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FACULDADE ASSEMBLEIANA DO BRASIL

WANDERSON DE OLIVEIRA RIBEIRO

TRABALHO DE EXEGESE DO LIVRO DE RUTE

GOIÂNIA
2022
WANDERSON DE OLIVEIRA RIBEIRO

TRABALHO DE EXEGESE DO LIVRO DE RUTE.

Texto dissertativo apresentado como


requisito parcial da N1 para obtenção do título
de teólogo na Faculdade Assembleiana do
Brasil. Orientador: Jeová Rodrigues dos
Santos.

GOIÂNIA
2022
INTRODUÇÃO

O livro de Rute é uma pérola na Bíblia, diferente de todas as narrativas


já descritas e com um contexto surpreendente. Um livro muito importante na
história dos povos orientais. Mostraremos uma cultura bastante singular e com
acontecimentos marcantes na trajetória de uma família impactada por um
propósito de Deus.

Nessa trajetória será apresentado os contextos linguísticos e textual


para compreensão dos acontecimentos que envolvem toda a história.
Abrangendo o período de Juízes e a Monarquia em Israel, mostraremos como
se desencadeou toda a trama dessa história tão envolvente e providencial no
contexto do povo de Deus.

Apresentaremos uma narrativa detalhada do livro de Rute, suas


necessidades, sua saída de seu terra, os sofrimentos e tragédias, bem como o
impacto desses acontecimentos na vida de Noemi e sua noras. No decorrer da
História será apresentado a forma de Deus agir em momentos únicos que
impactariam todo a história do povo de Israel.
A) IDENTIFICAÇÃO DO GÊNERO LITERÁRIO

Segundo Champlin o Livro de Rute tem um grande valor literário


evidente, sendo um conto rápido tem uma literatura bem produzida e redigida.
Apresenta um gênero único e sem igual não encontrado em outro livro Bíblia. É
uma obra literária de ficção, tendo suas características próprias com uma boa
introdução, com um belo enredo de um problema quase insolúvel, finalizando
com uma solução que deixa todos felizes.

Conforme Carson em seu comentário Bíblico, o livro de Rute sofreu


várias tentativas de classificar com um romance ou um romance histórico.
Carson afirma que a intenção do escritor de Rute era de escrever uma
narrativa histórica, com uma história verdadeira bem contada no estilo de
narrativas patriarcais, com temas recorrentes como a fome, exílio e retorno,
através da revelação de Deus.

Para Champlin e muitos estudiosos o Livro de Rute tem como maior


propósito o de servir de ligação entre os dois períodos, o período de juízes e o
período da monarquia que iria se iniciar em Israel e que posteriormente estaria
sobre o governo de Davi, descendente de Rute, narrativa essa que consta no
capítulo 4 desse livro, onde traz sua genealogia. Esse livro preenche
justamente esse vazio.

Ainda Segundo Champlin o livro de Rute seria para alguns estudiosos


uma novela sem valor histórico com personagens com nomes bem escolhidos,
nomes esses com significados históricos e determinantes no enredo. No
entanto, diz Champlin que o livro de Rute apresenta uma obra histórica bem
contada, não havendo evidências de erros cronológicos ou fora de época,
mostrando a conversão de uma pessoa, sendo esse o sentido mais forte em
todo o livro de Rute.
B) ESTRUTURA GERAL DO LIVRO DE RUTE

CAPÍTULO 1 CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 4


V. 1 -5: Uma família V. 1-7: O V. 1-5: A V. 1-6: Boaz assume
Belemita encontro estratégia de o papel de parente
peregrinando. inicial de Noemi. remidor.
V. 6-14: Uma Rute e Boaz. V. 6-13: A V. 7-12: Anciãos
separação marcada V. 8-16: Um ousadia de testemunham o
pelo altruísmo. provimento Rute. casamento de Boaz e
V. 15-18: Uma para uma V. 14-18: A Rute.
devoção extrema. pessoa resposta V. 13: Filho de Boaz e
V. 19 -21: Duras especial. magnânima Rute.
reações ao V. 17-23: de Boaz. V. 14-17: Alegria
sofrimento de Noemi. Emoção de compartilhada com
V. 22: um novo uma mãe e Noemi.
recomeço. sua filha. V. 18-22: Genealogia
de Davi.

C) ESTABELECIMENTO DO TEXTO E DELIMITAÇÃO DO TEXTO


(PERÍCOPE)

RUTE 1

Noemi e suas noras Orfa e Rute

1 E sucedeu que, nos dias em que os juízes julgavam, houve uma fome na
terra; pelo que um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar nos campos de
Moabe, ele, e sua mulher, e seus dois filhos.
2E era o nome deste homem Elimeleque, e o nome de sua mulher, Noemi, e
os nomes de seus dois filhos, Malom e Quiliom, efrateus, de Belém de Judá; e
vieram aos campos de Moabe e ficaram ali.
3E morreu Elimeleque, marido de Noemi; e ficou ela com os seus dois filhos,
4 os quais tomaram para si mulheres moabitas; e era o nome de uma Orfa, e
o nome da outra, Rute; e ficaram ali quase dez anos.
5E morreram também ambos, Malom e Quiliom, ficando assim esta
mulher desamparada dos seus dois filhos e de seu marido.
6 Então, se levantou ela com as suas noras e voltou dos campos de Moabe,
porquanto, na terra de Moabe, ouviu que o SENHOR tinha visitado o seu
povo, dando-lhe pão.
7 Pelo que saiu do lugar onde estivera, e as suas duas noras, com ela. E,
indo elas caminhando, para voltarem para a terra de Judá,
8 disse Noemi às suas duas noras: Ide, voltai cada uma à casa de sua mãe; e
o SENHOR use convosco de benevolência, como vós usastes com os falecidos e
comigo.
9O SENHOR vos dê que acheis descanso cada uma em casa de seu marido.
E, beijando-as ela, levantaram a sua voz, e choraram,
10 e disseram-lhe: Certamente, voltaremos contigo ao teu povo.
11 Porém Noemi disse: Tornai, minhas filhas, por que iríeis comigo? Tenho eu
ainda no meu ventre mais filhos, para que vos fossem por maridos?
12 Tornai, filhas minhas, ide-vos embora, que já mui velha sou para ter
marido; ainda quando eu dissesse: Tenho esperança, ou ainda que esta noite
tivesse marido, e ainda tivesse filhos,
13 esperá-los-íeis até que viessem a ser grandes? Deter-vos-íeis por eles, sem
tomardes marido? Não, filhas minhas, que mais amargo é a mim do que a
vós mesmas; porquanto a mão do SENHOR se descarregou contra mim.
14 Então, levantaram a sua voz e tornaram a chorar; e Orfa beijou a sua
sogra; porém Rute se apegou a ela.
15 Pelo que disse: Eis que voltou tua cunhada ao seu povo e aos seus
deuses; volta tu também após a tua cunhada.
16 Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me afaste de ti;
porque, aonde quer que tu fores, irei eu e, onde quer que pousares à noite, ali
pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus.
17 Onde quer que morreres, morrerei eu e ali serei sepultada; me faça assim
o SENHOR e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti.
18 Vendo ela, pois, que de todo estava resolvida para ir com ela, deixou de
lhe falar nisso.
19 Assim, pois, foram-se ambas, até que chegaram a Belém; e sucedeu que,
entrando elas em Belém, toda a cidade se comoveu por causa delas, e
diziam: Não é esta Noemi?
20 Porém ela lhes dizia: Não me chameis Noemi; chamai-me Mara, porque
grande amargura me tem dado o Todo-Poderoso.
21 Cheia parti, porém vazia o SENHOR me fez tornar; por que, pois, me
chamareis Noemi? Pois o SENHOR testifica contra mim, e o Todo-Poderoso me
tem afligido tanto.
22 Assim, Noemi voltou, e com ela, Rute, a moabita, sua nora, que voltava
dos campos de Moabe; e chegaram a Belém no princípio da sega das cevadas.

Almeida Revista e Corrigida – ARC


QUESTÕES INTRODUTÓRIAS DE RUTE
O livro de Rute no português vem do hebraico RUT, que é traduzido na
Septuaginta ROUTH. Segundo Champlin alguns estudiosos dão a esse nome o
sentido de companheira e outros preferem dizer que esse nome tem significado
desconhecido. Seu valor é significativo tanto entre os judeus como os cristão e
faz parte da Bíblia quando os livros começaram a serem compilados no século
II D.C.

Quando olhamos aos escritos hebraicos vemos que o livro de Rute, faz
parte da terceira seção, conhecido como Hagiógrafo. Sendo esse livro
pertencente aos cinco rolos, sendo esse o segundo que era usado nas cinco
principais festas de Israel. Assim como a septuaginta, a versão latina da
Vulgata e na bíblia em português o livro de Rute está logo após o Livro de
Juízes.

Tal fato da composição do livro de Rute logo após o de Juízes coincide


com os relatos dos dois livros, onde o autor ele narra todos os fatos dentro do
contexto histórico de Israel, fato esse já presente no primeiro versículo do
primeiro capítulo de Rute “ nos dias em que julgavam os Juízes”, sendo uma
lógica sua classificação nessa sessão da bíblia.

Conforme a tradição judaica, o escritor do livro de Rute seria o profeta


Samuel, mas como em Rute 4.17,22 menciona o rei Davi, em uma data
posterior, essa especulação seria improvável, deixando o livro no anonimato.
Ainda segundo Champlin a tese de que fora o profeta Samuel escritor é muito
forte, pois alegam que os trechos sobre o rei Davi foram adicionados por um
editor. Sendo a base que temos o Rei Davi e o profeta Samuel, a provável data
que o livro foi escrito seria após a morte de Samuel aproximadamente 1000
A.C.

O propósito do livro de Rute segundo vários estudiosos é ser o elo de


ligação entre o conturbado período de Juízes de Israel para a monarquia dos
Reis em Israel. Ainda podemos dizer que o livro mostra uma moabita foi
incluída na linhagem de Davi, também tinha um forte apelo a continuidade do
levirato. Mas mostra também a providência amorosa de Deus, trazendo uma
consolação aos desamparados.
Deus estava confirmando a promessa feita Abraão de que em ti serão
benditas todas as famílias, preservando os judeus e sua descendência, tem a
figura de Boaz o grande Redentor, representando a redenção do povo de Deus.
Mostra ainda o amor universal de Deus a todos os povos e línguas. E ensina a
verdadeira obediência pela Fé, pois mesmo sendo moabita creu e aceitou a
Deus e o seu povo.

O livro de Rute tem uma ligação muito forte com partes do Novo
Testamento, uma descrição desse aspecto fica claro quando lemos o capítulo 4
a partir do versículo 18 que fala das gerações. A tabela apresentada dessa
genealogia é substancialmente idêntica com a de 1 Crônicas 2:4-13, Mateus 1:
2-6 e Lucas 3: 31-33 e segundo Kennedy esses versículos visavam dar maior
realce a descendência Judaica de Davi.

Segundo Kennedy, para alguns estudiosos o livro de Rute foi escrito com
uma sutil polêmica contra Esdras e Neemias, quando os mesmos tentavam
expurgar os casamentos com estrangeiros. Mas é verdade que esse conto
pré-exílico tem um propósito universal e não nacional. Demonstrando a
soberania de Deus que não há limites e fronteiras.

ANÁLISE DO CONTEXTO HISTÓRICO ESPECÍFICO

Rute era moabita, e um fato histórico marcante tornou os moabitas


inimigos de Israel, quando Moisés liderava o povo de Israel rumo a Canaã e
precisava passar em territórios moabitas os mesmo não permitiram essa
passagem. Assim Deus determinou que nem os moabitas e nem os amonitas
poderiam fazer parte do povo de Israel até sua décima geração.

Nesse momento uma família de Belém que tentava escapar da seca que
assolava Israel peregrinou por essas terras, sendo o casal Elimeleque e Noemi
e seus dois filhos Malom e Quiliom. Essa família chegou às terras de Moabe e
contrariando toda a Lei se casaram com os moabitas. Sendo que Malom Casou
com Rute e seu irmão Quilom com Orfa.
No contexto da época que data do período de juízes, Israel estava
enfraquecido, e os moabitas avançaram suas fronteiras atravessando o rio
Jordão até Jericó. Nesse tempo Eglom era rei de Moabe e oprimiram Israel por
18 anos, até que o Juiz Eúde o derrotou. E durante uma de suas campanhas
de guerra o rei Saul derrotou o reino de Moabe.

O período de juízes em Israel enfrentava um ciclo de apostasia, que


culminou em uma desordem religiosa e consequentemente desordens sociais e
morais. No início do livro de Rute é retratado um período de rebeldia do povo
de Deus, porém um pouco diferente de Juízes que mostra uma luta armada,
Rute reflete um núcleo família.

Nesse contexto, o livro de Rute mostra que ainda havia alguns judeus
fiéis à aliança com Deus e que até mesmo uma moabita aceitou se manter fiel
a sua família e ao Deus dessa família. Essa família iria representar de forma
universal a ação de Deus para com o seu povo se permanece fiel às suas
promessas e não desviasse do caminho.

ANÁLISE DO CONTEXTO LINGUÍSTICO

A história de Rute começa de uma forma sombria, devido a fome uma


família sai de sua terra e se refugia em terras inimigas, a fome era um
instrumento que Deus utilizava para trazer julgamento ao seu povo. Essa
trágica situação só é revertida a partir do momento que há arrependimento do
povo de Deus e a graça Divina é manifestada.

Nesse contexto, a família de Elimeleque abandona seu lar em Belém


ameaçado pela fome e foge a Moabe. A cidade de Belém também era
conhecida como Efrata, por isso a expressão efrateus. Assim surge na história
uma descrição da família de Elimeleque. A cidade de Belém ficava a 8 km do
sul de Jerusalém e a viagem de Belém a Moabe foi de 80 km para o leste, lado
oposto do Mar Morto.

A descrição da família de Elimeleque é exposta no livro e seus


significados são perfeitos para a narrativa da história. Elimeleque : Deus é meu
Rei, Noemi: Bela, amigável, Malom: enfermidade e Quilom: completo. Levando
alguns estudiosos a crer que esse relato seria uma novela religiosa e não uma
narrativa histórica.

Para Noemi, a esposa de Elimeleque, o resultado da mudança e partida


para Moabe foi trágico. Primeiramente ela perde seus esposo e em seguida
seus dois filhos. Tornando sua permanência em Moabe maior do que
imaginara, ficando ali por 10 anos. E no fim continuava com grandes problemas
de subsistência e não tinha nenhuma esperança para o futuro.

O que muda toda história agora é quando ela ouve dizer que o Senhor
tinha visitado o seu povo em sua terra original e lhes dado pão. Neste capítulo
é recorrente o uso do verbo “ foi preparado para voltar”, que significa desculpe,
arrependimento. Sua nora Rute então se compromete a seguir Noemi, com
sentimento de obrigação de acompanhá-la e ser sua parente mais próxima.

Retornar, voltar, agora é a ideia chave do texto nos versículos 1 a 22,


parecia que esse retorno estava definido apenas para Noemi, mas Deus já
preparava algo mais amplo com a ida também de Rute para Belém. Aqui
vemos o retorno como sendo a vontade de Deus. Rute acompanhou Noemi em
toda trajetória, surpreendendo até mesmo a Noemi que conseguiu fazer com
que Orfa ficasse em Moabe mas Rute não conseguiu convencer.

Nesses versículos de 11 a 13 de Rute, ela pensa melhor sobre seu


regresso e de suas noras, e as faz pensar quão duro será a realidade da vida
dela e que não é uma boa ideia acompanhá-la. Ainda tinha a questão da lei do
levirato, mas Noemi se considera velha demais para uma nova família e ainda
que nenhum outro parente iria arriscar seus bens e ainda dar filhos que não
levariam seu nome.

Rute insiste com as noras e diz que a única coisa sensata a fazer é que
elas voltem a suas famílias em Moabe, nesse momento inconscientemente ela
está testando a fidelidade delas. Rute estava colocando os interesses das suas
noras acima da dela e se condenando a um futuro sombrio. Assim as
despedem e elas choram.
Após essa terceira conversa, Orfa decide voltar à sua terra mostrando
que o seu casamento com o filho de Rute era apenas por interesses próprios e
não uma dedicação à família e a Deus. Assim Orfa volta aos seus deuses
pagãos. Já Rute vai na contramão e se apega a Deus. E afirma que o povo
dela seria o seu povo e o seu Deus seria o Deus dela.

Uma expressão de clássica fé e lealdade ao verdadeiro deus e ao seu


povo, Rute assim encontra segurança em Deus e até faz uma promessa
dizendo que Deus poderia castigá-la se outra coisa a separasse de Noemi a
não ser a própria morte. O caráter de Rute mostra a habilidade de estabelecer
o reino de Deus na terra.

Rute não conseguia se separar de Noemi, era algo que vinha de dentro
dela da alma, visto que toda sua vida está em jogo nessa ida a Belém. Ela
estava destina a se torna uma integrante da história do povo judeu e mais forte
ainda fazer parte da genealogia de Jesus. E isso só foi capaz de acontecer
pele desejo ardente dela de permanecer com Noemi.

Até Noemi não pode mais insistir com Rute pois essa era a vontade de
Deus. Sendo vencido o primeiro obstáculo para o plano de Deus e outros ainda
chegaria. Essa tragédia estava cedendo espaço para algo novo, pela fé Rute
saltou barreiras que aos olhos humanos seriam grandes impedimentos para a
vontade de Deus se realizar.

Na chegada de Noemí a Israel todos se espantaram até porque se


passaram 10 anos, e toda cidade comentava como se fosse um enxame de
abelhas ou zumbidos. Elas tiveram que enfrentar os 80 km de caminhada e na
sua chegada muitos não as reconheciam devido ao esforço físico e ao
abatimento pela viagem.

Quando chegou na cidade, Noemi não aceitou ser chamada pelo nome e
pediu que fosse conhecida como Mara (amarga), devido as grandes tristezas
que ela havia passado principalmente com a morte de seu esposo e seus
filhos, ela estava psicologicamente exausta e amargurada. Nesse contexto, o
todo poderoso havia tirado de Noemi toda a suficiência.
Nessa época não existia na teologia dos hebreus um satanás para
acusar, então Deus era considerado o autor de todas as ações naquele tempo.
Nesse sentido ela saiu agradável e retornou amarga pela vontade de Deus, ela
foi a Moabe alegre por bênçãos mas Deus a fez voltar pobre e humilhada.

O tempo da volta de Noemi era da colheita da cevada que será um


detalhe bastante importante para o prosseguimento do capítulo. Essa colheita
começa no segundo dia da festa dos pães asmos, no dia 16 do mês de nisã,
que seria nos meses de março e abril, quando todos os filhos de Israel
ofereciam os primeiros molhos ao Senhor.

Nesse versículo 22 mostra que Rute ficou respigando os grãos de


cevada nos campos de Boaz, e esse é o palco para dar continuidade a trama.
Nessa trama agora entram novos personagens que trarão suspense a história
e como será seu desfecho.

AULA 18 : ANÁLISE DO CONTEXTO LITERÁRIO

A história de Rute tem tudo a ver com os eventos da época dos juízes,
sendo esse livro seu antecessor, sendo considerado por tradutores gregos um
apêndice para o livro de juízes. Na posição atual conhecida do livro de Rute,
entre juízes que o suplementa e Samuel que o introduz, mas tendo um
conteúdo peculiar é bastante contrastante um com o outro.

O contexto é um evidente livro do período de quando as tribos se haviam


radicado em Canaã e um estilo literário bastante peculiar as histórias de
Samuel. Na visão religiosa mostra o controle e cuidado de Deus com todos,
narrado nesse drama bem elaborado.

O livro mostra o amor de Deus universal, Rute uma moabita foi um


exemplo vivo da verdade que o reino de Deus não depende de carne e sangue,
pois ela não poderia fazer parte do povo de Deus, mas o reino de Deus é
obediência pela fé, ela aceitou de todo coração o Deus de Israel e dela veio a
linhagem de Cristo.
Em Rute há uma ligação forte com algumas leis Israelitas uma delas
Levítico 23:22 que trata da colheita onde é orientado a não segardes os cantos
do campo e nem colher as espigas caídas, que serviria ao pobre e estrangeiro
fato esse descrito no momento que Rute vai a plantação de Boaz e começa a
recolher milhos e Boaz autoriza que ela pegue.

Temos ainda a lei do Levirato em Deuteronômio 25: 5-10, que diz que se
um irmão morrer sem deixar filhos os irmão vivos teriam que se casar e dar
filhos em nome do irmão morto. Assim, Boaz resgata a terra de Elimeleque e
como isso teria a obrigação de ser o resgatador também de toda a família,
casando assim com Rute.
RUTE CAPÍTULO 1
V. 1 -5: Uma família Belemita
peregrinando.

V. 6-14: Uma separação marcada


pelo altruísmo.

V. 15-18: Uma devoção extrema.

V. 19 -21: Duras reações ao


sofrimento de Noemi.

V. 22: um novo recomeço.

CAPÍTULO 1: 1-5 – UMA FAMÍLIA BELEMITA PEREGRINANDO

1 E sucedeu que, nos dias em que os juízes julgavam, houve uma fome na
terra; pelo que um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar nos
campos de Moabe, ele, e sua mulher, e seus dois filhos. 2E era o nome
deste homem Elimeleque, e o nome de sua mulher, Noemi, e os nomes de
seus dois filhos, Malom e Quiliom, efrateus, de Belém de Judá; e vieram
aos campos de Moabe e ficaram ali. 3E morreu Elimeleque, marido de
Noemi; e ficou ela com os seus dois filhos, 4os quais tomaram para si
mulheres moabitas; e era o nome de uma Orfa, e o nome da outra, Rute; e
ficaram ali quase dez anos. 5E morreram também ambos, Malom e
Quiliom, ficando assim esta mulher desamparada dos seus dois filhos e
de seu marido.

Os acontecimentos são datados dos dias que os juízes governavam, que é


possivelmente no final da época dos juízes e início da monarquia em Israel. É
um período bem conturbado onde cada um fazia aquilo que parecia bom aos
seus próprios olhos conforme juízes 21:25. Eram tempos de guerra e conflitos
internos e com uma coincidente seca sobre a terra de Israel, criaram um
cenário de fome e devastação (cf. II Samuel 21:1).
Surge no contexto bíblico uma família que morava em Belém, também
conhecida como Efrata, e por isso a família de Elimeleque é descrita como
efrateus. Com grandes problemas sociais e internos em Belém, com a seca e
fome batendo à porta, essa família decide deixar Belém e partir para Moabe
que ficava a 80 km de distância. Atravessando o rio Jordão e indo para o leste
chegaram a Moabe, província próxima ao mar Morto e ao rio Arnon.
Elimeleque e sua família partiram de mudança com intuito de retornar
brevemente a Belém, assim que a seca terminasse. Assim como seu nome
Elimeleque que significa Deus é Rei, sugere que tinha um espírito reverente e
com grande base religiosa familiar que havia aprendido de seus antepassados.
Com a chegada a Moabe, logo aconteceu a primeira tristeza profunda que
esse enredo nos traz, Elimeleque morreu deixando sua esposa viúva e filhos
órfãos. Noemi mulher de Elimeleque teve dois filhos Malom que significa
efermo e Quilom que significa definhando, nos leva a acreditar que já nasceram
com algum problema de saúde. Seus filhos então casaram com moabitas
dando um raro momento de alegria a Noemi. Era conhecido por toda a família a
lei de Moisés que proibia o casamento com moabitas conforme Deuteronômio
23:3.
Durante um período de 10 anos, Noemi só viveu tristeza e perdas após a
morte de seu esposo, agora o relato é que seus dois filhos também vieram a
falecer sem deixar filhos. Ficando assim Noemi desamparada juntamente com
suas noras Orfa e Rute.

CAPÍTULO 1: 6-14 – UMA SEPARAÇÃO MARCADA PELO ALTRUÍSMO.

6Então, se levantou ela com as suas noras e voltou dos campos de


Moabe, porquanto, na terra de Moabe, ouviu que o SENHOR tinha visitado o
seu povo, dando-lhe pão. 7Pelo que saiu do lugar onde estivera, e as suas
duas noras, com ela. E, indo elas caminhando, para voltarem para a terra
de Judá, 8disse Noemi às suas duas noras: Ide, voltai cada uma à
casa de sua mãe; e o SENHOR use convosco de benevolência, como vós
usastes com os falecidos e comigo. 9O SENHOR vos dê que acheis
descanso cada uma em casa de seu marido. E, beijando-as ela,
levantaram a sua voz, e choraram, 10e disseram-lhe: Certamente,
voltaremos contigo ao teu povo. 11Porém Noemi disse: Tornai, minhas
filhas, por que iríeis comigo? Tenho eu ainda no meu ventre mais filhos,
para que vos fossem por maridos? 12Tornai, filhas minhas,
ide-vos embora, que já mui velha sou para ter marido; ainda quando eu
dissesse: Tenho esperança, ou ainda que esta noite tivesse marido, e
ainda tivesse filhos, 13esperá-los-íeis até que viessem a ser grandes?
Deter-vos-íeis por eles, sem tomardes marido? Não, filhas minhas, que
mais amargo é a mim do que a vós mesmas; porquanto a
mão do SENHOR se descarregou contra mim. 14Então, levantaram a sua
voz e tornaram a chorar; e Orfa beijou a sua sogra; porém Rute se apegou
a ela.

Estando Noemi e suas noras nos campos e voltando à cidade, ela ouviu uma
notícia que a impactou e chamou muito atenção. Noemi ouviu que o Senhor
havia visitado o seu povo pela sua infinita misericórdia. Essa notícia de fartura
em Belém trouxe uma nova esperança a Noemi, que sabia que o fim dessa
seca já era a providência clara de Deus a favor de seu povo. Noemi sabia que
a paz e abundante chuvas que produziam colheitas abundantes era uma
dádiva de Deus.
De prontidão sua noras Orfa e Rute partiram com Noemi para acompanhá-la
em seu retorno a sua terra, Belém. Noemi com um coração de gratidão apelou
que suas noras permanecessem em Moabe junto às suas famílias, pois ela
sabia que não seriam bem recebidas em sua terra por serem moabitas e Noemi
desejava que elas tivessem um futuro sem sofrimento.
Mesmo diante da persistência de suas noras Noemi, sabia que a cultura que
elas iriam encontrar em Israel não teria espaço para que elas se realizassem
ou fossem formar novas famílias e serem felizes. Mas o retorno delas a suas
casas de origens nada mais seria uma meio para que Noemi não visse o
sofrimento de suas noras.
Conforme cantares 3:4 era normal lares terem esposas múltiplas. Assim
como a lei do levirato em Israel esse costume era generalizado em todo o
oriente antigo inclusive em Moabe. E ainda havia o fato de que o pai de Rute
estava vivo conforme Rute 2:11, supondo que o pai de Orfa poderia também
estar vivo nessa época recebendo as de volta.
O desejo de Noemi era que suas noras tivessem marido e casa além de um
descanso e pedia a Deus que se relacionasse com elas e demonstrasse
benevolência para com elas, assim como elas tinham sido benevolentes e fiéis
a ela. E seguindo a Lei do Levirato a melhor saída para sua noras era voltar a
suas casas e contrair segunda núpcias.
Esse argumento era muito forte para Noemi convencer suas noras, pois era
a única saída para elas não ficarem vagando sem esperança juntamente com
Noemi. O futuro de Noemi era de sofrimento e ela não queria isso para suas
noras, era uma viúva já de idade que dificilmente iria conseguir um novo
casamento e mesmo que casasse seria impossível gerar filhos, e se gerasse
filhos as suas noras deveriam aguardar até esses filhos se tornarem adultos e
casarem com elas seria algo irreal.
A visão de Noemi era que Deus havia punido a vida dela, visão comum entre
os Israelitas dessa época. Ela achava que Deus pesava a mão Dele sobre ela,
visão distorcida de seu povo. Além do mais ela entendia que todas as dores e
aflições que estavam sofrendo, pela morte de seus parentes e a saída da sua
terra seria um castigo por ter pecado.
Noemi usava de um apelo bem persuasivo, usando o verbo voltai, que em
contrapartida produziu respostas bem contrárias. Em certo ponto Orfa já
convencida beija sua sogra e decide voltar. Mostrando que ainda não estava
totalmente firme em sua fé e mudança de vida. Orfa retornando ela abriu mão
de continuar seguindo um único Deus e voltou às origens e aos deuses de seu
povo.
Em contraposto Rute se apegou a Noemi e não conseguiu se separar. Rute
creu pela Fé no Deus de Noemi, e com coragem e devoção mostrou amor por
Noemi. Não é difícil entender porque Deus investiu em Rute após
demonstração de grande caráter e convicção. Rute se apegou a Noemi, mas
na realidade a alma de Rute estava apegada a Deus.

CAPÍTULO 1: 15-18 – UMA DEVOÇÃO EXTREMA.

15Pelo que disse: Eis que voltou tua cunhada ao seu povo e aos seus
deuses; volta tu também após a tua cunhada. 16Disse, porém, Rute: Não
me instes para que te deixe e me afaste de ti; porque, aonde quer que tu
fores, irei eu e, onde quer que pousares à noite, ali pousarei eu; o teu
povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. 17Onde quer que morreres,
morrerei eu e ali serei sepultada; me faça assim o SENHOR e outro tanto, se
outra coisa que não seja a morte me separar de ti. 18Vendo ela, pois, que
de todo estava resolvida para ir com ela, deixou de lhe falar nisso.

Noemi tentou convencer a Rute que retornasse ao seu povo e seus deuses,
assim como Orfa, revelando a forte presença de deuses que estavam inseridos
naquela região. Mas Rute não deixou ser convencida com forte argumento ela
resiste às investidas de Noemi. Rute ainda usa um termo pouco usual entre os
estrangeiros ao se dirigir a Deus, ela usa o nome Hebraico Yahweh utilizado
pelos Judeus e povo de Deus e não Elohim que era como os estrangeiros se
referiam a Deus.
Essa foi a prova mais convincente que Rute deu a Noemi, usando o nome
Hebraico de Deus ela refletiu autenticidade, falando que o Deus de Noemi será
o Deus dela. Nesse momento Rute mostra que confia em Deus e que seria
companheira de uma vida de Noemi, com um juramento forte e impactante.
Fica evidente que a graça de Deus alcançaria, todas as raças, línguas e povos,
pois somente quem tem a certeza e confiança em Deus poderia usar de grande
bondade e devoção, revelando um grande projeto de Deus.

CAPITULO 1: 19 -21- DURAS REAÇÕES AO SOFRIMENTO DE NOÊMI.

19Assim, pois, foram-se ambas, até que chegaram a Belém; e sucedeu


que, entrando elas em Belém, toda a cidade se comoveu por causa
delas, e diziam: Não é esta Noemi? 20Porém ela lhes dizia: Não me
chameis Noemi; chamai-me Mara, porque grande amargura me tem dado
o Todo-Poderoso. 21Cheia parti, porém vazia o SENHOR me fez tornar; por
que, pois, me chamareis Noemi? Pois o SENHOR testifica contra mim, e o
Todo-Poderoso me tem afligido tanto.

A chegada de Rute e Noemi a Belém foi surpreendente e toda cidade se


comoveu por elas e por todos os acontecimentos que haviam sofrido. Toda a
cidade ficou em alvoroço e os comentários e falatórios soavam como zumbidos
( tal som denotado pelo termo comoveu) de condenação e comentários
pejorativos.
A pergunta que mais se fazia É esta Noemi? Mostra total desrespeito a toda
a trajetória e acontecimentos da família de Noemi, levando a um pré conceito e
a uma acusação velada pelos atos praticados e situação atual. Muitos ainda
pensavam mal e até murmuravam, não é essa Noemi que abandonou sua terra
e seu Deus, para ir para outra terra e outros deuses.
Noemi não tinha se revoltado contra seu povo e nem contra seu Deus,
mesmo com as afrontas e acusações não turbou seu espírito e nem irou. Ela
também tinha a mesma cultura daquele povo e também enxergava todos os
acontecimentos em sua vida como um castigo divino por ter abandonado sua
terra e seu Deus. Assim, reconhecendo sua mudança e sua situação atual,
pediu para não mais ser chamada de Noemi( agradável) mas sim chamar de
Mara(amarga), reconhecendo que voltou vazia de sua jornada, perdendo tudo
pelo caminho.
Essas circunstâncias atuais que Noemi vivia era uma punição de Deus, ela
voltava totalmente vazia, sem marido, sem filhos, sem os bens que levará,
restando apenas suas vestes. Ela reconhece que a mão poderosa de Deus a
trouxe de volta mesmo diante de tanto sofrimento e perdas ela reconhece o
grande agir de Deus. Noemi tinha uma visão que tudo que ela enfrentou era a
condenação de uma pecadora e ao mesmo tempo uma redenção ao retornar a
sua terra.

CAPÍTULO 1:22 UM NOVO RECOMEÇO.

22Assim, Noemi voltou, e com ela, Rute, a moabita, sua nora, que voltava
dos campos de Moabe; e chegaram a Belém no princípio da sega das
cevadas.

Com a volta de Noemi a Belém, ela agora não é mais estrangeira em terra
afastada, mas agora Rute sua nora é a estrangeira e moabita. A sociedade
oriental e principalmente a Israelita, era uma sociedade sem instituições que
poderiam amenizar os problemas de pobreza ali vividos, ainda mais por uma
família de viúvas.
Sua chegada a Belém não poderia ter sido em melhor época, já enxergando
o providenciar de Deus, chegam no início da sega, na estação das colheitas e
isso simboliza o fim da fome e consequentemente uma subsistência ao seu
povo. Esse período no calendário atual se dava em meados de abril para a
colheita da cevada e maio para a colheita do trigo.
Para essa família de viúvas a época de colheitas desses cereais proporciona
uma forma de sustento e recursos básicos para buscar um novo recomeço.
Essa exatidão do tempo de sua chegada mostraria o controle providencial de
Deus em socorrer essa casa. Todos os acontecimentos que iriam vir a partir
desse momento seriam influenciados por essa tomada de decisão e todo o
futuro delas estaria traçado naquele novo começo durante as colheitas.
CONCLUSÃO

Conforme apresentado este trabalho teve como finalidade uma análise


do livro de Rute bem como sua contextualização e aplicação na história Bíblica.
Foi apresentado argumentos linguísticos e textuais que mostram como foi a
formação da história e como essa narrativa se tornou importante para o povo
de Israel.
Percebemos ainda com esse estudo que mesmo que tudo estivesse
contrário ao que se imaginava, sempre Deus entra com seu poder de Agir e
surpreender. Diante de tantas derrotas e perdas, Noemi viu que Deus
providenciou tudo em sua vida, até sua volta a Belém ela reconheceu que era
um benefício de Deus a seu favor.
Com isso podemos concluir que o livro de Rute é muito rico em
informações para quem quer estudar a palavra de Deus, sua leitura e análise é
obrigatório para qualquer estudante, abrindo a mente para conhecer a
realidade daquela época. Estudar o livro de Rute é mergulhar no universo da
época, é como estar lá no momento que acontece os fatos.
BIBLIOGRAFIA

Henry, Matthew, Bíblia de Estudo, Rio de Janeiro, 2014.

Champlin, Russell Norman, 1933-O Antigo Testamento interpretado : versículo


por versículo : Deuteronômio, Josué, Juizes, Rute, I Samuel, II Samuel, I Reis,
volume 2 / por Russell Norman Champlin. — 2. ed. — São Paulo : Hagnos,
2001.

Allen, Clifton J., ed. ger. ComentárioBíblicoBroadman/Editado por Clifton J.


Alien. Tradução de Arthur Anthony Boorne. 2. ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1994.
v. 2. Titulo Original: The Broadman Bible Commentary 1. Bíblia — Velho
Testamento

Carson, D.A..Comentário bíblico : Vida Nova, São Paulo : Vida Nova, 2009.
Outros editores:J. H. Kennedy, R. T. France, J. A. Motyer, G. J.Wenham Título
original: The New Bible Commentary. Vários tradutores.

Waltke, Bruce Teologia do Antigo Testamento: uma abordagem exegética,


canônica e temática / Bruce Waltke; tradução de Mareio Loureiro Redondo. ‫־‬
Sáo Paulo: Vida Nova, 2015. 1232 p.

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