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Sociologia Rural e

Urbana
Prof.a Maria Helena Trevisol

2013
Copyright © UNIASSELVI 2013

Elaboração:
Prof.ª Maria Helena Trevisol

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

307.720981

T814S Trevisol, Maria Helena

Sociologia rural e urbana / Maria Helena Trevisol,


Indaial : Uniasselvi, 2013.

202 p. : il

ISBN 978-85-7830-807-0

1. Sociologia rural – Brasil.


I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

Impresso por:
UNIDADE 1
TÓPICO 2

SOCIOLOGIA RURAL

1 INTRODUÇÃO
Caro(a) acadêmico(a)! Neste segundo tópico da Unidade 1, traremos para
discussão aspectos, que favorecem o conhecimento e a descoberta da sociologia
rural, sua origem, seu conteúdo, objetivo e a sociologia rural na atualidade.
Sabemos que ela surgiu em um momento de mudança, caracterizado pelas
transformações ocorridas no campo. Seu objeto de estudo é o próprio meio rural.

Buscaremos ajuda para muitos autores expertos na área, com suas


definições, críticas e pareceres. Alguns autores são destacados mais e outros menos.
Os menos destacados ficarão como sugestões de leitura, para complementar
nossos estudos.

Bom trabalho!

2 CONTEÚDO E OBJETIVO DA SOCIOLOGIA RURAL


De acordo com Smith, T. Lynn (1963, p. 9-13):

[...] A sociologia rural é uma ciência ou um campo científico ligado


à sociologia geral. Isto porque pretendem aplicar ao estudo de seus
problemas os mesmos métodos, comuns a todas as ciências. E, mais
ainda, aquelas técnicas de pesquisa específica da sociologia que visam
ao estudo sistematizado das relações entre os homens, pelo fato de
viverem em coletividades ou grupos, e as mudanças que daí decorre
no seu comportamento. A sociologia rural é, portanto, um campo de
estudo da sociologia geral, por isso também chamada sociologia da
vida rural. Na definição de um de seus mais autorizados mestres é o
gênero sistematizado de conhecimentos que resultam da aplicação do
método científico ao estudo da sociedade rural, de sua organização e
estrutura e de seus processos.

Graziano da Silva (1999) descreve: daí não se entende, nem é essa a intenção
que a sociologia rural seja uma especialização criada pelo simples fato de o homem
viver numa área de características ecológicas ou geográficas distintas da cidade.
Não há dúvida que a vida no campo e a prática milenar da agricultura marcaram,
até época bem próxima, as populações rurais com certas características específicas.
Sabemos, no entanto, que esses traços, como todos os caracteres adquiridos, não
seriam suficientes para autorizar um ramo tão importante da ciência social, pois
não se conseguiu até hoje provar que se transmitam hereditariamente. Acontece
que, além dessa constância de fenômenos e processos sociais na vida rural,

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UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

através dos tempos, dela resultam como da atividade agrícola, certas situações
especiais cujo estudo constitui o objeto próprio da sociologia rural. São elas,
por exemplo, o tipo de povoamento, a natureza dos títulos de propriedade e do
sistema de demarcação da terra, os sistemas agrícolas e toda a série de traços
sociais e culturais ligados à propriedade da gleba e ao trabalho agrícola e aos
quais se atribui o adjetivo agrário.

Esse conteúdo da sociologia rural certamente pode diversificar-se conforme


o tempo e a situação analisados. Ele se fundamenta, principalmente, em certas
diferenças entre a cidade e o campo, embora, não se achem estas devidamente
marcadas e até mesmo nas sociedades modernizadas de nosso tempo, tendam a
esbater-se.

Graziano da Silva (1999) nos diz ainda que: geralmente os autores dividem
o conteúdo da sociologia rural em três grandes campos:

1) A população rural, seu número, distribuição, desenvolvimento, composição,


características físicas e psicológicas, sua saúde e educação assim como seu
dinamismo, ou seja, os processos vitais de natalidade, morbidade e mortalidade;
e seus deslocamentos no espaço, ou seja, as migrações.

2) A organização rural que abrange:


a) a ecologia rural, os tipos e padrões de povoamento, os tipos de aglomerado
e de comunidade;
b) as relações institucionais entre o homem e a terra. Que hoje tendem a
constituir um sub-ramo da sociologia rural, mais conhecido como
sociologia agrária, ou seja, as normas e aspectos da fixação da população
à terra, as divises e títulos de propriedade, as características da posse e
ocupação, o tamanho das glebas e os sistemas agrícolas;
c) a morfologia social que abrange todo o estudo da diferenciação da
estratificação social, das classes e camadas em que se distribui a população
do campo;
d) as principais instituições sociais, a família, a escola, as filiações religiosas
e instituições de administração e governo, todas elas analisadas do ponto
de vista das características específicas que resultam de sua implantação
no meio rural.

3) Finalmente, a sociologia rural abrange toda a dinâmica social, isto é, todos os


processos sociais que envolvem competição, conflito, cooperação, acomodação,
assimilação e coloração e mobilidade social. Não é preciso dizer que se trata aí
da mudança social e dos fatores que influem na personalidade humana e de
toda a problemática social (crime, prostituição, alcoolismo etc.) que costuma
acompanhar esses processos.

Esse esquema clássico constituiu o núcleo dos estudos de sociologia rural,


tal como aparece nos autores que lançaram as bases científicas dessa disciplina.

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TÓPICO 2 | SOCIOLOGIA RURAL

Graziano da Silva (1999) nos faz notar:

É interessante, no entanto, notar que esse esquema vem sofrendo


ultimamente algumas mudanças, ao influxo de certos problemas ou de certos
interesses de estudiosos, ou ainda por influência de certas disciplinas nem seria
preciso indicá-lo. A contribuição de algumas dessas ciências, da demografia, por
exemplo, da psicologia social e da antropologia social. Hoje, dado o intercâmbio
mais intenso e a influência recíproca entre esses diversos ramos de estudo da
sociologia, nota-se nitidamente a formação de novas áreas de interesse. É o caso,
por exemplo, da sociologia agrária que se vincula intimamente à economia agrária
e às ciências jurídicas, principalmente ao direito civil e ao direito agrário. Este, por
sua vez, é resultante da combinação de um direito da propriedade agrária, de um
direito trabalhista e hoje de um direito da cooperação.

É o caso da sociologia do desenvolvimento rural que procura analisar


as transformações das comunidades e zonas rurais à luz dos processos de
desenvolvimento que atuam em todo o grupo social e se especificam nas áreas
urbanas e rurais.

Esse ramo vem sendo cultivado com grande interesse nos países em
desenvolvimento, e pode-se afirmar que o Brasil é um pioneiro.

O estudo das comunidades rurais é outra área intensamente cultivada


em nosso país e representa uma especialização da sociologia rural. Finalmente,
não se pode deixar de mencionar o estudo sociológico do planejamento rural, de
sua natureza e de seus efeitos, hoje capítulo obrigatório nos livros da moderna
disciplina.

Uma definição moderna que se apoia na teoria dos sistemas é a de Larson


(1968, v. 13, p. 580).
A preocupação central no estudo sociológico da sociedade rural é a
de sua organização, os sistemas sociais ou subsistemas e suas inter-
relações dentro da sociedade rural, com a sociedade urbana e a
sociedade global. Este estudo tem sido feito através de vários ângulos:
ecológico, cultural e relativo ao comportamento (behavioral).

Solari (1979, p. 4) escreve:


Cabe à Sociologia apenas a interpretação dos fatos, assumindo um
possível caráter enquanto ponto de apoio para as políticas públicas no
âmbito rural. A despeito de sua louvável preocupação em promover
melhorias, a sociologia rural (como a geral) deveria ter por [...] objeto
observar os fatos, descobrir leis, interpretar suas causas, explicá-las;
ela se ocupa daquilo que os fatos são, e não do que deveriam ser.

Dessa forma, nas palavras de Solari (1979), o homem do campo vai se
convertendo cada vez mais em um empresário, manejando uma organização
de caráter econômico, através da qual deve obter um rendimento. Assim, tais
conceitos e categorias seriam, na verdade, resultado do esforço da sociologia

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UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

rural diante desses novos desafios. A criação de mecanismos de classificação e


leitura desses espaços é de extrema importância para a formulação de políticas
públicas em todas as esferas (municipal, estadual e federal).

Para Mendras (1978), fundador da Sociologia Rural Francesa, as sociedades


rurais (camponesas) tradicionais apresentam cinco características:

• Uma relativa autonomia face à sociedade global.


• A importância estrutural dos grupos domésticos.
• Um sistema econômico de autarquia relativa.
• Uma sociedade de interconhecimento.
• A presença de mediadores entre a sociedade local e a sociedade global.

Para Kayser (apud WANDERLEY, 2000, p. 88):


O “rural” é um modo particular de utilização do espaço e de vida
social. Seu estudo supõe, portanto, a compreensão dos contornos, das
especificidades e das representações deste espaço rural, entendido, ao
mesmo tempo, como espaço físico (referência à ocupação do território
e aos seus símbolos). Lugar onde se vive (particularidades do modo de
vida e referência identitária) e lugar de onde se vê e se vive o mundo
(a cidadania do homem rural e sua inserção nas esferas mais amplas
da sociedade).

Do ponto de vista sociológico, quando se fala em “rural”, aponta-se para
duas características que são consideradas fundamentais:

• Por um lado, uma relação específica dos habitantes do campo com a natureza,
com a qual o homem lida diretamente, sobretudo por meio de seu trabalho
e do seu habitat. Trata-se, sem dúvida, das representações do espaço natural
e do espaço construído, visto que a “natureza rural”, precisamente porque é
rural, isto é, “objeto de múltiplas atividades e usos humanos, é a menos natural
possível”. (MATHIEU; JOLLIVET, 1989, p. 15).

• Por outro lado, relações sociais, também diferenciadas, que Mendras (1978)
definiu como “relações de interconhecimento”, resultantes da dimensão e da
complexidade restritas das “coletividades” rurais. Destas relações resultam
práticas e representações particulares a respeito do espaço, do tempo, do
trabalho, da família etc.

A referência a estas características, no entanto, não pode ser entendida


como a busca do que seria uma forma histórica do rural.

Rémy (1993), o “rural” não se constitui como uma essência, imutável, que
poderia ser encontrada em cada sociedade. Ao contrário, esta é uma categoria
histórica, que se transforma. Cabe, portanto, ao pesquisador, “compreender as
formas deste rural nas diversas sociedades passadas e presentes”.

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TÓPICO 2 | SOCIOLOGIA RURAL

3 QUEM É O SOCIÓLOGO RURAL

Segundo Mendras (1978, p. 316), “esse profissional é que se interessa por


todo um conjunto de aspectos da vida social que é dividido, por sua vez, em
várias “especialidades” da sociologia – sociologia política, sociologia da família,
sociologia das religiões, sociologia social etc.”

Após termos claro qual é a profissão do sociólogo rural, vamos ler a seguir
uma definição de Mendras (1978), para deixar mais claro o conceito.

De acordo com Mendras (1978):

O meio rural é um campo de investigação para todas as ciências sociais e


seu estudo não poderia constituir uma disciplina autônoma. Os geógrafos que
analisam as relações entre o homem e o meio natural e a distribuição espacial dos
fenômenos humanos começaram naturalmente a se debruçar sobre o campo.

A economia rural é um ramo (um dos mais antigos) da economia política.


Ligando-se a um passado em que a agricultura era a atividade exercida pela
maioria dos homens, a história social dá um grande destaque à descrição da
vida camponesa.

Os etnólogos estudam as estruturas ditas ‘arcaicas’ nas quais a busca ou


a produção de alimentos ocupam todos os homens.

Enfim, citadinos e rurais interessam igualmente ao psicólogo, ao


demógrafo etc. Enquanto homens iguais aos outros, os rurais também dizem
respeito a cada ciência social. Entretanto, eles vivem em um meio particular
que requer certa especialização do pesquisador e, às vezes, uma problemática
diferente.

Como o etnógrafo, o sociólogo rural deve, portanto, conhecer os métodos


e as técnicas de todas as outras ciências sociais, a não ser que conte com a
colaboração de uma equipe de diversos especialistas.
FONTE: Disponível em: <http://www.catagronegocio.com.br/uploads/1/1/7/3/11739052/03_-
_a_vocao_atual_da_sociologia_rural.pdf>. Acesso em: 27 ago. 2013.

Então, caro(a) acadêmico(a), encontra-se aqui uma profissão de fé que
remete ao que se chama a interdisciplinaridade dos “ruralistas”.

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UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

4 A HETEROGENEIDADE ESPACIAL
Evidentemente, a transformação do meio rural, longe de ser um processo
homogeneizado, resulta em uma profunda diferenciação dos espaços rurais,
tanto no que se refere aos espaços urbanos, quanto internamente, constituindo
uma rede de relações que se desenham entre situações urbanas e situações rurais,
ambas bastante heterogêneas.

Anderson, (1986, p. 184) diz:


Fica claro que tal diálogo seria sempre presente, embora variando em
grau, em intensidade, mas nunca permitindo a sobreposição total de
um (seja do rural, seja, do urbano) sobre o outro.
O contraste entre a vida metropolitana e a vida em vilas ou fazendas
não desaparecerá tão cedo [...], visto que a vida rural é algo mais
amplo do que a ‘sociologia da ocupação agrícola’, é improvável que
esse campo seja absorvido pela sociologia industrial. Além disso, já
que todos os aspectos da vida grupal são caracterizados por traços
genéricos da vida rural, outras especialidades (tais como a demografia
ou a família) continuarão recebendo contribuições da sociologia rural.

Como vemos, embora a Sociologia tenha seu campo de estudo


predeterminado – a saber, os fenômenos sociais erigidos da vida no campo
–, talvez seja possível afirmar que ela não poderia prescindir dos elementos
constitutivos dos fenômenos estritamente urbanos, mas, ao contrário, deveria
travar um diálogo com estes, haja vista que o que aqui se chamou de sobreposição
nada mais é do que este diálogo propriamente dito entre o rural e o urbano. Se há
uma ruralidade na cidade, há também uma urbanidade no campo.

5 SOCIOLOGIA RURAL: ORIGENS E ATUALIDADE


Para descrever a origem da sociologia rural e sua interligação com as demais
ciências, destacaremos diversos autores e escritos para depois individualmente
aprofundar com uma boa leitura. Basear-nos-emos em pequenos retalhos de
citações feitas no V Encontro Nacional da Anppas de 4 a 7 de outubro de 2010 –
Florianópolis –SC, com o tema: Convergências e Diálogos Interdisciplinares.

Lefebvre (1986a e 1986b), em texto originalmente publicado em 1949, nos


remete ao século XVIII para identificar as origens da sociologia rural. Naquele
momento, nascia o predomínio da indústria e da cidade sobre a agricultura e o
campo, levando à “descoberta” da realidade camponesa. Tal realidade, dominante
ao longo da maior parte da história da humanidade, entrava então em crise, e
desaparecia em relação às suas formas tradicionais. Solari (1979) também sustenta
que a origem e o desenvolvimento da sociologia rural, assim como da sociologia
geral, se vinculam à situação de crise. No caso rural, a crise apresentava duas
dimensões: a migração do campo para cidade e a urbanização do meio rural.
Freudenburg (2006, p. 22) nota que a Rural Sociology Society (RSS) foi fundada

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TÓPICO 2 | SOCIOLOGIA RURAL

logo após as primeiras décadas de queda brusca do número absoluto de empregos


rurais nos Estados Unidos. Assim, a sociologia rural “nasceu e desenvolveu-se
aguçada pelas necessidades e pelos problemas propostos pelas transformações
sociais” (SOLARI, 1971 apud MARTINS, 1986, p. 24).

A sociologia rural é um ramo ou segmento da sociologia, provavelmente


dos mais antigos (ANDERSON, 1986; LEFEBVRE, 1986a; SOLARI, 1971 apud
MARTINS, 1986). Ela trata das relações entre a gente rural e dos fatores que
influem na organização dessas relações, buscando compreender costumes e
tradições que distinguem a vida rural de outros modos de vida (LEONARD;
CLIFFORD, 1971). A sociologia rural se vale das teorias e métodos da sociologia
geral, que, por sua vez, se enriquece através das experiências particulares da
realidade social rural (JOLLIVET, 2001 apud FERREIRA, 2002). Alguns marcos
de seu desenvolvimento inicial são as publicações do Systematic Source
Book in Rural Sociology por Sorokin, Zimmerman e Galpin, em 1930,
e a fundação da Rural Sociology Society, em 1937 (ANDERSON, 1986;
FREUDENBURG, 2006).

Diversos autores afirmam o caráter interdisciplinar da sociologia rural.


Lefebvre (1986b) atribui a historiadores e geógrafos o início do estudo da
realidade camponesa, que se tornou objeto da ciência a partir do momento
em que apresentou problemas práticos, alvos de diferentes campos de estudo.
Para Jollivet (1998), sendo o meio rural um campo de investigação para todas
as ciências, seu estudo não poderia nunca constituir uma disciplina autônoma.
Dessa forma, a sociologia rural seria um campo de estudo interdisciplinar,
integrador das dimensões social, histórica e geográfica do meio rural. Já
autores como Beaulieu (2005) e Krannich (2008) consideram a sociologia rural
uma disciplina, mas que sempre valorizou orientações teóricas e abordagens
metodológicas diversas. Estes autores destacam a necessidade de se construir
“pontes” que liguem a sociologia rural a outras disciplinas e entidades
com objetivos semelhantes, ampliando sua ênfase em ensino e pesquisa
interdisciplinar. Segundo Mendras (1958 apud JOLLIVET, 1998), o sociólogo
rural deve conhecer métodos e técnicas de todas as outras ciências sociais, a
não ser que conte com a colaboração de uma equipe de diversos especialistas.
Para Freudenburg (2006), a RSS tem a tradição de ultrapassar as fronteiras
disciplinares, demonstrando o vigor das colaborações interdisciplinares e
potencializando insights em todas as disciplinas envolvidas.

O progressivo avanço do modelo urbano-industrial fomentou a crença


no “inexorável fim do Rural”. E até mesmo a sociologia rural passou a ser
questionada como disciplina, já que “parecia evocar, como seu objeto, (...)
um fenômeno anacrônico diante da integração da agricultura à indústria, do
fim do campesinato e da urbanização crescente do campo” (FERREIRA, 2002,
p.28-29). Ao ponto que, durante boa parte do século XX, as duas grandes
potências político-econômicas, Estados Unidos e União Soviética, “propuseram
a desaparição do campesinato como via para realizar o desenvolvimento

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UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

rural e (...) desencadearam inúmeros processos de destruição da natureza”


(TOLEDO, 1992). Este modelo produtivista tem se afundado em crises, como
a da superprodução e, mais recentemente, a ambiental (WANDERLEY, 2000).

Nas décadas recentes, entretanto, iniciou-se um processo de


“redescoberta” do rural, que emerge como base potencial para se repensar
a sociedade contemporânea, em especial as relações desta com os recursos
naturais. Em países de capitalismo avançado, muitas foram às transformações
do meio rural nas décadas recentes. Neste “renascimento”, o rural torna-se
cada vez mais diversificado e pluriativo, onde existem tensões e conflitos
refletidos nos interesses distintos entre, por exemplo, a destinação do espaço
rural para produção, consumo ou preservação ambiental (WANDERLEY,
2000; FERREIRA, 2002).

Veiga (2006) identifica duas hipóteses principais sobre o destino da


ruralidade: a de sua completa urbanização, formulada por Henri Lefebvre;
e a do renascimento rural, formulada por Bernard Kayser. Ambas teriam,
contudo, centralidade na "comunidade camponesa". Anderson (1986)
acrescenta ainda que o estudo da comunidade, onde reside o modo de vida
tipicamente camponês, sempre foi central na sociologia rural. Ferreira (2002)
considera que o debate desenvolvido pela sociologia rural vem evidenciando o
valor do conhecimento e modo de vida camponês, relacionado principalmente
a sua capacidade de implementar estratégias de vida sob condições adversas,
com um mínimo de recursos materiais disponíveis.

Toledo (1996) reconhece o tema do campesinato como um dos


maiores geradores de reflexões, controvérsias e publicações nas ciências
sociais contemporâneas. Entretanto, o autor considera que as relações dos
camponeses com o mundo natural foram, historicamente, negligenciadas:
a questão ecológica tem permanecido fora do interesse de campesinólogos
notáveis, como Shanin; e a revista The Journal of Peasant Studies só incluiu
contribuições nesta linha esporadicamente.

Na medida em que se agrava a crise ecológica, as ciências sociais


progressivamente se aproximam das temáticas ambientais. Diversos campos ou
subdisciplinas já buscam estabelecer estas conexões: ecologia política, sociologia
ambiental, economia ecológica... (ver, p. ex., GIDDENS, 1991; MARTELL,
1994). Freudenburg (2006) e Krannich (2008) destacam a liderança intelectual
da RSS no tema do meio ambiente e dos recursos naturais, defendendo que
a própria sociologia ambiental e dos recursos naturais nasceram dentro da
sociologia rural, lembrando que a RSS abrigou este campo emergente em
1964, gestando o grupo que deu origem ao Natural Resources Research Group
(NRRG) nos Estados Unidos. Anderson (1986) destaca a contribuição da
sociologia rural, desde o início de seu desenvolvimento, aos temas ligados à
ecologia, sinalizando para um grande potencial ainda a ser explorado nesta
área. O francês Bruno Jean (2002) também defende uma aproximação entre

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TÓPICO 2 | SOCIOLOGIA RURAL

as ciências naturais e sociais, que permita o estabelecimento de abordagens


interdisciplinares no tema específico dos territórios rurais. Autoras brasileiras,
como Maria Nazareth Wanderley (2000), Ângela Ferreira (2002) e Delma
Pessanha Neves (2009 b), fazem coro sobre a importância da questão ecológica
para a sociologia rural. Esta importância se torna ainda mais evidente quando
verificamos que impactos ambientais, como perda de biodiversidade, erosão
de solos e secagem de corpos d’água, se manifestam mais intensamente no
meio rural.

Diversos autores destacam o engajamento político da sociologia rural,


tanto ao longo de sua história quanto como perspectiva futura. A promoção
do bem-estar das populações e comunidades rurais seria uma missão histórica
da sociologia rural; contudo, os sociólogos rurais devem buscar, cada vez
mais, transformar suas pesquisas em ações práticas e políticas públicas que
as beneficiem diretamente (ANDERSON, 1986; FREUDENBURG, 2006;
KRANNICH, 2008; STEELE, 2009).

Outro tema cada vez mais recorrente na sociologia rural diz respeito ao
conceito de território, originalmente ligado à geografia. Tal conceito apresenta
uma variedade de dimensões, as quais Haesbaert (2006) sintetiza em três:

1) política, referida às relações jurídicas ou de poder;

2) simbólico-cultural que concebe o território como produto da apropriação e


valorização simbólica de determinado grupo social;

3) econômica, na qual o território se apresenta como fonte de recursos e é


incorporado no embate entre classes e categorias sociais. O método
“terroir”, desenvolvido pelos geógrafos Gilles Sautter e Paul Pélissier, cujo
objetivo é conhecer o meio rural tendo a dimensão espacial como elemento
norteador, permite uma sistematização baseada numa cartografia detalhada
do sistema agrícola e de suas representações e na coleta de dados
susceptíveis de serem quantificados (BERGAMASCO et al., 1997). Tal método
tem sido cada vez mais utilizado em trabalhos ligados à sociologia rural
(p. ex., BERGAMASCO et al., 1997; FLORIANI et al., 2008).

Segundo Leonard e Clifford (1971), a comunidade rural vive em um


espaço mais ou menos reconhecido, mantendo certa identificação com o
lugar, o que não significa que os limites do grupo existam no espaço, nem
que sua base esteja determinada por fatores físicos. O território inclui, ainda,
dinâmicas diversas: expansão ou retração de seus limites e áreas de influência,
interações sociais e mudanças demográficas, nos padrões de vida, nas formas
de uso da terra, nos papéis sociais etc. Wanderley (2000) chega a cunhar o
termo “agricultores territoriais” para definir os atores sociais polivalentes
e pluriativos do meio rural. Jean (2002) atesta para a necessidade de novas

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UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

tipologias dos territórios rurais, de novas metodologias, enfim, de uma


evolução teórica que seja capaz de compreender os processos históricos de
diversificação socioespacial do rural.

Ferreira (2002), ao listar características e tendências em comum nas


diferentes análises do rural contemporâneo, menciona a visão do meio rural
como paisagem a ser manejada e preservada, “concebida como condensação
de espaço-tempo-cultura e referência simbólica para os que a têm como quadro
do cotidiano e para os que dela se apropriam como espaço de lazer”. Cita
ainda o “ressurgimento” da noção de paisagem cultural proposto, que têm
balizado ideias e políticas de “incentivo a uma agricultura mais ecológica, a
uma multiplicidade de usos do meio rural e à revalorização da diversidade
socioambiental e cultural entre as regiões”.

O conceito de paisagem (landscape) parece ser cada vez mais familiar


aos sociólogos rurais, como nota-se, por exemplo, nos trabalhos de Friedland
(2002) e Sharp e Adua (2009), enriquecendo os estudos e análise que tratam
da organização dos habitantes rurais e suas atividades no espaço físico. [...].

FONTE: Extraído de: <http://www.anppas.org.br/encontro5/cd/>. Acesso em: 25 jul. 2012.

Assim, caro(a) acadêmico(a), aqui há uma boa explanada sobre a origem


e sua interdisciplinaridade.

A seguir, Olav Larson (1968, p. 580), na Enciclopédia de Ciências Sociais,


nos dá uma confirmação da origem da sociologia rural, que acabamos de ver:

O estudo científico da sociedade rural como área especializada da


sociologia é uma criação do século XX e, antes da Segunda Guerra
Mundial, esse fenômeno ocorreu principalmente nos Estados Unidos.
Só depois de 1950 obteve essa disciplina apoio institucional em outros
países.

6 AS DEFINIÇÕES DO MUNDO RURAL


A socióloga Maria de Nazareth Baudel Wanderley (2000) descreve a
respeito da Sociologia Rural: “Cada país “reconhece” o seu meio rural e o delimita
em função de determinados critérios. Obviamente, seria impossível recensear
neste texto todas as definições oficiais em uso, que correspondem, em cada caso,
aos recortes administrativos e de gestão do território. Transcrevo um interessante
quadro das definições oficiais do meio rural, adotadas nos países europeus, no
qual se pode perceber a diversidade de critérios e, por conseguinte, de concepções
do rural e do urbano”.

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TÓPICO 2 | SOCIOLOGIA RURAL

7 DEFINIÇÕES EUROPEIAS DO MUNDO RURAL


As definições utilizadas nos 12 países da Comunidade Europeia apo00,
havia uma multiplicidade de critérios, ao ponto que, em certos países, não existia
uma definição oficial claramente enunciada.

• Na Bélgica, dois sistemas de classificação se combinam: um referindo-se aos


municípios e levando em conta sua população e seu crescimento, o outro em
função do lugar da agricultura no espaço habitado.
• Na Dinamarca, duas abordagens podem ser distinguidas, uma procedendo
da regulamentação da construção: as zonas rurais são, então, aquelas onde
a agricultura tem prioridade; a outra, através das estatísticas: é considerada
como rural toda a região que conte menos de 200 habitações ou todo
município que compreenda uma população entre 4.000 e 10.000 habitantes.
• Na França, a definição mais corrente retém como rurais os municípios com
menos de 2.000 habitantes. Como esta definição não parece mais pertinente,
uma distinção suplementar foi acrescentada: as Zonas de Povoamento
Industrial ou Urbano (ZPIU) e o rural profundo “fora das ZPIU”.
• Na Alemanha, existe uma tipologia de diferentes coletividades territoriais que
reúne índices econômicos, número de habitantes e densidade da população.
Nesta tipologia, existem regiões definidas pela sua “vocação agrícola”.
• Na Grécia, não há definição; em sua falta, o critério da densidade
populacional (30 hab./km2) é utilizado.
• Na Itália, não existem critérios para diferenciar o meio urbano do meio rural,
mas são qualificados de rurais os municípios de menos de 10.000 habitantes.
Os municípios são classificados segundo 13 critérios.
• Na Irlanda, o critério de 100 habitantes distingue os “distritos urbanos” dos
“distritos rurais”.
• Em Luxemburgo, o rural não é distinto do urbano. As zonas rurais estão
incluídas na tipologia das zonas urbanas.
• Na Holanda, é através dos planos de utilização do solo que se opera a
distinção, muito clara, entre zona rural e zona urbana.
• Em Portugal, não há definição oficial do mundo rural.
• Na Inglaterra, o espaço rural é o espaço residual do urbano, que dá lugar a
uma classificação muito fina a partir da utilização dos solos.

Apesar de todas as transformações observadas, é possível afirmar,


como já foi dito anteriormente, que o meio rural continua sendo identificado
a uma pequena aglomeração, com uma sociabilidade correspondente e onde
predominam as paisagens naturais.

Entre as cidades e o meio rural se interpõem “descontinuidades”


(MATHIEU apud WANDERLEY, 2000), que fazem deste último um espaço
marcado por certas características fundamentais: a fraca densidade de sua
população; a menor parte do trabalho assalariado no conjunto das atividades
rurais; a predominância de empresas de pequena dimensão; a predominância
do habitat individual; a importância da paisagem.

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UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

Estes critérios estão presentes nas diversas definições do meio rural. A


“Carta europeia do espaço rural”, por exemplo, afirma: “As partes agrícolas
(inclusive a silvicultura e a pesca) e não agrícolas de um espaço rural formam
uma entidade distinta de um espaço urbano, que se caracteriza por uma forte
concentração de habitantes e de estruturas verticais ou horizontais”.

Aparentemente, estas características parecem reproduzir as definições


tradicionais das sociedades rurais. Porém, o que muda, de fato, nas sociedades
modernas, é que este meio rural não é mais um espaço isolado do meio urbano;
ao contrário, cada vez mais ele se insere de modo diferenciado, sem dúvida, na
sociedade moderna e incorpora suas mais profundas influências.
FONTE: Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAANbMAK/wanderley-a-
emergencia-nova-ruralidade-no-brasil?part=3>. Acesso em: 27 ago. 2013.

NOTA

CARTA EUROPEIA DO ESPAÇO RURAL

Trata-se de um documento proposto aos países-membros, pela Assembleia Parlamentar do


Conselho da Europa. Nele o espaço rural é definido como uma zona interiorana ou costeira,
inclusive os “villages” e pequenas cidades, na qual a maior parte das terras é utilizada para:
a) a agricultura, a silvicultura e a pesca;
b) as atividades econômicas e culturais dos habitantes desta zona (artesãos, indústrias,
serviços etc.);
c) o desenvolvimento de zonas não urbanas de lazer e de distrações (ou de reservas naturais);
d) outros usos, tais como a moradia.

(FONTE: Jornal Oficial das comunidades europeias. Nº. C 116/49. 14/04/97).

8 RELAÇÕES DE TRABALHOS NO CAMPO


As relações produtivas agrícolas não se baseiam apenas nas técnicas
e formas de cultivo, mas, também, nas relações estabelecidas entre produtor/
empresa agrícola e trabalhador. As relações mais usuais são as seguintes:

As diferentes formas de trabalho que ocorrem nesse setor produtivo são


basicamente cinco:

• mão de obra familiar;


• posseiros;
• parceria;
• arrendatários;
• trabalhadores assalariados temporários.

40
TÓPICO 2 | SOCIOLOGIA RURAL

A mão de obra familiar é o trabalho desempenhado pelos componentes


da família, por exemplo, pai e filhos. Geralmente, esse tipo de força de trabalho é
executado em pequenas e médias propriedades rurais.

Existem pequenos agricultores que são chamados de posseiros, ou seja,


utilizam terras pertencentes ao governo que se encontram improdutivas.

Existem trabalhadores rurais que não possuem terras, mas que realizam
plantios e desenvolvem a pecuária em propriedades de terceiros. Esse tipo de
empréstimo pode acontecer de duas formas: parceria e arrendamento. A parceria
se realiza quando o dono da terra cede um “pedaço de chão” ao trabalhador rural,
além de disponibilizar os elementos principais para o plantio, como sementes,
adubos etc. O pagamento se dá por meio de dinheiro ou parte da produção.

Semelhantemente, os arrendatários são trabalhadores rurais que alugam


terras de terceiros por um determinado tempo, para que possam desenvolver
o cultivo ou a criação de animais (aves, bovinos, equinos, suínos, entre outros),
nesse caso, o pagamento pode suceder por meio de dinheiro ou produção.

Também existem trabalhadores assalariados temporários, que executam


tarefas específicas, como preparar o solo, plantar, adubar ou colher. Geralmente,
esse tipo de trabalho é pago no final do dia.

A relação assalariada é baseada na troca entre força de trabalho e


remuneração (ou salário), em bases mensais. O trabalhador executa as tarefas
designadas e recebe seu salário. No Brasil devem ser respeitadas as regras
trabalhistas rurais, historicamente, representadas no Estatuto do Trabalhador
Rural (ETR), promulgado na gestão de João Goulart, no ano de 1963.

FIGURA 8 – TRABALHADOR RURAL REALIZANDO A TAREFA DE CORTE DA


CANA-DE-AÇÚCAR

FONTE: Disponível em: <http://www.google.com.br/imgres/ cortadordcana>.


Acesso em: 29 jul. 2013.

41
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

A relação temporária é uma das mais comuns. O trabalhador é "contratado"


apenas por um dia para realizar o trabalho, receber um valor acertado e ser
dispensado. Não há vínculos trabalhistas. O trabalhador mais conhecido dessa
relação temporária é o "boia-fria", que se desloca, diariamente, de sua área de
residência para o local do trabalho, se alimenta no local (come sua "boia-fria" ou
comida fria) e retorna para casa no final do dia, sem vínculos.

NOTA

Queremos lembrar que esses trabalhadores não possuem 13° salário, férias, entre
outros direitos preestabelecidos na Legislação Trabalhista Brasileira.

LEITURA COMPLEMENTAR

Fazendo uma leitura sobre os estudos interdisciplinares rurais, o escritor


Graziano da Silva, na sua obra: O novo rural brasileiro, escreveu um texto
interessante, que desejamos compartilhar com você, aproveite esta oportunidade
de reflexão e ampliações de saberes.

OS PRIMEIROS ESTUDOS RURAIS INTERDISCIPLINARES FORAM


EUROPEUS

Esse dado é muito importante para a América Latina, onde a introdução


de uma sociologia agrícola especializada representa uma tentativa artificial e
"importada". Nesse ponto, não há como fugir à opção claramente delineada por
Henri Mendras (1978, p. 318):
Se não a limitarmos a uma sociologia agrícola especializada, a
sociologia rural terá de se definir por seu campo de estudo, as
sociedades rurais, e exigirá o concurso de todas as ciências sociais para
chegar a uma integração dos diversos aspectos da vida rural. Nessa
perspectiva, ao sociólogo rural se atribui uma dupla tarefa: de um lado
estudar os aspectos da sociedade que se prendem a seu trabalho ou
suas especialidades, e, por outro lado, reinterpretar e integrar nesse
ponto de vista os dados que lhe for renascendo os pesquisadores das
outras disciplinas.

Sempre o mesmo autor nos diz: os trabalhos dos sociólogos rurais têm
resultado, recentemente, em quatro tipos de contribuições:

1) Compreensão dos aspectos estáveis ou mutáveis da sociologia rural.


2) Análise conceitual e modelos teóricos de ampla aplicação.
3) Inovações em métodos de pesquisas.

42
TÓPICO 2 | SOCIOLOGIA RURAL

4) Assistência na formulação de uma política de governo para a vida rural.

Esses interesses repercutem na América Latina, especialmente no Brasil,


pela influência inevitável dos centros de treinamento e, sobretudo, pelos modelos
internacionais transmitidos através dos empréstimos de governo a governo, e
das organizações internacionais de ajuda e assistência técnica. Dessas vertentes
da cooperação internacional, defluem sobre os países beneficiários não só os
recursos financeiros, mas a forma de aplicá-los, e todo o instrumental de execução
e avaliação de projetos. O Brasil não fugiu à regra.

Atualmente a sociologia rural europeia parece voltar-se para os problemas


do desenvolvimento. Seus temas habituais são:

1) As atitudes e comportamentos face ao progresso, isto é, resistências culturais


psicossociais e socioeconômicas, motivações etc.
2) As relações comunitárias de vizinhança, solidariedade e cooperação, num
contexto de estratificação social, abrangendo as mudanças ocorridas na
interação e desencadeadas pelos sistemas de modernização. Mobilidade
socioprofissional e geográfica das populações rurais, intensificada pela adoção
de novas tecnologias e pelas relações entre a cidade e o campo, bem como entre
a agricultura e outras atividades econômicas.
3) O associativismo no meio rural, tanto de caráter profissional, cultural,
recreativo como os movimentos de juventude.
4) Os métodos e técnicas de divulgação na agricultura, encarados sob o aspecto
da integração das atividades econômicas e das estruturas de produção e
comercialização na lavoura.
5) A difusão de inovações, novas técnicas e novos conhecimentos.
6) A sociopedagogia da promoção rural, setor que também no Brasil, por
necessidades próprias e também por influência francesa, teve grande expansão
no começo da década de 60, quando foi encarado como necessária à formação
de adultos e à educação de base; e ainda a substituição dos autodidatas na
agricultura por profissionais especializados.
7) As ciências domésticas e a modernização do habitat rural.
8) Os estudos sobre os objetivos do planejamento local e regional.
9) A influência na vida rural das transformações ocorridas nas zonas suburbanas,
industriais e turísticas.
10) A previdência social na agricultura e seus efeitos, bem como ação social para
a reestruturação das organizações agrícolas - campo de estudos inexistentes
no Brasil, dado o caráter recente e restrito da previdência social, mas que
certamente representará importante filão nas décadas futuras e, finalmente.
11) As pesquisas tecnoeconômicas que levam em conta a participação da estrutura
agrícola no quadro geral do desenvolvimento nacional.
FONTE: SILVA, José Graziano da. O novo rural brasileiro. 2. ed. São Paulo: UNICAMP, 1999, p.151.

43
RESUMO DO TÓPICO 2
• De acordo com Smith, T. Lynn (1963, p. 9):
[...] A sociologia rural é uma ciência ou um campo científico ligado
à sociologia geral. Isto porque pretendem aplicar ao estudo de seus
problemas os mesmos métodos, comuns a todas as ciências. E, mais
ainda, aquelas técnicas de pesquisa específica da sociologia que visam
ao estudo sistematizado das relações entre os homens, pelo fato de
viverem em coletividades ou grupos, e as mudanças que daí decorre
no seu comportamento. A sociologia rural é, portanto, um campo de
estudo da sociologia geral, por isso também chamada sociologia da
vida rural. Na definição de um de seus mais autorizados mestres é o
gênero sistematizado de conhecimentos que resultam da aplicação do
método científico ao estudo da sociedade rural, de sua organização e
estrutura e de seus processos.

• Geralmente os autores dividem o conteúdo da sociologia rural em três grandes


campos:

1) A população rural, seu número, distribuição, desenvolvimento,


composição, características físicas e psicológicas, sua saúde e educação
assim como seu dinamismo, ou seja – os processos vitais de natalidade,
morbidade e mortalidade; e seus deslocamentos no espaço, ou seja, as
migrações.
2) A organização rural que abrange:
a) A ecologia rural, os tipos e padrões de povoamento, os tipos de
aglomerado e de comunidade.
b) As relações institucionais entre o homem e a terra, que hoje tendem
a constituir um sub-ramo da sociologia rural, mais conhecido como
sociologia agrária, ou seja, as normas e aspectos da fixação da
população a terra, as divises e títulos de propriedade, as características
da posse e ocupação, o tamanho das glebas e os sistemas agrícolas.
c) A morfologia social que abrange todo o estudo da diferenciação
da estratificação social, das classes e camadas em que se distribui a
população do campo.
d) As principais instituições sociais, a família, a escola, as filiações
religiosas e instituições de administração e governo, todas elas
analisadas do ponto de vista das características específicas que
resultam de sua implantação no meio rural.
3) Finalmente, a sociologia rural abrange toda a dinâmica social, isto
é, todos os processos sociais que envolvem competição, conflito,
cooperação, acomodação, assimilação e coloração e mobilidade social.
Não é preciso dizer que se trata aí da mudança social e dos fatores que
influem na personalidade humana e de toda a problemática social (crime,
prostituição, alcoolismo etc.) que costuma acompanhar esses processos.

44
• A socióloga Maria de Nazareth Baudel Wanderley (2000 descreve: Cada país
“reconhece” o seu meio rural e o delimita em função de determinados critérios.

• Definições oficiais do meio rural, adotadas nos países europeus, no qual se


pode perceber a diversidade de critérios e, por conseguinte, de concepções do
rural e do urbano.

• As definições utilizadas nos 12 países da Comunidade Europeia apoiam-se em


uma multiplicidade de critérios, ao ponto que, em certos países, não existe uma
definição oficial claramente enunciada.

• Na Bélgica, dois sistemas de classificação se combinam: um referindo-se aos


municípios e levando em conta sua população e seu crescimento, o outro em
função do lugar da agricultura no espaço habitado.

• Na Dinamarca, duas abordagens podem ser distinguidas, uma procedendo


da regulamentação da construção: as zonas rurais são, então, aquelas onde a
agricultura tem prioridade; a outra, através das estatísticas: é considerada como
rural toda a região que conte menos de 200 habitações ou todo município que
compreenda uma população entre 4.000 e 10.000 habitantes.

• Na França, a definição mais corrente retém como rurais os municípios com


menos de 2.000 habitantes. Como esta definição não parece mais pertinente,
uma distinção suplementar foi acrescentada: as Zonas de Povoamento
Industrial ou Urbano (ZPIU) e o rural profundo “fora das ZPIU”.

• Na Alemanha, existe uma tipologia de diferentes coletividades territoriais que


reúne índices econômicos, número de habitantes e densidade da população.
Nesta tipologia, existem regiões definidas pela sua “vocação agrícola”.

• Na Grécia, não há definição; em sua falta, o critério da densidade populacional


(30 hab./km2) é utilizado.

• Na Itália, não existem critérios para diferenciar o meio urbano do meio rural,
mas são qualificados de rurais os municípios de menos de 10.000 habitantes.
Os municípios são classificados segundo 13 critérios.

• Na Irlanda, o critério de 100 habitantes distingue os “distritos urbanos” dos


“distritos rurais”.

• Em Luxemburgo, o rural não é distinto do urbano. As zonas rurais estão


incluídas na tipologia das zonas urbanas.

• Na Holanda, é através dos planos de utilização do solo que se opera a distinção,


muito clara, entre zona rural e zona urbana.

• Em Portugal, não há definição oficial do mundo rural.

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• Na Inglaterra, o espaço rural é o espaço residual do urbano, que dá lugar a
uma classificação muito fina a partir da utilização dos solos.

• As relações produtivas agrícolas não se baseiam apenas nas técnicas e formas


de cultivo, mas, também, nas relações estabelecidas entre produtor/empresa
agrícola e trabalhador. As relações mais usuais são as seguintes:

As diferentes formas de trabalho que ocorrem nesse setor produtivo são


basicamente cinco:

- mão de obra familiar;


- posseiros;
- parceria;
- arrendatários;
- trabalhadores assalariados temporários.

• Henri Mendras (1978) afirma: os trabalhos dos sociólogos rurais têm resultado,
recentemente, em quatro tipos de contribuições:

1) Compreensão dos aspectos estáveis ou mutáveis da sociologia rural.


2) Análise conceitual e modelos teóricos de ampla aplicação.
3) Inovações em métodos de pesquisas.
4) Assistência na formulação de uma política de governo para a vida rural.

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