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GOD IS SOVERIGN

Prof. Rubens Vilhena 1


GOD IS SOVERIGN

Índice para catálogo sistemático


Dados internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

F676t Fonseca, Rubens Vilhena.


Teoria dos Números / Rubens Vilhena Fonseca — Belém: UEPA/
Centro de Ciências Sociais e de Educação, 2017.

ISBN:978 – 85 – 88375 – 66 – 6

1. Teoria dos Números, 2ª ed.-vol 2. I. Universidade do Estado


do Pará. II. Título.

CDU: 511.68
CDD: 512.7
1. Teoria dos Números, 2ª ed: 511.68

BELÉM – PARÁ – BRASIL


- 2017 –

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ÍNDICE
3. REPRESENTAÇÃO DE INTEIROS EM OUTRAS BASES

4. CONGRUÊNCIAS E FUNÇÕES ARITMÉTICAS

4.1. INTRODUÇÃO À TEORIA DAS CONGRUÊNCIAS

4.2. CONGRUÊNCIAS LINEARES

4.3. FUNÇÕES ARITMÉTICAS

5. TRÊS CONGRUÊNCIAS ESPECIAIS

5.1. O TEOREMA DE WILSON

5.2. O PEQUENO TEOREMS DE FERMAT

5.3. O TEOREMA DE EULER

5.4. O TEOREMA CHINÊS DO RESTO

6. RAÍZES PRIMITIVAS

6.1. ORDEM DE UM INTEIRO E RAÍZES PRIMITIVAS

6.2. RAÍZES PRIMITIVAS PARA PRIMOS

6.3. LOGARITMOS DISCRETOS

7. A LEI DE RECIPROCIDADE QUADRÁTICA

7.1. RESÍDUOS QUADRÁTICOS E NÃO QUADRÁTICOS

7.2. O CRITÉRIO DE EULER

7.3. O SÍMBOLO DE LEGENDRE

7.4. A LEI DE RECIPROCIDADE QUADRÁTICA – PARTE 1

7.5. A LEI DE RECIPROCIDADE QUADRÁTICA – PARTE 2

7.6. A RECIPROCIDADE QUADRÁTICA DE GAUSS

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3. REPRESENTAÇÃO DE INTEIROS
EM OUTRAS BASES

A forma como os inteiros são representados tem um grande impacto sobre a facilidade
com que as pessoas e os computadores podem fazer a aritmética com esses números inteiros. O
objetivo deste capítulo é explicar como os números inteiros são representados usando
expansões de base b e como operações aritméticas básicas podem ser realizadas usando essas
expansões. Em particular, mostraremos que quando b é um inteiro positivo, cada inteiro
positivo tem uma única base de expansão b. Por exemplo, quando b é 10, temos a expansão
decimal de um número inteiro; Quando b é 2, temos a expansão binária desse inteiro; E quando
bis 16, temos a expansão hexadecimal. Vamos descrever um procedimento para encontrar a
expansão de base b de um inteiro e descrever os algoritmos básicos usados para realizar a
aritmética de números inteiros com expansões de base b. Finalmente, após a introdução da
notação big-0, vamos analisar a complexidade computacional dessas operações básicas em
termos de estimativas de grande-0 do número de operações de bit que eles usam.
Na vida diária, usamos notação decimal para representar números inteiros. Escrevemos
números usando dígitos para representar poderes com freqüência. Por exemplo, quando
escrevemos o inteiro 37 465, queremos dizer
𝟑 ∙ 𝟏𝟎𝟒 + 𝟕 ∙ 𝟏𝟎𝟑 + 𝟒 ∙ 𝟏𝟎𝟐 + 𝟓
Notação decimal é um exemplo de um sistema de números posicional, em que a posição
que um dígito ocupa em uma representação determina a quantidade que representa. Ao longo
da história antiga e moderna, muitas outras notações para números inteiros têm sido usadas. Por
exemplo, os matemáticos babilônicos que viveram há mais de 3000 anos expressaram números
inteiros usando sessenta como base. Os romanos usaram numerais romanos, que são usados até
hoje para representar anos. Os antigos maias usavam uma notação posicional com vinte como
base. Muitos outros sistemas de notação de números inteiros foram inventados e usados ao
longo do tempo.
Não há nenhuma razão especial para usar dez como a base em um sistema de número
de posição fixa, além de que temos dez dedos. Como veremos, qualquer inteiro positivo maior
que 1 pode ser usado como uma base. Com a invenção ea proliferação de computadores, bases
diferentes de dez tornaram-se cada vez mais importantes. Em particular, as representações de

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números inteiros base 2, base 8 e base 16 são utilizadas extensivamente por computadores para
várias finalidades.
Vamos demonstrar que não importa qual o inteiro positivo b é escolhido como uma
base, cada inteiro positivo pode ser expresso unicamente na notação de base b. Mostraremos
agora que cada inteiro positivo maior que 1 pode ser usado como uma base.

Teorema 3.1. Dado um inteiro qualquer 𝑏 > 1, todo inteiro positivo n admite uma única
representação da forma:
𝒏 = 𝒂𝒎 𝒃𝒎 + 𝒂𝒎−𝟏 𝒃𝒎−𝟏 + ⋯ + 𝒂𝟐 𝒃𝟐 + 𝒂𝟏 𝒃 + 𝒂𝟎
onde os ai são tais que 0 ≤ 𝑎𝑖 ≤ 𝑏, 𝑖 = 0, 1, . . . , 𝑚.

Para 𝑏 = 2, vemos pelo Teorema 3.1 que o seguinte corolário é válido.

Corolário 3.1. Cada inteiro positivo pode ser representado como uma soma de potências
distintas de base 2.
As demonstrações desses resultados estão no final desta seção.
Nas expansões descritas no Teorema 3.1, b é chamada de base ou raiz da expansão.
Chamamos base notação 10, a nossa maneira convencional de escrever números inteiros,
notação decimal. As expansões de base 2 são chamadas expansões binárias, as expansões de
base 8 são chamadas expansões octais e as expansões de base 16 são chamadas hexadecimais
ou hexadecimais. Os coeficientes 𝑎𝑖 são chamados os dígitos da expansão. Os dígitos binários
são chamados de bits (dígitos binários) na terminologia do computador.
Para distinguir representações de inteiros com bases diferentes, usamos uma notação
especial. Escrevemos (𝑎𝑘 𝑎𝑘−1 … 𝑎1 𝑎0 )𝑏 para representar o número 𝑎𝑘 𝑏 𝑘 + 𝑎𝑘−1 𝑏 𝑘−1 + ⋯ +
𝑎1 𝑏 + 𝑎0

Exemplo3.1 105 = 1. 26 + 1. 25 + 0. 24 + 1. 23 + 0. 22 + 0.2 + 1 = (1101001)2 . Por outro


lado, (100111)2 = 1. 25 + 0. 24 + 0. 23 + 1. 22 + 1.2 + 1 = 39.

O leitor pode verificar que a demostração do Teorema 3 fornece um método para


encontrar a expansão na base b (𝑎𝑘 𝑎𝑘−1 … 𝑎1 𝑎0 )𝑏 de qualquer inteiro positivo n.
Especificamente, para encontrar a expansão de base b de n, dividimos primeiro n por b. O resto
𝑛
é o dígito 𝑎0 . Então, dividimos o quociente ⌊𝑏 ⌋ = 𝑞0 por b. O restante é o dígito 𝑎1 .

Continuamos este processo, sucessivamente dividindo o quociente obtido por b, para obter os

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dígitos na base b da expansão de n. O processo para quando se obtém um quociente 0. Em


outras palavras, para encontrar a expansão de n na base b, executamos o algoritmo de divisão
repetidamente, substituindo o dividendo cada vez pelo quociente, e paramos quando chegamos
a um quociente que é 0. Então lemos a lista de restos para encontrar a expansão na base 𝑏.
Ilustramos este procedimento no exemplo a seguir.

Exemplo 3.2. Escrever 31415 no sistema de base 8.


Temos, sucessivamente:
31415 = 8.3926 + 7
3926 = 8.490 + 6
490 = 8.61 + 2
61 = 8.7 + 5
7 = 8.0 + 7
Portanto 31415 = 7. 84 + 5. 83 + 2. 82 + 6.8 + 7 = (75267)8

Exemplo 3.3. Para encontrar a expansão de 1864 na base 2, usamos sucessivamenete o


algoritmo da divisão
1864 = 2 · 932 + 0,
932 = 2 · 466 + 0,
466 = 2 · 233 + 0,
233 = 2 · 116 + 1,
116 = 2 · 58 + 0,
58 = 2 · 29 + 0,
29 = 2 · 14 + 1,
14 = 2 · 7 + 0,
7 = 2 · 3 + 1,
3 = 2 · 1 + 1,
1 = 2 · 0 + 1.
Para obter a expansão de 1864 na base 2, tomanos os restos das divisões, para mostrar
que

(𝟏 𝟖𝟔𝟒)𝟏𝟎 = (𝟏 𝟏𝟏𝟎𝟏𝟎𝟎𝟏𝟎𝟎𝟎)𝟐 .

Os computadores representam números internamente usando uma série de "switches"


que podem ser "on" ou "off". (Isso pode ser feito eletricamente ou mecanicamente, ou por outros

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meios). Portanto, temos dois estados possíveis para cada comutador. Podemos usar "on" para
representar o dígito 1 e "off" para representar o dígito 0; É por isso que os computadores usam
expansões binárias para representar inteiros internamente.
Os computadores usam base 8 ou base 16 para fins de exibição. Na notação de base 16
(hexadecimal) há 16 dígitos, geralmente indicados por 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, A, B, C, D, E,
F. As letras A , B, C, D, E e F são utilizados para representar os dígitos que correspondem a 10,
11, 12, 13, 14 e 15 (escritos em notação decimal). O exemplo a seguir demonstra a conversão
de notação hexadecimal para decimal.

Exemplo 3.4. Para converter (𝐴35𝐵0𝐹)16 de hexadecimal para notação decimal, escrevemos
(𝐴35𝐵0𝐹)16 = 10 · 165 + 3 · 164 + 5 · 163 + 11 · 162 + 0 · 16 + 15 = (10705679)10
Uma conversão simples é possível entre notação binária e hexadecimal. Podemos
escrever cada dígito hexadecimal como um bloco de quatro dígitos binários de acordo com as
correspondências dadas na Tabela 3.1.

Exemplo 3.5. Um exemplo de conversão de hex para binário é (2𝐹𝐵3)16 =


(10111110110011)2 Cada dígito hexadecimal é convertido em um bloco de quatro dígitos
binários (os zeros iniciais no bloco inicial (0010)2 correspondentes ao dígito (2)16 são
omitidos.
Para converter de binário para hexadecimal, considere (11110111101001)2.
Dividimos isto em blocos de quatro, partindo da direita, os blocos são, da direita para a
esquerda, 1001, 1110, 1101 e 0011 (com dois zeros iniciais adicionados). Construindo cada
bloco para hexadecimal, obtemos (3𝐷𝐸9)16.

Hexadecimal Binário Hexadecimal Binário


0 0000 8 1000
1 0001 9 1001
2 0010 A 1010
3 0011 B 1011
4 0100 C 1100
5 0101 D 1101
6 0110 E 1110
7 0111 F 1111

Tabela 1. Conversão de blocos hexadecimais para blocos binários

Observamos que uma conversão entre duas bases diferentes é tão fácil quanto uma
conversão hexadecimal sempre que uma das bases for uma potência da outra.

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Exemplo 3.6. Escrever (3531)6 no sistema de base 10.


Temos, (3531)6 = 3. 63 + 5. 62 + 3.6 + 1 = 847.

Exemplo 3.7. Escrever (6165)7 no sistema de base 12.


Temos, (6165)7 = 6. 73 + 1. 72 + 6.7 + 5 = 2154.
Vamos escrever 2154 (base 10) na base 12:
2154 = 12.179 + 6
179 = 12.14 + 11
14 = 12.1 + 2
1 = 12.0 + 1

No sistema de base 12 designamos 10 e 11 por A e B, respectivamente, de modo que os


algarismos deste sistema são: 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, a, b. Portanto, 2154 = 1. 123 + 2. 122 +
𝐵. 12 + 6 = (12𝐵6)12

Demonstração do Teorema 3.1

Pelo algoritmo da divisão aplicado aos inteiros n e b, temos:

𝑛 = 𝑏𝑞1 + 𝑎0 , 0 ≤ 𝑎0 < 𝑏 (0)

Aplicando, agora, o algoritmo da divisão ao quociente 𝑞1 e ao inteiro b, temos:

𝑞1 = 𝑏𝑞2 + 𝑎1 , 0 ≤ 𝑎1 < 𝑏 (1)

Analogicamente, continuando a aplicar o algoritmo da divisão aos quocientes obtidos 𝑞𝑖 e ao


inteiro b, temos:

𝑞2 = 𝑏𝑞3 + 𝑎2, 0 ≤ 𝑎2 < 𝑏 (2)


𝑞3 = 𝑏𝑞4 + 𝑎3, 0 ≤ 𝑎3 < 𝑏 (3)

e assim por diante.


Como 𝑛 > 𝑞1 > 𝑞2 > 𝑞3 > ⋯ e cada 𝑞𝑖 ≥ 0, esta seqüência decrescente dos quocientes
𝑞𝑖 é finita, isto é, existe um índice m tal que

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𝑞𝑚−1 = 𝑏𝑞𝑚 + 𝑎𝑚−1 , 0 ≤ 𝑎𝑚−1 < 𝑏 (m-1)


𝑞𝑚 = 𝑏 ∙ 0 + 𝑎𝑚 = 𝑎𝑚 , 0 ≤ 𝑎𝑚 < 𝑏 (m)

Multiplicando por b ambos os membros de (1), por 𝑏 2 ambos os membros de (2), por base
𝑏 3 ambos os membros de (3), ..., por 𝑏 𝑚−1 ambos os mebros de (m-1), obtemos o conjunto de
igualdades:
𝑛 = 𝑏𝑞1 + 𝑎0 , 0 ≤ 𝑎0 < 𝑏
𝑏𝑞1 = 𝑏 2 𝑞2 + 𝑎1 𝑏, 0 ≤ 𝑎1 < 𝑏
𝑏 2 𝑞2 = 𝑏 3 𝑞3 + 𝑎2 𝑏 2 , 0 ≤ 𝑎2 < 𝑏
𝑏 3 𝑞3 = 𝑏 4 𝑞4 + 𝑎3 𝑏 3 0 ≤ 𝑎3 < 𝑏
…………………….. …………
𝑏 𝑚−1 𝑞𝑚−1 = 𝑏 𝑚 𝑎𝑚 + 𝑎𝑚−1 𝑏 𝑚−1 , 0 ≤ 𝑎𝑚−1 < 𝑏

Somando ordenadamente todas essas m igualdades, teremos:

𝑛 + (𝑏𝑞1 + 𝑏 2 𝑞2 +. . . +𝑏 𝑚−1 𝑞𝑚−1 ) =


= (𝑏𝑞1 + 𝑏 2 𝑞2 +. . . +𝑏 𝑚−1 𝑞𝑚−1 ) +
+𝑎0 + 𝑎1 𝑏 + 𝑎2 𝑏 2 +. . . +𝑎𝑚−1 𝑏 𝑚−1 + 𝑎𝑚 𝑏 𝑚

ou finalmente:

𝑛 = 𝑎𝑚 𝑏 𝑚 + 𝑎𝑚−1 𝑏 𝑚−1 +. . . +𝑎2 𝑏 2 + 𝑎1 𝑏 + 𝑎0

Demonstração do Corolário 3.1

Seja n um número inteiro positivo. Do Teorema 3.1 com 𝑏 = 2, sabemos que

𝑛 = 𝑎𝑘 2𝑘 + 𝑎𝑘−1 2𝑘−1 + ⋯ 𝑎1 2 + 𝑎0,

onde cada 𝑎𝑖 é 0 ou 1. Portanto, cada inteiro positivo é a soma de potências distintas de


2. □

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PRECIOSIDADES – Parte I

1) Escrever (31322)4 e (5𝐴19)11 no sistema de base 10

2) Escrever no sistema de base 10, (314)5 , (3141)7 e (3141)11

3) Escrever 132 e 285 no sistema de base 8

4) Escrever 1492 nos sistemas de base 2, 3, 7, 9 e 11

5) Escrever (7645)8 no sistema de base 5 e (𝑎3𝑏)12 no sistema de base 7

6) Resolver as seguintes equações: a) (123)4 = 𝑥5 , b) (234)5 = 𝑥6 , c) (123)𝑥 = (1002)4

7) Escrever 2417 no sistema de base 5 e 1639 no sistema de base 7

8) Determinar a base do sistema no qual 73 se escreve 243

9) Determinar a base do sistema no qual (346)7 se escreve 91

10) Escrever (3ab7)12 no sistema de base 10

PRECIOSIDADES – Parte II

1) Converter 1999 para a base 7. Converter (6105)7 para base dez.

2) Converter 89156 para a base 8. Converter (706113)8 para base dez.

3) Converter (10101111)2 para decimal e 999 para binário.

4) Converter (101001000)2 para decimal e 1984 para binário.

5) Converter (100011110101)2 e (11101001110)2 para hexadecimal.

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6) Converter (𝐴𝐵𝐶𝐷𝐸𝐹)16, (𝐷𝐸𝐹𝐴𝐶𝐸𝐷)16 e (9𝐴0𝐵)16 para binário.

7) Explique por que realmente estamos usando a base 1000 quando quebramos inteiros decimais
grandes em blocos de três dígitos ligeiramente separados.

8) Mostre que se b é um inteiro negativo menor que −1, então cada inteiro n diferente de zero
pode ser escrito de forma única como

𝑛 = 𝑎𝑘 𝑏 𝑘 + 𝑎𝑘−1 𝑏 𝑘−1 + ⋯ + 𝑎1 𝑏 + 𝑎0

onde 𝑎𝑘 ≠ 0 e 0 ≤ 𝑎𝑗 < |𝑏| para 𝑗 = 0, 1, 2, . . . , 𝑘. Escrevemos = (𝑎𝑘 𝑎𝑘−1 … 𝑎1 𝑎0 ) , como


fazemos para bases positivas.

9) Encontre a representação decimal de (101001)−2 e (12012)−3.

10) Encontre as representações na base −2 dos números decimais −7, −17 e 61.

11) Mostre que qualquer “peso” que não exceda 2𝑘 − 1 kg, por exemplo, pode ser medido
usando pesos de 1, 2, 22 , … , 2𝑘−1 , quando todos os pesos são colocados em uma balança.

12) Mostre que cada inteiro não nulo pode ser representado unicamente na forma

𝑒𝑘 3𝑘 + 𝑒𝑘−1 3𝑘−1 + ⋯ + 𝑒1 3 + 𝑒0

onde 𝑒𝑗 = −1, 0 ou 1 1 para 𝑗 = 0, 1, 2, . . . , 𝑘 e 𝑒𝑘 ≠ 0. Essa expansão é chamada de expansão


ternáia balanceada.

3𝑘 −1
13) Use a questão 12 para mostrar que qualquer peso que não exceda pode ser medido
2

usando pesos de 1, 3, 32 , . . . , 3𝑘−1, quando os pesos são colocados em qualquer balança.

14) Explique como converter de base 3 para base 9, e de base 9 para base 3.

15) Explique como converter de base r para base 𝑟 𝑛 , e de base 𝑟 𝑛 para base r, quando 𝑟 > 1
e n são números inteiros positivos.

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16) Mostre que se 𝑛 = (𝑎𝑘 𝑎𝑘−1 … 𝑎1 𝑎0 )𝑏 , então o quociente e o resto quando n é dividido por
bj são 𝑞 = (𝑎𝑘 𝑎𝑘−1 … 𝑎𝑗 )𝑏 e 𝑟 = (𝑎𝑗−1 … 𝑎1 𝑎0 )𝑏 , respectivamente.

17) Se a expansão na base b de n é 𝑛 = (𝑎𝑘 𝑎𝑘−1 … 𝑎1 𝑎0 )𝑏 , qual é a expansão na base b de


𝑏 𝑚 𝑛?

As representações binárias complementares dos número inteiros são usadas para


simplificar a aritmética computacional. Para representar números inteiros positivos e negativos
em notação binária com valor absoluto menor que 2𝑛 , um total de 𝑛 + 1 bits (dígitos) é usado.
O bit (dígito) mais à esquerda é usado para representar o sinal. Um 0 nesta posição é
utilizado para números inteiros positivos, e um 1 nesta posição é usado para números inteiros
negativos, ambos escritos em notação binária.
Para inteiros positivos, os bits restantes são idênticos à expansão binária do inteiro. Por
exemplo, digamos que queremos a representação binária complementar de 19 com
comprimento de 8 bits. Como 19 = (10011)2, vemos que há 5 bits na sua representação binária,
como 19 é positivo, completamos os três dígitos que faltam com zeros. Assim, 00010011 é sua
representação binária complementar.ra os inteiros negativos, os bits restantes são obtidos
primeiro encontrando a expansão binária do valor absoluto do inteiro, e então trocamos os
valores 1 por 0 e vice-versa. Os bits restantesão completados por 1’s. Agora, queremos a
representação de −19 com 8 bits. Já vimos que a representação binária do seu valor absolute é
10011. Fazemos então a inversão dos valores, isto é, 01100 e completamos os dígitos que
faltam com dígitos iguais a 1, para obtermos 11101100.

18) Encontre as representações bináriass complementares, usando sequências de bits de


comprimento seis, dos seguinte inteiros.

a) 22 b) 31 c) −7 d) −29

19) Determine quais são os números inteiro nas seguintes representações binárias
complementares de comprimento cinco.

a) 11001 b) 01101 c) 10001 d) 11111

20) Como é a representação binária complementar de -m obtida a partir da representação binária


complementar de m, quando são usadas sequências de bits de comprimento n?

21) Mostre que se m é um número inteiro com a representação binária complementar

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𝑎𝑛−1 𝑎𝑛−2 … 𝑎1 𝑎0, então 𝑚 = −𝑎𝑛−1 (2𝑛−1 − 1) + ∑𝑛−2 𝑗


𝑖=0 𝑎𝑖 2 .

A representação binária complementar dupla de inteiros também são usadas para


simplificar a aritmética computacional (de fato, elas são usados muito mais comumente do que
as representações binárias complementares). Para representar um inteiro x com −2𝑛−1 ≤ 𝑥 ≤
2𝑛−1 − 1, logo n bits são usados.
O bit mais à esquerda representa o sinal, com 0 usado para inteiros positivos e 1 para
inteiros negativos.
Para um inteiro positivo, os 𝑛 − 1 bits restantes são idênticos à expansão binária do
inteiro. Para um inteiro negativo, os bits restantes são os bits da expansão binária de 2𝑛−1 −
|𝑥|.
Vejamos um exemplo. Seja 𝑥 = 19, queremos sua representação binária dupla. Como
−26−1 ≤ 19 ≤ 26−1 − 1, logo o comprimento será de 6 bits. Já vimos que há 5 bits na sua
representação binária, então como 19 é positive basta acrescentar um zero à esquerda, 010011.
Para 𝑥 = −19, temos 26−1 − |−19| = 13. Primeiramente façamos a expansão binária
complementar dupla de 13 com 6-1 bits, ou seja, 01101. Agora, como −19 é negativo, teremos
101101, como sua expansão binária complementar dupla.

22) Encontre as representações binárias complementares duplas, usando strings de bits de


comprimento seis, dos inteiros da questão 18.

23) Quais números inteiros estão com representação binária dupla na questão 19?

24) Mostre que se m for um inteiro com uma representação complementar binária dupla
𝑎𝑛−1 𝑎𝑛−2 … 𝑎1 𝑎0, então 𝑚 = −𝑎𝑛−1 (2𝑛−1 ) + ∑𝑛−2 𝑗
𝑖=0 𝑎𝑖 2 .

25) Como é a representação binária complementar dupla de -m obtida a partir da representação


binária complementar dupla de m, quando são usadas sequências de bits de comprimento n?

26) Como conseguir a representação binária complementar dupla de um inteiro a partir da sua
representação binária complementar?

27) Algumas vezes, os inteiros positivos são codificados usando expansões binárias de quatro
dígitos para representar cada dígito decimal. Isso produz a forma decimal binária codificada
(DBC) do inteiro. Por exemplo, vamos codificar 791. Primeiro temos que 1 = (0001)2,
9 = (1001)2 e 7 = (0111)2 , assim 011110010001 é a representão binária codificada de 791.

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Quantos bits são necessários para representar um número com n dígitos decimais usando este
tipo de codificação? Converta os inteiros 21, 79 e 126 para a forma decimal binária codificada.

Uma expansão de Cantor de um inteiro positivo n é uma soma

𝑛 = 𝑎𝑚 𝑚! + 𝑎𝑚−1 (𝑚 − 1)! + ⋯ + 𝑎2 2! + 𝑎1 1!,

onde cada aj é um inteiro com 0 ≤ 𝑎𝑗 ≤ 𝑗 𝑒 𝑎𝑚 ≠ 0.

28) Encontre as expansões de Cantor de 14, 56 e 384.

29) Mostre que cada inteiro positivo tem uma única expansão de Cantor.

30) Um certo número decimal de três dígitos aumenta de 36 se permutarmos os dois dígitos da
direita, e diminui de 270 se permutarmos os dois dígitos da esquerda. O que acontece ao número
se permutarmos os dois dígitos extremos? (c. Hefez)

31) Escolha um número decimal abc de três dígitos, de modo que o dígito das centenas a e o
das unidades c difiram de, pelo menos, duas unidades. Considere os números abc e cba e
subtraia o maior do menor, obtendo xyz. A soma xyz com zyx vale 1089. Justifique esse fato.
(c.Hefez)

32) Mostre que o único inteiro com uma expansão decimal de quatro dígitos distintos, tal que
𝑇(𝑎) = 𝑎 é 𝑎 = 6174. O inteiro 617 4 é chamado de constante de Kaprekar (em homegem ao
matemático indiano D.R. Kaprekar (1905-1986)), porque é o único inteiro com esta
propriedade.

33) a) Mostre que se a é um inteiro positivo com uma expansão decimal de quatro dígitos
distintos, então a seqüência 𝑎, 𝑇(𝑎), 𝑇(𝑇(𝑎)), 𝑇(𝑇 (𝑎))), …, obtido por iteração de T, atinge
sempre o número inteiro 6174.

b) Determine o número máximo de passos necessários para que a sequência definida na parte
(a) atinja 6174.

Seja b um inteiro positivo e seja a seja um inteiro com uma expansão de quatro dígitos distintos
na base b. Defina 𝑇𝑏 (𝑎) = 𝑎’ − 𝑎’’ onde 𝑎’ é o inteiro com uma expansão na base b obtida
escrevendo os dígitos de a em ordem decrescente, e 𝑎’’ é o inteiro com uma expansão na base
b obtida escrevendo os dígitos de a em ordem crescente.

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34) Seja 𝑏 = 5. Encontre o único inteiro com uma expansão de 4 dígitos distintos na base b tal
que 𝑇5 (𝑎0 ) = 𝑎0 · Mostre que este inteiro a0 é uma constante de Kaprekar para a base 5, ou
seja, que 𝑎, 𝑇 (𝑎), 𝑇(𝑇(𝑎)), 𝑇(𝑇 (𝑎))), … , , . .. eventualmente atinge 𝑎0 , sempre que a for um
inteiro com uma expansão de 4 dígitos distintos na base 5.

35) Mostre que não existe uma constante de Kaprekar para números de quatro dígitos distintos
na base 6.

36) Determine se há uma constante de Kaprekar para inteiros de três dígitos distintos na base
10. Prove que sua resposta está correta.

37) Uma sequência 𝑎𝑗 , 𝑗 = 1.2, . .. é chamada de sequência de Sidon, (em homenagem ao


matemático húngaro Simon Sidon), se todas os pares de somas 𝑎𝑖 + 𝑎𝑗 onde 𝑖 ≤ 𝑗 são sempre
de valores diferentes. {1, 2, 4, 8, 13, 21, 31, 45, 66, 81, 97, 123, 148, 182, 204, 252, 290, 361}
é um exemplo de sequência de Sidom com 18 termos. Use o Teorema 3.1 para mostrar que a
seqüência 𝑎𝑗 , 𝑗 = 1.2, . .. é uma sequência de Sidon quando 𝑎𝑗 = 2𝑗 .

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4. CONGRUÊNCIAS

A linguagem das congruências foi inventada pelo importante matemático alemão Gauss.
Permite-nos trabalhar com relações de divisibilidade da mesma forma como trabalhamos com
igualdades. Vamos desenvolver as propriedades básicas das congruências neste capítulo,
descrever como fazer aritmética com congruências e estudar congruências envolvendo
incógnitas, as congruências lineares. Um exemplo que leva a uma congruência linear é o
problema de encontrar todos os inteiros x tais que quando 7𝑥 é dividido por 11, o resto é 3.
Também estudaremos sistemas de congruências lineares que surgem de problemas como o
antigo quebra-cabeça chinês que pede um número que deixa restos 2, 3 e 2, quando dividido
por 3, 5 e 7, respectivamente. Vamos aprender como resolver esse quebra-cabeça e o sistema
que resulta desse enigma, usando um famoso método conhecido como o teorema do resto
chinês. E por último estudaremos como resolver congruências polinomiais.

4.1. Introdução à Teoria das Congruências

A linguagem especial das congruências é extremamente útil na teoria dos números, foi
desenvolvida no início do século XIX por Karl Friedrich Gauss, um dos matemáticos mais
famosos da história.
A linguagem das congruências possibilita trabalhar com relações de divisibilidade tanto
quanto trabalhamos com igualdades. Antes da introdução de congruências, a notação utilizada
para as relações de divisibilidade era difícil e complicada de trabalhar. A introdução de uma
notação conveniente ajudou a acelerar o desenvolvimento da teoria dos números.

Definição. Sejam a e r inteiros quaisquer e seja 𝑚 > 1 um inteiro positivo fixo. Diz-se que a
é congruente a r módulo m se, e somente se, m divide a diferença 𝑎 − 𝑟. Em outros termos a é
congruente a r módulo m se, e somente se, existe um inteiro q tal que 𝑎 − 𝑟 = 𝑚𝑞.
Simbolicamente:

a  r (mod m)  m | ( a – r )  a - r = mq  a = mq + r

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Ilustrando.
3 ≡ 24 (mod 7) e 3 = 7. (−3) + 24; −31 ≡ 11 (mod 6);
−15 ≡ −63 (mod 8); 19 ≡ −2 (mod 7) e 19 = 3.7 + (− 2)

Se m não divide a diferença 𝑎 − 𝑟, então diz-se que a é incongruente a r módulo m, 𝑎 ≢


𝑟 (mod 𝑚).

Ilustrando. 13 ≢ 4 (mod 6); −30 ≢ 15 (mod 4) ; −10 ≢ −13 (mod 5)

Observações:

1) Dois inteiros quaisquer são congruentes módulo 1


2) Dois inteiros são congruentes módulo 2, se ambos
são pares ou ambos são ímpares.
3) 𝑎 ≡ 0 (mod 𝑚) se, e somente se, 𝑚 | 𝑎.

Congruências muitas vezes surgem na vida cotidiana. Por exemplo, os relógios


trabalham modulo 12 ou 24 por horas e modulo 60 por minutos e segundos; calendários trabalho
módulo 7 para dias da semana e módulo 12 para meses.

Ao trabalhar com congruências, às vezes precisaremos traduzi-las em igualdades. Os


seguintes teoremas nos ajudarão a fazer isso. As demonstrações serão deixadas a cargo dos
leitores nos divertimentos aritméticos.
Nosso primeiro teorema fornece uma caracterização útil de congruência módulo m em
função dos restos da divisão por n.

Teorema 4.1.1. Para inteiros arbitrários a e r, 𝑎 ≡ 𝑟(𝑚𝑜𝑑 𝑚) se, e somente se, a e r deixam o
mesmo resto não negativo quando divididos por m.

Exemplos. 279 ≡ 149 (mod 13), pois 279 = 13.21 + 𝟔 e 149 = 13.11 + 𝟔.
−79 ≡ 137 (mod 18), pois −79 = 18. (−5) + 𝟏𝟏 e 137 = 18.7 + 𝟏𝟏.
−46 ≡ −95 (mod 7), pois −46 = 7. (−7) + 𝟑 e −95 = 7. (−14) + 𝟑.

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A congruência pode ser vista como uma forma generalizada da igualdade, no sentido de
que seu comportamento em relação à adição e multiplicação é uma reminiscência da igualdade
comum. Algumas propriedades elementares da igualdade que são transferidas para
congruências aparecerão no Teorema 4.1.2. Faremos as ilustrações dos resultados desse
teorema e deixaremos sua demonstração e de todos os outros resultados para o final desta seção.

Teorema 4.1.2. Seja 𝑚 > 1 um inteiro positivo fixo e sejam a, r, c e d inteiros quaisquer.
Valem as propriedades:

1) 𝑎 ≡ 𝑎 (mod 𝑚) (Reflexiva)
2) Se 𝑎 ≡ 𝑟 (mod 𝑚), então 𝑟 ≡ 𝑎 (mod 𝑚) (Simétrica)
3) Se 𝑎 ≡ 𝑟 (mod 𝑚) e se 𝑟 ≡ 𝑐 (mod 𝑚), então 𝑎 ≡ 𝑐 (mod 𝑚) (Transitiva)

Nota: De acordo com as partes 1, 2 e 3 do Teorema 4.1.2 , vemos que o conjunto de inteiros é
dividido em m conjuntos diferentes chamados classes de congruência modulo m, cada um
contendo números inteiros que são mutuamente congruentes módulo m. Observe que quando
𝑚 = 2, isso nos dá as duas classes de inteiros pares e ímpares.

4) Se 𝑎 ≡ 𝑟 (mod 𝑚) e se n | m, com 𝑛 > 0, então 𝑎 ≡ 𝑟 (mod 𝑛)


Ilustração. 95 ≡ 55 (mod 8) e 4 | 8, então 95 ≡ 55 (mod 4),

5) Se 𝑎 ≡ 𝑟 (mod 𝑚) e se 𝑐 > 0 , então 𝑎𝑐 ≡ 𝑟𝑐 (mod 𝑚𝑐)


Ilustração. 85 ≡ 37 (mod 6) e 𝑐 = 3 > 0 , então 85 × 3 ≡ 37 × 3 (mod 6 × 3), ou
seja, 255 ≡ 111 (mod 18)

𝑎
6) Se 𝑎 ≡ 𝑟 (mod 𝑚) e se a, b, m são todos divisíveis pelo inteiro 𝑑 > 1, então ≡
𝑑
𝑟 𝑚
(mod )
𝑑 𝑑

7) Se 𝑎 ≡ 𝑟 (mod 𝑚) e se 𝑐 ≡ 𝑑 (mod 𝑚), então 𝑎 + 𝑐 ≡ 𝑟 + 𝑑 (mod 𝑚) e 𝑎𝑐 ≡


𝑟𝑑 (mod 𝑚).
Ilustração. 54 ≡ 19 (mod 7) e 24 ≡ 10 (mod 7), então 54 + 24 19 + 10 (mod 7)
e 54 × 24 ≡ 19 × 10 (mod 7).

8) Se 𝑎 ≡ 𝑟 (mod 𝑚) e c um inteiro qualquer, então 𝑎 + 𝑐 ≡ 𝑟 + 𝑐 (mod 𝑚) e 𝑎𝑐 ≡


𝑟𝑐 (mod 𝑚).

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Ilustração. 289  179 (mod 22) e 𝑐 = −8, então 281 ≡ 171 (mod 22) e
−2312 ≡ −1432 (mod 22).

9) Se 𝑎 ≡ 𝑟 (mod 𝑚), então 𝑎𝑛 ≡ 𝑟 𝑛 (mod 𝑚) para todo inteiro positivo n.


Ilustração. 39 ≡ 25 (mod 14), então 393 ≡ 253 (mod 14).

𝑚
10) Se 𝑎𝑐 ≡ 𝑟𝑐 (mod 𝑚) e se o mdc(𝑐, 𝑚) = 𝑑, então 𝑎 ≡ 𝑟 (mod )
𝑑

Ilustração. 40 × 17 ≡ 19 × 17 (mod 51) e mdc (𝟏𝟕, 51) = 17, então 40 ≡


19 (mod 3)

10.1) Se 𝑎𝑐 ≡ 𝑟𝑐 (mod 𝑚) e se o mdc(𝑐, 𝑚) = 1, então 𝑎 ≡ 𝑟 (mod 𝑚).


Ilustração. 20 × 8 ≡ 11 × 8 ( mod 9) e mdc (𝟖, 9) = 1, então 20 ≡ 11 (mod 9).

Esta propriedade mostra que é permitido cancelar um fator de ambos os membros de


uma congruência, somente se ele e o módulo forem relativamente primos. O exemplo seguinte
mostra que não se pode cancelar irrestritamente um fator comum na aritmética de congruências.
Ilustração. 35 × 4 ≡ 15 × 4 (mod 12), mas 35 ≢ 15 (mod 12), pois mdc (4, 12) ≢
1. Uma consequência imediata é que se ac  rc (mod p), com p primo, e se p não divide c,
então 𝑎 ≡ 𝑟 (mod 𝑝).
Ilustração. 12×18≡ 7 × 18 (mod 5) e mdc (18,5) = 1, então 12 ≡ 7 (mod 5).
Suponha que m seja um inteiro positivo. Dado um inteiro a, pelo algoritmo de divisão
temos 𝑎 = 𝑚𝑞 + 𝑟, onde 0 ≤ 𝑟 < 𝑚. Chamamos r de o menor resíduo (resto) não negativo de
a módulo m. Dizemos que r é o resultado da redução de a módulo m. Da mesma forma, quando
sabemos que a não é divisível por m, chamamos r de o menor resíduo (resto) positivo de a
módulo m.
Note-se que a partir da equação 𝑎 = 𝑚𝑞 + 𝑟, segue-se que 𝑎 ≡ 𝑟 (mod 𝑚). Como há
m escolhas para r, vemos que todo inteiro é congruente módulo m a exatamente um dos valores
0,1,2, 3, . . . , 𝑚 − 1; em particular, 𝑎 ≡ 0(mod 𝑚) se, e somente se, 𝑚|𝑎. O conjunto dos m
inteiros 0,1,2,3, . . . , 𝑚 − 1 é chamado o conjunto dos menores resíduos não negativos módulo
m.

Definição. Um sistema completo de restos módulo m é um conjunto de inteiros tais que cada
inteiro é congruente módulo m para exatamente um inteiro do conjunto.

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Por exemplo, cada um dos conjuntos:


{1, 2, 3} , {0, 1, 2} , { –1, 0, 1} , {1, 5, 9}

é um sistema completo de restos módulo 3.


Se escolhermos o conjunto {1, 5, 9}, qualquer inteiro k escolhido só será congruente a um
desses elementos. Seja 𝑘 = 14, então
14 ≢ 1 (mod 3); 14 ≡ 5 (mod 3); 14 ≢ 9 (mod 3)
Teorema 4.1.3. O conjunto 𝑍𝑚 = {0,1, 2, . . . , 𝑚 − 1} é um sistema completo de restos módulo
m.

Corolário 4.1.1. Se 𝑆 = 𝑟1 , 𝑟2 , . . . , 𝑟𝑚 é um sistema completo de restos módulo m, então os


elementos de S são congruentes módulo m aos inteiros em 𝑍𝑚 , tomados numa certa ordem.

Ilustração. Seja 𝑆 = {1, 5, 9} um sistema completo de restos módulo 3, então os elementos de


S são congruentes módulo 3 aos inteiros em 𝑍3 = {0, 1, 2}, tomados numa certa ordem:
1 ≡ 1 (mod 3); 5 ≡ 2 (mod 3); 9 ≡ 0 (mod 3)
Uma observação importante é que quaisquer n inteiros formam um conjunto completo
de resíduos módulo m se, e somente se, não há dois inteiros que sejam congruentes módulo m.
Teorema 4.1.4. Se 𝑎 ≡ 𝑏(𝑚𝑜𝑑 𝑚1 ), 𝑎 ≡ 𝑏(𝑚𝑜𝑑 𝑚2 ), ..., 𝑎 ≡ 𝑏(𝑚𝑜𝑑 𝑚𝑘 ), onde
𝑎, 𝑏, 𝑚1 , 𝑚2 , … , 𝑚𝑘 são inteiros com 𝑚1 , 𝑚2 , … , 𝑚𝑘 positivos, então
𝑎 ≡ 𝑏 ( 𝑚𝑜𝑑 𝑚𝑚𝑐(𝑚1 , 𝑚2 , … , 𝑚𝑘 )).

Corolário 4.1.2. Se 𝑎 ≡ 𝑏(𝑚𝑜𝑑 𝑚1 ), 𝑎 ≡ 𝑏(𝑚𝑜𝑑 𝑚2 ), ..., 𝑎 ≡ 𝑏(𝑚𝑜𝑑 𝑚𝑘 ), onde


𝑎, 𝑏, 𝑚1 , 𝑚2 , … , 𝑚𝑘 são inteiros com 𝑚1 , 𝑚2 , … , 𝑚𝑘 dois a dois relativamente primos
positivos, então
𝑎 ≡ 𝑏 (𝑚1 𝑚2 … 𝑚𝑘 ).

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PRECIOSIDADES – Parte I

1) Verdadeiro (V) ou falso (F)


a) 91 ≡ 0 (𝑚𝑜𝑑 7).
b) 3 + 5 + 7 ≡ 5 (mod 10).
c) −2 ≡ 2 (mod 8).
d) 112 ≡ 1 (mod 3).
e) 17 ≢ 9 (mod 2).
f) 42 ≢ −8 (mod 10).

2) Verifique se é verdadeiro (V) ou falso (F) e explique.


a) Se 𝑥 ≡ 3 (mod 5), então x  { . . .. – 7, −2, 3, 8, 13 . . . . }.
b) Se 5 ≡ −1 (mod 6) e −1 ≡ −7 (mod 6), então 5 ≡ −7 (mod 6).

3) Achar o menor inteiro positivo que represente a soma:


a) 5 + 3 + 2 + 1 + 8 (mod 7)
b) 2 + 3 − 1 + 7 − 2 (mod 4)

4) Sabendo-se que 1766 ≡ 1066 (mod 𝑚), achar todos os possíveis valores do módulo m.
5) Exprimir que “n é ímpar” de três outras maneiras.
6) Achar todos os inteiros x tais que 0 < 𝑥 < 15 e 3𝑥 ≡ 6 (mod 15)
7) Achar todos os inteiros x tais que 1 < 𝑥 < 100 e 𝑥 ≡ 7 (𝑚𝑜𝑑 17)
8) Sabendo-se que 𝑘 ≡ 1 (mod 4), mostrar que 6𝑘 + 5 ≡ 3 (mod 4)
9) Mostrar, mediante um exemplo, que 𝑎2 ≡ 𝑏 2 (mod 𝑚) não implica 𝑎 ≡ 𝑏 (mod 𝑚).
10) Mostrar que todo primo ímpar é congruente módulo 4 a 1 ou 3.
11) Mostrar que todo primo maior que 3 é congruente módulo 6 a 1 ou 5.
12) Mostrar que
a) 1110 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 100)
b) 31000 + 3 é divisível por 28.

13) Mostrar que 41 divide 2020 − 1.


14) Achar os menores restos positivos das divisões de:

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a) 250 por 7
b) 4165 por 7
c) 25100 + 11500 por 3
d) 35555 por 80.
e) 51000 por 126.
f) 3399300 + 29 por 13

15) Mostrar que


a) 89 | 244 − 1.
b) 97 | (248 − 1)
c) 13| 270 + 370
d) 𝑛|1𝑛 + 2𝑛 +. . . +(𝑛 − 1)𝑛 , n ímpar.

16) Demonstrar que, se 𝑎 ≡ 𝑏 (mod 𝑚) então mdc(𝑎, 𝑚) = mdc(𝑏, 𝑚).


17) Mostrar, mediante um exemplo, que 𝑎𝑘 ≡ 𝑏𝑘 (mod 𝑚) e 𝑘 ≡ 𝑗 não implica 𝑎𝑗 ≡ 𝑏𝑗 .
18) Demonstrar as seguintes proposições:
a) Se a é um inteiro ímpar então 𝑎2 ≡ 1 (mod 8)
b) Se a é um inteiro qualquer, então 𝑎3 ≡ 0, 1 ou 8 (mod 9).
c) Se a é um inteiro qualquer, então 𝑎3 ≡ 𝑎 (𝑚𝑜𝑑 6).

19) Mostre que 7 divide 22225555 + 55552222 .


20) Determine o menor resto positivo da divisão de 61987 por 37.
21) Prove que 7 divide 32𝑛+1 + 2𝑛+2 para todo natural n.
7
22) Determine o algarismo das unidades de 77 .
23) Determine os infinitos valores positivos de n tal que 2𝑛 + 27 seja divisível por 7.
24) Prove que 2𝑘 − 5, 𝑘 ≥ 4 nunca deixa resto 1 quando dividido por 7.
25) Prove que 4 divide 12233.455679 + 876533
26) Prove que 11.31.61 | 2015 − 1.
27) Calcular o menor resto positivo da divisão do inteiro 𝑛 = (116 + 1717 )21 por 8.
28) Calcular o menor resto positivo da divisão do inteiro 7100 + 11100 por 13
29) Mostrar que o inteiro 𝑛 = 1316 − 243 . 517 é divisível por 3.
30) Mostrar que a expressão 3. 52𝑛+1 + 23𝑛+1 é divisível por 17, sendo n um inteiro positivo
qualquer.
31) Mostrar que o número de 232 + 1 é divisível por 641.

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32) Demonstrar que, se o inteiro positivo n não é divisível por 4, então a soma: 𝑆 = 1𝑛 + 2𝑛 +
3𝑛 + 4𝑛 é divisível por 5.
33) Determinar todos os inteiros positivos n para os quais 2𝑛 + 1 é divisível por 3.
34) Mostrar que 63! ≡ 61! (mod 7)
35) Mostrar que não existe inteiro algum n que verifique as condições: 𝑛 ≡ 5 (mod 12) e 𝑛 ≡
4 (mod 15)
36) Na divisão do inteiro n por 10 o quociente é q e o resto é r, tais que |2𝑟 − 𝑞| ≡ 0 (𝑚𝑜𝑑 7).
Mostrar que 7 | 𝑛.
37) Determinar quais dos seguintes conjuntos são sistemas completos de restos módulo 4.
a) {−2, −1, 0, 1}
b) {0, 4, 8, 12}
c) {−13, 4, 17, 18 }
d) {−5, 0, 6, 22 }

38) Determinar quais dos seguintes conjuntos são sistemas completos de restos módulo 6.
a) { 1, 2, 3, 4, 5}
b) {0, 5, 10, 15, 20, 25}
c) {−4, −3, −2, −1, 0, 1}
d) {17, −4, 6, 7, 10, 3}

39) Achar um sistema completo de restos {𝑝1 , 𝑝2 , . . . 𝑝𝑖 , . . . , 𝑝7 } módulo 7, tal que todo 𝑝𝑖 é
primo.
40) Achar um sistema completo de restos módulo 7 formado só de múltiplos não negativos de
4.
41) Se n é um múltiplo positivo de 4, qual o resto da divisão de 1𝑛 + 2𝑛 +. . . +8𝑛 + 9𝑛 por 10?
42) Mostre que 121𝑛 − 25𝑛 + 1900𝑛 − (−4)𝑛 é divisível por 2000, para todo natural n.
43) Determinar o algarismo das unidades do número 3100.
44) Que valores de a e b tornam o número 30a0b03 divisível por 13?
45) Determine para que inteiros positivos n, 2𝑛 − 1 é divisível por 7.
46) Prove que 2n + 1 nunca é divisível por 7, para qualquer inteiro positivo n.
47) Demonstre que para todo inteiro 𝑛 ≥ 0, 17 é um divisor de 34𝑛+2 + 26𝑛+3 .
48) Determine o algarismo das dezenas do número 7999999 .
2 3 100
49) Determine o resto da divisão por 7 do número 1010 + 1010 + 1010 +. . . +1010 .
50) Mostre que, para todo n natural, temos 102n + 1 + 1  0 (mod 11).

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PRECIOSIDADES – Parte II

1. Mostre que cada uma das seguintes congruências é válida.


a) 13 ≡ 1 (mod 2) d) 69 ≡ 62 (mod 7) g) 111 ≡ −9 (mod 40)
b) 22 ≡ 7 (mod 5) e) −2 ≡ 1 (mod) h) 666 ≡ 0 (mod 37)
c) 91 ≡ 0 (mod 13) f) −3 = 30 (mod 11)

2. Para cada um dos pares de inteiros, determine se eles são congruentes módulo 7.
a) 1, 15 c) 2, 99 e) -9, 5
b) 0, 42 d) -1, 8 f) -1, 699

3. Para quais inteiros positivos m, cada uma das seguintes afirmações são verdadeiras?
a) 27 ≡ 5 (mod m) b) 1000 ≡ 1 (mod m) c) 1331 ≡ 0 (mod m)

4. Mostre que se a é um inteiro par, então a2 ≡ 0 (mod 4) e se a é um inteiro ímpar, então a2 ≡


1 (mod 4).
5. Mostre que se a é um inteiro ímpar, então a2 ≡ 1 (mod 8).

6. Encontre o menor resto não negativo módulo 13 de cada um dos seguintes números inteiros.
a) 22 c) 1001 e) -100
b) 100 d) -1 f) -1000

7. Encontre o menor resíduo não negativo módulo 28 de cada um dos seguintes números
inteiros.
a) 99 c) 12,345 e) -1000
b) 1100 d) -1 f) -54 321

8. Encontre o menor resto positivo de 1! + 2! + 3! + · · · + 10! para cada um dos seguintes


módulos:
a) 3 b) 11 c) 4 d) 23
9. Encontre o menor resíduo positivo de 1! + 2! + 3! + · · · + 100! para cada um dos seguintes
módulos:
a) 2 b) 7 c) l2 d) 25

10. Construa uma tabela de adição módulo 12 e 13.

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11. Construa uma tabela de subtração módulo 12 e 13.


12. Construa uma tabela de multiplicação módulo 12 e 13.
13. Considere um relógio com mostrador 12 horas. Para qual valor inteiro o ponteiro aponta
a) 29 horas depois de marcar 11 horas? c) 50 horas antes de marcar 6 horas?
b) 100 horas depois de marcar 2 horas?

14. Quais os possíveis dígitos das unidades que ocorrem de uma quarta potência de um número
inteiro?
15. O que você pode concluir se 𝑎2 ≡ 𝑏 2 (mod 𝑝), onde a e b são inteiros e p é primo?
16. Mostre que se 𝑎𝑘 ≡ 𝑏 𝑘 (mod 𝑚) e 𝑎𝑘+1 ≡ 𝑏 𝑘+1 (mod 𝑚), onde a, b, k e m são números
inteiros com 𝑘 > 0 e 𝑚 > 0 tal que mdc (𝑎, 𝑚) = 1, então 𝑎 ≡ 𝑏 (mod 𝑚). Se a condição
mdc (𝑎, 𝑚) = 1 é descartada, a conclusão de que 𝑎 ≡ 𝑏 (mod 𝑚) ainda é válida?
17. Mostre que se n é um inteiro positivo ímpar, então
1 + 2 + 3 + · · · +(𝑛 − 1) ≡ 0 (mod 𝑛).
Esta afirmação é verdadeira se n é par?
18. Mostre que se n é um inteiro positivo ímpar ou se n é um inteiro positivo divisível por 4,
então
13 + 23 + 33 + · · · + (𝑛 − 1)3 ≡ 0 (mod 𝑛).
Esta afirmação é verdadeira se n é par mas, não divisível por 4?
19. Para quais inteiros positivos n, é verdade que
12 + 22 + 32 + · · · + (𝑛 − 1)2 ≡ 0 (mod 𝑛)?
20. Mostre por indução matemática que se n é um inteiro positivo, então 4𝑛 ≡ 1 + 3𝑛 (mod 9).
21. Mostre por indução matemática que se n é um inteiro positivo, então 5𝑛 ≡ 1 +
4𝑛 (mod 16).
22. Dê um sistema completo de restos modulo 13 consistindo inteiramente de inteiros ímpares.
23. Mostre que se 𝑛 ≡ 3 (mod 4), então n não pode ser a soma dos quadrados de dois inteiros.
24. Mostre que se p é primo, então as únicas soluções da congruência 𝑥 2 ≡ 𝑥 (mod 𝑝) são
aquelas inteiros x tais que x ≡ 0 ou 1 (mod p).
25. Mostre que se p é primo e k é um inteiro positivo, então as únicas soluções de x2 ≡ x (mod
pk) são aqueles inteiros x tais que x ≡ 0 ou 1 (mod pk).
26. Encontre os menores resíduos positivos modulo 47 de cada um dos seguintes números
inteiros.
a) 232 b) 247 c) 2200

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27. Encontre o menor resíduo positivo.


a) 310 (mod 11) c) 516 (mod 17)
b) 212 (mod 13) d) 322 (mod 23)
e) Você pode propor uma conjectura para as congruências acima? Consegue demonstrar?

27. Encontre o menor resíduo positivo.


a) 6! (mod 7) c) 12! (mod 13)
b) 10! (mod 11) d) 16! (mod 17)
e) Você pode propor uma conjectura para as congruências acima? Consegue demonstrar?

4.2 Congruências Lineares

Estamos num momento do nosso desenvolvimento da teoria dos números para


considerar a teoria das congruências lineares: uma equação da forma 𝑎𝑥 ≡ 𝑏 (mod 𝑛) é
chamada de congruência linear e, uma solução de tal equação, é um inteiro x0 para o qual
𝑎𝑥0 ≡ 𝑏 (mod n). Por definição, 𝑎𝑥0 ≡ 𝑏 (mod n) se e somente se 𝑛|𝑎𝑥0 − 𝑏 ou, o que
equivale ao mesmo, se e somente se 𝑎𝑥0 − 𝑏 = 𝑛𝑦0 para algum inteiro y0· Assim, o problema
de encontrar todos os inteiros que irão satisfazer a congruência linear 𝑎𝑥 ≡ 𝑏 (mod 𝑛) é
idêntico ao da obtenção de todas as soluções da equação diophantina linear ax-ny = b. Isso nos
permite trazer os resultados do item 2. 6.
É conveniente tratar duas soluções de ax ≡ b (mod n) que são congruentes móodulo n
como sendo "iguais" mesmo que não sejam iguais no sentido usual. Por exemplo, x = 3 e x = -
9 ambos satisfazem a congruência 3𝑥 ≡ 9 (mod 12); como 3 ≡ −9 (mod 12), elas não são
contadas como soluções diferentes.
Seja por exemplo, as soluções 𝑥1 = 5 e 𝑥2 = −19 da congruência 3𝑥 ≡ 15(𝑚𝑜𝑑 12),
são congruentes módulo 12, 5  − 19 (mod 12) e, portanto, não são consideradas soluções
distintas desta congruência. Mas as soluções 𝑥1 = 5, 𝑥3 = 9 e 𝑥4 = 13 são mutuamente
incongruentes módulo 12 e, portanto, são soluções distintas dessa congruência, isto é,
5
 9  13 (mod 12). Em resumo: quando nos referimos ao número de soluções de 𝑎𝑥 ≡
𝑏 (mod 𝑛), queremos dizer o número de inteiros incongruentes que satisfazem essa
congruência.
Pode-se observar que uma congruência linear pode não ter solução, ou ter apenas uma
solução ou ter várias soluções.

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4.2.1. Condição de existência de solução para uma congruência linear


Com as observações anteriores em mente, o principal resultado deste item fica fácil
de enunciar.
Teorema 4.2.2.1: A congruência linear 𝑎𝑥 ≡ 𝑏(mod 𝑛) tem solução se e somente se 𝑑|𝑏, onde
d = mdc(a, n). Se 𝑑|𝑏, então, há d soluções mutuamente incongruentes módulo n.
Prova. Observe que a congruência dada equivale à equação diophantina linear 𝑎𝑥 − 𝑛𝑦 = 𝑏.
Do Teorema 2.20, sabe-se que a última equação pode ser resolvida se e somente se 𝑑|𝑏; além
disso, se houver solução e x0, y0 é uma solução específica, então qualquer outra solução tem a
forma
𝑛 𝑎
𝑥 = 𝑥0 + 𝑑 𝑡 𝑦 = 𝑦0 + 𝑡
𝑑

para algum t.
Entre os vários inteiros que satisfazem a primeira estas fórmulas, considere aqueles que
ocorrem quando t assume os valores sucessivos t=0, 1, 2, … , d – 1 :
𝑛 2𝑛 (𝑑−1)𝑛
𝑥0 , 𝑥0 + 𝑡, 𝑥0 + , …, 𝑥0 +
𝑑 𝑑 𝑑

Afirmamos que esses inteiros são incongruentes módulo n, e todos os outros inteiros inteiros
x são congruentes com algum deles. Se acontecesse que
𝑛 𝑛
𝑥0 + 𝑡1 ≡ 𝑥0 + 𝑡2 (mod 𝑛)
𝑑 𝑑
onde 0 ≤ 𝑡1 < 𝑡2 ≤ 𝑑 − 1, então teríamos
𝑛 𝑛
𝑡1 ≡ 𝑡2 (mod 𝑛)
𝑑 𝑑
Agora mdc(𝑛/𝑑, 𝑛) = 𝑛/𝑑, e, portanto, pela parte 10 do Teorema 4.1.2, o fator 𝑛/𝑑 pode
ser cancelado para chegar à congruência
𝑡1 ≡ 𝑡2 (mod 𝑑)
o que significa que 𝑑|𝑡2 − 𝑡1 . Mas isso é impossível devido a desigualdade 0 < 𝑡2 −
𝑡1 < 𝑑.
Resta argumentar que qualquer outra solução 𝑥0 + (𝑛/𝑑)𝑡 é congruente módulo n para um dos
d inteiros listados acima. O Algoritmo da Divisão nos permite escrever t como 𝑡 = 𝑞𝑑 + 𝑟,
onde 0 ≤ 𝑟 ≤ 𝑑 − 1. Consequentemente
𝑛 𝑛
𝑥0 + 𝑡 = 𝑥0 + (𝑞𝑑 + 𝑟)
𝑑 𝑑
𝑛
= 𝑥0 + 𝑛𝑞 + 𝑑 𝑟
𝑛
= 𝑥0 + 𝑑 𝑟 (mod 𝑛)

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com 𝑥0 + (𝑛/𝑑)𝑟 sendo uma das nossas d soluçõess. Isso conclui a prova.
O argumento que demos no Teorema 4.2.2.1 traz um ponto que vale a pena declarar
explicitamente: se 𝑥0 é qualquer solução de 𝑎𝑥 ≡ 𝑏 (mod 𝑛), então as 𝑑 = mdc(𝑎, 𝑛) soluções
inongruentes são dadas por

𝑛 𝑛 𝑛
𝑥0 , 𝑥0 + , 2 ( ) , . . . , 𝑥0 + (𝑑 − 1) ( )
𝑑 𝑑 𝑑
Para facilitat, vamos também registrar a forma que o Teorema 4.2.2.1 assume o caso especial
em que a e n são relativamente primos.
Corolário 4.2.2.1: Se o mdc (a, n) = 1, então a congruência linear 𝑎𝑥 ≡ 𝑏 (mod 𝑛) tem uma
única solução módulo m.
Dados inteiros relativamente primos a e n, a congruência 𝑎𝑥 ≡ 1(mod 𝑛) tem uma
única solução. Esta solução é chamada de inverso (multiplicativo) de a módulo n.
Exemplo 4.2.2.1. As soluções de 7𝑥 ≡ 1 (mod 31) são 𝑥 ≡ 9 (mod 31), 9 e todos os inteiros
congruentes a 9 módulo 31 são inversos de 7 módulos 31. De forma análoga, como 9·7≡
1 (mod 31), 7 é um inverso de 9 módulo 31.
Quando temos um inverso de a módulo m, podemos usar para resolver qualquer
congruência da forma 𝑎𝑥 ≡ 𝑏 (mod 𝑚). Para ver isso, seja 𝑎′ um inverso de a módulo m, então
𝑎𝑎′ ≡ 1 (mod m). Então, se 𝑎𝑥 ≡ 𝑏 (mod 𝑚), podemos multiplicar ambos os lados de sua
congruência por 𝑎′ para encontrar que 𝑎′(𝑎𝑥) ≡ 𝑎′𝑏 (mod 𝑚), de modo que 𝑥 ≡
𝑎′ 𝑏 (mod 𝑚).
Exemplo 4.2.2.2. Para encontrar as soluções de 7𝑥 ≡ 22 (mod 31), multiplicamos os dois
lados desta congruência por 9, um inverso de 7 módulos 31, para obter 9 · 7𝑥 ≡
9,22 (mod 31). Assim, 𝑥 ≡ 198 ≡ 12 (mod 31).
É importante saber quais números inteiros são seus próprios inversos modulo p, onde p
é um primo. O seguinte teorema nos diz quais inteiros possuem essa propriedade.

Teorema 4.2.2.2. Seja p um primo. O inteiro positivo a é seu próprio inverso módulo p se, e
somente se, 𝑎 ≡ 1 (mod 𝑝) ou 𝑎 ≡ −1 (mod 𝑝).
Prova. Se 𝑎 ≡ 1 (mod 𝑝) ou 𝑎 ≡ −1 (mod 𝑝), então 𝑎2 ≡ 1 (mod 𝑝) ⇔ 𝑎. 𝑎 ≡ 1(mod 𝑝),
de modo que a é seu próprio inverso módulo inverso p.
Por outro lado, se a é o seu próprio inverso módulo p, então 𝑎2 = 𝑎. 𝑎 ≡ 1(mod 𝑝). Assim,
𝑝|(𝑎2 − 1). Como 𝑎2 − 1 = (𝑎 − 1)(𝑎 + 1), isso implica que 𝑝|(𝑎 − 1) ou 𝑝|(𝑎 + 1).
Portanto, 𝑎 ≡ 1(mod 𝑝) ou 𝑎 ≡ −1(mod 𝑝).

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PRECIOSIDADES GRATUITAS

01 - Resolver a congruência linear 18𝑥 ≡ 30 (mod 42)


Solução:
O mdc(18,42) = 6 = d, e como 6 divide 30, a congruência dada tem exatamente 6
soluções mutuamente incongruentes módulo 42.
Obviamente, 18.4 = 30 (mód.42), de modo que uma solução da congruência dada é x1
= 4, e por conseguinte as suas 6 soluções mutuamente incongruentes módulo 42 são dadas pela
fórmula:
𝑥 = 4 + (42/6)𝑡 = 4 + 7𝑡, onde 𝑡 = 0, 1, 2, 3, 4, 5
Logo: x=4, 11, 18, 25, 32 e 39 são todas as soluções mutuamente incongruentes módulo
42.

02 – Resolver a congruência linear:


48 x  17 (mod .7) .

Solução:
Como o mdc(48,7) = 1, a equação dada tem uma única solução.
Como, 48  6 ( mod 7) e 17  3 (mod 7), podemos escrever:
6𝑥 ≡ 3 (𝑚𝑜𝑑 7) ⇔ 2𝑥 ≡ 1 (mod 7)
Pode-se ver que x = 4 é a solução da congruência.

03 – Vejamos novamente a congruência linear 18𝑥 ≡ 30 (mod 42).


Solução: Vamos escrevê-la como uma equação Diofantina Linear, isto é,
18𝑥 − 30 = 42𝑦 ou 18𝑥 − 42𝑦 = 30.

Podemos simplificar,

3𝑥 − 7𝑦 = 5. (I)

Considerando o módulo 3, temos que 3 ≡ 0 (mod 3), −7 ≡ 2 (mod 3)𝑒 5 ≡ 2 (mod 3),
assim:

0𝑥 + 2𝑦 ≡ 2 (mod 3), ou 2𝑦 ≡ 2 (mod 3).

As soluções para esta congruências são dadas por 𝑦 = 1 + 3𝑡. Substituindo este valores de y
em ( I ), vem:

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3𝑥 − 7(1 + 3𝑡) = 5 ⇔ 𝑥 = 4 + 7𝑡.

O que está de acordo com o que já foi visto.


04.Determinar todas as soluções inteiras e positivas da equação diophantina linear
18𝑥 + 5𝑦 = 48,
Solução:
Vamos aplicar a congruência módulo 5 à equação. Sabendo que 18≡ 3 (mod 5), 5≡ 0(mod 5)
e 48≡ 3 (mod 5), temos
3𝑥 ≡ 3 (mod 5).
Como, mdc (3, 5) =1, podemos escrever
𝑥 ≡ 1(mod 5),
ou de modo equivalente
𝑥 = 1 + 5𝑡, 𝑡 ∈ ℤ.
Substituindo este valor na equação 18𝑥 + 5𝑦 = 48, obtemos
18(1 + 5𝑡) + 5𝑦 = 48
𝑦 = 6 – 18𝑡.
As soluções inteiras e positivas se acham escolhendo t de modo que sejam satisfeitas as
desigualdade:
1 + 5𝑡 > 0 e 6 − 18𝑡 > 0.
Isto é:
1 1
𝑡 > − 5 = −0,2 e 𝑡 < 3 = 0,3 …
O único valor inteiro neste intervalo é 𝑡 = 0 e, portanto, o par de inteiros 𝑥 = 1, 𝑦 = 6 é a
única solução inteira e positiva da equação 18𝑥 + 5𝑦 = 48.

PRECIOSIDADES

1. Resolva as congruências lineares.


a) 25x  15 (mod 29)
b) 5x  2 (mod 26)
c) 6x  15 (mod 21)
d) 36x  8 (mod 102)
e) 34x  60 (mod 98)
f) 140x  133 (mod 301)

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2. Usando congruêcias, resolva as equações diofantinas lineares.


a) 4x +51y = 9
b) 12x + 25 y = 331
c) 5x -53y = 17
3. Encontre todas as soluções da congruência linear 3x – 7y  11 (mod 13).

4.4. Funções Aritméticas


Definição. Chama-se de função aritmética toda função numérica f definida no conjunto ℕ dos
inteiros positivos e com valores no conjunto ℝ dos reais.
Em outros termos, função aritmética é toda função numérica f de ℕ em ℝ:
𝑓: ℕ → ℝ
Portanto, o domínio e o contradomínio de uma função aritmética f são os conjuntos ℕ e
ℝ, respectivamente, e a imagem de f é o conjunto:
𝑓(ℕ) = {𝑓(𝑛)𝜖ℝ; 𝑛 𝜖 ℝ}
que é, obviamente, um subconjunto de ℝ: 𝑓(ℕ) ⊂ ℝ.
Assim, por exemplo, as funções numéricas:
𝑓: ℕ → ℤ, definida por 𝑓(𝑛) = 3 − 4𝑛.
𝑔: ℕ → ℕ definida por 𝑔(𝑛) = 𝑛!
𝑛
ℎ: ℕ → ℤ definida por ℎ(𝑛) = 5

são todas funções aritméticas, mas a função numérica:


𝜋: ℝ → ℕ
definida por 𝜋(𝑥) =número de primos menores que, ou iguais a x, para todo 𝑥 ∈ ℝ não é uma
função aritmética, porque o seu domínio é o conjunto dos reais ℝ.

4.4.1. Funções Aritméticas usuais

São funções aritméticas usuais da Teoria dos Números as funções numéricas 𝜏, 𝜎, Ω e


𝜔 de ℕ em ℕ assim definidas:

𝜏(𝑛) = número de divisores positivos de n,


𝜎(𝑛) = soma dos divisores positivos de n,

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Ω(𝑛) = número de fatores primos de n,


𝜔(𝑛) = número de primos distintos p que dividem n.
𝛼 𝛼 𝛼
Se 𝑛 = 𝑝1 1 ∙ 𝑝2 2 ∙∙∙ 𝑝𝑟 𝑟 é a fatoração em primos de um número inteiro positivo 𝑛 > 1,
prova-se que :

𝜏(𝑛) = (𝑎1 + 1) ∙ (𝑎2 + 1) ∙∙∙ (𝑎𝑟 + 1) = ∏(𝑎𝑖 + 1)


𝑖=1
𝑎 +1 𝑎 +1 𝑎 +1 𝑟 𝑎 +1
𝑝1 1 −1 𝑝2 2−1 𝑝𝑟 𝑟
−1 𝑝 𝑖 −1
𝜎(𝑛) = ∙ ∙∙∙ =∏ 𝑖
𝑝1 − 1 𝑝2 − 1 𝑝𝑟 − 1 𝑝𝑖 − 1
𝑖=1
𝑟

Ω(𝑛) = 𝑎1 + 𝑎2 +∙∙∙ +𝑎𝑟 = ∑ 𝑎𝑖


𝑖=1

e
𝜔(𝑛) = 𝑟.
Ou de modo equivalente, em termos de somatório, temos

𝜔(𝑛) = ∑ 1
𝑝|𝑛

Assim, por exemplo, se 𝑛 = 360 = 23 ∙ 32 ∙ 5, temos:

𝜏(360) = (3 + 1) ∙ (2 + 1) ∙ (1 + 1) = 4 ∙ 3 ∙ 2 = 24
24 − 1 33 − 1 52 − 1
𝜎(360) = ∙ ∙ = 15 ∙ 13 ∙ 6 = 1170
2 − 1 3 − 21 5 − 1
Ω(360) = 3 + 2 + 1 = 6
e
𝜔(360) = 3
Em particular, para todo primo p:
𝜏(𝑝) = 2, 𝜎(𝑝) = 1 + 𝑝, Ω(𝑝) = 1 e 𝜔(𝑝) = 1.

4.4.2. Funções Aritméticas Multiplicativas

Definição. Uma função aritmética f diz-se uma função aritmética multiplicativa se subsiste a
igualdade:
𝑓(𝑚 ∙ 𝑛) = 𝑓(𝑚) ∙ 𝑓(𝑛)

para todo par de inteiros positivos m e n tais que o mdc(m, n) = 1.

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Exemplo. A função 𝑔: ℕ → ℕ definida por 𝑔(𝑛) = 𝑛!, não é uma função aritmética
multiplicativa, pois:
𝑔(2 ∙ 3) = 𝑔(6) = 6! = 720 𝑒 𝑔(2) ∙ 𝑔(3) = 2! ∙ 3! = 2 ∙ 6 = 1
Logo, 𝑔(2 ∙ 3) ≠ 𝑔(2) ∙ 𝑔(3), com mdc(2,3) = 1.

Teorema 4.4.2.1. Se f é uma função aritmética multiplicativa e se 𝑛1 , 𝑛2 ,∙∙∙, 𝑛𝑟 são inteiros


positivos relativamente primos dois a dois, então subiste a igualdade:
𝑓(𝑛1 ∙ 𝑛2 ∙∙∙ 𝑛𝑟 ) = 𝑓(𝑛1 ) ∙ 𝑓(𝑛2 ) ∙∙∙ 𝑓(𝑛𝑟 )

𝛼 𝛼 𝛼
Corolário 4.4.2.1. Se f é uma função aritmética multiplicativa e se 𝑛 = 𝑝1 1 ∙ 𝑝2 2 ∙∙∙ 𝑝𝑟 𝑟 é a
fatoração canônica de um inteiro positivo 𝑛 ≥ 1, então:
𝑟
𝛼 𝛼 𝛼 𝑎
𝑓(𝑛) = 𝑓(𝑝1 1 ) ∙ 𝑓(𝑝2 2 ) ∙∙∙ 𝑓(𝑝𝑟 𝑟 ) = ∏ 𝑓(𝑝𝑖 𝑖 )
𝑖=1

De acordo com esta igualdade, conhecido o valor de uma função aritmética


multiplicativa f para todas as potências de primos, pode-se achar o valor de f para todo inteiro
positivo. Assim, por exemplo, se 𝑓(𝑝𝑘 ) = 𝑘 ∙ 𝑝𝑘−1 para todo primo p e todo inteiro positivo
𝑘 ≥ 1, temos:
𝑓(504) = 𝑓(23 ∙ 32 ∙ 7) = 𝑓(23 ) ∙ 𝑓(32 ) ∙ 𝑓(7) = (3 ∙ 22 ) ∙ (2 ∙ 3) ∙ (1 ∙ 70 ) = 126 ∙ 1 = 72

PRECIOSIDADES

1) Mostrar que é multiplicativa a 𝑓. 𝑎. 𝑓(𝑛) = 𝑛𝑘 , onde k é um inteiro fixo positivo


2) Mostrar que, se 𝑓(𝑛) e 𝑔(𝑛) são 𝑓. 𝑎. 𝑚., então a função aritmética ℎ(𝑛) = 𝑓(𝑛). 𝑔(𝑛) é
também multiplicativa.
3) Mostrar que, se 𝑓(𝑛) e 𝑔(𝑛) são 𝑓. 𝑎. 𝑚. tais que 𝑓(𝑝𝑘 ) = 𝑔(𝑝𝑘 ) para todo p primo e 𝑘  1,
então 𝑓 = 𝑔.

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5. TRÊS CONGRUÊNCIAS ESPECIAIS – OS TEOREMAS DE


WILSON- LAGRANGE, FERMAT E EULER
Neste capítulo, discutimos três congruências que têm importantes significados teóricos
e práticos: O Teorema de Wilson-Lagrange mostra que p é primo, quando o resto da divisão de
(𝑝 − 1)! por p é −1. O Pequeno Teorema de Fermat (PTF) fornece uma congruência para
potências relacionadas com números primos de inteiros modulo p. Em particular, mostra que
se p é primo, então 𝑎𝑝 e a tem o mesmo resto quando dividido por p sempre que a é um número
inteiro não divisível por p. O teorema de Euler fornece uma generalização do pequeno teorema
de Fermat para módulos que não são primos.
Essas três congruências têm muitas aplicações. Por exemplo, o Pequeno Teorema de
Fermat pode ser usado como base para testes de primalidade e algoritmos de fatoração. Também
discutiremos inteiros compostos, chamados de pseudoprimos, que se disfarçam de primos ao
satisfazerem a mesma congruência que o primo faz no Pequeno Teorema de Fermat. Pode-se
usar o fato de que os pseudoprimes são relativamente raros para desenvolver alguns testes que
podem fornecer evidências fortes de que um inteiro é primo.

5.1. Teorema de Wilson

Al-Haitham e Lagrange

O que hoje é conhecido como teorema de Wilson, apareceu primeiramente nos trabalhos
do matemático árabe Abu Ali al-Hasan Ibn Al-Haitham (965 - 1040). Al-Haitham resolveu
problemas envolvendo congruências usando o que hoje é chamado teorema de Wilson. Em sua
Opuscula, Alhazen considera a solução de um sistema de congruências e oferece dois métodos
gerais de solução. Seu primeiro método, o método canônico, envolveu o que chamamos de
Teorema de Wilson, enquanto seu segundo método envolveu uma versão do Teorema Chinês
do Resto.

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Em 1770, Edward Waring (1736- 1798) publicou o texto Meditationes Algebraicai,


em que várias proposições originais em teoria dos números foram estabelecidas. Uma das mais
famosas foi a que hoje é conhecida como Teorema de Wilson - nomeado após o estudante que
fez a conjectura, John Wilson (1741-1793) - afirmar que todos os primos p dividem (𝑝 − 1)! +
1. Waring enunciou o teorema em 1770, embora nem ele nem seu aluno Wilson tenham dado
uma prova. Wilson deixou o campo da matemática muito cedo para estudar direito.
J. L. Lagrange (1736 – 1813) deu a primeira prova em 1771. Há evidências de que
Gottfried W. Leibniz (1646 – 1716) também estava ciente do resultado um século antes, mas
nunca publicou. Mesmo com os trabalhos de Al-Haithan e Lagrange, o teorema passou para a
posteridade com o nome de Wilson.
O Teorema de Wilson é um resultado peculiar na teoria dos números, tem apenas dois
grandes resultados. Em primeiro lugar serve como um teste de primaridade que ainda não é
muito eficiente computacionalmente. Em segundo lugar, e sem dúvida, seu resultado mais
importante, é que ele tem como corolário uma importante afirmação que diz que o inteiro
positivo 𝑛2 + 1 é divisível por um primo p se 𝑝 − 1 for divisível por 4. Esse fato tem íntima
relação com o chamado Teorema de Ouro da Aritmética, a Lei da Reciprocidade Quadrática.
Há ainda uma questão não resolvida sobre a infinidade dos números primos de Wilson.

Teorema 5.1.1 (Teorema de Wilson-Lagrange): Se p é um primo, então


(𝑝 – 1)! ≡– 1 (mod 𝑝).

Demonstração: o teorema é verdadeiro para 𝑝 = 2 e para 𝑝 = 3, pois:


(2 – 1)! = 1! = 1 ≡ – 1 (mod 2)
(3 – 1)! = 2! = 2 ≡– 1 (mod 3)
de modo que vamos supor 𝑝 ≥ 5. Consideremos a congruência linear 𝑎𝑥 ≡ 1 (mod 𝑝), onde a
é um dos (𝑝 − 1) primeiros inteiros positivos 1, 2, 3, . . . , 𝑝 − 1 de modo que o MDC (𝑎, 𝑝) =
1.
Nestas condições, existe um único inteiro positivo 𝑎’, com 1  𝑎’  𝑝 − 1, tal que
𝑎. 𝑎’ ≡ 1 (mod 𝑝)
Como p é primo, tem-se que 𝑎 = 𝑎’ se e somente se 𝑎 = 1, ou 𝑎 = 𝑝 − 1, visto que
𝑎2 ≡ 1 (mod 𝑝) implica em (𝑎 – 1). (𝑎 + 1) ≡ 0 (mod 𝑝) e, portanto,
𝑎 – 1 ≡ 0 (mod 𝑝), ou (𝑎 + 1) ≡ 0 (𝑚𝑜𝑑 p)
isto é, 𝑎 = 1 ou 𝑎 = 𝑝 − 1.

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Exemplo: Com 𝑝 = 13, existe um único inteiro positivo 𝑎’, com 1  𝑎’  𝑝 − 1, tal que
𝑎. 𝑎’ ≡ 1 (mod 𝑝)

Tabela 5.1.1
a 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
a' 1 7 9 10 8 11 2 5 3 4 6 12

Omitindo os inteiros 1 e 𝑝 − 1, com os 𝑝 − 3 restantes: 2, 3, . . . , 𝑝 − 2 podemos formar


𝑝−3
pares (𝑎, 𝑎’), com 𝑎𝑎’ tais que 𝑎. 𝑎’ ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 𝑝). Então, multiplicando ordenadamente
2
𝑝−3
todas essas congruências, obtemos a congruência:
2

2.3 . . . . . (𝑝 − 2) ≡ 1 (mod 𝑝), 𝑜𝑢 (𝑝 − 2)! ≡ 1 (mod 𝑝)


ou, multiplicando por (𝑝 − 1):
(𝑝 − 1)(𝑝 − 2)! = (𝑝 − 1)! ≡ (𝑝 − 1) ≡– 1 (mod 𝑝)
que é a própria congruência de Wilson.
Com 𝑝 = 13, por exemplo, os 10 inteiros 2, 3, . . . , 11 dão lugar a 5 pares tais que o
produto dos inteiros de cada par é congruente a 1 módulo 13:
2.7 ≡ 1 (mod 13)
4.10 ≡ 1 (mod 13)
6.11 ≡ 1 (mod 13)
3.9 ≡ 1 (mod 13)
5.8 ≡ 1 (mod 13)
multiplicando ordenadamente essas cinco congruências, obtemos:
(2.7). (3.9). (4.10). (5.8). (6.11) = 11! ≡ 1 (mod 13)
e, portanto,
12. 11! = 12! ≡ 12 ≡ – 1 (mod 13)
isto é,
(𝑝 − 1)! ≡– 1 (mod 𝑝), com 𝑝 = 13
Recíproca do Teorema de Wilson: Se (𝑛 − 1)! ≡ −1 (mod 𝑛), então n é primo.

Demonstração. A recíproca é verdadeira. Suponhamos, por absurdo, que o inteiro n é


composto. Então, n tem um divisor d tal que 1 < 𝑑 < 𝑛, de modo que d é um dos fatores do
produto:
1 . 2 . 3 . . . . . (𝑛 − 1) = (𝑛 − 1)!

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e, portanto, 𝑑 | (𝑛 − 1)!. Mas, por hipótese 𝑛 | (𝑛 − 1)! + 1, e como 𝑑 | 𝑛, segue-se que:


𝑑 | (𝑛 − 1)! + 1, e 𝑑 | 1
o que é absurdo, visto que 𝑑 > 1. Logo, n não possui divisores menores que ele mesmo e
diferentes de 1, ou seja, n é primo.

Nota: Este teorema recíproco dá um critério para se reconhecer se um inteiro dado é primo.
Mas, do ponto de vista prático, no momento, ainda é de interesse apenas teórico, pois o cálculo
de fatoriais exigiria muito tempo.
Teorema 5 (Teorema de Leibniz). Um inteiro 𝑛 >1 é primo, se e somente se,
(𝑛 − 2)! ≡ 1 (mod 𝑛)
Demonstração:
() suponhamos que o inteiro 𝑛 > 1 é primo. Então, pelo teorema de Wilson:
(𝑛 − 1)! ≡ −1 (mod 𝑛)
obviamente,
(𝑛 − 1)! = (𝑛 − 1). (𝑛 − 2)! ≡ −(𝑛 − 2)! (mod 𝑛)
portanto,
(𝑛 − 2)! ≡ 1 (mod 𝑛)
() reciprocamente, se (𝑛 − 2)! ≡ 1 (mod 𝑛), então:
(𝑛 − 1)! ≡ −(𝑛 − 2)! ≡ −1 (mod 𝑛)
Logo, pelo recíproco do Teorema de Wilson, o inteiro n é primo.
Gostaríamos de fechar este item com uma aplicação do teorema de Wilson ao estudo
das congruências quadráticas. [Entende-se que a congruência quadrática significa uma
congruência da forma 𝑎𝑥 2 + 𝑏𝑥 + 𝑐 ≡ 0 (mod 𝑛), com um 𝑎 ≠ 0) (mod n). ] Este é o
conteúdo do Teorema 5.1.2.

Teorema 5.1.2. A congruência quadrática 𝑥 2 + 1 ≡ 0 (mod 𝑝), onde p é um primo ímpar,


tem solução se, e somente se, 𝑝 ≡ 1 (mod 4).
Prova. Seja a uma solução de 𝑥 2 + 1 ≡ 0 (mod 𝑝) de modo que 𝑎2 ≡ −1 (mod 𝑝). Como 𝑝 ∤
𝑎, o resultado da aplicação do teorema de Fermat é
1 ≡ 𝑎𝑝−1 ≡ (𝑎2 )(𝑝−1)/2 ≡ (−1)(𝑝−1)/2 (mod 𝑝)
Não há possibilidade de p = 4k + 3 para algum k. Se assim fosse, teríamos
(−1)(𝑝−1)/2 = (−1)2𝑘+1 = −1

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portanto, 1 ≡ −1(mod 𝑝). O resultado disso é que 𝑝|2, que é obviamente falso. Assim, p deve
ser da forma 4k + 1.
Agora, na direção oposta. No produto
𝑝−1 𝑝+1
(𝑝 − 1)! = 1 ∙ 2 ∙ ∙ ∙ ∙ ∙ ∙ ∙ (𝑝 − 2)(𝑝 − 1)
2 2
Temos as congruências
𝑝 − 1 ≡ −1(mod 𝑝)
𝑝 − 2 ≡ −2(mod 𝑝)
.
.
.
𝑝+1 𝑝−1
≡− (mod 𝑝)
2 2
Reorganizando os fatores, temos
𝑝−1 𝑝−1
(𝑝 − 1)! ≡ 1 ∙ (−1) ∙ 2 ∙ (−2) ∙ ∙ ∙ ∙ (− ) (mod 𝑝)
2 2
𝑝−1 𝑝−1 2
≡ (−1) 2 (1 ∙2∙∙∙ ) (mod 𝑝)
2

Porque há (𝑝 − 1)/2 sinais menos envolvidos. É neste ponto que o teorema de Wilson pode
ser levado a efeito; como, (𝑝 − 1)! ≡ −1(mod 𝑝), consequentemente,
𝑝−1 𝑝 −1 2
−1 ≡ (−1) 2 [( ) !] (mod 𝑝)
2

Se assumirmos que p é da forma 4k + 1, então (−1)(𝑝−1)/2 = 1, deixando-nos com a


congruência
𝑝−1 2
−1 ≡ [( ) !] (mod 𝑝)
2
(𝑝−1)
A conclusão é que o inteiro [ ] ! satisfaz a congruência quadrática 𝑥 2 + 1 ≡ 0 (mod 𝑝).
2

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PRECIOSIDADES

1. Verificar o Teorema de Wilson para p = 5 e para p = 7.


2. Mostrar que 11, 13, 17 e 19 são primos usando o recíproco do Teorema de Wilson.
3. Mostrar que 8 é composto usando o Teorema de Wilson.
4. Achar o resto da divisão de 15! por 17.
5. Mostrar que 18! + 1  0 (mod 437).
6. Sendo p um primo ímpar, demonstrar que 2.(p – 3)!  –1 (mod p).
7. Verificar o Teorema de Leibniz com o primo p = 13.
8. Usando o Teorema de Leibniz, mostrar que 17 é primo.
9. Formar com os inteiros 2, 3, 4, ... , 21, todos os pares de a e b tais que a.b  1 (mod 23).
10.Mostre que 10! + 1 é divisível por 11, agrupando pares de inversos modulo 11 que aparecem
em 10!
11. Mostre que 12! + 1 é divisível por 13, agrupando pares de inversos modulo 13 que aparecem
em 12!
12. Qual é o resto quando 16! é dividido por 19?
13. Qual é o resto quando 5! 25! é dividido por 31?
14. Usando o teorema de Wilson, encontre o menor resíduo positivo de 8 · 9 · 10 · 11 · 12 · 13
módulo 7.
15. Qual o resto quando 7 · 8 · 9 · 15 · 16 · 17 · 23 · 24 · 25 · 43 é dividido por 11?
16. Qual é o resto quando 18! é dividido por 437?
17. Qual é o resto quando 40! Está dividido por 1763?
18. Qual o resto quando 5100 é dividido por 7?
19. Qual é o resto quando 62000 é dividido por 11?

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5.2. O Pequeno Teorema de Fermat

Fermat foi um dos poucos matemáticos amadores famosos. Filho de um rico


comerciante de couro, pôde se dedicar completamente aos estudos. Por influência de sua mãe,
descendente de uma família de juristas, estudou leis na Universidade de Orleans e formou-se
em advocacia. Trabalhou durante toda sua vida na corte de justiça de Toulouse. Foi nomeado
juiz e ocupava os seus momentos de folga em diversos lazeres, entre os quais a poesia e a
Matemática.
Seu interesse pela matemática iniciou-se em 1629 com o estudo dos trabalhos de
Apolônio (matemático grego, 260 A.D.) sobre curvas planas. Trocava correspondência com os
maiores matemáticos da época, como Torricelli, Roberval, Huyghens e Pascal, e, dessa forma
relatava suas descobertas. Jamais publicou seus trabalhos de nenhuma outra forma, mas o
conteúdo das cartas de Fermat é atualmente incluído em todos os textos usuais de teoria dos
números.
Seu interesse na teoria dos números surgiu após ler o livro Aritmética de Diofanto
(matemático grego, 200 A.C.) e alguns dos problemas propostos por Fermat, nesta área, eram
tão difíceis que somente muitos anos mais tarde foram provados. Um desses problemas
afirmava que "todo número inteiro pode ser escrito como a soma de no máximo quatro
quadrados" e foi provado em 1770, pelo matemático francês Lagrange. Entretanto, seu
resultado mais famoso resistiu por mais de 350 anos e inspirou a publicação, em 1996, do
bestseller O Último Teorema de Fermat. Este teorema diz que “se n é um natural maior que 2,
então não existem números inteiros x, y e z que satisfaçam a equação 𝑥 𝑛 + 𝑦 𝑛 = 𝑧 𝑛 ”. Isto foi
provado definitivamente, em 1994, pelo matemático inglês Andrew Wiles (repare que no caso
n = 2 o teorema é satisfeito por todos os ternos pitagóricos, isto é, por inteiros que satisfaçam o
Teorema de Pitágoras).
Ao contrário do famoso Último Teorema de Fermat, há poucas dúvidas sobre se Fermat
realmente sabia como provar esse teorema (que se chama "Pequeno Teorema de Fermat" para

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distingui-lo do seu "Último Teorema"). É creditado a Leonhard Euler a primeira prova,


publicada em 1736. Euler também generalizou o pequeno teorema de Fermat, como veremos.

Teorema 5.2.1 (Pequeno Teorema de Fermat – PTF): se p é primo e se o MDC (𝑝, 𝑎) = 1,


então:
𝑎𝑝−1 ≡ 1 (mod 𝑝)
Demonstração: consideremos os (p – 1) primeiros múltiplos positivos de a, isto é, os inteiros
𝑎, 2𝑎, 3𝑎, … , (𝑝 − 1)𝑎.
Nenhum desses (p – 1) inteiros é divisível por p e, além disso, dois quaisquer deles são
incongruentes módulo p, pois, se fosse:
𝑟𝑎 ≡ 𝑠𝑎 (𝑚𝑜𝑑 𝑝), 1≤𝑟 <𝑎 ≤𝑝−1
então, o fator comum a poderia ser cancelado, visto que o MDC(a, p) = 1, e teríamos:
𝑟 ≡ 𝑠)𝑚𝑜𝑑 𝑝)
o que é impossível, porque 0 < s – r < p.
Assim sendo, cada um dos inteiros a, 2a, 3a, ..., (p – 1)a é congruente módulo p a um único
dos inteiros 1, 2, 3, ..., p – 1, considerados numa certa ordem, e por conseguinte, multiplicando
ordenadamente todas essas p – 1 congruências, teremos:

𝑎. 2𝑎. 3𝑎 … (𝑝 − 1)𝑎 ≡ 1.2.3 … . (𝑝 − 1)(𝑚𝑜𝑑 𝑝)


ou seja,
𝑎𝑝−1 (𝑝 − 1)! ≡ (𝑝 = 1)! (𝑚𝑜𝑑 𝑝)
Como o MDC (p, (p – 1)!) = 1, porque p é primo e p não divide (p – 1)!, podemos cancelar o
fator (p – 1)!, o que dá a congruência de Fermat:
𝑎𝑝−1 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 𝑝)

Exemplo: Seja o primo 𝑝 = 7 e o inteiro 𝑎 = 3 tais que 7 não divide 3, temos os 𝑝 − 1 = 6


primeiros múltiplos positivos de 3: 3, 6, 9, 12, 15, 18. Nenhum desses 6 inteiros é divisível por
7, todos são incongruentes módulo 7, e cada um deles é congruente módulo 7 a um único dos
inteiros 1, 2, 3, 4, 5, 6: 3 ≡ 3 (mod 7), 6 ≡ 6 (mod 7), 9 ≡ 2 (mod 7), 12 ≡ 5 (mod7),
15 ≡ 1 (mod 7), 18 ≡ 4 (mod 7). Multiplicando ordenadamente essa 6 congruências, temos:
3 . 6 . 9 . 12 . 15 . 18 ≡ 3 . 6 . 2 . 5 . 1 . 4 (mod 𝑝)
ou seja,
36 . 6! ≡ 6! (mod 7)
Como o MDC (7,6!) = 1, podemos cancelar o fator comum 6!, que resulta em:

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36 ≡ 1 (mod 7)

Corolário 5.2.1: se p é um primo, então 𝑎𝑝 ≡ 𝑎 (mod 𝑝), qualquer que seja o inteiro a.
Demonstração: se p divide a, então 𝑎 ≡ 0 (mod 𝑝) e 𝑎𝑝 ≡ 0 (mod 𝑝), que implica em:
𝑎𝑝 ≡ 𝑎 (mod 𝑝)
Se, ao invés disto, p não dividisse a, então pelo PTF:
𝑎𝑝−1 ≡ 1 (mod 𝑝), e 𝑎𝑝 ≡ 𝑎 (mod 𝑝)

Teorema 5.2.2: se p e q são primos distintos tais que 𝑎𝑝 ≡ 𝑎 (mod 𝑞) e 𝑎𝑞 ≡ 𝑎 (mod 𝑝),
então:
𝑎𝑝𝑞 ≡ 𝑎 (mod 𝑝. 𝑞)
Demonstração: pelo corolário 1 e da hipótese, temos:
(𝑎𝑞 )𝑝 ≡ 𝑎𝑞 (mod 𝑝) 𝑎𝑞 ≡ 𝑎 (mod 𝑝) 𝑎𝑝𝑞 ≡ 𝑎 (mod 𝑝)
(𝑎𝑝 )𝑞 ≡ 𝑎𝑝 (mod 𝑞)  𝑎𝑞 ≡ 𝑎 (mod 𝑞)  𝑎𝑝𝑞 ≡ 𝑎 (mod 𝑞)
Portanto, 𝑝 | (𝑎𝑝𝑞 − 𝑎), e 𝑞 | (𝑎𝑝𝑞 − 𝑎), que implica em:
(𝑝. 𝑞) | (𝑎𝑝𝑞 − 𝑎), isto é, 𝑎𝑝𝑞 ≡ 𝑎 (mod 𝑝. 𝑞)
Ilustrando: 211 ≡ 2(𝑚𝑜𝑑 31) e 231 ≡ 2(𝑚𝑜𝑑 11)
211×31 ≡ 2 (𝑚𝑜𝑑 31 × 31)
2341 ≡ 2 (𝑚𝑜𝑑 341)
Teorema 5.2.3: Se p é primo e a é um inteiro tal que p não divide a, então 𝑎𝑝−2 é um inverso
de a módulo p.
Prova. Se p não divide a, pelo pequeno teorema de Fermat, temos 𝑎⋅
𝑎𝑝−2 = 𝑎𝑝−1 ≡ 1(𝑚𝑜𝑑 𝑝).
Assim, 𝑎𝑝−2 é um inverso de a módulo p.∎
O teorema 1 nos dá uma outra maneira de resolver congruências lineares em relação a
um módulo primo.
Ilustrando: Seja p = 7 e a = 4.
47−2 = 45 ≡ 2 (𝑚𝑜𝑑 7)
e, 2 × 4 ≡ 1(𝑚𝑜𝑑 7).

Corolário 5.2.3. Se a e b são números inteiros positivos e p é primo que não divide a, então as
soluções da congruência linear 𝑎𝑥 ≡ 𝑏 (mod 𝑝) são os inteiros x tais que 𝑥≡
𝑎𝑝−2 (mod 𝑝).
Prova. Suponha que 𝑎𝑥 ≡ 𝑏 (mod 𝑝) . Como p não divide a, sabemos pelo Teorema 1 que

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𝑎𝑝 − 2 é um inverso de 𝑎 (mod 𝑝). Multiplicando ambos os lados da congruência original por


𝑎𝑝 − 2 temos
𝑎𝑝−2 𝑎𝑥 ≡ 𝑎𝑝−2 𝑏(mod 𝑝).
Então,
𝑥 ≡ 𝑎𝑝−2 𝑏(mod 𝑝). ∎

Ilustrando: 4𝑥 ≡ 6(𝑚𝑜𝑑 7)

2 × 4𝑥 ≡ 2 × 6(𝑚𝑜𝑑 7)

𝑥 ≡ 12 ≡ 5(𝑚𝑜𝑑 7)

𝑥 = 7𝑘 + 5

Corolário 5.2.4. Se o número primo p não divide a e se 𝑛 ≡ 𝑚 (mod 𝑝 − 1), então


𝑎𝑛 ≡ 𝑎𝑚 (mod 𝑝)
Prova. Consideremos 𝑛 > 𝑚. Como 𝑝 − 1|𝑛 − 𝑚, temos 𝑛 = 𝑚 + 𝑘(𝑝 − 1), com k um
inteiro positivo. Assim, multiplicando a congruência 𝑎𝑝−1 ≡ 1(mod 𝑝) por ela mesma k vezes
e então por 𝑎𝑚 ≡ 𝑎𝑚 (mod 𝑝) temos o resultado esperado: 𝑎𝑛 ≡ 𝑎𝑚 (mod 𝑝).
Ilustrando: Seja p = 11 e a = 9.
13 ≡ 3 (𝑚𝑜𝑑 10)
913 ≡ 93 (𝑚𝑜𝑑 11)
3 ≡ 3 (𝑚𝑜𝑑 10)

PRECIOSIDADES

1) Verificar o PTF com 𝑎 = 2 e 𝑝 = 13.


2) Verificar o PTF com 𝑎 = 3 e 𝑝 = 17.
3) Verificar utilizando o PTF:
a) 18502 (mod 7)
b) 19933 ≡ 8 (𝑚𝑜𝑑 31)
4) Mostrar que 538 ≡ 4 (𝑚𝑜𝑑 11) pelo PTF.

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5) Mostrar que o inteiro 117 é composto usando o PTF.


6) Achar o algarismo das unidades do inteiro 3400 com o auxílio do PTF.
7) Sendo a um inteiro, mostrar que 𝑛5 e n têm o mesmo algarismo das unidades.
8) Demonstrar que 13 | (270 + 370 ) e 1105 | (31105 − 3) através do PTF.
9) Demonstra que 22225555 + 55552222 é divisível por 7 .
10) Achar o resto da divisão de 21137 por 17 com a ajuda do PTF.
11) Mostrar que, se o MDC(a, 35) = 1, então a12  1 (mod 35).
12) Demonstrar que, para todo inteiro a, se tem:
a) 𝑎13 ≡ 𝑎 (mod 7)
b) 𝑎37 ≡ 𝑎 (mod13)
c) 𝑎21 ≡ 𝑎 (mod 15)
d) 𝑎7 ≡ 𝑎(mod 42)
13) Demonstrar que, para todo inteiro positivo n, se tem:
a) 22𝑛 ≡ 1 (mod 3)
b) 23𝑛 ≡ 1 (mod 7)
14) Usando o pequeno teorema de Fermat, encontre o menor resíduo positivo de 3999 999 999
módulo 7.
15) Usando o pequeno teorema de Fermat, encontre o menor resto positivo de 21000000 módulo
17.
16) Mostre que 310 ≡ 1 (mod 112 ).
17) Usando o pequeno teorema de Fermat, encontre o último dígito de 3100 na expansão em base
7.
18) Usando o pequeno teorema de Fermat, encontre as soluções das seguintes congruências
lineares.
a) 7𝑥 ≡ 12 (mod 17) b) 4𝑥 ≡ 11 (mod 19)
19) Mostre que se n for um inteiro composto com 𝑛 ≠ 4, então (𝑛 − 1)! ≡ 0 (mod 𝑛).
20) Mostre que se p for um primo ímpar, então 2(𝑝 − 3)! ≡ −1 (mod 𝑝).
21) Mostre que se n for ímpar e 3 não divide n, então 𝑛2 ≡ 1 (mod 24).
22) Mostre que a12 - 1 é divisível por 35 sempre que mdc (𝑎, 35) = 1.
23) Mostre que a6 - 1 é divisível por 168 sempre que mdc (𝑎, 42) = 1.
24) Mostre que 42| (𝑛7 − 𝑛) para todos os inteiros positivos n.
25) Mostre que 30 |(𝑛9 − 𝑛) para todos os inteiros positivos n.

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26) Mostre que 1𝑝−1 + 2𝑝−1 + 3𝑝−1 + ⋯ + (𝑝 − 1)(𝑝−1) ≡ −1(mod 𝑝) sempre que o p é
primo.
27) Mostre que 1𝑝 + 2𝑝 + 3𝑝 + ⋯ + (𝑝 − 1)𝑝 ≡ 0 (mod 𝑝) quando p é um primo ímpar.
28) Mostre que, se p primo e a e b são inteiros e inteiros não divisíveis por p, com
𝑎𝑝 ≡ 𝑏 𝑝 (𝑚𝑜𝑑 𝑝), então 𝑎𝑝 ≡ 𝑏 𝑝 (𝑚𝑜𝑑 𝑝2 ).
29) Achar todos os primos p tais que 𝑝 | (2𝑝 + 1).
30) Sejam p um número primo, a e n e inteiros positivos. Prove que se 2p + 3p = an, então n
= 1.
31) Seja p um número primo da forma 4k + 3. Mostre que p | m2 + n2 ⇔ p | m e p | n.

5.2.1. Método de Fatoração de Fermat

Em um fragmento de uma carta, escrita em 1643, provavelmente ao padre Marin


Mersenne (1588-1648), Fermat descreveu sua técnica para o fatorar grandes números. Isso
representou a primeira melhoria real em relação ao método clássico de tentar encontrar um fator
de n dividindo-o por todos os primos que não excedem ⌊√𝑛⌋. O esquema de fatoração de Fermat
tem em sua essência a observação de que a busca de fatores de um inteiro ímpar n (porque as
potências de 2 são facilmente reconhecíveis e podem ser removidas logo no início, não há perda
em assumir que n é ímpar) é equivalente a obtenção das soluções inteiras x e y da equação
𝑛 = 𝑥2 − 𝑦2
Se n é a diferença entre dois quadrados, então é evidente que n pode ser fatorado como
𝑛 = 𝑥 2 − 𝑦 2 = (𝑥 + 𝑦)(𝑥 − 𝑦)

Por outro lado, quando n tem a fatoração 𝑛 = 𝑎𝑏, com 𝑎 ≥ 𝑏 ≥ 1, então podemos
escrever
a+b 2 a−b 2
𝑛=( ) −( )
2 2
Além disso, como n é um inteiro ímpar, a e b são ímpares; consequentemente (𝑎 + 𝑏)/2
e (𝑎 − 𝑏)/2 serão números inteiros não negativos.
Assim, começa uma busca por possíveis x e y que satisfaçam a equação
𝑛 = 𝑥 2 − 𝑦 2 , ou de modo equivalente 𝑥 2 − 𝑛 = 𝑦 2, determinando primeiro o menor número
inteiro k para o qual 𝑘 2 ≥ 𝑛. Agora, olhe sucessivamente os números
𝑘 2 − 𝑛, (𝑘 + 1)2 − 𝑛, (𝑘 + 2)3 − 𝑛, (𝑘 + 3)3 − 𝑛, …

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Até um valor de 𝑚 ≥ ⌊√𝑛⌋ ser encontrado fazendo 𝑚2 − 𝑛 um quadrado. O processo não pode
continuar indefinidamente, porque finalmente se chega a

n+1 2 n−1 2
( ) −𝑛 =( )
2 2
a representação de n correspondente à fatoração trivial 𝑛 = 𝑛 · 1. Se este ponto for alcançado
sem que uma diferença entre quadrados tenha sido descoberta antes, então n não tem outros
fatores além de n e 1, caso em que é um primo.
Fermat usou o procedimento que acabamos de descrever para fatorar

2027651281 = 44021.46061

em apenas 11 passos, em comparação com fazer 4580 divisões pelos primos ímpares até 44021.
Este foi provavelmente um caso favorável elaborado com o objetivo de mostrar a principal
virtude de seu método: Ele não exige que se conheça todos os primos menores do que ⌊√𝑛⌋
para encontrar os fatores de n.

Exemplo. Para ilustrar a aplicação do método de Fermat, vamos fatorar o número inteiro 𝑛 =
119143. De uma tabela de quadrados, encontramos que 3452 < 119143 < 3462 ; portanto,
basta considerar valores de 𝑘 2 − 119143 para aqueles k que satisfazem a desigualdade
119143+1
346346 ≤ 𝑘 ≤ = 59572. Os cálculos começam da seguinte forma:
2

k √𝑘 2 − 𝑛
346 √573 =23,93
347 √1266 =35,58
348 √1961 =44,28
349 √2658 =51,55
350 √3357 =57,93
351 √4058 =63,70
352 √4761 =69
Esta última linha exibe a fatoração
119143 = 3522 − 692 = (352 + 69)(352 − 69) = 421. 283

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os dois fatores sendo primos. Em apenas sete etapas, obtivemos a fatoração em primos do
número 119143. Claro, nem sempre isso acontece tão facilmente; isto pode demorar muitas
etapas antes de uma diferença ser um quadrado.
O método de Fermat é mais eficaz quando os dois fatores de n são muito próximos, pois,
neste caso, um quadrado adequado aparecerá rapidamente. Para ilustrar, vamos fatorar 𝑛 =
23449. O menor quadrado que excede n é 1542, de modo que a sequência 𝑘 2 − 𝑛 comece com
k √𝑘 2 − 𝑛
154 √267 =16,34
155 √576 =24
Por isso, os fatores de 23449 são
23449 = (155 + 24) (155 − 24) = 179.131
Ao examinar as diferenças 𝑘 2 − 𝑛 como possíveis quadrados, muitos valores podem ser
imediatamente excluídos por inspeção dos dígitos finais. Sabemos, por exemplo, que um
quadrado deve terminar em um dos seis dígitos 0, 1, 4, 5, 6, 9. Isso nos permite excluir todos
os valores no Exemplo 5.2, salvo para 1266, 1961 e 4761. Ao calcular os quadrados dos inteiros
de 0 a 99 do módulo 100, vemos ainda que, para um quadrado, os dois últimos dígitos estão
limitados às seguintes 22 possibilidades:
00 01 04 09 16 21 24 25 29 36 41 44 49 56 61 64 69 76 81 84 89 96
O número inteiro 1266 pode ser eliminado a partir dessa consideração. Como 61 está entre os
dois últimos dígitos permitidos em um quadrado, é necessário apenas olhar para os números
1961 e 4761; O primeiro não é um quadrado, mas 4761 = 692.

5.2.2. Uma Generalização do Método de Fermat

Há uma generalização do método de fatoração de Fermat que tem sido usado com algum
sucesso. Aqui, procuramos inteiros distintos x e y, de modo que 𝑥 2 − 𝑦 2 seja um múltiplo de n
em vez do próprio n; isso é,
𝑥 2 ≡ 𝑦 2 (mod 𝑛)
Tendo obtido tais números inteiros, 𝑑 = mdc (𝑥 − 𝑦, 𝑛) (ou 𝑑 = mdc (𝑥 + 𝑦, 𝑛)) pode ser
calculado por meio do Algoritmo euclidiano. Claramente, d é um divisor de n, mas é um divisor
não trivial? Em outras palavras, temos 1 < 𝑑 < 𝑛?
Na prática, n é geralmente o produto de dois primos p e q, com 𝑝 < 𝑞, de modo que d é
igual a 1, p, q ou pq. Agora, a congruência 𝑥 2 ≡ 𝑦 2 (mod 𝑛) se traduz em 𝑝𝑞 | (𝑥 − 𝑦)(𝑥 + 𝑦).

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O lema de Euclides nos diz que p e q devem dividir um dos fatores. Se acontecer de que 𝑝 | 𝑥 −
𝑦 e 𝑞 | 𝑥 − 𝑦, então 𝑝𝑞 | 𝑥 − 𝑦, ou expresso como uma congruência 𝑥 ≡ 𝑦(mod 𝑛). Além
disso, 𝑝 | 𝑥 + 𝑦 e 𝑞 | 𝑥 + 𝑦 fornecem 𝑥 ≡ −𝑦(mod 𝑛).. Ao procurar números inteiros x e y que
satisfaçam 𝑥 2 ≡ 𝑦 2 (mod 𝑛), onde 𝑥 ≢ ±𝑦(mod 𝑛), estas duas situações são descartadas. O
resultado de tudo isso é que d é p ou q, dando-nos um divisor não trivial de n.

Exemplo. Suponhamos que queremos fatorar o número inteiro positivo 𝑛 = 2189 e


percebemos que 5792 ≡ 182 (mod 2189). Então calculamos
mdc (579 − 18, 2189) = mdc (561, 2189) = 11
usando o Algoritmo de Euclides:
3 1 9 5
2189 561 506 55 11
506 55 11 0

Isso leva ao divisor primo 11 de 2189. O outro fator, ou seja, 199, pode ser obtido observando
que
mdc (579 + 18, 2189) = mdc (59 7, 2189) = 199
O leitor pode se perguntar como chegamos a um número, como 579, cujo quadrado é
congruente também é um quadrado perfeito módulo 2189. À procura de quadrados próximos
de múltiplos de 2189, observou-se que
812 − 3 · 2189 = −6 e 1552 − 11 · 2189 = −54
que se traduz em
812 ≡ −2 · 3 (mod 2189) e 1552 ≡ −2 · 33 (mod 2189)

Quando essas congruências são multiplicadas, elas produzem


(81 · 155)2 ≡ (2 · 32 )2 (mod 2189)
Como o produto 81 · 155 = 12555 ≡ −579 (mod 2189), acabamos com a
congruência 5792 ≡ 182 (mod 2189).
A base de nossa abordagem é encontrar vários x, com a propriedade de que cada 𝑥𝑖2 é,
modulo n, o produto de pequenas potências de números primos, e de tal forma que o quadrado
do seu produto é congruente a um quadrado perfeito.
Quando n tem mais de dois fatores primos, nosso algoritmo de fatoração ainda pode ser
aplicado; no entanto, não há garantias de que uma solução particular da congruência 𝑥 2 ≡

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𝑦 2 (mod 𝑛), com 𝑥 ≢ ±𝑦(mod 𝑛), resultará em um divisor não trivial de n. É claro que quanto
mais soluções dessa congruência estiverem disponíveis, melhor a chance de se encontrar os
fatores desejados de n.

5.2.3. Método de Fatoração de Kaitchik

Na década de 1920, Maurice Borissowitsch Kraitchik (1882- 1957) mostrou um


interessante aprimoramento do método de fatoração generalizado de Fermat, e é este
aprimoramento que está na base dos mais modernos algoritmos de fatoração. A ideia tinha
raízes nos trabalhos de Johann Carl Friedrich Gauss (1777- 1855) e Paul Peter Heinrich
Seelhoff (1829-1896), mas foi Kraitchik quem a trouxe para uma nova geração de um novo
século.
Vamos exemplificar essa variante apresentada por Kraitchik e que tornou-se a base de
métodos tão modernos como o algoritmo do crivo quadrático.

Exemplo. Seja 𝑛 = 12 499 o número inteiro a ser fatorado. O primeiro quadrado maior que n
é 1122 = 12544. Então, começamos por considerar a sequência dos números x2 – n para x =
112, 113, .... Como antes, nosso interesse é obter um conjunto de valores x1,x2 , ..., xk para o
qual o produto (𝑥𝑖 − 𝑛) · · · (𝑥𝑘 − 𝑛) é um quadrado, digamos 𝑦 2 . Então (𝑥1 . . . 𝑥𝑘 )2 ≡
𝑦 2 (mod 𝑛), o que pode levar a um fator não trivial de n.
Uma breve pesquisa revela que
1122 − 12499 = 45
1172 − 12499 = 1190
1212 − 12499 = 2142
ou, escrito como congruência,
1122 ≡ 32 · 5 (mod 12499)
1172 ≡ 2 · 5 · 7 · 17 (mod 12499)
1212 ≡ 2 · 32 · 7 · 17 (mod 12499)
Multiplicar as congruências resulta em
(112 · 117 · 121)2 ≡ (2 · 32 · 5 · 7 · 17)2 (mod 12499)
ou seja,
15855842 ≡ 107102 (mod 12499)
Mas não tivemos sorte com essa combinação de quadrados. Como
1585584 ≡ 10710 (mod 12499)

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apenas um divisor trivial de 12499 será encontrado. Para sermos específicos,


mdc (1585584 + 10710, 12499) = 1
mdc (1585584 − 10710, 12499) = 12499
Após um novo cálculo, percebemos que
1132 ≡ 2 · 5 · 33 (mod 12499)
1272 ≡ 2. 3. 5. 112 (mod 12499)
o que dá origem à congruência
(113, 127)2 ≡ (2 · 32 · 5 · 11)2 (mod 12499)
Isso se reduz módulo 12499 para
18522 ≡ 9902 (mod 12499)
e, felizmente, 1852 ≢ ± 990 (mod 12499). Calculando
mdc (1852 − 990, 12499) = mdc (862, 12499) = 431
produz a fatoração 12499 = 29 · 431.

PRECIOSIDADES

1. Use o método de Fermat para fatorar cada um dos seguintes números:


(a) 2279.
(b) 10541.
(c) 340663
2. Demonstrar que um quadrado perfeito deve terminar em um dos seguintes pares de dígitos:
00, 01, 04, 09,16, 21, 24, 25, 29, 36, 41, 44, 49, 56, 61, 64, 69, 76, 81, 84, 89, 96.
3. Fatorar o número 211 - 1 pelo método de Fermat.
4. Em 1647, Mersenne observou que quando um número pode ser escrito como uma soma dos
quadrados de dois números relativamente primos de duas formas distintas, ele é composto e
pode ser fatorado como segue: se 𝑛 = 𝑎2 + 𝑏 2 = 𝑐 2 + 𝑑 2 , então
(𝑎𝑐 + 𝑏𝑑)(𝑎𝑐 − 𝑏𝑑)
𝑛=
(𝑎 + 𝑑)(𝑎 − 𝑑)
Use esse resultado para fatorar os números
493 = 182 + 132 = 222 + 32
e
38025 = 1682 + 992 = 1562 + 1172

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5. Utilize o método de fatoração generalizado de Fermat para fatorar cada um dos seguintes
números:
(a) 2911
(b) 4573
(c) 6923
6. Fatore 13561 com a ajuda das congruências
2332 ≡ 32 · 5 (𝑚𝑜𝑑 13561) 𝑒 12812 ≡ 24 · 5 (mod 13561)
7. (a) Fatore o número 4537 procurando por x tal que
𝑥 2 − 𝑘 · 4537
é o produto de potências de pequenos números primos.
(b) Utilize o procedimento indicado na parte (a) para o fatorar 14429.
8. Use o método de Kraitchik para fatorar o número 20437.

5.2.4. Pseudoprimos

Pelo corolário 5.2.1, se p é primo, então 2𝑝 ≡ 2 (mod 𝑝), isto é, 𝑝 | (2𝑝 − 2).
Entretanto, a recíproca “se 𝑛 | (2𝑛 − 2), então n é primo” não é uma proposição verdadeira, e
os inteiros positivos ímpares compostos que satisfazem essa condição são chamados de
pseudoprimos.
Por exemplo, 2341 ≡ 2 (mod 341), isto é, 341 | (2341 − 2), onde o inteiro 341 =
11.31 é composto. Com efeito, temos:

210 = 1024 = 3.11.31 + 1


que implica em
210 ≡ 1 (mod 11), e 210 ≡ 1 (mod 31)
Portanto,
211 ≡ 2 (mod 31), e 231 ≡ 2. (210 )3 (mod 11) ≡ 2. (1)3 (mod 11) ≡ 2 (𝑚𝑜𝑑 11)

Como os inteiros 11 e 31 são primos distintos, temos, de acordo com o Teorema 2:

211.31 ≡ 2 (mod 11.31), isto é, 2341 ≡ 2 (mod 341), ou que 2340 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 341)

Congruência que mostra ser falsa a recíproca do PTF.


Logo, 341 é um pseudoprimo na base 2.

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Definição (Pseudoprimos): todo inteiro positivo composto n tal que 2𝑛 ≡ 2 (mod 𝑛) se chama
um pseudoprimo para a base 2.

Há um número infinito de pseudoprimos para a base 2, mas somente sete são menores que 2000,
e todos ímpares:

341 = 11 . 31 645 = 3 . 5 . 43 1387 = 16 . 73


561 = 3 . 11 . 17 1105 = 5 . 13 . 17 1729 = 7 . 13 . 19

Nota: O primeiro exemplo de um pseudoprimo par para a base 2 foi dado pelo matemático
americano LEHMER em 1950. O menor deles é 161038 = 2.73.1103 e, em 1951, BEEGER
mostrou a existência da infinidade de pseudoprimos pares para a base 2.

Teorema 5.2.4.1: seja um inteiro 𝑎 > 1 e um primo 𝑝 > 2.

𝑎2𝑝 − 1 𝑎𝑝 − 1 𝑎𝑝 + 1
𝑛= 2 =( )∙( )
𝑎 −1 𝑎−1 𝑎+1

é um pseudoprimo na base a.

Demonstração: pelo PTF,

𝑎𝑝 −1 𝑎𝑝 +1
( 𝑎−1 ) ≡ ( 𝑎+1 ) (mod 𝑝) ≡ 1 (mod 𝑝)

e se verifica facilmente que estes números são ímpares, de onde 𝑛 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 2. 𝑝), ou
𝑛 = 2. 𝑘. 𝑝 + 1, para um k inteiro. Assim, como 𝑎2𝑝 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 𝑛), temos:

𝑎𝑛 ≡ 𝑎2𝑘𝑝+1 (mod 𝑛) ≡ (𝑎2𝑝 )𝑘 . 𝑎 (mod 𝑛) ≡ 𝑎 (mod 𝑛)

Existe uma infinidade de pseudoprimos de base 𝑎 > 1.


Façamos a demonstração no caso de 𝑎 = 2.

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Proposição 5.2.4.1: se n é um pseudoprimo de base 2, então 2𝑛 − 1 também é um pseudoprimo


de base 2.

Demonstração: dada a igualdade (𝑥 𝑡 − 1) = (𝑥 − 1). (𝑥 (𝑡−1) + 𝑥 (𝑡−2) + . . . +𝑥 2 + 𝑥 + 1),


sejam d, k tais que 𝑛 = 𝑑. 𝑘, 𝑑 > 1, 𝑘 < 𝑛, e seja 𝑚 = 2𝑛 − 1. Então m é composto. Para isto,
basta considerar na igualdade acima 𝑥 = 2𝑑 e 𝑡 = 𝑘. Por hipótese 2𝑛−1 ≡ 1 (mod 𝑛) e,
portanto, existe 𝑘 > 0 tal que 2𝑛−1 − 1 = 𝑘. 𝑛. Assim,

𝐧 −𝟐) 𝐧−𝟏 −𝟏)


𝟐𝐦−𝟏 − 𝟏 = 𝟐(𝟐 − 𝟏 = 𝟐𝟐∙(𝟐 − 𝟏 = 𝟐𝟐𝐤𝐦 − 𝟏

Voltando à igualdade acima e fazendo 𝑥 = 2𝑛 e 𝑡 = 2. 𝑘, concluímos que 2𝑚−1 − 1 é


um múltiplo de 𝑚 = 2𝑛 − 1,ou seja 2𝑚−1 ≡ 1 (mod 𝑚)  2𝑚 ≡ 2 (mod 𝑚). Concluímos
assim que m é um pseudoprimo de base 2.

Corolário 5.2.4.1: existe uma infinidade de pseudoprimos de base 2.

Demonstração: basta notar que 341 é um pseudoprimo de base 2 e aplicar sucessivamente a


proposição anterior.
Nota: O fato de existir uma infinidade de pseudoprimos em qualquer base não implica a
existência de uma infinidade de pseudoprimos.

PRECIOSIDADES

1. Demonstrar que 161038 é um pseudoprimo para a base 2, i.e., que 161038 | (2161038 – 2).
2. Mostrar que 2047 é um pseudoprimo para a base 2.
3. Mostre que 341 não é um pseudoprimo para a base 3.
4. Mostrar que 561 é um pseudoprimo para a base 2, 3 e 5.
5. Demonstrar que se 7 não divide n, então 𝑛6 ≡1996 (mod 7).
6. Demonstrar que se MDC (𝑛, 7) = 1 então, 7 | (𝑛12 – 1).
7. Demonstrar que se MDC (𝑎, 240) = 1, então 240 é um divisor de 𝑎4 − 1.
8. Demonstrar que todo primo maior que 5 divide um inteiro formado só de algarismos 1.

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9. Demonstrar que para todo inteiro positivo n, temos que (𝑛3 − 𝑛). (58𝑛+4 + 34𝑛+2 ) é um
múltiplo de 3804.
10. Prove que 15 divide 3𝑛5 + 5𝑛3 + 7𝑛.
11. Prove que 91 divide 𝑎12 − 𝑏12 , onde a e b são relativamente primo com 91.

5.3. Teorema de Euler

Leonhard Euler (15/04/1707 – 18/07/1783) foi um matemático e físico de origem suíça.


Nasceu na Basiléia, filho do pastor calvinista Paul Euler que, desprezando seu prodigioso
talento matemático, determinou que ele estudasse Teologia e seguiria a carreira religiosa.
Daniel e Nikolaus Bernoulli convenceram o pai de Euler a permitir que seu filho trocasse a
teologia pelos números.
Euler, logo após, deixou a Suíça, indo para os palácios de Berlim e São Petersburgo,
onde passou os mais criativos anos de sua vida. Os governos da Europa estavam interessados
em usar a Matemática para resolver problemas práticos e competiam entre si para empregar os
melhores cérebros.
Durante sua vida resolveu enorme quantidade de problemas, da navegação às finanças,
da acústica à irrigação. A solução de tais problemas, que atendiam aos reclamos do mundo
prático, não o entediava, principalmente porque cada novo trabalho inspirava-o para criar uma
Matemática nova e engenhosa. Era capaz de escrever vários trabalhos em um único dia com os
cálculos completos e prontos para serem publicados.
Conseguiu provar o uma conjectura de Fermat relativa aos números primos. Fermat
afirmava que o primeiro tipo de número primo sempre era representado pela soma de números
ao quadrado enquanto que o segundo jamais o seria. Esta propriedade dos números primos é
extremamente simples, porém, ao tentar provar que isto é uma verdade para qualquer número
primo, torna-se extremamente difícil. Em 1749, depois de sete anos de trabalho e quase cem
anos após a morte de Fermat, conseguiu apresentar esta prova.

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Ao final de vida estava completamente cego. Aliás, já era cego de um olho desde os
vinte anos, o que não o perturbara em nada. Certa vez disse: “agora eu terei menos distrações”.
Aos sessenta anos foi acometido por catarata que o cegou completamente. Apesar disto,
continuou a produzir Matemática por mais sete anos. Seu imenso conhecimento permitia-lhe
criar conceitos sem ter que colocá-los no papel e sua memória fenomenal permitia-lhe usar seu
cérebro como uma biblioteca mental. Passou os anos finais de sua vida na Rússia, então sob a
proteção de Catarina, a Grande.
O pequeno teorema de Fermat nos diz como trabalhar com certas congruências
envolvendo expoentes quando o módulo é primo. Como trabalhamos com as congruências
correspondentes quando o módulo é um inteiro composto?
Para este propósito, gostaríamos de estabelecer uma congruência análoga à fornecida
pelo pequeno teorema de Fermat para números inteiros compostos. Conforme mencionado, o
grande matemático suíço Leonhard Euler publicou uma prova do pequeno teorema de Fermat
em 1736. Em 1760, Euler conseguiu encontrar uma generalização do pequeno teorema de
Fermat que é válido para inteiros com módulo compostos. Antes de apresentar esse resultado,
precisamos definir uma função de contagem especial (introduzida por Euler) usada no teorema.

5.3.1. Função Phi de Euler 𝜑(𝑛)

Definição: Chama-se Função Phi de Euler a função aritmética multiplicativa 𝜑 assim definida
para todo inteiro positivo n:
𝜑(𝑛) = quantidade de inteiros positivos menores que n relativamente primos a n.
Em outros termos, 𝜑(𝑛) é igual ao número de elementos do conjunto
#{ 𝑥  ℤ | 1  𝑥 < 𝑛, MDC (𝑥, 𝑛) = 1 }
Observação: 𝜑(1) = 1 , pois MDC (1, 1) = 1.
Exemplo: 𝜑(30)=8 e 𝜑(12) = 4 .

Tabela 5.3.1.1: 𝜑 (n) para os dez primeiros inteiros positivos.


n 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
𝜑 (n) 1 1 2 2 4 2 6 4 6 4

Teorema 5.3.1.1. A Função Phi é uma função aritmética multiplicativa.


Demonstração: sejam r e s dois inteiros positivos tais que o MDC (r, s) = 1.
Cumpre demonstrar que 𝜑(𝑟. 𝑠) = 𝜑(𝑟). 𝜑(𝑠) .

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A proposição é verdadeira se r ou s é igual a 1, pois, temos:


Se 𝑟 = 1, 𝜑(𝑟. 𝑠) = 𝜑(1. 𝑠) = 𝜑(𝑠) = 1. 𝜑(𝑠) = 𝜑(1). (𝑠) = 𝜑(𝑟). 𝜑(𝑠)
Se 𝑠 = 1, 𝜑(𝑟. 𝑠) = 𝜑(𝑟. 1) = 𝜑(𝑟) = 𝜑(𝑟). 1 = 𝜑(𝑟). 𝜑(1) = 𝜑(𝑟). 𝜑(𝑠)
Suponhamos, pois, que 𝑟 > 1 e 𝑠 > 1. Neste caso, todos os inteiros de 1 a 𝑟. 𝑠 podem ser
dispostos em r colunas com s inteiros em cada uma delas, do seguinte modo:

1 2 ... H ... r
r+1 r+2 ... r+h ... 2.r
2.r + 1 2.r + 2 ... 2.r + h ... 3.r
... ... ... ... ... ...
(s – 1).r + 1 (s – 1).r + 2 ... (s – 1).r + h ... s.r

Como o MDC (𝑞. 𝑟 + ℎ, 𝑟) = MDC (ℎ, 𝑟), os inteiros da h-ésima coluna são primos com
r, se e somente se, h é primo com r. Além disto, como na primeira linha o número de inteiros
que são primos com r é igual a 𝜑(𝑟), segue que há somente 𝜑(𝑟)colunas formadas com inteiros
que são todos os primos com r. Por outro lado, em cada uma destas 𝜑(𝑟)colunas existe
precisamente 𝜑(𝑠)inteiros que são primos com s, porque na progressão aritmética:
ℎ, 𝑟 + ℎ, 2. 𝑟 + ℎ, . . . , (𝑠 − 1). 𝑟 + ℎ
onde o MDC (𝑟, ℎ) = 1, o número de termos que são primos com s é igual a 𝜑(𝑠).
Assim sendo, o número total de inteiros que são primos com r e s, isto é, que são primos a 𝑟. 𝑠,
é igual a 𝜑(𝑟). 𝜑(𝑠), e isto significa que 𝜑(𝑟. 𝑠) = 𝜑(𝑟). 𝜑(𝑠)∎

5.3.2. Cálculo de 𝜑 (n)

Teorema 5.3.2.1. Seja p um primo, então 𝜑 (𝑝) = 𝑝 − 1.


Demonstração: () Se 𝑛 > 1 é primo, então cada um dos inteiros positivos menores que n é
primo com n e, portanto, 𝜑(𝑛) = 𝑛 − 1. () Reciprocamente, se 𝜑(𝑛) = 𝑛 − 1, com 𝑛 > 1,
então n é primo, pois, se n fosse composto, teria pelo menos um divisor d tal que 1 < d < n, de
modo que pelo menos dois dos inteiros 1, 2, 3, . . . , 𝑛 não seriam primos com n, d e n, isto é,
𝜑(𝑛) ≤ 𝑛 − 2. Logo, n é primo.∎

Teorema 5.3.2.2. Se p é primo e se k é um inteiro positivo, então


1
𝜑(𝑝𝑘 ) = 𝑝𝑘 − 𝑝𝑘−1 = 𝑝𝑘 (1 − )
𝑝

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Demonstração. Obviamente, o MDC (𝑝𝑘 , 𝑛) = 1, se e somente se, p não divide n, e entre 1 e


𝑝𝑘 existem 𝑝𝑘−1 inteiros que não são primos com 𝑝𝑘 , que são todos os múltiplos de p:
𝑝, 2. 𝑝, 3. 𝑝, . . . , 𝑝2 , . . . , 𝑝3 , . . . , 𝑝𝑘
segue-se que o conjunto {𝑝, 2𝑝, 3𝑝, . . . , 𝑝2 , . . . , 𝑝3 , . . . , 𝑝𝑘 } contém exatamente 𝑝𝑘 − 𝑝𝑘−1
inteiros que são relativamente primos a 𝑝𝑘 , de modo que pela definição da função 𝜑(𝑛) de
Euler, temos:
𝜑(𝑝𝑘 ) = 𝑝𝑘 − 𝑝𝑘−1 ∎
𝑘 𝑘 𝑘 𝑘
Teorema 5.3.2.3. Se 𝑛 = 𝑝1 1 ∙ 𝑝2 2 ∙ 𝑝3 3 ∙ ⋯ ∙ 𝑝𝑟 𝑟 é a decomposição canônica do inteiro 𝑛 >
1, então:
𝑘 𝑘 −1 𝑘 𝑘 −1 𝑘 𝑘 −1 1 1 1
𝜑(𝑛) = (𝑝1 1 − 𝑝1 1 ) ∙ (𝑝2 2 − 𝑝2 2 ) ∙ ⋯ ∙ (𝑝𝑟 𝑟 − 𝑝𝑟 𝑟 ) = 𝑛 ∙ (1 − 𝑝 ) ∙ (1 − 𝑝 ) ∙ ⋯ ∙ (1 − 𝑝 )
1 2 𝑟

ou seja,
𝑟 𝑟
𝑘 𝑘 −1 1
𝜑(𝑛) = ∏(𝑝𝑖 𝑖 − 𝑝𝑖 𝑖 ) = 𝑛 ∙ ∏ (1 − )
𝑝𝑖
𝑖=1 𝑖=1

Demonstração. Usaremos o Teorema da Indução Matemática sobre r, número de fatores


primos distintos de n. A proposição é verdadeira para 𝑟 = 1.
Suponhamos, então, a proposição verdadeira para 𝑟 = 𝑖.
𝑘 𝑘 𝑟+1 𝑘 𝑘
Como o MDC (𝑝1 1 ∙ 𝑝2 2 ∙ ⋯ ∙ 𝑝𝑟 𝑟 , 𝑝𝑟+1 ) = 1 , e 𝜑(𝑛) é uma função aritmética
multiplicativa, temos:
𝑘 𝑘 𝑘
𝑟+1 𝑘 𝑘 𝑟+1 𝑘 𝑘 𝑘
𝜑[(𝑝1 1 ∙ 𝑝2 2 ∙ ⋯ ∙ 𝑝𝑟 𝑟 ) ∙ 𝑝𝑟+1 ] = 𝜑(𝑝1 1 ∙ 𝑝2 2 ∙ ⋯ ∙ 𝑝𝑟 𝑟 ) ∙ 𝜑( 𝑝𝑟+1 )

ou seja,
𝑘 𝑘 𝑘𝑟+1 𝑘 𝑘 𝑟+1 𝑘 𝑟+1 𝑘 𝑘 𝑘 −1
𝜑[(𝑝1 1 ∙ 𝑝2 2 ∙ ⋯ ∙ 𝑝𝑟 𝑟 ) ∙ 𝑝𝑟+1 ] = 𝜑(𝑝1 1 ∙ 𝑝2 2 ∙ ⋯ ∙ 𝑝𝑟 𝑟 ) ∙ ( 𝑝𝑟+1 − 𝑝𝑟+1 )
ou, à vista da hipótese de indução:
𝑘 𝑘 𝑘 𝑟+1 𝑘 𝑘 𝑘 −1 𝑘 𝑘 −1 𝑘 𝑟+1 𝑟+1 𝑘 −1
𝜑(𝑝1 1 ∙ 𝑝2 2 ∙ ⋯ ∙ 𝑝𝑟 𝑟 . 𝑝𝑟+1 ) = (𝑝1 1 − 𝑝1 1 ) ∙ ⋯ ∙ ( 𝑝𝑟 𝑟 − ∙ 𝑝𝑟 𝑟 ) ∙ ( 𝑝𝑟+1 − 𝑝𝑟+1 )
e isto significa que a proposição é verdadeira para 𝑟 = 𝑖 + 1. Logo, a proposição é verdadeira
para todo inteiro positivo r.

Teorema 5.3.2.4. Para todo inteiro positivo 𝑛 > 2 , 𝜑 (𝑛) é um inteiro par
Demonstração. Se n é uma potência de 2, isto é, 𝑛 = 2𝑘 , com 𝑘 ≥ 2, então:
1
𝜑(2𝑘 ) = 2𝑘 (1 − ) = 2𝑘−1
2
que é um inteiro par.

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Se, ao invés, n não é uma potência de 2, então n é divisível por um primo impar p, isto
é:
𝑛 = 𝑝𝑘 𝑚, onde 𝑘 ≥ 1 e o mdc (𝑝𝑘 , 𝑚) = 1
e como 𝜑(𝑛) é uma função aritmética multiplicativa temos:
𝜑(𝑛) = 𝜑(𝑝𝑘 𝑚) = 𝜙(𝑝𝑘 ) 𝜑(𝑚) = 𝑝𝑘−1 (𝑝 − 1)𝜑(𝑚)
que é também um inteiro par, por que 2 | (𝑝 − 1).
Assim, 𝜑(𝑛) é um inteiro ímpar somente para 𝑛 = 1 e 𝑛 = 2:
𝜑(1) = 𝜑(2) = 1 ∎

Lema 5.3.2.1. Sejam a e 𝑛 > 1 inteiros tais que o MDC (𝑎, 𝑛) = 1. Se 𝑎1 , 𝑎2 , . . . , 𝑎𝜑(𝑛) são
inteiros positivos menores que n e que são relativamente primos com n, então cada um dos
inteiros 𝑎. 𝑎1 , 𝑎. 𝑎2 , . . . , 𝑎. 𝑎𝜑(𝑛) é congruente módulo n a um dos inteiros 𝑎1 , 𝑎2 , . . . , 𝑎𝜑(𝑛) (não
necessariamente nesta ordem em que aparecem).

Demonstração. Os inteiros 𝑎. 𝑎1 , 𝑎. 𝑎2 , . . . , 𝑎. 𝑎𝜙(𝑛) são mutuamente incongruentes módulo n,


pois, se 𝑎. 𝑎𝑖 ≡ 𝑎. 𝑎𝑗 (mod 𝑛), com 1 ≤ 𝑖 ≤ 𝑗 ≤ 𝜑(𝑛), como o MDC (𝑎, 𝑛) = 1, podemos
cancelar o fator comum a, o que dá 𝑎𝑖 ≡ 𝑎𝑗 (mod 𝑛)  𝑛 | (𝑎𝑗 − 𝑎𝑖 ). Isto é impossível, visto
que (𝑎𝑗 − 𝑎𝑖 ) < 𝑛.
Por outro lado, como o MDC (𝑎𝑖 , 𝑛) = 𝑖, 𝑖 = 1, 2, . . . , 𝜑(𝑛) e o MDC (𝑎, 𝑛) = 1, segue que o
MDC (𝑎. 𝑎𝑖 , 𝑛) = 1. Mas, pelo algoritmo da divisão, 𝑎. 𝑎𝑖 = 𝑛. 𝑞𝑖 + 𝑟𝑖 , 0 ≤ 𝑟𝑖 < 𝑛, que implica
em
𝑎. 𝑎𝑖 ≡ 𝑟𝑖 (mod 𝑛), com 0 ≤ 𝑟𝑖 < 𝑛
portanto, MDC (𝑟𝑖 , 𝑛) = MDC (𝑎. 𝑎𝑖 , 𝑛) = 1, de modo que 𝑟𝑖 é um dos inteiros 𝑎1 , 𝑎2 , . . . , 𝑎𝜑(𝑛) ,
isto é, cada um dos inteiros 𝑎. 𝑎1 , 𝑎. 𝑎2 , . . . , 𝑎. 𝑎𝜑(𝑛) é congruente módulo n a um único dos
inteiros 𝑎1 , 𝑎2 , . . . , 𝑎𝜙(𝑛) , em uma certa ordem.∎

O Teorema de Euler

Teorema 5.3.2.5 (Teorema de Euler). Se é um inteiro positivo e se MDC (𝑎, 𝑛) = 1, então


𝑎𝜑(𝑛) ≡ 1(mod 𝑛)
Demonstração: A proposição é verdadeira para 𝑛 = 1, pois 𝑎𝜑(1) ≡ 1 (mod 1) . Suponhamos,
pois, 𝑛 > 1, e sejam 𝑎1 , 𝑎2 , . . . , 𝑎𝜑(𝑛) os inteiros positivos menores que n e relativamente primos
a n.
Como o MDC (𝑎, 𝑛) = 1, então, pelo Lema acima, os inteiros 𝑎. 𝑎1 , 𝑎. 𝑎2 , . . . , 𝑎. 𝑎𝜑(𝑛)

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são congruentes módulo n aos inteiros 𝑎1 , 𝑎2 , . . . , 𝑎𝜑(𝑛) , em uma certa ordem:



𝑎. 𝑎1 ≡ 𝑎1′ , 𝑎. 𝑎2 ≡ 𝑎2′ , . . ., 𝑎. 𝑎𝜑(𝑛) ≡ 𝑎𝜑(𝑛)

onde 𝑎1′ , 𝑎2′ , . . . , 𝑎𝜑(𝑛) denotam os inteiros 𝑎1 , 𝑎2 , . . . , 𝑎𝜑(𝑛) em uma certa ordem.
Multiplicando ordenadamente todas essas 𝜑(𝑛) congruências, obtemos:

(𝑎. 𝑎1 ). (𝑎. 𝑎2 ). … . (𝑎. 𝑎𝜑(𝑛) ) ≡ 𝑎1′ 𝑎2′ . . . 𝑎𝜑(𝑛) (mod 𝑛)
≡ 𝑎1 𝑎2 . . . . 𝑎𝜑(𝑛) (mod 𝑛)
ou seja,
𝑎𝜑(𝑛) . (𝑎1 , 𝑎2 . . . . . 𝑎𝜑(𝑛) ) ≡ 𝑎1 𝑎2 . . . . 𝑎𝜑(𝑛) (mod 𝑛)
Cada um dos inteiros 𝑎1 , 𝑎2 . . . . . 𝑎𝜑(𝑛) é relativamente primo a n, de modo que podem ser
sucessivamente cancelados, o que dá a congruência de Euler:
𝑎𝜑(𝑛) ≡ 1 (mod 𝑛)
Nota: Se p é um primo, 𝜑(𝑝) = 𝑝 − 1, e se o MDC (𝑎, 𝑝) = 1, então:
𝑎𝜑(𝑝) ≡ 𝑎𝑝−1 (mod 𝑝) ≡ 1 (mod 𝑝)
que é a congruência de Fermat. Assim, o Teorema de Euler é uma generalização do teorema de
Fermat. ∎

Corolário 5.3.2.1: Se 𝑚 > 1, 𝑘 ≥ 0, 𝑛≥0 e a um inteiro qualquer são tais que,


MDC (𝑎, 𝑚) = 1 e 𝑘 ≡ 𝑛 (mod 𝜑(𝑚)) então, 𝑎𝑘 ≡ 𝑎𝑛 (mod 𝑚).
Demonstração: basta considerar o caso em que 𝑘 > 𝑛. Como 𝑘 ≡ 𝑛 (mod 𝜑(𝑚)) existe 𝑞 ≥
1 tal que 𝑘 − 𝑛 = 𝑞. 𝜑(𝑚) e, portanto,
𝑎𝑘 = 𝑎𝑘−𝑛 . 𝑎𝑛 = 𝑎𝑞.𝜑(𝑛) . 𝑎𝑛 = (𝑎𝜑(𝑛) )𝑞 . 𝑎𝑛 ≡ 𝑎𝑛 (mod 𝑚)

Exemplo: sejam 𝑎 = 5, 𝑚 = 6, 𝑘 = 8 e 𝑛 = 2. Temos 𝜑(6) = 2, e 8 ≡ 2 (mod 2).


Como 52 ≡ 1(mod 6), então 58 ≡ 1(mod 6) e desta forma, 58 ≡ 52 (mod 6).

5.3.3. Resolução de Congruências Lineares pelo Teorema de Euler

A congruência linear 𝑎𝑥 ≡ 𝑏 (mod 𝑚) no caso em que o MDC (𝑎, 𝑚) = 1, admite uma


única solução módulo m, que se pode facilmente obter usando o Teorema de Euler. Realmente,
temos:
𝑎𝜑(𝑚) ≡ 1 (mod 𝑚)  b. 𝑎𝜑(𝑚) ≡ 𝑏 ≡ 𝑎𝑥 (mod 𝑚)
portanto,

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𝑎𝑥 ≡ 𝑏. 𝑎𝜑(𝑚) (mod 𝑚)
Como o MDC (𝑎, 𝑚) = 1, podemos cancelar o fator comum a, que resulta em:
𝑥 ≡ 𝑏 𝑎𝜑(𝑚)−1 (mod 𝑚)

Exemplo: no caso da congruência linear 3. 𝑥 ≡ 5 (mod 8), onde o MDC (3, 8) = 1, temos:
𝑥  5. 3𝜑(8)−1 (mod 8) ≡ 5. 34−1 (mod 8) ≡ 5.27 (mod 8) ≡ 135 (mod 8) ≡ 7 (mod 8)
Em particular,
𝑎. 𝑥 ≡ 1 (mod 𝑛)  𝑥 ≡ 𝑎𝜑(𝑚)−1 (mod 𝑛)
determina um inverso de a módulo n.

Exemplo: Queremos determinar o inverso de 7 módulo 11, ou seja, queremos resolver a


congruência linear 7. 𝑥 ≡ 1 (mod 11).
Queremos determinar o menor inteiro positivo em ℤ11 que satisfaça a equação
𝑥 ≡ 7𝜑(11)−1 (mod 11) ≡ 710−1 (mod 11) ≡ 79 (mod 11) ≡ 8 (𝑚𝑜𝑑 11)
assim, temos que 𝑥 = 8 é a menor solução positiva em ℤ11 para o problema.

PRECIOSIDADES

(Devem ser resolvidos utilizando os teoremas de Euler.)

1. Calcular 𝜑(420), 𝜑 (1001), 𝜑 (5040) e 𝜑 (8316).


2. Verificar que 𝜑(𝑛 + 2) = 𝜑(𝑛) + 2, para 𝑛 = 12, 14, 20.
3. Verificar que 𝜑(𝑛) = 𝜑(𝑛 + 1) = 𝜑(𝑛 + 2), para 𝑛 = 5186.
4. Verificar que 𝜑(3𝑘 . 568) = 𝜑(3𝑘 .638).
5. Verificar que 𝜑(𝑛) é uma função aritmética multiplicativa para 𝑛 = 144.
6. Verificar o Teorema de Euler com 𝑎 = 3 e 𝑛 = 10; a=7 e 𝑛 = 12.
7. Verifique que:
a) 11357 ≡ 59 (mod 96)
b) 631304 ≡ 84 (mod 101)
c) 234205 ≡ 67 (mod 77)
d) 2012101 ≡ 20 (mod 57)
e) 17850 ≡ 100 (mod 143)

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8. Achar os dois últimos algarismos da direita do inteiro 3256.


9. Calcular o menor inteiro positivo n tal que n  71015 (mod 31).
10. Achar o algarismo das unidades do inteiro 3145.
11. Usando o Teorema de Euler, resolver as seguintes congruências lineares:
(a) 5𝑥 ≡ 7 (mod 12) (b) 2𝑥 ≡ 3 (mod 9) (c) 7𝑥 ≡ 1 (mod 10) (d) 8𝑥 ≡ 4 (mod 5)
(e) 2𝑥 ≡ 1 (mod 17) (f) 5𝑥 ≡ −3 (mod 8)
12. Demonstrar que se n é um inteiro positivo ímpar, então:
(a) 𝜑(2. 𝑛) = 𝜑(𝑛)
(b) 𝜑(4𝑛) = 2. 𝜑(𝑛)
13. Resolva em ℕ as seguintes equações:
(a) 𝜑(𝑛) = 12 (b) 𝜑(𝑛) = 18 (c) 𝜑(𝑛) = 20 (d) 𝜑(𝑛) = 30 (e) 𝜑(𝑛) = 4!

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5.4. TEOREMA CHINÊS DO RESTO

O livro “Manual Aritmético do Mestre Sol” foi escrito por Sun Zi Suanjing (ou Sun Tzu
Suan Ching), provavelmente entre 280 d.C. a 483 d.C. O livro está dividido em 3 capítulos.
O 1º capítulo, contém apenas dois problemas que dizem respeito sobretudo a métodos
para fazer multiplicações e divisões, utilizando “palitinhos chineses”. O segundo capítulo,
contém 28 problemas, apresenta métodos para o cálculo com frações, extração da raiz quadrada,
determinação de áreas e volumes, proporções e regra de três simples. O terceiro capítulo contém
36 problemas aritméticos.
No problema 26 (também conhecido como “problema do Mestre Sun”) do 3° capítulo,
Sun Tzu utiliza pela primeira vez o chamado Teorema Chinês do Resto (TCR). O problema
está enunciado abaixo:
“Temos coisas, mas não sabemos quantas; se as contarmos de três em três, o resto é 2;
se as contarmos de cinco em cinco, o resto é 3; se as contarmos de sete em sete, o resto é 2.
Quantas coisas temos?”
Em notação moderna, este problema equivale a procurar as soluções do seguinte sistema
de congruências:
𝑥 ≡ 2(𝑚𝑜𝑑 3)
{𝑥 ≡ 3(𝑚𝑜𝑑 5)
𝑥 ≡ 2(𝑚𝑜𝑑 7)
Resolver problemas como esse é um dos objetivos deste tópico.
Problemas envolvendo sistemas de congruências ocorrem nos escritos do matemático
grego Nicômaco no primeiro século. Eles também podem ser encontrados nas obras de
Brahmagupta na Índia no século VII. No entanto, foi apenas no ano de 1247 que um método
geral para resolver sistemas de congruências lineares foi publicado por Ch’in ChiuShao em seu
Tratado Matemático em Nove Seções. Apresentamos agora o teorema principal relativo à
solução de sistemas de congruências lineares em uma incógnita. Este teorema é chamado o

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teorema chinês do resto, muito provavelmente por causa das contribuições de matemáticos
chineses tais como Ch'in Chiu-Shao a sua solução.

Teorema 5.4.1 (Teorema Chinês do Resto – TCR): Sejam 𝑚1 , 𝑚2 , . . . , 𝑚𝑘 inteiros positivos


relativamente primos dois a dois, isto é, tais que o mdc (𝑚𝑖 , 𝑚𝑗 ) = 1 se 𝑖 ≠ 𝑗. Nestas
condições, o sistema de congruências lineares:
𝑥 ≡ 𝑎1 (𝑚𝑜𝑑 𝑚1 )
𝑥 ≡ 𝑎2 (𝑚𝑜𝑑 𝑚2 )
{

𝑥 ≡ 𝑎𝑘 (𝑚𝑜𝑑 𝑚𝑘 )
tem solução módulo 𝑚 = 𝑚1 , 𝑚2 , . . . , 𝑚𝑘 , dada por:
𝑥 ≡ 𝑎1 𝑀1 𝑥1 + 𝑎2 𝑀2 𝑥2 + ⋯ + 𝑎𝑘 𝑀𝑘 𝑥𝑘 (mod 𝑚), 𝑘 = 1, 2, 3, . . . , 𝑟.
Onde,
𝑚 𝑚1 . 𝑚2 . … 𝑚𝑟 … 𝑚𝑘
𝑀𝑟 = =
𝑚𝑟 𝑚𝑟
Como o 𝑚𝑑𝑐(𝑀𝑟 , 𝑚𝑟 ) = 1, então a congruência linear 𝑀𝑟 . 𝑥𝑟 ≡ 1 (mod 𝑚𝑟 ) tem a
solução 𝑥𝑟 ≡ 𝑀𝑟 𝜑(𝑚𝑟 )−1 (𝑚𝑜𝑑 𝑚𝑟 ).

Teorema 5.4.2. Sejam 𝑚1 , 𝑚2 , . . . , 𝑚𝑘 inteiros positivos dois a dois relativamente primos, e


sejam a1, a2, ..., ak inteiros tais que (𝑎𝑟 , 𝑚𝑟 ) = 1para 𝑟 = 1, 2, . . . , 𝑘. Nestas condições, o
sistema de congruências lineares:
𝑎1 𝑥 ≡ 𝑏1 (𝑚𝑜𝑑 𝑚1 )
𝑎 𝑥 ≡ 𝑏2 (𝑚𝑜𝑑 𝑚2 )
{ 2

𝑎𝑘 𝑥 ≡ 𝑏𝑘 (𝑚𝑜𝑑 𝑚𝑘 )
tem solução módulo 𝑚 = 𝑚1 , 𝑚2 . . .. . 𝑚𝑘 .

Onde:
𝑚
(i) 𝑀𝑘 = 𝑚 , 𝑘 = 1, 2, 3, . ..
𝑘

(ii) 𝑥𝑘 . 𝑀𝑘 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 𝑚𝑘 ), ou seja, 𝑥𝑘 é o inverso multiplicativo de 𝑀𝑘 módulo 𝑚𝑘 .

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Exemplo 5.4.1: Utilizando o TCR, resolver o sistema de congruências lineares:

𝑥 ≡ 8 (mod 5)
𝑥 ≡ 5 (mod 3)
𝑥 ≡ 11 (mod 7)
{ 𝑥 ≡ 2 (mod 4)

Solução: Os módulos 5, 3, 7 e 4 das congruências lineares que formam o sistema, possuem


valores, dois a dois, relativamente primos de modo que pelo TCR este sistema tem solução
módulo 𝑚 = 𝑚1 . 𝑚2 . 𝑚3 . 𝑚4 = 5 . 3 . 7 . 4 = 420. Temos então:

𝑚 420 𝑚 420 𝑚 420


𝑀1 = 𝑚 = = 84, 𝑀2 = 𝑚 = = 140, 𝑀3 = 𝑚 = = 60,
1 5 2 3 3 7

𝑚 420
𝑀4 = = = 105
𝑚4 4

Os inversos 𝑥𝑘 dos 𝑀𝑘 são dados por:


84 𝑥1 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 5) ⇔ 𝑥1 ≡ 84𝜑(5)−1 (𝑚𝑜𝑑 5) ⇔ 𝑥1 ≡ 4 (𝑚𝑜𝑑 5)
140 𝑥2 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 3) ⇔ 𝑥2 ≡ 140𝜑(3)−1 (𝑚𝑜𝑑 3) ⇔ 𝑥2 ≡ 2 (𝑚𝑜𝑑 3)
60 𝑥3 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 7) ⇔ 𝑥3 ≡ 60𝜑(7)−1 (𝑚𝑜𝑑 7) ⇔ 𝑥3 ≡ 2 (𝑚𝑜𝑑 7)
105 𝑥4 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 4) ⇔ 𝑥4 ≡ 105𝜑(4)−1 (𝑚𝑜𝑑 4) ⇔ 𝑥4 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 4)

Logo, os menores inversos positivos são:


𝑥1 = 4, 𝑥2 = 2, 𝑥3 = 2, e 𝑥4 = 1.
Portanto, temos :
𝑥 ≡ 𝑎1 𝑀1 𝑥1 + 𝑎2 𝑀2 𝑥2 + 𝑎𝑘 𝑀𝑘 𝑥𝑘 (mod 𝑚)
𝑥 ≡ 8 . 84 . 4 + 5 . 140 . 2 + 11 . 60 . 2 + 2 . 105 . 1 (mod 420)
𝑥 ≡ 5618 (mod 420)  158 (mod 420), segue-se que 𝑥 = 158 é a menor solução positiva
módulo 420, do sistema de congruências lineares dado. Qualquer outra solução é da forma:
x  158 (mod 420)  x = 158 + 420.k, k  ℤ.

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Um quadro resumo:

𝑚 = 𝑚1 ∙ 𝑚2 ∙∙∙ 𝑚𝑘
𝑚𝑘 𝑎𝑘 𝑚 𝜑(𝑚𝑘 )−1 𝑘
𝑀𝑘 = 𝑥𝑘 ≡ 𝑀𝑘 (𝑚𝑜𝑑 𝑚𝑘 )
𝑚𝑘 𝑥 ≡ (∑ 𝑎𝑖 ∙ 𝑀𝑖 ∙ 𝑥𝑖 ) (𝑚𝑜𝑑 𝑚)
𝑖=1
5 8 84 4 𝑥 ≡ 5618 (𝑚𝑜𝑑 420)
3 5 140 2 𝑥 ≡ 158 (𝑚𝑜𝑑 420)
7 11 60 2 𝑥 = 158 + 420𝑡, 𝑡∈ℤ
4 2 105 1

Exemplo 5.4.2:
5𝑥 ≡ 11 (mod 17)
{3𝑥 ≡ 19 (mod 32)
11𝑥 ≡ 6 (mod 37)

Solução: Como o mdc (17, 32) = mdc(17, 37) = mdc (32, 37) = 1, o sistema possui
solução.
5𝑥 ≡ 11 (mod 17) ⇔ 𝑥 ≡ 5𝜑(17)−1 ∙ 11 ⇔ 𝑥 ≡ 9 (mod 17).
3𝑥 ≡ 19 (mod 32)) ⇔ 𝑥 ≡ 3𝜑(32)−1 ∙ 19 ⇔ 𝑥 ≡ 17 (mod 32)
11𝑥 ≡ 6 (mod 37)) ⇔ 𝑥 ≡ 11𝜑(37)−1 ∙ 6 ⇔ 𝑥 ≡ 14 (mod 37)

assim temos o seguinte sistema:


𝑥 ≡ 9 (mod 17)
{ 𝑥 ≡ 17 (mod 32)
𝑥 ≡ 14 (mod 37)
Aplicando, o Teorema Chinês do Resto:
𝑎1 = 9, 𝑎2 = 17, 𝑎3 = 14.
𝑚1 = 17, 𝑚2 = 32, 𝑚3 = 37.
𝑚 = 𝑚1 .𝑚2 .𝑚3 = 17.32.37 = 20128.
𝑚 20128 𝑚 20128 𝑚 20128
𝑀1 = 𝑚 = = 1184, 𝑀2 = 𝑚 = = 629, 𝑀3 = 𝑚 = = 544
1 17 2 32 3 37

Então 1184. 𝑥1  1 (mod 17), 629. 𝑥2  1 (mod 32) e 544. 𝑥3  1 (mod 37).
De onde concluímos: 𝑥1 = 14 , 𝑥2 = 29 e 𝑥3 = 10.
A solução geral será:
𝑥 ≡ 9 . 14 . 1184 + 17 . 29 . 629 + 14 . 10 . 544 (mod 20128)
x ≡ 535441 ≡ 12113 (mod 20128)
𝑥 = 12113 + 20128𝑡, 𝑡∈ℤ

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SISTEMA DE DUAS CONGRUÊNCIAS LINEARES EM DUAS VARIÁVEIS COM O


MESMO MÓDULO
Consideremos agora, as congruências lineares em duas variáveis; ou seja,
congruências da forma
𝑎𝑥 + 𝑏𝑦 ≡ 𝑐(𝑚𝑜𝑑 𝑛)
Em analogia com o Teorema 4.2.2.1, tal congruência tem uma solução se, e somente
se o mdc(a, b, n) divide c. A condição para que haja solução é mdc(a, n) = 1 ou mdc(b, n) = 1.
Digamos que mdc (a, n) = 1. A congruência é expressa como
𝑎𝑥 ≡ 𝑐 − 𝑏𝑦(𝑚𝑜𝑑 𝑛)
o corolário do Teorema 4.2.2.1 garante uma solução única x para cada um dos n valores
incongruentes de y.
Tomemos como uma ilustração 7𝑥 + 4𝑦 ≡ 5 (mod 12), onde 7𝑥 ≡ 5 − 4𝑦 (mod 12). A
substituição de 𝑦 ≡ 5 (mod 12) fornece 7𝑥 ≡ −15 (mod 12); mas isto é equivalente
−5𝑥 ≡ −15 (mod 12) de modo que 𝑥 ≡ 3 (mod 12). Segue-se que 𝑥 ≡ 3 (mod 12),
𝑦 ≡ 5 (mod 12) é uma das 12 soluções incongruentes de 7𝑥 + 4𝑦 ≡ 5 (mod 12). Outra
solução seria 𝑥 ≡ 3 (mod 12), 𝑦 ≡ 8 (mod 12).
O foco da nossa preocupação aqui é a forma de como resolver um sistema de duas
congruências lineares em duas variáveis com o mesmo módulo. A prova do próximo teorema
adota o procedimento familiar de eliminar uma das incógnitas.
Teorema 5.4.3. O sistema de congruências lineares
𝑎𝑥 + 𝑏𝑦 ≡ 𝑟 (mod 𝑛)
𝑐𝑥 + 𝑑𝑦 ≡ 𝑠 (mod 𝑛)
Tem única solução módulo n sempre que mdc(𝑎𝑑 − 𝑏𝑐, 𝑛) = 1.
Prova. Vamos multiplicar a primeira congruência do sistema por d, a segunda congruência por
b, e subtrair o resultado debaixo da parte superior. Esses cálculos produzem
(𝑎𝑑 − 𝑏𝑐)𝑥 ≡ 𝑑𝑟 − 𝑏𝑠 (mod 𝑛) (1)
O pressuposto de que mdc(𝑎𝑑 − 𝑏𝑐, 𝑛) = 1 garante que a congruência
(𝑎𝑑 − 𝑏𝑐)𝑧 ≡ 1 (mod 𝑛)
possua uma única solução; denote a solução por t. Quando a congruência (1) é multiplicada por
t, obtemos
𝑥 ≡ 𝑡(𝑑𝑟 − 𝑏𝑠) (mod 𝑛)
Um valor para y é encontrado por um processo de eliminação. Ou seja, multiplicar a primeira
congruência do sistema por c, a segunda por a, e subtrair para acabar com

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(𝑎𝑑 − 𝑏𝑐)𝑦 ≡ 𝑎𝑠 − 𝑐𝑟 (mod 𝑛) (2)


A multiplicação dessa congruência por t leva a
𝑦 ≡ 𝑡(𝑎𝑠 − 𝑐𝑟) (mod 𝑛)

Agora está estabelecida a solução do sistema.

PRECIOSIDADES

1.Resolver os seguintes sistemas de congruências lineares utilizando o TCR:

𝑥 ≡ 3 (mod 5) 𝑥 ≡ 1 (mod 5) 𝑥 ≡ 5 (mod 6)


a){ 𝑥 ≡ 5 (mod 7) b){ 𝑥 ≡ 5 (mod 7) c) {𝑥 ≡ 4 (mod 11)
𝑥 ≡ 7 (mod 11) 𝑥 ≡ 7 (mod 11) 𝑥 = 3 (mod 17)
𝑥 ≡ 5 (mod 11) 𝑥 ≡ 7 (mod 9) 𝑥 ≡ 28 (mod 29)
d) {𝑥 ≡ 14 (mod 29) e) {𝑥 ≡ 10 (mod 4) f) {𝑥 ≡ 30 (mod 31)
𝑥 ≡ 15 (mod 31) 𝑥 ≡ 1 (mod 7) 𝑥 ≡ 10 (mod 11)
𝑥 ≡ 𝑎 (mod 3) 2𝑥 ≡ 1 (mod 5)
g) {𝑥 ≡ 𝑏 (mod 5) h) { 4𝑥 ≡ 1 (mod 7)
𝑥 ≡ 𝑐 (mod 8) 5𝑥 ≡ 9 (mod 11)
2.Encontre as soluções de cada um dos seguintes sistemas de congruências:
(a) 5𝑥 + 3𝑦 ≡ 1 (mod 7)
3𝑥 + 2𝑦 ≡ 4 (mod 7).
(b) 7𝑥 + 3𝑦 ≡ 6 (mod 11)
4𝑥 + 2𝑦 ≡ 9 (mod 11).
(c) 11𝑥 + 5𝑦 ≡ 7 (mod 20)
6𝑥 + 3𝑦 ≡ 8 (mod 20).
3. Obtenha as oito soluções incongruentes da congruênciaa linear 3𝑥 + 4𝑦 ≡ 5(mod 8).

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POTENCIAÇÃO E O TEOREMA DE EULER

Seja m um inteiro positivo tal que mdc (𝑎, 𝑚) = 1. Então:


𝑎𝜑(𝑚) ≡ 1 (mod 𝑚)
Aplicamos este resultado ao cálculo de potência módulo m. De uma maneira geral o problema
é o seguinte. São dados a, k e m três inteiros positivos, dos quais sabemos que m é relativamente
primo com a. Digamos que k é muito grande (o caso difícil) e queremos achar a forma reduzida
de 𝑎𝑘 (mod 𝑚).
Podemos simplificar as contas usando o teorema de Euler. Estamos supondo que k é
grande, na prática precisamos saber apenas que 𝑘 ≥ 𝜑(𝑚). Dividindo k por 𝜑(𝑚), obtemos
𝑘 = 𝜑(𝑚). 𝑞 + 𝑟, onde o resto r satisfaz 0  𝑟  𝜑(𝑚) − 1. Temos, então, que:
𝑎𝑘 ≡ 𝑎𝜑(𝑚).𝑞+𝑟 (mod 𝑚)  (𝑎𝜑(𝑚) )𝑞 . 𝑎𝑟 (mod 𝑚)
Mas pelo teorema de Euler, 𝑎𝜑(𝑚) ≡ 1 (mod 𝑚). Obtemos, portanto, da equação
acima que 𝑎𝑘 ≡ 𝑎𝑟 (mod 𝑝). A seguir veremos um exemplo numérico para convencê-lo das
vantagens deste resultado.

Exemplo:
Queremos calcular 25432675 (mod 13). Da maneira como vínhamos procedendo
teríamos que efetuar uma quantidade enorme de potenciações módulo 13. Usando a idéia acima,
obtemos o resto da divisão de 𝑘 = 5432675 por 𝜑(13), que é 𝑟 = 11, e assim:
25432675 ≡ (2𝜑(13) )𝑞 . 211 (mod 13) ≡ 211 (mod 13) ≡ 7 (mod 13)
Logo, 25432675 ≡ 7 (mod 13).

POTENCIAÇÃO E O TEOREMA CHINÊS DO RESTO

Podemos aplicar o TCR para simplificar o cálculo de potências módulo n em alguns


casos especiais. Suponhamos que 𝑛 = 𝑝1 . 𝑝2 . . .. . 𝑝𝑘 , onde 𝑝1 < 𝑝2 < . . . < 𝑝𝑘 são números
primos.

Assim, estamos supondo que, na fatoração de n, cada fator primo aparece com
multiplicidade 1. Neste caso fica muito fácil calcular a forma reduzida de 𝑎𝑚 (mod 𝑛).
Em primeiro lugar, usamos o PTF para achar a forma reduzida de 𝑎𝑚 módulo cada um dos
primos 𝑝1 . , 𝑝2 , . .. , 𝑝𝑘 separadamente. Digamos que:

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𝑎𝑚 ≡ 𝑟1 (mod 𝑝1 ) e 0 ≤ 𝑟1 < 𝑝1
𝑎𝑚 ≡ 𝑟2 (mod 𝑝2 ) e 0 ≤ 𝑟2 < 𝑝2
...
𝑎𝑚 ≡ 𝑟𝑘 (mod 𝑝𝑘 ) e 0 ≤ 𝑟𝑘 < 𝑝𝑘
Para achar a forma reduzida de am (mod n), basta resolver o sistema:
𝑥 ≡ 𝑟1 (mod 𝑝1 )
𝑥 ≡ 𝑟2 (mod 𝑝2 )
...
𝑥 ≡ 𝑟𝑘 (𝑚𝑜𝑑 𝑝𝑘 )
Observe que este sistema sempre tem solução, já que os módulos são primos distintos
e, portanto, o MDC entre dois quaisquer entre eles é sempre igual a 1. Além disto, o teorema
nos garante que o sistema tem uma única solução 𝑟 (mod 𝑛), onde 𝑛 = 𝑝1 . 𝑝2 . . .. . 𝑝𝑘 Logo
𝑎𝑚 ≡ 𝑟 (mod 𝑛), e obtivemos o que queríamos.
Vejamos um exemplo numérico. Digamos que queremos calcular a forma reduzida de
26754 (mod 1155)
Fatorando 1155 vemos que é 1155 = 3 . 5 . 7 . 11, todos primos entre si com multiplicidade 1.
Aplicando o PTF a cada um destes primos, temos que:
26754 ≡ 2𝑟1 (mod 3)
26754 ≡ 2𝑟2 (mod 5)
26754 ≡ 2𝑟3 (mod 7)
26754 ≡ 2𝑟4 (mod 11)
Assim:
6754 = 𝜑(3). 𝑞1 + 𝑟1  6754 = 2 . 3377 + 0, logo 20 ≡ 1 (mod 3).
6754 = 𝜑(5). 𝑞2 + 𝑟2  6754 = 4 . 1688 + 2, logo 22 ≡ 4 (mod 5).
6754 = 𝜑(7). 𝑞3 + 𝑟3  6754 = 6 . 1125 + 4, logo 24 ≡ 2 (mod 7).
6754 = 𝜑(11). 𝑞4 + 𝑟4  6754 = 10 . 675 + 4, logo 24 ≡ 5 (mod 11).
Precisamos, portanto, resolver o sistema:
𝑥 ≡ 1 (mod 3)
𝑥 ≡ 4 (mod 5)
𝑥 ≡ 2 (mod 7)
𝑥 ≡ 5 (mod11)

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Solução:
𝑚 = 𝑚1 . 𝑚2 . 𝑚3 . 𝑚4 = 3 . 5 . 7 . 11 = 1155
𝑚 1155
𝑀1 = = = 385;
𝑚1 3
𝑚 1155
𝑀2 = = = 231;
𝑚2 5
𝑚 1155
𝑀3 = = = 165;
𝑚3 7
𝑚 1155
𝑀4 = = = 105.
𝑚4 11

𝑀1 . 𝑥1 ≡ 1 (mod 𝑚1 )  385. 𝑥1 ≡ 1 (mod 3)  𝑥1 ≡ 385𝜑(3)−1 (mod 3) ≡ 1 (mod 3)


𝑀2 . 𝑥2 ≡ 1 (mod 𝑚2 )  231. 𝑥2 ≡ 1 (mod 5)  𝑥2 ≡ 231𝜑(5)−1 (mod 5) ≡ 1 (mod 5)
𝑀3 . 𝑥3 ≡ 1 (mod 𝑚3 )  165. 𝑥3 ≡ 1 (mod 7)  𝑥3 ≡ 165𝜑(7)−1 (mod 7) ≡ 2 (mod 7)
𝑀4 . 𝑥4 ≡ 1 (mod 𝑚4 ) 105. 𝑥4 ≡ 1 (mod 11) 𝑥4 ≡ 105𝜑(11)−1 (mod 11)
≡ 2 (mod 11)
Assim, temos:
𝑥 ≡ 𝑎1 𝑀1 𝑥1 + 𝑎2 𝑀2 𝑥2 + 𝑎𝑘 𝑀𝑘 𝑥𝑘 (mod 𝑚)
𝑥  1 . 385 . 1 + 4 . 231 . 1 + 2. 165 . 2 + 5 . 105 . 2 (mod 1155)
𝑥  3019 (mod 1155)  709 (mod 1155)
𝑥 = 709 + 1155𝑡, 𝑡 ∈ ℤ.

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CONGRUÊNCIAS POLINOMIAIS

Definição: Chama-se congruência polinomial com uma incógnita toda congruência de forma
geral:
𝑓(𝑥) ≡ 0 (mod 𝑚) (1)
onde f(x) é um polinômio de grau 𝑛 ≥ 1 com coeficientes inteiros:
f(𝑥) = 𝑎𝑛 𝑥 𝑛 + 𝑎𝑛−1 𝑥 𝑛−1 + ⋯ + 𝑎1 𝑥 + 𝑎0
e m é um inteiro positivo.
Para 𝑛 = 1, temos a congruência linear:
𝑓(𝑥) ≡ 𝑎1 𝑥 + 𝑎0 ≡ 0(mod 𝑚)
cuja resolução já foi estudada, por isso, daqui por diante, o grau n do polinômio 𝑓(𝑥) será
suposto ≥ 2.

Definição: Todo inteiro r tal que 𝑓(𝑟) ≡ 0 (mod 𝑚) diz-se uma solução da congruência
polinomial (1).
Se r é uma solução da congruência polinomial (1) e se 𝑟 ≡ 𝑠 (mod 𝑚), então s também é uma
solução da congruência polinomial (1), pois:
𝑓(𝑟) ≡ 0 (mod 𝑚) e 𝑓(𝑟) ≡ 𝑓(𝑠) (mod 𝑚) , implica 𝑓(𝑠) ≡ 0 (mod 𝑚).
Entretanto, por uma convenção geral, sempre que se fala de soluções distintas da congruência
polinomial (1), deve-se entender que se trata de soluções incongruentes módulo m.
Sejam r uma solução qualquer da congruência polinomial (1) e 𝑆 = {𝑟1 , 𝑟2 , … , 𝑟𝑚 } um sistema
completo de restos módulo m, Então, o inteiro r é congruente módulo m a um único elemento
𝑟1 do conjunto 𝑆 ∶ 𝑟 ≡ 𝑟1 (mod 𝑚), o que implica:
𝒇(𝑟1 ) ≡ 𝒇(𝒓) ≡ 𝟎 (𝐦𝐨𝐝 𝒎)
isto é 𝑟1 é solução da congruência polinomial (1). Portanto, as soluções desta
congruência são os elementos 𝑟1 do conjunto S tais que 𝑓(𝑟1 ) ≡ 0 (mod 𝑚).
Em particular, como o conjunto 𝑆0 = {0,1,2, . . . , 𝑚 − 1} é um sistema completo de
restos módulo m, segue-se que todas as soluções da congruência polinomial (1) são
elementos deste conjunto 𝑆0 , e por conseguinte esta congruência pode ter, quando muito, m
soluções.

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CONGRUÊNCIAS POLINOMIAIS ONDE O MÓDULO É UM NÚMERO


COMPOSTO
Teorema 5.4.4.: Seja m um inteiro positivo tal que 𝑚 = 𝑚1 , 𝑚2 , . . . , 𝑚𝑘 , são inteiros positivos
relativamente primos dois a dois. Então, o inteiro a é uma solução da congruência polinomial:
𝑓(𝑥) = 𝑎𝑛 𝑥 𝑛 + 𝑎𝑛−1 𝑥 𝑛−1 + ⋯ + 𝑎1 𝑥 + 𝑎0 ≡ 0 (mod 𝑚)
Se, e somente se, a é uma solução do seguinte sistema de k congruências polinomiais:
𝑓(𝑥) ≡ 0 (mod 𝑚1 )
𝑓(𝑥) ≡ 0 (mod 𝑚2 )
...............
𝑓(𝑥) ≡ 0 (mod 𝑚𝑘 )

Vejamos um exemplo ilustrativo. Queremos resolver a congruência polinomial


𝑓(𝑥) = 𝑥 3 + 19𝑥 2 − 𝑥 + 23 ≡ 0 (mod 42).
Por ser 42 = 2 ∙ 3 ∙ 7, temos as três congruências polinomiais:
• 𝑓(𝑥) = 𝑥 3 + 19𝑥 2 − 𝑥 + 23 ≡ 0 (mod 2), cuja solução por trentativas é:
𝑥 ≡ 1 (mod 2)
• 𝑓(𝑥) = 𝑥 3 + 19𝑥 2 − 𝑥 + 23 ≡ 0 (mod 3), que por tentativas tem soluções:
𝑥 ≡ 1 (mod 3) e 𝑥 ≡ 2 (mod 3)
• 𝑓(𝑥) = 𝑥 3 + 19𝑥 2 − 𝑥 + 23 ≡ 0 (mod 7), cujas soluções por tentativas são:
𝑥 ≡ 1 (mod 7), 𝑥 ≡ 2 (mod 7) e 𝑥 ≡ 6 (mod 7).
Podemos fazer 6 combinações de sistemas. O que nos daria as seis soluções incongruentes
módulo 42. Vamos resolver apenas um desses sistemas.
𝑓(𝑥) ≡ 0 (𝑚𝑜𝑑 2), 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑥 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 2)
{ 𝑓(𝑥) ≡ 0 (𝑚𝑜𝑑 3), 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑥 ≡ 2 (𝑚𝑜𝑑 3)
𝑓(𝑥) ≡ 0 (𝑚𝑜𝑑 7), 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑥 ≡ 6(𝑚𝑜𝑑 7)

Aplicando o Teorema Chinês do Resto


𝑥 ≡ 1 (mod 2)
{𝑥 ≡ 2 (mod 3)
𝑥 ≡ 6 (mod7 )
Pelo TCR este sistema tem uma única solução módulo
𝑚 = 𝑚1 . 𝑚2 . 𝑚3 = 2 . 3 . 7 = 42.
Temos então:

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𝑚 42 𝑚 42 𝑚 42
𝑀1 = 𝑚 = = 21, 𝑀2 = 𝑚 = = 14, 𝑀3 = 𝑚 = =6
1 2 2 3 3 7

Os inversos 𝑥𝑘 dos 𝑀𝑘 são dados por:


21𝑥1 ≡ 1 (mod 2)  𝑥1 ≡ 1 (mod 2)
14 𝑥2 ≡ 1 (mod 3)  2 𝑥2 ≡ 1 (mod 3) ⇔ 𝑥2 ≡ 2 (mod 3)
6𝑥3 ≡ 1 (mod 7) ⇔ 𝑥3 ≡ 6 (mod 7)
Aplicando o método de Euler nas equações acima obtemos as soluções respectivas:
𝑥1 ≡ 1, 𝑥2 ≡ 2, 𝑥3 ≡ 6.
Portanto, temos :
𝑥 ≡ 𝑎1 𝑀1 𝑥1 + 𝑎2 𝑀2 𝑥2 + 𝑎𝑘 𝑀𝑘 𝑥𝑘 (mod 𝑚)
𝑥 ≡ 1 .21. 1 + 2 . 14 . 2 + 6 . 6 . 6 (mod 42)
𝑥 ≡ 293 (mod 42) ≡ 41 (mod 42).
As soluções são da forma:
𝑥 ≡ 41 (mod 42)  𝑥 = 41 + 42𝑘, k  ℤ.
Por exemplo, se 𝑘 = 1, temos 𝑥 = 83, então 𝑓(83) = 702618 ≡ 0 (mod 42).
Temos que 𝑥 ≡ 41 (mod 42) é uma das seis menores soluções positivas incongruentes módulo
42. Fazendo as outras cinco combinações de sistemas encontraríamos

𝑥 ≡ 1 (mod 42), 𝑥 ≡ 13 (mod 42), 𝑥 ≡ 23 (mod 42), 𝑥 ≡ 29 (mod 42) e


𝑥 ≡ 37 (mod 42).

CONGRUÊNCIAS POLINOMIAIS ONDE O MÓDULO É UMA


POTÊNCIA DE UM NÚMERO PRIMO

Consideremos a congruência polinomial:


𝑓(𝑥) = 𝑥 5 + x + 1 ≡ 0 (mod 7)
O conjunto 𝑆0 = {0,1,2,3,4,5,6} é um sistema completo de restos módulo 7, e como 2 e 4 são
os únicos restos tais que
𝑓(2) = 25 + 2 + 1 = 35 ≡ 0 (mod 7)
𝑓(4) = 45 + 4 + 1 = 1029 ≡ 0 (mod 7)
segue que a congruência polinomial considerada tem apenas duas soluções:
𝑥 ≡ 2 (mod 7) e 𝑥 ≡ 4 (mod 7)
embora seja de grau 5.

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Veremos que existe uma maneira relativamente simples de resolver congruências polinômiais
modulo 𝑝𝑘 , uma vez que todas as soluções modulo p sejam conhecidas. Vamos mostrar que
soluções modulo p podem ser usadas para encontrar soluções modulo 𝑝2 , as soluções modulo
𝑝2 podem ser usadas para encontrar soluções modulo 𝑝3 , e assim por diante. Antes de introduzir
o método geral, apresentamos um exemplo que ilustra a ideia básica usada para encontrar
soluções de uma congruência polinomial modulo 𝑝2 a partir da solução módulo p.
Vamos apresentar um método geral que nos ajudará a encontrar as soluções de congruências
cujos módulos são potências de números primos. Em particular, mostraremos como as soluções
da congruência 𝑓(𝑥) ≡ 0(𝑚𝑜𝑑 𝑝𝑘 ) , onde p é primo e k é um inteiro positivo com 𝑘 ≥ 2,
podem ser encontradas a partir da congruências 𝑓(𝑥) ≡ 0(𝑚𝑜𝑑 𝑝𝑘−1 ). As soluções da
congruência modulo 𝑝𝑘 são obtidas a partir das soluções modulo 𝑝𝑘−1 . Apesar do teorema usar
𝑓 ′(𝑥), como a derivada de f, no entanto, não precisaremos de resultados do cálculo. Em vez
disso, podemos definir a derivada de um polinômio diretamente e descrever as propriedades
que precisaremos.
Lema 4.3.3. Se 𝑓(𝑥) e 𝑔(𝑥) são polinômios e 𝑐 é uma constante, então (𝑓 + 𝑔)’(𝑥) = 𝑓’(𝑥) +
𝑔’(𝑥) e (𝑐𝑓)’(𝑥) = 𝑐(𝑓’(𝑥). Além disso, se 𝑘 é um número inteiro positivo, então
(𝑓 + 𝑔)(𝑘) (𝑥) = 𝑓 (𝑘) (𝑥) + 𝑔(𝑘) (𝑥) e (𝑐𝑓)(𝑘) (𝑥) = 𝑐(𝑓 (𝑘) (𝑥)).

Lema 4.3.3.1. Se 𝑚 e 𝑘 sã inteiros positivos e 𝑓(𝑥) = 𝑥 𝑚 , então


𝑓 (𝑘) (𝑥) = 𝑚(𝑚 − 1) ∙ ∙ ∙ (𝑚 − 𝑘 + 1)𝑥 𝑚−𝑘 .
Agora podemos apresentar o resultado que pode ser usado para obter soluções destas
congruências polinomiais. É chamado o lema de Hensel, devido ao matemático alemão Kurt
Wilhelm Sebastian Hensel (1861 – 1941).

Teorema 4.3.3. (Lema de Hensel). Suponha que 𝑓(𝑥) seja um polinômio com coeficientes
inteiros 𝑘 é um número inteiro com 𝑘 ≥ 2, e 𝑝 é um primo. Suponha ainda que 𝑟 é uma solução
da congruência 𝑓(𝑥) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘−1 ). Então,
(i) se 𝑓′(𝑟) ≢ 0 (mod 𝑝), então existe um único inteiro 𝑡, 0 ≤ 𝑡 < 𝑝, tal que
𝑓 (𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 ) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘 ), dado por
̅̅̅̅̅̅̅
𝑓 ′ (𝑟)(𝑓(𝑟))
𝑡≡− (𝑚𝑜𝑑 𝑝)
𝑝𝑘−1
̅̅̅̅̅̅̅
onde 𝑓 ′ (𝑟) é um inverso multiplicativo de 𝑓′(𝑟) módulo 𝑝;

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(ii) se 𝑓 ′(𝑟) ≡ 0 (mod 𝑝) e 𝑓(𝑟) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘 ), então 𝑓(𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 ) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘 ) para
todos os inteiros 𝑡;

(iii) se 𝑓 ′(𝑟) ≡ 0 (mod 𝑝) e 𝑓(𝑟) ≢ 0 (mod 𝑝𝑘 ), então 𝑓(𝑥) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘 ) não possui
soluções com 𝑥 ≡ 𝑟 (mod 𝑝𝑘−1 ).

No caso (i), vemos que uma solução para 𝑓(𝑥) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘−1 )leva para uma solução única
de 𝑓(𝑥) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘 ) e nos casos (ii) e (iii ), tal solução leva as principais soluções
incongruentes módulo 𝑝𝑘 ou a nenhuma.
Antes de prova do Teorema 4.3.3 precisamos estabelecer o seguinte lema sobre a expansão
do polinômio de Taylor.
Lema 4.3.2. Se 𝑓(𝑥) é um polinômio de grau 𝑛 e 𝑎 e 𝑏 são números reais, então
𝑓(𝑎 + 𝑏) = 𝑓(𝑎) + 𝑓 ′ (𝑎)𝑏 + 𝑓"(𝑎)𝑏 2 /2! + ⋯ + 𝑓 (𝑛) (𝑎)𝑏 𝑛 /𝑛!,
onde por cada valor dado dos coeficientes (ou seja, 1, 𝑓′(𝑎), 𝑓 "(𝑎)/2!, . . . , 𝑓 (𝑛) (𝑎)/𝑛!) são
polinômios em a com coeficientes inteiros.
Agora que temos todos os resultados necessários para provar o lema de Hensel.
Prova. Se 𝑟 é uma solução de 𝑓(𝑟) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘 ), então também é uma solução de (𝑟) ≡
0 (mod 𝑝𝑘−1 ). Por isso, é igual a 𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 para algum número inteiro 𝑡. A prova segue uma
vez que determinamos as condições em 𝑡.
Pelo Lema 4.6, segue-se que
𝑓"(𝑟) 𝑓 (𝑛) (𝑟)
𝑓(𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 ) = 𝑓(𝑟) + 𝑓 ′ (𝑟)𝑡𝑝𝑘−1 + (𝑡𝑝𝑘−1 )2 + ⋯ + (𝑡𝑝𝑘−1 )𝑛 ,
2! 𝑛!

onde 𝑓 (𝑛) (𝑟)/𝑘! É um número inteiro para 𝑘 = 1, 2, . . . , 𝑛. Dado que 𝑘 ≥ 2, segue-se que 𝑘 ≤
𝑚(𝑘 − 1) e 𝑝𝑘 |𝑝𝑚(𝑘−1) para 2 ≤ 𝑚 ≤ 𝑛. Consequentemente,
𝑓(𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 ) ≡ 𝑓(𝑟) + 𝑓 ′ (𝑟)𝑡𝑝𝑘−1 (mod 𝑝𝑘 )
Como 𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 é uma solução de 𝑓(𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 ) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘 ), segue-se que 𝑓 ′ (𝑟)𝑡𝑝𝑘−1 ≡
−𝑓(𝑟) (mod 𝑝𝑘 ).
Além disso, podemos dividir essa congruência por 𝑝𝑘−1 , 𝑓(𝑟) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘−1 ).
Quando fazemos isso e reorganizamos os termos, obtemos uma congruência linear em 𝑡, ou
seja,
𝑓 ′ (𝑟)𝑡 ≡ −𝑓(𝑟)/𝑝𝑘−1 mod 𝑝)

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Ao examinar suas soluções módulo 𝑝, podemos comprovar os três casos do teorema.


Suponha que 𝑓 ′ (𝑟) ≢ 0 (mod 𝑝). Segue-se que (𝑓′(𝑟), 𝑝) = 1. Aplicando o Corolário 4.11.1,
vemos que a congruência para 𝑡 tem uma solução única,
̅̅̅̅̅̅̅
𝑡 ≡ (−𝑓(𝑟)𝑝𝑘−1 )𝑓 ′ (𝑟)(mod 𝑝),

̅̅̅̅̅̅̅
Onde 𝑓 ′ (𝑟) é um inverso de 𝑓′(𝑟) módulo 𝑝. Isso estabelece o caso (i)

Quando 𝑓 ′(𝑟) ≡ 0 (mod 𝑝), temos (𝑓′(𝑟), 𝑝) = 𝑝. Pelo teorema 4.11, se 𝑝|(𝑓(𝑟)/𝑝𝑘−1 ), que
se mantém se e somente se 𝑓(𝑟) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘 ), então todos os valores 𝑡 são soluções. Isso
significa que 𝑥 = 𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 é uma solução para 𝑡 = 0, 1, . . . , 𝑝 − 1. Isso estabelece o caso (ii).
Finalmente, considere o caso quando 𝑓′(𝑟) ≡ 0 (𝑚𝑜𝑑 𝑝), mas 𝑝 ∤ (𝑓(𝑟)/𝑝𝑘−1 ). Nós temos
(𝑓′(𝑟), 𝑝) = 𝑝 e 𝑓(𝑟) ≢ (mod 𝑝𝑘 ); então,pelo Teorema 4.11, nenhum valor de 𝑡 são soluções.
Isso completa o caso (iii). ∎
Corolário 4.3.3 (de Hensel). Suponha que 𝑟 seja uma solução da congruência polinomial
𝑓(𝑥) ≡ 0 (mod 𝑝), onde 𝑝 é primo. Se 𝑓′(𝑟) ≢ 0 (mod 𝑝), então há uma única solução 𝑟𝑘
módulo 𝑝𝑘 , 𝑘 = 2, 3, . . ., de modo que 𝑟1 = 𝑟 e
̅̅̅̅̅̅̅
𝑟𝑘 = 𝑟𝑘−1 − 𝑓(𝑟𝑘−1 )𝑓 ′ (𝑟),

̅̅̅̅̅̅̅
onde 𝑓 ′ (𝑟) é um inverso multiplicativo de 𝑓′(𝑟) módulo 𝑝.

Prova. Usando as hipóteses, vemos pelo lema de Hensel que 𝑟 eleva-se para uma solução única
̅̅̅̅̅̅̅
𝑟2 módulo 𝑝2 com 𝑟2 = 𝑟 + 𝑡𝑝, onde 𝑡 = −𝑓 ′ (𝑟)(𝑓(𝑟)/𝑝). Consequentemente,

̅̅̅̅̅̅̅
𝑟2 = 𝑟 − 𝑓(𝑟)𝑓 ′ (𝑟)

Como 𝑟2 ≡ 𝑟 (mod 𝑝), segue-se que 𝑓′(𝑟2 ) ≡ 𝑓′(𝑟) ≢ 0 (mod 𝑝). Usando o lema de Hensel
novamente, vemos que existe uma única solução 𝑟3 módulo 𝑝3 , que pode ser mostrado como
̅̅̅̅̅̅̅
𝑟3 = 𝑟2 − 𝑓(𝑟2 )𝑓 ′ (𝑟). Se continuarmos dessa maneira, achamos que o corolário segue para

todos os inteiros 𝑘 ≥ 2. ∎

Exemplificando o caso (i) do Lema de Hensel:

Queremos resolver 𝑓(𝑥) = 2𝑥 3 + 7𝑥 − 4 ≡ 0 (mod 125)


Como 125 = 53, se soubermos a solução módulo 52 , podemos obter a solução módulo 53 .
Mas, para podermos obter a solução módulo 52 precisamos da solução módulo 5.
Se 𝑓(𝑥) = 2𝑥 3 + 7𝑥 − 4 ≡ 0 (mod 5), por inspeção, testando os valores 0,1, 2, 3 e 4, vemos
que
𝑥 ≡ 𝑟 = 1 (mod 5) é a única solução.

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Vejamos agora em que caso do Lema de Hensel o polinômio recai:


𝑓(𝑥) = 2𝑥 3 + 7𝑥 − 4 (mod 5)  𝑓(1) = 5
𝑓’(𝑥) = 6𝑥 2 + 7 (mod 5)
𝑓’(𝑟) = 𝑓 ′ (1) = 13 ≡ 3 ≢ 0(mod 5)

Assim, o problema recai no caso (i) do Lema de Hensel. Para obtermos a solução módulo 52 ,
basta então substituir o valor de t na equação
𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 = 1 + 5𝑡.
Como
̅̅̅̅̅̅̅
𝑓 ′ (𝑟)(𝑓(𝑟))
𝑡≡− (𝑚𝑜𝑑 𝑝)
𝑝𝑘−1

Onde, r = 1, k =2, f’(r) =f’( 1)=3 e p =5. Logo, o valor de t é obtido com os passos
seguintes:

̅̅̅̅̅̅̅ ≡ 1 (mod 5) ⇔ 𝑓
3𝑓′(1) ̅̅̅̅̅̅̅ ̅̅̅̅̅̅̅ é 𝑜 inverso de 3 módulo 5].
′ (1) ≡ 2(𝑚𝑜𝑑 5) , [𝑓′(1)

̅̅̅̅̅̅̅. 𝑓(1)/5 (mod 5)  𝑡 = −2 . 5 (mod 5)


𝑡 = −𝑓′(𝑟)
5
𝑡 = −2 ≡ 3 (mod 5)
Assim,
1 + 5. 3 = 16.
Logo, 16 é a solução de 𝑓(𝑥) = 2𝑥 3 + 7𝑥 − 4 ≡ 0 (mod 25). Vejamos:
𝑓(16) = 2. 163 + 7. 16 − 4 = 8300 ≡ 0 (mod 25)
Com esta solução, podemos agora encontrar a solução de
𝑓(𝑥) = 2𝑥 3 + 7𝑥 − 4 ≡ 0 (mod 125).
Para obtermos a solução módulo 53 , basta então substituir o valor de t na equação
𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 = 16 + 52 𝑡.
O valor de t é obtido com os seguintes passos:
𝑓(𝑥) = 2𝑥 3 + 7𝑥 − 4 ≡ 0 (mod 25)
𝑓’(𝑥) = 6𝑥 2 + 7 (mod 25)
𝑓’(16) = 1543 ≡ 18 (mod 25)
̅̅̅̅̅̅̅̅ ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 25).
18𝑓′(16)

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̅̅̅̅̅̅̅̅ ≡ 7 (mod 25)


𝑓′(16)
̅̅̅̅̅̅̅̅. 𝑓(16)/25 (mod 25)
𝑡 = −𝑓′(16)
8300
𝑡 = −7. = 7.332 = −2324 ≡ −24  1
25
𝑡 ≡ 1 (mod 25)
Assim, 16 + 52 . 1 = 41.
Logo, 𝑥 ≡ 41 (mod 25) é a menor solução positiva de
𝑓(𝑥) = 2𝑥 3 + 7 𝑥 − 4 ≡ 0 (mod 125).

Exemplificando os casos (ii) e (iii) do Lema de Hensel:

Resolver 𝑓(𝑥) = 𝑥 2 + 𝑥 + 7 ≡ 0 (mod 27)


Como 27 = 33 , se soubermos a solução módulo 32 , podemos obter a solução módulo 33.
Mas, para podermos obter a solução módulo 32 precisamos da solução módulo 3.

Se 𝑓(𝑥) = 𝑥 2 + 𝑥 + 7 ≡ 0 (mod 3), por inspeção, testando os valores 0,1 e 2, vemos que
𝑥 ≡ 1 (mod 3) é a única solução.
Vejamos agora em que caso do Lema de Hensel o polinômio recai:
𝑓(𝑥) = 𝑥 3 + 𝑥 2 + 2𝑥 + 26 (𝑚𝑜𝑑 7)
𝑓’(𝑥) = 3𝑥 2 + 2𝑥 + 2 (mod 7)
𝑓′(𝑟) = 𝑓’(2) = 18 ≡ 4 ≢ 0 (mod 7).
Então, o problema recai no caso (i) do Lema de Hensel. Assim, para obtermos a solução
módulo 72, basta então substituir o valor de t na equação
𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 = 2 + 7𝑡.
O valor de t é obtido com os seguintes passos:
𝑓(𝑥) = 𝑥 2 + 𝑥 + 7 (mod 3)
𝑓’(𝑥) = 2𝑥 + 1 (mod 3)
Como 𝑓’(1) = 3 ≡ 0 (mod 3) e 𝑓(1) = 9  0 (𝑚𝑜𝑑 32 ), temos o caso (ii).
Por esse caso do Lema de Hensel, podemos concluir que 𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 = 1 + 3𝑡 é uma solução
modulo 32 para todos os inteiros t.
Substituindo t = 0, 1 e 2 temos as soluções módulo 32 , 𝑥 ≡ 1, 4 e 7 (mod 9).
Vamos verificar essas três soluções no módulo 33 .
• Como 𝑓(1) = 9 ≢ 0 (mod 33 ), pelo caso (iii) do lema de Hensel, não existem soluções
para 𝑓(𝑥) ≡ 0 (mod 33 ), com 𝑥 ≡ 1 (mod 32 ).

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• Como 𝑓(4) = 27 ≡ 0 (mod 33 ), pelo caso (ii), 4 + 9𝑡 é uma solução módulo 27 para
todos os inteiros t. Substituindo t = 0, 1 e 2 temos as soluções
𝑥 ≡ 4, 13 e 22 (𝑚𝑜𝑑 33 ).
• Como 𝑓(7) = 63 ≢ 0 (𝑚𝑜𝑑 33 ), pelo caso (iii), não há soluções para
𝑓 (𝑥) ≡ 0 (mod 33 ), com 𝑥 ≡ 7 (mod 32 ).
Logo, todas as soluções incongruentes para 𝑓 (𝑥) ≡ 0 (mod 27) são x  4, 13 e 22 (mod 27).
Exemplificando o Corolário do Lema de Hensel:

Vamos resolver novamente 𝑓(𝑥) = 2𝑥 3 + 7𝑥 − 4 ≡ 0 (mod 125), exemplificado


anteriormente para o caso (i) do Lema de Hensel, através do Corolário do Lema de Hensel.
Como 125 = 53, se soubermos a solução módulo 52 , podemos obter a solução módulo 53 .
Mas, para podermos obter a solução módulo 52 precisamos da solução módulo 5.
Se 𝑓(𝑥) = 2𝑥 3 + 7𝑥 − 4 ≡ 0 (mod 5), por inspeção, testando os valores 0,1, 2, 3 e 4, vemos
que
𝑥 ≡ 𝑟 = 𝑟1 = 1 (mod 5) é a única solução.
Vejamos agora em que caso do Lema de Hensel o polinômio recai:
𝑓(𝑥) = 2𝑥 3 + 7𝑥 − 4 ≡ 0 (mod 5).
𝑓’(𝑥) = 6𝑥 2 + 2 (mod 5)
𝑓′(𝑟1 ) = 𝑓’(1) = 8 ≡ 3 ≢ 0 (mod 5).
Então, pelo Corolário do Lema de Hensel há uma única solução 𝑟𝑘 módulo 𝑝𝑘 , 𝑘 ∈ ℕ, de
modo que 𝑟1 = 𝑟 e
̅̅̅̅̅̅̅
𝑟𝑘 = 𝑟𝑘−1 − 𝑓(𝑟𝑘−1 )𝑓 ′ (𝑟).

Vejamos:
𝑓 ′ (𝑟1 ) = 𝑓’(1) = 3 (mod 5).
̅̅̅̅̅̅̅ ≡ 1 (mod 5) ⇔ 𝑓
3𝑓′(1) ̅̅̅̅̅̅̅
′ (1) ≡ 2(𝑚𝑜𝑑 5) [o inverso de 𝑓’(1) módulo 5].

Então,
̅̅̅̅̅̅̅
𝑟𝑘 = 𝑟𝑘−1 − 𝑓(𝑟𝑘−1 )𝑓 ′ (𝑟) (mod 𝑝 𝑘 )

̅̅̅̅̅̅̅ (mod 𝑝2 )
𝑟2 = 𝑟1 − 𝑓(𝑟1 )𝑓′(𝑟)
̅̅̅̅̅̅̅ = 1 − 5.2 = −9 ≡ 16 (mod 52 ).
𝑟2 = 1 − 𝑓(1). 𝑓′(1)
𝑟2 = 16 (mod 52 )
̅̅̅̅̅̅̅(mod 𝑝3 )
𝑟3 = 𝑟2 − 𝑓(𝑟2 ) 𝑓′(𝑟)
𝑟3 = 16 – 𝑓(16). 2 = 16 – 8300. 2 = −16584 ≡ 41 (mod 53 )
𝑟3 = 41 (mod 53 )

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O que nos mostra que a solução de 𝑓(𝑥) = 2𝑥 3 + 7𝑥 − 4 ≡ 0 (mod 125) é

𝑥 ≡ 41 (𝑚𝑜𝑑 125)

PRECIOSIDADES - I

1. Encontre todas as soluções de cada uma das congruências.


a) 𝑥 2 + 4𝑥 + 2 ≡ 0 (mod 7)
b) 𝑥 2 + 4𝑥 + 2 ≡ 0 (mod 49)
c) 𝑥 2 + 4𝑥 + 2 ≡ 0 (mod 343)

2. Encontre todas as soluções de cada uma das congruências.


a) 𝑥 3 + 8𝑥 2 − 𝑥 − 1 ≡ 0 (mod 11)
b) 𝑥 3 + 8𝑥 2 − 𝑥 − 1 ≡ 0 (mod 121)
c) 𝑥 3 + 8𝑥 2 − 𝑥 − 1 ≡ 0 (mod 1331)

3. Encontre as soluções da congruência 𝑥 2 + 𝑥 + 47 ≡ 0 (mod 2401).


4. Encontre as soluções 𝑥 2 + 𝑥 + 34 ≡ 0 (mod 81).
5. Encontre as soluções 13𝑥 7 − 42𝑥 − 649 ≡ 0 (mod 1323).
6. Encontre as soluções 𝑥 8 − 𝑥 4 + 1001 ≡ 0 (mod 539).
7. Encontre as soluções 𝑥 4 + 2𝑥 + 36 ≡ 0 (mod 4375).
8. Encontre as soluções 𝑥 6 − 2𝑥 5 − 35 ≡ 0 (mod 6125).
9. Encontre as soluções 𝑥 3 + 𝑥 2 + 2𝑥 + 26 ≡ 0 (mod 343).
10. Quantas são as soluções incongruentes da congruência 5𝑥 2 + 𝑥 2 + 𝑥 + 1 ≡
0 (mod 64)?
11. Quantas são as soluções incongruentes da 𝑥 5 + 𝑥 − 6 ≡ 0 (mod 144)?

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PRECIOSIDADES –II

01) Construa as tabelas de operações em 𝒁𝟖 , 𝒁𝟗 , 𝒁𝟏𝟎 , 𝒁𝟏𝟑 e 𝒁𝟏𝟕 Digite a equação aqui.
02) Encontre os dois números primos, cujos produtos, geraram os números abaixo,
utilizando o método da Fatoração de Fermat:
a) 437623 b) 919199 c) 9797 d) 4061 e) 19109
03) Calcule a potências utilizando o método da exponenciação rápida.
a) 332768 (mod 335)
b) 1774096 (mod 277)
c) 818192 (mod 92)
d) 482048 (mod 20)
04) Calcule as potências utilizando o Pequeno Teorema de Fermat
a) 52349899 (mod 17)
b) 4511223311 (mod 19)
c) 1001002003007 (mod 281)
05)Calcule as potências utilizando o Pequeno Teorema de Fermat e o Algoritmo Chinês do
Resto.
a) 4753 (mod 437623)
b) 51773 (mod 919199)
c) 8397 (mod 2926)
d) 313961 (mod 12369)

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6. RAÍZES PRIMITIVAS

6.1. ORDEM DE UM INTEIRO MÓDULO m

Sejam a e 𝑚 > 1 dois inteiros tais que o mdc (𝑎, 𝑚) = 1. Pelo teorema de Euler:

𝑎𝜑(𝑚) ≡ 1 (mod 𝑚)
isto é, 𝜑(𝑚) é uma solução inteira e positiva da congruência exponencial:

𝑎 𝑥 ≡ 1 (mod 𝑚)
Entretanto, esta congruência exponencial pode ter soluções inteiras e positivas menores
que 𝜑(𝑚).
Assim, por exemplo, para 𝑎 = 3 e 𝑚 = 13, vejamos na linha que inicia com 3, na
Tabela 1

Tabela 6.1.1

a1 a2 a3 a4 a5 a6 a7 a8 a9 a10 a11 a12


1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
2 4 8 3 6 12 11 9 5 10 7 1
3 9 1 3 9 1 3 9 1 3 9 1
4 3 12 9 10 1 4 3 12 9 10 1
5 12 8 1 5 12 8 1 5 12 8 1
6 10 8 9 2 12 7 3 5 4 11 1
7 10 5 9 11 12 6 3 8 4 2 1
8 12 5 1 8 12 5 1 8 12 5 1
9 3 1 9 3 1 9 3 1 9 3 1
10 9 12 3 4 1 10 9 12 3 4 1
11 4 5 3 7 12 2 9 8 10 6 1
12 1 12 1 12 1 12 1 12 1 12 1

Logo a congruência exponencial 3𝑥 ≡ 1 (mod 13) admite também as soluções 𝑥 = 3,


𝑥 = 6 e 𝑥 = 9, pois:
33 = 27 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 13) , 36 = 729 ≡ 1 e 39 ≡ 1 (mod 13)

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e estas três soluções são ambas menores que 𝜑(13) = 12.


Observe que a ordem cria um padrão nos valores das potências. Elas passam a ter valores
sempre ordenados antes e depois da ordem.

Definição: Sejam a e 𝑚 > 1 dois inteiros tais que o mdc (𝑎, 𝑚) = 1. Chama-se ordem de a
módulo m o menor inteiro positivo k tal que 𝑎𝑘 ≡ 1 (mod m).
Em outros termos, a ordem de a módulo m é a menor solução inteira e positiva 𝑥 = 𝑘
da congruência exponencial:
𝑎 𝑥 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 𝑚)
Indica-se que a ordem de a módulo m é k com a notação: 𝚶𝒎 (𝒂) = 𝒌.
Como, pelo teorema de Euler, 𝑎𝜑(𝑚) ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 𝑚), existe sempre Ο𝑚 (𝑎), tal que
0 < 𝑂𝑚 (𝑎) ≤ 𝜑(𝑚).

PRCIOSIDADES GRATUITAS

01. Achar a ordem de 2 módulo 7.

Solução:
Temos: 21 ≢ 1 (mod 7), 22 ≢ 1 (mod 7), 23 ≡ 1 (mod 7),
Logo, a ordem de 2 módulo 7 é 3: Ο7 (2) = 3.

02. Achar a ordem de 5 módulo 13.

Solução:
Temos:
51 ≢ 1 (mod 13), 52 ≢ 1 (mod 13), 53 ≢ 1 (mod 13), 54 ≡ 1 (mod 13)
Logo, 5 tem ordem 4 módulo 13: Ο13 (5) = 4.
Nota: O conceito de ordem de um inteiro módulo 𝑚 > 1 só tem sentido para inteiros a tais
que o mdc (𝑎, 𝑚) = 1, pois, não existe inteiro positivo k tal que:
𝑎𝑘 ≡ 1 (mod 𝑚) se o 𝑚𝑑𝑐 (𝑎, 𝑚) > 1
Realmente, se tal inteiro k existisse, então 𝑥 = 𝑎𝑘−1 seria solução da congruência linear
𝑎𝑥 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 𝑚), o que é impossível.

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6.1.1. Propriedades da Ordem de um Inteiro

Teorema 6.1.1.1: Se os inteiros a e b são congruentes módulo m e se a 𝛰𝑚 (𝑎) = 𝑘, então


𝛰𝑚 (𝑏) = 𝑘,.
Exemplo: 10 ≡ 32 (𝑚𝑜𝑑 11), e como a 𝛰11 (10) = 2 , segue-se que a 𝛰11 (32) = 2.

Teorema 6.1.1.2: Se um inteiro a tem ordem k módulo m, então 𝒂𝒕 ≡ 𝟏 (𝐦𝐨𝐝 𝒎) se e somente


se k divide 𝒕 (𝒌 |𝒕).

Exemplo: Temos que 𝛰13 (5) = 2, e também 58 ≡ 1(mod 13). Então, 2 divide 8.

Corolário 6.1.1.1: Se um inteiro a tem ordem k módulo m, então 𝑘 | 𝜙(𝑚).


Assim a ordem de um inteiro a módulo m é um divisor positivo de 𝜙(𝑚), de modo que basta
considerar as potências de a cujos expoentes são os divisores positivos de 𝜙(𝑚).

Exemplo: Seja determinar a ordem de 9 módulo 11. Por ser 𝜙(11) = 10, a 𝑘 = 𝛰11 (9) | 10,
de modo que basta considerar as potências de 9 cujos expoentes são 1, 2 e 5, divisores positivos
de 10. Temos, módulo 11,

91 ≢ 1, 92 ≢ 1, 95 ≡ 1

Portanto, 9 tem ordem 5 módulo 11: 𝛰11 (9) = 5.

Teorema 6.1.1.3: Seja mdc (𝑎, 𝑚) = 1 e 𝑚 > 0. Se um inteiro a tem ordem k módulo m,
então, 𝑎𝑖 ≡ 𝑎 𝑗 (mod 𝑚), se e somente se, 𝑖 ≡ 𝑗 (mod 𝑘)
Exemplo: Seja 𝑎 = 4, 𝑚 = 13 e 𝛰13 (4) = 6. Assim, temos que 410 ≡ 44 ≡ 9(mod 13) e
10 ≡ 4 (mod 6), mas 419 ≢ 48 (mod 13), pois 19 ≢ 8 (mod 6).

Corolário 6.1.1.2: Se um inteiro a tem ordem k módulo m, então os k inteiros


𝑎, 𝑎2 , 𝑎³, … , 𝑎𝑘 são incongruentes módulo m.

Exemplo: como a 𝛰11 (3) = 5, os 5 inteiros:

3 ≡ 3, 3² ≡ 9, 3³ ≡ 5, 34 ≡ 4, 35 ≡ 1 (mod 11)

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são incongruentes módulo 11. Veja a tabela 6.1.1.1 das ordens módulo 11 dos inteiros positivos
menores que 11:

Tabela 6.1.1.1

a1 a2 a3 a4 a5 a6 a7 a8 a9 a10
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
2 4 8 5 10 9 7 3 6 1
3 9 5 4 1 3 9 5 4 1
4 5 9 3 1 4 5 8 3 1
5 3 4 9 1 5 3 4 9 1
6 3 7 9 10 5 8 4 2 1
7 5 2 3 10 4 6 9 8 1
8 9 6 4 10 3 2 5 7 1
9 4 3 5 1 9 4 3 5 1
10 1 10 1 10 1 10 1 10 1

Teorema 6.1.1.4: Se 𝛰𝑚 (𝑎) = 𝑘 e se h é um inteiro positivo, então

𝑘
𝛰𝑚 (𝑎ℎ ) = (mod 𝑚)
mdc (𝑘, ℎ)

Corolário 6.1.1.3: Se um inteiro a tem ordem k módulo m, então 𝑎ℎ tem ordem k módulo m se
e somente se o mdc (ℎ, 𝑘) = 1.
Exemplo: A tabela abaixo dá as ordens módulo 13 dos inteiros positivos menores que 13:

a 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
O13(a) 1 12 3 6 4 12 12 4 3 6 12 2

Observe que a 𝛰13 (2) = 12. Então,


12 12
𝛰13 (22 ) = (mod 13) = 6 𝑒 𝛰13 (23 ) = (mod 13) = 4
mdc (12, 2) mdc (12, 3)
conforme o Teorema 6.1.1.4.
Note também que
𝛰13 (25 ) = 𝛰13 (27 ) = 𝛰13 (211 ) = 12 (mod 13), visto que mdc (5,12) = mdc (7, 12) =
mdc (11, 12) = 1. De acordo com o Corolário 6.1.1.3.

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6.1.2. Raízes Primitivas de um Inteiro

Definição: Chama-se raiz primitiva de um inteiro positivo n um inteiro r, tal que mdc (r, n) =
1, e a ordem de r módulo n é 𝜑(𝑛) , isto é, 𝑂𝑛 (𝑟) = 𝜑(𝑛). Em outros termos, raiz primitiva
de um inteiro positivo n é um inteiro r, tal que
𝑟 𝜑(𝑛) ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 𝑛)

e 𝑟 𝑘 ≢ 1(𝑚𝑜𝑑 𝑛), para que todo inteiro positivo 𝑘 < 𝜑(𝑛).

Exemplo: 7 é uma raiz primitiva de 13, uma vez que o mdc (7, 13) = 1 e a ordem de 7 módulo
13 é 12 = 𝜑 (13). Veja a linha que inicia com 7 na tabela 6.1.2.1:

Tabela 6.1.2.1

a1 a2 a3 a4 a5 a6 a7 a8 a9 a10 a11 a12

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

2 4 8 3 6 12 11 9 5 10 7 1

3 9 1 3 9 1 3 9 1 3 9 1

4 3 12 9 10 1 4 3 12 9 10 1

5 12 8 1 5 12 8 1 5 12 8 1

6 10 8 9 2 12 7 3 5 4 11 1

7 10 5 9 11 12 6 3 8 4 2 1

8 12 5 1 8 12 5 1 8 12 5 1

9 3 1 9 3 1 9 3 1 9 3 1

10 9 12 3 4 1 10 9 12 3 4 1

11 4 5 3 7 12 2 9 8 10 6 1

12 1 12 1 12 1 12 1 12 1 12 1

De acordo com a tabela, as outras raízes primitivas de 13 são 2, 6 e 11.


Para os inteiros positivos compostos nem sempre existem raízes primitivas, sendo a
existência mais uma exceção do que uma regra, mas todo primo p tem precisamente 𝜑 (𝑝 − 1)
raízes primitivas.

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Por exemplo, 12 não tem raízes primitivas. Veja a tabela 6.1.2.2:

Tabela 6.1.2.2

a1 a2 a3 a4

1 1 1 1

2 4 8 4

3 9 3 9

4 4 4 4

5 1 5 1

6 0 0 0

7 1 7 1

8 4 8 4

9 9 9 9

10 4 4 4

11 1 11 1

Exemplo: 3 é uma raiz primitiva de 7, uma vez que o mdc (3, 7) = 1 e a ordem de 3 módulo
7 é 6 = 𝜙(7). Veja a Tabela:

Tabela 6.1.2.3
x 1 2 3 4 5 6
3x 3 2 6 4 5 1

Ilustração: O inteiro 2 é uma raiz primitiva de 9 (composto), pois temos:

Tabela 6.1.2.4
x 1 2 3 4 5 6
2x 2 4 8 7 5 1

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Temos que 5 é uma raiz primitiva de 7.

Veja que o mdc (5, 7) = 1 e a ordem de 5 módulo 7 é 𝜑(7) = 6, pois:

Tabela 6.1.2.5
x 1 2 3 4 5 6
5x 5 4 6 2 3 1

Teorema 6.1.2.1: Seja o mdc (𝑎, 𝑛) = 1 e 𝑛 > 0, e sejam 𝑏1 , 𝑏2 , … , 𝑏𝜑(𝑛) os inteiros positivos
menores que n e relativamente primos com n. Se a é uma raiz primitiva de n, então
𝑎, 𝑎2 , … , 𝑎𝜑(𝑛)
são congruentes módulo n aos inteiros 𝑏1 , 𝑏2 , … , 𝑏𝜑(𝑛) , numa certa ordem. Logo,
𝑎, 𝑎2 , … , 𝑎𝜑(𝑛) forma um sistema completo de restos módulo n.

Corolário 6.1.2.1: Seja r uma raiz primitiva módulo 𝑛 > 1. Então 𝑟 𝑢 é uma raiz primitiva
módulo n se, e somente se, 𝑚𝑑𝑐(𝑢, 𝜑(𝑛)) = 1.

O corolário seguinte no diz que, nos casos em que há uma raiz primitiva, pode-se afirmar
exatamente quantas são elas.

Corolário 6.1.2.2: Se um inteiro n tem uma raiz primitiva, então n tem precisamente 𝜑(𝜑(𝑛))
raízes primitivas.

Portanto, em particular, todo primo p tem uma raiz primitiva e, consoante o Corolário
6, tem exatamente 𝜑(𝜑(𝑝)) = 𝜑(𝑝 − 1) raízes primitivas.

Ilustração: Sabendo que 11 tem 𝜑(𝜑(11)) = 4 raízes primitivas e que 2 é a menor raiz,
as outras são determinadas pelas potências de 2u, onde 𝑚𝑑𝑐(𝑢, 𝜑(11)) = 1. Como 𝜑(11) =
10 , temos que 23, 27 e 29 são as outras raízes, ou seja, 8, 7 e 6. Veja a tabela 6.1.2.6.

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Tabela 6.1.2.6

a1 a2 a3 a4 a5 a6 a7 a8 a9 a10

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

2 4 8 5 10 9 7 3 6 1

3 9 5 4 1 3 9 5 4 1

4 5 9 3 1 4 5 9 3 1

5 3 4 9 1 5 3 4 9 1

6 3 7 9 10 5 8 4 2 1

7 5 2 3 10 4 6 9 8 1

8 9 6 4 10 3 2 5 7 1

9 4 3 5 1 9 4 3 5 1

10 1 10 1 10 1 10 1 10 1

Ilustração: 2 é a menor raiz primitiva de 9 e temos 𝜑(𝜑(9)) = 2 raízes primitivas. Como


𝜑(9) = 6, temos que 1 e 5 são relativamente primos com 6. Logo, a outra raiz primitiva é
dada por 25 ≡ 5. Veja a tabela:

Tabela 6.1.2.7

a1 a2 a3 a4 a5 a6

1 1 1 1 1 1

2 4 8 7 5 1

4 7 1 4 7 1

5 7 8 4 2 1

7 4 1 7 4 1

8 1 8 1 8 1

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PRECIOSIDADES

1) Achar as ordens dos inteiros 2, 3 e 5: a) módulo 17; b) módulo 19; c) módulo 23


2) Achar a ordem dos inteiros 2, 4, 7, 8, 11, 13 e 14 (mod 15)
3) Achar os inteiros que tem ordem 6 (mod 13)
4) Demonstrar as seguintes proposições:
a) Se a tem ordem hk (mod n), então ah tem ordem k (mod n)
b) Se a tem ordem 2k módulo primo ímpar p, então ak  –1 (mod p)
c) Se a tem ordem n – 1 (mod. n), então n é primo
5) As ordens respectivas de a e b módulo n são h e k. Mostrar que a ordem de ab (mod n) divide
hk. Em particular, se o mdc(h, k) = 1, então a ordem de ab (mod n) é hk
6) Mostrar que, se a tem ordem 3 (mod p), então a + 1 tem ordem 6 (mod p)
7) Mostrar que 2 é uma raiz primitiva de 19, mas não é de 17.
8) Mostrar que 15 não tem raízes primitivas calculando as ordens dos inteiros 2, 4, 7, 8, 11, 13
e 14 (mod 15)
9) Achar duas raízes primitivas de 10.
10) Sabendo que 3 é uma raiz primitiva de 17, achar todas as outras raízes primitivas de 17
11) Sabendo que 2 é uma raiz primitiva de 19, achar todas as outras raízes primitivas de 19
12) Achar todas as raízes primitivas de 5, 9, 11 e 13

PRECIOSIDADES EXTRAS

1. Determine as seguintes ordens:


a) ord52 b) ord103 c) ord133 d) ord107
2. Determine as seguintes ordens:
a) ord113 b) ord172 c) ord2110 d) ord259
3. Mostre que ord32 = 2, ord52 = 4, e ord72 = 3.
4. Mostre que ord132 = 12, ord172 = 8, e ord2412 = 12.
5. a) Mostre que 5 é uma raiz primitiva de 6.
b) Mostre que 2 é uma raiz primitiva de 11.

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6. Encontre a raiz primitiva de cada módulo dos seguintes inteiros:


a) 4 b) 5 c) 10 d) 18 e) 22 f) 26
7. Mostre que o inteiro 16 não tem raízes primitivas.
8. Mostre que o inteiro 20 não tem raízes primitivas.
9. Quantas são as raízes primitivas de 14? Determine as raízes primitivas de 14.
10. Quantas são as raízes primitivas de 23? Determine as raízes primitivas de 23.

6.2. Raízes Primitivas de Números Primos

Nosso objetivo é determinar quais inteiros têm raízes primitivas. Vamos iniciar
mostrando que todo número primo tem uma raiz primitiva. Antes isso, vamos dar uma atenção
para o teorema de Lagrange, que determina o número de soluções de uma congruência
polinomial.
Seja 𝑓(𝑥) um polinômio com coeficientes inteiros. Dizemos que um número inteiro c é
uma raiz de 𝑓(𝑥) módulo m se 𝑓(𝑐) ≡ 0 (mod m). É fácil ver que, se c é uma raiz de f (x)
modulo m, então todo inteiro congruente a c modulo m também é uma raiz.

Exemplo 6.2.1. O polinômio 𝑓(𝑥) = 𝑥 2 + 𝑥 + 1 tem exatamente duas raízes incongruentes


módulo 7, ou seja, 𝑥 ≡ 2 (mod 7) e 𝑥 ≡ 4 (mod 7). Veja Tabela

Tabela 6.2.1
x 1 2 3 4 5 6
f(x) 3 0 6 0 3 1

Exemplo 6.2.2. O polinômio 𝑔(𝑥) = 𝑥 2 + 2 não tem raízes módulo 5. Veja Tabela 6.2.2.

Tabela 6.2.2
x 1 2 3 4
f(x) 3 1 1 3

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O Pequeno Teorema de Fermat nos diz que se p é primo, então o polinômio


ℎ(𝑥) = 𝑥 𝑝−1 − 1 tem exatamente 𝑝 − 1 raízes incongruentes módulo p, ou seja,
𝑥 ≡ 1, 2, 3, . . . , 𝑝 − 1 (mod 𝑝). Por exemplo, 𝑥 6 − 1 ≡ 0 (mod 7), temos
𝑥 = 1, 2, 3, 4, 5 𝑒 6.

Tabela 6.2.3
x 1 2 3 4 5 6
x7-1 - 1 0 0 0 0 0 0

Vamos precisar o seguinte importante teorema sobre raízes de polinômios módulo p


onde p é primo.

Teorema 6.2.1. Teorema de Lagrange. Seja 𝑓(𝑥) = 𝑎𝑛 𝑥 𝑛 + 𝑎𝑛−1 𝑥 𝑛−1 + ⋯ + 𝑎1 𝑥 + 𝑎0 um


polinômio de grau n, 𝑛  1, com coeficientes inteiros e com coeficiente 𝑎𝑛 não divisível por
p. Então 𝑓(𝑥) tem no máximo n raízes incongruentes módulo p.

Exemplo 6.2.3: 𝑓(𝑥) = 𝑥 5 − 6𝑥 4 − 𝑥 3 + 7𝑥 2 − 𝑥 + 9 (mod 11)

Tabela 6.2.4
x 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
f(x) 9 7 8 3 1 6 5 0 7 0

O teorema de Lagrange é usado para provar o seguinte resultado.

Teorema 6.2.2. Seja p um primo e seja d um divisor de 𝑝 − 1. Então a congruência

𝑥 𝑑 − 1 ≡ 0 (𝑚𝑜𝑑 𝑝)
tem exatamente d raízes incongruentes módulo p.
Por exemplo, 𝑥 3 − 1 ≡ 0 (mod 7), temos x = 1, 2, e 4. Ver Tabela

Tabela 6.2.5
x 1 2 3 4 5 6
x3 -1 0 0 6 0 6 6

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O Teorema 2 pode ser usado para provar um resultado útil que nos diz quantos inteiros
incongruentes têm uma determinada ordem módulo p.

Teorema 6.2.3. Seja p um primo e seja d um divisor positivo de 𝑝 − 1. Então, o número de


inteiros incongruentes menores que p de ordem d módulo p é exatamente igual a 𝜑(𝑑).

Exemplo 6.2.4. Seja 𝑝 = 13 𝑑 = 6 e 𝜙(6) = 2. Então para 𝑂𝑝 (𝑎) = 𝑑, temos 𝜑 (𝑑) = 2


valores para a. Que são a = 4 , 10 , isto é, 𝑂13 (4) = 𝑂13 (10) = 6.

Tabela 6.2.6
a 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
O13(a) 1 12 3 6 4 12 12 4 3 6 12 2

Exemplo 6.2.5. Seja 𝑝 = 11, 𝑑 = 5 e 𝜙(𝑑) = 4. Então para 𝑂𝑝 (𝑎) = 𝑑, temos 𝜙(𝑑) = 4
valores para a = 3, 4, 5 e 9, isto é, 𝑂11 (3) = 𝑂11 (4) = 𝑂11 (5) = 𝑂11 (9) = 5.

Tabela 6.2.7
a 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
O11(a) 1 10 5 5 5 10 10 10 5 2

Corolário 6.2.1. Se p é um número primo, então p tem exatamente 𝜙(𝑝 − 1) raízes primitivas
incongruentes módulo p.
Exemplo 6.2.6. Seja 𝑝 = 17, então 𝜙(16) = 8. As oito raízes primitivas de 17 são {3, 5, 6, 7,
10, 11, 12, 14}.

Tabela 6.2.8
a 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
O17(a) 1 8 16 4 16 16 16 8 8 16 16 16 4 16 8 2

Note que Corolário 6.2.1 fornece uma prova não-construtiva de existência de raízes
primitivas módulo um primo. A menor raiz primitiva de cada primo menor que 200 é dada na
tabela abaixo.

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Tabela 6.2.9

PRECIOSIDADES

1. Encontre o número de raízes incongruentes módulo 11 de cada um dos seguintes polinômios.


a) 𝑥 2 + 2 b) 𝑥 2 + 10 c) 𝑥 3 + 𝑥 2 + 2𝑥 + 2 d) 𝑥 4 + 𝑥 2 + 1
2. Encontre o número de raízes incongruentes módulo 13 de cada um dos seguintes polinômios.
a) 𝑥 2 + 1 b) 𝑥 2 + 3𝑥 + 2 c) 𝑥 3 + 12 d)𝑥 4 + 𝑥 2 + 𝑥 + 1
3. Encontre o número de raízes primitivas dos seguintes primos:
a) 17 b) 29 c) 31 d) 37 e) 41 f) 47
4. Encontre um conjunto completo de raízes primitivas incongruentes de 7.
5. Encontre um conjunto completo de raízes primitivas incongruentes de 13.
6. Encontre um conjunto completo de raízes primitivas incongruentes de 17.
7. Encontre um conjunto completo de raízes primitivas incongruente s de 19.
8. Considere que r seja uma raiz primitiva do primo p com p ≡ 1 (módulo 4). Mostre que – r

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também é uma raiz primitiva.


9. Mostre que, se p é um primo e p ≡ 1 (módulo 4), então existe um inteiro x tal que x 2 ≡ - 1
(módulo p). (Sugestão: Use o teorema 9.8 para mostrar que existe um inteiro x de ordem 4,
módulo p.)
10.
a) Encontre o número de raízes incongruentes módulo 6 do polinômio x2 – x.
b) Explique porque a resposta da parte (a) não contradiz o Teorema de Lagrange.

6.2.1. RAÍZES PRIMITIVAS DE NÚMEROS COMPOSTOS

Na seção anterior, mostramos que todo primo possui uma raiz primitiva. Nesta seção,
vamos encontrar todos os inteiros positivos que têm raízes primitivas.
Vamos começar com dois resultados negativos.

Teorema 6.2.1.1: Para 𝑘 > 2, o inteiro 2𝑘 não possui raízes primitivas.


Demonstração.

Teorema 6.2.1.2: Se mdc (𝑚, 𝑛) = 1, em que 𝑚 > 2 e 𝑛 > 2, então o inteiro 𝑚𝑛 não possui
raízes primitivas.
Demonstração:

Corolário 6.2.1.1: O inteiro n deixa de ter uma raiz primitiva se ou


(a ) n é divisível por dois primos ímpares, ou
(b ) 𝑛 = 2𝑚 𝑝𝑘 , em que p é um número primo ímpar e 𝑚 > 1.
Os resultados anteriores restringem a busca por raízes primitivas para os inteiros 2, 4,
𝑝𝑘 e 2𝑝𝑘 , em que p é um primo ímpar.

Em primeiro lugar, vamos mostrar que cada potência de um primo ímpar possui uma
raiz primitiva. O primeiro passo para se mostrar que toda potência de um primo ímpar tem uma
raiz primitiva é mostrar que cada quadrado de um primo ímpar tem um raiz primitiva.
Lema 6.2.1.1. Se p é um primo ímpar, então existe uma raiz primitiva r de p, tal que
𝑟 𝑝−1 ≢ 1 (mod 𝑝2 ).
Ilustrando: 8 é uma raiz primitiva de 11 e 810 
 1(mod 112 ).
Note que é extremamente raro para a congruência

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𝑟 𝑝−1 ≡ 1 (mod 𝑝2 )

Ser verdadeira quando r é uma raiz primitiva módulo p com 𝑟 < 𝑝. Por conseguinte, raramente
uma raiz primitiva r módulo p não é também uma raiz primitiva módulo 𝑝2 . Vejamos o
corolário seguinte.

Corolário 6.2.1.2. Se p é um primo ímpar, então 𝑝2 tem uma raiz primitiva; de fato, para uma
raiz primitiva r de p, ou r ou 𝑟 + 𝑝 (ou ambos) é uma raiz primitiva de 𝑝2 .
Ilustração. 3 é uma raiz primitiva de 7 e pode-se verificar que que 3 e 10 são raízes primitivas
de 72 . Por outro lado, 14 é uma raiz primitiva de 29 mas não de 292, enquanto 43 (14 + 29) é
uma raiz primitiva de 29.
Precisamos do seguinte lema técnico para alcançarmos o nosso objetivo.
Lema 6.2.1.2. Seja p um primo ímpar e seja r uma raiz primitiva de p com a propriedade de
que 𝑟 𝑝−1 ≢ 1 (mod 𝑝2 ). Então, para cada inteiro positivo k≥ 2,
𝑘−2(𝑝−1)
𝑟𝑝 ≢ 1 (mod 𝑝𝑘 )
Ilustração. 3 é uma raiz primitiva 7 e 36 ≢ 1 (mod 72 ) 72. Então, para todo 𝑘 ≥ 2,
6(𝑘−2)
𝑟7 ≢ 1 (mod 7𝑘 )
Vejamos para 𝑘 = 3:
6
37 ≡ 325 ≢ 1 (mod 73 )
Agora vamos juntar as etapas para provar que as potências de qualquer primo ímpar
têm uma raiz primitiva.

Teorema 6.2.1.3. Se p é um número primo ímpar e 𝑘 ≥ 1, então existe uma raiz primitiva de
𝑝𝑘 .
Com o teorema anterior, resta apenas o caso 2𝑝𝑘 para ser considerado.

Corolário 6.2.1.3. Existem raízes primitivas para 2𝑝𝑘 , em que p é um primo ímpar e k≥ 1.
Ilustração. O número primo 5 tem 2 e 3 como raízes primitivas. Como
25−1 ≢ 1 (mod 25) e 35−1 ≢ 1 (mod 25)
estes também servem como raízes primitivas para 52 e, consequentemente, para todas potências
superiores de 5. O corolário garante que 3 é uma raiz primitiva de todos os números da forma
2. 5k.
O teorema seguinte resume tudo o que foi feito.

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Teorema 6.2.1.4. O número inteiro positivo n, 𝑛 > 1, possui uma raiz primitiva se, e somente
se 𝑛 = 2, 4, 𝑝𝑘 ou 2𝑝𝑘 , onde p é um primo ímpar e k é um número inteiro positivo.

PRECIOSIDADES

1. Quais dos inteiros 4,10,16, 22 e 28 tem uma raiz primitiva?


2. Quais dos inteiros 8, 9, 12, 26, 27, 31, e 33 tem uma raiz primitiva?
3. Encontre o módulo da raiz primitiva de cada módulo seguinte:
a) 32 b) 52 c) 232 d) 292
4. Encontre o módulo da raiz primitiva de cada módulo seguinte:
a) 112 b) 134 c) 172 d) 192
5. Encontre uma raiz primitiva para todos os inteiros positivos k módulo para cada um dos
seguintes módulos.
a) 3k b) 11k c) 13k d) 17k
6. Encontre uma raiz primitiva para todos os inteiros positivos k módulo para cada um dos
seguintes módulos.
a) 23k b)29k c)31k d)37k
7. Encontre o módulo da raiz primitiva para cada um dos seguintes módulos.
a) 10 b) 34 c) 38 d) 50
8. Encontre o módulo da raiz primitiva para cada um dos seguintes módulos.
a) 6 b) 18 c)26 d)338
9. Encontre todas as raízes primitivas módulo 22.
10. Encontre todas as raízes primitivas módulo 25.

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6.3. LOGARITMOS DISCRETOS

Definição: Seja r uma raiz primitiva de n 𝑂𝑛 (𝑟) = 𝜑(𝑛). Se a é um inteiro positivo com
mdc(a, n) = 1, então o único inteiro x com 1 ≤ 𝑥 ≤ 𝜑(𝑛), tal que

𝑟 𝑥 ≡ 𝑎(𝑚𝑜𝑑 𝑛)
é chamado de Logaritmo Discreto(dlog ou ld) de a na base r módulo n, isto é,
𝑥 = 𝑑𝑙𝑜𝑔𝑟 𝑎 (𝑚𝑜𝑑 𝑛)
De acordo com a definição, temos
𝑟 𝑑𝑙𝑜𝑔𝑟 (𝑎) ≡ 𝑎 (𝑚𝑜𝑑 𝑛)
O problema do logaritmo discreto é encontrar o valor de x dado r, a e n tal que
𝑟 𝑥 ≡ 𝑎 (𝑚𝑜𝑑 𝑛)
O algoritmo básico seria calcular todas as potências de r, r2, r3,...,rn-1 até encontrar o valor a.

6.3.1. CÁLCULO DE LOGARITMOS DISCRETOS USANDO TABELAS

Teorema 6.3.1.1 Se n tem uma raiz primitiva r e dlog(a) denota, de forma resumida, o
logaritmo discreto de a na base r temos que:
( i ) 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑎𝑏) = 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑎) + 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑏) (𝑚𝑜𝑑 𝜑(𝑛))
( ii ) 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑎𝑘 ) = 𝑘 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑎) (𝑚𝑜𝑑 𝜑(𝑛)), 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑘 > 0
( iii ) 𝑑𝑙𝑜𝑔(1) = 0 (𝑚𝑜𝑑 𝜑(𝑛)) 𝑒 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑟) = 1 (𝑚𝑜𝑑 𝜑(𝑛)).
Vamos explicar brevemente, em uma tabela, como as regras dos logaritmos discretos
podem ser usadas para simplificar os cálculos e resolver congruências. Para o que queremos
usaremos uma tabela de logaritmos para o número primo n = 37 e a base r = 2, que é uma das
raízes primitivas de 37,pois 𝑂37 (2) = 𝜑(37) = 36. As outras raízes são: 2, 5, 13, 15, 17, 18,
19, 20, 22, 24, 32, 35.
Tabela 6.3.1.1 Logaritmos discretos de x na base 2 (mod 37) ⇔ 2𝑛 ≡ 𝑥(𝑚𝑜𝑑 37)
x 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
𝑑𝑙𝑜𝑔2 𝑥 ≡ 𝑛 36 1 26 2 23 27 32 3 16 24 30 28 11 33 13 4

x 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
𝑑𝑙𝑜𝑔2 𝑥 ≡ 𝑛 7 17 35 25 22 31 15 29 10 12 6 34 21 14 9 5

x 33 34 35 36
𝑑𝑙𝑜𝑔2 𝑥 ≡ 𝑛 20 8 19 18

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A tabela indica a seguinte situação: Qual o logaritmo discreto de x na base 2, congruente a n


módulo 37? Ou seja, 2n é congruente a que valor módulo n?

𝑑𝑙𝑜𝑔2 𝑥 ≡ 𝑛 ( 𝑚𝑜𝑑 37) ⇔ 2𝑛 ≡ 𝑥(𝑚𝑜𝑑 37).


Assim, na tabela, por exemplo:
𝑑𝑙𝑜𝑔2 𝑥 ≡ 35 (𝑚𝑜𝑑 37) ⇔ 2𝑛=35 ≡ 𝑥 (𝑚𝑜𝑑 37) ⇔ 235 ≡ 19 ≡ 𝑥 (𝑚𝑜𝑑 37).
E todas as soluções são dadas por x =19 + 36t.
A tabela foi construída encontrando-se todos os valores de 2t (mod 37). Onde t varia de
0 a 35. Os resultados obtidos são os valores de x:
236 ≡ 1, 21 ≡ 2, 22 ≡ 4, 23 ≡ 6, 24 ≡ 16, 25 ≡ 32, 26 ≡ 27, 28 ≡ 34, …,235 ≡ 19
Vejamos situações que podemos resolver com o auxílio dessa tabela.
Se queremos calcular 𝑑𝑙𝑜𝑔2 437 (mod 37), podemos fatorar adicionar seus logaritmos
na base 2. Assim,
𝑑𝑙𝑜𝑔(437) = 𝑑𝑙𝑜𝑔 (23.19) = 𝑑𝑙𝑜𝑔 (23) + 𝑑𝑙𝑜𝑔 (19) = 15 + 35 = 50 ≡ 14 (mod 36)
(Note que o cálculo é feito no módulo 𝜙(37) = 36). Procurando na tabela, descobrimos que
𝑑𝑙𝑜𝑔(437) = 𝑑𝑙𝑜𝑔(30) = 14, então 437 ≡ 30 (mod 37).
Mas, será que não é um exagero usar logaritmos discretos para calcular o produto 23.19
(mod 37)? Vejamos um caso mais forte onde usaremos o logaritmo discreto para calcular
potências. Por exemplo,
𝑑𝑙𝑜𝑔 (2914 ) ≡ 14𝑑𝑙𝑜𝑔(29) ≡ 14.21 = 294 ≡ 6 (mod 36).
A partir da tabela vemos que 𝑑𝑙𝑜𝑔 (27) = 6, então 2914 ≡ 27 (mod 37). O número
2914 tem 21 dígitos, por isso, seria trabalhoso calcular o valor exato de 2914 sem recursos
computacionais e, em seguida, reduzir ao modulo 37. Por outro lado, conseguimos calcular
2914 (mod 37) muito rapidamente usando o método dos quadrados sucessivos.
Portanto, são os logaritmos discretos realmente úteis para alguma coisa? A resposta é
que o poder real de uma tabela de logaritmos discretos não reside na sua utilização para cálculos
diretos, mas sim como uma ferramenta para resolver congruências. Daremos duas ilustrações.
Para o nosso primeiro exemplo, considere a congruência
19𝑥 ≡ 23 (mod 37).
Se x é uma solução, então o logaritmo de 19x é igual ao logaritmo de 23 na base 2.
Utilizando a regra do produto e tendo valores da tabela, podemos calcular
𝑑𝑙𝑜𝑔 (19𝑥) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔 (23)
𝑑𝑙𝑜𝑔(19) + 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔 (23) (mod 36)
35 + 𝑑𝑙𝑜𝑔 (𝑥) ≡ 15 (mod 36)

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𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ −20 ≡ 16 (mod 36).

Assim, o logaritmo da solução é 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) = 16, e procurando na tabela, encontramos


que x  9 (mod 37). Apesar dessa solução ser mais simples que os métodos utilizados
anteriormente, o método descrito aqui só funciona se você tiver uma tabela de logaritmos já
compilada.

Observação: Usando base 7 que não é uma raiz primitiva de 37:

Tabela 6.3.1.1a Logaritmos discretos de x na base 7 (mod 37) ⇔ 7𝑛 ≡ 𝑥(𝑚𝑜𝑑 37)


x 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
𝑑𝑙𝑜𝑔7 𝑥 ≡ 𝑛 36-9-18-27 1-10-19-28 5-14- 3-12-21- 2-11-20- 17-26-
23-32 30 29 35

x 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
𝑑𝑙𝑜𝑔7 𝑥 ≡ 𝑛 6-15-24-
33

x 33 34 35 36
𝑑𝑙𝑜𝑔7 𝑥 ≡ 𝑛 4-13-22- 7-16-25-
31 34

19𝑥 ≡ 23 (mod 37).


𝑑𝑙𝑜𝑔 (19𝑥) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔 (23)
𝑑𝑙𝑜𝑔(19) + 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔 (23) (mod 36)
? + 𝑑𝑙𝑜𝑔 (𝑥) ≡ ? (mod 36)
Como 7 não é uma raiz primitiva, as potências 7𝑘 (mod 37) não percorrem todos os
valores dos restos módulo 37, {1, 2, . . . , 36}. Os restos produzidos pelas potências de 7𝑘 são
{7, 12, 10, 33, 9, 26, 34, 16, 1}. Observe que os valores 19 e 23 não constam nos restos.
Para o nosso segundo exemplo, vamos resolver um problema que exigiria uma grande
quantidade de tediosos cálculos. Determine todas as soluções para a congruência
3𝑥 30 ≡ 4 (mod 37).
Vamos começar por tomar o logaritmos de ambos os lados e usar as regras de produto
e de potências.
𝑑𝑙𝑜𝑔 (3𝑥 30 ) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔(4)
𝑑𝑙𝑜𝑔(3) + 30𝑑𝑙𝑜𝑔 (𝑥) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔 (4) (mod 36)
26 + 30𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 2 (mod 36)
30𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ −24 ≡ 12 (mod 36)
30𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 12 (mod 36).

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Então, precisamos resolver a congruência 30𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 12(mod 36) para 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥).


O que temos que descobrir é que valores de 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) na tabela, quando multiplicados
por 30, deixam resto 12 na divisão por 36. Já vimos como resolver uma congruência desse tipo.
Em geral, a congruência 𝑎𝑥 ≡ 𝑐 (mod 𝑚) tem d = mdc(a, m) soluções incongruentes módulo
m, se d divide c, caso contrário, não tem soluções. No nosso caso d = mdc(30, 36) = 6 divide
12, então há seis soluções. Usando os métodos já vistos, ou simplesmente por tentativa e erro,
encontramos para
30𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 12 (mod 36)
Os valores
𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) = 4, 10, 16, 22, 28, 𝑒 34.
Agora, olhando para a tabela, obtemos os valores correspondentes de x = 16, 25, 9, 21,
12 e 28.
Assim, a congruência 3𝑥 30 ≡ 4 (mod 37) tem seis soluções,
𝑥 ≡ 16, 25, 9, 21, 12, 28 (mod 37).
As vantagens computacionais da utilização dos logaritmos discretos, são facilmente
observadas. As regras dos logaritmos discretos convertem multiplicações em adições e
potenciações em produtos.
6.3.2. RESÍDUOS DE POTÊNCIAS

Logaritmos Discretos são úteis para estudar congruências da forma 𝑥 𝑘 ≡ 𝑎 (mod 𝑚),
onde m é um número inteiro positivo com uma raiz primitiva e MDC (𝑎, 𝑚) = 1. Antes de
estudar tais congruências, vamos apresentar uma definição.

Definição: Se m e k são números inteiros positivos e a é um inteiro relativamente primo com


m, então dizemos que a é um resíduo k-ésimo módulo m se a congruência 𝑥 𝑘 ≡ 𝑎 (mod 𝑚)
tem um solução.
Se m é um número inteiro que possui uma raiz primitiva, o seguinte teorema dá um
critério útil para um número inteiro a relativamente primo com m seja um resíduo k-ésimo
módulo m.
Teorema 6.3.2.1. Seja m um número inteiro positivo com uma raiz primitiva. Se k é um número
inteiro positivo e a é um inteiro relativamente primo com m, então a congruência
𝑥 𝑘 ≡ 𝑎 (mod 𝑚) tem solução se e somente se
φ(𝑚)
𝑎 𝑑 ≡ 1 (mod 𝑚),

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onde 𝑑 = 𝑀𝐷𝐶 (𝑘, φ(𝑚)). Além disso, se houver soluções de 𝑥 𝑘 ≡ 𝑎 (mod 𝑚), então há
exatamente d soluções incongruentes módulo m.
Note que o Teorema nos diz que se p é primo, k é um inteiro positivo, e a é um número
inteiro relativamente primo com p, então a é o resíduo k-ésimo módulo p se, e somente se,
p−1
𝑎 𝑑 ≡ 1 (mod 𝑝),
onde 𝑑 = 𝑀𝐷𝐶 (𝑘, 𝑝 − 1). Ilustraremos esta observação com um exemplo.

Exemplo 6.3.2.1. Determinar se 5 é um resíduo de uma sexta potência módulo 17, isto é, se a
congruência 𝑥 6 ≡ 5 (mod 17) tem uma solução, em outras palavras, se existem inteiros x do
sistema completo de restos módulo 17, que satisfaçam a equação.
Como 𝑑 = 𝑀𝐷𝐶(6, 𝜑(17)) = 2, temos
16
5 2 = 58 ≡ −1 (mod 17)
Assim, 5 não é um resíduo de uma sexta potência módulo 17, quer dizer, não existe
nenhum 𝑥 ∈ {1, 2, 3, … , 16}, que satisfaça a equação 𝑥 6 ≡ 5 (mod 17).

Exemplo 6.3.2.2. Determinar se 13 é um resíduo de uma quarta potência módulo 18, isto é, se
a congruência 𝑥 4 ≡ 13 (mod 18) tem uma solução, em outras palavras, se existem inteiros x
do sistema completo de restos módulo 18, que satisfaçam a equação.
Como 5 e 11 são as raízes primtivas de 18, o MDC (13,18) = 1 e 𝑑 = MDC (4, 𝜑 (18)) =
MDC(4, 6) = 2, então,
6
132 = 133 ≡ 1 (mod 18)
Assim, 13 é uma quarta potência residual módulo 18, quer dizer, existem 𝑑 = 2
soluções em 𝑥 ∈ {1, 2, 3, … , 17}, que satisfazem a equação 𝑥 4 ≡ 13 (mod 18). Neste caso
𝑥 = 5 e 𝑥 = 13.
PRECIOSIDADES GRATUITAS

01. Resolver 𝑥 8 ≡ 5 (mod 11). As raízes primitivas de 11 são 2, 6, 7 e 8.


Temos 𝑑 = mdc (8, 𝜙(11)) = mdc (8, 10) = 2. Então, se houver solução, serão
exatamente 2 soluções incongruentes módulo 11. Temos ainda que
10
5 2 = 55 ≡ 1 (mod 11).
Logo, a congruência tem solução.

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1ª Solução- Raiz primitiva 2

Tabela 6.3.2.1: Logaritmos discretos de x na base 2 (mod 11) ⇔ 2𝑛 ≡ 𝑥(𝑚𝑜𝑑 11)


x 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
𝑑𝑙𝑜𝑔2 𝑥 ≡ 𝑛 10 1 8 2 4 9 7 3 6 5

Com o auxílio da Tabela 6.3.2.1, vamos resolver 𝑥 8 ≡ 5 (mod 11).


A congruência tem solução se, e somente se,
8𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔(5)(mod 10)
8𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 4 (mod 10)
O mdc(8, 10)= 2, logo 8𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 4(mod 10) possui duas soluções.
A situação é a seguinte: Quais valores de 𝑑𝑙𝑜𝑔𝑥 da Tabela 6.3.2.1 multiplicados por 8
deixam resto 4 na divisão por 10? Os valores são 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) =8 e 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) =3.
Consultando a Tabela 6.3.2.1 novamente, encontramos os valores de x correspondentes
que são: 𝑥 ≡ 3(mod 11) 𝑒 𝑥 ≡ 8(mod 11) .
Observação: Antes de fazermos qualque simplificação na equação é importante ressaltar o número de
soluções que podem ser perdidas em alguma simplificações. Simplificando, temos
8𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 4 (mod 10)
4𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 2 (mod 5)
2𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 1 (mod 5)

2ª Solução- Raiz primitiva 6

Tabela 6.3.2.2: Logaritmos discretos de x na base 6 (mod 11) ⇔ 6𝑛 ≡ 𝑥(𝑚𝑜𝑑 11)


x 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
𝑑𝑙𝑜𝑔6 𝑥 ≡ 𝑛 10 9 2 8 6 1 3 7 4 5

Com o auxílio da Tabela 6.3.2.2, vamos resolver 𝑥 8 ≡ 5 (mod 11).


A congruência tem solução se, e somente se,
8𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔(5)(mod 10)
8𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 6 (mod 10)
Como o mdc(8, 10)= 2, logo 8𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 6(mod 10) possui duas soluções. Simplificando,
temos
4𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 3 (mod 5)
A situação é a seguinte: Quais valores de 𝑑𝑙𝑜𝑔𝑥 na Tabela multiplicados por 4 deixam
resto 3 na divisão por 5? Os valores são 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) = 2 𝑒 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) = 7.

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Consultando a Tabela novamente, encontramos os respectivos valores


𝑥 ≡ 3(mod 11) 𝑒 𝑥 ≡ 8(mod 11) .

3ª Solução- Raiz primitiva 7

Tabela 6.3.2.3 Logaritmos discretos de x na base 7 (mod 11) ⇔ 7𝑛 ≡ 𝑥(𝑚𝑜𝑑 11)


x 1 8 5 9 4 7 2 6 3 10
𝑑𝑙𝑜𝑔7 𝑥 ≡ 𝑛 10 9 2 8 6 1 3 7 4 5

Com o auxílio da Tabela 6.3.2.3, vamos resolver 𝑥 8 ≡ 5 (mod 11).


A congruência tem solução se, e somente se,
8𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔(5)(mod 10)
8𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 2 (mod 10)
4𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 1 (mod 5)
A situação é a seguinte: Quais valores de 𝑑𝑙𝑜𝑔𝑥 da Tabela multiplicados por 4 deixam
resto 1 na divisão por 5? Os valores são 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) = 9 𝑒 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) = 4.
Consultando a Tabela novamente, encontramos os valores respectivos de
𝑥 ≡ 3(mod 11) 𝑒 𝑥 ≡ 8(mod 11) .

4ª Solução: Raiz Primitiva 8

Tabela 6.3.2.4 Logaritmos discretos de x na base 8 (mod 11) ⇔ 8𝑛 ≡ 𝑥(𝑚𝑜𝑑 11)


x 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
𝑑𝑙𝑜𝑔8 𝑥 ≡ 𝑛 10 7 6 4 8 3 9 1 2 5

Com o auxílio da Tabela, vamos resolver 𝑥 8 ≡ 5 (mod 11).


A congruência tem solução se, e somente se,
8𝑑𝑙𝑜𝑔 ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔(5)(mod 10)
8𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 8(mod 10)
4𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 4 (mod 5)
𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 1(mod 5)
A situação é a seguinte: Quais valores de 𝑑𝑙𝑜𝑔𝑥 da Tabela deixam resto 1 na divisão
por 5? Os valores são 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) = 6 𝑒 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) = 1.
Consultando a Tabela, encontramos os valores respectivos de
𝑥 ≡ 3(mod 11) 𝑒 𝑥 ≡ 8(mod 11) .

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02. Resolver 𝑥 7 ≡ 11 (mod 17)


Temos 𝑑 = mdc (7, 𝜙(17)) = mdc (7, 16) = 1. Então, se houver solução, será apenas
uma solução módulo 11. Temos ainda que
16
11 1 = 1116 ≡ 1 (mod 17).
Logo, a congruência tem solução.

Solução:
Uma raiz primitiva de 17 é 3 ( as outras são 5, 6, 7, 11, 12 e 14).
Tabela 6.3.2.5 Logaritmos discretos de x na base 3 (mod 17) ⇔ 3𝑛 ≡ 𝑥(𝑚𝑜𝑑 17)
x 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
𝑑𝑙𝑜𝑔3 𝑥 ≡ 𝑛 16 14 1 12 5 15 11 10 2 3 7 13 4 9 6 8

Com o auxílio da Tabela , vamos resolver 𝑥 7 ≡ 11 (mod 17).


A congruência tem solução se, e somente se,
7𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔(11)(mod 16)
7𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 7(mod 16)
𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 1 (mod 16)
Queremos o valor de x cujo o 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 1. Consultando a Tabela novamente, o valor
é x ≡ 3 (𝑚𝑜𝑑 17).
03. Resolver 6𝑥12 ≡ 11 (mod 17)
Solução: Vamos usar novamente 3 como raiz primitiva.
Tabela 6.3.2.5 Logaritmos discretos de x na base 3 (mod 17) ⇔ 3𝑛 ≡ 𝑥(𝑚𝑜𝑑 17)
x 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
𝑑𝑙𝑜𝑔3 𝑥 ≡ 𝑛 16 14 1 12 5 15 11 10 2 3 7 13 4 9 6 8

𝑑𝑙𝑜𝑔(6) + 12𝑑𝑙𝑜𝑔 (𝑥) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔 (11) (mod 16)


15 + 12𝑑𝑙𝑜𝑔 (𝑥) ≡ 7 (mod 16)
12𝑑𝑙𝑜𝑔 (𝑥) ≡ −8 (mod 16)
12𝑑𝑙𝑜𝑔 (𝑥) ≡ 8 (mod 16)
Como o mdc(12, 16) = 4, temos 4 soluções. Simplificando, temos:
3𝑑𝑙𝑜𝑔 (𝑥) ≡ 2(mod 4)
A situação é a seguinte: Quais valores de 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) da Tabela deixam resto 2 na divisão
por 4 ao serem multiplicados por 3? Os valores são
𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) = 14, 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) = 10, 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) = 2 𝑒 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) = 6.
Consultando a Tabela novamente, encontramos os valores respectivos de x, que são

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𝑥 ≡ 2(mod 17), 𝑥 ≡ 9(mod 17) 𝑒 𝑥 ≡ 15(mod 17).

03. Resolver 7𝑥 ≡ 6 (mod 17).

Solução:
Como 3 é uma raiz primitiva der 17, vamos usar como base dos logaritmos discretos e
utilizar a Tabela 6.3.2.5.
𝑑𝑙𝑜𝑔(7𝑥 ) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔(6)(mod 16)
𝑥𝑑𝑙𝑜𝑔(7) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔(6)(mod 16)
11𝑥 ≡ 15 (mod 16)
𝑥 ≡ 11𝜑(16)−1 . 15 (𝑚𝑜𝑑 16)
𝑥 ≡ 3.15 = 45 (𝑚𝑜𝑑 16)
𝑥 ≡ 45 ≡ 13(mod 16)
05. Resolver 7𝑥 ≡ 5 (mod 11).
Solução:
Vamos usar a raiz primitiva 2 como base.
𝑑𝑙𝑜𝑔(7𝑥 ) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔(5)(mod 10)
𝑥𝑑𝑙𝑜𝑔(7) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔(5)(mod 10)
7𝑥 ≡ 4 (mod 10).
𝑥 ≡ 7𝜑(10)−1 . 4 (𝑚𝑜𝑑 10)
𝑥 ≡ 3.4 = 12 ≡ 2 (mod 10).
06. Resolver 4𝑥 9 ≡ 7 (mod 13)
Solução:
Vamos usar a raiz primitiva 2 como base.

Tabela 6.3.2.6 Logaritmos discretos de x na base 2 (mod 13) ⇔ 2𝑛 ≡ 𝑥(𝑚𝑜𝑑 13)


x 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
𝑑𝑙𝑜𝑔2 𝑥 ≡ 𝑛 12 1 4 2 9 5 11 3 8 10 7 6

𝑑𝑙𝑜𝑔(4𝑥 9 ) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔(7) (mod 12)


𝑑𝑙𝑜𝑔(4) + 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥 9 ) ≡ 11(mod 12)
2 + 9𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 11 (mod 12)
9𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 9 (mod 12)
Como mdc(9, 12) =3, temos um total de 3 soluções. Simplificando, temos:

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3𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 3 (mod 4)
𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 1 (mod 4)
Quais valores de 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) da Tabela deixam resto 1 na divisão por 4? Os valores são
𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 1, 5, 9. Consultando a Tabela novamente, encontramos os valores para x≡ 2, 6, 5.

07. Resolver 𝑥 5 ≡ 3 (mod 41), sabendo que 6 é uma raiz primitiva de 41( as outras são 7, 11,
12, 13, 15, 17, 19, 22, 24, 26, 28, 29, 30, 34 e 35).
Solução:
Temos 𝑑 = mdc (5, 𝜙(41)) = mdc (5, 40) = 5. Então, se houver solução, serão
exatamente 5 soluções incongruentes módulo 41.
40
Temos ainda que 3 5 = 38 ≡ 1 (mod 41). Logo, a congruência tem solução.
5𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔(3) (mod 40)
5𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 15 (mod 40)
Simplificando, temos
𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 3 (mod 40)
𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 3 (mod 8).
Assim, 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) = 3 + 8𝑡. Atribuindo valores a t, temos: 𝑑𝑙𝑜𝑔6 (𝑥) = 3, 11, 19 27 𝑒 35.
Então: 𝑥 ≡ 63 , 611 , 619 , 627 𝑒 635 (mod 41) ou 𝑥 ≡ 11,12,28,34 𝑒 38 (mod 41).

08. Resolver 𝑥 5 ≡ 3 (mod 65).


Solução:
Não é possível determinar antecipadamente quantas são as soluções da equação, pois 65
não têm raízes primitivas. Então, vamos decompor 65 em fatores primos. Temos,
65 = 5.13. Logo, a equação tem solução se, e somente se, 𝑥 5 ≡ 3 (mod 5) e
𝑥 5 ≡ 3 (mod 13) tiverem soluções.
Para 𝑥 5 ≡ 3 (mod 5), temos 𝑑 = mdc (5, 𝜙(5)) = mdc (5,4) = 1. Então, se houver
solução, será apenas uma solução inongruente módulo 5. Temos ainda que
4
31 = 34 ≡ 1 (mod 5). Logo, a congruência tem solução. Uma raiz primitiva de 5 é 2.
Tabela 6.3.2.8 Logaritmos discretos de x na base 2 (mod 5) ⇔ 2𝑛 ≡ 𝑥(𝑚𝑜𝑑 5)
x 1 2 3 4
𝑑𝑙𝑜𝑔2 𝑥 ≡ 𝑛 4 1 3 2

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5𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔(3) (mod 4)


5𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 3 (mod 4)
𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 3 (mod 4).
Então, 𝑥 ≡ 3 ( mod 5).
Para 𝑥 5 ≡ 3 (mod 13), temos 𝑑 = mdc (5, 𝜙(13)) = mdc (5,12) = 1. Então, se houver
12
solução, será apenas uma solução módulo 13. Temos ainda que 3 1 = 312 ≡ 1 (mod 13).
Logo, a congruência tem solução. Usaremos a raiz primitiva 2 de 13.
5𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔(3) (mod 12)
5𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 4 (mod 12)
𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 5𝜑(12)−1 . 4(𝑚𝑜𝑑 12)
𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 5.4 = 20 (mod 12)
𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 8 (mod 12)
Então, 𝑥 ≡ 9(mod 13).
Aplicamos o Teorema Chinês do Resto para resolver o sistema
𝑥 ≡ 3 (mod 5)
{
𝑥 ≡ 9 (mod 13)
Obtemos 𝑥 ≡ 48 (mod 65).

09. Resolver 𝑥 6 ≡ 17 (mod 23).


Solução:
Temos que 𝑑 = mdc (6, 𝜙(23)) = mdc (6,22) = 2.
22
Uma vez que 17 2 = 711 ≡ 22 ≡ −1 (mod 23). Logo a equação não tem solução.

10. Resolver 𝑥10 ≡ 9 (mod 161)


Solução:
Não é possível determinar antecipadamente a existência de soluções da equação, pois
161 não têm raízes primitivas. Decompondo 161 em fatores primos, temos: 161 = 7. 23. Logo,
a equação tem solução se, e somente se,

𝑥10 ≡ 9 ≡ 2 (mod 7)𝑥10 e 𝑥10 ≡ 9 (mod 23) tiverem soluções.


Para 𝑥10 ≡ 2 (mod 7), temos 𝑑 = mdc (10, 𝜙(7)) = mdc (10,6) = 2. Então, se houver
6
solução, serão 2 soluções módulo 7. Temos ainda que 22 = 23 ≡ 1 (mod 7). Logo, a
congruência tem solução. Uma raiz primitiva de 7 é 3 ( a outra é 5)

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Tabela 6.3.2.9 Logaritmos discretos de x na base 3 (mod 7) ⇔ 3𝑛 ≡ 𝑥(𝑚𝑜𝑑 7)


x 1 2 3 4 5 6
𝑑𝑙𝑜𝑔3 𝑥 ≡ 𝑛 6 2 1 4 5 3

10𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔(2) (mod 6)

10𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 2 (mod 6)

5𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 1 (mod 3)

𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 5𝜑(3)−1 (mod 3)

𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 2 (mod 3).

• Então, 𝑥 ≡ 2 ( mod 7) e 𝑥 ≡ 5 (mod 7).


Para 𝑥10 ≡ 9 (mod 23), temos 𝑑 = mdc (10, 𝜙(23)) = mdc (10,22) = 2. Então, se houver
solução, serão 2 soluções módulo 23.
22
Temos ainda que 9 2 = 911 ≡ 1 (mod 23). Logo, a congruência tem solução. Uma raiz
primitiva de 23 é 5 ( as outras são 7, 10, 11, 14, 15, 17, 19, 20, 21)
10𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔(9) (mod 22)
10𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 10 (mod 22)
5𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 5 (mod 11)
𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 1 (mod 11)
Assim, 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) = 1 e 12.
• Então 𝑥 ≡ 5 (mod 23) e 𝑥 ≡ 18 (mod 23).
Combinando os resultados e aplicando o Teorema Chinês do Resto:
𝑥 ≡ 2 (mod 7) 𝑥 ≡ 2 (mod 7)
{ ,{ ,
𝑥 ≡ 5 (mod 23) 𝑥 ≡ 18 (mod 23)
𝑥 ≡ 5 (mod 7) 𝑥 ≡ 5 (mod 7)
{ e {
𝑥 ≡ 5 (mod 23) 𝑥 ≡ 18 (mod 23)
Obtemos as 4 soluções respectivamente 𝑥 ≡ 51, 156, 5 𝑒 110 (mod 161).

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PRECIOSIDADES

1. Construa uma tabela de logaritmos discretos módulo 23 usando como base a raiz primitiva
5.
2. Encontre todas as soluções das seguintes congruências.
a) 3𝑥 5 ≡ 1 (mod 23) b) 3𝑥14 ≡ 2 (mod 23)
3. Encontre todas as soluções das seguintes congruências.
a) 3𝑥 ≡ 2 (mod 23) b) 13𝑥 ≡ 5 (mod 23)
4. Para que inteiros positivos a congruência 𝑎𝑥 4 ≡ 2 (mod 13) é solucionável?
5. Para que inteiros positivos a congruência 8𝑥 7 ≡ 𝑏 (mod 29) é solucionável?
6. Encontre as soluções de 2𝑥 ≡ 𝑥 (mod 13) , usando para a base a raiz primitiva 7.
7. Encontre todas as soluções de 𝑥 𝑥 ≡ 𝑥 (mod 23).
8. Mostre que, se p é um primo ímpar e r é uma raiz primitiva de p, então
dlog r (𝑝 − 1) = (𝑝 − 1)/2.
9. Seja p um primo ímpar. Mostre que a congruência 𝑥 4 ≡ −1 (mod 𝑝) tem uma solução se e
somente se, p está na forma 8𝑘 + 1.
10. Prove que existem infinitos números primos na forma 8k + 1. (Sugestão: Assuma que p1,
p2, ...., pn são os únicos números primos nesta forma. Seja 𝑄 = (2𝑝1 , 𝑝2 . . . 𝑝𝑛 )𝑘 + 1. Mostre
que Q deve ter um fator primo ímpar diferente de 𝑝1 , 𝑝2 , . . . , 𝑝𝑛 e, pelo Exercício 9, seja
necessariamente na forma 8𝑘 + 1.

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6.3.3. CÁLCULO DO LOGARITMO DISCRETO SEM O USO DE


TABELAS

Vimos que o problema da exponenciação discreta não é tão difícil (pode ser computado
eficientemente utilizando exponenciação por quadrados, por exemplo), já o problema inverso,
computar logaritmos discretos é aparentemente muito difícil. Não apenas não se conhece
algoritmo eficiente para os piores casos, mas a complexidade para os casos médios é
demonstrada quase tão difícil quanto o pior caso.
Existem muitos sistemas de criptografia cuja segurança é baseada na dificuldade em
resolver logaritmos discretos. Nesta parte ilustramos (as justificativas matemáticas fogem ao
nível elementar desta apresentação) dois métodos para calcular logaritmos discretos, a saber: O
Algoritmo Shanks e o Algoritmo Silver-Pohlig-Hellman.

I. ALGORITMO DE SHANKS

Daniel Shanks (1917 - 1996), desenvolveu diversos métodos de fatoração


computacional rápida, baseado em formas quadráticas. Seu algoritmo de passos mínimos e
passos gigantes de 1971 serve para calcular o logaritmo discreto, útil em criptografia de chave
pública.
Sejam a, b, x e m inteiros positivos com a e m maiores que 1, tais que
𝑎 𝑥 ≡ 𝑏(mod 𝑚).
Encontrar o valor de x é equivalente a calcular o logaritmo discreto de b na base a
módulo m, isto é,
𝑥 = 𝑑𝑙𝑜𝑔𝑎 𝑏 (mod 𝑚)
O valor de x é dado por
𝑥 = 𝑛𝑞 + 𝑟, 0≤𝑟<𝑛
Onde 𝑛 = ⌊√𝑚⌋, q e r são inteiros determinados pelo Algoritmo de Shanks, que descrevemos
a seguir.
(i) Chamemos de B o conjunto dos passos mínimos, determinado do seguinte modo:

𝑩 = {(𝑏. 𝑎−𝑟 , 𝑟); 0 ≤ 𝑟 < 𝑛, mod 𝑚 }

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Se em B tivermos o par (1, r), então


𝑏. 𝑎−𝑟 = 1 ⇔ 𝑎𝑟 = 𝑏 ⇔ 𝑎𝑟 ≡ 𝑎 𝑥 ⇔ 𝑥 ≡ 𝑟(mod 𝑚)
(ii) Caso contrário, consideremos B’ o conjunto dos passos gigantes, determinado do seguinte
modo:
𝑩′ = {( 𝑎𝑛𝑞 , 𝑞); 𝑞 = 1,2,3, … , 𝑚𝑜𝑑 𝑚 }

Quando obtivermos o primeiro par com 𝑎𝑛𝑞 = 𝑏. 𝑎−𝑟 , teremos:


𝑏. 𝑎−𝑟 = 𝑎𝑛𝑞 ⇔ 𝑏 = 𝑎𝑛𝑞 𝑎𝑟 ⇔ 𝑏 = 𝑎𝑛𝑞+𝑟
Portanto o logaritmo discreto é x = nq + r, 0 ≤ 𝑟 < 𝑛.

Exemplo 6.3.3.1. Vamos determinar o logaritmo discreto de 12 na base 2 módulo 53, ou seja,
𝑥 = 𝑑𝑙𝑜𝑔2 12 (mod 53).
Temos: m = 53, b = 12, a = 2 , n = ⌊√𝑚⌋ = 8 e
Por (i) determinamos o conjunto dos passos mínimos.
𝑩 = {(12. 2−𝑟 , 𝑟); 0 ≤ 𝑟 < 8, mod 53 }
Assim, temos o seguinte conjunto B formado pelos pares ordenados (12. 2−𝑟 , 𝑟):
B={{12,0}, {6,1}, {3,2}, {28,3}, {14,4}, {7,5}, {30,6}, {15,7}}
Por (ii) determinamos o conjunto B’ dos passos gigantes
𝑩′ = {( 28𝑞 , 𝑞); 𝑞 = 1,2,3, … , mod 𝑚 }
Assim, temos o seguinte conjunto B’ formado pelos pares ordenados ( 28𝑞 , 𝑞):
𝑩′ = {{1,0}, {44,1}, {28,2}, {13,3}, {42,4}, {46,5}, {10,6}, {16,7}, {15,8}}
Dos conjuntos B e B’ temos os pares (28, 3) e (28, 2), cujas primeiras coordenadas são
iguais. Segue que r = 3 e q = 2. Podemos então calcular
𝑥 = 𝑛𝑞 + 𝑟 = 8.2 + 3 = 19 (mod 53).

II. ALGORITMO DE SILVER - POHLIG – HELLMAN

Em teoria dos números, o algoritmo de Pohlig-Hellman, às vezes creditado como o


algoritmo de Silver-Pohlig-Hellman, é um algoritmo para calcular logaritmos discretos. O
algoritmo foi descoberto por Roland Silver, mas foi publicado primeiramente de forma
independente em 1978 por Stephen C. Pohlig e Martin Edward Hellman.

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Teorema 6.3.3.2 (Teorema de Euler): Se mdc (a, n) = 1, então 𝑎𝑑 ≡ 1 (mod 𝑛) para algum
divisor d de 𝜑(𝑛).
Seja 𝜑(𝑛) = 𝑝𝑞, onde mdc ( p,q) =1. Para resolvermos 𝑎 𝑥 ≡ 𝑏 (mod 𝑛) usando o Algoritmo
de Pohlig-Hellman, fazemos 𝑥 = 𝑎0 + 𝑎1 𝑝.
Então
𝑎𝑞𝑥 ≡ 𝑏 𝑞 (mod 𝑛)
𝑎𝑎0 𝑞+𝑎1 𝑝𝑞 ≡ 𝑏 𝑞 (mod 𝑛)
𝑎 𝑎0 𝑞 𝑎𝑎1 𝑝𝑞 ≡ 𝑏 𝑞 (mod 𝑛)
(𝑎𝑞 )𝑎0 (𝑎𝑎1 )𝑝𝑞 ≡ 𝑏 𝑞 (mod 𝑛)
Pelo teorema de Euler (𝑎𝑎1 )𝑝𝑞 ≡ 1 (mod 𝑛), logo:
(𝑎𝑞 )𝑎0 ≡ 𝑏 𝑞 (mod 𝑛)
As congruências 𝑎𝑞 (mod 𝑛) e 𝑏 𝑞 (mod 𝑛) podem ser calculadas com algum tipo de
procedimento, então
𝑥 = 𝑎0 + 𝑎1 𝑝, ou 𝑥 ≡ 𝑎0 (mod 𝑝).
O modo é semelhante para encontrar 𝑥 ≡ 𝑏0 (mod 𝑞).
Por fim, usamos o Algortimo Chinês do resto para determinar o valor de x.

Exemplo 6.3.3.2: Resolva 3𝑥 ≡ 9(𝑚𝑜𝑑 11) ou 𝑥 = 𝑑𝑙𝑜𝑔3 9 (mod 11).


Solução:
Lembrando que 𝜑(11) = 2𝑥5. Assim, p = 2 e q = 5.
Então, 𝑥 = 𝑎0 + 𝑎1 𝑝 = 𝑎0 + 2𝑎1 .
(3𝑎0 +2𝑎1 )5 ≡ 95 (mod 11)
35𝑎0 +10𝑎1 ≡ 95 (mod 11)
(35 )𝑎0 (3𝑎1 )10 ≡ 95 (mod 11)
Pelo teorema de Euler (3𝑎1 )10 ≡ 1 (mod 11), logo:
(35 )𝑎0 ≡ 95 (𝑚𝑜𝑑 11)
Sabendo que 35 ≡ 1(mod 11) e 95 ≡ 1(mod 11)
1𝑎0 ≡ 1 (mod 11)
Como 𝑎0 = 1. 𝑒𝑛𝑡ã𝑜 𝑥 = 1 + 2𝑎1 , ou 𝑥 ≡ 1(mod 2).
A próxima etapa será 𝑥 = 𝑏0 + 𝑏1 𝑞 = 𝑏0 + 5𝑏1 .
(3𝑏0 +5𝑏1 )2 ≡ 92 (mod 11)
32𝑏0 +10𝑏1 ≡ 92 (mod 11)
(32 )𝑏0 (3𝑏1 )10 ≡ 92 (mod 11)

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Pelo teorema de Euler (3𝑏1 )10 ≡ 1 (mod 11), logo:


(32 )𝑏0 ≡ 92 (mod 11)
Sabendo que 32 ≡ 9(mod 11) e 92 ≡ 92 (mod 11)
9𝑏0 ≡ 92 (mod 11)
Como 𝑏0 = 2. 𝑒𝑛𝑡ã𝑜 𝑥 = 2 + 5𝑏1 , ou 𝑥 ≡ 2(mod 5).
Aplicando o Algoritmo Chinês do Resto para resolver o sistema
𝑥 ≡ 1(mod 2).
𝑥 ≡ 2(mod 5).
Obtemos a solução 𝑥 ≡ 7(mod 10).
Assim, x = 7 é a solução de 3𝑥 ≡ 9(mod 11) ou 𝑥 = 𝑑𝑙𝑜𝑔3 9 (mod 11).

Exemplo 6.3.3.3. Encontre 𝑥 = 𝑑𝑙𝑜𝑔17 13 (mod 31).


Solução:
Lembrando que 𝜑(31) = 2𝑥3𝑥5. Como qualquer produto dois a dois são relativamente
pimos, vamos considerar p = 2 e q = 15.
Então, 𝑥 = 𝑎0 + 𝑎1 𝑝 = 𝑎0 + 2𝑎1 .
(17𝑎0 +2𝑎1 )15 ≡ 1315 (mod 31)
1715𝑎0 +30𝑎1 ≡ 1315 (mod 31)
(1715 )𝑎0 (17𝑎1 )30 ≡ 1315 (mod 31)
Pelo teorema de Euler (17𝑎1 )30 ≡ 1 (mod 31), logo:
(1715 )𝑎0 ≡ 1315 (mod 31)
Sabendo que 1715 ≡ 30(mod 31) e 1315 ≡ 30(mod 31)
30𝑎0 ≡ 30 (mod 31)
Como 𝑎0 = 1. 𝑒𝑛𝑡ã𝑜 𝑥 = 1 + 2𝑎1 , ou 𝑥 ≡ 1(mod 2).
A próxima etapa será 𝑥 = 𝑏0 + 𝑏1 𝑞 = 𝑏0 + 15𝑏1 .
(17𝑏0 +15𝑏1 )2 ≡ 132 (mod 31)
172𝑏0 +30𝑏1 ≡ 132 (mod 31)
(172 )𝑏0 (17𝑏1 )30 ≡ 132 (mod 31)
Pelo teorema de Euler (17𝑏1 )30 ≡ 1 (mod 31), logo:
(172 )𝑏0 ≡ 132 (mod 31)
Sabendo que 172 ≡ 10 (mod 31) e 132 ≡ 14 (mod 31)
10𝑏0 ≡ 14 (mod 31)
Como 𝑏0 = 8. 𝑒𝑛𝑡ã𝑜 𝑥 = 8 + 15𝑏1, ou 𝑥 ≡ 8 (mod 15).

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Aplicando o Algoritmo Chinês do Resto para resolver o sistema


𝑥 ≡ 1 (mod 2)
𝑥 ≡ 8 (mod 15)
Obtemos a solução 𝑥 ≡ 23(mod 30).
Assim, x = 23 é a solução de 𝑥 = 𝑑𝑙𝑜𝑔17 13 (mod 31).

Exemplo 6.3.3.4. Resolva 𝑥 = 𝑑𝑙𝑜𝑔7 26 (mod 41).


Solução:
Uma vez que 𝜑(41) = 8𝑥5, p = 8 e q = 5.
Então, 𝑥 = 𝑎0 + 𝑎1 𝑝 = 𝑎0 + 5𝑎1 .
(7𝑎0 +5𝑎1 )8 ≡ 268 (mod 41)
78𝑎0 +40𝑎1 ≡ 268 (mod 41)
(78 )𝑎0 (7𝑎1 )40 ≡ 268 (mod 41)
37𝑎0 ≡ 18 (mod 41)
Por tentativas temos 𝑎0 = 3. 𝑒𝑛𝑡ã𝑜 𝑥 = 3 + 5𝑎1, ou 𝑥 ≡ 3(mod 5).
Poderíamos resolver a próxima etapa fazendo 𝑥 = 𝑏0 + 𝑏1 𝑞 = 𝑏0 + 8𝑏1 .
(7𝑏0 +8𝑏1 )5 ≡ 265 (mod 41)
Uma vez que 5 e 8 são relativamente primos. Mas, faremos uma abordagem diferente,
considerando que 𝜑(41) = 23 × 5.
Neste caso, vamos expressar x como 𝑥 = 𝑏0 + 2𝑏1 + 22 𝑏2 + 23 𝑏3 = 𝑏0 + 2𝑏1 +
4𝑏2 + 8𝑏3 .
Então,
(7𝑏0 +2𝑏1+4𝑏2 +8𝑏3 )5 ≡ 265 (mod 41)
O segredo aqui é conseguir expressões do tipo (7𝑘 )40 ≡ 1(mod 41), nos expoetes
diferentes do primeiro termo 𝑏0 . Então vamos elevar a quarta potência, ambos os lados da
congruência,
(7𝑏0 +2𝑏1+4𝑏2 +8𝑏3 )20 ≡ 2620 (mod 41)
720𝑏0 +40𝑏1+80𝑏2 +160𝑏3 ≡ 2620 (mod 41)
(720 )𝑏0 ≡ 2620 (mod 41)
40𝑏0 ≡ 40 (mod 41)
Logo, 𝑏0 = 1.
Temos agora,
(71+2𝑏1 +4𝑏2 +8𝑏3 )5 ≡ 265 (mod 41)

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Tendo sempre em mente o Teorema de Euler, vamos obter valores do tipo (7𝑘 )40 ≡
1 (mod 41), nos expoetes diferentes do segundo termo 𝑏1 .
(71+2𝑏1+4𝑏2 +8𝑏3 )10 ≡ 2610 (mod 41)
710+20𝑏1+40𝑏2 +80𝑏3 ≡ 2610 (mod 41)
710 (720 )𝑏1 ≡ 2610 (mod 41)
9(40)𝑏1 ≡ 32 (mod 41)
Por tentativas temos, 𝑏1 = 1
Seja,
(71+2+4𝑏2+8𝑏3 )5 ≡ 265 (mod 41)
Usando os mesmos procedimentos anteriores, obtemos
715+20𝑏2 +40𝑏3 ≡ 265 (mod 41)
715 (720 )𝑏2 ≡ 265 (mod 41)
14(40)𝑏2 ≡ 27 (mod 41)
Por tentativas temos, 𝑏2 = 1, 𝑒𝑛𝑡ã𝑜 𝑥 = 1 + 2 + 4 + 8𝑎3, ou 𝑥 ≡ 7(mod 8).
Aplicando o Algoritmo Chinês do Resto para resolver o sistema
𝑥 ≡ 3(mod 5)
𝑥 ≡ 7(mod 8)
Obtemos, x = 23 como solução de 𝑥 = 𝑑𝑙𝑜𝑔17 13 (mod 41).

Exemplo 6.3.3.5. Vamos determinar o logaritmo discreto de 12 na base 2 módulo 53, ou seja,
𝑥 = 𝑑𝑙𝑜𝑔2 12 (mod 53).
Solução:
Lembrando que 𝜑(53) = 4𝑥13. vamos considerar p = 4 e q = 13.
Então, 𝑥 = 𝑎0 + 𝑎1 𝑝 = 𝑎0 + 4𝑎1 .
(2𝑎0 +4𝑎1 )13 ≡ 1213 (mod 53)
213𝑎0 +52𝑎1 ≡ 1213 (mod 53)
(213 )𝑎0 (2𝑎1 )52 ≡ 1213 (mod 53)
Pelo teorema de Euler (2𝑎1 )52 ≡ 1 (mod 53), logo:
(213 )𝑎0 ≡ 1213 (mod 53)
Sabendo que 213 ≡ 30(mod 53) e 1213 ≡ 23(mod 53)
30𝑎0 ≡ 23 (mod 53)
Como 𝑎0 = 3. 𝑒𝑛𝑡ã𝑜 𝑥 = 3 + 4𝑎1 , ou 𝑥 ≡ 3(mod 4).
A próxima etapa será 𝑥 = 𝑏0 + 𝑏1 𝑞 = 𝑏0 + 13𝑏1 .

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(2𝑏0 +13𝑏1 )4 ≡ 124 (mod 53)


24𝑏0 +52𝑏1 ≡ 124 (mod 53)
(24 )𝑏0 (2𝑏1 )52 ≡ 124 (mod 53)
Pelo teorema de Euler (2𝑏1 )52 ≡ 1 (mod 53), logo:
(24 )𝑏0 ≡ 124 (mod 53)
Sabendo que 24 ≡ 16(mod 53) e 124 ≡ 13(mod 53)
16𝑏0 ≡ 13 (mod 53)
Como 𝑏0 = 6. 𝑒𝑛𝑡ã𝑜 𝑥 = 6 + 13𝑏1, ou 𝑥 ≡ 6(mod 13).
Aplicando o Algoritmo Chinês do Resto para resolver o sistema
𝑥 ≡ 3(mod 4)
𝑥 ≡ 6(mod 13)
Assim, x = 19 é a solução de 𝑥 = 𝑑𝑙𝑜𝑔2 12 (mod 53).

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7. A LEI DE RECIPROCIDADE QUADRÁTICA -


O TEOREMA DE OURO DA ARITMÉTICA

A Aritmética é a “Rainha da Matemática", e a Lei da


Reciprocidade Quadrática é uma das joias mais
preciosas da sua coroa (BURTON, 2007)

Chegamos agora ao resultado mais importante em curso inicial de Teoria dos Números:
a Lei de Reciprocidade quadrática, ou como Gauss a chamou, "O Teorema de ouro da
Aritmética".
Geralmente num primeiro contato não é possível avaliar completamente o valor desse
teorema de ouro. A descoberta da reciprocidade foi inevitável e sua prova até hoje é motivo de
comemoração na Aritmética.
O círculo de ideias em torno da reciprocidade quadrática é tão rico que é difícil organiza-
las em uma apresentação escrita ou em qualquer apresentação falada.
A história começa com o matemático "amador" francês Fermat no século 17. Fermat
estava interessado em representar inteiros como a soma de dois quadrados. Ele ficou surpreso
quando encontrou um critério elegante quanto ao fato de um número primo poder ser escrito
na forma x2+y2 e comunicou o seu resultado a outro matemático francês Mersenne, no dia de
Natal de 1640. Vejamos alguns exemplo:
5 = 12 + 2; 13 = 22 + 32 ; 17 = 12 + 42 ; 29 = 22 + 52 .
Mas, que tipos de primos podem ser representados desse modo? Fermat apresentou o
seguinte resultado.

Teorema 7.1 ( Fermat). Um primo p ímpar pode ser escrito como 𝑝 = 𝑥 2 + 𝑦 2 e somente se
𝑝 ≡ 1(mod 4), isto é, deixa resto 1 quando dividido por 4.
Mas, por que o "se e, somente se"? Isso está longe de ser trivial. Em sua carta, Fermat
afirmou que ele tinha uma "prova sólida". Mas ninguém foi capaz de encontrar a prova entre
seus trabalhos.
Anos depois, Euler deu a primeira prova rigorosa, que consiste em dois passos:

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1. Se 𝑝 | 𝑥 2 + 𝑦 2 com mdc (𝑥, 𝑦) = 1, então 𝑝 = 𝑥 2 + 𝑦 2 .


2. Se 𝑝 ≡ 1(mod 4), então, 𝑝 | 𝑥 2 + 𝑦 2 com mdc (𝑥, 𝑦) = 1.
Historicamente levou mais tempo para Euler descobrir a prova da segunda etapa. Do ponto
de vista moderno, a observação fundamental é que ele tem a ver com o fato de -1 ser ou não
um resíduo quadrático módulo p.

7.1. Resíduos Quadráticos e Não Quadráticos

De maneira mais direta, podemos dizer que a Lei de Reciprocidade Quadrática trata da
solução de congruências quadráticas, onde os resíduos e os módulos são números primos
ímpares. Tivemos um contato inicial com congruências quadráticas quando usamos o Teorema
de Wilson para demonstrar o Teorema 5.1.2 Para melhor elucidar, comecemos considerando a
seguinte congruência:
𝑎𝑥 2 + 𝑏𝑥 + 𝑐 ≡ 0 (mod 𝑝) (1)
onde p é um primo ímpar e 𝑎 ≢ 0 (mod 𝑝); ou seja, 𝑚𝑑𝑐(𝑎, 𝑝) = 1. A hipótese de que p é um
primo ´ımpar implica que mdc(4a, p) = 1. Então, a congruência (1) é equivalente a:
4𝑎(𝑎𝑥 2 + 𝑏𝑥 + 𝑐) ≡ 0 (mod 𝑝)
Usando a identidade
4𝑎(𝑎𝑥 2 + 𝑏𝑥 + 𝑐) = (2𝑎𝑥 + 𝑏)2 − (𝑏 2 − 4𝑎𝑐),
a última congruência escrita pode ser expressa como
(2𝑎𝑥 + 𝑏)2 ≡ (𝑏 2 − 4𝑎𝑐) (mod 𝑝).
Fazendo agora 𝒕 = 𝟐𝒂𝒙 + 𝒃 e 𝚫 = 𝒃𝟐 − 𝟒𝒂𝒄 obtemos
𝑡 2 ≡ Δ (𝑚𝑜𝑑 𝑝). (2)
Se 𝑥 ≡ 𝑥0 (mod 𝑝) é uma solução de (1), então 𝑡 ≡ 2𝑎𝑥0 + 𝑏 (mod 𝑝) satisfaz a
congruência (2). Reciprocamente, se 𝑡 ≡ 𝑡𝑦0 (mod 𝑝) é a solução de (2), então a congruência
2ax ≡ ty0 − b (mod p) pode ser resolvida para obter uma solução de (1).

Exemplo 7.1.1: Resolver 6𝑥 2 + 𝑥 − 1  0 (mod 7)


Temos 𝑎 = 6, 𝑏 = 1 e 𝑐 = −1. Fazendo
𝑡 = 2𝑎𝑥 + 𝑏 = 12𝑥 + 1 ≡ 5𝑥 + 1 (mod 7) e Δ = 25 ≡ 4 (mod 7). Temos:
𝑡 2 ≡ 4 ( 𝑚𝑜𝑑 7)
Os valores que deixam resíduo 4 módulo 7 são 𝑡 = 2 e 𝑡 = 5. Logo,
5𝑥 + 1 ≡ 2 ⟺ 5𝑥 ≡ 1 (mod 7) e 5𝑥 + 1 ≡ 5 ⟺ 5𝑥 ≡ 4 (mod 7)
Então, x ≡ 3 e x ≡5 (mod 7) são as soluções da equação quadrática.

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Como se pode observar, o maior esforço desenvolvido foi para obter um teste para a
existência da congruência quadrática
𝑥 2 ≡ 𝑎 (mod 𝑝), mdc (𝑎, 𝑝 ) = 1
Logo, o que queremos é identificar os inteiros a que são quadrados perfeitos módulo p.
A questão de resolver em ℤ uma congruência quadrática é um problema de fácil
enunciado, mas resolvê-lo exige técnicas aritméticas sofisticadas. Tal problema é sem dúvida
um dos mais importantes da Teoria dos Números e sua solução envolve conceitos e resultados
que são clássicos desta área, entre os quais se destaca de modo especial e Lei de Reciprocidade
Quadrática.
A Lei de Reciprocidade quadrática é dividida em três partes como veremos neste
capítulo. Ela responde a dois problemas centrais relacionados à Teoria dos Resíduos
Quadráticos, que são:
(1) Dado um primo p, quais inteiros são resíduos quadráticos de p e quais não o são.
(2) Dado um inteiro a, determinar os números primos p para os quais a é um resíduo
quadrático e aqueles tais que a não é um resíduo quadrático.
Veremos que, tanto o Critério de Euler quanto o Lema de Gauss, respondem a primeira
pergunta, embora não sejam práticos para números primos muito grandes. A segunda e,
certamente a mais complicada, depende da Lei de Reciprocidade Quadrática de Gauss.
Seja p um primo ímpar e a um inteiro relativamente primo com p. Concentraremos nossa
atenção inicialmente na seguinte pergunta:
É a um quadrado perfeito módulo p?
Em outras palavras: a é um resíduo quadrático módulo p? Começamos com uma
definição.

Definição. Se p é um primo ímpar e 𝑚𝑑𝑐 (𝑎, 𝑝) = 1, dizemos que um inteiro a é um resíduo


(resto) quadrático de p se a congruência 𝑥 2 ≡ 𝑎 (mod 𝑝) tem solução. Se a congruência
𝑥 2 ≡ 𝑎 (mod 𝑝) não tem solução, dizemos que a é um resíduo não quadrático de p.

Não se deve esquecer que se 𝑎 ≡ 𝑏 ( 𝑚𝑜𝑑 𝑝), então a é um resíduo quadrático de p se,
e somente se, b é um resíduo quadrático de p. Assim, só precisamos determinar o caráter
quadrático dos inteiros positivos menores que p para determinar qualquer inteiro.

Exemplo 7.1.2. 3 e 4 são as soluções incongruentes da congruência quadrática

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𝑥 2 ≡ 2 (mod 7). De modo que 2 é um resíduo quadrático módulo 7. Veja a tabela.

Tabela 7.1.1
x 1 2 3 4 5 6
x2 1 4 2 2 4 1

Por outro lado, a congruência quadrática 𝑥 2 ≡ 3 (mod 5) não tem solução, conforme
pode ser ver pela tabela, segue-se que 3 é um resíduo não quadrático módulo 5.

Tabela 7.1.2
x 1 2 3 4
x2 1 4 4 1

Vamos mostrar que, se p é um primo ímpar, então há exatamente tantos resíduos


quadráticos como resíduos não quadráticos de p entre os números inteiros 1, 2, . . . , 𝑝 − 1.
Este fato é garantido pelo seguinte Lema.

Lema 7.1.1. Seja p um primo ímpar e a e p tal que mdc (𝑎, 𝑝) = 1. Então, a congruência
quadrática
𝑥 2 ≡ 𝑎 (mod 𝑝)
tem exatamente duas soluções incongruentes módulo p ou não tem soluções.

Lema 7.1.2. A congruência quadrática 𝑥 2 ≡ 1 (mod 𝑝) admite sempre duas soluções, 1 e


𝑝 − 1, de modo que 1 é um resíduo quadrático de qualquer primo ímpar p.
Prova: Seja p um primo ímpar e 1 ≤ 𝑎 ≤ 𝑝 − 1 uma solução de 𝑥 2 ≡ 1 (mod 𝑝). Então
𝑝 | (𝑎 + 1)(𝑎 − 1), isto é, 𝑝 | (𝑎 + 1) ou 𝑝 | (𝑎 − 1). Logo, 𝑎 ≡ 1 (mod 𝑝) ou 𝑎 ≡ −1 ≡ 𝑝 −
1 (mod 𝑝). Assim, 1 e 𝑝 − 1 são as soluções de 𝑥 2 ≡ 1 (mod 𝑝).

Exemplo 7.1.3. Mostrar que 2 e 4 são resíduos quadráticos de 17.


Solução: As congruências quadráticas
𝑥 2 ≡ 2 (mod 17) e 𝑥 2 ≡ 4 (mod 17)
admitem solução: 𝑥 ≡ 6 e 𝑥 ≡ 11 (mod 17) são as duas soluções da primeira congruência e
𝑥 ≡ 2 e 𝑥 ≡ 15 (mod 17) são as duas soluções da segunda congruência. Logo, pela definição
2 e 4 são restos quadráticos de 17.

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Tabela 7.1.3
x 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
x2 1 4 9 16 8 2 15 13 13 15 2 8 16 9 4 1

Exemplo 7.1.4. Determinar os resíduos quadráticos de 11.


Solução:
Os 10 resíduos não nulos de 11 são {1, 2, 3, . . . ,10}, de modo que deve-se considerar as
10 seguintes congruências quadráticas com módulo 11:
𝑥 2 ≡ 1, 𝑥 2 ≡ 2 , 𝑥 2 ≡ 3 . . . , 𝑥 2 ≡ 10
e determinar aquelas que admitem solução.
Os quadrados dos resíduos {1, 2, 3, . . . , 10} módulo 11, são:
12 ≡ 102 ≡ 1, 22 ≡ 92 ≡ 4, 32 ≡ 82 ≡ 9, 42 ≡ 72 ≡ 5 e 52 ≡ 62 ≡ 3.
Portanto, os resíduos quadráticos de 11 são 1, 3, 4, 5 e 9, enquanto que os resíduos não
quadráticos de 11 são 2, 6, 7, 8 e 10.
Nota-se que bastava calcular os quadrados da primeira metade dos inteiros 1, 2, 3, ...,
10, módulo 11, visto que
12 ≡ (11 − 1)2, 22 ≡ (11 − 2)2, 32 ≡ (11 − 3)2, 42 ≡ (11 − 4)2 e 52 ≡ (11 − 5)2
Observa-se também que os inteiros {1, 2, 3, . . . , 10} estão igualmente repartidos entre
resíduos quadráticos e resíduos não quadráticos. Ver Tabela

Tabela 7.1.4
x 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
x2 1 4 9 5 3 3 5 9 4 1

Estes fatos estão estabelecidos no teorema seguinte.


𝑝−1
Teorema 7.1.1. Se p é um primo ímpar, então há exatamente resíduos quadráticos de p e
2
𝑝−1
resíduos não quadráticos de p entre os números inteiros {1, 2, . . . , 𝑝 − 1}.
2

Exemplo 7.1.5. Determinar os resíduos quadráticos de 13.


Os inteiros resíduos de 13 são {1, 2, 3, . . . , 12}, de modo que basta considerar as 6
primeiras congruências quadráticas com módulo 13.
12 ≡ 1 , 22 ≡ 4 , 32 ≡ 9, 42 ≡ 3 , 52 ≡ 12 , 62 ≡ 10 e,
122 ≡ 1 , 112 ≡ 4 , 102 ≡ 9, 92 ≡ 3 , 82 ≡ 12 , 72 ≡ 10
Portanto, os resíduos quadráticos de 13 são 1, 3, 4, 9, 10 e 12, enquanto que os resíduos

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não quadráticos de 13 são 2, 5, 6, 7, 8 e 11. Novamente vemos que os 12 inteiros


{1, 2, 3, . . . , 12} estão igualmente repartidos entre resíduos quadráticos e resíduos não
quadráticos.
Tabela 7.1.5
x 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
x2 1 4 9 3 12 10 10 12 3 9 4 1

Neste exemplo, existem dois pares de resíduos quadráticos consecutivos , os pares 3, 4


e 9, 10. Pode-se demonstrar que , que para qualquer primo p, existem
1 (𝑝−1)
(𝑝 − 4 − (−1) 2 )
4
pares consecutivos.
Euler desenvolveu um critério simples para decidir se um inteiro a é um resíduo
quadrático de um dado primo p.

7. 2. Critério de Euler

Teorema 7.2.1 (Critério de Euler). Seja a um inteiro e p um primo ímpar tais que o
mdc (𝑎, 𝑝) = 1. Nestas condições, o inteiro a é um resíduo quadrático de p, se e somente se
𝑝−1
𝑎 2 ≡ 1 (mod 𝑝).
No caso em que é a é um resíduo não quadrático de p, então
𝑝−1
𝑎 2 ≡ −1 (mod 𝑝).

Exemplo 7.2.1. Os resíduos quadráticos de 7 são 1, 2 e 4. Vejamos:


7−1 7−1
22 = 23 ≡ 1, 4 2 = 43 ≡ 1 (mod 7).
E os resíduos não quadráticos de 7 são 3, 5 e 6:
7−1 7−1 7−1
3 2 = 33 ≡ 6 ≡ −1, 5 2 = 53 ≡ 6 ≡ −1, 6 2 = 63 ≡ 6 ≡ −1
Tabela 7.2.1
x 1 2 3 4 5 6
x2 1 4 2 2 4 1

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Lema 7.2.1. Se a é um resíduo quadrático de um primo ímpar p, então a não é uma raiz
primitiva de p.
Prova: Se a é um resíduo quadrático de um primo ímpar p, então pelo critério de Euler temos
𝑝−1
que 𝑎 2 ≡ 1 (mod 𝑝). Segue que a ordem de a módulo p é menor que 𝑝 − 1 = 𝜑(𝑝), assim a
não pode ser uma raiz primitiva de p.
Ilustrando: Resíduos quadráticos de 13: {1,3,4, 9,10, 12}

Tabela 7.2.2: Resíduos quadráticos de 13


x 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
x2 1 4 9 3 12 10 10 12 3 9 4 1

Tabela 7.2.3: Raízes primitivas de 13:{2,6, 7, 11}


a 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
O13(a) 1 12 3 6 4 12 12 4 3 6 12 2

Corolário 7.2.1. A equação 𝑥 2 ≡ 𝑎 (mod 𝑝) não tem solução se, e somente se,
𝑝−1 𝑝−1
𝑎 2 ≡ −1 (mod 𝑝). Assim, a é um resíduo quadrático se 𝑎 2 ≡ 1 (mod 𝑝) ou um resíduo
𝑝−1
não quadrático se 𝑎 2 ≡ −1 (mod 𝑝).

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PRECIOSIDADES

1. Resolva as seguintes congruências quadráticas:


(a) 𝑥 2 + 7𝑥 + 10 ≡ 0 (mod 11).
(b) 3𝑥 2 + 9𝑥 + 7 ≡ 0 (mod 13).
(c) 5𝑥 2 + 6𝑥 + 1 ≡ 0 (mod 23).
2. Demonstrar que a congruência quadrática 6𝑥 2 + 5𝑥 + 1 ≡ 0 (mod 𝑝) tem uma solução para
todo primo p, mesmo que a equação 6𝑥 2 + 5𝑥 + 1 = 0 não tenha solução nos números inteiros.

3. (a) Para um primo ímpar p , provar que os resíduos quadráticos de p são congruentes modulo
p com os inteiros

2 2 2
𝑝−1 2
1 ,2 ,3 ,…,( )
2
(b) Verifique se os resíduos quadráticos de 17 são 1, 2, 4, 8, 9, 13, 15, 16.
4. Mostre que 3 é um resíduo quadrático de 23, mas um não é de 31.
5. Dado que a é um resíduo quadrático de um primo ímpar p, provar o seguinte:
(a) a não é uma raiz primitiva de p.
(b) O número inteiro 𝑝 − 𝑎 é ou não é resíduo quadrático de p de acordo com 𝑝 ≡ 1 (mod 4)
ou 𝑝 ≡ 3 (mod 4).
(c) Se 𝑝 ≡ 3 (mod 4), então 𝑥 ≡ ± 𝑎(𝑝 + 1)/4 (mod 𝑝) são as soluções da congruência 𝑥 2 ≡
𝑎 (mod 𝑝).
6. Seja p um primo ímpar e mdc (𝑎, 𝑝) = 1. Prove que a congruência quadrática 𝑎𝑥 2 + 𝑏𝑥 +
𝑐 ≡ 0 (mod 𝑝) possui solução se, e somente se, 𝑏 2 − 4𝑎𝑐 for zero ou um resíduo quadrático
de p.
7. Se 𝑝 = 2𝑘 + 1 for primo, verifique se todo resíduo não quadrática de p é uma raiz primitiva
de p. [Dica: aplique o critério de Euler.]
8. Suponha que o inteiro r é uma raiz primitiva do primo p, onde 𝑝 ≡ 1 (mod 8).
(a) Mostre que as soluções da congruência quadrática 𝑥 2 ≡ 2 (mod p) são dadas por
7(𝑝−1) (𝑝−1)
𝑥 ≡ ∓ (𝑟 8 +𝑟 8 ) (mod 𝑝)

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3(𝑝−1)
[Dica: primeiro verifique que 𝑟 2 ≡ −1(mod 𝑝).]
(b) Use a parte (a) para encontrar todas as soluções das congruências 𝑥 2 ≡ 2 (mod 17) e 𝑥 2 ≡
2 (mod 41).
9. (a) Se 𝑎𝑏 ≡ 𝑟 (mod 𝑝), onde r é um resíduo quadrático do primo ímpar p, provar que a e b
são ambos resíduos quadráticos de p ou ambos não são.
(b) Se a e b são ambos resíduos quadráticos do primo ímpar p ou se ambos não resíduos de p,
mostre que a congruência 𝑎𝑥 2 ≡ 𝑏 (mod 𝑝) possui solução.
[Dica: multiplique a congruência dada por um a’onde 𝑎𝑎’ ≡ 1 (mod 𝑝).]
10. Seja p um primo ímpar e mdc (𝑎, 𝑝) = mdc (𝑏, 𝑝) = 1. Prove que ou as três congruências
quadráticas
𝑥 2 ≡ 𝑎 (mod 𝑝).; 𝑥 2 ≡ 𝑏 (mod 𝑝).; 𝑥 2 ≡ 𝑎𝑏 (mod 𝑝).
possuem solução ou exatamente uma delas admite solução.
11. (a) Sabendo que 2 é uma raiz primitiva de 19, encontre todos os resíduos quadráticos de 19.
(b) Encontre os resíduos quadráticos de 29 e 31.
12. Se 𝑛 > 2 e mdc (𝑎, 𝑛) = 1, então a é chamado de resíduo quadrático de n sempre que existe
um inteiro x tal que 𝑥 2 ≡ 𝑎 (mod 𝑛). Prove que se a é um resíduo quadrático de 𝑛 > 2, então
𝜑(𝑛)
𝑎 2 ≡ 1(𝑚𝑜𝑑 𝑛).
13. Mostre que o resultado do problema anterior não fornece uma condição suficiente para a
existência de um resíduo quadrático de n; em outras palavras, encontre números inteiros
𝜑(𝑛)
relativamente primos a e n, com 𝑎 2 ≡ 1(𝑚𝑜𝑑 𝑛), para os quais a congruência 𝑥 2 ≡
𝑎 (mod 𝑛) não possui solução.

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O SÍMBOLO DE LEGENDRE

O critério de Euler não é um teste muito prático para determinar se um inteiro é ou não
um resíduo quadrático: os cálculos a serem feitos são muito trabalhosos quando os módulos
não são pequenos. Porém é um critério importante para fins teóricos. Um método de cálculo
mais eficaz está estabelecido na Lei da Reciprocidade Quadrática.
Uma forma de simplificar os esforços seguintes será com o uso do símbolo de Legendre.
O matemático francês Adrien Marie Legendre (1752 – 1833) introduziu um símbolo de grande
utilidade na pesquisa do caráter quadrático de um inteiro a em relação a um primo ímpar p.

Definição. Sejam a um inteiro e p um primo ímpar tais que o mdc (a, p) = 1. O símbolo de
a
Legendre   é definido pelas condições:
b

𝑎 1, 𝑠𝑒 𝑎 é 𝑢𝑚 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜 𝑞𝑢𝑎𝑑𝑟á𝑡𝑖𝑐𝑜 𝑑𝑒 𝑝
( )={
𝑝 −1, 𝑠𝑒 𝑎 𝑛ã𝑜 é 𝑢𝑚 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜 𝑞𝑢𝑎𝑑𝑟á𝑡𝑖𝑐𝑜 𝑑𝑒 𝑝

Por falta de melhor terminologia, vamos nos referia ao termo de cima a como
𝑎
numerador e ao termo p como denominador do síbolo (𝑝). Outra notação padrão para o

símbolo de Legendre é (𝑎⁄𝑝), ou (𝑎|𝑝).

Exemplo 7.3.1. Vejamos os primos 𝑝 = 11 e 𝑝 = 13 em particular. Usando o símbolo de


Legendre os resultados anteriores podem ser expressos como
1 3 4 5 9
a) (11) = (11) = (11) = (11) = (11) = 1,

porque 1, 3, 4, 5 e 9 são resíduos quadráticos de 11


2 5 6 7 8 11
b) (13) = (13) = (13) = (13) = (13) = (13) = −1

porque 2, 5, 6, 7, 8 e 11 são resíduos não quadráticos de 13.


O próximo teorema estabelece as propriedades do símbolo de Legendre.

Teorema 7.3.1. Seja p um primo ímpar e sejam a e b dois inteiros não divisíveis por p, isto é,
tais que o mdc (𝑎, 𝑝) = mdc (𝑏, 𝑝) = 1. Então, o símbolo de Legendre possui as seguintes

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propriedades:
𝑎 𝑏
(i) Se 𝑎 ≡ 𝑏 (mod 𝑝), então (𝑝) = (𝑝).
𝑎𝑏 𝑎 𝑏
(ii) ( 𝑝 ) = (𝑝) (𝑝)
𝑎2
(iii) (𝑝) = 1
(𝑝−1)
1 −1
(iv) (𝑝) = 1 e ( 𝑝 ) = (−1) 2

𝑝−1
𝑎
(v) (𝑝) ≡ 𝑎 2 (mod 𝑝)

Das partes (ii) e (iii) do Teorema 4, podemos deduzir a relação

a𝑏 2 𝑎 𝑏2 𝑎
(vi) ( ) = (𝑝) ( 𝑝 ) = (𝑝)
p

Em outras palavras, um fator quadrado que é relativamente primo com p, pode ser
retirado do numerador sem afetar o valor do símbolo de Legendre.

Exemplo 7.3.2. Calcular


19
a) ( 5 )

Como 19 ≡ 4 ≡ −1 (mod 5), por (iv):


19 1
(− ) = (−1)(5−1)/2 = (−1)2 = 1
5 5
−9
b) ( 13 ). Aplicando (iii). (ii) e (iv):

−9 32 (−1) 32 1
( )=[ ] = ( ) (− ) = (−1)(13−1)/2 = (−1)6 = 1
13 13 13 13
Como (𝑝 − 1)/2 é para um primo p da forma 4𝑘 + 1 e ímpar para p da forma 4𝑘 + 3,
a equação (−1/𝑝) = (−1)(𝑝−1)/2 no permite adicionar um corolário suplementar ao Teorema
4 que diz respeito ao valor de (−1/𝑝).
Esse corolário é considerado a primeira parte da Lei de Reciprocidade Quadrática. De
certa forma ja discutimos esse resultado quando apresentamos o Teorema de Wilson ( ver ....);
apenas fornecemos aqui um caminho diferente.

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7.3. LEI DE RECIPROCIDADE QUADRÁTICA – PARTE 1


• Quando -1 é um resíduo quadrático de um primo p?

Para quais primos ímpares que não superam 20, -1 é um resíduo quadrático? Veja a
tabela.

Tabela 7.4.1
p 3 5 7 11 13 17 19
𝑥 2 ≡ −1 (𝑚𝑜𝑑 𝑝) 2e3 5e8 4 e 13

Vemos que -1 é um resíduo quadrático de 5, 13 e 17.


No entanto, a congruência 𝑥 2 ≡ 4(𝑚𝑜𝑑 𝑝) não tem nenhuma solução quando
𝑝 = 3, 7, 11, e 19. Essas observações levaram os matemáticos a conjecturar que −1 é um
resíduo quadrático de um número primo p se, e somente se, p for da forma 4𝑛 + 1, isto é,
𝑝 ≡ 1 (mod 4).
O critério de Euler foi a ferramenta que auxiliou a provar que essa conjectura é
verdadeira.

Corolário 7.4.1. Se p é um primo ímpar, então

−1 1, 𝑠𝑒 𝑝 ≡ 1(mod 4)
( )={
𝑃 −1, 𝑠𝑒 𝑝 ≡ −1 ( mod 4)

Este corolário pode ser entendido como a afirmação de que a congruência quadrática
𝑥 2 ≡ −1(mod 𝑝) tem uma solução para um primo ímpar se, e somente se, p é da forma
4𝑘 + 1.

Exemplo 7.4.1. Verificando se a congruência 𝑥 2 ≡ −46(mod 17) possui solução. Vamos


−46
avaliar o símbolo de Legendre ( 17 ). Usando (ii) e (iii), temos:
−46 −1 46 46
( 17 ).= ( 17 ). (17)=(17).

Como 46 ≡ 12 (mod 17), segue que, aplicando (vi)


46 12 3.22 3
(17)=(17)=( 17 )=(17)

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Mas,
3 (17−1)
( ) ≡ 3 2 ≡ 38 ≡ −1(mod 17)
17
−46
Uma vez que ( 17 ) ≡ −1, a congruência 𝑥 2 ≡ −46(mod 17) não tem solução.

A primeira parte da Lei de Reciprocidade Quadrática ( Corolário) conduz a uma


aplicação sobre a distribuição dos números primos.

Teorema 7.4.1. Existem infinitos primos da forma 4𝑘 + 1.

Teorema 7.4.2. Se p é um primo ímpar, então


𝑝−1
𝑎
∑( ) = 0
𝑝
𝑛=1
𝑝−1 𝑝−1
Assim, há exatamente resíduos quadráticos e resíduos não quadráticos de p.
2 2

Corolário 7.4.2. Os resíduos quadráticos de um primo ímpar p são congruentes módulo p às


potências pares de uma raiz primitiva r de p; os resíduos não quadráticos, são congruentes
módulo p às potências ímpares de r.
Ilustrando: Vamos considerar o primo 13 e uma raiz primitiva 2. Na Tabela 1, temos as
potências da raiz primitiva módulo13.
Tabela 7.4.2

21 22 23 24 25 26 27 28 29 210 211 212

2 4 8 3 6 12 11 9 5 10 7 1

Observamos que as potências pares da raiz primitiva de 13 são os resíduos quadráticos


de 13. Veja a tabela 2
Tabela 7.4.3: 𝑥 2 ≡ 𝑎(𝑚𝑜𝑑 13)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

1 4 9 3 12 10 10 12 3 9 4 1

Obviamente, as potências ímpares de 2 são os resíduos não quadráticos de 13.


O seguinte elegante resultado de Gauss fornece outro critério para determinar se um
inteiro a relativamente primo com o primo p é um resíduo quadrático de p. A maioria das
demonstrações da Lei da Reciprocidade Quadrática se baseiam, em última análise, neste

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resultado que é conhecido como Lema de Gauss. Embora este lema dê o caráter quadrático de
um número inteiro, ele é mais útil do ponto de vista teórico do que computacional.

Lema de Gauss. Seja um primo ímpar p e mdc (𝑎, 𝑝) = 1. Se n é o número de inteiros do


conjunto

𝑝−1
𝑆 = {𝑎, 2𝑎, 3𝑎, … , ( ) 𝑎}
2
𝑝
cujos restos da divisão por p é maior do que 2, então,
𝑎
(𝑝) = (−1)𝑛 .

Ilustração 1. Seja o inteiro 𝑎 = 5 e o primo 𝑝 = 17.


(𝑝−1)
Neste caso, temos = 8 e o conjunto: 𝑆 = {5, 10, 15, 20, 25, 30, 35, 40}
2

Portanto, os restos na divisão dos inteiros de S por 𝑝 = 17 são:


{5, 10, 15, 3, 8, 13, 1, 6}
𝑝 17
e como n = 3 desses restos são maiores que 2 = = 8,5 segue-se que:
2

5
( ) = (−1)3 = −1
17
isto é, 5 é um resíduo não quadrático de 17. Significa que a congruência quadrática 𝑥 2 ≡
5 (mod 17) não tem solução.
5
Ilustração 2. Seja 𝑎 = 5 e 𝑝 = 11. Para determinar (11), isto é, se 5 é um resíduo quadrático

módulo 11. Pelo lema de Gauss, calculamos os restos módulo 11 de {5, 10, 15, 20, 25}, que são
5, 10, 4, 9 e 3 respectivamente. Como 𝑛 = 2 desses resíduos são maiores que 11/2, o lema de
5
Gauss diz que (11) = (−1)2 = 1. O que mostra que 5 é um resíduo quadrático módulo 11, isto

é, 42 ≡ 5 (mod 11).
O Lema de Gauss nos permite chegar a uma variedade de resultados interessantes. Por
um lado ele fornece um meio para determinar quais primos têm 2 como um resíduo quadrático.
Essa é a segunda parte da Lei de Reciprocidade quadrática.

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7.4. LEI DE RECIPROCIDADE QUADRÁTICA – PARTE 2


• Quando 2 é um resíduo quadrático de um primo p?

Pela tabela 7.5.1 vemos que 2 é um resíduo quadrático de 7, 17, 23, 31, 41 e 47. No
entanto, 𝑥 2 ≡ 2 (mod 𝑝) não tem nenhuma solução quando p = 3, 5, 11, 13, 19, 29, 37, e 43.

Tabela 7.5.1
p 3 5 7 11 13 17 19 23 29 31 37 41 43 47
𝑥 2 ≡ 2 (𝑚𝑜𝑑 𝑝) 3- 4 6- 11 5-18 8- 23 17-24 7- 40

Existe um padrão para os primos p para que 2 seja um resíduo quadrático módulo p?
Examinando essa questão foi conjecturado que 2 seria um resíduo quadrático de um
número primo ímpar p se, e somente, se 𝑝 ≡ ± 1 (mod 8). Novamente o Lema de Gauss, prova
que essa conjectura é verdadeira.

Teorema 7.5.1. Se p é um primo ímpar, então

2 1 se 𝑝 ≡ ±1 (mod 8)
( )={
𝑝 −1 se 𝑝 ± 3 (mod 8)

Corolário 7.5.1. Se p é um primo ímpar, então


2 (𝑝2 −1)
( ) = (−1) 8
p
Este é um momento adequado para um novo olhar sobre as raízes primitivas. Como já
foi visto, não existe uma técnica geral para a obtenção de uma raiz primitiva de um primo ímpar
p; o próximo teorema pode ser útil para esse fim.
(p−1)
Teorema 7.5.2. Se p e 2𝑝 + 1 são ambos primos ímpares, então o inteiro (−1) 2 ⋅ 2 é uma
raiz primitiva de 2𝑝 + 1.

Vejamos alguns primos do tipo (𝑝, 2𝑝 + 1): (3, 7), (11, 23), (29,59), (23,47),
(53,107), (89, 179), (83, 167). O Teorema 7.5.2 indica, por exemplo que os números primos
11, 59, 107 e 179 têm 2 como uma raiz primitiva. Da mesma foram, o número -2 é uma raiz
primitiva para 7, 23, 47 e 167.
Há outro resultado do mesmo tipo: se os primos p e 4𝑝 + 1 são primos, então 2 é uma
raiz primitiva. Logo, podemos acrescentar os primos 13, 29, 53 e 173 à lista de primos que tem

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2 como raiz como raiz primitiva. Temos os primos (𝑝, 4𝑝 + 1) = (3,13), (7,29), (13, 59),
(43, 173).
Há uma prova interessante da infinitude de números primos da forma 8𝑘 + 1 que se
baseia no Teorema 7.5.1.

Teorema 7.5.3. Existem infinitos números primos da forma 8𝑘 + 1.


O próximo Lema, nos permite efetuar a passagem do Lema de Gauss para a terceira e
última parte da Lei de Reciprocidade Quadrática, conhecida como Reciprocidade Quadrática
de Gauss. Esse lema é devido a Eisenstein e permite reduzir a prova da Reciprocidade
Quadrática de Gauss a contagem de pontos no interior de um triângulo. Pode-se perceber que
o Lema de Eisenstein é uma reformulação do Lema de Gauss.

Lema de Eisenstein. Se p é um primo ímpar e a é um inteiro ímpar, com mdc (a, p ) = 1, então
a
( ) = (−1)𝜇(𝑎,𝑝)
p
onde
p−1
2
ka
𝜇(𝑎, 𝑝) = ∑ ⌊ ⌋
p
𝑘=1
ka
Ilustrando. Seja p = 13 e a = 5. Como (p-1)/2 = 6, é necessário calcular ⌊ p ⌋ para k = 1, 2, ...,

6:
5 10
⌊ ⌋=⌊ ⌋=0
13 13
15 20 25
⌊ ⌋=⌊ ⌋=⌊ ⌋=1
13 13 13
30
⌊ ⌋=2
13
Pelo Lema, temos
5
⌊ ⌋ = (−1)1+1+1+2 = −1
13
Confirmando o que já foi visto.
Apesar do Lema de Eisenstein ser principalmente uma ferramenta para auxiliar na prova
da Reciprocidade Quadrática de Gauss, ele também pode ser usado para calcular o símbolo de
Legendre.

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7
Exemplo 7.5.1. Para encontrar (11) usando o lema de Eisenstein, escrevemos a soma
5
7k 7 14 21 28 35
∑⌊ ⌋= ⌊ ⌋+⌊ ⌋+⌊ ⌋+⌊ ⌋+⌊ ⌋= 0+1+1+2+3 = 7
11 11 11 11 11 11
𝑘=1
7
Então, (11) = (−1)7 = −1.

11
Do mesmo modo, para encontrar ( 7 ), observe que
3
11k 11 22 33
∑⌊ ⌋= ⌊ ⌋+⌊ ⌋+⌊ ⌋ =1+3+4= 8
7 7 7 7
𝑘=1
11
Logo, ( 7 ) = (−1)8 = 1.

PRECIOSIDADES

1. Encontre os valores dos seguintes símbolos Legendre:


(a) (19/23) (b) (−23/59) (c) (20/31) (d) (18/43) (e) (−72/131).
2. Use o lema de Gauss para calcular cada um dos símbolos de Legendre abaixo (isto é, em
cada
caso obtenha o inteiro n para o qual (𝑎/𝑝) = (−1)𝑛 :
(a) (8/11).
(b) (7/13).
(c) (5/19).
(d) (11/23).
(e) (6/31).
𝑝−1
3. Para um primo ímpar p, provar que existem − 𝜑(𝑝 − 1) resíduos não quadráticos de p
2

que não são raízes primitivas de p.


4. (a) Seja p um primo ímpar. Mostre que a equação de Diophantina
𝑥 2 + 𝑝𝑦 + 𝑎 = 0, mdc(𝑎, 𝑝) = 1
tem uma solução inteira se, e somente se, (−𝑎/𝑝) = 1.
(b) Determine se 𝑥 2 + 7𝑦 − 2 = 0 tem uma solução nos inteiros.

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5. Prove que 2 não é uma raiz primitiva de qualquer primo da forma 𝑝 = 3 · 2𝑛 + 1, exceto
quando p = 13.
6. (a) Se p é um primo ímpar e mdc (𝑎𝑏, 𝑝) = 1, provar que pelo menos um entre a, b ou ab é
um
resíduo quadrático de p.
(b) Dado um primo p, mostre que, para alguma escolha de 𝑛 > 0, p divide
(𝑛2 − 2)(𝑛2 − 3)(𝑛2 − 6)

7. Se p é um primo ímpar, mostre que


𝑝−2
𝑎(𝑎 + 1)
∑( ) = −1
𝑝
𝑎=1

8. Prove as declarações abaixo:


(a) Se p e 𝑞 = 2𝑝 + 1 são primos ímpares, então -4 é uma raiz primitiva de q.
(b) Se 𝑝 ≡ 1 (mod 4) é um primo, então −4 e (𝑝 − 1)/4 são resíduos quadráticos de p.
9. Para um primo 𝑝 ≡ 7 (mod 8), mostre que 𝑝 | 2(𝑝−1)/2 − 1.
10. Use o Problema 9 para confirmar que os números 2n-1 são compostos para n = 11, 23, 83,
131, 179, 183,239,251.
11. Dado que p e 𝑞 = 4 𝑝 + 1 são primos, provar o seguinte:
(a) Qualquer resíduo não quadrático de q ou é uma raiz primitiva de q ou tem ordem 4 modulo
q.
(b) O inteiro 2 é uma raiz primitiva de q; Em particular, 2 é uma raiz primitiva dos primos 13,
29, 53 e 173.
12. Se r é uma raiz primitiva do primo ímpar p, provar que o produto dos resíduos quadráticos
𝑝2 −1
de p é congruente módulo p a 𝑟 4 e o produto de resíduos não quadráticos de p é congruente
(𝑝−1)2
módulo p a 𝑟 4 .
13. Prove que o produto dos resíduos quadráticos do primo ímpar p é congruente módulo p a 1
ou - 1 de acordo com 𝑝 ≡ 3 (mod 4) ou 𝑝 ≡ 1 (mod 4).
14. (a) Se 𝑝 > 3 é primo, mostre que p divide a soma de seus resíduos quadráticos.
(b) Se 𝑝 > 5 é primo, mostre que p divide a soma dos quadrados de seus resíduos não
quadráticos.
15. Demonstrar que, para qualquer primo p > 5, existem números inteiros 𝑎 ≥ 1, 𝑏 ≤ 𝑝 − 1
para os quais

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a a+1 b b+1
(p) = ( ) = 1 e (p) = ( ) = −1
p p

isto é, há resíduos quadráticos consecutivos de p e resíduos não quadráticos consecutivos.


16. (a) Seja p um primo ímpar e mdc (𝑎, 𝑝) = mdc (𝑘, 𝑝) = 1. Mostre que se a equação 𝑥 2 −
𝑎𝑦 2 = 𝑘𝑝 admite solução, então (𝑎/𝑝) = 1; por exemplo, (2/7) = 1, porque 62 − 2. 22 =
4.7.
(b) Considerando a equação 𝑥 2 − 5𝑦 2 = 7, demonstre que a recíproca do resultado do item (a)
não é necessariamente verdadeira.

(c) Mostre que, para um primo 𝑝 ≡ ± 3 (mod 8), a equação 𝑥 2 − 2𝑦 2 = 𝑝 não possui solução.
17. Demonstrar que os divisores primos ímpares p dos inteiros 9𝑛 + 1 são da forma 𝑝 ≡
1 (mod 4).
18. Para um primo 𝑝 ≡ 1 (mod 4), verifique se a soma dos resíduos quadráticos de p é igual a
𝑝(𝑝 − 1)/4.

7.5. A Reciprocidade Quadrática de Gauss

Sejam p e q são números primos distintos ímpares, de modo que ambos os símbolos de
𝑝 𝑞
Legendre (𝑞 ) ⇔ 𝑥 2 ≡ 𝑝 (𝑚𝑜𝑑 𝑞) e (𝑝) ⇔ 𝑥 2 ≡ 𝑞 (𝑚𝑜𝑑 𝑝) estejam definidos. Um
𝑝 𝑞
questionamento natural é se é possível obter o valor (𝑞 ) sendo conhecido o valor de (𝑝). Ou

de forma mais geral: Existe alguma conexão entre os valores desses dois símbolos?
Euler conjecturou a relação de forma experimental em 1783 e, Legendre deu uma prova
incompleta em 1785. Usando o seu símbolo, Legendre enunciou esta relação de forma elegante,
que desde então se tornou conhecida como a Lei de Reciprocidade Quadrática:
𝑝 𝑞 𝑝−1 𝑞−1
( ) ( ) = (−1) 2 . 2
𝑞 𝑝
Legendre cometeu uma falha ao assumir um resultado tão difícil de provar quanto a lei
em si, a saber, que para qualquer primo p ≡ 1 (mod 8), existe outro primo q≡ 3 (mod 4) para
o qual p é um resíduo quadrático. Destemido, ele tentou outra prova em seu Essai sur theorie

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des Nombres (1798); esta também continha uma lacuna, porque Legendre tinha como certo que
há um número infinito de primos em certas progressões aritméticas (um fato que foi provado
por Dirichlet em 1837, usando no processo argumentos muito sutis da teoria das variáveis
complexas).
Aos 18 anos, Gauss (em 1795), aparentemente inconsciente dos trabalhos de Euler ou
Legendre, redescobriu essa lei de reciprocidade e, após o trabalho incessante de um ano, obteve
a primeira prova completa. "Ela me torturou", diz Gauss, "durante todo o ano e escapou dos
meus esforços mais árduos até, finalmente, eu obter a prova explicada na quarta seção do
Disquisitiones Arithmeticae". No Disquisitiones Arithmeticae - que foi publicada em 1801,
apesar de terminado em 1798 - Gauss atribuiu a si mesmo a descoberta da Lei Quadrática de
Reciprocidade, considerando que um teorema pertence àquele que dá a primeira demonstração
rigorosa. Indignado, Legendre foi levado a reclamar: "Essa impudência excessiva é
inacreditável em um homem que tem mérito pessoal suficiente para não ter a necessidade de se
apropriar das descobertas dos outros". Gauss publicou cinco demonstrações diferentes do que
ele chamou de "a jóia da aritmética superior", e outra foi encontrado entre seus papéis. A versão
apresentada abaixo, uma variante dos argumentos de Gauss, é devida ao seu aluno, Ferdinand
Eisenstein (1823-1852). A prova é desafiadora (e talvez não seja razoável esperar uma prova
fácil), mas a ideia subjacente é bastante simples.
.
Teorema 7.6.1 (Reciprocidade Quadrática de Gauss). Se p e q são primos ímpares distintos,
então
𝑝 𝑞 𝑝−1 𝑞−1
( ) ( ) = (−1) 2 . 2
𝑞 𝑝

Iremos dar um exemplo para ilustrar o método de prova de Eisenstein.

Sejam os números primos p = 7 e q = 11. Consideramos os pontos com coordenadas


7−1 11−1
inteiras (x, y) com 1 ≤ 𝑥 ≤ =3e1≤𝑦≤ = 5. Existem 15 desses pontos. Observe
2 2

que nenhum desses pares satisfaz a equação da reta 11𝑥 = 7𝑦, porque essa igualdade implica
que 11 divide 7y, logo 11 divide 7 ou 11 divide y. Claramente 11 não divide 7. E também 11
11
não divide y, pois ≤ 𝑦 ≤ 5. Logo, nenhum dos 15 pontos está sobre a reta 𝑦 = 𝑥.
7

Dividimos esses 15 pontos em dois grupos, dependendo daqueles que estão acima e abaixo da
11
reta 𝑦 = 𝑥, como mostrado na Figura 7.6.1.
7

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7 11
Figura 7.6.1: Contando pontos interiores para determinar (11) ( 7 )

11
Os pontos de coordenadas inteiras (x, y) com 1 ≤ 𝑥 ≤ 3, 1 ≤ 𝑦 ≤ 5 𝑒 𝑦 < 𝑥 são
7
11𝑥
precisamente aqueles pontos que satisfazem 1 ≤ 𝑥 ≤ 3 𝑒 1 ≤ 𝑦 ≤ . Para um inteiro fixo x
7
11𝑥
com 1 ≤ 𝑥 ≤ 3, existem ⌊ ⌋ valores permitidos de y. Assim, o número total de pares que
7

satisfazem 1 ≤ 𝑥 ≤ 3, 1 ≤ 𝑦 ≤ 5 𝑒 7𝑦 < 11𝑥 é


3
11𝑘 11 22 33
∑⌊ ⌋ = ⌊ ⌋ + ⌊ ⌋ + ⌊ ⌋ = 1 + 3 + 4 = 8;
7 7 7 7
𝑘=1

esses oito pares são (1, 1), (2, 1), (2, 2), (2, 3), (3, 1), (3, 2), (3, 3) e (3, 4).
11
Os pontos de coordenadas inteiras (x, y) com 1 ≤ 𝑥 ≤ 3, 1 ≤ 𝑦 ≤ 5 𝑒 𝑦 > 𝑥 são
7
7𝑦
precisamente aqueles pontos que satisfazem 1 ≤ 𝑥 ≤ 𝑒 1 ≤ 𝑦 ≤ 5 . Para um inteiro fixo y
11
7𝑦
com 1 ≤ 𝑦 ≤ 5, existem ⌊ 11⌋ valores permitidos de x. Assim, o número total de pares que

satisfazem 1 ≤ 𝑥 ≤ 3, 1 ≤ 𝑦 ≤ 5 𝑒 11𝑥 < 7𝑦 é


5
7𝑘 7 14 21 28 35
∑⌊ ⌋ = ⌊ ⌋ + ⌊ ⌋ + ⌊ ⌋ + ⌊ ⌋ + ⌊ ⌋ = 0 + 1 + 1 + 2 + 3 = 7;
11 11 11 11 11 11
𝑘=1

esses sete pares são (1, 2), (1, 3), (1, 4), (1, 5), (2, 4), (2, 5) e (3, 5).
Consequentemente, podemos ver que
3 5
(11 − 1) (7 − 1) 11𝑘 7𝑘
⋅ = 5⋅3 = ∑⌊ ⌋+∑⌊ ⌋ = 8+7
2 2 7 11
𝑘=1 𝑘=1

Então,

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(11−1) (7−1)

(−1) 2 2 = (−1)𝜇(11,7)+𝜇(7,11)
= (−1)𝜇(11,7) ⋅ (−1)𝜇(7,11)
Como o Lema de Eisenstein, diz que
11 7
( ) = (−1)𝜇(11,7) 𝑒 ( ) = (−1)𝜇(7,11)
7 11
vemos que
7 11 (11−1) (7−1)
( ) ( ) = (−1) 2 ⋅ 2
11 7
Estabelecemos um caso particular da Reciprocidade Quadrática de Gauss para os
primos 𝑝 = 7 e 𝑞 = 11.
A Reciprocidade Quadrática de Gauss gera importantes consequências e pode ser usada
para avaliar o símbolo de Legendre.

Corolário 7.6.1 . Se p e q são primos ímpares distintos, então

𝑝 𝑞 1, se 𝑝 ≡ 1(mod 4)ou se 𝑞 ≡ 1(mod 4)


( )( ) = {
𝑞 𝑝 −1, se 𝑝 ≡ 𝑞 ≡ 3 ( mod 4)
Demonstração.

Multiplicando cada lado da equação da Reciprocidade Quadrática de Gauss por (q/p) e


utilizando o fato de que (𝑞/𝑝)2 = 1, podemos também formular isso como Corolário 2

Corolário 7.6.2. Se p e q são primos ímpares distintos, então

𝑞
( ) , se 𝑝 ≡ 1 (mod 4) ou se 𝑞 ≡ 1(mod 4)
𝑝 𝑝
( )={ 𝑞
𝑞 − ( ) , se 𝑝 ≡ 𝑞 ≡ 3 ( mod 4)
𝑝

Vamos ver o que essa última série de resultados realiza. Tome p um primo ímpar e 𝑎 ≠
∓1 um inteiro não divisível por p. Suponha ainda que a tenha a fatoração
𝑘 𝑘 𝑘
𝑎 = ±2𝑘0 𝑝1 1 𝑝2 2 … 𝑝𝑟 𝑟
onde os pi são primos ímpares distintos. Como o símbolo Legendre é multiplicativo,
𝑎 1 2 𝑘0 𝑝𝑖 𝑘1 𝑝𝑟 𝑘𝑟
( ) = (± ) ( ) ( ) … ( )
𝑝 𝑝 𝑝 𝑝 𝑝

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Para avaliar (𝑎/𝑝), temos apenas que calcular cada um dos símbolos (−1/𝑝), (2/𝑝), e
(𝑝𝑖 /𝑝). Os valores de (−1/𝑝) e (2/𝑝) foram discutidos anteriormente, de modo que o único
obstáculo é (𝑝𝑖 /𝑝), onde pi e p são primos ímpares distintos; é aí que a Reciprocidade
Quadrática de Gauss entra. Pois pelo Corolário 2, podemos substituir (𝑝𝑖 /𝑝) por um novo
símbolo Legendre com um menor denominador. Através da inversão e divisão contínuas, o
cálculo pode ser reduzido para as quantidades conhecidas
(−1/𝑞) (1/𝑞) (2/𝑞)
Isso é muito teórico, então, vejamos um exemplo concreto.

Concretizando. Considere o símbolo Legendre (29/53). Como 29 ≡ 1 (mod 4) e 53 ≡


1 (mod 4), vemos que
(29/53) = (53/29) = (24/29) = (2/29) (3/29) (4/29) = (2/29) (3/29)
De acordo com o Teorema 9.6, (2/29) = −1, e ao inverter novamente,
(3/29) = (29/3) = (2/3) = −1
onde usamos a congruência 29 ≡ 2 (mod 3). O efeito líquido é esse
(29/53) = (2/29) (3/29) = (−1) (− 1) = 1
A Reciprocidade Quadrática de Gauss fornece uma resposta muito satisfatória ao
problema de encontrar primos ímpares 𝑝 ≠ 3 para o qual 3 é um resíduo quadrático. Porque
3 ≡ 3 (mod 4), o Corolário 2 do Teorema 9.9 implica que
𝑝
3 ( ) 𝑠𝑒 𝑝 ≡ 1 (mod 4)
( ) = { 3𝑝
𝑝 − ( ) 𝑠𝑒 𝑝 ≡ 3 (mod 4)
3

Agora 𝑝 ≡ 1 (mod 3) ou 𝑝 ≡ 2 (mod 3). Pelos teoremas 7.3.1 e 7.5.1,


𝑝 1 𝑠𝑒 𝑝 ≡ 1 (mod 3)
( )={
3 −1 𝑠𝑒 𝑝 ≡ 2 (mod 3)

cuja implicação é essa (3/𝑝) = 1 se, e somente se,


𝑝 ≡ 1 (mod 4) e 𝑝 ≡ 1 (mod 3) (1)
ou
𝑝 ≡ 3 (mod 4) e 𝑝 ≡ 2 (mod 3) (2)
As restrições nas congruências da Eq. (1) são equivalentes a exigir que 𝑝 ≡ 1 (mod 12),
enquanto essas congruências na Eq. (2) são equivalentes a 𝑝 ≡ 11 ≡ −1(mod 12). O resultado
de tudo isso é Teorema 7.6.1.

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Teorema 7.6.2. Seja 𝑝 > 3 um primo, então

3 1, 𝑠𝑒 𝑝 ≡ ±1(mod 12)
( )={
𝑝 −1, 𝑠𝑒 𝑝 ≡ ±5 ( mod 12)

Ilustrando. Para um exemplo de solução de uma congruência quadrática com um módulo


composto, considere
𝑥 2 ≡ 196 (mod 1357)
Como 1357 = 23 · 59, a congruência dada tem solução se, e somente se, ambos
𝑥 2 ≡ 196 (mod 23) e 𝑥 2 ≡ 196 (mod 59)
possuem solução. Nosso procedimento é encontrar os valores dos símbolos Legendre
(196/23) e (196/59).
O cálculo de (196/23) requer o uso do Teorema 7.6.2:
(196/23) = (12/23) = (3/23) = 1
Assim, a congruência 𝑥 2 ≡ 196 (mod 23) admite solução. Quanto ao símbolo
(196/59), a Lei de Reciprocidade Quadrática nos permite escrever
(196/59) = (19/59) = −(59/19) = −(2/19) = − (−1) = 1
Portanto, é possível resolver 𝑥 2 ≡ 196 (mod 59) e, consequentemente, a congruência 𝑥 2 ≡
196 (mod 1357) também.
Para se chegar a uma solução, observe que a congruência 𝑥 2 ≡ 196 ≡ 12 (mod 23) é
satisfeita para 𝑥 ≡ 9, 14 (mod 23) e 𝑥 2 ≡ 196 ≡ 19 (mod 59) possui soluções 𝑥 ≡
14, 45 (mod 59). Podemos agora usar o Teorema Chinês do Resto para obter as soluções
simultâneas dos quatro sistemas:
𝑥 ≡ 14 (mod 23) 𝑥 ≡ 14 (mod 23) 𝑥 ≡ 9 (mod 23) 𝑥 ≡ 9 (mod 23)
{ ; { ; { ; { .
𝑥 ≡ 14 (mod 59) 𝑥 ≡ 45 (mod 59) 𝑥 ≡ 14 (mod 59) 𝑥 ≡ 45 (mod 59)
Os valores resultantes 𝑥 ≡ 14, 635, 722, 1343 (mod 1357) são as soluções desejadas
da congruência original 𝑥 2 ≡ 196 (mod 1357).

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PRECIOSIDADES

1. Avalie os seguintes símbolos Legendre:


(a) (71/73).
(b) (−219/383).
(c) (461/773).
(d) (1234/4567).
(e) (3658/12703).
2. Prove que 3 é um não resíduo quadrático de todos os primos da forma 22𝑛 + 1 e também de
todos primos da forma 2𝑝 − 1 onde p é um primo ímpar.
3. Determine se as seguintes congruências quadráticas possuem solução:
(a) 𝑥 2 ≡ 219 (mod 419).
(b) 3𝑥 2 + 6𝑥 + 5 ≡ 0 (mod 89).
(c) 2𝑥 2 + 5𝑥 − 9 ≡ 0 (mod 101).
4. Verifique que, se p é um primo ímpar, então
−2 1 𝑠𝑒 𝑝 ≡ 1 (mod 8) ou 𝑝 ≡ 3 (mod 8)
( )={
p −1 𝑠𝑒 𝑝 ≡ 5 (mod 8) ou 𝑝 ≡ 7 (mod 8)
5. (a) Prove que se 𝑝 > 3 é um primo, então
−3 1 𝑠𝑒 𝑝 ≡ 1 (mod 6)
( )={
p −1 𝑠𝑒 𝑝 ≡ 5 (mod 6)

(b) Usando a parte (a), mostre que existem infinitamente primos da forma 6𝑘 + 1.
6. Use o Teorema 9.2 e as questões 4 e 5 para determinar quais primos podem dividir inteiros
das formas 𝑛2 + 1, 𝑛2 + 2 ou 𝑛2 + 3 para algum valor de n.
7. Demonstrar que existem infinitos primos da forma 8𝑘 + 3.
8. Encontre um número primo p que seja simultaneamente expresso nas formas 𝑥 2 + 𝑦 2 , 𝑢2 +
2𝑣 2 ,e 𝑟 2 + 3𝑠 2 .
9. Se p e q são primos ímpares satisfazendo 𝑝 = 𝑞 + 4𝑎 para algun a, prove que
(𝑎/𝑝) = (𝑎/𝑞)
e, em particular, que (6/37) = (6/13).
10. Prove cada uma das seguintes afirmações:
(a) (5/𝑝) = 1 se e somente se 𝑝 ≡ 1, 9, 11 ou 19 (mod 20).

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(b) (6/𝑝) = 1 se e somente se 𝑝 ≡ 1, 5, 19 ou 23 (mod 24).


(c) (7/𝑝) = 1 se e somente se 𝑝 ≡ 1, 3, 9, 19, 25 ou 27 (mod 28).
11. Demonstrar que existem infinitamente primos da forma 5𝑘 − 1.
12. Verifique o seguinte:
(a) Os divisores primos 𝑝 ≠ 3 do inteiro 𝑛2 − 𝑛 + 1 são da forma 6𝑘 + 1.
(b) Os divisores primos 𝑝 ≠ 5 do inteiro 𝑛2 + 𝑛 − 1 são da forma 10𝑘 + 1 ou 10𝑘 + 9.
(c) Os divisores primos p do inteiro 2𝑛(𝑛 + 1) + 1 são da forma 𝑝 ≡ 1 (mod 4).
(d) Os divisores primos p do inteiro 3𝑛(𝑛 + 1) + 1 são da forma 𝑝 ≡ 1 (mod 6).
13. (a) Mostre que se p um divisor primo de 839 = 382 − 5 · 112 , então (5/𝑝) = 1. Use este
fato para concluir que 839 é um número primitivo.
(b) Prove que ambos 397 = 202 − 3 e 733 = 292 − 3 · 62 são primos.
14. Resolva a congruência quadrática𝑥 2 ≡ 11 (mod 35).
15. Prove que 7 é uma raiz primitiva de qualquer primo da forma 𝑝 = 24𝑛 + 1.
16. Deixe a e 𝑏 > 1 números inteiros relativamente primos, com b ímpar. Se 𝑏 = 𝑝1 𝑝2 ⋯ 𝑝𝑟
é a decomposição de b em primos ímpares (não necessariamente distintos), então o símbolo
Jacobi (a/b) é definido por
(𝑎/𝑏) = (𝑎/𝑝1 ) (𝑎/𝑝2 ) · · · (𝑎/𝑝𝑟 )
onde os símbolos do lado direito do sinal de igualdade são símbolos Legendre. Avalie os
símbolos Jacobi
(21/221) (215/253) (631/1099)
17. Sob a hipótese do problema anterior, mostre que se a é um resíduo quadrático de b, então
(𝑎/𝑏) = 1; mas, a recíproca é falsa.
18. Prove que as seguintes propriedades do símbolo Jacobi são válidas: Se b and b' são números
inteiros positivos ímpares e mdc (𝑎𝑎 ′, 𝑏𝑏′) = 1, então
(a) 𝑎 ≡ 𝑎′ (mod 𝑏) implica que (𝑎/𝑏) = (𝑎′/𝑏).
(b) (𝑎𝑎′/𝑏) = (𝑎/𝑏) (𝑎′/𝑏).
(c) (𝑎/𝑏𝑏′) = (𝑎/𝑏) (𝑎/𝑏′).
(d) (𝑎2 /𝑏) = (𝑎/𝑏 2 ) = 1.
(e) (1/𝑏) = 1.
(f) (−1/𝑏) = (−1)(𝑏−1)/2 .
2 −1)/8
(g) (2/𝑏) = (−1)(𝑏 .
19. Demonstre a Lei de Reciprocidade Quadrática Generalizada: Se a e b são números inteiros
ímpares positivos relativamente primos, maiores que 1, então

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𝑎 𝑏 (a−1) (b−1)
( ) ( ) = (−1) 2 . 2
𝑏 𝑎
20. Usando a Lei de Reciprocidade Quadrática Generalizada, determine se a congruência 𝑥 2 ≡
231 (mod 1105) tem solução.

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