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20230214 Tempo Comum - Anos Ímpares - VI Semana - Terça-feira

Lectio
Primeira leitura: Génesis 6, 5-8; 7, 1-5.10

O Senhor reconheceu que a maldade dos homens era grande na Terra, que todos os seus
pensamentos e desejos tendiam sempre e unicamente para o mal. 6O Senhor
arrependeu-se de ter criado o homem sobre a Terra, e o seu coração sofreu
amargamente. 7E o Senhor disse: «Eliminarei da face da Terra o homem que Eu criei,
e, juntamente com o homem, os animais domésticos, os répteis e as aves dos céus,
pois estou arrependido de os ter feito.» 8Noé, porém, era agradável aos olhos do
Senhor. 1O Senhor disse, depois, a Noé: «Entra na arca, tu e toda a tua família, porque
só a ti reconheci como justo nesta geração. 2De todos os animais puros levarás contigo
sete pares, o macho e a fêmea; dos animais que não são puros levarás um par, o macho
e a sua fêmea; 3das aves do céu, também sete pares, macho e fêmea, a fim de
conservares a sua raça viva sobre a Terra. 4Porque dentro de sete dias, vou mandar
chuva sobre a Terra, durante quarenta dias e quarenta noites, e exterminarei na
superfície de toda a Terra todos os seres que Eu criei.» 5E Noé cumpriu tudo quanto o
Senhor lhe ordenara. 10Ao cabo de sete dias, as águas do dilúvio submergiram a Terra.
O pecado começa a alastrar no mundo e parece comprometer a bondade da criação
realizada por Deus. Depois do pecado de Adão e Eva, vem o de Caim e os dos «filhos
de Deus», provavelmente outros seres humanos e não anjos. E Deus chega a uma
dolorosa conclusão: «arrependeu-se de ter criado o homem sobre a Terra» (v. 6). Deus
não se arrepende da criação em si mesma, mas do pecado dos homens que a inquina e
corrompe. O "arrependimento" de Deus corresponde à atitude que os homens deveriam
manifestar depois dos seus pecados, mas não manifestam. O "arrependimento" de Deus,
se assim se pode dizer, leva-o a pensar no único remédio possível para tão grave
situação criada pelos homens rebeldes: destruir, de-criar para re-criar, começar
tudo de novo.
O mito do dilúvio é velho como o mundo. Encontramos paralelos literários na antiga
Mesopotâmia e versões orais em quase todas as culturas primitivas. O autor bíblico
reelabora-o e utiliza-o como única solução para a maldade do homem. Mas não se trata
de um castigo indiscriminado de inocentes e culpados. A intenção divina é, sobretudo,
de recriar o mundo, de renovar a face da terra. Os que sobrevivem ao dilúvio
representam toda a humanidade salva das águas, os pais da nova família humana. Noé é
como que um novo Adão, com quem a vida humana recomeça. Na tradição cristã, Noé
torna-se figura de Jesus; o dilúvio, esboço do baptismo que nos salva; a arca, onde
sobrevivem homens e animais, imagem da "barca eclesial".
O epílogo do dilúvio, com o sacrifício agradável a Deus oferecido por Noé, como
veremos amanhã, encerra a perspectiva do aniquilamento da humanidade pecadora e
abre a uma promessa de Deus sobre a estabilidade da ordem natural. O Deus de face
irada dá lugar ao Deus princípio de vida: a graça sobrepõe-se ao juízo, a bênção
suplanta a maldição.
Evangelho: Marcos 8, 14-21
Naquele tempo, 14os discípulos tinham-se esquecido de levar pães e só traziam um pão
no barco. 15Jesus começou a avisá-los, dizendo: « Olhai: tomai cuidado com o
fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes. » 16E eles discorriam entre si:
«Não temos pão.» 17Mas Ele, percebendo-o, disse: «Porque estais a discorrer que não
tendes pão? Ainda não entendestes nem compreendestes? Tendes o vosso coração
endurecido? 18Tendes olhos e não vedes, tendes ouvidos e não ouvis? E não vos
lembrais 19de quantos cestos cheios de pedaços recolhestes, quando parti os cinco pães
para aqueles cinco mil? » Responderam: «Doze.» 20«E quando parti os sete pães para
os quatro mil, quantos cestos cheios de bocados recolhestes? » Responderam: «Sete.»
21Disse-lhes então: «Ainda não compreendeis? »
Continuamos na mesma «secção dos pães» e, agora, mais concretamente, no contexto
da reação dos discípulos à revelação cristológica (8, 14-21)
Jesus pergunta aos discípulos: «Tendes o vosso coração endurecido?
» (v. 17). O tema do coração endurecido, tão dramático e complexo nos Profetas e, de
modo geral, no Antigo Testamento, aparece nos Evangelhos a propósito da
compreensão e da aceitação do mistério do Reino proposto em parábolas (Mc 4, 10-12;
Mt 13, 10-14; Lc 8, 9s.; cf. Jo 12, 37-41). O Reino era novidade com que Deus
surpreendia a todos. Só os corações simples, abertos e disponíveis o podiam acolher.
Por isso, era necessário não se deixar contaminar «com o fermento dos fariseus e com o
fermento de Herodes» (v. 15), isto é, com o orgulho e com a soberba dos fariseus e de
Herodes. Os fariseus provavelmente esperavam um Messias triunfador que, com
prodígios grandiosos, submetesse o mundo ao poder de Israel. Mas não era essa a lógica
de Jesus. A salvação que nos oferece será realizada na partilha que multiplica o pão, e
na carne «mastigada», que se torna fonte de vida eterna, isto é, na sua passagem pela
morte. Será também esse o caminho dos discípulos e da Igreja, se quiserem ser fiéis aos
ensinamentos e ao exemplo de Jesus.
Meditatio

O coração é o lugar onde se formam os pensamentos e se concebem as acções. Ao


iniciar o relato do dilúvio, o autor sagrado avança logo a causa de tal desgraça: «O
Senhor reconheceu que a maldade dos homens era grande na Terra, que todos os seus
pensamentos e desejos tendiam sempre e unicamente para o mal.» (v. 5). Literalmente o
texto de Gn 6, 5 diz: «Toda a formação dos pensamentos do seu coração era somente
mal todo o dia». A maldade do coração do homem provoca o desencanto e o sofrimento
no coração de Deus: «O Senhor arrependeu-se de ter criado o homem sobre a Terra, e o
seu coração sofreu amargamente.» (v. 6). O Senhor decide eliminar o homem, e todos
os seres vivos, da face da terra. Mas o seu coração não Lhe permite executar
completamente uma decisão tão radical e encontra logo um remédio para salvar a
humanidade: «Noé, porém, era agradável aos olhos do Senhor» (v. 8). E Deus
encarrega-o de construir a arca da salvação.
A história de Noé prefigura a história de Jesus e revela, desde o princípio, a táctica
divina, que se compraz em usar instrumentos humildes e quase insignificantes, como
Noé e a barca, para salvar a humanidade. Assim acontecerá com a eleição do povo de
Israel, pequeno e fraco no meio das nações, mas escolhido por Deus para mediar a
salvação do mundo. Quando Israel falha na sua vocação e missão, Deus abandona-o,
reservando
apenas uma pequena parte desse povo, o reino de Judá. Quando também Judá se torna
infiel, Deus entrega-o ao saque dos Assírios e deixa-o ser levado cativo pelos
Babilónios. Mas, ainda assim, o Senhor consegue encontrar no meio desse povo alguns
justos, que serão o começo de um povo novo, humilde e berço da salvação. É dessas
poucas pessoas que permaneceram fiéis que Deus fará nascer o seu Filho. E a táctica de
Deus continua até ao fim. Quando, na paixão de Jesus, tudo se tornou mau, e o próprio
Jesus está como que submerso pelo pecado de todos, o seu Coração permanece aquele
«pequeno resto» fiel por meio do qual Deus salva o mundo. Esse Coração, morto e e
trespassado na cruz, ressuscita ao terceiro dia, manifestando a nossa salvação: Jesus, o
único justo, salva o mundo inteiro! É a táctica de Deus!
Essa mesma táctica se manifesta no evangelho. Aos inquietos discípulos com a falta de
mantimentos, Jesus lembra a multiplicação dos pães: «Não vos lembrais de quantos
cestos cheios de pedaços recolhestes, quando parti os cinco pães para aqueles cinco
mil?» (vv. 18-19). Importante, importante não é ter muitas coisas, mas ter «o pão de
Deus», isto é, Jesus!

Oratio

Senhor Jesus, ao contemplar o teu Coração, manso e humilde, trespassado na cruz,


compreendo a estratégia do Pai que se compraz em fazer grandes coisas, usando
instrumentos simples e fracos. É o que já tinha verificado ao reler o Antigo Testamento,
desde Noé a João Baptista, e ao pequeno grupo de pobres no meio quais quiseste nascer
e crescer. É o que vejo também agora em Ti, servo pobre de Deus e dos homens, meu
Salvador. É o que descubro na tua Igreja, ao longo de dois mil anos de história. Na
verdade, todas as grandes obras, que efectivamente contribuem para o bem da
humanidade, começam na humildade e na insignificância, aos olhos do mundo. Mas Tu
tiras delas grandes frutos para todos, quando permanecemos unidos a Ti, único «pão
descido do céu» para nossa salvação. Que eu esteja em Ti, e Tu em mim, sempre.
Amen.

Contemplatio

A Igreja inspira-se nas virtudes de Nosso Senhor. Estuda-as, medita-as e aplica-se a


imitá-las. Mas sob o reino do Sagrado Coração, os fiéis devem remontar mais
habitualmente à nascente destas virtudes, aos sentimentos íntimos e profundos do
Coração de Jesus. Compreendem agora melhor o conselho de S. Paulo: «Formai em vós
os sentimentos do Coração de Jesus» (Fil 2,5). Penetram o Coração de Jesus em todos
os seus mistérios. E, em primeiro lugar, nos mistérios da sua vida escondida, que lemos
no seu Coração? Aí lemos o aniquilamento, a humildade, o silêncio, a imolação e o
amor. O aniquilamento: «Ele que era de condição divina, diz S. Paulo, tomou a forma
de um escravo» (Fil 2,6). Aniquilou-se, humilhou-se e fez-se obediente até à morte de
cruz.
O exemplo de Jesus ensina-nos o silêncio e a imolação: «Façamos práticas de silêncio
interior e exterior, afastando os pensamentos, as leituras, as conversas inúteis».
Imolemo-nos à vontade divina manifestada pelos nossos Superiores, pelas nossas regras,
pelas inspirações da graça. O amor: apenas isto havemos de encontrar no Coração de
Jesus. Fez tudo por amor pelo seu Pai e por nós. Façamos tudo por amor para com ele.
(Leão Dehon, OSP3, p. 55s.).

Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:


«Deus escolheu o que é fraco para no mundo confundir o que é forte.» (cf. 1 Cor 1, 27).
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20230211 de Fevereiro, 2023
Lectio
Primeira leitura: Génesis 3, 9-24
O Senhor Deus chamou o homem e disse-lhe: «Onde estás?» 10Ele respondeu: «Ouvi a
tua voz no jardim e, cheio de medo, escondi-me porque estou nu.» 11O Senhor Deus
perguntou: «Quem te disse que estás nu? Comeste, porventura, da árvore da qual te
proibi comer?» 12O homem respondeu: «Foi a mulher que trouxeste para junto de mim
que me ofereceu da árvore e eu comi.» 13O Senhor Deus perguntou à mulher: «Por que
fizeste isso?» A mulher respondeu: «A serpente enganou-me e eu comi.» 14Então, o
Senhor Deus disse à serpente: «Por teres feito isto, serás maldita entre todos os animais
domésticos e entre os animais selvagens. Rastejarás sobre o teu ventre, alimentar-te-ás
de terra todos os dias da tua vida. 15Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher, entre a
tua descendência e a dela. Esta esmagar-te-á a cabeça e tu tentarás mordê-la no
calcanhar.» 16Depois, disse à mulher: «Aumentarei os sofrimentos da tua gravidez,
entre dores darás à luz os filhos. Procurarás apaixonadamente o teu marido, mas ele te
dominará.» 17A seguir, disse ao homem: «Porque atendeste à voz da tua mulher e
comeste o fruto da árvore, a respeito da qual Eu te tinha ordenado: 'Não comas dela',
maldita seja a terra por tua causa. E dela só arrancarás alimento à custa de penoso
trabalho, todos os dias da tua vida. 18Produzir-te-á espinhos e abrolhos, e comerás a
erva dos campos. 19Comerás o pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de
onde foste tirado; porque tu és pó e ao pó voltarás.» 20Adão pôs à sua mulher o nome
de Eva, porque ela seria mãe de todos os viventes. 21O Senhor Deus fez a Adão e à sua
mulher túnicas de peles e vestiu-os. 22O Senhor Deus disse: «Eis que o homem, quanto
ao conhecimento do bem e do mal, se tornou como um de nós. Agora é preciso que ele
não estenda a mão para se apoderar também do fruto da árvore da Vida e, comendo
dele, viva para sempre.» 23O Senhor Deus expulsou-o do jardim do Éden, a fim de
cultivar a terra, da qual fora tirado. 24Depois de ter expulsado o homem, colocou, a
oriente do jardim do Éden, os querubins com a espada flamejante, para guardar o
caminho da árvore da Vida.
O Senhor Deus deu esta ordem ao homem: «Não comas o da árvore do conhecimento
do bem e do mal, porque, no dia em que o comeres, certamente morrerás.» (v. 17). Não
se trata de uma ameaça de Deus, mas de um aviso: fica a saber que, se fizeres isso, te
acontecerá isto e aquilo. Deus revela um nexo de causa e efeito: o pecado produz a
morte (cf. Gn 1, 15).
Mas a mulher, quando refere à serpente a palavra de Deus, introduz algumas ligeiras
alterações que a mudam: «Deus disse: 'Nunca o deveis comer, nem sequer tocar nele,
pois, se o fizerdes, morrereis´.» Nestas palavras pressente-se a ameaça de um castigo.
Por isso é que a mulher nem sequer ousa tocar na árvore.
É significativo que também nós, hoje, chamemos "interrogatório" ao diálogo entre Deus
e o homem, como se se tratasse de um acto judicial. Na realidade, trata-se de um puro
acto de misericórdia. Deus procura o homem - «onde estás?» - para lhe dizer que não o
abandona, apesar do pecado. Não se trata de perguntas intimidatórias, mas pedagógicas.
Deus dirige-se a Adão e Eva como se não soubesse de nada, para os ajudar a tomar
consciência do seu pecado. As consequências do pecado são temperadas pela
misericórdia. O homem não morre, como estava previsto. A sua vida terrena será
penosa, como continuamos a verificar em nós mesmos, mas não é posta sob o signo do
castigo e da maldição. A serpente é amaldiçoada. O homem e a mulher, não.

Evangelho: Marcos 8, 1-10


Naqueles dias, havia outra vez uma grande multidão e não tinham que comer. Jesus
chamou os discípulos e disse: 2«Tenho compaixão desta multidão. Há já três dias que
permanecem junto de mim e não têm que comer. 3Se os mandar embora em jejum para
suas casas, desfalecerão no caminho, e alguns vieram de longe.» 4Os discípulos
responderam-lhe: «Como poderá alguém saciá-los de pão, aqui no deserto?» 5Mas Ele
perguntou: «Quantos pães tendes?» Disseram: «Sete.» 6Ordenou que a multidão se
sentasse no chão e, tomando os sete pães, deu graças, partiu-os e dava-os aos seus
discípulos para eles os distribuírem à multidão. 7Havia também alguns peixinhos. Jesus
abençoou-os e mandou que os distribuíssem igualmente. 8Comeram até ficarem
satisfeitos, e houve sete cestos de sobras. 9Ora, eram cerca de quatro mil. Despediu-os
10e, subindo logo para o barco com os discípulos, foi para os lados de Dalmanuta.
A crítica interroga-se se esta multiplicação dos pães é, de facto, um novo milagre ou se
é uma segunda versão do que foi narrado em Mc 6, 34-44. Mas, mais importante que
saber se se trata de um ou de dois prodígios diferentes, é conhecer as intenções
querigmáticas do evangelista.
Toda esta secção parece orientada para realçar a finalidade da evangelização, incluindo
o seu aspecto taumatúrgico, a saber: libertar o homem da alienação e de tudo o que
ameaça a sua existência, não só no limite extremo entre a vida e a morte, mas também
na sua acção de cada dia. Nos dois relatos facilmente se pode ver uma alusão à refeição
eucarística, tal como era celebrada pela comunidade judeo-helenista de Cesareia, em
cujo seio nasceu o evangelho de Marcos. O evangelista parece querer realçar a
multiplicação dos pães como prefiguração da eucaristia cristã e das suas implicações a
favor dos pagãos. De facto, anota: «alguns vieram de longe» (v. 3b). Além disso, a
compaixão de Jesus é suscitada pela miséria física daquela gente que andava com Ele
havia três dias. É este sentimento de compaixão que provoca o milagre. É esse mesmo
sentimento que há-de levar à partilha na comunidade, em favor dos carenciados.
Meditatio
«Arrancarás alimento à custa de penoso trabalho», lemos na primeira leitura (v. 17). O
evangelho, ao referir a milagrosa multiplicação dos pães, parece contradizer a palavra
de Deus aos nossos primeiros pais. Que significa este contraste entre a primeira leitura e
o evangelho? Significa que Jesus vai reparar completamente os pecados do homem,
dando-lhe acesso à verdadeira prosperidade.
O relato do Génesis mostra-nos as consequências do pecado. O pecado separa-nos de
Deus. Mas também dos nossos semelhantes: «Foi a mulher que trouxeste para junto de
mim que me ofereceu da árvore e eu comi» (v. 12). Adão acusa a Deus e acusa a
mulher! A mulher, por sua vez, também atira a culpa para a serpente: «A serpente
enganou-me e eu comi» (v. 12).
O comportamento de Adão e de Eva é infantil. Não assumem as próprias
responsabilidades e procuram atribuí-las a outros. Se pensarmos bem, também nós, por
vezes, fazemos esse triste papel, criando separações entre nós. O sofrimento vivido na
vontade de Deus une; a alegria vivida fora da vontade de Deus separa. A unidade e a
comunhão encontram-se na vontade de Deus ou, se preferirmos, no amor de Deus
manifestado na sua vontade, que acolhemos e realizamos.
Mas a primeira leitura, além de situações deploráveis, também contém promessas. Logo
que o homem pecou, Deus concebeu um projecto para reparar o pecado do homem e
restabelecê-lo na comunhão Consigo e com os outros homens: «Farei reinar a inimizade
entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta esmagar-te-á a cabeça », diz
Deus à serpente (v. 15). Esta promessa realizou-se na história de Maria, Mãe de Jesus, e
na história do próprio Jesus. Segundo a Bíblia hebraica, é a «descendência» da mulher
que esmaga a cabeça da serpente; na Vulgata é a própria mulher que esmaga essa
cabeça. As duas afirmações estão correctas. No Calvário, Maria foi solidária com Cristo
na obra da nossa redenção, e foi solidária connosco, porque não se separou dos
pecadores. Aceitou o sofrimento de Cristo, e uniu-se a ele, para redenção dos pecadores.
Ofereceu-se com Cristo para glória de Deus e salvação dos homens.
Oratio
Senhor, ensina-nos que não podemos viver pelo nosso conhecimento, mas somente pela
tua misericórdia. No jardim do Paraíso, o homem e a mulher podem comer de todas as
árvores: tudo é dom! Duma só árvore não podem comer. Mas a dinâmica do pecado faz-
lhes pensar que o secundário é principal, e que, faltando uma árvore, faltavam todas.
Esquecem a tua misericórdia por causa de algo que, eles próprios, queriam alcançar.
Mas, só Tu, podes saciar a nossa fome, também aquela que nem ousamos confessar.
Sacias-nos abundantemente, gratuitamente, como sinal do teu amor. Que saibamos
aceitar e comer agradecidos o alimento que nos dás. Amen.
Contemplatio
O reino dos céus, diz Nosso Senhor (Mt 13), é semelhante a uma pedra preciosa que um
negociante descobre. Vende tudo o que tem para a conseguir. Nós temos no tabernáculo
o Rei dos reis. Está à nossa disposição com o seu reino que é a sua graça sobre a terra
aguardando a sua glória no céu. Não deveríamos deixar tudo e tudo sacrificar por este
reino? Infelizmente deixei muitas vezes a Eucaristia e o Coração de Jesus pelas
criaturas, como o povo de Israel que sacrificava o serviço de Deus por um bocado de
pão (Ez 13, 19). Mas a pedra preciosa não está longe. Ainda é tempo. Posso encontrá-la
e comprá-la, se faço os sacrifícios necessários. A Eucaristia está lá, o Coração de Jesus
está lá no tabernáculo. Mas Nosso Senhor fixa-me um preço de resgate, é o tal sacrifício
que é preciso fazer, é o tal apego que é preciso romper. Conheço este preço pelo meu
exame particular, conheço-o pelas minhas confissões habituais. Sei o que é preciso
sacrificar, mas a coragem falta-me. Senhor, ajudai-me, peço-vos pela bondade do vosso
coração e pela intercessão de Maria. Eis a árvore da vida, continuarei a abandoná-la
para correr ao fruto proibido? Eis a fonte de vida, irei ainda beber ao riacho
envenenado? Eis a jóia de um preço infinito, vou desdenhá-la /633 por um prazer
sensual? Não, quero hoje voltar às minhas resoluções salutares. Hei-de ir buscar a
minha força junto do sacrário. (Leão Dehon, OSP3, p. 632s.).

Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:


«Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela» (Gn 3,
15).

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Subsídio litúrgico a cargo de Fernando Fonseca, scj

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