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HISTÓRIA

Heróis do mar
À semelhança do que acontece com tantas outras raças, a origem do Terra Nova
(em inglês, Newfoundland) é matéria de acesa discussão. Podemos considerar a
existência de seis teses que se confrontam quanto a esta questão. A ordem que se segue
não representa uma hierarquia de fiabilidade.
A primeira aponta para que tenham sido os ingleses a introduzir a raça na ilha de
Terra Nova, situada no noroeste do Canadá. Esta seria descendente do Labrador
Retriever, raça inglesa que tem parte da sua história ligada à costa do Labrador, também
situada no Canadá e muito próxima da ilha de Terra Nova. Dentro desta tese há quem
aponte o extinto Greater St. John´s Dog como o grande ascendente do Terra Nova, uma
vez que é considerado o “pai” de muitos retrivers, nomeadamente o próprio Labrador.
A segunda aponta para que o Terra Nova seja produto do cruzamento entre raças
indígenas e cães Vikings levados por este povo escandinavo que, partindo na Noruega,
atravessou o Atlântico Norte rumo à costa leste do Canadá.
A terceira tese defende que esta raça resultou do cruzamento entre cães indígenas
e o Mastim do Tibete, levado para o Canadá por pescadores europeus.
A quarta defende que o Terra Nova é fruto do cruzamento entre raças indígenas e
o Mastim dos Pirenéus, levado para a região por pescadores bascos.
A quinta tese sugere que o Cão de Água Português, que acompanhava os
pescadores lusos de bacalhau para todo o lado, é um dos ascendentes do Terra Nova.
Finalmente, a sexta sugere que, com a chegada dos pescadores europeus ao
Canadá, várias raças molossóides foram introduzidas, acabando por integrar, assim, um
pouco da terceira e quarta tese, já que tanto o Mastim do Tibete como o Mastim dos
Pirenéus são raças do tipo molossóide. No entanto, segundo esta tese, a morfologia e o
temperamento do Terra Nova já existiam antes da colonização desta região, em 1610.
Assim, os molossóides teriam vindo apenas revigorar e acrescentar alguns detalhes à
raça.
Os cães indígenas que estas teses referem pertenciam a pescadores nativo-
americanos, como os índios Micmac e Beothuk. Não por acaso, a densa camada de
subpêlo dos Terra Nova é semelhante à dos cães polares do Ártico. Esta característica
permite-lhes resistir às baixíssimas temperaturas que se fazem sentir na região e atuar
dentro de águas geladas.
Os primeiros registos sobre a existência da raça remontam ao século XVIII, sendo
um dos principais o diário do capitão inglês Cartwright. Nestes registos, a raça é descrita
como tendo o pêlo preto e branco, padrão que corresponde à variedade original,
conhecida como Landseer – foi batizada com este nome em homenagem ao pintor
britânico Edwin Landseer, que durante o século XIX retratou o Terra Nova nas suas
pinturas. A variedade de pêlo totalmente preto, talvez a mais conhecida atualmente,
resultou de uma seleção rigorosa desenvolvida ao longo do tempo.
O Terra Nova foi (e continua a ser) um grande ajudante de pescadores e
marinheiros nas suas tarefas diárias, trabalhando no ambiente terrestre e aquático.
Originalmente, trabalhava sobretudo nos pesqueiros de bacalhau, ajudando a apanhar
e a puxar as redes, bem como a puxar os barcos para a costa, não temendo os mares
mais revoltos. Com o tempo, para além de cão de água, veio a assumir outras funções,
nomeadamente: cão de tração, carregando leite, madeira, entre outros bens; cão de
resgate, tendo salvo muitas pessoas de se afogarem, como foi o caso de uma
embarcação que, em 1919, naufragou com 20 tripulantes a bordo, todos salvos por um
exemplar desta raça, o que lhe valeu uma medalha de ouro; e, claro, cão de companhia.
O prestígio como cão de trabalho e resgaste espalhou-se por toda a Europa,
sobretudo no século XIX, onde as classes altas de França e do Reino Unido gostavam de
se exibir com exemplares desta raça. Também neste século, foi publicada uma lei que
obrigou os habitantes da Terra Nova a não possuírem mais do que um cão, levando a
que muitos exemplares fossem exportados e vendidos para a Europa, que os recebeu
de braços abertos, dado o prestígio da raça.
Em 1860, o Terra Nova foi, pela primeira vez, exibido num concurso canino, que
ocorreu em Birmingham. Os ingleses foram passando a assumir o protagonismo no que
se refere à criação e à preservação da raça, que mantém a sua reputação nos dias de
hoje como cão-salvador. Não por acaso, as autoridades francesas têm nas suas equipas
de resgate no mar vários exemplares de Terra Nova.
TEMPERAMENTO
Grande em tamanho, gigante em ternura
Extremamente meigo, paciente e gentil, o Terra Nova adora fazer atividades com
os seus donos. A sua calma e ternura são características que fazem da raça um excelente
cão de família, sendo ideal para crianças, embora, como acontece com qualquer raça e
dado o tamanho e força do Terra Nova, a interação entre estes deva ser sempre
supervisionada. A relação com outros animais de estimação também é pacífica, desde
que seja habituado a conviver com estes desde tenra idade.
Pode desempenhar a função de cão de guarda, alertando a presença de estranhos
através do seu ladrar grave. Se sentir a sua família em perigo, fará o que puder para a
proteger.
Apesar de ser um cão obediente, é preciso ter paciência para treinar este gigante
de movimentos lentos. Sensível ao tom de voz, o Terra Nova aprende melhor através de
um treino estimulante e divertido.
Tendo um nível de energia moderado, este gigante do Ártico pode adaptar-se a
viver num apartamento, desde que seja suficientemente exercitado. A sua paixão inata
pela água faz com que qualquer atividade que se insira num ambiente aquático seja do
seu agrado, nomeadamente a de recuperar objetos e de os trazer até ao dono. Se o mar
estiver agitado ou a água gélida, o Terra Nova não hesitará em mergulhar e nadar,
principalmente se for para salvar alguém que esteja em apuros. Por vezes, este instinto
poderá transformar-se num problema, uma vez que pode bastar ver alguém dentro de
água, mesmo que esteja a desfrutar de um belo banho, para entrar em modo
salvamento. Esta ligação com a água deve levar os donos de um Terra Nova a dar-lhe a
oportunidade de nadar com frequência, promovendo a sua saúde e bem-estar.
A capacidade que tem para lidar com baixas temperaturas está diametralmente
oposta à sua dificuldade em lidar com temperaturas mais elevadas, procurando, durante
o Verão, evitar o sol e resguardar-se à sombra.
SAÚDE
Assim como acontece com outras raças de grande porte, o Terra Nova é bastante
afetado por problemas nas articulações, designadamente pela displasia da anca e do
cotovelo, e pela torção do estômago.
Infelizmente, outros problemas poderão também afetar esta raça, como é o caso
da estenose pulmonar, que se caracteriza por um estreitamento da válvula pulmonar
que pode causar a morte do cão na fase em que ainda é cachorro. A cardiomiopatia
dilatada, que ocorre através de uma dilatação ventricular que gera uma progressiva
redução da capacidade de bombear sangue pelo ventrículo esquerdo ou por ambos os
ventrículos, e o cancro nos ossos são outros potenciais problemas que esta raça pode
desenvolver.
Muitas destas doenças podem ser despistadas através de testes feitos aos
progenitores. Como acontece quando se pretende adquirir um cão de raça, é
absolutamente fundamental procurar um criador certificado e de qualidade, que
garanta que os seus exemplares são saudáveis. Depois, para proporcionar uma vida
saudável ao seu cão, os donos devem levá-lo a praticar exercício físico e oferecer-lhe
uma dieta equilibrada.
Se, por um lado, o Terra Nova suporta facilmente climas frios, por outro, tem
grande dificuldade em suportar climas quentes, pelo que, quando confrontado com dias
de calor, deve ter sempre acesso a sombras e a água fresca. A sua tendência para salivar
bastante é, naturalmente, reforçada pelo aumento da temperatura.
Finalmente, no que respeita aos cuidados com a pelagem, esta deve ser escovada
diariamente. Quando o subpêlo se renova, o que acontece duas vezes por ano (na
Primavera e no Outono), a frequência da escovagem deve ser ainda maior para que
sejam removidos os pêlos soltos. Os olhos e as orelhas também merecem cuidados de
limpeza, por forma a evitar infeções.

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