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CADERNO DE RESUMOS
UNESP/Araraquara
DE 14 A 17 DE AGOSTO DE 2013
IV ENCONTRO EM ANÁLISE DO DISCURSO
Fundamentos epistemológicos e abordagens metodológicas
CADERNO DE RESUMOS
Araraquara – S.P.
FCL-UNESP Laboratório Editorial
2013
Organizadores do Caderno:
Camila Cristina de Oliveira Alves
Gesiel Prado
Comissão Organizadora:
Marina Célia Mendonça
Arnaldo Cortina
Jauranice Rodrigues Cavalcanti
Maria do Rosário V. Gregolin
Marlon Leal Rodrigues
Renata Coelho Marchezan
Wedencley Alves Santana
Paulo Cesar Tafarello
Ana Carolina Cardoso Bedenik
Camila Cristina de Oliveira Alves
Carlos Eduardo da Silva Ferreira
Carolina Reis
Eneida Gomes Nalini de Oliveira
Felipe Sousa de Andrade
Gesiel Prado
José Cezinaldo Rocha Bessa
José Radamés Benevides de Melo
Lígia Mendes Boareto
Luiza Bedê Barbosa
Maria Teresa Silva Biajoti
Renan Belmonte Mazzola
Thiago Ferreira da Silva
Yuri Araujo Mello
ISBN 978-85-87361-95-0
A Comissão Organizadora
SUMÁRIO
MESAS-REDONDAS
RESUMOS
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Mesa 01 - Estudos Bakhtinianos do discurso: perspectivas de pesquisa
Beth Brait
(PUC/SP – USP)
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discurso, apresento a leitura de um enunciado verbo-visual, entrevisto como dimensão ética e
estética, de acordo com sugestões dessa perspectiva.
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Mesa 02 - Análise do Discurso: fundamentos epistemológicos de Michel
Pêcheux
Wedencley Alves
(UFJF)
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Mesa 03 - Análise do discurso francesa: contribuições de Dominique
Maingueneau
Sírio Possenti
(Unicamp / CNPq / FEsTA)
Fernanda Mussalim
(UFU/CNPq)
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INTERLÍNGUA: UM HIATO IRREDUTÍVEL
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Mesa 04 - Análise do Discurso francesa: contribuições de Michel Foucault
O estudo que ora propomos ancora no pensamento de Michel Foucault e destina-se a mostrar
o corpo como um texto a ser lido, no qual, sob o olhar do outro (“do leitor”), o olhar exterior,
materializam-se discursos. Assim, o corpo torna-se suporte de um sujeito objetivado, pelo
olhar exterior, como sujeito de identidade social. Para nossas reflexões, tomaremos como
âncora uma coreografia que John Lennon da Silva, um rap, fez baseado no ballet A Morte do
Cisne e apresentou em um programa de TV. Vislumbramos apreender os sentidos produzidos
a partir do olhar do júri sob o dançarino antes, durante e após sua apresentação, o que
desencadeou mutabilidade na objetivação que fizeram do sujeito. O que está em questão não é
o corpo, mas o sujeito de ação, produzido por uma exterioridade social, cultural e política;
marcada por movimentos, traços estéticos, etc. Considerando, ainda, que os discursos
materializam-se pela linguagem verbal e por elementos de natureza não verbal, tais como
imagens, gestos, exibição de aspectos corporais, vestimenta, mostraremos justamente a
materialização de discursos em um corpo, cujos movimentos implicam transformações de
sentidos e do sujeito, e possibilitam a objetivação do sujeito pelo olhar exterior, o olhar do
fora.
Vanice Sargentini
(UFSCar/Labor)
O discurso sempre foi objeto do trabalho de M. Foucault, ainda que nos anos 70 ele afirmasse
que, olhando de forma retrospectiva para seus estudos, ele mesmo reconhecia que seu objetivo
não foi analisar as formas de poder, mas criar uma história dos diferentes modos pelos quais,
na cultura ocidental, os seres humanos tornaram-se sujeitos. Sempre o discurso apresentou-se
como o centro desencadeador de suas análises, uma vez que compreendia que o objeto de
pesquisa na sua materialidade não pode ser compreendido separado dos quadros formais
através dos quais o conhecemos: a saber o discurso (Veyne, 2008). Então, para os analistas do
discurso, o primeiro legado de M. Foucault é a própria noção de discurso que não se separa da
noção de sujeito, de acontecimento e de materialidade discursiva. Um outro forte legado, que
se relaciona com a própria metodologia: trata-se da proposta foucaultiana do princípio da
descontinuidade da história, tema central também da Arqueologia do Saber. Para se chegar à
descrição de uma formação histórica, recorre-se à longa ou média duração, entretanto o mais
importante é que se recorra a isso seguindo o princípio da descontinuidade. Se pretendermos
cotejar essas fundações foucaultianas com os movimentos metodológicos da AD (derivada de
Pêcheux) em seu desenvolvimento, podemos ver que a AD 69 centrava-se no confronto das
formações discursivas, posteriormente, focalizava a importância do interdiscurso e na década
de 90 voltava-se para a centralidade do acontecimento. Em todos esses períodos, apoiava-se
mais em conceitos foucaultianos revisados e menos em um modelo metodológico. Em alguns
trabalhos atualmente sob minha orientação, tenho insistido em explorar algo advindo da
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metodologia de M. Foucault: analisar, por exemplo, as mutações discursivas percorrendo a
média duração. Propomos, neste evento, falar sobre o sujeito como uma construção histórica,
acompanhando como isso se dá por meio das mutações discursivas apreendidas nos
enunciados.
Pedro Navarro
(UEM / CNPq)
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Mesa 05 - Semiótica discursiva: bases epistemológicas e perspectivas atuais
José Luiz Fiorin
(USP)
Nesta exposição pretendemos desenvolver quatro aspectos dos caminhos tomados pela
semiótica discursiva no Brasil:
- história da semiótica discursiva no Brasil e definição de seu campo dos estudos;
- diálogos entre a linguística, em sentido restrito, e a semiótica;
- perspectivas atuais da semiótica discursiva;
- política científica na área de Letras e as decorrências para os estudos do discurso e para os
semióticos, em particular.
Na primeira parte, trataremos da introdução da semiótica no Brasil, nos anos 60, da formação
dos semioticistas brasileiros, da institucionalização da semiótica junto, principalmente, aos
cursos de Letras, de seu desenvolvimento e consolidação no país, e dos rumos que nele
tomou, do ponto de vista teórico e dos objetos de análise. A partir dessa rápida abordagem
histórica, examinaremos os papéis e funções dos estudos semióticos no âmbito dos estudos da
linguagem.
Na segunda parte, mencionaremos os diálogos entre a linguística, em sentido restrito, e a
semiótica, para apontar que esses diálogos não tomam apenas o caminho de mão única dos
estudos linguísticos aos semióticos, e ressaltar a contribuição efetiva que a semiótica dá aos
estudos da linguagem, com destaque para os estudos semióticos da enunciação.
Sobre as perspectivas atuais, insistiremos nos rumos que se mantêm e que, por isso mesmo,
levam a teoria a sofrer alterações e a dar continuidade a suas atividades de construção, com
ênfase no alargamento do objeto examinado e no tratamento de seis linhas de força: os
estudos da enunciação, os da sensibilização passional e sensorial do discurso, os da
tensividade discursiva, os do regime narrativo de ajustamento, os de preocupações
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sociossemióticas, os voltados para os aspectos estéticos e poéticos dos textos, com o exame
do plano da expressão.
Finalmente, retomaremos as recentes discussões da área de Letras sobre os estudos do
discurso, entre os quais se colocam os semióticos, e enfatizaremos a necessidade de uma
política para esse campo de estudos e de sua institucionalização e disciplinarização no quadro
dos estudos da linguagem e, principalmente, procuraremos mostrar que há uma outra
perspectiva sobre a linguagem, a dos estudos do discurso, tanto ou mais relevante para seu
estudo, quanto as linguísticas em sentido restrito.
Arnaldo Cortina
(FCLAr/UNESP)
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Resumos
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A PROPÓSITO DA CONSTITUIÇÃO DE SENTIDOS NA INCOMPLETUDE
DO TEXTO AUDIOVISUAL
Uma das asserções fundamentais da Análise de Discurso está em que não há transparência da
linguagem, dos sentidos, dos sujeitos e da história. Com essa afirmação evidencia-se, assim, o
caráter material da pesquisa discursiva, que põe em confronto a língua(gem) com o seu real,
com o real da história, a contradição. É a partir desse lugar teórico que propomos pensar a
materialidade do discurso audiovisual, evidenciando, assim, nosso trabalho – em
desenvolvimento no curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Língua e
Cultura, do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia – em torno da tetralogia
Shrek da DreamWorks. Para tanto, partimos da noção de recorte em oposição à de
segmentação (ORLANDI, 1984), a qual diz respeito ao funcionamento discursivo do texto em
sua incompletude, a fim de analisar os processos de constituição de sentidos em objetos
estéticos constituídos de materialidades significantes diversas, considerando as
especificidades de cada uma delas (LAGAZZI, 2007). Com a formulação materialidade
significante reitera-se “[...] ao mesmo tempo a perspectiva materialista e o trabalho simbólico
sobre o significante [...]”(LAGAZZI, 2010), o que permite referirmo-nos ao “discurso como a
relação entre a materialidade significante e a história” (LAGAZZI, 2010), lembrando-nos,
sobretudo, a importância de pensarmos o “sentido como trabalho simbólico sobre a cadeia
significante, na história, compreendendo a materialidade como o modo significante pelo qual
o sentido se formula” (LAGAZZI, 2010). Assim, defendemos a necessidade de evidenciarmos
o imbricamento de materialidades significantes diversas, próprias da especificidade
cinematográfica, tais como trilha sonora, banda de som, plano cinematográfico, texto verbal
etc, entendendo cada materialidade significante trabalhando na falha da outra, na
incompletude. Trabalhamos – lembrando-nos da incompletude da língua(gem), sujeita a falha
e ao equívoco – a materialidade dos sentidos, inscritos na história. Sabendo que para a AD a
constituição dos sentidos não poderia ser pensada a partir da dicotomia idealista
forma/conteúdo, pretendemos pensar os sentidos que se constituem na forma material – nem
empírica, nem abstrata – cinematográfica. Desse modo, a forma material é tomada aqui como
perspectiva teórica para observar o funcionamento discursivo do simbólico constituído de
materialidades significantes diversas, e a noção de recorte como dispositivo analítico que
possibilita pensar o funcionamento do discurso a partir dessa perspectiva. Como não há
sentido em si, posto que este é sempre definido “em relação a”, reiteramos que materialidades
diferentes instam gestos de interpretação diferentes, conforme nos mostra Orlandi (2012). A
interpretação mantem uma relação fundamental com a materialidade da linguagem.
Durante um bom tempo, os livros de razão, as memórias e os diários íntimos não tinham
nenhum tipo de valor histórico para os pesquisadores, porque esses materiais pertenciam à
história dita não-oficial. Já na década de 1980, no berço das propostas da História Cultural, foi
que se deu forte impulso à emergência de fontes documentais autógrafas, de caráter pessoal, e,
partir daí, os diários íntimos ganharam destaque por serem materiais portadores e construtores
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de sensibilidades pertencentes às chamadas práticas culturais do sensível, conforme aponta
Cunha (2009). O gênero diário íntimo é considerado uma fonte a partir da qual é possível
perceber as sensibilidades do passado, por meio de traços objetivos que estes documentos
deixaram, pois, como toda escrita íntima/pessoal, é atravessado por dilemas e tensões no/do
meio em que se insere. O diário é responsável por abrigar registros particulares de um
indivíduo, em geral pequenos fatos do seu cotidiano, de suas impressões, questionamentos e
confidências que, nesse tipo de texto, se materializam e revelam os sentimentos e o próprio
universo cultural e psicológico do ser humano. De acordo com Foucault (1992, p. 144), “é a
própria alma que há que constituir naquilo que se escreve”. Desse modo, coerente com essa
perspectiva de estudo, delineia-se o objetivo deste trabalho, que consiste em tecer algumas
considerações sobre o gênero diário íntimo enquanto gênero do discurso, considerando dois
diários íntimos, de autoria feminina, datados de 1945 e 1946, importante momento na
conjuntura histórica, política, econômica e social do Brasil e que consistem no registro
documental da prática de leitura e de escrita de uma mulher baiana da São Salvador da última
década da primeira metade do século XX. Para atingir esse objetivo, valer-se-á do aparato
teórico-metodológico proposto pelo campo da História da Cultura Escrita, principalmente, as
reflexões desenvolvidas por Burke (2008, 2010, 2011), Chartier (1999, 2007, 2011), Cunha
(2009), Calligaris (2003), Gomes (2004), Kleiman (2008), Oliveira (2005). Quanto à escrita
de si, Foucault (1992) e quanto à discussão a respeito do gênero, levar-se-á em conta,
também, as reflexões de Bakhtin (2011).
Adriana Reis
(UEFS)
Carla L. C. Borges
(Professora/UEFS)
Elementos discursivos atuantes em jovens, dentro do ambiente escolar, lhes imputam uma
condição de empoderamento e os coloca na condição de líderes, impelindo outros jovens às
práticas condenadas pela sociedade, e que, ao mesmo tempo, os sujeitam a estas condutas por
suas influências sociohistóricas. O objetivo deste estudo é, portanto, analisar o discurso
destes jovens, avaliando em que medida lhes é atribuído o respeito, o temor, a confiabilidade
da comunidade escolar da qual fazem parte e que arrogam a condição de transgressores da
ordem estabelecida. A Análise do Discurso permite trabalhar com as relações entre língua e
sujeito, na perspectiva de observar os ditos e também os não-ditos no discurso de liderança
dos adolescentes, refletindo sobre como o sujeito se constitui e é constituído pela linguagem.
Analisaremos as representações simbólicas de empoderamento pelo adolescente de
comportamento marginal que se impõe dentro da escola com suas construções discursivas
que dão a estes sujeitos a condição de liderança frente aos seus grupos sociais e à sua
comunidade. As convicções políticas, culturais, sociais, religiosas e ideológicas coexistem
lado a lado moldando, fundamentando, inscrevendo-se na língua, erigindo todas as suas
condições de produção. Investigar as representações discutidas e reconfiguradas do
adolescente que se impõe como marginal, dentro dos espaços educativos das escolas públicas
de Conceição do Jacuípe é o que move esta pesquisa. A relevância deste trabalho perfaz-se na
compreensão pedagógica e social do papel do adolescente em sua comunidade de vivência,
como forma de auxiliar na difícil tarefa de prevenir a delinquência juvenil, e
consequentemente, aproximar, cada vez mais, a dignidade, o respeito e a liberdade de um
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maior número de jovens, no sentido de entender suas possíveis razões para apresentarem este
perfil, analisando discursivamente a importância dos textos que permeiam sua vida. O corpus
desta pesquisa está sendo constituído com o desenvolvimento de uma pesquisa qualitativa,
descritiva, com dados analisados através de interpretações dos fenômenos à luz da Análise do
Discurso, na linha de Pêcheux, observando os efeitos de sentidos que são atribuídos
socialmente às figuras humanas e aos tipos estabelecidos pelo corpo administrativo e docente,
através dos quais se verificará o olhar perpassado de ditos e não ditos sociais para o
adolescente rebelde e o sujeito marginal e suas implicações no ideário popular.
O presente trabalho pretende fazer uma análise discursiva e das práticas de escrileitura, a fim
de verificar como se constrói a coautoria em textos nas “fanfics”, presentes em redes sociais,
em especial no blog “Everything about Twilight”. As fanfics são criações textuais produzidas
e circulantes nas redes sociais, e que propõem uma produção escrita a partir de uma obra
consagrada. Para isso, tomaremos como corpus principal, a leitura da fanfic “O diário de
Renesmee”, filha do casal Edward e Bella, uma das personagens principais da Saga
Crepúsculo. A escrita do diário tem como principal objetivo propor uma continuação do
último livro da saga, intitulado como “Amanhecer”, e para isso as autoras resolvem contar a
história da filha dos protagonistas da narrativa e de seu protetor, o lobo Jacob, que
destemidamente assume esse papel. Percebemos, portanto, por meio dessas produções, a
influência das práticas escrileitoras a partir do Best-seller escrito por Stephenie Meyer e como
exercem influência na construção da coautoria dessas fanfics. As fãs, autoras das fanfics,
assumem o papel de coautoras com a escritora dos livros da saga, sentindo-se assim,
responsáveis por perpetuar a história de romantismo, proteção e suspense envolvendo as
imagens exóticas dos vampiros e lobos, representados na personagem de Renesmee. Assim,
assumem uma postura de comprometimento com a história, com a autora e com os
“possíveis” leitores de suas recriações. O suporte teórico-metodológico a ser seguido no
trabalho de pesquisa e discussão, é a análise de discurso francesa, cujo precursor é Michel
Pêcheux, nos conceitos e princípios foucaultianos acerca das práticas discursivas e de autoria,
bem como em Roger Chartier, Eni Orlandi e outros para os estudos que envolvem as práticas
de leitura e de escrita. Preliminarmente, espera-se que a partir de uma investigação apurada do
corpus, os resultados apontem para uma interdiscursividade entre os livros que compõem a
saga crepúsculo e os diários virtuais que compõem as fanfics. Essa interdiscursividade parece
ser a grande responsável pelo delineamento da coautoria nas fanfics.
Alessandra Del Ré
Natalia Grecco
(UNESP – FCLAr)
24
O FUNCIONAMENTO DA ALUSÃO NOS CARTAZES DE PROTESTOS
POLÍTICOS
Este trabalho tem como objetivo resgatar as ideias de Bakhtin (BAKHTIN, 2006; 1976;
VOLOSHINOV, 1997), trazendo suas contribuições acerca da linguagem e das relações entre
o eu e o outro para uma reflexão dos processos de aquisição/aprendizagem de língua
estrangeira (LE). Para tanto, consideramos como LE uma língua aprendida fora de seu país de
origem, após já se ter adquirido a língua materna (LM), tal como a aprendizagem de inglês em
escolas de idiomas no Brasil (LEFFA, 1988). Nas reflexões propostas neste trabalho,
buscamos relacionar também as ideias de autores que, trabalhando com a perspectiva
bakhtiniana, enriquecem as análises sobre a linguagem, tal como Geraldi (2010, 2010), Fiorin
(2006), e sobre a aquisição/aprendizagem de LE (HALL, 2005; MARCHENKOVA, 2005).
Dialogando com tal perspectiva, trazemos também as ideias de Vygotsky (2001) e François
(2006, 1989), uma vez que, para pensar o processo de aquisição/aprendizagem de LE
devemos também considerar a importância da interação (relação entre eu e outro) e a
existência de deslocamentos, que colocam o aprendiz em uma posição diferenciada com
relação à língua que está aprendendo. Nossos objetivos são, portanto, refletir acerca da
aquisição/aprendizagem de uma LE, trazendo para as reflexões as ideias do Círculo de
Bakhtin e discutir alguns dados linguísticos encontrados em sala de aula de crianças e adultos
que aprendem/ adquirem o inglês em escolas de idiomas no Brasil. Tomamos como base para
as discussões aqui propostas a importância da LM no processo de constituição da
subjetividade do indivíduo e a sua presença marcante na aquisição/aprendizagem de LE,
enquanto base para as concepções psíquicas do sujeito. Trazendo ideias abrangentes acerca de
questões de linguagem, a perspectiva bakhtiniana nos permite compreender a LE em sua
realidade social e enquanto lugar de criação e recriação para aqueles que entram em contato
com uma outra cultura, outra visão de mundo através da entrada na língua do outro.
O estudo da Análise do discurso do prólogo do romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis
está pautado nas ideologias vigentes no século XIX, na sociedade colonial oitocentista
maranhense, precisamente no ano de 1859 em que a obra foi publicada. O romance é divido
em um prólogo, vinte capítulos e um epílogo. A proposta do trabalho está imbricada nos
1
Mestranda em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Goiás- Campus Catalão. Professora da rede
estadual de ensino do Estado do Maranhão.
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postulados teóricos de Michel Foucault, quando questiona “O que é um autor?” e visa refletir
o que seria autoria, haja visto, que Maria Firmina assinou com um pseudônimo “Uma
Maranhense”. Para Foucault, autor é quem consegue inquietar com o discurso, ou seja, aquele
que dar unidade ao seu lugar de fala e as condições de produção com o discurso que produz.
O prólogo do romance faz prenúncio às questões de gênero no que diz respeito a uma escrita
de autoria feminina, “Sei que pouco vale este romance, porque escrito por mulher, e mulher
brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação do homens
ilustrados”(REIS,2009, p. 13), portanto levanta questões sobre a submissão feminina em
pleno século XIX, em que o discurso histórico estava fundamentado em uma sociedade
pratriarcal. A autoria, portanto é relacionada neste trabalho como a voz do outro, desse modo,
não pertence ao sujeito que escreve, é de posse do discurso, daí a noção de sujeito discursivo.
A noção de autoria neste trabalho será relacionada como uma produção da ideologia em
função da proposta apresentada por Maria Firmina, ou seja, autor seria uma figura ideológica
que produz sentido através do discurso. Autor é uma “função-sujeito”, pois através da escrita
e por meio do discurso ocorrem posicionamentos sócios históricos e ideológicos. . Para
Fernandes (2007), a escrita, enquanto exterioridade constrói sujeitos, fazendo emergir de si
efeitos-sujeito. No prólogo, o sujeito que escreve faz isso a partir de seu lugar de enunciação
através da memória discursiva, interdiscursividade e dos dizeres que percorrem em todo o
corpo social.
O interesse central deste trabalho é fazer um estudo bibliográfico sobre o gênero do discurso
publicitário. As questões que levam a esse estudo são: o que trabalhos acadêmicos na área da
análise do discurso têm destacado acerca desse gênero? Esses trabalhos definem a publicidade
como gênero do discurso? Se sim, como se manifesta esse gênero?
Para começar a responder a essas questões, propõe-se um estudo bibliográfico de teses e
dissertações, na área da análise do discurso, que versam sobre esse gênero.
Os estudos sobre o discurso publicitário são abundantes na atualidade, tendo em vista o
interesse que essa prática tem despertado nas ciências humanas. Suas implicações
sociológicas, históricas, psicológicas (entre outras) são objeto de pesquisa no Brasil. É nesse
contexto que se insere esta pesquisa.
Esse interesse pelo discurso publicitário em diversas áreas das ciências humanas justifica esta
proposta de investigação, considerando-se que os estudos do discurso têm uma especificidade
na abordagem da publicidade – ou seja: os suportes teórico-metodológicos que dão
sustentação às análises produzem um conhecimento sobre esse discurso que, em hipótese, não
tem estreita relação com o conhecimento produzido em outros campos de saber. Podemos
afirmar que, por exemplo, a concepção de linguagem/discurso que é base para os diversos
estudos do discurso não permite afirmar que haja uma relação simples entre texto publicitário
e seu público, ou que a linguagem do texto publicitário seja uma representação fiel da
realidade social, ou até que a publicidade interfira diretamente no gosto do consumidor. Os
estudos do discurso não entendem a linguagem como representação do mundo, não a
entendem como simples espaço de mediação entre sujeitos, mas como materialidade em que
os embates sociais são refratados (nos estudos bakhtinianos, por exemplo), materialidade em
que se manifestam aspectos sobre a subjetividade, ela é espaço de construção ideológica do
sujeito.
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Nesse contexto, esse trabalho visa investigar como as análises do discurso desenvolvidas no
Brasil têm abordado a problemática das relações entre mídia, publicidade e sociedade.
Para a realização do estudo bibliográfico proposto, foram utilizadas ferramentas de busca na
internet, em bibliotecas digitais de importantes centros de pesquisa no país. Foi feita uma
leitura dos trabalhos que mais se aproximam dos objetivos e, posteriormente, realizadas
considerações gerais sobre os textos pesquisados.
Neste artigo focalizamos o romance Filomena Borges de Aluísio Azevedo, demonstrando que
a narrativa se enquadra na categoria de romance de segunda linha de que trata Bakhtin (1988)
à medida que se constitui enquanto um texto-folhetinesco e simultaneamente estiliza o gênero
folhetinesco, satirizando-o. O romance instaura-se como discurso híbrido e indireto ao
incorporar o folhetinesco e estilizá-lo. Chega-se à conclusão de que o romance em tela é ainda
legível e pode elucidar a obra e o projeto ilustrado-pedagógico do escritor maranhense.
O presente trabalho tem como objetivo observar sujeitos bilíngues e analisar as marcas
verbais e não-verbais de subjetividade que evidenciam a relação que se estabelece entre língua
e cultura, e como eles se colocam enquanto sujeito na sociedade em que vivem. Trata-se de
uma pesquisa com duas crianças em contextos diversos de bilinguismo, uma na escola e outra
em casa. Para tanto, trabalhamos com uma criança de 5 anos falante de PB e espanhol (língua
que usa em situações específicas, como na escola bilíngue, com a mãe e a pesquisadora),
filmada em situações cotidianas do lar. E outra de 2 anos, falante de PB (que usa em casa,
com a irmã, mãe e babá) e francês (já que mora na França e em casa, com o pai). As crianças
foram gravadas em ambiente familiar com o intuito de registrar situações linguageiras e
espontâneas, na medida do possível. Os dados foram transcritos no formato CHAT
(PARISSE, C. et LE NORMAND, M. T. 2007) , que nos permitiu trabalhar com o sistema
CLAN (MACWHINNEY, 2000). Partindo das teorias propostas por Bakhtin (1997), olhamos
para a linguagem como uma construção ideológica, cujo sentido é constituído no e pelo
enunciado. Assim, nossa pesquisa busca observar esse despertar de uma nova identidade, que
vem junto da aquisição de uma outra língua, e que irá marcar essa subjetividade dos sujeitos.
A criança bilíngue se mostra como um quadro rico e peculiar, o que justifica, segundo
HOUWER (1990), um grande número de pesquisas (como as de SLOBIN, 1995; BERMAN,
1986; MILLS, 1986) que comparam crianças que adquirem línguas diferentes. A entrada
desse sujeito na língua materna funda-o como ser social. A aquisição de uma outra língua,
permite-lhe uma imersão em “novas correntes de comunicação verbal”, além da vivência de
uma outra cultura, ideologia e comunidade (BAKHTIN/VOLOSHINOV, 1997). E a partir
disso, é possível o surgimento desta nova identidade da criança bilíngue, que a marca como
sujeito e é o nosso objeto de estudo.
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ENUNCIADOS DESTACADOS E ENUNCIAÇÃO AFORIZANTE NO DISCURSO
JORNALÍSTICO
33
Para tanto, utiliza-se um corpus composto pelos seguintes discursos: pronunciamentos
oficiais frente aos impasses grevistas na Bahia desde sua trajetória como sindicalista,
deputado e governador, momentos esses que divido em dois tempos diferentes, tendo em vista
a alteração de papéis e lugares sociais assumidos e ocupados por esse sujeito no decorrer de
sua trajetória política, já que diferentes relações de poder se estabelecem entre eles. O estudo
busca analisar o discurso político, portanto, não pretende julgar as ações governamentais e,
nem avaliar o seu desempenho. Vale ressaltar que a escolha da temática greve dá-se em razão
de um ciclo de greves e mobilizações dos servidores públicos, principalmente, a polícia
militar e os professores da rede estadual, no primeiro semestre de 2012, surgindo algumas
inquietações, a saber: Por que as categorias trabalhadoras públicas, especificamente, os
policiais militares e professores da rede estadual da Bahia, o estado mais rico do Nordeste,
vivenciaram e vivenciam tanta repressão durante os movimentos grevistas - a exemplo de
utilização das forças nacionais, prisões, corte de água e luz, e a desocupação desses servidores
da Assembleia Legislativa da Bahia, teoricamente, a “casa do povo” - num estado que é
governado por um sujeito que na sua trajetória de vida política enquanto sindicalista e
deputado apoiou as reivindicações dessas classes, além de já ter sido vítima da ditadura
militar? Se há uma mudança, de que forma ela acontece e qual o contexto sócio-histórico? Por
que, como e sob quais condições é construído o discurso? Quais formações discursivas (FD)
estão presentes nos pronunciamentos de um governador, cuja imagem pública foi construída
sob a égide das lutas sindicais? A quais formações discursivas esse sujeito se filia? No
decorrer da trajetória política desse sujeito, há mudança de uma formação discursiva para
outra FD? O que motivou essas possíveis mudanças? Quais são as estratégias discursivas
usadas para o efeito de persuadir seus auditórios recorrendo sempre à justiça, ao seu próprio
discurso, a mídia e “cálculos financeiros” como meio de manipulação? Essas indagações
possibilitam uma análise da conjuntura social e política que envolve a Bahia na atualidade.
Para tentar compreender como os discursos de Wagner referentes à temática greve significam,
haja vista as alterações de papel e lugar social assumido e ocupado por esse sujeito, e das suas
condições de produção, assume-se como suporte teórico a Análise do Discurso de Linha
Francesa, a noção de sujeito e de interdiscursividade, acrescentando as noções de história e de
ideologia, uma vez que os discursos em questão não se resumem à mera transmissão de
informação, mas a produção de sentidos.
Os mais antigos registros escritos datam de mais de 3 mil anos a.C. e somente em meados de
1450 d.C. é que Johannes Gutenberg transformou a relação dos homens com a cultura escrita
(CHARTIER, 1998), por meio da invenção da prensa de tipos móveis. Naquele ano, o
inventor alemão começou a imprimir o primeiro livro, a Bíblia, trabalho que demorou cinco
anos para ser concluído. De lá para cá, as técnicas de impressão tiveram um avanço
extraordinário com a revolução eletrônica, que redundou nos computadores e impressoras
pessoais, conferindo autonomia à execução de pequenos impressos ou barateando o custo de
outros. A consequência desse processo foi uma ampla revolução nos costumes. As cartas
pessoais foram substituídas pelos e-mails ou serviços de mensagens on-line; bilhetes foram
trocados pelo torpedo do telefone celular; trabalhos acadêmicos raramente são manuscritos,
mas impressos. Os exemplos são tão difundidos e evidentes que prescindem de enumeração.
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Como explicar, então, um fenômeno recentemente verificado no Brasil e que, ao menos na
aparência, demonstra um retrocesso nesse percurso de evolução tecnológica? Trata-se dos
textos manuscritos que constituem material de protesto, escrito e utilizado nas recentes
manifestações, ocorridas em junho em diversas cidades do país e promovidas, ao menos
inicialmente, pelo Movimento Passe Livre – e, posteriormente, por outras organizações ou até
de forma espontânea – para reivindicar a redução da tarifa dos ônibus municipais. O objetivo
deste artigo é analisar a forma de escrita daqueles textos. O que se notou em tais
manifestações é que, ao contrário de movimentos de protesto que se notabilizaram no país,
como o das Diretas Já ou o dos Cara Pintadas, as manifestações deste ano não utilizaram
como material cartazes, faixas e banners impressos, mas predominantemente manuscritos.
Como ferramenta de análise será utilizada a Análise Dialógica do Discurso, em especial os
conceitos de dialogismo, gênero do discurso (cartaz e faixa de protesto) e cronótopo do
Círculo de Bakhtin. O objetivo será também o de encontrar sentidos nessa relação paradoxal
representada pela utilização de um recurso tão antigo – a escrita manual – por uma geração
sofisticada tecnologicamente, que, provavelmente pela primeira vez no Brasil, conseguiu
levar milhares de pessoas às ruas, utilizando-se para isso tão somente de recursos oriundos da
tecnologia, como as redes sociais, acessadas por suportes tais como tablets, celulares e
notebooks.
Este trabalho é fruto de uma pesquisa científica que tem como objetivo prioritário analisar as
relações dialógicas da cantora-compositora Marisa Monte com os cantores-compositores
Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown; construídas de maneira dialógica e intergenérica – e
mantém como objetivos principais examinar os elementos cancioneiros (letra e música) nas
discografias da mencionada cantora, advindos da influência de Antunes e Brown; bem como
compreender a criação e a forma específica de realização do ato discursivo estilístico da
cantora no decorrer de sua obra e verificar a relação entre sujeito, autoria, estilo, estética e
gênero na produção e na interpretação de suas canções. A teoria que fundamenta este estudo
encontra-se no cerne do próprio objeto, que a solicita já em sua constituição: a filosofia
dialógica da linguagem do Círculo Bakhtin, Medvedev, Volochinov. O método é o dialógico,
centrado na análise do gênero discursivo, com ênfase no aspecto arquitetônico de construção
discursiva da canção. A pesquisa realizada se constitui como qualitativa e possui caráter
interpretativo. Tal pesquisa é composta por etapas de análise do gênero canção focadas na
descrição do objeto, sua análise e interpretação dos dados. Como se trata de um momento
inicial da pesquisa, descrever-se-á a seguir, em consonância com a metodologia utilizada no
projeto de pesquisa de Paula (2010), nomeado A intergenericidade da canção, o percurso a
1
Aluna do 3º. Ano de Graduação do curso de Letras – UNESP - Assis. Bolsista PIBIC. Membro do GED –
Grupo de Estudos Discursivos.
2
Docente da Universidade Estadual Paulista – UNESP, Faculdade de Ciências e Letras de Assis, lotada no
Departamento de Linguística e também credenciada ao Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua
Portuguesa da UNESP – Araraquara. Coordenadora do GED.
37
ser desenvolvido. Este estudo utiliza, prioritariamente, materiais bibliográficos: oito canções
de Monte, bem como a pesquisa contextual de sua produção e criação de seu estilo em
consideração a seu relacionamento artístico com Antunes e Brown; e ainda textos teóricos. A
pesquisa justifica-se pela tentativa de compreensão do processo de produção, circulação e
recepção do gênero canção na contemporaneidade. O norte específico se refere ao trânsito
composicional entre Monte, Antunes e Brown, em diversas esferas de atividades e de maneira
dialógica, traço estilístico desses Tribalistas e da produção discursiva contemporânea. Tentar
compreender a peculiaridade de Monte e do Tribalistas como ícones singulares do cancioneiro
brasileiro é o intuito ao qual se propõe a pesquisa em desenvolvimento.
Este trabalho tem como principal objetivo uma reflexão teórica sobre a perspectiva
bakhtiniana de discurso na vida e na arte, tomando como pressuposto teórico as reflexões do
Círculo de Bakhtin sobre a criação estética, demonstrando como a cultura e a vida permeiam
o discurso artístico, transformando-o a partir de fatores sócio-históricos e, ao mesmo tempo,
como a linguagem atua na vida. Essa perspectiva toma a linguagem como ação sobre o
mundo e sobre a própria linguagem, desse modo, a concepção de enunciado para o Círculo
engloba a reflexão/refração da realidade, visto que o enunciado é uma compreensão
responsiva de um sujeito. A arte é imanentemente social, assim, o discurso artístico ocorre de
modo semelhante ao discurso da vida, ou seja, influenciado por elementos extraverbais que
encontram resposta dentro do texto artístico.Para entender a conceituação de discurso na arte,
bem como as ideias de ‘autor’, ‘exotopia’ e ‘acabamento estético’, que são citados no decorrer
da obra bakhtiniana, é preciso entender que para o Círculo de Bakhtin as práticas culturais são
posições socioavaliativas postas numa dinâmica de múltiplas inter-relações responsivas. Todo
ato cultural se move entre inter-determinações responsivas, isto é, assumindo uma posição
valorativa frente a outras posições valorativas. No ato artístico, a realidade vivida é
transportada para um outro plano axiológico. O ato estético opera sobre um sistema de valores
constituídos no plano da realidade criando novos valores no plano da arte. Aspectos da vida
são trazidos para uma nova organização e subordinados a uma nova unidade, condensados
numa imagem contida e acabada. O ato criativo envolve, portanto, um processo de
transposição da vida para a arte. Bakhtin afirma que é no deslocamento, estando/olhando de
fora, que o autor constitui sua criação artística. Nesse processo, é projetado no autor-criador
um modo de ver o mundo, princípio ativo de ver que guia a construção do objeto estético e
direciona o olhar do leitor. A esse olhar extraposto que se refere o pensamento bakhtiniano,
nenhuma significação é dada, mas sim criada nos processos dialógicos com o “outro”. A
partir dessa abordagem dialógica Bakhtin formulou o conceito de gênero, instância de criação
e acabamento do objeto estético.
1
Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa da UNESP – Faculdade de
Ciências e Letras de Araraquara e membro do Slovo – Grupo de estudos do discurso.
38
A LEI SECA DISCURSIVIZADA POR SUJEITOS MOTORISTAS E POR SUJEITOS
POLICIAIS
Partindo de uma problematização teórica inicial que buscou compreender a relação entre o
discursivo e o não-discursivo na obra de Michel Foucault, e tendo por objetivo prosseguir na
trajetória de um levantamento teórico-metodológico que investigue a relação entre o saber e o
poder, bem como a relação entre a análise arqueológica e a análise genealógica, o presente
artigo pretende explorar teoricamente a noção de dispositivo proposta pelo mesmo autor, para
nela verificar uma possível articulação entre o discursivo e o não-discursivo, entre o saber e o
poder, entre a análise arqueológica e a análise genealógica. Tendo como referenciais teóricos a
39
A arqueologia do saber (2009), Resposta a uma questão (2010) e Sobre a Arqueologia das
Ciências. Resposta ao Círculo de Epistemologia (2008), numa perspectiva mais arqueológica,
e A verdade e as formas jurídicas (1996) e A ordem do discurso (2012), numa perspectiva
mais genealógica, chegou-se a uma compreensão acerca da natureza da relação entre o
discursivo e o não-discursivo, de modo que entre essas duas práticas estabelece-se uma
relação de distinção e também de “pressuposição recíproca”, nas palavras de Deleuze (1998).
Pode-se afirmar que não há práticas sociais e saberes que não produzam discursos e não há
discursos que não estejam vinculados a práticas sociais e a domínios de saberes, de modo que
a relação entre o institucional, o social e aquilo que é dito a partir dessas instituições, desses
domínios de saberes, estão ambos historicamente ambientados e metodologicamente
implicados nessa relação de “pressuposição recíproca”. Agora, acrescentando a essa trajetória
de investigação teórica as obras Vigiar e Punir (2007), Microfísica do Poder (1979) e História
da Sexualidade I (1997) pretende-se explorar mais a perspectiva genealógica nisso que ela
traz de ênfase na forma de operar dos discursos enquanto práticas sociais, em seus
funcionamentos e estratégias, quando eles, enquanto discursividades, obedecem não só a
regras e regularidades internas, mas também a relações de poder pertencentes a uma
exterioridade. Nessa implicação teórico-metodológica entre a arqueologia do saber e a
genealogia das relações de poder nas quais e pelas quais os discursos operam, a noção de
dispositivo torna-se um conceito interessante a partir da qual se possa operacionalizar análises
mais equilibradas entre essas duas analíticas que se implicam e complementam.
O presente trabalho, cujo marco teórico central é a Análise do Discurso Crítica, protagonizada
por Norman Fairclough, e seus desdobramentos para o ensino, traz uma reflexão sobre a
prática do ensino da escrita na pós-modernidade, com ênfase no empoderamento e
(re)construção identitária de alunos do ensino médio. Em função da potencialidade da
linguagem nas sociedades atuais e da postura de questionamento constante imbricada em suas
práticas, este trabalho torna-se útil, na medida em que parte dos princípios da Conscientização
Linguística Crítica (CLC), uma proposta de linguistas da Universidade de Lancaster (Grã-
Bretanha) que consideram a linguagem como constitutiva em relação à sociedade, no âmbito
ideológico e das relações de poder. A Conscientização Linguística Crítica se constrói por
meio de um estudo crítico da linguagem, utilizando a Análise de Discurso Crítica como meio
para alcançar um discurso emancipatório, já que, “o discurso é uma prática, não apenas de
representação do mundo, mas de significação do mundo, constituindo e construindo o mundo
em significado” (Fairclough, 1992:63). As atividades de conscientização estão inseridas no
próprio corpo de conhecimento escolar, uma vez que o conhecimento é uma construção social
ligada a normas e valores que precisam ser debatidos na educação crítica (Giroux &
Aronowitz, 1987). O que esses autores chamam de letramento crítico é exatamente o que os
proponentes da CLC chamam de “uma conscientização crítica do mundo e das possibilidades
de mudá-lo”, não só em termos linguísticos como em relação à educação em geral (Clark et
al. 1991:52). A partir destes pressupostos teóricos, apresento um relato de experiência
vivenciada no bojo da prática pedagógica, cujo foco principal centra-se no diálogo entre a
teoria explorada no âmbito acadêmico e a prática do professor-pesquisador em sala de aula, na
tentativa de preencher uma lacuna a partir dos postulados da CLC. Como resultados, destaco a
mudança nas práticas de leitura dos alunos a partir de uma visão mais crítica da linguagem,
alicerçada nos ideais emancipatórios.
41
REFLEXÕES ACERCA DO ESTILO NA SALA DE AULA: ESTILO COMO MARCA
DIALÓGICA
Em estudos sobre Estilística, percebemos que há muito tempo trabalhou-se a noção de estilo
como um desvio da norma, sendo assim uma marca individual, já que a norma era o coletivo.
Esta conceituação está longe das concepções bakhtinianas a respeito de estilo. Na
compreensão bakhtiniana sobre estilo, o enunciado é elaborado por recursos linguísticos
seletivos que estão à disposição do enunciador na língua, no horizonte apreciativo em que
ocorre a enunciação. Isto significa que o estilo é um agrupamento de marcas de traços fônicos,
morfológicos, lexicais, sintáticos, semânticos, enunciativos, discursivos, etc., que assentam a
estabilidade enunciativa, ou seja, que definem as especificidades enunciativas demarcando,
assim, o sentido de individualidade na relação do sujeito com o discurso já instituído e a ser
recebido por seu destinatário. Por meio de tirinhas retiradas do Facebook – rede social de
interações textuais – trago propostas de trabalhos com alunos do Ensino Básico sobre
questões de Estilística, discutindo noções de estilo dentro da teoria enunciativa dos estudos
bakhtinianos do discurso. Variando as tirinhas, porém mantendo certas marcas de recorrência
– remissões a lugares de produção, as comunidades/grupos/páginas do Facebook –, analiso
como podemos discutir gênese criativa nas práticas textuais dos aprendentes escolares. Nesta
perspectiva, posiciono-me em discussões educacionais a fim de refletir sobre o
desenvolvimento da competência linguístico-discursiva e sobre interpretação e produção de
textos, baseando-me em discussões estilísticas no meio social do Facebook, lugar midiático
este que é bastante conhecido e utilizado como suporte-mediador das interações entre os
sujeitos. Questões que mobilizam a pesquisa são: Qual é a relação existente entre o estilo e o
autor em sua individualidade? Como os textos em circulação nesta mídia promovem um
dinamismo na produção/recepção dos sujeitos? Pensando estilo como processo
composicional, como se dão os efeitos interpretativos nas esferas sociais, tanto pelos diálogos
das instâncias da textualidade quanto dos sujeitos em ‘jogos’? Afinal, produção e análise se
mesclam? Assim, pensar o discurso escolar em sua produção e interpretação pelos
aprendentes é poder trabalhar com ressignificação de vozes, ideologias, heterogeneidade. É
importante que sejam desenvolvidas pesquisas que abordem os embates de questões teórico-
práticas do momento aula a fim de aprofundarmos discussões que nos levem, a nós
educadores, a lugares que dinamizem os processos intersubjetivos e nos proporcionem
reflexões sobre o estar, o ser e o vir a ser no mundo, permitindo ampliar as discussões sobre
formação de professores e sobre a produção de identidade na escola.
VOZ E DISCURSO:
APONTAMENTOS SOBRE A CONSERVAÇÃO DAS FORMAS DO DIZER
Carlos Piovezani
(UFSCar)
É sabido que há um descompasso entre tudo o que, com base na língua e na lógica, se poderia
dizer e aquilo que é efetivamente dito numa sociedade. Em conjunção com essa diferença
forjada pela história entre a potência e os atos rarefeitos ocorre outra, que consiste na
separação entre os textos e enunciados que serão mais ou menos conservados e aqueles que
42
serão mais rapidamente esquecidos. A reflexão sobre o controle do dizer e de sua maior ou
menor conservação está sintetizada na definição que Foucault consagra à noção de arquivo,
cujo funcionamento corresponde à “lei do que pode ser dito, o sistema que rege o
aparecimento dos enunciados como acontecimentos singulares”; a essa função do arquivo
Foucault acrescenta um seu outro papel, a saber, ele é também responsável pelo fato de que
“todas as coisas ditas não se acumulem indefinidamente em uma massa amorfa, não se
inscrevam, tampouco, em uma linearidade sem ruptura e não desapareçam ao simples acaso
de acidentes externos, mas que se agrupem em figuras distintas, se componham umas com as
outras segundo relações múltiplas, se mantenham ou se esfumem segundo regularidades
específicas”([1969] 1997, p. 149). De nossa parte, inspirados em Foucault, tal como o fizeram
Courtine ([1981] 2009) e Pêcheux ([1983] 1999) na concepção da noção de “memória
discursiva”, interessa-nos pensar sobre as distintas temporalidades da voz, suas diferentes
durações e conservações no discurso. Não se trata aqui de considerar o aspecto empírico da
gravação ou não de uma voz, a despeito de essa condição implicar possíveis alterações no
estatuto e no alcance histórico e social das propriedades e inflexões vocais de um sujeito.
Antes, cremos que, de modo análogo ao que ocorre com o “desnivelamento” dos discursos, as
vozes dos membros de uma sociedade também não gozam indistintamente do mesmo valor,
não se inscrevem igualmente na memória de seus congêneres e nem tampouco produzem
neles os mesmos efeitos. É com base nessa série de postulados que pretendemos interpretar
alguns dizeres da mídia brasileira sobre a voz de Lula e refletir sobre o uso, a memória e os
efeitos de certos sons que lhe são diretamente associados, tais como a melodia do jingle “Lula
lá”.
O nome de Foucault tem uma presença garantida em qualquer abordagem histórica acerca do
nascimento e da constituição daquilo a que se convencionou chamar de AD Francesa.
Conceitos como: prática discursiva, formação discursiva, acontecimento, arquivo, função
enunciativa e ordem do discurso, que Foucault forjou para pensar o discurso, integram, há
muito tempo, o léxico básico da disciplina. Tais conceitos apareceram em obras publicadas na
virada dos anos sessenta para os anos setenta, principalmente em A Arqueologia do saber
(1969) e A ordem do discurso (1971), que encerram a “fase arqueológica” de Foucault. A AD,
em fase de constituição, muito rapidamente os integrou, a partir de sugestões de Pêcheux
(1971) e Robin (1973). Desde então, esses conceitos do primeiro Foucault formam a grade
conceitual que define a filiação “foucaultiana” da AD francesa. O fato de conceitos mais
tardios, como o de parresia, virem se juntar a essa grade, não altera essa constatação histórica
global: o Foucault que prepondera em trabalhos de Análise do Discurso é o do período
arqueológico. Ora, a partir de A ordem do discurso, a trajetória intelectual de Foucault passa
por uma grande reviravolta que ficou conhecida como “giro genealógico”. Foucault continuou
a problematizar o discurso, mas tanto os problemas que levanta quanto os conceitos que
emprega são novos. Foucault já não interroga o discurso como uma prática na qual se formam
os elementos do saber, mas arma de poder. Nosso objetivo neste trabalho é levantar uma
discussão sobre a problematização genealógica do discurso. Duas questões comandarão nossa
discussão. A primeira é uma questão preliminar: que diferenças existem entre essa
problematização e a anterior (arqueológica)? Com base na resposta dessa questão, a nossa
questão será: que benefícios pode a AD colher da abordagem genealógica do discurso
43
proposta por Foucault? Quanto à segunda questão, nossa hipótese é a de que esses benefícios
podem ser de dois tipos. Por um lado, a genealogia critica e retifica o modo como a relação
entre discurso e poder fora apresentada em A Arqueologia do saber e A ordem do discurso.
Por outro lado, permite superar alguns limites da abordagem arqueológica (no que se refere à
abordagem de discursos singulares e ao problema do sentido, por exemplo), além de trazer
uma nova concepção de materialidade do discurso.
Carolina Reis
(FCLAr – UNESP)
44
O PARAGUAI VISTO PELOS BRASILEIROS: DISCURSO, MEMÓRIA E
IDENTIDADE
A partir das reflexões desenvolvidas pelo Círculo de Bakhtin, pretende-se mostrar quais são
os valores sociais presentes no filme publicitário de lançamento do biscoito Trakinas, de
1988. Também se pretende analisar como esses valores sociais dialogam com pelo menos dois
interlocutores, analisando, portanto, de que forma essa dupla interlocução se dá nos
enunciados trabalhados. Parte-se da hipótese de que os produtos/serviços voltados às crianças
1
Professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul e mestranda
do Curso de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD - MS.
2
Professor Adjunto do curso de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal da Grande Dourados -
UFGD – MS.
45
precisam convencer tanto os pais quanto as crianças, portanto são construídos para conquistar
ambos públicos-alvo. Este trabalho é desenvolvido em pesquisa cujo resultado será uma
monografia de final de curso e se insere em projeto em que se busca reafirmar a importância
de abordagens analíticas de textos sincréticos nos estudos bakhtinianos do discurso,
abordagens estas possibilitadas pelo conceito de enunciado concreto, que, nas reflexões
desenvolvidas pelo Círculo de Bakhtin, não somente inclui atividades linguísticas (e, portanto,
o signo verbal), mas também manifestações gestuais, faciais, entre outras. Assim, o enunciado
concreto, entendido de forma ampla, é um todo de significação, situado sócio-
ideologicamente. Com este trabalho, acredita-se ampliar as reflexões empreendidas pelos
estudos bakhtinianos sobre enunciados sincréticos, assim como entender melhor o processo de
convencimento gerado por filmes publicitários cujos objetos de mercado sejam produtos
também direcionados a crianças; essas peças publicitárias, por hipótese, devem dialogar com
valores que constituem o saber de sujeitos adultos, já que são eles que detêm o “poder de
compra”. Dessa maneira, esta pesquisa busca refletir sobre esse acontecimento do gênero
publicitário, o que poderá revelar aspectos sobre esse gênero do discurso. A metodologia
adotada é a análise dialógica: o corpus é interpretado a partir dos pressupostos teóricos
desenvolvidos em estudos bakhtinianos, dando-se especial atenção aos conceitos de signo
ideológico, enunciado concreto, diálogo e gênero do discurso; a atitude do analista frente ao
corpus não pretende anular a alteridade na relação entre eu-outro (pesquisador-sujeito de
pesquisa) e nem a responsabilidade do sujeito-pesquisador nessa relação.
A sociedade não é composta de indivíduo, mas sim por sujeitos históricos. Desse modo, o
discurso - enquanto construção histórica e social - reflete e refrata uma determinada ideologia
que interpela o indivíduo em sujeito do discurso. De posse dessa assertiva, a pesquisa
proposta resgata entrevistas de Rose Marie Muraro - escritora e principal representante do
Movimento Feminista no Brasil - concedidas a diferentes revistas. Os textos, selecionados e
transformados em discursos, são o objeto desse estudo que está sendo realizado considerando-
se a(s) Formação (ões) Discursiva (s) em que se inscreve a ativista e nos permite analisar a
sua tomada de posição, bem como os sentidos mobilizados, os processos de apropriação e
produção de uma FD. Estudar essas manifestações, por meio das entrevistas de Muraro, é
identificar as FDs e suas relações de conflito e de aliança estabelecidas. Portanto, intenta-se
investigar os lugares ocupados pela feminista no processo discursivo, isto é, as diversas
posições-sujeito relacionadas com determinadas FDs a que ela recorre para construir seu
discurso feminista em defesa da equidade de direitos e contra o machismo. Isso possibilitará
observar se as posições-sujeito são ou não condizentes com o lugar do qual ela fala e perceber
se Muraro recorre ao pré-construído em seu discurso para a produção de sentido. A
necessidade de se levar a efeito tal pesquisa, parte ainda da ciência de que os processos
discursivos são heterogêneos e estão sob o signo das condições ideológicas da
reprodução/transformação das relações de produção. O referido trabalho traz um estudo que
está em andamento no Programa de Pós-Graduação em Estudo de Linguagens da
Universidade do Estado da Bahia – UNEB e tem como aporte teórico os postulados da
Análise de Discurso de linha francesa, desenvolvida por Michel Pêcheux (1988;2011;2012) e
seus seguidores. Por tratar-se de uma investigação de valores, atitudes, percepções e
46
motivações do fenômeno estudado é que estamos desenvolvendo uma pesquisa qualitativa que
busca interpretar os fenômenos e atribuir significados.
Claudiana Narzetti
(Universidade do Estado do Amazonas)
Nesta comunicação, que pretende lidar com as relações entre um texto verbal, num dado
suporte, e um texto sincrético, num outro suporte, o alargamento das fronteiras de uma teoria
faz-se necessário e imprescindível para um eficaz reconhecimento das relações estabelecidas
num processo de transposição de significados e significantes. O que tencionamos, assim, é
mostrar o modo como o diretor Luiz Fernando Carvalho, - ao transpor o romance Dom
Casmurro (1899), de Machado de Assis, para a minissérie Capitu (2008)-, consegue
aproximar não só processos de engendramento de sentido e leituras distintas, mas instaurar
47
uma nova leitura e um índice crítico do próprio romance. Vale ressaltar que tal feito pode ser
analisado por meio das marcas enunciativas reverberadas no texto transposto e das marcas
dialógicas espraiadas nas relações com outros discursos e com a própria crítica tradicional da
obra. O enunciado do texto sincrético mostra-se, assim, composto e atravessado por tantos
outros enunciados já existentes sobre o texto verbal; contudo, o que o diretor faz é conseguir
escancarar tais diálogos, pelo seu característico modo de exibir o processo de feitura de suas
realizações ficcionais. Desse modo, a enunciação parece produzir um enunciado que reúne a
história de Machado e a história da crítica do romance, de modo deliberado e atualizado. Para
realizarmos um percurso interpretativo coerente, que estabeleça o equilíbrio e a conexão entre
as contribuições teóricas, as relações entre o romance Dom Casmurro e a minissérie Capitu
deverão ser examinadas à luz das reflexões propostas pela teoria semiótica greimasiana,
principalmente no que diz respeito aos conceitos de figuratividade e isotopia figurativa. Tais
conceitos nos oferecem métodos próprios para extrair algumas das especificidades desses
textos, fazendo com que a análise aponte, com maior rigor, para o processo de concepção da
aproximação televisiva como um universo organizado, coerente e lógico, cujo produto
configura uma dialogicidade que, de maneira particular, formaliza o processo de transposição
entre semióticas distintas.
Com base na Análise do Discurso (AD) de linha francesa, sobretudo a partir dos postulados
de Michel Pêcheux, objetiva-se, em linhas gerais, refletir sobre o funcionamento da
linguagem na contemporaneidade. É fato que as chamadas TIC’s (tecnologias de informação e
comunicação) ocupam um espaço grande da vida diária e algumas das implicações disso são
bem debatidas no que tangue a saúde, sociedade, etc. Neste trabalho, a proposta é pensar as
implicações discursivas dessa grande inserção das TIC’s. Para tanto, é feito um recorte do
funcionamento dos recursos de personalização de conteúdos na pesquisa Google. Segundo
PARISER (2012), a internet não é mais a mesma desde dezembro de 2010, quando o Google
ativou as buscas personalizadas para todos os usuários. Os recursos de personalização na
pesquisa Google funcionam como um filtro de informações relevantes para cada usuário. Para
que esse filtro funcione, são utilizadas várias técnicas, cujas mais conhecidas são:
identificação do endereço IP (internet protocol) para localização geográfica do usuário;
instalação de cookies para recuperação de informações sobre o usuário; acesso ao histórico de
navegação que permite saber quais páginas foram acessadas pelo usuário. Estas técnicas são
as que mais se relacionam com a experiência particular de cada usuário, outras técnicas, com
maior abrangência, também são empregadas como, por exemplo, análise dos padrões de
utilização de pessoas que acessam o Google diariamente. Percebe-se que as buscas
personalizadas funcionam de modo a filtrar as informações na web e atualizar, para cada
usuário em particular, um conteúdo “pertinente” que atenda as necessidades do usuário e que
não o exponha a conteúdos que não são de seu interesse. É neste cenário que esta proposta se
erige para pensar as implicações discursivas dessas técnicas. Pensar em implicações
discursivas significa pensar o funcionamento da linguagem perpassado pela história e pela
ideologia, que funcionam de modo a sustentar os processos de significação e afetam as
inscrições do sujeito.
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ANÁLISE DO DISCURSO PUBLICITÁRIO DA MASTERCARD: “NÃO TEM
PREÇO”
Danilo Caldeira
(Unesp Araraquara)
Sabe-se que a mídia tem forte influência no nosso cotidiano, estamos nos modernizando cada
vez mais e às vezes as pessoas nem sabem de onde surgem certos modismos e como elas
foram influenciadas pelos mesmos, ainda mais se tratando de discurso. A agência de
publicidade McCann Erickson lançou, em 1997, uma campanha publicitária cujo slogan
“priceless” ficou mundialmente conhecido. No Brasil a propaganda comercial chegou como
“Não tem preço”. Após 16 anos ininterruptos desta campanha comercial, o termo “Não tem
preço” é reproduzido tanto na fala como na escrita do cotidiano. Segundo Maingueneau
(2004), o slogan, seja publicitário ou político, não deixa de ter uma certa semelhança com o
provérbio. Fórmula curta, destinada a ser repetida por um número ilimitado de locutores.
Neste contexto, este trabalho tem por objetivo analisar o discurso publicitário da MasterCard,
que transformou um slogan comercial em um bordão mundialmente conhecido. De acordo
com Bakhtin (2003), os gêneros do discurso são divididos em primários: aqueles que são da
vida cotidiana, que pertencem à comunicação verbal espontânea e tem relação direta com o
texto mais imediato, por exemplo, a piada, o bate-papo, a conversa telefônica, o email, o
bilhete, o chat, etc. E secundários: que pertencem à esfera de comunicação mais elaborada, a
jornalística, a artística, a jurídica, a religiosa, a política, a filosófica, a pedagógica, a científica.
O tema central deste trabalho consiste em analisar o discurso publicitário da MasterCard, mais
especificamente seu slogan “Não tem preço” e sua ressignificação, a partir das teorias do
Círculo de Bakhtin sobre dialogismo, gêneros do discurso, esfera, significação/tema, ironia e
paródia; é realizada uma análise sobre uma peça publicitária, desta empresa, e uma paródia
popular, intitulada “Vexame Colorado não tem preço”, que ressignifica o mesmo slogan,
podendo trazê-lo de volta ao patamar de uma frase feita.
Danilo Vizibeli
(UNIFRAN)
O objetivo deste trabalho é apresentar as marcas de autoria presentes (ou não) no discurso das
letras de música do rapper LetoDie e a movimentação dos sentidos pelas redes sociais,
principalmente o Facebook e o YouTube num momento histórico do Brasil com o movimento
popular contestatório #Vemprarua. Como material de estudo que compõe o corpus do estudo,
foram selecionadas duas canções do rapper, que é um adolescente que se diz adepto das
práticas do fisiculturismo e da malhação, intituladas “Sistema” e “Brasilusão”. Serão
observadas ainda a página pública do cantor no Facebook
(http://www.facebook.com/letodieoficial?fref=ts) e o canal de vídeos no YouTube (http://
www.youtube.com/mrletodie) Empreende-se uma análise pautada no referencial teórico da
Análise de Discurso Francesa, tendo como referencial bibliográfico Michel Pêcheux do qual
articula-se o conceito de “arquivo”; as questões da autoria e da escrita de si na ótica de Michel
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Foucault e ainda as revisões epistemológicas do conceito na ótica foucaultiana, empreendidas
por Roger Chatier. É objetivo também conceituar os movimentos interpretativos em que se
(des)estabilizam sentidos em torno da Indústria Cultural – conceito tomado dos frankfurtianos
Adorno e Horkheimer - tendo as manifestações artísticas marginais como o Rap, como
movimento de contestação para verificar a polissemia ou paráfrase e a historicidade de
quando se começou o movimento popular revolucionário de Junho de 2013 no Brasil. Pela
data de postagem dos vídeos de LetoDie, as manifestações começaram antes que se chegasse
às ruas, pelas redes sociais. Assim, questiona-se e problematiza-se a questão da virtualidade e
da cibercultura na contemporaneidade como tecnologias de si e da coletividade, nas quais se
empreendem interpretações e simbolizações que devem ser vasculhadas. Com esse estudo,
procura-se identificar práticas de leitura e escrita, entendendo a leitura não só do texto verbal,
mas de toda materialidade significante, das quais são adeptos estudantes pré-vestibulandos.
Justifica-se esse propósito devido ao fato de o acesso ao corpus ter acontecido por meio de um
adolescente estudante de um curso pré-vestibular comunitário da cidade de Passos-MG. Esse
arquivo discursivo, marca que a leitura e a escrita são práticas de constituição do sujeito que
efetiva os mecanismos de instauração de micropoderes na busca da construção de sua
identidade.
Em data de 3 de abril de 2013, entrou em vigor a Emenda Constitucional n. 72, que amplia os
direitos da categoria do trabalhador doméstico no Brasil. Desde então, uma diversidade de
enunciados discursivos, que dão efeito de sentido de mudança abrupta nas relações de
trabalho doméstico, têm sido proferida no universo midiático. Sabe-se que as mídias,
enquanto suporte organizacional, tornam-se objeto das atenções com tamanha fluidez, que
permite-lhes atuar em todas as esferas sociais. Contudo, nesse universo de informação
midiática, muitas vezes o que prevalece é a confusão, a imagem distorcida, a desinformação
passível de provocar o alvoroço, afetando negativamente o convívio social e as relações de
poder. Com efeito, não raro há veículos midiáticos que mascaram, pervertem ou revelam
parcialmente o acontecimento. Nesse cenário, pretende-se observar o papel da memória e do
apagamento de sentidos na produção midiática acerca das novas regras para o trabalho
doméstico no Brasil. Com base na contribuição de Michel Foucault para a Análise do
Discurso, pretende-se ainda discorrer sobre as relações de saber e poder na construção do
discurso midiático e sobre como os conflitos advindos dessas relações repercutem na
sociedade. Objetiva-se, assim, analisar esse discurso midiático que enuncia, à sua maneira, o
processo legislativo que instaurou as novas regras para o trabalho doméstico. Tal feito será
possível através da análise de uma multiplicidade de dispositivos textuais, representados por
recortes de notícias veiculadas na mídia entre os meses de março e junho de 2013, nas quais,
preliminarmente, observa-se a produção de efeitos de sentido de que “nada será como antes”.
Nesse sentido, é possível identificar que as legislações criadas em prol dos trabalhadores
domésticos representam, cada qual, um acontecimento, mas a forma como isso se faz visível a
partir dos veículos midiáticos é outro acontecimento, outra forma de significá-las, e isso
provoca um constructo deformado que toma o lugar da realidade. Assim, um trabalho de
interpretação jurídica que acarreta uma transformação da realidade social, e que conta com
um bom suporte midiático, pode entrar na ordem discursiva de maneira que dificilmente
ficará neutro ou será ignorado. Pelo contrário, cria, a partir do disparate, uma verdade que
poderá tornar-se centralizadora, conforme a força que emana do sujeito enunciador.
53
O FUNCIONAMENTO DA FORMAÇÃO IMAGINÁRIA NA ARTICULAÇÃO
ENTRE DISCURSO POLÍTICO E RELIGIOSO NAS ELEIÇÕES BRASILEIRAS DE
2010
Douglas Zampar
(UEM)
Raquel de Freitas Arcine
(UEM)
54
IDENTIDADE SOB ALGUMAS PERSPECTIVAS TEÓRICAS: AS FACES
REVELADAS DOS SUJEITOS DO DISCURSO
“O meu corpo é minha propriedade ...” : essa é parte da inscrição feita em seu corpo, por uma
tunisiana, Amina Tyler, tal como noticiou a Folha de São Paulo em março de 2013. Se
voltarmos para os anos 70, com efeito, encontraremos o seguinte enunciado: “Nosso corpo
nos pertence”, dito por um grupo de minoria feminista e que naquela época reclamava uma
liberdade do corpo feminino frente às leis que interditavam o aborto. Dois acontecimentos,
separados por, mais ou menos, 40 anos que se entrelaçam, formando uma rede interdiscursiva
e provocando um efeito de memória (COURTINE, 2009). A partir desses dois episódios, nos
questionamos: Como o corpo se torna objeto do discurso em enunciados que circulam na
sociedade? Quais as mutações discursivas de um acontecimento a outro? Para tentarmos
responder a essas questões, lançamos mão de alguns aportes teóricos da Análise do Discurso
de linha francesa, tais como: enunciado (FOUCAULT, 1986), acontecimento
discursivo\trajeto temático (GUILHAUMOU e MALDIDIER, 1994) e condições de
produção, proposto por Courtine (2009). O trabalho se inscreve nos quadros da AD, que
permite trabalhar com os efeitos de sentido do discurso, a partir da materialidade semiológica,
do sujeito historicamente construído e a História, enquanto construída pelos discursos e
constituidora de discursos. Dessa perspectiva, procuraremos analisar quais são os efeitos de
memória que se repetem, refutam e transformam os enunciados, conforme trabalhamos com
Foucault (1986, p. 119), buscaremos refletir como o corpo é o próprio (efeito do) discurso em
enunciados que circulam, atual e historicamente.
56
UMA ANÁLISE DISCURSIVA DE NÃO TENHO CULPA QUE A VIDA SEJA COMO
ELA É, DE NELSON RODRIGUES
O objetivo deste artigo é apresentar uma analisar discursiva de textos de Nelson Rodrigues,
mobilizando Dominique Maingueneau como principal referência teórica. O problema de
pesquisa que se propõe tem a ver com a seguinte observação: até que ponto Nelson Rodrigues
pode, de fato, ser considerado um autor pornográfico? Para tanto, partir-se-á da leitura do
texto Não tenho culpa que a vida seja como ela é (2009), de Nelson Rodrigues, autor
qualificado duplamente como “Anjo” e “Pornográfico” no livro O Anjo Pornográfico: a vida
de Nelson Rodrigues (1992), de Ruy Castro. O principal objetivo dessa reflexão é
problematizar o adjetivo “pornográfico” atribuído a esse autor. Metodologicamente, serão
adotados dois procedimentos: primeiro, partir-se-á da leitura do livro de Ruy Castro para
tentar entender o que faz, segundo Castro, de Nelson Rodrigues um autor pornográfico. Em
outros termos, de que mirante Castro qualifica-o de “pornográfico”. Segundo, far-se-á uma
análise do livro de Nelson Rodrigues à luz de Dominique Maingueneau. A hipótese que se
defenderá é a de que Rodrigues está mais próximo da literatura obscena, enquanto discurso,
do que da pornográfica. Esta se apresenta como discurso atópico, situado num não-lugar, nos
interstícios sociais, oscilando entre proibição e tolerância. Subjugada a uma censura universal,
pois todas as sociedades estabelecem distinções entre o que é permitido e proibido na
representação da sexualidade. Pretende-se mostrar que o livro Não tenho culpa que a vida seja
como ela é pode ser definido como predominantemente obsceno, com variações eróticas e
pornografia canônica velada. Embora se considere que os dados analisados não sejam
suficientes para se chegar a conclusões finais sobre o assunto, acredita-se em sua importância,
por, pelo menos, lançar dúvidas sobre o adjetivo “pornográfico” atribuído a Nelson
Rodrigues. Espera-se, portanto, que o resultado da investigação contribua para a formação de
saberes a partir da obra desse renomado escritor brasileiro.
Esta pesquisa examina a prática da tradução sob a perspectiva das obras de M. Bakhtin e seu
Círculo, com destaque para as noções de ética, estética, enunciado e enunciação, relações
dialógicas, gênero, arquitetônica, construção composicional, exotopia e cronotopo, estilo e
tema e excedente da visão estética. Através de estudos complementares sobre a tradução,
nossa meta é entender os processos que a tradução envolve, desde a escolha do texto até o
caminho percorrido para que a tradução seja realizada, enfocando as obras escolhidas.
Produções de autores, teóricos e estudiosos da área de tradução, linguística e teatro permeiam
esse trabalho no sentido de auxiliar-nos em nossas buscas por respostas que possam nos dar a
compreensão dos processos envolvidos no ato de traduzir. A reflexão recebe concretude por
meio da análise das obras: The member of the wedding, de Carson McCullers, e duas de suas
traduções: uma delas, A Sócia do Casamento, iniciada, mas não terminada, por Clarice
Lispector; e a outra, A Convidada do Casamento, realizada por Sônia Coutinho (2008).
Analisamos a interferência das realidades constitutivas dos tradutores influenciando suas
57
traduções, buscando também a identificação mais íntima de como uma obra pode interferir na
produção de outra seja por meio da temática e do estilo, seja por meio da abordagem
ideológica e cultural. A crônica de Clarice Traduzir procurando não trair, publicada na
“Revista Jóia” em 1968, tem importância fundamental no processo dos estudos da tradução de
Clarice Lispector, pois nela a autora demonstra a preocupação em manter-se fiel às intenções
do autor e expõe suas reflexões sobre o trabalho de tradução. A partir disso, averiguamos
também como a formação de uma nova consciência dos procedimentos literários da autora
interfere em seus trabalhos de tradução. Dessa maneira, busca-se contribuir para a reflexão
sobre a tradução tanto teórica, quanto concretamente com o estudo particular dessas duas
traduções. Buscamos os estudos de Bakhtin, Brandist (2009), Zbinden (2006), Ponzio (2010)
e Petrilli (2012) para analisar questões relevantes deste estudo.
Esse artigo tem como objetivo analisar o livro autobiográfico “Mato Grosso do Sul, minha
terra”, de autoria de Oliva Enciso, sob o respaldo da teoria da significação, a semiótica
francesa ou greimasiana. A semântica estrutural vê o texto como um todo de significação.
Buscamos com essa análise, descrever os mecanismos internos do agenciamento de sentido no
texto, para isso faz-se necessário um recorte, no qual a parte a ser analisada será o capítulo I.
Sabemos que o texto é uma unidade que se dirige para a manifestação, a partir desse capítulo
buscaremos encontrar isotopias figurativas que descrevam os espaços citados no livro. Há
nessa obra, desde o próprio título, forte referencia a espacialização. Com o uso do percurso
gerativo e seus patamares, as estruturas fundamentais, estruturas narrativas e estruturas
discursivas, essa última manifestada como texto, quando se unirem a um plano de expressão
no nível da manifestação, faremos o processo de investigação científica nos valendo da
relação entre a figuratividade e tematização, estes elementos discursivos manifestam os
valores do enunciador, e por, conseguinte estão relacionados à instância da enunciação. São
operações enunciativas, que desvelam os valores, as crenças, as posições do sujeito da
enunciação, no contexto tais valores crenças e posições são da enunciadora Oliva Enciso, uma
vez que a referida obra é uma autobriografia, inserida no contexto de formação do espaço
social, a cidade de Campo Grande-MS.
Tida como a mais importante instituição de ensino superior do estado, a Universidade Federal
de Goiás tem experimentado ao longo dos últimos anos uma crescente expansão, sobretudo na
oferta de vagas em cursos de graduação e pós-graduação e na estrutura física. Alicerçada no
tripé ensino, pesquisa e extensão, a universidade se consolida como espaço do debate, do
conhecimento, da pesquisa e inovação, da transformação e construção do futuro. Toda esta
produção, no entanto, necessita ser divulgada e para tal, a universidade recorre a meios
próprios, como portais, rádio, jornal e televisão vinculados à própria instituição, mas também
lança mão do relacionamento com a mídia por meio do envio freqüente aos veículos de
comunicação de releases e sugestões de pauta. A mídia, por sua vez, irá se apropriar ou não
dos dizeres institucionais, quer seja na íntegra ou com modificações, a partir da posição
representada pela pessoa jurídica ou física, vinculada a universidade. Observa-se que na
1
Mestre em Estudos de Linguagens: Linguística e Semiótica, pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
59
instância da mídia impressa, a representação de universidade ora aparece na fala de um
pesquisador acerca de um determinado tema específico, ora na fala institucional, no
posicionamento enquanto instituição a partir da visão de um gestor. Além disso, a
universidade enquanto local de fala do sujeito confere a discurso midiático o peso de uma
instituição de ensino superior. O fato é que produzido por diferentes sujeitos, em condições de
produção distintas, a partir de rotinas próprias, a representação da Universidade Federal de
Goiás, pensada a partir de pressupostos teóricos da Análise do Discurso de linha francesa,
coloca em evidência no discurso midiático comercial, representado por jornais impressos de
Goiânia e em jornais institucionais, produzidos pela universidade, sujeitos,
interdiscursividades, ideologias e sentidos pensados não apenas em seu efeito estímulo-
resposta, e sim como prática social. A forma como é pronunciado um dizer, carrega um
sentido de como promover um determinado discurso. Na mídia impressa, a marcação do
tempo verbal, as imagens, a disposição dos textos e fotografias, a posição ocupada na
diagramação, devem ser observadas não somente a partir de conceitos técnicos ou comercias,
mas também, em um contexto sócio-histórico. Assim, se propõe com este estudo refletir
acerca dos dizeres midiáticos referentes à Universidade Federal de Goiás, investigando
aspectos que compõem estes dizeres na perspectiva de se estabelecer uma análise acerca dos
pontos divergentes e convergentes acerca dos dizeres com base nas noções do discurso.
O trabalho que ora propomos inscreve-se na pesquisa de doutorado que estamos realizando
cujo objetivo é levantar e analisar, por meio de questionário e entrevista, alguns discursos que
jovens leitores do ensino médio de escolas públicas de Minas Gerais compartilham sobre a
leitura. Tendo em vista o importante papel da escola na difusão, consagração e reiteração de
certos discursos sobre a leitura os quais, por sua vez, são oriundos, entre outras fontes, de
documentos oficiais que regulam o ensino, neste trabalho faremos uma breve incursão sobre o
que dizem os PCNs de Ensino Médio a respeito da leitura. Nosso objetivo é o de investigar
discursivamente as instruções contidas nesses documentos sobre o trabalho com a leitura em
sala de aula, enfim, sobre a definição dessa prática, sobre seu ensino e seu fomento, de modo
a cotejarmos, posteriormente, essa nossa análise com o que enunciam os alunos que
entrevistaremos acerca da leitura. Os PCNs, como é sabido, são documentos elaborados pelo
Ministério da Educação que devem ser utilizados como referência para o ensino, em todo
território nacional, desde 1998. Eles normatizam as competências mínimas com as quais os
alunos devem travar contato durante o período de escolarização da educação básica. Esses
documentos, em sua dimensão de objeto histórica e culturalmente produzido, buscam
sintetizar diversas perspectivas teóricas no subsídio das orientações que formula acerca das
práticas que deseja fomentar. A leitura é uma das práticas que, em conjunto com a escrita, é
60
particularmente abordada em função de sua prioridade não apenas para a Língua portuguesa,
como também para as demais áreas de conhecimento. Ela é referida, descrita e abordada em
suas variações e finalidades a partir do que se diz sobre a leitura na atualidade, e em especial
no âmbito acadêmico. Apoiados em alguns princípios da Análise de discurso francesa, em
especial com base nas considerações de Michel Foucault acerca da “ordem do discurso”
segundo a qual todo e qualquer dizer está submetido a formas de controle e de emergência
que atuam de modo a validar/autorizar o quê e como se deve/se pode enunciar, de acordo com
um regime institucional dado, faremos a análise aqui proposta valendo-nos mais
especificamente dos conceitos de poder-saber, arquivo e memória. A partir dessa
fundamentação, pretendemos, portanto, realizar um levantamento dos discursos sobre a leitura
que frequentam este documento oficial, por meio da análise das orientações que regulam
direta ou indiretamente o ensino das práticas de leitura em âmbito escolar.
61
REFLEXÕES SOBRE A LEITURA NO LIVRO DIDÁTICO: UMA PERSPECTIVA
DISCURSIVA
Cada vez mais o mercado livreiro nos apresenta adaptações de textos clássicos, especialmente
para o público infanto-juvenil, valendo-se do status, ou seja, do valor simbólico adquirido por
algumas obras ao longo da história, e que por essa razão compõem o repertório de textos
adaptados. O presente projeto tem por objetivo traçar um perfil desse público leitor, partindo
do princípio de descrição de algumas representações discursivas do leitor jovem empregadas
na construção de adaptações de crônicas de autores brasileiros consagrados. Nosso objetivo é
analisar a que mutações formais os textos são submetidos e quais são os critérios de seleção
de textos que, inicialmente, não foram produzidos necessariamente para o público jovem, mas
são organizados em obras voltadas para esse público. O levantamento, descrição e análise
dessas estratégias nos permitirão refletir em que medida essas escolhas podem sinalizar uma
projeção do leitor jovem. Assim, analisaremos três coletâneas de “Crônicas para jovens”, de
obras de autores brasileiros conhecidos e já consagrados, a saber, Clarice Lispector, Ferreira
62
Gullar e Affonso Romano Sant’Anna, em cuja análise procederemos por comparação,
cotejando tanto os temas abordados nos textos quanto aspectos mais formais, relativos ao
tamanho dessas crônicas, ou às mutações que elas eventualmente sofrem para se adaptarem ao
público visado. Levantaremos as ocorrências de estratégias de escrita mais frequentes, ou seja,
as mais comuns a esse processo de adaptação do texto original para outro público alvo, a fim
de apreendermos algumas projeções de práticas de leitura e de competências leitoras
pressupostas no processo de adaptação dos textos. Para a análise a que nos propomos,
apoiaremo-nos especialmente na Análise de Discurso, no que concerne à compreensão dos
efeitos de sentido produzidos pelo emprego de certas estratégias de escrita (escolhas lexicais,
de estruturas frasais, inserção de imagens etc.), e em alguns princípios da História Cultural,
especialmente nos trabalhos de historiadores que vem se ocupando da história da leitura a
partir da análise dos objetos culturais que portam textos.
Objetivando investigar o modo como o Feiraguai e os vendedores que nela trabalham são
representados discursivamente, o presente artigo visa traçar uma discussão acerca do ethos,
para dar conta do processo da formação identitária do Feiraguai. Esta, por sua vez, é uma feira
livre localizada na cidade de Feira de Santana – BA, considerada como um dos maiores
centros comerciais do Norte e Nordeste do país, atraindo pessoas de várias regiões
circunvizinhas através de seus produtos importados. Para tal proposta, amparei-me na
perspectiva teórico-metodológico da Analise do Discurso de linha francesa, sobretudo nos
estudos do papel da memória, desenvolvida por Pêcheux (1999) e na concepção de ethos
segundo Maingueneau (2005, 2006), o qual defende a construção de uma imagem de si no
discurso, imagem esta que é marcada por questões históricas, sociais e ideológicas,
identificadas na enunciação, a partir dos estereótipos. A discussão é parte da dissertação de
mestrado, ora intitulada: O ethos na construção identitária do feiraguai, a qual está sendo
desenvolvida no Programa de Pós Graduação em Língua e Cultura (PPGLINC), da
Universidade Federal da Bahia – UFBA. Vale salientar que a pesquisa encontra-se em fase
preliminar e, por conseguinte, a mesma será ampliada após a coleta de dados, cuja
investigação tem como uma das principais pretensões, descobrir quais estereótipos são
atribuídos a esse espaço, para o que, faz-se necessário compreender as posições sócio-
ideológicas ocupadas pelos sujeitos, pois elas são determinantes na atribuição de
determinadas características e não outras ao Feiraguai. Assim, analisar e discutir sobre as
questões supracitadas é falar de acontecimentos que influenciaram no modo como o Feiraguai
é discursivizado, além de abordar ideias que foram construídas e que forjaram a imagem
estabelecida desse espaço.
1
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Língua e Cultura (PPGLINC), da Universidade Federal da Bahia
– UFBA.
63
REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO DE IDENTIDADE DO PROFESSOR EM
PRÁTICAS DE ESCRITA NA INTERNET
Gesiel Prado
(UNESP / CAPES)
Giovana Moretti
(UFSCar)
Glaucia Vaz
(Ledif-UFU)
O que tomamos por acontecimento discursivo nessa análise gira em torno de uma reportagem
exibida pelo programa Cidade contra o crime, da RBA, filiada da emissora de TV Band, em
que o entrevistado é um rapaz preso por tentativa de assalto. O vídeo, que traz um recorte da
reportagem, foi postado por diversos canais no Youtube, recebendo variados títulos e
legendas, bem como comentários de centenas de usuários do site. Nossa proposta é justamente
analisar as formulações verbais que se referem ao vídeo no intuito de buscar regularidades
discursivas que permitam evidenciar de que forma a espetacularização, cuja técnica de
satirização do sujeito criminoso, tanto na mídia televisiva quanto na internet, confere à
criminalidade um aspecto de fato cotidiano e banal. A princípio, recortaremos enunciados
materializados verbalmente: os títulos que o mesmo vídeo recebe quando disponibilizado por
outros usuários no Youtube, a nomeação dos canais que o postaram e os comentários do
repórter, do apresentador e dos demais usuários. Para tanto, nos inscrevemos no aparato
teórico e metodológico da Análise do discurso francesa, analisando o corpus à luz de
conceitos como enunciado e discurso, em especial, pela perspectiva foucaultiana. Desta
forma, nos debruçaremos sobre os enunciados identificando posicionamentos de sujeito,
descrevendo seus lugares histórico-sociais e analisando como a zombaria atua na produção da
criminalidade como algo risível, fazendo surgir, assim, uma noção de criminalidade banal. A
banalização, a compreendemos, aqui, como um processo, um efeito do agenciamento de
sujeitos por meio de discursos, isto é, como um efeito de dispositivos de poder (neste caso,
nos referimos a um agenciamento promovido pela satirização; e também pela noção de
identidade nacional, de forma que a abordamos em um estudo mais amplo, mas que extrapola
o objetivo desta comunicação). Portanto, nos respaldamos não somente na arqueologia de
Michel Foucault, mas também em sua analítica genealógica, em que o discurso pode ser
tomado como prática discursiva, em outras palavras, como um operador das relações de força
entre os sujeitos.
66
GÊNEROS E FORMATOS: ESTABELECENDO RELAÇÕES ENTRE OS
CONCEITOS DE BAKHTIN E BRUNER
Heitor Quimello
Rafaela Giacomino Bueno
Rosângela Nogarini Hilário
(UNESP/FCLAr)
Nesta pesquisa buscamos refletir acerca da possível relação entre o conceito de gêneros do
discurso, proposto por Mikhail Bakhtin, e de formatos, desenvolvido por Jerome Bruner.
Embora tenham sido pensados a partir de domínios diferentes na área dos estudos da
linguagem, esses dois conceitos se articulam e colaboram para a compreensão da entrada da
criança na linguagem. Segundo Bakhtin, os gêneros são tipos “relativamente estáveis” de
enunciados produzidos e que circulam e são recebidos nas diversas esferas de atividades e
estão constitutivamente ligados ao tema, à forma composicional e ao estilo, sendo
caracterizados como primários ou secundários. Os formats, por sua vez, são sequências
rotinizadas (ou formas rotinizadas de troca), que regem a interação mãe/criança e possibilitam
a atribuição de papéis alternados e intercambiáveis. Em ambos, observa-se uma “estrutura
profunda” e um conjunto de regras (socialmente estabelecidas) por meio das quais as trocas
linguageiras são geridas. Nesse sentido, gêneros e formatos podem ser entendidos enquanto
organizadores da atividade linguageira em certo espaço-tempo discursivo, sendo que, no caso
da aquisição, esse espaço discursivo está mais restrito às trocas entre mãe/criança e aos
“jogos” que comumente acompanham essas trocas. Coloca-se, no campo da Aquisição, o
questionamento sobre o percurso da criança rumo à “eficácia” da produção, circulação e
recepção linguageira em certo espaço-tempo discursivo, ou seja, o estabelecimento da relação
entre o “ouvir dizer”, o “querer dizer” e o “dizer”. Considerando que aprender a falar significa
aprender a construir enunciados, e que os gêneros do discurso organizam nossa fala tanto
quanto as formas gramaticais o fazem, as reflexões que aqui propomos nos desafiam a lançar
um novo olhar sobre os dados, buscando não apenas compreender como as crianças adquirem
as “formas da língua”, mas como estas formas vão sendo, pouco a pouco, incorporadas no
discurso.
68
despejadas no pântano de Shrek o que permite pressupor os ideais de “limpeza étnica”
idealizada por Lord Farquaad.
Huri Ferreira1
(UFSCar)
Nathália Cristina de Andrade2
(UNESP – Assis)
O presente trabalho propõe uma análise discursiva de aspectos das relações entre poder e
corpo no filme Šílení (vocábulo que pode ser traduzido do tcheco como “Loucura” ou
“Insanidade”. Será utilizado o nome original deste filme por não haver distribuição brasileira
do mesmo), de Jan Švankmajer, através do sujeito Charlotte, personagem feminina que se
encontra no núcleo principal da materialidade fílmica, junto a sujeitos masculinos. Essa obra
do surrealismo tcheco lançada em 2005, uma alegoria à vida moderna, é descrita pelo diretor,
em um prólogo que antecede a narrativa, como um debate filosófico sobre duas maneiras de
gerir um manicômio, uma baseada na liberdade absoluta, outro em um método que vigia e
pune. Descrita como ninfomaníaca e histérica pelo Marquês (sujeito fílmico inspirado no
Marquês de Sade que representa a vigência do método baseado na liberdade), Charlotte
desempenha um papel útil e dócil aos dois métodos antagônicos de gestão do manicômio em
que vive e trabalha. Visa-se, especificamente, a investigação da função do sujeito Charlotte
nas relações de poder das quais participa, bem como da hipótese de as características próprias
da psicopatologia histérica que possui – dentre elas, a demanda de afeto e sua
superficialidade, especialmente em relação às figuras masculinas, a teatralidade, a
sugestionabilidade, e outras manifestações de caráter sexual – estarem aliadas à disposição
deste corpo ao poder nele atuante. Cabe ressaltar que não objetiva-se a discussão de tal
psicopatologia sob o viés da psicanálise, da psicologia, ou da psiquiatria, além do que for
pertinente a sua etiologia e características da psicopatologia histérica de conversão e o plano
de fundo histórico-cultural, no qual se mostram relevantes os temas do poder e da sexualidade
tanto para esta personalidade histérica, quanto para a questão manicomial e das relações de
poderes. Para tais objetivos, serão mobilizados os estudos de Michel Foucault que tratam do
poder sobre o corpo presentes em “Vigiar e punir” e na “História da sexualidade I: a vontade
de saber”. Considera-se pertinente, sobretudo, o uso dos conceitos de biopoder, que descreve
a evolução de um poder sobre a vida, baseado na morte que tem condições de exigir, a um
apoderamento dos corpos, em níveis individual e populacional, aos quais se terá acesso à
medida que cuide de suas vidas, e de utilidade e docilidade, que encerram a noção da
maximização do aproveitamento das forças do corpo e da disposição deste à obediência. A
análise considerará a complexidade da linguagem audiovisual na investigação dos discursos
manifestos em trechos selecionado de Šílení, portanto, contemplará os diálogos na mesma
medida em que a composição imagética e sonora da obra corroboram as relações que se
delineiam ao redor do sujeito Charlotte.
1
Mestrando na Pós-graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade, na Linha de pesquisa em Linguagens,
Comunicação e Ciência da UFSCar. Membro do Grupo de Estudos Laboratório de Análise do Discurso da
Imagem (LANADISI/CNPq).
2
Psicóloga formada pela UNESP na Faculdade de Ciências e Letras de Assis. Possui Aprimoramento em
Psicologia Clínica pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (IAMSPE), realizado no
Hospital do Servidor Público Estadual (São Paulo – SP).
69
“CHICO BENTO NO SHOPPING”: REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS DO
HOMEM DO CAMPO NAS HQ’s DE CHICO BENTO
70
representados nas charges e tirinhas, são de relevância teórica para esse projeto. Sabe-se que o
interdiscurso é um conjunto de discursos de já ditos, que rege a atividade discursiva. Já a
formação discursiva é, segundo Pêcheux (1997) tudo o que pode e deve ser dito em uma
determinada conjuntura, enquanto que a formação ideológica, refere-se à concepção de
mundo que se tem sobre determinado assunto. É importante dizer que a Análise de Discurso
francesa concebe o discurso como efeito de sentidos entre enunciadores, ou seja, não há como
se determinar um sentido prévio à situação de enunciação, como se retirássemos da língua a
historicidade e o equívoco dela constitutivos. Com base no corpus selecionado através de
postagens no facebook e, dialogando com o projeto Ecos da Bainidade: processos de
representação discursiva dos baianos em gêneros publicitários, selecionaremos textos que
circulam no Brasil e que revelam uma dada imagem discursiva de baianidade, observando as
formações discursivas e ideológicas que envolvem o “baiano”. Na Análise de discurso não
existem sentidos apriorísticos, mas os mesmos derivam das posições ideológicas dos sujeitos.
Assim, as tirinhas e charges revelam também certo posicionamento ideológico no que diz
respeito à representação da baianidade.
71
CINEMA DE MOJICA: DO HORRÍFICO AO SAGRADO NAS TRAMAS DO
DISCURSO
O presente trabalho propõe um estudo das tiras de humor da Mafalda, gênero discursivo
constante no contexto do aluno pré-vestibular. A partir da aparição de discursos de rejeição e
1
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Linguística e Língua Portuguesa na Universidade Estadual
Paulista.
janainasan@gmail.com
72
desafeto às tiras da Mafalda, propõe-se uma análise do discurso nelas presente. Este estudo
tem como objetivo, a partir da relação dos alunos com esse tipo de texto, investigar os fatores
que acarretam tal desafeto em relação às tiras da Mafalda, dado que, muitas vezes, os alunos
afirmam não compreenderem o texto e não encontrarem o efeito de humor e crítica ali
contidos. Desta forma realiza-se neste momento um estudo acerca do discurso presente nas
tiras de humor da Mafalda e a relação deste com os discursos apresentados pelos alunos. Este
trabalho volve-se para as tiras retiradas da obra Dez Anos com Mafalda, da seção Assim Vai O
Mundo, trabalhadas no terceiro ano do Ensino Médio, da rede privada de ensino, na cidade
Tupã/SP. Estas possuem como temática a crítica, feita por Mafalda, à humanidade e ao mundo
frente aos conflitos ocasionados pelo ser humano. A teoria que fundamenta este trabalho,
como nos propusemos a pensar nos gêneros discursivos, é a dos estudos do Círculo Bakhtin,
Medvedev, Volochinov. Dentre os conceitos utilizados para análise dessas tiras nesse
contexto estão os de signo ideológico, discurso, sujeito e ato. A tira é, segundo o Círculo de
Bakhtin, signo ideológico, pois não só apresenta uma visão de mundo, mas se faz um espaço
para diálogos e conflitos entre realidades diversas. Nas tiras da Mafalda, averiguamos pontos
de vista de discursos diversos, sendo seus sentidos construídos sobre estes. A pesquisa discute
como ocorre essa relação entre as várias vozes e pontos de vistas presentes nas tiras e no
processo de interpretação realizado por alunos pré-vestibulandos. Na perspectiva bakhtiniana,
por trás dos atos de fala estão fios ideológicos e a palavra torna-se um espaço de tensão entre
diálogos diversos. A palavra constitui-se, portanto, como signo ideológico, pois nela valores
ideológicos contraditórios se encontram em embate. Segundo as perspectiva bakhtiniana, o
sujeito é um ser social constituído de língua e linguagem, o qual só se torna sujeito em relação
a outros sujeitos, não havendo o acabamento da constituição do ser sem a relação com o
outro. Daí a importância de verificarmos o posicionamento dos alunos diante dos discursos
das tiras da Mafalda, pois investigamos, dentre outras questões, como eles se constituem no
ato de responder àqueles discursos.
Jessica de Oliveira
(graduanda)
Luzmara Curcino
(orientadora)
UFSCar
As teorias da linguagem, apesar de terem como objeto de estudo as linguagens em seu sentido
mais amplo, ainda encontram dificuldades para constituir de forma mais segura um caminho
para a análise do não-verbal e ainda de outras formas de linguagem além da língua escrita e
falada. Sob o arcabouço teórico da Análise do Discurso Francesa, inaugurada por Michel
Pêcheux, intentaremos neste simpósio discutir o papel da imagem em movimento – cinema -
na produção de sentidos no discurso. De que forma comunica? Como se dá seu
entrecruzamento com outras materialidades tais como a música e o texto escrito e falado?
Como dotar de opacidade a imagem, e enxergá-la como acontecimento? E principalmente: de
que forma as condições de produção específicas do cinema (montagem, decupagem, etc.)
atuam na constituição do sentido? O cinema possui uma matéria visual muito específica que o
faz único enquanto materialidade discursiva. O cinema permite trabalhar o verbal e o não
verbal, restituindo à materialidade da linguagem sua complexidade e multiplicidade de
diferentes linguagens (ORLANDI, 1997). Para avançarmos nos estudos da imagem
discursiva, precisamos partir do conceito de "simbólico", que articulado com o político,
trabalha na constituição do sentido, logo, do sujeito. Sobre os processos de produção do
discurso imagético (cinematográfico), tomaremos como ponto de partida a obra de Ismail
Xavier intitulada "O Discurso Cinematográfico: a opacidade e a transparência” (2005). Esta
análise de Xavier dos mecanismos de comunicação do cinema, desde o início, demonstra
aproximações com a teoria Pechetiana. Segundo Xavier, o cinema é uma realidade criada e
controlada por imagens: tudo cronometrado, composto e previsto. Tudo isto acontece
enquanto se trabalha outra força inversamente proporcional de invisibilidade dos meios de
produção desta realidade: um sistema de representação da realidade que procura anular sua
própria presença enquanto ordenador desta representação, o confere à representação não um
caráter de simulação distorcida, mas uma cópia fiel do mundo real (XAVIER, 2005, p. 41). A
reconstrução do real é feita com muito cuidado e zelo como que em respeito à verdade, que
por sua vez tende a ser creditada ao filme.
O poema Módulo de Verão aparece logo nas primeiras páginas de Bagagem (1976), o
primeiro livro de Adélia Prado. Nele, assim como nos demais poemas, ela inaugura uma
poética sem precedentes. A escritora mineira, livre das fortes influências estéticas de sua
época – vale dizer, do concretismo, do tropicalismo, ou ainda de movimentos políticos-
ideológicos vigentes, vem conduzido sua criação literária através da mística, ou ainda, da
experiência religiosa. Uma poesia confessional, piedosa – dominical. Nas palavras de
74
Drummond, “Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo” e a seu
modo, deixa transparecer, com toda a naturalidade sua razão filosófica e sua mística religiosa.
E, sem muito esforço, essa naturalidade pode ser facilmente encontrada em sua produção
literária, basta que o leitor perceba os temas de maior recorrência em seus textos – o dia a dia
da casa, as orações, o amor ao marido etc. Neles se podem observar reflexões que, a princípio,
partem de uma ordem prosaica, trivial, cotidiana, mas que, por fim, terminam evocando
elementos de profunda representação cultural, lhes conferindo assim, um sentido novo que é
guiado por sua própria voz poética. Este trabalho tem como objetivo analisar e interpretar o
poema Módulo de Verão, de Adélia Prado. A análise do poema toma como ponto de partida a
imagem da cigarra que se apresenta com certa frequência em textos da literatura consagrada.
Desde a Antiguidade observa-se sua recorrência e a relação entre o seu canto e o modo como
ele é interpretado social e culturalmente. É o que vamos verificar em diferentes autores, tais
como Esopo, Platão, José Paulo Paes, entre outros. Cabe ressaltar ainda que os conceitos de
dialogismo e interdiscursividade desenvolvidos por Mikhail Bakhtin serão utilizados aqui
como fundamentação teórica para o estudo do poema e de sua relações com outros discursos.
75
Discurso) e publicados em um periódico nacional avaliado como B2 pelo sistema webqualis
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Este trabalho busca analisar, no discurso dos homens em situação de rua na cidade de
Salvador, a construção de sua subjetividade, de sua identidade. Para tanto, serão foco de
discussão as formações imaginárias, uma vez que se pretende não só investigar tanto a
imagem de si do morador de rua, como a imagem que acredita que o outro tem dele, como
também estabelecer oposição entre essas e a sociedade, o Estado e a mídia concebem sobre
ele. Para tanto, valer-nos-emos como construto teórico o embasamento da Análise do
Discurso pecheutiana, tendo em vista que nas análises será central o conceito de formação
discursiva, tal qual Pêcheux (1975) a concebe. Além disso, far-se-á também uso do conceito
de heterogeneidade discursiva (Authier- Revuz, 1982) e de polifonia (Bakhtin, [1929], 1979).
Elegemos como corpus os textos do jornal “Aurora da Rua”, cuja produção e veiculação são
feitas pelos próprios moradores de rua. A pesquisa é qualitativa, considerando apenas duas
edições, em especial, os textos de produção coletiva, identificando, por comparação, os traços
recorrentes. Analisando os textos, observou-se que os moradores de rua, quando fazem uma
imagem positiva de si mesmos, constroem um discurso singular em que, na descrição do
funcionamento discursivo do seu dizer, identificam, na memória (interdiscurso), os valores
que legitimam esta formação imaginária e, no nível da formulação discursiva (intradiscurso),
descrevem uma identidade que se opõe a outras formações imaginárias construídas pela
sociedade. Assim sendo, eles constroem um dizer discursivo que pode devolver-lhes a
autoestima e ganhar visibilidade social, um sonho de muitos moradores de rua, espalhados por
várias cidades brasileiras, em especial, a cidade de Salvador. Renegam quaisquer formas de
apagamento identitário, seja através de “higienização” social (isolamento, morte), seja através
de assistencialismos públicos ou privados, pois se veem como seres humanos que precisam de
respeito; dispensam a compaixão e a esmola. Não é naturalizar a miséria em que se
encontram, mas evidenciar, pelas suas falas inscritas nos textos e nas imagens do jornal, a
construção de um ethos discursivo positivo de si mesmos, que não é ouvido pelo poder
público nem pela sociedade. Aceitam os programas de integração social desde que não
signifiquem o fim de sua identidade.
1
Doutorando do programa de pós-graduação “Língua e Cultura” (mestrado e doutorado) do Instituto de Letras
da Universidade Federal da Bahia.
e-mail: josegomes@ifba.edu.br
76
A BIVOCALIDADE POLÊMICA NO ROMANCE O CEMITÉRIO DOS VIVOS, DE
LIMA BARRETO: PRIMEIRAS ANOTAÇÕES
Ao construir sua identidade de escritor literário, Lima Barreto passa a polemizar com a
literatura de prestígio de sua época. Ao ser internado no Hospital Nacional dos Alienados,
passa a polemizar com a psiquiatria então praticada. Isso não impede, no entanto, de dizer
que, mesmo tendo uma conturbada, deixou um grande legado, do qual se destaca O cemitério
dos vivos. Como gênero marcadamente dialógico, esse romance estabelece diálogos com
diversas vozes sociais; dentre elas, as da literatura e as da ciência de sua época. É a partir da
leitura dessa obra e dos postulados teóricos do Círculo de Bakhtin, que se estabelece o
objetivo de investigação desta comunicação: analisar a bivocalidade polêmica em O cemitério
dos vivos. Assim, para atingir esse objetivo, procede-se à análise: 1) da polêmica aberta
estabelecida entre o discurso de Lima Barreto e o discurso da ciência psiquiátrica de sua
época e 2) da polêmica velada entre a fala limabarretiana e outras falas literárias do início do
século XX expressa, na forma-conteúdo, por meio de seus enunciados. Para proceder à análise
ora proposta, os postulados teóricos do dialogismo e a noção de bivocalidade polêmica (aberta
e velada), tal como apresentados por Bakhtin (2010), Brait (2008) e Veloso (2011),
fundamentam a análise. Assim, pautando-se em Bakhtin (2010), pode-se dizer que os
discursos bivocais são aqueles que se tangenciam numa relação semântica de concordância ou
de discordância. Dessa forma, em O cemitério dos vivos, vislumbra-se esse tangenciamento
discursivo entre as vozes da literatura e da ciência, quando, em seu enunciado, o autor (Lima-
autor-criador) reproduz a palavra de seu outro (médico/ciência) por meio do discurso citado
indireto, da nomeação, isto é, quando a palavra do outro é tomada explicitamente como uma
espécie de apoio para a contestação a ser construída pelo autor. Por outro lado, no âmbito da
esfera da atividade literária, essa mesma escrita se apresenta como ato responsivo ativo à(s)
fala(s) de outro(s): outros sujeitos, outros autores, escritores; aqui se faz referência ao fato de
a escrita de Lima considerar a palavra do outro que, mesmo permanecendo fora dos limites de
seu discurso, influencia, interfere na sua produção/constituição. Discurso esse que, polêmica e
veladamente ao outro aludindo, adota um estilo peculiar que, por isso mesmo, contesta o
estilo do outro.
A mídia hierarquiza e fornece uma agenda de assuntos e temas que circulam no tecido social,
se tornando árbitro de acesso à existência social e política de fatos e pessoas (BOURDIEU,
1997). No Brasil, a televisão tem um importante papel na construção de uma identidade
nacional, além de mediar à relação dos brasileiros com a sua própria memória histórica. Se
tornando um poderoso instrumento de unificação em um país de proporções continentais, a
1
Mestranda em Psicologia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto (USP).
2
Professora Titular sênior da Universidade de São Paulo – FFCLRP, pesquisadora do CNPq.
77
televisão brasileira ajudou a forjar uma identidade nacional pretensamente democrática,
baseada em uma tolerância racial e uma perpétua alegria de viver, entre outros atributos
pacíficos e positivos associados aos brasileiros (PRIOLLI, 2000). De acordo com Debord
(1967) as sociedades de massa contemporâneas se baseiam no espetáculo a partir do qual uma
tendência a fazer ver um mundo que já não se pode tocar diretamente, a realidade se
transforma em objeto de contemplação. Esse regime de visibilidade, baseado numa lógica do
“o que é bom aparece, o que aparece é bom” se contrapõe ao anonimato dos sujeitos que
vivem nas grandes massas, invisibilidade que pode ser compensada pela identificação com a
imagem de um líder ou ídolo pop. Essa identificação é promovida pela TV na medida em que
ela dá, cada vez mais, visibilidade a aspectos cotidianos e íntimos da vida de suas
personagens. Nesse trabalho propomos refletir sobre a televisão a partir do discurso
publicitário de autopromoção da Rede Globo, uma das emissoras de maior audiência do
Brasil. Tomando como corpus de análise a letra da música “Um novo tempo”: “Hoje, é um
novo dia/De um novo tempo que começou/Nesses novos dias/As alegrias, serão de todos/É só
querer/Todos os nossos sonhos/Serão verdade.../O futuro já começou/Hoje a festa é sua/Hoje
a festa é nossa/É de quem quiser, quem vier.../A festa é sua, hoje a festa é nossa/É de quem
quiser/Quem vier”; que se tornou nacionalmente conhecida por ser utilizada desde 1971 em
vinhetas comemorativas de fim de ano da emissora, geralmente executada associada ao seu
logotipo, ao slogan institucional e ao seu elenco de artistas. A partir do referencial teórico e
metodológico da análise do discurso pêcheutiana, procuraremos evidenciar quais efeitos de
sentido produz essa peça publicitária, buscando relacioná-los a discussão sobre a função
social da televisão no Brasil.
Este trabalho tem como objeto de análise o discurso dos alunos do curso de Licenciatura em
Letras- Portugês/Inglês- da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul- Campus Campo
Grande. Objetiva-se analisar os motivos que levam na atualidade o sujeito a buscar uma
formação em Letras/Português e Inglês Licenciatura. Bem como as influências sofridas na
escolha por uma graduação. Neste trabalho serão observadas principalmente as razões e as
influências que a sociedade – família - pode exercer na escolha de um sujeito. Para tanto o
artigo organizar-se-á em quatro partes: a primeira faz uma breve introdução à Análise do
Discurso de linha francesa; a segunda trata do percurso do curso de Letras no Brasil; a terceira
abordará o discurso dos alunos de Letras; a quarta parte trará a conclusão do trabalho. A razão
pela escolha da AD do acadêmico de Letras é em virtude de que esse discurso está
atravessado por formações ideológicas. Tais formações precisam ser consideradas para que
haja uma melhor compreensão sobre como essas formações ideológicas são desenroladas nas
formações discursivas e aparecem em forma de acontecimento na sociedade contemporânea
controlada pelos Aparelhos Ideológicos do Estado. A metodologia utilizada no presente artigo
é qualitativa de forma descritiva, o corpus é composto de respostas extraídas de questionários,
compostos de cinco questões abertas, aplicados a vinte e sete alunos do 1º ano de
1
Aluna do mestrado de Letras da UEMS de Campo Grande.
2
Mestre bolsista pela Capes do mestrado de Letras da UEMS de Campo Grande.
78
Letras/Inglês Licenciatura – UEMS. Sendo que cinco desses alunos já são portadores de
diploma. Os sujeitos foram levados a discursivizar sobre a sua escolha pela faculdade de
Letras/Inglês Licenciatura e a análise que ele faz sobre o curso. Desses questionários foram
recortados os enunciados de valor, para a reflexão da problemática do discurso do discente de
Letras, que é atravessado pelos discursos dos Aparelhos Ideológicos de Estado dispersos na
sociedade.
A história das mulheres apresenta diversos acontecimentos ligados a lutas e conquistas, sendo
também marcada por uma liberdade limitada na grande imprensa. A questão da representação
e da participação das mulheres nesse espaço, durante a década de 1980, apresenta uma
acuidade especial, o que motivou a criação de um veículo de grande importância social: a
Imprensa Alternativa. A Imprensa Alternativa de cunho feminista surge no Brasil a partir do
século XIX, com jornais que defendiam direitos femininos e questionavam práticas de
planejamento familiar. Trata-se de uma imprensa mais engajada às causas políticas e sociais,
que pretendia, sobretudo, expor o pensamento feminista em favor de uma abordagem
sistemática da questão da mulher, situando-a histórica e politicamente. Esta pesquisa tem por
objetivo analisar os discursos sobre a sexualidade feminina, produzidos pelo jornal alternativo
feminista Mulherio, que foi produzido por mulheres para mulheres, durante a década de 1980,
período de abertura política no Brasil. Considerando a materialidade linguística, o contexto
histórico e as condições de produção dos enunciados, pretendemos verificar o papel dessa
imprensa na produção de acontecimentos discursivos que se relacionam com uma memória da
sexualidade feminina. Nesse sentido, nossos objetivos específicos são: a) demonstrar as
semelhanças entre as bases epistemológicas da AD francesa e dos Estudos Feministas; b)
identificar os dispositivos da sexualidade existentes no Mulherio; c) descrever os discursos
sobre o corpo feminino e compreender como se dá a liberalização sexual feminina nessa
época. O aparato teórico que orientará esta pesquisa é o da Análise do Discurso Francesa,
mais especificamente, uma intersecção entre o pensamento de Michel Foucault e Michel
Pêcheux, a fim de descrever tais discursos enquanto espaço de relações de poder e
constituição dos sujeitos, e enquanto estrutura e acontecimento. Desse modo, pretendemos
contribuir para a compreensão dos discursos da Imprensa Alternativa referentes à sexualidade
feminina, considerando o suporte desses discursos e o período histórico em questão. Esta
pesquisa encontra estímulo, sobretudo, na postura de tais discursos, que na década de 1980,
representaram uma abertura política e uma transformação social nos modos de pensar e dizer
a sexualidade feminina.
1
PPGL/ UFSCar - Bolsista Capes.
79
A CIGARRA E A FORMIGA, DE MONTEIRO LOBATO: UMA ANÁLISE DA
FÁBULA
Esse trabalho visa fazer uma análise semiótica, baseada na teoria de A. J. Greimas, de uma
adaptação da fábula A Cigarra e as Formigas, publicada por Monteiro Lobato em seu livro
Fábulas, em 1922. A versão do texto produzida por Lobato difere das outras, pois o autor
queria adicionar características da cultura nacional nas fábulas já conhecidas, colocá-las em
prosa e alterar suas moralidades. A versão de Monteiro Lobato, é composta de duas partes,
denominadas: I – A Formiga Boa e II – A Formiga Má. A semiótica tem como objetivo o
estudo do texto e pretende analisar quais procedimentos dão significado a ele. A semiótica
greimasiana propõe que o plano do conteúdo de um texto pode ser entendido em três níveis:
nível fundamental, nível narrativo e nível discursivo. Portanto, a análise teve início em um
nível mais simples (abstrato) e foi concluída em um nível mais complexo (concreto).
O presente trabalho toma como aporte teórico a Análise do Discurso de linha francesa,
doravante (AD). A escolha por esse referencial teórico se dá tendo em vista que ele possibilita
que olhemos o discurso considerando o sujeito que o produz, bem como a historicidade que
permeia sua produção. Avaliamos de extrema proficuidade a análise do discurso a partir desse
ponto de vista, pois acreditamos, assim como Foucault (1995), que analisando os discursos
poderemos compreender um “pouco” do que somos e seremos, reitero um pouco, pois temos
consciência da complexidade que envolve os discursos e consequentemente a constituição das
subjetividades dos sujeitos que os enunciam. Nos textos de Michel Foucault deparamos com
questões acerca da constituição das subjetividades dos sujeitos e de como as mesmas são
constituídas por relações de poder que coadunam em produção de “verdades”. Assim, ao
longo do nosso percurso de estudo observamos que a “verdade” é uma construção discursiva
produzida a partir da historicidade que a permeia. Foucault, ao longo de seus textos, mostra
que a “verdade” é constituída a partir de um lugar legalmente instituído, como exemplo ele
menciona a ciência, a economia, o poder político e outros. Ele interroga-se como articula os
“jogos de verdades”, ou seja, as relações que possibilitam os sujeitos identificarem-se como o
louco, o doente, o condenado, etc. Essas relações chamadas por Foucault (2006) de “jogos de
verdades” acarretam não a descoberta do verdadeiro ou do falso, mas sim as regras que
possibilitaram o surgimento do mesmo. Assim, tomando como referencial as considerações
acima, a presente apresentação tem como objetivo analisar a constituição da subjetividade de
Cipriano Algor tendo como norte a “influência” de algumas “verdades” exteriores que
coadunam na constituição de sua subjetividade e consequentemente levam-no a adotar
determinada posição frente às situações vivenciadas. Após as análises realizadas concluímos
que ao apontarmos uma verdade como sendo absoluta estamos encobrindo o fato de não a
termos concretamente. O que temos são “jogos” de poder ditados por uma minoria com o
objetivo de manipular uma maioria, levando-a pensar que suas atitudes e escolhas são
provenientes de si. Cipriano através dos questionamentos constituídos no decorrer da
narrativa “foge” a essa modulação, pois ele questiona a padronização dos sujeitos, sua
80
inconstância, bem como o fato de aceitarem a “verdade” dos outros como sendo constitutiva
da sua subjetividade.
À guisa da AD pechetiana, autores como Orlandi (2001, 2005b, 2007), Indursky (2005),
Rodrigues (2006), além do próprio Pêcheux (1995), contribuirão para o desenvolvimento
desta pesquisa. Neste escopo, trabalharemos, especificamente, com o conceito de
interdiscurso e seus respectivos gestos, trazidos à baila pelos autores supracitados. Segundo
Pêcheux, a interpelação do indivíduo em sujeito de seu discurso se efetua pela identificação
com a formação discursiva que o domina: essa identificação, fundadora da unidade
(imaginária) do sujeito, apoia-se no fato de que os elementos do interdiscurso que constituem,
no discurso do sujeito, os traços daquilo que o determina, são re-inscritos no discurso do
próprio sujeito. (PÊCHEUX, 1995, 163). Nestes termos, esta pesquisa objetiva analisar
anúncios publicitários de absorventes femininos, veiculados pela mídia televisiva, a fim de
analisar quais são os discursos que atravessam e dão coro aos estereótipos referentes à figura
feminina. Apesar de a mulher ter conquistado um espaço que em outro tempo não lhe cabia,
ainda perduram, sob a égide do patriarcalismo, máximas sobre o papel desta na sociedade. Por
ser a publicidade uma grande produtora de textos, com caráter persuasivo, faz-se necessário
observar como são construídas as estratégias discursivas, ou seja, as “práticas discursivas”, e
ainda perceber como estas auxiliam as empresas não apenas na venda de seus produtos, mas
também na imposição de uma identidade, vez que, segundo Rocha (2001), a propaganda deve
ser concebida como um discurso que classifica produtos e pessoas através do consumo. No
intuito de desvelar os gestos do interdiscurso materializados nos textos em questão,
selecionamos anúncios de três marcas de absorventes femininos, propagados na última
década, a fim de compreender como os aspectos histórico-culturais influenciam e
caracterizam a noção discursiva vinculada ao recôndito das mulheres e como os aspectos
discursivos propiciam a identificação/legitimação do interlocutor das propagandas analisadas.
A partir deste estudo, foi possível constatar que a mulher ainda é concebida nos mesmos
moldes de outrora: sexo frágil, sex-symbol, que ostenta a paixão nacional dos homens
brasileiros, e a Amélia de todos os lares.
1
UNESP - Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara.
levihm@gmail.com
Bolsa: CAPES
82
O TEXTO COMO UM CALEIDOSCÓPIO
O presente trabalho objetiva apresentar reflexões sobre o conceito de texto, haja vista as suas
diferentes acepções que, indubitavelmente, podem gerar certas incongruências, caso o
interlocutor ainda seja um neófito na pesquisa linguística. Para tanto, apoiar-se-á na
Linguística Textual, voltada sobremaneira para o escopo teórico bakhtiniano, considerado por
Heine (2011) uma nova fase da Linguística Textual que, direta ou indiretamente, vem
imprimindo uma ressignificação substantiva nos seus pilares básicos. As pegadas que vêm
dando sustentação a essa fase ligam-se, em especial, às reflexões teóricas de Mikhail Bakhtin
(1895-1975) e às ideias de Barros (2007, p.21) que, desde 1994, a autora vem buscando
pontuar as contribuições de Bakhtin em relação ao texto e/ou discurso; pesquisa que impele a
rever os precursores stricto sensu da Linguística Textual, incluindo também, entre eles, o
filósofo Bakhtin. Assim assentado, o texto é visto como um caleidoscópio, aparelho óptico,
constituído por um tubo de metal, com vidros coloridos e espelhos inclinados. Quando a luz
exterior incide sobre ele, a mesma reflete nos espelhos inclinados, o que faz com que, a cada
movimento, sejam visualizadas diferentes imagens coloridas, mostrando que há uma profusão
de possibilidades de se ver diversos padrões coloridos. À semelhança de um caleidoscópio, o
texto processa uma profusão de diferentes sentidos. Os fenômenos presentes no texto
enquanto simbolizado pelo caleidoscópio são diversos, dentre os quais destacam-se: o
contexto imediato, o contexto mediato, sujeito, a responsividade, a história, a ideologia, o
dialogismo, e o enunciado (produto da enunciação), vistos como fundamentais e essenciais à
sua construção do sentido. Por conta da objetividade, é possível encapsular todos esses
fenômenos em apenas dois deles: no contexto imediato e no dialogismo. O primeiro diz
respeito às informações contextuais ligadas à enunciação de cunho pragmático
(BENVENISTE, 1989, p.81); Já o segundo, o dialogismo, incorpora, principalmente, o
contexto mediato que se refere, em especial, ao entorno sócio-histórico, à ideologia, ao
enunciado concreto — ato efetivo da comunicação, que aponta para a enunciação com pendor
sócio-histórico, fator constitutivo de toda e qualquer enunciação, uma vez que ela é sempre
ancorada em momentos históricos. Desse modo, tal como o caleidoscópio, há uma profusão
de sentidos no texto, sentidos esses que são construídos não a partir do modo como a luz
incide nos espelhos, mas a partir do modo como os fios dialógicos, envolvendo questões
histórico-ideológicas, se relacionam para estabelecer o sentido, trazendo à baila o falante
responsivo, que age ativamente num ato axiológico de linguagem. Nas palavras de Bakhtin
(2003, p. 271), o sujeito, “ao perceber e compreender o significado (linguístico) do discurso,
ocupa simultaneamente em relação a ele uma ativa posição responsiva: concorda ou discorda
dele (total ou parcialmente), completa-o, aplica-o, prepara-se para usá-lo”.
Mikhail Bakhtin e seu Círculo engendraram uma considerável abertura de termos e conceitos
uma vez que assumiram a relevância do sujeito – tanto o “eu” quanto o “outro” do discurso –,
dos contextos (sociais, culturais, políticos, ideológicos, históricos) e das esferas de
83
comunicação no uso efetivo da linguagem. A língua, para o Círculo, é ao mesmo tempo
produtora e produto das ideologias. Os estudos desses autores abrem possibilidades para
analisarmos os discursos dos meios de comunicação de massa e das mídias modernas, na
medida em que consideram aspectos e condições extra-textuais de produção e recepção de
discursos. Segundo Bakhtin, os enunciados veiculam as ideologias daqueles que os produzem,
mas também estão suscetíveis às ideologias dos que ouvem/leem e interpretam. Com base
nesse aparato teórico, ampliamos a discussão de dialogismo para além dos enunciados de
mesmo gênero discursivo, observando de que maneira ocorre fenômeno do dialogismo (e se,
de fato, ocorre) entre enunciados de gêneros diferentes e de esferas de atividade diferentes.
Portanto, o interesse desta pesquisa é analisar, por meio do viés dialógico, como os valores,
principalmente os relacionados à comunicação e à informação, são retratados em gêneros
distintos. Nesse ínterim, este projeto objetiva estudar o conteúdo temático, o estilo e a
estrutura composicional dos gêneros Projeto Editorial e Publicidade, ou seja, as relações de
sentido que se estabelecem entre os tipos relativamente estáveis de enunciados presentes em
comerciais televisivos e projetos editoriais, e discutir o papel dos meios de comunicação em
massa na sociedade, atuantes como (des)construtores de valores sobre a informação, além de
atentar para o papel do outro (leitor/telespectador), com sua compreensão responsiva ativa,
como ser atuante e agente modificado.
No interior dos estudos atuais, sobre as formas de produção e circulação dos discursos, se
constata a manifestação mais frequente, na contemporaneidade, de “discursos líquidos”
denominação cristalizada por J-. J. Courtine, a partir da leitura da obra Modernidade Líquida,
de Zygmunt Baumam (2001), ‘liquidez’ que se intensifica por meio do emprego de estratégias
diversas, tais como a forte incidência de traços da fala cotidiana (como a brevidade, a
informalidade, o tom ameno e não peremptório) própria da esfera privada, de modo cada vez
menos marcado do ponto de vista das manifestações de posições ideológico-partidárias em
detrimento de características outrora próprias do exercício da fala pelo homem público. Entre
as mutações sofridas no modo de produção e circulação dos discursos de orientação política,
constatamos uma mudança nos modos de exercício da polidez e da civilidade em certas
circunstâncias de enunciação tal como a do pleito eleitoral na política brasileira. Assim,
pretendemos analisar o funcionamento dessas formas manifestas no discurso político eleitoral
brasileiro, partindo da análise dos últimos debates dos candidatos à presidência no primeiro e
segundo turno das eleições brasileiras, do período de 1989 a 2010, ou seja, desde a abertura
política aos dias atuais, buscando assim levantar e evidenciar eventuais mutações nessas
formas de interlocução política. Partindo da hipótese de que ainda é possível identificar
especificidades nas formas de enunciar dos candidatos representantes da “esquerda” e da
“direita”, no Brasil, buscaremos analisar se essa diferença se manifesta na expressão da
polidez. Assim, nossa pesquisa buscará discutir, no âmbito geral, se a polidez é (ou não)
manifestada diferentemente, de acordo com a orientação político partidária dos candidatos.
Para isso, levantaremos os mecanismos linguísticos e não linguísticos da manifestação de
polidez, em suas semelhanças ou diferenças, manifestas nas formas de endereçamento e
interpelação de um candidato ao outro, no emprego de adjetivos, de formas verbais, da própria
postura corporal frente ao outro no momento do debate. Para tanto, nos apoiaremos na
84
Análise do discurso de linha francesa, mobilizando trabalhos de Michel Pêcheux, juntamente
com Michel Foucault, em especial os estudos desenvolvidos por Jean-Jacques Courtine,
acerca do discurso político e nos trabalhos de diferentes origens teóricas que, na atualidade,
tem se ocupado da discussão sobre as formas de exercício da polidez.
85
NAS MEDIAÇÕES EDITORIAIS DO LIVRO DIDÁTICO: A REPRESENTAÇÃO DE
LEITOR ATRIBUÍDA AO ESTUDANTE DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA
Este trabalho busca uma análise investigativa sobre o imaginário de leitor que o livro didático
de educação a distância da SEaD-UFSCar constrói. Dito isso, analisaremos as mediações
editoriais realizadas de um lugar possivelmente privilegiado, porém ainda pouco explorado
em estudos linguísticos: o do revisor de textos. Os processos de mediação editorial suscitam
inquietações, impelindo a refletir sobre a linguagem a partir do lugar ocupado pelos
profissionais do texto no processo de produção de um livro. Nesse sentido, partimos do
pressuposto de que nessas mediações, ao contrário da perspectiva corrente de que revisar
consiste em detectar transgressões nas convenções da norma culta, a perspectiva dialógica nos
permite ver os aspectos discursivos do texto, em que o revisor analisa nos enunciados a
concatenação das ideias, as relações de sentido, o endereçamento do texto, a alternância dos
sujeitos do discurso. Com isso, entendemos que o trabalho dos profissionais do texto
configura também um olhar outro importante, que participa do movimento de ocupação do
lugar de leitor – trata-se de um “leitor profissional” – e ao mesmo tempo de um lugar de autor
– trata-se de um “co-enunciador editorial”. Pretendemos, dessa forma, analisar
discursivamente, nos processos de edição da SEaD-UFSCar, manobras editoriais
fundamentalmente linguísticas, nas quais se produz a imagem do leitor estudante. Para tanto,
focalizaremos os materiais da disciplina de língua portuguesa, oferecida aos cinco cursos de
graduação implantados. Dessa perspectiva, notamos uma complexidade, quando um sujeito
incide sobre o enunciado do outro colocando no embate diferentes concepções de língua,
estilo, público, tendo em vista que cada sujeito se apropria dos discursos de maneiras
distintas, do lugar que o institucionaliza. Logo, parece-nos que os registros das trocas entre
revisor e autor trazem à tona conflitos que estão diretamente “ligados ao laço social que a
língua reflete e refrata”, como discute J.S. Muniz Jr. Posto isso, visando a um melhor
entendimento do trabalho realizado pelos profissionais encarregados de dar tratamento
editorial aos textos, bem como a contribuir para a produção dos livros de EaD, nossa pesquisa
tem base nas propostas teóricas de D. Maingueneau formuladas no quadro da análise do
discurso de tradição francesa, e na filosofia da linguagem de M. Bakhtin. Examinamos, com
essa fundamentação, o que L.S. Salgado refere como ritos genéticos editoriais, investigando,
no processo editorial, o encontro das várias vozes que constituem a imagem de leitor atribuída
ao estudante de EaD.
Luciane de Paula2
Rafael Marcurio da Cól3
(UNESP – Assis)
Os Mutantes evoluem muito no decorrer de sua carreira. Contudo, é possível ver o germe do
que, mais tarde, culminará no rock progressivo brasileiro já em seu primeiro álbum, visto o
1
Mestrado em Linguística – PPGL UFSCar.
2
(UNESP – Assis e PPGLLP - Araraquara).
3
(FAPESP - 2011–1406-6).
86
estilo antropofágico da banda, que se apropria das vozes de outros compositores para se
firmar como sujeito e construir sua voz autoral. Como exemplo pode-se citar uma das canções
mais célebres da banda, chamada “Panis et Circenses”, composta por Caetano Veloso e que,
de certa forma, identifica uma imagem bastante cristalizada da banda no cenário musical e
cultural nacional. Na época (anos 70 do século passado), essa canção foi transformada
praticamente num “hino da juventude” por seu caráter anárquico, “mutante”. Para instituir-se,
os Mutantes se apropriam do discurso do outro. Se considerarmos que, para Bakhtin e o
Círculo, o “eu” se constitui a partir e por meio do “outro”, o procedimento d’Os Mutantes
para construir sua imagem autoral se pauta na voz (nas palavras) do outro (tanto Tropicália
quanto The Beatles, mais enfaticamente). Ao incorporarem vozes de “outros” e digeri-las, os
Mutantes trans-formam o discurso alheio em discurso próprio e re-velam-se. Essa é uma de
suas principais marcas autorais de estilo. Um estilo antropofágico que incorpora o outro, mas
não o engole. Mastiga, digere e transforma-o tanto quanto transforma-se. A ironia, o humor e
o pastiche os caracterizam e compõem sua ousadia estilística, ao mesmo tempo brejeira e
vanguardista – bem brasileira! Um exemplo é o ato de transformar a canção romântica “Le
premier bonheur du jour”, cantada por Françoise Hady, em uma piada, sem modificar a
estrutura da canção, mostram a irreverência do arranjo experimental, que quebra, muitas
vezes, os padrões musicais. A reflexão aqui apontada, dessa perspectiva, tratará da
incorporação da voz do outro para constituição do estilo do “eu” (banda), visto tal diálogo
como antropofágico. A importância situa-se na compreensão, por meio do discurso
cancioneiro d’Os Mutantes, não apenas de seu estilo arquitetônico, como de uma
característica linguageira: a interação como identitariamente humana. Verificar como isso
ocorre na canção e, em especial n’Os Mutantes, é o intuito desta apresentação. Esta
comunicação, além de apresentar reflexões sobre o gênero discursivo canção, põe à baila a
brasilidade das canções e uma imagem contemporânea de Brasil: o “canibalismo” cultural.
Luiza Bedê1
(UNESP-FCLAr)
87
distintivos de hibridismo, contraditoriedade, além de propagar, por meio da linguagem
coloquial, sua temática que possui um caráter coletivo e representa uma específica realidade
brasileira. Nos blogs, mais especificamente, os escritores de literatura marginal encontram um
espaço de divulgação de textos inéditos e de suas obras. Para a realização do estudo proposto,
foram feitas considerações gerais sobre os blogs pesquisados, segundo uma abordagem
dialógica do material de pesquisa. O corpus compõe-se de blogs de sujeitos que têm alguma
relação com a literatura marginal contemporânea: o blog da editora literatura marginal
(editoraliteraturamarginal.blogspot.com.br) e os blogs pessoais dos escritores Ferréz
(ferrez.blogspot.com.br) e Sérgio Vaz (colecionadordepedras1.blogspot.com.br). Para a
descrição/análise dos dados, foi feito um estudo bibliográfico de escritos bakhtinianos, que
embasam teoricamente a pesquisa. Também foi desenvolvido um estudo bibliográfico de
literatura marginal no Brasil. Foram analisados, sob a perspectiva do círculo de Bakhtin,
enunciados verbais e não-verbais ─ encontrados em textos publicados em blogs dos autores ─
que tragam indícios do diálogo entre esta literatura com outros movimentos literários
anteriores, além da interação social, das vozes sociais, da alteridade e dos valores ideológicos
presentes no discurso.
Luzmara Curcino
(UFSCar)
Neste trabalho, apoiados nos princípios de análise histórica dos discursos desenvolvidos por
Michel Foucault, e ocupando-nos da análise de discursos sobre a leitura na atualidade,
buscaremos levantar as modalidades de existência de certos discursos sobre a leitura, “em sua
realidade material de coisa pronunciada ou escrita” (Foucault, 1999), levantando os modos de
sua circulação, valorização, atribuição e apropriação pelos sujeitos, em suas variações
históricas, inter e intraculturais. Com base neste princípio analítico, e em outros postulados da
Análise de discurso e da História cultural da leitura, abordaremos brevemente alguns
discursos sobre essa prática, cuja emergência, remanência e valor de verdade explicam-se
historicamente e manifestam-se atualmente em diferentes tipos de textos. Tendo em vista
nosso objetivo e apoiados no referencial teórico descrito, analisaremos um texto peculiar,
multimodal, no qual emergem algumas representações muito comuns sobre a leitura. Trata-se
de um exemplo, em alguma medida caricato, mas que apresenta indícios dessas
representações e do modo como esses discursos retornam, se fortalecem, são reiterados e
assumem diversas formas enunciativas, atuando de modo a construir uma imagem dos sujeitos
que deles se apropriam, que neles se apoiam ou dos sujeitos que deles são tema. Nossa análise
recairá sobre uma videomontagem, disponível pelo youtube, intitulada “que livro você leu”
construída a partir de uma entrevista com a então candidata à presidência, Dilma Roussef, e
em cuja circunstância é explorada uma certa imagem do que é ser leitor. A formulação da
questão que visava avaliar a então candidata por suas competências leitoras, a resposta dada
pela então candidata, a construção da videomontagem e os comentários, posteriormente
postados pelos internautas, indiciam algumas representações discursivas que compartilhamos
atualmente sobre a leitura, e que são responsáveis por legitimar certas práticas, por construir
modos de ser leitor e por atestar o valor simbólico de que a leitura goza em nossa sociedade.
Nossa análise consistirá, portanto, na descrição de discursos sobre a leitura que podem ser
apreendidos em seu funcionamento discursivo peculiar, cujas representações discursivas, cuja
origem e cuja força não coincidem com sua enunciação, antes, estão intrinsecamente ligadas a
88
sua condição de dizer socio-histórico e culturalmente delimitado, ou seja, submetido a uma
ordem do discurso.
1
Mara Eli Souza Camargo, mestranda. Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD - Programa
CAPES/PROSUP- E-mail: mara.e.souza@gmail.com
2
Marcos Lúcio de Souza Góis, Doutor. Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD - E-mail:
marcosgois@ufgd.edu.br
90
EMBATE ENTRE SHERLOCKS: SHERLOCK HOLMES NO SÉCULO XXI?
92
ANÁLISE DO DISCURSO E TABU: UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO
(SEM-) SENTIDO NO INCESTO CONSENTIDO
Este artigo apresenta uma análise de fragmentos de narrativas eróticas que abordam o tabu da
proibição do incesto como temática, sopesando o que a Análise do Discurso identifica como
“sentido” (ou “sem-sentido”). Dessa forma, acredita-se que podem ser verificados a ideologia
e os significados da ocorrência de violações ao impedimento histórico-social dos
relacionamentos sexuais entre parentes. Considerou-se, para tanto, a possibilidade de que,
mesmo habitualmente ocultado pelo silêncio, o envolvimento afetivo-sexual entre
consanguíneos e afins é bastante comum e nem sempre corresponde a um ato delitivo, pois
pode ser manifestado de maneira consentida por indivíduos dotados de plena capacidade
física e mental. Com o objetivo de contribuir a reflexões acerca do incesto perpetrado com a
aceitação de praticantes juridicamente capazes (maiores de idade e em condições de
normalidade físico-intelectual), elegeram-se, como material para este estudo, partes de textos
eróticos coletados em sítios da internet disponíveis ao público adulto, divulgados em Língua
Portuguesa. Tem-se, como problema central deste trabalho, a atribuição de (sem-) sentidos ao
discurso de indivíduos que justificam a prática incestuosa que, por ser factualmente
consentida, não implica em abuso sexual, mas que, mesmo assim, não é moralmente aceita ou
socialmente justificável. Optou-se, no quadro teórico adotado, pelas contribuições de Pêcheux
(2012, 2009 etc), Orlandi (2012, 2003 etc) e Lévi-Strauss (2012 e 2011). Quanto à
metodologia, elencaram-se e foram discutidos alguns fragmentos de relatos eróticos de
escritores que, mesmo que não tenham vivenciado as situações apontadas em suas narrativas,
materializam, por meio de suas manifestações linguísticas, o interesse pelo acontecimento de
relações afetivo-sexuais entre familiares e a despreocupação quanto a possíveis repreensões
morais. Como a proibição do incesto é considerada um marco histórico da passagem do
estado natural do ser humano ao estágio cultural, os resultados deste trabalho correspondem a
uma abordagem discursiva de (sem-) sentidos na transgressão de um dos mais intrigantes
tabus da humanidade.
Um ditado popular, atribuído ao filósofo chinês Confúcio, diz: “uma imagem vale mais do
que mil palavras”. Basicamente, nesse enunciado defende-se a premissa de que uma imagem é
mais precisa que um conjunto de palavras ou, dito de outro modo, uma imagem seria (quase)
autoevidente. Numa leitura aprofundada, este suposto texto confucionista joga com os limites
da interpretação e do(s) sentido(s) quando se trata de palavras e imagens. O problema de
trabalho que se coloca é o seguinte: na construção dos estados-nação no século XIX, uma
série de práticas foi criada para dar legitimidade/origem aos países nascentes. Dentre elas, as
narrativas dos feitos (acontecimentos?) que levaram à naturalização dos territórios, em sua
1
PG-UEMS/NEAD, discente regular do Mestrado em Letras, marciahelenafrancosantosgodoy@gmail.com
2
CEPAD/NEAD/UEMS, professor orientador, marlon@uems.br
93
maioria colônias portuguesas ou espanholas, enquanto “nação”. Muitas dessas práticas pátrias,
produzidas em tempos relativamente próximos e reproduzidas ao longo de décadas, passaram
a circular em diferentes suportes, do livro didático a peças publicitárias; a servir ao ensino, às
discussões políticas, à venda de produtos, etc., elevando sua importância discursiva. Isso
considerando, o objetivo geral desta comunicação é problematizar a relação entre imagem,
discurso, interpretação, sentido, ajudando a desmistificar qualquer possibilidade de
transparência de uma imagem. Para tanto, elegeu-se o tema “independência”, a partir do qual
se construiu um corpus, formado inicialmente por uma série de imagens (pinturas) que tratam
da independência de alguns países sul-americanos, dentre os quais Brasil, Colômbia, Peru e
Venezuela. Esse processo será conduzido à luz da Análise do Discurso de orientação francesa,
destacando Dominique Maingueneau, com o conceito de “ethos”, e Jean Jacques-Courtine, e
seu “intericonicidade”, para quem “toda imagem se inscreve numa cultura visual. [...]. Toda
imagem tem um eco” (COURTINE, 2006). Deseja-se que as discussões apresentadas possam
contribuir com outras reflexões, ajudando a entender nossa história, nossa sociedade, nossas
práticas do dizer sobre.
Esta comunicação tem como objetivo analisar as narrações dos adolescentes no que concerne
aos processos de tomada de decisão vocacional, com particular ênfase nos fatores que
interferem na escolha de carreira dos adolescentes. Enquanto dum lado nos apoiamos nas
Perspectivas desenvolvimentistas, Super e seus colaboradores (1950), a escolha da carreira é
considerada um processo inserido no arco do desenvolvimento do indivíduo, e na Life disegn
as paradigm for career construction in the 21st century (2009) que valoriza a narração como
uma das proposicões no processo de construcão de carreira, por outro lado, amparados pela
teoria da Análise de Discurso de Michel Pêcheux e E. Pucchelini Orlandi, em especial nos
conceitos de “sujeito”, “ideologia”, “formações imaginárias”, tentamos compreender o
fenómeno da tomada de decisão nos adolescentes que ingressam o ensino superior a partir das
suas narracões colhidas em contexto de intervencão no âmbito da orientacão profissional. As
narracões feitas pelos sujeitos, suas discursividades abrem-nos para uma compreensão não
apenas das variáveis que interferem neste complexo processo de tomada de decisão sobre a
própria profissão mas sobretudo sugerem uma mudança de perpectivas teóricas com
repercussões nas técnicas de intervenção no processo de orientação vocacional no geral, em
particular dos adolescentes.
1
Doutoranda em Psicologia, Mestra em Psicologia Educacional pela Universidade Pedagógica de Moçambique,
Licenciada em Ciências de Educação pela Pontifícia Facoltá di Scienze di Educazione “Auxilium- Roma,
Bacharel em Sociologia pela pela mesma Universidade.
94
O DIÁLOGO NA INTERPRETAÇÃO DA COMICIDADE E DO RISÍVEL: UMA
PROPOSTA DE ESTUDO DO ESTILO CARICATURAL
O risível nas reflexões de Mikhail Bakhtin pode ser compreendido por meio de uma
abordagem estética que concebe o riso em seu “caráter não-oficial” e ambivalente. Como
postula o pensador russo, ao estudar François Rabelais, as imagens rabelaisianas distinguem-
se por essa espécie de caráter não oficial - subvertem a perfeição definitiva, a estabilidade, o
dogmatismo, a formalidade limitada, o que nos permite compreender, no cerne das
discussões, que a natureza do riso deve ser investigada em tempos e espaços específicos e em
consideração às concepções de mundo e de valores circunscritas em uma época. Tais aspectos
são relevantes para que se compreendam também as facetas do estilo do riso em oposição à
cultura oficial, não só no contexto da Idade Média e do Renascimento, como propõe Bakhtin
ao estudar a obra de Rabelais, como também em outros contextos socioistóricos. Os grupos
humanos, em diferentes culturas e momentos, têm procurado aproximar o sério e o risível
como “partes” distintas, porém complementares, de uma visão de mundo e de vida, como se o
homem não pudesse prescindir de transformar em riso aquilo que estabelece o rigor ou que é
trágico e desequilibra a existência. Há, no entanto, nas diferentes etapas de organização da
sociedade e de constituição da cultura, uma multiplicidade de tons que caracterizam o risível.
Pode-se dizer que a dimensão temporal, espacial e social do riso é o aspecto principal para a
compreensão de seus movimentos e de suas transformações como modo de expressão
articulado a estilos de linguagem. Além disso, o que torna risível o trágico e o ridículo na
condição humana, em diferentes momentos é, muitas vezes e por um lado, a constatação da
impotência, e por outro, o reconhecimento da própria ambivalência da vida: rir e chorar da
mesma coisa ou fazer do riso instrumento de protesto, quando o dizer considerado sério é
combatido, censurado. A ambiguidade é constitutiva das formas de linguagem que produzem
o riso, como nos gêneros caricaturais, entre outros, aspecto favorável ao protesto e à
subversão de convenções e, talvez, menos suscetível à repressão, pela exigência de se
construir um sentido decorrente da dualidade entre o trágico e o cômico. Neste trabalho,
apresentamos algumas reflexões e possibilidades de interpretação do estilo caricatural, a partir
da análise de charges que circularam no jornalismo impresso brasileiro em contextos de
censura, com bases na proposta dialógica de estudo dos gêneros de discursos, no contexto do
Círculo de Bakhtin.
Esta pesquisa examina o modo como os gêneros discursivos são sugeridos nas propostas de
produção textual e, para isso, analisa as atividades de produção de texto indicadas pelos livros
Português: Linguagens (2010) e pelas apostilas da Coleção Pitágoras Língua Portuguesa
(2012), ambos destinados a alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental II. A reflexão
busca também destacar as contribuições que uma abordagem dialógica dos textos pode trazer
às atividades do professor. As bases metodológicas que sustentam este projeto são leitura
crítica dos textos do Círculo de Bakhtin com foco para o conceito de gênero e do corpus em
estudo que possibilita o levantamento dos gêneros discursivos trabalhados nas propostas de
produção de texto presentes nos livros didáticos em estudo, quais gêneros são recorrentes em
um mesmo ano ou em anos diferentes, análise de como essas propostas de produção textual
são sugeridas e trabalhadas e análise da transposição das recomendações e proposições
teóricas do manual do professor para as propostas de produção textual para o aluno. Desta
forma, é possível dizer que a metodologia é analítica e comparativa. A análise crítica proposta
tem como pressuposto uma preocupação pedagógica quanto ao aprendizado e domínio dos
gêneros do discurso. Com a leitura crítica desse corpus, pode-se observar a sua relação com os
conceitos de gêneros do discurso, pensados pelo Círculo de Bakhtin, com destaque para as
propostas presentes no Manual do Professor e nas atividades sugeridas. Muitas vezes as
atividades propostas pelos livros didáticos impedem que o aluno perceba o gênero como um
recurso do dizer, e que esse dizer e o como dizer estão atrelados não a uma forma fixa e
engessada, mas a uma situação comunicativa que “seleciona” a forma, o conteúdo e o estilo. É
importante ressaltar que o gênero reflete uma atividade concreta de interação discursiva, por
isso a necessidade de adequar o melhor gênero do dizer em determina situação comunicativa.
O uso dos gêneros discursivos no ensino de Língua deve contemplar o contexto de produção
textual, as condições de enunciação, o caráter dialógico e histórico da língua. Somente quando
o aluno dominar os gêneros discursivos conseguirá produzir e ler textos de forma mais
eficiente. Ao compreender como utilizar um texto de um gênero específico, o aluno recorrerá
ao seu conhecimento de mundo e linguístico para interagir por meio da linguagem.
O presente trabalho tem como objetivo analisar discursos, práticas e representações atinentes
à posição sujeito pesquisador na contemporaneidade. Trata-se de questionar como essa
posição é construída discursivamente e de que forma ela se relaciona com os diversos jogos
de poder que a permeiam. Para suscitar os problemas de representação do pesquisador na
hodiernidade, nada mais pertinente do que tomar um lugar discursivo próprio do mundo
contemporâneo: a rede eletrônica. Nesse espaço, pode-se observar diferentes práticas de
discurso que produzem perspectivas distintas de representação e de identidade. Essas práticas
são ordenadas por sites, blogs, plataformas, que atuam como uma espécie de dispositivo de
produção identitária. Em termos específicos, tomou-se como corpus o site do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), sobretudo em sua Plataforma
Lattes, uma base de dados de currículos, instituições e grupos de pesquisa das áreas de
Ciência e Tecnologia. Ao lado de outras agências de fomento à pesquisa que existem no
Brasil, o CNPq desempenha um papel decisivo tanto para as instituições quanto para a
atividade do pesquisador, uma vez que estabelece certos parâmetros que norteiam a pesquisa
científica no Brasil. Analisar seu site e sua historicidade significa suscitar uma multiplicidade
de registros discursivos sobre a posição sujeito pesquisador e sua práxis. Esses registros são
importantes para perceber como determinados enunciados são formados e como práticas
discursivas são produzidas. Para a execução desta empresa, tomou-se como referencial teórico
a Análise do Discurso de filiação francesa, centrada, sobretudo na arquegenealogia de Michel
Foucault. Em termos metodológicos e procedimentais atuou-se da seguinte maneira: seleção e
localização das fontes de informação referentes ao tema proposto; pesquisa bibliográfica e de
obras relacionadas tanto à questão do pesquisador quanto ao campo da Análise do Discurso.
Por meio dessa base teórica é possível perceber como os processos históricos concorrem na
produção de verdades e subjetividades acerca do corpus.
1
Doutorando – Unesp/FCL-Ar.
98
ANALISE DO DISCURSO E MASCULINIDADE: UMA ANÁLISE DA IDENTIDADE
DISCURSIVA MASCULINA PELA REVISTA MEN’S HEALTH.
Esse estudo tem como objetivo realizar uma análise discursiva de dois enunciados que
circularam na mídia acerca do peso da cantora britânica Adele, sendo um deles enunciado
pela própria cantora e o outro por sua estilista. Para tanto, buscou-se observar como se
constituiu o discurso sobre o corpo gordo e as condições que viabilizaram transformações
discursivas que inauguram, neste século XXI, a nomenclatura plus size. À luz dos estudos de
Michel Foucault e Jean-Jacques Courtine, a pesquisa considera o corpo gordo, chamado plus
size pelo mercado da moda, como um local de inscrição discursiva. Nesse sentido, pode-se
dizer que o sujeito gordo/plus size é um constructo histórico social, produto de todos os
discursos já proferidos e instituídos sobre o gordo/ gordura ao logo do tempo. Mediante a
perspectiva foucaultiana de arquivo, os discursos sobre a gordura resultam de um conjunto de
enunciados sobre ela que em determinados momentos funcionam e por isso emergem sem, no
entanto, deixarem de existir logo depois. Os mesmos enunciados podem ser retomados em
outros momentos, desde que haja condições para que sejam novamente enunciados. Esse
conjunto de dizeres acerca de quem é gordo ou não em cada período objetiva os sujeitos a se
subjetivarem como gordos. No século XXI, os discursos sobre o corpo gordo retomam
enunciados anteriores, ao mesmo tempo, inauguram uma nova nomenclatura o plus size.
Literalmente o termo significa ‘mais tamanho’, ou seja, manequins acima do tamanho 44. A
análise dos dizeres da cantora Adele e de sua estilista revela que em seus enunciados pode ser
percebida a presença de discursos anteriores que aparecem (re)formulados na
contemporaneidade, já que a cantora é chamada de plus size porque está acima do peso
recomendado pela medicina e usa manequim 44, um tamanho que considerado incompatível
99
com sua posição sujeito artista. Os enunciados presentes nas declarações de Adele e de sua
estilista contribuem para a objetivação/subjetivação da cantora como sujeito gordo.
Por ocasião das eleições presidenciais de 2010, após a qual se sagrou eleita a candidata do
Partido dos Trabalhadores, uma ex-combatente ao Regime Militar, Dilma Rousseff, surge
uma polêmica que implica questões da ordem da linguagem. Tal polêmica irrompe quando a
candidata escolhe ser tratada como “a presidenta”, no lugar de “a presidente”. A escolha, por
mais “inocente’ que pudesse parecer, bastou para que o alvoroço se instalasse na imprensa,
com calorosas manifestações contra e em favor da escolha feita por Dilma. Os que defendiam
o uso da expressão afirmavam que o emprego era correto, abonado até mesmo pela gramática
normativa; os que o condenavam chegaram a dizer que não passava de mais uma ‘invenção”
petista. Partindo de indagações próprias dos estudos do discurso e com o objetivo de analisar
essa polêmica, reunimos um corpus constituído de textos colhidos em veículos de
comunicação de grande alcance, como o Jornal Folha de São Paulo, a revista Carta Capital, o
portal eletrônico do Terra Magazine, entre outros blogs e sites de livre acesso. Para analisá-lo,
trabalhamos com o quadro teórico-metodológico da Análise do Discurso de linha francesa
(AD), em especial as categorias de análise presentes nos trabalhos de Dominique
Maingueneau, tais como ethos, heterogeneidade constitutiva, heterogeneidade mostrada,
simulacro e destacabilidade. A análise revela dois posicionamentos (discursos) que
constroem/determinam sua identidade por meio da relação polêmica que estabelecem entre si,
o que comprova o primado do interdiscurso sobre o discurso. As diferenças que ocorrem nas
formas de nomear Dilma Rousseff, de fazer remissão à figura da presidenta, podem ser
explicadas levando em conta o lugar de onde enunciam os sujeitos de cada discurso, o
posicionamento que assumem no espaço da polêmica. Analisar e expor como se processa a
relação polêmica nos permite ler os textos em questão com mais atenção às intenções por eles
veiculadas.
A LEITURA (DIS)TRAÍDA
Este trabalho tem como objetivo analisar o texto crítico ‘A leitura distraída’, de Bernardo
Carvalho, publicado como posfácio do livro Ninguém, nada, nunca, do escritor argentino Juan
José Saer. O romance foi traduzido por Carvalho e publicado no Brasil em 1997 pela
Companhia das Letras. A leitura do texto nos leva a perguntas como: de que modo o sujeito
crítico se constitui? O que ele formula? Estas questões nos fazem pensar as condições de
produção da crítica, conceito fundamental para Análise de Discurso de orientação
pêcheuxtiana (França) e de Eni Orlandi (Brasil), teorias nas quais nos inscrevemos. A partir
da análise das condições de produção compreenderemos o funcionamento das discursividades
presentes no texto. Nos chama atenção o fato de Carvalho assumir uma posição-sujeito crítico
que se constitui sem o uso de teorias/teóricos da literatura; Carvalho se restringe a Alain
Robbe-Grillet e o Nouveau Roman. Carvalho se constitui a partir da materialidade que lê, por
exemplo: O trecho do salva-vidas lendo o gibi é exemplar. No centro do romance há uma
longa passagem em que, pela primeira vez, a narrativa se torna linear e contínua para
explicar o enredo (p. 228). Numa análise inicial, observamos que o crítico coloca em cena
conceitos do campo da física, como no trecho: Em Juan José Saer, ao contrário, a força dos
pampas é centrípeta [...] Isso não significa que esse escritor [...] esteja preso aos limites da
busca das raízes e tradições nacionais e regionais. Em Saer, a força se inverte para dentro,
mas os pampas continuam sendo um território vazio, muito mais físico e geográfico do que
histórico (p. 223). Para Carvalho, a narrativa física de Saer põe em cheque uma tradição
narrativa, que entende o ato de narrar como forma de passar dos planos gerais aos detalhes
intimistas, pois conforme o crítico, a partir do momento em que tudo é físico, a descrição do
plano geral já é o detalhe intimista (p. 224). Segundo Carvalho, a discussão de Saer não se
limita à busca de identidade e tradição, visto que a terra retratada por Saer não pode ser a
base das raízes, o lastro das identidades e das tradições nacionais, porque é um terreno
movediço (p. 223). Enfim, olhar para as condições de produção nos possibilitará pensar a
historicidade deste texto crítico, bem como, o lugar (Posfácio) da crítica em relação ao texto.
101
CINEMA E CANÇÃO: ANÁLISE DIALÓGICA DO FILME MUSICAL ACROSS THE
UNIVERSE
A partir dos estudos do Círculo Bakhtin, Medvedev, Volochinov esta pesquisa realiza uma
análise dialógica do filme musical Across the Universe, (2007) de Julie Taymor, e tem como
objetivo refletir acerca da constituição da arquitetônica do filme musical como tipo peculiar
do gênero cinema, composto como intergenérico, interdiscursivo e intertextual, assim como
analisar de que maneira o filme em questão incorpora as canções de The Beatles como tema
de seu discurso e também compreender, por meio da análise dialógica discursiva, as relações
existentes no filme Across the Universe com as questões políticas e sociais norte americanas
dos anos sessenta e com alguns acontecimentos contemporâneos. O filme escolhido possui em
sua trama apenas canções da banda britânica The Beatles. As canções inseridas no filme
dialogam com o contexto dos músicos bem como apresentam características musicais de
revisitação destas, típicas do momento histórico de produção do filme, e se encaixam no
discurso do sujeito que as interpreta no enredo. As canções e as situações escolhidas para
serem cantadas, em cada momento específico do filme, acontecem em relações dialógicas,
entre os sujeitos e as letras das canções, entre as canções e a situação pela qual as personagens
passam no musical. Estudar o diálogo no interior da construção do cinema, que possui, em sua
composição, outros gêneros (música, canção, dança, fotografia etc), é relevante para o estudo
dos gêneros discursivos (no caso do presente trabalho, calcado na abordagem dialógica do
Círculo) e para a compreensão de como o cinema (enquanto gênero discursivo) constitui-se,
necessariamente, de outros gêneros. Para Bakhtin, o diálogo é a interação verbal em sentido
amplo, pois a comunicação se constrói não apenas em voz alta, na interação face a face, mas
também por meio daquilo que não foi dito, do se encontra na memória, do que se espera que
seja respondido e do que de fato se responde. Os gêneros discursivos nos estudos de Bakhtin
são compreendidos como relativamente estáveis, pois se encontram em movimento, ou seja,
não existe gênero acabado, fechado, mas em processo de acabamento. Da mesma maneira a
análise de Across the Universe não busca finalizar um acabamento para este gênero, mas sim
estudar as particularidades do corpus, como exemplar do gênero cinema, tipo musical, com
seus diálogos e relações, sempre em movimento.
Na perspectiva discursiva, de linha francesa e segundo estudos realizados por Hall (2002),
Souza Santos (2005) dentre outros, que vêm analisando o conceito de identidade, assim como
os estudos de Celada (2002, 2009, 2010), Serrani (1997, 2003, 2005) e Zoppi-Fontana (2009),
quanto à aprendizagem de Língua Estrangeira, verifica-se que a construção da identidade se
dá em processo de constante reconfiguração, uma vez que aprender outra língua implica
entrar em contato com outros modos de ver e de nomear o mundo, e deste modo faz-se
necessário “deslocar-se” de si mesmo e reconfigurar-se com relação ao(s) outro(s) falante(s)
desta outra língua a ser aprendida. Aqui, trata-se de aprender línguas próximas: português e
espanhol, com traços linguístico-discursivos de aproximações e de deslocamentos. Este
102
estudo focaliza as estratégias desenvolvidas em um projeto de pesquisa que tem como
objetivos: verificar como acontece atualmente a constituição da(s) identidade(s) na
aprendizagem de Espanhol Língua Estrangeira (ELE) no Brasil e de Português Língua
Estrangeira (PLE) na Argentina; observar contextos de ensino, os quais possibilitam a
inserção do futuro professor de Português (PLE) na Argentina e do futuro professor de
Espanhol (ELE), considerando as Leis brasileira e argentina que determinam a oferta do
ensino das referidas línguas: Ley 26.468, de enero de 2009, que determina la oferta
obligatoria del Portugués en Argentina e a Lei no. 11.161, de agosto de 2005, sobre o ensino
de Língua Espanhola no Brasil; construir marco de referência ou categorias interpretativas
sobre os dados coletados, principalmente quanto à construção ou re-construção da(s)
identidade(s) na formação dos professores de PLE, no Brasil, e de ELE, na Argentina no atual
processo de implantação formal do ensino destas línguas. A metodologia utilizada pressupõe
como principais instrumentos: entrevistas, questionário e análise dos dados coletados.
Espera-se, com este estudo, contribuir na reflexão e implantação desta nova área no contexto
latino-americano, ou seja, de ELE no Brasil e de PLE na Argentina.
103
estudo se baliza na análise do discurso derivada dos estudos de Pêcheux e Foucault, bem
como de seus desenvolvimentos nos estudos brasileiros.
O presente trabalho tem como base teórica a Análise de Discurso de linha francesa e objetiva
debater sobre a construção discursiva da beleza feminina, a partir do cotejo entre duas
propagandas de diferentes épocas e em cujas materialidades são apresentadas imagens do
corpo da mulher. Na primeira, que foi veiculada em jornais da década de 50, a construção do
corpo feminino e, consequentemente, da beleza, tem relação com as questões ideológicas que
versam sobre os padrões estéticos da época em que a mulher deveria ser bela para atrair um
bom casamento. Na segunda, que foi veiculada na década de 90, o corpo feminino também é
mostrado, mas o sentido de beleza é sensivelmente modificado pois se adequa aos padrões de
beleza feminina vigentes na época e que se perpetuam até os dias atuais. Partindo-se do
princípio de que a língua é constitutivamente sujeita ao equívoco (PECHEUX, 1997) e de que
a mesma "constitui o lugar material onde se realizam os efeitos de sentidos" (Pêcheux, 1997,
p.172), é que se pretende observar e analisar os deslizamentos de sentido que recobrem o
funcionamento discursivo dos signos corpo, beleza, magreza nas referidas propagandas.
Objetiva-se também problematizar o modo como os efeitos de sentido construídos nessas
propagandas surgem a partir dos já-ditos sobre a beleza e o corpo feminino, procurando
relacioná-los aos elementos do interdiscurso deles constitutivos, uma vez que, segundo
Pêcheux (1997, p.178) "o não afirmado precede o afirmado".Partindo-se do princípio de que
os sentidos das expressões linguísticas são derivados das formações discursivas nas quais
essas expressões se inserem, é possível inferir sobre os deslizamentos de sentidos nos
diferentes períodos históricos analisados, ou seja, a década de 50 e a década de 90, o que
revela que o sistema linguístico não é completamente autônomo, como já a firmava Pêcheux,
e que entender a língua como sistema estritamente formal não é suficiente para explicitar as
relações de sentido entre diferentes palavras. Pêcheux (1997, p. 169) já dizia que "o sentido
de uma sequência só é materialmente concebível na medida em que se concebe essa sequência
como pertencente necessariamente a esta ou aquela formação discursiva". Tal afirmação já
revelava ideia peuchetiana de que a língua é um sistema que não possui completa autonomia,
pois é constitutivamente marcado pela história e pela ideologia. Desse modo, pretende-se
problematizar sobre as idéias de corpo e beleza feminina partindo do princípio que estes são
compreendidos como constructos históricos e ideológicos que constituem a ideia do que é ser
mulher no discurso.
Patrícia Cardoso
(UNICENTRO)
O trabalho ora proposto se trata de resultados parciais de uma Iniciação Científica em que
temos buscado realizar um levantamento de dados acerca do que leem e como leem pessoas
que gozam de uma dada visibilidade nas mídias (como internet, televisão, rádio, revista e
jornal) as quais, exatamente em função de serem pessoas públicas e famosas, são consultadas
sobre seus gostos e gestos de leitura. Nesse sentido, selecionamos como objeto de análise o
blog do Galeno, mais especificamente a seção intitulada “Dicas de quem já leu”, composta
atualmente por 370 comentários de personalidades públicas, a partir dos quais temos
constituído nosso corpus. Esses comentários se compõem muitas vezes pelo discurso direto
desses sujeitos, coletados de diversos meios como jornais, revistas, etc. marcado por aspas,
com vista a evidenciar a autenticidade do dizer no blog. Outras vezes, se constituem de
descrições de autores dos livros citados (informações biográficas) e mesmo dos próprios
sujeitos leitores, destacando suas qualidades como bons leitores. Assim, nosso objetivo
principal tem sido o de apreender indícios acerca das práticas de leitura das quais esses
sujeitos se valem e das representações discursivas que compartilham sobre o que é a leitura,
do que é ser leitor, de quais são os livros que merecem ser declarados como livros lidos e o
que dizem sobre os livros hipoteticamente lidos cuja leitura essas personalidades
recomendam. Temos buscado descrever em nossas análises as representações discursivas que
norteiam esses comentários, de modo a compreendermos quais são os discursos mais
presentes sobre a leitura que constituem o imaginário sobre essa prática e que são
constantemente reatualizados no que se afirma sobre a leitura, em especial por não-
especialistas, no que concerne às formas de leitura que são consideradas legítimas (ou não) na
atualidade, aos mitos/crenças/concepções/teorias sobre a leitura em que essas “dicas” se
apoiam, e ainda ao quê e como imagina se dever ler hoje etc. Para tanto, por meio de uma
análise geral do blog, temos buscado mapear e categorizar os tipos de comentários que por
suas especificidades permitem ser reagrupados, de forma a analisá-los a partir de suas
regularidades quanto aos discursos sobre a leitura que os fomentam. Assim, subsidiados
teoricamente pela Análise do Discurso de linha francesa e por alguns princípios da História
Cultural da leitura, pretendemos discutir que discursos constituem o imaginário sobre a leitura
entre esse público que ‘indica o que ler’ e que práticas de leitura são declaradas/representadas
por eles.
O presente trabalho pretende fazer uma análise discursiva do discurso político, em especial o
da presidenta da República Dilma Rousseff, observando os efeitos de sentido do discurso de
107
comoção diante da tragédia da boate Kiss. Para isso, tomaremos como corpus, o
pronunciamento de Dilma, frente ao incêndio na boate, em Santa Maria, Rio Grande do Sul,
presente no videocast: http://www.youtube.com/watch?v=qRltah364X4. Percebe-se nesse
pronunciamento que o lado feminino de Dilma fica mais evidente e seu discurso torna-se mais
sensível e emotivo, no momento em que a presidenta fala exercendo o papel de cidadã, mas
ao mesmo tempo coloca-se como mãe frente ao ocorrido. Em quase todos os discursos
proferidos pela presidenta Dilma emergem apenas os trações da mulher guerreira,
batalhadora, o que pode levar a relacionarmos o seu perfil com o de Anita Garibaldi. Outra
estratégia discursiva que traz esse pronunciamento é a construção de sentidos da fala da
presidente, as quais refletem diretamente na conjuntura sócio-política do Brasil. A
metodologia que sustenta esse trabalho é baseada na linha francesa da Análise do Discurso e
nos estudos discursivos de Patrick Charaudeau. O discurso sobre a tragédia da boate Kiss em
Santa Maria realizado por Dilma, parece ressiginificar a identidade até então circulante
principalmente na mídia sobre “a presidenta”. Uma identidade de mulher forte, pouco emotiva
ora como guerrilheira ora como agente, politizada, ativa na vida pública, contestadora.
Entretanto, o lado feminino, frágil e emotivo pertencente principalmente as mulheres-mães
diante dos filhos em situação de perigo não aparecia na maior parte de seus discursos. Esse
pronunciamento parece ser um marco divisório, em que faz emergir uma “nova” faceta à
identidade da presidenta, mulher, mãe, sensível, protetora, afetuosa, zelosa pela integridade de
seus filhos. Nesse sentido poderíamos inferir que, enquanto presidenta, assume nesse discurso
uma identidade híbrida e heterogênea não só como uma mulher estadista, cidadã e
responsável por uma nação, mas também como mãe dos brasileiros.
108
codificação, observando as estratégias utilizadas pelo dispositivo televisivo para alcançar os
efeitos desejados, a partir dos modos de organização próprios do discurso tele jornalístico. A
pergunta é: quais os efeitos visados (as intencionalidades comunicativas) dos telejornais na
construção dos acontecimentos e como os telejornais utilizam dos efeitos de real, ficção e
verdade para atingir essas visadas? No aspecto verbal, os operadores de análise seguiram os
Modos de Organização do Discurso, à luz da Teoria Semiolinguística aliada aos conceitos
expostos na discussão teórica. Na parte visual de análise dos telejornais, estendemos um olhar
para as formas de narrativa através de imagens, passando pela Semiótica, na tentativa de
identificar valores icônicos, indiciais ou simbólicos nas imagens. A partir dessa
fundamentação conceitual-metodológica, tem-se a pretensão de realizar trabalhos futuros que
desvendem os modos e as condições em que se realizam as narrativas jornalísticas nas
produções televisuais de informação de Minas Gerais.
Sabe-se que o trabalho simbólico do discurso está na base da produção da existência humana.
Levando em conta o homem na sua história, a Análise de Discurso de linha francesa, escopo
teórico no qual está centrado esse trabalho, considera os processos e as condições de produção
de linguagem, pela análise da relação estabelecida pela língua com os sujeitos que falam e as
situações histórico e ideológicas em que se produz o dizer. Desta forma, o anuncio
publicitário exerce o papel de difusor de discursos com os quais o ser humano pode entrar em
contato, fazendo circular certas imagens discursivas e ideológicas e certos estereótipos sobre
diversos grupos sociais que nele são representados. No caso de anúncios publicitários de
viagens, é possível perceber que no discurso usado, não é feito somente a propaganda dos
pontos turísticos a serem visitados, ou apenas do clima, e comidas, etc., mas também é
vendida a imagem das pessoas que habitam esse lugar de destino, neste caso dos baianos. A
Bahia é um lugar que carrega por causa da sua história e cultura, algo muito particular que
termina configurando discursivamente a noção de que todos os baianos são pessoas festeiras,
que não possuem disposição para o trabalho, sendo alegres, religiosas, místicas, camaradas e,
principalmente, preguiçosas. Essa construção discursiva da imagem dos baianos é decorrente
do processos ideológicos de identificação e desidentificação dos sujeitos com certas posições
discursivas no decorrer do tempo. Desse modo, este trabalho busca analisar o discurso
construído em anúncios publicitários, na tentativa de desmitificar a imagem estereotipada do
baiano, incluindo a possibilidade de relacionar a baianidade com outras características como:
a de povo trabalhador, hospitaleiro, esforçado, caprichoso, etc. Ele justifica- se pelo fato de
contribuir para a compreensão dos modos representativos do discurso baiano e nacional,
auxiliando no entendimento da função do discurso e sua relevância no processo de construção
da imagem do sujeito com base na Analise de discurso francesa.
109
O ANALISTA DE DISCURSOS NO ATELIÊ:
A ARTE SOB A ÓTICA DISCURSIVA
Renan Mazzola
(UNESP Araraquara)
Esta comunicação intenciona compreender a dimensão discursiva das pinturas por meio da
análise do discurso francesa ancorada em Michel Pêcheux e Michel Foucault. Para isso,
recorta-se a figura do espelho em pinturas canônicas com vistas a observar seu funcionamento
discursivo enquanto elemento do enunciado artístico visual. Uma pergunta que atravessa essa
reflexão é: como a análise do discurso pode abordar objetos que não possuem inscrições
linguísticas explícitas, como é o caso das pinturas? Pergunta aparentemente simples, ela gera
uma série de outras questões quando se confronta um objeto exclusivamente visual com o
quadro teórico e metodológico desse domínio do saber. Algumas delas são: a) de que análise
do discurso estamos falando? b) na teoria, é possível tomarmos a pintura em sua materialidade
discursiva? c) esse objeto coloca problemas para a teoria, ajuda a desenvolvê-la?
Primeiramente, nesta comunicação, determinaremos o lugar ocupado pelo discurso estético
nos trabalhos de Michel Pêcheux e de Michel Foucault. Em um segundo momento,
concentrar-nos-emos na análise de três pinturas europeias, a saber, As meninas, de Velásquez;
Um bar em Folies-Bergère, de Manet; e As ligações perigosas, de Magritte. Em um terceiro
momento, por fim, discutiremos a intersecção entre visualidade e interdiscursividade a partir
a) das reflexões de Michel Foucault acerca do discurso estético e b) da figura do espelho
presente nessas pinturas. A história da análise do discurso reflete as mutações em seu objeto, e
os diálogos com Michel Foucault, bem como a problematização de uma semiologia histórica,
auxiliam na compreensão da materialidade visual do discurso. A partir dessas ancoragens (em
Foucault, de um lado, e em Courtine, de outro) tomamos a figura do espelho, em diversas
pinturas, enquanto elemento do enunciado visual, responsável por ativar memórias e
mobilizar discursos. A atuação de elementos da materialidade visual na rede interdiscursiva
coloca a arte em terreno interpretável num certo momento histórico.
Rinaldo Guariglia
(Centro Universitário Unifafibe)
Nesta proposta de comunicação, parto das reflexões feitas por Michel Pêcheux, especialmente
em seu texto “Vous avez bien dit propagande”, para apresentar o modo como este teórico
entende a visão instrumentalizada da propaganda enquanto consequência da consolidação do
capitalismo e da interpelação ideológica do sujeito. Inserindo-me na Análise de Discurso de
orientação materialista, tomo um recorte do discurso de um movimento social urbano e um
slogan de uma propaganda de campanha política (ambos relacionados à cidade de Salvador,
Bahia) para compreender como os (efeitos de)sentidos relacionados ao ato de “defender”
estão sendo formulados. Este contraponto permitiu perceber na análise que a evidência da
propaganda – construída tendo por base a difusão da informação política, bem como o
apagamento das diferenças no que tange ao social –, como sugere Pêcheux em sua reflexão, se
112
impõe aos discursos que se dirigem à “sociedade”, mesmo que estes sejam de ordens
diferentes (opostas, inclusive), justamente porque tais discursos estão sustentados no mesmo
pré-construído da cidadania e do sujeito de direito. A contradição, nesse sentido, é um ponto
chave para a análise. Assim, foi possível concluir a relação dos sentidos de “defender” no
(movimento) social e no (discurso) político desta forma: uma relação imaginariamente oposta,
sobretudo pelo objetivo de o movimento querer instituir uma oposição ao poder político, mas
efetivamente imbricada, porque a contradição faz possível o um-no-outro. A partir das
considerações feitas na análise, trazemos à baila o entendimento discursivo acerca da
resistência, tomando como base o texto Delimitações, inversões, deslocamentos também de
Michel Pêcheux. O modo como a resistência é pensada em relação à contradição nos interessa
na medida em que nos faz problematizar o modo como os sentidos de defender estão
funcionando no recorte do social que operamos em nossa análise discursiva. Nesse sentido, a
proposta de Eni Orlandi em relação à teoria discursiva da resistência do sujeito e as
formulações de Suzy Lagazzi sobre o realizado alhures e o alhures realizado reforçam nossa
compreensão sobre a resistência e a contradição.
A figura singular de Jesus Cristo sofre modificações de acordo com os valores da cultura que
a representa e também modifica a cultura que a acolhe. . Nas propagandas de cachaça
Sagatiba, nas fotografias da série American Jesus , de LaChapelle, e também nos textos que
relacionam Cristo aos conceitos tecnocientíficos, o martírio cristão tradicional é remanejado e
a figura de Cristo – que continua reconhecível porque se fixa de forma icônica – é
representada com outros valores integrados, como o prazer, a diversão e o misticismo presente
na cultura pop, underground e também na cybercultura. Percebe-se que o ícone cristão se
perpetua mesmo em discursos que subvertem o discurso religioso. A figura e o conceito de
Cristo são estruturas semióticas (que neste trabalho são analisadas pelo viés da semiótica
francesa) profundamente cravadas na cultura ocidental e até mesmo na cultura mundial, de
modo que sua flexibilidade em estar presente nos mais diversos discursos é perfeitamente
compreensível. Os conceitos desenvolvidos pela semiótica francesa, em especial os trabalhos
de autores como Floch e Fontanille, são utilizados para analisar discursos que reconstroem a
figura de Cristo na contemporaneidade. As fotografias de LaChapelle representam figuras pop
e underground, de natureza contracultural, com o investimento semântico espiritual
emprestado pela utilização da figura de Cristo, que perpetua a noção de espiritualidade e
também o tema do sagrado em enunciados que afirmam valores divergentes dos valores
estabilizados pelo discurso da Igreja Católica ao longo dos séculos. Isso demonstra o
enfraquecimento do poder das instituições religiosas, que não têm mais controle sobre a figura
de Cristo, mas também mostra que a noção de sagrado ainda está presente no imaginário do
homem moderno, mesmo que a ciência e a filosofia contemporâneas revelem a incoerência do
discurso religioso. Entende-se que a figura de Cristo, distante do controle do discurso das
instituições religiosas, é reestruturada em enunciados marcados pelo impacto das mudanças
sociais e tecnológicas dos séculos XX e XXI. O afastamento do controle das instituições
religiosas não dilui os conceitos sacros e messiânicos relacionados à figura cristã, pois esses
conceitos são remanejados em outros tipos de discursos.
113
ETHOS DE RESISTÊNCIA NA LITERATURA BRASILEIRA VIA FORMAÇÃO DE
NOMES PRÓPRIOS: ALGUMAS FRINCHAS TEÓRICAS
Samuel Ponsoni
(UFSCar)
Foi pensando no prestígio e influência das novas tecnologias digitais na educação, que este
trabalho tenciona discutir a construção de sentidos, a partir da perspectiva dialógica
bakhtiniana, com o objetivo de observar o discurso sobre ciência e escrita acadêmica na
Internet, de forma a perceber como se constrói dele uma imagem nesse espaço. Para tal
estudo, será feita uma análise do site UFMGTube, desenvolvido pela Universidade Federal de
114
Minas Gerais, tendo como ênfase um dos vídeos divulgados no canal, que contempla uma
entrevista da professora Carla Coscarelli, a qual discute os desafios da ciência nos ambientes
digitais, como também a própria escrita acadêmica, temática esta que será o foco deste
trabalho. Observando o propósito do site em promover um ambiente educacional que ofereça
informações sobre temas relacionados ao fazer ciência, com temáticas que versam sobre
política, cultura, educação, etc., escolheu-se para investigação a referida instituição de ensino
por ser talvez a única universidade pública brasileira que tenha um canal de comunicação
interativa em ambiente digital (internet) apenas com postagem de vídeos que retratam o meio
acadêmico e cultural. Sendo assim, para esta análise, a base teórica que subsidia este trabalho
pauta-se em alguns conceitos bakhtinianos, baseados na reflexão sobre gêneros do discurso,
esfera, estilo e o próprio dialogismo. Como uma das características mais inovadores da
produção do Círculo de Bakhtin, modo como o grupo ficou conhecido, foi conceber a
linguagem como um constante processo dialógico, distante de ser um sistema autônomo, o
diálogo foi instaurado como agente mediador dos discursos. Desse modo, a interação da
linguagem ocorre num contexto em que todos participam, pois aquele que participa seleciona
palavras, formas apropriadas de dizer algo para que o seu destinatário o compreenda, fazendo
com que seu interlocutor interprete a mensagem e a responda internamente ou por meio de um
novo enunciado. Por isso, os dizeres são interpretados ao longo do tempo e suas formas vão
variando de acordo com a época em que são apregoados. É, portanto, devido a esse novo
tempo, a importância de se trabalhar com a linguística do encontro. O encontro entre o eu e o
outro, entre tecnologia e o próprio papel da academia neste contexto. Por isso, a necessidade
vista pela universidade em criar um lugar de encontro entre alunos e internautas, tornando-se
uma nova forma de aquisição de conhecimento, tendo, neste caso, o enfoque dado à escrita
acadêmica.
1
Bolsista PIBIC – UEMS/FUNDECT, MS, Brasil.
116
A CONSTRUÇÃO DO ETHOS E A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DA MULHER
PLUS SIZE
Este trabalho tem como objetivo analisar como se dá a construção do ethos em discursos
produzidos e veiculados em blogs especializados, voltados para o público plus size. Objetiva-
se, ainda, investigar se esse ethos pode influenciar em uma possível formação da identidade
da mulher plus size (mulher que usa manequim GG - numerações do 44 a 54), leitora desses
blogs, que divulgam experiências, impressões, fotos e dicas de moda e comportamento,
direcionadas a esse público específico. Nesse viés, serão consideradas as condições de
produção do “discurso plus size” que se constitui a partir de um contexto sócio, econômico,
político e cultural de uma sociedade, e que se manifesta diretamente na atualidade. Nesse
sentido, buscamos elementos necessários nesses discursos, produzidos e reproduzidos através
dos textos publicados e divulgado por esses blogs, que possam implicar em experiências
sensíveis ao mobilizarem a afestividade do público leitor, que se identifica com essa
classificação plus size. Para tanto, serão utilizados princípios teórico-metodológicos,
sobretudo, da Análise do Discurso de linha francesa.
Este trabalho vincula-se ao projeto de pesquisa regular coordenado pela Profa Dra Luzmara
Curcino, junto ao Departamento de Letras, acerca das “Práticas de escrita e representações de
leitura: a construção discursiva do novo leitor na mídia” (FAPESP 2010/16139-0), cujo
objetivo geral é o de levantar e descrever representações discursivas, presentes em diversos
objetos culturais, relativas à leitura, aos leitores e ao modo como se acredita que é realizada e
como se difunde a maneira de ler nos dias atuais. Neste trabalho objetivamos empreender um
levantamento de representações de leitura bem específicas, advindas da relação, cada vez
mais frequente atualmente, entre a indústria cinematográfica e o mercado livreiro. Não
entraremos no mérito dos problemas relativos à adaptação fílmica de livros, das diferenças de
linguagem entre essas duas formas de expressão, de como a passagem de uma linguagem a
outra implica na verdade outro acontecimento discursivo, dadas as diferenças de construção
da narrativa, de recursos empregados e de efeitos que se pode produzir sobre o
leitor/espectador. Temos como objetivo refletir brevemente sobre a influência/o impacto da
exploração dessa relação de promoção simbólica entre filmes e livros, a partir de dados acerca
das práticas de consumo desses objetos culturais, levantados por meio de entrevistas com
leitores/espectadores jovens (entre 18 e 25 anos), versando sobre o papel que essa relação
pode exercer sobre a aquisição (ou não) de livros e sobre as práticas de leitura do público
visado pela adaptação cinematográfica e por ela pressupostas. Apoiamo-nos nas teorias da
Análise do Discurso derivada dos trabalhos de Michel Pêcheux e Michel Foucault, no que
1
Mestranda em Letras – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.
2
Orientador - Prof. Dr. NEAD/CEPAD/UEMS.
117
concerne a sua abordagem das condições de produção e circulação dos textos, interessando-
nos particularmente pelos conceitos de formação discursiva e enunciado, de modo a levantar
os discursos que sustentam as declarações sobre a leitura presentes nas respostas dos
entrevistados. Também buscamos apoio em alguns princípios da História Cultural,
desenvolvidos especialmente acerca da história do livro e da leitura, tal como abordados por
Roger Chartier.
Em consonância com o escopo teórico da Análise do Discurso francesa (AD), fundada por
Michel Pêcheux no final da década de 1960, entendemos que é fundante a relação opaca e
incompleta entre língua-sujeito-história, o que nos coloca a interpretar os efeitos de sentidos e
seu funcionamento a partir da posição que o sujeito ocupa. Uma vez que ao trabalhar com a
opacidade do dizer é contar com as interferências políticas e ideológicas que marcam a
inscrição da língua na história. No nosso caso, interessa-nos analisar os discursos sobre o
espaço urbano não empírico ou geográfico, mas como um espaço discursivo de efeitos e
118
sentidos em curso, de modos e formas de inscrição como a cidade significa (ORLANDI,
2004). Propomos então, analisar este espaço de significações pelas materialidades presentes
nos monumentos deixados na cidade do Rio de Janeiro pela voz do profeta Gentileza, pois são
eles que nos permitem analisar o jogo e a (re)construção dos sentidos simbólicos,
estabelecendo relações entre o já dito e sua atualização. Tais espaços enunciativos vão sendo
construídos e atualizados pelos percursos do/no urbano, formulando o que Certeau (1990)
denomina de "discurso caminhante". Escolhemos as pilastras pintadas pelo Profeta Gentileza
em uma das principais avenidas da cidade do Rio de Janeiro, para especularmos os vários
sentidos que as obras de Gentileza enunciam – obras estas que foram apagadas logo após a
morte do profeta por ordem do governo municipal, mas por meio de manifestações populares
ganharam o direito de serem restauradas e tombadas como patrimônio cultural. Destacamos
como o movimento social se mostrou relevante naquele momento e apresentou-se como uma
forma de resistência a profunda mudança no cenário urbano, assim, o conjunto de obras de
Gentileza constituíram o que chamamos de “Livro Urbano” (conjunto de pilastras escritas
pelo Profeta Gentileza) como uma referência dentro da cidade (GUELMAN, 2009).
Este estudo visa analisar o discurso sobre o sucesso produzido na sociedade brasileira
contemporânea. O corpus é constituído por edições da revista Caras, pelos livros “O Sucesso
Está no Equilíbrio (2006)”, “O Sucesso Passo a Passo (2010)” e “O Sucesso de Amanhã Começa
Hoje (2011)”, e ainda por sequências discursivas extraídas de comunidades virtuais, tais como os blogs
“Holofote: tudo sobre o mundo dos famosos” e “R7 Entretenimento”. Mais precisamente,
nossa pesquisa pretende descrever e interpretar as marcas de um possível sujeito emergente,
isto é, o sujeito de sucesso, na medida em que esse é construído por práticas discursivas da
mídia, da literatura de auto-ajuda e das comunidades virtuais, considerando o fato de que
esses campos discursivos como lugares privilegiados de fabricação de novas identidades e de
novos desejos. Desse modo, consideramos o postulado da Análise do discurso formulado nos
seguintes termos por Orlandi (2012, p, 88): “sujeito e sentido se constituem ao mesmo tempo,
estando os processos de identificação na base do fato de que identidade é um movimento na
história”. Se os sujeitos e os sentidos constituem-se simultaneamente no encontro da língua
com a história, ou seja, no discurso, os sujeitos e os sentidos do sucesso também serão
produzidos pelo discurso. Ao dedicar-se aos enunciados do sucesso, Payer (2005) afirma que
os dizeres que tematizam e constroem os sentidos e sujeitos do sucesso circulam em vários
campos discursivos e em vários tipos de textos, mas ressalta que sua circulação privilegiada
ocorre na mídia. Pode-se notar que há um certo “discurso do sucesso” funcionando
atualmente em grande escala em nossa sociedade. Ante esse quadro, propomos neste trabalho
expor uma breve investigação dos sentidos sobre o discurso de sucesso na atual sociedade
brasileira. Para tanto adotamos o pressuposto, a partir de Pêcheux (2009 [1975]); (2006
[1983]), Orlandi (1996); (2012) e Brandão (2012), segundo o qual o discurso é um efeito de
sentidos entre interlocutores. Disso procede a compreensão da relação entre língua e
1
Mestrando-UFSCar (thiagobsores@bol.com.br).
2
Doutor – UFSCar (cpiovezani@uol.com.br).
119
ideologia, “sendo o discurso a materialidade específica da ideologia e a língua a materialidade
específica do discurso, com a ressalva de que específico não significa exclusivo” (ORLANDI,
2012, p. 214), sendo que a língua e outras naturezas de linguagem surgem como condição do
discurso e o caráter de funcionamento dessas naturezas é o que define o processo discursivo
(idem, 1996). Outro conceito fundamental com o qual trabalhamos neste estudo é o de
memória discursiva em que “toda formulação apresenta em seu “domínio associado” outras
formulações que ela repete, refuta, transforma, denega..., isto é, em relação às quais ela
produz efeitos de memória específicos” (COURTINE, 2009 [1981], p.104). Nesse sentido, as
concepções de interdiscurso, intradiscurso, pré-construído e enunciado se articulam por
circularem no domínio da memória. Assim, toda produção discursiva, inscrita em
determinadas condições de produção faz inevitavelmente circular formulações já enunciadas
anteriormente. Portanto, os procedimentos metodológicos adotados no desenvolvimento deste
trabalho tiveram como base a pesquisa qualitativa, no desenvolvimento da qual buscamos
identificar regularidades linguístico-discursivas dos enunciados do sucesso e interpretar a
produção de seus sujeitos e sentidos por meio da elaboração de cadeias parafrásticas, no
intuito de depreender suas formações discursivas.
120
A CONSTRUÇÃO DO “IMIGRANTE” EM TEXTOS DE VESTIBULANDOS: ETHOS
DICURSIVO E CENOGRAFIA
Vânia da Silva
(Universidade Estadual de Maringá)
Este trabalho tem por objetivo principal discutir a função autor proposta por Michel Foucault
(2001) construindo um contraponto para com a função do tradutor de Walter Benjamin
(1998). Sabemos que para os estudos da tradução a questão do original é muito discutida, pois
a tradução não teria o mesmo valor que a obra do autor. Por esse motivo, nesse trabalho
buscamos descobrir quem seria esse autor, que ocupa um espaço vazio e que pode se
configurar como pleno de poder e capaz de produzir obras de valor, enquanto o tradutor seria
apenas um reprodutor que nunca alcançaria a essência do original. Para tanto se propõe,
primeiramente, verificar a constituição do percurso histórico da autoria com base em Chartier
(2012). Nesse caminho, abordamos desde a utilização do alfabeto fenício pelos gregos ao
surgimento da figura do autor de textos científicos e literários e como a autoria empírica
passou por mudanças ao longo da história. Discutimos a ideia de autor como fonte criadora do
texto, como ponto de partida, como o Adão mítico que cria suas histórias, seus escritos, com
base em sua criatividade e nada além e buscamos mostrar como essa ideia é entendida de
maneiras diferentes por Benjamin e por Foucault. A discussão teórica será conduzida por
meio da analise de cenas da tradução intersemiótica do livro Howl’s Moving Castle de Diana
Wynne Jones de 1986 para o filme de animação Hauru no Ugoku Shiro do diretor Hayao
Miyazaki de 2004. Para tratar da tradução intersemiótica utilizaremos Jakobson (2004) e
Plaza (2008), que nos explicam que esse tipo de tradução diz respeito à mudança e interação
dos signos em diferentes materialidades. Nesse caso, das páginas do livro para as telas do
cinema. Para tanto, nesta análise buscamos evidenciar aspectos da função autor que podem ser
encontrados na materialidade fílmica e que desloquem a autoria de Jones para Miyazaki, sem
que com isso um ou outro possam ser considerados origem do discurso, pois estariam apenas
ocupando uma posição vazia, a posição autor.
122
ANÁLISE DE DISCURSO DE FRASES E DITOS POPULARES DO DISCURSO DO
SENSO COMUM
A pesquisa que está sendo realizada considera a Análise do Discurso tendo como fundamento
teórico a Análise do Discurso de matriz francesa de Pêcheux e o modo como a ideologia
interpela o sujeito, como a inscrição histórica dos sentidos é materializada e como o silêncio e
a formação discursiva são inscritos. Para tanto, propõe-se o seguinte percurso: primeiro
apresenta-se uma discussão sobre a teoria francesa do discurso, em seguida, uma breve
contextualização histórica das condições de produção dos discursos presentes nas frases, ditos
populares e provérbios do senso comum. Assim, investiga-se o funcionamento discursivo de
um corpus constituído por um conjunto de leituras, entrevistas, imagens e coleta de textos
verbais e orais que tratem sobre a AD presente nas frases, ditos populares e provérbios do
senso comum e analisa a carga ideológica presente na vida desses sujeitos a partir das ideias
de Maingueneau (1993),que diz que todo discurso é uma construção social, não individual, e
que só pode ser analisado considerando seu contexto histórico-social, suas condições de
produção; e ainda que o discurso reflete uma visão de mundo determinada, necessariamente,
vinculada à do(s) seu(s) autor(es) e à sociedade em que vive(m). Ainda segundo Pêcheux, as
palavras não têm um sentido literal, mas existem nas relações de metáfora, ou seja, de
transferência, efetivando-se nas formações discursivas que são seu lugar histórico provisório,
com bem explica o estudioso “está exposta ao equívoco da língua: todo enunciado é
intrínsecamente suscetível de tornar-se outro, diferente de si mesmo, se desloca
discursivamente de seu sentido para derivar para um outro”. A pesquisa apoia-se nos
pressupostos da Análise do Discurso (AD) de matriz francesa, fundada por Michel Pêcheux,
Dominique Maingueneau, Bakhtin, Foucault e outros como Marlon Leal Rodrigues, Orlandi e
Sírio Possenti. Espera-se que a AD em estudo permita trabalhar em busca dos processos de
produção do sentido e de suas determinações histórico-sociais presentes na vida desses
referidos sujeitos já citados, o que implicará o reconhecimento de que há uma historicidade
inscrita na linguagem que não nos permite pensar na existência de um sentido literal, já posto,
já que toda interpretação é regida por condições de produção (Orlandi, 1999).
123
do controle da mídia parece insistentemente evocar sentidos constituídos em uma memória de
um período em que este tipo de controle foi extremamente forte no Brasil. Este
funcionamento a partir de algo que já esta estabelecido nos leva a evidenciar a nossa filiação à
Análise de Discurso para alcançar determinada posição face a estes discursos, à luz de seu
caráter de ser uma disciplina que põe em questão as práticas de leitura. Para isto, tomamos
como objeto textos midiáticos que divulgam diferentes posições face ao controle da mídia, em
especial notícias e artigos publicados no jornal Folha de São Paulo. Sendo o discurso um
objeto que materializa lutas ideológicas, buscaremos mostrar na análise dos textos que
compõem o objeto como a reprodução/transformação destas relações se textualiza. Sobretudo,
tendo em conta a evocação de uma memória do povo brasileiro em relação ao controle da
circulação midiática, à censura e às diferentes tentativas institucionais e estatais de gerir
efeitos de determinadas interpretações. Pensando este nosso objeto de pesquisa, somos
motivados por perguntas de pesquisa tais quais: como os enunciados presentes nas
textualizações que buscam regular a mídia, hoje, evocam uma memória do controle midiático
e da censura, no Brasil? Como, historicamente, é paradoxal a ideia de liberdade e censura?
Como se constroem diferentes posições por parte dos partidos, nos textos midiáticos, tendo
em conta a problemática do controle da mídia? Como se materializa ao redor deste tema um
conflito ideológico, tendo como foco o trabalho simbólico da mídia? Como se constituem
sentidos a respeito da questão da liberdade e da censura, historicamente? Que tipo de
contradições existem? Neste percurso, que tipo de incongruências ocorrem, entre os limites da
liberdade e da censura? Buscamos com estas questões evidenciar alguns modos de
constituição, formulação e circulação de sentidos acerca da liberdade de imprensa, da
regulação da mídia e da censura, historicamente.
124
de comunidade virtual é um lugar, no qual o sujeito professor expressa seu modo de dizer,
pensar e ser materializado discursivamente por meio de imagens e postagens diversas. Os
resultados preliminares indiciam que os professores dessa comunidade inserem-se numa
formação discursiva da condição de vítima de um sistema de ensino formatado, onde os
sentidos encontram-se naturalizados e, portanto, o professor parece necessitar de ancoragem e
da apropriação do dizer daqueles que se tornaram ícones como educadores tais como Paulo
Freire, Piaget, Vygotsky e outros. Nas postagens e comentários emergentes nessa rede social,
há evidências de um contexto ideologicamente marcado por meio das práticas discursivas,
identitárias e escrileitoras que os professores desenvolvem. Essas representações afloram
nesse espaço, bem como os seus efeitos de sentido.
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