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Japão Sobrenatural:

Tengu
POR DIOGO KAUPATEZ

Author: Pages of Lucy


Photo by Jake Nackos on Unsplash
Photo by McGill Library on Unsplash
MINICURSO DO CENTRO ÁSIA
ORIGEM
Os tengu pertencem a uma raça ancestral.
Os primeiros a notar sua existência foram os chineses,
ao observar a presença, nas nuvens, de um demônio em
forma de cão negro que, quando esfomeado,
atravessava os céus em velocidade e descia à Terra em
busca de carne humana. De preferência, a carne macia
das crianças.
Os chineses o catalogaram como tiangou (tian + gou),
"cão celestial", entidade capaz de devorar o Sol e a
Lua, responsável pela ocorrência dos eclipses.
Zhang Xian flechando um Tiangou ("Cão Celestial").
Gravura do final da Dinastia Qing (final do séc.19).
NO JAPÃO
No século 8, o tiangou emigra para o Japão, onde
abandona a forma canina e assume os traços de um
antigo pássaro-demônio xintoísta, sendo confundido
com Garuda, a montaria de Vishnu, de corpo humano,
asas e cabeça de águia.
O tiangou — agora tengu, na pronúncia local —
começava a assombrar o arquipélago.
Estátua de Garuda no Museu Nacional de Nova Deli, Índia.
Garuda por Ida Made Tlaga, Bali (Século 19).

PERÍODO
HEIAN

No período Heian (794-1185), os tengu se transmutavam


em budas, bodisatvas e monges para ludibriar homens
religiosos, incitando-os a trilhar um caminho ilusório em
direção a uma suposta iluminação. Isso fez com que,
nos séculos 12 e 13, fosse criado o conceito de
"tengudo" (tengu + do), caminho do tengu, escolha de
monges hipócritas, presunçosos ou heréticos que
seguiam o budismo por razões ilícitas.
Ao morrer, os falsos seguidores de Buda se
transformavam em demônios alados, obrigados a
permanecer o resto de suas existências no corpo
desgraçado de um tengu.
Gravura de Kawanabe Kyôsai - "Tengu e monge budista".
"Lua da meia noite no monte Yoshino"
(1886) - gravura de Yoshitoshi.
DAITENGU
E KOTENGU

Na mesma época, o imperador Go-Shirakawa (1127-


1192) recebe a visita de uma divindade que esmiúça ao
regente os pormenores por trás dos tengu. Nem todos
eram iguais: homens sábios se tornam daitengu (tengu
maiores) e os ignorantes, kotengu (tengu menores).
Os daitengu possuem forma mais próxima à humana,
com narizes longos que lhes valeram o apelido
hanataka tengu, tengu de nariz longo. Em oposição, os
kotengu mantêm a forma aviária e são chamados
karasu tengu, tengu-corvos.
Imagem do imperador Go Shirakawa por
Fujiwara no Tamenobu (século XIV).
"Elefante capturando um tengu voador"
(1842) por Utagawa Kuniyoshi.
Tengu diversos. Parte de um tríptico de
Utagawa Kuniyoshi (1847-1850).
"A benção do Tengu" e "O serviço de entrega do Tengu" (1843-1847)
de Utagawa Kuniyoshi.
Estátua de Tengu (coleção privada) -
final do período Edo.
TENGU E YAMABUSHI

Os tengu também passam a se transformar em monges


yamabushi, aqueles que se prostram nas montanhas,
eremitas supostamente dotados de poderes
sobrenaturais, crentes na iluminação por meio da
unidade espiritual com os kami, divindades residentes
nas montanhas.
Os yamabushi alcançaram status de mágicos, médiuns
e xamãs. Em seus retiros, os monges estudavam os
fenômenos naturais, as escrituras sagradas e artes
marciais — que, além de instrumento para o
aprimoramento físico e mental, eram necessárias para
proteção contra delinquentes e tropas samurais. Da
associação com as montanhas e o ascetismo surgiu a
identificação dos yamabushi com os tengu, a quem é
creditado o treinamento militar dos monges.
Máscara de Yamabushi Tengu.
Pintura de Kaihō Yūtoku, Sairin-ji - Kyoto
(final do período Edo).

Tengu (1854) por Ôhara Donshû.


TENGU DE BOA ÍNDOLE
Até o século 14, os tengu eram unanimemente
considerados seres demoníacos. Entretanto, aos
poucos, percebeu-se uma distinção entre tengu bons e
maus, os últimos menos inteligentes que os primeiros e,
por consequência, a eles submissos.
Os tengu de boa índole começaram a ser associados a
Sarutahiko, divindade xintoísta de nariz longo que
conduziu a descida da deusa do sol Amaterasu das
alturas celestiais ao Japão.

A partir daí, máscaras de tengu passaram a simbolizar


Sarutahiko e a cumprir importante papel nas procissões
e festivais xintoístas.

Sarutahiko, divindade xintoísta


representada por Hokkei Uoya (1825).
Imagem da divindade Sarutahiko do site
de divulgação do xintoísmo -
https://shinto-cocoro.jp/

Imagem de Tengu do Santuário de Izuna


Gongen - Tóquio.
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