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ISSN: 2525-8761
DOI:10.34117/bjdv8n9-130
RESUMO
Este artigo é fruto da tese de doutorado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em
Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. A finalidade deste é apresentar uma reflexão sobre os arranjos do audiovisual e
as principais políticas públ icas desenvolvidas para o cinema. A análise teve como foco
entender a organização das empresas que compõem os setores de distribuição e exibição
de filmes no Brasil e em Portugal. A pesquisa de natureza qualitativa, com finalidade
exploratória, utilizou como metodologia o Estudo de Caso, que levou à percepção de que
ainda há necessidade de maior divulgação e desenvolvimento de estratégias e Políticas
Públicas que tragam benefícios mais concretos aos envolvidos, em específico ao setor de
distribuição, haja vista, que boa parte dos incentivos é direcionada à produção de filmes,
fazendo com que as distribuidoras assumam alguns riscos da cadeia produtiva do
audiovisual, sem maiores garantias e apoio dos órgãos reguladores. Assim, o estudo teve
como resultado a análise das distribuidoras e exibidoras de filmes de dois países de língua
portuguesa no ano de 2016, possibilitada por uma pesquisa com os gestores das principais
empresas dos setores, que implicou a realização de 13 entrevistas, sendo 8 em Lisboa e 5
nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, a fim de verificar a realidade e os impactos
da Economia Criativa sobre estas.
ABSTRACT
This article is the result of a doctoral thesis developed in the Graduate Program in Public
Policies, Strategies and Development at the Federal University of Rio de Janeiro. Its
purpose is to present a reflection about the audiovisual arrangements and the main public
policies developed for cinema. The analysis focused on understanding the organization
of the companies that make up the film distribution and exhibition sectors in Brazil and
Portugal. The qualitative research, with exploratory purposes, used as methodology the
Case Study, which led to the perception that there is still a need for greater disclosure and
development of strategies and Public Policies that bring more concrete benefits to those
involved, specifically to the distribution sector, since a large part of the incentives is
directed to the production of films, causing the distributors to take some risks of the
audiovisual production chain, without greater guarantees and support from regulatory
agencies. Thus, the study had as a result the analysis of the film distributors and exhibitors
of two Portuguese-speaking countries in the year 2016, made possible by a survey with
the managers of the main companies of the sectors, which implied the realization of 13
interviews, being 8 in Lisbon and 5 in the cities of Rio de Janeiro and São Paulo, in order
to verify the reality and the impacts of the Creative Economy on these.
1 INTRODUÇÃO
O crescimento da indústria cinematográfica é marcado por transformações
constantes, em um processo de produção cada vez mais complexo que necessita de maior
entendimento sobre a forma de organização de seus arranjos, bem como as principais
estratégias desenvolvidas para o setor.
Percebe-se que desenvolver estes arranjos, independentemente de sua situação
econômica, pode favorecer uma maior interação entre os atores envolvidos, estimulando
assim, a troca de conhecimento entre as empresas do setor, e influenciando diretamente o
desenvolvimento econômico.
A indústria cinematográfica, foco da pesquisa, segundo Howkins (2013, p. 122)
consiste em quatro ramos principais: a produção cinematográfica americana (Hollywood
e independente); a produção de outros países (Austrália, Brasil, Grã-Bretanha, Canadá,
França, Alemanha, Itália, Índia, China, Hong Kong, assim como, em uma escala menor
em outros 20 países); as distribuidoras globais pertencentes a americanos e, finalmente,
milhares de empresas locais que são proprietárias de salas de exibição, canais de TV e
lojas de DVDs.
Neste interim, o presente estudo tem como objetivo apresentar uma discussão
sobre os termos “instituições” e “arranjos institucionais”, a fim de possibilitar uma melhor
definição sobre os arranjos que compõem o setor do audiovisual, bem como oferecer uma
análise sobre o desenvolvimento e os principais resultados identificados nos setores de
distribuição e exibição do cinema, tanto no Brasil quanto em Portugal, além de
demonstrar as principais políticas públicas da cultura, desenvolvidas para o setor nos dois
países.
Para atender este objetivo, o trabalho está assim organizado: o capítulo 1
contextualiza o tema na presente introdução; o capítulo 2 trata o marco teórico relativo
aos arranjos do cinema, histórico e dados; o capítulo 3 apresenta a metodologia utilizada;
o capítulo 4 sistematiza os resultados encontrados e as considerações finais sobre o
trabalho.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 OS ARRANJOS DO AUDIOVISUAL
Para uma melhor compreensão do setor do audiovisual, levou-se em consideração,
os conceitos apresentados por Getino (1998) em sua obra Cine Latinoamericano,
Economia y Nuevas Tecnologias, em que analisa e destaca quatro eixos estruturais que
compõem a atividade do audiovisual, sendo eles: regulação; execução; provisão e
serviços; e desenvolvimento.
Getino (2008) define:
• O eixo da regulação como sendo o responsável por regulamentar e
fomentar as ações dos atores envolvidos nos processos do audiovisual mediante
as leis. De acordo com a ANCINE (2016), “a função do Estado é traduzir em ações
concretas decisões de política pública que demandam a atuação estatal indireta no
mercado, por meio da indução e orientação à iniciativa privada”.
No Brasil, o eixo da regulação é composto pelo:
✓ Ministério da Cultura (MINC): órgão criado em 1985 por Decreto
Presidencial, após a separação do Ministério da Educação e Cultura, período em
que começaram a ser criadas ações específicas para o desenvolvimento da cultura.
O Ministério da Cultura é um órgão da administração pública federal direta que
tem como competência a política nacional de cultura e a proteção do patrimônio
histórico e cultural (MINC, 2016).
✓ E pela Agência Nacional de Cinema (ANCINE): é uma agência
reguladora independente na forma de autarquia especial, com autonomia
financeira e administrativa, criada em 6 de setembro de 2001, como órgão oficial
para a promoção de fomento, regulação e fiscalização das indústrias do
audiovisual. Até outubro de 2003, esteve vinculada ao Ministério do
a representar maior parte do lucro, cerca de 400% sobre o custo dos produtos
vendidos (SÁ EARP & SROULEVICH, 2008, p.12).
• O eixo de provisão e serviços está relacionado aos fornecedores de
serviços e equipamentos, aos laboratórios de processamento de imagem e som, e
as empresas publicitárias e de lançamento de produtos.
• E finalmente, para completar os eixos que compõem o audiovisual está o
do desenvolvimento, composto por alguns elementos importantes para o
aperfeiçoamento e profissionalização dos agentes do audiovisual, tais como:
✓ A capacitação que é fundamental para o desenvolvimento do audiovisual
e se baseia na formação de mão de obra, mediante a oferta de cursos técnicos,
universitários e outros formatos de qualificação voltados ao setor, além de
proporcionar conhecimento para que outros profissionais atuem neste mercado.
✓ A investigação que tem como foco principal a pesquisa seja ela, teórica ou
prática, e que leva o indivíduo à reflexão e possibilita a organização de dados, e
consequentemente o desenvolvimento do audiovisual.
✓ A teoria e a crítica que trabalham conteúdos importantes não só para os
envolvidos, mas também para o público em geral, de forma a produzir
conhecimento sobre o cinema e possibilitar a avaliação e julgamento sobre os
critérios em análise.
✓ E a promoção que se refere a toda atividade direcionada ao público em
geral ou a outros agentes do setor, a fim de desenvolver o interesse pelo cinema,
mediante a apresentação dos principais resultados obtidos pelos filmes.
Neste intuito, o eixo do desenvolvimento existe para dar suporte ao audiovisual,
formar profissionais, além de fornecer informações importantes para o
desenvolvimento e profissionalização do setor.
2015, com 20,8%, e com renda acumulada de R$ 489,1 milhões, o equivalente a 136,2
milhões de dólares.
No que tange os títulos brasileiros distribuídos, as distribuidoras nacionais
conquistaram a maior parte da renda em 2015, com o aumento de participação para
85,4%, contra 81,2% em 2014. Portanto, mesmo com uma redução expressiva de 11,8%
em relação ao ano anterior da renda das distribuidoras internacionais, não houve
impedimento para que a renda total com filmes nacionais crescesse 25,1% em relação a
2014, alcançando assim R$ 277,6 milhões ($ 77,16 milhões).
Em relação ao setor de exibição, que também será foco da pesquisa, nota-se que
em 2014 o parque exibidor brasileiro manteve o ritmo de expansão e fechou o ano com
2.833 salas de exibição, tendo um número maior de salas apenas na década de 1970. No
final do ano havia 746 complexos cinematográficos, localizados em 398 municípios. Já
no ano de 2015, foi verificado um total de 3.013 salas de exibição, oriundas de 58 novos
complexos (com 252 novas salas), outros 11 complexos reabertos e oito que ampliaram
seu número de telas, totalizando um acréscimo de 304 novas telas. No entanto, mesmo
com 99 salas sendo fechadas definitivamente ou temporariamente para reforma, ou seja,
mais que o dobro de salas fechadas em 2014 (41), ainda assim, o parque exibidor do país
apresentou crescimento de 6,4%.
2.2.2 Em Portugal
A história do cinema em Portugal parece ter seu marco inicial em 1896: primeiro
em Junho, com a apresentação em Lisboa do Animatographo Rousby e, depois, em
Novembro, no Porto, com as primeiras apresentações públicas de Aurélio da Paz dos Reis.
Outro momento significativo seria a criação da produtora portuense Invicta Film, que na
viragem dos anos 10 para os 20 animou com grande entusiasmo o panorama
cinematográfico português, investindo em sucessivos projetos de grande orçamento, tais
como Amor de perdição (1921, Georges Pallu) ou Mulheres da Beira (1921, Rino Lupo).
A chegada do cinema sonoro iria transformar as condições de produção e recepção
do cinema em Portugal, surgindo também os primeiros “fonofilmes”: A Severa (1931,
Leitão de Barros), A Canção de Lisboa (1932, Cottinelli Telmo) ou Aldeia da Roupa
Branca (1938, Chianca de Garcia). Devido a um forte apoio estatal, resultado de uma
política de doutrinação ideológica através da cultura, onde a figura de António Ferro foi
determinante, o cinema português beneficiaria também do surgimento da Tobis
Portuguesa, o primeiro estúdio de cinema sonoro português. Os anos 30 e 40 foram anos
foi a líder do setor com uma quota (espectadores) de 72,8%, seguindo-se a Big Picture 2
Films (15,4%) que, no seu conjunto, representaram 88,2% do mercado nacional.
A Cota do cinema português em 2015 atingiu 6,5%, sendo o índice mais alto desde
1975, segundo registros de exibição do ICA. Dentre os filmes nacionais estreados, O Pátio
das Cantigas, de Leonel Vieira foi o mais visto, com mais de 600 mil espectadores e 3,1
milhões de euros de receita de bilheteira, o equivalente a 3.540 milhões de dólares.
Em 2015 foram estreadas 355 longas-metragens, 137 das quais eram de origem
americana e 168 de origem europeia. Diante dos dados apresentados pelo ICA (2016),
vale ressaltar que a preferência do público português ainda é por filmes americanos, já
que 70,3% dos espectadores assistiram a filmes norte-americanos e apenas 19,9% aos
europeus. O filme Mínions foi o mais visto em 2015, registrando mais de 937 mil
espectadores e uma receita de bilheteira de 4,7 milhões de euros.
Percebe-se que a empresa NOS Lusomundo mantém também a liderança no ramo
de exibição, com a identificação de NOS Lusomundo Cinemas apresentou um
faturamento em 2015 de 46,655 milhões de euros ($53.186 milhões), o correspondente a
62,3% de toda a receita bruta arrecada. Seguida pela UCI com uma receita bruta de 8, 053
milhões de euros ($9.180 milhões) e a Orient Cine Place com 6, 686 milhões de euros
($7.53). Representando 10,7% e 8,9% respectivamente do mercado.
festivais de cinema em
território nacional.
✓ O apoio financeiro não
pode exceder 50% do custo
total de cada edição do
festival.
Fonte: ICA (2016)
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma importante conclusão da pesquisa apresentada, e que poderá servir de ponto
de partida para pesquisas futuras, diz respeito à análise dos principais entraves a serem
vencidos pelos arranjos da distribuição e exibição, tais como:
A comunicação e cooperação entre os atores envolvidos que são quase nulas,
necessitam de um maior incentivo para que as empresas do setor se comuniquem e
cooperem entre si, não só entre elas, mas entre todos que demandam qualquer tipo de
informação das empresas, haja vista, a grande dificuldade em obter respostas para a
pesquisa, principalmente no Brasil.
As questões de acompanhamento, intervenção e apoio do Estado ainda necessitam
ser melhor trabalhadas, a fim de possibilitar que as distribuidoras e exibidoras de filmes
consigam se manter no mercado, evitando assim, que uma única empresa monopolize os
serviços prestados, conforme pode ser observado em Portugal;
O incentivo do público às salas de cinema também é outro fator que necessita ser
melhorado, pois além da crise que afeta e influencia o público nos dois países, ainda há o
fator cultural, que acaba sendo também uma barreira, levando em consideração que os
jovens não possuem o hábito de ir com frequência ao cinema. Neste contexto, cabe sugerir
estudos posteriores que visem analisar o real impacto das Políticas Públicas aos mercados
analisados.
REFERÊNCIAS
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Editora Fundação Perseu Abramo, 2005. – (Coleção História do Povo brasileiro).
MELO, M. A. As sete vidas da agenda pública brasileira. In: RICO, Elizabeth Melo
(Org.). Avaliação de políticas sociais: uma questão em debate. São Paulo: Cortez, 1999.
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nacional do mercado de salas. 2011. 158 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) –
Faculdade de Comunicação, Programa de pós-graduação em Comunicação
Social/PUCRS, Porto Alegre, 2011.
SEBRAE. Fazer diferente: saiba como utilizar a economia criativa para garantir o
sucesso de seu negócio. Revista Conexão, São Paulo, v.5, n. 29, mar/abr. 2012.
UNESCO. Creative economy: report 2010. Nova York: United Nation, 2010.