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IV ENCONTRO EM ANÁLISE DO DISCURSO:

Fundamentos epistemológicos e abordagens


metodológicas

CADERNO DE RESUMOS

UNESP/Araraquara
DE 14 A 17 DE AGOSTO DE 2013
IV ENCONTRO EM ANÁLISE DO DISCURSO
Fundamentos epistemológicos e abordagens metodológicas

CADERNO DE RESUMOS

Araraquara – S.P.
FCL-UNESP Laboratório Editorial
2013
Organizadores do Caderno:
Camila Cristina de Oliveira Alves
Gesiel Prado

Comissão Organizadora:
Marina Célia Mendonça
Arnaldo Cortina
Jauranice Rodrigues Cavalcanti
Maria do Rosário V. Gregolin
Marlon Leal Rodrigues
Renata Coelho Marchezan
Wedencley Alves Santana
Paulo Cesar Tafarello
Ana Carolina Cardoso Bedenik
Camila Cristina de Oliveira Alves
Carlos Eduardo da Silva Ferreira
Carolina Reis
Eneida Gomes Nalini de Oliveira
Felipe Sousa de Andrade
Gesiel Prado
José Cezinaldo Rocha Bessa
José Radamés Benevides de Melo
Lígia Mendes Boareto
Luiza Bedê Barbosa
Maria Teresa Silva Biajoti
Renan Belmonte Mazzola
Thiago Ferreira da Silva
Yuri Araujo Mello

Encontro em Análise do Discurso (4. : 2013 : Araraquara, SP)


Encontro em Análise do Discurso : fundamentos epistemológicos e abordagens
metodológicas : caderno de resumos / IV Encontro em Análise do Discurso; Araraquara,
2013 (Brasil). – Documento eletrônico. - Araraquara : FCL - UNESP, 2013.

ISBN 978-85-87361-95-0

1. Linguística. 2. Análise do Discurso. I. Encontro em Análise do discurso (4. :


2013 : Araraquara, SP)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da FCLAr – UNESP.


APRESENTAÇÃO

O IV Encontro em Análise do Discurso: fundamentos epistemológicos e abordagens


metodológicas foi promovido, em 2013, pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística e
Língua Portuguesa da UNESP/Araraquara (SP), em parceria com os grupos de pesquisa
NEAD, SLOVO, GEADA e GPS-UNESP.
Esta edição do evento, ocorrida na Faculdade de Ciências e Letras da
Unesp/Araraquara, pretendeu propiciar reflexão sobre diferentes bases epistemológicas e
abordagens metodológicas nos estudos discursivos, dando-se ênfase a linhas de pesquisa
desenvolvidas no Brasil. O objetivo foi discutir a identidade das pesquisas brasileiras que têm
por objeto o discurso.
O evento contou com mesas compostas por pesquisadores convidados, sessão de
painéis, sessões de comunicações individuais e minicursos. As temáticas das mesas e dos
minicursos procuraram dar visibilidade a diferentes abordagens dos estudos do discurso, entre
elas as que se sustentam em trabalhos do Círculo de Bakhtin, em escritos de Pêcheux,
Foucault, Maingueneau e em trabalhos em semiótica discursiva. Os resumos que compõem
este Caderno dão ao leitor uma ideia da diversidade de pesquisas em discurso que foram
apresentadas no encontro.
A Comissão Organizadora coloca à disposição do leitor interessado em estudos do
discurso, com este Caderno, esse leque de diferentes pesquisas e aproveita para agradecer a
todos aqueles que ajudaram a construir esse encontro.

A Comissão Organizadora
SUMÁRIO

MESAS-REDONDAS

Mesa 01: Estudos bakhtinianos do discurso: perspectivas de pesquisa 10


João Wanderley Geraldi
Beth Brait
(coordenação: Marina Célia Mendonça)

Mesa 02: Análise do Discurso: fundamentos epistemológicos de Michel Pêcheux. 12


Wedencley Alves
(coordenação: Renata Coelho Marchezan)

Mesa 03: Análise do discurso francesa: contribuições de Dominique Maingueneau 13


Sírio Possenti
Fernanda Mussalim
Luciana Salazar Salgado
(coordenação: Jauranice Rodrigues Cavalcanti)

Mesa 04: Análise do discurso francesa: contribuições de Michel Foucault 15


Cleudemar Fernandes
Vanice Sargentini
Pedro Navarro
(coordenação: Maria do Rosário Gregolin)

Mesa 05: Semiótica discursiva: bases epistemológicas e perspectivas atuais 17


José Luiz Fiorin
Diana Luz Pessoa de Barros
Arnaldo Cortina
(coordenação: Arnaldo Cortina)

RESUMOS

ADIELSON RAMOS DE CRISTO ......................................................................................... 20


ADRIANA BATISTA LINS BENEVIDES ............................................................................. 20
ADRIANA REIS ...................................................................................................................... 21
ADRIANA FIGUEIREDO DE OLIVEIRA ............................................................................ 22
ALAN LOBO DE SOUZA....................................................................................................... 22
ALESSANDRA DEL RÉ; NATALIA GRECCO .................................................................... 23
ALINE DO PRADO ALEIXO SOARES................................................................................. 24
ALINE SADDI CHAVES; MARIA LEDA PINTO; MARTA LUZZI ................................... 25
ALINE SADDI CHAVES ........................................................................................................ 25
ALMIRENE MARIA VITAL DA SILVA SANT’ANNA ...................................................... 26
AGENILDA FRANÇA SANTOS ............................................................................................ 26
AMANDA DE OLIVEIRA SILVA; PATRÍCIA FALASCA ................................................. 27
ANA CARLA CARNEIRO RIO.............................................................................................. 27
ANA CAROLINA CARDOSO BEDENIK ............................................................................. 28
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA .................................................................................... 29
ANDRÉ LUIZ SILVA ............................................................................................................. 29
ANDRÉIA APARECIDA THIBES DOS SANTOS ................................................................ 30
ANE RIBEIRO PATTI............................................................................................................. 31
ANGELA MARIA RUBEL FANINI ....................................................................................... 32
ANNA CAROLINA SADUCKIS MROCZINSKI; PAULA BULLIO ................................... 32
ANNA FLORA BRUNELLI .................................................................................................... 33
ARETUZA PEREIRA DOS SANTOS .................................................................................... 33
ASSUNÇÃO APARECIDA LAIA CRISTÓVÃO .................................................................. 34
BÁRBARA MELISSA SANTANA......................................................................................... 35
BIANCA DOROTHÉA BATISTA .......................................................................................... 36
BRENO RAFAEL MARTINS PARREIRA RODRIGUES REZENDE ................................. 36
BRUNA DE SOUZA SILVA ................................................................................................... 37
CAMILA CRISTINA DE OLIVEIRA ALVES ....................................................................... 38
CARINA MACIEL DE OLIVEIRA SILVA ........................................................................... 39
CARINE FONSECA CAETANO DE PAULA ....................................................................... 39
CARLA ANDREA PEREIRA DE REZENDE ........................................................................ 40
MARIA ÂNGELA DE FREITAS CHIACHIRI ...................................................................... 40
CARLA CRISTINA BRAGA DOS SANTOS......................................................................... 41
CARLOS EDUARDO DA SILVA FERREIRA ...................................................................... 42
CARLOS PIOVEZANI ............................................................................................................ 42
CARLOS RUBENS DE SOUZA COSTA ............................................................................... 43
CAROLINA REIS .................................................................................................................... 44
CAROLINA SAMARA RODRIGUES ................................................................................... 45
CATHARINE PIAI DE MATTOS .......................................................................................... 45
CELIANE SOUZA SANTOS .................................................................................................. 46
CLAUDIANA NARZETTI ...................................................................................................... 47
CRISTIANE PASSAFARO GUZZI ........................................................................................ 47
DAIANA DE OLIVEIRA FARIA ........................................................................................... 48
DANILO CALDEIRA .............................................................................................................. 49
DANILO VIZIBELI ................................................................................................................. 49
DAYANE CAROLINE PEREIRA .......................................................................................... 50
ROSEMERI PASSOS BALTAZAR MACHADO .................................................................. 50
DÉBORA CRISTINA FERREIRA GARCIA .......................................................................... 51
DENISE ABREU TURCO ....................................................................................................... 51
DENISE APARECIDA DE PAULO RIBEIRO LEPPOS ....................................................... 52
DIANE HEIRE SILVA PALUDETTO.................................................................................... 53
DOUGLAS ZAMPAR; RAQUEL DE FREITAS ARCINE.................................................... 54
ELISÂNGELA LEAL DA SILVA AMARAL; SIMONE DOS SANTOS FRANÇA;
SORAIA APARECIDA ROQUE PEREIRA ........................................................................... 55
ELISANGELA SANTOS DE CARVALHO ........................................................................... 55
ELIZETE DE SOUZA BERNARDES ..................................................................................... 56
ELZA CAROLINA BECKMAN PIEPER ............................................................................... 57
ENEIDA GOMES NALINI DE OLIVEIRA ........................................................................... 57
ÉRICA MANCUSO SCHADEN ............................................................................................. 58
EUZENIR FRANCISCA DA SILVA ...................................................................................... 59
FÁBIO MÁRCIO GAIO DE SOUZA ..................................................................................... 59
FABRÍCIA APARECIDA MIGLIORATO CORSI ................................................................ 60
FELIPE SOUSA DE ANDRADE ............................................................................................ 61
FLÁGILA MARINHO DA SILVA LIMA .............................................................................. 62
FLÁVIA CRISTINA GOMES MORAIS ................................................................................ 62
FLÁVIA RODRIGUES DOS SANTOS .................................................................................. 63
GABRIELLE CRISTINA BAUMANN SALVATTO ............................................................. 64
GESIEL PRADO ...................................................................................................................... 64
GIOVANA MORETTI ............................................................................................................. 65
GLAUCIA VAZ ....................................................................................................................... 66
HEITOR QUIMELLO; RAFAELA GIACOMINO BUENO; ROSÂNGELA NOGARINI
HILÁRIO .................................................................................................................................. 67
HÉLLEN NÍVIA TIAGO ......................................................................................................... 67
HELOISA MÔNICA AJEJE GONÇALVES ........................................................................... 68
HURI FERREIRA .................................................................................................................... 69
ILLA PIRES DE AZEVEDO ................................................................................................... 70
JACILENE DA SILVA SOUZA.............................................................................................. 70
JACKELINE DE AZEVEDO SILVA...................................................................................... 71
JANAINA DE JESUS SANTOS.............................................................................................. 72
JESSICA DE CASTRO GONÇALVES .................................................................................. 72
JESSICA DE OLIVEIRA......................................................................................................... 73
JOÃO FLÁVIO DE ALMEIDA .............................................................................................. 74
JÔNATAS AMORIM HENRIQUES ....................................................................................... 74
JOSÉ CEZINALDO ROCHA BESSA ..................................................................................... 75
JOSÉ GOMES FILHO ............................................................................................................. 76
JOSÉ RADAMÉS BENEVIDES DE MELO........................................................................... 77
JULIANA CRISTINA DA SILVA .......................................................................................... 77
JULIANA OLIVEIRA DE SANTANA NOVAIS ................................................................... 78
JULIANE DE ARAUJO GONZAGA ...................................................................................... 79
KAREN STEPHANIE MELO ................................................................................................. 80
KARINA LUIZA DE FREITAS ASSUNÇÃO........................................................................ 80
KARINE CAJAIBA SOARES SILVA FARIAS ..................................................................... 81
LAFAYETTE BATISTA MELO ............................................................................................. 81
LEVI HENRIQUE MERENCIANO ........................................................................................ 82
LÍCIA MARIA BAHIA HEINE .............................................................................................. 83
LIGIA MENDES BOARETO .................................................................................................. 83
LIVIA MARIA FALCONI PIRES ........................................................................................... 84
LORAINE VIDIGAL LISBOA ............................................................................................... 85
LUCIANA RUGONI SOUSA ................................................................................................. 86
LUCIANE DE PAULA; RAFAEL MARCURIO DA CÓL .................................................... 86
LUIZA BEDÊ ........................................................................................................................... 87
LUZMARA CURCINO ........................................................................................................... 88
MAGNA LEITE CARVALHO LIMA..................................................................................... 89
MAIARA CANO ROMERO ................................................................................................... 89
MARA ELI SOUZA CAMARGO ........................................................................................... 90
MARCELA BARCHI PAGLIONE.......................................................................................... 91
MARCELA ULHÔA BORGES MAGALHÃES ..................................................................... 91
MARCELO GIOVANNETTI FERREIRA LUZ ..................................................................... 92
MÁRCIA HELENA FRANCO SANTOS GODOY ................................................................ 93
MARCOS LÚCIO DE SOUSA GÓIS ..................................................................................... 93
MARIA LUISA LOPES CHICOTE......................................................................................... 94
MARIA MADALENA BORGES-GUTIERRE ....................................................................... 95
MARIANE LEONEL DOS SANTOS ..................................................................................... 95
MARILURDES CRUZ BORGES ............................................................................................ 96
MARLY DE FÁTIMA MONITOR DE OLIVEIRA ............................................................... 97
MARY RODRIGUES VALE GUIMARÃES .......................................................................... 97
MAURICIO JUNIOR RODRIGUES DA SILVA ................................................................... 98
MELLY FATIMA GOES SENA ............................................................................................. 99
MICHELLE APARECIDA PEREIRA LOPES ....................................................................... 99
MOISÉS LAERT PINTO TERCEIRO .................................................................................. 100
MORGANA MACIEL DE OLIVEIRA SOUZA ................................................................... 100
NATAL CANALLE JUNIOR ................................................................................................ 101
NICOLE MIONI SERNI ........................................................................................................ 102
NILDICÉIA APARECIDA ROCHA ..................................................................................... 102
NIRCE APARECIDA FERREIRA SILVÉRIO ..................................................................... 103
PALMIRA VIRGINIA BAHIA HEINE ALVAREZ ............................................................. 104
PÂMELA DA SILVA ROSIN ............................................................................................... 104
PATRÍCIA CARDOSO.......................................................................................................... 105
PEDRO HENRIQUE VARONI DE CARVALHO................................................................ 106
RAFAEL BORGES RIBEIRO DOS SANTOS ..................................................................... 107
RAFAEL FURLAN LO GIUDICE ........................................................................................ 107
RAFAEL MAGALHÃES ANGRISANO .............................................................................. 108
REGINETE DE JESUS LOPES MEIRA ............................................................................... 109
RENAN MAZZOLA .............................................................................................................. 110
RILMARA RÔSY LIMA ....................................................................................................... 110
RINALDO GUARIGLIA ....................................................................................................... 111
ROBISON JOSÉ DA SILVA ................................................................................................. 112
ROGÉRIO LUID MODESTO DOS SANTOS ...................................................................... 112
RUBENS CÉSAR BAQUIÃO ............................................................................................... 113
SAMUEL PONSONI ............................................................................................................. 114
SIMONE CRISTINA MUSSIO ............................................................................................. 114
SIMONE GARAVELLO VARELLA .................................................................................... 115
TAÍS TURAÇA ARANTES .................................................................................................. 116
TANIA VALÉRIA AJALA MORENO ................................................................................. 117
TANIA VIEIRA RANGEL .................................................................................................... 117
TATIELE NOVAIS SILVA ................................................................................................... 118
THAÍS HARUMI MANFRÉ YADO ..................................................................................... 118
THIAGO BARBOSA SOARES............................................................................................. 119
THIAGO FERREIRA DA SILVA ......................................................................................... 120
THIAGO MOESSA ALVES .................................................................................................. 121
VÂNIA DA SILVA ................................................................................................................ 121
VERÔNICA BRAGA BIRELLO........................................................................................... 122
VICENTINA DOS SANTOS VASQUES XAVIER ............................................................. 123
WILSON RICARDO BARBOSA DOS SANTOS ................................................................ 123
YTHALLO VIEIRA BORGES .............................................................................................. 124
YURI ARAUJO DE MELLO................................................................................................. 125
Mesas-redondas

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Mesa 01 - Estudos Bakhtinianos do discurso: perspectivas de pesquisa

ENTRE RECONHECIMENTOS, COMPREENSÕES E INTERPRETAÇÕES

João Wanderley Geraldi


(Prof. Titular aposentado-UNICAMP)

A discussão metodológica nos processos de construção de conhecimento, desde os inícios da


modernidade, ocupa as mentes debruçadas sobre a natureza ou sobre os fenômenos humanos.
Tem tido maior sucesso nas ciências da natureza, onde métodos foram elaborados (empíricos,
experimentais, laboratoriais) com base numa regra essencial: isolamento do objeto e sua
decomposição em partes cada vez mais ínfimas. Nas ciências humanas não se alcançou este
sucesso, ainda que, por exemplo, a sociologia tenha um dia sido chamada de “física social”.
Com o avanço da pesquisa na modernidade, agora também as ciências da natureza não
encontram um caminho seguro face à reintrodução do tempo (Prigogine), a reintrodução do
espaço (Einstein) e a consciência de que os instrumentos usados alteram o real estudado (Bohr
e Eisenberg), de modo que todas as ciências encontram-se no mesmo patamar: há ainda um
método? Ou ele jamais existiu e sempre se fez conhecimento segundo um recorte de
interesses de pesquisa, depois camuflados sob argumentação metodológica explícita (mas
exposta a posteriori), de modo a subtrair-se à crítica constante da sobredeterminação
metodológica imposta muito mais pelos pares (os pesquisadores) do que pelo objeto de
conhecimento e pela construção do conhecimento em si? Meu objetivo nesta exposição é
explorar os efeitos desta sobredeterminação (que excluem das ciências e dos conhecimentos
certos estudos cognitivamente frutíferos – como os estudos literários) e explorar as
possibilidades de uma heterocientificidade nos estudos da linguagem lastreados no
pensamento do Círculo de Bakhtin.

SURPREENDENDO UM ATO ÉTICO E ESTÉTICO

Beth Brait
(PUC/SP – USP)

As contribuições do pensamento bakhtiniano para os estudos do discurso são conhecidas


desde a década de 1920, momento em que Bakhtin, Voloshinov e Medvediev, os mais
destacados membros do hoje denominado Círculo de Bakhtin, empreenderam um diálogo
polêmico com os estudos da linguagem, quer linguísticos, quer literários, identificando um
novo objeto para caracterização e enfrentamento da linguagem: o discurso. Juntamente com
ele, definiram e discutiram a possibilidade de elaboração de uma nova disciplina
(interdisciplinar) que, sem descartar a Linguística, fosse além dela, tendo nas fronteiras e nas
tensões características da relação eu/outro, sujeito/linguagem, ética/estética, diálogo/interação
alguns de seus princípios fundamentais. Dessa empreitada conjunta, tecida na atividade
linguístico-filosófica, literário-filosófica, na atuação acadêmica, no ensino, em ações
educacionais, o resultado foi o desencadeamento de uma perspectiva dialógica que, sem partir
de um manual, de uma única obra ou de um único pensador, produziu textos-fonte que,
passadas nove décadas (quase um século!), continuam motivando pesquisas que resultam na
compreensão dos discursos que constituem a sociedade, a cultura, o homem. Reiterando o
caráter de teoria geral da linguagem assumida pela perspectiva dialógica enquanto estudo do

10
discurso, apresento a leitura de um enunciado verbo-visual, entrevisto como dimensão ética e
estética, de acordo com sugestões dessa perspectiva.

11
Mesa 02 - Análise do Discurso: fundamentos epistemológicos de Michel
Pêcheux

VESTÍGIOS, SINTOMAS E INDÍCIOS


O DOCUMENTÁRIO “FALCÃO” E A DISCUSSÃO SOBRE CONTRIBUIÇÕES DA
AD

Wedencley Alves
(UFJF)

A partir de uma leitura discursiva do documentário Falcões – Meninos do Tráfico,


encaminhamos a discussão sobre as relações entre discurso e materialidade, discurso e sujeito,
e discursos e história, para compreender de que modo a AD, hoje, continua ocupando uma
posição de entremeio, diante de outras disciplinas, com as quais mantém um relacionamento
crítico e autônomo. Se a conjuntura dos anos 60 não mais se repete, pois que a história existe,
a AD continua interrogando os demais estudos de linguagens, a história e as ciências sociais e
as teorias do sujeito, para construir um objeto teórico, o discurso, que nos permite
compreensões bastante refinadas sobre os atuais modos de dizer e não dizer, sobre os
percursos de constituição do sujeito na trama dos sentidos, e sobre a história como luta por
interpretações. Enfim, a proposta de base desta análise do documentário é que a procura por
vestígios (sentido e materialidade), sintomas (sujeitos e sentido) e indícios (sentido e história)
faz do discurso um objeto marcado pela complexidade e heterogeneidade, e que ainda só
encontra respostas plausíveis, justamente por assim considerá-lo, no próprio seio da AD.

12
Mesa 03 - Análise do discurso francesa: contribuições de Dominique
Maingueneau

A DUPLA FACE DA OBRA DE MAINGUENEAU

Sírio Possenti
(Unicamp / CNPq / FEsTA)

O espaço de Maingueneau na análise do discurso é discutido por certas vertentes no Brasil


(cada uma considerando-se a única “verdadeira” AD), embora na França ele seja
indiscutivelmente um nome respeitado exatamente como analista de discurso. Considerando
esses fatos, a apresentação terá dois enfoques: a) por um lado, embora ressaltando a
originalidade de sua obra, propor-se-á a hipótese de que ela é perfeitamente compatível com a
de Foucault, especialmente com as teses de A arqueologia do saber, e com a de Pêcheux,
nomeadamente pela assunção dos conceitos de formação discursiva (que debate e especifica)
e de interdiscurso, entre outras; b) por outro lado, serão apresentados alguns de seus novos
conceitos, diversos deles incorporados por outros analistas, mesmo em outras vertentes como
os de ethos, cena da enunciação, destacabilidade / aforização, paratopia, entre outros.

A PROBLEMÁTICA DO TEXTO NA OBRA DE DOMINIQUE MAINGUENEAU

Fernanda Mussalim
(UFU/CNPq)

A Análise do Discurso se constituiu, em relação à Linguística, discutindo a relevância da


proposição de uma semântica de natureza discursiva, que possibilitasse um tratamento
adequado do texto, objeto que, a partir do corte saussuriano, deixa de ser, de acordo com
Michel Pêcheux, pertinente para a ciência linguística. O referido autor, em sua reflexão a esse
respeito, retoma questões que haviam sido deixadas de lado pela linguística saussuriana (“o
que quer dizer esse texto”; “em que sentido esse texto se difere daquele de tal outro texto?”),
formulando-as em um outro terreno, a saber, o do discurso, em que intervêm questões de
natureza linguística e sócio históricas. No quadro teórico peuchetiano, o objeto “texto” é
definido a partir de uma perspectiva discursiva e passa a fazer trabalhar, por meio de um
dispositivo analítico específico, um conjunto de análises em torno do discurso político. Nesse
sentido, o texto – sua concepção, natureza e funcionamento – é uma questão pertinente à
Análise do Discurso desde a sua fundação, e nunca foi abandonada (mesmo que muitas vezes
apagada e/ou tratada de forma perpendicular), basta verificar a produtividade de teorias e
análises discursivas que se debruçam sobre os gêneros do discurso e sobre textos
multimodais. Nesta mesa, pretendo refletir sobre os modos como Dominique Maingueneau
vem considerando a problemática do texto, tomando como pontos de referência de minha
reflexão as obras Gênese dos Discursos e Discurso literário e alguns textos do autor em que
ele apresenta os conceitos de aforização e destacabilidade.

13
INTERLÍNGUA: UM HIATO IRREDUTÍVEL

Luciana Salazar Salgado


DL/PPGL - UFSCar
FEsTA – Unicamp

Na maior parte dos trabalhos em análise do discurso, um fundamento permanece: a autonomia


relativa da língua. Opaca, inscrita nos usos e partilhas, nas convenções e insubordinações, a
atividade linguageira é feita de consensos firmados nas comunidades discursivas, nas quais
diversos registros linguísticos se formulam num jogo de forças histórico. A língua delimita,
assim, lugares instituídos por dizeres e modos de dizer mutuamente implicados. Dessa
perspectiva, enunciar é estabelecer uma certa relação com o mundo, e o mundo é um
referente socialmente construído. Ainda que a enunciação seja irrepetível, supõe em sua
constituição elementos linguísticos que, se não inteiramente repetíveis, são reconhecíveis
por uma comunidade que a eles atribui sentidos mais estabilizados. Logo, os modos como
uma língua é ativada são os modos de existência dessa língua, que estão sempre imersos no
interdiscurso, onde se tocam, se chocam, ignoram-se, subsumem-se. Isso posto, podemos
dizer que o “estilo” tem a ver com a forma que se produz na conjugação do que formata
(conforme as condições de produção) e do que formaliza (constituindo a materialidade que
ganha circulação). Eis aí um ponto de ancoragem para pensar a língua: o estilo de um texto
está sempre ligado a uma cena enunciativa que pede certos usos linguísticos e repele outros;
nessa dinâmica, são possíveis efeitos textuais inesperados ou considerados peculiares por uma
dada comunidade discursiva, porque as marcas do que é apontado como singular existem em
contraste com o que é tido como ordinário. Com base nessas considerações, a noção de
interlíngua proposta por D. Maingueneau (1996; 2006) supõe que não há um uso ou usos "da"
língua. A norma culta ou a norma padrão, aquilo que se considera default ou o que se define
como idioma oficial não estão à disposição de usuários que, tomando essas referências,
podem desdobrá-las conforme sua vontade; a língua não é exterior nem posterior à
formulação de um algo a dizer, ela é constitutiva dos dizeres: um enunciador nunca é
confrontado com uma língua específica, mas com uma interação de registros, de códigos
linguageiros, se se quiser; e sempre trabalha uma língua numa língua, escavando um hiato
irredutível com relação à língua materna, trafegando entre perilínguas: perímetros delineáveis
como funções, como vetores possíveis em cada enunciação.

14
Mesa 04 - Análise do Discurso francesa: contribuições de Michel Foucault

CORPO, SUBJETIVIDADE E OBJETIVAÇÃO DO SUJEITO

Cleudemar Alves Fernandes


(LEDIF-UFU)

O estudo que ora propomos ancora no pensamento de Michel Foucault e destina-se a mostrar
o corpo como um texto a ser lido, no qual, sob o olhar do outro (“do leitor”), o olhar exterior,
materializam-se discursos. Assim, o corpo torna-se suporte de um sujeito objetivado, pelo
olhar exterior, como sujeito de identidade social. Para nossas reflexões, tomaremos como
âncora uma coreografia que John Lennon da Silva, um rap, fez baseado no ballet A Morte do
Cisne e apresentou em um programa de TV. Vislumbramos apreender os sentidos produzidos
a partir do olhar do júri sob o dançarino antes, durante e após sua apresentação, o que
desencadeou mutabilidade na objetivação que fizeram do sujeito. O que está em questão não é
o corpo, mas o sujeito de ação, produzido por uma exterioridade social, cultural e política;
marcada por movimentos, traços estéticos, etc. Considerando, ainda, que os discursos
materializam-se pela linguagem verbal e por elementos de natureza não verbal, tais como
imagens, gestos, exibição de aspectos corporais, vestimenta, mostraremos justamente a
materialização de discursos em um corpo, cujos movimentos implicam transformações de
sentidos e do sujeito, e possibilitam a objetivação do sujeito pelo olhar exterior, o olhar do
fora.

AS MUTAÇÕES DISCURSIVAS: UM PERCURSO METODOLÓGICO COM BASE


EM M. FOUCAULT

Vanice Sargentini
(UFSCar/Labor)

O discurso sempre foi objeto do trabalho de M. Foucault, ainda que nos anos 70 ele afirmasse
que, olhando de forma retrospectiva para seus estudos, ele mesmo reconhecia que seu objetivo
não foi analisar as formas de poder, mas criar uma história dos diferentes modos pelos quais,
na cultura ocidental, os seres humanos tornaram-se sujeitos. Sempre o discurso apresentou-se
como o centro desencadeador de suas análises, uma vez que compreendia que o objeto de
pesquisa na sua materialidade não pode ser compreendido separado dos quadros formais
através dos quais o conhecemos: a saber o discurso (Veyne, 2008). Então, para os analistas do
discurso, o primeiro legado de M. Foucault é a própria noção de discurso que não se separa da
noção de sujeito, de acontecimento e de materialidade discursiva. Um outro forte legado, que
se relaciona com a própria metodologia: trata-se da proposta foucaultiana do princípio da
descontinuidade da história, tema central também da Arqueologia do Saber. Para se chegar à
descrição de uma formação histórica, recorre-se à longa ou média duração, entretanto o mais
importante é que se recorra a isso seguindo o princípio da descontinuidade. Se pretendermos
cotejar essas fundações foucaultianas com os movimentos metodológicos da AD (derivada de
Pêcheux) em seu desenvolvimento, podemos ver que a AD 69 centrava-se no confronto das
formações discursivas, posteriormente, focalizava a importância do interdiscurso e na década
de 90 voltava-se para a centralidade do acontecimento. Em todos esses períodos, apoiava-se
mais em conceitos foucaultianos revisados e menos em um modelo metodológico. Em alguns
trabalhos atualmente sob minha orientação, tenho insistido em explorar algo advindo da

15
metodologia de M. Foucault: analisar, por exemplo, as mutações discursivas percorrendo a
média duração. Propomos, neste evento, falar sobre o sujeito como uma construção histórica,
acompanhando como isso se dá por meio das mutações discursivas apreendidas nos
enunciados.

ANÁLISE DO DISCURSO FRANCESA: CONTRIBUIÇÕES DE MICHEL


FOUCAULT

Pedro Navarro
(UEM / CNPq)

Minha intervenção nesta mesa-redonda dividir-se-á em dois momentos. No primeiro, parto da


seguinte interrogação: há um espaço de “liberdade”, no campo dos estudos discursivos, para o
sujeito pesquisador? O segundo momento de minha fala se atém em algumas partes de textos
da chamada terceira fase de Michel Foucault, com o intuito de encontrar nelas elementos que
subsidiam uma análise, não somente da subjetividade, mas também do discurso, este ainda
compreendido como um conjunto de enunciados, tal como podemos encontrar em A
arqueologia do saber.

16
Mesa 05 - Semiótica discursiva: bases epistemológicas e perspectivas atuais
José Luiz Fiorin
(USP)

Um lugar comum da Semiótica é a afirmação de que o nível narrativo do percurso gerativo de


sentido foi o que mereceu maior desenvolvimento teórico. Isso é verdade, mas, ao mesmo
tempo, a repetição constante dessa asseveração parece ter inibido uma avaliação mais
aprofundada daquilo que foi descoberto e, ao mesmo tempo, parece ter difundido a crença de
que se chegara a um modelo heurístico completo, porque seu alcance era universal, O nível
narrativo foi aspectualizado, no fazer dos semioticistas, pela perfectividade e, assim, esse
modelo era tomado como pronto, acabado, definitivo. Tudo isso, no entanto, muda
radicalmente, quando Eric Landowski publica, em 2005, Les interactions risquées. Esta
comunicação tem o objetivo de apresentar os modelos de narratividade desenvolvidos pelo
semioticista francês, mostrando seu alcance para a explicação de uma série de fenômenos de
significação, que não encontravam lugar adequado no modelo padrão. Esse trabalho de Eric
Landowski é, sem dúvida nenhuma, a maior contribuição à construção teórica do nível
narrativo proposto pela semiótica discursiva, depois que Greimas constituiu o chamado
esquema narrativo canônico.

CAMINHOS E DESVIOS DOS ESTUDOS SEMIÓTICOS NO BRASIL

Diana Luz Pessoa de Barros


Universidade Presbiteriana Mackenzie - UPM
Universidade de São Paulo - USP
CNPq

Nesta exposição pretendemos desenvolver quatro aspectos dos caminhos tomados pela
semiótica discursiva no Brasil:
- história da semiótica discursiva no Brasil e definição de seu campo dos estudos;
- diálogos entre a linguística, em sentido restrito, e a semiótica;
- perspectivas atuais da semiótica discursiva;
- política científica na área de Letras e as decorrências para os estudos do discurso e para os
semióticos, em particular.
Na primeira parte, trataremos da introdução da semiótica no Brasil, nos anos 60, da formação
dos semioticistas brasileiros, da institucionalização da semiótica junto, principalmente, aos
cursos de Letras, de seu desenvolvimento e consolidação no país, e dos rumos que nele
tomou, do ponto de vista teórico e dos objetos de análise. A partir dessa rápida abordagem
histórica, examinaremos os papéis e funções dos estudos semióticos no âmbito dos estudos da
linguagem.
Na segunda parte, mencionaremos os diálogos entre a linguística, em sentido restrito, e a
semiótica, para apontar que esses diálogos não tomam apenas o caminho de mão única dos
estudos linguísticos aos semióticos, e ressaltar a contribuição efetiva que a semiótica dá aos
estudos da linguagem, com destaque para os estudos semióticos da enunciação.
Sobre as perspectivas atuais, insistiremos nos rumos que se mantêm e que, por isso mesmo,
levam a teoria a sofrer alterações e a dar continuidade a suas atividades de construção, com
ênfase no alargamento do objeto examinado e no tratamento de seis linhas de força: os
estudos da enunciação, os da sensibilização passional e sensorial do discurso, os da
tensividade discursiva, os do regime narrativo de ajustamento, os de preocupações
17
sociossemióticas, os voltados para os aspectos estéticos e poéticos dos textos, com o exame
do plano da expressão.
Finalmente, retomaremos as recentes discussões da área de Letras sobre os estudos do
discurso, entre os quais se colocam os semióticos, e enfatizaremos a necessidade de uma
política para esse campo de estudos e de sua institucionalização e disciplinarização no quadro
dos estudos da linguagem e, principalmente, procuraremos mostrar que há uma outra
perspectiva sobre a linguagem, a dos estudos do discurso, tanto ou mais relevante para seu
estudo, quanto as linguísticas em sentido restrito.

PERSPECTIVA SEMIÓTICA PARA A ABORDAGEM DO TEXTO SINCRÉTICO

Arnaldo Cortina
(FCLAr/UNESP)

Em sua origem, a proposta da semiótica discursiva para o tratamento da investigação do


processo de constituição do sentido esteve voltada para exame do texto verbal. Um dos fatores
que determinaram o privilégio dessa modalidade de linguagem foi o princípio de
narratividade sob o qual se assentou a proposta do percurso gerativo de sentido. Mais tarde,
alarga-se esse conceito e a narratividade é entendida como um princípio inerente à
textualidade em geral. É nesse momento que, além da aplicação da metodologia proposta pela
semiótica aos textos literários, começam a surgir análises dos textos políticos e, nesse
contexto, por exemplo, Greimas escreve o texto em que examina uma receita de cozinha pelo
viés da semiótica. Alarga-se a dimensão de seus princípios teóricos e a semiótica passa a
examinar as mais diferentes formas de textualidade. A partir da metade da década de 1980,
Jean-Marie Floch, membro do grupo de estudos semióticos na França, passa a publicar seus
trabalhos que se engajam no projeto de reflexão sobre a linguagem visual. Ligado ao mundo
do marketing publicitário, Floch produz uma série de trabalhos de análise de textos de
publicidade e de propaganda em que aplica o princípio teórico da semiótica discursiva. Com a
retomada do conceito de sincretismo já descrito por Greimas em seu dicionário de semiótica,
as investigações no campo das diferentes formas de linguagem ganham impulso e passam a
subsidiar várias pesquisas que se inserem no perfil da chamada semiótica sincrética. Em nosso
trabalho pretendemos discutir o que é sincretismo e quais as contribuições que esse conceito
trouxe para os avanços dos estudos semióticos bem como para a compreensão das formas de
significação da sociedade contemporânea.

18
Resumos

19
A PROPÓSITO DA CONSTITUIÇÃO DE SENTIDOS NA INCOMPLETUDE
DO TEXTO AUDIOVISUAL

Adielson Ramos de Cristo


(UFBA)

Uma das asserções fundamentais da Análise de Discurso está em que não há transparência da
linguagem, dos sentidos, dos sujeitos e da história. Com essa afirmação evidencia-se, assim, o
caráter material da pesquisa discursiva, que põe em confronto a língua(gem) com o seu real,
com o real da história, a contradição. É a partir desse lugar teórico que propomos pensar a
materialidade do discurso audiovisual, evidenciando, assim, nosso trabalho – em
desenvolvimento no curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Língua e
Cultura, do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia – em torno da tetralogia
Shrek da DreamWorks. Para tanto, partimos da noção de recorte em oposição à de
segmentação (ORLANDI, 1984), a qual diz respeito ao funcionamento discursivo do texto em
sua incompletude, a fim de analisar os processos de constituição de sentidos em objetos
estéticos constituídos de materialidades significantes diversas, considerando as
especificidades de cada uma delas (LAGAZZI, 2007). Com a formulação materialidade
significante reitera-se “[...] ao mesmo tempo a perspectiva materialista e o trabalho simbólico
sobre o significante [...]”(LAGAZZI, 2010), o que permite referirmo-nos ao “discurso como a
relação entre a materialidade significante e a história” (LAGAZZI, 2010), lembrando-nos,
sobretudo, a importância de pensarmos o “sentido como trabalho simbólico sobre a cadeia
significante, na história, compreendendo a materialidade como o modo significante pelo qual
o sentido se formula” (LAGAZZI, 2010). Assim, defendemos a necessidade de evidenciarmos
o imbricamento de materialidades significantes diversas, próprias da especificidade
cinematográfica, tais como trilha sonora, banda de som, plano cinematográfico, texto verbal
etc, entendendo cada materialidade significante trabalhando na falha da outra, na
incompletude. Trabalhamos – lembrando-nos da incompletude da língua(gem), sujeita a falha
e ao equívoco – a materialidade dos sentidos, inscritos na história. Sabendo que para a AD a
constituição dos sentidos não poderia ser pensada a partir da dicotomia idealista
forma/conteúdo, pretendemos pensar os sentidos que se constituem na forma material – nem
empírica, nem abstrata – cinematográfica. Desse modo, a forma material é tomada aqui como
perspectiva teórica para observar o funcionamento discursivo do simbólico constituído de
materialidades significantes diversas, e a noção de recorte como dispositivo analítico que
possibilita pensar o funcionamento do discurso a partir dessa perspectiva. Como não há
sentido em si, posto que este é sempre definido “em relação a”, reiteramos que materialidades
diferentes instam gestos de interpretação diferentes, conforme nos mostra Orlandi (2012). A
interpretação mantem uma relação fundamental com a materialidade da linguagem.

O GÊNERO DIÁRIO ÍNTIMO: O DISCURSO CENTRADO EM SI MESMO

Adriana Batista Lins Benevides


(UFBA)

Durante um bom tempo, os livros de razão, as memórias e os diários íntimos não tinham
nenhum tipo de valor histórico para os pesquisadores, porque esses materiais pertenciam à
história dita não-oficial. Já na década de 1980, no berço das propostas da História Cultural, foi
que se deu forte impulso à emergência de fontes documentais autógrafas, de caráter pessoal, e,
partir daí, os diários íntimos ganharam destaque por serem materiais portadores e construtores
20
de sensibilidades pertencentes às chamadas práticas culturais do sensível, conforme aponta
Cunha (2009). O gênero diário íntimo é considerado uma fonte a partir da qual é possível
perceber as sensibilidades do passado, por meio de traços objetivos que estes documentos
deixaram, pois, como toda escrita íntima/pessoal, é atravessado por dilemas e tensões no/do
meio em que se insere. O diário é responsável por abrigar registros particulares de um
indivíduo, em geral pequenos fatos do seu cotidiano, de suas impressões, questionamentos e
confidências que, nesse tipo de texto, se materializam e revelam os sentimentos e o próprio
universo cultural e psicológico do ser humano. De acordo com Foucault (1992, p. 144), “é a
própria alma que há que constituir naquilo que se escreve”. Desse modo, coerente com essa
perspectiva de estudo, delineia-se o objetivo deste trabalho, que consiste em tecer algumas
considerações sobre o gênero diário íntimo enquanto gênero do discurso, considerando dois
diários íntimos, de autoria feminina, datados de 1945 e 1946, importante momento na
conjuntura histórica, política, econômica e social do Brasil e que consistem no registro
documental da prática de leitura e de escrita de uma mulher baiana da São Salvador da última
década da primeira metade do século XX. Para atingir esse objetivo, valer-se-á do aparato
teórico-metodológico proposto pelo campo da História da Cultura Escrita, principalmente, as
reflexões desenvolvidas por Burke (2008, 2010, 2011), Chartier (1999, 2007, 2011), Cunha
(2009), Calligaris (2003), Gomes (2004), Kleiman (2008), Oliveira (2005). Quanto à escrita
de si, Foucault (1992) e quanto à discussão a respeito do gênero, levar-se-á em conta,
também, as reflexões de Bakhtin (2011).

REFLEXÕES SOBRE OS DISCURSOS DE EMPODERAMENTO DO SUJEITO EM


ESCOLAS PÚBLICAS DE CONCEIÇÃO DO JACUÍPE – BA

Adriana Reis
(UEFS)
Carla L. C. Borges
(Professora/UEFS)

Elementos discursivos atuantes em jovens, dentro do ambiente escolar, lhes imputam uma
condição de empoderamento e os coloca na condição de líderes, impelindo outros jovens às
práticas condenadas pela sociedade, e que, ao mesmo tempo, os sujeitam a estas condutas por
suas influências sociohistóricas. O objetivo deste estudo é, portanto, analisar o discurso
destes jovens, avaliando em que medida lhes é atribuído o respeito, o temor, a confiabilidade
da comunidade escolar da qual fazem parte e que arrogam a condição de transgressores da
ordem estabelecida. A Análise do Discurso permite trabalhar com as relações entre língua e
sujeito, na perspectiva de observar os ditos e também os não-ditos no discurso de liderança
dos adolescentes, refletindo sobre como o sujeito se constitui e é constituído pela linguagem.
Analisaremos as representações simbólicas de empoderamento pelo adolescente de
comportamento marginal que se impõe dentro da escola com suas construções discursivas
que dão a estes sujeitos a condição de liderança frente aos seus grupos sociais e à sua
comunidade. As convicções políticas, culturais, sociais, religiosas e ideológicas coexistem
lado a lado moldando, fundamentando, inscrevendo-se na língua, erigindo todas as suas
condições de produção. Investigar as representações discutidas e reconfiguradas do
adolescente que se impõe como marginal, dentro dos espaços educativos das escolas públicas
de Conceição do Jacuípe é o que move esta pesquisa. A relevância deste trabalho perfaz-se na
compreensão pedagógica e social do papel do adolescente em sua comunidade de vivência,
como forma de auxiliar na difícil tarefa de prevenir a delinquência juvenil, e
consequentemente, aproximar, cada vez mais, a dignidade, o respeito e a liberdade de um
21
maior número de jovens, no sentido de entender suas possíveis razões para apresentarem este
perfil, analisando discursivamente a importância dos textos que permeiam sua vida. O corpus
desta pesquisa está sendo constituído com o desenvolvimento de uma pesquisa qualitativa,
descritiva, com dados analisados através de interpretações dos fenômenos à luz da Análise do
Discurso, na linha de Pêcheux, observando os efeitos de sentidos que são atribuídos
socialmente às figuras humanas e aos tipos estabelecidos pelo corpo administrativo e docente,
através dos quais se verificará o olhar perpassado de ditos e não ditos sociais para o
adolescente rebelde e o sujeito marginal e suas implicações no ideário popular.

PRÁTICAS DISCURSIVAS E ESCRILEITORAS CONSTRUINDO COAUTORES


ADOLESCENTES EM FANFICS DE PERSONAGENS DA “SAGA CREPÚSCULO”

Adriana Figueiredo de Oliveira


(UNIFRAN)

O presente trabalho pretende fazer uma análise discursiva e das práticas de escrileitura, a fim
de verificar como se constrói a coautoria em textos nas “fanfics”, presentes em redes sociais,
em especial no blog “Everything about Twilight”. As fanfics são criações textuais produzidas
e circulantes nas redes sociais, e que propõem uma produção escrita a partir de uma obra
consagrada. Para isso, tomaremos como corpus principal, a leitura da fanfic “O diário de
Renesmee”, filha do casal Edward e Bella, uma das personagens principais da Saga
Crepúsculo. A escrita do diário tem como principal objetivo propor uma continuação do
último livro da saga, intitulado como “Amanhecer”, e para isso as autoras resolvem contar a
história da filha dos protagonistas da narrativa e de seu protetor, o lobo Jacob, que
destemidamente assume esse papel. Percebemos, portanto, por meio dessas produções, a
influência das práticas escrileitoras a partir do Best-seller escrito por Stephenie Meyer e como
exercem influência na construção da coautoria dessas fanfics. As fãs, autoras das fanfics,
assumem o papel de coautoras com a escritora dos livros da saga, sentindo-se assim,
responsáveis por perpetuar a história de romantismo, proteção e suspense envolvendo as
imagens exóticas dos vampiros e lobos, representados na personagem de Renesmee. Assim,
assumem uma postura de comprometimento com a história, com a autora e com os
“possíveis” leitores de suas recriações. O suporte teórico-metodológico a ser seguido no
trabalho de pesquisa e discussão, é a análise de discurso francesa, cujo precursor é Michel
Pêcheux, nos conceitos e princípios foucaultianos acerca das práticas discursivas e de autoria,
bem como em Roger Chartier, Eni Orlandi e outros para os estudos que envolvem as práticas
de leitura e de escrita. Preliminarmente, espera-se que a partir de uma investigação apurada do
corpus, os resultados apontem para uma interdiscursividade entre os livros que compõem a
saga crepúsculo e os diários virtuais que compõem as fanfics. Essa interdiscursividade parece
ser a grande responsável pelo delineamento da coautoria nas fanfics.

LIMITES DO HUMOR:UM ESBOÇO DE ANÁLISE

Alan Lobo de Souza


(UNICAMP)

Falar em “politicamente correto” é uma questão delicada (e recente) para a sociedade.


Adentrar, por sua vez, o espaço do humor e sua relação com o “politicamente correto” é entrar
no cerne de uma questão bastante polêmica. Afinal, se encararmos o riso como o “real do
22
humor”, o inapreensível que foge à tentativa de determinar o que/do que podemos achar
risível, é possível dizer que o “politicamente correto” compreende uma tentativa de
organizar/regulamentar o humor? Além disso, é possível afirmar que as condições históricas
de produção determinam um deslocamento na significação do humor a ponto de re-significar
o discurso humorístico? Esta pesquisa visa a tecer algumas considerações iniciais do modo
como a opinião e o imaginário público têm sido influenciados pelo discurso sobre os “limites
do humor”, atualmente atravessado pelo discurso do politicamente correto, isto é, pelo modo
como este discurso tem determinado desdobramentos das predicações do humor (e.g., humor
agressivo, humor inconveniente etc.). Centrados nos discursos sobre o humor, interessa-nos
analisar e descrever possíveis regularidades enunciativas, mecanismos sintáticos e processos
de enunciação em que o político, a tensão e a polêmica se estabelecem. Em outras palavras,
propomos analisar a contradição constitutiva do próprio funcionamento discursivo do humor,
isto é, analisar como determinados paradigmas e discursos proibidos operam, ao mesmo
tempo, como fonte para o próprio funcionamento do humor. O discurso cotidiano, a fala
pública é o espaço escolhido para analisar o funcionamento, o contraste, o equívoco, a falha
que constitui todo discurso que se vê atravessado por uma suposta “polícia discursiva”. Para
tanto, recortamos como material de análise textos que circulam em jornais e internet (blogs,
fóruns etc.). Ao privilegiar esse material, sublinhamos um espaço discursivo propício à
polêmica (neste caso, a caracterização de um litígio, uma questão controversa), na medida em
que é reconhecido por ser um espaço aberto e capaz de agregar rapidamente diferentes
opiniões e crenças. Na trama entre as relações históricas, na contradição constitutiva desses
discursos, que objetivamos descrever algumas consequências teóricas acerca do
funcionamento discursivo do “político” no humor.

SUBJETIVIDADE E SINGULARIDADE NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA


ESCRITA: O CASO DAS REESCRITAS INFANTIS

Alessandra Del Ré
Natalia Grecco
(UNESP – FCLAr)

Sabe-se que as atividades solicitadas em sala de aula, principalmente no Ensino Fundamental


I, tendem à homogeneização, exigindo normas e padrões, como é de praxe na esfera escolar.
Contrariando essa tendência, vemos emergir, desde as primeiras produções escolares, marcas
que revelam a singularidade desses alunos e que ajudarão a compor sua subjetividade (Del Ré
et al, 2012). Desse modo, o objetivo deste trabalho é mostrar, a partir de conceitos de Bakhtin
(2003) e Bakhtin/ Voloshinov (1992), esses indícios em textos de um aluno (J., 6 anos) do
segundo ano do Ensino Fundamental de uma escola pública do Estado de São Paulo. Trata-se
de uma reescrita do livro infantil “O coelhinho que não era de páscoa”, de Ruth Rocha (1994),
que foi recolhida pela professora da criança, sem que houvesse nenhuma interferência por
parte da pesquisadora. As histórias eram lidas pela professora e, a partir delas, os alunos
deveriam reescrevê-las. Eventualmente a professora poderia intervir, mas o objetivo da
atividade era deixar as crianças à vontade para produzir (Grecco, 2012). Os indícios
analisados nessas produções são compostos por pequenos movimentos realizados pelo aluno
dentro do gênero imposto, como: trazer outros discursos para a sua produção – o dialogismo
de Bakhtin –; a contra-palavra (Possenti, 2008), entendida como a resposta dada à solicitação
da professora e a atitude responsiva-ativa da criança, uma vez que ela demonstra dirigir seu
texto a um interlocutor específico – nesse caso, ele também deixa evidente suas posições
valorativas, reafirmando sua singularidade. Outra particularidade importante do texto do
23
aluno é a forma como ele brinca com o gênero do discurso, trazendo características formais
das narrativas infantis para o seu texto, como: a caracterização das personagens, os diálogos e
as fórmulas “Era uma vez” e “Foram felizes para sempre”. Os resultados mostram que a
singularidade do aprendiz pode ser visualizada no modo como ele realiza escolhas para o
preenchimento de certas características do gênero, no nosso caso, a narrativa e na maneira
como ele retoma discursos da alteridade axiologicamente.

A ARQUITETÔNICA DIALÓGICA DO GÊNERO ROMANESCO

Aline do Prado Aleixo Soares


(UNESP – FCL Assis)

Este painel pretende apresentar a pesquisa de iniciação científica intitulada “A leveza e o


peso, a alma e o corpo, a força e a fraqueza: relações de diálogo na compreensão de A
insustentável leveza do ser”, que tem por fundamentação teórica o pensamento filosófico
desenvolvido pelo Círculo de Bakhtin, tomando, para isso, em especial, os conceitos de
diálogo, estética, gênero e sujeito. Esta pesquisa é qualitativa e utiliza o método interpretativo
analítico-descritivo, dado tratar-se de uma pesquisa bibliográfica. A pesquisa analisa o
romance A insustentável leveza do ser, de Milan Kundera, em seu caráter linguístico e
translinguístico, a partir das palavras-tema que orientam seu enredo, sendo estas: a leveza, o
peso, a alma, o corpo, a força e a fraqueza. Tais palavras estabelecem relação de diálogo entre
si e com textos e discursos distintos, remetendo à filosofia e a outras áreas do pensamento
humano. O romance delimitado como corpus, aqui, é tomado como exemplar do gênero
romanesco e, com isso, pretende-se obter uma melhor compreensão da arquitetônica deste
gênero. Tendo em mente o embasamento teórico da pesquisa, é importante ressaltar que o
diálogo é um dos conceitos centrais do pensamento do Círculo. É a partir do diálogo que os
gêneros, bem como os sujeitos, se constituem. Os gêneros são pensados pelo Círculo como
tipos relativamente estáveis de enunciados, que possuem conteúdo, forma e estilo e se
classificam em primários – aqueles sem muita elaboração estética – e secundários – aqueles
com acabamento estético; sem que essa classificação seja hierárquica, pois gêneros primários
e secundários dialogam entre si em suas respectivas e recíprocas constituições. Além disso, os
gêneros se ligam às diversas esferas de atividade humana em que circulam, pois é a partir da
palavra – dos enunciados – que as relações humanas se constituem e, sendo assim, os
enunciados e, por sua vez, também os gêneros, possuem caráter ideológico, pois eles refletem
e refratam diversos aspectos do tempo e do espaço em que são construídos, ao mesmo tempo
em que participam da construção da ideologia. Sendo assim, parte-se do pressuposto de que o
romance de Kundera é construído a partir do diálogo: entre as palavras-tema que orientam seu
enredo e entre o próprio romance e outros textos, outros enunciados – anteriores e posteriores
– pois, conforme o pensamento que orienta a pesquisa, um texto nunca é acabado, mas sempre
é retomado na construção de outro(s).

24
O FUNCIONAMENTO DA ALUSÃO NOS CARTAZES DE PROTESTOS
POLÍTICOS

Aline Saddi Chaves 1


Maria Leda Pinto2
Marta Luzzi3

Os recentes acontecimentos ocorridos nos grandes centros urbanos brasileiros, e designados


pela mídia como “onda de manifestações” (Veja), “protestos pelo país” (Folha de S. Paulo),
“epidemia’ de manifestações” (O Estado de S. Paulo), levaram às ruas uma profusão de vozes
motivadas por causas difusas, razão pela qual ainda é cedo para analisar as motivações
profundas desses fatos. O que se percebe, contudo, é que essas vozes heterogêneas se
constituem, no discurso, como explicitamente atravessadas por uma alteridade. É para esse
outro, marcado e constitutivo desses sujeitos, que este trabalho se volta. Nossa hipótese é a de
que para se fazerem ouvir, essas vozes se valem das mais variadas estratégias alusivas:
canções, acontecimentos históricos, ditos populares, debates da atualidade, estereótipos de
cunho ideológico, publicidades, lemas oficiais, etc. A referência a esse outro, exterior à
pretensa unicidade do sujeito/discurso, revela ela própria a variedade de estratégias
envolvidas: ora a referência diz respeito a um determinado tipo de discurso, ora a um gênero
discursivo, ora a textos efetivamente produzidos, dentre outros recursos. Por uma necessidade
metodológica, elegemos o conceito de “alusão”, no sentido que J. Authier (2000) lhe confere,
como ferramenta operatória para descrever o corpus. Entendemos, desse modo, que os dizeres
dos cartazes fazem referência implícita ao outro, que é dado a reconhecer sem marcas
unívocas, dentro de um heterogeneidade discursiva mostrada. Permanecendo fiel ao quadro
teórico e epistemológico da análise do discurso francesa (ADF), consideramos que essa
alteridade deve ser vislumbrada dentro da problemática do interdiscurso, o que permite
ultrapassar a concepção restrita de intertextualidade, o que não implica, evidentemente, que
esta não seja uma estratégia interdiscursiva. Essa opção teórica nos autoriza a interpretar os
efeitos de sentido obtidos pelos dizeres dos cartazes segundo algumas teses centrais da ADF:
o descentramento do sujeito, o primado do outro, o discurso como acontecimento, a
impossibilidade de “domar” a língua e o sentido.

ANÁLISE DO DISCURSO E ECLETISMO TEÓRICO: PROBLEMAS DE EPISTÉME


E MÉTODO

Aline Saddi Chaves


(UEMS)

Trata-se, neste trabalho, de discutir os desenvolvimentos da análise do discurso francesa


(ADF) na atualidade. Do quadro epistemológico fundador, iniciado pelo filósofo Michel
Pêcheux na França dos anos 1960, às múltiplas análises do/de discurso na
contemporaneidade, observa-se um deslocamento substancial, e em diferentes níveis. A título
de exemplo, vê-se o aparecimento de novas/outras problemáticas (alteridade, imagem de si e
1
Docente do curso de Letras-Linguística da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), campus de
Campo Grande. Doutora em Letras pela Universidade de São Paulo (2010).
2
Docente da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Doutora em Letras em Letras pela Universidade de
São Paulo - USP (2007). Mestre em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (1994).
3
Mestranda no Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Letras da UEMS – Universidade Estadual de Mato
Grosso do Sul, Unidade de Campo Grande.
25
do outro, mudança e demanda social), materialidades (corpora midiáticos), além da
integração de conceitos e noções oriundos de outros domínios (ethos, gêneros do discurso).
Diante de tal estado de coisas, surge o questionamento sobre os riscos e as rentabilidades
comportados por um ecletismo teórico no interior da problemática do discurso. Os riscos
estariam relacionados à descontextualização científica, responsável maior pelo
enfraquecimento das ideias centrais da análise do discurso francesa (sentido, história) e seu
alto poder de interpretação. As rentabilidades estariam associadas à necessidade de rever e
propor questões cruciais, como o sujeito, a enunciação, a semiótica do intradiscurso. Nesse
caso, a apropriação de outras epistemes no interior da problemática do discurso viria
responder, ainda, a problemas de método, isto é, a descrição de materialidades e suportes cada
vez mais complexos, que refletem, na realidade, as novas configurações discursivas. Um
exemplo notável são os textos veiculados pelo suporte digital (hipertexto), um modo de gestão
de vozes inédito, espécie de polifonia moderna que permite que o leitor tenha acesso aos
exteriores do discurso. Nesse sentido, as análises do/de discurso contemporâneas nos fazem
lembrar, não sem riscos, a vocação interdisciplinar da ADF desde sua constituição. Feitos
esses apontamentos, tentaremos mostrar que é possível, e a nosso ver necessário, promover
um diálogo consciente entre a teoria do discurso e outras epistemologias, mantendo-se fiel ao
quadro fundador da ADF, com sua força explicativa e seu comprometimento em desvendar os
subterrâneos da linguagem.

A REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA DA MULHER NO GÊNERO CHARGE

Almirene Maria Vital da Silva Sant’anna


Agenilda França Santos
(UEFS)

Desde a antiguidade os discursos sobre a mulher são perpassados pelos sentidos de


inferioridade como: submissa, intelectualmente incapaz, frívola, entre outros. Apesar das
mudanças sociais, das lutas, das conquistas feministas, é possível perceber que esses discursos
permanecem (re)construídos socialmente e são evidenciados/veiculados de diversas formas.
Nota-se isso nas novelas, nas músicas e nos próprios discursos masculinos que, em geral,
revelam uma ideologia que subjuga a capacidade intelectual da mulher e, muitas vezes,
consideram-na um acessório e não uma companheira. Assim, o presente trabalho visa analisar
a representação discursiva da mulher no gênero charges, buscando compreender os processos
de construção dos sentidos acerca da imagem feminina, identificando, ainda, as formações
discursivas e ideológicas atreladas a ela, relacionando os sentidos gerados aos gestos do
interdiscurso que servem como base para a construção discursiva de certa noção do que é ser
mulher. A base teórica deste trabalho será, portanto, a teoria da Análise de Discurso, mais
precisamente a de linha francesa. Sabe-se que, na análise de discurso, mais do que interpretar
é preciso compreender como os discursos fazem sentidos, sendo assim é necessário
compreender as condições de produção dos discursos; compreender que não existe sujeito
sem discurso nem discurso sem ideologias. Assim, o processo de discursividade vai estar
diretamente atrelado à relação sujeito, língua e história. Para atingir tal objetivo foram
analisadas duas charges veiculadas no facebook e que demonstram a forma preconceituosa
como a mulher é vista não apenas pelo homem, mas também pela sociedade com um todo.
Essa visão está presente na forma como a mulher vê os acontecimentos do dia a dia e na
maneira como ela é tratada profissionalmente, reiterando os velhos discursos de que a mulher
só serve para os trabalhos domésticos e só entende de amenidades. A partir da análise das
26
referidas charges foi possível perceber discursos acerca da imagem da mulher que estão
vinculados a preconceitos e estereótipos, contribuindo, assim, para a construção da noção
discursiva de que ser mulher é algo negativo, o que implica uma desvalorização pessoal e
profissional da mesma.

AQUISIÇÃO/APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA E A PERSPECTIVA


BAKHTINIANA DE ESTUDOS

Amanda de Oliveira Silva


Patrícia Falasca
(UNESP / CNPq / CAPES)

Este trabalho tem como objetivo resgatar as ideias de Bakhtin (BAKHTIN, 2006; 1976;
VOLOSHINOV, 1997), trazendo suas contribuições acerca da linguagem e das relações entre
o eu e o outro para uma reflexão dos processos de aquisição/aprendizagem de língua
estrangeira (LE). Para tanto, consideramos como LE uma língua aprendida fora de seu país de
origem, após já se ter adquirido a língua materna (LM), tal como a aprendizagem de inglês em
escolas de idiomas no Brasil (LEFFA, 1988). Nas reflexões propostas neste trabalho,
buscamos relacionar também as ideias de autores que, trabalhando com a perspectiva
bakhtiniana, enriquecem as análises sobre a linguagem, tal como Geraldi (2010, 2010), Fiorin
(2006), e sobre a aquisição/aprendizagem de LE (HALL, 2005; MARCHENKOVA, 2005).
Dialogando com tal perspectiva, trazemos também as ideias de Vygotsky (2001) e François
(2006, 1989), uma vez que, para pensar o processo de aquisição/aprendizagem de LE
devemos também considerar a importância da interação (relação entre eu e outro) e a
existência de deslocamentos, que colocam o aprendiz em uma posição diferenciada com
relação à língua que está aprendendo. Nossos objetivos são, portanto, refletir acerca da
aquisição/aprendizagem de uma LE, trazendo para as reflexões as ideias do Círculo de
Bakhtin e discutir alguns dados linguísticos encontrados em sala de aula de crianças e adultos
que aprendem/ adquirem o inglês em escolas de idiomas no Brasil. Tomamos como base para
as discussões aqui propostas a importância da LM no processo de constituição da
subjetividade do indivíduo e a sua presença marcante na aquisição/aprendizagem de LE,
enquanto base para as concepções psíquicas do sujeito. Trazendo ideias abrangentes acerca de
questões de linguagem, a perspectiva bakhtiniana nos permite compreender a LE em sua
realidade social e enquanto lugar de criação e recriação para aqueles que entram em contato
com uma outra cultura, outra visão de mundo através da entrada na língua do outro.

A NOÇÃO DE AUTORIA E SUJEITO DISCURSIVO NO PRÓLOGO ROMANCE


ÚRSULA DE MARIA FIRMINA DOS REIS

Ana Carla Carneiro Rio1

O estudo da Análise do discurso do prólogo do romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis
está pautado nas ideologias vigentes no século XIX, na sociedade colonial oitocentista
maranhense, precisamente no ano de 1859 em que a obra foi publicada. O romance é divido
em um prólogo, vinte capítulos e um epílogo. A proposta do trabalho está imbricada nos
1
Mestranda em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Goiás- Campus Catalão. Professora da rede
estadual de ensino do Estado do Maranhão.

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postulados teóricos de Michel Foucault, quando questiona “O que é um autor?” e visa refletir
o que seria autoria, haja visto, que Maria Firmina assinou com um pseudônimo “Uma
Maranhense”. Para Foucault, autor é quem consegue inquietar com o discurso, ou seja, aquele
que dar unidade ao seu lugar de fala e as condições de produção com o discurso que produz.
O prólogo do romance faz prenúncio às questões de gênero no que diz respeito a uma escrita
de autoria feminina, “Sei que pouco vale este romance, porque escrito por mulher, e mulher
brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação do homens
ilustrados”(REIS,2009, p. 13), portanto levanta questões sobre a submissão feminina em
pleno século XIX, em que o discurso histórico estava fundamentado em uma sociedade
pratriarcal. A autoria, portanto é relacionada neste trabalho como a voz do outro, desse modo,
não pertence ao sujeito que escreve, é de posse do discurso, daí a noção de sujeito discursivo.
A noção de autoria neste trabalho será relacionada como uma produção da ideologia em
função da proposta apresentada por Maria Firmina, ou seja, autor seria uma figura ideológica
que produz sentido através do discurso. Autor é uma “função-sujeito”, pois através da escrita
e por meio do discurso ocorrem posicionamentos sócios históricos e ideológicos. . Para
Fernandes (2007), a escrita, enquanto exterioridade constrói sujeitos, fazendo emergir de si
efeitos-sujeito. No prólogo, o sujeito que escreve faz isso a partir de seu lugar de enunciação
através da memória discursiva, interdiscursividade e dos dizeres que percorrem em todo o
corpo social.

ESTUDO BIBLIOGRÁFICO SOBRE O GÊNERO PUBLICITÁRIO

Ana Carolina Cardoso Bedenik


(UNESP – FCLAR)

O interesse central deste trabalho é fazer um estudo bibliográfico sobre o gênero do discurso
publicitário. As questões que levam a esse estudo são: o que trabalhos acadêmicos na área da
análise do discurso têm destacado acerca desse gênero? Esses trabalhos definem a publicidade
como gênero do discurso? Se sim, como se manifesta esse gênero?
Para começar a responder a essas questões, propõe-se um estudo bibliográfico de teses e
dissertações, na área da análise do discurso, que versam sobre esse gênero.
Os estudos sobre o discurso publicitário são abundantes na atualidade, tendo em vista o
interesse que essa prática tem despertado nas ciências humanas. Suas implicações
sociológicas, históricas, psicológicas (entre outras) são objeto de pesquisa no Brasil. É nesse
contexto que se insere esta pesquisa.
Esse interesse pelo discurso publicitário em diversas áreas das ciências humanas justifica esta
proposta de investigação, considerando-se que os estudos do discurso têm uma especificidade
na abordagem da publicidade – ou seja: os suportes teórico-metodológicos que dão
sustentação às análises produzem um conhecimento sobre esse discurso que, em hipótese, não
tem estreita relação com o conhecimento produzido em outros campos de saber. Podemos
afirmar que, por exemplo, a concepção de linguagem/discurso que é base para os diversos
estudos do discurso não permite afirmar que haja uma relação simples entre texto publicitário
e seu público, ou que a linguagem do texto publicitário seja uma representação fiel da
realidade social, ou até que a publicidade interfira diretamente no gosto do consumidor. Os
estudos do discurso não entendem a linguagem como representação do mundo, não a
entendem como simples espaço de mediação entre sujeitos, mas como materialidade em que
os embates sociais são refratados (nos estudos bakhtinianos, por exemplo), materialidade em
que se manifestam aspectos sobre a subjetividade, ela é espaço de construção ideológica do
sujeito.
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Nesse contexto, esse trabalho visa investigar como as análises do discurso desenvolvidas no
Brasil têm abordado a problemática das relações entre mídia, publicidade e sociedade.
Para a realização do estudo bibliográfico proposto, foram utilizadas ferramentas de busca na
internet, em bibliotecas digitais de importantes centros de pesquisa no país. Foi feita uma
leitura dos trabalhos que mais se aproximam dos objetivos e, posteriormente, realizadas
considerações gerais sobre os textos pesquisados.

VOU DE TÁXI: IDENTIDADES DISSIDENTES AO VOLANTE

Ananias Agostinho da Silva


(UFRN)
Francisco Vieira da Silva
(UFPB)

Inscrevendo-se no horizonte teórico da Análise do discurso de orientação francesa, este


trabalho toma como principal objetivo a investigação sobre a constituição identitária da
categoria dos profissionais taxistas em conversações informais gravadas no trânsito. Para
tanto, partimos do pressuposto de que o sujeito ao produzir discursos, engendrando assim
efeitos de sentido diversos, também se significa, também se inscreve discursivamente nos
seus dizeres, de maneira a costurar determinadas filiações identitárias. Além disso,
acreditamos que o lugar ocupado pelo sujeito na sociedade é constitutivo dos dizeres por ele
produzidos e, consequentemente, de sua identidade. Destarte, nossas análises serão
conduzidas no sentido de entrever as marcas identitárias do sujeito taxista que reverberam
dissidências, contrastes e não-lugares na constituição dos seus dizeres. Para tanto, retomamos,
de modo especial, os trabalhos desenvolvidos por Michel Foucault (1979, 1986, 1995, 2004,
2010) sobre as noções de sujeito, discurso; e em estudos realizados por pesquisadores como
Brandão (2004), Gregolin (2003, 2004, 2007), Guilhaumou & Maldidier (1994), Orlandi
(2007) e Possenti (2006), que têm contribuído significativamente para compreensão e
ampliação do quadro teórico da Análise do discurso. Além disso, especificamente sobre a
noção de identidade na (pós) modernidade, recorremos às considerações de Stuart Hall (2005)
e de Zygmunt Bauman (2005), mesmo que em uma perspectiva dos estudos
culturais. Os discursos analisados foram produzidos por taxistas que circulam nas
capitais nordestinas de Natal (RN) e de João Pessoa (PB), e gravados no período
de março a abril de 2013. Por fim, as considerações realizadas nas análises
permitem perceber as identidades dos taxistas, enquanto “construção discursiva,
histórica, sempre múltipla, heterogênea, instável” (GREGOLIN, 2003, p. 13) revelam
características específicas da vida pessoal (pai e esposo que trabalha para sustentar a família)
e profissional (a profissão é percebida como trabalho honesto, digno, mas, muitas vezes,
pouco valorizado, por exemplo) dos sujeitos que as (des)vestem.

VER, OUVIR... LER: UMA PROPOSTA DE AD DA ESTRUTURA E


APRESENTAÇÃO DE TELEJORNAIS ALL NEWS

André Luiz Silva


(CEFET-MG)

Os telejornais, de TV aberta ou por assinatura, são discursivamente complexos e permeados


de interdiscursos. Esse (sub)gênero possibilita leituras multissemióticas, em razão da presença
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de textos (escritos/falados), imagens estáticas e em movimento, som etc. Desde o seu
surgimento, na década de 40, nos Estados Unidos, passou por três fases até hoje. Num
primeiro momento, consistia na leitura de notícias, sobretudo de política, economia,
internacionais e meteorológicas. Quase não havia imagens nesse período, quando muito de
eventos já passados ou de gráficos, mapas, fotografias. No caso brasileiro, sobretudo por
questões econômicas, o jornalismo televisivo era quase todo feito direto do estúdio, ao vivo,
só com a presença do âncora-leitor e sua voz vibrante oriunda do rádio. A década de 60
inaugura a segunda fase do telejornalismo, com o advento do videoteipe e dos satélites. Nesse
momento, o (sub)gênero se tornou a mais importante atração das emissoras. A terceira e
presente fase do telejornalismo se iniciou com o surgimento da Cable News Network (CNN)
no início da década de 80. Essa fase tem como característica, sobretudo, a informação
onipresente e contínua, em que são exibidos acontecimentos de diferentes pontos da Terra,
bem como as respectivas repercussões. Em consequência dessas duas características
(onipresença e velocidade da informação), os telejornais de emissoras all news (aquelas cuja
programação é exclusivamente de conteúdo jornalístico) têm lançado mão de um dispositivo
característico desses canais só de notícias: os textos em movimento. Durante os telejornais das
emissoras all news, os textos em movimento são mais uma maneira de informar o
telespectador, ademais da voz do âncora e de outros dispositivos cênicos fotográficos
(cenário, articulistas etc.) e pós-fotográficos (selo, hora etc.). Dessa maneira, neste trabalho,
quer se propor um modelo de análise discursiva tendo como base a Teoria Semiolinguística e
seus aspectos teórico-metodológicos (situação de comunicação, seres sociais e seres de fala,
modos de organização do discurso etc.), bem como o esquema de análise de telejornais
proposto por Jost (1999), já que reproduz e leva em consideração elementos indispensáveis à
constituição desse (sub)gênero, a saber: vinheta, escalada, temáticas etc. Será dada atenção
específica aos textos em movimento – coesos, modulares, a-sequenciais – presentes no rodapé
da tela dos telejornais all news.

DISCURSO, MEMÓRIA E CORPOS DÓCEIS: A (IN)DISCIPLINA SOB OS OLHOS


DOS PROFESSORES

Andréia Aparecida Thibes dos Santos


(UNICENTRO)

As discussões atuais sobre a (in)disciplina escolar nos impulsionaram a pesquisar e analisar


sobre os mecanismos discursivos que historicamente regeram a construção de “corpos dóceis”
na escola, mais precisamente os discursos que dão visibilidade aos regimes de existência do
corpo enquanto objeto de discurso, evidenciando instrumentos de poder e de normatizações
nos espaços escolares. Partimos do principio de que esse espaço é, desde o séc. XVIII, lugar
de controle de comportamentos e de discursos, o que pode ser observado em sua estrutura
arquitetônica tanto interna quanto externa. Acionamos, para fins de análise, alguns conceitos
do quadro teórico-metodológico da Análise do Discurso de linha francesa, tais como o
interdiscurso, a memória discursiva e o sujeito discursivo, juntamente com as contribuições de
Michel Foucault acerca do poder disciplinar, mais precisamente nas formulações de sua
genealogia arregimentadas nas obras Vigiar e Punir e Microfísica do Poder. O corpus de
análise foi constituído por depoimentos de professores, recolhidos em questionários, a partir
dos quais analisamos o interdiscurso, o papel da memória, os atravessamentos de discursos
outros que são (re)estabelecidos nos discursos dos sujeitos (professores), atentando para os
dizeres que sustentam certos mecanismos de poder e os que rompem com tais mecanismos.
Ao darmos, fundamentalmente, visibilidade às regularidades e às instabilidades dos sentidos,
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à sistematicidade e à dispersão na construção desses discursos, focalizamos nos questionários
três aspectos: (i) organização do espaço; (ii) a (in)disciplina ontem e hoje nas escolas; (iii)
deslocamentos e alternativas para garantir a eficácia no ensino, hoje. Os gestos de
interpretação do corpus apontaram que há muitos resquícios das práticas tradicionais de
disciplinarização de corpos na atualidade, esses resquícios são dados a ver quando os sujeitos
professores, em seus discursos, reatualizam anterioridades que concebem a ordem, a
organização em filas como forma de garantir o controle minucioso do corpo, para, assim,
controlar suas forças e impor-lhes uma relação de “docilidade-utilidade”. Outros
comportamentos de controle são destacados na materialidade discursiva, tais como: a
individualização, a categorização, dentre outros. No trajeto analítico que percorremos
observamos, também, alguns deslocamentos, mas que, apesar disso, deixam-se sobressair
discursos que mostram os professores saudosos dos mecanismos utilizados no passado, pois
estes são interpretados como sendo mais eficazes.

ALGUNS VESTÍGIOS DO SUJEITO CONTEMPORÂNEO SOB O OLHAR DA


ANÁLISE DO DISCURSO E PSICANÁLISE

Ane Ribeiro Patti


(FFCLRP/USP)
Lucília Maria Sousa Romão
(FFCLRP/USP)

O presente trabalho é um fragmento de nossa tese de doutoramento que encontra-se em fase


de qualificação na PPG da FFCLRP/USP, em que propomos realizar algumas reflexões
teóricas e análises discursivas feitas sob o andaime teórico-metodológico da Análise do
Discurso de Escola francesa, doravante AD, formulada por Michel Pêcheux (1969-1983). Em
consonância com o fundador, dedicamo-nos à interface desta teoria com a Psicanálise
freudiana relida por Jacques Lacan, onde alguns conceitos são revisitados e postos a trabalhar
nas análises, tais como o sujeito – do discurso e do inconsciente -, a ideologia, o inconsciente,
silêncio e silenciamento. A materialidade discursiva que compõe nosso corpus, de onde
extrairemos um recorte para esta apresentação, é composta por discursos enunciados e
imagéticos coletados na Internet, em blogues e sites específicos que abordam a temática da
tese, a saber, sentidos produzidos por discursos sobre a rebornagem, em que observamos
discursivamente o avivamento do morto. No bojo da teoria pecheutiana, as condições de
produção discursivas compreendem não só a ocasião da enunciação, mas engloba, em amplo
sentido, um contexto sócio-histórico, de onde emergem os sentidos e não-sentidos,
silenciamentos, repetição do já-dito e ressignificações do mesmo. Para ilustrar a temática em
andamento na contemporaneidade, traremos um recorte sobre as condições de produção
discursivas na pós-modernidade em que o movimento basculante entre o morto e o vivo
emergem pelo sujeito discursivo que promove o encadeamento do discurso entre
(re)significações e silenciamentos. A entrada discursiva da análise de dados, nos possibilita
investigar sentidos de maternidade, felicidade e perfeição, por sua regularidade e
encadeamento na FD reborn filiada, por sua vez, às formações ideológicas que dão
engrenagem ao discurso capitalista com sua regência de mercado no contemporâneo. A
internet aqui, tem papel fundamental e nos relança a pensar sobre estas novas formas de
subjetividades que colocam novas práticas sociais no horizonte sócio-histórico, produzindo
um sujeito histórico, uma memória social em que o heterogêneo e o polissêmico são postos
em jogo o tempo todo, e a partir dela pinçamos os vestígios deste sujeito, sobre os quais
teceremos gestos de interpretação em interlocução com alguns teóricos da Filosofia, da
31
Sociologia, da História, e da Antropologia para abordarmos matizes da cibercultura, que
participa de um momento histórico único e singular do capitalismo tardio.

FILOMENA BORGES DE ALUÍSIO AZEVEDO: UMA SÁTIRA AO ROMANCE-


FOLHETINESCO E AO ROMANTISMO SOB A ÓTICA BAKHTINIANA

Angela Maria Rubel Fanini


(UTFPR)

Neste artigo focalizamos o romance Filomena Borges de Aluísio Azevedo, demonstrando que
a narrativa se enquadra na categoria de romance de segunda linha de que trata Bakhtin (1988)
à medida que se constitui enquanto um texto-folhetinesco e simultaneamente estiliza o gênero
folhetinesco, satirizando-o. O romance instaura-se como discurso híbrido e indireto ao
incorporar o folhetinesco e estilizá-lo. Chega-se à conclusão de que o romance em tela é ainda
legível e pode elucidar a obra e o projeto ilustrado-pedagógico do escritor maranhense.

DOIS CONTEXTOS DE BILINGUISMO: MARCAS DE SUBJETIVIDADE

Anna Carolina Saduckis Mroczinski


Paula Bullio
(UNESP-FCLAr)

O presente trabalho tem como objetivo observar sujeitos bilíngues e analisar as marcas
verbais e não-verbais de subjetividade que evidenciam a relação que se estabelece entre língua
e cultura, e como eles se colocam enquanto sujeito na sociedade em que vivem. Trata-se de
uma pesquisa com duas crianças em contextos diversos de bilinguismo, uma na escola e outra
em casa. Para tanto, trabalhamos com uma criança de 5 anos falante de PB e espanhol (língua
que usa em situações específicas, como na escola bilíngue, com a mãe e a pesquisadora),
filmada em situações cotidianas do lar. E outra de 2 anos, falante de PB (que usa em casa,
com a irmã, mãe e babá) e francês (já que mora na França e em casa, com o pai). As crianças
foram gravadas em ambiente familiar com o intuito de registrar situações linguageiras e
espontâneas, na medida do possível. Os dados foram transcritos no formato CHAT
(PARISSE, C. et LE NORMAND, M. T. 2007) , que nos permitiu trabalhar com o sistema
CLAN (MACWHINNEY, 2000). Partindo das teorias propostas por Bakhtin (1997), olhamos
para a linguagem como uma construção ideológica, cujo sentido é constituído no e pelo
enunciado. Assim, nossa pesquisa busca observar esse despertar de uma nova identidade, que
vem junto da aquisição de uma outra língua, e que irá marcar essa subjetividade dos sujeitos.
A criança bilíngue se mostra como um quadro rico e peculiar, o que justifica, segundo
HOUWER (1990), um grande número de pesquisas (como as de SLOBIN, 1995; BERMAN,
1986; MILLS, 1986) que comparam crianças que adquirem línguas diferentes. A entrada
desse sujeito na língua materna funda-o como ser social. A aquisição de uma outra língua,
permite-lhe uma imersão em “novas correntes de comunicação verbal”, além da vivência de
uma outra cultura, ideologia e comunidade (BAKHTIN/VOLOSHINOV, 1997). E a partir
disso, é possível o surgimento desta nova identidade da criança bilíngue, que a marca como
sujeito e é o nosso objeto de estudo.

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ENUNCIADOS DESTACADOS E ENUNCIAÇÃO AFORIZANTE NO DISCURSO
JORNALÍSTICO

Anna Flora Brunelli


(UNESP- S. J. Rio Preto1/FEsTA2)

Dentre as diversas contribuições de Maingueneau para a atualização da Análise do Discurso


de linha francesa, podem-se destacar suas reflexões sobre a circulação das fórmulas, nos mais
diversos meios, especialmente na mídia. O termo vago “fórmulas” se aplica normalmente a
enunciados curtos, dotados de certas propriedades que facilitam sua memorização e,
consequentemente, sua circulação, que pode ser bem intensa, inclusive. Como muitos desses
enunciados foram extraídos, quer dizer, destacados de textos, o autor os chama de
“enunciados destacados”. Há duas classes distintas desse tipo de enunciados, conforme o
destacamento do enunciado seja constitutivo ou por extração. Assim, de um lado, há os
provérbios e todas as fórmulas sentenciosas que não são dotadas de um contexto situacional
nem de cotexto original, caso em que o destacamento é constitutivo e, de outro lado, estão os
fragmentos extraídos de um texto específico (enunciados destacados não sentenciosos). Seja
como for, os enunciados destacados têm um status pragmático especial, isto é, eles decorrem
de um regime de enunciação específico, a que Maingueneau nomeia de enunciação aforizante:
um tipo de enunciação que pretende ser uma fala sempre disponível, que estaria atualizando o
que seria, de fato, “memorável”. Na verdade, trata-se de um efeito de sentido desse tipo de
enunciação, que se pretende como parte de um repetição que a sua própria enunciação
autoriza. Desse modo, o sujeito enunciador desse tipo de enunciação, o aforizador, vai além
da diversidade das interações imediatas dos gêneros textuais, assumindo um ethos específico,
isto é, o ethos daquele que está no alto, do indivíduo autorizado que está em contato com uma
fonte transcendente. Diante do exposto, neste trabalho, analisam-se aspectos de enunciados
destacados não sentenciosos no discurso jornalístico, observando-se, em particular, o modo
como ocorreu a operação de destacamento. A análise confirma a constatação feita por
Maingueneau de que tais enunciados estão sujeitos a sofrer diversos tipos de alteração no
curso de seu destacamento, mesmo quando o texto fonte está próximo da aforização e
acessível ao leitor/ouvinte, como se a divergência entre o enunciado destacado e sua fonte não
fosse causar nenhuma surpresa. De acordo com Maingueneau, isso se deve justamente ao
regime de enunciação ao qual pertencem esses enunciados destacados, ou seja, o regime
aforizante, que é o que autoriza a transformação do enunciado destacado.

OS SENTIDOS DA GREVE NO DISCURSO WAGNER: DOIS TEMPOS DE UMA


HISTÓRIA

Aretuza Pereira dos Santos


(LINSP – UEFS)

Pretende-se, através desta pesquisa, examinar o discurso político do atual Governador da


Bahia, Jaques Wagner, no que concerne à temática “greve”, questionando o que mudou no
discurso desse sujeito, e investigando o modo e as condições que propiciaram tais mudanças.
1
Departamento de Estudos Linguísticos e Literários (DELL) do Instituto de Biociências, Letras e Ciências
Extatas (IBILCE), UNESP/Câmpus de São José do Rio Preto (SP).
2
Centro de Pesquisa Fórmulas e estereótipos: teoria e análise, vinculado ao Instituto de Estudos da Linguagem
(IEL), UNICAMP.

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Para tanto, utiliza-se um corpus composto pelos seguintes discursos: pronunciamentos
oficiais frente aos impasses grevistas na Bahia desde sua trajetória como sindicalista,
deputado e governador, momentos esses que divido em dois tempos diferentes, tendo em vista
a alteração de papéis e lugares sociais assumidos e ocupados por esse sujeito no decorrer de
sua trajetória política, já que diferentes relações de poder se estabelecem entre eles. O estudo
busca analisar o discurso político, portanto, não pretende julgar as ações governamentais e,
nem avaliar o seu desempenho. Vale ressaltar que a escolha da temática greve dá-se em razão
de um ciclo de greves e mobilizações dos servidores públicos, principalmente, a polícia
militar e os professores da rede estadual, no primeiro semestre de 2012, surgindo algumas
inquietações, a saber: Por que as categorias trabalhadoras públicas, especificamente, os
policiais militares e professores da rede estadual da Bahia, o estado mais rico do Nordeste,
vivenciaram e vivenciam tanta repressão durante os movimentos grevistas - a exemplo de
utilização das forças nacionais, prisões, corte de água e luz, e a desocupação desses servidores
da Assembleia Legislativa da Bahia, teoricamente, a “casa do povo” - num estado que é
governado por um sujeito que na sua trajetória de vida política enquanto sindicalista e
deputado apoiou as reivindicações dessas classes, além de já ter sido vítima da ditadura
militar? Se há uma mudança, de que forma ela acontece e qual o contexto sócio-histórico? Por
que, como e sob quais condições é construído o discurso? Quais formações discursivas (FD)
estão presentes nos pronunciamentos de um governador, cuja imagem pública foi construída
sob a égide das lutas sindicais? A quais formações discursivas esse sujeito se filia? No
decorrer da trajetória política desse sujeito, há mudança de uma formação discursiva para
outra FD? O que motivou essas possíveis mudanças? Quais são as estratégias discursivas
usadas para o efeito de persuadir seus auditórios recorrendo sempre à justiça, ao seu próprio
discurso, a mídia e “cálculos financeiros” como meio de manipulação? Essas indagações
possibilitam uma análise da conjuntura social e política que envolve a Bahia na atualidade.
Para tentar compreender como os discursos de Wagner referentes à temática greve significam,
haja vista as alterações de papel e lugar social assumido e ocupado por esse sujeito, e das suas
condições de produção, assume-se como suporte teórico a Análise do Discurso de Linha
Francesa, a noção de sujeito e de interdiscursividade, acrescentando as noções de história e de
ideologia, uma vez que os discursos em questão não se resumem à mera transmissão de
informação, mas a produção de sentidos.

MANUSCRITOS NAS MANIFESTAÇÕES DE RUA DO MOVIMENTO PASSE


LIVRE

Assunção Aparecida Laia Cristóvão


(Universidade Vale do Rio Verde – Unincor)

Os mais antigos registros escritos datam de mais de 3 mil anos a.C. e somente em meados de
1450 d.C. é que Johannes Gutenberg transformou a relação dos homens com a cultura escrita
(CHARTIER, 1998), por meio da invenção da prensa de tipos móveis. Naquele ano, o
inventor alemão começou a imprimir o primeiro livro, a Bíblia, trabalho que demorou cinco
anos para ser concluído. De lá para cá, as técnicas de impressão tiveram um avanço
extraordinário com a revolução eletrônica, que redundou nos computadores e impressoras
pessoais, conferindo autonomia à execução de pequenos impressos ou barateando o custo de
outros. A consequência desse processo foi uma ampla revolução nos costumes. As cartas
pessoais foram substituídas pelos e-mails ou serviços de mensagens on-line; bilhetes foram
trocados pelo torpedo do telefone celular; trabalhos acadêmicos raramente são manuscritos,
mas impressos. Os exemplos são tão difundidos e evidentes que prescindem de enumeração.
34
Como explicar, então, um fenômeno recentemente verificado no Brasil e que, ao menos na
aparência, demonstra um retrocesso nesse percurso de evolução tecnológica? Trata-se dos
textos manuscritos que constituem material de protesto, escrito e utilizado nas recentes
manifestações, ocorridas em junho em diversas cidades do país e promovidas, ao menos
inicialmente, pelo Movimento Passe Livre – e, posteriormente, por outras organizações ou até
de forma espontânea – para reivindicar a redução da tarifa dos ônibus municipais. O objetivo
deste artigo é analisar a forma de escrita daqueles textos. O que se notou em tais
manifestações é que, ao contrário de movimentos de protesto que se notabilizaram no país,
como o das Diretas Já ou o dos Cara Pintadas, as manifestações deste ano não utilizaram
como material cartazes, faixas e banners impressos, mas predominantemente manuscritos.
Como ferramenta de análise será utilizada a Análise Dialógica do Discurso, em especial os
conceitos de dialogismo, gênero do discurso (cartaz e faixa de protesto) e cronótopo do
Círculo de Bakhtin. O objetivo será também o de encontrar sentidos nessa relação paradoxal
representada pela utilização de um recurso tão antigo – a escrita manual – por uma geração
sofisticada tecnologicamente, que, provavelmente pela primeira vez no Brasil, conseguiu
levar milhares de pessoas às ruas, utilizando-se para isso tão somente de recursos oriundos da
tecnologia, como as redes sociais, acessadas por suportes tais como tablets, celulares e
notebooks.

O ECOLÓGICO E O IDEOLÓGICO NO DISCURSO DA NATURA

Bárbara Melissa Santana


(UNESP- ASSIS)

A proposta da pesquisa aqui apresentada consolida-se a partir da teoria do Círculo de Bakhtin


e seus estudos sobre o signo ideológico, gênero, sujeito e discurso. Sob essa perspectiva,
discorre-se sobre o discurso da sustentabilidade da empresa Natura e o uso desse discurso
como um artifício de teor publicitário concretizado como instrumento de persuasão inserido
na publicidade da referida marca. Nessa perspectiva, confirma-se a existência de um sujeito
responsivo/ responsável posicionado dialogicamente em um espaço onde lhe são interpeladas
determinadas reações como a cobrança social sobre atitudes sócio e ecologicamente
responsáveis e um discurso publicitário de teor “ecologicamente correto” que lhe provê um
acolhimento quanto à sua responsabilidade social. A proposta baseia-se na reflexão sobre a
constituição discursivo dialógica desse discurso. Considerada a não existência de uma
metodologia consolidada para análise do gênero discursivo publicitário ou uma proposta que
enfatize a arquitetônica dessa construção, propõe-se aqui uma pesquisa de natureza qualitativa
com caráter interpretativista analítico-descritivo, composta por etapas de análise que partem
do texto mas o vêem sempre no âmbito de sua mobilização pelo gênero, mediante o discurso.
Contextualizada no atual cenário social, a análise do discurso da marca Natura pauta-se aqui
na abordagem dos aspectos ideológicos e dialógicos dessa construção. A partir do conceito do
Círculo de Bakhtin que considera o sujeito como singular, único, responsável por seus atos,
sem álibi de sua existência e responsivo às circunstâncias que delineiam sua vida, aborda-se
aqui a relação deste com o discurso da sustentabilidade da referida marca que lhe submete a
um discurso de teor “ideologicamente correto” em contraposição às expectativas despertadas
de um discurso “ecologicamente correto”. A análise aqui efetuada encontra-se em contínuo
processo de desenvolvimento e, portanto, torna-se impossível a apresentação de uma
conclusão sobre a mesma. Consoante a própria teoria do Círculo de Bakhtin aqui utilizada
como fundamento, a articulação de um término à pesquisa assim como a imposição de limites
para novas interpretação do corpus de pesquisa torna-se inconcebível visto que a relação
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dialógica da pesquisa com seu contexto e seu mundo exterior não se estabelecem de modo
passageiro e efêmero mas tem nesse aspecto uma continuidade ilimitável sustentada pela
alteridade existente na relação pesquisador e seu objeto de pesquisa. Sob essa perspectiva
justifica-se a não demonstração de uma conclusão concreta à pesquisa aqui relatada.

PIRATARIA EDITORIAL E A ANGLICIZAÇÃO DO NOVO MUNDO

Bianca Dorothéa Batista


(UFRJ)

Os relatos dos navegantes das mais diversas nacionalidades possibilitaram a atualização do


conhecimento geográfico, cosmográfico, cartográfico e etnográfico na Europa que até o início
do século XV eram baseados nas obras gregas que, por sua vez, baseavam-se mais em
hipóteses e reflexões do que em experimentos/comprovações. Estas narrativas de viagens
atendiam, primeiramente, a demanda dos financiadores das viagens, comerciantes e Coroas,
que exigiam uma descrição detalhada de todo o trajeto da expedição assim como de tudo o
que sucedera. Sua riqueza textual possibilitou uma reconfiguração da ciência e da construção
da imagem do outro que até então conhecia-se apenas por relatos do âmbito do maravilhoso,
como a narrativa de John Mandeville, Travels of Sir John Mandeville (1371) Este corpus
textual excedia sua função informativa e assumia uma função ideológica. Os editores ingleses
Richard Hakluyt nas suas coletâneas de viagens, The principal navigations (1589/1598/1600)
e Samuel Purchas em Hakluyt Posthumus or Purchas his pilgrimes (1625) utilizaram diversos
relatos de navegantes ingleses nas mais diversas partes do globo de forma a historicizar as
empreitadas marítimas inglesas e justificar sua inserção nas terras recém descobertas. Em
conjunto a compilação de relatos ingleses, havia a tradução de relatos de portugueses e
espanhóis capturados. Estes textos assim como as mercadorias saqueadas passavam a ser
primeiramente propriedade daqueles que os capturaram e em seguida dos editores que
detinham os textos. Suas narrativas compunham uma verdadeira autoridade textual, ou seja,
suas narrativas asseguravam a veracidade das empreitadas relatadas nos relatos dos
navegantes ingleses assim como corroborariam todo e qualquer relato que surgisse referente a
mesma viagem. A partir disso, o presente trabalho irá por em discussão a relação dialógica
entre o discurso dos ingleses e ibéricos e como satisfaziam a intenção discursiva de inserir o
Novo Mundo como parte do patrimônio inglês. Também será abordado o contexto de
produção destas coletâneas de viagens, sua circulação impressa e por meio de outras
narrativas, o público alvo destas obras e a ação responsiva dos leitores. Esta responsividade
determinava a comunicabilidade das obras e a constituição histórica e social dos atores sociais
envolvidos.

O DISCURSO E O FACEBOOK: REFLEXÕES SOBRE A TEXTUALIDADE DA


INTERNET

Breno Rafael Martins Parreira Rodrigues Rezende


(UFTM)
Orientadora: Profª. Drª. Jauranice Rodrigues Cavalcanti
(UFTM)

Sabe-se que os impactos dos avanços tecnológicos produziram mudanças em diferentes


esferas sociais, nas práticas de leitura e escrita que ocorrem em tais espaços. O advento da
36
internet e suas ferramentas, como o hipertexto, causam uma transformação significativa em
todos os campos da sociedade, o que inclui o campo da comunicação, esse advento
praticamente “obrigou” que os sujeitos do século XXI interagissem por meio dele. Através
desse meio a leitura deixa de ser uma atividade restrita ao impresso, passando a ser realizada
em outros suportes: emails, MSN, blogs, chats, redes sociais etc. Como apontam diferentes
estudiosos da linguagem (Maingueneau, 2010) a WEB não se limita a ser o lugar que permite
a emergência de novos gêneros de discurso, mas “transforma as condições de comunicação, o
que se considera gênero, e a própria noção de textualidade” (p. 132). Nessa perspectiva,
consideramos importante investigar como e que leituras se produzem nesse espaço, o que
procuramos fazer elegendo como objeto de pesquisa as leituras que jovens, escreventes das
redes sociais, fazem de assuntos polêmicos que circulam na própria internet e em outras
mídias. Para isso, reunimos publicações abertas de escreventes da cidade de Uberaba – MG,
na rede social Facebook. Para proceder às análises, valemo-nos dos conceitos de ethos,
destacabilidade, cenas de enunciação e gêneros do discurso, como são trabalhados no quadro
teórico-metodológico da AD, conceitos que aparecem nas pesquisas de Maingueneau (2008 e
2010). Resultados apontam que a grande quantidade de posts são enunciados destacados,
destacamento que resulta do posicionamento do jornalista/órgão de imprensa que põe os
textos a circular. Neles aparecem falas atribuídas a personalidades que ocupam posição de
destaque no momento da circulação. Além disso, verificamos que os jovens buscam criar de si
um ethos de pessoas bem informadas, a par de tudo o que acontece no mundo, e, ao mesmo
tempo, de pessoas “descoladas”.

O ESTILO INTERAUTORAL DE MARISA MONTE: ANÁLISE DIALÓGICA


ARQUITETÔNICA

Bruna de Souza Silva1


Orientadora: Luciane de Paula2

Este trabalho é fruto de uma pesquisa científica que tem como objetivo prioritário analisar as
relações dialógicas da cantora-compositora Marisa Monte com os cantores-compositores
Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown; construídas de maneira dialógica e intergenérica – e
mantém como objetivos principais examinar os elementos cancioneiros (letra e música) nas
discografias da mencionada cantora, advindos da influência de Antunes e Brown; bem como
compreender a criação e a forma específica de realização do ato discursivo estilístico da
cantora no decorrer de sua obra e verificar a relação entre sujeito, autoria, estilo, estética e
gênero na produção e na interpretação de suas canções. A teoria que fundamenta este estudo
encontra-se no cerne do próprio objeto, que a solicita já em sua constituição: a filosofia
dialógica da linguagem do Círculo Bakhtin, Medvedev, Volochinov. O método é o dialógico,
centrado na análise do gênero discursivo, com ênfase no aspecto arquitetônico de construção
discursiva da canção. A pesquisa realizada se constitui como qualitativa e possui caráter
interpretativo. Tal pesquisa é composta por etapas de análise do gênero canção focadas na
descrição do objeto, sua análise e interpretação dos dados. Como se trata de um momento
inicial da pesquisa, descrever-se-á a seguir, em consonância com a metodologia utilizada no
projeto de pesquisa de Paula (2010), nomeado A intergenericidade da canção, o percurso a
1
Aluna do 3º. Ano de Graduação do curso de Letras – UNESP - Assis. Bolsista PIBIC. Membro do GED –
Grupo de Estudos Discursivos.
2
Docente da Universidade Estadual Paulista – UNESP, Faculdade de Ciências e Letras de Assis, lotada no
Departamento de Linguística e também credenciada ao Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua
Portuguesa da UNESP – Araraquara. Coordenadora do GED.
37
ser desenvolvido. Este estudo utiliza, prioritariamente, materiais bibliográficos: oito canções
de Monte, bem como a pesquisa contextual de sua produção e criação de seu estilo em
consideração a seu relacionamento artístico com Antunes e Brown; e ainda textos teóricos. A
pesquisa justifica-se pela tentativa de compreensão do processo de produção, circulação e
recepção do gênero canção na contemporaneidade. O norte específico se refere ao trânsito
composicional entre Monte, Antunes e Brown, em diversas esferas de atividades e de maneira
dialógica, traço estilístico desses Tribalistas e da produção discursiva contemporânea. Tentar
compreender a peculiaridade de Monte e do Tribalistas como ícones singulares do cancioneiro
brasileiro é o intuito ao qual se propõe a pesquisa em desenvolvimento.

LINGUAGEM, CULTURA E ARTE DA PERSPECTIVA BAKHTINIANA

Camila Cristina de Oliveira Alves1


(UNESP/FCLAr)

Este trabalho tem como principal objetivo uma reflexão teórica sobre a perspectiva
bakhtiniana de discurso na vida e na arte, tomando como pressuposto teórico as reflexões do
Círculo de Bakhtin sobre a criação estética, demonstrando como a cultura e a vida permeiam
o discurso artístico, transformando-o a partir de fatores sócio-históricos e, ao mesmo tempo,
como a linguagem atua na vida. Essa perspectiva toma a linguagem como ação sobre o
mundo e sobre a própria linguagem, desse modo, a concepção de enunciado para o Círculo
engloba a reflexão/refração da realidade, visto que o enunciado é uma compreensão
responsiva de um sujeito. A arte é imanentemente social, assim, o discurso artístico ocorre de
modo semelhante ao discurso da vida, ou seja, influenciado por elementos extraverbais que
encontram resposta dentro do texto artístico.Para entender a conceituação de discurso na arte,
bem como as ideias de ‘autor’, ‘exotopia’ e ‘acabamento estético’, que são citados no decorrer
da obra bakhtiniana, é preciso entender que para o Círculo de Bakhtin as práticas culturais são
posições socioavaliativas postas numa dinâmica de múltiplas inter-relações responsivas. Todo
ato cultural se move entre inter-determinações responsivas, isto é, assumindo uma posição
valorativa frente a outras posições valorativas. No ato artístico, a realidade vivida é
transportada para um outro plano axiológico. O ato estético opera sobre um sistema de valores
constituídos no plano da realidade criando novos valores no plano da arte. Aspectos da vida
são trazidos para uma nova organização e subordinados a uma nova unidade, condensados
numa imagem contida e acabada. O ato criativo envolve, portanto, um processo de
transposição da vida para a arte. Bakhtin afirma que é no deslocamento, estando/olhando de
fora, que o autor constitui sua criação artística. Nesse processo, é projetado no autor-criador
um modo de ver o mundo, princípio ativo de ver que guia a construção do objeto estético e
direciona o olhar do leitor. A esse olhar extraposto que se refere o pensamento bakhtiniano,
nenhuma significação é dada, mas sim criada nos processos dialógicos com o “outro”. A
partir dessa abordagem dialógica Bakhtin formulou o conceito de gênero, instância de criação
e acabamento do objeto estético.

1
Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa da UNESP – Faculdade de
Ciências e Letras de Araraquara e membro do Slovo – Grupo de estudos do discurso.

38
A LEI SECA DISCURSIVIZADA POR SUJEITOS MOTORISTAS E POR SUJEITOS
POLICIAIS

Carina Maciel de Oliveira Silva


(UEMS)

O discurso institucionalizado por meio da criação da Lei 11.705/08 representa a organização


de um dado acontecimento social. Esse discurso reproduz as ideologias, os valores e os
costumes vigentes de uma dada época, mostrando a relação constitutiva entre língua e
acontecimento. O discurso da Lei Seca é constituído para sujeitos contemporâneos com
direitos e deveres que têm a necessidade de serem “livres” e “independentes”, mas precisam
cumprir as regras e adequar-se a elas. São livres e independentes desde que cumpram as
regras e tenham a conduta que a ideologia dominante diz ser adequada para o convívio em
sociedade. Os sujeitos criam regras para limitar a sua própria liberdade, garantir seus direitos,
sua segurança. E, ao se adequarem a essas regras, ocupam uma posição antagônica, pois, ao
mesmo tempo em que são autônomos precisam ser responsáveis. Essa posição antagônica em
que os sujeitos se encontram faz emergir discursos que marcam não apenas a formação
ideológica e discursiva do sujeito Estado, mas também a do sujeito motorista, do sujeito
policial e do sujeito pedestre. Sabemos que na constituição do discurso, as formações
ideológicas e discursivas são fundamentais para entendermos seus efeitos de sentido. Por
meio delas, podemos interpretar as relações do sujeito com aquilo que foi dito e com aquilo
que não foi dito no discurso, além de verificar também que o lugar de onde o sujeito fala
influencia não apenas a constituição do sentido, mas também o modo como o enunciado é
interpretado. Diante da importância das formações discursivas e ideológicas na constituição
de discursos, este trabalho pretende analisar como o referente Lei Seca é enunciado nos
discursos dos sujeitos policiais e dos sujeitos motoristas. Também analisaremos como o
Estado torna-se objeto de discursivização no discurso do sujeito policial e do sujeito
motorista. Para alcançar o objetivo proposto selecionamos alguns recortes oriundos de
questionários aplicados aos sujeitos que ocupam a posição de motorista e a posição de
policial. Optamos pela aplicação de questionários na constituição do corpus por este
contribuir para que os sujeitos participantes sintam-se mais a vontade em falar sobre o assunto
abordado, produzindo desse modo um discurso mais espontâneo, com certa fluidez de sentido.
A nossa proposta de análise se insere na linha teórica da Análise do Discurso de linha
francesa por esta permitir o desenvolvimento de um trabalho capaz de proporcionar uma
reflexão no limite do linguístico com o social.

O DISPOSITIVO COMO CONCEITO OPERATÓRIO ENTRE AS ANÁLISES


ARQUEOLÓGICAS E GENEALÓGICAS EM MICHEL FOUCAULT

Carine Fonseca Caetano de Paula


(Universidade Federal de Goiás - Campus Catalão)

Partindo de uma problematização teórica inicial que buscou compreender a relação entre o
discursivo e o não-discursivo na obra de Michel Foucault, e tendo por objetivo prosseguir na
trajetória de um levantamento teórico-metodológico que investigue a relação entre o saber e o
poder, bem como a relação entre a análise arqueológica e a análise genealógica, o presente
artigo pretende explorar teoricamente a noção de dispositivo proposta pelo mesmo autor, para
nela verificar uma possível articulação entre o discursivo e o não-discursivo, entre o saber e o
poder, entre a análise arqueológica e a análise genealógica. Tendo como referenciais teóricos a
39
A arqueologia do saber (2009), Resposta a uma questão (2010) e Sobre a Arqueologia das
Ciências. Resposta ao Círculo de Epistemologia (2008), numa perspectiva mais arqueológica,
e A verdade e as formas jurídicas (1996) e A ordem do discurso (2012), numa perspectiva
mais genealógica, chegou-se a uma compreensão acerca da natureza da relação entre o
discursivo e o não-discursivo, de modo que entre essas duas práticas estabelece-se uma
relação de distinção e também de “pressuposição recíproca”, nas palavras de Deleuze (1998).
Pode-se afirmar que não há práticas sociais e saberes que não produzam discursos e não há
discursos que não estejam vinculados a práticas sociais e a domínios de saberes, de modo que
a relação entre o institucional, o social e aquilo que é dito a partir dessas instituições, desses
domínios de saberes, estão ambos historicamente ambientados e metodologicamente
implicados nessa relação de “pressuposição recíproca”. Agora, acrescentando a essa trajetória
de investigação teórica as obras Vigiar e Punir (2007), Microfísica do Poder (1979) e História
da Sexualidade I (1997) pretende-se explorar mais a perspectiva genealógica nisso que ela
traz de ênfase na forma de operar dos discursos enquanto práticas sociais, em seus
funcionamentos e estratégias, quando eles, enquanto discursividades, obedecem não só a
regras e regularidades internas, mas também a relações de poder pertencentes a uma
exterioridade. Nessa implicação teórico-metodológica entre a arqueologia do saber e a
genealogia das relações de poder nas quais e pelas quais os discursos operam, a noção de
dispositivo torna-se um conceito interessante a partir da qual se possa operacionalizar análises
mais equilibradas entre essas duas analíticas que se implicam e complementam.

O DISCURSO PROPOSITIVO DE INTERVENÇÃO SOCIAL RESPEITANDO OS


DIREITOS HUMANOS NA REDAÇÃO DO ENEM

Carla Andrea Pereira de Rezende


(Mestrado-Unifran)
Maria Ângela de Freitas Chiachiri
(Mestrado- Unifran)
Maria Regina Momesso
(Orientadora- Unifran)

O manual de redação do Enem estabelece como uma das competências do candidato à


avaliação de Redação saber elaborar uma proposta de intervenção para o problema abordado,
“respeitando os direitos humanos”. Compreender o que seja “Direitos Humanos” envolve
diversas questões e pontos de vistas de diferentes áreas do conhecimento: filosofia,
sociologia, história, economia, comunicação, mídia e a própria área do direito. Parte-se da
premissa de que os adolescentes e os professores do ensino médio não têm formação
específica na área jurídica. Dessa forma, ensinar a elaborar uma proposta de intervençãosocial
para problemas discutidos em um texto dissertativo argumentativo a respeito de qualquer
tema que envolva aspectos legais passa a ser um desafio nem sempre alcançado. Objetiva-se,
nesta comunicação, refletir sobre o discurso professoral e orientador da temática da redação
do Enem de 2012, presente no site http://globotv.globo.com/globocom/g1/v/professores-
comentam-a-prova-de-redacao-do-enem-2012/2224613/ e observar em que medida os
aspectos jurídicos são elencados para a proposta de intervenção social. Este estudo faz parte
do Projeto do Observatório da Educação “Linguagens, Códigos e Tecnologias: práticas de
leitura e escrita na Educação Básica financiado pela CAPES/INEP/OBEDUC. O aporte
teórico-metodológico centra-se na perspectiva discursiva francesa foucaultiana, no que tange
às relações de saber e de poder, à ordem do discurso, às práticas discursivas e aos jogos de
verdade. Os enunciados dos professores entrevistados pelo G1, na entrevista intitulada
40
“Professores comentam a prova de redação do ENEM 2012”, presente no site Globo.tv,
constitui o corpus desta comunicação. Os resultados preliminares apontam para um discurso
parafrástico que orienta a intervenção social para o tema do ponto de vista estrutural e de
estratégias argumentativas e discursivas que se amparam em posicionamentos ora históricos,
ora sociais, ora econômicos, ora midiáticos e/ou ideológicos, em detrimento dos aspectos
jurídicos, que são pouco discutidos. Ensinar a propor intervenções sem conhecimento da
abordagem jurídica pode comprometer os sentidos dos textos produzidos que, em lugar de
propostas de solução podem apresentar, explícitos ou implícitos, preconceitos em relação ao
tema. Os resultados da análise dessas práticas discursivas e o conhecimento de alguns
conceitos implícitos no discurso jurídico podem colaborar para a fundamentação da prática
pedagógica de professores do ensino médio que têm como desafio desenvolver nos alunos a
competência 5, que se refere aos “direitos humanos”, exigida pelo Enem nas redações.

DISCURSO, ENSINO E REFLEXIVIDADE: TRAJETÓRIA PARA O


EMPODERAMENTO

Carla Cristina Braga dos Santos


(Universidade de Brasília)

O presente trabalho, cujo marco teórico central é a Análise do Discurso Crítica, protagonizada
por Norman Fairclough, e seus desdobramentos para o ensino, traz uma reflexão sobre a
prática do ensino da escrita na pós-modernidade, com ênfase no empoderamento e
(re)construção identitária de alunos do ensino médio. Em função da potencialidade da
linguagem nas sociedades atuais e da postura de questionamento constante imbricada em suas
práticas, este trabalho torna-se útil, na medida em que parte dos princípios da Conscientização
Linguística Crítica (CLC), uma proposta de linguistas da Universidade de Lancaster (Grã-
Bretanha) que consideram a linguagem como constitutiva em relação à sociedade, no âmbito
ideológico e das relações de poder. A Conscientização Linguística Crítica se constrói por
meio de um estudo crítico da linguagem, utilizando a Análise de Discurso Crítica como meio
para alcançar um discurso emancipatório, já que, “o discurso é uma prática, não apenas de
representação do mundo, mas de significação do mundo, constituindo e construindo o mundo
em significado” (Fairclough, 1992:63). As atividades de conscientização estão inseridas no
próprio corpo de conhecimento escolar, uma vez que o conhecimento é uma construção social
ligada a normas e valores que precisam ser debatidos na educação crítica (Giroux &
Aronowitz, 1987). O que esses autores chamam de letramento crítico é exatamente o que os
proponentes da CLC chamam de “uma conscientização crítica do mundo e das possibilidades
de mudá-lo”, não só em termos linguísticos como em relação à educação em geral (Clark et
al. 1991:52). A partir destes pressupostos teóricos, apresento um relato de experiência
vivenciada no bojo da prática pedagógica, cujo foco principal centra-se no diálogo entre a
teoria explorada no âmbito acadêmico e a prática do professor-pesquisador em sala de aula, na
tentativa de preencher uma lacuna a partir dos postulados da CLC. Como resultados, destaco a
mudança nas práticas de leitura dos alunos a partir de uma visão mais crítica da linguagem,
alicerçada nos ideais emancipatórios.

41
REFLEXÕES ACERCA DO ESTILO NA SALA DE AULA: ESTILO COMO MARCA
DIALÓGICA

Carlos Eduardo da Silva Ferreira


(UNESP / CAPES)

Em estudos sobre Estilística, percebemos que há muito tempo trabalhou-se a noção de estilo
como um desvio da norma, sendo assim uma marca individual, já que a norma era o coletivo.
Esta conceituação está longe das concepções bakhtinianas a respeito de estilo. Na
compreensão bakhtiniana sobre estilo, o enunciado é elaborado por recursos linguísticos
seletivos que estão à disposição do enunciador na língua, no horizonte apreciativo em que
ocorre a enunciação. Isto significa que o estilo é um agrupamento de marcas de traços fônicos,
morfológicos, lexicais, sintáticos, semânticos, enunciativos, discursivos, etc., que assentam a
estabilidade enunciativa, ou seja, que definem as especificidades enunciativas demarcando,
assim, o sentido de individualidade na relação do sujeito com o discurso já instituído e a ser
recebido por seu destinatário. Por meio de tirinhas retiradas do Facebook – rede social de
interações textuais – trago propostas de trabalhos com alunos do Ensino Básico sobre
questões de Estilística, discutindo noções de estilo dentro da teoria enunciativa dos estudos
bakhtinianos do discurso. Variando as tirinhas, porém mantendo certas marcas de recorrência
– remissões a lugares de produção, as comunidades/grupos/páginas do Facebook –, analiso
como podemos discutir gênese criativa nas práticas textuais dos aprendentes escolares. Nesta
perspectiva, posiciono-me em discussões educacionais a fim de refletir sobre o
desenvolvimento da competência linguístico-discursiva e sobre interpretação e produção de
textos, baseando-me em discussões estilísticas no meio social do Facebook, lugar midiático
este que é bastante conhecido e utilizado como suporte-mediador das interações entre os
sujeitos. Questões que mobilizam a pesquisa são: Qual é a relação existente entre o estilo e o
autor em sua individualidade? Como os textos em circulação nesta mídia promovem um
dinamismo na produção/recepção dos sujeitos? Pensando estilo como processo
composicional, como se dão os efeitos interpretativos nas esferas sociais, tanto pelos diálogos
das instâncias da textualidade quanto dos sujeitos em ‘jogos’? Afinal, produção e análise se
mesclam? Assim, pensar o discurso escolar em sua produção e interpretação pelos
aprendentes é poder trabalhar com ressignificação de vozes, ideologias, heterogeneidade. É
importante que sejam desenvolvidas pesquisas que abordem os embates de questões teórico-
práticas do momento aula a fim de aprofundarmos discussões que nos levem, a nós
educadores, a lugares que dinamizem os processos intersubjetivos e nos proporcionem
reflexões sobre o estar, o ser e o vir a ser no mundo, permitindo ampliar as discussões sobre
formação de professores e sobre a produção de identidade na escola.

VOZ E DISCURSO:
APONTAMENTOS SOBRE A CONSERVAÇÃO DAS FORMAS DO DIZER

Carlos Piovezani
(UFSCar)

É sabido que há um descompasso entre tudo o que, com base na língua e na lógica, se poderia
dizer e aquilo que é efetivamente dito numa sociedade. Em conjunção com essa diferença
forjada pela história entre a potência e os atos rarefeitos ocorre outra, que consiste na
separação entre os textos e enunciados que serão mais ou menos conservados e aqueles que
42
serão mais rapidamente esquecidos. A reflexão sobre o controle do dizer e de sua maior ou
menor conservação está sintetizada na definição que Foucault consagra à noção de arquivo,
cujo funcionamento corresponde à “lei do que pode ser dito, o sistema que rege o
aparecimento dos enunciados como acontecimentos singulares”; a essa função do arquivo
Foucault acrescenta um seu outro papel, a saber, ele é também responsável pelo fato de que
“todas as coisas ditas não se acumulem indefinidamente em uma massa amorfa, não se
inscrevam, tampouco, em uma linearidade sem ruptura e não desapareçam ao simples acaso
de acidentes externos, mas que se agrupem em figuras distintas, se componham umas com as
outras segundo relações múltiplas, se mantenham ou se esfumem segundo regularidades
específicas”([1969] 1997, p. 149). De nossa parte, inspirados em Foucault, tal como o fizeram
Courtine ([1981] 2009) e Pêcheux ([1983] 1999) na concepção da noção de “memória
discursiva”, interessa-nos pensar sobre as distintas temporalidades da voz, suas diferentes
durações e conservações no discurso. Não se trata aqui de considerar o aspecto empírico da
gravação ou não de uma voz, a despeito de essa condição implicar possíveis alterações no
estatuto e no alcance histórico e social das propriedades e inflexões vocais de um sujeito.
Antes, cremos que, de modo análogo ao que ocorre com o “desnivelamento” dos discursos, as
vozes dos membros de uma sociedade também não gozam indistintamente do mesmo valor,
não se inscrevem igualmente na memória de seus congêneres e nem tampouco produzem
neles os mesmos efeitos. É com base nessa série de postulados que pretendemos interpretar
alguns dizeres da mídia brasileira sobre a voz de Lula e refletir sobre o uso, a memória e os
efeitos de certos sons que lhe são diretamente associados, tais como a melodia do jingle “Lula
lá”.

O DISCURSO: DA ARQUEOLOGIA DO SABER ÀS ESTRATÉGIAS DO PODER

Carlos Rubens de Souza Costa


(Universidade Federal do Amazonas)

O nome de Foucault tem uma presença garantida em qualquer abordagem histórica acerca do
nascimento e da constituição daquilo a que se convencionou chamar de AD Francesa.
Conceitos como: prática discursiva, formação discursiva, acontecimento, arquivo, função
enunciativa e ordem do discurso, que Foucault forjou para pensar o discurso, integram, há
muito tempo, o léxico básico da disciplina. Tais conceitos apareceram em obras publicadas na
virada dos anos sessenta para os anos setenta, principalmente em A Arqueologia do saber
(1969) e A ordem do discurso (1971), que encerram a “fase arqueológica” de Foucault. A AD,
em fase de constituição, muito rapidamente os integrou, a partir de sugestões de Pêcheux
(1971) e Robin (1973). Desde então, esses conceitos do primeiro Foucault formam a grade
conceitual que define a filiação “foucaultiana” da AD francesa. O fato de conceitos mais
tardios, como o de parresia, virem se juntar a essa grade, não altera essa constatação histórica
global: o Foucault que prepondera em trabalhos de Análise do Discurso é o do período
arqueológico. Ora, a partir de A ordem do discurso, a trajetória intelectual de Foucault passa
por uma grande reviravolta que ficou conhecida como “giro genealógico”. Foucault continuou
a problematizar o discurso, mas tanto os problemas que levanta quanto os conceitos que
emprega são novos. Foucault já não interroga o discurso como uma prática na qual se formam
os elementos do saber, mas arma de poder. Nosso objetivo neste trabalho é levantar uma
discussão sobre a problematização genealógica do discurso. Duas questões comandarão nossa
discussão. A primeira é uma questão preliminar: que diferenças existem entre essa
problematização e a anterior (arqueológica)? Com base na resposta dessa questão, a nossa
questão será: que benefícios pode a AD colher da abordagem genealógica do discurso
43
proposta por Foucault? Quanto à segunda questão, nossa hipótese é a de que esses benefícios
podem ser de dois tipos. Por um lado, a genealogia critica e retifica o modo como a relação
entre discurso e poder fora apresentada em A Arqueologia do saber e A ordem do discurso.
Por outro lado, permite superar alguns limites da abordagem arqueológica (no que se refere à
abordagem de discursos singulares e ao problema do sentido, por exemplo), além de trazer
uma nova concepção de materialidade do discurso.

GÊNEROS DO DISCURSO: UM ESTUDO DAS CORRENTES

Carolina Reis
(FCLAr – UNESP)

Este trabalho dedica-se a estudar, em perspectiva bakhtiniana, as chamadas “correntes”, um


tipo de texto bastante popular e curioso, que migrou dos meios postais para o meio digital, e
hoje encontra no e-mail um modo de circulação de grande amplitude e rapidez. O estudo tem
por objetivo mostrar as semelhanças discursivas existentes entre as correntes digitais que
circulam via e-mail e as correntes impressas que circulavam pelo correio, e, assim, examinar
as transformações sofridas pelo gênero corrente. Da mesma maneira, procura refletir sobre a
relação entre o meio de circulação e as características de um gênero. Mais exatamente,
pergunta-se, no caso das correntes, a mudança no meio de circulação altera a constituição do
gênero. Exploram-se, então, as características que possam definir o gênero corrente e
analisam-se as correntes digitais, transmitidas via e-mail, que, particularmente, abordam o
tema religioso, comparando seu conteúdo discursivo com o das correntes impressas, aquelas
que eram transmitidas pelo correio tradicional. Para tanto, recorremos a leituras das
contribuições do Círculo de Bakhtin, visando à reflexão e ao entendimento do conceito de
gênero do discurso, além de contar com o apoio dos estudos de Araújo (2002) e Pellegrini
Filho (2009) para explicar e destacar as especificidades que aproximam os dois tipos de
correntes. Nas análises realizadas, pudemos comprovar que as correntes eletrônicas que
circulam pela internet via e-mail têm as mesmas características das correntes que circulavam
pelo correio. Há semelhanças no conteúdo discursivo das mensagens, visto que as correntes
digitais mantêm o mesmo modo de interpelação enunciativo apelativo e persuasivo das
correntes impressas. Essas correntes, assim como as correntes digitais, também abordam
assuntos de cunho religioso, como novenas e orações; solicitam a seu destinatário que reenvie
a mensagem recebida, e prometem benefício como retribuição, caso a corrente seja mantida;
ou azar como retorno, em caso contrário; de quebra da corrente, ou seja, de interrupção dos
envios do texto. A despeito da diferença do meio de circulação, entendemos que o gênero
corrente vinculado pelo e-mail é o mesmo gênero transmitido por meio postal. A necessidade
– e velocidade na difusão – de comunicação e de informação nos dias atuais propiciou a
migração das correntes-postais para o e-mail digital.

44
O PARAGUAI VISTO PELOS BRASILEIROS: DISCURSO, MEMÓRIA E
IDENTIDADE

Carolina Samara Rodrigues1


(UFGD/IFMS-Ponta Porã)
Marcos Lúcio de Sousa Góis2
(UFGD)

O principal objetivo desta comunicação é apresentar discussões decorrentes de uma pesquisa


de mestrado, em andamento na Universidade Federal da Grande Dourados, que investiga
dizeres sobre o outro ou, precisamente, enunciados produzidos no Brasil acerca do Paraguai.
A proposta surgiu por se observar que, em geral, quando o assunto direta ou indiretamente
tem esse país vizinho como destaque, os qualificadores tendem a inferiorizar o que de lá
procede. Para todos os efeitos, não deixa de ser o país do contrabando, da falsificação, do
“cavalo paraguaio”. O objetivo geral da pesquisa é, portanto, tentar responder de onde emerge
essa visão negativa. Para tanto, do ponto de vista de sua natureza, propõe-se uma pesquisa
básica, apresentando-se análises discursivas dos ditos enunciados, utilizando uma abordagem
quantitativa, quanto à incidência dos dizeres presentes em textos selecionados, e, também,
uma abordagem qualitativa, no que se refere à análise dos dados quanto ao discurso do outro
atinente à memória discursiva, à história, à identidade, a partir da perspectiva da AD francesa.
Para construção do corpus de pesquisa, faz-se, via Internet, um levantamento exaustivo em
diversos suportes midiáticos, buscando assegurar um número significativo de dados, sejam
eles verbais ou não verbais, para posterior análise. Teoricamente, serão importantes para esta
investigação autores como Michel Foucault, por conta das discussões entorno do poder e da
História; Homi Bhabha e Stuart Hall, por problematizarem a cultura e a identidade; e também
Boaventura de Sousa Santos, por seus trabalhos no campo do colonialismo e pós-
colonialismo. De Maingueneau, mobilizar-se-á o conceito de ethos discursivo e cenografia,
visando explorar o lugar dos sujeitos que dizem. Baseando-se em pesquisas prévias,
observou-se que o termo “paraguai” é utilizado em pelo menos duas situações: 1) como
adjetivo pátrio e 2) como adjetivo (des)qualificativo. Deseja-se, com este trabalho,
compreender melhor os efeitos de sentidos que “paraguai” e suas variantes produzem em
textos brasileiros.

DIÁLOGO E VALOR SOCIAL NO PRIMEIRO FILME PUBLICITÁRIO DE


TRAKINAS

Catharine Piai de Mattos


(UNESP/Araraquara)

A partir das reflexões desenvolvidas pelo Círculo de Bakhtin, pretende-se mostrar quais são
os valores sociais presentes no filme publicitário de lançamento do biscoito Trakinas, de
1988. Também se pretende analisar como esses valores sociais dialogam com pelo menos dois
interlocutores, analisando, portanto, de que forma essa dupla interlocução se dá nos
enunciados trabalhados. Parte-se da hipótese de que os produtos/serviços voltados às crianças
1
Professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul e mestranda
do Curso de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD - MS.
2
Professor Adjunto do curso de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal da Grande Dourados -
UFGD – MS.

45
precisam convencer tanto os pais quanto as crianças, portanto são construídos para conquistar
ambos públicos-alvo. Este trabalho é desenvolvido em pesquisa cujo resultado será uma
monografia de final de curso e se insere em projeto em que se busca reafirmar a importância
de abordagens analíticas de textos sincréticos nos estudos bakhtinianos do discurso,
abordagens estas possibilitadas pelo conceito de enunciado concreto, que, nas reflexões
desenvolvidas pelo Círculo de Bakhtin, não somente inclui atividades linguísticas (e, portanto,
o signo verbal), mas também manifestações gestuais, faciais, entre outras. Assim, o enunciado
concreto, entendido de forma ampla, é um todo de significação, situado sócio-
ideologicamente. Com este trabalho, acredita-se ampliar as reflexões empreendidas pelos
estudos bakhtinianos sobre enunciados sincréticos, assim como entender melhor o processo de
convencimento gerado por filmes publicitários cujos objetos de mercado sejam produtos
também direcionados a crianças; essas peças publicitárias, por hipótese, devem dialogar com
valores que constituem o saber de sujeitos adultos, já que são eles que detêm o “poder de
compra”. Dessa maneira, esta pesquisa busca refletir sobre esse acontecimento do gênero
publicitário, o que poderá revelar aspectos sobre esse gênero do discurso. A metodologia
adotada é a análise dialógica: o corpus é interpretado a partir dos pressupostos teóricos
desenvolvidos em estudos bakhtinianos, dando-se especial atenção aos conceitos de signo
ideológico, enunciado concreto, diálogo e gênero do discurso; a atitude do analista frente ao
corpus não pretende anular a alteridade na relação entre eu-outro (pesquisador-sujeito de
pesquisa) e nem a responsabilidade do sujeito-pesquisador nessa relação.

O DISCURSO FEMINISTA: FORMAÇÕES DISCURSIVAS E POSIÇÕES-SUJEITO

Celiane Souza Santos


(UNEB)

A sociedade não é composta de indivíduo, mas sim por sujeitos históricos. Desse modo, o
discurso - enquanto construção histórica e social - reflete e refrata uma determinada ideologia
que interpela o indivíduo em sujeito do discurso. De posse dessa assertiva, a pesquisa
proposta resgata entrevistas de Rose Marie Muraro - escritora e principal representante do
Movimento Feminista no Brasil - concedidas a diferentes revistas. Os textos, selecionados e
transformados em discursos, são o objeto desse estudo que está sendo realizado considerando-
se a(s) Formação (ões) Discursiva (s) em que se inscreve a ativista e nos permite analisar a
sua tomada de posição, bem como os sentidos mobilizados, os processos de apropriação e
produção de uma FD. Estudar essas manifestações, por meio das entrevistas de Muraro, é
identificar as FDs e suas relações de conflito e de aliança estabelecidas. Portanto, intenta-se
investigar os lugares ocupados pela feminista no processo discursivo, isto é, as diversas
posições-sujeito relacionadas com determinadas FDs a que ela recorre para construir seu
discurso feminista em defesa da equidade de direitos e contra o machismo. Isso possibilitará
observar se as posições-sujeito são ou não condizentes com o lugar do qual ela fala e perceber
se Muraro recorre ao pré-construído em seu discurso para a produção de sentido. A
necessidade de se levar a efeito tal pesquisa, parte ainda da ciência de que os processos
discursivos são heterogêneos e estão sob o signo das condições ideológicas da
reprodução/transformação das relações de produção. O referido trabalho traz um estudo que
está em andamento no Programa de Pós-Graduação em Estudo de Linguagens da
Universidade do Estado da Bahia – UNEB e tem como aporte teórico os postulados da
Análise de Discurso de linha francesa, desenvolvida por Michel Pêcheux (1988;2011;2012) e
seus seguidores. Por tratar-se de uma investigação de valores, atitudes, percepções e

46
motivações do fenômeno estudado é que estamos desenvolvendo uma pesquisa qualitativa que
busca interpretar os fenômenos e atribuir significados.

TRÍPLICE ALIANÇA? A AD FRANCESA COMO CAMPO DE HERANÇAS


TEÓRICAS HETEROGÊNEAS

Claudiana Narzetti
(Universidade do Estado do Amazonas)

Na década de 1960, na França, quando o campo da Análise do discurso começa a se desenhar,


podem ser identificadas, pelo menos, três tendências de análise do discurso – a de grupo de
Pêcheux; a do grupo dos sociolinguistas, na esteira de Jean Dubois; e a de Foucault. Essas
tendências, ao lado das características comuns que nos permitem agrupá-las numa mesma
denominação, apresentavam, naquele momento, diferenças importantes. Trataremos neste
trabalho das bases teórico-epistemológicas que aproximam e distanciam duas dessas
tendências – a do grupo de Pêcheux e a dos sociolinguistas. Quanto às suas proximidades,
pode-se destacar que ambas: fazem uma abordagem semântica do discurso, analisado a partir
de sua materialidade linguística; constroem uma concepção histórica do discurso (o que
implica uma concepção ideológica); problematizam a noção de sujeito e elaboram o conceito
de sujeito do discurso. Isso se explica pelo fato de perseguirem uma teorização do discurso
que representasse uma articulação entre campos do saber como a linguística e o marxismo,
dentre outras ciências humanas. Apesar dessas proximidades, inclusive do ponto de vista de
seus fundamentos teóricos, as duas tendências de análise do discurso acima referidas são
bastante heterogêneas, uma vez que não é com a mesma linguística e o mesmo marxismo que
arriscam uma articulação teórica. Dito de outro modo, suas heranças não são as mesmas.
Enquanto a análise do discurso empreendida por Pêcheux e seu grupo sustenta-se sobre o tripé
formado por marxismo althusseriano, linguística saussuriana e psicanálise lacaniana, a análise
do discurso empreendida pelo grupo dos sociolinguistas constrói-se pelo diálogo com os
conceitos marxistas tal como desenvolvidos por Voloshinov (especialmente o de ideologia),
com uma linguística tal como concebida pelo mesmo Voloshinov e por Meillet, por exemplo,
sem necessariamente apropriar-se da psicanálise. Decorrem dessas diferenças fundamentais
concepções distintas de língua, sentido, sujeito e história, que precisam estar explicitadas
quando se fala de Análise do discurso.

AS MARCAS ENUNCIATIVAS E AS MARCAS DIALÓGICAS PRESENTES NA


TRANSPOSIÇÃO DO ROMANCE DOM CASMURRO PARA A MINISSÉRIE
CAPITU

Cristiane Passafaro Guzzi


(UNESP - Faculdade de Ciências e Letras)

Nesta comunicação, que pretende lidar com as relações entre um texto verbal, num dado
suporte, e um texto sincrético, num outro suporte, o alargamento das fronteiras de uma teoria
faz-se necessário e imprescindível para um eficaz reconhecimento das relações estabelecidas
num processo de transposição de significados e significantes. O que tencionamos, assim, é
mostrar o modo como o diretor Luiz Fernando Carvalho, - ao transpor o romance Dom
Casmurro (1899), de Machado de Assis, para a minissérie Capitu (2008)-, consegue
aproximar não só processos de engendramento de sentido e leituras distintas, mas instaurar
47
uma nova leitura e um índice crítico do próprio romance. Vale ressaltar que tal feito pode ser
analisado por meio das marcas enunciativas reverberadas no texto transposto e das marcas
dialógicas espraiadas nas relações com outros discursos e com a própria crítica tradicional da
obra. O enunciado do texto sincrético mostra-se, assim, composto e atravessado por tantos
outros enunciados já existentes sobre o texto verbal; contudo, o que o diretor faz é conseguir
escancarar tais diálogos, pelo seu característico modo de exibir o processo de feitura de suas
realizações ficcionais. Desse modo, a enunciação parece produzir um enunciado que reúne a
história de Machado e a história da crítica do romance, de modo deliberado e atualizado. Para
realizarmos um percurso interpretativo coerente, que estabeleça o equilíbrio e a conexão entre
as contribuições teóricas, as relações entre o romance Dom Casmurro e a minissérie Capitu
deverão ser examinadas à luz das reflexões propostas pela teoria semiótica greimasiana,
principalmente no que diz respeito aos conceitos de figuratividade e isotopia figurativa. Tais
conceitos nos oferecem métodos próprios para extrair algumas das especificidades desses
textos, fazendo com que a análise aponte, com maior rigor, para o processo de concepção da
aproximação televisiva como um universo organizado, coerente e lógico, cujo produto
configura uma dialogicidade que, de maneira particular, formaliza o processo de transposição
entre semióticas distintas.

PERSONALIZAÇÃO DA PESQUISA GOOGLE: IMPLICAÇÕES DISCURSIVAS

Daiana de Oliveira Faria


(USP)
Lucília Maria Sousa Romão
(USP)

Com base na Análise do Discurso (AD) de linha francesa, sobretudo a partir dos postulados
de Michel Pêcheux, objetiva-se, em linhas gerais, refletir sobre o funcionamento da
linguagem na contemporaneidade. É fato que as chamadas TIC’s (tecnologias de informação e
comunicação) ocupam um espaço grande da vida diária e algumas das implicações disso são
bem debatidas no que tangue a saúde, sociedade, etc. Neste trabalho, a proposta é pensar as
implicações discursivas dessa grande inserção das TIC’s. Para tanto, é feito um recorte do
funcionamento dos recursos de personalização de conteúdos na pesquisa Google. Segundo
PARISER (2012), a internet não é mais a mesma desde dezembro de 2010, quando o Google
ativou as buscas personalizadas para todos os usuários. Os recursos de personalização na
pesquisa Google funcionam como um filtro de informações relevantes para cada usuário. Para
que esse filtro funcione, são utilizadas várias técnicas, cujas mais conhecidas são:
identificação do endereço IP (internet protocol) para localização geográfica do usuário;
instalação de cookies para recuperação de informações sobre o usuário; acesso ao histórico de
navegação que permite saber quais páginas foram acessadas pelo usuário. Estas técnicas são
as que mais se relacionam com a experiência particular de cada usuário, outras técnicas, com
maior abrangência, também são empregadas como, por exemplo, análise dos padrões de
utilização de pessoas que acessam o Google diariamente. Percebe-se que as buscas
personalizadas funcionam de modo a filtrar as informações na web e atualizar, para cada
usuário em particular, um conteúdo “pertinente” que atenda as necessidades do usuário e que
não o exponha a conteúdos que não são de seu interesse. É neste cenário que esta proposta se
erige para pensar as implicações discursivas dessas técnicas. Pensar em implicações
discursivas significa pensar o funcionamento da linguagem perpassado pela história e pela
ideologia, que funcionam de modo a sustentar os processos de significação e afetam as
inscrições do sujeito.
48
ANÁLISE DO DISCURSO PUBLICITÁRIO DA MASTERCARD: “NÃO TEM
PREÇO”

Danilo Caldeira
(Unesp Araraquara)

Sabe-se que a mídia tem forte influência no nosso cotidiano, estamos nos modernizando cada
vez mais e às vezes as pessoas nem sabem de onde surgem certos modismos e como elas
foram influenciadas pelos mesmos, ainda mais se tratando de discurso. A agência de
publicidade McCann Erickson lançou, em 1997, uma campanha publicitária cujo slogan
“priceless” ficou mundialmente conhecido. No Brasil a propaganda comercial chegou como
“Não tem preço”. Após 16 anos ininterruptos desta campanha comercial, o termo “Não tem
preço” é reproduzido tanto na fala como na escrita do cotidiano. Segundo Maingueneau
(2004), o slogan, seja publicitário ou político, não deixa de ter uma certa semelhança com o
provérbio. Fórmula curta, destinada a ser repetida por um número ilimitado de locutores.
Neste contexto, este trabalho tem por objetivo analisar o discurso publicitário da MasterCard,
que transformou um slogan comercial em um bordão mundialmente conhecido. De acordo
com Bakhtin (2003), os gêneros do discurso são divididos em primários: aqueles que são da
vida cotidiana, que pertencem à comunicação verbal espontânea e tem relação direta com o
texto mais imediato, por exemplo, a piada, o bate-papo, a conversa telefônica, o email, o
bilhete, o chat, etc. E secundários: que pertencem à esfera de comunicação mais elaborada, a
jornalística, a artística, a jurídica, a religiosa, a política, a filosófica, a pedagógica, a científica.
O tema central deste trabalho consiste em analisar o discurso publicitário da MasterCard, mais
especificamente seu slogan “Não tem preço” e sua ressignificação, a partir das teorias do
Círculo de Bakhtin sobre dialogismo, gêneros do discurso, esfera, significação/tema, ironia e
paródia; é realizada uma análise sobre uma peça publicitária, desta empresa, e uma paródia
popular, intitulada “Vexame Colorado não tem preço”, que ressignifica o mesmo slogan,
podendo trazê-lo de volta ao patamar de uma frase feita.

MARCAS DE AUTORIA NAS CANÇÕES DO RAPPER “LETODIE”: SENTIDOS


CONTESTATÓRIOS QUE CIRCULAM NAS REDES SOCIAIS EM TEMPOS DE
#VEMPRARUA BRASIL

Danilo Vizibeli
(UNIFRAN)

O objetivo deste trabalho é apresentar as marcas de autoria presentes (ou não) no discurso das
letras de música do rapper LetoDie e a movimentação dos sentidos pelas redes sociais,
principalmente o Facebook e o YouTube num momento histórico do Brasil com o movimento
popular contestatório #Vemprarua. Como material de estudo que compõe o corpus do estudo,
foram selecionadas duas canções do rapper, que é um adolescente que se diz adepto das
práticas do fisiculturismo e da malhação, intituladas “Sistema” e “Brasilusão”. Serão
observadas ainda a página pública do cantor no Facebook
(http://www.facebook.com/letodieoficial?fref=ts) e o canal de vídeos no YouTube (http://
www.youtube.com/mrletodie) Empreende-se uma análise pautada no referencial teórico da
Análise de Discurso Francesa, tendo como referencial bibliográfico Michel Pêcheux do qual
articula-se o conceito de “arquivo”; as questões da autoria e da escrita de si na ótica de Michel
49
Foucault e ainda as revisões epistemológicas do conceito na ótica foucaultiana, empreendidas
por Roger Chatier. É objetivo também conceituar os movimentos interpretativos em que se
(des)estabilizam sentidos em torno da Indústria Cultural – conceito tomado dos frankfurtianos
Adorno e Horkheimer - tendo as manifestações artísticas marginais como o Rap, como
movimento de contestação para verificar a polissemia ou paráfrase e a historicidade de
quando se começou o movimento popular revolucionário de Junho de 2013 no Brasil. Pela
data de postagem dos vídeos de LetoDie, as manifestações começaram antes que se chegasse
às ruas, pelas redes sociais. Assim, questiona-se e problematiza-se a questão da virtualidade e
da cibercultura na contemporaneidade como tecnologias de si e da coletividade, nas quais se
empreendem interpretações e simbolizações que devem ser vasculhadas. Com esse estudo,
procura-se identificar práticas de leitura e escrita, entendendo a leitura não só do texto verbal,
mas de toda materialidade significante, das quais são adeptos estudantes pré-vestibulandos.
Justifica-se esse propósito devido ao fato de o acesso ao corpus ter acontecido por meio de um
adolescente estudante de um curso pré-vestibular comunitário da cidade de Passos-MG. Esse
arquivo discursivo, marca que a leitura e a escrita são práticas de constituição do sujeito que
efetiva os mecanismos de instauração de micropoderes na busca da construção de sua
identidade.

CONSTITUIÇÃO E FUNCIONAMENTO DISCURSIVO DO GÊNERO TIRA

Dayane Caroline Pereira


(PG-UEL)
Rosemeri Passos Baltazar Machado
(UEL)

O presente estudo visa refletir a respeito do funcionamento discursivo do gênero tira,


utilizando como respaldo teórico a Análise do Discurso de orientação francesa. Dentre os
objetivos dessa pesquisa, destacamos o propósito de compreender os processos de
produção/formação dos sentidos por meio da identificação e análise dos aspectos linguísticos
e ideológicos do gênero selecionado. Nesse sentido, para que o entendimento dos fenômenos
da linguagem e das questões relacionadas aos processos enunciativo, histórico-social e
linguístico seja de forma abrangente e eficaz, faz-se necessária, também, a abordagem da
noção de “cena de enunciação”, cuja proposta seguida é a de Maingueneau, que divide a cena
em três níveis de análise: a cena englobante, a cena genérica e a cenografia. Finalmente,
contaremos com os estudos acerca do humor, mais especificamente, do humor enquanto um
campo. Um campo no qual diversos gêneros se relacionam e várias práticas discursivas dos
sujeitos são reveladas. Acreditamos ser o humor o meio pelo qual os sentidos são burlados,
ironizados e a polêmica, muitas vezes, instaurada. Trata-se de uma situação enunciativa na
qual muito do que não poderia ser dito, torna-se, por meio do humor, perfeitamente possível e
até esperado. Assim, afirmamos que as estratégias discursivas, quando em cena e,
consequentemente, no jogo discursivo, podem fazer surgir vários deslocamentos e produzir
sentidos outros. O corpus selecionado para as análises é composto de tiras, do designer
gráfico Carlos Ruas, todas disponibilizadas via internet. Esse trabalho está vinculado ao
Projeto de Pesquisa intitulado “Recursos gramaticais, discursivos e imagéticos na construção
argumentativa” – coordenado pela professora Esther Gomes de Oliveira, da Universidade
Estadual de Londrina, cujo ponto central é o estudo da argumentação como exercício de
linguagem a partir do qual se articulam as relações sociais, diante de uma proposta que tem
como fio condutor a reflexão crítica sobre a questão da linguagem na sociedade
contemporânea.
50
OS LEITORES DA SEÇÃO FOLHETIM DO CORREIO PAULISTANO

Débora Cristina Ferreira Garcia


(UFSCar)

O objetivo desta apresentação é, com base na teoria semiótica de origem greimasiana, o de


delinear aspectos do perfil do leitor de folhetins publicados no Correio Paulistano na década
de 1860. O folhetim representa um fenômeno editorial particular na medida em que aparece
na França como estratégia para expandir o público leitor dos jornais. Devido ao sucesso
alcançado em seu país de origem, o gênero passa a fazer parte dos periódicos de diversas
partes do mundo, inclusive do Brasil. O surgimento e a difusão desse objeto cultural são, sem
dúvida, um capítulo importante da história da leitura no Brasil, cujos contornos já foram
muito bem delimitados por vários especialistas. No entanto, tendo em vista os poucos estudos
feitos sobre a produção, a circulação e a recepção de folhetins oriundos de jornais paulistas, o
nosso interesse é o de analisar o leitor de folhetins do Correio Paulistano por ser considerado
um dos primeiros periódicos impressos da província de São Paulo e o terceiro, no Brasil, e
que ainda não conta com um estudo verticalizado de suas especificidades de escrita e de
público leitor. Partimos do pressuposto de que o leitor pode ser apreendido como uma
imagem criada pelo sujeito da produção a respeito de seu possível interlocutor, imagem que se
materializa sob as várias formas linguísticas e não linguísticas empregadas pelos autores e
também pelos editores na construção e na circulação dos textos. O sujeito enunciador, além de
organizar seu discurso para veicular de forma eficaz sua mensagem, precisa se dirigir a
alguém, e o faz a partir da imagem que constrói desse seu interlocutor manifesta nas
estratégias de escrita de que se vale. Em outras palavras, as escolhas discursivas feitas no
processo de criação dos textos e de sua editoração, consideram sempre um leitor virtual,
aquele que cada enunciador deseja atingir. Analisando os tipos de textos e a linguagem
empregada na construção dos mesmos, tais como as manifestações da enunciação no
enunciado e os modos de inserção do enunciatário nos textos que compõem o corpus da
pesquisa, podemos descrever traços precisos de seus possíveis leitores.

OS CHAPÉUS QUE ABSOLVEM: A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO-MULHER


NO/PELO DISCURSO JURÍDICO

Denise Abreu Turco


(UNICENTRO-PR)

“O réu no amanhecer do dia 3 de fevereiro de 1963, na casa da sua ex-namorada desferiu na


vítima, tiro de revólver, produzindo-lhe o ferimento descrito no auto de exame cadavérico?
Responderam: não, por sete votos”. Esse excerto, retirado de um processo crime,incita-nos a
investigar se, ao responder sim ou não, quando questionado sobre a condenação ou absolvição
do réu, o Conselho de Sentença atribui culpa a quem? Por quê? Considerando o universo de
diferentes áreas do Direito, elegemos o discurso jurídico inserido em uma formação discursiva
do Direito Penal brasileiro. Para a reflexão proposta, recorremos à Análise do Discurso,
entendida como uma disciplina de entremeio que oferece ferramentas conceituais para a
análise de acontecimentos discursivos, particularmente os aportes de Michel Foucault para
esse campo do saber. Partindo dessa perspectiva teórico-metodológica, buscamos na
materialidade do discurso legal vestígios que nos permitem analisar a construção subjetiva do
51
sujeito-mulher envolvida em um crime de paixão, em que seu ex-namorado é o réu julgado
por um júri formado por sujeitos homens. O corpus de análise é constituído por um processo
que tramitou na Primeira Vara Criminal da Comarca de Guarapuava, Estado do Paraná, em
1963. O crime em questão permite reflexões acerca do funcionamento do discurso jurídico
que fabrica o sujeito feminino, além da memória na absolvição do acusado. Objetivamos,
assim, dar visibilidade aos processos de subjetivação, analisando os dizeres dos defensores,
acusadores, testemunhas e do próprio réu, com o intuito de verificar como esses discursos
definiram tanto a decisão do jurado quanto a posição-sujeito da mulher, numa sociedade
tradicionalmente marcada por posições machistas. Depreendemos enunciados e relações que,
ao tratarem da relação amorosa que finda em morte por causa de ciúme, interligam-se a outros
enunciados, formatando uma rede de memória que, desde os primórdios, definiram o que é ser
homem e mulher na nossa sociedade. Nesses entrecruzamentos de discursos, interrogamo-nos
sobre o papel da memória na produção das imagens do feminino construídas no/pelo discurso
jurídico em relação ao crime passional. No crime em análise, o assassino é absolvido. Há
implícitos e pré-construídos entrelaçados no interdiscurso que identificam a mulher como um
ser para o homem, este que ainda hoje é visto como aquele dotado de razão e poder; já a
mulher é vista como a desencadeadora e, portanto, culpada pelo crime passional.

FALAR E CALAR NO TEATRO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO: UMA


ANÁLISE DISCURSIVA EM 'DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA' DE PLÍNIO
MARCOS

Denise Aparecida de Paulo Ribeiro Leppos


(UFSCar)

A pesquisa propõe analisar o discurso do teatro brasileiro contemporâneo como expressão de


formações ideológicas vinculadas a determinadas formações discursivas. Mais precisamente,
o trabalho consiste numa abordagem discursiva da peça Dois perdidos numa noite suja de
Plínio Marcos, que expressa, metonimicamente, a decadência do Brasil das décadas de 1960 e
1970 por meio das personagens Tonho e Paco, que trabalham como biscates em um
supermercado. A peça escrita em 1966 foi considerada por alguns críticos da época, uma arte
grosseira, sem refinamento, conjugando humor, tragédia e, principalmente, forte crítica à
ideologia dominante imposta pela sociedade, revelando, por meio de suas personagens a
condição marginal a que uma grande maioria foi submetida. Contudo, em um país regido pela
ditadura militar, como ocorreu no Brasil entre as décadas de 1960 e 1980, a partilha de
crenças, valores e o próprio comportamento foram talhados pelas imposições e pelas censuras,
em função das quais se pagava um alto preço ao assumir a oposição. A censura é a forma do
silêncio característico do interdito e a principal forma institucionalizada do silêncio. Face a
essa teoria, o silêncio não é o distanciamento, mas a presença. De acordo com Orlandi (2007,
p. 118), “a censura é um sintoma de que ali pode haver outro sentido. Na censura está a
resistência. Na proibição está o outro sentido”. Dessa maneira, o silêncio não é dependente do
dizer para ser significado; o sentido do silêncio não é reduzido à ausência de palavras, ele
apenas significa. Todavia, neste trabalho será adotado apenas o silenciamento como uma
política de sentido, que produz um recorte entre o que se diz e o que não diz, a partir da
concepção de silêncio local, uma vez que iremos tratar da censura da peça de Plínio Marcos e
o silenciamento nas relações vivenciadas pelas personagens. Neste sentido, observa-se em
Plínio Marcos nuances de um discurso que articula uma ideologia transmitida às personagens
como uma imposição da sociedade que os oprime e confere forma a seus dizeres. Tonho e
Paco trazem à tona a voz do oprimido, concedendo a palavra a determinados elementos que
52
constituem a base da sociedade, até então dominados pelos grupos detentores do poder,
tornando-se, de alguma forma, periféricos dentro da própria sociedade e, por conseguinte,
dentro do próprio processo de representação literária.

O DISCURSO MIDIÁTICO SOBRE O TRABALHO DOMÉSTICO APÓS A


PROMULGAÇÃO DA EC N. 72 DE 2013

Diane Heire Silva Paludetto


(Universidade Federal de São Carlos)

Em data de 3 de abril de 2013, entrou em vigor a Emenda Constitucional n. 72, que amplia os
direitos da categoria do trabalhador doméstico no Brasil. Desde então, uma diversidade de
enunciados discursivos, que dão efeito de sentido de mudança abrupta nas relações de
trabalho doméstico, têm sido proferida no universo midiático. Sabe-se que as mídias,
enquanto suporte organizacional, tornam-se objeto das atenções com tamanha fluidez, que
permite-lhes atuar em todas as esferas sociais. Contudo, nesse universo de informação
midiática, muitas vezes o que prevalece é a confusão, a imagem distorcida, a desinformação
passível de provocar o alvoroço, afetando negativamente o convívio social e as relações de
poder. Com efeito, não raro há veículos midiáticos que mascaram, pervertem ou revelam
parcialmente o acontecimento. Nesse cenário, pretende-se observar o papel da memória e do
apagamento de sentidos na produção midiática acerca das novas regras para o trabalho
doméstico no Brasil. Com base na contribuição de Michel Foucault para a Análise do
Discurso, pretende-se ainda discorrer sobre as relações de saber e poder na construção do
discurso midiático e sobre como os conflitos advindos dessas relações repercutem na
sociedade. Objetiva-se, assim, analisar esse discurso midiático que enuncia, à sua maneira, o
processo legislativo que instaurou as novas regras para o trabalho doméstico. Tal feito será
possível através da análise de uma multiplicidade de dispositivos textuais, representados por
recortes de notícias veiculadas na mídia entre os meses de março e junho de 2013, nas quais,
preliminarmente, observa-se a produção de efeitos de sentido de que “nada será como antes”.
Nesse sentido, é possível identificar que as legislações criadas em prol dos trabalhadores
domésticos representam, cada qual, um acontecimento, mas a forma como isso se faz visível a
partir dos veículos midiáticos é outro acontecimento, outra forma de significá-las, e isso
provoca um constructo deformado que toma o lugar da realidade. Assim, um trabalho de
interpretação jurídica que acarreta uma transformação da realidade social, e que conta com
um bom suporte midiático, pode entrar na ordem discursiva de maneira que dificilmente
ficará neutro ou será ignorado. Pelo contrário, cria, a partir do disparate, uma verdade que
poderá tornar-se centralizadora, conforme a força que emana do sujeito enunciador.

53
O FUNCIONAMENTO DA FORMAÇÃO IMAGINÁRIA NA ARTICULAÇÃO
ENTRE DISCURSO POLÍTICO E RELIGIOSO NAS ELEIÇÕES BRASILEIRAS DE
2010

Douglas Zampar
(UEM)
Raquel de Freitas Arcine
(UEM)

As eleições na contemporaneidade são constitutivamente marcadas pela ambientação


midiática, de forma que a compreensão de seu funcionamento discursivo demande um olhar
voltado aos meios de comunicação. Com relação às eleições presidenciais no ano de 2010,
destacamos a forte presença do discurso religioso que, marcado principalmente pela temática
do aborto e pelas diversas acusações oriundas desse tema, atravessa tanto a fala dos
postulantes aos cargos, quanto dos meios de comunicação que cobrem o acontecimento
político. Assim, propomos a análise do discurso de José Serra (PSDB) no horário gratuito de
propaganda eleitoral (HGPE/TV) e do discurso do jornal Folha de S. Paulo, no segundo turno,
que foi escolhido como objeto de análise por ser a matriz das estratégias de campanha dos
candidatos. Para este momento, recortamos as sequências discursivas através do eixo temático
da religião, o qual foi o mais recorrente na campanha eleitoral dos candidatos nestas eleições,
priorizando o tema do aborto e a missão divina para governar um país. Dessa forma, partindo
do entrecruzamento do discurso político com o discurso religioso, temos como objetivo
comparar o funcionamento das formações imaginárias acerca dos candidatos que disputaram o
segundo turno das eleições presidenciais brasileiras, observando o HGPE/TV de José Serra,
buscando descrever a imagem que o sujeito político em questão tem de si e da sua candidata
adversária Dilma Rousseff (PT); e no Jornal Folha de S. Paulo, focando a imagem que o
referido jornal tem de ambos os candidatos. Mobilizamos, para nosso gesto de leitura, o
aparato teórico-metodológico da Análise do Discurso de linha francesa, especialmente os
conceitos de formação imaginária e memória discursiva. Organizamos nosso trabalho em
torno de sequências discursivas de referência eleitas por exemplificarem funcionamentos
característicos dos corpora estudados, descrevendo o jogo de imagens que funciona em cada
enunciação e a forma como esse imaginário participa da produção de efeitos de sentidos.

54
IDENTIDADE SOB ALGUMAS PERSPECTIVAS TEÓRICAS: AS FACES
REVELADAS DOS SUJEITOS DO DISCURSO

Elisângela Leal da Silva Amaral1


Simone dos Santos França2
Soraia Aparecida Roque Pereira3
Adriana Lúcia de Escobar Chaves de Barros4
(PGLETRAS/UEMS)

Ao longo da história, a humanidade caminhou buscando entendimento do mundo que a cerca.


Conhecer é a palavra motivadora na busca pela transformação, é estímulo para a descoberta.
Maior de que o desejo de desvendar os mistérios exteriores, pode-se dizer que seja a constante
batalha pela definição do perfil, ou do conjunto de características que apontam para a imagem
do sujeito. Elemento que, em relação de reciprocidade, constrói a história e por ela também é
construído e se materializa no mesmo instante em que o discurso passa a ser compreendido, a
significar - estágio da materialização da ideologia por meio do discurso. Como o discurso
reclama sentido, o sujeito reclama identidade; o outro indaga quem ele é, num questionário
que, na realidade, ocorre mutuamente nessa demarcação do lugar de onde se profere o
discurso, bem como da definição de quem o proferirá. Nos domínios teóricos da Análise do
Discurso, em que o discurso é o objeto de estudo e se constitui paralelo à constituição do
sujeito, todo o processo, até então mencionado, tem sido estudado de forma muito criteriosa
por diversos teóricos e pesquisadores. Nesse sentido, esse artigo tem como objetivo apresentar
e discutir as perspectivas de alguns teóricos como Pêcheux, Orlandi, Rodrigues, e Hall, a fim
de aprimorar conhecimentos acerca da identidade, além de definir as possíveis teorias que
melhor se apliquem a cada especificidade das nossas respectivas pesquisas individuais.

APENAS UM JOVEM LEITOR: PRÁTICAS ESCRILEITORAS NO FACEBOOK

Elisangela Santos de Carvalho


(PGLETRAS/UEMS)

As TICs (Tecnologia da Informação e da Comunicação) promoveram e estimularam diversas


mudanças em vários âmbitos da vida social. Um dos espaços, em que se podem observar essas
mudanças, com maior intensidade, é o ciberespaço, principalmente, as redes sociais.
Atualmente, o facebook tornou-se uma das redes sociais mais utilizadas e apreciadas, em
especial por adolescentes, e essa rede pode ser considerada um lugar profícuo para o estudo
das práticas de leitura e escrita na atualidade. Alguns questionamentos se fazem para este
estudo: Qual o comportamento linguístico e discursivo de adolescentes sobre suas práticas de
leitura e de escrita no facebook , ou seja, o que comentam, escrevem na homepage sobre suas
preferências de leitura, o que discutem sobre elas e o que sugerem de leitura aos seus pares?
Objetiva-se, portanto, refletir sobre as práticas de leitura e de escrita presentes no facebook
“Apenas um jovem leitor” e como essas práticas determinam o comportamento linguístico,
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras da Universidade Estadual de Mato Grosso
do Sul.
2
Mestranda do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras da Universidade Estadual de Mato Grosso
do Sul.
3
Mestranda do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras da Universidade Estadual de Mato Grosso
do Sul.
4
Professora coautora: Dra. Adriana Lúcia de Escobar Chaves de Barros.
55
discursivo e identitário dos leitores/escritores dessa homepage. O corpus do trabalho
constitui-se dos discursos presentes no facebook “Apenas um jovem leitor”, comunidade que
possui mais de 2.848 “curtidores” e 09 “Top Fans” que participam publicando neste espaço.
Para o referido estudo parte-se da reflexão sobre as mudanças nas práticas de leitura e de
escrita e as diferenças dessas mudanças na cultura impressa e na cultura da tela ou
cibercultura ancorando-se nos estudos culturais e no pensador Roger Chartier. Em seguida,
para as questões que envolvem o comportamento linguístico, discursivo e identitário utiliza-se
o aporte teórico-metodológico discursivo de linha francesa, precursor Michel Pêcheux, e nos
estudos foucaultianos sobre discurso, prática social e discursiva, ordem do discurso e técnicas
de si. No que tange a cibercultura e a contemporaneidade as reflexões pautam-se em Levy,
Lemos, Recuero e para a identidade Bauman, Hall e Giddens. Os resultados preliminares
apontam que os jovens leem e escrevem muito na atualidade, nem sempre o que leem são
clássicos da literatura canônica apreciados principalmente pela escola, mas uma “literatura
pop”, tais como as sagas que são sucessos na contemporaneidade como Harry Porter e/ou
autores como Percy Jakson.

QUEIMANDO SUTIÃS: O CORPO COMO DISCURSO E ACONTECIMENTO

Elizete de Souza Bernardes


(Doutoranda – UFSCar)
Vanice Maria Oliveira Sargentini
(UFSCar)

“O meu corpo é minha propriedade ...” : essa é parte da inscrição feita em seu corpo, por uma
tunisiana, Amina Tyler, tal como noticiou a Folha de São Paulo em março de 2013. Se
voltarmos para os anos 70, com efeito, encontraremos o seguinte enunciado: “Nosso corpo
nos pertence”, dito por um grupo de minoria feminista e que naquela época reclamava uma
liberdade do corpo feminino frente às leis que interditavam o aborto. Dois acontecimentos,
separados por, mais ou menos, 40 anos que se entrelaçam, formando uma rede interdiscursiva
e provocando um efeito de memória (COURTINE, 2009). A partir desses dois episódios, nos
questionamos: Como o corpo se torna objeto do discurso em enunciados que circulam na
sociedade? Quais as mutações discursivas de um acontecimento a outro? Para tentarmos
responder a essas questões, lançamos mão de alguns aportes teóricos da Análise do Discurso
de linha francesa, tais como: enunciado (FOUCAULT, 1986), acontecimento
discursivo\trajeto temático (GUILHAUMOU e MALDIDIER, 1994) e condições de
produção, proposto por Courtine (2009). O trabalho se inscreve nos quadros da AD, que
permite trabalhar com os efeitos de sentido do discurso, a partir da materialidade semiológica,
do sujeito historicamente construído e a História, enquanto construída pelos discursos e
constituidora de discursos. Dessa perspectiva, procuraremos analisar quais são os efeitos de
memória que se repetem, refutam e transformam os enunciados, conforme trabalhamos com
Foucault (1986, p. 119), buscaremos refletir como o corpo é o próprio (efeito do) discurso em
enunciados que circulam, atual e historicamente.

56
UMA ANÁLISE DISCURSIVA DE NÃO TENHO CULPA QUE A VIDA SEJA COMO
ELA É, DE NELSON RODRIGUES

Elza Carolina Beckman Pieper


Marcos Lúcio de Sousa Góis
(UFGD)

O objetivo deste artigo é apresentar uma analisar discursiva de textos de Nelson Rodrigues,
mobilizando Dominique Maingueneau como principal referência teórica. O problema de
pesquisa que se propõe tem a ver com a seguinte observação: até que ponto Nelson Rodrigues
pode, de fato, ser considerado um autor pornográfico? Para tanto, partir-se-á da leitura do
texto Não tenho culpa que a vida seja como ela é (2009), de Nelson Rodrigues, autor
qualificado duplamente como “Anjo” e “Pornográfico” no livro O Anjo Pornográfico: a vida
de Nelson Rodrigues (1992), de Ruy Castro. O principal objetivo dessa reflexão é
problematizar o adjetivo “pornográfico” atribuído a esse autor. Metodologicamente, serão
adotados dois procedimentos: primeiro, partir-se-á da leitura do livro de Ruy Castro para
tentar entender o que faz, segundo Castro, de Nelson Rodrigues um autor pornográfico. Em
outros termos, de que mirante Castro qualifica-o de “pornográfico”. Segundo, far-se-á uma
análise do livro de Nelson Rodrigues à luz de Dominique Maingueneau. A hipótese que se
defenderá é a de que Rodrigues está mais próximo da literatura obscena, enquanto discurso,
do que da pornográfica. Esta se apresenta como discurso atópico, situado num não-lugar, nos
interstícios sociais, oscilando entre proibição e tolerância. Subjugada a uma censura universal,
pois todas as sociedades estabelecem distinções entre o que é permitido e proibido na
representação da sexualidade. Pretende-se mostrar que o livro Não tenho culpa que a vida seja
como ela é pode ser definido como predominantemente obsceno, com variações eróticas e
pornografia canônica velada. Embora se considere que os dados analisados não sejam
suficientes para se chegar a conclusões finais sobre o assunto, acredita-se em sua importância,
por, pelo menos, lançar dúvidas sobre o adjetivo “pornográfico” atribuído a Nelson
Rodrigues. Espera-se, portanto, que o resultado da investigação contribua para a formação de
saberes a partir da obra desse renomado escritor brasileiro.

TRADUÇÃO E DIALOGISMO: UM ESTUDO DE CASO

Eneida Gomes Nalini de Oliveira


(Unesp/FCLAr)

Esta pesquisa examina a prática da tradução sob a perspectiva das obras de M. Bakhtin e seu
Círculo, com destaque para as noções de ética, estética, enunciado e enunciação, relações
dialógicas, gênero, arquitetônica, construção composicional, exotopia e cronotopo, estilo e
tema e excedente da visão estética. Através de estudos complementares sobre a tradução,
nossa meta é entender os processos que a tradução envolve, desde a escolha do texto até o
caminho percorrido para que a tradução seja realizada, enfocando as obras escolhidas.
Produções de autores, teóricos e estudiosos da área de tradução, linguística e teatro permeiam
esse trabalho no sentido de auxiliar-nos em nossas buscas por respostas que possam nos dar a
compreensão dos processos envolvidos no ato de traduzir. A reflexão recebe concretude por
meio da análise das obras: The member of the wedding, de Carson McCullers, e duas de suas
traduções: uma delas, A Sócia do Casamento, iniciada, mas não terminada, por Clarice
Lispector; e a outra, A Convidada do Casamento, realizada por Sônia Coutinho (2008).
Analisamos a interferência das realidades constitutivas dos tradutores influenciando suas
57
traduções, buscando também a identificação mais íntima de como uma obra pode interferir na
produção de outra seja por meio da temática e do estilo, seja por meio da abordagem
ideológica e cultural. A crônica de Clarice Traduzir procurando não trair, publicada na
“Revista Jóia” em 1968, tem importância fundamental no processo dos estudos da tradução de
Clarice Lispector, pois nela a autora demonstra a preocupação em manter-se fiel às intenções
do autor e expõe suas reflexões sobre o trabalho de tradução. A partir disso, averiguamos
também como a formação de uma nova consciência dos procedimentos literários da autora
interfere em seus trabalhos de tradução. Dessa maneira, busca-se contribuir para a reflexão
sobre a tradução tanto teórica, quanto concretamente com o estudo particular dessas duas
traduções. Buscamos os estudos de Bakhtin, Brandist (2009), Zbinden (2006), Ponzio (2010)
e Petrilli (2012) para analisar questões relevantes deste estudo.

DISCURSO, LITERATURA E ENSINO: CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO E AS


(IM)POSSIBILIDADES DA EMERGÊNCIA DA AUTORIA, EM UMA
EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO, DO CURSO DE PEDAGOGIA,
DA FFCLRP/US

Érica Mancuso Schaden


(FFCLRP-USP)

Fundamentado na Análise de Discurso de matriz francesa, particularmente nas contribuições


de Michel Pêcheux (1997,1999, 2002), nas obras de Michel Foucault (1999), Eni P. Orlandi
(1996, 1999, 2003, 2009), e na abordagem Sócio-Histórica do Letramento, com os postulados
de Leda V. Tfouni (1995, 2011), este trabalho de conclusão do curso de Pedagogia investigou
as (im) possibilidades de alunos do ensino fundamental ocuparem o lugar de autor, nas
produções linguísticas, orais e escritas, elaborada por eles, em condições de produção
específicas, propostas em uma experiência de estágio curricular supervisionado. O trabalho
pedagógico com a literatura promove condições favoráveis de produção, que são
oportunidades para o aluno poder ocupar o lugar de autor, cujo conceito utilizado nesta
pesquisa é o de “intérprete-historicizado” (ASSOLINI, 2003; 2010). Objetivamos também
investigar como os professores relacionam-se com a leitura e com a literatura, e como esta é
utilizada em sala de aula, em suas práticas pedagógicas escolares. A partir dessa proposta,
desenvolvemos com os alunos atividades de leitura, interpretação e produção linguística, por
meio da adaptação, elaborada por nós, da obra original Terra Sonâmbula, do escritor
moçambicano Mia Couto. Essa experiência de estágio instigou-nos a realizar a presente
pesquisa, cujo corpus é constituído por sessenta e quatro produções linguísticas, orais e
escritas, desenvolvidas pelos alunos do ensino fundamental, do qual foram selecionados, para
a análise discursiva, uma história coletiva, por eles criada, intitulada Muidinga 2, cinco textos
para a proposta Quem sou eu e cinco textos para a atividade Histórias para o menino
Muidinga. Integram também ao nosso corpus cinco entrevistas realizadas com professores do
ensino fundamental, todos eles formados em Pedagogia, objetivando analisar como os
professores utilizam a literatura em sala de aula, bem como se relacionam com ela, no sentido
de compreender a importância da literatura na vida destes sujeitos. Com base nas análises
discursivas parciais realizadas, podemos compreender que o trabalho com a literatura, com a
leitura e escrita de textos, oportuniza que professores e alunos possam, mediante condições de
produção favoráveis, constituírem-se como intérpretes-historicizados de seus dizeres,
permitindo-os interpretar e, assim, lidar com os vários sentidos do discurso. Isto, pois, é
possível observar que alguns alunos conseguem ocupar o lugar de autor, já que produzem
textos marcados pela coesão e coerência, além do título. Ademais, em alguns trabalhos
58
pedagógicos dos professores entrevistados pode-se verificar a presença de propostas didáticas
autorais, que se distanciam de modelos legitimados na escola.

ANÁLISE SEMIÓTICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE FIGURATIVIDADE E


ESPACIALIZAÇÃO NA OBRA “MATO GROSSO DO SUL, MINHA TERRA” DE
OLIVA ENCISO: O DISCURSO EM QUESTÃO

Euzenir Francisca da Silva1


(PG/ UFMS)

Esse artigo tem como objetivo analisar o livro autobiográfico “Mato Grosso do Sul, minha
terra”, de autoria de Oliva Enciso, sob o respaldo da teoria da significação, a semiótica
francesa ou greimasiana. A semântica estrutural vê o texto como um todo de significação.
Buscamos com essa análise, descrever os mecanismos internos do agenciamento de sentido no
texto, para isso faz-se necessário um recorte, no qual a parte a ser analisada será o capítulo I.
Sabemos que o texto é uma unidade que se dirige para a manifestação, a partir desse capítulo
buscaremos encontrar isotopias figurativas que descrevam os espaços citados no livro. Há
nessa obra, desde o próprio título, forte referencia a espacialização. Com o uso do percurso
gerativo e seus patamares, as estruturas fundamentais, estruturas narrativas e estruturas
discursivas, essa última manifestada como texto, quando se unirem a um plano de expressão
no nível da manifestação, faremos o processo de investigação científica nos valendo da
relação entre a figuratividade e tematização, estes elementos discursivos manifestam os
valores do enunciador, e por, conseguinte estão relacionados à instância da enunciação. São
operações enunciativas, que desvelam os valores, as crenças, as posições do sujeito da
enunciação, no contexto tais valores crenças e posições são da enunciadora Oliva Enciso, uma
vez que a referida obra é uma autobriografia, inserida no contexto de formação do espaço
social, a cidade de Campo Grande-MS.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS: DISCURSOS E REPRESENTAÇÕES NA


MÍDIA IMPRESSA

Fábio Márcio Gaio de Souza


GEDIS / UFG-CAC
PMEL / UFG-CAC

Tida como a mais importante instituição de ensino superior do estado, a Universidade Federal
de Goiás tem experimentado ao longo dos últimos anos uma crescente expansão, sobretudo na
oferta de vagas em cursos de graduação e pós-graduação e na estrutura física. Alicerçada no
tripé ensino, pesquisa e extensão, a universidade se consolida como espaço do debate, do
conhecimento, da pesquisa e inovação, da transformação e construção do futuro. Toda esta
produção, no entanto, necessita ser divulgada e para tal, a universidade recorre a meios
próprios, como portais, rádio, jornal e televisão vinculados à própria instituição, mas também
lança mão do relacionamento com a mídia por meio do envio freqüente aos veículos de
comunicação de releases e sugestões de pauta. A mídia, por sua vez, irá se apropriar ou não
dos dizeres institucionais, quer seja na íntegra ou com modificações, a partir da posição
representada pela pessoa jurídica ou física, vinculada a universidade. Observa-se que na
1
Mestre em Estudos de Linguagens: Linguística e Semiótica, pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
59
instância da mídia impressa, a representação de universidade ora aparece na fala de um
pesquisador acerca de um determinado tema específico, ora na fala institucional, no
posicionamento enquanto instituição a partir da visão de um gestor. Além disso, a
universidade enquanto local de fala do sujeito confere a discurso midiático o peso de uma
instituição de ensino superior. O fato é que produzido por diferentes sujeitos, em condições de
produção distintas, a partir de rotinas próprias, a representação da Universidade Federal de
Goiás, pensada a partir de pressupostos teóricos da Análise do Discurso de linha francesa,
coloca em evidência no discurso midiático comercial, representado por jornais impressos de
Goiânia e em jornais institucionais, produzidos pela universidade, sujeitos,
interdiscursividades, ideologias e sentidos pensados não apenas em seu efeito estímulo-
resposta, e sim como prática social. A forma como é pronunciado um dizer, carrega um
sentido de como promover um determinado discurso. Na mídia impressa, a marcação do
tempo verbal, as imagens, a disposição dos textos e fotografias, a posição ocupada na
diagramação, devem ser observadas não somente a partir de conceitos técnicos ou comercias,
mas também, em um contexto sócio-histórico. Assim, se propõe com este estudo refletir
acerca dos dizeres midiáticos referentes à Universidade Federal de Goiás, investigando
aspectos que compõem estes dizeres na perspectiva de se estabelecer uma análise acerca dos
pontos divergentes e convergentes acerca dos dizeres com base nas noções do discurso.

AS PRÁTICAS DE LEITURA INSTITUCIONALIZADAS PELOS PCNs SOB UM


OLHAR FOUCAULTIANO

Fabrícia Aparecida Migliorato Corsi


Luzmara Curcino Ferreira
(UFSCAR)

O trabalho que ora propomos inscreve-se na pesquisa de doutorado que estamos realizando
cujo objetivo é levantar e analisar, por meio de questionário e entrevista, alguns discursos que
jovens leitores do ensino médio de escolas públicas de Minas Gerais compartilham sobre a
leitura. Tendo em vista o importante papel da escola na difusão, consagração e reiteração de
certos discursos sobre a leitura os quais, por sua vez, são oriundos, entre outras fontes, de
documentos oficiais que regulam o ensino, neste trabalho faremos uma breve incursão sobre o
que dizem os PCNs de Ensino Médio a respeito da leitura. Nosso objetivo é o de investigar
discursivamente as instruções contidas nesses documentos sobre o trabalho com a leitura em
sala de aula, enfim, sobre a definição dessa prática, sobre seu ensino e seu fomento, de modo
a cotejarmos, posteriormente, essa nossa análise com o que enunciam os alunos que
entrevistaremos acerca da leitura. Os PCNs, como é sabido, são documentos elaborados pelo
Ministério da Educação que devem ser utilizados como referência para o ensino, em todo
território nacional, desde 1998. Eles normatizam as competências mínimas com as quais os
alunos devem travar contato durante o período de escolarização da educação básica. Esses
documentos, em sua dimensão de objeto histórica e culturalmente produzido, buscam
sintetizar diversas perspectivas teóricas no subsídio das orientações que formula acerca das
práticas que deseja fomentar. A leitura é uma das práticas que, em conjunto com a escrita, é
60
particularmente abordada em função de sua prioridade não apenas para a Língua portuguesa,
como também para as demais áreas de conhecimento. Ela é referida, descrita e abordada em
suas variações e finalidades a partir do que se diz sobre a leitura na atualidade, e em especial
no âmbito acadêmico. Apoiados em alguns princípios da Análise de discurso francesa, em
especial com base nas considerações de Michel Foucault acerca da “ordem do discurso”
segundo a qual todo e qualquer dizer está submetido a formas de controle e de emergência
que atuam de modo a validar/autorizar o quê e como se deve/se pode enunciar, de acordo com
um regime institucional dado, faremos a análise aqui proposta valendo-nos mais
especificamente dos conceitos de poder-saber, arquivo e memória. A partir dessa
fundamentação, pretendemos, portanto, realizar um levantamento dos discursos sobre a leitura
que frequentam este documento oficial, por meio da análise das orientações que regulam
direta ou indiretamente o ensino das práticas de leitura em âmbito escolar.

PRODUTO CULTURAL DE TRADIÇÃO ORAL DA CULTURA SERTANEJA DE


RAIZ: DIÁLOGOS ENTRE VERBAL E NÃO VERBAL NOS DISCURSOS DE SITES
SERTANEJOS

Felipe Sousa de Andrade


(UNESP)

O presente trabalho expõe resultados de pesquisa desenvolvida como Iniciação Científica e


visa ao estudo das relações dialógicas entre discursos verbais e não verbais de dois sites
sertanejos, cujos endereços eletrônicos são: http://terradapadroeira.blogspot.com e
http://lourencoelourival.com.br/. Esses discursos são analisados sob o viés da análise do
discurso, centrado nos estudos do círculo de Bakhtin. Essa análise é feita com o propósito de
refletir sobre o modo como a cultura sertaneja, a música sertaneja de raiz (produto cultural de
tradição oral) e a identidade dos sujeitos do discurso são representadas. O objetivo é analisar a
relação dialógica entre os discursos: como se relacionam os gêneros do discurso presentes no
site, temática, estilística e\ou composicionalmente; qual a relação entre cultura oral e escrita
que se observa neles; como a interface dos sites dialoga com a cultura dos internautas? Para
embasar teoricamente este trabalho, utilizamo-nos de ideias sobre o aspecto dialógico de todo
e qualquer discurso, segundo estudos bakhtinianos. Assim, levamos em consideração que
tanto o suporte dos sites quanto os próprios discursos estão e são inscritos em gêneros
relativamente estáveis. Essas formas têm características que nos possibilitam refletir sobre as
vozes sociais e os valores presentes nos discursos dos sites. Essas vozes e valores, por sua
vez, direcionam-nos a determinados pontos históricos, sociais e culturais. A contribuição que
se deseja fazer é ampliar tanto os estudos dialógicos em textos não verbais e verbais como,
também, estudos sobre a cultura sertaneja de raiz: tendo em vista que o discurso é
ressignificado a cada momento de sua atualização, numa relação de espaço, tempo e
ideologia, o reflexo e a refração que lhe cabem são indicadores das possíveis leituras da
cultura que se manifesta através dos sites analisados.

61
REFLEXÕES SOBRE A LEITURA NO LIVRO DIDÁTICO: UMA PERSPECTIVA
DISCURSIVA

Flágila Marinho da Silva Lima


(UEFS)

A Análise de Discurso propõe modos de problematizar a leitura considerando a opacidade


uma característica constitutiva da língua e parte do princípio de que não existe um sentido
pronto e acabado que deva ser apenas recuperado pelo leitor, mas sentidos possíveis que
podem ser atrelados ao texto em questão. Logo, sendo o texto, na AD, a materialidade do
discurso, este por usa vez precisa ser estudado à luz da sua discursividade, isto é, fazendo
relação com o social, o histórico e o ideológico, já que não existe discurso sem sujeito nem
sujeito sem ideologia. Assim, o objetivo deste trabalho é analisar como a leitura é trabalhada
no livro didático de Língua Portuguesa, bem como perceber qual a formação do sujeito leitor
almejada em suas atividades de interpretação de textos. Para tal objetivo foi selecionado como
corpus o livro de Língua Portuguesa – 6º, da coleção Diálogo. É sabido também que o livro
didático é, por muitas vezes, o único recurso pedagógico do professor, sendo, portanto,
fundamental que este possa ser objeto de variados estudos, tendo em vista sua larga utilização
em sala de aula. Como resultado preliminar da pesquisa em curso, é possível afirmar que, as
seções observadas, ainda consideram um texto como tendo um único sentido que deve ser
captado pelo aluno, sem instigar uma problematização da leitura, expondo o olhar leitor,
apenas, para “partes do texto” e não para a opacidade da língua e nem mesmo para a relação
desta com a história e o ideológico que permeia o processo da leitura na construção dos
sentidos. Quanto ao efeito leitor, é possível afirmar que este não é formado para ser um leitor
capaz de compreender os sentidos do texto, mas sim para reproduzir (copiar) ou decodificar
(interpretar). Logo, o discurso, as representações discursivas e as ideologias presentes no texto
ficam à margem do processo. É importante ressaltar, também, que o aporte teórico do referido
trabalho é, pois, a teoria da Análise de Discurso de Linha Francesa que tem como seu
principal representante Michel Pêcheux.

A ADAPTAÇÃO DE CRÔNICAS AO PÚBLICO LEITOR JOVEM: UMA ANÁLISE


DISCURSIVA DE ALGUNS PROCEDIMENTOS EMPREGADOS NA
ORGANIZAÇÃO DESSAS COLEÇÕES CONTEMPORÂNEAS

Flávia Cristina Gomes Morais


(Universidade Federal de São Carlos)

Cada vez mais o mercado livreiro nos apresenta adaptações de textos clássicos, especialmente
para o público infanto-juvenil, valendo-se do status, ou seja, do valor simbólico adquirido por
algumas obras ao longo da história, e que por essa razão compõem o repertório de textos
adaptados. O presente projeto tem por objetivo traçar um perfil desse público leitor, partindo
do princípio de descrição de algumas representações discursivas do leitor jovem empregadas
na construção de adaptações de crônicas de autores brasileiros consagrados. Nosso objetivo é
analisar a que mutações formais os textos são submetidos e quais são os critérios de seleção
de textos que, inicialmente, não foram produzidos necessariamente para o público jovem, mas
são organizados em obras voltadas para esse público. O levantamento, descrição e análise
dessas estratégias nos permitirão refletir em que medida essas escolhas podem sinalizar uma
projeção do leitor jovem. Assim, analisaremos três coletâneas de “Crônicas para jovens”, de
obras de autores brasileiros conhecidos e já consagrados, a saber, Clarice Lispector, Ferreira
62
Gullar e Affonso Romano Sant’Anna, em cuja análise procederemos por comparação,
cotejando tanto os temas abordados nos textos quanto aspectos mais formais, relativos ao
tamanho dessas crônicas, ou às mutações que elas eventualmente sofrem para se adaptarem ao
público visado. Levantaremos as ocorrências de estratégias de escrita mais frequentes, ou seja,
as mais comuns a esse processo de adaptação do texto original para outro público alvo, a fim
de apreendermos algumas projeções de práticas de leitura e de competências leitoras
pressupostas no processo de adaptação dos textos. Para a análise a que nos propomos,
apoiaremo-nos especialmente na Análise de Discurso, no que concerne à compreensão dos
efeitos de sentido produzidos pelo emprego de certas estratégias de escrita (escolhas lexicais,
de estruturas frasais, inserção de imagens etc.), e em alguns princípios da História Cultural,
especialmente nos trabalhos de historiadores que vem se ocupando da história da leitura a
partir da análise dos objetos culturais que portam textos.

ETHOS E MEMÓRIA: O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO FEIRAGUAI

Flávia Rodrigues dos Santos1


(UFBA)

Objetivando investigar o modo como o Feiraguai e os vendedores que nela trabalham são
representados discursivamente, o presente artigo visa traçar uma discussão acerca do ethos,
para dar conta do processo da formação identitária do Feiraguai. Esta, por sua vez, é uma feira
livre localizada na cidade de Feira de Santana – BA, considerada como um dos maiores
centros comerciais do Norte e Nordeste do país, atraindo pessoas de várias regiões
circunvizinhas através de seus produtos importados. Para tal proposta, amparei-me na
perspectiva teórico-metodológico da Analise do Discurso de linha francesa, sobretudo nos
estudos do papel da memória, desenvolvida por Pêcheux (1999) e na concepção de ethos
segundo Maingueneau (2005, 2006), o qual defende a construção de uma imagem de si no
discurso, imagem esta que é marcada por questões históricas, sociais e ideológicas,
identificadas na enunciação, a partir dos estereótipos. A discussão é parte da dissertação de
mestrado, ora intitulada: O ethos na construção identitária do feiraguai, a qual está sendo
desenvolvida no Programa de Pós Graduação em Língua e Cultura (PPGLINC), da
Universidade Federal da Bahia – UFBA. Vale salientar que a pesquisa encontra-se em fase
preliminar e, por conseguinte, a mesma será ampliada após a coleta de dados, cuja
investigação tem como uma das principais pretensões, descobrir quais estereótipos são
atribuídos a esse espaço, para o que, faz-se necessário compreender as posições sócio-
ideológicas ocupadas pelos sujeitos, pois elas são determinantes na atribuição de
determinadas características e não outras ao Feiraguai. Assim, analisar e discutir sobre as
questões supracitadas é falar de acontecimentos que influenciaram no modo como o Feiraguai
é discursivizado, além de abordar ideias que foram construídas e que forjaram a imagem
estabelecida desse espaço.

1
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Língua e Cultura (PPGLINC), da Universidade Federal da Bahia
– UFBA.

63
REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO DE IDENTIDADE DO PROFESSOR EM
PRÁTICAS DE ESCRITA NA INTERNET

Gabrielle Cristina Baumann Salvatto


(UNESP/Araraquara)
Orientador: Profª. Drª. Marina Célia Mendonça

O trabalho proposto parte de resultados de pesquisa desenvolvida em forma de Iniciação


Científica com bolsa PIBIC-CNPq, em que fizemos um estudo bibliográfico de trabalhos
acadêmicos sobre blogs. A investigação de então, que se encerrou em julho de 2012, teve por
objetivos selecionar estudos sobre blogs e investigar como a academia os tem classificado, em
especial em torno de dois eixos: se são entendidos como gêneros de texto/discurso; e como se
dá nesses espaços a questão da subjetividade/identidade. Para a continuação da pesquisa,
propomos uma análise discursiva de blogs com enfoque na questão da subjetividade. Justifica-
se a proposta pelos resultados da investigação anterior. A maioria dos trabalhos acadêmicos
pesquisados toma os blogs como espaço de produção de uma identidade de si. Mas outros
apontam usos contemporâneos diversificados desses sites em espaços institucionais, em
especial em revistas/jornais. Nesse caso, eles são uma extensão da atividade jornalística e, se
tomados como um gênero do discurso (BAKHTIN, 2000) poderíamos encontrar, nessas
práticas de escrita, renovação do gênero condicionada por novas formas de circulação e uso.
Considerando-se o exposto, propomos uma pesquisa em que se faça uma análise dialógica de
blogs/sites de professores de língua portuguesa, em especial os acessíveis a partir do site do
MEC: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/links.html. O suporte teórico-metodológico são os
estudos bakhtinianos do discurso. O objetivo geral desta pesquisa é analisar, dialogicamente,
o discurso de professores de língua portuguesa em seus sites/blogs. Os objetivos específicos
são investigar aspectos relativos ao gênero do discurso blog, nessa esfera especializada de
circulação: se são meios de exposição de si, dialogando com os blogs pessoais de
adolescentes, por exemplo; se são meios de extensão profissional; refletir sobre como se
produz a identidade do professor de língua portuguesa nesse gênero do discurso. Os eixos de
reflexão sobre a identidade, nesse caso, são quatro: o discurso do sujeito sobre si e seus
colegas de profissão; como ele se mostra ao analista-pesquisador no diálogo com os outros na
história (professores, alunos, interessados em questões de língua, documentos oficiais); como
ele pode ser visto pelo analista-pesquisador considerando-se recursos que utiliza (vídeos,
fotos, gêneros literários etc); como ele é visto por aqueles que comentam o seu dizer.

POR UMA GENEALOGIA DAS PRÁTICAS DE SUBJETIVAÇÃO

Gesiel Prado
(UNESP / CAPES)

O objetivo desta comunicação é apresentar e discutir algumas contribuições do método


genealógico, a partir da leitura de Michel Foucault, para o campo teórico-metodológico da
Análise do Discurso. Foucault introduz a genealogia como um método para diagnosticar e
compreender o significado das práticas sociais a partir do seu próprio interior. Assim,
contrário ao método de historiografia tradicional, o método genealógico assinala as
singularidades dos acontecimentos, buscando descontinuidades ali onde os desenvolvimentos
contínuos foram encontrados. Não se trata mais de trazer uma verdade dos escombros da
história à luz. À genealogia interessa a história das interpretações, pois considera que
interpretar não é desvelar um significado. O discurso é tomado num sentido técnico e muito
64
particular, pois o importante não é a revelação do discurso misterioso, mas observar com
exatidão que assim é dito. Concomitante à problematização da busca pelo sentido verdadeiro,
a existência do sujeito é posta em questão, deixando de ser dada através do texto, para ser
analisada pelo discurso e seu encadeamento na história. A genealogia se desvincula da noção
de sujeito totalitário, chegando para uma análise que considera a fabricação do sujeito na
trama da história. Os sujeitos não preexistem ao interstício, sua emergência se dá num campo
de batalhas, e é somente aí que desempenham seus papéis. Por isso, o tema central da
genealogia de Foucault é mostrar o desenvolvimento das técnicas de poder para os indivíduos.
Deste modo, em seu método propõe um modo de análise daquelas práticas culturais, em nossa
cultura, que têm sido instrumentais para constituição do indivíduo moderno tanto como objeto
quanto como sujeito. Assim, o método genealógico permite entender o discurso não apenas
como um conglomerado de regras sintáticas, mas uma possibilidade de compreendermos
quem somos hoje. O discurso passa constituir uma cartografia das existências. O que permite,
portanto, compreender como o discurso da etiqueta e dos bons modos afeta o processo de
subjetivação. Destarte, o procedimento de análise do discurso considerando o método
genealógico, amplia a análise dos manuais de etiqueta como um conjunto de normas a serem
aplicadas, para um aparato de técnicas de si que visam controlar os corpos, tornado o
indivíduo ao mesmo tempo objeto e sujeito. Observando a produção e a circulação dos
discursos dos bons modos por meio da descontinuidade histórica, podemos perceber como as
práticas normalizadoras de si foram modelando em diferentes momentos uma subjetividade
civilizada.

PODERES E PERIGOS DA VOZ: UMA ANÁLISE DOS DISCURSOS DA MÍDIA


SOBRE O CÂNCER DE LARINGE DE LULA E SUAS SEQUELAS

Giovana Moretti
(UFSCar)

O presente trabalho pretende apresentar os resultados parciais obtidos mediante o


desenvolvimento do Projeto de Pesquisa “Poderes e perigos da voz: uma análise dos discursos
da mídia sobre o câncer de laringe de Lula e suas sequelas”. Mais precisamente, nosso
objetivo consiste em analisar os discursos produzidos pela mídia brasileira sobre o câncer de
laringe sofrido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e as ameaças à sua voz que a
enfermidade representava. Caracterizando-se como um acontecimento discursivo, o anúncio
da doença de Lula produziu um amplo e disperso conjunto de textos acerca dos riscos que
corria sua voz: conversas do cotidiano, posts e twits em redes sociais, debates entre médicos,
comentários de políticos, notícias, crônicas e reportagens da mídia etc. Nesses textos, há tanto
a consideração do fato de que se tratava de algo extraordinário quanto a reiteração de já-ditos
sobre a política, em geral, sobre Lula e sobre o PT, sobre o papel desempenhado pela
linguagem no campo político e sobre a voz, configurando assim o que Pêcheux (1997, p. 17)
chama de “ponto de encontro entre uma atualidade e uma memória”. Por meio de um primeiro
e rápido rastreamento, tornou-se já possível observar que tal conjunto comporta um variado
leque de dizeres que vão de eventuais imprecações bastante hostis, passando por declarações
mais ou menos referenciais, até os predominantes votos de pronto restabelecimento.
Considerando o fato de que a mídia ao mesmo tempo produz enunciados de que a sociedade
se apropria e repercute os dizeres que já circulavam nesta última, buscamos identificar
algumas unidades e regularidades discursivas na dispersão dos textos midiáticos gerada a
partir do episódio mencionado, no intuito de interpretar a produção de seus efeitos de sentido.
Para tanto, fundamentados na Análise do discurso, derivada de Michel Pêcheux e seu grupo –
65
com contribuições oriundas de estudos prosódicos, da Retórica e da Análise da conversação,
cujos postulados e noções foram reinterpretados numa perspectiva discursiva –, analisamos
enunciados extraídos de um corpus constituído por textos de vários gêneros que circularam
nos jornais Folha de São Paulo e Estado de São Paulo e na revista semanal Veja, entre os dias
29 de outubro de 2011, data da divulgação do diagnóstico do câncer de Lula, e 29 de março
de 2012, quando se deu a repercussão da difusão de um vídeo em que o ex-presidente
anunciava no dia anterior a cura de sua doença.

ENTRE A ZOMBARIA E A CELA: O CRIMINOSO COMO ENTRETENIMENTO


NA BANALIZAÇÃO DO CRIME

Glaucia Vaz
(Ledif-UFU)

O que tomamos por acontecimento discursivo nessa análise gira em torno de uma reportagem
exibida pelo programa Cidade contra o crime, da RBA, filiada da emissora de TV Band, em
que o entrevistado é um rapaz preso por tentativa de assalto. O vídeo, que traz um recorte da
reportagem, foi postado por diversos canais no Youtube, recebendo variados títulos e
legendas, bem como comentários de centenas de usuários do site. Nossa proposta é justamente
analisar as formulações verbais que se referem ao vídeo no intuito de buscar regularidades
discursivas que permitam evidenciar de que forma a espetacularização, cuja técnica de
satirização do sujeito criminoso, tanto na mídia televisiva quanto na internet, confere à
criminalidade um aspecto de fato cotidiano e banal. A princípio, recortaremos enunciados
materializados verbalmente: os títulos que o mesmo vídeo recebe quando disponibilizado por
outros usuários no Youtube, a nomeação dos canais que o postaram e os comentários do
repórter, do apresentador e dos demais usuários. Para tanto, nos inscrevemos no aparato
teórico e metodológico da Análise do discurso francesa, analisando o corpus à luz de
conceitos como enunciado e discurso, em especial, pela perspectiva foucaultiana. Desta
forma, nos debruçaremos sobre os enunciados identificando posicionamentos de sujeito,
descrevendo seus lugares histórico-sociais e analisando como a zombaria atua na produção da
criminalidade como algo risível, fazendo surgir, assim, uma noção de criminalidade banal. A
banalização, a compreendemos, aqui, como um processo, um efeito do agenciamento de
sujeitos por meio de discursos, isto é, como um efeito de dispositivos de poder (neste caso,
nos referimos a um agenciamento promovido pela satirização; e também pela noção de
identidade nacional, de forma que a abordamos em um estudo mais amplo, mas que extrapola
o objetivo desta comunicação). Portanto, nos respaldamos não somente na arqueologia de
Michel Foucault, mas também em sua analítica genealógica, em que o discurso pode ser
tomado como prática discursiva, em outras palavras, como um operador das relações de força
entre os sujeitos.

66
GÊNEROS E FORMATOS: ESTABELECENDO RELAÇÕES ENTRE OS
CONCEITOS DE BAKHTIN E BRUNER

Heitor Quimello
Rafaela Giacomino Bueno
Rosângela Nogarini Hilário
(UNESP/FCLAr)

Nesta pesquisa buscamos refletir acerca da possível relação entre o conceito de gêneros do
discurso, proposto por Mikhail Bakhtin, e de formatos, desenvolvido por Jerome Bruner.
Embora tenham sido pensados a partir de domínios diferentes na área dos estudos da
linguagem, esses dois conceitos se articulam e colaboram para a compreensão da entrada da
criança na linguagem. Segundo Bakhtin, os gêneros são tipos “relativamente estáveis” de
enunciados produzidos e que circulam e são recebidos nas diversas esferas de atividades e
estão constitutivamente ligados ao tema, à forma composicional e ao estilo, sendo
caracterizados como primários ou secundários. Os formats, por sua vez, são sequências
rotinizadas (ou formas rotinizadas de troca), que regem a interação mãe/criança e possibilitam
a atribuição de papéis alternados e intercambiáveis. Em ambos, observa-se uma “estrutura
profunda” e um conjunto de regras (socialmente estabelecidas) por meio das quais as trocas
linguageiras são geridas. Nesse sentido, gêneros e formatos podem ser entendidos enquanto
organizadores da atividade linguageira em certo espaço-tempo discursivo, sendo que, no caso
da aquisição, esse espaço discursivo está mais restrito às trocas entre mãe/criança e aos
“jogos” que comumente acompanham essas trocas. Coloca-se, no campo da Aquisição, o
questionamento sobre o percurso da criança rumo à “eficácia” da produção, circulação e
recepção linguageira em certo espaço-tempo discursivo, ou seja, o estabelecimento da relação
entre o “ouvir dizer”, o “querer dizer” e o “dizer”. Considerando que aprender a falar significa
aprender a construir enunciados, e que os gêneros do discurso organizam nossa fala tanto
quanto as formas gramaticais o fazem, as reflexões que aqui propomos nos desafiam a lançar
um novo olhar sobre os dados, buscando não apenas compreender como as crianças adquirem
as “formas da língua”, mas como estas formas vão sendo, pouco a pouco, incorporadas no
discurso.

1984: RELAÇÕES DE PODER E SUBJETIVAÇÃO

Héllen Nívia Tiago


(UFG/Catalão)

Propomo-nos a realizar uma pesquisa qualitativa interpretativista, fundamentada nos


postulados teóricos foucaultianos e centrada, principalmente, nos conceitos da Análise do
Discurso de vertente francesa. Tomamos como corpus a obra 1984, de George Orwell, no
qual nos propomos a observar e a analisar a emergência de posições sujeito, colocando em
evidência os enunciados que a constituem. Faremos recortes de fragmentos dessa obra, de
modo que privilegiaremos as práticas discursivas procedentes da prisão, instituição que se
configura como lugar social de “docilização” dos corpos, e possibilita verificar o
funcionamento dos discursos e a inserção em uma posição sujeito por meio das práticas de
subjetivação. A abordagem do corpus se dará a partir de um dispositivo de análise que
permita o batimento entre descrição e interpretação, como é proposto por Michel Pêcheux
(1983). Pretendemos descrever e analisar o corpus em questão à luz das teorias da Análise do
Discurso de linha francesa, pautando-nos nas formulações foucaultianas acerca das relações
67
de poder, das práticas de subjetivação (que levam a inserção em uma dada posição sujeito, ora
sujeito controlado ora resistente/rebelde) e também dos procedimentos de controle do discurso
(interdição, separação, rejeição, vontade de verdade e poder disciplinar). Assim pretendemos
verificar o modo de como o sentido é produzido, em relação àquilo que Foucault considera
primordial: todo saber está ligado a uma forma de poder, do qual queremos nos apoderar, que
se exerce em rede e nunca em um lugar só. Assim, desenvolveremos nosso trabalho utilizando
os conceitos de poder, teoria foucaultiana, de modo a indicar como a emergência de posições
sujeito estão diretamente relacionadas com o sistema de controle e movimentos de resistência
presentes no corpus em estudo, uma vez que os discursos que atravessam a superfície do texto
e se manifestam no instante da produção de sentidos remetam à ideia de poder, postulada por
Foucault.

PRÁTICAS DISCURSIVAS, REPRESENTAÇÕES E IDENTIDADE INFANTIL NO


FILME SHREK

Heloisa Mônica Ajeje Gonçalves


(UNIFRAN)

A sociedade contemporânea, chamada por Zygmunt Bauman de líquido-moderna, vivencia


transformações em âmbito cultural, ideológico, social e pessoal. Novas tecnologias são
inseridas no cotidiano permitindo outros meios de expressão, reflexão, comunicação e
interação. Isso ocorreu também com a indústria cinematográfica e com o cinema de animação.
A emergência de modernas ferramentas digitais modificou os desenhos tradicionais. Dentro
dessas produções encontram-se discursos imagéticos presentes nas relações sociais e
interpessoais. Diversas estratégias visuais e linguísticas (intertextualidade,
interdiscursividade, implícitos, inferências, pressupostos, ironias, metáforas, metonímias e
outros) são utilizadas nas produções audiovisuais para construção de enunciados voltados
tanto para adultos quanto para crianças que constroem modos de dizer e de pensar a vida
cotidiana e seus problemas. Por meio de tal construção o sujeito espectador pode identificar-
se com os personagens e passar a tê-los como modelos de ser e viver. Diante do exposto,
objetiva-se nesta comunicação analisar as práticas discursivas, presentes nas produções
audiovisuais de filmes de animação contemporâneos, com o intuito de verificar quais
representações e construções identitárias são produzidas por elas e seus efeitos de sentido. O
corpus de pesquisa constitui-se do estudo teórico-analítico do discurso do texto-imagético
cinematográfico do filme de animação Shrek; que trata de questões sociais caras ao indivíduo,
como as relações sociais, o preconceito, a não aceitação pela sociedade do indivíduo que não
se encaixa dentro dos padrões de beleza, cultura e refinamento ditados pela sociedade. O
aporte teórico-metodológico configura-se da Análise de Discurso Francesa, precursor Michel
Pêcheux, das ideias focaultianas acerca das práticas discursivas, da ordem do discurso, das
técnicas de si. Além disso, o estudo pauta-se em autores que tratam do discurso
cinematográfico em Ismail Xavier, do discurso imagético em Laurent Jullier e Michel Marie e
Philippe Dubois. Os resultados preliminares apontam para a presença de formações
discursivas ideológicas que visam à integração do outro marginalizado na sociedade e à
necessidade de dar voz aos que percebem o mundo de forma diferente. Shrek, Fiona, o Burro,
o Espelho, personagens “diferentes” mostram, ainda que por um curto instante, resistência à
visão do outro submisso ou do outro hostil. Shrek oscila entre formações discursivas durante
toda a narrativa fílmica: ora submisso ou excessivamente dócil, ora hostil. Os personagens
maravilhosos, as chamadas criaturas “diferentes e diabólicas” são expulsas do reino e

68
despejadas no pântano de Shrek o que permite pressupor os ideais de “limpeza étnica”
idealizada por Lord Farquaad.

OLHARES SOBRE O CORPO E O PODER: UTILIDADE, DOCILIDADE E


HISTERIA NO FILME ŠÍLENÍ

Huri Ferreira1
(UFSCar)
Nathália Cristina de Andrade2
(UNESP – Assis)

O presente trabalho propõe uma análise discursiva de aspectos das relações entre poder e
corpo no filme Šílení (vocábulo que pode ser traduzido do tcheco como “Loucura” ou
“Insanidade”. Será utilizado o nome original deste filme por não haver distribuição brasileira
do mesmo), de Jan Švankmajer, através do sujeito Charlotte, personagem feminina que se
encontra no núcleo principal da materialidade fílmica, junto a sujeitos masculinos. Essa obra
do surrealismo tcheco lançada em 2005, uma alegoria à vida moderna, é descrita pelo diretor,
em um prólogo que antecede a narrativa, como um debate filosófico sobre duas maneiras de
gerir um manicômio, uma baseada na liberdade absoluta, outro em um método que vigia e
pune. Descrita como ninfomaníaca e histérica pelo Marquês (sujeito fílmico inspirado no
Marquês de Sade que representa a vigência do método baseado na liberdade), Charlotte
desempenha um papel útil e dócil aos dois métodos antagônicos de gestão do manicômio em
que vive e trabalha. Visa-se, especificamente, a investigação da função do sujeito Charlotte
nas relações de poder das quais participa, bem como da hipótese de as características próprias
da psicopatologia histérica que possui – dentre elas, a demanda de afeto e sua
superficialidade, especialmente em relação às figuras masculinas, a teatralidade, a
sugestionabilidade, e outras manifestações de caráter sexual – estarem aliadas à disposição
deste corpo ao poder nele atuante. Cabe ressaltar que não objetiva-se a discussão de tal
psicopatologia sob o viés da psicanálise, da psicologia, ou da psiquiatria, além do que for
pertinente a sua etiologia e características da psicopatologia histérica de conversão e o plano
de fundo histórico-cultural, no qual se mostram relevantes os temas do poder e da sexualidade
tanto para esta personalidade histérica, quanto para a questão manicomial e das relações de
poderes. Para tais objetivos, serão mobilizados os estudos de Michel Foucault que tratam do
poder sobre o corpo presentes em “Vigiar e punir” e na “História da sexualidade I: a vontade
de saber”. Considera-se pertinente, sobretudo, o uso dos conceitos de biopoder, que descreve
a evolução de um poder sobre a vida, baseado na morte que tem condições de exigir, a um
apoderamento dos corpos, em níveis individual e populacional, aos quais se terá acesso à
medida que cuide de suas vidas, e de utilidade e docilidade, que encerram a noção da
maximização do aproveitamento das forças do corpo e da disposição deste à obediência. A
análise considerará a complexidade da linguagem audiovisual na investigação dos discursos
manifestos em trechos selecionado de Šílení, portanto, contemplará os diálogos na mesma
medida em que a composição imagética e sonora da obra corroboram as relações que se
delineiam ao redor do sujeito Charlotte.
1
Mestrando na Pós-graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade, na Linha de pesquisa em Linguagens,
Comunicação e Ciência da UFSCar. Membro do Grupo de Estudos Laboratório de Análise do Discurso da
Imagem (LANADISI/CNPq).
2
Psicóloga formada pela UNESP na Faculdade de Ciências e Letras de Assis. Possui Aprimoramento em
Psicologia Clínica pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (IAMSPE), realizado no
Hospital do Servidor Público Estadual (São Paulo – SP).
69
“CHICO BENTO NO SHOPPING”: REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS DO
HOMEM DO CAMPO NAS HQ’s DE CHICO BENTO

Illa Pires de Azevedo


(UFBA)

O trabalho supracitado é parte da pesquisa de Mestrado, que está sendo desenvolvida no


Programa de Pós Graduação em Língua e Cultura (PPGLINC), da Universidade Federal da
Bahia – UFBA, cujo objetivo consiste em analisar e explicitar o modo como ocorre a
representação do homem do campo em enunciados veiculados nas HQ’s de Chico Bento,
personagem de Maurício de Sousa. Utilizando como corpus a HQ em que o personagem
Chico Bento vai ao shopping center pela primeira vez (Chico Bento nº 215, Ed. Globo, 1995),
pretende-se discutir quais os estereótipos que embasam a construção de uma determinada
imagem do homem que vive na zona rural nestes enunciados, observando o modo como tais
estereótipos ligam-se ao interdiscurso, ao já-dito sobre o mesmo. Baseando-se no aporte
teórico-metodológico da Análise de Discurso de linha francesa, assim como de seus
fundadores e principais teóricos, objetiva-se, portanto, apresentar, analisar e discutir sobre as
formações discursivas e ideológicas acerca do homem do campo nos referidos enunciados,
observando o que está sendo dito e silenciado e também observando o posicionamento
ideológico dos sujeitos que enunciam a partir do discurso veiculado pelas referidas histórias
em quadrinhos. Para tanto, serão considerados os elementos sociais, as ideologias, a História,
as condições de produção do discurso, tendo como base a ideia primordial de que os discursos
não são fixos, mas se transformam e acompanham as transformações da humanidade,
conforme enfatiza Fernandes (2007), sendo constituídos na e pela História. Levando-se em
conta o fato de que a língua é opaca e não transparente, e de que não existe uma relação direta
entre o signo e o referente e ainda ressaltando a noção de que não existem sentidos fixos,
pretende-se, pois, refletir sobre os diversos sentidos do homem campestre nesses enunciados,
de modo a mostrar como se processa o deslizamento desta noção nos mesmos.

A CONSTRUÇÃO DISCURSIVA DA BAIANIDADE, EM CHARGES E TIRINHAS,


VEICULADOS NO FACEBOOK

Jacilene da Silva Souza1


Orientadora: Palmira Virgínia Heine2
(UEFS)

Nesse estudo, abordaremos a construção discursiva da baianidade nos gêneros charges e


tirinhas que circulam no facebook. Através dos referidos gêneros será possível inquirir como
ocorre a construção discursiva da baianidade, sendo tal análise, portanto, importante para a
compreensão do que é ser “baiano” e de como a imagem do baiano circula socialmente. O
escopo teórico desse plano de trabalho está centrado na Análise de Discurso de Linha
Francesa, tendo como base os estudos de Orlandi (2010), e Pecheux (1997). Desse modo,
algumas categorias tais como as marcas dos já ditos sobre os baianos que constituem o
interdiscurso, bem como as formações discursivas e ideológicas nas quais os mesmos são
1
Aluna de Graduação da Universidade Estadual de Feira de Santana; Email: jacilleny_@hotmail.com
2
Professora Doutora da Universidade Estadual de Feira de Santana. Email: pheine@ig.com.br

70
representados nas charges e tirinhas, são de relevância teórica para esse projeto. Sabe-se que o
interdiscurso é um conjunto de discursos de já ditos, que rege a atividade discursiva. Já a
formação discursiva é, segundo Pêcheux (1997) tudo o que pode e deve ser dito em uma
determinada conjuntura, enquanto que a formação ideológica, refere-se à concepção de
mundo que se tem sobre determinado assunto. É importante dizer que a Análise de Discurso
francesa concebe o discurso como efeito de sentidos entre enunciadores, ou seja, não há como
se determinar um sentido prévio à situação de enunciação, como se retirássemos da língua a
historicidade e o equívoco dela constitutivos. Com base no corpus selecionado através de
postagens no facebook e, dialogando com o projeto Ecos da Bainidade: processos de
representação discursiva dos baianos em gêneros publicitários, selecionaremos textos que
circulam no Brasil e que revelam uma dada imagem discursiva de baianidade, observando as
formações discursivas e ideológicas que envolvem o “baiano”. Na Análise de discurso não
existem sentidos apriorísticos, mas os mesmos derivam das posições ideológicas dos sujeitos.
Assim, as tirinhas e charges revelam também certo posicionamento ideológico no que diz
respeito à representação da baianidade.

A CONSTRUÇÃO DISCURSIVA DA IMAGEM DA MULHER BAIANA EM


IMAGENS QUE CIRCULAM NO FACEBOOK

Jackeline de Azevedo Silva


(UEFS)

Nesse estudo, abordaremos A construção discursiva da imagem da mulher baiana em


imagens que circulam no facebook. Através dos referidos gêneros pretende observar como
ocorre a construção discursiva da imagem da mulher baiana, sendo tal análise, portanto,
importante para a compreensão do que é ser “baiano” e de como a imagem da mulher baiana
circula socialmente. O escopo teórico desse plano de trabalho está centrado na Análise de
Discurso de Linha Francesa, tendo como base os estudos de Orlandi (2010), e Pecheux
(1997). Desse modo, algumas categorias tais o interdiscurso, bem como as formações
discursivas e ideológicas a partir das quais as mulheres são representados nas imagens que
circulam na rede social, são de relevância teórica para esse projeto. Sabe-se que o
interdiscurso é um conjunto de discursos de já ditos, que regem todo e qualquer atividade
discursiva. Já a formação discursiva é, segundo Pêcheux (1997) tudo o que pode e deve ser
dito em uma determinada conjuntura, enquanto que a formação ideológica, refere-se à
concepção de mundo que se tem sobre determinado assunto. É importante dizer que a Análise
de Discurso francesa concebe o discurso como efeito de sentidos entre enunciadores, ou seja,
não há como se determinar um sentido prévio à situação de enunciação, como se retirássemos
da língua a historicidade e o equívoco dela constitutivos. Busca-se observar os estereótipos
em relação à baianidade difundidos nessas imagens e a relação dos mesmos com os já ditos
sobre o que é ser baiano. É possível dizer, então que as imagens que trazem como tema os
baianos apresentam certo posicionamento ideológico dos sujeitos que a produzem, e mostram
uma certa formação discursiva que diz respeito à representação da baianidade tendo
relevância para tal representação a imagem da mulher baiana que frequentemente está ligada a
fatores sexuais e sensuais.

71
CINEMA DE MOJICA: DO HORRÍFICO AO SAGRADO NAS TRAMAS DO
DISCURSO

Janaina de Jesus Santos1


(UNESP)

Este estudo é instigado pelo questionamento de como as estratégias cinematográficas se


constituem como modalidades enunciativas, para construir discursivamente as posições de
subjetividade. Pensamos que o encadeamento das estratégias possibilita evidenciar as
modalidades enunciativas e os sujeitos na materialidade discursiva. Nosso objetivo é
investigar qual o fio discursivo existente na formação da série enunciativa na constituição do
sujeito Zé do Caixão na visualidade fílmica. Nesse sentido, inicialmente, identificamos a série
enunciativa materializada em sequências nos filmes Esta noite encarnarei no teu cadáver
(1967, Mojica, Brasil) e Encarnação do demônio (2008, Mojica, Brasil). Em seguida,
descrevemos a formação dos enunciados no encadeamento das sequências fílmicas, em
termos de planos, considerando tamanho, quadro, enquadramento, movimento e duração. Por
fim, analisamos o fio discursivo nas modalidades enunciativas que constituem o sujeito Zé do
Caixão nas redes do horrífico e do sagrado. Nossa pesquisa está embasada no diálogo entre os
pressupostos teórico-metodológicos da Análise do Discurso de origem francesa e do Cinema,
sob a justificativa de que é necessário questionar a visualidade fílmica sobre o funcionamento
discursivo de suas estratégias. Tomamos as noções de enunciado, sujeito, corpo e
intericonicidade para analisar a visualidade fílmica em suas modalidades enunciativas. Os
objetos escolhidos compõem a “trilogia de Zé do Caixão”, iniciada em À meia-noite levarei
sua alma (1964, Mojica, Brasil). Ela narra a saga do iconoclasta Zé do Caixão no intento de
gerar seu filho perfeito na união com uma mulher superior. Valendo-se de violência e
crueldade, o coveiro desvencilha de todos os obstáculos para possuir as mulheres eleitas. Não
conseguindo concretizar seu desejo de perpetuar o sangue, no segundo filme, ele captura seis
mulheres e as submete a provas de ceticismo e destemor. Sem êxito, ele faz investidas na filha
do coronel. Seduzida pelo estranho projeto, Laura abandona sua família para viver com Zé do
Caixão e gerar seu filho. Entretanto, o bebê e a mãe morrem numa complicação da gravidez.
Quarenta anos depois, o coveiro é liberado da prisão, onde cumpria pena pelos assassinatos, e
volta à busca da mulher perfeita. No decorrer da narrativa, ele é assombrado pelos fantasmas
de suas vítimas, incluindo Laura, cujo aparecimento com o filho no colo o deixa mais
transtornado. A investigação da regularidade na série enunciativa aponta para a produção do
sujeito Zé do Caixão no domínio de memória imagético, que evoca discursos do sagrado
dispersos historicamente.

MAFALDA EM CONTEXTO PRÉ-VESTIBULAR: UMA ANÁLISE SOB A


PERSPECTIVA BAKHTINIANA DO DISCURSO DAS TIRAS

Jessica de Castro Gonçalves


(UNESP – FCLAr)

O presente trabalho propõe um estudo das tiras de humor da Mafalda, gênero discursivo
constante no contexto do aluno pré-vestibular. A partir da aparição de discursos de rejeição e
1
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Linguística e Língua Portuguesa na Universidade Estadual
Paulista.
janainasan@gmail.com

72
desafeto às tiras da Mafalda, propõe-se uma análise do discurso nelas presente. Este estudo
tem como objetivo, a partir da relação dos alunos com esse tipo de texto, investigar os fatores
que acarretam tal desafeto em relação às tiras da Mafalda, dado que, muitas vezes, os alunos
afirmam não compreenderem o texto e não encontrarem o efeito de humor e crítica ali
contidos. Desta forma realiza-se neste momento um estudo acerca do discurso presente nas
tiras de humor da Mafalda e a relação deste com os discursos apresentados pelos alunos. Este
trabalho volve-se para as tiras retiradas da obra Dez Anos com Mafalda, da seção Assim Vai O
Mundo, trabalhadas no terceiro ano do Ensino Médio, da rede privada de ensino, na cidade
Tupã/SP. Estas possuem como temática a crítica, feita por Mafalda, à humanidade e ao mundo
frente aos conflitos ocasionados pelo ser humano. A teoria que fundamenta este trabalho,
como nos propusemos a pensar nos gêneros discursivos, é a dos estudos do Círculo Bakhtin,
Medvedev, Volochinov. Dentre os conceitos utilizados para análise dessas tiras nesse
contexto estão os de signo ideológico, discurso, sujeito e ato. A tira é, segundo o Círculo de
Bakhtin, signo ideológico, pois não só apresenta uma visão de mundo, mas se faz um espaço
para diálogos e conflitos entre realidades diversas. Nas tiras da Mafalda, averiguamos pontos
de vista de discursos diversos, sendo seus sentidos construídos sobre estes. A pesquisa discute
como ocorre essa relação entre as várias vozes e pontos de vistas presentes nas tiras e no
processo de interpretação realizado por alunos pré-vestibulandos. Na perspectiva bakhtiniana,
por trás dos atos de fala estão fios ideológicos e a palavra torna-se um espaço de tensão entre
diálogos diversos. A palavra constitui-se, portanto, como signo ideológico, pois nela valores
ideológicos contraditórios se encontram em embate. Segundo as perspectiva bakhtiniana, o
sujeito é um ser social constituído de língua e linguagem, o qual só se torna sujeito em relação
a outros sujeitos, não havendo o acabamento da constituição do ser sem a relação com o
outro. Daí a importância de verificarmos o posicionamento dos alunos diante dos discursos
das tiras da Mafalda, pois investigamos, dentre outras questões, como eles se constituem no
ato de responder àqueles discursos.

O LEITOR DE ADAPTAÇÕES DE OBRAS DA LITERATURA BRASILEIRA E


SUAS PRÁTICAS DE LEITURA: UMA ANÁLISE DAS OBRAS A MORENINHA E
DOM CASMURRO

Jessica de Oliveira
(graduanda)
Luzmara Curcino
(orientadora)
UFSCar

O processo de adaptação de obras para o público infanto-juvenil, no Brasil, iniciou-se de uma


demanda escolar do século XIX; desde então as adaptações ganharam várias coleções,
edições, bibliotecas e adaptadores que se consagraram nesta nova prática editorial permitindo
uma nova prática de leitura. O presente trabalho tem por objetivo traçar um perfil de um
público leitor específico, o infanto-juvenil, partindo da análise de estratégias de escrita
empregadas na construção de duas adaptações de clássicos da Literatura Brasileira; A
Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, e Dom Casmurro, de Machado de Assis, em cuja
análise procederemos por comparação, cotejando tanto as obras integrais com as suas
respectivas adaptações, quanto uma adaptação com a outra, objetivando levantar as
ocorrências mais frequentes, ou seja, as estratégias comuns a esse processo de
adaptação/condensação do texto original, a fim de apreendermos algumas projeções de
práticas de leitura e de competências leitoras pressupostas no processo de adaptação. As
73
fundamentações teóricas que dão suporte para a análise proposta são: a Análise do Discurso,
principalmente nos conceitos que envolvem os efeitos de sentido produzidos pelas estratégias
de escrita; e a História Cultural, no que envolve a história do livro, das adaptações e da leitura
a partir da análise dos objetos culturais que portam textos.

DECUPAGEM CINEMATOGRÁFICA E IDEOLOGIA: O DISCURSO NO CINEMA

João Flávio de Almeida


(UFSCar)

As teorias da linguagem, apesar de terem como objeto de estudo as linguagens em seu sentido
mais amplo, ainda encontram dificuldades para constituir de forma mais segura um caminho
para a análise do não-verbal e ainda de outras formas de linguagem além da língua escrita e
falada. Sob o arcabouço teórico da Análise do Discurso Francesa, inaugurada por Michel
Pêcheux, intentaremos neste simpósio discutir o papel da imagem em movimento – cinema -
na produção de sentidos no discurso. De que forma comunica? Como se dá seu
entrecruzamento com outras materialidades tais como a música e o texto escrito e falado?
Como dotar de opacidade a imagem, e enxergá-la como acontecimento? E principalmente: de
que forma as condições de produção específicas do cinema (montagem, decupagem, etc.)
atuam na constituição do sentido? O cinema possui uma matéria visual muito específica que o
faz único enquanto materialidade discursiva. O cinema permite trabalhar o verbal e o não
verbal, restituindo à materialidade da linguagem sua complexidade e multiplicidade de
diferentes linguagens (ORLANDI, 1997). Para avançarmos nos estudos da imagem
discursiva, precisamos partir do conceito de "simbólico", que articulado com o político,
trabalha na constituição do sentido, logo, do sujeito. Sobre os processos de produção do
discurso imagético (cinematográfico), tomaremos como ponto de partida a obra de Ismail
Xavier intitulada "O Discurso Cinematográfico: a opacidade e a transparência” (2005). Esta
análise de Xavier dos mecanismos de comunicação do cinema, desde o início, demonstra
aproximações com a teoria Pechetiana. Segundo Xavier, o cinema é uma realidade criada e
controlada por imagens: tudo cronometrado, composto e previsto. Tudo isto acontece
enquanto se trabalha outra força inversamente proporcional de invisibilidade dos meios de
produção desta realidade: um sistema de representação da realidade que procura anular sua
própria presença enquanto ordenador desta representação, o confere à representação não um
caráter de simulação distorcida, mas uma cópia fiel do mundo real (XAVIER, 2005, p. 41). A
reconstrução do real é feita com muito cuidado e zelo como que em respeito à verdade, que
por sua vez tende a ser creditada ao filme.

O ENCANTAMENTO DAS CIGARRAS

Jônatas Amorim Henriques


(Universidade Presbiteriana Mackenzie)

O poema Módulo de Verão aparece logo nas primeiras páginas de Bagagem (1976), o
primeiro livro de Adélia Prado. Nele, assim como nos demais poemas, ela inaugura uma
poética sem precedentes. A escritora mineira, livre das fortes influências estéticas de sua
época – vale dizer, do concretismo, do tropicalismo, ou ainda de movimentos políticos-
ideológicos vigentes, vem conduzido sua criação literária através da mística, ou ainda, da
experiência religiosa. Uma poesia confessional, piedosa – dominical. Nas palavras de
74
Drummond, “Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo” e a seu
modo, deixa transparecer, com toda a naturalidade sua razão filosófica e sua mística religiosa.
E, sem muito esforço, essa naturalidade pode ser facilmente encontrada em sua produção
literária, basta que o leitor perceba os temas de maior recorrência em seus textos – o dia a dia
da casa, as orações, o amor ao marido etc. Neles se podem observar reflexões que, a princípio,
partem de uma ordem prosaica, trivial, cotidiana, mas que, por fim, terminam evocando
elementos de profunda representação cultural, lhes conferindo assim, um sentido novo que é
guiado por sua própria voz poética. Este trabalho tem como objetivo analisar e interpretar o
poema Módulo de Verão, de Adélia Prado. A análise do poema toma como ponto de partida a
imagem da cigarra que se apresenta com certa frequência em textos da literatura consagrada.
Desde a Antiguidade observa-se sua recorrência e a relação entre o seu canto e o modo como
ele é interpretado social e culturalmente. É o que vamos verificar em diferentes autores, tais
como Esopo, Platão, José Paulo Paes, entre outros. Cabe ressaltar ainda que os conceitos de
dialogismo e interdiscursividade desenvolvidos por Mikhail Bakhtin serão utilizados aqui
como fundamentação teórica para o estudo do poema e de sua relações com outros discursos.

ENCONTRO DE PALAVRAS NA ESCRITA CIENTÍFICA DE PÓS-GRADUANDOS:


DIÁLOGOS DO PESQUISADOR NO CAMPO DOS ESTUDOS DA LINGUAGEM

José Cezinaldo Rocha Bessa1


(UNESP/FCLAr)

No presente trabalho, objetivamos examinar a constituição dialógica na escrita científica de


pós-graduandos do campo dos estudos da linguagem, especificamente de estudantes de
mestrado, aqui considerados como pesquisadores iniciantes no universo da ciência e da
comunicação científica. Nesse sentido, buscamos identificar formas mostradas de presença
das palavras alheias mobilizadas pelo pesquisador e caracterizar a natureza das relações
dialógicas que se estabelecem mediante o encontro entre a palavra do estudante e do seu outro
(do estudioso da área). Com isso, espera-se: (i) observar que vozes (de autores renomados, do
orientador, a sua própria voz), ecoam no texto do pesquisador iniciante, que posicionamentos
são mais típicos (concordar, discordar, comentar) em relação à palava alheia e em que posição
ele se coloca/projeta na relação com o outro, com os autores que mobiliza; ii) pensar os
movimentos de sentidos que se instauram mediante o diálogo entre palavra alheia e palavra
própria como indícios de uma voz autoral na escrita científica. O trabalho insere-se, portanto,
no vasto campo dos estudos linguísticos que tomam o dialogismo como pressuposto
fundamental para se compreender as interações humanas em suas mais diversas esferas de
comunicação, focalizando aqui, em particular, a esfera cientifica. Sendo assim, assume como
orientação teórico-metodológica a abordagem dialógica do discurso, como entendemos os
escritos do Círculo de Bakhtin e de estudiosos (BUBNOVA, 2011; CASTRO, 2009;
FARACO, 2009; PONZIO, 2009, 2010, 2011, entre outros) que com esses escritos dialogam,
com base nos quais exploraremos conceitos como diálogo/dialogismo, discurso citado,
discurso citante, enunciado, compreensão responsiva, gênero do discurso, voz autoral, bem
como contribuições sobre discurso citado/reportado de estudiosos como Maingueneau (1996,
2002) e Authier-Revuz (1990, 2004). Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, cujo
corpus se constitui de artigos científicos produzidos por mestrandos e doutorandos da área de
Linguística (dos domínios disciplinares da Fonética e Fonologia e dos Estudos do Texto e do
1
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa (UNESP/FCLar). Bolsista do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). E-mail: cezinaldo_bessa@yahoo.com

75
Discurso) e publicados em um periódico nacional avaliado como B2 pelo sistema webqualis
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

DISCURSO E PODER DO MORADOR DE RUA: ESTUDO DA


HETEROGENEIDADE DISCURSIVA E DA POLIFONIA NO JORNAL “AURORA
DA RUA”

José Gomes Filho1


(UFBA)

Este trabalho busca analisar, no discurso dos homens em situação de rua na cidade de
Salvador, a construção de sua subjetividade, de sua identidade. Para tanto, serão foco de
discussão as formações imaginárias, uma vez que se pretende não só investigar tanto a
imagem de si do morador de rua, como a imagem que acredita que o outro tem dele, como
também estabelecer oposição entre essas e a sociedade, o Estado e a mídia concebem sobre
ele. Para tanto, valer-nos-emos como construto teórico o embasamento da Análise do
Discurso pecheutiana, tendo em vista que nas análises será central o conceito de formação
discursiva, tal qual Pêcheux (1975) a concebe. Além disso, far-se-á também uso do conceito
de heterogeneidade discursiva (Authier- Revuz, 1982) e de polifonia (Bakhtin, [1929], 1979).
Elegemos como corpus os textos do jornal “Aurora da Rua”, cuja produção e veiculação são
feitas pelos próprios moradores de rua. A pesquisa é qualitativa, considerando apenas duas
edições, em especial, os textos de produção coletiva, identificando, por comparação, os traços
recorrentes. Analisando os textos, observou-se que os moradores de rua, quando fazem uma
imagem positiva de si mesmos, constroem um discurso singular em que, na descrição do
funcionamento discursivo do seu dizer, identificam, na memória (interdiscurso), os valores
que legitimam esta formação imaginária e, no nível da formulação discursiva (intradiscurso),
descrevem uma identidade que se opõe a outras formações imaginárias construídas pela
sociedade. Assim sendo, eles constroem um dizer discursivo que pode devolver-lhes a
autoestima e ganhar visibilidade social, um sonho de muitos moradores de rua, espalhados por
várias cidades brasileiras, em especial, a cidade de Salvador. Renegam quaisquer formas de
apagamento identitário, seja através de “higienização” social (isolamento, morte), seja através
de assistencialismos públicos ou privados, pois se veem como seres humanos que precisam de
respeito; dispensam a compaixão e a esmola. Não é naturalizar a miséria em que se
encontram, mas evidenciar, pelas suas falas inscritas nos textos e nas imagens do jornal, a
construção de um ethos discursivo positivo de si mesmos, que não é ouvido pelo poder
público nem pela sociedade. Aceitam os programas de integração social desde que não
signifiquem o fim de sua identidade.

1
Doutorando do programa de pós-graduação “Língua e Cultura” (mestrado e doutorado) do Instituto de Letras
da Universidade Federal da Bahia.
e-mail: josegomes@ifba.edu.br

76
A BIVOCALIDADE POLÊMICA NO ROMANCE O CEMITÉRIO DOS VIVOS, DE
LIMA BARRETO: PRIMEIRAS ANOTAÇÕES

José Radamés Benevides de Melo


(UNESP - FCLAr)

Ao construir sua identidade de escritor literário, Lima Barreto passa a polemizar com a
literatura de prestígio de sua época. Ao ser internado no Hospital Nacional dos Alienados,
passa a polemizar com a psiquiatria então praticada. Isso não impede, no entanto, de dizer
que, mesmo tendo uma conturbada, deixou um grande legado, do qual se destaca O cemitério
dos vivos. Como gênero marcadamente dialógico, esse romance estabelece diálogos com
diversas vozes sociais; dentre elas, as da literatura e as da ciência de sua época. É a partir da
leitura dessa obra e dos postulados teóricos do Círculo de Bakhtin, que se estabelece o
objetivo de investigação desta comunicação: analisar a bivocalidade polêmica em O cemitério
dos vivos. Assim, para atingir esse objetivo, procede-se à análise: 1) da polêmica aberta
estabelecida entre o discurso de Lima Barreto e o discurso da ciência psiquiátrica de sua
época e 2) da polêmica velada entre a fala limabarretiana e outras falas literárias do início do
século XX expressa, na forma-conteúdo, por meio de seus enunciados. Para proceder à análise
ora proposta, os postulados teóricos do dialogismo e a noção de bivocalidade polêmica (aberta
e velada), tal como apresentados por Bakhtin (2010), Brait (2008) e Veloso (2011),
fundamentam a análise. Assim, pautando-se em Bakhtin (2010), pode-se dizer que os
discursos bivocais são aqueles que se tangenciam numa relação semântica de concordância ou
de discordância. Dessa forma, em O cemitério dos vivos, vislumbra-se esse tangenciamento
discursivo entre as vozes da literatura e da ciência, quando, em seu enunciado, o autor (Lima-
autor-criador) reproduz a palavra de seu outro (médico/ciência) por meio do discurso citado
indireto, da nomeação, isto é, quando a palavra do outro é tomada explicitamente como uma
espécie de apoio para a contestação a ser construída pelo autor. Por outro lado, no âmbito da
esfera da atividade literária, essa mesma escrita se apresenta como ato responsivo ativo à(s)
fala(s) de outro(s): outros sujeitos, outros autores, escritores; aqui se faz referência ao fato de
a escrita de Lima considerar a palavra do outro que, mesmo permanecendo fora dos limites de
seu discurso, influencia, interfere na sua produção/constituição. Discurso esse que, polêmica e
veladamente ao outro aludindo, adota um estilo peculiar que, por isso mesmo, contesta o
estilo do outro.

REFLEXÕES ACERCA DO DISCURSO PUBLICITÁRIO DE AUTOPROMOÇÃO


DA REDE GLOBO

Juliana Cristina da Silva1


Leda Verdiani Tfouni2
(USP)

A mídia hierarquiza e fornece uma agenda de assuntos e temas que circulam no tecido social,
se tornando árbitro de acesso à existência social e política de fatos e pessoas (BOURDIEU,
1997). No Brasil, a televisão tem um importante papel na construção de uma identidade
nacional, além de mediar à relação dos brasileiros com a sua própria memória histórica. Se
tornando um poderoso instrumento de unificação em um país de proporções continentais, a
1
Mestranda em Psicologia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto (USP).
2
Professora Titular sênior da Universidade de São Paulo – FFCLRP, pesquisadora do CNPq.

77
televisão brasileira ajudou a forjar uma identidade nacional pretensamente democrática,
baseada em uma tolerância racial e uma perpétua alegria de viver, entre outros atributos
pacíficos e positivos associados aos brasileiros (PRIOLLI, 2000). De acordo com Debord
(1967) as sociedades de massa contemporâneas se baseiam no espetáculo a partir do qual uma
tendência a fazer ver um mundo que já não se pode tocar diretamente, a realidade se
transforma em objeto de contemplação. Esse regime de visibilidade, baseado numa lógica do
“o que é bom aparece, o que aparece é bom” se contrapõe ao anonimato dos sujeitos que
vivem nas grandes massas, invisibilidade que pode ser compensada pela identificação com a
imagem de um líder ou ídolo pop. Essa identificação é promovida pela TV na medida em que
ela dá, cada vez mais, visibilidade a aspectos cotidianos e íntimos da vida de suas
personagens. Nesse trabalho propomos refletir sobre a televisão a partir do discurso
publicitário de autopromoção da Rede Globo, uma das emissoras de maior audiência do
Brasil. Tomando como corpus de análise a letra da música “Um novo tempo”: “Hoje, é um
novo dia/De um novo tempo que começou/Nesses novos dias/As alegrias, serão de todos/É só
querer/Todos os nossos sonhos/Serão verdade.../O futuro já começou/Hoje a festa é sua/Hoje
a festa é nossa/É de quem quiser, quem vier.../A festa é sua, hoje a festa é nossa/É de quem
quiser/Quem vier”; que se tornou nacionalmente conhecida por ser utilizada desde 1971 em
vinhetas comemorativas de fim de ano da emissora, geralmente executada associada ao seu
logotipo, ao slogan institucional e ao seu elenco de artistas. A partir do referencial teórico e
metodológico da análise do discurso pêcheutiana, procuraremos evidenciar quais efeitos de
sentido produz essa peça publicitária, buscando relacioná-los a discussão sobre a função
social da televisão no Brasil.

O DISCURSO DO ACADÊMICO DO 1º ANO DE GRADUAÇÃO SOBRE A SUA


ESCOLHA PELO CURSO DE LICENCIATURA LETRAS/PORTUGUÊS E INGLÊS

Juliana Oliveira de Santana Novais1


Maria Aparecida Alves Ribeiro2
(UEMS)

Este trabalho tem como objeto de análise o discurso dos alunos do curso de Licenciatura em
Letras- Portugês/Inglês- da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul- Campus Campo
Grande. Objetiva-se analisar os motivos que levam na atualidade o sujeito a buscar uma
formação em Letras/Português e Inglês Licenciatura. Bem como as influências sofridas na
escolha por uma graduação. Neste trabalho serão observadas principalmente as razões e as
influências que a sociedade – família - pode exercer na escolha de um sujeito. Para tanto o
artigo organizar-se-á em quatro partes: a primeira faz uma breve introdução à Análise do
Discurso de linha francesa; a segunda trata do percurso do curso de Letras no Brasil; a terceira
abordará o discurso dos alunos de Letras; a quarta parte trará a conclusão do trabalho. A razão
pela escolha da AD do acadêmico de Letras é em virtude de que esse discurso está
atravessado por formações ideológicas. Tais formações precisam ser consideradas para que
haja uma melhor compreensão sobre como essas formações ideológicas são desenroladas nas
formações discursivas e aparecem em forma de acontecimento na sociedade contemporânea
controlada pelos Aparelhos Ideológicos do Estado. A metodologia utilizada no presente artigo
é qualitativa de forma descritiva, o corpus é composto de respostas extraídas de questionários,
compostos de cinco questões abertas, aplicados a vinte e sete alunos do 1º ano de
1
Aluna do mestrado de Letras da UEMS de Campo Grande.
2
Mestre bolsista pela Capes do mestrado de Letras da UEMS de Campo Grande.

78
Letras/Inglês Licenciatura – UEMS. Sendo que cinco desses alunos já são portadores de
diploma. Os sujeitos foram levados a discursivizar sobre a sua escolha pela faculdade de
Letras/Inglês Licenciatura e a análise que ele faz sobre o curso. Desses questionários foram
recortados os enunciados de valor, para a reflexão da problemática do discurso do discente de
Letras, que é atravessado pelos discursos dos Aparelhos Ideológicos de Estado dispersos na
sociedade.

A SUAVE VOZ DO SEXO: O DISPOSITIVO DA SEXUALIDADE NA IMPRENSA


ALTERNATIVA FEMINISTA

Juliane de Araujo Gonzaga1


(UFSCar)

A história das mulheres apresenta diversos acontecimentos ligados a lutas e conquistas, sendo
também marcada por uma liberdade limitada na grande imprensa. A questão da representação
e da participação das mulheres nesse espaço, durante a década de 1980, apresenta uma
acuidade especial, o que motivou a criação de um veículo de grande importância social: a
Imprensa Alternativa. A Imprensa Alternativa de cunho feminista surge no Brasil a partir do
século XIX, com jornais que defendiam direitos femininos e questionavam práticas de
planejamento familiar. Trata-se de uma imprensa mais engajada às causas políticas e sociais,
que pretendia, sobretudo, expor o pensamento feminista em favor de uma abordagem
sistemática da questão da mulher, situando-a histórica e politicamente. Esta pesquisa tem por
objetivo analisar os discursos sobre a sexualidade feminina, produzidos pelo jornal alternativo
feminista Mulherio, que foi produzido por mulheres para mulheres, durante a década de 1980,
período de abertura política no Brasil. Considerando a materialidade linguística, o contexto
histórico e as condições de produção dos enunciados, pretendemos verificar o papel dessa
imprensa na produção de acontecimentos discursivos que se relacionam com uma memória da
sexualidade feminina. Nesse sentido, nossos objetivos específicos são: a) demonstrar as
semelhanças entre as bases epistemológicas da AD francesa e dos Estudos Feministas; b)
identificar os dispositivos da sexualidade existentes no Mulherio; c) descrever os discursos
sobre o corpo feminino e compreender como se dá a liberalização sexual feminina nessa
época. O aparato teórico que orientará esta pesquisa é o da Análise do Discurso Francesa,
mais especificamente, uma intersecção entre o pensamento de Michel Foucault e Michel
Pêcheux, a fim de descrever tais discursos enquanto espaço de relações de poder e
constituição dos sujeitos, e enquanto estrutura e acontecimento. Desse modo, pretendemos
contribuir para a compreensão dos discursos da Imprensa Alternativa referentes à sexualidade
feminina, considerando o suporte desses discursos e o período histórico em questão. Esta
pesquisa encontra estímulo, sobretudo, na postura de tais discursos, que na década de 1980,
representaram uma abertura política e uma transformação social nos modos de pensar e dizer
a sexualidade feminina.

1
PPGL/ UFSCar - Bolsista Capes.

79
A CIGARRA E A FORMIGA, DE MONTEIRO LOBATO: UMA ANÁLISE DA
FÁBULA

Karen Stephanie Melo


(Universidade Presbiteriana Mackenzie)

Esse trabalho visa fazer uma análise semiótica, baseada na teoria de A. J. Greimas, de uma
adaptação da fábula A Cigarra e as Formigas, publicada por Monteiro Lobato em seu livro
Fábulas, em 1922. A versão do texto produzida por Lobato difere das outras, pois o autor
queria adicionar características da cultura nacional nas fábulas já conhecidas, colocá-las em
prosa e alterar suas moralidades. A versão de Monteiro Lobato, é composta de duas partes,
denominadas: I – A Formiga Boa e II – A Formiga Má. A semiótica tem como objetivo o
estudo do texto e pretende analisar quais procedimentos dão significado a ele. A semiótica
greimasiana propõe que o plano do conteúdo de um texto pode ser entendido em três níveis:
nível fundamental, nível narrativo e nível discursivo. Portanto, a análise teve início em um
nível mais simples (abstrato) e foi concluída em um nível mais complexo (concreto).

O SUJEITO E A VERDADE EM A CAVERNA DE JOSÉ SARAMAGO

Karina Luiza de Freitas Assunção


(PPGEL-UFU/LEDIF)

O presente trabalho toma como aporte teórico a Análise do Discurso de linha francesa,
doravante (AD). A escolha por esse referencial teórico se dá tendo em vista que ele possibilita
que olhemos o discurso considerando o sujeito que o produz, bem como a historicidade que
permeia sua produção. Avaliamos de extrema proficuidade a análise do discurso a partir desse
ponto de vista, pois acreditamos, assim como Foucault (1995), que analisando os discursos
poderemos compreender um “pouco” do que somos e seremos, reitero um pouco, pois temos
consciência da complexidade que envolve os discursos e consequentemente a constituição das
subjetividades dos sujeitos que os enunciam. Nos textos de Michel Foucault deparamos com
questões acerca da constituição das subjetividades dos sujeitos e de como as mesmas são
constituídas por relações de poder que coadunam em produção de “verdades”. Assim, ao
longo do nosso percurso de estudo observamos que a “verdade” é uma construção discursiva
produzida a partir da historicidade que a permeia. Foucault, ao longo de seus textos, mostra
que a “verdade” é constituída a partir de um lugar legalmente instituído, como exemplo ele
menciona a ciência, a economia, o poder político e outros. Ele interroga-se como articula os
“jogos de verdades”, ou seja, as relações que possibilitam os sujeitos identificarem-se como o
louco, o doente, o condenado, etc. Essas relações chamadas por Foucault (2006) de “jogos de
verdades” acarretam não a descoberta do verdadeiro ou do falso, mas sim as regras que
possibilitaram o surgimento do mesmo. Assim, tomando como referencial as considerações
acima, a presente apresentação tem como objetivo analisar a constituição da subjetividade de
Cipriano Algor tendo como norte a “influência” de algumas “verdades” exteriores que
coadunam na constituição de sua subjetividade e consequentemente levam-no a adotar
determinada posição frente às situações vivenciadas. Após as análises realizadas concluímos
que ao apontarmos uma verdade como sendo absoluta estamos encobrindo o fato de não a
termos concretamente. O que temos são “jogos” de poder ditados por uma minoria com o
objetivo de manipular uma maioria, levando-a pensar que suas atitudes e escolhas são
provenientes de si. Cipriano através dos questionamentos constituídos no decorrer da
narrativa “foge” a essa modulação, pois ele questiona a padronização dos sujeitos, sua
80
inconstância, bem como o fato de aceitarem a “verdade” dos outros como sendo constitutiva
da sua subjetividade.

OS GESTOS DO INTERDISCURSO MATERIALIZADOS NAS PROPAGANDAS DE


ABSORVENTES FEMININOS

Karine Cajaiba Soares Silva Farias


(UESB)

À guisa da AD pechetiana, autores como Orlandi (2001, 2005b, 2007), Indursky (2005),
Rodrigues (2006), além do próprio Pêcheux (1995), contribuirão para o desenvolvimento
desta pesquisa. Neste escopo, trabalharemos, especificamente, com o conceito de
interdiscurso e seus respectivos gestos, trazidos à baila pelos autores supracitados. Segundo
Pêcheux, a interpelação do indivíduo em sujeito de seu discurso se efetua pela identificação
com a formação discursiva que o domina: essa identificação, fundadora da unidade
(imaginária) do sujeito, apoia-se no fato de que os elementos do interdiscurso que constituem,
no discurso do sujeito, os traços daquilo que o determina, são re-inscritos no discurso do
próprio sujeito. (PÊCHEUX, 1995, 163). Nestes termos, esta pesquisa objetiva analisar
anúncios publicitários de absorventes femininos, veiculados pela mídia televisiva, a fim de
analisar quais são os discursos que atravessam e dão coro aos estereótipos referentes à figura
feminina. Apesar de a mulher ter conquistado um espaço que em outro tempo não lhe cabia,
ainda perduram, sob a égide do patriarcalismo, máximas sobre o papel desta na sociedade. Por
ser a publicidade uma grande produtora de textos, com caráter persuasivo, faz-se necessário
observar como são construídas as estratégias discursivas, ou seja, as “práticas discursivas”, e
ainda perceber como estas auxiliam as empresas não apenas na venda de seus produtos, mas
também na imposição de uma identidade, vez que, segundo Rocha (2001), a propaganda deve
ser concebida como um discurso que classifica produtos e pessoas através do consumo. No
intuito de desvelar os gestos do interdiscurso materializados nos textos em questão,
selecionamos anúncios de três marcas de absorventes femininos, propagados na última
década, a fim de compreender como os aspectos histórico-culturais influenciam e
caracterizam a noção discursiva vinculada ao recôndito das mulheres e como os aspectos
discursivos propiciam a identificação/legitimação do interlocutor das propagandas analisadas.
A partir deste estudo, foi possível constatar que a mulher ainda é concebida nos mesmos
moldes de outrora: sexo frágil, sex-symbol, que ostenta a paixão nacional dos homens
brasileiros, e a Amélia de todos os lares.

ANÁLISE DO DISCURSO EM REDES SOCIAIS: COMO O USO DA INTERFACE


CONVERGE PARA UM ETHOS DISCURSIVO

Lafayette Batista Melo

Há alguns trabalhos que discutem o ethos na Internet, a partir de representações e usos de


sites, chats, blogs e redes sociais. Em uma análise de Maingueneau (2010), por exemplo, é
discutida a problemática do ethos e da representação de si em sites de relacionamento. O autor
descreve a manifestação do ethos em quatro planos: pseudônimos (apelidos), o ethos dito (o
que é preenchido em um formulário sobre características sociais do indivíduo e suas
preferências), o ethos mostrado (propriamente discursivo, em índices como o ritmo das frases,
ironias, uso de parênteses, ortografia e indicação de riqueza cultural) e as fotos dos
81
anunciantes. Pesquisas como esta, veem as várias modalidades de comunicação e como
convergem para um determinado discurso. Porém, mesmo considerando as multissemioses,
tais estudos não abordam como utilizações específicas de elementos da interface
computacional contribuem para a formação de um ethos discursivo. Acredito que o uso e a
escolha de determinados componentes da interface também poderiam ser uma manifestação,
materializada não apenas na eventual escolha de diferentes elementos semióticos, mas
também na manipulação da interface voltada para a interação (por exemplo, através dos links
“Curtir”, “Enviar mensagem”, “Compartilhar”, “Tuitar” etc). A esses componentes
interacionais denomino suporte à interação humana (SIH) e os coloco em paralelo com os
textos e mais variados símbolos no sentido de investigar como seus usos convergem para um
determinado ethos discursivo. O trabalho faz uma revisão de pesquisas que abordem o ethos
na Internet e delimita um corpus com usos do Facebook e do Twitter de candidatos à
presidência da república e de candidatos a governador da Paraíba na última eleição no Brasil.
Foram coletados usos polêmicos, com veiculação na imprensa, bem como foram analisadas os
SIHs efetivamente trabalhados com a tecnologia da época. Desse modo, verifica-se que
escolhas de itens de compartilhamento, Retwitter, Curtir, a dinamicidade da timeline, entre
outros, podem dar a ideia de um ethos característico referente à popularidade, generosidade,
exposição, ser alguém “de família”, descuidado ou “antenado com a tecnologia” etc. É
importante observar que esses usos remetem à interdiscursividade com ações realizadas
dentro ou fora do âmbito da Internet. O trabalho ressalta possibilidades de uso da Interface
para construção da imagem por parte dos políticos em geral e como novas pesquisas em AD
poderiam considerar esses fatores ao se observar o funcionamento da linguagem na Internet
de modo a também discutir eventuais problemas metodológicos emergentes.

INTERDISCURSIVIDADE E INTERTEXTUALIDADE NO CINEMA


HOLLYWOODIANO

Levi Henrique Merenciano1


(UNESP)

Enquanto “ponto de vista sobre a ação” (GREIMAS e COURTÉS, “Dicionário de semiótica”,


1979, p. 28-30), a definição linguística de “aspecto” coopera nos estudos discursivos ao
descrever como o enunciador se desdobra em sujeito do fazer e em sujeito cognitivo, que, ao
decompor a ação, a transforma em processo. Esse fato pode ser compreendido por meio da
aspectualização, do tipo: incoativo, durativo (iterativo), pontual e terminativo. Será observado
se essas categorizações em forma de aspecto dão condições de examinar como
intertextualidade e interdiscursividade ocorrem nos filmes hollywoodianos do século XXI.
Em X-men: primeira classe (2011), o intertexto com a iconografia cristã é manifestado de
forma pontual. Avatar (2009), por sua vez, manifesta interdiscurso, aludindo ao fato histórico
do neocolonialismo, cujo aspecto, no âmbito do filme, tende a ser apresentado de forma
durativa (iterativa). Busca-se investigar, por meio desses conceitos, como o cinema comercial
de Hollywood constrói uma espécie de ideologia específica, feito para as massas.

1
UNESP - Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara.
levihm@gmail.com
Bolsa: CAPES

82
O TEXTO COMO UM CALEIDOSCÓPIO

Lícia Maria Bahia Heine


(UFBA)

O presente trabalho objetiva apresentar reflexões sobre o conceito de texto, haja vista as suas
diferentes acepções que, indubitavelmente, podem gerar certas incongruências, caso o
interlocutor ainda seja um neófito na pesquisa linguística. Para tanto, apoiar-se-á na
Linguística Textual, voltada sobremaneira para o escopo teórico bakhtiniano, considerado por
Heine (2011) uma nova fase da Linguística Textual que, direta ou indiretamente, vem
imprimindo uma ressignificação substantiva nos seus pilares básicos. As pegadas que vêm
dando sustentação a essa fase ligam-se, em especial, às reflexões teóricas de Mikhail Bakhtin
(1895-1975) e às ideias de Barros (2007, p.21) que, desde 1994, a autora vem buscando
pontuar as contribuições de Bakhtin em relação ao texto e/ou discurso; pesquisa que impele a
rever os precursores stricto sensu da Linguística Textual, incluindo também, entre eles, o
filósofo Bakhtin. Assim assentado, o texto é visto como um caleidoscópio, aparelho óptico,
constituído por um tubo de metal, com vidros coloridos e espelhos inclinados. Quando a luz
exterior incide sobre ele, a mesma reflete nos espelhos inclinados, o que faz com que, a cada
movimento, sejam visualizadas diferentes imagens coloridas, mostrando que há uma profusão
de possibilidades de se ver diversos padrões coloridos. À semelhança de um caleidoscópio, o
texto processa uma profusão de diferentes sentidos. Os fenômenos presentes no texto
enquanto simbolizado pelo caleidoscópio são diversos, dentre os quais destacam-se: o
contexto imediato, o contexto mediato, sujeito, a responsividade, a história, a ideologia, o
dialogismo, e o enunciado (produto da enunciação), vistos como fundamentais e essenciais à
sua construção do sentido. Por conta da objetividade, é possível encapsular todos esses
fenômenos em apenas dois deles: no contexto imediato e no dialogismo. O primeiro diz
respeito às informações contextuais ligadas à enunciação de cunho pragmático
(BENVENISTE, 1989, p.81); Já o segundo, o dialogismo, incorpora, principalmente, o
contexto mediato que se refere, em especial, ao entorno sócio-histórico, à ideologia, ao
enunciado concreto — ato efetivo da comunicação, que aponta para a enunciação com pendor
sócio-histórico, fator constitutivo de toda e qualquer enunciação, uma vez que ela é sempre
ancorada em momentos históricos. Desse modo, tal como o caleidoscópio, há uma profusão
de sentidos no texto, sentidos esses que são construídos não a partir do modo como a luz
incide nos espelhos, mas a partir do modo como os fios dialógicos, envolvendo questões
histórico-ideológicas, se relacionam para estabelecer o sentido, trazendo à baila o falante
responsivo, que age ativamente num ato axiológico de linguagem. Nas palavras de Bakhtin
(2003, p. 271), o sujeito, “ao perceber e compreender o significado (linguístico) do discurso,
ocupa simultaneamente em relação a ele uma ativa posição responsiva: concorda ou discorda
dele (total ou parcialmente), completa-o, aplica-o, prepara-se para usá-lo”.

ESTUDO DOS GÊNEROS PROJETO EDITORIAL E PUBLICIDADE EM


PERSPECTIVA DIALÓGICA: O LEGADO FOLHA DE S. PAULO

Ligia Mendes Boareto


(UNESP – FCLAr)

Mikhail Bakhtin e seu Círculo engendraram uma considerável abertura de termos e conceitos
uma vez que assumiram a relevância do sujeito – tanto o “eu” quanto o “outro” do discurso –,
dos contextos (sociais, culturais, políticos, ideológicos, históricos) e das esferas de
83
comunicação no uso efetivo da linguagem. A língua, para o Círculo, é ao mesmo tempo
produtora e produto das ideologias. Os estudos desses autores abrem possibilidades para
analisarmos os discursos dos meios de comunicação de massa e das mídias modernas, na
medida em que consideram aspectos e condições extra-textuais de produção e recepção de
discursos. Segundo Bakhtin, os enunciados veiculam as ideologias daqueles que os produzem,
mas também estão suscetíveis às ideologias dos que ouvem/leem e interpretam. Com base
nesse aparato teórico, ampliamos a discussão de dialogismo para além dos enunciados de
mesmo gênero discursivo, observando de que maneira ocorre fenômeno do dialogismo (e se,
de fato, ocorre) entre enunciados de gêneros diferentes e de esferas de atividade diferentes.
Portanto, o interesse desta pesquisa é analisar, por meio do viés dialógico, como os valores,
principalmente os relacionados à comunicação e à informação, são retratados em gêneros
distintos. Nesse ínterim, este projeto objetiva estudar o conteúdo temático, o estilo e a
estrutura composicional dos gêneros Projeto Editorial e Publicidade, ou seja, as relações de
sentido que se estabelecem entre os tipos relativamente estáveis de enunciados presentes em
comerciais televisivos e projetos editoriais, e discutir o papel dos meios de comunicação em
massa na sociedade, atuantes como (des)construtores de valores sobre a informação, além de
atentar para o papel do outro (leitor/telespectador), com sua compreensão responsiva ativa,
como ser atuante e agente modificado.

AS FORMAS DE POLIDEZ NO DISCURSO POLÍTICO PRESIDENCIAL


BRASILEIRO

Livia Maria Falconi Pires


(UFSCar)

No interior dos estudos atuais, sobre as formas de produção e circulação dos discursos, se
constata a manifestação mais frequente, na contemporaneidade, de “discursos líquidos”
denominação cristalizada por J-. J. Courtine, a partir da leitura da obra Modernidade Líquida,
de Zygmunt Baumam (2001), ‘liquidez’ que se intensifica por meio do emprego de estratégias
diversas, tais como a forte incidência de traços da fala cotidiana (como a brevidade, a
informalidade, o tom ameno e não peremptório) própria da esfera privada, de modo cada vez
menos marcado do ponto de vista das manifestações de posições ideológico-partidárias em
detrimento de características outrora próprias do exercício da fala pelo homem público. Entre
as mutações sofridas no modo de produção e circulação dos discursos de orientação política,
constatamos uma mudança nos modos de exercício da polidez e da civilidade em certas
circunstâncias de enunciação tal como a do pleito eleitoral na política brasileira. Assim,
pretendemos analisar o funcionamento dessas formas manifestas no discurso político eleitoral
brasileiro, partindo da análise dos últimos debates dos candidatos à presidência no primeiro e
segundo turno das eleições brasileiras, do período de 1989 a 2010, ou seja, desde a abertura
política aos dias atuais, buscando assim levantar e evidenciar eventuais mutações nessas
formas de interlocução política. Partindo da hipótese de que ainda é possível identificar
especificidades nas formas de enunciar dos candidatos representantes da “esquerda” e da
“direita”, no Brasil, buscaremos analisar se essa diferença se manifesta na expressão da
polidez. Assim, nossa pesquisa buscará discutir, no âmbito geral, se a polidez é (ou não)
manifestada diferentemente, de acordo com a orientação político partidária dos candidatos.
Para isso, levantaremos os mecanismos linguísticos e não linguísticos da manifestação de
polidez, em suas semelhanças ou diferenças, manifestas nas formas de endereçamento e
interpelação de um candidato ao outro, no emprego de adjetivos, de formas verbais, da própria
postura corporal frente ao outro no momento do debate. Para tanto, nos apoiaremos na
84
Análise do discurso de linha francesa, mobilizando trabalhos de Michel Pêcheux, juntamente
com Michel Foucault, em especial os estudos desenvolvidos por Jean-Jacques Courtine,
acerca do discurso político e nos trabalhos de diferentes origens teóricas que, na atualidade,
tem se ocupado da discussão sobre as formas de exercício da polidez.

LEITURA E MEMES DO FACEBOOK: UMA ANÁLISE DIALÓGICA

Loraine Vidigal Lisboa


(Universidade Federal de Goiás /CAC)

À medida que a sociedade evolui, mudanças comunicativas ocorrem devido à necessidade


intrínseca que o sujeito social tem de interagir. Além de novas interações, temos vivenciado,
nesse século, um acesso desenfreado a todo e qualquer tipo de informação suportado por
novos gêneros que visam suprir tais situações mediadas, principalmente, pela internet. Tanta
informação tem sido materializada por meio de gêneros, que contemplam, especialmente, as
linguagens verbo-voco-visuais. Compreendemos que as transformações sociais têm requerido
letramentos que não esgotem os textos em única modalidade, como por exemplo, a escrita. A
leitura de mundo do sujeito social tem sido feita por meio de gêneros diversos, que possuem
textos e imagens e a aprendizagem deve ocorrer, portanto, por essas relações, avaliando as
potencialidades de cada discurso e fomentando a constante reflexão sobre os sustentáculos
que norteiam a concepção dialógica da linguagem. Assim, a hipótese inicial que norteia esta
pesquisa é baseada no pressuposto de que a modernidade e o uso da internet têm propiciado a
emersão de gêneros que atendam às diversas demandas de comunicação e interação do sujeito
e que tal processo pode influenciar diretamente o letramento e o ensino de língua portuguesa
em contexto de “revolução digital”. Ao buscarmos validar tal hipótese, nos deteremos a (i)
selecionar memes que circulam na rede social facebook (https://www.facebook.com/) e a
partir do método analítico-interpretativo, (ii) analisar os discursos recorrentes que constituem
a esfera ideológica desses memes e situá-los como gêneros discursivos emergentes oriundos
de novas formas de interação verbal entre os sujeitos sociais em contexto midiático, (iii)
investigar a constituição do gênero discursivo meme relacionando-o ao conceito de signo
ideológico e (iv) verificar como a revolução digital e as mídias eletrônicas têm modificado as
práticas de leitura visando contribuir para o ensino de língua portuguesa, na perspectiva de
que o leitor vivencia essa revolução e realiza leituras não só pelo papel impresso, mas também
pelos meios eletrônicos, influenciando diretamente a maneira de ler. Para tal, nos
estruturaremos no conceito de signo ideológico, gênero discursivo, interação verbal e
dialogismo oriundos da concepção dialógica da linguagem do Círculo de Bakhtin (2010,
2011, 2012) e na varredura histórica que Chartier (1999, 2002) faz sobre o processo de leitura
ao longo dos tempos até os dias atuais e os postulados teóricos sobre semiologia histórica
desenvolvidos por Courtine (1987a; 1987b; 1989; 1990; 1991a; 1991b; 2008).

85
NAS MEDIAÇÕES EDITORIAIS DO LIVRO DIDÁTICO: A REPRESENTAÇÃO DE
LEITOR ATRIBUÍDA AO ESTUDANTE DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA

Luciana Rugoni Sousa1


(UFSCar)

Este trabalho busca uma análise investigativa sobre o imaginário de leitor que o livro didático
de educação a distância da SEaD-UFSCar constrói. Dito isso, analisaremos as mediações
editoriais realizadas de um lugar possivelmente privilegiado, porém ainda pouco explorado
em estudos linguísticos: o do revisor de textos. Os processos de mediação editorial suscitam
inquietações, impelindo a refletir sobre a linguagem a partir do lugar ocupado pelos
profissionais do texto no processo de produção de um livro. Nesse sentido, partimos do
pressuposto de que nessas mediações, ao contrário da perspectiva corrente de que revisar
consiste em detectar transgressões nas convenções da norma culta, a perspectiva dialógica nos
permite ver os aspectos discursivos do texto, em que o revisor analisa nos enunciados a
concatenação das ideias, as relações de sentido, o endereçamento do texto, a alternância dos
sujeitos do discurso. Com isso, entendemos que o trabalho dos profissionais do texto
configura também um olhar outro importante, que participa do movimento de ocupação do
lugar de leitor – trata-se de um “leitor profissional” – e ao mesmo tempo de um lugar de autor
– trata-se de um “co-enunciador editorial”. Pretendemos, dessa forma, analisar
discursivamente, nos processos de edição da SEaD-UFSCar, manobras editoriais
fundamentalmente linguísticas, nas quais se produz a imagem do leitor estudante. Para tanto,
focalizaremos os materiais da disciplina de língua portuguesa, oferecida aos cinco cursos de
graduação implantados. Dessa perspectiva, notamos uma complexidade, quando um sujeito
incide sobre o enunciado do outro colocando no embate diferentes concepções de língua,
estilo, público, tendo em vista que cada sujeito se apropria dos discursos de maneiras
distintas, do lugar que o institucionaliza. Logo, parece-nos que os registros das trocas entre
revisor e autor trazem à tona conflitos que estão diretamente “ligados ao laço social que a
língua reflete e refrata”, como discute J.S. Muniz Jr. Posto isso, visando a um melhor
entendimento do trabalho realizado pelos profissionais encarregados de dar tratamento
editorial aos textos, bem como a contribuir para a produção dos livros de EaD, nossa pesquisa
tem base nas propostas teóricas de D. Maingueneau formuladas no quadro da análise do
discurso de tradição francesa, e na filosofia da linguagem de M. Bakhtin. Examinamos, com
essa fundamentação, o que L.S. Salgado refere como ritos genéticos editoriais, investigando,
no processo editorial, o encontro das várias vozes que constituem a imagem de leitor atribuída
ao estudante de EaD.

VOZ DO OUTRO, VOZ DO EU: A IN(CORPO)R-AÇÃO FAZ A CANÇÃO

Luciane de Paula2
Rafael Marcurio da Cól3
(UNESP – Assis)

Os Mutantes evoluem muito no decorrer de sua carreira. Contudo, é possível ver o germe do
que, mais tarde, culminará no rock progressivo brasileiro já em seu primeiro álbum, visto o
1
Mestrado em Linguística – PPGL UFSCar.
2
(UNESP – Assis e PPGLLP - Araraquara).
3
(FAPESP - 2011–1406-6).

86
estilo antropofágico da banda, que se apropria das vozes de outros compositores para se
firmar como sujeito e construir sua voz autoral. Como exemplo pode-se citar uma das canções
mais célebres da banda, chamada “Panis et Circenses”, composta por Caetano Veloso e que,
de certa forma, identifica uma imagem bastante cristalizada da banda no cenário musical e
cultural nacional. Na época (anos 70 do século passado), essa canção foi transformada
praticamente num “hino da juventude” por seu caráter anárquico, “mutante”. Para instituir-se,
os Mutantes se apropriam do discurso do outro. Se considerarmos que, para Bakhtin e o
Círculo, o “eu” se constitui a partir e por meio do “outro”, o procedimento d’Os Mutantes
para construir sua imagem autoral se pauta na voz (nas palavras) do outro (tanto Tropicália
quanto The Beatles, mais enfaticamente). Ao incorporarem vozes de “outros” e digeri-las, os
Mutantes trans-formam o discurso alheio em discurso próprio e re-velam-se. Essa é uma de
suas principais marcas autorais de estilo. Um estilo antropofágico que incorpora o outro, mas
não o engole. Mastiga, digere e transforma-o tanto quanto transforma-se. A ironia, o humor e
o pastiche os caracterizam e compõem sua ousadia estilística, ao mesmo tempo brejeira e
vanguardista – bem brasileira! Um exemplo é o ato de transformar a canção romântica “Le
premier bonheur du jour”, cantada por Françoise Hady, em uma piada, sem modificar a
estrutura da canção, mostram a irreverência do arranjo experimental, que quebra, muitas
vezes, os padrões musicais. A reflexão aqui apontada, dessa perspectiva, tratará da
incorporação da voz do outro para constituição do estilo do “eu” (banda), visto tal diálogo
como antropofágico. A importância situa-se na compreensão, por meio do discurso
cancioneiro d’Os Mutantes, não apenas de seu estilo arquitetônico, como de uma
característica linguageira: a interação como identitariamente humana. Verificar como isso
ocorre na canção e, em especial n’Os Mutantes, é o intuito desta apresentação. Esta
comunicação, além de apresentar reflexões sobre o gênero discursivo canção, põe à baila a
brasilidade das canções e uma imagem contemporânea de Brasil: o “canibalismo” cultural.

A PRESENÇA DA ALTERIDADE NOS DISCURSOS SOBRE A LITERATURA


MARGINAL EM BLOGS: UMA ANÁLISE DIALÓGICA

Luiza Bedê1
(UNESP-FCLAr)

Pretende-se apresentar à comunidade acadêmica algumas conclusões que foram alcançadas na


pesquisa que foi desenvolvida em forma de monografia de conclusão de curso na área de
Letras. O presente trabalho toma como objeto de estudo o discurso sobre a literatura marginal
em blogs. A literatura marginal é um movimento literário que tem como tema central o relato
da própria experiência de sobreviver nos espaços marginais e marginalizados da sociedade
brasileira contemporânea. Segundo as reflexões da teoria bakhtiniana, o escritor adquire suas
palavras pela vivência em seu ambiente, por meio da ideologia do cotidiano e das esferas
institucionais, e se torna um indivíduo constituído interiormente por elas, de forma que não há
possibilidade de desvinculá-las da vida social. Assim, a vida na periferia, lugar este pouco
representado pela literatura canônica, passa a ser extensão do que se escreve, o autor assume
de forma concreta seus distintivos traços artísticos, culturais e sociais. Tendo em vista que a
internet é instrumento de “democratização” da prática e do uso da linguagem, por conta da
heterogeneidade dos discursos veiculados, a literatura marginal contemporânea encontra,
neste espaço, a possibilidade de expor e divulgar seus discursos carregados de traços
1
CNPq
Aluna de Mestrado do Programa de Linguística e Língua Portuguesa da UNESP/ Campus Araraquara.

87
distintivos de hibridismo, contraditoriedade, além de propagar, por meio da linguagem
coloquial, sua temática que possui um caráter coletivo e representa uma específica realidade
brasileira. Nos blogs, mais especificamente, os escritores de literatura marginal encontram um
espaço de divulgação de textos inéditos e de suas obras. Para a realização do estudo proposto,
foram feitas considerações gerais sobre os blogs pesquisados, segundo uma abordagem
dialógica do material de pesquisa. O corpus compõe-se de blogs de sujeitos que têm alguma
relação com a literatura marginal contemporânea: o blog da editora literatura marginal
(editoraliteraturamarginal.blogspot.com.br) e os blogs pessoais dos escritores Ferréz
(ferrez.blogspot.com.br) e Sérgio Vaz (colecionadordepedras1.blogspot.com.br). Para a
descrição/análise dos dados, foi feito um estudo bibliográfico de escritos bakhtinianos, que
embasam teoricamente a pesquisa. Também foi desenvolvido um estudo bibliográfico de
literatura marginal no Brasil. Foram analisados, sob a perspectiva do círculo de Bakhtin,
enunciados verbais e não-verbais ─ encontrados em textos publicados em blogs dos autores ─
que tragam indícios do diálogo entre esta literatura com outros movimentos literários
anteriores, além da interação social, das vozes sociais, da alteridade e dos valores ideológicos
presentes no discurso.

DISCURSOS SOBRE A LEITURA: UMA ANÁLISE DA EMERGÊNCIA E


REMANÊNCIA DE CERTAS REPRESENTAÇÕES DO LEITOR NA ATUALIDADE

Luzmara Curcino
(UFSCar)

Neste trabalho, apoiados nos princípios de análise histórica dos discursos desenvolvidos por
Michel Foucault, e ocupando-nos da análise de discursos sobre a leitura na atualidade,
buscaremos levantar as modalidades de existência de certos discursos sobre a leitura, “em sua
realidade material de coisa pronunciada ou escrita” (Foucault, 1999), levantando os modos de
sua circulação, valorização, atribuição e apropriação pelos sujeitos, em suas variações
históricas, inter e intraculturais. Com base neste princípio analítico, e em outros postulados da
Análise de discurso e da História cultural da leitura, abordaremos brevemente alguns
discursos sobre essa prática, cuja emergência, remanência e valor de verdade explicam-se
historicamente e manifestam-se atualmente em diferentes tipos de textos. Tendo em vista
nosso objetivo e apoiados no referencial teórico descrito, analisaremos um texto peculiar,
multimodal, no qual emergem algumas representações muito comuns sobre a leitura. Trata-se
de um exemplo, em alguma medida caricato, mas que apresenta indícios dessas
representações e do modo como esses discursos retornam, se fortalecem, são reiterados e
assumem diversas formas enunciativas, atuando de modo a construir uma imagem dos sujeitos
que deles se apropriam, que neles se apoiam ou dos sujeitos que deles são tema. Nossa análise
recairá sobre uma videomontagem, disponível pelo youtube, intitulada “que livro você leu”
construída a partir de uma entrevista com a então candidata à presidência, Dilma Roussef, e
em cuja circunstância é explorada uma certa imagem do que é ser leitor. A formulação da
questão que visava avaliar a então candidata por suas competências leitoras, a resposta dada
pela então candidata, a construção da videomontagem e os comentários, posteriormente
postados pelos internautas, indiciam algumas representações discursivas que compartilhamos
atualmente sobre a leitura, e que são responsáveis por legitimar certas práticas, por construir
modos de ser leitor e por atestar o valor simbólico de que a leitura goza em nossa sociedade.
Nossa análise consistirá, portanto, na descrição de discursos sobre a leitura que podem ser
apreendidos em seu funcionamento discursivo peculiar, cujas representações discursivas, cuja
origem e cuja força não coincidem com sua enunciação, antes, estão intrinsecamente ligadas a
88
sua condição de dizer socio-histórico e culturalmente delimitado, ou seja, submetido a uma
ordem do discurso.

AUTORIA NAS REDAÇÕES DE PARTICIPANTES DO ENEM 2012

Magna Leite Carvalho Lima


(UNINCOR - Universidade Vale do Rio Verde)

O objetivo deste artigo é discutir o conceito de autoria a partir da fundamentação teórica de


Bakhtin, Barthes e Foucault e analisar como a aplicabilidade dessas teorias se solidifica nas
produções de texto dos participantes do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2012.
Assim como a visão dos teóricos constata que o indivíduo não é mais autor e que a autoria é
um fenômeno complexo entrelaçado de diversas instâncias e conceitos, também nas
produções de texto é possível perceber um apagamento do autor e que o participante é um
sujeito tolhido de ser autor de suas próprias ideias e limitado em sua criatividade, pois para
garantir nota máxima nas competências analisadas precisa não criar, mas reproduzir os
critérios apresentados como fórmula de um bom texto. No entanto, ao buscarmos a teoria
foucaultiana, a hipótese é de que mesmo emaranhados por regras e direcionamentos os
participantes demostram certa autoria, afinal as formas de apagamento são diferentes em cada
um e mesmos as regularidades que emergem de parte das produções possuem suas
peculiaridades. Dessa maneira, o participante é um reprodutor de regras, porém cada qual a
reproduz de forma única. Devido às limitações deste tipo de estudo, foram analisados somente
6 (seis) textos de alunos de Ensino Médio de uma instituição particular de ensino da cidade de
Varginha – MG. Desses 6 textos houve um enfoque na análise dos parágrafos que indicam
conclusão, uma vez que a competência 5 (cinco) é um dos critérios de avaliação que exige
como garantia de uma nota máxima proposta de intervenção clara e inovadora para um
problema que o participante foi induzido a criar durante o desenvolvimento do texto
produzido. No entanto, este enfoque não exclui o texto como todo, inclusive, parte-se do todo
para analisar a conclusão. Para fins didáticos, este trabalho está dividido em 3 seções. Na
primeira há uma fundamentação teórica sobre o conceito de autoria e a esboço sobre a
aplicação da teoria foucaultiana para a análise dos textos, na segunda uma contextualização
sobre o Enem, a avalição e a Competência 5 e por último a análise dos textos.

ATITUDES LINGUÍSTICAS NA FORMAÇÃO DA IDENTIDADE: APAGAMENTO


DO JOPARÁ

Maiara Cano Romero


(NEAD/UEMS)
Orientador: Prof. Dr. Marlon Leal Rodrigues
(CEPAD/NEAD/UEMS)

Este trabalho pretende analisar o discurso de negação da identidade enquanto apagamento da


língua jopará. Esta que pertence à família tupi-guarani, resulta da mescla do guarani, espanhol
e o português. Podemos constatar na cidade de Porto Murtinho-MS, localizada na fronteira
com o Paraguai, a diminuição acentuada do número de falantes do idioma e que as novas
gerações não estão aprendendo a língua de seus pais ou avós, caracterizando seu apagamento
e a consequente perda de um traço da identidade. Diante desse fato, buscaremos identificar
o(s) motivo(s) de descendentes de paraguaios não aprenderem a língua. Adotaremos a Análise
89
do Discurso de linha francesa como método analítico. Procuraremos demostrar neste trabalho
o que está ocorrendo com a língua na região de fronteira e como isso interfere na identidade
de seus moradores. Assim, o objetivo é analisar esses discursos explorando o texto, a fim de
descobrir as formações ideológicas e discursivas. Para obtermos o corpus desse trabalho,
elaboraremos um questionário com questões a serem respondidas tanto pelos pais que
aprenderam e tiveram contato com o guarani, quanto pelos filhos que não aprenderam. As
repostas serão gravadas e posteriormente transcritas para a análise e compreensão.
Procuraremos demostrar neste trabalho o que está ocorrendo com a língua na região de
fronteira e como isso interfere na identidade de seus moradores. Assim, o objetivo é analisar
esses discursos explorando o texto, a fim de descobrir as formações ideológicas e discursivas.
A língua é um aspecto muito importante na identidade de um país ou uma comunidade, pois
carrega consigo conhecimentos únicos como a cultura, modo de “enxergar” as coisas, suas
crenças e ideologias. Caracterizado o apagamento de uma língua, há que se procurar descobrir
os motivos para tal fato, o que está ocorrendo com ela e qual o seu futuro. Pretendemos
verificar o grau de contato que os brasileiros têm com o guarani e, principalmente, verificar se
as novas gerações estão tendo conhecimento da língua ou o quanto ela influencia a sua fala.

TESES E DISSERTAÇÕES EM ANÁLISE DO DISCURSO NA REGIÃO CENTRO-


OESTE: ASPECTOS HISTÓRICOS E DISCURSIVOS

Mara Eli Souza Camargo1


(PG-UFGD/Capes)
Marcos Lúcio de Souza Góis2
(UFGD)

Esta comunicação apresenta discussões preliminares de pesquisa em andamento na


Universidade Federal da Grande Dourados, em nível de mestrado, que investiga 161 resumos
das produções acadêmicas (teses e dissertações) em Análise do Discurso desenvolvidas no
Centro-Oeste do Brasil e realizadas no período de 2000 a 2010. Deseja-se, com esta
investigação, compreender quais “análises de discursos” estão sustentando as pesquisas sobre
o “discurso” no interior dos programas de pós-graduação dessa região brasileira. Para tanto,
utilizamos o Banco de Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes) e, quando necessário, informações colhidas nos próprios programas
envolvidos. O objetivo é mapear os trabalhos produzidos, as temáticas abordadas, os teóricos
mobilizados. Fundamentalmente, a pesquisa está sendo conduzida a partir dos procedimentos
da “Análise de Conteúdo” (BARDIN, 2002) para o tratamento quantitativo, e da “Análise do
Discurso”, para ler os posicionamentos ideológicos dos produtores desses trabalhos
universitários. Ao final da pesquisa, espera-se que se consiga produzir um conhecimento
sólido sobre práticas acadêmicas em Análise do Discurso.

1
Mara Eli Souza Camargo, mestranda. Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD - Programa
CAPES/PROSUP- E-mail: mara.e.souza@gmail.com
2
Marcos Lúcio de Souza Góis, Doutor. Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD - E-mail:
marcosgois@ufgd.edu.br

90
EMBATE ENTRE SHERLOCKS: SHERLOCK HOLMES NO SÉCULO XXI?

Marcela Barchi Paglione


(UNESP/Assis)

A minissérie televisiva Sherlock recria aventuras de Sherlock Holmes e Watson com o


diferencial de serem ambientadas no século XXI. Ao recriar esse ícone da literatura policial,
levam-se em conta as mudanças nos gêneros discursivos do qual fazem parte esses
enunciados, assim como a imersão em um novo tempo e espaço: os escritos de Conan Doyle
eram contos e romances retratados no período vitoriano (final do século XIX) e a minissérie
transmitida pelo canal inglês BBC traz o detetive imerso numa Londres do século XXI, com
características específicas da contemporaneidade. De acordo com as discussões do Círculo de
Bakhtin, os gêneros do discurso são tipos relativamente estáveis de enunciados, compostos
por forma, estilo e tema que são, ao mesmo tempo, particulares e gerais, válidos em uma
determinada época. Analisar-se-á aqui os efeitos de sentidos causados pelas mudanças nos
gêneros escolhidos para abordar o mesmo tema e pela escolha peculiar da época a ser
retratada (logo, o deslocamento temporal como elemento essencial da composição da
arquitetônica discursiva da obra). O sentido, para o Círculo, nunca é dado, mas sim construído
num processo, numa relação nem sempre pacífica e harmoniosa entre enunciados que
dialogam entre si, pois os signos, que os formam, são permeados por fios ideológicos,
transmitindo valores de grupos sociais e épocas (divergentes, no caso do corpus da pesquisa).
Ao mudar-se a época em que Sherlock Holmes observa pistas e faz deduções lógicas, não se
pode esperar que as aventuras se passassem da mesma forma, pois se trata de outro cronotopo
e, também, no caso, a trama é composta por outro gênero, o qual também possibilita uma
mudança efêmera na arquitetônica do discurso das investigações. O objetivo do estudo
proposto é demonstrar concretamente como o sentido é construído no embate entre dois
discursos diversos, como o da minissérie e o literáiro, mas que mantêm relações dialógicas, as
quais são intrínsecas na própria composição de Sherlock.

ACELERAÇÃO E DESACELERAÇÃO: AS TENSÕES TEMPORAIS EM “TODO O


SENTIMENTO”

Marcela Ulhôa Borges Magalhães


(UNESP)

Na presente intervenção no IV Encontro de Análise do Discurso, propomo-nos a refletir sobre


o modo como o andamento semântico é estruturado na letra da canção “Todo o Sentimento”
(p.385, 2007), de Chico Buarque, bem como sobre os esquemas de tensão ali instaurados, os
quais se estendem do conteúdo à expressão do texto. Como aparato metodológico,
utilizaremos a teoria semiótica greimasiana e, mais especificamente, seus desdobramentos
recentes, como a semiótica das paixões e a semiótica tensiva, desenvolvida majoritariamente
por Claude Zilberberg (2011). Neste trabalho, interessa-nos investigar de que modo as
configurações modais que precedem os estados juntivos de “Todo o Sentimento”
sobredeterminam-lhes e, por sua vez, de que modo os estados juntivos afetam o campo de
presença e a maneira como os corpos sensíveis nele reagem. Tendo como ponto de partida,
então, os estados juntivos, depreenderemos os modelos de configuração passional presentes
no enunciado e observaremos como os indicadores tensivos, correlatos às grandezas da
intensidade e da extensidade, são ordenados no discurso de modo a potencializar o efeito
patêmico do texto. A paixão que se sobreleva em “Todo o sentimento” é o amor, o
91
responsável por manter a conjunção entre o sujeito apaixonado e o objeto sobre o qual recai
seu amor. O amor, de acordo com a letra da canção, porém, está fadado a adoecer, muito
embora o sujeito-enunciador não deseje que a conjunção com o objeto amado chegue ao fim.
Há, por essa razão, uma tentativa por parte do enunciador de prolongar o estado apaixonado e
de refrear a aceleração natural do tempo, que influi negativamente sobre o amor. A paixão
amorosa, no entanto, em virtude de seu alto grau de intensidade, é incompatível com um
extenso período de tempo, provocando, no discurso, uma impossibilidade que afeta
disforicamente o campo de presença do sujeito. Nesta comunicação, exploraremos mais
detalhadamente as questões colocadas aqui em relevo, sempre com vistas à expressividade
poética do texto.

ANÁLISE DE DISCURSO: O QUE LHE É PRÓPRIO

Marcelo Giovannetti Ferreira Luz


(UFSCar)

Este trabalho busca desenvolver um percurso histórico-epistemológico sobre o campo de


estudo denominado Análise de Discurso, a fim de mostrar qual seu objeto de estudo e quais as
possíveis metamorfoses por que ele passa – se passa. Para tanto, buscamos perfazer um
caminho que passa pelo estabelecimento do objeto do campo de saber da Linguística, com o
seu estabelecimento por Ferdinand de Saussure. Em seguida, tentamos mostrar em que
medida o sujeito entra para o campo científico, com os trabalhos de Freud e Lacan, no
estabelecimento do campo de saber denominado Psicanálise, sendo posteriormente trazido
para o campo das ciências da linguagem, no interior da Análise de Discurso, produzindo um
deslocamento na forma como outras áreas da Linguística consideravam a questão do sujeito,
tal como a perspectiva das teorias da enunciação, para quem o sujeito era tido como uno,
indivisível. Na esteira dessa busca em instaurar o modo de aparecimento dessas novas
epistemes, procuramos analisar como o discurso é instaurado enquanto objeto de estudo
linguístico, a despeito da língua e do sujeito, em um saber específico. Assim, chegamos ao
que é próprio à Análise de Discurso, ou seja, seu objeto de estudo, o discurso. Com esse
percurso epistemológico, procuramos questionar a relação que algumas vertentes atuais dos
estudos discursivos produzem no que tange à questão do estabelecimento novos objetos de
estudo da Análise de Discurso. No nosso modo de compreender essa relação produzida
hodiernamente, verificamos a existência de novas formas materiais, que servem de base para
os diversos processos discursivos que se verificam na atualidade ou, em última instância, o
que se poderia chamar de novos objetos empíricos para o tratamento do objeto teórico sobre o
qual se debruça a Análise de Discurso francesa, qual seja, o discurso, compreendido como
determinação histórica dos processos de significação.

92
ANÁLISE DO DISCURSO E TABU: UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO
(SEM-) SENTIDO NO INCESTO CONSENTIDO

Márcia Helena Franco Santos Godoy1


Marlon Leal Rodrigues2

Este artigo apresenta uma análise de fragmentos de narrativas eróticas que abordam o tabu da
proibição do incesto como temática, sopesando o que a Análise do Discurso identifica como
“sentido” (ou “sem-sentido”). Dessa forma, acredita-se que podem ser verificados a ideologia
e os significados da ocorrência de violações ao impedimento histórico-social dos
relacionamentos sexuais entre parentes. Considerou-se, para tanto, a possibilidade de que,
mesmo habitualmente ocultado pelo silêncio, o envolvimento afetivo-sexual entre
consanguíneos e afins é bastante comum e nem sempre corresponde a um ato delitivo, pois
pode ser manifestado de maneira consentida por indivíduos dotados de plena capacidade
física e mental. Com o objetivo de contribuir a reflexões acerca do incesto perpetrado com a
aceitação de praticantes juridicamente capazes (maiores de idade e em condições de
normalidade físico-intelectual), elegeram-se, como material para este estudo, partes de textos
eróticos coletados em sítios da internet disponíveis ao público adulto, divulgados em Língua
Portuguesa. Tem-se, como problema central deste trabalho, a atribuição de (sem-) sentidos ao
discurso de indivíduos que justificam a prática incestuosa que, por ser factualmente
consentida, não implica em abuso sexual, mas que, mesmo assim, não é moralmente aceita ou
socialmente justificável. Optou-se, no quadro teórico adotado, pelas contribuições de Pêcheux
(2012, 2009 etc), Orlandi (2012, 2003 etc) e Lévi-Strauss (2012 e 2011). Quanto à
metodologia, elencaram-se e foram discutidos alguns fragmentos de relatos eróticos de
escritores que, mesmo que não tenham vivenciado as situações apontadas em suas narrativas,
materializam, por meio de suas manifestações linguísticas, o interesse pelo acontecimento de
relações afetivo-sexuais entre familiares e a despreocupação quanto a possíveis repreensões
morais. Como a proibição do incesto é considerada um marco histórico da passagem do
estado natural do ser humano ao estágio cultural, os resultados deste trabalho correspondem a
uma abordagem discursiva de (sem-) sentidos na transgressão de um dos mais intrigantes
tabus da humanidade.

SOBRE A (DES)CONSTRUÇÃO DE IMAGENS: A QUESTÃO DAS


INDEPENDÊNCIAS

Marcos Lúcio de Sousa Góis


(UFGD)

Um ditado popular, atribuído ao filósofo chinês Confúcio, diz: “uma imagem vale mais do
que mil palavras”. Basicamente, nesse enunciado defende-se a premissa de que uma imagem é
mais precisa que um conjunto de palavras ou, dito de outro modo, uma imagem seria (quase)
autoevidente. Numa leitura aprofundada, este suposto texto confucionista joga com os limites
da interpretação e do(s) sentido(s) quando se trata de palavras e imagens. O problema de
trabalho que se coloca é o seguinte: na construção dos estados-nação no século XIX, uma
série de práticas foi criada para dar legitimidade/origem aos países nascentes. Dentre elas, as
narrativas dos feitos (acontecimentos?) que levaram à naturalização dos territórios, em sua
1
PG-UEMS/NEAD, discente regular do Mestrado em Letras, marciahelenafrancosantosgodoy@gmail.com
2
CEPAD/NEAD/UEMS, professor orientador, marlon@uems.br

93
maioria colônias portuguesas ou espanholas, enquanto “nação”. Muitas dessas práticas pátrias,
produzidas em tempos relativamente próximos e reproduzidas ao longo de décadas, passaram
a circular em diferentes suportes, do livro didático a peças publicitárias; a servir ao ensino, às
discussões políticas, à venda de produtos, etc., elevando sua importância discursiva. Isso
considerando, o objetivo geral desta comunicação é problematizar a relação entre imagem,
discurso, interpretação, sentido, ajudando a desmistificar qualquer possibilidade de
transparência de uma imagem. Para tanto, elegeu-se o tema “independência”, a partir do qual
se construiu um corpus, formado inicialmente por uma série de imagens (pinturas) que tratam
da independência de alguns países sul-americanos, dentre os quais Brasil, Colômbia, Peru e
Venezuela. Esse processo será conduzido à luz da Análise do Discurso de orientação francesa,
destacando Dominique Maingueneau, com o conceito de “ethos”, e Jean Jacques-Courtine, e
seu “intericonicidade”, para quem “toda imagem se inscreve numa cultura visual. [...]. Toda
imagem tem um eco” (COURTINE, 2006). Deseja-se que as discussões apresentadas possam
contribuir com outras reflexões, ajudando a entender nossa história, nossa sociedade, nossas
práticas do dizer sobre.

PERCURSOS VOCACIONAIS NA ADOLESCÊNCIA: ANÁLISE DISCURSIVA DAS


NARRACÕES SOBRE OS PROCESSOS DE TOMADA DE DECISÃO
VOCACIONAL

Maria Luisa Lopes Chicote1

Esta comunicação tem como objetivo analisar as narrações dos adolescentes no que concerne
aos processos de tomada de decisão vocacional, com particular ênfase nos fatores que
interferem na escolha de carreira dos adolescentes. Enquanto dum lado nos apoiamos nas
Perspectivas desenvolvimentistas, Super e seus colaboradores (1950), a escolha da carreira é
considerada um processo inserido no arco do desenvolvimento do indivíduo, e na Life disegn
as paradigm for career construction in the 21st century (2009) que valoriza a narração como
uma das proposicões no processo de construcão de carreira, por outro lado, amparados pela
teoria da Análise de Discurso de Michel Pêcheux e E. Pucchelini Orlandi, em especial nos
conceitos de “sujeito”, “ideologia”, “formações imaginárias”, tentamos compreender o
fenómeno da tomada de decisão nos adolescentes que ingressam o ensino superior a partir das
suas narracões colhidas em contexto de intervencão no âmbito da orientacão profissional. As
narracões feitas pelos sujeitos, suas discursividades abrem-nos para uma compreensão não
apenas das variáveis que interferem neste complexo processo de tomada de decisão sobre a
própria profissão mas sobretudo sugerem uma mudança de perpectivas teóricas com
repercussões nas técnicas de intervenção no processo de orientação vocacional no geral, em
particular dos adolescentes.

1
Doutoranda em Psicologia, Mestra em Psicologia Educacional pela Universidade Pedagógica de Moçambique,
Licenciada em Ciências de Educação pela Pontifícia Facoltá di Scienze di Educazione “Auxilium- Roma,
Bacharel em Sociologia pela pela mesma Universidade.

94
O DIÁLOGO NA INTERPRETAÇÃO DA COMICIDADE E DO RISÍVEL: UMA
PROPOSTA DE ESTUDO DO ESTILO CARICATURAL

Maria Madalena Borges-Gutierre


(UNESP Car/Uni-FACEF)

O risível nas reflexões de Mikhail Bakhtin pode ser compreendido por meio de uma
abordagem estética que concebe o riso em seu “caráter não-oficial” e ambivalente. Como
postula o pensador russo, ao estudar François Rabelais, as imagens rabelaisianas distinguem-
se por essa espécie de caráter não oficial - subvertem a perfeição definitiva, a estabilidade, o
dogmatismo, a formalidade limitada, o que nos permite compreender, no cerne das
discussões, que a natureza do riso deve ser investigada em tempos e espaços específicos e em
consideração às concepções de mundo e de valores circunscritas em uma época. Tais aspectos
são relevantes para que se compreendam também as facetas do estilo do riso em oposição à
cultura oficial, não só no contexto da Idade Média e do Renascimento, como propõe Bakhtin
ao estudar a obra de Rabelais, como também em outros contextos socioistóricos. Os grupos
humanos, em diferentes culturas e momentos, têm procurado aproximar o sério e o risível
como “partes” distintas, porém complementares, de uma visão de mundo e de vida, como se o
homem não pudesse prescindir de transformar em riso aquilo que estabelece o rigor ou que é
trágico e desequilibra a existência. Há, no entanto, nas diferentes etapas de organização da
sociedade e de constituição da cultura, uma multiplicidade de tons que caracterizam o risível.
Pode-se dizer que a dimensão temporal, espacial e social do riso é o aspecto principal para a
compreensão de seus movimentos e de suas transformações como modo de expressão
articulado a estilos de linguagem. Além disso, o que torna risível o trágico e o ridículo na
condição humana, em diferentes momentos é, muitas vezes e por um lado, a constatação da
impotência, e por outro, o reconhecimento da própria ambivalência da vida: rir e chorar da
mesma coisa ou fazer do riso instrumento de protesto, quando o dizer considerado sério é
combatido, censurado. A ambiguidade é constitutiva das formas de linguagem que produzem
o riso, como nos gêneros caricaturais, entre outros, aspecto favorável ao protesto e à
subversão de convenções e, talvez, menos suscetível à repressão, pela exigência de se
construir um sentido decorrente da dualidade entre o trágico e o cômico. Neste trabalho,
apresentamos algumas reflexões e possibilidades de interpretação do estilo caricatural, a partir
da análise de charges que circularam no jornalismo impresso brasileiro em contextos de
censura, com bases na proposta dialógica de estudo dos gêneros de discursos, no contexto do
Círculo de Bakhtin.

DISCURSO, LEITURA E REDE ELETRÔNICA: REFLEXÕES INICIAIS

Mariane Leonel dos Santos


(USP)

Este trabalho apresenta as reflexões iniciais do projeto de pesquisa intitulado “Discurso,


leitura e rede eletrônica: movimentos de dizer”, que visa estudar os efeitos de leitura na rede
eletrônica, suas características, traços e atualidade, indagando que rupturas e deslocamentos
são produzidos em relação ao impresso e qual a influencia e implicações da Internet nestas
questões, buscando caracterizar e entender a leitura hoje. Inicialmente, realizamos uma
revisão bibliográfica sobre o tema, a partir da qual construímos a base-teórica da pesquisa e
contextualizamos a nossa discussão. Depois, observamos o funcionamento de sites e blogs
95
sobre leitura e coletamos algumas entrevistas com usuários da Internet que acompanham ou
produzem o conteúdo destes blogs e sites analisados. E foi da análise discursiva feita desses
conteúdos que construímos nossas teorizações, identificando esses caracteres particulares da
nossa pesquisa e procurando, por meio da leitura que fizemos do nosso corpus, entender as
particularidades do nosso tema, obter resultados que nos permitam entender a real
contribuição da Internet na e para a leitura, o quanto esta foi afetada pelas novas tecnologias,
quais são suas novas características e quais foram as questões e materialidades que surgiram
dessa relação. A nossa pesquisa é apoiada nas bases teóricas e metodológicas da Análise do
Discurso de filiação francesa, e tem como referências primordiais os trabalhos de Michel
Pêcheux. Os principais conceitos teóricos utilizados da Análise do Discurso são os de
“memória” e “discurso”, e seguimos sua visão sobre o que é “leitura”, mas durante nossa
análise do corpus, composto não somente pelas referências textuais, advindos da revisão
bibliográfica que fizemos e da análise que realizamos de sites e blogs na Internet, assim como
pelas entrevistas coletadas na rede eletrônica, utilizamos os demais conceitos da Análise do
Discurso.

AS RELAÇÕES DIALÓGICAS E A RESSIGNIFICAÇÃO DAS PRÁTICAS


PEDAGÓGICAS NO DISCURSO DE MARCÍLIO GODOI, NA REVISTA LÍNGUA
PORTUGUESA

Marilurdes Cruz Borges


(UNESP-Araraquara/ UNIFRAN)

Propomos nesta comunicação apresentar uma reflexão sobre os diálogos explícitos e


implícitos na coluna de Marcílio Godoi que contribuem para a ressignificação das práticas
pedagógicas no ensino de literatura no Brasil. Para desenvolver nossa investigação, partimos
do princípio de que a Revista Língua Portuguesa, suporte em que está inserida a coluna de
Godoi, embora pertença a uma esfera jornalística e publicitária, tem cunho didático e seu
objetivo principal é discutir as práticas pedagógicas no que se refere ao ensino da língua
materna – língua portuguesa –, por isso, compreendemos que o corpus em estudo participa
responsivamente dessa discussão. Analisaremos também questões acerca do gênero do
discurso, pois sabendo que ele é determinado em função da especificidade de uma dada esfera
da comunicação, estudando-o, verificaremos como o estilo do locutor percebe e compreende
seu destinatário e como ele, além de participar responsivamente junto ao suporte e junto à
esfera pedagógica, também presume uma compreensão responsiva do seu interlocutor,
ressignificando assim as práticas no ensino de literatura de língua portuguesa. Segundo os
Parâmetros Curriculares Pedagógicos do Ensino Médio, os alunos deverão adquirir
competência investigativa e compreensiva, devendo ser capazes de refletir sobre as
possibilidades de usos da língua, analisando os elementos que determinam esses usos e as
diversas formas de dizer. Logo, acreditamos que o discurso de Godoi contribui para
desenvolver essas competências no que se refere ao discurso literário e suas práticas
enunciativas, pois, além de abordar a biografia de escritores, também apresenta, junto a
fragmentos da poética do mesmo, comentários críticos que valorizam tanto a composição
textual quanto sua relação sócio-cultural. Para os estudos bakhtinianos, o problema do sentido
é parte de uma reflexão sobre a linguagem que não se limita à relação entre a língua, como
código, e o discurso ou o texto, também não se limita às relações linguísticas entre os
elementos do sistema da língua ou entre os elementos de uma única enunciação, mas ocupa-se
das relações dialógicas nos atos de palavras, nos textos, nos gêneros do discurso e nas
linguagens, portanto, utilizaremos por fundamentação teórica principal as reflexões
96
bakhtinianas no que se refere ao dialogismo, à esfera/campo, à ideologia, ao enunciado
concreto e ao gênero do discurso.

OS GÊNEROS DO DISCURSO NO LIVRO DIDÁTICO: ESTUDO DE CASO

Marly de Fátima Monitor de Oliveira


(UNESP/FCLAr)

Esta pesquisa examina o modo como os gêneros discursivos são sugeridos nas propostas de
produção textual e, para isso, analisa as atividades de produção de texto indicadas pelos livros
Português: Linguagens (2010) e pelas apostilas da Coleção Pitágoras Língua Portuguesa
(2012), ambos destinados a alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental II. A reflexão
busca também destacar as contribuições que uma abordagem dialógica dos textos pode trazer
às atividades do professor. As bases metodológicas que sustentam este projeto são leitura
crítica dos textos do Círculo de Bakhtin com foco para o conceito de gênero e do corpus em
estudo que possibilita o levantamento dos gêneros discursivos trabalhados nas propostas de
produção de texto presentes nos livros didáticos em estudo, quais gêneros são recorrentes em
um mesmo ano ou em anos diferentes, análise de como essas propostas de produção textual
são sugeridas e trabalhadas e análise da transposição das recomendações e proposições
teóricas do manual do professor para as propostas de produção textual para o aluno. Desta
forma, é possível dizer que a metodologia é analítica e comparativa. A análise crítica proposta
tem como pressuposto uma preocupação pedagógica quanto ao aprendizado e domínio dos
gêneros do discurso. Com a leitura crítica desse corpus, pode-se observar a sua relação com os
conceitos de gêneros do discurso, pensados pelo Círculo de Bakhtin, com destaque para as
propostas presentes no Manual do Professor e nas atividades sugeridas. Muitas vezes as
atividades propostas pelos livros didáticos impedem que o aluno perceba o gênero como um
recurso do dizer, e que esse dizer e o como dizer estão atrelados não a uma forma fixa e
engessada, mas a uma situação comunicativa que “seleciona” a forma, o conteúdo e o estilo. É
importante ressaltar que o gênero reflete uma atividade concreta de interação discursiva, por
isso a necessidade de adequar o melhor gênero do dizer em determina situação comunicativa.
O uso dos gêneros discursivos no ensino de Língua deve contemplar o contexto de produção
textual, as condições de enunciação, o caráter dialógico e histórico da língua. Somente quando
o aluno dominar os gêneros discursivos conseguirá produzir e ler textos de forma mais
eficiente. Ao compreender como utilizar um texto de um gênero específico, o aluno recorrerá
ao seu conhecimento de mundo e linguístico para interagir por meio da linguagem.

MEMÓRIA DE LEITURA DO SUJEITO-PROFESSOR

Mary Rodrigues Vale Guimarães


Grenissa Bonvino Stafuzza
(GEDIS/UFG-CAC-PMEL)

Entendemos o professor como um sujeito que é inserido num contexto sócio-histórico-


ideológico que possui uma memória social de conhecimento que perfaz toda a sua prática
pedagógica. A presente comunicação propõe apresentar o projeto de pesquisa que se referenda
pela Análise de Discurso Francesa (ADF) intitulada Um olhar discursivo sobre a memória de
leitura do sujeito-professor. Essa pesquisa se constitui a partir da reflexão sobre a memória de
leitura dos professores de língua portuguesa do ensino médio das escolas públicas estaduais
97
da cidade de Catalão-GO. Nesse sentido, a pesquisa tem por objetivos específicos: i) analisar
o posicionamento sócio-histórico-ideológico dos sujeitos professores de língua portuguesa em
relação à leitura; ii) investigar quais são os sentidos de leitura que emergem na memória
discursiva dos sujeitos professores; iii) analisar a interdiscursividade de possíveis discursos
pedagógicos sobre leitura, materializados nos dizeres dos sujeitos professores. O corpus da
pesquisa será coletado através de entrevista semi estruturada com os professores do ensino
médio dessas escolas de ensino médio, pois nos inquietam questões como que leituras são
legitimadas para esses professores, quais são suas histórias de leitura e quais são as
concepções de leitura para esses professores, assim, partiremos para análise do material
coletado, considerado, aqui, como enunciados possíveis de emergir sentidos sobre
posicionamentos de leitura. Para tanto recorremos aos estudos de Michel Pêcheux acerca da
memória discursiva, bem como em Pierre Achard, sobre o tema do papel da memória.
Focamos a pesquisa também nos estudos dialógicos da linguagem de Mikhail Bakhtin; e na
história da leitura no mundo ocidental e práticas de leitura a partir das contribuições de Roger
Chartier, de modo a entendermos questões que nos interpelam sobre a prática cultural da
leitura na atualidade.

O PESQUISADOR NAS SENDAS DO DIGITAL

Mauricio Junior Rodrigues da Silva1


Orientadora: Maria do Rosário F.V. Gregolin
(UNESP/FCLAr)

O presente trabalho tem como objetivo analisar discursos, práticas e representações atinentes
à posição sujeito pesquisador na contemporaneidade. Trata-se de questionar como essa
posição é construída discursivamente e de que forma ela se relaciona com os diversos jogos
de poder que a permeiam. Para suscitar os problemas de representação do pesquisador na
hodiernidade, nada mais pertinente do que tomar um lugar discursivo próprio do mundo
contemporâneo: a rede eletrônica. Nesse espaço, pode-se observar diferentes práticas de
discurso que produzem perspectivas distintas de representação e de identidade. Essas práticas
são ordenadas por sites, blogs, plataformas, que atuam como uma espécie de dispositivo de
produção identitária. Em termos específicos, tomou-se como corpus o site do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), sobretudo em sua Plataforma
Lattes, uma base de dados de currículos, instituições e grupos de pesquisa das áreas de
Ciência e Tecnologia. Ao lado de outras agências de fomento à pesquisa que existem no
Brasil, o CNPq desempenha um papel decisivo tanto para as instituições quanto para a
atividade do pesquisador, uma vez que estabelece certos parâmetros que norteiam a pesquisa
científica no Brasil. Analisar seu site e sua historicidade significa suscitar uma multiplicidade
de registros discursivos sobre a posição sujeito pesquisador e sua práxis. Esses registros são
importantes para perceber como determinados enunciados são formados e como práticas
discursivas são produzidas. Para a execução desta empresa, tomou-se como referencial teórico
a Análise do Discurso de filiação francesa, centrada, sobretudo na arquegenealogia de Michel
Foucault. Em termos metodológicos e procedimentais atuou-se da seguinte maneira: seleção e
localização das fontes de informação referentes ao tema proposto; pesquisa bibliográfica e de
obras relacionadas tanto à questão do pesquisador quanto ao campo da Análise do Discurso.
Por meio dessa base teórica é possível perceber como os processos históricos concorrem na
produção de verdades e subjetividades acerca do corpus.
1
Doutorando – Unesp/FCL-Ar.
98
ANALISE DO DISCURSO E MASCULINIDADE: UMA ANÁLISE DA IDENTIDADE
DISCURSIVA MASCULINA PELA REVISTA MEN’S HEALTH.

Melly Fatima Goes Sena


(PG/UEMS)
Marlon Leal Rodrigues
(NEAD/UEMS)

Com as mudanças que ocorrem na modernidade ou pós-modernidade (Eagleton,1998), as


identidades encontram-se fragmentadas (Hall,2006) e liquidas (Bauman,2005). O homem
passa por essas transformações também que afetaram profundamente seu cerne.
Principalmente após as conquistas femininas, o homem deixa de ser somente o “desejador”
para transformar-se em objeto do desejo também. A partir destas questões, o objetivo deste
trabalho é analisar por meio da linha teórica da Análise do Discurso de linha francesa a
construção da identidade feita pelos discursos (Orlandi, 2001;Pêcheux,2009) produzidos na
seção cartas ao editor, da Revista Men’s Health. Revista dirigida ao público masculino em
que prioriza o tema de saúde, mas também aborda moda, relacionamentos e sexo. A revista
dirige-se a este novo homem moderno e a carta do editor é o momento em que a revista
coloca identidade e ponto de vista próprios.

O CORPO PLUS SIZE COMO OBJETO DISCURSIVO: UMA ANÁLISE DOS


DIZERES SOBRE O PESO DA CANTORA ADELE

Michelle Aparecida Pereira Lopes


(UNIFRAN)

Esse estudo tem como objetivo realizar uma análise discursiva de dois enunciados que
circularam na mídia acerca do peso da cantora britânica Adele, sendo um deles enunciado
pela própria cantora e o outro por sua estilista. Para tanto, buscou-se observar como se
constituiu o discurso sobre o corpo gordo e as condições que viabilizaram transformações
discursivas que inauguram, neste século XXI, a nomenclatura plus size. À luz dos estudos de
Michel Foucault e Jean-Jacques Courtine, a pesquisa considera o corpo gordo, chamado plus
size pelo mercado da moda, como um local de inscrição discursiva. Nesse sentido, pode-se
dizer que o sujeito gordo/plus size é um constructo histórico social, produto de todos os
discursos já proferidos e instituídos sobre o gordo/ gordura ao logo do tempo. Mediante a
perspectiva foucaultiana de arquivo, os discursos sobre a gordura resultam de um conjunto de
enunciados sobre ela que em determinados momentos funcionam e por isso emergem sem, no
entanto, deixarem de existir logo depois. Os mesmos enunciados podem ser retomados em
outros momentos, desde que haja condições para que sejam novamente enunciados. Esse
conjunto de dizeres acerca de quem é gordo ou não em cada período objetiva os sujeitos a se
subjetivarem como gordos. No século XXI, os discursos sobre o corpo gordo retomam
enunciados anteriores, ao mesmo tempo, inauguram uma nova nomenclatura o plus size.
Literalmente o termo significa ‘mais tamanho’, ou seja, manequins acima do tamanho 44. A
análise dos dizeres da cantora Adele e de sua estilista revela que em seus enunciados pode ser
percebida a presença de discursos anteriores que aparecem (re)formulados na
contemporaneidade, já que a cantora é chamada de plus size porque está acima do peso
recomendado pela medicina e usa manequim 44, um tamanho que considerado incompatível
99
com sua posição sujeito artista. Os enunciados presentes nas declarações de Adele e de sua
estilista contribuem para a objetivação/subjetivação da cantora como sujeito gordo.

A POLÊMICA EM TORNO DA EXPRESSÃO "A PRESIDENTA"

Moisés Laert Pinto Terceiro


(Universidade Federal do Triângulo Mineiro)

Por ocasião das eleições presidenciais de 2010, após a qual se sagrou eleita a candidata do
Partido dos Trabalhadores, uma ex-combatente ao Regime Militar, Dilma Rousseff, surge
uma polêmica que implica questões da ordem da linguagem. Tal polêmica irrompe quando a
candidata escolhe ser tratada como “a presidenta”, no lugar de “a presidente”. A escolha, por
mais “inocente’ que pudesse parecer, bastou para que o alvoroço se instalasse na imprensa,
com calorosas manifestações contra e em favor da escolha feita por Dilma. Os que defendiam
o uso da expressão afirmavam que o emprego era correto, abonado até mesmo pela gramática
normativa; os que o condenavam chegaram a dizer que não passava de mais uma ‘invenção”
petista. Partindo de indagações próprias dos estudos do discurso e com o objetivo de analisar
essa polêmica, reunimos um corpus constituído de textos colhidos em veículos de
comunicação de grande alcance, como o Jornal Folha de São Paulo, a revista Carta Capital, o
portal eletrônico do Terra Magazine, entre outros blogs e sites de livre acesso. Para analisá-lo,
trabalhamos com o quadro teórico-metodológico da Análise do Discurso de linha francesa
(AD), em especial as categorias de análise presentes nos trabalhos de Dominique
Maingueneau, tais como ethos, heterogeneidade constitutiva, heterogeneidade mostrada,
simulacro e destacabilidade. A análise revela dois posicionamentos (discursos) que
constroem/determinam sua identidade por meio da relação polêmica que estabelecem entre si,
o que comprova o primado do interdiscurso sobre o discurso. As diferenças que ocorrem nas
formas de nomear Dilma Rousseff, de fazer remissão à figura da presidenta, podem ser
explicadas levando em conta o lugar de onde enunciam os sujeitos de cada discurso, o
posicionamento que assumem no espaço da polêmica. Analisar e expor como se processa a
relação polêmica nos permite ler os textos em questão com mais atenção às intenções por eles
veiculadas.

RESUMO E PRÁTICA ESCOLAR: A QUESTÃO DO GÊNERO

Morgana Maciel de Oliveira Souza


Marcos Lúcio de Sousa Góis
(Universidade Federal da Grande Dourados)

O resumo é, enquanto prática escolar, uma atividade de compreensão orientada com o


objetivo de verificar se o aluno é capaz de compreender as informações consideradas
relevantes em texto-fonte e de condensá-las, levando em consideração seus destinatários e seu
contexto. Esta comunicação pretende discutir, amparada teoricamente na Análise do Discurso
Francesa, como essa prática discursiva apresentou-se na prova de vestibular da EaD–UFGD
de 2012. Para tanto, partir-se-á da proposição de que um gênero não está limitado à estrutura
do texto nem à significação denotativa das palavras, e sim que seu sentido é produzido
segundo o lugar discursivo dos sujeitos e sua condição de produção, portanto, seu sentido não
está na materialidade mas fora dela, no discurso. Assim, entende-se que, ao produzir um
gênero resumo, suas palavras serão frutos de diferentes discursos gerados a partir de seu
100
contexto social. Nesse sentido, se resumir consiste na sumarização de informações
importantes de dado texto, por que os candidatos supostamente recém-egressos do ensino
médio tem dificuldades em fazê-lo? Afinal, se esta é uma prática aplicada na escola como
avaliação de ensino-aprendizagem, o que realmente se compreende do que se ensina na
escola? Na tentativa de responder a essas perguntas, a apresentação partirá da análise
quantitativa de dados estatísticos gerados a partir de análises de redações aplicadas em nove
cidades de Mato Grosso do Sul. Analisar-se-á a média de notas, se houve fuga ao tema ou ao
gênero, etc., a fim de verificar como os vestibulandos se saíram ao produzir o gênero em
questão. Espera-se, com esta comunicação, contribuir para melhor entendimento das práticas
ligadas à produção de textual nas escolas.

A LEITURA (DIS)TRAÍDA

Natal Canalle Junior


(UFFS)

Este trabalho tem como objetivo analisar o texto crítico ‘A leitura distraída’, de Bernardo
Carvalho, publicado como posfácio do livro Ninguém, nada, nunca, do escritor argentino Juan
José Saer. O romance foi traduzido por Carvalho e publicado no Brasil em 1997 pela
Companhia das Letras. A leitura do texto nos leva a perguntas como: de que modo o sujeito
crítico se constitui? O que ele formula? Estas questões nos fazem pensar as condições de
produção da crítica, conceito fundamental para Análise de Discurso de orientação
pêcheuxtiana (França) e de Eni Orlandi (Brasil), teorias nas quais nos inscrevemos. A partir
da análise das condições de produção compreenderemos o funcionamento das discursividades
presentes no texto. Nos chama atenção o fato de Carvalho assumir uma posição-sujeito crítico
que se constitui sem o uso de teorias/teóricos da literatura; Carvalho se restringe a Alain
Robbe-Grillet e o Nouveau Roman. Carvalho se constitui a partir da materialidade que lê, por
exemplo: O trecho do salva-vidas lendo o gibi é exemplar. No centro do romance há uma
longa passagem em que, pela primeira vez, a narrativa se torna linear e contínua para
explicar o enredo (p. 228). Numa análise inicial, observamos que o crítico coloca em cena
conceitos do campo da física, como no trecho: Em Juan José Saer, ao contrário, a força dos
pampas é centrípeta [...] Isso não significa que esse escritor [...] esteja preso aos limites da
busca das raízes e tradições nacionais e regionais. Em Saer, a força se inverte para dentro,
mas os pampas continuam sendo um território vazio, muito mais físico e geográfico do que
histórico (p. 223). Para Carvalho, a narrativa física de Saer põe em cheque uma tradição
narrativa, que entende o ato de narrar como forma de passar dos planos gerais aos detalhes
intimistas, pois conforme o crítico, a partir do momento em que tudo é físico, a descrição do
plano geral já é o detalhe intimista (p. 224). Segundo Carvalho, a discussão de Saer não se
limita à busca de identidade e tradição, visto que a terra retratada por Saer não pode ser a
base das raízes, o lastro das identidades e das tradições nacionais, porque é um terreno
movediço (p. 223). Enfim, olhar para as condições de produção nos possibilitará pensar a
historicidade deste texto crítico, bem como, o lugar (Posfácio) da crítica em relação ao texto.

101
CINEMA E CANÇÃO: ANÁLISE DIALÓGICA DO FILME MUSICAL ACROSS THE
UNIVERSE

Nicole Mioni Serni


(UNESP Araraquara)

A partir dos estudos do Círculo Bakhtin, Medvedev, Volochinov esta pesquisa realiza uma
análise dialógica do filme musical Across the Universe, (2007) de Julie Taymor, e tem como
objetivo refletir acerca da constituição da arquitetônica do filme musical como tipo peculiar
do gênero cinema, composto como intergenérico, interdiscursivo e intertextual, assim como
analisar de que maneira o filme em questão incorpora as canções de The Beatles como tema
de seu discurso e também compreender, por meio da análise dialógica discursiva, as relações
existentes no filme Across the Universe com as questões políticas e sociais norte americanas
dos anos sessenta e com alguns acontecimentos contemporâneos. O filme escolhido possui em
sua trama apenas canções da banda britânica The Beatles. As canções inseridas no filme
dialogam com o contexto dos músicos bem como apresentam características musicais de
revisitação destas, típicas do momento histórico de produção do filme, e se encaixam no
discurso do sujeito que as interpreta no enredo. As canções e as situações escolhidas para
serem cantadas, em cada momento específico do filme, acontecem em relações dialógicas,
entre os sujeitos e as letras das canções, entre as canções e a situação pela qual as personagens
passam no musical. Estudar o diálogo no interior da construção do cinema, que possui, em sua
composição, outros gêneros (música, canção, dança, fotografia etc), é relevante para o estudo
dos gêneros discursivos (no caso do presente trabalho, calcado na abordagem dialógica do
Círculo) e para a compreensão de como o cinema (enquanto gênero discursivo) constitui-se,
necessariamente, de outros gêneros. Para Bakhtin, o diálogo é a interação verbal em sentido
amplo, pois a comunicação se constrói não apenas em voz alta, na interação face a face, mas
também por meio daquilo que não foi dito, do se encontra na memória, do que se espera que
seja respondido e do que de fato se responde. Os gêneros discursivos nos estudos de Bakhtin
são compreendidos como relativamente estáveis, pois se encontram em movimento, ou seja,
não existe gênero acabado, fechado, mas em processo de acabamento. Da mesma maneira a
análise de Across the Universe não busca finalizar um acabamento para este gênero, mas sim
estudar as particularidades do corpus, como exemplar do gênero cinema, tipo musical, com
seus diálogos e relações, sempre em movimento.

A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE(S) NA APRENDIZAGEM DE ESPANHOL NO


BRASIL E PORTUGUÊS NA ARGENTINA

Nildicéia Aparecida Rocha


(FCLAr/UNESP)

Na perspectiva discursiva, de linha francesa e segundo estudos realizados por Hall (2002),
Souza Santos (2005) dentre outros, que vêm analisando o conceito de identidade, assim como
os estudos de Celada (2002, 2009, 2010), Serrani (1997, 2003, 2005) e Zoppi-Fontana (2009),
quanto à aprendizagem de Língua Estrangeira, verifica-se que a construção da identidade se
dá em processo de constante reconfiguração, uma vez que aprender outra língua implica
entrar em contato com outros modos de ver e de nomear o mundo, e deste modo faz-se
necessário “deslocar-se” de si mesmo e reconfigurar-se com relação ao(s) outro(s) falante(s)
desta outra língua a ser aprendida. Aqui, trata-se de aprender línguas próximas: português e
espanhol, com traços linguístico-discursivos de aproximações e de deslocamentos. Este
102
estudo focaliza as estratégias desenvolvidas em um projeto de pesquisa que tem como
objetivos: verificar como acontece atualmente a constituição da(s) identidade(s) na
aprendizagem de Espanhol Língua Estrangeira (ELE) no Brasil e de Português Língua
Estrangeira (PLE) na Argentina; observar contextos de ensino, os quais possibilitam a
inserção do futuro professor de Português (PLE) na Argentina e do futuro professor de
Espanhol (ELE), considerando as Leis brasileira e argentina que determinam a oferta do
ensino das referidas línguas: Ley 26.468, de enero de 2009, que determina la oferta
obligatoria del Portugués en Argentina e a Lei no. 11.161, de agosto de 2005, sobre o ensino
de Língua Espanhola no Brasil; construir marco de referência ou categorias interpretativas
sobre os dados coletados, principalmente quanto à construção ou re-construção da(s)
identidade(s) na formação dos professores de PLE, no Brasil, e de ELE, na Argentina no atual
processo de implantação formal do ensino destas línguas. A metodologia utilizada pressupõe
como principais instrumentos: entrevistas, questionário e análise dos dados coletados.
Espera-se, com este estudo, contribuir na reflexão e implantação desta nova área no contexto
latino-americano, ou seja, de ELE no Brasil e de PLE na Argentina.

SABER, PODER E SI CONTEMPORÂNEOS, EM JOGOS DISCURSIVOS DE ‘A


VOZ DAS RUAS’

Nirce Aparecida Ferreira Silvério


(UFU)

A manifestação popular contra o aumento da tarifa de ônibus, ocorrida no dia 13 de junho de


2013, em São Paulo, foi reprimida, violentamente, pela polícia, como se ainda estivéssemos
na ditadura militar. Em consequência veio o que parecia ser a resposta a esta repressão, houve
nova passeata no dia 17 de junho de 2013, que espalhou encanto para a maioria dos brasileiros
e também desprezo e escárnio a uns poucos que depois, se não sentiram temor, pelo menos
ficaram preocupados. O acontecimento continuou, as manifestações continuaram; parece que
muitos dos submetidos a uma repressão histórica (econômica, social, política, cultural) saíram
para protestar, foram se mostrar. As ruas continuaram cheias de gente, em mais cidades do
país (grandes, médias, pequenas); nos dias 18, 19, 20 e 21. Neste último dia a presidente
Dilma fez um pronunciamento. No dia 22, as manifestações foram mais brandas, recuaram
para descanso. As vozes que queriam se fazer ouvir, foram poder que surpreendeu e inquietou
a mídia, os políticos, os administradores da Fifa, e não fez com que deputados e senadores se
reunissem no congresso, pois na ocasião, a maioria estava viajando. Contudo, querendo ou
não, saíram um pouco de seus lugares costumeiros: a mídia, coagida a mostrar o
acontecimento; os administradores da Fifa, que criticaram, exigiram ordem, ameaçaram
cancelar a copa no Brasil e depois se retrataram (um dos protestos dos manifestantes era
contra os gastos com obras para a copa de 2014); e políticos que parecem querer dialogar e
representar, movimentaram-se mais que o usual buscando ouvir e agir à luz das
manifestações. O movimento popular que se constituiu, então, parece não ter acabado, está na
história, se fazendo no discurso, por isso nos propomos a analisar este acontecimento e
contemplá-lo em jogos discursivos. Procederemos teórico-metodologicamente, considerando
as materialidades discursivas produzidas nas manifestações como: os passos, o corpo, os
cartazes, o aglomerado de pessoas se representando materializadas em imagens e comentários
midiáticos e o pronunciamento de Dilma Roussef, inserido neste contexto. Dessa forma,
buscaremos compreender as relações discursivas de saber, poder e si produzidas no discurso a
partir das manifestações populares de junho de 2013 e associá-las à contemporaneidade. Este

103
estudo se baliza na análise do discurso derivada dos estudos de Pêcheux e Foucault, bem
como de seus desenvolvimentos nos estudos brasileiros.

CHEINHA OU MAGÉRRIMA? DISCURSO, CORPO E SENTIDOS SOBRE A


MULHER EM ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS

Palmira Virginia Bahia Heine Alvarez


(Universidade Estadual de Fiera de Santana)

O presente trabalho tem como base teórica a Análise de Discurso de linha francesa e objetiva
debater sobre a construção discursiva da beleza feminina, a partir do cotejo entre duas
propagandas de diferentes épocas e em cujas materialidades são apresentadas imagens do
corpo da mulher. Na primeira, que foi veiculada em jornais da década de 50, a construção do
corpo feminino e, consequentemente, da beleza, tem relação com as questões ideológicas que
versam sobre os padrões estéticos da época em que a mulher deveria ser bela para atrair um
bom casamento. Na segunda, que foi veiculada na década de 90, o corpo feminino também é
mostrado, mas o sentido de beleza é sensivelmente modificado pois se adequa aos padrões de
beleza feminina vigentes na época e que se perpetuam até os dias atuais. Partindo-se do
princípio de que a língua é constitutivamente sujeita ao equívoco (PECHEUX, 1997) e de que
a mesma "constitui o lugar material onde se realizam os efeitos de sentidos" (Pêcheux, 1997,
p.172), é que se pretende observar e analisar os deslizamentos de sentido que recobrem o
funcionamento discursivo dos signos corpo, beleza, magreza nas referidas propagandas.
Objetiva-se também problematizar o modo como os efeitos de sentido construídos nessas
propagandas surgem a partir dos já-ditos sobre a beleza e o corpo feminino, procurando
relacioná-los aos elementos do interdiscurso deles constitutivos, uma vez que, segundo
Pêcheux (1997, p.178) "o não afirmado precede o afirmado".Partindo-se do princípio de que
os sentidos das expressões linguísticas são derivados das formações discursivas nas quais
essas expressões se inserem, é possível inferir sobre os deslizamentos de sentidos nos
diferentes períodos históricos analisados, ou seja, a década de 50 e a década de 90, o que
revela que o sistema linguístico não é completamente autônomo, como já a firmava Pêcheux,
e que entender a língua como sistema estritamente formal não é suficiente para explicitar as
relações de sentido entre diferentes palavras. Pêcheux (1997, p. 169) já dizia que "o sentido
de uma sequência só é materialmente concebível na medida em que se concebe essa sequência
como pertencente necessariamente a esta ou aquela formação discursiva". Tal afirmação já
revelava ideia peuchetiana de que a língua é um sistema que não possui completa autonomia,
pois é constitutivamente marcado pela história e pela ideologia. Desse modo, pretende-se
problematizar sobre as idéias de corpo e beleza feminina partindo do princípio que estes são
compreendidos como constructos históricos e ideológicos que constituem a ideia do que é ser
mulher no discurso.

CAIO E CLARICE COMPARTILHADOS: UMA ANÁLISE DOS PROCEDIMENTOS


DE (RE)FORMULAÇÃO DOS ENUNCIADOS LITERÁRIOS NAS REDES SOCIAIS

Pâmela da Silva Rosin


(UFSCar)

Neste trabalho apresentamos os resultados parciais da análise que estamos desenvolvendo no


projeto de pesquisa de Iniciação Científica intitulada “Práticas de escrita e leitura na rede:
104
uma análise das mensagens compartilhadas e dos procedimentos de sua formulação e
circulação linguístico-discursivas”. Nosso corpus é constituído de frases que circulam nas
redes sociais, particularmente, no Facebook, com a finalidade de expressar pequenas doses
diárias de sabedoria, como minutos de sabedoria. Essas frases são oriundas de diferentes
gêneros, sendo recortadas de obras literárias, entrevistas, correspondências, entre outros, de
diversos autores contemporâneos. Em nossa análise, selecionamos as mensagens da página
intitulada “O mundo de Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector” disponível em
http://www.facebook.com/mundodecaioeclarice na qual figuram enunciados atribuídos a esses
dois autores contemporâneos, muito citados nas redes sociais. Realizamos um levantamento e
análise desses enunciados observando particularmente seu modo de funcionamento e sua
constituição, através das estratégias de seleção, destacamento, adaptação e ilustração que os
alteram formalmente e que passam a circular sob a forma de frases 'independentes', que se
assemelham em muito a ditados populares, lugares comuns e até mesmo a mensagens com a
finalidade de autoajuda. As mutações que esses textos sofrem ao figurarem como mensagens
nessas páginas, juntamente com sua articulação com imagens, os comentários realizados pelos
membros das redes sociais na própria postagem da página acerca desses textos, legitimando
ou não essa prática de apropriação e destacamento de enunciados de textos de autores
literários, serão as fontes que nos fornecerão dados para nossa apreensão de representações
dos leitores contemporâneos. Em nossa análise, apoiamo-nos na perspectiva teórica da
Análise do Discurso de linha francesa segundo a qual todo dizer e todo interpretar é
controlado, tal como manifesto especialmente por Michel Foucault em A ordem do discurso, e
por Michel Pêcheux em O discurso: estrutura ou acontecimento. Apoiamo-nos ainda em
alguns princípios da História Cultural da leitura tal como preconizados na obra de Roger
Chartier A ordem dos livros e no livro Os desafios da escrita, de modo a discutirmos os
princípios que regulam tanto a formulação desses enunciados quanto sua circulação,
refletindo sobre as práticas contemporâneas de escrita e de leitura de textos em geral, e de
textos autores literários em especial.

UM OLHAR DISCURSIVO NOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS DA DÉCADA DE 1960

Patrícia Cardoso
(UNICENTRO)

Somos convidados a olhar para os acontecimentos discursivos e para as regras de


funcionamento de discursos que viabilizaram o desenvolvimento da disciplina da Linguística
no Brasil. Assumindo uma perspectiva teórica que se insere na Análise do Discurso de
orientação francesa, e acionando os conceitos de enunciado e de memória discursiva,
analisamos os efeitos de sentidos e de sujeito (re)produzidos em artigos acadêmicos
publicados em revistas científicas, notadamente na década de 1960. Procuramos, diante desse
corpus, descrever e analisar enunciados que contribuíram para a institucionalização dos
estudos linguísticos no Brasil. Como ocorreram as modificações no regime dos saberes sobre
a linguagem? Quais as redes de memória, tramadas em relações de poder-saber, que definiram
os discursos? Na tentativa de responder a tais questionamentos, impõe-se o legado de Mattoso
Câmara Junior, na medida em que o trabalho desse linguista se fundamenta como um domínio
de memória organizado num momento sócio-histórico em que era caro e arriscado se pensar
numa teoria Linguística. Nosso trajeto de análise volta-se para as condições de existência dos
enunciados que desestabilizaram certezas e romperam o percurso teórico dos estudos da
língua(gem) em desenvolvimento naquela época. Recortamos de nosso material de análise
artigos publicados no periódico da Revista Letras do Setor de Ciências Humanas, Letras e
105
Artes da Universidade Federal do Paraná, criada em 1953. Nesse recorte, elegemos a
produção acadêmica realizada ao longo da década de 1960, porque, nessa época a Linguística
se apresentava como um novo campo de estudo, inaugurando (institucionalmente) um olhar
sobre a língua(gem) apartado da tradição normativa, da investigação da linguagem enquanto
fenômeno biológico, da tradição do fenômeno filosófico grego e, principalmente, da tradição
filológica, então dominante no país. Nosso gesto de interpretação diante dessas materialidades
e da historicidade ali convocada dá visibilidade à formação do arquivo sobre a Linguística no
Brasil. Rastreando citações, alusões e referência ao fundador da ABRALIN (Associação
Brasileira de Linguística) percebemos que a institucionalização da disciplina se deu em
relações de poder-saber e em função da propagação de discursos acadêmicos sócio-
historicamente agenciados. Percorremos, por fim, por caminhos pouco explorados na
expectativa de compreendermos as maneiras pelas quais o conhecimento linguístico se
produziu, desenvolveu-se, foi divulgado e percebido. Reconstituímos um trajeto que propiciou
o aflorar de alguns acontecimentos discursivos e o apagamento de outros cujos resultados
apontam para o estado atual dos estudos linguísticos nas suas diversas especificidades.

A VOZ QUE CANTA NA VOZ QUE FALA: POÉTICA E POLÍTICA NA


TRAJETÓRIA DE GILBERTO GIL

Pedro Henrique Varoni de Carvalho


(UFSCar)

Pretendemos apresentar a análise da cartografia de um sujeito do discurso, Gilberto Gil que


embasa nossa pesquisa de Doutorado. Assim, tomamos como ponto de partida um
acontecimento discursivo, o tropicalismo, até o inicio da gestão de Gilberto Gil como
Ministro da Cultura do Governo Lula, entre os anos 2003 e 2008. Interessa-nos perceber o
trânsito entre dois lugares enunciativos- ocupados pelo compositor popular e pelo Ministro.
Nesse trajeto, buscamos refletir sobre o funcionamento do arquivo de brasilidade, a partir das
relações entre arte e política desde o contexto de implantação da ditadura militar até a chegada
ao poder de Luiz Inácio Lula da Silva.Nosso referencial teórico é a Análise do Discurso de
vertente francesa que fornece os principais conceitos utilizados na análise tais como
enunciado, formação discursiva, arquivo, interdiscurso e intradiscurso.São instrumentos que
permitem perceber as relações de saber-poder envolvidas na atividade da canção popular e
como elas contribuem para a produção de subjetividades na sociedade brasileira.Nosso corpus
de análise são as canções e pronunciamentos do Ministro, pensados como manifestações
sincréticas, verbais e não verbais. Propomos, ainda, uma aproximação com a obra de
pesquisadores brasileiros que trabalham numa abordagem histórica, a canção brasileira, tais
como Luís Tatit. A partir do entendimento do fenômeno da canção como uma “rede de
recados” buscamos pensar, de um ponto de vista discursivo, a relação entre a voz que fala e a
voz que canta, procurando problematizar o caminho do artista em direção ao Ministério como
um processo inverso. A voz que canta conduz a voz que fala na política, fornecendo,
inclusive, um lastro tropicalista-antropofágico ao Governo Lula, sobretudo no que se refere a
um novo lugar institucional do Brasil na sociedade globalizada. A trajetória de Gilberto Gil
exemplifica, assim, a forma como a canção popular se tornou uma das mais potentes
produções discursivas no interior do arquivo de brasilidade. Nossa pesquisa busca, ainda,
problematizar a noção de arquivo de brasilidade como uma metodologia que permite pensar a
relação entre a formação dos enunciados e seu funcionamento. O acontecimento discursivo
tropicalista se liga a séries históricas que o antecederam - como o modernismo e o surgimento
do samba - e é atualizado em novas formulações no intervalo histórico entre o final dos anos
106
1960 e os primeiros anos do século XXI. Através da descrição e interpretação dessas séries
históricas descontinuas refletimos sobre a relação entre arte, mídia e política nos anos mais
recentes do país.

REPRESENTAÇÕES DE LEITURA INSCRITAS NA SEÇÃO "DICAS DE QUEM JÁ


LEU" DO BLOG DO GALENO

Rafael Borges Ribeiro dos Santos


(UFSCar)

O trabalho ora proposto se trata de resultados parciais de uma Iniciação Científica em que
temos buscado realizar um levantamento de dados acerca do que leem e como leem pessoas
que gozam de uma dada visibilidade nas mídias (como internet, televisão, rádio, revista e
jornal) as quais, exatamente em função de serem pessoas públicas e famosas, são consultadas
sobre seus gostos e gestos de leitura. Nesse sentido, selecionamos como objeto de análise o
blog do Galeno, mais especificamente a seção intitulada “Dicas de quem já leu”, composta
atualmente por 370 comentários de personalidades públicas, a partir dos quais temos
constituído nosso corpus. Esses comentários se compõem muitas vezes pelo discurso direto
desses sujeitos, coletados de diversos meios como jornais, revistas, etc. marcado por aspas,
com vista a evidenciar a autenticidade do dizer no blog. Outras vezes, se constituem de
descrições de autores dos livros citados (informações biográficas) e mesmo dos próprios
sujeitos leitores, destacando suas qualidades como bons leitores. Assim, nosso objetivo
principal tem sido o de apreender indícios acerca das práticas de leitura das quais esses
sujeitos se valem e das representações discursivas que compartilham sobre o que é a leitura,
do que é ser leitor, de quais são os livros que merecem ser declarados como livros lidos e o
que dizem sobre os livros hipoteticamente lidos cuja leitura essas personalidades
recomendam. Temos buscado descrever em nossas análises as representações discursivas que
norteiam esses comentários, de modo a compreendermos quais são os discursos mais
presentes sobre a leitura que constituem o imaginário sobre essa prática e que são
constantemente reatualizados no que se afirma sobre a leitura, em especial por não-
especialistas, no que concerne às formas de leitura que são consideradas legítimas (ou não) na
atualidade, aos mitos/crenças/concepções/teorias sobre a leitura em que essas “dicas” se
apoiam, e ainda ao quê e como imagina se dever ler hoje etc. Para tanto, por meio de uma
análise geral do blog, temos buscado mapear e categorizar os tipos de comentários que por
suas especificidades permitem ser reagrupados, de forma a analisá-los a partir de suas
regularidades quanto aos discursos sobre a leitura que os fomentam. Assim, subsidiados
teoricamente pela Análise do Discurso de linha francesa e por alguns princípios da História
Cultural da leitura, pretendemos discutir que discursos constituem o imaginário sobre a leitura
entre esse público que ‘indica o que ler’ e que práticas de leitura são declaradas/representadas
por eles.

A MUDANÇA DE IDENTIDADE E O LADO FEMININO NO DISCURSO POLÍTICO

Rafael Furlan Lo Giudice


(UNIFRAN)

O presente trabalho pretende fazer uma análise discursiva do discurso político, em especial o
da presidenta da República Dilma Rousseff, observando os efeitos de sentido do discurso de
107
comoção diante da tragédia da boate Kiss. Para isso, tomaremos como corpus, o
pronunciamento de Dilma, frente ao incêndio na boate, em Santa Maria, Rio Grande do Sul,
presente no videocast: http://www.youtube.com/watch?v=qRltah364X4. Percebe-se nesse
pronunciamento que o lado feminino de Dilma fica mais evidente e seu discurso torna-se mais
sensível e emotivo, no momento em que a presidenta fala exercendo o papel de cidadã, mas
ao mesmo tempo coloca-se como mãe frente ao ocorrido. Em quase todos os discursos
proferidos pela presidenta Dilma emergem apenas os trações da mulher guerreira,
batalhadora, o que pode levar a relacionarmos o seu perfil com o de Anita Garibaldi. Outra
estratégia discursiva que traz esse pronunciamento é a construção de sentidos da fala da
presidente, as quais refletem diretamente na conjuntura sócio-política do Brasil. A
metodologia que sustenta esse trabalho é baseada na linha francesa da Análise do Discurso e
nos estudos discursivos de Patrick Charaudeau. O discurso sobre a tragédia da boate Kiss em
Santa Maria realizado por Dilma, parece ressiginificar a identidade até então circulante
principalmente na mídia sobre “a presidenta”. Uma identidade de mulher forte, pouco emotiva
ora como guerrilheira ora como agente, politizada, ativa na vida pública, contestadora.
Entretanto, o lado feminino, frágil e emotivo pertencente principalmente as mulheres-mães
diante dos filhos em situação de perigo não aparecia na maior parte de seus discursos. Esse
pronunciamento parece ser um marco divisório, em que faz emergir uma “nova” faceta à
identidade da presidenta, mulher, mãe, sensível, protetora, afetuosa, zelosa pela integridade de
seus filhos. Nesse sentido poderíamos inferir que, enquanto presidenta, assume nesse discurso
uma identidade híbrida e heterogênea não só como uma mulher estadista, cidadã e
responsável por uma nação, mas também como mãe dos brasileiros.

COMO ANALISAR REPORTAGENS TELEVISIVAS? UMA BREVE PROPOSTA DE


ANÁLISE DAS NARRATIVAS TELEVISUAIS

Rafael Magalhães Angrisano1


(CEFET-MG)

Na era da midiatização, em que imperam as mediações no contexto sócio-simbólico,


prevalece a ideologia representacional. A midiatização vem tentando se legitimar, criando
uma proposta de real que quer ser o tempo todo afirmado como o único e verdadeiro real. A
partir desse contexto, queremos entender como se desenvolve o ethos discursivo dos
telejornais nas narrativas jornalísticas da televisão. Nesta pesquisa tivemos o intuito de propor
um modelo conceitual-metodológico para análise de reportagens tele jornalísticas, articulando
conceitos sociais e discursivos na reflexão de aspectos analíticos. Foi realizada discussão
teórica que segue um fio condutor em três tópicos: a sociedade midiatizada e a televisão; as
representações dos acontecimentos; além da proposta de algumas categorias de análise de
reportagens televisuais, pautadas em conceitos da Teoria Semiolinguística. A articulação entre
a Teoria Semiolinguística e o telejornalismo é de certo modo recente. Entendemos que a inter-
relação de algumas teorias da Comunicação e essa vertente da Análise do Discurso possa
revelar a identidade midiático-discursiva das reportagens televisuais, observando os
elementos narrativos e as estratégias icônico-verbais de encenação, de modo a compreender as
intenções das emissoras, a instauração de significados e as formas de afetação previstas sobre
os telespectadores. Elaboramos operadores analíticos para a construção de mapas de
1
Mestrando em Estudos de Linguagens do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-
MG), bolsista Capes.
e-mail: rafaelangrisano@yahoo.com.br

108
codificação, observando as estratégias utilizadas pelo dispositivo televisivo para alcançar os
efeitos desejados, a partir dos modos de organização próprios do discurso tele jornalístico. A
pergunta é: quais os efeitos visados (as intencionalidades comunicativas) dos telejornais na
construção dos acontecimentos e como os telejornais utilizam dos efeitos de real, ficção e
verdade para atingir essas visadas? No aspecto verbal, os operadores de análise seguiram os
Modos de Organização do Discurso, à luz da Teoria Semiolinguística aliada aos conceitos
expostos na discussão teórica. Na parte visual de análise dos telejornais, estendemos um olhar
para as formas de narrativa através de imagens, passando pela Semiótica, na tentativa de
identificar valores icônicos, indiciais ou simbólicos nas imagens. A partir dessa
fundamentação conceitual-metodológica, tem-se a pretensão de realizar trabalhos futuros que
desvendem os modos e as condições em que se realizam as narrativas jornalísticas nas
produções televisuais de informação de Minas Gerais.

O CARICATO DO BAIANO: REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA EM ANÚNCIOS DE


TURISMO

Reginete de Jesus Lopes Meira1


(UEFS)

Sabe-se que o trabalho simbólico do discurso está na base da produção da existência humana.
Levando em conta o homem na sua história, a Análise de Discurso de linha francesa, escopo
teórico no qual está centrado esse trabalho, considera os processos e as condições de produção
de linguagem, pela análise da relação estabelecida pela língua com os sujeitos que falam e as
situações histórico e ideológicas em que se produz o dizer. Desta forma, o anuncio
publicitário exerce o papel de difusor de discursos com os quais o ser humano pode entrar em
contato, fazendo circular certas imagens discursivas e ideológicas e certos estereótipos sobre
diversos grupos sociais que nele são representados. No caso de anúncios publicitários de
viagens, é possível perceber que no discurso usado, não é feito somente a propaganda dos
pontos turísticos a serem visitados, ou apenas do clima, e comidas, etc., mas também é
vendida a imagem das pessoas que habitam esse lugar de destino, neste caso dos baianos. A
Bahia é um lugar que carrega por causa da sua história e cultura, algo muito particular que
termina configurando discursivamente a noção de que todos os baianos são pessoas festeiras,
que não possuem disposição para o trabalho, sendo alegres, religiosas, místicas, camaradas e,
principalmente, preguiçosas. Essa construção discursiva da imagem dos baianos é decorrente
do processos ideológicos de identificação e desidentificação dos sujeitos com certas posições
discursivas no decorrer do tempo. Desse modo, este trabalho busca analisar o discurso
construído em anúncios publicitários, na tentativa de desmitificar a imagem estereotipada do
baiano, incluindo a possibilidade de relacionar a baianidade com outras características como:
a de povo trabalhador, hospitaleiro, esforçado, caprichoso, etc. Ele justifica- se pelo fato de
contribuir para a compreensão dos modos representativos do discurso baiano e nacional,
auxiliando no entendimento da função do discurso e sua relevância no processo de construção
da imagem do sujeito com base na Analise de discurso francesa.

1 Mestranda em Estudos Linguísticos, do programa de pós graduação da Universidade Estadual de Feira De


Santana – UEFS.
e- mail: gigikiss2006@hotmail.com

109
O ANALISTA DE DISCURSOS NO ATELIÊ:
A ARTE SOB A ÓTICA DISCURSIVA

Renan Mazzola
(UNESP Araraquara)

Esta comunicação intenciona compreender a dimensão discursiva das pinturas por meio da
análise do discurso francesa ancorada em Michel Pêcheux e Michel Foucault. Para isso,
recorta-se a figura do espelho em pinturas canônicas com vistas a observar seu funcionamento
discursivo enquanto elemento do enunciado artístico visual. Uma pergunta que atravessa essa
reflexão é: como a análise do discurso pode abordar objetos que não possuem inscrições
linguísticas explícitas, como é o caso das pinturas? Pergunta aparentemente simples, ela gera
uma série de outras questões quando se confronta um objeto exclusivamente visual com o
quadro teórico e metodológico desse domínio do saber. Algumas delas são: a) de que análise
do discurso estamos falando? b) na teoria, é possível tomarmos a pintura em sua materialidade
discursiva? c) esse objeto coloca problemas para a teoria, ajuda a desenvolvê-la?
Primeiramente, nesta comunicação, determinaremos o lugar ocupado pelo discurso estético
nos trabalhos de Michel Pêcheux e de Michel Foucault. Em um segundo momento,
concentrar-nos-emos na análise de três pinturas europeias, a saber, As meninas, de Velásquez;
Um bar em Folies-Bergère, de Manet; e As ligações perigosas, de Magritte. Em um terceiro
momento, por fim, discutiremos a intersecção entre visualidade e interdiscursividade a partir
a) das reflexões de Michel Foucault acerca do discurso estético e b) da figura do espelho
presente nessas pinturas. A história da análise do discurso reflete as mutações em seu objeto, e
os diálogos com Michel Foucault, bem como a problematização de uma semiologia histórica,
auxiliam na compreensão da materialidade visual do discurso. A partir dessas ancoragens (em
Foucault, de um lado, e em Courtine, de outro) tomamos a figura do espelho, em diversas
pinturas, enquanto elemento do enunciado visual, responsável por ativar memórias e
mobilizar discursos. A atuação de elementos da materialidade visual na rede interdiscursiva
coloca a arte em terreno interpretável num certo momento histórico.

O ESPAÇO DE DISCURSIVADADE NAS LITOGRAFIAS DA REVISTA


ILLUSTRADA DO SÉCULO XIX

Rilmara Rôsy LIMA


(UFSCar- PPGL)

A Análise do Discurso de orientação francesa, doravante, AD, toma a leitura como um


trabalho complexo da interpretação. Essa complexidade deve-se ao fato de que a elaboração
de materialidades discursivas (texto, discurso, imagem) propiciam efeitos de sentidos
variados, efeitos estes que, essencialmente, não se desligam das condições de produção do
dizer de uma data época, de um dado lugar, em determinada superfície material. Por
considerar que nenhum discurso é neutro, parece impossível não levar em conta que a escrita
jornalística é construída a partir do lugar social ocupado pelo sujeito que a produz – na ilusão
de autoria de seu próprio texto -, assim como pelas características dos periódicos onde é
publicada e sua forma de distribuição. A imprensa foi um dos mais poderosos meios de
crítica ao regime imperial. Nela, se sobressaíram caricaturistas como Angelo Agostini e sua
Revista Ilustrada. O humor, presente nas charges e caricaturas publicadas em jornais e
revistas, tinha grande impacto social e político, já que gerava protestos e apoios. Em resumo,
formava a opinião pública. Tendo dito isso, podemos pensar a litografia, no caso aqui
110
abordado, da Revista Illustrada, como uma superfície material, tanto quanto o discurso, que se
dá a ler. O interesse de estudar os periódicos oitocentistas vem exatamente por vislumbrarmos
seu valor documental revelador dos processos sociais, dos conflitos, das paixões e dos
interesses que, consciente ou não, os revestem de uma função icônica. O texto não existe fora
de sua produção ou de sua recepção e o sentido só pode ser construído na interação, uma vez
que não está no texto em si, mas depende de vários fatores de diversas ordens: linguísticos (a
intertextualidade, a interdiscursividade, formação discursiva presentes nos textos, etc),
cognitivos, sócio-históricos, culturais. Ancorando-nos em estudos da Análise do Discurso
sobre os mecanismos destacados para uma análise do texto verbo-visual, esse trabalho terá
como objetivo uma investigação e operacionalização dos conceitos da AD, por meio da
análise de algumas litografias que pautou os discursos dos periódicos presentes na Revista
Illustrada, publicada por Angelo Agostini entre os anos de 1885 até 1893.

DIÁLOGOS NO GÊNERO ARGUMENTATIVO ESCOLAR: OS ENUNCIADOS DE


CONSENSO E DE POLÊMICA

Rinaldo Guariglia
(Centro Universitário Unifafibe)

Este estudo fundamentado no pensamento bakhtiniano objetiva apresentar duas categorias


dialógicas de enunciados regidos retoricamente no gênero argumentativo escolar, designado
atualmente por texto de opinião. Trata-se dos enunciados de consenso e dos enunciados de
polêmica, que respondem, respectivamente, pela propagação de sentidos do senso comum e
de sentidos que se contrapõem a ele. A fundamentação teórica compreende o aproveitamento
da reflexão do Círculo de Bakhtin sobre dialogismo e gênero; especificamente, sobre a
instituição da palavra do outro como forma de contestação: polêmica velada e polêmica
aberta. Justifica-se a então proposta em função de o lugar-comum constituir-se um
instrumento de legitimidade do dizer; não necessariamente uma carência de arcabouço
informativo sociocultural do sujeito-produtor, que levaria à mesmice constatada durante a
correção de redações. Na esteira desse posicionamento, polemizar não significa
necessariamente refutar um sentido consensual e instituir um dado novo; significa promover
um debate em que há contraposição de sentidos; mesmo que, ao final, prevaleça o consenso.
Assim, postula-se que a aplicação, ou não, de enunciados consensuais não é uma casualidade,
mas uma estratégia retórica, na qual prevalece a polêmica velada, quase integralmente. Nesta
perspectiva, o discurso do senso comum gera sentidos que são postos como verdadeiros; são
proposições consensuais, pré-validadas, com a adoção de “minhas-palavras-alheias”; são
acolhidas muitas vezes sem a exigência de um posicionamento crítico, polêmico, que possa,
ou não, confirmá-las. Este estudo investiga três matrizes dialógicas em redações escolares
argumentativas: os diálogos do sujeito-produtor com outras vozes sociais, com a proposta de
redação e, principalmente, com o interlocutor-examinador. Esses diálogos inserem as
propriedades dialógicas: um conjunto de propriedades que ora são manifestações da categoria
consensual, ora da polêmica. São nove as propriedades dialógicas identificadas em
enunciados deste gênero: redução temática, adoção parcial de um posicionamento,
rompimento com a proposta de redação, paráfrase de trechos da proposta de redação,
aplicação de aspectos generalizantes, polarização do recorte temático, organização de
enunciados argumentativo-descritivos, observação de um raciocínio lógico formalizado, e
inserção de enunciados interrogativo-retóricos. O córpus de pesquisa compreende a análise de
vinte redações dissertativas produzidas durante um processo seletivo universitário, em que
dez textos obtiveram nota acima de 5,0 (cinco), e os outros dez, abaixo dessa nota.
111
CHICO BUARQUE, JULINHO DA ADELAIDE E A QUESTÃO DA AUTORIA

Robison José da Silva


(UFG/CAC)

O presente trabalho fundamenta-se sob as bases teóricas da Análise do Discurso,


especificamente a de linha francesa, colocando esta área de pesquisa em limite de relação com
os Estudos Literários. A proposta é refletir sobre a questão da autoria a partir da produção do
cantor e compositor, Chico Buarque de Holanda, em momento de criação de canções
ocorridas durante os anos 70, período da Ditadura Militar brasileira, quando, na tentativa de
driblar a censura, o então conhecido Chico Buarque, adota um pseudônimo, Julinho da
Adelaide. A fundamentação teórica é tomada a partir da teoria Foucaultiana, especificamente
com base no texto O que é um autor, inicialmente proferido como conferência por Michel
Foucault em (1969) e que aparece posteriormente em Ditos e Escritos III(1995). Toma-se
ainda como base teórica, outras produções nas quais o filósofo faz reflexões sobre o “autor”,
sendo elas, Arqueologia do saber (2009) e A ordem do Discurso (2012), nas quais
encontramos considerações que dialogam com o texto primeiro. Partindo deste aporte teórico
pretende-se identificar como a questão da autoria foi utilizada por Chico Buarque, na
utilização do pseudônimo, Julinho da Adelaide, no período tomado como recorte para essa
reflexão (1970 e 1974). O trabalho pretende trabalhar com letras de 5 canções produzidas em
pleno período da Ditadura, anos 70, quando a censura atuou de forma intensa sobre as
produções artísticas desenvolvidas naquele período. Pretende-se desenvolver a análise aqui
proposta tomando como ponto de análise as canções, Milagre Brasileiro, Acorda amor e
Jorge Maravilha (1974), assinadas por Julinho da Adelaide, bem como outras assinadas por
Chico Buarque, sendo elas Apesar de você e Cálice (1972). É uma proposta que se define sob
a perspectiva qualitativa de base teórica, na qual se toma como metodologia as leituras da
teoria Foucaultiana em processo de análise e evidência em um objeto delimitado de estudos,
no caso as letras de canções, tomadas como produção literária. Deste modo, busca-se verificar
a presença da teoria sobre o “autor” em funcionamento, quando a autoria é utilizada como
uma forma de driblar a censura Militar Brasileira.

UM CONTRAPONTO ENTRE O SOCIAL E O POLÍTICO: OS SENTIDOS DE


DEFENDER

Rogério Luid Modesto dos Santos


(Unicamo)

Nesta proposta de comunicação, parto das reflexões feitas por Michel Pêcheux, especialmente
em seu texto “Vous avez bien dit propagande”, para apresentar o modo como este teórico
entende a visão instrumentalizada da propaganda enquanto consequência da consolidação do
capitalismo e da interpelação ideológica do sujeito. Inserindo-me na Análise de Discurso de
orientação materialista, tomo um recorte do discurso de um movimento social urbano e um
slogan de uma propaganda de campanha política (ambos relacionados à cidade de Salvador,
Bahia) para compreender como os (efeitos de)sentidos relacionados ao ato de “defender”
estão sendo formulados. Este contraponto permitiu perceber na análise que a evidência da
propaganda – construída tendo por base a difusão da informação política, bem como o
apagamento das diferenças no que tange ao social –, como sugere Pêcheux em sua reflexão, se
112
impõe aos discursos que se dirigem à “sociedade”, mesmo que estes sejam de ordens
diferentes (opostas, inclusive), justamente porque tais discursos estão sustentados no mesmo
pré-construído da cidadania e do sujeito de direito. A contradição, nesse sentido, é um ponto
chave para a análise. Assim, foi possível concluir a relação dos sentidos de “defender” no
(movimento) social e no (discurso) político desta forma: uma relação imaginariamente oposta,
sobretudo pelo objetivo de o movimento querer instituir uma oposição ao poder político, mas
efetivamente imbricada, porque a contradição faz possível o um-no-outro. A partir das
considerações feitas na análise, trazemos à baila o entendimento discursivo acerca da
resistência, tomando como base o texto Delimitações, inversões, deslocamentos também de
Michel Pêcheux. O modo como a resistência é pensada em relação à contradição nos interessa
na medida em que nos faz problematizar o modo como os sentidos de defender estão
funcionando no recorte do social que operamos em nossa análise discursiva. Nesse sentido, a
proposta de Eni Orlandi em relação à teoria discursiva da resistência do sujeito e as
formulações de Suzy Lagazzi sobre o realizado alhures e o alhures realizado reforçam nossa
compreensão sobre a resistência e a contradição.

A FIGURA DE CRISTO NOS DISCURSOS CONTEMPORÂNEOS:


ESTABILIZAÇÕES E MUDANÇAS NO CONTEÚDO E NA EXPRESSÃO

Rubens César Baquião


(UNESP/FCLAr)

A figura singular de Jesus Cristo sofre modificações de acordo com os valores da cultura que
a representa e também modifica a cultura que a acolhe. . Nas propagandas de cachaça
Sagatiba, nas fotografias da série American Jesus , de LaChapelle, e também nos textos que
relacionam Cristo aos conceitos tecnocientíficos, o martírio cristão tradicional é remanejado e
a figura de Cristo – que continua reconhecível porque se fixa de forma icônica – é
representada com outros valores integrados, como o prazer, a diversão e o misticismo presente
na cultura pop, underground e também na cybercultura. Percebe-se que o ícone cristão se
perpetua mesmo em discursos que subvertem o discurso religioso. A figura e o conceito de
Cristo são estruturas semióticas (que neste trabalho são analisadas pelo viés da semiótica
francesa) profundamente cravadas na cultura ocidental e até mesmo na cultura mundial, de
modo que sua flexibilidade em estar presente nos mais diversos discursos é perfeitamente
compreensível. Os conceitos desenvolvidos pela semiótica francesa, em especial os trabalhos
de autores como Floch e Fontanille, são utilizados para analisar discursos que reconstroem a
figura de Cristo na contemporaneidade. As fotografias de LaChapelle representam figuras pop
e underground, de natureza contracultural, com o investimento semântico espiritual
emprestado pela utilização da figura de Cristo, que perpetua a noção de espiritualidade e
também o tema do sagrado em enunciados que afirmam valores divergentes dos valores
estabilizados pelo discurso da Igreja Católica ao longo dos séculos. Isso demonstra o
enfraquecimento do poder das instituições religiosas, que não têm mais controle sobre a figura
de Cristo, mas também mostra que a noção de sagrado ainda está presente no imaginário do
homem moderno, mesmo que a ciência e a filosofia contemporâneas revelem a incoerência do
discurso religioso. Entende-se que a figura de Cristo, distante do controle do discurso das
instituições religiosas, é reestruturada em enunciados marcados pelo impacto das mudanças
sociais e tecnológicas dos séculos XX e XXI. O afastamento do controle das instituições
religiosas não dilui os conceitos sacros e messiânicos relacionados à figura cristã, pois esses
conceitos são remanejados em outros tipos de discursos.

113
ETHOS DE RESISTÊNCIA NA LITERATURA BRASILEIRA VIA FORMAÇÃO DE
NOMES PRÓPRIOS: ALGUMAS FRINCHAS TEÓRICAS

Samuel Ponsoni
(UFSCar)

Neste trabalho, buscamos perscrutar, de uma perspectiva teórica da Análise do Discurso


francófona (adiante AD) e utilizando mais especificamente a noção-conceito de ethos
discursivo, como irromperam, de que forma foram construídas e como se deram a circular
saberes que identifiquem um tom de resistência em algum contos fantásticos de autores
brasileiros, publicadas durante os anos de 1970. Para dar conta dessa hipótese de existência de
imagens discursivas que caracterizam resistência, advindas de algo exterior à própria trama
narrativa, incidiremos nossas análises e reflexões teóricas na formação dos nomes próprios
dados a personagens que, de maneira geral, em nosso material de análise, são metaforizados
em nomes de animais, nomes de profissões ou elaborados nas predicações, como orações
adjetivas restritivas ou nominalizações universalizantes. A formação do nome próprio das
personagens, do mirante que abordaremos, é o grau mais saturado de interpelação ideológica,
algo que resulta da mais alta determinação de identificação com elementos que circunscrevem
efeitos ideológicos das práticas discursivas. Segundo Michel Pêcheux, um dos mais tenazes
teóricos da AD, essa interpretação sobre nome próprio como interpelação ideológica pela
identificação a que ele remete contra-argumenta os estudos de Gottlob Frege. Para este
filósofo, nomes próprios têm seu significado lógico construído a partir das referências criadas
nas sentenças, ao se atribuir a eles referentes passíveis de interpretação em qualquer “mundo”
possível. Nessa visada, a exemplos dos contos, orações adjetivas que predicam alguma coisa
sobre personagens literárias seriam contribuições descritivas ao significado do nome dessas
personagens, uma vez que criam referências sobre elas nas narrativas. Todavia, os estudos
pecheutianos diferem, em relação aos de Frege, ao fundamentar que o nome já está em
saturação de significado, pois as referências não estão ligadas diretamente ao número de
atributos criados, por exemplo, na sintaxe, a partir da enunciação discursiva, mas sim que
estas referências, na verdade, têm a ver com a mobilização identitária nas práticas discursivas
que são enunciadas em qualquer materialização da linguagem pelos sujeitos dos discursos. O
encaixe sintático de uma oração adjetiva, por exemplo, viria, então, de elementos que
decantam de uma memória histórica do que pode/não pode e deve/não deve ser dito, em certa
condição de produção, pela interpelação ideológica em sujeitos que se inscrevem nas mais
diversas práticas discursivas. Assim, nossa fundamentação analisa como essas mobilizações
históricas se materializam nas narrativas, tanto nas ações das personagens como no ethos que
constrói sentidos de resistência para sujeitos do cotidiano real se inscreverem.

DIALOGANDO COM A ESCRITA ACADÊMICA NO AMBIENTE DIGITAL

Simone Cristina Mussio


(UNESP Araraquara)

Foi pensando no prestígio e influência das novas tecnologias digitais na educação, que este
trabalho tenciona discutir a construção de sentidos, a partir da perspectiva dialógica
bakhtiniana, com o objetivo de observar o discurso sobre ciência e escrita acadêmica na
Internet, de forma a perceber como se constrói dele uma imagem nesse espaço. Para tal
estudo, será feita uma análise do site UFMGTube, desenvolvido pela Universidade Federal de
114
Minas Gerais, tendo como ênfase um dos vídeos divulgados no canal, que contempla uma
entrevista da professora Carla Coscarelli, a qual discute os desafios da ciência nos ambientes
digitais, como também a própria escrita acadêmica, temática esta que será o foco deste
trabalho. Observando o propósito do site em promover um ambiente educacional que ofereça
informações sobre temas relacionados ao fazer ciência, com temáticas que versam sobre
política, cultura, educação, etc., escolheu-se para investigação a referida instituição de ensino
por ser talvez a única universidade pública brasileira que tenha um canal de comunicação
interativa em ambiente digital (internet) apenas com postagem de vídeos que retratam o meio
acadêmico e cultural. Sendo assim, para esta análise, a base teórica que subsidia este trabalho
pauta-se em alguns conceitos bakhtinianos, baseados na reflexão sobre gêneros do discurso,
esfera, estilo e o próprio dialogismo. Como uma das características mais inovadores da
produção do Círculo de Bakhtin, modo como o grupo ficou conhecido, foi conceber a
linguagem como um constante processo dialógico, distante de ser um sistema autônomo, o
diálogo foi instaurado como agente mediador dos discursos. Desse modo, a interação da
linguagem ocorre num contexto em que todos participam, pois aquele que participa seleciona
palavras, formas apropriadas de dizer algo para que o seu destinatário o compreenda, fazendo
com que seu interlocutor interprete a mensagem e a responda internamente ou por meio de um
novo enunciado. Por isso, os dizeres são interpretados ao longo do tempo e suas formas vão
variando de acordo com a época em que são apregoados. É, portanto, devido a esse novo
tempo, a importância de se trabalhar com a linguística do encontro. O encontro entre o eu e o
outro, entre tecnologia e o próprio papel da academia neste contexto. Por isso, a necessidade
vista pela universidade em criar um lugar de encontro entre alunos e internautas, tornando-se
uma nova forma de aquisição de conhecimento, tendo, neste caso, o enfoque dado à escrita
acadêmica.

DISCURSOS SOBRE A LEITURA: UMA ANÁLISE DISCURSIVA DE CAMPANHAS


E DE PROTOCAMPANHAS AUDIOVISUAIS EM PROL DESSA PRÁTICA

Simone Garavello Varella1


Orientadora: Profa. Dra. Luzmara Curcino

É sabido que na contemporaneidade partilhamos um imaginário acerca da leitura e do leitor


brasileiro. A força desse imaginário reside na frequência com que somos expostos a certos
discursos sobre a leitura, recorrentes, que reiteram de um lado a importância dessa prática e,
de outro, a ameaça constante em que ela se encontra, traduzida também frequentemente pela
referência a uma ‘crise’ da leitura. Nosso intuito é de compreender o funcionamento e alguns
desses discursos que tematizam a leitura e constituem nossa relação simbólica e pragmática
com essa prática. Para esse fim nos deteremos na análise de um objeto contemporâneo de
promoção da leitura, a saber: campanhas e protocampanhas que circulam sob a forma de
vídeo e estão disponíveis virtualmente no site do YouTube. Tendo como aporte teórico a
Análise do Discurso de linha francesa, derivada dos trabalhos de Michel Pêcheux, mas
valendo-nos em especial de alguns princípios de análise de discursos tal como enunciados por
Michel Foucault, assim como em princípios da História Cultural da Leitura, nossa análise se
dá no nível do enunciado buscando descrever mais especificamente a dimensão simbólico-
histórico-cultural que atua nessas campanhas sincréticas quando de sua produção e circulação
discursivas. Partimos do pressuposto de que os efeitos de sentido produzidos ou ensejados
nesses textos podem ser melhor explicados se nos basearmos não apenas na tradição dos
1
Mestranda.
115
estudos em Análise do Discurso de linha francesa dedicada com certa exclusividade à
descrição de fenômenos discursivos a partir do prisma da relação entre materialismo histórico
e funcionamento linguístico, mas também, e sem que se possa negar esse princípio
fundamental para a AD de que a história (materialismo histórico) controla os sentidos do
dizer, considerar a importância de outras dimensões, como a cultural, que também atuam
sobre o como dizer e o como ler, enfim, sobre o que dizer dessa prática de leitura.

O DISCURSO ERÓTICO DO CORPO FEMININO NOS QUADRINHOS


ITALIANOS: UMA ANÁLISE SOBRE A PERSONAGEM VALENTIDA, DE GUIDO
CREPAX

Taís Turaça Arantes1


Nataniel dos Santos Gomes
(UEMS)

A figura feminina está presente em vários quadrinhos de todo o mundo: norte-americanos,


franceses, brasileiros, argentinos e italianos. Em cada país elas são trabalhadas de diversas
formas, seja em seu caráter ou na estética de seu corpo, por exemplo, os nortes-americanos
apresentam como propostas figuras como: Mulher-Maravilha, Viúva Negra e Canário Negro,
na qual fica evidente a estética “perfeita” de seu corpo, ou seja, seios e nádegas volumosos,
pernas grossas e cinturas finas, enquanto o corpo da figura feminina nos Fumetti (quadrinhos
italianos) se apresentam por uma outra perspectiva, por exemplo Giancarlo Berardi, criador
de Julia Kendall, teve um cuidado com os traços de sua personagem que não são tão
avantajados, mas Berardi deu uma atenção especial ás características de seu caráter. Nessa
mesma linha de pensamento também é mencionado o caso de Valentina, de Guido Crepax,
personagem que foi idealizada com os desejos do imaginário masculino, mas seu corpo é
demonstrado de maneira verossímil. Claro que o objetivo não é questionar de nenhuma
maneira a arte e a forma de retratar a mulher das HQs, o que acontece é apenas uma
apropriação dessa arte para utilizar de exemplo, uma vez que é a mais conhecida no território
brasileiro, em comparação com os quadrinhos italianos, que por sua vez não possuem uma
circulação tão grande. Sendo assim, Júlia e Valentina são apenas alguns exemplos de como os
fumetti retratam a mulher sob uma ótica diferenciada da norte-americana, porém isso não quer
dizer que eles não deixam de apresentar o corpo de suas personagens. No caso de Valentina
deve-se ter um olhar mais atento, pois o seu corpo está tão próximo da realidade que em
alguns quadros é possível notar algumas gorduras em sua barriga, e esse fato não desmerece
sua beleza. Partindo desse pressuposto, o presente artigo possui como objetivo caracterizar e
definir o Discurso Erótico do Corpo Feminino nos Fumetti de Guido Crepax, fazendo um
recorte para a sua mais famosa personagem: Valentina.

1
Bolsista PIBIC – UEMS/FUNDECT, MS, Brasil.

116
A CONSTRUÇÃO DO ETHOS E A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DA MULHER
PLUS SIZE

Tania Valéria Ajala Moreno1


Marlon Leal Rodrigues2
(UEMS)

Este trabalho tem como objetivo analisar como se dá a construção do ethos em discursos
produzidos e veiculados em blogs especializados, voltados para o público plus size. Objetiva-
se, ainda, investigar se esse ethos pode influenciar em uma possível formação da identidade
da mulher plus size (mulher que usa manequim GG - numerações do 44 a 54), leitora desses
blogs, que divulgam experiências, impressões, fotos e dicas de moda e comportamento,
direcionadas a esse público específico. Nesse viés, serão consideradas as condições de
produção do “discurso plus size” que se constitui a partir de um contexto sócio, econômico,
político e cultural de uma sociedade, e que se manifesta diretamente na atualidade. Nesse
sentido, buscamos elementos necessários nesses discursos, produzidos e reproduzidos através
dos textos publicados e divulgado por esses blogs, que possam implicar em experiências
sensíveis ao mobilizarem a afestividade do público leitor, que se identifica com essa
classificação plus size. Para tanto, serão utilizados princípios teórico-metodológicos,
sobretudo, da Análise do Discurso de linha francesa.

DISCURSOS SOBRE A LEITURA : O QUE DIZ O JOVEM LEITOR SOBRE SUA


LEITURA DE LIVROS QUE SE TORNARAM FILMES

Tania Vieira Rangel


(UFSCar)

Este trabalho vincula-se ao projeto de pesquisa regular coordenado pela Profa Dra Luzmara
Curcino, junto ao Departamento de Letras, acerca das “Práticas de escrita e representações de
leitura: a construção discursiva do novo leitor na mídia” (FAPESP 2010/16139-0), cujo
objetivo geral é o de levantar e descrever representações discursivas, presentes em diversos
objetos culturais, relativas à leitura, aos leitores e ao modo como se acredita que é realizada e
como se difunde a maneira de ler nos dias atuais. Neste trabalho objetivamos empreender um
levantamento de representações de leitura bem específicas, advindas da relação, cada vez
mais frequente atualmente, entre a indústria cinematográfica e o mercado livreiro. Não
entraremos no mérito dos problemas relativos à adaptação fílmica de livros, das diferenças de
linguagem entre essas duas formas de expressão, de como a passagem de uma linguagem a
outra implica na verdade outro acontecimento discursivo, dadas as diferenças de construção
da narrativa, de recursos empregados e de efeitos que se pode produzir sobre o
leitor/espectador. Temos como objetivo refletir brevemente sobre a influência/o impacto da
exploração dessa relação de promoção simbólica entre filmes e livros, a partir de dados acerca
das práticas de consumo desses objetos culturais, levantados por meio de entrevistas com
leitores/espectadores jovens (entre 18 e 25 anos), versando sobre o papel que essa relação
pode exercer sobre a aquisição (ou não) de livros e sobre as práticas de leitura do público
visado pela adaptação cinematográfica e por ela pressupostas. Apoiamo-nos nas teorias da
Análise do Discurso derivada dos trabalhos de Michel Pêcheux e Michel Foucault, no que
1
Mestranda em Letras – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.
2
Orientador - Prof. Dr. NEAD/CEPAD/UEMS.

117
concerne a sua abordagem das condições de produção e circulação dos textos, interessando-
nos particularmente pelos conceitos de formação discursiva e enunciado, de modo a levantar
os discursos que sustentam as declarações sobre a leitura presentes nas respostas dos
entrevistados. Também buscamos apoio em alguns princípios da História Cultural,
desenvolvidos especialmente acerca da história do livro e da leitura, tal como abordados por
Roger Chartier.

A VAIDADE NAS REPRESENTAÇÕES DE O RETRATO DE DORIAN GRAY

Tatiele Novais Silva


(UNESP-Assis)

Este painel é parte de um projeto de pesquisa de iniciação cientifica em andamento e tem


como proposta o estudo do romance O retrato de Dorian Gray e dos filmes de mesmo título,
nas versões de 2009 e de 1945. Três obras esteticamente produzidas em épocas distintas e
representadas por meio de diferentes gêneros. O intuito é realizar uma análise dialógica de
discursos estéticos como representações de comportamentos de sujeitos e valores sociais, de
maneira divergente, sendo o estilo de cada obra singular e o conteúdo, recorrente. O
embasamento teórico que fundamenta o projeto tem por base a filosofia da linguagem do
Círculo Bakhtin, Medvedev e Volochinov. As concepções de diálogo, discurso, sujeito,
cronotopo, signo ideológico e gênero são as concepções que fundamentam a análise dialógica
do discurso do romance de Wilde e das obras fílmicas de Parker (2009) e Lewin (1945). A
vaidade como uma das temáticas representativas da sociedade contemporânea é o elemento de
estudo condutor desta pesquisa, pautada em discursos estéticos que representam, de alguma
forma, esse traço típico do narcisismo e do culto à beleza. A ênfase no caráter dialógico das
obras permite a diferenciação dos traços estilísticos e típicos a cada uma. Justifica-se a
abordagem do tema a ser refletido em conjunto aos elementos do corpus, por meio da análise
do discurso, pelo fato de a vaidade estar presente no homem, em muitas sociedade, ao longo
do tempo. O tema é importante porque colabora para uma possível compreensão dos sujeitos
na contemporaneidade, semiotizados nos enunciados. Acredita-se que o estudo de diferentes
representações nos gêneros, com o intuito de compreender o mais profundamente possível sua
constituição e abrangência, por meio da busca dos elementos linguísticos e translinguísticos
que compõem a sua tessitura textual e discursiva na produção de sentidos permitirá contribuir
com os estudos dos gêneros e sua relação com a compreensão da construção de diferentes
representações artísticas e sociais.

PROFECIAS EM MEIO A CIDADE: O DISCURSO DO PROFETA GENTILEZA

Thaís Harumi Manfré Yado


(UFSCar)

Em consonância com o escopo teórico da Análise do Discurso francesa (AD), fundada por
Michel Pêcheux no final da década de 1960, entendemos que é fundante a relação opaca e
incompleta entre língua-sujeito-história, o que nos coloca a interpretar os efeitos de sentidos e
seu funcionamento a partir da posição que o sujeito ocupa. Uma vez que ao trabalhar com a
opacidade do dizer é contar com as interferências políticas e ideológicas que marcam a
inscrição da língua na história. No nosso caso, interessa-nos analisar os discursos sobre o
espaço urbano não empírico ou geográfico, mas como um espaço discursivo de efeitos e
118
sentidos em curso, de modos e formas de inscrição como a cidade significa (ORLANDI,
2004). Propomos então, analisar este espaço de significações pelas materialidades presentes
nos monumentos deixados na cidade do Rio de Janeiro pela voz do profeta Gentileza, pois são
eles que nos permitem analisar o jogo e a (re)construção dos sentidos simbólicos,
estabelecendo relações entre o já dito e sua atualização. Tais espaços enunciativos vão sendo
construídos e atualizados pelos percursos do/no urbano, formulando o que Certeau (1990)
denomina de "discurso caminhante". Escolhemos as pilastras pintadas pelo Profeta Gentileza
em uma das principais avenidas da cidade do Rio de Janeiro, para especularmos os vários
sentidos que as obras de Gentileza enunciam – obras estas que foram apagadas logo após a
morte do profeta por ordem do governo municipal, mas por meio de manifestações populares
ganharam o direito de serem restauradas e tombadas como patrimônio cultural. Destacamos
como o movimento social se mostrou relevante naquele momento e apresentou-se como uma
forma de resistência a profunda mudança no cenário urbano, assim, o conjunto de obras de
Gentileza constituíram o que chamamos de “Livro Urbano” (conjunto de pilastras escritas
pelo Profeta Gentileza) como uma referência dentro da cidade (GUELMAN, 2009).

DISCURSOS DO SUCESSO: A PRODUÇÃO DE SUJEITOS E SENTIDOS DO


SUCESSO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

Thiago Barbosa Soares1


Carlos Piovezani2
(UFSCar)

Este estudo visa analisar o discurso sobre o sucesso produzido na sociedade brasileira
contemporânea. O corpus é constituído por edições da revista Caras, pelos livros “O Sucesso
Está no Equilíbrio (2006)”, “O Sucesso Passo a Passo (2010)” e “O Sucesso de Amanhã Começa
Hoje (2011)”, e ainda por sequências discursivas extraídas de comunidades virtuais, tais como os blogs
“Holofote: tudo sobre o mundo dos famosos” e “R7 Entretenimento”. Mais precisamente,
nossa pesquisa pretende descrever e interpretar as marcas de um possível sujeito emergente,
isto é, o sujeito de sucesso, na medida em que esse é construído por práticas discursivas da
mídia, da literatura de auto-ajuda e das comunidades virtuais, considerando o fato de que
esses campos discursivos como lugares privilegiados de fabricação de novas identidades e de
novos desejos. Desse modo, consideramos o postulado da Análise do discurso formulado nos
seguintes termos por Orlandi (2012, p, 88): “sujeito e sentido se constituem ao mesmo tempo,
estando os processos de identificação na base do fato de que identidade é um movimento na
história”. Se os sujeitos e os sentidos constituem-se simultaneamente no encontro da língua
com a história, ou seja, no discurso, os sujeitos e os sentidos do sucesso também serão
produzidos pelo discurso. Ao dedicar-se aos enunciados do sucesso, Payer (2005) afirma que
os dizeres que tematizam e constroem os sentidos e sujeitos do sucesso circulam em vários
campos discursivos e em vários tipos de textos, mas ressalta que sua circulação privilegiada
ocorre na mídia. Pode-se notar que há um certo “discurso do sucesso” funcionando
atualmente em grande escala em nossa sociedade. Ante esse quadro, propomos neste trabalho
expor uma breve investigação dos sentidos sobre o discurso de sucesso na atual sociedade
brasileira. Para tanto adotamos o pressuposto, a partir de Pêcheux (2009 [1975]); (2006
[1983]), Orlandi (1996); (2012) e Brandão (2012), segundo o qual o discurso é um efeito de
sentidos entre interlocutores. Disso procede a compreensão da relação entre língua e
1
Mestrando-UFSCar (thiagobsores@bol.com.br).
2
Doutor – UFSCar (cpiovezani@uol.com.br).

119
ideologia, “sendo o discurso a materialidade específica da ideologia e a língua a materialidade
específica do discurso, com a ressalva de que específico não significa exclusivo” (ORLANDI,
2012, p. 214), sendo que a língua e outras naturezas de linguagem surgem como condição do
discurso e o caráter de funcionamento dessas naturezas é o que define o processo discursivo
(idem, 1996). Outro conceito fundamental com o qual trabalhamos neste estudo é o de
memória discursiva em que “toda formulação apresenta em seu “domínio associado” outras
formulações que ela repete, refuta, transforma, denega..., isto é, em relação às quais ela
produz efeitos de memória específicos” (COURTINE, 2009 [1981], p.104). Nesse sentido, as
concepções de interdiscurso, intradiscurso, pré-construído e enunciado se articulam por
circularem no domínio da memória. Assim, toda produção discursiva, inscrita em
determinadas condições de produção faz inevitavelmente circular formulações já enunciadas
anteriormente. Portanto, os procedimentos metodológicos adotados no desenvolvimento deste
trabalho tiveram como base a pesquisa qualitativa, no desenvolvimento da qual buscamos
identificar regularidades linguístico-discursivas dos enunciados do sucesso e interpretar a
produção de seus sujeitos e sentidos por meio da elaboração de cadeias parafrásticas, no
intuito de depreender suas formações discursivas.

IDENTIDADES SOCIAIS E EXALTAÇÃO DAS MINORIAS NO SERIADO GLEE

Thiago Ferreira da Silva


(UNESP – Araraquara)

Partimos, em nosso trabalho, do seguinte questionamento: em uma “sociedade da informação”


regida basicamente pelas relações midiáticas e suas transformações, em que as identidades são
fluidas e inconstantes e o “politicamente correto” é a ordem do dia, quais são e por meio de
que processos discursivos constroem-se as subjetividades? Assim sendo, buscaremos explorar
as articulações entre discurso, história e linguagens na construção de posições de sujeito que
devem ser assumidas pelos espectadores das grandes mídias e que consequentemente geram
grupos de pertencimento em torno de identidades sociais pré-construídas. Partindo dos
pressupostos teóricos da chamada Análise do Discurso de linha francesa, baseada
principalmente nos trabalhos de Michel Pêcheux e Michel Foucault, procuramos analisar
como as recentes transformações midiáticas, principalmente o chamado fenômeno transmídia,
modificam o modo como discursos são produzidos e veiculados em nossa sociedade e,
consequentemente, modificam as práticas pelas quais se produzem subjetividades e efeitos de
identidade. Para tanto, discutiremos como são produzidos modelos de identidade para as
minorias sociais no seriado musical Glee, um fenômeno essencialmente transmidiático.
Considerando que os discursos veiculados pela série não se constroem apenas nos episódios
produzidos para a televisão, abrangemos em nosso trabalho toda a série de material
considerado transmídia relacionado ao programa: livros, CDs, DVDs, filmes e em especial o
reality show chamado The Glee Project, criado para selecionar, entre os fãs de Glee de todo o
mundo, atores convidados para participar de episódios da série. Em nossa apresentação
especificamente analisaremos como as relações construídas entre a trama do seriado “em si” e
as atividades propostas no reality show se reafirmam para um efeito de aproximação com o
espectador e exaltação do diferente, do “anormal”, das minorias de modo geral que deve ser
adotado e defendido pelo público, a fim de construir imensos grupos de pertencimento que
criam uma relação de afetividade entre o consumidor e o objeto midiático consumido (as
chamadas lovemark).

120
A CONSTRUÇÃO DO “IMIGRANTE” EM TEXTOS DE VESTIBULANDOS: ETHOS
DICURSIVO E CENOGRAFIA

Thiago Moessa Alves


Marcos Lúcio de Sousa Góis
(UFGD)

A proposta de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em 2012 sobre o


movimento imigratório para Brasil no século XXI despertou/reascendeu uma série de
discussões acerca o assunto, como se pode perceber em rápida busca pela Internet, que se
polemizou em como devem ser tratados os imigrantes. Independente dos lados, uma questão
moral foi posta à mesa: tratar o imigrante, qualquer que seja, considerando como o brasileiro
foi tratado, enquanto imigrante? Diante desse acontecimento, propôs-se, como pesquisa de
mestrado, em andamento no Programa de Pós-Graduação Mestrado em Letras (PPGL) da
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), compreender discursos produzidos por
vestibulandos a respeito da imigração. Desse modo, nesta comunicação serão apresentadas as
linhas gerais do trabalho, isto é, a problematização, os objetivos e os procedimentos
metodológicos, bem como parte do arcabouço teórico que servirá de sustentação para as
análises e resultados preliminares. Fundamentalmente, trabalha-se, sobretudo, com
Dominique Maingueneau, mobilizando os conceitos de Ethos Discursivo e cenografia, e com
Michel Foucault, por causa da relação entre poder e saber investigada por este filósofo
francês. Acredita-se que este dois autores sejam importantes para se entender como circular os
discursos em nossas sociedades. Diante do exposto, a questão central de investigação visa
compreender como se constrói o imigrante em redações do ENEM. Pelas constatações
iniciais: as estratégias linguísticas e discursivas utilizadas revelam certos valores éticos,
quando os imigrantes são europeus, e outros, quando são africanos e/ou centro-americanos.
Esse posicionamento parece apontar para discursos de superioridade, quando o imigrante é
preto e pobre, e de inferioridade ou, pelo menos, de igualdade, quando se trata de europeu.
Neste sentido, parece que ser pobre e preto é uma marca para menos, enquanto ser europeu,
não. Espera-se que os resultados ajudem no entendimento das relações de forças que ajudam a
construir certa imagem do “imigrante” no Brasil.

AS RELAÇÕES DE GÊNERO E A REPRESENTAÇÃO DO CASAMENTO NO


SÉCULO XXI: O AMOR NO CASAMENTO EM COMPOSIÇÕES DE MPB

Vânia da Silva
(Universidade Estadual de Maringá)

Por meio da formulação de tópicos postos em diferentes configurações discursivas e


condições de produção, é possível tecer representações do feminino e do masculino, dos
papéis por mulher e homem exercidos socialmente e da identidade a eles possibilitadas
pelo/no discurso. No que tange à instituição família, marca-se também a representação do
amor, da mulher, da esposa, do homem, do marido e, consequentemente, do feminino e do
masculino; assim efeitos de sentidos são formulados, criando objetos de discurso e
encaminhamentos tópicos que interpelam em sujeitos por meio de relações de poder, de
reiteração ou reformulações. Nas formulações do século XXI, circulam discursos constituídos
de diversos atravessamentos que, ao menos pelo que se supõe popularmente como evidência,
possibilitam rearranjos na organização social, na ordem do discurso e na identidade dos
sujeitos que poderiam ocupar diferentes papéis e posições, antes silenciados a dado gênero.
121
Sob essa perspectiva, os sentidos do casal procriador, do casamento como fonte indubitável da
“felicidade”, do amor materno como natural, do homem como mantenedor financeiro do lar,
da valoração “natural” e essencial da mulher pelo casamento seriam deslocados e uma
diferenciada relação entre os gêneros estabeler-se-ia. As concepções da união legitimada pelo
cristianismo, da mulher como provedora da harmonia do lar, do cuidado do marido e dos
filhos e da resignação perante as escolhas e valores do homem também poderiam ser
distanciadas. Desse modo, a fim de caracterizar qual posição-sujeito assumida pela mulher-
esposa e pelo homem-marido no século XXI, este trabalho é constituído com base em
pressupostos teóricos metodológicos postulados pela Análise de Discurso francesa de vertente
pecheutiana. Além disso, objetiva analisar quais efeitos de sentido são possibilitados à
identidade feminina e masculina quando imbuídas na memória pelos sentidos da família
patriarcal e do amor conjugal em meio a processos de desfocalização, construção e
reconstrução de sentidos em composições contemporâneas da Música Popular Brasileira.

DISCUTINDO A AUTORIA SOB UMA PERSPECTIVA DISCURSIVA

Verônica Braga Birello


(CNPq/UEM/GEDUEM)

Este trabalho tem por objetivo principal discutir a função autor proposta por Michel Foucault
(2001) construindo um contraponto para com a função do tradutor de Walter Benjamin
(1998). Sabemos que para os estudos da tradução a questão do original é muito discutida, pois
a tradução não teria o mesmo valor que a obra do autor. Por esse motivo, nesse trabalho
buscamos descobrir quem seria esse autor, que ocupa um espaço vazio e que pode se
configurar como pleno de poder e capaz de produzir obras de valor, enquanto o tradutor seria
apenas um reprodutor que nunca alcançaria a essência do original. Para tanto se propõe,
primeiramente, verificar a constituição do percurso histórico da autoria com base em Chartier
(2012). Nesse caminho, abordamos desde a utilização do alfabeto fenício pelos gregos ao
surgimento da figura do autor de textos científicos e literários e como a autoria empírica
passou por mudanças ao longo da história. Discutimos a ideia de autor como fonte criadora do
texto, como ponto de partida, como o Adão mítico que cria suas histórias, seus escritos, com
base em sua criatividade e nada além e buscamos mostrar como essa ideia é entendida de
maneiras diferentes por Benjamin e por Foucault. A discussão teórica será conduzida por
meio da analise de cenas da tradução intersemiótica do livro Howl’s Moving Castle de Diana
Wynne Jones de 1986 para o filme de animação Hauru no Ugoku Shiro do diretor Hayao
Miyazaki de 2004. Para tratar da tradução intersemiótica utilizaremos Jakobson (2004) e
Plaza (2008), que nos explicam que esse tipo de tradução diz respeito à mudança e interação
dos signos em diferentes materialidades. Nesse caso, das páginas do livro para as telas do
cinema. Para tanto, nesta análise buscamos evidenciar aspectos da função autor que podem ser
encontrados na materialidade fílmica e que desloquem a autoria de Jones para Miyazaki, sem
que com isso um ou outro possam ser considerados origem do discurso, pois estariam apenas
ocupando uma posição vazia, a posição autor.

122
ANÁLISE DE DISCURSO DE FRASES E DITOS POPULARES DO DISCURSO DO
SENSO COMUM

Vicentina dos Santos Vasques Xavier


(NEAD/UEMS)
Marlon Leal Rodrigues
(CEPAD/NEAD/UEMS)

A pesquisa que está sendo realizada considera a Análise do Discurso tendo como fundamento
teórico a Análise do Discurso de matriz francesa de Pêcheux e o modo como a ideologia
interpela o sujeito, como a inscrição histórica dos sentidos é materializada e como o silêncio e
a formação discursiva são inscritos. Para tanto, propõe-se o seguinte percurso: primeiro
apresenta-se uma discussão sobre a teoria francesa do discurso, em seguida, uma breve
contextualização histórica das condições de produção dos discursos presentes nas frases, ditos
populares e provérbios do senso comum. Assim, investiga-se o funcionamento discursivo de
um corpus constituído por um conjunto de leituras, entrevistas, imagens e coleta de textos
verbais e orais que tratem sobre a AD presente nas frases, ditos populares e provérbios do
senso comum e analisa a carga ideológica presente na vida desses sujeitos a partir das ideias
de Maingueneau (1993),que diz que todo discurso é uma construção social, não individual, e
que só pode ser analisado considerando seu contexto histórico-social, suas condições de
produção; e ainda que o discurso reflete uma visão de mundo determinada, necessariamente,
vinculada à do(s) seu(s) autor(es) e à sociedade em que vive(m). Ainda segundo Pêcheux, as
palavras não têm um sentido literal, mas existem nas relações de metáfora, ou seja, de
transferência, efetivando-se nas formações discursivas que são seu lugar histórico provisório,
com bem explica o estudioso “está exposta ao equívoco da língua: todo enunciado é
intrínsecamente suscetível de tornar-se outro, diferente de si mesmo, se desloca
discursivamente de seu sentido para derivar para um outro”. A pesquisa apoia-se nos
pressupostos da Análise do Discurso (AD) de matriz francesa, fundada por Michel Pêcheux,
Dominique Maingueneau, Bakhtin, Foucault e outros como Marlon Leal Rodrigues, Orlandi e
Sírio Possenti. Espera-se que a AD em estudo permita trabalhar em busca dos processos de
produção do sentido e de suas determinações histórico-sociais presentes na vida desses
referidos sujeitos já citados, o que implicará o reconhecimento de que há uma historicidade
inscrita na linguagem que não nos permite pensar na existência de um sentido literal, já posto,
já que toda interpretação é regida por condições de produção (Orlandi, 1999).

UM ESTUDO DO CONTROLE DA MÍDIA: QUESTÕES DE CENSURA E


MEMÓRIA NA CIRCULAÇÃO MIDIÁTICA ATUAL SOB A PERSPETIVA DA
ANÁLISE DE DISCURSO FRANCESA

Wilson Ricardo Barbosa dos Santos1


Orientadora: Vanice Maria Oliveira Sargentini2
(UFSCar)

Temos acompanhado a circulação de textos que pautam a questão do controle da mídia.


Tendo também em conta o cenário político brasileiro, há publicações que retratam posições
diversas tomadas pelos partidos. Pensando nos efeitos causados, podemos apontar que o tema
1
Graduando em Letras pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, wilson-ricardo@uol.com.br
2
Professora Doutora (DL/CECH/UFSCar), sargentini@uol.com.br

123
do controle da mídia parece insistentemente evocar sentidos constituídos em uma memória de
um período em que este tipo de controle foi extremamente forte no Brasil. Este
funcionamento a partir de algo que já esta estabelecido nos leva a evidenciar a nossa filiação à
Análise de Discurso para alcançar determinada posição face a estes discursos, à luz de seu
caráter de ser uma disciplina que põe em questão as práticas de leitura. Para isto, tomamos
como objeto textos midiáticos que divulgam diferentes posições face ao controle da mídia, em
especial notícias e artigos publicados no jornal Folha de São Paulo. Sendo o discurso um
objeto que materializa lutas ideológicas, buscaremos mostrar na análise dos textos que
compõem o objeto como a reprodução/transformação destas relações se textualiza. Sobretudo,
tendo em conta a evocação de uma memória do povo brasileiro em relação ao controle da
circulação midiática, à censura e às diferentes tentativas institucionais e estatais de gerir
efeitos de determinadas interpretações. Pensando este nosso objeto de pesquisa, somos
motivados por perguntas de pesquisa tais quais: como os enunciados presentes nas
textualizações que buscam regular a mídia, hoje, evocam uma memória do controle midiático
e da censura, no Brasil? Como, historicamente, é paradoxal a ideia de liberdade e censura?
Como se constroem diferentes posições por parte dos partidos, nos textos midiáticos, tendo
em conta a problemática do controle da mídia? Como se materializa ao redor deste tema um
conflito ideológico, tendo como foco o trabalho simbólico da mídia? Como se constituem
sentidos a respeito da questão da liberdade e da censura, historicamente? Que tipo de
contradições existem? Neste percurso, que tipo de incongruências ocorrem, entre os limites da
liberdade e da censura? Buscamos com estas questões evidenciar alguns modos de
constituição, formulação e circulação de sentidos acerca da liberdade de imprensa, da
regulação da mídia e da censura, historicamente.

LEITURA E FORMAÇÕES DISCURSIVAS NO FACEBOOK: CONSTRUÇÕES


HÍBRIDAS DE IDENTIDADES DO PROFESSOR CONTEMPORÂNEO

Ythallo Vieira Borges1


Leny Pimenta
Maria Regina Momesso

Sabe-se que na contemporaneidade a internet é parte do cotidiano dos sujeitos. A partir de um


clic é possível resolver problemas, comunicar-se, politizar-se, interagir e se integrar com o
mundo: o sujeito parece deixar de ser indivíduo para tornar-se cidadão de um mundo sem
fronteiras. Nesse sentido percebe-se que os modos de ler determinam os modos de ser, os
quais espelham as ideologias e as identidades de sujeitos que vivem na modernidade líquida.
Nesta sociedade tudo é fluído, nada é estável, tudo se transforma, não há certezas nem
verdades absolutas. Diante desse cenário, objetiva-se estudar como o sujeito discursivo
“professor” constitui-se em sua prática discursiva e de “escrileitura” no perfil virtual do
facebook intitulado: Professor por Vocação. O presente trabalho faz parte do Projeto
Observatório da Educação nomeado “Linguagens, Códigos e suas Tecnologias”, realizado
pelo Mestrado em Linguística da Universidade de Franca. O corpus do trabalho constitui-se
da materialidade discursiva e imagética do facebook “Professor por Vocação”, comunidade
com mais de 142.000 membros. A reflexão ancora-se na Análise de Discurso francesa
derivada de Pêcheux, nos estudos foucaultianos sobre formações discursivas e as tecnologias
de si e em Bauman para a questão da contemporaneidade e identidade e outros. Esse espaço
1
Dra. Maria Regina MOMESSO (UNIFRAN - Orientadora)
Apoio CAPES/INEP/OBEDUC

124
de comunidade virtual é um lugar, no qual o sujeito professor expressa seu modo de dizer,
pensar e ser materializado discursivamente por meio de imagens e postagens diversas. Os
resultados preliminares indiciam que os professores dessa comunidade inserem-se numa
formação discursiva da condição de vítima de um sistema de ensino formatado, onde os
sentidos encontram-se naturalizados e, portanto, o professor parece necessitar de ancoragem e
da apropriação do dizer daqueles que se tornaram ícones como educadores tais como Paulo
Freire, Piaget, Vygotsky e outros. Nas postagens e comentários emergentes nessa rede social,
há evidências de um contexto ideologicamente marcado por meio das práticas discursivas,
identitárias e escrileitoras que os professores desenvolvem. Essas representações afloram
nesse espaço, bem como os seus efeitos de sentido.

CELEBRIDADES DO YOUTUBE: TÉCNICAS DE SI NO CIBERESPAÇO

Yuri Araujo de Mello


(UNESP Araraquara)

Inegavelmente, as mídias tradicionais, como a televisão, o rádio, a mídia impressa e outras


detêm grande influência em nossa sociedade, entretanto, no período que compreende a nossa
contemporaneidade, na chamada modernidade líquida ou ainda “pós-modernidade”, nota-se
uma crescente e contínua utilização das ditas novas mídias para a veiculação de certos
enunciados (e discursos) que contribuem tanto para o delineamento do pensamento coletivo
quanto para a sugestão à formação cultural dos sujeitos, fazendo uso da materialidade da
linguagem para a produção de determinados efeitos de sentido. Nessa perspectiva, um objeto
que tem ganhado um espaço privilegiado, além de um olhar científico pela Análise do
Discurso, é o ciberespaço e os “nós” que nele se constituem. Sendo assim, o presente trabalho
apresentará um resumo do projeto de iniciação científica que está sendo desenvolvido sob a
orientação da profa. Dra. Maria do Rosário Gregolin junto ao Grupo de Estudos em Análise
do Discurso de Araraquara (GEADA) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” – campus Araraquara, que possui como principal constituinte do nosso corpus de
pesquisa um desses “nós”, no caso, o espaço global de compartilhamento de vídeos: o
YouTube. Dessa maneira, por estar inserido no projeto coletivo Discurso, História e
Memória: a produção de identidades, o projeto busca, a partir dos pressupostos teóricos da
Análise do Discurso de linha francesa, mais especificamente a derivada principalmente dos
“diálogos e duelos” estabelecidos entre os trabalhos de Michel Pêcheux e Michel Foucault,
discutir como se (des)(re)constroem identidades por práticas discursivas constitutivas de
sujeitos inseridos em determinadas comunidades inteligentes de pertencimento, onde
mobilizam os savoirs-faire e fazem uso de técnicas de confissão para a afirmação de uma
identidade de artista – revelando certos discursos obedientes a uma determinada ordem. Este
trabalho é centrado principalmente em uma dessas técnicas de confissão (ou técnicas de si),
que são vídeos caseiros de pessoas “anônimas”, onde elas procuram mostrar suas habilidades
vocais e/ou artísticas ao reproduzirem músicas contemporâneas e já consagradas,
(re)produzindo e declarando-se fãs e, ao mesmo tempo, também celebridades.

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