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Dentes de Rato, de Agustina Bessa-Luís

Quando D. Inês se despediu [...], Lourença rompeu em pranto. [...]


– Mas, Lourença, porque não disse que queria ficar mais tempo? – disse D. Inês. A mãe
pediu-lhe que não fizesse caso. E, entre lágrimas vivas e grandes soluços que saíam do peito
como quem destapa o ralo duma banheira, Lourença achava-as a ambas hipócritas. [...]
5 Percebia que D. Inês estava morta por livrar-se dela, e aquilo ofendia-a.
Quando ela se foi embora, Lourença, [...] consolou-se com um prato de arroz requentado,
como se fosse uma pobre e não comesse há muito tempo. [...]
Dentes de Rato, porém, comera bem, sem falar das bananas todas que engoliu e das
nozes de chocolate. Era o cheiro da casa que lhe abria o apetite; aquele cheiro familiar de coisas
10 conhecidas e guardadas na memória do coração. O arroz arrancado do tacho com um forte garfo
e que saía em placas tostadas sabia-lhe como o melhor manjar do mundo. Lourença dizia:
– Nunca vou querer ser rica.

BESSA-LUÍS, Agustina – Dentes de Rato. 21.ª Edição. Lisboa: Babel, 2012. 978-972-665-674-6. p. 38-39. [com
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