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Tradução: Aine

Revisão Inicial: Renata/Nix/Mahadeva


Revisão Final: Freya/Michelli
Leitura Inicial: Hígia
Leitura Final: Taci
Formatação: Kytzia/Hígia
Grupo Rhealeza Traduções
04/2021
O laço que os une pode separá-los...
A formanda da faculdade Kate Camden aprendeu a se adaptar - ao seu
último ano de faculdade, à promessa da maternidade, ao fato de que ela
está fazendo tudo sozinha. Mas precisamente quando ela consegue se
ajustar, a dor no coração ameaça despedaçá-la.
O jogador profissional de hóquei Jason "Ryke" Ryker tem de tudo: fãs
apaixonados, uma carreira promissora e uma bela esposa. Mas quando
sua vida aparentemente perfeita é abalada pela tragédia, ele questiona se
ter tudo é mais do que uma ilusão.
Quando as circunstâncias unem Kate e Ryke, eles descobrem que não
precisam sofrer sozinhos. Unidos por uma dor que os assombra, eles
devem confiar um no outro para sobreviver ao sofrimento. Mas essa dor
é mais poderosa do que eles imaginam, e o laço que os une pode acabar
separando-os.
CAPÍTULO 01

Dez. 2012 – Kate

Sexo quando você está esperando: é seguro?

Revirei os olhos e suspirei quando li a manchete da revista


Modern Pregnancy na sala de espera.

Hmm. Uma coisa a menos para me preocupar. Quando o cara


que você está namorando há algumas semanas te engravida, depois se
apavora e desaparece no momento em que você o informa, a
abstinência se torna uma escolha fácil.

—Você tomou sua vitamina? —Minha mãe, Lynn, olhou para


cima, sua testa franzida.

—Tomei esta manhã, como sempre. —Eu disse, minha voz


exalando aborrecimento. —Tenho 22 anos e vou ter um filho em...
22 semanas e cinco dias.

Mamãe sorriu e pegou minha mão. —Espero que eles tenham


uma visão clara no ultrassom hoje. Não suporto não saber se vou ter
uma neta ou um neto.

—Acho que mudei de ideia sobre isso. —Eu disse. —Talvez


seja mais divertido não descobrir.

O queixo de mamãe caiu e seus olhos se arregalaram. —Sério?

—Não, estou brincando. Claro que vamos descobrir!


Um casal de meia-idade sentou-se à nossa frente nas cadeiras
da sala de espera. O homem esfregou a palma da mão em círculos
rítmicos sobre a barriga de Buda da mulher enquanto ela sorria feliz.
Seu Rolex prateado cintilou quando ele se aproximou para dizer algo
ao bebê na barriga.

Minha barriga era muito menor e pressionei minha própria


palma de forma protetora.

Desculpe-me, criança. Receio que não haja um pai amoroso para você.

Quinn Barlow parecia um bom sujeito. Em agosto, ele me


deixou comprar o último exemplar usado de um livro de Sociologia
na livraria da faculdade, que já estava em sua mão. Claro, eu flertei
por isso. Precisava do livro; livros didáticos novos custam uma
fortuna. Além disso, ele era totalmente paquerável – alto e magro,
com cachos loiros escuros e óculos de leitura sexy. Quando lhe
agradeci por me deixar ficar com o livro, ele me convidou para tomar
um café.

Vapt-vupt. Uma coisa levou a outra – mais de uma vez – e


apesar de estar tomando pílula desde o colegial, aqui estou eu, em um
consultório obstétrico, esperando pelo meu ultrassom de 18 semanas.

Uma árvore de Natal alta e arredondada, no canto da sala de


espera do médico, foi enfeitada com chocalhos e fotos de bebê com
fitas afixadas por grandes alfinetes de tecido. Eu sorri só de pensar
que no próximo Natal, o rosto do meu bebê poderia estar nesta
árvore.

Eu não tinha planejado ser mãe solteira aos 22 anos, mas nos
últimos três meses superei o meu pânico inicial. Eu estaria me
formando logo após o nascimento do bebê, e teria que fazer isso
funcionar.
O choro estridente de um bebê chamou minha atenção. —
Shh. —A mãe acalmou, balançando seu bebê enrolado de um lado
para o outro.

Não havia como eu ser capaz de fazer isso. Eu teria um bebê


que choraria constantemente, a não ser que minha mãe soubesse
aquele truque de balançar o neném. Merda, aquela moça parecia
exausta. Com alguma sorte eu terminaria as provas finais antes desse
bebê chegar.

—Kate? —Uma jovem enfermeira com cachos ruivos escuros


surgiu na porta aberta. Mamãe levantou antes de mim, seu rosto
brilhando de excitação. Ela estava lidando com isso notavelmente
bem. Melhor do que eu, na verdade.

E Quinn. Eu ainda me lembrava de como seus olhos estavam


arregalados e do desespero em seu tom durante seu discurso de uma
hora e meia sobre o quão irresponsável eu era e como ele estava
despreparado para ser pai. Nenhuma palavra de preocupação comigo.

Mamãe sentou-se ao meu lado na cama na noite em que eu


estava aos prantos, uma bagunça completa por causa do Quinn. Ela
não falou muito, apenas alisou meus cabelos para trás e enxugou
minhas lágrimas.

—Não pense sobre aquele idiota, Kate. —Ela falou na época


e repetiu agora. Ela me conhecia bem.

A enfermeira nos conduziu pelo corredor familiar, passando


pelo quadro de avisos que estava repleto de fotos de bebês toda vez
que eu vinha aqui. A maioria delas era de recém-nascidos com rostos
vermelhos enrugados e gorros nas cabeças. Havia alguns bebês mais
velhos com sorrisos com dentes e cabelos selvagens e até mesmo
crianças pequenas sorrindo para retratos de estúdio. A Drª. Harn
estava segurando os bebês que ela havia acabado de trazer ao mundo
em algumas fotos.
—Preciso pesar você. —Disse a enfermeira ruiva. Eu me
levantei e esperei, então me sentei na cadeira ao lado da balança. A
braçadeira do aparelho de pressão arterial estava apertada, e soltei um
suspiro profundo enquanto aumentava o aperto no meu braço.

—Você parece tão familiar. —Disse a enfermeira à minha mãe.

—Eu sou enfermeira da UTI no hospital. —Disse ela.

—É isso aí! Sabia que te conhecia. Você gosta daquele andar?

—Gosto muito. Há dias difíceis, mas isso é apenas a


enfermagem, eu acho.

Eu soltei um suspiro que bagunçou minha longa franja


enquanto a enfermeira retirava a braçadeira. —Muito bem, Kate,
vamos levá-la para a sala de ultrassom. A doutora fará isso sozinha
hoje, já que nosso técnico está doente.

Uma onda de nervosismo me atingiu quando entramos na sala


escura. A mesa de exames surgiu e percebi que esta gravidez estava
prestes a se tornar real. Suéteres largos tinham escondido isso do
mundo até agora. Estranhamente, eu tinha aceito que estava grávida,
mas ainda estava trabalhando no processamento da parte do bebê. Eu
ia ter um bebê, e em poucos minutos saberia se era menino ou menina.

Jackson Ryan para um menino e Harlow Lynn para uma


garota. Ou talvez Emma Lynn.

—Está tomando suas vitaminas? —A enfermeira perguntou


enquanto seus dedos clicavam nas teclas de um pequeno computador.

—Sim.

—Tomou a vacina contra a gripe?

—Tomei da última vez que estive aqui.

—Mais algum enjoo matinal?


—Melhorou muito, mas nunca estive tão cansada na minha
vida. —Eu disse. As férias de inverno de um mês na faculdade já
estavam na metade, e eu ia para a cama cedo todas as noites e tirava
uma soneca todas as tardes.

—Sentindo o bebê se mexer?

—Eu senti algo outro dia, mas não sei se foi indigestão ou o
amendoim me chutando. Eu não sei a diferença.

Ela sorriu. —Ok, sente-se que ela já vem.

A enfermeira saiu e me sentei sobre a mesa de exame reclinada


para esperar. Toquei minha barriga protuberante, antecipação
percorrendo meu corpo. Quando me imaginava segurando este bebê,
ele estava sempre envolto em uma manta de lã branca. Eu comprei
alguns bodys com patinhos amarelos, mas adorei a ideia de poder
escolher a seção azul ou rosa nas boutiques de bebê. Não que pudesse
comprar muito com o meu orçamento de estudante universitária.

—Obrigada por estar aqui, mãe. —Eu disse. —Sei que você
teve que mudar as coisas no trabalho.

Seu rosto se enrugou em um sorriso. —Kate, você acha que


eu iria perder isso?

—Não, eu sei, é só que... nem todas as mães solteiras têm


alguém, sabe?

—Eu sei muito bem.

Ela me criou sozinha, embora eu nunca tenha pensado muito


nisso quando era mais nova. Foi só depois de me tornar adulta que
percebi o quão difícil deve ter sido para ela. Será que meu bebê e eu
teríamos a mesma relação próxima? Algum dia seria honesta com meu
filho sobre ficar arrasada ao saber da gravidez? Parecia cruel e egoísta
agora.
Uma morena grisalha de jaleco branco entrou no quarto e eu
sorri. A Drª. Harn parecia ter energia infinita.

—Como você está, Kate? —Ela perguntou, empurrando os


óculos para cima em seu nariz minúsculo.

—Bem.

—Oi, Lynn. —Disse a Drª. Harn.

—Oi. Esperamos que você consiga ver bem hoje.

—Bem, espero que o bebê coopere. Você precisa saber se


coloca botinhas azuis ou rosa debaixo da árvore de Natal.

A médica empurrou a minha blusa apenas o suficiente para


espremer um gel transparente na minha barriga nua, e eu ofeguei um
pouco quando atingiu minha pele.

—Desculpe-me, o aquecedor está quebrado. —Disse ela.


Depois empurrou os óculos novamente e posicionou um transdutor
na minha barriga, olhando para o monitor.

Meus olhos foram direto para a tela. O bebê era uma bolha
irreconhecível na primeira vez que fiz um ultrassom, e eu esperava
ver algo mais hoje. Meu estômago se agitou quando tentei decifrar os
redemoinhos brancos que apareceram.

—O que... —Eu parei no meio da frase quando os lábios da


médica franziam. Ela olhou rapidamente para mamãe, que também
estava olhando para a tela. O rosto de mamãe estava pálido e os
cantos da boca curvados para baixo.

—Mãe? Algo está errado com o bebê, não é? —Eu senti a bile
subindo e meu coração disparou. —O que é? Mãe?
A Drª. Harn olhou para mim, as sobrancelhas franzidas. —
Kate, sinto muito, mas o bebê não tem batimentos cardíacos. Vou
medi-lo para ver quando aconteceu.

—Quando o que aconteceu? O quê? Mãe? Meu bebê se foi?


—Lágrimas quentes fluíram quando olhei para minha mãe. Seus olhos
se fecharam com força e sua mão cobriu sua boca.

Eu afundei contra a parte de trás da mesa de exame reclinada,


tonta. Mamãe estendeu a mão e me puxou para um abraço apertado.
Nós duas choramos, e me sentia levemente culpada por deixá-la tão
triste.

—Sinto muito. —Disse a Drª. Harn.

—O que eu fiz? —Eu perguntei com voz rouca. —Eu não


tomei álcool ou estive perto de fumantes. Não entendo.

—Isso não é culpa sua, Kate. —Disse a médica


inflexivelmente. —Isso acontece às vezes e não é sua culpa. Eu sei
que é difícil, mas temos que te internar no hospital para induzir o
parto.

—Parto? —Lágrimas frescas corriam pelas minhas bochechas,


e mamãe apertou um braço em torno dos meus ombros.

—Sim. Eu induzirei o parto e lhe darei medicação para ajudá-


la a passar por isso. Não vai doer. —Seu tom gentil me fez querer
gritar. Como se tudo fosse ficar bem. Mas como tudo poderia voltar
a ficar bem? O bebê que eu não queria, mas depois aprendi a amar,
agora estava morto dentro de mim.

—Oh, Deus, não. —Eu disse, balançando a cabeça


rapidamente. —Não, não posso.

—Você precisará ser internada esta noite. A espera aumenta o


risco de infecção. Temos que fazer o parto imediatamente.
Um grito escapou da minha garganta. —Não. Não, não posso.

—Tire algumas horas para relaxar por enquanto. —Disse a


médica, esfregando meu braço.

—Você sabe... —Eu limpei o rosto com a manga da blusa. —


Você sabe se é um menino ou uma menina?

—Eu sei. —Ela disse suavemente. —Você gostaria de saber?

—Não. Eu só... não consigo. Eu quero saber, mas neste


momento, não aguento. —Eu queria gritar, vomitar, chorar... alguma
coisa. Mas não pude. Eu só olhava para o pôster na parede à minha
frente, que oferecia uma visão interior de um bebê se desenvolvendo
mês a mês. A barriga da mãe ficava maior a cada quadro sucessivo. A
minha nunca cresceria.

—Está tudo bem, Kate. —Mamãe disse, me puxando para


perto de novo. —Nós vamos superar isso.

Eram as palavras que ela deveria dizer, mas eu me perguntava


se ela acreditava nelas. Eu não acreditava.

***

Março de 2011 – 21 meses antes – Ryke

Minha pele parou de sentir o calor da água quente do chuveiro


batendo nas minhas costas. O entorpecimento era abençoado. Eu
juro que Montreal tinha os melhores vestiários de qualquer time da
NHL1. Eu adorava quando jogávamos aqui.

1
NHL: National Hóquei League (Liga Nacional de Hóquei).
Esfreguei meu rosto, o cansaço me tomando. Depois de uma
longa noite de viagem, dormi muito mal no quarto do hotel, com
crianças correndo pelos corredores a manhã toda. Esta noite os caras
iriam querer que eu saísse, mas tudo que eu queria era voltar para o
meu quarto, conversar com Maggie e dormir um pouco.

—Apresse-se, babaca. —Disse meu companheiro de equipe


Caleb. Eu era o último no chuveiro, e todos eles queriam ir jantar.
Mas a água estava aliviando a dor das duras pancadas que levei
durante o jogo. O babaca do Lee Wagoner era o maior exibicionista
do campeonato. Eu planejava retribuir na próxima vez que eles
fossem para Chicago.

Desliguei a água e a dor voltou instantaneamente. Eu precisaria


de um ibuprofeno antes de dormir à noite. Também ajudaria com a
dor de cabeça que inevitavelmente teria ao falar com Mag. Ela odiava
quando eu estava na estrada.

Eu exalei alto quando me aproximei do meu armário. Estava


enfeitado com uma página de jornal colorida do anúncio que eu tinha
acabado de fazer. Mostrei meu dedo do meio no ar enquanto os caras
gargalhavam ao redor da sala. Eles nunca me deixariam esquecer esse
anúncio de roupa íntima. O anúncio era eu em uma cueca boxer
apertada, com parte da tatuagem preta no meu quadril visível acima
do cós. Eu estava com as mãos baixas sobre meus quadris e estava
dando o "sorriso malicioso" que o fotógrafo tinha conseguido
arrancar de mim.

—E você chegou até os jornais. —Disse Tom LaRouche,


outro atacante da equipe. Ele pulou em um banco e acenou no ar,
lendo o cartaz. —O galã do hóquei, Jason Ryker, estará disponível
após o jogo desta noite para assinar fotos de sua nova campanha
publicitária. O alto, moreno e escultural Ryker atraiu uma grande
quantidade de fãs do sexo feminino.
Eu ignorei os comentários e gestos desagradáveis. Revidá-los
só pioraria as coisas, e eu não estava de bom humor.

Logo depois que rasguei o jornal, procurei em minha bolsa


pelo meu telefone. Vinte e uma chamadas perdidas. Que diabos?
Maggie estava pirando com alguma coisa? Eu estava prestes a verificar
as ligações quando uma voz interrompeu minha linha de pensamento.

—Ryke, o treinador quer ver você. —Disse outro


companheiro de equipe, Paul Brown. Eu estava só com uma toalha
enrolada na cintura, mas sabia que Jack Renner não gostava de ficar
esperando, então vesti a cueca e jeans sem me secar. Sacudi a água do
meu cabelo e me dirigi para o pequeno escritório do vestiário.

Jack estava sozinho, debruçado sobre um laptop, olhando bem


de perto para a tela. Por que diabos ele não usava óculos, eu não
conseguia entender. Todos nós sabíamos que ele precisava deles.

—E aí, como vai? —Eu perguntei, segurando a porta de


madeira aberta. Sua expressão tornou-se sombria quando olhou para
mim e tive uma vibração ruim. Não havia nenhuma maneira de eu
estar sendo negociado... havia? Ele não me diria isso durante a viagem.
Além disso, eu era o segundo jogador mais bem pago da equipe. Mas
talvez eles quisessem reduzir a folha de pagamento. Maggie não queria
se mudar, ela amava Chicago.

—Ryke, entre e sente-se. Feche a porta.

—Algo está errado? —Meu estômago se apertou quando


sentei em uma cadeira dobrável. Eu estava bem financeiramente, mas
tinha apenas 25 anos e planejava jogar e acumular muito mais dinheiro
por vários anos. Eu saí da faculdade para seguir essa carreira; embora
não estivesse arrependido, ainda tinha muita coisa para realizar.

A cadeira de couro atrás da mesa dos treinadores visitantes


rangeu quando Jack se levantou e caminhou para o outro lado da sala.
As linhas ao redor dos olhos dele se aprofundaram e ele apertou os
lábios. Eu conhecia esse olhar; ele estava pensando. Ele fingiu que
estava lendo um pôster na parede enquanto passava a mão pelos
cabelos grisalhos e curtos.

Jack suspirou e sentou-se na ponta da mesa de madeira. —Não


há maneira fácil de dizer isso, filho. Eu gostaria que não fosse verdade.
Mas o escritório da equipe recebeu várias ligações durante o jogo e eu
vi quando voltei ao meu celular que me ligaram também. Receio que
seja sobre sua esposa.

—Maggie? —De repente pude ouvir o som do meu coração


batendo nos meus ouvidos, e era alto.

—Sim. Ryke... —Ele olhou para as mãos e suspirou


profundamente antes de encontrar o meu olhar. —Houve um
acidente esta noite em Chicago. Ela foi atropelada por um motorista
bêbado e morreu na hora.

Eu olhei para ele, estupefato. —Não, ela estaria em casa nesse


horário. Ela não teria saído numa hora dessas.

—Aconteceu há algumas horas. O hospital tentou entrar em


contato com você, mas com o jogo...

Lágrimas queimaram meus olhos e desfocaram a mesa de


trabalho. Meus lábios secaram quando minha boca se abriu
fracamente. Eu queria falar, mas nada saía.

—Escute, nós organizamos um voo para casa para você, hoje


à noite. —Disse Jack. —Calvin vai com você.

Por que eu precisaria do assistente técnico para ir comigo? Eu


poderia voar sozinho para casa.

—Tudo bem. —Eu disse, levantando-me da cadeira. Uma


imagem do rosto sorridente de Maggie tomou minha mente, seus
cabelos negros e brilhantes soprando na brisa enquanto
caminhávamos na Michigan Avenue. Maggie. A minha melhor amiga.
Minha maior apoiadora. Minha esposa. Morta. Seu cabelo nunca
sopraria na brisa novamente.

Eu tentei me levantar, mas uma onda de náusea me atingiu


como um soco no estômago. Eu afundei na cadeira e senti a mão de
Jack apertando meu ombro.

Eu era um viúvo de 25 anos. De repente, desejei mais do que


qualquer coisa que Jack tivesse me chamado aqui para dizer que eu
seria negociado.
CAPÍTULO 02

Maio de 2013 – Kate

Meus dedos demoraram-se sobre os fios do pingente amarelo


brilhante do meu capelo de formatura no velho baú de metal no porão
da minha mãe. Eu o tinha usado seis horas antes e não perdi tempo
o embalando para guardar.

Hoje foi... exaustivo. Abraçar amigas gritando, sorrir para fotos


e agradecer às tias, tios, primos e amigos que vieram para a minha
festa de formatura havia tirado toda minha energia.

Não foi assim que imaginei o dia da formatura. Mas,


novamente, apenas o primeiro mês do meu último ano tinha sido
como eu havia imaginado. Os últimos cinco meses foram muito
parecidos com hoje, funcionando no automático. Estudando como
louca, arrumando meu apartamento, me candidatando a empregos...

Mas tudo que eu queria fazer era dormir. O momento em que


puxava os cobertores até o pescoço era o único momento honesto do
meu dia. Era quando podia abandonar o sorriso falso, parar de fingir
que estava empolgada com a formatura e deixar a tristeza existir sem
me preocupar que ninguém a visse.

Quando fechei a porta do velho baú, me senti um pouco mais


leve. Eu não me lembraria da faculdade tão cedo. Ou talvez nunca.
Este ano me testou de maneiras que nunca imaginei.

A estreita escada de madeira me levou até a cozinha da mamãe,


onde ela estava embrulhando as sobras da festa.
—Precisa de ajuda? —Perguntei.

—Estou acabando. Você comeu? Estava tão ocupada


recebendo as visitas que não vi você fazer um prato.

—Eu belisquei. Vou comer um pedaço de bolo um pouco mais


tarde.

—Obrigada por fazer isso. —Disse minha mãe, encontrando


meus olhos.

—O quê? Eu que deveria agradecer a você. Você quem fez


todo o trabalho. E você me ajudou na faculdade e vai me deixar voltar
para casa, já que não consigo encontrar um emprego.

—Estou feliz por você estar voltando, Kate. Mas sei que este
dia não foi fácil para você.

Os pelos dos meus braços se arrepiaram. Era assim tão óbvio


que eu não estava curtindo o ritual do dia da formatura?

Abri a máquina de lavar louça e coloquei detergente no


dispenser. —Mãe, foi bom. Foi um bom dia.

Um prato apareceu no balcão acima da máquina de lavar


louças. —Por favor, coma. —Disse minha mãe. Eu olhei para o
sanduíche de carne de porco e salada de batata e, embora meu
estômago roncasse, eu não estava com vontade de comer.

—Foi um longo dia. —Eu disse, suspirando enquanto fechava


a máquina de lavar louça e girava o botão para ligá-la. —Estou
cansada. Acho que vou para a cama cedo.

—Você não quer sair com Laurel e Emily?

—Não, estou muito cansada. —A última coisa que eu queria


era ouvir sobre os planos de casamento de Laurel e o ótimo novo
trabalho de Emily. Eu já tinha distribuído o entusiasmo necessário.
Atravessei a cozinha em direção ao meu antigo/novo quarto, ansiosa
para escapar.

—Kate... —Mamãe parou, segurando a geladeira aberta. Ela


suspirou, olhando para mim. —Eu realmente gostaria que você
tentasse o grupo de apoio ao luto, no hospital.

Revirei os olhos e balancei a cabeça. —Mãe, não vamos ter


essa conversa novamente. Não quero sentar e chorar com um monte de
gente triste. Já faz cinco meses e estou bem.

—Você não está bem, nem perto disso. —Ela fechou a porta
da geladeira e se aproximou de mim. —O que aconteceu foi...

—Eu não quero falar sobre isso. —Havia um aviso em meu


tom e eu queria que ela ouvisse.

—Você precisa de ajuda com...

—O que me ajudaria mais do que qualquer coisa é se você


parasse de falar sobre isso! —Eu gritei, girando para encará-la. —
Como posso seguir em frente quando você continua falando sobre
isso?

—Seguir em frente é diferente de esquecer. —Mamãe disse


suavemente. —Você não pode seguir em frente até lidar com isso.
Não foi justo, o jeito como você teve que voltar para as aulas logo
depois. Ainda bem que ainda não encontrou um emprego, porque
precisa de tempo para recuar e processar tudo.

Eu suspirei, dividida entre discutir como eu queria e concordar


apenas para acalmá-la.

—Pense sobre isso, ok? Terças-feiras, às 19:00, na antiga sala


de conferências. Eu não espero que você fale comigo sobre isso.
Apenas dê uma chance, Kate. Estou aqui há muito mais tempo que
você e nunca quis nada além do melhor para você.
—Eu sei mamãe, mas...

Ela levantou a mão, me interrompendo. Seu cabelo loiro na


altura dos ombros estava enrolado perto das orelhas, por suar o dia
todo na cozinha. —Dormir tanto quanto você anda dormindo, não
comer, sentir-se sozinha – são todos sinais de depressão.

—Depressão? —Recuei. —Talvez eu esteja cansada de me


matar de estudar para as provas finais e me mudar! E quem disse que
eu me sinto sozinha?

—Você não precisa dizer. E as provas finais foram há duas


semanas. Fale o quiser, Kate, mas você precisa lidar com isso. Talvez
você ainda não esteja pronta, não sei. Mas considere o grupo. Ou, se
você ficar mais confortável, temos alguns bons psiquiatras no
hospital.

—Um psiquiatra? Mãe, não sou louca, só estou cansada. —Eu


estreitei meus olhos para ela enquanto voltava em direção ao balcão
e pegava o prato, dando uma grande mordida no sanduíche. Eu
considerei mudar de ideia sobre sair, mas... não. Eu não iria sofrer
uma noite inteira pulando de bar em bar só para provar que não estava
deprimida.

Ela ergueu as sobrancelhas e soltou um enorme suspiro que


praticamente gritou: "Estou te julgando agora."

—Não se preocupe comigo. —Eu disse, estendendo a mão


para abraçá-la com um braço enquanto segurava meu prato na outra.
—Amanhã vou cortar a grama e terminar de desembalar minhas
coisas. Eu vou fazer algo para o jantar também.

—Teremos as sobras de hoje. —Disse ela. —Eu estarei em


casa às 18:30.

—Seu jantar estará pronto. —Eu disse, sorrindo enquanto me


voltava para as escadas. Ela ofereceu um aceno conciso e eu me
apressei até a escada de carvalho da sala de estar. Assim que tive
certeza de que ela não podia me ver, deixei o sorriso ir embora. Talvez
com a faculdade finalmente ficando para trás e uma boa noite de
sono, eu me sentiria melhor amanhã.

Mas não aconteceu. No mínimo, eu me senti um pouco pior.


Aparar o pequeno quintal da minha mãe levou apenas cerca de 30
minutos, e então voltei minha atenção para desfazer as malas. Voltar
para casa foi uma derrota. Os amigos com os quais me formei estavam
se mudando para apartamentos melhores ou tirando férias para
comemorar o início do próximo capítulo de suas vidas. E eu estava
colocando minhas roupas na cômoda que eu havia decorado com
adesivos da Barbie quando tinha 12 anos.

Meu coração disparou quando olhei para o fundo da sacola de


lona que estava desfazendo e a vi. A caixa. Mamãe arrumou essa
sacola com itens do armário do meu apartamento. Uma caixa de
memória, a enfermeira a tinha chamado quando a passou para mim
antes de me levar para fora do quarto que ainda assombrava meus
sonhos.

Eu estava entorpecida, sem sentir absolutamente nada após a experiência


emocionalmente desgastante do parto do bebê. Eu chorei o tempo todo, minha
cabeça latejava com dor, enquanto eu mantinha meus olhos fechados ou olhava
para o teto, enquanto mamãe segurava minha mão. Eu não queria ver nada; eu
simplesmente não conseguia lidar com aquilo.

A Drª Harn me disse que não havia problema em não querer ver o bebê
ou saber alguma coisa sobre isso. Ela disse que cada mulher lidava com a perda
de um bebê à sua própria maneira, e não havia certo ou errado.

Foi por isso que fiquei tão chocada quando recebi uma caixa rosa claro
enquanto estava sentada em silêncio em uma cadeira de rodas, esperando ser levada
para fora quando estivesse pronta. Meu coração bateu assim que olhei para ela.

—O que é isso? —Perguntei à enfermeira que a deu para mim.


—É uma caixa de memória. Há uma foto e algumas informações sobre
o bebê.

Eu estava vazia demais para ficar furiosa, mas senti uma descrença por
aquela mulher ter acabado de violar meus desejos e agisse como se ela tivesse me
feito um favor. Eu não queria saber que havia perdido uma filha. Era demais.
Mais dor, além da perda esmagadora que já sentia.

—Ok, instruções de alta... —A enfermeira disse, seus olhos examinando


um papel enquanto mamãe entrava no quarto. Eu puxei o cobertor no meu colo
sobre a caixa, não querendo que mamãe a visse. —Você terá um sangramento
forte por vários dias. Pode precisar de vários absorventes de uma vez, e podem
aparecer coágulos. Se você vir qualquer coisa que pareça com tecido...

—O que isso significa? —Olhei para mamãe sem expressão. Ela


estendeu a mão para a enfermeira e arrancou o papel dela.

—Me dê isso, sou enfermeira. Vou levar minha filha para casa. —Ela
quase empurrou a enfermeira para longe da minha cadeira de rodas e a guiou pelo
corredor sozinha. Eu podia ouvir a sua respiração pesada e me perguntei se ela
estava triste ou com raiva. Provavelmente as duas coisas, como eu.

Eu não queria lembranças da pior coisa que já havia acontecido


comigo. Empurrei a caixa para a prateleira mais alta do meu armário,
fora da minha vista. Não ver a caixa significava não pensar sobre isso,
e não pensar nisso significava seguir em frente.

A casa estava muito quieta. Sem aulas para ir, sem estudar ou
malas a fazer. Nada para ocupar minha mente. Eu mandei uma
mensagem para minha amiga Lacey do ensino médio para ver se ela
poderia me encontrar para tomar um café, mas ela estava no trabalho,
como a maioria das pessoas normais.

Suspirei e olhei ao redor do meu quarto de infância. Era hora


de dobrar meus esforços para encontrar um emprego. Os graduados
em psicologia não eram exatamente procurados na área de Chicago,
mas havia muitas coisas que eu poderia fazer. Eu precisava de algo
em que me concentrar. Algo além da melancolia sem objetivo que se
tornara minha companheira constante.

***

Junho de 2013 – Ryke

Como alguém consegue encontrar o que está procurando neste


hospital? Eram muitos corredores, portas e elevadores, que só iam
para determinados andares. Embora eu tivesse participado de muitas
reuniões aqui no ano passado, ainda me perguntava se estava perdido
enquanto andava por esse labirinto.

O quadro branco com "Grupo de Apoio ao Luto" escrito nele


confirmou que eu não estava perdido. Eu puxei meu boné sobre a
minha testa e entrei.

A maioria dos rostos eram os habituais: Rose, a senhora de 60


anos que sempre trazia biscoitos caseiros; Carlos, o jovem que cuidou
de seus pais que perderam as batalhas contra o câncer; e Trace, que
ninguém queria sentar ao lado por causa de seu odor corporal. Havia
vários outros rostos que reconheci e um que não reconheci. Ela
sentou-se em uma das cadeiras dobráveis acolchoadas dispostas em
círculo, e eu reconheci sua expressão.

Ela estava tentando decidir se deveria ou não fugir. Fiz a


mesma coisa antes da minha primeira reunião. —Eu não preciso estar
aqui. —Disse a mim mesmo. —Essas pessoas são todas fracas, mas eu não
sou. —Mas algo tinha mantido minha bunda colada naquela cadeira
acolchoada. Algo em minha mente dizia a mim mesmo que eu estava
bem há mais de um ano, e me cansei disso. Este parecia ser o lugar
onde não havia problema em admitir que eu não estava.

Eu nunca falei muito nas reuniões, mas falar não era uma
exigência. Eu disse a essas pessoas o que aconteceu com Maggie, e
me pareceu incrível quando nenhuma delas olhou para mim com a
pena que eu estava acostumado. Nenhum deles me perguntou como
eu estava me sentindo. Eles não disseram nada – apenas ouviram. E
havia algo sobre ouvi-los que me fez sentir um pouco menos fodido.

—Ei, pessoal. —O psiquiatra que liderava o grupo, Kirk,


correu pela porta com a pasta de couro desgastada a tiracolo. Ele era
um cara magro com a cabeça completamente raspada. Eu ainda não
tinha descoberto se ele era gay ou hétero, não que realmente me
importasse.

—Alguém quer um biscoito? —Rose passou um prato de


papel com biscoitos de chocolate enquanto as pessoas se sentavam
no círculo de cadeiras. Eu me sentei entre Kirk e Carlos, me sentindo
mal pela nova garota quando Trace sentou-se ao lado dela. Espero
que ela tenha perdido o olfato.

—Olá, sou Kirk e eu lidero este grupo. —Ele soltou um


suspiro, olhando através do círculo para a nova garota. —Bem-vinda.
Tudo o que peço é que você se apresente, embora seja bem-vinda
para compartilhar mais ao fazer isso. Nós não julgamos aqui. Este é
um lugar de apoio, e tudo nesta sala, incluindo quem está aqui, é
confidencial.

Ele olhou para mim primeiro e eu me mexi no meu lugar. —


Olá, sou Ryke. E isso é tudo que tenho para hoje.

Kirk assentiu e olhou para Carlos. —Olá, sou Carlos e perdi


minha mãe há 15 meses e meu pai há sete meses. Estou indo bem. —
Ele olhou para as mãos. —Eu comecei a limpar o quarto da minha
casa, onde cuidava dos meus pais, o que foi uma grande coisa para
mim. Eu não tinha entrado lá desde que meu pai morreu.

Houve uma longa pausa, e sabia pelo olhar tenso em seu rosto
que Carlos estava tentando não chorar. Eu me perguntei por quê.
Algumas coisas sombrias foram compartilhadas neste grupo durante
o ano que eu participei, e chorar não era nada de mais.

Eu olhei para a nova garota, cujos grandes olhos castanhos


eram suaves de compaixão por Carlos. Eu senti uma conexão
instantânea com as pessoas daqui, apesar de suas peculiaridades
irritantes, e me perguntei se ela também sentia.

—Mais alguma coisa que você gostaria de compartilhar? —


Kirk perguntou suavemente. Carlos balançou a cabeça e limpou o
nariz.

A senhora ao lado dele, Kathy, começou a falar sobre seus


filhos e dos filhos de seu falecido marido brigando por seu dinheiro,
e eu me distrai. Meus músculos da panturrilha ainda estavam latejando
pelo treino brutal que o treinador me obrigou a fazer mais cedo.
Fiquei feliz que amanhã era dia de folga.

Eu me movi para a beirada do assento quando foi a vez da


nova garota. Ela era linda, com um corpo pequeno, bonito e longos
cabelos loiros. Mas era outra coisa sobre ela que estava me chamando
a atenção. Aquela tristeza em seu rosto – eu tinha ficado assim. O
olhar assombrado em seus olhos – eu tinha o mesmo olhar. Ela havia
perdido alguém e, embora eu nem soubesse quem era, senti que ela
me conhecia. Eu queria envolvê-la em meus braços, levá-la para a
cama e fazer com que sentisse algo tão profundo e poderoso que a
tristeza desapareceria, mesmo que fosse por pouco tempo.

Você é um verdadeiro idiota por sentir tesão em um grupo de apoio ao


luto, Ryke.
Eu me movi na cadeira enquanto ela suspirava e depois sorria.

—Olá, eu sou Kate. —Ela suspirou novamente e apertou as


mãos. —Acabei de me formar na Northwestern. Eu engravidei em
agosto, e quando fui fazer uma ultrassonografia entre 17 e 18
semanas, o bebê havia falecido.

Rose deu um murmúrio simpático, mas a sala estava silenciosa.


Kate olhou para os rostos antes de continuar.

—Ficar grávida foi um acidente. O cara me deixou quando eu


disse que estava esperando o bebê, e tudo isso virou minha vida de
cabeça para baixo. Mas eu me ajustei e estava começando a ficar
entusiasmada quando... aconteceu. Eu me sinto muito culpada por
não querer o bebê no início... —Havia uma hesitação em sua voz. —
Porque eu sinto que recebi o que merecia.

Sua voz se elevou e lágrimas escorreram sobre suas bochechas


quando ela piscou. Kirk passou-lhe uma caixa de lenços e ela pegou
um, enxugando o rosto antes de continuar.

—Eu digo a todos que estou bem. —Disse ela. —Digo isso a
mim mesma também. Mas não sei se estou. Eu continuo esperando
que as coisas voltem a ser como eram antes, e isso nunca acontece.
Eu realmente não sei o que fazer. Eu acho... que isso é tudo. Obrigada
por me ouvir.

—Obrigado por compartilhar, Kate. —Disse Kirk. Eu me


perguntei se ele se sentia da mesma maneira que eu. Tive que reunir
toda minha força de vontade para não me levantar e ir até Kate e
pegá-la em meus braços. Que situação cruel. E obviamente ela não
teve apoio do idiota que a engravidou.

Era a vez de Trace falar, mas eu não conseguia parar de olhar


para Kate. Ela me viu encarando-a e olhou de volta uma vez, mas não
consegui sorrir. Era assustador sorrir aqui.
A reunião terminou e todos se levantaram para tomar café e
biscoitos.

—Como está indo? —Carlos me perguntou.

—Bem. E você?

—Muito bem. Eu encontrei um novo emprego que paga mais,


e minha namorada quer que moremos juntos. Eu não sei, cara, devo
fazer isso?

—Uh... eu não sei, você quer? —Perguntei, pego de surpresa.


Eu não estava acostumado a dar conselhos sobre relacionamentos.

Seus olhos se arregalaram enquanto ele considerava. —Eu não


sei, mano. Isso é muito sério, sabe? Quero dizer, ela é ótima e tudo,
mas... Cara, eu penso nisso e acho um passo tão grande, sabe?

—Eu também acho. Mas se você não quer, então não faça.

Rose estava conversando com Kate, sua mão apertando um


pouco o antebraço de Kate. Eu queria ouvir o que elas estavam
dizendo, mas Carlos falava mais alto à medida que continuava.

—...não assistir àquele maldito HGTV2 quando o futebol está


passando, sabe? —Ele disse. —E eu não vou me livrar do meu sofá.
É feio e grande, mas é confortável. Não quero um sofá minúsculo
onde não posso nem mesmo me deitar.

—Uh... sim, entendo isso. —Eu disse. —Ela disse que quer
que você se livre dele?

Ele suspirou e cruzou os braços. —Não, mas é assim que elas


funcionam, cara. Elas agem como se fossem tudo diversão e

2
HGTV é uma rede de televisão por assinatura sediada nos Estados Unidos, que é de propriedade da
Discovery, Inc.. A rede basicamente transmite programas como realitys relacionados à melhoria de casas
e imóveis.
brincadeiras. Uma refeição caseira e um boquete toda noite. Mas
então, quando chegam lá, simplesmente tomam conta de tudo.

Kate pegou um biscoito de Rose e mordeu. Rose ainda estava


tagarelando, mas as duas se viraram para a porta. Droga. Eu queria
abordá-la de alguma forma. Dizer algo.

—Eu a amo, no entanto. Ela é minha gatinha. —Disse Carlos.


Eu obviamente perdi alguma coisa quando estava olhando para Kate.

—Está falando do seu gato? —Eu disse.

—Não, minha namorada. Esse é o meu apelido carinhoso para


ela. Gatinha. E ela me chama de...

Eu nem queria saber. —Você disse que quer morar junto ou


não?

—É o que estou dizendo, mano. Eu quero, mas não quero,


entende?

Esse cara era na verdade uma mulher? Eu queria dizer a ele


para se decidir e morar junto ou não, mas pelo amor de Cristo, parar
de falar comigo sobre isso.

—Sim, isso é difícil, cara. —Eu disse, esfregando minha nuca.


—Talvez você devesse conversar com ela sobre algumas dessas
coisas. Dizer a ela suas preocupações.

—Você acha?

Por que diabos eu teria dito se não achasse isso? Balancei a


cabeça e ele pareceu pensativo.

—Sim, talvez eu vá. Obrigado, Ryke, você é um bom amigo,


mano. Carlos veio para um meio abraço e eu tolerei isso.

Quando me afastei, olhei ao redor da sala procurando por


Kate, mas ela já tinha ido. Eu queria dar um soco no Carlos. Ela
provavelmente nunca mais voltaria. Eu não tinha conseguido dizer
uma palavra para a primeira mulher com quem queria conversar em
muito tempo.

***

Kate

Endireitei meus ombros e sorri enquanto entrava em um


prédio no centro da cidade que estava iluminado pela luz do final da
manhã brilhando através de suas altas paredes de vidro. O clique dos
meus saltos no piso de pedra me inspirou confiança quando me
aproximei da mesa da recepcionista.

—Olá, sou Kate Camden. —Eu estendi minha mão e ela


levantou um dedo enquanto terminava de digitar alguma coisa.

—OK. Oi, posso ajudá-la? —Seu tom tornou óbvio que eu era
um incômodo indesejado.

—Vocês estão contratando? —Peguei a pilha de currículos na


minha bolsa.

—No momento, não. E nós não contratamos estudantes do


ensino médio. —O desdém em sua voz me fez olhar surpresa.

—Ensino médio? Acabei de me formar na Northwestern com


honras.

—Oh. Bem, você tem um rosto jovem. E ainda não estamos


contratando.

Voltei-me para a porta com um suspiro. Eu estava nisso por


quase três horas. Fui rejeitada dezenas de vezes, meu currículo foi
recebido em três lugares e fui convidada para uma entrevista em um
deles.

Puxei meu celular da bolsa e vi que era hora de encontrar Kylie,


minha antiga colega de quarto da faculdade. Ela era assistente jurídica
em um escritório de advocacia no centro da cidade, e íamos almoçar
em um restaurante de sushi perto de seu escritório.

O trânsito da hora do almoço era um pesadelo, e o ar-


condicionado do meu Honda 1998 só tinha ar quente desde o meu
segundo ano da faculdade. Eu abaixei minha janela e uma brisa morna
me atingiu. Meus pés estavam doloridos pelos meus saltos altos e eu
fui rejeitada por praticamente todos os empregadores de dois
quarteirões no centro de Chicago, mas me sentia bem. Eu estava fora
de casa, realmente fazendo alguma coisa por mim.

Eu parei no estacionamento do lado de fora do restaurante e


vi Kylie em uma pequena mesa assim que entrei.

—Ei, menina. —Ela gritou, levantando-se para me abraçar.

—Olá, como vai?

Seus olhos azuis bebê brilharam quando ela tomou um gole de


limonada. —Eu estou bem. Muitos caras gostosos no meu novo
escritório. Pedi um chá gelado com limão para você.

—Você se lembrou! —Eu sorri, muito feliz por ter minha ex-
colega de quarto cuidando de mim. Ela era uma daquelas pessoas
cheias de energia radiante que viam o lado positivo de tudo.

—Claro que me lembro. —Ela disse, batendo levemente no


meu braço. —Nós moramos juntas por dois anos. Nada de Long Island
Tea3 já que você está procurando emprego. —Como está indo?

3
Long Island Tea: Bebida feita com gelo, fatias de limão, vodka, cointreau, gim, run, suco de limão e coca-
cola.
—Bem, minha confiança está tão destruída quanto meus
dedos dos pés estão no meu sapato agora, então...

—Leva tempo. Aguente firme.

Peguei o chá gelado quando a garçonete se aproximou de mim,


bebendo-o avidamente. —Como vai com Lance?

—Oh. —Kylie acenou com a mão e fez uma careta. —


Acabou.

—Eu sinto muito...

—Não, não sinta! Eu terminei com ele.

—Bem, se você está feliz com isso, então também estou. —


Eu disse, sorrindo.

—Eu estou. Ele é um perdedor. Eu estava em seu apartamento


uma noite e ele estava no chuveiro e seu telefone recebeu uma
mensagem de texto, então eu o levei para o banheiro, caso fosse
trabalho. Olhei para o telefone e a mensagem dizia: Estou tão
molhada, querido.

Meus lábios se separaram de choque.

—Eu sei. —Kylie revirou os olhos. —Eu segurei o telefone


para que ele pudesse ver e ele estava enxugando o rosto quando leu e
seus olhos quase saltaram.

—O que ele disse?

—Bem... eu fui meio malvada. Fiquei com os olhos arregalados


e disse que a ideia de outra mulher ficar molhada por ele me deixava
excitada. Ele parecia ter ganhado a loteria por um segundo. Disse a
ele que queria deixá-la mais molhada e ele disse; 'Verdade...?' E ele
estava prestes a pular para fora do chuveiro quando joguei o telefone
no vaso sanitário e saí.

Eu joguei minha cabeça para trás com uma risada. Kylie e eu


éramos próximas há mais de dois anos como colegas de quarto, e
sentia falta de passar um tempo com ela.

—Como você está, Kate? —Ela perguntou, seu rosto ficando


sério.

Eu sabia o que ela queria dizer. De todas as amigas que achava


que tinha quando descobri que estava grávida, foi ela quem ficou ao
meu lado. Kylie foi até a loja de roupas de grávidas de segunda mão e
me comprou algumas roupas logo no início. Nós morávamos juntas
quando perdi o bebê, ela sabia que eu precisava de espaço, mas que
não queria ficar sozinha. Ela estava em casa o máximo que podia, mas
nunca me perguntou como eu estava ou tentava falar comigo sobre
isso. Ela só estava ali, exatamente o que eu precisava.

—Estou bem. A formatura ajudou. Aquele último semestre foi


um nevoeiro para mim. —Eu corri meu dedo ao redor da borda
molhada do meu copo, olhando para ele. —Eu vi Quinn em uma
livraria há algumas semanas e isso me fez perder o fôlego. Ele não me
viu, e eu não consegui sair de lá rápido o suficiente. Todos os
sentimentos voltaram.

Kylie assentiu e decidi compartilhar algo que ainda não havia


contado a ninguém.

—Eu fui a um grupo de apoio ao luto na semana passada. —


As palavras saíram, e ela arqueou as sobrancelhas enquanto ouvia.

—O que você achou?

Eu pensei. —Foi bom. Senti que não havia problema em


compartilhar com eles, porque não me julgariam. É esquisito confiar
em estranhos, eu sei...
—Eu não penso assim. —Disse Kylie. —Posso entender por
que isso te fez sentir mais segura.

—E funcionou. Eu me senti melhor quando saí.

—Você vai voltar?

—Eu acho que sim. —Disse. —Não é como se tivesse mais


alguma coisa para fazer. Os psicólogos não são muito procurados em
Chicago.

—Nenhuma perspectiva?

—Eu não consigo arranjar nem uma entrevista, muito menos


um emprego.

—O mercado de trabalho está muito ruim, Kate, não é você.

Suspirei de frustração. —Eu sei, mas isso não muda os


empréstimos estudantis que tenho que começar a pagar em breve, ou
os novos pneus que preciso para o meu carro.

—Você ainda está dirigindo aquele Honda antigo? —A voz de


Kylie subiu com admiração.

—Eu preciso, K, estou falida. Eu não acredito que sou a garota


que voltou para casa depois da formatura. Não quero explorar minha
mãe, mas não posso pagar aluguel agora.

—Mantenha a cabeça erguida e você encontrará um emprego.

Fácil para ela dizer. Não foi ela que pediu dinheiro emprestado
para a mãe aos 22 anos de idade.
CAPÍTULO 03

Ryke

A corda grossa cortou na minha cintura e eu parei, precisando


de uma pausa da queimadura. Apoiei minhas mãos nos meus joelhos
e suor deslizou do meu cabelo pelo meu rosto, gotas caindo sobre o
concreto aos meus pés.

—Eu lhe disse para parar? —O gemido estridente do meu


treinador Dave era o único barulho no bosque, que de outra forma
era silencioso.

Eu estava ofegando tanto que não conseguia falar, então


apenas balancei a cabeça, e mais suor voou.

—Mexa-se!

Eu sabia que havia irritação em meus olhos quando olhei para


ele. Eu tentava não ser um daqueles babacas que contratam um cara
para treiná-lo e depois reclamam o tempo todo, mas hoje eu estava
me arrastando. Batendo a mão no palete de madeira atrás de mim, me
levantei e enfrentei meu amigo grisalho de 40 e poucos anos.

—Aquela pedra que você acrescenta pesa cerca de quarenta e


cinco quilos! Arrastar essa merda é difícil. —Passei a mão pelo meu
rosto e ela deslizou pela minha pele encharcada.

—Tudo o que fazemos é difícil, Ryke. —Dave cruzou os


braços sobre o peito e falou no tom entediado que eu odiava. —
Mexa-se logo ou te obrigo a fazer isso de novo.
Eu balancei a cabeça com desgosto. —Sim. Eu gostaria de ver
você tentar.

A gargalhada de Dave me irritou mais do que o tom entediado.


—Eu sou um treinador de 44 anos, filho. Você é um atleta
profissional de nível internacional de 27 anos. Você quer parar aqui?
Puxe o maldito palete até perto das árvores.

Ele estava certo. A reclamação roubou uma energia que não


queria desperdiçar hoje. Eu puxei minha camiseta para cima e limpei
meu rosto, então me inclinei e continuei. Minhas pernas queimavam
com o esforço, e eu me esforcei para passar pelas árvores para poder
desamarrar a corda e recuperar o fôlego.

Dave me deixou em paz enquanto eu bebia água e checava as


mensagens no meu celular. Soltei um suspiro quando vi uma
mensagem do escritório da equipe, sobre um dos meus colegas que
precisou cancelar uma visita a um hospital infantil hoje à noite por
causa de uma emergência familiar. Eles queriam saber se eu poderia
ir em seu lugar.

Esta noite era a reunião de apoio ao luto no hospital. Eu não


ia mais todas as semanas, mas estava planejando ir esta noite. Estava
esperando que a loira da semana passada, Kate, estivesse lá. Eu pensei
nela algumas vezes e queria conversar com ela.

—Vamos lá! —Dave chamou, acenando para mim. Treinar


fora era uma pausa agradável da academia, mas hoje estava mais
quente que o inferno. Eu mandei uma mensagem para o cara do
escritório dizendo que iria ao hospital. Eu nunca disse não para essas
coisas. Nada coloca as coisas em perspectiva como ver aquelas
crianças sorrindo e excitadas apesar de suas graves doenças. Só de
pensar nisso me senti um verdadeiro maricas por reclamar do treino.

Joguei meu celular de volta no chão e despejei o último gole


de água fria no meu cabelo, pronto para voltar ao trabalho.
***

Kate

As borboletas se dissiparam do meu estômago quando saí do


elevador do hospital para a minha terceira reunião de apoio ao luto.
Eu me sentia confortável aqui. Na semana passada eu apenas escutei,
e ouvir os outros dizerem que se sentiam loucos, irritados e incapazes
de seguir em frente tinha acalmado minha tristeza como um bálsamo.
Eu não era a única. Engraçado como senti mais afinidade com essa
mistura aleatória de estranhos do que com muitos dos meus amigos
de longa data.

Empurrei a porta e vi que muitas pessoas já estavam lá. Eu


estava atrasada depois de um dia do que considerava meu trabalho
em tempo integral – a procura de emprego. Meu blazer preto e saia –
meu uniforme de procurar emprego – fazia eu me destacar nesta
multidão de jeans e tênis.

Eu usei a mesma roupa ontem, então hoje eu mudei para saltos


vermelhos brilhantes e uma camisa vermelha rendada. A roupa era
lavada a seco, o que eu não podia pagar, então tentei suar o mínimo
possível nela. Considerando que era quase julho, isso era um desafio.

Restavam apenas alguns lugares e sentei-me ao lado de Rose


pouco antes de Kirk começar a reunião. Ela estendeu um prato de
biscoitos para mim e eu peguei um de manteiga de amendoim e o
mordi imediatamente. Eu não tinha comido o dia todo.

Carlos estava animado esta noite, nos dizendo que ele pediu a
sua namorada para se mudar. As pessoas seguintes só quiseram falar
seus nomes, e eu reconheci uma delas, Ryke, do primeiro encontro.
A mulher ao lado dele era nova, e todos estavam prestando atenção
enquanto ela se apresentava.

—Eu sou Tara. —Disse ela, colocando uma mecha de cabelo


escuro atrás da orelha. —Eu perdi minha irmã há algum tempo, e eu
só... queria fazer amizade com algumas pessoas que passaram por
isso.

Ela usava jeans skinny, saltos de tiras e uma camiseta preta sem
mangas, decotada. Ela estava planejando ir a uma danceteria depois
daqui? Bizarro.

Eu estava planejando apenas dizer meu nome e nada mais,


como na semana passada, mas surpreendi a mim mesma.

—Eu sou Kate. —Disse, acenando fracamente. —Terminei a


faculdade em maio e estou procurando emprego desde então. E
mesmo sabendo que encontrar um emprego não vai melhorar tudo,
eu realmente preciso de algo em que me concentrar. Quando tenho
muito tempo livre, é difícil não me concentrar nos “e se”. —Suspirei
e olhei para o meu colo, onde minhas mãos descansavam. —Ontem
vi uma mulher passeando com um bebê em um carrinho e chorei no
meu carro por uns 15 minutos. Eu já deveria ter superado isso.

Olhei para cima e todos os olhos estavam em mim.

—Como você se sentiu depois disso? —Kirk perguntou.

—Meio vazia... eu acho. Nunca verei o rosto do meu bebê.


Tive inveja daquela mulher, e sei que é horrível.

—Isso é muito normal. —A voz de Kirk era tão suave quanto


água fluindo sobre as rochas, e me perguntei se ele praticava seu tom
relaxante ou era apenas seu tom de voz normal.

A reunião durou menos de uma hora e eu peguei outro biscoito


de Rose quando me levantei para ir embora. Eu estava quase
chegando à porta quando uma voz chamou meu nome. Eu me virei e
vi Ryke se aproximando, mas ele foi interceptado por Tara.

—Você não é... —Um sorriso se espalhou por seu rosto


fortemente maquiado —....Jason Ryker?

Ele assentiu e ofereceu um breve sorriso.

—Sim, prazer em conhecê-la. —Disse ele, apertando a mão


que ela estendeu.

—Oh meu Deus, eu sou uma grande fã. —Ela disse. —Eu vi
você jogar.

—Obrigado, eu agradeço por isso. —Ele olhou para mim e eu


joguei minha bolsa sobre meu ombro, me perguntando se deveria
esperar.

—Então. —Tara estava tentando parecer tímida e eu queria


revirar os olhos. Essa garota era tão tímida quanto uma Kardashian,
a julgar por sua roupa.

—Sim, então... obrigado pelo seu apoio. —Ryke deu outro


sorriso sem graça.

—Há algum lugar onde as pessoas vão após essas reuniões? —


Ela perguntou.

Meus olhos se arregalaram. Depois de uma reunião de apoio


ao luto? Como se fôssemos todos a um bar de karaokê ou algo assim?

—Uh, não que eu saiba. Ei, desculpe, eu preciso... —Ele


apontou para mim e deu um passo na minha direção.

—Então, talvez eu o veja aqui na semana que vem?

—Eu não venho todas as semanas, mas talvez. —Disse. Ele


caminhou em minha direção, e Tara permaneceu enraizada em seu
lugar.
Ryke fez um gesto em direção à porta e eu peguei a dica. Fui
na frente em direção ao corredor, onde ele encostou um ombro
contra a parede. Ele olhou para mim e me senti um pouco intimidada.
Ele tinha bem mais de um e oitenta de altura e seus ombros eram
muito largos. Eu tinha apenas um e sessenta e dois, e não era muito
para mim.

—Uh... —Ele puxou um boné preto desgastado de sua cabeça


e depois o colocou de volta. —Eu queria dizer, em primeiro lugar,
que sinto muito pela sua perda.

Franzi meus lábios um pouco. Isso foi inesperado partindo


deste homem imponente, intenso e musculoso. Eu estava prestes a
agradecer a ele quando ele continuou.

—E eu também queria dizer... Eu admiro a maneira como


você fala sobre isso aqui. Demorei mais de um mês para poder dizer
uma palavra. E mesmo assim... Nunca coloquei tudo para fora. Você
tem coragem de ser tão honesta sobre isso.

Eu estava prestes a responder quando a porta se abriu e


algumas pessoas saíram da reunião. Uma delas era Tara, cujo olhar foi
direto para Ryke. Ela permaneceu no corredor, mexendo em nada em
sua bolsa.

Eu falei em voz baixa para Ryke. —Posso perguntar sobre sua


perda? Você não tem que me dizer, mas você disse que falou sobre
isso aqui...

—Não, eu não me importo. —Ele olhou ao redor do corredor,


onde as pessoas da reunião ainda estavam conversando. —Você quer
tomar café, talvez? Há um lugar do outro lado da rua.

—Oh. —Eu disse, um pouco surpresa. A parte de mim que


queria a atenção de caras gostosos estava fechada há um bom tempo.
Mas isso não era sobre atração.
—Ou poderíamos ir ao refeitório aqui se você se sentir mais
confortável. —Disse ele.

—Não, o lugar do outro lado da rua parece bom.

Seu rosto relaxou em um sorriso leve enquanto caminhávamos


em direção ao elevador. Eu fingi não ver Tara vindo em nossa direção
e tinha certeza que ele fez o mesmo. Eu o ouvi expirar um pouco
quando as portas se fecharam.

Agarrei as alças da minha bolsa preta acolchoada com força,


sentindo o frio na barriga que indicava que o elevador estava se
movendo. Ryke parecia um cara legal, mas por alguma razão eu estava
incrivelmente nervosa.

Ele esperou que eu saísse quando as portas se abriram, e nós


caminhamos lado a lado para as portas deslizantes largas. O silêncio
continuou quando atravessamos um cruzamento movimentado. Eu
tive que ir devagar porque meus pés estavam doendo pelo longo dia
usando os saltos altos que não usava muito.

—Seus pés doem? —Ryke perguntou quando chegamos à


calçada.

Eu sorri. —É tão óbvio?

—Tire seus sapatos. —Disse ele.

—Estou bem.

A pequena lanchonete em que entramos estava bem cheia, mas


eu vi uma mesa para duas pessoas perto da parte de trás e a peguei.
Quando Ryke sentou-se, vi dois caras em outra mesa olhando para
nós e falando, um deles apontando e parecendo animado.

—Você já jantou? —Ryke perguntou, passando-me um


cardápio surrado de papel.
Eu ergui a mão. —Sim, eu estou bem.

Ele arqueou as sobrancelhas com ceticismo. —Pela maneira


como você atacou aquele biscoito, fiquei com a impressão de que
você pudesse querer jantar.

Minhas bochechas se aqueceram quando ele encontrou meu


olhar sobre a mesa. —Não, eu realmente gosto muito de biscoitos.

—Entendi.

Uma garçonete apressada com um coque grisalho parou na


nossa mesa quando passava. —Bebidas?

—Eu só quero água. —Disse.

—Também vou tomar água. —Disse Ryke.

—Você precisa de mais algum tempo antes de fazer o pedido?

—Nada para mim. —Eu disse.

Ryke olhou para mim antes de examinar o cardápio


novamente. —Vou querer uma salada de frango grelhado e um
cheeseburger duplo com todos os ingredientes disponíveis e um shake de
baunilha. E alguns anéis de cebola.

—Com fome? —Perguntei quando a garçonete foi embora.

Ele encolheu os ombros. —Eu sou um cara grande.

Mas ele não era tão grande assim. Músculos grandes e


definidos esticavam as mangas de sua camiseta, e seu peito era mais
largo do que qualquer outro que eu já tenha visto. Eu queria
pressionar meus dedos para ver se era tão duro quanto parecia.

—Então, o que você faz da vida? —Perguntei. Não podíamos


continuar o silêncio do elevador aqui.
—Eu jogo hóquei.

—Oh. Você quer dizer, porque você não consegue encontrar


um emprego, ou... isso é realmente o seu trabalho?

Ele sorriu. —Não, é meu trabalho. Estou fora de temporada


agora, então estou apenas treinando, mas jogo para a equipe de
Chicago.

—Você quer dizer a NHL?

—Sim.

Eu balancei a cabeça quando compreendi. —Ah. Era sobre


isso que Tara estava falando.

—Sim. Você fez faculdade de quê?

Revirei meus olhos. —Aparentemente nada. Eu tenho um


diploma de psicologia, mas estou me candidatando a empregos há
mais de dois meses.

—Eu ouvi dizer que o mercado está ruim.

—Realmente está. E minha experiência na biblioteca da


faculdade não ajuda muito.

A garçonete voltou, descarregando uma bandeja cheia de água


e comida em tempo recorde. Ryke estendeu a mão para cortar o
cheeseburger em quatro pedaços, e tentei não olhar para seus antebraços
grandes e musculosos.

—Eu não posso comer tudo isso. —Disse ele, colocando os


pratos no meio da mesa. — Você tem que me ajudar.

Minha curiosidade aguçou. —Você perdeu um dos pais?


Seus olhos se direcionaram para a mesa por apenas um
segundo antes de voltarem para mim. Eles eram castanhos claros com
manchas douradas; eu podia me perder ali se me deixasse levar.

—Minha esposa. —Ele disse isso de forma tão simples, e meus


lábios se separaram com surpresa quando abaixei meu copo de água
suado para a mesa.

—Oh. Eu sinto muito. Você é tão jovem.

—Eu tinha 25 anos quando aconteceu, há dois anos. Ela foi


morta por um motorista bêbado na via expressa.

—Há quanto tempo você estava casado? —Tudo bem


perguntar isso? Eu não sabia nada sobre a etiqueta do luto fora da
minha própria experiência.

—Um pouco mais de um ano.

Meu coração bateu com simpatia para o homem bonito e


intenso na minha frente. —Que tragédia. Eu sinto muito.

—Obrigado. —Ele pegou a salada de frango grelhado, e algo


me fez pegar parte do cheeseburger. O queijo quente e carne picante
derreteram na minha boca.

—Então, se você acabou de se formar, você está com... 22? —


Ele perguntou.

—Sim. Deveria ter ido para a pós graduação. Eu estava muito


estressada em pensar me endividar mais para cogitar isso, mas agora
estou considerando. Talvez em janeiro, se puder arrumar um
emprego.

—Se você precisar de um emprego, tenho um para você


considerar.
Olhei para ele enquanto mordia um anel de cebola
engordurado. Eu estava desesperada. Dirigiria o zamboni na pista de
gelo se pudesse ser contratada. Pedir dinheiro emprestado à minha
mãe esta manhã para pagar a conta do meu celular me fez sentir uma
merda. Mas era o número no meu currículo, então não poderia me
dar ao luxo de desconectá-lo.

—Eu preciso de uma assistente. Alguém para lidar com coisas


para mim como... —Ele franziu as sobrancelhas e deu outra mordida
na salada. —...Uh, como levar e pegar minhas roupas na lavanderia,
pagar as contas e me ajudar a decidir qual gravata eu deveria usar para
alguns dos jantares chatos que tenho que ir.

Coisas que sua esposa provavelmente costumava fazer. Eu


senti pena enquanto balancei a cabeça. —Eu não sou boa em coisas
assim. Mal consigo organizar minhas próprias coisas.

—Bem, você combinou sua camisa e sapatos, então acho que


você pode lidar com a escolha de gravatas para mim.

Eu sorri de sua expressão séria. —Você não quer alguém com


mais experiência?

—Não. Você seria ótima. Minha pré-temporada começa em


pouco tempo, então você me ajudaria em uma época de muito
trabalho.

Eu abri minha boca para falar e depois a fechei novamente.


Ele me pegou completamente desprevenida. Eu precisava de um
emprego, claro, mas nunca me imaginei como assistente de ninguém.

—Eu vou te pagar mil dólares por semana. —Ele disse, seus
olhos ainda estudando os meus.

—Mas você nem sequer me conhece. Eu poderia ser louca.

Suas sobrancelhas arquearam. —Você é?


—Não.

—OK. Então?

—Eu agradeço a oferta, mas tenho que encontrar um emprego


de verdade. Algum lugar no centro certamente terá pena de mim
eventualmente.

Ryke passou uma mão sobre sua barba por fazer preta. Ele
realmente era delicioso. —Eu posso ajudar. Conheço algumas
pessoas. Que tipo de trabalho você quer?

Suspirei. —Eu nem sei. Algo em um escritório. Eu me formei


em psicologia porque tinha que escolher algo, mas nunca fui
realmente atraída por nenhuma carreira.

—Bem, o que você gosta?

Eu considerei. Quando foi a última vez que alguém me


perguntou isso? —Adoro ler, assar e assistir a reality shows ruins. E
jogar vôlei, mas não faço muito isso desde o colegial.

Ryke pareceu pensativo e eu dei risada. —Eu sei, nada disso


me arranjará um emprego. Eu sou aquela universitária estereotipada
que tem uma montanha de dívidas e não sabe o que quer fazer com
sua vida... Eu não teria sido uma mãe muito boa.

Eu peguei o milkshake e bebi, precisando de alguma maneira


cobrir o meu constrangimento sobre a minha última declaração.

—Kate. —Os olhos de Ryke estavam sérios enquanto ele me


observava. —Não diga isso. Há uma tonelada de culpa que vem de
perder alguém inesperadamente. Pode atingir você de repente. Você
está sendo muito dura consigo mesma.

Eu queria que ele me contasse sobre sua culpa, sua esposa e


sua vida após a morte dela. Mas eu mal conhecia esse cara.
—Eu comi a maior parte desse cheeseburger e metade do
milkshake. —Eu disse, pegando minha carteira. Ryke levantou a mão,
tirando a carteira e jogando duas notas de vinte na mesa. Ele também
me entregou um cartão de visita branco com o logotipo de sua equipe
da NHL.

—Meu número está aí. Ligue para mim se mudar de ideia sobre
o trabalho. Eu sou um cara legal, desde que tome meu café da manhã.

Eu sorri para ele enquanto saía da mesa. —Então não sirvo


para o trabalho. Eu nunca sequer fiz café.

—Vejo você na próxima semana? —Ele perguntou enquanto


caminhávamos até a porta.

—Provavelmente. Esse grupo está me ajudando bastante.

—Mesmo com o Trace? —Ryke sorriu e segurou a porta de


vidro da frente aberta para mim.

—Qual deles é ele? —Eu franzi o rosto, tentando lembrar.

—Aquele que você pode sentir o cheiro dez minutos antes de


ele entrar pela porta.

Eu sorri quando me lembrei da minha primeira reunião ao lado


do cara fedorento. —Certo. Ei, obrigada pelo jantar e pela sua oferta.
Foi legal.

—Sim, foi bom falar com você.

Ele me seguiu até o meu carro e dei a ele um aceno desajeitado


quando entrei. Acelerei minha fera e fui embora rapidamente,
precisando escapar da empolgação misturada ao nervosismo que não
sentia por um homem há quase um ano.

***
Ryke

Meu companheiro de equipe Luke jogou o controle do Xbox


pela sala, ele bateu na parede e deslizou para o chão.

—Merda! —Gritou, jogando-se contra as costas do meu sofá


de couro e batendo na lateral dele.

—Não jogue minhas coisas, idiota! —Gritei de volta, socando


a perna dele.

—Odeio esse jogo. Vamos jogar de novo.

—Sim, se o controle ainda funcionar.

Como eu, Luke era solteiro. Nós éramos ambos atacantes na


equipe, e muitas vezes saíamos juntos depois do trabalho.

Passávamos as noites de sexta-feira jogando videogames na


minha casa. Minha empregada, Mimi, tinha vindo de manhã e colocou
um assado com molho de legumes no fogo lento. O cheiro picante e
saboroso agora tomava todo o apartamento.

—Vamos comer. —Eu disse, jogando meu controle no sofá e


me levantando.

Eu estava inquieto. Desde terça à noite. Eu mesmo fiquei


surpreso quando ofereci a Kate um emprego como minha assistente.
Não estava realmente procurando por uma. Mas quando vi a tristeza
em seus enormes olhos castanhos, as palavras simplesmente saíram.
Eu queria fazer tudo melhorar.

E então ela me surpreendeu dizendo não. Eu imaginei que ela


iria agarrar a oportunidade, e fiquei ainda mais confuso quando a
acompanhei até a sucata sobre rodas que era seu carro. Ela precisava
do dinheiro, não conseguia encontrar um emprego, mas não queria
trabalhar para mim?

—Eu sou arrogante? —Perguntei a Luke enquanto estávamos


na minha ilha da cozinha comendo. Ele bateu no peito, parecendo
que ia engasgar por um segundo.

—Isso é uma pergunta com duplo sentido?

—Não.

—Você é um maldito modelo de cuecas, cara. Isso é suficiente


para tornar qualquer cara arrogante.

—Estou falando sério. Eu sou um idiota por achar que


qualquer mulher agarraria a oportunidade de estar perto de mim?

Luke considerou enquanto mastigava. —Sim, mais ou menos.


Nem todas as mulheres gostam de atletas. Algumas delas gostam de
caras sensíveis que escrevem poemas e essas merdas.

Balancei a cabeça e pensei no assunto enquanto comia. Vim de


uma família de classe média e me considerava sortudo por chegar
onde cheguei. Mas nunca tive que lutar pela atenção de uma mulher,
mesmo antes de ter dinheiro.

Ah, foda-se. Existem muitas outras mulheres por aí.

—Você está tendo problemas com garotas, Ryker? —Luke


perguntou com um sorriso malicioso.

—Você é a única garota me dando problemas agora. Termine


de comer para que possa te dar uma surra no jogo novamente.

—Vamos trocar de controles. —Seus olhos estavam


arregalados e sérios, e eu balancei a cabeça.

—Você acha que vou jogar com o que você jogou na parede?
—Talvez devêssemos sair.

Eu soltei um suspiro. —Eu vou ficar aqui, cara.

—Vamos lá, você é meu wingman4.

—Não estou com vontade. —Eu disse, com certo desprezo


em meu tom.

—Tudo bem, vamos ficar aqui. —Disse Luke, já de mau


humor. —Mas vamos trocar de controle.

***

Kate

Embora eu tivesse 22 anos e fosse celibatária, minha mãe tinha


um namorado que a levava para sair todos os fins de semana. Dale
era professor de inglês, e eles estavam juntos há mais de um ano.

—Qual? —Ela disse, segurando um brinco diferente em cada


uma das orelhas.

—As argolas. —Eu disse, deitando-me em sua cama. —O que


vocês farão hoje à noite?

—Jantar e um filme, eu acho. Por que você não vem conosco?

—Porque eu tenho um encontro.

Mamãe virou-se tão rápido que seu cabelo loiro chicoteou


contra suas bochechas. —O quê? Sério?

4
Wingman é um termo utilizado para o papel que uma pessoa pode ter quando um amigo precisa de
apoio para se aproximar de potenciais parceiros românticos. Um wingman é alguém que está "por dentro
da situação" e é usado para ajudar um amigo a ser bem-sucedido em conquistas amorosas.
—Com Downton Abbey5 e um pouco de sorvete. —Eu disse,
me sentindo um pouco mal quando sua expressão se entristeceu.

—Kate... —O tom de mãe era geralmente o precursor de uma


discussão para nós duas.

—Mãe, eu tenho me matado procurando emprego e estou


muito cansada de me vestir bem e sorrir. Só preciso vegetar esta noite.

Ela sentou-se no canto da cama e senti o cheiro de seu


perfume. —Eu sei, mas você não sai em um encontro há quase um
ano, Kate. Você é jovem e bonita e eu só quero ver você feliz.

—Estou bem. Realmente estou. Tenho ido ao grupo de apoio


ao luto, no hospital.

Os cantos de seus lábios se elevaram e seus olhos ficaram um


pouco nebulosos. —Bom. E eu sei o quanto você está trabalhando
para encontrar um emprego. Você receberá uma oferta em breve.

—Espero que seja uma que não envolva limpeza a seco e café.
—Eu disse, revirando os olhos e sentando-me na cama.

O rosto de mamãe franziu em confusão. —O que isso


significa?

—Apenas um cara que conheci no grupo de luto que me


ofereceu um emprego como assistente. —Acenei minha mão com
desdém.

—Você recebeu uma proposta de emprego? Quando?

—Um... terça à noite. Mas tenho quase certeza que ele só


sentiu pena de mim.

—Ele é algum tipo de executivo ou algo assim?

5
Downton Abbey é uma série de televisão britânica, do gênero drama histórico, ambientada no início do
século 20.
—Não, ele é um jogador profissional de hóquei. —Brinquei
com a franja de uma almofada. —Mas eu não seria boa em organizar
sua vida pessoal e tal. Você sabe como sou.

—Eu acho que você seria muito boa nisso. —Disse ela,
estendendo a mão para mim. —Eu não posso imaginar por que você
não disse sim. Pode não ser o emprego dos seus sonhos, mas você
pode conhecer outras pessoas e abrir novas portas que poderiam levar
a outra coisa.

Suspirei e mantive meus olhos na almofada. —Eu não sei.


Pensei nisso por um segundo, porque preciso muito do dinheiro, e
ele me ofereceu mais dinheiro do que os empregos para os quais
venho me candidatando. Eu odeio me aproveitar de você. Mas
então... eu apenas disse não, porque senti que deveria fazer isso.
Como se fosse algo que ele fez por piedade e provavelmente ficou
aliviado por eu não aceitar.

—Se ele quisesse que você dissesse não, não teria oferecido.
Talvez você o veja na próxima terça e o trabalho ainda esteja
disponível.

A campainha tocou e mamãe saltou da cama. —Deve ser o


Dale. Me ligue se quiser que traga comida para casa ou algo assim.

—Divirta-se. —O sorvete de baunilha francesa no congelador


já estava chamando meu nome, então fui até lá. Olhei para a minha
bolsa no balcão e enfiei a mão, pegando o cartão de visita branco que
havia enfiado no bolso.

Jason Ryker. As palavras pareciam me provocar, perguntando


se eu tinha coragem de ligar. Minhas contas não abertas no balcão ao
lado da minha bolsa estavam no time do “Liga para Ele”. Eu não
poderia continuar assim para sempre, cada vez mais endividada com
minha mãe.
Eu disquei os números rapidamente, antes de ter a chance de
reconsiderar.

—Ryke. —Sua voz era ríspida e eu não sabia o que dizer. Esta
foi uma má ideia.

—Hum, oi. É Kate Camden, de...

—Kate. Oi. —Sua inflexão estava mais amistosa agora, e eu


relaxei um pouco.

—Eu queria saber se... talvez pudéssemos conversar um pouco


mais sobre o que você está procurando em uma assistente.

—Sim, absolutamente. Quando é um bom momento para


você?

—Estou totalmente disponível. —Grande eufemismo. Minha


agenda estava tão vazia quanto uma parede branca recém-pintada.

—Eu não vou sair hoje à noite. Eu moro em Lake Shore. Você
pode vir aqui ou podemos nos encontrar em algum lugar.

—Eu posso ir até sua casa. Estou em Westchester, então posso


estar aí em talvez meia hora? —Meu coração martelava com a
possibilidade de ficar sozinha com um cara sexy em seu apartamento,
e era uma mistura de ansiedade e excitação.

Controle-se, Kate. Ele só quer que você pegue sua roupa na lavanderia e
faça seu café.

—Eu vou te mandar meu endereço por mensagem. Te vejo


daqui a pouco.

Desligando, olhei para o short de ginástica branco e sujo que


estava usando. Eu precisaria trocar de roupa para a reunião que era o
mais próximo que eu tinha chegado de uma entrevista de emprego.

***
Kate

Acabou se passando quase uma hora até eu estar entrando no


prédio de Ryke. Para evitar pagar uma fortuna pelo estacionamento,
tive que conseguir uma vaga em uma rua a mais de dois quarteirões
de distância.

Um porteiro acenou com a cabeça e sorriu enquanto segurava


a grande porta de vidro para mim, e o ar fresco do saguão logo tocou
minha pele suada. Eu já havia estado em prédios deslumbrantes no
centro da cidade antes, mas esta era a primeira vez que visitava alguém
que morava em um lugar como este. Mármore cinza e branco cobria
o chão, e grandes vasos de flores altas e exóticas decoravam ricas
mesas de madeira.

—Senhorita Camden? —Um homem de meia-idade em um


uniforme escuro que combinava com o do porteiro se aproximou de
mim. Balancei a cabeça e ele gesticulou para que eu o seguisse até o
elevador.

—Sr. Ryker me pediu para levá-la até o andar dele. —Ele


explicou quando inseriu uma chave e apertou um botão em um painel.
Eu forcei um sorriso e murmurei um agradecimento.

A subida foi suave e silenciosa, e eu olhei para cima enquanto


as portas se abriam. —Obrigada novamente.

—Tenha uma boa noite, senhora.

Eu nunca havia sido chamada de senhora na minha vida, e


tentei não sorrir. Eu estava em um pequeno saguão, com mais
mármore e flores perfumadas. Havia apenas uma porta e bati nela
timidamente. Foram apenas alguns segundos antes de Ryke abrir, e eu
inspirei nervosamente quando o vi.
Ele usava short preto e uma camiseta vermelha de mangas
curtas feita em tecido fino, quase inexistente, que sabia que os atletas
gostavam de usar, já que não retinham suor. Seu cabelo curto e escuro
parecia um pouco úmido.

—Oi. —Ele sorriu quando se afastou para que eu pudesse


entrar, e o cheiro caloroso e fresco de sua colônia me deixou nervosa.
—Então, esta é a minha casa.

Forcei meus olhos para longe das linhas definidas de seus


enormes bíceps para verificar o apartamento. Era incrível. Todas as
paredes que davam para fora eram de vidro do chão ao teto,
oferecendo uma vista deslumbrante para o lago. Pequenos botes
estavam sobre a água e o sol poente brilhava em laranja e rosa.

O piso de madeira escura contrastava com as paredes marfim,


que eram em sua maioria vazias. A mobília gritava itens de solteiro:
um enorme sofá de couro modulado, duas poltronas de couro, uma
televisão de tela grande e uma mesa de centro.

—Esta é a cozinha. —Disse ele, liderando o caminho embora


o espaço fosse aberto. Era algo saído direto de uma revista de cozinha
gourmet, com eletrodomésticos comerciais inoxidáveis, balcões de
mármore e armários brancos limpos.

—Uau. Isso é um pouco exagerado. —Disse. —Eu preciso


fazer café e que outros tipos de coisas?

—Você não precisa cozinhar nada. Eu não espero que você


me faça café também. —Sua voz entoava diversão, e eu me deixei
relaxar.

—OK. O que eu faria?

—Principalmente ajudaria com minha agenda. Como me


manter a par de onde estou e onde preciso estar. Você pode
coordenar com a Mimi, porque às vezes ela faz boas refeições e eu
nem estou em casa para comer.

—Ela é sua namorada?

—Não, não. —Ele sorriu e pareceu divertido com a sugestão.


—Ela é minha empregada. Tem uns 50 anos, acho. Eu deveria saber
quantos anos ela tem, porque deveria saber quando é seu aniversário,
mas sou péssimo com coisas assim. É para isso que preciso de você.

Eu olhei ao redor da cozinha cintilante. —Parece que ela faz


um bom trabalho. Este lugar é imaculado.

—Ela é ótima. Você vai gostar dela.

—Você está muito confiante de que aceitarei o trabalho. —Eu


disse, arqueando as sobrancelhas com diversão.

Ryke olhou para longe, parecendo envergonhado quando


sorriu levemente.

—Qual o horário você me quer? —Eu perguntei.

—Uh...

Havia uma sugestão de rubor em suas bochechas, e me


constrangi com minhas palavras.

—Vamos ver. —disse ele, passando a mão pelo cabelo. —Eu


estou fora de temporada, e geralmente treino das nove às três. Então,
se você pudesse, talvez, chegar às oito, e pudermos organizar tudo
antes de eu sair? E então novamente quando eu voltar?

Eu balancei a cabeça, me perguntando como iria ficar ocupada


neste trabalho.

—E às vezes vou precisar de você à noite ou nos fins de


semana. Nós podemos resolver isso à medida que for acontecendo.
—Seus grandes olhos castanhos estavam em expectativa enquanto ele
olhava para mim. —O que você acha?

—Se você tem certeza que me quer, estou pronta para isso.

—Tenho certeza. —Ele sorriu e eu admirei seus perfeitos


dentes brancos.

—Então... você quer que comece segunda-feira?

—Claro. Ou antes. Você quer começar amanhã? Mimi não


trabalha nos finais de semana, então cozinho para mim mesmo. Você
quer ir ao mercado do produtor comigo?

Eu sabia que era sem graça que eu não tivesse planos na sexta
à noite ou no sábado, mas por que esconder isso? Ele saberia que não
tinha vida social mais cedo ou mais tarde. —Claro.

—Ótimo. Eu posso te buscar se você me der seu endereço.

—Eu vou enviar uma mensagem para você. E eu acho que


você já sabe que vou precisar das noites de terça-feira de folga.

—Eu nunca iria mantê-la longe de Trace.

Eu dei risada enquanto caminhava para a porta. —Até amanhã,


Sr. Ryker.

—Ryke

—Até amanhã, Ryke.

—Estou ansioso para isso.


CAPÍTULO 04

Kate

A saudação de Kylie no outro lado do telefone era mais como


um gemido do que uma palavra real, que era o que eu merecia por
ligar para ela às 7h30 da manhã de um sábado.

—Ei. —Eu disse. —Sei que é cedo, mas preciso de alguns


conselhos de moda. Se você fosse ao mercado do produtor com um
jogador profissional de hóquei, usaria...?

—O quê? —Ela estava acordada agora.

—Eu consegui um emprego! Sou a assistente de um jogador


de hóquei. E nós vamos ao mercado do produtor. Não tenho certeza
se devo usar uma túnica sem mangas e legging ou jeans e uma
camiseta.

—Fala de novo. —Disse ela. —Você é assistente de quem?

—O nome dele é Jason Ryker.

—Puta merda, Kate! Ele é famoso. Ele faz centenas de


propagandas. Estava na lista dos solteiros mais cobiçados em Chicago
no ano passado. —Kylie era o meu oposto quando se tratava de
fofoca e cultura pop; ela se mantinha atualizada sobre tudo.

—E ele vai me pegar em 15 minutos, então... jeans ou legging?

O grito do outro lado da linha foi tão alto que tive que tirar o
telefone do ouvido. —Você vai ao mercado do produtor com Jason
Ryker? Tire fotos dele, ok? E quando você vai me apresentar?
—Kylie.

—Use a legging. E me mande uma foto!

—Tchau. —Revirei os olhos quando desliguei para vestir


minha legging preta e túnica rosa. Eu tinha secado meu cabelo na
noite anterior.

Mamãe olhou para mim por cima de seus óculos de leitura na


mesa da cozinha enquanto eu me servia um pouco de café. Ler o
jornal sempre fez parte de seu ritual matinal.

—Você está linda, querida.

—Obrigada. Decidi aceitar o trabalho, e vou começar hoje. —


Levei o café para a sala de estar, onde espiei pela cortina da frente
enquanto bebia.

—Você não vai de carro?

—Não, Ryke vem me buscar. —Olhei de um lado para o outro


da rua. Não havia nenhum carro à vista.

—O nome dele é Ryke? É diferente.

Eu não disse nada, continuei tomando meu café e observando.


Olhando para as minhas rasteirinhas, franzi meu rosto quando vi que
minhas unhas pintadas de vermelho. Eu gostaria de tê-las mudado
para rosa.

—Eu gostaria de conhecê-lo, então não saia correndo para


fora quando ele parar.

—Não é assim, mãe. Não é um encontro.

Um jipe vermelho desacelerou e virou na entrada da garagem,


e dei um adeus apressado por cima do ombro enquanto corria para
fora.
Quando vi Ryke sorrindo para mim do lado do motorista do
Jeep, desejei ter colocado uma calcinha extra na minha bolsa. Ele
usava um boné preto virado para trás, óculos escuros e uma camiseta
cinza cavada, o corte estendendo-se até a cintura para que pudesse
ver seus músculos tonificados.

Eu precisava de um banho frio e um tapa na cara. Este era meu


novo chefe.

—Ei. —Disse ele. —Eu abriria sua porta, mas... —As portas
do jipe foram retiradas, e eu pude ver que seria uma viagem
descontraída, pois a capota estava baixada também.

Ele saiu da garagem e avistei um flash de cabelo loiro na janela


da frente quando saímos. Eu renunciei à minha idade adulta quando
me mudei de volta para casa da minha mãe.

O vento que soprava dificultava a conversa. Juntei meu cabelo


comprido e o enfiei debaixo da minha túnica para evitar que batesse
no meu rosto. A cada semáforo, Ryke chamava a atenção de mulheres
em carros vizinhos e na calçada, embora ele parecesse não notar.

Ele parou em um estacionamento no centro da cidade e nós


dois saímos do jipe para caminhar.

—Você está cheirosa. —Disse ele quando nos encontramos.

—Obrigada. —Eu estava muito fora de prática em receber


elogios. Considerei dizer que ele parecia maluco, mas seria um pouco
demais.

—Então, há alguma lavanderia que você prefira? —Perguntei.

—Oh... não. Tanto faz, a que você achar melhor. Deixo todas
as decisões por sua conta.

—Todas elas? Então posso escolher com quem você sai?


Ele sorriu levemente, olhando para mim. —Eu não saio com
ninguém. É algo que preciso de você, que seja minha acompanhante
em alguns eventos que tenho que ir.

—Certamente você não tem dificuldade em arranjar


encontros. —Eu disse, desconfiada.

—Por que você diz isso?

—Porque você é... você sabe, um jogador de hóquei.

—Esse é o problema, no entanto. Não quero maria patins.

—E elas são...? —Franzi minhas sobrancelhas.

—Tietes de hóquei. Mulheres que só querem transar com os


jogadores de hóquei.

—Oh.

Nós nos aproximamos das mesas cheias de produtos, e Ryke


estudou uma cesta cheia de ameixas roxas.

—Você gosta? —Ele perguntou, segurando uma. Por que ele


se importava se eu gostava? Estávamos fazendo compras para ele.

—Sim, parecem boas. —Eu disse. —Então, você não namora


ninguém? Você é um jogador de hóquei e padre?

Diversão surgiu em seus olhos cor de caramelo quando


encontraram os meus. —Uh. Eu não namoro, mas não, não sou
celibatário.

—Certo. —Minhas bochechas aqueceram. —Então as... maria


patins devem ser boas para sexo casual.

—É só para isso que elas servem. E a maioria de nós acha que


uma noite com essas garotas dura horas demais. —Ele entregou o
dinheiro pelo saco de ameixas. —Acho que vou cozinhar hoje à noite,
alguns amigos vão à minha casa. O que devemos fazer?

Nós? Eu não estava preparada para fazer o jantar para um


bando de caras ricos que provavelmente comiam comida chiques
todos os dias e queriam exaltar suas últimas conquistas sexuais.

—Hum… talvez shish-ka-bobs6? Ajudarei você a fazer


compras e preparar, mas tenho algo esta noite.

—Sim, tudo bem.

Eu tinha que manter a conversa de forma profissional. Não só


porque a ideia de sexo me deixava suada e nervosa de uma maneira
mais doentia do que excitada, mas também porque precisava desse
emprego. Bastava de conversas sobre maria patins. Isso era problema
dele, e o meu era mantê-lo organizado.

***

Ryke

Saí do chuveiro e esfreguei uma toalha no rosto, pegando meu


relógio no balcão. 8:10, Kate tinha chegado aqui às oito ontem, então
provavelmente estava na minha cozinha agora. Enrolei a toalha
branca em volta da minha cintura e considerei entrar na cozinha para
tomar café dessa maneira.

Quando cheguei ao apartamento ontem à tarde e tirei minha


camiseta suada por cima da cabeça, ela desviou os olhos e um leve
rubor coloriu suas bochechas. Pensei sobre isso a noite toda depois

6
Shish-ka-bobs – São espetos de carne, com pimentões e cebola, grelhados.
que ela saiu. Eu queria fazê-la corar de novo, e tinha certeza de que
sair só de toalha faria isso.

Mas então me lembrei da Mimi. Isso poderia ser estranho já


que ela nunca me viu de outra maneira a não ser totalmente vestido.
Meu closet era bem ao lado do banheiro, então entrei e vesti o
primeiro short e camiseta velha que vi. E cueca, já que trabalhar de
boxer não era uma opção.

Eu ainda não tinha chegado à cozinha quando a risada de Kate


me fez sorrir. Era doce e musical, e me senti um pouco mais leve ao
ouvi-la feliz.

—Bom dia, Sr. Ryker. —Mimi disse quando entrei. Ela estava
esfregando a pia, mas meus olhos foram direto para Kate, que estava
esticada na ponta dos pés tentando alcançar algo em um dos armários
do outro lado da cozinha.

As ondas de cabelo loiro que caíam por suas costas estavam


balançando enquanto ela se esticava, esforçando-se para alcançar algo
que eu poderia dizer que ela nunca pegaria. Sua camisa subiu um
pouco, expondo um pouco da pele sedosa acima da cintura de seus
jeans.

Ergui minhas mãos com o desejo de envolvê-las em torno de


sua cintura e levantá-la; para tocar sua pele nua e sentir o quão leve
era seu corpo pequeno e firme.

—Precisa de ajuda, baixinha? —Perguntei, aproximando-me


dela. Seus olhos se estreitaram um pouco e soube que atingi um ponto
fraco. —O que você quer?

—Eu consigo. —Disse ela, sua voz tensa com o esforço de seu
alongamento. Eu esperava que ela sorrisse timidamente e deixasse o
grande e forte Ryke socorrê-la. Essa reação me encheu de diversão
e... admiração? Eu não sentia isso por uma mulher há muito tempo.
Uma lembrança de Maggie me atingiu como uma rajada de
vento no rosto.

Peguei a mão dela enquanto caminhávamos pela Michigan Avenue depois


de um dos nossos primeiros encontros. Nós tínhamos acabado de jantar em um
restaurante de petiscos, que fingi amar porque eu senti que ela queria que eu
gostasse. Mas deixei o lugar confuso e com fome. Azeitonas, queijo e legumes
grelhados foram toda a nossa refeição. Ah, e dois pedaços de bife grelhado.

Mas ela estava tão animada para mostrar seu lugar favorito para mim
que eu gostei apenas por isso. Eu poderia comer um sanduíche mais tarde. Por
enquanto, eu gostava da excitação que ela provocava em mim. Nunca tinha ficado
nervoso com uma mulher desta maneira.

Maggie viu um colar na vitrine de uma joalheria. Seus olhos azuis se


arregalaram enquanto admirava o pingente de prata cintilante.

—Ryke. —Ela disse, seus dedos se soltando dos meus para que ela
pudesse levar as duas mãos ao peito com entusiasmo. —Eu amo isso! Acho que
eu poderia ostentar.

Maggie era uma modelo que ganhava bastante dinheiro, mas nem perto
do que eu ganhava.

—Eu vou comprar para você. —Eu disse, esperando que ela se derretesse
de felicidade. Em vez disso, ela me lançou um olhar reprovador e passou por mim.

—Se eu quiser algo, eu compro. —Disse ela, indo em direção à porta da


joalheria. Sua repreensão me encheu de frustração e admiração.

Eu não gostava dos sentimentos adormecidos surgindo no


meu peito enquanto observava Kate lutar para pegar algo fora de seu
alcance sem a minha ajuda.

Mimi olhou para mim da pia. —Ela está tentando pegar o


moedor de café.
Eu estendi a mão para puxá-lo para baixo, mas Kate subiu no
balcão da cozinha de joelhos e o pegou, um sorriso vitorioso
iluminando seu rosto.

—Eu vou fazer um café para você. —Ela disse, seus olhos
castanhos brilhando quando olhou para mim. —Mimi vai me ensinar.

Minha vontade de envolver meus braços em torno daquela


pequena cintura e puxá-la contra o meu corpo era intensa. Só de
pensar em ajudá-la a descer do balcão, meu pau estava se agitando no
meu short.

—Uh... eu preciso ir, na verdade. —Disse, me afastando do


balcão.

Sua expressão caiu. —Não precisamos conversar sobre o que


você precisa que eu faça hoje?

—Basta fazer o que for preciso, tudo bem.

Eu me virei para sair. Pararia em algum lugar para tomar café.


Este apartamento era meu; eu o aluguei seis meses depois que Maggie
morreu para fugir das lembranças dela em nossa casa. Me lembrar
dela aqui fez meu peito se apertar. Eu nem sequer disse adeus a Kate
e Mimi antes de fechar a porta atrás de mim e exalar de alívio.

***

Kate

Olhei para a porta, o moedor de café ainda em minhas mãos.

—Fiz algo de errado? —Eu perguntei.


—Não. —Mimi levantou os olhos da pia e sorriu. —Ele fica
um pouco mal-humorado às vezes. Quando voltar esta tarde, ele
estará bem. O treino pesado sempre o acalma.

—Há quanto tempo você trabalha para ele?

—Eu comecei logo depois que ele se mudou, cerca de um ano


e meio atrás.

Coloquei o moedor de grãos no balcão e o liguei à tomada. —


Então você nunca conheceu...?

—A esposa dele? Não, não conheci.

Ela pegou o borrifador sob o balcão para deixar a pia de aço


inoxidável e a torneira brilhando. Mimi me lembrava minha mãe. Ela
era um pouco mais velha, talvez 50 anos, seu cabelo preto curto e
grisalho. Tinha certeza que minha mãe iria pintar o dela de loiro até o
dia de sua morte. Elas não eram parecidas, mas a receptividade era a
mesma.

Enchi o moedor com grãos da lata que Mimi havia me


mostrado no balcão. —Bem, você e eu teremos que experimentar
meu café, então.

—Ele gosta mais do tipo forte, mas também gosta de


experimentar novos sabores às vezes. —Disse ela. —Nada muito
extravagante, no entanto.

Havia algo triste em seu tom que me fez virar para ela. —Você
sabe que não estou substituindo você nem nada, certo? Eu só quero
ajudar fazendo o café dele, mas ele tem outros planos para mim, como
cuidar de sua agenda.

Ela sorriu. —Eu sei. Acabei de me acostumar a ser aquela que


cuida dele. Ele tem a mesma idade do meu filho, e gosto dele.
—Bem, não sou boa em cozinhar, limpar ou qualquer outra
coisa doméstica, então não se preocupe. Ele provavelmente vai
descobrir logo que eu sou um desastre e me demitir, de qualquer
maneira.

Mimi sorriu enquanto recolhia o material de limpeza. —Ele é


bem descontraído. Não se preocupe com isso. Vou limpar os quartos
de hóspedes.

—Eu te levo um café quando estiver pronto. —Segui as


instruções que ela tinha me fornecido, deixando minha mente vagar
enquanto esperava que ficasse pronto.

Tinha passado quase um ano desde que conheci Quinn. Quão


jovem e despreocupada eu era naquela época. Minha empolgação por
ele foi meu mundo pelo breve tempo em que estivemos juntos.

Eu estava com mais de duas semanas de atraso até que me dei


conta de que poderia estar grávida. Duas horas e três testes de
gravidez depois, eu não era mais livre de preocupações. Fechei meus
olhos contra a lembrança das minhas lágrimas na estupidez dos meus
21 anos de idade, que acreditava que ficar grávida era a pior coisa que
poderia acontecer comigo. Eu descobriria que não era. Eu deveria ter
comemorado aquele momento; chorado lágrimas de alegria pelo bebê
que estava crescendo dentro de mim. Deus, como gostaria de poder
fazer isso.

O gotejamento do café escuro na panela desfocou meu olhar


de concentração no espaço. Endireitei meus ombros, puxando duas
canecas de uma prateleira aberta. Esta cozinha e tudo o que havia nela
era mais luxuoso do que qualquer outro lugar em que já estive. Eu
teria que trazer minha caneca de Ryan Gosling lascada, porque
aquelas brancas, pesadas e com alças extravagantes me deixavam
nervosa.
Eu carreguei duas canecas cuidadosamente pelo corredor de
madeira escura, procurando por Mimi. Enfiei a cabeça pela porta de
um quarto de hóspedes todo branco em que ainda não tinha entrado.
O som da água corrente me disse que estava no lugar certo e fui para
o banheiro.

—Deus, este lugar é incrível. —Eu disse, olhando em volta


para uma banheira com pés, azulejos pretos e brancos e uma grande
bancada preta. —É como um hotel de luxo.

—Eu sei. De onde você é? —Mimi se levantou do chão e


esfregou os joelhos.

—Westchester. E você?

—Eu sou de Wisconsin, na verdade. Não me mudei para a


cidade até conhecer meu marido.

Ela levou a caneca perolada até os lábios e eu prendi a


respiração.

—Delicioso. —Ela proclamou.

Eu provei um gole e minhas sobrancelhas se ergueram de


surpresa. —Uau, isso é incrível.

—Sr. Ryker gosta de um bom café. Eu odeio voltar às minhas


coisas comuns de mercearia nos finais de semana. —Disse Mimi,
voltando para a limpeza.

—Vou olhar no armário dele e encontrar uma gravata e camisa


para um jantar ao qual ele irá neste fim de semana. Então, vou ao
escritório de relações públicas para saber o que eles têm programado
para ele.

—Eu vou sair antes do meio dia, então nos veremos pela
manhã. Vou fazer a salada de frango que ele gosta e deixar na geladeira
para o jantar mais tarde.
Segurei minha caneca quente quando saí do quarto e fui para
o quarto de Ryke. Ele apontou a porta para mim durante uma rápida
visita ontem, mas esta era a primeira vez que eu estaria lá dentro.

O quarto ocupava um canto do apartamento, e duas paredes


de vidro convergiam e iam do chão ao teto, como na sala de estar. A
cabeceira de uma cama enorme coberta por um confortável edredom
branco estava contra a mesma parede que a porta na qual eu estava, e
a outra parede tinha portas para o banheiro e closet.

Lindas ondulações azuis fluíam no lago e eu apenas olhei por


um minuto, hipnotizada. Suspirei, imaginando como seria abrir meus
olhos para essa vista todas as manhãs.

Comece a trabalhar, Kate. A porta do closet já estava meio aberta


e entrei. A luz tomou o espaço que possuía o aroma de cedro e que
mais parecia um quarto do que um closet, e eu balancei a cabeça.
Devia haver luzes de detecção de movimento.

O closet de Ryke era bem organizado, e me perguntei se isso era


obra de Mimi. Camisetas e shorts estavam dobrados e guardados em
prateleiras abertas de madeira e camisas estavam alinhadas em
cabides. Abri uma pequena porta de madeira e vi dezenas de gravatas
penduradas em um grande suporte de metal.

Eu peguei uma camisa rosa pálido, sorrindo com o


pensamento de Ryke largo e musculoso vestindo rosa. Havia várias
gravatas no suporte que combinavam e segurei cada uma delas,
olhando-as algumas vezes antes de
escolher uma e colocá-la no cabide em que estava a camisa. Com uma
calça cinza, ele ficaria incrível.

Embora soubesse que não deveria bisbilhotar, abri a gaveta de


cima de sua cômoda e inalei o cheiro fresco de cedro. Ele me disse
que nada estava fora dos limites no apartamento, que eu deveria me
sentir livre para mexer em qualquer coisa que quisesse. Mas ainda
assim... Eu senti uma arrepiante emoção quando olhei para suas
cuecas bem dobradas. Mimi conseguia dobrar isto? Mulher de sorte.

Antes que pudesse me convencer do contrário, estiquei a mão


e toquei em uma boxer azul claro. Elas estiveram em sua bunda dura
e linda, e eu estava tocando nela. Mais como acariciando, na verdade.

Você é mesmo estranha, Kate. Arranje uma vida.

Eu estava puxando a minha mão quando vi um flash de cor.


Eu olhei mais de perto e vi uma revista. Puta merda, será que tinha
acabado de descobrir o seu estoque pornô? Por que ele precisaria de
revista de mulheres nuas?

Mas quando empurrei mais as roupas íntimas para o lado, vi


que era uma revista de notícias popular. Meus olhos foram para a data:
abril de 2013. Então era de apenas alguns meses atrás. Provavelmente
tinha a foto de Ryke ou algo assim. Curiosa, folheei as páginas e lá
estava a foto dele, com certeza. Meu queixo caiu.

Era um anúncio de página inteira de Ryke usando apenas uma


cueca boxer apertada, e ela estava pendurada baixa em seus quadris,
revelando um v pélvico definido e o topo de uma tatuagem escura, de
aparência tribal em um dos lados do v, minha boca ficou seca
enquanto observava as linhas longas e suaves do músculo. Seu corpo
era definido, perfeição masculina. Mas o rosto dele... puta merda. Eu
me contorci um pouco, sentindo calor na minha calcinha enquanto
olhava sua barba rala escura e sua expressão perversa de 'venha aqui'.
Eu iria em questão de segundos se ele olhasse para mim desse jeito.
Seus cabelos negros estavam desarrumados, arrepiados em alguns
lugares, e suas mãos descansavam frouxamente nos quadris.

Eu me preocupei que Mimi me pegasse babando sobre o


anúncio, então rapidamente o guardei e arrumei as boxers como
estavam antes. Eu precisava de um pouco de ar. Quase 12 meses sem
sexo aparentemente me deixaram excitada demais.
Era hora de ir ao escritório de relações públicas e tirar esses
pensamentos proibidos sobre meu chefe da minha mente.

***

Ryke

Meus pés estavam ficando mais pesados a cada passo que dava
pela garagem subterrânea. Eu fui um idiota com Kate esta manhã. Eu
deveria dizer algo sobre isso? Pedir desculpas? Considerei enquanto
subia no elevador. Normalmente eu teria tomado banho depois de
levantar pesos a tarde toda, mas decidi voltar para casa mais cedo
hoje. Antes eu estava ansioso para ver Kate, mas agora estava com
medo disso.

Quando entrei pela porta, ela estava arrumando girassóis em


um vaso na ilha da cozinha, o que pude ver desde que o apartamento
era aberto. Engoli em seco, meus pés congelados no chão.

—Oi! —Ela chamou, me dando um sorriso brilhante. Agora


me sentia ainda mais idiota.

—Olá, como foi o seu dia?

—Bom. Cuidei de sua agenda e trouxe algumas coisas que você


precisa autografar para o escritório. Fiz o meu melhor para responder
a algumas cartas de fãs, mas deixei-as na mesa para você ler. Mimi
deixou salada de frango na geladeira para você, e enchi sua jarra de
vidro com a água e suco de limão fresco que ela disse que você gosta.
E agora, estou indo já que tenho a minha reunião hoje à noite.
Ela nem sequer fez contato visual, e eu podia dizer que ela
queria ficar longe de mim. Eu estava esperando que ela ficasse para
jantar e pudéssemos ir à reunião juntos.

—Kate. —Eu disse quando ela pegou sua bolsa e se dirigia


para a porta.

Ela se virou com um sorriso falso. —Sim?

Suspirei. —Sobre esta manhã...

Ela acenou com a mão. —Não se preocupe com isso. Eu


tenho que ir, tenho coisas para fazer.

Eu olhei para o teto enquanto a porta se fechava, sentindo uma


forte vontade de voltar para a academia e nadar até meus músculos
doerem. Mas então eu perderia a reunião. Fui para o chuveiro,
esperando que talvez Kate pudesse voltar a ser ela mesma quando a
visse em algumas horas.

Ela chegou no último minuto novamente e ficou presa ao lado


de Trace. Será que ela não tinha aprendido nada? Pressionei meus
lábios enquanto o homem grande e fedorento, de 20 e poucos anos,
olhava Kate de cima a baixo.

E para piorar a minha irritação, Tara estava de volta. Criei uma


regra assim que me tornei profissional que era a de que nunca seria
um idiota para um fã, e não a tinha quebrado ainda. Mas ela estava
me deixando no limite, tagarelando sobre seus sapatos e seu ex-
namorado ciumento e insinuando sobre gostar de coisas brutas até
que, finalmente, Kirk começou a reunião.

Kate foi a primeira a se levantar, e desejei que ela olhasse para


mim para que eu pudesse ter uma ideia de como ela estava se
sentindo.
—Oi, eu sou Kate. —Ela disse, seus olhos se erguendo de suas
mãos para os rostos no círculo de colegas de luto. —E finalmente
encontrei um emprego.

Ela sorriu para os aplausos que irromperam. Ela era muito fofa
quando sorria daquela maneira.

—Onde? —Perguntou uma senhora chamada Karen.

—Bem... eu trabalho para esse cara. —Disse Kate. Meu


coração acelerou um pouco com sua menção a mim. —Ele parece
muito bem até agora, mas pode ser um pouco mal-humorado. E
arrogante. Como hoje, quando eu estava procurando algo em seu
armário, encontrei uma foto dele seminu em uma gaveta. Quem
guarda fotos de si mesmo seminu?

Risadas soaram ao redor da sala e pressionei meus lábios para


evitar um grande sorriso. Essa garota. Antes de qualquer coisa, ela
mexeu na minha gaveta de roupas íntimas? Não que me importasse,
mas preferia que ela visse minhas roupas íntimas em mim do que
dobrada em uma gaveta. E ela encontrou a revista. Eu tinha guardado
uma cópia, sim, porque quando estivesse mais velho eu queria poder
me lembrar desses dias.

—Como ele é? —Tara perguntou. —Você trouxe a foto?

Eu me inclinei para frente na minha cadeira, ansioso para ouvir


a avaliação de Kate sobre mim. Ela sorriu e olhou para seu colo como
se estivesse pensando.

—Eu não trouxe a foto, não. Ele é bonito, se você gosta do


tipo misterioso e confiante. E quando estou com ele, me sinto... bem.

O que isso significa? Eu me inclinei mais para frente no meu


assento, desejando que ela continuasse. Fale, Kate.

—E você gosta disso? —Kirk perguntou. Eu te amo, Kirk.


Seu sorriso desapareceu e eu coloquei minhas palmas das mãos
em meus joelhos. —Eu não sei. Às vezes me sinto bem, como se
pudesse deixar de lado a tristeza. Mas depois me sinto culpada por
isso, como se eu devesse manter a tristeza comigo o tempo todo, por
que... é tudo o que tenho do meu bebê.

—Você fez um aborto? —Tara deixou escapar. Vários rostos


se voltaram para ela, todos atordoados.

—Cale a boca. —Eu disse, minha voz cheia de raiva. —Aqui


não se pergunta merdas assim.

—Ryke. —Disse Kirk, levantando a mão para mediar. —


Deixe-me... hum, Tara, ele está certo. Nós nunca julgamos ou
questionamos. E nada nunca sai da sala, incluindo quem está aqui.

—Desculpe. —Tara murmurou.

Minha irritação diminuiu um pouco enquanto os outros


falavam, e senti Kate me observar. Quando eu fazia contato visual,
ela desviava o olhar conscientemente. Não pude prestar atenção a
ninguém na sala além dela.

Rose estava ao meu lado, e parecia mais reservada do que o


habitual quando Kirk a chamou.

—Roy e eu comemoraríamos nosso 40º aniversário de


casamento amanhã. —Ela disse, sorrindo tristemente. —Ninguém
além de mim ainda se lembra. Meus filhos já se esqueceram.

Kirk se inclinou para frente, os cotovelos nos joelhos. —Você


quer compartilhar como isso faz você se sentir, Rose?

—Solitária. E triste. Eu não acho que me faria sentir melhor se


as crianças se lembrassem. Eu só quero passar o dia sozinha, olhando
para o nosso álbum de casamento e cozinhando.

—E você vai? —Kirk perguntou.


—Sim, acho que sim. —Disse ela, virando-se para mim. Sua
expressão de expectativa me disse que era a minha vez de
compartilhar.

Soltei um suspiro. Eu não falava no grupo há muito tempo, e


com certeza não queria compartilhar nada pessoal com Tara na sala.
—Uh. Oi, sou Ryke. —Eu disse, acenando. —Eu fui uma espécie de
idiota com alguém hoje de manhã e agora me sinto um babaca.

—Você se desculpou? —Kirk perguntou.

—Eu queria, mas eu não sou muito bom nisso. —Eu disse,
envolvendo meus dedos na minha nuca. Não conseguia olhar para
Kate.

—Você foi... um idiota para uma mulher? —Kirk cutucou. —


Tem alguma coisa a ver com a sua falecida esposa?

Eu olhei para ele, desejando que não pudesse ver através de


mim tão facilmente.

—Eu não sei. —Eu murmurei. —Isso me fez pensar muito


sobre as coisas hoje. Eu acho que a coisa sobre Maggie é que todo
mundo acha que ela era o amor da minha vida, e que eu devo estar
perdido sem ela.

Kirk não parecia chocado, embora eu tivesse acabado de dizer


algo que deixava claro que eu era um babaca. —E você sente que tem
que alimentar essa percepção?

Pensei sobre isso. —Eu não alimento isso, mas não sou
honesto com ninguém, também. Eu não gostaria de dizer nada
negativo sobre ela, sabe? A verdade, eu acho, é que houve bons
momentos, e ser lembrado disso... não acontece muito, mas quando
acontece, é... surpreendente. Você pensaria que apenas as boas
lembranças seriam difíceis, mas as que não são tão boas... —Eu me
obriguei a parar. Eu estava fora do curso aqui, e nem sabia o porquê.
Dizer a merda que precisava dizer para Kate entender por que eu
estava chateado já era difícil o suficiente. Por que eu ainda estava
adicionando tudo isso?

Passei minhas mãos pelas minhas coxas para enxugar o suor


delas. —Esta manhã eu estava apenas sendo um idiota. Culpar a
memória da minha falecida esposa é uma jogada idiota.

Kirk deve ter sabido pelo meu tom que eu tinha acabado,
porque passou para Tara. Eu ignorei a voz dela, olhando para os pés
de Kate sob a aba do meu boné. Ela usava pequenos sapatos pretos
que pareciam sapatilhas de balé, e vi uma pontinha de seu dedo do pé
através de um buraco em um deles.

Eu queria levá-la para jantar novamente após a reunião, para


ter algum tempo a sós com ela. Talvez então pudesse me desculpar
do jeito certo. Mas assim que Kirk dispensou a reunião, ela fugiu. Eu
tentei segui-la, mas Tara bloqueou meu caminho, perguntando se eu
queria tomar uma bebida. Eu a afastei e tentei alcançar Kate, mas ela
já tinha ido embora.
CAPÍTULO 05

Kate

Não estar sem dinheiro era uma sensação estranha. Ryke tinha
dado ao seu contador o número da minha conta corrente e eu já havia
recebido o pagamento pela primeira semana de trabalho. Isso
significava que eu poderia encher o tanque do meu carro, o que não
acontecia há muito tempo. Também consegui devolver à minha mãe,
os 470 dólares que lhe devia.

E eu parei em uma padaria a caminho da casa de Ryke e


comprei alguns muffins de amora. Estava planejando aquecê-los
enquanto o café estava sendo preparado. Esperançosamente ele ainda
estaria no banho quando eu entrasse e eu poderia conversar com
Mimi para evitar constrangimentos com ele.

Mas não tive essa sorte. Quando entrei, ele estava sentado à
mesa de madeira escura da cozinha, olhando para a tela de um laptop.
Havia uma xícara de café ao lado de seu computador e outra do outro
lado da mesa. Uma mulher anunciando as notícias da manhã na TV
de tela plana na sala de estar era o único som no apartamento.

—Onde está Mimi? —Perguntei, franzindo as sobrancelhas e


examinando o grande apartamento aberto.

—Ela foi buscar mantimentos. Fiz café para nós. —Ele


acenou para o assento com a outra caneca na frente e eu caminhei
hesitantemente.

—Obrigada. Trouxe alguns muffins. Eu poderia fazer alguns


ovos, sei que é o que costuma comer...
—Um muffin seria ótimo. Obrigado.

Quando me aproximei da mesa para me sentar à sua frente, ele


pegou sua carteira e me entregou um cartão de crédito dourado.

—Você está na minha conta agora. Não gaste seu próprio


dinheiro em coisas assim, ok?

—O quê, os muffins? Ryke...

—Basta levar o cartão e usá-lo, Kate.

—Eu não vou levar o seu cartão de crédito! —Eu o deslizei de


volta para ele.

—Você vai precisar, se você estiver cuidando das coisas para


mim. —Ele empurrou de volta para mim.

—Eu posso pegar recibos e você pode me reembolsar. Você


não pode simplesmente me dar seu cartão de crédito. Eu poderia
comprar todos os tipos de coisas aqui e você nem saberia.

—Eu não estou preocupado com isso. Há um limite de US $


50.000, então você não pode comprar uma casa com ele ou qualquer
coisa assim.

Oh, certo. Uns trocados. Eu balancei a cabeça.

—Tudo bem. —Disse, fazendo um beicinho quando peguei o


cartão. —Mas ainda vou guardar todos os recibos.

—Você vai precisar dele hoje. —Disse ele, tomando um gole


de café. —O jantar que tenho na sexta à noite é apenas para o dono
da equipe e alguns dos jogadores, mas depois nós temos um evento
de caridade na noite de sábado para o qual vou precisar de você.

Eu sabia que estava olhando boquiaberta para ele, mas ele me


pegou de surpresa. —Este sábado? E se eu já tiver planos?
—Você tem?

Eu era uma péssima mentirosa e me sentia culpada por fabricar


planos para evitá-lo na noite do último sábado. —Não.

—Ótimo. Compre alguns vestidos e sapatos bonitos e tudo o


mais. Nós vamos ter essas coisas com frequência, então compre o
quanto você quiser.

Eu ainda estava boquiaberta. —Então eu sou Uma linda


mulher? —Resmunguei.

—Você é muito bonita, sim. —Ele piscou e sorriu.

—Você sabe o que quero dizer, Ryke. Eu me sinto como uma


prostituta agora.

Ele colocou sua caneca na mesa com tanta força que um pouco
de café espirrou na superfície da madeira. —Como eu fiz você se
sentir uma prostituta? Eu nem toquei em você.

—Apenas... com meu cartão de crédito, vá comprar algo bonito para


essa coisa.

Seu sorriso de diversão só me deixou mais nervosa. —O que


você prefere, Kate?

—Honestamente, preferiria passar a noite de sábado comendo


comida chinesa no meu suéter e assistindo Real Housewives7.

—É um evento muito chique. —Seu tom estava cheio de


descrença. —Haverá comida incrível e pessoas famosas. Que garota
não gostaria de se arrumar toda para algo assim?

7
Reality show americano.
—Eu não sou como outras mulheres. Não fico com os olhos
brilhando por coisas assim. E com certeza não gosto que me digam o
que fazer. Por que você não vai às compras e escolhe o vestido?

De onde isso veio? Até eu me surpreendi com a minha


explosão. Ryke recostou-se em sua cadeira, parecendo repreendido.
Eu ia ser demitida. Teria que devolver parte do dinheiro, já que eu
não tinha trabalhado nem uma semana. Grande problema, já que usei
quase metade para pagar a mamãe.

—Você está certa, Kate. —Sua voz era baixa enquanto ele
acariciava o pelo em seu rosto que estava se tornando uma barba. —
Você será minha acompanhante para um evento de caridade na noite
de sábado?

Eu apenas olhei para ele por um segundo. —Hum... claro. Mas


vou vestir algo que já tenho. Não quero que você compre roupas para
mim.

Ele assentiu, com um pequeno sorriso nos lábios. —Tudo


bem.

Eu disse a mim mesma que sentiria falta de Real Housewives, mas


meu coração estava acelerado com a ideia de sair à noite com Ryke, e
não achei que fosse só porque estava nervosa.

***
Kate

Olhei para as peças alinhadas no tabuleiro de Scrabble8,


considerando minhas opções enquanto enfiava minha mão na tigela
de People puppy chow9repetidas vezes. Eu estava passando a noite de
sexta-feira com mamãe, Dale e meu lanche favorito, que ainda estava
um pouco quente desde que tinha acabado de fazer.

—Espere um minuto! —Eu olhei através da mesa da cozinha


para Dale, franzindo minhas sobrancelhas. —Você acabou de formar
'Q-I'? Isso não é uma palavra.

—É, na verdade. —Seu rosto estava inexpressivo, mas vi


presunção em seus olhos.

Inclinei minha cabeça para ele. —O que isso significa?

—É força vital chinesa.

—Pensei que palavras estrangeiras não eram permitidas. —


Arqueei minhas sobrancelhas para ele.

—Está no dicionário.

Eu mordi um pedaço extra de cereal achocolatado e saboreei


antes de falar de novo. —Isso é besteira. É impossível vencer um
professor de inglês no Scrabble. Vamos jogar Monopoly10 na próxima
sexta-feira à noite.

—Kate. —Mamãe revirou os olhos para mim. —Não seja uma


má perdedora.

8
Jogo de tabuleiro mais conhecido no Brasil com o nome de Palavras cruzadas.
9
Petisco doce americano, e que faz um trocadilho com a ração de cachorro Puppy dog chow.
10
Banco Imobiliário.
Eu estava em terceiro lugar e odiava perder. Meu celular tocou
dentro do meu bolso enquanto eu formava 'plano' por uns meros 12
pontos.

—Você quer um refrigerante, Kate? —Dale perguntou


enquanto caminhava até a geladeira. —Lynn?

—Vou querer um Sprite. —Eu disse, não reconhecendo o


número na tela do meu telefone.

—Olá?

—Kate. Oi. É Quinn.

Minha mão congelou com um pedaço de cereal revestido de


açúcar em pó até a metade da minha boca. Que diabos? Meu
estômago revirou quando me lembrei da última vez que nos falamos.

—Quinn, é a Kate. —Eu estava soluçando antes mesmo de ele atender


minha ligação.

—E aí, como vai?

—Eu só... —Fechei meus olhos, desesperada para não dizer as palavras.
Para não estar vivendo esse pesadelo. —Achei que deveria ligar e dizer que perdi
o bebê.

Alguns segundos de silêncio se passaram. —Então, você não está mais


grávida?

—Eu acho que não. Tenho que ir ao hospital hoje à noite para... tirá-lo.
—Eu estava chorando muito agora, passando a mão no meu nariz e me
perguntando por que Quinn parecia tão frio sobre isso. Ele não queria o bebê, e
não conversávamos há mais de dois meses, mas ainda assim. Certamente a morte
do nosso bebê o faria sentir alguma coisa.

—Tudo bem. —Disse ele, soltando uma respiração que soou


perigosamente como um suspiro de alívio. —Ei, obrigado por me dizer.
Nós nos despedimos e eu olhei para o telefone na minha mão, entorpecida.
Ele tinha que ser o bastardo mais duro e insensível que eu já tinha conhecido. Já
vai tarde.

—Quinn? O que você quer?

Os olhos da minha mãe dispararam para os meus do outro lado


da mesa quando me ouviu dizer o nome dele.

Ele suspirou. —Só queria saber se poderíamos nos encontrar


e conversar um dia desses. Eu me sinto mal com as coisas, Kate.
Pensei que com o tempo eu simplesmente esqueceria, mas não
consigo.

—Que coisas? —Uma sensação doentia tomou conta de mim


apenas por saber que ele estava do outro lado do telefone. Toda a
raiva e mágoa voltaram rapidamente.

—Você sabe, só… tudo. A maneira como eu te tratei. Eu surtei


e dei o fora e então fui um idiota quando você ligou para me dizer
que perdeu o bebê.

—Você acha que pode me ligar e pedir desculpas e tudo ficará


bem? —Minha voz subiu com emoção e eu segurei a beirada da mesa.

—Não. Eu só queria falar com você. Podemos fazer isso?

Eu balancei a cabeça, embora ele não pudesse me ver. —Não.


Eu mesma estou por fio alguns dias, Quinn, e não poderia me
importar menos em fazer você se sentir melhor. Eu tenho que ir.

—Desligue o telefone. —Mamãe sussurrou do outro lado da


mesa. Dale acenava vigorosamente ao lado dela.

—Onde você está morando? —Quinn perguntou.

—Não é da sua conta.

Ele suspirou novamente. —Kate...


—Ele tem muita cara de pau para ligar para você. —Disse
Dale, suas bochechas coradas. Era a primeira vez que via o gentil
namorado da minha mãe chateado.

—Isso mesmo. —Disse minha mãe, franzindo os lábios. —


Diga que eu gostaria de falar com ele.

—Quem está aí? —Quinn perguntou.

—Esta é minha família. Você não é muito popular em nossa


casa. Não consigo imaginar o porquê.

—Você está de volta em casa?

—Quinn, sério. Vá para o inferno. E nunca mais me ligue de


novo.

Apertei o botão para terminar a ligação e esfreguei a têmpora.


Mamãe e Dale apenas olharam para mim, rugas de preocupação
aparecendo em ambos os rostos.

—Eu preciso ficar sozinha. —Eu disse, empurrando minha


cadeira para trás da mesa. Eu amava que ambos me conheciam bem
o suficiente para me deixar ir sem discutir.

***

Ryke

Dei uma última olhada no espelho, tão nervoso quanto um


garoto do ensino médio na noite do baile. Meu smoking tinha sido
ajustado para caber em meus ombros, que tinha ficado mais largo com
minha rotina de exercícios de verão. Eu fiz a barba e parei meu cabelo.
Estava tão bom quanto podia ficar. Mas ainda assim queria ter certeza
de que estava bem.

Kate não era como as mulheres que eu levava para o meu


quarto de hotel depois dos jogos. Mesmo que ela fosse minha
assistente e eu não quisesse entrar em um relacionamento, eu queria
passar momentos agradáveis hoje à noite com ela. Ela era como eu:
muito ferida para ser mais otimista. Mas eu tinha visto uma faísca nela
algumas vezes e queria vê-la novamente.

O elevador me levou até a garagem e joguei meu paletó no


banco do passageiro do meu Mustang. Meu rádio via satélite já estava
na estação de esportes, e eu ouvia um programa sobre a próxima
temporada de hóquei enquanto dirigia.

O bairro em que Kate morava me lembrava aquele no qual


cresci. Muitas casas térreas e de dois andares, e as crianças andando
de bicicleta ou brincando de pega-pega nos quintais. Depois que
entrei na garagem, estacionei e caminhei até o degrau da frente, onde
pude vê-la através da porta de tela. Ela estava tentando enfiar algo em
uma pequena bolsa.

Ela olhou para cima, me viu e se aproximou da porta. Eu


realmente era como um garoto do ensino médio na noite do baile; as
palmas das minhas mãos começaram a suar ao vê-la. Ela usava um
vestido vinho escuro simples, sem mangas, longo e que a cobria até
os ombros. Mesmo que eu não conseguisse ver muita pele, a maneira
como o vestido se moldava às suas curvas suaves fez meu sangue fluir.

—Oi. —Ela disse.

—Oi. Você está ótima.

Ela me deu um sorriso caloroso que fez minhas palmas ficarem


ainda mais suadas. —Obrigada. Estou tentando encaixar tudo nessa
bolsa minúscula e não está funcionando.
—Eu posso levar algo para você.

Ela levantou as sobrancelhas com diversão. —Você quer


carregar absorventes e batons?

—Uh... se você precisar, claro.

—Ryke! —Outra voz me fez olhar para uma porta, onde uma
mulher um pouco mais alta que Kate com o cabelo loiro comprido
estava sorrindo. —Eu sou a mãe da Kate, Lynn.

—Prazer em conhecê-la. —Eu disse, estendendo a mão para


apertar a dela.

—Se você levar minha carteira, posso levar todo o resto. —


Disse Kate, voltando-se para a cadeira onde havia deixado a bolsa.

—Oooh. —O som gutural de apreciação escapou dos meus


lábios antes que eu tivesse tempo para pensar sobre isso. As costas
abertas do vestido de Kate me surpreenderam. A pele sedosa de suas
costas delicadas e bonitas estava nua quase até o cóccix. Ela se virou
e senti minhas bochechas esquentando.

—Desculpe. —Murmurei, esfregando a mão no meu rosto. —


Esse vestido...

—Está tudo bem? —Ela franziu as sobrancelhas em


preocupação e parou de andar.

—É perfeito. —Eu disse. —Você está perfeita.

Seus ombros caíram de alívio quando pegou sua bolsa.


Quando ela me encontrou na porta, me entregou uma carteira
turquesa brilhante que estava gasta em alguns pontos e pendurada
aberta porque a alça estava solta.

—Você pode carregar isso?


—Claro. —Coloquei-a no meu bolso e ela se dirigiu para a
porta.

—Divirta-se. —Sua mãe disse, uma expressão melancólica no


rosto.

—Vou cuidar bem dela. —Eu disse, me repreendendo assim


que as palavras saíram. Ela era uma mulher de 22 anos, não uma
criança.

—Uau, belo carro. —Kate disse, admirando meu Mustang


preto.

—Obrigado.

—Eu achei que você teria um Jaguar bem caro ou algo assim.

Eu balancei a cabeça e ri quando cheguei até a porta do lado


do passageiro. —Bem, eu não tenho vagina, então não. E meu pai é
mecânico, então cresci admirando carros potentes.

—Seu pai é mecânico? Onde?

—Humboldt, Iowa. Ele é dono da garagem do Jim.

Kate encontrou meus olhos quando entrou no carro e uma


carga de excitação me percorreu. Ela era realmente linda. Em vez das
mulheres opressivas, exageradas e óbvias que geralmente se atiravam
em mim, ela era inocente e esperançosa. Aqueles enormes e calorosos
olhos castanhos pareciam estar me convidando para lembrá-la de que
ela também era sexy.

Eu empurrei a imagem mental de suas costas impecáveis da


minha mente enquanto pegava a maçaneta da minha porta. Nós
estávamos indo a uma angariação de fundos para uma fundação de
diabetes, e não podia andar duro.
—Seu carro cheira tão bem. —Disse Kate enquanto eu dirigia
um pouco mais rápido do que deveria. Eu estava subconscientemente
me exibindo?

—Sim?

—Sim. Tem cheiro de couro e...de você.

—E isso é bom?

—Sim. Então, quando eu conhecer as pessoas, devo me


apresentar como sua secretária? Ou sua assistente pessoal? Como
devo me apresentar?

—Não se preocupe com isso. Basta tomar uma taça de


champanhe quando chegarmos, para que você possa relaxar e se
divertir.

—Eu pareço nervosa?

—Não. —No mínimo, eu que estava nervoso. O cabelo de


Kate estava puxado para trás em um coque solto e encaracolado na
nuca, e os lábios dela estavam em um tom forte e brilhante. Seu lado
glamoroso era incrivelmente sexy. Eu queria deslizar minha mão em
seu colo, entre suas coxas, e dizer-lhe todos os pensamentos
indecentes que corriam pela minha mente a respeito dela.

Mas a noite era uma criança. Agora eu precisava ter uma


conversa educada, e não conseguia pensar em uma única coisa
decente para dizer. A única coisa em que conseguia pensar era o
quanto eu queria excitá-la. Eu tinha certeza que ela não tinha um
namorado, mas e se ela tivesse um amigo com benefícios? Eu podia
sentir minha pressão sanguínea subindo com o pensamento de algum
outro cara fazendo-a gemer.

—Então, o que você fez hoje? —Eu bati meu dedo contra o
volante e mantive meus olhos na estrada.
—Não muito. Lavanderia, ioga e almoço com minha amiga
Kylie.

—Você tem namorado? —Eu tinha que ter certeza.

—Não. Se tivesse, ele provavelmente não gostaria disso. —Ela


disse, sorrindo quando a olhei de relance.

—Quando foi a última vez que você teve um? Se você quiser
dizer.

Ela respirou fundo e pareceu uma eternidade até que


respondeu. —Eu não tenho namorado desde agosto, quando
engravidei.

Isso significava que ela não tinha dormido com ninguém desde
então? Eu não podia perguntar, mas realmente queria saber.

—Aquele idiota que você mencionou no grupo que a


abandonou?

—Sim. Quinn. Ele me ligou aleatoriamente ontem à noite,


apesar de não nos falarmos desde dezembro.

—O que ele queria?

—Ele perguntou se podíamos nos encontrar.

—Você disse que não, certo? —Quando olhei para ela, ela
estava olhando para as mãos no colo.

—Sim. —Seu tom vazio me atingiu como um soco. Eu queria


dirigir o carro para o hotel mais próximo, levá-la para a cama e correr
minha boca sobre cada centímetro dela. Tirar suas roupas lentamente
e deixar sua expectativa aumentar, levando-a ao limite do prazer uma
e outra vez.

Ela olhou pela janela e eu a deixei sozinha com seus


pensamentos. Por que eu trouxe essa merda à tona?
O hotel do centro da cidade, onde seria realizado o evento,
tinha uma fileira de carros aguardando os manobristas, e suspirei
enquanto esperávamos em silêncio.

—Eu disse alguma coisa que te chateou? —Olhei para o lado


e os olhos de Kate se aqueceram quando sua boca se curvou em um
sorriso.

—Não. Não é você. Eu não esperava falar com Quinn nunca


mais, e estou chateada com isso.

Apertei minhas mãos ao redor do volante enquanto ela falava.


—Por quê? Não deixe aquele idiota atingir você. Ele é um merda sem
valor e você é uma ótima pessoa. Ele não merece uma hora do seu
dia.

—Eu sei que não deveria deixá-lo me atingir, mas ele


conseguiu. —Disse ela, olhando para as mãos. O barulho de uma
buzina atrás de nós me fez olhar pelo para-brisa e ver que eu precisava
seguir em frente.

—Por quê?

Ela balançou a cabeça, as sobrancelhas franzidas em


frustração. —Eu não sei. Eu acho que... ainda estou magoada por ele
me deixar como ele fez. Não é como se eu quisesse me casar ou algo
assim, mas ele ainda poderia fazer parte das coisas. Parte de mim o
odeia por causa disso, e parte de mim me pergunta o que há sobre
mim que o fez fugir.

Senti minhas narinas se dilatando da forma como só


costumava acontecer durante os jogos, quando alguém realmente me
irritava. —Não é sobre você, Kate. Você não pode pensar isso.
Alguns caras são apenas idiotas e sem caráter. Ele desistiu porque não
queria ser homem, não por sua causa.
—Você nem mesmo o conhece, como você pode saber por
que ele foi embora?

—Confie em mim, eu sei. E você... quer voltar com ele ou algo


assim?

—Não! Deus, não. Ele quer me encontrar porque quer o meu


perdão.

Eu balancei a cabeça com descrença. —Inacreditável. Ele teve


a coragem de ligar e pedir para perdoá-lo? Eu quero o endereço dele.
Ele precisa de uma surra.

A risada leve de Kate infiltrou na minha raiva. —Você não


precisa fazer isso. Eu ficarei bem.

Estávamos quase na frente da fila e ela olhou para a entrada da


frente do luxuoso hotel, sorrindo.

—Obrigada por me convidar esta noite. —Disse ela, virando-


se para mim. —É bom estar arrumada e tudo. Você estava certo sobre
isso.

Eu queria responder, mas o manobrista estava olhando para


mim pela janela, e precisávamos sair do carro. Encontrei Kate do lado
dela da porta e envolvi meu braço em sua cintura. Essa garota trouxe
algo novo em mim. Meu desejo feroz de acalmá-la, protegê-la e
seduzi-la ao mesmo tempo era quase irresistível.

—Estou nervosa. —Ela murmurou enquanto entrávamos no


saguão de mármore elegante.

—Não fique. Você está incrível. —Eu disse, esfregando a


palma da mão contra o quadril dela para tranquilizá-la.

—Mas eu não sei...


Um homem de cabelos grisalhos e barba curta a interrompeu,
pisando na nossa frente.

—Sr. Ryker, posso tirar uma foto? —Ele perguntou.

—Claro. —Eu puxei Kate contra mim e sorri quando a câmera


dele piscou algumas vezes.

—Eu vou estar bem aqui. —Eu disse em seu ouvido quando
o fotógrafo acenou com a cabeça e partiu. —Não vou sair do seu
lado.

Seu rosto relaxou em um sorriso largo quando olhou para


mim. —OK.

—Ryke!

Olhei de relance e vi Jan, a morena magra que fazia relações


públicas para a equipe, vindo em minha direção.

—Ei, Jan. —Eu disse. Seus olhos se arregalaram para o olhar


frenético ao qual eu já estava acostumado. Jan queria que todos
pensassem que sua carga de trabalho era esmagadora o tempo todo.
Segurança no emprego, eu supunha. Isso me dava nos nervos.

—Precisamos tirar as fotos que leiloamos! —Ela disse,


acenando com as mãos freneticamente.

—Agora? Eu acabei de entrar.

—Sim! Quero fazer isso enquanto tenho todos dos quais


preciso.

Ela pegou minha mão e me puxou. —Ei. Estou indo. —Eu


disse, um tom áspero na minha voz. Eu estendi minha mão para Kate.

—Ele já estará de volta. —Disse Jan a ela.

—Não, ela vem comigo.


—Estou bem. Tudo bem, Ryke. —Disse Kate. —Apenas me
encontre quando terminar.

Eu fiz uma careta para Jan. —É melhor isso levar cinco


minutos ou menos.

Ela disse alguma coisa, mas eu não estava ouvindo. Eu estava


olhando por cima do meu ombro para Kate, que estava olhando ao
redor do salão. Esperava que ela não se sentisse sozinha enquanto eu
estivesse fora.

***

Kate

O homem de negócios alto e esguio com cachos cor de cobre


curtos tinha um fogo em seus olhos estreitos que me fez sentir como
se ele literalmente quisesse me comer. Ele estava me assustando.

—Vamos pegar uma bebida fresca, Kate. —Disse em um


sotaque carregado. Chad havia começado uma conversa dizendo que
eu o lembrava de alguém que ele conhecia em seu país natal,
Zimbábue. Agora ele morava em New York, onde seu negócio estava
sediado.

—Eu estou bem com esta. —Eu disse, inclinando a taça de


champanhe até os meus lábios. Onde diabos estava Ryke? Eu estava
feliz por não estar mais sozinha, mas Chad estava apenas procurando
por uma coisa, e ele não conseguiria comigo.

—Está com fome? Poderíamos pedir o serviço de hotel no


meu quarto. —Ele ofereceu, sorrindo e levantando as sobrancelhas.
—Estou acompanhada. —Eu disse. Pela terceira vez. Ele abriu
a boca para responder, mas parou quando um homem alto e loiro
com olhos azuis claros se aproximou, estendendo a mão para mim.

—Kate? —Ele disse, sorrindo. —Eu sou Luke Warner. Vi


você entrar com Ryke. Somos companheiros de equipe.

—Luke? —Eu disse, dando-lhe um grande sorriso. —Ele fala


sobre você o tempo todo! Prazer em conhecê-lo.

—Ei, venha se juntar a nós no bar. Ele estará aqui qualquer


momento. —Luke ofereceu um braço para mim e suspirei de gratidão
e peguei. Eu me virei para dizer a Chad que foi um prazer conhecê-
lo, mas ele já estava andando em outra direção.

—Obrigada. —Murmurei para Luke.

—Apenas fique feliz por ter sido eu e não Ryke. Ele teria
derrubado aquele cara no chão se tivesse visto isso.

Eu balancei a cabeça e sorri. —Uh, duvido que ele seja


possessivo com sua assistente. Ou ele apenas é um esquentadinho?

Luke franziu os lábios, considerando. —Ele pode ser. Percebi


que sua agressividade piorou muito quando... hum... —Ele parecia
desejar ter ficado quieto.

—Quando Maggie morreu? —Perguntei. —Nunca diria a ele


que você disse isso.

—Não. —Ele disse, suas sobrancelhas franzindo enquanto ele


parecia quase confuso. —Eu ia dizer quando ele se casou com ela.

Eu olhei para ele, surpresa por suas palavras.

—Ryke é como um irmão para mim. —Disse Luke, piscando.


—Caso contrário, provavelmente eu estaria dando em cima de você
agora também.
Eu revirei meus olhos e dei risada. —Boa sorte. Estou
indisponível.

—Você tem namorado? —As sobrancelhas de Luke se


ergueram de surpresa.

—Não. Eu tenho... bagagem.

—Ex-marido?

—Deus, não. Eu tenho 22 anos. Ryke não contou onde nos


conhecemos?

Luke sacudiu a cabeça. —É assim que sei que ele gosta de você.
Ele não vai me dizer nada sobre você. Disse que contratou uma
assistente chamada Kate e você viria com ele esta noite. É isso.

Suas palavras fizeram meu estômago apertar nervosamente.


Certamente Ryke não tinha me mencionado porque achava que seus
colegas de equipe não queriam ouvir sobre a mulher que pegou sua
roupa na lavanderia.

—Pessoal, esta é a Kate. Ela veio com Ryke. —Disse Luke


quando chegamos a uma grande mesa redonda no bar. Estava repleta
de vários homens de smoking e duas mulheres.

Eu olhei para o vestido escuro de lantejoulas de uma das


mulheres e o rosa brilhante que a outra usava. Essas mulheres
escorriam dinheiro, seus cabelos e maquiagem perfeitamente
arrumados. Eu me senti como uma imitação barata. Com certeza,
parecia que eu havia consultado uma revista que ensinava como se
vestir com uns trocados, e isso se mostrava.

—Prazer em conhecê-la, Kate. —Disse a mulher de roupa


escura, puxando uma cadeira ao seu lado. —Eu sou Dawn, a esposa
de Victor.
Não havia nada malicioso ou crítico na maneira que ela olhava
para mim, e exalei com alívio.

—Obrigada. —Eu disse, me movendo para sentar. —Prazer


em conhecê-la.

—Onde diabos está Ryker? —Um dos homens perguntou,


olhando ao redor do bar. —Ele ficou preso em algum rabo de saia no
caminho de volta?

Eu corei quando várias pessoas olharam para mim.

—Ele é um idiota, não ligue para ele. —Disse Dawn. —Ele


está com inveja de que mais pessoas queriam fotos com Ryke do que
com sua bunda feia.

Um dos homens sorriu e deu um tapa na mesa. —É a


temporada de férias, pessoal! Vamos beber!

Um homem corpulento com cachos ruivos desgrenhados


gesticulou para um garçom e a mesa logo ficou cheia de copos. Eu fui
junto, virando a bebida que foi colocada na minha frente. Queimou,
e Luke sorriu quando me viu tossindo quando coloquei o copo de
volta na mesa. Eu não bebia muito.

Dawn e a outra mulher, Amy, conversavam comigo enquanto


os homens falavam sobre hóquei e bebiam mais. Fiquei aliviada ao
ver Ryke caminhando pela sala em nossa direção. As cabeças das
pessoas no bar se viraram para ele. Como ele chamava tanta atenção?
Eram seus ombros largos? O sorriso branco perfeito? Aquele corpo?

Era o pacote completo, decidi quando ele sorriu para mim e


meu coração acelerou. Ele deu a volta ao redor da mesa e sentou-se
ao meu lado.

—Desculpe por isso. —Ele disse em um tom baixo. —Vejo


que você conheceu os caras.
Esta era a parte em que deveria dizer alguma coisa, mas não
conseguia pensar em nada a não ser o calor que irradiava do corpo de
Ryke e o leve cheiro de sua colônia. Que colônia era essa? Qualquer
que fosse, precisava ser renomeada: Sexy. Isso era tudo que eu
conseguia pensar enquanto respirava.

Fechei os olhos e respirei para me equilibrar. Sem sexo. Nunca


mais. Eu sabia que parecia loucura, mas não conseguia. Apenas não
podia. A agonia que sentiria depois, imaginando se estava grávida, não
valeria a pena. Eu não poderia passar por isso novamente. O terror
de esperar que algo desse errado seria demais.

Minha mente foi repentinamente inundada por uma imagem


do quarto onde eu havia dado à luz meu bebê natimorto: uma pintura
em aquarela de um pôr-do-sol em uma parede branca simples, uma
janela com as persianas marinho verticais e placas retangulares que eu
contei metodicamente enquanto olhava para elas.

—Kate? —Ryke ainda estava olhando para mim, mas suas


sobrancelhas estavam franzidas agora. —Você está bem?

—Uh... —Eu olhei ao redor, desesperada para escapar. Por


que pensei que poderia fazer isso? Eu não estava pronta para um
ambiente social normal, e não pude deixar de me perguntar se algum
dia eu voltaria a estar.

—Vamos lá para fora. —Ryke alcançou meu braço quando me


levantei e pressionou a palma de sua mão nas minhas costas para me
afastar da mesa. Eu me encolhi com a sensação da mão dele na minha
pele nua e ele retirou-a imediatamente. Meus olhos se encheram de
lágrimas quando passamos pela porta do bar. Fazia tanto tempo desde
que um homem não me tocava que agora estava alarmada com isso.

Olhei ao redor da enorme sala de mármore, mas as únicas


portas que vi foram as da frente, onde as pessoas estavam entrando
no saguão, todas sorrindo. Havia plantas tropicais, esculturas, a mesa
mais comprida que eu já tinha visto, até mesmo uma fonte
borbulhante, mas nenhuma outra porta.

—Malditos hotéis chiques. —Murmurei baixinho. As lágrimas


estavam em espera, mas minha visão estava turva. Elas acabariam
caindo.

—Vamos lá. —Disse Ryke. Ele estendeu a mão para pegar a


minha, mas depois pareceu pensar melhor, então liderou o caminho
andando na minha frente. Dentro de um minuto, ele estava segurando
aberta uma porta que nos levava a uma área de estacionamento
silenciosa.

Eu respirei quando me inclinei contra a parede de pedra


exterior do hotel e fechei os olhos. Um par de lágrimas caiu e limpei-
as rapidamente.

—O que foi? —Ryke perguntou, encostado na parede ao meu


lado. Eu não podia dizer a ele que seu cheiro tinha me perturbado;
isso soaria louco.

—Eu não sei. —Balancei a cabeça e olhei para ele. —Apenas


pensar em algo me afetou. Eu sinto muito.

—Não se desculpe, Kate. Está tudo bem. Tem alguma coisa


que você queira falar?

Suspirei e olhei para frente, para um Range Rover escuro no


estacionamento. —Acho que eu nunca vou superar isso. Eu nunca
serei a pessoa que eu era. Não tinha ideia de que algo pudesse doer
tão profundamente que... mudou quem eu sou.

—Você ainda é a mesma pessoa.

—Mas eu não sinto isso. —Olhei de volta para Ryke,


desejando que pudesse empurrar minhas mãos sob os lados de seu
paletó escuro e envolver meus braços ao redor de sua cintura.
Pressionar-me contra o peito dele.

—Leva tempo. Muito tempo. Seja paciente consigo mesma. —


Seu rosto, que me acostumei a ver leve e feliz, estava sério; ele franziu
a boca e os cantos de seus olhos se enrugaram.

—Foi assim para você?

Ele encolheu os ombros ligeiramente. —Eu passei por muitas


emoções depois que Maggie morreu. Tristeza, raiva, culpa...

—Culpa? —Olhei para ele, confusa. —Mas você não fez nada.

—Bem, havia muitas coisas que eu poderia ter feito melhor.


—Ele desviou o olhar e suspirou. —Demorei cerca de um ano para
me sentir normal novamente. E mesmo assim, era um novo tipo de
normal.

—Você deve ter sido muito apaixonado por ela. —As palavras
saíram antes que eu pensasse nelas e me encolhi. Que coisa horrível
de se dizer. Eu estava esfregando sal na ferida de sua perda.

—Claro, eu a amava. Mas estava longe de ser perfeito. —Ele


colocou as mãos nos bolsos e olhou para o estacionamento. —Ela
estava realmente falando em me deixar, mas ninguém sabe disso.

—Oh. —Minha própria tristeza foi esquecida quando olhei


para o contorno de sua mandíbula bem barbeada. —Mas por quê?

Ele olhou para mim e cobri meu rosto com uma das minhas
mãos, sentindo o calor nas minhas bochechas. —Deus, me desculpe.
Eu não deveria ter perguntado isso.

—Não, está tudo bem. Maggie era... muito emotiva. Nós nos
casamos durante a temporada de férias e as coisas foram ótimas na
época, mas assim que minha temporada começou, tudo foi para o
inferno. Ela ficava paranoica, sempre achando que eu a estava traindo.
Eu tinha que viajar muito, e ela se sentiu negligenciada. Nós
brigávamos constantemente.

—Você disse que poderia ter feito melhor as coisas. O que


você quis dizer? —Eu perdi toda a preocupação em invadir sua
privacidade.

Ele levantou os cantos dos lábios em um pequeno sorriso. —


Você quer dizer – se eu a estava realmente traindo?

—Não, não quis dizer... —Mas eu disse. Era por isso que ele
se sentia culpado? Se assim fosse, isso tinha que ser uma culpa
profunda.

—Eu nunca traí. Isso é o que era tão agravante sobre a briga.
Eu estava sendo punido por algo que nem sequer fiz. Acho que a
culpa vem de todas as vezes que eu nem queria ligar para ela depois
dos meus jogos, porque sabia que acabaríamos brigando. E também
porque... inicialmente a implorei para não me deixar, mas estava
chegando a um ponto em que eu não me importaria com isso. Eu a
amava, mas éramos infelizes. Ela me deu um ultimato: desistir do
hóquei ou o divórcio.

—Desistir? —Meu tom era incrédulo, não pude evitar.

—Ela disse que precisava saber que ela era a coisa mais
importante da minha vida.

—Uau. Você sentiu... uma sensação de alívio quando ela


morreu? —Minha audácia me chocou. Era uma coisa horrível sugerir.
Mas eu tinha sentido coisas horríveis, então era possível que outras
pessoas também sentissem?

Ele apenas balançou a cabeça lentamente. —Não.


Precisávamos seguir caminhos separados, mas não desse jeito.
—Você odiou todas as coisas que as pessoas disseram para
você quando aconteceu?

Ele sorriu e deslizou um pouco mais perto de mim enquanto


nós dois nos inclinamos contra a parede. —Tipo “ela está em um
lugar melhor” Ou “foi a vontade de Deus” Ou “você vai conhecer
outra pessoa”?

—Sim, isso. —Eu disse, sorrindo junto com ele. —Eu odiava
algumas das coisas que as pessoas me diziam. Uma senhora que foi à
escola com minha mãe disse que os bebês precisam crescer com uma
mãe e um pai, e que talvez Deus soubesse que o meu era um bastardo.

—Jesus, isso é uma merda. —Disse Ryke. Ele pegou minha


mão e a apertou na sua.

—Todo mundo me trata de maneira diferente agora. As


pessoas me dizem o que pensam sobre isso ou têm medo de
mencionar o assunto. Apenas minha amiga Kylie me pergunta como
eu estou e me escuta.

—Você sabe que pode falar comigo sobre isso, certo? Se você
quiser.

—A morte é a nossa associação de merda. —Eu disse


baixinho.

Ryke me surpreendeu com um sorriso largo. —Temos mais


em comum do que isso, Kate. E acho que é a primeira vez que ouço
você dizer merda.

—Desculpe.

—Não se desculpe. Eu gostei.

Eu não pude deixar de rir. E mesmo tendo acabado de


falarmos sobre nossas perdas profundas, senti que estava tudo bem.
Ryke entendeu. Eu não estava conformada com a perda do meu bebê,
e ele não me disse para engolir, seguir em frente ou superar isso.

—Você quer ficar bêbada? —Ele arqueou as sobrancelhas em


questionamento e eu pensei sobre isso. Eu nunca mais fiz nada
espontâneo. Eu era uma velha de 22 anos: aspirava debaixo da minha
cama, certificava-me de ingerir cálcio suficiente e trocava fielmente o
meu rímel a cada três meses.

Sentia falta da velha eu, que dava risada o tempo todo e não
dava a mínima para a validade do rímel.

—Mais ou menos. —Eu disse, sorrindo. Ryke puxou minha


mão, mas meus pés ficaram plantados na calçada.

—Não se preocupe, ok? —Ele disse. —Podemos pegar um


táxi para casa. Você pode ficar em um dos meus quartos extras ou eu
vou levá-la para a cama em sua casa, se você precisar. Sem gracinhas.
Apenas dois amigos se embebedando em um evento de arrecadação
de fundos.

Suas palavras – eu vou levar você para a cama – fizeram um arrepio


de excitação me percorrer. Eu queria ficar tão bêbada que deixaria ele
me tocar sem sentir a ansiedade incapacitante que me levou para fora
nesse ar noturno abafado. Parte de mim queria poder flertar com
Ryke, do jeito que costumava ser capaz de fazer com os caras. Talvez
o álcool me desse a coragem que eu precisava.

Eu não pude resistir à sua expressão convidativa, então deixei


ele me puxar para longe da parede e de volta para a porta da frente,
pela qual tínhamos que passar novamente. A multidão tinha
diminuído, e me perguntei se o evento estava começando.

A sala em que seguimos algumas pessoas tinha um teto alto e


estava decorada com flores tropicais brilhantes. Havia centenas de
pessoas reunidas em torno de mesas redondas cobertas com toalhas
de linho e porcelana cintilante. Agarrei a mão de Ryke enquanto nos
movíamos entre as mesas. Ele teve que parar para apertar as mãos
algumas vezes, e estávamos quase chegando à mesa onde outros
jogadores estavam quando uma mão segurou seu ombro.

—Aí está você! —Um homem magro e careca disse enquanto


nós dois nos viramos para olhar para ele.

Ryke sorriu quando apertou a mão do homem. —Steve, bom


ver você.

—Jean quer vocês dois conosco. —Disse Steve, arqueando as


sobrancelhas sobre seus óculos.

—Claro. —Ryke se virou e seguimos Steve até a frente da sala.


Eu gostaria que tivéssemos ficado com seus companheiros de equipe
que conheci mais cedo.

Ryke puxou minha cadeira quando chegamos à mesa na frente


da sala, sua voz quente contra o meu ouvido quando me inclinei para
me sentar.

—Proprietários da equipe. —Disse ele em voz baixa. Ele


sentou-se ao meu lado, sua mão roçando levemente a minha coxa. Eu
tinha quase certeza de que não ficaríamos bêbados com seus chefes.
Mas provavelmente era o melhor de qualquer maneira. Diminuir
minhas inibições em torno desse homem envolvente, sexy e
surpreendentemente doce só me deixaria em apuros.

***
Ryke

Kate me surpreendeu no jantar. Sua timidez desapareceu e ela


deslumbrou a todos em nossa mesa com seu lindo sorriso e risada
contagiante. Tentei não pensar em Maggie, mas ela me veio à mente
de qualquer maneira. Eu me lembrei do jeito como ela se sentava com
as costas perfeitamente eretas nestas ocasiões, bebendo água mineral
e virando o nariz para toda a comida. Tão diferente de Kate, que
propôs um brinde à próxima temporada e sorriu quando brindou com
Jean e Steve Naughton.

Sim, Jean e Steve Naughton, não Steve e Jean. Jean Naughton


quem ditava as regras, e todos nós sabíamos disso. Ela era perspicaz
e calculista, controlando cada centavo do dinheiro de gerações de sua
família. Mas mesmo Jean, que me fez suar frio na primeira vez que a
conheci, parecia encantada com Kate.

—Você gosta de hóquei? —Jean perguntou, seu olhar cinza e


firme avaliando Kate. Embora ela tivesse a aparência de uma avó
gordinha, Jean não era o tipo calorosa. Prendi a respiração, esperando
pela resposta de Kate.

—Eu gosto. —Disse ela. —Ainda estou aprendendo todas as


regras, mas até agora achei mais simples do que outros esportes. Mais
honesto.

—Como assim? —Jean perguntou.

—Bem, no beisebol, se o lançador fica bravo com alguém, ele


bate nele com a bola, mas finge que não teve a intenção, certo? E os
jogadores são expulsos se eles brigarem. Mas no hóquei, se eles
ficarem bravos, eles simplesmente brigam ali mesmo. Então os dois
recebem um tempo no banco e todos seguem em frente. Eu gosto
disso.
Jean soltou uma gargalhada, e depois de um segundo, todos na
mesa perceberam que não havia problema em rir, então também
deram risada.

—Um tempo no banco! —Jean chorou, seus olhos brilhando.


—Eles realmente são apenas um bando de garotinhos, não são? Ryke
mesmo passou algum tempo na caixa do pensamento.

Kate olhou para mim e sorri para ela. —A caixa de


penalidades. Eu tento ficar de fora, porque se estou na caixa, não
posso marcar. Mas às vezes...

Jean sacudiu a cabeça e um sorriso apareceu em seus lábios. —


Merdas acontecem.

Ela estava mais envolvida do que muitos donos, porque amava


o jogo. Eu gostava disso, mas muitos dos caras ficavam chateados
com uma mulher de sessenta anos xingando-os depois de um jogo
ruim.

O jantar passou depressa demais. Eu queria manter a Kate que


havia surgido nessa mesa. Seu sorriso confiante era tão lindo. Toda
vez que seus olhos castanhos encontravam os meus, estavam cheios
de um entusiasmo verdadeiro.

Nós não nos embebedamos como havíamos planejado. Tomei


uma cerveja e nós dois tomamos umas taças de champanhe. Mas
quando nos levantamos da mesa depois do jantar e Kate parou,
olhando para mim por cima do ombro, eu sabia o que ela queria. Ela
queria que eu tomasse a liderança e a tocasse, o que era estranho já
que ela saltou para longe quando coloquei minha mão nas costas dela
no início da noite.

Eu deixei minha mão deslizar sobre a curva suave e firme de


sua bunda e descansar em seu quadril, puxando-a para perto de mim.
Jean e Steve se levantaram para sair e Jean encontrou meu olhar sobre
a mesa, levantando uma sobrancelha. Eu sabia o que ela estava
dizendo. Eu gosto dessa garota, Ryke. Não estrague isso.

Eu balancei a cabeça, silenciosamente concordando com ela.


Mas meu histórico com qualquer coisa que durou mais de uma noite
não era grande coisa. Eu não queria ter um caso com Kate e perdê-la
como minha assistente. Embora não fosse tudo que gostaria de ter
com ela, eu podia vê-la todos os dias.

E ainda pior, eu não suportava a ideia de machucá-la. Ela ainda


estava frágil, e eu estava com medo de destrui-la em pedaços. A
temporada estaria começando em breve, e eu estaria muito na estrada.
Aprendi minha lição sobre o que minha agenda cansativa fazia para
um relacionamento da maneira mais difícil. Mas por que eu estava
pensando nisso? Kate e eu não estávamos em um relacionamento e
eu sabia que ela não queria um. E eu com certeza também não queria.
Queria? Eu não tinha sequer considerado isso desde que Maggie
morreu.

—Você quer sair? —Eu disse, olhando para ela. Ela tinha um
cheiro doce, e eu me perguntei como seria o cheiro de seu perfume
misturado com os aromas de suor e sexo.

—Para um bar, você quer dizer...? —Ela perguntou, sua voz


subindo. Ela estava nervosa, eu poderia dizer.

—Sim, ou... você sabe, o que quer que você queira. Nós não
temos que beber.

Um segundo se passou enquanto ela considerava. —Eu


provavelmente deveria ir para casa. Meu DVR fica mal-humorado
quando o ignoro.

Eu sorri, embora estivesse desapontado. Nós nos víamos


cinco manhãs por semana para o nosso ritual. Quando ela chegava,
eu estava esperando na mesa da cozinha com duas xícaras de café.
Mas Mimi estava sempre lá, e Kate e eu acabávamos por falar sobre
minha agenda. Se ela estava lá quando eu chegava em casa à noite, ela
me atualizava sobre o dia e raramente ficava. Hoje à noite nós nos
aprofundamos um pouco mais, e eu não queria que acabasse.
Finalmente a tinha só para mim e seria apenas para uma corrida de
carro até sua casa.

Ela estava quieta enquanto eu dirigia, e não sabia se era uma


quietude pacífica ou triste.

—Obrigado por vir esta noite. —Eu disse, mudando de


posição. —Todo mundo amou você.

—Foi divertido.

Eu limpei minha garganta e bati um polegar contra o volante.


—Você sabe, se você quiser sair, nós podemos. Eu gosto de estar
com você.

Ela inclinou a cabeça contra o encosto do banco e sorriu para


mim. —Eu sou chata, Ryke. Eu gosto de assistir reality shows com
meu suéter e ler.

—Eu gosto dessas coisas também. O que você acha que faço
para me divertir?

Ela riu, e o som me aqueceu. —Praticar poses de modelo de


roupa íntima na frente de um espelho?

—Engraçado. —Murmurei, mas estava sorrindo também. Eu


virei para a rua dela, e diminuí a velocidade quando a casa surgiu.
Estacionar na garagem dela me trouxe de volta ao ensino médio. Eu
estava tão nervoso quanto ficava no final de um encontro naquela
época.
Ela já estava fora do carro quando contornei o carro para abri-
lo. Enfiei minhas mãos nos bolsos das calças enquanto
caminhávamos até a varanda da frente.

—Oh... aqui está a sua carteira. —Eu disse, alcançando o bolso


do meu paletó para ela.

—Obrigada. Não quero perder meus cinco dólares. —Disse


ela, sorrindo.

—Eu não estou pagando o suficiente? —Senti meus olhos


arregalados quando olhei para ela. Eu estava fora do circuito da
normalidade há tanto tempo que não sabia o que era bom ou ruim
em termos de salários.

—Não! —Ela gritou. —Quero dizer, sim! Eu não quis dizer


nada com isso. Você está me pagando mais do que o suficiente. Estou
apenas pagando minha dívida agora, e não carrego dinheiro, de
qualquer maneira.

Suas bochechas ficaram vermelhas e eu sorri sem jeito.

—Se você quiser que lhe pague mais...

—Não! Não, de jeito nenhum. —Ela olhou para baixo e não


pude evitar estender a mão para o rosto dela. Minhas mãos enormes
seguraram suas bochechas de marfim quando eu as inclinei para que
nossos olhos se encontrassem. Seus grandes olhos castanhos não
demonstravam apenas entusiasmo agora; eles estavam cheios de
desejo. Eu sabia o que ela queria, e isso me pôs em chamas. Ela
separou seus lábios rosados ligeiramente e eu me inclinei para beijá-
la.

Eu não a conhecia nem há um mês inteiro ainda, mas senti


como se tivesse esperando há muito tempo por isto. Ela endureceu a
princípio, e me lembrei de ir mais devagar e ser mais gentil do que
estava sentindo. Seus lábios tinham um gosto doce, como o
champanhe que ela tinha bebido. Deus, isso era bom. Meu coração
estava batendo forte quando ela relaxou contra mim, seus seios
pressionando contra o meu peito.

Eu instintivamente envolvi meu braço ao redor dela, deixando


as pontas dos meus dedos deslizarem sob o tecido do vestido perto
de seu cóccix. Sua pele quente e sedosa e a maneira como a língua
dela provocativamente tentava encontrar a minha fez meu pau se
agitar avidamente. Eu queria muito mais que isso. Ela também queria;
eu poderia dizer pelo jeito como ela gemeu quando eu apertei meus
braços nela.

—Não. —Disse ela, afastando-se e empurrando uma mão


contra o meu peito. —Não, Ryke.

Seus olhos estavam cheios de lágrimas e o braço que ela esticou


entre nós estava tremendo. Eu me senti como um completo idiota.

—Kate, o que há de errado? Eu não...

Ela soltou um suspiro profundo e as lágrimas escorreram de


seus olhos para suas bochechas. —Não é nada que você fez.

Eu tive que fechar minhas mãos em punhos para evitar


alcançá-la. Sua voz tensa e bochechas cobertas de rímel eram mais do
que eu podia suportar.

—Não, eu não deveria ter...

—Não é você! —Agora ela parecia quase zangada e eu não


sabia o que dizer. —Sou eu. Eu sinto muito. Eu simplesmente não
consigo... eu não posso sentir isso.

Seus olhos estavam implorando e um peso de chumbo se


instalou em meu peito. Eu a pressionei demais. Não tinha certeza de
como, ou do porquê ela estava tão chateada com isso, mas sabia que
era diferente desta vez. Ela deixaria de ser minha assistente? Apenas
o pensamento rasgou meu coração.

Eu queria ter palavras para acalmá-la, mas não tinha nenhuma.


Eu era um jogador de hóquei, pelo amor de Deus. Minhas palavras
favoritas eram porra e foda. Eu só podia acalmá-la com toques ternos
que ficariam tão sensuais que ela esqueceria sua tristeza, e ela não
queria isso.

Ela abriu os lábios para dizer alguma coisa e eu esperei. Ela iria
largar o emprego? O que eu diria para fazê-la mudar de ideia?

Mas ela não disse uma palavra. Em vez disso, pegou a


maçaneta da porta e entrou na casa, e eu fiquei olhando para a porta
cinza por alguns segundos. Eu esfreguei meu rosto e me virei para
sair.

Eu poderia atirar um pequeno disco através de 30 metros de


gelo em uma rede, correr 16 quilômetros em cerca de uma hora e
levantar mais de 200 quilos. Mas mulheres? Eu era inútil pra caralho.
Eu poderia foder com o melhor delas, mas algo real, com alguém
incrível? Essa era uma coisa que eu nunca acertaria.
CAPÍTULO 06

Quatro semanas depois – Ryke

Mimi estava alegre como sempre quando entrei na cozinha,


sorrindo e fechando a geladeira batendo com seu quadril.

—Bom dia, Sr. Ryker. —Disse ela. Eu grunhi em resposta. O


que havia de tão bom nisso? Meus ombros doíam com os exercícios
que fiz na pista no dia anterior. E mais uma vez, tive que bater uma
no chuveiro para me livrar do tesão com o qual começava todos os
dias agora.

Mimi cantarolou para si mesma, arrumando maçãs em uma


tigela de vidro sobre a mesa. —O que parece bom para os jantares
que posso fazer esta semana? —Ela perguntou, olhando em minha
direção.

—Eu não me importo. —Resmunguei, despejando grãos de


café no moedor. Ela se virou e suspirei profundamente.

—Vou pensar em algumas coisas. —Ela disse brilhantemente.

—Desculpa, Mimi. Estou de mau humor.

Ela acenou com a mão em minha direção. —Está tudo bem.

Esfreguei meu rosto e me inclinei contra o balcão. As coisas


com Kate tinham sido incômodas desde a noite em que eu a beijei.
Agora eu tinha o cuidado de manter distância, porque não queria que
ela deixasse de ser minha assistente, e eu com certeza não queria fazê-
la chorar novamente.
O café foi preparado e eu ofereci uma xícara para Mimi. Ela
olhou para cima de sua lista de compras e pegou a caneca, tomando-
a lentamente. Mexi creme e açúcar no café que tinha colocado na
caneca com a imagem de Ryan Gosling de Kate, em frente ao seu
lugar habitual na minha mesa. Ela notaria se eu tivesse uma atriz sem
camisa na minha caneca de café?

Eu tinha bebido metade do meu café antes de caminhar até a


parede de janelas para olhar para o lago. Eu normalmente esperava
por Kate para que pudéssemos beber nosso café juntos, mas eu estava
irritado hoje.

—Onde ela está? —Eu disse, observando as ondas da água. —


Preciso ir para o rinque.

—Tenho certeza de que ela estará aqui em breve. —Disse


Mimi em um tom suave. —Você pode deixar qualquer mensagem
para ela comigo, se você precisar sair.

Eu balancei a cabeça e voltei para o balcão para pegar mais


café. —Tudo bem. —Não era que estivesse irritado com ela, era
porque eu estava ansioso para vê-la, mas não queria dizer isso a Mimi.

Depois de mais dez minutos, não aguentei mais. Eram 20


minutos depois do horário que Kate chegava todas as manhãs. Agora
eu estava preocupado, droga. Não podia sair para o rinque.

Eu liguei para o telefone dela e cruzei o braço no peito,


esperando que ela atendesse.

—Ryke. —Ela estava sem fôlego e eu me perguntei por quê.


—Eu sei que estou atrasada, me desculpe.

—Estou interrompendo alguma coisa? —Meu tom era áspero


e irritado, mas não pude evitar.
—Não realmente… eu sei que você precisa trabalhar. Não se
esqueça de que você vai para aquele treino da liga de hóquei juvenil
esta noite. Perguntaram se você levaria seus patins e patinaria com...

—Você está vindo? —Eu ouvi carros no fundo e sabia que ela
estava do lado de fora. —Eu posso esperar até você entrar.

—Não. Eu vou demorar um pouco ainda. Sinto muito.

—Eu não estou chateado, Kate. Só quero ter certeza de que


você está bem.

O barulho de uma buzina alta de carro quase a abafou. —Eu


estou bem.

Eu não queria me intrometer. Se ela tivesse acordado na cama


de outro cara, eu nem queria saber.

—Tudo bem. —Eu disse. —Acho que nos veremos...

O som abafado da voz de um homem me fez parar de falar.


Eu me esforcei para ouvir o que ele estava dizendo.

—Eu não sei. —Kate disse a ele. —Estava soltando muita


fumaça, mas não sei por quê.

Passei a mão pelo meu cabelo, meu coração palpitando de


ciúme e curiosidade.

—Quem é esse? —Eu exigi. —Você está com Quinn?

—Quinn? —Sua voz subiu com indignação. —Não! É um cara


que parou para me ajudar porque estou com problemas com o carro.

—Problemas com o carro? —Eu praticamente gritei para o


telefone. —Por que você não me ligou? Pelo amor de Deus, Kate!
Onde está você?
—Eu estou talvez a cinco ou seis quilômetros de sua casa. Mas
você não precisa...

—Estou a caminho. —Peguei minhas chaves e corri para a


porta.

Quando os pneus do meu Jeep guincharam até parar atrás do


monte de lixo de Kate, havia outros caras tentando ajudá-la também.
Eu vi alívio no rosto de Kate quando me aproximei, e um dos caras
correu de volta para seu carro.

—Ei. —Eu disse. Seu rosto estava tomado de preocupação e


ela estava mordendo o lábio.

—Pensei que meu carro estava prestes a pegar fogo. —Disse


ela. —Não sabia o que fazer.

—Deixe-me ver isso. —Eu disse, pegando seu braço para levá-
la para longe do tráfego que passava na via expressa lotada. Um cara
de meia idade coçava a cabeça enquanto olhava por baixo do capô
levantado do carro.

—Uh... bem, não está mais saindo fumaça. —Disse ele. Ele
não tinha a mínima ideia sobre carros.

—Vamos simplesmente rebocá-lo. —Eu disse quando dei


uma olhada no motor velho. Este carro precisava de muito trabalho;
provavelmente mais do que valia a pena.

—Jason Ryker? —Os olhos do cara de meia-idade se


arregalaram.

—Sim. —Eu disse. Estava quente e não estava com vontade


de falar de hóquei, mas ofereci minha mão.

—Sou um grande fã. —Disse ele.


—Obrigado, agradeço. E obrigado por parar para ajudar...
minha assistente. Que tal alguns ingressos para o nosso jogo de
abertura em casa?

O homem sorriu para mim e gritou. —Sim!

Eu rabisquei um nome e um número do escritório em um


pedaço de papel que ele me entregou e disse a ele como conseguir os
ingressos. Ele tirou uma foto rápida comigo com seu celular e se
afastou.

Kate estava encostada na pequena proteção de concreto na


beira da estrada. —Você tem alguma coisa no carro que precise que
eu pegue? —Perguntei.

Ela balançou a cabeça. —Eu tenho minha bolsa.

—Ok, vamos. —Eu disse em voz alta para que ela pudesse me
ouvir sobre o barulho dos carros. —Você pode me deixar no rinque
e pegar o jipe.

—Você pode simplesmente me deixar na sua casa. —Ela disse.


Quando entrou no jipe sem portas e sentou-se, estendi a mão para
segurar a barra de apoio e me inclinei para ela. Era o mais próximo
que estivemos em muito tempo, e fez meu sangue fluir. O brilho de
suor em seu rosto a fez brilhar.

—Pegue o jipe. —Eu disse, deixando-me chegar perto o


suficiente para sentir o cheiro dela. Os aromas sutis de chuva recém-
caída e baunilha tiveram o mesmo efeito sobre mim que no dia do
jantar a que fomos. Uma palavra dela, e eu desistiria dos treinos para
passar o dia na cama com Kate. Danem-se as consequências.

—Tudo bem, obrigada. —Disse ela com um pequeno sorriso.


Obriguei-me a me inclinar para trás e dar a volta em torno do jipe
para dirigir-me ao rinque.
—Vou ligar para um reboque quando chegar ao treino. —Eu
disse.

—Eu posso fazer isso. Você estará ocupado. —Seus longos


cabelos voaram com o vento e ela tentou segurar.

—Eu cuido disso, Kate. Deixe-me resgatá-la adequadamente.

Ela sorriu e felicidade inchou no meu peito. —Podemos ir


juntos para a reunião hoje à noite?

Eu estava tentando ser o Príncipe Encantado e ela estava


pensando no grupo de apoio ao luto?

—Claro. Vamos jantar depois. Diga a Mimi para não se


preocupar em fazer qualquer coisa.

Ela assentiu, e a esperança surgiu através de mim pela primeira


vez desde aquela noite, há algumas semanas. Talvez algo pudesse
acontecer entre nós. Eu iria tão devagar quanto ela precisasse. Esta
mulher bonita e vulnerável estava ocupando um lugar no meu coração
em que ninguém jamais havia estado antes.

***

Kate

O barulho de uma buzina de carro atrás de mim me chamou a


atenção. Afundei o pé no acelerador do jipe, sentindo dor no lábio
que inconscientemente mordi com força. Quando parei na porta em
que Ryke tinha me dito para pegá-lo, coloquei o câmbio no parking e
segurei o volante até os nós dos meus dedos queimarem. Eu não tinha
o direito de ficar chateada, absolutamente nenhum, mas eu estava.
Tinha estado assim todo o maldito dia, e agora eu estava prestes a
ferver.

O sorriso branco perfeito de Ryke quando ele saiu alguns


minutos depois apenas incitou mais raiva. Maldito seja ele. Mesmo
que fosse por minha própria falha estúpida.

—Ei. —Disse ele quando entrou.

—Você quer dirigir? —Eu olhei para frente, sabendo que iria
explodir se eu o deixasse virar aqueles olhos caramelo em mim. Ou
pior, derreter e esquecer como eu estava com raiva.

—Não, vá em frente. Como foi o seu dia?

—Bom. —Concentrei minha atenção no trânsito do


estacionamento. —Eu deixei as coisas que você está doando para
aquele leilão, fiz suas compras e trabalhei em sua agenda.

—Está tudo bem? —Ele perguntou. Eu não devo ter


mascarando minha hostilidade muito bem. Nunca fui uma boa
mentirosa.

—Sim. Ah, e você recebeu um e-mail de uma Krista Grayson.


Ela enviou o endereço para o seu encontro neste fim de semana.
Devo acrescentar isso à sua agenda?

Silêncio.

É isso mesmo, filho da puta. Pego jogando em dois lados.

—Ah... não é um encontro. Krista é casada com Dan, um dos


meus companheiros de equipe.

Eu realmente senti meu coração desacelerar um pouco com


alívio. —Oh. E você vai jantar com ela?

—Ela e Dan, sim. —Eu olhei e ele estava esfregando sua


mandíbula. —E, uh... uma das amigas de Krista.
Meu coração voltou ao seu ritmo irritado. —Então um
encontro duplo?

—Não. Não é um encontro, Kate. Não é. Eles apenas me


pediram para ir, e eu não queria, mas Dan me convenceu a isso.

—Talvez seja divertido. —Eu disse, tentando manter meu tom


no nível normal. —Talvez você goste dela.

—Não é nada disso. —Eu parei em um cruzamento e o senti


olhando para mim. —Kate...

—O quê? —Eu disse, uma advertência na minha voz.

—Venha comigo.

—Ir com você? —Olhei para ele. —Num encontro? Por que,
no caso de você precisar que alguém reabasteça sua água ou limpe sua
boca? Terei que ajudar seu encontro também?

—Não é a porra de um encontro!

—Então o que é?

Ele suspirou, claramente agitado. —Um favor para um amigo.

Puxei para o tráfego e o som do vento e de outros carros nos


impediu de falar mais sobre isso. Entrei bruscamente na garagem de
Ryke e estacionei o jipe novamente.

—Kate. —Disse ele. —Vamos, Kate.

—Vou pegar um táxi para casa. Vou pegar o carro emprestado


da minha mãe para a reunião hoje à noite. —Eu tinha que ficar com
raiva aqui, na frente dele, porque se eu não fizesse isso, ele veria o que
eu realmente estava sentindo.

—Por favor, não vá. —Disse ele. Nós dois estávamos ao lado
do jipe, e a sensação de suas mãos nos meus ombros me fez tremer.
Eu respirei fundo e criei coragem para olhar em seus olhos. Eles
estavam quentes e implorando.

—Sou apenas sua assistente. —Murmurei. —Eu não tenho o


direito de ficar com ciúmes do seu encontro.

—Você não é apenas minha assistente. Eu não estava tentando


esconder nada de você. Apenas disse a Dan que faria isso para tirá-lo
do meu pé. Não irei se você não quiser.

Eu balancei a cabeça. —Você deve ir. Estou sendo idiota.

—Droga, Kate! —Ele rugiu, girando e batendo com o punho


em uma das vigas de apoio da garagem. —Você não pode me dar
alguma coisa? Qualquer coisa?

—O quê? —Eu disse completamente confusa.

Ele se virou para mim, seus olhos suaves agora. —Eu gosto de
você. Muito. E houve momentos nos dois meses em que nos
conhecemos que pensei que talvez você também gostasse de mim. Eu
estou errado?

Eu só olhei para ele. Ele era de longe o homem mais bonito e


mais sexy que eu já tinha visto. Rico. Bem-sucedido. Perfeito. —Você
gosta de mim? —Eu não consegui esconder meu choque.

Os olhos de Ryke se arregalaram e seus lábios se abriram com


surpresa. —Eu te beijei. Ou tentei, de qualquer maneira. E isso fez
você chorar, o que foi uma surpresa para mim.

Uma mulher morena com cabelo repicado saiu do elevador e


olhou para nós, parecendo desconfortável. Seus saltos clicaram sobre
o concreto e esperamos em silêncio até que ela entrou em um SUV
branco e saiu da garagem.
Ryke chegou mais perto e meu coração disparou no meu peito.
Isso não era apenas um flerte leve, e o pensamento fez uma onda de
pânico me percorrer.

—Eu não consigo manter meus olhos longe de você, Kate. —


Ele disse suavemente. —Eu lhe faço café todas as manhãs, porque a
melhor parte do meu dia são aqueles poucos minutos com você. Eu
não sou bom nessas coisas, mas estou tentando.

A onda de emoções dentro de mim era esmagadora. Queria


alcançar seus ombros largos e me afundar nele. Sentir todas as partes
dele com as quais fantasiei todas as noites. Eu tinha uma paixão louca
por esse homem, e fiquei atordoada com a esperança dele me querer
por mais do que uma transa rápida.

—Eu desejo... —Minha voz vacilou e respirei fundo. —


Gostaria de ter te conhecido antes. Eu sou diferente agora, Ryke.

—Eu nunca te conheci antes. —Ele disse, pisando tão perto


que senti sua respiração em meus lábios. —Esta é a Kate que conheço
e esta é a Kate que eu gosto.

Isso era uma loucura. Por um lado, ele era meu chefe e eu
precisava desse emprego. E, em algum momento, se eu decidisse
voltar ao jogo do namoro, ele precisava ser com alguém um pouco
mais mediano do que um jogador da NHL que era modelo de roupas
íntimas. Resistir ao desejo de fazer sexo seria impossível com ele.

Ele pegou minha mão e a segurou na sua. —Só me dê um


pouco de esperança, Kate. Eu sou paciente. Essa coisa de sábado à
noite não é nada. Tenho que fazer essa merda o tempo todo, para a
equipe e para os amigos. Eu apenas encontro pessoas, principalmente
falo de hóquei, e vou embora. Não é diferente de assinar autógrafos
ou fazer aparições. Mas se você não quiser que eu vá...
—Você deve ir! —Eu disse ferozmente, encontrando seus
olhos. —Sou neurótica e deprimida. Encontre alguém normal. É só...
uma loucura. Eu lhe digo que não quero que você vá no sábado à
noite, e então você sairá com outra pessoa no próximo sábado à noite.
Não é justo para nenhum de nós.

—Não me diga o que você acha que é melhor para mim. —


Ele entrelaçou os dedos nos meus e isso apenas pareceu tão bom que
queria chorar. —Me diga o que você quer.

Eu engoli em seco e deixei minha testa descansar contra seu


peito duro como pedra. —Não vá. —Eu disse tão suavemente que
me perguntei se ele me ouviu.

—Eu não vou. O que mais você quer de mim, Kate?

Não consegui responder, embora quisesse dizer que não tinha


certeza se estaria pronta para mais do que isso. O ato de segurar as
mãos em uma garagem era o equivalente a sexo intenso para mim
agora. Mas era tão boa a sensação dele contra mim, e não queria
estragar o momento, então eu apenas fechei meus olhos e o respirei.

***

Kate

Kirk praticamente voou para a sala de reuniões, jogando sua


bolsa no chão e tomando o lugar vazio ao meu lado.

—Desculpem o atraso, pessoal. —Disse ele sem fôlego. —


Meu último compromisso se atrasou.
Ele cheirava a fumaça de cigarro fresca, mas achei que se
alguém merecia um intervalo para fumar antes de uma dessas
reuniões, era ele.

Ryke sentou-se do outro lado do círculo de cadeiras, mas não


consegui olhar em sua direção. Eu tinha meus braços envolvidos em
torno de mim de forma protetora. Emoções rodopiavam dentro de
mim, e eu não conseguia assimilar qualquer uma delas. Eu estava feliz
que Ryke se importasse comigo em algum nível, irritada apenas com
a ideia de ele sair com outra mulher e furiosa com o quanto fiquei
exposta esta tarde. Agora ele sabia que me fez ter esperança e querer...
E essa era a outra coisa. Além de estar chateada e um pouco tonta, eu
estava agora excitada. Era como se ele tivesse ligado um interruptor,
segurando-me em seus braços perfeitamente grandes, e agora eu não
conseguia desligá-lo.

—Assim. —Kirk passou a mão pelo couro cabeludo brilhante


e olhou ao redor para os rostos no círculo. —Alguém novo esta noite?

Uma mulher grisalha ergueu a mão quase imperceptivelmente


e Kirk falou sobre as regras do grupo. Ele olhou para mim quando
terminou e eu soltei um suspiro.

—Olá, eu sou Kate e perdi um bebê no ano passado com 18


semanas de gravidez. —Mordi meu lábio um pouco enquanto
considerava. —E eu tenho pensado sobre as coisas ultimamente. Não
sei se é errado me sentir assim, mas acho que posso estar
completamente farta de chorar o tempo todo e de não querer sair da
cama.

Eu esperei isso ser absorvido. Kirk bateu uma caneta de tinta


no final de sua prancheta enquanto olhava para mim.

—Por que isso seria errado? —Ele perguntou.


—Porque seguir em frente parece... errado. Como se eu
simplesmente esquecesse e tudo estivesse bem de novo.

—Você acha que se apegou à dor porque sentiu que deveria


fazer isso para homenagear seu bebê? —Kirk perguntou. Eu nunca
havia pensado sobre isso dessa maneira.

—Talvez. —Eu disse, assentindo. —E não sou a mesma. Isso


me mudou. Mas estou começando a querer as coisas de novo.

Eu tinha me virado para Kirk e estava olhando para baixo,


então meu cabelo estava solto, escondendo meu rosto do lado de
Ryke do círculo.

—Que coisas? —Kirk perguntou. Eu me ressenti por ele ter


perguntado sobre algo tão pessoal em um tom tão irreverente. Parte
de mim queria dizer —Sexo suado com orgasmos múltiplos, Kirk... —Só
para vê-lo se contorcer.

—Uh, você sabe... eu não posso... —Eu soltei outro suspiro e


Rose, que estava sentada do meu outro lado, deu alguns tapinhas no
meu joelho. —Estou com muito medo de engravidar novamente.

Deus, isso foi embaraçoso. Eu estava desesperada por um


indulto. Kathy, que não conhecia bem, disse a algumas cadeiras de
distância.

—A primeira vez que fiz sexo depois da morte do meu Robert,


chorei o tempo todo! —Ela disse, as palavras jorrando dela. Olhando
para seu rosto enrugado e cabelos grisalhos, percebi que só a
considerava do tipo avó, não do tipo que fazia sexo.

Eu queria quebrar o silêncio, mas não consegui dizer mais


nada. Eu estava me perguntando que tipo de homem tinha
conseguido fazer sexo com uma mulher que estava chorando.
—E como você se sentiu depois, Kathy? —Kirk perguntou.
Ela encolheu os ombros.

—Fiquei feliz por ter tentado. Eu não achei que seria capaz de
fazer isso.

—Mas você queria fazer isso? —Perguntei. —E que idiota, a


propósito. Por que ele não parou se você estava chorando?

—Oh, eu disse a ele para não parar. —Disse ela, acenando com
a mão cheia de joias. —Porque eu queria. Por muito tempo depois
que Robert morreu, fiquei triste. E quando parei de me sentir tão
triste, me senti culpada. E então um dia, uma das minhas filhas
sentou-me e disse que, embora ele tivesse ido embora, eu não tinha.
Que era hora de encontrar uma nova vida para mim.

—E você fez isso? —Eu perguntei, um vínculo com ela se


construindo dentro de mim.

—Eu encontrei. E sabe de uma coisa, querida? Eu pensei que


perder Robert era a coisa mais difícil pela qual passei. Mas não era.
Seguir em frente foi.

Rose murmurou sua concordância e eu me recostei na minha


cadeira, processando as palavras de Kathy. Eu não voltei a prestar
atenção até que fosse a vez de Ryke. Quando olhei para ele pela
primeira vez desde que cheguei, vi que Tara estava ao lado dele, seu
rosto brilhando enquanto o observava.

Mas ele estava alheio, encostado na beira da cadeira dobrável,


cotovelos nos joelhos. Ele descansou o rosto nas mãos por alguns
segundos e eu percebi que ele estava nervoso. Isso era diferente dele.

—Eu sou Ryke. —Disse ele. —Perdi minha esposa há dois


anos. E... —Ele suspirou profundamente e pude ver que estava tendo
um debate interno sobre se queria continuar. —Eu realmente posso
me identificar com o que Kate e Kathy estavam dizendo. Eu comecei
recentemente a pensar em seguir em frente, e... é difícil. Ainda há
culpa lá e os fantasmas do passado, sabe?

—Você quer dizer que você se preocupa que nenhuma outra


mulher vai estar à altura da sua falecida esposa? —Kirk perguntou,
olhando através do círculo para Ryke.

—Não, não isso. Eu me preocupo que não seja um bom


marido, porque o hóquei é realmente exigente. Não quero ferir
alguém que queira mais do que posso dar.

—Mais o quê? —Kirk perguntou, sua voz subindo e me


fazendo sentir que ele já sabia a resposta para a pergunta.

—Mais tempo. Não tenho certeza se é justo pedir a uma


mulher para ter um relacionamento comigo. Eu viajo muito.

Tara pegou o joelho dele e apertou. —A mulher certa vai


entender. —Disse ela com sinceridade. Mais uma vez, ela parecia estar
planejando ir a uma boate depois da reunião, com maquiagem pesada
e um top decotado.

Ryke moveu a perna para que a mão dela caísse. —Acho que
o meu problema não é o luto. —Disse ele. —Mas eu sei o que é querer
algo, mas ficar... —Ele olhou para o chão e considerou. —
...apreensivo sobre isso.

Kirk se inclinou para frente em sua cadeira e senti novamente


o cheiro de nicotina. —Se eu estou ouvindo direito, você está dizendo
que sua carreira causou tensão entre você e sua falecida esposa, e você
está preocupado que isso aconteça novamente. —Disse ele.

Meu coração se apertou de simpatia enquanto observava Ryke


acenar levemente com a cabeça. Eu sabia que as coisas tinham sido
tensas entre ele e Maggie, mas não sabia que isso ainda o incomodava
dessa maneira. Seus olhos se voltaram para os meus e nos encaramos
por um segundo antes que ele desviasse o olhar.
—Tara? —Kirk perguntou, seguindo em frente. —Como vai
você?

—Bem. —Ela disse, sorrindo.

—Como podemos ajudá-la a lidar com a perda de sua irmã?


—Kirk perguntou. Tara franziu as sobrancelhas enquanto
considerava.

—Oh, apenas estar aqui é uma grande ajuda. —Disse ela, ainda
sorrindo.

Kirk cruzou uma perna sobre o joelho e a batida de sua caneta


na prancheta ficou mais rápida e mais alta.

—Estou apenas curioso, porque sei que sua irmã Laura


trabalha aqui no hospital no RH, e ela disse que só tem uma irmã, e é
você. —Disse ele. Todas as cabeças na sala giraram em direção a Tara.
O sorriso dela sumindo agora.

—Oh. Uh... Eu disse que foi minha irmã que morreu? Foi
apenas uma amiga que era como uma irmã para mim. —Seu rosto
escureceu vários tons e olhei para Kirk, confusa.

—Eu levo a confiança e a partilha que fazemos aqui muito a


sério. —Disse Kirk, seu olhar fixo em Tara. —Se eu descobrir que
um funcionário do hospital está compartilhando nomes de membros
do meu grupo com outros, e se descobrir que alguém está
participando dessas reuniões estritamente para fins sociais, eu
certamente o corrigirei.

Todos os olhos voltados para Tara se arregalaram. Houve


alguns suspiros, mas, além disso, a sala ficou em silêncio.

—Você veio aqui para conhecer Ryke! —Carlos falou, seu


rosto franzido em descrença. —Este não é um maldito grupo de
solteiros, senhora!
—Não! —Tara disse, olhando ao redor do círculo. —Eu não
fiz...

Tudo fazia sentido agora. Os trajes provocativos, estar


constantemente pendurada em Ryke – sua total falta de tristeza. A
indignação cresceu dentro de mim. De todas as maneiras de encontrar
um homem, participar de um grupo de apoio ao luto não era algo que
eu sonharia.

—Não minta sobre isso agora. —Murmurei. —Todos nós


sabemos, então é melhor você ser honesta.

—Você está apenas com ciúmes. —Ela estreitou os olhos para


mim e a encarei com descrença.

—Ciúmes de quê, exatamente? —Eu disse. —De seu guarda-


roupa de prostituta ou de sua completa falta de classe?

Tara se levantou da cadeira em um instante e toda confusão


começou. As pessoas gritavam, Ryke a impedia de pular e Kirk estava
tentando – sem sucesso – restaurar a ordem.

—Sentem-se todos! —Ryke rugiu, sua voz profunda fazendo


minha bexiga se contrair. —Todos!

O silêncio caiu no ambiente enquanto as pessoas voltavam


para suas cadeiras.

—Você. —Disse Ryke, olhando para Tara. —Saia.

Ela pegou sua bolsa de debaixo da cadeira e fugiu. Ryke voltou


para sua cadeira e olhou para Kirk.

—Acho que vamos encerrar a noite, se estiver tudo bem. —


Disse Kirk, afrouxando a gravata.

Fiquei contente pela reunião ter terminado. Entre o meu


encontro com Ryke na garagem mais cedo, nossa noite emocional de
compartilhamento e minha quase briga com Tara, eu estava exausta.
Precisava de uma boa noite de sono antes de poder realmente
processar o que Ryke tinha dito esta noite

Quando eu estava quase chegando à porta, olhei na direção


dele e nossos olhos se encontraram. E nesse momento, meu cansaço
foi esquecido. Nós estávamos expostos um ao outro; vulneráveis, e
uma sensação inebriante e íntima percorreu-me. Eu o queria tão
intensamente que todo o meu núcleo se aqueceu em expectativa
ansiosa.

Suspirando profundamente, ele desviou o olhar. Não, não era


para ser hoje à noite. Nós dois precisávamos de tempo sozinhos para
pensar sobre as coisas. Relutantemente, fui até a porta, disposta a não
olhar para trás.

***

Novembro de 2010 – Ryke

A beleza de olhos verdes no bar sorriu para mim e não pude


deixar de sorrir de volta. Ela tinha olhado sorrateiramente para mim
desde que entramos no restaurante. Meu olhar permaneceu nela
enquanto ela brincava com um de seus cachos vermelhos brilhantes
na altura dos ombros.

Não há necessidade de apontar, querida. Eu sei que seu cabelo é sexy.

Nos meus dias de solteiro, eu nem teria sequer terminado meu


jantar quando soubesse que essa mulher estava pronta e disposta. Eu
a levaria para o meu quarto e rapidamente daria a ela uma visão do
teto acima da cama.
Mas aqui estava eu, prestes a terminar meu bife e sair com os
caras com quem eu vim aqui. Suspirei quando o garçom voltou com
o meu cartão de crédito.

—Tenha uma boa noite, Sr. Ryker. —Disse ele.

—Obrigado. —Eu rabisquei alguns números no meu bilhete e


me levantei da mesa.

—Quer experimentar aquele bar na rua? —Meu companheiro


de equipe Leon Richter perguntou, arqueando a sobrancelha.

Eu balancei a cabeça. —Estou cansado.

—Não, você está chicoteado. —Disse Leon, acrescentando


efeitos sonoros.

—Foda-se, Richter. Se você jogou tantos minutos quanto eu,


você deve estar cansado também.

Seus olhos se estreitaram e eu sorri. Os outros caras se


levantaram e nós estávamos indo para a porta quando senti um leve
toque no meu braço. Eu me virei e vi a ruiva.

—Ei. —Ela disse, um rubor rosa claro colorindo suas


bochechas pálidas. —Você é... um atleta?

—Por que, nós parecemos idiotas? —Sorri para ela e seu rosto
escureceu outro tom. —Estou brincando. Sim, nós jogamos hóquei.
Prazer em conhecê-la...?

—Stella.

—Stella. —Eu disse, estendendo a mão para apertar a dela.


Assim que soltei, seus dedos estavam se enrolando em um dos cachos
novamente.
—Você pode ficar para uma bebida? —Ela perguntou. Os
outros caras se dirigiram para a porta. Eles partiriam sem mim. Eu
poderia passar a noite com essa mulher e ninguém jamais saberia.

Eu olhei para seus enormes olhos, meu sorriso desaparecendo.


—Eu queria poder. Mas preciso ligar para minha esposa.

—Oh. —Ela olhou para baixo, envergonhada. Deveria dizer-


lhe que em outro momento eu adoraria conhecê-la melhor?
Provavelmente não. Ela poderia interpretar isso de forma errada.

—Foi ótimo conhecê-la. —Eu disse, saindo. —Tenha uma


boa noite.

Ela se virou silenciosamente. Saindo do restaurante para pegar


um táxi, tirei meu telefone do bolso. Eu disquei e Mag atendeu, sua
voz abafada e sonolenta.

—Ryke?

—Oi, querida. Desculpe ter acordado você.

—Eu esperei que você ligasse, mas ficou tão tarde...

—Eu sei. —Um táxi parou junto à calçada e eu o abri e entrei,


dando ao motorista o endereço do hotel. —Desculpe. Estávamos
atrasados para sair do jogo e...

—Você está saindo de um bar? Você saiu depois do jogo? —


Pelo seu tom, sabia que ela estava bem acordada agora. Esta primeira
temporada como um homem casado não era o que eu esperava. Eu
não sabia que Mag e eu brigaríamos a cada vez que eu saía da cidade
para um jogo.

—Eu jantei com alguns dos caras.

—E tenho certeza que você está a caminho dos bares agora.


—Sua voz era fria, e me lembrei de não retrucar e entrar em uma briga
enorme com ela. Uma vez que discutíssemos, ela me mantinha
acordado metade da noite com mensagens de texto e telefonemas.

—Estou voltando para o meu hotel. —Eu disse levemente. —


Queria que você estivesse lá.

—Claro. —Ela disse sarcasticamente.

—O que há com o humor? Você sabe que eu gosto quando


você vem para meus jogos.

—Eu não vou te seguir por todo o país como uma fã de


estrada.

Eu pressionei meus dedos na ponte do nariz, irritação


crescendo no meu peito. —Você é minha esposa, Mag. Vir aos meus
jogos não faz de você uma fã de estrada. Você costumava fazer isso
quando estávamos namorando.

—Era diferente. Eu tinha minha própria vida. Agora estou


apenas sendo deixada para trás esperando enquanto você está se
divertindo com Deus sabe quem...

—O que diabos isso quer dizer? Eu nunca te trai.

—Bem, você flerta tanto...

Eu puxei o telefone para longe da minha orelha e balancei a


cabeça. O taxista encontrou meus olhos simpaticamente no espelho.

—Com quem estou flertando, Mag? —Exigi, incapaz de


manter a paz mais.

—Qualquer coisa com dois seios, aparentemente. Eu vi fotos


suas na internet mais cedo se aconchegando com uma adolescente
antes do jogo.

—Nós sempre tiramos fotos com os fãs! Porra, Maggie, não


podemos continuar fazendo isso! Eu não vou brigar com você toda
vez que estou fora da cidade. Você é minha esposa. Estou cansado de
me defender quando não fiz nada de errado.

Ela ficou em silêncio do outro lado da linha.

—Você é a única que quero. —Eu disse, meu tom mais suave
agora.

—É difícil. —Ela disse, soando derrotada. —Estar com


alguém como você. Não sabia que seria tão difícil.

Maggie era uma modelo em ascensão. Ela era linda, e eu não


podia acreditar que ela, de todas as pessoas, era insegura.

—Por que você não pega um voo para o meu próximo jogo?
—Eu disse. —É amanhã à noite.

—Eu não posso. Preciso ir, tenho que acordar cedo. Vejo você
quando voltar.

—Sim.

Ela desligou então, sem sequer dizer adeus, e eu olhei para a


forma escura do meu telefone em minha mão enquanto o táxi se
aproximava do meu hotel. Desde que Maggie e eu havíamos nos
casado, parecia que, mesmo quando eu fazia a coisa certa, ainda estava
errado.
CAPÍTULO 07

Kate

A arena em que a equipe Ryke joga e treina é esmagadoramente


grande. Eu estava ao lado de um assento – um de milhares – e
procurei por ele no gelo. Um punhado de pessoas assistia ao treino
dos assentos, e ocupei o que estava ao meu lado, colocando sua caixa
de sapatos no meu colo e minha bolsa no chão de concreto.

Ele me pediu em uma mensagem para trazer os sapatos pretos


que estavam em seu armário. Desde a reunião de apoio ao luto na
outra noite, estávamos apenas seguindo a rotina, conversando sobre
nosso café enquanto ambos nos mantivemos ocupados com nossos
telefones ou com o jornal, para que não tivéssemos que olhar um para
o outro.

Todos os jogadores tinham o mesmo volume de equipamentos


e capacetes, e eu não sabia dizer qual era Ryke até ter um vislumbre
de seu sorriso. Meu coração disparou e eu não conseguia desviar o
olhar enquanto ele deslizava pelo gelo, seus olhos no disco. Ele
deslizou para uma parada rápida, lutando contra outro jogador pelo
controle do minúsculo disco. Eles se empurraram com os ombros e
seus tacos colidiram violentamente.

Um homem grisalho com um apito e uma prancheta gritou


para Ryke e bateu no relógio de pulso. Ryke concedeu o disco ao
outro jogador e patinou em direção ao cara que assumi ser um
treinador. Eles conversaram brevemente e Ryke correu os olhos pelos
assentos. Levantei-me e caminhei em sua direção, imaginando que ele
precisava de seus sapatos. Ele me viu e acenou para a porta de onde
ele estava saindo do rinque.

—Ei. —Disse ele.

—Oi. Espero ter trazido os sapatos certos.

—Esses são perfeitos, obrigado. —Ele encaixou os protetores


sobre as lâminas de seus patins. —Jean quer que eu vá com ela para
encontrar um fã, então vou deixar o treino para fazer isso. Não posso
usar sapatos marrons com o terno que tenho aqui.

Ele tirou o capacete, o cabelo embebido de suor. Assim que


tirou as luvas, passou a mão pelo cabelo, deixando-o em mechas
molhadas.

—Tenho que ir para o chuveiro. —Disse ele. Minha deixa para


sair.

—Certo, claro. —Eu estendi a caixa de sapatos para ele, mas


ele não a pegou.

Taco de hóquei, capacete e luvas na mão, ele sorriu para mim,


inclinando a cabeça para um lado. —O vestiário é por aqui.

Eu o segui, meus olhos colados nas costas dele. O tecido de


sua fina camisa preta justa estava esticado sobre as costas e ombros
largos. Uma sensação de inquietação cresceu dentro de mim. Eu
estava quente, ansiosa e incapaz de pensar em qualquer coisa além do
corpo suado de Ryke.

Jesus, eu era como uma adolescente na puberdade, com


hormônios fora de controle. Minha longa pausa de sexo estava me
afetando.

Chegamos a uma porta e eu falei quando Ryke estendeu a mão


para abri-la. —Hum... devo esperar aqui?
—Não, entre.

—Mas... há caras nus lá?

Seus olhos brilharam com diversão quando ele se virou para


olhar para mim. —Ainda não, mas não estou planejando tomar banho
vestido.

Meu corpo entrou em alerta vermelho, e eu podia sentir minha


libido e meu cérebro em um duelo como Ryke tinha acabado de fazer
com seu companheiro de equipe. Meu corpo o queria naquele lugar.
Naquela hora. Mas meu cérebro estava me lembrando de como era
uma má ideia. Eu cedi ao desejo com Quinn, e acabei com uma dor
que eu carregaria para sempre.

—Certo. —Eu disse, e ele empurrou a porta. —Eu devo...?

—Entre. —Ele escorou a porta com o pé para que eu pudesse


entrar. —Você pode fechar os olhos se quiser.

Seu tom de provocação fez minhas defesas se erguerem. —Eu


não estava dizendo que a nudez me ofende.

—Ótimo, então você pode assistir. Lave minhas costas, se


quiser.

Meu corpo ergueu seu bastão de hóquei no ar e o dirigiu para


o meu cérebro, vencendo a batalha. Eu queria muito estar aqui com
ele agora, danem-se as consequências.

O vestiário era grande e aberto, com carpete escuro e armários


de madeira abertos. Um cheiro velho e suado dominava o cheiro
limpo de limão.

—Como está sendo o seu dia? —Ryke perguntou, jogando seu


equipamento no chão em frente a um dos armários.
—Bom. Você sabe, devagar e... oh. —Ele puxou a camisa sobre
a cabeça em um movimento fluido, e agora seu peito e ombros suados
estavam bem ali. Engolindo em seco, olhei para o chão.

—Você parece nervosa. —Disse ele, sua diversão ainda mais


perceptível do que antes.

—E você parece achar engraçado.

Ele deu um passo em minha direção. —Não. Fofo, talvez.


Você está toda tensa e preocupada. Eu posso consertar isso, você
sabe.

Nossos olhos se encontraram e me perguntei se ele viu a


palavra sim nos meus. Ele deve ter visto, porque nós dois nos
movemos ao mesmo tempo, vencendo os poucos passos entre nós
em um segundo. Ainda usando seus patins, ele se elevou sobre mim.
Inclinando-se um pouco, ele envolveu seus braços grandes em torno
de mim e eu derreti contra ele, minha boca encontrando a dele
desesperadamente. Nosso beijo foi áspero e ardente, da mesma forma
que eu o sentia contra mim.

Meus pés deixaram o chão e eu envolvi minhas pernas ao redor


da cintura de Ryke. Desejo tórrido correu através de mim, e eu não
conseguia o suficiente dele. Afundei meus dentes em seu lábio
inferior, querendo mais que um beijo. Quando enrosquei meus dedos
em seu cabelo úmido e puxei, senti seu gemido contra o meu peito.

Ele nos levou alguns passos e empurrou minhas costas contra


uma parede de concreto, ainda me beijando com uma intensidade que
gerou uma excitação dentro de mim que eu não sentia há mais de um
ano. Seus lábios se moveram suavemente até o meu pescoço e eu nem
sequer reconheci o som estrangulado da minha voz quando disse o
nome dele.
Eu queria parar – precisava, até – mas não consegui. Eu estava
hibernando nas profundezas de uma caverna escura, e o calor de seu
corpo contra o meu tomou conta de mim como o sol quente ao pisar
fora novamente. Meu desejo adormecido despertou com uma
ferocidade quase insuportável.

Sentir, em vez de pensar, por uma vez era estimulante. Quando


Ryke empurrou seus quadris contra os meus, a sensação de sua dureza
ameaçou me desfazer na hora. Eu o queria, e não mais de um jeito
abstrato. Aqui. Agora.

Movi minhas mãos para baixo por suas costas molhadas e


duras até o cós de sua calça, que eu tentei empurrar para baixo. Seus
dedos se entrelaçaram nos meus e ele puxou minhas mãos de volta
para o pescoço dele.

—Eu quero você. —Eu disse em seu ouvido. —Agora


mesmo.

Ele deu um grunhido baixo de frustração e encontrou meus


olhos. —Kate...

Eu empurrei freneticamente suas calças novamente. —Por


favor. Por favor, enquanto eu tenho coragem.

O desejo que estava ardendo nele há apenas alguns segundos


tinha sido apagado. Ele me deu um beijo rápido e suave, seus lábios
se demorando, colado aos meus. —Não. Você não quer realmente.

—Sim, eu quero. Eu quero isso. É mais necessidade do que


querer neste momento.

Ele estava prestes a dizer algo quando o som da abertura da


porta do vestiário nos fez girar. Um homem loiro alto parecia
envergonhado quando nos viu.

—Desculpe, cara. —Ele disse.


Eu inclinei minha cabeça, com constrangimento me
inundando. Eu perdi o controle, algo que não podia me dar ao luxo
de fazer. —Vejo você mais tarde. —Eu murmurei, indo para a porta.

Eu dirigi para casa em transe, ainda incapaz de descobrir o que


tinha acontecido comigo. Se Ryke estivesse disposto e seu
companheiro de equipe não tivesse entrado, o que teria acontecido?

Mimi já tinha ido embora quando voltei para o apartamento, e


fiquei aliviada. Eu precisava de tempo para pensar no que diria a Ryke
quando ele chegasse em casa. Andar pela sala de estar estava me
deixando nervosa, então organizei os armários já arrumados.

Quando ele entrou no apartamento, eu estava enrolando seus


casacos de inverno. Sua expressão me disse que eu parecia tão louca
quanto me sentia.

—Não diga nada. —Eu disse, respirando fundo. —Só estou


me mantendo ocupada enquanto espero por você. Eu queria falar
com você pessoalmente para dizer que sinto muito por mais cedo. Eu
praticamente te ataquei e te implorei para transar, o que não sou eu.
Eu nem sei...

—Kate. —Disse ele, com as sobrancelhas franzidas de


confusão. —Você não me atacou, foi mútuo. E eu gostei muito, então
não se desculpe.

—Eu sei que algumas mulheres podem apenas assumir o


controle e ir em frente, mas não sou uma delas. Isso foi um grave
lapso de sanidade para mim. Estou tão envergonhada e... arrependida,
eu acho.

Eu olhava fixamente para ele, esperando enquanto os


segundos se passavam. Ele finalmente acenou com a cabeça, sua
expressão ilegível.
—Então, você quer apenas... fingir que nunca aconteceu? —
Ele disse, parecendo cético.

—Sim. Nós podemos? Eu juro que não voltarei a enlouquecer


daquela maneira.

Ele ergueu os lábios em um pequeno sorriso. —Não posso


dizer que não estou um pouco triste, mas se é isso que você quer,
considere esquecido.

Dei um suspiro de alívio. —Obrigada. Eu tenho que ir. Vejo


você pela manhã?

—Ryan e eu estaremos esperando. —Sua referência à minha


caneca de café me fez sorrir. Se eu ia ter um lapso momentâneo de
sanidade por alguém, podia ver porque acabou sendo ele.

***

Kate

Minha mãe estava olhando para mim pelo canto do olho


enquanto eu trabalhava a massa de biscoito com as mãos.

—O quê? —Eu perguntei, olhando de relance.

—Nada. Eu só estava pensando que você parece... satisfeita.

Eu sorri com o jeito que ela parou sem falar 'feliz'. —Eu meio
que estou. Um dos meus empréstimos universitários está perto de ser
pago, e aquela viagem de acampamento com meus amigos do ensino
médio está chegando. Eu me sinto bem.
—Estou feliz. E Dale realmente vai gostar que você está
fazendo seus biscoitos favoritos.

Eu provei a massa de aveia e passas quando terminei de


misturá-la. —Isso vai suavizar a surra no Scrabble que eu planejo dar
esta noite.

—Você é uma linda jovem, Katie. Deveria estar se divertindo


com os amigos em uma noite de sábado, em vez de jogar jogos de
tabuleiro conosco, velhos.

—Estou satisfeita, lembra? O que é um progresso para mim.


Tem sido uma semana bem corrida e estou feliz por estar em casa
hoje à noite.

—O que você tem feito? —Mamãe serviu-nos um pouco de


chá doce e encostou-se ao balcão da cozinha para beber o dela.

—Bem, Jason Ryker está em alta. —Eu disse ironicamente. —


Tenho entregado fotos autografadas para eventos beneficentes,
comprado novos ternos e organizado reuniões de fãs.

—Ele não tem ternos? —Mamãe franziu as sobrancelhas para


mim.

—Eu não gosto do caimento deles agora porque seus ombros


e músculos do braço ficaram maiores na temporada de férias. Ele
precisa de novos.

Dale entrou pela porta dos fundos carregando um saco de


papel contra o peito. —Kate, você conseguiu um carro novo? —Ele
perguntou, suas sobrancelhas arqueadas em admiração.

—Quem me dera. —Eu disse, sorrindo. —Esse é o Mustang


de Ryke. Ele está me deixando usá-lo enquanto meu carro está na
oficina.
—Kate está fazendo biscoitos de aveia com passas. —Minha
mãe disse. Dale colocou o saco no balcão e deu-lhe um rápido beijo
na bochecha.

—Vamos ter muitos doces, então. —Disse ele. —Eu trouxe


um pouco de pipoca caramelizada da loja de doces. E alguns fudges.

Minha mãe gemeu e ofereceu a Dale um gole de chá. —Eu


preciso perder peso, não ganhar.

Eu empurrei uma assadeira de biscoitos no forno e lavei


minhas mãos. Quando voltei para mamãe e Dale, abri a boca para
falar, mas fechei de novo.

—O quê? —Mamãe perguntou.

—Eu só... não sei. Eu estava pensando em pedir a Ryke para


vir hoje à noite e jogar conosco, mas isso é idiota, certo? Ele é um
jogador da NHL. Ele não quer comer biscoitos e jogar Scrabble. Ele
provavelmente tem planos de pegar uma fã ou algo assim.

—Não custa perguntar. —Mamãe disse.

A sensação do corpo de Ryke pressionando contra o meu no


outro dia não tinha me deixado. O jeito como ele olhou para mim,
seus olhos cheios de necessidade. Apesar do meu pedido de
desculpas, eu queria estar perto dele novamente. Mas eu não
conseguia. Era por isso que a noite do jogo parecia segura. Estaríamos
sentados à mesa da cozinha com minha mãe e Dale. Eu nunca tinha
ouvido falar de Scrabble levando a uma noite de paixão selvagem.

—Eu posso. —Murmurei. —Preciso tomar um banho.

Entrei no banheiro e liguei a água quente no chuveiro,


deixando o banheiro se encher de vapor enquanto tirava minhas
roupas e considerava. Quando foi que me tornei esse poço de
indecisão? Peguei meu telefone e digitei uma mensagem para Ryke.
Ei, se você não estiver ocupado, quer vir para jogos de

tabuleiro e biscoitos assados?

Eu estava nervosa quando coloquei o telefone no balcão e


entrei no chuveiro. O telefone tocou assim que entrei e eu pulei para
fora, pingando enquanto o pegava. Reconheci o número na tela como
o de Quinn, então revirei os olhos e pressionei ignorar. Uma sensação
doentia me percorreu e eu a forcei para longe.

A água fumegante ajudou. Deixei que ela lavasse os


ressentimentos que Quinn sempre trazia de volta. Esta semana me
senti mais normal do que tinha me sentido em muito tempo. Odiei
perder a reunião de apoio ao luto na noite de terça-feira, no entanto,
porque isso tinha se tornado importante para mim. Nós éramos
pessoas diferentes com vidas distintas. Todas as semanas, alguns
estavam bem, outros estavam para baixo e alguns estavam apenas na
mesma. Mas notei algo sobre nós coletivamente. Todos nós
estávamos tentando seguir em frente e viver. Encontrar essa nova
normalidade.

Minha pele estava quente quando saí do banho e enrolei uma


toalha em volta do meu cabelo longo e molhado. Eu peguei o telefone
e meu estômago se apertou ansiosamente quando vi uma mensagem
de espera.

Parece ótimo. Que horas?

Eu sorri e suspirei ao mesmo tempo. Então ele cancelou o


jantar. Estava me perguntando no fundo da minha mente. E ele estava
vindo para cá, para a casa da minha mãe. Enquanto eu mandava uma
mensagem de volta, percorri a coleção de fotos em nosso corredor.
Eu nua em uma piscina infantil quando criança, posando com um
collant de ginástica néon e sorrindo com a boca cheia de braquetes de
metal do aparelho... sim, o corredor seria apenas um monte de pregos
na parede se eu tirasse todas as fotos embaraçosas.

Eu respirei fundo e esfreguei um círculo de névoa do espelho


para olhar para mim mesma. Ryke estava vindo para minha casa esta
noite. Definitivamente uma ocasião para minhas calças de moletom
sem furos.

***

Kate

Ryke sorriu para mim da varanda da frente, e o calor irradiava


das minhas bochechas até as minhas coxas. Deus, ele estava bonito.
Tão alto e poderoso, com uma barba escura perfeita que eu queria
passar os dedos. Eu podia ver o contorno dos músculos através de
sua camiseta cinza.

—Uh... você quer entrar? —Perguntei, exalando


profundamente.

Seu sorriso se alargou. —Isso seria bom.

Eu me afastei, balançando a cabeça. Eu estava tão sem prática,


e nunca tive caras como Jason Ryker na minha porta, mesmo no meu
auge.

—Tudo bem? —Ele perguntou, entrando.

—Bem. Você foi ao jogo de hóquei do ensino médio esta


manhã?

—Claro que sim, chefe. Você deixou um post-it na geladeira e


me mandou uma mensagem.
Eu franzi o nariz e sorri. —Demais? Devo me ater a um e-mail
diário?

—Não, eu gosto dos seus post-its. Eu conheço seu sistema


agora, e três pontos de exclamação significam: —Ande logo, Ryker.

Seus olhos estavam calorosos, e senti que ele poderia querer se


aproximar de mim, mas estava se segurando. Ele cruzou os braços
sobre o peito.

—Então... Scrabble. —Eu disse, de repente nervosa. —Você já


jogou?

—Uh, não muito. Acho que brinquei com minha mãe algumas
vezes quando era mais jovem.

Eu arqueei minhas sobrancelhas para ele. —Nós levamos o


nosso Scrabble muito a sério nesta casa. Pelo menos eu levo.

—Anotado. Com certeza você vai ganhar de mim, eu sou


apenas um atleta burro.

Eu dei a ele um olhar zangado. —Cale a boca, Ryke. Você é


muito inteligente.

—Você está apenas tentando me levar para a cama? —Seu tom


de provocação fez minhas bochechas aquecerem. Quem me dera.
Meu corpo estava além de ansioso, mas minha mente estava dando as
cartas, então sem chance.

—Venha conhecer Dale. —Eu disse, apontando para a


cozinha. —E experimente meus biscoitos de aveia.

Meu nervosismo evaporou quando todos nos sentamos ao


redor da mesa da cozinha para começar o jogo. Com mamãe e Dale
na sala, eu simplesmente não conseguia ter meus habituais
pensamentos sensuais sobre Ryke. Em vez disso, me concentrei no
jogo, determinada a vencer Dale dessa vez.
Ryke jogou como minha mãe: muito bem. O jogo era entre
mim e Dale, e foi por isso que sorri quando Ryke olhou fixamente
para as peças em seu suporte, claramente absorto em pensamentos.
Um sorriso brincando em seus lábios.

—O quê? —Perguntei.

—Ah... —Ele encontrou meus olhos brevemente.

—Você precisa de ajuda? —Eu perguntei.

—Não. É só que... eu realmente odeio ficar em último lugar.

—Melhor formar uma boa palavra, o jogo está quase no fim e


você está atrasado.

—Eu sei. —Disse ele, esfregando a mão sobre o rosto. —E


eu... eu tenho uma palavra, mas... não sei se está tudo bem.

—Jogue e veja se alguém desafia. —Eu disse. Ele suspirou e


balançou a cabeça, olhando para a minha mãe.

—Uh... esta é minha única maneira de obter a pontuação tripla.


—Disse ele, um pedido de desculpas em seu tom quando ele pegou
suas peças e as abriu. Eu ri quando li a palavra clitóris.

—O que isso significa? —Mamãe perguntou, dando-lhe um


olhar inocente. As bochechas de Ryke escureceram e eu caí na
gargalhada. Eu nunca o vi parecer envergonhado.

—Ela está brincando. —Eu disse, e então todos nós


começamos a rir. Eu não conseguia me lembrar da última vez que
achei algo tão engraçado.

—Sinto muito. —Disse minha mãe, enxugando uma lágrima


do canto do olho. —Isso foi maldoso.

Ela jogou suas últimas peças e dei um soco no ar quando a


final foi contada e eu ganhei por 12 pontos. O sorriso brincalhão de
Ryke ao ficar em terceiro lugar me aqueceu toda. Era possível parecer
sexy jogando um jogo de tabuleiro? Ele era. Eu ainda estava pensando
sobre o jeito como ele passou a mão pelo cabelo quando estava
pensando e cruzou os braços entre as rodadas, sem saber, atraindo
meu foco para o bíceps dele. Espero não ter ficado tão ruborizada
quanto me sentia.

Ele estava me deixando excitada durante o jogo, e quando


nossas mãos se roçaram enquanto colocávamos as peças de Scrabble
de volta no saco, minha pele formigou com a sensação. Eu era a
definição de desejo, como alguém esfomeado que está fazendo dieta
olhando para uma caixa de donuts. Graças a Deus, mamãe e Dale
estavam aqui.

—Vou ligar para John e dizer que estamos no caminho para


encontrá-los para tomar uma bebida, Lynn. —Disse Dale quando nós
colocávamos o jogo de volta em sua caixa. Eu me virei para minha
mãe bruscamente. Ela e Dale nunca saíram de casa nas noites de
jogos. Dale muitas vezes acabava ficando a noite toda depois que
todos nós comíamos doces e assistíamos a um filme.

—Ok. —Ela disse, não encontrando meus olhos. Em cinco


minutos, ela estava pegando a bolsa e eles saíram pela porta dos
fundos, se despedindo. A tentativa explícita deles de nos deixar em
casa, sozinhos me irritou.

—Você quer que eu vá? —Ryke perguntou. Ele sabia que eu


estava desconfortável? Eu esperava que não, porque não era culpa
dele. Não diretamente, de qualquer maneira.

—Não, podemos assistir alguma coisa na TV, se você quiser.


—Eu disse.

—Sim. Aqueles realitys shows que você está sempre falando?


—Provavelmente. —Eu disse, sorrindo. —Ou algo mais, se
você quiser.

—Qualquer coisa está bem para mim. —Ele sentou-se no


meio do sofá e eu resisti ao impulso de gemer. Ele deveria ter se
sentado em uma ponta. Qualquer lado, não importava qual. Então eu
teria sentado do outro lado. Sentar-me na poltrona reclinável me faria
parecer fria?

Apesar do meu pico de calor ao olhar para Ryke, eu estava fria


por dentro. E eu temia que sentar ao lado dele derretesse o gelo que
havia se formado em meu coração. Eu brinquei com o controle
remoto, examinando minha lista de programas gravados.

—Pare de pensar tanto e venha sentar-se ao meu lado. —Disse


Ryke. Meu dedo parou no botão que eu estava pressionando. Eu olhei
para ele e sua sugestão de um sorriso me fez obedecê-lo
inconscientemente.

—Aqui está um show de zumbis. —Eu disse. —Os caras


adoram zumbis, certo? Ou eu tenho um de culinária se você preferir.

Mesmo minha tagarelice nervosa não impediu meu coração de


bater como uma britadeira quando Ryke pegou minha mão e me fez
sentar no sofá ao lado dele.

—Ei. —Disse ele em um tom suave. —Relaxe. Está tudo bem.

Eu desprezei meu voto de celibato enquanto meu olhar vagava


de seu peito largo até seus hipnotizantes olhos castanho-dourados. —
O meu velho eu, estaria sobre você agora. —Eu disse, minha voz
quase um sussurro.

—Só estou interessado em saber o que a nova você quer. —


Ele disse suavemente. Droga. Sexy e doce. Era pura tortura.
—Isso está bom. —Eu disse, olhando para os nossos dedos
entrelaçados. Ele sorriu.

—Bom. Então vamos assistir a esse programa de zumbis.

Eu respirei e pressionei o botão para iniciá-lo. Ryke soltou


minha mão, esticou um braço e arqueou uma sobrancelha,
convidando-me a relaxar contra seu peito. Não pude recusar; ele
parecia muito tentador e delicioso.

Enquanto assistíamos aos mortos-vivos decompostos na festa


do programa se banquetearem de um coração após o outro, minha
pulsação voltou a um ritmo normal. Isso era realmente legal. Em vez
do braço do sofá, eu tinha um homem quente para abraçar. Eu tentei
ficar parada, não querendo fazer um movimento que faria com que
ele tirasse o braço de mim.

Quando o filme terminou, sentei-me e apertei a mão até o


ponto em que minha cabeça estava descansando em seu peito.

—Você é tão duro. —Eu disse com admiração, pressionando


meus dedos em seus músculos tensos.

—Ah... —Ele sorriu levemente. —Você quer dizer aqui, ou lá?

Minhas bochechas coraram quando sorri com ele. —Eu não


quis dizer isso assim. Mas agora estou me perguntando.

—Sim. —Disse ele, envolvendo o braço ao redor dos meus


ombros. —Você é muito linda e tem um cheiro muito bom, e eu...
não posso evitar. Mas isso é tudo o que você receberá de mim esta
noite, mesmo que você implore. Estou amarrado ao mastro11.

11
N.t: A autora fez um comparativo deixando claro que o personagem está inflexível sobre sua decisão. É
uma referência clássica: na Odisseia de Homero, Odisseu faz seu tripulante amarrá-lo ao mastro de seu
navio para que ele possa ouvir as vozes sedutoras das sereias, mas permaneça incapaz de pular no mar
ou persegui-las.
—Oooh, preliminares literárias. —Eu disse, segurando sua
coxa. —Agora você está me deixando excitada.

—Não são preliminares. —Disse ele. —Isto é tudo para você,


Kate. Teste-me, se quiser. Você não vai conseguir nada além de eu
segurando sua mão ou colocando meu braço ao seu redor.

Eu olhei para ele, levantando uma sobrancelha. —Tenho


certeza que você vai me beijar, pelo menos. —Eu disse suavemente.
—Como no outro dia, no vestiário... Deus, aquilo foi...

Sua respiração era audível quando ele olhou para mim. —Sim,
eu sei. Mas não esta noite.

Eu me afastei dele e considerei. —E se eu pedisse para você


tirar minha blusa agora? E meu sutiã? Se eu quisesse que você
lambesse meus mamilos e visse como eles estão duros?

—Jesus, Kate, pare. —Ele passou a mão pelo cabelo.

—Ok. —Eu disse, inclinando-me contra o braço do sofá.

Ele soltou um suspiro. —Não, não pare. Eu amo isso, mesmo


que não possa fazer nada sobre isso. Peça-me mais e prometo que
vou dizer não.

Meu coração batia forte e senti a umidade na minha calcinha


por esse jogo perigoso. Mas as palavras nunca engravidaram ninguém,
e eu estava gostando disso. E mais ainda, aproveitando que Ryke
também estava.

—Você vai tirar sua blusa e me deixar tocar em você? Eu amo


a sensação de seus braços e suas costas.

Mesmo na sala escura, iluminada apenas pelas luzes


tremeluzentes da TV, seu olhar era intenso. Ele envolveu os dedos
nos meus e eu sabia que ele queria que eu continuasse.
—E eu amo a sensação de suas mãos em mim. —Eu disse
suavemente. —Mesmo que seja apenas nas minhas costas ou na
minha cintura, como no jantar em que fomos. Eu gosto de estar perto
de você assim.

Sua boca virou apenas um toque e ele parou de acariciar o


polegar em meu pulso. —O que fiz de errado naquela noite? Eu
pensei que você queria que eu te beijasse. E no outro dia no vestiário...

—Eu queria que você fizesse isso. —Disse, baixando o olhar


envergonhada. —Eu queria que você fizesse, mas já fazia muito
tempo e eu estava nervosa. E então, no outro dia, eu meio que
enlouqueci na outra direção.

Ele arqueou as sobrancelhas para mim e sabia que essa


explicação não seria suficiente. —Muito tempo? O que isso significa?

Eu suspirei frustrada por ter que ser tão honesta sobre algo tão
humilhante. —Naquela noite, depois do jantar, era a primeira vez que
alguém me beijava desde Quinn. Então já fazia quase um ano. Não
tive nenhum contato com um homem desde que descobri que estava
grávida.

—Faz sentido que você estivesse nervosa então. —Disse ele.

Eu já havia dito a ele tanto, porque não dar toda a verdade?


Tinha dito tudo naquela noite no grupo de apoio, de qualquer
maneira. —Eu não quero mais fazer sexo. Quase me arruinou da
última vez, e não vale a pena o risco.

—Tipo, nunca mais? —Seus olhos se arregalaram e eu sabia


que devia estar soando como uma louca.

—Eu não sei. Eu sinto desejo às vezes, mas se eu esperar,


acaba passando. Se você soubesse como era... não é porque Quinn
me abandonou, eu superei isso. Mas perder meu bebê... só o
pensamento de estar grávida de novo me faz... eu não sei, eu
simplesmente não aguento.

Ryke assentiu silenciosamente e eu me aproximei dele.

—Isso faz sentido? —Perguntei. —Você já se sentiu assim


depois que Maggie morreu? Como se você simplesmente não pudesse
voltar lá de novo?

—Sim, eu passei por isso. Nos primeiros seis meses, eu estava


ou zangado ou entorpecido. Depois fiz muito sexo aleatório. —Suas
sobrancelhas franziram como se ele estivesse pensando em alguma
coisa. —Você parou aquele beijo porque você não gostou, ou porque
você gostou?

Eu sorri quando nossos olhos se encontraram. —Você sabe a


resposta para isso. Você é o Jason Ryker destruidor de calcinhas.
Claro que gostei.

—Eu não tenho pensado em nenhuma calcinha, exceto na sua


desde que nos conhecemos.

—Você já pensou em minha calcinha? —Eu arqueei uma


sobrancelha para ele. —Isso é meio pervertido.

Ele deu de ombros e sorriu para mim. —Eu penso muito sobre
elas. Eu gosto especialmente quando você usa aquelas calças pretas
apertadas e eu posso ver o contorno da sua calcinha na sua bunda.

Eu olhei para minha calça preta de ioga e minhas bochechas


aqueceram. Como esse cara conseguia me fazer sentir sexy apenas
olhando para mim? Suas palavras eram como preliminares, quer ele
me tocasse ou não.

Quinn se atirava em mim assim que entrávamos em seu


apartamento ou no meu. Um sorriso, e então seus lábios estariam
sobre os meus. Mas Ryke estava construindo meu apetite por ele de
uma maneira que era atraente e agonizante ao mesmo tempo.

Ele abriu a boca para dizer algo e nós dois viramos para o som
da porta dos fundos se abrindo. Mamãe e Dale estavam em casa.
Droga.

—Olá! —Mamãe gritou bem alto. Ryke e eu sorrimos um para


o outro.

—Oi! —Eu gritei de volta.

—É melhor eu ir. —Disse Ryke, levantando-se do sofá.

—Ei. —Eu disse em um impulso. —Vou acampar com alguns


amigos do ensino médio no próximo final de semana. Nós nos
encontramos neste acampamento em Wisconsin todos os anos no
final do verão. É apenas rafting e pesca e bebida, nada excitante. De
qualquer forma, se você quiser ir... quero dizer, se você não estiver
ocupado...

—Sim, parece bom. —Disse ele.

Ele disse boa noite para mamãe e Dale e depois para mim, e
enquanto caminhava para o jipe, suas palavras ainda corriam pela
minha mente. Sim, um fim de semana inteiro com Ryke soava muito
bem.

***

Ryke

Era bom estar patinando de novo. Eu não tinha feito nada no


período de férias e sentia falta do ritmo. Treinos de patinação no frio
da nossa arena me deram aquela ansiosa expectativa de pré-
temporada. Eu amava o hóquei profundamente. O cheiro de luvas de
couro manchadas de suor e pipoca velha me faziam sentir em casa,
não importava onde eu estivesse.

—Passe, idiota! —Luke rosnou para mim. Eu olhei para cima


e lancei o disco em sua direção com meu taco.

Eu estava distraído pensando em Kate. Quando ela pegou


minha caneca depois que terminamos nosso café esta manhã, nossas
mãos se tocaram e o jeito como ela olhou para mim...

Me beije, Ryke. Eu sabia que era o que ela estava dizendo. Porra
sabia disso tão certo quanto eu sabia de alguma coisa. Os cílios
agitados e os lábios entreabertos disseram em alto e bom som.

Mas eu recuei. Ela realmente não queria, eu sabia. Ou ela


queria, mas não queria. Porra, eu tinha que conseguir me conter. Não
tocá-la era quase impossível. Muitas vezes tive que colocar minhas
mãos nos bolsos para evitar isso.

—Você está pensando em Kate de novo. —Disse Luke


quando paramos para uma pausa para água, nossos patins jogando
neve na parede da pista. Eu balancei a cabeça e olhei para ele.

—Vá se foder.

—O quê? Transe com ela e acabe com isso, cara. Ou transe


com outra pessoa para tirá-la da sua mente.

—Eu não estou obcecado por ela, seu idiota. —Eu disse, ainda
ofegante por causa da patinação. —Não tente ler minha mente.

Victor Stein deslizou até parar perto em nós. —E aí, garotão?


—Eu disse, sorrindo. Victor era um defensor de 1,98m de altura que
tinha 108 quilos de músculos sólidos.
—Ei, Vic. —Luke chamou. —Quando Ryke está distraído, em
quem ele está pensando?

—Naquela loira gostosa que ele chama de 'assistente'. —Disse


Victor, sorrindo enquanto fazia aspas no ar.

—Estou pensando em Dawn, idiota. —Eu disse. Ouvir o


nome de sua esposa tirou o sorriso de seu rosto. —Deus, eu amo o
jeito como ela grita meu nome. Ela deixa você bater na bunda dela,
ou isso é só comigo?

Ele empurrou meu ombro e eu o empurrei de volta, fazendo-


o deslizar alguns metros para trás. Ele estava voltando para mim
quando o grito do técnico Renner o deteve.

—Senhoras, guardem isso para um jogo! Voltem ao trabalho!

—É melhor você ter cuidado. —Victor murmurou para mim.

Eu sorri e patinei para longe. Minha excitação hoje não era


apenas pela sensação familiar de minhas lâminas de patins deslizando
sobre o gelo. Eu havia ligado para uma loja de artigos esportivos no
caminho para o rinque esta manhã e pedi que entregassem material
de acampamento no meu apartamento. Eu passaria todo o fim de
semana com Kate e, à noite, ficaríamos sozinhos em uma barraca.

Se eu pudesse ajudá-la a deixar de lado seus medos, poderia ser


o fim do período de seca para nós dois. O dela era mais longo do que
o meu, mas três meses era um tempo longo pra caralho para mim.
Desde que eu a conheci, não era mais apenas sexo que eu queria. Era
a Kate. A pequena vulnerável, doce e sexy Kate, que estava me
fazendo pensar se talvez houvesse uma segunda chance.
CAPÍTULO 08

Kate

Balancei minha cabeça quando Ryke se abaixou para


reorganizar itens na parte de trás do Mustang. Estava lotado com o
que parecia ser suprimentos suficientes para uma excursão de um
mês.

—Isso é muita cerveja. —Eu disse, contando quatro caixas


empilhadas no assento.

—Com tantas pessoas, não é tanto assim. —Sua voz era


abafada enquanto ele reorganizava as coisas para dar espaço para
minha bolsa.

—Sim, mas cada um leva o seu, e você embalou quatro


garrafas de licor.

—Eu não sabia o que você gostava. Me passe sua bolsa.

Entregando minha mochila roxa esfarrapada, sorri. Ryke tinha


se esforçado muito para comprar e embalar tudo isso. Foi uma
inversão de papéis para nós, já que geralmente era eu que planejava e
fazia o trabalho de campo.

—Ei, obrigada por fazer isso. —Eu disse.

Ele saiu do carro e fechou a porta, sorrindo vitoriosamente e


passando a mão na testa. —Eu queria. Nós dois precisamos fugir. Os
meus jogos de pré-temporada começam em breve e depois eu vou
estar muito na estrada.

—Sim, vai ser bom ficar longe. —Eu disse, suspirando


enquanto percorria as mensagens do meu celular e apagava duas
mensagens de voz de Quinn que eu nunca tinha ouvido.

Eu pulei dentro do carro, ansiosa para sair. No momento em


que Ryke saiu da garagem, me senti um pouco mais leve. Eu esperava
que todas as minhas preocupações permanecessem em Chicago para
que eu pudesse ter mais do que um vislumbre passageiro da feliz e
despreocupada Kate que eu era antes.

—Rádio esportivo está bem? —Ryke perguntou, apertando


um botão no console. Murmurei meu ok e me inclinei para trás para
assistir a nossa partida da cidade congestionada. A longa fileira de
carros cheios de bagagem se estendia lentamente até chegarmos a
sinuosas estradas rurais arborizadas.

Eu não via campos infinitos de grama há muito tempo. A tela


de paisagem verde brilhante e céu azul infinito acabou com minha
tensão. Ryke e eu conversamos sobre nossos dias de escola primária
durante quase toda a viagem. Ele já jogava hóquei desde antes do
jardim de infância, então estava infundido em todas as suas melhores
memórias e amizades.

—Não importa em qual time eu esteja, eu sempre serei um


Firebird12. —Ele disse, seus olhos suavizando enquanto falava sobre o
time pelo qual jogou no colegial. —Esses caras significam muito para
mim. Meu antigo colega de time, Yuri, está no time de Montreal agora.
Nós sempre nos reunimos depois dos nossos jogos.

—Como é um Firebird? —Eu perguntei, arqueando uma


sobrancelha.

12
Em português: pássaro de fogo.
—Fodão. Eu vou te mostrar um se você quiser. —Ele olhou
para uma placa na estrada quando nos aproximamos do
acampamento.

—O estacionamento fica a poucos quilômetros de distância.


—Eu disse. —E como você vai me mostrar um Firebird?

—Eu tenho um no meu quadril. O logotipo da minha antiga


equipe.

Meus lábios se separaram quando me lembrei das pontas


pretas que serpenteavam acima do cós no anúncio de roupas íntimas.
—Oh. Uma tatuagem?

—Sim. É um pássaro com chamas ao redor.

—Doeu?

—Na verdade não. —Ele encolheu os ombros. —Você se


acostuma enquanto fica sentado lá.

—Você tem outras?

—Apenas uma. —Ele olhou para fora do para-brisa na estrada


de terra estreita. —Na minha omoplata esquerda. É uma rosa com
videiras ao redor da letra H.

Seus olhos ficaram um pouco sombrios e eu poderia dizer que


isso era um assunto ruim. Ex-namorada, talvez? O silêncio pairava, e
eu estava tentando pensar em uma mudança de assunto quando ele
olhou para mim.

—É para minha irmã Hannah. Ela morreu de leucemia quando


tinha quatro anos.

—Oh, Ryke. Deus, sinto muito.


Ele suspirou suavemente. —Eu tinha nove anos quando
aconteceu. O nome dela era Hannah Rose, é por isso que tenho uma
rosa.

Um lampejo de tristeza passou por seu rosto, e percebi que


nunca tinha visto esse lado de Ryke. O pensamento de sua família
passando por isso era mais do que eu poderia suportar pensar.

—Por que você fez a tatuagem nas costas? —Eu perguntei. —


É porque é muito pessoal e você não quer que o mundo inteiro a veja?

Ele abriu um grande sorriso. —Há uma razão, mas parece


brega.

—O que poderia ser brega sobre isso?

—Eu comecei a querer essa tatuagem quando tinha 14 anos.


Meus pais não me deixaram fazer uma quando eu era tão jovem. Eu
nunca me esqueci disso, e a fiz no meu décimo oitavo aniversário. Eu
a queria atrás, onde não posso vê-la, para me lembrar que... —Ele
suspirou e esfregou o queixo. —Às vezes, mesmo que você não possa
ver alguém, ela está sempre com você.

E foi isso. Assim que ouvi essas palavras, soube que este era
um homem pelo qual eu poderia me apaixonar profundamente. Se eu
soltasse o aperto firme que tinha no meu coração, ele seria o dono.
Eu gostaria que pudéssemos dar meia volta e ir para outro lugar;
passar este final de semana completamente à sós.

Ele estacionou em uma vaga ao lado dos meus amigos Josh e


Lee. A visão do cabelo loiro desgrenhado de Lee me fez sorrir. Ele
não mudou nada desde o colegial.

—Kate! —Lee disse, vindo em minha direção com os braços


abertos enquanto eu saía do carro. Josh estava admirando o carro de
Ryke.
—Ei. —Eu disse, apertando Lee com força.

—Cara, você parece familiar. —Josh estava dizendo para Ryke


enquanto eles apertavam as mãos.

—Este é Ryke. —Eu disse.

—Ryker! —Josh disse, apontando para ele. —Você joga


hóquei?

—Sim. —Disse Ryke. Eu fui ficar ao lado dele. Ouvir sobre


sua irmã me fez querer envolver meus braços ao redor dele, mas me
contentei em sentir seu calor ao meu lado.

—Todo mundo está no acampamento. —Disse Lee. —Vocês


querem ajuda para carregar suas coisas?

—Sim. —Eu disse, virando-me para o carro. Será que meus


amigos pensariam que Ryke e eu éramos um casal? E se eles achassem,
eu os corrigiria?

***

Kate

Madie e Allie eram gêmeas com cabelos em ondas castanho-


escuras reluzentes e olhos azuis brilhantes. Fizemos cross-country13
juntas e eu passei muitos quilômetros atrás de uma ou outra
admirando suas pernas longas e perfeitas.

13
Cross Country consiste em uma corrida ao ar livre em terreno acidentado com vários obstáculos naturais
tais como subidas com diferentes inclinações, descidas, troncos de árvores, pequenos riachos, grama e
terra batida.
Elas estavam em um grupo com Michelle, que era um ano mais
nova que nós, e que se casou com nosso amigo Deacon, e Lexi, que
havia abandonado a faculdade para abrir seu próprio salão. Eu ouvi
dizer que estava indo bem.

—Ei, garotas! —Eu disse, sorrindo quando me aproximei.


Havia algo de reconfortante em ver amigos que conhecia desde a
infância. Ryke tinha sido cercado por meus amigos e estava falando
sobre hóquei com eles enquanto todos eles desempacotavam
equipamentos de camping.

Olhando para mim, os olhos de Maddie se arregalaram e todos


ficaram quietos. Parei de andar, uma sensação sinistra me tomando.

—Ei, Kate. —Disse Maddie. Eu vi Lexi enfiando algo em sua


bolsa e enruguei meu rosto em confusão. Ninguém queria olhar para
mim. Eu era como uma colegial estranha se aproximando dos
adolescentes legais e sentindo sua rejeição.

—Estou interrompendo? —Eu disse. —Eu não sabia...

—Não! —Lexi me alcançou com um abraço. —É tão bom ver


você, Kate.

—Vocês vão me dizer o que está acontecendo? Vocês estavam


falando de mim? —Meu coração disparou quando me perguntei o
que elas poderiam estar dizendo. “O que ela está fazendo com Jason
Ryker?” “Você soube que ela ficou grávida e perdeu o bebê?” Este
encontro anual era geralmente a única vez que eu via esses amigos,
mas certamente isso já era uma notícia antiga.

—Uh... —Lexi recompôs sua expressão e evitou o meu olhar.


—Eu estava... mostrando fotos do meu filho.

Eu vacilei um pouco, como se o chão estivesse se movendo


embaixo de mim. —Seu filho? Lexi! Eu nem sabia que você estava
grávida!
Sorria, Kate. Sorria. Seja feliz. Vamos.

Mas eu não pude. Não porque eu não estivesse feliz, mas


porque estava chocada.

—Sinto muito. —Lexi disse suavemente. —Eu não queria


deixar você de fora, é só que... eu não queria fazer você se sentir mal.
Eu engravidei na mesma época que você, mas você não sabia e...

—Oh. —Eu queria ficar sozinha com minhas lágrimas, mas


não consegui. Por enquanto, eu tinha que sorrir e fingir. —Lex, isso
é ótimo. Estou feliz por você. Por favor, não se sinta estranha sobre
isso. Somos amigas e ainda estou feliz por você.

Eu me lembrei de dizer como estou feliz? Por favor, por favor, não pegue
as fotos de volta.

—Eu sei, Kate. Sinto muito pela sua perda. Eu queria te ligar
quando soube, mas eu só... eu não sabia o que dizer.

Meu fraco sorriso provavelmente não foi convincente, mas foi


tudo que pude reunir. —Obrigada. Compreendo.

Eles estavam todos olhando para mim, e eu vi pena e


desconforto quando olhei no rosto de cada um. Este fim de semana
seria horrível. Eu só queria ir para casa.

As lágrimas não esperariam muito mais tempo. Eu me afastei


de meus amigos e gesticulei em direção ao cais. —Eu só vou...

Eu me virei e fui embora sem terminar. Imaginei que Ryke


ainda estava falando de hóquei com os caras, e eu poderia levar alguns
minutos para ficar sozinha com meus pensamentos.

O longo cais de madeira avançava sobre a água azul do lago, e


cada passo em direção ao final me deixava um pouco mais leve. O
cheiro de musgo de pinho da mata tinha desaparecido quando me
sentei no final do cais, balançando as pontas dos meus dedos na água.
Não era como se eu não estivesse feliz por Lexi. Só porque
perdi meu bebê não significava que não queria que mais ninguém
tivesse um. Eu não desejaria o que aconteceu comigo nem para o meu
pior inimigo. Mas a pena nos rostos dos meus amigos apenas trouxe
toda a dor de volta. Eu nunca mais seria Kate Camden. Eu me
tornaria Kate Camden – você sabe, aquela que perdeu o bebê.

Se meu bebê tivesse vivido, eu poderia estar exibindo fotos


para ela. Falando sobre datas futuras de brincadeira com Lexi. Em
vez disso, eu estava vazia e nunca sentiria essa alegria.

As vibrações de passos se aproximando nas tábuas de madeira


me fizeram virar. Ryke estava andando em minha direção, seu boné
protegendo os olhos. Voltei-me para a água, enxugando as bochechas
molhadas com os dedos.

—Ei. —Disse ele quando parou atrás de mim. Eu esperava


que ele perguntasse o que estava errado, mas em vez disso ele sentou-
se atrás de mim, suas pernas do lado de fora das minhas e seu peito
apoiando minhas costas. Prendi a respiração quando ele juntou meus
longos cabelos em suas mãos e os colocou sobre um dos meus
ombros.

Sua respiração estava quente contra o meu pescoço nu


enquanto ele envolvia os braços em torno da minha barriga. Suas
pernas eram muito mais longas que as minhas e seus pés estavam
completamente submersos na água.

—Meu pai costumava nos levar para pescar em um lago como


este. —Disse ele. —Eu e meus irmãos.

—Você tem irmãos? —Eu imaginei Ryke quando criança.


Com aquele cabelo escuro e aqueles lindos olhos caramelo, eu sabia
que ele era fofo.
—Sim. Eu sou o do meio. Jeremy é dois anos mais velho que
eu e Scott é três anos mais novo. Nós amávamos essas viagens de
pesca. Papai estava constantemente arrumando o anzol ou soltando
o peixe de alguém, de modo que ele mesmo mal conseguia pescar.

O calor em sua voz me fez pensar em meu próprio pai. Ele e


mamãe se divorciaram quando eu tinha cinco anos. Ele morava na
Califórnia agora com sua nova família. Só eu e mamãe era o meu
normal.

—Ele deve estar tão orgulhoso de você. —Eu disse. —Ele


vem para seus jogos?

—Às vezes.

—E os seus irmãos?

Eu senti um suspiro fazendo subir o peito de Ryke e escapar


com uma respiração suave no meu pescoço. —Jeremy estava jogando
hóquei semiprofissional, mas caiu de uma escada quando tinha 21
anos e arruinou as costas. Ele nunca mais jogou. Agora ele vende
seguros. E Scott é o sócio do meu pai na loja.

Seus dedos roçaram meu antebraço enquanto ficávamos


sentados em silêncio, o único som vindo das ondulações leves das
minúsculas ondas do lago. O corpo de Ryke estava em volta do meu
e o calor que emanava dele era mais do que físico. Eu nem precisei
perguntar; ele sabia o que tinha acontecido com minhas amigas do
ensino médio alguns minutos antes.

—Como é isso? —Eu perguntei, deixando minhas costas


relaxarem completamente contra seu peito. —Eles esperam coisas de
você, já que você é tão bem sucedido?

Seu peito se moveu quando ele deu uma risadinha. —É o


oposto, na verdade. Ninguém na minha família vai tirar nada de mim.
—Mesmo?

—Não. Eu parei de tentar. Eu queria que meus pais se


aposentassem e construíssem a casa dos seus sonhos, mas meu pai
ficou ofendido. Disse que nenhum filho dele jamais o sustentaria. —
A tristeza em sua voz me fez desejar, por uma fração de segundo, que
fosse eu que estivesse segurando-o.

—Mas tenho certeza de que eles estão felizes por você. —Eu
disse, passando as pontas dos dedos por seu antebraço duro e
musculoso.

—Sim, eles estão. Mas é diferente agora, sabe? Meus pais não
sabem o que me dar no Natal porque pensam que tenho tudo o que
quero. Jeremy se ressente que ainda jogo hóquei e acha que seus filhos
vão crescer me idolatrando ao invés dele.

—Você os vê muito?

Seus dedos brincavam com as pontas do meu cabelo. —


Quando posso. É difícil durante a temporada. Os caras da equipe são
a família mais próxima que tenho. Mas quando você é um jovem
viúvo, isso só torna as coisas... esquisitas. Muitos deles agem de forma
diferente ao meu redor agora.

—Então você está dizendo que sabe como me sinto? —


Acariciei meu pé contra o tornozelo dele e ele apertou seus braços em
volta de mim um pouco mais.

—Não. Estou dizendo que sei como é se sentir sozinho. Ter


algo muda a maneira como todos olham para você.

A palavra "todos" ecoou em minha mente. Ryke tinha perdido


Hannah e Maggie e parecia que sua família não podia se relacionar
com a versão rica e famosa dele. Ele tinha alguém em sua vida que
poderia deixar tudo isso de lado? Alguém para amá-lo
incondicionalmente? Eu tinha minha mãe. Nós batíamos cabeças
algumas vezes, mas no meu coração eu sabia que ela era minha
campeã.

Mas Ryke parecia estar sozinho. E ele não só tinha sobrevivido


às suas perdas; ele estava vivendo o sonho de sua carreira de hóquei.
Por que não poderia ser forte e segura assim?

Virando minha cabeça para descansar minha bochecha em seu


peito, fechei meus olhos e absorvi a luz, o cheiro limpo de sua colônia.
Eu queria me fundir com a força sólida de seu corpo e esquecer todas
as minhas preocupações.

Algumas gotas de água atingiram o meu braço, fazendo eu me


erguer rapidamente em sinal de alarme. Meu amigo Deacon estava
rindo da margem do lago, segurando várias pedras grandes na mão.

—Acho que devemos ser sociais. —Eu disse, suspirando.


Ryke se levantou do cais e estendeu a mão para me ajudar a levantar.

—Mas eu posso ficar sozinho com você hoje à noite, certo?


Na nossa barraca? —Seus ombros e peito largos eram intimidadores
enquanto ele olhava para mim, um contraste com o calor de sua voz.
Eu só consegui acenar com a cabeça quando ele me levantou, meu
estômago revirando nervosamente.

A velha eu – Kate Camden – teria ficado tonta de excitação com


a perspectiva de estar sozinha esta noite com o homem moreno e
lindo ao meu lado. Mas Kate Camden – você sabe, aquela que perdeu o bebê
– estava apavorada. E se ele quisesse me beijar e me tocar, e acordar
os sentimentos de desejo que estiveram adormecidos por tanto
tempo? E pior ainda, e se eu quisesse que ele o fizesse?

***
Ryke

Desde o segundo em que Kate puxou a camiseta por cima da


cabeça e eu vi seus seios redondos e perfeitos em exibição em um
biquíni branco, sabia que não havia esperança para mim. Eu estava
com sérios problemas.

Ela deslizou seu short jeans para baixo em suas pernas magras
douradas e engoli em seco, absorvendo a visão mais íntima de seu
corpo que eu já tinha tido.

A respiração que eu soprei enquanto esfregava a mão sobre a


minha barba por fazer era involuntária. Eu senti desejo por Kate
muitas vezes. Desde a primeira vez em que a vi no grupo, soube que
estava atraído por ela. E ela tão vulnerável. Aqueles grandes olhos
castanhos me pegavam toda vez.

Me movendo para ajustar meu pau latejante em meu short,


finalmente admiti para mim mesmo. Pela segunda vez na minha vida,
estava olhando para uma mulher que eu queria foder
enlouquecidamente e depois me aconchegar enquanto o sol nascia.
Eu estava louco por Kate.

Ela estava rindo de algo que uma das gêmeas disse, e quando
ela virou seu sorriso largo e deslumbrante para mim, meu coração se
retorceu com a necessidade dela.

Eu me senti perturbado só de olhar para ela, mas não pude


evitar. Ela parecia linda quando puxou seu longo cabelo loiro em um
rabo de cavalo e ia do cais para uma boia preta tipo tubo.

—Você vem, Ryke? —Ela chamou, protegendo os olhos do


sol com a mão.
Quase. Eu estava bem apertado agora, tendo passado mais de
três meses sem sexo e vendo Kate desfilando de biquíni. Eu mal podia
esperar para ficar sozinho com ela à noite. Ela finalmente parecia estar
se abrindo para o meu carinho. Eu queria começar devagar e mostrar-
lhe como era ser saboreada. Aquele idiota do Quinn provavelmente
não sabia a primeira coisa sobre ser um bom amante.

—Ryke! —Ela me chamou de novo e balancei a cabeça, saindo


do feitiço sob o qual estava.

—Sim, estou indo. —Eu disse, pegando uma boia e indo em


sua direção. Era uma pena que não houvesse uma escassez de boias,
porque eu adoraria compartilhar uma com ela.

Eu não conseguia me lembrar da última vez que passei um dia


ao sol, sem ser para treinar. Estava relaxando, bebendo cerveja e não
fazendo nada. As amigas de Kate estavam olhando para mim, e me
perguntei se ela notou. Ela parecia alheia, tocando os dedos dos pés
na água e lendo um livro enquanto flutuava.

Porra, suas pernas eram sexys. Magras, tonificadas e


implorando para serem abertas. Ela tremeria antes mesmo de eu estar
dentro dela, e o pensamento fez minhas bolas doerem
desconfortavelmente.

—Ei. —Chamei Kate, remando minha boia para mais perto da


dela. —Quer nadar?

—Não! —Ela gritou, me dando um olhar de advertência. —


Ryke, não! Meu cabelo!

—Vamos! —Eu quase a tinha alcançado e ela estava tentando


remar, mas não teve chance. Seu sorriso despreocupado era uma bela
visão. Ela gritou meu nome quando inclinei a boia e sorri ao vê-la
afundar.
—Eu não posso acreditar que você fez isso! —Ela estava
olhando para mim, mas não de uma maneira irritada, quando emergiu.
Seu cabelo molhado e a água em sua pele a deixavam ainda mais sexy.

Ela sorriu e pegou minha boia, sem dúvida planejando dar o


troco. Mas meus 100 quilos eram muito mais do que sua pequena
estrutura poderia lidar. A visão dela segurando a borda da boia entre
meus joelhos separados era quase mais do que eu poderia suportar.

—Você quer que eu entre com você? —Eu disse, rindo. —


Tudo o que você precisa fazer é dizer.

—Entre aqui comigo. —Ela disse levemente. Eu deslizei para


a água fria e realmente me senti ótimo.

—Agora nós dois vamos cheirar a lago até conseguirmos


chuveiros. —Disse Kate. Afastei meu cabelo pingando da minha testa
e sorri para ela.

—Vale a pena. —Eu disse. —Eu amo deixar você molhada.

Ela desviou o olhar, sorrindo. Eu sabia que ela estava tentando


parecer tímida e chocada, mas não estava funcionando. Ela adorava
isso. O pôr do sol não poderia vir rápido o suficiente para minhas
bolas dolorosamente inchadas.

***

Kate

Quando Deacon explicou o jogo que sempre jogávamos em


nossa primeira noite no acampamento, Ryke olhou para mim com
ceticismo.
—Não é nada de mais. —Eu disse. —Você verá.

—Então, nós ficamos em um círculo, e quando é a sua vez,


você tem que virar uma bebida ou beijar alguém. —Disse ele,
balançando a cabeça ligeiramente.

—E você não pode beijar a mesma pessoa duas vezes. —Disse


Deacon. —E o beijo tem que ser pelo menos cinco segundos
completos e envolver a língua.

—É uma vitória para todos. —Disse John, esfregando as


mãos. O jogo era a única razão pela qual eu tinha beijado todos os
caras ao redor da fogueira ao longo dos anos que acampávamos aqui.

Quando caminhei até o grupo, me sentando ao redor da


fogueira, as gêmeas eram como pão em um sanduíche de Ryke, então
me sentei na frente dele. Ele tinha vestido uma camiseta, e eu senti
falta do jeito que ele parecia sem ela.

Maddie, a irmã gêmea à esquerda de Ryke, foi a primeira, e ela


tentou parecer que estava considerando suas opções.

—Eu não quero ficar bêbada muito rápido... —Ela disse,


olhando para o chão. Suspirei profundamente.

Acabei com isso, Maddie. Você é péssima em se fingir de tímida.

Ela bateu os cílios para Ryke. —Eu acho que vou beijar o
único cara aqui que não beijei ainda. —Disse ela.

Eu me perguntei se ele olharia para mim e buscaria minha


permissão silenciosa, mesmo que não estivéssemos juntos. Maddie
inclinou-se para ele apenas um segundo depois, e meu estômago
revirou com essa nova sensação. Eu nunca havia trazido um homem
para o acampamento. No ano passado, a primeira vez que estive com
alguém em algum tempo, Quinn não pôde vir porque ele tinha que
trabalhar.
Ver Ryke abrir a boca para Maddie me fez ferver por dentro.
Eu estava vendo o jogador jogar, por que fiquei surpresa?

Meus amigos ainda estavam tentando descobrir o que estava


acontecendo entre mim e Ryke. Inferno, eu também estava. Mas para
o benefício deles, tentei parecer divertida com o beijo prolongado de
sete segundos.

Maddie pressionou os dedos nos lábios após o beijo e Ryke


encontrou meus olhos. Eu não quis deixar nada transparecer. Ele era
o próximo, e quando ele viesse me beijar, eu planejei ter certeza de
que seria um beijo melhor do que aquele tinha sido.

—Ryke? Faça a sua escolha. —Disse Deacon, sorrindo. Claro


que Ryke me escolheria. Era estúpido até me preocupar com isso. Ele
não ousaria me pular e beijar uma das minhas amigas primeiro.

—Muitas escolhas tentadoras, mas vou ter que ir com o Jack.


—Disse Ryke, pegando uma garrafa. Eu estava momentaneamente
atordoada, como se alguém tivesse me dado um tapa. Ele bebeu uma
dose e eu soltei um suspiro lento. Ryke tinha acabado de me rejeitar
na frente de todos os meus amigos.

Claro que Allie também o beijou. Claro. Ele estava parecendo


uma estrela do rock, como de costume. Ver os lábios dela nos dele
não me incomodou tanto quanto ser rejeitada por ele.

Lee uma vez me disse que tinha uma queda por mim no ensino
médio, embora nunca tivéssemos sido nada além de amigos. Quando
chegou sua vez, ele piscou para mim e se levantou do tronco em que
estava sentado.

—Levante-se. —Disse ele, estendendo a mão para mim.


Deixei que ele me ajudasse, e então sorri para o jeito como seu cabelo
desgrenhado pendia perto de seus olhos cor de avelã.
Seus lábios eram suaves e doces, do jeito que eu me lembrava
dos anos anteriores. Mas havia algo sobre o beijo que atingiu meu
coração. Este era Lee, meu querido e velho amigo, e eu não precisava
me preocupar com a tontura que o beijo de Ryke na minha varanda
de casa tinha me causado. Eu poderia apenas me divertir e me lembrar
como um beijo poderia ser legal. A língua de Lee era gentil e
preguiçosa contra a minha.

—Tempo! —Uma voz profunda gritou e me afastei para ver


Ryke olhando para mim e Lee.

—Cara, eu só posso beijá-la uma vez por ano. —Lee


resmungou, voltando para o seu lugar.

Eu assisti minhas amigas beijarem Ryke uma a uma, e quando


chegou a minha vez, brevemente considerei beijar Lee. Mas uma dose
parecia melhor, então eu derramei da mesma garrafa que Ryke bebido.

Não apenas desceu queimando, deixou minha garganta em


chamas. Eu cuspi e respirei fundo. Quando me recompus, Ryke
estava olhando para mim, não com preocupação, mas magoado.
Sério? Ele realmente esperava que todas as seis mulheres aqui o
beijassem primeiro? Dane-se isso. Meu ego ainda estava machucado
por ele não me beijar.

O jogo pareceu se mover rapidamente a partir daí. Eu fui


beijada por John e Deacon e tomei mais três doses quando o chão
começou a girar em torno de mim, mesmo que eu estivesse sentada
imóvel. Nada bom.

—Estamos fora, pessoal. —Disse Ryke, levantando-se e


caminhando até mim.

—Eu não estou fora, estou bem. —Eu disse, ignorando a mão
que ele estendeu para mim.

—Você está destruída. Vamos nos deitar.


—Estou me divertindo. —Eu disse, tentando olhar para ele.
Meu rosto não fez o que queria, e me perguntei que tipo de olhar eu
estava realmente dando a ele.

—Você não pode mais beber, querida. —Ryke se abaixou e


agarrou minha cintura e tudo realmente começou a girar quando ele
me jogou por cima do ombro.

—Ryke! —Eu gritei. —Eu quero mais bebidas! Mais bebidas


e mais beijos! —Bati meus pés em protesto e o ouvi rindo.

—Você vai ter que me beijar, então. —Disse ele, batendo em


minha bunda tão forte que gritei. Ele estava andando, e eu me
contorci para me libertar, mas desisti rapidamente. Ele era muito
forte.

O álcool misturou tudo, mas eu sabia que estava chateada.


Quando Ryke me moveu em seus braços e me carregou para a barraca
que ele tinha montado para nós, me arrastei direto para o meu saco
de dormir.

—Você está bem? —Ele perguntou.

—Estou bem. —Eu disse, desejando não parecer tão


petulante.

—Pelo que você está brava? —A diversão em sua voz só


alimentou minha raiva.

—Você me rejeitou. —Eu disse, arrastando um pouco as


palavras. —Nós deveríamos passar um tempo juntos e você beijou
todas as garotas daqui, menos eu.

—Eu não beijei ninguém. —Disse ele. —Eu bebi cinco doses,
se lembra? Nós paramos logo depois do último que bebi.

Como ele estava sentado ereto e falando tão claramente? Eu


tive que fechar os olhos para não ficar tão tonta.
—Você beijou todas elas. —Eu disse calorosamente.

—Elas me beijaram, Kate. Eu estava apenas jogando junto


com o jogo. Você fez sua parte de beijar também.

—Pelo menos alguém queria me beijar. —Eu disse, parecendo


um pouco patética. Ryke riu baixinho ao meu lado.

—É por isso que você está chateada?

—Não ria de mim. —Eu disse, estendendo a mão para bater


em seu peito, mas apenas batendo no ar.

—Você é uma visão, querida. Durma.

—Por que você não quis me beijar? —Perguntei, esperando


descobrir antes que tivesse que sair da barraca para vomitar.

—Eu queria, Kate. Sempre quero. Mas eu não queria chatear


você.

—Você não quer que meus amigos pensem que você gosta de
mim. —Eu disse, respirando fundo para conter as ondas de náusea.

Ele riu levemente novamente. —Eu não acho que você não
precisa se preocupar com isso. —Disse ele.

—Eu me preocupo. —Eu disse, rolando para enfrentá-lo. Eu


nem sequer dei uma olhada nele antes de enterrar meu rosto na capa
acetinada do meu saco de dormir. —Bebi demais. —Minha voz foi
abafada pelo tecido.

—Sim, tente dormir.

—Eu ainda estou brava com você. —Eu disse, imaginando se


ele poderia me entender.

—Eu sei. Apenas vá dormir.


—Mmm. —Eu não tinha energia para formar palavras. Eu não
conseguia nem mesmo me animar em dormir ao lado de Ryke. Minhas
pálpebras caíram e eu cedi ao relaxamento.

***

Ryke

Eu estava percorrendo mensagens no meu celular quando


Kate levantou a cabeça do travesseiro. A luz do sol da manhã
iluminava seu cabelo loiro emaranhado e o rímel que havia se
espalhado sob seus olhos.

—Merda. —Ela murmurou, estremecendo um pouco. —Eu


me sinto mal.

—Provavelmente está de ressaca. —Eu disse.

—Ugh. —Ela deixou a cabeça cair de volta no travesseiro. —


Eu preciso correr.

—Correr? Você precisa voltar a dormir.

Ela se sentou e tentou alisar os emaranhados de seus cabelos.


—Não, gosto de fugir de uma pequena ressaca.

Arqueei minhas sobrancelhas para ela, um pouco


impressionado. —Eu vou com você. Eu poderia aproveitar uma
corrida.

—OK. Um banho quente seria incrível também, mas os


chuveiros aqui são mais mornos... Eu só preciso encontrar um
Tylenol na minha bolsa e me trocar rapidamente.
Esperei por ela do lado de fora e ela logo surgiu em um top e
shorts esportivos, o cabelo puxado para trás e sua maquiagem de um
dia limpa. Seu rosto fresco e a visão dela esticando as pernas em um
grande V no chão me fez querer voltar para barraca e compensá-la
por não tê-la beijado na noite passada.

—Qual é o seu ritmo? —Ela perguntou, olhando para mim.

—Nós podemos fazer o que você precisar. —Eu disse,


estendendo a mão para ajudá-la.

Ela sorriu e balançou a cabeça. —Vou ter que ir mais devagar


no seu ritmo, Ryke. Eu corri cross country no ensino médio.

—Eu corria na pista no colegial.

—Não é a mesma coisa. —Disse ela, sorrindo. —A menos que


você só queira fazer um sprint rápido.

—Você está falando de fazer uma meia maratona ou algo


assim?

—Não, apenas alguns quilômetros.

Eu puxei seu rabo de cavalo e sorri. —Então estabeleça o


ritmo, querida. Eu posso acompanhá-la muito bem.

Ela foi para o caminho de terra na floresta e eu a segui, meu


olhar fixo em sua bunda dura. O jeito como ela não parecia perceber
o quão sexy era me fez querê-la muito mais. Eu me perguntava onde
as coisas teriam ido se eu a tivesse beijado na noite passada.

O caminho se alargou e pude correr ao lado dela. Ela estava


em um ritmo de cerca de 10 quilômetros por hora, o que era
confortável para nós dois. Olhei de relance e admirei o leve ressalto
de seus seios no top esportivo apertado.
—Eu vi isso. —Disse ela, um sorriso dançando em seus lábios
rosados.

—Não estava tentando esconder. —Eu disse. —Você tem


ótimos... seios.

Sua risada me fez sentir mais leve. —Você não tem que agir
como se os chamasse assim.

Fingi indignação com as sobrancelhas franzidas. —Do que


mais eu os chamaria?

—Tetas, provavelmente? Peitos?

—Eu gosto do jeito que você diz peitos. —Provoquei. —Diga


isso de novo.

Seus olhos brilhavam com desafio quando ela olhou para mim.
—Quer correr, espertinho?

—Claro que sim. Mas não vou deixar você ganhar só porque
é uma garota.

Ela desacelerou enquanto ria. —Ryke, você é tão arrogante!


Eu corro há anos. É o que eu faço quando estou estressada, então
você pode imaginar quantos quilômetros eu fiz nos últimos meses.

—Por quê, eu estresso você? —Eu perguntei, parando.

—Não, você não. Apenas... outras coisas, sabe?

—Quinn ainda está incomodando você? —Dar uma surra nele


seria a maior diversão que eu teria em algum tempo.

—Nada que meu botão ignorar não suporte. Então... são cerca
de três quilômetros até uma grande placa para o lago Wonton...

—Lago Wonton?
—Eu não me lembro do nome real, mas está perto de Wonton.
É como nós o chamamos. Vamos dar a volta na placa e depois
retornamos ao acampamento.

—De acordo. —Eu disse, balançando para trás em meus


calcanhares para alongar as pernas. —E o vencedor ganha...?

As bochechas de Kate ficaram vermelhas e eu sabia o que ela


estava pensando. —Uh... eu não sei. Alguma ideia?

—O vencedor decide como passamos esta noite. —Eu disse.

—Feito. Nós estaremos fazendo manicures um ao outro perto


da fogueira, a propósito.

Joguei minha cabeça para trás dando risada. —Você é fofa.


Vou estar com o café da manhã pronto quando você voltar para o
acampamento.

—Vamos. —Disse ela, zombando.

Corremos a distância até a placa em um ritmo rápido. Ouvir


Kate respirando pesadamente era tão sexy que queria cancelar a
aposta e empurrá-la contra uma das grandes árvores na floresta.
Explorar sua pele suada com minhas mãos e boca e vê-la reagir ao
meu toque seria o suficiente para mim.

Ela passou por mim, planejando fugir e sorri. Me vencer no


Scrabble deu a ela uma falsa confiança. Deixei-a ficar na frente até os
últimos duzentos e cinquenta metros, quando a alcancei e passei por
ela.

—Merda! —Ela choramingou quando entrou no


acampamento, pressionando as palmas das mãos nos joelhos e se
abaixando para recuperar o fôlego. —Você é rápido para alguém tão
grande.
—Eu me exercito por horas todos os dias. —Eu disse,
puxando minha camiseta suada por cima da minha cabeça. —O
hóquei exige muita resistência.

Ela balançou a cabeça e eu sorri vendo este lado competitivo


de Kate. Eu gostava de ver algum fogo nela.

—O que há hoje? —John perguntou. —Pesca, rafting? O que


todo mundo está fazendo?

—Eu vou ficar bem aqui o dia todo. —Disse Deacon,


esticando as pernas em uma espreguiçadeira reclinada. Ele já estava
na metade de sua primeira garrafa de cerveja.

Kate andou em direção à praia e eu a segui. Eu nunca havia


deixado transparecer para ninguém como ela me fazia sentir. Mas, de
qualquer forma se eu não estivesse jogando hóquei, queria estar onde
ela estivesse.

***

Kate

Excitação floresceu quente no meu peito quando vi Ryke me


seguindo em direção à praia. Não parecia importar se estávamos
trocando brincadeiras de flerte, falando ou discutindo a longa jornada
da tristeza; eu gostava apenas de estar em sua presença.

—Ei. —Eu disse, virando-me quando ele me alcançou. —


Posso ver sua tatuagem?

—Qual?
Eu queria ver tudo dele naquele momento. Cada centímetro.
O calor se espalhou entre as minhas coxas e pela primeira vez, não
tentei suprimi-lo.

—Uh... eu estava pensando na que está em seu ombro. —Eu


disse. Ele se virou e eu deixei meus dedos vagarem através das linhas
em sua pele, traçando a letra H e as pequenas rosas que a envolviam
em trepadeiras.

—Eu amei isso. —Eu disse suavemente. Quando Ryke se


virou, sua expressão era vulnerável, questionando. Eu estava
impotente para lutar contra a onda de emoção que tomou meu peito.
Ele se aproximou um pouquinho mais de mim e eu estiquei meus
braços em direção ao pescoço dele. Seus braços poderosos
envolveram minha cintura e puxaram meu corpo para o dele.

Com um movimento rápido e fluido, ele me pegou, e seu peito


duro e suado pressionou contra o meu, que só estava coberto pelo
meu biquíni. Envolvi minhas pernas ao redor de sua cintura e senti
um pequeno gemido em seu peito enquanto ele pressionava seus
lábios contra os meus.

Não foi como o nosso primeiro beijo, que analisei em vez de


aproveitar. Este era todo sentimento. Seu corpo quente e forte. Meus
dedos finalmente alcançaram livremente sua linda cabeça de cabelos
escuros. Sua língua encontrando a minha insistentemente.

Eu me pressionei mais contra ele, tentando compensar todas


as vezes que estava com medo demais de beijá-lo. E o que havia a
temer? Isto era felicidade. Prová-lo e deixar minhas mãos deslizarem
sobre seus músculos suados atingia cada terminação nervosa em meu
corpo. Ele prendeu meu lábio inferior entre os dentes e mordiscou.
Minhas pernas inconscientemente apertaram em torno dele.

—Ryke. —Eu sussurrei, fechando meus olhos. Passei as


pontas dos meus dedos em sua bochecha para sentir a barba escura
que praticamente me implorava para acariciá-la dia e noite. Eu
finalmente estava.

Ele se afastou um pouco e ainda podia sentir o calor de sua


respiração em meus lábios enquanto ele falava em um tom baixo e
rouco.

—Este é o prêmio que eu quero. —Disse ele. —Deixe-me


passar a noite com seu coração em vez de sua mente.

Suas palavras me encheram de um desejo que fez um gemido


estrangulado escapar da minha garganta. Era o que eu queria também:
estar com Ryke e apenas sentir. A noite parecia muito distante.

Ele me abaixou de volta ao chão, mas eu não conseguia soltá-


lo. Uma das mãos estava enrolada em sua nuca e a outra ainda estava
enterrada em seus cabelos. Ele se inclinou para me acomodar e
pressionou a testa contra a minha.

Eu ainda estava sem fôlego pelo beijo, e os pensamentos desta


noite tornaram difícil desacelerar minha respiração. Eu queria ver
Ryke se sentir da mesma maneira que ele me fazia sentir: consumido
pela paixão. Eu poderia ter esse efeito sobre ele?

Um grito masculino alto quebrou o feitiço sob o qual


estávamos, e ambos nos viramos para ver Deacon esparramado no
chão. Ele havia caído da rede improvisada que fizera entre duas
árvores.

Relutantemente, deslizei minhas mãos pelo peito de Ryke.


Com uma respiração profunda, me afastei e forcei meu olhar da
protuberância considerável em seu short. Eu só tinha que encontrar
algo para me distrair durante a tarde. Certamente eu poderia fazer
isso. Eu não estive com um homem em um ano, o que eram mais
algumas horas?
CAPÍTULO 09

Kate

Eu estava desorientada quando abri meus olhos sob as lentes


dos meus óculos escuros.

—Hmm? —Eu disse, levantando minha cabeça.

—Você adormeceu. —Disse Lexi ao meu lado. Nós


estávamos no cais, pegando um pouco de sol. Lembrei-me de me
sentir quente e relaxada, o que deve ter levado a uma soneca.

—Meu sinal de celular aqui é uma merda. —Lexi resmungou,


jogando seu telefone no cais. Ela usava um chapéu de abas largas para
proteger o novo tom de chocolate de seu cabelo do desbotamento.

—Você tem fotos do seu filho aí? —Perguntei, voltando-me


para ela.

—Sim.

—Vamos ver. —Eu disse, empurrando meus óculos de sol


sobre os meus cabelos. —Qual o nome dele?

—Cade.

Ela me passou o telefone e eu passei as fotos de um bebê de


olhos brilhantes e cabelos escuros em cobertores variados, em um
balanço de bebê e nos braços de Lexi.
—Ele é lindo. —Eu disse, minha visão enevoada com
lágrimas. Houve um lampejo de tristeza por eu não ter fotos como
estas, mas principalmente fiquei feliz por Lexi por ela tê-las.

—Ei. —Ela disse suavemente quando eu entreguei o telefone


de volta. —Está tudo bem se você não quiser falar sobre isso, mas se
quiser, fica entre mim e você.

Suspirei. Ela sempre foi uma boa amiga no ensino médio. Ela
e John tinham começado a namorar na época, e eram um daqueles
casais que você sabia que ficariam juntos para sempre.

—Eu estava fazendo o ultrassom para descobrir o sexo,


quando a médica foi olhar, o bebê tinha morrido. —Eu disse, olhando
para as formas perfeitamente delineadas de nuvens no céu azul
brilhante.

—Eles sabem por quê?

—Não. Não tenho certeza. Eles tiraram meu sangue depois do


parto e fizeram muitos exames, mas nunca encontraram nada. A
médica disse que não parece haver nada de errado comigo. Que isso
pode acontecer por uma doença ou às vezes só porque o bebê não
está se desenvolvendo corretamente.

—Como você está lidando com tudo agora? —Lexi


perguntou. A preocupação enrugou os cantos de seus olhos.

—Eu não tenho certeza. —Disse, sorrindo e franzindo minhas


sobrancelhas. —Tem sido difícil, mas estou tentando seguir em
frente. Falando sobre isso com você agora... é a primeira vez que falo
a respeito e não choro.

—É bom falar sobre isso?


—Sim. —Eu disse, surpresa. —Não a princípio. Mas com
você... eu sei que você entende, e é seguro. Não sei se poderia falar
com qualquer pessoa sobre isso.

—Eu estou sempre, sempre aqui. —Ela disse, pegando minha


mão. —Eu sinto muito por não ter ligado para você depois. Tenho
vergonha de mim mesma. Chorei e orei por você, mas não sabia o
que dizer.

—Obrigada. —Eu disse. —De verdade. Eu sei que é difícil


quando você nunca esteve lá. Eu vou para um grupo de apoio ao luto,
e isso realmente me ajudou muito. Foi lá que conheci Ryke.

—Sério? —Lexi levantou uma sobrancelha em surpresa.

—Sim. Sua esposa foi morta por um motorista bêbado há dois


anos.

—A esposa dele? —A mão de Lexi voou até seu peito. —


Deus, isso é terrível.

—Sim. Tinha que ser muito mais difícil passar por isso sendo
o centro das atenções.

—Ele parece bem legal. Mas estou confusa, porque você disse
que ele é seu chefe e não seu namorado...

Eu cobri meu rosto com minhas mãos. —É complicado. Eu


acho. Nem sei, Lex. Eu não estive com ninguém desde Quinn. Às
vezes me pergunto se eu deveria tentar dormir com algum cara
aleatório com quem não tenho nenhuma relação. Ryke e eu temos
feito essa dança há três meses, e eu... gosto muito dele. Muito.

—Ele realmente gosta de você também. Eu posso dizer.


Aquele beijo mais cedo foi mais sexy do que qualquer outro sexo que
John e eu fizemos desde que Cade nasceu.
—Mas ele provavelmente não está procurando um
relacionamento depois de perder sua esposa...

—Dois anos atrás, Kate. Ele seguiu em frente, confie em mim.

—Mas e se ele só quiser sexo?

Lexi revirou os olhos dramaticamente. —Ele está saindo com


mais alguém?

—Eu não sei.

—Sério? —Ela olhou para mim com ceticismo.

—Eu acho que não. —Disse. —Liguei para ele no último final
de semana no sábado à tarde para jogar comigo e com mamãe e Dale
e ele estava livre.

—Ele veio até aqui com você, ele joga jogos de tabuleiro com
sua família e está disposto a ir devagar? Ele não quer apenas sexo,
Kate. Ele está interessado em você.

Eu sorri quando me estiquei no sol do fim da tarde. —Eu


realmente gosto dele, Lex. Tenho lido sobre hóquei e assistido jogos
na internet para saber o que está acontecendo quando a temporada
dele começar.

—Mas você vai deixá-lo marcar antes disso, certo? —Ela


sorriu para mim e nós parecíamos como colegiais novamente quando
rimos. —Acho bom, ele é sexy para caralho.

Eu planejava deixar Ryke ter tanto de mim quanto ele queria


mais cedo do que Lexi imaginava. Os raios do sol estavam
desaparecendo, me fazendo perceber que esta noite estava quase
chegando.

***
Ryke

O suco de limão que eu espremi no peixe grelhado chiou


enquanto gotas caíam nas chamas do fogo. Isso me lembrou de todas
as viagens de acampamento que fiz com meu pai e meus irmãos
quando criança. Eu raramente caçava e pescava, duas coisas que
amava quase tanto quanto hóquei.

—Você está fazendo o resto de nós ficar mal. —Disse


Deacon. Eu peguei uma vara para virar as batatas assadas que estava
fazendo na fogueira. Todos os casais cozinhavam sua própria comida
nessa viagem, e esta noite eu estava preparando o jantar para mim e
Kate.

—Não é tão difícil, cara. —Eu disse. A boca de Deacon estava


em uma linha, mais séria do que de costume, quando olhei para ele.

—Então você gosta da nossa garota? —Ele perguntou.

—Sim, eu gosto.

—Ela passou por muita coisa. —Disse ele. —Você sabe disso,
certo?

Eu balancei a cabeça. —Eu me importo com ela. Ela é


importante para mim.

—Bom. Ela é importante para todos nós também. Não a


machuque. Percebo que não posso te dar uma surra nem nada se você
a machucar, mas eu definitivamente torceria para outro time de
hóquei pelo resto da minha vida.

—Ei, você tem um convite aberto para os jogos. —Eu disse.


—Você pode se sentar com Kate nos meus lugares reservados. Se ela
quiser ir aos meus jogos, isto é. Talvez ela odeie o hóquei, quem sabe?
Deacon riu levemente. —Kate? Ela estará lá. Ela é uma das
meninas mais doces e solidárias que já conheci.

Eu vi Kate se aproximando com Lexi e sorri. Ela tinha ido


tomar banho enquanto eu fazia o jantar. Por mais que eu gostasse da
paz da minha vida de solteiro, havia algo sobre isso que parecia
extremamente certo. Quando Kate adormeceu embrulhada em seu
saco de dormir de costas para mim na noite anterior, foi a primeira
vez que dormi ao lado de uma mulher desde Maggie. Eu planejava
fazer esta noite muito mais agitada.

***

Kate

Embora a fogueira do acampamento estivesse crepitando e


subindo mais alto, o ar da noite estava frio, e me aconcheguei contra
o peito de Ryke em busca de calor. Eu não tinha percebido que era
possível que o corpo de uma pessoa fosse tão sólido. Cada centímetro
de seu peito e braços era de músculos firmes.

—Você quer uma bebida? —Ele me perguntou, um leve


cheiro de cerveja em seu hálito.

—Não, obrigada.

—Como você está se sentindo? —A preocupação em sua voz


derreteu meu coração.

—Bem. —Eu disse, passando a mão por sua coxa. Meus


amigos estavam conversando, sorrindo e arrumando copos para um
jogo de bebida. Ryke e eu estávamos em nossa pequena bolha e eu
queria ficar lá.
Seus lábios roçaram minha testa e apertei sua coxa, a
antecipação correndo através de mim.

—Você está pronto para dormir? —Perguntei.

Ele se mexeu para se levantar. —Sim, definitivamente.

Ele enrolou seus dedos ao redor dos meus e me levou para a


nossa barraca, que ficava isolada na borda externa do acampamento.

—Ainda nem são nove! —Lee gritou quando passamos.

—Estamos cansados de correr mais cedo. —Eu disse.

—Oh. —Ele olhou para baixo e me senti mal por um segundo.


Espero que ele ainda não tenha uma queda por mim.

—Boa noite. —Eu disse.

—Boa noite.

Ryke abriu o zíper da porta da barraca e segurou uma ponta de


náilon para que eu pudesse entrar. —Ele tem uma queda por você.
—Disse ele.

—Ele costumava ter.

Ryke ligou a lanterna movida a energia solar que trouxe e


encontrou meus olhos na luz fraca. Ele parecia hesitante e um
sentimento de medo cresceu no meu peito. Ele havia mudado de
ideia?

—Uh... —Ele suspirou profundamente. —Eu não sou muito


bom com palavras, Kate. Mas quero que você saiba que você é mais
para mim do que... você sabe, do que...

Eu sorri enquanto ele lutava por palavras. —Você está


nervoso? —Eu perguntei, surpresa.
—Não, eu só quero que você saiba que você é importante para
mim. Você não é apenas uma coisa casual. Mas o hóquei, ele me
prende. Eu não posso ter algo... normal com você.

—Esta noite é só esta noite. —Eu disse. —Eu não espero mais
nada.

Ele estava sentado em seu saco de dormir, as pernas esticadas


em sua frente e eu montei nele. Suas mãos agarraram minha bunda e
me puxaram para ele com força.

—Apenas me faça sentir bem. —Eu sussurrei contra sua boca.


—Isso é tudo o que quero.

Uma de suas mãos subiu pela minha espinha, meu longo


cabelo deslizando entre seus dedos.

—Eu amo o seu cabelo, Kate. —Disse ele. —Tão longo e


bonito. Eu fantasiei tantas vezes em puxá-lo quando você começar a
gozar.

Ele enrolou os dedos em torno de uma mecha enquanto falava


e puxou-a para baixo, inclinando meu rosto em direção à tela do topo
da barraca. Seus lábios encontraram meu pescoço, quentes e suaves,
e as estrelas dispersas que vi através do teto se desvaneceram quando
meus olhos se fecharam.

Ele beijou suavemente ao longo de minha clavícula até o meu


peito e, em seguida, lentamente subiu pelo meu pescoço. Era bom,
maravilhosamente bom, e minha respiração ficou superficial quando
uma de suas mãos deslizou sob o cós do meu jeans, seus dedos me
puxando firmemente contra ele.

Quando ele soltou meu cabelo, abaixei minha boca até a dele
com avidez, gemendo enquanto nossas línguas se emaranhavam em
um beijo profundo. Segurei suas bochechas com as mãos, amando a
sensação de sua barba áspera.
Ele estava duro como pedra embaixo de mim, e empurrei meus
joelhos no chão, esfregando contra ele febrilmente. Aparentemente
minha timidez havia passado; eu estava prestes a gozar em nossos
primeiros cinco minutos juntos.

Quando ele passou as mãos em volta dos meus quadris e os


afastou suavemente, eu gemi de decepção. Ele me sentou no meu
saco de dormir e eu sabia que confusão estava estampada no meu
rosto.

—Deite-se. —Ele disse suavemente. Eu obedeci, mas meu


olhar nunca desviando de seu rosto. Seus olhos cor de caramelo eram
poças de desejo e eu queria muito satisfazê-lo.

Ryke tirou sua camiseta pela cabeça em um movimento rápido


e se esticou sobre mim, apoiando-se sobre um cotovelo e olhando
para mim. Eu alcancei a mão em seu peito nu e deixei meus dedos
traçarem cada linha e músculo.

Seus lábios se separaram enquanto eu o explorava e, naquele


momento, parei de pensar nele como Jason Ryker, estrela do hóquei
que fazia calcinhas caírem. Este era Ryke, cujo olhar doce e sexy me
fazia sentir como a única mulher no mundo.

Ele moveu um joelho entre as minhas coxas, e a sensação de


seu corpo pairando sobre o meu foi uma sobrecarga sensorial. Seu
calor, o formigamento que sua respiração no meu pescoço causava e
o leve aroma de sua colônia, todos competiam pela minha atenção.

Assim que levantou minha blusa, ele apoiou seu outro joelho
entre os meus, encostando-o na minha coxa, abrindo minhas pernas.
Eu não pude evitar meu gemido audível. Eu estava me afogando em
uma onda de emoções por ele.

Ele puxou minha blusa sobre a minha cabeça e seus lábios


estavam de volta no meu pescoço, acariciando a ansiedade que estava
começando a surgir. Eu o queria muito. Mais do que jamais quis
alguém. Mas ele quase me disse que isso não ia a lugar nenhum
dizendo que o hóquei o mantinha preso. Eu disse a mim mesma que
não precisava ir a lugar nenhum, que tudo o que queria era essa noite,
embora soubesse que era mentira.

Minha preocupação sumiu quando Ryke deslizou a alça do


meu sutiã pelo meu ombro e sua língua deslizou sobre o meu mamilo
enrijecido. Eu soltei um som que era meio suspiro e meio gemido.

Um sorriso de satisfação se abriu em seus lábios enquanto ele


olhava em meus olhos. Ele escorregou a outra alça do sutiã, beijando
o lugar onde estava no meu ombro.

Sua sensualidade terna era mais do que eu podia suportar. Eu


estava pronta para ser fodida para finalmente poder gozar, mas isso?
Era demais para o meu já frágil coração.

—Não. —Eu disse, fechando meus olhos com força. —Eu


não posso.

O suspiro profundo que saiu de mim foi desigual. Eu queria


rastejar em seus braços e fugir ao mesmo tempo. Gritar de frustração
e rir histericamente. Fodê-lo sem sentido e dizer-lhe que nunca mais
queria vê-lo – ao mesmo tempo. Como isso era possível?

—Fale comigo. —Disse ele em um tom baixo.

—Ryke. —Minhas emoções conflitantes vieram através do


meu tom, que era zangado e triste ao mesmo tempo. —Como você
me faz sentir assim? Por que eu deixo você fazer isso?

—Sentir como?

—Eu te amo e te odeio ao mesmo tempo. Eu quero você mais


do que tudo, mas quero fugir também.
Ele ficou em silêncio e eu sabia que a palavra amor o tinha
assustado. Isso também me assustou. De onde veio isso? Eu nem
sabia que estava pensando até que eu disse.

—Eu não posso estar com alguém tão forte e perfeito. —Eu
disse, sentando-me para olhar para ele. Ele sentou-se e encontrou
meus olhos, suas sobrancelhas franzidas de frustração.

—Eu não sou perfeito, Kate. É tudo uma imagem. Então meu
corpo fica bem na merda de um anúncio de revista? E daí?

—Não é isso, não! —Minha voz subiu com certeza. —É a


maneira como você pode lidar com qualquer coisa. O que aconteceu
com Hannah e depois com Maggie... essas coisas teriam matado
algumas pessoas. Apenas os fazer se fechar e nunca superar isso. Mas
você... você continua vivendo. Você é forte. Eu não sou, Ryke. Olhe
para mim e olhe para você. Não é o seu corpo que me intimida, é a
sua força.

Seus olhos queimaram nos meus quando uma lágrima deslizou


pela minha bochecha.

—Não é fácil. —Disse ele, balançando a cabeça. —Eu não sou


tão forte quanto você pensa. Faz dezoito anos e pensar em Hannah
ainda dói. Eu acho que sempre doerá. E dói por Maggie há um longo
tempo também. Eu decidi que não queria nada sério depois disso.
Mas quando te conheci... Kate, eu não sei.

—Eu sei que você disse que sou importante para você, e sei
que nos tornamos amigos, mas realmente... é apenas sexo? —Eu
perguntei, minha voz rouca por causa do aperto na minha garganta.
—Sabendo que não estive com ninguém em um ano, e querendo ser
o cara a quem eu me entrego? Porque... se é... —Parei para respirar
fundo e enxugar meu rosto. —Se for, então posso ser capaz de fazer
isso. Seria bom para mim superar este bloqueio mental. Eu só não
quero pensar que isso significa algo que não é.
Eu estava jogando uma isca para ele, o que era tão diferente de
mim. Tentando fazer com que ele dissesse que significava algo com
alguma psicologia reversa.

O rosto de Ryke endureceu. —Isto é o que você pensa? Que


esses três meses inteiros foram apenas eu tentando transar? Cristo,
Kate. Eu não sou um idiota completo. Perdi a única mulher pela qual
me apaixonei profundamente. Nosso casamento foi um desastre, mas
eu a amava.

—Eu sei, Ryke. —Eu peguei sua mão e a agarrei na minha. —


Eu sei que você a amava.

—Então você acha que eu era capaz de amá-la, mas não a


você? —Seus olhos se arregalaram enquanto ele olhava fixamente
para mim. —É difícil pra caralho para mim, mas estou tentando, e
você luta comigo a cada passo do caminho.

—Não é que eu esteja tentando...

—Você acabou de me perguntar se eu só quero transar com


você. Se isso é tudo. Você acha que eu tiraria vantagem de você assim?
—Sua mandíbula estava em uma linha tensa e eu tirei minha mão da
dele.

—Ryke...

Ele ergueu a mão para me impedir. —Você é mais forte do


que pensa. Mas você não acredita em mim, não acredita em si mesma
e eu não tenho certeza se há algo que eu possa fazer para mudar isso.

Suspirei, suas palavras me deixando em silêncio. Ele estava


certo?

Ele se esticou de volta em seu saco de dormir. Eu abracei meus


joelhos no meu peito e considerei o que ele disse. Todo esse tempo
eu disse a mim mesma que afastá-lo era um mecanismo de defesa para
me proteger, e nunca considerei que isso pudesse machucá-lo.

—Ei. —Ele disse suavemente. —Venha aqui. —Ele abriu um


braço em minha direção e rastejei em seus braços, fechei os olhos e
deixei seu corpo quente e poderoso me acalmar. Havia muitas coisas
que eu queria dizer, mas todas pareciam vazias.

***

Kate

A barraca estava vazia quando acordei na manhã seguinte e


meu coração afundou. Eu não achava que Ryke fosse me abandonar
e voltar para Chicago, embora eu certamente merecesse isso. Ele
provavelmente tinha ido pescar ou algo assim para me evitar no nosso
último dia aqui.

Eu ainda estava esperançosa quando me arrastei para fora da


barraca e olhei em volta dela. Alguns dos meus amigos estavam em
silêncio fazendo seus rituais matinais, mas eu não vi Ryke.

Deacon estava tomando café de uma caneca de lata quando


me aproximei das brasas levemente fumegantes da fogueira da noite
anterior.

—Bom dia. —Ele disse. —Quer um pouco de café?

—Sim, isso soa bem.

—Ryke disse para dizer que ele foi tomar um banho.

Uma onda de alívio passou por mim. Eu queria falar com ele,
mas não sabia o que dizer.
—Eu acho que vou tomar um banho também. —Eu disse, me
virando para a minha barraca. —Vou tomar café quando voltar.

Eu passei pelos meus suprimentos espalhados pela barraca,


pegando o que eu precisava o mais rápido possível. Não consegui
encontrar a bolsa que havia trazido para carregá-los, então juntei tudo
em meus braços e apressei-me para os banheiros.

Embora corajosa não fosse mais uma palavra que eu usaria


para me descrever, era como eu me sentia naquela manhã. Eu queria
pegar Ryke ainda no banho e me juntar a ele. Eu esperava que ele
ouvisse a mensagem que eu queria mandar para ele – não desista de mim.

Eu estava correndo o mais rápido que podia em chinelos de


dedo quando um deles escorregou do meu pé. Olhei para baixo para
calçá-lo de volta, tentando virá-lo com o pé.

—Bom dia. —Uma voz profunda chamou. Meu coração


afundou. Ryke estava voltando do banho. Mas talvez, se eu ainda
fizesse uma pequena jogada, pudesse convencê-lo a se juntar a mim
de qualquer maneira.

—Bom dia. —Eu disse, sorrindo.

—Quanto tempo você quer ficar antes de pegar a estrada hoje?


—Ele perguntou.

—Uh... não importa. Podemos ir, se você quiser.

—Não, eu não quero ir. Eu estava pensando em ir pescar e me


perguntei se você planejava ficar tanto tempo.

Manchas de umidade de seu peito se espalharam em sua


camiseta cinza, chamando minha atenção. E havia o cheiro fresco de
Ryke que eu tanto amava. O que me lembrou que eu tinha dito a
palavra amor na noite anterior, mas ele não tinha dito. Eu não tinha
dito isso formalmente, mas as palavras foram ditas e não
reconhecidas.

—Sim, você deveria ir. —Eu disse. Eu me virei e meu frasco


de shampoo escorregou dos meus braços. Ryke se abaixou para pegá-
lo e arqueou as sobrancelhas para mim.

—Precisa de ajuda com tudo isso?

—Não, eu estou bem. Vá pescar. Vejo você quando voltar.

Ele enfiou o frasco de shampoo de volta nos meus braços


cheios e virou-se para sair. Eu soltei um suspiro de derrota enquanto
caminhava pelo último caminho de grama até o banheiro. Ryke estava
distante agora, e foi minha culpa por afastá-lo tantas vezes.

Eu me ensaboei rapidamente no chuveiro do banheiro do


acampamento. Não era muito mais do que um gotejamento quente, e
eu desejei a banheira familiar no banheiro da minha mãe, onde eu
frequentemente absorvia meus problemas.

O que eu faria hoje, enquanto Ryke estivesse pescando? Eu


considerei na caminhada de volta e decidi ler. Fugir para a vida de
outra pessoa por algumas horas me parecia incrível agora.

Ryke apareceu e eu me perguntei se deveria dizer alguma coisa


ou apenas deixá-lo sair para o seu dia sozinho. Ele caminhou até a
costa e percebi que era isso. Mas então ele voltou ao acampamento e
eu reconheci sua expressão. Os lábios apertados, a mandíbula tensa,
os olhos escuros: ele estava ansioso com alguma coisa.

Assim que me viu, ele se aproximou em alguns passos largos.


—Venha pescar comigo.

Ele queria falar sobre as coisas? Eu não sabia o que diria se ele
quisesse. Minha mente ainda estava confusa desde a noite anterior.

—Ok. —Eu disse, assentindo levemente.


Eu nunca tinha pescado na minha vida, mas de repente queria
aprender. Eu não era uma mulher que deixa o medo e a preocupação
governarem minhas decisões. Não no meu coração, de qualquer
maneira. Eu queria sair do buraco em que me meti, e pescar era um
bom começo.

***

Kate

A serena extensão da paisagem verde estava se transformando


em cinza à medida que nos aproximávamos da cidade. Ryke e eu
passamos a maior parte da viagem de volta para casa da mesma forma
que passamos nosso dia pescando: em silêncio. Ele puxou meus
anzóis, carregou minhas malas e abriu a porta do carro para mim,
então eu sabia que ele não estava bravo. Mas essa gentileza estéril era
pior que a raiva.

—Vou pedir flores para o aniversário da sua mãe amanhã. —


Eu disse. —Como você assinaria o cartão se fosse você que as
encomendasse?

—Apenas 'Amor, Jason' está bom. —Disse ele.

—Ela te chama de Jason?

Ele sorriu. —Sim, ninguém além da minha família me chama


assim.

—E você precisa de um novo casaco. Quer fazer compras uma


noite esta semana?

—Claro.
O silêncio voltou e temi sair do carro quando Ryke virou para
a minha rua. Eu não queria que as coisas ficassem estranhas entre nós.
Havia tanto que eu queria dizer, mas não consegui abrir minha boca.
Prometi não sair do carro até termos conversado sobre as coisas.

Ryke diminuiu a velocidade até parar na minha garagem e meu


plano foi esquecido quando olhei para o meu degrau da frente.

—Merda! —Eu disse.

—O quê? —Ryke se virou para mim. —Quem é aquele?

—É Quinn.

—Quinn? —Sua voz estava cheia de raiva. —O que diabos ele


está fazendo aqui?

—Eu não sei. —Enterrei meu rosto em minhas mãos. —Eu


não o vejo desde... não quero vê-lo, Ryke.

Ele deu um tapinha no meu joelho. —Está tudo bem. Eu vou


me livrar dele. Fique aqui.

O olhar de terror no rosto magro de Quinn quando Ryke se


aproximou da varanda quase me fez sorrir. Eu poderia dizer por sua
expressão que Ryke estava pronto para a batalha, mas Quinn estava
correndo para a rua, onde seu carro estava estacionado.

Ryke estava gritando, mas as únicas palavras que eu pude


entender foram "idiota de merda". Quinn se afastou do meio-fio e
Ryke voltou para o carro.

—Maldito perdedor. —Ele murmurou enquanto abria a porta.

—Obrigada. —Eu disse suavemente.

—Eu darei uma surra nele a qualquer hora. Diga-me se ele te


incomodar de novo.
Este era o Ryke que não tinha visto o dia todo. Aquele que
podia fazer meu coração bater sem sequer me tocar.

Ele pegou minhas malas no porta-malas e as carregou para


dentro. Mamãe não estava em casa e eu queria que Ryke ficasse.
Queria que ele fizesse muito mais do que apenas ficar, na verdade.

—Tudo bem, vejo você de manhã. —Disse ele, virando-se


para a porta.

—Ryke. —Eu respirei fundo quando ele olhou para mim.


Nenhuma das coisas que pensei em dizer me pareceu certa. Um
convite pateta para verificar o meu quarto só iria envergonhar a nós
dois. —Obrigada por ir comigo.

Ele assentiu e saiu. Eu afundei no sofá e peguei uma almofada,


segurando-a no meu colo. Balancei a cabeça imaginando o quão fora
do meu alcance Ryke estava, mas depois me movi para a beira do sofá
enquanto reconsiderava. Ele não estava fora do meu alcance. Ele era
homem e eu era mulher. Uma mulher imperfeita, sim, mas nunca
tinha duvidado de mim assim antes.

Lembrei-me de algo que mamãe havia dito para mim nesta


mesma sala quando cheguei em casa chorando durante a faculdade
porque um jogador de futebol tinha partido meu coração. Eu disse
que não era boa o suficiente para ele e ela recuou como se eu tivesse
batido nela.

—Como o inferno! Katie, as pessoas vão te derrubar às vezes, porque elas


são maldosas. Mas ai de você se eu escutar você se colocando para baixo.

Suspirei quando percebi que eu estava fazendo isso. Oh, e


como. Perder meu bebê me derrubou muito mais longe do que eu já
tinha estado. Mas a única coisa que me mantinha lá era eu.
CAPÍTULO 10

Ryke

Eu estava tentando dar à Kate algum espaço, mas era muito


difícil. Eu podia dizer que ela não sabia como lidar com a nova
distância entre nós. Eu também não. Bebíamos nosso café todas as
manhãs em um silêncio desconfortável ou com ela tagarelando
nervosamente sobre minha agenda.

—Sr. Ryker? Seu treinamento fora de temporada? Como você


se preparou para a próxima temporada?

Um repórter de esportes robusto com um princípio de calvície


estava perguntando em uma entrevista sobre o começo de nossa
temporada. Minha mente estava em outro lugar, mas tentei focar nele.

—Eu trabalhei muito com o meu treinador em exercícios de


força da parte inferior do corpo e expandi o que fiz na parte superior
do corpo este ano também. —Eu disse. —Tenho feito muita
musculação e treinamentos de resistência. Mal posso esperar para
voltar para lá.

Ele passou para Luke com sua próxima pergunta, e deixei


minha mente vagar novamente. Embora eu só a conhecesse desde
junho, era difícil me lembrar da minha vida antes de Kate. Ela
despertou algo em mim – o sentimento nervoso, tenso, louco pra
caralho de cair de quatro por alguém.

Eu teria feito qualquer coisa por ela, mas encontrar uma saída
para a escuridão de sua dor não era algo que pudesse ajudar. Ela
precisava descobrir por conta própria que merecia viver de novo –
realmente viver, sem culpa ou medo prejudicando todas as decisões.
Foi muito difícil me afastar, mesmo sabendo que precisava.

O luto era uma coisa infernal. Alguns dias você escalava


paredes e outros não conseguia levantar da cama. Justamente quando
você pensava que poderia estar se recuperando, algo lhe daria um
soco no estômago e você estaria deitado de costas novamente. Eu
passei por isso com Maggie. Não foi porque estava perdido sem ela;
apenas senti uma culpa esmagadora que o nosso casamento curto e
atribulado seria o único que ela teria.

Um soco duro na minha lateral me fez virar para Luke.

—O quê? —Eu murmurei.

Luke pigarreou e olhei para o repórter, que estava olhando


para mim e esperando por uma resposta a uma pergunta que não tinha
ouvido.

—Desculpe, cara, qual a pergunta? —Perguntei.

—O outdoor que acabou de ser colocado no centro da cidade


com seu anúncio de roupas íntimas. Você está recebendo alguma
crítica dos outros caras sobre isso?

Eu sorri e esfreguei minha linha de mandíbula não barbeada.


—Uh... Eu não vi, mas sim, tenho certeza que eles terão algumas
coisas a dizer.

O repórter saiu e fui ao vestiário para trocar minhas roupas de


treino. A sala estava cheia de energia porque a pré-temporada estava
começando e todos nós queríamos voltar a ela. A temporada de férias
era sempre uma boa pausa, mas eu estava mais feliz quando estava
jogando hóquei.

Saí do vestiário para ir ao escritório, mas parei no corredor


quando Luke gritou atrás de mim.
—Ei. —Disse ele, ainda com suas roupas de treino manchadas
de suor. —O que está acontecendo com você?

—Nada. Estou bem.

—Mentira. Eu te conheço há três anos, cara. É a Kate?

Eu balancei a cabeça e desviei o olhar. —Eu não quero falar


sobre isso.

Luke se mexeu e passou a mão pelo cabelo. —Olha, só estou...


meio preocupado com você.

—O que você é? Minha esposa? —Eu sorri e empurrei seu


ombro.

—Você está se escondendo atrás do sarcasmo agora. —Disse


ele, cruzando os braços.

—Jesus Cristo, você está fodendo aquela psiquiatra de novo,


não está? —Eu revirei meus olhos. Ele deu para analisar todos nós
agora.

Luke não disse nada, o que tornou mais difícil evitar suas
perguntas. Eu soltei um suspiro e cedi. —Sim, é a Kate. Eu deveria
estar animado para a temporada começar, considerando o quão forte
treinei durante todo o verão. Mas você sabe como é... você não tem
tempo para um relacionamento durante a temporada.

—Muita gente faz isso funcionar, cara.

—Sim, bem, Maggie quase me levou ao limite. Você


provavelmente não sabe disso, mas...

Luke zombou. —Eu sei. Ela era paranoica e vocês brigavam o


tempo todo porque o acusava de traição toda vez que saíamos da
cidade.

—Eu nunca disse...


—Você nunca teve que dizer, Ryke. Nós estávamos lá quando
você recebia chamadas dela às vezes. Você não podia ficar fora até
tarde porque você sempre tinha que estar de volta ao seu hotel antes
de ligar para ela ou ela ficava louca. Todos nós sabíamos.

Eu processei este novo conhecimento. Que diabos isso


importava agora, afinal? —Sim, mesmo assim... Eu não vou fazer essa
merda de novo com a Kate. Aprendi minha lição.

—Talvez você devesse dar uma chance a Kate. —Disse Luke.

—Eu nem sei se ela quer ficar comigo. —Eu encostei minhas
costas contra a parede de tijolos de concreto. —E mesmo se quisesse,
não seria justo com ela. Ela merece mais do que tenho para dar.

—Ouça, cara, há muitos caras na liga com bons


relacionamentos. É possível. Olhe para Vic e Dawn.

O esforço de Luke para me aconselhar colocou um sorriso no


meu rosto. —Sim, eu não sei. Tenho que ir até o escritório, mas
obrigado. Você é uma boa esposa.

Ele foi embora e eu me virei para sair. Por mais que odiasse o
pensamento do hóquei vindo antes Kate e eu, parte de mim estava
animado com a ideia de ela me ver jogar. Eu estava no meu melhor
no gelo. Se pudesse persuadi-la a ir a um jogo, talvez até a excitasse.
Muitas mulheres diziam que sim. Kate não era tão fácil quanto a
maioria das mulheres, no entanto.

***
Kate

Joguei o saco de lona por cima do ombro e me repreendi por


esperar tanto tempo para verificar a caixa postal de Ryke. Estava mais
do que cheia, com uma bolsa gigante de correspondência extra que
tive de enfiar no saco. Então, hoje eu responderia cartas de fãs.

Era um trabalho fácil, na verdade. Eu geralmente enviava uma


foto autografada de Ryke com uma nota de agradecimento pela carta.
Sempre minimizava a quantidade de cartas e suas mensagens de
adoração a Ryke, porque, na verdade, seu ego não precisava ser
inflado.

—Uau. —Disse Mimi quando deixei cair o saco no chão com


um baque.

—Sim. —Eu disse, suspirando.

—Eu posso ajudar quando terminar essa sopa.

—Se você tiver tempo, eu agradeceria. —Arrastei o saco pelo


chão e inclinei-o sobre um tapete. Um monte de cartas caiu em
cascata e me sentei para separá-las.

Eu as dividi em pacotes, cartas de crianças e outras cartas


quando Mimi se juntou a mim no tapete.

—Eu gosto de fazer as das crianças primeiro. —Eu disse.

—Escrever de volta para as crianças parece divertido. —Disse


Mimi, pegando uma carta e abrindo-a.

—É. Na semana passada tinha uma de um garotinho que pediu


a Ryke para ser seu melhor amigo.
—Aww. —Mimi colocou a mão em seu peito enquanto lia. —
Diz 'eu amo hóquei', mas está escrito RÓQEI. E então diz: —Você
é incrível. —Mas é escrito INQRIVEO. O que devo fazer com ela?

—Eu tenho uma carta que Ryke assinou que eu envio para as
crianças. —Eu disse, entregando-lhe uma folha. —É sobre tirar boas
notas e tudo. E eles também recebem uma foto assinada.

—Está tudo bem com você? —Mimi me perguntou, seu olhar


focado na carta em que ela estava trabalhando.

—Tudo bem, como de costume. —Eu disse, suspirando. Ela


encontrou meus olhos com um sorriso caloroso. Nós nos
aproximamos de tanto estarmos juntas.

—Alguma coisa a ver com o nosso jogador de hóquei favorito?


—Ela perguntou levemente.

Eu sorri e balancei a cabeça. —Isso é óbvio, hein?

—Eu vejo vocês dois juntos todas as manhãs. Sei que algo está
acontecendo.

—Eu vou deixar você fazer as cartas das crianças e vou


trabalhar nesta pilha. —Disse, pegando um envelope grande e pardo.
—Não sei o que está acontecendo entre mim e Ryke. Eu gosto dele,
mas...

Eu parei de falar e franzi minhas sobrancelhas quando senti


algo sedoso no envelope. Meu queixo caiu quando tirei uma pequena
tanga preta rendada. Eu a segurei e Mimi reprimiu uma risada.

—Isso. —Eu disse, revirando os olhos. —Este é o problema


entre mim e Ryke. Ele é um Deus do hóquei e eu sou apenas uma
garota comum.
—Ele é muito pé-no-chão para alguém famoso. E você não se
dá crédito suficiente. Você tem muito a seu favor. Você é inteligente,
bonita e bondosa.

—Eu não estou me sentindo bondosa agora. —Disse. —


Gostaria de escrever uma carta para essa garota e dizer-lhe o que ela
pode fazer com sua calcinha.

O rosto de Mimi se enrugou com confusão e diversão. —Ela


mandou uma carta? Ou apenas a calcinha?

Eu voltei para o envelope e desdobrei um pedaço de papel cor-


de-rosa, fazendo minha melhor voz de vadia idiota. —Ryke, eu usei
isso em um jogo e queria que você ficasse com ela. —Eca!
Joguei-a de lado, olhei para a mão com a qual a segurei e me encolhi.
—Preciso lavar minhas mãos.

Esfregando o sabão de limão em minhas mãos na pia da


cozinha, balancei a cabeça com repugnância. Por que eu estava com
raiva de Ryke sobre a calcinha? Não era culpa dele que alguma garota
maluca lhe enviasse pelo correio sua calcinha usada. Mas isso me
desgastava de qualquer maneira. Mesmo que não estivesse pronta
para dormir com ele, eu não precisava ser lembrada de quantas outras
mulheres queriam.

***

Kate

Ryke e Luke estavam ambos sentados na beira do sofá,


completamente absorvidos no videogame que estavam jogando. Eu
não sabia muito sobre videogames, mas percebi que o objetivo era
atirar em todos que estavam à vista.

—Idiota. —Ryke murmurou, acotovelando Luke. Eu me mexi


no meu assento, tentando vê-los da mesa da cozinha, onde eu estava
lendo uma revista.

Eles estavam nisso há mais de uma hora, enquanto Ryke


esperava que seus pais ligassem quando o avião deles pousasse no
O'Hare. Ele iria pegá-los assim que recebesse a ligação.

—Foda-se, Ryker! —Luke gritou, empurrando o ombro de


Ryke. Ryke sorriu e empurrou-o de volta. Revirei os olhos e olhei de
volta para o artigo que estava lendo sobre tratamentos faciais feitos
com ingredientes caseiros.

Um grunhido e um baque abafado me fizeram olhar de novo,


e meu queixo caiu quando vi Luke em cima de Ryke no sofá. A mão
de Ryke envolveu o ombro de Luke e empurrou-o para cima, e ambos
caíram no chão.

Eles deram socos e rolaram, e não pude dizer quais grunhidos


e maldições eram de quem. Eu pulei da mesa e corri, sentindo que
tinha que fazer alguma coisa.

—Ei, vocês! —Gritei a alguns metros de distância. —Ryke!

Eles estavam encostados na mesa de centro e os dois pararam


para olhar para mim. Ryke desvencilhou-se de Luke e ficou de pé.

—Está tudo bem. —Disse ele. —Nós fazemos isso o tempo


todo.

—Alguém vai se machucar! —Eu me senti como minha mãe


enquanto os repreendia.

—É assim que os homens são. —Ryke se jogou de volta no


sofá. —Se você namorasse homens de verdade, saberia disso.
Eu fiquei boquiaberta enquanto ele pegava seu controle e Luke
se levantava do chão. —O que diabos isso quer dizer?

—Não é nada contra você. —Disse Ryke, seus olhos


encontrando os meus. —Você namorou florzinhas.

—Como você sabe alguma coisa sobre quem eu namorei?

—Você me contou sobre Quinn, e eu percebi que ele é o seu


tipo.

Meu coração batia forte enquanto eu olhava para ele, a raiva


crescendo dentro de mim. —Meu tipo?

—Sim, você sabe, o tipo sensível que pode citar Keats ou o


que quer que seja.

Eu ri e balancei a cabeça. —Eu acho que se você está dizendo


que o meu tipo são homens inteligentes que não brigam com seus
amigos por causa de videogames, então você está certo.

—Homens de verdade lutam, Kate. —O jogo estava


carregando e Ryke ainda estava olhando para mim. Havia algo em
seus olhos que me fez sentir quente e inquieta.

—Isso é apenas um clichê. —Eu disse, minha voz mais


confiante do que eu me sentia.

Agora era ele rindo quando balançava a cabeça para mim. —


Não é. Homens de verdade não leem livros para aliviar a tensão. Nós
brigamos ou fodemos.

—Isso nem sequer faz sentido. —Eu disse, virando-me para


voltar para a mesa. Eu me sentia bamba por dentro.

—É impossível ficar tenso após uma boa luta ou uma longa


noite de foda. —Disse ele. —E homens de verdade fodem melhor
que o seu tipo também, a propósito.
Olhei em sua direção e me sentei de volta. —Sim, e eles
esquecem o seu nome até o meio da manhã do dia seguinte.

Luke se levantou do outro lado do sofá. —Eu não esqueceria


o seu nome.

—Cale a boca, porra. —Disse Ryke. Eu podia ver a tensão em


sua mandíbula mesmo do outro lado da sala.

—Estou apenas dizendo, cara. A garota precisa ver o que um


homem de verdade pode fazer com ela. Você já teve dois para um,
Kate?

—Qual é o seu maldito problema? —Ryke gritou para ele. —


Não diga merdas assim para ela!

Luke sorriu e levantou as mãos em sinal de rendição e revirei


meus olhos, sabendo que Ryke estava prestes a pular nele novamente.
O toque de uma mensagem no telefone de Ryke soou na cozinha.

—Você vai ver isso, Kate? —Ryke perguntou. Eu fui pegar


seu telefone e o ouvi falando com Luke em um assobio baixo e
irritado.

—Desculpe por ter me oferecido para foder você, Kate. —


Luke gritou em direção à cozinha, não parecendo arrependido de
nada.

—Está tudo bem. —Eu disse, ainda olhando para a minha


revista enquanto carregava o telefone. —Aqui, Ryke.

—Apenas leia. É minha mãe? —Ele perguntou enquanto


introduzia algo com seu controle de videogame. Eu olhei para a tela,
as palavras fazendo o calor correr para as minhas bochechas.

—Não, é 'Dallas Candy'. —Eu disse, um aviso no meu tom.


—Ela diz: 'Sonhei com seu pau grande ontem à noite'.
Luke conteve uma risada e Ryke suspirou profundamente.
Segurei o telefone para ele, minhas sobrancelhas arqueadas em
julgamento.

—Merda. —Ryke murmurou enquanto pegava o telefone. —


Isso não é nada, Kate.

—Não é da minha conta. —Eu disse bruscamente, cruzando


os braços. —Mas sério? Dallas Candy? Ela é uma stripper? Espero
que você use camisinha.

—Há muitas mulheres chamadas Candy. —Disse ele, sem


olhar para mim.

—Dallas é seu sobrenome?

Houve um momento de silêncio antes que o som da risada


abafada de Luke me obrigasse a olhar para a outra extremidade do
sofá. Seu rosto estava enfiado na beira do sofá, mas se ele estava
tentando rir baixinho, não estava funcionando.

—Dê o fora daqui, seu idiota. —Ryke resmungou, jogando seu


controle de jogo nas costas de Luke. Luke rolou para fora da beirada
do sofá e saiu, ainda rindo e sem olhar para trás.

—Eu entendi o recado. —Eu disse, indo em direção a minha


bolsa no balcão da cozinha.

—Não, você não entendeu. —Ryke estava em meus


calcanhares.

—Eu entendi. —Pendurei minha bolsa no ombro e empurrei


meus óculos de sol. —Eu estava apenas lendo este artigo sobre
tratamentos faciais e quero ir buscar as coisas para fazer um.

—Ei. —Seus dedos envolveram meu pulso. —Não vá. —Seu


tom era suave e arrependido agora.
Suspirei profundamente, sem olhar para ele. Minha
necessidade de escapar estava ficando mais forte a cada segundo.
Fiquei impressionada com a ideia de Ryke fazendo sexo por telefone
– ou pior – com essa garota Candy.

Ele se moveu de modo que estava em pé na minha frente,


estendendo a mão para remover meus óculos escuros. Eu ainda me
recusava a olhar para ele.

—Eu não vou mentir para você. —Disse ele. —Eu já me


envolvi com muitas mulheres. Nós viajamos muito e é fácil estar com
alguém por apenas uma noite.

—Está tudo bem! —Eu balancei a cabeça, minhas bochechas


se aquecendo. —Entendo, Ryke. Você tem muito...

Ele tocou as pontas dos dedos nos meus lábios, enviando um


choque através de mim. —Me deixe terminar. Eu estive com muitas
mulheres, mas elas não significam nada para mim. Eu não vejo essa
mulher há muito tempo. Nós não vamos a Dallas desde... fevereiro
eu acho.

Eu recuei um centímetro, encontrando seus olhos. Mas a


súplica calorosa que vi não me moveu. —Diz Dallas porque é onde
ela mora? Você mantém registro dos seus encontros por cidade?

Seu olhar abatido e suspiro profundo me fizeram pensar se ele


estava envergonhado. Bom. Eu queria que ele se contorcesse.

—Uh... —Ele passou a mão pelo cabelo. —Sim.

Minha cabeça caiu e eu protegi meus olhos dele, processando


essa informação.

—Kate...

Eu ergui a mão para detê-lo, mas ele alcançou minhas


bochechas, suas grandes mãos me forçando a olhar para ele.
—Ryke, não.

—Não me odeie por coisas que fiz antes mesmo de nos


conhecermos. —Ele me implorou, seus olhos castanhos cheios de
emoção. —Eu sinto muito. Fiz merdas estúpidas, mas você pode
vasculhar meu telefone e verá que eu não fiz nada desde que te
conheci.

—Você pode fazer o que quiser. —Minha voz era quase um


sussurro.

Houve um momento de silêncio antes de ele falar novamente.


—Eu gosto mesmo de você. —Ele deslizou as mãos do meu rosto
para a parte de trás do meu pescoço, acariciando minha pele.

Eu não sabia se era o calor de suas mãos ou suas palavras, mas


algo dentro de mim se derreteu. Meu controle estava escorregando e
eu agarrei-o freneticamente em minha mente.

—Eu também gosto de você, mas isso... não é uma boa ideia.

Seus lábios se curvaram em diversão. —Por que não?

Uma de suas mãos estava enrolada no meu quadril agora, e


senti meu controle deslizar novamente. —Por muitas razões. —Eu
disse. —Você já conhece a maior. E isso... é um mundo diferente do
qual vivo, tendo conexões em todas as cidades.

—Elas não são nada, Kate. —Sua mão deixou meu quadril e
eu senti falta dele quando ele enfiou a mão no bolso para pegar seu
telefone.

—É minha mãe. —Disse ele. —Eles estão aqui. Venha comigo


para o aeroporto.

Eu precisava limpar as emoções que giravam em minha mente,


e não podia fazer isso na presença dele. Eu nunca estava totalmente
no controle quando Ryke estava por perto.
—Não. —Eu disse, recuando. —Eu vou ficar na casa da
minha mãe enquanto seus pais estiverem aqui.

Seu rosto caiu de decepção. —Eu quero que você conheça


meus pais.

—Seus pais querem ver você, não sua assistente desmiolada.


—Sorri e deslizei meus óculos de sol de volta.

Ryke balançou a cabeça, sua boca em uma linha. —Você é


mais do que isso para mim, e você sabe disso.

—Então não me machuque! —Minha voz estava cheia de


aviso. —Não tente me convencer de que sou eu quem pode fazer
você desistir de todas as outras mulheres! —Minha voz tremia agora,
e estava feliz por ter colocado os óculos escuros para que ele não
pudesse ver as lágrimas se acumulando em meus olhos.

Ele chegou mais perto, seu rosto suavizando com simpatia, e


isso me fez dar um passo em direção à porta. Eu não podia deixar ele
me encantar novamente. Se eu fosse com ele, sabia que me odiaria
antes mesmo de chegarmos ao aeroporto.

—Por favor, venha comigo para que possamos conversar. —


Ele persuadiu. —Isso não é fácil para mim.

Eu sorri amargamente. —Pode não ser fácil para você, mas é


dolorosamente difícil para mim. Tudo ainda está um pouco cru, Ryke.
Eu ainda estou sofrendo, por Quinn e apenas... Por tudo.

—Você não pode simplesmente confiar em mim? Deixar-me


te abraçar quando você se machucar. O que quer que eu seja, quero
compartilhar com você.

Eu queria dizer a ele que não era ciúme que estava me deixando
tão louca, era o quanto eu desejava ser desinibida o suficiente para
mandar uma mensagem como a de Dallas... ou Candy, ou o que
diabos fosse o nome dela. Para fazê-lo me querer e depois me ter.

Eu controlei minha libido hiperativa, a batida do meu coração


me deixando um pouco tonta. —Eu só preciso de uma pequena
pausa. Preciso ir para a casa da minha mãe.

Ele assentiu uma vez e se aproximou, pegando minha mão. —


Eu vou te levar até lá embaixo.

O silêncio no elevador me fez sentir tudo mais intensamente.


O cheiro fresco do tapete novo. A sensação do meu estômago caindo
com o elevador. E o polegar grande de Ryke acariciando meus dedos.

Quando a porta do elevador abriu, nós caminhamos em


direção ao meu Honda surrado, que parecia triste ao lado de seu
Mustang. Ryke pagou pelo conserto no meu carro, me dizendo que
não custou muito. Eu sabia que ele estava mentindo. O ar
condicionado até funcionava novamente.

Ele me acompanhou até a porta do lado do motorista, abrindo-


a. Então ele envolveu os braços em torno da minha cintura e me
puxou contra ele. Ele me segurou perto e pressionou o rosto na curva
do meu pescoço, onde senti sua respiração quente através do meu
cabelo.

Eu contornei meus braços em volta do seu pescoço, amando


sua proximidade. Seu corpo era quente e forte e desejei não ter que
deixá-lo ir.

Mas eu deixei. Deslizei para trás, olhando para ele. —Você


precisa ir buscar seus pais.

Ele assentiu. —Posso ligar para você hoje à noite?

—Eu trabalho para você. —Eu disse, desviando o olhar. —


Você pode me ligar quando quiser.
—Você sabe que isso não é assim. Então eu posso?

Eu sorri, suas palavras me aquecendo. —Sim.

***

Kate

Minha mãe estava empoleirada na beira de uma cadeira na sala


de estar, as costas retas e as mãos apertadas sobre os joelhos com
força.

—Kate, você tem certeza que é uma boa ideia? —Ela me


perguntou pela terceira vez.

—Sim, está tudo bem. Lexi estava a caminho de algum lugar


quando liguei e eles estão apenas parando por um minuto para que
possamos conhecer o bebê.

—Mas...

—Mãe, ela é minha amiga. Ela está triste com o que aconteceu
comigo e eu estou feliz com o que aconteceu com ela.

—Não estou sugerindo o contrário. —Mamãe disse. —É só


que você está começando a melhorar...

—Estou melhorando, você está certa. E acho que é porque


estou finalmente encarando as coisas. Isso é algo que é importante
para mim, ok?

Ela sorriu, mas não parecia feliz. —Claro.


Olhei pela janela, um nó no meu peito, até o SUV prata de Lexi
estacionar na garagem. Ela pegou uma cadeirinha no carro e levou-a
para a porta da frente, onde a encontrei.

—Ei. —Eu disse, estendendo a mão para abraçá-la depois que


ela entrou em casa.

—Oi. —Ela colocou o assento no chão e eu olhei para dentro.


O minúsculo rosto redondo que vi puxou meu coração.

—Este é Cade. —Disse Lexi, tirando um cobertor azul claro


ao redor dele.

—Oh, meu Deus. —Eu disse suavemente. —Que menino


perfeito você é.

Os olhos de Cade se arregalaram com consciência e eu sorri de


sua expressão. Lexi se virou para mim, seus olhos brilhando com
curiosidade.

—Então, como estão as coisas com Ryke?

—Eu ainda não tenho ideia. —Eu disse, revirando os olhos.


—Posso segurá-lo?

Lexi parou por um segundo antes de estender a mão para soltar


as alças do assento e ouvi o suspiro alto de minha mãe de que não era
uma boa ideia.

Sentei-me em uma cadeira no canto e abri meus braços. Assim


que Lexi entregou seu bebê empacotado, uma onda de emoções
passou por mim. Tristeza, felicidade, pesar e alegria – tudo ao mesmo
tempo.

Assim que pisquei, lágrimas quentes deslizaram nas minhas


bochechas e Lexi estendeu a mão para pegar Cade de volta.

—Não, eu estou bem. —Eu disse. —Ele é lindo, Lex.


—Obrigada. —Eu poderia dizer pelo tom de sua voz que ela
estava chorando também.

Os olhos de Cade se abriram e ele pareceu perceber que estava


nos braços de um estranho. Ele fez alguns choramingos que eu sabia
que eram um aviso para um festival de gritos.

—É melhor você pegá-lo. —Eu disse, estendendo o dedo para


baixo para tocar sua bochecha macia e redonda.

—Apenas balance-o para frente e para trás. —Disse Lexi. —


Ele ama isso. E às vezes eu também canto.

—O que você canta?

—Oh, qualquer coisa. Comerciais de TV, a música do ABC,


Lady Gaga. Ele gosta de tudo.

Eu balancei o bebê em meus braços e ele instantaneamente se


acalmou. Eu sorri para Lexi.

—Seus braços devem ficar cansados. —Eu disse.

—Sim, John é um balanço melhor que eu. E nós temos uma


cadeirinha de balanço também.

Eu me perguntava se olharia para o bebê de Lexi e veria a filha


que nunca conheci. Mas não vi. Ele era dela, e tudo que senti foi
felicidade por ela e John. Houve também um toque de algo que me
surpreendeu.

Eu queria isso. Segurar um bebê em meus braços e balançá-lo


suavemente. Sentir o aroma fresco de talco e ouvir os sonzinhos
doces e minúsculos. Até que eu tive um em meus braços, eu não tinha
ideia do quanto ter um bebê ainda significava para mim.

—Você está amamentando? —Mamãe perguntou a Lexi.


—Sim. Vai ser difícil quando eu voltar a trabalhar no meu
salão, mas tenho uma bomba.

Meu telefone tocou no meu bolso e eu alcancei, tentando não


perturbar Cade.

Ryke. Seu nome na tela fez meu estômago apertar.

—Ei. —Eu disse baixinho ao telefone.

—Oi. Você está ocupada?

—Na realidade...

—Não podemos ficar. —Disse Lexi, estendendo a mão para


Cade. —Eu tenho que levá-lo para casa para dormir.

—Você tem certeza?

—Positivo. Me ligue logo, ok?

Ela afivelou Cade de volta em seu assento e o cobriu, me


dando um rápido abraço ao sair.

—Você quer que eu ligue mais tarde? —Ryke perguntou.

—Não, Lexi estava apenas saindo.

—Diga a ela que eu disse oi.

—Ryke diz oi. —Eu disse quando Lexi saiu pela porta. Ela
sorriu brilhantemente e acenou.

—Tudo bem. —Eu disse. —Eu acho que vou para o meu
quarto para poder falar com você. Viver em casa me faz sentir criança
novamente.

—Sim, é estranho ter meus pais aqui também. —Disse Ryke.

—Vocês tiveram um bom jantar?


—Sim. Eu disse a eles sobre você. Eles querem te conhecer.

Com o coração acelerado, entrei no meu quarto e fechei a


porta. —O que você disse sobre mim?

—Que você me mantém na linha e não sei o que faria sem


você.

Meu entusiasmo desapareceu quando percebi que ele havia


contado sobre meu trabalho como assistente. Eu não queria que ele
soubesse que fiquei desapontada.

—Bem, sem você eu estaria vendendo meu sangue para pagar


meus empréstimos da faculdade. Já te disse que estou quase pronta
para ver apartamentos?

—Apartamentos? Tipo, para se mudar?

Eu ri da surpresa dele. —Ryke, vou fazer 23 anos no próximo


mês. Eu só voltei para casa porque não consegui encontrar um
emprego. Espere, você está dizendo que eu deveria ficar aqui? Você
está se livrando de mim?

—Claro que não. —Disse ele. —É o contrário. Não quero que


você se mude para longe e encontre outro emprego.

—Se eu conseguir outro emprego, acredite em mim, há muitas


pessoas que gostariam de ser sua assistente e fariam um trabalho
muito melhor do que eu.

—Eu não quero mais ninguém. Quero você. —Seu tom sério
e levemente magoado me fez sorrir.

—Não é como se eu estivesse procurando ativamente outro


emprego ou algo assim. Por enquanto, mantê-lo na linha é um ótimo
trabalho para mim.

—Eu disse mais do que isso sobre você para meus pais.
Prendi a respiração, esperando, mas ele não disse mais nada.
—O que mais você disse? —Eu cutuquei.

—Minha mãe já sabia que há mais nisso. Eu contei a ela sobre


você no telefone. Quando os encontrei no aeroporto, ela disse: —
Onde está Kate?

—Não, ela não disse.

—Eu juro. Disse a ela que você tinha coisas melhores para
fazer.

—Ryke! —Sentei-me na ponta da minha cama, vendo meu


rosto se contorcer de horror no espelho acima da minha penteadeira.

—Relaxe, querida. Eu não disse isso. Senti sua falta hoje, no


entanto.

Meu coração acelerou enquanto ouvia a doce intimidade em


sua voz profunda. Eu não sentia essa ligação com ele desde a última
noite de nossa viagem de acampamento.

—Também senti sua falta.

—O que você tem feito?

Suspirei e me esparramei na minha antiga cama de solteiro. —


Lexi trouxe seu bebê e eu o carreguei.

—Como foi isso?

—Foi... bom, no geral. Houve muitas emoções, mas estou feliz


por ter feito isso.

—Eu te admiro. —As palavras de Ryke me aqueceram, mas


eu sorri levemente.

—Você quer ver como a outra metade vive e me ajuda a caçar


apartamentos? —Eu perguntei.
Ele gemeu no telefone.

—Eu sei, você está ocupado. —Eu disse.

—Não, não é isso. Eu só não quero que você se mude para


algum buraco onde eu vou ficar preocupado com você o tempo todo.

—Bem, não posso pagar nada extravagante. Meu chefe é um


sovina bastardo e custa muito viver na cidade.

Ele ignorou minha mentira. —Sim, mas você poderia apenas


esperar um pouco.

—Está na hora, Ryke. Sou uma mulher adulta e não quero mais
morar com minha mãe.

—É isso? Você só não quer morar com ela? Ou você quer ficar
sozinha?

Eu franzi minhas sobrancelhas enquanto considerava. —Eu


não sei. Não é a mesma coisa?

—Na verdade, não. Por que você não se muda para cá?

Eu ri tanto que tive que segurar o telefone para recuperar o


fôlego. —No seu prédio? Eu teria que viver em um armário de
vassouras para pagar isso. Literalmente, moraria em um armário e
dormiria de pé.

—Não, no meu apartamento. Venha morar comigo.

Meu queixo caiu e me sentei na cama. —O quê? Não, você


não precisa fazer isso.

—Eu nunca disse que precisava. Por que não? Tenho muito
espaço. Você vai e vem daqui todos os dias. Você gostaria de estar
aqui.

—Sim, mas...
—Mas o quê?

—Eu só... você não teria nenhuma privacidade. E se você


quisesse trazer uma mulher para casa ou algo assim?

—Não jogue esse jogo de merda comigo, Kate. Você sabe que
isso não está acontecendo.

—Não, eu não sei.

—Isso não está acontecendo. A única mulher que quero que


esteja ao meu lado na cama agora é você.

Eu engoli tão forte que ele provavelmente ouviu. —Mesmo?

—Sim, com certeza. Eu estou deitado aqui apenas com minha


boxer ficando duro só de ouvir sua voz.

Seu tom baixo enviou um choque de confiança e excitação


através de mim.

—Eu gostaria de poder ver você. —Eu disse.

—Eu também. O que você está vestindo?

Sua pergunta conjurou uma imagem de uma operadora de sexo


por telefone, que balançou a cabeça inexistente para mim com
desdém. —Para ser sincera, estou usando um moletom cinza e uma
camiseta de vôlei do ensino médio. Desculpe.

Uma nota profunda e única de risada soou. —Não se desculpe.


Apenas tire-os.

Meu coração pulou uma batida. —Tirar?

—Sim. Tire. Eu vou esperar.

Puta merda, ele tinha acabado de me aquecer em menos de


cinco segundos – sem as mãos. Eu respondi ao seu tom de comando,
jogando meu telefone na cama e puxando minha camiseta sobre a
minha cabeça. Pegando o telefone, deitei-me na cama e deslizei meu
moletom para baixo dos meus quadris, falando enquanto eu
trabalhava com ele.

—Tudo bem. —Eu disse.

—Então, agora o que você está vestindo?

Eu queria mentir. Dizer a ele que eu tinha algo preto e rendado


ou pelo menos algo que combinasse. Mas era contra a minha natureza.
—Estou com um sutiã rosa e calcinha com estampa de cerejas.

—Cerejas?

—Sim. —Eu queria explicar minha falta de sensualidade.


Precisava lavar roupa, e ninguém além de mim via minhas roupas, de
qualquer maneira. Mas ele não me deu uma chance.

—Você confia em mim? —Ele perguntou, seu tom caloroso e


– Deus me ajude – sexy. Ele podia ler um livro de receitas agora
mesmo e me excitar.

—Sim.

—Envie-me uma foto.

Eu ofeguei no telefone. —Uma foto? De...?

—A calcinha. Mostre-me suas cerejas.

Meu coração bateu furiosamente. Eu poderia ser tão ousada


assim? Eu me contorci apenas com o pensamento.

—Vamos, Kate. Viva um pouco. —Houve um barulho no


telefone e Ryke falou novamente depois de alguns segundos. —Veja,
eu fui primeiro.
—Você quer dizer... você também está usando calcinha de
cereja e me enviou uma foto? —Eu provoquei, um formigamento de
nervosismo pela minha pele.

Houve aquela risada baixa novamente. —Só há uma maneira


de descobrir.

Droga, certo. Eu puxei o telefone para longe da minha orelha


e cliquei na foto que ele havia enviado. Meus lábios se separaram
quando eu vi. O tecido de suas boxers escuras estava sendo forçado
por sua enorme ereção.

Coloquei o telefone de volta na minha orelha, procurando por


algo para dizer. —Ah... isso é...

—Sua vez. —O desejo em seu tom me deu a coragem que


precisava. Mordi meu lábio e fechei os olhos com força, tirando uma
foto entre as minhas pernas rapidamente. Antes que eu pudesse
mudar de ideia, enviei.

—Ok. —Eu disse suavemente. Houve uma pausa e um


estrondo profundo que soou como satisfação.

—Isso é sexy para caralho. —Disse ele. —Suas cerejas são


excitantes.

—Não tire sarro de mim. —Eu avisei.

—Eu não estou. Amo o quão doce e despretensiosa você é.


Você deveria estar feliz por não estar aqui agora, Kate, porque se você
estivesse... Ele suspirou, parecendo frustrado.

—O quê? Se eu estivesse, o quê?

—Acho que não conseguiria manter minhas mãos longe de


você. Eu deslizaria sua doce calcinha de cereja e finalmente sentiria
seu gosto.
Fechei os olhos, só consegui pensar no som da voz dele. Isso
era seguro, já que não podíamos fazer sexo de verdade pelo telefone.
Eu poderia deixar acontecer.

—Deus, Ryke, eu quero você. —Eu disse.

—Eu sei que você quer. E eu precisaria de muito mais do que


apenas um gosto. Quero sentir você gozar na minha boca. Eu
fantasiei em tocar você tantas vezes, baby. Todas as noites.

Sua respiração estava vindo mais rápida, e eu sabia que ele


estava tão excitado quanto eu. —Você está... se tocando? —
Perguntei.

—Oh, sim. Eu coloquei minha mão em volta do meu pau


desde que vi a foto.

Eu não pensei, apenas falei. —Eu queria que fosse minha


boca.

—Oh, porra. —Sua voz ficou tensa e esperei alguns segundos.


Houve uma nota de desapontamento em sua profunda expiração. —
Droga.

—Você acabou de...?

—Claro que sim. Jesus, mulher. Essas palavras, saindo de sua


pequena e doce boca? Eu não pude evitar.

—Eu não sou doce o tempo todo. —Eu disse. Não era
verdade, mas queria que fosse. Pela primeira vez, me senti sexy, e foi
uma sensação inebriante.

—Isso é verdade? —Ryke perguntou. —Você é realmente


uma garota atrevida?
Deus, como eu queria dizer sim. Secretamente sexy aqui, Ryke.
Mas mais uma vez a minha incapacidade de mentir arruinou a minha
diversão.

—Não. —Eu disse, suspirando. —Quero dizer, esta conversa


é a mais indecente que já tive.

Ele soltou um suspiro. —Isso é bom.

—Por quê?

—Porque gosto de ser o único com quem você foi indecente.


Vamos manter as coisas assim. Agora, vou precisar que você deslize
sua mão nessa calcinha sexy que você está vestindo.

Eu tive que segurar um som de diversão. —Ryke, não posso.


Quero dizer, se você quer que eu... veja, não posso nem dizer, muito
menos fazer isso.

—Mas...

—Isso foi divertido. —Eu disse, interrompendo-o. —Eu


gostei muito. Mas tenho que trabalhar para chegar a isso.

—Ok, da próxima vez, então.

—E Ryke? Por favor, não mostre essa foto para ninguém.

Ele fez um som baixo de diversão. —Baby, eu nunca mostraria


isso para ninguém. É só para mim.

—OK. Vou dormir então. Vejo você pela manhã?

—Você quer se mudar para cá amanhã? —Ele disse isso como


se a decisão tivesse sido tomada e apenas os detalhes tivessem que ser
resolvidos, fazendo-me sorrir.

—Um...
—Por favor, Kate. Eu quero você aqui. Vou chamar algumas
pessoas para fazer a mudança e você não terá que fazer nada.

Eu sabia que não deveria ir morar com ele. Não poderia estar
tão perto dele e resistir ao sexo para sempre. E eu não podia ir lá. Se
fizesse, eu me arrependeria. Meu corpo queria fazer sexo, mas meu
coração não estava pronto.

Eu não sabia se minhas defesas estavam baixas ou meu estado


de excitação estava retendo oxigênio do meu cérebro, mas por alguma
razão, eu nem sequer protestei.

—Tudo bem. —Eu disse. —Vou morar com você.


CAPÍTULO 11

Kate

Quando entrei no apartamento, Ryke estava sentado à mesa da


cozinha, como de costume, uma caneca de café escura na frente dele
e meu Ryan Gosling esperando por mim do outro lado da mesa. Mas
hoje, entre as canecas, havia uma caixa.

—Feliz aniversário. —Disse ele, fechando o estojo de seu


tablet. Eu fazia 23 anos hoje. Como ele sabia? Tenho certeza de que
nunca tínhamos discutido isso. Eu estava tão preocupada todo o
caminho até aqui que as coisas seriam embaraçosas depois da noite
passada que nem tinha pensado no meu aniversário.

—Obrigada. —Eu disse, dando-lhe um sorriso que certamente


parecia bobo. Nunca havia recebido um presente de aniversário de
um homem. Eu tive que me lembrar que isso não era necessariamente
de Ryke, o homem. Era provavelmente de Ryke, meu chefe. Mimi
tinha me dito que Ryke dava ingressos para a temporada para sua
equipe e um bônus de Natal todos os anos.

Tirei meu casaco e me aproximei da caixa. Tinha quase trinta


centímetros de largura, mas não muito profunda, e minha curiosidade
foi despertada. Estava embrulhado em papel prata grosso e fosco com
uma fita prateada brilhante amarrada em um laço elaborado.

—Você não precisava me dar nada. —Eu disse, meus dedos


alisando o papel caro.

—Eu quis. Abra. —Ele mexeu-se impacientemente e me


perguntei se ele precisava ir, então tirei a fita e rasguei o papel. Meu
coração batia de excitação quando tirei a tampa da caixa de cor creme
e puxei o papel de seda.

Uma carteira de couro acolchoada marrom claro estava


aninhada no interior, e meus dedos voaram até a minha boca
enquanto olhava para ela. Eu conhecia a marca e nunca esperei
possuir algo tão luxuoso.

—Ryke. —Eu disse suavemente. —Isso é lindo, mas...

—Mas o quê? —Seu rosto caiu. —É a cor errada?

—Não, é só... elas são muito caras.

Suas sobrancelhas franziram quando ele olhou para mim do


outro lado da mesa. —Mas era isso o que eu queria te dar.

O cheiro fresco de couro era um lembrete de que ele era tudo


o que eu não era. Bem sucedido, sólido e seguro. E eu estava prestes
a deixá-lo me apoiar, mudando-me para cá quando nem estávamos
juntos. Era desesperado e um pouco patético. Eu dobrei o tecido
sobre a carteira e coloquei a tampa de volta na caixa. Um olhar em
direção à cozinha me disse que Mimi tinha ido para algum lugar para
nos dar privacidade.

—Você não gostou. —Ele disse, suspirando.

Eu encontrei seus olhos e vi ali uma dor que me rasgou. —


Não é isso. É linda.

—Então o quê?

—Eu simplesmente não sei por que você me comprou algo


tão bom quando você já me paga tão bem. —Eu disse. —Para mim,
um presente de aniversário é um livro ou uma camisa, não...

—Jesus, Kate. —Ele murmurou, afastando-se de mim. —


Passei mais de uma hora em uma loja de departamentos fazendo
compras porque queria encontrar algo perfeito para você. Eu vi que
sua carteira estava estragada quando eu a carreguei naquela noite e
achei que você ficaria... eu não sei – ele jogou as mãos para o ar -,
impressionada por eu ter me lembrado! Por que eu sempre tenho que
ser o cara rico tentando seduzir a garota falida?

Eu baixei meus olhos para o chão, incapaz de responder. Suas


perguntas me fizeram perceber o que eu estava fazendo. Eu queria
afastá-lo. Era fácil flertar com ele, mas isso parecia muito íntimo. Ele
tinha ido a uma loja especificamente para me comprar um presente
de aniversário. Eu deveria estar feliz, mas Jason Ryker me assustou.
E se eu pudesse superar meu medo de sexo por ele? Eu me
apaixonaria completamente, sem dúvida. Mas ele iria querer algo a
longo prazo comigo e com o meu útero defeituoso?

—Eu não quero ser uma das suas tietes. —Eu disse em voz
baixa. Imaginei que isso funcionaria; ele ficaria tão furioso que iria
sair.

Arrepios percorreram em meus braços quando ele se levantou


da cadeira e caminhou até a minha, encostando-se à mesa da cozinha.
Eu não conseguia olhar para cima porque sabia que veria fúria ou
decepção.

—Quando eu te tratei como uma tiete?

—Ryke... —Encontrei seus olhos, e a tempestade de emoções


lá me fez querer me jogar em seus braços. —Eu tenho problemas. E
você... você é sexy e bem sucedido e as mulheres se jogam em você.

—E daí? Isso não significa que eu queira alguma delas. Vem


com o trabalho, Kate. Elas não dão a mínima para mim, é apenas uma
imagem. Responda a minha pergunta. Quando te tratei como uma
tiete?
—Você já beijou mais alguém desde que me beijou pela
primeira vez? —Eu me senti fraca por perguntar, mas precisava saber.
Eu não era do tipo ciumenta, mas estava morrendo de vontade de
saber se era especial para ele.

—Não.

Eu realmente podia sentir o alívio me dominando. —Por que


não?

—Não queria. Me responda.

—Você deveria estar com raiva de mim! —Ele me


desequilibrou e eu não sabia como responder à sua pergunta.

—Eu não estou. Eu vejo o que você está fazendo.

Olhei para longe, frustrada. Ele provavelmente via. Ele sempre


foi o mais tranquilo, com todas as respostas e confiança ilimitada. Eu
sempre fui a única a divagar.

—Eu vou te levar para jantar hoje à noite. —Seu tom era firme
e eu não consegui argumentar. Tentei olhar para o chão, mas o
polegar dele levantou meu queixo, forçando meus olhos a encontrar
os dele. —Pegue meu cartão de crédito, coloque-o na carteira que eu
te dei e compre um vestido tão caro que ofenda você. Venho buscá-
la aqui às sete.

Eu acenei com a cabeça. Foi-se a brigona autossuficiente. Sua


insistência fez com que eu me sentisse corada; ansiosa para agradá-lo.

—E depois que eu te levar para jantar fora, você vai passar a


noite comigo. —Ele levou minha mão aos lábios e beijou meus dedos.
—Agora vou treinar, então vejo você à noite?

—Sim. —Minha voz era sonhadora. Hoje à noite me ajudaria


a ver como seria viver com Ryke. Eu tinha planejado comer bolo e
sorvete com mamãe e Dale, seguido por assistir meu DVR. Meu
aniversário estava melhorando.

***

Kate

Embora ele tivesse deixado o apartamento esta manhã com


roupas de ginástica, Ryke usava um terno escuro quando entrou para
me buscar. Usava não era a palavra certa, na verdade. Ele
praticamente o possuía, cada linha se ajustando ao seu corpo
perfeitamente. Sua camisa branca estava perfeitamente passada,
aberta no colarinho sem gravata.

—Santo Cristo. —Ele murmurou quando me viu. Lambi meus


lábios, sentindo o gosto do batom rosa claro que havia aplicado. Meu
coração estava batendo forte enquanto ele me estudava da cabeça aos
pés. A vendedora me assegurou que este era o vestido para esta noite,
mesmo quando tentei mudar de ideia no caixa.

Mas ela provavelmente era uma senhora closet ou algo assim.


Este vestido preto sem mangas, com um decote em V que mergulhava
bem abaixo do centro dos meus seios, não era eu. Eu precisava de um
cardigã com botões para usar por cima.

—Você parece tão gostosa, Kate. —Disse Ryke, caminhando


na minha direção. —Eu nem preciso sair do apartamento para
conseguir o que quero para o jantar.

Eu estava quente da cabeça aos pés. —Você gostou, então?


Do vestido?
—Eu o amei. Vamos dar o fora daqui antes que eu mude de
ideia sobre sair. Temos que sair, é seu aniversário.

Ele estendeu a mão e eu a peguei, segurando minha minúscula


bolsa preta na outra mão. Eu peguei a echarpe que comprei na saída
e a coloquei sobre meus ombros no elevador.

Surpreendeu-me o quão elegante me senti neste vestido caro.


Não havia etiquetas de preço nas roupas da boutique no centro da
cidade onde eu o tinha comprado, mas olhei para o recibo e fiquei um
pouco horrorizada com o alto custo. Esbanjei com meu próprio
dinheiro e fiz meu cabelo e minhas unhas também.

—Então, para onde vamos? —Perguntei a Ryke a caminho da


garagem.

—Eu fiz uma reserva em um lugar que ouvi dizer que é bom.
—Disse ele. Quando chegamos ao Mustang, ele abriu a minha porta
e senti um cheiro fresco assim que entrei.

—O carro está com um cheiro bom. —Eu disse quando Ryke


entrou.

—Eu mandei limpar hoje. Você quer alguma música?

—Sim. —Eu admirava seu perfil sombreado na escuridão do


carro. Seu cabelo preto estava tão arrumado que eu queria me esticar
e bagunçá-lo para restaurar seu habitual visual sexy e um pouco
bagunçado.

A música clássica que Ryke colocou acalmou meus nervos no


caminho até o restaurante. Um manobrista estacionou o carro e,
quando entramos, fomos levados para a parte de trás de uma sala
lateral mal iluminada, onde uma mesa particular esperava.

Eu nunca tinha ido a um restaurante tão sofisticado, e deveria


estar prestando atenção aos detalhes. Mas ignorei os aperitivos
elegantes dispostos artisticamente em um prato branco imaculado, as
taças de vinho que nunca foram deixadas vazias pelo nosso garçom e
o bife que derretia na minha boca. Eu não conseguia me concentrar
em nada além de Ryke.

Ele estava me contando uma história engraçada sobre seu


primeiro ano de hóquei profissional, e a maneira como ele acariciou
sua linha da mandíbula e sorriu me fez querer rastejar sobre a mesa
para seu colo.

—Você parece um pouco assustada comigo agora. —Ele disse,


com as sobrancelhas franzidas de confusão.

—Estou com um pouco de medo de você. —Eu admiti.

—Eu sou assustador?

—Não é você que me assusta, exatamente. —Eu disse,


empurrando os últimos vegetais no meu prato com o garfo. —É o
seu sex appeal.

—Meu sex appeal? Eu nem tenho sex appeal. Sou apenas um


jogador de hóquei. Cristo, você me faz parecer um...

—Um modelo de roupa íntima? —Eu ofereci, arqueando uma


sobrancelha.

Sua única nota de risada me fez sorrir. —Touché. Mas


realmente, tudo isso aconteceu porque o diretor de marketing do
designer gosta de hóquei e me conheceu em um evento beneficente.
Eu não sou um modelo a pedido ou qualquer coisa parecida.

—Você é sexy pra caramba. —Eu disse, suspirando e


descansando meu queixo em minhas mãos. —E o telefone... hum, as
conversas que tivemos... elas me fazem querer mais, e não posso ter
isso.

—Por que não? Nem mesmo se estivéssemos seguros?


Eu olhei para a mesa. —Ainda é um risco. E eu não posso
engravidar de novo. Eu estava bem com a minha vida sem sexo antes
de te conhecer. Você me faz querer coisas que não quero querer.

Ryke fez um som de diversão. —Isso é muito querer.

—Você não tem ideia. —Eu peguei minha taça de vinho e


tomei um terço dela. —Quanto vinho você acha que tomei? Tinha
um gosto ruim quando comecei a beber, mas agora é bom.

—Isso provavelmente significa que você bebeu o suficiente,


querida. Você parece um pouco corada, mas esperava que fosse
apenas o meu efeito sobre você.

—É. Você me aquece toda, Ryker. Podemos voltar para sua


casa agora?

Ele sorriu sua aprovação. —Eles têm bolo de aniversário para


você na cozinha, você quer levá-lo conosco?

—Certo. Este foi um ótimo jantar, Ryke. Obrigada. E pelo o


meu presente também. Por que eu estava tão tensa com isso? Deus,
agora eu me sinto tão bem. Eu quero ir para casa e tirar esses sapatos
e sair desse vestido.

Ryke acenou para o garçom trazer a conta e mandar embrulhar


o bolo.

—Posso pegar um pouco de vinho para levar também? —Eu


perguntei.

—Uh... —O garçom olhou para Ryke e de volta para mim.

—Acho que seria melhor não fazer isso. —Disse Ryke, seus
lábios se curvando em diversão. —Mas estou feliz que você gostou e
eu vou mandar entregar alguns no apartamento esta semana.
—OK. —Eu tirei uma mecha de cabelo perdida do meu rosto.
—Estou com calor.

Ryke envolveu um braço ao redor da minha cintura enquanto


saíamos do restaurante, e me perguntei o que ele tinha em mente para
resto da noite. Eu queria que ele trabalhasse comigo do jeito que fez
no telefone.

Quando o manobrista abriu minha porta, Ryke o colocou de


lado e colocou uma nota em sua mão, me ajudando a entrar no carro.

—Eu vou passar a noite com você. —Eu sussurrei, sorrindo.


Ele sorriu silenciosamente e fechou a porta.

A volta para casa foi silenciosa. Eu tirei meus sapatos e


descansei minha cabeça contra o assento, de repente cansada.
Quando chegamos em casa, Ryke enrolou o braço em volta da minha
cintura novamente para a caminhada até o elevador.

—Você acha que estou bêbada! —Eu disse, as palavras soando


mais chocadas do que pretendia.

—Você bebeu muito vinho. Vamos para a cama.

Meu estômago caiu com a decepção. —Você não vai me


seduzir?

Ele riu e me puxou um pouco mais perto. —Infelizmente, não.

Eu gemi minha desaprovação e me inclinei contra ele. Quando


chegamos ao andar de cima, ele me acompanhou até o seu quarto e
depois ao seu closet. Ele ficou de pé atrás de mim e colocou meu cabelo
sobre um dos meus ombros, suas mãos encontrando o zíper do meu
vestido.

O ar atingiu minha pele nua quando ele puxou o zíper para


baixo e me perguntei se ele havia mudado de ideia. O vestido caiu no
chão e seus lábios quentes deslizaram sobre um dos meus ombros,
enviando um arrepio através de mim. Eu queria mais, mas ele se
afastou. Quando voltou, ele estava enfiando algo sobre minha cabeça.

Eu olhei para baixo e vi que estava usando uma de suas


camisetas de hóquei. Ele me ajudou a colocar meus braços e depois
me levou para a cama. Eu me arrastei sob as cobertas suaves e escutei
o farfalhar dele se despindo. Quando ele se deitou na cama e
aconchegou-se com o peito nas minhas costas, envolvendo-se em
mim, murmurei minha aprovação. Ele era sólido e quente e eu só
queria não estar à beira do sono.

—Eu tenho que ir ao rinque cedo. —Disse ele suavemente. —


Você dorme. Feliz Aniversário.

—Feliz aniversário. —Eu murmurei, já incapaz de abrir meus


olhos.

***

Kate

Eu estava cercada por pessoas que haviam enlouquecido


temporariamente. Elas estavam gritando, pisoteando, dançando e
alguns estavam tentando, sem sucesso, acenar. Eu estava perdida em
um mar de vermelho – a cor do time de Ryke – e estava tendo o
melhor momento da minha vida.

Eu estava na seção de amigos e familiares, perto do gelo, com


Dawn. Ela era o mais próximo que eu tinha de uma amiga entre as
esposas dos jogadores, e ela sempre me guardava um assento nos
jogos em casa.
Ela pulou com um grito frustrado e eu pulei também. Ainda
não tinha certeza do que deveria me indignar nos jogos, mas estava
tentando aprender. Sabia que um gol significava enlouquecer, mas
para as outras coisas eu precisava das dicas de Dawn.

Eu não conseguia tirar meus olhos de Ryke. Ele patinava pelo


gelo com precisão, deslizando até parar para lutar pelo disco com
outros jogadores. Tacos balançavam e cotovelos eram lançados. O
taco de Ryke foi derrubado de sua mão e ele deu um soco no
estômago de um jogador do outro time que me fez colocar a mão
sobre meu estômago.

O outro jogador empurrou Ryke, e em um instante Ryke estava


batendo nele. Sua expressão estava tomada de raiva e ouvi um
grunhido abafado do outro jogador, mesmo sobre o rugido da
multidão.

Uma onda de cores rodopiantes deslizou pelo gelo enquanto


todos os outros jogadores se dirigiam para o outro lado do rinque.
Ryke e o cara com quem ele estava brigando se empurraram antes de
saírem também.

Eu me inclinei para Dawn e falei em seu ouvido. —Assistir,


isso te deixa excitada?

—Claro que sim. —Disse ela, arqueando as sobrancelhas


enquanto um sorriso se espalhava por seu rosto. —Quando Vic entra
em uma boa briga, sempre fazemos sexo incrível naquela noite. Eu
odeio quando ele está fora da cidade e o vejo brigando pela TV.

—Sempre há sexo por telefone. —Eu disse, sorrindo.

—Ah sim, você vai ficar boa nisso. —Seus olhos azuis
brilhavam enquanto ela falava. —E você tem que enviar textos
aleatórios ocasionalmente também.

Virei minha cabeça em sua direção. —Você quer dizer... sexy?


O olhar de Dawn estava focado no gelo, e seus olhos se
arregalaram à medida que vários jogadores se dirigiam para o disco.

—Vic! —Ela gritou, pulando e colocando as mãos ao redor de


sua boca. —Bata em alguém!

Eu também pulei quando vi Ryke fazendo um movimento


com o disco para passá-lo para outro jogador, mas então ele recuou e
bateu na rede com tanta força que nem consegui vê-lo voando.

A queda do goleiro do outro time no gelo me disse que era um


gol, e Dawn e eu pulamos, nos abraçamos e gritamos com o resto da
arena até que minha garganta ficou dolorida. Eu estava prestes a me
sentar quando Ryke olhou em nossa direção. Nossos olhos se
encontraram por uma fração de segundo e ele deu um pequeno aceno
de cabeça.

—Por falar em sexo bom. —Disse Dawn em um tom baixo.


—Você está querendo isso agora, certo?

Com certeza. A parte interna de minhas coxas irradiavam calor.


A atenção de toda a arena estava focada na estrela de hóquei, cuja
atenção estava focada em mim. A luta e a agressão eram como
preliminares, lentamente e deliciosamente me aquecendo. Eu nunca
o quis tanto quanto queria naquele momento.

—De qualquer forma. —Disse Dawn quando nos sentamos


de volta. —Sim, eu mando mensagens para Vic tipo se você estivesse
dentro de mim e vamos foder essa noite porque, você sabe, temos que
manter as coisas quentes. Muitas mulheres perseguem meu homem e
ele gosta que eu afunde minhas garras.

—Hmm. —Eu disse, imaginando se teria coragem de enviar


uma mensagem assim para Ryke. Eu sabia que não me importaria de
receber uma dele, mas a ideia de ser eu a mandar me fez contorcer.
O rugido na arena tinha diminuído, e pude realmente ouvir
Dawn quando ela falava.

—Você é muito diferente de Maggie. —Disse ela, olhando


para as minhas mãos no meu colo. Minhas unhas estavam pintadas
de vermelho vivo, com pequenos adesivos do logotipo da equipe de
Ryke em cada uma delas. Minhas bochechas se aqueceram com um
rubor. Maggie era polida e sofisticada e eu provavelmente parecia uma
colegial com o logotipo da equipe nas minhas unhas, camiseta e boné.

—Eu encontrei uma foto dela no arquivo de Ryke quando ele


me pediu para vasculhar e encontrar seus registros fiscais um dia. —
Eu disse. —Ela era bonita.

Dawn encolheu os ombros. —Eu acho que era, mas sua


personalidade era... —Ela balançou a cabeça enquanto considerava e
seus cachos vermelhos saltaram um pouco. —Ela era uma puta,
basicamente.

—Uh... —Eu fiquei tensa ao pensar em dizer algo negativo


sobre a falecida esposa de Ryke. Dawn levantou a mão para me
silenciar.

—Não é você que está dizendo isso, sou eu. —Disse ela,
parecendo ler minha mente. Maggie não era para ser uma esposa de
hóquei. Ela odiava hóquei, odiava que Ryke viajasse e odiava toda a
atenção que ele recebia. Vic disse que ela fazia da vida dele um inferno
o tempo todo.

Franzi minhas sobrancelhas enquanto considerava suas


palavras. —Por que eles se casaram, então?

Os lábios de Dawn se juntaram em uma linha enquanto ela se


inclinava para falar em um tom baixo. —Honestamente? Acho que
ela imaginou que a fama dele ajudaria a promover sua carreira. Eles
namoraram por cerca de seis meses, e ele a amava, mas não estava
pronto para se casar. Ela disse a ele que se ele não se casasse com ela,
ela iria seguir em frente, então ele casou.

—Uau. —Eu disse. —Isso não soa como o começo de um


casamento feliz.

—Não. Mas não diga nada sobre isso a ele, porque ele não sabe
que todos nós sabemos que é por isso que ela se casou com ele. Ele
já passou pelo suficiente, não precisa de mais mágoa.

—Sim. —Eu disse suavemente.

—Meu ponto. —Disse Dawn, batendo na minha coxa. —É


que eu acho que você é boa para Ryke.

—Bem, nós não estamos...

Sua sobrancelha arqueada e seu olhar me silenciaram. —É


óbvio para todos e é apenas uma questão de tempo. E é ótimo vê-lo
com alguém que apoia sua carreira e o faz tão feliz. Eu nunca o vi
feliz assim.

Não pude deixar de sorrir com a sugestão de que eu o faço


feliz.

—Somos uma família, Kate. —Disse ela. —Isso tem seus altos
e baixos, como todas as famílias. Mas se você precisar de alguma
coisa, estamos todos aqui.

—Obrigada.

Meu olhar voltou para Ryke, que estava deslizando pela pista,
pedaços de gelo voando de seus patins. Eu estava desesperadamente
louca por ele, e ser recebida no círculo de sua equipe me fez desejar
que nós dois superássemos nossas reservas e fizéssemos isso. Eu jurei
tentar.

***
Ryke

Minhas costelas doíam da minha briga com aquele filho da


puta do Alexi Landau. Odiava aquele idiota e nunca parecia passar
por um jogo contra seu time sem um de nós começar algo. Esta noite
tinha sido ele.

—Você quer um pouco, Ryker? —Ele me perguntou. —Ou


você precisa ficar bonito já que é um modelo agora?

E nós batemos um no outro até nós dois terminarmos sendo


penalizados. Eu cortei o lábio dele, forçando-o a deixar o jogo porque
não parava de sangrar. Brigar sempre me deixava bem, e eu estava
pensando em ligar para Kate desde que deixei a arena. Depois de um
jantar rápido em um restaurante de Dallas, voltei de táxi para o hotel
e estava discando para ela enquanto seguia pelo saguão.

—Ei. —Disse ela, sua voz doce e sonolenta fazendo meu pau
se mexer para a vida. —Ótimo jogo. Você está bem depois daquela
briga?

—Sim eu estou bem. Espero que Alexi ainda esteja sangrando.

—Os locutores do jogo disseram que ele teve que levar alguns
pontos.

—Eles deviam costurar toda a porra da boca dele fechada. —


Eu disse, pulando o elevador e subindo as escadas. —O que está
fazendo?

—Apenas deitada na cama.

—Perfeito. Eu estou indo me deitar. Diga-me o que você está


vestindo.
—Uma camiseta branca e calcinha vermelha. —O sorriso em
sua voz e a imagem mental dela me deixaram tão duro que corri para
o meu quarto no terceiro andar, preocupado que alguém prestasse
atenção em mim.

—Você pode tirar a camiseta. —Eu disse, deslizando o cartão


na porta e abrindo-a. Houve um farfalhar do outro lado do telefone.

—Tudo bem. —Disse ela. —E o que você vai tirar?

—Tudo. Estou tirando meus sapatos agora mesmo. Sentei-me


na ponta da cama king size, jogando meus sapatos e meias e me
levantando para tirar a calça. —Agora eu estou tirando minha calça...
ok. Espere aí.

Eu afastei o telefone e tirei minha camisa, pegando-a de volta


imediatamente. —OK. Estou sem nada e eu estou duro para caralho.

—Sério? O que podemos fazer sobre isso? —Seu tom


ofegante me fez envolver minha mão em torno do meu pau e
bombeá-lo lentamente.

—Toque seus mamilos. —Eu disse, imaginando-a fazendo


isso. —Brinque com eles até que eles fiquem duros.

—Ah... eu gostaria que fossem suas mãos em mim. —Disse


ela. Porra. Nesse ritmo, eu explodiria em pouco tempo.

—Eu também. —Eu disse, respirando pesadamente enquanto


tentava me conter. —Coloque sua mão em sua calcinha. Toque-se.

Ela ofegou, mas em poucos segundos se tornou um gemido.


—Oh, Ryke. Deus, isso é bom. Faz tanto tempo desde que eu... —
Sua voz sumiu, tornando-se um gemido novamente.

—Conte-me sobre isso. —Eu disse. —O que você está


fazendo para si mesma agora.
Ela ofegou no telefone algumas vezes antes de falar. —Estou...
me esfregando. Estava indo devagar, mas agora quero ir mais rápido.
Ah...

—Eu gostaria de estar em você agora. —Eu disse, minha voz


tensa de me segurar. —Eu te quero tanto, Kate.

Nós dois estávamos ansiosos esta noite, porque demorou


apenas mais alguns segundos para sua respiração pesada e gemidos
baixos me dizerem que ela estava gozando. Eu me deixei ir também,
gemendo enquanto me acariciava.

—Ryke. —Ela disse suavemente. —Acabei de gozar enquanto


fazíamos sexo por telefone.

—Eu sei, baby, essa era a ideia.

—Mas faz tanto tempo desde que eu... Deus, eu tinha


esquecido como era incrível.

A combinação de doce e sexy em Kate me derretia todas as


vezes. Ela me afetava como ninguém nunca conseguiu.

—Eu mal posso esperar para ver você. —Eu disse. Se tivesse
ouvido um colega de equipe falando com uma mulher desse jeito, teria
dito a ele que era um maricas. Mas não pude evitar. Eu estava em uma
longa viagem e estava sentindo falta dela.

—Eu também. —Disse ela. —Eu estarei pensando sobre isso


o dia todo amanhã. É melhor dormirmos um pouco.

—Sim. Boa noite.

—Muito boa. Ótima. Tchau, Ryke.

O jet lag e a fadiga me pegaram, e adormeci, tentando não


pensar no quanto me perturbava o fato de querer apenas uma mulher.

***
Ryke

O bipe no correio de voz de Kate me levou a deixar uma


mensagem, mas desliguei. Os companheiros de equipe soltaram seus
cintos de segurança ao meu redor, mas eu ignorei o meu. Tudo o que
eu conseguia pensar quando o nosso avião parou era em por que ela
não tinha respondido ontem à noite ou hoje.

Nós jogamos em Montreal na noite passada e saí com os caras


depois. Enquanto esperávamos nossa comida em uma churrascaria,
saí para ligar para Kate. Era meu terceiro dia na estrada, e eu sentia
falta dela. Eu com certeza não queria que os outros caras soubessem
disso, no entanto. Eu nunca mais teria sossego sobre isso.

Deixei uma mensagem pedindo para ela ligar, mas ela não
ligou. Uma queimação no meu estômago me fez mudar de posição.
Eu não tinha comido nada hoje que pudesse causar isso e estava me
perguntando o que poderia estar causando esta sensação quando a
compreensão me atingiu como um defensor de 110 quilos.

Eu estava preocupado. Isso era uma merda. Eu revirei meus


olhos, enojado comigo mesmo.

O avião estava quieto, além dos sons normais dos caras se


levantando e pegando suas coisas. Soltei o cinto de segurança,
exalando profundamente enquanto pensava no que fazer em relação
a Kate. Eu teria que passar em casa para ver se tudo estava bem.

—Ei. —Luke disse para mim do outro lado do corredor. —


Você quer ir comer e jogar sinuca ou algo assim?

Eu estava prestes a dizer a ele que não podia quando meu


telefone vibrou e o nome de Kate apareceu na tela.

—Kate. Está tudo bem?


—Sim, eu estava apenas passeando com Wilbur e esqueci meu
telefone no apartamento.

Minha tensão diminuiu e eu afundei de volta contra o meu


assento. —Wilbur?

—O cachorro do Sr. Richardson. Ele não pode levá-lo para


passear desde que quebrou o quadril.

—Quem é esse? —Eu soltei o cinto de segurança e me levantei


para deixar o avião.

—Ele é seu vizinho no andar de baixo. Um cara super legal.

—Hã. Eu vou ter que encontrá-lo em algum momento. Ele


não está usando o Wilbur para levá-la para a cama, está?

Sua risada me fez sorrir. —Ele está na casa dos 80 anos, então
eu acho que não. Como foi sua viagem?

—Boa. Nós acabamos de pousar. Vencemos ontem à noite.

—Eu sei que você venceu, eu estava assistindo. Eu posso ou


não ter gritado com você pela TV ontem à noite para dar uma surra
naquele cara com quem você estava brigando.

Eu gostava de saber que ela assistia meus jogos. Pensar nisso


me fazia patinar um pouco mais rápido e bater um pouco mais forte.

—Eu liguei tarde demais ontem à noite? —Tentei mascarar


minha decepção por não falar com ela.

Uma risadinha de um dos caras me fez virar. Nós estávamos


todos de pé esperando a porta do avião ser aberta.

—Pare de ser tão maricas, Ryker! —Nosso goleiro Paul


O'Neal gritou.
—Vá se foder. —Eu rebati, olhando para ele antes de voltar
minha atenção para a minha ligação. —Desculpe-me, Kate.

—Não era tarde demais, eu estava com Kylie em um bar de


esportes onde assistíamos ao jogo e não ouvi meu telefone. Não
recebi a mensagem até esta manhã.

Ruídos surdos de gemidos atrás de mim, me forçaram a dar


meia-volta. Eric Larsen, um defensor detestável, estava fingindo se
masturbar. —Pergunte a sua assistente se ela vai me ajudar com isso.
—Disse ele em voz alta.

—Espere. —Eu disse a Kate, empurrando Vic para chegar a


Larsen. Eu empurrei seu peito e ele cambaleou e caiu de bunda no
corredor. —Cale a boca. Não fale sobre ela.

Vic deve ter ouvido a ameaça no meu tom, porque se colocou


entre nós. Ele fez sinal para eu sair do avião e segui os outros até a
porta.

—Desculpe-me, estou aqui. —Eu disse a Kate. —Você quer


sair hoje à noite?

—Eu iria, mas tenho planos com minha mãe. Nós vamos
jantar e ver um filme.

Uma sensação estranha me fez parar por um segundo. —OK.


Vejo você quando você voltar.

Nós nos despedimos, mas não consegui parar de pensar na


conversa. Kate e eu nos divertimos muito quando estávamos juntos,
mas quando não estávamos... ela fazia o que queria. Nunca tive isso
com Maggie. Ela esperava que eu ligasse todas as noites quando eu
estava na estrada e esperava que ficássemos juntos todas as noites
quando eu estava em casa.
Kate poderia ter remarcado sua mãe para estar comigo, mas
ela não queria. E maldito se eu não achasse isso atraente. Eu iria para
a cama sozinho pensando nela novamente esta noite. Quem eu estava
enganando? Eu já estava pensando nela. Apenas a lembrança da nossa
conversa na outra noite fez minhas bolas se apertarem
desconfortavelmente. A maneira como a respiração dela acelerou até
quase ofegar. Sua voz doce dizendo meu nome.

Porra, agora eu estava com uma latejante ereção. Apressei os


últimos passos para o meu carro, me ajeitando quando entrei. Havia
apenas duas coisas que ajudavam quando meu sangue estava fluindo
assim. E como sexo estava fora de cogitação, eu estava indo para a
academia para um treino longo e duro.

***

Kate

Eu estava estacionando na garagem da minha mãe para poder


correr lá dentro antes de sairmos para nosso jantar, quando meu
telefone tocou com um número desconhecido.

—Olá?

—Kate. É o Quinn. Não desligue. —Ele falou rapidamente.

—Você sabe que eu não quero falar com você. —Eu disse,
irritada. —É por isso que eu bloqueei o seu número.

—Eu sei. Não estou ligando para te incomodar. A maneira


como deixamos as coisas... ou a maneira como eu deixei as coisas,
porque você não fez nada de errado... Eu me arrependo. Eu sei que
isso parece estranho, mas significaria muito para mim se pudéssemos
nos sentar cara a cara e conversar sobre as coisas.

—Quinn...

—Deixe-me reformular isso. —Disse ele, interrompendo-me.


—Você pode falar e eu vou ouvir. Estou tentando fazer a coisa certa
e não fugir. Você pode gritar comigo o tempo todo, me chamar de
idiota, o que você quiser. Eu só quero... eu preciso enfrentar isso. Isso
faz algum sentido?

Seu tom de súplica me fez incapaz de desligar desta vez.


Suspirei e balancei a cabeça. —Sim. Tudo bem. Quando quer se
encontrar?

—O que quer que funcione para você.

—Quinta-feira à noite?

—Claro. Eu dou aula até as 8:30h, podemos nos encontrar às


9:00h? Na lanchonete que costumávamos ir? Você se lembra?

O lugar no centro da cidade com ótimos paninis14 onde eu tinha


olhado para ele e decidido que acreditava no amor à primeira vista.
—Sim, eu me lembro. Estarei lá.

***

14
O panini é um sanduíche que tem origem nas terras italianas e que faz sucesso por todo o mundo. Seu
preparo é prático e pode contar com variações tanto nos pães utilizados quanto nas opções de recheio.
Algumas opções de pães são a ciabatta e o pão de forma.
Kate

Havia uma multidão de pessoas na porta da frente, na calçada


do bar do centro que Ryke tinha me mandado o nome por mensagem.

Quando ele me pediu para passar por aqui, disse a ele que não
podia, porque tinha muito que fazer. A pilha de cartas de fãs era
assustadora desde que eu tinha estado ocupada com outras coisas esta
semana. Eu estava ajudando Jan do escritório da equipe com uma
arrecadação de fundos que ela estava organizando. Mimi e eu
estávamos fazendo biscoitos e tortas, o que era divertido, mas
demorava uma eternidade.

Mas quando pensei no quanto eu sentia falta de Ryke, decidi


que as correspondências dos fãs poderiam esperar. Eu precisava de
mais do que apenas a voz dele. Andando pelo bar lotado, eu estava
pensando em envolver meus braços em seu pescoço e dizer a ele
como estava feliz em vê-lo.

Depois de olhar para dezenas de rostos, eu o encontrei em uma


mesa alta com vários outros caras. Eu reconheci Luke e Victor, dois
de seus companheiros de equipe. Os sorrisos relaxados de todos os
homens deixaram claro quão próximos eles eram. Luke puxou o rosto
de outro companheiro de equipe para o seu, tentando beijar sua
bochecha, o que provocou uma onda de gargalhadas.

Algumas mulheres estavam agrupadas ao redor deles,


demonstrando expressões ansiosas. Estiquei meu pescoço para ter
uma visão de Ryke e vi uma mulher de pé ao lado dele, pressionando
contra seu braço. Mesmo antes de ver sua maquiagem pesada e blusa
minúscula, sabia que estava tendo uma visão em primeira mão de uma
tiete. Como Ryke tinha chamado? Maria patins. Ela falava no ouvido
dele, mas ele parecia estar ouvindo Victor, que estava ao seu lado.
Eu realmente senti um pouco de pena da menina quando ela
parou de falar e riu com Ryke e Victor, como se ela tivesse feito parte
da conversa deles e estivesse envolvida na brincadeira.

A mesa estava lotada, mas eu sentaria no colo de Ryke se fosse


preciso. Eu não me contentaria em olhar agora e me tocar mais tarde.
Não era sobre apostar minha reivindicação, mas deixar Ryke saber
como era bom tê-lo de volta em casa por alguns dias.

Meu telefone tocou no meu bolso e considerei ignorá-lo,


sabendo que não era Ryke. Mas eu o peguei de qualquer maneira,
encontrando uma mensagem da minha mãe.

Tranquei minhas chaves no carro no posto de gasolina.

Você pode trazer minhas extras?

Mandei uma mensagem de volta dizendo que eu estaria lá e me


perguntei se deveria dizer a Ryke que estava saindo. Mas isso era
bobo. Ele nem sabia que eu estava aqui ainda, e ele já estava tendo
duas conversas ao mesmo tempo. Bem, uma e meia, talvez.

Com um último olhar para ele, me virei para ir embora. Seu


corpo estava inclinado para longe de sua fã amigável, mas ela parecia
mais entusiasmada do que nunca. Eu entendi o interesse dela. Ele não
se barbeava há alguns dias, e sua barba por fazer escura me encantava
todas as vezes também. Eu tinha a esperança de descobrir mais tarde
se era tão bom quanto parecia.

Mas primeiro, tinha que ir resgatar a mamãe, o que era


apropriado, já que ela me resgatou dezenas de vezes ao longo dos
anos, e depois tinha o encontro com Quinn. Apenas o pensamento
de vê-lo fez meu estômago doer nervosamente. Más lembranças eram
mais fáceis de lidar quando elas não estavam olhando na sua cara.
CAPÍTULO 12

Kate

Quinn sentou-se em um banquinho no balcão da lanchonete,


seu olhar focado na caneca branca à frente dele. Eu tinha acabado de
entrar pela porta da frente, e considerei me virar e sair. Eu não devia
nada a ele. Se ele estava se sentindo mal sobre as coisas,
provavelmente era porque era um idiota egoísta.

Mas a queda de seus ombros me fez decidir dar a ele cinco


minutos. Não era possível que ele me machucasse agora, de qualquer
maneira. Qualquer fé que eu tinha nele tinha acabado há muito tempo.

Eu me aproximei dele com um sorriso forçado.

—Kate. —Ele se virou para mim, e uma brisa fresca de tristeza


e decepção me percorreu. Eu não disse nada, apenas deslizei para o
banco ao lado dele e esperei. Seu cabelo estava mais curto agora, as
ondas douradas trocadas por um corte prático.

—Você parece bem. —Foi alívio o que ouvi em sua voz?

—Eu estou bem.

—Então... obrigado por ter vindo. Não quero prendê-la aqui


por muito tempo, tenho certeza de que você tem coisas para fazer. —
Ele limpou a garganta e olhou ao redor da lanchonete quase vazia. —
Você quer pedir alguma coisa?

—Não, eu estou bem.


Ele assentiu e tomou um gole de café, olhando diretamente
para a lousa onde estava escrito 'Torta de amora'. —Eu acho que o
que gostaria de dizer é que sinto muito, Kate. Por... tudo, realmente.
Desde o momento em que você me disse que estava grávida, não fiz
uma coisa certa.

—Eu não precisava de você. —Eu disse, surpreendendo até a


mim mesma com as palavras. —Seu apoio teria sido bom. Apenas
não lidar com a sua hostilidade teria ajudado. Mas não demorou muito
para eu perceber que poderia fazer isso sozinha. Eu poderia ter feito.

Quinn apenas balançou a cabeça novamente, em silêncio.

—O que me destruiu foi perder o bebê. —Eu disse. —Não


perder você.

—Mas eu deveria ter estado lá para você. —Mesmo atrás de


seus óculos, eu podia ver as emoções latentes em seus olhos cor de
avelã. —Eu me odeio pela maneira como te tratei. Você é uma boa
pessoa, e quando você precisou de mim, eu dei o fora. Deixei você
segurando a barra.

—Sim. —Eu disse suavemente. —Mas eu consegui passar por


isso. Você sabe, quando eu estiver velha e grisalha e tiver uma vida
plena e esperançosamente feliz – quando for hora de eu deixar este
mundo – uma parte de mim estará ansiosa para finalmente conhecer
meu bebê. Eu poderia ter uma dúzia de crianças, mas ela sempre será
minha primeira. E eu nem vou lembrar de você. Eu já esqueci o que
aconteceu entre nós e você precisa fazer o mesmo. Eu te perdoo e
espero que você se perdoe logo.

Eu deslizei do banquinho, sabendo que esta seria


provavelmente a última vez que eu o veria. Era possível que nos
encontrássemos na multidão um dia, morando na mesma cidade, ou
que eu acabasse atrás dele na fila de um café. Mas nós não sorriríamos,
nos abraçaríamos e conversaríamos. Isso acabou para nós.
—Adeus, Kate. —Disse ele, seu tom me dizendo que ele sabia
disso também.

—Adeus, Quinn.

—Eu espero... quero dizer, desejo a você toda a felicidade do


mundo. Mesmo. Você merece isso.

Eu sorri enquanto enrolava meu lenço ao redor do meu


pescoço, não pensando em Quinn, mas em Ryke. —Obrigada. Acho
que talvez já a tenha encontrado.

***

Kate

O leve frio na garagem pinicou minhas bochechas, e tomei


uma respiração calmante. Um passeio no clima frio do outono parecia
perfeito neste momento. Eu estava subindo as escadas para ver se
Ryke se juntaria a mim. Eu não queria falar sobre a minha conversa
com Quinn, mas queria a segurança sólida que recebia apenas com a
presença de Ryke.

Na subida do elevador, lembrei-me do meu nervosismo em ver


Quinn esta noite. Mas isso não me incomodou. Ele era apenas o cara
que fugiu depois de nossa breve aventura, e as lembranças do nosso
tempo juntos já haviam se desvanecido para mim.

Entrei pela porta da frente e encontrei Ryke sentado em uma


cadeira de couro na sala de estar, com os ombros caídos para frente e
os cotovelos sobre os joelhos. Quando seus olhos encontraram os
meus, vi algo ali que não consegui identificar. Sua mandíbula estava
tensa e era óbvio que algo não estava certo. Ele estava com raiva?
—Qual é o problema? —Perguntei, caminhando até ele
enquanto puxava meu lenço.

—Aquela mulher no bar não era nada para mim. —Disse ele,
seu tom sincero. —Isso acontece, e não quero que você pense...

—Eu não pensei. —Tirei meu casaco e o joguei no sofá,


sentando-me na mesa de centro, para ficar no nível dos olhos dele.
—Eu nem sabia que você tinha me visto no bar.

—Luke viu você, mas você estava caminhando para a porta e


não consegui encontrá-la quando cheguei lá fora. E você foi embora,
e não consegui alcançá-la.

As linhas visíveis de seu rosto me disseram que ele estava


sentado aqui, preocupado que eu estivesse chateada com ele. Nossa,
Maggie tinha realmente afetado este pobre rapaz.

—Sinto muito. —Eu disse. —Meu telefone estava desligado


porque estava me encontrando com Quinn.

—Quinn? —Agora a raiva iluminou seus olhos. —Porra, Kate,


por que diabos você estava com ele?

Eu arqueei minhas sobrancelhas e apenas olhei para ele por


alguns segundos. —Tenho quase certeza que posso ver quem eu
quiser.

Ele balançou a cabeça e olhou para mim, levantando os


ombros. —Sim, veja quem você quiser. Você está certa. —Seu tom
imparcial me disse que eu atingi um nervo, mas ele também atingiu.

—Não foi nada, Ryke. Ele queria se desculpar pessoalmente, e


acho que concordei em encerrar isso.

—Quem se importa se o cara quer encerrar? Ele é um idiota e


um covarde...
—Encerramento para nós dois. —Eu disse, estendendo a mão
para tocar seu joelho. —Você sabe que não tenho interesse em
Quinn.

Ele passou a mão pelo cabelo e suspirou. —Sim, eu sei. Toda


vez que tento entender você, acabo frustrado e irritado.

—Por que você precisa me entender?

—Eu preciso saber o que você gosta... o que você quer. O que
te faz feliz.

—Você já descobriu essas coisas. —Eu disse, me


aproximando dele.

Ele balançou a cabeça, sua expressão perplexa me fazendo


sorrir. —Eu estou sentado aqui esperando para explicar que não
estava flertando com aquela mulher, mas você não está nem brava
com isso.

—Por que estaria brava? Você nem estava prestando atenção


nela.

—Eu sei, mas...

—Eu não sou a Maggie. —Eu disse suavemente. —Não era


para soar como se a estivesse julgando, mas acho que você baseia suas
suposições sobre mim nela.

Ele assentiu com a cabeça, uma sombra cruzando seu rosto.


—Você é apenas a mulher menos ciumenta que já conheci?

Eu ri levemente. —Tenho certeza que tenho isso em mim,


mas... há alguém de quem eu deveria ter ciúmes? Eu achei que você
não estivesse saindo com mais ninguém.
—Não, eu não estou. E você também não está, certo? —Seu
olhar de vulnerabilidade apertou meu coração. Nunca esperei que um
homem tão sexy e bem-sucedido me quisesse só para si.

—Claro que não. Eu tenho uma paixão louca por você desde
o primeiro dia.

Seus olhos cintilaram aquecidos enquanto ele se inclinava para


frente e agarrava meus quadris. —Eu também tenho uma paixão
louca.

Eu me lancei, ele me agarrou, e nós acabamos na cadeira,


comigo montando seu colo. Seus braços envolveram minhas costas
com força, moldando nossos corpos juntos. O toque de sua boca
contra a minha criou uma onda de desejo em mim, mas havia algo
mais do que apenas atração. Eu sabia que estava na hora. Eu tinha
sido despedaçada há quase um ano, e era hora de colocar algumas
daquelas peças de volta no lugar.

Ryke se levantou, me levando com ele facilmente. Ele


caminhou em direção ao quarto, sua boca nunca deixando a minha.
Eu corri meus dedos pelas costas dele, enrolando-os no tecido de sua
camisa para deslizá-la para cima. Ele fez uma pausa, uma mão
embaixo da minha bunda enquanto a outra retirava sua camisa sobre
a cabeça.

Minhas mãos deslizaram sobre cumes de músculos em seus


bíceps. Eu apertei seus ombros e pressionei meus quadris contra os
dele, um gemido abafado escapou dos meus lábios quando ele puxou
minha camisa e o calor de sua pele encontrou a minha.

A voz na minha cabeça estava me dizendo para ir devagar,


saborear isso e aproveitar cada sensação profunda. Mas simplesmente
não consegui. Quando Ryke me colocou na cama, pairando sobre
mim, puxei o cós de sua calça jeans, desesperada para tirá-la.
O arranhar de suas bochechas e queixo no meu pescoço e peito
enquanto ele me beijava era uma feliz tortura.

—Agora. —Eu disse, a palavra saindo em um sussurro. —Por


favor.

Seus lábios se arrastaram devagar e deliciosamente do meu


pescoço até a minha orelha. —Você tem certeza?

—Sim.

Seus olhos escureceram e nós arrancamos as roupas um do


outro freneticamente. Eu tinha esperado quase um ano, e agora não
tinha certeza se conseguiria passar um minuto inteiro sem isso.

Deitei-me e esperei Ryke vasculhar uma gaveta em sua mesa


de cabeceira, meu peito subindo e descendo mais rápido do que o
habitual. Eu não conseguia desviar o olhar de sua ereção dura como
aço, que era tão impressionante quanto o resto de seu corpo. Espero
que só doa no começo.

Ryke encontrou meus olhos quando abriu a caixa de


preservativos. —Eu comprei para quando você estivesse pronta. Não
é... Eu não quero que você pense que fodo mulheres aqui o tempo
todo e este é o meu esconderijo.

—Vamos foder agora e conversar depois. —Eu disse. —


Agradeço, de verdade, mas apenas olhar para você vai me fazer gozar
se você não se apressar.

—Só desta vez. —Disse ele com um pequeno sorriso, rolando


o preservativo pelo seu comprimento. —Depois disso, vou dar as
ordens na cama, e não haverá nenhuma pressa.

Ele me beijou, e fiquei tão perdida no calor terno de seus lábios


que gritei de surpresa quando ele se empurrou para dentro de mim.
Porra, doeu, mas eu agarrei seus ombros e o incentivei a continuar.
Ele foi devagar, e logo meu corpo relaxou o suficiente para que
estivesse me arqueando nele, implorando por mais.

Eu não consegui me segurar por muito tempo, e toda a


inibição me abandonou quando a onda do meu clímax me percorreu.
Eu gritei o nome de Ryke e enterrei minhas unhas em suas costas.
Houve um fluxo de profanações misturadas com gemidos até que eu
finalmente comecei a descer, e o olhar de satisfação em seu rosto
tenso me disse que ele estava gozando também.

—Porra. —Ele disse suavemente, rolando de costas. —Estou


feliz que este lugar seja à prova de som. Eu nunca fiz tanto barulho
antes.

Eu me apoiei em um cotovelo e olhei para ele, confusa. —


Você fez muito barulho? Eu nem sequer ouvi você.

—Eu acho que nós dois fomos barulhentos. —Disse ele,


sorrindo.

Eu me deitei de volta, preguiçosa de satisfação. —Mesmo que


eu esteja tomando pílula, você sabe... o preservativo está ok? Não
soltou, estourou nem nada?

—Está bem. Não se preocupe, Kate. —Ele enlaçou seus dedos


nos meus.

E a verdade era que eu não estava preocupada. O sexo era uma


barreira que eu não tinha certeza se seria capaz de erguer novamente.
E acabar com isso valeu a pena o esforço.

***
Ryke

Eu abaixei a cabeça, fingindo desapontamento pela enésima


vez enquanto o disco deslizava para dentro da fenda da mesa de air
Hóquei.

—Você tem algumas habilidades, cara. —Disse ao loiro


magricela que estava comemorando sua vitória pulando contente.

—Charlie, acalme-se. —Disse uma enfermeira usando


uniformes cobertos de desenhos animados. —Nós não queremos que
você caia.

—Eu sou o próximo! —Uma adolescente disse, deslizando


para o lugar de Charlie. Ela era bonita, careca e tudo mais, com olhos
azuis claros e um sorriso brilhante.

—Você já jogou duas vezes, Emily. —Disse a enfermeira. —


O almoço está chegando, então precisamos levar vocês de volta para
seus quartos.

O gemido coletivo da meia dúzia de garotos na sala fez mais


por mim do que milhares de torcedores aplaudindo na noite anterior.
Alguns dos meus colegas de equipe tiveram que fingir sorrisos quando
visitaram o hospital infantil, mas não eu.

—Pessoal, e se eu voltar na semana que vem? —Eu disse. —


Vamos comprar o novo videogame para aqui e vou jogar com vocês.

Seus gritos fizeram meus olhos lacrimejarem. Que maricas eu


era, chorando assim. Esfreguei a mão no meu rosto para limpar a
minha mente.

Um menino de pele escura e enormes olhos castanhos me


encarou de uma cadeira de rodas. Ele não estava comemorando com
o resto das crianças, que ficaram enlouquecidos com a minha oferta
para substituir o videogame antigo e a minúscula TV do hospital
infantil.

—Ei. —Eu disse, ajoelhado na frente dele. —Você já jogou air


Hóquei?

Ele deu de ombros em silêncio.

—Ele consegue jogar? —Perguntei a uma enfermeira que


estava juntando as camisetas que eu tinha trazido para as crianças.

—Oh. —Ela disse, caminhando até nós. —O Deacon não


pode jogar air Hóquei. Ele tem muito pouca força em seus braços.

—Ele pode falar?

Ela sorriu e passou a mão pelo cabelo escuro do menino. —


Ele vai falar até sua orelha doer. Ele é apenas um pouco tímido.

—Deacon, o que poderíamos fazer juntos? —Perguntei.


Outro encolher de ombros.

—Você poderia almoçar com ele em seu quarto. —A


enfermeira sugeriu. Os olhos de Deacon se iluminaram e eu acenei
com a cabeça.

—Parece bom, cara. —Eu me levantei e encarei a enfermeira.


—Kate já chegou? Minha assistente?

—Não que eu saiba. —Disse ela.

—Eu preciso verificar na recepção. Liguei para ela há mais de


uma hora para ela trazer meu talão de cheques para que eu pudesse
pagar pelo videogame, e ela já deveria estar aqui.

Era uma viagem de talvez 20 minutos de carro do apartamento


até o hospital, 30 em trânsito intenso. Eu olhei para o relógio e vi que
havia passado uma hora e meia desde que liguei para Kate. Onde
diabos ela estava?

—Eu já volto, Deacon. —Eu disse, indo para a grande mesa


cheia de enfermeiras.

—Kate Camden já esteve aqui com meu talão de cheques? —


Ela nunca deixaria com outra pessoa e simplesmente iria embora, mas
precisava perguntar antes de entrar em pânico.

As enfermeiras olharam umas para as outras, todas balançando


a cabeça. Peguei meu celular e liguei para Kate. Sem resposta. Eu não
tive paciência para deixar uma mensagem, então desliguei e liguei para
Mimi.

—Olá?

—Onde está Kate?

—Uh... ela não está com você? Ela saiu há algum tempo com
o seu talão de cheques.

Fui direto para um corredor, onde eu podia caminhar. Eu


precisava me mover agora. —Não, ela não chegou aqui.

—Você quer que ligue para ela?

—Eu tentei. O que ela disse quando saiu do apartamento?

—Que você precisava do talão de cheques e que ela voltaria


quando terminasse.

Fechei meus olhos, meu coração batendo como se tivesse


acabado de correr uma maratona. —Talvez ela tenha ido a outro lugar
primeiro.

—Isso não parece algo que Kate faria. —Disse Mimi. —Ela
saiu daqui um pouco depois das dez.
A preocupação em seu tom me fez querer enlouquecer. —
Tudo bem. —Eu disse. —Acho que vou esperar um pouco mais.

Nós desligamos, mas eu não podia esperar afinal. Encontrei


uma sala de espera vazia e sentei-me numa cadeira acolchoada para
procurar o número do departamento de polícia. Uma mulher atendeu
e me passou para outra mulher que me colocou em espera. Voltei a
me levantar da cadeira e caminhei ao redor da mobília da sala. Eu
tinha dado duas voltas quando a voz de uma mulher finalmente falou
na linha.

—Posso ajudar?

—Estou procurando minha... —Assistente? —...namorada.


Ela deveria ter se encontrado comigo há uma hora e não chegou.

—Senhor, nós não registramos queixa de pessoas


desaparecidas depois de apenas uma hora. —Seu tom simpático tinha
uma sugestão do que diabos está errado com você, e eu soltei um suspiro
de desgosto.

—Olha, ela não é assim. —Eu disse. —Estou preocupado.


Você pode apenas olhar e ver se alguma coisa foi registrada sobre ela?

Ela hesitou, e eu balancei a cabeça, não me sentindo nem um


pouco culpado pelo cartão que estava prestes a jogar para conseguir
algo pela primeira vez. —Ouça, você gosta de hóquei?

—Senhor, eu tenho outras chamadas para atender. Posso


transferi-lo para um sargento de plantão, se quiser.

—Claro, sim. —Eu disse, afundando em uma cadeira


novamente.

Vários toques seguidos pelo bipe de correio de voz me fizeram


querer dar um soco em alguma coisa. Qualquer coisa. Em vez disso,
desliguei e pressionei o nome da única pessoa que eu conhecia que
poderia me ajudar.

—Ryke. —Disse Jean Naughton, dona da equipe, com um


tom determinado. —A que devo o prazer?

—Preciso da sua ajuda. Kate deveria ter me encontrado no


hospital infantil há mais de uma hora e ela não apareceu. Não consigo
que a polícia me ajude pelo telefone. Descubra se ela sofreu um
acidente ou algo assim, ok? Kate Camden.

—Claro. —Com um clique, ela se foi.

Eu respirei fundo e me dirigi para a porta. Por agora, teria que


ignorar a preocupação que estava me sufocando. Eu tinha que ir
desfrutar de um almoço no hospital com Deacon. Ou pelo menos
fazer um bom trabalho fingindo.

***

Ryke

Nós ainda não havíamos chegado ao pudim de tapioca quando


meu telefone tocou no meu bolso. Eu fiz uma oração silenciosa para
que fosse Kate.

Mas era o nome de Jean na minha tela.

—Já volto, ok? —Eu disse para Deacon. Ele havia superado
sua timidez e estava me contando sobre seu programa favorito de
alienígena na TV.

—Sim? —Eu disse ao telefone.


—Onde está você? Jean perguntou.

—Onde estou? No St. Mary's Hospital, por quê? O que você


descobriu sobre Kate?

—Ela sofreu um acidente de carro, Ryke. Ela foi levada para o


mesmo hospital em que você está. Vá até a sala de emergência.

A sensação doentia e de atordoamento que eu tive era


horrivelmente familiar. —Ela está bem?

—Eu não sei. Vá até lá.

Eu desliguei e tropecei em direção à mesa, murmurando um


pedido de desculpas para uma enfermeira lá por Deacon. Isto não
poderia estar acontecendo comigo de novo. Deveria ser
estatisticamente impossível. De novo não.

O elevador não era nem uma opção. Eu tinha que me mexer.


Ficar parado permitiria que o peso pressionando meu peito me
esmagasse. Abri a porta da escada e desci os cinco lances de escada,
procurando freneticamente por uma placa que me levaria a sala de
emergência.

Eu tinha que chegar até ela. Cada segundo parecia uma hora
enquanto passava apressado pelas pessoas, macas e qualquer outra
coisa que atravessasse meu caminho. Nada me manteria longe de
Kate. Se ela estivesse ferida, eu precisava estar com ela. E se fosse
pior... eu não podia nem permitir que o pensamento se formasse em
minha mente. Rezei silenciosamente novamente, esperando que Deus
ainda ouvisse pessoas que raramente vinham a Ele. Eu não podia
perder Kate. Agora não. Não desta maneira.

***
Kate

Eu olhei para o meu pé, me perguntando quando comecei a


batê-lo no bip bip bip rítmico de uma máquina na sala.

—OK! —Uma enfermeira empolgada exclamou quando


correu para o quarto e olhou para as máquinas, sorrindo. —Tudo está
parecendo muito bom, Kate.

—Olha, eu preciso ir lá em cima. —Eu disse. —Eu deveria


encontrar alguém aqui, e não consegui ligar para ele e ele
provavelmente está muito preocupado.

—Você não pode sair ainda, querida. —Seus olhos estavam


enrugados nos cantos, provavelmente por causa do sorriso incessante.

—Pelo menos envie uma mensagem. Eu perguntei a alguém


quando cheguei aqui e eles me ignoraram.

—Eu vou ver o que eu posso...

—Shh. —Eu disse, esforçando-me para ver se eu estava


ouvindo o que pensava que estava.

—Kate! —Soava como... —Kate! —A voz estrondosa era de


Ryke, e eu deslizei para fora da cama e corri para a cortina que fazia
o papel de uma porta.

—Ryke! —Eu gritei. —Estou aqui!

A enfermeira feliz agarrou meus ombros. —Oh, não você não


vai. De volta para a cama.

—Solte-me! Ryke!

—Kate, é você? —Ele tinha me ouvido, e estava perto.


Eu dei à enfermeira meu melhor olhar ameaçador. —Você
precisa me deixar ir. Eu vou sair daqui.

—Eu vou buscá-lo para você. Deite-se.

Eu lutei contra seu aperto, seus dedos ainda segurando minha


camisola de hospital quando empurrei a cortina para o corredor.

—Kate! —A voz de Ryke era um gemido profundo, e só tive


um vislumbre dele quando ele caiu de joelhos aos meus pés,
pressionando o rosto contra o meu peito e envolvendo os braços ao
redor das minhas costas.

—Eu estou bem. —Eu disse, correndo meus dedos por seu
cabelo escuro despenteado. —Estou bem. Está tudo bem.

Sua respiração pesada contra mim começou a se acalmar, e ele


inclinou o rosto para cima para olhar para mim. —Eu descobri que
você sofreu um acidente e pensei... —Sua voz falhou e percebi
naquele momento que ele me possuía. Nenhum outro homem teria
uma chance em meu coração agora que este homem sombrio e bonito
havia encontrado uma maneira de entrar.

Eu peguei suas bochechas, apoiando-se em minhas mãos. —


Eu estou bem. —Disse suavemente. —Eu sinto muito por não ter
ligado. Depois que a senhora bateu em mim, fiquei desacordada por
um tempo, e eu estava fora do meu carro quando acordei e não pensei
em pegar minha bolsa quando a ambulância chegou. Não sei o
número de telefone de ninguém, estão todos no meu telefone.

—Está tudo bem. Você está bem. —Seu olhar vagou até o
grande galo na minha testa.

Meus dedos se agitaram para tocá-lo. —Não é nada.

—Eu te amo. Não sei porque ainda não disse. Mas eu sei, Kate.
—Seu tom rouco era tão cheio de emoção quanto as palavras.
Eu me inclinei, parando exatamente quando nossos lábios
estavam prestes a se encontrar. —Eu também te amo. —Seus braços
se apertaram ao meu redor, pressionando cada centímetro de nós
juntos. Ele era quente e forte e tão incrivelmente fácil de amar. E ele
era meu.

Eu tinha acabado de sentir o toque de seus lábios quando a


voz de uma mulher me fez virar.

—Garota, você sabe que sua bunda está aparecendo, certo?

Os olhos de Ryke se arregalaram quando eu freneticamente


estiquei a minha mão e percebi pela primeira vez que minhas costas
estavam completamente expostas. A roupa tinha desamarrado
quando a enfermeira puxou, mas eu nem tinha notado o ar nas minhas
costas nuas. Ryke tinha um jeito de me fazer ignorar tudo, menos ele.

—Merda! —Eu disse, lutando pelas tiras da camisola enquanto


espectadores riam. Ryke se levantou e puxou o vestido para mim com
um leve sorriso.

Ele me empurrou de volta através da cortina, onde estreitei os


olhos para ele.

—Da próxima vez tente cuidar das minhas costas. —Eu disse.

—É melhor que não haja uma próxima vez de você em um


acidente. —Ele suspirou e esfregou a mão no rosto.

—Somos oficialmente um casal agora? Tipo, preciso parar de


dormir com outras pessoas?

—Foda-se essa merda. —Disse ele, seus olhos escurecendo


ameaçadoramente. —Você está brincando comigo?

—Claro que estou. —Eu revirei meus olhos. —Esse foi


apenas o meu esforço sarcástico para descobrir se preciso mudar meu
status no Facebook.
—É melhor você mudar. —Disse ele, agarrando em volta da
minha cintura e inclinando o rosto para o meu. —E mesmo que eu
não esteja pronto para ficar noivo ou algo assim...

—Eu não estava nem pensando nisso! —Eu choraminguei. —


Só nos conhecemos há alguns meses! Eu só quero saber se você é
meu namorado.

—Sim. —Seu sorriso desapareceu quando nos encaramos. —


Mas você deve saber, eu quero isso.

Eu sabia que estava boquiaberta com ele, mas maldito seja se


eu pudesse evitar. —Casar um dia?

—Casar com você um dia. E espero ter uma família.

A apreensão me atingiu como um tapa na cara. Engravidar?


Eu não tinha certeza se podia. Tipo, literalmente. —Mas eu não...

Ele pressionou um dedo nos meus lábios. —O que quer que


isso signifique. —Ele disse. —Pode significar que tentaremos
engravidar, ou talvez uma barriga de aluguel ou adoção. Depende de
você. Eu só quero saber se você quer filhos como eu quero.

Lembrei-me de segurar o filho de Lexi, tão leve e suave e


perfeito em meus braços. Eu não tinha certeza se queria filhos até
aquele momento. —Eu quero. Algum dia.

O sorriso de Ryke era de júbilo. Ele me deu um beijo suave e


rápido que me fez querer mais dele.

—Eu preciso encontrar um emprego de verdade. —Eu disse


quando nos separamos.

—Por quê? —Ele perguntou, suas sobrancelhas franzidas.

—Não será estranho se estivermos juntos e você for meu


chefe?
Ele balançou a cabeça, a descrença gravada em seu rosto. —
Você tem sido a chefe há um bom tempo, Kate. E eu gostaria de
cuidar de você. Não é assim que deve ser? Nós, cuidando um do
outro?

—Bem, não é só isso. —Eu disse. —Eu realmente queria fazer


terapia de apoio ao luto.

Eu me perguntei se ele acharia que era bobagem, mas seus


olhos brilhavam com aprovação. —Essa é uma ótima ideia. Você
seria incrível nisso.

A enfermeira com quem eu estava entrou, sem parecer tão feliz


quanto antes.

—Você está pronta para ir. —Disse ela, puxando papéis de


uma prancheta.

—Isso é ótimo. —Eu disse. —Mal posso esperar para chegar


em casa.

Quando Ryke encontrou meus olhos, houve um lampejo de


algo novo lá. Eu já morava com ele, mas agora que eu sabia que
estávamos juntos, o apartamento dele parecia o meu lar pela primeira
vez. Isso me fez pensar se lar realmente era um lugar, ou se era mais
sobre quem estava lá esperando por você no final do dia. De qualquer
forma, eu o encontrei e não deixaria ir.

***
Véspera de Natal – Kate

Um vento gelado de inverno me bateu no rosto quando saí do


carro. Amarrei meu cachecol grosso em volta do meu pescoço e
mergulhei minhas mãos enluvadas nos bolsos do meu casaco.

Estava tão quieto aqui, o único som vindo do leve assobio da


brisa fluindo através dos galhos desfolhados de imponentes
carvalhos. Os pés de Ryke rangeram contra a grama coberta de gelo
quando pisou, e eu segui.

Nós não tivemos que andar muito antes de Ryke parar em


frente a uma grande e escura lápide de granito. Embora soubesse que
estava chegando, ver as palavras gravadas no monumento fez minha
respiração ficar presa na minha garganta.

MARGARET PULLIAM RYKER

AMADA ESPOSA, FILHA E IRMÃ

Imaginei Ryke em pé aqui no dia de seu funeral, sabendo que


sua jovem e linda esposa estava prestes a ser abaixada no chão para
sempre. Eu não pude evitar me engasgar.

—Ei. —Disse ele, esfregando a mão nas minhas costas. —Está


tudo bem.

Ali estávamos no túmulo de Maggie, e era ele que me


confortava. Puxei uma respiração profunda e endireitei meus ombros.
Eu queria fazer isso; mostrar a Ryke que poderia honrar sua falecida
esposa sem desmoronar. A maioria das pessoas não entenderia quão
íntima parte de si ele estava compartilhando comigo agora. Mas eu
sabia.

Minha filha não tinha sepultura, já que ela não tinha sido
enterrada. Eu a tinha perdido apenas pouco antes do tempo em que
um funeral seria necessário. Ver o nome de Maggie em seu túmulo
me fez desejar que houvesse um pequeno lugar nesta terra para minha
filhinha. Algo que dissesse às gerações futuras que alguém a amava.

Eu abri a grande caixa branca em minhas mãos. A fragrância


de folhagem recém-cortada flutuou para fora, e eu coloquei a caixa
no chão para tirar a guirlanda de dentro.

—Isso é muito bonito. —Disse Ryke, sua respiração visível


quando olhou para mim solenemente.

—Eu trouxe algo para exibi-la. —Eu disse, entregando-lhe a


guirlanda para que eu pudesse colocar o suporte. Coloquei-o perto da
frente de sua lápide e virei-me para ele.

—Vá em frente. —Disse ele, estendendo os braços para mim


com a guirlanda. Peguei-a, engolindo nervosamente. Eu queria estar
tão perto de Maggie, perto o suficiente para tocar as letras em sua
lápide?

Demorou apenas um segundo para decidir que sim.


Inclinando-me para colocar a guirlanda onde eu queria, tirei algumas
folhas marrons quebradiças da frente de sua lápide. Eu levei meu
tempo para dispor a guirlanda de Natal, arrumando seu laço de cetim
vermelho até que estivesse satisfeita. Toquei as letras gravadas na
lápide, traçando os sulcos.

—Oi, Maggie. —Eu disse suavemente. —Eu sou a Kate. —O


que mais eu queria dizer a essa mulher que não estava realmente aqui?
Eu vou tentar cuidar do seu marido? Sinto muito pelo que aconteceu
com você?
Não. Nós estávamos além de tudo isso. O passado era apenas
isso, e eu finalmente parei de deixar que isso me afastasse do meu
futuro. Tudo que eu podia fazer agora era honrar sua memória.

—Espero que você e minha filha estejam juntas lá em cima. —


Eu disse, lutando contra as lágrimas que caiam. —O nome dela é
Harlow. Você é a primeira pessoa a quem eu digo isso. —Eu passei
minha luva de couro pela minha bochecha. —Feliz Natal, Maggie.

Assim que me levantei, Ryke me puxou para seus braços,


rodeando-me de calor.

—Harlow? —Ele perguntou. —Esse era o nome dela?

—Harlow Lynn Camden. Eu já tinha escolhido.

—É bonito.

—Obrigada. —Minha garganta doía enquanto o som do nome


da minha filha ecoava em minha mente.

—Eu te amo. —Disse Ryke, sua respiração um sopro de calor


contra a minha bochecha.

—Eu também te amo. —Fechei meus olhos com força. Era


difícil acreditar que um ano atrás eu nem conhecia esse homem que
agora era meu mundo inteiro.

—Você vai ficar bem na próxima parada? —Ele perguntou,


inclinando-se para trás para dar uma olhada no meu rosto. Eu acenei
com a cabeça e peguei a mão dele.

—Vamos. —Eu disse.

Nós voltamos para o carro e Ryke ligou o aquecedor do


Mustang. Fiquei grata por alguns momentos de silêncio. As filas de
lápides no cemitério eram sóbrias. Cada uma dessas milhares de
pessoas tinha sido querida por alguém.
Ryke atravessou os altos portões de ferro do cemitério e eu me
virei para ele. —Eu quero vir aqui todos os anos na véspera de Natal.
E no aniversário dela e sempre que você vier. Não quero que você
pare de se lembrar dela por minha causa.

Seus olhos eram suaves quando ele olhou para mim. —Nós
vamos.

Satisfeita, voltei a olhar pela janela. Eu não estava nervosa.


Bem, talvez um pouco.

—Você quer patinar no gelo quando formos para Iowa


amanhã? —Ryke perguntou.

—Há uma pista perto da casa dos seus pais?

—Não, é um lago aonde vamos quando está frio o suficiente.

—Presumo que esteja frio o suficiente. —Eu disse. As baixas


temperaturas recordes no meio-oeste neste inverno me deixaram
ansiosa para a viagem ao Havaí que faríamos assim que Ryke
terminasse sua temporada, o que eu esperava que fosse mais tarde,
em vez de mais cedo, se sua equipe chegasse aos playoffs.

Às vezes eu tinha que me assegurar que esta era realmente a


minha vida, e não um sonho que escaparia a qualquer momento.
Mesmo que eu ainda tivesse momentos de tristeza, encontrei meu
caminho. Eu não me deixaria cair no nevoeiro novamente.

Arranha-céus surgiram quando voltamos para a cidade. Ryke


parou em um estacionamento em frente a um minúsculo prédio
decadente, espremido entre dois edifícios mais altos.

Agora que estávamos aqui, mal podia esperar para entrar. Eu


corri para fora do carro e agarrei o braço de Ryke.

—Você não está nervosa? —Ele perguntou.


—É um nervosismo bom. —Eu disse, apertando o braço dele.

Ele segurou a porta de vidro aberta para mim e eu entrei. Não


era o que eu esperava com base no exterior do edifício. Este lugar
tinha piso de cerâmica, paredes cheias de arte colorida em molduras
de madeira simples e mobiliário moderno. Eu relaxei imediatamente.

—O quê? —Ryke sussurrou, inclinando-se para o meu ouvido.


—Você acha que eu traria você para algum buraco?

—Não. —Eu disse, revirando os olhos para ele.

—Eu ouvi coisas realmente boas sobre este lugar. —Disse ele.

Um homem corpulento com o cabelo bem preto usando um


rabo de cavalo liso surgiu vindo da sala dos fundos. —Jason Ryker!
Puta merda! Ele sacudiu a mão de Ryke e deu um tapinha no ombro
dele.

—Esta é a Kate. —Disse Ryke.

—Kate, eu sou Tony. —Disse o homem, apertando minha


mão com menos força. —Você está pronta?

—Pronta. —Eu disse, meu olhar vagando pelos padrões


circulares em um de seus braços.

—Me acompanhem.

A sala era pequena e confortável, as paredes cobertas de arte


mais intrincada em um arco-íris de sombras e objetos.

—É melhor tirar sua blusa. —Disse Tony, recolhendo seus


suprimentos.

—Você não deveria pelo menos me pagar o jantar primeiro?


—Eu falei, deslizando meu top sobre a minha cabeça.
Ele sorriu e piscou para mim, nem mesmo verificando meus
seios. Ele provavelmente viu muitas partes do corpo nu em sua linha
de trabalho. —Deite-se de bruços sobre a mesa. —Disse ele.

—Aqui está o desenho dela. —Ryke disse, e eu o senti se


mover para ficar perto da minha cabeça na frente da mesa plana.

Eu apertei meus olhos e agarrei seus dedos quando um


zumbido começou. Um toque de algo frio e úmido em meu ombro
me disse que isso estava prestes a se tornar real.

A agulha doeu, mas não tanto quanto eu esperava. As lágrimas


que escorriam dos meus olhos para os quadrados escuros de azulejos
abaixo de mim não eram de dor. Este momento, como muitos no ano
passado, foi agridoce.

A grande mão de Ryke acariciou meu cabelo. —Você está


bem? —Ele sussurrou. Eu balancei a cabeça, incapaz de falar.

Quando o zumbido parou e me sentei, limpei a umidade do


rosto com os dedos e respirei fundo. Tony me virou para que eu
pudesse ter uma visão no espelho que cobria a parede, e as lágrimas
nublaram minha visão mais uma vez, mas sorri através delas.

Era pequeno e simples. Um coração tatuado emoldurava as


letras HLC, as iniciais do meu bebê. As palavras de Ryke sobre sua
irmã estar com ele para sempre ficaram comigo. Eu nunca esqueceria
meu bebê; isso era impossível, mas agora ela era uma marca que era
parte de mim. Eu ainda não estava pronta para abrir a caixa de
memória, mas eu esperava poder algum dia.

Por enquanto, eu tinha Ryke, e juntos começamos a entender


o que o amor deveria ser. Às vezes, minhas lutas pareciam pesadas
demais para suportar, e às vezes a dele também. Compartilhá-las um
com o outro era o caminho.
Eu estava tendo um desses momentos agora. Ver as iniciais da
filha que eu nunca conheci era emotivo. Até esta manhã, ninguém
sabia sequer que ela tinha um nome, porque só existia em meu
coração. Ela nunca havia respirado neste mundo, mas eu a amava.
Algo sobre admitir isso – sobre não tentar superar – foi o que me
permitiu finalmente avançar.

Ryke pegou minha mão na sua e nossos olhos se encontraram


no espelho onde nós dois estávamos olhando para a minha tatuagem.

—Bom? —Ele perguntou suavemente, puxando minha mão


até os lábios para beijar meus dedos. Sua barba me fez cócegas do
jeito que eu amava e sorri para ele.

—Bom. —Eu disse, aliviada que finalmente estar dizendo isso.


Nós dois estávamos unidos pelo fio da dor, mas não foram apenas
nossas perdas mútuas que nos uniram. Nós sobrevivemos a elas,
encontramos um ao outro e descobrimos que às vezes, da escuridão
pode vir a luz.

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