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Ciência e prática para a gestão de resíduos or ânicos

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Empresa BrasHeka de Pesqu;sa Agropecuáúa
EmlJrapll Solos
AUn;sttiúo da Agúcultura, Pecuáúa.8 AlJastecú»ento

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Compostag~m ,'
Ciência e prática para a ' gestão de
resíduos orgâniços (,

j Autores
Caio de Teves Inácio
Paul Richard Momsen Miller

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Embrapa Solos
Rio de Janeiro, RJ
2009
Exemplares desta 'p ublicação podem ser adquiridos na:

Embrapa SQlos Universidade. Federal de Santa Catarina


Rua , Jardim. Botânico, 1024 Departamento 'de Engênha~'ia Rural
CEP 22460-000 Rio de -ianeiro, RJ Centro de Ciências Agrárias
Tel: (21) 2179-4500 Rod. Ademar Gonzaga, 1346
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www.cnps.embrapa.br
sac@cnps.embrapa.br

Supervisão editorial
Jacqueline SIlva Rezende Mattos

Revisor Técnico
Fernando Férnandes, D. Se.
Professor Associado, UniversIdade Estadual de Londrina IUEL/

Revisão de Lfngua Portuguesa


André Luiz da Sllv~ Lopes

Normalização bibliográfica
Ricéirdo Arcanjo de Lima

Capa
Eduardo Guedes de Godoy

Tratamento das ilustrações


João Teves (Nitcho/

Editoração eletrônica
Jai::queline SIlva Rezt;f'de Mattos
Rodrigo Lima Solis

l' edição
1" impressão (2009): tiragem 2.000 exemplares

Todos os direitos ·reservados.


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação dos direitos autora~s (Lei nO 9.610).

Dados Ir]ternacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Embrapa Solos

135c Inácio, Caio de Teves. ' I


. Com postagem : ciência e prática para a gestão de resíduos
orgânicos / Caio de Teves Inácio e PauhRichard Momsen Miller·. -
Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2009.
156 p.: il.
ISBN 85-85864-31-6
1. Compostagem. 2. Resíduos orgâniCos. 3. W,so .agrícola. I.
Miller, Pa,ul Richard Momsen. 11. Título .
,CDD (21.ed.) 631.8·

© Embrapa 2009
Autores

Calo de Teves Inácio, Ms. C.


Pesquisador da E"",brapa Solos
Cen~ro Nacional de Pesquisa de Solos

PaulRlchardMomsen Mõ/er, Ph.D.


ProFessorAssociado do Departamento de Enfl8nharla Rura!,
Centro de Clên;;las Agrárias, Universidade Federal de Santa ' '
Catarina (UFSC/

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,

,.

Agradeclilmos o apoio de nosslis 'am,õas e amigos e ,

a todos os a/unos e ex-a/unos do pdtio.de compostagem da UFSC.

,.
I • Apresentação
É prováv'el qú'e a prática de com postagem, ou prátic'as s,imilares, tenham surgido
junto com os primeiros cultivos agrícolas :eitos pelo homem. No entanto, foi no
século XXque o agrônomo britânico sir Albe~t Howard sistematizou e apresentou
p~ra o Ocidente acompbstagem que ele ,observou e aprendeu quando trabalhou na
índia, nas décadas de 20 e 30. Dois importantes títulos de Howard - The Waste
Products oí Agriculture (1931) e An Agricultural Testament (1 939) - difundiram o
método de compostagem nos países do Ocidente. A com postagem chega agora ao
século XXI. na conslição de uma tecnologia de enorme pote:ncial para a g'estão de
resíduos orgânicos, mas ainda negligenciada por muitos profissionais. Pesquisas
sobre o processo decompostagem e o efeito ge seu , produto ' final, o composto
orgânico, na agricultura e nos solos permearam' o século XX. O processo de
com postagem 'e as propriedades do composto foram estudados de forma científica
principalmente a partir de 1930, podendo-se citar alguns livros e artigos 'referenciais
tais como Waksmari (1939), Jeris _e RegEm (1973), Gotaas (1956), _Poincelot
(1975), Stevenson (982),' Haug (1993) e muitos outros, No Brasil.. o livro
"Fertilizantes Orgânieos" lançado em 1987, 'pelo professor Edmar José Kiehl, foi
um dos pioneiros a se dedicar à com'p_ostagem, seguido de outros que contribuíram
para disseminar esta técnica no Brasil, como Pereira N(3to (1996), com trabalhos na
área de compostagem de ,lixo, e o grupo do Prof. Fernando Fernandes (1999) na
compostagem de ' lodo de esgoto. Em 1993, Frederick C. Miller publicou a
excelente
.
revisão intitulada Compostingas
. - a Process
, Based on the Controloí
Ecologically Selective Factors, na qual chama a atenção para "um racional
entendimento da ecologia da compostagem". Nos EUA, Eliot Epstein lança em
1997 The Science oí Composting, livro abundante em informações que discute a '
compostagem profundamente a partir de pesquisas de diversos autores.

Este livro se destina a ajudar a promover o conhecimento sobre compostagem no


Brasil e difLmdir técnicas de baixo custo e capazes de serem adaptadas as mais
\ '. ' , '
diversas condições, em regiões, cidades e propriedades agrícqlas deste país. Aqui
êabem parênteses: não estamos falando de "usinas de compostagem", dessas' que I
, I
se espalharam pelo país e resultaram, em geral, em pé~simas e~periências :(jsto
também aconteceu nos EUA), ~ncaramos a compostagem com~ uma técnica de
extrema utilidade para a gestão de resíduos orgânicos dos centros urbanos e
indústrias (principalmente agroindústrias), além de sua relevante utilidade agrícola.

De fato, a compostagen'l_será indispensável para o desenvolvimento sustentável. Ela


representa a reciclagem dos nutrientes qu'e nos 'alimentam, da matéria orgânica que

, \
,
mantém os solos vivos e produtivos, e a possibilidade de. que esta reciclagen; ocorra
entre o campo e a cidade (e as indústrias) de maneira ampla e benéfica. Sendo
assim, precisamos insistir e melhorar o nosso conhecimento e nossa prática sobre
c<;>mpostagem, métodos de av?,liação e monitoramento da qualidade deis resíduos
capazes de produzir compostos de alto valor agronômico e ambientalfente seguros. '
. • " !

_Centros ,urbanos, indústrias de papel, centràis de abastecimento, a agriculturé? e a


criação de animais são exemplos de grandes geradores de resíduos orgânicos: que
. ,

podem ser "compostados", desde não contenham eventuais contaminantes que


_ possam prejudicar a qualidade do prpduto final. E isto já acontece, mas não ha
escala necessária. É uma questão deetlciência ecológica reciclar esses resíduos
o"r~ânicos através da compostagem, não só pelos benefícios do uso agríç;ola do
composto , mas támbém pelos benefícios quando consideramos que estamos todo
dia enviando para aterros e lixõÉls toneladas de resíduos fontes metano (gás do
efeito estufa), efluentes poluentes, e que atraem vetores de doenças. Na agricultura
baseada , nos adubos químicos solúveis, o aproveitamento benéfico dos resíduos
orgânicos e da com postagem acabou minimizado, resultando, por exemplo, na
poluição de rios por esterco das criações de suínos. Essa minimização da
importância da compos'tagem e da mat,éria orgânica 'gerou empobrecimento dos
solos e lavouras mais suscetíveis ,a pragas e doenças dependentes do uso intEthsivo
de agrotóxicos.

Esforços foram concentrados para o tratamen'to dos lodos de esgoto através da


compostagem para uso agrícola. Cabe aqui ressaltar o título Impacto Ambiental do
Uso Agrícola do Lodo de Esgoto, de autores brasileiros, publiç;ado pela Empresa
Brasileira de Pes9uis,a Agropecuária. Resíduos como ~s lodos tê~ alto potencial
para a com postagem , mas também 'requerem análises complement'ares para seu uso
seguro na agricultura. _ A com postagem ainda é superficialmente conhecida por
biólogos, engenheiros, quín:icos e a,grônomos. E, também, minimamente aplicada
. pelo poder público ou empresas privadas. Muitos métodos usados e difundidos no
Brasi l resultam em processos problemáticos, principalmente a respeito de odores
desagradáveis. Apesar de plenamente evitável através de técnicas de manejo e
conhecimento mais aprofundado do processo de compostagem.

o ponto de partida deste livro foi a experiência reunida pelos autores na condução
do pátio de com,postagem da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, em
Florianópolis, . Estado de Santa Catarina. o projeto de Coleta Seleti~a e
Compostagem de Res'íduos Urbanos' fo.i iniciado em 1994 nas dependências do
Centro de Ciências Agrárias - CCA. Logo se e)l:pandiu para todo o campus .

,.
recolhendo resíduos orgânicos dos' restaurantes, refeitórios e do, biotério central. O
pátio de comp,ostagém tornou-se um laboratório a- céu aberto, formando alunos,
servindo de objeto para pesq4isas e de 'modelo- para observação erepli~ação. O
modelo d~ste projeto piloto baseado na técnica de "Ieiras estática,s com aeração
passiva" " aperfeiçoado para tratar restos de alimentos, alcançou êxito e foi replicado
para outros Q'lunicípios, empresas e para Centrais de Abastecimento. ', '
I
\ Complementar a toda a experiência adquirida no projeto da UFSC, este livro r~úne o
conhecimento , presente em fontes e trabalhos científicos relevantes, nacionais
(incluindo de pesquisadores da EMBI;lAPA) e estrangeiros, que fora'trl ,- ~
profundamente estudados e seus assuntos re!acionados com ' a prática conhecida.
Atualmente a EMBRAPA SOLOS mantém variados projetos de pesquisa e difusão da
com postagem financiados pe'la FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo
à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, e pela FINEP - Financiadora de Estudos e
Projetos.

Apesar deste livro se concentrar na descrição, discussão e entendimento da


com postagem corryo ' um pr~cesso baseadó na ecologia microbiana, discUtem-se.
também aaplica'çãq da com postagem como instrumento da gestãõ de resíduos é a
utilização do composto na agricultura. .

Concentra,m os nosso ,esforço em 'descrever de forma mais clara possível a relação


entre aspectos' científicos e práticos da com postagem de fo ~ma a permitir um
entendimento facilitado, mas sem superficialidades 'exageradas, q~e levem a difusão
da com postagem como ferramenta essencial da gestão de 'resíduos orgânicos na
agricultura, 'no meio urbano e nas indústriils, direcionada pará a produção de adubos
orgânicos como produto final.

-,
Os autores

'\
Apresentaçã~ ... ...................... ; .... ........ .. ......................... : ........... : ..... .. 31

CAPiTULO 1 A COMPOSTAcEM NA GESTÃO DE RESíDUOS ORGÂNICOS

' 1.1. Introdução ..................... '.. ..... .. ............................................ ..... .. .15


' 1.1. Gestão de resíduos urbanos .. ........ ...... ........ ........................... .... 18
1.2 .1. A fração orgânica como al~à da reciclagem .................. ... ............. , 19
1.2.2. Bases e estratégias .................... .. ,........ : .. ... .......... .. .. ~ ..... ................ 20
1.3. Compostagem de lodos de esgoto .......... : .... ............. ~ ......... ........ . 21
1.4. A Gestão de resíduos agrícolas e agroindustriais ............... :" ...... 23
1.4.1. Classificação dos resíduos sólidos segundo normas brasileiras ... .. .. 24
v 1.4.2. Serviço ambiental da propriedade rural pela compostagem ............. .2 5 '"
'1.4.3. A com postagem nomeio rural: utilização do composto e
avánços técnico-científicos'na agricuJtúra .. .. :........................... ......... .. ...... 27

CAPíTULO 2 CONCEITOS BÁSICOS E MICROBIOLOGIA DA COMPOSTAGEM

2.1. O processo de com postagem ..................................... ........ .. .~ ... 31


-2:2. Resíduos orgâni.cos para com postagem ........ .. ........ .. ................. 36
f .3. Transformações bioquímicas .................... .. ........ .. .. ....... ............. 37
2.4. Dinâmica microbiana ....... ...... ........ .. .......................... -... ;, .. ..... .. 43
2.4.1. Grupos 'microbianos ..................... .... .. ......... ... ; ........'.. ... .... .. .......... 46
2.5. Oxigênio ........... .. ..... .... .... .. ...................................... .... ... ........ . 49
. \ .
2.6. Umidade .. .. ......... < .. ......................... .... ... . .... .... ........... ..'........... ... 50,
2.7. Relação Carbono/Nitrogênio e outros nutrientes ........ ;.............. 52
2.8. Granulometria ................... ... .. .... .... .. ,........... : ... ,..................... .. 53
2.9. pH -............................... ........., :... )................ ;............ ................ 54

: CAPiTULO 3 MÉTODOS DE COMP,9ST AGEM

3.1. Introdução ........ .... ..... .. .. .. .................................. ;... .... .. :: ...... ... .. -55
3.2. CQmpostagem.com revolvimento de leiras .: .. .. .. : .. ...... .. ...... ....... 56
3.3. Leiras estáticas com aeração forçada ............................... .... .. .... 57
3.4. Com postagem em sistemas fechados ("reatores") ,.. .................... 59
3.5. Leiras Estáticas coril Aeração Passiva (Mét9do UFSC) ............ .. .. 61
3.6. A escQlha de um método de com postagem ..................... \ .... ..... 6~
CONTROLE DOS FATORES ECOLÓGICOS EM
CAPíTULO 4 LEIRAS ESTÁTICAS DE -COMp'OSTAGEM

4.1. Introdução .....:-. ................................................................... ,..... 73


4.2. Produção e transferência de calor ............................................. 75
4.3. Balanço hídrico ............................. :.. ,........................................ 80
4.4. Suprimento de oxigênio ..........,.................................................. 83
4.5. As cçuacterísticas dos resíduos influenciando o manejo da
com postagem ................................. ;.......... .'........................... ,.. 90

,
CAPíTULO 5 ' ASPECTOS AMBIENTAIS
,I

5.1. Introdução ....................,................. :......................... : ................ 97


5.2. A observação das leiras de com postagem .................................. 98
5.3. Controle de moscas ........~ ...... "........................................ ,....... 1 00
5.4. Geração de chorume (percolado) ........... :........... :.................... 103
5.5. Emissão de odores .................................................................. 105
5.6. Elimiriação de organismos' patogênicos (saúde humana) .......... 108
5.7. Efeitos sobre metais pesados .................................................... 112
5.8. Degradação de poluentes orgânicos ............. : .......................... 118
5.9. Segurança e saúde ocupacional ............ :................................ :. ,119

CAPíTULO 6
.
PROJETO DO PÁTIO DE COMPOSTAGEM
--_.-
6.1. Introdução .............. ~ ............................................................... 121
6.2. Escolha do local ....... :..... :................................. : ..................... 121
6.3. Solo e drenagem do terreno ..., ................................................. 123
6.4. Tratamento de efluentes ........... ~ .......... : .............. '... ;................. 125
6.5. Controle tecnológico ...................................................,........ :.. 128
CAPíTULO 7 BENEFíCIOS DO COMPOSTO
, ORGÂNICO PARA USO AGRíCOLA

7.1. Introdução ...... ......................................................................... 131


7.2. Estabilidade e maturldade do composto ..................... :... :........ 132 '
7.3. Fonte de nutrientes ................ :........... ,....... :....................... :.... 133 ' \

7.4. Substâncias húmicas .......... :................................ :................... 137·


\ 7.5. Supressãode fitopatógenos ..................................................... 137
7.6. Considerações finais sobre o papel da com postagem e o . '
'uso do composto nos solo .......................... :........................... 140

-
A FRAÇÃO ORGÂNICA COMO ALVO DA COLETA SELETIVA-
CAPíTULO 8 ESTU DO DE CASO
~ -"
8.1. Introdução .'........... :...................... :............................,..... ,......... 141 -
8.2. Histórico do município ...... :.................................................... 141
8.3, O sistema de gestão de-resíduos ................. ,... :'........................ 142
8.4. Os números da reciClagem ~rgânica .: ..................................... 143
8.5. Problemas solucionados ...................................................... : .. 143
8.6. Outros resultados alcançados .................................................. 144
8.7. Conclusão do estudo de caso ..'.............'................................... 144
,1

..

..

,
,
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\

A compostagem na gestão
de resíduos orgânicos

..
Caio de Teves Inácio
Paul Richard Momsen Miller

1 . 1 Introdução ',
A compostagem ' de resíduos orgânicos ' macronutrientes 2 e mircronutrientes 3 "
gera um benefício como produto final, o que em pri!lcípio , foram extraídos pelas
composto orgânico pàra uso agrícola, colheitas agrícolas. Esses elementos são
constituindo-se num processo que pos- essenciais para .as plantas e sua
sibilita o cumpfimento dos itens consi- ,reciclagem pode proporcionar asubstl-
derados fundamentais no conceito de tuição ou a redução ha necessidade do
desenvolvimento sustentável para o e'fi- uSQ de fertilizantes minerais. A concen-'
ciente tratamento e disposição de resídu- tração desses nutrientes no produto filial
os sólidos: (a) Minimização de impactos é variável em função da origem dos resí~

ambientais; (b) , Minimização de rejeitos; duos utilizados na compostagem. A


(c) Maximização da reciclagem, reciclagem de matéria orgânica, isto é,
carbono orgânico pára o solo, traz benéfic
Heciclar nuVientes e matéria orgânica cos múltiplo,s à capacidade produtiva do
,para os solos agrícolas são benefícios solo melhorando sua estrutura , aeração,
diretós proporcionados pela drenagem e capacidade de reter e
compostagem de resíduos orgânicos, de disponibilizar água as plantas, Lembran-
qualquer origem, desde que não conte- do que os solos sob cultivo tendem a
nham poluentes que possam contaminar perder fração significativa desta forma de
o solo. Outros benefícios se relacionam carb,o no, Uma parcela de' 5 a 10% dessa
com impactos ambientais diretos e indi- matéria orgânica se apresenta na forma
retos oriundos da disposição, ou uso de substâncias húmicas (ácidos húmicos,
como insumo agrícola, ,de certos resídu- ácidos fúlvicos e humina) que desempe-
os orgânicos, ' Com o uso do composto. nham papel importante na capacida~e de
orgânico, pode-se reciclar uma gama "troca de cátion do solo e, ainda, são

1 Ver définições no Capítulo,2.


, Nitrogênio, FósfC?ro e Potássio; e os nutrient'es secundário:, Cálcio, Magnésio e Enxofre.
3 Boro, Cloro, Cobalto , Cobre, Ferro, lY1anganês. Molibdênio. Zinco .
DI Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos ,

substâncias bioativas que "estimulam o É também, apresentá-Ia como uma opor-


crescimento e o desenvolvimento do sis- tunidade de negócio para área privada, .
tema radicular das plantas" (CANELLAS, que vai da prestação de serviço à p,r0du-
2005, p.224). O composto orgâni?o ção e comercialização de insumos para
possui ainda efeito s'u pressiv? em algu- agricultura, reflorestamentos e
mas doenças de plantas cujos agentes paisagismos. A compostagem, sendo
sobrevivem no solo devido à larga varie- uma biotecnàlogia ambiental, traz solu-
, dade. e quantidade de microrganismos ções integradas para problemas rurai~ fi

presentes na massa do composto. urbanos representando um elode benefí-


cios mútuos.
Mas além desses efeitos diretos da
compostagem e do ,uso;do composto or- Diversas atividades e setores da econo-
gânico na agricultura,. pode-se destacar mia geram grande§ quantidades de resí- ,
benefícios ambientais como: (a) redução duos sólidos orgânicos. Uf!1 e;<emplo
da poluição de recursos hídricos; (b) au- sã.o os' restos dealimentos da fração or-
mento da vida útil de at.erros sanitários; gânica dos resíduos l:1rbanos (restauran-
(c) mitigação de emissões de ,metano tes e CEASA's), subprodutos de matéri-
oriundo da disposição de resíduo urba- as primas de origem vegetal ou animal
nos. Definitivamente, a com postagem de agroimdústrias, lodos de Úatílmento
deve ser encarada como uma de esgotos" lodos de tratamento de
biotecnologia ambiental. Os benefícios efluentes de indúsJrias de alimentos,so-
da' escolha da com postagem como estra- bras das indústrias madeireiras, lodos e
tégia fundamental , para compor o resídI,Jos da indústria de papel e celulo-
gerenciamento de resíduos orgânicos, se, resíduos de podas urpanas, dejetos
seja no 'ambiente urbano ou rural, ' ou animais e restos de culturas agrícolas no
sejàm tais resíduos oriundos de grandes ' meio rural (Figura 1 .1). Estes·são exem-
geradores como agr,oind.ústria,s Okl com- pios de m~teriais que podem- ser inclu[-
plexos industriais, são de tal forma dos em um programa de gerenciamento
abrangentes e robustos que não seria ' de resíduos baseado no aproveitamento
mais coerente mantê-los enquadrados e ( tratamento por métodos de
' apenas como aquela "antiga t,écnie:a agrí~ composta,gem.
cola para aproveitar os éstercose restos'
vegetais nas pequenas' propriedade~ Os resíduos orgânicos são
agrícolas". Encarar a compostagem " biodegradáveis', isto é", se decompõem
como uma biotecnologia ambiental sig- por ação microbiológica e de pequenos
nifica colocá-Ia nos mais variados currí- animais e invertebrados quando dispos-
culos técnicos, e superiores, e inseri-Ia de tos' no ambiente natural. Nem por isso
forma cpnsistente nos programas e pla- podemos concluir que são resíduos que
nos de gestão de empresas e governos. não mereçam g!ande atenção quanto aos
i
A compostagem na gestão de resíduos orgânicos m
potenciais impactos ambie~tais e para a tal das agroindústrias se igualam aos
saúde. A fração orgânica dos resíduos dejetos quanto aos potenciais de polui-
urbanos é responsável pela geração de ção. E, os lodos de esgoto, além do
/
impactosambient~is importantes em áre- potencial poluid'or e de "transmissão de
as de ate,rros sanitários -e depósitos irre- doenças, represe~tam custos elevados
gulares, e impactos à salubridade dos nos sistemas urbanos de tratamento.
ambientes urbanos péla atração de Veremos adiante como o papel funda-
vetores de doenças. Os dejetos de ani- mentai das técnicas de compostag~m na
mais no meio rural constituem uma fonte gestão de alguns deS«les resíduos, com
de poluição dos recursos hídricos e são ênfase em novas estratégias de
meio de proliferação de móscas. Os gerenciamento, métodps e resultados ro-
subprodutos de origem animal ou vege- bustos e promissores .

... \
BenejTcios AmlJienlllif
Aumefltada vicia útl! de aterros
sanitários e "1itigação de emissões de
metaflo ~ aCJlIecilllel7to g!oáll,
Redllção tk linpactos nos reC1U'sas
, hídricos

Residulll Sólidos Urbanlll Indústrias


Restos de comida (restaurantes). Restos de comida (rereitórios)
Podas e manutenção de gramados. Podas e manutenção de
Lodos (tratamento de água e gramados. '
'esgoto) - com devido controle. Lodos biológicos ~ classe II
(tratamento de esgoto e efluente
in dustrial ) - com devido . '. •
ComposllZgem tle controle ..
CEASA's Fdtluos o'lfânicos. Restos de madeira (serr~gem e
Restos de alimentos aparas).
Reciclagem de
(não comercializados).
nlltrientes e ajXJrte
decarbollo
Agrli.ndústrias e IndlÍitrias de
OIZâllico. alimentos
Agricultura e pecuária Restos e subprodutos de matéria-
Restos de cul turas prima vegetal e animal.
agrícolas. Lodos biológicos - classe JI
Estercos de criação (tratamento de esgoto e efluen te
anima.1 industrial) - com devido controle.

Solo
Melhora da CapacIdade Prodllliva.

Agura 1.1 - Setores grandes geradores de resíduos orgânicos que podem ser gerenciados (tratados e
aproveitadosl pela aplicação de métodos de compost~gem e identificação dos benefícios diretos aos solos
agrícolas e os benefícios ambientais gerais.
,
Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos

1 .2 Gestão de resíduos materiais como vidro, papel, plástiCos, "

u~banos . ~.Iumínios entre outros, que representam


12 a 13% do total gerado. Segunçlo
o principal d,esafio do gerenciamento de
Costà (1996) : pequena fração destes
resíduos urbanos' é reciclar a maior ql!an-
materiais é realmente reciclada, apesar da
tidade possível de resíduos para reduzir
existência de tecnologias de ~eciclagem
de modo significativo a quantidade a ser
relativamente econômicas para a maibria
disposta nos aterros. Isto aumentaria a
das classes de resíduos. A fração orgâhi- ~
vida útil dos aterros e diminuiria seus
ca' dos resíduos sólidos domésticos
custos operacionais. Neste sentido, a
(RSD) representa em peso de 45 a 60%
principal estratégia tem sido a ênfase na
do total coletado .. É ~sta fração que' dis-
. reciclagem de embalagens.
posta em aterros gera grandes yolumes
Apesar desses esforços, na realidade de chorume e gás metano, além de atrair
brasileira, uma pequena parte é efetiva- vetores de doenças.
mente rec.iclada e os aterros, sanitários '
Os aterros' sanitários são um co"mponen-
ou não, recebe~ grande quantidade de
te essencial de disposição final num sis-
resíduos recicláveis - inçluindo' a fração
tema de gestã~ de resíduos urbapos. No
orgânica representada pelos restos de
entanto, Mahler (2002) cita que apenas '
alimentos. Aterros ~anitários são neces-
10% dos resíduos sólidos coletados são
sários e representam um investimento
depositados em aterros sani~áriós dota-
alto para os municípios, Além 'disso,
dos de impermeabilização de base, siste-
tendem a ter um custo relativo maior
para as pequenas cidades. Modelos de
mas de tratamento de éflu~nte
(chorl!me), dispersão dos gases e
coleta seletiva de repicláveis também
confinamento dos resíduos sÓlidos peia
têm apresentado custos elevados por to-
cobertura diária com material inerte. As '
nelada coletada o que por veze~ inibe a
áreas adjacentes também sofrem com a
adoção desses sistemas. Exemplos 'de
desvalorização do valor dos imóveis el .
métodos m'al sucedidos de
ou terrenos. Não raramente a escolha de
compostagem de resíduos orgânicos
ljma área para aterro sofre pressões for- -
também são comuns. No entanto, no-
"tes dé! sociedade da área de influência, o
vos métodos de com postagem de baixo
(custo em aplicação no Brasil têm de-
que resulta mn aterros sanitários cada
vez mais distantes das áreas de coleta, o
monstrado eficiência e, em consequência,
que aumenta os custos de tran~porte
permitido o aumento da reciclagem muni-
dos resíduos.
cipal em curto espaço de tempo.

Os aterros sanitários reàresentam um in-


o gerenciar.nento de res(du~s urbanos
vestimento considerável para os municí-
tem se concentrado em programas de co-
pios e têm vida útil curta, em média 20
leta seletiva, no reaproveitáme~to elou
anos. nA situação financeira dos muni-
• geração de tecnologias de reciclagem de
,
I
A compostagem nf! gestão de resíduos orgânicos m
cípios mostra que, quando relacionada à r2. 1 A hação orgânica
receita e,xistente em cada um, os investi- como alvo da reciclagem
mentos necessáriàs para a implantação
de um aterro sanitário ' são tres vezes A coleta sel~tivà deve ser priorizada em
maiores para os municípios com menos 5lualquer sistema municipal de
. '
de 10.000 habitantes,
. ,
do que
para as tratamento e disposição de resíduos
grandes aglomerações com mais de ' sólidos, e se apresenta como a única
200,000 habitantes" (SANTA maneira de proporcionar o ade'quado
CATARINA, 2003). • acondicionamento das diferentes
categorias de resíduos possibilitando
o município de Garopaba, no litoral de que estes sejam mais facill(1'e nte
Santà Catarina a 8q km da capital destinados as suas respectivas
Florianópolis, optou,,-em 2003, pela im- operações de tratamento e reciclagem,
plantação de projeto denominado de diminuindo às perdas e os custos com o .
Reciclagem Orgânica que possibilitou transporte e a separação em usinas
elevar os índices médios de reciclagem (LEITE, 1995) .
IJara cerca de 30% no primeiro ano de
execução .. A estrat'é gia adotad'a c'o nsis- A coleta seletiva da fração orgânica é
tiu na ' priorização da :coleta seletiva da indispensável para que o seu tratamento
fração orgânica em grandes geradores e através da com postagem constitua um
com postagem t'ermofílica em pátios de modelo
. eficiente e econômico, O .não
baixo custo O Capítulo 8 apresenta este cumprimento deste item exige a monta-
estudo de caso detalhadamente, Esta al- gem de "usinas" de compostagem base-
ternativade gerenciamento de resíduos adas em esteirase operações de separa-
foi desenvolvida pela Universidade Fe- ção, em geral com infra-estrutura onero-
deral de Santa Catarina - UFSC, e tem sa. Este tipo de modelo leva a produção
sido aplicada com su~esso no campus de um produto final de baixa quàlidade
I "-

universitário e em outros pequenos mu- com grande 'quantidade de partículas de


nicípios do Estado ~, támbém, pela materiais indesejáveis, possível contami-
CEÀSA - Cen'tral de Abastecimento de nação 90m metais pesados e muitas ve-
São José-SC. Este modelo de zes aspecto deplorável e mau cheiro.
compostagem e coleta seletiva, ainda em Quando a fração orgânica é separada na
sua fase piloto em 1998; já havia sido origem, nas residências, ela não se mis-
apontado e recor)hecido, como "uma im- tura com a fr,ação Inerte (vidro, plástico,
po~tante alternativa para ,gerenciamento papel) . resultando num composto de
municipal ( ... ) para que haja a reducão bom aspecto e boa qualidade. As altas
, '

do, volume de resíduos depositados em temperaturas (55°C a 85°C) atingidas ....


~terros e aumento da vida útil destes, , .
durante o processo . de transformacão
bem como, o combate aos lixões" dos resíduos n~ com postagem garantem'
(INÁCIO et aI., 1998). a ausência de patógenos comuns ao ho- '
Compostagem . ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos

mem no produto final que será utilizado 3. REDUÇÃO DA POLUiÇÃO - Diminui a


como condicionador de solo . quantidade de ma{éria orgânica que vai
para os aterros sanitários reduzindo a
.1.2.2 Bases e estratégias geração de chorume '(percolado) e o odor
desagradável, ben:' como, a geração de ,
A Reciclagem Orgânica é um modelo
metano, um gás do j:lfeito estufa.
complementar de gerenciamento que
tem as seg\-lintes bases (Figura 1.2),:
A implantação e manutenção de projetos

1. ESTRATÉGIA - Priorização da' co.leta de coleta seletiva .e compostagem dos


seletiva da' fração reciclável orgânica nos resíduos orgânicos pode apresentar cus-
grandes geradores 4 (restos de comida e tos menores que as coletas convencio-
das indústrias de alimentos e nais/aterros e as coletas seletivas ,de
agroindústrias) ; recicláveis.
I
O trabalho de Matusaki
(1995) calculou 9S custos operacionais
2. BASE :rECNOLÓGICA - Compostagem de um p~ojeto piloto parai ~inco bairrós
em Leiras Estáticas com Aeraçãó Passiva da cidade de Florianópolis, e chegou a
ou com Aeração Forçada; uma redução projetada de custos por to-
nelada de resíduos de cerca de 47% em
3. DESCENTRALIZAÇÃO - O tratamento comparação com a coleta convencional e
deve ser descentralizado com vários pá- deposição no aterro da cidade. Já
tios de compostagem para evitar gastos Zambonim -(1997) realiz'ou uma análise
excessivos com b transporte do resíduo. de eficiência econômica dos projetos de
compostagem do campus da UFSC e da
E tem como principais benefíc.ios:
Central de Abastecimento - CEASA, no

1. RECICLAGEM - Proporciona alto índi- ,!llunicípio de São José/SC, e chegou a


resultados de redução de 29,5% e
ce de reciclagem e consequente o 'au-
36,2%, respectiv.amente, no~ custos
mento dá vida útil dos aterros;
por tonelada' de resíduo em relação ao
2. COMPOSTO - Gera um benefício; o sistema convencional. Apesar de se tra-
composto orgânico para uso na agricul- tarem de pequenos projetos com capaci-
tura e fertilização de parques e jardins dade de compostagem entre 1,5 a 5,0
municipais. A coleta seletiva da fração toneladas de resíduos orgânibos por dia,
.orgânica reduz os riscos de contamina- eSses resultados são um indiçativo do
çã~ do composto, influenciando na quai padrão de custos par~ projetos. de
' Iidade do produto final. com postagem de resíduos urbanos, con-

4 Por exemplo, a cidade do Rio de Janeiro adota a coleta extraordinária classificando como grandes geradores
de resíduo s aqueles c<;lm geração de mais de 120 litros o,u 60 kg de re síduos por dia.

/
A compos tagem na gestão de7 esíduos orgânicos

A LTO ÍNDIC E DE' GERA UM BENEFíC IO:


REC IC LAGEM I
AUMENTO DA VIDA OCOM PSOTO
ÚTIL DE ATERROS ORGÂN ICO

\ NOVO MODELO DE
COMPOSTAGEM E
/
CO LETA SE LETIVA

ESTRATÉGIA: PÁTIOS / COM POSTAGEM


COLETA SE LETIVA DA D ESCENTRALIZADOS TERMOFíLlCA EM
FRAÇÃO ORGÂN ICA LEIRAS ESTA T1CAS
(GRAND E GERf'DORES) (REDUÇÃO DE CUSTOS) (MÉTODO UFSC)

Figura 1. 2 - Diagrama de estratégias, base, tecnológica


, e benefícios da reciclagem orgânica,
,

siderando a tecnologia empregada, nas ao , controle da poluição urbana e


condiçõês econômicas do B~asil. O es- am,biental. A . co.m postagem é uma
,tudo de caso da implantação de' um pro- tecnologia que não exige investimentos
jeto de compostagem de resíduos urba- altos e gera um produto benéfiéo, o
nos em Garopaba/SC é descrito no Capí- composto orgânico. Este pode ser utili-
tulo 8, e, também, demonstrou essa zado na produç.ão de alimentos caracteri-
vantagem em relação aos custos zando a ciclagem de nutrientes entre o .
"
operacionais. meio rural e urbano . A utilizacão do
I . '
" composto na agricultura representa um
Os resu'ltados dos éstudos dos diversos insumo importante e eficiente no contro-
projetos, acima citados, demonstram le biológico natural de doenças de plan-
que a coleta seletiva e com postagem da tas e_substituição dos adubos industri-
fração orgânica do lixo devem ser ais. A redução do uso de agrotóxicos em
priorizadas , em ' um plano de tratamento mui~o depende da utilização do compos-
,
de resíduos sólidos que visa a redução to orgânico.
em curto prazo da quantidade de detritos
destirados aos aterros sanitários . A 1.3 Compostagem de
r,e ciclagem ' orgânica constitui, ainda, lodos de esgot<?
uma estratégia de gerenciamento 'de resí- Os sistemas de tratamento de esgotos e
duos com potencial de integração entre ' outros efluentes com carga orgânicà ge-
os setores da sociedade, propiciando ram resíduos sólidos ao fi [1 al do proces-
m~ior conscientização da população e a so denom inados lodos de esgoto ou
divisão de responsabilidades ref~rentes simplesmente lodos biológicos. Segun-
Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduosorgãlJicos

do orientação da Water Environmental tema trazendo parâmetros e limites de


Federation - WEF, caso este material te- concentracão dos agentes potencialmen-
nha uma composição predominante~en­ te poluent~s.N~ssa resolução é' basea-
te orgânica e possa ter uma utilização da na norma 40 CFR 503 p~ra reus.o de
benéfica, estes resíduos devem ser de ~ biossólidos editada pela Agência de PrÇ>-
nominados ,de Biossólidos (ANDREOLl; teção Ambiental dos EUA (EPA, na sig~a
PEGORINI, 1998). A reciclàgem agríco-. em inglês). .Ambas as normas restrin-
la desses biossólidos é uma das formas gem a aplicação dos biossólidos a certas
mais benéficas de se gerenciar esses re- culturas .;:lgrícolas, excluindo a aplicação
síduos por representar aporte de nutrien- em campos de hortaliças, e indic~m a
tes e matéria orgânica ao solo, com refle- comp0stagem termofílica como uma téc-
xos na formação de agregados do solo, nica de redução ~e patógenos da mássa
na capacidade de retenção de água e na de lodo tratado. O município de Jundiaí
redução do uso de fertilizantes industria- produz 200 ton/dia de 10,dos de esgoto
lizados (AND~EOLI; PEGORINh 1998, com 18 % de sólidos e 'recicla } 00% do
citando várias fontes). No entento: esta material na agricultura após o tratamento
reciclagem agrícola de l?doS deveseguir pelo processo de· compostagem
critérios técnicos de prevenção de im- termofílica. A compostagem deste lodo
pactos ambientais relacionados 'a metais com fibras vegetais - bagaço ' de cana e
pesados (elementos t ~aço), excesso ,de podas urbqnas trituradas - permitiu o
nitrato e carga de fósforo, e presença de enquadramento do produto final, o com-
patógenos e helmintos (parasitas intesti- posto orgânico, com~ biossólido Classe '
nais) no material que vai ao solo agríco- A conforme a resoluçãoCONAMA n~
la. O prognóstico no B'rasil 'é I de um au- 375 (BRASIL, 2006) ' pela redução de
mentO rápido da geraçãO de lodos de O\/OS de helmintos viáveis e outros
esgoto com os novos iRvestimentos em patógenos na ma!)sa do material 5 , Neste
saneamento já previstos pelos governos município 'a área de Gompostagerl) é co-
municipais"estaduais e federal, ou seja, ,p;rta e o método in~lui o revolvimento
construção de redes de, coleta de esgoto m'ecânico das leiras. A cobertura para
\. .
e estações de tratamento. evitar o aporte de água de precipitação é
desejável para a cOm postagem de lodo ,
No Brasil, assim éomo nos EUA e Euro- devido à alta umiçladedesse material. O
pa, existem normas ambientais que re- composto tem sido aplicado em áreas de
gulam a reciclag~m agrícola de lodos de . café, cana-de-'a çucar e eucalipto. Além
esgoto. Para nós a resolução CONAMA do aporte de maérónutri~ntes, -principal-
nO 375 (BRASIL, 2006) regula e,ste mente nitrogênio e' fósforo, a aplicação

5 Dad6s apresentados pelo Eng o . AgrO, Ferna~do d, Oliveira noVI Simpósio Interàmericano de Biossólidos, 'Fla
pale~tra Manejo de Biossólidos da~ Lagoas Aeraqas de Jundiaí/SP, ABES" RJ. Rio de Janeiro, 2,1-29 de
agosto 'dé 2008,
A compostagem na gestão de resíduos orgânicos IEII
j

do composto produzido, proporcionou que implica em custos de transporte e


.,J ,
maior capacidade de manutenção de ní- manuseio para o gestor do lodo e na ,
vei,s adequados de umidade no solo e, necessidade de monitoramento' e contro-
consequentement'e, de água disponível le do processo biológico, A aplicaéão de
" .
para a planta cultivada, Este efeito sobre lodo de esgoto estabilizado pela via alca-
a umidade do solo é típico quando incor~ lina 7 tem sido amprámente utilizada para
poramos ao solo várias tonél,adas por viabilizar a reciclagem agrícola também
hectare de matéria orgânica estabilizada, no Estado do Paraná, região metropolita-
como neste caso, na de ' Curitiba (BITTENCOURT et aI.,
2008). Resultados de rendimento de la-
Segundo Fernandes 6 (2008), a voura ' comparando lodos estabilizados
com postagem de lodos apresenta claras com cal e lodos compostados apontam
vantagens quanto a: (a) 'flexjbilidade para uma melhor resposta ao primeiro
tecnológica, podendo empregar sIste- prqduto, Esta resposta p'ode estar relaci-
mas simples para as p~quenas quantida- onada ao maior.teor de nitrogênio (N) na
des, até sistemas mais sofisticados para forma de nitrato (NO·3) comum aos lodos
quantidades maiores de lodo; (b) permite de esgoto 'ou mesmo ao efeito da própria
usar o lodo ,com grau de estabilização ,cal, elevando o pH d'o solo, O lodo
variável, podendo inclusive processar compostado tende a apresentar men'or
lodos n~o estabilizados~ se tomadas a!) teor de nitratos em função da perda de
precauções de controle de ódor; (c) pro- nitrogênio em formá de amônia (NH 3)
dução d,e biossólido Classe A, de acordo volatilizada durante o processo de
com a Resolução 375 do CONAMA, se com postagem e, também, pela conver-
o processo de compostagem for bem são ' das formas solúveis de N em N-
conduzido; (d) segurança sanitária 'já orgânico " O excesso de niÚato, altam'en-
.J"
que ó processo elimina os patógenos te solúvel, no material aplicado ao solo
presentes no I~do; (e) fácil manuseio e leva a um m'aior risco de contaminação
transporte do produto final, em contras- de águas superficiais e subsuperficiais.
te com o lodo pastoso; (f) fixação de
carbono, reciclagem e ausência d~ passi- 1 .4 A gestão de resíduos
vos, e , (g) qualidade agroquímica (pre- agrícolas e agroindustriais
sença de substância·s húmicas). As limi- a
. Existem no. meio r!Jral várias fontes de
táções da compostagem de lodo estão
geração de resíduos orgânicO"s, ,seja den-
relacionadas à necessidade de obtenção
tro da propriedade rural ou fora dela, de
de materiaise'struturantes"como palhas,
origem vegetal ou animal, seja de fonte
serragem, podas urbanas trituradas, o
agrícola, agroindustrial ou municipal. .

6 Palestrante no VI Simpósio Interamericano de Biossólidos, ABES- RJ, Rio de Janeiro. 27-28 de agosto de
2008,

/,
Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos

Est~ abordagem se compatibiliza com a presentes no esterco, o que resultava em


visão de microbacia hidrográfica \com um adubo de melhor valor agronômico.
unidade de gestão de recursos hídricos, Com a modernização da ag!icultura e a
notadamente microbacias de forte eco-O difusão dos adubos químicos de alta so-
nomia agrícola. Gerenciar os resíduos lubilidade, a compostagem foi pratica-
orgânicos de forma adeqüada tra~ bene- mente abandonada e esquecida pelos
fícios relacionadol1 à" prevenção da polJi- agri,cultores atuais.
ção de cursos d'água e solo, diminui,ção
de foco de doen'Ças para ' as lavouras e 1.4.1 ClassíDcação dos
produção de adubos orgânicos para uso resíduos sóHdos segundo as
agrícola. A compostagem se constitui normas brasHeíras
uma técnica importante pará tratamento
dos resíduos gerados nO meio rural, ape- A com postagem tem a possibilidade de
sar de pouco difundi'da entre-agricultores tratar uma gama variada de resíduos or-
no Brasil, . a não ser entre agricultores gânicos. Mesmo assim, quando nos re-
orgânicos 8
. ferimos a. resíduos agroindus.triais e ur-

, banos, é preciso se certificar sobre a ori-


O domínio' da técnica · por produtores gem destes resíduos para evitar qualquer
rurais pode propiciar a reciclagem de re- risco de contaminação.
síduos oriundos da própria propriedade
ou de agroindústrias e em certos casos A NO,rma Técnica da ABNT (Associação
até de cidades próximas. Neste caso, Brasi~eira de Normas Técnicas). NBR
estaria' se formando um serviço .10.004 Resíduos sólidos
ambiental da propriedade rural' baseado classificação, divide os resíduos da
, na com postagem de resídwos orgânicos seguinte forma:
• de diferentes fontes.
Classe I - perigosos;

A com postagem de restos vegetais e es- Classe lia - não inertes;


terco de animais de criação é uma prática I
~ntiga utili.zada por agricultores para ac.e- Classe IIb -' inertes.
lerar a decomposição dos restos vege-
tais das lavouras e hortas como também Apenas os resíduos Classe lia -i nteres-
para elimi'nar as sementes indesejáveis 9 sam à compostagem e mesmo assim sua

7 Processo d~ estabilização \alcalina prolongada para higienização, o qual consiste na adição de cai e
armazenamento mínimo de 30 dias, período em que o pH é mantido acima de 12. Utilizam-se misturas de
cal virgem em dosagens de 30 a 50% em relação aos sólidos tótais de lodo, O processo é eficiente na
inativação dos. ovos e larvas de helmintos (EPA, 19.92; THOMAZ: SOCCOL et aI., 1999; FERNANDES et
aI., 1996, citados por BITTENCOURT et aI., 2008).
8 Agricultura Orgânica, Natural, Biodinâmica e outras correntes de agricultura alternativa ,
A compostagem na ges tão de resíduos orgânicos m
composição deve ser conhecida, pois al- o grande número de produtores rurais
guns resíduos nesta classe apres'entam de hortaliças e grupos de agricultura or-
composição incompatível , para produ~ir gânica presentés nas regiões produtoras
. I . .

um composto de boa qualidade, Re,s ídu- de hortali~as - (cintur~ es verdes) aponta


os urban'o s do tipo poda de árvores e para uma demanda pot!'lncial por com-
capinas, ou resíd,u os agroindustriais dó posto orgânico, que tem amplo uso
tipo bagaço de cana de açúcar, restos d~ como fonte de nutrientes para as planta-
madeira não tratada, palhas e resíduos ções e condicionador do solo . Soma-se
desilos', são a priori sem contaminação e a esse p,otencial a necessidade ,de muni-
podem ser usados na compostagem. cípios de pequeno e médio porte estarem
Outros resíduos de processos industriais ' buscando soluções p'ara o destino de re-
(Iodos de sistemas de tratamento de síduos de podá e resíduos provenientes
efluentes, madeira tratada, etc) depen- dos grandes distribuidores d/e hortaliças
d.em de análise química e monitoramento que absorvpm a produção da' região.
constante para que não impliquem em Restaurantes e hotéis localizados no pe-
risco de contaminação indesejáveL A rímetro urbano desses municípios po-
compostagem destes resíduos também dem igujllmente ser beneficiados pela
deve ter a autorização • do Órgão coleta de seus resíduos orgânicos .
Ambiental competente, que determinara
as condições ambientalmente seguras A difusão de rY)étodos de ~ompostagem
para o processamento destes resídLios. de baixo custo e de técnicas de
,gerenciamento de pátios de
1.4.2 Servipó ambiental da com postagem e da coleta de resíduos
propriedade rural pela orgânicos é uma estratégia' que pode ge.::
.compostagem rar grande im~acto positivo, similarmente
aos benefícios alcançados com gestão de
A gestão de resíduos orgânicos baseada
resíduos urbanos baseada na reciclagem
na coleta e compostagem de resíduos
org,ânica mostrada anteriormente.
orgânicos pode ser gerenciada pelas As'-
sociaçõe? de Pro'dutores Ruráis ou pro-
- Impactos esperados com a rec iclagem
' dutores independentes, Os produtores
orgânica integrada (urbano-rural-
estariam ao mesmo tempo gerando um
agroindústria): ,
serv'iço ambiental e pr'odu;indo iflsumos
importantes para sua agricultura, e, po- a. Surgimento de um serviço ambiental
tencialmente, gerando r'e nda e postos de gerenciado por Associações de Produto-
trabalho, e aumentádo ~ua res, ou produtores individuais, com
competitividade (Figura 1.3). cons~quente geração de renda e postos

,
9 Sementes de plantas não cultivadas que competem adversamente com a cultura principal ( ~ er.vas daninhas"),
Compostagem - ciência e prática par; a gestão de residuos orgânicos

de trabalho_ A gestão dos resíduos orgâ- çâó do; níveis de matéria orgânica nos
nicos pode inclui~ uma unidade de solos agrícolas, e consequentemente.
-
compostagem centralizada ou várias uni- bons níveis de produtividade agrícola. A
-dades descentralizadas, conforme a via- compostagem dos resíduos é uma forma
bilidade técnica e econÔmica, gerenciada de agregação de valor de grande impacto,
pela Associação de Produtores. ~ sendo ainda, um insumo que pode ser.
certificado dentro das normas c;la agricul-
b. Maior reciclagem de resídu?s orgâni-
!ura orgânica, desde que os resíduos sa-
cos, tais como, podas, resíduos agríco-
tisfaçam os requisitos de qualidade.
las, de hortaliças, e resíduos de
agroindústrias gerados na região. Esta
Uma serie de circunstâncias são neces-
reciclagem tem como efeito melhorar a
sárias para que tal arranjo se forme. A
qualidade dos recursos hídricós' - atingi-
primeira de.las é a ,difusão das técnicas
dos pela disposição.
de com postagem para produtores rurai~.
c. Maior pr.odução de composto orgâni- Esta formação incluiria ,noções sobre' as
code alta-qualidade para uso agrícola. A característiças dos resíduos e quais os
• J - '
oferta de tal insumo tem o potencial de riscos amb,i entais envolvidos. Os pro-

aumentar a, competividade das proprre- dutores devem ter plena noção de quan-
dades rurais via manutenção da produti- do é necessário solicitar caracterizações,
vidade agrícola e v'isibilidade dos produ- via análises €luímic,,!s e consulta a profis-
sionais habjlitados, , d~ resíduos de fon-
tos orgânicos . O uso de cpmposto orgâ c
nico tem o potencial de fazer a manuten- tes industriais das quais
, .há dúvida sobre '

. Resíduos Agrolndustliais •

Compostagem
gerida por Uso do composto
produtores rurais orgânico na agricultura

Comen;ializaçio do
Algúns resíduos urbanos ' excedente
(coleta seletiva da fração orgârtica'e podas)

Figura 1.3 - Proposta de 'modelo de gestão Integrada dos resídu~s ' sólidos orgânicos baseada em unidades de
com postagem descentralizadas,' geridas por produtores rurais especializados, com emprego de tecnólogia
flexível e de baixo custo,
A compostagem.na gestão de resíduos orgânicos m
o processo. Igualmente importante a a redução e/ou eliminaçã'o de patógenos
apresentação t:le formas . de presentes no esterco.
operacionalização e manuseio\ de resídu-
os orgânicos, d,os custos envolvidos, Criadores orgânicos certificados na Fran-
dos tipos de máquinas e equipamentos ça: na região de Aldis, gerenciam os resí-
disponíveis no mercado e da legislação duos da criação em cama sobrepostas de
ambiental pertinente. feno. A arquitetura qas instalações pos-
\
sui espaço de armazenamento em um
1.4. 3'A compostagem no tipo de sótão, acima das baias dos ani-
m.eio ruraL- u./Hização do mais. A cama mistu~ada aos dejetos é
composto e avanços técnico- retirada para formar leiras de"
cientiOcos na agricultura com postagem do lado das granjas . Em
que pese as diferentes condições climáti-
No caso' da suinocultura, a cas e ' particularidades do manejo dos
compostagem' dos dejetos em animais, com o uso de cama ou não, o
contraponto ~o uso de esterqueiras ou uso de água para Ipv·agem d'as baiés de
espalhamento direto no solo na forma de criação deve ser no reduzido a mínimo
efluente Irquido, possui vantagens quan- para que os dejetos possam ser tratados
to ao custo das instalações e das opera- como resíduos sólidos na compostagem.
ções, . bem como, . reduz os ri?cos O uso de peneiras de' separação da" fase
ambientais relacionados à aplicação des- sólida tem possibilItado a .compostagem
~es dejetos nos solos agrícolas. A desta parte, . mas mantém a n~cessidade
compostagem pode ser feita com o de tratamento da fase líquida gerada em
maquinário comum a uma própriedade gr~nde quantidade.
agrícol.a, não há necessida~e de novas
construções, e o produto final da Os dejetos animais têm trazido desafios
com postagem é mais estábilizado e de de manejo com o aumento das unidades
liberação lenta de nutrientes; Isto reduz de criação animal confinado. No Estado
os riscos ambientais da aplicaçã9 do es- de Santa Catarina, a grande quantidade
terco e também melhora a eco(1omicidade de dejetos gerados na mesorregião Oes-
do transporte e aplicação, já que a · te Catarinense , que concentra a maior
com postagem reduz o volume e o peso criação de ave~ e suínos por unidade de
final do resíduo tratado. Portanto, a com- área do Brasil (MIRANDA, 2007), tem
posto orgânico potencializaria a resultado em forte pressão ambiental, . \

reciclagem de nutrientes em um raio mai- principalmente, relacionada à polui.ção


or de alcance (distância de aplicação do . dos recursos hídricos. · Apesar dos
local gerador do resíduo). A fase dejetos de animais serem um importante
termofílica da com postagem, com tempe- \ insumo orgânico para o solo e lavouras,
raturas entre 55°C e 65°C, .permite ainda a intensidade de aplicação e falta de cri-
Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos

térios, aliada a grande qUrntidade de uso de água para eliminação do mÇlterial


dejetos disponível, transformaram . este para esterqueiras ~ uma prática que,
insumo em uma causa de poluição além de aumentar o volume de resíduos,
(SEGRANFREDO, 2007). Esforços têm . torna o dejeto suíno um efluente líquido.
sido aplicados pela pesquisa e 'pela ex- Nesta forma, a abordagem de tratamento
tensão rural em · novas ~écnicas e passa a ser a de tratamento de um
tecnologias que sejam capazes de. absor- efluente e não mais de um resíduo sólido
ver tal quantidade de dejetos. Os princi- (ou pastoso). O emprego de sistemas de
pais impactos dos ~ejetos estão relacio- tratamentq de dejetós similares aos sis-
nados à carga de nutrientes (Nitrogênio;
Fósforo e Potássio), alta 080 10
temas de tratamento
. de esgotos em la-
goas em série predominam nas granjas
.
coli(ormes fecais (e patógenos relaciona- suinícol-as (HIGARASHI ' et ' aI., 2007).
dos) e ao conteúdo de zinco e c~bre, Do ponto de vista da melhor gestão de
proveniente de suplementos alimentares. resíduos, o uso da água para eliminação
dos d~jetos das granjas é' uma prática
Considerando a possibilidade de que deve ser minimizada pelo criador. A
reciclagem dê nutriéntes pela aplicação separação da fase sólida dos dejetos su-
dos dejetos nos solos agrísolas uma re- ínos em peneiras especialmente
lação é ' relevante: a concentração das projetadas permite o uso deste material
unidades de criação animal confinado e a em leiras compostagem. Da mesma for-
área de lavouras temporárias que podem . ma, o uso de cama sobreposposta é
receber este insumo. Ressalta-se que de compatível com a com postagem dps
fato "nem toda a área de lavoura tempó- dejetos. O sistema de criação de suínos
rária ( ... ) é passível de ser utilizada para em cama sobreposta é uma tecnologia
reciclagem de nutrientes, haja vista que de manejo de dejetos na fase sólida,
do ponto de vista econômico existe uma onde a cama é constituída de 'maravalha,
disiância máxima entre o local de produ- serrag~m, palhas ou outros substratos.
ção e o seu local dé destino. Além dis- A revisão feita por Nunes (2003) apre-
o
so, existem limitações nas característi- senta os resultados e· dados de diversos
cas químico-físico e biológicas que im- autores que demonstram que o sistema
pedem que a totalidade .9a árJ'la agrícola . de manejo com cama sobreposta traz
seja possível , de ser, ~tilizada, n~ vantagens como; (a) aumento da con-
reciclagem de nutrientes" (MIRANDA, centração de nutrientes nos resíduos
2007, pg. 31). viabilizando o u~o como fertilizante; (b)
reduz a quantidade gerada de resíduos a
Particularmente para dejetos suínos, o ' serem tratados; (c) reduz a l!midade dos '

10 Demanda Biológica de Oxigênio, medida-em mg de 0 / I. Quanto maior a DBO, 'rY)aior o consumo de


oxigênio para biodegradação em corpos hídricos.
A compostagem na gestão de resíduos orgânicos

resíduos; e, (d) não afeta a produtivida- Em Ituporanga, Santa Catarina,a


de animal, e que a compostagem de compostagem foi novamente incorporada
dejetos sólidos e líquidos ' de suínos é . as recomendações par.a produção agrícola
uma prática viável e recomendável, com da região, ,grande produtora de cebola. A
alta capaddade de tratamento dos difusão do método de" compostagem foi
dejetos e produ,ção de composto orgâni- realizada pela EPAGRI - Empresa de Pes-
co de alta qualidade. quisa Agropecuária e Difusão de
Tecnologia do .Governo do Estado, em
Além dos resíduos animais, as proprie- co'nvênio com o Departamento de Enge-
dades agrícolas produzem vários tipos nharia Rural da Universidade Federal de
de resíduos vegetais . A maior parte per - Santa ~atariría, a pártir de 1996, com o
manece no solo de plantio, mas a's ope- objetivo de possibilitar ao agriéultor a
rações colheita e be.neficiamento, por produção de um composto orgânico de
exemplo, de cebola, hortaliças, geram alta qualidade para ser utilizado na fase
grandes quantidades de resíduos que de produção de mudas de cebola. Esta ·

são dispostos fora da área de .Iavoura . ação fez parte do projeto de Manejo
Agroecológico da Ceqola para o Alto Vale
Ésses resíduos são fontes de inóculos de
do Itajaí, Santa Catarina.
fitopatógenos, mas 'constituem também
matéria-prima para compostagem. Neste
A matéria prima princip'al, neste caso,
caso, a compostagem at.ua como uma
são os restos de cebola' provenientes da
prática que controle. de fontes de
colheítae beneficiamento, formados por
·inóculos de fitopatógenos na medida em
bulbos avariados, de tamaf,lho não co-
que as temperaturas termofílicas, elimi-
merciai, folhas e películas. Este material
nam esses inóculos. ~o caso de hortali-
recebe tradicionalmente um destino ina-
. ças, a r.etirada de restos vegetais da área
dequado na região. Estes rest~s da co-
' de produção (solo) para a compostagem lheita, quando não permanecem, em par-
é uma prática altamente recomendável te, próximos às áreas de plantio, são jo-
'para evita~ que o .tecido vegetal remanes- gados nas margens dos rios da região,
cente se torne meio de sobrevivência de onde ficam apodrecendo por longo tem-
certos fitopatógenos. ~ importànte que po. 'Constituem, assim, mais uma fonte
o agricultor de hortal iças perceba que os de inóculos de doenças para a cultura e
restos da lavoura precisam ser maneja- agente poluidor dos cursos d'água, já
dos para evitar o recrudescimento dÇls que parte destes r'e síduos pode carregar
doenças e que a melhor forma para esse frações de inseticidas e fungicidas
manejo é transformar esses restos em (agrotóxicos). O tratamento deste materi-.
matéfia-prima para compostagem (sua- ai se .torna possível e eficiente através da
fábrica de húmus e agentes de controle compostagem, que pela i;'~ensa atividade
biológico no solo). microbiológica favorece a · degradação

.'
Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgãnicos

. dos resíduos de agrotóxicos e, representa O controle de doenças por supressão


ainda a oportunidade de se reciclar nutri- dos patógi:mos pela atividade de
entes na forma de adubo orgânico. microorganismos antagonistas
J Ttichoderma) .e o favorecimento de as-
O composto orgâ~ico possui 'a proprie- sociações simbióticas de fungos
dade de liberar lentament'e os nutrientes micorrízicos nas raízes das plantas que \
nele contido~ não ocorrendo, portanto , teriam efeito positivo sobre a sanidade
saturações na solução do solo, principal - vegetal através da rédução da atividade
mente com nitrogênio. Estas saturações patogênica de outros fungos habitantes
são comuns na utilização de adubos de e/ou invasores do solo, são mecanismos
alta solubilidade, ou mesmo com a apli- que pod!;lm ser induzidos com a util iza-
cO
ação de esterco fresco, e causam a po- ção do composto (MILLER et aI., 1996).
/ luição de águas por elevação na concen - A ONU reconhece a utilização çlo com- '
tração de nitratos. O nitrogênio em for- posto orgânico como a melhor alternati-
ma de nitrato quando em excesso sofre va no processo de substituição e elinii-
fácil lixivi'a ção decorrente do movimento nas:ão ,do brometo-de-metila .na desinfec-·
de percolação da água no perfil do solo, ção de solos. O brometo-de-metila pos-
terminando por atingir o lençol freático . sui ação destrutiva sobre a camada de
O cOmposto é hoje uma ferramenta utili- ozônio reconhecidamente maior . que a
zada em pesquisas. realizadas com con- dos clbro-fluor-carbonos (CFCs)
trp(e biológico de fitopatógenos no solo. (BANKS , 1995) .

, .
Conceitos básicos e
microbiologia da compostagem

.~
Gaio de Teves Inácio
Paul Richard Momsen Miller
2.1 O processo de
. com postagem
ção, quando em condiç6e:S íavonj-
A definição de com postagem pode variar vels" (PARR; WILSON, 1980 apud
conforme o enfoque microbiológico, LAM.B AIS, 1992).
agronômico ou de engenharia ambiental.
Mas todas ressaltam o caráter aeróbio e
"Compostagem é a decomposição
termofílico, o 'que exclui totalmente pro- biológica e estabilização de
cessos anaeróbios. Sendo assim, a
J substratos orgâniéos, sob condt~
compostagern é um processo de
ções que permitem o desenvolv/~
biodecompo'sição da matéria orgânica
mento de temperaturas ter,moíílicas
dependente de oxigênio e com geração
como o resultado dó calor produz/~
de calor, levando a temperaturas típicas
do biologicamente, para produzir
de 50°C a 65 o C, e picos que podem . úm produto íinal,que é estável, livre
chegar à mais de 70°C. Abaixo dl!as
de patógenos e s{?mentes de plan-
definições de datas diferentes e peque-
tas é pode ser beneíicamer;te apli-
nas variações de enfoque: .
cadona terra" (HAUG, 1993).

"O processo de compostagem pode Epstein (1997) ressalta ainda,em sua


ser deíimdo como uma decompos/~ definição para compostagem, o caráter
ção aeróbia e termoíílica de resídu- "controlado" da decomposição biológica
os orgânicos por populações que leva a um ' "produto estável seme-
microbianas quimiorganotróíicos'
. I
lhante ao húl\l;lUs", denominado de com-
. existentes nos próprios . resíduos, posto orgânico. Como bem resume
sob . condições controladas, que Epstein, a compostagem é "manejada QU
produz um material parcialmente otimizada" para atingir certos objetivos
estabilizado de lenta deéompos/~ os quais são:

1 Classificação segundo o tipo de metabolismo. Neste caso as substâncias orgânicas são usadas com fonte de
energia, fonte de carbono e doador de elétrons. Incluem-se aí 'fungos, a maioria das bactérias, os animais e
protoz~ários. . .,.. , ' •
Compostagem - ciência e p rática p ara a gestão de resíduos orgãnicçs

.
=> decompor matéria orgânica potencial.- grupos variados de miçroorganismos em
mente putrescível para um estado está- sucessão que transformam o substrato
vel e produzir um mat,erial que. possa ser em , decomposição e que afetam e ,são
usado para o melhoramento do solo ou afetados pelos fatores ', físi'cos e
outros benefícios; bioquímicbs envolvidos durante o pro-
cesso. Diferencia-se da simples decom-
=> decompor resíduos em um Rlaterial be- posição da matéria orgânica qUe ocorre
néfico: a compostagem pode ser economi- na natureza por ser um pr',?cesso com
camente favorável como alternativa quan- predominância da ação de
do comparada aos custos dos métodos microorganismos termófilos e transcor-
convencionais de disposição de resíduos; rer em temperaturas em torno de 60 °e
na massa, em decomposição (Fig. 2.1),
, .
=> tratar resíduos orgânicos infectados Dois grupos pr~ncipais de microrg?nis-
com patógenos para que possam se~ usa- mos agem na compostagem; os
dos beneficamente e r;le maneira segura; e mesófjlos que possuem atividade ótima
até 45 / °e, e os termófilos que atuam
=> ' promover a ' bioremediação e a numa faixa acima de 45°e até 75°e.
,biodegradação de resíduos perigosos -
neste casb com controles específicos do É importante considerar a tempera,tura
processo visando a despoluição de um tanto como consequência quanto
substrato, determinante qa atividade microbiana
por constituir um forte fato'r seletivo so- '
A compostagem é um' processo biológi- breos microorganismos e influir no flu:"
co e de ecologia çomplexa por envolver xo de ar e . perda de umidade. Muitos

70.---~--------------~----------------------~
Lim ite inferior típico de
desin fecção
60
50 Limite tenno filci o
inferior
.C 40 -1--_r.-..L--.L~'--J--L~'-_-<---L._ "'-_ <_ J . --<---<----""-<~-,--~-

30

20 l'O
IZIA5
S' ,
Aw '
10

O+--------.--------.--------.---------.------~
o 10 20 30 40 50
, Tempo (dias)

Figura 2.1 - Variação típica-de temperatura em processos de com postagem, Fonte: Mason & Milke, 2005.
CQncettQS práticos e microbiologia da compos tag em DI
auto'res têm demonstrado que "a taxa de ratura crítica para destruição de
atividade microbiana na compostagem patógenos humanos a partir de 55 ° ~ .
decresce a temperaturas acima de 60°C Do ponto de vista agronômico, esta tem-
e que taxas óümas de decomposiçãO peratura é capaz de destruir muitos '
ocorrem entre 50-60°C, e que o. máxi,- . patógenos de plantas, ~endo que 6.3 ~ C
mo absolutp alcançável na é a temperatura crític"a para inviabilizar
compostagem é aproximadamente ' sementes de ervas daninhas (RYNK:
82°C" (MILLER, 1993). Temperaturas 1992).
" '
termofílicas são extremamente desejá-
veis no tra ~amento de resíduos através A ação d~ degradação biológica usa o 0 2 .•
da 'compostagem por destruírem muitos disponível para transformar o .carbono
patógenos e larvas de mosca. Normas do substrato orgânico para obter ener-
para operação de pátios de gia, o que libera CO 2 , água e gera calor
compostagem têm apontado "uma tempe- (Figura 2.2).

Matéria ó/gâllica
Resíduos a-gâ,(l icos estabIlizada (carbollo,
substâncias /lllmica",
Matéria orgâllica rica ClÚOr e vlIJIOr tIe ágTm energia qUlÍllica, éíguo,
el11 carbollo~ ellergia lIutrientes e
quimica, água, microrgallislllo.f) .
C02
nitrogênio e ouh'os
nutrienteS.
Mic.rorgallismos.
i
O2

Dinâmica da aeração (ÍJassiva) efluxos de ar, calor e vajXJr de âgua em uma leira A compostagem é
resultado tk w It processo biológico intenso, aeróbio e te/mcijilo, que tralliforma o Il/Llten'al rico em
carbono, ellergia e âgua, em um composto homogêlleo e mais estável, com fIIellOS camono, ellergia e
IImidatk, más com filais substâncias húmicas e larga/aaa-de macro e microllutrientes vegetais. A
redução de volume PQtk chegar a 50% em relação àQ wlllflle on'ginaJ. ..

Figura 2.2 .. Representação esquemática do proce~so de com postagem , considerando o métod o ein leiras

. .
est áticas com aeração natural passiva.
Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos

Diferentes métodos de compostagem nutenção da geração de calor e vapor


buscam promover e controlar este pro- d'água. A dinâmica de fluxo de ar
, cesso biológico intenso que se reflete na (aeração) na leira de compostagem é for-
temperatura. O mais comum deles é a temente i'n fluenciada nésta fase. O calor
montagem de leiras em camadas dos dife-
.
rentes materiais orgânicos - resíduos ve:
gerado impulsiona a aeração
convecção, e a acelerada decomposição
por

geÚ:lis, esterco, resíduos orgânicos indus- pode gerar? colapso do substrató orgâ-
" ,

triais, s~rragens, etc - com revolvimentos nico dificult~ndo fortemente o suprimen-


ou aeração passiva ou forçada, e, existem t9 de ar (oxigênio);
tari1bém, tecnologias baseadas em reato-
res fechados e automatizados, como v€- Fase Mesófila: fase de degradação de
remos no Capítulo 3, substâncias orgânicas mais resistentes por
, I
microorganismos mesófilos, redução da
Em um efeito de mão dupla a temperatura atividade. micro~iana e consequente queda
no processo de compostagef'!l e a suces- da temperatura da leiras e perda de umida-
são de grupos de microorganismos se,iQ- de. Enquanto a fase termófila anterior é
fluenciam mutuamente, a observação da dominada por bactérias, daqui em diante
temperatura, resultado da concentração os fungos e actinomicetos têm pap_el igual-
de calor, torna-se o retrato do bom anda- mente relevante;
mento do processo em suas fases:
Maturacão: ocorre a maturação do com-
Fase Inicial: ocorre a expansão das colô- posto com grande formação de substân-
nias de microrganismos mesófilos e in- cias húmicas, a atividade biológica é bai-
- "

tensificaç,ão da ação de decomposição, xa e o composto perde a capacidade de


liberação de calor e elevação rápida da auto-aquecimento . Agora, a'decomposi-
temperatura. Do' ponto de vista ção ocorre a tãxas muito baixas e prosse-
ope~acional, esta fase deve levar de no guirá quando o composto orgânico for
máximo 24 horas até atingir femperat\Jra aplicado ao solo, liberando nutrientes.
de 45°é no interior das. leirás. Mas, de- ,
pendendo das características do material Diversos fatores influenciam essa suces-
orgânico e do método, é possível que são de grupos de microrganismos e são
- ,
seja mais longa - até 3 dias - ou mais , afetados por ela também durante o pro-
curta - menos de 15 horas; cesso de compostagem: conteúdo de
oxi9ênlo, conteúdo de água, relação
Fase Termófila: caracterizada por tempe- Carbono/Nitrogênio do sub~tráto, pH,
• raturas acima de 45°C, predominando a potencial de oxi-redução, transforma-
faixa de 50 a 65°C, ' quando -ocorre ple- çõese pequenas perdas de nitrogênio,
na ação de microorganismos termófilos, distribuição dos macro e micro,poros, es-
com intensa decomposição do material, trutura (densidade aparente), e-tamanho
. com formação de água metabólica, e ma- das partículas do substráto: O interes-
Concedos prdt/~os e microbiologia da compostagem

sante é que nenhum desses fatores é não, como inoculante 'é bastante eficien- '
afetado exclusivamente pela ação dos • te. Outros materiais já pesquisados são:
microrganismos ou conteúdo do estercos curtidos, serrapilheiras, terra
substrato. Todas as variações nesses 'preta, o próprio chorume das leiras, ester-
fatores dependem também de fatores re- co boviQo diluído e conteúdo ruminal
lativos a' montagem da leira de (COSTA et aI., 2005). _No entanto, o
compo,s tagem como, grau de mistura e uso de inoculantes é controverso, sejam
posição de camadas dos materiais e suas estes comerciais ou não. Por ser a
características de conteúdo . Estas ca- c.ompostagem um processo que envolve
, rpcterísticas não se resumem a relação Cf "
um grande número de espécies de micror-
,

N dos materiais orgânicos, mas também ganismos que interagem e competem for-
características físicas como a capacidade temente no processo de sucessão, o uso
de absorção e retenção de água e de inoctllantes com uma única estirp.e ou .
condutividade térmica. O formato das ·poucas espécies selecionadas é vista com
leiras iriflui no flu~o de ar, vapor d'água reservas. Considera-se quê a chance de
e retenção de calor, o que afeta plena- influência 110 processo de com postagem
mente a ecologia dos microrganismos do através de inoculantes seria mínima oC!
processo. não se daria (GOULEKE et aI., 1954; ,
POINCELOT, 1975 apud EPSTEIN,
Em getal, os materiais ' orgânicos usados 1997, p. 73) .
na compostagem já contêm os micrcirga-
nismos necessários à compostagem, A experiência dos autores na
chamados microrganismos "nativos". O com postagem de rest.os de alimentos,
uso de inoculantes na compostagem tem cama de biotério (serragem e dejetos de
o objetivo de garantir a rápida coloniza- cobaias) e restos vegetais (gramas e fo-
ção dos materiais e, consequentemente, ', lhas) aponta para o uso do próprio com-
uma bem sucedida fase iniciál do proc,es- posto, pronto ou em maturação, como
so, com elevação da temperatur'a da leira um excelente inoculante auxiliar. Ape-
em curto espaço de tempo. O inoculante _ sar de não ser 'este uso necessário 'p ara
é. o material que serve como fonte extra o início do' processo de compostageril,
de microrganismos necessários para o ' o uso do composto cómo inoculante
início do proces~o de compostagem. misturado às camadas dos materiais or-
Existem inoculantes comerciais que tra- gânicos se mostrou uma excelente prá-
zem uma espécie de microrganismo ou , tica para acelerar a fase inicial, isto é, '
mais de uma, em veículo sólido (pó) ou alcançar em 24 horas temperaturas
Iíq\Jido , e alguns se parecem com o pró- termofílicas ( > 45°C), e, assim, impedir
prio chorume que escorre das leiras. O a proliferação de larvas de mosca 2 , que
uso do próprio composto, pronto ou costuma ser um problema na

2 Para esse efeito é necessário atingir pelo menos 50°C,


Compostagem . cIência e prática para a gestão de residuos orgânicos

compostagem destes materiais. Reco- geram pó de s~rra e maravalhas. Parques


. .. nhece-se, no entanto, da" mesma forma industriais com seus refeitórios para fun-
que os autores citados, qúe esta influên- cionários geram rest0s de alimentos e
cia do composto-inocu/ante é apenas ini-. . restos da manutenção d~s áreas verdes.
cial, não sendo preponderante para de- Os centros urbanos e suas centrai,s de
gradação ou não dos materiais orgâni- ab~stecimento ge,ram resíduos e exce- '
coso Mas não há dúvida que o manejo e dentes de restos de alimentos; frutas e
a montagem cuidadosa da leira que pro- verduras e ~odas de árvores. Há ainda
movem a aeração satisfatória aindéJ são os lodos de esgoto produtidos nas esta-
os fatores essenciais para a ções de tratamento.
compostagem, incluindo a "arquitetura"
da leira, observação das características Na com postagem estes materiais serão
. dos materiais e da umidade adequada. misturapos e combif)ados de forma pla-
nejada . de acordo éom características
2.2 .Resíduos orgamcos co~o, p.H, conteúdo de água, reração
para compostag~m C/N e dimensões físicas. Portanto, as
Na agricultura e na pecuária temos os leiras formam um "grande banqUete"
restos de culturas agrícolas, partes' para a ação dos microorganismos,
folhosas de vegetais ou cascas de grãos, constituído de açúcares, glicerídeos,
frutos não comercializados, estercos de proteínas, celulose, lignina; e .diversas
criações ani'mais, como ruminantes, substâncias orgânic?s e minerais. A
equinos, suínos e aves. Todos esses Tabela 2.1 suge're algumas condições
materiais podem ser aproveitados na que levam em contideração o resultado
compostagem, como uma forma de ·tra- final da combinação dos materiais.
tamentb destes " resíduos, e • para Deve-se considerar que a relação C/N .'
reciclagem de nutrientes e mat.éria-orgâ- a'presentad.a no quadro não leva em
nica nas lavouras através da aplicação conta a necessidade de estruturação da
do ' composto orgânico nos solos. As leira com materi.al de lenta degradação,.
mais diversas agroindústrias represen- mas expressam uma condição favorável
, tam fontes de resíduos orgânicos, de ori- para a decomposição . em tempo não
gem :vegetal ou animal, que igualmente prolongado (até 80 a 90 dias) e sem
podem ser aproveitados na perdas excessiyas de nitrogênio. A ma-
com postagem, por exemplo; os. resíduos nutenção de uma umidade adequada,
de be~eficiamento de grãos com palhas isto é, nem escassa nem excessiva,é
e cascas. As indústrias de transforma- um fator de extrema importância para o
ção de matérias-primas florestais como a processo de biodecomposição que nas
indúsÚia da .celulose \qu~ geram , as pol- atividade.s de campo nem sempr'e é fácil
pas e a as 'l1adeireiras e serrarias que de ser alcançada'.
Conceitos práticos e microbiologia da compostagem

Tabela 2.1 - Condições sugeridas para yma rápida compostagem.


1
Coodições Faixa adequada" Faixa preferível

Relação Carbono- Nitrogênio 20:1 - '40: 1 2.5: 1 -'30: 1


(C:N)
Umidade 40-65%b 50 c 60%
Concentração de oxigênio Maior que 5% Muito maior que 5%
b
Tamanho de partícula (cm) 0,3-1,5 (1/8 -1 /2 polegadas) Vários
pH 5.5 - 9.0 6.5 - 8.0
Temperatura (0C) 4;3,5 - 65,5 (1 10-1 50°F) 54,5 - 60,0 (J30-140of)
\ , '
Fonte: Rynk (19~2). I

, Estas são recomendações que visam uma rápida compostagem na maioria dos casos, porém também
pode-se obter bons resultados fora dessas especificações. '
b Depende dos materiais usados, tamanho das leiras ou pilhas, e d~s condições climáticas .

2.3 Transfot'macões
.bioquímicas
I. , "
No processo de com postagem a ação . Subs1;âncias húmicas também são '
microbiológica é interísa e transforf!1aos . construídas pela ação microbiológica. A
materiais orgânicos por completo alte- mistura de partículas e a te'xtura no ma-
rando suas características físicas e quí- terial original vai se tornando cada vev
micas, As bactérias formam o grupo mais homogenia e a atividade microbiana
,
mais ' ativo no processo inicial da vai cedéndo refletindo na redução gradual
com postagem e em toda fase termofílica. da temperatura da massa do composto.
Os actinomicetos são importantes na de- Enfim, em dado momento não, é l}1ais
gradação de substratos orgânicos relati- possível se distinguir 'o material original
~arl)ente complexos. O's fungos, ~m' sua da montagem da leira" O composto, pro-
grande maioria mesófilos, crescem me- duto final, é apenas u'm material org~nico
lhor quando a umidade na leira ~ menor, escuro de partículas pequenas, de textura
na fase mai~ avançada do /processo. plástica e friável e com cheiro agradá~el
de terra. A com postagem permite a redu-
Enquanto molécula,s mais simples são
ção do volume ' e do Reso do material
usadas como fonte de energia dispon["
.original, algo importante considerando o
vel, outras mais complexas vão sendo
tratamento de resíduos orgânicos. A per- '
quebradas em substratos ' mais simples,
da de ~arbono, através do CO 2 , e a inten-
e, pela intermediação dos
I sa perda de vapor (umidade) são respon-
microrganimos, vai se seguindo o
sáveis por reduções dê 25-50 % no vo-
rearranjo em ~ubstâncias mais comple-
lume e 40-80 % no peso total.
xas durante 'todo o processo de
compostagem : Moléculqs ·\voláteis com A .,-nâtéria orgânica ,que sofrerá ' decom-
potencial para odores fortes se formam. pos ição e transformação via ação deva-
,

/
Compostagem - Ciência e práticajiara a gestão de resíduos orgânicos

riadas espécies dei microrganismos é for- simplificada pode resultar em erros na


mada também por variados tipos de montagem de leiras, formação .da mistu-
"

substâncias orgânicas de . maior ou me- ra e escolha de materiais, e condução


nor resistência a esta biodecomposição dos métodos de compostagem.
I
(Tabela 2.2) , Veremos adiante que esta ,
característica das substâncias orgânicas, Potlemos considerar que a matériaorgâ-
isto é, a . suscetibilidade a nica para a compostagem, em geral resí-
biodegradação, influencia imensamente duos, é constituída por sete grandes ,
a condução do processo de grupos de-- substâncias, a saber:
, compostagem e o controle dos fatores carboidratos e açúcares; pr,oteínas; e
ecológicos (no interior das leiras) que gorduras, que são decompostos mais fa-
favorecem a compostagem. É comum na cilmente, e; hemicelul,ose; celulose; e '
literatura e-ncontr~rmos uma abordagem ' lignina; c~m decomposi.ção muito' mais
simplificada que relaciona a resistência à lenta. O s'é timo grupo de constituintes
,biodegradação com q tempo total da são , os materiais miner,ais. Epstein
compostagem. Este tipo d'e interpretação (1997 p , 80) explica que a proporção

Tabela 2.2 -, Biodegradação e mineralização relati:ta de substânci?s org'ânicas


(Baseado em Epstein, 1997).

Prontamente biodegradáveis
Açucares
Carbohidrat6s, glicogênio,pectina
Ácidos graxos, glicerol
L ipídioS, gorduras
Amín·o ácidos
Ácidos nucléicos
Proteínas

BiodegradaÇão mais lenta " I

Hemicelulose
CelulQse
Chitin
" Moléculas de baixo peso

Resistentes abiodegradação
L ignoceluI ose
Lignina
Moléculas de baixo peso, compostos alifáticos e
aromáticos
Conceitos e microbiologia da compostagem

desses constítuintes nos materiais orgâ- disponibilidade, Açúcares e oútros


' nicos ê bastante variável ; porexemplo, carboidratos ' tendem ? ser
lodos de esgoto e restos de 'a limentos' completamente biodegradados ' na
contêm relativamente "baixas quantida- COml"ostagem enquanto lipídios ~
des de celulose e lignina em comparação celulcfse e hemicelulose podeJll ser
co'm -madeiras, palha de trigo e bagaços reduzidas em 60 a 75% num períodd de
vege~ais : os quais \contêm mais proteína 60 dias de com postagem . A
e menos gordU'rás ou celulose que os decbmposi~ão das r substâncias
restos de alimentos" , Mas para definir- orgânica,s é dependente da atividade
/
mos matéria orgânica de forma geral, microbiana que por sua vez precisa
isto 'é, que considere também a matéria encontrar condições favoráveis na
orgânica presente no solo e no próprio massa do compostagem de
composto pror:to devemos incluir as dispo(libilidade de oxigênio, temperatura
substâncias hún:icas', como descrito em e umidade; por exemplo, a
MacCarthy et aI. (1990), apud Epstein biodegradação dÇllignina é fortemente
(1997), que define matéria orgânica influenciada pela temperatura e a;
como "( 1) compostos identificáveis de concentração de oxigênio (EPSTEIN,
alto peso ' molecular tal como 1997, p. 83-89).
polissacarídeos . e proteínas; (;2) subs c \

tâncias m ?is simples tal como açucares Como dito a0t~riormente, o metabolismo
amino-ácidos e outras moléculàs peque- - microbiano que decompõem as substân-
na$; e (3) substâncias húm)cas'''. cias orgânicas presentes nos resídúos
leva à formação de substâncias húmicas
A fonte de ene~gia e carbono para os (Figura 2.4), através de diversas \lias
micror ganismos na compüstàgem é a bioquímicas, que são responsáveis por
matéria orgânica. Substâncias mais grande parte dos benefícios do uso agrí-
suscetíveis a biodegradação constituem cola do composto e de suas característi-
a fon~e primária de energ ia e carbono cas físicas típicas. Benites et aI, (2004,
disponíveis. I:ssa disponibilidade é de p.17) quantificaram a formação de áci-
suma 'importân 6ia para o início do dos húmieos(AH), que na
processo de com postagem e toda fase - compostagem -de aparas, de grama aLJ-
termofílica,As demais substâncias ' tal - mentou de 32 g/kg para 70 g/~g, en-
como, lignina, celulose e hemicelulose, quanto os ácidos fúlvicos (AF) aumenta-
são apontadas como as principais ram de 35 'g/kg para 39 g/kg, para um
, \
fontes de carbono e energia ao longo dI? período de ,84 dias de compo~tagem, o
todo o processo de compos~agem, mas que resultou na elevação da relação AH/
não são - fontes de pronta AF de 0 ,,8 'para' 2,2, refletindo "o consu-

3 Ver Capítulo 7_
.f . ,

.'
111 Compôstagem - ciência e prática para a gestão de reslduos orgânicos

'\

CI 800
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QI 450
'C

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iã 400
I-
350
O 40 80 120
Tem po de com postagem (dias)

Figura 2.3 ~ Formação de substâncias húmic as durante a com postagem de esterco bovino,
Fonte : Epstein, 1997, p , 93 ,

mo de conipos~os orgânicos de baixo senta o gradiente de humificação 'e matu-


peso molecular durante a compostagem, rioade do composto" (HSU; LO, 1999,
os ~uais estão incluídos na fração ácido apud CANELLAS, 2005). As Figuras
I
fúlvico, e produção de', compostos de 2_3 e 2-4 mostram o comportamento
maior peso molecular, a partir da qessas transformações da matéria o'rgâni-
biotransformação da lignina e de meca- ca que se traduzem na maturação do
, f
nismos de síntese microbiana." composto, deixando claro a relação inver-
sa entre o aumento das substâncias
Os nutrientes que se tornam disponíveis húmicas totais e a relaçã.o C/N.
durante a de.composição perm.anecem no
composto dentro da massamicrobiana e A compostagem retém a maior parte dos
nas substâncias húmicas : O produto fi- nutrientes presentes no material original
nal tem baixa atividade biológica, mas é , na forf11a de substâncias orgânicas está-
rico em microrganismos e em restos' de veis. Uma fração' do conte~do de nitro-
microrganismos (parede celular e contudo gênio é perdida na forma dfil amônia que
citqplasmático). "Com aproximadamente vo latiliza das leiras junto com o vapor
3.0 dias de com postagem, o conteúdo de d'água . As' práticas adotadas e os pró-
substâncias húmicas no material orgânico prios materiais da com postagem influen-
pode passar de 28%, ,no momento da ciam nesta perda. P9r exemplo, os
instalação, para 44 % ." Também há uma revolvimentos de I,eira favorecem a perda
alteração na qualidade dessas substânci- de amônia, enquanto cobrir as leiras com
as húmicas durante o processo e "o au~ composto evita tais perdas .
mento do nível de ácidos húmicos repre-

I
Conceitos práticos e microbiologia da compostagem

40
35-
30
25
-
z 20 \
O
15
,
10
5,
O.
O 30 60 90 120
Tempo (dias). '

Figura 2.4 - Relação C/ N durante, a compostagem de podas de árvores de tíagaço de laranja (precisa
redesenhar), Adaptado dá Fialho et aI., 2Ô05.

Durante o processo de cdmpostagem, a cial de argila poderá ~er incorporada ao


decomposição de ,moléculas orgânicas composto. Mas a relação entre -concen-
mineraliza nutrientes resultando em tração de K e a matéria seca do chou.lme
fosfato (pO 4 3- ), íon potássio (K +), analisado, evidencia que grande parte
amônio (NH 4 +) e nitrato (N0 3 -) . Enquan- desse elemento está presente ~a massa
to o nitrogênio e fósforo são, imobiliza- microbiana perdida no chorume em vez
dos por bactérias, o potássio resultante de apenas solúvel em água, segundo o
de decomposição , de tecidos vegetais monitoramento de leiras de
continua em sua forma iônica,_sujeito a compostagem realizado pelos autores
lixiviação . Por isso, pequenas quanti- (CARlONI et aI., 2001) . Essa perda não é
dades são encontradas no chorume significativa em sístemas bem' manejados~
percolado das leiras : Enquanto o nitro- ·e. considera-se que praticame'n te todo o
gênio e fósforo encontrados no chorume aporte de P e K do material óriginal é
estão na forma de biomassa microQiana, encontrado no composto final.
o potássio continua na forma jônica, e
sua 'concentração varia de acordo com a A dinâmica do N é mais dependente da
diluição do chorume por quantidades relação C/N, e a qualidade do ,c arbono
variáveis de chuva. A absorção,de po- energético disponível. Se há carbono
tássio, um cátion, por argila dar-se-á energético e,m abundância, todo o n'i tro-
imediatamente quandoo chorume atingir gênio proveniente da degradação será
a b~st;;l dá leira . No manejo da leira para' assimilado em biomassa microbiana :
utilizar com adubo, estacamada superti- Toda operação de compostagem deveria
Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos

ter por objetivo a assimilação de nitrogê- fica que deve-se buscar materiais com
nio disponível. A perda de controle so- • muito carbono e ter especial atenção aos
bre estes fatores pode ocasionar perda (atores ecológicos que influenciam a ati-
de nitrogênio do sistema por vários mei- vidade microbiana na compostagem,
os, e a produção de gases nocivos. isto é; manter fatores como umidade, e
Po!tanto, perdas de N poçem ocorrer aeração em faixas adequadas, pr.incipal-
através pa volatilização da amônia (NH 3 ) mente. Algumas estratégias sugerem
'durante a fase termofílica se não houver " ainda a mé\nutenção da temperatura abai-
fontes de carbono disponível suficientes xo de 60°C, o que pode ser mais difícil
para ação microbiana ou pelo excesso de na prática elevando os custos d.e opera-
N. Essas duas' situações levam aO ção. ' Em relação ao carbono, é importan-
acúmulo ' de NH 3 que pode ser te ter como fonte tipos -de carbono pron-
volatilizado ou nitrijicado . Mas micror- tamente disponível e de carbono menos
ganismos nitrificadores são inibidos aci- djsponível (como mostrado na Tabela 2)
ma de 5 PC o que favorece as perdas de formando a massa da compostagem . .-
N por volatilização . As reações de
\

nitrificação (oxidação da amônia a riitra- No iníc'io da decomposição da matéria


to) só ocorre~ pela ação de bactérias orgânica o meio se torna ácido pela libe-
aeróbias do grupo ' nitrossomosas e ração de á,cidos orgânicos , mas, em se-
nitrobacter que tem uma faixq ótima de guida, há {ormação de ácidos húmicos
atividade entre 26°C e 32°C e uma faixa que também formam humatós alcalinos.
ampla de atividade de 5 a 40°C (CAR- ° pH sofre ainda efeito da mineraliz'a ção
DOSO, 1992, p . 110- 112). Nafasede do nitrogênio orgânico, que corresponde
, maturação e durante a estocagem do a maior parte do N da matéria orgânica é
composto, com a falta de carbono dispo- transformado em N amídico e depois em
nível e consequente mineralização do ni- N amoniacal, elevando a'ssim o pH devi-
trogênio pela ação microbiana, nitrito ,e do à , reação alcalina, característica da
nitrato podem ser desn itrificados, em amômia (NH 3 ) (FIALHO et aI., ~005). A
uma reação de redução bioquímica for- ocorrência de os elevados teores de pH
mando N 2 0 e N 2 que são gases e são final (em torno de' 9,0) , "podem' estar
perdidos para a atmosfera. Pode haver ° relacionadôs à formação de grupos
perdas de amônio (NH 4 +) e o nitrato fenólicos dUlante o processo de
(N0 3°) e nitrito (N0 2o) no chorume, mas biotransformação da lignina, 0!J ainda
havendq intensa atividade microbiana pelo aumento dà concentração de sais"
essas perdas são desprezíveis. (BENITçS et aI., 2004, p.12). O papel
tamponador dos grupos fenólicos 'e a
Se~do assim, duas condições principais predominância desses grupos nos áci-
levam a maior perda de N: excesso de N dos húmicos extraídos do composto é
e falta de carbono disponível. 1st? srgni- algo rélatado em diversos trabalhos,
Conceitos práticos e microbiologia da compostagem

Sempre houve tentativas de acelerar o Compreender que "o processb de


processo de com postagem ou · enrique- composJa,gem é uma sucessão de ativi-
cer a composição química final do com- dades microbiológicas p~las quais o am-
posto utilizando· na mistura produtos mi- biente criado por um grupo de
nerais como calcário e fontes de fósforo. microorganismos convida a atividade dO
O calcário é fonte dec;a e I'it1g e deve ser grupo sucessor" (EPA, 1994) é o pri-
'usado em quantidades de 1 % a 2 % do meiro passo pra um manejo eficiente .
peso seco dos' resíduos orgânicos. Essa sucessão na leira de com postagem
Quantidades maiores podem elevar o é influenciada por fatores como disponi-
pH, aumentar ·as perdas ~pela volatizaçã<.> bilidade~e energia · e nutrientes, pH,
de NH 3 , além de influir nas populações umidade, oxigênio dispo(1ível e tempera-'
de microrganismos. O uso de fosfato de tura do substrato. Como bem explica
cálcio é citado como um promotor da Miller (1993, p.534), "na dinâmica da
taxa de decomposição, principalmente comunidade microbiana da
de celulose e hemicelulose, quando mis- cOPlpostagem, muito~ dos fatores seleti-
turado em quantidades não maior$s que vos que favorecem ou desfavorecem di-
2%. No entanto, "adição de fosfato na- ferentes populações são eles mesmos re-
"-
tural de baixa solubilidade (p.ex. fosfatos sultado da atividade de existência des-
de Araxá e Patos de Minas) praticamente sas populações". Microganismos
não aumenta o teor de P disponível" pois mesófilos (que crescem melhor entre 25-
as condições favoráveis a solubilização, 45 o C) não del>aparecem simplesmente
como baixo pH, não ocorrem de maneira devido às altas temperaturas, eles são
expressiva em geral na com postagem também -os agefltes da elElvação inicial
(PEIXOTO, 2005, p. ,407).
, . da temperatura. A com postagem é
marcada pelo fluxo cO\ltín'uo de comuni-
2.4Dinârnicamicrobiana dades selecionadas pela mudançacontí-
nua das condições ambienta.i s(dentro da
A atividade biológica em uma leira de
.Ieira), que por sua vez são determinadas
compostagem é complexa e dependente
pelas atividades anteriores.
de fatQres e relações ecológicas, isto é,
da relação· entre as diferentes popula-
. . . Bactérias, fungos e actinomicetos impor-
ções de microorganismos (Tabela 2.4~ e
tantes na decomposição do substrato
destas com os fatores do ambiente da
leira, os quais sofrem infl,uência também . podem ser classifi.~ados como mesófilos
e termófilos. Microrganismos mesófilos
do sistema de manejo. Apesar da com-
são dominantes na massa da
plexidade, a compostagem pode pres-
com postagem na fase inicial do proces-
cindir de intervenções constantes
so quando as temperaturas são relativa-
(revolvimentos e aeração forçada) para
mente ba·ixas. Esse ' primeiro grupo de
cumprir suaJ fases quando a ecologia da
Íllicrorganismos usa o oxigênio disponí-
leira é bem compreendida.
ç

Compo~tagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgánicos

vel para transfo.rmar o. carbo.no. do. Este grupo. dôminará a massa do. material
substrato. o.rgânico. pará o.bter energia, o. até que to.da fo.nte energética de fácil
que libéra C::0 2 e água metabólica, além o.btenção. seja utilizada.
de calo.r. Este calo.r será co.nservado. no.
ínterior da 'Ieira elevando. rapidamente a Além da variação. de temperatura, ao. 'I'o.n-
temperatura Ido. substrato., . ° go. do. processo. de co.mpo.stagem o am-
armazenamento. deste ' calo.r depende biente no. interio.r da leira so.fre fo.rtes
sempre 'do. tamanho. da leira, da umidade alterações. A intensa atividade
inicial e características do.s materiais usa- micro.biana é respo.nsável po.r pr~fundas
do.s. Quando. a temperatura atingir o.
~ . o.scilações na temperatura, pH, umidade
limite de 45°C" ás micro.rganism.o.s (<'lu' po.tencial matricial 4 ), é co.nteúdo. de
mesófilo.s mo.rrem o.u to.rnélm-se do.rmen- o.xigên'io., além de rrio.dificaçõ~s de estru-
teso Estes deverão. reco.lo.nizar a tura física e na co.mpo.sição. bio.química
bio.massa da co.mpo.stagem quando. a do. substrato.. Geralmente essas o.scila-
temperatura decrescer. A partir desse ções além de amplas e, algumas vezes,
po.nto. o. grupo. t~rmófilo., que cresce me- repentinas, po.dem o.co.rrer de maneira
Iho.r entre 45°C e 7àoc, to.rna-se ativo., desunifo.rme nas diferentes partes da
co.nsu~indo. rapidamente o. substrato. leira. ° estágio. de 'ignição.' da
dispo.nível, multiplicam-se rapidamente e co.mpo.stagem, as primeiras ho.ras do. pro-
o.cupam o. lugar do.s mesófilo.s na m,aio.r cesso., reflete a Intensa ação. de deco.mpo.-
parte da matriz da leira de co.mpo.stagem.' , sição. do. substrato. pelo.s
IA atividade do. grupo. termófilo. gera uma micro.o.rganismo.s. Em Po.uco. meno.s de
quantida~e de calo.r ainda maio.r que o. 24 horas a temperatura po.de se elevar a
grupo. anterio.r e a temperatura dentro. da 50°C devido. às re.ações exo.térmicas de
leira po.de ultrapassar em certas co.ndi- deco.mposição. das substâncias o.rgâni-
ções o.s 70°C. Enquanto. ho.uver ca~;. a taxa de o.xi'gênio. dispo.nível dimi-
substrato. dispo.nível de fácil deéo.mpo.si- nui brusc,amente criando. sítio.s de
çã'o,. o.s micro.rganismo.s termófilo.s co.nti- ànaerobio.se; o. 'pH to.rna-se rapidamente
nuarflm em grande a~ividad~, deco.mpo.n- ácido. co.m o. substrato. repleto. de ácido.s
dO"o. material e gerando. calo.r. Ao. .teJllpo. o.rgânico.s e a umidade se eleva pela pro.-
que nutrientes ' e energia co.ntida no. dução. de água qas reações bioquímioas
substrato. se to.rnam escasso.s a ativida- em andamento.~ To.do. esse quadro.
de deste grupo. diminuiu e a temperatur.a ambiental de mudanças co.ntínuas e acen-
decresoe co.mo. co.nsequência, abrindo. tuadás' é resultado. do. ~taque ao.s materi-
espaço. para o. crescimento. de certo.s mi- ais o.rg~nico.s de furupo.s de micro.rganis-
cro.rganismo.s mesófilo.s no.vamente. mo.s do.s quais as bactérias so.bressaem.

,. Potencial matricial é defi~ido como 'a força ~u !,nergia pela qual a água é adsorvida a uma superfíCie de "
partícula orgânica ou mi'neral e é expressa em bars o kPa,
Concedos práticos e microbiologia da compostagem

As bactérias' têm efeito mais -


, significativo ' <li

análise microbiflna . .
.'
manejo, foco investigativo, técnicas de
o

no proces~Q de decomposição sendo o


grupo mais ativo no ' estágio inicial da
compostagem, processando rapid~men- Miller (1993, p, 534) resume ' os
te compostos como carboidratos, proteí~ . resultados dizendo que os trabalhos
nas primárias e açúcares. Cerca de 80" apresentam: '
90% do material é transformado por
bactérias. Fungos, os qu?is competem '~ ..parB bactérias um pico de conta-
com as bactérias por energia ,e nutrientes gem por grama de substrato na fa/~
, contidos no substrato, têm um impor- xa de l{)'l a 10'2 a temperaturas de '
tante papel mais ao final do processo 55-65 o~ enquanto para tempera-
{

,quando a leira perde umidade, já qUe turas mesofílicas a contagem pode


estes toleram ambientes com baixa umi- serur.na ordem de.'~nagnitude mais
dade melhor que as ' b~ctérias. Aíguns alta, Populações de actinrNflicetos
tipos de fungos são fundamentais na de- termóftlos atingem o pico após o '
composição da celulose até por terem auge da população bacteriana, e
\,
menor exigência' do elemento nitrogênio frequentemente alcançam conta-
(EPSTEIN, 1997; EPA, 1994; gens na faixa de 107 a .1 tr-, O auge
I

POLilSEN, ?003). Bactérias concen':. da população de (ungos -termófilos,


tram a utilização erp substâncias com re- na faixa de l(li a l{)'l, ocorre muito
lação C/N entre 1 b: 1 e 20: 1, enquanto depois da ' onda bacteriana, normal-
fungus agem até 150: 1 e 200: 1. Isto . mente quando a temperatura declina
se . reflete na predominância inicial de ' abqixo dos 5(]>C Acima de 6(]>C os
bactérias na compostagein de lodos de ' fungossão norma/mente ausentes, e
esgoto e esterc?s enqupnto os fungos acima de 7(}>C os àctinomicetos são
estão adaptados a ' degradar os geralmente excluídos;~
<';
carbohidratos compl'e xos r,emanescentes
(MILLER, 199~fp. 529); Por~anto , a 50°C tem-se encontrado a
I

màior diversidade de comunidades


Diversos trabalhos' de investigação têm mic.robianas termófilas, com crescimento
sido efetuados e apresentado dados da ' de fungos, bétctérias e actinomicetos.
com postagem de variados tipps de ma- ' No entanto; Epstein(1997, p. 55) cita
~eriais como, pal~as, composto para co- vários autores que reportalJl 6 cresci-
gU!'TIelos, aparas de madeira, mento de microrganismos ' acima de'
biossólidos, restos de cq,m ida, estercos. 75°C eQ1 diferentes ambi.entes. Isolados
Os resultados dos - ~studo$ variam de de composto como o Actinomyces
acordo com o substrat'o, processo de thermofuscuSS crescem até ,65°Ç .e em

5 Waksman et ai (1939).

"
Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos

<',

torno de 75°C certos grupos de bactéri- trada,quando


,/
da éompostagem
.
de lodo
,

as (esporéformes) "são predominantes e de esgoto sob temperaturas favoráveis


talve~ os únicos , organismos" (abaixo de 60 0 'C) mais de 40% dos sóli-
(WAKSMAN, 1939), Em contraponto a dos voláteis foram decolTIPostos nos pri-
afirmação de que acima de 60°C a ativi- mei'ros 7, dias, e esta atividade é em sua
dade da compostagem cessa ou se reduz maior parte bacteriâna (MILl:.ER;
fortemente; estes microrganismos expli- FIENSTEIN,
.
1985; STROM,1985 apud.
cariam O'S métodos de com postagem que MILLER, 1993), Outras fontes apontam
o 1
operam satisfatoriamente com tempera- a capacidade éle certos grupos de bactéri-
tl)ras acima de 60?C, É importante con" as para decompor substâncias aromáticas
siderar que a massa da compostagem rel~cionadas à lignina (EPST~IN, 1993,
r P9ssui gradientes dinâmicos de tempera- p, 53), Os ', sistemas ,d e compostagem
tur,a (RANDLE; FLEGG, 1978), e qUe a " comumente mantêm a temperatura na fai-
comunidade microbiana é sensível a pe ~ xa entre 50-60°C, Numero,sas referências
quenas mUdanças de temperatura demonstram que esta alta faixa ,de tempe-
(~ILLER, 1993, p, 522), ,ratura é seletiva para,bactérias, e especial-
mente para o gênero Baci//us spp, E que
2.4. 1 Grupos microlJianos acima de 65°C a~ostrás pr~JVeram quase
monoculturas de B. stearothermophi/us,
Bactérias, As bactérias são ~bundantes Apesar da larga predominância de bactéri-
nos solos e participam de importantes as anaeróbias, para Miller (1993): "existe
transformações relacionada's à decompo- provavelmente, no grupo termófilo, bac-
sição da matéria' orgânica
, e ciclÇlgem de térias anaeróbias obrigatórias que são
elelTlen,tos , Espécies dos gêneros :significantes _ no sistema de
Baci//us e C/ostridium; entre outras , co- compostagem, apesar das listas não re-
muns no solo e na compostagem, pos- portarem, já que existe evidência da redu-
suem a capacidade de formár ção de So 4 ·4 ocorrendo sob condiç,ões
eridósporos; estruturas de resistência· termofílicas na compostagem",
quando as condições ambientais se tor-
nam desfavoráveis, O metabolismo das Actinomicetos. Actinomicetos, que são
. '
bactérias é variado, Existem espécies , bactérias filamentosas, preferem pH neu-
' fotossintizantes, fixadoras de' nitrógê- tro ou fracamente alcalino e são cápazes
, ,
nio, outras são capazes de oxidar com- de degradar sUbstratos orgânicos relati-
postos minerais de nitrogênio e enxofre vamente cO,!llplexos como a
ou fixar CO 2 ' Bactérias possuem cresci- lignocelulose, Alguns são t~rmófilos, to-
mento rápido e atividade respiratória vi- , Ierando temperaturas na faixa dentro de
gorosa. (CARDOSO, ' 1992, p,1-8),50°C, e alguns mesmo dentro da faixa de
60°C, Na com postagem esses microrga-
A importância da atividade bacteriana no nismos tem presença forte na fase
processo de compostagem foi demons- termofílica ( > 40°C) , A maioria dos
Conceitos práticos e microbiologia da composragem

ac.tinomicetos cresce melhor sob condi- degradar Ugnina e algumas substâncias re-
ções úmidas, mas aeróbias " Estas condi- calcitrantes. Hum/cola /nsolells aparece
ções são mais comuns na compostagem como o fungo mais ,termotolerànte, pre-
depois que a maior parte dos substratos sente aCima de 70 Q C (EPSTEIN, 1997).
de pronta disponibilidade foi 'utilizàd,a.
A atividade de decomposição e o cresci-
Actinomicetos são ur;na importante parte
lT)ento de fungos é menor que das vigo-
da comunidademicrobíaria na
rosas bactérias. Daí a de!,>vantagem dos
com postagem por agirem na conversã~
da hemicelulose e celulose em compostos . fungos ,na utilização do' substrato dispo-
nível no inícioda compostagem. Muitos
,
de fácil degradação como açucares e. ami-
fungos preferem condiçõeS; aeróbias. A
do (VANDERGHEYNST; LEt, 2003).
restrição de água disponível- frequente-
. Fungos. Os f~ngos podem ser encontra- mente decresce durante {)s estágios
dos em solos com pH de 3,0 a 9,0 e são avançados da cornpostagem favorecen-
predominahtes' em- solos ácidos. Estes do o crescimento micelial de fungos e
podem ser unicelulares, ou pluricelulares actinomicetos mais que bac'térias
(filamentosos) e grande parte produ'z (MILLER, 1989).
esporos. o.s fungos possuem filamentos
tubulares chamados de hifas. Um con- Quando se trata da análise do produto

junto de hifas ramificadas é-.denominado -final, o composto orgânico,' "uma a'n álise
i micéllo. Todos os fungos obtêm o car- micr,obiológica padrão no composto é ba-
bono para a' síntese celular da matéria- sicamente determinada pela concentração
orgamca (quimiorganotróficos) (CAR- de seis grupos funcionais de
DOSO et aI., 1992). m'icroorganismos: bactérias aeróbias,
bactérias anaeróbias, fungos,
Fungos são praticamente excluíd~s da actnomicetos, pseudomonas e bactérias
fase de alta temperatura da compostágem fixadoras de nitrogênio. Laboratórios
porque apenas um pequenó grupo de fun- modernos podem avaliar a concentração
go,s podem crescer acima de 50°C, embo- desses grupos no produto final e esta
ra um número, muito restrito tenha sido
análise serve como um guia de interpre~a­
descoberto que. podem crescer a 62°C.
ção 'para çleterminar a qualidade do com-
Os trabalhos de Selman A.Waksman 6 já
posto" (BESS,
, 1999).
. Análises do com-
apontavam que fungos-que podem crescer
postQ podem identificar a presença de mi-
a 50°C em com postagem com esterco,
crorganismos qu'e agem na supressão de
, mas rapidamente morrem a temperaturas
de 650C -ou maiores. Phanerochaete ' patógenos do solo de, importância agro-
nômica, como 6 gênero Trichoderma.
chrysosporium é um fungo conhecido por

6 Dois,trabalhos de S. A. Waksman e colegas são muito citados em microbiologia e compostagem:


, Thermophiúc de'composltion ofplant residues in composts by pure and mixed cultures ofmicrorganisms, e
Thermop/hiúc actinomycetes ans fungiin so/7s and composts, Ambos publicados na S0/7Science 11939),
Compostagem - ciência e p rática para a gestão de resíduos orgânicos

Tabela 2.4 - Bactérias, fungos e actinomicetos idenüficadas t")a com postagem de


diferentes substratos e em diversos sistemas.

Espécies I Bac1érias .Espécies I Fungos Espécies I Actinoolicetos


Baei//us' Zigomicetos Actinóbijida chromogena
LJ. brevis Absldia Nicrobispora bispora
LJ. eircu/al't's comp/eX A. ramosa MicrojXJlysporajaeni
LJ. coagll/ans type A Absldiasp Nocardia sp.
B cOdglllalls type B Mottierella tutjico/a Pseudonocardia thermophllia
fichel1ljôrmis
LJ. Mucor . Streptomyces •
sphadclls
LJ. M. miehei S. rectus
steamthennophi/lIs
LJ. M. pusil/lIs S. thenn{)/Ítsclls
subhlis
LJ. Rhizomucor sp. S. thennovio/ace!ls
Clostn'diutll Ascomicetos S. thetmovulgaris
C thennoce/llIm A/feschéria terrestris Streptomyc;es sp.
aostdelillm sp. Chaetoniutll thermopht!lIm T hermoactinomyces
Pseudomonas sp. Docty/omyces crllstaceOllS r vulgaris .
Myrioçoccum a/botllyces r socchad
Fa/ato"!}'ces (peniciÍ/illm) Thernl0monospora
r dupOlitli r curvata.
r emersonni r vitidis
r themlOphillls 1'lfermomOllospora sp.
Thenlloascus auralltioclls
Fhie/avia
r thenn.ophlla
r tarestris
Bas idiomi cetos
Copdnus
C lagoplls
Copnnus sp.
Lenzites sp.
Deuteromi cetos
ASpetgll;us
A·fomigatus
HUlJ1ico/a
, I
H.grisea
H. inso/ens
H. fculuginosa
H. s/e//ata
Spomtdchum thermophlle '
Ma/brancheapu!che//a
ScytafldiulJ1 thennophillltn
(/ôrma/mente conheeido como
Foro/a thennophi/a)
Myce/ia Stenlia •
;
Papu/asfXJra thennophlla

Fonte: M iller. 1993, p. 5 30 -534 . Citando diversos autores .


Conceitos

2.5 Oxigênio tenso c,onsumo de '0 2 pelo metabolismo


microbiano (Fig. 2.5) que pode superar
A compostagem termofílica é um proces-
o suprimento de O 2 via difus'ã o passi)'a
so fundamentalmente aeróbio. Sob con-
ou mesmo com aeração forçada. Em
dições anearóbias as altas temperaturas
leiras de- compo'stagem este ef~ito é co-
não são alcançadas . Conceitualmente,
mum /e tende a se c,oncentrar na porção
aerobiose e anaerobiose 'se referem' a
c,e ntral. PQr isso, não se descarta a par-
gradientes de condições altàmente
ticipaçâci de microrganismo$ anaeróbjos
oxidantes e de redução, respectivamen-
facultativos no processo de
te. Nos solos, c~ndições aeró.bias e
biodecomposição . Diversos trabalhos
anaeróbias podem, coexistir com certa demonstram a formação de CH 4 , resulta-
proximidade e a matriz ' do, composto do da atividade anaeróbiaef\1 leiras ' de
pode exibir a mesma variação ,em com postagem (AMILlNGER et aI.,
mjcrosítios por razões s'i milares 200B ; INÁCIO et aI., 2009), e alguns
(MILLER', 1993). autores relacionam a relativa elevação na
emissão de CH 4 e Np à pobreza na qua-
Na prática, a cbnipostagem é um 'proces- lidade ope'racional do processo
so predominantemente aeróbio, ' e não (THOMPSON et aI., 2004). Evidênéias
totalmente aeróbio. É comum a forma "'" de redução de SO 4· 4 apontam também "

ção de microsítios e até zonas internas para presença .de bactérias anaeróbia:;;
anaeróbias « 10% de O) devido ao in-, obrigatóriÇls (MILLER, 1993).

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O 20 40 60
Temperatura ('C).

Figura 2.5 - Relação entre temperatura e taxa de consumo de oxigênio (taxa de degradação) na
compostagem, Fonte: Epstein (1997) ,
Compostagem - cliJncia e prátic a para a gestão de resíduos orgânicos

É mais útil e fundamental compreender e ente a matriz da leira se torna anaeróbia.


saber qual grupo metabólico está sendo A decomposição anaeróbia envolve dife-
'favorecido na oompostagem, indepenc rentes tipos de microorganismos e dife-
dente do grupo microbiano taxonômico. rentes reações bioquímicas. Estes pro-
Como bem e?<plica N.e ves: cessos são geralmente considerados
mais lentos e menos eficientes que pro-
'~ liberação da energia acumulada cessos aeróbios . Processos anaeróbios
nos compostos orgânicos é proces- geram compostos intermediários, muitos
sada através de.reações de óxido- desses compostos têm Jorte odor e al-
redução, ou seja, o composto o'rgâ- guns merecem preocupação.
nico energético se · torna oxidado
enqua(7to alguma outra' substância A fermentação é um processo que pode
se torna reduzida, ocorrendo, as- ocorrer nas leiras de compostagem, ou
sirn uma transferência de elétrons em microsítios anaeróbios ou de forma
da substância' doadora (que se ox/: generalizada quando a difusão de oxigê-
dal para a substância receptora nio é muit,O deficiente, sendo sintoma de
(que se reduz). Essa decomposição mal andamento do processQ. Fermenta-
é realizada por uma gama variada ção se refere especificam,e nte ao metabo-
de microorganismos que diferem lismo sem um aceptor inorgânico termi-
quanto à nature~a do receptor final !lal de elétrons (02' NO j -ou S04-2) e,
de elétrons usado em suas reaçêes como resultado, produz como ácidos or-
de óxido-redução. Deste modo, os gânicos ~ álcoois, ainda ricos em energia
processos metabólicos para oxida- que se acumulam no meio. "Fermenta-
ção da matéria orgânica e liberaçã,o ção no uso técnico é equivalente a
de energia podem ser separados em f.osforilação, e o uso indiscriminado
três grupos principais: respiracão como sinônimo para decomposiçao deve
aert!bia, . na qual o oxigênio é o re- ser evitado por ser confuso e impreciso"
, ceptor final'dos elétrons/ resoiracão (MIL~ER, 1993, p. 517).
anaeróbia, na qual são empregados
receptores de elétrons inorgânicos, 2.6 Umidade
dlfwentes de oxigênio, como N03 ' e
sO/ ', e fermentacão, na qual a ox/: A manutenção da umidade ad~quada é
dação ocorre sem a utilização de importante por dois motivos: 1- a água é
aceptores externos de elétrons:" necessária no metabolismo microbiano; 2
(Neves, 1992, p. 17-31). , - a 'água concorre com o oxigênio pelos
mesmos espaços na matriz7 da leira. Por-
A: Fi,9ura 2.6 mostra, as rotas de libera- tanto, o excesso, e a escassez de água
ção de energia de compostos orgânicos são capazes de estancar a atividade
e o fluxo de elétrons na microbiológica, o primeiro por via indireta
biodecomposição. Sem oxigênio sufici'- impedindo a difusão do oxigênio na leira,
Conceitos práticos e microbiologia da'compóstagem

Compo"o 0,";n'01 do,,"o, de· d'tron,)

Receptores de elétrons

Composto orgânico

+
Respirª"ção anaeróbia Fermentação
Respiração
(auto oxi-redução)

Figura 2.6- Liberação de energia de compoStos órgânicos (moléb~ las orgânicas). ~Iuxo de elétrons. Fonte: '
ad<lptado de Cardoso (1992).

,e o segundo por via direta reduzindo a esta se torna baixa e insuficiente para man-
umidade a níveis desfavoráveis para ativi- ter a atividade termofílica que move todà a
dade biológica da compostagem. ~ compostagem. Já níveis acima de 65%, a
ág~adesl6ca muito do ar presente nos
./
' Em teoria, a atividade biológica é ótima espaços porosos da matriz da leira e r eduz
quando os materiais estão saturados. Esta, a continuidade entre os poros ,' limitando a
c~ssa inteiramente abaixo de 1 5 % de con- difusão do ar é, consequentemente, propi-
teúdo de umidade. No entanto, na práticà ciando condições para atividade
procu'ra-se equilibrar e manter a umidade microbiana ariaeróbia.
na composiagem entre 40% e 65%. Mas
essa faixa pode variar conforme a aplica- Durante a com postagem a quantidade de
ção, como no caso da com postagem de água dentro da leira de .compostagem·
'. substratos para produção de 'c ogumelos muda com a evaporação e precipitaç,ão,
em que se trabalha com 68-74% de u~i- ' mas também com a formação de água '
dade (MILLER, 1993) . Experiências, têm metabólica 8 . Geralmente mais água eva-
mostrado que o processo de pora do que é adicionada ,e ' a .' umidade
compostagem fica inibido a conteúdos de ,tende a' diminuir durante o proc,esso de
umidade abaixo de 40%. Apesar da ativi- compostagem. Materiais altamente absor-
'dade microbiana continuar a esses níveis, ventes, tais como aparas de madeira, pro-

7 Termo que traduz o arranjo formado pelas fases sólida (resíduos orgânicos e minerais), líquida (basicamente
água e elemen~os dissolvidos) e' gasosa (ar e elementos gasosos constituintes) ,
m Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgánlcos

porcionam "poder tampãQ" à leira evitan- rante a com postagem que é geralmente
• I

do tanto a saída de água por escorrimento desconsiderada. Cálculos ~eoricos apon-


quanto à excessiva evaporação, podendo tam que por cad q grama de compostos
'm anter a umidade favorável em maior par- voláteis de lodo de E~sgot6 seria produzi- I

te da leira e por mais tempo, mesmo em' ' do 0.72g de água. Outros trabalhos
.
condicões desfavoráveis como
, a influên- encontraram valores que variaram de
. cia de ventos fortes e secos sobre a leira. 0.55g a 0.63g de água por grama 'de-
A remoção de água por evaporação é composta. Essas variações são ,atribuí-
considerável com substratos de alta ener- das a produção de biomassa e caracterís~
I gia como resíduos de comida e esterços, ticas do material 'original (~ILt.ER,

por exemplo. ~ Esta remoção que pode 1993, p . 524).


resultar em um conteúdo de umidade em
torno de 20-30% é i~'fluenciada Pela alta 2.7 Relacão Carbono/Nitro-
produção de cqlor liberado na decomposi- e
gênio óutros nut,rientes '
ção desses materiais. Carbono e nitrogênio são os nutrientes
ma \s importantes para , a atividade
Alguns trabalhos in'dicaram que, quando microbiana econsequentemente par~ a
o potencial matricial se torna mais nega- cqmpostagem. A r-elação carbono/nitro-
tivo que - 70kPa, a colonização por gêni9 (C/N) de ur:n determinado resíduo
bactérias foi extremamente inibida. O orgânico têm influência direta sobre ativi- _
potencial consi"derado ótima para coloni- dade microbiana e sobre os grupos que
zação por bactérià se aproximadamente .
vão predominar em sua decomposição re-
-20kPa. Um potencial matricial mais ne-
sultando em maior ou menor tempo de
gativo pode ' ser traduzido em menor / ,

completa decomposicão ou humificacão.


água disponível (livre) para atividade
\ I • •

Quanto maior a' C/N , maior o tl'lmpo de


microbiaMéi. De fato, esses valÇlres ne-
decomposição do material. Em geral,
gativos significam a força qu~ o filme de
considera-se relação C/N acima de 50,
água está retido pelas p~rtículas . Isto é
alta, e valores entre 30 e 40 mais ade-
particularmente importante para ativida-
quad?s a compostagem ., Pode-se cor;n-
de de bactérias. Fungos e actinomicetos
parara decomposição no solo de ap,aras
seriam menos afetados pela variação do
de madeira -(C/N = 300-500).. extrema-
potencial matricial devido à estrutura em
mente lenta,. com a de restos de verduras
. micél ios, , no entanto eles são bem me-
nos importantes na fase maís ativa da
(C/N = 16), 'rápida. Os microorgànismos , -
compóstagem , crescendo fracart;lente usam de 25 a 30 partes de C' para cada
acima ' de 50 0 C Por fim, existe uma parte de N assimilada. O carbono é usa-,
grande produção de água metabólica du- " do com fonte de energia e para formar a

8 Resultado da respiração microbiana: matéria or.gânica + 0 2 -- > CO 2 + H 20 .


Conçedos prátkos e míçrobí%gía da çompostáge;" m
estrutura das ' células ' microbianas, en- a biod..,e gradação', Portanto,. não funcio-
quanto o nitrogênio é importante na for"- r:lam como materiais "estruturantes" para
, n;ação (jas proteínas e, especialmente, a leira e tendem Çl diminuir rapidamente os
do DNA e RNA microbiano, influencian- espaços livres para difusão de ar. Em ge- .
do diretamente na capacidade de repro- ral, o excesso de materiais com baixa C/N
dução e crescimento da população das resulta no colapso da ,estrutura de uma
diferentes espécies de bactérias, fungos leira de compostagem resultando na inter- .
i
e actinomicetos. rupção do processO aeróbio e redução
dás temperaturas, reflexos da diminuição
A relação C/N da mistura inicial de résí~ da atividade microbiana. Este quadro em
duos orgânicos incluencia diretamente uma leira de com postagem, por exemplo, .
no tempo de compostagem, ou seja, na de restos de alimentos com C/N 14 a 16,
obte~ção dO produtofinal' desejável par~ fabilmente gera mau cheiro e proliferação
uso agrícola. O que se traduz no tempo de moscas dl!rante ' a decomposição . A
necessário para obtenção . em um com.- relação C/N também influencia no padrão
posto orgânico d€ baixa C/N « 20). Em de ,temperatura no processo de
geral, é esta a ênfase dada ,pela maioria compostagem. Tanto o carbono disponí-
dos autores no tema. No entanto, a rela- vel quanto o conteúdo . de nitrogênio,
ção C/N gOS diferentes materiajs deve ser quando. elevados ou adicionados; resul-
também interpretada segundo a influên- tam em temperaturas mais altas e/ou fa-
cia sobre outroS fatores eCQlógicos f0n- ses termofílicas ~aih prolongadas.
damentais da com postagem que não so-
. ' , O uso de resíduos de alta C/N na
mente o teml?o de duração do processo.
Um fator ecológico important~ influencia- compostagem pode realmente resultar
do pela relação C/N, é a aeração, ou ' a em um produto final com C/N acima de '
I •

capacidade do ar ·se difundir pelos espa- 20 devido à remanescência destes mate-

ços livres dentro da leira de riais, geralmente mais gros·seiros' no pro-


. .
duto final. Assim, a ' operação de
com postagem, seja por uma difusão pas-
siva ou por aeração forçada .. A relação C/ p'e neiramento pode retirar os materiais

N da mistura tem efeito direto' na ' mais wosseiros que influenciam na alta
C/N do produto final, obtendo apenas o
porosidade da leiras (ou espaços livres
material mais humificado e de baixa C/N,
de ar), que também é influenciadá pela
mais fino.
granulometria do material. tI(Iateria'is de
alta C/N, como as podas urbanas e as
aparas de madeira, conferem "forte estru-
2.8 Granulometria
tura" as leiras de composté\geni. Materi- Da mesma forma que a relação c;JN, a,
ais de baixa C/N constumam ser mais granulometria (tamanho de partículas)
tenros, isto é, ter alto conteúdo de água, dos .resíduos usados na mistura definini
~ perdem sua estrutura logo que se ini;ia a extensão de superfície disponível para
Compostagem - ciência e prática para a gestão de resiCluos orgânicos

a ação ,dos ~icroorganisrr\os e, também, '2.9 pH


influencia a aeração da leira dl';l \

O pH do meio tem influência e,m qual-


compostagem, via manutenção da
quer atividade mierobiana. Diferentes es-
porosidade. Do ponto de vista
pécies de microrganismos se adaptani 'é
microbiológico, quanto menor a têm atividade ótima e(l1 diferentes faixas
granulometria do fTlaterial mais rápida de pH. O pH de cada resíduo utilizado na
será a decomposição , peJos mistura para compostagem vai influenci-
micro9rganimo~ que terão maior superfí- ar. a dinâmica microbiana principalmente
cie de ação, onde ocorre a décomposição. na fase inicia1 da compostagem. Mistu-
rasácidas (pH <4), pOr exemplo, com
Já em relação à montagem aas leiras de excesso de restos de polpas de frutas e
compostagem, a .granulometria da mistu- cascas de frutas, podem retardar a ação
ra dev~ manter a porosidade da leirapara microbiar.ía que predomina na
a difusão do ar (aeração). Isto remete compostagem, já que uma porção menor'
diretamente a recomendação de triturar os de espécies tem plena atividade metabó-
resídL\os para urJ1a compostagem mais rá- lica em faixas extremas pH, muito ácidas
pida. Esta prática, por exemplo, não é ou muito básicas. Deve-se ter atenção
recomendável quando lidamos corri res- para formar misturas que resultem em
, tos de aliment0l', que são materiais. de um pH médio entre 5,0 a 7,0, plena-
rápida decomposição e tendem a formar mente satisfatório a, -atividade
muita água metabólica durante a fase microbiana. Na prática, isso é facilmente
termofílrca da compostagem. No entan- alcpnçado por que estamos sempre mis-
t6, reduzir a granulOmetria pela trituração turando diferentes materiais orgânicos.
será sempre desejáve,l para restos vege- 'No entahto, al~uns autores indicam a
tais de alta CtN como podas de ,árvores f,a ixa entre 6,5 a 9,6 como a mais
ou mesmo restos de culturas agrícolas satisfatória p-ara 'um processo termofílico
como plantas de milho ou capineiras, (Epstein, 1997, p. 48). Logo na fase
Pode-se encontrar diferentes recomenda- ' inicial da compostagem o pH tende a cair,
( ções para a granulometria na devido à formação de ácido orgânicos,
,\ '

compostagem, por exemplo, Rynk mas com a elevação da temperatura, ten-


(1992) recomenda tamanho de partícula de a subir e se rriante( entre o p:H 6 a 7,

de 0,3 a 1,5 cm, para uma compostagem dependendo da mistura de resíduos. Al-

"rápida", mas comenta que essa medida é guns resídu~s como O lodo de esgoto

bastante flexível para umq compostagem que recebe adição de calcário, apresEm-
- . . .
tam, pH acima de 12, mas isso não parece
satisfatória e pode varia~ com os "materi-
ser limitante para a compostagem deste
ais usados,' tamanho de leiras ou pilhas e
material que ,é realizada sempre em misttJ-
das c'o ndições ambientais".
ras formadas com podas de árvores.
, I \ Métodos de Corrlpostagem.

Caio de Teves Inácio


Paul Richard Momsen 'Miller
I

3. 1 Introdução
A descrição da com postagem como parte sas condições ótimas leva'm a alta ativi-
de um. grupo de processos de "decompo- dade microbiológica que gera calor no
sição aeróbia de , sólidos", citada por interior da dasleiras 1 de compostagem.
VanderGhenyst (1997), nos dá uma pers-
pectiva muito prática do ponto de vista A ,qualidade da engenharia do processo
científico e da engenharia. Ou seja, a repousa sobre alguns aspectos específi-
com postagem como forma de tratamento cos:
' e aproveitamento de resíduos sólidos or-
~, evitar a proliferação de moscas e a
gânicos.
atratividade ~ outros vetores; '
A com postagem como técnica de trata- ~ evitar a ,ocorrência de odores fortes e
mento de resíduos orgânicos constitui desa\;nadáveis;
basicamente de práticas que favorecem a
decomposição biológica em temperatu- ,~ evitar excessiva produção de
ras entre 5,5 °C e 75°C Hermofílicas) de chorume (percolado das leiras);
grandes volumes de matéria orgânica.
' ~ gerar um produto final sem riscos de
As técnicas são baseadas nas caracte~ís-
contaminação do solo e água e adequa-
ticas físicas e químicas dos materiais
do para o manuseio; ,
empregados e buscam garantir a aeração ·
interna da leira, umidade favoráv~1 ao ~ adequado para uso na agricultura e
processo e o equilíbrio na relação C/N recuperaçãoae solos.
(Carbono orgânico/Nitrogênio total). Es- ,

1 Neste livro abordamos com mais detalhes a com postagem em feira." Pode-se substituir este termo por
biomassa da compostagem quando consid'eramos que existem métodos de com postagem em reatores,
(confi'nada). como veremos adiante, quafldo nã~ necessariamente são feitas leiras,

, '
- ciência e deres/duos

Basicamente estes aspectos são depen- tecnologias específicas (e patenteadas)


, ,
dentes das altas temperaturas (55- confor~e o caso. Este livro dá ênfase ao
75 o C) proporcionadas durante o pro- método em L'eiras Estáticas com Aeração
cesso ,de compostagem as quais ~ambém Passiva utilizado no pátio de
garantem a ausência de patógenos no com postagem da UFSC, que é um méto- '
produto final que será manuseado do semi-mecanizado de baixo custo e
(GOLUEKE, 1984; CALlFORNIA que tem demonstrado possuir caracterís-
INTEGRATED . WASTES ticas que possibilitam sua rápida difusão
MANAGEM'ENT BOARD, 2001)" Por e ater;dimento aos requisitos de uma
sua vez, o nível termofílico é resultado "boa compostagem", como citado ante-
,,
da atividade microbiblógica predominan- riormente .
temente aeróbia e, portanto, dependente
do fluxo de ar adequado dentro da, leira 3.2 Com postagem com
de compostagem . revolvimento de leiras
A com postagem com revolvimento de
Os métodos de com postagem. podem ser
leiras é o método mais difundipo no Bra-
separados em grupos conforme otipo ae sil, sendo o mais utilizado nas chamadas
aeração, grau de revolvimento das leiras,
,"usinas de triagem e compostagem" que
ou seé realizado ~m leiras -'o u de form~
fizeram algum sucesso na década de 80
confinada (por ex. biorreatores). Vere-
e 90 . O custo baixo de implantação e a
mos que certas práticas podem ser co-
, , simplicidade ' do método contribuíram
muns aos diferentes grupos, por exem-
para sua difusão. No entanto, o método
, pio, um méto<;lo confinado pode ter uma
mostrou-se ineficien't~ em alguns aspec-
fase em leiras, com ou sem
tos como, maiores custos opera,eioDais
revolvimento. Ou mesmo métodos de
qu~ o esperado' e dificuldades quanto ao
leiras estáticas podem ter práticas de
controle de moscas, produção de
montagem de leiras totalmente particula-
chorume elevada ' e emissão de odores
res que influenciam sobremaneira na efi-
fortes. No Brasil, a concepção das "usi-
ciência do processo de compostagem.
nas de compostagem", para processar o
Podemos, classificar os seguintes gru-
mater'ial originago no refugo das esteiras
pOS2 . em : (1) Leiras Estáticas com
d~ triagem de resíduo domiciliar urbano,
Aer~ção Natural (2) Leiras Estáticas com
fsequenteme~te resultava em um produ-
Aeração Forçada, (3) Cómpostagem
to ' final inadequado para o uso agrícola,
com Revolvimento de Leiras, e (4)
com baixo valor comercial e, as vezes,
Compostagem em Reatores (confinada).
rejeitado pelos agricultores. Além des-
Para cada grupo destes podemos 'ter mé-
sesproblemas, a necessidade de gran-
todos diferentes, variações e usos de

2 Encontraremos em inglês os seguintes termos correspondentes: Passive/y AeraJed IM'ndrowe, Aerated Static
PIles, Wtildrowcompostin0 e /n-vesse/composting,(RYNK, 1992),
....
Métodos de. campos/agem DI
des' áreas também é um ponto que vem ' revolvimento da leira se esgota r,apida-
impedindo a aceitação da compóstagem mente (EPSTEIN,'
,
i 997), em alguns mi-
.
'los dias de hoje pelos gestores munici- nutos, ficando evidenté que é um méto-
pais, por exemplo. do ineficiente quanto a manuténção pro-
longada da aeração das le iras. Os
Atualmente no Brasil o método de Jeiras revolvimentos são responsáveis também
revolvidas ai'nda é usado por centros de pela, necessidade de p~tios com grandes -
pesquisa, empresas e companhias públi- dimensões e também aumentam a gera-

.
cas na compostagem de resíduos, geral-
/

mente em volumes pequenos e situa-


cão
"
de chorume e emissão ,de odores .
Este método tem melhor desempenho na
ções específic'às . Pátios operànd~ . com com postagem de gràndes volumes de
grandes volumes podem ser encontra- material vegetal, restos de pàda, grama e
. ,. . ..
dos em algumas capitais brasileiras, em, folhas secas, do que' na com postagem '
geral funcionando precariamente e com de materiais mais. ps.sado:5, com .grande
restrições ,operacionais e,ambientais . conteúdo de água, por exe~plo, restos
de comida. As Figuras 3.1 e 3.2 mos C
As leiras de resíduos no método coIl1 tram alguns tipo~ de máquinas utiliz~das
revolvimento de lerras podem te t dimen- para o revolvimento de leiras ..
sões . variadas, mas usualm.ente são
montadas leiras longas ede secção trian- 3.3 leiras e~táticas cQm
gulares, já que os resíduos sãó simples ~ aeração forçada
mente despejados com ajuda de pás-
A cOfT)postagem com aeração forçada
carregadeiras ou equipamentos simila-
utiliza equipamentos para insuflação ou
res. As leiras formadas seguem dimen-
aspiração de ar ,1') 0 interior das le iras.
sões que facil item as marrobras do
Esta tecnologia po~sibilito.u resolve r um
maquinário e o transporte dentro do~
típico problema da compostagem: a falta
pátios de compostagem, dependendo de
de oxigênio no il)terior das leiras causa-
como a operação é concebida, mas usu-
do pela forte àtividade biológica nos pri-
almente as lei r.as têm 4,0 a 4,5 de base e
meiros dias do processo. Na m'a ioria
1,5 a 1 ,? m no máximo. Neste método
dos casos, a arquitetura das lei.ras e a
é comum uma frequente interrupção do
estrutura do material, por exemplo; resí-
processo de biodegradação aeróbia pelo
duos urbat;los, Çlão permitem o fluxo
colapso da lT)assa percebido pela queda
adequado de ar na leira. Além disso,
brusca da temperatura das leiras. O
após o início da biodecomposição a es-
revolvimento cOl)stante' ~as leirps é usa-
trutura da leira tende a entrar em colapso
do para recuperar a aeração do processo
reduzindo a' possibilidade , de haver um
e, em alguns casos
, , reduzir a temperatu- fluxc,> natural de ar. A aeração forçada é
ra do material em decomposição. No
uma maneira mais eficiente que o
entanto, o oxigênio fornecido pelo
revolvimento de leiras para manutenção

.-
/
Figura 3.1 - A montagem ou o revolvimento de leiras de compostagem podem ser feitos com pás·carregadeiras
leves (mini . c~rregadeiras) para prevenir a formação de' buracos no terreno quando úmido pela chuva.

Figura 3.2 - O revolvimento de lei'ras de com postagem podem ser feitos com equipamentos espe2ific.os .
acoplados a tomada de potência do trator agrícola.

do processo de compostagem, via supri- na base das leiras, mas Podendo ocupar
' mento de oxigênio, principalmente na também partes internas da leira. A mi~­
fase termofílioa (EPSTEIN, 1997). Por tura de resíduos é colocada sobre a rede
esses aspectos, há um satisfatório con- de tubos. As leiras permanece'm estáti-
trole'da emissão de odores e redução na cas dl,lrante toda a fase termofílica o que
geração de chorume. A aeração forçada representa uma vantagem em termos de
permitiu também leiras mais largas. necessidade de área.

A insuf\ação ou aspiração de ar é ~eita Mesmo com os equipamentos de,


I
por eq~ipamentos específicos (compres- aeração, e como não há revolvimentos,
sores ou \(entiladores) e através de tu - especial atenção deve ser dada à seleçãe
bos perfurados usualmente colÇlcados e mistura ' dos resíduos que formam a
Métodos de

reira. o fluxo de ar satisfatório só se o calor do que para s~prir oxigênio as


dará se houver porosidade sufipiente e leiras" (FINSTEIN et aI., 198'6· apud
uniforme. Se isto n,ão for observado, MILLER, 1993, p. 5,22) . .
pode ocorrer desde uma distribuição
désuniforme da aeração até a interrupção No Brasil temos pOUGOS exemplos de pá-
do processo de compostagem. A leira tios de compostagemconduzidos em
deve ter boa estrutura a qual mantém a leiras co~ aeração forçada. Nos EUA,
porosidade durante todo o processo de projetos de com postagem com aeração
compostagem. Esta é uma estratégia si- forçada , têm substituído o revolvimento
milar às leiras estáticas com aeração pas- de leiras. No ' entanto, por necessitar ~e
siva (ver ítem 3.5), e por isso materiais instalações específicas, os custos de im-
como serragem, ~ue apres'entall] resistên- plantação podem ser maiores ,que o sim-
cia à decomposição e mantém a estrutura ples revolvimento mecânico. Este pode
da leiradurante praticamente todo pro- ser um fator que tem impedido' a difusão,
cesso, são usados na com postagem de. deste método de compostagem no Brasil.
lodos de esgot(), por exemplo. '
r A Figura 3,3 mostra o esqúema de uma
Algumasestràtégias (Rutgers Strategy) leira de compostagem com aeração força-
usam a aeração forçada para controlar a da, que pode estar Hgada num sistema de
temperatur'a das leiras ' através de automação q'ue aciona os aeradores
sensares de temperatura que acionam os quandO a temperatura daleira cai - efeito
aeradores quando a temperatura supera da restrição da atividade microbiana pela
55°C. Segundo alguns estudos, este se- falta de oxigênio. A Tabela 3.1 apresen-
ria um nível de temperatura ótimo para a ta especificações para sistemas com
atividade microbiar:a na compostagem. aeração forçada; Neste método é possí-
"O consumo de oxigênio e a evolução velo uso de biofiltros que têm a função
da temperatura (calor) são fortemente de retirar, por sucç'ão, as substâncias vo~
correlacionados porque ambos medem' a láteis e causadoras de mau cheiro eventu-
mesma atividade" (COONEY et aI., almente formadas no interior da leira -
1968 apud MILLER, 1993, p. 522). como formél de controle de odores.
Esta estratégia se difierencia da aeração .
3.4 Compostagem em
.
para suprir 'Oxigênio . No -entantO, a es-
tratégia de aeração por controle da tem- sistemas fechados
peratura necessita de aeradores maiores (11 reatores")
e maior flu[<o de ar quando comparadÇl Existe um grupo de métodos de
, co~ o controle por intervalo de tempo', com postagem que confinam os resíduos
baseada no controle via suprir.nen~o de em estruturas fechadas como, container,
oxigênio (RYN~, 1992). "Nove. vezes grandes cilindros de material metálico ou
mais ventilação é requerida para remover emconc,reto e alvenari;:l (Fig. 3.4). Estes
Compostagem - ciência e prática para a gestão de residuos orqãnicos

Tabela 3.1 - Especificações para sistemas ,de aeração forçada em compostagem.

Sistema com
Sistema com controle
Componente Unidade contróle por
por telfl peratura
tempo
Potência do aerador 1/3-1/2 3-5
Taxa de fluxo de ar Metro cúbico por 0,71 2,83
minuto por peso seco
de material
(tn3/min.ton)

r Diâmetro dos tubos Centímetros (em) 10 15-20 .


Comprimento ináximodo tubo Metros(m) 23 15

Fonte: adaptado de Rynk, 1992.

w~, )\
Cob,rtumdolSom

\ H ;" 1,5 a2,5m

J'~ L~2xH
(a)
Base porosa de 30 -50em de

t I ,
espessura (cascas de arvore, aparas
de madeira)

.(b)
Acrador

Figura 3.3 - Desenho esquemático da com postagem com aeraçã<} forçada de leiras. Ia) corte transversal; Ib)
• /. . ' . . . \ ' \ . I

corte longitudin·al. Fonte: adaptado de Rynk 11 992) . .


I

métodos são totalmente dependentes de O processo é totalmente mecanizad<? e em


mecanismos para aeração . forçada e o geral ocupa menor área em relação aos,
revolvimento mecânicQda massa outros métodos de compostàgem. A fase
compostada. Por serem sistemas fecha- teimófila é r,eduz.ida levando alguns 'auto-
dos, estes métodos sofrem menor influên- res a chamarem este metodo de
1. ' .
cia das vàriações climáticas, principalmen- compostagerli acelerada. O tempo de de-
te chuva, ventos e neve, o que nas condi- tenção no reator biológico pode variar de
ções de países de clima temperado é mais uma .a quatro semanas, dependendo das
problemático. Estes sistemas também características .do resíduo e do tipo de
possibilitam a automação do processo': equipamento. No entanto, a maturação
Métodos de compostagem

do material pode necessitar um longo perí- e te~po de compostagem. Sendo estàs .


odo em torno de 60 dias. A duas últimas vantagens muito depen-
homogeneidade da biodecomposição tenc dentes do tipo de máterial compostado e '
de a favorecer o controle de patógenos.e &i' gerenciamento das operações. Por
de odores (RYNK, 1992). A outro lado', todos esses sistemas possu-,
compostagem em reàtor 'é mais dependen- em patentes, devem ser comprados ou '
te de equipamentos mecânicos do que os ,. licenciados, ou projetados por especia-
sistemas de leiras reviradas ou leiras estáti- listas e apresentam o risco de eventuais /
cas aeradas. "De um modo geral, os vá ri- erros serem difíceis de reparar se o si,s te-
os tipos dt; reator se enquadram em três ma for. niai dimensionado ~u a
categorias: reatores de fluxovertical, req- tecnologia proposta for inadequada.
tores de fluxo horizontal e reat,ores de
batelada, sendo que os dois primeiros são . 3.5 leiras estáticas com
de fluxo contínuo" (TSU~TYA, p. 78). aeração passiva (método
UFSC)
A com postagem em reatores biológicos
Neste item abordaremos as peculiar'ida-
é. um sistema que necessita maior capi-
des do método da Com postagem . em
'tal, tem maiores custos de operação e
Leiras Estáticas co~, Àe~ação Passiva,
manutenção dos equipamentos, mas
aperfeiçoado no âmbito do Projeto de Co-
que pode ser atrativo pelo menor uso de
leta Seletiva e Cbmpostagem de Resíduos
, mão-de-obra, menor necessidade de
tJrbanos óa Universidade Federal de San-
, área, controle ~a qualidade,do composto

Estágiô I Es tágio 11
Reator ,de Rea tor de Maturação
Compostagem / Fase
Termofilica

Mat er~ al primário Insumos

A aador
Material compostado

Composto ,.

Figura 3.4 - Exemplo de sistema de comp~stagem confinada em biorreatores. Fonte: Rynk (1992).
ta Catarina - UFSC, em, Florianópólis, Esta adição de resíduos ócorre, em geral,
com foco nos restos de alimentos gera- - de 2 a 3 vezes por semana. Dependendo
dos nos restaurantes do campus. Este da quantidade inicial de resíduo, a leira
método vElJll sendo difundido em municí- começa com uma altura menor quea al- , ,
pios 'd o Estado de Santa Catarina e, atual- tura máxima operacional désejada. A
mente, foi-, adotado pela Embrapa Solos leira gànhará altura coma adição das no-
em projetos de compostagem rio Estado vas camadas de reSíduos, mas também
do Rio de Janeiro . perderá altura durante o processo de
biodeGomposição.
Este método se caracateriza pelo empre-
go de algumas técnicas específicas que ::=} Mistura de camadas: a cada nova carga
são descritas a seguir. de resíduos há a mistura, com uso de gar-
fos agrícolas (Figura 3.7), c.om o material
::=} Formato das leiras: as leiras são mon- já em fase termofíliça de decomposição.
tadas com paredes retas (ou próximo
disso) em relação ao solo;- geralmente ::=} Cobertura: as leiras são sempre cober-
ç~m o auxílio de materiais como a grama tas cõm material vegetal como cortes de
cortada e outros restos vegetais que per- grama ou folhas, ou outro material vege-
mitam a formação de paredes que ;se tal .qualquer, para que os 'restos de ali-
sustentam, conferindo um formato re- mentos não fiquem e~postos em nenhu-
té;lngular a leira (Figura 3.8). ma situação.

::=} leira estática: as leiras não são revolvi- Büttenbender (20'04) avaliou a viabilida-
das frequentemente, por isso são deno- de 9a compostagem em leiras estáticas
minadas leiras estáticas, e' em geral ape- com aeração passiva (Método UFSC)
nas é feito um ou dois revolvimentos no para o gerenciam!3nto da fração orgânica
fim da fase ter,mofílica para homogeneizar dos resíduos sólidos do munidpio de °

e preparar o material para maturação. 'o Angelina/SÇ. Para este àutor:

::=} Densidade do substrato: adiciona-se


"do ponto de vista operacional, o
Oi

sempre uma " proporçã~ alta de material


sistema de compostagem
Ues~ruturanteU, geralmente de alta CIN e termofílica em leiras estáticas ca-
baixa densidade, co.mo aparas de madei-
racterizou-se como um processo '
ra e podas de árvores, de pelo menos 1 I
flexível, de baixo custo, que utill~
.3 do volume total da leira;
za equipamenTos sImples, sanitart~
amente adequado, e principalmen-
::=} Carga contínua: as leiras recebem no c
te por requerer mão-de-obra redu-
° vas cargas de re~íduos periodicamente
zIda, eliminando os revolvimentos
conforme a necessidade operacional.
periódicos na massa do lixo. f.';
A éonfiguraçãoda leira associada

/
Métodos de

I
ao sistema de aeração, permitiram com "túneis de ventilacão", uma estrutu-
a permanência de temperaturas , ra em madei~a, em tra~ézio, qU~ percorre
termofíl/cas durante o per/odo de longitudinalmente a leira, para facilitar a
aprox;inadamente 120 dias. O aeração, ' Mas mesmo neste caso são ,
elevado per/odode exposição dos. feitos revolviment'o s de leir,as (TEIXEIRA
age(ltes patogênicos a altas tem- et aI., 2004). Estes métodos diferem do
peraturas gerou um composto or- método desenvolvido na UFSC, que não
gãnico isento de coliformes fecais utiliza tubos perfurados e qualquer outro
nà; quatro amostras analisadas~' equipamento mas sim a arquitetura das
/. . ./ Ficou constatado, ainda, o , leiras e disposição em canjadas e mistura
controle dos principais aspectos adequada dos resíduos, onde materíais
ambientais causados (vetores, que promovem 'estrutura ibaixa densida-
odores e percoladosr~ de e de alta C/N) às leiras são fundamen-
tais, como as aparas de madeira
Todo o manejo da com postagem neste (maravalha) , cascas de arroz palhas e
método é baseado no entendimento dos materiais si(llilares.
fatores ecológi"cos de , uma
com postagem que afetam, portanto, á
leira de
Leiras estáticas, retangulares e com a
.
atividade biológica, pricipalmente o oxi- proporção correta de material
gênio, a umidade, a densidade e disponi- estruturantes (baixa densidade), se man-
bilidade do substratato. A tém predominante'mente aeróbias , (2/3
com postagem segue eficaz e segl!ra, do do volume cQm > 10% de O) durante a
ponto de vista ambiental e sanitárjo, sem fase termofílica apenas com a aeração
a necessidade de revolvimentos cons- ' passiva, formando um centro interno
tantes de leiras e/ou uso de aeradores. • anaeróbi? (INÁCIO et ai., 2009). <? que
O método dá ênfase a meticulosa m0nta- se reflete tartlbém no padrão de temp,era-
gem da leiras levando em conta a "arqui- tura entre 55°C e 65°C aprese'ntado nor-
tetura" dessas leiras, isto é, sua forma, e malmente por essas leiras, mostrando
a densidade da mistura dos resíduos, plena .atividad~ microbiana, A Figura
'3.5 mostra o comportamento típico do
Na literatura~ encontra-se citado o méto- gráfico de temperatura de uma leira está-
do "Leiras Aeradas Passivamente" tica de restos de alimentos, cortes de
(Passively Aerated /!liji7drows) que con- grama e, esterco.
siste no uso de tubos perfurados sob a
leira no intuito de promover á aeração O desempenho das leiras estáticas com
adequada da massa do material evitando tubos perfurados é também dependente
revolvimentos- e suprimento forçado de da mistura de materiais e das dimensões ,
ar, Existem exemplos de pátios de da ' Ieira, ou seja, da estrutura formada
com postagem 'que utilizam o método pela massa de .resíduos, já que os tu~os
Compostagem - cIência e prática para a geStão de resíduos orgânicos

70,Q

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65,0 ,~.

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60,Q

55,0
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I! 50,0
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I! 45,0
8. - - 40 em
~ 40,0
1- ' /'
35,0
• I

30,0
25,0

Dias
Figura 3.5 - Gráfico de médias de temperatura, em duas produnfidades (20 cm e 40 cm), de uma leira
estática de com postagem (método UFSC) de restos de alimentos, esterco de cavalo e cortes de .grama,
com 16 m de comprimento, 1,0 de altura e r,5 de largura. Esta leira recebia cargas de resíduos semanal-
mente. Dados dos autores.

por si só não são capazes de garantir' o pwdução de chorume, minimização na


fluxo de ar. ,A utilização de tubos perfu- emissão c:je odores e qualidade do. com-
rados acabou evolu.indo para o uso de posto. Important'e ressalti'lr que estes
equipamentos cap'azes de suprir ,o fluxo pátios trabalham com resíduos oriundos
de ar originando o método de: Leiras Es- de s~gregação na fonte 'geradora e não
táticas com Aeração Forçada. A ecólo- c0ll! o resíduo sem segregação, co~o
gia das leiras estáticas com aeração for- era comum nas "usinas de reciclag,e m",
çada é similar à. ecologia das leiras com
aeração natural, principalmente pela au- O método das leiras estáticas tem de-
sência de r.evolvimentos frequentes, mas monstrado também capacidade de ab-
são na verdade métodos diferentes que sorver quantidades diárias de resíduos e
envolvem práticas específicas. suportar picos de recebimento, o que é
importante da gestão ,de resíduos. be-
Os pátios de compostagem que vêm 'pE(ndendo do ger~nciamento da 'opera-
operando com as leiras estáticas e ' ção o processo leva de 3 a 6 meses, o
aeração passiva; todos atendendo à ge- que é o comum da compostagem.
ração de resíduos urbanos, têm demons-
trado capacidade de tratamento com alta Na operação desses pátios não há preo-
qualidade ambiental destes resíduos que cupação de acelerar o processo, até por
está relacionada a fatores como controle haver menor necessidade de espaço que
da geração de vetores, minimização 'da 'o método com revolvimentos de leiras em
"
Métodos de compostagem

função da menor movimentação de má- e 3,0 m de largura. Importante ressaltar


quinas. O foco deste método, por lidar que as dimensões e a forma" das leiras
com restos de alimentos urbanos, él o são importantes na compostagem com
controle da proliferação de moscas e for- aeração passiva e esias podem variar'
mação de mau cheiro, o que é feito com conforme o iipo e a proporção dos resí-
sucesso pelo emprego das técnicas já ci- duos que compõem a massa das leiras e
tadas. Há também a vantagem de cons- a observação e a experiência do operã-
tr,u'"ir leiras que suportam novas'c argas de dor. Basicamente os operadores devem
resíduos após início da com postagem observar a' temperatura no interior das
sem prejuízo do processo. Isto p'e rmite leiras através de termômetros. Redu-
I

absorver picos no·recebimento de resídu- ções 'a bruptas a valores abaixo de 55°C
os ou resíduos problemMicos como res- , são sintomas de intern,lpção do proces-
tos de alimentos ou vísceras e restos de so terf!1.ofílico (e aeróbio).
carcaças, por exemplo.
Faz parte da observação rotineira abrir as
Esses pá>ios de compostagem são semi- leiras (retirar a camada de palha de co- -
mecanizados, isto é, trabalham de forma bertura). e retirar amostras internas da
artesanal e com auxílio de máquinas, massa de material para verificar visual-
usualmente a uma pá-_carregadeira leve . mente a decomposição dos materiais e
Alguns pátios de men.or capacidade, cer- verificar se há emissão de odores fortes
ca de 5,0 ton/dia de resíduos, utilizam o e desagradáveis (oriundos de substânci-
auxílio da máquina apenas para retirar as as voláteis formadas no interi'o r da leira
leiras em fase de maturação para as áreas devido à ativida,de de ' decomposição
de armàzenamento. Outros de maior ca- anaeróbia) ou excesso /falta de umidade. '
pacidade realiz~m toda a montagem da
leira e o carregamento dos resíduos atra- A forma re,tangular das leiras estáticas
vés da pá-carregadeira. Mesmo nesses (laterais retas) tem papel na manutenção
casos é necessário o uso de ferramentas, ' e controle do fator ecológico mais impor-
como os garfosagrícolas e pás, para pe- tante, o oxigênio (aeração) . Desta for-
quenos ajustes na montagem da~ leiras ma, materiais vegetais como resíduos de
(Figura 3.7) gramad9s, palhas de arroz e milho é ba-
gaço de cana-de-açúcar, entre , outros
Nos pátios sem o auxílio de máqui.n as, restos agrícolas, ~ão usados para auxili-
as leiras têm dimensõ ~s entre 1,0 a 1,5 ar na construção das leiras retangulares.
..
m de altura e 1,5 a 2,5 m de largura e o Ao contrário do que,'- algumas
, literaturas
.comprimento v,ariável de 10,0 a 20,0 m técnicas brasileiras descrevem, o forma-
(Figura 3.8). Leiras com montagem me- to piramidal não é, necessariamente ; o
canizada têm sido construídíls com di- mais adequado para as , leiras de
mensões maiores, até de 2,0 m de altura com postagem mesmo em períodos chu-
I
Compostagem - êJência e prática para a gestão de resíduos orgânicos

\ .

vosos . Leiras estáticas retangulares de- da manutenção dOS jardins do campus.


monstraram capacidade para suportar Os réstos de comida chegam ao pátio em
precipitações elevadas no Sul do Brasil bombonas plásticas de 50 litros que
(> 1 .500 mm /ano), onde pátios com possuem tampas e alças. Este tipo de
este acondicionamento permite a proteção do
1994. material no transporte e facilita o despejo
compostagem da UFSC apontaram qUe a manual dos resíduos nas leiras, restos ,
quantidade de chorume (percolado) das de comida principalmente,
leiras foi pouco influenciadéj pela precipi-
tação (chuva) sobre a leira . . No entanto, Cada leira é montada ao poucos', isto é,
observou-se que a temperatura da cama- não é montada com sua altura máxima
da superficial da leira sofreu resfriamento em um único dia. A leira recebe o materi-
moment~neo e o vento seco (baixa al a cada 2 ou 3 dias em camadas, cama
I .
UR%) teve influência negativa sobre a . do biotério / restos-de-comida /cama do
com postagem retirando umidade através biotério . Esta sequência pode ser palha/
. do vapor d'água que sai da leira. restos-de-comida /palha ou, airida, palha/
c<;lma-de-esterço/restos/palha, por exem-
O pátio de compostagem da UFS'C, com plo. A proporção usual des~es m9teriais I

montagem manual das leiras, recebe cer- e mostrada na Figura 3.6.


c,a de 5,0 toneladas de resíduos orgâni-
cos diariamente, que incluem os restos ~s aparás de grama são utilizadas na
de ~Dmida dos, restaurantes do Campus confecção das paredes das leiras, garan-
Universitário e Hospital Universitário, tin,do o p,erfil retangular das leiras e a
cama animal do Biotêrio Central e restos cobertura das mesmas. Desta forma,

,
• Aparas de grama

• Cama de animais
22% (biotério)

• Cascas de frutas e
restos de comida

38%

'-..
Proporção em m3 Proporção em kg

Figura 3.6 - Proporação usual dos resíduos orgânicos para montagem das leiras estáticas de compostagem
do projeto de cole.t a seletiva do campus da UFSC. Fonte: Zambonim , 1997.
Métodos.de compostagem '

,
tem-se sempre ,um mínimo de 2 a 31eiras de receber os resíduos. Então, se agu-ar-
sendo montadas simultane'amente no da o fim do processo termofílico para se
pátio. Este procedimento se mostrou remover, com ajuda de uma máquina
adequado para prevenir à proliferação de (pá-ca{regadeira) e armazenar o compos-
moscas e "para acomodar o fluxo diário to para maturação. A Figura 3.9 mostra
de resíduo. Quando atingem a altura um esquema típico de um pátio de
máxima para o conforto ergonô~ico, no compostagem com leiras estáticas.
caso da montagem mamual, a leira pára

"

F"l9ura .3.7 - Ferramentas (garfos) usadas para montagem de leiras de com postagem e manuseio dos resíduos ,

Laterais fonnadas com Primeira camada


aparas de grama es.pessa (30 a 50 em)
(parede de grama, :0 -30cm) de serragem (cama ·
animal do biotério) e
inoculante (composto
pronlOOu em
maturação) .

Segun"da cama de restos


de comida seguida de
cama de biotério
Elevação da parede de
(misturas com a camada
grama de baixo após deposição)

'.
Cobertura da leira com
aparas de grama ou
palha ou folhas secas

Seqüência de
camadas ntisturadas

Figura 3.8 - Sequência de montagem de /uma leira estática com aeração passiva para com postagem de
resíduos de restaurantes, cama de biotério e aparas de grama do campus da UFSC, F-Iorianópolis.
Compostaqem - ciência e prática p ara a gestão de resíduos orgântc'os

~ /~
~/~
-'/~

Fase r - Leiras estáticas tennofili cas Fase n - Tennofilica curta 'Fase ur - Maturação
(cargas deresíduoo) (sem carga) . (Mesofílica)
I
Figura 3_9 - Esquema ilustrativo das fases da compostagem em leiras estáticas com aeração passiva (Méto-
do UFSC). Fase I é a fase termofnica principal com recebimento de resíduos orgânicos . Esta fase se desen-
volve sem re v olv imentos. Fas? II ocorre após o' revol v imento para .llomegeinização'e entrada na fa se de
maturação . Nesta fase pode ocorrer processo termofílico curto se houver carbono disponível para degrad a-
ção. Fase 111 é a f ase mesofílica quando ocorre maturação do composto.

3.6 A escolha de um .frequentes e um monitoramento cuida-


<- .
método de compostagem ' doso. Em geral, resíduos do
_ . I
Diversas são as variáveis qu~ devem ser - proçessamento de PIodutos animais e
analisaaas na escolha de um método ou restos gerdurosos exigem ~écnicas e
tecnologia de compostagem. A primeira · condições de com postagem apuradas,
delas é o tipo de resíduo disponível para isto é, os' operadores devem ter larga
a formação da massa a ser compostada. experiência com o métod? a ser empre-
Cada m$todci se ajusta melhor a certas gado' já que esses 'resíduos podem cau-
características dos materiais a serem sar prpblemas com proliferação de mos-
compostados, por. ex~mplo, quando.. se cas e odores fortes. O método com
tem para a com postagem apenas materi- re-volvimento é o menos indicado nesses
ais vegetais como podas de parques e casos. Testes em pequena escala com
jardins e grama, o método de leiras estáticas com aeração passiva se
revQlvimento de leiras poderá dar conta mostraram perfeitamef1te satisfatórios
e ser mais simples d~ implantar. Se hou-. quando as vísceras e restos , de
ver predominâl"!ciéi de materiais pesados processamento foram colocados em
(umida~e maior que 70%) de. rápida de- leiras já em estado ' termofílico e forma-
gradação , como restos de comida, o das com serragem e restos de comida .
revdlvime'nto terá suas limitações e res- Isso torna evidente que mais que saber
trições para controle das condiçqes se devemos revolver as leiras ou promo-
ambientais do pátio . Nesses casos há ver sua aeração por equipamentos, de-
em geral a necessidade de revolvimeritos vemos construir u'ma leira com os mate-
Métodos de compostagém

riais certos para cada situação. Sistemas Nessa's condições o cuidado no


em reatores têm. tidb a preferência para a monitoramento das leir{ls é' intensivo,
com postagem dé resíduos de mas plenamente eficaz. O método com
process,amento al1imal por. permitir o aeração forçada fo ig~almente favorá~el
controle maior do processo e, principal- tendo apenas um maior custo com equi-
mente, pelo potencial para evit~r ocor- pamentos e energia elétrica. Já o método
rência de odores . fortes. Para com revolvimentos pode se restringir às
I

compostagem de estercos de animais de áreas rurais (ou distante!> de habitações)


criação (agropecuária) é usual a escolhª devido aos constantes p~oblemas com
do método com revoivimento ' ou leiras ' odores. A quantidade diária e o tipo 'de
estáticas. O método baseado na aeração • resíduo podem influir na localização dos
forçada é um dos mais favoráveis para a pátios de compostager:n. Pátios meRO-
maioria das situações. res tendem a ter um potencial igualmente ..
m~nor para causar problemas com odo-
Outras variáve.is na escQlha do m,étodo res para a vizinhança.
são: a área disponível, a localização e a
.
proximidade de conceritrações No Brasil existem diversos exemplos,
residenciais e a mão-çle-obra e capital em diferentes estados, de projetos que
necessários para implantação e operação fracassaram devido à falta de controle
do sistema. O clima é u'ma variável im- com odores. Este fato também foi regis-
portante em regiões com neve ou extre- trado em outros países, cOmo os EUA,
mamente secas·. Considerando aspectos na década de 80 (EPSTEIN, 1997, p3 c.
citados os pátios com leiras estáticas 13). A maioria de.sses projetos era base-
com aeração natural apresentam grande ada no uso derevolvimento mecâ.nico
possibilid.ade de sucesso em sua implan- para cornpostagem de resíduos urbanos.
tação e operação no Brasil. Por exigir Projetos com antigos reatores
pouca mecanização do processo e ser anaeróbios também fracassaram pela
menor 'seu custo de implantação baixo, mesma razão. Existem exemplos no
este método é extremamente atrativo . A Brasil de pátios em operação, caso do
redução na necessidade de área de ope-' pátio no Caju - Rio de Janeir0 3 , que pela
ração pela ausência de revolvimentos é inadequação do método, resíduos de co-
também um ponto favorável. Diversos mida de restaurantes coletados seletiva-
pátios com esta técnica vêm operando mente, são recusados por tprnarem a
próximos (cerca de 5'0 m) de concentra- o~eração impraticável, apenas o resíduo
ções residenciais há vários anos sem domiciliar comum 'é aceito. Neste caso,
causar problemas com atração de os restos de cómida que const'i tuer;, boa
vetores, pássaros ou odores fortes. parte da fração orgânica dos resíduos ur-

3 Esta situação foi relatada ao autor em visita â unidade de 'col11postagem municipal no bairro do Caju, cidade
• do Rio de Janeiro, em 2003 .
Compostaqem - ciência eprática pêra a qestão' de resíduos orqânico,s

ban.os estão indo para o aterro sanitário a leira". Em certa medida, esta estratégia
apesar do esforço de segregação na fon- ainda é dependente de cuidados mínimos
te . , Por outro' lado, temos exemplos de na con,fecção das leiras de' compos!ag,em,
\ pátios de leiras estáticas com aeração na- princip~lmente os relaciona,dos à
• tural operando há14 é)nos com este 'tipo porosidade da biomgssa, 9s métodos de
de resíduo segregado na fonte geradora. compostagem e~>nfin'ada, os bioreatores,
seguem a estratégia de buscar níveis óti-
Os métodos variam num espectro que vai mos de processo através do total contro-
da ênfase na cuidadosa confecção d~s le, e suprimento, dos níveis de, oxigênio,
lerias até a ênfase na interv'e ncão total de temperatura, umidade, entre outros fa-
\ , ' "
através de máquinas e estruturas de en- ~ores. Seu principal objetivo é "acelerar"
genharia . A primeira estratégia é o processQ de com postagem e ter total
consequência tia observação dos fatores controle dos fatores que inHuencialif1 a
ecológicos qu~ influenciam a atividade
microbiana e a estrutura (porosidade) da
.
atividade niicrobiana. Este controle ocor-
re via estruturas de engenharia diversas,
leira de compostagem. O foco é .o mo- I totalmente fechadas ou \não, que podem
mento de ' montagem das leiras dê ou n1io incluir fases de re'v olvimento, mas
compostagem, incluindo sua ' "arquitetu- sempre incluem a aeração forçada e o
ra" (forma). Admite-se que uma leira monitoramento da temperatura e umida-
pode ser. confeccionada dé modo que a de. Não obstante, esta estratégia inclvi a
aeração natural seja suficiente e favorável fase em pátios para maturação do com-
à atividade microbiana termofílica e çiu- posto. O Quadro 2.1 mostra informa-
rant!3 todb, ou praticamente todo, o 'pro- ções comparativas entre O'S métodos ,de
cesso de ,compostagem. O revolvimento compostagem citados . .
intensiyo é uma estratégia que busca '
muito mais "consertar" uma leira de . O· método ' com leiras estáticas com
compostagem mal feita ~ que pode ser aeração passiva vem demonstrando,
resultado das circunstâncias, mas pode através de" algumas experiências
ser um erro em si, isto é, o desconheci- conduzidas no Brasil, alta adequação de
mento da ecologia de uma leira de uso para as condições b~asil~iras, ta,nto
compostagem. A ênfase nO controle do para m L\,n]cípios quanto empresas, in-
processo via aeradores, para suprir oxigê- dustriais e institUições. A baixa necessí-
nio e/ou controlar a temperatura, faz parte dade de ,capital investido, o custo baixo
de wna estratégia que busca manter o de operação e manutenção, a disponibili-
processo em "níveis ótimos" de atividade dade de mão-de-obra e a disponibilidade
microbiana . A aeração'forçada busca su- de área são características que tornam a
prir a insuficiência da aei"ação natural - cbmpostagem em" le iré;lS estáticas u'm a
assim também poderemos considerar tecnologia com " alto poi:encial de >

como Uma estratégia que tenta "consertar replicabilidade e sustentabilidade para as

...
Métodos de compostagem ID
condições brasileiras. No capítlllo anteri-
or, apresentamos alguns exemplos e
modelos da aplicação da compostagem
na gestão de resíduos orgânicos. No
entanto, não descartamos a importância
e as possibilidades
I
de' aplicacão

dos de- ,

mais métodos de citados anteriormente.


O importante é ~e ter, claro as caracterís- "

ticas de cada método, seus princípios e


estratégias, seus custos de implantação
e manutenção, para aplicá-los correta-
mente nas situações adequadas. ,

, ,

.,

.
\
\

Quadro 1 - Informações comparativas entre métodos


• ~e com postagem.

Lelras estáticas com aeraçAo . Compnstagem em reatores


Método de
passiva Leiras com revolvimento ~eriódlco Leiras com aeraçAo forçada
"tompostagem
Vantageos
(Método UFSq
-Baixo custo de implantação. -Ba~xo custo de implantação. -Médio investimento inicial
(In·vessel systems)
-Ace!eraçào da fas e de degràdação ativa
...
-Simplicidade de operação. -Simplicidade de operação e uso de -Maior con.trole do processo, temperatura (maturaçãO mais prolongada).
-Necessita áreas menores em reJação ao máquinas com1)ns. e,aeração. -Melhor controle do processo de compostagem,
-Perrnite meríor tempo de compostagem
metodo de leiras revolvidas. -Menor exigência de acoIlJpanhamento
,
aeração e temperatura.
-Não utiliza energia extemâ. técnico especializado em comparação com que as leiras revolvidas. -Possibilidade de automação
-Satisfatório coIltrole de odores. outros métodos. \ -Melhor controle de odores. Possibilidade - Menor demanda por área
- Mínimização da geração de chorume. -Flexibiiidad~ de pro~essar'g!ande s de uso de biofiltors. -Possibilidade para controlar odores via biofiltros.
·Pouca exigência de máq.!.linâs e volumes de resíduos.
, -Menor necessidadê de área· que as leiras -Potenciâl para r~cuperação de energiã térmica. ~,
revolvidas.
::í'
equipamentos. -Produçã? dé composto homogêneo. (dependendt..do sistema).
~.
-Independência de agentes climáticos.

-Depen~te de op"ciadores bem treinados -Necessita de áreas·'maiores em relação ao -Custo'de implantação com e~úipamentos -Elevado investimento inicial.
'"
Desvantagens
e com.conhecimento do processo da método de leirasestáticas, de aeração específicos.
- custo de operação e manutenção com
,-Maior .
os
compostagem. -Necessidade de"máquinas para o -Utiliza energia externa (elétrica). equipamentos (sistemas mecânicos especializados)
-Utiliza.muito material vetegal de lenta revolvimento e maior intensidade de uso, -Necessidade de bom dimensionamento . - Maior produção de. chorume na fase de
degradação (ex.:serragern) '~ que pdde ser ( elevando o custo de manutenção e do sistema de aeração e controle dos degradação ativa.
dificil de ser conseguido em alguns locais operação. aeradoxes. -Utiliza energia externa.

-Elevada produção de chorume e difícil .~, -Custo com manutenção de equipamen~s, -Menor flexibilidade operacional para tratar
~
e..elevar o custo da operação.
aeradores e tubos perfurados.
-Montagem das leiras é mais demorada . controle de odores. v~lurues variáveis de resíduos. ~
. J~,
-Em alguns casos pode exigir o ... ~A constante movimentação de máquinas -Risco de erro dificil de ser reparado se o sistema
I-'- fica dificultada em ~períC!.d9s chuvosos ~
peneir.a mento do composto para retirada for mal dimensionado ou a tecnologia propo~a for ~
de materiais de lenta degradação como a inadequada.
'serragem remaoescente, por exemplo. -Tecnologias licenciadas.

Fontes: Adaptado pelos autores a partir de: Santa Catarina (2003); Nraes (1992); Fernandes et aI. (1999); USEPA (2006); Epstien (1997).

t·'"
. t

Controle dos fatores ecológicos em


leiras estáticas de compostagem
,/ ,I •

- , Caio de Teves Inácio


Paul Richard Momsen Miller .
4. 1 Introdução
o sucesso da com postagem está relacio- cesso, ou (2) pela ênfase na estrutura da
nado à qualidade do produto final , mas, leira, a transferência de calor , o fluxo de
cuja qualidàde também está f0r.temente ar e vapor, e balanço hídrico (Figura
ligada ao bom andamento do processo, linha~ se traduzem em dife-
4.1). Essas
como por exemplo, na manutenção da . rentes métodos de compostagem
'fase termofílica. O objetivo de . atingir (revol" imento, aeração forçada ou passi-
certas características do composto , o va, reatores) sem que estas duas ênfases
produto final, para determinados usos sejam exciúdentes.
deve yir acompan~ado de um
satisfatório entendimento do Neste . primeiro caso" o foco é o
gerenciamento do processo de monitoramento de tais parâmetros,
com postagem para atingir os resultados quando possível, que fornecem informa-
desejados. Por isso, "o entendimento ções que vão direcionar intervenções do
racional da ecologia da compostagem tipo revolvimentos e/ou aeraçãó forçada.
prove as melhores bases para o desen- Aqui encontramos sistemas
volvimento de estratégias de controle. retroalimentados que vi ~ am a manuten-
Isto inclui o conhecimento sobre os fato-' ção da temperatura em torno de ' 50-
res físicos, químicos e b.i ológicos que 60°C, na fase termofílica, ou o supri-
determinam (e são seletivos para) a es- mento de O 2 programado. Em ambos os·
trutura das comunidades microbianas e casos, via aeração forçada. Métodos
para as rotas da atividade metabólica com re~olvimentos programados tam-
dentro do - ecossistema . da
. ~

bém se guiam pela observação da tem-


compostagem" (MILLER, 1993, p.51 '5~. peratura da leira. A temperatura e o con-
sumo de oXlgemo são altamente
O cof1trolE~ dos fat9res ecológltos da correl<;lcionados na com postagem, já qué
com postagem pode ser ~ abordado: (1) ambos os parâmetros medem a atividade
pela ênfase nos parâmetros de tempera- microbiana. Aqui temos então métodos
tura, oxigênio, umidade e tempo do pro- baseados na intervenção do processo de
Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos

I
com postagem que visa manter níveis ter sua estr~tura porosa durante a fase
ótimos de biodeéomposição. P,ouca ou termofílica. Assume-se a leira como um
menor importância é dada a confecção ecossistema microbiano com capacidade
da leira de com postagem' já que as inter- de al:ltoregulação que tem a função de de-
venções são programadas para corrigir compor a m~téria orgânica. No entanto, a
as deficiências'. biodecqmposição aeróbica e termofílica
. ocorrerá apenas sobre certas condições de
Já no segl!ndo caso, o foco é a leira de estrutura da leira, ?e transferência de calor,
compostagem. Procura-se confeccionar ~ do ' fluxo de ar e vapor, e' de balanço
leira de compostagem para que todo o hídrico (umidade). Tais fenômenos serão
processo ocorra sem necessidade de inter- maneja,dos a partir das práticas dê monta-
yenções ou com intervenç.ão mínima, sa ~ gem da leira de com postagem e não ape- .
tisfazendo-se os requisitos ~e aeração, nas ao longo do process,o.
temperatura, etc. Passa-se então do nível
dos parâmetros para o nível dos fenôme- Os itens seguintes procuram explicar
nos que influenciam o ecossistema da leira detalhamente o manejo dos fatores ecoló-
de compostagem e, consequentemente, gicos com base no processo de
favorece a atividaéle microbiana. A parti[ com postagem em leiras estáticas com
daí, detalhes antes .neglíg'enciados passam aeraçãd passiva (Método U~SCl. destrito
a ter papel importante, tais como, a forma no capítulo anterior, o qual não utiliza
I
'da leira (sua "arquitetura"). as característi- aeração forçada e nem o revolvimento
cas dos materiais de reterem calor e água, frequente das leiras. As leiras são
e, também, a capacidade da leira para man- construídas com as paredes retas, com o

Eniàse nos par~metros Enfase nos renÔlUenos


gue podem ser moilitorados que podem ser manejados

Tempo de decomposição Retenção e Transferência de calor


Temperatura Fluxo de ar
Oxigênio Fluxo de vapor Atividade ,
Umidade Balanço hídrico microbiana na
com postagem

Intervenções no processo Arqui tetura e estrutura


(aeraçã o forçada das leiras; características
e/ou revolvimentos). dos resíduos .
4-
Procc::sso Ecossistema microbiano

Figura 4.1 - Representação dos níveis de ênfase e as respectivas estratégias . para o controle dos fatores
ecológicos na com postagem. As ênfases são diferentes, mas não são excludentes.
ConlCofe dos fatores ecófogicps em feiras ':Jstáticas p'e c +ompostagem

uso de cortes de wama, e ni;jo em formato A ativinade . de transformação da


piramidal, para favorecer a circulação e di- biomassa pela atividade microbiana gera
fusão do oxigêni'o dentro da leira~ Este grande quantidade de calor que se acu-
cuidado com a forma da leira entre outros mula. O auniento de temperatura · na
fatores como; o uso de grandes quantida- compostagem é resultado de uma maior
des de serragem, camadas espessas .de ,retenção de calor de que de suas perdas.
palha Como
, 'cobertura e o, "rodízio de As ' perdas de calor,seguem ser pela : (a)
leiras", que é a deposição de camadas de perda em forma que calor sensível com a
resíduos el)1intervatos de 2 a ~ dias; e a saída de,gases e em.forma d~ calor laten-
mistura dessa; camadas , têm garantído o te da evaporação do vapor d'água' (mais
sucesso deste processo decompostaQem. intensa); (2) perdas por ' condução,
convecção e radiativa (menos intensa)
4.2 Produção e . (Figura 4 .3) , A baixa condutiyidade tér-
transferência de calor mica típica da matér'ia orgânica' reduz as
perdas por condutividade e resulta em
No processo de leiras estáticas é funda-
I ,
grande acuJllulação do cal<;>r. No entan-
mental favorecer a produção de cafor e,
to, leiras de pequeno volume « de 1
principalmente, manejar a transferên'cia
m 3 , por exemplo), ou com maior relação
desde 'calor dentro da leira e sua saída
superfície/volume (baixas e largas O\J es-
junto com o vapor d'água. A produção
treitas ' e compridas) tendem a perder
de calor, oriunda da atividade
mais calor. A escolha das dimensões
microbiana, é o II mo tor" da
das leiras d ~ com postagem poae ser um
com postagem e a transferência desse
fator 'usado para regular a temperatura
calor rege os outr<;>s fatores ecológicos
média adequada ao processo. Mas sem-
importantes, o fluxo. dear(aporte de oxi-
pre lembrando que a principal forr:na de
gênio) e ao conteúdo de água da leira
perda de calor das leiras 'é via a saída
(Figura 4.2). ,
ascendente do vapor d'água.

Fluxo de saída: ar quente carregadode va por d'água

Tendência de maior
t t t t t concentração de calor (cerca
........:............ " .. :..... " .......... ........ .L' .... ........ de 20cm do to.po da le ira)

Aeração pa ss iva Aeração pa ssiva

\
Figura 4.2 - Esquema do fluxo interno de ar e vapor em uma leira de compostagem com.aeração passiva. O .
calor gerado força a fluxo ascendente do ar úmido do interior da leira influenciando a difusão do ar externo
pelas paredes laterais (aeração passiva). Corte transversal da leira estática de compostagem .
Compostaqem - ciência e prática para a gestão de resíduos orqânicos

Apesar dediversos autores citarem a im- A temperatura nas leiras de


portância de se controlar temperat,u ras compostagem pode eX,ceder 65°C nas
· em torno de 55°C pàra evitar pérdas de zonas mais centrais, ao lor.igo do proces-
nitrogênio e, a inibição da atividade dos so, podendo representar cerca de 60%
microorgariismos termofílicos, na do' volume total, o qúe pode significaf
compostagem em leiras estáticas o ma- que a atividade microbiana é mais
nejo do fluxo de calor é o fundamental. restringida pelo excesso de calor na leira
· A manutenção de altas t~mperaturas, do , que pela falta de 02' Os
como (6.5°C ou mais) tem papel na ati- revolvimentos sempt'e resultam no imé-
vação do fluxo de ar. Portanto nãSJ se diato esfriamento da leira, que voltará a
· faz qualquer tipo e controle da tempera- seaquec'er com o aumento da ,atividade
tura no proces-so de leiras estáticas, ao biológica. Áreas centrais e na base das
contrário, procura-se reter calor gerado. leiras têm a tendência de mostrar tempe-
Os níveis de temperatura são auto-regu- raturas em torno de 70 ° C .as.sociadas a •
lados pela atividade microbiana. concentrações de 02 de 2% (RANDLE;
FLEGG, 1978).
"
Saída '
Calor sensível na
saída dos gases,
ca lor latente da avaporação
na saída de va por d'água .-

Acumulação
Calor sensível da massa
da leira Saída
Perdas condutivas,
Trasnformação ~ convectivas e/adiativas,.
Calor gerado
qiologicamel1!e

lintrada
Calor sensível no ar no
vapor de água

Figura 4.3 --Representação do balanço térmico na compostagem. Fonte : Mason e Milke, 2005.
Côntro/e dos fatores ec~/ogicos en; /eiràs estáticas de c +ompostagem

Das diversas formas de transferênGia de const~uídas com formato retangular, isto,


calor que ocorrem na compostagem, é, . com laterélis retas, observa-se
co,!,o radiação, condução, evaporação e significante transferência de calor por
"calor sensível do ar", estas dl,las últi- ,convecção (MILLER, 1993).
mas são mais significantes ' na
compostagern (Quadro 2). A produção A temperatura interna de uma leira de .
de ~alor é caractetística dacompostagem com postagem é influenciada por condi- .
e seu acúmulo leva a elevação da tempe- ções atmosféricas como variação da
ratura. A curva de evolução da tempera- . umidade relativa do ar e velocidade do
tura da compostagem é influenciaãa pelo vento (Figura 4.4 ). O aumento na velo-
manejo das leiras de compostagem e. cidqçle dos ventos reduz a umidade rela-
pelo ambiente externo. Em muitas confi- tiva do ar ambiente fazendo com que o
guraçÕes de leiras de compostagem, tal fluxo de vapor saindo da leira se intensi-I
como leiras piramidais, não ocorre uma fique, A saída de vapor contendo gran- .
I '.
significante convecção. ) Em leiras de quantidade de calor faz a curva de
./

Quadro 2 - Termodinâmica da com'postagem .

Conceitualmente o balanço térmico para um sistema de compostagem


pode ser descritô como a seguir:
j
Acumulação = Entrada - Saída ± Transformação

Aqui, o termo aqtmulação se refere ao calor sensível do material durante o


processo de compostagem,.a entrada é á entalpia no ar (aeração passiva ou
forçada) e da radiação, a saída é a entalpia da emissão de gas~s, incluindo o calor
. latente da evaporação de água presente no vapor que sai do sistema, e as perdas
pelas paredes, e o termo transformação (reaç~es) se refere ao calor geJ;adó
. biologicamente (ver Figur(i3). Em termos' mat~mático~ a expressão P9de.ser
escrita da seguinte forma:

d (mel) = OH; - .0 Ho - UA(T- Te) + dBVS Bc '"


dt dt

Onde, m é a massa do material em compostagem (kg), e é o calor específico da i


mistura do composto (kj/kg°C), T, Ta são a temperatura da mistura do composto e
a temperatura ambiente (~C), té o tempo (s}, Oé 9 flu{o de massa dy ar seco
(kg/s), Ht; o é a el]talpia do ar de entrad9 (i) e 6 ar de saída (o) (kJ/kg) , Ué o "-
coeficiente geral de transferência de calor (kW/m20C), A é a área de transferência
de calor (m2 ) , BVS são os sólidos voláteis biodegradáveis (kg), e He o calor de
combustão (kJ/kg-BVS removido).

Fonte: Mason e Milke, 2005'.

-"'7' - ' ..'------'


Compostaqem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos

temperatura decrescer- Ambos efeitos, impórtante já que o armazenamento de


retirada de umidade e perda de calor, calore fortamente determinado pela água
podem reduzir a • atividade ,devido ao seu cal0.r específico, e porque
micrqbiológica termofílica e, dependen- o conteúdo de água é em média 2/3 da
do da intensidade, interrompe-Ia. Este massa de composto. Assumindo que a
efeito, quando ocorre no início do pro- matriz do composto tem uma
cesso de compostagen:, n? transição da condutivida,de térmica entre a madeira
fase mesofílica par(j termofílica, pode ge- (0,17 Wm-1C-1) e a água (0,556 Wm-1C-
rar ,condições para ocorrência de eventos 1); o calor pode estar sendo armazenado
anaeróbios no interior da leira, gerand.o mais rá'pido do que sendo perdido por
'um processo , de decomposição condução. Aproximadamente 90% da
anaeróbia e fermentação. Este quadro remoção do calor ocorrem via' evapora-
favorece o crescimento de larvas de ção, 10% pelo calor sensível, baseado
mosca doméstica (Musca domestica) e em condições de suprim~nto de ar com
formação de odores fortes. 60% de UR e 25 DC e condições de saída
em 100% de UR e 50-70 D C
No processo de leiras
.
estáticas
armazénamento do calor é cons~guido
o (MacGREGOR et aI., 1981 apud MILLER,
1993), Deve-se observar que esses
através do uso de aparas de madeira percentuais podem variar em função das
como material volumoso e da disposição dimensões da leira ,de compostagem. A
deste material em camadas. A apara de Figura 4.4 mos\ra a importância da perda
madei~a tem dois efeitós na retenção do de calor via á saída de umidade junto com
calor. Por 'su'a baixa condutividade térmi,- o fluxo d,e àr ascendente, em uma leira de
ca (0,06 kcal/mDC h) a apara de madeira aparas de g.rama ~e restos de alimentos,
limita ainda 'mais a transferência do calor provocada por eventos microclimáticos,
por condução; sendo usada como a ca~ aumen~o da velocidade do vento e queda
mada superior esta funciona retendo calor na umic;lade relativa do ar. O gráfico abai-
e umidade (Quadro 3). Esta camada ae· xo demonstra que tais eventos influencia-
aparas de madeira, com alta capacidade ram na redução da temperatura interna da
de absorção retém par,te do fluxo ascen- leira sugerindo que houve uma forte per-,
dente de vapor que sai da leira. Isto é da de-calor via saída de vapor de água.
/ .
Controle dos fatores ecólogicos em feiras estáticas de c + ompostagem

• •
Quadro 3 - Efeito condensado!' de vapor a as aparas de madeira em leiras estáticas,

, .
As leiras 'de compostagem montadas
. ao ar livre sofrem influência e .dterações
nos seus processos internos devido às variaçõe~ de l!midade do ar e ocorrência, de
ventos. A umidade do ar tem influência sobre as perdas de calor das leiras de
compostagem, reduzindo a temperatura interna no processo. O gradiente de umidade
entre m ar e a superfici'e da leira aumenta a saída de vapor,de 'água (evaporação)
contido nas leir~ removendo de maneira uniforme grandes quantidades de ca10r.
'> Considerando o método UFSC, de leiras estáticas?, a utilização de serragem
seca como camada superior n:;s leiras de cOmpostagem tem forte' ·influência na
'. .. ~

retenção do vapor d'água, e conseqüentemente evita a perda de grandes quantidades


calor. Esta camada funciona como um condensador, resfriando o ar quente com fluxo
ascendente e alta: umidade relativa (UR), diminuindo as perdas de água (a serragem
. . '. - .
funciona como esponja).
Po~e-se admitir que ~ma fina camada de vapor adjacente à supeIfície úmida '
(da 'leira de compostagem, por exemplo, tem alta umidade absoluta e é normalmente
100% saturada e que o "poder de secamento" é maior quanto maior a diferença entre
a saturação de pressão de 'vapor e a pressão de vapor ambiente, isto é, o déficit de
saturação (diferença entre as temperaturas' do bulbo-úinido bulbo-seco). e (

, Portanto ~ camadas de materiais que .evitem estas perdas de água e calor que
ocorrem na evaporação são importantes em climas .secos e com ventos fortes (como
J ,

mto na', Figura 3). Além deste fator, a baixa capacidade de condução de calor da
serragem quando seca, também ajuda na dimumição da perda de calol;, já que esta
camada forma um isolamento com o ar frio, mantendo a te!Ilperatura dl} leira em
níveis ~ermofilicos ótimos, em tomo de 55-65°C. A perda de calor carreada 'Pela
perda do vapor d'água pode levar a queda na temp.emtura e cQnteúdo de água da leira
>
.e conseqüente debilidade das condições para o desenvolvimento ' dos
' mícroorganiSIJ:lOs termofilicos.
Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos"orgânicos

80,0 120

75,0 O)

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ar
-vel. vento
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00:00 06:00 12:00 18:00 00:00


horário - ,

Figura 4.4 - Influência de condições ambientaislla variação, em 24 horas, da temperatura interna de"uma leira
de compostag~m de aparas de grama e restos de alimentos. Dados coletados em Davis, C.A., EUA, 2002.

4.3 Balanço hídrico trou que embora a entrada de água na


leira apresent~ amplas oscilações a saída
Leiras de com postagem em pátios ao ar
através do chorume é relativamente
livre possuem como componente do sis-
constante com uma fraca influ.ência da
tema as águas da chuva. Esta precipita- '
quantidade de precipitação e aporte de
ção q~ando elevada pode intensificar a
resíduos orgânicos realizou, A leira foi '
produção de chorurT)e, mas este efeito
prepqrada sobre uma lona
dependerá de como se ençontra a estru-
impermiabilizante, em piso inclinado,
tura da mafriz da leira d~ com postagem e
com sistema de coleta de líquidos em
também se esta feira está "viva", iSto é,
bombonas. Os dacjos do monitoramento
se a leira! através da alta atividade bioló-
da saída de chorume e da entrada de
gica, está realmente produzindo calor águ~ da chuva (precipitação), durante
suficiente e consequentemente manten- - 16 semanas, permitiram o cálculo do
do 'l.Jm forte fluxo ascendente de vapor, balanço hídrico, que demonstrou que
menos de 5% do volume de água que
o ·monitoramento da saída de chorume entrou no si1'tema saiu realmente em for-
(percolado) de uma leira estática de ma de percolado, O forte fluxo ascen-
compostagem - método UFSC - forma- dentê de vapo~, estimado em cerca d~
da por restos de alimentos: serragem, 8,0 cm/s, decorrente do processo
grama e palha (MILLER, 2002) demons- termofílico, faz com que grande quanti-

I .
Controle dos fator~s ecólogicos em leiras estáticas de c'+ ompostagem
( (

I
dade de água saia da leira por estática retém 9.000 litros' aproximada-
evapotranspiração (100% U.R a 50- mente, um acúmulo médio por semana de
70°C). Esta foj consideravelmente su- 562,5 litros (Figura 4.5).
perior a evapotranspiração referencial de
4,0 mm/dia. O Quadro 4 apresenta de- A variação I na quantidade de· percolado
talhes deste cálculo. _coletado foi menos expressiva que a~ va-
~riações nas quantidades de entrada via
Vale a observação _ que o termo água da ~huva e água contida nos r,esídu-
evapotranspiração está sendo usado de os. Embora se tenha observado a influên-
maneira não ortodóxica. Alguns autores cia dessas vias\ de aporte de água. A
podem preferir o termo evaporação. No parcial constância na saída de percolado
entanto, entendemos .que o termo em- pode ser explicada pelo fort,e efeito de
pregado representa melhor a ecologia de retenção que a leira estátipa exerce sobre
'u'm a leira de compostagem já que temos a. água, ou seja, a leira possui capacidade
aí um processo com participação funda- de reter ágüa na razão de 500 11m 3 de
mentai · de uma gama ampla , e leira, consequêhcia das propriedades da
diversificada de microrganism.os em ati- apara de madeira (ou. outro material ab-
vidade metabólica termofílica, que, por sorve·nte). A ';1aior parte dessa água sai
I
sua vez,
'-
influencia, o fenômeno da por evapotranspiração e o excesso
evapotranspiração. per2olado pela leira. A Tabela 4.1 'mostra
a capacidade de absorçãõ de água de ai-
O bafanço hídrico da leira de guns materiais vegetéis.
compostagem tem, duas vias de entrada:
a precipitação pluviométrica, a água Deve-se consid,erar também que nd pro-
trazida pelos,resídu_os (umidade) e mais a ce~so ~e le iras estáticas os resíduos Qr-
água resultante das reações. de gân icos (resto de alimentos e aparas d'e
biodegradação. Durante 16 semanas de madeira) vão sendo acresténtados em
2
coleta de dados 'em uma leira' de 30 m de intervalos de 2-3 dias ou mais e que
I
base e 1,0 metro de altura, observou-se com isso o volume da leira aumenta
a maior entrada de água via precipitação gradativamente . Isto ocasiona um ex-
na nona semana com 3.318 litros e a pressivo aumento da capacidade de re-
menor foi na déc ima ql,Jinta s~mana de tenção de água. Para este caso não foi
observação, com ap~nas 102 litros. Pela mensurada a água formada do processo
I
via resíduo orgâhico (~O% de umidade de decomposição. ,Dados teóricos apon-
em média), a entrada de água foi mais tam para uma produção estimada de .
constante com pico de 1.600 litros e 0,72 g de água para cada grama de ma-
menor volume com 1.042 litros. Consi- téria orgânica decomposta, enquanto, 'al-
derando que a leira em estudo 'possuía 30 gumas medições colocam essarProdução
m 3 com uma densidade de 0,6 ton./m 3 , e de águ'a metabólica entre 0,5 e 0~ 6 glg
que metade desse peso é água, uma leira (MILLER" 1993).
Compostagem - ciência e prática pa,:a a gestão de resíduos orqânicos

Quadro 4 - Exemplo de cálculo do balanço hídrico de uma leira de compostagem. Cidade


de F1orianópoUs/SC. Coleta de 'dados entre 01-12-2001 e 29-3-2002. <

Evapotranspiração real de uma leira estática.


;

ET real:::: (Qchuva + Qresíduos +Qmetabolica) - (Qchorume+Rleira)

Q'huva = total de prec'ipitação (litros)


Q,es;duos = conteúdo de água nos resíduos (litros)
Q'homm, = chorume coletado (litros)
Qmetaboli,a = água formada pelo metabolismo miçrobiano' *
RI,;," = retenção oe água na_Ieira (litros)
I

ET real = (16.9,92 + 10,016) - (1.291-9.000)


I
ET real total:= 16:717 litros
ET real = 16,717 litros /16 semanas = 1.044,8 litros/semana
ET real = 1,044,8/7 dias= 149,2 litros/diil-
ET real = 4,97 milímetros/dia
ET real - 4,97 mm/dia ET referencial = 4, mm/di<i*
*valor médio de evapotrànspiração (ET) referencial considerando uma série históriéa de 84 anos
para os meses estudados em FI?rianópolis,
*-Não considerado neste exemplo. .-
Chuva I Vapor

16,992 litros 16,717 litros

..
ET real

I
~ 4,97mm/dia

ET reL. ~ mm/dia 1
Acúmulo calculado
9,000 litros

Chorwne coletado \

I 1.291 litros

Figura 4.5 - Balanço hídrico de uma leira d\l compostagem com 36,0 01' (1,4 01 altura x 3,0 01 largura x 10
01 comprimento), Valores referentes a coleta de dados por ' 16 semanas nos meses- de verão em
"Florianópolis! se, 2002,
Controle dos fatores ecólogicos em leiras estáticas de c +ompostagem

Tabela 4. i - Capac.i dade de absorção dos materiais de cama mais comuns.


Material ' kg de água poc kg de cama
Composto (30-50% de umidade) . 1,5 a2,5
.Madeira como carvalho - serragem, maravalha, etc 1,5 .
. Folhas 1,0 a2,0
Casca ae amendoin 2,0 a 2,5
Madeira como Pinus - serragem 2,5 a 3,0
Madeira como Pinus -aparas 1,7 a 2,6
Palha ou feno (picada) 3,0 a 4,5
Palha ou feno (inteiro) 2,l'a3,8
Fonte: I;jynk, 1992.

4.4 Suprimento de Em leiras de com postagem podem-se


oxigênio ' . identificar padrões de diferença na con-
centração de O~ tanto ,ao longo do pro-
A com postagem termofílica é um proces-
cesso. quanto comparando partes da
so aeróbio, ou seja, depende fundamen-
leiras. As diferenças de concentração de
talmente do óxigêni~ e da difusão deste
02 ocorrem tanto entre, as distâncias lon-
pela matriz do composto. ' Processos de o

gitudina!s quanto as transversais na leira


. compostagem requeretn uma concentra-
" , de compostagem. , A queda de 02 aparece
ç·ão mínima entre 5% .e 10% ?e 02 den-
mais intensa no início da com postagem e
tro dos espaços porosos da leira (RYNK,
devido ao forte consumo pelaj ntensa ati-
1992), com base ~m evidências de que
vidade biológica: Inicialménte as áreas
os microrganismos termofílicos são ati-
mais internas nas leiras ficam anaeróbias,
vos em concentrações acima de 5% de
mas tornam-se aeróbias ao longo da fase
concentração de 02 (SCHULZE, 1962;
termofíli6a, acompanhando a elevaç.ão da
I KANE; MULLlNS, 1973 apud RANDLE;
temperatura,
FLEGG, 1978),

° fluxo de ar e outros gases na leira de


. Essas mudanças na . concentração são
resultados da interação de três fatores:
com postagem ocorre por convecção e
por difusão, sendo função: ==>, 02s,endo utilizado pelos mi~rorganis­
mos;
~ do diferencial de temperatura com o
ambiente; ~ 02 sendo reposto pela movimentação
da massa de ar (convecção); e
~ do fluxo de ar ,na s4,Perfície da leira;
~ troca de gases (difusão),
~ do c'onteúdo de água nos poros (umi-
dade); e
Desta forma, "se a concentração de 02
~ da porosidade da mistura dos resídu?s. se reduz, isso indiéa que o 02 está sendo
. utilizado mais rapidamente, do que pode
Compostaqem - ciência e prátit;i1 para a qestão de resíduos orqânicos

,
ser reposto pela convecção ou difusão; so de com postagem de uma leira estática
o OPOS!o, quand6 o 0 z aumenta, então a preparada com resíduos de comida,
taxa de reposição está excedendo a de cama de cavalo e aparas de grama, man-
utilização. Se o 0z se mantém constante tendo-a predomin,antemente aeróbia
a uma dada concentração, então há úm (mais de 2/3 do volume entre 10,0% e
equilíbrio entre a taxa de utilização e a 15,0%) em sua fase termofílica, porém,
taxa de reposição" (RANDLE; FLEGG, com um pequeno centro anaeróbio «
1978). Portanto, nas leiras estáticas, a 1 0,0% de O) na base (INÁCIO .et aI.,
concentração de 0 z depende da intensi- 2009). ' Esse resultado foi compatível
dade do consumo pelos microrganismos c?m outros estudos apresentados que
e da reposição via aeração passiva, que identificaram que se pode esperar que
sofre influência da porosi dade da leira, cerca de 86% e 79% do volume da.leira
, .
do excesso de conteúdo de água nos mantenha mais de 5% e 10% de 0z,
micro e macroporos e influência do calor respectivamente, ao longo da fase
interno sobre o fluxo de ar. termofílica em leiras com revolvil11ento
(RANDLE; FLEGG, 1978). No primeiró
Leiras estáticas com laterais retas são estudo as leiras retangulares tinham di-
construídas para promover tanto a difu- ' mensões de 1,5 m de largura e 1,0 m
são quanto à convecção de ar. As pare- de altura, e no segundo caso, 2,0 m de
des retas das leiras são fundamentais largura e 1,5' m de altura.
para favorecer o fluxo de ar interno da
leira, da mesma forma que a porosidade Algumas práticas de manejo como o
da mistura de compostagem. ° formato revolvimento ou aeração forçada podem
retangular proporciona maior superfície alterar a temperatura e a concentração de
. de entrada de ar "frio" (temperatura ambi- oxigênio na compostagem. ° suprimen-
ente) pelas paredes latera'is e, também, to de 0z devido ao revolvimento 'é, em
um fluxo direcionado ascendente para sa- geral, rapidamente consumido, não ):endo
ída do ar quente (temperatura interna da um efeito duradouro na aeração da leira, e
leira) e do vapor d'água. A saída ascen- em alguns casos o revolvimento não alte-
dente de ar gera um gradiente de pressão ra a tendência da curva de, concentração
no interior da leira suficiente para promo- de 0z, Este efeito é mais severo no início
ver o fluxo de ar por convecção, promo- da com postagem quando há muito carbo-
vendo a entrada po ar ex~erno numa taxa no orgânico disponível para a atividade
satísfatória durante a compbstagem. biológica (RA!'lDLE; FLEGG, 1978). No
gráfico abaixo (Figura 4.6), pode-se no-
Em estudo recente da dinâmica de tar exatamente estes efeitos, principal-
0 z.' CO z e CH 4 se demonstrou à capacida- mente após o 5° revolvimento, nas pri-
de da aeração passiva suportar o proces- . meiras horas do p~ocesso.

r
Controle dos fatores ecófogicos em leiras estáticas de c + ompostagem . m
Divers0s pesquisadores apontam ainda convecção, que contribuem para a entra-
que o consumo máximo de oxigênio da de ar, enquanto neste aspecto, o for-
ocorre quando a temperatura da leira mato de leira piramidal é.menos eficiente.
está em torno de 55 o G, o que está rela-
cionado com uma maior atividade Desta forma, em um processo com
microbiana nesta faixa de temperatura. aeração passiva o fornecimento de 02
A Figura 4.6 mostra que acima de 55°e exige um fluxo de ar de fora pra dentro
a concentração de 02se eleva, sugerindo • da leira e este depende de altas tempera-
uma redução na 'atividade biológica (con- turas geradas no interior da leira./ Por
sumo de O), estabilizando em seguida. isso, quando se está trabalhando com
No entanto, queda e recuperação na con- aeração nàtural um suposto controle de
centração de O ~ na atmosfera da leira são uma temperatura ótima para os
devido aos efeitos combinados da tempe- miçroorganismos, seja 55 °e, não é algo
ratura, que af~ta ,a atividade microbiana, e perseguido, pois as oscilações mais ele-
as mudanças na aeração. A atividade vadas favorecem o fluxo de ar ao longo
intensa de decomposição eleva a tempe- do processo .' Em sistemas de aeração-
ratura acima de 55°C o que, inibe boa forçada é possível o controle · da tempe-
parte dos microrganismos termofílicos, ratura aplicando-se, em geral, vazões 4
mas que por outro' lado, força aformação vezes maiores que as normalmente ne-
de Correntes de convecção (fluxo de mas- cessárias para manutenção do p'rocesso
sa) que vão su~rir de 02. novamente e de aeróbio (fornecimento de 0 2)' Neste
forma constante, a atmosfera, da leira de caso, a intensidade de aeração é usada
compostagem. As leira~ com laterais re- para aumentar a perda de calor da leira
tas (retangulare~) são mais eficientes para re9uzindo a temperatura até a um ponto
a formação dessas correntes de desejado .

•5
80

--
U
~
70 15
f
~
OI>
60
Q.
E!OI> 50 5
f-<
40 O
O 250 .

Horas
Figura 4.6 - Variaç'ão na temperatura e % de oxigênio, na regiã; central, em leiras retangulares 12,Q m x
1,5 ml de com postagem para cultivo de cogumelos após revolvimentos lentre o 5° e o 9~ revolvimentol;
~Temperatura 10C);' -':'" O, I%IIFonte: Randle; Flegg, 19781. '
, Co.mpostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgãnicos

A aeração passiva de leiras ou pilhas de vezes d@ominadci "densidade d~ mistu-


com postagem é influenciada pela ra" na concentração de 02 e produção de
porosidade na mistura. Esta porosidade odores (representados pelas
inicial está ligiilda a granulometria (tama- mercaptans). Um processo adequado de
. I .
nho de partículas) dos materiais utiliza- compostagem sempre prevê o emprego
dos. A ,adequada aeração é representada de materiais de baixa densidade, por e_x.
pela concentração de 02 no interior da podas de jardins e aparas, efTl combina-
leira, em . profundidades determinadas. ção com resíduos mais densos, por ex.
Certas misturas de resíduos são mais fa- restos de alimentos, estercos. Os dados
voráveis à ' aeração passiva por terem mostram que o aumento do peso esp'e-
miilior porosidade inicial e conservarem cífico da mistura inicial (kg/rri:') tende a
esta porosidade durante a fase dificultar a aeração passiva (fluxo d~ ar)
termofílica. ° fator porosidade ganha da leira de compostagem, resultando na
importância para permhir a aeração pas- diminuição da concentr.ação de 02 para
si,:,a: já que tem efeito direto sobre a atender a demqnda da atividade
resistência ao fluxo de ar (Figofa 4.7). microbiológica .

A Tabela 4.2 · mostra o . efeito da A comparação entre as misturas 2 e 3,


porosidade, representada pelo peso es.- · de podas e restos de alimentos, na Tabe-
pecífico da misturajilicial, em kg/m 3
, às . Ia 4.2, mõstra_ este efeito negativo cau-

,-.,
.9, 254

~
'-'
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.0
12.7 -.
~
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g
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()
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<Q) 5.08
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10 - 20 30 40 50

Porosidade (010)
Figura 4.7 - Relação entre porosidade e fluxo de ar. Fonte: Epstein (·1997); Singley e~ al.J 1982).

-.
Controle dos ratores ecólogicos em leiras estáticas de c + ompostagem

sado pela trituraçã~ nesta mistura com (C e N), como discutido anteriormente.
restos de comida, que elevou a "densi- Não havendo condiçõe~ de reposição
dade" da mistura de 297 para 891 kg/ deste 02 consumido se formam as 'condi-
m 3 • Quando a "densidade" da mistura ções anaeróbias.
aumentou, mantendo a mesma propor-
ção de podas e restos de alimentos Na prática, podemos denominar esses
(4: 1), houve uma queda acentuada na materiais de baixo peso E~specífico e, em
concentração de 02' que resulta na I?re- geral, alta relação C/N, como as podás e
dominância da atividade anaeróbia de aparas, de materiais "estruturantes",
biodegradação. A atividade anaeróbia pela função que desempenham para ma-
produz o aumento de Odores nutenção da porosidade da leira e,
(mercapt~nsr. ° aumento do peso espe- consequentemente, da aeração passiva.
cífico da. leira resulta em menores espa- Essas "funcões" dos materiais serão dis-
ços para o fluxo 'de ar satisfató.rio para a cutidas mais adiante.
atividade aeróbia ' da compostagem.
Além deste efeito, a menor -.. As principais técnieas de manejo usadas
granulometria também aumenta a super- para manter o. suprimento de 02 em leiras
fície de ação dos microrganismos o que çle com postagem são a' aeração forçada e
pode elevar a atividade biológica inicial o revolvimento mecânico. No entanto,
com alta de,manda por °2
, ' desde que os impactos dessas técnicas na qualida-
haja nutrientes prontamente disponíveis de do 'composto não são claros. Por

Tabela 4.2 - Efeito do peso específico inicial da mistura de resíduos na concentra-


ção de oxigênio e produção de mercaptans em pilhas de com postagem de podas
de jardim e restos de alimentos, com e sem o pré-processo de trituração.

Pilhas 2 3 4
Prq:Jorção inicial da mistura
Podas dejar'dins: Restos de alime11tos 4:0 4:1 4: I 2:1

Pré-processamen to
NenhJ m Nenhum Triturado a Triturado"
Peso específico, kg/m'
178 297 891 832
'Concentração de oxigênio b
19,9 18,8 0,3 O
MercaptaQStotais (emissões t 0,2 0,5 25 100

' Ieira inteira passou no triturador; ;'a mostra retirapa a 122 em de profundidade e 91 em de altura; ' amostra
de ar da superfície' da pilha, Fonté: Epstein, 1997.

(
..
Controle dos fatores ecólogicos em leiras estáticas de c + ompostagem

sado pela trituraçã~ nesta mistura com (C e Nl, como discutido anteriormente.
restos de comida, que elevou a "densi- Não havendo condiç5el} de reposição
dade" da mistura de 297 para 891 kg/ deste 02 consumido se formam as condi-
m 3 • Quando a "densidade" da mistura ções anaeróbias.
aumentou, mantendo a mesma propor-
ção de podas e restos de alimentos Na prática, podemos denominar esses
(4: 1 r. houve uma queda acentuada na materiais de baixo peso ~specífico e, em
concentração de 02' que resulta na J:jre- geral, alta relação C/N, como as podás e
dominância da atividade anaeróbia - de aparas, de materiais "estruturantes",
biodegradação. A atividade anaeróbia pela função que desempenham para ma-
produz o aumento de odores nutenção da porosidade da leira e,
(mercaptqns~. ° aumento do peso espe- consequentemente, da aeração passiva.
cífico da leira resulta em menores espa- Essas "funções" dos materiais serão dis-
ços para o· fluxo 'de ar satisfató.rio para a cutidas mais adiante.
atividade aeróbia ' da compostagem.
Além deste efeito, a menor As principais técnioas de manejo usadas
granulometria também aumenta a super- para manter o suprimento de 02 em leiras
fície de ação dos microrganismos o que çle com postagem são a aeração forçada e
pode elevar a atividade biológica inicial o revolvimento mecânico . No entanto,
com alta demanda por 02' ' desde que os impactos dessas técnicas na qualida-
haja nutrientes prontamente disponíveis de do ·composto não são claros. Por

Tabela 4.2 - Efeito do peso específico inicial da mistura de resíduo·s na concentra-


ção de oxigênio e produção de mercaptans em pilhas de compostagem de podas
de jardim e restos de alimentos, com e sem o pré-processo de trituração.

Pilhas . 2 3 4
Prcporção inicia I da mi stura
Podas dejardins: Restos de alimentos 4:0 4:1 4:1 2:1

Pré-processamen to
Nenh~m Nenhwn Triturado' Triturado'
Peso específico, kg/m'
178 297 891 832
·Concentração de oxigêniob
19,9 18,8 0,3 O
Mercaptan.stota is (emissões)'
0,2 0,5 25 100

'Ieira inteira passou no triturador; ba mostra retiraçla a 122 em de profundidade e 91 em de altura; ' amostra
de ar da superfíeie"da pilha. Fonté: Epstein, 1997.

f.
Compóstagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos

. exemplo, alguns estudos detectaram consumo pelos microorganismos. AI-


pouca diferença nos níveis finais de car- '{I uns autores têm sugerido que o
bono, nitrogênio e fósforo comparando revolvimento rompe as hifas fúngicas e
três tipos de compostagem, qeração for- pode inibir a esporulação dos fungos be-
çada, 'aeração passiva e aeração natural. néficos e, baixas taxas de consumo de
Em estudos sobre o cO[ltrol~ de emissão 0 2 foram observadas em processes de
de odores da compostagem, compostos compostagem com revolvimento a cada
orgonasulfurados tip,icamente associa- três dias comparados a processos sem
dos com a atividade de bactérias revo,lvimento .

.
anaeróbias
, foram emitidos de processos
com aeração-forçada mesmd quando a Procurando estudar os efeitos do manejo
concentração de 0 2 excedeu 16% na dinâmica da comunidade microbiana
(VANDERGHEYNST et al., · 1998) .• na' compostagem, Vander G' heYf')st e Lei.
Também foi observado crescimel'lto nos (2003). usaram bio-marcadores (PLFA -
níveis de bio-marcadores lipídicos asso,- análise de ácidos graxos fO:,folipídi ~ os)

c ~ados a estresse e bactérias anaeróbias em experimentos com biorreatores de


mesmo c?m o uso de aeração forçada. 200 L, combinando tratamentos com
Estes resultados sugerem, que a aeração níveis de aeracão
"
com e sem
forçada pode não suprir oxigênio para os revolvimento da mistura (esterco, de bo-
microporos no composto e que a comu- vinos de leite com palha de arroz) . Nes-
nidade microbiana anaeróbica no com- t.e trabalho a comparação entre os níveis
posto pode estar t-endo um papel maior , de aeração de , 620 ml/mim/kg ("alta
no processo de decomposição aeração"). e 210 rnl / min / kg ("baixa
(VANDERGHEYNST; LEI, 2003). Q su- aeração"), mostrou dados que apontam
primento de 0 2 deve ser capaz pe atingir para ineficiência do nível mais alto de
os micro poros I onde estão os aeração em evitar eve[ltos anaeróbios e
microorganismos para manutenção ' da de estresse ambiental no processo de
\ .
, a! ividade aeróbia de biodecomposição . compostagem. Neste ' exper.imento, o
aumento da ' aeração não melhorou a
uso revolvimentos transferência de 0 2e, assim, não. preveniu
° de
• com postagem é usualmente feito para
na
a atividade de microorganismos
minimizar. a I h~terogeinidade associada anaeróbios, apesar a alta concentração de
com gradientes de temperatura, .oxigênio 0 2 (Fig. 4.8b). Já para os biomarcadores
e umidade no sistema . VanderGheynst para eucariontes (fungos) aume[ltaram
e Lei (2003) em referência a o,utros auto- nos tratame_n tos com mais forte aeração
res apontam ainda que embora o quando a temperatura ficou abaixo de
revolvimento da leira possa introduzir al.- 40°C. Estes marcadores também foram
gum oxigênio dentro do processo, este maiores no processo de aeração-forçada
efeito. é de vida curta devido ao ~ápido do que com revolvimento. Segundo os ,
.
Controle dos ratores ecólogicos em leiras esÚticas de c +ompos tagem

55 _ _ S210

50
,
--- ' R21O
- e- ' , S620
- 70 c , R620
(a)

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Tempo (dias)
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Figura 4 .8 \- Temperátua (~), oXlgento (b), e' taxa de consumo de oxigênio (c l durante o processo de
com postagem em biorreator de 200 L, e mistura de ":2, 1 de palha de arroz e estEirco' de bovinos de leite.
Legenda: S =. estático e R = Revolvido; Aeração de 210 ou 620 ml/mim/ kg, Fonte: VanderGheynst e Lei,
2003. I .

I
Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos '

autores do estudo, isto pode ter rélação microbiana direta e indiretamente e,


com a ruptura das hifas fúngicas ou inibi- , consequentemerite,
'
vão determinar as
çãoda esporulação ~e fungos durante a estratégias da compostagem. P0ge-se
·compostagem. A: Figura 4.8a mostra· a dizer que cada tipo de resíduo "desem::.-
evolução da temperatura nos tratall1?ntos penha um papel" na compostagem , do
utilizados e demonstra também que, para ponto de vista do manejo de umaleira.
as condições do experimento, ~' aeração Isto é particula'rmente verdadeiro no Mé-
mais forte resultou em uma aparente mai- t0do- UFSC, de leiras estáticas com
or perda de calor, já que a temperatura 11e aeração passiva, ~nde a'lém das paredes
manteve abaixo do esperàdo para o pro- ou bordas da leira formadas por aparas ,
cesso termofílico, não atingindo os 50°C. de gramas temos a mistura principal com
generosa proporçãb de aparas de madei-
Apesar das condições espedf,icas do ex- ra ou podas, mas se aplica de man-eira
perimento, estes resultados são impor- similar ao método de leiras estáticas com
tantes para mostrar a importância de se aeração forçada.
conhecer a fundo' a influênci.a do manejo
de leiraS de compostagelT] na dinâmica Algumas características que têm influên-
microbiana e consequentemente no pro~ cia direta sobre a atividade microbiana,
cesso de compostagem. Técnicas ~m­ aqui entendida cO,mo o uso pelos
piamente difundidas, no Ç ~ s9 a aeração- microorganismos çla energia e dos nu~ri-
/
forçada e orevolvimento, podem não entes contidos no material orgânico: re-
'estar favorecen'do o processo termof(lico lação Carbono/N'Ítr~gêhio; conteúdo de
e aeróbio da com postagem como espera-, carbohidratos' disponíveis a
do e necessári~. E isto tem levado à biodegradação; super!ícieexposta às co-
problemas c'o m a errü'ssão de oçlores,
lôn ias de microrganismos; resistência fí-
produção excessiva de percolado e proli- sica ou químicé a biodegradação e pH.
feração de moscas, que se traduzem
As características de ,i nfluência indireta
numa falta de segurança .no controle e
seriam: poros idade da massa do resíduo
qualidade do . processo. r . Gastos
4 ," (volume de vazios/volume total), efeito a
operacionais excessivos podem ser oca-
estabilidade da estrutura da leira; reten-
sionados por tais situações adversas no " ,

, ção de umidade e retenção de calor


processo de compostagem.
(con'dutividade térmica). Este grupo de
características tem influência sobre o flu-
4.5 As características dos xo de ar no interior da leira , (aeração) e a
resíduos influenciando o perda de calor e umidade .
.manejo da compostagem
-
Os resíduos destinados a compostagem A compreensão de ambos os grupos de
possuem um conjunto de características características dos resíduos, remetem ao
que vão influenciar a atividade

/
/

Controle dos fatores ecólogicosem leiras estáticas de c +ompostagem lU


como sendo um ecossistemq no conceito de densidade de energia,
microbiano.
. No
.. entanto,\ mais atencão
. descrito por Miller (1993) , que relaciona
t~m sido dada às características de com- a disponibilidqde de substrato à densida-
posição bioquímica, ou simplesmente de para determinar a decomposição por
química, por ex. relação C/N, para se
unidade. Segunoo este autor "a densida-
elaborar misturas de resíduos. É comum
d~
, f
de energia (-substr.ato disponível por
a negligência ao papel das características
unidade de volume) é· um conceito útil
de influência indireta, por ex. a
que dá alguma idéia da porosidade junto
porosidade e o efeito à estabilidade da
com a implicação dos requerimentos
estrut~ra da leira. Um exemplo disto são
para a difusão de oxigênio e transferên-
as recomendações de tríturação. de resí-
duos para acelerar a com postagem que cia de cálor" (MILLER, 1993, p. 528) 1.

são geralmente baseadas em resultados Aligura 4.9 representa graficamenté as


de labor,afórios e não le~am em conside- características gerais dos resíduos orgâ-
. \
ração problemas como a tendência ao nicos e as influências diretas e indiretas
colapso de determinados materiais : en- no processo' de com postagem segundo
tendido como a compactação da massa o conceito apresentado acima ,
orgânica úmida em decomposição,
quando em leiras de compostagem. ~egundo Lynch (1993), apud Epstein
Esse colapso da estrutura da leira ítnpe- (1997). hemicelulose, celulose e lignina
de ou dificulta a aeração natural ou mes- sãó as principais fontes de carbono e
mo forçada. Ou ainda, a aversão ao uso energia para os microrganismos na pro-
em grande volume de material celulolítico dução de compóst() . No entanto, na fase
(alta C/N), tais como aparas de madeira , inicial da com postagem os carbo.idratos
serragem e palhas secas de culturas agrí- de cadEiia simples, que são prontamente
colas. Estes são materiais que por sua disponíveis, Constituem uma importante
decomposição lenta auxiliam no controle fonte de cprbono e energia .
da aeração e temperat.ura. As
·consequêncies destas falhas são conheci- Restos de alimentos provenientes de
, \
das: geração de odores desagradáveis e restaurantes, refeitórios ou centrais de
. fortes e atração e, proliferação de moscas'. abastecimento são resíduos que na
Operad óres de 'pátios de com postagem comp6stagem são fontes de carbono e
mais experientes tendem a corrigir essa
.
energia disponíveis em forma
- de
falha pela prática e observação. carbohidratos de fácil biodegradação.
Mas devido éÍ esta biodegradação rápida
A con's ideração dos grup.os de )caracte-
tendem a formar massas compactes no
rísticas citados acima pode ser resumida
inte~ior das leiras que impedem o fluxo

1 "Energy density favalJâble substrate per u~it


. volume) is a useful /oncept that gives some idea àfporosity
\
along with an impúCation of the requirements for 0 2 diffusion and /leal ltansfer': .
m Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos

de ar (fonte de oxigênio para os micror- vel para a atividade microbian,a e, com


ganism.o s aeróbios). Este é um conjunto frequência, isso dificulta a elevação da
de resíduos de . considerável umidade temperatura na compostagem sem que
(81 %) e densidad'e (peso 'específico), ou seja adicionada uma fonte externa de
seja, "pesa~os". A Tabela 4'.4 mostra carbono disponível.
algumas média.s de peso específico' de
alguns tipos de resíduos para Os estercos ' animais têm características
compostagem. Importante ressaltar que 'variáveis fundamentalmente se provém
resíduos de alimentos é uma denomina- de animais monogástricos ou rumin"an-

.
ção genérica para um grupo de restos
vegetais e animais com importantes dife-
teso O primeiro tipo inclui os
aves e equinos, enquanto o segundo
~uínos,

renças qu~nto à biodecomposição e, tipo é ' representado pelos bovinos,


consequentemerrte, ao manejo emprega- ' búbalino;, caprinos, apenas para cita~ os
do a cada tipo de resíduo. grupos de maior representatividade p~ra

agropecuária. O tipo de~limentação


Lodos que podem ser p~oveniente de Et,s- também influi na composição do ester-
tação de tratamento de esgoto ou água, co. Em geral, elevado conteúdo de nutri-
ou ainda de estações de efluentes indus~ entes, principalmente nitrogênio, está
,
triais , por ex. em fábricas de sorvete e presen~e nos estercos de suínos e aves
bebidas ou agroindústrias, são destina- devido às limitações de assimilação. Es-
dos a com postagem
\
pa~a post~rior uso tercos de bovinos já possuem grande
agríc~la, como visto no Capítulo 1. Es- quantidade de fibra vegetal remanescen-
tes biossólidos, conhecidos como Io- te. O esterco de aves de corte é
dos, possuem como característica princi- comumente misturado a aparas c;le ma-
pal ' a .... baixa . porosidad~, e d~ira (maravalha) ou serragem co.nstitu-
consequentemente, uma maior densida- indó a cama de aviário", material rico em
de se comparados com restos de alimen- nitrogênio, de baixa densidade e estrutu-
tos, por exemplo. Sendo assim, a ra estável , mas de baixa umidade. O
compostagerT) destes lodos sempre ne- esterco sólido (peneirado) de suínos é
cessita da m istura com materiais como a granulado e friável, com alta disponibili-
maravalha (apara de madeira ou serra- dade para biodecomp0s ição . O esterco
gem), material celulolítico' de baixa den- fre.s co de bovinos tem consistência pas-
sidade e que proporciona maior tosa, alta umidade, que pode trazer difi-
porosidade e estabil,idade à estrutura das cLÍÍdades para oompostagern. Mas quan~
leiras . de compostagElm de lodos. .. do eliminado o excesso de umidade (es ~
Esptein- (1997, p~ 83) cita ainda que terco curtido), é um importante insumo
alguns lo~os que passaram por uma di- na com postagem por sua alta disponibi-
gestão anaeróbica eficiente têm pouca lidade para biodecompo~ição e composi- '
energia (carbono) prontamente disponí- ' ção de nutrientes. Diversos autores
Controle dos Fatores ecólogicos em leiras estáticas de c +oinpostagem~

Tabela 4.4. Peso' específico de alguns resíduos.

Resíduo Peso específico


Restos de culturas agrícolas (diversos)a 135 kg/m3
a
Cortes de grama e similares 162-475 kg/m3
Serragema 264-368 kg/m 3
Restos de alim'entos a 94qkg/m 3
'. Esterco de cavalo (cama)b ' 446,9 kg/m 3
Cascas de laranjas picadasb 4ÓO,O kg/m3
, ,- •
Fonte: a - Rynk, 1992; b - dos a~tores-:

apresentam tabelas com a composição coberta por cortes, de grama, folhas ou


" provável de estercds de animais de cria- palhas. Esta camada evita a exposição
ção. Mas esses valores são muito variá -' do material atrativo aos vetores (moscas
veis,_e, porté!nto, recomenda-se que se e ratos) e ajuda a conservar o calor na
faça análise da composição do mat~rial camada mais superficial da leira, o'
em cada caso. Por exemplo, ,camas de principal local de crescimentó de larvas
aviários apre"seritam valores d~ referên- de mosca. Restos de arroz e feijão,
" cia com variação entre 3,0 e 3,6'% (base massas e carnes 2 possuem
seca) na composição de N devido ao características que 'favorecem o
número de lotes (ver anexo) .e à quanti- crescimento 'd essas larvas e que
dade de maravalha usada para formar a dificultam a ação microbiana aeróbia da
cama no aviário . Estas variações podem compostagem. Por isso, estes materiais '
ser consideráveis do ponto da produção podem gerar foco~ de fermentação e
agrícola, mas têm pouca influência na larv~s se mantidos aglomerados e/ou
compostagem na maior parte dos casos. expost'Üs, situaçãeJ que pode ser
desastrosa. , No método de leiras
Certa's características dos resíduos estáticas a mistura do material mais
podem determinar até a forma e a
posição que o material é colocado em
.
problemático,
'
com as
aquecidas na leira é uma forma de '
camadas já

uma leira de compostagem, ou seja, o . manejo adequada para evitar tais '
I
m,anejo do resídu.o. Por exemplo, na problemas( Restos orgânicos de
com postagem de restos de restaurantes restaurantes (cozinhas) se ' dividem em
"-
misturada a cama de biotério a leira é dois grupos restos de pré-preparo e

2 A palavra carne está em sentido amplo, significando aqui carne de animais em geral, tais como, bovinos,
zebuínos, aves ou suínos.
" \

. Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos

')
restos do pós-consumo. _ O segundo tornam pastosos à al,ta temperatura da
grupo constitui réstos mais densos e compostagem, podem reduzir a
gordurosos " q ~ e são mais suscetíveis a porosidade disponível à difusão do ar,
formar pontos de anaerobiose, foco de de tal forma que alguns autores reco-
larvas de mosca e ao ' colapso da mendam considerar umidade e conteúdo
estrutura. A maior parte dos restos de lipídico juntos no cálculo da umidade
pré-preparo é de material volumoso e dos materiais para com postagem
sem cozimento (cru), tais como, folhas (WILEY, 1957 , apud MILLER, 1993).
de verduras, I cascas de tubérculos e Na prática realmente sE;l verifica uma difi-
raízes, e. cascas de frutas, e as aparas'de culdade _maior na condução da
carnes em menor quantidade. compostagem quando a quantidade de
materiais gordurosos é grande, o que
Materiais com excessiva quantidade dê também tem- forte relação com a fraca
/ . . .
lipídios, -gorduras animais e vegetais no colonizaçã~ inicialdosmicroorganismos
caso de resíduos de restayrantes,que se sobre ,esses materiais.

"
, I

• I

-.
Substância orgânica predominante
lignina celulose celulose (+ nitrogênio) carbohidratos
proteínas e gorduras

'lipos de resíduos Palha de Cortes de grama :s~


~
[
arroz verde, podas. <li

Cascas de ~
árvores . Serragem e Estercos de animais* 'Ql"-
ap'aras de ~
<ti
madeira
'2·"
<li

Menor
Densl
Maior '"'I'
<ll
~
Menos 'carbono e energia disponíveis Grande quantidade de carbono e energia ~
para fase termofilica , disponíveis para fase termofilica 1S-
0\.
Biodegiadação lenta Biodegradação rápida e:
Mis4Jra l2orosa I Mistura densa e pouco porosa ~
ii1,
Menor densidade Forte tendência a'O colapso na leira ~.
Maior estrutura estável (estrutura instável) e:
Maior retenção de calor e umidade .' Fonte de umidade e água metabólica ~
Baixo risco de atração de vetores (moscas (atividade microbiana) ";.<:l'
e ratos) Alto risco de atração de vetores
Baixo risco de odores fortes e geração de Maior geração .de chorume e odores ~
chorume fortes. ~
~
11'lij
~
./ ' deve-~e c'Onsiderar 'Os diferentes tip'OS de esterc'O, P'Or eX ., cama de ayiári'O, esterc'O b?vin'O, esteré'O suín'O.
"a 'Origem, 'O pr'Ocess'O de estabilizaçã'O, 'e 'O pr'Ocess'O de tratament'O d'O efluente 'Ou esg'Ot'O influenciam nas caracterí",tica~ d'OS bi'Ossólid'Os.
r . •
.f',

Figura 4.9 - Reprçsentaçã'O das características gerais d'OS resíqu'Os 'Orgânic'Os e as influências diretas eindiretas no pr'Ocess'O de c'Om~'Ostagem .
.~

li
(
Compostaqem - ciência e prática para a gestão de resíduos orqânicos

.'

"

..

. \
'.

Aspectos àmbientais '

.'
Caio de Teves Ináció
Paul Richard Momsen Miller

5. 1 .Introdução
Um conjunto de aspectos ambientais é ·0 método de compostagem, o
inerente ao proces'so de com postagem e gerenciamento ·e os resíquos que serão
podem causar impactos indesejáveis ao matéria-prima na com postagem irão in-
meio-ambiente e a vizinhança. A fluir no potencia.l de. impacto e nas preo-
compostagem está longe de ser uma ati- cupações ambientais na elaboração do
vidade . de preocupante potenpial projétO.
polui dor. A compo's tagem como proCes-
so controladC? é antes uma biotecnologia . O · gerenciamento do processo de
para se transformar resíduos orgânicos com postagem e, tamb~m, dos resíduqs
em um benefício ambiental. que entrarão no processo determinarão
os ris.cos' ambientais e de impacto a vizi-
Os .possíveis impactos ambientais nega- nhança. Um bom manejo das leiras é o
tivos da com postagem podem ser divid.i- principal esforço para .evitar a máior par-
dos em quatro grupos: " te dos impactos indesejáv~is, inclusive o
odor que é o problema com maior poten-
(1) impactos causados pelas emissões
cial para áreas de com postagem. devido
de odor (substância~ orgânicas voláteis)
ao efeito de rejeição que pode provocar
e efluentes (percolado das leiras) ao am-
na população vizinha . Muitas áreas de
biénte em torno à área de compostagem;
compostagem são fechadas ou os proje-
(2) aqueles relacionados à saúde tos. recusados por pressão de órgão
ocupacional dos operadores; ambiental e da sociedade em 'função do
odor desagradável, ~onsequêrJcia de um
(3~ ' eventual atração e proliferação de mau manejo . O projeto de engenharià da
moscas nas leiras de compostagem; área de com postagem também deve 1e-
varoem consideràção fatores ambientais
(4) e os impactos da aplicação do com-
e objetivar o controle e a redução de
posto orgânico no solo.
riscos ambientais. O projeto ' é
Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduQs orgânicos

determinante no controle da contamina- cOr)taminação do solo e água e adequado


ção das águas superficiais e subterrâne- . I?a[a o man~seio. O controle, eliminação
as e auxilia na redução da ir;lfluência de ou redução de todos esses aspecto~ em
odores fortes na vizinhança. A estética um pátio de compostagem serão indiCa-
de um pátio de compostagem também é dores da eficiência ambiental do conjunto
um fator que 'influencia .na aceit.ação 'de projeto-método"gerenciamento.
um projeto pela comunidade.
O objetivo neste capítulo é tratar dos
'.
Determinados impactos ambientais de aspectos e impactos ambientais relacio-
.um pátio de compostagem dependem nados a pátios de composi:agem, que
dos tipos de resíduos que serão tratados são sistemas abertos, e dar ênfase ao
e, estes, irão influenciar rio adequado g~renciamento do processo de
manejo das leiràs. Resíduos como lodos compostagem em leiras estáticas com
de esgoto, estercos, carcaças de animais aeração passiva. São apresent~pas al- .
e lixo urbano não segregado vão deman- gumas comparações com outros méto-
dar preocupações específicas no projeto
.
e no gerenciamento do processo e esco-
,
dos: revolvimento de leiras, aeração for-
.
çada; e sistemas fechádos (reatores), .já
.
lha do método de compostagem. As que o entendimento do manejo de leiras
características químicas e biológi.cas de estátic'as d'á igualmente subsídios à con-
cada resíduo influenciam a qualidade do dução dos desses métodos ou sistemas. I
composto e, consequentemente, os im-
pactos do uso do composto, por exem- Apesar de um impacto ambiental ser re~

pio, em relação à presença de metais pe~ sultado da.inter'ação entre as condições


sados e poluentes orgâni.cos. O gr.au de de um determinado local e as caracterís-
contaminação do resíduo por patógenos ticas do empreendimento, seus aspectos
que podem trazer riscos ao homem, ani- ambientais, os critérios para escola do'
mais "Ou plantas s.erá levado .em conta no local para instalaç,ão da compostagem
manejo e monitoramen,to das leiras de serão abordados no capítulo seguinte
compostagem e, também, no manuseio que , trata do Projeto do . Pátio de
\
dos resíduos. Compostagem.

Como apontado anteriormente no Capítu- 5.2 A observacão das


lo 3, .a qualidade da engenharia da leiras de compóstagem
compostagem (projeto, método e
O bom gerenciamento do pr-oêesso (ma':
gerenciamento) repousa sobre a avaliação
nejo das leiras) é. essencial para a pre-
de aspectos como, proliferação de mos-
venção dos maiores problemas de um
cas e a atratividade a outros vetores;
pátio de compostagem - .odor e moscas.
ocorrência de odores ·fortes; chorume ,
Sendo assim, temos como. principal fer-
(efluente); produto final sem riscos de
ramenta de controle a medição e o acom-
Aspectos ambientais

panhamento da temperatura das leira~. O operador deve observar o interior da


A temperatura é o indicativo do bom an- lei,ra abrindo pequenos "buracos de. ob-
pamento do processo biológico da 'servação "- qu~ serão depois fec~ados -
compostagem termofílica. Se as leiras para avaliar melhor a estrutura interna, o
I
apresentam temperaturas·. iguais ou aci- grau de decomposição, a temperatura, a
,ma de 55°C, isso indica que o processo presença de larvas de moscas, presença
t.ermofílico de biodecomposição da ma- de pontos anaeróbios, e a umidade.
téria Grgânica está a pleno vapor - ,Iite- Aprende-se muito sobre o comporta-
ralmente, já que é possível oQservar nOS • mento dos diferentes materiais mistura-
dias mais frios a condensação do vapor dos no interior da leira observando as
saindo das leiras. A temperatura neste leiras desta mane'ira. É corrente na litera-
nível (> 50°C) evita o crescimento de tura técnica a verificação desses
larvas de moscas, que frequentemente parâmetros - umidade, aeração, tempe-
estão presentes nos resíduos, ou a ratura - sempre por uso de instrumen-
atratividade e, consequente, tos. Mas é possível fazer éssas verifica-
ovoposição. Atemperatura é indicativa ções de modo "qualitativo", mas' igual-
do processo aeróbio e, portanto,' com mente eficaz, ou até mais eficaz, com a
menor formação de substâncias orgâ~i­ observação sensorial. "Duas ferramen-
cas voláteis, origem odores fortes e in- tas são essen.ciaís: seu nariz e um termô-
desejáveis que se desprendem principal- metro': . Não precisamos nos sentir inca-
mente no momento dos revolvimentos pazes de realizar observações sobre o
das leiras. Com os métodos de leiras processo{ de compostagem diante
. . da fal-
e?táticas (aeração natural ou , forçada) ta de instrumentos - até mesmo do ter- ,
essa situação é minimizada. mômetroI, Podemos e devemos exercitar
' ,
a dbservação ihterna da leira de
Para a medição da temperatura dflS leiras
compostagem através do que temos: vi-
são usado; termômetros de, haste longa
'sã"o, olfato, tato, instrumentos improvi-
~ com medição na faixa de 0° até
, sados 'como barras de ferro e madeira e
100°C, digitais ou analógicos. Os da- '
etc. Um operador experimentado não
dos podem ser registrados em planilhas
necessariamente vai precisar de
par,a que o acompanhamento do proces-
sensores n;lodernos. Portanto, o treina-
so seja documentado. O registro permi-
mento de operadores de pátios ' de
te for[T1ar um perfil de temperatuJa das
'com postagem baseado no co"nhecimen-
leiras. Isso é especialmente importante
to da 'ecologià da com postagem e na ob-
se houver exigência de órgãos
servação das leiras (do processo) sem
ambientais quanto a níveis de tempera,.
qualquer tipo de in~trumento que não
turíl e períodos mínimos para redução de
seja suas capaçidades sensoriais te~ de-
patógenos. Isso pode ser uma necessi-
monstrado ser extremamente
dade no caso de resíduos sabidamente
satisfatório. Sensores serão importantes
contaminados por pat6genos relevantes.
Compostagem - ciência e prática para à gestão de residuos orgânicos

/
para criá r registros' precisos e, portanto, 5.3 Controle de moscas
documentar o J1lrocesso de ·tal maneira
A , proliferação de larvas de mosca nos
que outra pessoa, ou representante de
resíduos,' e nas próprias leiras, é um fator
órgão ambiental, por exemplo, possa
que devé ser monitorado em Uma unida- ~
avaliá-lo pelos registres de
de d~ compostagem. A manutenção de
monitoramento.
temperaturas termofílicas (> 50°C) nas
leiras normalment~ garantem a prevenção
Sugere-se que .a medição da temperatura , à proliferaçãO' de larvas de mosca (princi-
das leiras seja feita diariamente e com re- • palmente Musca domestica) . . Ovos e lar-
gistro em p!anilha eletrônica que possibili- vas de mosca domésticà não sobrevivem
te. a construção do gráfico de temperatura .acima de 46°C. Na prática ~ode haver
ao, longo da tempo. Este tip? de registro falta de uniformidade na temperatura da
permite o acompanhamento do processo leira que favorece a scíbrevivência das lar-
com maior precisão pelo operador. A me- vas e, con~equentemente, o aparecimen-
diçao em profundidades diferentes e ~m to de moscas adultas de forma crítica,
vários pontos do ;comprimento da leira comum em ambientes com grandes quan-
também é recomendada. Em leiras estáti- tidades de restos de comida e dejetos de
cas, pode-se empregar a medição a dUá~ animais . Porém, nas leiras estáticas, Mé-
profundidades do topo, 20 e 40 cm, e, ao todo UFSC, observa-se que as larvas de
longo 'da leira, a cada 4 a 6 m~ dependen- ' mqsca tendem a subir e se concentrar na
\
do do comprimento total. Uma leira de 20 superfície da leira,. no resíduo fresco,
m de comprimento poderá · ter , de 3 ' a 5 isso, logo abaixo da camada (capa) de
pontos de medição da temperatura. Con- palha. Então, é nesta (sub) superfície que
, siderando as duas profundidades de leitu- a temperatura deve atingir o mais rápido
ra teremos de 6 ,a 10 medidas para formar temperaturas próximas a , 50°C. • O
uma média da temperatura da leira - é monitoramento da tempe~atura de leiras
sempre mais indicado analisar as médias. estáticas de restos de ,comida é cama de
V'

É possível identificar a .ocorrênêia de cavalo, em diferentes profundidades em


heterogeneidades ' no que, , relação à parede ext~rna, mostram \ que
processo,
quando exageradas, podem significar pro- neste método se 'alcança temperaturas
blemas no processo aeróbio oú da mistura acima de 50°C me~mo próximo as bor-
de resíduos. O monitoramento d.a tempe- das (INÁCIO et aI., 2009a). A palha

ratura é o. primeiro passo para o operador usada na cobElrtura das leiras reduz a pos-

conhecer q processo, de com postagem sibilidade de ovoposição, externa e tam-


bém auxilia na manutenção de temperatu-
qué tem nas mãos, ou seja : que 'é resulta-
ra adequadas na (sub) superfície da leira
do do método empregado, da mistura dos ,
em função da baixa capacidade de trocar
ré~íduos e da influência do clima (precipi-
'c alor cOndutivo, favorecendo o seu
tação e umidade rf;llativa do ar) .
acúmulo. ,
Aspectos ambientais

Por esse motivo estes resíduos, . que , gera odores prejudiciais. Ações devem s\3r
exercem grande atratividade às moscas, tomaqas 'para dar reinício "áo processo de
. ·quando chegam ao pátio de compost?gem e supressão das larvas. O

.
compostagem devem estar ,acondiciona-
dos em bombonas ou qualquer outro
crescimento de larvas de moscas nas fases
adiantadas da compostagem (termotnica e
. tipo de conteiner fechado. Invariayel- maturação) ~ raro. Nestes casos, as ocor~
lT)ente o resíduo àntes da compostagem rê~ci~s são pontuais FIas leiras .e não ;fE!-
já possui certa quantidade de ovos de tam o processo mas apenas a área afetada,
moscas em função da exposição na fon- sendo de fácil supressão.
te _geradora que resulta em oportu.nida-
Para efetuar o controle ~ . prevenir
des de ovopo.sição. No caso de restos
infêstações de moscas ~ importaRte co-
de comida em restaurantes, refeitórios e
similares hã .a possibilidade de nhecer o ciclo de vida deste inseto, que
dura de 7 a 10 dias (Figura 5.1.) :
minimização dessa exposição através do
u.so acondicionamento adequa·d o. Não
=> Ov'o - demoram para eclodir de 36 .
obstante, a ação preventiva mais eficaz é. horas até uma semana; dependendo das
a rápida com postagem do material, isto condiçÕes do ambiente. A ovo posição
é, reduzir o 'tempo de exposição do resí- dura uma semana e a fêlljlea pode colocar
duo entre a geração do resíduo e a entra- de 250 a 400 ovos nesse período divi-.
da deste nas leiras de compostagem. didos em 4 ou 5 posturas .. Não sobrevi-
ve.acima de 42°C.
As primeiras horas do processo de /.

com postagem são as mais propícias ao => Larvas - esta fase pode durar de 5 a 7
crescimentá das larvas de mosca já que no dias . . Esta fase sofre forte influência da
início a temperatura da leira ainda é baixa temperatura e umidade ambiente.Alimen-
(temperatura ambiente). O material ainda tam-se de substâncias solubilizadas e
está em estado "cru", úmido e formando bactérias. Preferem temperaturas entre 30
um ambiente favorável a eclosão dos ovos . e 3rC e não sobrevivem acima de 46°C.
de mosca e crescimento das larvas. O
=> Pupa - as larvas migram para o solo e
crescimento das larvas é rápidó (ciclo de "3
se enterram para formar a pupa. São
a 4 dias à 35°C) e pode ocorrer antes da • necessários apenas 2 a .3. dias nesta fase
ptena colonização microbiana d. a ·para formação do adulto.
compostagem e a consequente elevaç~o -
da temperatura. As larvas se agrupam. na ~ Fase adulta - a mosca adulta vive de 1
massa do resíduo para se alimentar. A a 2 meses.
'ação das larvas impede a colonização dos
microrganismos termofílicos e interrompe As condições existentes nos resíduos
definitivamente o processo de orgânicos, principalmente restos de co-
,c om postagem termofnica. Esta situação mida são extremamente favoráveis ao
( Compostaqem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos

cresçimento das larvas dê mosca poden- ' interrompe o crescimento da larva que
do àté mesmo acelerar .sobremaneira o morrerá devido ~ exposição a .alta tempe-
ciclo larval. ! , ratura do meio e -ao vapor aquecido que
sai pela parte superior da leira.
É importante que a camada superior da
leira seja de um material não atrativo às Desta forma, é importante não colocar
'/ '

moscas como , a serragem ou a palha. novas camadas de resíduos num prazo


Esses materiais isolantes auxiliam na " de pelos menos 24.horasa36 horas.
manutenção de uma camada superipr Essa nova camada fria e crua servirá de
/" sufiqientemente aquecida que evita o de- refúgio às larvas que encontram ambien-
senvolvimento das larvas . As lÍ:uvas ' te adequado para se desenvolverem a
tenderA a adotar um movimento ascen- cada novo dia. Leiras que não tenham _
dente dentro leira em função da alta, tem- aquecido n~ste prazo também devem ser
peratura na parte interna da leira buscan- d,escartadas como receptoras de novas
, do pontos máis 'frios e com alimento. A
,.
camadas de resíduosgórdurosos como
'

ausência dessas condições favoráveis as sobras de comida,

Adulto

Ovos
f

Pupa

r,aiva do
1° estágio

Larva do
3° estágio

Larv~ do 2° estágio

Figúra 5.1 - Ciclo de vida da mosca doméstica . Fonte : N?vartis (2009),


Aspectos ambientais

Em caso de alta infestação de larvas o 5.4 Gerac.ão de Chorume


que sempre será visível na parte superior (Percolado)
das leiras sob a camada de palha, adot~-
o percolado das leiras; cl)amado
• se o seguinte procedimento:
comumente de chorume, é um líquido de
~ interrompe-se por pelo menos 5 dias a cor marrom-escura, e odor característico
colocação de novas camadas de resíduos. que contém partículas decantáveis de
matéria-orgânica biodegradável e maté-
~ abre-se a leira retirando a· palha de ria-orgânica dissolvida, e sais dissolvi'-
cobertura. ~bre-se uma "cova" dentro ' dos. A composíção do percolado da~
da leira em sentido longituqinal até atin- leiras pode variar conforme a composi-
gir,as camadas aqu.ecidas do interior da ção dos resíduos. Por exemplo, o
·Ieira. Mistura-se a camada sUperior para percolado coletado de. leiras e~t~ticas de
dentro da leira.Procura-se também traze~ compostagem de restos de alimentos e
para cima as partes aqueCidas e com de- cama de animais do biotériq e cortes .de
composição mais avançada para formar . grama apresentou os seguintes ,valores
a 'I0va camada superior. • "médiospar'a: OBOmáxima 2300 02mg/l;~ .
OOOmáxim,a 2500 02mg/l;970 mg/l
o importante nes~es casos é procurar Ntotal. E valores equivalentes de P e K
entender o porquê desta falta de contro· de 190 mg/l em PP5; 2400 mg/l em
le. As causas mai,s cÇ>mul")s são: K';O, com um conteúdo de água 98;8%
e pH: 8,0 (médio).
~ faha da camada de serragem ou palha;

~ esfriamento da leira por falta de o percolado tem, portanto seu potencial


oxigenação que está relacionada à mànei- poluidor manifestado principalmente
7
ra que a leira é contecciQnada e ao colap· pela ,alta OBO (carga orgânica) e 000,
sei da massa de resíduos; send~ que a relação OBO/DOO indica I

alta biodegradabilidade. OBO e 000 in-


~ esfriamento por chuvas excessivas dicam ' o consumo de -oxigênio do
ou por perda exc;essiva de umidade em efluent'e durante a degradação (biológica .
função de Ventos secos; elôu química) represen~ando um risco se
despejado em águas s!.lperficiais, .como
o monitoramento do crescimento das
rios, lagos, reservatórios e tanques de
larvas de mosca deve ser diàrio em todas ,
criação de peixes ; pela redução brusca
asleiras . .Elas aparecerão sen1pre sob a
.de oxigênio disponível (Quadro 5). No
camada· de palha que cobre a leira na
,· d d . d entanto, este efeito está diretamente li-
super f ICle a cama a superior e serra- I ' .
, 'I . . . d gado à carga orgânica, isto é, a quanti-
gem. E posslve . mOnitorar o grau e so- , .
. - " d .. d dade relativa à vazão ou volume que é
b re'(lvencla as moscas procuran o as .
pupas que estão enterradas no solo ime- despeJ"ada e na-o somente. ao va
. lor de

diatamente ao redor da leira. . OBO do percolado. O lençol freático cor-


/.
Compostagem - ciência e prática para'a gestão de resíduos orqânicos

re menor risco de contato com o 'Leiras em maturação e armazenadas tem


perco lado desde que se evitem áreas maior potencial como fonte de nitrato.
com afloramento de ~água e com lençol Os resíduos estocados também s~o fon-
freático pró~i~o a superfície, principal- tes potenciais de chorume. A matéria
mente se associado a solos arenosos. O orgânica e a amônia (esta tóxica aos pei-
percolado é prontamente biodegradável xes) podem criar problemas nas águas
e ao infiltrar no solo, sofre a ação dos superficiais devido ao consum~ de oxi-
microorganismos ea ação das partículas gênio - OBO e 000.
do solo, perdendo sua carga poluidora.
b percolado pode se~ utiliz..ado na ferti- As formas dissolvidas de fósfor,o, o potás-
irrigação diretamente ao solo, mas j:5ara sio e nitrogênio presentes no percolado
aplicação foliar, deve .ser diluído a 2% podem levar à eutrofização do corpo
com -água. Em todos os casos, ' no en~ hídrico dependendo do volume relativo
tanto, devemas-~considerar outros poten- despejado, principalmente, se atingir pe-
ciais de contaminação como agentes quenos reservató~ios ou córregos. A alta
patogênicos e metais pesados que de- atividade ljiológica, aeróbia e termofílica,
vem, ser analisados
'
nas amostras de mantida nas leiras favorecem uma baixa
percol.ado, especialmente na produção de percolado. Em processos
co'm postagem de lodos de esgoto, mate- com revolvimentos esta produção de líqui-
riais orgânicos originados de processos do tende a s~r maior do que em leiras
industriais, e lixo urbano não se,l etivo : estáticas -: aeração forçada ou natural. O
poder de absorção de água de alguns ma-
A presença elevada de amêlnio é nitrato ' teriais usados na com postagem,
no percolado constitui uma possibilida- notadamente a serragem, também contri-
de de poluição. Embora,ó nitrato possa bui para redução do volume d~ líquido que
ameaçar as águas do' lençol freático, nor- sai das leiras. Há ainda a absorção pela
malmente leiras em fase termofílcia pos- camada desolo abaixo das leiras onde a
. de , nitratos e
suem baixa concentracão argila absorve os sais e humatos de potás-
maiores concetrações de amônio, que, sio que predominam no percolado, e se
também é tóxico para peixes ,e seu ex- torna parte do produto final. Na coleta
cesso causa eutrofiza'ção dos corpos ' efetuada
,
em uma leira de compostagem
I
de I
_

d'águas. Fora do ambiente termofílico grama, restos de -comida e cama de


da leira, o íon amônio poderá sofrer biotério, o chorume representou apenas
nitrificação formando nitrato . As relati- 4,8% do total de água que entrou no sis-
vas baixas concentrações resultam da tema pela precipitação ou conteúdo de
alta relação carbono nitrogênio e das al- água dos resíduos orgânicos o equivalente
tas temperaturas d.u rante a a 80 litros por semana, enquanto a entra-
compostagem - as quais inibem os mi- - da no período foi de 1.688 litrós por se-
crorganismos formadores de nitrato. mana (Figura 5.2). O balanço hídrico em

/
Aspectos ambientais

uma leira de compostagem foi descrito no to local de esgoto dóméstico podem ser
Capítulo 4. A Figura 5.2 mostra que a projetados para tratar os efluentes de
precipitação pluviof)létrica influenciou .me- unidades de compostagem, evitando o
nos do que se esperava a per.colação de , despejo na rede de coleta municipal, .ou,
líquido da leira estática. ainda, pode-se fazer a reS;irculação' c·on- ·
trolada e sistemática do percolado para
Apesar da grande variação na quantida- as leiras de compostagem na fase
de de chuvas as quantidades de termofilica (ver Capítulo 6) . .
chorume coletadas diariamente quase
I não se alteraram, seguindo um compor- 5.5 Emissijo de odores
tamento quase homogêneo sem acom-
A com postagem mal conduzida leva a
panhar as curvas de crescimento 'de en-
geração de odores desagradáveis relaéi-
trada de água na leira . A quantidade e o
onados à decomposição da matéria orgâ-
tipo de resíduos destinados ao pátio de
nica em condições de anaerobiose. Na
compostagem, isto é, a capacidade de
com postagem os principais gas,es relaci-
tratamento diário de resíduo, vão influ-
onados ao mau _cheiro são compostós
enciar na produção de percolado e deter-
organo-sulfurados como H 2S, CH 3SH
minar a necessidade de coleta e trata-
(M~SH- meti! mercaptan), (CH 3)2S (DMS -
mento deste efluente para evitar' impac-
dimetil sulfeto), DMDS (dimeti!
tos ambientais. Sistemas !,?ara tratamen-

3500 . , - - - - - - -

3000

2500
~
I 2000
1
.:
-8 1500
~ 1000

500

13-dez 27:-dez 10-jan .24-jan 7-fev 21-fev 7-mar 21-mar "

! ~Chorume _ c huva ......- resíduo I

Rgura 5.2 - entradas de água via chuva e unidade dos resíduos e a saída de rercolado (chorume) em uma leira
de compostagem de 36- m' (3 m x 10m x 1,2 ml. formada po'r restos de comida, cama animal com
serragem e cortes de grama - m~todos de leiras estáticas com aeração passiva , Campus UFSC. Florianópolis,
2002,
Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos

Quadro' 5 - Demanda Bioq'uimica de. Oxigênio e Demanda Química de Oxigê~io

\ .
A carga poluente de resíduos e efluentes com c.arga orgânica'pode ser parcialmente
• . 7e. ,
medida pelas .oBO (Demanda Bioquímiêa ,de Oxigênio) e· DQO (Demanda Química de
• " ~ <
Oxigênio), A DB05.2~ é defmida como a quantida4e de, .0 2 (m,g.t l ) consUmida por
mioroorganismos na. degradação da matéria orgânica, a 20" C, num período de 5 dIaS, A
DQO é a quantidade de Or- 'necessária paraÓxidar quimicamente a matéria orgânicá, .
. . ~ , . " : - " , ' .('

através dÇldicromat? de potássio (KiCr207) em meio ácido a ~60°C. A relação DQ07D&Ó


pode ser usada para estimár o grau debi'odegradação relativo que é maior .quando a relaç,ão
~ .

\ .
tende a ' 1,0. Conforme se afasta desse valor a relação pode indicar que o r.esíduo ou
efluente tem apenas umá pequen,a parte prontamente biod~gradáveL
~

Relação DQO/I?BO de âJguns tipos de resíduo (CARDOSO, 1992).


'" Resíduo ' DQ.0 DBOs,20 DQO/DBOs,20
.\
mgJ -
.<

* Esgoto doméstico brutO' 500 300 1,67 ,


Esgoto doméstico tratado ' 50 10 5,00 .
Vinh~ça . 60.00'0 30.000 2,00
'.'
" Resíduo de curtume 13.000 1.270 10,24
Residuobruto de imfú;tria de 620 2~6 2,74
celulose
, . e papel
Resíduos tratado de indústria de 250 30 8,33
.~ celulose e papeI
Perco lado de leirás de c06psotagem 0,92
(restos de ai Íti1entos e çortes de grama)

dissulfeto), COS (carbonila su.lfeto) sição de restos de comida ou qualquer


(VANDERGHEYNST et aI., 1998). À outro resíduo rico em aminoácidos.
ger';lção de odores varia com o tipo de· LimonerTlO (odor cítrico)' e pineno são
resíduo e estágio dacompostagem, bem compostos aromáticos (ciclo terpenos)
corno, é função do gerenciáménto e do também emitidos -quando aparas de ma-
método ' utilizado. . Os compostos deira são usadas como agente
sulforosos são frequentes na decompo- estruturante na compostagEilm de
Aspectos ambientais

biossólidos ~HENTZ et alo, 1992; Van or da leira . Em alguns casos, deviDo a


DURME et alo, 1992 apud EPSTEIN, descuidos na formação da leira, geral-
1997). Alguns trabalhos sugerem que a mente por falta de material volumoso
detecção de CO (monóxido de carbono) (aparas de madeira), essa parte inferior
pode'ser um bom antecedente detectável da leira apresenta ambiente anaeróbio e
da formação de odores de processos de consequentemente . emissão de forte
compostagem (VANDERGHEYNST et odor quando revolvida., No entanto, es-
alo, 1998). ses odores não persistem no ambiente e
tão pouco na massa do composto revol-
Este tem sido um dos principais proble- vida e em maturação.
mas . observados em pátios de
com postagem e que tem influenciado, a Pará projetos que usam a tecnologia de
\
não implantação deste sistema de. trans- reat~res e aeração íorçada em páti'as
formação dos 'resíduos org'â nicos ou a abertos, emissão' de odores pode ser so-
desativação de pátios. Existem exem- lucionada pelo controle da intensidade
plos de unidades de triagem de resíduos de aeração (aeração forçada) e limpeza
onde são utilizados aspersores quím icos do ar' por biofiltros. Pro~lemas com odo-
na tentativa de neutralizar os fortes odo- res são mais difíceis de resolver em sis-
res, que é uma sOluçãodispendiósa , A temas baseados no revolvimento das
persistência de fortes ,odores pode levar '
, -
leiras de compostagem . Nesses casos,
)

nesses ,casos ao fechamento de uma uni- alguns manuais indicam o revolvimerito


dade pelo órgão ambiental estadual. mais frequente no i~íciodo processo de
compostage~ para prevenir o desenvol-
Pátios de compostagem que utilizam o vimento de zonas anaeróbias. A asp,er-
método de Leiras Estáticas com Aeração são muito fina de água durante o
Passiva (ver Capítulo 3) têm demonstra- revolviniênto das leiras ajuda a reduzir o
do capacidade de evitar problemas com problema com odores porque as molécu-
emissão constante de pdores fortes ape- las tendem êI 'se dissolver dentro das
sar da ausência de aparatos gotículas de água e são levadas ao solo
tecnológicos. O métqdo baseado
, na (POULSEN, 2003). A manutenção da
aeração passiva tem proporcionado um adequada aeração e umidade e,
fluxo de oxigênio adequado evitando a consequentemente, a ' manutenção da
formação de odores e sua emissão pela fase termofnica da com postagem é a me-
leira. Eventos com odores fortes têm Ihor forma de evitar a, formáção de odo-
ocorrido com baixa frequênc ia e apenas res queé " m ínima durante ,as altas tem-
durante o revolvimento ao final do pro- peraturas geradas no proc.esso de
cesso para maturação do composto compostagem" (WILBER; MURRA Y,
quando se expõe a parte interna e inferi- 1'990 apud EPSTEIN, 1997).
, Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos
... . , I

5.6 Eliminacão de minam e sobrevivem nos resíduos mani-


organismos'patpgênicos pulados, como restos de comida, ou em
(saúde humana) contato com tezes de animais domésti-
cos, no caso de restos de jardi,ns, ou
Os resíduos orgânicos são meio propício
ainda, o lixo urbano que reuni diferentes
ao crescimento de microrganismos inde-
fontes de . resíduos que podem trazer
sejáveis que podem trazer riscos à saúde
patógenos. Os lodos de esgoto oriun-
humana dependendo do nível de contato
dos das Estações de Tratamento carre-
e contaminacão, Um exemplo são os
gam forte carga ' de patógenos, e são,
, lodos orgânicos gerados por estações de
portanto, alvo de ,regulamentação por
tratamento de esgoto. Do ponto de vis- órgãos ambientais . Este tipo de resíduo
ta agrícola : os resíduos vegetais e os
necessariamente deve passar ' por pro-
dejetos animais são fontes de patÓ'genos
cessos de desinfecção para ser possível
para lavouras (fitopatógenos) e para ani-
o uso agrícola, a,inda assim, restrito e
mais. A com postagem aparece como
controlado.
uma forma de tratamento desses resídu-
os que propicia o u,.so benéfico de ,em Normalmente o procesqo de
forma de um produto final, o' composto compostagem t'ermofílica inativa ou eli-
orgânico. Através da com postagem mina esses organismos indesejáveis por
pode-se ter a eliminação ou redução a exposição às altas temperaturas por lon-
níveis seguros desses variados gos períodos. A in ativação ou mo~te de
patógenos no composto final. Esse efei- cada organismo depende de uma combi-
to se' deve a dois fator,es: (1) as tempera- nação de temperatura e tempo de expo-
turas ' atingidas na compostagem s,ição; como mostra Tabela 5.1. A Figu-
termoiílica, acima de 55°C por longos ra 5.3 mostra o efeito da temperatura na
períodos (dias); e, (2) o arltagonismos inat(vação de Strept~coccus oriundo de
micr9biano via antibióticos. fezes. Existe a preocupação que toda a
massa da com postagem atinja as tempe-
Alguns organismos indesejáveis causa-
raturas e tempos necessários requeridos
dores de doenças ou tóxicos ao homem
para ga'rantir que o composto pronto es-
ou a animais, e fitopatógenos podem
teja livre ou praticamente livre desses
crescer e se reproduzi} na matéria orgâni-
agentes indesejáveis, já ql"le partes não
ca, estabilizada ou não. Isto quer dizer
_expostas de material" onde microrganis-
que os resíduos que serão destinados à
mos ~obrevivam, podem servir 'de fonte
com postagem podem ter a presença de
" ' para o crescimento desses microrganis-
uma gama de agentes causadores de do-
mos no composto pronto. Além do efei-
enças ou intoxicações. Podem ser bac-'
to da températura, a intensa competição
térias (Samone//a" , por ex.). vírus
microbiológica e as interações ecológi-
entéricos, protozoários ou helmintos'
cas, como o antagonismo viá antibióti-
(vermes intestinais). Geralmente conta-
Aspectos ambientais .

Tábela 5.1 - Temperatura e tempo requeridos para destr uição de â l g un ~ patógenos


e parasitas comuns.
Organismos ' Requisit{)8 de iuativação
Salmooe!la typhosa Morte em 30 min a 55-60 0 e e em 20 m in a 600C
Salmooella sp. Morte em 1 h a 550C e em 15-20 min a 600 e
,
Shigell a sp. Morte em 1 h a 550C
. \
Eschericia coli , Maioria morre em 1 h a 55°e e em 15-20 min a 600 e
Entomoeba histolytica cysts .Morte em alguns mino a 45°C e em alguns segundos a 55°e
I . , \
Taenia saginata Morte em alguns mino a 55°C
TrichineJla spiralis larvae Morte em alguns mino a 55°e e morte instantânea a 60 PC
. \
BruceIla abortus ou. Br. Suis Morte em 3 mino a 62-63OC e em 1 h a 550C
Micrococcus pyogenes Morte em 10 mino a 50 °e
Streptococcus. pyogenes Morte em 10 mino a 54 °e
Myobacterium tuberculosis Morte em 15-20 mino a 66"C ou depois de picos de temperatura de 670C
eorynebacterium diphteriae Morte em 45 inin. á 55°e
Necator americanus Morte em 50 mino a 45°e
Ascaris lumbricoides . Morte em 1 h a 50° e
. <

Fonte: Tchoubanoglous et aI., 1993 apud Poulsen, 2903.

lO-4~______~________&
~______~_____
O 10 20 3Ô
Tempo (minutos)
Figura 5.3 - Inativação térmica de 'streptococcus}ecal em compostagem de biossólidos. - .
Fonte: Ward e Brandon, 1977 apud Epstein; 1997.

\'
'1
Compostagem - ciência e prática parà a gestão de resíduos orgânicos

cos-microbainaos,' no processo de . marca a temperatura no composto deve


compostagem tambér.n limitam a sobre ~ ser no mínimo 70°C por no mínimo uma
vivência desses microrganismos ' hora para o composto poder ser usado
patogênicos (WILEY, . 196~ apud . sem. restrições - nível mais exigente. Se-
EPSTEIN, 1997). ' gue explicándo que, "isso significa queo
composto produzido em leiras deve ser
Nos EU~, p manejo de material orgânico é
higienizado em um reator especial ao final
regulado em nível estadual, exceto para
do processo porque não é possfvel ter cer-
biossólidos (Iodos) e estercos animais. Os'
teza que todo o composto tenha sido ex-
requerimentos diferenciam o método de
. posto as temper~turas.requeridas. Isto
compostagem e osresídubs usados. Para
adiciona custos significativos com t:onsu:
sistemas fe~hados (reatores) e leiras estáti-
mo de energia e .custo ao processo de
cas aeradas devem ser mantida a tempera-
compostagem. . Devido às' taxas de
tura • de pelos menos 55°C (131°F e
inativação dependerem do processo de
170°F) durante 3 dias. Para mét0do de
compostagem, métodos alternativos para
leiras revolvidas, a compostagem deveser
avaliação da inativação ,níveis baseados
mantida, a pelo m,enos 55°C (1 .31 °F e
nas c,oncentrações iniciais e finais de orga-
1.70°F) por 15 dias, e durante este tempo,
nismos indicadores são usualmente
as leiras devem ser revolvidas pelo menos
adotadas na Europa."
cil")co v~zes. É importante ressaltar que
essas diretrizes são exigidas apenjls se al-
No Brasil, o Conselho Nacional do Meio
gu.m tipo de esterco for misturado (o mes-
Ambiente - CONAMA se baseou. naS nor-
mo vale para lodos de esgoto). Qúando as
I
mas da USEPA para elaborar as' resolu-
leiras são feitas apenas com restos de co-
ções n0375 eno380 de 2006, que ' défi-
mida e restos v'egetais estes requerimen-
tos não são aplicados. Essas diretrizes nem· ."critérios e procedimentos, para o

conStam das normas do Programa ' Nacio- lIso'agrícola de lodos de esgoto gerados .
nal de Agricultura Orgânica ,do Departa- em estações de,tratamento de esgoto sa-
mento de Agricultura dos Estados Unidos nitáiio e sells prodlltos d~rivados': Esta
(USDA / NQP) que são alinhadas com nor- resolução indica no Anexo I os (1 1 ) pro-
mas da Agência de Proteção' Ambiental cessos de redução significativa de
(USEPA) para processos de compostagem patógenos e os (2) 'processos de redução
(EPA 40 CFR 503,1993 ·adicional de pató·genos. A compostagern
compQstagem de lodos 'de esgoto; NOP é um dos processos indicados e ,aparece
regulations p.7 - 8). As' regulamentações como a seguir: i1-d) compostagem ( ... ),
, costumam conter níveis de exigências e_ desde que a biomas~a
atinja uma tempe-
o
ratura mínima de 40 G, durante pelo me-
·restrições, e a-preocuPéLção maior é sem-
pre com o lodo de esgoto (biossólidos) e nos cinco dias, com ocorrência de um
resíduos Sólidos urbanos não segregados. pico de ,5 5°C, ao longo de quatro hora~

' Poulsen (20.03, p.75) cita que /na Dina- sucessivas durante este período; e (2-a)
com postagem confinada ou em leiras
Aspectos ambientais
# •

E prevê que (Art. JO) a caracterização do


..
aeradas (3 dias a 55°C no mínimo) · ou lodo de esgoto ou produto d~rivado a
com revolvimento das leiras (1 5 dias a ser aplicado ,deve incluir os seguintes
55°C no mínimo, com revolvimento me- aspectos:
cânico da leira durante pelo menos 5 dias
§ 50 Para a caracterização do lodo de
ao longo dos 15 do' processo). Estas
reso luções são . aplicáveis para esgoto ou produto ·derivado quanto à
com postagem de lodo de esgoto mas po- presença de agentes patogênicos e ind!~
dem ser um referencial para obtençã'o de cadores bacteriológicos, deverão ser de-
um composto sanitariamente seguro, in-
terminadas!., ,), e as concentrações de:
dependentemente do resíduo usado. Os
I - coliformes termotolerantes;
processos indicados são "necessários
para obtenção de lodos de esgoto ou pro- 11 - ovos viáveis de helm intos;
duto derivado", respectivamente, tipos' B
ou A, cpmo estipl,llado pela resolução,
111 " Salmonella ; e
como a segLlir (Tabela 5.4): IV - vírus entéri cos.

A reso lução 358 prevê ainda (Art ~ 1): Pode OCQrrer uma recontaminação de
patógenos durante a est ocagem ou ma-
§ ! Q.Decorridos 5.anos a partir da data nuseio do compos'to, o produto tinal.
de publicação desta Resolução, somente Estl!dos sobre a presença de Salmonella
será permitida a aplicação de lodo de . no composto apontam para este fato,
esgoto ou produto .derivado c/asse A, mas ao mesmo tempo não consideram
exceto sejam propostos novos critérios esta recolonização moti vo de maiores
ou limites baseados em estudos de ava/;~ pteocupações, já que não· ati nge 'conta-
ação de risco e dados epidemiológicos gens elevadas e o produto será aplicado
nacionais, que demonstrem a segurança a-o so lo. AIg'umas práticas simples evi-
do uso do lodo de esgoto Classe B. tam qúe esta contaminação ocorra como
. I

Tabela 5.4 - Classes de lodo de esgoto ou produto derivado - agentes patogênicos.


Tipo de lodo de esgoto ou
Concentração de patógenos
produto derivado .
Coliformes Termotolerantes <10 3 NMP / g de ST
Ovos viáveis de helmintos < 0,25 ovo / g de ST
A Salmonella ausência em 10 g de .ST
Vírus < 0,25 UFP ou UFF / g d~ ST

Coliformes Termotolerantes <10 6 NMP / g de ST


B
Ovos viáveis de helmintos < 10 ovos / g de ST

ST: Sólidos Totais; NMP: Número Mais Provável; UFF: Unidade Formadora de Foco;
UFP: Unidade Formadora de Placa.
Compostagem - ciência e prática para a gestão de resít(uos orqânicos


a não utilização ,das mesmas ferramentas mente nutrientes, mas. que em concen-
e máquinas para a manipula~ão de resí- trações e disponibilidade altas podem
duos in natura e do composto acabado ' causar doenças e mau funcionamento fi-
(EPSTEIN, 1997, p. 229-234). siológico. , Processos industriais, tais
como m,ineração . e metalurgia,
Os riscos para quem trabalha diretamente disponibilizam ess~s elementos em con-
na compostagem estão ligados a ingestão centrações elevadas para o ambiente po-
acidental via uso de cigarros ou comida dendo ocasionar contaminações de solo.
durante os trabalhos. O potencial de COA- O uso de agrotóxicos e ad.ubos industri-
iaminação é màior no momento de des- alizados também são fontes de metais
carga e manipulação dos resíduos que ' pesados para o ambiente.
chegam ao pátio de compostagem. Equi-
pamentos individuais de proteção sim- A compostagem é reconhecidamente
ples como' luvas e máscaras.para pó são, uma .maneira de se reduzir a disponibili-
em ger,al, suficientes. Práticas higiênicas dade de metais pesados presentes nos
devem ser adotadas, como a lavagem das resíduos orgânicos, especialmente lodos
mãos, não comer e fumar no pátio de de esgoto e Ol,Jtros típos de lodos indus-
compostagem. Práticas preventivas de triais, que f>erão utilizados na agricultu-
controle de poeira são" recomendadas. ra. A ?~mpostagem não elimina esses
Estudos apontam para um risco baixo
para os trabalhadores, mas este risco será
maior quando' tivermos lodo de esgoto
-
elementos, tão pouco os perde de manei-
ra significativa para o ambiente, mas di-
minui a possibilidçde desses metais pesa-
(EPSTEIN, 1997, p. 213-237). dos ficarem disponíveis no solo para ex-
tracão
• ...I
pelas plantas ou para lixiviacão

.
5.7 Efeitos sobre metais para águas subterrâneas. Este efeito é
,., pesados devido a forte capacidade das substânci-
O termo metal pesado refere-se a ele- as húmicas (ácidos húmicos e fúlvicos),
mentos químicos, metais e semi-metais, presentes no composto, formarem
que podem em determ,inada condiç.ão ou quelatos ou, .simplesmente, adsorverem
circunstância oferecer riscos à saúde e esses metais deixando-os indisponíveis
ao meio ambiente. Estes elementos (BAIRD, 2002) . Epstein (1997,p. 152)
ocorrem em pequenas quant!dades na cita em seus trabalhos com leiras de
crost'a terrestre, por isso a nomenclatura com postagem que "menos dt:: 2% do to-
mais atual, de·signá-Ios de e(ementos tra- tal de metais foi lixiviado, sendo o níquel
çó. Alguns desses elementos traço de- o mais móvel e o chumbo o menos mó-
sen:penhalT) papéis importantes na fisio- vel". É importante ressaltar que a dispo-
logia de vegetais e animais, incluindo o nibilidade desses metais é fortemente in-
ser humano. Nesta condição são ch~­ fluenciada pelo. pH do meio, no caso o
mados de micrpnutrientes, ou simples- solo quando o composto é aplicado na
Aspectos ambientais

agricultura. Meios ácidos aumentam a remover esses metais pesados do mate-


·disponibilidade da g~ande maioria desses rial orgâ.,ico uma vez quê tenham sido
metais pesados, mesmo na pres'ilnça de misturados. A única solução para preve-
" matéria orgânica. Além disso, a legisla- nir acontaminação por metais é, portan-
ção ' ambiental par1l uso de piossólidos e to localizar a fonte de contaminação e
fertilizantes orgânicos considera o con- tomar ações para prevenir a contamina-
teúdo total de cada elemento metal pesa- ção na fonte (POULSEN, 2003).
do, como veremos adiante .. '
As prjnci(lais fontes de metais pesados
A presença de metais pesados no com-. são: fração não orgânica do lixo urbano,
posto vai depender da contaminação POluição atmosférica (carros e iÂdústri-
existente na fonte geradora dos resíduos as), despejos industriais, agrotóxicos e
que entrarão na compostagem . Alguns alguns fertilizantes fosfatados. Estercos
metais pesados que podem ser encontra- de animais monogástr~os (suínos .e
dos no composto são especialmente im- aves) atualmente exibem. quantidades
I •

portantes porque podem acumular-se em elevadas de Cu e Zn pelo fato das rações


• plantas e partes de plantas de uso alimen- fornecidas a esses animais conterem até
tício como; cobre (Cu), zinco (Zn), cromo 250 mg/kg de Cu como CuS0 4 e até 80
(Cr), mercúrio (Hg~, cádmio (Cd), chumbo mg/kg de Zn como ZnS0 4 • "O lodo de
(Pb), níquel (Ni), e arsênio (As) . Alguns esgoto estritamente urbano possui nor-
deles são tóxicos e carcinogênicos como malmente uma quantidàde baixa de me-
mostra a Tabela 5.5. tais pesados, mas quando despejos in-
dustriaise a água da chuva entram no
Isto quer. dizer que os metais presentes . sistema de captaçãç> do esgoto Urbano,
no material usado para fazer a este pode ter sua concentração de me-
com postagem irão também ser encontra- tais aumentada significativamente"
dos no composto pronto. Atualmente (BERTON, p. 259). A disponibilidade
não existe ·uma .maneira prática de se dos metais pesados no solo está relacio-

Tabela 5.5- Alguns metais e semimetais de importância ambiental {toxicidade


aguda para mamíferos) .
Símbolo químico Metal/Semi-metal e ligações I Toxicidade
'
As Ars~nio. t, c, p
Pb Chumbo pt
Cd Cádmio pt/t, c, p
Cu Cobre pt, p
Ni Níquel c, p
Hg Mercúrio mt
Zn Zinco p
1) mt = muito tóxico; t = tóxico; pt = pouco tóxico; c = carcinogênicO; p = geram resíduos perigosos·. em
plantas úteis.
Fonte: Schianetz (1999).
Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos

nada ao pH do solo_ O pH básico favore- munidaqe Econômica Européia, mas ul-


ce a disponibilidade dos metais, As, Mo trapassou os IimÍ1es de Cr, Ni, Pb, Zn e
/

e Se, mas em pH ácido um grupo maior ' Cu para 'a norma da Alemanha_ Os valo-
de metais pesados torna-se mais solú- res de metais pesados em ',l odo de esgo-
veis, Cd, Cu, Hg, Nj, Pb e Zn_ ' Alguns to encontrados seguiram o mesmo resul-
desses metais são microflutrientes vege- tado comparativo de conformidade, mas
tais, comumente presentes no,s solos apresentaram concentrações ,significati-
(Cu, Ni e Zn) é que desempenham fun- vamente mais elevadas dos metais pesa-
ções nas rotas metabólicas das plantas_ dos analisados_

Trabalhos de avaliação também demons- Estudos mais recentes sobre bs efeitos


tram que a com postagem de resíduos ur- do uso de composto de lixo urbano pro- ,
banos (lixo) não segregados na fonte em duzido -no Brasil sobre acumulação de
grandes cidades tendem a produzir um metais pesados, no solo e plantas cultiva-
composto com maior concentraç'ão de das apontam para níveis dentro dos limi-
metais pesados que processos semelhan- tes permitidos, sugerindo que os metais
tElS em pequenas cidades (JORDÃO et pesados provavelmente não serão o prin-
aL, 2006) _A segregação na fonte da fra- cipal limitante nas estimativas de aplica-
ção orgânica dos resíduos urbanos é uma ção em solo'S agrícolas _ Este mesmo es-
estratégia usual e eficaz_ Restos de comi- tudo mostra que os elementos mais rele-
da de resta~rantes ' e refeitórios podem ser vantes foram Cu e Pb pela acumulação
separados ainda na fonte, e seguirem na camada superficial do solo (q-5 cm);
para com postagem sem sofrer mistura e, Fe e Cu, em couve-flor, e Pb 'e Cu; em
com o resíduo urbano contaminado _ rabanete~ por terem suas concentrações
foliares auteradas significativamente de-
Apesar de haver a .contaminação por me- vido a aplicação do composto urbano
tais pesados no composto de resfduos (PEREZ et aL, 2007)_ No entanto, a
urbanos e lodo de esgoto, o conteúdo com postagem de resíduos urbanos or_iun-
desses metais raramente ultrapassa os dos de separação na fonte gerado-ra reduz
limites das "normas ambientais_ Azevedo
j . • ~
imensamente, ou elimina, ' tais riscos_ -A
et aL (1999) analisaram o conteúdo de Tabe,la 5_6 compara os resultados das
sete metais pesados do composto de re- análises de alguns compostos de' lixo ur- \
síduos urbanos processado na "usina de- banó produzidos em cidades brasileiras
com postagem" de Irajá/RJ' e confronta- com n()rmas de vários países _
ràm os resuhados com normas de diver-
sos países_ Neste trabalho o composto Estas normas nos EUA e Europa, e tam-
analisado ,estava em conformidade com bém no- Brasil, seguem dois focos: (1)
a regulamentação da EPA, França e Co- limitar o conteúdo do elemento no pro-

, Oes;'Itivada, ,',
Aspectos ambientais

duto final, ex. mg de metal pesado / Kg 206), "sugerem ser o nitrogênio o fator
de composto; (2) limitar a quantidade de mais limitante na definição de taxas e
elemento aplicada ao solo por ano, ex. frequências de aplicação de biossólidos
I<g de metal/ ha.ano. Além disso, inclu- em áreas agrícolas e florestais do que me-
em o monitoramento da concentração do
elemento no solo em fun.ção do tipo de
.
tais pesados".
'
Neste
compostagem de lodos de esgoto cumpre
ponto\ a

solo e pH e, também, limitam a 'aplicação um papel im~ortante estabílizando este


do composto ou i3iossólido a certas cul- material reduzindo a liberação de nitratos e
turas agrícolas como, pastagens, amônio via' aplicação no solo e com isso o
florestamento', ornamentais, restringindo risco d.e cóntaminação da água.
ou não permitindo a aplicação em horta- . ,

liças, frutíferas e grãos. Abaixo o quadro de limites máximos' de


concentração de metais pesados edita-
Estudos brasileiros" no Estado do dos na resolução CONAMA n0375/
Paraná, para regulamentação do uso de 2006 para lodos de esgoto ou produtos
biossólidos apontam para um limite má- derivados (biossólidos), Bem como a
ximo de 50 ton./ha (massa seca*) em . carga máxi'ma de aplicação no solo (Ta-
dez anós e exige monitoramento cons- belas 5:7 e 5.8). Esta resolução tam-
tante do acúmulo destes elementos no bém traz restrições quanto as culturas
biossólid~s, agrícolas. Já
solo .' No caso de um outr.o . o Ministério, da Agricultura
fator
\ .
de preocupacão ambienfal tem. sido
"
normatiza o limite máximo de
o exces~o d~ nitrogênio. Existe a '~ten- contaminates admitidos em fertilizantes
dência de controlar o volume de lodo a . or~ânicos pela Instrução Normativa 27
ser aplicado em função da capacidade de (2006), sendo esta regulamentação
assimilação ' de' nutrientes, principalmen- mais restrita (Tabela 5.9),
te ap eleme.nto nitrogênio" (ANDREOLl;
PEGORIN!, p, 291). Pesquisas têm indi- A regulamentação dos níveis toleráveis
cado que a preocupação ambient.al na de metais pesados vem .sendo constan-
aplicação de lodos de esgoto deve re- temente atualizada no Brasil, e as réstri-
, pousar no conteúdo e taxa de ções podem variar em diferentes esta-
mineralizaçãç do nitrogênio, devido aos dos. Há diferenças significativas tam-
riscos potenciais maiores na contaminação bém entre a legislação de países e blocos
do lençol freático por (litrato e eutrofização econômicos. Portanto, cabe aqui, ao lei-
de rios e lagos. Dados de pesquisas reuni- tor, buscar constante atualização das in-
dos por Matiazzo e Andrade (2000, 'p. formações sobre este assunto,
.
l1li Compostaqem - ciência e prática para a gestão de residuos orgânicos

Tabela 5,6 - Alguns elementos , químicos.em composto de lixo urbano produzidos


em cidades do Brasil comparados com limites intern~cionais regulamentados para
uso agrícola de biossólidos.

Fe(xl0~ Mn \ Cu Cd Co Cr Ni Pb
Origem'
mg kg- I matéria seca
Brasil b· 23,3 304 229 2,8 10,8 89,9 32 238,9
(13,7) (132) (226) (1,7) (4,9) (45, I) (27) (166,4)
Brasil 11-23 61-233 0,1-0,5 76-104 2Q-31 44-342
Brasil 103-572 72-2991 0,3-12,8 60-278 . 19-78 57-1272
Brasil 88-252 64-1970 0,7-4,5 33-133 17-38 44-274
USA 1500 39 1200 42Q . 300
1000- 750-
C.E. , 1750 20-40 300-400
1200
França 1000 15 1000 200 800
Alemanha 800 10 900 200 900
Holanda 75 1,25 75 30 100

• Quatro fontes de dados para o Brasil. b Média e desvio padrão entre Rarênteses <
Fonte: adaptado de Perez et aI., 2007 , .

Tabela 5.7 - Lodos de esgoto ou produto derivado -, concentração máxima permi- ,


tida de' substâncias in"orgânicas em biossólidos conforme Resolução CONAMA
n03 7 5/2006.

Substâncias inorgânicas Concentração máxima permitida no lodo de esgoto ou


produto derivado (mglkg, base seca)
Arsênio 41
Bário 1300
Cádmio 39 .
Chumbo I _ 3QO
Cobre 1500
Cromo 1000
Mercúrio 17
Molibdênio 50
Níquel 420
Selênio
Zinco
100
2800
. ,
Aspectos .ambientais

Tabela 5.8 - Cargas acumuladas teóricas permitidas de' substâncias inorgânicas


pela aplicação delodo 'de esgoto ou produto derivado em solos agrícolas conforme
a Resolução CONAMAno375/2Õ06,
\ Substâncias inorg~cas Carga acumulada teórica permitida de substâncias inorgânicas pela
palicaçio de lodo de esgoto ou produto derivado(kglha) ,
Arsênio 30
'Bário ' 265
Cádmio 4
Chumbo 41
Cobre 137
Cromo 15.4 •
Mercúrio 1,2
Molibdênio 13
Níquel 74
Selêpio 13
Zinco 445

Tabela 5.9 - Limites máximos de cont~minantes admitidos em fertilizantes orgâni-


cos, conforme a Instrução Normativa nO 27 /2006, do 'Mini~té(Ío da Agricultura
(Brasil).
'Substâncias inorgânicas Valor máximo admitido (mglkgbase seca)
Arsênio 20
Cádmio 3
Chumbo 150
Cromo 200
Mercúrio 1,0
Níquel 74
, I
Selênio ' , 13
Colifor~es termotQlerantes (NMPg de MS)I 1.000
Ovos viáveis de belmintos (n° em 4g sri 1,0
Sa1m0o/lla sp. Ausência em 10g de matéria seca

1 número mais provável por grama de matéria seca.


2 número por quatro gramas de sólidos totai~,
,

Tabela 5.10 - Redução da massa inicial de contaminantes orgânicos pres~ntes no


composto de resíduos urbanOs. Dinamarca.

Substância Redução na massa inicial presente


LAS . 100%
PAH 29%
NPE 98%
DEHP 83%
Fonte: Ramboll: 1998 apud f'oulsen, 2003 , l'
, "

Compostagem -'ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos

5.8 Degradação de 100% de degradação, no caso de Alquil


poluentes orgânicos Sulfonato Linear (EPSTEIN, 1997;
POULSE~, 20d3).
Algumas substâncias orgânicas conside-
r<;ldas poluentes podem ser degradad,as
Resíduos recebidos ' em sistemas de
total ou parcialmente durante a
com postagem podem .,estar contamina-,
compostàgem. Essas substâncias po- ,
dos com uma variedade de' substâncias
dem ser oriundas de resíduos de
orgânicas que são usadas igualmente em
agrotóxicos, constituin~es de combustí-
\ veis e lubrificantes, solventes e deter- residências e pr,oce's sos indUstriais, o

gentes ; por exemplo,. e podem estar pre- que é verificÇldo- com frequência

sentes nos resíduos orgânicos que serão (POULSEN, 2003). Alguns dos mais
\

recebidos para compostagem. A degra- , comuns poluentes orgânicos são : (1)


dação dessas substâncias ' vai d~pender ' Hidrocarbonetos Poliaromáticos (PAfI)
da ' eficiência do proce.sso , de que são constituintes de combustíveis,
compostagem, princ ipalmente, na capa- lubrificantes e produtos de combustão.
cidade do método ellJpregado quanto à (2) Hidrocarbonetos ,Alifáticos Clorados
manutenção de cond ições aeróbias e de (CAfI) encontrados em solventes. (3)
temperatura, o que está diretamente liga- Alc;uil Sulfonato Linear (LAS) que são
do à atividade microbiana. ,A composi- usados em ,detergentes. (4) Nonyl
ção e estrutura química da substância Ethoxylate (NPé) ' que são usados como
são dois fatores importantes 1')0 grau de emu/gators e desinfeta'ntes. (5) Fta/atos,
recalcitrância ,(não biodegradaçãoí e al- incluindo Di(2-Etil He~ano) rOEHP) que
gumas moléculas podem não ser trans- é usado extensivamente como um agen-
formadas no processo da com postagem te espessante em materiais plásJicos
ou mesmo impedir o, crescimento (PVC, por exemplo). Algumas dessas
microbiano (por ex . Ftalatos ori'undos de sybstâncias são comerovadamente
materiais de PVC). carcinogênicas. Quase todos esses ' quí-
micàs podem ser ' degradadus
A biodegradaç~o, a volatilização e á aerobicamente, a única .exceção ,são al-
fotólise são considerados o~ processos guns CAHs. Os CAH s 2, no entanto,
que' leva~ a redução das' quantidades são altamente voláteis e quantidades
dessas substânc ias orgânicas na massa significativas serão perdidas para a at-
do complosto que pode variar de 30% mf)sfera durante a compostageni. I

, ou menos, para' substâncias mais recalci-


trantes a degradação tais como , os A taxa de degradação micrbbiana das
Hidrocarbonetos, Poliaromáticos; ou até demais substâncias orgi,lnicas irá depene

2 São hidrocarbonetos clorados as peB' s e a~guns grupo~ de pesticida~ - ambos pouc~ voláteis,
Aspectos ambientais

der da temperatura e tipo de processo de segurança estarão relacionadas ao uso de


compostagem usado. Muitos pesquisa- ' equipamentos e a ergonomia. Primaria-
, dores têm investigado a degradação des- mente deve-se ul'ar proteção para os
ses poluentes durante a compostagem. olhos e ouvidos. Preocupações com a
A TabeLa 5.9 apresenta dados de degra- saúôe hUrl}ana em ' relação à
' I '

dação desses poluentes dura~te o pro- com postagem dep,e ndem tanto do indiví-
cesso de compostagem na Dinamarca duo como dos 'resíduos , a serem
que tra1;a lodo de esgoto, palha e resídu- ' compostados. Normalmente medidas sa-
\
os de jardim - dados são referentes a nitárias comuns são suficientes (lavar as
degradação durante 3;3 semanas. mãos antes de comer, não tocar QS olhos,
etc.),. Lodos "de esgoto pódem conter
A degradação de DEHP é um pouco mais causadores de doenças aumentando o
lenta, más ainda significativa, no entanto, risco de contágio na fase de manipulação
os PAH's sã!) mais difíceis de remover, do mat~riàl inicial. eis equipamentos de
Em geral a degra~ação dessas substânci- "' indicados são
proteção individual básicos
as irá continuar após o término do pro- uso de luvas, botas de cano alto, másca- ''o'

cesso de com postagem, mas normalmen- ra contra ~ó e poeira, óculos de proteção,


te a taxas mais lentas. É esperado' que macacão de ma,n gas compridas (proteção
substâncias orgânicas presentes no com- so~ar) , ou curtas e bonés tip'o "árabe"
posto aplicado em solos ágrícolas devem (proteção solar). É sempre recomendável
desaparecer com o tel)lpo em 'função do consultar um técnico de segurança para
processo de degradação microbiológica. avaliar as situações espec,ífical:i:
/,

5.9 Segurança e Saúde Alguns indivíduos podem ser sensíveis a


ocupacional . . alguns organismos a grande, quantidade
de fungos presentes' na ' com postagem
o principal problema 'em relação a saúde
podem causar reações alérgicas em indi-
ocupacionál no trabalho com a
víduos sensíveis, mes!110 assim a maioria
com postagem é, a presença de
das pessoas não tem problemas. Precau-
microrganimos e' poeira no ar. Algun's
ções simples como máscara para poeira e
fungos têm mostrado ter efeitos adversos
meia-má'scara respiradore~ com filtro
ao sistema respiratório. " En:-tissões de mi-
trocável podem ajudar limitando a exposi-
crorganismos e voe's' tem sido detecta-
ção (EPSTEIN, 1997). ' Uma específica
das em várias unidades de com'postagem
preocupação que tem sido docu91entada
mas eles não são em g~ral um sério pro-
em unidades de compostagem é causada
blema na grande maioria dos casos
pero fungo Aspergi//us fumigatus . . Este
(POULSEN, 2003). Preocupações com

3 Compostos Orgânicos Voláteis (VOC, na abreviação em inglês),

..
IIIL Cdmpostagem - cIência e prática para 'a gestaõ de resíduos orgânicos

, fungo está naturalmente presente na ma-


téria orgânica em decomposição e irá co-
Ionizar qualquer material manuseado na
unidade de compostagem, Esporos do
fungo podem causar problema,s para al-
guns trapalhadores, particularmente se as
poeiras são inalada~, Aspergillus é tam-
bém um organismo oportunista, Portan-
to , ele pode ir:lfectat indivíduos c,o m pro-
blemas de saúde pré-existente , Fraco sis-
tema imunológico ou tomando medica-
ção que afeta, Este ponto deve ser consi-
, derado na contratação de pessoal e na
escolha da 'área,

I ,

, -
,
Projeto do pátio dé cO,mpostagem

Caio de Teves Inácio


Paul Hichard Momsen Miller
6.1 Introdução
• O projeto do pátio de compostagem será A Figura 6.1 mostra ~ um diagrama de
determinado por aspectos referentes à - operações. em pátiosáe compostagem ,
escolha da local e aspectos de preven- . projetados para receber resíduos de co-
,ção ~ controle ambiental. Car,acterísticas mida acondicionados em bombonas e
do local escolhido (ou determinado) são: material volumoso (serragem, podas e
área disponível, relevo, drenagem; solo, palhas). Este é um exemplo de represen-
variação do lençol freático, proximidade tação' das operações de um pátio de
de corpos d' água e áreas alpgadas, aces- compostagem baseado em leiras estáti-
I, sos e vizinhança. O controle da polui- cas, mas , que pC!de variar conforme o '
ção existe em relação , à coleta ,e trata- método empregado, os resíduos recebi-
mento do chorum~ (percolado da leira), dos e a escala de produção.
I '
, drenagem superficial (precipitação). , O
cultivo de cercas vivas é recomendado 6.2 Escolha do local
na minimização do efeito negativo da
A 10calizÇlção do pátio de compostagem
propagação eventual de odores fortes e
está relacionada (1) proximidade com as
barulho de máquinas na vizinhônca do
fontes de resíduos (2) requerimentos le-
pátio. Observa-se q~e ~ método'esCO"___
gais (amb'ientais e plano diretor) (3)
Ihido , influencia no planejamen1;oe na
ácessibilidade e área disponível.
escolha da área e vice versa em função
da movimentação de máquinas para: o
A , implantação de um:' pátio de
revolvim!'lnto de leiras ou não; espaço
compostagem surge da necessidade de
total necessário, o uso de aeradores, for-
se tratar e dar uma destinação adequada
ma e tipo de acondicionamento dos resí-
aos resíduosqrgânicos. Sendo assim, a
duos, características dos resíduos e etc.
I p,roximidade da á~ea de compostagem
Re<;:ursos com» ene~gia elétrica e água
com as fontes geradoras de resíduos
serão mais ou menos ,importantes ,de- I
será sempre levada em conta e influenci-
pendendo do método empreendido.
ará a viabilidade econômica do projeto.

\, ( .
Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos

Área de recebimen to Pátio de Compo~agem - pro~ção Galpão

Recebimento de Construção da;; leiras


restos vegetais e de com postagem
serragem a granel. (Ieir~ estáticas sem
revolvimento) Pene;ramento
-mata-iais em camadas eesfocagem
-inoculação biológica do produto
Recebimento ,e -cobertura com grama final.
Pesagem do resíduo.
org ânico em \
hnmhnn::!o!õ:.

+ - _.----------,
~~
Monitoramento e
controle de
parâmetros
qulmicCE , físicos e
efluentes. biológicos.
-Recirru laça0
de parte do
percolado. ~

Figura 6.1 - Diagrama de operações em um pátio de compostage.m de resíduos orgânicos oriundos de coleta
, seletiva Iseparação, na fontel e emprego do m.é todo de leiras estáticas.

o transpo.rte de resíduo.s o.rgânico.s a len- específicas/para efetiva pro.teção. desses


gas distâncias apresenta sempre um cus- elemento.s na paisagem. Co.mo. não. exis-
to. elevado., até pelas características do. tem distâncias mínimas padrões, devem-
material, geralmente cem grande co.nteú c se pro.curar as info.rmações em cadi'l ór-
do. de água (umidade). Naturalmente,o.s gão. estadual eu municipal. No. entanto.,
custes e as distâncias ideais ficam deve-se o.bservar que o. código. flo.restal
relativizado.s para cada caso. e finalidade Já prevê a preservação. de mata ciliar e
do. proj~to.. Do. pente de vista de impacto. estabe'lece as Áreas de Preservação. Per-
de vizinhança a esco.lha do. Io.cal deve manente pro.ib'indo. a qualquer tipo. de
levar em co.nta a influência do. fluxo. de edificação. na faixa co.mpreendida. Po.de-
caminhões. É desejável que a 100c?lização. . se estabelecer co.mo. distânéia r.eco.men-
da área de co.mP9stagem favo.reça tam- dável m\niina 30 eu 50 m de águas su-
bém o. uso. e/eu comercialização. do. pro.- perficiais e alagadiço.s co.mo. fo.rma pre-
duto. final. Neste caso., o. co.mpo.sto. o.rgâ- ventiva. Porém, temes o. exemplo. do.' Es-
nico. é um produto. cem valer agregado. e tado. ·do. Paraná cujo. órgão. ambiental exi-
seu transpo.rte terá custo. co.mparativa .. ge o. mínimo. de 200 m.be fato., a deter-
mente meno.r, mas ainda assim relevante. minação. de distâncias é arbitrária e· não.
garante real pro.teção. ao.s co.rpo.s d' água,
Os requeri mentes legais dizem respeito.
principalmente à pro.teção. ao.s recurso.s
.cem
mas são. diretrizes ado.tadas para se lidar
áreas co.nsideradas sensíveis. Os
hídricos co.mo.: lenço.l freático., águas su- pro.jeto.s de drenagem e "o.rdenamento."
perficiais e áreas permanentemente da águas superficiais (precipitação.
alagadas. O órgão. ambiental irá co.nsi- pluvio.métrica) e co.leta de chorume são. .
derar distância.s mínimas ,e/eu medidas mais efetives para o.co.ntro.le ambiental.
Projeto do pátio de éompostaqem

A distância adequada de áreas sensíveis 6.3 Solo e drenagem do


ambientalmente ou urbaniz~das pode terreno
depender também do tipo de resíduo que
As características da área escolhida relâ- ;
entrará ha compostagem, ,quando será .
tivas ao solo e a drenagem devem permi-
considerado , o potencial de contamina-
tir a operação d,e veículos carregados,
çãoatraçã.o de vetores e/ou de emissão
tratores, e adequada drenagem. Muito
de odores' desagradáveis em qualquer
importa~te obser,v ar a variação do nível
et~pa do processo. Novamente, o méto-
. dolenç~1 freático durarlte o período de, -
do escolhido e a eficiência no
chuvas p'ara evitar áreas com' solos de
g'eretÍciamento do processo de
difícil drenagem, com tendência a formar
compostagemserão determinantes para
poças e lama, e débeis para sustentação
minimizar esses problemas potenciais e
de veículos e máquinas. Neste sentido o
. dar vi~bilidade à localização do proj~to.
relevo deve favorecer 'o ordenamento
A área necessária para as ,operações e
. das águas superficiais, sendo preferenci-
armazenamento dependerá do métodó
alm'ente com pequeno declive. Uma bo'a
empreendido. Alguns métodos necessi-
drenagem ' é essencial para o pátio de
tam de maior'e" outros, de menor área
compostagem, por isso a camada superi-
disponível. Por outro lado, uns são mais
or do solo deve ter drenagem de moder?C
dependentes de r~qursos como energia
da a boa (Tabela 6.1). A drenagem in-
, elétrica e fornecimento de água.
suficiente desta camada favorece a for-
I mação ' de Çltoleiros, a. sat,u ração das
Pátios de com postagem podem ser im-
leiras de com postagem ,e a geração de
plantados em área rurais·, industriais o~
chorume/efluente, Situações críticas po-
urbanas. A primeira adequação a ser
dem impedir o trânsito de veículos e má-
investigada é o enqua~ramento ao Plaho
quif)as levando.a interrupçã"o das' opera-
Diretor no caso de áreas urbanas e 'in-
, ções . A r~colocação (aterro) de cascalho
dustriais. O 'Iicenciamento ambie~tal de-
ou areia 'ou argila deve ser incluída nas
, pende dessa adequação documentada.
operações previstas~ Os pátios :devem
No caso de propriedades agrícolas, a
' ter inclinação de 2-4% para evitar o
com postagem dos resíduos gerados na'
acúmulo de água e form~ção de poças.
propriedade~ como restos de cultura e
Canais de drenag~m sl!perficial (no solo);
estercos, em geral não nepessita
auxiliam na' prevenção peste problema,
licenciamento ambiental. Mas se a área
O desnível é fund~'mental na coleta da
de com postagem se propuser a receber
água da chuva. Pode-usar materiais
resíduos oriundos de fora. da proprieda-
co~o folhas secas e s9/ragem como ma-
de para a compostagem, como resíduos
terial absor~ente ,- que depois vai ser
. prgânicos urbanos, 'dep~ndendo da
compostado. Os de'sf1íveis ' devem ser
quantidade recebida, o ,órgão -ambiental
cuidadosos para .evitar erosão ~ídrica - ,
deverá ser consultado.
provocada pelo escorrimento da água da
Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos

chuva. Leiras devem ser p.aralelas ao da leira de compostagem inoculando o


desnível para evitar contenção de água. material com microrgani~mos. · Esta con-
O acesso para os veículos de carg\:i deve tribuição não deve ser ignorada . São co-
ser firme' - escória, lajotas~ semi-pavi- m!Jns relatos de leiras 'com processo re-
mentado. tardado após a colocação de aterros iner-
tes., A pavimentação resolve o problema
A pavimentação do solo da área de
da lama e pode ser. necessária em solos
compostagem . deve ser evitada. A
bem drenados (arenosos) com lençol
impermeabilidaqe do pavimento favorece
freático alto (1,20 fl 1,50 m)., mas au-
a saturação de umidade da parte inferior
m~nta a quantidade de chorume a ser
das leiras, aumentando a percolação de
recolhido e tratado. Alguns manuais se
chorume, e prejudicando a aeração da
equivocam colocando como norma a
leira. "Solos com drenagem b?a ou mode-
"impermeabilização" de áreas de
rada são satisfatórios. Um aterro. de 10
compostagem. Esta necessidade não é
em de cascalho ou areia compa<i:tada funci-
real 'já que o chorume biodegradável per-
ona bem quando as condições naturàis
de seu ~otencial poluidor' (medidos pela •
não são satisfatórias" (RYNK, 1992).
DBO e 000) quando percola pela cama-

Uma leira de com postagem e a camada. da superficial do · . solo. A

superficial do solo e.stão em interação impermeabilização como forma de contro-

constante. Os pátios. de com postagem le de poluição só se justifica se o material


de origem é comprovadamente fo~te de
têm em seu solo uma fonte de
microorganismos para o processo. O metais ' pesados ou outros poluentes que

solo interage com a camada mais inferior possam contaminar o solo.

Tabela 6.1- Ordem de grandeza da variaçã~ de Kf (coeficiente de permeabilidade). em


função da granulometria.

Tipo
SaibrQ lO" - 10'2 m/s
Areia 10,3 _ 10,5 rn/s '
Areia ·fina (si ltosa, argi losa) 10,6 _ 10,9 IJlfs

Argi la < 10,9 mls


Esses valores de coeficiente K, são classificados conforme segue:
Fortemente permeáveis > 10'4 mls
Permeáveis J O" - 10,6 m/s .
Fracamente permeáve.is J 0,6 - 10,9 m/s
Muito pouco permeáveis > 10,9 mls .
Na prática uma 'argila com K, da ordem de 10,,0 m/s é considerada "impermeável". Para efeito de
comparação, o concreto sem fissuras tem coeficiente K, da ordem de 10,,4 m/s.

Fonte: Schianetz , 1999.


Projeto do pátio de compostagem

6.4 Tratamento de coleta único onde chorume e águas da


efluentes chuva se misturam, formando um único
efluente. O primeiro exige soluções es-
o projeto de u'm pátio deco~p()stagem
, ~ecíficas que serão mostradas adiante e
deve prever a coleta e o tratamento do
o segundo ,é mais simples mas resulta
chorume que é o per~olado das leiras para
num volume maior de efluente a ser tra-
evitar (1) dános ambientais as águas su-
tado .- Caberá ao projetista adequar à so-
perficiais próximas e (2) o acúmulo de
lução, da arenageni superficial e da c9le-
líquido na áre'a decompostagem,
ta do chorume, ao terreno e as práticas
de com postagem que serão empregadas .
Três estratégias que devem ser persegui-
O, Quadro 7 resume algumas medidas
das pelos projetistas e gerentes de pátio
gerais para o controle ambiental de páti-
de compostagem:
os de compostagem. '
a.' adotar práticas e medidas para '
reduzir a produção de chorume; O tratamento do. efluente pode ser feito
adaptando-se' sistemas de tratamenw lo-
b. adotar soluções para que o cai de esgoto doméstico, isto é, sistemas
chorume coletado seja de baixa vazão, projetados para tralar
prioritariamente recirculado nas efluent~s com alto conteúdo de matéria-
leiras; orgânica e com certa quantidade de p81tí-
cuias sólidas. Cada projetista escolherá o
r.;. preparar o chorume excedente,
sistema e a tecnologia que for convenien-
rico em nutrientes, para que pos-
te e adequado ao seu empreendime.nto .
sa ser disposto em solo agrkola
A solução escolhida deverá senlPre per- \
(na fo'rma de irrigação direta no
mirir o monitoramento no ponto, de lança-
solo, por ex.).
I mento do eflLiente tratadp e o cumprimen-
to dos parâmetros exigidos pelas normas
Formas de drenagem e ordenamento do
ambientais. O projeto de tratamento do '
escorriment.o superficial 'da chuva de ,áre-
as adjacentes são importantes para evi- efluente de uma unidade d~
tar' a mistura e consequente aumento na compostagem deve contar com dois ' da-
quantidade de efluente a ser coletado e dos primários: (1) análise da OBO do
tratado influenciando o efluente em mgO/I, e (2) o cálculo da
dimensionamento do sistema de trata- ,vazão diária máxima do efluenté em l/dia.
/ mento . ,Desta forma, duas soluções po- Este dois dados permitem o cálculo da
dem ser ,escolhidas: (1) projetar' dois sis- carga orgânica, em kg/dia, do efluente. A .
temas independentes de coleta, um para carga ' orgânica representa ' o efetivo po-
o perco lado das leiras e outro para a tencial de ilJlPacto do efluente (gerado na
água da chuva, onde teremos dois unidade) em termos de demanda de oxi-
efluentes distintos; ou (2) um sistemà de gênio no corpo receptor. O projetista
Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos, orgânicos

Quadro 6 - Medidas gerais de control() ambiental recomendadas.

I.Mantenha as leiras abaixo da humidade máxima recomendada (65%) para


minimizar o chorume. Misture materiais para elevar a relação ç/N e evitar a perda
de nitrogênio.
Comentários nossos: o importante nas leiras estáticas é que as temperaturas se
mantenham altas - ou seja, que o processo tenha saúde. Essas foncionam como um
"motor" que ativa o fluxo e ar e calor, oxigenado a leira e expulsando o vapor
, d'água ellJ excesso. o uso de serragem QU materiais similares qjuda 'a controlar a
qitantidade de água livre, pois esses materiais tel!( forte poder de ablorção e não
comprometem a estrutura da leira. - '

. 2. Não permita que o escorrimento superficial da área de com~ostagerp e de


arniazenamento entre em contato direto com as águas superficiais. Muito do
potencial poluidor (que ameaça lagos, rios, alagados) pode ser efetivamente tratado
pelo solo. Áreas de infiltra~ão (pastagens e gramados) e simples bacias de
f " .' "
armazenagem para uso poster ior na irrigação de lavouras. ,

, 3. Desvie a ágiJa superficiàl da chuva das áreas de compo;tagem e armazenagem

4. Observe as distâncias recomendadas para água superficial ~ lençol freático.

5. Armazene os resíduos e o'produto final longe de águas superficia is e caminhos


de drenagem. Resíduos úmidos a granel d~vem ser armazenados cobertos e sobre
superficies imperrileáveis com coleta do chorume.

Comentários nossos: Para r.esíduos de comIda coldados de restaurantes, por


exemplo, uma opção recomendada é o acondi cionamento em bombonas, como visto
anteriormente,n os casos de aplicação da reciclagem orgânica em campus
universitários e ml!!lldpios, '

Fonte:adaptado de Rynk, 1992.


deve consultar as regulamentações para de e pode resultar na necessidade de irri-


tratamento e lançamento de efluentes do gação das leiras - que não receber-ão
seu Est~do junto ao órgão ambiental. mais água da chuva.
,
Áreas, Icom cobertu-
ra, para proteção da chuva, são mais inte-
Não há necessidade de realizar a ressantes para armazenar o composto.
compostagem em áreas cobertas. Isso pronto, que será peneirado e/óu embala-
pode ser feito, mas e'leva o custo de im- do. No e[ltanto, citamos anteriormente
plantação de pátios com maiqr capacida- exemplos de com postagem de lodo de
Pro/et~ do pdtio de compostagem

esgoto em áreas cobertas que preveem o a região. Normalmente usam-se valores


encharcamento 'do material que tem alta de precipitação máxima em 24 horas com
umidade e estrutura de baixa porosidade. tempo çle retorno de, 5 anos para cálculo
do sistema de ·toleta do efluente, mas
Para ' projetar o sistema de drenagem e sugere-se consulta às normas específicas
remoção de percolado se faz necessário do órgão ambiental. Uma solução em uso
. o uso de dados referenciais de vazão de é a coleta apenas o percolado das leiras
percola~o para o método de atrav'és de uma "bacia individual". Desta
.compostagem empregado, isto é, dados forma, reduzem-se a vazão e o volume de
obtidos em estudos experimentais ou efluente a ser tratado e,
obtidos a partir de unidades e consequentem~nte, as dimensões. do sis-
com postagem em funcionamento. As ' tema de captação e tratamento.
características dos resíduos utilizados
também influenciam a geração de ' A capacidade instalada do sistema de
percolado, por ex., leiras com alta pro- tratamento deve prever o vólume de
porção de restos 'd e comida e pouco mÇl- efluente da Javagem dos co~ten!ores de _
terial volumoso (palhas ou serragem) ge-. acondicionafT\ento. e transporte dos resí-
• o j

ram mais chorume. Para o método de duos orgânicos, que podem ser
leiras estáticas com aeração natural (mé- bombonas, contêiner e outro):> tipos. Se
todo DFSC) estudos resultaram em da- a área disponível permitir, deve-se fazer
dos referenciais para geração de uma previsão para ampliação da c.apaci-
percolado, mostrados no Tabela 6.2. A dade de tratamento.
leira monitorada , com 36 m 3 (20 m 2 de
base), . forneceu 1.391 litros de Uma das melhores opções para
perco lado num 'período de 16 semanas. gerenciamento do perco lado da leira de
compostagem pode ser a recirculação du-
o o A coleta do percolado da leira pode ser rante a fase termofílica. A Coleta e aplica-
feita em conjunto com a água dá chuva, o ção do percolado nas leiras pode benefici-
que significa somar a vazão de percolado ar o processo de biodegradação e, tam-
prevista a estimativa de precipitação para bém, auxiliar na manutenção' da umidade

Tab~la 6.2 - Vazão do percolado das )eiras estaticas com aeração natural.
Com postagem de restos de cOmida, cama de biotério, folhas secas e cortes de
grama. Campus UFSC. Florianópolis 2002.

Equivalente para uma leira de 36m' (dimensões em


Descrição Vazão (por rn' de leira)
. metros IOx3xl ,2)
Perco lado 0,41 litros/dia 8,2 litros/leira
Valor para cálcuLo
0,5 litros/dia 10 litros /Ieira
(sugerido)
Compostagem - ciência e prJtica para a gestão de resíduos orgânicos

adequada em períodos secos ou para 6.5 Controle tecnológico


umidecer rl)ateriais éomo palhas e serra-
A seguir detalhamos uma sugestão de
I gens, por exemplo. Este l,íquido possui
um plano de controle tecnológico simpli-
nutrientes e uma alta carga orgânica,
ficado. Este item compõe as exigências
biodegradável que será consumida pelos
previstas na Instrução Técnica do órgão
microrganismos termofílicos. A aplicação
ambiental do Rio de Janerio (lEMA) para
controlada do percolado em leiras
apresentação de projetos unidades de
termofílicas (preferencialmente > 60°C)
composta_gem para ' licenciamento. Em
resultará também na evaporação da água
cada caso, o órgão ambiental local deve
e em uma certa redução da 't emperatura
ser consultado.
no momento da aplicação, A
operacionalização de um sistema -de
=> Plano de monitoramento da qualidade
recirculação de perco lado de leiras de
do composto:
çompostagem deverá ser estudado caso
a caso, pois a quantidade e frequência de • Análise visual diária . • '
aplicação dependerá da capacidade de re-
tenção de água da leira, que poderá variar • Teste de maturação: 8 vasos de
c'onforme ·os · , tipos de resíduàs, . 200 ml de composto (amostra com-
porosidade çla .mistura, temperatura: e ex- posta) com mudas de alface em ob-
posição à chuva (clima). Deve-se ter cu i- servação por 7 dias. Este teste será
d~do, ou mesmo evitar, a aspersão do realizado , por lote formado (mais de
percolado ~rmazenado o que pode gerÇlr uma leira).
odores. O sistema ·de recircuração deve ·
• Análise dos componen,t es: análise
ser projetado para infiltrar o percolado
em laboratório (terceiros) da relação
nas leiras, de preferência logo abaixo da
CLN, umidade, nitrogênio, fósforo e
cobertura de palha.
, \.
potássio. Frequência: semestral.'

Devido ao conteúdo de N, P e K, que • Registro : planilha de controle de


são macronutrientes para plantas, o qualidade.
percolado tem .potencial para ser aplica-
do ao solo agrícola como fertilizante lí- - => Plano de monitoramento da qualidade
quido. Neste caso, deve-se sempre c,o n- das coleções hídricas superficiais:
siderar a necessidade análises comple-
mentares para caracterização do • Análise laboratorial dos
percolado quanto ao conteúdo desses parâmetros de DBO e sólidos
nutrientes e de possíveis contaminantes· sedimentáveis.
biológicos ou metais 'pesados. Esta prá-
• Periodicidade:
tica depende, também" de recomenda-
ções técnicas agronômicas para cada a) Uma vez-ao final dos primeiros 30
tipo 'de solo e cultivo pretendido.
Projeto do pátio de compostaqem

dias de operação inicial. ° projeto "deve prever o plantio e formação


de barreira arbórea no perímetro do pátio
b) A cada 6 meses.
de com postagem para amenizar o
descolamento de poeira suspensa, a pro-
=:} Plano de monitoramento da qualidade
pagação de ruídos e eventuais odores
dos efluentes líquidos gerados "na unidade
oriundos dos resíduos. Também deve ser
avaliada a prevenção de incôf!lodos à vizi-
• Amostragem do efluente pré e pós '
nhança causados pe~a operação de máqui-
tratamento .
nas e transporte de material (Tabela 6.3).
• Análise laboratorial (terceiros) dos
parâmetros de DBO, nitrogênio total, Frequência e intensidade dos impactos
fósforo total e coliformes fecais. dependerão do método de compostagem
escolhida, do uso e tipo de maquinário ,
• Periodicidade : do tipo de resíduos e. o acondicionamento
. destes, e da qualidade do gerenciamento
a) Uma vez ao final dos primeiros
do processo . A emissão de odores fortes
30 (trinta) dias de operação inicial.
e desagradáveis em função do mau
b) A cada 6 (seis) mesés (em fun- gerenciamento do processo de

ção da sazonal idade característica da compostagem é sempre o fator de. maior


região). preocupação e impacto à vizinhança.

• Análise di~ria local: pH, tempera-


tura, cor e materiais flutuantes.

=:} Controle da, qualidade do corpo


d' água receptor :

• Análise laboratorial (terceiros) dos


parâmetros de DBO, nitrogênio total,
fósforo total, coliformes fecais e pH .

• Periodicidade:

a) Uma vez antes do início dps opera-


ções .

b) Uma vez após os 30 dias de ope-


ração inicial.

c) IA. cada 12 meses.


- ciência e de resíduos

Tabela 6.3 - Fontes d-os possíveis impactos à vizinhança em uma 'u nidade de
compostagem. Exemplo para uma unidade que utiliza o método de leiras estáticas
com aeração natural e capacidade para dez toneladas diárias de resíduos orgânicos.

Benefícios do composto orgânico


para 'uso agrícola

Caio de Teves Inácio


Paul Richard Momsen Miller

7.1 ~ntrodução'
, A compostagém tem c~mo pro'duto final ~ aumentar a estabilidad!'l do pH do
um material que pode ser beneficamente solo;
aplicado ao solo. O composto orgânico
tem como componentes matéria orgâni.- ~ melhorar a aproveitamento de fertili-
ca parcialmente estabilizada, substânci- zantes minerais; e
as húmicas e elementos minerais - nutri-
~ incremento da biodiversidade da
entes para as plantas; uma combinação
microbiota do · solo e supressão de
capaz de condicionar faveravelmente a
fitopatógenos.
fertilidade do solo/ para o plantio. O
composto é um material praticamente '
~ As doses usuais de áplicação do c~m­
homogêneo, de onde quase não se pode
distinguir os materiais de origem, de cor posto em solos agrícolas, principalmente

, marrom-escura a p'reta, com cheiro sua- na horticultura e fruticultura giram em


torno de 5 a 40 toneladas por hec~are,
ve típico, plástico a pressão 'dos dedos
quando úmido e bastante"friável. dependendo da recomendação agronô-
micá, O composto orgânico é um ótimo
Os benefícios mais relatados do uso do componente de substratos para produ-
composto no solo são: ção de mudas de hortaliças, frutíferas,
flores e éspécies arbóreas .. O uso do
~ ser fonte de matéria-orgânica e nutri-
composto pode substituir, quando apli-
entes (nitrogênio, fósforo, potássio, e
cado em tais doses elevadas, e por lon-
micro-nutrientes) ;
gos períodos, como ocorre nos sistemas

~ elevar a capacidade de troca de cátions de agricultura orgânica certificada, ou


(CTC) do solo, reduzindo as perdas por ser concomintante ao uso de fertilizantes
lixiviação; promove a formação de agre-. químicos, neste caso podendo aumentar
gados mais estáveis no solo, portanto, a eficiência na aplicação dos nutrientes
melhora a aeração e drenagem dos solos; solúveis presentes neste último (PEIXO
'. TO, 2005).
Compostagem ' ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos .

Com bem nos lembra Pei-


xoto (2005), a duração dos efeitos be-
disponível no composto imaturo para ob-
. ter energia e com isso imobilizar. para seu
néficos do composto orgânico no solo m~tabolismo o nitrogênio e fósforo, princi-
vai depender ge fatores relacionados a palmente, concorrendo com a absorção
influência 'do clima as conaições de solo, pelas raízes das plantas. Este fenômeno é
principalmente a temperatura do solo denominado imobilização microbiana de
que au~enta a taxa de mineralização da nutrientes e pode resultar em carência
. matéria orgânica, Alia-se a ísso intensi- nutricional das plantas, principalmente em
dade de precipitação, textura do solo, relação ao nitrogênio (N). Apesar do ma-
quantidade aplicada de composto, e da terial não ter mais uma composição que
cultura agrícola , félvoreça . a ação de microrganismos
termófilos, muitas vezes permanecem no
7.2 Estabilidade e . produto final celulose, hemicelulose e
maturidade do composto lignina remanescentes, que serão degrada-
A estabilidade do-composto é o primeiro das pela microbiota no solo. Há casos em
parâme~ro de qualidade importante para que o simples peneiramento do composto
o uso no solo, e esta estabilidade é prin- retira a fração desses materiais mais resis-
cipalmente relacionada à rel.açãq C/No tentes a decomposição, e, em geral, de
Os termos "estabilidade" ,e "maturida- granulometria maior, adequando a relação
de" são comumente usados como sinô- C/N do produto final peneirado. Por 'exem-
nimos, mas representam propriedades pio, serragem e cascas de árvore, restos
diferentes do composto, Estabilidade se de algumas culturas agrícolas que são im-
refere ao estágio de decomposição da portantes na montagem das leiras como
matéria orgânica e é função da atividade .componentes "estruturantes", mas podem
biplógica. Ma:uridade se refere a uma ter uma decomposição apenas parcial du-
condição organo-química a qual indica a rante o processo de compostagem.
presença ou ausência de ácidos orgâni-
cos fitotóxicos. Mas o termo "estabili- Outros parâmetros podem se'r analisados
dade" ainda pode aparecer para indicar para verificar o grau de estabilidade do
redução de patógenos ou redução de composto como pH, nitrogênio solúvel,
emissões de odores e de sólidos voláteis Corg/Norg e índice de C/N inicial e final.
(EPSTEIN, 1997, p.109). Em campo análises visuais e testes de
revolvimento para verificar a capacidade
Relação C/N acima de 20: 1 pode indicar de auto-aquecimento das leiras são em
que o composto não está estabHizado, ou geral suficientes para o gerenciamento das
seja, ainda vai sofrer forte ação de micror- leiras, mas dependem da experiência do
ganismos decompositores quando coloca- operador. Testes de germinação também
do no solo, Isto significa que os microrga- são uma ferramenta indicada para avaliar a
nismos do solo irão aproveitar o carbono maturidade do/composto orgânico.
Benefícios do composto orgânico para uso agrícola

7.3 Fonte de nutrientes


No composto a maior parte dos nutrien- A concentração de nutrientes pode variar
tes, especialmente nitrogênio (N), fósfo- conforme os materiais usados, inclusive
ro (P) e enxofre (S), está conservada na o Q1étodo utilizado. Kieh l (1985) súgeriu
forma orgânica (matéria orgânica) e na valores de nutrientes e relação C/N para
biomassa ,m icrobiana; uma pequena par- avaliação dos fertilizantes orgânicos (Ta-
te dos nutrientes já se encontram em bela 7.1). A Tabela 7 .2.apresenta a com-
estado mineral. -Então, a liberação d~s
posiçao química,média de um composto
nutrientes e consequente disponibilida- curado com 120 dias com boas caracte-
de para as plantas depende do processo
rísticas para uso como adubo. Cada to-
de decomposição biol,ógica no solo des-
nelada deste composto aplicada a um
ta matéria orgânica (mineralização). O
hectare de solo equivaleria a 71,6 kg de
potássio (K) não forma tais complexos
NPK (N + PP5 + KP), 34,9 kg de Ca,
org,ânicos e estará mai.s prontamente dis-
3,3 de Mg, 9,6 kg de S (TEIXEIRA et aI.,
ponível no solo. A elevada capacidade
2004). A Tabela 7.3 apresenta dados
de troca de cátions (CTC) .do composto .
de um composto com menor concentra-
orgânico, conferida pelas- substâncias
ção de nutrientes. Nestes casos, a quan-
húmicas principalmente, permite tam-
bém que os nutrientes fiquem e'm formas tidade de material 'vegetal ou serragem

trocáveis e sejam melhor aproveitados util izados podem ter influído na concen-

pelas raízes das plantas evitando perdas tração final dos nutrientes.
por lixiviação. Este efeito é especialmen-
Em termos de relação C/N, quando fala-
te importante para o potássio (K +), cál-
mos de produtos da com postagem de
cio (Ca ++ ) e magnésio (Mg ++ ) e nitrogê-
resíduos, valores abaixo de 1211 para
nio na forma de íon amônio NH 4 +.
compostos orgânicos são difíceis de se-
A disponibilidade de r)itrogênio no pri- rem alcançados na prática, já que geral-
meiro ano pode variar d~ 15 a 50% mente um processo de com postagem de
. após a incorporação ao solo (GASKELL resíduos adequado necessita de materi-
et aI., 2000; KIEHL, 1985; LOPES, ais de mais alta C/N (p.ex. aparas de
1998). No entanto, esta liberação mais madeira e palhas) que refletem na com~
gradual dos nutrientes reduzindo perdas
posição do produto final. Valores acima
no solo, por lixiviação ou volatilização
dé 18 até 22 ou 25 podem não ser
como ocorre com o nitrogênio quando ,
limitantes para o uso do composto na .
aplicado na forma de uréia. A aplicação
prática. Por exemplo, o composto pode
de compostos orgânicos deve ser feitá
todo ano'para aumentar a quántidade to- ser aplicado na superfíci~ do solo quan-
tal de nitrogênio orgânico no solo e o do ainda persistir materiais com muito
potencial de mineralização para susten- carbono no produto final, tais como as
tação da produtividade do plantio. 'aparas de rili'ldeira, estas geralmente ab-
Compostagem - ciência e prátíca para a gestão de resíduos orgánícos

sorvem substâncias húmicas formadas mudas de hortaliças, vemos que a simples


durante a compostagem adquirindo C9r Gompostagem de aparas de grama também
escura e quando na superfície do solo gera um substrato orgânico em potencial. .
perdem a cor e também os nutrientes
entram no solo. Se esse material for Por enquanto falamos apenas de
incorporado o solo absorverá os ácidos macro"n utrientes e nutrientes sec"undári-
húmicos das aparas, e esse carbono en- os, mas o composto orgânico é fonte
tra em novo ciclo de decomposição, de também de · micronutrientes. Os
fato imobilizando nutrientes, mas por micronutrientes 1 são essenciais às plan- "
um' período previsível. Por outro lado, a tas, embora, em geral, a quantidade ne-
relação C/N mais alta favorece uma mai - cessária seja menor para o metabolismos
or Çltividade microbiana no solo e traz vegetal quando comparado com os cha-
benefícios para estrutura do solo e for- mados macronutrientes. Tais elementos
mação da matéria orgânica do solo, o autuam no metabolismo vegetal, especi-
que se reflete na mélhoria. dos indicado- almente na ativação de determinadas
res de qualidade do solá (Tabela 7.4) e enzimas (LOPES, 1998). Alguns são
manutenção da fertilidade ao longo do vitais para processos biológjcos como o
tempo (GASKELL et aI., 2000; Molibdênio para a fixação biológica de
MITCHELL, 2000). nitrogênio (FBN) pela associação '
Bizóbio-Leguminosas. A falta de qual-
Mesmo a compostagem de resíduos vege-
quer micronutriente no solo pode limitar
tais, sem a adição de estercos, tem poten-
o crescimento vegetal. A quantidade de
cial para gerar adubos orgânicos e
micronutrientes no solo varia conforme
substratos de boa qualidade, A produção
os minerais de origem, processos de for-
de mudas de hortaliças, alface, beterraba e
mação do solo e adição de matéria orgâ-
. tomate, pode ser feita com a substituição
nica. Esta última numá clara função de
do substrato comercial por composto or-
ciclagem qe nutrientes para o solo. So-
gânico de Crotalária juncea ê Capim
los arenosos tendem a baixos teores de
Napier, coJl1o demonstrado no trabalho de
certos micronutriéntes o que torna mais
Leal et aI. (2007). A Tabela 7.5 traz os
relevante a aplicação de adubos orgâni-
valores de nutrientes dos diferentes trata-
cos a estes tipos de solos. No entanto,
mentos ; sendo ·o · 66C33N (6~9/o
deve-se considerar que os teores de
Crotalária e 33% Napier) correspondente
micronutrientes em resíduos orgânicos
ao melhor tratamento para produção de
vai ser sempre muito variável, e isso vai
mudas das hortaliças. Comparando as ca-
se refletir no composto preparado; não
racterísticas do composto de aparas de
sendo possível esperar valores médios
grama, dados daTabela 7.6, e os valores
. alcançados pela com postagem de de Eeferência. Análises laboratoriais são

Crotalária com Napier para produçã'o de nesse caso imprescindíveis :


Benefícios do composto orgânico para uso agrícola

Tabela 7.1 - Escala' de valores sugerida para fertilizantes orgânicos.


Níveis
Nutriente
baixo médio alto
Fósforo (P205) < 0,5% , Entre 0,5 e 1,5% > 1,5%
. /
Potássio (K20) <0,5% Entre 0,5 e I ,5~o > 1,5%
Cálcio <1,5% Entre 1,5e 3,0% >3,0%
Grau de estabilização indesejável bom ótimo
Relação CIN >1811 12 el811 8 - 1211

Fonte: Kiehl, 1985.

Tabela 7.2 - Características do composto orgânico pronto (120 dias) produzipo em


um pátio de compostagem em Belém/PA. Composição química média. 2004.

N P20S DO Ca Mg Fe S
Composto orgânico , %
estabilizado de resíduos 3,55 .12,3 1,18 3,49 0,33 0,62 0,9

, orgânicos, .capim e
B Cu Mn Zn
caroço de açaí. M.O CIN pH
mg/kg

Fonte: Teixeira et ai. (2004).


213
..
149 737 267 69,25% II 6,42

Tabela 7.3 - Características do composto orgânico produzid? em um pátio de


compostagem em Garopaba/SÇ. Composição ql,límica de uma amostra com umidade
de 38,67%. 2003.
N PzOs KzO Ca Mg Fe s
Composto orgânico de %
restos orgânicos de 0,5 0,91 0,47 1,88 0,20 0,55
restaurantes, restos de
B Cu Mn in M.O pH
peixe, capim verde e palhas. CIN
mg/kg
30 219 III 40,32% 27,43
111' . Compostagem - ciência e prática para a gestão de residuos orgânicos

Tabela 7.4 ·- ,1ndjcadores de qualidade do solo .


Pr",riedades lsicas . Propriedades químicas
densidade pH carbono na biomassa microbiana
pro fundi dade de enraizamentp con dutividade e létri ca N na biomassa microbiana
taxa de infiltração de água capacidade de troca de cátiàns minhocas
caj:ecidade de retenção de água matéria orgru.;ica enzimas
estabilidade de agregado N mineralizável supressividade de doenças
K trocável
Ca trocável

Fonte: Mitchell, 2000.

Tabela 7.5 - Valores de pH, CE e teores de N,_Ca, Mg, P e K obtidos dos materiais
utilizados como substratos, Seropédica, Embrapa Agrobiologia, 2004 ,
pH CE N Ca Mg P K
(clSm-1) {gkg,1}
100C 7, 1 2,8 40,0 9,9 5,9 9,5 4,5
66C33N 7,5 2,0 36,9 7,7 4,1 8,5 3,6
33C66N 8,1 1,9 30,6 7,5 4,0 10,3 3,6
100N 8,4 1,6 9,6 4,2 2,3 9,5 2,3
33C66N +E 8,2 2,0 29,t. 3,7 1,6 2,6 3,3
33C66N + A 8,1 1,9 29,6 8,1 5,2 12,5 6,1
100N+ A 8,7 1,3 10,2 4,2 1,5 6,2 1,7
Controle 6,5 1,8 5,6 18, 1 17,6 2,2 4 ,1

Controle: substrato comercial. C = crotalária; N = Napier; os nÚmeros antes das letras representam a propor-
ção em peso de cada tipo de resíduo vegetal. Fonte: Peixoto et aI., 20Q7.

Tabela 7.6 - Valores médios de variáveis químicas e teores de elementos totais


após 82 dias de com postagem de aparas de grama. Média 'entre tratamentos com
e sem adição de N e p, Rio de Janeiro. 2004. Fonte: Benites et aI., 2004,
n pH C.E. AH AF MO N P K S Ca Mg
mS cm- I _ gC kg- 1 - ____________________________ g kg- I --------------------:---

média 24 8,3 2,64 53,4 39,2 665 22,3 10, 5 16,5 4,5 24,7 3,0
desvio 24 0,1 0,19 9,0 10,7 40 2,2 7,5 2,3 0,8 14,1 0,2
cV% I 8 17 27 6 IÓ 71 15 17 57 7
P sol Mn Fe BZn Cu Co Cr Cd Pb Na
-----------------,,-------------__________________ mg kg-1 -----------------------------------------

média 24 14,7 404 3.802 32 161 15 0,7 15 1,8 2,0 1,7


desvio 24 2,5 67 646 11 31 0,7 9 0,9 3,3 0,7
CV% 17 17 17 36 19 9 99 58 48 163 40

AH: ácidos húmicos; AF: ácidos fúlvicos; MO: matéria orgânica; C.E: condutividade elétrica.
Benefícios do composto orgânico para uso agrícola

7.4 Substâncias húmicas 7.5 Supressão' d_e


Além dos nutrientes fundamen'tais para
fitopatógenos
o crescimento vegetal, as substânçias o efeito supressivo do 'composta orgâni-
húmicas são um relevante constituinte co sobre doenças no solo é um segundo
do composto orgânico que merecem efeito positivo na biologia solo-planta
uma atenção a parte. A Tabela 7.6 mos- em sistemas agrí.c olas que vem sendo '
tra uma média de 53,4 g/kg de acidos reportado por diversos autores. A su-
húmicos (AH) e 39,2 g/kg de ácidos pressão está relacionada principalmente ,
fúlvicos (AF) no produto final da a interação pa~óge~o e populações de
, compostagem de grama. O húmus (do microorganismos saprófitas. As comu-
i
I~tim, humo, Terra) que na verdade é um nidades microbianas contribuem para
conjunto de substâncias, é responsável supressão de fitopatógenos através de
por parte de benefícios importantes d-9 quatro tipos de interações ecológicas:
aplicação do composto em solos cultiva- competição, antibiose, parasitismo/
dos. A com postagem não produz predação e pela indução sistêmica da re-
húmus, que seria apenas resultado da sistência do \ hospedeiro (HOITINK;
decomposiçã'o prologanda da matéria or- BOEHM, 1999 apud COTXARRERA et
gânica no solo, Qias está repleta de aI., 2002). Segundo Baker e Cook
, substâncias húmicas. (1974) apud Altieri (1993), a , maior
competição por nutrientes e a maior libe-
"As várias concepções sobre" a es-
ração de metabólitos tóxicos em decor-
trutura das substâncias húmicas .'
rência da . intensificação da atividade
'podem ser' reunidas em três verten,-
microbiana resultaria em gastos
tes principais. A mais aceita pelos
energéticos maiores dos propágulos du-
pesquisadores ( ... ) é a visão de
rante a dormência como um mecanismo
que as substânciàs tiúmicas são
de proteção, sendo o resulta~o final o
macromoléculas de um
aumento da frequência de exaustão e
polieletrólito que tem sua cemfor-
morte dos propágulos.
mação variável de aCQrdo com as
condições da solução do solo (e.Ç).
força iônica, pH). Essa concepção A compostagem pode ser considerada
trata as substâncias húmicas como
um c:;olóide orgânico" (CANELLAS;
um meio de multiplicação de àgentes de
controle biológico de fitopatógenos no
.
SANTOS,' 2005). solo, por ex . espécies de Trichoderma
reconhecidas como poderosas no con-
A interação fisiológica com as plantas trole biológico devido a alta capacidade
dos ácidos húmicos, ácidos fúlvicos e de competição e indução de resistência
huminas, que formam o conjunto das sistêmica. Composto preparado de lodo
substâncias húmicas, tem recebido gran- de esgoto, restos de origem vegetal e
de atenção de pesquisadores (Quadro 9). animal e restos de podas mostrou "alta

,
Compostagem - ciência.e prática para a gestão de resíduos orgânicos

habilidade de supressão de Fusarium húmicas na supressão de fitopatógenos


(Fusarium oxysporum f. sp. /ycopersici e na e:;;timulação de organismos antago-
race 1)" em tomate devido a màior ativi- nistas do solo. E1'eitos inibidores sobre
dade microbiana do substrato e o efeito fungos de solo Fusarium oxysporium e
de espécies antagonistas como Sc/erotinia sc/erotiorum foram relaciona-
Trichoderma aspere//um e Trichoderina dos a diferentes concentrações de SH
hamatum presentes no composto órgâ- em eXjJerirnentos de laboratório, "espe-
nico (COTXARRERA et aI., 2002). cialmente SH extraídas de . compostos
Além de espécies de Fusarium, a literatu- orgânicos" (LOFFREDO .et aI., 2008).
ra cita o efeito supressivo do composto Estes mesmos autores relatam o efeito
orgânico sobre doenças de plantas 'cau- favorável, em diferentes gradações, para
sadas por -Pythium sp.; Phytophora sp.; o crescimento de dois antagonistas
e Rhizoctonia sp. Experimentos condu- Trichoderma vindq e T. harzianum, sén-
zidos por Leandro et aI. (2007), ém sis- do mais sig\lificativo para o primeiro .
temas de produção de morango, mostra- Esses efeitos estariam relacionados não
ram que o composto orgânico pode ser somente as concentrações de SH no
usado como substrato para estabelecer e meio e a espécie de fungo, mas também
promover a sobrevivência de a origem e natureza da SH. "Em particu-
Trichoderma no solo cultivado, "ilus- lar, a estrutura e propriedade funcionais
trando como a manipulação do solo . da SH, especialmente a acidez total, pre-
. pode afetar a. dinâmica da pqpulação de sença de grupo COOH e composição
TriChoderma spp. indígeno nas' raízes e elemental, parecem c.ontrolar os efeitos
no solo". O mais importante é ,que a da SH sobre os fungos."
matéria-prima para essa "biotecnGlogia"
são os resíduos agrícolas ou a fração O composto orgânico quando aplicado no
orgânica ' de resíduos urbanos em geral solo, em superfície ou incorporado, pode
de baixo valor e com limitações para uso influenciar na supressão de doenças de
direto em solos agrícolas . Suarez- · solo e a colonização micorriza. Em experi-
Estrella et aI. (2007) sugerem que a um!! mentos' com mudas de cebola (A//ium
"ótima aeração durante o processo de cepa), o composto orgânico (restos de co-
compostagem" favorece o isolamento de mida, cortes de grama e cama de biotério)
agentes de controle biológico do com- favoreceu a colonização micorrízica e a re-
posto, principalmente, estirpes d.e dução das perdas por dump/Í7g-off(Figura
Asperg/I/us spp. que foram relacionadas 7 . 1)(INÁCIO, 1996).
à alta capacidade antagonista sobre
Fusariose em plantas de melão. Sieverding (1991) cita que micorrizas
aumentam ' a resistênéia das plantàs a
Pesquisas mais recentes têm apontado patógenos de soro, principalmente,
para o efeito também das substâncias quando a colonização micorrízica na raíz
Benefícios do compos{o orgânico para uso agrícola

ocorre antes do ' ataque do patógeno. em geral, seja, .hídrico, nutricionais ou


Micorrizas são as.sociações referentes ao ataque de parasitas
mutualísticas formadas entre certos fun-' (SIEVERDING, 1991). Portanto, consi-
. I
gos do solo e raízes da maioria das espé- derando o caso das mudas de cebola
cies vegetais. Esta associação aumenta durante a fase de canteiro, a
/ o volume de solo explorado pelas raízes • micorrização dessas mudas, promovida
da planta, consequentemente, aum~nta 'pela aplicação de composto orgânico,
a absorção de nutrientes, principalmente seria uma forma de mi~imizar o impacto
fósforo (ARAÚJ0 ; , HUNGRIA, 1994). do transplante, que diminui a capacidade
Em troca há a translocação de da muda de explorar o solo devido ao
carbohidratos e outros compostos pelo rompimento de suas radículas. A mesma
fungo micorrízico. De modo geral, o estratégia pode ser aplicada a mudas de
aumento do volume de solo explorado espécies vegetais perenes que façam as-
pela planta devido a micorrização confe- sociação micorrízica .
re maior poder de tolerância à estr.esse

11 - Quadr-; 7 :~ii-rtdade ~stâncias húmicas - I


ação sobre o desenvoMmento e metabolismo das plantas ' I
"As substâncias húmicas estão presentes nos solos, nas águas e nos sedimentos. Além de i
II ilifhtenciar as ' caractelÍsticas fisic.as, - químiqas e microbiológica~, ,dc%'sc%' 1
lí comportlinentos, podem afotar diretamente o metabolismo e o crescimento das plantas. I
Os mecanism~s dessa ação só agora começam a ser elucidadf?s. Além de inmretamente l
.favorecer os processos de absorção de íons mediante a .formação de complexosl
~ o~anometálicos solúveis. Assubstâllcias húmicas ativam rotas bioquímicas espeCijí'casJ
tal como .fazem alguns hormônios vegetais. Nossos atltepassados identificaram, no
húmus, uma força vital capa;: de condensar as propriedades de diférentes domínios da
natureza (o minera( o cósmico, o vegetal e o anima!) e orientar as.forças rc%'ponsávels
li pelas boas colheitas. Com o ~vanço do conhectlnento, foi possível identijí'car uma
II conversa efttlva entre as plantas e a matéria orgânica humiflcada. Os códigos desse
II diálogo começam a ser dec?fi;ados e envolvem, o reconhecimento de rotas espec(jicas de
II sinalização celular. O c%'tudo da bioatividade d;s substânCias húmicas pode /ornecer
II uma parte importante da base. cientifica necessária para o dc%'envolvtinento de novas
I ,.formas de cultivo, baseada/na adaptação das plantas ao amb~el1te e 110 uso e man,,!jo 'da
Imatéria orgânica. ': Fonte: Canellas e Santos (2005, p. 4{ p ' 244.)
Compostagem - ciência e prática para a g estão de resíduos orgânicos

12 ~ ,
10 4-

P lân tulas mortas


:t D

D D 1:13 r::t1 D
'------+-1 -+ ~ - I
o 10 20 30 40
% coloni zação micorrÍzica
Figura 7,1 - Relação entre a colonização micorrízica e as mortes por dumping-oTT de plântulas de c ebola em
sementeira com diferentes fonte s de nutrientes e cobertura do solo (c omposto orgânico, vermicomposto e
serragem) , Fonte: Inácio, 1996,

7.6 Consideracões finais essa afirmação não é o objetivo desta


sobre o papel- da publicação, ma;; é farta a literatura qu~ o
compostageme o uso do leitor poderá encontrar sobre a importân-
composto nos solo cia da matéria orgânica 'para os solos tro-
N~o há dúvidas para nós da importância picais, e em consequência , para a agricul-
que cerca a com postagem de resíduos tura tropical.
como uma prática que nos permite atacar
problemas ambientais, a disposição de Uma agricultura sustentável só ,poderá
resíduos, e ao mesmo tempo prover para advir de uma sociedade sU,stentável, isto
nossa agricultura tropical grandes quanti- , é, de uma sociedade que se enxergue
dades de adubos orgânicos com todas as como um todo interrelacionado, onde
qualidades e efeitos benéficos q\-le já fo- cada vez mais a busca de' soluções inte-
ram relatados nos te~tos anteriores, O gradas se faz necessária, A
aporte de matéria orgânica, seja na forma compostagem de resíduos é este exem-
de restos vegetais e animais, seja pela plo , Ela pode beneficiar tanto o, meio
compostagem, é de suma importância urbano como , o meio rural e por isso
para os solos tropicais, A matéria orgâni- deverá ser planejada de-forma integtada
ca tem sido considerada um _indicador ' e com cuidados ambientiais pertinentes ,
chave da qualidade do solo e um compo- para gerar resultados amplos e atingir
hente de todo ecos~istematerrestres, todo o potencial de benefíci<;>s que po-
Listar traba'thos científicos que suportem dem ser explorados,
A fr~ção orgânica'como alvo da coleta
seletiva - estudo de caso 1

Caio de Teves Inácio


Paul Richard Momsen Miller

8.1 Introdução 8.2 Histórico do


município
Este capítulo detalha ~ implantação dé
um projeto piloto de reciclagem orgânica O município de Garopaba não possuía al-
no . município de Garopaba, em Santa ternatlvas para o tratamento adequado dos
Catarina, em 2002/03, e os resultados resíduos gerados que precisavam ser des-
alcançados. A priorização da fração or- tinados a um aterro sanitário'fora dos limi-
gânica como alvo da reciclagem, rios tes do município. Além dos custos inibi-
moldes deste estudo de caso, compro- ' rem a implantação, não existe área ade-
vou constituir ' uma estrat€gia de quada em Garopaba que p~rmita a instala-
gerenciamento de resíduos urbanos com ção de um aterro sanitário e, neste contex-
potencial de aplicação nos municípios to, se formou um lixão, onde os resíduos
brasileiros devido à baixa complexidade sólidos do município eram depositados. '
e a capacidade de elevar os índices de
reciclagem com um baixo custo relativo O município de Garopaba tem sua econo-
e em curto prazo. Essas características mia baseada na atividade turística intensa
proporcionam a ~sta estratégia, especial- no período de verão. Em 2002 o municí-
mente ao método .de com postagem em pio possuía cerca de 13.000 habitantes ~
leiras estáticas, forte capacidade de difu~ no verão atingia uma população flutuante
são tecnológica, podendo ser adotado de quase 100.000 habitantes. Parte dos
pela administração pública ou empresas resíduos ' é proveniente da atividade
privadas. Ressalta-se que a adoção des- gastronômica e da atividade' pesqueira,
ta estraté~ia de gerenciamento ~uxiliaria bases da economia da comunidade local.
a manutenção da vida útil dos aterros
sanitários e, consequentemente, na re- Este volume de restos de comida
dução dos seus custos de implantação e coletados de modo insatisfatório criavam
operação dessas obras de engenharia. mau cheiro e focos de proliferação de

1 Co.autor do capítulo: Eng. Agrônqmo Gerson Konig Júnior. ,


Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgãnicos

vetores nas praias e ruas da cidade, um seado na técnica de Com postagem em


risco a saúde pública e a economia da Leiras Estáticas. (Fig. 8.1).
cidade. A administração municipal havia
instalado uma central de triàgem para o projeto foi implantado em agosto de
reciclar a fração seca (plástico, lata, etc.) 2002 com a coleta seletiva orgânica nos
que contava com 8 funcionários na baixa pontos de grande geração deste tipo de
temporada e 30 funcionários no verão, resíduo como restaurantes e vilas de pes-
alta temporada de turísticas. ,A ausência ca . A col.eta era realizada diariamente
ele uma coleta seletiva aliada ao volume com bombonas plásticas de 50 litros,
da fração orgânica dos resíduos sólidos com tampas, que permitem o acondicio-'
comprometia a eficiência da separação namento protegido dos resídu'0s (Fig.
dos recicláveis na esteira de triagem. 8.2). As bombonas eram transportadas,
em veículo aberto, para o pátio de
8.3 O sistema de gestão com postagem que também recebia podas
de resíduos de árvores, serragem e restos de culturas
agrícolas da área rural. O pátio de
A ação do plano piloto de gerenciamento
com postagem gerou 4 novos empregos
de resíduos foi focalizar a coleta da fração
relacionados a reciclagem. Toda a coleta
orgânica dos resíduos sólidos como es-
era realizada por uma empresa
tratégia para se aumentar em curto prazo
terceirizada que também era responsável
a quantidade do material reciclado, seco e
pela central de triagem e o pátio de
orgânico. Foi implantado então o projeto
compóstagem. Como nã'o havia coleta
piloto denominado reciclagem orgânica,
seletiva dos resíduos recicláveis secos, a
que consistiu na priorização da coleta .se-
coleta convencional (comercial e domicili-
letiva da fração orgânica e tratamento ba-

Agricultura

(Aterro)

Org4nico/
Grandes ger~dores
Figura 8.1- Fluxograma dos resíduos sólidos coletados e relação com o total colet~do após a impla(ltação do
projeto piloto de reciclagem orgânica no município de Garopaba /SC em 2002/03, Fonte: Inácio e Konig
(2004),
A Tração orgânica como' alvo da coleta seletiva - Estudo de caso

ar) não utilizava caminhão compactador. A operação do .sistema foi terceirizada a


A prefeitura arcava com os custos extras um valor fixo de R$11._0 00 por mês.
do transporte e destinação final no aterro Com isso, o custo da coleta e da
sanitário localizado a 80 km de distância com postagem da fração orgânica oscilou
em outro município. com a quantidade coletada, sendo me-
nor durante o período de maior quantida-
.8.4 Os números da de coletada . O município atingia picos
reciclagem orgânica de coleta de resíduos orgânicos de 5,D
ton./dia a custos competitivos em torno
Durante os oito primeiros meses do proje-
de R$73,00/ton . Este valor estava
to de reciclagem orgânica, a média de
abaixo do custo da coleta convencional,
reciclagem foi de 27,6% do total coleta-
cerca de R$ 85,00 -e R$ 90,00, e dos
do (cerca de 117,5 ton./mês) entre mate-
gastos com a ' destinação ao aterro,
rial seco e material orgânico (Figuras 8.3
R$79,00 (valores não corrigidos). Para
e 8.4) . A fração orgâni~a coleta~a ' e
o municí~io, períodos de ,coleta abaixo
reciclada representou no período 11,7 %
de 2,5 ton./dia se mostraram anti-eco-
dO,total, cerca de 49,8,ton./mês. A cole-
nômicos neste modelo de contrato acor-
ta do resíduo orgânico possibilitou o au-
dado.
mento da eficiência na esteira de triagem
que passou de 11 % para uma ,média de
15,3% de resíduos reciclados, cerca de
8.5 Problemas solucionados
67,7 ton ./mês. O mês de janeiro de A implantação do projeto de reciclagem
2003 teve a maiOr quantidade absoluta orgânica proporcionou ao município eco-
reciclada, 137,0 tono de recicláveis secos nomia na destinação final dos resíduos
e 85,0 ton. ·de resícluos orgânicos prove- que devem ser en'viados a um aterro sani-
nientes da coleta seletiva (Figura 6). Mas tário fora do município. Com isso ficou
a maior proporção reciclada se deu no facilitado o fechamento do lixão existente
mês anterior, dezembro de 2002, com e condenado por ordem judicial. O proje-
33,9% de reciclagem. '1;0 ainda beneficiou as comunidades de

Tabela 8.1 - Custo da reciclagem orgânica e do sistema convencional. Garopaba.


2003.

Descrição Quantidade Coleta + Compostagem


coletada · (R$/ton .)
(ton./dia)
Média baixa temporada 2,0 R$ 183,33
Média anual 2,7 R$ 133,33
Média alta temporada 5,0 R$ 73 ,33
Custo coleta con vencional* 9,0-13 ,0 R$ 164,00

"inclui o custo da colet<\. transbordo e o custo da destinação ao aterro sanitário.


Fonte: Inác io e Konig . 2004.
Campos/agem - ciência e prática para a ges.tão de reslduos orgânicos

pescadores que não eram atendidas em , se eficaz no aumento dos níveis de


suas necessidades de coleta de resíduos recicl~gem em curto prazo. A implanta- ·
pesqueiros. Com a inclusão dos ranchos . ção da reciclagem orgamca em
de pesca na coleta seletiva, estes restos , Garopaba-SC dobrou a quantidaqe de
não ficaram mais expostos nas praias e resíduos Jeciclados no município já no
em torno dos estabelecimentos. Isto-aca- primeiro mês de funcionamento. Após
.'
bou com o problema de mau cheiro nas oito meses a fração reciclada passou a
praias e ainda aumentou o número de representar uma média mensal de
pessoas comprometidas com o programa 27,6% do total g~rado . Os resíduos
de reciclagem. ' recicláveis secos passaram de uma mé-
, dia de 11 % para 15,9%, demónstrandci
8.6 Outros resultados o aumento da ~ficiência na esteira de
alcançados catação, o que refletiu no aumento da
renda dos catadores. O sistema de
Ao material coletado e ,levado ao pátio
reciclagem orgânica se mostrou econo-
são adicionados restos vegetais, princi-
micamente competitivo para o município
Palmente de cana-de-açúcar. Estes res-
a partir da coleta de pelo m'e nos 2,5
tos na propriedade agrícola têm pouco
ton./dia . de resíduos orgânicos. O siste-
valor, mas no ,pátio de compostagem,
ma implantado apresentou custo de
além de serem fundamentais ao proces-
R$73,33 para coleta de 5,0 ton ./dia de
so de compostagem, terminam valoriza-
resíduos contra R $ 164,00 para coleta
dos na forma de composto orgânico. Os /

e destinação ao aterro.
agricultôr,es passaram a usar um insumo .
agrícola permitido na agricultura orgâni-
Através da implantação da reciclagem
ca. Portanto, a agricultura que é a se-
orgânica o município atingiu níveis de
gunda atividade econômica em " impor-
reciclagem e economia com a destinação
tância no município, foi beneficiada em
final dos resíduos sólidos que permiti-
qualidade pelo novo projeto de gestão
ram a desativação do lixão. O projeto
dos resíduos, que dará base ao
permitiu uma abrangência maior do ser-
surgimento de uma agricultura orgânica
viço de coleta e reciclagem, contando
forte e local, com menos riscos à saúde
agora com as comunidades de pescado-
dos produtores, menos riscos '
res e o comércio alimentício. Houve
ambientais e maior valor comercial.
também a geração de novos empregos
8.7 Conclusão do estudo diretos. Ao evitar o envio de resíduos
de caso ,orgãnico para o aterro sanitário o projeto
ajudou a mitigar as emissões de metano,
A implantação do sistema de coleta sele-
um poderoso gás do, efeito estufa (ver
tiva e com postagem da fração orgânica
Quadro 6).
do lixo (Reciclagem Orgânica) mostrou-
A fração orgãnica como alvo da coletq seletiva - Estudo de caso

o Seco
Média 15,9% I .11 ,1%
•• o Orgânico
mar/03 n ,7% I 12,8% I
fev/03 14,6% I 13,6% "
I
jan/03

dezl02
17,3%

19,2%
I
I
" 10,1%

14,1%
• I
1- -
nov/02 15,5% 9,5% I
outl02 16,5% I 8,5% I
setl02 15,9% I 9,1% I
ago/02 15,1% I 9,9% I
jul/02 11% I I
0% 5% 10% 15% 20% 25% . 30% 35%

Figura 8.3 - Porcentagens mensal e média de resíduos reciclados, fração seca e fração orgânica, sobre o
total coletado durante os primeiros meses do projeto de reciclagem orgânica. Agosto representa o primeiro
mês do projeto. O mês de julho representa a média do índice de reciclag~m antes do projeto. Garopaba-
se, 2002/03. Fonte: Inácio e Konig, 2004.

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fev/03
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1 1191~80
setl02
/'
1 12~. ~0
agol02
V .; / /
.0 200.000 400.000 600.000 800.000

quantidade em kg

Figura 8.4 - Quantidade de resíduos sólidos coletados e reciclados, fração seca e fração orgânica (sobre a
barra azul escuro), durante ' o projeto piloto de reciclagem orgânica em Garopaba-Se, 2002 /03. Fonte:
Inácio e Konig, 2004.
Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos

Quadro 8 -Á Compostagem como um Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

. Resíd'uos sólidos e produção de adubos orgânicos são assuntos aparentemente sem


relação direta e reservados a universos distintos, cidade e agricultura. No entanto, o contexto
atual de desenvolvimento tem apresentado desafios globais e locais que interligam tais assuntos
e, consequentemente, as áreas de pesquisa e desenvolvimento. Produção de alimentos com
maior qualidade ambiental e a gestão dos resíduos s~lidos, municipais o'u industriais, com
redução de impactos possuem uma interface muito forte na compos/agem e nas demais formas
de tratamento biológico dos resíduos orgânicos.
I
O gerenciamento de resíduos orgân icos tem potencial para ser uma rota de fluxo de
recursos para países em desenvolvimento via Mecanismos de Desenvolvimento Limpo
(BARTON ; ISSAIAS; STENTIFORD, 2008). O Painel Intergovernamental para Mudanças
Climáticas (IPCC, n~ sigla em inglês) aprovou e m 200? o primeiro Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo - MDL baseado na compostagem de resíduos em larga escala em.
Bangladesh. Atualmente existem 25 projetos similares de pequena escala e 3 de grande escala

.
registrados gerando reduções certificadas de carbon
.
o (http://cdm.unfcc~.int/index . htrnl) ,

grande maioria em países da Asia. Num efeito em rede, o uso de. composto orgânico, próduto
a

final da compostagem, pode ter papel importante no aumento do carbono no solo (matéria
orgânica do solo) e trazer benefi~ios relacionados à substituição o.U eficiência no uso de
fertili zantes químicos (FAVOINO ; ROGG, 2008).
Resíduos orgânicos são fonte pe problemas ambientais locais e globais, como a poluição
,
de recursos hídricos por dejetos suínos, e a el1}issã6 de metano em ater ros sanitàrios que é a
'maior fonte antropogênica <;leste metano para atmosfera. E~tudos de cenários envolvendo o
gerenciamento de' resíduos, rurais e urbanos, através da comp~stagem e outras formas de '
tratamento biológico sugerem a redução da contribuição des sas fontes para a emissão de GEE de
10% para 6%, até 2025, e potencial de redução de 40% na produção total de chorume nos
aterros. Este mesmo estudo considerou a tendência atuat'de crescimento da população e do
produto interno bruto em países em desenvolvi mento como o Brasil, China e Índia, que
resultariam em aumento global de geração de resíduos em torno de 44 a 51 % até 2025. Para o.
Brasil, em relação a 2005, a geração urbana de resíduo~ de alimentos (fração orgânica dos
resíduos urbanos) deve saltar de I 6,31 Gkg/ano.para 22,23 Gkg/ano, representando 43% em
fração dos resíduos urbanos, considerando as atuais tendências de crescimento econômico
(ADKHARI, BARRlNGTON; MARTINEZ ,' 2006). (continua)
fi

A fração orgânica como alvo da' coleta seletiva - Estudo de caso

(continuação)
Medições em escala de campo das emissões de metano a partir da compostagem de
resíduos orgânicos estão na faixa de 20 - 65 kg C02eq/ tono de matéri~ fresca, em ~rocessos

bem manejados, o que coloca a compostagem como-uma tecnologia de mitigação de emissões


deste gás de efeito estufa quando comparada aos aterros sanitários (AMLINGER; PEYR;
CURLS, 2008). A implement<\,ção de pesquisas para destimição segura,. via com postagem, de
materiais orgânicos inapropriados para aproveitamento in natura, é um dos caminhos para a
solução de muitos dos nossos problemas ambientais, que passa pelo saneamento básico até a
emissão de 'gases de efeito estufa (metano) em aterros sanitários.

4000

3500

g3000
.!)1
~ 2500
o
g2000

~ 1500
.~
~ 1000

500

9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Anos

Gráfico comparativo das emissões de metano pela Compostagem (MDL) e o Aterro Sanitário (linha de base), em
tCO,e, gerados por 4190,6 toneladas de resíduos orgânicos depositados anualmente, durante 10 anos. O valor
4190;6 ton é a soma das médias anuais de resíduos destinados . a cinco projetos de cQmpostagem de pequena
escala. Metodologia de cálculo: AJYfS.lII.F,UNFC;CC. Fonte: Inácio et ai, 2009b.

Diferentemente da compostagem, nos aterros sanitários a matéria orgânica depositada


está submetida à anaerobiose e, consequentemente, passa por' processos anaeróbios de
decomposição e fennentação, gerando vários tip~ d~ compostos poluentes que saem com o
etluente líquido que deve ser coletado e tratado antes de ser lançado no ambiente. A produçlio
do gás metano (CH4) é abundante, e este biogás deve ser drenado ,e queimado de forma
controlada ou aproveitado na co-geração de energia. A metanogênese é um tipo de
metabolismo microbiano complexo e estritamente anaeróbio que reduz o ácido acético
. I

(CH 3COOH) e o C02 a metano (CH4 ) (NAZAROFF; ALVAREZ-COHEN, 2001 ; CARDOSO;


TSAI; NEVES, 1992).0 metano é ·21 vezes mais potente que o dióxido de carbono (C0 2)
quanto ao efeito estufa.
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Compostagem - ciência e prática para a gestão de resíduos orgãnicos

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3718,1998 . Floriqn?polis .
Solos

Apoio

PJ FINEP
flNANCIADOIA DE ESTUDOS E fltomos
MINISTÊRIO DA CI~NCIA E TECNOlOGIA

A produção de alimentos com maior qualidade ambiental e a gestão


dos resíduos orgânicos para redução de impactos ambientais
possuem uma forte interface nos estudos e na aplicação das técnicas
de compostagem.

Este livro é resultado da experiência adquirida pelos autores no


trabalho que se iniciou em 1994 com a implantação do projeto de
Coleta Seletiva e Com postagem de Resíduos do campus da
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. É fruto também da
retomada dos esforços dos pesquisadores da Embrapa Solos no
estudo e desenvolvimento de novos projetos de com postagem e
produção de fertilizantes orgânicos em parceria com empresas,
instituições públicas e organizações não-governamentais.

Os autores buscam apresentar as possibilidades da gestão de


resíduos orgânicos baseada na compostagem, bem como, o
embasamento cientifico e prático para aplicação e difusão de uma
técnica de baixo custo e comprovada eficácia. Os amplos benefícios
da com postagem para a gestão de resíduos orgânicos incluem a
produção de adubos orgânicos, prolongamento da vida útil de aterros
sanitários e redução das emissões de metano pela disposição de
resíduos, entre outros impactos ambientais.

Ministério da Agricultura.
Pecuária e Abastecimento
11 :
UM PAis DE
GOVERNO FEDERAL
TODOS

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