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Embora tenha começado a escrever na adolescência, é de

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Lygia a frase “a pouca idade não justifica o nascimento

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de textos prematuros, que deveriam continuar no limbo”,
utilizada pela autora como uma forma de negar os escri-

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tos juvenis. Autora de uma série de livros de contos e de
SEMINÁRIO

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romances, seu primeiro livro tido pela crítica literária como

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DOS RATOS um livro da maturidade é Ciranda de Pedra (1954), tam-
bém o seu primeiro romance. O livro foi bem recebido por

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grandes nomes da crítica, como Antonio Candido e Otto

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Maria Carpeaux.

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Na sua trajetória literária, LFT teve participação ativa,

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considerando, ela mesma, a sua literatura como uma

LC OBRA

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arte engajada. Lygia, afinal, de alguma maneira, compõe
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a terceira geração modernista, ou seja, possuindo uma

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obra comprometida com a difícil condição do ser huma-

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no em um país comumente marcado por frágeis sistema

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Lygia Fagundes Telles educacionais e de saúde.

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"Participante desse tempo e dessa sociedade a escritora

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buscou apresentar através da palavra escrita a realidade

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envolta na sedução do imaginário e da fantasia. Mas

1. A Autora
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enfrentando sempre a realidade desse país: em 1976,
durante a ditadura militar, integrou uma comissão de es-
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critores que foi a Brasília entregar ao Ministro da Justiça


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“A criação literária? O escritor pode ser louco, mas não en-


o famoso “Manifesto dos Mil”, veemente declaração
louquece o leitor, ao contrário, pode até desviá-lo da loucura.
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contra a censura e que foi assinada pelos mais represen-


O escritor pode ser corrompido, mas não corrompe. Pode ser tativos intelectuais do Brasil."
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solitário e triste e ainda assim vai alimentar o sonho daquele


http://www.academia.org.br/academicos/lygia-fagundes-telles/biografia
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que está na solidão”.


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2. Seminário dos Ratos


Lygia Fagundes Telles.
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DEVOLUME 3  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

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Lygia Fagundes Telles em 1945.


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Lygia Fagundes Telles (LFT) é uma escritora paulista, nas- Seminário dos Ratos é um conto de Lygia Fagundes Telles,
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cida em abril de 1923, que muito se destaca na Literatura mas não só. É também um livro de mesmo nome, pu-
Brasileira. Ela faz parte da Acadêmia Brasileira de Letras, blicado em 1977 (momento em que o Brasil estava sob
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ocupando a quarta cadeira. Lygia é formada em Direito, repressão política), no qual o conto está incluído, com-
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mas a vocação literária surge na sua adolescência; vocação plementando uma coletânea de histórias com tons seme-
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essa que seria bastante incentivada por grandes amigos li- lhantes. O conto, narrado em terceira pessoa, tem tons
terários: Carlos Drummond de Andrade, o poeta de Itabira, do fantástico e traz aos leitores uma alegoria do nosso
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e Érico Veríssimo, ambos modernistas. sistema político-burocrático.


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O enredo, bastantes simples, fala de um congresso que é Além dos personagens, é válido a colocação do nome do

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realizado para conter um problema de saúde e segurança órgão de controle da superpopulação de ratos, a RATESP,

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pública: o excesso do número de ratos, suplantando o nú- que faz alusão à cidade de São Paulo e seus órgãos pú-
mero de homens em uma proporção absurda. O seminário, blicos, claro, de forma irônica. Outra ironia de Lygia é o

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atividade intelectual, contudo, acaba sendo interrompido título, pois o que se vê no seminário é o descaso com a

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por uma invasão dos roedores, que passam a roer toda maioria da população que sofre com os roedores, contudo,

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a estrutura do casarão onde o evento acontece, roendo, o título Seminário dos Ratos parece indicar ambiguamente
inclusive, as pessoas que lá estavam. que tanto o tema do seminário seja os roedores quanto os

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O conto de Lygia é iniciado por uma epígrafe famosa, os membros do seminário sejam ratos.

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versos finais do poema Edifício Esplendor, de Carlos Drum-
3. O Seminário e suas fantasias

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mond de Andrade: Que século, meu Deus! – exclamaram

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os ratos e começaram a roer o edifício. Os versos trazem à
memória a experiência do poema, no qual se fala de ho- A conversa que ocorre durante o seminário revela uma situa-

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mens sem alma e construções sem sentido. ção fantástica diante daquilo que parece cotidiano: uma de-

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liberação de membros do governo sobre problemas públicos.

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3. O Seminário e suas ironias
Há, na situação do casarão, assim, simbologias importantes:

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a escolha da casa e das alas, separando pessoas de acordo

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O Seminário é uma atividade intelectual a ser desenvolvida com as alegorias que elas representam nas alas do casarão,

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coletivamente sobre um determinado tema. No conto, es- a ojeriza à cor cinza, o constante jogo entre público e privado

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tamos diante dos acontecimentos relativos ao VII Seminá- (esconder dos estrangeiros a real situação do país).

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rio dos Roedores, que ocorre em um casarão, afastado da Toda essa situação contribui para elaborar um cenário insó-
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cidade e construído especialmente para o evento. A casa é lito e de distanciamento. Estamos diante de uma situação
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luxuosa e confortável. que acontece, o seminário, sem se saber as causas, e que


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Assim, o primeiro personagem a aparecer na história é o irá terminar sem que se saiba as consequências. Há, ainda,
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Chefe das Relações Públicas, um jovem tímido que pede durante toda a reunião, um clima de tensão e suspense, com
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permissão para adentrar o seminário. O conto terá o final barulhos desconhecidos que indicam a chegada dos ratos.
aberto, mas, ao que tudo indica, essa será a única persona-
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Ao final, ninguém sabe o que aconteceu, pois não se so-


gem a sobreviver ao ataque dos roedores. bra ninguém para contar história. Contudo, algumas ce-
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Em relação às personagens, é importante destacar o que nas parecem indicar que há um sobrevivente, que havia se
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fala Lygia Massoli, em estudo sobre a obra: trancado em uma geladeira, deixando o final em aberto.
As cenas finais, retratam o homem saindo do esconderijo
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As personagens que compõem esse ambiente são deno-


e o casarão iluminado, sendo que, antes, os fios de energia
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minadas de acordo com os cargos políticos que exercem,


ou seja, o foco está no papel social e, além disso, há um elétrica haviam sido roídos.
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tom irônico em cada nomenclatura, a saber, Secretário [...] foi andando pela casa completamente oca, nem
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do Bem-Estar Público e Privado, que menospreza as móveis, nem cortinas, nem tapetes. Só paredes. E
questões públicas e preocupa-se em manipular a mídia; a escuridão. Começou então um murmurejo secreto,
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Diretor das Classes Conservadoras Armadas e Desarmadas, rascante, que parecia vir da Sala de Debates e teve a in-
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no contexto de publicação da obra os ideais conser- tuição de que estavam todos reunidos ali, de portas
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vadores eram latentes e qualquer oposição era punida fechadas. Não se lembrava sequer de como conseguiu
VOLUME 3  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
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severamente no meio familiar ou nas ruas; a delegação chegar até o campo, não poderia jamais reconstituir a
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americana composta pelo Delegado de Massachussetts, corrida, correu quilômetros. Quando olhou para trás, o
um suposto segurança e uma secretária, Miss Glória. casarão estava todo iluminado.
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O nome da mulher é relevante, haja vista que ela é


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a única personagem com identidade, contudo, essa identi-


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ficação pode remeter a glória conquistada mundialmente


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pelos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial.


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–NARRATIVA DE RESISTÊNCIA: “SEMINÁRIO DOS RATOS”, DE


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LYGIA FAGUNDES TELLES. Revista (Entre Parênteses)Dossiê Literatura


e Resistência. Volume 6, Número 1, 2017 – ISSN 2238-4502.
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O conto o Seminário dos Ratos trata do desprezo para com


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o público por parte daqueles que detêm o poder na máqui-


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na pública, mas mobilizam interesses privados. Assim, as


falas das personagens durante a narrativa podem ser lidas
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na obra sob a égide do que elas visam representar.


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Aplicando para aprender Seminário dos Ratos é o conto que dá nome ao livro.

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Publicado em contexto de ditadura, a capa da obra faz
clara referência ao conto homônimo e apresenta um ca-

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Leia o texto a seguir para responder à questão. ráter típico do governo em questão. Assinale a alterna-

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O fantástico, contudo, não foi uma temática muito abordada ao tiva que exemplifica em um adjetivo o que a capa busca
longo da história da literatura ocidental como um todo. Vitor Ma- apontar a respeito do governo.

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nuel de Aguiar e Silva demonstra que, nas poéticas clássicas – A
República, de Platão, e A Poética, de Aristóteles – a produção literá- a) o autoritarismo.

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ria, e artística de uma maneira genérica, era pautada no conceito de b) a festividade.

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verossimilhança. Ele endossa tal proposta citando uma passagem c) a oligarquia.
de A poética na qual ele relaciona o verossímil juntamente com a d) o pluriculturalismo.

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aproximação do poeta ao do historiador, em questão de expressar

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5. Por que motivo o secretário se incomoda com a esco-

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o conteúdo de teor complacente com realidade em seus escritos.
VILHAGRA, Leonardo Teixeira de Freitas Ribeiro. Aspectos da lha da suíte cinza?

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literatura fantástica em Seminário dosRatos, de Lygia Fagundes a) por ser uma cor triste.

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Telles. Mafuá, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, n. 21, 2014
b) por ser a cor preferida dos ratos.

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1. Levando em consideração o texto de Vilhagra e o c) por ser uma cor marcada pela ausência.

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conto Seminário dos Ratos, de Lygia F. Telles, responda d) por ser a cor da pelagem dos ratos.

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ao que se pede.

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a) Qual é a situação que o conto apresenta?
Gabarito

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b) Por que o conto pode ser lido sob o manto da lite-
ratura fantástica?

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1.

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Leia o texto a seguir para responder à questão. a) O conto narra o debate de alguns homens a res-
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A intuição de que estavam todos reunidos ali, de portas fecha- peito de uma crise que os seres humanos enfrentam:
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das. Não se lembrava sequer de como conseguiu chegar até o a superpopulação dos ratos
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campo, não poderia jamais reconstituir a corrida, correu quilô- b) Vilhagra define: Em todos os eventos manifestados no
metros. Quando olhou para trás, o casarão estava todo iluminado conto, essencialmente, o comportamento anormal dos
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(TELLES 1998, p. 165). ratos na mansão que sedia o VII Seminário dos Roedo-
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res, simultaneamente, com a não tomada de posiciona-


2. Perceba que um fator pouco comum ocorre na fala do mento das personagens e, por sua vez, as dos leitores,
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narrador que, embora se apresente como um narrador fica evidente a presença do Fantástico no conto da escri-
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em terceira pessoa e onisciente, opta por adotar a visão tora paulista. Contudo, não apenas isso, mas em pala-
do Chefe de Relações Públicas. Com base nisso, responda:
vras mais claras, um fator de suspense e hesitação, bem
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a) Em que momento se situa o trecho? como construções dúbias (como o final, que não se sabe
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b) De que maneira o nome da personagem contrasta real ou delírio), fazem o conto flutuar do fantástico ao
com sua postura durante o conto? real-estranho, caso o leitor comece a procurar explica-
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ções lógicas para as quais o texto não precisa se atentar.


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3. A associação RATESP, no contexto da obra, pode ser


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lida como uma referência:


a) às empresas privadas e à cidade de São Paulo. a) O trecho se situa após a realização do ataque dos ratos,
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quando o Chefe de Relações Públicas aparenta ser o único


b) aos órgãos públicos e aos animais de São Paulo.
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sobrevivente, depois de ter se escondido na geladeira.


c) aos órgãos públicos e à cidade do Espírito Santo.
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b) O Chefe das Relações Públicas não tem um nome,


d) aos ratos e à cidade de São Paulo.
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mas um cargo. Ironicamente, apesar de ser represen-


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4. Análise a capa do livro em sua publicação de 1977. tado como um homem que transparece as ações do
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governo para a população, ele passa o conto todo em


negação, tentando mascarar a real situação, até o mo-
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mento em que os ratos invadem e ele sente a mordida.


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