Uma travessia do Atlântico rumo aos píncaros da popularidade
O Labrador descende dos cães que ajudavam os pescadores da ilha de Terra Nova (Newfoundland), situada na costa oriental do Canadá, em frente à península do Labrador. Vestígios arqueológicos do século XVIII apontam para a existência de dois tipos distintos de cães na Terra Nova: um maior e com pelagem longa, chamado Greater Newfoundland (Terra Nova Maior); e outro mais pequeno e com uma pelagem mais curta, chamado Lesser Newfoundland (Terra Nova Menor), igualmente conhecido como St. John´s Water Dog (St. John´s é a capital da província de Terra Nova e Labrador). O Greater Newfoundland ajudava os pescadores no arrasto de redes, enquanto o Lesser Newfoundland cobrava (apanhava e trazia) os peixes, ajudando também no posicionamento das linhas de pesca. Ambos os cães possuíam uma enorme resistência, principalmente o segundo que trabalhava horas a fio dentro das águas gélidas daquela região, tendo ainda disponibilidade para, assim que chegava a casa, conviver alegremente com a sua família. No século XIX, o Lesser Newfoundland é descoberto pelos pescadores de bacalhau, acabando por desembarcar em território britânico, mais concretamente no porto de Poole, no condado de Dorset. Os proprietários fundiários locais, rendidos à capacidade de estes cães cobrarem a presa tanto na água como na terra, adquiriram alguns exemplares. A sua popularidade cresceu rapidamente e o seu processo de criação orientou-se para o desenvolvimento das capacidades de cão de tiro. Este processo foi, no entanto, mal conduzido por muitos criadores. Foi graças ao Conde de Malmesbury e ao Duque de Buccleuch que as características originais do Lesser Newfoundland foram conservadas e que a sua evolução ocorreu de forma muito positiva, até se chegar ao apuramento do Retriever do Labrador que hoje conhecemos. Inicialmente, apenas os exemplares de cor preta eram considerados puros, passando-se posteriormente a aceitar os exemplares de cor amarela e, ainda mais tarde, os de cor castanha. Embora as duas Guerras Mundiais tenham afetado o desenvolvimento desta raça, logo a partir de 1945 as suas características e capacidades únicas levaram-na a alcançar um enorme prestígio. Possivelmente, o Retriever do Labrador é hoje a raça mais popular de todo o mundo. TEMPERAMENTO Um amigo em quem se pode confiar Excecionalmente carinhoso para com todos à sua volta, especialmente com a família e com as crianças, o Labrador é das raças mais sociáveis que existem, dando-se também muito bem com outros animais. Tem muita energia e está sempre disposto a participar em todas as brincadeiras, mas, se ficar demasiado tempo sozinho e sentir solidão, poderá deixar estragos em casa ou no jardim. Esta raça tolerante e sensível é também muito inteligente, sendo fácil de treinar graças à sua permanente vontade de agradar ao dono, isto embora seja difícil impedi-lo de comer todas as coisas que encontra pelo caminho. Não por acaso, é a raça mais requisitada para trabalhar como cão guia para cegos, podendo também assumir outras funções, como farejador de drogas, isto para além das suas capacidades inatas para a caça, onde atua como cobrador (retriever). Relativamente a esta última função, a cauda do Labrador é grossa e sem franjas para servir como um autêntico leme quando está na água, levando a que seja conhecido pelos ingleses como otter-tail, que significa cauda de lontra. SAÚDE O preço a pagar pela enorme popularidade do Labrador é elevado. Com o único objetivo de ganhar dinheiro e desconhecendo o estalão da raça, criadores amadores cruzam cães com a mesma linhagem sanguínea, originando ninhadas com problemas de consanguinidade e cujos exemplares apresentam um comportamento e uma aparência fora do estalão. Como acontece com todas as raças, mas especialmente com as mais populares, é fundamental contactar um bom criador e analisar o comportamento dos progenitores da ninhada. As doenças mais comuns desta raça são a displasia coxofemoral e a displasia de ombros, ambas geneticamente transmissíveis. As doenças oculares também podem surgir. A pelagem necessita de uma escovagem regular, preferencialmente semanal, e as orelhas devem ser inspecionadas, prevenindo-se o possível surgimento de infeções. O exercício físico é fundamental para o equilíbrio psíquico e físico da raça, sendo importante ter cuidado com a sua alimentação, uma vez que tem um apetite voraz e pode desenvolver problemas de obesidade.