dramatizadas para contar a história de uma tripulação
inglesa de bombardeiro numa missão contra a Alemanha. Target for Tonight foi
um sucesso de crítica e de público, e Wanger queria que Watt utilizasse a mesma
técnica em Eagle Squadron.
Embora nunca tivesse feito um longa-metragem, Watt cou seduzido pela
oferta de Wanger de cem dólares por semana — salário altíssimo para uma
Inglaterra atingida pelas restrições da guerra — bem como hospedagem e
alimentação gratuitas no Savoy. No entanto, a desilusão logo tomou conta de
Watt com a chegada de um produtor associado enviado por Wanger para
supervisionar a produção. Àquela altura, o 71º Esquadrão participava de
bombardeios de pequena altitude na França e nos Países Baixos, e as perdas eram
crescentes. Watt explicou ao homem de Hollywood que a alta taxa de perdas não
permitia o foco em pilotos individuais porque eles poderiam estar mortos ou
feridos antes que o lme casse pronto. Em consequência, o produtor solicitou ao
Ministério do Ar inglês que retirasse o esquadrão da ação enquanto o lme
estivesse sendo rodado. A resposta do ministério foi previsível: segundo Watt, ele
“polidamente mandou [149] o produtor para aquele lugar.”
Seguiram-se então “quatro semanas do mais puro caos com que jamais me
envolvi,” disse Watt, que gastava a maior parte de seu tempo discutindo com o
produtor sobre o roteiro e praticamente todos os outros aspectos da produção. O
con ito entre os dois foi resolvido pela tragédia. Em missão à França numa tarde
de domingo, o 71º Esquadrão foi seriamente atingido: três dos nove aviões que
decolaram de Kirton Lindsey foram abatidos. Um dos pilotos perdidos naquele
dia foi o divertido e muito querido Eugene “Red” Tobin, que combatera na
Batalha da Inglaterra e era bom amigo de Watt, de Quentin Reynolds e de
muitos outros americanos de Londres. Após a morte de Tobin, Watt abandonou a
produção de Eagle Squadron.
O lme foi nalmente concluído em Hollywood e distribuído para exibição
em julho de 1942. A crítica foi impiedosamente universal. “Longe de ser um
drama autêntico sobre os pilotos americanos da RAF, como deveria ser,” escreveu
Bosley Crowther, crítico cinematográ co do New York Times, “é, em vez disso,
um pretensioso lme de aventuras que trata de forma constrangedora e ridícula a
coragem inglesa e a irritação americana.” Estrelando um jovem Robert Stack, a
película focaliza um mal-humorado piloto americano na Inglaterra que, no nal,
demonstra coragem sequestrando um avião alemão novinho em folha e
completando sozinho uma missão de comandos que havia sido complicada pelos
ingleses. A melhor coisa do lme, de acordo com Crowther, foi sua introdução —
tomadas reais dos pilotos do Esquadrão Águia rodadas por Watt e narradas por
Quentin Reynolds.
Quando Eagle Squadron foi lançado em Londres, diversos membros da
unidade compareceram à exibição. Suas reações às ações heroicas
melodramáticas na tela foi um coro de amortecidos resmungos e apupos. “Sabe
você, eles vão continuar arremessando essa porcaria sobre nós até que parte dela
cole,” disse um dos pilotos a um amigo. “Vão persistir repetindo essa besteira de
heróis até que acreditemos nisso.” A maioria dos pilotos americanos saiu do
cinema antes do m do lme.
Na ocasião da estreia do lme, os Estados Unidos já estavam em guerra e,
poucos meses mais tarde, praticamente todos os americanos que serviam na RAF
foram transferidos para a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos). Apenas
quatro dos 34 membros originais do Esquadrão Águia ainda estavam na ativa: a
maioria morrera ou era prisioneira. Dos 244 americanos que voaram com os
Águias, mais de 40 por cento não sobreviveram ao con ito. Ao longo dos seus
dezenove meses de serviço, os três Esquadrões Águia receberam crédito pela
derrubada de mais de setenta aviões germânicos. Dois americanos foram
condecorados com a Distinguished Flying Cross a maior honraria da RAF por
feitos e valor, e um, Newton Anderson, de Nova Orleans, recebeu glória ainda
mais cobiçada. Foi nomeado para comandar o 222º Esquadrão, uma unidade
inteiramente britânica — o primeiro americano indicado para tal deferência.
 
Pouco antes de Gil Winant chegar à Inglaterra , o governo dos
Estados Unidos anunciara que não processaria os americanos que se alistaram
nas forças armadas inglesas ou canadenses, ainda que isso permanecesse sendo
uma ação ilegal. Mas o embaixador estava determinado a fazer mais do que ngir
que não via. Desde seus primeiros dias em Londres, deu ativo suporte aos
voluntários: passou em revista a unidade de americanos do Exército Territorial;
visitou bases dos Esquadrões Águia; foi convidado de honra num jantar de Ação
de Graças organizado por unidades americanas; e compareceu formalmente ao
serviço religioso em memória de Billy Fiske. Num dos almoços do Esquadrão
Águia, Sholto Douglas relembrou como, durante a Grande Guerra, “um o cial
com uniforme [150] algo desmazelado aparecera no seu aeródromo e pedira-lhe
emprestado um avião de caça. Eu lhe disse: 'Você pode pegá-lo, mas não o
quebre.' Ele voou e depois aterrissou direitinho.” Voltando-se para Winant, o
comandante dos caças da RAF inglesa acrescentou com um sorriso. “Aquela foi a
última vez que vi o embaixador americano antes de reencontrá-lo há cerca de seis
meses.”
Mesmo que o passado de Winant como piloto de combate o levasse a ter
entusiasmado interesse pelos pilotos dos EUA, ele também dispensou
considerável atenção aos rapazes ianques que se alistaram em forças singulares
menos glamorosas — os exércitos da Inglaterra e do Canadá. Esses expatriados
não jantavam ou saboreavam vinhos com membros da sociedade inglesa nem
com correspondentes americanos em Londres, tampouco eram produzidos lmes
sobre eles. Ocasionalmente, um jornalista escrevia um artigo a respeito deles,
antes que mergulhassem em sua nova, dura e exigente vida, como fez o
correspondente do jornal esquerdista PM (Picture Magazine) de Nova York, Ben
Robertson, com 150 americanos que tinham acabado de chegar à Inglaterra como
integrantes de um regimento canadense. Entre eles, escreveu Robertson, havia
“motoristas de caminhões [151], mineiros de carvão, um ex-membro da Brigada
Lincoln da Espanha, um membro do Legislativo de Michigan, açougueiros de
supermercados e empregados que serviam milk-shakes.” Trazendo bastões de
beisebol e banjos entre seus pertences, era “gente correta, jovial, animada, rica
em variedades e em personalidade.” Quando Robertson perguntou-lhes por que
tinham vindo para a Inglaterra, eles “sorriram e pilheriaram sobre seus motivos,
mas caram sérios quando Francis Myers, um texano, disse para mim: 'Também
tivemos um sorrateiro sentimento de que deveríamos ajudar.'”
Nos cinco anos passados em Londres, Winant fez amizade com centenas de
militares americanos, mas se sentiu particularmente ligado a cinco rapazes que se
alistaram no Exército Britânico em julho de 1941. Formados por Dartmouth e
Harvard, incorporaram-se ao 60º Regimento do Corpo de Fuzileiros do Rei, uma
unidade inglesa organizada na América colonial durante as com os franceses e
com os índios, originalmente denominada 62º Regimento de Americanos Reais.
Winant conhecera os cinco em Londres durante a primeira folga que tiveram na
instrução para o ciais. Quando o dinheiro dos jovens escasseou, o embaixador os
convidou para acantonarem em seu apartamento. Ele mais tarde compareceu à
cerimônia de formatura da turma dos cinco, como também compareceu Anthony
Eden, que servira no 60º Regimento durante a Grande Guerra. Pouco antes de a
cerimônia começar, os americanos souberam que, para se tornarem o ciais do
Exército Britânico, teriam que jurar delidade ao Rei, o que signi caria
automática renúncia à cidadania dos Estados Unidos. Na nervosa discussão que
se seguiu, Winant saiu-se com a solução, como o iria fazer depois em bom
número de crises anglo-americanas. Sabedor de que o Rei era também coronel
honorário do regimento, sugeriu que os cinco rapazes prestassem juramento ao
coronel regimental, e não ao Rei. As autoridades inglesas e americanas
concordaram com a ideia, e um incidente internacional menor foi evitado.
Nos meses subsequentes, Winant se transformou numa espécie de pai
substituto dos cinco universitários da Ivy League, que escreviam regularmente ao
embaixador e cavam em seu apartamento quando iam de licença a Londres. No
outono de 1942, todos os cinco americanos participaram da Batalha de El
Alamein, no norte do Egito. Três deles foram seriamente feridos e um morreu.
Na ocasião em que Winant foi informado da morte do jovem tenente, escreveu
ao pai dizendo que seu lho e os outros tinham sido “meu contato com a vida
[152]. (...) Conhecê-los ajudou a reforçar minha fé na América — e a fé no
de nitivo desejo de meu país de se sacri car e lutar.” Eles foram, o embaixador
disse mais tarde, “o grupo mais nobre que jamais conheci. Fizeram a gente sentir-
se muito orgulhoso de ser americano.”
8

“Pearl Harbor Atacada?”


 
No início de novembro de 1941, Ed Murrow mandou um rápido
bilhete a Gil Winant de um quarto de hotel em Bristol, pouco antes de embarcar
num avião para a América. “Deixar este país [153] exatamente agora não é fácil,”
escreveu o correspondente. “Na verdade, é mais difícil do que eu imaginava.” Por
ter de fazer um giro, que duraria três meses, pronunciando palestras pelos
Estados Unidos, ele julgava abandonar a Inglaterra numa ocasião especialmente
crucial. “Estou convencido de que a hora já passou há muito mais tempo,” disse a
outro amigo, “do que a maioria do nosso povo acredita.”
Os alemães haviam avançado até os arrabaldes de Moscou e pareciam
prontos para esmagar os soviéticos em questão de semanas, quem sabe de dias.
Os ingleses, urgentemente necessitados da própria ajuda militar que
proporcionavam ao Exército Vermelho, estavam empacados no Oriente Médio. E
agora os japoneses pareciam a ponto de fazer o seu lance. Três meses antes, o
Japão dominara toda a Indochina e exigira bases do exército na Tailândia. Não
havia dúvida na cabeça de ninguém que as possessões inglesas e holandesas no
Extremo Oriente — Malásia, Birmânia, Cingapura, Hong Kong e Índias
Orientais Holandesas — estavam todas diretamente ameaçadas.
Em Washington, o Presidente, que tinha a atenção voltada para a Batalha no
Atlântico e a guerra na Rússia, vinha fazendo o máximo, havia mais de um ano,
para esquivar-se de um confronto com o Japão. Seu plano era “mimar os
nipônicos por algum tempo,” disse ele aos seus assessores. Na sua avaliação, uma
luta contra o Japão seria “a guerra errada, no oceano errado e na hora errada.” Tal
opinião era partilhada pelo general George Marshall e pelo almirante Harold
Stark, os quais alertaram o Presidente, repetidas vezes, que os EUA não estavam
preparados para combater, e que uma guerra em duas frentes seria desastrosa.
Quando os japoneses ocuparam a Indochina, o Presidente respondeu com
restrições econômicas, esperando que as medidas impostas pelos Estados Unidos
contivessem os nipônicos sem forçá-los a entrar em guerra. Mas as ações
americanas — congelamento dos ativos japoneses nos Estados Unidos e embargo
no envio de petróleo, bem como de produtos com base no ferro e no aço — só
serviram para enfurecer os japoneses. A crise continuava em escalada.
No encontro que tiveram na Terra Nova, Churchill, por sugestão de Winant,
apelara a Roosevelt para juntar-se a ele no alerta aos japoneses de que quaisquer
incursões futuras na Ásia teriam a oposição das forças dos ingleses e dos
americanos. Era impossível para a Inglaterra reagir por si própria: suas prateleiras
de recursos militares estavam praticamente vazias, sem tropas para envio à
Malásia ou a Cingapura, sem navios de sobra para patrulhar as águas daquelas
colônias. O marechal Sir John Dill, antecessor de Alan Brooke como chefe do
Estado-Maior Geral Imperial (CIGS), dissera a Brooke que o país “não zera
praticamente [154] coisa alguma frente à ameaça (...) que estávamos tão fracos em
todas as frentes que era impossível desfalcá-las ainda mais.” Mas Roosevelt
negou-se a participar de um duro ultimato. À medida que a situação no Extremo
Oriente se agravava, Churchill temia que a Inglaterra logo tivesse que enfrentar
uma guerra com a Alemanha e o Japão — e sem ajuda americana.
O que seria necessário, ponderava o primeiro-ministro, para empurrar
Roosevelt e seu país para aquela guerra? Vezes sem conta, o Presidente havia
caminhado na ponta dos pés para a beira da confrontação, mas recuara na última
hora. Em setembro, ele pareceu prestes a entrar na luta da Batalha do Atlântico.
Depois que o destróier americano Greer trocou torpedos com um submarino
alemão no meio do oceano (sem resultar em danos ou baixas), Roosevelt
anunciou que, dali por diante, os navios de guerra americanos “atirariam à
simples vista” de qualquer submarino ou navio de guerra germânicos que
encontrassem. Ao mesmo tempo, ordenou escolta naval para todos os navios
mercantes — não apenas americanos — até a Islândia. Na realidade, ele
embarcou numa guerra naval contra a Alemanha.
Sua decisão angariou apoio generalizado do povo americano. Contudo, não
havia ainda um sentimento popular para que fosse dado o passo nal e
irreversível de uma declaração o cial de guerra, nem mesmo quando dois outros
navios americanos foram alvos de disparos partidos de submarinos alemães. Em
16 de outubro, o contratorpedeiro Kearny foi bastante avariado por torpedos
alemães quando acorreu para socorrer um comboio sob ataque. Duas semanas
depois, outro contratorpedeiro, o Reuben James, foi a pique próximo à Islândia,
matando 115 membros de sua tripulação. Porém, em vez de um clamor popular
nos Estados Unidos, demandando que Roosevelt vingasse “nossos rapazes,” a
reação predominante pareceu ser de apatia.
“Naquela crise pendente [155], os Estados Unidos pareciam estaqueados —
seu presidente, algemado, seu congresso, vacilante, e seu povo, dividido e
confuso,” escreveu James MacGregor Burns, biógrafo de Roosevelt. “Naquela
época — pelo início de novembro de 1941 — a impressão era de que [FDR] nada
mais tinha que pudesse dizer. E pouco mais que pudesse fazer. Convocara seu
povo a assumir posições de combate — mas não havia combate.”
Com seu limite emocional esgarçado, Churchill soltou o verbo para seus
subordinados acerca da paralisia americana e da relutância de Roosevelt em fazer
alguma coisa. Num discurso na Câmara dos Comuns, declarou: “Nada é mais
perigoso em tempo de guerra do que viver numa atmosfera temperamental de
pesquisas Gallup, ou medindo temperatura e pulso das pessoas. (...) Só existe uma
obrigação, um só rumo seguro, que é agir com correção e não temer fazer ou dizer
aquilo que se acredita que é o certo.”
Ed Murrow concordava. A persistente relutância dos Estados Unidos a
entrar na guerra tinha enfurecido tanto o correspondente que ele, por breve
momento, considerou sair da CBS para se tornar militante em tempo integral da
intervenção americana. Também ertou com a ideia de trabalhar pela
candidatura de Winant a presidente na eleição seguinte. “Se em algum tempo do
futuro imprevisível você se decidir a ir aos Estados Unidos em busca de poder
político,” a rmou ao embaixador em sua carta, “talvez eu possa ser 'bom
companheiro de viagem' para você.”
 
Murrow não voltara aos Estados Unidos desde 1938 — tempos
que pareciam quase inimagináveis agora, com o mundo con agrado. Por diversas
vezes tinham-lhe dito que ele se tornara uma celebridade em seu país, que todos
ouviam suas transmissões e que havia in uenciado muito a opinião pública. De
Nova York, Bill Shirer escrevera a Murrow: “Por onde ando, velhas matronas e
moças lindas perguntam se eu o conheço, se você é realmente bonito como
sugerem as fotogra as, o que você come no café da manhã e quando voltará para
casa.”
Porém quando ele se sentava todas as noites no entulhado e acanhado
estúdio da CBS, respirando o odor de repolho, era difícil imaginar que milhões
de pessoas a milhares de quilômetros haviam ligado o rádio apenas para escutá-
lo. Existia um senso de distância no processo de radiodifusão que o fazia pensar
que suas palavras eram absorvidas pelo éter como barquinhos de papel engolidos
pelo oceano.
Só quando o locutor de trinta e três anos desembarcou do Clipper da Pan
Am em Nova York é que percebeu a realidade de sua fama. Como Bill Paley
observou, “Edward R. Murrow [156] se transformara num herói nacional.”
Esperava por ele uma multidão de repórteres da imprensa escrita e jornalistas de
documentários noticiosos, todos agindo como se ele fosse Greta Garbo ou Clark
Gable. Onde quer que fosse nas poucas semanas seguintes, era seguido por
caçadores de autógrafos, fotógrafos e repórteres de jornais e magazines
implorando entrevistas. Tão estranha quanto a celebridade, ainda maior, era a
di culdade de Murrow para entender a continuada recusa da América em se
comprometer com a guerra.
Quando chegou aos Estados Unidos, o correspondente da CBS encontrou os
isolacionistas a pleno vapor — uma manifestação da “Primeiro a América” no
Madison Square Garden, o senador Burton Wheeler e Charles Lindbergh
aumentando sua exigência de que Roosevelt mantivesse o país na paz. Embora os
isolacionistas estivessem gradualmente perdendo terreno, tinham se tornado
mais agressivos e estridentes nos ataques contra o Presidente e o governo. O
movimento intervencionista igualmente respondia ao fogo em tom elevado. Foi,
disse um historiador, “um período de grande barulheira no país.”
A exemplo de seus colegas correspondentes sediados em Londres que
haviam retornado para casa, Murrow não conseguia se adaptar à normalidade
imperante, à aparente ausência de preocupação a respeito da luta e das mortes no
outro lado do oceano, à percebida negativa em se conscientizar de que os
americanos tinham alguma coisa em jogo no resultado daquela calamidade. “Ele
caminhava pela Quinta Avenida e pela Madison, via as lojas abarrotadas de belos
artigos, e cava decididamente furioso,” disse um amigo. “Observava toda aquela
fartura nos restaurantes e pensava: 'Acho que não posso comer, quando penso no
que se passa por lá.'” Numa carta ao amigo Harold Laski, socialista inglês,
Murrow disse que “empregava grande parte de seu tempo controlando a raiva,”
ao ver “tanta gente muito bem-vestida, bem alimentada e de sionomia tão
tranquila,” e ao ouvir “amigos ricos a se queixarem dos impostos escorchantes.”
Acrescentou: “As palavras têm signi cado completamente diferente por aqui. (...)
Talvez minha vinda tenha sido um erro.”
Teriam dado em nada suas transmissões sobre os horrores e heroísmos da
Blitz? Teria ele fracassado no esforço para pôr o chapéu dos atingidos pela guerra
nos americanos? Anos mais tarde, ele observaria durante programa de rádio da
BBC: “É difícil explicar [157] o signi cado do frio para pessoas agasalhadas, o
signi cado da escassez a quem só pensa em luxos. (...) É quase impossível
substituir a experiência pela informação.” Talvez. Mas como os diversos oradores
de um banquete de gala em homenagem a Murrow no Waldorf-Astoria zeram
questão de frisar, ele construíra mais pontes sobre o fosso do entendimento do
que qualquer um julgara anteriormente possível.
O banquete de 2 de dezembro foi ideia de Bill Paley. “Quase todos os
americanos de expressão,” disse ele, “nos pressionaram por convites,” e mais de
mil dignitários compareceram. Na ocasião em que Murrow foi apresentado, a
audiência, de pé e de black-tie, irrompeu numa torrente crescente de vivas e
aplausos. Para Janet Murrow, sentada bem à frente na mesa principal, seu
marido passou a impressão de “estupefato com tudo aquilo — era muito diferente
da experiência que vivíamos.” Murrow não demonstrou nenhuma hesitação em
suas palavras daquela noite: se a Inglaterra tiver de sobreviver e Hitler tiver de
ser barrado, a América tem de entrar na guerra. O con ito, disse ele, seria
decidido “ao longo das margens do Potomac. O quartel-general das forças da
decência está agora na Pennsylvania Avenue.”
No entanto, os que se pronunciaram em sua homenagem naquela noite
asseveraram que, a despeito das dúvidas manifestadas por Murrow sobre a
determinação da América, o país se encontrava mais perto da guerra, ainda que
não estivesse totalmente comprometido. E uma das razões para tal mudança de
atitude, disseram eles, foram suas transmissões de Londres: “Você incendiou a
cidade de Londres perto de nossas casas e pudemos sentir as chamas que a
consumiam,” observou o poeta Archibald MacLeish. “Você depositou os mortos
de Londres na soleira de nossas portas e percebemos que aqueles corpos eram os
nossos (...) eram os mortos da humanidade.” Num telegrama lido para os
convidados, o presidente Roosevelt declarou: “Os senhores (...) que hoje se
reúnem para homenagear Ed Murrow estão indenizando apenas minúscula
parcela do débito a ele devido por milhões de americanos.” Para sublinhar o
apreço pelo que o radialista havia feito, Roosevelt e sua esposa convidaram os
Murrows para jantar na Casa Branca. A data marcada foi domingo, 7 de
dezembro.
 
Na Inglaterra, Gil Winant e Averell Harriman tinham sido
também convidados para passarem o 7 de dezembro com os Churchills em
Chequers. Enquanto dirigia para a casa de campo do primeiro-ministro, Winant
bem sabia que o dia não seria fácil nem repousante. Os japoneses estavam se
movimentando, e ataques eram esperados a qualquer momento. No dia anterior,
Roosevelt recebera cópia de uma mensagem beligerante do governo japonês para
sua embaixada em Washington. Depois de ler o despacho, que fora decifrado
pelos decodi cadores do Exército, o Presidente declarou: “Isto signi ca guerra
[158].” Duas grandes esquadras de navios de guerra nipônicos tinham sido
detectadas navegando para o sul, mas ninguém sabia o destino nal. Todos os
dados colhidos pelas informações, contudo, apontavam para a Malásia,
Cingapura ou Índias Orientais Holandesas.
No momento em que Winant chegou a Chequers, no começo da tarde, viu
que Churchill o esperava do lado de fora. Nem bem o embaixador saiu do
automóvel, o primeiro-ministro exclamou: “Você acha que haverá guerra com o
Japão?” Quando Winant disse “Sim,” o líder inglês a rmou: “Se eles declararem
guerra a vocês, declararei guerra de imediato a eles.”
“Entendo muito bem, senhor primeiro-ministro,” disse Winant. “O senhor já
asseverou isso publicamente.”
“Se eles declararem guerra a nós, vocês declararão contra eles?”
“Não sei a resposta. O senhor bem sabe que só o Congresso tem o direito de
declarar guerra segundo a Constituição dos Estados Unidos.”
Churchill cou calado por um instante, e Winant sabia em que ele pensava:
um ataque japonês a território inglês na Ásia forçaria o país a uma guerra em
duas frentes, e sem a ajuda americana. Então se recompôs e, voltando-se para
Winant, disse “com toda aquela maneira charmosa que vi tantas vezes em
momentos difíceis”: “Quer saber, estamos atrasados. Dê uma passada no
lavatório porque almoçaremos logo em seguida.”
Um bom número de amigos, inclusive Kathleen Harriman e Pamela
Churchill, se reunira em Chequers para o m de semana. Mas o tempo estava
nublado e frio, e Churchill — cansado, aborrecido e obviamente deprimido — de
forma atípica não conversava com ninguém. A maioria dos convidados já tinha
ido embora no domingo quando o jantar foi servido pouco antes das nove da
noite. Exausta com os problemas familiares e da guerra, Clementine Churchill
permanecera em seu quarto. À mesa naquela noite estavam os Harrimans,
Pamela, Winant, dois ou três assistentes do primeiro-ministro e o próprio, que
passara grande parte do jantar com a cabeça entre as mãos, absorvido com seus
pensamentos. Churchill tinha o hábito de ouvir o noticiário das nove horas da
BBC e, saindo do estado de melancolia, solicitou a Sawyers, seu mordomo, que
trouxesse o rádio portátil, presente de Harry Hopkins poucos meses antes.
De início, as notícias transmitidas pareceram rotineiras: comunicados de
guerra seguidos de algumas pílulas sobre o noticiário doméstico. Então, no nal, o
locutor pronunciou, sem a menor emoção, uma curta frase: “Notícia recém-
chegada de que aviões japoneses zeram um raid contra Pearl Harbor, a base
naval americana no Havaí.” O silêncio se instalou em toda a mesa até que
Churchill, empertigando-se, gritou, “Que foi que ele disse? Pearl Harbor
atacada?” Perplexo, Harriman repetiu: “Os japoneses zeram [159] um raid
contra Pearl Harbor.” O comandante C.R. Thompson, ajudante de ordens naval
do primeiro-ministro, interrompeu o americano: “Não, não, ele disse Pearl
River.” Enquanto Harriman e Thompson discutiam, Sawyers entrou na sala de
jantar. “É verdade,” disse a Churchill. “Nós ouvimos lá fora. Os japoneses
atacaram os americanos.”
De um salto, Churchill pôs-se de pé e dirigiu-se para a porta, exclamando:
“Vamos declarar guerra ao Japão!” Jogando o guardanapo sobre a mesa, Winant
levantou-se e correu atrás do primeiro-ministro. “Bom Deus,” disse, “o senhor não
pode declarar guerra com base numa notícia de rádio!” Churchill parou e,
olhando para o embaixador com sionomia interrogativa, perguntou: “O que
devo fazer?” Quando Winant disse que telefonaria imediatamente para
Roosevelt, o primeiro-ministro emendou: “E eu também vou falar com ele.”
Alguns minutos mais tarde, FDR estava na linha. “Senhor Presidente, que
notícia é essa sobre o Japão?” — perguntou Churchill. Roosevelt replicou: “Eles
nos atacaram em Pearl Harbor. Agora estamos todos no mesmo barco.” O
primeiro-ministro cou eufórico, como também seus dois hóspedes americanos.
Numa minuta anterior de suas memórias, Churchill lembrou que Winant e
Harriman receberam as notícias sobre Pearl Harbor com “exaltação — de fato,
quase dançaram de alegria.” (Na verdade, segundo John Colville, Winant e
Churchill “chegaram a ensaiar um passos de dança em torno da sala” naquela
noite.) Na minuta nal das memórias, Churchill substituiu a descrição do júbilo
irrestrito por uma versão mais moderada: “Eles não se lamuriaram ou lastimaram
o fato de seu país estar em guerra. (...) Na realidade, podia quase parecer que
acabavam de se livrar de uma longa dor.” Churchill tomou parte na exuberante
sensação de alívio. Naquela noite, escreveu: “Dormi o sono dos justos e dos
gratos,” convicto de que agora “tínhamos vencido a guerra. A Inglaterra
sobreviveria.”
 
O dia 7 de dezembro amanheceu atipicamente quente em
Washington. Tirando proveito do tempo agradável, Ed Murrow jogava golfe no
campo Burning Tree, próximo a Bethesda, quando ouviu a notícia de Pearl
Harbor. Voltando para a cidade, passou de carro em frente à embaixada do Japão,
onde diplomatas e funcionários, sobraçando montes de papéis, corriam indo e
vindo entre o prédio e uma fogueira no jardim. Do hotel, Janet telefonou para
Eleanor Roosevelt, esperando ouvir que o convite para o jantar tinha sido
cancelado. De jeito algum, retorquiu Mrs Roosevelt. “Ainda temos [160] de
comer. Queremos que vocês venham.”
Naquela noite, os Murrows abriram caminho através de aglomerados de
gente em frente à Casa Branca feericamente iluminada, algumas no Lafayette
Park, do outro lado da rua, outras com a cabeça contra as grades de ferro da
frente. Dentro da residência presidencial imperava um ambiente de caos
controlado a custo, telefones tocando e funcionários correndo de um escritório
para outro. Após cumprimentar Murrow e a esposa, Eleanor Roosevelt explicou
que o marido estava muito ocupado para jantar com eles; participava de reuniões
desde o início da tarde.
Os que viram o Presidente naquele dia contam de sua extrema di culdade
para entender a magnitude do ataque. Quando membros do ministério entraram
em sua sala para uma reunião, ele não levantou os olhos. Na realidade, agiu como
se eles não estivessem na sala. “Ele estava noutro mundo,” observou Frances
Perkins. “Nem notava o que acontecia na frente de sua escrivaninha. (...) Seu
rosto e seus lábios estavam desabados, e ele bastante pálido. (...) Ficou óbvio para
mim que Roosevelt passava por um momento terrível, tendo de aceitar que a
Marinha fora surpreendida de calças na mão.”
Depois que Mrs Roosevelt e seus convivas terminaram uma sopa leve de ovos
mexidos com pudim de sobremesa, a esposa do Presidente disse a Murrow que
FDR desejava vê-lo. Poderia ele car mais um pouco? Janet voltou para o hotel
enquanto o radiorrepórter cou esperando sentado no lado de fora da sala do
Presidente, fumando um cigarro atrás do outro, enquanto observava a apressada
movimentação de entrada e saída de ministros, congressistas e chefes militares. A
tensão no ar era palpável: caminhando com passos largos pelo corredor, um
senador virou-se para o almirante ao seu lado e bradou: “Vocês não são capazes
de comandar nem um barco a remo!” Ao notarem a presença de Murrow,
diversos funcionários, inclusive Hopkins, Knox, Cordell Hull e Henry Stimson,
pararam para trocar comentários sombrios sobre aquilo que tomava a forma do
mais devastador desastre militar da história americana.
Por m, quase meia-noite, FDR solicitou que Murrow entrasse em seu
gabinete. Ali estavam eles, possivelmente os dois melhores comunicadores do
país, por certo as duas vozes mais conhecidas na rádio americana. Mas não havia
tempo para re exões nesse sentido ou mesmo para a troca de amabilidades. O
presidente fez perguntas ao radialista sobre o moral do povo inglês e então,
enquanto comiam rapidamente sanduíches com cerveja, relatou-lhe as
assustadoras perdas ocorridas em Pearl Harbor — os oito encouraçados
afundados ou seriamente dani cados, as centenas de aviões destruídos, os
milhares de homens mortos, feridos ou desaparecidos. Roosevelt manteve sua
irritação sob controle até que começou a falar sobre os aviões. “Destruídos no solo
[161], valha-me Deus!” — exclamou, batendo com o punho na mesa. “No solo!”
Como Murrow lembrou mais tarde, “a ideia parecia feri-lo.”
Quando, nalmente, deixou a Casa Branca, com o dia já amanhecendo,
Murrow juntou-se a Eric Sevareid no prédio da CBS em Washington, distante
uns poucos quarteirões. “O que você pensou quando viu toda aquela gente na
noite passada olhando através das grades da Casa Branca?” — perguntou
Murrow. Sevareid replicou: “Lembrei-me das multidões em torno do Quai
d'Orsay uns poucos anos atrás.” Concordando com a cabeça, Murrow arrematou.
“Foi exatamente nisso que pensei. O mesmo olhar que tinham em Downing
Street.”
Uma expressão que ambos conheciam muito bem — a sionomia de um povo
a se endurecer para a guerra.
9

Criando a Aliança
 
Na manhã seguinte ao ataque de Pearl Harbor, Churchill
despertou de um sono profundo e anunciou que planejava partir de imediato
para Washington. Anthony Eden, hesitante, disse-lhe que os americanos talvez
não quisessem vê-lo tão de imediato. E estava certo. Quando Roosevelt foi
informado sobre a planejada viagem do primeiro-ministro, aconselhou Lord
Halifax, então embaixador inglês em Washington, que seria melhor esperar um
pouco. Mas Churchill não estava disposto a aceitar retardo nehum. “Parecia uma
criança [162] na sua impaciência para se encontrar com o Presidente,” lembrou
Lord Moran. “Falava sobre a importância de cada minuto.” Quatro dias após os
Estados Unidos entrarem na guerra, o primeiro-ministro e seus assessores
militares estavam a caminho da capital americana para criar a aliança que ele
perseguira por tanto tempo.
A bordo do encouraçado Duke of York, o líder inglês deu ao seu médico a
impressão de ter rejuvenescido décadas em relação a poucos dias antes. “O
Winston com quem eu convivia em Londres me assustava,” registrou Moran em
seu diário. “E agora, parece que só no decorrer de uma noite — um homem mais
moço ocupou seu lugar. (...) O cansaço e o torpor desapareceram de sua
sionomia. Está alegre e falador, por vezes até travesso.”
Após aportarem em Hampton Road, na Virgínia, em 22 de dezembro,
Churchill e seus auxiliares voaram para Washington. Os Estados Unidos
estavam em guerra havia duas semanas. O Congresso, por solicitação de
Roosevelt, declarara guerra ao Japão em 8 de dezembro; três dias mais tarde,
Alemanha e Estados Unidos declaram guerra um ao outro. Porém, se as luzes
amejantes da capital fossem indício de alguma coisa naquela noite, o con ito
estava claramente muito remoto para a maioria dos americanos, tanto psicológica
quanto geogra camente. Pressionando como crianças o rosto contra as janelas do
avião, os membros da comitiva de Churchill, acostumados à escuridão sombria
das noites londrinas de tempo de guerra, maravilhavam-se com o esplendor
abaixo deles. Para John Martin, chefe dos secretários particulares do primeiro-
ministro, foi “uma das mais belas vistas [163] que jamais presenciei.” Para outro
dos auxiliares de Churchill, Washington, “com sua miríade de anúncios
luminosos dançantes parecia uma cidade de conto de fadas.”
A mesma cordialidade, a mesma centelha estavam presentes nas boas-vindas
proporcionadas a Churchill por Roosevelt, o qual, vencido pelo senso de
urgência do primeiro-ministro, fora recebê-lo no National Airport. O presidente
levou-o de carro para a Casa Branca e o alojou no primeiro piso da residência, no
m do corredor do próprio quarto de FDR. “Aqui estamos como uma grande
família, na maior intimidade e informalidade,” escreveu Churchill, radiante, para
Clement Attlee, seu vice-primeiro-ministro.
A Casa Branca de Roosevelt era caracterizada pelo que Churchill chamou
de “calma majestosa,” mas como residência temporária do primeiro-ministro
pareceu mergulhada num redemoinho. A exemplo do que acontecia em
Chequers e Ditchley, secretárias se agitavam por todos os lados, e mensageiros,
portando caixas vermelhas de despachos, passavam pelos diversos cômodos.
Churchill e Roosevelt entravam e saíam à vontade dos quartos de um e do outro,
e estudavam mapas da situação que o primeiro-ministro mandara prender com
tachas no Monroe Room. Churchill passou o Natal com os Roosevelts,
participou dos coquetéis que antecederam as refeições, partilhou-as em sua
maioria com o Presidente e, para grande desgosto de Eleanor Roosevelt, manteve
quase todas as noites seu marido acordado até altas horas, bebericando brandy,
fumando charutos e conversando sem parar sobre tudo que lhes vinha à cabeça.
Contudo, pelo menos em um aspecto, o líder inglês não exercitava sua rotina
de sempre: não dominava as conversas nem fazia uma corte com os comensais
durante as refeições, como era seu hábito em casa. Em algumas das reuniões
futuras, as duas fortes personalidades iriam parecer “um par de mestres de
cerimônias dispostos a não deixar que a cena de um fosse roubada pelo outro,”
observou Mike Reilly, agente do serviço secreto. “Estar com eles era como sentar
entre dois leões que rugiam ao mesmo tempo,” lembrou Mary Churchill Soames.
Ainda assim, como no decorrer da reunião de Placentia Bay, o primeiro-ministro
adulou Roosevelt. Churchill “se mostrou sempre pleno de histórias,” como
observou uma amiga de Mrs Roosevelt, “porém, às refeições, independentemente
de quão distante ele estivesse sentado do Presidente, tentava conversar só com
FDR. Todo o uxo da conversa do primeiro-ministro era dirigido a Roosevelt.”
Lord Moran anotou em seu diário: “Pode-se quase sentir [164] a importância que
ele confere à possibilidade de aproximar-se do Presidente, e, como advogado
daquela boa causa, ele se tornou exemplo de comedimento e autodisciplina.” À
noite, “julgando-se um Sir Walter Raleigh, que esticou sua capa diante dos pés
da rainha Elizabeth,” Churchill insistia em empurrar a cadeira de rodas de FDR
da sala de estar até o elevador, como “sinal de respeito.”
Em suas conversas, para alívio do primeiro-ministro, ele não notou indício
algum da cautela e indecisão do Roosevelt pré-Pearl Harbor. A rmeza e o ânimo
de FDR em travar a luta “com tudo que tivermos” re etia os do povo americano,
o qual, nas palavras de Robert Sherwood, “jogou fora, pronta, rápida e até
agradecidamente, o isolacionismo — se bem que, talvez, não de maneira
de nitiva.” Ainda mais importante aos olhos do primeiro-ministro, o Presidente
declarou que a derrota da Alemanha deveria ser o objetivo principal dos aliados.
Os dois líderes concordaram que um destacamento avançado de forças
americanas deveria ser imediatamente despachado para a Inglaterra — duas
unidades do Exército para defender a Irlanda do Norte, e diversos esquadrões de
bombardeiros para começar ataques à Alemanha a partir de bases inglesas.
Roosevelt e Churchill também tomaram uma decisão sem precedentes: pôr
suas forças sob um comando uni cado. Em cada teatro de operações, um único
comandante exerceria autoridade sobre todos os soldados, marinheiros e
aviadores ingleses e americanos, enquanto um Comitê Combinado de Chefes de
Estado-Maior caria sediado em Washington para coordenar a estratégia anglo-
americana. Além disso, agências conjuntas dos dois países seriam criadas para
controlar material bélico, transporte marítimo, matérias-primas, alimentos e
produção. Foi, declararia George Marshall mais tarde, “a mais completa
uni cação de esforço militar jamais alcançada por duas nações aliadas.”
Sem dúvida, verdade. Mas conseguir essa “completa uni cação do esforço
militar” foi uma luta gigantesca, eivada de fricções, que iria persistir até o m da
guerra. Em sua história relativamente curta, os Estados Unidos, a rigor, jamais
tinham sido autênticos aliados de qualquer outra nação. Durante a Primeira
Guerra Mundial, o presidente Wilson quali cara seu país como “Potência
Associada” e não como “Aliada”; em campanha, o general John Pershing,
comandante da Força Expedicionária Americana, mantivera sua tropa como
entidade separada e sob seu comando. Os ingleses, por outro lado, já haviam
experimentado uma série de alianças com outras nações ao longo dos séculos,
muitas, se não a maioria, conduzidas com frustrações e antipatias recíprocas.
Para alguns americanos, parecia que os ingleses, com seus ares superiores,
ainda os viam como colonos malcomportados, e não como povo independente e
igual. Era muito desagradável serem tratados como adolescentes ignorantes, que
precisariam ser rebocados por mentores inteligentes e conhecedores de tudo, a
m de que aprendessem as verdades do mundo. Sir Ronald Lindsay, embaixador
inglês nos Estados Unidos em meados dos anos 1930, demonstrara essa
condescendência quando escreveu ao Foreign O ce em 1937: “Os Estados
Unidos [165] permanecem extraordinariamente jovens e sensíveis. Fazem
lembrar uma senhora recém-ingressada na sociedade, muito suscetível à menor
deferência de um homem mais velho” — querendo, evidentemente, se referir à
Inglaterra. Churchill costumava usar analogias semelhantes, com frequência
comparando os Estados Unidos a uma moça volúvel que poderia ser manejada à
vontade para a maneira correta de pensar através da cortesia e da sedução As
divisões entre os dois países vieram quase imediatamente à tona durante

os encontros das equipes militares em Washington. O primeiro-ministro inglês


pode ter aquiescido à proposta para um comando uni cado e para um comitê
sediado em Washington para planejar a estratégia, mas os o ciais britânicos de
altas patentes caram espantados com ambas as ideias. Que sabiam os
americanos, despreparados como eram, sobre o comando de forças aliadas? De
resto, que sabiam eles de guerra?
“Nunca vi tantos automóveis, mas não vi uma viatura militar,” escreveu o
marechal Sir John Dill, logo após seus primeiros dias em Washington, a Alan
Brooke, que acabara de assumir a função de chefe do CIGS no lugar de Dill. “E,
além disso, em meio a todo esse despreparo, a família americana comum acredita
que pode liquidar com a guerra muito rapidamente — e sem provocar muitas
inconveniências. (...) Este país não tem — repito, não tem — a menor noção do que
signi ca a guerra, e suas forças armadas estão bem menos prontas para o con ito
do que se poderia supor.” (Dill teria cado bem mais assustado se estivesse em
Washington em 8 de dezembro, quando todos os o ciais das forças armadas dos
Estados Unidos receberam ordem para se apresentarem no serviço
completamente uniformizados. Como a maioria utilizava trajes civis no trabalho
nos dias pré-Pearl Harbor, os corredores dos edifícios da Marinha e do Exército
naquela manhã de segunda-feira “ caram apinhados de o ciais com uniformes e
partes de uniformes que datavam de 1918. (...) Majores envergavam uniformes
comprados quando segundos-tenentes. Foi convocada para a guerra uma
verdadeira feira de objetos usados.”) Ironicamente, se levarmos em conta o
pessimismo inicial de Dill quanto ao novo país aliado, este iria emergir como uma
das guras-chave para a preservação da unidade dessa nova e frágil união. Por
sugestão de Brooke, Dill foi nomeado chefe da delegação britânica no Comitê
Combinado de Chefes de Estado-Maior, em Washington; o tato, a cortesia e a
capacidade de persuasão logo conquistaram a simpatia dos americanos, em
particular de George Marshall, com quem criou sólida amizade. Vezes sem conta
o diplomático Dill encontraria soluções para os constantes desacordos entre os
chefes militares ingleses e americanos. Quando Dill faleceu em 1944, de anemia
aplásica, Marshall insistiu que ele fosse enterrado no Arlington National
Cemetery, como desejava o inglês. Embora o sepultamento de estrangeiros
estivesse banido em Arlington, o Congresso aprovou uma resolução conjunta,
fazendo uma exceção para o popular marechal de campo. O percurso do cortejo
fúnebre foi todo guarnecido com alas de milhares de militares dos Estados
Unidos, e uma testemunha à beira da sepultura reportou: “Jamais tinha visto
[166] tantos homens visivelmente compungidos pela tristeza. A sionomia de
Marshall era um pesar só.”
Nos quatro anos da aliança, no entanto, o chefe do Estado-Maior do Exército
dos Estados Unidos não teria um entendimento tão completo com o mordaz
Brooke, seu correspondente inglês. Quando Brooke, que cara em Londres
durante as reuniões em Washington, soube que Churchill concordara com um
quartel-general conjunto na capital americana, cou furioso. “Não posso
entender a razão de, no atual estágio, com as forças americanas totalmente
despreparadas para desempenharem um papel importante, termos de concordar
com um controle central em Washington,” registrou em seu diário.
Mas o desacordo a respeito do comando uni cado não foi nada comparado
com a divisão anglo-americana sobre a região em que atacar os alemães em
primeiro lugar — um debate que iria perdurar pelos sete meses seguintes.
Marshall e seus subordinados queriam partir diretamente para a jugular
germânica — uma invasão através do Canal. Imaginavam uma concentração
maciça de tropas na Inglaterra, seguida por um assalto ao continente europeu no
verão de 1943. Se um colapso da Rússia parecesse iminente em 1942, um ataque
menos ambicioso em território francês poderia ser executado para garantir uma
cabeça de praia.
“Como é típico [167] dos americanos, uma vez decidida a participação na
guerra, eles logo se dispõem a travar um encontro armado maior e melhor do que
qualquer outro antes combatido,” observou anos depois, sardônico, o general Sir
Frederick Morgan, planejador-chefe inglês da invasão do Dia-D. A estratégia
americana se baseava num princípio fundamental de sua doutrina que podia ser
retraçado desde a Guerra de Secessão, o mais longo e custoso con ito em que o
país se envolvera até então. Tal princípio — destruir o inimigo, com força
avassaladora, o mais rapidamente possível — foi a estratégia empregada pelo
general Ulysses S. Grant, da União, no seu impulso contra o Exército
Confederado de Robert E. Lee.
Churchill, Brooke e os demais chefes militares ingleses caram pasmos com o
que consideraram a imprudência e o amadorismo da proposta. Será que os
americanos não entendiam que uma invasão precipitada em 1942 era pura
loucura? Como poderiam os aliados retornar à Europa Ocidental, defendida por
vinte e sete divisões alemãs, quando as forças americanas eram tão incipientes, os
dois aliados estavam tão tristemente mal equipados e armados, não existiam
transportes marítimos su cientes para cruzar o Atlântico com os homens e
suprimentos necessários, e as barcaças de desembarque eram pouquíssimas?
“Poder-se-ia até pensar que atravessaríamos o Canal para jogar bacará no Le
Touquet ou para nos banharmos na Plage de Paris!” — comentou sarcástico
Brooke.
Churchill e seu chefe de Estado-Maior acreditavam que os primeiros ataques
dos aliados contra os alemães deveriam ser desferidos no norte da África e em
outros alvos periféricos da Europa, a m de enfraquecer bastante os germânicos
antes de se partir para o assalto nal. Essa espécie de estratégia periférica vinha
sendo adotada por séculos pelos ingleses, em vista de seu superior poderio naval
e da carência de grandes efetivos terrestres. A sangrenta guerra de trincheiras da
Primeira Guerra Mundial fora uma exceção para a Inglaterra; tendo perdido
mais de 750 mil homens naquele banho de sangue de quatro anos, o país tinha
decidido que tal catástrofe jamais se repetiria. Se um desembarque através do
Canal tivesse de ser efetuado no futuro próximo, o grosso das tropas seria inglês,
como Churchill e Brooke sabiam muito bem. “Vínhamos sofrendo desastre atrás
de desastre, e nossas garras estavam visivelmente enfraquecidas,” observou
Frederick Morgan. “Portanto, não surpreendia que quem detinha total
responsabilidade não demonstrasse o menor entusiasmo por esticar o pescoço
bem mais longe do que jamais zera.”
Marshall e os demais chefes militares americanos não se sensibilizaram com
os argumentos ingleses. Tinham certeza de que o plano do aliado para o Norte da
África era um simples esquema para proteger o Império Britânico — manter
seguro o Canal de Suez e salvar o petróleo inglês e outros interesses no Oriente
Médio. “Para Marshall [168], a suspeita de objetivos imperiais britânicos,
perseguidos por Churchill, embasavam todos os projetos de guerra,” escreveu o
historiador Stanley Weintraub. O próprio Marshall reconheceu depois da guerra
que “demasiado sentimento antibritânico [existia] no nosso lado, mais do que
deveria haver. Nossa gente estava sempre pronta para desmascarar a pér da
Albion.”
 
Embora Marshall e Brooke tivessem permanecido pouco
impressionados, durante toda a guerra, com a capacitação um do outro, os dois
tinham muita coisa em comum. Ambos eram considerados guras de proa no
alto-comando de seus respectivos países e também assessores militares próximos
e con áveis de seus chefes de governos. Cada um deles foi líder talentoso que fez
signi cativa contribuição para a vitória nal. Chegaram mesmo a compartilhar
alguns atributos de personalidade — eram bruscos, austeros, obstinados,
intensamente reservados, impacientes e distintamente grandes.
Porém havia uma diferença fundamental entre os dois, da qual ambos os
generais tinham plena consciência. Diferentemente de Brooke, Marshall jamais
comandara tropas em campanha, malgrado o forte desejo de fazê-lo. Durante a
Primeira Guerra Mundial, fora chefe de Operações da 1ª Divisão de Infantaria,
na França, depois servira no Estado-Maior do general Pershing. Após exercer
praticamente todas as funções mais importantes no Exército, tornou-se chefe do
Estado-Maior em 1º de setembro de 1939, dia em que Hitler invadiu a Polônia.
Nos dois anos seguintes, Marshall dedicou-se a uma completa reformulação do
Exército. Com expressiva determinação, passou à reserva grande número de
antigos o ciais, que considerava peso morto, escolheu a dedo comandantes mais
novos e promissores, intensi cou a instrução, ordenou a execução de grandes
manobras, criou uma divisão blindada e supervisionou a introdução de uma
miríade de novas armas. Cognominado “protótipo do moderno administrador
militar,” ele fez tudo isso apesar da resistência de um Congresso isolacionista,
bem como de alguns new dealers dentro do próprio governo Roosevelt. “Nem
mesmo o Presidente era capaz de intimidar Marshall, que jamais hesitou em
discordar de FDR quando achava que o comandante em chefe estava errado,”
observou um historiador.
Brooke admitiu que Marshall foi “um grande homem [169] e um autêntico
cavalheiro.” Ele via “muito charme e dignidade” no seu equivalente americano
“que não tinha como deixar de me agradar.” Entretanto, na cabeça do chefe
inglês, essas qualidades favoráveis eram empanadas pela falta de experiência em
combate de Marshall e por sua inaptidão para estrategista.
Por volta de 1941, as próprias experiências de Brooke no campo de batalha
tinham feito com que apenas pensar na guerra já lhe fosse repugnante. Em 1916,
como jovem tenente, combatera na horrível Batalha do Somme, que cobrara um
total de cerca de 420 mil vidas inglesas, das quais aproximadamente 70 mil
ocorreram só no primeiro dia de luta. Depois que a Inglaterra declarou guerra à
Alemanha em 1939, Brooke comandara um corpo de exército da Força
Expedicionária Britânica, na França, e recebera a maior parte do crédito pela
bem-sucedida evacuação de cerca de 200 mil militares ingleses de Dunquerque,
em junho de 1940. “Foi quase consenso que se deveu à sua capacitação e
resolução o fato de seu Corpo de Exército e de toda a BEF terem escapado da
destruição,” na sua retirada diante da blitzkrieg alemã, escreveu Sir James Grigg,
subsecretário permanente do Ministério da Guerra. Logo a seguir, Churchill
enviou Brooke de volta à França a m de assumir o comando do restante das
forças britânicas na região ocidental do país; o general se viu forçado a organizar
outra evacuação quando a situação se tornou insustentável e o governo francês
capitulou. Em julho de 1940, foi-lhe dada a responsabilidade sobre todas as
tropas na Inglaterra e ele se lançou na empreitada de reorganizar a defesa das
ilhas, antecipando-se a uma prevista invasão alemã.
Tendo experimentado na própria pele a blitzkrieg inimiga, Brooke cou
perplexo quando descobriu, durante a primeira reunião com Marshall na
primavera de 1942, que os americanos não tinham noção da fúria germânica que
esperava as tropas aliadas caso, de alguma maneira, fosse deslanchado um
prematuro desembarque na França. “Percebi que [Marshall] não começara a
considerar nenhum plano de ação, nem iniciara a visualização dos problemas que
um exército enfrentaria após desembarcar nas praias,” escreveu Brooke mais
tarde. “Estive com ele muitas vezes no decorrer da guerra e, quanto mais o via,
com mais clareza notava que sua capacitação estratégica era paupérrima.”
Esse não foi, de modo algum, o comentário mais cáustico sobre Marshall de
Brooke, que disfarçava um temperamento altamente sensível e tempestuoso com
uma capa de serenidade. “Demasiadamente convencido [170] de sua própria
importância,” está escrito em um dos diversos e corrosivos registros no seu diário
sobre o colega americano. Noutro se lê: “Em muitos aspectos, é um homem
perigoso.” (Embora Marshall também não tivesse Brooke em grande
consideração, aparentemente não foi tão ostensivo no seu menosprezo. Em um
dos poucos exemplos anotados em que revela seus sentimentos sobre Brooke,
Marshall diz a Harry Hopkins que “apesar de ser bom combatente, ele não tem o
cérebro de Dill.”
 
Enquanto os comandantes aliados debatiam, no início de 1942,
o curso das operações futuras, uma série de desastres militares os a igia. A
entrada da América na guerra foi acompanhada por uma derrota aliada
acachapante atrás da outra. Para os americanos, o choque pela perda de grande
parte da armada em Pearl Harbor foi seguido pelas conquistas japonesas de
Guam, da ilha de Wake e das Filipinas. Para os ingleses, a situação era bem pior.
Vencidos antes pelos alemães na França, na Grécia e em Creta, eles perdiam
agora para os japoneses seu império no Extremo Oriente e no Pací co, e
experimentavam as mais humilhantes derrotas militares de sua história.
Em 9 de dezembro, duas das maiores e mais combativas belonaves da
Inglaterra — o encouraçado Prince of Wales, no qual Churchill havia viajado
para Placentia Bay a m de se encontrar com Roosevelt, e o encouraçado Repulse
— foram postas a pique pela aviação nipônica no Mar do Sul da China, ao largo
da costa da Malásia. Mais de 650 homens perderam a vida. “Durante toda a
minha existência,” disse Churchill, “não me lembro de uma perda naval tão
pesada e tão dolorosa.”
Na Véspera do Natal, Hong Kong caiu, seguido de Cingapura, da Birmânia e
da Malásia. “Parecemos perder um pedaço do Império a cada dia que passa,”
escreveu Brooke, sombriamente, para um amigo, “e fazemos face a um pesadelo
após o outro.” A rendição de Cingapura, outrora considerada bastião inglês
invencível no Extremo Oriente, foi um choque particular para o país, que não
conseguiu entender como a guarnição de 85 mil homens cedera com tal
facilidade. Discursando na Câmara dos Comuns, Churchill classi cou a derrota
como “o maior desastre para as armas britânicas registrado em nossa história.” A
Malásia foi também perdida sem que fosse travada uma só batalha importante.
Porém, aquele annus horribilis estava longe de terminar. No norte da África,
Rommel barrou uma nova ofensiva inglesa na Líbia, empurrando os tommies
para trás e retomando Benghazi e Gazala. Em junho, após suportar um longo
cerco, Tobruk, pilar-chave da posição inglesa no litoral leste da Líbia, capitulou,
com mais de 30 mil soldados se rendendo para uma força alemã de efetivo
consideravelmente menor. Um desastre estratégico bem mais substancial do que
a perda de Cingapura, a captura de Tobruk abriu o caminho para a progressão
germânica na direção do Cairo e do Canal de Suez, ameaçando assim toda a
presença inglesa no Oriente Médio. Sobre a queda de Tobruk, Churchill assim se
expressou: “Derrota é uma coisa [171]; desgraça é outra.”[*]
Enquanto as calamidades se sucediam em 1942, o estado de espírito da
Inglaterra se tornava mais irritadiço e amargo. Entre o povo e no Parlamento, as
críticas eram generalizadas a respeito do modo com que o governo conduzia a
guerra, ao mesmo tempo em que eram renovadas as sugestões para que o
primeiro-ministro abrisse mão de suas atribuições como ministro da Defesa. Nem
a eloquência de Churchill se mostrava capaz de abrandar o descontentamento.
“Ouve-se (...) gente dizer que está farta de discursos brilhantes,” escreveu a
correspondente Mollie Panter-Downes do The New Yorker. “O que gostariam de
ver é ação e uma indicação de Mr Churchill de que ele entende a profundidade
da preocupação do país.”
Em janeiro, e depois em junho, Churchill enfrentou votos de descon ança
na Câmara dos Comuns sobre a direção da guerra. Embora tivesse ultrapassado
confortavelmente essas inconveniências, a intensidade e a constância dos ataques
à sua liderança — e as derrotas militares que os provocavam — foram cobrando
seu preço do normalmente entusiasmado primeiro-ministro. “Durante todo o
meu tempo de serviço em sua proteção — que começou em 1921 — jamais eu o
tinha visto tão desanimado,” observou Walter Thompson, segurança pessoal de
Churchill. “Ele era capaz de absorver os diversos tipos de golpes, mas tudo aquilo
parecia fora de seu controle. Foram dias de amargura. Ele não conseguia comer
ou dormir.” Mary Churchill registrou no diário que seu pai estava “muito baixo
[172]-astral.” Não se encontra sicamente bem, muito desgastado pela
continuada e esmagadora pressão dos acontecimentos.”
Além de ter de lidar com a incessante eira de catástrofes militares,
Churchill ainda enfrentava uma aprofundada crise na Batalha do Atlântico, com
os submarinos alemães caçando navios mercantes na costa leste dos Estados
Unidos. Com suas silhuetas claramente recortadas contra o pano de fundo do
litoral americano muito iluminado, os navios se tornavam alvos espetacularmente
fáceis. Segundo um relatório da Marinha “o massacre provocado pelos U-Boats
ao longo de nossa costa do Atlântico em 1942 foi um desastre nacional
semelhante à destruição que sabotadores pudessem ter realizado de meia dúzia
de nossas maiores fábricas de material bélico.” Nos primeiros seis meses de 1942,
em grande parte devido ao sucesso dos U-Boats em águas americanas, as perdas
em transporte marítimo dos aliados foram mais de um milhão de toneladas
maiores do que as ocorridas no primeiro semestre do ano anterior.
Certo dia, em Downing Street 10, Lord Moran encontrou Churchill na Sala
da Situação olhando xamente para uma enorme carta marítima do Atlântico
pontilhada de al netes de cabeça preta representando submarinos alemães.
“Terrível,” resmungou o primeiro-ministro e, então, virando-se abruptamente,
passou de cabeça baixa por seu médico particular sem pronunciar mais palavra
alguma. “Ele sabe que pode perder a guerra no mar em poucos meses, e não tem
condições de fazer coisa alguma a respeito,” escreveu Moran em seu diário. “Eu
só queria que Deus me concedesse o poder de apagar o incêndio que parece
consumi-lo por dentro.”
A crescente perda de tonelagem marítima, por outro lado, representava uma
consistente queda no padrão de vida inglês, com a importação de alimentos
mergulhando para menos da metade da movimentação de antes da guerra. As
vitórias japonesas no Extremo Oriente exacerbavam o problema, interrompendo
as fontes usuais britânicas de chá, arroz, açúcar e outras mercadorias. Tudo
parecia cada vez mais racionado, inclusive carvão, o que foi um verdadeiro
infortúnio para os ingleses num dos invernos mais inclementes de que se tem
memória.
Em função de todas essas crises que enfrentava, não surpreendeu que a
reação da maioria do povo inglês à entrada da América na guerra, um evento
havia muito esperado, acabasse não sendo de irrestrito júbilo. “Simplesmente não
podemos ser derrotados com a América ao nosso lado,” escreveu Harold
Nicolson à esposa. “Mas é muito estranho que uma notícia como essa seja aqui
recebida e acolhida sem grandes alegrias. (...) Nem uma só bandeira americana à
vista em toda Londres.”
Entre alguns britânicos, de acordo com uma pesquisa de opinião pública,
havia um sentimento de “malicioso prazer [173] dado que, nalmente, os
americanos iriam sentir o gostinho da guerra.” Muitos cidadãos ingleses achavam
que “os americanos deveriam estar nos ajudando desde os estágios iniciais do
con ito, justamente como os canadenses e os australianos,” acrescentou um
relatório governamental.
O diplomata canadense Charles Ritchie observou que o ataque a Pearl
Harbor “causou uma satisfação, humana e sarcástica, em muitas pessoas com
quem me encontrei hoje. (...) A nota americana de indignação pela traição que os
EUA foram vítimas não provocou muito eco por aqui. A atitude tem sido
parecida com a de um velho ranzinza que ouve uma moça chorando porque foi
enganada por um homem pela primeira vez. Nós estamos muito acostumados
com a traição — vamos deixar que os americanos lidem com os fatos da vida e ver
como se saem.”
 
Essa SCHADENFREUDE (alegria com a desgraça alheia) de
parte dos ingleses re etia o imenso fosso de conhecimento e entendimento que
existia entre o país deles e a América no começo da aliança de guerra. “Falando
em termos gerais, há uma carência de admiração positiva seja pelas conquistas
americanas seja por suas instituições,” concluiu o Ministério da Informação.
Sem sombra de dúvida, os cidadãos de ambas as nações tinham ideias
gravemente preconceituosas uns dos outros. Segundo um historiador dos EUA,
as primeiras impressões que os americanos tinham dos ingleses, tiradas de suas
lições de história, eram de “casacos vermelhos” assassinos que tentaram destruir
os recém-nascidos Estados Unidos durante a Guerra Revolucionária. O general
Dwight D. Eisenhower, que iria mais tarde comandar as forças dos aliados no
norte da África e na Europa, concordava com tal análise. “As sementes da
discórdia entre nós e os aliados ingleses foram lançadas, de nosso lado, lá atrás,
quando lemos na escola nossos livrinhos vermelhos de história,” escreveu
Eisenhower a Marshall em 1943.
Todavia, por distorcido que fosse o ensino da história inglesa nos Estados
Unidos, pelo menos ele era ministrado nas escolas americanas, bem como a
literatura inglesa. Em contraste, a maioria dos ingleses quase nada havia
aprendido sobre a história e a literatura americanas nos bancos escolares.
“Provavelmente, nem um só inglês em vinte poderia explicar o signi cado de
'Boston Tea Party,'” escreveu um historiador inglês. “Nem um entre cinquenta
poderia nomear qualquer presidente americano antes de Franklin D. Roosevelt,
salvo Lincoln.” Depois que o Ministério da Informação fez uma série de
entrevistas com ingleses para aquilatar o que eles conheciam dos Estados Unidos,
um dos entrevistadores observou: “Recebi tantos [174] 'Não sei' que até eu
comecei a car envergonhado.”
Poucos ingleses já tinham conhecido algum americano, e menos ainda
haviam atravessado o Atlântico. Quaisquer ideias que tivessem sobre os Estados
Unidos e seu povo provinham dos lmes de Hollywood. Para um jovem
funcionário de Whitehall, a América era uma “mistura de escravos no sul,
gângsters em Chicago e musicais com Fred Astaire.” Quando o sargento Robert
Arbib, ex-executivo do ramo da publicidade em Nova York, chegou à Inglaterra
com as primeiras tropas americanas em 1942, foi salpicado com perguntas do
tipo “Você é do Texas?,” “Já viu um gângster?” e “Você mora em apartamento de
cobertura?”
Perfeitamente cônscio dos mal-entendidos, da falta de conhecimento
recíproco e das tensões entre seus compatriotas e os ingleses, Gil Winant impôs a
si mesmo a missão de abrandar tais di culdades durante a guerra. Como antigo
professor de história, acreditava que a educação era crucial para a criação do
entendimento necessário. Sempre que podia escapulir por um dia ou dois da
agitação crescente em Grosvenor Square, o embaixador viajava pela Inglaterra
para falar sobre a história e a cultura dos Estados Unidos, com especial ênfase
para seus vínculos com a Inglaterra. “Espero que vocês ajudem seu país a
entender meu país,” disse a um grupo de professores. “O tempo que passei na
Inglaterra já me ensinou que, em todas as questões fundamentais, trabalhamos
para um denominador comum.” Ele recrutou Janet Murrow e outros americanos
que viviam no Reino Unido para fazerem palestras semelhantes e persuadiu o
afamado historiador americano Allan Nevins, então professor convidado em
Oxford, a escrever uma breve história dos Estados Unidos. O trabalho de Nevins
se tornou livro didático requisitado nas escolas inglesas, tanto durante quanto
depois da guerra.
Winant “queria que o povo inglês conhecesse o americano como ele o
conhecia,” disse Wallace Carroll, ex-chefe do serviço de notícias da United Press
em Londres. “Desejava que tivessem conhecimento sobre (...) os fazendeiros do
entorno de Concord, em New Hampshire. Queria que soubessem sobre os
operários das siderúrgicas e indústrias têxteis, das minas de carvão, das ferrovias e
estaleiros, para cujo bem-estar ele havia dedicado grande parte de sua vida.
Ansiava para que eles conhecessem a América que tinha criado a Autoridade do
Vale do Tennessee e a Câmara de Seguridade Social, e não a América das
películas cinematográ cas.”
Carroll, que fora correspondente em Londres durante a Blitz, acabou
convocado por Winant para che ar o serviço americano de informação em
Londres, sob os auspícios do O ce of War Information — OWI (Agência de
Informação de Guerra), uma nova organização dos EUA cuja missão era apoiar o
esforço de guerra americano com notícias e propaganda para o consumo
doméstico e no exterior. Tendo Carroll como diretor, a operação em Londres
centrou-se na difusão de informações objetivas, não de propaganda, endereçadas
aos ingleses. Ela repassava resumos de notícias e outras matérias sobre a América
para os jornais, funcionários de Whitehall, parlamentares e cidadãos britânicos
comuns. “Concentramo-nos no emprego [175] de todos os meios legítimos para
informar [os ingleses] sobre a América, sem tentar vender-lhes quaisquer noções
preconcebidas,” lembrou Carroll, “e todos concordamos que não deveríamos
fazer esforço algum para esconder verdades desagradáveis.” Pelo nal de 1942,
graças em parte ao serviço de informação, “os jornais ingleses publicavam
notícias mais sérias sobre a América do que em qualquer ocasião desde que a
guerra começara,” de acordo com Raymond Daniell, chefe do birô de Londres do
New York Times.
Com uma demanda popular crescente na Inglaterra sobre a nova nação
aliada, Winant também criou uma biblioteca no térreo da embaixada dos EUA
em Londres, dirigida a parlamentares, escritores, educadores, editores,
estudantes e outros membros do povo inglês que desejassem acesso a livros,
revistas e jornais americanos. Enorme sucesso, a biblioteca desencadeou a
criação, no pós-guerra, de uma rede de locais semelhantes de leitura nas
embaixadas dos Estados Unidos em todo o mundo. Janet Murrow, cujo marido
seria diretor da U.S. Information Agency vinte anos mais tarde e supervisionaria
essas atividades, ressaltou para os pais que a biblioteca também ajudou a saciar a
sede dos expatriados americanos em Londres por notícias de casa. “Eu gostaria
de passar todo o meu tempo lá,” escreveu.
Esses esforços de Winant e de outros para fomentar o entendimento dos
Estados Unidos e de seu povo na Inglaterra deram bons frutos. Em Washington,
um conhecido de Felix Frankfurter, que acabara de retornar da Inglaterra, fez
um relato ao juiz da Suprema Corte sobre “um surpreendente, novo e profundo
interesse lá despertado sobre a América (...) em tal extensão que não se compara
ao interesse ou conhecimento dos assuntos ingleses neste lado.” Frankfurter
achava que o governo inglês deveria fazer um esforço educacional semelhante
nos Estados Unidos, para combater a visão popular da Inglaterra entre os
americanos de “um povo opressor [176], ele mesmo sob as regras de uma
Sociedade à la George III da caça à raposa, das escolas tradicionais identi cadas
pela gravata, do Buckingham Palace.”
 
Como Frankfurter sublinhou , o povo americano dedicava tão pouca
afeição aos seus novos aliados do outro lado do Atlântico quanto estes, pelo
menos inicialmente, dedicavam a ele. Perguntados, numa pesquisa de opinião de
1942, se a Inglaterra fazia todo o possível para ganhar a guerra, somente
cinquenta por cento dos americanos entrevistados responderam
a rmativamente. Muitos compartilhavam do ceticismo dos líderes políticos e
militares dos EUA a respeito dos motivos ingleses para travar a guerra; na mesma
pesquisa, acima de cinquenta por cento condenaram a política colonial britânica,
muito embora, de acordo com os entrevistadores, “o conhecimento factual deles
sobre o Império Britânico fosse vago e distorcido.”
Quando Ed Murrow retornou a Londres em março de 1942, após sua
residência temporária de quatro meses nos Estados Unidos, disse a Harold
Nicolson que encontrara um “intenso” sentimento antibritânico em sua terra
natal. Tal sentimento derivava, registrou Nicolson em seu diário, “em parte do
núcleo linha-dura dos anglófobos, em parte da frustração provocada pela guerra
sem vitórias iniciais, em parte do nosso mau desempenho militar em Cingapura e
em parte da tendência comum em todos os países beligerantes de culpar os
aliados por não fazerem nada.”
Antes de Ed Murrow deixar os Estados Unidos, Harry Hopkins e Robert
Sherwood, que estava à frente das operações no estrangeiro da OWI, tentaram
convencê-lo a car em Washington e se tornar a “Voz da América” do governo
dos EUA — seu principal radiodifusor de relatórios noticiosos em língua inglesa
transmitido pela OWI para a Europa. Depois de muito meditar sobre a oferta,
Murrow a recusou. Tendo desempenhado papel importante para levar os
Estados Unidos à guerra ao lado dos ingleses, ele resolveu passar o restante dela
na Inglaterra, fazendo o melhor para estimular um conhecimento mútuo entre
seu país e a terra que fora seu lar pelos cinco anos passados. “Em termos pessoais,
seria mais agradável permanecer aqui,” telegrafou a Hopkins, “porém, prevendo
tempos difíceis à frente para a aliança anglo-americana, estou convencido de que
meu dever é voltar.”
Nos três anos que se seguiriam, nas suas transmissões da CBS e em
frequentes participações na BBC, Murrow tentaria esclarecer a política, os traços
de personalidades e as características de um aliado para o outro. “Nos
conheceremos melhor [177] se tivermos conversas francas entre ingleses e
americanos,” observou num programa da BBC. “Tenham em mente que somos
mais emotivos, estrondosos e intolerantes do que vocês. Vamos a um jogo de
beisebol ou de futebol americano e xingamos o juiz, e até jogamos, às vezes,
garrafas de cerveja nele. Nossas discussões domésticas são agressivas, muitos
palavrões — em suma, temos a propensão de dizer o que pensamos, mesmo
quando não raciocinamos a respeito.” Murrow também realçou similaridades:
“Nós, como vocês, somos irascíveis e teimosos, com certa gama de variedades de
caráter, não desejando comandar ou obedecer, mas queremos ser reis em nossas
próprias casas.”
Como parte de sua campanha educacional, Murrow participou de programas
especiais, na CBS e na BBC, para tornarem a aliança anglo-americana mais
signi cativa para os EUA e para a Inglaterra. Houve um esforço comum CBS-
BBC, com emissões uma semana originadas na América, e a seguinte na
Inglaterra, mas transmitidas simultaneamente nos dois países. Outro especial foi
um seriado em oito partes denominado An American in England (Um
Americano na Inglaterra), produzido por Murrow e pela BBC e difundido pela
CBS.
Murrow também criou uma nova série para a BBC chamada Meet Uncle
Sam (Conheça o Tio Sam), que um historiador classi cou de “curso intensivo
sobre a experiência americana para ouvintes ingleses,” com a participação dele
próprio e de convidados como Allan Nevins e Alistair Cooke, um
correspondente da BBC nos Estados Unidos. O programa, Murrow deixou claro,
não pretendia camu ar as de ciências de seu país. “Mais tarde nesta série,” disse
no primeiro dos programas, “vocês ouvirão tudo acerca do New Deal, de nossos
problemas raciais e de como nos tornamos uma nação da qual um terço se
encontra mal-vestido, mora mal e está mal alimentado. Vocês ouvirão também
sobre nossas conquistas.” Surpreso com os comentários sinceros, um locutor da
BBC ressaltou no nal do programa que “a vigorosa crítica de Murrow a respeito
de algumas coisas americanas soaria mal na boca de um inglês.”
Tal modo direto de se expressar, contudo, sempre esteve no centro da sua
loso a de radiodifusão. “Franqueza e honestidade podem separar América e
Inglaterra,” disse Murrow certa vez, “mas a cção polida seguramente separa.”
[*]A única satisfação para Churchill, que se encontrava em Washington quando Tobruk capitulou, foi a
simpatia e a preocupação demonstradas por Roosevelt e Marshall. A pedido do primeiro-ministro, eles
autorizaram imediatamente o envio de trezentos carros de combate americanos para o Oriente Médio com a
nalidade de ajudar as defesas inglesas. Abandonando seu mau humor habitual, Brooke reconheceu que a
generosidade americana durante aquele período negro “fez muito para solidi car as fundações da amizade e
do entendimento” entre a Inglaterra e os Estados Unidos durante a guerra (Danchev e Todman, War
Diaries, p. 269).
10

“Um Inglês Falou em Grosvenor Square”


 
Os esforços de Gil Winant e de Ed Murrow para promover
entendimento entre ingleses e americanos passaram por seu primeiro teste real
na primavera de 1942. Foi quando o contingente inicial de forças americanas
chegou à Irlanda do Norte, e os primeiros aviões da 8ª Força Aérea, com suas
tripulações, foram sediados no leste da Inglaterra, juntamente com tropas dos
serviços especializados para a construção de bases aéreas, depósitos e campos de
pouso. A Grã-Bretanha passou então a ser o centro nervoso dos aliados e sua
linha de frente na Europa. A partir de lá, seria bombardeado e eventualmente
invadido — o Continente.
Pelo verão de 1942, Londres estava inundada de soldados e aviadores
americanos em licença. A maioria dos prédios na Grosvenor Square e em suas
proximidades fora requisitada pelos militares e outras agências dos EUA. O
número de americanos nas vizinhanças da praça cresceu astronomicamente e
com tamanha rapidez que foi escrita uma paródia para a letra da canção popular
“A Nightingale Sang in Berkeley Square” (Um rouxinol cantou em Berkeley
Square), que teve o título modi cado para “An Englishman [178] Spoke in
Grosvenor Square” (Um inglês falou em Grosvenor Square).
Com a chegada dos americanos, o centro de Londres assumiu “um ar de
quase frenética urgência,” como notou um residente da cidade. Carros verde-
oliva conduziam o ciais de alta patente dos EUA para lá e para cá entre
Grosvenor Square e o Ministério da Guerra inglês, distantes entre si uns poucos
quilômetros, enquanto mensageiros em motocicletas ziguezagueavam pelo
tráfego, que parecia tão pesado quanto nos dias pré-guerra. Apartamentos e
quartos de hotéis caram cada vez mais difíceis de encontrar (durante uma das
visitas, os Chefes de Estado-Maior dos EUA ocuparam nada menos que
dezesseis quartos do Claridge's), e em alguns restaurantes tornou-se praticamente
impossível fazer uma reserva.
Os policiais militares americanos, conhecidos como “gotas de neve” por causa
do capacete e das polainas brancas que usavam, patrulhavam agora Piccadilly e
outros locais de grande movimento; tornaram-se tão familiares no ambiente da
cidade que, com o passar do tempo, passaram a receber perguntas sobre
endereços e outras informações da capital, não só de GIs como também de
ingleses. Nas tardes de verão, os PMs jogavam beisebol no Green Park, atraindo
muitos espectadores portando cobertores e cadeiras de armar para apreciar
aquilo que para a maioria deles era um jogo tão desconhecido como o era
críquete para os americanos.
Na realidade, tão americanizada se tornou a Grosvenor Square e cercanias
que, nas palavras de um jornalista dos Estados Unidos, “a visão de [179] uma
Union Jack tremulando num prédio das proximidades parecia uma anomalia.” A
South Audley Street se transformou numa “Quinta Avenida em miniatura,”
enquanto uma mansão defronte à Stanhope Gate virou clube para o ciais
superiores dos EUA. O Washington Hotel, dani cado pelos bombardeios, foi
restaurado e passou a servir como clube social e residencial das praças, com
pôsteres do oeste e do sul americanos espalhados por todos os lados, e roscas
cobertas de açúcar branco no sempre disponíveis. Para um repórter do Daily
Telegraph, o Washington Club, com suas cadeiras de engraxate e barbearia bem
à vista, assim como vasos de ores, parecia bem mais um “clube de milionários”
do que um “centro para a rapaziada das roscas” [doughboys], o apelido dos
soldados americanos na Primeira Guerra Mundial.
A invasão americana, por outro lado, provou ser uma mina de ouro para os
lojistas e outros pequenos negociantes das proximidades da praça da embaixada.
“Não houve alfaiate, sapateiro, lavanderia ou arrumadeiras em nossa vizinhança
que não tivessem que fazer horas extras para atender à freguesia,” observou um
londrino. “Enquanto dezoito meses antes, durante as incursões aéreas noturnas,
esses pequenos comerciantes tiveram que aguentar estoicamente seus negócios
com um pedido aqui, outro ali, a prosperidade agora batia à porta deles. Eles
então martelavam e costuravam, passavam a ferro e lavavam, o dia todo e com a
noite bem avançada.”
 
Conhecida como “Pequena América,” Grosvenor Square ganhou
outro nome — “Eisenhowerplatz” — quando o general Dwight D. Eisenhower
chegou em junho para assumir o comando das forças americanas no teatro de
operações europeu. A indicação do o cial-general de cinquenta e um anos para
ser responsável pelas tropas americanas pareceu, à primeira vista, estranha.
General pouco conhecido, com modos e sorriso cativantes, Eisenhower jamais
comandara no Exército unidade maior que batalhão e nunca combatera em
guerra. Para grande desgosto seu, a exemplo de George Marshall, ele
desempenhara funções de estado-maior durante a maior parte de sua carreira;
chegara à Europa, vindo de Washington, onde che ara a Divisão de Planos de
Guerra e fora o arquiteto-chefe do plano americano para invadir o Continente
europeu.
Todavia, por baixo da personalidade gregária e de fácil relacionamento
existia uma mente apurada, uma ambição ardente e determinada, e um
temperamento explosivo. Protegido de Marshall, Eisenhower era talentoso
organizador e totalmente dedicado ao trabalho. Sobretudo, era um dos poucos
generais americanos não infectados de anglofobia. Desde o início, dispôs-se a
estabelecer uma harmoniosa relação de trabalho com os novos aliados de seu país;
na realidade, chegou a se descrever como um “fanático” pelo assunto. “Senhores,
[180]” disse à sua equipe logo depois de chegar a Londres, “só temos uma chance
— apenas uma — de ganhar esta guerra, e é uma parceria completa e
incondicional com os ingleses. (...) Minhas atitudes serão sempre regidas por este
princípio e espero que os senhores ajam da mesma maneira.”
Não obstante, sua introdução no mundo de nariz empinado da classe alta na
qual operavam seus correspondentes ingleses foi cheia de tropeços. Nascido em
Abilene, no Kansas, Eisenhower crescera morando no “outro” lado da ferrovia, o
lado errado, sem água encanada ou instalações sanitárias dentro de casa. “É
inquestionável,” escreveu um de seus biógrafos, “que a pobreza forjou a ambição
do jovem Dwight e sua determinação para se superar [e ser] bem-sucedido.”
Contudo, embora disfarçasse bem, suas raízes humildes também o deixavam um
profundo senso de insegurança, um medo de parecer caipira do interior — um
sentimento não muito incomum entre outros americanos quando se misturavam
com as classes inglesas de status elevado. “O que ele mais temia era chamar
atenção,” disse um de seus assistentes.
Quando Eisenhower visitou a casa de campo de Lord Mountbatten,
comandante das operações combinadas inglesas, o ostensivo desdém do idoso
criado que retirou da mala seus escassos pertences constrangeu tanto o general
que ele deixou uma generosa gorjeta ao homem. Também notou menosprezo no
presunçoso servente do Claridge's posto à sua disposição, que não fez segredo da
sua falta de apreço pelos gostos simples do chefe militar americano. Eisenhower
detestou tudo no Claridge's, inclusive sua suíte, com uma sala de estar em
dourado e negro — “Faz-me sentir em pecado” — e o quarto “cor-de-rosa bordel.”
(Ele se mudou depois para o Dorchester, porém lá também não se sentiu mais
confortável.) O general odiava igualmente o redemoinho social da Londres do
tempo de guerra. “A despeito de ser [181] um personagem tremendamente
requisitado pelas an triãs londrinas, ele se tornou uma gura quase tão reclusa
quanto Greta Garbo,” lembrou Kay Summersby, a jovem irlandesa que foi sua
motorista na capital. “Impacientava-se com tudo quanto tomasse seu tempo ou
desviasse suas energias da guerra.” Depois de uma recepção promovida por uma
socialite, Eisenhower desabafou para Summersby: “Creio que minha pressão
arterial não vai aguentar se mais uma dessas senhoras palermas me chamar de
'My deeaah general.' Eu não sou 'deeaah general' de ninguém, nem estou
travando a guerra por sobre chávenas de chá.” Pouco depois de chegar a Londres,
Eisenhower instituiu a semana de trabalho de sete dias no seu comando. “A nal
de contas, isso é guerra,” disse ele. “Estamos aqui para lutar, e não para jantar
saboreando vinhos.”
Em sua aversão a uma presença social demasiadamente ostensiva em
Londres, como em muitos outros aspectos, Eisenhower se assemelhava a Gil
Winant, com quem, disse ele mais tarde, criou uma cerrada relação e uma
amizade íntima. Ambos eram despretensiosos, modestos, detestavam a luz do
palco e concentravam toda sua energia no trabalho. Sem frequentarem muito a
igreja, eram profundamente religiosos. Acima de tudo, os dois estavam
determinados a fazer o máximo ao alcance deles para que a aliança anglo-
americana fosse um sucesso. “Desde o início do desempenho de suas atribuições,
ele fez desse objetivo quase uma religião,” disse de Eisenhower o general Pug
Ismay, ligação de Churchill com os Chefes de Estado-Maior. Ao longo de toda a
guerra, o general americano foi a voz da razão e da conciliação, mesmo em meio
às mais acirradas disputas. Sua ênfase para o trabalho em equipe não recebeu a
devida consideração de muitos dos generais dos EUA que, mais tarde, o
acusaram de favorecer os ingleses em detrimento dos próprios conterrâneos.
Quando Eisenhower chegou pela primeira vez à capital do Reino Unido,
tanto Murrow quanto Winant mostraram-lhe o caminho social e político através
dos campos minados. Harry Butcher, assistente pessoal de Eisenhower, registrou
em seu diário que o general “experimentava di culdade para entender quem era
importante e quem não era, quem poderia ser visitado e quem, evitado. (...) Vali-
me de Ed Murrow para nos ajudar na tarefa.”
No meio-tempo, Winant foi em socorro do general para amenizar um
espinhoso problema relacionado com seu hábito de fumar um cigarro atrás do
outro. Desde muito jovem, Eisenhower tornara-se inveterado fumante, um vício
que foi se intensi cando à medida que as pressões aumentavam. O embaixador
seguidamente lembrava ao general que, nos jantares o ciais ingleses, não se
deveria fumar quase até o m da refeição e a troca de brindes, uma
recomendação muito esquecida por Eisenhower. Finalmente, para facilitar a vida
do general e evitar um inconveniente menor nas relações anglo-americanas,
Winant conseguiu providenciar para que, nos almoços e jantares em que
Eisenhower estivesse presente, os brindes fossem trocados logo após servido o
primeiro prato.
Depois de instalar seu quartel-general no nº 20 de Grosvenor Square, oposto
diagonalmente à embaixada, o general passou a cruzar muitas vezes a praça para
consultar Winant sobre diversas matérias, e o embaixador fez o mesmo. Os dois
conversavam “pessoalmente [182]” sobre quase tudo. Percebendo grandes
semelhanças de pensamentos e atitudes com o general, Winant, que se referia a
si mesmo como “outro dos tenentes de Eisenhower,” por vezes solicitava
conselhos dele em coisas como o palavreado de um cabograma para Washington.
Por sua vez, o general buscava a ajuda do embaixador em vários assuntos,
inclusive na relação entre o povo inglês e as tropas americanas no país.
Em Londres, Winant era o correspondente civil de Eisenhower, dirigindo a
equipe da embaixada bem como supervisionando os escalões avançados do
número rapidamente crescente de agências civis americanas de tempo de guerra.
As operações militares e civis eram de vulto: em 1942, mais de três mil pessoas
trabalhavam para o governo dos EUA em Londres, uma quantidade que disparou
nos dois anos seguintes.
A própria embaixada passou a ser então o centro nervoso diplomático para a
guerra na Europa e ponto focal para a coordenação do esforço de guerra aliado.
Com 675 funcionários, ela era também a maior legação dos EUA no mundo,
requerendo vinte e quatro telefonistas para administrar as mais de seis mil
chamadas que inundavam a central diariamente. O posto de embaixador “era
então um grande cargo quando [Winant] o assumiu; passou então a ser
gigantesco,” escreveu o New York Herald Tribune. “Seu funcionamento,
processos e repartições mais parecem os de um presidente de uma grande
corporação.” A carga de Winant era “extremamente pesada,” observou um
funcionário inglês. “Tudo, evidentemente, afunilava para a mesa do
embaixador.”
Entre as novas agências que caram sob a supervisão do embaixador estavam
as da Informação de Guerra, da Câmara da Economia de Guerra e a dos Serviços
Estratégicos (O ce of Strategic Services — OSS), a primeira agência o cial
americana de inteligência. Equivalente ao Serviço Secreto de Inteligência inglês
(MI6), o OSS tinha duas missões principais: obter informações sobre o inimigo e
promover sabotagem nas instalações, armamentos e moral do adversário. Da
vigiadíssima sede do OSS, no nº 70 de Grosvenor Square, agentes seriam mais
tarde despachados para a França e outros países ocupados, assim como para a
própria Alemanha.
Winant era o mau administrador de sempre, faltando a compromissos,
deixando gente à espera, esquecendo nomes até de membros de sua equipe.
Certa vez, num surto de distração, ele solicitou a Herschel Johnson, seu ministro-
conselheiro, que tomasse o ditado de uma carta, enquanto caminhava pelo
gabinete. Como número dois da embaixada, Johnson, compreensivelmente, cou
amuado por ter de fazer serviço de taquígrafo; mesmo assim, pegou uma caneta e
registrou o ditado de Winant. Poucos dias mais tarde, ao entrar no gabinete do
embaixador, Johnsou encontrou de novo Winant ditando uma carta,
completamente absorto com as ideias que tentava organizar em palavras.
Daquela vez, era o almirante Harold Stark, ex-chefe de Operações Navais e
então comandante das forças navais americanas no teatro de guerra europeu,
quem estava sentado numa cadeira e rabiscava freneticamente o que o
embaixador dizia.
Todavia, malgrado seus hábitos excêntricos de administração, Winant
continuava sendo um líder inspirador que, nas palavras de Wallace Carroll,
“exercia um misterioso [183] magnetismo.” Fazendo eco para as ordens de
Eisenhower ao seu Estado-Maior, o embaixador insistia que todos os funcionários
das agências e empregados na embaixada sob sua responsabilidade tinham que
trabalhar como uma equipe. De um modo geral, isso acontecia; segundo
praticamente todos os relatos, uma colaboração cerrada e harmoniosa existia
entre os muitos departamentos do governo americano em Londres. “Todos com
quem converso (...) concordam que o embaixador Winant é em grande parte
responsável pelo elevado grau de cooperação que aqui existe entre
representantes do Exército, Marinha, Departamento de Estado, Câmara de
Economia de Guerra, OWI, OSS e outros,” reportou Bert Andrews,
correspondente-chefe em Washington do New York Herald Tribune.
À proporção que Washington de tempo de guerra in ava rapidamente,
Andrews devotava a maior parte de seu tempo à divulgação das disputas e
con itos que emergiam entre as agências do governo, todas ambicionando mais
poder e in uência. “Muitos de nós [184],” lembrou o secretário assistente de
Estado Dean Acheson, “gastávamos substancial parte do tempo numa guerra
burocrática pela sobrevivência” naquilo que foi chamado “a Batalha de
Pennsylvania Avenue.”
Andrews decidiu viajar a Londres “para averiguar se os representantes das
agências americanas na Inglaterra estavam se entendendo melhor” do que seus
correspondentes em casa. Ficou satisfeito, disse aos seus leitores, por constatar
que sim. “O sistema de Winant parece funcionar admiravelmente,” concluiu
Andrews, “e o cenário é, oh, muito pací co, comparado com as brigas de
Washington.”
 
Uma figura importante, no entanto , de nitivamente não fazia
parte do time de Winant. Averell Harriman continuava minando a autoridade do
embaixador, comunicando-se diretamente com Hopkins e Roosevelt e metendo-
se em assuntos das relações anglo-americanas que eram da alçada de Winant.
Pior ainda, segundo o jornalista Harrison Salisbury, “Averell enfraqueceu
bastante a relação do embaixador” com Churchill.
Quando o primeiro-ministro visitou Washington após Pearl Harbor,
Harriman cavou junto a Churchill um convite para acompanhá-lo. Mas tão logo
chegou, os funcionários americanos, que já o haviam ignorado em Placentia Bay,
mais uma vez não lhe deram atenção. Na opinião do secretário de Estado Cordell
Hull e de outros, Harriman estava extrapolando demasiadamente sua função de
“acelerador” do Lend-Lease. Apesar disso, na oportunidade em que Churchill
fez uma segunda visita a Roosevelt, em junho de 1942, Harriman estava de novo
ao lado do primeiro-ministro. Dois meses mais tarde, quando o líder inglês
decidiu que precisava viajar a Moscou para explicar a Stalin por que não sairia
uma Segunda Frente naquele ano, Harriman persuadiu Churchill e Anthony
Eden que um funcionário americano — ele mesmo — deveria estar presente às
reuniões. Roosevelt, inicialmente, negou permissão para a viagem de Harriman,
porém, a pedido de Churchill, que, in uenciado pelo homem do Lend-Lease,
passou um cabograma ao Presidente insistindo na solicitação, FDR acabou
cedendo.
A exemplo do que zera antes, excluindo Laurence Steinhardt das conversas
com Stalin, no ano anterior, sobre o programa Lend-Lease, Harriman convenceu
Churchill a não convidar o sucessor de Steinhardt como embaixador em Moscou,
almirante William Standley, para as conversações que iriam se realizar. Ex-chefe
de Operações Navais da Marinha dos EUA, Standley cou furioso com as
ambições de Harriman, pois o considerava um amador, “mariposa [185]
adejando em torno de luzes e chamas.” Archibald Clark Kerr, o novo embaixador
inglês na União Soviética, tinha a mesma opinião desairosa sobre Harriman;
acreditava que a admiração de Churchill pelo americano era só fruto da adulação
deste último. “Vez por outra [Churcill] pegava Harriman pela mão e fazia
observações do tipo: 'Estou tão satisfeito, Averell, por tê-lo por perto. Você é um
pilar de força,'” registrou Clark Kerr, amargamente, em seu diário. “Acho que a
presença de Harriman é ruim para Churchill. (...) [Ele] não passa de um rematado
puxa-saco.”
Após retornar para Londres, Harriman seguiu comunicando-se
frequentemente com Churchill, mas fez questão de não informar Winant de suas
tratativas com o líder inglês. A despeito de todas as suas manifestações públicas
de apreço, Harriman em particular depreciava Winant como um sonhador —
idealista por demais, muito preocupado em ajudar seus compatriotas,
insu cientemente pragmático ou duro para operar no mundo cruel da política de
tempo de guerra. Harriman não podia entender como o embaixador,
ocasionalmente, deixava funcionários ingleses e outros VIPs esperando na
antessala enquanto conversava com GIs e pessoas sem importância. Era
igualmente inconcebível para o representante do Lend-Lease que Winant,
quando oferecia uma das suas raras recepções na residência o cial do
embaixador americano em Kensington, com frequência dava mais atenção aos
porteiros, faxineiras e outros empregados da embaixada, por ele especialmente
instados a comparecer, do que aos seus convidados o ciais. Anos mais tarde,
Harriman deixou escapar para Elie Abel, que colaborou na preparação de sua
autobiogra a, que Roosevelt deveria tê-lo escolhido para embaixador: “Creio que
eu poderia ter operado igualmente bem se tivesse sido embaixador acumulando
também essa missão [Lend-Lease].”
O desdém de Harriman por Winant foi absorvido também pela lha e por
Pamela Churchill. “Ele não é bom escritor ou bom orador,” escreveu Kathleen
Harriman para sua irmã sobre o embaixador. “Porém, a despeito disso, todos aqui
estão convictos de que ele é um grande homem, com letras maiúsculas. Anthony
Eden se manifestou ontem sobre ele como sendo 'um dos homens que podem
in uenciar a maré das questões mundiais.' Pobres questões mundiais!”
 
No verão de 1942 , Winant apelou a Roosevelt e Harry Hopkins para
que cassem mais bem esclarecidas suas atribuições. Ele pode ter sido
considerado, como publicou mais tarde o Times de Londres, uma espécie de
“adesivo” na aliança anglo-americana, mas se sentia cada vez mais afastado das
deliberações de alto nível e do processo de tomada de decisões dos dois países.
“Winant estava muito incomodado [186] com o fato de eu ser um personagem
capital nas nossas relações com Churchill,” observou Harriman para Elie Abel.
Ridicularizando o que chamou de “ciúme bobo,” Harriman disse a Abel:
“Desconsiderei completamente tudo aquilo.”
Apesar de Harriman, por certo, ser em parte responsável pela exclusão de
Winant, o hábito que Churchill e Roosevelt tinham de se ligarem diretamente,
sem dar satisfações ao Departamento de Estado, ao Foreign O ce e às
embaixadas de seus respectivos países, teve também sua parcela de in uência em
tal exclusão. Devia-se igualmente ao costume de longo tempo do Presidente de
enviar seus próprios representantes e delegações para consultas com líderes
estrangeiros sem informar outros membros de seu governo que trabalhavam nas
mesmas questões. Num telegrama a Hopkins, Winant reportou que, quando
entrava em contato com ministros ingleses sobre determinado problema ou
preocupação, muitas vezes os ministros a rmavam que missões especiais dos
EUA já tinham se encarregado da matéria.
O embaixador estava longe de ser a única gura importante que era
desbordada pela Casa Branca. Muitos ministros e chefes de agências — entre eles
o altamente respeitado secretário da Guerra Henry Stimson — eram da mesma
forma isolados da tomada de decisões sobre assuntos que diziam respeito aos seus
departamentos. Era do estilo de FDR: manter as rédeas do poder e da autoridade
em suas próprias mãos e controlar os programas e políticas que considerava mais
importantes para si mesmo e para o país. “Roosevelt sempre tomava medidas
para que ele próprio fosse o juiz e árbitro nal,” escreveu um historiador.
Mas nenhum funcionário do governo se incomodava tanto com a exclusão
quanto Cordell Hull. No decorrer de todos os seus onze anos como secretário de
Estado, o cortês e grisalho natural do Tennessee, que sempre passava a impressão
de ter acabado de sair de um daguerreótipo victoriano, quase não teve atuação na
formulação da política externa dos EUA. Winant disse a um funcionário inglês
que se Hull e Roosevelt “se encontrassem uma vez por mês, sua relação poderia
ser considerada muito próxima.” Hull, ex-senador e presidente do Comitê
Democrático Nacional, não fora selecionado por sua experiência no campo das
questões internacionais — que era zero — mas em função de sua larga in uência
e do poder político no Capitólio. Nos anos que antecederam imediatamente a
Segunda Guerra Mundial e durante a própria guerra, Roosevelt foi o verdadeiro
secretário de Estado, ignorando não só Hull mas o Departamento de Estado
inteiro. Winant, como outros embaixadores americanos, sofreu as pesadas
consequências dessa política de exclusão.
Na opinião de James Reston, que conseguiu uma breve licença do New York
Times para trabalhar na embaixada americana em Londres, o tratamento
desdenhoso dispensado pela Casa Branca a Winant e aos funcionários do
Departamento de Estado que estavam sob suas ordens foi quase uma
“calamidade política [187].” Em suas memórias, Reston declarou: “Não me
lembro de nada que tenha concorrido tanto para os equívocos da política externa
americana quanto a tendência para nomear secretários de Estado incompetentes,
para contornar o Departamento de Estado e para tentar administrá-la a partir da
Casa Branca.”
Embora Roosevelt não tivesse intenção de diminuir sua comunicação direta
com Churchill e o governo inglês, ele tinha em alta conta o trabalho que Winant
fazia em Londres; certa vez disse à amiga Belle Roosevelt que “Há muito pouca
gente com estilo presidencial, e um dos que têm é Winant.” Ao tomar
conhecimento do desconforto do embaixador, ele tentou remediar a situação.
Escreveu a Winant uma carta algo incoerente: “Você está realizando um trabalho
magní co — e não só eu digo isso, garanto que é expressão unânime por aqui. Na
realidade, é só surgir uma nova função em Washington para alguém sugerir que
eu o traga de volta a m de que você a desempenhe. (...) Logo respondo que não
existe ninguém por aqui que eu, ou qualquer outro, possa pensar para substituí-lo
em Londres.”
E fez mais, determinou que Harry Hopkins, durante uma de suas viagens a
Londres, informasse a Churchill e Harriman que a missão deste último era
implementar o Lend-Lease, e não se imiscuir em questões políticas. Hopkins
disse ao adido militar da embaixada, general Raymond Lee: “Dei a Harriman as
mais estritas e explícitas instruções para que não se meta em qualquer assunto
que seja político de alguma forma. Esse é encargo do embaixador, e só dele.
Também assegurei a Churchill que temos neste momento na Inglaterra o melhor,
o mais admirável e o mais quali cado embaixador (...) e solicitei-lhe que tratasse,
direta e completamente, com Winant sobre todas as matérias que tivessem
qualquer conteúdo político.”
Essas instruções, no entanto, eram transmitidas com um piscadela de olho e
um cutucão de cotovelo. Hopkins, que levava Harriman a tiracolo para todos os
seus encontros com Churchill e chefes militares ingleses, não tinha intenção de
afastar seu amigo do círculo político. Alguém o ouviu alertando Harriman para
“ser cuidadoso [188]” porque Winant, “a nal de contas, é o embaixador.”
Conscientes do modo de pensar do braço direito de FDR, Churchill e Harriman
não ligaram muito para a admoestação presidencial.
Na oportunidade em que Eleanor Roosevelt fez uma visita o cial à
Inglaterra, no outono de 1942, Hopkins, deixando patente que considerava
Harriman o americano-chave em Londres, instou para que ela não se
incomodasse com Winant e tratasse diretamente com o administrador do Lend-
Lease durante sua estada. A esposa do Presidente se irritou. “Eu conhecia Mr
Winant por bastante tempo e tinha grande respeito e admiração por ele, da
mesma forma que meu marido,” escreveu mais tarde. “Nem respondi à proposta
de Harry, salvo para dizer que conhecia Averell Harriman desde rapaz.” (Ela
deixou de mencionar que não o achava grande coisa.) “Harry sempre teve a
propensão de apoiar primordialmente os amigos (...) Creio que ele nunca
realmente conheceu ou entendeu Mr Winant.”
Em Londres, Mrs Roosevelt nem ligou para Harriman. Em vez disso,
recorreu a Winant para quase todos os aspectos da visita, inclusive sua breve
estada com o Rei e a Rainha no Buckingham Palace. Como Eisenhower, ela se
sentia atemorizada e com um “sentimento de inadequação” só em pensar na
relação social com a aristocracia inglesa, particularmente com o monarca.
Eleanor cou tão nervosa que, de fato, chegou a pensar: “Por que diabos me
deixei convencer a fazer essa viagem.” Embora Winant tivesse ajudado a afastar
algumas de suas preocupações, ela, mais uma vez a exemplo de Eisenhower, cou
envergonhada com a simplicidade de seu vestuário e imaginou o que a criada do
Buckingham Palace teria pensado quando retirou os poucos artigos de suas
malas. Anos depois, Mrs Roosevelt comentaria ironicamente que na América,
“um país que derramara seu sangue para se tornar independente de um rei, ainda
havia enorme veneração pela realeza e pela magni cência que a cerca.”
Quando, em suas memórias, escreveu sobre aquela visita, Mrs Roosevelt
registrou que o tempo que passou com Winant a ajudou a aprofundar a amizade
e aumentar a admiração por aquele homem tímido que “dava pouca atenção
[189] ao próprio conforto, porém muita para a ajuda aos amigos. (...) Fiquei muito
agradecida por toda a assistência que ele me proporcionou e voltei com a
sensação de que o embaixador iluminou com sua presença muitos locais
sombrios.”
 
Irritado e desencorajado pelo círculo burocrático que o sufocava
(“Ele considerava uma afronta pessoal,” disse um de seus assistentes), Winant
estava também totalmente exaurido. Como sempre antes zera — em New
Hampshire, Washington e Genebra — trabalhava incessantemente, até a
exaustão. “Ele carregava nos ombros os problemas do mundo,” comentou o adido
político Theodore Achilles. “Achava muito difícil relaxar.” O único exercício do
embaixador era um ocasional passeio pelos parques de Londres.
A secretária do Trabalho, Frances Perkins, e David Gray, embaixador dos
Estados Unidos na Irlanda e tio de Eleanor Roosevelt, estavam entre os muitos
amigos de Winant que temiam aquilo que consideravam sua excessiva devoção
ao trabalho. Perkins mandou para Winant algumas vitaminas em pílulas para
reforçar suas energias. Gray alertou o colega: “Se você arriar, qual será o
resultado? O que importa é sua personalidade e seu senso de valores, e acho que,
se necessário, você deveria ser mantido numa redoma de vidro ou, melhor ainda,
passar dois ou três dias por semana no campo, caminhando até cansar.”
Partilhando as preocupações de Gray e Perkins, Anthony Eden mais tarde
descreveu Winant como “muito dedicado ao trabalho, sem dar a mínima
importância à política partidária ou a si mesmo.”
Na verdade, Eden e Winant tinham vários pontos em comum — no desvelo
pelo trabalho e em muito mais. O secretário do Exterior, com quarenta e três
anos, normalmente cava em sua mesa no Foreign O ce desde as primeiras
horas da manhã até tarde da noite, só se concedendo poucas horas de sono no
pequeno apartamento que mantinha no mesmo prédio. Habilidoso negociador e
mestre na diplomacia (“um dos melhores que jamais conheci,” disse Winant),
Eden, como o amigo americano, também se via ofuscado e ultrapassado por seu
chefe — no caso, o primeiro-ministro que, repetidas vezes, se metia nas relações
exteriores inglesas, campo de trabalho do ministro.
Nos anos 1930, Eden era o “menino de ouro” da política inglesa — um
atraente e glamoroso herói de guerra e gura de estatura internacional antes
mesmo de completar trinta e cinco anos. Era tão popular no país que quando
renunciou ao Foreign O ce de Neville Chamberlain, em 1938, devido à política
de apaziguamento do primeiro-ministro em relação a Mussolini, ele poderia
muito bem ter disputado a che a do governo com Chamberlain. Mas, como o
próprio Eden disse, “Falta-me ousadia [190],” e o bastão da liderança foi cair nas
mãos de Churchill. Embora se queixasse, durante toda a guerra, da interferência
do primeiro-ministro em sua seara, Eden assim mesmo conseguiu angariar para
sua pessoa uma posição altamente in uente nas relações internacionais.
A amizade de Winant com o ministro do Foreign O ce era, com exceção de
seu relacionamento com Sarah Churchill, a ligação mais importante para ele em
Londres. Os dois entravam em contato direto quase todos os dias, fosse pelo
telefone, fosse pessoalmente; Winant era uma das poucas pessoas que tinham a
chave do elevador particular que levava direto ao gabinete do ministro. Nos ns
de semana, Eden habitualmente levava Winant para sua casa de campo, em
Sussex, onde os dois despachavam seus documentos o ciais numa mesa no
jardim. O ministro era entusiasmado jardineiro: “Nunca conheci ninguém,”
lembrou Winant, “com tanto carinho por ores, vegetais ou árvores frutíferas, ou
tamanho deleite ao apreciar o vento soprando sobre os campos de trigo ou as
verdes pastagens características de Sussex Downs.” Quando precisavam de uma
pausa no trabalho, Winant e Eden deixavam a papelada de lado e iam arrancar
erva daninha dos jardins. “Colocávamos as pastas de despachos nas duas
extremidades,” disse Winant, “e quando completávamos uma leira, pagávamos
o preço de ler algumas mensagens e rascunhar as respectivas respostas. Então
recomeçávamos o trabalho [limpando os jardins].”
Contudo, por maior que fosse a a nidade com Eden, Winant encontrou
maior satisfação no seu profundo envolvimento com Sarah Churchill. Ela tinha
se separado de Vic Oliver no m de 1941 e, um pouco mais tarde, embarcou num
caso amoroso com Winant. Após deixar Oliver, Sarah abandou a carreira de atriz
e alistou-se no WAAF. Independente como sempre, rejeitou a oferta do pai de
um emprego na Divisão de Operações do Comando de Caças da RAF e, em vez
disso, tornou-se analista de fotogra as aéreas de reconhecimento numa base da
RAF em Berkshire. Tratava-se de função muito exigente, submetida a grande
pressão e ultrassecreta, mas ela descobriu, para sua grande satisfação, que se saía
muito bem. Entre outras atribuições, Sarah e outros analistas examinavam as
fotogra as aéreas de instalações navais alemãs, tentando determinar e prever os
deslocamentos das forças navais do inimigo.
No m de 1942, na véspera da invasão aliada no norte da África, seu pai lhe
disse quase sem poder disfarçar o estado de nervosismo: “Neste exato momento
[191], deslizando furtivamente pelo Estreito de Gibraltar e sob o manto protetor
da escuridão, estão passando 542 navios para desembarques na África do Norte.”
“Não exatamente,” disse Sarah. “São 543.”
Churchill olhou carrancudo para a lha: “Como você sabe disso?”
“Venho trabalhando nisso há três meses.”
“E por que não me contou?”
“Acho que existe uma coisa chamada salvaguarda das informações.”
A carranca de Churchill fechou mais ainda, e Sarah receou que ele fosse
repreendê-la pelo atrevimento. Em vez disso, Churchill sorriu e, no jantar
daquela noite em Chequers, relatou, com alguns exageros e alegria, a história de
ter na lha Sarah uma rival no conhecimento de fatos da guerra.
Pelo restante da guerra, Sarah levou uma vida dupla: nos dias úteis, em
intenso e desgastante trabalho em Berkshire; e nos ns de semana, em Chequers
ou no seu pequeno apartamento na Park Lane, distante cinco minutos a pé da
embaixada americana. Winant passava com ela o maior tempo possível.
Diferentemente de Harriman e Pamela Churchill, cujo a air já era conhecido
por toda Londres, Sarah e Winant eram excepcionalmente discretos sobre seu
envolvimento. A separação do marido foi mantida em segredo, salvo da família e
dos amigos; para manter as aparências, Sarah, ocasionalmente, aparecia em
público com Oliver. Como os dois, ela e Winant, ainda mantinham casamentos,
se bem que infelizes, a lha de Churchill resolveu evitar um escândalo que, da
sua perspectiva, causaria grandes estragos tanto para Winant quanto para seu
adorado pai.
Por mais cuidadosos que fossem, no entanto, tornou-se impossível manter o
caso em completo segredo. Diversas pessoas próximas ao primeiro-ministro,
inclusive John Colville, tomaram conhecimento dele, até o próprio Churchill,
acreditava Sarah. Anos mais tarde, ela escreveria melancolicamente sobre esse
“caso de amor de que meu pai suspeitava, mas que a respeito do qual não fez
comentário nenhum.”
11

“Ele Nunca Nos Abandonará”


 
Enquanto se equilibrava qual malabarista em meio à
enormidade de problemas, pro ssionais e pessoais que enfrentou na primavera e
no verão de 1942, Winant recebeu uma chamada telefônica de Clement Attlee,
líder do Partido Trabalhista e vice-primeiro-ministro. Attlee disse ao embaixador
que precisava de sua ajuda para resolver uma urgente crise interna, que pouco
tinha a ver com a aliança anglo-americana.
No começo de junho, mineiros de carvão do norte da Inglaterra haviam
entrado em greve, o que representava grave ameaça para a produção de guerra do
país e para sua economia perigosamente frágil, numa ocasião em que a situação
militar dos aliados parecia ter atingido o nadir. Com os alemães prestes a tomar o
Canal de Suez e, aparentemente, próximos da vitória na União Soviética, tratava-
se do pior momento possível para uma greve na indústria do carvão — posição
que Attlee, Ernest Bevin e outros membros do Partido Trabalhista no governo de
coalizão zeram questão de ressaltar enquanto tentavam persuadir os mineiros a
terminarem com a interrupção. Os grevistas, no entanto, se mostraram
irredutíveis. Foi então que Attlee recorreu a Winant. Poderia ele viajar a
Durham para ajudar a acabar com o impasse?
Envolver o embaixador dos Estados Unidos numa disputa trabalhista inglesa
era, por todos os padrões, uma ideia exótica, até revolucionária. Mas Attlee, que
era amigo de Winant desde meados dos anos 1930, sabia quão popular era o
embaixador americano entre os trabalhadores britânicos. Nos seus dias de OIT,
Winant zera um giro, a pedido do Partido Trabalhista, pelas regiões mais
atingidas da Inglaterra pela depressão econômica e recomendou medidas para
amenizar o desemprego generalizado. Como embaixador, realizara também
diversas viagens para fora de Londres, visitando mineiros e outros operários das
indústrias. “Ele possuía inusitado [192] entendimento dos trabalhadores,”
observou um de seus colegas de OIT. “Provinha de família abastada, mas
conseguia se expressar com o mesmo linguajar de Bevin, nascido e criado no
meio trabalhador.”
Em uma das viagens ao sul de Gales, Winant foi apresentado a dois mineiros
aposentados, que se encontravam postados na margem da estrada, e com eles se
engajou em animada conversa. “Os três pareceram se entender [193]
perfeitamente bem,” observou Arthur Jenkins, parlamentar trabalhista que zera
as apresentações. “Diversas vezes depois daquele dia, encontrei-me com aqueles
dois mineiros, e eles sempre perguntaram pelo embaixador. Os poucos minutos
que passaram juntos bastaram para que John Winant conquistasse a admiração
deles.” Jenkins acrescentou. “A maioria das pessoas neste país sente que quase
qualquer problema pode ser satisfatoriamente equacionado se puderem ser
reunidos numa sala de negociações homens com as qualidades do embaixador.”
Quando Wallace Carroll, da Agência de Informação de Guerra,
empreendeu longa jornada por toda a Inglaterra durante a guerra, por onde
passou foi também perguntado a respeito do embaixador. “Caso se estivesse
entre os mineiros de Gales, eles diziam: 'Aquele tal de Winant é um cara legal.'
Se fosse entre os trabalhadores da indústria têxtil do Lancashire ou entre os
operários dos estaleiros ao longo do Clyde, a frase era: 'Conhecemos Winant —
ele nunca nos abandonará.'”
 
Winant não precisava que Attlee lhe dissesse quão perigosa para a
Inglaterra seria uma prolongada greve dos mineiros de carvão. O carvão era o
sangue de vida da indústria britânica, e sua produção, nas palavras de um
historiador, “era tão essencial para a vitória militar inglesa quanto as ações no
campo de batalha.” Contudo, o trabalho nas minas de carvão era, como sempre
fora, perigoso, miserável e muito mal remunerado. Os mineiros desciam a
profundidades próximas dos mil metros para ingressar na escuridão das galerias;
trabalhavam em posições agachadas nos túneis apertados durante as sete ou mais
horas de cada turno; inalavam vapores tóxicos e poeira do carvão; arriscavam-se a
ferimentos e morte todos os dias; e, em troca, recebiam salários que mal davam
para evitar a fome em suas famílias.
Interessados primordialmente nos lucros rápidos, os proprietários de minas,
em sua maior parte, pouco ou nada faziam para modernizar as operações e
melhorar as condições de trabalho, as quais, de acordo com um observador, “mais
pareciam o trabalho nas galés [de escravos] exibidas nos lmes do que as
condições modernas do labor industrial.” Nos vinte anos anteriores, o número de
mineiros de carvão decrescera dramaticamente. Os rapazes das regiões carvoeiras
cada vez mais procuravam empregos em outras áreas; quando a guerra começou,
eles con uíram para as seções de alistamento nas forças armadas. No meio-
tempo, a produtividade dos que ainda permaneceram nas minas foi se tornando
claramente inferior, resultando em séria insu ciência de carvão, que se traduzia
não apenas em problemas para a produção de guerra, como também em
di culdades para o aquecimento das residências inglesas.
Na oportunidade em que começaram as hostilidades, rigorosas medidas do
governo, inclusive controle de salários e proibição de greves, foram impostas aos
mineiros. Em troca, foram-lhe prometidos aumentos e melhoras nas condições de
trabalho. Tais promessas, entretanto, nem sempre se concretizaram. Em 1941,
por exemplo, a administração de uma mina em Northumberland pediu a seus
operários que aumentassem a produção; quando eles concordaram e, com grande
esforço, conseguiram, foram solicitados a aceitar um corte nos salários.
Irritados com o que consideravam exploração da parte dos empregadores e
do governo, os mineiros que entraram em greve no verão de 1942 julgaram que já
era hora de alguém começar a pensar neles. Como outros britânicos, eles se
conformaram com as rigorosas regulamentações e controles de tempo de guerra
aplicados pelo estado sobre seus cidadãos, assim como com a perda de grande
parte de seus direitos individuais. No começo da guerra, o governo recebeu um
cheque em branco para fazer virtualmente o que quisesse para garantir a
segurança pública e travar a guerra. Preciosas liberdades inglesas, como o habeas
corpus, foram postas de lado. Funcionários receberam autoridade para prender
por tempo indeterminado, sem julgamento, qualquer pessoa considerada
perigosa para o interesse público. Também podiam reprimir manifestações;
requisitar, sem indenização, qualquer prédio ou outra propriedade, de um cavalo
a uma ferrovia; dizer aos granjeiros o que deveriam plantar e o que fazer com
suas safras; e entrar em qualquer residência sem mandado judicial ou aviso
prévio.
Ao mesmo tempo, o governo mobilizou a vasta maioria dos adultos da nação
para participar diretamente do esforço de guerra; no nal de 1941, a Inglaterra
tornou-se o primeiro país industrializado importante a convocar o sexo feminino
para o trabalho de guerra. Como Ed Murrow disse aos seus ouvintes: “Tudo, com
exceção [194] da consciência, pode agora ser convocado por este país.” Por volta
de 1943, o nível do controle governamental sobre seu povo “tornou-se tão
apertado,” escreveu o historiador Angus Calder, “que se pode dizer, sem muito
exagero, que toda costureira e guarda ferroviário (...) eram uma parte tão crucial
do esforço nacional quanto os soldados ou montadores de aviões nas linhas de
produção.”
Apesar de a maioria “odiar com o senso [195] de violação da dignidade
pessoal ferida que têm os ingleses esse labirinto de complexidades chamado
'controles do governo,' grande parte reconhecia a necessidade desses controles
durante a guerra. Os civis ingleses, como os soldados nos campos de batalha
distantes, estavam nas linhas de frente desde o verão de 1940. Que nem as tropas
britânicas, haviam se sacri cado e tinham sofrido bastante por seu país; muitos
pereceram. Agora, achavam que o governo lhes devia alguma coisa em troca — a
promessa de reformas de monta, após a guerra, que dessem um m à rígida
sociedade inglesa de classes de pré-guerra, e promovesse a justiça social e a
oportunidade econômica para todos. Ao longo da guerra, recordou-se o escritor
C.P. Snow, os britânicos tinham duas preocupações principais: “o que iriam
comer no dia de hoje e o que aconteceria com a Inglaterra amanhã; é importante
lembrar o idealismo de todos naqueles dias, a despeito dos rigores e da pressão da
guerra.”
Os mesmos ideais e esperanças eram partilhados por boa parte dos
americanos que temporariamente viviam na Inglaterra durante a guerra. Entre
eles, Winant, Murrow e Eleanor Roosevelt, a qual, no decorrer de sua visita ao
país em 1942, cara deleitada ao ver mulheres ingleses, de todas as origens,
trabalhando juntas no esforço de guerra. “Essas Ilhas Britânicas,” escreveu mais
tarde, “que foram sempre consideradas estrati cadas em classes, um lugar em
que as pessoas cavam praticamente congeladas em suas respectivas classes,
raramente experimentando a mobilidade social vertical, foram amalgamadas
juntas pela guerra numa comunidade tão estritamente emaranhada que as
antigas distinções perderam o sentido.”
De sua parte, Murrow antevira a fusão da velha Inglaterra e o forjamento de
uma nova nação tão logo cessasse o inferno da Blitz. Se essa guerra objetiva
alguma coisa, pensou ele, é o bem-estar e o futuro das pessoas comuns. A guerra
tinha outro propósito que transcendia a derrota da Alemanha e certamente ia
além da restauração do status quo ante. O mundo pós-guerra teria de se
comprometer com a erradicação da pobreza, da desigualdade e da injustiça.
Em 1940, enquanto a Inglaterra lutava por sua sobrevivência, Murrow já
levantava questões sobre o futuro pós-guerra. “Quais são os objetivos de guerra
deste país?” — perguntou num programa. “O que deveremos fazer com a vitória
quando ela for alcançada? Que espécie de Europa será construída depois de
passada toda essa tensão?” Murrow disse aos seus ouvintes americanos: “Tem de
haver igualdade sob as bombas.” O trabalhador inglês “precisa se convencer de
que, depois de tudo o que sofreu, um mundo melhor emergirá.”
A visão de Murrow de um bravo novo mundo era compartilhada por diversos
outros correspondentes americanos em Londres. “Nós conversávamos [196]
sobre o assunto, Ed e eu, Scotty Reston e outros,” lembrou Eric Sevareid.
“Julgávamos que talvez uma coisa maravilhosa estivesse acontecendo com o povo
inglês. Uma espécie de revolução moral se realizava, e, como resultado, surgiria o
renascimento de um grande povo. (...) Pela primeira vez, sentiu-se que a guerra
poderia ter um signi cado positivo.”
 
Contudo, para Winston Churchill , discussões desse tipo eram
pura conversa ada. Seu único objetivo em 1942 era a vitória sobre o Eixo, e ele
se ressentia com o levantamento de questões que considerava irrelevantes,
de etoras do foco, que provavelmente causariam fricções dentro do governo de
coalizão. “Para Winston, a guerra é um m em si mesma, e não um meio para
determinado m,” registrou Lord Moran em seu diário. “Ela o fascina, ele a ama
(...) não acredita nem está interessado no que virá depois dela.”

Aos sessenta e sete anos de idade, Churchill estava muito longe dos anos de
jovem ministro liberal do Gabinete, quando emergiu por breve período como
reformador social. Junto com David Lloyd George, ele fora a mola propulsora
para a introdução de reformas importantes no bem-estar social da Inglaterra
pouco depois da virada do século, inclusive providências para reduzir a pobreza e
o desemprego. Diferente de Lloyd George, no entanto, Churchill não era — e
nunca seria — um radical social. Suas visões da sociedade tendiam a ser
extremamente paternalistas, tal e qual um “velho e benevolente latifundiário
tory,” disse o trabalhista Herbert Morrison, “que faz o que pode por sua gente —
desde que ela seja boa e obediente, e saiba, exata e lealmente, qual o lugar dela e
o dele.”
Como Clementine Churchill con denciou certa vez a Lord Moran, o
primeiro-ministro não sabia praticamente nada a respeito de como viviam os
ingleses comuns — e não tinha o menor interesse em corrigir tal de ciência. “Ele
nunca andou de ônibus,” disse Clementine, “e só uma vez de metrô. Foi durante
a Greve Geral (1926) quando eu o larguei na estação de South Kensington.
Depois do trajeto, ele cou rodando que nem peru sem saber como sair da
estação e teve que ser, no nal, resgatado.” Com alguma veemência, acrescentou:
“Winston é egoísta. (...) Vê você, ele teve sempre a capacidade e a força para levar
a vida exatamente como gostaria.”
Ainda assim, a despeito do enorme abismo que existia entre ele e a maioria
de seus concidadãos, Churchill teve habilidade su ciente para estabelecer uma
ligação quase mística com eles no que tange ao combate na guerra. Mesmo antes
de se tornar primeiro-ministro, já havia inspirado o povo inglês com sua
determinação de lutar contra o inimigo até o m, fosse qual fosse o custo. Como
Primeiro Lord do Almirantado, de setembro de 1939 a maio de 1940, despontara
como a gura mais popular da nação. “Em Mr Churchill,” [197] escreveu o
editor Kingsley Martin, “vimos um homem de ação, que (...) fez-nos lembrar que,
não importava o que fôssemos ou pensássemos que fôssemos, havíamos nascido e
sido criados ingleses, e ingleses teríamos então que viver ou morrer.”
Como Martin deu a entender, Churchill e o povo inglês partilhavam muitas
das mesmas qualidades — determinação inabalável, coragem, energia e
combatividade. Quando viajaram com o primeiro-ministro durante a Blitz,
Winant e Averell Harriman testemunharam a grande a nidade que ele tinha
com seus compatriotas, que se aglomeravam à sua volta aonde fosse. Três anos
depois, no dia da Vitória na Europa (V-E Day), Churchill assomaria em uma das
sacadas de Whitehall e declararia para o mar delirante de gente reunida de pé à
sua frente. “Essa é a vossa vitória.” Como uma só voz, a resposta vinha
retumbante: “Não, é sua.”
Porém, quando se tratava de política social, não havia quase conexão entre
Churchill e seu povo — fato que se evidenciou com a reação do primeiro-ministro
e seu governo à publicação do Relatório Beveridge, no m de 1942. Levando o
nome de seu autor principal, Sir William Beveridge, o relatório propunha a
criação de uma rede de seguridade social para assegurar um padrão mínimo de
vida para todos os britânicos, que abarcava bolsa de família, um serviço nacional
de saúde e uma política de pleno emprego.
O povo cou muito entusiasmado com o relatório, que foi descrito como uma
Carta Magna social e se tornou de imediato um campeão de vendas. Os
londrinos permaneciam horas nas las “para comprar o pesado tijolo sobre
economia, que custava dois shillings, como se fosse maná não racionado caído do
céu,” escreveu Mollie Panter-Downes na New Yorker. Pelo restante da guerra, as
reformas propostas no Relatório Beveridge dominaram o debate político na Grã-
Bretanha. Enquanto muitos membros do Partido Trabalhista demandavam que o
governo começasse logo as discussões sobre a maneira de implementar aquele
plano social para o futuro, Churchill e a maioria dos tories resistiam a tais ideias.
O primeiro-ministro via o relatório como inoportuno desvio das atenções do
esforço de guerra, e suas propostas, como demasiadamente onerosas para uma
Inglaterra, que estava economicamente frágil, assumir antes que a guerra
terminasse. Da sua perspectiva, o autor do documento, ex-diretor da London
School of Economics, não passava de “um parlapatão [198], um sonhador.”
Outros funcionários do governo zeram de tudo para ignorar o relatório,
recusando-se a debatê-lo ou dar-lhe qualquer publicidade o cial.
 
Ardente defensor dos objetivos do Plano Beveridge , Gil
Winant cou decepcionado com a reação hostil de Churchill à noção de
reformas sociais no pós-guerra. Como Murrow, o embaixador tinha ligação
estreita com Beveridge e com muitos outros proeminentes intelectuais e
escritores de esquerda na Inglaterra, inclusive Harold Laski, H.G. Wells, R.H.
Tawney e John Maynard Keynes. Winant passara muitas noites na cozinha do
porão na casa de Keynes, em Bloomsbury; por seu lado, oferecera pequenos
jantares a Keynes, Laski e outros no seu apartamento em Grosvenor Square,
onde discussões de longo alcance tinham lugar a respeito do planejamento do
mundo pós-guerra, discussões madrugada adentro.
Por décadas, o foco principal de Winant vinha sendo a justiça social e o
esforço por criar uma vida melhor para os trabalhadores, homens e mulheres, de
todo o mundo. “Quando a guerra for vencida pela democracia, precisamos estar
preparados para ganhar a paz,” disse ele no dia que foi nomeado embaixador na
Inglaterra. Poucos meses antes, ele conversara com William Shirer sobre suas
ideias para a reconstrução pós-guerra da Europa e para a formulação de uma
economia de paz “sem as mazelas, o vasto desemprego, de ação e depressão, que
se seguiram à última guerra.” Num programa da BBC, declarou: “Existe uma
profunda conscientização de que a paz e a justiça social devem andar de braços
dados.” Desde que chegou à Inglaterra, os pronunciamentos de Winant e suas
conversas em particular eram centradas na necessidade de persuadir as nações do
mundo “a se concentrarem em coisas que unem a humanidade, e não naquelas
que a dividem.”
Roosevelt o enviara à Inglaterra precisamente em razão de suas relações com
os políticos e intelectuais de esquerda, os quais, acreditava o Presidente,
assumiriam a liderança do país durante ou imediatamente após o con ito. Porém,
no desempenho das funções de embaixador, ele se tornara também amigo pessoal
de Churchill. Recusando-se a desistir de modi car as noções que o primeiro-
ministro tinha a respeito de reformas sociais, Winant, ocasionalmente, tentou
atraí-lo para a direção correta. Numa oportunidade em que Churchill, em
reunião de empregadores e representantes de empregados, elogiou os membros
dos sindicatos por abrirem mão de certos direitos durante a guerra, o embaixador,
falando no mesmo encontro, diplomaticamente encorajou o líder inglês a dedicar
mais consideração às necessidades dos trabalhadores. Combater o inimigo, disse
ele, “requer não apenas [199] capacidade, trabalho duro e equipamentos, mas
também um entendimento que mostre sensibilidade à devotada lealdade do
povo.”
 
Em 6 de junho de 1942 , o embaixador dos Estados Unidos já olhava
pela janela do trem para a desolada e desanimadora paisagem dos distritos
ingleses produtores de carvão do nordeste da Inglaterra. Ele aceitara a solicitação
de ajuda de Clement Attlee para pôr m à greve dos mineiros, e os dois estavam,
então, a caminho de Durham, onde líderes de sindicatos e mais de quatrocentos
delegados, representando milhares de trabalhadores em greve, os esperavam.
Quando ele e Attlee entraram no sombrio salão do sindicato, Winant foi
recepcionado com muito entusiasmo pelos mineiros. Imediatamente, começou
seu pronunciamento que, sem mencionar greves, assemelhou a batalha contra o
fascismo com a luta pela democracia social. Os mineiros e outros operários, disse,
estavam na linha de frente como os soldados em campanha, e com a mesma
responsabilidade pelo prosseguimento do combate. “Vocês, que sofreram tão
profundamente nos longos anos da Depressão, sabem que temos que nos
envolver com uma grande ofensiva social se quisermos vencer a guerra por
completo. Não se trata de uma tarefa militar de curto prazo. Precisamos decidir
solenemente que, na nossa ordem social futura, não toleraremos os males
econômicos que germinaram a pobreza e a guerra.” Então, numa arguta e sutil
admoestação ao governo britânico, Winant acrescentou: “Isso não é alguma coisa
que deva ser colocada na prateleira durante o con ito armado. Isso é parte da
guerra.”
Foi um dos mais brilhantes discursos de Winant. Sua habitual hesitação no
início, as longas pausas e o tropeço nas palavras, sumiram por completo quando
ele ofereceu, com intensidade apaixonada, sua visão para um novo mundo pós-
guerra. Inclinados para a frente em suas cadeiras, os mineiros não perdiam uma
só palavra.
“O que queremos não é complicado,” a rmou o embaixador. “Temos
su ciente conhecimento técnico e capacidade de organização. (...) E temos
su ciente coragem. É mister que coloquemos tudo isso em prática. Quando a
guerra acabar, a impulsão por tanques tem de se transformar numa impulsão por
habitações. A impulsão por alimentos, para evitar que o inimigo nos leve à
inanição, tem de se tornar uma impulsão por empregos, para fazer com que o
desejo de liberdade se torne uma realidade palpável. (...) Da mesma forma que os
povos das democracias se encontram hoje unidos por um objetivo comum, nós
estamos comprometidos com um objetivo comum para o amanhã. Estamos
comprometidos com a criação da democracia popular.”
Os olhos de Winant passearam pela audiência. “Temos sempre que
lembrar,” disse o embaixador, “que são as coisas do espírito que no m
prevalecem. Que a preocupação com as pessoas faz sentido. Que onde não existe
visão ampla, o povo perece. Que esperança e fé são importantes, e que sem
caridade não existe nada de bom. Que, ao ousarmos viver perigosamente,
estamos aprendendo a viver com generosidade. E que, por acreditarmos na
bondade inerente ao homem, podemos atender à conclamação de seu primeiro-
ministro e 'nos lançarmos à frente no desconhecido com crescente con ança.'”
Quando Winant terminou, houve um longo silêncio, seguido de uma
explosão de aplausos e o troar de brados de “Hear, hear!” (Apoiado, apoiado). Pela
hora e meia seguinte, os mineiros crivaram o embaixador de perguntas sobre a
América, a guerra e a situação mundial. Depois, ele foi engolido por exaltado
aglomerado de mineiros que queriam apertar-lhe a mão e agradecer sua vinda.
“Achamos, [200] Sir,” exclamou o tesoureiro do sindicato, “que o senhor é um
grande sujeito.” Poucas horas depois, os mineiros em greve de Durham votaram
pela volta ao trabalho, como também o zeram os mineiros de Lancashire e
Yorkshire.
“WINANT FALA, GREVE TERMINA” estampou em
grande manchete o Daily Express do dia seguinte. Lamentando o atraso do
governo inglês na de nição do mundo do pós-guerra, o Daily Herald comparou o
discurso de Winant com o de Lincoln pronunciado em Gettysburg, na sua
exortação por “uma nova e maior emancipação mundial.” O Herald instou para
que as palavras do embaixador “fossem xadas na memória, repetidas nas escolas
e pregadas em todas as igrejas.” O Manchester Guardian, nesse ínterim, exaltou
as observações de Winant como “um dos maiores discursos da guerra.”
Todavia, apesar de a eloquência do embaixador ter ajudado a resolver a greve
dos mineiros, a questão maior dos objetivos do con ito armado — quais eram as
razões para se travar a guerra? — permaneceu uma contenda. Poucos meses
depois da greve, tal questão estaria no seio de uma terrível controvérsia sobre a
Operação Torch, o assalto anglo-americano ao norte da África. Winant e Murrow
seriam novamente envolvidos, porém, dessa vez, em lados opostos. Murrow iria
desa ar ostensivamente sua rede de radiodifusão e o governo dos EUA,
enquanto Winant seria compelido a defender uma política que, no âmbito
privado, acreditava ser tragicamente equivocada.
12

“Combatemos os Názis ou
Dormimos Com Eles?”
 
O general escolhido para comandar a invasão da África do Norte
cou alarmado com a nova missão. Dwight Eisenhower fora enviado à Inglaterra
para supervisionar a organização das forças americanas naquele país e, pensava
ele, para preparar um desembarque dos aliados na França. Esse fora o esquema
que formulara como chefe do planejamento de guerra em Washington e sobre o
qual ele e George Marshall vinham trabalhando os sete meses anteriores. Porém,
para insatisfação dos dois generais, Winston Churchill convencera Roosevelt em
julho de que o assalto inicial anglo-americano deveria ter lugar no norte da
África, mais tarde naquele mesmo ano. Na opinião de Eisenhower, o dia em que
Roosevelt concordou com Churchill foi “o mais negro [202] da história.”
In exíveis quanto ao fato de os aliados não possuírem os meios para desa ar
Hitler no Continente, os ingleses argumentaram que um desembarque na
periferia da África, na verdade, abriria o caminho para um bem-sucedido ataque
nal contra a Europa. Após o estabelecimento do controle no norte francês da
África, os aliados progrediriam para o leste na direção da retaguarda de Rommel
e seu Afrika Korps, enquanto o VIII Exército britânico atacaria os alemães a
partir do leste. Como os ingleses viam a situação, a expulsão das forças alemãs da
região não apenas salvaria o Egito e o Canal de Suez como também reabriria o
Mediterrâneo para os navios de suprimentos e de transporte de tropas dos
aliados, que eram então obrigados a navegar milhares de milhas para chegarem ao
Oriente Médio e à Índia. Na avaliação de Alan Brooke, uma vitória no norte da
África liberaria pelo menos um milhão de toneladas de transporte marítimo para
emprego numa operação ofensiva de larga escala no Continente.
Roosevelt, no entanto, foi menos convencido pela argumentação do
transporte marítimo do que pelo fato de as tropas americanas poderem,
nalmente, entrar em ação contra os alemães. Em resposta à incessante exigência
de Stalin por uma Segunda Frente, o Presidente tinha prometido, em maio, ao
ministro do Exterior soviético, que os aliados esperavam abrir tal frente mais
tarde naquele ano. FDR percebia também o crescente desassossego do povo
americano que, depois de Pearl Harbor, considerava o Japão, e não a Alemanha,
o principal inimigo do país. A menos que as forças dos EUA fossem enviadas
com rapidez ao teatro de operações europeu, as pressões do Congresso e do povo
poderiam levar a um maciço desvio dos recursos americanos para a luta contra o
Japão. “Apenas com grande esforço [203] intelectual,” Henry Stimson escreveu a
Churchill, o povo americano fora “convencido de que a Alemanha era seu mais
perigoso inimigo e deveria ser combatida antes do Japão.”
Em troca pela sua aquiescência à operação no norte da África, Roosevelt
insistiu que lhe fosse consentido estabelecer a maioria de suas diretrizes.
Sobretudo, disse ele, a operação terá de ser predominantemente americana, com
um comandante americano, para amenizar a resistência das forças da França de
Vichy na África Norte. Quando a França capitulara para a Alemanha, em junho
de 1940, o governo francês, sob seu novo presidente, marechal Philippe Pétain,
recebera autorização de Hitler para se instalar em Vichy, uma cidade no centro
da França. Os franceses, disse FDR a Churchill, muito provavelmente resistiram
menos às tropas dos EUA que às inglesas, que haviam destruído, dois anos antes,
a maior parte da esquadra francesa no porto argelino de Oran, e apoiavam
Charles de Gaulle, o general rebelde que escapara para Londres a m de
congregar os franceses contra Vichy e contra o Reich.
Ao contrário dos ingleses, os americanos haviam mantido relações
diplomáticas com o governo de Vichy, que tinha permissão dos alemães para
manter o controle sobre o norte francês da África e sobre as outras possessões
coloniais do país, assim como sobre sua esquadra. O governo Roosevelt suportou
severas críticas em casa por suas ligações com Vichy, que tinha colaborado com os
názis e imposto um regime autoritário na região que controlava no sul da França.
Os funcionários de Vichy haviam instituído políticas repressivas contra os judeus
bem antes de receberam ordens alemãs para fazê-lo e, mais tarde, ajudaram os
názis a arrebanhar judeus com a nalidade de deportá-los para campos de
concentração ou de extermínio. Na ocasião em que eram contratados, os policiais
de Vichy tinham que fazer o seguinte juramento: “Juro lutar contra a
democracia, contra a insurreição gaullista e contra a lepra judaica.” Não
obstante, Roosevelt acreditava que, a despeito de todos os seus pecados, era
importante manter uma boa relação com os líderes de Vichy, os quais, esperava
FDR, manteriam o norte francês da África e a esquadra longe da mão dos názis e,
talvez em determinada oportunidade, passassem para o lado dos aliados.
Ao mesmo tempo, o Presidente desenvolveu grande aversão pelo arrogante e
difícil de Gaulle, embora não o conhecesse pessoalmente. Outra condição dos
Estados Unidos para a Torch foi a exclusão do general e de seus Franceses Livres
da operação. Além disso, Roosevelt determinou que de Gaulle não recebesse
qualquer informação prévia sobre os desembarques “não importa quão [204]
irritado ou irritante ele possa car.” Tendo vencido a batalha do assalto ao norte
da África, Churchill se mostrou mais do que satisfeito por concordar com os
termos de Roosevelt. “Considero-me seu tenente,” telegrafou ao Presidente.
“Essa é uma empreitada americana na qual somos seus meros coadjuvantes.”
Era, entretanto, uma empreitada que Eisenhower considerava, em todos os
escalões, um pesadelo. Ele e seus subordinados tinham apenas uns poucos meses
para planejar um dos mais audaciosos desembarques anfíbios da história, pois
envolveria duas forças de assalto trazidas dos Estados Unidos e da Inglaterra para
as praias de um continente “onde nenhuma campanha militar de vulto fora
travada por séculos.” Como assessor militar de Churchill, Pug Ismay observou
em suas memórias que qualquer operação anfíbia era um feito extremamente
difícil. Requeria “pessoal altamente treinado, grande variedade de
equipamentos, detalhado conhecimento dos pontos de desembarque, acuradas
informações sobre as possibilidades e dispositivos do inimigo e, talvez se
sobrepondo a tudo isso, meticulosos planejamento e preparação.” Podia-se dizer
que a Torch não satisfazia a nenhuma dessas condições.
Eisenhower e seus subordinados se preocupavam com o aprestamento para a
batalha das tropas americanas do assalto, a maioria das quais recebera pouco ou
nenhum treinamento de combate. De fato, alguns não tinham aprendido a
carregar, apontar ou atirar com um fuzil até que já estavam embarcados nos
navios que os transportavam para o norte da África. O comando americano
também se mostrava apreensivo com os poucos armamentos, suprimentos e
navios disponíveis para uma empresa de tal vulto. “Ainda vivíamos uma situação
de escassez,” escreveu Eisenhower mais tarde. “Não havia de coisa alguma o que
se conhece por plenitude.” E, até poucas semanas antes do deslanchar da invasão,
ainda se argumentava furiosamente sobre os locais em que os desembarques
iriam se realizar.
Os ingleses queriam tocar o litoral o mais a leste possível, de modo que as
tropas pudessem se deslocar rapidamente para a Tunísia, objetivo principal da
Torch, a m de impedir o desembarque de forças adicionais alemãs e assumir o
controle de Túnis e Bizerta, os dois principais portos de águas profundas do país.
Segundo o cenário esperado pelos ingleses, Rommel ver-se-ia então encurralado
entre as forças da Torch e as do VIII Exército inglês. Eisenhower apoiava o plano
dos ingleses, mas foi contrariado por Marshall e seus assessores, receosos de que,
por desembarcarem tão a leste, os aliados é que poderiam cair em cilada —
atacados na retaguarda por tropas alemãs que avançassem através da neutra
Espanha. Os o ciais americanos dos altos escalões insistiam que as forças de
assalto tinham que desembarcar em Casablanca, na costa atlântica do Marrocos,
cerca de mil e quinhentos quilômetros a oeste de Túnis. Embora Churchill
achasse que Marshall estava sendo demasiadamente cauteloso (como pensava
também Eisenhower), o líder inglês mais uma vez aquiesceu. A solução nal foi
de meio-termo. As forças dos aliados desembarcariam em três locais muito
separados entre si: Casablanca, no Marrocos, e Argel e Oran, na Argélia. Argel, o
local mais próximo de Túnis, estava ainda a mais de setecentos quilômetros de
distância do objetivo principal da operação.
 
A missão dada a Eisenhower naquele verão sobrecarregaria o
mais sobre-humano dos comandantes. Além de organizar aquilo que James
MacGregor descreveria mais tarde como “missão bizarra [205], eivada de
dúvidas e imprevisível,” ele teria ainda que inventar um comando uni cado para
as duas forças nacionais da Torch. Como tal estrutura de organização jamais
existira na história militar, Eisenhower não contava com manuais para seguir ou
precedentes que copiar. Seus amigos do Exército diziam-lhe que se tratava de
missão impossível. Ele e a Torch estavam fadados ao fracasso, a rmavam, e não
tinham dúvidas sobre quem seria o bode expiatório da inevitável derrota. “Fui
saturado,” escreveu mais tarde o general, “com histórias de fracassos aliados,
começando com os gregos, quinhentos anos antes de Cristo, e percorrendo os
séculos até chegar nas amargas discussões que envolveram as recriminações
mútuas franco-britânicas de 1940.”
De sua parte, os ingleses, que haviam se oposto ao conceito de comando
uni cado desde o início, estavam mais do que insatisfeitos por verem um
desconhecido general americano, sem experiência de combate, prestes a liderar
seus homens em campanha. Alan Brooke não tinha Eisenhower em grande
conta, tal como não tinha Marshall, e a relação entre os dois permaneceu glacial
até o m da guerra. Apesar de ser indulgente ao atribuir ao americano
“maravilhoso charme [206]” e “maior dose de sorte do que a maioria de nós
recebe na vida,” Brooke não tinha quase nada de bom a dizer sobre a capacitação
de Eisenhower como comandante, chegando a a rmar certa vez que ele “tinha
apenas a mais vaga concepção sobre a guerra.” Um almirante inglês, que serviu
sob as ordens de Eisenhower, o descreveu durante aquele período como
“totalmente sincero, direto e bastante modesto,” porém “não muito seguro de si
mesmo.”
No entanto, apesar de Eisenhower poder ter sido hesitante e inseguro em
muitos aspectos, jamais vacilou nas suas demandas por uma completa integração
no esforço de guerra anglo-americano. Segundo Mark Perry, biógrafo de
Eisenhower e Marshall, nenhum outro general da geração do primeiro, inglês ou
americano, possuía “um entendimento comparável da importância de se forjar e
manter tal coalizão.” Quando os ingleses argumentaram que seus comandantes
em campanha deveriam ter o direito de apelar ao Ministério da Guerra caso
discordassem de alguma de suas ordens, o comandante da Torch declarou que tal
desbordamento violaria o acordo anglo-americano sobre comando uni cado. Ele
negociou um meio-termo: os comandantes ingleses que questionassem uma
ordem teriam que consultá-lo primeiro antes de tomarem qualquer decisão
ulterior. “Essa foi a fórmula de Eisenhower, que teria consequências bem mais
importantes do que aquelas que seu autor pudesse ter na ocasião em que a
expressou,” observou Wallace Carroll. “Todos os que atuassem em seu teatro de
operações, fossem civis ou militares, ingleses ou americanos, teriam que abrir
mão de lealdades antigas e se submeter à autoridade do comandante do teatro.”
 
O canteiro onde Eisenhower plantou as sementes da unidade
anglo-americana estava situado na Norfolk House, um prédio neogeorgiano de
pedras e tijolos, a poucas casas da residência de Nancy Astor, na elegante St.
James's Square. Designada como Quartel-General das Forças Aliadas para a
Torch, a Norfolk House era, na cabeça de alguns, uma localização um tanto de
mau agouro para o primeiro comando combinado da aliança. Pouco mais de
duzentos anos antes, George III nascera na Norfolk House original, uma mansão
que pertencia ao duque de York, no mesmo local.
Eisenhower não dava a menor importância a George III. Insistia para que os
americanos e ingleses de sua equipe botassem de lado as antigas divisões entre os
dois países e agissem como se “pertencessem a uma só nação.” Era, como ele
próprio reconheceu, uma ordem mais fácil de dar que de cumprir. Em função do
pouco contato que tiveram no período entre as guerras mundiais, os militares dos
Estados Unidos e da Inglaterra quase nada conheciam sobre a maneira como uns
e outros operavam. Na oportunidade em que o general Frederick Morgan foi
designado para servir no comando de Eisenhower, no outono de 1942, recebeu
um documento do QG aliado que leu espantado. Morgan lembrou que “não
entendeu uma só palavra” [207] no papel em que xava os olhos. “Ali estava um
amontoado de palavras que, indubitavelmente, estavam escritas em inglês, mas
que para mim não faziam o menor sentido, e vi-me obrigado a apelar para uma
tradução especializada no linguajar militar americano.”
No começo, houve também discussões, mal-entendidos e embates pessoais —
tantos, de fato, que Eisenhower assemelhou as primeiras brigas na relação entre
as duas nacionalidades de sua equipe como “o encontro de um buldogue com um
gatão.” Alguns americanos tinham antipatia pela ideia toda da Torch,
“supostamente a considerando,” nas palavras de Eisenhower, “um plano inglês
para o qual os americanos tinham sido arrastados pelos pés.” Embora, em
particular, concordasse com essa ideia, o comandante alertou seus compatriotas
que, se não pusessem todas as energias a serviço da operação e não aprendessem
a se dar bem com os equivalentes ingleses, seriam todos enviados de volta para a
América. Com o tempo, sua determinação de buldogue deu frutos: os americanos
de seu Estado-Maior admitiram, como disse seu assistente pessoal Harry
Butcher, que “os ingleses não eram realmente demônios de casaco vermelho,” e
os ingleses concederam que os americanos podiam ter, ocasionalmente, uma boa
ideia ou duas.
Mas muitos comandantes de campanha, ingleses ou americanos,
discordavam. Dois dos melhores amigos de Eisenhower — Mark Clark, seu vice e
chefe do planejamento da Torch, e George Patton, comandante de uma das
forças tarefas da invasão — eram ambos violentamente anglófobos. Patton, que
chegara a Londres no verão de 1942 para receber as diretrizes de sua missão,
resmungou no seu diário: “Está bastante claro que a maioria dos o ciais
americanos aqui é pró-britânica, até Ike. (...) Eu não sou, repito, não sou pró-
britânico.”
Apesar de Eisenhower manter em público uma atitude descansada e o
proverbial sorriso fácil, os mais próximos sabiam do enorme preço, emocional e
físico, que os preparativos para a Torch lhe estavam cobrando. Seria mesmo
possível, matutava ele, “invadir um país neutro para criar um amigo,” como
Roosevelt achava? Fumando até quatro maços de Camels por dia, ele se mostrava
irritadiço e deprimido — “um pacote de três estrelas de tensão nervosa,” disse
Kay Summersby. Um americano de seu Estado-Maior anotou: “Ele envelheceu
[208] dez anos.” Embora exausto, Eisenhower era incapaz de pegar no sono à
noite. Levantava-se e cava olhando pela janela a escuridão lá fora, absorto com
as ansiedades e temores que não revelava a ninguém.
 
Em 4 de novembro de 1942, o VIII Exército inglês, comandado
pelo general Bernard Law Montgomery, esmagou as forças de Rommel em El
Alamein, expulsando-as do Egito e empurrando-as para o oeste numa fuga
precipitada. Foi a primeira vitória importante dos ingleses sobre os alemães na
guerra, que deu nova vida e vigor a Churchill e seu acossado governo, assim
como ao país.
Quatro dias depois, cerca de trinta e três mil soldados americanos e ingleses
desembarcaram nas praias do norte da África. Desde os primeiros estágios da
Operação Torch, a inexperiência tanto do Estado-Maior quanto da tropa
patenteou-se gritantemente. Em Casablanca, mais da metade das barcaças de
desembarque e blindados leves afundou ou não funcionou corretamente na
arrebentação. Muitos soldados não tinham ideia do que fazer depois de porem os
pés na praia. O general Lucian Truscott, comandante das forças de desembarque
numa região ao norte de Casablanca, lembrou que “os homens vagavam sem
destino, totalmente perdidos (...) xingando uns aos outros.”
Nada, inclusive a reação francesa aos desembarques, saiu como planejado. A
convicção de Roosevelt de que as tropas francesas recepcionariam
amigavelmente os invasores americanos se baseara em grande parte na
inteligência de uma rede de espiões amadores dos EUA sediada na norte da
África mesmo antes de os Estados Unidos entrarem na guerra. Mediante um
acordo secreto com Vichy, de março de 1941, Roosevelt desbloqueara os ativos
franceses na América em troca da permissão para que doze vice-cônsules
americanos — isto é, agentes de informações — se estabelecessem em toda aquela
região. Os doze não eram operadores pro ssionais — entre eles havia um
fabricante de vinhos e um vendedor da Coca-Cola — e a inteligência militar
alemã, que sabia tudo sobre os pretensos doze espiões, concluiu: “Só podemos
nos congratular pela seleção de tal grupo de agentes, que não nos dará trabalho
algum.”
Os vice-cônsules garantiram à Casa Branca que o exército francês ofereceria
apenas resistência simbólica às tropas americanas. Por seu turno, aos soldados foi
assegurado que os franceses os receberiam “com bandas de música [209].” Na
realidade, os franceses combateram bravamente em todos os locais de
desembarque, com a resistência mais impetuosa dirigida exatamente contra a
força só de americanos que desembarcou em Casablanca. Um major reportou
depois para o Departamento da Guerra que “tanto os o ciais quanto as praças
caram absolutamente estupefatos quando sentiram o primeiro gosto da
batalha.” Lucian Truscott escreveu: “Até onde eu podia divisar ao longo da praia,
o caos imperava.” Na opinião de um enfurecido Patton, os americanos jamais
teriam conseguido chegar às praias se estivessem enfrentando alemães, e não
franceses.
Para piorar as coisas, os militares franceses rejeitaram aceitar o homem
escolhido pelo governo Roosevelt para fazer a paz no norte da África e se tornar o
novo líder da região. O general Henri Giraud, que fora capturado pelos alemães
em 1940, antes de a França capitular, tinha escapado recentemente de uma
fortaleza-prisão na Alemanha e conseguira chegar a Vichy. Considerando
Giraud uma alternativa tanto para de Gaulle quanto para Pétain, funcionários
dos EUA o persuadiram a cooperar com a invasão e o levaram sigilosamente de
submarino da França para Gibraltar. Uma vez lá, no entanto, Giraud insistiu em
assumir o comando de toda a operação. Quando um atônito Eisenhower recusou
sua exigência, o general francês não aceitou acompanhar o primeiro escalão da
invasão. Sempre esperançosos, os aliados anunciaram pelo rádio para o norte da
África que Giraud assumiria em breve a liderança das forças francesas de lá. O
anúncio, como Eisenhower relembrou, “não causou efeito algum” sobre os
franceses; ao contrário, foi “completamente ignorado.” A rejeição francesa a
Giraud, reconheceu o comandante da Torch, foi “terrível golpe em nossas
expectativas.” Num cabograma a Roosevelt, observou que a situação no norte da
África “nem remotamente se assemelha aos nossos cálculos prévios.”
Àquela altura, o único objetivo de Eisenhower era pôr um m no banho de
sangue e lançar suas tropas na direção da Tunísia. Quem quer que o ajudasse a
atingir esse propósito receberia seu apoio, mesmo que o suposto salvador — como
aconteceu — fosse um dos mais desavergonhados colaboradores dos názis em
Vichy. Esse homem foi o almirante Jean Darlan, comandante das forças armadas
de Vichy e braço direito de Pétain, que, na ocasião dos desembarques, estava na
Argélia visitando seu lho gravemente enfermo. Amigo de Pierre Laval, a quem
sucedeu como vice de Pétain, Darlan era o mais odiado de todos os funcionários
de Vichy. Ele havia entregue a Indochina aos japoneses, permitido a perseguição
dos judeus franceses, ordenado a prisão em massa de oponentes em Vichy e
suprido as tropas de Rommel com alimentos, caminhões e combustíveis. Ao
tempo dos desembarques, Darlan, um ardente anglófobo, ordenara que as tropas
francesas atirassem contra as forças dos aliados.
No entanto, para o apolítico Eisenhower, que pouco sabia das questões
internas francesas e tinha pequeno entendimento do trauma nacional que a igia
o país, as transgressões reportadas sobre Darlan não pareciam relevantes. Ele
ofereceu ao almirante um acordo: em troca do arranjo de um cessar-fogo: os
aliados o nomeariam alto-comissário, ou governador do norte da África. De
início, Darlan relutou, ora concordando com o plano, ora o renegando. Só depois
que soube que os alemães haviam ocupado a França de Vichy em 11 de
novembro, ele ordenou um armistício. Com isso, a guerra no norte da África
nalmente cessou.
Para grande parte do restante do mundo, todavia, as transgressões de Darlan
eram muito graves. O acordo de Eisenhower, com o qual Roosevelt concordou e
Churchill relutantemente anuiu, foi recebido com uma tempestade de protestos
por todo o globo, mas em especial nos Estados Unidos e na Inglaterra. “Para as
duas nações [210], Darlan é um vilão pronto e acabado,” reconheceu Eisenhower
para seu Estado-Maior.
Quanto aos críticos, o acordo traía um cinismo que minava a posição moral
soberba dos líderes dos aliados, em especial Roosevelt. “A América fez
declarações com tão lindas palavras, a América proclamou princípios tão
maravilhosos, e agora, à primeira tentação, a América, ao que tudo indica, deixou
os princípios de lado e chegou ao entendimento com um dos mais desprezíveis
lacaios de Hitler no exterior,” observou Wallace Carroll. Como a rmou o
historiador militar Rick Atkinson cerca de sessenta anos mais tarde, “um exército
imaturo e desajeitado chegou ao norte da África com pouca noção sobre como
agir na qualidade de potência mundial.”
As primeiras ações de Darlan como alto-comissário só zeram aumentar a
raiva de seus críticos. Ele rati cou as leis antissemitas no norte da África;
aprisionou adeptos de de Gaulle e outros oponentes de Vichy; renomeou
funcionários de Vichy que haviam sido demitidos nos dias iniciais do assalto; e
ordenou interferências nas transmissões da BBC. Declarando que “não
chegamos aqui para nos imiscuirmos em negócios dos outros,” Eisenhower
recusou se envolver com o que considerava preocupações internas. Um irado
Charles Collingwood, o correspondente da CBS que cobria a Torch de Argel,
escreveu aos pais a respeito do papel da América na ascensão de Darlan ao
poder: “Perpetuamos e apoiamos [211] tacitamente um regime que é versão
razoavelmente acurada daquilo que estamos combatendo. Nossa desculpa é que
não devemos interferir na política francesa. Fico imaginando se entrarmos na
Alemanha e dissermos que não podemos interferir na política alemã.”
Na Argélia, alguns críticos americanos das ações de Darlan zeram mais do
que apenas reclamar. Os o ciais que trabalhavam na seção de Guerra Psicológica
do QG de Eisenhower providenciaram esconderijos para os adeptos de de
Gaulle que fugiam da polícia de Vichy e chegaram mesmo a embarcar alguns
deles como clandestinos em navios dos aliados que rumariam para a Inglaterra.
Um ou dois dos mais audaciosos americanos usavam miniaturas da Cruz de
Lorena, o símbolo Francês Livre, na lapela. Sua seção de Guerra Psicológica,
declarou mais tarde Eisenhower, deu-lhe mais trabalho do que todos os alemães
na África.
Em Londres, Churchill, apreensivo, alertou Roosevelt que a nomeação de
Darlan havia provocado intensa reação na Inglaterra. “Não podemos fazer vista
grossa para os sérios danos políticos que podem ter enodoado nossa causa (...) pelo
sentimento de que estamos dispostos a fazer acordos com os 'Quislings' locais,”
disse ele. Mollie Panter-Downes observou no The New Yorker que muitos
londrinos tinham equiparado o acordo com Darlan com a conciliação de Neville
Chamberlain com Hitler. Os ingleses “estão convencidos,” escreveu Panter-
Downes, “de que o apaziguamento com um homem de Vichy ou um homem de
Munique exalam o mesmo mau cheiro, sejam quais forem as denominações
dadas a esses compromissos.” Da embaixada americana em Londres, Wallace
Carroll escreveu a Roosevelt e a seus superiores na Agência de Informação de
Guerra declarando que a “lua de mel acabou” na Inglaterra. “A partir de agora,
teremos que batalhar muito para manter o respeito e a con ança do povo inglês.”
O próprio Churchill cou entre a cruz e a caldeirinha com o dilema
moralidade versus conveniência. Mesmo que seu governo não tivesse sido
consultado previamente sobre o acordo com Darlan, tanto ele quanto Roosevelt
haviam dado autorização a Eisenhower para empregar quaisquer expedientes a
m de conquistar a cooperação francesa no norte da África. O primeiro-ministro
com frequência se referia a Darlan como “vira-casaca” e “traidor,” porém, pouco
antes de a invasão começar, declarou: “Por mais que o odeie, eu engatinharia por
uma milha se, por fazê-lo, pudesse conseguir que ele trouxesse aquela esquadra
para se incorporar às forças dos aliados.” Mas Darlan jamais teria condições de
dar ordens à armada — ela foi propositadamente posta a pique pelos próprios
franceses depois que os alemães ocuparam o sul da França controlado por Vichy
— e o retardado cessar-fogo por ele declarado não evitou a onda de tropas alemãs
que inundou a Tunísia. Em suma, exceto pela cessação das hostilidades, o acordo
não atingiu qualquer dos objetivos previstos pelos aliados quando o zeram.
O acordo — e o indireto papel de Churchill nele desempenhado — foi tão
desconfortável para o primeiro-ministro que ele se recusou a dar uma explicação
na Câmara dos Comuns sobre a negociação, a menos que fosse em sessão secreta.
Na época em que essa sessão foi realizada, Churchill assumiu uma posição
neutra, apoiando Roosevelt e Eisenhower em prol da unidade aliada, mas
ressaltando que o acordo fora negociado apenas pelos americanos. “Desde 1776
[212], não temos condições de interferir na política dos Estados Unidos,” disse
ele. “Nem militar nem politicamente, estamos controlando de maneira direta o
curso dos acontecimentos.”
Enquanto isso, nos Estados Unidos, consagrados colunistas de jornais e
comentaristas do rádio condenavam o acordo, como também membros do próprio
ministério de Roosevelt. Henry Morgenthau, por exemplo, denunciou Darlan
como traidor que tinha vendido milhares de seus concidadãos para a escravidão e
disse a Roosevelt que a situação no norte da África era “coisa que a ige minha
alma.” Na companhia de Felix Frankfurter, Morgenthau instou o Presidente a
esclarecer a política americana em relação ao norte da África e a Darlan.
Preocupado com a chuva de críticas, o Presidente, se bem que ressentido, fez o
que o secretário do Tesouro solicitou. Num pronunciamento, declarou que o
acordo com Darlan foi necessário para salvar vidas e também o quali cou como
“um expediente temporário, apenas justi cado pelo estresse da batalha.”
 
O ímpeto para os temores e inquietações de Morgenthau foi
desencadeado por uma incendiária transmissão de Ed Murrow pouco depois de o
acordo com Darlan se tornar público. Perplexo com o papel principal que seu
país desempenhara no caso, o mais in uente radiojornalista nos Estados Unidos
pôs por terra todos os argumentos da objetividade. “Que diachos signi ca isso
tudo?” — explodiu para um amigo. “Combatemos os názis ou dormimos com
eles?” Num programa ouvido por Morgenthau, Murrow listou todos os pecados
de Darlan. Quando um o cial alemão foi morto em Nantes, Darlan entregou
trinta franceses como reféns aos názis, todos fuzilados. Depois de assumir o
poder no norte da África, ele enviou refugiados políticos europeus de volta aos
seus respectivos países ocupados pelos alemães. Seria esse, perguntou Murrow, o
tipo de aliado que queríamos para nossa luta contra os názis? Caso o acordo
tenha sido feito ou não por conveniência, “não há nada na posição [213]
estratégica dos aliados que indique que estamos tão fortes ou tão fracos que
podemos ignorar os princípios pelos quais esta guerra está sendo travada.”
Depois de escutar a matéria de Murrow, Morghentau entregou transcrições dela
a Henry Stimson e ao próprio Roosevelt.
Ocorreu que tal emissão esteve longe de ser o único programa de Murrow
sobre o assunto. De todos os jornalistas críticos do acordo com Darlan, ele foi
comprovadamente o mais vocal; repetidas vezes se posicionou como ostensivo
desa ador da política do governo. “Trata-se de uma matéria de princípios
elevados, na qual carregamos um inescapável peso moral,” disse aos seus
ouvintes. “Seja para aonde for que as forças americanas se dirijam, levam com
elas alimentos, dinheiro e poder, e os 'Quislings' logo correm para nosso lado, se
permitirmos.”
O governo Roosevelt cou surpreso e irritado com as reportagens
investigativas de um homem que o Presidente considerava aliado, um
radiojornalista em quem FDR con ara na noite de Pearl Harbor e que, certa vez,
tentara até contratar. Quanto Murrow retornou depois à América para uma
curta visita alguns meses, foi convocado ao Departamento de Estado, onde um
encolerizado Cordell Hull disse-lhe poucas e boas por, supostamente, minar o
esforço de guerra. “Ele, em momento algum, levantou a voz (...) fez qualquer
gesto, mas todas as suas palavras cortavam e ferroavam,” confessou Murrow
abalado a um amigo.
Sua veemência em relação a Darlan trouxe-lhe mais crítica pública do que
jamais recebeu. Patrocinadores da CBS e parte de sua audiência reclamaram,
como também o fez Paul White, o editor-chefe de notícias da rede sediado em
Nova York. “Você está pondo em risco sua boa reputação ao parecer um
constante crítico da América,” telegrafou White para Murrow. “Não é incomum
ouvir-se agora a piada 'Ed Murrow está cando mais inglês do que os ingleses.'”
No m de novembro, a International Silver, patrocinadora do programa semanal
de análises de Murrow, cancelou o contrato, cortando pela metade sua renda. (A
companhia, no entanto, evidentemente pensou duas vezes ao ejetar um dos mais
populares repórteres de radionoticiários e renovou o patrocínio um mês depois.)
Durante todo o tumulto, Murrow permaneceu irredutível. Para um ouvinte que
criticou suas reportagens sobre Darlan como antiamericanas e “de nitivamente
perigosas,” ele escreveu: “Acredito que todos os governos podem cometer erros,
exatamente como todos os locutores.” Em carta a um amigo, declarou: “Os
acontecimentos no norte da África [214] são dolorosos para quem quer que
tenha esperança de um mundo decente pós-guerra.” A outro amigo, Murrow
declarou: “Os ingleses receiam que a América venha a fazer o que a Inglaterra
fez no século XIX. (...) Nossa política, como demonstrada no norte da África,
parece um tipo de imperialismo amador.” Ele confessou se sentir cada vez mais
distante de sua terra. “Talvez eu tenha cado afastado de casa muito tempo, mas
cada vez mais me convenço de que os valores daqui, independentemente dos
motivos, são diferentes dos nossos valores.”
Como Murrow, Gil Winant acreditava que o governo cometera um erro
monumental ao pôr Darlan no poder. Certa noite, num coquetel em sua
homenagem, ele passou a maior parte do tempo con nado num canto,
conversando com Murrow e um radiojornalista da BBC, e lamentando o que
tinha ocorrido. Concordava com Churchill e Anthony Eden que o governo
Roosevelt deveria se compenetrar da rejeição com que o acordo de Darlan fora
recebido na Inglaterra.
Porém, como representante do governo dos Estados Unidos, Winant se sentia
também obrigado a defender a posição americana em público e procurar apoio
para essa posição entre os críticos funcionários ingleses, muitos dos quais seus
amigos pessoais. Por dois anos, o embaixador vinha conclamando a classe
trabalhadora inglesa a intensi car a luta contra o názismo; agora, era forçado a
dar suporte a um acordo com relevante colaborador názi. Profundamente
incomodado, mesmo assim ele continuou repetindo como papagaio a linha de
raciocínio do governo. Num jantar oferecido pelo embaixador, Harold Nicolson
ouviu-o a rmar a seus cépticos convidados que as vantagens militares do acordo
com Darlan sobrepujavam suas de ciências morais. “Darlan estava lá quase por
acaso... e percebeu-se que ele poderia ser útil,” Nicolson citou essas palavras de
Winant. “Isso signi cava poupar uma in nidade de tempo e cinquenta mil vidas
americanas... Valeu a pena.” Meditando sobre o jantar, Nicolson registrou em
seu diário: “Winant é pessoa tão esplêndida que quase nos convenceu com sua
advocacia do mal.”
 
Apesar de a Casa Branca ter sido fortemente criticada por seu apoio
ao acordo Darlan, foi Eisenhower quem aguentou o maior peso dos ataques.
“Não importa que vitórias alcance, Ike jamais sobreviverá a esse acordo,” disse
Harry Hopkins ao escritor John Gunther. Na opinião de Gunther, a observação
era absolutamente injusta. Eisenhower, escreveu ele mais tarde, “estava
totalmente despreparado para questões políticas, e só queria progredir o mais
rapidamente possível e salvar vidas americanas.” A responsabilidade nal,
acreditava Gunther, recaía sobre Roosevelt.
A controvérsia foi nalmente resolvida na véspera do Natal de 1942 quando
um monarquista francês, de vinte e quatro anos, irrompeu pelo QG de Darlan,
em Argel, e disparou dois tiros contra ele. Darlan morreu poucas horas depois;
após ser considerado culpado durante um julgamento militar secreto, o assassino
foi executado por um pelotão de fuzilamento em 26 de dezembro. (Houve — e
ainda há — suspeitas de que os serviços secretos americano e inglês estavam
envolvidos com a morte do almirante, mas nada jamais foi de nitivamente
provado.) Embora Darlan tivesse saído de cena, Eisenhower continuou enredado
na política francesa e em suas intrigas. Henri Giraud, nomeado para substituir
Darlan, deu continuidade à política do antecessor de perseguição aos judeus e
aos oponentes de Vichy no norte da África. “Giraud não foi [215] de ajuda
alguma,” escreveu Eisenhower mais tarde. “Ele odiava a política, não apenas as
tortuosidades e jogadas inerentes a ela, mas também todas as tarefas necessárias à
criação de um sistema de governo democrático e em ordem.”
Assoberbado com os problemas franceses, Eisenhower ainda teve de
enfrentar uma série de novas complicações quando as tropas aliadas, con antes
de que varreriam o norte da África de inimigos em semanas, talvez em dias,
avançaram na direção da Tunísia. Grandes surpresas esperavam. Enquanto os
aliados progrediam vagarosamente para leste, Hitler, tendo declarado que “o
norte da África (...) tem de ser mantido a qualquer custo,” despachara dezenas de
milhares de soldados para a Tunísia. Apressadamente treinadas e mal equipadas,
nem as forças americanas nem as inglesas eram páreo para as tropas veteranas, a
blindagem e a artilharia superiores, e o poder aéreo que encontraram nas
primeiras escaramuças com o inimigo.
Naqueles meses iniciais do combate, desorganizados comandantes aliados
discutiam entre si e cometiam repetidos erros táticos. Suas forças estavam muito
dispersas no terreno, com pequena profundidade e pouca coesão entre
americanos e ingleses, e até mesmo entre unidades de cada país. Cautelosos e
hesitantes, os o ciais não conseguiam concentrar suas tropas para ataques em
massa. “O exército alemão combate melhor do que agora combatemos,” concluiu
um relatório do Departamento da Guerra dos EUA. “O inimigo é encarado como
time visitante. (...) Tanto os o ciais quanto as praças estão psicologicamente
despreparados para a guerra.” Com sua ofensiva emperrada, as forças dos aliados
se prepararam para um longo cerco.
Em fevereiro de 1943, as tropas de Rommel, em retirada para oeste após a
derrota em El Alamein, passaram ao ataque. Investiram sobre o passo Kasserine,
uma passagem nas montanhas na direção de Túnis, e in igiram pesadas perdas às
imaturas e indisciplinadas forças americanas do 2º Corpo, que tentavam
defender o passo. Foi a primeira batalha importante em que tropas americanas
tomaram parte, e resultou num desastre militar marcado por de cientes táticas e
de che a por parte do comando dos EUA. Sobre Kasserine, Harry Butcher
anotou melancolicamente em seu diário: “Os arrogantes [216] e 'metidos'
americanos foram hoje humilhados em uma das maiores derrotas de nossa
história.”
Se bem que os ingleses tivessem poucas razões para se orgulhar desde que as
hostilidades começaram, suas tropas e comandantes despejaram desdém sobre os
americanos após Kasserine. Cantaram uma paródia de “Como era verde meu
vale: “How green was my ally” (Como era verde meu aliado), e alguns chegaram a
chamar os ianques de “nossos italianos.” A respeito dos americanos, o general
inglês John Crocker escreveu à esposa: “No que concerne à pro ssão militar,
acredite-me, os ingleses não têm nada a aprender com eles.” Dizendo o mesmo —
e um pouco mais — aos correspondentes americanos e ingleses, Crocker jogou a
culpa por uma batalha fracassada, mais tarde naquela primavera, totalmente
sobre os ombros das forças americanas. Depois da declaração à imprensa de
Crocker, a revista Time disse que a batalha fora uma “vergonha” para os EUA e
“permitiu uma clamorosa comparação entre os soldados americanos e ingleses.”
A maior parte da censura inglesa foi dirigida a Eisenhower que, entretido
com disputas políticas, deixou de impor sua autoridade e de se mostrar à altura
de suas responsabilidades como comandante em campanha. “Eisenhower, como
general, é um caso perdido!” registrou Alan Brooke, num acesso de raiva, em seu
diário. “Ele submerge na política e negligencia suas obrigações militares, em
parte, lamento dizer, porque pouco conhece, se é que sabe alguma coisa, de
assuntos militares.” Mesmo ressentido com as críticas, Eisenhower não
discordava delas. “A melhor maneira de descrever nossas operações até agora,”
escreveu a um amigo, “é dizendo que elas violaram todos os princípios
conhecidos da guerra, entraram em con ito com todos os processos logísticos e
operacionais ensinados nos manuais de campanha, e serão completamente
condenadas (...) em todas as salas de aula das escolas de altos estudos militares
durante os próximos vinte e cinco anos.”
Quando os chefes militares americanos e ingleses se reuniram com Churchill
e Roosevelt em Casablanca, em janeiro de 1943, Brooke arquitetou um plano
para promover Eisenhower a um posto não operacional e pôr um general inglês,
Harold Alexander, no comando direto das forças terrestres em campanha na
Tunísia. Alexander fora superior de Montgomery na batalha de El Alamein e
supervisionara a progressão do VIII Exército para o oeste em perseguição a
Rommel. Como esse Exército se preparava para fazer a junção com as forças da
Torch, a ocasião era propícia, na opinião de Brooke, para que Alexander
assumisse o comando de todas as tropas. Como ele mais tarde observou,
“estávamos alçando [217] Eisenhower para a estratosfera e para o ar rarefeito de
um Comando Supremo (...) enquanto inseríamos sob sua autoridade um de nossos
comandantes para (...) restabelecer a necessária impulsão e coordenação, que tão
seriamente faltavam.” Alexander, como depois se viu, era tão crítico a respeito
dos ianques como qualquer de seus conterrâneos. Escreveu a Brooke dizendo que
os americanos eram “frágeis, verdes, e muito mal treinados” e “carecem da
vontade de combater” — um ponto de vista que sustentou pelo resto da guerra,
mesmo quando batalhas posteriores o desmentiram.
De sua parte, os comandantes americanos em campanha, a maioria dos quais
já era antibritânica antes da Torch, recebia com amargura aquilo que,
corretamente, consideravam atitude superior e desdenhosa de seus
correspondentes ingleses. Achavam que Montgomery e o suave e imperturbável
Alexander tinham permitido que grandes efetivos do Afrika Korps lhes
escapassem por entre os dedos em El Alamein; o erro do VIII Exército em não
empreender uma perseguição com todo o vigor às tropas de Rommel ensejara aos
alemães a oportunidade de atacar os americanos em Kasserine.
“Como ele detesta os ingleses,” outro general americano disse de George
Patton, quando este assumiu o comando do 2º Corpo após a debacle de
Kasserine. Mark Clark, o altivo vice de Eisenhower, sedento de publicidade,
havia enfurecido praticamente todos os o ciais ingleses no QG dos aliados com
suas “mesquinhas e insultuosas” farpas anglófobas. Quando Clark, que se
deliciava em citar o aforismo de Napoleão “É melhor combater um aliado do que
ser um deles,” desceu um escalão para se tornar general em campanha, houve
alegria generalizada no quartel-general aliado.
Com a crescente hostilidade anglo-americana, Eisenhower, além de ter que
lidar com os outros problemas, foi obrigado a despender consideráveis tempo e
energia tentando apaziguar seus comandantes. “Nos seus atuais [218] esforços
para melhorar as relações entre americanos e ingleses,” escreveu Harry Butcher,
“vejo Ike algo parecido com um bombeiro, postado no topo de uma torre de
observação, esquadrinhando a oresta à procura de fumaça ou fogo.” A despeito
dos sucessivos arrufos entre seus lugar-tenentes, Eisenhower persistia em sua
crença de que a vitória só poderia ser alcançada se americanos e ingleses
trabalhassem unidos em equipe. “Uma das constantes fontes de perigos para nós
nesta guerra,” escreveu a um amigo, “é a tentação de considerarmos nosso
principal inimigo o parceiro com o qual deveríamos trabalhar para derrotar o
verdadeiro adversário.” Num encontro com Alexander e Patton, Eisenhower
declarou que não se via “como um americano, e sim como aliado.” Disse a seus
subordinados que tinham de cumprir qualquer ordem recebida “sem mesmo uma
parada para pensar de onde ela vinha, de fonte americana ou inglesa.”
Seus apelos por harmonia e cooperação, entretanto, não lhe valeram elogios
de seus subordinados americanos. Clark, Patton e Omar Bradley,
subcomandante do 2º Corpo, censuravam Eisenhower por acharem que ele
favorecia os britânicos. Queixando-se de que “Ike é mais inglês que os ingleses,”
Patton o acusou de “estar muito próximo de um Benedict Arnold” [general que
passou para o lado inglês na Guerra da Independência] e acrescentou que “os
britânicos estão nos tomando por bestalhões.” Cansado dos comentários
recíprocos incessantes e ferinos, um o cial americano do Estado-Maior de
Eisenhower registrou em seu diário: “Meu Deus, como eu gostaria que
esquecêssemos nossos egos por um instante!”
Não obstante, enquanto continuavam as queixas mútuas, o pêndulo da
campanha no norte da África começou a se inclinar em favor dos aliados. Sob o
estilo particularmente duro de disciplina exercitado por Patton, os integrantes do
2º Corpo começaram a aprender como combater, assim como os do I Exército
dos EUA. A respeito do pracinha médio no norte da África, Ernie Pyle observou:
“Seu espírito combativo despertou. Lutava por sua vida, e matar para ele passou
a ser pro ssão. (...) Decididamente, ele estava em guerra.” Ao mesmo tempo, com
a mobilização industrial americana a pleno vapor, os suprimentos e armamentos
inundaram a região. Só em um mês, 24 mil viaturas, um milhão de toneladas de
cargas e cerca de 84 mil reforços desembarcaram no norte da África. “O exército
americano não resolve os problemas,” disse um o cial inglês, “ele soterra os
problemas.”
No começo da primavera de 1943, as tropas alemãs na Tunísia começaram a
se ver cada vez mais encurraladas entre as forças da Torch e o VIII Exército.
Dessa vez, as brigas entre comandantes americanos e ingleses foram a respeito de
quem teria as glórias pela iminente vitória. Quando Patton, colérico, soube que
Alexander planejava fazer o ataque nal em grande parte com seus próprios
ingleses, alertou o general inglês que, se o exército americano “parecesse
desempenhar [219] um papel secundário, as repercussões poderiam ser muito
desagradáveis.” Até George Marshall entrou na disputa, chamando a atenção de
Eisenhower para “a marcante queda de prestígio das tropas americanas” e
instando-o a tomar providências para que as forças dos EUA tivessem papel
importante na concretização da vitória. E foi o que aconteceu.
Em 7 de maio, Túnis caiu nas mãos dos aliados e, cinco dias depois, as
hostilidades cessaram na região. Inglaterra e América haviam conquistado seu
primeiro grande prêmio — o Oriente Médio e a África do Norte — e marcado um
ponto de in exão crucial na guerra. O momentum dos alemães aparentemente
irresistíveis estava nalmente terminado: apenas poucos meses antes de sua
derrota na Tunísia, eles haviam sido esmagados pelos russos em Stalingrado.
Graças aos Aliados Ocidentais, “um continente fora resgatado,” escreveu
Churchill em suas memórias. “Em Londres, houve, pela primeira vez na guerra,
uma genuína elevação do moral.” Hitler perdera para sempre a iniciativa
estratégica.
Apesar de os russos nunca reconhecerem, o triunfo anglo-americano tornou
possível a vitória em Stalingrado. Mais de 150 mil soldados alemães e centenas
de bombardeiros foram retirados do combate contra os russos para lutarem contra
os aliados no norte da África. Pode não ter sido a Segunda Frente que Stalin
queria, mas o desvio de forças inquestionavelmente o ajudou no esforço bem-
sucedido da ofensiva contra o Reich.
A operação no norte da África também salvou os Estados Unidos e a
Inglaterra do desastre que certamente teria ocorrido se tivessem feito um grande
e prematuro desembarque na França, como queriam os americanos. O
historiador Eric Larrabee observou que o norte da África “proporcionou uma
oportunidade para que as de ciências aparecessem e para que o dom do combate
e do comando surgisse. Decorreriam anos para que Marshall, Eisenhower e
outros americanos admitissem que a oposição inglesa a um desembarque
precipitado na França tinha razão. “Alan Brooke, malgrado todo o seu nariz
empinado, estava essencialmente certo,” registrou Mark Perry. “A travessia do
Canal àquela altura teria sido uma operação suicida.”
 
Embora tivessem perdido o primeiro round , os chefes militares
americanos permaneceram comprometidos com seu plano de cruzar o Canal.
Uma vez varrido de inimigos o norte da África, acreditavam, os Aliados
Ocidentais deveriam dar início aos preparativos para a invasão da França. Os
ingleses discordaram. Na Conferência de Casablanca, onde seria decidida a
ofensiva anglo-americana seguinte, a batalha sobre estratégia foi novamente
retomada.
Antes de a conferência começar, Roosevelt alertou seus assessores que “os
ingleses têm um plano [220] e vão se aferrar a ele.” O Presidente estava certo.
Tendo resolvido de antemão, em Londres, suas diferenças de pontos de vista,
Churchill e os altos comandantes militares se apresentaram em Casablanca como
uma frente compacta, insistindo na continuação de sua estratégia periférica para
enfraquecer a Alemanha antes que fosse desferido o golpe nal. Depois do norte
da África, eles queriam atacar através do Mediterrâneo — desembarcando na
Sicília, forçando a Itália a sair da guerra e, assim esperavam os ingleses,
persuadindo a Turquia a entrar na guerra ao lado dos aliados.
O fato de a Inglaterra ainda responder pela maioria dos combates adicionou
peso à sua argumentação. A despeito do contínuo aumento do esforço americano
no início de 1943, três vezes mais tropas inglesas haviam lutado nas campanhas
combinadas da Tunísia, e os britânicos tinham experimentado muito mais baixas
— 38 mil mortos, feridos e desaparecidos, comparados com os 19 mil dos Estados
Unidos. Mas o que realmente fez com que a argumentação inglesa prevalecesse
foi a organização superior e a preparação para a abordagem de suas propostas.
Apoiados por um sem-número de mapas e grá cos, eles trabalharam duro em
todos os detalhes. Sempre que uma estatística era solicitada, lá estava um dos
membros da equipe inglesa vinda de Londres com uma indefectível e precisa
pasta de couro contendo o pedido. Como Roosevelt previra, a lógica e o
argumento britânicos eram irrefutáveis e incansáveis, pareciam “água mole em
pedra dura.” Depois da conferência, o general Tom Handy, sucessor de
Eisenhower como chefe da Divisão de Planejamento em Washington, observou a
respeito dos ingleses: “Uma coisa que eles entendiam — sobretudo o primeiro-
ministro — era o princípio do objetivo. Nós os manobrávamos para determinada
direção e eles logo conseguiam guiar a discussão para o caminho que desejavam.
(...) Nossa gente cava sempre em desvantagem.”

Embora profético em relação aos preparativos ingleses, Roosevelt fracassou


ao não copiar o exemplo deles. Na sua única reunião com os militares antes da
conferência, o Presidente não se de niu quanto a um novo objetivo estratégico
após o norte da África. Sem uma diretriz clara de seu comandante em chefe, a
Junta de Chefes de Estado-Maior americanos dividiu-se em perspectivas
diferentes, entre seus próprios membros, quanto ao futuro curso da guerra; na
realidade, deixaram claro para os ingleses, na Conferência de Casablanca, seus
desacordo. Enquanto George Marshall advogava um desembarque cruzando o
Canal, Ernest King, o chefe das Operações Navais, queria mais suprimentos e
tropas desviados para o Pací co. De sua parte, o general Henry “Hap” Arnold,
chefe da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos, insistia em bombardeios
maciços, com base na Grã-Bretanha, contra a Alemanha.
Em resposta aos argumentos de Marshall, os ingleses sacaram mais uma vez
suas pastas de couro vermelho produzindo fatos e números para demonstrar que
os aliados ainda não estavam prontos para montar uma invasão do continente
europeu. Malgrado a manifesta ênfase no princípio de “Alemanha primeiro,”
mais da metade das tropas e equipamentos americanos enviada para o ultramar
estava na luta contra o Japão. Simplesmente não existiam efetivos, suprimentos,
navios e barcaças de desembarque para a abertura de um Novo Front na França.
No m da conferência, Roosevelt concordou com os ingleses. Tomou-se a
decisão de atacar a Sicília, uma operação que orientou todo o trabalho da
campanha dos aliados, para 1943-44, na Itália. Como consolo para os
americanos, houve também um acordo para a concentração de forças dos EUA
na Inglaterra, em preparação para o assalto nal ao Continente.
Quando os participantes da conferência voltaram para casa, não cou dúvida
na cabeça de ninguém de que os americanos, mais uma vez, haviam sido vencidos
pela manobra dos primos ingleses. “Eles enxameavam [221] ao nosso redor como
gafanhotos,” reconheceu o general Albert Wedemeyer, da Divisão de
Planejamento do Exército dos EUA. “Chegamos, ouvimos e perdemos.” O vice
de Pug Ismay, general Ian Jacob, vangloriou-se: “Nossas ideias prevaleceram
quase por completo.”
 
Na preparação para a batalha seguinte , Eisenhower estava bem
consciente de que Brooke e outros generais ingleses tentavam sabotá-lo. Suas
relações com aqueles generais — em particular com Montgomery, o egocêntrico e
convencido herói de El Alamein — passariam a ter mais arestas à medida que o
combate se encaminhasse para a Europa. Eisenhower tenderia também a ser
mais criticado por Patton, Bradley, Clark e outros generais americanos.
Contudo, graças às lições que aprendera no cadinho que fora o norte da
África, Eisenhower permaneceria, malgrado todos os desacordos que iria
enfrentar e o menosprezo que suportaria, rmemente no comando. Como Rick
Atkinson ressaltou, “nenhum militar [222] na África mudou tanto — cresceu
mais — do que Eisenhower.” Os equívocos foram tantos, que poderiam muito
bem ter causado sua saída do comando. Porém, para sua própria surpresa, isso
não ocorreu, e, sobrepujando a ingenuidade e a insegurança, o general mostrou-
se determinado a não permitir que se repetissem. “Antes de ele partir para a
Europa em 1942,” escreveu mais tarde seu lho John, “eu o vi como uma
personalidade agressiva e inteligente.” O norte da África, acrescentou John
Eisenhower, transformou seu pai “de simples pessoa em personagem (...) pleno de
autoridade e verdadeiramente no comando.” Um general inglês podia muito bem
estar se referindo a Eisenhower quando observou: “Um dos deslumbramentos da
guerra foi ver os americanos criarem rapidamente seus grande homens.”
Nos dois anos de combate que se seguiram à campanha no norte da África,
Eisenhower jamais fraquejou na sua crença de que a guerra só seria vencida se a
coalizão dos aliados permanecesse estreitamente unida. Se bem que muitas vezes
irado ou magoado com a difamação lançada contra ele pelos ingleses (sobre
Montgomery, certa vez estourou: “Valha-me Deus, posso lidar com qualquer um,
exceto com esse lho da puta!”), Eisenhower continuou rme sobre a
importância do esforço de guerra inglês. Nenhum outro chefe militar — inglês ou
americano — trabalhou tão duro para fazer da aliança um sucesso. “Eisenhower
foi provavelmente o menos chauvinista americano e o menos chauvinista
comandante militar na história,” observou Don Cook, um dos correspondentes
de guerra do New York Herald Tribune. “Jamais perdeu seu patriotismo e
orgulho americano, simplesmente justapôs outro patriotismo ao primeiro.”
Apesar de todas as observações depreciativas sobre Eisenhower, Brooke
admitiu depois da guerra: “Onde ele se destacou foi na capacidade de
administrar as forças aliadas, tratá-las com estrita imparcialidade e conseguir o
melhor de uma força interaliada.” Tal capacidade, como Eisenhower sempre
acreditou, foi elemento-chave para seu sucesso nal — e para a vitória.
13
Os Aliados Esquecidos
 
Por meses, após o acordo dos americanos com Darlan, os
exilados europeus se encontraram no White Tower, no York Minster e em outros
restaurantes e pubs preferidos de Londres para fumar cigarros sem m e discutir
as implicações do acordo. Os Franceses Livres, claro, eram os mais diretamente
afetados. Mas os outros emigrés — noruegueses, poloneses, tchecos, belgas e
holandeses — também se ocupavam com o signi cado do acordo para o futuro.
Os názis também haviam invadido e ocupado seus países. Quando chegasse a
hora da libertação dessas nações, os americanos cooperariam com traidores como
Darlan?
A maioria dos europeus que se reuniam em torno de mesas com toalhas
manchadas de vinho havia escapado para Londres na primavera caótica de 1940,
quando as tropas alemãs tomaram a Noruega e a Dinamarca, depois avançaram
sobre a França e os Países Baixos. Parecia que dia sim dia não, George VI e
Winston Churchill tinham de comparecer a uma das principais estações
ferroviárias da cidade para recepcionar outro rei, rainha, presidente ou primeiro-
ministro. Como único país que ainda resistia a Hitler, a Inglaterra era, como as
tropas polonesas alcunharam, a “Ilha da Última Esperança” para emigrés que
desejavam continuar lutando. E Londres, hospedeira do movimento de de
Gaulle e de seis governos no exílio, tornara-se a capital de facto da Europa.
Os exilados estavam em toda parte na cidade. De Gaulle e sua equipe
francesa meteram-se num casarão senhorial em Carlton Gardens, com vista para
St. James's Park. A menos de quilômetro e meio, a rainha Wilhelmina da
Holanda convidava resistentes holandeses que haviam escapado para tomar chá
em sua residência em Chester Square, uma casa com vestígios de estragos
provocados pelos ataques aéreos. A três quarteirões da Rainha, o general
Wladyslaw Sikorski, primeiro-ministro polonês e comandante em chefe, tratava
questões de estado no Rubens Hotel. Os governos norueguês, holandês e belga
operavam na Stratton House, no lado oposto ao Ritz, em Piccadilly. Outras
agências estrangeiras se dispersavam por Belgravia, Kensington, Mayfair,
Knightsbridge e St. James's.
Por volta de 1943, cerca de cem mil pilotos, soldados e marinheiros europeus
haviam se materializado na Inglaterra, juntando-se não apenas às forças
rapidamente crescentes dos EUA, como também às tropas do Canadá, Austrália,
Nova Zelândia, África do Sul e Índia. Diferentemente dos militares americanos
e dos da Commonwealth, os europeus haviam arriscado tudo para chegar lá.
“Para atravessar o Canal [224] até a Inglaterra era preciso sacri car tudo o que se
amava, inclusive, provavelmente, até a própria vida, pelo único privilégio de
combater os názis como homens livres,” disse Erik Hazelho , estudante holandês
de direito quando a guerra irrompeu. “O objetivo de todos era o mesmo: chegar à
Inglaterra e juntar-se às forças dos aliados.” Em 1940 e início de 1941, grande
parte do restante do mundo esperava que a Inglaterra fosse derrotada em meses,
talvez em semanas. Mesmo assim, os europeus continuaram chegando — “todos
aqueles heróis insanos e desarmados que desa avam o Hitler triunfante,” disse a
jornalista francesa Eve Curie, lha do casal de físicos Marie e Pierre Curie, ela
mesma uma refugiada em Londres.
Graças aos exilados, Londres tornou-se então uma vibrante metrópole
cosmopolita, zumbindo de mexericos, energia e vida. Um nativo londrino nunca
sabia quem poderia sentar-se ao seu lado num ônibus ou metrô, num restaurante
ou pub. Podia ser um piloto polonês recém-chegado do cumprimento de uma
missão de bombardeio, um marinheiro norueguês resgatado de seu navio
torpedeado, um guerrilheiro da Resistência retirado clandestinamente da França.
Como pássaros exóticos de plumagem brilhantemente colorida, os militares
europeus apinhavam as ruas londrinas dani cadas pelas bombas — marinheiros
franceses com suas camisas listradas e boinas de pompom vermelho; o ciais do
exército francês com suas pelerines brancas e o quepe característico, cilíndrico e
com topo reto na horizontal; soldados poloneses com suas coberturas de quatro
cantos, parecendo dragões do século XIX; policiais holandeses em seus elegantes
uniformes negros com detalhes em prata acinzentada. Para o diplomata
canadense Charles Ritchie, caminhar ao lado de europeus aliados pelos
Kensington Gardens era como “nadar na maré cheia da história.”
Embora estrangeiros pudessem ser vistos por todos os cantos de Londres, o
centro da vida para os émigrés do tempo da guerra era o Soho, um paraíso para os
expatriados europeus desde o século XVII. Boêmio, barulhento e barato, suas
vizinhanças eram generosas em restaurantes franceses, italianos, gregos, chineses
e outros étnicos, muito procurados pelos exilados. O York Minster, em Dean
Street, era um dos mais conhecidos pontos de encontro, atraindo os Franceses
Livres e funcionários de postos mais subalternos do governo belga, entre outros.
De Gaulle e os chefes de governos no exílio, em contraste, faziam sua vida
social nos mais exclusivos e bem frequentados locais ingleses — Savoy, Ritz,
Claridge's e Connaught — defendendo as causas de seus respectivos países junto
a funcionários ingleses e americanos. Os governos no exílio muitas vezes
competiam entre si por favores dos dois maiores aliados ocidentais; entre e
mesmo dentro dos citados governos havia suspeitas, facções, desacordos e
intrigas. Num artigo irônico para o New Yorker sobre as rivalidades interaliadas,
A.J. Liebling ressaltou como “os ministros recebem [225] relatórios sobre seus
correspondentes de meia dúzia de outros governos, e os agentes se vigiam
reciprocamente — a ponto de um almoço no Claridge's ou no Ritz Grill parecer
um engarrafamento de personagens saídos de um lme de Alfred Hitchcock.”
Para os soldados estrangeiros, no entanto, Londres era menos um foco de
intrigas e mais um lugar para relaxamento, camaradagem, agitação e romance. Ao
longo da guerra, pilotos europeus de bases aéreas próximas e soldados em licença
de postos mais distantes como Tobruk e Tripoli enxameavam pela cidade para
desfrutar de seus prazeres, da mesma forma que faziam outros militares aliados.
“Sem levar em conta nossas diversi cadas origens e futuros incertos, nos
tratávamos como iguais, mesmo que para só tomar uma cerveja,” lembrou Erik
Hazelho . “Bebíamos juntos, levávamos nossas namoradas aos mesmos
nightclubs — o Suvi, o Embassy Club, o 400. Noruegueses, holandeses,
poloneses, franceses, ingleses, estávamos todos lá — espremidos nas pequenas
pistas de dança.
De todos os europeus, os poloneses e os Franceses Livres faziam mais sucesso
com as mulheres inglesas pelo charme arrojado, até atrevido, e continental. A
novelista Nancy Mitford estava entre as que se enfeitiçaram pelos franceses; em
1942, ela começou um tempestuoso e, no nal, infeliz, romance com Gaston
Palewsky, o charmoso e mulherengo chefe de Estado-Maior de de Gaulle. Mas
foram os poloneses, com seus hábitos de beijar mãos e propensão para enviar
ores, que mereceram a reputação de galanteadores. Nos diários e cartas
daqueles tempos, ou mesmo em recordações pósteras, os pilotos poloneses, que
eram chamados por Quentin Reynolds de “a moçada glamorosa da Inglaterra,”
descrevem, com algum espanto, seus casos amorosos de tempo de guerra na
Inglaterra. “Quanto às mulheres [226],” um deles escreveu em seu diário, “o
difícil é livrar-se delas.”
 
Para os que ficaram na Europa ocupada , a Inglaterra e sua capital
eram vistas de modo muito diferente. Não eram lugares para divertimento e
romance, e sim faróis de esperança e talismãs contra o desespero. Pouco depois
de os alemães invadirem a Holanda, Erik Hazelho estava de pé numa praia
próxima a Haia quando viu, deslumbrado, dois Spit res rasgarem o céu acima de
sua cabeça, com as iniciais RAF brilhando ao sol. “A ocupação caíra sobre nós
com tão esmagador peso,” escreveu mais tarde, “que a Inglaterra, como a
liberdade, se tornara um mero conceito. Acreditar nela como algo real, um
pedaço de terra onde o povo livre havia resistido à invasão názi, requeria uma
manifestação concreta como um sinal de Deus: a Inglaterra existe!” Para ele, os
Spit res foram aquele sinal. Menos de um ano mais tarde, embarcou escondido
num barco pesqueiro, escapou para a Inglaterra e se tornou piloto da RAF.
Para muitos outros residentes em países cativos, a esperança vinha sob a
forma da BBC. Paralisados pelo choque, humilhação e terror da ocupação názi,
eles se animavam com as transmissões diárias da BBC, sentindo que não estavam
sozinhos. Ouvir a rádio de Londres — uma atividade punida com prisão e, em
alguns países, com a morte — era, para muitos europeus, o primeiro modo de
resistirem aos invasores. Todos os dias, eles apanhavam seus receptores de uma
variedade de locais onde estavam escondidos — por baixo de tábuas do assoalho,
atrás de latas de alimentos nas prateleiras da cozinha, en ados em chaminés. No
norte da Noruega, pescadores remavam para uma pequena ilha a diversas milhas
do litoral, onde haviam escondido um rádio em uma caverna. Em qualquer que
fosse o ambiente, o dono do receptor o ligava, sintonizava na BBC a tempo de
todos ouvirem o badalar do Big Ben e as palavras mágicas: This is London
calling. A partir de então, escutavam as notícias do dia sobre a guerra em suas
próprias línguas e, quase sempre, ouviam os líderes dos respectivos países — o rei
Haakon da Noruega; a rainha Wilhelmina; o general Sikorski; Jan Masaryk,
ministro do Exterior da Tchecoslováquia — incitando-os a con ar na vitória nal
e, no meio-tempo, a fazer o possível para opor-se ao inimigo.
Um vasto número de europeus considerava as transmissões da BBC seus
únicos vínculos com a liberdade. Numa carta saída às escondidas da
Tchecoslováquia, um homem escreveu à BBC: “Eu enlouqueceria se perdesse
sequer uma transmissão de Londres. É a única coisa que alimenta minha alma.”
Um francês, que escapou para a capital da Inglaterra quando a guerra já ia muito
adiantada, lembrou-se: “É impossível [227] explicar o quanto dependíamos da
BBC. No começo, ela era tudo.”
Somente os que experimentaram a invasão de seus países, Eve Curie
observou certa vez, podiam entender totalmente a realidade da guerra e a
preciosidade da liberdade que Londres representava. Uma inglesa, caminhando
por Piccadilly na companhia de uma amiga jornalista belga, que acabara de
escapar de uma prisão názi, surpreendeu-se com esse tipo de sentimento. Sua
amiga, “quase embriagada de felicidade,” perdia o olhar pelo entorno, lembrou-
se, como se tentasse memorizar tudo o que via. “Sabe você, venho sonhando por
meses com este momento!” exclamou. “Que maravilhoso é estar aqui! Milhões de
pessoas em todo o continente neste momento pensam em Londres!” Malgrado
todas as privações e sofrimentos que os ingleses experimentaram na Blitz, a
inglesa pensou consigo mesma: “Os londrinos às vezes esquecem quão
privilegiados são.”
 
Apesar de ser verdade que os exilados europeus e os
compatriotas que caram em seus países se bene ciaram bastante do aliado
inglês, também é verdade que a Inglaterra, os Estados Unidos e até a União
Soviética receberam muita coisa em troca. Embora os europeus estivessem então
muito ofuscados pela coalizão dos Três Grandes, eles proporcionaram ajuda vital
à causa dos aliados. Nos anos críticos de 1940 e 1941, ajudaram a salvar a
Inglaterra da derrota e, nos últimos estágios da guerra, provaram ser de imenso
valor para o esforço aliado geral.
Quando a Alemanha desfechou seu assalto aéreo sobre o sul da Inglaterra,
em julho de 1940, a Royal Air Force estava em frangalhos, tendo perdido um
terço de seus mais experientes pilotos e metade de seus aviões nos combates na
França e na Bélgica. Centenas de experimentados pilotos europeus — belgas,
franceses, tchecos e, sobretudo, poloneses — preencheram os claros. Os aviadores
polacos, que já haviam combatido a Luftwa e em seu próprio país e na França,
foram considerados os mais hábeis de todos; um de seus esquadrões abateu mais
aviões alemães durante a Batalha da Inglaterra do que qualquer outra unidade
adida à RAF. Segundo autoridades dos altos escalões da força aérea inglesa, a
contribuição dos poloneses foi crucial para a vitória na Batalha da Inglaterra;
alguns acreditam que foi decisiva. “Se a Polônia não estivesse ao nosso lado
naqueles dias (...) a chama da liberdade poderia ter sido apagada,” declarou a
rainha Elizabeth em 1996.
Para ajudar a Inglaterra na sua exponencial perda de toneladas de transporte
marítimo, a Noruega, detentora da quarta frota mercante do mundo, cedeu por
empréstimo aos ingleses mais de 1.300 navios, com as tripulações. Entrementes,
a Bélgica emprestou à Inglaterra parcelas de suas reservas de ouro quando foram
necessários dólares para pagar os armamentos dos Estados Unidos, antes de
Roosevelt instituir o Lend-Lease. As abundantes reservas naturais de matérias-
primas do Congo Belga, tais como borracha e petróleo, foram empregadas para
ajudar a causa dos aliados.
Todavia, a maior contribuição europeia se deu no campo da Inteligência, das
Informações. Pouco antes de começar a Batalha da Inglaterra, os decifradores de
códigos de Bletchley Park tinham conseguido quebrar a versão para a Luftwa e
produzida pela máquina cifradora alemã Enigma. Meses mais tarde, foi quebrada
a versão para a Marinha e, depois, para o Exército. As informações produzidas
pelos analistas e criptógrafos ingleses sobre as táticas e planos militares
germânicos foram cruciais para o triunfo na Batalha do Atlântico e para a vitória
nal dos aliados. Mas Bletchley Park não teria capacidade para tal façanha sem a
ajuda dos franceses e, acima de tudo, dos poloneses. Empregando documentos
supridos pelo serviçø de informações francês, os criptogra stas poloneses, no
início dos anos 1930, foram os primeiros a decifrar as interceptações efetuadas
nas mensagens produzidas pela Enigma. No verão de 1939, às vésperas das
hostilidades, a agência de inteligência polonesa presenteou os criptogra stas
ingleses e franceses com uma réplica exata da máquina Enigma. Tal dispositivo,
acompanhado de informações sobre os códigos alemães repassados pelos
poloneses, proporcionou as fundações sobre as quais os ingleses erigiram seu
próprio e afamado sistema de quebra de códigos e cifras.
Mestre em se apossar dos créditos pelos sucessos da inteligência de tempo de
guerra que, efetivamente, não tinham origem em sua agência, Stewart Menzies,
chefe do louvado Secret Intelligence Service — MI6, foi rápido em declarar-se
controlador de Bletchley Park. Isso lhe proporcionou a agradável missão de
apresentar a Churchill os últimos “ovos de ouro” da inteligência lá produzida.
Enquanto Menzies se “refestelava na glória re etida e sobre ele lançada (...) a
verdade era que o SIS não podia reivindicar responsabilidade exclusiva por
qualquer dos grandes feitos de informações na guerra,” declarou um funcionário
inglês dessa esfera de atividade. A fonte de quase todos eles eram os serviços de
inteligência sediados na Europa ocupada.
Em todo o globo, o serviço secreto inglês angariou excelente reputação,
graças em grande parte à imagem de um SIS super treinado e onisciente, imagem
amplamente divulgada nos romances de aventuras e espionagem publicados
antes da guerra. Churchill considerava o serviço inglês de inteligência “o melhor
do mundo [229],” como também Heinrich Himmler e seu vice Reinhard
Heydrich, ambos viciados em cção de espionagem. A realidade, no entanto, era
muito diferente. Carente de recursos governamentais no período entreguerras, o
MI6 vinha por muito tempo sofrendo com a exiguidade de efetivos, de recursos
nanceiros, de pessoal talentoso e de tecnologia atualizada. Até a Alemanha
invadir a Polônia e os Países Baixos, os chefes do SIS se inclinavam pelo
apaziguamento; iludidos por ctícias aberturas germânicas de paz em relação à
Inglaterra, dois operadores do SIS foram sequestrados por agentes de Heydrich
no nal de 1939. Para aumentar a humilhação inglesa naquele caso, os agentes
do SIS, quando interrogados, revelaram rapidamente detalhes da operação de
sua agência, inclusive os nomes dos operadores do SIS por toda a Europa
Ocidental. No curso da Blitzkrieg germânica tais operadores foram presos, e a
rede do SIS, quase totalmente desbaratada.
Para Stewart Menzies e seu vice Claude Dansey, a chegada dos serviços
secretos europeus a Londres foi uma dádiva caída do céu para que os dois se
salvassem do desastre, bem como sua agência. Em troca de ajuda nanceira,
comunicações e apoio em transportes para os serviços exilados, o SIS, sob a
direção de Dansey, assumiu o controle da maioria de suas operações e capitalizou
seus triunfos. Graças, por exemplo, ao serviço secreto tcheco, o SIS tomou
conhecimento de antemão dos planos alemães para invadir a França através das
Ardenas em 1940 e de tomar a Iugoslávia e a Grécia na primavera de 1941. (O
feito da inteligência sobre as Ardenas — e o fracasso de Inglaterra e França por
não tomarem qualquer providência — prova que, por melhor que possam ser as
informações, elas são inúteis se, em consequência, nenhuma ação resultar.)
Enquanto isso, na Noruega, centenas de operadores de transceptores
monitoravam e reportavam os movimentos dos submarinos e navios de guerra
alemães ao longo da costa do país. Um deles informou a Londres, em 1941, que
havia detectado quatro belonaves germânicas num dos ordes da Noruega
central — informação que levou ao afundamento do Bismarck e a sérios danos no
Prinz Eugen. Além das informações sobre a localização de navios e de tropas e
forti cações inimigas, agentes da resistência francesa se apossaram de planos
alemães para a defesa costeira de todo o litoral da Normandia, o que foi de
inestimável valor para o planejamento de estado-maior dos aliados da invasão do
Dia-D.
Entretanto, de todos os serviços secretos europeus, foi o polonês que
proporcionou a parte do leão da inteligência aliada durante a guerra. Em 2005, o
governo inglês admitiu que cerca de 50 por cento das informações sigilosas
obtidas pelos aliados nos tempos de guerra na Europa vieram de fontes
polonesas. “Os polacos tinham [230] os melhores serviços especiais do
continente europeu,” disse Douglas Dodds-Parker, um funcionário da
inteligência inglesa que com eles trabalhou durante a guerra. “A Polônia precisou
de tais serviços (...) durante e entre os séculos de ocupação e partição” executadas
por seus mais poderosos vizinhos — Rússia, Alemanha e Áustria. “Com gerações
de atividades clandestinas a embasá-los,” acrescentou Dodds-Parker, “os
poloneses instruíram o restante de nós.”
A partir do momento em que a Polônia recuperou sua independência em
1918, passou a dar grande prioridade à coleta de informações e à decifração de
códigos, especialmente dirigidas aos seus dois inimigos mais historicamente
potentes, Alemanha e Rússia. Nas palavras de um ex-chefe das informações
polonesas: “Caso se viva entre duas mós, é preciso aprender a não se deixar
triturar.” Em 1939, os líderes da inteligência polaca não foram capazes de evitar
que isso acontecesse, porém, antes de escaparem para o oeste, deixaram
estabelecida no país so sticada rede clandestina que, mais tarde, forneceu uma
cornucópia de informações a Londres, inclusive relatórios sobre a movimentação
militar germânica para o front russo. Além disso, a Polônia possuía agentes na
Escandinávia, Estados Bálticos, Suíça, Itália, Bélgica, Bálcãs, norte da África e na
própria Alemanha. Na França, os poloneses operavam diversas das maiores redes
de informações. Por volta de 1944, uma dessas redes — de codinome F-2 —
contava com setecentos operadores em tempo integral e dois mil em tempo
parcial, a maioria franceses, trabalhando em locais como portos, estações
ferroviárias, fábricas de armamentos e até mesmo em instalações alemães de
produção bélica.
No começo dos anos 1940, graças à F-2 e a uma variedade de outras fontes
europeias de informações, os aliados tomaram conhecimento dos testes que
vinham sendo executados com duas novas armas secretas germânicas — a bomba
voadora V-1 e o foguete V-2 — em Peenemünde, no litoral báltico da Alemanha.
De posse desses dados, mais de quinhentos bombardeiros da RAF martelaram
Peenemünde em agosto de 1943, retardando a produção de artefatos por mais de
seis meses e evitando seu emprego sobre milhões de tropas dos aliados que se
concentravam na Inglaterra para a invasão.
 
Quando a Agência de Serviços Estratégicos americana (OSS)
começou a operar em Londres, em 1942, não tinha ideia de que a eira de
inteligência que recebia do MI6 era produzida, na realidade, pelos serviços
europeus. Como virtualmente todos os agentes da comunidade internacional de
inteligência, os operadores da infante agência de sabotagem e espionagem dos
Estados Unidos acreditavam na imbatível qualidade do SIS. “Chegamos a
Londres [231] como garotos novos na escola, não testados, desconhecidos,
ridicularizados e menosprezados” pelos ingleses, lembrou-se William Casey, que
serviu na OSS durante a guerra e se tornou, mais tarde, chefe da CIA. Entre os
que desdenhavam dos americanos estava o escritor Malcolm Muggeridge, um
agente do SIS durante a guerra que escreveu em suas memórias: “Lembro-me
muito bem deles, chegando como jeune lles en eur recém-saídas do ginásio,
todas saudáveis e inocentes, para começarem a trabalhar no nosso velho e
sufocante bordel das informações.”
Contudo, não demorou muito tempo para que “as inocentes” descobrissem o
que se passava por trás das bem cerradas portas do bordel. “A verdade é que, no
lado positivo da inteligência, [o SIS] é lamentavelmente pobre,” observou em seu
diário David Bruce, chefe da agência da OSS em Londres. “A maioria dos
relatórios que nos envia é de duplicatas dos que já recebemos dos serviços
secretos europeus de inteligência.” A despeito da veemente oposição de Claude
Dansey, a OSS insistiu em abrir canais próprios com os serviços clandestinos
europeus, proporcionando-lhes suporte nanceiro e, com sua assistência, criando
as próprias redes de espionagem no continente.
No campo da sabotagem, a OSS juntou forças com a nova agência do
governo britânico chamada Agência de Operações Especiais (Special Operations
Executive — SOE), que treinava europeus para a so sticada arte da subversão e
para outras formas de resistência ativa. Em vastas propriedades situadas em todo
o interior da Inglaterra e da Escócia, noruegueses, holandeses, poloneses,
franceses, tchecos e belgas recebiam novas identidades e eram treinados no salto
de paraquedas, operação de transceptores, leitura de códigos, preparação de
bombas e explosivos, além de aprenderem a matar homens da SS no corpo a
corpo. Eram então enviados de volta aos seus países para treinarem outros
combatentes clandestinos.
Em 1943, comandos noruegueses, por ordem do próprio Churchill,
destruíram uma fábrica de água pesada em seu país e ajudaram a evitar que a
Alemanha desenvolvesse uma bomba atômica. Antes e depois do Dia-D, a
sabotagem executada pela resistência francesa foi, nas palavras de Eisenhower,
de “inestimável valor [232]” para o desembarque dos aliados e sua progressão
através da França. Na Bélgica, a subversão subterrânea impediu que os alemães
explodissem o fundamental porto de Antuérpia. A resistência polonesa, o maior
e mais desenvolvido movimento clandestino na Europa, foi responsável por
consideráveis retardos e interrupções nos transportes ferroviários germânicos
através da Polônia na direção do Front Oriental, contribuindo assim para o
colapso da ofensiva alemã contra a União Soviética.
Noutro serviço de incalculável valor para os aliados, os movimentos de
resistência em cada país cativo ajudaram a resgatar e encaminhar sigilosamente
de volta à Inglaterra milhares de pilotos ingleses e americanos abatidos em
operações aéreas atrás das linhas inimigas, assim como outros militares aliados
aprisionados em territórios ocupados pelos alemães. Na Bélgica, por exemplo,
uma mocinha chamada Andrée de Jongh criou uma rota de escape denominada
Comet Line através de seu país natal e da França, e guarnecida em grande parte
por amigos seus, com a nalidade de resgatar e devolver ingleses e americanos
para a Grã-Bretanha. A própria de Jongh escoltou pessoalmente mais de uma
centena de militares através dos Pirineus para chegar à neutra Espanha.
Como de Jongh e seus colegas sabiam, a atividade na resistência,
independentemente do sexo, era bem mais perigosa do que o combate no campo
de batalha ou no ar. Caso capturados, os militares uniformizados eram enviados
para campos de prisioneiros de guerra, onde a Convenção de Genebra era
normalmente aplicada. Quando membros da resistência eram apanhados,
enfrentavam a tortura e o horror de um campo názi de concentração e/ou a
execução. O perigo da captura era particularmente grande para os que abrigavam
combatentes ingleses ou americanos, a maioria dos quais não falava a língua do
país em que tinham sido resgatados e eram muito difíceis de disfarçar. Como
observou um o cial inglês da inteligência, “não é tarefa fácil esconder e alimentar
um estrangeiro em seu meio, especialmente quando se trata de um escocês com
um metro e oitenta e cinco de altura e cabelos ruivos, ou um americano mascador
de chiclete vindo do meio-oeste.”
James Langley, chefe da agência inglesa que ajudava as linhas europeias de
escape, mais tarde estimou que, para cada americano ou inglês resgatado, pelo
menos um operador da resistência, homem ou mulher, perdeu sua vida. Andrée
de Jongh conseguiu escapar desse destino. Capturada em janeiro de 1943 e
enviada para o campo de concentração de Ravensbruck, na Alemanha, ela
sobreviveu à guerra, apesar de ter livremente admitido ser a criadora da Comet
Line, porque os germânicos não acreditaram que uma moça tão nova pudesse ter
arquitetado a intrincada operação.
 
No fim do século XIX, Lord Salisbury , então primeiro-ministro
da Inglaterra, dissera com um torcer de nariz: “A Inglaterra não solicita [233]
alianças. Ela as concede.” Winston Churchill nunca teve tal luxo. Como a
Inglaterra enfrentou uma possível invasão germânica em 1940 e 1941, o
primeiro-ministro necessitou de todos os aliados que pudesse conseguir, não
importava quão insigni cantes fossem, para ajudá-lo a evitar a derrota.
Não obstante a oposição de membros de seu Gabinete e de muitos do resto
de Whitehall, ele insistiu que todos os governos no exílio fossem bem recebidos
na Inglaterra, juntamente com suas forças armadas. “Devemos vencer juntos ou
perecer juntos,” disse ao general Sikorski e aos poloneses em junho de 1940.
Quando a França capitulou diante dos alemães, Charles de Gaulle, elemento de
pouca expressão no governo e o mais jovem general do Exército, foi o único
membro do alto escalão que ousou desa ar o armistício e ir para Londres. “O
senhor está sozinho,” Churchill disse-lhe. “Bem, então reconhecerei só o senhor.”
Quando membros do Gabinete quiseram postergar o m das relações com o
governo Pétain, Churchill exigiu que a Inglaterra reconhecesse de Gaulle como
“líder de todos os franceses, estejam onde estiverem, que se congreguem à sua
volta em apoio à causa dos aliados.”
Mas o devoto suporte do primeiro-ministro inglês aos seus aliados europeus
durou até que a União Soviética e os Estados Unidos foram empurrados para a
guerra. Quando as duas poderosas nações se juntaram à aliança, a antiga
solidariedade entre a Inglaterra e a Europa ocupada deu lugar às exigências da
Realpolitik. Se bem que absolutamente consciente do débito que tinha os
europeus pela sua ajuda passada, Churchill precisava substancialmente mais dos
dois recém-chegados.
Em consequência, a posição de todos os governos europeus foi
dramaticamente minimizada, em especial quando os Estados Unidos entraram
na guerra. A despeito de seu endosso à liberdade e igualdade para todas as
nações, Roosevelt, apoiado por Churchill, advertiu que a América estaria no
leme a partir de então. Cambaleando após as derrotas em Cingapura, Hong
Kong, Malásia e Birmânia, o primeiro-ministro precisava desesperadamente da
ajuda americana e deixou claro que sua principal lealdade era então devida ao
presidente dos EUA.
Em janeiro de 1942, Roosevelt e Churchill encenaram a assinatura em
Washington de um Acordo das Nações Unidas (como o Presidente denominou
as vinte e seis nações em aliança na ocasião), que se comprometiam a empregar
todos seus recursos na disputa armada e reiteravam suas adesões aos princípios
da Carta do Atlântico. “As Nações Unidas [234] constituem uma associação de
povos independentes com igual dignidade e igual importância,” declarou
Roosevelt. Ainda assim, apenas a União Soviética e a China foram consultadas
de antemão sobre a minuta do documento, e só os embaixadores desses dois
países receberam convites formais para a cerimônia de assinatura, na Casa
Branca, com Roosevelt e Churchill. Os embaixadores dos outros países aliados
foram meramente informados de que poderiam passar por lá, quando lhes fosse
conveniente, para assinarem a declaração.
Depois da assinatura, durante jantar na Casa Branca, um dos convidados
mencionou o rei Zog, cujo país — a Albânia — fora invadido por Mussolini em
1939. “Winston, esquecemos o rei Zog!” — exclamou o Presidente. “Acredito
que aqui existe um representante ou ministro da Albânia — temos que fazer com
que ele assine nosso pequeno documento.” Os outros convidados riram, mas um
deles — um escritor de descendência eslovena, chamado Louis Adamic,
convidado para o jantar por Eleanor Roosevelt — cou incomodado com o que
considerou tom frívolo e condescendente da troca de palavras entre Roosevelt e
Churchill sobre a Albânia. “Um par de imperadores!” pensou Adamic consigo
mesmo. “Diz um imperador ao outro, sentado no lado oposto da mesa: 'Oh, céus,
esquecemos do Zog'. Tudo é muito engraçado. Mas também extremamente
pessoal, aleatório, arrogante, casual. Do que mais descuramos?”
A atitude do Presidente para com os países da Europa ocupada e os outros
pequenos aliados revelou algumas das contradições de sua imensamente
complexa personalidade. Como Woodrow Wilson, adepto da noção de que a
Primeira Guerra Mundial “tornaria o mundo seguro para a democracia,”
Roosevelt acreditava que a missão da América após a Segunda Guerra Mundial
era ajudar a construir um mundo mais justo. No entanto, ele também acreditava
— tal qual Stalin e, um pouco menos, Churchill — que os Três Grandes tinham o
direito de ditar as regras para os estados menos poderosos, não apenas durante
como também depois da guerra. “O Presidente,” disse Arthur Schlesinger Jr.,
“falava em idealismo, [235] mas jogou o jogo do poder.”
Na primavera de 1942, numa reunião com o ministro soviético do Exterior
Vyacheslav Molotov, FDR esboçou a imagem de um mundo pós-guerra muito
diferente daquele visualizado na Carta do Atlântico. Tal mundo não seria
governado pelos ideais da igualdade e da justiça, mas pela política do Gran
Poder. Os Estados Unidos, a União Soviética, a Inglaterra e a China
constituiriam a força policial do mundo, e os pequenos países, despojados de seus
armamentos, salvo os fuzis, se submeteriam à vontade da força policial. Roosevelt
continuou advogando essa ideia, mesmo enquanto defendia, simultaneamente,
sua visão de uma federação internacional de nações.
Com o prosseguimento da guerra, os aliados menos poderosos foram sendo
excluídos de qualquer papel signi cativo nas operações de guerra e das
discussões sobre o formato geopolítico que o mundo pós-guerra tomaria.
Visitantes estrangeiros à Casa Branca cavam pasmos com a maneira casual de
Roosevelt falar sobre os destinos de outras nações, como se coubesse só a ele
decidir. Na sua reunião com Molotov, por exemplo, o Presidente declarou que a
União Soviética precisava de um porto ao norte que não casse congelado no
inverno e sugeriu que ela se apossasse do porto norueguês de Narvik. Os
perplexos soviéticos rejeitaram a proposta, salientando que “não tinham pleitos
territoriais, ou quaisquer outros, contra a Noruega.”
Sobre Roosevelt, Oliver Lyttelton, ministro inglês da Produção, escreveu:
“Ele permitia que seus pensamentos e palavras adejassem sobre o tumultuado e
problemático cenário [mundial] com uma despreocupação e inconsequencia que
eram realmente assustadoras em alguém que detinha tamanho poder.” Lyttelton
fez essa observação depois de uma conversa até altas horas com o Presidente, na
sala de FDR da Casa Branca, no início de 1943. No decurso da conversa,
Roosevelt mencionou as divisões entre os dois principais grupos étnicos belgas —
os amengos, de língua holandesa, e os valões, de língua francesa. Depois de
declarar que os amengos e os valões “não podiam viver juntos,” propôs que
“após a guerra, deveríamos criar dois estados, um conhecido como Valônia, e
outro como Flamínia, assim como deveríamos juntar Flamínia e Luxemburgo. O
que me dizem sobre isso?” Incrédulo com a noção de se forçar um aliado europeu
a se dividir, Lyttelton só pôde observar que achava que a ideia “requeria muitos
estudos.” Quando o ministro inglês reportou mais tarde a Anthony Eden os
comentários de Roosevelt, o ministro inglês do Exterior disse ter certeza de que o
Presidente brincava. Porém, quando o próprio Eden visitou a Casa Branca
poucas semanas depois, Roosevelt reapresentou a proposta. “Servi-me de água
[236], esperei polidamente, não disse nada [sobre a ideia],” registrou Eden em
seu diário, “e o Presidente não voltou mais ao assunto.”
Em suas memórias, Eden observou: “Roosevelt conhecia a história e a
geogra a da Europa (...) mas as amplas opiniões que manifestava sobre ela eram
alarmantes por sua alegre irresponsabilidade. Ele parecia ver-se decidindo sobre
os destinos de muitas terras, tanto aliadas como inimigas. Fazia isso tudo com tal
encanto que era difícil discordar. No entanto, assemelhava-se muito a um
malabarista, jogando habilmente para o alto bolas de dinamite, sem perceber o
poder que elas encerravam.”
 
Tendo pouco ou nenhum conhecimento das atitudes privadas de
Roosevelt em relação ao futuro de seus países, os governos e os povos da Europa
ocupada o consideravam, nas palavras do intelectual inglês Isaiah Berlin, “uma
espécie de semideus benevolente que, sozinho, poderia salvá-los, e iria salvá-los
no m.” Mas alguns deles começaram a questionar essa fé depois do acordo com
Darlan. Poucos dias após o assassinato do almirante, Ed Murrow escreveu a um
conhecido: “Existe um grande temor, não apenas neste país, mas também entre
os governos no exílio, quanto ao uso que a América fará de seu poder
predominante uma vez terminada a guerra.”
Wallace Carroll anotou que rumores começaram a circular nos círculos de
exilados londrinos assim que o acordo foi anunciado: “Qual será o próximo passo
dos generais americanos? Chegarão a acordo como Pétain e Laval, na França,
com Quisling, na Noruega, com Degrelle, na Bélgica, com Mussert, na
Holanda?” Membros dos movimentos europeus de resistência, cujas vidas
estavam em constante perigo devido, em grande parte, a colaboradores como
Darlan, eram os mais abertos ao expressarem seus desapontamentos e raivas. De
acordo com um relatório do SOE, o conluio dos aliados com Darlan “produzira
violentas reações em todas as nossas organizações clandestinas nos países
ocupados pelo inimigo, particularmente na França, onde ele caiu como uma
bomba e arrefeceu drasticamente o moral.” Os governos no exílio se mostravam
também inquietos com o fato de que, em nome da conveniência, de Gaulle,
apoiado por todos como líder dos Franceses Livres, estivesse sendo ignorado
pelos Estados Unidos e, por via de consequência, pela Inglaterra.
Na verdade, o alto e empertigado general de pernas muito compridas não era
um homem fácil de lidar. Mesmo os mais leais seguidores se exasperavam com
sua arrogância, suscetibilidade e estilo autocrático de liderança. Muitos
destacados opositores dos franceses de Vichy, como Jean Monet, que se tornou
assessor do presidente Roosevelt em Washington, queriam distância do general.
De Gaulle, Lord Moran disse, “positivamente exagera [237] na sua maneira de
ser difícil. (...) Uma criatura exótica, como uma girafa humana fungando com suas
grandes narinas os mortais postados abaixo dela.”
Ao mesmo tempo, de Gaulle tinha muitas razões para ser impertinente. Ele
estava, como Pug Ismay realçou, “numa posição horrivelmente complicada.” O
governo de Vichy o havia condenado à morte por traição, poucos militares e
funcionários franceses o tinham inicialmente acompanhado até Londres, e sua
amada França se encontrava profundamente desmoralizada e dividida.
Enquanto bom número de gauleses rejeitara desde o início a capitulação de
Vichy perante a Alemanha, muitos mais con avam que Pétain, herói
extremamente reverenciado da Primeira Guerra Mundial, poderia trazer
estabilidade para seu humilhado país e para suas próprias vidas.
Para de Gaulle, a assustadora tarefa de inspirar e uni car sua pátria-mãe
rachada em facções, era di cultada pelo fato de, ao contrário dos governos
europeus no exílio, seu movimento não ser reconhecido por Inglaterra e Estados
Unidos como órgão o cial de governo da França. Para desconforto do general, ele
e seus colegas líderes no exílio tinham uma coisa em comum: o governo deles e o
seu movimento eram quase totalmente dependentes do apoio nanceiro da
Inglaterra — e, indiretamente, dos Estados Unidos, através do Lend-Lease.[*]
“Aproximar-se [dos ingleses] como um pedinte, com a desventura de seu país
estampada na testa e ferindo seu coração, era insuportável” para ele, observou a
esposa de Edward Spears, ligação de Churchill com de Gaulle.
Todavia, diferente de outros líderes europeus, o general francês rejeitou o
reconhecimento de sua posição inferior. Teimou que os Franceses Livres, em
virtude da histórica proeminência de seu país na Europa, teriam de desempenhar
um papel importante no desenrolar da guerra. “Não sou subordinado [238] a
ninguém,” declarou certa vez. “Tenho uma missão, e só uma, que é conduzir a
luta para a libertação de meu país.” Para Spears, de Gaulle se abriu: “Você pensa
que estou interessado na vitória da Inglaterra na guerra? Não estou não. Só estou
interessado na vitória da França.” Quando um espantado Spears replicou, “Mas
as duas são a mesma coisa,” de Gaulle disparou de volta: “Em absoluto, não.”
Tão obstinada rebelião levava Churchill à loucura. O primeiro-ministro, que
tinha profunda afeição pela França e a visitara repetidas vezes no período pré-
guerra, experimentava sentimentos con ituosos quanto a de Gaulle. Por um lado,
tinha tremenda admiração pela recusa do general em aceitar a derrota e por sua
férrea determinação de continuar lutando por mais desvantajosos que fossem os
fatores enfrentados — qualidades compartidas pelo próprio Churchill. Ao
mesmo tempo, sentia-se furioso e melindrado pela aparente ingratidão de de
Gaulle em relação ao que o primeiro-ministro havia feito por ele, como
evidenciavam suas constantes queixas e críticas, muitas delas feitas
publicamente, sobre o que o general via como esquecimento da Inglaterra e
violação dos interesses franceses. As discussões de tempo de guerra em que os
dois se envolveram foram monumentais em sua ferocidade, e Churchill, depois
delas, com frequência declarava que não queria mais tratar com o temperamental
francês. Depois de ouvir uma dessas explosões, Harold Nicolson acalmou
Churchill: “O senhor pode estar certo, senhor primeiro-ministro, mas
seguramente tudo isso é irrelevante, pois o general de Gaulle é um grande
homem.” Churchill olhou feio. “Um grande homem?” — rugiu. “Ora essa, é um
egoísta! Um arrogante! Acha que é o centro do universo! Ele... Ele...” Por não
encontrar mais quali cativos, o primeiro-ministro fez uma pausa. “Você está
certo,” disse por m. “É um grande homem.”
De Gaulle, por seu turno, ocasionalmente exionava um pouco para
demonstrar seu apreço por Churchill. Na oportunidade em que a guerra ia a
meio caminho, ele enviou um livro francês de fotos do duque de Marlborough,
ilustre ancestral do primeiro-ministro, ao neto de Churchill, também chamado
Winston. Numa carta a Pamela Churchill, mãe do menino, de Gaulle escreveu
que o livro “é quase a única coisa que eu trouxe da França. Se, mais tarde, o
jovem Winston Churchill der uma olhada nos desenhos e guras, talvez pare um
minuto para pensar num general francês que foi, na maior guerra da história,
admirador sincero de seu avô e el aliado de seu país.”
Roosevelt, de sua parte, jamais compartilhou da opinião de Churchill sobre
de Gaulle como um grande homem. Ao contrário do primeiro-ministro, o
Presidente só sentia desprezo pelo general e por seu derrotado país. Ao capitular
para a Alemanha, pensava ele, e França havia perdido seu lugar entre as
Potências Ocidentais. Na cabeça do Presidente, “a França havia fracassado, e o
fracasso tinha de ser punido,” [239] escreveu Ted Morgan, um dos biógrafos de
FDR. Roosevelt tinha pouco entendimento sobre a complexidade da situação na
França, e escassa simpatia por seus confusos, traumatizados cidadãos. “Não
existe França,” declarou, insistindo que o país realmente não existiria até ser
libertado. Quanto a de Gaulle, Roosevelt o considerava insigni cante e absurdo,
marionete inglesa com as ambições grandiosas de um ditador, mas pequeno apoio
entre seus concidadãos. “Ele se toma por uma Joana D'Arc, um Napoleão, um
Clemenceau,” comparou o Presidente. Roosevelt estava “convencido,” escreveu
Wallace Carroll, “de que as ambições de de Gaulle eram uma ameaça à
harmonia dos aliados e um perigo para a democracia francesa. Em decorrência,
decidiu — e, uma vez decidido, nada o fazia mudar de opinião — que os Estados
Unidos não fariam concessões que ajudassem de Gaulle a concretizar seus
intentos.”
Mesmo quando a OSS despachou um líder francês clandestino para
Washington, no nal de 1942, a m de deixar claro que o movimento de
resistência francesa aceitava de Gaulle como seu líder, Roosevelt recusou-se a
ceder. O general e seus seguidores, disse ele a Churchill, não deveriam receber
missão na libertação e no governo do norte da África e da França. De Gaulle,
mais tarde, salientou: “Roosevelt queria que a paz fosse uma paz americana,
convicto de que tinha de ser o homem que lhe ditaria a estrutura, e que a França,
em particular, deveria reconhecê-lo como seu salvador e árbitro. (...) Como
qualquer astro, cou amuado quando viu alguns papéis distribuídos a outros
atores.” Segundo o jornalista e escritor John Gunther, o Presidente “falava sobre
o império francês como se fosse possessão pessoal sua e dizia coisas como 'não
decidi ainda o que fazer com Túnis.'”
Pelo m da campanha no norte da África, entretanto, cou claro que o
Presidente lutava por uma causa perdida no que concernia a de Gaulle. Milhares
de soldados franceses de Vichy, no norte da África, haviam trocado de lado,
juntando-se aos Franceses Livres (agora denominados Combatentes Franceses) e
tornando o movimento de de Gaulle uma força militar bem mais poderosa. Na
França, a oposição a Pétain se agigantou, da mesma forma que os movimentos de
resistência e o apoio a de Gaulle. O general também era apoiado pelos governos
europeus no exílio, assim como pela maioria do povo, da imprensa e do
Parlamento na Inglaterra, além de parte substancial da opinião pública
americana. Em contraste, o general Giraud, nomeado pelos americanos para
substituir Darlan como líder francês no norte da África, não tinha praticamente
apoio dentro do governo Roosevelt. “Entre Giraud e de Gaulle [240], não há
realmente disputa,” disse um chefe da resistência francesa a Harold Nicolson.
“Giraud não é um nome na França. De Gaulle é mais do que um nome, é uma
lenda.”
Por m, curvando-se um pouco ao que a maioria via como inevitável,
Roosevelt aceitou que de Gaulle não poderia ser totalmente afastado do governo
do norte da África, e autorizou a associação do general com Giraud. Em junho de
1943, foi formado em Argel o Comitê Francês de Libertação Nacional, com
Giraud e de Gaulle constituindo dupla presidência. Decorridas poucas semanas,
cou patente que tinha lugar uma luta pelo poder no comitê e que de Gaulle
vencia.
Disposto a não deixar que sua bête noire assumisse o controle, Roosevelt, que
por muito tempo vinha recriminando Churchill por não chamar nos eixos sua
“criança problema,” pressionou o primeiro-ministro a retirar todo o apoio
britânico a de Gaulle. Fazendo circular documentos que descreviam o general
como sabotador dos aliados, o Presidente declarou a Churchill que de Gaulle
“vem minando nosso esforço de guerra, ainda o faz, e (...) é ameaça muito perigosa
para nós.”
O primeiro-ministro achou-se em posição extremamente delicada. Tendo
prometido suporte a de Gaulle como líder dos Franceses Livres onde quer que
estivessem, não poderia faltar à sua palavra. Se zesse o que Roosevelt queria,
enfrentaria séria resistência do povo inglês e de muitos servidores de seu próprio
governo. Enquanto os Estados Unidos, protegidos pela distância no continente
norte-americano, podiam se dar ao luxo de eliminar a França como potência do
pós-guerra, a Inglaterra encarava como essencial que seu vizinho europeu mais
próximo fosse, depois do con ito, tão fortalecido quanto possível para ajudar a
equilibrar as forças com uma Alemanha renascente e com uma União Soviética
cada vez mais poderosa. Todavia, também não havia dúvida de que, em junho de
1943, Churchill precisava bem mais dos Estados Unidos que da França. O
primeiro-ministro declararia mais tarde a de Gaulle: “Sempre que tivermos que
escolher entre a Europa e o mar aberto, optaremos pelo mar aberto. Sempre que
eu tiver que escolher entre Roosevelt e o senhor, carei com Roosevelt.”
Arrastado pelos argumentos de Roosevelt contra de Gaulle, Churchill,
chamando o general “esse vaidoso [241] e até homem,” instou seu Gabinete a
considerar “se não deveríamos agora eliminar de Gaulle como força política.” Os
membros do Gabinete, fortemente in uenciados por Anthony Eden, rejeitaram a
ideia, declarando que “não só o transformaríamos em mártir como seríamos
acusados (...) de intromissão indevida em questões internas francesas e de tratar a
França como um protetorado anglo-americano.” Em 1940, o Foreign O ce,
che ado por Lord Halifax, havia liderado a oposição a Churchill no
reconhecimento de de Gaulle; agora, o mesmo Foreign O ce, sob as ordens de
Eden, servia como ponta de lança no esforço de proteger o general contra a fúria
de Churchill e Roosevelt.
 
A teimosa objeção de Roosevelt a de Gaulle e seu movimento
era fonte de frustração não só para os ingleses mas também para os funcionários e
comandantes militares americanos em Londres e em Argel. Decerto, ela tornou a
vida mais difícil para Eisenhower, o qual, por penosa experiência, agora sabia
bem mais do que FDR sobre a enredada complexidade da política europeia e do
norte da África. Em suas memórias, Eisenhower realça que Roosevelt se referia
ao norte francês da África e a seus habitantes “em termos de ordens, instruções e
imposições. (...) Continuava, talvez inconscientemente, a discutir os problemas do
ponto de vista de um conquistador. Teria sido muito mais fácil para nós se
tivéssemos podido agir da mesma forma.”
Talvez o crítico americano mais ostensivo dessa política de Roosevelt tenha
sido Wallace Carroll, diretor da Agência de Informação de Guerra sediada em
Londres, que não mediu palavras para declarar que as diretrizes do Presidente
resultaram em séria derrota de propaganda e de política para os Estados Unidos.
“Pareceu,” observou Carroll, “que mostrávamos uma espécie de arrogância, uma
atitude que negava o direito de nações menores e menos afortunadas
questionarem ações americanas.”
David Bruce concordava, dizendo a Gil Winant que os preparativos para a
invasão da França, que dependiam demais das informações dos franceses
subterrâneos, poderiam ser postos em risco se o homem considerado pela
resistência como seu líder continuasse excluído por americanos e ingleses.
Por seu turno, os agentes da OSS, que operavam em estreito contato com
membros da resistência nos países cativos da Europa e sabiam dos perigos que
eles enfrentavam por ajudar os aliados, não tinham paciência com o que viam
como maquiavélicos jogos de poder político “praticados em [242] detrimento de
nações menores e povos impotentes.” Como muitos outros funcionários
americanos em Londres, eles se sentiam alienados de seus superiores em
Washington, os quais, seguros e distantes dos riscos da guerra, deslocavam
pessoas para lá e para cá, como peões num tabuleiro de xadrez, e expediam
ordens sem consideração ou cuidados com os efeitos que elas poderiam provocar.
Gil Winant partilhava de tais preocupações. Embora permanecendo “em
todos os momentos o devotado servidor do Presidente,” o embaixador também via
“o custo para os Estados Unidos de sua atitude emocional em relação a de
Gaulle,” registrou Wallace Carroll. Ainda que os Estados Unidos não tivessem
vínculos o ciais com os Combatentes Franceses, Winant criou uma cerrada
relação informal com de Gaulle, o qual, deixando temporariamente de lado sua
rabugice, elogiou mais tarde o americano como “diplomata de grande inteligência
e intuição” e um “esplêndido embaixador.” Winant fez o papel de apaziguador
em diversas ocasiões quando surgiram desacordos entre o general e funcionários
americanos em Londres e no norte da África. Ele sabia muito bem que,
gostassem ou não, de Gaulle teria um papel crucial na França libertada.
Numa das muitas conversas com Carroll sobre o assunto, Winant perguntou
retoricamente: “Quem está salvando nossos pilotos quando são resgatados em
toda a França?” Enquanto caminhava de um lado para o outro no seu gabinete,
ele mesmo respondeu: “É gente que reconhece de Gaulle como líder. Quem
fornece a maior parte das informações que conseguimos da França? É a gente de
de Gaulle, não é? Quando chegarmos à França, teremos que nos entender com
de Gaulle. (...) Não há outro que possa assumir a administração civil.”
Pelo meio do verão de 1943, Winant e Eden trabalharam juntos para tentar
persuadir Churchill e Roosevelt a reconhecerem o Comitê Francês de
Libertação Nacional como principal órgão governante no norte da África e em
outras colônias francesas libertadas, e também como única voz da França livre.
Todos os governos europeus no exílio haviam reconhecido o comitê, como
também o Canadá, a Austrália e a África do Sul; a União Soviética estava prestes
a fazer o mesmo. Eisenhower e a maioria dos membros do Parlamento inglês
defendiam igualmente o reconhecimento. Winant juntou-se ao coro, enviando
uma nota a FDR na qual o instava a tomar conhecimento o cial do comitê. Sobre
a mensagem do embaixador, Carroll comentou: “Não creio que ela tenha
aumentado sua popularidade em Washington, nem produzido algum efeito.” O
próprio Winant disse a funcionários ingleses que “estava em maus lençóis [243]”
por forçar o reconhecimento. Roosevelt continuou resistindo, mesmo quando
Churchill nalmente sucumbiu e disse ao Presidente que ele deveria
acompanhá-lo: “Estou chegando ao ponto em que será necessário que eu dê esse
passo até onde os interesses da Grã-Bretanha e anglo-franceses estão envolvidos.”
Por m, ante a oposição de aparentemente todos os outros países da Grande
Aliança, FDR anuiu, no nal de agosto de 1943, a um reconhecimento
americano, cheio de limitações, do Comitê Francês. (No mesmo dia, o governo
britânico anunciou seu próprio e menos restritivo reconhecimento.) Ao mesmo
tempo, no entanto, o Presidente recusou-se a interromper seu esforço de se ver
livre de de Gaulle, para intenso ressentimento e raiva do general. FDR
continuou tentando robustecer a posição de Giraud, convidando-o aos Estados
Unidos e com toda a pompa à Casa Branca. A campanha não deu resultado. Em
novembro, Giraud foi forçado a deixar a dupla presidência, e de Gaulle assumiu
o controle total.
 
Ofuscada pela STURM UND DRANG [ação e emoção] da controvérsia
sobre a França, outra nação europeia cativa — a Polônia — também se viu em
di culdades com seus maiores e mais poderosos aliados. Até que a União
Soviética fosse catapultada para a guerra em junho de 1941, a Polônia havia
contribuído mais para a sobrevivência da Inglaterra do que qualquer outro país
declaradamente aliado. Os dois países gozavam também de estreitos laços
o ciais: a Inglaterra, comprometida através de tratado a defender a soberania e a
independência da Polônia, declarara guerra à Alemanha quando esta invadiu a
Polônia em setembro de 1939.
Mas a Alemanha não foi o único país que atacou os poloneses naquele
setembro. Os soviéticos, com a carta branca de Hitler — proporcionada pelo
Pacto de Não Agressão Ribbentrop-Molotov — para invadir a Polônia pelo leste,
ocupou metade de seu território e deportou mais de um milhão de polacos para
campos de concentração e de trabalhos forçados na Sibéria e em outras remotas
paragens da União Soviética.
Desde os primeiros dias de sua abrupta e relutante aliança com o Ocidente,
Stalin deixou claro que pretendia manter o território polonês que conquistara em
1939 e insinuou seu interesse em controlar o restante do país depois da guerra.
De sua parte, o governo polonês no exílio, sem surpresas, opôs-se a quaisquer
intentos soviéticos contra o território e a independência de seu país. Apesar de
simpatizar com os poloneses, Churchill precisava bem mais de Stalin, e ele e
Eden pressionaram Sikorski a assinar um tratado com os soviéticos, no verão e
1941, que deixava em aberto a questão das fronteiras pós-guerra da Polônia.
Eden, que mais tarde expressaria preocupações a respeito da interferência dos
Estados Unidos e da Inglaterra nas questões internas francesas, disse ao
primeiro-ministro polonês: “Queira o senhor ou não [244], um tratado tem de ser
assinado.”
A realidade era que, enquanto os próprios interesses militares e políticos
ingleses estavam inextricavelmente vinculados ao futuro da França e do resto da
Europa Ocidental, os britânicos não tinham tais interesses em países do Leste
Europeu como a Polônia. O conde Edward Raczynski, embaixador polonês na
Inglaterra, destacou que de Gaulle “tinha poder para irritar os estadistas
britânicos (...) e dizer-lhes verdades desagradáveis cara a cara. Os ingleses podiam
não gostar, mas não lhes convinha abandonar o general ou a França. No entando,
podiam tratar — e de fato trataram — a causa polonesa e a de todo o Leste
Europeu como algo secundário sem interesse vital para eles, e sim apenas um
débito de honra a ser descartado, se possível, sem grande risco ou esforço.”
No começo de 1942, Stalin pressionou a Inglaterra a assinar um acordo
secreto reconhecendo os pleitos soviéticos sobre a Polônia Oriental e os Países
Bálticos. De início, Churchill rejeitou a ideia, porém, sob a tensão das repetidas
derrotas militares inglesas e da forte exigência russa de abertura de uma Segunda
Frente, decidiu ceder. “A gravidade crescente da guerra levou-me a julgar que os
princípios da Carta do Atlântico não deveriam ser interpretados de modo a negar
à Rússia as fronteiras que ela ocupava quando foi atacada pela Alemanha,”
escreveu o primeiro-ministro a Roosevelt.
Embora os Estados Unidos fossem inicialmente contrários à negociação,
Roosevelt mudou de ideia menos de um ano mais tarde. A Polônia tinha bem
menos força sobre lealdades e interesses dos EUA do que com os da Inglaterra:
não havia tratados americano-poloneses a preocupar, nenhum débito dos EUA
com os pilotos ou soldados polacos por ajudarem o país a sobreviver. Para
Roosevelt, que desejava manter Stalin feliz, a Polônia era problema periférico.
Disse a Eden, em março de 1943, que cabia a americanos, soviéticos e ingleses
decidir sobre as fronteiras polonesas; ele, de sua parte, não tinha a intenção de “ir
à conferência de paz e barganhar com a Polônia ou com os outros estados
pequenos.” A Polônia teria de ser organizada “de forma a manter a paz do
mundo.” Em outras palavras, ele não se meteria no caminho das exigências
soviéticas.
Para os dois líderes ocidentais, a aliança com Stalin punha um dilema moral
peculiar. Roosevelt e Churchill, observou o historiador militar inglês Max
Hastings, “acharam conveniente [245], talvez essencial, deixar os cidadãos de
Stalin arcarem com uma escala de sacrifício humano que era necessária para
destruir os exércitos názis, mas que as sensibilidades de suas próprias nações
deixavam-nas sem vontade de aceitar.” Em consequência, trocaram “depender de
uma tirania” — a União Soviética — pela “destruição de outra” — a Alemanha
názi.
Ao fazê-lo, abandonaram o futuro da Polônia.
[*]Os EUA proporcionaram mais de US$50 bilhões de ajuda com o programa Lend-Lease para
quarenta e quatro países durante a guerra. A Inglaterra e os países do Commonwealth receberam a maior
parte, e a União Soviética apareceu em segundo lugar.
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“Um Manto de Privilégios”


 
Certo dia, quando a guerra já ia a meio caminho , a
correspondente da Time-Life, Mary Welsh, passeava a pé por Piccadilly
segurando uma laranja, presente de amigos americanos recém-chegados à
Inglaterra. Os pedestres, que cruzavam com ela, olhavam a laranja atônitos, disse
Welsh mais tarde, como se ela fosse “uma cabeça humana [246].” Eram
decorridos mais de dois anos desde que a maioria dos londrinos havia visto uma
laranja, ou um limão ou uma banana. Pelo m da guerra, muitas crianças
inglesas, por jamais terem deitado os olhos numa laranja ou esquecido como ela
era, não tinham ideia de como comê-la. Cebola era outro artigo raro, tão escasso
que era oferecido como prêmio em rifas.
Embora Londres tivesse assumido ares cosmopolitas graças aos exilados
estrangeiros que lá viviam temporariamente, a cidade também se tornara surrada
e desarrumada. Para a maior parte dos residentes, austeridade e escassez eram o
normal. A aguda falta de alimentos e de itens de consumo signi cava longas
horas de pé em las para quase tudo o que os londrinos quisessem adquirir, dos
simples copos, passando pelas escovas de dentes, às agulhas de costura. Ao ver
uma la com cerca de setenta pessoas no lado de fora de uma loja, um homem
perguntou a outro, que também observava, para o que era. “Creio que nem eles
sabem por que estão na la,” foi a resposta. “Para alguns, trata-se de uma histeria
— sempre que veem uma la, entram nela.” Uma dona de casa londrina
observou: “Muitas vezes, esperamos mais de uma hora na la para comprar meio
quilo de batatas ou 250 gramas de fígado.”
Junto com a política e a guerra, comida eram o tópico mais popular na
conversa dos ingleses conhecidos de Mary Welsh. “Toda a ilha parecia um clube
de mulheres em dieta,” observou ela, “sendo a ênfase das conversas a aquisição
de artigos alimentícios que não fossem batatas, couve ou repolhos.” Depois da
guerra, Theodora FitzGibbon, modelo vivo para artistas que morava em Chelsea,
escreveu: “É difícil entender hoje que estávamos sempre com fome.
Simplesmente não havia o que comer.” O romancista e correspondente
estrangeiro Derek Lambert, que era um rapaz durante a guerra, lembra-se de
como, para sua mãe, “cada dia era [247] uma batalha para conseguir calorias,
vitaminas, carboidrato e aquecimento para mim e para meu pai. (...) Fazíamos as
refeições na cozinha porque não havia carvão su ciente para acender a lareira, e
na cozinha tremíamos em uníssono. A missão de mamãe era lutar e explorar,
economizar e improvisar, bajular o açougueiro e discutir com o dono da
mercearia.” Enfrentando rigoroso racionamento de carvão e de eletricidade, as
famílias iam mais cedo para a cama para se aquecerem; durante o dia, mulheres
empurrando carrinhos de bebê ou cestas de mercado entravam na la em
depósitos de emergência de carvão para tentarem conseguir uns poucos preciosos
torrões do combustível.
Para a maioria dos londrinos, comprar roupas novas era quase tão difícil
quanto adquirir alimentos e combustível. Mary Welsh se orgulhava de sua
previdência por ter comprado algumas dúzias de pares de meias para ela mesma
e para amigas inglesas, numa visita a Nova York em 1942, mas esquecera de
estocar roupa de baixo. Por volta de 1944, essa falta se tornou um “problema
crucial”; quando os elásticos das ligas começaram a afrouxar, Welsh se viu
forçada a recorrer a elásticos de borracha para manter no lugar suas estimadas
meias. Numa carta aos pais de maio de 1943, Janet Murrow descreveu as roupas
desmazeladas e puídas da gente que assistia à troca de guarda em frente ao
Palácio de Buckingham, “Quase não há roupa de verão (...) de modo que antigas
saias são usadas com velhas blusas que não combinam. A despeito dos rostos
sorridentes, o vestuário entristece a multidão.”
Para muitos pracinhas recém-chegados à Inglaterra, o contraste entre as
condições em seu país e as que encontraram representou um grande choque.
“Creio que seria mais fácil para mim enumerar o que não é racionado aqui, mas o
fato é que não consigo lembrar de alguma coisa que não seja,” escreveu um
tenente americano a sua mãe. “Por exemplo, eles só conseguem cerca de 60
gramas de manteiga por semana. Mãe, é possível gastar toda a ração semanal
passando a manteiga em dois pedaços de pão. Tente aí em casa e você verá o que
os ingleses estão enfrentando (...) Dá para entender, mãe, que muita gente aqui
não teve possibilidade de comprar roupa nova desde 1939? E são considerados
sortudos os que conseguem ver um ovo em uma quinzena. (...) A impressão que
tenho, no curto tempo em que aqui estou, é que os americanos não conhecem tão
bem quanto os ingleses o que é sacrifício para o esforço de guerra.”
Exatamente como disse o jovem tenente, a guerra era vivida na América de
maneira totalmente diferente da inglesa. Embora os dois países sofressem
racionamento e pesar pela perda de centenas de milhares de jovens, a guerra
permanecia muito distante para a maioria nos Estados Unidos, causando
privações e amarguras bem menores do que na Inglaterra e na Europa ocupada.
Não havia bombardeios contra o território continental americano, não havia
baixas civis nem destruição de milhões de residências. De fato, ao passo que o
padrão de vida se deteriorara bastante para a grande maioria dos ingleses durante
a guerra, muitos — se não a maior parte — dos americanos vivia melhor do que
antes. “Nenhuma guerra [248] 'é boa,'” observou o historiador inglês David
Reynolds, “mas a guerra da América foi tão boa quanto é possível.”
Graças à maciça mobilização industrial, a economia americana visivelmente
prosperava, terminando por m com os infortúnios da Grande Depressão. Em
1940, mais de 14 por cento da força de trabalho do país ainda estavam
desempregados; três anos depois, o número de desempregados caiu para menos
de 2 por cento. A renda anual dos americanos aumentou em mais de 50 por
cento, e muitos nos Estados Unidos estavam com salários maiores que os de seus
mais fantasiosos sonhos de poucos anos antes. Mesmo com o racionamento de
certos produtos alimentícios e de outros artigos, havia uma pletora de bens com
que gastar dinheiro. Entre 1939 e 1944, o gasto dos consumidores americanos
em alimentos cresceu 8 por cento, e em vestuário e calçados, mais de 23 por
cento.
“Havia dinheiro para queimar, e ele queimava com uma chama brilhante e
alegre,” observou Eric Sevareid, estarrecido com o que considerava falta de
disposição da América para o sacrifício. “As lojas da Quinta Avenida vendiam
lenços com monogramas patrióticos bordados a dez dólares cada, os jornais
cinematográ cos de atualidades apresentavam motivos militares como última
moda, os hotéis de estações de férias viviam apinhados. (...) A nação era levada a
acreditar que poderia produzir seu caminho para a vitória ou comprar seu triunfo
pelo simples preenchimento de um cheque. A vida era fácil, tornava-se mais
próspera a cada semana e ninguém acreditava na morte.
O racionamento só foi imposto nos Estados Unidos alguns meses após Pearl
Harbor. Esperando, de um modo geral, evitar controles obrigatórios, Roosevelt
tentou, inicialmente, convencer o povo americano a fazer cortes voluntários em
seu consumo de artigos alimentícios e de outros bens em prol do esforço de
guerra. Em decorrência, alguns itens se tornaram escassos, preços dispararam e a
in ação mostrou a cara. Em abril de 1942, o Presidente, declarando a
necessidade de “uma igualdade de sacrifício [249],” propôs aumento de
impostos, controle de preços e salários, e um racionamento mais abrangente.
Muito menos rigoroso que os controles na Inglaterra, o sistema de
racionamento dos EUA, quando nalmente introduzido na primavera de 1942,
resultou em grande inconveniência, e não em austeridade. Ovos, que quase não
existiam na Inglaterra, tornaram-se substitutos da carne na América. Margarina
tomou o lugar da manteiga, e quando o açúcar foi racionado, acabou trocado pelo
xarope de milho e pela sacarina. Embora estritamente limitados pelo
racionamento da gasolina e dos pneus, os motoristas americanos jamais
abandonaram completamente seus carros, como a maioria dos proprietários na
Inglaterra fora obrigada a fazer. Na Inglaterra, homem só podia comprar um
terno novo a cada dois anos, enquanto nos Estados Unidos podia adquirir
quantos ternos quisesse, se bem que com calças sem bainha externase paletós
com lapela mais estreita. Os vestidos das mulheres passaram a ser mais curtos e
sem plissados. Pela carência de ferro e aço, a produção de grande variedade de
bens americanos de consumo, como geladeiras, aspiradores de pó e máquinas de
lavar roupa foi interrompida durante a guerra.
Enquanto muitos americanos achavam irritantes tais cortes, os que
retornavam ao país, após um período de restrições na Inglaterra de tempo de
guerra, julgavam ter chegado a um paraíso de abundância. Entre os expatriados
estava Tania Long, correspondente do New York Times sediada em Londres, que
voltara a Nova York, de visita, no m de 1943. “Além da atmosfera generalizada
de liberdade e fartura, a primeira coisa que uma mulher sente após voltar para
esta cidade é como ela própria parece desleixada — e como as mulheres daqui se
apresentam bem-vestidas,” escreveu Long no Times. “Para uma mulher
acostumada a fazer compras em lojas com as prateleiras semivazias, portando um
carnê de cupons em uma das mãos e uma bolsa de compras na outra, uma
expedição pelas lojas de departamentos de Nova York é deslumbrante jornada
pelas 'Mil e Uma Noites'. Existe tanto de tanta coisa, e tudo é tão bonito e
tentador.”
O mesmo era verdade para os alimentos, escreveu ela. “Embora os nova-
iorquinos resmunguem por não poderem mais conseguir suculentos bifes e
outros luxos nos restaurantes e açougues, um recém-chegado da Inglaterra tem
difícil tarefa para decidir o que escolher entre tantos pratos sedutores do menu.
(...) Variando entre repolho, couve e espinafre durante dois anos, a pessoa se
esquece da existência da abóbora, ervilhas frescas, milho, berinjela, tomates.” Sua
viagem, disse ela, a convencera de que “Londres e Nova York pertenciam a
mundos diferentes. Tentar comparar as duas cidades era quase tão inútil quanto
achar comparações entre a Terra e Marte.”
Nos Estados Unidos, ao contrário da Inglaterra, a maior parte dos cidadãos
jamais sentiu a sobrevivência de seu país em jogo durante a guerra e, portanto,
relutava mais em fazer os sacrifícios que o governo Roosevelt induzia. Frances
Perkins observou mais tarde: “A maioria dos aspectos [250] da guerra não
interessava aos americanos. É óbvio que eles queriam que seus rapazes tivessem
tudo do melhor e vencessem, porém não podiam entender por que lhes faltava
manteiga.”
Quando o governo Roosevelt anunciou que, em função da escassez de
borracha, as cintas femininas não seriam mais fabricadas, houve tão violenta
reação das mulheres por todo o país que o governo capitulou, declarando que
roupas de baixo, modeladoras do corpo feminino, eram partes vitais do vestuário
das mulheres e continuariam a ser produzidas. “O povo americano,
absolutamente orgulhoso e disposto a dar o que fosse necessário em suor e
sangue, era ostensivamente relutante em se privar do seu consumo normal de
carne vermelha e gasolina, bem como do uso de itens tão essenciais quanto a
torradeira elétrica e a cinta feminina,” observou Robert Sherwood. “Mais do que
qualquer outro povo do mundo, os americanos aderiam ao princípio de que é
possível comer o bolo e ainda tê-lo, coisa muito compreensível pois, desde o
berço, lhes fora garantido que 'sempre havia mais bolo de onde viera aquele.'”
Exasperado com o senso de distanciamento da guerra demonstrado por seus
concidadãos, Roosevelt disse a Harold Ickes: “Seria realmente bom para nós se
algumas bombas alemãs despencassem por aqui.”
Em Washington, membros do Congresso combateram a solicitação de
Roosevelt de aumento dos impostos, tentaram banir a Agência de Controle de
Preços e insistiram que tinham direito a suprimentos ilimitados de gasolina
porque, argumentavam, seus deslocamentos de automóvel eram cruciais para o
esforço de guerra. “Os próprios homens que deveriam dar o exemplo para a
população e encorajá-la a aceitar as inconveniências pessoais, faziam exatamente
o contrário,” escreveu amargamente Raymond Clapper, aclamado colunista de
um jornal de Washington. “Em vez de tentarem cooperar, cacarejam como
galinhas encharcadas para manter seus privilégios.”
Mesmo com a característica preguiça sulina da Washington engolida pela
estonteante e crescente burocracia que tomou conta da capital, ela ainda parecia
curiosamente não afetada pelo con ito mundial. Para Eric Sevareid, Washington
“parecia desligada da guerra, por maior que fosse o trabalho lá em curso em
relação a ela.” Roosevelt achava que havia “menos entendimento [251] do
esforço real de guerra em Washington D.C. do que em qualquer outro lugar.” As
luzes da capital ainda brilhavam, resplandecentes, à noite, e sobretudo sua vida
social era consideravelmente mais agitada do que fora antes de dezembro de
1941. Continuavam acontecendo os fartos brunches, almoços, chás dançantes e
jantares — e, é claro, os incessantes coquetéis e recepções diplomáticas. O editor
de notícias sociais do Washington Post justi cava todas essas divertidas
atividades dizendo que elas proporcionavam oportunidade para que “pessoas
in uentes (...) zessem negócios, contatos importantes e, por via de consequência,
implementassem o esforço de guerra.”
Mary Lee Settle, ex-modelo de vinte e um anos de West Virginia, que
trabalhava na embaixada inglesa em Washington, estava entre as pessoas
colhidas pelo redemoinho da fervente vida social da capital. Settle, que era
casada com um cidadão inglês, observou mais tarde que as festas que frequentou
em Washington faziam-na lembrar da descrição de Tolstoy, no Guerra e Paz, da
atividade social em São Petersburgo ao tempo da invasão russa de Napoleão.
Como acontecera com os aristocratas russos, os habitantes de Washington
falavam constantemente sobre a guerra sem conhecimento ou experiência do que
ela signi cava. Ambas as cidades, escreveu ela, eram lugares irreais, “onde os
modos eram importantes e os gestos tinham mais sentido do que a ação, e a
guerra era travada num outro lugar distante qualquer.”
 
Enquanto observavam os Estados Unidos tentando lidar com o
racionamento e outras privações de tempo de guerra, americanos residentes por
longo tempo em Londres não se impressionavam com aquilo que viam como
insigni cantes esforços de seus conterrâneos para abrir mão, pelo bem comum,
de seus confortos. Depois de ler autoelogiosa matéria no jornal de sua cidade
exaltando o fato de os habitantes passarem sem carne um dia da semana, Janet
Murrow esbravejou numa irada carta aos pais. O artigo, escreveu ela, “dá vontade
de chorar. Tão pouca coisa, aparentemente, nosso país entende sobre os apuros
que o resto do mundo enfrenta. O que representa um dia sem carne? (...) Eu
gostaria de destacar que a raçnao de carne aqui quase nunca ultrapassa duas
refeições por semana. Desde o Natal, comi cinco ovos — os primeiros em meses
— que nos deram como presente. (...) Os americanos jamais chegarão a tal
situação, mas terão que fazer algo mais do que um dia por semana sem carne,
caso se queira que o resto do mundo recupere a saúde.”
Numa carta a Harry Hopkins, Averell Harriman repetiu as críticas de Janet
Murrow. “Fazia muito sentido [252], quando os ingleses pleiteavam nossos
favores, esperar que eles zessem os maiores sacrifícios e nós vivêssemos
confortavelmente e sem demasiado trabalho,” escreveu Harriman. “Agora, eles
nos veem como parceiros, e quando pedimos que eles façam sacrifícios é lícito
esperar que nos peçam o mesmo. (...) Existe uma porção de coisas no lado
americano difíceis de entender para os ingleses.”
Apesar disso, ao longo de toda a sua estada em Londres, Harriman tomou
providências para que ele e sua lha raramente, se é que alguma vez, cassem
privados dos pequenos e grandes luxos com os quais estavam acostumados na
América. Numa ocasião em que as bebidas alcoólicas, inclusive o vinho, eram,
por exemplo, quase impossíveis de adquirir na Inglaterra, Harriman importou
caixas de champanhe Roederer, Château Margaux, gim e uísque canadense dos
Estados Unidos.
Kathleen Harriman, de seu lado, nunca teve que se preocupar com falta de
peças em seu vestuário. Numa carta de fevereiro de 1942 para sua madrasta, ela
narrou como entrou no salão de exposições londrino da House of Worth e
“comprou um belo vestido longo e negro — que vestia um manequim na mostra
— porque detesto andar fora de moda.” Mais tarde, agradeceu à madrasta por lhe
enviar uma mala repleta de roupas de estilistas famosos de Nova York,
exclamando: “É divertido car na dúvida sobre qual dos três vestidos novos
usarei à noite. Embora exista muito disse-me-disse a respeito do desleixo com que
as mulheres se vestem em Londres após três anos de racionamento de roupas,
não posso dizer que estou ansiosa para me juntar a esse grupo. Acontece que
Averell não gosta quando visto 'roupa antiga.'”
Era importante para Kathleen se apresentar bem porque a agitação social em
Londres, para ela e outros americanos com boas relações, jamais fora tão
frenética. A capital inglesa era então a base de tempo de guerra para os mais
destacados nomes no mundo dos negócios e da vida cultural dos americanos —
banqueiros de investimentos, herdeiros de grandes fortunas, diretores de
empresas, autores teatrais, atores, diretores de lmes, executivos de
radioemissoras, editores e distribuidores de jornais e revistas — recrutados pelas
OSS e OWI, ou que recebiam missões em repartições militares.
A despeito dos estragos provocados, Londres foi, inegavelmente, uma cidade
excitante durante a guerra. O sargento Robert Arbib, um nova-iorquino que
chegou à capital inglesa pela primeira vez em 1942, estava entre os muitos
americanos que se extasiaram com sua exuberância e animação. “Londres era
uma [253] das cidades mais populosas do mundo e uma das mais fascinantes,”
recordou-se. “Nela enxameava enorme variedade de uniformes e falava-se uma
centena de idiomas diferentes. Nas noites de sábado, era quase um caos. (...)
Sempre achei que a capital dos ingleses era, naqueles dias, o grande ponto de
interseção do mundo. Londres era a Babel, a Metrópole, a Meca. Londres era
tudo.”
No ano que precedeu o Dia-D, a capital inglesa abrigou, disse Harrison
Salisbury, “o mais ágil grupo que jamais vi. Muitos dos que chegaram eram
antigos amigos e colegas de negócios de Harriman da costa leste dos Estados
Unidos — empresários ricos, banqueiros e advogados formados em universidades
da Ivy League e, em alguns casos, com impecável histórico social e familiar, que
levavam a vida, segundo um observador, “com o sentimento de que (...) o século
estava prestes a ser posto sob sua responsabilidade.” Muitos deles tinham a
postura internacionalista, pois haviam passado considerável tempo na Inglaterra
e no continente europeu desde a infância. Como Harriman, eles se mostravam
muito ativos em instar o governo Roosevelt a ajudar a Inglaterra mesmo antes de
os Estados Unidos entrarem na guerra.
Entre os membros dessa elite estava David Bruce, genro do nancista
Andrew Mellon, que fora convocado pelo general William Donovan, fundador
da OSS, para che ar o quartel-general em Londres da agência de informações.
(Para seu escritório em Londres, Donovan também recrutou, entre outros, Junius
Morgan, da família de banqueiros de Nova York; Lester Armour, da família
proprietários dos frigorí cos Armour, de Chicago; e Raymond Guest, campeão
de polo e criador de cavalos de raça — provocando assim o surgimento de um
apelido para a OSS: “Oh So Social” (Oh! Tão social).
À primeira vista, a escolha de Bruce, um aristocrata da Virgínia cuja riqueza
provinha de suas relações com Mellon, pareceu estranha para um cargo de
tamanha importância: ele não tinha experiência no trabalho de inteligência ou,
para dizer a verdade, em emprego sério e prolongado de qualquer tipo. Visto pela
imprensa e por seus pares como charmoso diletante, ele esvoaçara pela atividade
dos bancos de investimentos, trabalhara por breve tempo no Foreign Service e
fora eleito para um mandato em dois legislativos estaduais: o da Virgínia e o de
Maryland. Mas passara também bom tempo em Londres, inclusive um período
durante a Blitz como um dos representantes da Cruz Vermelha Americana, e
zera expressiva quantidade de contatos na sociedade e no governo inglês.
Possuidor de “farta autoestima [254] e certo complexo de superioridade,” o
re nado Bruce transitava facilmente entre os aristocratas ingleses e os generais
americanos, bem como entre os líderes europeus asilados. Frequentemente
convidava membros dos três grupos para jantares e coquetéis no White's, o mais
exclusivo clube masculino de Londres, onde jamais foi servido vinho que não
fosse de safra especial e onde mulher alguma nunca entrou. A exemplo de
Harriman, Bruce primava por viver excepcionalmente bem na capital britânica,
preenchendo seu diário com relatos de suntuosas refeições que desfrutou, como o
jantar no White's cujo menu incluiu salmão defumado, cordeiro, couve-de-
bruxelas, batatas, torta de ameixas, coquetéis, Château Margaux safra de 1924, e
vinho do Porto de reputada qualidade.
Outro recrutado para servir ao governo dos EUA, com sede em Londres, foi
John Hay “Jock” Whitney, o príncipe playboy da sociedade de Nova York, cuja
substancial fortuna de família o abençoou com uma renda anual de mais de
US$1 milhão, assim como seis casas, dois aviões particulares, um iate e uma
coleção de vinte cavalos de polo. Whitney, proprietário do haras Green Tree que
produzira alguns dos melhores cavalos americanos de corrida e que
proporcionara o nanciamento de grande parte do lme ...e o Vento Levou,
operava então como o cial de relações públicas do QG da 8ª Força Aérea dos
EUA. Ele conseguiu o cargo, de acordo com uma fonte, porque “era um dos
poucos homens disponíveis que não se intimidava diante de um repórter de
jornal nem com o som do sotaque inglês.” (O equivalente de Whitney no QG
naval dos EUA em Londres era Barry Bingham, proprietário e editor do
Louisville Courier-Journal.) Neto de John Hay, secretário pessoal de Abraham
Lincoln e secretário de estado dos presidentes William McKinley e Theodore
Roosevelt, Withney era muito bem relacionado em Londres. Em 1926, para
celebrar a vitória de um de seus cavalos numa corrida na Inglaterra, ele ofereceu
uma recepção que, segundo o New York Times, foi “a mais elaborada e custosa
festa” vista por Londres em uma década. Durante a guerra, alugou um amplo e
luxuoso apartamento em Grosvenor Square, onde organizou soirées famosas
pelas bebidas e comidas, bem como pelas belas mulheres convidadas.
Deleitando-se com a companhia feminina nas festas de Whitney estava,
entre outros, William Paley, o qual, como muitos de seus colegas de Nova York,
via a guerra como uma oportunidade de não só servir ao seu país como também
de trocar o tédio das obrigações familiares e pro ssionais pela euforia da
totalmente solta Londres. Depois de instalar estações rádio dos aliados para a
OWI no norte da África e na Itália, o chairman da CBS foi designado, com o
posto de coronel, para o Estado-Maior de Eisenhower, na capital inglesa, como
chefe da radiodifusão de guerra psicológica na Europa. Ficou hospedado no
Claridge's, onde contava com um criado pessoal e frequentemente jantava
delícias como salmão cru, lagostas e aspargos frescos. Sobre a guerra, ele
observaria mais tarde que “a vida nunca foi [255] tão animada e atuante, e jamais
seria de novo.”
Para seus subordinados, Paley destacou-se mais por seu apego aos prazeres
do que pela devoção ao trabalho duro. Para ele, como para outros, o fatalismo
romântico e o hedonismo da Londres do tempo de guerra eram particularmente
atraentes. Ele podia comer, beber e ter tantos casos amorosos quantos quisesse,
com pequeníssima chance de amanhã, ou no futuro próximo, vir a morrer — visto
que, a exemplo da maioria dos outros dignitários de Nova York e Hollywood na
Inglaterra, jamais viu operações de combate. Aos olhos de muitos militares
americanos de carreira, Paley e os outros ex-civis eram “coronéis de uísque
bourbon” com “postos de celofane” (“podia-se enxergar através deles, mas
impediam as correntes de ar”).
Contudo, existiram pelo menos três proeminentes exceções a essa regra de
não combate. James Stewart, que recentemente ganhara um Oscar por seu
desempenho em The Philadelphia Story (Núpcias de Escândalo), foi comandante
de um esquadrão de bombardeiros dos EUA, baseado próximo a Norwich, que
voava B-24s em missões sobre a Alemanha. Stewart, ele próprio participante de
vinte missões, foi agraciado com a Cruz de Distinção da Aviação pela coragem e
frieza diante do perigo. Outro astro popular de Hollywood, Clark Gable,
acompanhou tripulações de bombardeiros americanos em diversas incursões para
um lme curto sobre treinamento que ele produziu sobre fogo aéreo. Em uma das
missões, quase morreu quando uma granada alemã chegou a rasgar seu avião.
Entrementes, o diretor William Wyler e sua equipe voaram cinco sortidas
em B-17s sobre a França e a Alemanha, em meados de 1943, para a produção do
afamado documentário sobre o bombardeiro Memphis Belle (Memphis Belle — A
Fortaleza Voadora). “O cara era corajoso,” disse o navegador do Memphis Belle
sobre o diretor de Hollywood, o qual, antes de uma missão convenceu o piloto a
quebrar as regras e deixá-lo car na torre transparente situada na barriga do avião
durante a decolagem e a aterragem — manobras extremamente perigosas — a m
de que pudesse lmar os pneus e a pista.
Para intenso desconforto de Wyler, seu lme Mrs Miniver (Rosa da
Esperança), vencedor de Oscar, estreou em Londres enquanto ele lá rodava a
película Memphis Belle. Uma história das experiências de uma família da classe
média alta dos subúrbios de Londres, ao tempo da evacuação de Dunquerque e
da Blitz, Mrs Miniver fora um retumbante sucesso de bilheteria na América, em
1942, e tornou-se estrondoso êxito no ano seguinte na Inglaterra; Churchill, que
adorava o lme, considerou-o “propaganda do mesmo valor [256] que cem
cruzadores.” Wyler, também intensamente angló lo, zera de fato o lme com
propósitos de propaganda. “Eu era favorável à guerra,” disse ele, “e me
preocupava com o isolacionismo americano.” Porém, quando ele chegou à
Inglaterra e viu a realidade da guerra — casas arrasadas, pessoas mal nutridas,
cidades em frangalhos e as terríveis baixas entre as tripulações americanas e
inglesas de bombardeiros — passou a considerar Mrs Miniver como pouco mais
que um retrato açucarado e idealizado do con ito. O lme “apenas arranhou a
superfície da guerra,” observou. Anos mais tarde, Wyler declarou que, para ele, a
luta armada, com todos os seus horrores e heroísmos, fora “uma escapada para a
realidade.”
 
Afora Wyler, Stewart, Gable e uns poucos outros, os americanos
notáveis na Inglaterra habitavam um mundo isolado de coquetéis e restaurantes
de mercado negro, sem ter, virtualmente, nenhuma ideia do que era a vida fora
de seus confortáveis casulos. A Londres desses americanos era “irreal, um palco
onde estava passando uma peça chamada 'a guerra,'” observou Mary Lee Settle, a
jovem de West Virginia que trabalhara na embaixada inglesa em Washington e
que, mais tarde, serviu no WAAF, numa base da RAF no sudoeste da Inglaterra.
“Até os uniformes que envergavam pareciam sob medida — muito bem cortados,
sem manchas de gordura, sem sujeira entranhada, e nada desbotados. (...) A
maioria deles não experimentou as privações que vivíamos (...) sem a mínima
noção do que era viver sob racionamento ou catando comida não racionada, do
que era car nas las por horas e horas, pálidos de fadiga.”
Quando a Inglaterra entrou na guerra, Settle e seu marido moravam em
Nova York, onde ela trabalhava como modelo e ele era executivo da área de
publicidade. O marido imediatamente se alistou nas forças armadas canadenses,
e ela procurou se juntar ao WAAF. “Éramos jovens [257] e entusiasmados, e
sabíamos que estávamos certos,” escreveu ela depois. “Pela primeira vez em
nossas vidas, pensávamos em alguma coisa que transcendia nossas vidas e era
pelo bem comum.” Após mais de um ano de luta contra a burocracia, ela
nalmente conseguiu ir para a Inglaterra e se tornou radioperadora de uma base
da RAF em Cotswolds, transmitindo ordens e mensagens entre os controladores
de voo e os pilotos.
Como mulher de aviação 2ª Classe, Settle fazia parte do grupo que os
ingleses denominam de outros postos (recrutas homens e mulheres) e, como tal,
estava exposta à “fria e brutal divisão” entre os o ciais e seus subordinados, os
quais, em sua maior parte, provinham da classe trabalhadora. “Foi meu primeiro
contato com a estrati cação de classes, quase chinesa em suas complicações e
formalidades, que, a rigor, abrangia tudo, do penteado ao estado de saúde... e pela
qual cada inglês se isola de seus colegas,” observou ela. Como suas companheiras,
Settle levava uma vida dura e austera, dormindo sobre um colchão de palha
dentro de uma estrutura Nissen pré-fabricada (um alojamento semicilíndrico
revestido de placas metálicas), aquecida por um forno que mal esquentava os
dedos quando tocado, carregando carvão, limpando assoalhos e subsistindo com
uma dieta espartana que a deixava permanentemente com fome e sonhando com
comida.
Durante um ano de exposição nos seus fones de cabeça ao constante
zumbido causado pela interferência germânica nas ondas eletromagnéticas,
Settle desenvolveu o que os médicos chamam de “choque das comunicações” e
não pôde mais desempenhar e cientemente suas atribuições. Munida de uma
licença médica, ela foi contratada como escritora da OWI, em Londres, onde se
viu lançada, como “Alice no País das Maravilhas,” num mundo de luxo e
conforto, “tão embriagante quanto o champanhe,” para o qual não estava
preparada. Como a maioria dos americanos civis, que desempenhavam funções
que exigiam capacitação pro ssional, recebeu um posto temporário de o cial (no
seu caso, major) e assim teve acesso ao maravilhoso reembolsável para os militares
dos EUA, onde era possível adquirir artigos americanos, como cigarros,
chocolate, lâminas de barbear, suco de frutas, sabonete, pasta de dentes, creme de
barbear, lenços e dúzias de outros produtos impossíveis de achar na Inglaterra.
Não teve mais que enfrentar o gosto amargo dos cigarros ingleses, os quais,
mesmo assim, eram tão escassos que quando a guimba se tornava muito pequena
para segurar com os dedos, ela usava um grampo para mantê-la em posição
enquanto prolongava as poucas últimas e preciosas tragadas.
Durante o dia, Settle, que iria se tornar notável romancista depois da guerra,
vivia e trabalhava sob um “manto de privilégios [258]” que os demais servidores
da OWI e outros americanos que ela passou a conhecer julgavam natural. À
noite, ela retornava para o quarto que alugara no quinto andar de um prédio bem
dani cado, em Kensington, que não tinha elevador, e onde sua senhoria achava
que as barras americanas de balas de chupar, que Settle trazia para casa do
reembolsável, eram bens tão valiosos que partia em pequenos pedaços e os servia
em pratinhos de porcelana no chá da tarde.
Para os colegas de trabalho, Settle, a bonita moça de cabelos castanhos, era
tanto uma esquisitice quanto eles eram para ela. “Eu havia experimentado
diretamente os efeitos da guerra com a qual eles agora compartiam,” lembrou-se.
“O que eu aprendera a achar natural — o serviço nas forças armadas — era, para
eles, uma fascinação, o que os tornava, de certa forma, mais jovens que eu.”
Quando Settle chegou pela primeira vez à OWI, os atores Burgess Meredith e
Paul Douglas, que estavam rodando lmes para o governo dos EUA em Londres,
decidiram que, como ela vivera por tanto tempo comendo rações militares
inglesas, estava bastante magra e necessitada de uma boa refeição. Tratando-a
como se fosse “um vasinho de porcelana,” os dois a acompanharam a um
restaurante de mercado negro, todo revestido de painéis de mogno, cadeiras
forradas de couro, guardanapos com motivos bordados à mão e um avassalador
aroma de boa comida. Os atores insistiram em fazer o pedido por ela: um lé de
cordeiro com duas polegadas de espessura, vagens frescas, batatas cozidas e
recobertas com rações de manteiga para duas semanas. Os inebriantes odores da
carne e da manteiga foram excessivos para Settle. Ela se desculpou e correu para
o banheiro feminino. Quase não chegou a tempo de vomitar violentamente.
 
Todavia, havia outra jovem mulher em Londres que passara a
aceitar tais luxos muito à vontade. Graças à generosidade de Averell Harriman e
de outros amigos americanos ricos, Pamela Churchill se tornara a grande an triã
da capital, oferecendo jantares suntuosos onde eram servidos itens
supervalorizados, como ostras, salmão, bifes e uísque. “Éramos relativamente
rigorosos quanto ao racionamento, na Inglaterra,” lembrou-se John Colville.
“Mas quando se jantava com Pamela, normalmente eram servidos cinco ou seis
pratos (...) e alimentos que não estávamos acostumados a ver. Minha sensação era
que todos os convivas em torno da mesa sorriam interiormente e diziam para si
mesmos que Averell cuidava muito bem de sua namorada.” Anos mais tarde,
Pamela observaria: “Foi uma guerra terrível [259], mas se você tivesse a idade
adequada... e estivesse no lugar certo, foi espetacular.”
Em 1942, Pamela, Harriman e sua lha mudaram-se do Hotel Dorchester
para um espaçoso apartamento no mesmo prédio da Grosvenor Square onde
morava Gil Winant. Logo cou evidente que a nora do primeiro-ministro estava
vivendo com o representante de Roosevelt para o Lend-Lease. “O casal foi
descoberto, e as pessoas caram um tanto chateadas porque ele era casado,” disse
uma conhecida de Pamela. “Viver com ele passou um pouco dos limites. Não era
nada discreto. (...) Achamos que ela estava sendo muito estúpida e despudorada.”
Quando Randolph Churchill voltou à Inglaterra de licença e descobriu o
caso, explodiu de raiva. Sua ira não derivava tanto do ciúme, disseram alguns
amigos, mas de um sentimento de que havia sido traído por Harriman, com o
qual criara até certa amizade quando, a pedido de seu pai, o acompanhara na
missão no Cairo. Amargo, Randolph acusou os pais de cumplicidade com o
adultério “debaixo do próprio teto deles,” em Chequers, e de só o fazerem por
causa da importância de Harriman e dos americanos para a Inglaterra. “Ele usou
palavras duras e causou uma ssura que jamais foi sanada,” disse Alastair Forbes,
amigo tanto de Randolph quanto de Mary Churchill. “A rmou que eles tinham
que saber, e eles disseram que não sabiam.” Segundo Pamela, Randolph, de
quem ela já estava separada, ameaçou tornar público o caso amoroso dela com
Harriman, uma situação “que poderia causar muitos incômodos para pessoas dos
altos escalões.” A m de acalmá-lo, ela concordou “em procurar um local próprio
para viver no país (...) e não visitar muito os pais dele.”[*]
Outro problema para o casal foi Marie Harriman tomar conhecimento da
relação. Uma mulher mundana, que estava envolvida com o líder de banda
musical Eddy Duchin, Marie se incomodou menos com o a air do que com o
fato de as pessoas saberem sobre ele. “Mantenha seus casos amorosos fora dos
jornais,” telegrafou ao marido, “ou você enfrentará o mais caro divórcio da
história da república.” Dolorosamente consciente de que uma separação de
Marie causaria não só uma séria mossa em suas relações como também arruinaria
sua orescente carreira diplomática, Harriman concordou em parar de se
encontrar com Pamela — promessa logo descumprida. “Ave não podia [260] se
casar com ela,” disse um amigo, “mas também não queria perdê-la.”
Pamela mudou-se do apartamento de Harriman para outro, bem luxuoso, no
nº 49 de Grosvenor Square, na esquina do próprio quarteirão de Harriman e em
frente ao Hotel Connaught. Além de pagar o apartamento, seu amante deu-lhe
um carro com os cupons de racionamento, e também uma espécie de pensão de
£3.000 anuais, quantia principesca àquele tempo. Única cidadã inglesa residente
naquele prédio, Pamela tornou-se completamente americanizada. A maioria de
seus amigos e conhecidos era então de americanos; na estante de sua sala de estar
estavam fotogra as de Harriman, Eisenhower, Harry Hopkins e Roosevelt, que
este último lhe enviara pessoalmente. Na carta de agradecimento, ela escreveu
para FDR: “Meu lho ainda não tem idade su ciente para distinguir entre [as
fotogra as] sua e de Winston. Temo que ele chame os dois de vovô.” Pamela
passou a dedicar a maior parte de seu tempo entretendo americanos recém-
chegados, jornalistas, generais e funcionários do governo — oferecendo jantares,
ciceroneando-os pela cidade e, de uma maneira geral, apresentando-os a Londres.
Janet Murrow, convidada para um dos jantares de Pamela, sentiu-se muito
deslocada. “A menos que se fosse, de alguma forma, importante, não se era bem-
vindo naquele lugar,” a rmou ela.
No outono de 1943, Pamela apresentou-se como voluntária para trabalhar no
Churchill Club, um exclusivo local de encontro para o ciais e praças americanos
e canadenses com formação universitária, situado na Ashburnam House, uma
antiga e senhorial mansão atrás da Abadia de Westminster. Era um ponto, disse o
historiador de arte Kenneth Clark, onde os americanos de realce “podiam
escapar da barulhenta cordialidade da vida no Exército” para se ilustrarem sobre
a cultura inglesa. De fato, havia lá abundância de concertos, palestras e leituras
dramatizadas, mas existia também um bom número de reuniões de americanos
regadas a martínis, muitos dos quais eram generais ou o ciais de alta patente.
“Oh, as informações que se podiam colher no clube!” — maravilhou-se o
correspondente da Time-Life Bill Walton. “A hierarquia era deixada na porta de
entrada, e o salão cava repleto de generais, capitães e majores, todos loucos por
Pamela.”
Dwight Eisenhower podia ter abdicado da ativa vida social em Londres, mas
a maior parte de seus subordinados não lhe seguiu o exemplo. Eric Sevareid
registrou em seu boletim que muitos o ciais americanos dos altos escalões “não
querem que [261] a guerra acabe. Estão ganhando mais dinheiro, vivendo
melhor, com mais conforto, mais glamour em suas existências, como nunca antes
nos Estados Unidos de tempo de paz.” No romance The Americanization of
Emily, cujo autor serviu durante a guerra como ajudante de ordens de um
almirante dos EUA em Londres, uma motorista militar inglesa diz
melancolicamente: “A guerra é exatamente igual a uma longa noite passada
longe de casa para os [americanos] que conheço.”
Segundo Kay Summersby, os altos escalões da Força Aérea eram
particularmente adeptos da boa vida. Enquanto Eisenhower relaxava na sua
modesta cabana nas cercanias de Londres, jogando bridge e lendo livros de
cção, o estado-maior do general Carl “Tooey” Spaatz, comandante da 8ª Força
Aérea, dava festas de arromba na suíte do Claridge's do general. “A aviação tinha
a reputação de ser a força singular mais glamorosa, e o estado-maior [de Spaatz]
se esforçava bastante para fazer jus à fama,” observou Summersby. Quando se
entrava no QG da 8ª Força Aérea no m do expediente, disse ela, era o mesmo
que “adentrar num lotado salão de coquetéis — um monte de gente, muita
fumaça, muito bate-papo e também bastante namorico.”
 
Como registrou um jornalista americano , os ertes e casos
passageiros (alguns deles, não tão passageiros assim) eram numerosos entre os
americanos na Londres de tempo de guerra: “Era o astral daqueles tempos. (...) A
maioria dos americanos chegados à capital era casada, mas arrumava namoradas
e ninguém ligava.” O próprio Eisenhower teve uma relação bastante pessoal com
Summersby, ainda que permaneça meio obscuro se foi um caso sério ou não.
Quando o general James Gavin, comandante da 82ª Divisão Aeroterrestre,
perguntou a um jornalista americano se o mexerico sobre a ligação entre
Eisenhower e Summersby era verdade, o correspondente replicou: “Bem, eu
nunca vi um motorista sair do carro e dar um beijo de bom-dia no general
quando ele deixa seu escritório.” Anos mais tarde, Summersby lembrou-se: “A
guerra foi um catalisador irresistível. Sobrepujou tudo, forçou relações como se
fosse um local isolado e aconchegante, de modo que, numa questão de dias,
aproximava pessoas que talvez só tivessem uma ligação mais íntima, em tempo de
paz, decorridos meses.”
Até Gavin teve um caso com a repórter fotográ ca da Life, Margaret Bourke-
White. O general Robert McClure, chefe da informação e censura do Supremo
Quartel-General Aliado, envolveu-se com Mary Welsh, a qual também enganava
o marido jornalista australiano com Irwin Shaw, que estava em Londres
trabalhando em lmes de propaganda para o Exército, e, a partir de 1944, com
Ernest Hemingway. O ajudante de ordens de Eisenhower, Harry Butcher, viveu
um a air com uma funcionária da Cruz Vermelha Britânica, com a qual se casou
depois da guerra. David Bruce casou-se com Evangeline Bell, uma anglo-
americana de vinte e cinco anos que trabalhava para ele na OSS, após divorciar-
se de sua primeira esposa em 1945. O ex-editor de jornal Herbert Agar, em
Londres como assistente de Winant, também conseguiu o divórcio para se casar
com Barbie Wallace, a viúva lha do afamado arquiteto inglês Edwin Lutyens.
William Paley teve um caso com Edwina Mountbatten, cujo marido, Lord
Mountbatten, era então comandante supremo aliado no Sudeste Asiático.
Beatrice Eden, esposa do ministro inglês do Exterior, teve uma ligação com C.D.
Jackson, ex-executivo da Time Inc. que servia no Estado-Maior de Eisenhower.
Após a libertação de Paris, ela deixou o marido para viver com Jackson na capital
francesa e, quando a guerra terminou, mudou-se com ele para Nova York,
embora os dois jamais tenham se casado.
Os comandantes ingleses, de sua parte, consideravelmente desnorteados,
acompanhavam esses jogos de alcova. “Não tínhamos a mesma [262]
necessidade primitiva de provar nossa masculinidade que os americanos,”
esnobou um o cial britânico, se bem que expressivo número de seus colegas, no
nal, também sucumbiu às tentações.
Pamela Churchill teve seu próprio quinhão de casos amorosos com
americanos bem relacionados. “Na minha vida,” a rmou ela mais tarde, “sempre
vivi com homens, para os homens e dos homens.” Nem ela, tampouco Harriman,
foram éis um ao outro, e ela se envolveu, entre outros, com Jock Whitney e com
o general Frederick Anderson, do Comando de Bombardeiros da 8ª Força Aérea,
então com trinta e nove anos. De acordo com Bill Walton, um bom amigo de
Pamela, o primeiro-ministro sabia de seu caso com Anderson e “perguntava
muito a ela sobre (...) a posição [dele] a respeito de determinadas estratégias-
chaves de bombardeio.” Pamela, por seu turno, repassava a Churchill qualquer
dado que colhia do general. Lord Beaverbrook convidava o casal para ns de
semana em Cherkley, onde tentava arrancar o máximo de informações que
podia.
Outro dos enfeitiçados admiradores de Pamela foi o marechal do ar Sir
Charles Portal, chefe do estado-maior da Força Aérea. Pelo m da guerra, ele
escreveu longas cartas para ela sobre as conferências de Yalta e Potsdam,
chamando-a de “DP” (Darling Pamela) e declarando: “Penso em você [263]
muitas vezes por dia e gostaria de tê-la ao meu lado.” Apesar do ardor da
correspondência de Portal, a relação entre os dois foi platônica, disse Pamela
mais tarde. “Muitas pessoas se (...) apaixonaram por mim, com as quais realmente
jamais pensei em me relacionar.
 
Dois meses depois da abertura do Churchill Club , Harriman
saiu da vida de Pamela, relutantemente cedendo à intensa pressão de Roosevelt e
Hopkins para se tornar embaixador dos EUA na União Soviética. Ele não queria
o posto. Tendo solapado tanto Winant como os dois prévios embaixadores
americanos em Moscou, Harriman sabia quão precário e difícil podia ser o cargo
de chefe da legação diplomática, em especial na capital soviética.
Nas suas tratativas com o governo soviético, Harriman havia excluído o
almirante da reserva William Standley, que substituíra Laurence Steinhardt
como enviado americano, da mesma forma que minara a posição do próprio
Steinhardt. Standley, que acreditava piamente ter a América que resistir com
rmeza às provocações soviéticas, irritou-se com o fato de Harriman, a exemplo
de outros funcionários que Roosevelt enviara a Moscou para conferenciar com
Stalin, “seguiam a política do Presidente: Não antagonizar os russos [e]
proporcionar-lhes tudo o que desejam.” Anos mais tarde, Harriman admitiu que
Standley, tratado na essência por Roosevelt e Harriman como um “menino de
recados,” tinha razão. “Uma grande quantidade de pessoas no Ocidente,
inclusive o primeiro-ministro e o Presidente, assim como alguns menos
importantes, tinham a ideia de que sabiam como se darem com os soviéticos,”
escreveu ele. “Confesso que não quei inteiramente imune a essa noção
infecciosa.”
Pelos meados de 1943, Standley perdeu a paciência. Numa entrevista para
os correspondentes americanos em Moscou, ele acusou o governo soviético de
má-fé, em particular por esconder de seu povo o fato de que praticamente todos
os recursos militares soviéticos vieram dos Estados Unidos e da Inglaterra.
Depois do furor internacional provocado por suas declarações, o almirante se
demitiu de sua função.
Embora Harriman tivesse plena convicção da sua capacidade de ser bem-
sucedido em Moscou onde outros haviam fracassado, hesitava em deixar
Londres. Sua relutância derivava não tanto por deixar Pamela, apesar de gostar
muito dela, mas por não mais car no centro das ações dos aliados. Ele perderia o
nicho que preparara para si mesmo a tão duras penas, como canal e amortecedor
entre Roosevelt, Stalin e Churchill. “Tenho certeza [264] de que posso ser mais
útil para o senhor e para a guerra em Londres, do que permanecer em Moscou
como admirado servidor de comunicações,” escreveu ao Presidente. Quando
Roosevelt argumentou que a missão em Moscou era bem mais importante,
Harriman sucumbiu, mas não sem antes insistir que, se assumisse o cargo,
precisaria ter autoridade sobre todas as missões e delegações americanas na
capital soviética — uma tentativa de evitar que outros zessem o que ele mesmo
havia feito com Winant e com seus dois antecessores em Moscou. Roosevelt
concordou e, em setembro de 1943, Harriman e sua lha partiram para a capital
russa.
Harriman não deixou que Pamela soubesse da nova missão até o último
minuto. “Aquele foi um dia triste,” lembrou ela. “Quando ele foi embora, o golpe
foi muito, muito grande.” Apesar de car angustiada com a súbita partida, não
tardou para que Pamela se recuperasse. Depois da guerra, ela chegou a
reconhecer que nunca pensou na sua relação com Harriman como alguma coisa
mais do que um romance temporário. “Durante todos os anos de guerra,” disse
ela, “nunca me ocorreu que Harriman e eu algum dia nos casaríamos. Jamais
discutimos o assunto. Nunca pensamos nisso.”
A relação entre os dois fora muito boa enquanto durou, e ainda a tinha
deixado nanceiramente em ótimas condições: enquanto em Moscou, Harriman
continuou pagando o apartamento dela e um tipo de pensão anual. Talvez tão
importante, a ausência dele abriu a porta para seu apaixonado envolvimento com
o homem que Pamela, mais tarde, declararia ter sido o amor de sua vida —
Edward R. Murrow. Quando Harriman partiu, disse ela, “chorei no ombro de Ed
e terminei na cama com ele.”
 
Dois anos antes, graças a Kathleen Harriman , Pamela fora
apresentada a Murrow e a outros jornalistas americanos em Londres e se tornara
frequentadora de seu círculo social. “Acho que ela concluiu, quando Harriman
desapareceu de sua vida, que Ed era a pessoa que desejava,” Janet Murrow
observou mais tarde. Da parte dele, aparentemente não houve objeção. “Ed foi
nocauteado por aquela jovem mulher absolutamente magní ca e desejável,”
disse o correspondente da CBS Charles Collingwood, que também tinha
di culdade de car de pé na presença de Pamela. “As relações que ela tinha o
impressionaram. Mas não foi por qualquer razão interesseira que ele foi atraído.
Ela simplesmente derramou-se de surpresa sobre ele.”
Tanto para Pamela quanto para o Murrow de trinta e cinco anos, foi uma
relação surpreendente. Nem rico, nem o galã da cidade, como a maioria das
prévias conquistas dela, ele era sério, idealista, muitas vezes reservado e propenso
a frequentes surtos de depressão. Como a revista Scribner's descreveu, Murrow
enrolava “sua privacidade [265] em torno de si como um manto protetor.” Por
anos, o trabalho ocupara o centro de sua existência. Embora o esguio e vistoso
radiorrepórter tivesse atraído não poucas mulheres no passado, ele não se deixara
previamente sucumbir. Algo ingênuo e tímido com as mulheres, Murrow vinha
sendo um raro fenômeno de virtude na Londres do “viva e deixe viver.”
Mas o outrora feliz casamento com Janet vinha demonstrando sinais de sérios
desgastes; trabalhando ao ponto da exaustão, Murrow praticamente afastara a
esposa de sua vida desde que a guerra começou. “Ed muito seco e desinteressado
em me ver,” escreveu Janet em seu diário em março de 1938. “Tenho que ser
paciente. (...) Ele perdeu o hábito de me ver. Mas dói muito telefonar para ele e
ouvi-lo dizer: 'É algo importante? Se não, desligue.' (...) Trata-me como uma
estranha que o incomoda.”
Em certo momento do começo da Blitz, Murrow encorajou Janet a alugar
uma casa no campo, onde ela pudesse viver em segurança; ele e seus amigos
iriam para lá nos ns de semana. Por algum tempo, ela concordou com a
combinação, mas os homens raramente apareciam. “Não queriam deixar a
agitação de Londres,” disse ela depois. Na ocasião, registrou em seu diário.
“Odeio ver Ed apenas em recepções e com outras pessoas.” Mais tarde, escreveu:
“Sombrio, dia sombrio, sozinha aqui no campo. Não posso, de modo algum, ser
feliz com esse tipo de vida. (...) Odeio isso.” Janet, nalmente, saiu daquela casa.
Solitária e deprimida, ela buscou conforto com Philip Jordan, conhecido
correspondente para o News Chronicle de Londres e bom amigo de Murrow, que
foi descrito por Eric Sevareid como “um homem brando, afável e cavalheiro.”
Janet e Jordan se apaixonaram, mas o caso amoroso teve curta duração,
terminando quando ele foi enviado pelo jornal para Moscou, em julho de 1941.
Devastada com a partida, Janet escreveu, “Sinto mais falta dele do que jamais
supus.”
Não cou claro se Murrow chegou a saber da ligação de sua esposa com
Jordan, mas Janet tinha conhecimento de seu caso com Pamela. A maior parte de
Londres, ao que parece, também sabia. Depois de noitadas com os amigos, o
casal, ocasionalmente, passava a noite no apartamento dela ou num at que a
CBS alugara para correspondentes de passagem pela cidade. Pamela com
frequência acompanhava Murrow, tarde da noite, à Broadcasting House e cava
sentava no estúdio enquanto ele transmitia seu programa. “Sei que eles tinham
[266] o hábito de fazer caminhadas pelo campo,” disse Janet depois da guerra.
“Ela sempre deixava alguma coisa para trás após essas caminhadas — uma vez foi
um livro de poemas que tinha seu nome escrito. Noutra, foram as luvas de
Pamela em um dos bolsos de Ed.”
Apesar de encantado com a nora do primeiro-ministro, Murrow não a
mimava da maneira que prévios amantes o faziam. Revelando sentimentos
con itantes sobre riqueza e status social, ele se mostrava seduzido pelo histórico
aristocrático dela e seu luxuoso estilo de vida, enquanto, ao mesmo tempo,
tratava tais aspectos com menosprezo. “Ed era um poço de complexos,” lembrou
Pamela. “Fazia questão de car repisando que (...) só usara roupas de segunda
mão” na infância e juventude. “Ele guardava um rancor que não precisava de
muita coisa para se transformar em discussão ou briga, e tinha consciência de que
tudo o que tinha e tudo que havia feito se deviam aos seus próprios mérito e
determinação.”
Murrow falava com desdém sobre a vida à larga que levavam Pamela e
Harriman, este por ele considerado um interesseiro e oportunista. “Averell,” disse
Pamela, “era tudo de que Ed julgava não gostar — alguém nascido em berço de
ouro.” Durante os dois anos anteriores, Murrow e Harriman discordaram sobre
diversas questões políticas, inclusive a controvérsia que cercou a França e de
Gaulle. Harriman acusou Murrow de ser “um fantoche dos Franceses Livres,” ao
passo que este último culpou o outro de ser pró-Vichy.
Como Pamela relembrou mais tarde, Murrow lhe disse: “Você foi estragada
por excesso de mimos. Tudo é fácil para você. Foi demasiadamente adorada
desde pequena e não entende o que é a vida real.” Entre os defeitos dela, disse
ele, estava sua desatenção para os infortúnios que a igiam os menos favorecidos.
Certo dia, quando ele apareceu de surpresa no apartamento de Pamela e
surpreendeu um ordenança de seu rival, o general Anderson, entregando uma
caixa de papelão repleta de bifes, cou furioso. Apesar de sua raiva ser
evidentemente in amada pelo ciúme, ele a disfarçou dizendo-lhe que era
extremamente inadequado para ela aceitar bens pagos pelos contribuintes dos
EUA e destinados às tropas americanas.
Embora aborrecida com as críticas do amante, Pamela adorava o fato de
Murrow conversar com ela sobre assuntos políticos de peso e questões sociais
relevantes, de argumentar a respeito de ideias e de tratá-la como uma intelectual
de igual quilate, e não uma mera companheira de cama. “Ele era totalmente
diferente [267] dos outros que conheci,” disse Pamela. “Ele me fascinava, e eu o
fascinava, obviamente.” Pamela começou a pressionar Murrow fortemente para
que se divorciasse de Janet e se casasse com ela. Ele cou tentado a dar tal passo,
se bem que essa decisão iria contra tudo aquilo que fora levado a acreditar. “Ele
amava muito Janet, muito mesmo,” disse um amigo. “Porém desejava Pamela.”
Para Murrow, como para outros em Londres, foram tempos excessivamente
complicados.
[*]O caso entre Pamela e Harriman amargurou Randolph Churchill por anos. Num jantar em
Washington em 1961, ele observou: “Averell Harriman foi o homem que me traiu quando eu estava no
exterior a serviço do Exército — traiu-me dentro da casa do próprio primeiro-ministro.” A an triã
perguntou-lhe: “Mas, Randolph, quantos homens você traiu quando estava servindo no estrangeiro?”
Churchill respondeu: “Pode ser — mas nunca na residência de um primeiro-ministro” (Schlesinger, p. 139).
15

“Piloto de Caça — Ontem, Hoje


e Sempre”
 
Enquanto a maior parte da elite dourada americana em
Londres meramente desfrutava da guerra, um dos mais famosos membros desse
grupo, Tommy Hitchcock, ajudava a determinar o resultado do con ito armado.
Sem Hitchcock, a campanha de bombardeios da América contra a Alemanha
poderia ter fracassado, e o Dia-D postergado, quem sabe até cancelado. E sem
Gil Winant, Tommy Hitchcock provavelmente jamais teria ido para a Inglaterra.
Hitchcock, ao que parecia, era o tipo de homem que outras pessoas gostariam
de ser. Ricos homens de negócios como Averell Harriman e Jock Whitney o
tinham como ídolo. David Bruce o chamava de único homem perfeito que
conhecera na vida. F. Scott Fitzgerald, que o tomara como modelo para
personagens de seus dois mais conhecidos romances, escreveu que Hitchcock
ocupava lugar de destaque “em meu panteão [268] de heróis.”
Antes da guerra, Hitchcock fora o mais renomado jogador de polo na
América e, talvez, no mundo. Celebridade internacional desde o início da vida
madura, ele era em grande parte responsável pela transformação do polo num
dos mais populares esportes na América nos anos 1920 e 30. Hitchcock estava
para o polo como Babe Ruth para o beisebol, e Bob Jones para o golfe, trazendo
energia e animação para o jogo, bem como, segundo o New York Times,
“empolgando a imaginação americana” como nenhum outro jogador na história
da modalidade.
O matrimônio de Hitchcock com uma das herdeiras da família Mellon, em
1928, recebeu cobertura jornalística como se ele fosse membro da realeza.
Quando chegava a um jogo de polo, com uma capa de pelo de camelo jogada
sobre os ombros, multidões se aglomeravam ao seu redor, e as pessoas aplaudiam
delirantemente. “Havia uma espécie de adoração divina para papai,” lembrou
sua lha mais velha Louise. “Mamãe dizia que aquilo era doentio.”
O polo — esporte difícil, perigoso e extremamente caro que teve origem na
Pérsia antes do nascimento de Cristo — foi introduzido nos Estados Unidos
vindo da Inglaterra em 1876. O jogo logo se tornou passatempo preferido de
diversos cavaleiros ricos em todo o país. Mas foi só com Tommy Hitchcock que
ele chegou às páginas dos jornais como jogo atraente de massas, e dezenas de
milhares de espectadores se encaminhavam para Long Island, a meca do polo
americano, para assistirem a jogos internacionais de campeonato entre os Estados
Unidos e seus dois principais rivais — Inglaterra e Argentina.
Em 1924, o príncipe de Gales, também jogador de polo, abalou-se da
Inglaterra para estar entre os 45 mil assistentes nas arquibancadas do Meadow
Brook Club, de Long Island, do jogo em que Hitchcock e o restante do time
americano enfrentaram os ingleses. Poucos anos antes, Hitchcock jogara contra a
equipe inglesa em Londres, com George V e Winston Churchill, outro jogador
de polo, entre os espectadores. Os americanos ganharam dois jogos seguidos,
graças, em grande parte, a Hitchcock, que fez cinco gols no primeiro encontro,
mais do que todos os jogadores ingleses juntos. “A maioria dos cidadãos [269] dos
EUA jamais viu um jogo de polo,” escreveu a revista Time em 1944, “mas as
pessoas que tomavam conhecimento do esporte através das seções de
rotogravuras [dos jornais] sabiam que Tommy Hitchcock praticava aquele tipo de
recreação.”
Conhecido simplesmente como “Tommy” por sua legião de fãs, o troncudo e
louro Hitchcock se transformava num dervixe rodopiante no campo de polo,
manejando com destreza e violência seu taco e arremessando a bola a distâncias
inacreditáveis. “Por vezes, ele fazia coisas no campo que você cava
simplesmente embasbacado,” observou um companheiro de jogo. De fala macia e
gentil com os outros jogadores fora do campo, ele era famoso por sua incansável
agressividade no esporte, com frequência galopando diretamente na direção do
oponente e desviando uma fração de segundo antes da batida. “Ele não possuía
um só nervo em todo o corpo,” a rmou um jogador. Outro simplesmente disse:
“Não houve jogador como ele — jamais.”
Os dois personagens de F. Scott Fitzgerald inspirados em Hitchcock foram
Tom Buchanan em The Great Gatsby (O grande Gatsby) e Tommy Barban em
Tender Is the Night (Suave é a noite). Cada um deles espelhava diferentes facetas
da relação amor-ódio-inveja do romancista com os ricos e poderosos. No cômputo
geral, Hitchcock tinha pouca coisa em comum com o cruel e amoral Buchanan,
salvo a aparência física (“sempre se inclinando agressivamente para a frente”) e
um senso de implacável força. A imagem de Barban lembrava mais a do jogador
de polo. “Tommy Barban era [270] um mandante,” escreveu Fitzgerald. “Tommy
era um herói. (...) Como regra, bebia pouco; coragem era o nome de seu jogo, e
seus companheiros tinham sempre medo dele.”
Muito autocon ante, Hitchcock era arredio, reservado, competitivo ao
extremo e com uma ligeira aura de perigo sempre a cercá-lo. Diferentemente de
Harriman, Whitney e outros da sociedade dos círculos da classe alta que
frequentava, não era homem de “clubes.” Não se associava a eles nem a outras
organizações que pretendessem proporcionar vantagens sociais, nem permitia
que muitas pessoas tentassem se aproximar. Uma exceção de peso era Winant,
que o conhecera quando muito jovem dos dias de aluno no St. Paul's, onde
Winant fora um de seus professores.
Filho de um rico desportista, que também fora entusiasmado jogador de polo,
Hitchcock cresceu nas propriedades da família em Long Island e Aiken, na
Carolina do Sul. Em St. Paul's, foi um dos muitos estudantes que lotavam à noite
o quarto do popular professor de história para conversarem sobre Lincoln,
Je erson e outros heróis de Winant. Hitchcock tinha grande admiração pelo
idealismo e pela paixão de Winant quanto a reformas sociais, e, como presidente
da associação de alunos da última série da escola secundária, ajudou Winant no
seu esforço bem-sucedido para desbaratar as sociedades secretas da escola, cujos
membros eram conhecidos por seu comportamento indisciplinado e, por vezes,
pelo tratamento cruel dispensado a outros estudantes.
No começo de 1917, poucos meses antes de os Estados Unidos entrarem na
Primeira Guerra Mundial, o moço Hitchcock, com seus dezessete anos, falou ao
Winant, de vinte e seis, sobre seus planos de deixar mais cedo a escola para se
juntar à Lafayette Escadrille, na França. Ele sabia que Winant planejava
também se alistar como piloto tão logo a América se engajasse na guerra. Com a
ajuda de ex-presidente Theodore Roosevelt, amigo da família, que escreveu uma
carta persuadindo as autoridades francesas a permitirem que um escolar, sem
ainda a idade adequada, pudesse se alistar, Hitchcock se tornou o mais jovem
americano a receber uma comissão de piloto durante o con ito armado.
Tão agressivo no ar quanto no campo de polo, Hitchcock abateu dois aviões
alemães (ganhando a Croix de Guerre), antes de ser ele mesmo abatido sobre o
território germânico, em 6 de março de 1918. Gravemente ferido, passou
diversos meses num campo de prisioneiros de guerra, onde seus dois únicos
pensamentos, confessou mais tarde, eram comer e fugir. Mais tarde naquele
verão, enquanto era transportado de trem para outro campo, Hitchcock roubou
uma carta topográ ca de um guarda sonolento e saltou do trem em movimento.
Escapando a todas as formas de detecção, andou de carona por cerca de duzentos
e cinquenta quilômetros até alcançar a neutra Suíça. Não tinha então nem
dezenove anos.
Para Hitchcock, o combate aéreo era a suprema emoção. “O polo é
estimulante [271],” disse ele, “mas não se pode compará-lo ao voo em tempo de
guerra.” Quando a guerra terminou, em novembro de 1918, Hitchcock entrou na
Universidade de Harvard, jogando polo nas horas vagas. No campo, observou
um amigo, “ele era um piloto de caça — ontem, hoje e sempre.” Mesmo no ápice
de sua carreira (que durou cerca de vinte anos), ele não se orgulhava tanto de suas
habilidades no jogo de polo quanto de seus feitos como aviador e de seus últimos
sucessos como banqueiro de investimentos. Na manhã de um jogo internacional
importantíssimo, ele passou diversas horas antes do encontro debatendo
calmamente com um amigo sobre o lósofo Nietzsche, “Como você pode car
sentado aí e falando sobre loso a num dia tão importante como hoje?”
Hitchcock encolheu os ombros. “Por que não?” replicou. “É apenas um jogo.”
No início dos anos 1930, Hitchcock tornou-se sócio da rma de
investimentos Lehman Brothers e negociou diversas transações importantes,
inclusive a compra de uma das companhias líderes no país em marinha mercante.
Distintamente de Winant e de muitos de seus colegas em Wall Street, ele era um
ardoroso isolacionista quando a Europa caminhou para a guerra no m daquela
década. Tendo testemunhado a carni cina da guerra mundial anterior, ele
abominava a ideia de outra e acreditava que os Estados Unidos deveriam manter
a maior distância possível do con ito.
Porém, tão logo a América entrou na guerra, Hitchcock, com quarenta e um
anos, apresentou-se voluntariamente ao general Hap Arnold, chefe do estado-
maior da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), para lutar
como piloto de caça. A despeito de sua fama e do fato de “conhecer mais gente do
que Deus,” a Força Aérea o rejeitou, dizendo-lhe que poderia desempenhar
praticamente qualquer função burocrática que desejasse em Washington, mas
era muito idoso para voar de novo em combate.
Furioso e frustrado, ele foi resgatado por Gil Winant, que estava em
Washington para consultas com Roosevelt. Se ele não podia voar, disse o
embaixador, por que não ir para Londres como assistente do adido militar dos
EUA, para funcionar como ligação entre a 8ª Força Aérea e o Comando de Caça
da RAF? Pelo menos, Hitchcock estaria num lugar em que havia combate real,
em vez de atolar no combate burocrático de Washington. E se ele pudesse
convencer as duas forças aéreas a operarem em conjunto, estaria realizando
trabalho importantíssimo. Sem hesitação, Hitchcock aceitou a missão.
 
Quando chegou a Londres no m da primavera de 1942, Tommy
Hitchcock descobriu que os dias gloriosos da aviação e dos pilotos de caça já
eram considerados coisa do passado. Dois anos antes, corajosos e pequenos
Hurricanes e Spit res haviam salvado a Grã-Bretanha por vencerem a Batalha
da Inglaterra, Agora, com os aliados passando à ofensiva aérea contra a
Alemanha, o foco dos holofotes se desviara para os bombardeiros — as Fortalezas
Voadoras (B-17s) e Liberators (B-24s) dos EUA, e os Wellingtons e Lancasters
ingleses.
Mesmo antes de a guerra começar, os chefes das forças aéreas dos dois países
caram convencidos de que o bombardeio estratégico — destruindo a capacidade
de guerrear do inimigo pelo ataque à sua base industrial, comunicações e moral
da população — poderia vencer um con ito por si só, tornando desnecessárias as
batalhas terrestres e salvando milhares, até mesmo milhões, de vidas. Com as
recordações ainda frescas dos banhos de sangue da Primeira Guerra Mundial,
essa teoria agradou bastante os líderes do governo e os povos da Inglaterra e dos
Estados Unidos. “Há uma coisa [272] que deixará [Hitler] de joelhos, e essa
coisa é um ataque absolutamente devastador e exterminador com os próprios
bombardeiros pesados deste país contra a pátria názi,” declarou Winston
Churchill.
Na primavera de 1940, bombardeiros da RAF começaram a atacar fábricas e
outros alvos no Ruhr e na Renânia, coração industrial da Alemanha. Os
resultados das incursões diurnas não justi caram as grandiosas expectativas da
RAF: os estragos sérios in igidos ao inimigo foram poucos, e a destruição de
aeronaves e tribulações atacantes, vasta. Para reduzir as perdas, o Comando de
Bombardeiros trocou as incursões para noturnas, o que tornou impossível o
ataque preciso aos alvos industriais. Reconhecendo a derrota no seu esforço para
devastar o poderio industrial alemão, a RAF fez outra mudança dramática em
suas operações: a partir de então, ela atingiria as cidades germânicas, com o
objetivo principal de minar o moral da população. Embora Churchill tivesse
anteriormente declarado que a Inglaterra jamais atacaria deliberadamente não
combatentes, ele não viu outra maneira de fazer a Alemanha cambalear e,
relutantemente, aprovou a nova e muito controversa abordagem da RAF.
Acompanhando o equivocado esforço dos bombardeios da Inglaterra, Hap
Arnold e seus subordinados estavam convictos de que, graças às superiores
tecnologias e aeronaves americanas, eles poderiam triunfar onde a RAF havia
fracassado. Ao longo do processo, poderiam provar o que acreditavam havia
longo tempo: que o poder aéreo era muito superior a qualquer outra força
armada.
Ao contrário de seus correspondentes no Exército e na Marinha, Arnold e
seus homens eram verdadeiros pioneiros numa arma que mal saíra da infância.
Apenas trinta e oito anos haviam decorrido desde que Orville e Wilbur Wright
voaram pela primeira vez sobre as praias arenosas de Kitty Hawk, na Carolina do
Norte. O próprio Arnold tomara lições de voo com os irmãos Wright e se tornara
um dos primeiros quatro pilotos militares da América. Seu chefe de estado-
maior, general Carl “Tooey” Spaatz, fora piloto de combate na França durante a
Primeira Guerra Mundial, a primeira guerra importante que presenciara o
emprego do avião. Entretanto, adida ao Exército, a incipiente força aérea
americana desempenhou um papel relativamente pequeno naquela guerra, e
quando Arnold assumiu seu comando, em 1938, ela ainda estava sob controle da
força terrestre.
Apesar de Arnold gozar de grande autonomia concedida por George
Marshall e de ser considerado membro com todos os poderes da Junta de Chefes
de Estado-Maior, ele promoveu incansável campanha para provar os méritos
superiores de sua força, tentando alcançar independência formal e receber o
mesmo status do Exército e da Marinha. Determinado e excepcionalmente
impaciente, Arnold se caracterizava pelo temperamento violento e pelas rudes
reprimendas aos seus subordinados. Um coronel submetido a brutal repreensão
da parte dele, desmaiou e faleceu num fulminante ataque cardíaco à sua frente.
O próprio Arnold seria vítima de quatro distúrbios no coração antes que a guerra
terminasse.
Quando os ingleses falharam no seu esforço de bombardeios de precisão,
Arnold e seus homens viram uma oportunidade de ouro para seus próprios
bombardeiros, graças em grande parte ao desenvolvimento tecnológico de um
revolucionário dispositivo — o visor de bombardeio Norden. Instrumento de
grande complexidade, o visor, supostamente, tornava os bombardeiros B-17 e B-
24 capazes de atingir alvos industriais com precisão cirúrgica, mesmo de altitudes
de vinte mil pés ou superiores. Segundo a teoria surgida nos altos escalões da
Força Aérea, esses bombardeiros, em especial a robusta e muito bem armada
Fortaleza Voadora, seriam praticamente irrefreáveis, voando a altitudes muito
elevadas e com muita velocidade para permitir efetiva retaliação por parte da
aviação de caça e da artilharia antiaérea inimigas. Em consequência, não haveria
necessidade do desenvolvimento de aviões de escolta com grande autonomia
para proteger os bombardeiros enquanto voavam para seus alvos e voltavam.
“Simplesmente fechamos [274] os olhos para [aviões de escolta de longo
alcance],” disse depois da guerra o general Laurence S. Kuter, um dos vices de
Arnold. “Não poderíamos ser barrados. Os bombardeiros eram invencíveis.”
As altas patentes da Força Aérea estavam tão convictas de que suas teorias
funcionariam que nem pensaram em submetê-las a testes rigorosos, ou em
considerar as condições reais do combate, antes de colocá-las em prática nos céus
da Europa. Os testes de bombardeios, por exemplo, foram efetuados no clima
seco e sem nuvens do Arizona, onde havia visibilidade perfeita e sobra de tempo
para os difíceis cálculos matemáticos requeridos para o emprego do visor de
bombardeio Norden, como também não havia fogo inimigo a preocupar as
tripulações. Quase ninguém no QG da Força Aérea em Washington pareceu
consciente do fato de que o tempo no norte da Europa guardava pouca
semelhança com o do Arizona; nuvens pesadas cobriam o continente em grande
parte do ano, tornando o bombardeio visual, em particular a grandes altitudes,
praticamente impossível. Parecia também não haver conhecimento de que a
tecnologia alemã era bastante so sticada, permitindo que a Luftwa e detectasse
a aproximação de aeronaves inimigas com grande antecedência e enviasse
enxames de aviões de caça para esperá-las.
Para os barões dos bombardeiros da América, “o importante (...) era marcar
presença, provar uma doutrina e rmar posição na consciência pública,”
Harrison Salisbury disse mais tarde. “Se isso custasse a vida de jovens valorosos e
não in igisse sérios danos à capacidade aeronáutica germânica, seria muito
ruim.”
Aconteceu então que quase todas as teorias importantes defendidas por
Arnold e seus subordinados se revelaram erradas na prática e resultaram na
campanha mais prolongada da Segunda Guerra Mundial. Como Salisbury
previra, dezenas de milhares de jovens americanos membros de tripulações
perderiam as vidas naquela campanha e muitos outros cariam seriamente
feridos — “peões,” de acordo com um historiador o cial da Força Aérea, “numa
grande experiência tentada pela Força Aérea do Exército.”
 
Em 4 de fevereiro de 1942 , menos de dois meses após Pearl Harbor,
sete o ciais da USAAF deixaram Washington e seguiram para Londres a m de
começarem a tarefa altamente assustadora de criar em solo inglês toda uma força
aérea a partir do zero. Embora a indústria americana já estivesse, nalmente,
mobilizada para fabricar em série bombardeiros e caças, as linhas de montagem
apenas gotejavam produtos nais, e o número de pilotos e tripulações treinados
era mínimo. Seria necessário mais de um ano, disseram os planejadores para Hap
Arnold, antes que a Força Aérea tivesse aviões e homens su cientes para montar
uma ofensiva total de bombardeios contra a Europa ocupada pela Alemanha.
Mas com o Japão avançando na Ásia e no Pací co — e a Alemanha perto da
vitória no Oriente Médio e na União Soviética — os Estados Unidos não
poderiam mais se dar ao luxo de esperar. “Parecia [275],” disse Arnold, “que os
aliados estavam perdendo a guerra.”
Sem possibilidade de enviar, no futuro imediato, tropas terrestres dos EUA
para entrarem em ação, Roosevelt concordara em despachar bombardeiros
americanos para a Inglaterra a m de dar início às incursões aéreas contra a
Alemanha. Na visão de Arnold, era essencial que o novo grande comando dos
EUA na Inglaterra — a 8ª Força Aérea — se zesse presente com a maior
brevidade possível, em grande parte para evitar que Churchill persuadisse o
Presidente de que os bombardeiros americanos deveriam ser entregues à RAF.
Desde o início, os ingleses se opuseram a uma 8ª Força Aérea independente:
eram favoráveis à sua absorção pela RAF ou a um emprego de seus bombardeiros
pesados em suas próprias operações noturnas. As duas opções eram execradas
por Arnold e seus assistentes, os quais argumentavam que se as aeronaves
americanas tivessem que car sediadas na Inglaterra, teriam de voar com
tripulações dos Estados Unidos e sob comando americano.
Para bem marcar a importância da presença aérea dos EUA na Inglaterra,
Arnold nomeou Tooey Spaatz, seu chefe de estado-maior e amigo chegado, como
primeiro comandante da 8ª Força Aérea. A m de assumir o 8º Comando de
Bombardeiros, o general de brigada Ira Eaker, um texano de fala macia, mas
extremamente ambicioso, foi nomeado comandante do escalão avançado enviado
para a Inglaterra em fevereiro. Para surpresa de muitos. Eaker estabeleceu
rapidamente cerradas relações com seu correspondente inglês — marechal do ar
Arthur “Bomber” Harris, controverso chefe do Comando de Bombardeiros da
RAF. Harris recebeu Eaker cordialmente, com ele partilhou inteligência e
informações sobre as operações, ajudou-o a encontrar local adequado para a
localização de seu quartel-general, chegando mesmo a convidar o americano para
se alojar com sua família assim que ele chegou à Inglaterra. Por trás das
amabilidades e da camaradagem, no entanto, existia feroz rivalidade. Ao passo
que Eaker acreditava com rmeza que os bombardeios diurnos eram a solução,
Harris estava igualmente convicto de que os americanos fracassariam nesse
esforço, e que seriam obrigados a juntar forças com as operações noturnas
inglesas.
Numa campanha determinada para impedir tal resultado, o chefe de Eaker,
Tooey Spaatz, estabeleceu uma altamente so sticada operação de relações
públicas para pôr em evidência as virtudes da 8ª. Essa operação, de acordo com
Harrison Salisbury, rapidamente emergiu “como atividade dinâmica [276] (...)
tocada por homens audaciosos e por um comando ambicioso em Washington.”
Mobiliada com ex-repórteres e editores de jornais, agentes de publicidade e
executivos da propaganda, a seção de Relações Públicas da 8ª incluía Tex
McCrary, aluno de Groton e de Yale, e ex-colunista do New York Daily Mirror.
Andy Rooney, repórter do Star and Stripes em Londres durante a guerra,
descreveria mais tarde McCrary “como um dos melhores relações-públicas e
'malandros' de todos os tempos.”
De Spaatz e Eaker para baixo, os altos escalões da 8ª Força Aérea zeram o
máximo em prol de sua causa — saboreando vinho, jantando e jogando pôquer
com ingleses importantes e americanos visitantes; expedindo prodigioso número
de comunicados à imprensa, por vezes com exaltações de ilegítimos sucessos da
8ª; até mesmo, quando a guerra ia avançada, enviando álbuns para Roosevelt e
Churchill repletos de fotogra as sobre os danos causados pelas bombas
americanas. Tais iniciativas, acreditavam eles, eram necessárias para que fosse
enfrentado o incessante e crescente esforço da força aérea inglesa para
conquistar o domínio.
Em 30 de maio de 1942, a RAF enviou mil bombardeiros num reide sobre
Colônia — uma operação que Arnold e Spaatz viram como trama pública para
demonstrar a avassaladora vantagem da Inglaterra no ar, e para reforçar os apelos
de Churchill a Roosevelt a m de que lhe fosse permitido assumir o controle das
aeronaves americanas. Pelo m do verão, existiam menos de cem bombardeiros
dos EUA na Inglaterra, guarnecidos por tripulações com pouca experiência ou
treinamento. Apesar disso, mediante intensa pressão de Washington para que os
rapazes americanos entrassem em ação, os B-17s começaram a realizar missões de
curto alcance contra alvos industriais na França e na Holanda.
Da mesma forma que às tropas americanas no norte da África, aos aviadores
dos EUA não faltava con ança às vésperas de seus primeiros encontros com o
inimigo. “Nos julgávamos [277] super-homens,” lembrou-se um deles. Tal estado
de espírito, contudo, durou até que bandos de caças alemães começaram a se
arremessar por dentro de suas formações de bombardeiros, atacando-as de cada
possível ângulo ou direção. Para dar aos americanos de casa uma ideia do que era
pilotar um B-17 em formação cerrada sob ataque inimigo, Tex McCrary saiu-se
com a seguinte e extravagante analogia: “É o mesmo que dirigir um dentre 24
caminhões de 50 toneladas pela Broadway, para-choque com para-choque, a 275
milhas por hora, enquanto toda a polícia de Nova York persegue o comboio
atirando com submetralhadoras.”
Esses primeiros raids nada mais foram do que “missões suicidas,” disse um
piloto americano. “Ninguém sabia coisa alguma. Não houvera tempo; a guerra
chegara muito rapidamente para o país.” Metralhadores apavorados atiravam a
esmo, atingindo mais bombardeiros e caças americanos do que inimigos.
Navegadores tinham di culdades para encontrar os alvos; alguns não
conseguiam localizar as próprias bases na Inglaterra depois de terminada a
missão. Os erros de bombardeio durante uma incursão dos EUA sobre a França
foram “tão grandes e tão recorrentes,” registrou um relatório o cial, “que, a
menos que os minimizemos drasticamente, tiraremos muito pouco proveito de
nosso excelente visor Norden.”
Tais fracassos, no entanto, eram segredos mantidos a sete chaves. Ao
informar os jornalistas que as incursões haviam sido um sucesso, a seção de
Relações Públicas da 8ª Força Aérea preparou “comunicados grosseiramente
exagerados sobres as perdas de caças názis e a tonelagem de nossas bombas que
atingiu alvos alemães,” lembrou anos depois um veterano navegador americano.
Uma in ação nos resultados dos bombardeios seria útil para conferir um selo de
qualidade às campanhas aéreas americanas e inglesas durante toda a guerra.
Malgrado os efeitos desapontadores das missões iniciais, que implicaram
signi cativa perda de aeronaves, Arnold continuou exigindo mais e maiores
raids. À medida que os ataques dos bombardeiros americanos foram se
aprofundando no território ocupado pelos germânicos, eles acabaram penetrando
na própria Alemanha, sem a proteção de caças de escolta de grande autonomia, o
que causou perdas altíssimas. As defesas antiaéreas do Reich eram bem mais
so sticadas e cerradas do que os planejadores dos EUA haviam previsto. A
artilharia antiaérea alemã provou ser extremamente precisa, e a capacidade dos
caças, avassaladora. Reagindo à intensi cação dos assaltos aéreos dos aliados
contra centros industriais importantes da Alemanha, chefes da Luftwa e haviam
transferido centenas de aviões e de pilotos experientes do front da Rússia para
proteger o solo pátrio. A teoria preferida de Arnold e seus subordinados — de
que a aviação inimiga e os artilheiros antiaéreos não poderiam enfrentar as B-17s
poderosamente armadas, voando a elevadas altitudes — acabou se revelando uma
ilusão dolorosamente custosa.
 
Não demorou muito para que os aviadores da 8ª se
conscientizassem de que, ao serem transferidos para a Inglaterra, resultara para
eles o cumprimento de uma das mais perigosas missões da guerra. As baixas na
Força Aérea do Exército dos Estados Unidos, em especial na 8ª, eram
astronomicamente maiores do que as de qualquer das duas outras forças
singulares. Num cálculo aproximado, as chances de um membro de tripulação
completar seu tempo normal de serviço — vinte e cinco missões — eram de um
para quatro. Nos seus primeiros dez meses de operações, a 8ª perdeu 188
bombardeiros pesados e cerca de 1.900 tripulantes; tais números iriam crescer no
ano e meio seguinte. Pelo m da guerra, as operações dos EUA na Europa
sofreriam mais fatalidades — 26 mil — do que todo o Corpo de Fuzileiros Navais
em suas arrastadas e sangrentas campanhas no Pací co. “Voar na 8ª Força Aérea
[278] naqueles dias,” recordou Harrison Salisbury, “era receber um convite para
enterro: o seu próprio.”
A selvageria da guerra aérea não se devia apenas à ferocidade das defesas
antiaéreas alemãs. Nos primeiros estágios do con ito, os altos escalões da Força
Aérea em Washington, ao cogitarem das vantagens dos voos a elevadas altitudes,
não levaram em conta que as extremas condições atmosféricas experimentadas
pelas tripulações poderiam matar com tanta e cácia quanto um Messerschmitt
ou um Focke-Wulf. “Existem, aparentemente, detalhes que não são considerados
antes de se entrar em operações,” comentou o Dr. Malcolm Grow, chefe do
Serviço de Saúde da 8ª. Detalhes tais como a privação de oxigênio, que pode
levar à inconsciência ou à morte em questão de minutos, ou as extensas
ulcerações causadas pelas diversas horas de exposição a temperaturas de 50 ou
60 graus abaixo de zero. Até o início de 1944, mais aviadores tinham sido
hospitalizados em virtude de ulceras pelo frio do que por ferimentos de combate.
Com a continuação da guerra, “as bases de bombardeiros se tornaram locais
deprimentes para visitas,” lembrou Andy Rooney. “A morte estava sempre no
ar.” Perfeitamente consciente de que suas probabilidades de escapar aos
ferimentos ou à morte eram mínimas, um bom número de tripulantes e pilotos
passou a sofrer colapsos físicos ou mentais. “Com o aprofundamento [279] cada
vez maior das incursões no espaço aéreo inimigo, as baixas se multiplicaram, e
sem a possibilidade de recompletamentos à vista, os homens começaram a
perceber que a situação era desesperançada,” escreveu o historiador Donald
Miller. “Muitos aviadores passaram a ter sentimentos con itantes a respeito de
seu país: embora querendo combater por ele, sentiam-se abandonados.”
Mesmo assim, enquanto cresciam as pressões sobre as tripulações dos aliados,
intensi cavam-se também as campanhas aéreas. Na Conferência de Casablanca
de janeiro de 1943, Roosevelt e Churchill autorizaram a Operação Pointblank,
uma ofensiva aérea geral contra a indústria aeronáutica germânica, a ter lugar
antes da invasão do continente cruzando o Canal. Para que tal invasão tivesse
chance de sucesso, os aliados teriam de conquistar inquestionável supremacia
aérea. E para conseguir isso, acreditavam os líderes, os aliados deveriam não só
varrer dos céus os aviões existentes da Luftwa e, como também destruir suas
instalações produtoras na Alemanha.
Seriam necessários mais quatro meses para que as aeronaves e tripulações
americanas começassem a chegar em grandes quantidades à Inglaterra, porém,
por determinação de seus comandantes, os aviadores dos EUA já estavam
cumprindo a estonteante missão de conseguir a supremacia aérea em pouco mais
de um ano. Sabedor das insistentes solicitações de Churchill a Roosevelt pela
participação americana nos bombardeios noturnos, Eaker, que substituíra Tooey
Spaatz como comandante da 8ª, teimou que os bombardeios diurnos não teriam
problemas para cumprir a missão. Eaker e Harris prometeram que o espaço aéreo
estaria livre de aeronaves inimigas por ocasião da invasão aliada. “Minha
mensagem pessoal para vocês — e ela tem de ser entendida como uma obrigação
— é a de destruição das forças aéreas inimigas onde quer que vocês as encontrem:
no ar, na terra ou nas fábricas,” escreveu Hap Arnold aos comandantes da 8ª
Força Aérea.
Contudo, na opinião dos que pilotavam os bombardeiros, não havia como
cumprir tal missão sem a escolta de caças de longo raio de ação para proteger os
aviões da 8ª. Até que Arnold e outros entendessem esse fato, a Luftwa e
continuaria reinando nos céus da Europa continental, e a carni cina
experimentada pelos aviadores aliados tornar-se-ia assustadoramente pior.
Apesar disso, o comandante da Força Aérea e seus principais assessores
continuavam resistindo. Foi então que Tommy Hitchcock interveio.
 
Como um dos assistentes dos adidos militares , Hitchcock fora
designado para a embaixada dos EUA em Londres, e não para o marrento
quartel-general da 8ª Força Aérea. Seu modus operandi era totalmente diferente
do dos líderes da 8ª: ele achava bem mais importante cooperar com a RAF do
que competir com ela — e talvez até tirar algumas lições dos ingleses. Com base
em sua própria experiência como piloto de caça, Hitchcock concluiu que os
britânicos eram superiores aos americanos nas táticas do combate aéreo e nos
procedimentos de treinamento, assim como em muitos aspectos dos projetos e da
fabricação de aviões de caça. “Naqueles dias [280], qualquer ideia morria no
nascedouro se fosse dito aos americanos: 'A experiência inglesa tem mostrado
...,'” escreveu mais tarde Tex McCrary, amigo de Hitchcock. “De um modo geral,
se alguma coisa fosse inglesa, já recebia na América dois tiques vermelhos contra
ela. Tommy procurou reverter o processo: caso uma ideia tivesse sido testada e
aprovada nos laboratórios ingleses de combate, Hitchcock passava então a ter por
ela grande consideração. Ele sabia que o combate aéreo mais árduo do mundo
fora travado ali. O que tivesse sobrevivido tinha que ser bom.”
Gil Winant, que compartilhava a mesma opinião, vinha, por muitos meses,
tentando in uenciar as autoridades militares dos EUA para que prestassem
atenção aos desenvolvimentos ingleses nos projetos aeronáuticos e em sua
tecnologia. “Desde que cheguei aqui, venho fazendo tudo que está ao meu
alcance para pôr à disposição (...) dos pilotos americanos quaisquer
aperfeiçoamentos aeronáuticos que os ingleses, através da experiência, julguem
essenciais,” escreveu Winant a Roosevelt em janeiro de 1942. Todavia, a
despeito desses esforços, “permanece o fato de que há ainda um desnecessário
atraso na incorporação das últimas alterações britânicas de projetos nas nossas
linhas de montagem.” Roosevelt repassou a carta de Winant para Hap Arnold,
que descartou por completo as argumentações do embaixador.
Pouco depois de chegar à Inglaterra, Hitchcock fez uma visita ao instituto de
desenvolvimento da RAF em Duxford, a poucos quilômetros de Cambridge,
para acompanhar os testes de desempenho de um novo e promissor caça
produzido na América apenas para emprego pelos ingleses. Produto do cérebro
de um emigrante alemão, que outrora participara do desenvolvimento dos caças
Messerschmitts, o P-51 Mustang fora fabricado pela North American Aviation
Co., na Califórnia, para a RAF, que planejara seu emprego como caça-
bombardeiro tático de baixa altitude.
Quando tiveram início os testes de voo, a RAF percebeu que tinha em mãos
algo muito especial. O Mustang, com sua estrutura aerodinâmica, era mais
rápido que o Spit re, tinha maior raio de ação e, nas médias e baixas altitudes,
era extremamente manobrável nos mergulhos. Segundo um observador, “era a
coisa mais pura [281] e suave no ar.” Mas o piloto de teste do Mustang e outros
que tinham visto o avião em ação acreditavam que seu desempenho poderia ser
ainda mais aprimorado se o motor americano pouco potente fosse substituído
pelo Merlin de alta performance da Rolls-Royce, empresa inglesa.
Os pesquisadores e tecnólogos da RAF concordaram, e o Mustang foi
equipado com o Merlin. Hitchcock cou deslumbrado com os resultados.
Observando o Mustang híbrido voar e debruçando-se sobre tabelas e grá cos, ele
percebeu que o avião era, nas palavras do historiador Donald Miller, “a aeronave
que a 'Má a dos Bombardeiros' a rmara ser impossível de fabricar, um caça que
poderia ir tão longe e com igual velocidade que os bombardeiros, sem perder suas
características de combate.” Num memorando endereçado ao QG da Força
Aérea em Washington, Hitchcock instou para que o avião fosse empregado como
caça de elevada altitude, prevendo que a utilização do motor Merlin “produziria
o melhor avião de caça da Frente Ocidental.”
Seus superiores, entretanto, não caram impressionados. Aos olhos deles, o
Mustang pertencia aos ingleses; só esse fato o tornava inferior, a despeito de sua
manufatura americana. Como Hitchcock observou: “Gerado por pai inglês em
mãe americana, o Mustang era verdadeiro órfão na [Força Aérea] (...) para ter
quem proclamasse e difundisse seus méritos.” Enfrentando a intransigência
burocrática, Hitchcock recusou-se a esmorecer. Ao longo do verão e do outono de
1942, trabalhou incansavelmente na busca de apoio para o Mustang híbrido,
enviando verdadeira chuva de estatísticas sobre Washington com demonstrações
do valor dos testes de desempenho e oferecendo pródigos jantares e recepções,
no seu elegante apartamento de Londres, a m de fazer lobby junto aos o ciais de
altas patentes da 8ª Força Aérea e da RAF, assim como aos altos dignitários do
governo Roosevelt de passagem pela Inglaterra. Ele mesmo alçou voo num
Mustang a m de testá-lo em manobras aéreas, para desespero de seu sobrinho,
Averell Clark, um piloto de caça da USAAF que servira no Esquadrão Eagle
antes de a América entrar na guerra. De pé ao lado do tio na cabeceira da pista
de Duxford, Clark exclamou: “Olhe aqui, Tio Tommy [282], é melhor o senhor
não voar nesta coisa. Até agora só o piloto de teste teve condições de fazê-lo.”
Hitchcock olhou rme para o sobrinho. “E eu com isso!” — rugiu de volta, subiu
no Mustang e decolou. “Ele tinha mesmo é que voar,” disse Clark anos depois.
A nal de contas, “aquilo era primordialmente ideia sua.”
Winant trabalhou como parceiro de Hitchcock na cruzada do Mustang.
Juntos, os dois ex-pilotos da Primeira Guerra Mundial salpicaram cabogramas e
memorandos sobre Roosevelt, Harry Hopkins e outros altos funcionários da
administração, ressaltando o potencial do avião como caça de escolta em elevadas
altitudes. De acordo com a adido cultural da embaixada, Theodore Achilles,
Winant “foi incansável em abrir os olhos” de todos aqueles que pudessem
pavimentar o caminho para a adoção da aeronave. Além de seu próprio passado
como piloto de caça, Winant tinha outra razão para se interessar pelo projeto de
Hitchcock. O lho mais velho do embaixador, John, deixara os estudos
universitários em Princeton no ano anterior para se alistar na Força Aérea. Em
pleno treinamento àquela época para se tornar piloto de B-17, o jovem Winant
em breve partiria para a Inglaterra a m de servir na 8ª Força Aérea — um dos
muitos rapazes americanos que enfrentaria a fúria total das defesas antiaéreas
germânicas durante a Operação Pointblank.
 
Em novembro de 1942 , Hitchcock voou para Washington com o
objetivo de levar a argumentação favorável ao Mustang diretamente ao próprio
Hap Arnold. “Tanto canais como não eram palavras que o coronel tinha
di culdade para entender,” observou Nelson W. Aldrich, o biógrafo de
Hitchcock. “Ele planejava ir até o topo em defesa de sua causa.” Quando,
malgrado todos os seus esforços, Arnold demonstrou pouco interesse pelo
Mustang, Hitchcock apelou para um dos chefes civis do general, o subsecretário
da Guerra Robert Lovett. Os dois eram amigos desde a Primeira Guerra
Mundial, quando Hitchcock voara para a França e Lovett fora piloto da Aviação
Embarcada da Royal Navy, para depois servir no Corpo de Aviação de seu país.
O subsecretário não precisou ser convencido sobre as qualidades dos motores da
Rolls-Royce — os aviões ingleses que pilotara durante a guerra estavam
equipados com eles — e depois de considerável investigação por ele mesmo
procedida, concordou com Hitchcock que a Força Aérea deveria avançar no
projeto de adoção do Mustang como escolta de grande autonomia para os
bombardeiros. Determinou que Arnold dedicasse imediata atenção ao assunto.
Fortemente pressionado por Lovett e por outros do Departamento da
Guerra, Arnold, cedeu com relutância e ordenou a produção inicial de 2.200 P-
51Bs, denominação do Mustang híbrido. Porém, apesar de, teoricamente, a
ordem ter altíssima prioridade, houve atrasos na produção dos aviões, e Arnold
pouco fez para acelerá-la. “Suas mãos estavam [283] atadas pela boca,” registrou
Lovett. “Ele a rmava que nossa única necessidade eram Fortalezas Voadoras (...)
[e que] poucos caças poderiam empatar em voo com elas.” No entanto, como
acrescentou Lovett, “os Messerschmitts não viam di culdade nenhuma.”
Com Arnold realizando quase nada, Hitchcock se autonomeou mola mestre
do projeto, fazendo, no começo de 1943, repetidas viagens aos parques
industriais onde os Mustangs eram fabricados, a m de assegurar-se de que as
aeronaves estavam saindo das linhas de produção com a maior brevidade
possível. A despeito de sua intervenção, os primeiros despachos em boa escala
dos P-51s só chegaram à Inglaterra em janeiro de 1944, a tempo, todavia, de
salvar a invasão do Dia-D, mas não su cientemente cedo para ajudar John
Winant Jr. e milhares de outros tripulantes e pilotos americanos que, durante os
terríveis verão e outono de 1943, voaram diretamente e sem proteção para as
engrenagens do moedor germânico.
 
Quando teve início a OPERAÇÃO POINTBLANK, em julho de
1943, a 8ª Força Aérea já podia contabilizar mais de 100 mil aviadores e 1.500
bombardeiros na sua lista de baixas. No entanto, enquanto o aumento nos
efetivos e nas máquinas era enorme, também era grande a quantidade de homens
e aviões perdidos na massiva e desesperada tentativa de acabar com a indústria
aeronáutica alemã. O cialmente denominada Ofensiva Combinada de
Bombardeios, a Pointblank era para ser, na teoria, uma operação das duas forças
aéreas — um martelar pelos bombardeiros ingleses e americanos, vinte e quatro
horas por dia, dos alvos germânicos importantes. Na realidade, houve pouca
cooperação entre a força aérea dos EUA e Arthur Harris, o qual, enquanto
elogiava a Pointblank da boca para fora, resistia em alterar sua estratégia de
reduzir as cidades alemãs a cinzas. A operação de Harris, nas palavras do
historiador Michael Sherry, “pecou pela quase total ausência de sentido,
amontoando enormes quantidades de escombros, porém demasiadamente
dispersos no tempo e no espaço para provocarem choque decisivo seja no moral
seja na produção do inimigo.”
O esforço americano foi igualmente ine ciente. As duas forças aéreas
despejaram, naqueles verão e outono, quantidades recordes de explosivos sobre o
território alemão, sem outros resultados tangíveis a mostrar a não ser o assustador
número de baixas no ar e em terra. Só na primeira semana da Pointblank, a 8ª
perdeu noventa e sete Fortalezas Voadoras e quase mil tripulantes — dez por
cento da força atacante.
Hap Arnold, sob enorme pressão para provar a e cácia dos bombardeios à
luz do dia, explodia de raiva. Acusou Eaker e seus subordinados de não enviarem
número su ciente de bombardeiros nas missões, temerosos do aumento nas
baixas. De sua parte, o comando da 8ª acreditava que Arnold, instalado em
Washington em sua torre de mar m, não tinha a menor noção dos
extraordinários custos físico e emocional cobrados pela guerra aérea
generalizada. “Começou a parecer [284],” disse um dos assistentes de Eaker,
“que os generais Arnold e Eaker devotavam mais tempo à disputa entre eles do
que à derrota dos alemães.”
Em meados de agosto, muito forçado por Arnold, Eaker ordenou a maior
incursão aérea americana até então realizada na guerra — um assalto de
quinhentos bombardeiros contra as fábricas de rolamentos de Schweinfurt e a
uma unidade industrial montadora de Messerschmitts em Regensburg. As duas
cidades estavam localizadas bem no interior da Alemanha, o que signi cava, para
os bombardeiros, voos de várias horas sem escolta, antes de atingirem seus alvos,
defendidos por algumas das mais temíveis defesas antiaéreas do Reich. Mesmo
assim, Arnold e seus assessores estavam convencidos de que, apesar das
formidáveis di culdades, aquela dupla missão poderia desferir um golpe
su cientemente poderoso para deixar a Luftwa e fora de ação. Como observou o
major Curtis LeMay, comandante do 305º Esquadrão de Bombardeiros da 8ª, os
chefões em Washington “tentavam encontrar uma maneira fácil de ganhar a
guerra na Europa. O que correspondia mais ou menos à busca da Fonte da
Juventude — não existe tal coisa; jamais existiu.”
Por certo, nada houve de fácil naquelas duas missões. Centenas de caças
Messerschmitts, a mais poderosa defesa aérea que os americanos tinham visto,
atacaram as formações bem antes de elas chegarem às áreas de alvos. Atingidos
por fogo devastador, os bombardeiros despencavam às dezenas. Mais de 475
aeronaves decolaram para as missões. Das pouco mais de 300 que conseguiram
chegar aos alvos, 60 foram abatidas, e cerca de 600 tripulantes foram mortos.
Metade dos aviões que conseguiram se arrastar de volta às suas bases, um dos
quais era pilotado pelo tenente John Winant, estava bastante dani cada. Foi,
como Nelson Aldrich Jr. escreveu, “a Verdun da 8ª Força Aérea. Os homens
chegaram às raias do motim, recusando-se a voar para a Alemanha sem alguma
espécie de escolta que os protegesse... até os alvos.”
Embora as baixas tivessem sido estarrecedoras, os comandantes da 8ª se
confortaram com a noção de que seus bombardeiros haviam causado estragos
de nitivos para a indústria aeronáutica germânica. Regensburg, exultava um
general, “fora literalmente [285] riscada do mapa.” Doce ilusão. Apesar de a
planta industrial montadora de Messerschmitts ter sido, de fato, bastante
bombardeada, ela foi reparada e voltou a funcionar semanas após o ataque. Em
Schweinfurt, cerca de um terço das bombas não atingiu seus alvos e elas caíram
sobre áreas residenciais das vizinhanças, matando duas centenas de civis; as que
acertaram as fábricas de rolamentos causaram poucos estragos, interrompendo a
produção apenas por breve período. Escrevendo sobre as incursões de
Regensburg-Schweinfurt, Albert Speer, ministro do Material Bélico de Hitler,
a rmou em suas memórias que o Reich havia escapado de “um golpe
catastró co.”
No m da campanha Pointblank do verão, a 8ª Força Aérea lutava para
recompletar os claros em recursos humanos e materiais. Porém, a despeito dos
custos horríveis, não haveria trégua: com os alemães ainda dominando os céus da
Europa, os raids moedores de carne precisavam continuar. Em 6 de setembro,
quarenta e cinco Fortalezas Voadoras foram perdidas sobre Stuttgart. Em 8 e 9
de outubro, cinquenta e sete delas foram abatidas em incursões sobre Bremen,
Marienburg e Anklam. No dia seguinte, o ataque foi contra Münster, antiga
cidade cercada por muralha no oeste da Alemanha. Tão assombrosa quanto a
defesa dos caças alemães durante a missão Regensburg-Schweinfurt, o combate
aéreo sobre Münster foi ainda mais feroz. Em ondas atrás de ondas, cerca de
duzentos caças germânicos — “a maior concentração de caças názis jamais
arremessada contra uma formação de bombardeiros americanos” — atacaram as
Fortalezas de frente, dispersando completamente a formação. Tantos tripulantes
saltaram de paraquedas, disse um dos pilotos, que pareceu um assalto
aeroterrestre. Dos 275 B-17s que decolaram da Inglaterra naquele frígido dia de
outono, 30 não retornaram. Entre eles estava a Fortaleza pilotada por John
Winant, que realizava sua trigésima missão de bombardeio.
Naquela noite, as autoridades da Força Aérea levaram a Gil Winant a notícia
de que seu lho de vinte e dois anos havia desaparecido em ação, abatido
enquanto voltava de Münster. Segundo uma testemunha, o avião de John
Winant tinha se chocado com o solo depois de atacado por três caças alemães. O
piloto da aeronave líder da missão oferecia um tênue raio de esperança: ele disse
ao embaixador que vira diversos velames de paraquedas abaixo do B-17 pouco
antes de ele atingir o solo. Mas o piloto e outras testemunhas também tinham
vistos os caças germânicos atirando contra os paraquedistas. Ninguém sabia se
algum membro da tripulação havia sobrevivido.
Durante cinco agonizantes semanas, Winant cou sem saber se seu lho
estava morto ou vivo. Ao longo desse tempo, o embaixador foi inundado por
centenas de mensagens de simpatia e consolo provindas de todas as partes dos
Estados Unidos e da Inglaterra. Enquanto um bom número dessas mensagens
era de dignitários — Franklin e Eleanor Roosevelt, Winston e Clementine
Churchill, Anthony Eden, Lord Beaverbrook e Harry Hopkins entre eles — a
maioria vinha de cidadãos comuns. Numa matéria de primeira página, o Daily
Express manifestou o “profundo senso [286] de pesar pessoal” dos ingleses
quando souberam do desaparecimento do lho de Winant. “Desde sua
nomeação, o povo inglês tem revelado grande apreço por Mr Winant, tanto como
embaixador americano quanto como ser humano,” acrescentou o Express. Ele
“sensibilizou o âmago de nossa afeição.”
Em 11 de novembro, Winant recebeu a notícia pela qual ansiava: John estava
vivo e era então mantido como prisioneiro de guerra no interior da Alemanha. O
alívio do embaixador logo deu lugar a uma profunda preocupação quando soube
que seu lho e outros prisioneiros proeminentes aliados eram guardados como
potenciais reféns para a eventualidade de uma derrota germânica. Entre os
prisioneiros VIP estavam também um sobrinho de Winston Churchill e parentes
próximos do Rei e da Rainha. Pelo m da guerra, todos seriam resgatados em
Colditz, uma sombria fortaleza medieval próxima de Leipzig que fora
transformada em prisão de segurança máxima. Os alemães jamais esclareceram o
que tinham em mente para Winant e outros prisioneiros de destaque: os reféns
ou seriam usados como moeda de barganha ou fariam face à execução sumária de
caráter revanchista.
 
Três meses apóso desastre de Münster , num dia escuro e chuvoso
que encobria a Alemanha Central, surgiu a primeira indicação de que a luta pela
supremacia aérea estava prestes a experimentar signi cativo ponto de in exão.
Como um gato à espreita no lado de fora de um buraco de rato, um punhado de
caças alemães se preparava para atacar aquilo que parecia uma presa fácil — uma
formação de B-17s rumando para uma fábrica de Focke-Wulfs, poucos
quilômetros a oeste de Berlim. Mas naquela gélida e úmida manhã, o rato tinha
surpresas. De repente, parecendo surgir do nada, um esguio caça dos aliados — o
Mustang P-51B — enveredou pelo enxame de Focke-Wulfs e, em questão de
segundos, abateu dois deles. Os pilotos alemães caram boquiabertos: nunca
antes um caça dos aliados desa ara a Luftwa e tão no interior da Alemanha.
Por mais de uma hora, aquele único Mustang, pilotado pelo major James
Howard, pintou e bordou, mergulhou e alçou-se com extraordinária velocidade,
infernizando a vida dos Focke-Wulfs com seus fulminantes ataques. Embora três
de suas quatro metralhadoras tivessem engasgado, Howard seguiu atacando até
que o combustível começou a escassear, obrigando-o a retornar à base na
Inglaterra. Ele só reivindicou dois aviões inimigos abatidos, embora diversos
tripulantes das Fortalezas Voadoras, que presenciaram seu fantástico
desempenho, jurassem que tinham visto o Mustang derrubar pelo menos seis.
Sessenta bombardeiros americanos foram perdidos naquela missão de 11 de
janeiro, mas nem um só avião do esquadrão protegido por Howard foi atingido.
O major foi mais tarde condecorado com a medalha de honra por seu espetacular
combate isolado.
O avião de Howard fazia parte de uma pequena fração de Mustangs
designados para escoltar os B-17s até seus alvos — uma das primeiras do novo
caça híbrido de longo alcance a entrar em ação. Mas os outros P-51Bs se
dispersaram em função das pesadas nuvens, e Howard foi o único que conseguiu
fazer contato com o inimigo. “Coube a mim [287] a missão,” disse ele mais tarde.
“Existiam tripulações de dez homens em cada um daqueles bombardeiros e
ninguém mais para protegê-los.”
Para a 8ª Força Aérea, a performance de Howard — e a de seu avião — foi
um pequeno lampejo de esperança num céu muito escuro. Após a guerra, Hap
Arnold admitiu que o Mustang surgira “sobre a Alemanha no momento azado,
na hora da salvação.” Com o acréscimo de fuselagem e tanques descartáveis de
combustível, o Mustang passou a ter o raio de ação de um B-17 ou B-24, podia
atingir velocidades de 400 mph e altitudes bem acima de 30 mil pés.
As incursões de Regensburg-Schweinfurt do verão anterior tinham
nalmente mudado a cabeça de Arnold sobre a necessidade de caças de grande
autonomia para escoltar os bombardeiros dos EUA. Mais tarde, Arnold
reconheceu que fora “por erro da própria Força Aérea” que o Mustang não
entrara mais cedo em ação. “A saga do P-51,” relata a história o cial de tempo de
guerra da USAAF, “chegou perto de representar o equívoco mais custoso
cometido pela Força Aérea do Exército dos Estados Unidos na Segunda Guerra
Mundial.” Donald Miller, autor da magistral história da 8ª Força Aérea, foi ainda
mais incisivo, classi cando a insistente resistência da USAAF ao Mustang como
“um dos erros mais [288] espantosos na história do poder aéreo americano.”
Entretanto, cinco meses cruciais iriam decorrer entre a admissão de Arnold
quanto à necessidade de Mustangs e sua chegada em grandes quantidades à
Inglaterra. No meio-tempo, não arrefeceu a quantidade de raids de longa
penetração da 8ª em território alemão, tampouco suas catastró cas baixas. Por
exemplo, uma segunda incursão contra Schweinfurt teve lugar em outubro, com
a perda de 77 bombardeiros, 17 deles em aterragens de emergência no retorno à
Inglaterra. Dos 229 aviões participantes da missão, apenas 33 aterraram sem
danos. Com a invasão da França a poucos meses de ser deslanchada, o general
Frederick Anderson, amante de ocasião de Pamela Churchill e novo e severo
chefe do esforço de bombardeios dos EUA, disse a Arnold que a 8ª continuaria
atacando “independentemente do custo.” Quando um auxiliar protestou contra o
envio de B-24s para uma missão, argumentando que eles não podiam voar tão
alto quanto os B-17s e que “por Deus, [as tripulações] vão morrer neles,”
Anderson olhou duro para o auxiliar e retrucou: “E daí?”
 
O primeiro embarque em larga escala de Mustangs para a
Inglaterra coincidiu com a assunção do comando da 8ª pelo general James
Doolittle, líder da famosa incursão aérea americana contra Tóquio ocorrida em
abril de 1942. Para Doolittle, as armas principais para a luta pela conquista da
supremacia aérea não eram os bombardeiros pesados, que haviam fracassado na
tentativa de interromper a produção aeronáutica germânica, e sim os caças dos
aliados. Em vez de voarem próximos aos bombardeiros a m de protegê-los, os
caças receberam ordens para passar à ofensiva, interceptando os caças alemães
antes que eles alcançassem os bombardeiros, para depois atacarem alvos
terrestres a caminho de casa. Cada tipo de caça teria missão especí ca: os
Spit res defenderiam os bombardeiros da Inglaterra até o litoral do continente e
na volta; os P-47 Thunderbolts e P-38 Lightinings os escoltariam até a fronteira
com a Alemanha; e os novos caças de grande altitude — os P-51 Mustangs — os
levariam até os alvos que, por volta de março, estavam tão longe quanto Munique
e Berlim, e os trariam de volta.
De fevereiro até pouco antes do Dia-D, os bombardeiros iriam ser
essencialmente empregados como iscas, a m de atrair os caças inimigos para o
combate em que os Mustangs pudessem destruí-los. Na série que se seguiu de
selvagens batalhas aéreas, as perdas de aviões e tripulações atingiram patamares
recordes. Em 1942, planejadores da Força Aérea em Washington haviam
previsto a perda de não mais do que 300 bombardeiros pesados durante todo o
curso da guerra. Só numa semana do começo de 1944, 226 bombardeiros e mais
de dois mil tripulantes foram abatidos sobre o Reich. Nos cinco meses que
antecederam o Dia-D, mais de 2.600 bombardeiros (e 980 caças) foram
derrubados, e mais de 10 mil tripulantes, mortos.
O moral das tripulações de bombardeiros, já bem baixo, despencou de vez. O
número de colapsos nervosos disparou, assim como os casos de ingestão de álcool
e drogas. Quando, certa noite, um alienado e jovem piloto provocou distúrbio no
bar de um luxuoso hotel de Londres, um o cial do Estado-Maior da Força Aérea
ordenou que ele deixasse o local. “Coronel [289],” bradou o rapaz, “ontem ao
meio-dia eu estava sobre Berlim. Em que diabo de lugar estava o senhor?” Outro
o cial asseverou: “O álcool era a única coisa que tornava nossa vida suportável.”
Por violenta e onerosa que fosse, a estratégia de Doolittle produziu os
resultados que ele esperava. Só em março de 1944, aviões dos aliados —
particularmente os Mustangs — abateram mais do dobro das aeronaves inimigas
destruídas nos anos de 1942 e 1943, somados. Durante uma incursão contra
Berlim naquele mês, as tripulações dos B-17s caram atônitas porque nenhum
caça inimigo decolou para enfrentá-los. Os germânicos ainda possuíam bom
número de caças — fabricados em quantidades recordes — mas não tinham
condições de substituir os pilotos experientes feridos ou mortos desde o advento
do Mustang. “A guerra de desgaste havia atingido a fase mortal,” observou um
historiador alemão, “quando nem a bravura tampouco a habilidade tinham mais
valor.” Perguntado por um interrogador americano, depois da guerra, quando
percebeu que a Alemanha perderia o con ito armado, Göring, o chefe da
Luftwa e, respondeu: “A primeira vez que seus bombardeiros chegaram a
Hanover escoltados por caças, comecei a car preocupado. Quando chegaram
com a proteção de caças sobre Berlim, entendi que a sorte estava selada.”
Nas semanas que antecederam o Dia-D, os bombardeiros aliados, sem serem
perturbados por caças inimigos, destroçaram as redes ferroviárias da França e do
norte da Bélgica, bloqueando as principais rotas de suprimentos e reforços da
Wehrmacht. Depois de sua captura em 1945, o marechal de campo Wilhelm
Keitel, chefe do alto-comando alemão, disse aos o ciais aliados que os
desembarques na Normandia só foram bem-sucedidos por causa “de nossa
incapacidade [290] de carrear reforços no momento oportuno. (...) Ninguém
jamais poderá provar para mim que não poderíamos ter repelido a invasão caso a
superioridade da força aérea inimiga em bombardeiros e caças não tivesse
impedido que lançássemos mais divisões no combate.”
Na véspera da invasão da Europa, o general Eisenhower garantiu às suas
tropas: “Se vocês virem alguma aeronave voando sobre suas cabeças, tenham a
certeza de que ela é nossa.” Graças em grande parte a um ex-astro do polo e ao
avião que ele defendeu, Eisenhower estava absolutamente certo.
 
Houve pouca dúvida na cabeça de muita gente envolvida no
esforço Mustang de que, se não fosse por Tommy Hitchcock, a Força Aérea do
Exército dos Estados Unidos jamais teria adotado a aeronave que, no nal das
contas, tornou-se o melhor e mais famoso caça americano na guerra. “Tommy
Hitchcock foi em grande parte responsável pelo P-51B, por forçar o andamento
do projeto até sua consecução,” observou Robert Lovett. “A única pessoa que
poderia ter feito isso era alguém que tivesse tanto as habilitações de um piloto
quanto os atributos de liderança para juntar um grupo diversi cado de pessoas e
fazer com que elas avançassem na mesma direção.” Pouco depois do Dia-D, Tex
McCrary escreveu que “a tenacidade, a sinceridade e a absoluta obstinação de
Hitchcock zeram com que o avião ultrapassasse todas as camadas de críticos e
se tornasse o caça que é hoje.”
Mas Hitchcock não tinha a intenção de repousar sobre os louros conseguidos.
Depois de servir como ponta de lança para acelerar a produção de P-51s nos
Estados Unidos, retornou a Londres na primavera de 1943 com pouco
entusiasmo para reassumir suas atribuições de assistente de adido militar numa
embaixada. “A vida em Londres,” escreveu à esposa Margaret, “é muito fácil para
que uma pessoa se sinta realmente engajada na guerra.” Ao trabalhar no
Mustang, Hitchcock fora de novo picado pelo inseto do combate: seu sonho
agora era voar o avião pelo qual havia tanto se esforçado. “Combater num
Mustang,” disse a amigos, “deve ser como jogar polo — só que com pistolas.”
Logo após voltar a Londres, Hitchcock tirou licença para frequentar a escola
central de artilharia da RAF, onde, na companhia de jovens ingleses que eram
pelo menos vinte anos mais moços, aprendeu a voar e a combater num Spit re. A
maioria de seus amigos e conhecidos considerava sua ambição de voar um
Mustang em combate, talvez como líder de seu próprio esquadrão, uma rematada
fantasia. No início de 1943, porém, ele foi transferido para uma base aérea em
Abilene, no Texas, para assumir o comando do 408º Esquadrão de Caças, então
em instrução para o combate na Europa. Ninguém soube como ele conseguiu
isso, e o taciturno Hitchcock também jamais explicou.
Não importa como tivesse acontecido, a nomeação deu-lhe mais satisfação
pessoal do que qualquer coisa que tivesse antes feito desde os dias de piloto da
Lafayette Escadrille na Grande Guerra. “A quantidade de trabalho [291] que
tem de ser feito é assustadora,” escreveu para a esposa. (...) “No período de
noventa dias, o esquadrão tem de estar pronto para a luta de sua vida. (...) Creio
que não sei todas as respostas, em absoluto. [Mas] consegui o que queria e cabe a
mim fazer o melhor que posso.”
Então, quase tão subitamente quanto tinha se materializado, o sonho
desmoronou. A unidade de Hitchcock foi desativada no início de fevereiro de
1944, e seus trinta e seis pilotos foram enviados para o ultramar como
recompletamentos de pessoal perdido em combate ou com tempo de serviço
completado. O próprio Hitchcock foi designado vice-chefe do Estado-Maior do
9º Comando Aerotático na Inglaterra, cujos caças deveriam proporcionar apoio
tático aproximado às forças terrestres da iminente invasão. Mais uma vez, não
houve explicação o cial para tal decisão.
Arrasado com sua mudança de atribuições, Hitchcock passou alguns dias em
Nova York com a esposa e os quatro lhos antes de voltar à Inglaterra. No último
dia em casa, sua lha de nove anos, Peggy, despediu-se dele e então, quando já se
encontrava a caminho da escola, voltou para se despedir uma vez mais. “De
repente, tive a terrível premonição de que talvez não pudesse vê-lo de novo,”
disse ela depois. “Lembro-me de ter corrido de volta para dar uma última olhada
em meu pai, ainda sentado à mesa de refeições com minha mãe, e pensando
comigo: tenho que xar sua imagem em minha mente para que jamais a
esqueça.”
Uma vez na Inglaterra, Hitchcock engoliu o ressentimento e mergulhou em
suas novas obrigações como chefe da divisão de Pesquisa e Desenvolvimento do
9º. Além disso, ele passava considerável tempo com os pilotos, muitos dos quais
recém-chegados dos Estados Unidos. “Tommy Hitchcock tinha uma in uência
tremendamente dinâmica e magnética sobre aqueles jovens, e não era por suas
qualidades atléticas ou reputação,” disse o tenente-general Elwood “Pete”
Quesada, comandante do 9º. “A maioria dos rapazes dos nossos esquadrões de
caças não sabia coisa alguma sobre polo e não dava a mínima para o esporte. A
admiração por Tommy era mais profunda. (...) Os moços logo perceberam sua
rmeza de caráter, profundidade de conhecimento e a simplicidade e a simpatia
que uem da experiência. Tommy sabia como conversar com eles.”
Hitchcock cou bastante grati cado com o magistral desempenho do
Mustang, que estava rapidamente se transformando no “burro de carga” da
guerra. Ficou particularmente satisfeito quando seu sobrinho, agora comandante
de esquadrão, reportou para ele que seus pilotos haviam abatido 160 aviões
inimigos no primeiro mês de voo no Mustang, comparados com os 120
derrubados nos onze meses anteriores. O esquadrão de Averell Clark, escreveu
Hitchcock à esposa, “está se saindo [292] muito bem desde que passou a voar os
Mustangs. Ele tem agora as melhores estatísticas de todos os esquadrões na
Inglaterra (...) fazendo profundas penetrações na Alemanha e perseguindo aviões
alemães até ao redor do topo das árvores.”
Contudo, nos primeiros poucos meses de 1944 surgiu crescente preocupação
com os Mustangs: diversos deles tinham recentemente se espatifado contra o solo
sem qualquer motivo aparente. Eles estavam, de acordo com Quesada,
“simplesmente mergulhando para o chão. Não entendíamos o que se passava;
nem Tommy. Obviamente, não podíamos sustentar uma força que caminhava
para o autoaniquilamento.” Como chefe da pesquisa e desenvolvimento,
Hitchcock era responsável por descobrir o que estava errado. Ele e seus
assessores técnicos acreditavam que a adição de um novo tanque de combustível
na fuselagem havia desestabilizado a aeronave quando mergulhava em combate.
Se fosse o caso, os pilotos deveriam ser instruídos a consumir o máximo de
combustível dos novos tanques antes de se engajarem com o inimigo.
Embora Hitchcock tivesse pilotos de teste em seu comando, cuja tarefa era
checar tal hipótese no ar, ele insistiu em fazê-lo. Numa clara manhã de abril,
Hitchcock dirigiu seu carro até as instalações de P&D no campo de pouso
próximo a Salisbury, a sudoeste de Londres, e subiu num Mustang de teste com o
tanque de combustível localizado na fuselagem atrás de seu assento. Rumando
para um campo de provas das vizinhanças, ele colocou o avião em posição de
mergulho da altitude de 15 mil pés. Subitamente, sem qualquer alerta, o
Mustang disparou na descida, cada vez mais rápido, até que se espatifou contra o
solo, lançando uma nuvem de fumaça negra e oleosa no ar. O corpo de Hitchcock
foi encontrado perto da aeronave destroçada.
Numa reportagem de primeira página sobre a morte de Hitchcock, o New
York Times escreveu que o acidente “colocou ponto nal [293] numa das mais
nobres e mais espetaculares carreiras na moderna vida americana.” Gil Winant,
que noti cou a família de Hitchcock sobre sua morte, escreveu uma longa carta à
viúva onze dias mais tarde. Da mesma maneira que havia feito no polo,
Hitchcock “passou cada minuto de sua vida [na guerra] tentado ganhar,” disse o
embaixador a Margaret Hitchcock. O Mustang, acrescentou Winant, “é
evidência palpável da contribuição de Tommy para a vitória. Sem ele, não
estaríamos hoje vencendo a batalha aérea contra a Alemanha.
16

“Cruzar o Oceano Não Faz


de Ninguém um Herói”
 
A velha Inglaterra [294] não é mais a mesma, A temida invasão já começou.
Mas não, não é o cruel huno,
É o maldito exército ianque que chegou.
 
[Dear old England's not the same, The dread invasion, well it came.
But no, no, it's not the beastly Hun.
The god-damn Yankee army's come.]
 
No início de 1944, C.D. Jackson , que recém-chegara a Londres para
ser chefe da seção de Guerra Psicológica de Eisenhower, escreveu a um amigo
sobre a extraordinária multidão de americanos na capital inglesa. “Não existe um
só centímetro quadrado em Londres no qual não esteja de pé um americano,”
declarou Jackson, “e some-se a isso o fato de que, se ele estiver de pé após
escurecer, provavelmente cambaleia.” A observação de Jackson pode parecer
exagerada, porém, em certas partes da cidade, não era tanto.
No verão anterior, Roosevelt e seus chefes militares haviam nalmente
prevalecido sobre os ingleses e xado uma data de nitiva — 1º de maio de 1944
— para a invasão da Europa. Em consequência, as ilhas britânicas se
transformaram não apenas no local para os preparativos do Dia-D, e sim, como
Eisenhower a rmou, “na maior base de operações militares de todos os tempos.”
No m de maio de 1943, as tropas dos EUA estacionadas no país chegavam
perto de 133 mil. Seis meses depois, eram meio milhão, e seis meses mais tarde,
ultrapassaram 1,65 milhão. A invasão americana foi, segundo um historiador
inglês, o maior in uxo de estrangeiros na Inglaterra desde a chegada dos
normandos, nove séculos antes. “Foi como se o Atlântico deixasse de existir,”
escreveu um londrino, “e o vasto continente americano estivesse ali no m da
estrada.”
O dilema inicial enfrentado pelos funcionários ingleses e americanos foi
como acomodar todo esse efetivo numa ilha do tamanho da Georgia, mas que já
contava um número de residentes vinte vezes maior do que o daquele estado. A
East Anglia, sonolenta área rural no leste da Inglaterra, foi a primeira a
experimentar o choque. Com seu relevo em sua maior parte pouco acidentado e
sua proximidade do continente, ela se tornou o local preferido para a instalação
do império avassalador da 8ª Força Aérea, o qual, pelo verão de 1943, já contava
com sessenta e seis bases aéreas e um efetivo de 200 mil homens. Por ocasião do
Dia-D, as bases aéreas dos EUA na região, algumas cobrindo uma área de
duzentos hectares e abrigando cerca de três mil militares, estavam separadas por
uma distância média de apenas quinze quilômetros.
Como muitas partes da Inglaterra, a East Anglia jamais cara tão exposta a
estrangeiros. De repente, a tranquilidade dos vilarejos foi sacudida por centenas
de jovens soldados americanos abarrotando as pequenas lojas, dirigindo
perigosamente pelas ruas estreitas em jipes e caminhões, mexendo com as moças
e acabando com os estoques dos pubs locais. Para os residentes da área, a invasão
americana foi uma experiência tumultuada, por vezes traumática — experiência
da qual logo logo muitos outros ingleses iriam partilhar.
A história foi um pouco diferente na capital inglesa. Como centro do Império
Britânico, Londres já tinha testemunhado uma presença de estrangeiros maior do
que a necessária ao longo dos séculos; agora, como capital de facto da Europa,
abrigava dezenas de milhares de exilados do Continente. Porém, até mesmo os
londrinos se assustaram com a inundação de americanos que uiu para sua
cidade durante os dois últimos anos da guerra.
Por volta de 1944, os militares dos EUA ocupavam milhares de prédios na
área de Londres, desde grandes casas de campo nas cercanias da capital até
blocos de apartamentos e de escritórios nos bairros centrais. Desses, cerca de
trezentos edifícios foram usados para alojar tropas americanas em Londres,
inclusive vinte e quatro hotéis adaptados para hospedar o ciais. O salão de baile
do moderno Grosvenor House Hotel, que ocupava dois andares, foi
transformado no maior refeitório militar do mundo, servindo refeições para as
diversas equipes dos quartéis-generais americanos. Conhecido como “Willow
Run,” devido à semelhança com a linha de montagem da companhia Ford em
Detroit, que tinha uma milha de comprimento, o refeitório como mil lugares
servia mais de seis mil refeições por dia.
O hotel cava a apenas alguns quarteirões da Grosvenor Square, a qual, em
conjunto com os prédios das vizinhanças, continuou sendo o centro da atividade
americana de guerra na Inglaterra. Segundo um escritor inglês, a área havia sido
“tomada — de porteira [296] fechada — pelos Estados Unidos.” Era raro
encontrar-se uma casa ou um escritório perto da praça não ocupado por agências
militares ou civis dos EUA. Em algumas ruas, como observou o colunista Ernie
Pyle, “um inglês causaria tanta espécie quanto se estivesse em North Platte,
Nebraska.” Vendo, certo dia, um uxo aparentemente incessante de americanos
entrando e saindo de edifícios de escritórios no oeste de Londres, Pyle concluiu
que a burocracia militar estava tão inchada em Londres quanto em Washington,
talvez até mais.
Pyle, natural de Indiana, que escrevia para a cadeia de jornais Scripps
Howard, cou intrigado com o hábito militar americano de bater continência
para, virtualmente, qualquer coisa que se mexesse. “Todos cumprimentavam
todos,” escreveu Pyle. “Segundos-tenentes saudavam outros segundos-tenentes.
Braços subiam e desciam aos borbotões, como se todos estivessem loucos. (...)
Numa rua estreita, muito frequentada pelos americanos, tiveram que ser
estabelecidas mão e contramão nas calçadas, provavelmente para evitar
contusões com as continências.” Cumprindo ordens dos superiores para que
“demonstrassem o devido respeito” por seus correspondentes britânicos e de
outras nacionalidades, os militares dos EUA, nas palavras de um sargento,
simplesmente batiam continência “para quem estivesse uniformizado, inclusive,
suspeito, os porteiros de hotéis.”
Da mesma forma que Grosvenor Square era o epicentro das forças dos EUA
no desempenho de suas funções em Londres, Piccadilly Circus era o local
predileto para os que estivessem de folga. Desde o início da manhã até bem tarde
da noite, milhares de militares dos Estados Unidos de licença se juntavam a
outros soldados aliados naquele “fervilhante e ruidoso formigueiro,” como o
denominava o sargento Robert Arbib, alguns procurando restaurantes e cinemas,
mas a maioria buscando bebida e garotas.
Um dos locais de intercessão mais intensa do tráfego de Londres, Piccadilly
Circus sempre serviu de coração metafórico do Império Britânico desde sua
construção no século XIX. Ali, funcionários que serviam nas colônias e
negociantes recém-chegados da Índia ou da África se encontravam com
companheiros para jantar, drinques ou uma noite de diversão após anos longe de
casa. Cercada de restaurantes, pubs, teatros de musicais e cinemas, Piccadilly
Circus era a Times Square de Londres; antes da guerra, letreiros luminosos
gigantescos banhavam a área com luz ofuscante. A iluminação foi extinta em
1939, mas mesmo em blackout a praça permaneceu sendo o local mais agitado e
apinhado de gente de toda a capital, ajudando a fazer da cidade, nas palavras de
Donald Miller, “um dos lugares mais [297] sensacionais do planeta.” Depois de
experimentar as delícias noturnas da área, um coronel americano escreveu para
casa: “A convivência fraterna na Londres do tempo de guerra é inimaginável, a
menos que se tenha desfrutado dela. Vi pessoas que tinham se conhecido havia
apenas cinco minutos tornarem-se companheiros íntimos. Ligações românticas se
estabeleciam com espantosa rapidez.” As ruas nas cercanias da praça, observou
Miller, “viviam inacreditavelmente abarrotadas de gente. (...) Quem estivesse por
ali estava à procura de comida, amigos, bebida e sexo.”
 
Na carta em que ressalta a horda de americanos tocados pela
bebida na capital inglesa, C.D. Jackson concluiu com o comentário: “Creio que
muitas complicações estão sendo fermentadas.” [Jackson, é claro, concorreu para
tais complicações tendo um caso de amor com Beatrice Eden.] Gil Winant,
perfeitamente consciente de que a invasão de militares americanos estava
tornando a vida dos britânicos consideravelmente mais difícil, concordava com o
comentário. Segundo Theodore Achilles, o embaixador se preocupava com a
“reação dos GIs em relação ao povo inglês e com a reação dos soldados ingleses
em relação aos pracinhas, que haviam chegado à Grã-Bretanha com mais
dinheiro e uniformes mais vistosos.” Dias após os Estados Unidos entrarem na
guerra, Winant começou a agir como intermediário entre as autoridades militares
dos EUA e os altos funcionários ingleses para tentar tornar a invasão americana a
mais pací ca possível.
Quando Eisenhower chegou a Londres em junho de 1942, de imediato
tornou-se parceiro engajado no esforço de Winant. A exemplo do embaixador, o
general se inquietava com as tensões psicológicas e materiais colocadas para a
sociedade inglesa com o imenso in uxo de seus concidadãos. “Todo soldado
americano que chegasse à Inglaterra por certo se consideraria um privilegiado
cruzado, para lá mandado a m de tirar o país de um buraco. E esperaria ser
tratado como tal,” escreveu mais tarde Eisenhower. “Por outro lado, o povo inglês
tinha-se em conta como um dos salvadores da democracia, em especial porque,
durante um ano inteiro, lutara sozinho como imbatível oponente do nazismo.”
Como sempre, para Winant — e também para Eisenhower — e educação era
a chave para a criação do entendimento mútuo. Os dois líderes trabalharam com
a nco no lançamento de um programa anglo-americano para ilustrar os GIs
sobre a Inglaterra, antes que eles lá chegassem. Um lme coproduzido pelo
Ministério Inglês da Informação e pela Agência Americana de Informação de
Guerra, com Burgess Meredith no papel de um soldado dos EUA, demonstrava
quão diferentes eram os dois países, a despeito da língua comum, e dava dicas aos
militares americanos sobre como evitar ofender os ingleses. Os que estavam a
caminho da Grã-Bretanha receberam também um livreto de bolso, escrito pelo
romancista Eric Knight, nascido na Inglaterra, mas que se tornara cidadão
americano. “Os ingleses o receberão [298] como amigo e aliado,” escreveu
Knight. “Mas lembre-se de que cruzar o oceano não faz de ninguém um herói,
automaticamente. (...) Você estará chegando à Inglaterra vindo de um país em que
seu lar está ainda seguro, ainda há fartura de alimentos e as luzes ainda
continuam acesas. Portanto, pare e pense antes de começar a reclamar da cerveja
morna, das batatas cozidas frias e do gosto do cigarro inglês. (...) Não faça piadas
sobre o modo de falar e o sotaque dos ingleses. Sem dúvida, o seu modo de falar
soará muito engraçado para eles, mas eles serão su cientemente educados para
não demonstrar isso.”
Tendo construído, de acordo com Anthony Eden, “uma extraordinária
relação pessoal com o povo da Grã-Bretanha,” Winant procurou então tirar
proveito de tal relação no seu esforço paralelo a m de preparar o povo inglês
para a chegada das tropas americanas. Sua campanha incluiu participações
numa série de programas da BBC intitulada Let's Get Acquainted (Vamos nos
conhecer).
Durante o restante da guerra, a maior parte do tempo e do esforço de Winant
foi gasto tentando resolver problemas relacionados a incursões dos americanos e
fomentar uma boa relação entre os militares dos EUA e seus hospedeiros
ingleses. Embora trabalhasse em cerrado contato com Eisenhower, o general
permaneceu muito tempo fora da Inglaterra ao longo da guerra — no norte da
África de novembro de 1942 a janeiro de 1944 e na França depois de junho de
1944. Quando Eisenhower estava em Londres, sua atenção cava
necessariamente focada nas campanhas militares vindouras; em decorrência, o
general deixava a maioria dos detalhes das relações anglo-americanas a cargo do
embaixador e seus subordinados. “Nenhum outro poderia ter sido tão e ciente
quanto você ao ajudar-me a resolver muitos problemas importantes que, sem sua
assistência, poderiam ter desaguado nas mais sérias enrascadas,” escreveu
Eisenhower a Winant pouco antes de seguir para o norte da África no m de
1942. “Quero que saiba que qualquer sucesso que possa resultar de nossos atuais
esforços militares se deve, em não pequena medida, a você.”
Quando os militares americanos se metiam em confusões, Winant foi em
grande parte responsável por garantir que eles fossem julgados por suas próprias
autoridades, e não por tribunais ingleses. Logo depois de o primeiro GI chegar à
Inglaterra, ele leu num jornal que um soldado americano, julgado culpado por
roubar um motorista de táxi ameaçando-o com uma arma, fora sentenciado a
receber chibatadas bem como a car preso por seis meses. Winant conseguiu
convencer o ministro do Interior, Herbert Morrison, a cancelar as chibatadas.
Juntou então forças com Eisenhower e Eden para pressionar a aprovação de
legislação que desse às autoridades militares dos EUA a devida jurisdição sobre
transgressões cometidas na Inglaterra por militares americanos. Não
surpreendeu que a matéria desse azo a muitas opiniões controvertidas, porém,
graças em grande parte ao bom relacionamento de Winant com o Foreign O ce
e com muitos parlamentares, a lei, que não se aplicava a nenhuma outra
nacionalidade, foi aprovada no Parlamento com pequena oposição.
 
Os problemas relacionados com a , que Winant e os
tropa

militares dos EUA tiveram que enfrentar, foram muitos e variados, indo de uma
epidemia de acidentes de trânsito pelo fato de os americanos dirigirem
normalmente na contramão, à destruição de grandes extensões do interior inglês
para a construção de pistas de pouso e campos de instrução americanos. Na East
Anglia, equipes de trabalho dos Estados Unidos puseram abaixo cercas vivas,
árvores e cabanas com teto de palha com séculos de existência, e acabaram com
centenas de milhares de acres de excelente terra agricultável para construir seu
mosaico de bases aéreas. Ao ver, em determinado dia, um fazendeiro enxotar um
agrimensor militar americano de sua plantação de beterrabas, Robert Arbib,
engenheiro do Exército, sentiu uma pontada de tristeza e perda. Formado por
Yale e ambientalista amador, Arbib bem sabia que, independentemente de
quanto o fazendeiro lutasse, seu “legado e obra-prima” em breve estaria soterrado
sob uma camada de vinte e cinco centímetros de concreto. “A guerra [299],”
escreveu Arbib mais tarde, “arruinou o monumento daquele homem — o
monumento de sua família — da mesma forma que, decerto, arruinou
monumentos de arquitetos e artesãos da cantaria quando explodiram belas
igrejas de Londres.” Mas Arbib, que anos depois da guerra se tornaria diretor da
National Audubon Society, reconheceu que a maioria de seus colegas
engenheiros de construção não compartilhava seu sentimento de conservação da
natureza: eles “viam tudo aquilo como tarefa a ser cumprida, e o faziam sem o
menor remorso.”
Em Devon, no litoral sudoeste da Inglaterra, houve temor semelhante
quando o governo britânico, no m de 1943, ordenou a evacuação de diversos
vilarejos e cidades da costa, em conjunto com cerca de quinhentas granjas, a m
de que as forças americanas pudessem usar a região para treinamentos de
operações anfíbias visando o Dia-D. Como observou um escritor, “as
indenizações foram [300] mínimas, as reclamações, infrutíferas.” Sem os
exercícios, argumentaram os militares dos EUA, a invasão da França fracassaria;
líderes militares pressionaram Churchill e o Gabinete para que autorizassem as
evacuações. Quando o plano foi anunciado, o Cônsul americano em Plymouth
reportou consideráveis críticas aos “métodos autocráticos e não democráticos”
usados para retirar cerca de 2.700 pessoas de seus lares e de seus meios de
sustento por um prazo inde nido.
Ao deixarem seus locais de culto religioso, vigários anglicanos da área
xaram um alerta de seus bispos nas portas da frente de suas igrejas evacuadas.
Endereçado a “nossos aliados dos Estados Unidos,” parte do alerta dizia: “Esta
igreja está aqui de pé por algumas centenas de anos. Em torno dela, cresceu uma
comunidade que tem vivido nessas residências e cultivado essas terras desde que
a igreja existe. Esta igreja e o cemitério em seu entorno no qual repousam seus
entes queridos; essas casas e esses campos são tão caros aos que foram evacuados
quanto as casas e os túmulos que vocês, nossos aliados, deixaram em seu país. Por
conseguinte, eles esperam retornar um dia, como vocês esperam voltar aos seus, e
encontrá-los à espera para lhes dar boas-vindas.”
Obviamente, essas evacuações e destruições de propriedades britânicas nada
concorreram para aproximar os americanos dos ingleses, tampouco ajudaram as
tentativas de Winant e Eisenhower para promover um maior entendimento
mútuo. Para complicar ainda mais essa tarefa, havia uma falta de interesse por
parte dos GIs em conhecer melhor seus an triões ingleses. Antes de embarcar
para a Inglaterra uma considerável quantidade de militares americanos jamais
saíra de seus estados natais, muito menos do país. Muitos eram originários de
famílias de imigrantes alemães e irlandeses tradicionalmente hostis aos ingleses.
Em sua maior parte, os GIs só queriam o m da guerra e uma rápida viagem de
volta para casa. “Eles não desejaram vir, de modo que seus corações — não é
mesmo? — não estavam conosco na hora da necessidade,” a rmou uma mulher
inglesa que trabalhava no clube da Cruz Vermelha Americana. Sublinhando a
diferença de raciocínio entre os dois países, Harold Nicolson observou que “para
nós [301], a cooperação anglo-americana signi cava segurança, [mas] para eles
indicava perigo.”
Para agravar o problema, a maioria dos ingleses só se encontrava com os
americanos quando os GIs estavam de licença. Com o intuito de aliviarem as
condições rigorosas da vida no Exército e a monotonia dos in ndáveis exercícios,
os soldados invadiam pubs, falavam alto, se embebedavam, conquistavam moças
e, nas palavras da antropologista Margaret Mead, agiam “como se fossem donos
do mundo.” Maurice Gorham, executivo da BBC, a rmou, “Nunca vimos um
soldado americano fazendo qualquer coisa.” Quando Gorham viajou para a
França depois do Dia-D e viu “como os americanos se comportavam quando em
missão, minha vontade foi de levar um punhado deles de volta a Londres e dizer
para as pessoas em Piccadilly: 'Vejam, estes são americanos também.'”
Gorham acreditava, tal qual Winant e Eisenhower, que os pracinhas na Grã-
Bretanha viviam muito isolados dos ingleses. Seus acampamentos e bases eram
oásis americanos, com jornais, programas de rádio e lmes próprios — e pouca
comunicação com o mundo lá fora ou interesse por ele. Tal mentalidade era
fomentada por alguns comandantes americanos que raciocinavam da seguinte
forma: “Esses homens são combatentes. Estão sendo condicionados para a luta
armada. Não têm que saber se estão na Inglaterra ou na Nova Inglaterra; isso não
faz diferença para eles.” Como resultado de sua exposição a esse “ambiente
escrupulosamente americano,” disse Gorham, os GIs “não tinham nada em
comum” com os ingleses. “Não comeram a mesma comida, não leram as mesmas
notícias, nem escutaram os mesmos programas de rádio. Não houve
denominador comum.”
Para substancial número de soldados americanos, repletos de energia
esfuziante e reprimida, a Inglaterra não passava de um país pequeno, atrasado e
batido, em condições primitivas de sobrevivência, com cidadãos inamistosos,
cerveja fraca e morna, e uma abordagem passiva e indolente para a vida. “A
reação comum de muitos americanos em relação ao povo inglês era: 'Se eles
pudessem esquecer esse diabo de chá com bolinhos na parte da tarde,
despertassem e se pusessem em movimento, nós não teríamos que travar esta
guerra por eles,'” lembrou um GI.
Alguns militares americanos não eram tão contidos ao vocalizarem suas
opiniões desfavoráveis a respeito do país e seus habitantes. Certo dia, dois
policiais militares americanos de serviço no lado externo do Quartel-General do
Exército, em Londres, foram abordados por uma jovem e bonita moça trajando o
uniforme do Serviço Auxiliar Territorial (ATS), ramo feminino do Exército
inglês. Depois de conversarem um pouco, ela perguntou-lhes se gostavam da
Inglaterra. “Eu acho o país legal [302],” respondeu polidamente um dos MPs,
mas o outro explodiu, “Olhe aqui madame, eles deveriam cortar as cordas de
todos esses balões [de barragem] e deixar este lugar f.d.p. afundar.” Encarando os
PMs com um “olhar incisivo de reprovação” a jovem moça fez meia-volta e se
retirou. Um guarda civil aproximou-se rapidamente. “Vocês sabem quem é ela?”
perguntou. “É a princesa Elizabeth. Ela está no Exército.” Anos mais tarde, o MP
que havia respondido delicadamente declarou: “Fiquei tão encabulado que não
soube o que dizer. Nunca mais esquecerei aquele olhar longo e duro” dirigido a
ele e ao seu boquirroto compatriota pela futura rainha da Inglaterra.
 
Ao passo que a princesa Elizabeth jamais tornou pública qualquer
desaprovação que pudesse ter sentido em relação aos americanos, muitos de seus
concidadãos foram consideravelmente mais francos. Para os ingleses, que haviam
perdido tanta coisa durante a guerra, seus insolentes e mordazes aliados dos EUA
pareciam crianças ricas, mimadas, arrogantes e prepotentes. Os soldados
americanos, sentiam os britânicos, não tinham respeito nem admiração por sua
história e instituições, e, como realçou Eisenhower, nenhuma noção dos
sacrifícios que o país havia feito para barrar Hitler e salvar a democracia.
O fosso entre as duas nacionalidades foi deliciosamente ilustrado num
encontro de tempo de guerra entre Harold Nicolson e um grupo de GIs em visita
ao Parlamento. Espirituoso e gregário habitué do White's e de outros clubes
londrinos, Nicolson era — além de parlamentar, romancista, biógrafo e ex-
diplomata — marido da escritora e frequentadora do Grupo Bloomsbury, Vita
Sackville-West. Formado pelo Balliol College de Oxford, ele sempre se
considerou superior aos demais, mas especialmente aos americanos. Não causou
admiração, portanto, sua reação desanimada quando lhe foi solicitado que
servisse de guia para um grupo de soldados americanos em visita ao Parlamento.
“Desengonçados, chegaram eles,” escreveu Nicolson naquela noite para seus
dois lhos, “mastigando chicletes, conscientes de sua inferioridade em
treinamento, equipamento, criação, cultura, experiência e história, e totalmente
determinados a não se mostrarem de modo algum interessados ou
impressionados.” Na Câmara dos Lordes, Nicolson e seus americanos entediados
se encontraram com outro grupo de soldados dos EUA guiados por nada menos
do que Sir John Simon, Lord Chancellor e ex-ministro do Exterior, que fora um
dos mais ardorosos defensores da política do apaziguamento dos anos 1930. O
pomposo e orgulhoso Simon passou a ilustrar os dois grupos — “cinquenta rostos
insossos, com as maxilas trabalhando freneticamente os chicletes” — sobre os
procedimentos da Câmara dos Comuns e da Câmara dos Lordes. “Agora,” disse
Simon, “venham ao meu gabinete rapazes — ou devo chamá-los 'doughboys'? —
que vou mostrar-lhes o Grande Selo [Seal] .” Nicolson descreveu a cena que se
seguiu: Ao longo dos corredores seguiu se arrastando a procissão apática,
esperando encontrar um grande animal todo molhado como aqueles que viam
com frequência no aquário de São Francisco. Mas nada disso. Só lhes foram
mostrados dois cilindros de aço com padrões gravados. E então o homem pegou
um bastão metálico pesado (the mace) para que os soldados vissem. “Tenho agora
que pedir licença a vocês, meus amigos, porque até um Lord Chancellor, por
vezes, precisa trabalhar. Harold, poderia você conduzir nossos amigos até a
saída?” Harold o fez. Caminhando lentamente, passamos pelo Saguão Principal.
Para minha surpresa e agrado, um dos “doughboys” parou de repente de mascar,
colou sua pequena bola de chiclete na bochecha com um ágil movimento de
língua, e resmungou: “Diga prá nós, moço, quem era aquele cara?
 
Convictos de que um contato pessoal mais aprofundado poderia
amenizar o poder dos estereótipos e aumentar a aproximação entre os soldados e
os ingleses, Winant e Eisenhower, apoiados por Anthony Eden e pelo Foreign
O ce, promoveram com grande intensidade um programa encorajando os GIs a
visitarem lares ingleses. Eisenhower achava, escreveu Harry Butcher, que “se um
soldado americano [303] tivesse a oportunidade de passar, digamos, um m de
semana na casa de família inglesa (...) poderia surgir um grau muito maior de
amizade e companheirismo do que se permanecessem distantes.” A ideia fora
sugerida pelo Serviço Voluntário Feminino (WVS) de Lady Reading, cujos
membros haviam proporcionado os únicos atos de hospitalidade aos recém-
chegados GIs nos primeiros dias da aliança anglo-americana, recebendo-os nos
portos britânicos com sanduíches e chá. Ao propor as visitas às residências, Lady
Reading disse às mulheres do WVS: “Essa é uma oportunidade maravilhosa de
conhecermos as pessoas com as quais nosso destino está agora de nitivamente
vinculado.” Acolhendo o conselho de Winant que os americanos não deveriam
agravar as di culdades experimentadas pelos ingleses, Eisenhower recomendou
que, quando os soldados visitassem famílias britânicas, deveriam levar com eles
artigos alimentícios difíceis de serem encontrados no país, tais como carne,
gorduras e doces.
A ideia das visitas às casas, no entanto, deparou logo com obstáculos. Muitos
comandantes militares dos EUA se opuseram a ela, preferindo que seus soldados
tivessem o mínimo contato possível com os cidadãos locais. Numa carta aos pais,
Janet Murrow escreveu que diversos amigos ingleses dela, que estavam ansiosos
por receber americanos, foram rechaçados pelas autoridades militares dos EUA e
caram “surpresos, ressentidos [304] e totalmente desnorteados.” Acrescentou:
“Muitas, muitas oportunidades de fazer amizades estão sendo perdidas — e não é
por culpa dos ingleses.”
Porém o oponente mais acirrado de uma interação maior entre os cidadãos
dos dois povos foi a Cruz Vermelha Americana, que o Exército encarregou de
proporcionar bem-estar aos GIs na Inglaterra, quando afastados de suas bases. A
Cruz Vermelha operava dezenas de clubes para as tropas americanas em todo o
país, inclusive o famoso Rainbow Corner, em Piccadilly Circus, que oferecia
diversos bares servindo hambúrgueres e Coca-Colas, banhos quentes, máquinas
de iperama, tocadores automáticos de discos, serviço de engraxates e mesas de
sinuca. Os clubes da Cruz Vermelha tinham a intenção de ser ilhas tipicamente
americanas suprindo os saudosos GIs com uma parafernália de confortos e
amenidades que eles tinham em casa e não podiam ser encontrados em lugar
algum da Inglaterra. Na realidade, se a Cruz Vermelha tivesse cumprido a
missão ao seu jeito, ela e os clubes que geria se isolariam completamente da
Inglaterra e seu povo.
Infelizmente para a organização, os ingleses tinham grande participação nos
clubes: o governo britânico havia pago sua aquisição, renovação e equipamento, e
as mulheres inglesas, a maioria integrantes do WVS, constituíam a maior parte
das equipes que trabalhavam nos clubes. Os administradores da Cruz Vermelha
não tinham muito o que fazer a esse respeito — não havia quantidade su ciente
de mulheres americanas na Inglaterra para atender os clubes — mas insistiram
que os membros do WVS trocassem seus uniformes característicos e usassem o
vestuário da Cruz Vermelha dos Estados Unidos caso quisessem continuar
trabalhando num ambiente projetado para ser totalmente americano. “Os
homens que frequentam as instalações que gerenciamos têm o direito de entrar
em contato só com americanos,” declarou um funcionário da Cruz Vermelha.
Não foi de surpreender que Lady Reading e suas colaboradoras caram
furiosas. A chefe do WVS reclamou diretamente com Eisenhower, que
simpatizou com o pleito, mas não conseguiu modi car a posição da Cruz
Vermelha. “As mulheres inglesas [305] (...) acham com toda a razão que ganharam
o direito de envergar [seus uniformes] através do serviço que prestaram nas
blitzes, e isso é uma verdade,” considerou Harry Butcher no seu diário. “Se a
situação fosse ao contrário, o que fariam as mulheres americanas? Vocês sabem
muito bem.”
A Cruz Vermelha Americana isolava ainda mais os GIs por ela servidos,
impondo uma proibição parcial de ingleses e militares de outras nacionalidades
frequentarem os clubes. (Soldados não americanos podiam entrar apenas se um
GI o convidasse para uma refeição. Mas não lhes era permitido usar qualquer
outra das instalações dos clubes.) Enquanto ainda servia no WAAF, Mary Lee
Settle foi convidada a se retirar do Rainbow Corner durante uma de suas
licenças em Londres. Não fazia diferença se ela era americana, a supervisora da
Cruz Vermelha disse a Settle; usava uniforme inglês, e o Rainbow Corner era um
lugar só para soldados americanos. Settle lançou um olhar raivoso para a mulher.
“Está bem,” disse ela. “E se você, num dia desses, quiser participar da guerra, eu
lhe emprestarei meu uniforme.” Saiu pisando duro e jamais colocou de novo os
pés naquele lugar.
Numa carta que chegou às mãos de George Marshall, Anthony Eden
acusava a Cruz Vermelha Americana de construir barreiras, e não pontes, para a
relação entre os soldados americanos e os cidadãos ingleses, acrescentando que a
organização “desencoraja deliberadamente qualquer iniciativa de camaradagem
britânica.” James Warburg, chefe do departamento de propaganda no estrangeiro
da Agência de Informação de Guerra, concordava. “O maior perigo para as
relações anglo-americanas resultantes da presença de tropas dos EUA na
Inglaterra,” disse Warburg a Eisenhower, “parece ser o [desejo] de algumas de
nossas agências governamentais e privadas (...) erigirem uma pequena América
dentro das Ilhas Britânicas.
Roosevelt e Marshall, todavia, não se arrependeram de suprirem os GIs,
numa Inglaterra cheia de problemas, com o máximo de confortos e conveniências
que pudessem. Era importante, acreditavam, manter o mais elevado possível o
moral daqueles cidadãos-soldados, a maioria deles convocados, enquanto se
preparavam para o combate. Nos dois últimos anos do con ito, volumoso espaço
nos navios de transporte, já escasso para acomodar necessidades da guerra, foi
reservado para bens como carne, frutas e vegetais frescos, café, ovos e cigarros
para consumo dos militares americanos na Inglaterra. Quando funcionários
ingleses instaram o presidente dos EUA a deixar que seu país suprisse as tropas
americanas com alimentos, Roosevelt replicou abruptamente: “Os soldados
americanos [306] não sobreviveriam às rações britânicas.” Quaisquer tentativas
de rebaixar o relativamente alto padrão de vida dos GIs, disse Marshall a uma
autoridade inglesa, resultaria “em milhares de mães escrevendo para seus
congressistas a m de se queixarem de que as autoridades do Exército americano
não estavam tratando adequadamente seus lhos.”
Apesar de Eisenhower concordar com seus superiores quanto à manutenção
do moral elevado da tropa, ele lamentava o fato de que a maioria dos soldados sob
seu comando, enquanto demandava direitos e privilégios da cidadania
americana, tinha pouco conhecimento das responsabilidades consequentes de tal
cidadania e interesse por cumpri-las. “As diferenças entre a democracia e o
totalitarismo eram, para eles, problemas acadêmicos que não lhes diziam
respeito,” escreveu Eisenhower. “Os soldados pareciam não entender as razões
pelas quais o con ito entre os dois sistemas era preocupação da América.” Havia,
acrescentou o general, “uma desanimadora falta de entendimento por parte de
nossos soldados a respeito das causas fundamentais da guerra.”
Um jovem sargento do Exército chamado Forrest Pogue, que anos mais tarde
escreveria uma elogiada biogra a de Marshall, fez eco para as inquietações de
Eisenhower. Durante a guerra, observou Pogue, ele com frequência conversava
com os colegas sobre “a falta de entusiasmo do soldado americano e sobre o fato
de que ele raramente sabia pelo que lutava. Alguns de [meus amigos]
argumentavam que jamais existira motivo para que eles estivessem lá, que tudo o
que os EUA precisavam era de uma Marinha forte. Cheguei a duvidar que seria
possível fazer aquela gente entender o porquê de nossa luta, a menos que
fôssemos invadidos.”
 
No verão de 1942, Gil Winant escreveu uma carta a Roosevelt
solicitando que alguma coisa fosse feita para minimizar a vasta diferença entre os
vencimentos dos militares americanos e ingleses. Entre as sugestões do
embaixador estava uma campanha para encorajar os GIs a comprar títulos do
Tesouro americano, altamente rentáveis, que pudessem ser resgatados tão logo
deixassem o serviço ativo. FDR rejeitou as ideias de Winant, declarando que
“não existia uma solução simples e totalmente satisfatória” para os problemas
criados pelos salários e condições de vida comparativamente altos dos
americanos.
Problemas, por certo, existiam. Como Winant temia, as rações superiores dos
GIs, os garbosos uniformes, maiores vencimentos e acesso a uma pletora de
artigos de consumo causavam ressentimento e hostilidade entre muitos ingleses,
em particular entre os soldados, que invejavam a popularidade dos gastadores
americanos entre as moças inglesas. “Eles podem ter [307] a aparência de um
Quasímodo,” observou um soldado inglês, “porque não faz a mínima diferença,
desde que sejam americanos.” Outro “Tommy” declarou: “Os ianques foram a
coisa mais prazerosa que jamais aconteceu para o mulherio inglês. Eles têm tudo
— dinheiro em particular, glamour, ousadia, cigarros, chocolate, meias de náilon,
jipes...”
Quando chegaram à Inglaterra, os soldados americanos receberam um
pequeno jornal com a palavra WELCOME em grandes letras na primeira
página. Abaixo, estava a mensagem: “Aonde vocês forem neste país, estarão entre
amigos. Nossos combatentes os veem como camaradas e irmãos em armas.”
Contudo, como observou um ex-GI, “Alguns daqueles irmãos acabaram nos
braços de namoradas e até de esposas dos [militares ingleses]. (...) Acho que os
Tommies têm boas razões para o rancor.”
Frequentes brigas nos bares entre soldados americanos e ingleses estavam
entre os problemas que Winant e os militares dos EUA tiveram que administrar.
Outro foi a alastrada epidemia de doenças venéreas que grassou entre os GIs no
m de 1943 e em 1944. Aproximadamente 30 por cento dessas enfermidades
foram contraídas em Londres, onde exércitos de prostitutas, equipadas com
lanternas no blackout, exerciam sua pro ssão em Piccadilly Circus, Leicester
Square, e outros locais populares frequentados pelos GIs. “Na escuridão da
Londres de 1944, qualquer vão na entrada dos prédios era um ninho de amor,”
lembrou um policial militar americano.
Muitas garotas inglesas de família foram alertadas pelos pais e por outros que
os americanos “eram selvagens, promíscuos e uma ameaça para qualquer mulher
com menos de 70 anos” e que nenhuma moça de boa criação jamais deveria ser
vista com eles. Ainda assim, quando elas conheceram melhor os americanos,
descobriram que, apesar de insolentes e namoradores, um bom número de
ianques não era constituído pelos lascivos ogros que lhes haviam sido descritos.
“Existia um núcleo sólido de apreciadores da bebida e mulherengos,” observou
uma mulher que fora mocinha durante a guerra. Ela acrescentou, no entanto,
que a maioria dos americanos que conheceu a tratou com cortesia e respeito — e,
ao mesmo tempo, injetou humor e alegria num ambiente sabidamente
desprovido dos dois.
E essa não foi, em absoluto, uma opinião isolada. Embora a fanfarronice e a
determinação em buscar divertimento afetassem os nervos de muitos ingleses,
outros viam na alegria de viver dos americanos um bem-vindo antídoto para a
pesada austeridade e a cinzenta monotonia na Inglaterra do tempo de guerra.
“Tão bons quanto um tônico [308] revigorante,” um inglês quali cou os
americanos. Uma jovem de Liverpool assegurou: “A chegada dos GIs
seguramente foi um acontecimento que nossa desmazelada, triste e velha cidade
precisava.” Uma mulher, que trabalhou num clube de militares americanos
durante a guerra, declarou que entrar no clube “era como penetrar noutro
mundo. A guerra, o racionamento e os cupons eram todos esquecidos.” Quando
saía cada noite após o trabalho, “eu encontrava o blackout, voltava à realidade,
deixando para trás a cordialidade e a amizade da América.”
 
Enquanto a questão dos GIs e o sexo provava ser grande dor de
cabeça para as autoridades inglesas e americanas, a da raça era ainda mais
explosiva. As forças armadas americanas eram rigidamente segregacionistas, e
mais de 100 mil soldados negros dos EUA na Inglaterra eram mantidos tão
separados quanto possível de seus companheiros brancos, tanto no trabalho
quanto nas licenças. Pubs, salões de dança e clubes de algumas cidades eram
designados somente para negros ou para brancos. Noutros locais, um elaborado
sistema de rodízio foi criado para permitir que negros e brancos fossem à cidade
em noites diferentes.
A Inglaterra, que então tinha poucos negros dentro de suas fronteiras, não
era um país segregacionista, e seus cidadãos, muitos dos quais jamais haviam
visto uma pessoa não branca, caram chocados com a política americana — e o
gritante racismo que a caracterizava. Como Eisenhower explicou a seus
superiores em Washington: “Para a maioria do povo inglês, inclusive as garotas
das pequenas vilas do interior — mesmo para aquelas de educação re nada — o
soldado negro era apenas um homem como outro qualquer.” Os chefes militares
dos EUA não encaravam os fatos dessa maneira. Tendo inicialmente resistido à
inclusão de negros no Exército, eles foram forçados por Roosevelt a aceitar uma
quota de 10 por cento de soldados de cor em cada teatro de operações, a maior
parte dos quais era designada para funções subalternas não combatentes, tais
como descascar batatas, limpar banheiros e cavar trincheiras. Na cabeça dos
ingleses, tais marginalização e discriminação eram particularmente
incongruentes da parte de um aliado que reivindicava lutar pela liberdade e
democracia para todos os homens.
Os ingleses cavam em especial pasmos com a intensa hostilidade e desprezo
que alguns GIs brancos, muitos deles do Sul segregacionista, demonstravam em
relação aos seus colegas negros. Recusavam-se a entrar em pubs que servissem
aos americanos negros, tentavam expulsar os negros dos pubs e salões de dança,
evitavam dançar com moças inglesas que haviam dançado com negros e
quebravam copos e taças nos quais negros tinham bebido. Quando um aviador
inglês convidou um soldado negro a sentar-se numa das cabines de um trem
apinhado que ia de Cardi para York, um GI branco exclamou, “Saia daí [309],
seu begro nojento!” O Tommy declarou mais tarde ter dito ao americano “para se
calar, e ele partiu para cima de mim, acertando-me um soco nos dentes.” Um
operário numa fábrica de aviões em Blackpool lembrou-se: “Fui testemunha
ocular de soldados americanos literalmente chutando — chutando mesmo —
soldados de cor para fora das calçadas e gritando, 'seus negros porcos e
fedorentos,' 'escória preta' e 'pretos atrevidos.'”
O governo inglês, vendo-se no meio de explosiva controvérsia entre seu
próprio povo e seu mais crucial aliado, tentou contemporizar. O cialmente, os
líderes governamentais procuraram se distanciar da política de segregação dos
EUA, declarando que a Inglaterra não aprovava a “discriminação com respeito ao
tratamento de soldados de cor” e que “não poderia haver restrições em
instalações.” O ciosamente, entretanto, apoiava a política, ordenando que os
militares britânicos instruíssem suas tropas, particularmente aquelas do ramo
feminino, para que não se relacionassem socialmente com americanos negros. “É
aconselhável,” concluiu o Gabinete de Guerra, “que as pessoas deste país evitem
amizades muito íntimas com militares americanos negros.” Brendan Bracken,
ministro da Informação de Churchill, escreveu: “A política americana de
segregação é a melhor contribuição prática para evitar distúrbios. Vamos apoiá-la
de todas as maneiras.”
Contudo, os militares negros eram muito populares com o povo inglês, que os
via como pessoas polidas, de fala suave e discretas — ou seja, muito parecidas
com os próprios britânicos. “A opinião [310] consensual,” observou George
Orwell, “parece ser que os únicos soldados americanos com modos decentes são
os negros.” Outro inglês comentou: “Não ligo muito para os ianques, mas ligo
menos ainda para os sujeitos brancos que eles trouxeram.” Uma substancial
percentagem de ingleses, surpresos com a cumplicidade de seu governo em uma
política que considerava imoral, resistiu a qualquer tentativa de tratar os GIs
negros como seres humanos inferiores. “A opinião tem sido expressa em muitas
regiões,” ressaltou um relatório do Ministério da Informação, “de que não
devemos permitir que os pontos de vista americanos sobre esse assunto sejam
impostos neste país.”
Quando a ordem para se manterem socialmente distantes dos americanos
negros foi lida para uma esquadra de desativação de bombas do Exército Inglês,
seus membros reagiram com assobios e zombarias sarcásticas. “Isso tem cheiro de
Hitlerismo,” a rmou um dos integrantes da esquadra. “'Igualzinho a Hitler e os
judeus' foi nossa reação à ordem.” Pubs passaram a expor avisos em suas portas
dizendo: “Somente para pessoas inglesas e americanos de cor.” Em alguns
ônibus, os motoristas diziam aos negros para não cederem seus lugares aos
brancos porque “eles estavam agora na Inglaterra.” Quando um GI negro, com
base em provas extremamente frágeis, foi julgado culpado por estupro e
sentenciado à morte, houve um grande clamor público no país. Pressionado por
cartas de protesto e chamadas telefônicas, Eisenhower ordenou uma investigação
do caso, que julgou insu cientes as provas apresentadas. O soldado foi
inocentado e retornou ao serviço ativo.
A questão racial tornou-se mais aguda quando GIs brancos humilharam ou
atacaram negros que eram cidadãos de nações da Commonwealth Britânica.
Num dos casos, Learie Constantine, afamado jogador de críquete das Índias
Ocidentais, foi convidado a deixar um hotel depois que diversos o ciais
americanos hóspedes ameaçaram cancelar suas reservas caso ele não fosse
afastado. Em outro exemplo, um sargento negro das Índias Ocidentais e da RAF
foi espancado por dois americanos por dançar com uma branca. “Os nacionais
britânicos negros estão, com razão, possessos,” admitiu um comandante do
Exército. “Soldados americanos os têm xingado (...) obrigado a sair das calçadas, a
deixar locais de refeições e até mesmo a se afastarem de suas esposas brancas.”
Mais esclarecido do que a maioria dos líderes militares americanos quanto à
questão racial, Eisenhower tentou acabar com tais ataques. Também proibiu que
os comandantes dos EUA restringissem a aproximação dos soldados negros com
os civis ingleses e ordenou que os GIs negros não fossem tratados diferentemente
dos brancos. “Os soldados de cor,” disse a jornalistas americanos, “têm que
receber tudo de bom” que é proporcionado aos seus colegas brancos. No entanto,
da mesma maneira que ocorria nos Estados Unidos, a igualdade, quando
acompanhada pela segregação e pelo arraigado racismo, acabou sendo impossível
de conseguir. A despeito das diretrizes de Eisenhower, muitos comandantes
locais zeram vistas grossas para todos os exemplos de discriminação, dentro e
fora de suas bases.
De um modo geral, poucos americanos na Inglaterra de tempo de guerra
saíram-se bem com respeito ao tratamento dispensado aos negros por seu país. Ed
Murrow, por exemplo, ofereceu uma tortuosa semidefesa de uma instituição
indefensável — a escravidão — durante um debate sobre o livro Uncle Tom's
Cabin (A Cabana do Pai Tomás), na BBC. Ostensivo liberal na maioria das
questões sociais, Murrow crescera com pais pobres do sul dos Estados Unidos,
cujas famílias tinham laços estreitos com a Confederação; um de seus avôs
combatera no Exército Confederado. Apesar de reconhecer que o sistema
escravagista produzira “abusos [311],” Murrow insistiu que os escravos eram
“geralmente bem tratados” e argumentou que “a escravidão americana era, como
um todo, uma instituição civilizada e humana, comparada com as práticas atuais
dos alemães” — argumentação totalmente equivocada, como o locutor da CBS
sabia muito bem.
Claramente confuso a respeito da questão racial, Murrow, ao mesmo tempo,
não se opunha em deixar seus ouvintes americanos saberem como os soldados
negros se ressentiam dos maus-tratos in igidos por seus colegas brancos. Durante
a produção de uma série dramática da CBS, intitulada An American in England,
Joseph Julian, um dos atores, gravou entrevista com um cabo negro do Exército,
que deixou claro o quanto preferia a companhia dos ingleses à de seus
compatriotas. “É verdade, sabe, eles bebem com você, falam com você. Não há
diferenças com eles. Eu gostaria de car aqui depois da guerra, mas os Estados
Unidos ainda são a minha casa, e há aquele sentimento de voltar para nossa casa,
por piores que sejam as coisas por lá.”
Julian pediu a Norman Corwin, criador, autor e produtor da série, para
incluir a entrevista num dos episódios. Percebendo que ela poderia suscitar
problemas em seu país, Corwin concordou, mas disse que a decisão nal cabia a
Murrow. Quando lhe mostraram o diálogo, Murrow deu um soco na palma da
própria mão e exclamou: “Vamos incluí-lo! Vamos abrir uma pequena ferida em
nosso país!” O programa seguinte da série divulgou as observações do cabo.
De sua parte, Gil Winant, preocupado com as perspectivas de problemas,
expressara antes algumas reservas a Roosevelt, quanto à conveniência de se
enviar GIs negros para a Inglaterra. Contudo, uma vez tomada a decisão, o
embaixador trabalhou duro, em todas as suas esferas de atuação, para abrandar as
resultantes rixas e tensões entre americanos e ingleses e entre pracinhas brancos
e negros. Por iniciativa da embaixada dos EUA, foi criada a Câmara de Ligação
Inglaterra-Estados Unidos, um comitê conjunto anglo-americano para investigar
e tentar resolver as questões entre o povo inglês e as tropas americanas. Winant
convocou Janet Murrow para ser a representante-chefe dos EUA no comitê; por
diversos meses, ela viajou por todo o Reino Unido, reportando os embates entre
soldados americanos negros e brancos e outros exemplos de fricção local.
Winant também persuadiu Roland Hayes, famoso tenor negro americano, a
permanecer na Inglaterra, após sua turnê de concertos, e conversar com os GIs
negros sobre o tratamento dispensado pelo Exército. O relatório de Hayes,
revelando discriminação generalizada, foi enviado a Eleanor Roosevelt, que o
repassou ao Pentágono. O relatório, por seu turno, também foi levado às mãos do
general Jacob Devers, chefe do Teatro de Operações Europeu do Exército em
1943, que se apressou em negar aquelas acusações. Depois que Walter White,
secretário-executivo da National Association por the Advancement of Colored
People (Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor), fez uma
viagem à Inglaterra, no início de 1944, a m de averiguar como os soldados
negros eram tratados, ele reportou a Mrs Rossevelt que havia testemunhado
“grande infelicidade” entre os homens com quem conversara. Ao mesmo tempo,
White não poupou elogios aos esforços de Eisenhower e Winant para suavizar a
situação dos negros, apesar de tais esforços resultarem inadequados.
 
Não há dúvida de que os maus-tratos experimentados pelos
soldados negros, foram, aos olhos dos ingleses e a bem da verdade, uma nódoa no
bom nome dos militares americanos e dos próprios EUA. Como publicou a
revista Time: “Os soldados negros da América [312], polidos, de falar suave e
corretamente uniformizados, foram uma surpresa, um prazer e uma feliz
oportunidade para que [os ingleses] esnobassem o sentimento de superioridade
moral nos EUA.” Ainda assim, apesar dos problemas criados pela raça e
malgrado todas as tensões causadas pela esmagadora presença americana na
Inglaterra, merece citação o fato de que, no cômputo geral, essa dramática
confrontação entre dois países e duas culturas acabasse deslizando sobre rolimãs,
como, de fato, aconteceu.
No começo da primavera de 1944, Sir Basil Liddell Hart, destacado
comentarista e estrategista militar inglês, viajou pela Inglaterra para medir a
temperatura das relações anglo-americanas. Embora observasse diversos
exemplos de comportamento abrasivo tanto de soldados americanos quanto de
ingleses, ele concluiu que não podia “se lembrar de qualquer [313] outro caso na
história onde as relações entre ocupantes amistosos e um país invadido fossem
tão boas.” Um relatório do Ministério da Informação de meados de 1944
registrou “um crescente sentimento cordial em relação às tropas dos EUA” no
país, que foi atribuído ao fato de que “o povo estava conhecendo melhor os
americanos.”
A coexistência relativamente harmoniosa entre soldados dos EUA e civis
ingleses, numa ocasião de grandes tensão e pressão, deveu-se bastante ao trabalho
de Eisenhower, Eden e de outros funcionários americanos e ingleses que
pavimentaram e amaciaram o caminho. Porém, na perspectiva de alguns, a parte
do leão desse crédito pertence a Winant. Segundo The Nation, foi Winant, “com
sua rmeza e bom-senso,” quem encontrou solução para a maioria dos
“problemas, alguns dos quais assumiram o status de verdadeiras crises,” causadas
pela “presença na Inglaterra de um gigantesco exército.” O jornal dos GIs, Stars
and Stripes, realçou o papel do embaixador como mediador anglo-americano
quando publicou uma caricatura mostrando um soldado americano, afetado pela
bebida e cercado por irados frequentadores de um pub depois de criar confusão,
fazendo uma chamada telefônica. O texto indicando sua fala, dizia: “Mr Winant,
por favor! Mr John G. Winant...”
Quando Bernard Bellush, um GI de Nova York de licença em 1944, visitou
Londres, virtualmente todos os ingleses que conheceu expressaram sua
admiração por Winant e pela maneira como “aquele gentil e corajoso enviado
havia fortalecido o desejo e a determinação deles em combater Hitler.” Graças à
afeição por Winant, acrescentou Bellush, os ingleses com quem conversou deram
o melhor de si para “fazer com que pracinhas como eu se sentissem em casa.”
Sempre que podia largar seu trabalho por uma hora ou duas, Winant gostava
de ir para as ruas de Londres a m de conversar com os GIs e aquilatar como iam
suas vidas na Inglaterra — “nada de ares presunçosos, de atitudes autoritárias, de
chave de galão, apenas um cara legal,” nas palavras de um soldado. Algumas
vezes, o embaixador emprestava dinheiro para seus jovens conterrâneos, ou
pagava uma bebida num pub próximo. Ocasionalmente, como o zera com seus
amigos de universidades da Ivy League, nos estágios iniciais da guerra, convidava
alguns dos GIs ao seu escritório para continuar a conversa, enquanto outros
visitantes, com audiências agendadas, esperavam impacientemente na antessala.
Os pracinhas que não podiam encontrar um quarto em hotel ou clube da Cruz
Vermelha eram convidados a passar a noite no chão de seu apartamento.
Winant instava os americanos que conhecia a escrever para ele relatando
como ia a vida, e muitos o zeram. Entre seus correspondentes estava um jovem
o cial da OSS chamado Stewart Alsop, que mais tarde se tornaria destacado
colunista e escritor, o qual disse a Winant que se apaixonara por uma moça
inglesa e queria casar-se com ela. No entanto, os pais da garota tinham dúvidas a
respeito do matrimônio, e Alsop, que era primo distante de Eleanor Roosevelt,
pediu ao embaixador que entrasse em contato com eles e intercedesse
favoravelmente quanto ao seu caráter e o histórico de sua família. Winant, que
conhecera Alsop através de Mrs Roosevelt, anuiu, a permissão foi dada, e o par
logo se casou.
Nos seus encontros com jovens americanos, Winant invariavelmente os
encorajava a conhecer melhor os ingleses. Enquanto muitos GIs deixaram o país
sem tal conhecimento, milhares de outros criaram vínculos estreitos com civis
britânicos. Para alguns, isso começou com encontros regulares nos pubs locais,
onde logo os americanos passaram a conhecer os frequentadores habituais.
Escrevendo sobre o pub no qual gostava de ir em Watford, uma cidade em
Hertfordshire, Robert Arbib observou: “Não era preciso muito tempo [314] no
Unicorn para que você fosse considerado da família, chamando a dona de Dora e
o barman de Jimmy, enquanto lhe chamavam de 'meu ianque (...) e, no m, de
'Bob' ou 'meu caro.' Fazendo amizade com muitas pessoas da cidade que
conheceu no pub, Arbib relatou: “Fiz refeições na mesa delas, dormi nos sofás de
suas salas de estar, fui a festas e bailes com elas (...) e sentime completamente em
casa.”
Americanos que serviram por longos períodos no mesmo lugar, como os
aviadores da 8ª Força Aérea, tiveram excelente oportunidade de conhecer e fazer
amizades sólidas com os residentes dos vilarejos e cidades próximos das bases.
Uma mulher que morava num vilarejo de East Anglia nas proximidades de uma
base aérea da USAAF lembrou-se: “Por volta de 1943, os GIs faziam parte de
nossa comunidade. Sabíamos os pre xos de seus aviões. Conhecíamos as
tripulações que voavam e as que faziam sua manutenção.” Quando as aeronaves
retornavam à tarde das missões de bombardeio, “ouvíamos o roncar de seus
motores e parávamos as brincadeiras ou tarefas,” rezando para que todos os
ianques tivessem retornado.
Outros americanos, no meio-tempo, zeram amizades duradouras com
famílias britânicas, que os convidavam para jantares dominicais ou celebrações
de feriados, ou mesmo lhes ofereciam acomodações permanentes. Entre eles
estava o tenente Dick Winters, paraquedista da 101ª Divisão Aeroterrestre.
Pouco depois de Winters chegar para a instrução num aquartelamento próximo
ao vilarejo de Aldbourne, no Wiltshire, um casal de idosos, cujo lho da RAF
tinha recentemente falecido em ação, convidou-o para tomar chá. Ele aceitou e,
após mais visitas, o casal perguntou se ele gostaria de car morando na sua
residência. Recebida a permissão dos superiores, o tenente se tornou, para todos
os efeitos um lho adotivo. “Eles me adotaram [315] e zeram-me membro da
família,” disse Winters, cuja carreira vitoriosa na Europa foi mais tarde destacada
no livro de Stephen Ambrose — e minissérie da HBO de mesmo título — Band of
Brothers (Irmãos de Guerra). “Eu encontrara um lar longe de casa. (...) Isso me
ajudou no preparo mental para aquilo que eu estava prestes a enfrentar.”
Tal fato também foi aparentemente verdade para muitos outros GIs. Quando
as autoridades militares dos EUA examinaram a correspondência que os
soldados americanos enviaram da Normandia para a retaguarda, em julho de
1944, descobriram que mais de um quarto das cartas eram endereçadas para
residências inglesas.
17

“Vocês Nos Verão


Alinhados com os Russos”
 
Enquanto os laços entre os civis ingleses e os pracinhas
americanos podem ter se fortalecido com o prosseguimento da guerra, a a nidade
entre os líderes dos dois países declinou dramaticamente. Nos primeiros dois
anos da aliança anglo-americana, Franklin Roosevelt e Winston Churchill
conferenciaram sete vezes. Celebraram o Natal e outros feriados na companhia
um do outro. Contaram piadas, pescaram, cantaram e beberam juntos. Mas já em
meados de 1943, o presidente americano começou a esfriar sua camaradagem
com o primeiro-ministro inglês. Na realidade, algumas vezes, ele deu a impressão
de querer o mínimo contato possível com Churchill. “Nos últimos dezoito [316]
meses da vida de Roosevelt, achei que a franqueza entre os dois diminuiu,”
lembrou John Colville. “O tom de quase irmão das mensagens do Presidente
pareceu mudar.”
Com a evidente superioridade dos Estados Unidos em efetivos, armamento e
outros meios devotados à guerra, Churchill, para considerável alarme e
sofrimento seu, viu-se e ao seu país tratados como parceiros subalternos na
aliança. “Cada vez mais, com a continuação da guerra, os americanos passaram a
não dar atenção a coisa nenhuma que disséssemos, a não ser que coincidisse com
algo que eles queriam fazer,” observou o general Ian Jacob, vice de Pug Ismay.
Eric Sevareid registrou: “Por muitos anos [os ingleses] vinham insistindo com os
americanos para que aceitassem os fatos da vida e viessem para o mundo — e
agora (...) os americanos tinham vindo e, ao fazê-lo, criaram um novo conjunto de
fatos da vida di cilmente esperados pelos ingleses, que estavam começando a se
sentir amargamente ressentidos. Eles não apenas deixaram de ser os únicos
heróis da batalha, mas tinham agora importância secundária.”
O desgaste das relações Roosevelt-Churchill ocorreu num período crítico.
Com a maré da guerra virando a favor dos aliados, tornava-se cada vez mais
patente que a derrota de Hitler era apenas questão de tempo. No outono de
1943, os alemães tinham sido expulsos do norte da África, e a Batalha do
Atlântico estava, nalmente, vencida. A Sicília fora capturada, Mussolini
derrubado, e as tropas aliadas começavam a avançar com di culdade pela bota da
Itália. No Front Oriental, os russos davam seguimento à sua vitória em
Stalingrado com importante ofensiva contra os alemães, tomando de volta grande
parte do território ocupado pela Wehrmacht em 1941. O planejamento para a
invasão da Europa se intensi cava, e começavam as discussões preliminares
sobre os termos da rendição, a ocupação da Alemanha e o sonho muito
acalentado por Roosevelt — uma nova organização mundial de nações para a
manutenção da paz. Entre os aliados, a principal preocupação não era mais a
sobrevivência nacional; agora era proteger os interesses pós-guerra de cada país.
Em resposta à situação militar que mudava rapidamente, Roosevelt e
Churchill encontraram-se duas vezes em quatro meses — em Washington, em
maio de 1943, e em Quebec e Hyde Park (a propriedade do Presidente), em
agosto. O fato de as duas conferências terem ocorrido de novo em terreno de
Roosevelt — ou, pelo menos, em seu continente — foi motivo para mal-estar para
o primeiro-ministro, cujas tentativas de persuadir o Presidente a ir à Inglaterra,
nem que fosse apenas uma vez em tempo de guerra, tinham até então fracassado.
Segundo Harry Hopkins, FDR temia viajar à Grã-Bretanha por “razões políticas
[317],” com receio de ser considerado pelo eleitorado americano muito simpático
ao Império Britânico. Aos olhos de Churchill, já com sessenta e oito anos, que
havia aguentado uma sucessão de longas viagens marítimas e voos transatlânticos
para se encontrar com Roosevelt, tal desculpa era, no mínimo, uma indelicadeza
com um leal aliado.
Porém, no verão de 1943, Roosevelt e seus conselheiros militares não
estavam dispostos a ceder muita coisa do que quer que fosse. Depois de ser
vencido pelas manobras dos ingleses nas conferências anteriores, em especial na
de Casablanca, o alto-comando americano estava determinado a fazer prevalecer
seu ponto de vista em operações estratégicas até o m da guerra. Durante as
reuniões iniciais de 1943, os ingleses haviam conseguido aprovação para suas
propostas de invadir a Itália em setembro — uma continuação de sua estratégia
mediterrânea. Mas altos funcionários dos EUA, cada vez mais irritados com o
ncar de pés de Churchill contra um desembarque na França, insistiram que os
ingleses tinham de se comprometer com o dia 1º de maio de 1944 como data
rme para o Dia-D. Até o velho amigo de Churchill, Harry Hopkins, havia se
virado contra ele nessa questão. “Harry está seguro de que a obstinação de
Churchill, sua persistente luta para adiar uma Segunda Frente na França, de
fato, prolongou a guerra,” escreveu Lord Moran em seu diário. “Tudo indica que
o Presidente e Hopkins não estão mais dispostos a reconhecer Winston como um
guia infalível em assuntos militares.” (Na realidade, os dois nunca estiveram;
simplesmente se tornaram mais abertos sobre o fato.) Enfrentando tenaz oposição
de Churchill, os americanos zeram também prevalecer um plano de apoio aos
desembarques do Dia-D com uma invasão do sul da França.
Desanimado com a resistência dos americanos às suas ideias estratégicas, o
primeiro-ministro também se sentia magoado mais profundamente com a
crescente frieza do Presidente. Tanto política como pessoalmente, ele precisava
bem mais de FDR do que Roosevelt dele. Churchill era pessoa mais afetuosa e
consideravelmente mais emotiva do que Roosevelt, o qual foi descrito por Arthur
Schlesinger Jr. como “cintilante, impessoal [318] (...) super cialmente amável e
essencialmente frio.” Missy LeHand, secretária particular de FDR, disse a um
repórter que seu chefe, a quem adorava, “era realmente incapaz de uma amizade
pessoal com qualquer pessoa.” Já Churchill era “um gentleman que dava grande
valor ao fator pessoal,” como realçou Eleanor Roosevelt. O próprio Churchill
dissera a Anthony Eden que “todo o meu sistema se baseia na amizade com
Roosevelt.” Mais tarde, o primeiro-ministro acrescentou: “Nossa amizade é o
rochedo sobre o qual construo o futuro do mundo.” A Roosevelt, Churchill
comentou: “Qualquer coisa que representasse um desacordo sério entre mim e
você partiria meu coração.”
No período inicial da relação entre os dois, parecia haver uma autêntica
aproximação pessoal, “entendimento e amizade verdadeiros,” como disse Daisy
Suckley, prima distante e, por vezes, con dente do Presidente. Após presenciar
uma reunião de Churchill e Roosevelt, em Washington, em junho de 1942,
Suckley ressaltou que FDR “se mostrou à vontade e íntimo — seu rosto
expressando humor ou grande seriedade, dependendo da gravidade do assunto, e
totalmente natural. Nenhum indício de ter que escolher palavras ou disfarçar
expressões, exatamente ao contrário de seu comportamento numa entrevista
coletiva, quando ele é um genuíno ator num palco.” Quanto a Churchill, Suckley
cou com a impressão de que ele “adora o Presidente (...) respeita-o e o trata com
grande deferência.”
Porém, mesmo naqueles dias felizes da relação, havia uma encoberta
rivalidade entre os dois, que só fez crescer quando a guerra se aproximou de seu
clímax. “Roosevelt invejava [319] a genialidade de Churchill, e o primeiro-
ministro inglês invejava cada vez mais o poderio do presidente americano,”
escreveu o historiador John Grigg. Samuel Rosenman, um dos mais notáveis
preparadores dos discursos de FDR, destacou que o Presidente “era propenso a
ciúmes dos competidores em seu campo de atuação. Gostava da adulação, em
especial quando envelheceu, e frequentemente parecia invejar os cumprimentos
feitos a outros pela sagacidade política, eloquência, estadismo ou vitórias na vida
pública.”
Muitos anos mais tarde, Arthur Schlesinger Jr. perguntou a Pamela
Churchill Harriman se ela achava que Roosevelt e Churchill alguma vez
poderiam ter se tornado amigos caso não tivesse ocorrido a guerra. Ela respondeu
com um enfático “não.” “Eles não tinham coisa alguma em comum,” disse ela.
“Não eram o modelo um do outro. Não se divertiam com as mesmas coisas. Não
gostavam do mesmo tipo de pessoas. (...) Os dois tinham atitudes diferentes em
relação ao passado. (...) Precisavam, no entanto, se dar bem, e ambos trabalharam
muito para isso.”
A verdade foi que, apesar do romantismo que Churchill impregnou em suas
memórias a respeito de sua relação com Roosevelt, nem ele nem o Presidente
deixaram que a amizade entre os dois interferisse no que consideravam interesses
nacionais de seus respectivos países. Nas palavras do historiador David K.
Adams: “Cada um usou o outro, cada um explorou o outro e ambos zeram duras
barganhas quando os interesses se mostraram con itantes. Da tensão criativa
entre os dois, resultaram coisas muito boas e mitos heroicos foram criados.”
 
As desavenças entre Roosevelt e Churchill foram bem além da
questão de quando e onde as forças aliadas deveriam desembarcar na Europa.
In exível opositor do Império Britânico, Roosevelt passou boa parte da guerra
tentando pressionar Churchill e seu governo a começarem o processo de
independência das possessões imperiais do seu país. Mesmo antes de os Estados
Unidos entrarem na guerra, o Presidente expressou sua clara posição, dizendo ao
lho Elliott: “Temos de deixar patente aos ingleses, desde o início, que não
seremos simplesmente o amigão que pode ser usado para tirar o Império
Britânico de um aperto. (...) Creio que falo como presidente dos Estados Unidos
quando digo que nosso país não ajudará a Inglaterra nessa guerra só para que ela
continue capaz de tratar com desprezo povos coloniais.”
Durante a primeira visita de Churchill a Washington, Roosevelt levantou a
questão da autodeterminação para a Índia, a joia mais preciosa na coroa do
Império Britânico. Churchill reagiu com tanta veemência, escreveu ele mais
tarde, que o Presidente jamais tocou de novo no assunto. Não foi exatamente
assim. Nos encontros seguintes e em sua correspondência com o primeiro-
ministro, FDR levantou repetidas vezes o problema da Índia e do imperialismo
britânico de uma forma geral. Elliott Roosevelt se lembrou, por exemplo, que, em
Casablanca, seu pai “fez uma observação [320] sobre a antiga relação entre
nancistas ingleses e franceses, [os quais] formavam (...) cartéis com o propósito de
extrair riquezas das colônias.”
A antipatia do Presidente pelo colonialismo britânico foi reforçada por um
editorial da Life, de 12 de outubro de 1942, intitulado “An Open Letter to the
People of England” (Uma Carta Aberta ao Povo da Inglaterra). Nele, os editores
da revista declararam: “De uma coisa estamos certos: não estamos lutando para
manter o Império Britânico intacto. Não gostamos de deixar o assunto de forma
tão crua, mas não queremos criar ilusões.” O editorial instava a Inglaterra a
reconsiderar “sua motivação para a guerra,” que era o colonialismo, e se “juntar-
se à nossa,” que se traduzia em “lutar pela liberdade em todo o mundo.”
Para Henry Luce, o todo-poderoso homem da imprensa, proprietário da Life,
da Time e da Fortune, o século XX estava destinado a ser o “Século Americano.”
Sobre Luce, um confuso Tom Matthews, que trabalhara para ele como editor da
Time, disse: “Se ele fosse inglês, por certo seria extremado tory, orgulhoso do
Império, protestando furiosamente contra sua extinção. Como americano e com
um senso imperial para a América do futuro, estava feliz em ver de nhar a
competição representada pela Inglaterra.”
Enfurecido com o editorial da Life, Churchill a rmou num discurso em
Londres “que não se tornara primeiro-ministro do Rei para presidir à liquidação
do Império Britânico.” Ao longo de toda a guerra, ele deu o melhor de si para
acompanhar os desejos de Roosevelt, salvo quando se tratou do Império, assunto
que para ele era profundamente pessoal e emocional. Nos anos 1930, ele liderara
uma prolongada e desgastante batalha contra uma proposta do governo inglês de
concessão de autogoverno limitado para a Índia. Sua atitude foi considerada
reacionária e irrealista pela maioria dos parlamentares, e, em parte, foi
responsável por sua exclusão dos altos cargos nos governos de Stanley Baldwin e
Neville Chamberlain. As opiniões de Churchill sobre a Índia também evitaram
que ele atraísse grande número de adeptos na Câmara dos Comuns quando
começou a alertar quanto à crescente ameaça de uma Alemanha rearmada.
Em 1942, muitos membros do Parlamento, bem como quantidade respeitável
de funcionários do governo, teriam concordado com Roosevelt que deveria ser
dada à Índia mais autonomia e, em determinado ponto, sua independência.
Alguns outros teriam aceitado que a Inglaterra acumulara muitas manchas em
seu histórico colonialista. A que todos, com certeza, objetavam era a atitude
americana em relação ao imperialismo britânico, que consideravam presunçosa,
enganosamente moralista e altamente hipócrita.
A nal, no século XIX e início do XX, os Estados Unidos haviam embarcado
em sua versão própria de imperialismo, conquistando metade do México,
invadindo Cuba e anexando Puerto Rico, Havaí e Filipinas, entre outros
territórios. Oliver Stanley, o ministro inglês para as Colônias, lembrou Roosevelt
sobre esses fatos em 1945 quando o Presidente lhe disse: “Não quero ser
grosseiro [321] ou inamistoso com os ingleses, mas em 1841, quando vocês
adquiriram Hong Kong, não o zeram mediante compra.” Stanley disparou de
volta: “Deixe-me ver, Mr President, isso foi mais ou menos ao mesmo tempo que
a Guerra Mexicana.”
Porém Roosevelt, como a maioria de seus compatriotas, recusava-se a aceitar
o rótulo de imperialista. Pela visão dos americanos, os Estados Unidos haviam
sido uma potência expansionista, e não colonialista: sua missão fora civilizar e
proteger, e não explorar, os povos estrangeiros que passaram ao seu domínio.
Segundo o historiador Justus Doenecke: “A imagem que Roosevelt fazia da
história americana era agrantemente chauvinista. Na opinião do Presidente, a
ação da América no mundo re etia absoluto altruísmo. Contudo, nem todos os
residentes nos territórios ocupados pelos EUA viam as coisas assim, como
também os ingleses, que haviam utilizado também o argumento do altruísmo
quando ampliavam seu Império.
Churchill e outros no governo inglês suspeitavam que, por trás dos nobres
sermões americanos a respeito de liberar as possessões do mando colonial havia
generosa dose de autointeresse econômico. As suspeitas deles teriam sido
certamente reforçadas se tivessem ouvido um comentário casual que Roosevelt
fez ao lho Elliott em Casablanca: “Os banqueiros alemães e ingleses vinham
tendo por muito tempo um mundo de negócios totalmente sob seu controle, a
despeito de a Alemanha ter perdido a última guerra. Ora bem, agora isso não é
tão conveniente para o comércio americano, não é verdade? Na opinião mordaz
de Anthony Eden, “a antipatia de Roosevelt [322] pelo colonialismo, enquanto
constituía um princípio para ele, era estimada por suas possíveis vantagens.”
Tais vantagens incluíam bases inglesas no Pací co, sobre as quais o
Pentágono mantinha olhos gulosos, e as concessões de petróleo no Oriente
Médio. Consciente de que as reservas de petróleo da América eram insu cientes
para as necessidades futuras, os altos funcionários do governo dos EUA estavam
determinados a quebrar o predomínio britânico na região e a conseguir
concessões próprias. Entrementes, os empresários americanos se mostravam
ansiosos por conseguir acesso a mercados protegidos pelo sistema inglês de
preferências imperiais, que unia a Grã-Bretanha e seu império num mercado
comum econômico e impunha tarifas exorbitantes aos bens importados de países
não integrantes do Império. Apesar de a aliança militar entre os dois países ser
inusitadamente compacta, “é da mesma forma verdade,” como registrou a
historiadora Kathleen Burk, “que os Estados Unidos trataram a Inglaterra como
rival que precisa ser refreado.”
Mesmo antes de os Estados Unidos entrarem na guerra, Washington,
alegando rumores de que os ingleses estariam usando artigos do Lend-Lease para
exportação, pressionara Londres a concordar em abrir mão não apenas da
exportação de suprimentos americanos como também da exportação britânica de
bens de natureza similar. Os relatos do abuso inglês quanto a artigos do Lend-
Lease para benefício próprio se mostraram inconsistentes, mas os formadores da
política americana insistiram em evitar que a Inglaterra conseguisse qualquer
vantagem comercial durante a guerra. Eden e outros administradores ingleses
caram furiosos com as exigências americanas, que viam como chantagem
econômica, porém, no m, Gil Winant os convenceu a assinarem o acordo,
citando a importância de se minimizar “atritos e mal-entendidos nos dois lados.”
Aconteceu que a redução das exportações inglesas durante a guerra ajudou a
abrir muitos mercados mundiais para a penetração americana. No m da guerra,
as exportações britânicas haviam caído 50 por cento, enquanto as americanas
triplicaram.
Entretanto, ao mesmo tempo, os ingleses resistiram com todas as forças ao
esforço dos Estados Unidos em usar o Lend-Lease como instrumento de pressão.
No verão de 1941, o governo Roosevelt propôs que, como pagamento do Lend-
Lease, os ingleses anuíssem em pôr um ponto nal no seu sistema imperial de
preferências. Argumentando que esse comércio discriminatório inibia
fortemente o crescimento econômico internacional, os funcionários americanos
forçaram a ideia do livre-comércio como caminho para a paz e a prosperidade do
pós-guerra. Os ingleses argumentaram que o livre-comércio era particularmente
bom para os Estados Unidos, havia muito tempo ávidos por acesso ao comércio
do Império em termos igualitários, mas, ao mesmo tempo, teimosos por impor
suas próprias e elevadas tarifas. (Os americanos justi cavam suas tarifas dizendo
que elas não eram discriminatórias, pois se aplicavam a todos os seus parceiros
comerciais.) Apesar de rematado imperialista, Churchill não gostava muito do
sistema imperial de preferências. Mas ele e seu Gabinete se opunham
enfaticamente à ideia de serem forçados a concordar com uma ordem econômica
do pós-guerra que favorecesse os Estados Unidos. Na realidade, o raciocínio
inglês era o seguinte: qual a razão da necessidade de pagamento do Lend-Lease?
No ápice de seu poderio como Império, a Inglaterra pagara a seus aliados para
lutar em seu benefício sem esperar reembolso nanceiro posterior. Por que a
América não seguia o exemplo inglês?
Em fevereiro de 1942, o primeiro-ministro levantou essa questão num irado
cabograma a Roosevelt, que jamais foi enviado: “Deve ser lembrado [323] que,
por boa parte de 27 meses, carregamos sozinhos o peso da guerra. (...) Se
tivéssemos fracassado, todo o malefício das potências do Eixo (...) desabaria sobre
os Estados Unidos.” Num cabograma que foi despachado para o Presidente,
Churchill a rmou que o Gabinete inglês já havia decidido sobre a matéria:
votara contra a troca da preferência imperial pelo Lend-Lease, achando que, se a
Inglaterra o zesse “teríamos aceitado uma intervenção em assuntos internos do
Império Britânico.”
No m, encontrou-se um meio-termo. Ambos os governos se comprometeram
a tomar medidas após guerra para buscar a cooperação econômica internacional,
mas foi eliminado um compromisso britânico explícito de acabar com a
preferência imperial. Mas os americanos levantariam de novo o assunto no m da
guerra e, dessa vez, os ingleses não escapariam.
 
O declínio das relações entre Churchill e Roosevelt nos
últimos estágios da guerra foi exacerbado pelo estado de saúde dos dois. A
pressão da guerra, constante e esmagadora, havia cobrado imenso preço físico a
ambos, bem como, praticamente, a todas as outras guras importantes de seus
governos. Nas cartas e diários do tempo da guerra, administradores ingleses e
americanos de alto nível, militares e civis, queixaram-se do estresse físico e
mental que os deixava cronicamente enfermos e, em muitos casos, adeptos da
bebida em exagero. Lendo, muitos anos depois, as entradas irascíveis em seu
diário, no m de 1943, Alan Brooke, por exemplo, lembrou que não estava bem
àquela época, destacando o registro: “Inclino-me [324] a pensar que não estou
muito longe de um colapso nervoso.”
Depois da Conferência de Casablanca, no início de 1943, Roosevelt e
Churchill caram seriamente doentes — Churchill com pneumonia e Roosevelt
com gripe forte — e ambos pareceram perder muito da vitalidade que era sua
marca registrada. Quando David Brinkley, então jovem repórter de jornal, viu
Roosevelt pela primeira vez na Casa Branca, cou espantado com a aparência
abatida do Presidente. “Nas fotos de jornais e revistas, e nos noticiários
cinematográ cos, eu via o rosto de um homem vistoso com feições bem
de nidas,” observou Brinkley. “No entanto, ali estava a realidade — um ar
terrivelmente envelhecido e cansado. (...) Aquela face era mais cinzenta do que
rósea, as mãos tremiam, o olhar era nublado e incerto, do pescoço caíam dobras
ácidas de pele.” Quando Brinkley perguntou ao secretário de imprensa de FDR
o que havia com o Presidente, o funcionário deu de ombros e disse: “Ele só está
cansado. Dirigir uma guerra mundial é um trabalho demoníaco.” Roosevelt, que
já era presidente por onze anos, estava àquela altura mais do que cansado: dava
os sinais da hipertensão e da moléstia cardíaca que iriam matá-lo em menos de
dois anos. A família e seus auxiliares cada vez mais se preocupavam com os
frequentes surtos de esquecimento e indiferença.
Desgastado pela tensão e muito esgotado, Churchill também parecia perder
seu lendário poder de concentração. “Comecei a achar (...) que o estupendo peso
que ele vinha carregando tão valentemente ao longo de toda a guerra
gradualmente o esmagava,” observou Alan Brooke. Sete anos mais velho do que o
Presidente, Churchill vinha travando a guerra por bem mais tempo do que FDR
— e, bem provavelmente, sob maior pressão. Tal estresse, aumentado pelas
frequentes viagens para visitar Roosevelt, outros aliados e tropas inglesas,
tornaram o primeiro-ministro mais triste, doente, cansado e mais impulsivo do
que o normal. O médico particular de Churchill notou que seu trabalho passou a
ser afetado. Brooke e outros integrantes do governo inglês preocupavam-se com
suas constantes mudanças de estado de espírito e de posições em estratégia e
tática, sua “incapacidade para terminar um assunto antes de começar outro,” e
uma ocasional “instabilidade de critério.” Em outubro de 1943, Brooke explodiu
em seu diário: “Estou aos poucos me convencendo de que, na idade avançada, ele
está cada vez menos equilibrado! Não consigo mais controlá-lo. (...) Ele se recusa a
ouvir meus argumentos.” Nas batalhas verbais, cada vez mais frequentes entre os
dois, tanto Churchill quanto Brooke cavam, como colocou o biógrafo de Brooke,
Arthur Bryant, “exauridos demais [325] para perceberem que o outro estava no
mesmo estado.”
 
Em 12 de novembro de 1943 , Roosevelt embarcou no USS Iowa na
baía de Chesapeake para fazer a primeira perna de uma árdua jornada ao
Oriente Médio — primeiro ao Cairo para um encontro com Churchill e Chiang
Kai-shek, da China, depois a Teerã para a primeira conferência dos líderes
ocidentais com seu irritadiço aliado soviético, Iosef Stalin. Nem Churchill nem
Roosevelt queriam que o encontro fosse em Teerã (Roosevelt, convalescendo de
outra forte gripe, disse a Daisy Suckley que a capital iraniana era “infestada de
doenças”), e ambos tentaram persuadir Stalin a se reunirem noutro lugar
qualquer. Stalin recusou: se eles quisessem vê-lo, teriam de aceitar o local por ele
indicado.
Um dia depois da partida de Roosevelt, Churchill, que penava com dor de
garganta e gripe, zarpou de Plymouth a bordo do HMS Renown. Fazendo parte
da grande comitiva, viajaram sua lha Sarah como ajudante de ordens do
primeiro-ministro, e Gil Winant, que pela primeira vez presenciaria um encontro
de Roosevelt e Churchill. Enquanto Averell Harriman, a bête noire de Winant,
conseguira ser convidado para todas as reuniões anteriores dos dois líderes
ocidentais, menos uma, o embaixador fora excluído de todas, menos a que estava
por ocorrer no Cairo e em Teerã. Ainda pior, segundo Winant, era o fato de que
ninguém em Washington jamais lhe dera conhecimento do que acontecia nas
sessões; ele se vira forçado a apelar para Churchill e Eden a m de tomar
conhecimento do que fora debatido. Numa carta a Roosevelt após a Conferência
de Quebec de 1943, Winant observou que, salvo pelas informações que recebia
do primeiro-ministro e de Eden, “não tenho conhecimento (...) de qualquer
decisão política importante.”
Com a vitória dos aliados se aproximando e com o começo de conversações
sobre acordos econômicos e políticos, Winant estava ansioso para desempenhar
um papel na construção do mundo de pós-guerra. Sua frustração e raiva por ser
desbordado e desinformado pela Casa Branca irromperam pouco antes da
conferência de Teerã, quando os jornais ingleses e americanos começaram a
especular que ele voltaria em breve para Washington a m de assumir o cargo de
secretário do Trabalho. Os artigos também mencionavam sua provável
substituição em Londres por Hopkins ou por Harriman. O embaixador enviou
imediatamente um cabograma a Hopkins informando-o sobre tais rumores e
acrescentando que “essas coisas não causariam [326] maiores danos se não se
soubesse que você e Averell absorveram parte considerável das atribuições que
normalmente cabem à minha embaixada.” Além disso, declarou, “um
embaixador não pode ser representante e caz em Londres a menos que seja
mais-bem informado e receba mais apoio do que tenho recebido.”
Como já zera no passado, Hopkins procurou tranquilizar Winant. “Sei
exatamente como você se sente,” escreveu, “e se eu estivesse no seu lugar também
me sentiria assim.” O principal auxiliar do Presidente negou os boatos sobre a
substituição de Winant, declarando que Roosevelt “não apenas tem absoluta
con ança em você como também julga que você está fazendo melhor trabalho do
que qualquer outro embaixador americano na Inglaterra. (...) Não sei de ninguém
que tenha dado maior contribuição para a guerra do que você, e essa opinião é
compartilhada por todos os seus amigos daqui.” Dessa vez, as palavras
consoladoras de Hopkins chegaram acompanhadas de ação: um convite para que
Winant fosse ao Cairo e a Teerã.
 
No Cairo, Roosevelt ofereceu um festivo jantar de Ação de
Graças a Churchill e outras autoridades dos governos americano e britânico que
compareciam à conferência, entre eles Winant e Harriman. Naquela noite, a
antiga camaradagem Churchill-Roosevelt foi novo ostentada. O Presidente
trinchou dois enormes perus para os que o cercavam na mesa e, após a
descontraída refeição, Sarah, a única mulher presente, dançou com Winant e
com muitos outros convidados, enquanto seu pai valsou alegremente tendo como
par o general Edwin “Pa” Watson, assistente militar de Roosevelt. No brinde que
fez ao m do jantar, Roosevelt a rmou: “Grandes famílias são normalmente mais
unidas do que as pequenas (...) e assim, neste ano, com o povo do Reino Unido
fazendo parte de nossa família, somos uma grande família, e mais unida do que
nunca. Proponho um brinde a essa união e para que ela seja duradoura!”
A união, todavia, só durou até Teerã. Durante toda a conferência, o
Presidente ignorou Churchill ostensivamente, deixando claro que estava bem
mais interessado em cortejar Stalin, cuja fúria sobre a falta de uma Segunda
Frente na Europa havia aumentado constantemente nos meses anteriores. Não
havia dúvida que, a despeito da imagem de uma aliança feliz e livre de problemas
promovida por Churchill e Roosevelt na Inglaterra e nos Estados Unidos, a
relação dos Aliados Ocidentais com os soviéticos passava por fase tumultuada.
Em Teerã, o plano de Roosevelt, segundo Cordell Hull, era “fazer Stalin [327]
sair de sua carapaça (...) distanciando-se da indiferença, da dissimulação e da
suspeita, até alargar seus horizontes.” O Presidente certa vez dissera ao seu
ministério ter certeza de que a breve passagem de Stalin por um seminário da
Igreja Ortodoxa Russa tinha “penetrado em sua natureza” e de que ele se
comportaria “da maneira como um gentleman cristão deve agir.” Charles Bohlen,
jovem diplomata americano especialista em União Soviética e que trabalhou
como intérprete do Presidente em Teerã, asseverou: “Não creio que Roosevelt
tinha autêntica compreensão do grande fosso que separava o pensamento de um
bolchevique de um não bolchevique, em especial de um americano. O Presidente
achava que Stalin via o mundo mais ou menos da mesma forma que ele.” Bohlen
adicionou: “um conhecimento mais aprofundado da história e, por certo, um
melhor entendimento dos povos estrangeiros teriam sido úteis ao Presidente.”
Pouco antes de começar a conferência, Harry Hopkins disse a Lord Moran:
“Vocês nos verão alinhados com os russos.” O “nos” a que se referia Hopkins
incluía Harriman, antigo con dente de Churchill e seu parceiro no “bezique.” O
novo embaixador dos EUA na União Soviética, que aconselhara o Presidente a se
hospedar na embaixada soviética em Teerã, e não com Churchill na legação
inglesa, não mais funcionava como assessor o cioso do primeiro-ministro sempre
presente para acalmar e passar con ança a ele. Harriman era então visto pelos
ingleses como um antagonista que, nas palavras de Brooke, “se esforçava para
melhorar a situação americana com Stalin, à nossa custa.” Alexander Cadogan,
subsecretário-permanente do Foreign O ce, cou furioso quando, a certa altura,
Harriman começou a dar-lhe e a Anthony Eden, dicas sobre “como conduzir
conferências internacionais,” quando “eu já havia até esquecido grande parte do
que ele jamais soubera.” Quando a conferência teve início, Brooke disse a Lord
Moran: “Stalin já pôs o Presidente no bolso.”
Na oportunidade em que Churchill convidou Roosevelt para almoçar, o
Presidente declinou. Hopkins explicou que o Presidente não queria “dar a
impressão de que ele e Winston arquitetavam maneiras de deixar Stalin em
posição desconfortável.” Em vez disso, Roosevelt uniu forças com Stalin para
constranger Churchill. Num jantar logo depois do início dos trabalhos, o chefe
soviético cou fustigando o primeiro-ministro, enquanto FDR, segundo Bohlen,
“não apenas apoiava Stalin, como parecia divertir-se com a troca de farpas
Churchill-Stalin.” Bohlen, que anos mais tarde se tornaria embaixador na União
Soviética, observou que o Presidente “deveria ter defendido [328] um velho
amigo e aliado, o qual estava realmente sendo desconsiderado por Stalin.”
Roosevelt “sempre gostou de ver outros em situação embaraçosa,” declarou
Harriman mais tarde. “Penso que não estou sendo injusto quando digo que ele
jamais se importou muito quando os outros se mostravam infelizes.”
Poucos dias depois, o Presidente decidiu passar a outra tática de atrair Stalin
para seu lado: zombar de Churchill como Stalin havia feito antes. Começou
sussurrando para o soviético: “Winston está estranho esta manhã. Deve ter se
levantado pelo lado errado da cama.” Encorajado pelo sorriso maroto de Stalin, o
Presidente começou a implicar diretamente com Churchill, pilheriando acerca
de seus “modos britânicos, sobre John Bull, seus charutos e seus hábitos.” Quanto
mais Churchill corava e fechava a cara, mais sorria o chefe soviético, até que, por
m, soltou gostosa gargalhada. “Pela primeira vez em três dias, vi a luz,” exultou
Roosevelt mais tarde para Frances Perkins. “A partir de então, nossas relações
passaram a ser pessoais. Conversamos como homens e irmãos.”
Bohlen discordou da avaliação de FDR. Na opinião do diplomata, a chacota
que o Presidente fez com Churchill foi “um erro fundamental. (...) Os líderes
russos sempre esperaram e entenderam que a Inglaterra e os Estados Unidos se
inclinassem a ser bem mais próximos um do outro em sua maneira de pensar e
em suas perspectivas do que na relação de qualquer dos dois com a União
Soviética. Na sua clara tentativa de se dissociar de Churchill, o Presidente não
tapeou ninguém e, provavelmente, concorreu para secreta diversão de Stalin.”
Churchill, por sua vez, cou magoadíssimo com o que seu neto mais velho,
também chamado Winston Churchill, chamou de “exercício infantil do
Presidente de se insinuar com alguém para obter favores.” Segundo o Churchill
mais novo, o primeiro-ministro jamais tornou público como se sentiu a respeito
daquele incidente, revelando apenas para a família “seu enorme desapontamento
e o desconforto com o que ocorrera.”
 
Do ponto de vista da maioria dos presentes , Stalin foi, de longe,
o melhor negociador dos três líderes em Teerã; lá, e mais tarde em Yalta, os
diplomatas e as autoridades militares americanos e ingleses partilharam a
inquietante sensação, como observou um funcionário britânico, de que “os
ganhos imediatos foram sempre para a Rússia, e as vagas promessas sobre o
futuro para os Estados Unidos e a Inglaterra.” Stalin recebeu, nalmente, um
compromisso rme com a Operação Overlord, a longamente esperada invasão do
território continental europeu. Com a ajuda de Roosevelt, o líder soviético
frustrou a proposta de Churchill de uma expansão das operações aliadas no
Mediterrâneo e nos Bálcãs. Stalin, por sua vez, prometeu entrar em guerra contra
o Japão depois da derrota da Alemanha.
Além disso, Churchill e Roosevelt concordaram secretamente com uma das
principais exigências de Stalin: controle soviético pós-guerra do leste da Polônia.
Embora Churchill tivesse repetidamente prometido ao governo no exílio polonês
e às suas forças armadas que eles teriam de volta sua pátria depois da guerra, ele
abandonou esse compromisso depois que Stalin, com apoio de Roosevelt,
reivindicou que fosse permitido à Rússia car com a vasta extensão de território
da Polônia que havia abocanhado em 1939. Mais tarde, o Presidente diria a
Harriman que “não se preocupava [329] se os países fronteiriços da Rússia
virassem comunistas ou não.”
As autoridades inglesas caram pasmas com o fato de Roosevelt, que se
opunha tão rmemente ao imperialismo inglês, recusasse ver sob o mesmo prisma
a óbvia determinação de Stalin de controlar os estados vizinhos de seu país. Em
Teerã, FDR disse a Stalin: “Os Estados Unidos e a União Soviética não são
potências colonialistas, portanto é fácil para nós debater” o problema criado pelos
impérios coloniais como a Inglaterra e a França. O Presidente, registrou Lord
Moran em seu diário, “não consegue deixar de fustigar o Império [Britânico].
Parece que isso o incomoda, embora não mova uma palha quando uma
gigantesca extensão da Europa cai nas garras da União Soviética.”
 
Repórteres não foram admitidos na Conferência de Teerã.
Quando ela terminou, não houve communiqués e nenhum detalhe foi revelado
sobre o que fora discutido e resolvido. Quando Roosevelt e Churchill retornaram
a seus países, os dois se limitaram a exaltar os encontros da cúpula como um
triunfo no qual os Três Grandes “se tornaram amigos de fato, em espírito e em
propósito.”
Ed Murrow foi um dos poucos jornalistas americanos e ingleses que
injetaram uma nota de dúvida naquelas declarações róseas. De suas fontes nos
governos europeus no exílio e de outras, ele cou com uma razoável noção do que
havia ocorrido em Teerã, e que não fora uma história de amizades sem ressalvas.
Ardente admirador do Exército Vermelho e de suas vitórias no Front Oriental,
Murrow, apesar disso, sempre suspeitara de Stalin e de suas intenções a respeito
do Leste Europeu. “Gente que conversou [330] muito com Stalin acha que ele
não está interessado em conquistar mais território,” disse o repórter da CBS num
programa transmitido antes de Teerã. “Mas as nações vizinhas da Rússia não
estão muito seguras disso. Elas gostariam de saber se a Inglaterra e os EUA
chegaram a algum acordo com a Rússia que lhes dê alguma garantia de que
podem, de fato, contar com as benesses prometidas pela Carta do Atlântico.”
Depois de Teerã, Murrow reportou que, na realidade, houve dissensões na
conferência. Criticou aquilo que chamou de esvaziamento dos princípios e
idealismo dos Aliados Ocidentais — declarações que lhe valeram pesadas críticas
de patrocinadores e ouvintes. “Parece que as pessoas querem ser enganadas,
querem acreditar que as coisas serão fáceis, que três líderes podem se sentar à
mesa de negociações durante quatro dias e chegar a conclusões fundamentais,”
escreveu a um amigo em Nova York. “Qualquer pequeno esforço no sentido do
realismo é logo rotulado como cansaço, cinismo e pessimismo. Tenho recebido
uma boa quantidade de observações como essa, partida recentemente de nosso
país.”
E acrescentou: “Houve uma ocasião nessa guerra em que fui um dos poucos
americanos otimistas em Londres, porque as questões eram simples. O resultado
poderia ser decidido pelos nervos e pela bra de um povo que tem forte senso de
história. Porém, agora, a mim parece que estamos entrando em um estágio em
que decisões precisam ser tomadas — e essas decisões simples não estão sendo
tomadas.”
 
Apesar de sua retórica idealista quanto a se criar um mundo justo
e livre de con itos após a guerra, Roosevelt, como Churchill, tinha pouco
interesse num planejamento sério e de longo prazo para traduzir tal mundo em
realidade. De fato, durante grande parte da guerra, o Presidente se recusou
rmemente a qualquer discussão detalhada sobre organizar e manter a paz. Os
dois líderes ocidentais estiveram totalmente voltados para a tarefa imediata —
vencer a guerra. Stalin, ao contrário, deixou claro em Teerã que suas ações
bélicas estavam inextricavelmente ligadas à sua estratégia do pós-guerra de
domínio sobre a Polônia e outros estados vizinhos.
A visão de Roosevelt de amizade com os soviéticos após a luta armada era,
como diz o historiador Warren Kimball, “vaga e mal de nida,” sem apoio em
quaisquer planos práticos para implementar tal relação. O Presidente, decerto,
parecia despreocupado quanto a possíveis perigos que pudessem surgir com a
transformação da União Soviética em potência mundial depois da guerra, como
ele mesmo havia proposto. Na verdade, alguns céticos perguntaram: Que existe
para evitar que qualquer dos Quatro Grandes policiais — Estados Unidos,
Inglaterra, União Soviética e China — imponham sua vontade a estados menos
poderosos? (Depois de fazer essa indagação ao seu marido, Eleanor Roosevelt
disselhe que achava “cheia de perigos [331]” sua ideia dos policiais.) E como
conciliava o Presidente seu conceito de quatro todo-poderosos mantenedores da
paz com sua proposta de uma organização internacional de nações iguais e
independentes?
Em abril de 1943, FDR passou toda uma tarde descrevendo para Daisy
Suckley como ele visualizava a estrutura da nova organização. Ele gostaria de ser
seu chefe, tendo Gil Winant e Harry Hopkins como assistentes. A seu ver, a
organização promoveria reuniões anuais em diferentes países e, pelo menos por
meio ano, caria baseada numa ilha, com um bom aeroporto por perto. Sua
equipe de auxiliares seria pequena, em sua maioria secretários e estenógrafos,
mas também existiriam membros de outras nações.
Obviamente, isso era sonhar acordado, porém, mais tarde, quando a guerra
caminhava para uma conclusão, FDR ainda falava em algumas especi cidades
sobre o funcionamento da organização para manter a paz. Como era seu hábito
nas questões internas, seu modo de lidar com esse e diversos outros problemas do
pós-guerra, inclusive a relação da América com os soviéticos, era “adiar, evitar,
evadir-se e esquivar-se,” como observou Warren Kimball. O Presidente estava
claramente determinado a manter suas opções abertas pelo maior tempo possível.
Quando o subsecretário de Estado, Sumner Welles, sugeriu a criação de um
grupo de representantes dos aliados para começar o planejamento dos acordos de
paz e das políticas internacionais do pós-guerra, Roosevelt, segundo Welles,
“rejeitou sumariamente” a ideia. O Presidente também não manifestava o menor
entusiasmo pelos esforços das autoridades do governo inglês, em particular de
Anthony Eden e seus subordinados no Foreign O ce, para prepararem seus
próprios planos, que incluíam o esboço de um possível e futuro acordo de paz.
(Conquanto o próprio Churchill também não se interessasse por tal trabalho, ele
pelo menos não procurava obstruir as iniciativas de Eden e de outros do seu
governo.) Harry Hopkins alertou os ingleses contra as tentativas de tomarem a
dianteira na formulação de planos para o mundo do pós-guerra. O Presidente,
disse Hopkins, era “bastante sensível [332] em relação a essas questões, pois
considerava o acordo pós-guerra, por assim dizer, um problema seu.”
Forte proponente do planejamento para o pós-guerra, Gil Winant viu-se
encurralado, de um lado, pelo Presidente, e, do outro, por Eden e os governos
europeus no exílio. Pelo início de 1943, tais governos pressionavam a Inglaterra e
os Estados Unidos a começarem o planejamento para a reconstrução econômica
da Europa após a guerra. Winant provocou repetidas vezes Washington a
assumir uma posição quanto a essa reconstrução, sublinhando que o governo
inglês “é acusado de inação numa oportunidade em que está ansioso por
mergulhar nesse trabalho, mas é impedido por nós. (...) É importante que não
procrastinemos por muito tempo e não deixemos nossos aliados europeus
continentais duvidosos se cooperaremos ou nos afastaremos, como zemos na
última guerra.”
Mas o governo dos EUA continuou procrastinando quanto ao problema da
reconstrução, como também quanto à questão da ajuda às populações europeias à
medida que se libertavam da ocupação alemã. Foi só quando os ingleses criaram
uma comissão interaliada para planejar a assistência e a reconstrução da Europa
continental que os EUA nalmente intervieram, criando a Agência das Nações
Unidas para a Assistência e Reabilitação a m de supervisionar o esforço dos
aliados.
O governo Roosevelt estava determinado a ter o controle sobre todos os
aspectos do planejamento anglo-americano do pós-guerra. Nem o Presidente
nem Hull viam com bons olhos quaisquer discussões substantivas fora de
Washington. Aconteceu que essa recalcitrância teria papel importante no
torpedeamento dos esforços para resolver um dos problemas mais vitais — e
explosivos — enfrentados pelos aliados: o do futuro da Alemanha pós-guerra.
 
Pouco antes da Conferência de Teerã , Roosevelt, Churchill e
Stalin haviam criado uma comissão anglo-americano-soviética para preparar os
planos da rendição e da ocupação pós-guerra da Alemanha, bem como as
propostas de longo prazo para estimular a recuperação da Europa ocupada.
Denominada Comissão Consultiva Europeia, o órgão era fruto da mente de
Anthony Eden, que via a participação dos três aliados em tal planejamento de
grande escala como essencial para que se evitassem con itos após a guerra. Hull,
no entanto, deixou logo patente que os Estados Unidos não favoreciam
atribuições tão amplas para a comissão, e, no m, ela tratou apenas da Alemanha.
Em Teerã, os três líderes haviam se digladiado brevemente a respeito do
destino da Alemanha e chegaram a acordos relativos apenas a uns poucos
problemas — controle conjunto de Berlim e divisão do país em três zonas de
ocupação, a serem administradas pelos três maiores aliados. Os Três Grandes
deixaram os detalhes de como a divisão seria processada — e de outras questões
relacionadas ao Reich, inclusive seu possível desmembramento — para a
Comissão Consultiva Europeia baseada em Londres, cujos membros eram
Winant, Feodor Gusev, embaixador soviético na Inglaterra, e Sir William Strang,
alto funcionário do Foreign O ce inglês.
Quando a comissão se reuniu pela primeira vez, em janeiro de 1944, Strang
chegou armado de vinte e nove documentos para serem apreciados, inclusive
uma minuta de instrumento de rendição e uma proposta de acordo sobre
detalhes das zonas de ocupação americana, britânica e soviética. Gusev também
trouxe diretrizes de seu governo. Só Winant não recebeu orientação ou proposta
alguma de Washington, em grande parte por causa das desavenças entre os
departamentos da Guerra e de Estado quanto à política para a Alemanha do pós-
guerra. Os funcionários do Departamento da Guerra insistiam que os termos da
rendição e da ocupação eram questões puramente militares e não deveriam ser
apreciados pela Comissão Consultiva Europeia. Num memorando para Harry
Hopkins, John McCloy, secretário assistente do Departamento da Guerra,
queixou-se de que os ingleses procuravam controlar o planejamento pós-guerra
para a Alemanha e declarou que nenhum órgão civil, em especial aquele baseado
em Londres, deveria ter autoridade para tomar decisões importantes. Em gritante
oposição a esse ponto de vista, Winant e bom número de funcionários do
Departamento de Estado argumentavam que todos os três aliados deveriam ser
incluídos no planejamento para a Europa; caso contrário, no m da guerra
haveria caos e decisões unilaterais para a ocupação.
No m, o Departamento da Guerra ganhou a disputa burocrática,
bloqueando uma efetiva participação dos EUA nos processos da comissão.
Quando Winant enviou para Hull os documentos apresentados pelo governo
inglês e solicitou orientação, não recebeu de volta nenhum comentário de
Washington por dois meses. Vezes sem conta, o embaixador, “bastante
envergonhado” com a intransigência de seu governo, requereu orientação e
diretrizes de Hull e Roosevelt, mas em vão. O Presidente, que queria manter em
suas mãos, nas de Stalin e nas de Churchill a tomada de decisões do pós-guerra,
jamais demonstrou entusiasmo pelas atividades da comissão, nem era simpático à
ideia de se formularem termos especí cos para a paz antes do m da guerra.
“Tenho me preocupado [333] um bocado,” escreveu ele a Churchill em fevereiro
de 1944, com “a tendência dos aliados de se prepararem para os eventos futuros
com tantos detalhes que podem nos deixar em apuros quando a hora chegar.”
Outros, incluindo Winant, inquietavam-se justamente com o contrário — o
fato de que o descuido em planejar as consequencias da guerra semearia
problemas bem além da imaginação do Presidente.
18

“Será Que o Diabo Dessa


Coisa Vai Funcionar”
 
Para quem morasse no sul e no leste da Inglaterra na primavera de
1944, não houve a menor dúvida de que a tão esperada invasão da Europa era
iminente. O céu sobre a East Anglia '' cou tão engarrafado [335] de tráfego
quanto Piccadilly Circus,'' abarrotado dia e noite com trovejantes Fortalezas,
Liberators, Lancasters e Wellingtons, a caminho de suas missões de bombardeio
de ferrovias e instalações de transporte marítimo na França. Comboios de
caminhões, carros de combate e velozes jipes obstruíam estradas e ruas do sul,
enquanto artilharia e armamento pesado camu ado, em conjunto com milhões
de caixas e pacotes de suprimentos, formavam grandes pilhas nos bosques,
campos, parques de diversão, gramados de vilarejos e ao longo das estradas e
atalhos. Segundo Mollie Panter-Downes, do The New Yorker, o interior rústico e
charmoso da Inglaterra transformara-se, “na sua maior parte, em algo de que se lê
a respeito nos livros.”
As docas dos portos do sul do país, com seus guindastes altos e en leirados,
se viam repletas de navios de todos os tipos para navegação em mar alto —
belonaves americanas e inglesas, barcaças de desembarque e navios mercantes de
várias partes do mundo. A ilha estava, sobretudo, apinhada de soldados — mais
de dois milhões de ingleses, americanos, canadenses e de outras nacionalidades
— que passavam por rigoroso treinamento no litoral e em campos de instrução
durante a semana, para depois jorrarem pelas cidades e vilas, nas noites de
sábado, a m de liberarem energias e emoções. Residir na Inglaterra durante
aquele período, observou Panter-Downes, era como “viver numa enorme
combinação de porta-aviões com doca utuante transbordando de soldados e
com armazém enorme de material estocado até o teto com rótulo de Europa.”
A primavera naquele ano foi belíssima, mas o povo da Inglaterra não deu
atenção à beleza — ou a qualquer coisa que não fosse a invasão. Boatos sobre a
data e destino corriam por Londres como um vírus. Simplesmente esperava-se,
lembrou Robert Arbib, “de ouvido colado ao rádio, lendo sofregamente os jornais
e observando com atenção o céu e o tempo.” Vigiavam o céu,” acrescentou Mary
Lee Settle, “como um fazendeiro [336] tentando prever o tempo.”
 
Ninguém mais atento ou tenso do que o homem selecionado para
comandar a operação. O general Dwight Eisenhower havia retornado a Londres
em janeiro de 1944 com um novo título de peso — Comandante Supremo no
Quartel-General da Força Expedicionária Aliada (Supreme Headquarters
Allied Expeditionary Force — SHAEF) — e responsabilidades ainda mais
pesadas: pelos quatro meses seguintes, organizaria e dirigiria a mais complexa,
decisiva e imensa aventura militar da história.
Sua missão fora algo aliviada por Sir Frederick Morgan, o general inglês que,
por quase um ano, supervisionara o planejamento inicial da Operação Overlord.
Dotado de agudo senso de amizade e simpatia pelos americanos, Morgan ganhou
o respeito de Marshall e de Eisenhower, este a rmando que Morgan deveria
receber o crédito por “tornar possível o Dia-D.” Como Eisenhower durante o
planejamento da Torch, Morgan se mostrara determinado a amalgamar as
diversi cadas nacionalidades de seu Estado-Maior numa equipe uni cada,
porém, também como Eisenhower, enfrentara grandes di culdades no início.
Houve “incessantes embates de personalidades,” lembra Morgan, não só entre
americanos e ingleses, como igualmente entre os representantes das diferentes
forças singulares e dentro de cada nacionalidade. “O extraordinário,”
acrescentou o general inglês, “não foi a existência da discórdia, mas ela ter sido
dominada.”
O próprio Morgan contribuiu para o orescimento nal do bom ambiente ao
criar uma excelente e próxima relação com seu chefe americano de Estado-
Maior, general Ray W. Baker. Tão logo começou a colaboração entre os dois,
cada general arrancou um botão de sua túnica e deu ao outro para que o
costurasse em seu uniforme como símbolo da fraternidade. Morgan ainda fez
mais: instalou um bar na Norfolk House, em St. Jame's Square, onde a Torch fora
planejada e onde trabalhava então seu Estado-Maior. Naquele bar, onde os
planejadores se reuniam após o expediente “jamais houve um momento de
dúvida com respeito à inteireza da integração,” observou ele. Os americanos do
Estado-Maior de Morgan podiam detestar a comida inglesa — e vice-versa —
mas, com respeito a líquidos, os hábitos americanos e ingleses pareciam bastante
similares. Na ocasião em que Morgan e seus subordinados completaram a
primeira minuta dos planos para a Overlord, houve uma celebração em grande
estilo no último andar da Norfolk House, animada por uma orquestra inglesa de
música dançante e uma banda americana de swing. “Todos se divertiram [337]
muito,” lembrou ele.
A crescente aproximação e con ança recíproca entre os integrantes do
planejamento de Estado-Maior caram evidentes em determinado dia durante
uma conversa telefônica transatlântica entre Londres e os chefes militares em
Washington. Como era normal, muitos ouviam a conversa pelos alto-falantes nos
dois lados. Na conclusão da chamada, o principal interlocutor em Washington —
uma general de alta patente — aconselhou a outra extremidade da linha: “Pelo
amor de Deus, não revelem aos ingleses” os assuntos em discussão. Ao escutar
boas gargalhadas do outro lado, o general quis saber o que era tão engraçado.
Disseram-lhe que ouviam, entre outros ingleses, dois generais e um almirante.
Quando Eisenhower assumiu a che a da Overlord, aplicou-se em fomentar o
mesmo tipo de camaradagem dentro de seu próprio Estado-Maior, tal como o
zera na Torch. Porém, dessa vez, isso seria feito fora da Norfolk House. Para
desgosto de muitos da equipe do SHAEF, Eisenhower mudou seu quartel-
general para Bushy Park, um subúrbio perto do palácio de Henrique VIII, em
Hampton Court, longe das tentações e prazeres do oeste de Londres e a cerca de
quinze quilômetros do coração da capital. “Dessa forma, não seremos envolvidos
pelo diz que diz da sociedade,” revelou Eisenhower a Kay Summersby, “e os
o ciais, com mais tempo juntos, conhecerão uns aos outros com maior rapidez.”
Houve muitos “protestos e previsões sombrias,” assim como numerosos
desacordos e choques de personalidades entre os aliados, registrou o general em
suas memórias. Não obstante, disse ele, os membros da equipe “criaram por m
uma relação que compensou bem as pequenas inconveniências.” Tais
“inconveniências” incluíam prédios administrativos sem aquecimento e com piso
de concreto, barracões semicilíndricos Quonset como alojamento para os o ciais
subalternos e barracas para as praças. Contudo, apesar dos desconfortos, muitos,
se não a maioria dos que trabalharam no SHAEF nos meses que antecederam o
Dia-D, lembraram-se da experiência como feliz e harmoniosa, graças em grande
parte ao seu chefe. Eisenhower era “querido e respeitado por quase todos,” disse
um o cial da Inteligência dos EUA e do Estado-Maior do SHAEF. O historiador
inglês John Wheeler-Bennett, que também servira nesse estado-maior durante a
guerra, observou que o comandante supremo “pôs-se deliberadamente num
estado de espírito que, literalmente, não conhecia as diferenças entre os dois
principais aliados sob seu comando.” Norman Longmate, outro futuro
historiador que também trabalhou no SHAEF, disse que ele e seus compatriotas
ingleses “consideravam Ike [338] um herói. Acreditávamos que ele era
genuinamente preocupado com o bem-estar de todos os que serviam no QG,”
como mostrou sua insistência para que os militares britânicos recebessem os
mesmos privilégios que os americanos de frequentar os reembolsáveis.
 
Sobre a OPERAÇÃO OVERLORD, escreveu o historiador Max Hastings:
Foi “o maior feito organizacional da Segunda Guerra Mundial, um trabalho de
estado-maior que fascinou a história, um monumento à imaginação dos
planejadores e logísticos americanos e ingleses que talvez jamais venha a ser
ultrapassado.” Tal análise foi escrita, é claro, bem depois que os desembarques do
Dia-D tiveram lugar. Antes deles, muitos dos envolvidos no planejamento, até
mesmo Eisenhower, viam-se assaltados pela preocupação de que os aliados não
estavam prontos para a operação e que ela redundasse em completo fracasso —
“um desastre” — como disse Frederick Morgan, “com as dimensões mais
arrasadoras.”
A espantosa magnitude da Overlord fez a Torch e praticamente qualquer
outra operação militar anterior, americana ou inglesa — parecer brincadeira de
criança. No total, aproximadamente dois milhões de soldados, marinheiros e
aviadores, de meia dúzia de países aliados, participariam dos desembarques e da
subsequente progressão pela Normandia, criando problemas logísticos e outros
que desa avam a imaginação. Os aliados teriam de fazer o que ninguém mais
conseguira desde William, o Conquistador, em 1066: montar um assalto bem-
sucedido através do Canal.
Havia dúvida e ansiedade sobre quase todos os aspectos da operação — desde
o número insu ciente de barcaças de desembarque, passando pelo
tradicionalmente imprevisível tempo no Canal, até isu ciência de suprimentos.
Por semanas, Eisenhower discutiu com os barões do bombardeiro aliado, Tooey
Spaatz e Arthur Harris, que continuavam a acreditar que forças aéreas poderiam
vencer sozinhas a guerra, a despeito de todas as evidências em contrário, e
resistiam em pôr seus aviões e tripulações sob o comando direto de Ike. “Juro por
Deus,” estourou Eisenhower para um colega inglês, “diga àquele bando que, se
eles não puderem trabalhar em conjunto e não pararem de discutir feito
meninos, vou dizer ao primeiro-ministro que escolha outro para dirigir essa
maldita guerra!” A nal, tanto Spaatz como Harris capitularam, porém, segundo
o comentário posterior do general Omar Bradley, que comandaria o I Exército
dos EUA na Normandia, uma das consequências da teimosia dos dois foi
“partirmos para a França [339] quase totalmente destreinados na cooperação
terra-ar.”
Apesar de os dois comandantes de força aérea serem bastante difíceis, eles
não constituíam a principal preocupação de Eisenhower e seus auxiliares dos
altos escalões. Acima de tudo, os chefes das divisões do SHAEF temiam que as
forças terrestres dos aliados — elemento-chave da operação — não estivessem à
altura da missão. Ike, Bradley e outros comandantes em campanha não se
impressionaram, para dizer o mínimo, com o desempenho da tropa nos exercícios
anfíbios e de outros tipos que haviam presenciado, naquela primavera, na costa
sul da Inglaterra. Bradley quali cou um desembarque anfíbio simulado “mais
como uma manobra de tempo de paz do que como ensaio nal para um assalto ao
continente.” Harry Butcher anotou em seu diário que a muitos jovens o ciais
americanos parecia faltar determinação e rmeza de propósito, aparentando
“encarar a guerra como uma grande manobra na qual estivessem desfrutando de
tempos divertidos.”
Assustado com as lembranças dos calamitosos desembarques em Gallipoli e
dos banhos de sangue da Primeira Guerra Mundial, Churchill partilhava as
inquietações de Eisenhower. Tendo resistido à Overlord por tanto tempo,
receosos de seus enormes perigos, o primeiro-ministro e Alan Brooke estavam,
nas palavras de Brooke, “uns trapos, em função das dúvidas e temores,” à medida
que a data para o lançamento da operação se aproximava. “Jamais vou querer
passar por uma situação como esta,” escreveu Brooke em seu diário em 27 de
maio. “A operação de travessia do Canal está me consumindo por dentro.”
De sua parte, Eisenhower, que fora um dos principais defensores da
operação desde o início da aliança, transpirava con ança em público, como
sempre o zera. Emocional e sicamente, no entanto, estava um farrapo. Fumava
e bebia em excesso e sofria de dores de cabeça, recorrentes in amações da
garganta, violentos acessos de tosse, subidas vertiginosas da pressão sanguínea,
dores estomacais e insônia crônica. “Ele estava nervoso como jamais o vi e
extremamente deprimido,” observou Kay Summersby.
Com a Overlord, bem sabia o comandante do SHAEF, não haveria uma
segunda chance. “Nesta empreitada, não estamos simplesmente arriscando uma
derrota tática,” escreveu ele no início de abril, “estamos apostando todas as chas
num só número.”
 
Enquanto Eisenhower e seu estado-maior agonizavam de
apreensão quanto ao Dia-D, em Bushy Park, uma atmosfera frenética e
carnavalesca tomava conta da apinhada e estrepitosa Londres. O tráfego
engarrafava a todo instante, os restaurantes e clubes cavam abarrotados, e eram
necessários, dias, por vezes semanas, para que recém-chegados à capital
encontrassem um quarto de hotel ou um apartamento para alugar. Muitos eram
jornalistas americanos, provindos de todas as regiões do mundo, a m de carem
prontos para cobrir a maior história da guerra. Ernie Pyle, que viera da Tunísia,
escreveu: “Concluí que [340], se o Exército não conseguisse desembarcar no
Dia-D, havia quantidade su ciente de correspondentes americanos em Londres
para que tentar abrir uma cabeça de praia própria.”
Como Pyle, muitos dos cerca de quinhentos repórteres que estavam então na
capital britânica tinham chegado de outros campos de batalha — norte da África,
Itália, Ásia e Pací co; alguns eram grisalhos veteranos que haviam coberto a
Primeira Guerra Mundial, enquanto outros eram espantados “focas,” acabados
de assumir sua função nas seções de notícias das cidades, sociais e esportivas dos
respectivos jornais. Um bom número representava publicações, como as revistas
Vogue e Sporting News, jamais conhecidas por seu interesse na guerra. Surpreso
com a natureza eclética de seus novos e inexperientes colegas, Pyle pilheriou: “Se
a Dog News não enviar rapidamente alguém para cobrir o ângulo dos cães da
invasão, eu, pessoalmente, nunca mais comprarei um exemplar da revista.”
Enquanto esperavam pelo Dia-D, os recém-chegados mergulharam de
cabeça na superaquecida vida social de Londres; para muitos, as semanas que
antecederam a invasão se transformaram numa festa sem pausa; almoços,
jantares, coquetéis, dança de rosto colado nos nightclubs e jogos de pôquer que
varavam a madrugada em quartos de hotel com cheiro de gim e cigarros. Àquela
época, vinhos e bebidas mais fortes tinham se tornado quase impossíveis de
conseguir para a maioria dos residentes londrinos, porém, com seus polpudos
salários, status quase o cial, e vastas coberturas de despesas, os jornalistas dos
EUA, como seus conterrâneos militares, não tinham problemas para desencavar
enormes quantidades de bebida.
Anos depois da guerra, Bill Paley lembrava-se com saudade daqueles dias e
noites de farra pré-invasão. Recordando-se de uma reunião só para homens,
regada com muita bebida, que ocorreu no apartamento de Charles Collingwood
e transbordou para a rua, o chefe da CBS disse: “Tudo que aconteceu [341]
naquela noite foi divertido. (...) Todos gostavam de todos, e discussões ocorriam
em profusão, discussões sem o menor sentido, mas foi uma das noites mais
extraordinárias de minha vida.”
Outro inveterado frequentador de festas daquele tempo foi Ernest
Hemingway, que chegou a Londres em maio como repórter especial da Collier's.
A designação do famoso romancista para cobrir a Overlord não se deveu a uma
paixão recente por se tornar correspondente de guerra, mas a um desejo de
agastar sua esposa jornalista, Martha Gellhorn, da qual estava separado.
Também correspondente da Collier's, Gellhorn, que cobrira a campanha da
Itália, escreveu para Hemingway no m de 1943: “Acho que você vai se sentir
muito desapontado como escritor, se isso tudo acabar e você não tiver
participação nos acontecimentos.”
Sabendo que, se escrevesse para a Collier's, ele ofuscaria Gellhorn na revista,
Hemingway conseguiu, através de pistolão, a missão de cobrir as atividades da
RAF. Uma vez em Londres (que ele insistia em chamar de “velha e querida vila
de Londres”), hospedou-se no Dorchester e se dedicou mais à bebida e às
mulheres do que ao jornalismo. John Pudney, jovem o cial de relações públicas
da RAF designado para facilitar a vida de Hemingway, achou-o chato e
desagradável. “Para mim, ele era um sujeito obcecado em desempenhar o papel
de Ernest Hemingway,” disse Pudney, “um ator sentimental do século XIX
requisitado para representar o personagem de um cara durão do século XX. Ao
lado (...) de um punhado de homens moços que se comportavam com modéstia e
distinção perante a Morte, ele parecia uma bizarra gura de papelão.”
Poucos dias após a chegada a Londres, Hemingway conheceu Mary Welsh e
anunciou que planejava se casar-se com ela. Para Welsh, ele se queixava de estar
sendo assediado por um bando de socialites e aristocratas londrinas que,
seduzidas por sua fama e imagem de garanhão, vinham ao seu quarto de hotel
para namoricos e breves encontros sexuais. “Em geral, elas pretendem passar a
noite comigo,” resmungou, “e depois querem que [eu] as leve para casa,
exatamente a tempo de encontramos milord saindo, de manhã, para o escritório.”
 
Contudo, nem todos os jornalistas americanos se deixaram levar
pelo frenético redemoinho social da capital. Ed Murrow, a exemplo de diversos
outros correspondentes antigos em Londres, estava ocupado demais com os
preparativos da cobertura da Overlord para dedicar tempo a tal frivolidade.
Como re exo de seu status como jornalista de destaque na capital, então
presidente da Associação Americana de Correspondentes no Exterior, ele estava
envolvido com quase todos os aspectos das atividades preparatórias para o Dia-D.
Na companhia de três outros repórteres, colaborava com o SHAEF para
equacionar a miríade de problemas logísticos da cobertura da imprensa: quantos
jornalistas testemunhariam os desembarques, como chegariam lá, aonde iriam,
como transmitiriam suas reportagens. Em função das incertezas da radiodifusão a
partir da França, as redes americanas de rádio tinham concordado em coligar-se
quanto às reportagens sobre a Overlord, e Murrow fora indicado para dirigir o
esforço conjunto. Também fora escolhido para transmitir a proclamação de
Eisenhower às tropas aliadas no Dia-D.
Todas essas atribuições eram uma distinção para o radiorrepórter da CBS,
mas ele não estava feliz com nenhuma delas. O que mais queria era cobrir a
invasão. Nos últimos quatro anos, zera muito poucas reportagens sobre a guerra,
cando à retaguarda no remanso de Londres e invejando os correspondentes da
linha de frente, da Tunísia ao Mar do Sul da China. Para um homem que odiava
car sentado no escritório, aquela inação era uma tortura.
Na noite de véspera da partida de Charles Collingwood para o norte da
África, ele e Murrow saíram para beber. Quando voltaram tropeçando para o
apartamento de Murrow, não só por causa do blackout, mas devido em grande
parte ao excesso de bebida, Murrow chutou uma lata de lixo e exclamou, “Céus
[342], como eu invejo sua partida! Eu queria mesmo é ir com você!” Poucos
meses depois, passou algumas semanas no front da Tunísia, porém seus
superiores na CBS deixaram bem claro que ele era muito valioso para a rede e
não deveria arriscar a vida com tal frequência. Dos vinte e oito correspondentes
dos EUA selecionados para cobrir o Dia-D, cinco representavam a CBS — uma
conquista notável para uma organização de notícias que nem existia sete anos
antes. Todavia, como Murrow sabia desde cedo, o homem-chave para a criação
da CBS não estaria entre os cinco sortudos.
No entanto, se estava impedido de trabalhar na linha de frente, Murrow
conseguiu arranjar uma maneira de cortejar o perigo. Nos cinco meses
anteriores, pegara carona em uma dúzia de missões de bombardeio da RAF e da
8ª Força Aérea, a maioria para atacar a Alemanha. A história que contou sobre
um de seus voos, transmitida em dezembro de 1943, foi quali cada entre as mais
conhecidas radiodifusões da Segunda Guerra Mundial. Um relato sem retoques
do terror da guerra aérea, tanto em terra como no céu, começou com a frase: “Na
noite passada [343], alguns jovens gentlemen da RAF levaram-me a Berlim.” Um
Murrow exausto, abalado e de olhos injetados, recém-chegado da missão, falou
da matança que ocorrera em seu entorno e abaixo dele — “Homens morrem no
céu enquanto outros são torrados em seus porões” — e descreveu “quão
apavorado” cara quando seu bombardeiro da RAF foi apanhado pelo foco de
um re etor alemão. Naquela noite, disse ele, Berlim fora “uma espécie de inferno
orquestrado. (...) Em cerca de 35 minutos, ela foi atingida por, talvez, o triplo do
que caiu sobre Londres numa Blitz de noite inteira.”
Nos dias seguintes, o radiorrepórter da CBS recebeu grande quantidade de
cartas e telegramas de todas as partes do mundo. A BBC, considerando sua
história “uma das mais admiráveis jamais difundidas pelo rádio,” transmitiu-a
para todo o país, e jornais da Inglaterra e dos Estados Unidos publicaram-na em
suas primeiras páginas. Entre eles, o Daily Express, cujo editor, Arthur
Christensen, classi cou a obra como “magní ca” e “a única boa matéria escrita
sobre bombardeios.” Ele enviou polpudo cheque para Murrow, que o utilizou
para comprar livros e um rádio novo para a base da RAF onde servia a tripulação
que o levara até Berlim. “Ed era bastante crítico sobre a vida em geral,” observou
Pamela Churchill, “mas não escondia sua enorme admiração pelos jovens
aviadores.”
Num jantar de gala no Savoy para celebrar o vigésimo primeiro aniversário
da BBC, Brendan Bracken, ministro da Informação, transformou a ocasião em
tributo a Murrow (“o amigo mais leal da Inglaterra”) e à sua história (“uma das
peças escritas mais notáveis que jamais li”). Mais ou menos na mesma ocasião,
Bracken escreveu a Murrow: “Meu caro Ed, suas tentativas de desa ar o perigo
são totalmente deploráveis. O valor de seu trabalho na guerra não pode ser
superestimado. E ninguém pode assumir o seu lugar.” Bracken, como muitos
outros amigos de Murrow, lamentava sua tendência de cortejar o risco vezes sem
conta. Uma só missão na Alemanha, vá lá. Porém mais do que uma dúzia? Por
que ele fazia aquilo?
Da perspectiva de Dick Marriott, executivo da BBC, o motivo estava no
sentimento de culpa que Murrow tinha por não participar da luta: “Acho que era
um modo de compensação por não estar na refrega.” Herbert Agar acreditava
que era atração do perigo que levava o radiorrepórter para as missões de
bombardeio: “Era uma espécie de droga [344] sem a qual ele se sentia vazio. (...)
Ed estava sempre à vontade quando as bombas caíam ou quando quebrava as
regras e subia bem alto para dar mais uma espiada na morte.” Eric Sevareid disse
que seu chefe tinha “uma ligação com a velocidade. (...) Ele a adorava; quanto
mais rápido, melhor. Dava-lhe uma espécie de exaltação.”
De sua parte, Murrow tinha diversas explicações para seus repetidos riscos
de vida no ar. Uma das razões, admitiu à New Yorker, como Sevareid supunha,
era seu amor pela velocidade. Outra era vaidade: “Três ou quatro vezes em
Londres, enquanto eu me encontrava sentado no escritório, ouvimos a BBC
reproduzindo coisas que eu havia dito, e nada fazia eu me sentir tão bem quanto
aquilo.” A um amigo, escreveu: “para redigir ou falar sobre perigo, é preciso senti-
lo. A experiência ensina alguma coisa sobre o que acontece com os combatentes
e, talvez mais importante, com o que ocorre em nós mesmos.” Porém, como
reconheceu numa carta à sua cunhada, ele também utilizava as missões como
válvula de escape para as incessantes pressões pessoais e pro ssionais a que
estava sujeito. Ele vivia, escreveu para ela, em um quase contínuo estado de
“fadiga e frustração.” Seu estress no trabalho se multiplicava, e sua vida
doméstica estava cada vez mais tensa e infeliz, graças, em grande parte, ao seu
caso amoroso com Pamela Churchill. “Quando voo,” disse ele, a infelicidade
“parece se afastar. Mas sempre volta.”
Fossem quais fossem os motivos para a compulsão de Murrow, Bill Paley
queria que ela tivesse um ponto nal. “Tentei convencê-lo de que era um grande
tolo quando participava de tantas missões,” lembrou Paley. “Achei que ele tinha
atração pela morte. Não sei o que era, mas o perigo para ele tinha um efeito
estimulante.” Em 1943, o chairman da CBS conseguiu arrancar de Murrow a
promessa de que não participaria mais de missões aéreas, mas bastaram uns
poucos dias para que a quebrasse. Quando a guerra terminou, o radiorrepórter
havia voado em vinte e quatro incursões de bombardeios. Pouco antes do Dia-D,
ele fez sua primeira transmissão ao vivo a bordo de um bombardeiro americano
voando em missão sobre a França ocupada.
 
No fim de maio de 1944, Londres começou a esvaziar. As multidões
de soldados, marinheiros e aviadores — que poucos dias atrás atulhavam
Piccadilly, olhando as garotas e tentando entrar em pubs já apinhados —
desapareciam rapidamente. Estavam a caminho das zonas de reunião na costa sul
da Inglaterra, interdita a visitantes. Dia após dia, colunas aparentemente
intermináveis de caminhões camu ados, alguns dos comboios com quilômetros
de comprimento, estendiam-se pelas estradas do país, com seus ocupantes
rumando para os portos do Canal — e, ao cabo, para a Normandia.
A partida, para muitos americanos e ingleses, foi como ser arrancado. Entre
aqueles que experimentaram um senso de perda estava Robert Arbib que, como
bom número de GIs, passara a se sentir em casa na Inglaterra. “Não mais uma
terra [345] estranha e desconhecida,” a Inglaterra e seu estilo de vido tinham se
tornado “nosso estilo de vida, e sua gente, os meus amigos,” escreveu Arbib mais
tarde. “Da mesma forma que relutáramos em deixar a América, tivemos então
di culdade de nos despedir da Inglaterra.”
Em Bristol, uma coluna de caminhões do exército fez alto, às quatro da
madrugada, defronte a uma casa para que um jovem soldado americano pudesse
descer correndo e entrar na residência para se despedir da família com a qual
zera amizade. “Permanecemos de pé na calçada, beijamo-nos e abraçamo-nos,
derramando algumas lágrimas,” ele se lembrou anos mais tarde. Numa pequena
cidade do sul da Inglaterra, outro comboio de viaturas pesadas e tanques parou
rapidamente em frente a uma la de casas, nos portões das quais estavam muitos
residentes. De súbito, uma mulher saiu de uma das residências carregando tigelas
de morangos com creme. Ela entregou uma das tigelas a um jovem tenente
chamado Bob Sheehan, beijou-lhe a testa e murmurou, “Boa sorte, volte em
segurança.” Galvanizados por aquele gesto de gentileza, outras pessoas entraram
em casa e trouxeram, momentos depois, chá e limonada, para os encalorados e
sedentos pracinhas. Ainda outras convidaram alguns americanos a entrar para
uma chuveirada e se barbearem. Por aqueles poucos minutos, recordou Sheehan,
“houve um tipo de companheirismo que eu jamais sentira antes. Um
compartilhar de espíritos. Não éramos mais nós e eles. Éramos uma família, e o
perigo rondava.”
Mais tarde, naquele mesmo dia, uma mocinha de Plymouth observava
enquanto soldados americanos às centenas embarcavam nas barcaças de
desembarque do porto. “Meu coração doía,” lembrou ela. “Quase não podia ver
por causa das lágrimas.” Outra jovem inglesa observou. “Tudo cou tão triste
quando eles partiram. O mundo todo se abrira para mim, e agora se fechara de
novo.”
 
Quando ouviram o ronco dos bombardeiros , todos perceberam
na Inglaterra que chegara o Dia-D. Pouco depois da meia-noite de 6 de junho,
centenas de aviões ingleses e americanos encheram o céu de East Anglia, com o
barulho de seus motores que, nas palavras de Ed Murrow “pareciam uma
gigantesca [346] fábrica no céu.” Ao longo de toda a noite aquele som persistiu, e
quando o dia nalmente nasceu, os ingleses saíram de suas casas, agitando
toalhas de mesa e bandeiras para as formações de aeronaves voando, asa com asa,
rumo à França. “Em formação geométrica perfeita, eles trovejavam avançando,”
observou uma mulher. “E não paravam de passar, parecendo que o céu lhes
pertencia.” Um tripulante da 8ª Força Aérea lembrou-se: “A impressão que
tínhamos era de que o céu fora tomado por uma praga de gafanhotos. (...) Tendo
sido um dos primeiros americanos a cruzar o Canal, quando de cinquenta a cem
aviões eram considerados uma formação muito grande, tudo aquilo me fazia
engasgar e provocava lágrimas em meus olhos. A Luftwa e tivera seus dias de
glória; agora era nossa vez.”
O anúncio o cial da invasão foi feito pouco depois das nove da manhã:
“Senhoras e senhores, desembarcamos na França,” disse aos seus operários o
diretor-gerente de uma fábrica inglesa de aviões. Houve um momento de silêncio
espantado, e então, como se fossem uma só, toda a gente diante dele, com
lágrimas escorrendo pelo rosto, começou a cantar “Land of Hope and Glory”
(Terra de Esperança e Glória). Depois, disse um operário, “Voltamos quietos para
o trabalho — e para a vitória.”
Em Londres, os poucos militares americanos que ainda estavam por lá, eram
parados nas ruas por estranhos que queriam um aperto de mãos. Na Grã-
Bretanha e nos Estados Unidos, lojas e cinemas fecharam as portas por um dia, e
eventos esportivos foram cancelados, enquanto os cidadãos se dirigiam para as
igrejas em quantidades recordes. Uma das frequentadoras de igrejas na
Inglaterra foi Janet Murrow, que escreveu aos pais: “A igreja estava mais repleta
do que eu jamais vira — mesmo na Páscoa e no Natal.” De Washington, Franklin
Roosevelt liderou as preces de sua nação, implorando a Deus que protegesse
“nossos lhos. (...) Que os conduzisse bem; que lhes desse força aos braços,
con ança aos corações, rmeza às crenças. (...) O caminho deles será longo e
árduo.”
Na Inglaterra, houve poucas manifestações de entusiasmo e júbilo. “Salvo
pelo barulho dos aviões, tudo estava muito tranquilo,” escreveu Pamela
Churchill a Averell Harriman. “Tratava-se de um grande dia & nenhuma das
pessoas deixadas para trás sabia o que fazer com ele.” Na aparência, tudo
indicava um dia como qualquer outro. As pessoas se dirigiam aos escritórios e
fábricas, faziam compras para o jantar, brincavam com suas crianças, entravam
na la para comprar a última edição dos jornais. “Caminhando pelas ruas [347]
de Londres, dava quase vontade de gritar para os passantes: 'Vocês não sabem
que hoje se escreve a história?'” — disse Murrow aos seus ouvintes americanos. É
óbvio que sabiam, da mesma forma que o radiorepórter; só não sabiam como a
história iria acabar. “Havia uma espécie de respiração suspensa,” observou o
escritor William Saroyan, soldado do exército que servia na Agência de
Informação de Guerra, sediada em Londres. “Todos pareciam estar rezando. (...)
Isso podia ser visto em seus rostos e na maneira das pessoas em suas atividades.
Será que o diabo dessa coisa vai funcionar? Essa era a pergunta.” Especulando
sobre a “calma esquisita” em Londres naquele dia, Mollie Panther-Downes
escreveu na New Yorker: “Podia-se sentir a tensão de uma cidade tentando
projetar-se através dos pomares e milharais ingleses que se postavam no caminho,
através da faixa de água, para chegar até os homens que já começavam a morrer
nos pomares e milharais franceses que, uma vez mais, haviam se tornado 'o lado
de lá.'”
 
Quando o dia amanheceu, em 6 de junho , Richard C. Hottelet,
um jornalista da CBS voando a bordo de um B-26, olhou para o Canal abaixo e
perdeu o fôlego. Sobre a superfície da água, rasgando com velocidade as ondas
batidas pelo vento estava a maior armada que a história militar já havia
testemunhado — las e las de navios, estendendo-se até onde os olhos
alcançavam, rumando para as praias da Normandia. Após retornar à Inglaterra,
Hottelet disse a um colega: “Se eu tivesse que saltar de paraquedas daquele
avião, poderia caminhar pelo Canal pisando só em navios.”
Naqueles navios — e nas vagas de bombardeiros e caças acima — podia-se
testemunhar todo o poderio e grandeza da Aliança Ocidental. As tropas
americanas, inglesas e canadenses do primeiro escalão da invasão foram
transportadas para a Normandia em navios americanos, ingleses, noruegueses,
poloneses e franceses. E tinham recebido proteção aérea de pilotos e tripulações
de americanos, ingleses, holandeses, noruegueses, poloneses, belgas, tchecos e
franceses. Sem perturbação pela Luftwa e e deparando-se apenas com fraca
artilharia antiaérea, os aviões aliados voaram a baixas altitudes sobre a
Normandia, através de cinzentas nuvens de chuva, e despejaram suas bombas.
Mais de quatorze mil sortidas de bombardeiros e caças foram realizadas naquele
dia, e apenas umas poucas aeronaves deixaram de retornar às bases.
Embora a força aérea aliada controlasse os céus, os canhões pesados do
inimigo cobraram um preço inicial bastante alto dos invasores, em especial dos
americanos que desembarcaram na praia Omaha. Apesar disso, pelo m do dia,
cerca de 150 mil militares, com seus equipamentos, viaturas e material bélico,
tinham pisado em solo francês e avançado. Decorrida uma semana, cerca de meio
milhão de homens tinham desembarcado na França.
 
Quando finalmente chegou a notícia do sucesso dos
desembarques, os ingleses caram radiantes, mas a felicidade durou pouco. Uma
semana após o Dia-D, as boas-novas sobre a Normandia foram ofuscadas pelo
início de um novo e apavorante ataque contra Londres. Mais uma vez, os
londrinos se viram submetidos, da mesma forma que os soldados no campo de
batalha, aos terrores da guerra.
Bem cedo na manhã de 13 de junho, um objeto curto, grosso e negro, quase
do tamanho de um avião de caça e emitindo o som crepitante do motor de uma
motocicleta, explodiu numa pequena vila de residências construídas em velhos
estábulos de um subúrbio de Londres matando seis pessoas. Durante os três
meses seguintes, milhares daquelas bombas não tripuladas — conhecidas como
V-1, “buzz bombs” [zunidoras] — foram lançadas pelos alemães a partir do litoral
francês e holandês. Choveram sobre a capital e seus arrabaldes, matando e
ferindo mais de 330 mil pessoas, destruindo cerca de 25 mil casas e dani cando
800 mil outras.
Depois da Blitz, os londrinos haviam experimentado alguns ataques aéreos
alemães bem menos fortes, inclusive uma série de incursões, no inverno de 1944,
conhecida como a “baby Blitz.” Apesar de mais barulhentas e mais concentradas
que as de 1940 e 1941, essas incursões não duravam mais do que uma hora. As
bombas V-1, por outro lado, caíam no solo inglês dia e noite, com tal frequência
que os alertas das sirenes quase não davam descanso. Muita gente considerou
esses novos ataques bem piores dos que os da Blitz. “Nos velhos dias [348], a
alvorada nos trazia alívio,” disse um residente londrino. “Nos tempos de agora, o
começo de um novo dia não ajuda em nada a situação.” Em suas memórias,
Churchill lembrou a insuportável tensão provocada pelas V-1: “O homem que
voltava de noite para casa nunca sabia o que encontraria; a esposa, sozinha o dia
todo com os lhos, não tinha a certeza do retorno do marido em segurança. A
cega natureza impessoal do míssil fazia com que a pessoa em terra se sentisse
indefesa. Havia pouca coisa que se podia fazer, nenhum inimigo humano que
pudesse ser abatido.”
As V-1 ameaçavam os que iam para o trabalho, os que faziam compras, os
que datilografavam nos escritórios ou almoçavam num restaurante. Cinco moças
do WAAF, que se debruçaram numa das janelas do Ministério do Ar para
observar o destino de uma “buzz bomb,” foram sugadas para fora do prédio por
efeito da explosão e foram bater no pavimento. As V-1 eram “impessoais como
[349] uma praga,” escreveu Evelyn Waugh, “como se a cidade estivesse infestada
de enormes insetos venenosos.” Uma mulher de Londres observou: “Agora,
vivemos, dormimos (quando podemos), comemos e pensamos em nada mais do
que bombas voadoras. Elas estão sempre conosco.”
Moradores da capital tiveram de viver em alerta constante, tentando ouvir o
som característico das bombas: um silvo distante que ia escalando até um alto
rugido, seguido de alguns momentos agonizantes de silêncio quando o motor
parava e a V-1 mergulhava na direção do solo. Para muitos, o estresse de ouvir a
bomba desligar e esperar pela explosão se tornou quase insuportável. Em
presença das V-1 até mesmo o mais eumático dos ingleses achou difícil manter a
“pose,” o sti upper lip que os distingue. Quando o zunido da bomba era
interrompido lá em cima, as conversas hesitavam e depois cessavam, os olhares se
dirigiam inquietos para todas as direções até que a detonação era ouvida. Alguns
mais desinibidos de mostrarem medo, se jogavam ao chão ou sob as mesas.
Pela primeira vez, considerável quantidade de americanos sentiu o gosto do
que era ser um londrino sob ataque. A tensão se tornou particularmente aguda
para Eisenhower e seu Estado-Maior em Bushy Park, situado diretamente
embaixo da rota das bombas voadoras. Centenas de V-1 caíram nas vizinhanças,
sacudindo a cabana onde dormia o comandante supremo e fazendo despencar
partes dos rebocos das paredes e tetos do prédio do quartel-general. Só em um
dos períodos de seis horas, Harry Butcher contou vinte e cinco “explosões
violentas e barulhentas” bem próximas. Eisenhower, na companhia de Butcher e
de outros auxiliares viram-se repetidamente forçados a procurar refúgios nos
abrigos de suas casas e do QG para continuar o trabalho. “A maioria da gente que
conheço,” escreveu Butcher, “parece meio entorpecida pela falta de sono e treme
só de ouvir uma porta bater, ou o som de motor de motocicletas ou dos aviões.”
Na realidade, diversos militares de altas patentes dos EUA julgavam ser mais
perigoso viver em Londres do que estar no front da Normandia. Quando uma
“buzz bomb” explodiu no lado de fora de um restaurante onde George Patton
almoçava, o destemido general disse a um companheiro que estava voltando para
o interior, explicando: “Tenho medo de ser morto — isto é, exceto no campo de
batalha.” Durante uma de suas visitas à Normandia, Eisenhower anotou que
muitos GIs americanos lhe perguntaram, “com vozes a itas [350], se eu podia
lhes dar notícias sobre determinadas cidades [próximas de Londres] onde tinham
estado baseados.”
No m de agosto, as tropas aliadas já haviam destruído a maior parte dos
locais onde estavam situadas as rampas de lançamento das V-1, mas a
interrupção das “buzz bombs” não trouxe alívio para Londres. Em 8 de setembro,
os alemães começaram a lançar um míssil balístico ainda mais aterrador — o
foguete V-2 muito maior e bem mais letal. Os V-2 — que transportavam maior
carga explosiva do que as “buzz bombs,” caíam com velocidade superior à do som
e chegavam aos alvos em total silêncio — atormentaram a capital até poucos
meses antes do m da guerra. Mais de mil V-2s explodiram em Londres e seus
arredores, sacudindo a cidade como um terremoto, devastando arrabaldes
inteiros e matando cerca de três mil pessoas.
Os ataques combinados de V-1 e V-2 zeram mais mal ao moral britânico do
que qualquer outro evento de tempo de guerra, não apenas pela natureza
aterrorizante dos ataques, mas também porque, após meia década de privações e
sofrimentos, muitos residentes de Londres haviam chegado ao limite da exaustão
física e emocional. O antigo senso de camaradagem e de determinação dos
tempos da Blitz não eram mais visíveis em lugar algum. “Tivemos de aguentar
coisas horríveis por aproximadamente cinco anos,” escreveu a londrina Vivienne
Hall em seu diário, “e acho que teremos que continuar aguentando, mas, Deus
meu, como já estamos cansados disso tudo! É só trabalhar, viver e dormir em
meio a essa louca e nauseante forma de destruição, semana após semana, mês
após mês. (...) Será que nos livraremos um dia dos estragos e da morte?”
Os diários e cartas de outros residentes de Londres naquele período —
americanos ou ingleses, funcionários do governo ou particulares — estão, da
mesma forma, repletos de con ssões quanto a uma profunda canseira da qual
seus autores não se podem livrar. “A imensa fadiga em que a nação está
mergulhada ca patente nas viagens de trem,” escreveu Mollie Panther-Downes,
“nas quais os civis, assim como os militares, homens e mulheres, caem no sono tão
logo sentam.” Em suas memórias, John Wheeler-Bennett registrou: “Como todo
mundo na Inglaterra, eu estava morto de cansaço,” acrescentando que, no m de
1944, “Whitehall havia perdido grande parte de suas vitalidade e e ciência, e,
em muitos casos, mal gotejava alguns resultados.” Até mesmo o normalmente
efusivo primeiro-ministro parecia afetado. Churchill, aparentando estar “muito
velho e exaurido,” disse a Alan Brooke que perdera a antiga energia,
acrescentando que não mais saltava da cama como antes, e caria “muito
contente se pudesse passar o resto do dia” sob as cobertas.
Numa carta aos pais, Janet Murrow observou “quão cansados [351]” ela e Ed
estavam, e disse mais: “Só espero que essa guerra acabe logo. Tem de haver um
limite para o que a estrutura humana pode suportar.” Na oportunidade em que
um amigo na América perguntou a Murrow por que o povo inglês, que havia
aguentado tanta coisa, estava tão desanimado quando a vitória se aproximava, ele
respondeu: “Olhe aqui (...) Na primeira vez em que alguém bate na sua cabeça
com um martelo, dói bastante. Na segunda, é pior ainda. Na terceira, não dá para
aguentar!”
Na segunda metade de 1944, mais de um milhão de londrinos zeram as
malas e deixaram a capital. A produtividade no trabalho declinou drasticamente,
as crianças não foram mais à escola, e os restaurantes e cinemas, apinhados
poucas semanas antes, caram virtualmente às moscas. “Londres está deserta (...)
o West End está morto,” escreveu uma mulher. “Isso dá um esquisito sentimento
de solidão.”
 
Enquanto os londrinos experimentavam a aflição das “buzz
bombs” naquele verão, as forças aliadas, após os sucessos iniciais na Normandia,
se encontravam engajadas, na França, em batalhas acirradas contra um inimigo
ainda mortífero. Depois de irrromperem das cabeças de praia, viram-se num
emaranhado de hedgerows, perturbadoras cercas vivas no interior francês
[bocages, barrancos ari ciais para delimitar os terrenos] com cerca de dois metros
de altura, encimados de arbustos e árvores, que tornavam o combate não apenas
confuso, mas extremamente brutal e difícil.[*] Para os soldados, o combate se
resumia a corridas bem rápidas e agonizantes através campo, de cerca viva em
cerca viva, e súbitos e violentos embates com focos de soldados alemães. Após
seis semanas da abertura de um sangrento caminho através de tal emaranhado, os
aliados ainda se encontravam a nada mais que cerca de vinte quilômetros das
linhas de partida.
As crescentes frustrações do campo de batalha re etiam-se nas gritantes
diferenças de opinião entre Londres e Washington sobre as operações militares e
políticas na França. Por mais de um ano, Churchill se opusera veementemente à
Operação Anvil, o plano de suplementar a invasão da Normandia com um
assalto ao sul da França. Mesmo apesar de ter havido aprovação da Anvil no
encontro Roosevelt-Churchill ocorrido em Quebec e na conferência dos Três
Grandes em Teerã, o primeiro-ministro continuou lutando contra ela até pouco
antes de seu lançamento em agosto. Na verdade, a disputa sobre a Anvil foi a
contenda mais ácida e apaixonada de Churchill com os americanos durante toda
a guerra.
O primeiro-ministro argumentava que, com o deslocamento de tropas da
Itália para o sul da França, a campanha italiana caria enfraquecida no exato
momento em que em que começava a ser vitoriosa. No m da primavera de
1944, após meses de combate selvagem, os aliados haviam por m penetrado nas
temíveis defesas germânicas organizadas a meio caminho da bota italiana. Roma
caíra em 4 de junho, dois dias antes do Dia-D, e o exército alemão na Itália estava
em plena retirada. Churchill e seus chefes militares a rmavam que a campanha
italiana já tinha absorvido diversas divisões alemãs da França, aliviando a pressão
sobre as tropas de Eisenhower e tornando assim desnecessária uma segunda
invasão na França. Agora, asseveravam os ingleses, era hora de perseguir os
alemães até o vale do Po, destruindo-os, para então prosseguir na direção dos
Bálcãs e da Áustria.
Sabedor de que os russos tinham passado à ofensiva, dirigindo-se para oeste
sobre a Alemanha e para os Bálcãs, o primeiro-ministro preocupava-se bastante
com possíveis incursões soviéticas em países como a Grécia e a Turquia, onde os
ingleses tinham interesses de longo tempo. Ele queria manter a ameaça
comunista o mais a leste possível. “Winston não fala mais [352] sobre Hitler; está
sempre insistindo sobre os perigos do comunismo,” anotou Lord Moran naquele
verão. “Ele sonha que o Exército Vermelho se alastra como um câncer de um país
para outro. Isso se tornou uma obsessão, e ele não consegue pensar noutra coisa.”
Porém Churchill tinha ainda outro motivo para seu fervoroso apoio à
campanha italiana: a Itália era, primordialmente, um show inglês — uma
campanha travada por forças britânicas e sob comando de um inglês, o general
Harold Alexander — enquanto na França a operação era predominantemente
americana. Pelo m de julho, cerca de um milhão de soldados americanos
haviam desembarcado em solo francês, comparados com os 660 mil ingleses. A
disparidade tornar-se-ia ainda mais acentuada com o avanço do verão.
Como Churchill sabia muito bem, a Anvil desviaria tropas do único front em
que os ingleses ainda eram as mais poderosas forças dos aliados. “Winston odiava
[353] a ideia de ter de abrir mão da posição de parceiro predominante que
obtivera no início,” anotou Brooke. Numa carta à esposa Clemmie, de agosto de
1944, Churchill escreveu melancolicamente que dois terços das forças inglesas
na guerra estavam “sendo mal empregadas para conveniência dos americanos, e o
terço restante estava sob comando dos EUA.”
Roosevelt e seus comandantes militares, no entanto, não tinham grande
paciência com o primeiro-ministro e com sua crescente sensação de impotência.
Para George Marshall, que se opusera à operação no Mediterrâneo desde o
começo, a Itália e os Bálcãs não passavam de um beco sem saída — uma
equivocada estratégia periférica que poderia levar a um desastre militar e resultar
em possível con ito com os soviéticos. Anvil, acreditava o general, era necessária
para reforçar as forças de Eisenhower na França e abrir Marselha, assim como
outros portos muito necessitados. Quando Eisenhower, mais simpático ao ponto
de vista inglês do que seus chefes em Washington, titubeou em determinado
momento quanto à necessidade da Anvil, Marshall disse-lhe que ela tinha de ser
executada. Apanhado no meio, o comandante supremo da invasão teve de
suportar uma série de confrontações penosas com um emotivo Churchill, o qual,
durante um desses encontros, chegou a dizer que os americanos estavam
intimidando (usou o verbo “bullying”) os ingleses.
O primeiro-ministro fez um apelo de última hora a Roosevelt, que o rechaçou
com rmeza. Preocupado com os possíveis efeitos do afastamento cada vez maior
entre os dois, Gil Winant escreveu ao Presidente: “Eu gostaria que o senhor
soubesse quão profundamente o primeiro-ministro sentiu as diferenças que
terminaram com a aceitação das decisões tomadas pelo senhor. Nunca o vi tão
extremamente abalado.”
Quando foi, nalmente, deslanchada, em 15 de agosto, Anvil (redenominada
Dragoon por Churchill, numa clara alusão ao fato de ter sido coagido [dragooned]
pelos americanos a cooperar com a operação) conseguiu atingir facilmente seus
objetivos: abrir os portos, libertar o sul da França e fazer a junção com as forças
principais americanas. Mas, como os ingleses receavam, ela liquidou com a opção
de prosseguir para o leste a m de chegar aos Bálcãs. Por décadas após a
operação, os acertos e os erros das duas posições continuaram assuntos de intensa
discussão e controvérsia.
 
Enquanto se desenrolava o drama de ANVIL, Eisenhower e
Winant tentavam equacionar outra novela anglo-americana, essa agora
envolvendo Charles de Gaulle e a questão de quem deveria governar a França
libertada. Mesmo quando as tropas aliadas tomavam de assalto as praias no Dia-
D, essa questão, que vinha sendo debatida por meses, continuava sem solução.
Para Eisenhower, Winant e a maioria dos americanos dos altos escalões que
serviam em Londres, não havia dúvida de que de Gaulle e seu Comitê Francês
de Libertação Nacional, tendo afastado todos os possíveis competidores,
deveriam ser sacramentados como governo provisório da França. Segundo
registros nos relatórios de informações ingleses, de Gaulle ganhara o apoio da
maioria de seus concidadãos: “Só existe um nome [354], e apenas um nome, nas
bocas dos franceses — de Gaulle. Sobre isso não podia haver hesitação ou opinião
dupla. A constatação era avassaladora e, de fato, aparentemente unânime.” De
Gaulle concordava, escrevendo a um auxiliar: “Nós somos o governo francês. (...)
Ou nós, ou o caos.”
Mas Roosevelt não desistia de sua hostilidade a de Gaulle e recusava-se a
considerar a possibilidade de dar ao francês qualquer papel na administração de
seu país. Para o Presidente, forças militares americanas deveriam governar a
França até que pudessem ser realizadas eleições pós-guerra. Na realidade,
dezenas de militares do Exército americano já tinham sido despachadas para
Charlottesville a m de fazerem cursos intensivos de dois meses sobre
administração pública e língua francesa. Céticos engraçados do plano
apelidaram tais militares de “os maravilhas de sessenta dias.”
De sua parte, Churchill viu-se, outra vez, encurralado entre sua
determinação de dar apoio a Roosevelt nos assuntos políticos franceses e a
crescente pressão da opinião pública e de seu próprio governo quanto ao
reconhecimento de de Gaulle. Criticando fortemente o primeiro-ministro pelo
tratamento que ele e Roosevelt dispensavam ao general, grande parte da
imprensa inglesa e do Parlamento já tinham se decidido em favor do
reconhecimento de de Gaulle e de seu comitê. “A mim parece,” disse Harold
Nicolson num debate na Câmara dos Comuns, “que o governo dos Estados
Unidos, com o de Sua Majestade a reboque, não perde a oportunidade de
manifestar qualquer desdém que a engenhosidade saiba arquitetar e os maus
modos possam perpetrar.” Como Churchill explicou a Roosevelt, o povo inglês
“sente que os franceses devem estar ao nosso lado quando libertarmos a França.
(...) Ninguém entenderá se eles forem desrespeitados.”

Para Eisenhower, havia consideravelmente mais coisas em jogo do que a


opinião pública: se os aliados não conseguissem um modus vivendi com de
Gaulle, a própria libertação da França correria risco. No Dia-D e nos que se
seguiriam, o comandante do SHAEF contava com centenas de milhares de
membros da resistência francesa, a maioria dos quais apoiava de Gaulle na ajuda
às suas forças. Além disso, sete divisões francesas recebiam instrução para tomar
parte em futuras batalhas em seu país. “Uma colisão ostensiva [355] com de
Gaulle nos feriria profundamente,” escreveu Eisenhower, “e resultaria em
amarga recriminação e desnecessária perda de vidas.” Ele também detestava ter
de assumir a carga administrativa de governar o país. Em sua opinião, a tarefa
seria mais bem desempenhada se deixada para as autoridades civis francesas.
Embora Eisenhower jamais tivesse dito publicamente o que achava da
intransigência de Roosevelt em relação a de Gaulle, C.D. Jackson, chefe da
Divisão de Guerra Psicológica do SHAEF, decididamente tinha a opinião de seu
chefe em mente quando escreveu a um amigo: “Todos os círculos parecem
concordar que o comportamento do Presidente para com o francês é detestável e
só pode levar a problemas, se não a desastre.”
Por insistência de Roosevelt, de Gaulle, que ainda se encontrava em Argel,
onde estava baseado o Comitê de Libertação Nacional, não fora consultado sobre
a invasão nem informado sobre quando e onde ela teria lugar. Finalmente,
instado por Eisenhower e Eden, Churchill disse ao Presidente, em maio, que o
francês não poderia ser deixado totalmente por fora da Overlord: ele precisava
ser convidado a Londres, atualizado sobre a operação e ser incluído nas
discussões sobre a futura administração da França. Depois que FDR deu,
relutantemente, sua aprovação, de Gaulle chegou à Inglaterra menos de quarenta
e oito horas antes de a Overlord ser desfechada.
Sem nenhuma surpresa, seu encontro com Churchill não correu bem. O
orgulhoso e empertigado francês estava muito ressentido por ter sido excluído da
invasão de seu próprio país, enquanto o primeiro-ministro se encontrava, como
observaram os historiadores Antony Beevor e Artemis Cooper, num “estado de
excitação controlada,” temendo que os desembarques redundassem em sangrento
fracasso. No momento em que Eisenhower disse a de Gaulle que o comandante
supremo faria uma proclamação pelo rádio ao povo francês no Dia-D, o francês
explodiu de raiva. A fala de Eisenhower, que já estava impressa, conclamava a
nação francesa a seguir as ordens da força de invasão dos aliados e não fazia
menção a de Gaulle ou a seus homens. Como de Gaulle percebia a situação, seu
país, em vez de ser libertado, seria ocupado como a Itália. Ele se recusou a fazer
um pronunciamento pelo rádio em seguida ao de Eisenhower, e sua conversa
com Churchill passou a ser uma desagradável disputa verbal, ao m da qual o
primeiro-ministro, tremendo de fúria, acusou de Gaulle de “traição no ápice
[356] da batalha” e ordenou que ele fosse enviado de volta a Argel, “algemado, se
necessário.”
Os auxiliares graduados dos dois líderes não acreditaram no que estavam
testemunhando: de Gaulle e Churchill trocando insultos e epítetos na ocasião
em que os paraquedistas dos aliados se preparavam para saltar na Normandia.
“Isso é um pandemônio!” — exclamou um alto funcionário francês. Alexander
Cadogan, desgostoso, comparou a situação a uma “escola para moças.” Roosevelt,
o primeiro-ministro e — tem-se que admitir — de Gaulle comportavam-se todos
como meninas chegando à puberdade.” Nas horas que antecederam a invasão,
Eden e funcionários franceses agiram como apaziguadores e acalmaram os dois.
Quando de Gaulle se queixou a Eden em relação à submissa dependência da
Inglaterra aos americanos, o ministro do Exterior respondeu que “era um erro
fatal (...) ser tão orgulhoso. 'Dobrar-se para vencer' era uma ação que cada um de
nós deveria considerar útil, às vezes.” Graças a esse e outros esforços, de Gaulle
concordou, por m, em fazer uma transmissão, e a ordem escrita de Churchill
para que o errante general fosse expelido do país acabou sendo cancelada e
destruída.
Apesar de a fúria de Churchill em relação a de Gaulle permanecer
irredutível (“O primeiro-ministro chega às vezes quase à insanidade em seu ódio
ao general de Gaulle,” escreveu um membro da equipe de Churchill em 9 de
junho), com relutância ele concordou com o retorno do general à sua pátria para
uma breve visita após o Dia-D. O primeiro-ministro reagia à forte pressão do
público e da imprensa ingleses, bem como a insistentes apelos de Eisenhower.
Com efeito, o comandante dos aliados, que recebera substancial liberdade de
ação de Roosevelt e Cordell Hull para governar as recém-libertadas áreas da
França, fazia então rápido giro por Washington. Eisenhower e seu Estado-Maior
acreditavam que “nos estágios iniciais da operação, pelo menos, de Gaulle
representaria a única autoridade que poderia produzir qualquer espécie de
coordenação e uni cação, e que nenhum dano haveria se lhe fosse conferido o
tipo de reconhecimento por que ansiava.”
Em 14 de junho, a visita de de Gaulle à cidade de Bayeux, na costa da
Normandia, se caracterizou por extraordinária efusão emocional. Enormes
aglomerados de gente da cidade, aplaudindo e chorando, cercavam o general
aonde fosse. Quando retornou à Inglaterra naquela noite, ele deixou na
Normandia François Coulet, um de seus principais auxiliares, selecionado para
atuar como governador do comitê francês na região. Com o tácito suporte de Ike,
de Gaulle minava as tentativas de Roosevelt de impor uma administração militar
dos aliados. Na ocasião em que os “maravilhas de sessenta dias” começaram a
chegar, poucos dias depois, viram-se totalmente ignorados pelos franceses — e
pelo SHAEF. “Os militares de altos postos [357] que haviam se reunido nos
portos de embarque, supostos administradores (...) instruídos a respeito do Código
de Napoleão e de outras doutrinas sobre os distritos a eles designados,
desapareceram silenciosamente, desprezados,” escreveu Malcolm Muggeridge.
Gostasse Washington ou não, de Gaulle conseguira o controle sobre as regiões
libertadas de seu país.
Tendo começado a perceber que “advogava uma causa perdida,” como diz
seu biógrafo Jean Edward Smith, Roosevelt nalmente convocou de Gaulle a
Washington, em julho, e reconheceu seu Comitê como autoridade civil de facto
na França. Mas a conversa entre os dois foi fria e super cial, e o Presidente
recusou-se a seguir a recomendação dos governos europeus no exílio, bem como
de diversos outros países do planeta, de reconhecer o Comitê como governo
provisório da França. “FDR (...) acredita que de Gaulle desabará,” escreveu
Henry Stimson em seu diário. “Ele acha que outros partidos espocarão com o
prosseguimento da libertação e que de Gaulle se transformará em gura de
pouca importância. Poucos dias antes de de Gaulle chegar a Washington,
Roosevelt declarara a seus auxiliares: “Ele é maluco.”
Por três meses, Roosevelt não se afastou de sua posição, mesmo depois de
Paris ser libertada e de Gaulle ser recebido como um herói vencedor — e depois
de Churchill, Hull, Winant, Eisenhower e a Junta de Chefes de Estado-Maior e
instarem pelo reconhecimento. Vendo-se isolado naquela questão e com a eleição
presidencial se aproximando, o Presidente por m cedeu em 23 de outubro,
anunciando abruptamente que os Estados Unidos reconheciam o Comitê de de
Gaulle como governo provisório da França. FDR fez o anúncio sem mesmo
informar a Churchill, o qual, apesar dos mal-entendidos, continuava seguindo a
liderança de Roosevelt. Apanhado de surpresa, o governo inglês apressou-se em
expedir seu próprio comunicado de reconhecimento. Um irado Alexander
Cadogan escreveu a Eden: “Como uma relação cordial [358] com uma França
restaurada e libertada é vital para os interesses ingleses, eu esperava que o
Presidente nos tivesse dado o direito a uma voz preponderante nessa matéria.”
Por sua vez, de Gaulle jamais perdoou ou esqueceu aquilo que considerou
tratamento rude dedicado a ele pelo Presidente e pelo primeiro-ministro. Após
retornar ao poder na França, em 1958, ele vetou o requerimento da Inglaterra
para entrar na Comunidade Econômica Europeia, lembrando as palavras de
Churchill de que a Inglaterra sempre preferiria os Estados Unidos à Europa. A
relação de seu governo com os americanos foi igualmente espinhosa. Segundo
Jean Edward Smith, “a aversão de FDR por de Gaulle envenenou o poço das
relações franco-americanas, e o legado persiste até os dias de hoje.”
 
Quando as tropas aliadas libertaram Paris em 25 de agosto, a
reação dos ingleses foi surpreendentemente mortiça. Os exilados franceses
celebraram ruidosamente nos locais por eles frequentados no Soho, bandeiras
tricolores francesas foram exibidas em muitas janelas, porém, na Londres como
um todo, imperou uma “atmosfera sonolenta e vazia” dando a impressão de que a
cidade “estava apenas semiviva.” Um profundo senso de exaustão e tédio
impregnava a capital, como Eric Sevareid percebeu ao retornar a Londres depois
de cobrir a Operação Anvil. “Onde todo o homem e toda mulher tinham sido
heróis, o heroísmo era uma chatice,” escreveu ele. “Onde homens de todas as
línguas conhecidas abundavam, os tardios americanos eram uma chatice. (...) A
própria guerra era uma chatice.” Londres, observou Sevareid num programa de
rádio, era “como um outrora charmoso hotel que se tornara decadente após
intermináveis convenções de homens de negócios. (...) A exaltação do perigo
desaparecera.”
Durante muito tempo, na guerra, Londres fora o mais excitante e estimulante
lugar na face da terra — “a Paris da Segunda Guerra Mundial,” como Donald
Miller a apelidou. Porém, agora, a verdadeira Paris, com sua beleza intocada
pelas bombas, estava de novo aberta aos negócios e aos prazeres, e muitos em
Londres — americanos, ingleses, gente da Commonwealth e europeus —
desejavam ir para lá. Na vanguarda da nova invasão dos aliados se encontrava
David Bruce, o chefe da OSS, e seu novo companheiro de viagem, Ernest
Hemingway, que correu para o bar do Ritz, no dia em que Paris foi libertada, e
ordenou cinquenta martínis para os dois e para os partisans que os
acompanhavam.
Os aliados ocuparam mais de cem hotéis em Paris para uso próprio, e
bastaram poucos dias para que começasse um autêntico frenesi de festas e
coquetéis. A maioria dos parisienses — e os franceses de um modo geral — tinha
pouca coisa para comer, mas havia um próspero mercado negro para a aquisição
de alimentos, uísque e vinho. Os melhores restaurantes da cidade, que tinham
servido refeições a gente da Wehrmacht e da Gestapo havia apenas poucos dias,
se esmeravam então para atender às hordas de jornalistas e o ciais aliados que
agora os abarrotavam.
Ainda assim, mesmo que desfrutassem daquilo que Paris podia oferecer,
muitos dos que deixaram Londres experimentavam um sentimento de culpa por
terem ido. Entre eles, o futuro historiador John Wheeler-Bennett, que vagava por
Paris admirando seus hotéis e o vidro metálico das vitrines de suas lojas,
resplandecentes em seu “esplendor culposo [359],” e os caminhos de cascalho
dos jardins das Tulherias “varridos com meticulosa precisão.” A desmazelada e
esburacada Londres não exibia essa limpeza e elegância, pensou Wheeler-
Bennett, porém ainda retinha um “espírito e um orgulho que eram inabaláveis e
magní cos.” Paris, ao contrário, recuperara “seu panache e a arrogância de seu
egoísmo,” mas “não tinha sido bem-sucedida, então ou em qualquer data anterior,
em redescobrir sua alma.”
Na sua própria visita rápida a Paris, Ed Murrow fez comentários sobre os
mesmos contrastes entre as duas cidades. Numa transmissão, a rmou com um
laivo de desdém que a capital francesa e seus residentes tinham-se saído
relativamente ilesos da guerra. Descrevendo o que chamou de “familiares, bem
alimentadas, mas ainda vazias sionomias no entorno dos bares da moda,”
acrescentou que “os últimos quatro anos pouco as mudara.” Após quarenta e oito
horas em Paris, Murrow não aguentou mais e voltou a Londres. Pamela
Churchill, que o acompanhara à capital francesa, permaneceu, passando bons
tempos no Ritz com outros amigos jornalistas americanos, inclusive Charles
Collingwood e Bill Walton. “Talvez o mundo parecesse então aberto para ela,”
disse Walton. “Paris estava livre.”
[*]Depois da guerra, George Marshall disse ao seu biógrafo que ele e seus planejadores, antes da
invasão, não faziam ideia da di culdades do terreno na Normandia. As Informações do Exército, a rmou o
general, “nunca mencionaram aquilo que eu tinha necessidade de saber. Nada me disseram sobre as cercas
vivas, e só mais tarde, depois de muito sangue derramado, aprendemos a lidar com elas.” (Andrew Roberts,
Masters and Commanders: How Four Titans Won the War in the West, 1941-1945, Nova York, Harper
Collins, 2009, p. 490).
19

Crise na Aliança
 
Enquanto Paris fervia de felicidade com sua libertação, os
residentes de outra capital europeia ocupada estavam em plena luta pela sua.
Três semanas antes de os aliados entrarem em Paris, cerca de 25 mil membros do
movimento clandestino polonês desencadearam um levante em Varsóvia contra
seus ocupantes názis. A rebelião coincidiu com uma ofensiva em massa na
direção oeste das forças soviéticas que, tendo empurrado os alemães para fora da
Rússia ocidental, avançavam através da Polônia como vasta onda veloz. O
Exército Vermelho se aproximava de Varsóvia quando os poloneses iniciaram sua
sublevação; na verdade, alguns dias antes, transmissões soviéticas faziam
apaixonados apelos aos residentes da capital polonesa para que se juntassem às
forças soviéticas em combate. Os alemães contra-atacaram violentamente os
poloneses, carreando poderosos reforços para lá e bombardeando Varsóvia dia e
noite com artilharia e aviões. Desesperadamente inferiores em efetivos, os
clandestinos apelaram pela ajuda de Londres e Moscou. Enquanto Churchill
instava os líderes militares ingleses a socorrerem os insurgentes poloneses com o
“máximo esforço,” Stalin os denunciava como aventureiros e não ordenou
qualquer ajuda do Exército Vermelho, então estacionado nas cercanias de
Varsóvia.
Em Moscou, Averell Harriman implorou aos soviéticos que reconsiderassem
sua recusa em dar ajuda, declarando que era “do interesse [360] da causa [dos
aliados] e da humanidade” ajudar os poloneses. O embaixador escreveu a Harry
Hopkins: “Chegou a hora de deixarmos claro o que esperamos deles como preço
de nossa boa vontade. A menos que nos oponhamos rmemente, tudo indica que
a União Soviética se transformará num incômodo mundial sempre que seus
interesses estiverem envolvidos.” Tratava-se de notável mudança de opinião de
um homem que outrora advogara suporte incondicional aos soviéticos, dissera
que todos os problemas com eles poderiam ser resolvidos através “de franca
relação pessoal” e a rmara que “Stalin podia ser administrado.”
Numa variedade de formas, os onze meses no desempenho das funções de
embaixador dos Estados Unidos na União Soviética tinham sido um exercício de
humilhações. Suas antigas previsões sobre a natureza precária e difícil da missão
do embaixador haviam se provado corretas: ele fora deixado de lado em Moscou
por Roosevelt e Hopkins, da mesma maneira que Gil Winant em Londres. Logo
que chegou à capital soviética, Harriman queixou-se a Hopkins de que ninguém
em Washington lhe dizia coisa alguma e que ele se encontrava “na
desconfortável posição [361] de depender do ministério russo do Exterior para
ter informações tais como as últimas decisões tomadas por [meu] próprio
governo.”
Como seus antecessores em Moscou, ele também era em grande parte
ignorado por Stalin e pelo resto do governo soviético — uma situação torturante
para Harriman que, como emissário pessoal de Roosevelt junto aos soviéticos nos
primeiros estágios da guerra, estava acostumado a ter livre acesso ao Kremlin e
era tratado com certa deferência e respeito. Soberbo e distante, ele não
impressionou — pelo menos inicialmente — os moços especialistas em Rússia que
trabalhavam na embaixada dos EUA, todos estudiosos da língua russa e da
história e ideologia soviéticas. Os jovens diplomatas admiravam a dedicação de
Harriman ao serviço público e sua enorme capacidade para o trabalho duro, mas
menosprezavam sua falta de interesse pelos meandros da diplomacia. ''Ele só
queria trabalhar nos níveis mais elevados,” disse George Kennan, o qual, como
ministro-conselheiro, era o braço direito do embaixador. “Julgava que podia
aprender mais coisas importantes numa audiência com Stalin do que o resto de
nós em meses de estudos laboriosos das publicações soviéticas.” Charles Bohlen
observou: “Não posso dizer que alguma vez achei que ele entendesse por
completo a natureza do sistema soviético. A leitura de livros ideológicos não era o
seu forte.”
Não obstante, quanto mais Harriman vivia em Moscou, mais percebia que a
visão de Roosevelt de uma parceria política genuína entre os Estados Unidos e a
União Soviética não passava de fantasia. Ele viu, em primeira mão, quão
descon ados os russos eram de seus aliados ocidentais, recusando fornecer-lhes
as mais elementares informações sobre seu esforço de guerra. Descobriu
igualmente que os soviéticos usavam equipamentos do Lend-Lease com
propósitos civis ou os escondiam para emprego depois que a guerra tivesse
terminado. O embaixador começou a insistir com Roosevelt e sua administração
para que analisassem com mais atenção as solicitações russas do Lend-Lease e
exigissem mais cooperação militar. “Eles são durões e esperam que também
sejamos,” declarou Harriman. Sua recomendação, no entanto, foi quase
completamente ignorada.
Para sua posição cada vez mais in exível com os soviéticos, Harriman foi
bastante in uenciado por Kennan que, na opinião de Harrison Salisbury,
“conhecia melhor os russos [362] do que qualquer pessoa de minha geração.”
Depois de chegar a Moscou em junho de 1944, Kennan, que já havia servido lá
no início dos anos 1930, sublinhou para o embaixador que “meus pontos de vista
para a política com a União Soviética não são exatamente iguais às do nosso
governo.” Ocorreu então que a perspectiva de Kennan tornou-se rapidamente a
de Harriman. Sobre Kennan, Harriman diria mais tarde: “Usei-o em todas as
ocasiões que pude e consultei-o sobre todos os assuntos.”
Segundo Salisbury, correspondente em Moscou para o New York Times nos
dois últimos anos da guerra, Kennan foi um dos fatores principais para a
emergência pós-guerra de Harriman como um dos “Sábios” da política externa
dos EUA. “Muita coisa seria dita mais tarde por Harriman e outros sobre seus
excelentes julgamentos e táticas no trato com os soviéticos,” escreveu Salisbury.
“Ele cou conhecido como o homem que formou opinião própria quando outros
não o zeram.” Mas foi só quando Kennan chegou a Moscou, asseverou
Salisbury, que “notei alguma percepção extraordinária em Harriman. (...) Após a
chegada de Kennan, Harriman demonstrou ser bom aluno. Ele cresceu com os
anos.”
Tanto Harriman quanto Keenan passaram a considerar a Polônia “paradigma
do comportamento soviético no mundo pós-guerra, o primeiro teste da atitude de
Stalin em relação aos seus vizinhos mais fracos.” Como os dois viam, os soviéticos
haviam fracassado miseravelmente no teste. Na sua recusa de ajuda aos
poloneses, disse Keenan, o governo de Stalin estava enviando sua mensagem para
o Oeste: “Queremos ter a Polônia de porteira fechada. Não damos a mínima por
esses combatentes clandestinos polacos. (...) É indiferente para nós o que vocês
pensem sobre tudo isso. Doravante, vocês não terão papel algum nas questões da
Polônia, e já é tempo de que entendam isso.”
Harriman, juntamente com Winant em Londres, instou Roosevelt para que
pressionasse Stalin a, pelo menos, permitir o uso dos campos de pouso soviéticos
pelos bombardeiros aliados que realizavam missões de longo alcance de auxílio
aos poloneses. Churchill era também favorável à ideia, declarando que, se o líder
soviético rejeitasse a solicitação, os bombardeiros deveriam assim mesmo pousar
sem permissão nos aeródromos soviéticos. Roosevelt, no entanto, não desejou um
confronto com Stalin, o qual, uma vez evidente que o levante polonês estava
fadado ao insucesso, permitiu o uso dos campos de pouso soviéticos para apenas
uma missão de socorro dos EUA. Depois de aguentar os alemães por sessenta
dias, os clandestinos poloneses nalmente capitularam em 2 de outubro. Cerca
de 250 mil residentes de Varsóvia — aproximadamente um quarto de sua
população — foram mortos na sublevação. Os que sobreviveram receberam
ordem para deixar a cidade, que então passou a ser sistematicamente incendiada
e dinamitada até car quase toda em ruínas.
A sorte dos poloneses de Varsóvia permaneceu por décadas seguintes na
mente de Harriman. Quando o neto de Churchill certa vez perguntou-lhe como
os aliados ocidentais tinham permitido a destruição da capital polonesa, o rosto
de Harriman cou pálido. Sem pronunciar uma palavra, ele “deu meia-volta
[363],” disse o jovem Winston Churchill, “e foi embora.”
 
Com a crescente preocupação no Ocidente sobre as ambições
pós-guerra de Stalin, e com os exércitos aliados fechando sobre a Alemanha a
partir do leste e do oeste, Winant começou cada vez mais a se inquietar com a
falha dos aliados de não tomarem decisões rmes em relação à divisão e à
ocupação do Reich. Numa carta a Roosevelt, o embaixador observou que ele e
outros membros da Comissão Assessora Europeia tinham dado passos largos para
formatar acordos referentes a termos de rendição e a zonas de ocupação. Tendo
percebido o rápido progresso para leste das forças anglo-americanas, até os russos
haviam chegado à conclusão de que um plano geral que delineasse a política de
ocupação dos aliados era uma necessidade. Se tal plano não estivesse nalizado
antes que a guerra acabasse, alertou Winant, “seguir-se-ia (...) a rivalidade pelo
controle da Alemanha.”
Contudo, a questão do destino da Alemanha se tornou ainda mais turva em
setembro de 1944, quando Roosevelt e Churchill, reunidos em Quebec,
aprovaram um plano abrangente do secretário do Tesouro, Henry Morgenthau,
para a destruição da indústria germânica e a transformação do país num estado
agrário. Como Roosevelt, Churchill dera pouca atenção séria ao tratamento pós-
guerra da Alemanha; ele disse a Lord Moran em Quebec que “haverá sobra de
tempo para apreciarmos o assunto quando ganharmos a guerra.”
A maioria dos altos funcionários americanos e ingleses, inclusive os
assessores mais próximos dos dois líderes, cou horrorizada com a ideia de
Morgenthau, declarando que uma Alemanha pastoral prejudicaria sobremaneira
a recuperação econômica pós-guerra da Europa e criaria um vácuo de poder no
meio do continente. Tão furioso que quase não podia falar, Anthony Eden
berrou para Churchill: “Vocês não podem fazer isso! [364]” Referindo-se a
Roosevelt, Cordell Hull exclamou: “Em nome de Cristo, o que deu no homem?”
Aferroados pela veemência de seus lugares-tenentes, tanto Roosevelt quanto
Churchill recuaram de sua aprovação do plano, com o Presidente dizendo a
Henry Stimson que não tinha lembrança de tê-lo aprovado. Dali por diante,
Roosevelt deixou claro que não estava interessado em assinar nenhuma política
de longo alcance sobre a ocupação da Alemanha antes do m da guerra. “Não
gosto de fazer planos detalhados para um país que ainda não ocupamos,”
escreveu ele a Hull. “Devemos realçar o fato de que a Comissão Assessora
Europeia é 'Assessora' e que eu e você não somos reféns de seus conselhos.”
Em resposta à tática de postergação do governo, o normalmente calmo
Winant disparou telegramas para Roosevelt e para outros administradores que
espantaram por seu vigor e, nas palavras de um historiador, “puseram em risco
seu prestígio como embaixador.” Os interesses americanos,” declarou Winant,
foram deixado numa “ agrante desvantagem” em função da atitude dilatória do
governo dos EUA na aprovação de planos para o tratamento pós-guerra da
Alemanha. “Não creio,” acrescentou, “que qualquer conferência ou comissão
criada pelos governos com um propósito sério tenha recebido menos apoio do
governo do que a Comissão Assessora Europeia.” E reiterou que falava,
primordialmente, sobre seu próprio governo.
 
A falta de uma política clara para a Alemanha foi apenas um dos
muitos problemas que assaltaram a aliança ocidental quando a guerra caminhou
para seus meses nais. Com a vitória militar se aproximando, as relações entre os
comandantes americanos e ingleses em campanha — nunca satisfatórias —
mergulharam para seu estado mais baixo na guerra. As rivalidades, suspeitas e
lutas internas que haviam marcado a campanha no norte da África, tornaram-se
consideravelmente mais ferozes nos campos de batalha europeus.
Quando as forças inglesas e canadenses, sob o comando de Montgomery, se
mostraram lentas para romper as cabeças de praia em seus respectivos setores, os
chefes militares e a imprensa americanos espalharam a ideia de que Montgomery
deixava os combates mais duros para as tropas dos EUA. A odiosa comparação
entre o sucesso da progressão americana e a lentidão das forças de Montgomery
foi uma pílula demasiado amarga para os ingleses engolirem. “Temos ouvido
[365] que os ingleses não estão fazendo coisa alguma e que os americanos têm
carregado o peso da guerra!!” — fumegou Alan Brooke em seu diário. “Estou
mortalmente cansado com todas essas mesquinharias da humanidade! Será que
um dia aprenderemos 'a amar nossos aliados como amamos a nós mesmos'???
Duvido!” No meio-tempo, Churchill queixava-se à esposa: “As únicas vezes em
que reclamo dos americanos são quando eles se recusam a nos oferecer uma
parcela justa de oportunidades de glória.”
Atormentado com os comandantes americanos e ingleses exigindo
prioridades para suas operações, Eisenhower era o único que não parecia afetado
pela febre do nacionalismo. Sua ênfase no consenso, no meio-termo e no trabalho
de equipe era ridicularizada pelos generais dos dois países, que repetidamente
desa avam sua autoridade. Pareciam não dar valor às enormes responsabilidades
e aos problemas enfrentados por Eisenhower ao che ar uma gigantesca coalizão
militar com milhões de soldados, aviadores e marinheiros de pelo menos oito
países.
O próprio chefe de Eisenhower, o general Marshall, aparentava não estar
imune ao nacionalismo. Irritado com as histórias publicadas pelos jornais ingleses
que pintavam Eisenhower apenas como líder de fachada e diziam que os o ciais
ingleses dos altos escalões eram os que na realidade conduziam o assalto da
Overlord, Marshall ordenou que Eisenhower assumisse o comando operacional
direto da campanha das forças terrestres. Até aquele ponto, Eisenhower atuara
como Comandante Supremo, e tinha comandantes separados, subordinados a
ele, para as operações em terra, mar e ar. Como a Inglaterra possuía efetivos
maiores no terreno no Dia-D, Montgomery fora nomeado chefe da campanha
terrestre dos aliados. Porém, em agosto de 1944, bem mais da metade dos
soldados que combatiam na França eram americanos. A maior parte dos
armamentos e dos suprimentos também vinha dos Estados Unidos, da mesma
forma que os navios e os aviões. Era tempo, considerou Marshall, de frisar o
domínio da América, não importava o quanto Churchill, Brooke e o restante dos
ingleses pudessem protestar.
E protestaram. Quando foi anunciado que Eisenhower estava assumindo as
tropas terrestres dos aliados, e que Montgomery passava a ter, portanto, o mesmo
status que o general Omar Bradley, o comandante americano em campanha de
mais alto posto, a imprensa inglesa e o povo receberam a notícia como “um tapa
na cara nacional.” Graças à sua vitória em El Alamein, no m de 1942,
Montgomery se tornara a mais popular gura militar inglesa, e seus compatriotas
caram irados com o rebaixamento. Num ato de pura esnobação contra os
americanos, Churchill promoveu Montgomery a marechal de campo — posto
equivalente ao general de cinco estrelas — o que signi cou que o inglês tornou-se
mais antigo do que qualquer outro comandante dos EUA em campanha. Foi
então o momento de os americanos carem furiosos. “Montgomery é um general
de terceira categoria [366] e jamais fez alguma coisa ou ganhou qualquer batalha
que outro general não pudesse ter vencido tão bem ou melhor,” explodiu
Bradley.
Atingido por ter de abrir mão do elevado comando das tropas terrestres,
Montgomery nunca aceitou completamente a troca e continuou desa ando a
autoridade de Eisenhower. Em particular, questionou a estratégia de Ike de um
avanço aliado na Alemanha em frente ampla e dando assim aos exércitos dos
vários países uma chance de se destacarem. Montgomery insistiu que uma
vigorosa arremetida para nordeste executada pelas forças inglesas e apoiada pelas
americanas teria bem melhor probabilidade de penetrar nas linhas alemãs e de
levar a guerra ao m. Por mais que antipatizasse com o irritadiço e autoritário
marechal, Eisenhower entendia e se identi cava com os ressentimentos ingleses,
com a profunda a ição que sentiam ao notarem a velocidade com que perdiam
poder e controle. Era importante, achava Ike, aplacar Monty o quanto possível.
O general americano concordou com um meio-termo. Montgomery tomaria a
direção nordeste, para a Antuérpia, um porto-chave belga, com o I Exército dos
EUA dando apoio ao seu avanço. Entrementes, as forças de Bradley
continuariam sua progressão mais ao sul, na direção da Linha Siegfried, um
sistema de casamatas e obstáculos para blindados ao longo da fronteira alemã.
Infelizmente para George Patton, o plano implicou um alto temporário para o
avanço direto de seu III Exército na direção leste; uma grande parte da gasolina e
de outros suprimentos que iriam para o exército de Patton foi desviada para o
esforço de Montgomery . Não é de admirar que Patton casse possesso. Mais de
um ano antes, na Sicília, ele declarara: “Os EUA têm que vencer, não como
aliado, mas como vencedor.” Um funcionário da Cruz Vermelha, adido ao seu
comando, observou mais tarde: “Havia uma inacreditável arrogância, demasiado
autoritarismo, até mesmo em relação ao seu superior, o Comandante Supremo
aliado.” No seu diário, Patton registrou com desgosto: “Ike está com pés e mãos
atados pelos ingleses, e não sabe disso. Pobre tolo.”
De início, a estratégia bifurcada de Eisenhower pareceu dar certo. No
começo de setembro, a 11ª Divisão Blindada inglesa deslocou-se rapidamente
pela Bélgica e tomou Antuérpia, com suas cruciais instalações portuárias
intactas. Saboreando o triunfo, as forças de Montgomery falharam em não varrer
as unidades germânicas do estuário de sessenta quilômetros que liga Antuérpia
ao mar. As tropas germânicas lá desdobradas receberam reforços de imediato, e
foram necessários outros dois meses para que as forças aliadas controlassem o
estuário e abrissem o porto para suprimentos e tropas dos aliados. Um dos
equívocos mais sérios da guerra na Europa, a atrapalhada conquista de
Antuérpia teve papel signi cativo no fracasso do avanço aliado na Alemanha e
na possibilidade de terminar a guerra em 1944.
Na ocasião, entretanto, poucos integrantes do alto-comando aliado, se é que
houve algum, perceberam a gravidade da situação. A derrota relâmpago das
forças alemãs que operavam na França e na Bélgica produziu um otimismo
exuberante no QG do SHAEF — um sentimento de vitória estava ao alcance,
tentador, e poderia ser materializado pelo Natal. Com isso em mente,
Montgomery desvendou uma nova proposta que, segundo ele, permitiria que
suas forças atravessassem o Reno “numa investida poderosa [367] e decisiva ao
coração da Alemanha.” Chamada Operação Market Garden, ela envolvia
paraquedistas americanos, ingleses e poloneses para conquistarem uma série de
pontes e canais que cruzavam a Holanda e para estabelecerem cabeças de ponte
para as tropas aliadas que avançavam. A última ponte a ser conquistada pela 1ª
Divisão Aeroterrestre inglesa atravessava o Reno na cidade holandesa de
Arnhem.
Desconsiderando alertas de diversos assessores de que se subestimava a força
das tropas alemãs e de que a proposta continha graves falhas, Montgomery
persuadiu Eisenhower a autorizar a operação. A avaliação dos críticos da Market
Garden estava certa: a missão, mal planejada, foi desastradamente executada, e a
resistência alemã se mostrou selvagem e invencível. A despeito da extraordinária
coragem demonstrada pelos paraquedistas aliados, milhares dos quais foram
mortos ou feridos, o inimigo manteve a ponte de Arnhem.
Devido em não pequena dose ao duplo asco de Arnhem e Antuérpia, a
Alemanha permaneceu inexpugnável a oeste no outono e no inverno, e a guerra
no Front Ocidental caiu num impasse. Reforçando suas defesas, os alemães
aferraram-se ao terreno e mantiveram a linha de elevações cobertas de arvoredos
que separam sua terra da Bélgica e de Luxemburgo. “Entre nosso front e o Reno,”
observou Bradley, “um inimigo determinado mantinha cada metro de terreno e
não iria ceder com facilidade. A cada dia, o tempo se tornava mais frio e nossos
soldados enfrentavam maiores di culdades. Estávamos atolados numa medonha
guerra de atrito.”
Entre os generais aliados, acelerou-se o con ito do apontar dedos e
mencionar nomes. Os americanos atacavam Montgomery e os ingleses pelos
fracassos em Antuérpia e Arnhem. Montgomery, que insistia em ser autorizado a
prosseguir na sua campanha de avanço único, acusava Eisenhower de provocar o
impasse militar e enviava mensagem atrás de mensagem aos seus superiores em
Londres tendo o comandante do SHAEF como alvo principal de suas críticas.
Patton e Bradley, por sua vez, vituperavam contra Eisenhower por não ter
encurtado as rédeas de Montgomery. O próprio chefe do Estado-Maior de Ike, o
general Walter Bedell Smith, participou do jogo de acusações, observando sobre
seu chefe para um amigo: “Falta-lhe [368] rmeza para tratar Montgomery como
deve.”
Apanhado no meio, Eisenhower lutou para manter a autoridade sobre seus
generais brigões, recusando-se a concordar com qualquer outra das apostas de
Montgomery e teimando em sua própria estratégia de frente ampla. Com a
mente sob uma tensão excepcional e sicamente exausto, ele reclamou que não
existia uma só parte de seu corpo que não doesse. O mesmo poderia ser dito sobre
sua relação com seus comandantes prima-donas.
 
Em 16 de dezembro de 1941 , a pausa entre os aliados e a Alemanha foi
quebrada com o desfechar da maior e mais selvagem batalha no Front Ocidental.
Numa última tentativa desesperada para retomar a ofensiva, tropas alemãs
irromperam da Floresta das Ardenas, na Bélgica, e lançaram um ataque de
surpresa contra as forças americanas. Sem ser detectado de antemão pela
Inteligência dos aliados, o maciço assalto penetrou através das defesas
americanas, criando um bolsão na longa linha de frente aliada e ameaçando a
recém-libertada Antuérpia. Em resposta, Eisenhower ordenou reforços no ponto
do rompimento e despachou a 101ª Divisão Aeroterrestre para proteger
Bastogne, cidade belga, importante entroncamento rodoviário e objetivo-chave
para os alemães. Quando Bastogne foi cercada pelos alemães, as forças de Patton
correram em seu socorro e, com o apoio do poder aéreo aliado, acabaram com o
sítio no dia seguinte ao Natal. Montgomery, pressionado fortemente por
Eisenhower para que atacasse pelo norte com as tropas americanas e inglesas,
nalmente o fez em 3 de janeiro. Ficou claro que os germânicos tinham perdido
sua última e arriscada aposta. Quatro dias mais tarde, a Batalha do Bolsão estava
terminada.
No lado dos aliados, as tropas americanas haviam suportado o maior peso da
luta (mais de dez mil mortos e de quarenta mil feridos) e tinham sido em grande
parte responsáveis pela vitória naquela batalha. Todavia, em 7 de janeiro,
Montgomery deu a entender numa entrevista coletiva que ele havia sido “o
salvador dos americanos [369],” nas palavras do exasperado Eisenhower.
Malgrado o fato de uma só divisão inglesa ter participado do combate, a imprensa
britânica abraçou a versão, a rmando que as tropas do país, lideradas por
Montgomery, tinham salvado os americanos da derrota.
“MONTGOMERY IMPEDE A DERROCADA!” foi o
título de um noticioso cinematográ co inglês. Segundo o general americano
Joseph L. Collins, a entrevista coletiva de Montgomery “irritou tanto Bradley e
Patton, e muitos de nós que havíamos combatido na frente norte do Bolsão, que
maculou demais aquilo que foi, na realidade, um grande esforço cooperativo
aliado, terrestre e aéreo.” Bradley acrescentou: “Ela prejudicou mais a unidade
anglo-americana do que qualquer coisa de que possa me lembrar.”
Entrementes, os superiores de Montgomery em Londres insistiam que
Eisenhower havia falhado como comandante das forças terrestres e que o plano
de Montgomery para uma única arremetida sobre Berlim deveria agora ser
adotado no lugar da estratégia de larga frente de Ike. Num ácido encontro
ocorrido pouco antes da Conferência de Yalta de fevereiro de 1945, chefes
militares ingleses e americanos quase chegaram às vias de fato quanto à maneira
de conduzir a campanha nal da guerra. A sessão, lembrava Marshall, foi
“terrível.” No momento em que Marshall declarou que Eisenhower se demitiria
se o plano inglês fosse adotado e Roosevelt deu mostras de que apoiava a
estratégia dos EUA, o alto-comando britânico, com relutância, admitiu a derrota.
Nos anos futuros, Eisenhower seria alvo de muitas críticas de historiadores
por não ter conseguido manter seus generais na linha, assim como por numerosos
erros estratégicos e táticos na guerra europeia. No entanto, como Max Hastings
ressaltou, “permanece impossível imaginar qualquer outro fazendo melhor
trabalho que Eisenhower. Em vez de focalizar suas limitações, que de fato eram
reais, o que interessa é que ele manteve a aliança funcionando.” Na opinião de
Hastings, “o comportamento de Eisenhower nos momentos de tensão anglo-
americana e a extraordinária generosidade de espírito em relação aos seus difíceis
subordinados demonstraram sua grandeza como Comandante Supremo.”
 
Nas semanas que precederam , as relações entre a Casa
Yalta

Branca e Downing Street nº 10 estiveram também altamente estremecidas.


“Algo parecido [370] com uma crise existe sob a superfície das relações entre os
aliados que combatem nesta guerra,” observou o colunista Marquis Childs, em
dezembro de 1944.
Quando a Inglaterra se opôs a uma proposta de se conceder acesso às
companhias aéreas dos EUA a todas as rotas aéreas do mundo, Roosevelt enviou
um telegrama a Winant, em novembro de 1944, a ser repassado a Churchill,
dando a entender que os Estados Unidos poderiam interromper o auxílio do
Lend-Lease caso os ingleses não aprovassem o plano. A mensagem era, na
opinião de John Colville, “chantagem pura.” Era o tipo de ameaça, acrescentou
um historiador, que “poderia ser feita a um político distrital sem expressão que
cabala votos ou a um sindicalista recalcitrante.” Os ingleses, temendo que seu
próprio programa de aviação civil pudesse ser esmagado pelos Estados Unidos,
caso não tivesse alguma espécie de proteção, favoreciam a criação de uma agência
internacional reguladora com poder para distribuir rotas e xar frequências.”
Mas o Presidente não quis saber de nada disso. Disse a Winant: “Por favor, leve a
mensagem anexa pessoalmente a Winston e o convença a aceitar o trato.” Na
oportunidade em que o embaixador entregou o telegrama ao primeiro-ministro,
em Chequers, Winant cou tão envergonhado com o tom intimidante da
mensagem que não quis aceitar o convite de Churchill para car e almoçar.
Porém o primeiro-ministro insistiu, dizendo “que mesmo uma declaração de
guerra não deveria impedir que eles desfrutassem de um bom almoço.”
O governo Roosevelt usou a mesma tática coercitiva numa controvérsia
envolvendo a ascensão ao poder de ultranacionalistas na Argentina. Num esforço
para pressionar o governo argentino, que Washington considerava pró-
Alemanha, o governo americano procurou persuadir a Inglaterra a convocar seu
embaixador e a não assinar um contrato de longo prazo para compra de carne
argentina, commodity mais que necessária numa Inglaterra penosamente privada
de carne. Mais uma vez, Roosevelt empregou o porrete do Lend-Lease, avisando
Churchill que, se não acompanhassem os americanos, haveria possibilidade de
más repercussões no Congresso. Enfurecido com o jogo duro do Presidente,
Churchill disparou de volta: “Você não enviaria suas tropas para o combate com
a ração de carne distribuída aos soldados ingleses, que é bem maior que a
recebida pelos trabalhadores. Seu povo está comendo mais carne e mais frango
do que antes da guerra, mas o nosso enfrenta, em sua maioria, grande
racionamento.”
Enquanto se abrasavam as duas disputas, os Estados Unidos e a Inglaterra
estavam também empenhados em intensa batalha verbal em relação à
intervenção militar inglesa contra as guerrilhas comunistas na recém-libertada
Grécia. Preocupado com a investida soviética no Bálcãs e com a possível tomada
do poder na Grécia pelos comunistas, Churchill enviara tropas britânicas para lá
a m de combater as guerrilhas que, tendo desempenhado papel importante na
resistência aos alemães, aspiravam agora o comando do país.
A iniciativa de Churchill provocou clamor na opinião pública dos Estados
Unidos, com grande parte da imprensa e muitos membros do Congresso
denunciando o primeiro-ministro como reacionário, e o próprio governo o
reprovando com severidade. Atordoado com a reação de Washington, o líder
inglês deixou patente para Roosevelt que se considerava traído. Relembrando ao
Presidente que “tenho tentado lealmente [371] dar suporte a qualquer
declaração com que você pessoalmente tenha se comprometido,” ele disse que
estava “muito magoado” com aquela tentativa de “ministrar uma repreensão
pública.”
Mas aconteceu que muitos dos próprios compatriotas de Churchill
igualmente se aborreceram com as ações do primeiro-ministro na Grécia, por eles
consideradas antidemocráticas. De fato, até o líder do governo na Câmara dos
Comuns disse a John Colville que era a primeira vez que ele via a Casa
“realmente irritada e impaciente” com Churchill. Mas os ingleses guardaram a
maior dose de sua indignação ao que consideraram moralidade hipócrita dos
Estados Unidos, que admoestavam Churchill enquanto demonstravam pequeno
interesse em se envolver com as questões europeias. Numa conversa com Averell
Harriman, Roosevelt realçou tal falta de interesse quando disse que “as questões
europeias eram tão complicadas que ele desejava se envolver o mínimo possível
com elas.”
The Economist, prestigiosa revista inglesa de assuntos políticos e
internacionais, advogou o explosivo sentimento britânico de mágoa contra os
Estados Unidos num fervoroso editorial que provocou furor em casa e do outro
lado do Atlântico: “O que torna a crítica americana tão intolerável,” declarou o
editorial, “não é apenas ser injusta, e sim porque parte de uma fonte que fez
muito pouco para dar-se assumir esses ares de superioridade. (...) Já seria
insuportável para um povo que vem sofrendo por seis invernos seguidos
blecautes e bombas, las, racionamento e frio — porém quando a crítica vem de
uma nação que só vendeu a dinheiro durante a Batalha da Inglaterra e cujo
consumo aumentou ao longo da guerra... não dá para aguentar.” O artigo —
escrito por Barbara Ward, jovem economista que mais tarde ganharia
notoriedade mundial por seus escritos sobre nações em desenvolvimento —
conclamava a Inglaterra a dar um m “na política de apaziguamento que, por
obra e graça de Mr Churchill, vem sendo exercida com todas as humilhações e
degradações que trouxe a reboque.”
O editorial de Ward foi recebido com um coro de aprovações em toda a
Inglaterra. “Não nos importamos [372] quando os americanos nos recriminam
com razão,” disse o Yorkshire Post, “mas queremos saber o quanto podemos
con ar neles, no futuro, para a manutenção da paz. (...) Eles dizem com toda a
liberdade o que devemos fazer. E que desejam eles fazer?” Enquanto muitos nos
Estados Unidos rejeitavam as premissas do artigo do Economist, uns poucos
americanos de renome acharam que ele tinha seus méritos. Até que os Estados
Unidos evidenciassem uma verdadeira determinação de compartilhar a
responsabilidade pela criação de uma nova ordem mundial, disse o deputado J.
William Fulbright, “há boa razão para o ceticismo de nossos aliados.”
 
A composição desse mundo pós-guerra foi o assunto principal na
segunda e última reunião de cúpula dos Três Grandes, na cidade-balneário de
Yalta, no mar Negro. Mais uma vez, Stalin resistira aos apelos de Churchill e
Roosevelt para que a reunião fosse em local geogra camente conveniente a eles.
Com a saúde consideravelmente mais abalada do que a de quatorze meses antes
em Teerã, os dois líderes ocidentais consideraram a viagem a Yalta um grande
inconveniente.
Ambos haviam chegado de Teerã enfermos. Depois que Roosevelt não
conseguiu se livrar dos efeitos daquilo que se pensava ter sido um forte ataque de
gripe, em 1944, os médicos o examinaram e descobriram que ele sofria de
algumas enfermidades que poderiam ser letais, tais como insu ciência cardíaca
congestiva, que causava acúmulo de líquido nos pulmões, e hipertensão grave.
Atacado por crônicas dores de cabeça e fadiga, o Presidente parecia estar cada
vez mais distante, irritadiço e desinteressado pelo que ocorria à sua volta,
inclusive sua bem-sucedida reeleição para um quarto mandato. “Ele parece não
dar a mínima,” disse um assistente. Após um encontro com FDR, o vice-
presidente Harry Truman declarou a um assessor: “Fisicamente, ele está um
trapo.”
Quando Roosevelt, Churchill e suas comitivas se encontraram rapidamente
na ilha de Malta antes de seguirem para o mar Negro, as autoridades inglesas
caram alarmadas com a visível deterioração física do Presidente desde a última
vez que o haviam visto. Mãos trêmulas, olhos sem brilho e encovados, sionomia
abatida e corpo frágil. Numa minuta de suas memórias, Churchill escreveu que
conversar com Roosevelt em Malta e Yalta foi como “falar com um amistoso
[373], mas escuro vazio.” De fato, o Presidente tinha apenas mais dez semanas de
vida.
Segundo membros do grupo de Churchill, a vitalidade física e mental do
próprio primeiro-ministro havia igualmente declinado muito no ano anterior. Por
pouco não morreu de um ataque de pneumonia logo depois de Teerã, e sua saúde
jamais se recuperou por completo; durante as sessões em Malta e Yalta, ele teve
febre alta e passou bastante tempo na cama. Como Roosevelt, também Churchill
tinha cada vez mais di culdades para se concentrar nas questões-chave da guerra
e de pós-guerra. “A bandeja de 'entrada' do P.M. está assustadora, com pilhas de
documentos urgentes que pedem decisão,” escreveu John Colville poucas
semanas antes de Yalta. “Ele desperdiçou seu tempo na última semana e pareceu
incapaz, não desejoso ou muito cansado para dar atenção às matérias complexas.
(...) Resultado: caos.” No m de janeiro de 1945, Alan Brooke espumava: “Creio
que não aguento outro dia de trabalho com Winston; ele é um caso perdido,
incapaz de captar qualquer situação militar e de tomar uma decisão.”
Segundo seus auxiliares, nem Churchill nem Roosevelt estavam preparados
para a Conferência de Yalta. O primeiro-ministro, disse um jovem diplomata do
Foreign O ce, “estava cansado e fora de forma. Também sofria da crença de que
sabia tudo e não precisava resumos. Stalin e seu ministro do Exterior Vyacheslav
Molotov, sempre bem informados, faziam perguntas importantes. “Qual é a
resposta para isso?” — dizia o primeiro-ministro, voltando-se com di culdade
para os assistentes sentados atrás dele. Não poderíamos dizer 'se o senhor tivesse
lido nosso estudo de situação, saberia a resposta.'” Sir Alexander Cadogan, na
época, escreveu em seu diário. “Tenho de dizer que acho Tio Joe o mais
impressionante dos três. (...) O presidente devaneia, o P.M. reverbera, mas Joe,
simplesmente ali ca, absorve tudo e se diverte.”
Como em Teerã, Roosevelt resistiu a todas as tentativas de Churchill de
coordenar a estratégia anglo-americana, ou mesmo a trocar ideias antes de se
encontrarem com o líder soviético. Não queria que Stalin pensasse que ele e
Churchill estavam conspirando contra ele. Depois de recusar o convite do
primeiro-ministro para fazer uma escala na Inglaterra a caminho da Crimeia,
Roosevelt nalmente concordou com uma breve reunião em Malta, mas evitou
conversas sérias sobre as futuras negociações em Yalta.
Quando a Conferência, nalmente, teve início, Roosevelt entrou em acordo
com Stalin na maioria dos pontos importantes sob discussão; mais uma vez,
Churchill sentiu-se o velho excluído. “Era sempre dois a um [374] contra nós,”
durante quase toda a conferência, lembrou-se um membro de alto escalão da
comitiva de Churchill. Outro auxiliar próximo do primeiro-ministro observou:
“O fato de o Presidente lidar com Churchill e Stalin como se eles tivessem a
mesma importância aos olhos dos americanos melindrou profundamente o
primeiro-ministro.” Numa das sessões plenárias, Roosevelt e Stalin começaram a
confabular antes da chegada de Churchill. Informado por um auxiliar que o
primeiro-ministro aguardava do lado de fora, a resposta de FDR foi abrupta: “Ele
que espere.”
Graças aos sucessos do Exército Vermelho, não havia dúvida de que Stalin
estava com a iniciativa em Yalta. Ao tempo da Conferência, as tropas soviéticas
haviam varrido de alemães a maior parte da Polônia, da Hungria e da Iugoslávia,
assim como tinham assumido efetivo controle da Bulgária e da Romênia.
Entraram na Tchecoslováquia e na Áustria e avançaram profundamente na
Alemanha. Na realidade, as unidades russas já estavam no rio Oder, cerca de
setenta quilômetros a leste de Berlim. Para Churchill, a rápida progressão dos
soviéticos através da Europa Oriental e Central mais parecia um pesadelo. Como
disse Cecil King, dono e editor do Daily Mirror: “Entramos na guerra (...) para
barrar a política alemã de expansão, que parecia poder absorver em breve toda a
Europa. O resultado real foi um deslocamento radical de saída do poder político
da Europa Ocidental” na direção da União Soviética. “Criamos agora um
Frankenstein que domina a massa territorial europeia-asiática de Vladivostok até
além de Viena.”
Roosevelt, dando toda a impressão de que não se preocupava em deixar a
União Soviética como potência militar e política dominante no continente
europeu, ainda piorou as coisas, na opinião de Churchill, ao dizer a Stalin em
Yalta que planejava retirar as tropas americanas da Europa, inclusive da
Alemanha, em dois anos. Para combater tal proeminência soviética, Churchill
“lutou como um tigre” na Conferência para garantir que o papel da França no
pós-guerra fosse o mais forte possível. Ao fazê-lo, julgava o primeiro-ministro, a
Inglaterra e a França poderiam servir — pelo menos em alguma medida — de
contrapeso para a Rússia. Roosevelt e Stalin, sob grande pressão de Churchill,
que foi apoiado por Harry Hopkins, concordaram, ainda que relutantes, em fazer
da França uma das potências ocupantes da Alemanha.
Entretanto, quando a discussão se encaminhou para a questão de ser criado
um governo independente na Polônia, Churchill, que repetidas vezes havia
prometido aos poloneses em Londres que conseguiriam de volta sua liberdade,
não exercitou o mesmo tipo de luta que travara pela França. A realidade é que
sua posição na Conferência havia sido antes solapada quando Roosevelt declarou
que, “vindo da América [375],” tinha “uma opinião distante quanto à questão
polonesa” e deixou claro que o interesse americano por ela era essencialmente
limitado aos efeitos sobre seus próprios propósitos políticos.
O assunto Polônia dominou Yalta, consumindo mais tempo e provocando
maior atrito do que qualquer outro ponto da agenda. Não obstante, as discussões
foram puro exercício de inutilidade. Por mais que Churchill tentasse se
convencer do contrário, a sorte da Polônia já estava selada. As tropas soviéticas
ocupavam a maior parte do país, e Stalin deixou patenteado que o governo
fantoche que ele havia instalado em 1944 na cidade polonesa de Lublin, a leste
do país, assumiria o poder da Polônia após a guerra. Churchill declarou
veemente: “Jamais poderemos aceitar qualquer acordo que não deixe [a Polônia]
livre, independente e soberana.” Ainda assim, face à teimosia de Stalin, ele e
Roosevelt aceitaram tal plano, se bem que enfeitado de alguma fachada
democrática. Segundo o acordo, o governo de Lublin seria ampliado para incluir
diversos líderes dos “círculos de émigrés poloneses,” e eleições livres seriam
realizadas com a brevidade possível para a escolha de um governo permanente.
Stalin, porém, recusou permissão para que funcionários americanos e ingleses
supervisionassem as eleições, e Churchill e Roosevelt nem questionaram esse
ponto. Decidiram con ar na palavra do líder russo de que a votação seria livre de
coerção, mesmo que os soviéticos nunca tivessem permitido eleições livres em
seu próprio país.
Outras decisões-chaves tomadas em Yalta foram o estabelecimento dos
procedimentos operacionais da nova organização das Nações Unidas, bem como
a promessa de Stalin de declarar guerra ao Japão em troca da posse das ilhas
Kurilas e de Port Arthur, um porto de mar na costa nordeste da China, nas mãos
dos nipônicos. Depois de muito tempo, os Três Grandes também rati caram os
documentos da rendição alemã e um protocolo que delineava a divisão da
Alemanha em três zonas de ocupação. (Em Yalta, Roosevelt e Churchill
concordaram que a zona da França seria retirada do território alemão que seus
dois países administrariam.) Berlim seria também dividida em setores de
ocupação dos aliados.
A aprovação dessas cláusulas foi uma corrida contra o tempo. Embora os
ingleses, no m de 1944, tivessem assinado os acordos minutados pela Comissão
Assessora Europeia, o governo americano não assinara. Poucos dias antes de
começar a Conferência de Yalta, Winant, que não fora convidado para o
encontro, insistiu bastante junto a Roosevelt, Hopkins e Edward Stettinius, que
substituíra Cordell Hull como secretário de Estado, sobre o crescente perigo da
procrastinação a respeito da Alemanha. As forças aliadas ocidentais, comentou o
embaixador, ainda não haviam entrado na Alemanha quando as russas chegavam
aos arrabaldes de Berlim. A menos que os Três Grandes adotassem formalmente
os acordos sobre zonas de ocupação, declarou ele, o Exército Vermelho “poderia
chegar [376] ao limite de sua zona e continuar em frente.” Concordando com
Winant que a matéria era “da maior importância,” tanto Hopkins quanto
Stettinius juntaram-se ao embaixador no esforço por uma rápida rati cação. E
valeu a pena: em 1º de fevereiro, Stettinius informou a Winant e à Comissão
Assessora Europeia que os Estados Unidos haviam nalmente pegado o bonde.
A aprovação russa ocorreu cinco dias mais tarde. Graças em grande parte à
pressão de Winant, o governo Roosevelt também anuiu em participar da
ocupação e controle da Áustria pós-guerra — um compromisso anteriormente
rejeitado pelo Presidente.
Ao mesmo tempo, outras questões espinhosas relacionadas com a Alemanha
foram deixadas sem solução em Yalta. Os três líderes não conseguiram chegar a
um acordo se a Alemanha deveria ser ou não desmembrada; como era a
tendência nos assuntos difíceis, eles criaram um novo comitê para estudar a ideia
de partição. Também não houve solução para a demanda soviética de 20 bilhões
de dólares a título de reparações, a serem pagos pela Alemanha. E, apesar de os
Três Grandes terem aprovado a posição de Berlim dentro da zona soviética de
ocupação, eles falharam em não acertar a questão especí ca das rotas de acesso
dos ingleses e americanos aos seus respectivos setores de ocupação dentro da
cidade. Observando que os soviéticos haviam se comprometido a proporcionar
tais rotas, Winant pressionou o Presidente a concordar com a proposta. Mas ele
não o fez. Nessa questão, como em outras, “penso que nossa atitude deva ser de
estudo e postergação da decisão nal,” disse Roosevelt ao embaixador.
Tendo deixado clara ao Presidente sua insatisfação por ter sido excluído de
Yalta, Winant foi convidado a juntar-se à comitiva de Roosevelt, no Egito, após a
conferência, e a acompanhá-la por mar até Argel. Durante os três dias como
participante da comitiva presidencial, Winant tentou incutir em FDR a
necessidade de se formular uma política abrangente e de longo alcance para o
Reich de pós-guerra. O presidente, todavia, estava demasiadamente exaurido
para se concentrar nesse assunto e desviou a conversa para as viagens pela
Alemanha que zera como menino. Foi a última vez que Winant viu FDR.
 
Menos de duas semanas após a assinatura dos acordos de Yalta,
Stalin deu indicações de que não tinha a intenção de honrá-los, ao menos no que
se referia à Polônia. O governo soviético rejeitou virtualmente todos os líderes
poloneses não comunistas indicados por Harriman e pelo embaixador inglês
Archibald Clark Kerr, para participarem das conversações sobre a criação de um
novo governo polonês. Os soviéticos, observou Churchill, “quiseram claramente
[377] representar uma farsa de consulta 'aos poloneses não de Lublin.'” Em
anotações que preparou como pontos para discussão antes de um encontro com
os soviéticos, Harriman escreveu: “A impressão é que vocês assumiram a Polônia
& excluíram todos os líderes que não estavam dispostos a aceitar ordens. Por que
é necessário dominar a vida polonesa?” O embaixador americano instou o
governo Roosevelt a ser duro com os soviéticos. Se não o zesse, alertou, “o
governo soviético se convencerá de que pode nos fazer aceitar qualquer de suas
decisões em todas as matérias, e será cada vez mais difícil barrar sua política
agressiva.”
Os soviéticos igualmente renegaram a promessa feita em Yalta de permitirem
observadores estrangeiros na Polônia, inclusive equipes militares anglo-
americanas que deveriam ajudar na repatriação de prisioneiros de guerra
americanos e ingleses mantidos em campos de concentração alemães lá
existentes. Para Churchill, cou cada vez mais evidente que o governo soviético
desejava retardar pelo tempo que fosse possível a circulação de relatos de
testemunhas inglesas e americanas a respeito do estrito controle que exerciam
sobre o país. “Não há dúvida em minha cabeça,” disse o primeiro-ministro a
Roosevelt, “que os soviéticos temem muito nossa visão do que se passa na
Polônia.”
Da perspectiva de Churchill, a Polônia seria o teste para se saber se a aliança
dos Três Grandes sairia vitoriosa pós-guerra ou fracassaria. Durante o mês
seguinte e até o falecimento de Roosevelt, o líder inglês bombardeou FDR com
telegramas urgentes, propondo que os dois juntassem meios para intervir, caso
necessário com a força, contra Stalin no atinente à Polônia. A reação do
Presidente foi evitar tomar qualquer ação que Stalin pudesse interpretar como
ameaça. Na melhor das hipóteses, a propensão de Roosevelt era a de retardar as
decisões difíceis e controversas. Alquebrado e fraco como estava no início da
primavera de 1945, ele cada vez mais se inclinava ao adiamento. Achava melhor,
disse a Churchill, ir devagar na questão da intervenção pessoal.
Churchill discordava por completo. A Polônia se encontrava prestes a ser
totalmente dominada pelos soviéticos, e as repetidas promessas destes de
independência aos poloneses estavam à beira de virar cinzas. Não havia tempo a
perder. Impulsionado fortemente pelo primeiro-ministro, Roosevelt, nas últimas
semanas de sua existência, começou a expressar preocupação sobre o destino dos
acordos de Yalta. Ele também manifestou indignação pelo injusto tratamento
dispensado pelos soviéticos aos prisioneiros de guerra americanos, assim como
pelo súbito anúncio de Stalin de que o ministro soviético do Exterior, Vyacheslav
Molotov, não compareceria às cerimônias de San Francisco que marcariam a
materialização do sonho de FDR — as Nações Unidas. Quando o chefe soviético
acusou os aliados ocidentais, no início de abril, de estarem maquinando com os
alemães uma paz em separado, Roosevelt enviou um áspero telegrama
expressando “seu sentimento de amargo [378] ressentimento” com a acusação.
Surpreso, Stalin recuou, declarando que jamais duvidou da integridade de
Roosevelt e da con ança que inspirava. Sua resposta pedindo desculpas deixou
FDR em estado de espírito bem mais conciliador. No dia 11 de abril, véspera de
sua morte, o presidente escreveu a Churchill dizendo que planejava “minimizar
o problema soviético geral o quanto possível, porque tais questões, de uma forma
ou de outra, parecem surgir a cada dia e, em sua maioria, são solucionadas.”
 
No início de março , as forças de Eisenhower começaram a atravessar o
Reno e a jorrar na Alemanha. Por sua própria iniciativa, o comandante do
SHAEF informou a Stalin que suas tropas não competiriam com as do Exército
Vermelho pelo troféu de Berlim. Em vez disso, declarou Ike, esperava que as
duas forças aliadas pudessem se encontrar no rio Elba, cerca de sessenta
quilômetros a oeste da capital germânica. Em telegrama aos Chefes de Estado-
Maior Combinados relatando sua decisão, Eisenhower a rmou que “Berlim
perdeu [379] muito de sua anterior importância militar.” Capturar a capital,
pensava ele, não justi cava a grande perda de soldados que tal incursão
implicaria; Omar Bradley estimou que as baixas do SHAEF passariam de cem
mil numa investida aliada na direção de Berlim.
Espantado com a decisão unilateral de Eisenhower, Churchill batalhou
fortemente para revertê-la, trocando uma série de mensagens plenas de revolta
com o comandante americano e insistindo com Roosevelt para intervir. O
debilitado Presidente não interveio, e Marshall endossou a atitude de
Eisenhower. “A ira de Churchill por se abrir mão de Berlim como troféu,”
escreveu Max Hastings, “re etiu o profundo pesar que se abateu sobre os últimos
meses da guerra pelo fato de que o domínio de Hitler sobre a Europa Oriental
seria agora subsituído pelo de Stalin.”
Ainda assim, permanece a verdade de que nenhuma ação militar na
primavera de 1945, não importa quão simbolicamente importante, poderia ter
alterado de maneira signi cativa os acertos pós-guerra com que o primeiro-
ministro e Roosevelt concordaram em Teerã e Yalta.
20

“Finis”
 
Na noite de 11 de abril de 1945 , Ed Murrow estava alegre como
havia muito tempo não se sentia. Finalmente sacudira os arreios de Londres e se
encontrava com as tropas de George Patton no interior da Alemanha. O Reich de
Hitler entrava em colapso, a guerra caminhava rapidamente para um m. E
Murrow, que amava jogar pôquer, mas nunca fora muito bafejado pela sorte,
acabara de ganhar milhares de dólares numa “ruidosa” noitada com alguns dos
outros correspondentes que cobriam o III Exército de Patton.
Na manhã seguinte, ele abarrotou uma pochete com os ganhos do pôquer e
seguiu com as tropas dos EUA na direção da cidade de Weimar, Passando por
granjeiros bem alimentados que amanhavam seus campos, os americanos
chegaram a uma elevação alguns quilômetros distante da cidade. No seu topo
estava instalado um campo de concentração cercado de arame farpado, cujos
guardas alemães haviam fugido três dias antes. O nome do campo era
Buchenwald.
Quando Murrow e os outros americanos passaram pelo portão principal, o
radialista sentiu como se tivesse recebido violento soco no abdome que lhe tirara
a respiração. Dezenas de homens emaciados, a maioria não mais do que
esqueletos fantasmagóricos, os cercaram. “Homens e meninos [380] estendiam
os braços para tocar em mim,” disse Murrow numa transmissão poucos dias mais
tarde. “Eles vestiam restos e trapos de uniformes. A morte já havia deixado em
alguns sua marca indelével, mas sorriam com os olhos.” Chocado, Murrow
reconheceu diversos daqueles homens de encontros antes da guerra, inclusive
um ex-prefeito de Praga, um renomado professor de Varsóvia, um doutor de
Viena. Enquanto Murrow permanecia, atônito, de pé, um homem caiu morto
bem à frente dele. “Dois outros, que deviam ter mais de sessenta anos, rastejavam
para a latrina. Eu vi isso — porém não vou descrever mais nada.” O
radiorrepórter anotou tudo o que os prisioneiros lhe disseram: seis mil homens
mortos em março, duzentos “no dia que chegamos lá — as pessoas no lado de
fora tão bem nutridas.”
Quando diversos dos internos o acompanharam num giro pelo campo, ele
achou, disse depois, que ia vomitar. Num pequeno pátio, encontrou “duas leiras
[381] de cadáveres como se fossem toras de lenha cortada. Todos muito magros e
muito brancos. Alguns com terríveis marcas pelos corpos. (...) Tentei contá-los da
melhor maneira possível e cheguei à soma de mais de quinhentos mortos
en leirados em duas bem organizadas pilhas.” Mais de uma vez, durante as
poucas horas que passou em Buchenwald, Murrow não pôde conter as lágrimas.
Pegou todo o dinheiro que tinha na pochete e o distribuiu pelos cativos do
campo.
Apesar de, tecnicamente, Buchenwald não ser um campo de extermínio,
mais de cinquenta mil de seus internos morreram durante a guerra, a maior parte
de fome e doenças. Os genuínos campos názis da morte, a maioria na Polônia,
foram libertados pelas tropas soviéticas, mais ou menos ao mesmo tempo que
Buchenwald. Em períodos anteriores da guerra, Murrow e sua equipe da CBS,
acompanhados por outras organizações americanas e inglesas de notícias, haviam
levado à atenção pública diversas reportagens sobre carni cinas názis em massa
de judeus em tais campos de extermínio. Contudo, com o prosseguimento da
guerra, os jornalistas dos países aliados zeram poucas coberturas sobre a
continuada perseguição de judeus e de outros inimigos do Reich. Para as
agências ocidentais de notícias, o Holocausto não foi uma história importante de
tempo de guerra; não se conhecia sua total extensão até que a luta terminou. Por
inquestionável falta de provas para esses assassinatos maciços, era virtualmente
impossível para os que viviam em países democráticos captar a escala e a
selvageria das tentativas germânicas de varrer a população judaica da Europa.
Por certo, os governos dos EUA e da Inglaterra, que tinham acesso a mais
informações sobre o Holocausto do que seus cidadãos, pouco zeram para tornar
públicas as atrocidades ou para tomar medidas efetivas tendentes a salvar os
judeus. Alguns funcionários dos altos escalões dos dois países, inclusive Gil
Winant e Henry Morgenthau, acionaram seus líderes para que zessem mais,
mas os resultados foram esparsos. Insistindo que a única maneira de ajudar os
judeus era ganhar a guerra, o governo Roosevelt não aceitou fazer pressão para
uma mudança nas restritivas leis americanas de imigração, de modo que mais
judeus pudessem ingressar no país. Em 1944, Roosevelt criou o Conselho de
Refugiados de Guerra para facilitar o resgate de judeus das nações ocupadas,
mas a providência de última hora, como ressaltaram alguns historiadores, foi de
pequeno alcance e chegou muito tarde.
Após retornar a Londres, vindo de Buchenwald, Murrow resolveu abrir os
olhos de sua audiência para a bestialidade que acabara de testemunhar. “Ele
queria que o mundo [382] soubesse a respeito do que tinha visto,” disse o
radialista Geo rey Bridson, da BBC, amigo de Murrow. Objetivava atingir,
declarou Bridson, “o ouvinte sonhador que pensava, 'Oh, bem, isso está muito
longe e, realmente, não tem nada a ver conosco.' Pois Ed estava louco para dar-lhe
também um belo soco no estômago.”
Três dias depois de deixar a Alemanha, Murrow sentou-se diante do
microfone e, numa voz embargada pela raiva, descreveu o que havia visto no
campo — os cadáveres empilhados, os esqueletos vivos, as câmaras de torturas, as
pilhas de sapatos, de cabelo, de dentes de ouro. No m de sua transmissão,
Murrow disse sem rodeios. “Rogo para que creiam no que eu disse sobre
Buchenwald. Reportei o que vi e ouvi, mas só em parte. Não tenho palavras para
relatar o resto. (...) Caso eu tenha ofendido alguns dos ouvintes com este relato
bastante brando de Buchenwald — não me desculpo nem a pau.” Bridson, que
estava no estúdio durante a transmissão, disse que Murrow “tremia de raiva
quando desligou o microfone.”
Muitas pessoas acharam que foi o melhor programa que ele jamais
transmitiu, mas Murrow discordou. Achou que não zera justiça aos horrores
que presenciara. “Um sapato, dois sapatos, uma dúzia de sapatos, vá lá,” disse ele.
“Mas como descrever diversos milhares de sapatos.”
 
Em 12 de abril de 1945, dia em que Murrow visitou Buchenwald,
Franklin D. Roosevelt faleceu de derrame cerebral em Warm Springs, na
Georgia. A notícia de sua morte provocou ondas de choque e pesar no mundo
inteiro, mas poucos sentiram tanto quanto Gil Winant. Convalescendo de forte
gripe, o embaixador cou atordoado quando tomou conhecimento do
falecimento no meio da noite, e permaneceu literalmente prostrado por horas.
A despeito das frustrações causadas por algumas políticas de FDR e do
ocasional tratamento indiferente que o Presidente lhe dispensou, Winant jamais
vacilou no apoio e no afeto pelo líder que fora seu amigo e aliado próximo por
mais de uma década. “Sou homem de Roosevelt,” disse certa vez. “Se Roosevelt
quer que eu faça determinada coisa, eu faço. Aí está meu futuro político.” Num
telegrama ao Presidente, alguns anos antes, Winant dissera simplesmente:
“Graças a Deus por você.” Noutro, a rmara: “Sempre penso a seu respeito e
sinto muitas saudades suas.” Poucos meses antes, Winant vagara pelos
antiquários de Londres à procura de um presente de Natal que achasse
apropriado para Roosevelt e, nalmente, enviara-lhe uma bengala que George
Washington dera de presente a Jerome Bonaparte, irmão mais novo de Napoleão.
De seu lado, Roosevelt frequentemente expressou admiração e afeição pelo
tímido idealista que sacri cara sua carreira política por ele e pelo New Deal. Em
diversas ocasiões, FDR falou sobre a indicação de Winant para posições de realce
no ministério, inclusive secretário de Estado. Em 1944, chegou a considerar a
escolha do embaixador como companheiro de chapa para a vice-presidência,
insinuando o nome de Winant para alguns de seus auxiliares mais próximos
como Henry Morgenthau e Harold Ickes. Ao mencionar a possibilidade de
candidatura de Winant numa reunião com assessores, FDR frisou que o
embaixador “podia fazer [383] o discurso mais desencontrado e, quando
terminasse, dar a impressão de ser Abraham Lincoln.” Mas ninguém, exceto
Roosevelt, se entusiasmou com a ideia, e o presidente escolheu Harry Truman.
Como Winant, Winston Churchill cou abismado com a notícia da morte de
FDR; ela o atingiu, disse mais tarde, como um golpe físico. Às três da manhã de
13 de abril, ele convocou Walter Thompson, o principal segurança pessoal, ao
seu estúdio, onde, como relembrou Thompson, falou sobre Roosevelt —
“chorando, lembrando fatos passados, sorrindo, repassando dias, anos;
recordando-se de conversas; desejando ter feito isso ou aquilo (...) concordando,
discordando, revivendo.” A Thompson, Churchill declarou: “Ele foi um grande
amigo de nós todos. Nos deu ajuda inestimável. (...) Sem ele, e os americanos por
trás dele, decerto seríamos esmagados.”
O povo inglês partilhou a tristeza de seu primeiro-ministro. A maioria pouco
sabia dos con itos que enervavam a aliança anglo-americana; para eles, Roosevelt
era simplesmente o salvador da nação. “Este país,” publicou o Daily Telegraph,
“tem com ele um débito que nunca poderá pagar, pelo seu entendimento, ajuda e
con ança nas horas mais sombrias.” No dia seguinte ao do falecimento de FDR,
as bandeiras inglesas foram hasteadas a meio-pau, o Rei e sua corte decretaram
sete dias de luto, e a região normalmente agitada em torno de Piccadilly Circus
cou “tão quieta quanto uma rua de subúrbio.” Os londrinos “permaneceram de
pé nas ruas, olhando incredulamente as primeiras manchetes dos jornais e
pacientemente nas las à espera de novas edições,” registrou Mollie Panter-
Downes para The New Yorker. Um integrante do Exército lembrou-se de ter sido
“parado na rua por pelo menos uma dúzia de pessoas para me expressarem
pêsames, como se [o Presidente] fosse um membro de minha família.” O escritor
C.P. Snow observou: “Não me lembro [384] de ter visto antes Londres tão
comovida por um acontecimento. Até minha velha senhoria chorou. O metrô
cou repleto de gente lacrimosa — bem mais, estou seguro, que se Winston
tivesse morrido.”
Em 18 de abril, mais de três mil pessoas, inclusive o casal real inglês e
diversos monarcas europeus exilados, apinharam a Catedral de St. Paul para um
serviço religioso em memória de Roosevelt, enquanto milhares ouviam-no do
lado de fora. Winant, que acompanhou um contristado Churchill, leu um trecho
da Bíblia extraído do Livro da Revelação. Mais tarde naquele mesmo dia,
Churchill declararia na Câmara dos Comuns que Roosevelt “foi o maior amigo
americano que jamais conhecemos e o maior defensor da liberdade, que, como
ninguém mais, trouxe conforto e ajuda do Novo Mundo para o Velho.”
A reação de Churchill à morte do Presidente foi, no entanto, mais complexa
do que revela seu eloquente panegírico. Não há dúvida de que ele cou
profundamente entristecido, mas a tristeza engal nhou-se com a raiva e o
ressentimento que ele ainda sentia sobre o que considerava o desprezo que FDR
dispensara a ele e a seu país no último ano e meio. No dia seguinte ao do
falecimento de Roosevelt, o primeiro-ministro começou a hesitar sobre a questão
de voar ou não para Washington a m de presenciar o sepultamento do
Presidente. Lord Halifax telegrafou-lhe dizendo que Harry Hopkins achava que
ele deveria ir, que sua visita teria “tremenda repercussão para o bem.” O sucessor
de FDR, Harry Truman, também instou pela viagem, a rmando ao primeiro-
ministro “que caria muito honrado com a oportunidade” de conhecê-lo.
Apesar de tudo, no m, Churchill decidiu não ir, desculpando-se por ter
muito trabalho a fazer em Londres. A decisão intrigou muitos de seus auxiliares,
que realçaram o fato de o primeiro-ministro nunca ter vacilado em viajar para
Washington quando achou necessário, Como escreveu Max Hastings: “É difícil
não interpretar a ausência do primeiro-ministro no funeral de Roosevelt como
um re exo do afastamento ocorrido entre ele e o Presidente, que de fato se
agravou nos últimos meses de vida de Roosevelt.” A decisão de Churchill poderia
também ser explicada por Roosevelt jamais tê-lo visitado em Londres, malgrado
os repetidos convites. Além do mais, o inglês fora sempre o suplicante, o que
sempre se esforçava para concretizar as reuniões anglo-americanas. Agora,
Churchill aparentemente julgava que os papéis deveriam se inverter. “Creio que
seria uma boa coisa a vinda do presidente Truman à Inglaterra,” escreveu o
primeiro-ministro ao Rei.
Porém Truman jamais visitou Londres enquanto Churchill foi primeiro-
ministro.
 
A primavera de 1945 veio plena de acontecimentos; a descoberta da
verdadeira amplitude do Holocausto, a morte de Roosevelt e a queda das grandes
e pequenas cidades alemãs, uma atrás da outra, como frutos a caírem no colo dos
aliados. No m de abril, os exércitos aliados progrediam celeremente Alemanha
adentro: os americanos e ingleses do oeste, os russos do leste. Em 25 de abril,
unidades das vanguardas dos EUA e da URSS encontraram-se no rio Elba, como
Eisenhower planejara. Em 30 de abril, Hitler suicidou-se, com as tropas
soviéticas a menos de quilômetro e meio de seu bunker. Em 7 de maio, a guerra
na Europa terminou. Às 2h41 da daquela madrugada, o general Alfred Jodl,
chefe de operações das forças armadas alemãs assinou a declaração formal da
rendição de seu país no QG do SHAEF, à época instalado numa pequena e
maltratada escola, com paredes de tijolo aparente, na cidade francesa de Reims.
“Com esta assinatura [385],” Jodl disse ao general Walter Bedell Smith, “o povo
alemão e as forças germânicas estão, para o melhor ou o pior, entregues nas mãos
dos vitoriosos.”
No dia seguinte, em Londres, centenas de milhares de pessoas tomaram as
ruas do entorno de Piccadilly Circus, de Trafalgar Square, do Parlamento e de
Whitehall, assim como os parques em volta do Buckingham Palace, esperando o
anúncio o cial do m das hostilidades na Europa. Era um belo dia de primavera,
e multidões alegres e exuberantes desfrutavam do sol acolhedor. Pareceu,
observou um londrino, que a cidade “fora tomada por um enorme piquenique de
família.” Mães enfeitavam os cabelos de seus bebês com tas vermelhas, azuis e
brancas, e os cachorros exibiam gravatinhas nas mesmas cores. Soldados
beijavam as moças sorridentes que passeavam. Um GI, com o rosto coberto de
manchas vermelhas de batom, exclamava para as mulheres que com ele
cruzavam: “Você não quer colaborar com minha coleção?” Em Piccadilly,
marinheiros formaram um “trenzinho” que logo se alongou com a participação
dos circunstantes. Os sinos das igrejas repicavam. No Tâmisa, rebocadores
acionavam suas trombetas em comemoração.
Transmitindo ao vivo de uma van no centro de Londres, Ed Murrow
descrevia para os ouvintes a visão de milhares de pessoas deixando suas casas,
apartamentos e escritórios para se juntarem à festa. Ele era um dos poucos
americanos na cidade que estivera lá desde o início da guerra e a acompanhara
até o m. Até certo ponto, talvez falasse sobre si mesmo quando frisou na sua
transmissão que, a despeito do júbilo, bom número de londrinos não se inclinava
por muitas celebrações naquele dia. “Suas lembranças [386],” disse ele, “têm que
estar repletas de imagens de amigos que morreram nas ruas ou nos campos de
batalha. Seis anos constituem muito tempo. Observei que as pessoas têm pouco a
dizer. Não há palavras.”
Naquela noite, Murrow voltou à sua vizinhança de Regent's Park para
retomar suas próprias memórias da guerra. Numa das esquinas, observou, seu
melhor amigo, o editor da BBC Alan Wells, havia sido morto. Ao passar por um
grande tanque d'água, lembrou-se “quase com um susto, que ali existia um pub
atingido por uma bomba de mil quilos, onde trinta pessoas morreram.” Murrow
admitiu que estava tendo di culdade para se acostumar à ideia de paz.
“Tentando entender o que ocorreu, a cabeça se refugia no passado. A guerra que
se foi parece mais real que a paz que chegou.”
 
Para Gil Winant, a guerra ainda não tinha acabado. Ele passou
calmamente com os amigos o “V-E Day” falando de reminiscências sobre
Roosevelt e sobre o que aquele dia signi cara para ele — porém, durante a maior
parte do tempo, pensava sobre o destino do lho mais velho. Um mês antes de a
guerra terminar, o embaixador recebera a notícia de que John Winant Jr. e outros
prisioneiros de guerra VIPs, mantidos como reféns pelos alemães, tinham sido
removidos de Colditz pela Gestapo poucas horas antes de as tropas americanas
liberarem a prisão. O que Winant não sabia era que, com a Alemanha
mergulhando no caos, o chefe das SS, Heinrich Himmler, ordenara que os reféns
aliados fossem levados à Floresta Negra e fuzilados. “Enquanto todo o povo
alemão chora,” declarou Himmler, “a família real inglesa não deve rir.”
Mas o general designado para supervisionar as execuções ganhou tempo,
sabendo muito bem o que os vitoriosos aliados fariam com ele se cumprisse a
missão. Quando o alto-comando alemão escalou outro o cial para executar a
tarefa, o general entrou em contato com autoridades suíças, as quais conseguiram
transferir os prisioneiros de guerra para um posto de comando americano na
Áustria. Dois dias após o Dia da Vitória na Europa, Gil Winant recebeu a
chamada que tanto esperara e que temia jamais receber: John estava salvo e a
caminho de Londres. Ao saber da notícia, Lord Beaverbrook escreveu ao
embaixador: “O fato de sua ansiedade a respeito dele ter sido varrida na hora do
triunfo para o qual o senhor tanto contribuiu, será causa de enorme alegria entre
todos os seus amigos neste país. E isso signi ca todo o povo inglês.”
 
Entrementes, para Winston Churchill , o “V-E Day,” foi um
momento agridoce. Grandes multidões o saudaram alegremente enquanto
passava de carro na direção do Buckigham Palace e, depois, do Parlamento, para
anunciar a rendição alemã. Ele se regozijava com a vitória, porém mais tarde
naquele dia, num discurso pelo rádio, difundido para todo o Reino Unido, aludiu
ao destino da Polônia e de outros países dominados pelos soviéticos, ao dizer:
“No continente europeu [387], ainda temos que nos assegurar de que os simples
e honrosos princípios pelos quais entramos na guerra não sejam postos de lado (...)
e de que as palavras 'liberdade,' 'democracia' e 'libertação' não sejam distorcidas
de seu real signi cado.”
Quatro dias mais tarde, num telegrama à esposa, Churchill reconheceu seu
profundo desapontamento em face da “política venenosa e das mortais
rivalidades internacionais” tão evidentes no triunfo dos aliados. O idealismo dos
anos iniciais do con ito, com suas esperanças e sonhos de maior liberdade, justiça
e igualdade no mundo se dissolveu num reboliço de tratativas e mal-entendidos
de tempos de guerra. Imediatamente à frente viriam os infernos nucleares de
Hiroshima e Nagasaki, a rendição do Japão e o início da Guerra Fria.
 
Em Reims, Dwight D. Eisenhower celebrou o “V-E Day” oferecendo
um almoço a vinte e cinco altos o ciais americanos e ingleses da equipe de seu
SHAEF, a maioria dos quais havia criado fortes vínculos entre si no ano e meio
passado. Foi uma ocasião festiva e de alto espírito — pelo menos até o m.
“Quando [ela] caminhava para o término e os participantes começavam a se
despedir, de repente o grupo de generais se deu conta de que não tinha mais
emprego,” lembrou um dos presentes. “O companheirismo de dias e meses se
fora. E a impressão era de que comparecíamos ao nosso próprio funeral. (...)
Saímos tomados de tristeza, e o general Eisenhower se despedia de nós com
lágrimas nos olhos.”
Um mês depois, os cidadãos de Londres renderam tributo a Eisenhower por
seu inestimável papel na condução das forças aliadas à vitória. Em pomposa
cerimônia no Guildhall dani cado por bombas, o general americano recebeu a
“Honorary Freedom of the City of London,” honraria que remonta a tempos
medievais e é a mais elevada que a cidade pode conceder. Praticamente todas as
guras notáveis de Londres estavam presentes — líderes do Parlamento,
destacados empresários e juristas, as mais altas patentes militares inglesas,
membros do Gabinete e Winston Churchill. Uma a uma, elas des laram pelo
corredor do Grande Salão do Guildhall, para serem recepcionadas pelo prefeito
e os sheri s em trajes de gala. Quase ao m da la caminhava Gil Winant.
“Houve aplausos [388] de diversas intensidades para os outros,” notou um
funcionário americano, mas quando o nome de Winant foi anunciado, “as salvas
de palmas foram estrondosas, ultrapassadas apenas pelas dedicadas ao primeiro-
ministro e ao próprio Eisenhower.”
No calor da vitória, a antiga hostilidade dos militares ingleses em relação a
Eisenhower pareceu desaparecer. Até Alan Brooke se tornou um admirador —
ao menos naquele dia. “Ike fez um discurso maravilhoso e impressionou toda a
audiência do Guildhall,” registrou Brooke em seu diário. “Ele depois fez um
pronunciamento igualmente bom, mas de tipo diferente, do lado de fora da
Mansion House, para então proferir um discurso de primeira classe no almoço da
Mansion House. Eu nunca percebera que Ike era tão grande homem até que vi
seu desempenho de hoje!”
 
Na Inglaterra, contudo, o contentamento pela vitória
rapidamente desvaneceu. Pouco depois do “V-E Day,” o Partido Trabalhista
anunciou que estava saindo do governo Churchill de coalizão, levando o
primeiro-ministro a convocar eleições gerais, que não ocorriam desde 1935. A
maioria esperava que Churchill e o Partido Conservador vencessem, mas
Winant não estava nessa maioria. Meses antes da votação, o embaixador disse ao
médico particular do primeiro-ministro que “estava preocupado com Churchill,
pois se envolvera tanto com a guerra que perdera o contato com o sentimento
vigente no país.” Quando os votos foram apurados em 26 de julho, a previsão do
embaixador estava correta. O líder, tão inspirador em tempo de guerra, foi
afastado do poder pelos eleitores cansados e fartos de guerra, que preferiram o
Partido Trabalhista para administrar a debilitada economia do país e transformar
sua sociedade. “Embora [o povo inglês] seja grato a Churchill pela vitória,”
escreveu Pamela Churchill a Averell Harriman, “não quer ser sentimental a
respeito.”
Radicalizado pela guerra, o povo britânico esperava — e exigia — que os
enormes sacrifícios feitos nos seis anos passados fossem recompensados com
signi cativas reformas sociais e econômicas no pós-guerra. Churchill se mostrara
perplexo com tais exigências. Durante a campanha pela reeleição, “ele
ridiculariza os tolos que querem reconstruir o mundo,” observou Lord Moran,
“no entanto, por trás da bravata, creio que ele não tem muita certeza sobre o que
diz. Sente-se de volta aos anos 1930, sozinho no mundo, falando uma língua
estranha.” Física e emocionalmente exausto, Churchill conversou com Moran
sobre o que chamou “essa maldita eleição [389],” dizendo: “Não tenho agora
mensagem para [o povo].” E acrescentou melancolicamente :“Sinto-me muito
sozinho sem uma guerra.” Apesar disso, esperava ganhar. A derrota dos
conservadores por grande margem — “débacle total,” segundo John Colville — foi
um choque não só para o primeiro-ministro e seus compatriotas, como para o
resto do mundo. O New York Times disse: “Foi uma das mais impressionantes
surpresas eleitorais na história da democracia.”
Churchill cou arrasado com a derrota. Pug Ismay, que o visitou logo depois
que os resultados foram anunciados, disse que ele lhe pareceu “mortalmente
ferido.” Golpeado pela inesperada queda, Churchill disse a Ismay: “Não tenho
um carro, nem lugar para viver.” Em questão de horas, sua vida virara de cabeça
para baixo. “Todo o foco do poder, da ação e das notícias,” observou Mary
Churchill, “fora transferido (com a velocidade do relâmpago, como sempre
acontece) para o novo primeiro-ministro” — Clement Attlee. No nº 10 de
Downing Street, a “Sala da Situação se encontrava deserta, o Gabinete Privativo,
vazio; não havia telegramas o ciais.”
Poucos dias depois de ser apeado do poder, Churchill passou um último m
de semana em Chequers, cenário de tantas reuniões agitadas do tempo da guerra.
Ele e Clementine convidaram poucas pessoas para acompanhá-los — os lhos,
alguns assessores mais próximos e Winant. O embaixador e Churchill haviam
experimentado di culdades na relação dos últimos quatro anos, em especial nos
meses nais da guerra, quando o governo dos EUA mostrou a força de seus
músculos como parceiro dominante da aliança. Porém tudo aquilo era agora
história passada, e os Churchills deixaram claro que ainda consideravam o
embaixador da família.
Durante o triste m de semana, Winant e os outros zeram o possível para
levantar o moral do desconsolado ex-primeiro-ministro. “Não era tanto a perda
do poder que ele sentia, mas a súbita falta do que fazer,” observou mais tarde
Sarah Churchill. “Seis anos no exercício dos mais extremados esforços mentais e
físicos e, de repente, nada.” Ele sentia falta, sobretudo, das caixas vermelhas de
despachos repletas de documentos urgentes, que chegavam diversas vezes ao dia
em Downing Street. De acordo com Sarah Churchill, “elas foram parte
integrante de sua vida.”
Na noite que antecedeu a partida de Chequers, Winant, Sarah e os outros
convidados assinaram o “Livro de Visitantes” da mansão. Para Churchill, tratava-
se de ritual importante. Certa vez, Eisenhower deixou Chequers sem assinar o
livro, e o mordomo do primeiro-ministro correu atrás dele, declarando
solenemente: “Sir, o senhor se esqueceu [390] do livro.” O tom de voz do
empregado deixava patente que “ele achava inconcebível meu esquecimento,”
escreveu Eisenhower. Na noite nal, o último assinar foi Churchill. Ele apôs seu
nome e então acrescentou abaixo da assinatura: “Finis.”
21

“Sempre Me Sentirei um Londrino”


 
No outono de 1945, a cor, a vibração e o tumulto que
caracterizaram Londres do tempo da guerra já estavam envoltos pela névoa da
memória. Os residentes da capital já podiam circular por Piccadilly sem risco de
vida e de outras partes do corpo, os quartos de hotel eram abundantes e os
exilados europeus, em grande parte, haviam desaparecido dos restaurantes do
Soho. Os franceses e belgas foram-se embora no ano anterior, depois da
libertação de seus países. Os holandeses, noruegueses e tchecos foram em
seguida, na primavera, ao passo que os infelizes poloneses resignaram-se a uma
vida em permanente exílio — na Inglaterra e noutros países.
Os americanos, entrementes, haviam esvaziado a maioria dos prédios que
ocupavam em torno de Grosvenor Square. Fecharam também as portas o
Rainbow Corner e outros clubes para GIs. Em 15 de outubro, a edição nal em
Londres do Star and Stripes foi publicada com gigantesca e adornada manchete
de primeira página — “ADEUS, INGLATERRA [391].” Na
matéria alusiva, Clement Attlee desejava boa sorte aos americanos que partiam.
“Agora, com as imensas tarefas de guerra levadas a glorioso termo,” dizia o
primeiro-ministro, “ camos na expectativa de uma continuada e sempre
crescente amizade com os Estados Unidos para as conquistas da paz.”
Porém, na realidade, essa amizade já se dissolvia. Oito dias após a rendição
do Japão, Harry Truman, sucessor de FDR, cancelou os embarques de
suprimentos alimentícios do Lend-Lease para a Inglaterra, sem qualquer aviso
prévio ao governo britânico. Em Washington, a missão inglesa coordenadora dos
despachos de artigos alimentícios dos Estados Unidos soube da decisão apenas
quando um de seus navios teve recusada a autorização para zarpar. Para a sofrida
e empobrecida Inglaterra, a decisão de Truman não poderia ter vindo em hora
pior.
No outono de 1945, a oferta de alimentos para os ingleses alcançou seu
menor nível em seis anos. Em vez de ser suspenso quando a guerra acabou, o
racionamento de alimentos no país se tornou consideravelmente mais restritivo.
A porção de bacon foi reduzida em 25 por cento apenas dias após ser declarada a
vitória sobre o Japão, e as las do pão, das batatas e de outros vegetais, muitas
vezes aumentaram um quarteirão no comprimento. (Pão e batatas logo também
seriam racionados.) Um soldado que retornou da linha de frente cou espantado
com as condições que encontrou em Londres: “É difícil entender [392] que estou
na capital de uma nação vitoriosa. Não há sensação de triunfo. Os londrinos só
pensam em comida.”
Também faltava roupa e onde morar. Até o Rei sentiu o aperto em roupas,
exclamando para Attlee: “Temos de conseguir roupas novas — minha família está
na última muda.” Porém, com o apertado racionamento de vestuário ainda em
vigor, o pedido do monarca permaneceu sem resposta. Enquanto isso, a perda de
mais de 40 por cento do estoque de residências do país deixara milhões de
ingleses sem casa permanente. Alojamentos provisórios — estruturas construídas
de madeira compensada ou folhas de zinco, normalmente em locais onde bombas
haviam explodido — transformaram algumas áreas de Londres e de outras
cidades inglesas em autênticas favelas.
Tendo perdido um quarto de sua riqueza e dois terços de seu comércio
exportador, o país, após seis anos de guerra, estava praticamente falido. O povo
não podia ter expectativas. Com o con ito terminado e o perigo superado, o
espírito comunitário, característico do tempo de guerra, desapareceu. Por que,
perguntavam os ingleses, tinham de continuar em apuros, economizando e se
sacri cando? Era amarga a queixa sobre escassez e racionamento, e doloroso o
medo do futuro.
Medo plenamente justi cado, logo se viu. O novo governo trabalhista
começou a erigir as fundações do estado de seguridade social, como antevisto no
Relatório Beveridge de 1942, mas elas careciam dos recursos para nanciar
adequadamente os novos benefícios estatais. Por vários anos a seguir, a maior
parte dos bens produzidos no Reino Unido foi destinada à exportação, a m de
ressuscitar a economia e gerar as receitas de que o país tão desesperadamente
necessitava. O racionamento de alimentos e vestuário entraria pelos anos 1950, e
a falta de habitações se tornaria ainda mais séria. Muitas cidades inglesas
continuaram esquálidas e dilapidadas por anos.
Em contraste, os Estados Unidos e sua economia, a rigor, não passaram
di culdades para a transição da guerra para a paz. O país terminara o con ito
armado com o menor número de baixas de todas as nações beligerantes de
importância, e também sem estragos de vulto dentro de suas fronteiras. Ao
contrário da Inglaterra, cuja indústria se devotara quase exclusivamente à
produção bélica, os Estados Unidos continuaram a derramar grande variedade de
bens de consumo ao longo de toda a guerra. Em decorrência, estavam em
invejável posição no pós-guerra, não só para continuar fornecendo tais bens de
consumo ao seu próprio povo, como para suprir os mercados mundiais de
exportação, inclusive muitos que, outrora, só contavam com bens provindos da
Inglaterra.
Para a maioria dos americanos, as privações da guerra se dissiparam quase no
momento em que a paz foi declarada. “O povo americano [393] passa pela
terrível situação de precisar viver 50 por cento melhor do que jamais antes
viveu,” disse Fred Vinson, diretor da Agência de Mobilização e Reconversão de
Guerra, em Washington. Novos carros começaram a aparecer nos salões de
exposição, a gasolina passou a ser abundante de novo, e surgiram amplamente
disponíveis geladeiras, máquinas de lavar e outros caros bens de consumo. A
demanda reprimida por tais bens, combinada com a imensa poupança pessoal
acumulada pelos americanos durante a guerra, ajudou a criar o “boom”
econômico que perdurou por quase uma geração.
Donald Worby, um pracinha que acabara de retornar da Europa, descobriu
quão satisfatória fora a guerra para alguns de seus compatriotas, quando foi a
uma padaria de sua cidade natal. Worby, que servira por bom tempo na
Inglaterra e admirava seu povo pelo estoicismo em face das privações, ouviu uma
freguesa dizer a outra que estava muito chateada com o m da guerra. Se o
con ito tivesse durado um pouquinho mais, explicou a freguesa, ela e seu marido
poderiam ter juntado dinheiro su ciente para quitar as prestações de quatro
casas que haviam comprado com suas economias de tempo de guerra. A outra
mulher, que perdera um lho na luta, pegou uma torta de creme do balcão e
en ou-a na cara gorducha da outra. Tirando um maço de notas do bolso, Worby
fez questão de pagar a torta.
Abalados com a súbita suspensão americana do Lend-Lease, os ingleses não
podiam entender como seu mais próximo aliado de tempo de guerra, nadando
em prosperidade econômica, podia virar as costas tão abruptamente para eles e
para as suas promessas. Uma mulher, expressando a opinião partilhada por
muitos de seus concidadãos, declarou sobre os americanos: “Creio que eles estão
se comportando de forma repugnante.” Acreditando no compromisso verbal de
Roosevelt, em 1944, de que o Lend-Lease continuaria por algum tempo após a
guerra, os líderes britânicos apegaram-se à crença de que a América facilitaria a
difícil recuperação econômica pós-guerra do país. Truman, entretanto, não quis
saber das promessas do antecessor, que jamais foram escritas, tampouco tinha
conhecimento da magnitude dos apertos nanceiros da Inglaterra. O que ele
sabia mesmo era que a maioria dos membros do Congresso, que aprovara com
relutância o programa Lend-Lease apenas como uma providência de guerra,
queria que ele se encerrasse tão rapidamente quanto possível. “Demos aos nossos
aliados [394] tudo que pediram e mais,” disse um congressista, “agora o povo já
está enjoado e cansado, e não quer ouvir mais nada sobre isso.” Alguns meses
antes de seu falecimento, Roosevelt havia previsto a ressurreição desse espírito
isolacionista. “Quem pensar que o isolacionismo está morto neste país é maluco,”
disse a Robert Sherwood. “Tão logo esta guerra acabe, ele poderá estar mais forte
que nunca.”
No m, após ásperas negociações, os Estados Unidos concordaram em ajudar
a Inglaterra a sair de sua crise nanceira com um empréstimo de 3,5 bilhões de
dólares, pagáveis em cinquenta anos, e com generoso desconto no pagamento da
ajuda do Lend-Lease já proporcionada. Dos 21 bilhões de dólares de débitos do
programa Lend-Lease os ingleses deveriam saldar apenas 650 milhões. Mas a
ajuda veio atrelada a um excessivo — e, do ponto de vista inglês, altamente
injusto — preço: o endosso inglês a um plano de 1944, formatado em Bretton
Woods, New Hampshire, que criava uma nova ordem econômica internacional,
tornaria o dólar a moeda-referência do mundo, eliminaria o sistema de
preferência imperial britânico e, de forma geral, bene ciaria substancialmente o
comércio dos Estados Unidos.
Os ingleses caram indignados com o fato de os EUA cobrarem juros sobre o
novo empréstimo, por lenientes que fossem as taxas e, além disso, tirassem
vantagens da situação nanceira extremamente perigosa em que cava a
Inglaterra. “É irritante descobrir que a recompensa por perder um quarto de
nossa riqueza nacional na causa comum é ter de pagar juros por meio século
àqueles que enriqueceram com a guerra,” declarou The Economist.[*] Num
tempestuoso debate na Câmara dos Comuns, os parlamentares atacaram as
cláusulas do empréstimo como uma liquidação do Império Britânico e uma
“Munique econômica.” Cerca de 100 deputados votaram contra a aceitação do
empréstimo naqueles termos, e 169, inclusive Winston Churchill, se abstiveram.
Malgrado seus embates anteriores com os ingleses a respeito de políticas
econômicas e comerciais, entre outros assuntos, Harry Hopkins concordava com
o governo Attlee que os termos do empréstimo americano eram onerosos e
equivocados. “O povo americano [395] tem de entender a simples e clara
verdade que os ingleses vivem do comércio,” registrou Hopkins numa série de
anotações privadas. “Provavelmente, somos poderosos o su ciente — se
quisermos usar tal poder — para prejudicar seriamente esse comércio, mas não
acredito que isso seja do nosso interesse. Por que iríamos nós deliberadamente
tornar a Inglaterra fraca nos próximos cem anos? (...) Não podemos embarcar de
propósito num programa, em ambos os lados, que vai forçar os dois povos a se
afastarem cada vez mais.”
Ademais, escreveu Hopkins em suas anotações, a América tinha um débito
moral com a Inglaterra: “Acredito que os ingleses salvaram nossa pele duas vezes
— uma em 1914 e, de novo, em 1940. Eles, com os franceses, aguentaram o peso
do ataque na Primeira Guerra Mundial, e os alemães chegaram bem perto de
destruí-los antes que entrássemos na refrega. Desta vez, foram os ingleses
sozinhos que defenderam o forte, e o zeram tanto por nós quanto por eles
mesmos, porque não teríamos chance de derrotar Hitler se a Inglaterra fosse
vencida.”
 
Gil Winant e seus subordinados na embaixada americana em
Londres caram tão abismados quanto Hopkins com o corte abrupto do Lend-
Lease e com a persistente determinação americana de vincular a ajuda à
Inglaterra a concessões na política comercial e econômica. Tendo tentado sem
sucesso combinar um m gradual para o Lend-Lease, que fosse tão ordenado e
indolor quanto possível, Winant alertou o governo Truman que sua decisão
unilateral “imporia grandes infortúnios ao povo inglês.” Wallace Carroll
esbravejou: “Será que alguma nação alguma vez sacri cou tão imprudentemente
um investimento colossal nessa mercadoria sem preço — a boa vontade?”
Se Roosevelt estivesse vivo, disse Ernest Penrose, conselheiro econômico de
Winant, o embaixador “teria feito um de seus diretos e vigorosos apelos a ele, do
tipo que, nos quatro anos precedentes, reservara para os assuntos de maior
urgência.” Mas Winant não conhecia o presidente Truman e, segundo seu
secretário, o governo Truman era “estranho para ele.” Não obstante, o
embaixador esforçou-se para se ligar com Truman, enviando-lhe um telegrama,
logo depois que se tornou presidente, dizendo “que desejava fazer o que estivesse
ao seu alcance para lhe ser útil.”
Truman e seus lugares-tenentes, no entanto, demonstraram pouco interesse
por Winant e suas ideias, bem como insigni cante admiração pelo que ele zera
para forjar a aliança anglo-americana e mantê-la rme. Tudo isso era passado. O
futuro, acreditavam eles, era a Guerra Fria, que então começava entre o
Ocidente e a União Soviética. Na opinião deles, o sonho de Winant de justiça
internacional econômica e social era passé. O necessário agora “não era idealismo
[396], e sim realismo; não persuasão, mas coerção; não brandura, mas dureza.”
Àquela altura, o futuro do próprio Winant parecia tão sombrio quanto o da
Inglaterra. Quase no m da guerra, ele trabalhara para se tornar o primeiro
secretário-geral das Nações Unidas, e Roosevelt garantira-lhe que faria o que
estivesse dentro de suas possibilidades para ajudá-lo a ocupar o cargo. Mas a
morte de FDR acabou com o sonho, assim como a decisão de sediar as Nações
Unidas em Nova York, tornando politicamente impossível um americano che ar
a organização. Contudo, mesmo diante de tais di culdades, Winant se manteve
esperançoso de que, de uma forma ou de outra, a função lhe seria oferecida.
“Seus nervos, durante aqueles meses, caram à or da pele,” lembrou um
subordinado. Quando ele, por m, soube que não seria indicado para o cargo,
disse a um assistente: “Perdi a última coisa que na verdade desejava.”
Permaneceu embaixador na Inglaterra por nove meses após a guerra, tratando de
detalhes mundanos do pós-guerra, tais como coordenar a travessia do Atlântico
de noivas de guerra dos GIs. Deprimido e esgotado, exclamou para sua
secretária: “Não tenho vida!”
Uma das únicas fontes de conforto para Winant era Sarah Churchill, porém,
mesmo aí, a felicidade o iludiu. O m da guerra levou as relações entre os dois a
um ponto de crise. Ela se divorciou de Vic Oliver, e Winant lhe disse que
também planejava se divorciar e que queria casar com ela. No entanto, tendo se
casado aos vinte anos de idade, Sarah não quis abrir mão da recém-adquirida
independência.
A exemplo de Winant, Sarah e sua família tinham passado por momentos
extremamente difíceis em termos emocionais quando a guerra terminou. Seus
pais enfrentaram obstáculos para se adaptar à vida longe de Downing Street e à
falta do uxo de atividade dramática dos tempos de guerra. “Não posso explicar
como a coisa se dá,” escreveu Clementine à lha Mary, “mas no desconforto que
experimentamos, em vez de nos apegarmos mais um ao outro, parecemos sempre
brigar. Tenho certeza de que o problema é comigo, mas venho achando a vida
dura de aguentar. Ele está muito infeliz & isso o torna difícil.” Como já zera
muitas vezes no passado, Sarah serviu de anjo da paz entre pai e mãe, tentando
levantar o ambiente e consertando os desentendimentos entre os dois. “Sarah,”
escreveu Clementine durante a guerra, “tem sido — e é — [397] um pilar. (...)
Todos a amam. Ela tem muita paciência aparando arestas e di culdades que
possam surgir. (...) Toma conta de todos.”
Logo depois que deixou o poder, Churchill levou Sarah para pequenas férias
dedicadas à pintura no lago de Como, na Itália. “Não sei se o amei tanto quanto
nos meses que se seguiram à [sua derrota],” escreveu a lha mais tarde.
“Desmanchei-me em lágrimas reprimidas quando soube que deveria
acompanhar meu pai ao lago de Como.” Nem bem chegaram, Sarah escreveu a
Clementine: “Gostaria que você estivesse conosco. (...) É só vermos uma paisagem
bonita para ele dizer: 'Gostaria que sua mãe estivesse aqui.'” E acrescentou:
“Realmente acho que ele está se ajustando (...) na noite passada, disse: 'Tive um
dia feliz!' Não tenho nem ideia de quanto tempo eu não ouvia algo parecido!”
Como Churchill deixou claro na carta que enviou à mulher, uma das razões de
sua felicidade era a presença da lha preferida: “Sarah tem sido uma joia.
Demonstra grande consideração, tato, prazer e alegria. A estada aqui seria
enjoativa sem ela.” Pai e lha se aproximaram como nunca, graças em grande
parte à experiência por ela adquirida como ajudante de ordens o ciosa de
Churchill em Teerã e Yalta. Ele era o homem mais importante de sua vida, e ela
adorava car ao seu lado. No entanto, disposta a manter a independência, Sarah
cuidou ao máximo para não se deixar cativar muito pelo carisma do pai.
Sarah sempre se sentiu espremida entre os homens que amou. “Você não tem
noção de como é duro ter um pai e um marido famosos,” disse certa vez a uma
amiga. Sabendo que Churchill nunca perdoara Vic Oliver por ter “roubado”
Sarah dele, ela tremia só em pensar como o pai reagiria se sua relação com
Winant se tornasse pública. Sentindo-se presa numa “gaiola de afetos,” Sarah
disse a Winant que pretendia retomar sua carreira de atriz. Gostava muito dele,
mas não via futuro ao seu lado.
 
A vida pessoal e profissional de Ed Murrow também passava
por grande inconstância. No outono de 1944, sua esposa se demitira da Câmara
de Ligação Inglaterra-Estados Unidos alegando “exaustão física e mental.” Janet
já não aguentava o a air cada vez mais público do marido com Pamela Churchill
e chegou à conclusão de que precisava de novos ares para re etir sobre sua vida.
Retornou aos Estados Unidos para rever os pais, ambos muito doentes, e para
repensar seu casamento. Tão logo partiu, Murrow começou a bombardeá-la com
uma série de cartas chorosas. “Por diversas razões [398], devo muito a você,”
escreveu Ed no aniversário dela, 18 de setembro. “Pelo modo de você usar o
chapéu. (...) Por sua amabilidade com os amigos. (...) Por sua determinação em
arriscar a perda de dinheiro e posição por um princípio. (...) Mais e mais, você é a
parte importante de minha vida.” Em outra carta, observou: “Vivo por demais
solitário. (...) Encontrei Clemmie [Churchill] no Lobby da Câmara, e ela
perguntou por você. (...) Quanto tempo faz que saímos juntos para caminhar, às
vezes sem destino? (...) Se tivermos cabeça, os melhores anos de nossas vidas
estarão mais à frente.” E ainda noutra, reconheceu: “Talvez eu tenha começado a
aceitar demasiadamente como naturais e corriqueiros seu amor, gentileza e
tolerância.”
Ainda assim, a despeito de suas ternas missivas para Janet, Murrow
continuava com Pamela, a qual, embora tendo ainda um caso amoroso com
Frederick Anderson, aumentara muito a pressão sobre Murrow para que se
divorciasse de Janet e casasse com ela. Numa carta a Harriman quase ao término
da guerra, Pamela escreveu que ela e Ed tinham brigado feio sobre o
relacionamento dela com Anderson. Na mesma noite, depois da discussão,
acrescentou Pamela, “Fred levou-me para jantar no Ciro's (...) e dançamos até a
meia-noite.” Apesar da volubilidade de Pamela, Murrow, segundo diversos
amigos, pretendia mesmo divorciar-se de Janet e casar com ela.
Antes de tomar uma atitude nal, contudo, ele voltou aos Estados Unidos, no
início de 1945, para um mês de férias com Janet num hotel-fazenda do Texas.
“Não conversamos em absoluto sobre Pamela,” lembrou Janet. “Estávamos
felizes juntos.” Durante aquele período, Janet engravidou. Por muitos anos, ela e
Murrow desejaram ter um lho, e o nascimento do menino Casey, em novembro
de 1945, provocou o m do caso com a nora de Churchill, ainda que, como ela
disse mais tarde a uma amiga: “Nunca amei tanto uma pessoa em minha vida.”
Segundo Pamela, Murrow enviou-lhe o seguinte e sucinto telegrama para selar o
término do relacionamento: “Casey ganha.”
Quatro meses após o nascimento de Casey, os Murrows, depois de nove anos
na Inglaterra, preparavam-se para voltar aos EUA. Murrow aceitou uma
proposta de Bill Paley para se tornar vice-presidente do noticiário e das relações
públicas da CBS. Na realidade, ele não desejava o cargo, dizendo a Janet que
detestava a ideia de se ver con nado dentro de elegante terno de executivo. Nas
recentes viagens aos Estados Unidos, ele também se sentira desconfortável com o
gritante contraste entre os padrões de vida dos americanos e os da Inglaterra e do
restante da Europa. “Vivemos despreocupadamente [399], com relativo conforto
e segurança total,” disse pelo rádio aos seus concidadãos pouco antes do m da
guerra. “Somos a única nação engajada nessa guerra que elevou o estilo de vida
desde que a guerra começou. Não estamos cansados como a Europa.”
Também se inquietava com o que considerava arrogância dos Estados
Unidos, com sua aparente relutância em trabalhar em cooperação cerrada com a
Inglaterra e outros países menos poderosos depois da guerra. “A nossa é uma
grande nação,” disse aos ouvintes. “Vi seu poder arremessado sobre o mundo.
Mas precisamos viver com o mundo. Não podemos dominá-lo.” Mesmo assim,
apesar de todas as dúvidas e preocupações sobre a volta aos EUA, ali era sua
casa. Necessitava, julgou ele, voltar às origens.
No entanto, deixar Londres acabou sendo uma emoção extraordinariamente
forte. Na capital britânica, ele amadurecera pro ssionalmente, aprendendo o
ofício com a ajuda dos colegas da BBC, aos quais se tornara muito mais ligado,
pessoal e pro ssionalmente, do que com a equipe da CBS em Nova York. Na
verdade, quando a guerra ia a meio caminho, Brendan Bracken, em nome de
Churchill, o convidara para ser vice-diretor da BBC, encarregado de toda a
programação mundial — noticiários e entretenimento. Tratava-se de uma
proposta excepcional, mas que Murrow, depois de muito ponderar, declinou com
relutância. Sua apreensão, entre outros motivos, era que, como americano, ele
caria “numa posição incômoda” na eventualidade “de um verdadeiro con ito de
opiniões” entre os Estados Unidos e a Inglaterra depois da guerra. Não obstante,
cou sensibilizado com a honra que lhe foi conferida. Quando a história da BBC
foi contada na magistral obra em três volumes de Asa Briggs e publicada nos anos
1960, a foto de Murrow, juntamente com guras proeminentes da BBC, aparece
na capa do volume relativo aos anos de guerra. Ele foi o único radialista não BBC
a ser incluído. “Pode você imaginar uma companhia americana de rádio convidar
um inglês para che á-la?” — indagou ele a Felix Frankfurter.
Pouco antes de deixar Londres, em março de 1946, Murrow despediu-se do
povo inglês num programa da BBC. Como rapaz, disse, ele visitara a Inglaterra
três vezes — e voltara com impressões decididamente desfavoráveis. “Vosso país
era uma espécie de peça de museu,” observou, “agradável, mas pequeno. Vocês
me pareciam lentos, indiferentes e exceedingly cheios de si. (...) Achei as ruas
estreitas e sem graça, os alfaiates supervalorizados, o clima insuportável e a
consciência de classes, ofensiva. Vocês não sabiam cozinhar. Os moços pareciam-
me sem vigor ou propósito na vida. Eu admirava vossa história, duvidava do vosso
futuro e suspeitava que os historiadores simplesmente descreviam um mito.” No
entanto, reconheceu Murrow, “ cava sempre, lá atrás de minha inexperiente e
indisciplinada cabeça, a descon ança de que poderia estar errado.”
Sua experiência de anos de guerra na Inglaterra, disse Murrow, mostrou o
quanto ele estava equivocado. Face à maior crise de sua história, os britânicos
revelaram sua verdadeira coragem, respondendo à agressão com toda a
vitalidade, enquanto permaneciam éis à liberdade e à democracia. “O governo
recebeu poder ditatorial, porém o usou com comedimento. (...) A lei não deixou de
existir. Governo representativo, igualdade perante a lei, tudo sobreviveu. Não
houve abandono dos princípios pelos quais os ancestrais lutaram. (...) [O exemplo
de vocês] será, julgo eu, inspirador e permanecerá no coração dos homens muito
depois que os nomes das grandes batalhas navais e terrestres forem esquecidos.”
Com intensa ênfase, Murrow acrescentou: “Tive o privilégio de ver toda uma
população dar a resposta, que sua história exigia, à tirania. (...) Vocês viveram uma
vida, não uma desculpa.”
Nos dias que se seguiram àquela transmissão, cartas de toda a Inglaterra
uíram para o edifício da CBS. “São homens como [400] você,” escreveu uma
mulher, “que mantêm viva em nossos corações a pequena chama da esperança de
que, algum dia, as nações amadurecerão para entender uma à outra, e para
aprender a viver em amizade e em paz. Muito obrigado, caro Ed Murrow.” Um
o cial da Marinha inglesa escreveu: “Por favor, diga a sua gente, quando voltar,
que nós nem sempre fomos fáceis de entender, mas que queremos ser bons e leais
amigos, se vocês deixarem.” Fazendo eco a essa opinião, outro missivista
implorou a Murrow: “Quando chegar em casa, deixe que seus conterrâneos
saibam dessa sua despedida de hoje. (...) Diga-lhes que desejamos, pelo bem da
amizade e do mundo, a continuação do companheirismo cerrado com nossos
aliados americanos. O senhor, sir, com seus incomparáveis dons e poderes, pode
manter viva nossa causa comum. O senhor pode nos manter juntos e conservar
um entendimento que foi su cientemente bom para vencer uma guerra e, por
certo, será bom o bastante para cultivar a paz.”
Duas semanas mais tarde, Murrow transmitiu seu último programa para os
ouvintes americanos. Antes de fazê-lo, perambulou pelas ruas cobertas de neve
de Londres, taciturno e triste, sentindo-se, disse aos seus amigos ingleses, um
desertor. No m do programa, ele se despediu: “Agora, pela última [401] vez,
This is Edward R. Murrow in London.” Programa terminado, os engenheiros da
BBC cortaram os os do grande microfone de mesa que ele usara nos últimos
nove anos. Nele puseram uma placa da equipe de notícias da BBC com as
seguintes palavras: este microfone, retirado do estúdio b4 da
broadcasting house, londres, é oferecido a edward r. murrow

que lá o usou com tanta distinção num sem-número de

transmissões para a cbs de nova york durante os anos de

guerra de 1939 a 1945

 
Murrow, que se gabava de sua falta de sentimentalismo, não pôde conter as
lágrimas. Anos mais tarde, disse a Malcolm Muggeridge numa entrevista de
televisão que, de todos os prêmios e honrarias que recebera no decurso de sua
carreira, o microfone presenteado pela BBC era “o único troféu que sempre
mantive comigo” e ao qual “dou maior valor do que a qualquer outra coisa que
possuo.”
 
Um mês depois da partida de Murrow , Gil Winant também deixou
a Inglaterra. Truman por m o nomeara representante americano no Conselho
Econômico e Social das Nações Unidas, uma agência cujo objetivo era promover
a cooperação e o desenvolvimento econômico e social internacional. Não era o
cargo que almejava, mas lhe dava a oportunidade de trabalhar para restaurar os
países destroçados pela guerra na Europa e em outros continentes. Em março de
1946, ele renunciou às funções de embaixador, e Averell Harriman foi indicado
para assumir o seu posto.
Tão afetuosa quanto fora a despedida de Murrow, as demonstrações de
carinho e gratidão por Winant foram excepcionais. Apesar da desalentadora
situação de seu país, o povo inglês não perdera de vista o fato de que, graças em
grande parte ao embaixador dos Estados Unidos, a aliança anglo-americana se
mantivera rme e unida para alcançar a vitória na guerra. Tais laços jamais
existiram antes — e, com grande possibilidade, nunca mais se repetiriam. Winant
recebeu inúmeras provas da estima e gratidão da Inglaterra, inclusive títulos
honorí cos de Oxford e Cambridge, os quais, em suas citações, distinguiam-no
como “amigo chegado, con ável e querido.” Associando-se a tal sentimento, o
primeiro-ministro Clement Attlee declarou que o embaixador dos EUA sempre
“teve em grande medida o amor da população deste país.”
Sobre Winant, o New Statesman publicou: “Quase todos [402] neste país
sabem seu nome e o respeitam como um grande americano e um dos melhores
amigos que a nação jamais teve.” O embaixador era, observou o Daily Express, “a
personi cação da parcela mais bela do caráter americano.” O Daily Herald
relembrou como Winant “chegou até nós em 1941, quando perigo indizível nos
rondava. Viveu conosco, sofreu conosco e trabalhou conosco. Sua fé em nós
contribuiu decisivamente para elevar nosso moral, e seu trabalho como
embaixador foi bem-sucedido, num período vital, na obtenção de enormes
reforços para nossos recursos rapidamente minguantes. (...) Ele mergulhou até o
pescoço em nossa luta.” A revista inglesa Punch, famosa por suas farpas satíricas,
contrariou seu estilo e publicou uma caricatura intitulada “Um Amigo de
Verdade.” O desenho mostrava um vendedor cockney de ores entregando um
buquê para Winant e dizendo: “Até breve, sir. O senhor nos ajudou em tempos
difíceis e não o esqueceremos.”
Quando soube da partida de Winant, um professor de direito em Oxford lhe
disse: “Não creio que seja possível para o senhor imaginar a posição que
conquistou para si mesmo na história anglo-americana.” John Martin, ex-chefe
dos secretários particulares de Winston Churchill, escreveu ao embaixador:
“Aqueles de nós que trabalharam no nº 10 tiveram a oportunidade de conhecer
que amigo querido de nosso país o senhor foi e o quanto daquele maravilhoso
trabalho de equipe entre as duas nações se deve ao senhor.” O gerente “durão” do
Savoy Hotel asseverou a um jornalista americano: “Quando ele partir,
perderemos o melhor americano que jamais tivemos em Londres.” Num bilhete
para Winant, Herbert Agar, que substituíra Wallace Carroll como chefe da
Agência de Informação de Guerra, declarou: “Meu motorista e todas as
secretárias e faxineiras inglesas vieram a mim pedindo que eu lhe dissesse como
estão desolados com sua partida. (...) Eles acham ótimo que pessoas importantes
tenham manifestado apreço pelo senhor, porém eles, de funções mais humildes,
também o querem fazer. Espero que o senhor assim entenda a amplitude desse
sentimento. Quanto a mim, não há palavras para expressar o que sinto. Os anos
de trabalho para o senhor foram os mais grati cantes de minha vida.”
As “pessoas importantes,” enquanto isso, revelavam o senso de perda numa
série de jantares de despedida que começou com o de gala na Mansion House de
Londres, no qual tanto Attlee quanto o líder da Oposição, Winston Churchill,
discursaram — “uma honraria singular,” nas palavras usadas pelo Daily
Telegraph. Os jornalistas que cobriram o evento, bem como outros que se
seguiram, caram impressionados com a profundidade do sentimento que orador
atrás de orador expressaram sobre o enviado dos EUA. “A reserva que
normalmente [403] cerca os pronunciamentos o ciais britânicos nunca foi tão
completamente esquecida como ao apresentar o governo britânico suas
despedidas a Mr Winant,” escreveu um jornalista inglês. Segundo o The New
York Times, os elogios a Winant foram “in nitamente maiores que uma coleção
de frases de efeito numa cerimônia formal. Na profunda emoção contida
naquelas despedidas podia-se sentir que, para os ingleses, Mr Winant fora um
grande embaixador, muito grande.”

É
“É na adversidade que conhecemos os verdadeiros amigos — e assim foi com
John Gilbert Winant,” disse o prefeito de Londres. Lord Derby observou: “Na
minha longa existência, não me lembro de outro homem que tenha prestado tão
signi cativo serviço para seu país e o nosso.” Sir Archibald Clark Kerr, prestes a
assumir novo posto diplomático como embaixador inglês em Washington, disse
sobre Winant: “Pretendo tomá-lo como meu modelo.” Churchill, que nunca
disfarçou seus sentimentos, manifestou-se com maior emoção que a usual
quando declarou: “Eu diria, sem um só momento de hesitação, que ninguém
jamais cumpriu missão tão monumental quanto Mr Winant. Ninguém chegou
tão perto do coração da Inglaterra. Também ninguém, enquanto defendia da
maneira mais correta os interesses e direitos do seu próprio país, fazia-nos sentir
que era um autêntico, el e inabalável amigo.” Virando-se para Winant, o ex-
primeiro-ministro disse: “Ele é um amigo da Inglaterra. É mais: é um amigo da
justiça, da liberdade e da verdade. Ele foi uma inspiração.”
Entretanto, ninguém demonstrou maior tristeza com a partida de Winant do
que Anthony Eden. Com a voz embargada, o ex-ministro do Exterior disse num
concorrido jantar na Lancaster House: “Nem os senhores, nem eu, tampouco os
historiadores seremos capazes de estimar, em seu verdadeiro valor, a contribuição
que Mr Winant deu para a unidade e para a vitória dos aliados.” Com os olhos
marejados, Eden levantou uma taça brindando o homem que considerava um de
seus amigos mais próximos. “Não há outro personagem que não John Gilbert
Winant com quem eu preferiria ter trabalhado naqueles tempos difíceis,
exigentes e sofridos. Homem nenhum mais correto e justo jamais caminhou
nesta terra.”
Na sua calma resposta, Winant disse que os cinco anos que vivera em
Londres tinham sido “anos duros e sombrios, mas eu não gostaria de tê-los
passado em outro lugar. (...) É muito difícil para mim dizer adeus. Nunca me senti
um estranho nesta terra. Compartilhamos muita coisa. Tivemos ideais e
esperanças comuns, assim como reveses, e as vitórias foram vossas e nossas
juntos. Sempre me sentirei um londrino.” Passando o olhar sobre a multidão
diante de si, ele terminou o discurso com versos de um poema de Rudyard
Kipling: I have eaten your bread and salt,
I have drunk your water and wine,
The deaths ye have died I have watched beside, The lives ye lent me were
mine.
 
[Comi do teu pão e do teu sal,

Bebi a tua água e o teu vinho,

As mortes que morreste eu as vi ao lado, As vidas que me emprestaste

foram minhas .]
 
Quando o embaixador voltou a se sentar naquela noite, Anthony Eden não
foi o único que lutou para conter as lágrimas.
[*]A Inglaterra pagou a última parcela do empréstimo em dezembro de 2006, sessenta anos depois de
tomado.
22

“Sem Ele, Todos Perdemos Um Amigo”


 
Menos de dois meses depois de voltar para casa , Gil Winant
estava de pé na tribuna da Câmara dos Representantes, olhando em torno e
observando a elite política e militar de Washington. Diante dele estavam os
deputados e senadores, assim como os membros da Suprema Corte, da Junta de
Chefes de Estado-Maior e do ministério. O presidente Truman sentava-se na
primeira la, logo abaixo de Winant; Eleanor Roosevelt, atrás de Truman; e o
general Eisenhower, então chefe do Estado-Maior do Exército, próximo aos dois.
Todos se encontravam lá para prestar tributo formal a Franklin D. Roosevelt, que
falecera havia dezesseis meses. Os organizadores do evento haviam solicitado que
Winant pronunciasse o único discurso. “Estou tão feliz [405] que seja você a
discursar,” escreveu Mrs Roosevelt a ele antes da cerimônia. “Ninguém poderia
ser melhor.”
O que Winant disse naquele dia sobre Roosevelt também poderia ser dito
dele próprio. “Ele ousou ter esperança,” observou o ex-embaixador a respeito de
seu chefe e amigo. “Jamais houve ocasião, nos anos terríveis da Depressão ou nos
anos sombrios da guerra, em que ele tivesse perdido a esperança. Atreveu-se a
almejar a paz, a acreditar nela e a agir por ela. (...) Um crente nos homens,
incorporou esta nossa república na república maior da humanidade, sobre a qual,
e somente sobre ela, uma autêntica paz pode repousar.”
Mas não havia verdadeira paz no mundo e, para Winant e para muitos
outros, era muito pouca a esperança. Como Ed Murrow observou: “Raramente,
se é que houve alguma vez, uma guerra terminou deixando os vitoriosos com
tantos sentimentos de incerteza e temor, e com tal percepção de futuro incerto.”
A Grande Aliança havia se desintegrado, e a Guerra Fria começara, tendo a
Alemanha e o Leste Europeu como principais campos de batalha. Envolvidos
numa tremenda discussão sobre reparações de guerra a serem pagas pela
Alemanha, os soviéticos e seus ex-aliados ocidentais não agiram como
originalmente planejado: estabelecer um governo democrático pós-guerra na
Alemanha e, então, se retirarem. Em vez disso, dispuseram-se a tornar
permanentes as que seriam zonas temporárias de ocupação. Como Winant
receara, a divisão da Alemanha acabou resultando na criação “de algo como
estados [406] independentes, cada qual um compartimento estanque,” com a
livre movimentação entre eles interrompida entre a zona soviética e as zonas
controladas por Inglaterra, Estados Unidos e França.
Antes do m da guerra, Winant e os outros representantes na Comissão
Assessora Europeia — William Strang, pela Inglaterra, e Feodor Gusev, pela
União Soviética — haviam se esforçado para formular uma política abrangente e
de longo alcance para o desenvolvimento pós-guerra da Alemanha. Mas esse
esforço foi frustradoi pelos governos dos EUA e da URSS. “Nenhum dos aliados
parecia ter noção exata sobre o tipo de Europa que deveria resultar da derrota da
Alemanha,” escreveu o historiador Daniel J. Nelson, “e nenhum deles tinha
qualquer coisa que se assemelhasse a um plano-mestre para a nova Europa.”
Mesmo assim, a despeito da di culdade que enfrentaram (semelhante “a
uma corrida em que os contendores carregassem uma mó e tivessem os tornozelos
presos a grilhões,” observou um historiador), os integrantes da Comissão
Europeia poderiam, com justiça, reivindicar crédito por algumas conquistas
reais, se bem que limitadas. No topo da lista estavam acordos que eles
conseguiram minutar para a divisão da Alemanha e de Berlim, os quais, quando
em vigor, ajudariam a evitar uma luta Leste-Oeste, caótica e potencialmente
violenta, por territórios e in uência na Alemanha, terminada a guerra. De fato,
embora repetidas vezes questionados pelos soviéticos, os acordos permaneceram
em vigor até o colapso do comunismo na Europa Oriental no m dos anos 1980.
Como Strang registrou em suas memórias: “Nunca antes (...) acordos de tal
conteúdo e importância foram alcançados com o governo soviético.” Uma história
o cial inglesa, entrementes, quali cou a Comissão Assessora Europeia como “a
organização interaliada mais bem-sucedida no trabalho com os russos.” Outro
estudo da guerra descreveu os acordos concluídos pela Comissão como
“signi cativos feitos da diplomacia de tempo de guerra (...) tão importantes
quanto quaisquer acordos atingidos em Yalta ou em Potsdam [uma cúpula dos
Três Grandes realizada em julho de 1945].”
Os sucessos dos delegados, por mais limitados que pudessem ser, revelaram a
importância da diplomacia calma e das negociações de bastidores, as quais foram
altamente valorizadas por Winant. Malgrado os percalços, ele, Strang e Gusev
criaram boas ligações pessoais uns com os outros durante os dezoito meses de
trabalho da Comissão Europeia. “Nas nossas reuniões informais, conseguimos
con ança recíproca,” lembrou Strang. “Passo a passo, fomos liquidando nossas
diferenças, pacientemente [e], algumas vezes pareceu, interminavelmente.”
Ainda assim, depois de demonstrarem que os aliados podiam, de fato, trabalhar
juntos, os três membros da comissão foram proibidos por seus governos de
capitalizar os feitos e de expandir seus mandatos.
Depois da guerra, a frustração de Winant com o fato de o governo americano
não dar apoio à Comissão Assessora Europeia foi agravada pelas declarações de
Harry Hopkins e de outros ex-membros do governo Roosevelt de que a comissão
— e não Washingtou ou Moscou — fora em grande parte responsável pelo
fracasso de não se conseguirem soluções de longo prazo para a governação pós-
guerra da Alemanha. “A máquina [407] da Comissão moveu-se muito lenta,”
reclamou Hopkins, deixando de anotar que a desorganização e a teimosia dentro
do governo estavam entre as principais razões da lentidão.
No rescaldo imediato da guerra, Winant cou também desapontado com o
que acreditava ser esquiva americana de assumir a liderança na restauração das
combalidas economias das nações devastadas pela luta. O Conselho Econômico e
Social das Nações Unidas, onde ele trabalhava, não recebeu autoridade para
forçar os estados-membros a aplicarem curativos nas feridas da guerra e, em
consequência, acabou se tornando nada mais do que um fórum de debates.
Deprimido com sua impotência no cenário mundial, o ex-embaixador foi
também atormentado por di culdades pessoais. Durante muitos anos, ele vivera
permanentemente no vermelho, em grande parte por causa do hábito arraigado
de dar ajuda nanceira aos outros. Pedira emprestadas grandes quantias aos
amigos e tomara empréstimos de milhares de dólares dando como garantia suas
apólices de seguro de vida, para perdê-las em grandes quantidades quando não
pôde honrar seus pagamentos. A m de ajudar a saldar vultosas somas que devia,
Winant assinou um contrato com a Houghton Mif?in para escrever diversos
livros, inclusive três volumes de memórias. Escrever, entretanto, como discursar,
provou ser extremamente difícil para ele. Envolvido como estava pelo
entusiasmo e a pressão de equacionar importantes problemas mundiais, Winant
não conseguiu se ajustar à vida solitária e mais reservada de escritor. “Ele era
uma alma por demais inquieta” para se satisfazer com tal existência, observou
Bernard Bellush, biógrafo de Winant.
Ainda não refeito da tensão física e emocional da guerra, Winant estava
também extremamente cansado. “Nunca em minha vida vi um homem mais
exausto,” disse pouco depois da guerra um amigo e parceiro de negócios do
embaixador. “Ele envelhecera tremendamente.” Mary Lee Settle descreveu mais
tarde a fadiga causada pela guerra que ela, Winant e outros experimentaram
como “uma exaustão profunda [408] e brutal que se entranhou em nossas almas,
nossos corpos, nossas relações uns com os outros, uma espécie de enfermidade
fatal da exaustão.” Eric Sevareid, que tinha apenas trinta e dois anos quando a
guerra terminou, registra que passou por “curiosa sensação de envelhecimento,
como se tivesse atravessado toda uma existência, e não meramente sua
juventude.”
No m de 1946, Winant retornou a Londres para trabalhar em seu primeiro
livro, uma reminiscência de seus primeiros anos como embaixador, e tentar
persuadir Sarah Churchill, que havia se divorciado um ano antes, a continuar o
relacionamento com ele, apesar de ainda casado. Quando Winston Churchill
soube do divórcio de Sarah, ele a chamara e sussurrara ao seu ouvido: “Livre!”
Ela não respondeu, porque sabia que não estava: ainda se encontrava
emocionalmente envolvida com Winant. “Os homens podem ser livres — talvez
— mas as mulheres nunca,” escreveu ela ao pai. Citando Lord Byron — “O amor
é parte da vida do homem. É toda a existência da mulher,” Sarah acrescentou:
“Bem, são os homens que desejam e exigem que seja assim!”
Sarah atracou-se com seu dilema: manter a independência e ferir Winant ou
permanecer envolvida com ele e sentir-se enjaulada. Na mesma carta, ela
perguntou ao pai: “Alguma vez você já se sentiu prisioneiro? Alguma vez já
sentiu uma jaula de circunstâncias, até de afeição, fechando-se à sua volta? Ou
você sempre foi, sem importar a amargura da situação, livre?” Sarah nalmente
resolveu a questão aceitando um papel num lme rodado na Itália. “Por agora,”
escreveu a Churchill, “estou mais ou menos livre — porém, uma vez mais, à custa
de alguém. (...) A impressão é que tenho sempre de magoar a pessoa que me ama.”
Recusando-se a aceitar o m do caso de amor, Winant permaneceu em
Londres até a primavera de 1947, partilhando com os residentes da capital os
desconfortos do mais inclemente inverno na Inglaterra desde 1881. As
temperaturas mergulharam abaixo de zero, e uma série de nevascas cobriram o
país com um tapete branco espesso. Um severo racionamento de carvão resultou
no corte draconiano da eletricidade. Escolas e escritórios caram sem calefação; a
iluminação pública foi desligada; as vitrines permaneceram escuras, as
tubulações congelaram; e as fábricas fecharam temporariamente, prejudicando a
indústria inglesa, tão crítica para a recuperação econômica.
Em fevereiro, Winant estava entre os convidados do casamento de Mary
Churchill com Christopher Soames, adido militar na embaixada em Paris. A
cerimônia teve lugar na St. Margareth's Church, em Westminster, que não estava
aquecida ou iluminada, exceto pelas quatro velas do altar. O salão de bailes do
Dorchester's Hotel, onde houve a recepção, estava parcialmente aceso com velas
e parcialmente com eletricidade fornecida por um pequeno gerador de
emergência.
No mesmo mês, Herbert Agar e sua esposa Barbie levaram Winant para
assistir a uma peça no West End. A caminho do teatro, passaram pelas estruturas
vazias do Shaftesbury e de outros teatros, bombardeados durante a Blitz,
parecendo misteriosas ruínas como as romanas, com suas plateias e palcos ao ar
livre. Quando saíram do saguão do teatro ao término da peça, Winant foi
imediatamente cercado por frequentadores que o reconheceram. Homens
tiraram o chapéu e mulheres sorriram de alegria. “Boa noite, Mr Winant,”
disseram diversos deles. Ele conversou com as pessoas alguns minutos antes de
seguir para casa.
O rei da Inglaterra, entrementes, demonstrara a alta estima do país pelo ex-
embaixador de maneira mais formal. No Dia do Ano-Novo de 1947, George VI
condecorou Winant como membro honorário da Order of Merit, segundo alguns,
a mais cobiçada e exclusiva de todas as honrarias britânicas, e a única que
Churchill aceitara pelos serviços prestados durante a guerra. Quando o monarca
entregou a medalha a Winant, em cerimônia no Buckingham Palace, o
americano murmurou um agradecimento e colocou a caixa com a condecoração
no bolso. Surpreso, o rei inglês perguntou: “O senhor não quer vê-la [409]?”
Retirando a caixa do bolso, Winant a entregou ao monarca, que a abriu e
mostrou-lhe o conteúdo. “O senhor a merece mais do que ninguém,” disse-lhe a
Rainha.
No entanto, a distinção, por signi cativa que fosse, pouco contribuiu para
suavizar seu crescente isolamento e a solidão. Pouco depois, ele convidou John
Colville para jantar em sua casa alugada em Mayfair. “A diferença dos dias
passados,” lembrou o ex-secretário particular de Churchill, “foi que naquela
ocasião, Winant, que sempre fora bom ouvinte e ocasionalmente fazia um
comentário pertinente, quis falar.” E falou durante toda a refeição e até tarde da
noite, à base de brandy e charutos — sobre seus dias como governador de New
Hampshire, sobre a OIT, sobre as di culdades de seu casamento. Finalmente, às
quatro da madrugada, Colville disse que realmente precisava ir embora. “Não
vá,” implorou Winant. “Please, não me deixe.” Mais tarde, Colville escreveria:
“Talvez eu não devesse ter ido embora. Percebi que ele estava solitário e que algo
estranho acontecia sob a fachada da normalidade. Mas eu me encontrava muito
cansado e imaginei que nós dois estávamos um tanto bêbados.”
Poucos meses depois, com Sarah ainda em Roma, Winant retornou a New
Hampshire. Por m terminou o primeiro volume de suas memórias, o que lhe
proporcionou algum alívio. Também cou muito satisfeito quando George
Marshall, então secretário de Estado de Truman, delineou aquilo que veio a ser
conhecido como o Plano Marshall, um programa de longo alcance que dava o
impulso inicial à recuperação econômica da Inglaterra e do resto da Europa.
Com algum atraso, o governo Truman entendera precisar dar passos urgentes
para ajudar a Europa, caso fosse necessário evitar o total colapso econômico e o
alastramento do comunismo. “Ficou agora obviamente [410] claro que
subestimamos grosseiramente a devastação que a guerra causou na economia
europeia,” disse o subsecretário de Estado Will Clayton após um giro de
avaliação de fatos pelo continente europeu. “Milhões nas cidades estão
lentamente entrando na inanição.” Depois de uma seca e de uma desastrosa safra
em 1946, os países da Europa se achavam, nas palavras do escritor Theodore H.
White, “tão próximos da indigência quanto a moderna civilização pode chegar.”
Na primavera de 1947, Truman enviou Averell Harriman à Europa para
organizar e supervisionar a distribuição da ajuda prevista no Plano Marshall.
Winant, que desesperadamente desejava a função, foi ignorado pelo governo.
Num discurso em fórum internacional patrocinado pelo New York Herald
Tribune, em outubro, ele desa ou a audiência com a pergunta: “Estão os
senhores fazendo hoje tanto pela paz quanto zeram por este país e pela
civilização nos dias de guerra?” E respondeu: “Eu sei que não estou.”
Em 2 de novembro, Winant fez uma visita de surpresa a Abbie Rollins
Caverly, lha de velho amigo, que trabalhara como sua assistente na OIT, em
Genebra, na década de 1930. Caverly acabara de dar à luz seu primeiro lho, e
Winant, que a conduzira ao altar no casamento, viajou de Concord até a
residência dela em Vermont “para se certi car de que tudo ia bem,” lembra-se
ela. “Acho que, ao seu modo, ele se sentia responsável por mim.” Durante a breve
visita, acrescentou Caverly, Winant pareceu “cansado e solitário... visivelmente
desalentado.”
Retornando a Concord, Winant fez uma chamada telefônica para o
reverendo Philip “Tubby” Clayton, antigo amigo de Londres, que estava nos
Estados Unidos para encorajar jovens americanos a irem à capital inglesa ajudar
na reconstrução dos prédios atingidos pelas bombas e auxiliar seus residentes.
Winant conhecera Clayton, vigário da Igreja de All Hallows, próxima à Torre de
Londres, durante a guerra e concordara em ajudar a levantar fundos e recrutar
jovens americanos para seu novo projeto. Pelo telefone, Winant disse a Clayton
que precisava conversar urgentemente com ele, Clayton, todavia, tinha um
discurso a fazer naquela noite e disse que entraria em contato com o amigo o mais
brevemente possível.
Winant, cuja esposa se encontrava em Nova York, passou a maior parte do
dia seguinte no seu quarto, em Concord. No início da noite, sua governanta, que
trabalhara para ele na Inglaterra, trouxe-lhe o jantar numa bandeja. Quando
voltou poucas horas depois, a bandeja estava intocada.
Por volta das nove da noite, Winant, então com cinquenta e oito anos,
levantou-se da cama e caminhou pelo saguão até o quarto que fora do lho John,
com vista panorâmica para seus queridos montes Bow. Anos antes, ele zera
comentários sobre aquela paisagem silvestre para a qual chegara aos quatorze
anos e, na realidade, jamais deixara: “Ao minúsculo vale [411] devo o senso de
paz, e aos montes ondulantes um senso de tempo.” Mas para John Gilbert
Winant aquele senso de paz não havia mais. Ajoelhando-se no assoalho, ele tirou
uma pistola do bolso do pijama. Firmou o cotovelo esquerdo numa cadeira,
apontou a arma para a cabeça e disparou. O ex-embaixador dos EUA na
Inglaterra morreu meia hora mais tarde.
Numa reportagem de primeira página sobre o suicídio de Winant, o New
York Times publicou que sua morte “afetou o povo da Inglaterra numa medida
que poucos de seus concidadãos podem entender. Houve pesar pelo seu
passamento não só nas vizinhanças victorianas elegantes do Connaught Hotel,
onde ele costumava jantar, mas também entre os taxistas, nos pubs e nas lojas de
' sh and chips.' (...) Naquela noite, no 'Bull and Bush' em Willesden, subúrbio
pobre, um homenzinho local disse a um repórter: 'Acho que, sem ele, todos
perdemos um amigo. Ele entendia gente como a gente; entendia mesmo, moço.'”
O palpável sentimento de perda foi um notável tributo para um homem que,
nas palavras do Daily Express, “caminhou com a Inglaterra em sua grandeza” e a
ajudou a sobreviver. “No que ele disse, o povo acreditou e con ou,” declarou o
New York Herald Tribune. “Ele fez mais do que as pessoas jamais saberão para
manter a solidariedade das duas grandes democracias, em sua hora de
necessidades desesperadoras. A perda para a nação, como para seus amigos, é
imensurável.” Sobre a morte de Winant, o Manchester Guardian publicou: “É
terrível ponderar sobre nosso mundo pós-guerra sabendo-se que John Gilbert
Winant não tem possibilidade de nele viver.”
Como a maioria dos amigos de Winant, o historiador Allan Nevins batalhou
para entender as razões de seu suicídio. Num ensaio, que tomou a forma de uma
carta aberta a Winant, Nevins escreveu: “Será que [412], como Hamlet, você
julgou que os tempos estavam irremediavelmente desordenados — que, como um
dos melhores idealistas e mais con áveis dos seres humanos de sua época, você se
esforçou num ambiente que nada mais podia lhe oferecer do que
desesperançadas frustrações?”
O ex-embaixador foi sepultado no cemitério de Blossom Hill, em Concord,
num serviço fúnebre simples em que o coro da St. Paul's School cantou “The
Strife Is O'er” (Acabou a luta.) Seu túmulo foi coberto de ores, inclusive por
algumas dúzias de rosas de Winston e Clementine Churchill e um grande buquê
de Eleanor Roosevelt, que chamou Winant de “uma verdadeira baixa de guerra
como qualquer outra de nossos soldados.” Na coluna que escrevia para os jornais,
Mrs Roosevelt declarou: “Meu marido e eu o admirávamos e, o que é mais
importante, con ávamos nele. (...) Ele nos ajudou a ganhar a guerra. Meu coração
chora privado de um amigo e com a perda da possibilidade de serviços que ainda
existiam à sua frente.”
Três semanas após o funeral de Winant, cerca de quinhentas pessoas
compareceram a um serviço religioso, não anunciado, na St. Paul's Cathedral, em
Londres, onde o primeiro-ministro Clement Attlee leu trecho da Bíblia: “As
almas dos corretos estão na mão de Deus, e nenhum tormento as tocará.”
Winston, Clementine e Sarah Churchill estavam presentes, como também
Ernest Bevin e um entristecido Anthony Eden, que disse aos jornalistas: “Perdi
um de meus amigos mais próximos.” À cerimônia também compareceu
Rivington Winant, lho mais novo do ex-embaixador, de vinte e dois anos, que
estudava em Oxford. Tão logo soube da notícia da morte de Winant, Eden
mandou buscar Rivington em Oxford e o hospedou em sua casa de campo. “Ele
não poderia ter sido mais gentil,” disse Rivington Winant muitos anos mais tarde.
“Foi realmente maravilhoso.”
De acordo com Walter Thompson, segurança pessoal de Churchill, “a
autodestruição de Winant foi algo que Winston não conseguiu compreender. Ele
jamais a esqueceu. Segundo diversos relatos, Sarah Churchill cou ainda mais
desconsolada com o suicídio de Winant. Havia falado com ele ao telefone pouco
antes de sua morte; depois, ela se culpou pela depressão dele, dizendo a amigos
que só levara infelicidade àqueles que a amaram. Nos anos seguintes, Sarah seria
relativamente bem-sucedida em sua carreira de atriz, ganhando um papel
importante no lme Royal Wedding (Núpcias Reais) com Fred Astaire,
representando diversas vezes na Broadway e se tornando apresentadora da série
americana de televisão Hallmark Hall of Fame, na qual também representou em
diversas de suas produções. Sua vida pessoal, contudo, nunca se recuperou dos
traumas emocionais. Casada mais duas vezes, ela levou uma vida desregrada,
bebendo muito e comparecendo a festas escandalosas, motivos de considerável
constrangimento para os pais. Em setembro de 1982, Sarah Churchill faleceu em
Londres aos sessenta e sete anos.
 
A Ed Murrow, a notícia da morte de Gil Winant causou
grande comoção. Sentou-se aturdido com o que ouvira, balançou repetidas vezes
a cabeça e exclamou, “Que desperdício! Que desperdício!” [413] Ele e Janet,
que estavam em Londres em visita a amigos e para presenciar o casamento da
princesa Elizabeth com o príncipe Philip da Grécia, foram ao serviço religioso na
St. Paul's em memória do velho amigo, ocorrido na véspera das núpcias.
Diferente de Winant, Murrow havia lucrado bastante com seu sucesso em
tempo de guerra. Ele e sua equipe de repórteres haviam retornado aos Estados
Unidos como “estrelas” do jornalismo americano — “os meninos de ouro,” os
denominou o editor Michael Bessie. Como vice-presidente para o noticiário da
CBS, Murrow che ava uma organização mundial de correspondentes, locutores,
comentaristas, escritores, editores e produtores. Era também o astro de um
programa de notícias da rede, Edward R. Murrow and the News, e, mais tarde na
era da televisão, do See It Now e do Person to Person. Tinha tudo, parecia —
fama, reputação, salário vultoso, generoso crédito para despesas, luxuoso
apartamento na Park Avenue e casa de campo no interior do estado de Nova
York.
Porém, apesar de todas as benesses do sucesso, ele nunca se sentiu em casa
em Nova York, achando difícil a transição da austeridade da Inglaterra do tempo
de guerra para a fartura da América do pós-guerra. Mesmo que então Murrow
fosse rico, não se sentia à vontade com o ritmo frenético, a prosperidade e o
materialismo de seu próprio país em pleno “boom” econômico. Mais que isso,
tinha imensas saudades de Londres e de seu povo, frequentemente mencionando
“os anos sombrios e gloriosos” que lá passara. Voltou muitas vezes à capital
inglesa, levando para os Churchills e outros amigos chegados artigos alimentícios
e outros bens de consumo ainda muito escassos. Continuou encomendando
ternos na Saville Row e usando guras de linguagem tipicamente britânicas em
suas conversas; um colega da CBS disse que sempre pensava em Murrow como
“Sir Edward.” O radialista disse aos amigos que “deixara toda a sua [414]
juventude e muito de seu coração na Inglaterra.”
Como Winant, Murrow estava muito desanimado com a falta de liberdade e
justiça no mundo pós-guerra, assim como com o azedamento da paz e o aumento
da tensão internacional. Também muito o incomodava o surgimento do
macartismo, que ele denunciou num programa See It Now que fez história em
1954, bem como o que se passava em sua própria pro ssão — especi camente, o
que considerava declínio dos padrões do radiojornalismo. Murrow gostaria que o
noticiário da CBS se espelhasse no da BBC, cujo objetivo principal era servir aos
interesses públicos. A CBS, no entanto, era uma rede comercial, não uma
empresa quase pública, e os propósitos primeiros de seu chairman, Bill Paley,
eram o lucro e os números nas pesquisas. A divisão de noticiários, que tornara a
CBS a rede nº 1 do país durante a guerra, foi relegada a segundo plano. O
entretenimento era o foco primordial de Paley e “o noticiário, seu hobby,” como
a rmou Don Hewitt, produtor executivo do programa noticioso 60 Minutes da
CBS. “Ele colecionava Murrows e Sevareids do mesmo modo que Picassos,
Manets e Degas.”
Jack Gould, crítico de televisão do New York Times, certa vez descreveu
Murrow como “indivíduo num mundo assediado pela organização. (...) Seu
escritório era chamado de Tobruk do jornalismo. (...) Uma fortaleza que defendia
o jornalismo eletrônico em sua hora de maior penumbra, e deixou um brilhante
legado para a pro ssão e para o país.”
O con ito entre Murrow e Paley foi se tornando cada vez mais grave até que,
em 1961, Paley e a CBS disseram às claras que não havia mais lugar para
Murrow na organização. A convite do novo presidente, John F. Kennedy,
Murrow deixou a empresa para se tornar chefe da Agência de Informação dos
EUA, a sucessora pós-guerra da Agência de Informação de Guerra. Quatro anos
mais tarde, ele faleceu de câncer no pulmão, aos cinquenta e sete anos de idade.
Pouco antes de sua morte, a rainha Elizabeth II o fez Cavaleiro honorário do
Império Britânico (KBE) . Na noite em que faleceu, a BBC interrompeu por
meia hora a programação agendada para transmitir um especial sobre Murrow e
seus feitos. Segundo o primeiro-ministro Harold Wilson, que participou do
especial, a outorga do KBE ao americano era meramente um reconhecimento
formal de uma manifesta realidade: “Murrow foi um [415] 'inglês honorário'
desde que chegou em Londres em 1937.”
 
Ao contrário de seus dois compatriotas de tempo de guerra,
Averell Harriman teve pouca di culdade para se adaptar à vida depois da guerra.
Como ele esperava, o con ito armado o transformara de empresário playboy,
sempre à sombra do pai dominador, numa gura importante da diplomacia
internacional. Capitalizando seus serviços de tempo de guerra em Londres e
Moscou numa carreira governamental de sucesso ao longo de quarenta anos, ele
ocupou posições de destaque nos governos Truman, Kennedy e Lyndon Johnson.
Foi, com asseverou o New York Times, o “superdiplomata” da América, o
“plenipotenciário supremo” do país.
Ironicamente, ele não foi feliz no seu primeiro posto diplomático pós-guerra:
embaixador na Corte de St. James. Era uma função que, em tempo de guerra, ele
caria excitadíssimo se lhe fosse oferecida, mas em 1946 a Inglaterra,
empobrecida e perdendo rapidamente sua in uência imperial, não era mais
centro de poder e de ação. Aos seus subordinados na embaixada, Harriman
pareceu “desinteressado, distante e totalmente desengajado.” Pouco depois de
chegar a Londres, ele se mudou para a residência o cial do embaixador em
Prince's Gate, a mansão outrora de propriedade de J.P. Morgan que Winant não
ocupara.
Harriman também retomou seu caso amoroso com Pamela Churchill, que
recebeu bem suas atenções após ser rejeitada por Murrow. O relacionamento,
contudo, foi então consideravelmente mais complicado do que tinha sido no
início dos anos 1940. A atmosfera febril e descolada da Londres de tempo de
guerra, onde, nas palavras de Harrison Salisbury, “sexo pairava no ar como uma
névoa,” havia desaparecido. Harriman era também uma gura pública muito
mais em evidência como embaixador do que fora como administrador do Lend-
Lease, e se preocupava com a possível erupção de um escândalo que ameaçasse
suas ambições diplomáticas e políticas. Para evitar isso, persuadiu a esposa a se
juntar a ele em Londres. No entanto, antes que ela chegasse, Truman convocou
Harriman a Washington para nomeá-lo secretário do Comércio, apenas seis
meses após voltar a Londres.
Como zera com Churchill e Roosevelt, Harriman trabalhou duro para
cativar Truman. Em 1947, o Presidente o enviou à Europa, com o status de
embaixador, para desembolsar bilhões de dólares da ajuda do Plano Marshall.
De acordo com a maioria dos relatos, ele se saiu muito bem. Batalhador e
in exível, ele nunca foi considerado, mesmo por seus amigos, um intelectual ou
particularmente brilhante. Lord Beaverbrook diria mais tarde a John Kennedy:
“Ninguém foi tão longe [416] com tão pouco.” Mas Harriman era trabalhador
feroz, brusco, agressivo, determinado e conhecido de quase todos os líderes da
Europa pós-guerra — atributos que lhe caíram muito bem pelo resto de sua
carreira governamental. Em 1948, Truman nomeou Harriman seu assessor
nacional de defesa. De acordo com Robert Sherwood, “ele foi o auxiliar mais
parecido com Harry Hopkins que Truman jamais teve” — uma observação que
deve ter despertado considerável prazer em Harriman.
Pelo m dos anos 1940, o ex-chairman da Union Paci c, junto com seus
amigos e colaboradores de longo tempo como Dean Acheson, John McCloy,
George Kennan e Robert Lovett, foram amplamente considerados como os
arquitetos do abrangente papel assumido pelos Estados Unidos no mundo de
pós-guerra. Conhecidos como “os Sábios,” Harriman e os outros se dispuseram a
criar a Pax Americana em todo o globo, uma visão do futuro de seu país que, nas
palavras de Walter Isaacson e Evan Thomas, biógrafos dos Sábios, exigia a
“reformulação do papel tradicional da América no mundo e a reestruturação do
equilíbrio global do poder.”
Numa iniciativa que muitos de seus amigos acreditaram ser decididamente
insensata, Harriman concorreu à indicação para candidato presidencial
democrata em 1952 e 1956. Sem experiência prévia em campanhas eleitorais, o
rígido e pomposo candidato quase não tinha atrativos para o eleitor comum; sem
surpresas, ele perdeu as duas vezes para Adlai Stevenson. Em 1954, venceu por
pequena margem a eleição para governador de Nova York, mas foi derrotado por
Nelson Rockefeller na sua tentativa de reeleição.
Harriman tinha sessenta e oito anos quando Kennedy foi eleito presidente,
porém estava disposto a não deixar que a idade fosse empecilho para que voltasse
a ser in uente na Casa Branca. “Todos têm as suas fraquezas, a de Averell era de
estar sempre perto do poder,” escreveu Arthur Schlesinger Jr., amigo de
Harriman, em seu diário. Averell disse a outro amigo: “Estou con ante de que,
antes que as coisas se ajeitem, estarei no círculo íntimo. Comecei como soldado
de Roosevelt e cheguei ao topo. Depois, tive de começar de novo como soldado de
Truman e chegar ao topo. Isso é o que pretendo fazer outra vez.”
E foi, de fato, o que fez. Inicialmente cético a respeito de Harriman,
Kennedy acabou indicando o idoso diplomata para ser seu principal auxiliar na
solução de problemas internacionais, mais tarde o nomeando subsecretário de
Estado. Com setenta anos, Harriman negociou os Acordos de Genebra que
deram m à guerra civil no Laos e, dois anos mais tarde, liderou a delegação
americana que batalhou por um tratado de limitada proibição de testes nucleares
com a União Soviética. Durante a presidência de Lyndon Johnson, Harriman, já
então com setenta e seis anos, viajou a Paris em 1965 para abrir as conversações
com os norte-vietnamitas na tentativa de acabar com a Guerra do Vietnam — um
esforço que resultou malsucedido.
Quando tinha setenta e nove anos, Harriman, então viúvo, encontrou-se com
sua amante de tempo de guerra, em jantar na casa de Katharine Graham,
proprietária do Washington Post. Nos anos que se seguiram à guerra, Pamela
tivera casos amorosos com diversos homens ricos e poderosos, inclusive Elie de
Rothschild e Gianni Agnelli, herdeiro da Fiat, antes de se casar com o produtor
teatral americano Leland Hayward, que faleceu em 1971. Mais uma vez,
Harriman e Pamela retomaram o relacionamento e, poucos meses mais tarde,
casaram-se. Quando Pamela anunciou para Clementine Churchill, então com
oitenta e seis anos, seu matrimônio próximo, Clementine exclamou deliciada:
“Minha querida [417], é antiga chama reacesa!”
Harriman morreu em 1986, com noventa e quatro anos. Sua infatigável
esposa continuou ativa, tornando-se decana do Partido Democrata e
embaixadora dos EUA na França. Ela servia ainda como embaixadora quando
faleceu de hemorragia cerebral em 1997, após nadar no Ritz Hotel, em Paris.
 
Mais de seis décadas após o fim da Segunda Guerra

Mundial , Edward R. Murrow e Averell Harriman continuam sendo guras


bem conhecidas nos Estados Unidos. Incontestavelmente considerado patriarca
fundador e santo patrono da radiodifusão de notícias, Murrow tem sido objeto de
diversos livros e lmes. Uma organização líder do radiojornalismo — a
Associação de Diretores de Noticiários do Rádio e da Televisão — confere
anualmente o Prêmio Edward R. Murrow aos que se destacam na atividade.
Diversas escolas em todo o país, inclusive a faculdade de comunicações da
universidade em que estudou, a Washington State University, levam seu nome.
Quanto a Harriman, o Council on Foreign Relations, em Nova York, concede
bolsas Averell Harriman em estudos europeus, e a Universidade de Columbia
sedia o Instituto Harriman para estudos russos, eurasianos e do leste europeu.
John Gilbert Winant, ainda que praticamente esquecido nos Estados
Unidos, é também lembrado, se bem que de modo diferente tanto de Murrow
quanto de Harriman. O principal tributo a ele é fruto da mente do padre Tubby
Clayton, o reverendo anglicano com quem Winant falou na véspera de sua
morte. Tem-se dito que Clayton cou agoniado de culpa pelo suicídio de
Winant, acreditando que poderia tê-lo evitado se tivesse se encontrado com o
amigo na noite em que ele telefonou.
Depois da morte de Winant, Clayton fez apaixonado pronunciamento para
os estudantes da St. Paul's School, instando para que viajassem a Londres e
trabalhassem no East End, no verão seguinte, em honra de Winant, ainda gura
reverenciada naquela escola. Diversos alunos o zeram, tornando-se membros do
primeiro grupo de jovens americanos apelidados de Voluntários de Winant.
Todo ano, desde então, dúzias de estudantes de escolas secundárias e faculdades
dos Estados Unidos têm passado seus verões trabalhando com comunidades
carentes das cidades britânicas. A partir de 1957, jovens ingleses têm retribuído
o favor, vindo trabalhar em cidades mais destituídas, grandes e pequenas, dos
EUA. O programa é agora denominado Voluntários de Winant-Clayton.
Para alguns alunos do Winant-Clayton, a experiência se transformou em
ponto de in exão em suas vidas. “Ela serviu [418] para que eu amadurecesse e
visse o mundo como ele realmente é,” lembra o reverendo J. Parker Jameson, o
qual, como recém-formado por Harvard, trabalhou com jovens desvalidos em
Liverpool no verão de 1975. “Liverpool tirou da minha cabeça a ideia de que a
América era o centro do mundo. Aprendi que o globo é um lugar muito maior e
que existe todo um mundo de dores lá fora que precisa de cuidados. Precisamos
trabalhar juntos para lidar com ele.” Quando o verão acabou, Jameson
permaneceu em Liverpool por mais um ano. Ao retornar aos EUA, decidiu
tornar-se sacerdote episcopal, in uenciado em grande parte por sua participação
no Winant-Clayton.
 
A visão da América que Parker Jameson adquiriu naquele verão
em Liverpool não foi tão compartilhada assim em sua terra natal, em particular
no pós-guerra imediato. Emergindo da Segunda Guerra Mundial como país mais
poderoso do mundo, os Estados Unidos caram serenamente convictos de sua
própria onipotência. De início, demonstraram pouco interesse em colaboração
próxima ou em parcerias com os ex-aliados ocidentais, cujos impérios e
in uência global se desintegravam velozmente. Na realidade, decorridos meses
depois da guerra, os Estados Unidos começaram a substituir a Inglaterra, a
França e outras potências coloniais europeias como principal força econômica e
militar no Sudeste Asiático, na região do Pací co, no Mediterrâneo e no Oriente
Médio.
Ao término da guerra, os Estados Unidos tinham rapidamente imaginado a
União Soviética como seu principal parceiro para a solução de problemas
internacionais pós-guerra. Todavia, o surgimento da Guerra Fria deu um m à
ideia, bem como ao plano de Roosevelt de um pronto afastamento americano das
questões europeia. Tendo passado bom tempo da guerra apaziguando os
soviéticos, o governo americano lançou então uma campanha para contê-la. A m
de concretizá-la, Washington percebeu que não só teria que manter como
intensi car o envolvimento americano de tempo de guerra com a Europa, a
despeito da antiga determinação de se manter afastada das complicações no
continente europeu. Dois anos após o lançamento do Plano Marshall, os Estados
Unidos, o Canadá e dez países da Europa criaram a Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN), uma aliança militar que prometeu a defesa coletiva de
todos os países-membros caso um deles recebesse ataque armado. Pela primeira
vez em sua história, os Estados Unidos concordaram em se tornar uma força
permanente de manutenção da paz na Europa.
Enquanto se adaptavam à nova situação, os formuladores políticos
americanos zeram nova avaliação de seu antigo parceiro de tempo de guerra, a
Inglaterra. “Nenhum outro país [419] reúne as mesmas quali cações para ser
nosso principal aliado e parceiro como o Reino Unido,” a rmava um documento
do Departamento de Estado. “Os britânicos, e com eles o restante do
Commonwealth, particularmente os antigos domínios, são os aliados mais
con áveis e mais úteis, com os quais deve existir uma relação especial.”
Essa “relação especial” nunca seria a parceria igualitária e intimamente
ligada que a Inglaterra procurou durante e depois da guerra. Os Estados Unidos
sempre deixaram evidente quem era o parceiro dominante, como durante a Crise
de Suez, em 1956, quando líderes americanos zeram pressão econômica sobre a
Inglaterra para forçá-la a cancelar a invasão do Egito por tropas inglesas,
francesas e israelenses.
Apesar disso e malgrado as recorrentes tensões e estresses, os Estados Unidos
têm mais em comum com o Reino Unido do que com qualquer outro aliado, e
suas conexões pós-guerra se tornaram notavelmente próximas, em especial
comparadas com os vínculos da América com o resto do mundo. Tal intimidade
foi robustecida pela onda de conhecimentos e amizades pessoais que ligaram
bretões e americanos durante a guerra. Tendo ajudado a aparar as arestas dos
problemas surgidos no decorrer da guerra, essas relações informais e bastante
intrincadas trabalharam para promover cooperação depois dela. Falando sobre os
ingleses, Robert Reich, um ex-bolsista Rhodes e secretário do Trabalho do
presidente Bill Clinton, observou: “Eis uma gente [420] em que os americanos
podem con ar: amigos e con dentes num mundo confuso e inamistoso. (...) Há
pouca dúvida de que as autoridades americanas procuraram aconselhamento de
seus colegas ingleses, e receberam o tipo de assessoramento franco e con dencial
que só se consegue de um bom e velho amigo cujo julgamento é profundamente
apreciado.”
Para muitos americanos e ingleses que experimentaram em primeira mão a
aliança entre seus países, o legado foi profundo e duradouro. “A vinda dos
americanos foi instrutiva e me proporcionou visão mais ampla do mundo. Eles
me deram uma percepção melhor da democracia,” disse uma mulher de
Liverpool. Um homem de Birmingham, que fora menino de escola durante a
guerra, observou: “O que quer que aconteça com a 'relação especial' a nível de
estado, nós trabalhamos nossa própria relação especial em todos esses anos
passados. (...) [Os americanos] nunca foram meramente 'eles,' e rapidamente se
transformaram em 'nós.' De minha parte, nunca perderei o senso de boa
camaradagem, generosidade e solidariedade básica que então criamos.”
Em Schenectady, Nova York, um ex-marinheiro americano a rmou: “Acho
que entendo o povo do UK tão bem quanto o dos US. Em outras palavras, eu
poderia pendurar meu chapéu nos dois lados do Atlântico e dizer 'Voltei pra
casa.'” Ernie Pyle expressou quase o mesmo sentimento pouco antes de ser morto
no Pací co, quase no m a guerra: “Amei Londres desde que a vi pela primeira
vez na Blitz,” escreveu o colunista. “Ela se transformou numa espécie de meu lar
d'além-mar.” O correspondente do New York Times Drew Middleton, certa vez
observou: “Os anos em Londres foram os mais felizes da minha vida. (...) Não se
pode pedir mais do que viver num lugar que se conhece e ama, entre pessoas que
se entende, respeita e gosta.” Até mesmo o mal-humorado romancista e
dramaturgo William Saroyan, que detestou praticamente tudo de sua
experiência no Exército durante a guerra, só tinha boas coisas que falar de
Londres e de seu povo. “Fico envergonhado em dizer que estou amando esta
cidade, porque parece uma falsidade dizer isso, mas estou amando Londres, e
nunca deixarei de amá-la,” declara o personagem de Saroyan no romance The
Adventures of Wesley Jackson.
Para bom número de americanos que passaram algum período na Inglaterra
do tempo de guerra, o país e sua capital zeram lembrar Brigadoon [cidade
ctícia da Escócia, criada para um musical da Broadway] — um lugar mágico,
onde o senso de coragem, de determinação, de sacrifício e um sentimento de
unidade e de propósito comum triunfaram, ainda que por poucos anos. Robert
Arbib descreveu soberbamente os meses que passou na Inglaterra antes do m da
guerra: “Cada inglês [421] que você conhece se desculpa. Todos dizem: 'É tão
ruim que você veja a Inglaterra em tempo de guerra. Muito ruim que você não
veja o que ela tem de melhor'.” Mas Arbin discordou veementemente: “Uma
ova!” — escreveu ele. “Esta é a Inglaterra no que tem de melhor. Exatamente
aqui e agora!”
É verdade, as ruas estavam sujas, as fachadas das lojas precisavam de tinta e
os trens atrasavam. Verdade também, comida e água quente eram escassas, a
cerveja era fraca e morna, a grama dos parques estava malcuidada, e as luzes,
desligadas. “Porém, para alguns de nós, que se lembraram de outras coisas,”
escreveu Arbib, “que conheceram um país completamente unido por uma causa
comum, um país em que o perigo fez todos os homens amigos, onde o sacrifício
foi feito não só pelos soldados ou a catástrofe apenas chegou para os pobres, onde
o terror e as di culdades não subjugaram o humor e a vontade, onde o
cavalheirismo e o heroísmo estavam no homem de pé ao seu lado num dos pubs
The Rose Crown, onde a democracia era ver o duque de bicicleta e o fazendeiro
de carro — isso sim era uma nação no que tinha de melhor, essa era uma
experiência a ser compartilhada com orgulho, esse era um tempo de grandezas, e
a Inglaterra, inquestionavelmente, uma terra de maravilhas.”
Pouco antes de deixar Londres, em outubro de 1940, o correspondente da
CBS Eric Sevareid expressou similar senso de empatia com uma cidade e uma
nação que ele tinha aprendido a admirar e amar. No último programa de rádio,
Sevareid, com vinte e sete anos de idade, comparou a partida de Londres com sua
saída de Paris, apenas dias antes de sua queda nas mãos dos alemães, quatro
meses antes: “Paris morreu como uma bela mulher, em coma, sem lutar, sem
saber ou perguntar por quê. Deixou-se Paris quase com um alívio. Parte-se de
Londres com remorso. De todas as grandes cidades da Europa, apenas Londres
se comporta com altivez e com dignidade, arrasada mas teimosa.
Ao longo de todos os elogios que fazia à capital inglesa e seus residentes,
Sevareid batalhou para manter a voz rme. No m, perdeu a batalha. As palavras
saíram sufocadas pela emoção, mas concluiu: “Quando isso tudo acabar nos anos
vindouros, os homens falarão sobre esta guerra e dirão, 'Eu fui soldado,' 'Eu fui
marinheiro,' ou 'Eu fui aviador.' Outros dirão com igual orgulho: 'Eu fui um
cidadão de Londres.'”
Caderno de Fotos
John Gilbert Winant
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Ao barbear-se, Gil Winant é "apanhado" por colegas pilotos americanos, na França, durante a
Primeira Guerra Mundial.
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John Gilbert Winant, primeiro chairman da Câmara de Seguridade Social, numa reunião, em 1935,
com dois colegas de trabalho: Arthur J. Altmeyer (à esquerda) e Vincent M. Miles (à direita).
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Edward R. Murrow em uniforme de correspondente de guerra dos EUA, pouco depois de os Estados
Unidos entrarem na Segunda Guerra Mundial.
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Ed Murrow moço, de camisa surrada e calças jeans que usava como madeireiro, seu trabalho de
verão quando estudante secundário e na faculdade. Anos mais tarde, em Londres, ele diria aos
amigos que "havia satisfação naquela vida" e que "nunca mais sentiu aquela satisfação."
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Ed Murrow com a esposa, Janet, pouco depois do casamento em 1934.
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Ed Murrow no centro de Londres, em 1941.
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Averell Harriman, o novo administrador do Lend-Lease, no seu escritório em Londres em meados de


1941.
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Averell Harriman aprendeu a montar ainda menino na vasta propriedade do pai, no estado de Nova
York. Tornou-se jogador de polo de renome internacional.
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Pelos trinta anos de idade, Harriman passou a maior parte de seu tempo procurando negócios por
toda a Europa, inclusive uma concessão de manganês na nova União Soviética e siderúrgicas e uma
usina elétrica na Polônia.
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Harriman e sua esposa, Marie, desfrutando a noite no Stork Club em Nova York.
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Harriman nas pistas de Sun Valley, Idaho, que ele transformou em estação de esqui de primeira no
fim dos anos 1930.
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George VI recebe John Gilbert Winant, novo embaixador americano na Inglaterra, na estação de
Windsor, em março de 1941. O gesto sem precedentes do monarca sair do palácio para receber um
recém-chegado enviado estrangeiro realçou a importância que a Inglaterra dava à ajuda dos Estados
Unidos para a luta contra Hitler e os alemães.
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Moças do Serviço Auxiliar Territorial, o ramo feminino do Exército inglês, guarnecem um canhão
antiaéreo em Londres, durante a guerra.
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Trabalho dos bombeiros para apagar incêndio causado por bombardeio aéreo alemão no centro de
Londres, durante a Blitz do fim dos anos 1940.
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Pamela Churchill passeia com o filho Winston numa rua de Londres, em 1942. No ano anterior, a
nora de Churchill começou um romance com Averell Harriman. Quando este foi nomeado
embaixador na União Soviética, em 1943, ela se envolveu com Ed Murrow. Cerca de trinta anos mais
tarde, Pamela casou-se com Harriman.
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Sarah Churchill, a filha preferida do primeiro-ministro, foi a pacificadora da família. Ela e John
Gilbert Winant tiveram intenso romance na guerra.
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Integrantes do Esquadrão Eagle, unidade constituída apenas por americanos, que desafiaram as leis
de neutralidade de seu país para combater com a RAF, antes que os Estados Unidos entrassem na
guerra.
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Parecendo satisfeito por estar no centro da ação, Averell Harriman senta-se entre Winston Churchill e
o chefe russo Iosef Stalin, em Moscou, em agosto de 1942. Harriman "cavou" um convite para o
encontro Churchill-Stalin, uma das muitas cúpulas a que ele compareceria durante a guerra.
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Duas moças do serviço militar britânico descarregam fuzis Winchester recém-chegados dos Estados
Unidos como parte do Lend-Lease com a Inglaterra.
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John Gilbert Winant e sua esposa, Constance (junto ao embaixador), recebem o general Dwight D.
Eisenhower e o almirante Harold Stark, os dois chefes militares dos EUA de maior patente em
Londres, em recepção na residência oficial do embaixador, no dia 4 de julho de 1942.
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Winant com Winston Churchill e Joseph Davies, ex-embaixador americano na União Soviética, em
Chequers, residência de verão do primeiro-ministro. Winant e Harriman passaram muitos fins de
semana com os Churchills.
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Militares americanos compram bens não à venda para os ingleses, num reembolsável militar em
Londres. As forças americanas na Inglaterra tinham padrão de vida melhor do que a maioria dos
cidadãos britânicos.
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Tommy Hitchcock, de dezoito anos, em uniforme de aviador francês. Hitchcock, que integrou a
Lafayette Escadrille durante a Primeira Guerra Mundial e foi o americano mais jovem a ganhar o
distintivo de piloto na guerra, derrubou dois aviões alemães antes de ser também abatido.
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Amplamente considerado o melhor jogador de polo do mundo, Hitchcock ajudou a tornar o esporte
um dos mais assistidos nos Estados Unidos nos anos 1920 e 1930.
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Graças a Gil Winant, Hitchcock foi adido militar na embaixada americana em Londres, onde
desempenhou papel crucial na adoção pelos Estados Unidos do P-51B Mustang, o avião de combate
que tornou possível o Dia-D.
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Um Mustang em voo de teste na Califórnia. Depois da guerra, um oficial do alto escalão da Força
Aérea admitiu que o avião surgiu na luta contra a Alemanha "exatamente na hora da salvação, nem
mais nem menos."
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Num terno momento na guerra, militar americano compra uma rosa de florista no Piccadilly Circus e
a prende no casaco da namorada.
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Ed Murrow, com o indefectível cigarro, prepara o noticiário no birô da CBS em Londres.
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Roosevelt e Churchill encontram-se com o líder chinês Chiang Kai-shek na Conferência do Cairo,
em novembro de 1943. Também presentes: Gil Winant (atrás de Roosevelt), Averell Harriman (atrás
de Madame Chiang Kai-shek) e o assistente presidencial Harry Hopkins (na extrema direita).
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Donas de casa de um subúrbio de Londres dão chá e alimentos, em junho de 1944, a tropas
americanas a caminho do sul da Inglaterra e da Normandia.
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O general Eisenhower entre suas bête-noires inglesas: o general Alan Brooke, (esquerda) e o general
Montgomery (direita). Menosprezando a capacitação militar do americano, os dois sempre criticavam
suas ordens.
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Stalin, Roosevelt e Churchill na Conferência de Yalta, em fevereiro de 1945. Harriman atrás de Stalin
e Roosevelt. De pé, Sarah Churchill, como ajudante de ordens do pai, e o ministro do Exterior
Anthony Eden.
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O general Eisenhower recebe a Freedom of the City of London, honraria que remonta aos dias
medievais, numa trabalhada cerimônia em junho de 1945, pouco depois da vitória dos aliados na
Europa.
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Jubilosos jovens militares americanos celebram o "V-E Day," Vitória na Europa 8 de maio de 1945 ,
com residentes londrinos no Piccadilly Circus.
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Ed e Janet Murrow, com o filho Casey, poucos anos após a guerra.
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Notas

 
PRÓLOGO
1 “nos convenceu”: carta de remetente não identi cado, álbum de recortes de John Gilbert
Winant, de posse de Rivington Winant 2 “Estávamos”: Alex Danchev e Daniel Todman, eds.,
War Diaries, 1939–1945: Field Marshal Lord Alanbrooke (Londres: Weidenfeld & Nicolson,
2001), p. 248. “Houve muitas”: John G. Winant, A Letter from Grosvenor Square: An Account of
a Stewardship (Boston: Houghton Mifflin, 1947), p. 3. “Houve um homem”: Times (Londres),
24 de abril de 1946. “transmitira para toda”: carta de Wallace Carroll para o Washington Post,
sem data, documentos de Winant, FDRL
3 “prima-donas”: Robert E. Sherwood, Roosevelt and Hopkins: An Intimate History (Nova
York: Harper and Brothers, 1948), p. 236
4 “Os ingleses chegaram”: Carlo D’Este, Eisenhower: A Soldier’s Life (Nova York: Henry
Holt, 2002), p. 337
5 “Não foi Mr Winant”: “British Mourn Winant,” New York Times, 5 de novembro de
1947. “Em blackout”: Donald L. Miller, Masters of the Air: America’s Bomber Boys Who
Fought the Air War Against Nazi Germany (Nova York: Simon & Schuster, 2006), p. 137
6 “Esta é uma vitória americana”: Peter Clarke, The Last Thousand Days of the British
Empire: Churchill, Roosevelt, and the Birth of the Pax Americana (Nova York: Bloomsbury,
2008), p. 103. “eles precisavam conhecer”: Norman Longmate, The G.I.’s: The Americans in
Britain, 1942–1945 (Nova York: Scribner, 1975), p. 376.
7 “concentração nas coisas”: Star, 3 de fevereiro de 1941. “se aprendesse a viver
amistosamente”: Bernard Bellush, He Walked Alone: A Biography of John Gilbert Winant
(Haia: Mouton, 1968), p. 216
CAPÍTULO 1

 
8 “Muito prazer”: Sunday Times, 2 de março de 1941, documentos de Winant, FDRL
9 “guerras eram ruins”: James Reston, Deadline: A Memoir (Nova York: Random House,
1991), p. 68. “Não é maravilhoso”: Michael R. Beschloss, Kennedy and Roosevelt: The Uneasy
Alliance (Nova York: W. W. Norton, 1980), p. 177. “a Inglaterra acabou”: Bellush, p. 155.
“sou mil por cento pelo apaziguamento”: Reston, p. 73. “devotar meus esforços”:
Beschloss,p. 230. “uma das maiores e mais difíceis”: “Winant Esteemed by British Chiefs,”
New York Times, 7 de fevereiro de 1941
10 “Estou muito feliz”: Times (Londres), March 3, 1941, documentos de Winant, FDRL.
“um incidente signi cativo”: Ibid. “não era apenas extrema”: John Keegan, “Churchill's
Strategy,” em Robert Blake e William Roger Louis, eds., Churchill (Nova York: W. W. Norton,
1993), p. 331. “desanimadoras”: John Colville, The Fringes of Power: 10 Downing Street
Diaries, 1939-1945 (Nova York: W. W. Norton, 1985), p. 358
11 “neste momento a Inglaterra”: Joseph P. Lash, Roosevelt and Churchill, 1939-1941: The
Partnership That Saved the West (Nova York: W. W. Norton, 1976), p. 292. “O experiente
político”: Ibid., p. 143. “Para que a Inglaterra sobreviva”: Warren F. Kimball, “The Most
Unsordid Act”: Lend-Lease, 1939-1941 (Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1969), p. 70
12 “Isso está cheirando”: Colville, Fringes of Power, p. 223. “Achei que”: Herbert Agar,
The Darkest Year: Britain Alone, June 1940-June 1941 (Garden City, N.Y.: Doubleday, 1973), p.
143. “Até agora só”: Lash, Roosevelt and Churchill, p. 251
13 “se quisermos”: Martin Gilbert, Winston S. Churchill, Vol. 6, Finest Hour, 1939-1941
(Boston: Houghton Mifflin, 1983), p. 745. “Buscamos”: Christopher Hitchens, Blood, Class and
Nostalgia: Anglo-American Ironies (Nova York: Farrar, Straus & Giroux, 1990), p. 202. “Quando
se senta”: David Reynolds, The Creation of the Anglo-American Alliance, 1937-1941 (Chapel
Hill: University of North Carolina Press, 1982), p. 25
14 “bem mais”: Agar, p. 153. “atraente e amistoso”: Joseph P. Lash, Eleanor and Franklin
(Nova York: W. W. Norton, 1971), p. 200. “um moço inexperiente”: John Gunther, Roosevelt
in Retrospect (Nova York: Harper & Brothers, 1950), p. 242. “a alegria da festa”: Lash, Eleanor
and Franklin, p. 221
15 “Sempre desgostei”: Beschloss, p. 200. “há uma forte”: Ibid. “sempre bebericando”:
Reston, p. 70. “beberrão crônico”: Jon Meacham, Franklin and Winston: An Intimate Portrait
of an Epic Friendship (Nova York: Random House, 2003), p. 51. “supunha ser Churchill”: David
Dimbleby e David Reynolds, An Ocean Apart: The Relationship Between Britain and America in
the Twentieth Century (Nova York: Random House, 1988), p. 136. “Não camos com coisa
alguma”: David Reynolds, In Command of History: Churchill Fighting and Writing the Second
World War (Londres: Penguin/ Allen Lane, 2004), p. 200
16 “arqueado numa atitude”: Andrew Roberts, “The Holy Fox”: The Life of Lord Halifax
(Londres: Phoenix, 1997), p. 256. “a esses malditos ianques”: Meacham, p. 54. “Não estou
com pressa”: Gilbert, Finest Hour, p. 672
17 “a mais unsordid”: Warren F. Kimball, Forged in War: Roosevelt, Churchill and the
Second World War (Nova York: William Morrow, 1997), p. 74. “Lembre-se, Sr Presidente”:
Ibid, p. 976. “A percentagem”: David Reynolds, Rich Relations: The American Occupation of
Britain, 1942-1945 (Londres: Phoenix, 2000), p. 41
18 “utópico John”: Bellush, p. 118. “extremamente infeliz”: entrevista com Eileen Mason,
documentos de Bellush, FDRL. “sempre lhe dissera”: entrevista com Ernest Hopkin,
documentos de Bellush, FDRL. “que os montes signi cavam”: “He Multiplied the Jobs,” New
York Herald Tribune, 25 de setembro de 1932, documentos de Winant, FDRL. “Nossa função”:
Alex Shoumatoff, “A Private School Affair,” Vanity Fair, janeiro de 2006. “professor
incrivelmente”: T. S. Matthews, Name and Address: An Autobiography (Nova York: Simon &
Schuster, 1960), p. 156
19 “Como a maioria”: Ibid, p. 155. “tudo ia bem”: Janet Murrow aos pais, 24 de abril de
1943, documentos de Murrow, Mount Holyoke. “Era um”: entrevista de Dean Dexter com
Abbie Rollins Caverly 21 “Gente da plateia”: entrevista do autor com Bert Whittemore. “É
uma coisa terrível”: Charles Murphy, “A Boy Who Meddled in Politics,” American, abril de 1933,
documentos de Winant, FDRL. “começava sentindo”: “A New Kind of Envoy to a New Kind
of Britain,” New York Times, 16 de fevereiro de 1941
22 “Tanto as ferrovias”: New York Times, 16 de setembro de 1934, documentos de Winant,
FDRL. “conseguiu introduzir”: New York Herald Tribune, 5 de novembro de 1947. “Não
entendo Winant”: “He Multiplied the Jobs,” New York Herald Tribune, 25 de setembro de 1932,
documentos de Winant, FDRL. “toda política pública”: Larry DeWitt, “John G. Winant,”
Estudo Especial #6, Social Security Historian's Office, Social Security Administration, maio de
1999
23 “pratica o mandamento cristão”: discurso de Lawrence F. Whittemore para a
Assembleia Legislativa de New Hampshire, 25 de julho de 1951. “Sempre que se desejava”:
entrevista com Robert Bingham, documentos de Winant, FDRL. “reverenciavam e amavam”:
entrevista do autor com William Gardner. “adorava sgar”: Gunther, p. 57
24 “transfusão de sangue novo”: recorte sem data de jornal, documentos de Winant,
FDRL. “Winant caminha para”: transcrição do Boston Evening, 27 de setembro de 1934,
documentos de Winant, FDRL. “capturou o”: Charles Murphy, “A Boy Who Meddled in
Politics,” American, abril de 1933, documentos de Winant, FDRL. “O senhor, pessoalmente”:
carta não assinada para Winant, 12 de julho de 1934, documentos de Winant, FDRL. “trocaria
de bom grado”: recorte sem data, documentos de Winant, FDRL
25 “Não, não”: entrevista com Frances Perkins, documentos de Bellush, FDRL. “A maioria
dos americanos”: “The Manager Abroad,” Time, 1º de dezembro de 1947. “Desde a guerra”:
Jean Edward Smith, FDR (Nova York: Random House, 2007), p. 22. “os americanos
mergulhavam”: Kimball, “The Most Unsordid Act,” p. 1. “Do caldo infernal”: David
Reynolds, Rich Relations, p. 8
26 “homens entravam”: New York Times, 14 de fevereiro de 1937. “Ele não tinha noção”:
entrevista com Robert Bass, documentos de Bellush, FDRL
27 “Ele foi, sem a menor”: Larry DeWitt, “John G. Winant,” Estudo Especial #6, Social
Security Historian's Office, Social Security Administration, maio de 1999
28 “política rasteira”: Bellush, p. 131. “pelo menos um homem”: Allan B. MacMurphy
para Winant, 16 de outubro de 1936, documentos de Winant, FDRL. “Mais do que qualquer
outro”: William L. Shirer, Berlin Diary: The Journal of a Foreign Correspondent, 1939-1941
(Nova York: Alfred A. Knopf, 1941), p. 505
29 “Eles aguentarão”: New York Times, 7 de fevereiro de 1941. “que me transmitiu a
sensação”: Times (Londres), 24 de abril de 1946
30 “Não haveria outro nome”: News Chronicle, 7 de fevereiro de 1941, documentos de
Winant, FDRL. “Ele é um americano”: Manchester Guardian, 7 de fevereiro de 1941,
documentos de Winant, FDRL. “Há algo de cavaleiro”: “A Man of Strength and Straightness,”
Times (Londres), 8 de fevereiro de 1941, documentos de Winant, FDRL. “Muitas vezes no
passado”: “Mr. Winant Knows the Plain People,” Star, 7 de fevereiro de 1941, documentos de
Winant, FDRL
31 “aquela gura encorpada”: Winant, A Letter from Grosvenor Square, p. 26. “Mr
Winant”: Washington Post, 18 de março de 1941, documentos de Winant, FDRL
32 “lord da linguagem”: Sunday Times (Londres), 23 de março de 1941, documentos de
Winant, FDRL. “Cada palavra”: Ibid. “bem parecido”: “The Voice of New England,” Star, 19
de março de 1941, documentos de Winant, FDRL. “não era um orador”: “Lincoln Comes to
Town,” Daily Herald, 19 de março de 1941, documentos de Winant, FDR. “entrou em ação”:
John G. Winant, Our Greatest Harvest: Selected Speeches of John G. Winant, 1941-1946
(Londres: Hodder & Stoughton, 1950), p. 7
33 “linguagem de grandeza simples”: “Mr. Winant's Success,” Evening Standard, 19 de
março de 1941, documentos de Winant, FDRL. “O ENVIADO DOS EUA”: Daily Mirror, 19
de março de 1941, documentos de Winant, FDRL. “Quase todos com quem falei”: Star, 19
de março de 1941, documentos de Winant, FDRL. “foi um extraordinário triunfo”: Sunday
Times (Londres), 23 de março de 1941, documentos de Winant, FDRL
CAPÍTULO 2
34 “era a mais magní ca”: Reginald Colby, Mayfair: A Town Within London (Londres:
Country Life, 1966), p. 50. “Um embaixador da”: David McCullough, John Adams (Nova
York: Simon & Schuster, 2001), p. 337. “Eles nos detestam”: Ibid., p. 348. “da civilidade
estudada”: Henry Steele Commager, ed., Britain Through American Eyes (Nova York: McGraw-
Hill, 1974), p. 23. “Nunca tentarei fazer”: Ibid., p. 26
35 “Daqui a alguns anos”: Geoffrey Williamson, Star-Spangled Square: The Saga of “Little
America” in London (Londres: Geoffrey Bles, 1956), p. 47. “Essa gente”: Nathaniel Hawthorne,
The Complete Writings of Nathaniel Hawthorne, Vol. II (Boston: Houghton Mifflin, 1900), p. xx.
“A única maneira segura”: Commager, p. 432
36 “Ele não sabe dançar”: McCullough, p. 349. “pronunciadas tão lentamente”: Daily
Herald, 4 de março de 1941, documentos de Winant, FDRL. “EXCELENTE IMPRESSÃO”:
Washington Evening Star, 3 de março de 1941, documentos de Winant, FDRL. “Nos
primeiros”: News Chronicle, 4 de março de 1941, documentos de Winant, FDRL. “Deixando-
se de lado”: William Stoneman, “Excellent Impression Made by Winant in London,”
Washington Evening Star, 3 de março de 1941, documentos de Winant, FDRL
37 “tem mais in uência”: A. M. Sperber, Murrow: His Life and Times (Nova York:
Freundlich, 1986), p. 131
38 “Você é o melhor”: Nelson Poynter para Murrow, 21 de junho de 1940, documentos de
Murrow, Mount Holyoke. “Você é o homem no ar no 1”: Sperber, p. 188. “elemento
catalisador”: Robert E. Sherwood, Roosevelt and Hopkins: An Intimate History (Nova York:
Harper & Brothers, 1948), p. 236
39 “tratados como deuses de lata”: R. Franklin Smith, Edward R. Murrow: The War
Years (Kalamazoo: New Issues Press, 1978), p. 95. “É bom vê-lo”: Alexander Kendrick, Prime
Time: The Life of Edward R. Murrow (Boston: Little, Brown, 1969), p. 231. “Ainda tenho”:
Sperber, p. 122. “Ed pareceu-me”: Joseph Persico, Edward R. Murrow: An American Original
(Nova York: Dell, 1988), p. 138
40 “de uma forma ou de outra, a Inglaterra”: R. Franklin Smith, p. 101. “Ed tinha
grande”: Sperber, p. 189. “Ambos bastante reservados”: Ibid. “esperava que os
indivíduos”: R. Franklin Smith, p. 145. “Espero que a vida”: Murrow para Charles Siepmann,
6 de maio de 1940, documentos de Murrow, Mount Holyoke. “Se a luz”: Murrow para William
Boutwell, 22 de julho de 1941, documentos de Murrow, Mount Holyoke. “Ele se preocupava”:
Sperber, p. 172
41 “um jovem americano”: Persico, Edward R. Murrow, p. 123. “havia certa felicidade”:
Ben Robertson, I Saw England (Nova York: Alfred A. Knopf, 1941), p. 97
42 “a mais ricamente”: Sperber, p. 53. “Se o restante do mundo”: Ibid., p. 120
43 “Deixaram por demais”: Persico, Edward R. Murrow, p. 150. “Partindo-se do
pressuposto”: Lynne Olson, Troublesome Young Men: The Rebels Who Brought Churchill to
Power and Helped Save England (Nova York: Farrar, Straus & Giroux, 2007), p. 119.
“conspiração do silêncio”: Sperber, p. 131
44 “essas pessoas”: Persico, Edward R. Murrow, p. 150. “Elas tinham uma maneira
rápida”: Ibid., p. 119. “É uma bela casa”: diário de Janet Murrow, 13 de julho de 1941,
documentos de Murrow, Mount Holyoke 46 “um lugar agradável”: Asa Briggs, The History of
Broadcasting in the United Kingdom, Vol. 3, The War of Words (Oxford: Oxford University Press,
1970), p. 22. “triste e discreta”: Ibid. “Quero que meus programas”: R. Franklin Smith, p. 8
47 “no verdadeiro”: Ibid., p. 50. “Muito bem, irmãos”: Sperber, p. 138. “um dos mais
importantes neutros”: Tom Hickman, What Did You Do in the War, Auntie? (Londres: BBC
Books, 1995), p. 30
48 “A BBC”: Ibid., p. 205. “Estávamos difundindo”: Sperber, p. 181. “Todos nós
considerávamos”: R. Franklin Smith, p. 51
49 “Até onde posso ver”: Lynne Olson e Stanley Cloud, A Question of Honor: The
Kosciuszko Squadron: Forgotten Heroes of World War II (Nova York: Alfred A. Knopf, 2003), p. 93.
“Todo mundo a zanzar”: Ibid., p. 94. “Nós decidimos”: Janet Murrow para os pais, 13 de
maio de 1940, documentos de Murrow, Mount Holyoke. “Simplesmente não é possível”:
Janet Murrow para os pais, 11 de junho de 1940, documentos de Murrow, Mount Holyoke.
“contagiante entusiasta”: “Quentin Reynolds Is Dead at 62,” New York Times, 18 de março de
1965
50 “Nunca antes”: Janet Murrow para os pais, 23 de junho de 1940, documentos de Murrow,
Mount Holyoke. “aves de rapina e chacais”: Harry Watt, Don't Look at the Camera (Londres:
Paul Elek, 1974), p. 134. “Aqui jazem”: Stanley Cloud e Lynne Olson, The Murrow Boys:
Pioneers on the Front Lines of Broadcast Journalism (Boston: Houghton Mifflin, 1996), p. 88
51 “Londres está queimando”: Sperber, p. 167. “em constante perigo de vida”: Charles
Ritchie, The Siren Years: A Canadian Diplomat Abroad, 1937-1945 (Toronto: Macmillan, 1974), p.
65. “Vocês não podem fazer isso comigo”: Notas de Eric Sevareid sobre a Blitz, documentos
de Sevareid, LC
52 “Como qualquer pessoa”: Robertson, p. 129. “dos mesmos luxo e brilho”: Ernie
Pyle, Ernie Pyle in England (Nova York: McBride, 1941), pp. 22-23
53 “mensageiro do inferno”: Sperber, p. 172. “muito chocado”: R. Franklin Smith, p.
38. “As palavras não têm”: radiodifusão de Murrow, 14 de setembro de 1940, National
Archives. “Fez tudo de”: R. Franklin Smith, p. 94. “palavra falada”: Ibid., p. 84
54 “que mais pareciam bonecas”: Sperber, p. 173. “o frio e sufocante fog”: radiodifusão
de Murrow, 2 de dezembro de 1940, National Archives. “Eles operam em”: Persico, Edward R.
Murrow, p. 174. “as pessoas comuns”: radiodifusão de Murrow, 18 de agosto de 1940, National
Archives. “heróis anônimos”: Ibid. “Você acha que somos”: Persico, Edward R. Murrow, p.
178. “Era isso que ele”: R. Franklin Smith, p. 100
55 “Vocês estão bem?”: Briggs, p. 295. “Tenho visto coisas”: Sperber, p. 169. “Todos
tinham os olhos vermelhos”: Robertson, p. 126. “Anda-se pelas ruas”: Quentin Reynolds,
A London Diary (Nova York: Random House, 1941), p. 65. “Nesta crise,”: Robertson, p. 131
56 “Chegar a Dublin foi”: Ibid., pp. 182-83. “matronas formais”: Eric Sevareid, Not So
Wild a Dream (Nova York: Atheneum, 1976), p. 176. “estranho americano”: Ibid. “mostraram
para o mundo”: Ibid., p. 166
57 “Eles são extremamente”: Philip Seib, Broadcasts from the Blitz: How Edward R. Murrow
Helped Lead America into War (Washington: Potomac Books, 2006), p. 65. “berrou”: Watt, p.
141. “Sou um repórter neutro”: Nicholas Cull, Selling War: The British Propaganda Campaign
Against American “Neutrality” in World War II (Nova York: Oxford University Press, 1995), p. 103
58 “uma crença”: Watt, p. 142. “A situação no Savoy”: Ibid.“bons meninos”: Cloud e
Olson, p. 58
59 “Ele não ngiu”: R. Franklin Smith, p. 117. “Não desejo usar”: Seib, p. 109. “salvo
no que dizia”: Ibid., p. 127. “mil anos de história”: Ibid., p. 108. “Ele queria”: R. Franklin
Smith, p. 109. “Talvez vocês possam”: radiodifusão de Murrow, 30 de setembro de 1940, NA.
“Murrow e seus colegas”: R. Franklin Smith, p. 107
60 “Todos os abrigos”: Janet Murrow para os pais, 22 de outubro de 1940, documentos de
Murrow, Mount Holyoke. “separavam a alma”: Angus Calder, The People's War: Britain, 1939-
1945 (Nova York: Pantheon, 1969), p. 173. “Parecia um”: Persico, Edward R. Murrow, p. 178.
“Por vezes ele parecia”: Ibid., p. 184. “Ele interioriza”: “This Is Murrow,” Time, 30 de
setembro de 1957. “as janelas”: R. Franklin Smith, p. 101
61 “Vocês não sofrerão”: Kendrick, p. 225
CAPÍTULO 3
63 “malfeitores de grande fortuna”: Christopher Ogden, Life of the Party: The Biography of
Pamela Digby Churchill Hayward Harriman (Boston: Little, Brown, 1994), p. 112. “não era
bom”: Rudy Abramson, Spanning the Century: The Life of W. Averell Harriman (Nova York:
William Morrow, 1992), p. 271. “Boa aparência”: Walter Isaacson e Evan Thomas, The Wise
Men: Six Friends and the World They Made (Nova York: Touchstone, 1986), p. 121
64 “Con dencialmente, Franklin”: Ibid., p. 188. “Estamos querendo”: transcrição do
discurso de Harriman, 14 de fevereiro de 1941, documentos de Harriman, LC. “e recomendar
tudo”: W. Averell Harriman e Elie Abel, Special Envoy to Churchill and Stalin, 1941-1946 (Nova
York: Random House, 1975), p. 19. “foi um pouco nebuloso”: memorando de Harriman, 18
de março de 1941, documentos de Harriman, LC
65 “tão logo”: Abramson, p. 277. “Senhor Presidente”: transcrição de entrevista coletiva de
Roosevelt, 18 de fevereiro de 1941, documentos de Harriman, LC. “uma interminável”:
Abramson, p. 65. “não se divertia”: Sally Bedell Smith, Re ected Glory: The Life of Pamela
Churchill Harriman (Nova York: Simon & Schuster, 1996), p. 79. “precisou de reforço”:
Abramson, p. 16
66 “Mergulhava de cabeça”: Isaacson e Thomas, p. 42. “tentava equiparar”: Abramson, p.
137
67 “Averell é um perseguidor”: E.J. Kahn, “Pro les: Plenipotentiary-1,” New Yorker, 3 de
maio de 1952. “Averell era visto”: Abramson, p. 127. “Em termos intelectuais”: Harriman e
Abel, p. 6
68 “Quem quer que diga”: Abramson, p. 273
69 “Existe um sentimento”: Harriman para Harry Hopkins, 6 de junho de 1940,
documentos de Harriman, LC. “ele gastou mais”: Henry H. Adams, Harry Hopkins: A
Biography (Nova York: Putnam's, 1977), p. 22
70 “Hopkins não se considerava”: Sherwood, p. 159. “Harry jamais teve”: Ibid., p. 29.
“uma língua”: Ibid., p. 80. “atacava de volta”: Adams, p. 52
72 “Ele cava feliz”: Sherwood, p. 6. “com toda a energia”: Adams, p. 152. “estava
sempre pronto”: “Ave and the Magic Mountain,” Time, 14 de novembro de 1955. “Suponho
que Churchill”: Sherwood, p. 232
73 “representante pessoal”: Ibid., p. 247. “aquele homem extraordinário”: Winston S.
Churchill, The Grand Alliance (Boston: Houghton Mifflin, 1950), pp. 20-21. “Churchill é o
governo”: Sherwood, p. 243
74 “A mim pareceu um”: Meacham, p. 84. “Suponho que os senhores”: Adams, p. 207.
“um homem completamente mudado”: Sherwood, p. 268. “Esta ilha precisa”: Ibid., p. 260
75 “Deixe-me carregar”: Adams, p. 199. “talvez tenha alguma coisa”: Abramson, p. 276.
“Aqui em Washington”: James MacGregor Burns, Roosevelt: The Soldier of Freedom (Nova
York: Harcourt Brace Jovanovich, 1970), p. 51. “tudo muito em ordem”: Reston, p. 98. “um
lugar agradável”: Ibid., p. 101. “um parque coberto de folhas e sonhador”: Sevareid, p.
193. “uma cidade”: David Brinkley, Washington Goes to War (Nova York: Alfred A. Knopf,
1988), p. xiv. “É difícil”: Sherwood, p. 161
76 “O programa de produção”: Vincent Sheean para Murrow, 26 de dezembro de 1940,
documentos de Murrow, Mount Holyoe 77 “repelir incursões”: D'Este, p. 259. “Estamos tão
carentes”: memorando de Harriman, 11 de março de 1941, documentos de Harriman, LC.
“Não podemos levar”: Ibid. “ cara perturbado”: James Leutze, ed., The London Journal of
General Raymond E. Lee, 1940-1941 (Boston: Little, Brown, 1971), p. 175
78 “Sem entendimento”: memorando de Harriman, 11 de março de 1941, documentos de
Harriman, LC. “como uma espécie”: Dimbleby e Reynolds, p. 145. “Saí achando”:
memorando de Harriman, 11 de março de 1941, documentos de Harriman , LC
79 “Ele tem pessoalmente”: Harriman para Marie Harriman, 30 de março de 1941,
documentos de Harriman, LC. “Nada lhe será”: Harriman e Abel, p. 22. “por pouco não se
tornou”: John Colville, Footprints in Time: Memories (Londres: Century, 1985), p. 154. “fez
quatro pertinentes”: Ibid.
80 “Logo no início”: Winant, A Letter from Grosvenor Square, p. 68. “Tínhamos uma
incomum”: Ibid., p. 67. “o total respeito e con ança”: Harriman para FDR, 10 de abril de
1941, documentos de Harriman, LC. “um dos piores do mundo”: entrevista com Theodore
Achilles, documentos de Bellush, FDRL
81 “Talvez você gostasse”: Murrow para Chet Williams, 15 de maio de 1941, documentos
de Janet Murrow, Mount Holyoke. “Cada um dos ministros”: Harriman e Abel, p. 23. “Sou
aceito como”: Harriman para o presidente da Union Paci c, 30 de maio de 1941, documentos
de Harriman, LC. “Tenho estado”: Harriman para Marie Harriman, 6 de maio de 1941,
documentos de Harriman, LC. “O nervosismo era muito”: Harriman para Herbert Feis, sem
data, documentos de Harriman, LC
82 “que mais parecia”: Robert Meiklejohn para Mr. Wooley, 21 de maio de 1941,
documentos de Harriman, LC. “aquele refúgio dourado”: Sally Bedell Smith, Re ected Glory,
p. 77. “a moderna Babilônia”: Robert Rhodes James, ed., Chips: The Diaries of Sir Henry
Channon (Londres: Phoenix, 1997), p. 272. “uma fortaleza”: Leutze, ed., p. 61. “Jamais vi”:
Ibid. “Jamais me senti”: Robertson, p. 137
83 “Minha correspondência”: Harriman para Marie Harriman, 30 de março de 1941,
documentos de Harriman, LC. “se assemelhavam”: Gilbert, Finest Hour, p. 972
84 “Até onde posso ver”: Ibid., p. 1040. “Como os ingleses”: Ritchie, p. 100
CAPÍTULO 4
85 “aquele aspecto horrível, cansado”: Philip Ziegler, London at War, 1939-1945 (Nova
York: Alfred A. Knopf, 1995), p. 177
86 “Estou realmente com medo”: Sperber, p. 192. “É o escritório”: diário de Janet
Murrow, 16 de abril de 1941, documentos de Murrow, Mount Holyoke. “muitos de”: Ibid 87
“Agora que estou aqui”: entrevista com Theodore Achilles, documentos de Bellush, FDRL.
“se baseava em termos humanos”: Ibid.
88 “Não vejo razão”: Janet Murrow para a mãe, 18 de abril de 1941, documentos de
Murrow, Mount Holyoke. “Sua personalidade”: entrevista com Virginia Cowles, documentos
de Bellush, FDRL. “exempli cou para o povo inglês”: entrevista com Sir Arthur Salter,
documentos de Bellush, FDRL
89 “Ele ganha”: Harriman para FDR, 10 de abril de 1941, documentos de Harriman, LC.
“foi uma devastação”: Colville, The Fringes of Power, p. 373
90 “As notícias sobre sua”: Winant para FDR, 10 de abril de 1941, Winant/ arquivos do
Departamento de Estado, National Archives. “Ele passa em revista”: Harriman para FDR, 11
de abril de1941, documentos de Harriman, LC. “Desculpe eu não poder”: Walter Thompson,
Assignment: Churchill (Nova York: Farrar, Straus & Young, 1955), p. 216. “Eles enfrentaram”:
Harriman para FDR, 11 de abril de 1941, documentos de Harriman, LC
91 “que pareceu sublinhar”:Winant, A Letter from Grosvenor Square, p. 48. “Eles têm
muita fé”: Harriman para FDR, 11 de abril de 1941, documentos de Harriman, LC. “que todo
aquele pesar e dor”: Clementine Churchill para Harriman, 15 de abril de 1941, documentos de
Harriman, LC.
“O fedor”: Calder, p. 185
92 “É o espírito”: Harriman para o presidente da Union Paci c, 30 de maio de 1941,
documentos de Harriman, LC. “As mulheres são”: Harriman para Marie Harriman, 17 de abril
de 1941, documentos de Harriman, LC. “O que as mulheres”: Agar, p. 202
93 “magní co corpo”: Norman Longmate, The Home Front: An Anthology of Personal
Experience, 1938-1945 (Londres: Chatto & Windus, 1981), p. 75. “viver um pesadelo”:
Sherwood, p. 276
94 “Não há dúvida de que”: Leutze, ed., p. 243. “Você não vai mais encontrar”:
Vincent Sheean, Between the Thunder and the Sun (Nova York: Random House, 1943), p. 296
95 “está inquieto”: Harold Nicolson, The War Years, 1939-1945 (Nova York: Atheneum,
1967), p. 164. “A fadiga”: Winant, A Letter from Grosvenor Square, p. 39. “Tudo o que o
país”: Nicolson, p. 162. “Um grave dano incidiu”: Sherwood, p. 275
96 “um desastre”: Winston S. Churchill, The Grand Alliance, p. 190. “A evacuação
caminha”: Lash, Roosevelt and Churchill, p. 301. “desalento e perda de con ança”: Ibid., p.
312. “Sinto que”: Gilbert, Finest Hour, p. 1083
97 “Senhor Presidente”: Ibid., p. 1078. “Tudo isso vai ser”: Leutze, ed., p. 244
98 “A situação é”: Lash, Roosevelt and Churchill, p. 298. “Não podemos deixar”: Ibid., p.
304
99 “O Presidente está esperando”: William Bullitt para Harriman, 29 de abril de1941,
documentos de Harriman, LC. “Eu disse a Hopkins”: Lash, Roosevelt and Churchill, p. 321.
“Acho que”: Adams, p. 223. “Só sei que”: Ibid., p. 224. “Alertei-o de que”: Doris Kearns
Goodwin, No Ordinary Time: Franklin and Eleanor Roosevelt: The Home Front in World War II
(Nova York: Simon & Schuster, 1994), p. 24
100 “Que parcela”: Jean Edward Smith, p. 492. “A realidade é que”: História Oral —
Frances Perkins, Columbia University. “O povo como um todo”: Sperber, p. 131. “Por que
você não”: discurso de Belle Roosevelt no Hobart and Smith College, junho de 1945,
documentos de Winant, FDRL
101 “A opinião mundial”: Lash, Roosevelt and Churchill, p. 329. “como tinha de
combater”: Ibid., p. 342. “chocante ver”: Leutze, ed., p. 287. “Existe pensamento
idealista”: Ibid., p. 275
102 “É impossível”: Harriman para William Bullitt, 21 de maio de 1941, documentos de
Harriman, LC. “empregar navios de guerra”: Harriman para Marie Harriman, 6 de maio de
1941, documentos de Harriman, LC. “A força da Inglaterra está”: Harriman para FDR, 10 de
abril de 1941, documentos de Harriman, LC. “muito encorajado”: Gilbert, Finest Hour, p.
1036. “dois homens”: Colville, Footprints in Time, p. 152
103 “O que a América requer”: Ibid.
105 “Como americano”: Winant, A Letter from Grosvenor Square, p. 40.
“Estávamos todos dormindo”: “Winant Indicates He Backs Convoys,” New York Times, 15 de
maio de 1941, documentos de Winant, FDRL. “Nós tornamos”: Ibid.
CAPÍTULO 5
107 “simplesmente cara”: Mary Soames, Clementine Churchill: The Biography of a
Marriage (Boston: Houghton Mifflin, 2002), p. 343
108 “era menos agendada”: Thompson, p. 127. “adorava uma plateia”: Roy Jenkins,
Churchill: A Biography (Nova York: Farrar, Straus & Giroux, 2001), p. 639. “tanto pelo”:
Colville, Footprints in Time, p. 153
109 “Gostaria de agradecer”: Mary Churchill para Harriman, 13 de maio de 1941,
documentos de Harriman, LC
110 “a maravilhosa vida”: memorando de Harriman, 5-9 de maio de 1943, documentos de
Harriman, LC. “o americano mais poderoso”: Sally Bedell Smith, Re ected Glory, p. 86. “era
um caipira da América”: entrevista de Pamela Harriman com Christopher Ogden, documentos
de Pamela Harriman, LC. “maravilhosamente vistoso”: Abramson, p. 312
111 “aprisionada em Dorset”: entrevista de Pamela Harriman com Christopher Ogden,
documentos de Pamela Harriman, LC. “tão fria e calculista”: Sally Bedell Smith, Re ected
Glory, p. 76. “podia ser bastante”: Mary Soames, “Father Always Came First, Second and
Third,” Finest Hour, outono de 2002. “Uma das mais condenáveis”: Colville, The Fringes of
Power, p. 177
112 “Um difundido galanteio”: Ziegler, p. 169. “As barreiras normais”: Sally Bedell
Smith, In All His Glory: The Life of William S. Paley (Nova York: Simon & Schuster, 1990), p.
217. “Foi a libertação”: Olson e Cloud, p. 178. “Londres foi oJardim”: Mary Welsh
Hemingway, How It Was (Nova York: Ballantine, 1976), p. 105
113 “Aqui estou eu”: entrevista de Pamela Harriman com Christopher Ogden, documentos
de Pamela Harriman, LC. “Na noite passada”:Harriman para Marie Harriman, 17 de abril de
1941, documentos de Harriman LC.
“interceptou olhares”: Sally Bedell Smith, Re ected Glory, p. 87
114 “micróbio”: Soames, p. 351. “Alguns julgavam que”: Drew Middleton, Where Has
Last July Gone? (Nova York: Quadrangle, 1973), p. 68. “tinha particular prazer”: Ogden, p.
154. “Ela transmitia tudo”: Ibid., p. 123
115 “Era muito valioso”: entrevista de Pamela Harriman com Christopher Ogden,
documentos de Pamela Harriman, LC. “divertiu-se muito”: Ibid., p. 127. “temendo
histórias”: Arthur M. Schlesinger Jr., Journals, 1952-2000 (Nova York: Penguin, 2007), p. 343.
“poderia ter dado”: entrevista de Pamela Harriman com Christopher Ogden, documentos de
Pamela Harriman, LC. “Não fazemos”: Sarah Churchill, A Thread inthe Tapestry (Londres:
Deutsch, 1967), p. 29
116 “Sabe,”: entrevista de Pamela Harriman com Christopher Ogden, documentos de Pamela
Harriman, LC. “se sentissem”: entrevista com Felix Frankfurter, documentos de Bellush FDRL.
“Um homem de charme”: Mary Soames, Clementine Churchill: The Biography of a Marriage
(Boston: Houghton Mifflin, 2002), p. 390. “idealista gentil”: Colville, The Fringes of Power, p.
773. “Quando Winant entra”: “A New Kind of Envoy to a New Kind of Britain,” New York
Times, 16 de fevereiro de 1941. “Há algo de (.)”: Ethel M. Johnson, “The Mr. Winant I Knew,”
South Atlantic Quarterly, janeiro de 1949, correspondência de Eleanor Roosevelt, FDRL. “ cou
enfeitiçada”: James, ed., p. 297. “um dos homens mais”: Nicolson, p. 186. “o excelente”:
Ibid, p. 198
117 “Outros homens”: Lord Moran, Churchill at War, 1940-45 (Nova York: Carroll & Graf,
2002), p. 151. “Lá estava Winant”: Ibid., p. 152. “uma dessas grandes”: Danchev e Todman,
eds., p. 474. “Winant me refortalece”: entrevista com Theodore Achillesw, documentos de
Winant, FDRL. “O PM”: Moran, p. 152. “gostava dos espertalhões”: Jenkins, p. 188. “mais um
rico homem”: Ogden, p. 119
118 “entendia intuitivamente”: Soames, p. 390. “mais charmosa e divertida”:
Meacham, p. 94. “charmosa, animada”: Janet Murrow para os pais, 7 de dezembro de 1940,
documentos de Murrow, Mount Holyoke. “muito atraente”: Eleanor Roosevelt, This I
Remember (Nova York: Harper, 1949), p. 267. “Sente-se que”: Ibid. “quando casou”: Sally
Bedell Smith, Re ected Glory, p. 67. “egoísta completo”: John Pearson, The Private Lives of
Winston Churchill (Nova York: Touchstone, 1991), p. 216. “De coração”: entrevista de Pamela
Harriman com Christopher Ogden, documentos de Pamela Harriman, LC
119 “Fico facilmente”: Soames, p. 103. “por não desligarem”: Mary Soames, “Father
Always Came First, Second and Third,” Finest Hour, outono de 2002. “ele jamais fez”: Soames,
p. 266. “Um m de semana aqui”: Kathleen Harriman para Mary Fisk, sem data, documentos
de Harriman, LC
120 “ao car em plano secundário”: Kathleen Harriman para Mary Fisk, junho de 1941,
documentos de Harriman, LC. “Isso soa”: Clementine Churchill para Winant, 2 de abril de
1941, documentos de Winant, FDRL
121 “Não deixe que”: Soames, p. 96. “Ela caiu sobre ele”: Ibid., p. 261
122 “uma das pessoas mais solitárias”: entrevista de Dean Dexter com Abbie Rollins
Caverly. “Como crianças”: Soames, p. 268
123 “Em primeiro lugar”: Pearson, p. 126. “que todo o meu tempo”: Soames, p. 266.
“um misto de ternura”: Ibid., p. 267. “uma gura autoritária”: Sarah Churchill, Keep on
Dancing (New York: Coward, McCann & Geoghegan, 1981), p. 67
124 “Apesar de os lhos”: Soames, p. 267. “Todos aqueles egos”: Pearson, p. 221.
“escapar daquelas”: Ibid., p. 233. “Se eu realmente”: Sarah Churchill, A Thread in the
Tapestry, pp. 31-32
125 “Saí daquele teatro”: Ibid., p. 51. “teve bom desempenho”: Colville, The Fringes of
Power, pp. 200-201. “comum como a sujeira”: Pearson, p. 265. “dirigiu-se a mim”: Sarah
Churchill, Keep on Dancing, p. 67
126 “uma criatura mágica”: Edwina Sandys, “A Tribute to Sarah Churchill,” Daily Mail, 25
de setembro de 1982. “Mais do que qualquer outra”: Lynda Lee Potter, Daily Mail, 25 de
setembro de 1982. “Sarah é uma pessoa”: Kathleen Harriman para Mary Fisk, 7 de julho de
1941, documentos de Harriman, LC. “cortina de ferro”: Danchev e Todman, eds., p. 474

 
CAPÍTULO 6

 
127 “Isso é pior do que”: “Winant Returns; Silent on Mission,” New York Times, 31 de
maio de 1941. “Não há dúvida,”: Anne O'Hare McCormick, “The Usual Intermission for Peace
Feelers,” New York Times, 7 de junho de 1941, documentos de Winant, FDRL. “alta autoridade
de Washington”: Daily Mail, 2 de junho de 1941, documentos de Winant, FDRL. “quase uma
muralha chinesa”: memorando de Harriman para FDR, 10 de abril de 1941, documentos de
Harriman, LC
128 “Estamos anunciando”: Burns, p. 119. “Estamos iludindo”: William Whitney para
Harriman, 25 de agosto de 1941, documentos de Harrimans, LC
129 “A entrega dos suprimentos”: Adams, p. 226. “quase como um chamamento”:
Lash, Roosevelt and Churchill, p. 326. “tomado como um compromisso”: Sherwood, p. 298.
“paralisado entre”: Dean Acheson, Present at the Creation: My Years in the State Department
(Nova York: W. W. Norton, 1969), p. 3. “com todos os nervos”: Leutze, ed., p. 388. “Winant
pediu-me”: Nina Davis Howland, “Ambassador John Gilbert Winant: Friend of Embattled
Britain, 1941-1946,” tese de doutorado, University of Maryland, 1983, p. 108. “Não podemos
esperar”: Daily Telegraph, 19 de junho de 1941, documentos de Winant, FDRL
130 “Se Munique”: Longmate, The G.I.'s, p. 12. “mandato excelente”: Harriman e Abel, p.
19. “Laddie não era”: Nelson W. Aldrich Jr., Tommy Hitchcock: An American Hero (Nova York:
Fleet Street, 1984), p. 208. “estamos trabalhando”: Harriman para FDR, 7 de maio de 1941,
documentos de Harriman, LC
131 “interferir em todos”: Leutze, ed., p. 359. “Mr. Harriman goza”: Harriman e Abel,
p. 63. “Não creio que”: Kathleen Harriman para Mary Fisk, junho de 1941, documentos de
Harriman, LC
132 “Fiz grande”: Ogden, p. 130. “Achei-o absolutamente”: Pearson, p. 303. “Ele
de nitivamente”: Ogden, p. 131. “um senso de tranquilidade”: Harriman para Churchill, 1º
de julho de 1941, documentos de Harriman LC. “'Mr. Harrimané muito persistente”: Howard
Bird para Harriman, 1º de julho de 1941, documentos de Harriman, LC
133 “os inimigos mortais”: Olson e Cloud, p. 218
134 “provavelmente jamais”: Thompson, p. 224. “Ele estava rmemente”: Lash,
Roosevelt and Churchill, p. 391. “manter esses dois”: Sherwood, p. 236. “Finalmente nos”:
Goodwin, p. 265. “Ele gosta de mim”: Lash, Roosevelt and Churchill, p. 391. “Papa esquecera
completamente”: Meacham, p. 109
135 “dominando qualquer”: Elliott Roosevelt, As He Saw It (Nova York: Duell, Sloan &
Pearce, 1946), p. 28. “uma intimidade fácil”: Sherwood, p. 363. “tomassem conta dele”:
Thompson, p. 238. “tinha quebrado o gelo”: Eleanor Roosevelt, p. 226. “Senti uma
afeição”: Meacham, p. 108. “Eu preferiria”: Jean Edward Smith, p. 502. “O senhor tem de”:
Elliott Roosevelt, p. 29
136 “que buscaria um”: Lash, Roosevelt and Churchill, p. 402. “O presidente”: Gilbert,
Finest Hour, p. 1177. “A inundação é imensa”: Leutze, ed., p. 383. “Não sei o que”:
Sherwood, p. 373
138 “dar, dar e dar”: Isaacson e Thomas, p. 212. “suspeita que pudesse”: Harriman e
Abel, p. 92
139 “Ninguém pode negar”: Lord Ismay, The Memoirs of Lord Ismay (Nova York: Viking,
1960), p. 231
CAPÍTULO 7
140 “morrera para que a Inglaterra”: “All Britain Honors Independence Day,” New York
Times, 5 de julho de1941, documentos de Winant papers, FDRL. “protótipo do moço
dourado”: Alex Kershaw, The Few: The American “Knights of the Air” Who Risked Everything to
Fight in the Battle of Britain (Nova York: Da Capo, 2006), p. 60. “quero entrar nela”: Ibid., p. 58
141 “Eram arrogantes”: Cap John R. McCrary e Cap. David Scherman, First of the Many: A
Journal of Action with the Men of the Eighth Air Force (Londres: Robson, 1944), p. 210.
“Inacreditável quão”: Kershaw, p. 66. “Ele não tinha”: New York Times, 5 de julho de 1941,
documentos de Winant, FDRL
142 “Nossos lares”: Mrs Anthony Billingham, America's First Two Years: The Story of
American Volunteers in Britain, 1939-1941 (Londres: John Murray, 1942), pp. 59-60. “poderia
resultar”: Kershaw, p. 55
143 “Os alemães”: “Americans 'Capture' Headquarters of a British Brigade in War Games,”
New York Times, 22 de julho de1940. “porem em risco”: Watt, p. 157
144 “encontrarem louras lindas”: James Saxon Childers, War Eagles: The Story of the Eagle
Squadron (Nova York: D. Appleton-Century, 1943), p. 17. “Achei que aquela”: Kershaw, p. 62.
“Numa avassaladora raiva”: James A. Goodson, Tumult in the Clouds (Nova York: St. Martin's,
1993), p. 25
145 “americanos típicos”: Kershaw, p. 83. “a guerra não poderia”: Philip D. Caine,
Eagles of the RAF (Washington: National Defense University Press, 1991), p. 30
146 “Esse pessoal”: Kershaw, pp. 160-61. “Eles estão sempre nos dizendo”: Caine, p.
105. “Parecia que nunca”: Ibid., p. 217. “Mais uma vez (...)”: Kershaw, p. 214. “bando
maluco de caubóis”: Ibid.,p. 205
147 “Suas aventuras”: Caine, p. 148. “Olhem aqui, esses caras”: Kershaw, p. 216. “Ele
foi, sem a menor”: Caine, p 218. “Lutar lado a lado”: Kershaw, p. 62. “O que ele está
fazendo?”: Caine, p. 105
148 “Eles foram sabotadores”: Kershaw, p. 204
149 “polidamente mandou”: Watt, p. 155. “quatro semanas”: Ibid. “Longe de”: Bosley
Crowther, “Eagle Squadron,” New York Times, 3 de julho de 1942. “Sabe você”: Childers, p. 15
150 “um o cial com uniforme”: “Winant Lauds R.A.F. at Eagle Luncheon,” New York
Times, 20 de novembro de 1941
151 “motoristas de caminhões”: Robertson, p. 71. “sorriram e pilheriaram”: Ibid., p.
72
152 “meu contato com a vida”:Winant para Dr. Brister, 1º de julho de 1943, documentos
de Winant, FDRL. “o grupo mais nobre”: Winant para
destinatário desconhecido, 1º de novembro de 1946, documentos de Winant, FDRL
CAPÍTULO 8
153 “Deixar este país”: Murrow para Winant, 10 de novembro de 1941, documentos de
Winant, FDRL. “Estou convencido”: Murrow para Chet Williams, 15 de maio de 1941,
documentos de Murrow, Mount Holyoke. “mimar os nipônicos”: Adams, p. 255
154 “não zera praticamente”: Danchev e Todman, eds., p. 205
155 “Naquela crise pendente”: Burns, p. 148. “Nada é mais perigoso”: Lash, Roosevelt
and Churchill, p. 427. “Se em algum tempo”: Murrow para Winant, 10 de novembro de 1941,
documentos de Winant, FDRL. “Por onde ando”: Sperber, p. 188
156 “Edward R. Murrow”: Paley, p. 143. “período de grande barulheira”: Gunther, p.
300. “Ele caminhava”: Persico, Edward R. Murrow, p. 196. “empregava grande parte”:
Murrow para Harold Laski, 6 de dezembro de 1941, documentos de Murrow, Mount Holyoke
157 “É difícil explicar”: R. Franklin Smith, p. 81. “Quase todos os americanos”: Paley, p.
143. “estupefato com tudo aquilo”: Sperber, p. 204. “ao longo das margens”: Kendrick, p.
238. “Você incendiou”: Cloud e Olson, p. 143. “Os senhores (...) que hoje se reúnem”:
telegrama de FDR para William Paley, 2 de dezembro de 1941, Arquivos Pessoais do Presidente,
FDRL
158 “Isto signi ca guerra”: Adams, p. 257. “Você acha que”: Winant, A Letter from
Grosvenor Square, p. 197
159 “Os japoneses zeram”: Harriman e Abel, p. 113. “Vamos declarar guerra”:Winant,
A Letter from Grosvenor Square, p. 199. “Senhor Presidente”:Winston S. Churchill, The Grand
Alliance, p. 538. “exaltação”: David Reynolds, In Command of History, p. 264. “chegaram a
ensaiar”: Howland, p. 149. “Eles não se lamuriaram”:Winston S. Churchill, The Grand
Alliance, p. 538
160 “Ainda temos”: Seib, p. 156. “Ele estava noutro”: História Oral — Frances Perkins,
Columbia University. “Vocês não são capazes”: Gunther, p. 324
161 “Destruídos no solo”: Burns, p. 165. “a ideia parecia”: Sperber, p. 207. “O que você
pensou”: Cloud e Olson, p. 145
CAPÍTULO 9
162 “Parecia uma criança”: Moran, p. 10. “O Winston com quem eu convivia”: Ibid.,
p. 8
163 “uma das mais belas vistas”: Sir John Martin, Downing Street: The War Years (Londres:
Bloomsbury, 1991), p. 69. “com sua miríade”: Gerald Pawle, The War and Colonel Warden
(Nova York: Alfred A. Knopf, 1963), p. 138. “Aqui estamos”: Goodwin, p. 305. “calma
majestosa”: Martin Gilbert, Winston S. Churchill, Vol. 7, Road to Victory 1941-1945 (Boston:
Houghton Mifflin, 1986), p. 43. “um par de”: Meacham, p. 5. “Estar com eles”: Ibid. “se
mostrou sempre pleno”: Ibid., p. 157
164 “Pode-se quase sentir”: Moran, p. 21. “julgando-se um Sir Walter Raleigh”:
Winston S. Churchill, The Grand Alliance, p. 558. “jogou fora ”: Sherwood, p. 437. “a mais
completa”: Dimbleby e Reynolds, p. 152
165 “Os Estados Unidos”: David Reynolds, The Creation of the Anglo-American Alliance, p.
11. “Nunca vi”: Mark Perry, Partners in Command: George Marshall and Dwight Eisenhower in
War and Peace (Nova York: Penguin, 2007), p. 54. “ caram apinhados”: Brinkley, p. 91
166 “Jamais tinha visto”: Alex Danchev, “Very Special Relationship: Field Marshal Sir John
Dill and General George Marshall,” ensaio da Marshall Foundation, 1984. “Não posso
entender”: Danchev e Todman, eds., p. 216
167 “Como é típico”: Sir Frederick Morgan, Overture to Overlord (Garden City,
N.Y.:Doubleday, 1950), p. 25. “Poder-se-ia até”: Danchev e Todman, eds., p. 275. “Vínhamos
sofrendo”: Sir Frederick Morgan, p. 26
168 “Para Marshall”: Stanley Weintraub, 15 Stars: Eisenhower, MacArthur, Marshall: Three
Generals Who Saved the American Century (Nova York: Free Press, 2007), p. 33. “demasiado”:
Perry, p. 50. “Nem mesmo o Presidente”: D'Este, p. 259
169 “um grande homem”: Danchev e Todman, eds., p. 247. “Foi quase consenso”:
Arthur Bryant, The Turn of the Tide (Garden City, Nova York: Doubleday, 1957), p. 6. “Percebi
que”: Danchev e Todman, eds., p. 249
170 “Demasiadamente convencido”: Ibid., p. 246. “Em muitos aspectos”: Ibid., p. 249.
“apesar de ser”: Sherwood, p. 523. “Durante toda a”: Calder, p. 265. “Parecemos perder”:
Gilbert, Road to Victory, p. 68. “o maior desastre”: Sherwood, p. 501
171 “Derrota é uma coisa”: Winston S. Churchill, The Hinge of Fate (Boston: Houghton
Mifflin, 1950), p. 383. “Ouve-se (.) gente”: Mollie Panter-Downes, London War Notes, 1939-
1945 (Nova York: Farrar, Straus & Giroux, 1971), p. 205. “Durante todo o meu tempo”:
Thompson, p. 263
172 “muito baixo-astral”: Soames, p. 415. “o massacre”: Sherwood, p. 498. “Terrível”:
Moran, p. 38. “Simplesmente não podemos”: Nicolson, p. 196
173 “malicioso prazer”: Juliet Gardiner, “Overpaid, Oversexed, and Over Here”: The
American GI in World War II Britain (Nova York: Canopy, 1992), p. 32. “os americanos
deveriam”: Ibid., p. 33. “causou uma”: Ritchie, pp. 127-28. “Falando em termos gerais”:
David Reynolds, Rich Relations, p. 38. “As sementes da discórdia”: Rick Atkinson, An Army at
Dawn: The War in North Africa, 1942-1943 (Nova York: Henry Holt, 2002), p. 478.
“Provavelmente, nem um só”: Longmate, The G.I.'s, p. 2
174 “Recebi tantos”: David Reynolds, Rich Relations, p. 36. “mistura de escravos”:
Longmate, The G.I.'s, p. 27. “Você é do”: Robert S. Arbib, Here We Are Together: The Notebook of
an American Soldier in Britain (Londres: Right Book Club, 1947), p. 79“Espero que vocês
ajudem”: Times (Londres), 22 de julho de 1941, documentos de Winant, FDRL. “queria que o
povo inglês”: Wallace Carroll, Persuade or Perish (Boston: Houghton Mifflin, 1948), p. 134
175 “Concentramo-nos no emprego”: Ibid., p. 135. “os jornais ingleses”: New York
Times, 21 de abril de 1943. “Eu gostaria de passar”: Janet Murrow para os pais, 28 de fevereiro
de 1943, documentos de Murrow, Mount Holyoke. “um surpreendente novo”: Joseph P. Lash,
From the Diaries of Felix Frankfurter (Nova York: W. W. Norton, 1975), p. 159
176 “um povo opressor”: Ibid., p. 147. “o conhecimento factual”: David Reynolds, Rich
Relations, p. 34. “intenso”: Nicolson, p. 226. “Em termos pessoais”: Murrow para Harry
Hopkins, sem data, documentos de Hopkins, FDRL
177 “Nos conheceremos melhor”: R. Franklin Smith, p. 60. “curso intensivo”: Sperber,
p. 190. “Mais tarde”: Ibid. “a vigorosa crítica”: Ibid. “Franqueza e honestidade”: R.
Franklin Smith, p. 60
CAPÍTULO 10

 
178 “An Englishman”: David Reynolds, Rich Relations, p. 114. “um ar de quase
frenética”: Kay Summersby Morgan, Past Forgetting: My Love A air with Dwight D. Eisenhower
(Nova York: Simon & Schuster, 1975), p. 45
179 “a visão de”: New York Times Magazine, 1º de novembro de 1942. “Quinta Avenida
em miniatura”: Mrs Robert Henrey, The Incredible City (Londres: J. M. Dent & Sons, 1944), p.
39. “clube de milionários”: Daily Telegraph, 6 de julho de 1942, documentos de Winant,
FDRL. “Não houve alfaiate”: Henrey, The Incredible City, p. 40
180 “Senhores,”: David Reynolds, Rich Relations, p. 95. “É inquestionável”: D'Este, p. 37.
“O que mais ele temia”: Ibid., p. 91. “Faz-me sentir”: Kay Summersby Morgan, p. 44
181 “A despeito de ser”: Ibid., p. 36. “Creio que minha pressão”: Ibid. “A nal de
contas”: Harry Butcher, My Three Years with Eisenhower (Nova York: Simon & Schuster, 1946),
p. 6. “Desde o início”: Ismay, p. 258. “experimentava di culdade”: Butcher, p. 6
182 “pessoalmente”: Ibid., p. 36. “outro dos”: entrevista com Dwight D. Eisenhower,
documentos de Bellush, FDRL. “era então um grande”: New York Herald Tribune, 14 de julho
de 1942, documentos de Winant, FDRL
183 “exercia um misterioso”: Wallace Carroll, carta para o Washington Post, sem data,
documentos de Winant, FDRL. “Todos com quem”: New York Herald Tribune, 14 de julho de
1942, documentos de Winant, FDRL
184 “Muitos de nós”: Acheson, p. 38. “para averiguar se”: New York Herald Tribune, 14 de
julho de 1942, documentos de Winant, FDRL. “Averell enfraqueceu”: Abramson, p. 303
185 “mariposa”: William Standley, Admiral Ambassador to Russia (Chicago: Regnery, 1955),
p. 213. “Vez por outra”: Abramson, p. 340. “Creio que eu poderia”: entrevista de Harriman
com Elie Abel, documentos de Harriman, LC. “Ele não é bom escritor”: Kathleen Harriman
para Mary Fisk, 21 de novembro de 1941, documentos de Harriman, LC
186 “Winant estava muito incomodado”: entrevista de Harriman com Elie Abel,
documentos de Harriman, LC. “Roosevelt sempre tomava”: Gunther, p. 51. “se
encontrassem uma vez”: Howland, p. 272
187 “calamidade política”: Reston, p. 112. “há muito pouca”: entrevista com Eileen
Mason, documentos de Bellush, FDRL. “Você está realizando”: FDR para Winant, 31 de
outubro de 1942, Arquivo da Secretaria do Presidente, FDRL. “Dei a Harriman”: Leutze, ed.,
p. 353
188 “ser cuidadoso”: Abramson, p. 304. “Eu conhecia”: Eleanor Roosevelt, p. 263.
“sentimento de inadequação”: Ibid. “um país que derramara”: Ibid., p. 190
189 “dava pouca atenção”: Ibid., p. 266. “Ele considerava”: entrevista com Jacob Beam,
documentos de Bellush, FDRL. “Ele carregava nos ombros”: entrevista com Theodore
Achilles, documentos de Bellush, FDRL. “Se você arriar”: David Gray para Winant, 24 de
novembro de 1942, Winant/documentos do Departamento de Estado, National Archives. “muito
dedicado”: Anthony Eden, The Reckoning (Boston: Houghton Mifflin, 1965), p. 295. “um dos
melhores que”:Winant, A Letter from Grosvenor Square, p. 64
190 “Falta-me ousadia”: Olson, Troublesome Young Men, p. 99. “Nunca conheci
ninguém”: Winant, A Letter from Grosvenor Square, p. 67
191 “Neste exato momento”: Sarah Churchill, Keep on Dancing, p. 111. “caso de amor”:
Ibid., p. 159
CAPÍTULO 11
192 “Ele possuía inusitado”: entrevista com T.T. Scott, documentos de Bellush, FDRL
193 “Os três pareceram se entender”: Arthur Jenkins, “John Winant: An Englishman's
Estimate,” Christian Science Monitor, 9 de setembro de 1944, documentos de Winant, FDRL.
“Caso se estivesse”: Carroll, p. 134. “era tão essencial”: Juliet Gardiner, Wartime Britain, 1939-
1945 (Londres: Headline, 2004), p. 430. “mais pareciam o trabalho”: Calder, p. 443
194 “Tudo, com exceção”: Jose Harris, “Great Britain: The People's War?,” em David
Reynolds, Warren F. Kimball e A. O. Chubarian, eds., Allies at War: The Soviet, American and
British Experience, 1939-1945 (Nova York: St. Martin's, 1994), p. 238. “tornou-se tão
apertado”: Calder, pp. 323-24
195 “odiar, com o senso”: Sevareid, p. 480. “o que iriam comer”: Ziegler, p. 262. “Essas
Ilhas Britânicas”: Eleanor Roosevelt, p. 274. “Quais são os objetivos”: Kendrick, p. 222.
“Tem de haver”: Sperber, p. 184
196 “Nós conversávamos”: Sevareid, pp. 173-74. “Para Winston”: Moran, p. 139. “velho
e benevolente”: Paul Addison, “Churchill and Social Reform,” em Robert Blake e William
Roger Louis, eds., Churchill (Nova York: W. W. Norton, 1993), p. 77. “Ele nunca andou de
ônibus”: Moran, p. 301
197 “Em Mr. Churchill”: Olson, Troublesome Young Men, p. 264. “Essa é a vossa vitória”:
Olson e Cloud, p. 392. “para comprar o pesado”: Panter-Downes, p. 253
198 “um parlapatão”: Paul Addison, “Churchill and Social Reform,” em Blake e Louis, eds.,
p. 72. “Quando a guerra”: New York Times, 7 de fevereiro de 1941. “sem as mazelas”: Shirer,
p. 505. “Existe uma profunda”: Winant, Our Greatest Harvest, p. 22. “a se concentrarem”:
The Star, 3 de fevereiro de 1941
199 “requer não apenas”: Bellush, p. 183. “Vocês, que sofreram”: Winant, Our Greatest
Harvest, p. 56
200 “Achamos, Sir”: Daily Express, 8 de junho de 1942. “Winant fala”: Ibid. “uma nova e
maior”: Daily Herald, 8 de junho de 1942, documentos de Winant, FDRL. “um dos maiores”:
Manchester Guardian, 8 de junho de, 1942, documentos de Winant, FDRL
CAPÍTULO 12
202 “o mais negro”: Sherwood, p. 648
203 “Apenas com grande esforço”: Mark Stoler, “The United States: the Global Strategy,”
em David Reynolds e outros., eds., Allies at War, p. 67. “Juro lutar”: Antony Beevor e Artemis
Cooper, Paris After the Liberation, 1944-1949 (Nova York: Doubleday, 1994), p. 13
204 “não importa quão”: Sherwood, p. 629. “Considero-me”: Atkinson, p. 27. “onde
nenhuma”: Dwight D. Eisenhower, Crusade in Europe (Garden City, N.Y.: Doubleday, 1948), p.
72. “pessoal altamente treinado”: Ismay, p. 120. “Ainda vivíamos”: Dwight D. Eisenhower,
p. 77
205 “missão bizarra”: Burns, p. 285. “fui saturado”: Dwight D. Eisenhower, p.89
206 “maravilhoso charme”: Bryant, The Turn of the Tide, p. 431. “tinha apenas a mais
vaga”: Ibid. “totalmente sincero”: Atkinson, p. 59. “um entendimento comparável”: Perry,
p. 191. “Essa foi a fórmula”: Carroll, p. 12. “pertencessem a uma só”: Dwight D.
Eisenhower, p. 76
207“não entendeu”: Sir Frederick Morgan, p. 17. “atitude de um”: Dwight D.
Eisenhower, p. 76. “supostamente a considerando”:Ibid., p. 90. “Os ingleses não eram”:
Butcher, p. 239. “Está bastante claro”: David Irving, The War Between the Generals: Inside the
Allied High Command (Nova York: Congdon & Lattes, 1981), p. 55.“invadir um país neutro”:
Dwight D. Eisenhower, p. 88. “um pacote de três estrelas”: Kay Summersby Morgan, p. 47
208 “Ele envelheceu”: Perry, p. 125. “os homens vagavam”: Atkinson, p. 144. “Só
podemos nos”: Joseph Persico, Roosevelt's Secret War: FDR and World War II Espionage (Nova
York: Random House, 2001), p. 210
209 “com bandas de música”: Atkinson, p. 141. “tanto os o ciais quanto”: Ibid., p. 144.
“Até onde eu podia divisar”: Ibid. “não causou efeito algum”: Dwight D. Eisenhower, p.
104. “nem remotamente”: Sherwood, p. 652
210 “Para as duas nações”: Merle Miller, Ike the Soldier: As They Knew Him (Nova York:
Putnam's, 1987), p. 426. “a América fez”: Carroll, pp. 50-51. “um exército imaturo”:
Atkinson, p. 159. “não chegamos aqui”: Ibid., p. 198
211 “Perpetuamos e apoiamos”: Cloud e Olson, p. 161. “Não podemos fazer vista
grossa”: François Kersaudy, Churchill and DeGaulle (Nova York: Atheneum, 1982), p. 224.
“estão convencidos”: Panter-Downes, p. 252. “lua de mel acabou”: Carroll, p. 53. “Por mais
que o odeie”: Dwight D. Eisenhower, p. 105
212 “Desde 1776”: Winston Churchill, The Hinge of Fate, p. 638. “coisa que a ige”: Burns,
p. 297. “um expediente temporário”: Sherwood, p. 653. “Que diachos signi ca”: Milton S.
Eisenhower, The President Is Calling (Garden City, Nova York: Doubleday, 1974), p. 137
213 “não há nada na posição”: Kendrick, p. 254. “Trata-se de uma matéria”: Ibid.
“Ele, em momento algum”: Sperber, p. 223. “Você está pondo em risco”: Paul White para
Murrow, 27 de janeiro de 1943, documentos de Murrow, Mount Holyoke. “de nitivamente
perigosas”: telegrama para Murrow, 16 de novembro de 1942, documentos de Murrow, Mount
Holyoke. “Acredito que todos”: Murrow para destinatário não identi cado, 18 de novembro de
1942, documentos de Murrow, Mount Holyoke 214 “Os acontecimentos no norte da
África”: Murrow para Ted Church, 22 de janeiro de 1943, documentos de Murrow, Mount
Holyoke. “Os ingleses receiam”: Murrow para Ed Dakin, 6 de janeiro de 1943, documentos de
Murrow, Mount Holyoke. “Darlan estava lá”: Nicolson, p. 263. “Não importa que”:
Gunther, p. 331
215 “Giraud não foi”: Dwight D. Eisenhower, p. 129. “o norte da África”: Atkinson, p.
164. “O exército alemão”: Ibid., p. 261
216 “Os arrogantes”: Butcher, p. 268. “No que concerne à”: Atkinson, p. 471.
“vergonha”: Ibid., p. 477. “Eisenhower, como general”: Danchev e Todman, eds., p. 351. “A
melhor maneira”: Atkinson, p. 246
217 “estávamos alçando”: Danchev e Todman, eds., p. 365. “frágeis, verdes”: Atkinson, p.
377. “Como ele detesta os ingleses”: Irving, p. 15. “mesquinhas e insultuosas”: Perry, p.
174. “É melhor combater”: Ibid.
218 “Nos seus atuais”: Butcher, p. 274. “Uma das constantes”: Merle Miller, p. 459.
“como um americano”: Atkinson, p. 467. “sem mesmo uma”: Ibid. “Ike é mais inglês”:
Ibid. “estar muito próximo” Irving, p. 63. “Meu Deus, como eu gostaria”: Atkinson, p.
523. “Seu espírito combativo”: Ibid., p. 461. “O exército americano”: Ibid., p. 415
219 “parecesse desempenhar”: Ibid., p. 481. “a marcante queda”: Ibid., p. 482. “um
continente”: Winston S. Churchill, The Hinge of Fate, p. 780. “proporcionou uma
oportunidade”: Atkinson, p. 538. “Alan Brooke”: Perry, p. 110
220 “os ingleses têm um plano”: Burns, p. 315. “água mole”: Atkinson, p. 270. “Uma
coisa”: Merle Miller, p. 454
221 “Eles enxameavam”: Atkinson, p. 289. “Nossas ideias”: Bryant, The Turn of the Tide,
p. 459
222 “nenhum militar”: Atkinson, p. 533. “Antes de ele partir”: Ibid. “Um dos
deslumbramentos”: Ibid. “Valha-me Deus”: Ibid., p. 466. “Eisenhower foi
provavelmente”: Merle Miller, p. 372. “Onde ele se destacou”: Danchev e Todman, eds., p.
351
CAPÍTULO 13
224 “Para atravessar o Canal”: Erik Hazelhoff, Soldier of Orange (Londres: Sphere, 1982), p.
42. “todos aqueles heróis”: Eve Curie, Journey Among Warriors (Garden City, N.Y.: Doubleday,
1943), p. 481. “nadar na maré”: Ritchie, p. 59
225 “os ministros recebem”: A.J. Liebling, The Road Back to Paris (Garden City, N.Y.:
Doubleday, 1944), p. 148. “Sem levar em conta”: Erik Hazelhoff, In Pursuit of Life (Phoenix
Mill, Reino Unido: Sutton, 2003), p. 110. “a moçada glamorosa”: Olson e Cloud, p. 169
226 “Quanto às mulheres”: Ibid., p. 178. “A ocupação caíra”: Hazelhoff, Soldier of
Orange, p. 38. “Eu enlouqueceria”: BBC ouvindo avaliação da Tchecoslováquia, setembro de
1941, BBC Archives 227 “É impossível”: Tangye Lean, Voices in the Darkness: The Story of the
European Radio War (Londres: Secker & Warburg, 1943), p. 149. “quase embriagada”: Henrey,
The Incredible City, p. 2. “Se a Polônia”: Olson e Cloud, p. 5
229 “o melhor do mundo”: Christopher M. Andrew, Her Majesty's Secret Service: The
Making of the British Intelligence Community (Nova York: Viking, 1986), p. 448
230 “Os polacos tinham”: Douglas Dodds-Parker, Setting Europe Ablaze (Windlesham,
Surrey: Springwood, 1983), p. 40. “Caso se viva entre”: Anthony Read e David Fisher, Colonel
X: The Secret Life of a Master of Spies (Londres: Hodder & Stoughton, 1984), p. 278
231 “Chegamos a Londres”: William Casey, The Secret War Against Hitler (Nova York:
Berkley, 1989), p. 37. “Lembro-me muito bem”: Ibid., pp. 24-25. “A verdade é que”:
Nelson D. Lankford, OSS Against the Reich: The World War II Diaries of Col. David K. E. Bruce
(Kent, Ohio: Kent State University Press, 1991), p. 125
232 “inestimável valor”: Dwight D. Eisenhower, p. 262
233 “A Inglaterra não solicita”: Olson e Cloud, p. 96. “Devemos vencer juntos”: Ibid.,
p. 90. “O senhor está sozinho”: Kersaudy, p. 83. “líder de todos”: Ibid.
234 “As Nações Unidas”: radiodifusão nacional de FDR, 23 de fevereiro de 1942, FDRL.
“Winston, esquecemos o rei Zog!”: Meacham, p. 164
235 “falava em idealismo”: Arthur M. Schlesinger Jr., “FDR's Internationalism,” em
Cornelis van Minnen e John F. Sears, eds., FDR and His Contemporaries: Foreign Perceptions of an
American President (Nova York: St. Martin's, 1992), p. 15. “não tinham pleitos”: Valentin
Berezhkov, “Stalin and FDR,” em ibid., p.50. “Ele permitia”: Lord Chandos, The Memoirs of
Lord Chandos (Nova York: New American Library, 1963), pp. 296-97. “não podiam viver”:
Ibid., p. 297
236 “Servi-me de água”: Eden, p. 432. “Roosevelt conhecia”: Ibid., p. 433. “uma
espécie de semideus”: Olson e Cloud, p. 241. “Existe um grande temor”: Murrow para Ed
Dakin, 6 de janeiro de 1943, documentos de Murrow, Mount Holyoke. “Qual será”: Carroll, p.
72. “produzira violentas”: Kersaudy, p. 225
237 “positivamente exagera”: Moran, pp. 97-98. “numa posição horrivelmente”: Ismay,
p. 356. “Aproximar-se”: Jean Lacouture, De Gaulle: The Rebel, 1890-1944 (Nova York: W. W.
Norton, 1990), p. 265
238 “Não sou subordinado”: Ibid., p. 267. “Você pensa”: Kersaudy, p. 138. “O senhor
pode estar certo”: Ibid., p. 210. “É quase a única coisa”: de Gaulle para Pamela Churchill,
sem data, documentos de Pamela Harriman, LC
239 “a França havia fracassado”: Claude Fohlen, “De Gaulle and FDR,” em van
Minnen e Sears, eds., p. 42. “Ele se toma por”: Lacouture, p. 335. “convencido”: Carroll, p.
103. “Roosevelt queria”: Jean Edward Smith, p. 567. “falava sobre o império”: Gunther, p.
54
240 “Entre Giraud e de Gaulle”: Nicolson, p. 294. “vem minando”: Kersaudy, p. 288.
“Sempre que tivermos”: Lacouture, p. 521
241 “esse vaidoso”: Kersaudy, p.275. “não só”: Ibid., p. 279. “em termos de ordens”:
Dwight D. Eisenhower, p. 137. “Pareceu”: Carroll, p. 308
242 “praticados em”: R. Harris Smith, OSS: The Secret History of America's First Central
Intelligence Agency (Berkeley: University of California Press, 1972), p. 31. “em todos os
momentos”: Carroll, p. 106. “diplomata”: Charles de Gaulle, The Complete War Memoirs of
Charles de Gaulle (Nova York: Carroll & Graf, 1998), p. 220. “esplêndido embaixador”: Ibid.,
p. 310. “Quem está salvando”: Carroll, p. 107. “Não creio que”: Ibid., p. 108
243 “estava em maus lençóis”: Howland, p. 268. “Estou chegando ao ponto”: Kersaudy,
p. 291
244 “Queira o senhor ou não”: Olson e Cloud, pp. 220-21. “tinha poder para”: Edward
Raczynski, In Allied London (Londres: Weidenfeld & Nicolson, 1963), p. 155. “A gravidade
crescente”: Olson e Cloud, p. 233. “ir à conferência de paz”: Ibid., p. 250
245 “acharam conveniente”: Max Hastings, Armageddon: The Battle for Germany, 1944-1945
(Nova York: Alfred A. Knopf, 2004), p. 508
CAPÍTULO 14
246 “uma cabeça humana”: Hemingway, p. 109. “Creio que nem elessabem”: Calder, p.
321. “Muitas vezes”: Maureen Waller, London 1945: Life in the Debris of War (Londres: Griffin,
2006), p. 163. “Toda a ilha”: Hemingway, p. 108. “É difícil entender”: Theodora FitzGibbon,
With Love: An Autobiography, 1938-1946(Londres: Pan, 1983), p. 170
247 “cada dia era”: Longmate, The Home Front, p. 160. “Quase não há”: Janet Murrow
para os pais, 16 de maio de 1943, documentos de Murrow, Mount Holyoke. “Creio que seria
mais fácil”: Edwin R. Hale e John Frayn Turner, The Yanks Are Coming (Nova York:
Hippocrene, 1983), p. 56
248 “Nenhuma guerra”: David Reynolds e outros., eds., Allies at War, p. xvi. “Havia
dinheiro”: Sevareid, p. 214
249 “uma igualdade de sacrifício”: Goodwin, p. 339. “Além da atmosfera”: Tania Long,
“Home-After London,” New York Times, 3 de outubro de 1943
250 “A maioria dos aspectos”: História Oral — Frances Perkins, Columbia University. “O
povo americano”: Sherwood, p. 547. “Seria realmente bom”: Robert Dallek, Franklin D.
Roosevelt and American Foreign Policy, 1932-1945 (Nova York: Oxford University Press, 1979), p.
440. “Os próprios homens”: Goodwin, p. 357. “parecia desligada”: Sevareid, p. 193
251 “menos entendimento”: Brinkley, p. 106. “pessoas in uentes...”: Ibid., p.142. “onde
os modos”: Mary Lee Settle, All the Brave Promises: Memories of Aircraft Woman 2nd Class
214639 (Columbia: University of South Carolina Press, 1995), p. 3. “dá vontade”: Janet Murrow
para os pais, sem data, documentos de Murrow, Mount Holyoke 252 “Fazia muito sentido”:
Harriman para Harry Hopkins, 7 de março de 1942, documentos de Harriman, LC. “comprou
um belo vestido”: Kathleen Harriman para Marie Harriman, 3 de fevereiro de 1942,
documentos de Harriman, LC. “É divertido”: Kathleen Harriman para Marie Harriman, sem
data, documentos de Harriman, LC
253 “Londres era uma”: Arbib, p. 85. “o mais ágil grupo”: Harrison Salisbury, A Journey
for Our Times: AMemoir (Nova York: Harper & Row, 1983), p. 179. “com o sentimento de
que”: Nelson D. Lankford, The Last American Aristocrat: The Biography of David K. E. Bruce
(Boston: Little, Brown, 1996), p. 64
254 “farta autoestima”: Ibid., p. 63. “era um dos poucos”: E.J. Kahn Jr., “Pro les: Man of
Means-I,” New Yorker, 11 de agosto de 1951. “a mais elaborada”: Ibid.
255 “a vida nunca foi”: Sally Bedell Smith, In All His Glory, p. 225. “O cara era
corajoso”: Jan Herman, A Talent for Trouble: William Wyler (Nova York: Putnam's, 1995), p. 255
256 “propaganda do mesmo valor”: Ibid., p. 235. “Eu era favorável”: Ibid., p. 234.
“apenas arranhou”: Ibid., p. 237. “uma escapadapara”: Ibid., p. 278. “irreal, um palco”:
Mary Lee Settle, “London-1944,” The Virginia Quarterly Review, outono de 1987
257 “Éramos jovens”: Settle, All the Brave Promises, p. 1. “Foi meu primeiro contato”:
Ibid., p. 19
258 “manto de privilégios”: Mary Lee Settle, Learning to Fly: A Writer's Memoir (Nova
York: W. W. Norton, 2007), p. 99. “Eu havia experimentado”: Mary Lee Settle, “London-
1944,” The Virginia Quarterly Review, outono de 1987. “um vasinho de porcelana”: Settle,
Learning to Fly, p. 97. “Éramos relativamente”: Abramson, p. 316
259 “Foi uma guerra terrível”: entrevista de Pamela Harriman com Christopher Ogden,
documentos de Pamela Harriman, LC. “O casal foi descoberto”: Sally Bedell Smith, Re ected
Glory, p. 100. “debaixo do próprio teto”: Abramson, p. 316. “Ele usou palavras”: Sally
Bedell Smith, Re ected Glory, p. 106. “que poderia causar”: entrevista de Pamela Harriman
com Christopher Ogden, documentos de Pamela Harriman, LC. “Mantenha seus casos”:
Ogden, p. 146
260 “Ave não podia”: Sally Bedell Smith, Re ected Glory, p. 108. “Meu lho ainda”:
Pamela Churchill para FDR, julho de 1942, documentos de Pamela Harriman, LC. “A menos
que se fosse”: Ogden, p. 173. “podiam escapar da”: Sally Bedell Smith, Re ected Glory, p.
122. “Oh, as informações”: Ibid., p. 145
261 “não querem que”: notas de Sevareid, sem data 1944, documentos de Sevareid, LC. “A
guerra é exatamente”: William Bradford Huie, The Americanization of Emily (Nova York:
Signet, 1959), p. 37. “A aviação”: Kay Summersby Morgan, p. 33. “Era o astral daqueles”:
Sally Bedell Smith, Re ected Glory, p. 115. “Bem, eu nunca vi”: D'Este, p. 489. “A guerra foi
um”: Kay Summersby Morgan, p. 76
262 “Não tínhamos a mesma”: Irving, p. 14. “Na minha vida”: entrevista de Pamela
Harriman com Christopher Ogden, documentos de Pamela Harriman, LC. “perguntava muito
a ela”: Sally Bedell Smith, Re ected Glory, p. 113
263 “Penso em você”: Sir Charles Portal para Pamela Churchill, sem data, documentos de
Pamela Harriman, LC. “Muitas pessoas se”: entrevista de Pamela Harriman com Christopher
Ogden, documentos de Pamela Harriman, LC. “seguiam a política do Presidente”:
Abramson, p. 345. “Uma grande quantidade”: Harriman e Abel, p. 220
264 “Tenho certeza”: Ibid., p. 219. “Aquele foi um dia triste”: entrevista de Pamela
Harriman com Christopher Ogden, documentos de Pamela Harriman, LC. “Durante todos”:
Ibid. “chorei no ombro de Ed”: Ibid. “Acho que ela concluiu”: Sally Bedell Smith, Re ected
Glory, p. 119. “Ed foi nocauteado”: Persico, Edward R. Murrow, p. 217
265 “sua privacidade”: “Edward R. Murrow,” Scribner's, dezembro de 1938. “Ed muito
seco”: Persico, Edward R. Murrow, p. 138. “Não queriam deixar”: entrevista do autor com
Janet Murrow. “Odeio ver Ed”: diário de Janet Murrow, 16 de fevereiro de 1940, documentos de
Murrow, Mount Holyoke. “Sombrio, dia sombrio”: diário de Janet Murrow, 17 de fevereiro de
1941, documentos de Murrow, Mount Holyoke. “um homem brando, afável”: Persico,
Edward R. Murrow, p. 186. “Sinto mais falta dele”: diário de Janet Murrow, 26 de julho de
1941, documentos de Murrow, Mount Holyoke 266 “Sei que eles tinham”: Sally Bedell Smith,
Re ected Glory, p. 119. “Ed era um poço”: entrevista de Pamela Harriman com Christopher
Ogden, documentos de Pamela Harriman, LC. “Averell”: Ibid. “um fantoche”: entrevista de
Harriman com Elie Abel, documentos de Harriman, LC. “Você foi estragada”: entrevista de
Pamela Harriman com Christopher Ogden, documentos de Pamela Harriman, LC
267 “Ele era totalmente diferente”: Ibid. “Ele amava muito Janet”: Sperber, p. 244
CAPÍTULO 15
268 “em meu panteão”: Andrew Turnbull, ed., The Letters of F. Scott Fitzgerald (Nova York:
Scribner, 1963), p. 49. “empolgando a imaginação”: “Hitchcock Killed in Crash in Britain,”
New York Times, 20 de abril de 1944. “Havia uma espécie”: Sarah Ballard, “Polo Player Tommy
Hitchcock Led a Life of Action from Beginning to End,” Sports Illustrated, 3 de novembro de
1986
269 “A maioria dos cidadãos”: “Centaur,” Time, 1º de maio de 1944. “Por vezes, ele
fazia coisas”: Aldrich, p. 132. “Ele não possuía um só”: Sports Illustrated, 3 de novembro de
1986. “Não houve jogador”: Ibid 270 “Tommy Barban era”: F. Scott Fitzgerald, Tender Is the
Night (Londres: Wordsworth, 1994), p. 167
271 “O polo é estimulante”: New York Times, 20 de abril de 1944. “ele era um piloto de
caça”: Aldrich, p. 125. “Como você pode car sentado”: Ibid., p. 132. “conhecer mais
gente”: Ibid., p. 266
272 “Há uma coisa”: Donald L. Miller, p. 5
274 “Simplesmente fechamos”: Ibid., p. 42. “o importante (.) era”: Salisbury, p. 197.
“peões”: Donald L. Miller, p. 106
275 “Parecia”: Ibid., p. 48
276 “como atividade dinâmica”: Salisbury, p. 195. “como um dos melhores”: Andy
Rooney, My War (Nova York: Times Books,1995), p. 136
277 “Nos julgávamos”: Donald L. Miller, p. 64. “É o mesmo que dirigir”: McCrary e
Scherman, pp. 38-39. “missões suicidas”: Donald L. Miller, p. 24 “tão grandes”: Ibid., p. 69.
“comunicados grosseiramente”: Ibid, p. 120
278 “Voar na 8ª Força Aérea”: Salisbury, p. 196. “Existem, aparentemente”: Donald L.
Miller, p. 93. “as bases de bombardeiros”: Ibid., p. 127
279 “Com o aprofundamento”: Ibid., p. 124. “Minha mensagem pessoal”: Irving, p. 72
280 “Naqueles dias”: McCrary e Scherman, pp. 227-28. “Desde que cheguei aqui”:
Winant para FDR, 12 de janeiro de 1942, Arquivo da Secretaria do Presidente, FDRL
281 “era a coisa mais pura”: McCrary e Scherman, p. 228. “a aeronave que a 'Má a
dos Bombardeiros'”: Donald L. Miller, p. 253. “produziria o melhor”: Aldrich, p. 275.
“Gerado por pai inglês”: palestra de William R. Emerson, de 1962, no Harmon Memorial,
Academia da Força Aérea dos EUA 282 “Olhe aqui, Tio Tommy”: Aldrich, p. 278. “foi
incansável”: entrevista com Theodore Achilles, documentos de Bellush, FDRL. “Tanto canais
como não”: Aldrich, p. 278
283 “Suas mãos estavam”: James Parton, “Air Force Spoken Here”: General Ira Eaker and the
Command of the Air (Bethesda, Md.: Adler & Adler, 1986), p. 279. “pecou pela quase total”:
Donald L. Miller, p. 183
284 “Começou a parecer”: Parton, p. 277. “tentavam encontrar”: Ibid. p. 186. “a
Verdun da 8ª Força Aérea”: Aldrich, p. 284
285 “fora literalmente”: Donald L. Miller, p. 200. “um golpe catastró co”: Ibid., p. 201.
“a maior concentração”: Ibid., p. 16
286 “profundo senso”: Daily Express, 12 de outubro de 1943, documentos de Winant,
FDRL.
287 “Coube a mim”: Donald L. Miller, p. 252. “sobre a Alemanha”: Paul A. Ludwig,
Mustang: Development of the P-51 Long-Range Escort Fighter (Hersham, Surrey: Classic Publications,
2003), p. 1. “por erro da própria”: Donald L. Miller, p. 254. “A saga do P-51”: Ludwig, p. 2
288 “um dos erros mais”: Donald L. Miller, p. 253. “independentemente do custo”:
Ibid., p. 265. “por Deus, [as tripulações]”: Ibid, p. 266
289 “Coronel”: Ibid., p. 279. “O álccol era”: Ibid. “A guerra de desgaste”: Ibid., p. 276.
“A primeira vez”: Ibid., p. 267
290 “de nossa incapacidade”: Ibid., pp. 291-92. “Se vocês virem”: Ibid., p. 259.
“Tommy Hitchcock”: Aldrich, p. 283. “a tenacidade”: McCrary e Scherman, p. 228. “A vida
em Londres”: Aldrich, p. 276. “Combater num Mustang”: McCrary e Scherman, p. 231
291 “A quantidade de trabalho”: Aldrich, p. 292. “De repente, tive”: Ibid., p. 294.
“Tommy Hitchcock tinha”: Ibid., p. 296
292 “está se saindo”: Ibid., p. 298. “simplesmente mergulhando”: Ibid.
293 “colocou ponto nal”: “Hitchcock Killed in Crash in Britain,” New York Times, 20 de
abril de 1944. “passou cada minuto”: carta de Winant para Margaret Hitchcock, 23 de abril
de1944, documentos de Winant, FDRL
CAPÍTULO 16
294 “A velha Inglaterra: Juliet Gardiner, “Overpaid, Oversexed, and Over Here,” p. 339. “Não
existe”: Irving, p. 8. “na maior base”: Dwight D. Eisenhower, p. 49. “Foi como se o
Atlântico ”: Mrs Robert Henrey, The Siege of London (Londres: J. M. Dent & Sons, 1946), p. 45
296 “tomada — de porteira”: Ziegler, p. 215. “um inglês causaria”: Ernie Pyle, Brave
Men (Nova York: Grosset & Dunlap, 1944), p. 316. “Todos cumprimentavam”: Ibid., p. 317.
“demonstrassem o devido”: Longmate, The G.I.'s, p. 113. “fervilhante e ruidoso”: Arbib, p.
85
297 “um dos lugares mais”: Donald L. Miller, p. 216. “A convivência”: Hale e Turner, p.
152. “viviam inacreditavelmente”: Donald L. Miller, p. 217. “Creio que muitas”: Irving, p.
8. “reação dos GIs”: entrevista de Theodore Achilles, documentos de Bellush, FDRL. “Todo
soldado americano”: Dwight D. Eisenhower, p. 57
298 “Os ingleses o receberão”: Longmate, The G.I.'s, p. 23. “uma extraordinária”:
entrevista com Anthony Eden, documentos de Bellush, FDRL. “Nenhum outro”: Alfred D.
Chandler, ed., The Papers of Dwight David Eisenhower: The War Years, Vol. I (Baltimore: Johns
Hopkins University Press, 1970), pp. 650-51
299 “A guerra”: Arbib, p. 19
300 “as indenizações foram”: David Reynolds, Rich Relations, p. 122. “métodos
autocráticos”: Ibid., p. 126. “nossos aliados”: Daily Express, 15 de dezembro de 1943,
documentos de Winant, FDRL. “Eles não desejaram vir”: Gardiner, “Overpaid, Oversexed, and
Over Here,” p. 32
301 “para nós”: Ibid. “como se fossem donos”: Margaret Mead, “A GI View of Britain,”
New York Times Magazine, 19 de março de 1944. “Nunca vimos”: Ibid., p. 54. “Esses homens
são combatentes”: Ibid. “A reação comum”: Longmate, The G.I.'s, p. 96
302 “Eu acho o país legal”: Hale e Turner, p. 24. “Desengonçados”: Nicolson, p. 275
303 “se um soldado americano”: Butcher, p. 14. “Essa é uma oportunidade”: David
Reynolds, Rich Relations, p. 159
304 “surpresos, ressentidos”: Janet Murrow para os pais, 24 de abril de 1943, documentos
de Murrow, Mount Holyoke. “Os homens que frequentam”: David Reynolds, Rich Relations,
p. 160
305 “As mulheres inglesas”: Butcher, p. 34. “Está bem”: Settle, All the Brave Promises, p.
90. “desencoraja deliberadamente”: David Reynolds, Rich Relations, p. 187. “O maior
perigo”: Ibid., p. 161
306 “Os soldados americanos”: Ibid., p. 148. “em milhares de mães”: Ibid., p. 149. “As
diferenças entre”: Dwight D. Eisenhower, p. 59. “a falta de entusiasmo”: Max Hastings, p.
193. “não existia uma solução”: Roosevelt para Winant, 10 de setembro de 1942, Arquivo da
Secretaria do Presidente, FDRL
307 “Eles podem ter”: Dimbleby e Reynolds, p. 164. “Os ianques”: Donald L. Miller, p.
138. “Aonde vocês forem”: Hale e Turner, p. 40. “Alguns daqueles irmãos”: Ibid. “Na
escuridão”: Ibid., p. 26. “eram selvagens, promíscuos”: Longmate, The G.I.'s, p. 157. “Existia
um núcleo”: Ibid.
308 “Tão bons quanto um tônico”: Ibid., p. 91. “A chegada”: Ibid. “era como
penetrar”: Ibid., p. 242. “Para a maioria do povo”: David Reynolds, Rich Relations, 218
309 “Saia daí”: Dimbleby e Reynolds, p. 163. “Fui testemunha”: Longmate, The G.I.'s,
129. “discriminação com respeito”: David Reynolds, Rich Relations, p. 224. “É
aconselhável”: Ibid., p. 226. “A política americana”: Longmate, The G.I.'s, p. 122. “A opinião
consensual”: David Reynolds, epígrafe de Rich Relations. “Não ligo muito para”: Ibid., p. 303
310 “A opinião”: Ibid., p. 304. “Isso tem cheiro”: Graham Smith, When Jim Crow Met John
Bull: Black American Soldiers in World War II Britain (Nova York: St. Martin's, 1988), p. 61.
“Somente para pessoas inglesas”: Ibid., p. 118. “eles estavam agora na Inglaterra”: Ibid.
“Os nacionais britânicos negros”: David Reynolds, Rich Relations, p. 306. 288 “Os soldados
de cor”: Graham Smith, p. 102
311 “abusos”: Persico, Edward R. Murrow, p. 199. “É verdade, sabe”: Ibid., p. 200. “Vamos
incluí-lo”: Ibid.
312 “Os soldados negros da América”: Graham Smith, p. 127
313 “se lembrar de qualquer”: David Reynolds, Rich Relations, p. 353. “um crescente
sentimento”: Ibid., p. 199. “com sua rmeza”: LaRue Brown, “John G. Winant,” Nation, 15
de novembro de 1947. “Mr. Winant, por favor!”: Stars and Stripes, 22 de julho de 1943.
“aquele gentil”: Bernard Bellush, “After 50 Years, a GI Heeds the Call of London,” Forward,
janeiro de 2001. “nada de ares”: Boston Globe, 5 de novembro de 1947
314 “Não era preciso muito tempo”: Arbib, p. 141. “ z refeições”: Ibid., p. 144. “Por
volta de 1943”: Longmate, The G.I.'s, p. 157
315 “Eles me adotaram”: “Dick Winters' Re ections,” www.wildbillguarnere.com
CAPÍTULO 17

 
316 “Nos últimos dezoito”: Colville, Footprints in Time, p. 141. “Cada vez mais”:
Dimbleby e Reynolds, p. 166. “Por muitos anos”: Sevareid, p. 484
317 “razões políticas”: Sherwood, p. 669. “Harry está seguro”: Moran, p. 131
318 “cintilante, impessoal”: Arthur Schlesinger Jr., “The Supreme Partnership,” Atlantic,
outubro de 1984. “era realmente incapaz”: Goodwin, p. 306. “um gentleman”: Meacham, p.
315. “todo o meu sistema”: David Reynolds, In Command of History, p. 414. “Qualquer coisa
que representasse”: Gilbert, Road to Victory, p. 89. “entendimento”: Geoffrey Ward, Closest
Companion: The Unknown Story of the Intimate Friendship Between Franklin Roosevelt and Margaret
Suckley (Boston: Houghton Mifflin, 1995), p. 162. “se mostrou à vontade”: Ibid. “adora o
Presidente”: Ibid., p. 230
319 “Roosevelt invejava”: Max Hastings, p. 5. “era propenso a ciúmes”: Meacham, p.
327. “Eles não tinham coisa”: Schlesinger, p. 575. “Cada um usou”: David K. Adams,
“Churchill and FDR: A Marriage of Convenience,” em van Minnen e Sears, eds., p. 32. “Temos
de deixar”: Elliott Roosevelt, pp. 24-25
320 “fez uma observação”: Kimball, Forged in War, p. 193. “De uma coisa”: Kathleen
Burk, Old World, New World: Great Britain and America from the Beginning (Nova York: Atlantic
Monthly Press, 2008), p. 504. “Se ele fosse inglês”: Matthews, p. 245. “que não se tornara”:
Dimbleby e Reynolds, p. 158
321 “Não quero ser grosseiro”: Clarke, p. 166. “A imagem que Roosevelt”: Justus D.
Doenecke e Mark A. Stoler, Debating Franklin D. Roosevelt's Foreign Policies, 1933-1945 (Lanham,
Md.: Rowman & Little eld, 2005), p. 9. “Os banqueiros alemães”: Elliott Roosevelt, p. 24
322 “A antipatia de Roosevelt”: Hitchens, p. 255. “é da mesma forma”: Burk, p. 383.
“atritos e mal-entendidos”: Howland, p. 143
323 “Deve ser lembrado”: Clarke, p. 25. “teríamos aceitado”: Ibid.
324 “Inclino-me por”: Danchev e Todman, eds., p. 466. “Nas fotos de jornais”: Brinkley,
p. 232. “Comecei a achar”: Danchev e Todman, eds., p. 535. “incapacidade para terminar”:
Olson e Cloud, p. 288. “Estou aos poucos”: Danchev e Todman, eds., p. 459
325 “exauridos demais”: Arthur Bryant, Triumph in the West (Garden City, Nova York:
Doubleday, 1959), p. 8. “infestada de doenças”: Ward, p. 250. “Não tenho conhecimento”:
Winant para FDR, 24 de setembro de 1943, Arquivos da Sala da Situação, FDRL
326 “essas coisas não causariam”: Winant para Hopkins, 16 de outubro de 1943, arquivos
de Hopkins, FDRL. “Sei exatamente”: Hopkins para Winant, 25 de outubro de 1943, arquivos
de Hopkins, FDRL. “Grandes famílias”: Burns, p. 405
327 “fazer Stalin”: Olson e Cloud, p. 292. “penetrado em sua natureza”: História Oral
— Frances Perkins, Columbia University. “Não creio que Roosevelt”: Charles E. Bohlen,
Witness to History, 1929-1969 (Nova York: W. W. Norton, 1973), p. 211. “um conhecimento
mais aprofundado”: Ibid, p. 210. “Vocês nos verão”: Moran, p. 160. “se esforçava para
melhorar”: Danchev e Todman, eds., p. 485. “como conduzir”: Abramson, p. 367. “Stalin já
pôs”: Moran, p. 163. “dar a impressão de que”: Olson e Cloud, p. 292. “não apenas
apoiava”: Bohlen, p. 146
328 “deveria ter defendido”: Ibid. “sempre gostou”: Harriman e Abel, p. 191. “Winston
está estranho”: Olson e Cloud, p. 292. “um erro fundamental”: Bohlen, p. 146. “exercício
infantil”: debate com Winston Churchill, Coudert Institute, Palm Beach, Flórida, 28 de março de
2008. “os ganhos imediatos”: Olson e Cloud, p. 295
329 “não se preocupava”: Ibid., p. 306. “Os Estados Unidos”: Valentin Berezhkov, “Stalin
and FDR,” em van Minnen e Sears, eds., p. 47. “não consegue deixar”: Moran, p. 279. “se
tornaram amigos de fato”: Olson e Cloud, p. 298
330 “Gente que conversou”: Kendrick, p. 258. “Parece que as pessoas querem”:
Murrow para Alfred Cohn, 29 de dezembro de 1943, documentos de Murrow, Mount Holyoke.
“vaga e mal de nida”: Kimball, Forged in War, p. 242
331 “cheia de perigos”: Doenecke e Stoler, p. 62. “adiar, evitar”: Ibid., p. 73. “rejeitou
sumariamente”: Olson e Cloud, p. 247
332 “bastante sensível”: David Reynolds, The Creation of the Anglo-American Alliance, pp.
253-54. “é acusado”: Winant para FDR, 4 de fevereiro de 1943, Arquivo da Secretaria do
Presidente, FDRL. “bastante envergonhado”: Howland, p. 318
333 “Tenho me preocupado”: Ibid., p. 326
CAPÍTULO 18
335 “ cou tão engarrafado”: Arbib, p. 202. “na sua maior parte”: Panter-Downs, p. 324.
“viver numa enorme”: Ibid., p. 322. “de ouvido colado”: Arbib, p. 205
336 “como um fazendeiro”: Settle, “London 1944,” The Virginia Quarterly Review, agosto
de 1987. “tornar possível o Dia-D”: Weintraub, p. 217. “incessantes embates”: Sir Frederick
Morgan, p. 41. “jamais houve”: Ibid., p. 49
337 “Todos se divertiram”: Ibid., p. 80. “Pelo amor de Deus”: Ibid., p. 72. “Dessa
forma”: Kay Summersby Morgan, p. 172. “criarampor m”: Longmate, The G.I.'s, p. 290.
“querido e respeitado”: Ibid., p. 116. “pôs-se deliberadamente”: Sir John Wheeler-Bennett,
Special Relationships: America in Peace and War (Londres: Macmillan, 1975), pp. 178-79
338 “consideravam Ike”: Longmate, The G.I.'s, p. 116. “o maior feito”: D'Este, p. 495.
“um desastre”: Sir Frederick Morgan, p. 279. “Juro por Deus”: Irving, p. 81
339 “partirmos para a França”: David Reynolds, Rich Relations, p. 357. “mais como
uma manobra”: Ibid., p. 365. “encarar a guerra”: Ibid. “uns trapos”: Danchev e Todman,
eds., p. 551. “Ele estava nervoso”: Kay Summersby Morgan, p. 182. “Nesta empreitada”:
Irving, p. 94
340 “Concluí que”: Pyle, Brave Men, p. 317. “se a Dog News”: Ibid., p. 318
341 “Tudo que aconteceu”: Sally Bedell Smith, In All His Glory, p. 216. “Acho que você
vai se sentir”: Caroline Moorehead, Gellhorn: ATwentieth-Century Life (Nova York: Henry Holt,
2003), p. 209. “Para mim”: Carlos Baker, Ernest Hemingway: A Life Story (Nova York: Scribner,
1967), pp. 392-93. “Em geral, elas”: Hemingway, p. 133
342 “Céus”: Cloud e Olson, p. 158
343 “Na noite passada”: Edward Bliss Jr., In Search of Light: The Broadcasts of Edward R.
Murrow, 1938-1961 (Nova York: Alfred A. Knopf, 1967), p. 76. “uma das mais admiráveis”: L.
M. Hastings para Murrow, 4 de dezembro de 1943, documentos de Murrow, Mount Holyoke.
“magní ca”: Arthur Christensen para Murrow, 4 de dezembro de 1943, documentos de Murrow,
Mount Holyoke. “Ed era bastante crítico”: entrevista de Pamela Harriman com Christopher
Ogden, documentos de Pamela Harriman, LC. “o amigo mais leal”: Kendrick, p. 262. “Meu
caro Ed”: Brendan Bracken para Murrow, 21 de dezembro de 1943, documentos de Murrow,
Mount Holyoke. “Acho que era um modo”: R. Franklin Smith, p. 45
344 “Era uma espécie de droga”: Ibid., p. 47. “uma ligação com a”: Ibid. “Três ou
quarto vezes em Londres”: Persico, Edward R. Murrow, p. 221. “Para redigir ou falar”:
Murrow para Remsen Bird, 31 de janeiro de 1944, documentos de Murrow, Mount Holyoke.
“fadiga e frustração”: Persico, Edward R. Murrow, p. 222. “Tentei convencê-lo”: Paley, p. 152
345 “Não mais uma terra”: Arbib, pp. 206-7. “Permanecemos de pé”: Longmate, The
G.I.'s, p. 298. “Boa sorte, volte”: Hale e Turner, p. 161. “Meu coração doía”: Longmate, The
G.I.'s, p. 310. “Tudo cou tão”: Gardiner, “Overpaid, Oversexed, and Over Here,” p. 211
346 “pareciam uma gigantesca”: Bliss, p. 81. “Em formação geométrica”: Gardiner,
“Overpaid, Oversexed, and Over Here,” p. 180. “A impressão que tínhamos”: Longmate, The
G.I.'s, p. 307. “Senhoras e senhores”: Gardiner, Wartime Britain, p. 544. “A igreja estava”:
Janet Murrow para os pais, 11 de junho de 1944, documentos de Murrow, Mount Holyoke.
“nossos lhos”: Burns, p. 476. “Salvo pelo barulho”: Pamela Churchill para Averell Harriman,
8 de junho de 1944, documentos de Pamela Harriman, LC
347 “Caminhando pelas ruas”: Kendrick, p. 269. “Havia uma espécie”: William Saroyan,
The Adventures of Wesley Jackson (Nova York: Harcourt, Brace, 1946), p. 258. “Podia-se sentir”:
Panter-Downes, p. 328. “Se eu tivesse que saltar”: Cloud e Olson, p. 204
348 “Nos velhos dias”: Henrey, The Siege of London, p. 72. “O homem que voltava de
noite”: Winston S. Churchill, Triumph and Tragedy (Boston: Houghton Mifflin, 1953), p. 39
349 “impessoais como”: Calder, p. 560. “Agora, vivemos”: Ziegler, p. 292. “A maioria
da gente”: David Reynolds, Rich Relations, p. 402. “Tenho medo”: Irving, p. 180
350 “com vozes a itas”: Dwight D. Eisenhower, p. 260. “Tivemos de aguentar”: Ziegler,
p. 299. “A imensa fadiga”: Panter-Downes, p. 350. “Como todo mundo”:Wheeler-Bennett,
Special Relationships, p. 189. “muito velho”: Danchev e Todman, eds., p. 544
351 “quão cansados”: Janet Murrow para os pais, 22 de junho de 1944, documentos de
Murrow, Mount Holyoke. “Olhe aqui (...)”: Sperber, p. 243. “Londres está deserta”:
Gardiner, Wartime Britain, p. 556
352 “Winston não fala mais”: Moran, pp. 185-86
353 “Winston odiava”: Danchev e Todman, eds., p. 473. “sendo mal empregadas”:
Meacham, p. 294. “Eu gostaria que o senhor”: Winant para FDR, 3 de julho de 1944,
arquivos da Sala da Situação, FDRL
354 “Só existe um nome”: Kersaudy, p. 354. “Nós somos o governo”: Ibid., p. 334. “os
maravilhas de sessenta”: Ibid., p. 332. “A mim parece”: Ibid., p. 331. “sente que os
franceses”: Ibid., p. 333
355 “Uma colisão ostensiva”: Dwight D. Eisenhower, p. 248. “Todos os círculos”: Irving,
p. 135. “estado de excitação”: Beevor e Cooper, p. 28
356 “traição no ápice”: Lacouture, p. 524. “Isso é um pandemônio”: Beevor e Cooper,
pp. 28-29. “escola para moças”: Kersaudy, p. 346. “era um erro fatal”: Ibid., p. 351. “O
primeiro-ministro”: Ibid., p. 352. “nos estágios iniciais”: Dwight D. Eisenhower, p. 248
357 “Os militares de altos postos”: Malcolm Muggeridge, Chronicles of Wasted Time, Vol.
2, The Infernal Grove (Londres: Collins, 1973), p. 212. “advogava uma causa perdida”: Jean
Edward Smith, p. 614. “FDR (...) acredita”: Kersaudy, p. 361. “Ele é maluco”: Ibid.
358 “Como uma relação cordial”: Ibid., p. 370. “A aversão de FDR”: Jean Edward
Smith, p. 616. “atmosfera sonolenta e vazia”: Henrey, The Siege of London, p. 91. “Onde todo
o homem”: Sevareid, p. 477. “a Paris da”: Donald L. Miller, p. 137
359 “esplendor culposo”: Wheeler-Bennett, Special Relationships, p. 186. “familiares,
bem alimentadas”: Kendrick, p. 273. “Talvez o mundo”: Sally Bedell Smith, Re ected Glory,
p. 124
CAPÍTULO 19
360 “do interesse”: Olson e Cloud, p. 333. “Chegou a hora”: Harriman paraHopkins, 10
de setembro de 1944, documentos de Hopkins, FDRL
361 “na desconfortável posição”: Sherwood, p. 756. “Ele só queria trabalhar”:
Abramson, p. 367. “Não posso dizer”: Bohlen, p. 127. “Eles são durões”: Isaacson e Thomas,
p. 232
362 “conhecia melhor os russos”: Salisbury, p. 242. “meus pontos de vista”: Isaacson e
Thomas, p. 227. “Usei-o em todas as”: Ibid., p. 229. “Muita coisa seria”: Salisbury, p. 242.
“paradigma”: Isaacson e Thomas, p. 223. “Queremos ter”: Olson e Cloud, p. 333
363 “deu meia-volta”: debate com Winston Churchill, Coudert Institute, PalmBeach,
Flórida, 28 de março de 2008. “seguir-se-ia...”: Bellush, p. 203. “haverá sobra”: Moran, p. 220
364 “Vocês não podem fazer isso!”: Robert M. Hathaway, Ambiguous Partnership: Britain
and America, 1944-1947 (Nova York: Columbia University Press, 1981), p. 64. “Em nome de
Cristo”: Ibid. “Não gosto de fazer”: Sherwood, p. 819. “puseram em risco”: Howland, p.
374. “ agrante desvantagem”: Ibid.
365 “Temos ouvido”: Danchev e Todman, eds., p. 575. “As únicas vezes”: Meacham, p.
339. “um tapa na cara”: D'Este, p. 599
366 “Montgomery é um general de terceira”: Irving, p. 268. “Havia uma inacreditável
arrogância”: Ibid., p. 392. “Ike está com pés”: Ibid., p. 190
367 “numa investida poderosa”: D'Este, p. 672. “Entre nosso front”: Max Hastings, p.
196
368 “Falta-lhe”: D'Este, p. 602
369 “o salvador dos americanos”: Dwight D. Eisenhower, p. 356. “Montgomery
impede”: Sevareid, p. 485. “irritou tanto”: Irving, p. 375. “Ela prejudicou mais”: Clarke, p.
155. “terrível”: D'Este, p. 676. “permanece impossível”: Max Hastings, “How They Won,”
New York Review of Books, 22 de novembro de 2007. “o comportamento de Eisenhower”:
Merle Miller, p. 587
370 “Algo parecido”: Max Hastings, p. 222. “chantagem pura”: Colville, The Fringes of
Power, p. 528. “poderia ser feita”: Hathaway, p. 83. “Por favor, leve”: FDR para Winant, 24
de novembro de 1944, arquivos da Sala da Situação, FDRL. “que mesmo uma”: Colville, The
Fringes of Power, p. 528. “Você não enviaria”: Hitchens, p. 233
371 “tenho tentado lealmente”: Clarke, p. 113. “realmente irritada”: Colville, The
Fringes of Power, p. 536. “as questões europeias”: Olson e Cloud, p. 363. “O que torna a
crítica”: Clarke, p. 147
372 “Não nos importamos”: Hathaway, p. 103. “há boa razão”: Ibid, p. 104. “Ele parece
não dar”: Sherwood, p. 820. “Fisicamente”: Doenecke e Stoler, p. 86
373 “falar com um amistoso”: Clarke, p. 218. “A bandeja de 'entrada' ”: Colville, The
Fringes of Power, p. 530. “Creio que não aguento”: Danchev e Todman, eds., p. 649. “estava
cansado”: Geoffrey Best, Churchill: A Study in Greatness (Oxford: Oxford University Press,
2001), p. 260. “Tenho de dizer”: Olson e Cloud, p. 365
374 “Era sempre dois a um”: Hathaway, p. 123. “O fato de o Presidente”: Ibid. “Ele
que espere”: Andrew Roberts, Masters and Commanders, p. 554. “Entramos na guerra”: Cecil
King, With Malice Toward None: A War Diary (Londres: Sidgwick & Jackson, 1970), p. 298.
“lutou como um tigre”: Olson e Cloud, p. 365
375 “vindo da América”: Ibid., p. 366. “Jamais poderemos”: Ibid.
376 “poderia chegar”: Bellush, p. 205. “da maior importância”: Thomas M. Campbell e
George C. Herring, eds., The Diaries of Edward R. Stettinius Jr., 1943-1946 (Nova York: New
Viewpoints, 1975), p. 227. “penso que nossa atitude”: Bellush, p. 207
377 “quiseram claramente”: Olson e Cloud, p. 383. “A impressão é que”: notas de
Harriman, sem data,documentos de Pamela Harriman, LC. “o governo soviético”: Isaacson e
Thomas, p. 247. “Não há dúvida”: Olson e Cloud, p. 384
378 “seu sentimento de amargo”: Ibid., p. 386. “minimizar o problema”: Ibid., p. 387
379 “Berlim perdeu”: Max Hastings, p. 421. “A ira de Churchill”: Ibid., p. 423
CAPÍTULO 20

 
380 “Homens e meninos”: Bliss, p. 91
381 “duas leiras”: Ibid, p. 94
382 “Ele queria que o mundo”: R. Franklin Smith, p. 89. “Rogo para”: radiodifusão de
Murrow, 15 de abril de 1945, National Archives. “Um sapato”: Kendrick, p. 279. “Sou homem
de Roosevelt”: entrevista com Jacob Beam, documentos de Bellush, FDRL. “Graças a Deus”:
Howland, p. 28. “Sempre penso”: Ibid.
383 “podia fazer”: Robert H. Ferrell, Choosing Truman: The Democratic Convention of 1944
(Columbia: University of Missouri Press, 1994), p. 13. “chorando, lembrando”: Thompson, p.
303. “Este país”: Hathaway, pp. 130-31. “tão quieta”: Longmate, The G.I.'s, p. 317.
“permaneceram de pé”: Panter-Downes, p. 368. “parado na rua”: Longmate, The G.I.'s, p.
317
384 “Não me lembro”: Ziegler, p. 310. “foi o maior amigo”: Clarke, p. 259. “tremenda
repercussão”: Jenkins, p. 783. “que caria”: Ibid. “É difícil”: Max Hastings, p. 512. “Creio
que seria”: Meacham, p. 351
385 “Com esta assinatura”: Cloud e Olson, p. 237. “fora tomada”: Panter-Downes, p.
374
386 “Suas lembranças”: Bliss, p. 97. “quase com um susto”: Kendrick, p. 280.
“Enquanto todo o povo”: Henry Chancellor, Colditz: The Untold Story of World War II's Great
Escapes (Nova York: William Morrow, 2001), p. 362. “O fato de sua ansiedade”: Bellush, p.
213
387 “No continente europeu”: Olson e Cloud, p. 392. “política venenosa”: Ibid., p. 393.
“Quando [ela] caminhava”: D'Este, p. 807
388 “Houve aplausos”: LaRue Brown, “John G. Winant,” Nation, 15 de novembro de 1947.
“Ike fez um discurso”: Danchev e Todman, eds., p. 697. “estava preocupado com
Churchill”: Moran, p. 302. “Embora [o povo inglês]”: Pamela Churchill para Averell
Harriman, 27 de julho de 1945, documentos de Pamela Harriman, LC. “ele ridiculariza”:
Moran, p. 308
389 “essa maldita eleição”: Ibid., p. 310. “débacle total”: Pawle, p. 501. “Foi uma das
mais impressionantes”: Hathaway, p. 176. “mortalmente ferido”: Campbell e Herring, eds.,
p. 413. “Todo o foco”: Soames, p. 425. “Não era tanto a perda”: Sarah Churchill, A Thread in
the Tapestry, p. 86
390 “Sir, o senhor se esqueceu”: Dwight D. Eisenhower, p. 242
CAPÍTULO 21

 
391 “Adeus, Inglaterra”: Longmate, The G.I.'s, p. 325
392 “É difícil entender”:Waller, p. 205. “Temos de conseguir”: Ibid., p. 241
393 “O povo americano”: Hathaway, p. 23. Donald Worby: Dimbleby e Reynolds, p. 175.
“Creio que eles estão”: Waller, p. 347
394 “Demos aos nossos aliados”: Dimbleby e Reynolds, p. 177. “Quem pensar”:
Sherwood, p. 827. “É irritante”: Dimbleby e Reynolds, p. 180. “Munique econômica”: Ibid
395 “O povo americano”: Sherwood, p. 922. “Acredito”: Ibid., p. 921. “imporia grandes
infortúnios”: Howland, p. 448. “Será que alguma nação”: Carroll, p. 142. “teria feito um”:
Penrose, p. 206. “estranho para ele”: Howland, p. 442. “que desejava”: Ibid 396 “não era
idealismo”: Arnold A. Rogow, “Private Illness and Public Policy: TheCases of James Forrestal
and John Winant,” American Journal of Psychiatry, 8 de fevereiro de 1969. “Seus nervos”:
entrevista com Maurine Mulliner, documentos de Bellush, FDRL. “Perdi a última coisa”:
entrevista com Grace Hogarth, documentos de Bellush, FDRL. “Não tenho vida!”: Bellush, p.
215. “Não posso explicar”: Soames, p. 429
397 “tem sido — e é —”: Ibid., p. 380. “Não sei se o amei”: Sarah Churchill, A Thread in
the Tapestry, p. 88. “Gostaria que você”: Ibid., p. 91. “Sarah tem sido”: Soames, p. 433.
“Você não tem noção”: Pearson, p. 338. “gaiola de afetos”: Sarah Churchill, Keep on
Dancing, p. 159. “exaustão física e mental”: Sally Bedell Smith, Re ected Glory, p. 124
398 “Por diversas razões”: Murrow para Janet Murrow, 18 de setembro de 1944,
documentos de Murrow, Mount Holyoke. “Vivo por demais”: Murrow para Janet Murrow, 29
de setembro de 1944, documentos de Murrow, Mount Holyoke. “Talvez eu tenha”: Murrow
para Janet Murrow, 28 de outubro de 1944, documentos de Murrow, Mount Holyoke. “Fred
levou-me”: Pamela Churchill para Averell Harriman, 8 de março de 1944, documentos de
Pamela Harriman, Mount Holyoke. “Não conversamos”: Sally Bedell Smith, Re ected Glory, p.
125. “Nunca amei tanto”: Ibid., p. 125. “Casey Ganha”: Ogden, p. 181
399 “Vivemos despreocupadamente”: Kendrick, p. 275. “Somos a única nação”:
Sperber, p. 257. “numa posição incômoda”: Lash, From the Diaries of Felix Frankfurter, p. 256.
“Vosso país”: Bliss, pp. 3-4
400 “São homens como”: Emilie Adams para Murrow, 24 de fevereiro de 1946,
documentos de Murrow, Mount Holyoke. “Por favor, diga”: remetente não identi cado para
Murrow, 24 de fevereiro de 1946, documentos de Murrow, Mount Holyoke. “Quando chegar
em casa”: W.E.C. McIlroy para Murrow, 24 de fevereiro de 1946, documentos de Murrow,
Mount Holyoke 401 “Agora, pela última”: Persico, Edward R. Murrow, p. 242. “este
microfone”: Ibid. “o único troféu”: R. Franklin Smith, p. 75. “amigo chegado”: recorte
nãoidenti cado, 29 de novembro de 1945, documentos de Winant, FDRL. “teve em grande
medida”: Manchester Guardian, sem data, documentos de Winant, FDRL
402 “Quase todos”: New Statesman, 30 de março de 1946, documentos de Winant, FDRL.
“a personi cação”: Daily Express, 25 de março de 1946, documentos de Winant, FDRL.
“chegou até nós”: Daily Herald, 27 de abril de 1946, documentos de Winant, FDRL. “Até
breve, sir”: Punch, 8 de maio de 1946, documentos de Winant, FDRL. “Não creio que seja”:
Arthur L. Goodhart para Winant, 15 de abril de 1946, documentos de Winant, FDRL. “Aqueles
de nós”: John Martin para Winant, 1º de janeiro de 1947, documentos de Winant, FDRL.
“durão”: Barbara Wace para Winant, 22 de abril de 1946, documentos de Winant, FDRL. “Meu
motorista”: Herbert Agar para Winant, 2 de maio de 1946, documentos de Winant, FDRL.
“uma honraria singular”: Daily Telegraph, 26 de abril de 1946, documentos de Winant, FDRL
403 “A reserva que normalmente”: Concord Daily Monitor, 18 de janeiro de 1947,
documentos de Winant, FDRL. “in nitamente maiores”: New York Times, 24 de abril de 1946,
documentos de Winant, FDRL. “É na adversidade”: Daily Telegraph, 26 de abril de 1946,
documentos de Winant, FDRL. “Na minha longa existência”: Daily Telegraph, 21 de maio de
1946, documentos de Winant, FDRL. “Pretendo tomá-lo”: Ibid. “Eu diria, sem um só”:
Daily Telegraph, 26 de abril de 1946, documentos de Winant, FDRL. “Nem os senhores, nem
eu”: News Chronicle, 1º de maio de 1946, documentos de Winant, FDRL. “Homem nenhum
mais correto”: Daily Express, 1º de maio de 1946, documentos de Winant, FDRL. “anos
duros”: recorte não identi cado, 1º de maio de 1941, documentos de Winant, FDRL
CAPÍTULO 22
405 “Estou tão feliz”: Eleanor Roosevelt para Winant, 25 de junho de 1946, documentos de
Winant, FDRL. “Ele ousou ter esperança”: trecho do discurso de Winant, documentos de
Winant, FDRL. “Raramente, se é que houve alguma vez”: Sperber, p. 256
406 “de algo como estados”: Howland, p. 400. “Nenhum dos aliados”: Daniel J. Nelson,
Wartime Origins of the Berlin Dilemma (Tuscaloosa: University of Alabama Press, 1976), p. 163. “a
uma corrida”: Howland, p. 414. “Nunca antes”: Ibid., p. 412. “a organização interaliada
mais bem-sucedida”: Ibid. “signi cativos feitos”: Ibid., p. 311. “Nas nossas reuniões”:
Nelson, p. 23
407 “A máquina”: Sherwood, p. 843. “Ele era uma alma”: Bellush, p. 226.“Nunca em
minha vida”: entrevista com Arthur Coyle, documentos de Bellush, FDRL
408 “uma exaustão profunda”: Mary Lee Settle, “London-1944,” The Virginia Quarterly
Review, outono de 1987. “curiosasensação”: Sevareid, p. 510. “Livre!”: Sarah Churchill, Keep
On Dancing, p. 159
409 “O senhor não quer vê-la”: Bellush, p. 228. “A diferença”: Colville, Footprints in
Time, p. 156
410 “Ficou agora obviamente”: Dimbleby e Reynolds, p. 188. “tão próximos
daindigência”: Abramson, p. 413. “Estão os senhores fazendo”: Louis Fischer, “The Essence
of Gandhism,” Nation, 6 de dezembro de 1947. “para se certi car”: entrevista de Dean Dexter
com Abbie Rollins Caverly 411 “Ao minúsculo vale”: New York Herald Tribune, 5 de novembro
de 1947, documentos de Winant, FDRL. “afetou o povo”: “British Mourn Winant,” New York
Times, 5 de novembro de 1947. “caminhou com a Inglaterra”: Daily Express, sem data,
documentos de Winant, FDRL. “No que ele disse”: New York Herald Tribune, 5 de novembro
de 1947, documentos de Winant, FDRL. “É terrível”: Manchester Guardian, 5 de novembro de
1947.
412 “Será que”: Bellush, p. viii. “uma verdadeira baixa”: Eleanor Roosevelt, coluna “My
Day,” sem data, documentos de Winant, FDRL. “Perdi um de meus amigos”: New York Times,
5 de novembro de 1947. “Ele não poderia ter sido”: entrevista do autor com Rivington
Winant. “a autodestruição”: Thompson, p. 217
413 “Que desperdício!”: Sperber, p. 298. “os meninos de ouro”: Cloud e Olson, p. 244.
“os anos sombrios e gloriosos”: R. Franklin Smith, p. 80
414 “deixara toda a sua”: Ibid., p. 75. “o noticiário, seuhobby”: entrevista com Don
Hewitt. “indivíduo”: Jack Gould, “Edward R. Murrow: 1908-1965,” New York Times, 2 de maio
de 1965
415 “Murrow foi um 'inglês honorário'”: “Britain Mourns a Friend,” New York Times, 28
de abril de 1965. “superdiplomata”: “Ex-Gov. Averell Harriman, Adviser to 4 Presidents, Dies,”
New York Times, 27 de julho de 1986. “desinteressado, distante”: Abramson, p. 409. “sexo
pairava”: Cloud e Olson, p. 197
416 “Ninguém foi tão longe”: Isaacson e Thomas, p. 603. “ele foi o auxiliar”: E.J. Kahn,
“Pro les: Plenipotentiary-1,” New Yorker, 3 de maio de 1952. “reformulação do papel”:
Isaacson e Thomas, p. 407. “Todos têm as suas”: Schlesinger, p. 249. “Estou con ante”: New
York Times, 27 de julho de 1986
417 “Minha querida,”: entrevista de Pamela Harriman com Christopher Ogden, documentos
de Pamela Harriman, LC
418 “Ela serviu”: entrevista com o reverendo J. Parker Jameson 419 “Nenhum outro país”:
Burk, p. 578
420 “Eis uma gente”: Hitchens, p. 302. “A vinda dos americanos”: Longmate, The G.I.'s,
p. 375. “O que quer que aconteça”: Ibid., p. 376. “Acho que entendo”: Ibid. “Amei
Londres”: Pyle, Brave Men, p. 315. “Os anos em Londres”: Middleton, p. 186. “Fico
envergonhado”: Saroyan, p. 238
421 “Cada inglês”: Arbib, pp. 210-11. “Paris morreu”: radiodifusão de Sevareid, 4 de
outubro de 1940, NA
Bibliogra a
 
MATERIAL DE ARQUIVO
 
ARQUIVOS ESCRITOS DA BBC, READING, REINO UNIDO

Documentos das Radiodifusões da BBC de tempo de guerra BIBLIOTECA PRESIDENCIAL


FRANKLIN DELANO ROOSEVELT, HYDE PARK, NOVA YORK
Documentos de Bernard Bellush
Documentos de Harry Hopkins
Documentos de Eleanor Roosevelt
Documentos de Franklin D. Roosevelt
Documentos de John Gilbert Winant

BIBLIOTECA DO CONGRESSO, WASHINGTON, D.C.


Documentos de Pamela Harriman
Documentos de W. Averell Harriman

Documentos de Kermit e Belle Roosevelt Documentos de Eric Sevareid


ARQUIVOS E COLEÇÕES ESPECIAIS DO MOUNT HOLYOKE COLLEGE,
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Índice
 
“60 Minutes” TV
“A Nightingale Sang in Berkeley Square”
Abel, Elie Abilene, Kansas Abramson, Rudy Acheson, Dean Achilles, Theodore Acordos de Genebra
Adamic, Louis Adams, Abigail Adams, David K.
Adams, John África do Sul África, norte da; controle da França de Vichy sobre o; invasão anglo-
americana do Afrika Korps Agar, Barbie Wallace Agar, Herbert Agência Central de Inteligência dos
EUA (CIA) Agência das Nações Unidas para a Assistência e Reabilitação Agência de Informação de
Guerra — (OWI) dos EUA Agência de Serviços Estratégicos — OSS (EUA) Agnelli, Gianni Albânia
Aldrich, Nelson W., Jr.
Alemanha názi; bombardeio dos aliados da; bombas letais desenvolvidas pela; campos de
concentração e de extermínio; declaração de guerra da Inglaterra à; destino pós-guerra da; emigração de
acadêmicos e cientistas da; EUA declaram guerra à; pesquisas e desenvolvimentos atômicos destruídos;
políticas antissemitas; relações do Japão com a; União Soviética invadida pela; vitória dos aliados na
Alexander, Harold Alsop, Joseph Alsop, Stewart Ambrose, Stephen American Viscose Corporation
Anderson, Frederick Anderson, Newton Andrews, Bert antissemitismo Antuérpia Arbib, Robert
Ardenas, oresta das Argel Argélia Argentina Arlington National Cemetery Armour, Lester Arnhem
Arnold, Benedict Arnold, Henry “Hap”
Associação Americana de Correspondentes no Exterior Associated Press Astaire, Fred Astor, Nancy
Athenia Atkinson, Rick Attlee, Clement Augusta Austrália Áustria Autoridade do Vale do Tennessee
Baker, Ray W.
Balanchine, George Bálcãs Baldwin, Stanley Bane, Frank Barman, Thomas Barnouw, Erik Baruch,
Bernard Batalha da Inglaterra (1940) Batalha de Dunquerque Batalha de El Alamein Batalha de
Gallipoli Batalha de Stalingrado Batalha de Verdun Batalha de Yorktown Batalha do Atlântico Batalha
do Bolsão Batalha do Passo de Kasserine Batalha do Somme BBC; aliança com a CBS; divisão de
noticiários,45-48; Murrow e a; serviço público da, Beevor, Anthony Belfrage, Bruce Bélgica; governo no
exílio; ocupação alemã da; plano de FDR para dois estados Bellush, Bernard Berle, Adolf Berlim Berlin,
Isaiah Bermudas Bernhard, príncipe da Holanda Bessborough, conde de Bessie, Michael Beveridge,
Relatório Beveridge, Sir William Bevin, Ernest Bíblia Bingham, Barry Bingham, Robert Birmânia Birô
Federal de Investigações (FBI) Bismarck; o monstro naval alemão Blenheim Palace Blitz; coragem e
determinação dos ingleses na; defesas antiaéreas na; destruição e morte na; documentação sobre a;
radiodifusões ao vivo de Murrow sobre a Boeing B-17 Fortaleza Voadora Boeing B-24 Liberator Bohlen,
Charles Bonaparte, Jerome Borah, William Boston Tea Party Bourke-White, Margaret Bowen, Elizabeth
Bracken, Brendan Bradley, Omar Bretton Woods, acordo de Bridson, Geo rey Brigada Lincoln (Guerra
Civil Espanhola) Briggs, Asa, (n) 399
Brinkley, David Brooke, Alan; sobre Eisenhower; sobre WC; Winant e Bruce, David Bruce,
Evangeline Bell Bryant, Arthur Buber, Martin Buchenwald Bullitt, William Burk, Kathleen Burns,
James MacGregor Butcher, Harry Byron, George Gordon, Lord Cadogan, Sir Alexander Cairo Cairo,
Conferência (1943) Calder, Angus Câmara dos Comuns; bombardeio da; discursos de WC na; primeira
mulher eleita para a, (n) 93; sessões semanais de perguntas na; visita de Churchill à bombardeada; visita
de GIs à Câmara dos Representantes (EUA) Canadá Canal da Mancha Canal de Suez Caribe, mar do
Carroll, Wallace Carta do Atlântico Casa Branca Casablanca Casablanca, conferência (1943) Casey,
William Cavendish, Adele Astaire Cavendish, Lord Charles Caverly, Abbie Rollins CBS; escritório em
Londres; jornalismo radiofônico dominado pela; Murrow como chefe das operações no exterior; Murrow
vice-presidente para o noticiário Chamberlain, Neville; política de apaziguamento Channon, Chips
Chartwell Chequers Chiang Kaishek Chicago Daily News, (n) 21
Childers, James Childs, Marquis China China, mar do Sul da Christensen, Arthur Churchill,
Clementine; caráter e personalidade; criação dos lhos; relação da nora Pamela com; relação de WC com;
relação de Winant com Churchill, Diana, ver Sandys, Diana Churchill, Marigold Churchill, Mary, ver
Soames, Mary Churchill, Pamela Digby; Harriman e; Randolph Churchill e; WC e Churchill, Peregrine
Churchill, Randolph; Harriman e, (n) 259; Pamela Churchill e; WC e Churchill, Sarah; aparência física;
carreira teatral; infância e adolescência; Winant e Churchill, Winston; a administração do Lend-Lease e;
assumiu também as funções de ministro da Defesa; Beaverbrook e; bebida e charutos; bom de conversa e
como contador de histórias; carreira parlamentar; charuto e bengala, suas marcas registradas; Clementine
e; críticas à atuação de; de Gaulle e; depressão e estresse; ego e beligerância de, 135; Harriman e; Hopkins
e; imagem de John Bull de; Murrow e; o comunismo como preocupação de; oratória exuberante; Pamela
Churchill e; política social de; Primeiro Lord do Almirantado; problemas nanceiros de; rejeição pós-
guerra dos eleitores a; relações com os lhos; visitas às cidades bombardeadas; Winant e Churchill,
Winston Spencer (neto de WC) Cingapura Clapper, Raymond Clark, Averell Clark, Kenneth Clark,
Mark Clark, R.T.
Clayton, Philip “Tubby”
Clayton, Will Clemenceau, Georges Clinton, Bill Código de Napoleão Collier’s Collingwood,
Charles Collins, Joseph L.
Colville, John Comissão Assessora Europeia,363-4
Comitê Francês de Libertação Nacional Comunidade Econômica Europeia Concord Daily Monitor
Congo Belga Conquista normanda Conselho Assessor de Negócios (EUA) Conselho Econômico e Social
das Nações Unidas Constantine, Learie Convenção de Genebra Cook, Don Cooke, Alistair Cooper,
Artemis Cornwallis, Charles, Lord Corte de St. James; Harriman como embaixador na; Joseph P.
Kennedy como embaixador na Corwin, Norman Coulet, François Council on Foreign Relations Coward,
Noël Cowles, Virginia Cranborne, Lord Cripps, Sir Sta ord Crocker, John Crowther, Bosley Cruz
Vermelha Americana Cuba Curie, Eve Curie, Marie Curie, Pierre Daily Express Daily Herald Daily
Mail Daily Mirror Daily Telegraph Darlan, Jean de Gaulle, Charles; estilo arrogante e autoritário de;
liderança francesa procurada por; oposição de FDR a; relação de WC com de Jongh, Andrée Degrelle,
Leon Departamento da Guerra (EUA) Departamento de Estado (EUA) Departamento do Trabalho
(EUA) Depressão Derby, Lord Devers, Jacob Devonshire, duque de Dexter, Dean Dia-D ; baixas dos
aliados no; desembarque das forças aliadas na França no; proclamação de Eisenhower no Dickens,
Charles Digby, Lord Dill, Sir John Dinamarca Dodds-Parker, Douglas Doenecke, Justus Donovan,
William Doolittle, James Douglas, Paul Douglas, Sholto Drury, Samuel Duchin, Eddy Duke of York E o
Vento Levou Eagle Squadron, lme Eaker, Ira Early, Stephen Economist, The Eden, Anthony; FDR
e,244-5; Winant e Eden, Beatrice Edward, príncipe de Gales Egito Eisenhower, Dwight D.; afável e
gregária personalidade de; avesso ao redemoinho social inglês; críticas a; defensor da amizade anglo-
americana; FDR e; forças americanas na Inglaterra comandadas por; infância e adolescência; Kay
Summersby e; liderança e comando de; Marshall e; Montgomery e; proclamação no Dia-D; Winant e
Eisenhower, John Eleições nos EUA, de 1932; de 1936; de 1940; de 1944; de 1952; de 1954; de 1956
Elizabeth Bowes-Lyon, rainha da Inglaterra Elizabeth I, rainha da Inglaterra Elizabeth, princesa da
Inglaterra (Elizabeth II) Escócia Espanha Esquadrão Eagle Estado-Maior Geral Imperial, Reino Unido
Estados Unidos; “arsenal da democracia”; bombardeio atômico de cidades japonesas; crescimento do
poder político, militar e econômico dos,

248-9,392-3; isolacionismo e neutralidade nos; mobilização industrial;


política externa pós-guerra; problemas raciais dos; racionamento nos; U-boats
alemães na
costa atlântica dos
Estreito de Gibraltar Eton Exército Confederado (EUA) Exército dos Estados Unidos; 1ª Divisão de
Infantaria do; 2º Corpo de Exército do; 101ª Divisão Aeroterrestre do; anglofobia no; Corpo de Aviação
do Exército, (n) 150; decodi cadores no; falta de preparo e experiência no; I Exército do; III Exército do;
na Primeira Guerra Mundial Exército Inglês; 11ª Divisão Blindada do; 60º Regimento do Corpo de
Fuzileiros do Rei; americanos no; evacuações e derrotas do; Serviço Auxiliar Territorial (ATS) do; VIII
Exército do Exército Territorial (Reino Unido); contingente norte-americano Exército Vermelho Field,
Marshall Filipinas Finlândia Fiske, Rose Fiske, William III Fitzgerald, F. Scott FitzGibbon, Theodora
Focke-Wulf FW
Forbes, Alastair Força Aérea do Exército dos EUA; 8ª Força Aérea; 9º Comando Aerotático; 82ª
Divisão Aeroterrestre; 408º Esquadrão de Caças; alvos alemães na campanha de bombardeios; perdas de
homens e de aviões; visor Norden de bombardeio, (n) 150
Força Expedicionária Americana (AEF) Força Expedicionária Britânica (BEF) Forças Armadas
canadenses Ford, Henry Foreign A airs Foreign O ce (Reino Unido) França; bombardeios aliados na;
debate sobre o destino pós-guerra da; invasão dos aliados; ocupação da; rede de inteligência F-2 na; relação
dos EUA com França de Vichy Franceses Livres, forças dos Frankfurter, Felix Fulbright, J. William
Gable, Clark Galbraith, John Kenneth Garbo, Greta Gardner, William Gavin, James Geiger, Bill
Gellhorn, Martha Genebra George I, rei da Inglaterra George III, rei da Inglaterra George V, rei da
Inglaterra George VI, rei da Inglaterra Gerard, Teddy Giraud, Henri Gloucester, duque de Gneisenau
Gorham, Maurice Göring, Hermann Gould, Jack Graham, Katharine Grande Incêndio em Londres de
1666
Grande Praga na Inglaterra de 1665
Grant, Ulysses S.
Gray, David Gray’s Inn Grécia Greene, Sir Hugh Carleton Greer Grigg, John Grigg, Sir James
Grosvenor, Sir Charles Groton Grow, Malcolm Guam Guerra de Secessão (EUA) Guerra do Vietnan
Guerra e Paz (Tolstoy) Guerra Mexicana Guest, Raymond Gunther, John Gusev, Feodor Haakon, rei da
Noruega Halifax, Lord Harlow, Jean Harriman, E.H.
Harriman, Kathleen Harriman, Marie Norton Whitney Harriman, Pamela Churchill, ver Churchill,
Pamela Digby Harriman, W. Averell; a administração do Lend-Leasee; aliança anglo-americana
fomentada por; ambição e agressividade; aparência física; apego ao poder; autobiogra a; chairman da
ferrovia Union Paci c; críticas a; educação; evasão do serviço militar; expedição ao Oriente Médio e à
África ; FDR e; histórico familiar de; Hopkins e; infância e adolescência; interesse pelos esportes de;
morte de; nomeado embaixador na Corte de St. James; Pamela Churchill e; reputação de playboy; WC e;
Winant e Harris, Arthur “Bomber”
Hart, Sir Basel Liddell Hastings, Max Havaí Hawker Hurricane Hazelho , Erik Hearst, William
Randolph Hemingway, Ernest Henrique VIII, rei da Inglaterra Hewitt, Don Heydrich, Reinhard
Himmler, Heinrich Hiroshima, bombardeio atômico Hitchcock, Alfred Hitchcock, Louise Hitchcock,
Margaret Hitchcock, Peggy Hitchcock, Tommy; jogador de polo; promoveu o Mustang Híbrido; Winant e
Hitler, Adolf; luta inglesa contra; suicídio de Holanda; governo no exílio Holocausto Hong Kong Hoover,
Herbert Hope, Sir Archibald Hopkins, Harry; doenças de; FDR e; Harriman e; histórico familiar; instou
pela ajuda à Inglaterra; Murrow e; secretário do Comércio dos EUA; táticas negligentes e impulsivas de;
WC e; Winant e Hottelet, Richard C.
Houghton Mi in Howard, James Hughes, Howard Hull, Cordell Hyde Park, Conferência (1943)
Ickes, Harold Igreja Católica Romana Índia Índias Orientais Holandesas Inglaterra; agentes subversivos
treinados na; ameaça de invasão pelo mar da; bases aéreas na East Anglia; blecautes na; declaração de
guerra em 1939 da; e os GIs negros; greve dos mineiros de carvão em 1942; Greve Geral de 1926 na;
imperialismo da; in ação na; papel em tempo de guerra das mulheres na; política de apaziguamento da;
privações e infortúnios na; racionamento e controles do governo na; refugiados europeus na; relações dos
ingleses e GIs; sistema de classes na Instituto Harriman da Universidade Columbia Iowa Irlanda Irlanda
do Norte Islândia Ismay, Hastings “Pug”
Itália; invasão aliada Iugoslávia Jackson, C.D.
Jacob, Ian Jameson, J. Parker Japão,153-4; bombardeio dos EUA contra o; EUA declaram guerra ao;
Indochina ocupada pelo; Pearl Harbor atacado pelo; rendição do; Stalin promete entrar em guerra contra
o Je erson, Thomas Jenkins, Roy Jodl, Alfred Johnson, Herschel Johnson, Hugh Johnson, Lyndon B.
Jordan, Philip Junta de Chefes de Estados-Maiores (EUA) Kaufman, George S.
Keegan, John Keitel, Wilhelm Kennan, George F.
Kennedy, John F.
Kennedy, Joseph P.; embaixador na Corte de St. James; FDR e; Murrow e; políticas derrotistas e de
apaziguamento de; renúncia de; WC e Kent, duquesa de Kerr, Archibald Clark Keynes, John Maynard
Kimball, Warren King, Ernest Kipling, Rudyard Knox, Frank Lafayette Escadrille Lambert, Derek “Land
of Hope and Glory,” 346
Laski, Harold Laval, Pierre Lee, Raymond Lee, Robert E.
LeHand, Missy Lehman Brothers Lei da Seguridade Social (EUA) Leis da Neutralidade (EUA)
LeMay, Curtis Lend-Lease, 72; aprovado relutantemente pelo Congresso dos EUA; como instrumento de
pressão americana; desconto no pagamento do; Harriman administrador do, (n) 237; iniciado por FDR;
russos recebem a mesma ajuda; término do Lênin, Vladimir Lever Brothers Líbia Life Liga das Nações
Lincoln, Abraham Lindbergh, Charles Lindsay, Sir Ronald Linha Siegfried Liverpool Lloyd George,
David London School of Economics Long, Breckinridge Longmate, Norman Louisville Courier-Journal
Lovett, Robert Lowell, James Russell Luce, Henry Luftwa e; cidades industrais e portos ingleses
atacados pela; combates aéreos dos aliados contra a; missão soviética da; ver também Blitz Lyttelton,
Oliver Macartismo MacLeish, Archibald Malásia Malta, Conferência (1945),373-4
Manchester Guardian máquina Enigma Marinha alemã; códigos da; navios de guerra da; navios
ingleses atacados pela; U-boats da Marinha Britânica; Aviação Embarcada da; bloqueio naval à
Alemanha; navios de guerra da Marinha dos Estados Unidos; armada dos EUA no Atlântico;
equipamento obsoleto; perdas em Pearl Harbor; solicitada proteção para os navios ingleses pela Marinha
japonesa Marlborough, duque de Marrocos Marshall, George ; Brooke e; chefe do Estado-Maior do
Exército dos EUA; Eisenhower e; reorganização do Exército procedida por; secretário de Estado Martin,
John Martin, Kingsley Masaryk, Jan Masters and Commanders: How Four Titans Won the War in the
West Matthews, Tom Maugham, Somerset McCloy, John McCrary, Tex McKinley, William Mead,
Margaret Mellon, Andrew Menzies, Stewart Meredith, Burgess Merlin, motor Messerschmitt Bf 109
Metro-Goldwyn-Mayer México Middleton, Drew Miller, Donald Ministério da Guerra (Reino
Unido) Ministério da Informação (Reino Unido) Ministério do Ar (Reino Unido) Ministério do Comércio
(EUA) Ministério do Interior (Reino Unido) Ministério dos Suprimentos (Reino Unido) Mitford, Nancy
Molotov, Vyacheslav Monet, Jean Montgomery, Bernard Law Moran, Lord Morgan, J.P.
Morgan, Sir Frederick Morgenthau, Hans J.
Morgenthau, Henry; plano para a Alemanha pós-guerra de Morrison, Herbert Moscou Mountbatten,
Edwina Mountbatten, Lord Louis movimento de liberação feminina Mr. Smith Goes to Washington
Muggeridge, Malcolm Munique, Conferência de (1938) Murrow, Edward R.; BBC e; Churchill e;
cobertura do Dia-D; críticas a; documentário escrito e narrado por; FDR e; Hopkins e; infância e
adolescência; Janet Murrow e; padrões morais e idealismo de; Pamela Churchill e; política da CBS
desa ada por; reforma internacional pós-guerra promovida por; sobre a escravidão; vice-presidente do
noticiário e das relações públicas da CBS; visita a Buchenwald; Winant e Murrow, Janet Brewster; caráter
e personalidade; diário e correspondência; experiência em Londres Mussolini, Benito Nagasaki,
bombardeio atômico Napoleão I, imperador da França Nation National Association for the
Advancement of Colored People (EUA) NBC
Nevins, Allan New Deal New Hampshire; Winant governador New Statesman New York Daily
Mirror New York Herald Tribune New York Times New Yorker News Chronicle Nicolson, Harold
Nietzsche, Friedrich North American Aviation Co.
North American P-51B Mustang Noruega Nova York, estado Nova York, N.Y.
Nova Zelândia Oceano Atlântico; submarinos alemães operando no; zona de segurança dos EUA no;
ver também Batalha do Atlântico Oceano Pací co Oliver, Vic Operação Anvil Operação Market Garden
Operação Overlord Operação Pointblank Operação Torch Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN) Organização Internacional do Trabalho (OIT) Oriente Médio Orquestra Filarmônica de
Londres Orwell, George “Os Sábios,” 362
Pacto de Não Agressão Ribbentrop-Molotov País de Gales Paley, William Panter-Downes, Mollie
Paris; libertação de Partido Conservador inglês Partido Democrata (EUA), (n) 70
Partido Republicano (EUA), (n) 18
Partido Trabalhista (Reino Unido) Patton, George Pearl Harbor; bombardeio japonês de Perkins,
Frances Pershing, John Pétain, marechal Philippe Philip, príncipe da Grécia Placentia Bay, Conferência
(1941) Plano Marshall Plymouth PM Picture Magazin Pogue, Forrest Polônia; independência em 1918
da; invasão alemã da; sacrifício anglo-americano da; serviços de inteligência da Portal, Sir Charles
Portsmouth Potsdam, Conferência (1945) “Primeiro a América,” 156
Prince of Wales Princeton University Prinz Eugen Public Advertiser (Londres) Punch (Reino Unido)
Pyle, Ernie Quartel-General Supremo da Força Expedicionária Aliada (SHAEF); Eisenhower
comandante do Quatro Grandes Quebec, Conferência (1943) Quesada, Elwood “Pete”
Quisling, Vidkun Raleigh, Sir Walter Ravensbruck, campo de concentração Reading, Lady Reading,
Lord Reich, Robert Reilly, Mike Reith, Sir John Reno, rio Renown Repulse Reston, James “Scotty”
Reuben James Reynolds, Quentin Ribbentrop, Joachim von Ritchie, Charles Robertson, Ben
Rockefeller, Nelson Roma Rommel, Erwin Roosevelt, Belle Roosevelt, Eleanor; Winant e Roosevelt,
Elliott Roosevelt, Franklin D.; a federação do novo mundo visualizada por; assessores mais próximos
instaram pela declaração de guerra; bom humor e charme; como governador de Nova York; críticas a; de
Gaulle e; Harriman e, (n) 21; Hopkins e; início da carreira política; Joseph Kennedy e; morte de; Murrow
e; oposição ao imperialismo britânico de; saúde abalada; Stalin e; Winant e Roosevelt, Kermit Roosevelt,
Theodore Rosenman, Samuel Rothschild, Elie de Royal Air Force (RAF) ; 71º Esquadrão da; 601º
Esquadrão da; Comando de Bombardeiros da; Comando de Caças da; pilotos americanos e europeus na
Royal Albert Hall Ruskin, John Rússia Sackville-West, Vita Salisbury, Harrison Salisbury, Lord Salter,
Sir Arthur Sandys, Celia Sandys, Diana Churchill Sandys, Duncan Sandys, Edwina Sanford, Laddie
Saroyan, William Scharnhorst Schlesinger, Arthur, Jr.
Scribner’s Senado (EUA); Comissão de Relações Exteriores; Comitê do Comércio Serviço Auxiliar
Feminino da Força Aérea – WAAF (Reino Unido) Serviço Secreto — MI6
Serviço Voluntário Feminino – WVS (Reino Unido) Settle, Mary Lee Sevareid, Eric Shaw, Irwin
Sheean, Vincent Sherwood, Robert Shirer, William Sibéria Sicília Sikorski, Wladyslaw Simon, Sir John
Sinclair, Sir Archibald Smith, Jean Edward Smith, Sally Bedell Smith, Walter Bedell Snow, C.P.
Soames, Christopher Soames, Mary Churchill; sobre Clementine Churchill; sobre Winant; WC e
Spaatz, Carl “Tooey”
Spears, Edward Speer, Albert St. Louis Post-Dispatch St. Paul’s, catedral St. Petersburg Times
Stalin, Iosef; demanda a Segunda Frente; FDR e; habilidade nas negociações de; pleitos territoriais de;
Standley, William; WC e; ver também Três Grandes Stanley, Oliver Star (Londres) Stark, Harold Stars
and Stripes (EUA) Steinhardt, Laurence Stettinius, Edward Stevenson, Adlai Stewart, James Stimson,
Henry Strang, Sir William Suckley, Daisy Summersby, Kay Sun Valley, Idaho Sunday Times (Londres)
Supermarine Spit re Suprema Corte (EUA) Tâmisa, rio Tchecoslováquia; ocupação názi; ocupação
soviética Teerã, Conferência (1943) The Great Gatsby (Fitzgerald) The Times Thompson C.R.
Thompson, Walter Time Tobin, Eugene “Red”
Tobruk Tolstoy, Leo Tree, Nancy Tree, Ronald Três Grandes; conferências dos; con itos entre os;
futuro da Alemanha determinado pelos; ver também Churchill, W., Roosevelt, F.D. e Stalin, I.
Truscott, Lucian,208-9
Tunísia Turquia União Soviética; ditadura comunista na; forças alemãs destruídas na; invasão alemã
da; Polônia ocupada pela; projetos expansionistas da Universidade de Bristol Universidade de Cambridge
Universidade de Harvard Universidade de Oxford Universidade Yale V-1, bomba voadora, “buzz bomb”
V-2, foguete Varsóvia; levante popular de Viena Wake, ilhas Wallace, Henry Walton, Bill Wanger,
Walter Warburg, James Ward, Barbara Washington Evening Star Washington Post Washington State
College Washington, estado Washington, George Watson, Edwin “Pa”
Watt, Harry Waugh, Evelyn Wedemeyer, Albert Wehrmacht alemã; Afrika Korps; derrotas da;
engajamentos soviéticos com a; poderio e efetivos Weintraub, Stanley Welles, Sumner Wells, Alan Wells,
Claire Wells, H.G.
Welsh, Mary Wheeler, Burton Wheeler-Bennett, John White, Paul White, Theodore H.
White, Walter White, William Allen Whitney, John Hay “Jock”
Whitney, William Wilhelmina, rainha da Holanda Wilkinson, Ellen William, Chet William, o
Conquistador, rei da Inglaterra Williams, Douglas Willkie, Wendell Wilson, Harold Wilson, Woodrow
Winant, Constance Winant, John Gilbert; aliança anglo-americana promovida por; carreira de professor;
chairman da Câmara de Seguridade Social; Clementine Churchill e; de Gaulle e; defensor do New Deal;
Eden e; Eisenhower e; Eleanor Roosevelt e; FDR e; governador de New Hampshire; greve dos mineiros
de carvão mediada por; Harriman e; histórico familiar; Hitchcock e; Hopkins e; memórias de; Murrow e;
nomeado embaixador na Corte de St. James; piloto de combate na Primeira Guerra Mundial; posições na
OIT de; poucas qualidades de administrador de; pretensões presidenciais; problemas nanceiros de;
promotor da cooperação econômica e social no pós-guerra; relação de WC com, 30-1, 198-9; Sarah
Churchill e; suicídio Winant, John, Jr.
Winant, Rivington Winchell, Walter Windsor Woolf, Virginia Wyler, William Yalta, Conferência
(1945) Yorkshire Post Ziegfeld Follies Zog, rei da Albânia

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