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FACULDADE DE ECONOMIA
CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
CUIABÁ
2021
2
FICHA CATALOGRÁFICA
Inclui bibliografia.
Aprovado em ____/_____/_______
BANCA EXAMINADORA
Grosso
RESUMO
ABSTRACT
1. Introdução
A atividade ilegal é um fenômeno amplamente discutido na sociedade em diversas
áreas do conhecimento inclusive nas ciências econômicas. Conforme apresentado por Franco
(2016), os efeitos da atividade criminal sob a economia possuem uma relação positiva com
custo social ao afetar o bem-estar da sociedade, neste contexto, destaca-se a redução da
qualidade de vida principalmente em áreas urbanas populosas. Vale ressaltar, também, que no
Brasil, os gastos públicos associados à violência e ao capital humano consomem bilhões de
reais1 (CERQUEIRA et al, 2007).
Dado o caráter interdisciplinar da abordagem da atividade criminal, na teoria
econômica destaca-se o trabalho seminal de Becker (1968) que visando capturar as
motivações de um agente cometer um crime elaborou um modelo que teve como objetivo
compreender e apresentar o processo de tomada de decisão por parte deste agente. Entre a
obtenção de recursos por meio de atividade legal e ilegal mensuram-se os custos e ganhos,
que são racionalmente analisados, para determinar suas escolhas.
Da literatura econômica subsequente, as causas relacionadas à ocorrência de crimes
são extensas e perpassam por variáveis explicativas que envolvem desde os de ordem
socioeconômicos, até as relacionadas com preconceitos, por questões psicológicas,
demográficas, étnicas, etárias, dentre outras (EHRLICH, 1973, 1875).
Ao tratar dos casos de homicídio no Brasil, Cerqueira (2010) apresenta a evolução da
literatura a respeito da análise deste fenômeno e destaca diversas variáveis socioeconômicas
com potencial explicativo, sendo as principais: renda, desigualdade de renda e educação; além
daquelas que comumente compõe os modelos econométricos desta abordagem, como os
riscos de punição e estrutura demográfica. Neste sentido, a conexão entre variáveis
socioeconômicas e criminalidade apresentaram resultados que permitem entender melhor o
fenômeno e consolida o papel do aspecto social e econômico no comportamento da evolução
da criminalidade.
Os principais tipos de crimes podem ser desdobrados entre: crimes contra o
patrimônio, aqueles que atentam diretamente contra as posses de uma determinada instituição
1
Os gastos públicos associados à violência no Brasil em 2004, segundo Cerqueira et al (2007), atingiram,
aproximadamente, 5% do PIB destes, 60,3 bilhões de reais foram gastos para cobrir custos intangíveis e
tangíveis por parte do setor privado e 28,7 bilhões foram os gastos feitos pelo setor público, totalizando 92,2
bilhões gastos com com violência no Brasil. Já o capital humano, estimou-se um total de 20 bilhões de reais
ligados ao custo total de produção que foi perdido no Brasil entre 1995 e 2005.
7
ou pessoa e os crimes contra a pessoa, que estão atrelados diretamente a vida ou um bem
moral ameaçando a integridade do agente.
Diante do exposto, o presente trabalho visa analisar as elasticidades das variáveis
socioeconômicas sob a taxa de homicídios (crime contra a pessoa) no Estado de Mato Grosso.
Para isto, será aplicado o modelo de regressão log-log tomando as variáveis socioeconômicas
como explicativas, além de outras comumente empregadas nos modelos econômicos sobre o
crime como será descrito na metodologia.
A análise deste artigo visa entender os determinantes da criminalidade no Estado de
Mato Grosso. O presente trabalho diferencia-se ao atribuir o foco socioeconômico para
compreender a ocorrência de crimes numa unidade de observação ainda pouco explorada na
literatura; além disto, a delimitação temporal é recente, contemplando o intervalo entre 2005 a
2019. Vale ressaltar a carência de dados que impede de ampliar o numero de observações da
amostra.
O presente trabalho está divido em quatro seções além da presente introdução e das
considerações finais. A segunda seção do trabalho é dedicada a uma revisão da literatura a
respeito dos determinantes socioeconômicos do crime, a terceira seção é dedicada a apresentar
a base de dados e a metodologia empregadas, a quarta seção analisa os resultados.
2. Referencial Bibliográfico
A análise econômica do crime tem como trabalho seminal intitulado “Crime and
Punishment: An Economic Approach” de Gary Becker (1968). Neste trabalho, o modelo é
construído nos moldes da escola marginalista, sendo os indivíduos potenciais criminosos por
estarem à mercê da lógica econômica (CLEMENTE e WELTERS, 2007).
Neste sentido, a abordagem de Becker (1968) é descrita como uma teoria econômica
da escolha racional. que adota o crime como atividade econômica e o agente criminoso como
racional. O agente leva em consideração as expectativas de retorno e custos, sendo que
cometer ou não um crime estaria atrelado à busca pela maximização da utilidade futura,
resultante do conflito entre os ganhos potenciais e a pena resultante da ação criminosa. Logo,
as variáveis relevantes para esta abordagem transitam no valor da fiança ou custo da pena, nas
probabilidades de ser capturado, no custo de oportunidade entre o retorno da atividade ilegal e
o salário oferecido pelo mercado de trabalho legal (CERQUEIRA E LOBÃO, 2003;
ARRARO E OLIVEIRA, 2016).
8
2
O anexo 1 apresenta uma tabela resumo a respeito dos autores analisados na presente seção e os principais
detalhes do trabalho de cada um.
9
Já Schneider (2005) constatou que, apesar de positiva a relação, a variável renda média
não apresentou significância estatística para medir fatores econômicos em relação a
criminalidade e, consequentemente, tem pouco poder de explicação.
Por outro lado, Araújo e Fajnzylber (2000) e Piquet e Fajnzylber (2001) encontram
resultados distintos do autor supracitado no que se refere a renda per capita, visto que a
variável apresentou coeficiente negativo, e com alta significância, para crimes contra a
pessoa.
Por sua vez, a desigualdade de renda pode ser incluída indiretamente no modelo de
Ehrlich (1973)3 conforme exposto por Resende e Andrade (2011) alterando a percepção o
retorno esperado pela ação criminosa dado que em caso de sucesso, dentro de uma sociedade
mais desigual, teria uma transferência de renda maior aumentando os ganhos da atividade
ilegal.
Gutierrez et al. (2004) encontrou significância e relação positiva entre a desigualdade e
os índices de criminalidade. Da mesma forma, Kume (2004) visando estimar os determinantes
da taxa de criminalidade brasileira encontrou que o nível de desigualdade de renda e a taxa de
criminalidade no período anterior apresentam um efeito positivo sobre a taxa de criminalidade
em tempo corrente.
Em consonância com os autores anteriormente citados, Kelly (2000) ao analisar a
relação entre desigualdade e crime violento encontrou forte correlação entre eles. Porém, sua
análise não encontra efeito da desigualdade sobre crimes relacionados ao patrimônio.
O efeito contraditório da educação é expresso pelo seguinte mecanismo segundo
Fajnzylber (2002) o nível educacional de um indivíduo possui diversas formas de impactar
sob a decisão de cometer um crime. Um nível mais elevado de realização educacional pode
levar a ganhos legais maiores e elevar a postura moral. No entanto, a educação pode reduzir
os custos relacionados a cometer um crime, dado que existe uma redução na probabilidade de
ser punido, o que pode levar a um aumento nas chances de cometer tal ação.
Becker (1968) esclarece que um agente com alto nível de escolaridade tem um custo
de oportunidade distinto do agente com pouca escolaridade. Dado que maior escolaridade
elevada e alta qualificação teria uma maior chance de sucesso profissional (salários e
3
A relação entre crime e renda é amplamente discutida na literatura, no modelo de Ehrlich (1973) a alocação
de tempo do individuo se dá entre as atividades legais e ilegais, em ambas situações a escolha é racional
levando em consideração tanto o retorno marginal quanto o custo marginal levando em consideração a renda
agregada gerada pelo ato criminoso e a punição em caso de fracasso
10
emprego), esse fator aumenta o custo da decisão pela prática ilegal. Para além disto, ainda que
o agente qualificado decida cometer esse crime, em caso de prisão, pode gerar consequências
drásticas em sua carreira dificultando, posteriormente, sua inserção no mercado nos moldes
de antes de cometer a infração.
Nesse sentido, tomando o número médio de anos de estudo, Kume (2004) apresenta
que uma maior escolaridade levaria direta ou indiretamente a maiores oportunidades no
mercado de trabalho convencional e consequentemente um menor incentivo de cometer atos
criminosos, ou seja, relação negativa e estatisticamente significativa entre nível educacional e
homicídios.
Schaefer e Shikida (2001), ao analisar os crimes lucrativos, destacam que encontraram
evidências na relação maior escolaridade/baixa criminalidade ou baixa escolaridade/alta
criminalidade. Sugerindo assim que maiores níveis de escolaridade podem mitigar os níveis
de criminalidade de um determinado local.
O aspecto contraditório e a característica de relação positiva entre escolaridade e crime
são satisfatoriamente explicitados por Santos e Kassouf (2008) que esclareçam e mencionam
trabalhos que corroboram a hipótese de que a escolaridade se mostra fator de redução nas
chances de cometer um crime como homicídio, mas eleva a probabilidade de atuação no
tráfico de drogas dado que há um maior retorno da atividade ilegal de acordo com o que é
expresso por Becker (1968) a respeito da racionalidade do agente.
O desemprego apresenta também um aspecto ambíguo, como Freeman (1995) e Santos
e Kassouf (2008) apresentam: i) a auto intitulação como autônomo que pode enviesar os dados
e a relação entre os ganhos de mercado formal e os ganhos obtidos da atividade criminosa; ii)
a alta taxa de desemprego pode estar relacionada a uma baixa remuneração agregada local,
reduzindo os ganhos esperados da atividade ilegal; iii) a não disponibilidade de emprego
reduz o custo de oportunidade da atividade ilegal, vale o inverso.
Schneider (2005) encontrou fortes indícios, conforme uma parcela da literatura
descreve, de efeitos positivos entre desemprego e crimes como: homicídio, roubo e furto.
Por sua vez, Arraro e Oliveira (2016), identificaram que variações na renda impactam
positivamente roubos e as variações na taxa de desemprego, alteram os furtos de forma
positiva, ou seja, uma redução na taxa de desemprego leva a uma queda na taxa de furtos.
No que se refere a crimes violentos, o desemprego apresentou uma relação positiva ao
ser comparado com a taxa de homicídios, quanto maior a taxa de desemprego maiores serão
11
as taxas de homicídios, mas essa relação só apresenta validez até a faixa etária dos 41 anos
(MARIANO, 2010).
Conforme sintetizado por Loureiro e Carvalho (2007), apesar de menos comum, a
variável desemprego apresentou efeitos negativos em relação crimes patrimoniais e crimes
contra a pessoa trabalhos como: Ehrlich (1973) e Kelly (2000) ratificam a ambiguidade
presente nesta variável encontrando uma relação negativa ao analisar atos criminosos.
Kume (2004) esclarece a respeito do papel da urbanização na compreensão do
fenômeno criminoso, onde taxas elevadas de urbanização estariam ligadas a taxas altas de
criminalidade, dado que a identificação ficaria mais complexa e a perseguição mais difícil.
Por outro lado, o mesmo autor destaca que em centro mais densamente povoados existe uma
maior interação entre os agentes criminosos o que também poderia levar a um crescimento
nos índices de criminalidade.
Gutierrez et al. (2004) explicita que o desemprego e urbanização estão diretamente
ligados a criminalidade de forma proporcional. Kume (2004) encontra efeitos negativos na
relação urbanização e taxa de criminalidade.
Reforçando essa abordagem de Kume (2004), Reis e Beato (2000) ao investigar a
influência do uso de drogas encontram e identificam alta correlação entre crimes violentos
contra o patrimônio com a densidade e grau de urbanização.
No que se refere aos gastos com segurança pública, existe uma relação contraditória.
Tal relação é explanada e exemplificada pela análise de Loureiro e Carvalho Junior (2007)
que ao analisar os efeitos dos gastos públicos voltados à segurança pública nos Estados
brasileiros identificaram que as medidas de repressão não apresentam um poder de dissuasão
contínuo. Apesar desse resultado, os autores identificaram que gastos voltados a assistência
social apresentam efeito negativo sobre a criminalidade. Diante disto, o objetivo do gasto em
segurança, a sua alocação, apresenta resultados distintos no que se refere a criminalidade, de
forma que investimentos em repressão por exemplo podem não apresentar efeitos efetivos sob
a redução da criminalidade ao passo que o assistencialismo pode mitigar as taxas de atos
ilegais.
A questão ligada aos gastos públicos possui um aspecto contraditório. Elevados gastos
podem estar altamente correlacionados a elevados níveis de crime assim como o caso
contrário, onde localidades com baixos índices de criminalidade tendem a possuir gastos
ligados a segurança pública mais modestos (SANTOS e KASSOUF, 2008).
12
Kelly (2000), ademais, constatou que a atividade policial tem efeito negativo e
significativo em relação a redução de crimes patrimoniais, mas pouco contra crimes violentos.
Descrita a relação de algumas variáveis selecionadas com a ocorrência de crime, a
seguir, serão apresentados trabalhos que buscam investigar algumas das publicações que
analisam, do ponto de vista econômico, a atividade ilegal no Estado de Mato Grosso.
Pauluzi (2014) investigou os fatores e características associados aos crimes de
homicídio de mulheres, e para isso utilizou análise de dados estatísticos por meio de uma
abordagem descritiva, encontrando indícios de que questões ligadas ao consumo de bebidas
alcoólicas estão pouco relacionadas com este tipo de homicídio. Além disto, os autores
observaram que a queda identificada, entre 2011 e 2013, nestes tipos de crimes deve-se
exclusivamente às políticas de segurança públicas voltadas a este fim.
Rodrigues (2018), por sua vez, analisa a dinâmica de homicídios dolosos em Cuiabá,
levantando dados a respeito da identificação do perfil tanto da vítima quanto dos autores do
crime. Por meio de uma pesquisa qualitativa com análise de documentos e coleta de dados
primários, o principal resultado obtido sobre causas e fatores que motivam homicídios possui
uma percepção abrangente. Fundamentando-se em aspectos socioeconômicos como principal
fator motivador de tal conduta, sendo as principais percepções coletadas foram: envolvimento
com drogas, rixas, acerto de contas, álcool, a grande circulação de armas de fogo,
desestruturação familiar, desemprego e situações de vulnerabilidades.
Capistrano (2013) analisa a eficiência dos gastos em segurança pública para os
municípios de Mato Grosso, por intermédio de uma análise envoltória de dados, comparando
o nível de gastos e os indicadores de criminalidade (agrupados em análise fatorial)
identificando que Alto Paraguai e Santo Antônio do Leste foram os municípios com maior
eficiência. Para, além disto, o autor identificou que municípios com maior eficiência na
utilização dos recursos públicos apresentaram menores indicadores de criminalidade para
2011, indicando que a gestão e as diretrizes da política estadual de alocação de recursos
devem levar em conta as análises de eficiência na aplicação de recursos.
3. Metodologia
3.1 Dados e variáveis
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pov0 PNAD e
Proporção de pobreza6 7,243 3,967 2,878 16,377
PNADC
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A seleção do período está condicionada à disponibilidade de dados do Anuário Brasileiro de Segurança
Pública.
5
A taxa de roubo segundo a ABSP leva em conta: Roubo a estabelecimento comercial, Roubo a residência,
Roubo a transeunte, Roubo a instituição financeira e Roubo de carga.
6
Tendo em vista que o Brasil não possui uma linha oficial de pobreza, para os cálculos e estimativas será
considerada a linha de pobreza referente à adotada pelo Programa Bolsa Família em valores reais de 2019.
14
Proporção da população
com idade superior a 15
trab anos que trabalha e tem PNAD/PNADC 0,444 0,164 0,195 0,618
carteira assinada, RJFP
civil ou militar
traf
Tráfico de entorpecentes ABSP 68,553 35,355 16,02 116,7
7
Os gastos com segurança pública envolvem os recursos alocados em: policiamento, defesa civil, informação e
subfunções.
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parâmetros com o menor resíduo possível. Tal qual o objetivo do método é a minimização de
2
∑ û𝑖 resultante da equação 1 abaixo descrita (GUJARATI, 2011).
𝑌𝑖 = β1 + β2𝑋𝑖 + 𝑢𝑖 (1)
básica do modelo de regressão linear simples que pode ser adaptada e incrementada conforme
foi realizado no presente trabalho.
Feita a descrição do modelo, serão estimadas 5 equações com intuito de analisar
separadamente os efeitos de cada uma para a unidade de observação 𝑖 = 1: Mato Grosso;
com 𝑡 = 14: 2005, 2006, ..., 2019. Para as estimações, foi aplicado o logaritmo nas variáveis
do modelo, portanto, modelo log-log, cujo valor dos betas refletem a elasticidade. As análises
serão realizadas de forma desagregada afim de captar as diferentes as elasticidades das esferas
socioeconômicas sobre a taxa de homicídios.
A Equação 2 relaciona a taxa de homicídios com as variáveis que captam a condição
monetária do indivíduo e, consequentemente, à sua situação de privação na sociedade: renda
per capta, pobreza e desigualdade.
(
log 𝑙𝑜𝑔 𝑡ℎ𝑜𝑚𝑖𝑡 ) = β0 + β1𝑙𝑜𝑔(𝑟𝑑𝑝𝑐𝑖𝑡) + β2𝑙𝑜𝑔(𝑝𝑜𝑣0𝑖𝑡) + β3𝑙𝑜𝑔(𝑔𝑖𝑛𝑖𝑖𝑡) (2)
A Equação 3 visa analisar a relação entre a taxa de homicídios e a possibilidade de
inserção na atividade legal obtida pelo emprego formal e leva em conta, ainda, a situação de
vulnerabilidade social no mercado de trabalho.
(
log 𝑙𝑜𝑔 𝑡ℎ𝑜𝑚𝑖𝑡 ) = β0 + β1𝑙𝑜𝑔(𝑡𝑟𝑎𝑏𝑖𝑡) + β2𝑙𝑜𝑔(𝑣𝑢𝑙𝑠𝑖𝑡) (3)
A Equação 4 tem como objetivo compreender a influência da localização do domicílio
em termos da infraestrutura domiciliar e segurança com a taxa de homicídios. Para isto, são
consideradas as variáveis de gastos em segurança pública, a ocorrência de roubos na região e
as condições sanitárias do domicílio.
(
log 𝑙𝑜𝑔 𝑡ℎ𝑜𝑚𝑖𝑡 ) = β0 + β1𝑙𝑜𝑔(𝑡𝑟𝑜𝑢𝑖𝑡) + β2𝑙𝑜𝑔(𝑠𝑒𝑔𝑝𝑖𝑡) + β3𝑙𝑜𝑔(𝑠𝑎𝑛1𝑖𝑡) + β4𝑙𝑜𝑔( (4)
As elasticidades entre gastos de segurança pública e outros crimes são modeladas pela
Equação 5. Aqui, o intuito descrever as elasticidades e, consequentemente, a relação entre
16
outras atividades ilegais, tráfico de droga e roubo, tomando a ação pública, gastos com
segurança pública, sob o crime de homicídio, bem como a correlação entre eles.
(
log 𝑙𝑜𝑔 𝑡ℎ𝑜𝑚𝑖𝑡 ) = β0 + β1𝑙𝑜𝑔(𝑡𝑟𝑜𝑢𝑖𝑡) + β2𝑙𝑜𝑔(𝑠𝑒𝑔𝑝𝑖𝑡) + β3𝑙𝑜𝑔(𝑡𝑟𝑎𝑓𝑖𝑡) + β4𝑙𝑜𝑔( (5)
Por fim, a Equação 6 intenta captar a relação entre a educação, características
individuais, e os níveis de homicídio no Estado.
(
log 𝑙𝑜𝑔 𝑡ℎ𝑜𝑚𝑖𝑡 ) = β0 + β1𝑙𝑜𝑔(𝑒𝑑𝑢𝑐1𝑖𝑡) + β2𝑙𝑜𝑔(𝑒𝑑𝑢𝑐2𝑖𝑡) + β3𝑙𝑜𝑔(𝑒𝑑𝑢𝑐3𝑖𝑡) + β4 (6)
Além das elasticidades e das informações da estimativa, também serão apresentados o
teste que mensura o fator de inflação da variância (VIF), Teste White e Breusch-Pagan que
visam determinar a presença de heteroscedasticidade em modelos de regressão linear.
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos microdados Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos microdados da
da PNADC. PNADC.
Os gastos com segurança pública, gastos governamentais per capita voltados a
segurança, apresentam crescimento no estado de forma progressiva durante o período
analisado. Posse de entorpecentes e tráfico de drogas também apresentam crescimento a partir
de 2011 porém se mantém a níveis relativamente constantes até 2019.
As condições sanitárias, exceto a variável relacionada a coleta de lixo direta ou
indireta, apresentam crescimento ao longo dos anos com baixa variabilidade. A variável san1
manteve um nível constante de 2005 a 2015 porém em 2016 sofre queda de aproximadamente
0,2 p.p. e se mantém nesse patamar até o ano de 2019.
Abordada a estatística descritiva das variáveis do modelo, no que se refere à Equação
2, a Tabela 3 apresenta os coeficientes ligados a renda e pobreza e sua influência sob a
variação nas taxas de homicídios do Estado. A renda per capita apresenta coeficiente negativo
de -0,354 indicando que uma variação positiva, ou seja, um crescimento da renda per capita
em 1% reduz os níveis de homicídios em 0,354%. Os níveis de pobreza apresentam o mesmo
sinal, de forma que uma redução da variável em 1% leva a queda de aproximadamente
-0,327% na taxa de homicídios do Estado. No modelo estimado apenas o índice de Gini não
apresentou significância estatística.
Tabela 3 – Coeficientes, P-Valor e testes das elasticidades das variáveis de renda para a taxa
de homicídios em Mato Grosso (2005-2019).
Condições monetárias
Coeficiente Erro Padrão
𝑟𝑑𝑝𝑐𝑖𝑡 -0,354*** 0,110
𝑝𝑜𝑣0𝑖𝑡 -0,327** 0,111
𝑔𝑖𝑛𝑖𝑖𝑡 -0,282 0,621
𝑐𝑜𝑛𝑠 6,296*** 1,032
n° de obs = 14
Estatística F (3, 10) = 4,77
Prob > F = 0,02
R quadrado =0,588
R quadrado ajustado = 0,465
VIF 4,06
White: P-value 0,4423
Breusch-Pagan 0,7363
Notas: Os valores entre parênteses são os erros padrões robustos. *** p < .01, ** p < .05, * p < .1.
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da PNADC, DATASUS e Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
20
A equação 4 que visa relacionar aspectos ligados a qualidade vida e gastos públicos a
taxa de homicídios tem seus coeficientes apresentados pela tabela. Os gastos do Estado em
segurança pública apresentaram uma relação negativa de forma que uma variação positiva no
gasto leva uma redução de -0,339% na variação da taxa de homicídios.
A respeito das condições sanitárias duas das três variáveis empregadas no modelo não
apresentaram significância. Foi observada significância na proporção de domicílios que
usufruem do serviço de coleta de lixo direta ou indiretamente a variável independente que
obteve resultado significativo, porém contraditório. De forma que variação positiva dessa
variável leva a variação positiva da taxa de homicídios.
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Tabela 6 – Coeficientes, P-Valor e testes das elasticidades das variáveis de Outros tipos de
crime para a taxa de homicídios em Mato Grosso (2005-2019).
Outros tipos de crime
Coeficiente Erro Padrão
𝑡𝑟𝑜𝑢𝑖𝑡 0,181* 0,0896
𝑠𝑒𝑔𝑝𝑖𝑡 -0,180* 0,0948
𝑡𝑟𝑎𝑓𝑖𝑡 -0,157 0,116
𝑝𝑜𝑠𝑒𝑖𝑡 -0,211** 0,0868
𝑐𝑜𝑛𝑠 3.208*** 0,379
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n° de obs = 13
Estatística F (4, 8) = 9,05
Prob > F = 0,0046
R quadrado =0,819
R quadrado ajustado = 0,728
VIF 5,56
White: P-value 0,369
Breusch-Pagan 0,9603
Gastos com segurança pública apresentam efetividade nesta especificação assim como
na equação 4, de forma que há uma relação negativa em que aumentos dos gastos levam a
redução nas variações das taxas de homicídio em aproximadamente -0,180%.
A tabela 7 apresenta os resultados da estimativa da Equação 6. Os coeficientes
educacionais, salvo o coeficiente ligado aos anos médios de escolaridade, apresentaram
p-valor inferior a 0,1 de forma que, Indivíduos com 10 anos ou mais que sabem ler e escrever
impactam negativamente nos níveis de homicídios em aproximadamente 7,477% dado que a
estimativa é de variação percentual ou elasticidade.
A proporção de indivíduos com mais de 30 anos e com ensino superior completo
também tem sua variação positiva afetando negativamente a taxa de homicídios em 1,068%
quando eleva em 1%. O modelo permite inferir que as variáveis ligadas a educação possuem
relação negativa quando analisado em vista a taxa de homicídios. Porém a relação
contraditória descrita na literatura também é verificada na análise do presente modelo, dado
que a variável que indica os indivíduos com 10 anos ou mais que sabem ler e escrever
apresentam uma influência positiva e estatisticamente significativa no número de homicídios
de cerca de 2,038% para a elevação em 1% desta variável8.
Tabela 7 – Coeficientes, P-Valor e testes das elasticidades das variáveis de educação para a
taxa de homicídios em Mato Grosso (2005-2019).
Educação
Coeficiente Erro Padrão
𝑒𝑑𝑢1𝑖𝑡 0,497 0,696.
𝑒𝑑𝑢2𝑖𝑡 -7,477* 5,169
𝑒𝑑𝑢3𝑖𝑡 2,038** 0,892
𝑒𝑑𝑢4𝑖𝑡 -1,068** 0,468
𝑐𝑜𝑛𝑠 1.441 1.701
8
O presente trabalho não tem como objetivo esgotar e nem aprofundar as questões ligadas as contradições de
variáveis. Tal fenômeno será temas de pesquisas futuras.
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n° de obs = 14
Estatística F (4, 9) = 1,63
Prob > F = 0,248
R quadrado =0,421
R quadrado ajustado = 0,163
VIF 9,40
White: P-value 0,374
Breusch-Pagan 0,9142
Notas: Os valores entre parênteses são os erros padrões robustos. *** p < .01, ** p < .05, * p < .1.
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da PNADC, DATASUS e Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
5. Considerações finais
apresentaram elasticidade negativa. No que se refere a influência de outros tipos de crime sob
a taxa de homicídios, o roubo apresentou relação positiva. Por outro lado, as variáveis que não
apresentaram significância estatística foram: o índice de gini, as variáveis ligadas a
infraestrutura (𝑠𝑎𝑛2 e 𝑠𝑎𝑛3𝑖𝑡), tráfico de drogas e a variável de educação 𝑒𝑑𝑢1𝑖𝑡 que mede os
6. Referências
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Fernandez de educação; Densidade demográfica; Grau de metropolitana de
Modelo linear e
(2005) urbanização; Renda do município; Renda do salvador - 1993 a 1999
Logit. [Municípios
governo municipal.
da RMS
(1993-1999)]
Schaefer e Coleta de dados Método descritivo – aplicação de questionários Entrevistas com réus julgados Toledo-PR, 1999
Shikida (2001) primários; Análise em crimes lucrativos
descritiva.
Oliveira (2005) Dados em painel Gastos em segurança pública; Índice de Gini; Crimes violentos (taxa de Brasil, 1991 a 2000
Acesso a ensino; Densidade demográfica e Níveis homicídios)
de renda.
Carrera-Fernande Modelos de Índice de Gini; Eficiência policial e da Justiça; Analisou-se número de Região Policial da
z (2000) co-integração Desemprego; Renda média ocorrências Grande São Paulo
(RPGSP) de1995 a
1997
Rodrigues (2018) Pesquisa Modelo s/ aplicação econométrica Análise de inquéritos e boletins Cuiabá de 2011 a 2015
qualitativa com em geral.
análise de
documentos e
coleta de dados
primários
Reis e Beato Coeficiente de Taxa de renda insuficiente; Renda familiar média; Crimes contra a pessoa e o Municípios do Estado
(2000) Pearson Taxa de analfabetismo patrimônio de Minas Gerais. 1991
Kelly (2000) Modelo Logit Indice de Gini; População; Pobreza; Densidade e Crime violento e contra a Condados
Desemprego propriedade. metropolitanos, 1991
Kume (2004) MGM-SIS Taxa de urbanização; Gastos em Segurança pública; “taxa de criminalidade” Estados Brasileiros no
PIB-per capita; período de 1984 a
1998
Cerqueira (2014) Capitulo 1: desigualdade de renda; renda domiciliar per capita; Homicídios / crimes violentos Brasil,
Homicídios no proporção de jovens na população; efetivo policial; 1981-1990;1990-2001;
Brasil: uma taxa de encarceramento; prevalência de armas. 2001-2007
tragédia em três
atos
ARRARO E Séries temporais Renda média real e taxa de desemprego Crimes contra o patrimônio Região Metropolitana
OLIVEIRA (Vetores Auto (Roubo e Furto) de Porto Alegre
(2016) Regressivos)
Cerqueira et al Valoração Idade; escolaridade; localização geográfica; sexo Crimes ou ocasiões violentas Brasil 2001 a 2003
(2007) Contingente (CV)
Araújo Jr. e Mínimos Anos de Estudo; Índice de Theil; Taxa de Crimes contra a pessoa e Microrregiões do
Fajnzylber Quadrados Urbanização; Taxa de Divórcios; Taxa de Jovens propriedade Estado de Minas
(2000) Ordinários. Gerais
Gutierrez et al. Dados em Painel Escolaridade; Pobreza; Gini; Desemprego; Homicídios intencionais Todas as regiões
(2004) Segurança Pública e Urbanização. brasileiras
FAJNZYLBER Dados em Painel PIB per capita; Gini; Escolaridade Homicídios intencionais e roubo Amostra de diversos
et al. 2002 Países, 1970-1994
Schuch (2017) Dados em painel População; Policiais ativos; Remuneração média; Crimes contra a pessoa e Região Metropolitana
com correção para Divórcios; Desocupação; Escolaridade média; patrimônio de Porto Alegre, 2008
distorções Densidade demográfica; Instituições Financeiras. a 2014
espaciais
30
Pauluzi (2014) Análise de Motivações dos homicídios: Álcool, rixa, Homicídios Cuiabá e Várzea
estatística passionalidade, drogas e vingança Grande de 2011 a
descritiva 2012
Schneider (2005) Análise de Efetivo da polícia militar; as prisões efetuadas pela O homicídio, o furto, o roubo, o Região Metropolitana
Regressão polícia militar; número de pessoas cumprindo pena furto de veículos e o roubo de de São Paulo – 1991 a
em estabelecimentos prisionais; taxa de veículos. 2002
desemprego e a renda média.
Resende e Log- Log Densidade Demográfica; Média de Anos de Estudo Taxas de criminalidade por Municípios brasileiros
Andrade (2011) da Pop 25 ou mais; Taxa de Alfabetização. 100.000 habitantes – 10 tipos de - 2004
crime - (ver classificação em
anexo);
Loureiro e Log- Log Gastos com segurança pública; Coeficiente de Gini Taxa de homicídios dolosos por Brasil
Carvalho Junior de renda; A Renda domiciliar per capita média, defl 100 mil habitantes; Taxa de
(2007) acionada através do INPC (R$ de 2001); Taxa de roubos por 100 mil habitantes;
desemprego aberto Taxa de furtos por 100 mil
habitantes; Taxa de extorsões
mediante seqüestro por 100 mil
habitantes
Mariano (2010) Mínimos PIB percapta; Escolaridade; Indice de Gini; Crimes contra o patrimônio Cidades de São Paulo
quadrados ocupação formal; densidade geográfica. para o ano 2000
ordinários
Delgado (2016) Mínimos Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal Homicídio doloso, Lesão Mato Grosso
quadrados (IFDM) seguida de morte e Roubo
ordinários seguido de morte (latrocínio)
que foram agregados e
31
transformados em taxa de
criminalidade violenta por
100.000 habitantes.