R$14,00

DOSSIÊ
P.42 ESTAMOS DOENTES
DE TANTO COMER BEM? ALERGIAS EDIÇÃO
312
30%

C A RG A TRIBUTÁ RI A FEDER A L A PROX . 4,65%

P. 50 OS REFLEXOS DO CORTE
DE RECURSOS DA CIÊNCIA

DOS BRASILEIROS

P. 66 A IDEOLOGIA POR TRÁS

DA COREIA DO NORTE
SOFREM COM O PROBLEMA
P. 21

A CIÊNCIA AJUDA VOCÊ A MUDAR O MUNDO ENTREVISTA: ARTUR AVILA QUER REVERTER CULTURA DA AVERSÃO À MATEMÁTICA P. 62 JUL. 17
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 COMPOSIÇÃO
EDIÇÃO DE JULHO DE 2017

ANTIMATÉRIA MATÉRIAS

P.14 COLUNA
CONEXÕES CÓSMICAS

P.07 TESTES PSICOLÓGICOS P.16 AS MENTIRAS CONTADAS P.30 VOCÊ TEM UM

EM PRESOS SÃO VÁLIDOS? NA POLÍTICA MINUTINHO PARA OUVIR
A PALAVRA DA CIÊNCIA?

P.17 PROTEÇÃO PARA ANIMAIS

TESTADOS EM LABORATÓRIO P.42 SAUDÁVEIS
DEMAIS?

P.18 TECHTUDO: REVIEW DE UM

ROTEADOR PODEROSO P.50 DE VOLTA PARA O...
PASSADO

P.19 SEIS DICAS PARA ESCOLHER

O MELHOR ANTIVÍRUS P.56 ENSAIO AMAZÔNIA
ABERTA PARA NEGÓCIOS?

P.62 ENTREVISTA
ARTUR AVILA
P.10 TRANSFORME A CIDADE
COM SEU CELULAR
P.66 RAÍZES DA IDEOLOGIA
DA COREIA DO NORTE
P.11 AQUECIMENTO GLOBAL VOCÊ SABIA?
AMEAÇA BANCO DE SEMENTES Como acon-
teceu com
P.71 COLUNA
a Gillette, o
Teflon, nome
TUBO DE ENSAIOS
P.12 VOCÊ ACREDITA EM P.20 ELEMENTAR que pertence
EXTRATERRESTRES? TEFLON à empresa
DuPont, acabou P.72 PANORÂMICA
virando sinôni-
P.13 A CULTURA MAKER SALVARÁ P.21 DOSSIÊ mo do produto
A EXPLORAÇÃO ESPACIAL ALERGIAS P.74 ULTIMATO
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no Brasil e no mundo

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 PRIMEI-
W W W.G ALILEU.GLOBO.COM
QUEM FEZ A CAPA

FOTO Tomás Arthuzzi

RAMENTE
#312 07. 2017 ASSISTÊNCIA Silas Aguiar
ILUSTRAÇÃO Sérgio Bergocce
PRODUÇÃO Beatriz Liranço
POR CRISTINE KIST MODELO Nayana Rodriguez e João Pedro Brito
MAQUIAGEM Ananda Resende

AGRADECIMENTOS
Adidas (11) 5546-3700
Center Fertin (11) 3376-8000
Riachuelo (11) 4003-0515
Melissa (11) 2755-1808

COLABORADORES DO MÊS

Silvia
Lisboa
JORNALISTA

ONDE NASCEU E ONDE MORA

mundo todo, mas a GALILEU defi- Bagé (RS) e Porto Alegre (RS)
nitivamente não é uma delas. Nós até HISTÓRICO
falamos sobre essas coisas também, É sócia da Agência Fronteira e douto-
mas o que realmente fazemos bem é randa no Programa de Pós-Gradua-
ção em Comunicação da UFRGS.
tratar da relação entre a ciência e o
que acontece ao seu redor. Acredita- O QUE FEZ NESTA EDIÇÃO
Estamos ficando doentes
mos mesmo que a ciência pode aju- de tanto comer bem? (p. 42)
dar você a mudar o mundo — tanto
que estampamos essa frase em todas
as nossas capas já há alguns meses.
Como disse nosso colunista Da-
CIÊNCIA
niel Barros em seu texto deste mês
Raul
PA R A (não deixe de ler a página 71), “educar Aguiar
cientificamente não é apenas divul-
TODOS ILUSTRADOR
gar resultados de pesquisas, mas
OS GOSTOS ensinar as bases do método experi- ONDE NASCEU E ONDE MORA
mental” para que ele possa ser apli- Recife (PE) e São Paulo (SP)

cado no dia a dia por qualquer um ! HISTÓRICO

Formado em Design, é ilustrador
— inclusive você, que lê esta carta
TRABALHO freelancer e colabora com inúmeras
agora. É por isso que com frequên- revistas e publicações do Brasil
EM EQUIPE
cia buscamos elementos do método Quase dez e de outros países.
olta e meia alguém científico para tratar de temas atuais pessoas O QUE FEZ NESTA EDIÇÃO
V posta nas nossas e mesmo polêmicos, o que por vezes estiveram Antimatéria (p. 7)
envolvidas
redes sociais que é confundido com um “afastamento” na produção
“preferia quando a da ciência propriamente dita — na da capa deste
GALILEU falava verdade, é justamente o contrário: mês (foto
à esquerda,
de ciência”. Já temos até uma res- o que queremos é trazer a ciência acima). E,
posta padrão: enviamos vários links para mais perto da nossa realidade. como um dos
modelos não Sérgio
com matérias de física, química ou Isso dito, é óbvio que a ciência Bergocce
apareceu, nos-
biologia feitas naquele mesmo dia. “de raiz” é absolutamente fascinan- so designer ILUSTRADOR
Mas vou aproveitar este espaço — e te e sempre terá espaço tanto na João Pedro
o fato de a nossa reportagem des- revista quanto no nosso site, e a Brito não se
fez de rogado ONDE NASCEU E ONDE MORA
ta edição tratar quase que apenas reportagem de capa deste mês é e assumiu o Guarulhos (SP) e São Paulo (SP)
de ciências exatas — para dar uma prova disso. Espero que vocês gos- lugar dele. HISTÓRICO
resposta um pouco mais elaborada. tem de ler tanto quanto nós gosta- É o João que Trabalhou em jornais e revistas até
está de costas 2012, desde então é freelancer e seus
Existem algumas boas revistas mos de fazer. Até o mês que vem! na foto de projetos são focados principalmente
dedicadas exclusivamente ao uni- capa, ao lado em lettering e typedesign.
verso acadêmico e às últimas des- da modelo
Cristine Kist — editora-chefe Nayana O QUE FEZ NESTA EDIÇÃO
cobertas feitas em laboratórios do ckist@edglobo.com.br Rodriguez. Capa
 Edição 311

CONSELHO
DIRETOR GERAL: Frederic Zoghaib Kachar
DIRETOR DE AUDIÊNCIA: Luciano Touguinha de Castro
DIRETORA DE MERCADO ANUNCIANTE: Virginia Any
Junho de 2017

POR NATHAN FERNANDES

DIRETORA DE GRUPO CASA E COMIDA,

CASA E JARDIM, CRESCER E GALILEU: Paula Perim

TODA FORMA
REDAÇÃO
EDITORA-CHEFE: Cristine Kist
EDITORA DE ARTE: Fernanda Didini
EDITORES: Giuliana de Toledo, Nathan Fernandes e Thiago Tanji
REPÓRTERES: André Jorge de Oliveira e Isabela Moreira
D E AVA L I A Ç Ã O
DESIGNERS: Felipe Eugênio (Feu) e João Pedro Brito
ESTAGIÁRIOS: Giuliana Viggiano e Júlio Viana (texto); Fernanda Ferrari (arte)
ASSISTENTE DE REDAÇÃO: Wania Pace

COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Fernando Arbex, João Gabriel Balbi,

Jotapê Jorge e Melissa Cruz (texto); Ananda Resende, Beatriz Liranço,
Catarina Bessel, Dulla, Gabriela Namie (Estúdio Barca), Guilherme Henrique,
Raul Aguiar, Rebeca Catarina, Sergio Bergocce, Tamy Rente,
Tomás Arthuzzi e Zansky (arte); Monique Murad Velloso (revisão) O QUE ELES ACHARAM...
E-MAIL DA REDAÇÃO: galileu@edglobo.com.br

DA REPORTAGEM DO DOSSIÊ
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
DIRETOR DE TECNOLOGIA: Rodrigo Gosling DE CAPA STAR WARS
ESTRATÉGIA DIGITAL
DESENVOLVEDORES: Fabio Marciano, Leandro Paixão, Marcelo Amendola,
Murilo Amendola, Thiago Previero e William Antunes.

ESTRATÉGIA DE CONTEÚDO DIGITAL

GERENTE: Silvia Balieiro

MERCADO ANUNCIANTE 33,3%

FINANCEIRO, IMOBILIÁRIO, TI, COMÉRCIO E VAREJO — Diretor de Negócios Multiplatafor- Com certeza
ma: Emiliano Morad Hansenn; Gerente de Negócios Multiplataforma: Ciro Horta Hashimoto;
a Força esteve
Executivos Multiplataforma: Christian Lopes Hamburg, Cristiane de Barros Paggi Succi, Milton
Luiz Abrantes e Roberto Loz Junior. MODA, BELEZA E HIGIENE PESSOAL — Executivos Mul- com vocês
tiplataforma: Eliana Lima Fagundes, Giovanna Sellan Perez, Selma Teixeira da Costa e Soraya
Mazerino Sobral. CASA, CONSTRUÇÃO, ALIMENTOS E BEBIDAS, HIGIENE DOMÉSTICA E
SAÚDE — Diretora de Negócios Multiplataforma: Luciana Menezes; Executivos Multiplataforma: 50%
Fatima Ottaviani, Paula Santos e Taly Czeresnia Wakrat. MOBILIDADE, SERVIÇOS PÚBLICOS E Não gosto de 16,7%
SOCIAIS, AGRO E INDÚSTRIA — Diretor de Negócios Multiplataforma: Renato Augusto Cassis 100% Star Wars, mas Adoro Star Wars,
Siniscalco; Executivos Multiplataforma: Diego Fabiano, Cristiane Soares Nogueira, Jessica de Um amor a reportagem mas a reportagem ficou
Carvalho Dias, João Carlos Meyer e Priscila Ferreira da Silva. EDUCAÇÃO, CULTURA, LAZER,
de matéria conquistou a galáxia meio Jar Jar Binks
ESPORTE, TURISMO, MÍDIA, TELECOM E OUTROS — Diretora de Negócios Multiplataforma:
Sandra Regina de Melo Pepe; Executivos de Negócios Multiplataforma: Ana Silvia Costa, Do-
minique Petroni de Freitas e Lilian de Marche Noffs. ESCRITÓRIOS REGIONAIS — Gerente
Multiplataforma: Larissa Ortiz; Executiva de Negócios Multiplataforma: Babila Garcia Chagas
Arantes. UNIDADE DE NEGÓCIOS — RIO DE JANEIRO — Gerente de Negócios Multiplataforma:
Rogerio Pereira Ponce de Leon; Executivos Multiplataforma: Daniela Nunes Lopes Chahim,
Juliane Ribeiro Silva, Maria Cristina Machado e Pedro Paulo Rios Vieira dos Santos. UNIDADE
MÉDIAS DAS MATÉRIAS
DE NEGÓCIOS — BRASÍLIA — Gerente Multiplataforma: Barbara Costa Freitas Silva; Executivos
Multiplataforma: Camila Amaral da Silva e Jorge Bicalho Felix Junior. GERENTE DE EVENTOS:
Daniela Valente. OPEC OFFLINE: Bruno Granja, Carlos Roberto de Sá e Douglas Costa. OPEC
ONLINE: Rodrigo Santana Oliveira, Danilo Panzarini, Higor Daniel Chabes e Rodrigo Pecoschi.
10 8,9 9,7 10 9,7
G.LAB — Diretor de Desenvolvimento Comercial e Digital: Tiago Joaquim Afonso; Equipe: Caio
Henrique Caprioli, Guilherme Iegawa Sugio, Vera Ligia Rangel Cavalieri, Lucas Fernandes, Luiz O que amar Dossiê Ignorância Com licença, Jihad
Claudio dos Santos Faria e Rodrigo Girodo Andrade. quer dizer Star Wars é benção? por favor à brasileira
AUDIÊNCIA
Diretor de Marketing Consumidor: Cristiano Augusto Soares Santos
Diretor de Planejamento e Desenvolvimento Comercial: Ednei Zampese
Gerente de Criação: Valter Bicudo Silva Neto
Coordenadores de Marketing: Eduardo Roccato Almeida e Patricia Aparecida Fachetti

Galileu é uma publicação da EDITORA GLOBO S.A. — Av. Nove de Julho, 5.229, 8º andar,
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Dinap — Distribuidora Nacional de Publicações. Impressão: Plural Indústria Gráfica Ltda. — Av. Marcos
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3736-7205 l 3767-7557 a repercussão esse havia ocorrido da edição de junho, era do
VENDAS CORPORATIVAS RJ: (21) 3380-5930 l 3380-5923 LICENCIAMENTO entre os familiares aqui no Brasil.
E PARCERIAS BSB: (61) 3316-9584 DE CONTEÚDO Galaxy S7, e não do Galaxy
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Gustavo Dieamant
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Verificação, adotando um nível de confiança razoável, declara que o Inventário
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São Paulo, SP, Paracatu, MG, como foi publicado na
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o período de referência para o escopo definido; foi elaborado em conformidade com a sobre a reportagem sobre a reportagem seção Elementar (p. 20).
NBR ISO 14064-1:2007 e as Especificações do Programa Brasileiro GHG Protocol.
de capa Jihad à brasileira
 07.2017 P. 07

ANTI-
Presos
contestam
exames
realizados para
a progressão
da pena

MATÉ-
RIA
FATOS • FEITOS • NÚMEROS • NOTAS • NOTÁVEIS

Fig. - (RA)

EDIÇÃO ILUSTRADORES CONVIDADOS

07.2017
THIAGO TANJI
1 RAUL AGUIAR (RA)
DESIGN FEU E
2 GABRIELA NAMIE (GN)
FERNANDA FERRARI
PROGRESSOLIMIT
P. 08 07.2017
“FIZ TROCENTOS EXAMES
CRIMINOLÓGICOS E FUI
APROVADO SÓ UMA VEZ.”
Luiz Alberto Mendes, preso
por mais de 30 anos por homi-
cídio e outros crimes, explica
como as entrevistas funciona-
vam. “Cada um dos técnicos
(de psicologia, psiquiatria e
Exames
serviço social) falava conos-
co separadamente, por cerca
psicológicos de 15 minutos, e emitia um pa-
feitos para
recer. Nunca tive acesso aos
laudos”, afirma Mendes, que
conceder atualmente é escritor.
progressão
Ele acredita que os castigos
causados por discussões com
de pena a guardas e diretores do pre-
presos não
sídio foram um dos motivos
para que fosse reprovado nos
têm base exames criminológicos, utiliza-
científica,
dos pelo Estado para conceder
a progressão de cumprimento
afirmam
de pena, em que os presos vol-
especialistas
tam a conviver em sociedade
de maneira gradativa.
O problema é que, além dos
POR FERNANDO fatores subjetivos da avalia-
ARBEX ção, a superlotação do sis-
tema carcerário não permite
que os exames criminológicos
sejam realizados com maior
atenção e cuidado. Professor
de Direito Penal da PUC e
defensor público, Gustavo
Junqueira questiona a falta
de embasamento científico do
exame, criado para “prever”
se o condenado voltará a pra-
ticar um crime quando estiver
fora da cadeia. Mesmo com
mudanças na lei, a avaliação
continua sendo ordenada por
juízes. “Hoje, o exame crimi-
nológico é abusivamente exi-
gido e demora demais. Já vi
casos em que a análise da pro-
gressão foi atrasada em um
ano”, afirma o professor.
DE VOLTA PARA O FUTURO SEM VAGAS
Desde dezembro de 2003, a
Para resolver a
Lei de Execução Penal não superlotação,
Brasil deveria
exige a aplicação de exame
aumentar em
criminológico para senten- 50% o número
ciados progredirem de regi- de vagas do sis-
tema prisional
me. Em tese, o bom compor-
tamento e o cumprimento de
TADO
07.2017 P. 09

abarrotadas as já superlota- sobre a suposição de que um

NO AGUARDO um sexto da pena deveriam
Distribuição de vagas por ser suficientes para que o
tipo de regime prisional condenado passasse a outros
tipos de regime previstos na
32% Prisão provisória
lei, como o semiaberto.
46% Regime fechado Acontece que, desde 2010,
o Superior Tribunal de Justiça
18% Regime semiaberto
(STJ) determinou que o pedi-
1% Regime aberto do de exame criminológico po-
deria ser solicitado pelos juízes
1% Internação das Varas de Execuções Penais
para a concessão de progres-
*Os dados divulgados não somavam 100%
são de pena — uma prática que
ocorre com frequência.
CRIME E CASTIGO O defensor público Patrick
Crescimento da população carcerária Cacicedo considera antiético
brasileira saltou nos últimos anos que um perito ateste a possi-
bilidade de um preso reinci-
622.202
das cadeias brasileiras: de
acordo com levantamento do
Departamento Penitenciário
Nacional (Depen), 622 mil
pessoas ocupavam as celas
do país em 2014, o que re-
presenta a quarta maior po-
pulação carcerária do mun-
do — em um período de 14
anos, o aumento do núme-
ro de presos foi de 167,32%.
“É evidente que nós não te-
mos uma quantidade sufi-
ciente de profissionais para
proporcionar a prestação do
exame criminológico”, res-
salta Gustavo Junqueira.
AVALIAÇÃO ÉTICA?
Segundo o defensor público
Patrick Cacicedo, a exigência
dos exames criminológicos é
um mecanismo de violação de
direitos. Ele diz que a condu-
ção das avaliações é feita com
base em juízos morais, como
nas ocasiões em que se per-
gunta se o sentenciado se ar-
repende do crime pelo qual
foi preso. “Como se a pessoa
fosse obrigada a se arrepen-
preso poderia voltar a prati-
car condutas criminosas, o
que gera uma falha técnica
do ponto de vista da lei.
Para Augusto de Sá, pro-
fessor da Faculdade de Di-
reito da USP, outro proble-
ma relacionado aos laudos
psicológicos acontece quan-
do se afirma que o avalia-
do é uma pessoa “perigosa”.
“Se o condenado não foi
considerado inimputável
nem semi-imputável no jul-
gamento, não há por que se
falar em periculosidade no
exame criminológico dele”,
destaca o professor, expli-
cando que os criminosos
inimputáveis e semi-imputá-
veis são aqueles que foram
examinados e considerados
incapazes de discernir o cer-
to do errado e, portanto, de-
veriam ser direcionados a re-
gimes diferenciados.
O mesmo questionamento
foi feito por todos os especia-
listas consultados: por que,
afinal, os exames criminoló-
gicos não são realizados logo

dir em práticas criminosas. “É der... E mais: há pessoas que quando os presos ingres-
548.003

um exercício de futurologia. foram condenadas e que não sam no regime carcerário?

496.251
232.755 prisioneiros

451.429

Há profissionais com condu- praticaram o crime.” “Se o exame fosse realizado

401.236

tas corretas, mas muitos fazem Alvino Augusto de Sá, que no início, seriam oferecidos
336.358

juízos antiéticos e sem cienti- foi psicólogo da Secretaria elementos para que a equipe
239.345

ficidade, em entrevistas de du- de Administração Penitenci- técnica decidisse como deve-

rações curtíssimas, de dois a ária do Estado de São Paulo ria ser a execução penal para
cinco minutos”, afirma. (SAP) de 1972 a 2005, afirma aquela pessoa”, diz Augusto
00

04

08
06
02

Para os especialistas, es- que, apesar de não considerar de Sá. “Mas o que seria feito
10

14
12

sas avaliações, além de in- os exames um problema éti- em benefício do preso sim-
Fonte: Depen justas, apenas deixam mais co, é “impossível responder” plesmente não acontece.”

P. 10 07.2017
FIG. - RA
BITS DA
CIDADANIA
Projeto europeu reunirá
informações de cidadãos
para realizar mudanças
na administração pública
POR JÚLIO VIANA
XINGAR MUITO NO TWITTER
finalmente servirá para alguma
coisa no que diz respeito aos pro-
blemas das cidades. Com previ-
são de lançamento para o final
deste ano, o projeto Ecossiste-
ma Descentralizado de Dados de
Cidadania (Decode, na sigla em
inglês) vai coletar dados de ha-
bitantes de grandes metrópoles
para ajudar empresas e a gestão
pública a realizar mudanças na
administração das cidades.
O projeto será testado por
mil moradores das cidades de
Barcelona, na Espanha, e de
Hong Kong 1.486
Amsterdã, na Holanda. Os cida-
dãos utilizarão um aplicativo em
que será possível, por exemplo,
1.062
Estados Unidos e Canadá
notificar locais da cidade em
que se sentem inseguros. Para
Emirados Árabes 995
manter a privacidade, o usuário
Noruega 988 poderá escolher compartilhar os
dados apenas com instituições
Alemanha 940
sem fins lucrativos e com orga-
Arábia Saudita 935
nizações ligadas ao governo.
As informações fornecidas
Reino Unido 916 serão armazenadas em formato
blockchain, um tipo de registro
Suíça 914
digital criptografado que pode ser
Dinamarca 906 acessado por meio de uma rede
de computadores. O investimento
Suécia 875
disponível para a iniciativa está
estimado em 5 milhões de euros.
PAÍSES MAIS “O público tem ficado cada vez
CONECTADOS mais ciente de que seus dados pes-
DO MUNDO soais não estão sob seu controle e
Cálculo de que esse tipo de informação deve-
equipamentos ria ter um recurso público, utiliza-
conectados à do pela comunidade para melhorar
internet suas vidas e suas cidades”, afirma
por habitante Francesca Bria, uma das líderes
do programa e chefe de Tecno-
logia e Inovação Digital do con-
FONTE: GFK/2016 selho da cidade de Barcelona.
56%
das estudantes brasileiras
já sofreram assédio nas
universidades do Brasil
HARVARD
CONTRA O
ASSÉDIO
Instituição norte-americana
revoga admissão de estudantes
que publicaram memes racistas
POR THIAGO TANJI
UMA ATITUDE QUE PODERIA
servir de exemplo no Brasil: a
Universidade Harvard suspendeu
o convite feito a pelo menos dez
estudantes que ingressariam na
instituição no segundo semestre
deste ano. As ofertas de admis-
são foram revogadas por conta de
mensagens ofensivas postadas
em um grupo no Facebook: cap-
turas de tela mostraram memes
que ridicularizavam o Holocausto,
falavam de assédio sexual e
até de morte de crianças. Após
revogar as cartas de admissão,
a instituição afirmou que tem
o direito de suspender aqueles
que apresentam um comporta-
mento questionável em relação
à “honestidade, maturidade
e caráter moral”. Bem feito.
FIG. - GN
 07.2017 P. 11

O fim da arca do encontrado na região do Ártico, que está

ameaçado pelo aumento da temperatu-

fim do mundo?
Banco de Sementes do Ártico tem
sobrevivência ameaçada por conta
do aumento da temperatura global
POR GIULIANA VIGGIANO
DEALIZADO PA R A
I
conservar espécies de plan-
tas no caso de um desas-
tre planetário, o Banco de
Sementes do Ártico está vivendo uma
ameaça particular: o inverno mais quen-
te da história da Noruega fez o gelo der-
reter, o que resultou em um pequeno —
mas perigoso — alagamento no local,
apelidado de “a arca do fim do mundo”.
Tais contratempos não tinham sido
previstos pelos criadores do projeto, já
que o compartimento está localizado
embaixo da terra, em uma região tradi-
cionalmente fria próxima do Polo Norte,
com temperaturas que variam entre -4°C
e -6°C. O alagamento tomou parte do
túnel que dá acesso ao banco e tem ex-
tensão de 100 metros, mas não afetou as
sementes. Pelo menos por enquanto.
“Não estava em nossos planos pensar
que o permafrost não estaria mais lá e que
o Banco experimentaria um clima extre-
mo”, afirmou em comunicado o membro
do governo norueguês Hege Njaa Aschim.
Permafrost é o nome dado ao tipo de solo
ra do planeta — um dos resultados das
emissões de gases estufa em decorrência
das atividades econômicas.
Depois do susto, a proteção da “arca
do fim do mundo” foi multiplicada, com
supervisão humana 24 horas por dia.
Os responsáveis pelo caixa-forte es-
tão trabalhando para tornar o túnel de
Banco de
Sementes está entrada impermeável, além de montar
localizado em
arquipelágo canaletas para retirar a água da chuva.
norueguês
Fiações elétricas que podem gerar al-
gum tipo de aquecimento no compar-
timento também foram substituídas.
INICIATIVA GLOBAL
O Banco de Sementes foi construído
em 2008 no arquipélago norueguês de
Svalbard e tem capacidade para arma-
zenar 2,5 bilhões de sementes. A super-
visão do caixa-forte fica por conta da
Noruega e da Organização das Nações
Unidas (ONU). Ambas têm custódia so-
bre os artigos, mas a propriedade perten-
ce ao país que os depositou. Atualmente,
mais de 930 mil sementes estão armaze-
nadas — o governo brasileiro já fez um
depósito de 10 mil exemplares.
A primeira retirada de sementes acon-
teceu em 2015: após o banco genético da
cidade síria de Aleppo sofrer danos por
conta da guerra civil que atinge o país,
pesquisadores solicitaram exemplares
de trigo, cevada e grama para dar con-
tinuidade às pesquisas. De acordo com
a FAO, órgão das Nações Unidas para
alimentação e agricultura, conservar se-
mentes é essencial para manter a diver-
sidade ambiental e garantir a qualidade
FIG. - RA da produção de vegetais no planeta.

CADA VEZ
MAIS VELHOS
Descoberta de ossadas de
Homo sapiens indica que nossa
espécie surgiu há mais tempo
do que cientistas pensavam
POR ISABELA MOREIRA
ENCONTRADOS NO MARROCOS,
fósseis de Homo sapiens tiveram
idade estimada em 300 mil anos.
A descoberta foi feita pela equipe
do pesquisador Jean-Jacques
Hublin, do instituto alemão Max
Plank, que começou a realizar in-
vestigações no sítio arqueológico
marroquino em 2004. Foram en-
contrados vestígios de crânios de
cinco pessoas, que estavam pró-
ximos a lascas de pedra utilizadas
em lanças. Como várias dessas
lascas davam sinais de terem sido
queimadas, os pesquisadores
utilizaram uma técnica chamada
termoluminescência para calcular
há quanto tempo isso ocorreu:
tudo indica que as pedras foram
queimadas há cerca de 300 mil
anos — ou seja, os vestígios têm
100 mil anos de diferença em
relação aos fósseis humanos mais
antigos encontrados até então.
De acordo com os arqueólogos
envolvidos na pesquisa, as faces
dessas pessoas tinham semelhan-
ças com os humanos da atualida-
de: rostos largos, sobrancelhas
grossas e queixos pequenos.
 P. 12 07.2017

LU-
NE-
TA
O ESPAÇO É LOGO ALI

POR ANDRÉ JORGE DE OLIVEIRA

OS DEUSES ERAM
APENAS DEUSES
Erich von Däniken, autor de Eram tar são mal informados ou idiotas para justificar alegações. “Vocês
FIG. - RA

os Deuses Astronautas?, veio ao
Brasil falar sobre OVNIs — e fez
questão de debochar dos céticos
ERA UM DOMINGO DE SOL em São Paulo quan-
do o suíço Erich von Däniken iniciou sua pales-
tra para quase 300 pessoas interessadas em
conhecer histórias de alienígenas e discos voa-
dores. Autor da obra Eram os Deuses Astronau-
tas?, o suíço realizou uma turnê por oito cidades
do Brasil para divulgar seu pensamento.
“O Erich foi um divisor de águas, mudou minha
visão de mundo quando eu tinha 10 anos”, disse,
entusiasmada, a médica Elaine Fernandes, que
ouviria Däniken ao vivo pela primeira vez. “Nos-
sas memórias foram quebradas por questões
religiosas e científicas, estamos entorpecidos.”
“OVNIs são reais”, afirmou Däniken, sem
titubear. “E todos que nos fazem não acredi-
convenientes.” O termo “idiotas devem riscar a palavra anjo e es-
convenientes” foi repetido várias crever por cima ‘extraterrestre’”,
vezes sempre que o suíço se re- disse. Para ele, qualquer referên-
feria aos que preferem manter cia a “carruagens” cruzando o céu
postura cética quanto aos avis- nas passagens bíblicas é prova
tamentos de discos voadores. irrefutável de naves espaciais.
Antes de relatar episódios céle- Mas cá entre nós: se duvidar
bres envolvendo OVNIs, Däniken dessas argumentações é ser um
falou sobre sua especialidade: a “idiota conveniente”, nunca houve
teoria dos antigos astronautas, tanta conveniência em ser um idio-
ou alienígenas do passado. Se- ta. “A astronáutica não pode con-
OS LIVROS DE
VON DÄNIKEN gundo ela, ETs visitaram a Terra siderar a ufologia como fonte de
já venderam há milhares de anos para estudar pesquisa enquanto não for possí-
67 MILHÕES nossos antepassados e ajudá-los vel comprovar veracidade através
de cópias e foram
traduzidos para a evoluir. Apesar de a ideia não dos meios científicos”, diz o enge-
32 LÍNGUAS ser descartada como hipótese nheiro espacial Lucas Fonseca.
pela ciência (chamada de paleo-
NO SITE
contato), a forma como Däniken LUNETA LIVE TODAS AS
Leia a entrevista SEXTAS, ÀS
com Erich Von
a explora é questionável. De cria- As principais notícias
espaciais da semana 17H, NA NOSSA
FANPAGE.
Däniken: ção católica, é comum que o es- são comentadas em
transmissão ao vivo. ASSISTA!
glo.bo/2qopXvi
critor utilize passagens da Bíblia

AGENDA 4
TÚNEL DO TEMPO:
6
PONTOS RUBROS
11
JUNO SOBREVOA
28
ALERTA DE CHUVA
Jul. 2017 VIAGEM A MARTE ESPREITAM A LUA GRANDE MANCHA DE METEOROS
d s t q q s s A Nasa inovava em 1997: Olhe para o leste assim que A famosa Grande Mancha Pico de atividade da chuva

- - - - - - 1 Mars Pathfinder foi a escurecer: a Lua quase cheia Vermelha de Júpiter está de meteoros Delta Aquári-
primeira sonda a pousar aparece lado a lado com encolhendo. Resta saber o das, com até 20 estrelas ca-
2 3 4 5 6 7 8
em solo marciano desde Saturno. Ali perto estará a porquê. No sétimo voo ra- dentes por hora. O radiante
9 10 11 12 13 14 15
1976. Transportou o vovô gigantesca estrela vermelha sante de Juno, a sonda passa fica em Aquário e o melhor
16 17 18 19 20 21 22
da Curiosity, Sojourner, Antares, que é o coração da bem em cima da região para horário para observar é
23 24 25 26 27 28 29 primeiro rover em Marte. constelação de Escorpião. entender o fênomeno. depois das 5h, no oeste.
 07.2017 P. 13

Exploradores O LEGADO
OLÍMPICO

mão na massa
QUE VOCÊ
RESPEITA
Olimpíada Brasileira de
Astronomia e Astronáutica
(OBA) completa duas décadas
de serviços à ciência brasileira

Ex-estrategista de tecnologia SE HÁ UMA OLIMPÍADA que

espacial da Nasa, Matthew Reyes deixou legado ao país, sem
acredita que o movimento maker dúvida é a OBA, a Olimpíada
mudará a exploração espacial Brasileira de Astronomia e
Astronáutica, cuja 20ª edição
ocorreu em maio. Ela estimu-
la o interesse dos alunos e
capacita professores do ensino
otar a mão na massa é básico a ensinar astronomia.

B
a paixão de Matthew Reyes, Os melhores colocados
consultor no Vale do Silício representam o Brasil em
e ex-estrategista de tecnolo- olimpíadas internacionais e são
gia espacial da Nasa. Em junho, ele pa- convidados a conhecer centros
lestrou na primeira edição da Campus como Inpe e ITA. “Eles saem
Party Brasília. Reyes explica a relação do querendo prestar Engenharia
Movimento Maker (um faça-você-mesmo Aeroespacial”, diz João Batista
da tecnologia) com a exploração espacial. Canalle, coordenador da OBA.
Porém, em dois anos, os
DE QUE MANEIRA A CULTURA MAKER ESTÁ MUDANDO recursos recebidos do CNPq
O JEITO DE EXPLORARMOS O ESPAÇO? despencaram. Foi preciso fazer
A redução no preço dos eletrônicos e a vaquinha para pagar medalhas
acessibilidade do financiamento coletivo está e certificados: “Dependemos
empoderando indivíduos a fazerem algo que era de que os políticos vejam a
restrito a governos e grandes corporações. educação como a única so-
O Movimento Maker derruba preços e contribui lução para o país evoluir”.
tanto com hardware como com software. Hoje,
qualquer um pode fazer satélites — não precisa
ser um engenheiro experiente para isso. EXPANSÃO ACELERADA
Número de alunos que participaram
VOCÊ ENTENDE DE TUDO, DESDE CONSERTO DE MOTOS da OBA nos últimos 20 anos
FIG. - RA
ATÉ ARQUEOLOGIA SUBAQUÁTICA. EXPLORADORES
Fonte: Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica
868.000

ESPACIAIS PRECISAM DE VISÃO MULTIDISCIPLINAR? Os mesmos desafios para mandar humanos ao

800.00

Ano
784.390

Precisamos de gente focada em tópicos espaço profundo afetam a todos nesta grande Internacional
700.000*

da Astronomia
individuais, a especialização é necessária. espaçonave que é a Terra — limpar o ar e a água, dobrou o
número de
Mas exploradores precisam ser coringas. Um criar comida, lidar com resíduos. Makers acham participantes

explorador espacial maker deve saber um pouco novas formas de exploração sustentável e
305.809

de engenharia mecânica e programação, além buscam torná-las um produto ou serviço.

de lidar com papeladas. É como aqui no Vale do
400 alunos

Silício: as pessoas têm múltiplas habilidades. VOCÊ FOI CERTIFICADO COMO UM “CIENTISTA
60.338

SUBORBITAL COM INTENÇÕES DE TRABALHAR NO

MISSÕES PARA O ESPAÇO PROFUNDO TERÃO DE SER ESPAÇO”. QUANDO VAI VIRAR ASTRONAUTA?
2006
2009
2002

2010

AUTOSSUFICIENTES, SEM DEPENDER DOS RECURSOS DA

2016
1998

2017

É meu sonho de criança, até paguei um

TERRA. COMO A CULTURA MAKER PODE AJUDAR? treinamento da Virgin Galactic. Quando surgir
Acho incrível como a exploração espacial cria no espaço uma vaga compatível com minha
*Com os cortes do governo, estima-se que
tecnologias que beneficiam nosso planeta. especialidade, óbvio que me candidatarei (risos). os números sejam menores do que em 2016

CONEXÕES CÓSMICAS
POR ADILSON DE OLIVEIRA*
A FÍSICA
QUE GERA
TECNOLOGIA
Entender como funciona a física no nível dos átomos
foi fundamental para que pudéssemos desenvolver
os dispositivos eletrônicos que usamos hoje
A TECNOLOGIA nos proporciona
uma série de facilidades. Em quase
todos os lares existem televisores,
chuveiros, fornos de micro-ondas
e outros dispositivos eletrônicos.
Muitos desses equipamentos não
eram sequer imaginados algumas
décadas atrás. Ter acesso a gigan-
tescas quantidades de informação
disponíveis em uma rede mundial
de computadores, por exemplo, era
coisa de ficção científica.
Os equipamentos eletrônicos
que povoam o nosso cotidiano só
existem porque, antes de serem
desenvolvidos, pesquisas científi-
cas básicas foram realizadas para
que conhecêssemos a estrutura da
matéria e seu comportamento na
escala atômica. Isso só começou a
acontecer no início do século 20.
Foi nesse período que uma série de
descobertas científicas colocaram
os conhecimentos da época em xe-
que. Para que isso fosse superado,
foi necessário criar uma nova Física:
a Física Quântica. Trata-se da parte
da Física que estuda as propriedades
dos átomos, moléculas e seus cons-
tituintes fundamentais.
Na escala atômica, a matéria se
comporta de forma diferente da que
estamos acostumados no mundo
14 macroscópico. Com isso, muitas
propriedades peculiares puderam ser
aplicadas na tecnologia. Por exemplo,
a Física Quântica descobriu que os áto-
mos não são como um pequeno siste-
ma solar, com os elétrons orbitando o
núcleo atômico em qualquer “órbita”.
Os elétrons só podem ocupar níveis de
energia específicos, que determinam
em qual orbital eles podem estar. Esses
níveis são proporcionais a uma cons-
tante fundamental da natureza, conhe-
cida como Constante de Planck, propos-
ta pelo físico alemão Max Planck.
Ao mudar para um nível de ener-
gia mais alto, um elétron precisa
absorver uma quantidade específica
de energia, igual à diferença entre
os níveis. Para descer a um nível
mais baixo, ele emite a diferença de
energia que existe entre os níveis
na forma de um pacote de energia,
conhecido como fóton. Com esse tipo
de fenômeno, foi possível desenvol-
ver o raio laser, usado tanto como
“pointer” em palestras e leitores de
CDs e DVDs quanto na medicina para
a realização de cirurgias.
Outro fato da Física Quântica fun-
damental para o desenvolvimento
dos dispositivos eletrônicos foi a
descoberta de que os elétrons — e
todas as partículas fundamentais —
não se comportam apenas como cor-
púsculos, mas também como ondas.
Essa proposta foi feita pelo físico
francês Louis de Broglie e depois
desenvolvida pelos alemães Werner
Heisenberg e Erwin Schrödinger, na
década de 1920, levando à criação de
uma teoria quântica da matéria. Essa
propriedade, totalmente distinta do
que vemos em nosso cotidiano, per-
mitiu o surgimento dos dispositivos
semicondutores, como o transistor,
que é utilizado em quase todos os cir-
cuitos eletrônicos e nos processado-
res dos computadores, por exemplo.
Os semicondutores, como o silício
e o carbono, são materiais que po-
dem ter a sua condutividade elétrica
alterada pela dopagem de diferentes
elementos. Com a combinação de vá-
rios semicondutores pode-se cons-
truir uma “barreira de energia”, como
se fosse um degrau, que controla o
fluxo da corrente elétrica. Por se
comportarem também como ondas,
os elétrons podem ultrapassar essas
barreiras sem precisar ter energia
suficiente. Esse efeito é chamado de
tunelamento quântico. É como se os
elétrons criassem um túnel através
das barreiras de energia.
Esses são apenas alguns poucos
exemplos de tecnologias que se de-
senvolveram a partir de pesquisas
básicas. São investigações que, na
época em que foram realizadas,
ainda nem vislumbravam possíveis
aplicações. Por esse motivo, o inves-
timento em pesquisas desse gênero,
em todas as áreas do conhecimento,
não apenas a Física, é fundamental
para impulsionar o desenvolvimento
econômico do país. É imprescindível
que o Brasil coloque a ciência como
uma de suas prioridades, caso con-
Os trário estaremos condenados a ser
eletrônicos somente mais uma nação periférica
dentro do cenário mundial.
que povoam
nosso
cotidiano
só existem
porque
pesquisas
básicas
* ADILSON DE OLIVEIRA é professor titular do
Departamento de Física da UFSCar. Atua em
foram
física experimental e divulgação científica.
Coordena o Laboratório Aberto de Interativi-
realizadas
dade (LAbI), voltado ao desenvolvimento de
metodologias para divulgação científica
 EVENTO
QUANDO CONSELHO É BOM Bhargava já foi conselheiro de mais de cem marcas
3
GRANDES TENDÊNCIAS
D E I N O VA Ç Ã O
NOS DIAS 8 E 9 DE JUNHO,
GALILEU participou da primeira
edição paulista do Wired Festival
Brasil. Uma série de convidados pre-
sentes no Instituto Tomie Ohtake
falou sobre cidades, negócios e edu-
cação do futuro (confira a cobertura
completa no site). Uma das palestras
mais aguardadas foi a de Rohit Bhar-
gava, autor do livro Non-Obvious —
How to Think Different, Curate Ideas
and Predict the Future (Além do Óbvio
— Como Pensar Diferente, Selecionar
Ideias e Prever o Futuro, em tradu-
ção livre). Separamos três grandes
tendências para os próximos meses
adiantadas pelo escritor.
1. PASSADO PRESERVADO
“Com a tecnologia que temos hoje,
podemos preservar melhor o nosso
passado”, diz Bhargava. A ideia é
fazer museus com realidade am-
pliada e preservar obras antigas,
mas também se aplica à possibili-
dade de registrar nossos momentos
insignificantes (por exemplo, um
voo simples em um avião comer-
cial) por meio da última tecnologia
possível (como câmeras 360°).
2. TECNOLOGIA INVISÍVEL
Para podermos ter uma realidade
mais conectada, precisamos real-
mente “ver” nossos aparelhos?
É essa a pergunta que grandes no-
mes da tecnologia vêm se fazen-
do. “As telas estão desaparecen-
do”, explica Bhargava. O objetivo
é que possamos conversar com
assistentes de voz armados de
inteligência artificial, como a Siri.
Nas fotos ao
3. IMPERFEIÇÃO ADORÁVEL lado, de cima
para baixo:
Quando a esmola é demais, o san- o artista e
to desconfia. A ideia aqui é que inovador ho-
perfeição não é sinônimo de boa landês Daan
Roosegaarde;
qualidade. “Às vezes, queremos a editora-che-
as coisas imperfeitas, justamen- fe da GALILEU,
te porque assim elas parecem Cristine Kist;
e Paula Belli-
mais autênticas”, conta Bhargava. zia, CEO da Mi-
“É preciso abraçar seus defeitos.” crosoft Brasil
 P. 16 07.2017

CIÊNCIA
ACESSÍVEL
Engenheiro vence edição
brasileira de concurso
que premia os melhores
divulgadores científicos

POR JÚLIO VIANA

“NÃO ADIANTA REALIZARMOS

pesquisas científicas se isso não
chegar à população.” É assim
que Felipe Costa, aluno de
pós-graduação em Engenharia
Civil na Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS),
define a importância de progra-
mas como o FameLab Brasil, que
premiam os melhores comuni-
cadores de ciência do mundo.
Promovida pela organização
British Council, a competi-
ção seleciona pesquisadores
capazes de ensinar conceitos FIG. - RA

científicos complexos de

CHEGA DE
maneira didática e divertida.
Após três etapas seletivas, com
avaliações virtuais e presen-

MENTIRAS
ciais, Felipe venceu a disputa
brasileira com uma aula sobre
novidade nas disputas políticas, a velocida-
o geopolímero, um material
de com que essas informações se espalham
sustentável que pode servir
Acreditar em boatos nas redes atualmente aumenta a chance de mais pes-
como alternativa ao concreto
sociais independe de crenças soas acreditarem em notícias mentirosas.
comum. Como prêmio pela
políticas, diz pesquisa do MIT O estudo revela que informações pouco
vitória, o engenheiro — que
confiáveis tendem a ser consideradas ver-
competiu com representantes
dadeiras por pessoas que têm diferentes po-
de mais de 30 países — viajou
POR GIULIANA VIGGIANO sicionamentos políticos. Os pesquisadores
para a Inglaterra para participar
também notaram que os militantes continuam
da grande final internacional no
EM SUA CAMPANHA PRESIDENCIAL, acreditando em um político de sua preferência
dia 8 de junho. A grande vence-
Donald Trump afirmou que as pesquisas so- mesmo que ele seja pego mentindo. Um exem-
dora da disputa foi a cientista
bre o aquecimento global eram mentirosas. plo disso ocorreu nas eleições de 2016, em que
sul-africana Tshiamo Legoale,
Apesar da falta de credibilidade da informa- parte do eleitorado de Donald Trump espalhou
especialista em Geologia.
ção, não faltaram pessoas que apoiaram e a notícia de que o ex-presidente Barack Oba-
ajudaram a divulgar a teoria da conspiração. ma não era norte-americano. Quando o fato
Meses depois, já eleito presidente, Trump uti- foi desmentido, os defensores do candidato
FIG. - GN
lizou dados desatualizados e fora de contex- republicano continuaram apoiando Trump.
to para justificar a saída dos Estados Unidos “Podemos reconhecer que um demagogo
do acordo climático de Paris. mentiroso não está falando a verdade, mas
Para entender como a circulação de notí- ‘apreciamos’ sua boa vontade para desafiar o
cias falsas impacta a política norte-americana, opositor”, destacou Ezra Zuckerman, um dos
pesquisadores do Massachussets Institute of participantes da pesquisa, em evento organi-
Technology (MIT) publicaram uma pesquisa zado pelo MIT. “Mas tenho esperança em um
sobre o assunto. De acordo com os analistas, mundo no qual possamos acabar com essas
apesar da disseminação de boatos não ser estruturas que nos dividem”, disse ele.
 07.2017 P. 17

Burocracia ALÔ?
Michel Temer não foi a

animalesca
única personalidade a se
envolver em polêmicas
com gravações de áudios

POR THIAGO TANJI

FIG. - GN
Sistema para identificar instituições Quase 450
brasileiras que realizam testes instituições realizam
testes científicos
em animais é modificado para em animais
deixar registro mais simples

POR J. V. RICHARD NIXON (1974)

Tentativas de espionagem no
esde 2012, as institui- escritório do Partido Demo-

D
ções que produzem, crata obrigaram o presidente
mantêm ou utilizam ani- norte-americano a renunciar.
mais em atividades de ensi-
no e pesquisa científica no Brasil devem
disponibilizar informações em um banco
digital criado pelo Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações
(MCTIC). Agora, o sistema vem passan-
do por modificações para ganhar uma
versão mais aprimorada, que ficará pron- NEWS OF THE WORLD (2011)
ta no segundo semestre deste ano. O tabloide britânico foi fecha-
De acordo com os responsáveis do após confirmação de que
pelo projeto, o sistema será mais fá- celebridades e políticos foram
cil e intuitivo, o que facilitará a tare- grampeados a mando do jornal.
fa do Conselho Nacional de Controle
de Experimentação Animal (Concea)
de reunir dados sobre as instala-
ções em que os animais são mantidos.
Atualmente, cerca de 450 instituições
estão cadastradas no banco de dados.
“O novo sistema possibilitará um contro-
le ainda maior das instituições, além de CASO NSA (2013)
fornecer importantes informações para FIG. - RA Informações revelaram que a
a sociedade sobre o uso de animais em agência norte-americana de se-
PODE TESTAR?
atividades de ensino e pesquisa cientí- gurança espionou ligações feitas
Opinião de brasileiros sobre uso
fica”, afirma Kátia De Angelis, coorde- de animais pela ciência por políticos do mundo todo.
nadora do grupo para a implantação
do Cadastro das Instituições de Uso
41% Discordam plenamente
Científico de Animais (Ciuca).
Apesar de o Concea já reconhecer 24
métodos alternativos de testes, Angelis
36% Concordam plenamente
ressalta que os animais ainda são ne-
cessários para as pesquisas. “Por mais
que existam culturas de células, tecidos 18% Concordam parcialmente
DILMA E LULA (2016)
e modelos computacionais, ainda são Após nomeação do ex-presi-
poucos os casos em que podemos nos 5% Outros dente como ministro da Casa
basear unicamente em métodos alter- Civil, conversas entre ele e
nativos para as pesquisas científicas.” Fonte: Datafolha/2014 Dilma foram divulgadas na TV.
 P. 18 07.2017
TECNOLOGIADESCOMPLICADA
Wi-fi pela
casa toda
Roteador da D-Link realiza o
sonho de todos aqueles que
utilizam wi-fi: boa qualidade de
sinal em todos os ambientes
POR JOÃO GABRIEL BALBI
Um roteador de respeito:
U projetado para transmissão
de conteúdo em 4K e jogos
online, o D-Link DIR-879 garante
sinal wi-fi de alta velocidade em am-
bientes que podem ter área superior
a 200 metros quadrados.
Com um pacote parrudo de especifi-
cações, o roteador tem tecnologia dual
band: fornece uma rede de 2.4 GHz,
com maior alcance e menos velocidade,
e uma de 5 GHz, que oferece maior velo-
cidade, mas tem menor alcance.
Suas quatro antenas rebatíveis
permitem conectar até 35 dispositivos,
além de tornar praticamente desneces-
sário o uso de repetidores de sinal.
Com instalação simples, seu software
apresenta uma configuração com recur-
sos avançados, como firewall e o “QoS
Inteligente”, que permite priorizar a co-
FICHA TÉCNICA nexão dos dispositivos mais importantes.
O preço de R$ 999 é considerado alto
PREÇO: R$ 999,00
para roteadores, mas deve-se levar em
ESPECIFICAÇÕES:
conta o desempenho do equipamento e
A cobertura é
superior a 200 a garantia de cinco anos do fabricante:
metros quadrados
o custo do DIR-879 se paga a longo
e a velocidade
máxima de conexão prazo, já que levará um bom tempo para
do aparelho é
que o roteador fique obsoleto.
de 1.900 MB
por segundo
 07.2017 P. 19

FIG. - GN

LABORATÓRIO GRATUITO
NO BRASIL OU PAGO?
Golpes que falam de Quase sempre os
temas locais, como a antivírus gratuitos são
liberação do FGTS, po- suficientes para PCs
deriam passar desper- domésticos. Os pagos
ATAQUE TOTAL
cebidos para técnicos oferecem recursos Conheça o WannaCry, vírus
estrangeiros: é impor- específicos que aten- que infecta PCs por conta
tante ter especialistas dem a demandas de de uma falha do Windows
trabalhando no país. usuários exigentes.
POR M.C.

UM NOVO VÍRUS

O WannaCry é um ransomware,
que usa criptografia para bloquear
arquivos e pastas do computador
FIG. - RA
e promete a devolução apenas
CONFIANÇA CUIDADO COM

COM QUAL
mediante um pagamento de
NA EMPRESA ANTÍVIRUS FALSOS resgate na moeda virtual bitcoin.
Mais importante que Faça uma pesquisa
o valor pago pelo sobre os serviços e vá

ANTÍVIRUS
serviço de proteção é direto ao site do fabri-
PELAS REDES
a reputação da compa- cante. Alguns antivírus
nhia. Escolha antivírus falsos, com nomes e

EU VOU?
de empresas que ícones bem parecidos, O ataque utilizou uma falha no
estão atualizadas nos tentam se aproveitar Windows para que o vírus infectasse
assuntos de segurança. de usuários leigos.
PCs conectados na mesma rede.
Pelo método usado, as principais
Para escolher o melhor soft- vítimas foram empresas que
ware de segurança, o usuário possuem máquinas conectadas.
deve levar em conta serviços
que se mantêm atualizados
O REMÉDIO
POR MELISSA CRUZ
Dois meses antes, porém, a
PAGO OU GRATUITO, TER UM ANTIVÍRUS Microsoft publicou uma correção
de qualidade instalado no computador é SERVIÇOS ADEUS AOS para versões do seu sistema
fundamental para evitar que malwares in- ATUALIZADOS PIRATAS operacional Windows 7, Windows 8.1
Ameaças evoluem Recorrer a chaves de
fectem a máquina e operem uma série de e Windows 10. Versões mais antigas
todos os dias. Para ativação falsificadas
golpes que podem causar prejuízo financeiro. manter-se prote- de antivírus está também ganharam o update.
Casos recentes, como o ataque WannaCry gido, é necessário fora de cogitação.
(veja box ao lado), aumentaram a preocu- atualizar o antiví- Muitas dessas falsas
pação dos usuários de Windows, os princi- rus para detectar ofertas são golpes. APRENDIZADO
novos malwares. Não É melhor optar por
pais alvos de hackers. Para escolher um bom
adianta lutar contra uma versão gratuita
serviço de proteção, Thiago Marques, pes- o vírus de hoje com do serviço, que é Muitos usuários e empresas não
quisador da Kaspersky, dá algumas dicas. armas do passado. totalmente segura. atualizaram as máquinas, deixando
os computadores vulneráveis.
A solução é ativar o Windows
@techtudo_oficial /techtudo @TechTudo Update, indispensável contra falhas.
Antivírus já bloqueiam o ataque.
 ELEMENTAR
TEFLON
DA BOMBA À COZINHA
Polivalente, o Teflon pode ser encontrado tanto em panelas
e frigideiras como em aeronaves — POR RENATA CARDOSO

mesmo material que não deixa o

O ovo frito grudar na sua frigideira
foi usado na vedação das válvu- 1

H
9

F 9

F
6

C
las da bomba atômica lançada em 1945 em 1

H
17 1

Hiroshima. Mais conhecido como Teflon, POLÍMERO Cl H

POLITE-
o polímero politetrafluoretileno (PTFE) TRAFLUO- ÁCIDO FLUO- CLORO-
— nome não comercial da substância — é RETILENO RÍDRICO (HF) FÓRMIO
um plástico de alto desempenho. É composto Sua aparên- É um gás
de carbono cia é de um tóxico empre-
Assim como ocorreu com outros pro- e flúor. líquido incolor gado como sol-
dutos famosos, o nome Teflon, de pro- O flúor possui e fumegante. vente de verniz
priedade da empresa DuPont, acabou propriedade Em contato com e borrachas.
de não propa- a pele, pode Foi usado
se tornando sinônimo da substância. gação de fogo, atacar o cálcio como anesté-
O elemento foi descoberto por acaso em por isso dos ossos. É sico antes de
1938 pelo químico norte-americano Roy promove usado na pro- ficar provado
grande estabi- dução de gases que fazia
Plunnkett, que tentava criar um novo gás lidade térmica. refrigerantes. mal à saúde.
refrigerante para substituir o CFC.
Nas frigideiras, o Teflon é aplicado na
superfície do alumínio com a utilização de
rolos. Depois desse revestimento, as peças
são colocadas em fornos de secagem com
alta temperatura (o que faz com que o filme 9 20

F Ca
de PTFE fique aderido ao metal). Como
o material apresenta um dos mais baixos FLUORITA
É a principal
coeficientes de atrito em relação aos ma- fonte comercial
teriais sólidos, a antiaderência das panelas de flúor. O ele-
revestidas com a substância é garantida. mento é usado
principalmente
O PTFE é insolúvel em solventes, na indústria
O nome Teflon, de
resistente ao ataque de ácido corrosi- propriedade da
química, de
vo, tem ponto de fusão bem alto (de empresa DuPont, vidros, de
virou sinônimo
da substância
esmaltes e na
326,8°C) e aspecto escorregadio. siderurgia e
Por isso, serve para muitas coisas metalurgia.
além de forrar panelas. Devido à
sua resistência ao calor, ele é usa-
do para revestir cabos, manguei-
ras e até aeronaves. Pode ser usa-
do também na confecção de ossos
artificiais, próteses odontológicas,
coletes à prova de balas e até absor-
vedores de choque e de som.

20 Fonte: Prof. Dr. Claudio Luis Crescente Frankenberg — Coordenador e professor do curso de Engenharia Química da PUCRS Foto: Tomás Arthuzzi / Editora Globo
 DOSSIÊ ALERGIA
REPORTAGEM GIULIANA VIGGIANO

EDIÇÃO NATHAN FERNANDES DESIGN FERNANDA DIDINI

RECORDE
DE ESPIRROS
POR MINUTO

Especialistas estimam que 30% da população brasileira sofra

com problemas relacionados a alergias — mesmo assim, pouco
se sabe sobre a origem dessas reações do sistema imunológico

a apresentadora eliana
previu, já em 2002, o risco que
corria a saúde mundial. Com
as vias aéreas infeccionadas e
apontando uma duvidosa se-
melhança entre seu nariz e um
chafariz (“Ai meu nariz / Ai meu
nariz / Ele parece muito mais um
chafariz”), a apresentadora can-
tava sobre um problema que
hoje assombra ainda mais gente
do que há 15 anos: as alergias.
Para ficar apenas nas respi-
ratórias, entre 10% e 25% da
população brasileira têm asma,
sendo que, desse total, 80%
também sofre de rinite. “Hoje,
estimamos que cerca de um ter-
ço da população tenha alergias,
e esse número, aparentemente,
vem aumentando”, afirma o di-
retor da Associação Brasileira
de Alergia e Imunologia (Asbai),
Luís Felipe Ensina.
Parafraseando a filósofa fran-
cesa Simone de Beauvoir: não
se nasce alérgico, torna-se.
A ciência ainda não descobriu
por que algumas pessoas têm
alergia e outras não, mas é con-
senso que a condição pode apa-
recer em qualquer momento da
vida, não necessariamente na
infância, como diz o senso co-
mum. E, com os avanços da me-
dicina, a vida dos alérgicos me-
lhorou consideravelmente. Hoje,
já se sabe que crianças nascidas
de parto normal apresentam me-
nos problemas desse tipo, assim
como as que convivem com ani-
mais de estimação em casa.
Apesar disso, alguns trata-
mentos continuam inacessíveis
para grande parte da popula-
ção brasileira: uma caneta com
dose autoinjetável de adrenalina
— que serve para pacientes que
correm riscos de morte durante
uma grave crise alérgica — cus-
ta aproximadamente R$ 745.

21
 pessoa alérgica a cosméticos usa esmalte,
ALGUNS
por exemplo, a reação não vai aparecer na
CULPADOS
unha, mas no pescoço e nas pálpebras. Em
LEITE geral, as reações podem ser bem diversas:
manchas, inflamações, coceira, inchaços,
No leite de vaca, bolhas, descamação da pele e urticária em
os alérgenos qualquer parte do corpo — em casos mais
presentes são as graves, é possível que ocorra um choque
proteínas caseína, anafilático, o que pode até levar à morte.

O QUE
alfa-lactoalbumi- Especialistas consideram que grande par-
na e beta-lacto- te das alergias mais comuns se dá por con-
-globulina. ta de dois agentes principais: proteínas es-

É UMA
pecíficas, nos casos alimentares; e ácaros,
PÓLEN nos casos respiratórios. Contudo, vale lem-
brar que o causador da reação alérgica não
Árvores como é o microrganismo em si, mas os anticorpos

ALERGIA,
oliveiras podem que o nosso próprio corpo cria para se defen-
causar alergias. der. “No caso do ácaro, ele sensibiliza o cor-
Um exemplo de po, que cria anticorpos e causa alergias”, diz

AFINAL?
Saber distinguir a reação de
sensibilidades ou intolerâncias
pode ajudar no diagnóstico
alérgeno é a Maria Candida Rizzo, coordenadora do De-
Bet v 1, presente partamento Científico de Rinite da Asbai.
nas bétulas. Diferentemente das alergias, que interfe-
rem no funcionamento do organismo, a sen-
ÁCAROS sibilidade a algum produto ou alimento gera
apenas sintomas específicos no corpo, como
Esses bichinhos enjoos, por exemplo. Além disso, a pessoa até
são menores que forma anticorpos contra a substância causa-
um grão de pólen dora da sensibilidade, mas eles não chegam
(cerca de 0,3 mm), a “atacar” de forma tão agressiva quando en-
mas grande parte tram em contato com essa substância.

P
ara entender o que é uma alergia, das pessoas é Já as intolerâncias alimentares não têm
primeiro é preciso saber diferen- alérgica às fezes nada em comum com os outros problemas.
ciá-la de uma sensibilidade ou in- do animal. Enquanto as alergias e sensibilidades são
tolerância. Os sintomas podem ser bastante respostas do sistema imunológico, a intole-
parecidos, mas a condições em que as duas OVO rância é a reação do metabolismo à comida
ocorrem são bem diferentes. Segundo Ale- ou bebida. Isso significa que o corpo não é
xandra Sayuri Watanabe, diretora da Asbai, A maior parte dos capaz de processar e digerir os alimentos
“alergias são respostas exageradas dos an- alérgenos está adequadamente, o que causa mal-estar.
ticorpos contra algum alérgeno [substância na clara do ovo.
que causa alergia]”. Além dessa reação anor- Essas proteínas
mal do nosso sistema de defesa, a especia- são, em sua maio-
lista ressalta que as reações alérgicas apre- ria, ovoalbumina,
sentam quadro clínico, ou seja, impactos no ovotransferrina e
corpo, diferentemente do que ocorre com as ovomucoide.
sensibilidades, por exemplo.
Hoje, segundo a Asbai, cerca de 30% dos CORANTES
MONTAGEM com foto de Karandaev / Getty Images

brasileiros têm algum tipo de alergia, sendo

a maior parte dos diagnósticos de alergia do Mostarda, re-
tipo respiratória ou alimentar. Esses impac- frigerantes e
tos no corpo podem surgir por causa dos comprimidos são
mais variados tipos de substância. De tinta alguns produtos
de papel a ondas eletromagnéticas, quase que podem conter
tudo é capaz de causar uma reação alérgi- a tartrazina, subs-
ca (veja ao lado algumas das mais comuns). tância presente
As respostas imunológicas, entretanto, em corantes
22 nem sempre são óbvias. Quando uma amarelos.
Elementar, meu caro alergista A PERGUNTA QUE
NÃO QUER CALAR
COMO UM DETETIVE, O ESPECIALISTA DEVE INVESTIGAR A VIDA DO PACIENTE

OS SINTOMAS DAS REAÇÕES ALÉRGICAS variam de organismo para organismo, ou seja,

enquanto alguém pode reagir à ingestão de camarão com inchaços e coceira, outra pessoa
Afinal, por que alguns são
pode apresentar falta de ar. O tempo de reação também varia. O alergista Clifford Basset,
alérgicos e outros não?
do American College of Allergy, Asthma and Immunology, ressalta que “sintomas podem
ocorrer em segundos, minutos, horas ou até mais tempo, por isso é preciso ficar atento”. A ORIGEM das reações alérgicas
Nem sempre o causador da alergia pode ser identificado facilmente. Por isso, é é o tópico mais misterioso das
essencial que a pessoa fique atenta ao menor sinal de reação: “Se alguém apresenta pesquisas da área. A questão é que
algum sintoma, o médico deve ser consultado imediatamente, porque a vez seguinte pode ninguém nasce alérgico, a pessoa
ser mais grave”, afirma a especialista em anafilaxia Elaine Gagete Miranda. Para a médica, adquire a doença no decorrer
o trabalho do alergista não é muito diferente do que fazem os detetives da ficção: “Acho da vida. No entanto, cientistas
que ele trabalha como o Sherlock Holmes. O especialista precisa saber tudo sobre a estimam que haja uma relação
pessoa, investigar, e a partir daí fazer os exames e testes certos”. genética: filhos de pais e mães
alérgicos têm muito mais chances
de desenvolver o problema.
Especialistas descobriram que, ao
entrar em contato com a substância
que desencadeará alergia, o corpo
do paciente passa por um processo
de sensibilização e vai, aos poucos,
criando anticorpos e células para
se proteger do alérgeno. Esses
“combatentes” são chamados de
imunoglobulinas E (IgE) e, de acordo
com Miranda, prejudicam o próprio
indivíduo: “O organismo encara o
alérgeno como algo a ser vencido,
mas acaba sendo prejudicado”,
revela a alergista.
Outro fato importante é que as
alergias podem surgir em qualquer
momento da vida, pouco importa
a idade. Contudo, as crianças são
muito mais propensas do que
os adultos: segundo o American
College of Allergy, Asthma and
Immunology, 70% das alergias
aparecem antes dos 20 anos.
Não por acaso, a alergista Ana
Paula Moschione ressalta:
“O contato com bactérias da
natureza estimula o sistema
imunológico, por isso é importante
ot le os nc da

que os mais novos brinquem

pr a act erâ fun
na ia co ia
à to on

à m

ao ar livre”. A interação diminui

in o c

e
it
do s
eí rg e
ã

as chances de que a criança

le
N

desenvolva a doença no futuro.

s

Moschione, entretanto, faz questão

de destacar que as brincadeiras
não devem fugir do normal: “Não é
necessário brincar na sujeira, mas
é bom ter contato com
animais, outras pessoas…”. 23
CHEIRINHO DE
ESPIRRO NO AR
A rinite afeta até 30% dos adultos
no Brasil e pode atrapalhar a qualidade
de vida tanto quanto a asma

UMA ALERGIA RESPIRATÓRIA acontece quando as

vias aéreas sofrem infecção sem que a pessoa este-

MONTAGEM com foto de Neustockimages / Getty Images

ja gripada ou resfriada, por exemplo. Há dois tipos
de doenças desse gênero que podem se manifestar
em diferentes graus: a rinite e a asma.
“A rinite é subestimada em relação à asma”, afir-
ma a coordenadora do Departamento Científico de
Rinite da Asbai, Maria Candida Rizzo. Ambas têm
potencial para prejudicar a qualidade de vida dos pa-
cientes. Logo, o tratamento deve considerar todo o
sistema respiratório, não apenas os locais afetados.
Atualmente, cerca de 26% das crianças e 30%
dos adolescentes brasileiros sofrem de rinite,
de acordo com dados da Asbai. Métodos como
o desenvolvido pelo médico Edmir Américo Lou-
renço, da Faculdade de Medicina de Jundiaí, que
publicou um estudo no International Archives of
Otorhinolaryngology, sugerem a produção de
vacinas específicas para que os pacientes criem
DUAS IRMÃS E nenhuma delas é a gêmea boa
anticorpos contra as causas de alergia que os
afetam. Mas o tratamento não é uma cura e deve
ser aplicado por um profissional habilitado. ASMA RINITE

Os sintomas têm origem nos pul- Por se manifestar no sistema respira-

RESPIRAÇÃO em números mões e podem variar entre chiado
no peito e falta de ar. Segundo a
tório, a rinite alérgica tem uma forte
relação com a asma: cerca de 80%

3 67%
Asbai, 2 mil pessoas morrem por dos pacientes com asma também têm
US$ 20 ano no Brasil por conta da doença.
Os tratamentos variam, mas em ca-
rinite. Os sintomas da alergia são
espirros repetidos, coceira no nariz,
BILHÕES sos mais graves o ideal é utilizar o obstrução nasal e coriza, mas basta
pessoas morrem dos latino-americanos são gastos broncodilatador — a famosa “bom- apresentar apenas um deles para ser
por dia vítimas sofrem com com rinite alérgica binha” —, que abre a árvore brôn- diagnosticado com o problema. Além
de asma no Brasil problemas de asma no mundo quica e permite que o ar passe disso, é um mal que atrapalha o sono
mais facilmente pelos pulmões. e, logo, a produtividade.

FONTES: Asbai e WAO

Anafilaxia: S
egundo a especialista em anafilaxia Elaine Gagete Miranda, “todas as reações alérgicas são
sérias, mas a anafilaxia é a que mais desperta a atenção das pessoas justamente por ser o

alergia mata tipo mais grave”. Isso porque a anafilaxia, que provoca desde dificuldade para respirar até
confusões mentais e desmaios, pode matar em questão de minutos se não for tratada rapidamente
DOIS MILHÕES DE com uma injeção de epinefrina (adrenalina) — que pode ser aplicada pelo próprio paciente ou em algum
BRASILEIROS SOFREM hospital. Miranda afirma que entre 5% e 6% da população podem ter essa reação durante uma crise
CHOQUES ANAFILÁTICOS alérgica. A médica diz ainda que não é possível prever se a pessoa terá anafilaxia, mas o fator genético
TODO ANO interfere: “[O paciente] tende a ter alguém com anafilaxia na família, além de outros tipos de alergia”,
destaca. Dados do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, mostram que a maior parte da
população que apresenta sintomas de choque anafilático tem mais de 14 anos. Além disso, sabe-se que
os maiores causadores desse problema são alimentos e ferroadas de insetos, como abelhas e vespas.
 PERIGO NA o Brasil, 5% dos adultos e 8% das

N
COMIDA
crianças apresentam algum tipo de PELO CORPO TODO
alergia alimentar — ou seja, comidas Conheça os vários sintomas
e bebidas são as segundas maiores causadoras
de reações alérgicas, perdendo apenas para os DIGESTÃO OLHOS
Maior parte dos pacientes fatores respiratórios. Segundo a especialista
A alergia a ali- A inflamação ocu-
tem alergia a leite, ovos, Ana Paula Moschione, o alérgeno se relaciona
mentos tende lar é comum em
trigo, amendoim, castanha, com as proteínas do alimento: “Eu diria que a se manifes- pessoas com aler-
soja ou crustáceos cerca de 80% dos pacientes têm alergia a lei- tar na forma de gias respiratórias.
diarreia, dor de Os sintomas são
te, ovos, trigo, amendoim, castanhas, soja ou
barriga, vômito olhos lacrime-
crustáceos”. Isso porque alguns tipos de pro- e perda de peso. jantes, inchados
teínas são mais propensos a causar alergias. Há outros diag- e vermelhos. Na
nósticos possí- maior parte dos
Para Elaine Gagete Miranda, o considerável
veis para esses casos, é um sinto-
aumento no número de diagnósticos de alergia sintomas, como ma sazonal, mas
nos últimos anos está ligado à vida moderna: intolerância ou pode ocorrer du-
doença celíaca. rante todo o ano.
“Deve ter relação com a forma de preparar os
alimentos, mas são especulações científicas, URTICÁRIA ECZEMAS
pois ainda não temos comprovações”.
Alimentos ten- Parecidos com
dem a ser os a urticária, os
maiores causado- eczemas apre-
res de urticária sentam também
como reação indícios de secu-
alérgica. Os sin- ra e descamação
tomas consistem da pele. Apesar
em manchas ver- de não terem
melhas, inchaços, cura, podem
coceira, ardência ser tratados
e erupções cutâ- com loções que
neas. A urticária diminuem o
pode desaparecer incômodo dos
após alguns dias. pacientes.

REGIÃO ORAL RESPIRATÓRIOS

Os sintomas que São mais comuns

ocorrem na boca e consistem em
MONTAGEM com foto de Rypson / Getty Images

normalmente espirros, coriza,

são causados coceira no nariz
por alimentos ou e na garganta,
pólen e são ca- inchaço na boca
racterizados por e nas vias aéreas,
coceira na região tosse e falta de
dos lábios, na ar. Podem ser
boca e na gar- caracterizados
ganta. Também como asma ou ri-
são conhecidos nite dependendo
como síndrome do que o pacien-
de alergia oral. te apresentar.

PURA ADRENALINA DEVAGARZINHO PERFUME FATAL CADÊ O AR?

Pacientes com anafilaxia
precisam carregar uma inje-
ção de adrenalina para todos
os lugares. No entanto, além
de não ser registrado pela
Anvisa, o produto não é fa-
bricado no Brasil. A única al-
ternativa é importá-lo a um
custo de cerca de R$ 730.
É raro um choque anafiláti-
co ocorrer de primeira.
Em geral, a reação apare-
ce na segunda ou terceira
vez que a pessoa entra em
contato com a substância.
Logo, é essencial procurar
um médico ao menor sinal
de incidência da alergia.
Algumas situações são tão
extremas que apenas o
cheiro da substância já é
capaz de causar um sério
choque anafilático. O fervi-
mento do leite, por exem-
plo, libera sua proteína no
ar durante a evaporação
e pode causar alergia.
Falta de ar, queda de pressão,
urticária no corpo, desmaios
e confusão mental são alguns
dos sintomas de anafilaxia.
Caso haja a manifestação
de algum deles, é importante
levar a pessoa prontamente
ao hospital ou
injetar adrenalina. 25
PERTINHO DOS m estudo divulgado pela emissora BBC mos-

U
MICRÓ-
trou que, hoje, um em cada três habitantes bri- BACTÉRIAS
tânicos das metrópoles tem alergia, enquanto DO BEM
a proporção para comunidades afastadas é de um alér- Descubra onde

BIOS
Há uma relação inversa
entre alergias e bactérias:
quanto mais de uma,
menos da outra
gico para 1,5 mil pessoas saudáveis. Não por coinci- encontrá-las
dência, foi provado que os residentes do Reino Unido
entram em contato com um número muito menor de
bactérias do que os moradores de aldeias. Juntamen-
te com uma série de outros estudos, esse sugere que
existe uma relação inversa entre alergias e bactérias:
quanto mais bactérias, menos alergias, e vice-versa. PARTO
Por isso, os especialistas acreditam que é impres-
O aumento dos partos
cindível entrar em contato com os animais, o meio
com cesariana fez crescer
ambiente e outras pessoas logo no início da vida. Se- também o número de alér-
gundo a médica Ana Paula Moschione, “o contato com gicos. Isso porque, ao nas-
cer dessa forma, o bebê
bactérias da natureza estimula o sistema imunológi-
não passa pela vagina, en-
co”. Desse modo, o corpo “aprende” a agir de forma tão não entra em contato
independente, o que diminui as chances de alergia. com as bactérias que vi-
vem nessa região do corpo
O número de asmáticos no mundo chegará a
feminino. Conforme dados
400 milhões até 2025, de acordo com dados da Organi- de um estudo norueguês,
zação Mundial de Alergia — em 2016, eram 30 milhões. bebês que nascem de par-
to normal têm 52% menos
Esse crescimento pode ser atribuído a muitos fatores
chance de desenvolver
da vida moderna, como o aumento de cesarianas, o de- asma, por exemplo.
senvolvimento desenfreado de antibióticos, a alimen-
tação industrializada, a diminuição do tempo de ama-
mentação e a falta de contato com animais. “Ao longo
de muitos anos nossos hábitos alimentares e compor-
tamentais parecem ter contribuído para o aumento da ANIMAIS
população alérgica”, diz Moschione.
Estudo da Universidade
de Alberta, no Canadá,
provou que crianças que
têm animais de estimação
são menos propensas
a desenvolver alergias.
Segundo a médica Maria
Candida Rizzo, o problema

ÍCONES: Martyn Jasinski, Katrin Leo Pako e Paddle.com

é quando os bichinhos são
introduzidos na família
depois: “O sistema imune
da pessoa vai reconhecer
aquilo [pelos, odores etc.]
como estranho”, conta.

LEITE MATERNO

Durante a fase de ama-

mentação, o bebê entra
MONTAGEM com foto de jarun011 / Getty Images

em contato com um gran-

de número de bactérias
benéficas para a saúde.
Por isso, é essencial que
a criança mame por, no
mínimo, seis meses, já
que, de acordo com espe-
cialistas, os microrganis-
mos que vivem no corpo
da mãe ajudam a estimu-
lar o sistema imunológico.

26
LIMPINHOS
DEMAIS

MONTAGEM com foto de Neustockimages / Getty Images

Teoria desenvolvida há quase 30 anos
afirma que o excesso de higiene seria
responsável pelo alto número de alergias

ESTAMOS MAIS ALÉRGICOS A CADAANO

e grande parte dos especialistas crê que isso seja
simplesmente uma consequência da vida moderna.
Mas há uma parcela de cientistas que acredita que
o crescimento do número de alergias esteja rela-
cionado com o excesso de higiene e com o surgi-
mento de métodos de prevenção de doenças, como
os antibióticos e vacinas. Essa crença faz parte da
“Hipótese da Higiene”, desenvolvida pelo epidemio-
LEIA MAIS NO SITE: FONTE: Diagnóstico e Tratamento das Doenças Imunológicas, Mario Geller e Morton Scheinberg
logista David Strachan no final da década de 1980. GLO.BO/2RAHNVF
A teoria destaca que a falta de contato com
agentes infecciosos durante a infância resulta na
ESTÁVEL Número de alérgicos cresceu pouco nos últimos 30 anos
vulnerabilidade do sistema imunológico. A aler-
gista Maria Candida Rizzo explica que, no caso da
vacinação, a independência do organismo diminui, 200 MI

o que aumentaria as chances de uma pessoa se

tornar alérgica. É como se o sistema imunológico 150 MI

ficasse “preguiçoso” e, ao se deparar com possíveis

alérgenos, reagisse a eles como se fossem micror- 100 MI

ganismos perigosos por não saber diferenciar di- NÃO ALÉRGICOS

reito o que é um “ataque” do que é uma substância 50 MI
inofensiva. “Tudo tem um lado bom e um lado ruim,
um ponto e um contraponto, e esse é o da vacina- ALÉRGICOS
0
ção”, afirma a alergista, que ressalta a importância 1980 2010
da vacina apesar desse possível efeito colateral.

Tem cura?
ALERGIAS NÃO TÊM CURA, MAS TÊM TRATAMENTO. Quando o assunto é esse, os especialistas são
unânimes em apontar: o mais importante é se manter informado. Para ter melhor qualidade de vida e
se manter produtivo, o alérgico precisa conhecer as coisas que ajudam e que atrapalham sua condição a
PESQUISAS BUSCAM
fim de evitar ou tratar uma crise. E só um alergista pode auxiliar nisso. O especialista, por sua vez, pode
ALTERNATIVAS PARA
receitar tratamentos esporádicos ou contínuos, dependendo da gravidade da situação.
MELHORAR A VIDA
No caso das alergias alimentares, algumas pessoas podem tentar reintroduzir o alérgeno aos poucos —
DOS ALÉRGICOS
desde que com supervisão médica. Já quando as alergias são respiratórias, é essencial manter a limpeza e a
organização dos ambientes com que o indivíduo tem contato: “A primeira frente do tratamento é a orientação
ambiental, só depois vem a parte da medicação”, explica Maria Candida Rizzo. A especialista informa ainda que
quem sofre desse tipo de alergia tem mais chances de desenvolver uma infecção viral, tendo em vista
que já existe um processo inflamatório acontecendo no corpo, por isso a importância do tratamento. 27
 DE TUDO UM POUCO
Casos mais estranhos que a ficção

AS
ALERGIAS ÁGUA

Poucas pessoas
PRESSÃO

Para algumas pes-

MADEIRA

Dan Hill resolveu

MAIS
são como Rachel soas, usar roupas largar o empre-
Warwick, garota apertadas e receber go para realizar o
britânica que tem massagem pode ser sonho de ser carpin-
urticária aquagê- um pesadelo. Isso teiro. Ironicamente,

BIZARRAS
nica. Ela não bebe porque a pele delas tempos depois ele
água, toma banho possui uma pro- descobriu que era
ou entra no mar priedade chamada alérgico a serragem:
sem sentir algum in- dermografismo, e seu corpo inchava e
cômodo. Ao ficar em reage quando sofre coçava. Por sorte,

DO
contato com a água, algum tipo de pres- o britânico perce-
seu corpo incha, são, mesmo que seja beu que não era
coça e dói — mesmo pouca. As reações alérgico ao carvalho
que a substância são inchaços e infla- galês, e hoje traba-
esteja em forma de mações, na maioria lha só com a madei-

MUNDO
lágrima ou suor. das vezes. ra dessa árvore.

SOL SÊMEN ROUPAS ÍNTIMAS

Exercícios físicos, água, madeira,
sêmen, luz solar, wi-fi… A fotoalergia ocor- O fluido do corpo A reação é dispara-
Tem alérgico para (quase) tudo re bem antes de masculino é respon- da por conta do teci-
qualquer queima- sável por inchaço, do da peça de roupa,
dura. Para os alér- coceira e até dor em que, na maioria das
gicos ao Sol, uma algumas pessoas. vezes, é feita de al-

O
caso de Grace Morley é um dos
curta exposição Há situações tão godão ou poliéster.
mais conhecidos — e bizarros — aos raios da nossa graves que o alérgico Os sintomas, entre-
do mundo. A jovem ficou famosa estrela causa irrita- pode ter um choque tanto, podem apa-
ções na pele, cocei- anafilático e morrer recer em qualquer
após descobrir que é alérgica a comer ma-
ra e surgimento de durante a relação outro lugar do cor-
çãs embaixo de bétulas, um tipo de árvore. pintinhas. A alergia sexual. Para os médi- po, não necessaria-
O mais curioso é que a menina não é alér- normalmente afeta cos, casos mais leves mente na genitália,
idosas e mulheres dessa alergia podem onde o alérgeno tem
gica a maçãs nem a bétulas separadamente,
de 15 a 35 anos com explicar a infertilida- contato direto com a
apenas quando ambas estão juntas. Morley a pele mais clara. de de alguns casais. pele da pessoa.
desenvolveu a reação na infância, quando
brincava no jardim com os colegas.
Com os avanços da vida moderna, no-
vas alergias foram surgindo. Hoje, pode-
-se até dizer que “tem alérgico para tudo” FILHO CÁPSULAS WI-FI
— o que complica ainda mais o estudo das
ÍCONES: Paddle.com, Oksana Latysheva e José Manuel de Laá

origens dessas reações do sistema imuno- Algumas mulheres A alergia a cápsulas O DJ Steve Miller fi-
desenvolvem reação de remédio é inco- cou famoso após ter
lógico. Grace Morley, no entanto, não é a alérgica ao próprio mum, mas interfere seu caso divulgado
única pessoa a apresentar uma resposta filho durante a ges- na vida de várias no jornal The Sun.
a algo extremamente específico. Há, por tação. Os sintomas pessoas, que só O britânico foi diag-
apresentados são podem tomar medi- nosticado com aler-
exemplo, quem tenha alergia a atividades coceira, irritações cações que vêm em gia a ondas eletro-
físicas. Não é só uma desculpa para faltar e erupções cutâ- outro formato. magnéticas e a wi-fi.
à academia: os alérgicos a exercícios apre- neas. A Penfigoide Por isso, as far- O “contato” com
Gestacional, como a mácias devem se essas ondas causa
sentam reações fortes cerca de 30 minu- alergia é chamada, certificar de que as grandes dores de
tos após completar alguma atividade, e os pode ser tratada cápsulas não sejam cabeça a Miller, por
sintomas podem variar entre desconforto com medicamentos vendidas para clien- isso ele fica a maior
anti-histamínicos tes com esse tipo parte do tempo em
gastrointestinal, coceira e inchaços. Veja e corticoide. de problema. casa, isolado.
ao lado outras alergias surpreendentes. 28
 PAPERCUT
TAMY RENTE

SUMÁRIO
CAPA: CIÊNCIA PARA APRESSADINHOS P.30 SAUDÁVEIS DEMAIS? P.42

DE MATÉRIAS DE VOLTA PARA O... PASSADO P.50 ENSAIO: O QUE RESTA DA AMAZÔNIA P.56

ENTREVISTA: ARTUR AVILA P.62 RAÍZES DA IDEOLOGIA DA COREIA DO NORTE P.66

 30
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RAÇÕES
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HISTÓRIA D
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VER
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DA
CON
CEIT
OS

OM
C
PLE
XOS DE FO
RM
AR
ÁP

31
IDA
 atualidade. Se não for o melhor. Com capítulos curtos,
a leitura é prazerosa e repleta de gracejos como o que
você acabou de ler. Introduz tópicos complicados (e
fascinantes) da astrofísica até para quem está na cor-
reria, chacoalhando no ônibus ou então lendo entre
uma garfada e outra, no horário de almoço do trabalho.
Ao notar que todo mundo sabe quem é a Beyoncé ou
o que é futebol, Tyson criou uma receita infalível para
ser compreendido por todos. “As pessoas têm um reper-
tório de cultura popular, e são especialistas nele”, disse
em entrevista ao The New York Times. “Percebi que pos-
so vincular a ciência que tento ensinar a esse repertó-
rio — e já estou com meio caminho andado.” Mas isso
envolve muito esforço mental, criatividade e maratonas
de seriados e partidas de futebol. Além da cultura pop,
outras técnicas ajudam a tornar a ciência interessante.

era tarde da noite e Neil deGrasse Tyson salivava

GENTE COMO A GENTE
por um chocolate quente. O astrofísico entrou em uma
Ao falar em público, Sidarta Ribeiro, neurocientista da
certa cafeteria de Pasadena, Califórnia, e fez o pedido.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
Isso ocorreu há alguns anos, mas ele se lembra bem do
olha cada pessoa no olho. “Não adianta dar palestra
que aconteceu em seguida. Pediu a bebida com chantilly.
olhando para o infinito”, diz. Ele prefere partir de con-
Depois de alguns minutos, o chocolate chegou, mas sem
ceitos familiares e aprendidos na escola, como o DNA,
o chantilly. Indignado, Tyson reclamou com o garçom.
antes de chegar nas coisas complexas. “Procuro ligar a
Achando-se perspicaz, o moço assegurou que o creme
biologia com a psicologia para fugir da aridez.” Já para
não estava ali porque escorregara para o fundo do copo.
a astrônoma Duília de Mello, vice-reitora da Universi-
Mal imaginava que a desculpa nunca colaria. Não com
dade Católica de Washington e colaboradora da Nasa,
alguém como Neil deGrasse Tyson. O chantilly não po-
o segredo é abrir mão de termos técnicos. “De repente
dia afundar — e o astrofísico sabia muito bem disso.
preciso jogar fora uma palavra que amarra tudo e não
Toda aquela cremosidade do chantilly que desman-
consigo — mas tenho que achar um jeito”, diz a Mu-
cha na boca se deve ao fato de ele ter baixa densida-
lher das Estrelas (seu projeto de divulgação científica).
de. E coisas pouco densas flutuam nos líquidos que os
Mello acredita que, quanto mais um cientista comunica
humanos consomem. Tyson cravou duas explicações.
sua pesquisa, mais fácil fica: “Eu, que já faço isso há 30
“Ou alguém se esqueceu de adicionar chantilly ao meu
anos, acho que fiquei melhor com o tempo”.
chocolate, ou as leis universais da física são diferentes
O Brasil tem experimentado ótimas iniciativas para
em seu restaurante”, escreve em seu mais novo livro,
estimular o bate-papo entre pesquisadores e leigos.
Astrophysics for People in a Hurry (Astrofísica para
Uma delas é o Famelab, na segunda edição neste ano.
Quem Tem Pressa, em tradução livre), lançado em maio
É um divertido Se Vira nos 30 da ciência: cientistas com-
nos Estados Unidos e que será lançado em agosto no
petem para ver quem divulga melhor um conceito em
Brasil pela Editora Planeta. Na esperança de demons-
apenas três minutos — e o vencedor participa da compe-
trar o que dizia, o garçom trouxe um punhado de chan-
tilly e o jogou na bebida. O creme oscilou uma vez, duas

86%
vezes, e então se estabilizou suavemente na superfície.
“De que prova melhor da universalidade das leis da
física você precisa?”, arremata o astrofísico, prova viva
de que uma noção mesmo que básica dessas leis pode
DOS BRASILEIROS
ser empoderadora no dia a dia, fornecendo ferramen- TÊM ALGUM GRAU
tas para confrontar pessoas cheias de si. O problema DE INTERESSE
é que o conhecimento científico é complexo, por isso é POR CIÊNCIA
tão difícil para o cientista transmiti-lo quanto é para o
leigo compreendê-lo. Mas no novo livro, fica claro que
Tyson, apresentador do remake da série Cosmos e do
programa Star Talk (o primeiro talk show de ciência
da TV), é um dos melhores divulgadores científicos da
 33

14%
dos brasileiros en-
INTERESSE DO BRASILEIRO POR CIÊNCIA E TECNOLOGIA xergam os cientistas
como pessoas que se
1% Não sabe/não respondeu interessam por temas
distantes da realidade
ou pessoas excêntri-
Nada interessado 13%
25% Pouco interessado cas de fala complicada

Muito interessado 26%

35% Interessado
Romper com essa imagem faz a sociedade valorizar
mais a ciência ao se identificar com os que a fazem.
E ter uma população que se interessa pelo conhecimen-
to científico só traz benefícios. “Quem reconhece o po-
der da ciência começa a checar fontes, definir caminhos,
COMO O BRASILEIRO VÊ OS CIENTISTAS
consegue saber onde investir para ter um futuro me-
10% 20% 30% 40% 50% lhor”, afirma Barbosa. E os divulgadores estão entre os
agentes que melhor disseminam a ciência na sociedade.
Pessoas inteligentes que fazem coisas úteis à humanidade
O papel deles é ainda mais fundamental em um mun-
Pessoas comuns com tratamento especial
do onde a informação flui de forma livre e abundante.
Pessoas que se interessam por temas distantes da realidade
Como diferenciar o que importa do que não importa?
Pessoas que servem a interesses econômicos
Para o filósofo e escritor Mario Sergio Cortella, o de-
Pessoas que trabalham muito sem querer ficar ricas
safio é explicar de maneira simples, mas não simpló-
Pessoas que formam discípulos na sua atividade de pesquisa
ria. “Eles [os divulgadores] estabelecem pontes, es-
Pessoas excêntricas de fala complicada tendem o convite, abrem a porta para que os que não
Não sabe/não respondeu estão na ciência possam adentrar”, diz. Cortella enxer-
ga o empoderamento científico como uma ferramenta
de liberdade e emancipação criativa, que amplia o re-
OQUEFAZERCOMOSINVESTIMENTOSEMC&TNOBRASIL pertório de soluções de uma sociedade.
Segundo ele, porém, ter critérios de seleção é o único
Manter 13,4% modo de manter a sanidade em um contexto de exces-
so de informação, que ele compara a um rodízio de car-
Não sabe/não respondeu 5,1% nes. “Só pode ser um local de fruição e aproveitamento
se houver critério”, afirma. “Se a pessoa for aceitando
Diminuir 3,4% tudo o que vier, no máximo vai ficar empanturrada em
15 minutos”, diz. E há, é claro, uma grande diferença en-
tre informação e conhecimento. “Não se deve confundir:
Aumentar (EUA, Espanha e França ~40%) 78,1%
a informação é cumulativa, enquanto o conhecimento é
Fonte: Percepção Pública da C&T no Brasil 2015 (MCTI) seletivo”, explica Cortella — que, obviamente, deve ser
bom de garfo. “Comer bem não é comer muito.”

tição internacional. Há também o Pint of Science, que tira

TO, A CIÊN
O CER
os especialistas do laboratório e os leva para o bar, onde
IT CIA
trocam ideias sobre ciência em um contexto informal.
O JE V
IRA
D

Nascido em 2015, o evento teve palestras simultâneas

DA

UMA

Nas próximas
DO CONTA

em 22 cidades pelo país afora neste ano. Isso é importan- páginas, conceitos
AVENTURA

de que você já deve

te para desconstruir estereótipos. “Quando enxergarem ter ouvido falar
serão apresentados
que somos pessoas normais e não personagens de Big de forma
QUAN

descomplicada.
Bang Theory, a coisa vai mudar”, destaca Marcia Barbosa, Boa leitura!
diretora da Academia Brasileira de Ciências.
Uma pesquisa de 2015 do então Ministério da Ciên-
cia, Tecnologia e Inovação (MCTI) revelou que 86% dos
brasileiros têm interesse por ciência e tecnologia, mas
14% consideram cientistas pessoas “que se interessam
por temas distantes, excêntricas e de fala complicada”.
 GRAVIDADE DA SITUAÇÃO AULA DE JUMP CÓSMICA
RELATIVIDADE ALBERT EINSTEIN PRECISOU SER Não sabemos
do que o
GERAL MUDOU categórico — a velocidade da luz é cons- espaço-tempo é
feito, mas ele se
ASTROFÍSICA COMPREENSÃO tante e fim de papo. As leis da física não comporta como
o tecido de uma
DO UNIVERSO são democráticas. Se um sujeito dirige o cama elástica

carro à noite, a luz do farol viaja os mes-

mos 300 mil quilômetros por segundo
que a lâmpada do poste, mesmo que o carro esteja em alta velocidade. E tinha mais: seria
Corpos com
necessária uma quantidade infinita de energia para acelerar corpos à velocidade da luz (c). muita massa
como o Sol
Como energia não dá em árvore, isso é impossível. Então, além de constante, c é o limite. geram distorções
mais intensas,
Mas tinha um problema: as regras só descreviam os movimentos com precisão caso não que afetam
até mesmo a
houvesse interações gravitacionais desviando a trajetória dos corpos pelo caminho. Einstein trajetória da luz

ainda não tinha conseguido incluir a gravidade em sua teoria, descrita por Newton como
uma força que faz os corpos se atraírem. É que as ideias não batiam: se nada pode viajar
mais rápido que a luz, como é que essa tal força de atração poderia ser sentida instantanea-
mente? “A conclusão foi que, em um campo gravitacional, a estrutura do espaço-tempo se
curva”, explica o astrofísico Ronaldo Vieira, do IAG-USP, especialista na teoria que incluiu
a gravidade — a Relatividade Geral. Planetas e estrelas distorcem o espaço-tempo como
se ele fosse um tecido (veja ao lado). Assim, a gravitação deixou de ser uma força abstra-
ta e passou a ser só corpos percorrendo o “caminho mais fácil” em um tecido distorcido.

5% MATÉRIA, MAS AQUELES 95%...

LADOESCURODOUNIVERSOÉUMDOSMAIORESMISTÉRIOSDAASTROFÍSICA CRÔNICAS DA ESCURIDÃO

MATÉRIA ESCURA ENERGIA ESCURA NO ESCURO

Quase tudo no
Estima-se
que há seis
Universo é feito vezes mais
Tudo o que enxergamos é só É irônico que a energia escura tenha de coisas que não matéria
sabemos explicar escura que
a ponta do iceberg do oceano sido descoberta graças a um fenô- matéria
normal
cósmico. Estima-se que haja seis meno luminoso: a morte explosiva 5% Estrelas
MATÉRIA CONHECIDA

da borda
vezes mais matéria escura no de estrelas massivas (supernovas). orbitam em Observado
velocidade
Universo do que matéria normal. Ao espiá-las em galáxias muito 27% muito maior
MATÉRIA do que Expectativa
E ela é chamada de escura justa- distantes, o Hubble descobriu algo ESCURA deveriam
mente porque não pode ser vista. chocante: o Universo se expande ace-
Só que sua massa é denunciada leradamente. “Calculamos o tempo que
Expansão do Universo

pela gravidade, que faz aglo- levava para essa luz chegar até aqui Hubble

merados de galáxias e estrelas e os cálculos não batiam”, diz Mello.

ão

periféricas girarem bem mais Essa força misteriosa acelera os 68%

aç

el
er

ENERGIA Supernova Ac
rápido do que deveriam. Culpa da objetos e os distancia cada vez mais. Já ESCURA Expansão acelerada:
celeração
matéria escura. “Não sabemos o se foram 20 anos, mas o conceito ainda Desa a luz demora mais
tempo do que deveria
que é, mas sabemos que está lá”, entala na garganta: “Tem gente que para chegar até nós

diz a astrofísica Duília de Mello. fala que é viagem na maionese (risos)”. Big Bang 10 bilhões de anos atrás Hoje

Fonte: Nasa (Goddard Space Flight Center)

ADA Há 13,7 bilhões de anos

NT
Antes de 10-43 segundos DBB
BIG BANG (depois do Big Bang)
ERA DE PLANCK
TÓRIA JÁ CO

Cosmólogos são
tão espertos que já
contaram (quase)
toda a longa história
de nosso Universo Universo nasce em uma violenta Tudo era tão quente e denso
explosão. Toda sua energia e que as quatro forças da
HIS

massa estavam contidas em um natureza ainda não haviam se

R volume trilhões de vezes menor separado. Antes disso, nossas
A MAIO do que a cabeça de um alfinete leis da física não se aplicam
 QUANDOPARTÍCULAS
ANDAMDEMÃOSDADAS
ENTRELAÇAMENTO Se duas pessoas dão
Buracos negros
são tão pesados QUÂNTICO FAZ PRO- as mãos e começam
que não só
distorcem: eles PRIEDADES SEREM a rodar, não é preciso
furam o tecido
COMPARTILHADAS observar cada uma
FÍSICA QUÂNTICA para saber que elas
giram na mesma di-
Ondas reção, certo? O mesmo vale para partículas
gravitacionais
são ondulações entrelaçadas. “Imagine que pudesse fazer
que se propagam
pelo tecido
quando corpos
JUNTINHAS isso sem a mão física, mas com algo que li-
com massa se
aceleram
PARA O QUE gasse as duas partículas como a mão liga as
No espaço não DER E VIER pessoas”, diz Marina Nielsen, física nuclear
há atrito como
na cama elástica, da USP. Leis de conservação garantem que,
então planetas
como a Terra Diga-me com se você medir as propriedades de uma ou
não rolam de quem andas...
encontro ao Sol mais partículas entrelaçadas, na hora sabe-
rá as das outras — mesmo que elas estejam
em cantos opostos do Universo, farão parte
do mesmo sistema. Não é doido? Einstein
... que te direi
teu estado também achou: chamou o fenômeno de
quântico
“ação fantasmagórica a distância”.

Gatíneo louco 1
das ideias Medidor
Geiger
Martelo

Gato
Se a
substância
radioativa
EXPERIMENTO ILUSTRA não decair,
Dança das galáxias CONCEITOS QUÂNTICOS
o medidor
não aciona
Substância o martelo
A VIA LÁCTEA ESTÁ EM ROTA DE COLISÃO, MAS VAI FICAR TUDO BEM radioativa e não
A mecânica quântica é quebra
o frasco.
PARA TODOS
Daqui a aproximadamente 4 bilhões de clara: se você não co- O gato vive
Veneno
OS GOSTOS
anos, a Via Láctea vai colidir e virar uma nhece o estado de um
bola de gás e estrelas. É isso que acontece elétron, deve assumir 2
Substância
quando duas galáxias espirais se chocam: GALÁXIAS que ele está em todos Caso a
radioativa decai
ESPIRAIS substância
e o gato morre
se transformam em uma elíptica (veja ao Têm braços e os estados possíveis radioativa
seus núcleos decaia, o
lado os diferentes formatos de galáxia). podem ao mesmo tempo. medidor
possuir forma aciona o
Quem vai nos acertar é Andrômeda, esférica ou Para digerir esse martelo,
de barra. que quebra
vizinha que viaja a 100 quilômetros por conceito, o físico Erwin o frasco e
mata o gato
LENTICULARES
segundo. Ela é igual à Via Láctea, só que São espirais Schrödinger bolou um
sem braços.
maior: tem 1 trilhão de estrelas, enquanto famoso experimento
Os núcleos
também podem
3
por aqui há “só” 400 bilhões. Ao contrário apresentar mental batizado de Para quem
Sobreposição está fora,
formato barrado de estados
das galáxias, que vão virar uma coisa só, ou esférico. “gato de Schrödinger”. Gato vivo o gato pode
quânticos estar vivo
as estrelas não colidirão graças à distância Funciona assim: um ou morto.
ELÍPTICAS Fosse uma
entre si. Habitantes de ambas as galáxias gatinho está dentro de Gato morto partícula,
Esféricas ou
alongadas estaria vivo
ficarão bem, se existirem. Eles só terão de (em forma de uma caixa com partí- e morto
charuto). Com ao mesmo
nomear o novo endereço cósmico: talvez pouco gás, as culas radioativas que tempo
estrelas são
Via Drômeda. Ou então Dromedáctea. mais velhas. podem circular ou não
— só que quem está 4
Fonte: Sloan Digital Sky Survey Mas o estado
de fora da caixa não quântico só é
definido com
a observação Seria o
sabe o que aconteceu. observador
De 10 s DBB a 10 s DBB
-43 -36
responsável
ERA DA GRANDE Ou seja, se o gato pela vida
UNIFICAÇÃO ou morte
fosse uma partícula, do gato?
estaria vivo e morto
Com a expansão e o ao mesmo tempo.
resfriamento do Universo,
a gravidade se separa das
outras forças fundamentais:
nuclear forte e eletrofraca 35
 DE QUARKS O MUNDO É FEITO
Desde a Antiguidade, a in- TRÊS ZOOMS NOS LEVAM
u
u
Quark up tuição de filósofos como DE UM COPO D’ÁGUA ATÉ O
MUNDO DAS PARTÍCULAS
Quark up

o grego Demócrito já insi-

nuava que a matéria deve
u ser feita de blocos que não Molécula
Quark up

se podem dividir. Surgia Fóton (y) de água

FÍSICA DE PARTÍCULAS (H2O)
Transporta
a ideia dos átomos. Mas a força
eletromagnética
foi só no século 19 que os (tem carga
elétrica)
primeiros modelos atômi-
ENTENDER ESTRUTURA DA
cos tornaram o conceito
MATÉRIA NO NÍVEL MAIS
menos abstrato — e mais
BÁSICO SEMPRE FOI UM
científico. Da descoberta 2
DESAFIO PARA A CIÊNCIA 1
do núcleo, passando pela
dos prótons, nêutrons e
Gravitação
elétrons até chegar à dos quarks, na nada distante déca- Força sem
partícula
da de 1960, a tendência não mudou: avanços tecnológi- fundamental Neutrinos
(veja na página Bilhões por
cos nos revelam blocos ainda mais fundamentais. anterior) segundo
atravessam o Átomo de
Investigações sobre a estrutura da matéria, um buraco nosso corpo oxigênio (O)
vindos do Sol
de coelho que parece não ter fim, levaram até as partícu-
las elementares do Modelo Padrão (veja ao lado), criado
na década de 1970. Ele as relaciona com as quatro forças Próton

fundamentais (nuclear forte, nuclear fraca, eletromagne-

tismo e gravidade): é a melhor descrição do Universo. Elétron
Físicos de partículas adoram colidir as coisas — por 3
isso construíram máquinas como o Grande Colisor de
Hádrons (LHC). Elas permitem estudos que melhoram Nêutron

o Modelo Padrão, como o Bóson de Higgs, e até son-

dar além, como a misteriosa matéria escura. “Na mecâ-
nica quântica”, diz Nielsen, “a gente costuma dizer que
tudo o que não é proibido, é obrigatório. Tem de existir”.
U
U
Fonte: The Particle Adventure 113
Ununtrio
113
Ununtrio
1
112 Un
Copernício
112 80
CopernícioMercú
80
112

A arte de rotular BOTAR ORDEM

Mercú
Copernício
Em Astrofísica para Quem Tem Pressa, Neil deGrasse Tyson nos brin- 111
Roentgênio 79
111

poeira estelar NO COSMOS

Ouro
da com uma reflexão inspiradora. Ele pede às pessoas que vejam a Roentgênio
111
79
Ouro
Roentgênio
O
tabela periódica como um ícone cultural, e não um quadro indecifrável 110
Darmstádio
110
78
Compostos químicos Platina
78

DESVENDAR OS ELEMEN- estudado na escola. Ele vai mais longe. “É um testemunho da ciência contam histórias. Dentro
Darmstádio
110Platina 7
Darmstádio Pla
da tabela periódica, a 77
TOS QUÍMICOS E COLOCÁ-
trons
109
como uma aventura humana internacional conduzida em laboratórios, organização dos elementos Meitnério
109
Irídio
77
Irídio
109

-LOS EM UMA TABELA FOI

Meitnério
aceleradores de partículas e na fronteira do próprio cosmo.” não leva em conta só lé
Meitnério
QUÍMICA 76
am e
o número atômico (de 108 Ósm
76

UM TRUNFO DA CIÊNCIA Desde que o russo Dmitri Mendeleev publicou, há quase 150 anos, prótons), mas também a Hássio
108 Ósm
Falt
108
HássioHássio
configuração dos elétrons e
os primeiros esforços para categorizar os elementos e suas proprieda- os grupos com propriedades 107
parecidas. Há versões Bóhrio
107 1
des, a tabela periódica caiu no gosto do povo. “Ela é reconhecida fora alternativas da tabela
BóhrioB

da química, pessoas criam tabelas de cerveja, de filmes”, diz o químico em forma de calendário S
maia (veja ao lado) e S
Luis Brudna, da Universidade Federal do Pampa (RS). Brudna criou um muitas outras. Estima-se
que a tabela possa ser
site para divulgar conteúdo audiovisual sobre a tabela. “Vi que havia extrapolada até o elemento
demanda por informações que não fossem secas e enciclopédicas.” de número atômico 172.

De 10-36 s DBB a 10-12 s DBB De 10-12 s DBB a 10-6 s DBB

ERA INFLACIONÁRIA ERA QUARK
E ELETROFRACA

Universo se expande de forma Mesmo com as forças separadas, todo o

exponencial. A força eletrofraca se calor e energia ainda não permitiam que
divide em eletromagnetismo e nuclear quarks formassem hádrons (como prótons
fraca — formando as quatro forças e nêutrons). Era uma sopa (ou plasma) de
fundamentais que temos hoje quarks e glúons — estado recriado no LHC
 O MODELO PADRÃO UMA LUZ QUE NUNCA SE APAGA 37
I II III
ACELERADOR DE ELÉTRONS SIRIUS trajetória dos elétrons e projetam
u c t y h
BÓSON
VAI MAPEAR MOLÉCULAS — E DEVE fótons pela tangente. A estrutura
COLOCAR O BRASIL NA VANGUARDA molecular da matéria é iluminada
UP CHARM TOP FÓTON DE HIGGS

com precisão, quase como em um

d s b g BÓSON DE
QUARKS

HIGGS Todos conhecem o LHC. Mas e o microscópio. O Sirius será usado

DOWN
u c
STRANGE
t
BOTTOM y
GLÚON h
Partícula que
explica o fato
BÓSON Sirius? Em obras desde 2014 em em áreas como materiais, agricul-
UP CHARM TOP FÓTON
de as outras
DE HIGGS

Campinas (SP), ele deve começar tura e medicina para investigar

vde vsµ bντ
0 terem massa
Partículas
de matéria NEUTRINO
DO ELÉTRON
NEUTRINO
DO MÚON
NEUTRINO
DO TAU
gz
BÓSON Z FAMÍLIAS
a funcionar no ano que vem — e alterações nas moléculas — e
DA MATÉRIA será o melhor de sua classe no os efeitos nas propriedades do
DOWN STRANGE BOTTOM GLÚON

νττ
I: A mais leve.
ev vμµ mundo. Tanto o Sirius quanto o elemento. Com o nome da estrela
LÉPTONS

e zw 0 Compõe as
coisas que
LHC aceleram partículas, só que mais brilhante do céu, o Sirius
vemos no
NEUTRINO NEUTRINO NEUTRINO
ELÉTRON
DO ELÉTRON MÚON
DO MÚON TAU
DO TAU BÓSON
BÓSON Z W

dia a dia
BÓSONS as semelhanças param por aí. promete um legado luminoso. “Ele

Bósons
e
Z e W MÚON
ELÉTRON
μ τ
TAU
w
BÓSON W
II e III:
Mais
massivas.
Enquanto o LHC acelera hádrons e deixa uma mensagem de que sim,
Transportam a Decaem os colide para estudar a física em nós podemos”, diz o diretor Antô-
força nuclear fraca rapidamente
(emissões para famílias condições extremas, o Sirius é paz nio José Roque. “Podemos fazer
radioativas) menores
e amor: não trabalha com colisões, tecnologia de ponta com pessoal
só gera energia. Ele usa elétrons treinado no Brasil, desenvolver
Núcleo
do átomo para produzir luz síncrotron, que empresas nacionais e impactar nas
Próton Nêutron surge quando ímãs desviam a mais variadas áreas da ciência.”

Glúon (g)
Transporta a
força nuclear
forte (cola os BRILHA MUITO, BRASIL 68 mil m2
de área
quarks dentro CONHEÇA MELHOR A ESTRUTURA DO SIRIUS
dos prótons
e nêutrons)
Quarks
Up e Down
250 m
de diâmetro

118
117
117
118 87
87
Ununóctio
Ununóctio
116 116Ununséptio
Ununséptio Frâncio
Frâncio 88
88
Ununhéxio
Ununhéxio Rádio
Rádio
115 115 8585 8686 55
55 89
Randônio 89
Ununpentio
Ununpentio Astato Randônio Césio
84 84 Astato Césio 56 Actínio
Actínio
56
Polônio Bário
114 83Polônio Bário 57 90
114Ununquádio 83Bismuto 57
54
54 Lantânio Tório90
unquádio Bismuto 53 Xenônio 37 Lantânio Tório
53Iodo Xenônio 37
Rubídio 58
82
113 82 Chumbo Iodo Rubídio Cério58 91
52 36 38
nuntrioChumbo 35 36
Cripitônio 19 Estrôncio Cério 91
Protactínio
52 Telúrio 38 59
81 Bromo Cripitônio Potássio
19 Protactínio
35
3
Tálio Telúrio Estrôncio Praseodímio
81 34 Bromo Potássio 20 59
Tálio
io
80
51
Antimônio
34
Selênio

Selênio
18
Argônio
18
Cálcio
20
Cálcio
39
Ítrio
60
Praseodímio92
Urânio
92
1
51
Mercúrio 33 17 Argônio 11 21 39 Neodímio Urânio
5
Antimônio Arsênio Cloro Sódio Escândio 60
10 Ítrio
o 33 17 Neônio 11 21 Neodímio93
79 9 3 61 Neptúnio
Escândio
Arsênio Cloro 10 Lítio Sódio
Ouro 50
Estanho
32
Germânio 9
Flúor
Neônio
2 3
22
Titânio
40
Zircônio
Promécio
61
93
Neptúnio PISO 2 ANEL
50
78 16 Flúor
8
Hélio Lítio 4 12 40 62 Promécio94
90 cm de PRINCIPAL
32 22
Estanho
latina Germânio
Enxofre Oxigênio 2
1
Berílio Magnésio Zircônio
Samário Plutônio espessura 2,5 cm de
Titânio
diâmetro
Sobram e

31 Hélio 23
49 Gálio16 8
Hidrogênio
4 12 41 62
7 Vanádio 94
77 Índio Enxofre Oxigênio
Nitrogênio
5
Berílio Magnésio Nióbio 63 Samário Plutônio 900 toneladas no tubo
Irídio 31 6
1 Bário
23
Európio 95
Amerício
de aço (peso de 518 m de
Hidrogênio
49 Gálio 118 15 Carbono 13 24 Vanádio 41 180 elefantes) circunferência
Índio Fósforo7 5 Alumínio
létro

76
Zinco
Nitrogênio
Cromo Nióbio
64 63
48 Bário 42 95
Ósmio Gadolínio Európio
Cádmio 614 Molibdênio 96
29
15 13 25
Amerício 1. ACELERADOR 2. BOOSTER 3. ANEL 4. LINHAS
ns

o 118 Silicone
Carbono 24 Cúrio
Fonte: Mayan Periodic Chart

75 Zinco
Cobre
Fósforo
Maganês
Alumínio Cromo 65 LINEAR Anel circular PRINCIPAL DE LUZ
26 64
Rênio
48 47
28
27 43 42
Térbio Depois de que aumenta Elétrons viajam Feixe de luz
o107 Cádmio Molibdênio Gadolínio
Níquel Ferro 97
Bóhrio 74
Prta
29
14
Cobalto Tecnécio
25 66 Berquélio
96 gerados, ainda mais a 99,9% da síncrotron sai
Silicone Cúrio
Tungstênio Cobre
46 Maganês Disprósio os elétrons a energia velocidade da luz pela tangente e
75 44
65
Rênio 106 73 Paládio
28 45 26
Rutênio 67 98 começam a do feixe de graças ao vácuo. é direcionado às
47 43 Térbio
Seabórgio Tântalo Níquel 27
Ródi Ferro Hólmio Califórnio
97 ganhar energia elétrons. Ímãs Ímãs curvam amostras, onde
Prta Tecnécio Gases nobres
74 72
Háfnio
Cobalto 68
99
66 Berquélio e são acelerados agem de forma suas trajetórias o pesquisador
Tungstênio 105 71
70
69 Érbio Disprósio reagem menos: até velocidade sincronizada para gerar luz realiza seus
Dúbnio 46 Lutécio Túlio 44 Einstênio
106 73 Paládio
104
Itérbio
45 Rutênio 100 67 98
têm a camada próxima à da luz a cada volta síncrotron estudos
abórgio Tântalo Rutherfórdio
103 Ródi 101 Férmio Hólmio de elétrons mais
Califórnio
72 Laurêncio 102 Mendelévio 68 externa completa
Nobélio
105 Háfnio 71 69 Érbio 99
Dúbnio 70 Einstênio Fonte: Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) - CNPEM
Lutécio Itérbio Túlio
104 100
Rutherfórdio Férmio
103 101
Laurêncio 102 Mendelévio
Nobélio
De 10-6 s DBB a 1s DBB 1s a 10s DBB
ERA HÁDRON ERA LÉPTON

Resfriamento forma os O Universo já mede alguns anos-luz.

hádrons. Matéria e antimatéria Depois dos hádrons, é a vez dos
aniquilam-se, mas misteriosa léptons (como neutrinos e elétrons),
assimetria fez a matéria então os donos do pedaço, se
prevalecer. Surgem os neutrinos aniquilarem com seus opostos
 PLANETA DOS Sorria (ou não): sua espécie já pode ser comparada às forças da
própria Terra, como terremotos e furacões. É o que quer provar

HUMANOS o Grupo de Trabalho do Antropoceno. Eles estão elaborando

uma proposta para tentar convencer a União Internacional de
GEÓLOGOS DEBATEM SE
Ciências Geológicas (IUGS) de que, graças a nós, o planeta en-
FIZEMOS OU NÃO A TERRA
trou em uma nova época. Mas não está sendo fácil. “A comuni-
ENTRAR EM UMA NOVA
dade dos geólogos é meio quadrada, precisam de muitas evidên-
ÉPOCA GEOLÓGICA
cias para mudar as regras”, diz a oceanógrafa Juliana Ivar, única
GEOLOGIA
brasileira do grupo. A equipe define que a nova época é marcada
por influências tão profundas da humanidade que teriam deixa-

DIÓXIDO DE CARBONO BURACO NO CÉU SOLO DOMESTICADO

CONCENTRAÇÃO (PARTES POR MILHÃO) REDUÇÃO DA CAMADA DE OZÔNIO TERRA USADA PARA AGRICULTURA
O PREÇO DA COMIDA
360 ppm 70% 50% Ecossistemas são
transformados em
60 fazendas para alimentar
330 50 o mundo, aumentando
as emissões de CO2
40 25
300 30
20
270 10 0

1800

1900

2010
1850

1950
1800

1900

1800

1900

2000
1850

1950

1850

1950
2000

GRANDE ACELERAÇÃO IDADE DO PLÁSTICO

A partir dos anos 50, Microplásticos se
a globalização fez o espalham pelo planeta
impacto das atividades todo: podem ter formado
humanas crescer de a camada geológica que
maneira exponencial define o Antropoceno

PRODUÇÃO DE PLÁSTICO
300 milhões de toneladas Suprir as necessidades
de bilhões de seres
250 humanos está mudando
profundamente a
200 cara do planeta
150
100
50
0

AUMENTO DA POPULAÇÃO
1980

2000

2020
1960

7 bilhões
6
5
4
3
2
1
1800

1900

2000
1850

1950

10 s a 380 mil anos DBB 380 mil a 1 bilhão de anos DBB

ERA FÓTON IDADE DAS TREVAS
E REIONIZAÇÃO

Agora quem manda são os Depois de muito tempo de uma

fótons. Universo era uma sopa escuridão com átomos de hidrogênio,
opaca de prótons, quente formam-se as primeiras estrelas
demais para os elétrons se (560 milhões de anos DBB). Elas
juntarem e formarem átomos criam elementos pesados e galáxias
 do marcas nos estratos geoló- que eles vão sendo deposita-
gicos (camadas que contam a dos em camadas, as superio-
história da Terra). O grupo diz res foram produzidas mais re-
que o Antropoceno começou centemente que as inferiores”,
POR DENTRO DO ANTROPOCENO com a explosão da primeira explica Ivar, especialista nes-
AS ATIVIDADES HUMANAS
QUE MUDAM O PLANETA bomba atômica (veja abaixo), sa poluição. Ela estima que a
mas precisa de uma evidência resposta da IUGS saia dentro
que esteja registrada no solo de três anos. Até lá, por favor,
do planeta todo — como mi- pense dez vezes antes de usar
croplásticos. “Acreditamos pratinho descartável.

PERDA DE FLORESTAS GRANDES REPRESAS

30% 30 mil
ERA ATÔMICA
Primeira explosão 25% 25
atômica (1945) liberou 20% 20
químicos que nunca
na história do planeta 15% 15
estiveram na atmosfera
10% 10
5% 5
0

1800

1900

2010

1800

1900

2010
1850

1950

1850

1950
RASTRO DE MORTE TERRA ARRASADA
Quase 900 espécies Remoção de florestas
foram extintas nos reduz biodiversidade e
Cursos d’água foram
últimos 500 anos: compromete o habitat:
muito alterados para
décadas passadas alertam espécies ficam vulneráveis
abastecer fazendas,
para extinção em massa ao aquecimento global
cidades e indústrias
com água doce

Época dos Humanos,

marcada por extinções,
ANTROPOCENO além de mudanças na
EXTINÇÕES 1945 — PRESENTE paisagem, oceanos e na
química da atmosfera
40%

Fim da última Era

Glacial. Temperatura
20
HOLOCENO amena torna a
11,7 MIL ANOS A 1945? paisagem mais familiar
e dominada pelas
espécies modernas

PLEISTOCENO Eras Glaciais afetam os

2010
1800

1900
1850

1950

hemisférios da Terra.
2,5 MILHÕES A Presença de animais
11,7 MIL ANOS como o mamute

Fonte: The trajectory of the Anthropocene: The Great Acceleration (Sage); The Anthropocene — Human Impact on the Environment (HHMI) e Anthropocene Working Group 39

600 milhões de anos DBB 9 bilhões de anos DBB

SURGE A VIA LÁCTEA (há 4,6 bilhões de anos)
SURGE O SOL
 O CÉREBRO NÃO DORME
COMO O SONO CONSOLIDA AS MEMÓRIAS

3 3. REM*
sidarta ribeiro é um em você. “Me irrita mui- Atividade
Sono não cerebral decai
dos neurocientistas mais to, não é meu cérebro que REM e sono no hipocampo
REM se e aumenta no
renomados do Brasil. Há me faz fazer, ele é uma intercalam córtex: genes
de 4 a 6 são ativados
20 anos, ele tenta desven- parte do meu corpo e eu ciclos por e a memória é
noite armazenada
dar mecanismos por trás sou tudo isso, sou eu que
NEUROCIÊNCIA da relação entre memória mando”, afirma. “É um re-
2
2. ONDAS LENTAS
e sono nos genes e neurô- ducionismo perigoso di- Intensos impulsos
A memória é elétricos
nios. Até os anos 90, es- zer que somos maquini- armazenada reverberam a
inicialmente memória do

CON-
pecialistas debatiam se nhas cheias de pecinhas no hipocampo hipocampo
para o córtex
a relação existia. “Entra- que fazem coisinhas.”

QUISTA
mos no século 21 com
todo mundo concordando
Ribeiro acredita que
1. LEVE
pesquisas de doenças de- Contrações
1 musculares.

DO CÉRE-
que sono e memória estão generativas como o Al- Queda na
frequência
muito relacionados”, diz. zheimer estão entre as Informações cardíaca,
respiração e

BRO
lidas pelo
Seu grupo foi o primei- mais relevantes. Ele desta- pesquisador temperatura
serão
ro a propor um “roteiro” ca que a tecnologia já per- consolidadas
durante
das memórias durante o mite ler mentes e que esta- o sono
NÃO É FÁCIL ESTUDAR A sono (veja ao lado). “É im- mos perto de desvendar a
*Movimento
ESTRUTURA MAIS COM- portante porque são me- consciência. “Com o avan- Rápido dos
Olhos (fase
PLEXA DO UNIVERSO, MAS mórias declarativas, como ço dos poderes computa- dos sonhos)
ESTAMOS CAMINHANDO nomes de coisas e luga- cionais, está sendo pos-
res.” O neurocientista sível fazer experimentos
adora divulgar sua ciên- complexos, analisar da-
cia, mas nunca insinue dos complexos e propor
que seu cérebro manda teorias complexas.”

Fonte: Laboratório de Sono, Sonhos e Memórias (UFRN); Instituto do Sono

N= 1

O despertar do computador quântico AQUI, LÁ E EM TODO LUGAR QUBITS FAZEM MUITA

COISA AO MESMO TEMPO
PROCESSADOR
Empresas começam a Adivinhe quem voltou? Ela mesma, CLÁSSICO BIT CLÁSSICO

S= 0 utilizar o poder da físi- a física quântica. Só que aplicada

0 ou 1 (como um interruptor
ligado ou desligado)
ca quântica para pro- na computação. Hoje, são as com-

COMPUTAÇÃO
cessar informações binações dos bits que processam
1
os dados. Mas eles só podem estar 0

ligados ou desligados. Essas limi-

tações não afetam um bit quântico
(qubit) — já vimos que ele pode estar em um estado, no outro ou nos dois ao mesmo tempo (veja ao lado). Conec- PROCESSADOR
BIT QUÂNTICO QUÂNTICO
te-os e a mágica estará feita. “Sistemas em superposição podem fazer várias operações simultâneas, tornando a
0, 1 ou 01 (sobreposição
computação mais rápida e eficiente”, diz o físico Fernando Brandão, detentor de uma cátedra no Caltech. do estado quântico)

Ele atua na intersecção entre física teórica e computação: na ciência da informação quântica. Brandão estima
que um computador quântico rudimentar deva sair nos próximos dois anos. Será o início de uma nova corrida, pela
criptografia quântica. Isso porque o poder dos qubits quebrará qualquer mensagem criptografada atualmente.
O único jeito será usar qubits contra qubits. Mas é provável que nós, mortais, nunca tenhamos um PC quântico. “Para Esfera de Bloch
conversar no WhatsApp ou checar e-mails, nunca será preciso: o normal resolve a maioria das tarefas do dia a dia.”

Fonte: Franz Himpsel (Universidade de Wisconsin-Madison)

Há 4,5 bilhões de anos 10 bilhões de anos DBB

SURGE A TERRA (há 3,5 bilhões de anos)
SURGE A VIDA NA TERRA
 APRENDA EM TEMPOS DE PRESSA
SIDARTA
E OS RATOS
PROFESSOR DÁ DICAS PARA Vivemos em um mundo cheio de ques-
Em uma caixa, ratos LIDAR COM A SOBRECARGA DE tões e problemas científicos. Do aqueci-
eram submetidos
a ciclos de luz e INFORMAÇÃO DA ATUALIDADE mento global, passando pelos alimentos
escuridão. Objetos
eram inseridos que você come ou por como você vai pa-
e retirados após
algumas horas. gar por algo que comprou, todos são, de alguma forma, problemas
As conclusões ao
lado foram fruto que envolvem algum tipo de conhecimento. Estamos imersos
do comportamento
dos neurônios em uma explosão de informação. O problema é que, apesar de o PROF. MAURICIO PEIXOTO
FASES DO SONO

dos ratinhos
cérebro ter evoluído muito nesses milhões de anos, a quantidade Doutor em Medicina,

CUCA LEGAL
de coisas que precisamos saber aumentou bem mais que a sua ca- Professor associado da UFRJ,
FUNÇÕES DO SONO pacidade de processamento. Então, o que fazer? A resposta está líder do GEAC-UFRJ e membro do
PARA O ORGANISMO
em usar a inteligência. Inventamos maneiras de usar o cérebro Laboratório de Currículo e Ensino
com mais eficiência. Veja estas dicas de como usá-lo melhor e boa Núcleo de Tecnologia
viagem na trajetória para se tornar uma pessoa maior e melhor! para a Saúde (Nutes)
ENERGIA
Recupera o
gasto de energia
durante as
horas de vigília
JORNADA DO SABER

NÃO TEMA, PRATIQUE O APRENDA FAÇA PLANOS DE

EQUILÍBRIO
Mantém o SEJA CURIOSO CETICISMO A PENSAR APRENDIZADO
equilíbrio geral
do organismo em Use a curiosidade Não é porque está Refletir sobre sua Na sobrecarga de
diversas esferas
para se orientar: ela escrito ou passou na TV linha de pensamento e informação, você se
torna o aprendizado que é verdade: as pes- otimizá-la é importan- sente perdido, não
mais pessoal e prazero- soas podem se enganar te. O preconceito, por consegue decidir nada.
LIMPEZA
Regula produção so. Não tente assimilar ou mentir. Pergunte-se exemplo, é uma forma E o estresse é ruim para
e eliminação
de substâncias tudo, você decide o que as razões para acreditar errada de pensar, e esses muita coisa, inclusive
no cérebro
aprender! Leia livros, no que você ouve. erros podem levar a para o pensamento. Pla-
veja vídeos, converse Confira com o que você escolhas ruins. Psicólo- nejar faz com que você
com quem sabe mais e já sabe, busque outras gos, coachs e filósofos foque no que interessa.
construa uma reserva fontes. Isso se chama podem ajudar nesse Mas também não é para
de informação. Pensamento Crítico. aprendizado. Procure-os! planificar tudo e todos.
COMPUTADOR
CLÁSSICO x QUÂNTICO

Processador clássico:

64 BITS NUNCA DEIXE APRENDA A LER APROVEITE A REGISTRE,

64 combinações
Processador quântico:
64 QUBITS
264 combinações
(sobreposição)
Sentido em que um elétron
circula o átomo (horário ou anti-
horário) pode ser usado como
qubit, ou então a orientação
em que um fóton se movimenta
(horizontal ou vertical)
264 vezes mais rápido
20.000.000.000.000.000.000
(20 quintilhões!!!!)
DE PERGUNTAR
Questionar é uma
excelente estratégia:
revela o que você sabe, o
que não sabe e permite
escolher o que aprender.
Use a curiosidade para
decidir o que perguntar.
Quê? Quem? Quando?
Por quê? Para quê?
Perguntas o dirigem
ao que é importante.
COM EFICIÊNCIA
Todo bom texto
tem estrutura e ideia
central. Saber disso
permite apreender in-
formações de um jeito
mais rápido e preciso.
Aprenda a ler ideias com
técnicas como Leitura
Inspecional, Analítica
e Sintópica. Busque
auxílio de profissionais!
TECNOLOGIA
Celulares permi-
tem fazer anotações,
fotografar informações,
gravar palestras, ler
e-books. Mas é preciso
saber usar a tecnologia
a seu favor. A internet é
território livre: releia o
que escrevi sobre curio-
sidade, ceticismo saudá-
vel e pensamento crítico.
MEMORIZE E USE
Sua memória tem
limites. Qual a melhor
forma de registrar? De-
pende. Pessoas visuais
beneficiam-se com Ma-
pas Mentais — são uma
boa forma de organizar
o conhecimento. Use
seus registros e resgate-
-os sempre que possível,
como nas eleições.

41
Fonte: Astrophysics for People in a Hurry; Stephen Hawking Centre for Theoretical Cosmology (Universidade de Cambridge)

13,63 bilhões de anos DBB 13,69 bilhões de anos DBB

(há 65 milhões de anos) (há 315 mil anos)
DINOSSAUROS SÃO EXTINTOS SURGE O HOMO SAPIENS
A OBSESSÃO POR COMER

APENAS ALIMENTOS SAUDÁVEIS

TEM UM NOME: ORTOREXIA

SAIBA COMO ESSE TRANSTORNO

SE INSTALA E POR QUE A

COMIDA É MUITO MAIS QUE UM

PUNHADO DE NUTRIENTES

ESTAMOS FICANDO DOENTES

DE TANTO COMER BEM?

REPORTAGEM SILVIA LISBOA COLABORAÇÃO JUAN ORTIZ E RAÍZA VIEIRA

EDIÇÃO CRISTINE KIST DESIGN JOÃO PEDRO BRITO FOTOS DULLA

43
 D
os 14 aos 16 anos,
Anna Júlia Moll comeu
frango, batata-doce e
brócolis em todas as
refeições. Mais precisa-
mente, 100g de frango
e 40g de batata-doce e
brócolis, pesados numa
balança. A carne era
temperada apenas com
limão, alho e cebola e
grelhada numa pane-
la antiaderente sem sal
ou óleo. Tudo era pre-
parado pela estudante,
moradora de Cachoei-
rinha, região metropo-
litana de Porto Alegre.
“Eu não deixava minha
mãe fazer porque tinha
medo que ela colocasse
azeite ou algo que pu-
desse ‘estragar’ a comi-
da”, conta Anna, hoje
com 20 anos. Ela lia as
novidades da ciência e
sabia que o sal causava “retenção hídri-
ca” e a deixava inchada, e o azeite era
culpado pela gordura. “Tudo o que era
gordura era ruim. Ponto”, explicou.
Um dia ela decidiu que não voltaria a
comer doces e laticínios. O açúcar era
um veneno conhecido, e os derivados do
leite tinham um efeito semelhante ao do
sal: causavam inchaços indesejados para
sua meta de estar em dia com a saúde e
a silhueta. Mas, para se convencer mes-
mo a não ingerir mais nada de iogurte
ou brigadeiro, colocou na cabeça que so-
fria de diabetes e intolerância à lactose,
apesar de não ter nenhum sintoma das
duas doenças. Se tivesse muita vontade
de comer algo da lista proibida, cheirava
o prato até a vontade passar. Funcionava.
A mania de comer só o que faz bem
à saúde e demonizar certos ingredien-
tes é conhecida por parte da comuni-
dade médica como ortorexia nervosa.
A desordem ainda não faz parte do
DSM, o Manual Diagnóstico e Estatís-
tico de Transtornos Mentais, a Bíblia
da Psiquiatria, o que significa que ain-
da não há protocolos para diagnosticar
44 e tratar a ortorexia. Mas especialistas
acreditam estar diante de uma nova fa- O colesterol é um
ceta de um transtorno alimentar que co- dos nutrientes
mais importantes
meçou com a cultura da geração saúde. do corpo. Isso não
O termo foi cunhado pelo médico nor- quer dizer que
te-americano Steven Bratman em 1996 e você deva comer
uma dúzia de ovos
vem das palavras gregas orthos, que sig- por dia, apenas
nifica certo, e orexis, apetite. Na época, que você deve
Bratman não tinha intenção de nomear consumi-los sem
medo. O mesmo
um novo distúrbio, mas preocupava-se ocorre com o leite,
com o comportamento peculiar de um o café e a bola da
grupo de pacientes que chegavam ao seu vez, o glúten.
consultório de medicina alternativa per-
guntando o que podiam cortar da dieta.
“Era mais como um movimento de
contracultura”, escreveu, por e-mail.
Mais de 20 anos depois, o fenômeno ga-
nhou proporções epidêmicas. “Hoje, a
ortorexia é totalmente mainstream”, dis-
se Bratman. Estima-se que em torno de
1% da população mundial sofra dessa fi-
xação em se alimentar de forma correta,
de acordo com um estudo da University
of Northern Colorado, dos Estados Uni-
dos, publicado neste ano. Em números
absolutos, é um contingente de 70 mi-
lhões de pessoas. Entre certos grupos,
como atletas, modelos e estudantes da
área de saúde, o risco é bem mais alto.
Uma pesquisa feita na Universidade
de Taubaté, interior de São Paulo, com
150 alunas do curso de Nutrição reve-
lou um índice alarmante: 88,7% delas
tinham risco de desenvolver comporta-
mento ortoréxico. No experimento, as
pesquisadoras Quetsia de Souza e Ale-
xandra Rodrigues mediram o Índice de
Massa Corporal (IMC) das participantes
e aplicaram testes que avaliavam o nível
de distorção da imagem corporal e o ris-
co para desenvolver o distúrbio.
Entre blogueiros fitness e seus se-
guidores, os números também são al-
tos, segundo a nutróloga Maria del Ro-
sário, coordenadora do Departamento
de Transtornos do Comportamento Ali-
1%
mentar da Associação Brasileira de Nu-
trologia (Abran): “Esse tipo de publica-
ção chama pessoas com propensão a
desenvolver transtornos alimentares.”
Preocupada com a explosão do fenô-
meno, a Abran criou oficinas para trei-
nar médicos de diferentes especialidades da população
para identificar, o mais cedo possível, ca- mundial sofre de
sos em que a preocupação com alimenta- ORTOREXIA*
 OUTROS TRANSTORNOS
ASSOCIADOS À COMIDA
Aprenda a reconhecer alguns dos mais comuns

Anorexia nervosa Pica

É marcada por uma
restrição alimentar
progressiva, com a eli-
minação dos alimentos
considerados “engor-
dantes”. Em geral, os
pacientes têm uma dis-
torção da imagem cor-
poral. Leva à morte
até 20% das vítimas.
É um transtorno de
alimentação típico
da primeira infância.
Consiste na ingestão
persistente de subs-
tâncias como terra, ca-
belo e até fezes de ani-
mais, que não fazem
parte de uma dieta
culturalmente aceita.

Bulimia nervosa Transtorno

Episódios de compul-
são alimentar acompa-
nhados de sentimento
de culpa. Para manter
o peso, o indivíduo
recorre ao vômito au-
toinduzido e/ou uso de
laxantes. Afeta entre
0,9% e 4,1% de adoles-
centes e adultos jovens.
de ruminação
Episódios de
regurgitação repetidos
que podem levar a
complicações médicas
como desnutrição,
perda de peso,
desidratação e, nos
casos mais graves,
até à morte.

Síndromes atípicas Transtorno

ou parciais de
anorexia e
de bulimia
Assemelham-se à ano-
rexia e à bulimia, mas não
preenchem totalmente
seus critérios ou seus sin-
tomas não são suficiente-
mente graves para definir
o diagnóstico. Metade
dos casos evolui para
quadros completos.
da compulsão
alimentar
periódica (TCAP)
Os pacientes, na
maioria obesos, apre-
sentam episódios de
compulsão alimentar,
mas não utilizam me-
didas extremas para
evitar o ganho de pe-
so, como os pacientes
de bulimia nervosa.

ção saudável tenha se transformado num
comportamento obsessivo. Como outras
desordens psiquiátricas, os distúrbios ali-
mentares se manifestam de forma mistu-
rada. A anorexia, por exemplo, pode ter
padrões ortoréxicos: a pessoa restringe a
alimentação a alimentos saudáveis e com
baixas calorias para perder peso. Em ge-
ral, a distorção da imagem corporal acom-
panha o quadro. Bratman alerta que esses
seriam os casos mais graves.
É o que parece ter acometido a es-
tudante de Nutrição Anna Júlia Moll.
Ela nunca foi diagnosticada por um pro-
fissional, mas, durante uma aula sobre
transtornos alimentares, viu-se descrita.
“Quando aprendi sobre a ortorexia na fa-
culdade, me reconheci em tudo”, lembra.
No período de um ano e meio em que
se limitou a uma dieta à base de frango,
legumes, sem laticínios ou doces, Anna
perdeu 36 kg e chegou aos 50 kg distri-
buídos pelos seus 1,66 metro. A obses-
são com comida influiu até na escolha do
curso universitário, a Nutrição. “Na orto-
rexia, o pensamento sobre alimentos sau-
dáveis se torna o tema central em todos
os momentos do dia, descreve Bratman.
Distúrbio aceito
identificar a ortorexia não é fácil.
Em um mundo atolado de pizza e lasa-
nha congelada, dar preferência a alimen-
tos frescos e sem aditivos é algo bem-vis-
to e até invejado por quem não consegue
dar tanta atenção ao que põe na boca.
Isso explica o sucesso dos perfis fitness
no Instagram. Nutricionistas viraram ce-
lebridades nas redes sociais com dicas de
como pesar as refeições ou comer batata-
-doce antes de ir para a academia.
A própria ciência — e a divulgação fei-
ta pelo jornalismo — também tem sua
parcela de culpa. Cada dia sai um novo
estudo sobre comida, ora demonizando,
ora celebrando determinado alimento.
*University of Northern Colorado
Fontes: Transtornos Alimentares; Sudden Death
in Eating Disorders; Mortality Rates in Patients
with Anorexia Nervosa and Other Eating
Disorders — A Meta-analysis of 36 Studies
 46
NÓS E A COMIDA
O impacto da comida, do modo de prepará-la
e da nossa relação à mesa ao longo da evolução
1. Churrasco
E R A C E N O Z O I C A (1,8 milhão de anos atrás)
1
Há 1,8 milhão de anos
A ingestão de carne assada foi fundamental para que
virássemos humanos porque fez o corpo economizar
energia. Com isso, o sistema digestivo encolheu
e o cérebro ficou maior, alterações que marcam
a transição entre Homo habilis e Homo erectus.
2. Sopa de raízes
Há 500 mil anos
Depois da carne, os hominídios começaram a
cozinhar todos os outros alimentos. Assim, as
raízes duras e fibrosas ficaram bem mais digeríveis
quando colocadas em água. Isso causou um
segundo grande aumento do cérebro que deu
origem aos ancestrais diretos do Homo sapiens.
3. Pão
Há 22,5 mil anos
O pão foi inventado antes da agricultura. Não
conseguimos comer grãos silvestres, mas, quando
moídos e transformados em pães, esses cereais
liberam carboidratos altamente energéticos.
4. Salsicha
Há 20 mil anos
Os embutidos nasceram na pré-história.
Mais tarde, os povos germânicos medievais
desenvolveram as salsichas, das quais a carne
de porco é a principal matéria-prima.
5. Batata
Há 9 mil anos
Principal tubérculo das civilizações andinas, a
batata se tornou popular na Europa durante
os anos de guerra e fome. Atualmente, é o
quarto alimento mais cultivado no mundo,
ficando atrás do trigo, do milho e do arroz.
Fontes: The Cambridge World History of Food;
Pão: Uma História Global; Pegando Fogo: Por que Cozinhar
nos Tornou Humanos; Comidas que Mudaram a História
Ícones: Gabriela Namie
O caso do ovo é exemplar. A Associação
Americana do Coração (AHA, na sigla em
inglês) recomenda que uma pessoa não
coma mais que 300 mg de colesterol por
dia. Um ovo contém 185 mg de colesterol,
logo não é indicado ultrapassar dois ovos
por dia, certo? Não exatamente. Segundo
a diretriz da AHA, o colesterol que você
ingere vai direto para a corrente sanguí-
nea, mas não é bem assim que funciona.
O corpo tem uma espécie de termosta-
to, regulado pela genética, pelos hábitos e
pelo estresse, que determina o quanto ele
produzirá de colesterol por dia. É curioso,
mas a dieta quase não tem participação
nisso. Não à toa, um estudo de 2013 mos-
trou que até três ovos por dia, o equiva-
lente a mais de 550 mg de colesterol, aju-
dam a perder peso, reduzir inflamações e
— pasme — a manter os níveis de coleste-
rol sob controle. Outra pesquisa, essa de
2006, não evidenciou qualquer associação
entre consumo de ovos e risco de doenças
coronarianas. Isso porque, na verdade, o
colesterol é um dos nutrientes mais im-
portantes do corpo: está presente em cada
célula e participa da produção hormonal.
Isso não quer dizer que você deva co-
mer uma dúzia de ovos por dia, apenas
que você deve consumi-los sem medo.
O mesmo ocorre com o leite, o café e a
bola da vez, o glúten. Se você não tem ne-
nhuma alergia, intolerância ou problema
intestinal, não há por quer eliminar qual-
quer ingrediente da dieta. “O corpo preci-
sa de uma variedade de alimentos e não
consegue fazer substituições fáceis”, diz
a nutróloga Maria Del Rosário, da Abran.
Em geral, a ortorexia obedece a um ci-
clo. No início, vem a preocupação em co-
mer de forma saudável e correta. Depois,
o indivíduo começa a restringir alguns
alimentos ou grupos alimentares inteiros.
Em seguida, a obsessão se instala: a pes-
soa só pensa em comida o dia inteiro e
passa a negar convites ou evitar lugares
onde possa cair em tentação. A estudante
Anna Júlia Moll passou a rejeitar convites
para aniversários, encontros com amigos
ou jantares em família. “Sinto que perdi a
minha adolescência”, desabafa.
 No auge do transtorno, porém, Anna
sentia-se motivada. “Eu comia de forma
saudável e estava perdendo peso. Isso
que importava”, contou. Ela ia religiosa-
mente na academia e dormia “as oito ho-
ras por noite necessárias para o músculo
descansar”. Seguia dezenas de modelos e
blogueiras fitness no Instagram e, quan-
do as restrições alimentares a deixavam
triste, olhava a timeline e enchia-se de
autoconfiança para continuar na linha.
Os especialistas não têm dúvidas so-
bre a influência das redes sociais no
avanço dos transtornos alimentares. Pelo
menos dois estudos mediram o impac-
to dos perfis fitness na autoimagem e no
risco de ortorexia. Um deles, feito por
pesquisadores do University College de
Londres, revelou uma associação entre o
uso intenso do Instagram e o transtorno.
A prevalência entre os usuários da rede
social foi de 49% contra 1% da popu-
lação em geral. Em outro estudo, reali-
zado pela universidade australiana Ma-
cquarie, 150 estudantes disseram que se
comparar com outras mulheres nas redes
sociais as deixava infelizes e, ao mesmo
tempo, motivadas a fazer dietas loucas.
O fato de estar em sintonia com a
cultura tem um efeito negativo no trata-
mento da ortorexia. “Familiares e ami-
6. Cerveja 7. Sal
Há 7 mil anos 2000 a.C.
A cerveja nasceu Produzido pelos
como subproduto da chineses, servia para
fermentação do pão conservar e temperar
de trigo. Nas cidades alimentos numa época
medievais, foi uma pré-geladeira. O sódio
alternativa para a (40% do sal) participa
água, muitas vezes da condução dos
contaminada. É a impulsos nervosos, mas
bebida alcoólica mais também está associado
consumida no mundo. à hipertensão.
2 3 4 5 7 9 11
gos demoram a se dar conta. Por isso, o
comportamento [de fazer restrições ali-
mentares severas] é tolerado”, diz a psi-
quiatra Miriam Garcia Brunstein, coor-
denadora do Programa de Transtornos
Alimentares em Adultos do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre. É aí que mora
o problema. Poucos contestam alguém
que usa como argumento a saúde para
justificar as escolhas alimentares. Em
determinados grupos, quem come junk
food ou alimentos tidos como “não sau-
dáveis” é hostilizado.
Foi o que ocorreu com a bloguei-
ra norte-americana Jordan Younger.
Jordan alçou fama na internet quan-
do adotou o veganismo como estilo
de vida. Em nove meses, ela amealhou
300 mil fãs no seu blog The Blonde
Vegan, onde pregava os benefícios da
yoga, do mindfulness e da dieta raw e
vegana, em que excluía não só alimen-
tos de origem animal como os cozidos.
“Comecei a viver em uma bolha de res-
trição. Totalmente à base de plantas,
sem glúten, sem óleo, sem açúcar re-
finado, sem farinha”, declarou. Em ju-
nho de 2014, Jordan percebeu que a
dieta ultrarrestritiva estava a deixando
doente. Foi então que escreveu o texto
Por que estou me afastando do veganis-
8. Frituras 9. Açúcar
600 a.C. 500 a.C.
Os primeiros registros Nativa da Nova Guiné,
estão no Antigo a cana-de-açúcar era
Testamento. O livro refinada desde os
de Levítico descreve a tempos de Alexandre, o
diferença entre cozinhar Grande. Recentemente,
o pão ou fritá-lo na a indústria trocou a
panela. Antes usada por especiaria pelo xarope
egípcios e chineses, a de milho, um dos
técnica ganhou espaço culpados pelo surto de
na Europa medieval. obesidade no mundo.
mo — que acabou se transformando no
livro Breaking Vegan (Quebrando o Ve-
ganismo, em tradução livre).
Foi o suficiente para sofrer represálias.
Um dos leitores raivosos escreveu: “Bem,
se todos nós podemos ‘fazer o que quere-
mos’, eu estarei aí para assar a sua família
mais tarde”. Jordan se manteve firme na
mudança e trocou o nome do blog para
The Balanced Blonde (A Loira Equilibra-
da). “Estou avaliando minha dieta e di-
zendo adeus aos rótulos”, escreveu. “Isso
é terrível para mim e estou totalmente
fora da zona de conforto depois de viver
tanto tempo sob o guarda-chuva do ve-
ganismo. Mas faço isso para ao bem da
minha saúde física e mental”, contou, fa-
lando sobre como se livrou da ortorexia.
Muito além dos nutrientes
demonizar certos alimentos faz
parte do comportamento dos viciados
em comida saudável. Carne vermelha,
comidas processadas, embutidos, fari-
nhas brancas e açúcar costumam enca-
beçar a lista proibida. É claro que, em
excesso, eles podem fazer (muito) mal
— o açúcar, por exemplo, é tão viciante
quanto a heroína. Os embutidos, quando
consumidos diariamente, podem aumen-
tar em 18% o risco de câncer de cólon.
10. Sabores 11. Suplementos
sintéticos vitamínicos
1851 1937
Balas com sabor de fruta Em 1913, cientistas
entraram na história descobriram como
durante uma exposição produzir a vitamina A.
em Londres no auge Hoje, encontram-se
da Era Vitoriana. Sem vários nutrientes em
os sabores sintéticos, forma de pílula, mas
boa parte da comida pesquisas indicam
dos supermercados que os multivitamínicos
seria intragável. não melhoram a saúde.
2 0 17
6 8 10
48

A carne vermelha costuma

ser vista apenas como vilã,
mas bani-la do cardápio
sem acompanhamento
médico pode trazer prejuízos
nutricionais e emocionais.

OS SINAIS DA ORTOREXIA
O médico Steven Bratman, inventor do termo Mas bani-los do cardápio também traz
ortorexia, criou um teste para saber se a prejuízos nutricionais e emocionais.
preocupação em comer virou obsessão Isso porque comer não é apenas masti-
gar um punhado de nutrientes. A comida,
bem como a forma como a consumimos —
Se você é entusiasta da alimentação saudável e concordar com qualquer uma
das afirmações abaixo, pode estar desenvolvendo um transtorno alimentar muitas vezes, ao lado de pessoas que ama-
mos —, mexe com o humor, impacta a in-
1. 2. 3. teligência e interfere nas relações sociais.
Perco muito tempo Quando como um ali- Meu senso pessoal
Veja o caso da carne vermelha. Um es-
pensando, escolhen- mento que considero de paz, felicidade,
do ou preparando não ser saudável, me alegria, segurança tudo da Universidade Harvard publicado
comida saudável e sinto ansioso, culpado, e autoestima de- em 2015 revela que podemos atribuir às
isso interfere em ou- sujo ou contaminado pendente excessi-
doses maciças de proteína animal o fato
tras dimensões da — só estar perto des- vamente da minha
minha vida, como o se tipo de comida me alimentação ser de sermos seres pensantes hoje. Sua en-
amor, a criatividade, perturba e sou crítico íntegra e correta. trada na dieta há 2,6 milhões de anos
a família, a amizade, o em relação às pessoas
foi decisiva para o crescimento do cére-
trabalho ou a escola. que o consomem.
bro humano. Isso porque frutas e vege-
4. 5. 6. tais, apesar de ricos em vitaminas, são
Às vezes, gostaria de Ao longo do Seguir minha teoria
pobres em calorias e insuficientes para
relaxar na minha au- tempo, tenho de alimentação
toimposição de sempre constantemente saudável me fez as altas demandas de energia do cérebro.
“comer bem” em oca- eliminado mais perder mais peso do A outra alternativa seria extrair calorias
siões especiais, como alimentos e que a maioria das
das raízes. O problema era mastigar um
um casamento ou jan- expandido a minha pessoas diria que é
tar, mas não consigo. lista de normas bom para mim, ou aipim cru — tarefa difícil até para os Aus-
alimentares numa causou outros sinais tralopithecos, parentes dos chimpanzés
tentativa de manter de desnutrição,
Se você tem uma condi- (o hábito de cozinhar os alimentos só che-
ou melhorar como perda de
ção médica em que não é gou bem mais tarde, 500 mil anos atrás).
seguro abrir exceções na os benefícios cabelo e falhas no
dieta, ignore a questão. para a saúde. ciclo menstrual. Para saber quanto tempo nossos ante-
passados pouparam ao incluir a carne na
Fonte: The Authorized Bratman Orthorexia Self-Test dieta, os biólogos Katherine Zink e Daniel

Lieberman recrutaram 24 pessoas e
deram a elas três tipos de vegetais,
como cenouras, inhames e beterra-
bas, e um tipo de carne vermelha.
Tudo cru, é claro. Eles calcularam
então a quantidade de energia gasta
para mastigar e engolir as amostras
inteiras, e descobriram que ingerir a
carne exigia entre 39% e 46% menos
força do que mascar as raízes.
Logo, uma dieta com um terço de
proteína animal “poupou” 2 milhões
de mastigações por ano, uma redu-
ção da ordem de 13% no esforço e na
queima de calorias apenas no jantar.
Na prática, essa economia não signi-
ficava mais horas livres no dia, mas
muito mais calorias ingeridas em me-
nos tempo. Resultado: passou a so-
brar energia para o desenvolvimento
desse órgão altamente complexo que
carregamos sobre o pescoço. Zink e
Lieberman também acreditam que o
fato de não precisarmos mais de den-
tes afiados para rasgar carcaças de
animais silvestres resultou em man-
díbulas menores e órgãos de fala mais
avançados. Ponto para a carne.
Embora não precisemos mais de um
churrasco por dia para alimentar nos-
sos cérebros em desenvolvimento, a
carne vermelha, junto com peixes gor-
dos, como o salmão, continua encabe-
çando a lista dos alimentos que fazem
bem para a cuca. “Pessoas que elimi-
nam a carne vermelha podem desen-
volver demência por causa da falta da
vitamina B12”, alerta a nutróloga Maria
del Rosário. “Geralmente, medicamen-
tos e problemas intestinais podem pre-
judicar a absorção de B12, mas estamos
detectando isso em ortoréxicos”, alerta.
“Nossa fisiologia determina que nossa
dieta seja variada, e não restritiva”, diz
a psiquiatra Miriam Brunstein.
As razões são evolutivas. Segundo
a neurocientista britânica Nicole Ave-
na, o cérebro humano evoluiu ao lon-
go dos séculos para prestar atenção a
sabores novos e diferentes. Primeiro,
para identificar alimentos estragados
— comer algo ruim podia pôr a vida em
risco. Segundo porque, quanto mais va-
riada é a nossa dieta, maiores são as
chances de obter todos os nutrientes
de que precisamos. Por causa disso,
nosso cérebro se move por novidades
gastronômicas — é por isso que perfis
de alimentação no Instagram e progra-
mas de culinária na TV fazem tanto su-
cesso. Só o que é diferente e saboroso
consegue fazê-lo liberar a dopamina,
o neurotransmissor do prazer. Se você
comer a mesma coisa todo santo dia, o
organismo se acostuma e deixa de se
sentir satisfeito e feliz após a refeição.
Depois de passar um ano e meio à
base de frango, batata-doce ou arroz in-
tegral e brócolis, Anna Júlia sentiu os
cabelos e unhas enfraquecerem e parou
de menstruar durante quase seis me-
ses. “Hoje não posso nem sentir o chei-
ro de batata-doce e arroz integral”, diz.
A restrição compulsória dos laticínios
também a fez desenvolver uma intole-
rância à lactose que não tinha.
Nem o vilão açúcar pode ser banido
por completo. Os doces, por exemplo,
têm papel relevante não só para o pa-
ladar — quem não fica feliz diante de
um bolo no meio da tarde? —, mas para
estreitar laços sociais: você divide uma
torta no aniversário dos amigos ou uma
sobremesa no almoço de família. Se cor-
ta o açúcar, fica difícil encontrar ocasiões
sociais tão afetivas ao compartilhar um
brócolis. Antropólogos não têm dúvidas
de que a comida foi um dos fatores que
nos transformaram em animais sociais.
Imagine nossos antepassados há al-
guns milhões de anos, antes do invento
da agricultura. Para não morrer de fome,
eles precisavam colher raízes e caçar ani-
mais silvestres, duas tarefas difíceis de
serem feitas por um homem só. De acor-
do com os estudos da equipe da antro-
póloga Susanne Shultz, da Universidade
de Oxford, a necessidade de buscar co-
mida foi um dos primeiros estímulos à
formação de bandos maiores. Compar-
tilhar a presa também fazia todo o sen-
tido. Ninguém conseguia comer um ani-
mal inteiro sozinho e não havia geladeira
para guardar os restos para mais tarde.
Depois de matar um bicho, era preciso
cortá-lo em pedacinhos, fazer fogo e as-
sar a carne antes do ataque de moscas e
bactérias. Fazia-se, então, uma fogueira,
e essas reuniões em volta das brasas for-
jaram a linguagem, as crenças e, em úl-
tima análise, as civilizações. Esse com-
portamento segue no nosso DNA. Ainda
hoje, a comida é o maior (e mais saboro-
so) pretexto para confraternizar.
Anna Júlia percebeu que era hora de
parar com as restrições à mesa quan-
do conheceu o namorado. “Fiquei pen-
sando que ele ia me achar uma chata ao
me convidar para ir ao cinema e eu recu-
sar a pipoca”, lembrou. “O dia mais difí-
cil foi quando aceitei um convite para ir
a um churrasco na casa de amigos dele.
Eu sabia que teria de comer batata e car-
ne. Mas a ideia de ser taxada de fútil era
pior.” No início, Anna sofreu para se li-
vrar do controle total sobre o que ingeria.
“Fui e comi churrasco com a consciência
pesada. Sonhei a noite inteira com a sa-
lada de batata”, lembra. Mas o medo de
desagradar o namorado funcionou como
mola propulsora. No dia da entrevista,
uma sexta-feira à tarde, ela estava feliz
porque antes do almoço tinha comido um
bolo que sua avó havia preparado. “Comi-
da é não é só caloria. É afeto, é emoção”,
disse, aliviada com a nova fase.
 REPORTAGEM FELIPE FLORESTI

EDIÇÃO CRISTINE KIST

FOTOS DULLA

DESIGN JOÃO PEDRO BRITO

ORÇAMENTO DO MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA, INOVAÇÃO E COMUNICAÇÕES

EM 2017 CORRESPONDE A UM TERÇO DO QUE FOI GASTO DEZ ANOS ATRÁS
VA I Q U E B R A R ?
NOS Ú LT I M O S
A PETROBRAS
VIU
SÉRIE
F
foram quatro presidentes,
a desastrada compra da re-
finaria de Pasadena e, claro,
o maior escândalo de corrup-
ção da história do Brasil.
Enquanto diretores e fun-
cionários acertavam as contas
com a Justiça — calcula-se que
o prejuízo causado pela corrup-
ção na Petrobras ultrapasse os
R$ 40 bilhões —, a equipe do
Laboratório de Ensaios Não
Destrutivos, Corrosão e Sol-
dagem (LNDC) se esforçava
para economizar alguns mi-
lhões para a estatal. É que a
empresa comprometia par-
te do orçamento com trocas
desnecessárias de componen-
tes de equipamentos que ficam
abaixo do nível do mar. Como
é impossível prever quando de-
terminadas peças estragam,
a Petrobras achava por bem
substituí-las preventivamente.
O objetivo do LNDC era en-
contrar uma forma de prever o
comportamento dessas peças
para entender quando elas pre-
cisariam de fato ser trocadas.
“A metodologia que normal-
mente é utilizada está errada.
Pegaram o método de medição
OITO ANOS,
SE
E N VO LV I DA EM UMA
DE P O L Ê M I CAS.
do aço em ambiente não corro-
sivo e levaram para o corrosi-
vo”, explica o professor Oscar
Rosa Mattos, coordenador do
laboratório. No ano passado, a
equipe de Rosa Mattos anun-
ciou a descoberta de uma téc-
nica que permite calcular o
desgaste das peças. E como
a técnica foi desenvolvida por
aqui, qualquer outro país que
quiser usá-la vai precisar nego-
ciar acordos de transferência
de tecnologia com o Brasil —
uma prova de que ciência não
só economiza mas também
gera muito dinheiro.
O LNDC foi criado no final
dos anos 2000, depois que a
exploração do pré-sal trouxe a
necessidade de tecnologias que
não existiam em lugar nenhum
do mundo. Estiveram presen-
tes na cerimônia de inaugura-
ção o então presidente Lula e
vários ministros, governado-
res, professores e cientistas.
Com 8 mil metros quadrados
de área, equipamentos de úl-
tima geração e investimentos
de R$ 40 milhões da Petro-
bras, acreditava-se que o labo-
ratório impulsionaria a criação
de tecnologias com DNA na-
cional. Boa parte do que foi in-
vestido já está se pagando com
a economia resultante das des-
DESPENCOU! LÁ PARA TRÁS cobertas feitas pela equipe de
Orçamento do MCTIC em Brasil ocupa apenas a Mattos. O próximo passo seria
2017 é o menor desde o 69ª posição em ranking
aproveitar essas informações
início do governo Lula internacional de inovação
Em reais
para desenvolver materiais
1o 2o 3o 4o 5o 69o
mais resistentes. Recente-
Suíça
Suécia
EUA
Finlândia
Brasil
Reino Unido
12 bi
10 bi
mente, no entanto, o LNDC
precisou cortar 15 dos 50 pes-
8 bi 70
60 quisadores de sua folha de pa-
6 bi 50
gamento. “Não vamos conse-
4 bi 40
30 guir iniciar novos projetos por
2 bi 20
10
falta de pessoal”, diz Mattos.
“Ainda não estamos em uma
2003 2017*
situação crítica, mas estamos
Portal Siga Brasil *Previsto Global Inovation Index
caminhando para ela.”
Casos semelhantes se mul-
tiplicam pelo país. Pesquisas
sobre o vírus zika estão pra-
ticamente paradas por fal-
ta de material na Fiocruz de
Pernambuco e por proble-
mas elétricos no laboratório
da Universidade Federal da
Bahia. Até a Empresa Brasi-
leira de Pesquisa Agropecuá-
ria (Embrapa), responsável
por boa parte das inovações
que tornaram o agronegócio
brasileiro campeão em pro-
dutividade, está passando
por dificuldades. “Fizemos
um esforço grande para a re-
dução dos custos fixos, como
energia elétrica e vigilância”,
conta a diretora de adminis-
tração em finanças, Vania
Castiglioni. “Estamos traba-
lhando para manter a quali-
dade da pesquisa, mas chega
uma hora que não dá mais.”
O corte de 44% no já min-
guado orçamento do Minis-
tério da Ciência, Tecnologia,
Inovação e Comunicações
(MCTIC) previsto para este
ano foi a gota d’água para
a comunidade científica.
Os R$ 5,81 bilhões que seriam
investidos em 2017 se torna-
ram R$ 3,27 bilhões. É a me-
tade do que foi investido em
2005, em valores corrigidos
pelo IPCA (veja acima). Nem
mesmo a fusão com o Minis-
tério das Comunicações em
53
2016 serviu para recuperar
o orçamento. Diversas fun-
dações estaduais de ampa-
ro a pesquisa, como a Faperj,
do Rio de Janeiro, enfrentam
sérios problemas. Cortes na
educação também afetaram as
universidades e a concessão
de bolsas. “Ciência em qual-
quer lugar do mundo precisa
de financiamento contínuo.
Aqui a gente vive de soluços”,
diz Helena Nader, presidente
da Sociedade Brasileira para
o Progresso da Ciência.
O
o gigante v o lt o u
a dormir
Em 2009, ano em que o
LNDC foi inaugurado, a eco-
nomia brasileira crescia 7%
ao ano, o país se prepara-
va para organizar a Copa do
Mundo de 2014 e era candi-
dato a receber a Olimpíada de
2016. Sob comando do físico
e professor Sérgio Rezende, o
então Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação surfa-
va nessa onda. Mais longevo
ministro da história da pasta,
com cinco anos e meio no car-
go, Rezende articulou a comu-
nidade científica, empresarial
e o governo com um plano de
ação que mudou a escala e o
alcance da ciência brasileira.
Uma reportagem publica-
da na revista Science em de-
zembro daquele mesmo ano
confirmava que a expectativa
era grande. A projeção da So-
ciedade Brasileira para o Pro-
gresso da Ciência (SBPC) era
dobrar ou triplicar o número
de alunos, publicações e inves-
timentos até 2020. O objetivo
era colocar o país entre os dez
maiores produtores de ciência
do mundo. Um ano depois, em
2010, a soma dos investimen-
tos do poder público e de em-
presas privadas em ciência e
 MAS AQUELE 1%...
Brasil tem quase 3% da
população mundial, mas
só 1,1% das publicações
em revistas de prestígio

População
mundial

Patentes Publicações
concedidas do mundo
ao Brasil

3%

2%

1%

Pedidos de Citações
patentes de artigos
brasileiras brasileiros

Artigos
brasileiros entre
os mais citados
do mundo

Fonte: World of Research 2015

(Elsevier)

tecnologia chegava à marca de
1,25% do PIB — em valores
nominais, eram R$ 44 bilhões.
Também em 2010 foi publi-
cado o Livro Azul, que traça-
va um norte para a pesquisa
brasileira. Desenvolvido du-
rante a 4ª Conferência Nacio-
nal de Ciência, ele simboliza-
va a criação de uma política
de Estado para o desenvolvi-
mento a longo prazo das áreas
tentável do país, focando em
áreas de conhecimento fun-
damentais para a economia,
como agricultura e biocom-
bustíveis, além de defender
que os investimentos em pes-
quisa e desenvolvimento cor-
respondessem a pelo menos
2% do PIB. Até hoje, o Brasil
nunca passou de 1,5%.
Desde a saída de Sér-
gio Rezende, em 2010, ou-
Gilberto Kassab (PSD), que E A CIÊNCIA, Ó...
prometeu recuperar o orça- Investimento em ciência
é menor que 2% do PIB
mento da pasta no segundo
semestre. E ele até está com Investimento em ciência
o moral alto entre a comuni- (porcentagem do PIB)
dade científica — apesar de
5%
ter preferido não dar entre-
4%
vista para esta reportagem, é
3%
considerado um “convertido”
2%
à causa. No final do ano pas-
1%
sado, Kassab conseguiu levar
R$ 1,5 bilhão da lei de repa-
Israel

Alemanha

Brasil
Coreia do Sul

Japão

de ciência, tecnologia e ino- tros sete nomes já assumi- triação fiscal para o Ministé-
vação. Essa política apostava ram o MCTIC. Desde maio rio, o que serviu para colo-
na inovação como estratégia de 2016 o cargo é ocupado car as contas de uma série de
para o desenvolvimento sus- pelo ex-prefeito de São Paulo institutos de pesquisa em dia. Fonte: Battelle
 “ N Ó S E S TÁVA M O S F I N A L M E N T E

C O M E ÇA N D O A A P R E N D E R

A T O R N A R A C I Ê N C I A Ú T I L .

S E I N T E R R O M P E R M O S

QUEM DISSE?
Até publicamos muitos E S S E P R O C E S S O, VA M O S
artigos, mas poucos
são citados por outros
pesquisadores VO LTA R N O T E M P O”
Número de publicações
MARCOS BUCKERIDGE, PRESIDENTE DA ACIESP
(em milhares)

600
500
400 Entretanto, nem todos os vos produtos: o país é res- na ou de uma Índia é a ciên-
300
200
ministros estão em alta na ponsável por somente 0,26% cia. Esses países não param.
100 comunidade científica. “Eu das solicitações de patentes Se a gente parar hoje, quando
vejo que os ministérios da feitas no mundo, e apenas tentar entrar de novo, o mun-
1o 2o 3o 4o 5o 13o
Fazenda e do Planejamen- 0,10% delas são concedi- do já é outro”, afirma Marcos
EUA
China

Alemanha
Índia
Brasil
Reino Unido

to não estão tendo visão de das. “Ainda estamos apren- Buckeridge. “Nós estáva-
longo prazo. São míopes”, dendo a tornar a pesquisa mos finalmente começando
diz Helena Nader, referin- útil, o que não é uma coisa a aprender a tornar a ciên-
do-se a Henrique Meirelles simples”, diz Marcos Bucke- cia útil. Se interrompermos
Número de citações
(em milhares)
e Dyogo Oliveira, respecti- ridge, presidente da Acade- esse processo, vamos voltar
vamente. “São muito bem mia de Ciências do Estado de no tempo e depois precisa-
350
300 informados, altamente qua- São Paulo (Aciesp). remos esperar mais 20 anos
250
200 lificados. Fazem questão de Enquanto o ritmo por aqui para amadurecer e retornar
150 falar de Harvard, MIT, Yale, está devagar, a China colocou ao ponto que estamos agora.”
100
50 mas não veem ciência e edu- a inovação por meio da ciên- Hoje, muitos doutores re-
cação como investimento.” cia e tecnologia como foco cém-formados não encon-
1o 2o 3o 4o 5o 17o
principal em seu plano de go- tram trabalho por aqui: ou
EUA
China

Alemanha
França
Brasil
Reino Unido

verno para os próximos cinco abandonam a academia ou

D anos. O objetivo é chegar em

2020 investindo o equivalen-
vão para universidades no ex-
terior. E, sem ciência feita em
devagar quase parando te a 2,5% do PIB na área — casa, vamos continuar tendo
Número de artigos por
área do conhecimento Apesar de as publicações bra- 40% somente para a ciência que comprar tecnologia ve-
(em milhares) sileiras terem correspondido básica, aquela cujo único ob- lha de quem a desenvolve. “O
35 a 2,55% da produção mun- jetivo é obter conhecimento. mundo capitalista funciona
30 dial entre 2010 e 2014, o im- Japão e Coreia do Sul inves- assim. Descobrir, depois tor-
25
20 pacto do que é produzido por tem 3% do PIB em pesquisa. nar esse conhecimento útil,
15 aqui ainda é bastante limita- Os Estados Unidos investem desenvolver tecnologia, ga-
10
5 do. Boa parte de nossos es- cerca de 2,8%, e a União Eu- nhar mercado e vender esse
tudos é publicada em revistas ropeia quer chegar a 3% em conhecimento para os ou-
científicas de pouca credibili- 2020. A economia de Ruanda tros”, diz Buckeridge. “Se o
Agricultura
Ciências Naturais
Ciências da Saúde

Engenharia e Tecnologia
Ciências Sociais

dade. Quando são levadas em
consideração somente publi-
cações de alto prestígio, caí-
mos para 1,1% da produção
global. Falta também trans-
Fonte: Scimago Journal 55
& Country Rank formar as pesquisas em no-
passou a crescer 7% ao ano
graças ao investimento contí-
nuo de 3% do PIB nessa área.
“O principal fator para o
desenvolvimento de uma
Coreia do Sul, de uma Chi-
Brasil quer ser um país ca-
pitalista, sem ciência não vai
conseguir. Vai ser no máximo
um satélite do mundo capi-
talista.” Uma nada agradável
viagem para o passado.
 FLORESTA ABERTA

TEXTO THIAGO TANJI

PARA
FOTOS DANIEL BELTRÁ

DESIGN FEU
NEGÓCIOS
AMAZÔNIA É
AMEAÇADA PELO
INTERESSE NA
EXPLORAÇÃO DE
SUAS RIQUEZAS,
COMO OURO,
PETRÓLEO
E MADEIRA

9,5 MIL KM 2

Recife de corais
descoberto na foz
do Rio Amazonas
tem área de 9,5
mil quilômetros
quadrados: é
20% maior do
que a região
metropolitana 56
de São Paulo
 MAPEAMENTO
O Greenpeace sobrevoou o Amapá para entender os impactos da ação humana na Amazônia: a organização luta para que atividades petrolíferas não atinjam o recife de corais localizado na foz do Rio Amazonas

De agosto de 2015
a julho de 2016,
o desmatamento
na Amazônia foi
de 7.989 km²

A área é 76
vezes maior que
a cidade de

PARIS
57
 MAR DE AREIA
Mina para retirada de minérios é aberta em Munguba, que marca a fronteira entre os estados do Amapá e do Pará: a região é rica em jazidas que contêm minério de ferro, níquel, manganês e ouro

O desmatamento
durante um ano
na Amazônia
é responsável
pela liberação de
586 milhões de
toneladas de gases
de efeito estufa

Isso equivale a
oito anos de
emissões de
toda a frota
de automóveis
do Brasil

58

EM MAIO, o plenário do Senado
Federal autorizou a retirada de
mais de 587 mil hectares da
Unidade de Conservação da região
do Jamanxim, no estado do Pará:
a extensão da perda da área de
À VENDA? proteção ambiental equivale a
quatro cidades de São Paulo.
Enquanto defensores da medida
afirmavam que as mudanças seriam
positivas para a regularização da
posse da terra, ambientalistas
denunciavam os planos do governo
federal para diminuir as áreas
de conservação na Amazônia e
ampliar as atividades econômicas
em diferentes locais da floresta.
Não faltam interesses nas riquezas
locais: além da extração de madeira
e das operações do agronegócio,
empresas se articulam para a
exploração de combustíveis fósseis e
minérios. As petrolíferas BP e Total
desejam perfurar pontos próximos
à foz do Rio Amazonas — onde, em
abril de 2016, foi descoberto um
recife de corais com área superior a
9,5 mil quilômetros quadrados.
Localizadas na fronteira entre os
estados do Amapá e do Pará, áreas
para exploração de ouro, minério
de ferro, níquel e manganês serão
leiloadas para a iniciativa privada.
“Observamos uma tendência de
piora: o governo tem mandado sinais
positivos para aqueles que pensam
com uma motosserra na mão”,
afirma Nilo D’Ávila, coordenador
de campanhas do Greenpeace — a
organização ambiental sobrevoou
a região do Amapá com o fotógrafo
espanhol Daniel Beltrá para verificar
os impactos da atividade humana
em áreas da Floresta Amazônica.
59

19,6 BI

A mineradora
canadense Belo
Sun ganhou
permissão
para operar na
Amazônia e
promete extrair
150 toneladas de
ouro nos próximos
17 anos em uma
jazida próxima
à usina de Belo
Monte, no Pará

FLORESTA EM BURACOS
Garimpo ilegal de ouro é flagrado ao norte da cidade de Macapá, capital do Amapá. Em fevereiro, a Polícia Federal realizou uma operação contra um grupo que retirava 180 quilos de ouro de maneira clandestina
 PODER DA MOTOSSERRA
Eucaliptos armazenados no Porto de Macapá: o Greenpeace estima que 451 milhões de árvores foram derrubadas entre agosto de 2015 e julho de 2016 na Amazônia, uma área de destruição equivalente a 7.989 km2

60

50%

O aumento de 50%
na produtividade
da pecuária bovina
na Amazônia (de 1
para 1,5 cabeça por
hectare) permitiria
redução total no
desmatamento
sem interferir
nas atividades
agropecuárias
até 2040
 ÁGUAS TURVAS
Área de escoamento de uma mina de extração de ouro e minério de ferro localizada a 145 quilômetros de Macapá: para separar o ouro da lama é utilizado mercúrio, elemento químico tóxico para os seres vivos

964 MI

446 MI

Em março deste
ano, o orçamento
do Ministério do
Meio Ambiente foi
reduzido de
R$ 964 milhões
para R$ 446
milhões, um
corte de 53%

61
 PAPO CABEÇA
COM ARTUR AVILA
“As pessoas criam aversão à
matemática desde cedo e
há uma aceitação em relação
a isso, o que é problemático”
No Biênio da Matemática, Artur Avila, o primeiro
brasileiro a conquistar a Medalha Fields, destaca
a alta qualidade das pesquisas feitas no país
em quase 65 anos de história,
o Instituto de Matemática Pura e
Aplicada (Impa) produziu estudos ma-
temáticos de qualidade comparável à dos
principais centros de pesquisa do mun-
do. Mas foi em 2014 que a instituição, lo-
calizada no Rio de Janeiro, viveu um de
seus momentos de maior orgulho: Artur
Avila, cientista formado no Impa, con-
quistou a Medalha Fields, máxima hon-
raria concedida a um matemático e con-
siderada equivalente ao Prêmio Nobel
— por incrível que pareça, a Matemática
não está entre as áreas incluídas na pre-
miação criada pelo sueco Alfred Nobel.
Aos 38 anos, Avila é especialista
em sistemas dinâmicos, campo
62 que analisa processos em evolu-
POR
THIAGO TANJI
DESIGN
FERNANDA FERRARI
ção a partir do ponto de vista da ma-
temática. “Trabalho com Operadores
de Schörendiger, com dinâmica con-
servativa em baixa dimensão, essas
áreas que são difíceis de comunicar”,
diz ele, que hoje se divide entre o Impa
e o Centro Nacional para a Pesquisa
Científica, na França, onde ocupa o car-
go de diretor de pequisa.
Apesar da complexidade de seu traba-
lho, Avila luta para que o estudo mate-
mático não carregue o estigma de “ter-
ror dos estudantes”. “As pessoas criam
aversão à matemática desde cedo e há
uma aceitação em relação a isso”, afirma
o pesquisador. Para mostrar que a mate-
mática vai muito além da resolução de
equações escritas em uma lousa, o Impa
ajudou a idealizar o Biênio da Matemática,
que marca a realização de uma série de
eventos no Brasil entre 2017 e 2018.
Entre as atividades programadas es-
tão palestras de Avila para estudan-
tes que participam das Olimpíadas de
Matemática. Ele próprio decidiu seguir
carreira na área após participar das com-
petições e conhecer o Impa, onde fez a
iniciação científica e o mestrado enquan-
to ainda cursava o Ensino Médio — mais
um feito digno de uma mente brilhan-
te com selo nacional de procedência.

QUANDO DECIDIU SE TORNAR UM MATEMÁTICO?

Quando se pensa em ciência, você tem a
imagem de um cara de jaleco branco me-
xendo com tubos de ensaio e descobrin-
do novas fórmulas químicas. Mas como
é a imagem de um matemático? Quem é
matemático nos dias de hoje? Talvez hoje
a gente tenha um pouquinho mais de in-
formação, mas na minha época eu não sa-
bia que existia o Impa, não sabia sequer
que existia gente produzindo matemáti-
ca nova — porque, mesmo na universi-
dade, o contato com o estudo matemáti-
co fica limitado no máximo ao século 19.
No começo, eu participava das Olimpíadas
de Matemática sem muita concentração,
mas me aprofundei e passei a estudar
mais intensamente ao focar no Impa.
Fiquei sabendo de histórias de gente
como o Gugu, o Carlos Gustavo Moreira,
que tinha feito mestrado junto com o se-
gundo grau, e esses casos me levaram a
pensar em entrar no Impa o quanto antes.
MAS, NAQUELA ÉPOCA, VOCÊ JÁ TINHA DECIDIDO
SEGUIR UMA CARREIRA DE PESQUISA NO IMPA?
Na Matemática você consegue fre-
quentemente ir mais longe, pois ela
lhe permite descobrir muitas coi-
sas por si só, com seu pensamen-
to. E para mim era mais fácil avançar.
Estava no segundo grau quando comecei
a fazer cursos no Impa, primeiramente
de iniciação científica, depois o mestra-
do. Logo vi que era uma abstração muito
interessante, gostava de fazer os exercí-
cios, gostava daquilo e me dediquei para
tentar aprender todo esse conhecimento
e desenvolver certa intuição. Mas minha
compreensão sobre como fazer pesqui-
sa só ocorreu no doutorado, com a inte-
ração com outros matemáticos, vendo-
-os tentando descobrir coisas na minha
frente em vez de só contarem teorias já
prontas e antigas. Comecei a notar que
existia um estilo de fazer pesquisa, e
depois descobri meu próprio estilo. Mas
ORGULHO NACIONAL demorou um bom tempo até compreender
Avila foi o primeiro um pouco o que é fazer Matemática nova.
latino-americano
a conquistar a APÓS O DOUTORADO, POR QUE DECIDIU TRABALHAR
Medalha Fields: hoje, NA FRANÇA? PERCEBEU ALGUMA DIFERENÇA EM RE-
divide seu tempo LAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA FEITA NO BRASIL?
de pesquisa entre o No fim do doutorado, eu tinha confian-
Brasil e a França ça de que poderia fazer pesquisa, mas
era muito ignorante e certamente não
saberia situar o que estava fazendo
Foto: Thomas Samson/AFP dentro do universo matemático. 63
Paris talvez seja o lugar com a maior
concentração de matemáticos e mate-
máticas de ponta no mundo, e as tro-
cas, a exposição e a compreensão de
onde você está no universo matemáti-
co é bem mais evidente. Mas foi mui-
to importante fazer meus estudos no
Brasil. Eu suspeito, embora não haja
como demonstrar, que foi melhor ter
estudado no Impa do que em Harvard
ou Princeton. E digo isso por questões
pessoais, de formação, mas também
pelo fato de que a Matemática realiza-
da no Impa é de ponta e seus resultados
não devem nada ao que é feito lá fora.
QUAL É A METODOLOGIA QUE O CIENTISTA UTILIZA
DURANTE UMA PESQUISA MATEMÁTICA?
Não existe uma metodologia geral, eu
mesmo não tenho algo muito rotineiro,
um procedimento que realizo sempre da
mesma maneira. Mas há técnicas: basi-
camente, é bom você ter uma boa com-
preensão do que já existe. A matemática
é acumulativa e as novidades não substi-
tuem as coisas mais antigas. Essa prepa-
ração possibilita que você enxergue e de-
tecte aquilo que você realmente não sabe,
aquilo que requer um salto para além de
onde o conhecimento atual está.
COMO É POSSÍVEL EXPLICAR ESSE “SALTO DE
CONHECIMENTO” NAS PESQUISAS? O QUE É
NECESSÁRIO PARA DESCOBRIR ALGO NOVO?
Você precisa reconhecer aquilo que o
conhecimento atual permite para iden-
tificar onde você precisa se concentrar.
Daí, você precisa de uma ideia. E o que
é uma ideia? É difícil dizer, mas [fa-
zendo gestos com as mãos] é você com-
preender que precisa descobrir algo a
partir daqui e que deve passar daqui até
ali. Existem milhares de maneiras de
abordar essa questão, mas não dá para
testar todas nem saber de antemão qual
vai funcionar. Então você desenvolve
uma intuição baseada na experiência e
em outros fatores os quais eu não sa-
beria distinguir... Não sou místico, mas
acho que é um processo mental sendo
desenvolvido que não compreendemos
muito bem... E nem sempre funciona.
Ícone: Paddle.com
Mas, se você estiver no lugar certo, na
hora certa e fizer todo o seu trabalho
direito, talvez efetivamente descubra
como passar daqui até ali.
64
VOCÊ PRECISA DE UMA INFRAESTRUTURA FÍSICA
PARA REALIZAR SEU TRABALHO OU ISSO DEPENDE
EXCLUSIVAMENTE DE SUAS FERRAMENTAS MENTAIS?
UM QUADRO NEGRO E UM GIZ RESOLVEM...
Ou nem mesmo é preciso o quadro ne-
gro, você faz de cabeça. No meu caso,
não preciso de outras coisas além do
raciocínio. Mesmo sem ter uma habi-
lidade excepcional para fazer contas
de cabeça, consigo trabalhar frequen-
temente sem papel porque não estou
fazendo contas, estou apenas tentando
entender o que está acontecendo. Mas
preciso sempre de pessoas, trabalho mui-
to em colaboração, e a troca de ideias é
importante. Na Matemática, normalmen-
te não precisamos de um “superlabora-
tório”. É uma ciência barata do ponto de
vista das instalações físicas.
E COMO FUNCIONA ESSE INTERCÂMBIO DE IDEIAS
COM OUTROS MATEMÁTICOS? COMO É POSSÍVEL
FAZER COM QUE AS IDEIAS DIALOGUEM?
Quando se está realmente travado, um
matemático estará sentado de um lado,
outro de outro, e os dois ficarão calados
pensando, não haverá muita interação.
De vez em quando alguém falará alguma
coisa, mas o assunto morre imediatamen-
te... Em outros momentos, os dois pen-
sam separadamente e depois interagem.
E pode ser em qualquer ambiente, não
há nada que proíba matemáticos de
contarem suas ideias em um bar, na
praia, em qualquer ambiente prazeroso.
Você começa a conversar e tenta trans-
mitir seu pensamento para o outro.
E esse processo tem duas vantagens:
quando você conta as coisas, é possível
que a outra pessoa complete seu racio-
cínio, observe algo que você não tenha
visto. Além disso, ao verbalizar seu pen-
samento, talvez você compreenda me-
lhor aquilo que já estava na sua cabeça.
E QUANDO SURGEM ESSAS IDEIAS?
Existem momentos em que você acor-
da à noite, não está conseguindo dor-
mir, resolve pensar em algum proble-
ma e vê um fio que o levará... Você não
pode forçar a existência da ideia, mas,
com a ideia na mão, tem a obrigação
de botá-la para funcionar. Daí, é possí-
vel que você não consiga tirar isso da
cabeça e trabalhe 10, 12, 16 horas por
dia: enquanto está comendo, enquanto
está tomando banho, o tempo todo.
O PÚBLICO E A IMPRENSA COSTUMAM PENSAR A
CIÊNCIA A PARTIR DE SUAS APLICAÇÕES. NO CASO
DOS MATEMÁTICOS, HÁ TAMBÉM UMA PREOCUPAÇÃO
NA HORA DE PENSAR EM APLICAÇÕES?
Existe uma grande variedade de es-
tilos: há quem esteja mais focado
na matemática pura e há quem este-
ja mais inclinado para a matemáti-
ca aplicada. E a comunicação entre
pessoas de estilos diferentes é funda-
mental para o avanço da Matemática.
Porém, uma questão é colocada fre-
quentemente: “Vamos dar dinheiro
para a Matemática? Então vamos prio-
rizar quem está pensando em proble-
mas importantes, porque o outro não
sabe nem dizer para que serve sua pes-
quisa”. Isso é um erro, pois a força do
desenvolvimento matemático vem do
diálogo e do avanço em todas as ver-

“
tentes. E, para se chegar mais longe,
com mais eficiência, você precisa que
todo esse universo esteja saudável.

MARCELO VIANA, DIRETOR DO IMPA, DISSE QUE NO

BRASIL NÃO TEMOS HERÓIS QUE FUJAM DAS FIGU-
RAS DO ESPORTE OU DA ARTE. VOCÊ ACREDITA QUE
O RECONHECIMENTO DO SEU TRABALHO PODE INS-
PIRAR OUTRAS PESSOAS NA CIÊNCIA?
Creio que isso é importante, e é a prin-
cipal razão para a existência desses prê-
mios. As pessoas não fazem matemática
para ganhar prêmios, e se fazem, pro-
vavelmente não chegarão muito longe,
porque essa é uma péssima motivação.
Mas os prêmios cumprem um papel:
o Nobel, que é o mais conhecido, tem essa
função de criar um burburinho, de fazer
as pessoas conversarem sobre ciência du-
rante uma semana. Nesse momento, as
pessoas veem que a física está viva, que
existem físicos fazendo coisas novas, e po-
dem se inspirar a seguir esse caminho.
VOCÊ ACHA QUE HOJE HÁ MAIS JOVENS INTERESSA-
DOS POR MATEMÁTICA DO QUE NA SUA ÉPOCA?
Há uma influência do pessoal das
Olimpíadas, eu os vejo motivados. Sempre
tento enfatizar que não sou o único exem-
plo de como fazer matemática no Brasil.
Isso é um fato e já era verdade mui-
tos anos antes de eu começar no Impa:
a matemática feita pelo meu orientador e
a trabalhada pelo orientador dele, há mais
de 40 anos, já eram de extrema qualida-
de. E é importante que isso seja contado.
Você não pode forçar a
existência da ideia, mas, com
a ideia na mão, tem obrigação
de botá-la para funcionar”
O QUE DEVE MELHORAR NO BRASIL PARA QUE MAIS
PESSOAS SE INTERESSEM PELA MATEMÁTICA?
É um trabalho muito complicado. Existe
um papel importante que deve ser fei-
to pela imprensa, mas, de certa forma,
todos são responsáveis. A sociedade
deve mostrar que a matemática pode
ser divertida e importante para todos.
As pessoas criam aversão à matemática
desde cedo por várias razões, e há uma
aceitação em relação a isso. Você diz que
é “de Humanas” e foge da matemática,
não quer nem chegar perto. Isso é pro-
blemático e pode ser vencido socialmen-
te, não precisamos esperar que a esco-
OBJETO DE ESTUDO la faça alguma coisa. A escola tem um
Avila é reconhecido papel importante. É preciso haver boas
pelos seus traba- condições em sala de aula, bons profes-
lhos referentes a sores, que estimulem e não amedrontem
sistemas dinâmicos, as crianças. Mas também é necessário
área que analisa que os pais conversem com os filhos so-
processos naturais bre como a matemática é importante.
em evolução a partir É preciso reconhecer que qualquer pes-
de leis matemáticas soa pode colaborar com isso.
OMESTRE
REPORTAGEM JOTAPÊ JORGE

EDIÇÃO NATHAN FERNANDES

DESIGN FERNANDA FERRARI

ILUSTRAÇÃO CATARINA BESSEL

MANDOU
 C O MO U MA M ISTURA D E N AC IO N A L IS M O, FAS C I S M O
À JAPO NESA , RAC IS M O E S O C IA L IS M O DE U O R I G E M
AO JU C H E , A I DEO LO GIA O F IC IA L DA C O R E I A DO N O RT E

Em uma de suas obras, Cho Ki-chon, o pai da

poesia norte-coreana, escreveu: “E então sua
mãe apareceu sobre a água celestial, e com
isso ele ganhou nova força, novo propósito.
Naquela noite, pensou: ‘Somos poucos, mas es-
tamos certos. Por mais que morramos e san-
gremos, vamos defender o povo’”. É assim
que o poeta, considerado o “Maiakóvski nor-
te-coreano” por seus compatriotas, descre-
veu a invenção da Ideia Juche (pronuncia-se
tchu’tchê), a ideologia oficial da Coreia do Nor-
te, criada pelo líder supremo Kim Il-sung.
O poema é também uma metáfora da Coreia do
Norte sob o comando da dinastia Kim. Compos-
tos em 1947, os versos foram modificados três
vezes, dançando ao sabor do humor do regime
considerado o mais fechado do mundo.
O sistema foi se aprimorando ao longo das
últimas seis décadas, primeiro pelo próprio
Kim Il-sung, que fundou a República Democrá-
tica da Coreia em 1948 e continuou a governá
-la até 1994; depois por seus herdeiros e su-
cessores: Kim Jong-il, governante entre 1994
e 2011, e o atual líder, Kim Jong-un.
A base teórica do Juche foi o marxismo que
se expandia pelo poderio militar da União So-
viética no início da Guerra Fria na década de
1940. Não demorou, no entanto, para que Kim
Il-sung desenvolvesse um ideário próprio.
“Por uma questão cultural de culto à
personalidade existia uma necessidade
de separar a ideologia norte-coreana do
restante do pensamento comunista”, ex-
plica a professora da Universidade de
São Paulo Yun Jung Im Park, nascida
na Coreia do Sul. Era necessário que a
Coreia do Norte tivesse, basicamente,
seu próprio “livrinho vermelho”.
Foi assim que Kim Il-sung explicou o
Juche em 1955: “Para fazer uma revolução
coreana é preciso conhecer o povo corea-
no, a geografia coreana, a história corea-
na”. Foi o início de um flerte com o na-
cionalismo racial coreano, ideologia que
prega a superioridade do povo local em
relação aos vizinhos asiáticos. “O nacio-
nalismo étnico coreano surgiu em um pe-
ríodo conturbado, em que a nação enfren-
tava o risco de desaparecer”, explica Park.
Em 1910, a península da Coreia foi invadi-
da pelo Japão, que começou um processo
de aculturação. “A propaganda oficial japo-
nesa dizia que os coreanos deviam se in-
tegrar. O nacionalismo étnico surge como
contraponto”, diz a professora.
U M P E Q U E N O
DEUS NA TERRA
O nacionalismo étnico coreano tem como
mito fundador a lenda do senhor celestial
Hwanin, que, por volta do ano 2 mil a.C.,
desceu dos céus sobre a montanha Baeg-
du e nela fundou a Cidade dos Deuses.
Ali ele teve um filho, Dangun, que é con-
siderado o ancestral de todos os corea-
nos. “Ele é uma espécie de grande avô”,
brinca Park. “O mais curioso é que, ape-
sar dessa origem tão antiga, relatos so-
bre Dangun como ‘pai’ da raça corea-
na só surgem no começo do século 20.”
Ou seja, embora pareça milenar, a lenda de
Dangun começou a ser propagada apenas
durante o período da Ocupação Japonesa,
que durou de 1910 a 1945.
Para o norte-americano Brian Rey-
nolds Myers, professor de estudos in-
ternacionais na Universidade Dongseo,
na Coreia do Sul, a influência japonesa
no período foi tão importante que le-
vou a intelectualidade coreana a se
68 aproximar muito mais do fascismo
japonês do que do marxismo-leninismo.
Em seu livro The Cleanest Race: How the
C O R E I A À S
North-Koreans See Themselves (A Raça
ARMAS
Mais Pura: Como os Norte-Coreanos se
Veem, em tradução livre), Myers explica:
“Nos anos 1920, a classe média coreana
já usava preferencialmente o japonês em
suas casas. O período de ocupação foi
curto [apenas 35 anos], mas seus efeitos
foram duradouros.”
Não à toa, várias expressões ligadas ao
nacionalismo racial provêm do japonês,
como minjok (“raça”). O próprio termo
Juche é uma tradução japonesa do ale-
mão subjekt, usado para definir o sujei-
DIREITA, VOLVER
to na filosofia. E, se é verdade que a in-
fluência cultural japonesa foi profunda
Desde 1984, a Coreia do Norte já reali-
durante esse período, é impossível negar
zou 108 testes com mísseis balísticos.
que Kim Il-sung tenha sido contaminado.
Sob o comando de Kim Jong-un, no
poder desde 2011, o país intensificou
a política militar: foram 78 testes com
mísseis, quase três quartos do total.
A propaganda
oficial japonesa di-
zia que os corea-
nos deviam se inte-
grar. O nacionalismo
étnico surge como
contraponto
DE OLHO NO QUINTAL
O último teste com mísseis, feito em
maio deste ano, atingiu o Mar do Japão.
Yun Jung Im Park,
Segundo o Departamento de Defesa dos
professora da USP
Estados Unidos, o país pode desenvolver
um míssil intercontinental capaz de atin-
Afinal, o primeiro dos líderes da dinastia
gir o solo norte-americano até 2027.
nasceu em Pyongyang em 1912, ou seja,
dois anos depois do início da ocupação.
“A Coreia tem uma longa história de
invasões. Essa ideia de uma raça corea-
na ‘excepcional’ surge não apenas como
resposta a isso, mas como forma de
defesa”, destaca Park. “Por muito tem-
po, a ideia de estrangeiro esteve relacio-
nada com o mal da sociedade coreana.”
Oficialmente, o Juche tem como base o
ideal de que o “homem é dono de si e do SETE TROMBETAS
mundo”, uma filosofia perigosa porque o
nacional-socialismo alemão, por exem- O país possui uma bomba atômica e já
plo, também pregava uma superioridade tem tecnologia para bombardear os
do homem — do homem ariano. vizinhos Coreia do Sul e Japão, ambos
Nesse contexto, é difícil não fazer um rivais históricos — no Japão existe até
paralelo entre o Juche e o nacionalismo uma sirene de alerta para avisar a po-
que controlou o Império do Japão entre pulação sobre um possível ataque.
a restauração Meiji de 1870 e o final da
Segunda Guerra Mundial. “No Japão pós-
-restauração Meiji a elite construiu uma
ideologia sobre a divindade do imperador,
unificando uma série de crenças regionais
no que se acostumou chamar de ‘xintoís-
mo de estado’”, explica o historiador Ro-
gério Dezem, da Universidade de Osaka.
Um bom exemplo dessa semelhança
é o “dia do sol”, feriado nacional norte-
-coreano que celebra o aniversário de
Kim Il-sung. O Japão também passou ce-
lebrar (e continua celebrando até hoje) o
Dia do Imperador após a restauração Mei-
ji — e também por lá o imperador rece-
beu seu status divino da “deusa do sol”.
Mas, apesar da coincidência (ou por cau-
sa dela), Dezem afirma que a criação da
cultura norte-coreana foi bem menos es-
pontânea do que a da cultura japone-
sa: “A Coreia do Norte usou de teorias
estrangeiras para suportar uma ‘inven-
ção da tradicional’, enquanto no Japão
o resgate de aspectos nativos foi a base
dessa filosofia de caráter nacionalista”.
Já Yun Jun Im Park, da USP, ressalta que
é provável que exista uma correlação en-
tre a religiosidade e a figura dos Kim
na Coreia. “A ideologia marxista é por de-
finição ateia, mas esse tipo de crença não
desaparece facilmente.”
P E L A M I R A
DO MEU FUZIL
Os três principais pontos da ideologia
Juche são independência política, sus-
tentabilidade econômica e autossufi-
ciência militar — basicamente os pila-
res do isolacionismo que levou o país a
ter um produto interno bruto 15 vezes
menor do que o de seu vizinho do sul.
Para um observador externo, o Juche pa-
rece uma espécie de versão mais estrita
do stalinismo, com seu culto à persona-
lidade e ao autoritarismo — mas pode-
ria ser igualmente comparado a governos
fascistas como o da Alemanha Nazista e
o da Itália de Mussolini.
Uma das características mais peculia-
res e assustadoras do Juche — e talvez
a que mais o aproxima de um ideário
fascista — surgiu depois da queda da
União Soviética, em 1992. É o chamado
songun (literalmente “primazia miliar”),
que levou o regime a desenvolver um ar-
tefato nuclear e a manter o maior exérci-
to proporcional à população do mundo,
com 47 tropas ativas para cada mil ci-
dadãos. Tudo isso em um país que vive
em crônico desabastecimento. Segundo
o Unicef, 57% da população sobrevive
com menos calorias do que o suficien-
te para se manter saudável e um terço
das crianças têm o seu desenvolvimen-
to altamente comprometido pela fome.
Em texto publicado no site Solidarie-
dade à Coreia Popular, Gabriel Gonçalves
Martinez, presidente do Centro de Estu-
dos da Ideia Juche no Brasil, resumiu as-
sim o songun: “Os princípios da ideia son-
gun são os mesmos da Ideia Juche. Sendo
uma ideia política que prioriza os assuntos
militares, ela acredita que a revolução se
forja, avança e se concretiza mediante o
fuzil”. Mesmo depois de inúmeras tentati-
vas, Martinez não respondeu à reportagem
da GALILEU, bem como os demais mem-
bros de seu grupo de estudos. A embaixa-
da da Coreia do Norte no Brasil também
não respondeu aos pedidos de entrevista.
“Há ainda um grande tabu entre os
coreanos de ambos os lados em falar
sobre determinados assuntos”, afirma
a professora Park. “Há, por exemplo,
norte-coreanos que estudam em São
Paulo, mas eles vivem escondidos, pois
é determinação do governo da Coreia
do Sul que seus cidadãos delatem a ati-
vidade de norte-coreanos.”
69

1 0 0 %
RAÇA
Apesar de o mundo viver hoje a verve do
multiculturalismo, com cidades globais
como Nova York, Londres e São Pau-
lo fervilhando de sotaques e idiomas,
a questão da “raça” ainda é proeminen-
te na sociedade coreana, tanto no nor-
te quanto no sul. Em uma pesquisa fei-
ta em 19 países, a BBC perguntou qual
era o fato mais importante para a afir-
mação da identidade cultural. A Coreia
do Sul foi o país onde o maior número
de entrevistados respondeu “raça”:
70 23% do total. “Os coreanos afir-
IR OU NÃO IR
Desde 1957, por proteção, os EUA man-
têm 28 mil homens na Península da
Coreia. Kim Jong-un diz que vai parar
os testes se os norte-americanos reti-
rarem as tropas — uma decisão pareci-
da causou a Guerra da Coreia, em 1950.
QUER PAGAR QUANTO?
A Coreia do Norte é o país que mais
gasta com as forças armadas em rela-
ção ao PIB. Foram cerca de US$ 4 bi-
lhões em 2016, ou 22% do PIB. Mas são
despesas consideradas nanicas: o Bra-
sil, por exemplo, gasta US$ 22 bilhões.
maram aprender na escola que eles são
uma raça pura”, conta a antropóloga Li-
neimar Pereira Martins, em seu livro
O Mito da Raça Pura, em que relata sua
vida na Coreia do Sul. “Para alguém que
veio do Brasil, um país que preza pela mis-
cigenação, foi um choque grande.”
Park concorda com a avaliação de Mar-
AMIZADE VERDADEIRA
tins: “No Brasil há, ao menos desde a dé-
cada de 1950, uma ideologia de superio-
A força dominante na política é o Parti-
ridade pela miscigenação. Na Coreia é o
do dos Trabalhadores da Coreia. Apesar
contrário. Por isso, muitas vezes o corea-
disso, a Assembleia Popular Suprema
no sofre preconceitos no Brasil por ser ‘fe-
(o Congresso de lá) tem outros dois par-
chado’”, explica. Myers vai além: “É inútil
tidos: o Social-Democrata e o Chondoís-
colocar esse conflito no mesmo paradig-
ta. Os três fazem parte da mesma coali-
ma da Guerra Fria. Essa ditadura não vai
zão, a da Reunificação da Coreia.
cair pelos jeans, porque é impossível fazer
uma subversão da ideologia de raça ape-
nas com filmes de Hollywood.”

TUBO DE ENSAIOS
POR DR. DANIEL BARROS*
A CIÊNCIA COMO
ARMA CONTRA
A PÓS-VERDADE
Quando estamos dispostos a suspender
nossas convicções para colocá-las à prova,
nosso terreno mental fica bem menos
fértil para as bobagens que nos cercam
TODOS OS ANOS, o Oxford English
Dictionary (OED) elege a palavra do
ano. A ideia é escolher um verbete que
tenha sido relevante durante o perío-
do e que de alguma forma sintetize o
espírito dos últimos meses. Em 2016,
a eleita foi uma palavra que viu sua
fama explodir graças a eventos como
o Brexit e a eleição de Donald Trump
para a Presidência dos Estados Uni-
dos. Para tentar explicar esses dois
eventos surpreendentes, as pessoas
invocaram como nunca a expressão
“pós-verdade”. Sua ocorrência aumen-
tou mais de 2.000% em um ano.
Cunhada na década de 1990 e al-
çada à fama em 2016, a pós-verdade
se refere a “circunstâncias nas quais
fatos objetivos são menos influentes
em formar a opinião pública do que
apelos à emoção e a crenças pessoais”,
segundo o próprio OED. A estratégia
dos defensores do Brexit e a campa-
nha de notícias falsas feitas por Trump
foram os exemplos máximos — ideias
com alto teor emocional, que reforça-
vam a visão de mundo das pessoas,
eram ventiladas e sustentadas mes-
mo diante de evidências contrárias.
O desprezo pela verdade, mais do que
a mentira, caracteriza a pós-verdade.
Paradoxalmente, o avanço do co-
nhecimento, que deveria se contrapor
a tal estratégia, parece fomentá-la.
Quanto mais informações, mais di-
fícil parece ser lidar com todas elas.
Diante da complexidade do mundo,
refugiar-se no que nos parece fazer
sentido intuitivamente é uma saída
rápida e tranquilizadora. Pena que
leve a tantos descaminhos. Em 1986,
o filósofo Harry Gordon Frankfurt
publicou um ensaio chamado On
Bullshit, lançado no Brasil com o
título Sobre Falar Merda. Bullshit,
Frankfurt define, é quando se fazem
afirmações sem que sua verdade ou
falsidade façam diferença. O obje-
tivo é transmitir um ar de conheci-
mento, causar uma impressão — ou
seja, impactar emocionalmente os
interlocutores. As ocasiões em que
isso acontece se multiplicam porque,
segundo o filósofo, “é inevitável fa-
lar bullshit toda vez que as circuns-
tâncias exijam que alguém fale sem
saber o que está dizendo”. Como pa-
rece que sabemos cada vez menos, o
estrago está feito. A pós-verdade é
a bullshit transplantada do contexto
pessoal para o público. É a transfor-
mação de uma estratégia para obter
vantagens em uma estratégia para
conseguir votos.
Embora o acúmulo de conhecimen-
to possa contribuir para esse ocaso do
pensamento crítico, o método cien-
tífico poderia ser um bom antídoto.
O cérebro humano não foi prepa-
rado para, intuitivamente, lidar com
a nossa realidade atual. Campanhas
políticas, debates ideológicos, de-
cisões de longo prazo — nada disso
estava presente nas pressões evolu-
tivas que moldaram nosso hardware
neurológico. Ao contrário, as decisões
precisavam ser rápidas, sob risco
de não haver uma segunda chance,
e intuitivas, geralmente baseadas em
consequências imediatas. As emoções
são um instrumento muito útil para
esses casos — o alerta que o medo
nos traz, a afiliação que o semelhante
provoca, tudo isso é de extrema valia
na luta pela sobrevivência. Com esse
aparato, contudo, somos incapazes de
filtrar nossas distorções perceptivas,
não conseguimos frear a tendência ao
imediatismo, ficamos à mercê dos hu-
mores e afetos a nos turvar a razão.
O trunfo do método científico é
admitir as limitações do cérebro hu-
mano e criar mecanismos para supe-
rá-las. Desde a descrição de matérias
e métodos utilizados, passando pela
utilização de controles e chegando ao
uso das estatísticas para verificar se
resultados que parecem verdadeiros
não são fruto do mero acaso, a ciên-
cia bem-feita nos protege de nossos
bugs cerebrais. Os experimentos co-
locam em xeque as hipóteses tentan-
do negá-las, não confirmá-las.
Por isso, educar cientificamente
não é apenas divulgar resultados de
pesquisas, mas ensinar as bases do
método experimental. Porque quan-
do estamos dispostos a suspender
nossas convicções para colocá-las
à prova, buscando evidências não
para provar uma ideia, mas para ver
O trunfo se ela resiste à tentativa de derru-
do método bá-la, nosso terreno mental fica bem
menos fértil para as bullshits e pós-
científico é -verdades que nos cercam.
admitir as
limitações
do cérebro
humano
e criar
mecanismos * DANIEL BARROS é psiquiatra do Instituto de
para
Psiquiatria do HC–FMUSP, doutor em Ciências
e bacharel em Filosofia. Atua com divulgação
superá-las
científica em vários meios. É consultor
do programa Bem Estar (TV Globo). 71
PANORÂMICA FOTO MOHAMMED HUWAIS

Dois moradores da capital do Iêmen, Saná, observam a destruição causada por um ataque aéreo. O alvo era uma casa próxima do palácio presidencial. Quatro civis

72
morreram, dois deles adolescentes. O ataque foi realizado por uma coalizão liderada pela Arábia Saudita, que há dois anos iniciou uma intervenção militar no país.

Imagem: AFP Pesquisa: Franklin Barcelos 73

 ULTI-
MATO PARA FAZER A DIFERENÇA
AGORA QUE VOCÊ LEU A REVISTA, SAIA DO SOFÁ

GOSTARIA DE QUER REBATER AS AGORA QUE VIU QUE A FICOU SATISFEITO

CONHECER DE FORMA NOTÍCIAS FALSAS DO CIÊNCIA É DIVERTIDA, COM AS PUNIÇÕES
MAIS PROFUNDA NOSSO GRUPO DA FAMÍLIA QUE TAL PARTICIPAR DE DE HARVARD AOS
SISTEMA CARCERÁRIO? NO WHATSAPP? EVENTOS NESSA LINHA? ALUNOS RACISTAS?

Analisar a
veracidade da fala
de políticos reduz as
mentiras em 63%*

FONTES: Dartmouth College; Universidade de Exeter

REPORTERS LAB
O mapa interativo criado pelo
departamento de jornalismo
da Universidade Duke, nos
Estados Unidos, mostra ações de
checagem de notícias no mundo
inteiro, incluindo o Brasil.
reporterslab.org
PAPOS DE FÍSICA
Organizados pelo ICTP-SAIFR,
os seminários duram até 20
minutos e são seguidos de deba-
tes. Abordam temas instigantes
e descobertas recentes da física
com linguagem descontraída.
adus.org.br
PASTORAL CARCERÁRIA
Organização vinculada à Igreja
Católica, há 30 anos faz trabalho
consistente em defesa dos direi-
tos das pessoas privadas de liber-
dade. Também realiza seminários
e divulga conteúdo sobre o tema.
carceraria.org.br
COLETIVO AMÉM
Há um ano, o grupo organiza
eventos culturais sociopo-
líticos e festas no centro
de São Paulo para celebrar
a cultura negra LGBT.
www.facebook.com/
FestaAmemBrothers
ASTRONOMIA AO MEIO-DIA
Há palestras todas as quintas,
ao meio-dia, no IAG-USP.
Proposta do evento é levar
conhecimento astronômico
descomplicado sobre diversos
assuntos a todos os públicos.
astro.iag.usp.br/~astro12h

SÓ +
VOCÊS PASSARÃO, O fim de JÁ PODE PEDIR MÚSICA EU NÃO SOU PODE VIR QUENTE QUE
EU PASSARINHO Sense8 NO FANTÁSTICO CACHORRO NÃO EU ESTOU FERVENDO
Pesquisadores chineses causou Pela terceira vez em dois O pastor-alemão Gavel Cientistas descobriram
encontraram o fóssil mais anos, o observatório causou comoção depois o planeta que tem as

1 MIN. de um pássaro de nada

Aconteceu em junho,
mas não coube na revista
menos que 100 milhões
de anos. Para sorte dos
cientistas e azar do bichi-
nho, ele morreu preso em
uma poça de seiva, o que
facilitou a conservação.
revolta
nas redes
sociais
que o jul-
Ligo conseguiu detectar
ondas gravitacionais. Nas
três detecções, as ondas
foram geradas pela co-
de ser expulso da polícia
australiana por ser dócil
demais. A “carreira” do
cãozinho, no entanto, deu
temperaturas mais altas
já registradas. Se você
é desses que reclama
quando o termômetro
gamento lisão entre dois buracos uma guinada: ele foi ado- marca 30°C, nem pense
de Temer negros, que formaram tado pelo governador e em visitar Kelt-9b, onde
no TSE. um buraco ainda maior. agora tem presença VIP. chega a fazer 4.227°C.
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