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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE ENGENHARIA CIVIL


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ENGENHARIA DO
MEIO AMBIENTE – PPGEMA

SUSANE CAMPOS MOTA ANGELIM

ESTUDO EM ESCALA REAL DA DISPOSIÇÃO DE RESÍDUO DE


DECANTADOR DE ETA EM LAGOA DE ESTABILIZAÇÃO DE
ESGOTO

Orientador: Professor Dr. Paulo Sérgio Scalize

Goiânia
2015
SUSANE CAMPOS MOTA ANGELIM

ESTUDO EM ESCALA REAL DA DISPOSIÇÃO DE RESÍDUO DE


DECANTADOR DE ETA EM LAGOA DE ESTABILIZAÇÃO DE
ESGOTO

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação Stricto Sensu em Engenharia do
Meio Ambiente-PPGEMA da Universidade
Federal de Goiás, como parte das exigências para
obtenção do título de Mestre em Engenharia do
Meio Ambiente.

Área de Concentração:
Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental

Orientador:
Professor Dr. Paulo Sérgio Scalize

Goiânia
2015
Ficha catalográfica elaborada automaticamente
com os dados fornecidos pelo(a) autor(a), sob orientação do Sibi/UFG.

Angelim, Susane Campos Mota


ESTUDO EM ESCALA REAL DA DISPOSIÇÃO DE RESÍDUO DE
DECANTADOR DE ETA EM LAGOA DE ESTABILIZAÇÃO DE
ESGOTO [manuscrito] / Susane Campos Mota Angelim. - 2015.
xv, 133 f.: il.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Sérgio Scalize.


Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Goiás, Escola de
Engenharia Civil (EEC) , Programa de Pós-Graduação em Engenharia
do Meio Ambiente, Goiânia, 2015.
Bibliografia. Apêndice.
Inclui mapas, fotografias, gráfico, tabelas, lista de figuras, lista de
tabelas.

1. Gestão de Resíduos. 2. Resíduo de ETA. 3. Lodo. 4. Tratamento de


esgoto. 5. Lagoa de estabilização. I. Scalize, Paulo Sérgio, orient. II.
Título.
iv

À minha mãe, Aldenora, e ao meu esposo, Renato,


que, ao doarem tanto de si para cuidar dedicadamente de mim quando a saúde
me faltava, me fizeram perceber e sentir o amor em ação.
v

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela vida; pelo consentimento de que eu pudesse cumprir esta tarefa.
Aos meus pais, Elias e Aldenora, pelo amor, orações, doação e trabalho que
empenharam para a educação dos filhos.
Aos meus irmãos, Solange, Sandra e Sérgio, pelo carinho e torcida.
Ao Renato, que me acompanhou de perto em cada etapa deste trabalho, sempre
me dando força e motivando a não desistir; pela ajuda, especialmente nos trabalhos de campo;
À UFG, ao PPGEMA e aos meus professores, pela oportunidade de adquirir
conhecimento.
Ao meu orientador, professor Paulo Sérgio Scalize, pelo nobre gesto de dedicação
ao me orientar, mesmo após grande lapso de tempo.
À banca examinadora, pelas contribuições valiosas.
Ao amigo Eriberto, que foi meu anjo da guarda ao me impulsionar na luta pelo
direito de defender a minha dissertação.
Ao professor José Alexandre Felizola Diniz Filho, Pró-Reitor de Pós-Graduação,
pela sensibilidade ao meu pedido de defesa extemporânea, e à Câmara de Pesquisa e
Pós-Graduação, por concedê-la. Tenho a satisfação de apresentar aqui o produto do meu
trabalho e espero que ele seja de utilidade ao meio técnico e à sociedade.
À FAPEG, pela bolsa de pesquisa.
À SANEAGO, empresa de relevante papel social no estado de Goiás, onde
trabalho, pelo apoio logístico necessário para a realização da pesquisa em escala real - setores
de compras, transporte, fábrica de fibra de vidro, gerências regionais de Itumbiara e Rio
Verde e pelo apoio fundamental do laboratório de esgoto; em especial aos superintendentes
engenheiros Eli Baieta de Melo e Mário Cézar Guerino e à bióloga Maura Francisca da Silva.
À engenheira Ana Lúcia Colares Lopes Rocha, pelo apoio e incentivo à pesquisa,
colaborando inclusive na seleção da estação de estudo.
Aos meus colegas de Piracanjuba - gerente Joaquim Neto, equipe operacional da
ETA e Ricardo, operador da ETE, pela colaboração, presteza e amizade.
À Tecnobombas, em nome do seu diretor Gilberto Richard de Oliveira, por ceder
e instalar equipamento motobomba de forma tão ágil e solícita.
vi

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................... ix

LISTA DE TABELAS ............................................................................................................. xii

RESUMO ................................................................................................................................ xiv

ABSTRACT ............................................................................................................................. xv

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 001

2 OBJETIVO...................................................................................................................... 003

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................... 004


3.1 Legislação e normas ambientais ................................................................................... 005
3.2 Cenário da destinação dos resíduos de ETAs em Goiás............................................... 007
3.3 Origem e quantidade de resíduos gerados em uma ETA.............................................. 008
3.4 Características dos resíduos de decantador................................................................... 011
3.5 Alternativas de tratamento e destinação dos resíduos de ETA..................................... 014
3.6 Disposição de resíduos de ETA em ETEs .................................................................... 017
3.6.1 Experiências e pesquisas sobre disposição de lodo de ETA em ETE .......................... 020
A) Ensaios de laboratório realizados por Carvalho (1999) com resíduo de ETA que
utiliza cloreto férrico como coagulante simulando lançamento em ETE............................... 020
B) Ensaios de laboratório realizados por Scalize (2003) com resíduo de ETA que
utiliza sulfato de alumínio como coagulante simulando lançamento em ETE ...................... 020
C) Ensaios em escala piloto realizados por Scalize (2003) com resíduo de ETA que
utiliza cloreto férrico como coagulante simulando lançamento na ETE Araraquara............. 021
D) Ensaios de laboratório realizados por Chao (2006) com resíduo de ETA que utiliza
sulfato de alumínio como coagulante..................................................................................... 021
vii

E) Ensaios em escala piloto realizados por Rosario (2007) com resíduo de ETA que
utiliza sulfato de alumínio como coagulante.......................................................................... 021
F) Ensaios de laboratório realizados por Lombardi (2009) com resíduo de ETA que
utiliza cloreto férrico como coagulante.................................................................................. 022
G) Estudo em escala real realizado por Cornwell et al. (1987) com lodo de sulfato de
alumínio.................................................................................................................................. 022
H) Estudos em escala real realizados por Melo et al. (2003) e Bueno et al. (2007) com
resíduo de ETA que utiliza sulfato férrico como coagulante na ETE Franca ........................ 022
3.7 Lagoas de estabilização ................................................................................................ 023

4 MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................................... 029


4.1 Critérios para escolha das estações de estudo............................................................... 029
4.2 Localização da ETA e da ETE de estudo ..................................................................... 029
4.3 Descrição da ETA de estudo......................................................................................... 031
4.4 Caracterização operacional da ETA ............................................................................. 033
4.5 Quantificação dos resíduos da ETA.............................................................................. 034
4.6 Coleta da amostra e caracterização da água de lavagem dos filtros ............................. 034
4.7 Descrição da ETE de estudo ......................................................................................... 036
4.8 Caracterização operacional da ETE.............................................................................. 038
4.9 Síntese do programa experimental................................................................................ 039
4.10 Montagem do aparato experimental ............................................................................. 042
4.11 Coleta e transporte do resíduo do decantador............................................................... 044
4.12 Coleta das amostras e caracterização do resíduo do decantador .................................. 046
4.13 Aplicação do resíduo do decantador na lagoa de teste ................................................. 048
4.14 Batimetria e determinação do volume de lodo das lagoas............................................ 050
4.15 Medição das vazões de esgoto afluentes à ETE e às lagoas do estudo......................... 054
4.16 Coleta das amostras e caracterização do esgoto bruto.................................................. 055
4.17 Amostragem e caracterização do esgoto ao longo do comprimento das lagoas ........... 057
4.18 Coleta das amostras e caracterização do esgoto efluente das lagoas do estudo ........... 059
4.19 Análise estatística ......................................................................................................... 062
4.20 Coleta das amostras e caracterização do lodo de fundo das lagoas .............................. 062

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................ 064


5.1 Caracterização da ETA ................................................................................................. 064
viii

5.2 Quantificação dos resíduos da ETA.............................................................................. 065


5.3 Caracterização da água de lavagem dos filtros............................................................. 066
5.4 Caracterização do resíduo do decantador ..................................................................... 067
5.4.1 Características físico-químicas ..................................................................................... 067
5.4.2 Distribuição granulométrica ......................................................................................... 071
5.5 Caracterização da ETE.................................................................................................. 072
5.6 Vazão e tempo de detenção hidráulica no período de estudo ....................................... 074
5.7 Caracterização do esgoto bruto..................................................................................... 078
5.8 Caracterização do esgoto ao longo do comprimento das lagoas .................................. 081
5.9 Resultados do efluente das lagoas ................................................................................ 086
5.9.1 Temperatura e pH ......................................................................................................... 087
5.9.2 DBO e DQO.................................................................................................................. 089
5.9.3 Sólidos .......................................................................................................................... 091
5.9.4 NTK, nitrogênio amoniacal e condutividade................................................................ 096
5.9.5 Fósforo total.................................................................................................................. 102
5.9.6 OD e clorofila ............................................................................................................... 103
5.9.7 Escherichia coli ............................................................................................................ 104
5.9.8 Metais............................................................................................................................ 105
5.10 Análise estatística dos resultados do efluente............................................................... 106
5.11 Caracterização do lodo de fundo das lagoas................................................................. 111
5.12 Análise comparativa dos metais ferro, alumínio e manganês nas amostragens do
afluente, resíduo, efluente e lodo da lagoa.................................................................... 113
5.13 Volume de lodo de fundo acumulado nas lagoas ......................................................... 115

6 CONCLUSÕES ............................................................................................................ 121

7 SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS........................................................... 124

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 125

APÊNDICE A - Produção de lodo na ETA Piracanjuba medida e estimada......................... 131

APÊNDICE B - Lagoas C (TESTE) e B (REF) antes do experimento.................................. 132

APÊNDICE C - DBO da lagoas de teste e de referência na Fase 2 - Boxplot....................... 133


ix

LISTA DE FIGURAS

Figura 3.1 - Lagoa de desaguamento de lodo - ETA Meia Ponte, em diferentes estágios:
a) Desaguamento; b) Lodo seco e c) Detalhe do lodo seco (Fotografias cedidas pelo engº.
Emilsom Ponciano Trevenzol). ................................................................................................ 07
Figura 3.2 - Leitos de drenagem do lodo - ETA Rio Verde, em diferentes estágios:
a) Carregamento; b) Desaguamento e c) Lodo seco (Fotografias cedidas pela Saneago). ...... 08

Figura 4.1 – Situação geográfica do município de Piracanjuba............................................... 30


Figura 4.2 – Localização das estações de estudo (Fonte: Google Earth) ................................. 31
Figura 4.3 – Planta esquemática da ETA Piracanjuba ............................................................. 32
Figura 4.4 – ETA de ciclo completo Piracanjuba - a) aplicação de coagulante, b)
floculador hidráulico, c) decantador convencional e d) filtros de fluxo descendente.............. 33
Figura 4.5 - Coleta da amostra da água de lavagem do filtro................................................... 35
Figura 4.6 - Detalhe do amostrador da água de lavagem do filtro. .......................................... 35
Figura 4.7 - Fluxograma da ETE Piracanjuba.......................................................................... 36
Figura 4.8 – ETE Piracanjuba - vista geral. ............................................................................. 37
Figura 4.9 – ETE Piracanjuba - grade e desarenador............................................................... 37
Figura 4.10 – ETE Piracanjuba - calha Parshall (à esquerda) e elevatória de esgoto (à
direita). ..................................................................................................................................... 37
Figura 4.11 – Lagoas da ETE Piracanjuba, indicando as lagoas utilizadas do estudo (teste
e referência).............................................................................................................................. 39
Figura 4.12 – Fluxograma do experimento. ............................................................................. 40
Figura 4.13 – Tanques de lodo – Tanques de aplicação TQ1e TQ2 na área da ETE (à
esquerda) e tanques de armazenamento TQ3 e TQ4 na área da ETA (à direita). .................... 43
Figura 4.14 – Energização – Tomada (à esquerda) e chave de acionamento (à direita) da
bomba de mistura do lodo. ....................................................................................................... 43
Figura 4.15 – Bomba usada para recirculação e mistura do lodo antes de cada aplicação. ..... 43
Figura 4.16 – Coleta do resíduo do decantador por meio de caminhões com sucção a
vácuo. ....................................................................................................................................... 44
Figura 4.17 – Descarga do resíduo do decantador nos tanques da ETE. ................................. 45
Figura 4.18 – Coleta das amostras do resíduo do decantador. ................................................. 46
Figura 4.19 - Aplicação do resíduo na lagoa - Tanque e mangote (à esquerda) e detalhe da
caixa de entrada (à direita). ...................................................................................................... 49
Figura 4.20 – ADCP testado sem sucesso na batimetria do decantador da ETA
Piracanjuba. .............................................................................................................................. 51
Figura 4.21 - Pistola de medição de lodo utilizada para batimetria das lagoas do estudo (à
esquerda) e detalhe do sensor óptico (à direita). ...................................................................... 51
Figura 4.22 – Malha de locação dos pontos da batimetria das lagoas de teste e de
referência (os eixos referem-se à distância, em metro, em relação ao canto inferior
esquerdo de cada lagoa). .......................................................................................................... 52
x

Figura 4.23 – Procedimento realizado para batimetria (na sequência: marcação das
seções, estaqueamento, ancoragem da corda guia, medição da altura do lodo e medição da
profundidade da lagoa)............................................................................................................. 53
Figura 4.24 - Procedimento de coleta das amostras do esgoto bruto. ...................................... 56
Figura 4.25 - Procedimento de amostragem do esgoto ao longo do comprimento das
lagoas........................................................................................................................................ 58
Figura 4.26 – Procedimento de coleta do efluente das lagoas na caixa de saída. .................... 59
Figura 4.27 - Fases de aplicação do resíduo e de monitoramento das lagoas. ......................... 60
Figura 4.28 - Coleta do lodo de fundo utilizando a draga de Eckman..................................... 62

Figura 5.1 – Curva de distribuição granulométrica do resíduo de ETA. ................................. 71


Figura 5.2 – Qualidade do efluente da ETE Piracanjuba em termos de DBO antes do
experimento com aplicação do lodo......................................................................................... 73
Figura 5.3 – Curva de variação horária de vazão de esgoto com vazões médias para
cálculo do fator de correção-(medição em 30/03/12)............................................................... 76
Figura 5.4 – Curva de variação horária de vazão de esgoto com vazões médias para
cálculo do fator de correção-(medição em 06/06/12)............................................................... 76
Figura 5.5 – Vazões médias diárias no período de estudo. ...................................................... 77
Figura 5.6 – Perfil longitudinal de DBO das lagoas. ............................................................... 82
Figura 5.7 – Perfil longitudinal de ST das lagoas. ................................................................... 83
Figura 5.8 – Perfil longitudinal de SST das lagoas. ................................................................. 83
Figura 5.9 – Perfil longitudinal de fósforo total das lagoas. .................................................... 84
Figura 5.10 – Perfil longitudinal de NTK das lagoas............................................................... 85
Figura 5.11 – Perfil longitudinal de nitrogênio amoniacal das lagoas. .................................... 85
Figura 5.12 - Temperatura do efluente na saída das lagoas teste e de referência durante o
período de monitoramento na 1ª e 2ª fase. ............................................................................... 87
Figura 5.13 - pH do efluente na saída das lagoas teste e de referência durante o período de
monitoramento na 1ª e 2ª fase. ................................................................................................. 88
Figura 5.14 - DBO5 do efluente na saída das lagoas teste e de referência durante o
período de monitoramento na 1ª e 2ª fase. ............................................................................... 89
Figura 5.15 - Linhas de tendências da DBO5 do efluente na Fase 2. ...................................... 90
Figura 5.16 - DQO do efluente na saída das lagoas teste e de referência durante o período
de monitoramento na 1ª e 2ª fase. ............................................................................................ 91
Figura 5.17 - Sólidos totais do efluente na saída das lagoas teste e de referência durante o
período de monitoramento na 1ª e 2ª fase. ............................................................................... 92
Figura 5.18 - Sólidos totais voláteis do efluente na saída das lagoas teste e de referência
durante o período de monitoramento na 1ª e 2ª fase. ............................................................... 93
Figura 5.19 - Sólidos totais fixos do efluente na saída das lagoas teste e de referência
durante o período de monitoramento na 1ª e 2ª fase. ............................................................... 93
Figura 5.20 - Sólidos suspensos totais do efluente na saída das lagoas teste e de referência
durante o período de monitoramento na 1ª e 2ª fase. ............................................................... 94
Figura 5.21 - Sólidos dissolvidos totais do efluente na saída das lagoas teste e de
referência durante o período de monitoramento na 1ª e 2ª fase. .............................................. 94
xi

Figura 5.22 - Sólidos sedimentáveis do efluente na saída das lagoas teste e de referência
durante o período de monitoramento na 1ª e 2ª fase. ............................................................... 95
Figura 5.23 - Comportamento de SST do afluente e efluente na Fase 2.................................. 96
Figura 5.24 - NTK do efluente .na saída das lagoas teste e de referência durante o período
de monitoramento na 1ª e 2ª fase. ............................................................................................ 97
Figura 5.25 - Nitrogênio amoniacal do efluente na saída das lagoas teste e de referência
durante o período de monitoramento na 1ª e 2ª fase. ............................................................... 97
Figura 5.26 - Linhas de tendências do nitrogênio amoniacal do efluente na Fase 1................ 98
Figura 5.27 - Linhas de tendências do nitrogênio amoniacal do efluente na Fase 2................ 98
Figura 5.28 - Condutividade do efluente na saída das lagoas teste e de referência durante
o período de monitoramento na 1ª e 2ª fase. ............................................................................ 99
Figura 5.29 - Linhas de tendências da condutividade do efluente na Fase 1. ........................ 100
Figura 5.30 - Linhas de tendências da condutividade do efluente na Fase 2. ........................ 100
Figura 5.31 - Correlações entre condutividade e nitrogênio amoniacal obtidas na Fase 2. ... 101
Figura 5.32 - Fósforo total do efluente na saída das lagoas teste e de referência durante o
período de monitoramento na 1ª e 2ª fase. ............................................................................. 102
Figura 5.33 - Oxigênio dissolvido do efluente na saída das lagoas teste e de referência
durante o período de monitoramento na 1ª e 2ª fase. ............................................................. 103
Figura 5.34 - Clorofila "a" do efluente na saída das lagoas teste e de referência durante o
período de monitoramento na 1ª e 2ª fase. ............................................................................. 104
Figura 5.35 - E.coli do efluente na saída das lagoas teste e de referência durante o período
de monitoramento na 1ª e 2ª fase. .......................................................................................... 105
Figura 5.36 – Teores de alumínio detectados......................................................................... 114
Figura 5.37 – Teores de ferro detectados. .............................................................................. 114
Figura 5.38 – Teores de manganês detectados....................................................................... 115
Figura 5.39 – Curvas de níveis do lodo na lagoa de teste - antes (à esq.) e depois (à dir.),
sendo o fluxo de esgoto da lagoa na direção longitudinal e no sentido da numeração
crescente. ................................................................................................................................ 116
Figura 5.40 – Curvas de níveis do lodo na lagoa de referência - antes (à esq.) e depois (à
dir.), sendo o fluxo de esgoto da lagoa na direção longitudinal e no sentido da numeração
crescente. ................................................................................................................................ 116
Figura 5.41 – Superfície de lodo da lagoa de teste (antes), dimensões em metro.................. 117
Figura 5.42 – Superfície de lodo da lagoa de teste (depois), dimensões em metro. .............. 117
Figura 5.43 – Superfície de lodo da lagoa de referência (antes). ........................................... 118
Figura 5.44 – Superfície de lodo da lagoa de referência (depois).......................................... 118
xii

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 – Aparência do lodo de sulfato de alumínio (RICHTER, 2001). ........................... 12


Tabela 3.2 - Características físico-químicas de lodos gerados em ETA (LOMBARDI,
2009)......................................................................................................................................... 13
Tabela 3.3 - Características físico-químicas dos lodos de decantadores de ETAs
(adaptado de CHAO, 2006)...................................................................................................... 14
Tabela 3.4 – Destino dos resíduos de ETA no Brasil em 2008, segundo as Grandes
Regiões, em número de municípios (SOUZA, 2011, adaptada do IBGE, 2010)..................... 16
Tabela 3.5 – Vantagens e desvantagens da disposição de resíduos de ETA em ETE (Di
bernardo e sabogal Paz, 2008).................................................................................................. 18
Tabela 3.6 – Coeficientes de remoção de DBO para lagoas facultativas em função do
regime hidráulico (SILVA, S.; MARA, 1979; ARCEIVALA, 1981; EPA, 1983; VIDAL,
1983 apud VON SPERLING, 1996). ....................................................................................... 27
Tabela 4.1 - Características de projeto do decantador da ETA Piracanjuba. ........................... 33
Tabela 4.2 - Características de projeto dos filtros da ETA Piracanjuba. ................................. 33
Tabela 4.3 - Parâmetros de análise da água de lavagem dos filtros. ........................................ 35
Tabela 4.4 - Medidas de projeto das lagoas da ETE Piracanjuba. ........................................... 38
Tabela 4.5 – Medidas in loco das lagoas facultativas do estudo.............................................. 38
Tabela 4.6 – Fases de aplicação do resíduo e de monitoramento das lagoas. .......................... 41
Tabela 4.7- Características dimensionais dos tanques utilizados na pesquisa. ........................ 42
Tabela 4.8 - Parâmetros físico-químicos de análise do resíduo do decantador........................ 47
Tabela 4.9 - Metais analisados do resíduo do decantador........................................................ 48
Tabela 4.10 - Volumes de lodo e cargas de sólidos totais aplicados no período de estudo. .... 49
Tabela 4.11 - Volumes de lodo e cargas de sólidos totais aplicados diariamente.................... 50
Tabela 4.12 - Parâmetros físico-químicos de análise do esgoto bruto. .................................... 56
Tabela 4.13 - Metais analisados do esgoto bruto. .................................................................... 57
Tabela 4.14 - Parâmetros de análise do esgoto ao longo do comprimento das lagoas............. 58
Tabela 4.15 - Parâmetros físico-químicos de análise do esgoto efluente das lagoas. .............. 60
Tabela 4.16 - Metais analisados do efluente das lagoas........................................................... 61
Tabela 4.17 - Parâmetros físico-químicos de análise do lodo de fundo das lagoas. ................ 63
Tabela 4.18 - Metais analisados do lodo de fundo das lagoas. ................................................ 63
Tabela 5.1 - Características da água bruta do córrego São Mateus de 2010............................ 64
Tabela 5.2 - Características da água bruta do rio Piracanjuba de 2010. .................................. 65
Tabela 5.3 - Parâmetros operacionais e dosagem de produtos químicos em 2010. ................. 65
Tabela 5.4 - Histórico de limpeza do decantador de abril/2011 a março/2012........................ 66
Tabela 5.5 – Volume de água de lavagem dos filtros. ............................................................. 66
Tabela 5.6 – Características da água de lavagem dos filtros.................................................... 67
Tabela 5.7 - Características do lodo do decantador. ................................................................ 68
Tabela 5.8 – Teores de metais do lodo do decantador. ............................................................ 70
xiii

Tabela 5.9 – Desempenho da ETE Piracanjuba em 2010. ....................................................... 73


Tabela 5.10 – Parâmetros operacionais das lagoas facultativas B e C em 2010, que
apresentam as mesmas dimensões e vazão de alimentação. .................................................... 74
Tabela 5.11 – Efluente das lagoas facultativas B e C em 2010. .............................................. 74
Tabela 5.12 - Vazão e TDH no período de estudo, sendo a 1ª fase com 25% da vazão e a
2ª fase com 50% da vazão, diminuindo o TDH. ...................................................................... 77
Tabela 5.13 – Características físico-químicas e bacteriológicas do esgoto bruto. ................... 79
Tabela 5.14 – Teores de metais do esgoto bruto - 04/06/12. ................................................... 80
Tabela 5.15 - Principais parâmetros operacionais por fase...................................................... 86
Tabela 5.16 – Teores de metais do efluente, pesquisados na Fase 2...................................... 106
Tabela 5.17 - Análise estatística dos resultados do efluente - Fase 1. ................................... 107
Tabela 5.18 - Análise estatística dos resultados do efluente - Fase 2. ................................... 109
Tabela 5.19 - Características físico-químicas do lodo de fundo das lagoas - 22/06/2012. .... 111
Tabela 5.20 - Teor de metais do lodo de fundo das lagoas - 22/06/2012............................... 112
xiv

RESUMO

A realidade brasileira atual é de que a grande maioria dos resíduos de ETA são
lançados diretamente em cursos d'água, com impactos negativos sobre a qualidade das águas,
biota aquática e sedimentos, podendo também representar riscos à saúde humana. O trabalho
apresenta um estudo em escala real da disposição do resíduo do decantador da ETA do tipo
convencional (ou de ciclo completo) da cidade de Piracanjuba-GO, cujo coagulante utilizado
é o sulfato de alumínio, na lagoa facultativa primária da ETE Piracanjuba, visando contribuir
como alternativa adequada para a gestão dos resíduos sólidos de sistemas de saneamento. O
trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos da disposição do resíduo no desempenho da
lagoa quanto à qualidade do efluente líquido e ao volume do lodo de fundo acumulado.
Trabalhou-se com duas lagoas idênticas em paralelo, uma de teste, onde foi aplicado o
resíduo, e outra de referência, sem aplicação, para servir de comparação dos resultados. O
estudo foi realizado em duas fases de aplicação do resíduo e monitoramento das lagoas, com
dosagem de 37 mgSTresíduo (bs)/Lesgoto na Fase 1 e 44 mgSTresíduo (bs)/Lesgoto na Fase 2,
totalizando 125 dias de aplicação e 191 dias de monitoramento. Foram avaliados diversos
parâmetros físico-químicos do efluente, tais como DBO, SST, Namoniacal, fósforo total, E.coli,
metais, dentre outros. Os volumes de lodo nas lagoas foram obtidos a partir de levantamento
batimétrico com uso de medidor de óptico de lodo (Sludge Gun) e calculados por modelagem
matemática pelo programa Surfer 8.0. A adição do resíduo de ETA não prejudicou o
desempenho da lagoa facultativa de teste, com discreta redução de DBO e Namoniacal. Não foi
possível apontar nenhuma influência do resíduo de ETA sobre a remoção de fósforo total do
esgoto, o que foi atribuído a fatores como elevado pH e baixa dosagem. Na análise estatística
dos resultados do efluente, ao nível de confiança de 95%, não foram verificadas diferenças
estatísticas entre as médias dos 15 parâmetros avaliados nas duas fases, exceto para Namoniacal.
Não houve diferença entre os acréscimos de volume de lodo de fundo acumulado nas lagoas,
sendo que concentração de sólidos totais do lodo de fundo foi maior na lagoa de teste. Esse
comportamento foi associado a características granulométricas do material. O estudo indica a
viabilidade técnica da disposição do resíduo da ETA nas lagoas facultativas da ETE
Piracanjuba, mostrando-se como uma alternativa ambientalmente adequada para a gestão do
resíduo, que pode ser aplicada também em outros sistemas de mesmas tipologias, desde que
avaliadas as condições específicas de cada caso.

Palavras-chave: gestão de resíduos, resíduo de ETA, lodo, tratamento de esgoto,


lagoa de estabilização.
xv

ABSTRACT

In Brazil water treatment plants (WTP) residuals are usually discharged into
waterways, with negative impacts on water quality, aquatic biota and sediments, which may
also pose risks to human health. This paper presents a study on real scale disposal of
aluminum sludge from the settling of a WTP in a primary facultative pond, both located in
Piracanjuba-GO, wishing to contribute as an alternative for residuals management. The study
aimed to evaluate the effects of WTP residuals (WTPR) in the performance of the wastewater
stabilization pond (WSP), in terms of quality of the effluent and volume of bottom sludge
accumulated. Worked up in two identical parallel ponds, one in which WTPR was applied
(test pond) and another without application (control pond) to serve as comparison of results.
The study was carried out in two stages, with dosage of 37 mg TS/L in Phase 1 and
44 mg TS/L in Phase 2, totaling 125 days of application and 191 days of monitoring. It was
evaluated several effluent parameters such as BOD, solids, nitrogen, total phosphorus,
Escherichia coli, metals, among others. Sludge volumes in the ponds were obtained from
bathymetric survey using a sludge depth meter (sludge gun) and modeling by Surfer 8.0
software. The addition of the WTPR did not impair the performance of the test pond, with
minimal reduction of BOD and nitrogen. It was not possible to identify any influence of
WTPR for the removal of total phosphorus of the sewage, which was attributed to high pH
and low dosage. There was no statistical difference (95% confidence level) between the
means of 15 parameters evaluated in two phases, except for nitrogen ammonia. There was no
difference between the increases of sludge volume accumulated in the bottom of the ponds,
although total solids content was higher in the test pond. This behavior was associated with
particle size characteristics of the material. The study indicates technical feasibility of WTP
residuals disposal in the WSP studied, revealing an alternative for its management that can
also be applied in other same type systems if evaluated the specific conditions in each case.

Keywords: residuals management, water treatment plant residuals, alum sludge, wastewater
treatment, wastewater stabilization pond.
1

1 INTRODUÇÃO

A busca do homem pela melhoria da qualidade de vida se reflete, entre outros


aspectos, nas suas condições de habitação e infra-estrutura. Nas áreas urbanas, os sistemas de
abastecimento de água e de esgotamento sanitário são serviços essenciais que têm apresentado
aumento gradativo da demanda devido ao crescimento populacional.
Em estações de tratamento de água (ETAs) do tipo convencional ou de ciclo
completo (coagulação, floculação, decantação e filtração), com a finalidade de atender aos
padrões de potabilidade, a água bruta é transformada em água adequada para consumo por
meio de operações e processos com introdução de produtos químicos, em geral sais de
alumínio ou ferro, que geram resíduos. Esses resíduos têm origem principalmente na descarga
dos decantadores e na lavagem dos filtros.
Apesar do aspecto aquoso dos resíduos de ETA, a NBR 10004 (ABNT, 2004)
classifica os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água como resíduos sólidos,
assim como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento
nos corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face
à melhor tecnologia disponível. De modo que tais resíduos devem ser devidamente tratados e
dispostos sem provocar danos ao meio ambiente.
No atual cenário brasileiro os resíduos de ETA têm sido normalmente lançados
nos cursos d’água mais próximos sem qualquer tipo de tratamento. De acordo com a Pesquisa
Nacional de Saneamento Básico de 2008 (IBGE, 2010), este tipo de destinação é dado em
dois terços dos municípios com geração de lodo no tratamento da água. No âmbito do estado
de Goiás, apenas 2% das ETAs de ciclo completo operadas pela Saneamento de Goiás S. A.
(Saneago) possuem unidades de tratamento de resíduos. Segundo Scalize e Di Bernardo
(1999), além do impacto nos corpos receptores, os resíduos de ETA podem causar riscos à
saúde humana devido à presença de agentes patogênicos e metais pesados.
O lançamento de resíduos em corpos de água é regulado pela Resolução 357
(CONAMA, 2005), que estabelece os padrões de qualidade da água a serem atendidos, assim
como pela Resolução 430 (CONAMA, 2011) e Decreto Estadual nº 1745 (GOIÁS, 1979),
sendo que estes estabelecem limites de emissão para efluentes.
Neste contexto, por força do processo de licenciamento, as empresas de
saneamento brasileiras têm se deparado com a necessidade de dar solução adequada quanto à
disposição dos resíduos de ETAs em fase de projeto e também daquelas já em operação.
Em face da elevada complexidade na operação de sistemas de tratamento da fase
2

sólida, a disposição dos resíduos de ETAs em estações de tratamento de esgotos (ETEs) é


uma solução a ser considerada. A viabilidade dessa alternativa dependerá, dentre outros
fatores, das condições topográficas da cidade, da distância entre as estações de tratamento de
água e de esgoto, das características e volume do resíduo e do processo de tratamento de
esgoto existente, além das adaptações requeridas na ETA e ETE.
Diversos estudos, alguns em escala real, têm comprovado que o recebimento de
resíduo de ETA na ETE não causa prejuízos ao desempenho do sistema de tratamento em
termos de remoção de matéria orgânica e sólidos, podendo muitas vezes ser até vantajoso para
a qualidade do efluente (SCALIZE, 2003; BUENO et al., 2007; ROSARIO, 2007;
LOMBARDI, 2009; SCALIZE e DI BERNARDO, 2011). A adição do resíduo de ETA
representa ainda um potencial para remoção de nutrientes do esgoto, especialmente do
fósforo, devido à sua capacidade de sorção pelos compostos metálicos presentes no resíduo
(CORNWELL et al., 1987; HARRI e BOSANDER, 2001; GEORDANTAS e
GRIGOROPOULOU, 2005; CHAO, 2006; MENDES et al., 2012; SOARES, 2013;
SCALIZE et al., 2014).
A disposição dos resíduos de ETAs em ETEs faz-se especialmente atraente para
sistemas de pequeno a médio porte, uma vez verificada sua viabilidade, visto que as
operações de tratamento da fase sólida podem ser concentradas em uma única unidade, não
sendo necessários investimentos elevados com implantação e operação de um sistema
adicional de adensamento, desaguamento e disposição dos resíduos sólidos gerados na ETA.
Na perspectiva de gerenciamento integrado, a centralização dos resíduos da ETA e da ETE
pode inclusive apresentar vantagem de economia de escala, reduzindo custos com o
tratamento e a disposição final.
Nesse sentido, considerando o grande número de pequenos municípios no estado
de Goiás, bem como a larga utilização de lagoas de estabilização para tratamento dos esgotos,
este trabalho vem de encontro com a necessidade de soluções simplificadas para adequação
das ETAs em operação ou novas, com a legislação ambiental vigente, trazendo a
possibilidade de aliar os conceitos mais modernos de gestão de resíduos, tecnologia e
sustentabilidade ambiental.
3

2 OBJETIVOS

Este trabalho tem como objetivo geral avaliar em escala real, na cidade de
Piracanjuba-GO, os efeitos da disposição do resíduo do decantador da ETA, que utiliza
sulfato de alumínio como coagulante, no desempenho de uma lagoa de estabilização de esgoto
tipo facultativa primária.
São ainda objetivos específicos:
• Comparar, por meio de parâmetros físico-químicos e bacteriológicos, a qualidade do
efluente líquido da lagoa facultativa com introdução do resíduo da ETA (lagoa de teste) e
da lagoa facultativa sem introdução do resíduo da ETA (lagoa de referência);
• Avaliar a influência da aplicação do resíduo na variação do volume do lodo de fundo
acumulado na lagoa de teste em comparação com a lagoa de referência.
4

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Segundo Boscov (2008), resíduo pode ser definido como qualquer matéria que é
descartada ou abandonada ao longo de atividades industriais, comerciais, domésticas ou
quaisquer outras; ou, ainda, como produtos secundários para os quais ainda não há demanda
econômica, sendo necessária sua disposição.
Nesse contexto, a produção de água tratada para fins de abastecimento público
possui características que a identifica como qualquer indústria que, por meio de processos e
operações com introdução de produtos químicos, transforma água bruta, inadequada para o
consumo humano, em um produto que esteja de acordo com o padrão de potabilidade e que
também gera resíduos, também conhecidos como lodos.
No final da década de 1990, Cordeiro (1999) já estimava que cerca de 7.500
ETAs de ciclo completo, ou convencionais, existentes no Brasil lançavam em cursos d’água
em torno de 2 mil toneladas de resíduo por dia. Um índice mais recente, de Hoppen et al.
(2005), indica que somente no estado do Paraná são produzidas mensalmente 4 mil toneladas
de lodo de ETA em matéria seca.
Barbosa et al. (1999) afirmam que a disposição in natura dos resíduos de ETAs
prejudica a biota aquática, comprometendo a qualidade da água e do sedimento dos corpos
receptores, o que é preocupante tendo em vista o elevado número de ETAs e o fato desses
resíduos serem, via de regra, lançados em corpos d’água adjacentes.
Scalize e Di Bernardo (1999) alertam que além do impacto nos corpos receptores,
os resíduos de ETAs podem causar riscos à saúde humana devido à presença de patogênicos.
Já Barroso e Cordeiro (2001) chamam a atenção pela presença de metais pesados. Cabe
salientar que a solubilização do metais presentes no resíduo pode ocorrer em condições
anaeróbias, favorecidas em caso de cursos d'água de baixa velocidade.
Outro efeito desses resíduos, é a habilidade do íon Al3+ de se ligar fortemente aos
fosfatos, o que afeta o ciclo do fósforo, nutriente essencial para a vegetação aquática, plâncton
e outros organismos (KAGGWA et al.1, 2001 apud DI BERNARDO E SABOGAL PAZ,
2008).

1
KAGGWA, R. C; MLALELO, C. I.; DENNY, P.; OKURUT, T. O. (2001). The Impact of Alum Discharges on
a Natural Tropical Wetland in Uganda. Water Research, v.38, n.3, p. 795-807.
5

De qualquer forma, outros problemas com a disposição inadequada dos resíduos


de ETAs estão associados aos aspectos visuais desagradáveis no corpo receptor durante as
lavagens dos filtros ou limpezas de decantadores das ETAs e ao uso da água à jusante como
fonte de abastecimento de outras comunidades ou para irrigação (DI BERNARDO E
SABOGAL PAZ, 2008), sem mencionar o possível desencadeamento de processos erosivos
no ponto de lançamento pela intensidade da vazão de descarga e de assoreamento do curso
d’água.
Entretanto, os impactos ambientais do lançamento direto dos resíduos de ETAs
nos cursos d'água podem ser muito variáveis, de acordo com as características do resíduo,
decorrentes do tipo de solo e ocupação da bacia do manancial, dos produtos químicos
adicionados no tratamento e da sua forma de remoção, assim como das condições do curso
d'água.

3.1 Legislação e normas ambientais

As primeiras normativas relacionadas aos resíduos de ETAs em nível mundial


foram publicadas a partir da década de 70, que pode ser considerada um marco no que diz
respeito ao assunto. Nos EUA desde então é proibido o lançamento do lodo de ETA nas águas
superficiais sem autorização das autoridades competentes. Desde 1972 a legislação
norte-americana considera o lodo gerado no tratamento de água como resíduo industrial,
devendo ser obedecidos os padrões federais de lançamento de efluentes, bem como as
restrições das agências estaduais quanto às limitações específicas para o lançamento e as
diretrizes de pré-tratamento. Na União Européia, a partir de 1990 foram criados conjuntos de
leis que regulamentam as descargas de poluentes oriundos do processo de tratamento de água
aos ambientes aquáticos. (CORDEIRO, 1993; RICHTER, 2001; ANDREOLI et al., 2006)
No Brasil, embora historicamente a disposição dos resíduos de ETA tem sido feita
prioritariamente nos cursos d’água, a legislação ambiental mais recente tem exigido sua
destinação adequada.
Segundo a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), Lei 9.433/1997,
o lançamento de resíduos líquidos, sólidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua
diluição, transporte ou disposição final em corpos d’água, além de outros usos que
alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água, está sujeita à outorga do Poder
Público (BRASIL, 1997a).
6

Como instrumento da PNRH, a implantação e a operação de sistemas de


tratamento de água está sujeita ao licenciamento ambiental, conforme a Resolução 237 do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) (BRASIL, 1997b). Dessa forma, os
novos projetos, bem como as ETAs em funcionamento, devem estar plenamente adequados à
legislação.
O lançamento de resíduos nos corpos d'água é regulado pela Resolução 357 do
CONAMA (BRASIL, 2005). Devido aos efeitos causados no ambiente aquático, o
lançamento dos resíduos de ETAs em corpos d’água, quando não aprovado pelos órgãos
ambientais, pode ser considerado crime ambiental de acordo com a Lei 9.605
(BRASIL, 1998), sendo passível de punição administrativa, civil e criminal.
Entretanto, existem alternativas legais para o licenciamento de ETAs sem a
disposição adequada de lodo em alguns estados, desde que obedeçam aos prazos para a
solução do problema definidos na legislação, dentro do princípio de metas progressivas. Além
disso, para ETAs de pequeno porte, em muitas situações, o licenciamento é dispensado, caso
os impactos ambientais sejam considerados não significantes (ACHON et al., 2013).
Segundo a norma NBR 10.004, os resíduos de ETA são classificados como
resíduos sólidos, cuja denominação se aplica aos
resíduos nos estados sólido e semissólido que resultam de atividades da comunidade, de
origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição.
Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água
e esgoto, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem
como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na
rede pública de esgotos ou corpos d’água, ou exijam para isto soluções técnicas e
economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível. (ABNT, 2004)

Para ser classificado, o resíduo deve ser amostrado de acordo com a norma
NBR 10.007 (ABNT, 2004) e submetido aos ensaios de lixiviação e solubilização segundo as
normas NBR 10.005 (ABNT, 2004) e NBR 10.006 (ABNT, 2004), respectivamente. Os
resultados das concentrações de uma série de espécies químicas nos extratos lixiviado e
dissolvido são comparados aos limites máximos estipulados na NBR 10.004. Valores
superiores aos limites no extrato lixiviado classificam o resíduo como Classe I - Perigoso;
valores superiores no extrato dissolvido como Classe IIA - Não inerte; nenhum valor superior
aos limites classificam o resíduo como Classe IIB - Inerte.
7

De acordo com Andreoli et al. (2006), os resultados de ensaios de caracterização


de lodos de diversas ETAs do país enquadram este resíduo como Classe IIA (não perigoso e
não inerte) e, segundo os autores, em virtude dessa classificação estes resíduos devem ser
dispostos em aterros sanitários ou áreas controladas.
Segundo a Lei 12.305 (BRASIL, 2010), os geradores dos resíduos de ETAs,
oriundos dos serviços públicos de saneamento básico, são sujeitos a elaboração de planos de
gerenciamento de resíduos.

3.2 Cenário da destinação dos resíduos de ETAs em Goiás

Em Goiás, conforme levantamento realizado na Saneago, empresa estadual com


quase cinquenta anos da sua criação e responsável pelos serviços de água e esgoto em 91%
dos 246 municípios goianos, cerca de um terço dos sistemas de tratamento são de ciclo
completo, o que corresponde a 89 ETAs em operação (SANEAGO, 2010 a). Desse universo,
apenas duas ETAs possuem unidade de tratamento dos resíduos, uma em Goiânia e a outra na
cidade de Rio Verde.
A região metropolitana de Goiânia é praticamente toda abastecida por dois
grandes sistemas produtores com ETAs do tipo convencional, a ETA Jaime Câmara (Sistema
João Leite) e a ETA Engº Rodolfo José da Costa e Silva (Sistema Meia Ponte), com vazões
médias da ordem de 1,6 m3/s e 1,8 m3/s, respectivamente, sendo que somente esta última
possui tratamento dos resíduos por meio de lagoas de desaguamento, como é mostrado na
Figura 3.1. A disposição do lodo seco é feita na própria área da ETA.

a) b) c)
Figura 3.1 - Lagoa de desaguamento de lodo - ETA Meia Ponte, em diferentes estágios:
a) Desaguamento; b) Lodo seco e c) Detalhe do lodo seco (Fotografias cedidas pelo engº.
Emilsom Ponciano Trevenzol).
8

Cabe salientar que a ETA Jaime Câmara, que teve início de operação em 1953,
será substituída pela ETA João Leite, em fase de implantação, que tratará a água captada no
reservatório de acumulação formado pela barragem do Ribeirão João Leite recentemente
construída. A geração de resíduos da ETA João Leite, de concepção do tipo convencional e
vazão de início de plano de 4,0 m3/s, ocorrerá principalmente em seus processos de
sedimentação e filtração e o seu projeto contempla a implantação de estação de tratamento do
lodo, incluindo o desaguamento mecânico por meio de centrífugas (FERREIRA FILHO,
2010).
Os resíduos da ETA Rio Verde são tratados em leitos de drenagem, como é
mostrado na Figura 3.2. A disposição do lodo seco é feita no aterro municipal. Nas demais
ETAs de ciclo completo do estado, os resíduos são lançados diretamente em cursos d'água.

a) b) c)
Figura 3.2 - Leitos de drenagem do lodo - ETA Rio Verde, em diferentes estágios:
a) Carregamento; b) Desaguamento e c) Lodo seco (Fotografias cedidas pela Saneago).

3.3 Origem e quantidade de resíduos gerados em uma ETA

Os mananciais superficiais têm sido cada vez mais castigados com lançamentos
de despejos diversos, decorrentes do crescimento populacional e da ocupação desordenada
das áreas de proteção. Assim, a qualidade da água bruta piora, exigindo que maiores
concentrações de produtos químicos sejam aplicadas no tratamento e, como consequência,
observa-se o acréscimo na geração de resíduos nas ETAs. (CORDEIRO, 2001)
Demattos et al. (2001), em estudos realizados na região metropolitana de
Belorizonte-MG observaram que 92% do volume de lodo foi originário de coagulante e
somente 8% do volume foi considerado impurezas removidas da água. Porém, esses índices
são bastante variáveis em função da qualidade do coagulante.
9

Em sistemas de tratamento do tipo convencional ou de ciclo completo


(coagulação, floculação, decantação e filtração), a maior quantidade de resíduos em termos
volumétricos é proveniente da lavagem dos filtros, porém, em termos mássicos, a maior
quantidade provém do sistema de separação sólido/líquido, que é basicamente efetuada nos
decantadores (DI BERNARDO E SABOGAL PAZ, 2008).
O lodo de ETA geralmente representa de 0,2% a 5,0% do volume de água tratada,
sendo que geralmente os decantadores convencionais correspondem a perdas inferiores a
0,5%. Dependendo das características físico-químicas da água bruta, da eficiência do processo
de tratamento e do tipo e dose do coagulante, entre 60% e 95% do lodo gerado na ETAs é
acumulado nos decantadores e o restante nos filtros (RICHTER, 2001).
Os lodos gerados nos decantadores são resultados das reações químicas do
processo de coagulação e da operação física de formação de flocos, que tornam propícia a
sedimentação das partículas presentes na água bruta. Richter (2001) define lodo de ETA como
sendo basicamente o produto de coagulação da água bruta.
A quantidade e a qualidade dos resíduos produzidos em uma ETA dependem de
vários fatores, destacando-se (DI BERNARDO; SABOGAL PAZ, 2008):
• qualidade da água bruta;
• tecnologia de tratamento;
• tipo e dosagem de coagulante;
• uso, característica e dosagem de auxiliar de coagulação;
• uso de oxidante e adsorvente (carvão ativado pulverizado);
• método de limpeza dos decantadores;
• técnica de lavagem dos filtros;
• habilidade dos operadores;
• automação de processos e operações na ETA; e
• reuso da água recuperada no sistema de tratamento.
Acrescenta-se aos fatores mencionados a frequência de remoção dos resíduos.
Segundo Reali (1999), o teor de sólidos no lodo descartado pelos decantadores
varia bastante de uma ETA para outra, podendo apresentar valores na faixa de 0,1% a 2%, na
maioria dos casos abaixo de 1%. Uma faixa um pouco mais ampla, de 0,1% a 4%, é
mencionada por Richter (2001).
10

O tipo dos decantadores e a maneira de remoção do lodo acumulado têm grande


influência no teor de sólidos. Os decantadores convencionais desprovidos de removedores
mecânicos acumulam grande quantidade de lodo até o momento da limpeza, usualmente por
meses, o que confere elevadas concentrações de sólidos no resíduo de descarte.
A limpeza normalmente ocorre quando se observa intenso arrastamento de flocos
para as calhas de coleta de água decantada ou quando há fermentação do lodo. A formação de
pequenas bolhas de gás na superfície do decantador indica o início da fermentação, o que
pode causar sabor e odor desagradáveis na água. (DI BERNARDO, 1999)
Essa situação favorece o surgimento de condições anaeróbias na massa de lodo
acumulado, ocasionando impacto nas características do lodo e da água tratada. Uma das
possíveis conseqüências dessas condições anaeróbias é a dissolução de metais presentes no
lodo como, por exemplo, Fe, Mn, Al e metais pesados. (REALI, 1999)
A quantidade total de sólidos gerados em uma ETA pode ser estimada pelo uso de
equações empíricas disponíveis na literatura, que geralmente consideram a vazão de água
bruta, alguns parâmetros de qualidade da água bruta e as dosagens de produtos químicos. De
maneira mais simplificada, a quantidade de sólidos pode ser estimada a partir da medição da
turbidez da água bruta.
Segundo a AWWA (1999), quando o sulfato de alumínio é o coagulante usado e o
mecanismo de coagulação dominante é o da varredura, ocorre a formação de precipitado, na
forma Al (OH)3 x 3 H2O. A não inclusão das moléculas de água de hidratação no precipitado
tende a subestimar a quantidade de sólidos produzidos. As ligações químicas das moléculas
de água no precipitado aumentam o volume de lodo e dificultam o seu desaguamento. A
quantidade total de sólidos suspensos gerada, quando a coagulação é realizada no mecanismo
da varredura com sulfato de alumínio, é dada pela Equação 2.1.

PSS = Q (0,44DSAl + SST + DP + DCAP + 0,1Dcal) x 10-3 (3.1)


em que:
PSS : produção de SST (kg/d);
Q: vazão de água bruta a ser tratada (m3/d);
DSAl : dosagem de sulfato de alumínio com 17,17% de Al2O3 (mg/L);
SST : concentração de sólidos suspensos totais na água a ser tratada (mg/L);
DP : dosagem de polímero seco (mg/L);
DCAP : dosagem de carvão ativado pulverizado (mg/L); e
Dcal : dosagem de cal hidratada (mg/L).
11

A concentração de SST pode ser estimada a partir da turbidez da água bruta, por
meio da relação expressa na Equação 2.2.

SST = a.Tu (3.2)

SST : concentração de sólidos suspensos totais gerados na ETA (mg/L);


Tu : turbidez (uT); e
a : coeficiente a ser determinado experimentalmente.

O valor do coeficiente “a” pode variar entre 0,7 e 2,2 para água com baixa cor
verdadeira, e pode atingir valores de ordem de 20 para águas com baixa turbidez e quantidade
expressiva de COT. (DI BERNARDO; SABOGAL PAZ, 2008).
Cabe ressaltar que para quantificação dos resíduos de uma ETA é sempre
recomendável a realização de estudos de tratabilidade com amostras de água coletadas em
diferentes épocas do ano, sendo medidos o volume do lodo e a quantidade de sólidos
sedimentados. Outra forma preferível é a realização de análises de sólidos do próprio resíduo,
no caso de ETAs existentes, ou do resíduo obtido em simulações por meio de instalações
piloto ou de laboratório, quando ainda não implantadas. Na impossibilidade de realizar tais
ensaios, pode-se estimar a massa seca dos sólidos do lodo com o uso de equações empíricas
(DI BERNARDO; SABOGAL PAZ, 2008).

3.4 Características dos resíduos de decantador

O lodo de sulfato de alumínio é um líquido não newtoniano, gelatinoso cuja


fração de sólidos é constituída de hidróxido de alumínio, partículas inorgânicas, colóides de
cor e resíduos orgânicos, inclusive bactérias e outros microorganismos removidos no processo
de coagulação. Geralmente apresenta pH próximo ao neutro e pequena proporção de matéria
orgânica biodegradável. (RICHTER, 2001).
Além de hidróxido de alumínio, Boscov (2008) acrescenta que os sólidos
orgânicos e inorgânicos provenientes da água bruta e que se encontram no lodo são algas,
bactérias, vírus, partículas orgânicas, colóides, areias, siltes, argilas, cálcio, magnésio, ferro,
manganês, entre outros.
12

As reações que ocorrem com a adição do sulfato de alumínio à água podem ser
simplificadas como:
Al2(SO4)3 + 6 H2O → 2 Al (OH)3↓ + 6 H+ + 3 (SO4)-2
A forma que o lodo se apresenta varia de acordo com a concentração de sólidos,
conforme apresentado na Tabela 3.1.

Tabela 3.1 – Aparência do lodo de sulfato de alumínio (RICHTER, 2001).


Concentração de sólidos (%) Aparência do lodo
0-5 Líquido
8 - 12 Esponjoso, semi-sólido
18 - 25 Argila ou barro suave

Do ponto de vista reológico, o lodo de ETA pode ser caracterizado como um


fluido tixotrópico, apresentando-se em gel quando em repouso e relativamente líquido quando
agitado (SILVA JR.; ISAAC, 2002).
Aplica-se a reologia ao estudo da deformação e ao transporte dos lodos,
particularmente em unidades de bombeamento e decantadores centrífugos. Quando há uma
proporcionalidade entre a tensão de cisalhamento hidrodinâmica e a deformação relativa ou
gradiente de velocidade, o líquido se diz newtoniano, tais como água, óleo, etc., e a constante
de proporcionalidade define o coeficiente de viscosidade. Esse comportamento não se aplica
ao lodos de ETAs acima de determinadas concentrações de sólidos, pois as interações entre as
partículas e entre as partículas e a água modificam o comportamento reológico do lodo que
não se comporta mais como um líquido newtoniano. Nos líquidos não newtonianos a
viscosidade varia. (RICHTER, 2001)
A massa específica úmida do lodo de ETA varia com o conteúdo de água e massa
específica dos sólidos. Camp2 (1946) apud Richter (2001) relatou que águas de alta turbidez
contendo como sólidos secos principalmente areia, argila e silte com massa específica dos
sólidos média de 2.600 kg/m3, quando coagulados com o sulfato de alumínio, resultaram em
lodos com massa específica úmida de 1.030 kg/m3, contendo 95% de água.
Para massa específica dos sólidos de 2.750 kg/m3, os valores de massa específica
úmida do lodo variam de 1.006 kg/m3 a 1.236 kg/m3 para concentrações de sólidos variando
de 1% a 30%, após desaguamento. (RICHTER, 2001).

2
CAMP, T. R. (1946) Sedimentation and design of settling tanks. Trans. Am. Soc. Civ. Eng. 111.
13

Segundo os autores Richter (2001) e Andreoli et al. (2006) os lodos de sulfato de


alumínio são facilmente sedimentáveis, entretanto a sedimentação, adensamento e o
desaguamento do lodo será tanto mais fácil quanto menor o consumo do coagulante no
tratamento da água e menor a proporção de hidróxido de alumínio no lodo.
Nas Tabela 3.2 e 3.3 são apresentadas as características físico-químicas típicas de
lodos gerados em decantadores de ETAs de ciclo completo, incluindo concentrações de
alguns metais.
Tabela 2.4. Características de lodos gerados em ETA.

Tabela 3.2 - Características físico-químicas de lodos gerados em ETA (LOMBARDI, 2009).


DBO DQO ST SV SST Referências
pH
(mg/L) (mg/L) (mg/L) (% ST) (% ST) bibliográficas

30 a 150 500 a 15.000 6,0 a 7,6 1.100 a 16.000 20 a 30 - Neubauer (1968)

100 a 232 669 a 1.100 7,0 4.300 a 14.000 25 80 Sutherland (1969)

380 1.162 a 15.800 6,5 a 6,7 4.380 a 28.580 20 75 Bugg (1970)

30 a 100 500 a 10.000 5,0 a 7,0 3.000 a 15.000 20 - Albrecht (1972)

40 a 150 340 a 5.000 7,0 - 30 - Culp (1974)

100 2.300 - 10.000 30 - Nilsen (1974)

30 a 300 30 a 5.000 - - - - Singer (1974)

320 5.150 6,5 81.575 20,7 - Cordeiro (1981)

449 3.487 6,0 a 7,4 21.933 15 - CETESB (1990)

173 1.776 6,7 a 7,1 6.300 73 - CETESB (1990)


Fonte: Cordeiro (1993); Rosário (2007).

PORTELLA et al. (2003) citou que os valores obtidos nas amostras pontuais do
lodo de trêsDentre
ETA dos municípios
outros denecessários
parâmetros São Carlos, Araraquara e dos
à caracterização Rio lodos,
Claro onotamanho
Estado de
de
São Paulo
partícula, apresentaram
a resistência diferenças
específica acentuadas
e o coeficiente nos resultados,
de sedimentação ememvirtude
obtido ensaio das
de
diferentes operações
centrifugação de limpeza
são parâmetros dos decantadores.
importantes particularmente Na
paraETA Araraquara ou
o desaguamento o lodo era
filtração
removido com freqüência diária e nas demais ocorria o acúmulo em tanques. Os
por gravidade.
parâmetrosSegundo
analisados e os valores
Cordeiro (1999),observados estão
os lodos dos na Tabelaapresentam
decantadores 2.5. partículas de
Nos
pequeno períodos
tamanho, chuvososa remoção
dificultando os valores podem
de água livreaumentar, principalmente,
para redução do fato
de volume. Esse pH,
turbidez, sólidos, DQO, nitrogênio e fósforo em virtude do carreamento de
implica no aumento da resistência específica, que define a resistência oferecida pelo lodo à
contaminantes para os mananciais com o escoamento superficial, e no caso dos
passagem de água por ele. Assim, quanto maior a resistência específica, menor a capacidade
metais, principalmente o alumínio e ferro, pelo aumento da dosagem de coagulantes
de filtração da água.
primários.
14

Tabela 3.3 - Características físico-químicas dos lodos de decantadores de ETAs (adaptado de


CHAO, 2006)
Parâmetros Unidade Referência (*)
pH U pH 5,8 a 7,6
Sólidos Totais mg/L 1.100 a 81.575
Alumínio mgAl/L 1.700 a 171.769
Cádmio mgCd/L 0,01 a 0,14
Chumbo mgPb/L 0,50 a 2,66
Cobre mgCu/L 0,06 a 2,06
Cromo mgCr/L 0,35 a 3,82
Mercúrio (µgHg/L) 0,1 a 1,3
Zinco mgZn/L 0,1 a 4,25
Sulfato mgSO4-2/L 1.010
Fósforo Total mgP/L 2,1 a 33,7
Fósforo Solúvel mgP/L 0,01 a 6,0
* Faixa de resultados construída a partir dos valores encontrados por diversos autores (Cordeiro, 1993;
Barbosa, 2001; Barroso et al., 2001; Andrade, 2005 e Chao, 2006).
NOTA: Chao (2006) não determinou valores de cromo e sulfato; o valor de chumbo ficou inferior a
0,01 mgPb/L.

Segundo Boscov (2008), outras características relevantes para a disposição,


reutilização e a reciclagem os resíduos de ETA, como distribuição granulométrica,
compressibilidade, resistência mecânica e permeabilidade, ainda são pouco conhecidas.
Uma vez desaguado, o lodo se parece muito com o solo, de modo que para seu
uso como tal ou em substituição a ele, visando aplicações na engenharia civil (tais como
aterros, pavimentação, construção civil, etc.) requer-se a caracterização geotécnica do
material.

3.5 Alternativas de tratamento e destinação dos resíduos de ETA

No Brasil ainda falta regulamentação sobre a quantidade e qualidade dos resíduos


gerados em ETAs para as diversas alternativas de tratamento e disposição, de modo que as
técnicas usualmente empregadas baseiam-se em experiências de outros sistemas em escala
real ou de sistemas em escala piloto, bem como em análise de laboratório.
15

Como esses resíduos caracterizam-se por possuírem elevada umidade, geralmente


maior que 95% e apresentam-se sob forma fluida, o intuito da maioria das técnicas de
tratamento é reduzir o volume do resíduo até determinada concentração de sólidos em função
das opções de aproveitamento, de disposição e da possibilidade de reutilização da água
clarificada. Dessa forma, os resíduos podem ser dispostos de forma adequada, diminuindo
custos de transporte, disposição final e, obviamente, os riscos de poluição do meio ambiente.
(CORDEIRO, 1999)
Os métodos comumente utilizados para tratamento do lodo consideram um ou
mais dos seguintes processos: equalização, regularização, condicionamento, adensamento,
desaguamento e, em alguns casos, secagem e incineração (DI BERNARDO; SABOGAL
PAZ, 2008).
No que se refere à destinação final dos resíduos de ETAs, dentre as diversas
alternativas, é possível citar (REALI, 1999):
• Disposição em aterros sanitários – usualmente recomendável para tortas com
concentração de sólidos acima de 25%;
• Co-disposição com biossólidos – o gerenciamento conjunto dos lodos de ETAs e dos
biossólidos gerados em ETEs pode ser bastante vantajoso do ponto de vista operacional,
sendo que o produto da mistura costuma apresentar menores teores de metais, tornando-o
mais facilmente comercializável;
• Disposição controlada em certos tipos de solos;
• Aplicações industriais, como por exemplo, na fabricação de cimento, tijolos cerâmicos ou
artefatos de concreto;
• Incineração dos resíduos.
Segundo Richter (2001), o critério básico para escolher a alternativa de disposição
é o conteúdo de sólidos, geralmente limitado como segue:
• Descarga em curso de água < 1% a 8%;
• Descarga na rede de esgotos sanitários < 1% a 8%;
• Aplicação no solo 1% a > 15%;
• Aterro sanitário > 15% a > 25%.
Os tipos de tratamento e destinação dos resíduos de ETA adotados em cada país
variam bastante.
16

De acordo com Cornwell3 et al. (2000) apud Achon et al. (2013), nos Estados
Unidos 25% das ETAs aplicam o lodo no solo, 24% lançam nos sistemas públicos de esgotos,
20% dispõem em aterro, 13% em aterro exclusivo e 7% realizam outras formas de disposição
final. Apenas 11% das ETAs lançam o lodo nos corpos d’água.
No Reino Unido, segundo Simpson et al.4 (2002) apud Achon et al. (2013),
apenas 2% das ETAs lançam o lodo nos corpos d’água e há uma predominância de disposição
final em aterros sanitários (52%), seguida de 29% que lançam nos sistemas públicos de18

esgoto, 9% têm novos métodos, 6% dispõem em aterro exclusivo e 2% em lagoas.


Já aderealidade
de tratamento no Brasil
água, cerca de 80%em 2008osé resíduos
dispõe que 67%diretamente
dos municípios ainda lançavam
nos corpos os
d’água, 17%
resíduos de ETA
em terrenos em ecorpos
baldios 1% nad’água (IBGE,
fabricação de 2010).
tijolos, Atelhas
situação por ou
e gesso região é apresentada
na agricultura, na
como
Tabela 3.4. e recompositor da camada superficial do solo.
fertilizante

Tabela 3.4
Quadro – Destino
4. Destino dosdos resíduos
resíduos de ETA
gerados nasnoETAs
Brasildos
emDistritos
2008, segundo as Grandes
Brasileiros, Regiões,as
considerando
em número de municípios (SOUZA, 2011, adaptada do IBGE, 2010).
Grandes Regiões.
Com geração de lodo no processo de tratamento da água
Grandes Total de Destino dos resíduos gerados nas ETAs
Regiões municípios Total Aterro
Rio Mar Terreno Incineração Reaproveitamento Outro
Sanitário
Norte 449 84 46 - 14 2 - 3 23
Nordeste 1.793 537 231 5 261 14 1 24 61
Sudeste 1.668 896 703 - 105 53 - 10 94
Sul 1.188 442 330 2 59 11 - 11 54
Centro-Oeste 466 139 105 - 24 3 - 2 15
¨Goiás 246 83 68 - 14 - - 1 6
Brasil 5.564 2.098 1.415 7 463 83 1 50 247
Nota: O município pode dar mais de um destino ao lodo gerado no processo de tratamento da água.
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa
Nacional deSegundo
Saneamento Básico (2010),
o IBGE 2008 (adaptado).
a maioria das ETAs do estado de São Paulo lança os
lodos nos corpos d’água.
Os valores apresentados nessa pesquisa podem não indicar a realidade nas regiões.
No estado de Minas Gerais 87% das ETAs dos 175 municípios avaliados lançam o
Atualmente, não se tem conhecimento de ETAs no estado de Goiás que fazem a disposição do
lodo em corpos d’água sem tratamento, 6% não informaram, 3% possuem unidades de
resíduo em indústrias de fabricação de tijolos, telhas e gesso ou agricultura. Sabe-se que a
tratamento de resíduos, 2% lançam na rede pluvial, 1% em ETE e 1% no solo (MINISTÉRIO
grande maioria das ETAs destina os resíduos diretamente aos corpos d’água, e mais raramente
PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS5, 2009, apud ACHON et al., 2013).
em solo, como no caso da ETA Engenheiro Rodolfo, em Goiânia.
Segundo Silva Júnior (2003), a disposição nos corpos d’água pode causar sérios
3 impactos físicos, químicos e biológicos no corpo receptor, conforme as características do
CORNWELL, D. A.; MUTTER, R,N; VANDERMEYDEN, C. (2000) Commercial Application and Marketing
ofresíduo,
Water Plant Residuals.
como: Denver:
aumento naAmerican Waterde
quantidade Works Association.
sólidos em suspensão; assoreamento do leito;
4
SIMPSON, A.; BURGESS, P.; COLEMAN, S. J. (2002) The Management of Portable Water Treatment
alterações
Sludge: naSituation
Present cor dainágua;
the UK.aumento das concentrações
In: Management of Wastes from de alumínio
Drinking ouTreatment.
Wather ferro; aumento da
Proceedings.
London: The Chartered Instituition of Water and Environmental Management, p. 29-36.
5 demanda de oxigênio; inibição da atividade biológica; influência negativa em áreas de criação
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS (2009). Parecer Técnico-Ref.: Ofício
1139/2008
e desova (CAO-MA)
de peixes. – Informações técnicas referentes aos danos ambientais decorrentes do lançamento de
lodo in natura, pelas Estações de Tratamento de Água, no ambiente. Belo Horizonte: Procuradoria Geral de
Justiça, 32p. A legislação ambiental brasileira vem se tornando cada vez mais restritiva quanto

aos padrões de lançamento de contaminantes no ar, no solo e na água. No caso do resíduo


gerado nos decantadores, a legislação classifica-o como resíduo sólido, classe IIA, não inerte,
em função de alguns elementos solubilizados nos ensaios de classificação em níveis acima
dos limites tolerados para classificá-lo como inerte (ABNT, 2004), o que impede sua
17

3.6 Disposição de resíduos de ETA em ETEs

Um método alternativo de disposição dos resíduos gerados nas ETAs, que tem
sido observado em alguns países da Europa e nos Estados Unidos, é o lançamento dos
resíduos de ETAs em ETEs. Este método de disposição é bastante atraente, visto que elimina
a implantação de sistemas de tratamento de resíduos nas ETAs. O transporte dos resíduos
pode ser feito via rede coletora de esgoto, através de sistemas de recalques, ou através de
caminhões-tanque, sendo que a mais utilizada é o lançamento na rede coletora de esgoto, pois
é a mais econômica. Um dos fatores que determina o modo pelo qual os resíduos de uma ETA
serão lançados na ETE é a distância entre elas. (SCALIZE, 2003)
No entanto, não se deve esquecer que nessa alternativa está sendo transferido o
gerenciamento da disposição do lodo para a administração da ETE. (DI BERNARDO,
CARVALHO E SCALIZE, 1999)
De acordo com Di Bernardo e Sabogal Paz (2008), a disposição dos resíduos de
ETA em ETEs pode ser uma excelente opção para ETAs existentes que não possuem
tratamento do lodo. Entretanto, esta solução possui vantagens e desvantagens, conforme
elencado na Tabela 3.5.
Há sempre que se considerar a especificidade da ETA, pois em muitos casos
tem-se descarga semi-contínua dos decantadores e, em outros, os decantadores são limpos
após um ou mais meses de funcionamento (DI BERNARDO, CARVALHO E SCALIZE,
1999). Por outro lado, deve-se também verificar as condições da ETE, tais como os processos
de tratamento e a capacidade de receber o aporte do resíduo de ETA.
Neste tipo de solução, via de regra, a regularização da vazão do lodo de ETA é
necessária no sentido de minimizar o dimensionamento das unidades de transporte e os
impactos na ETE, uma vez que as vazões decorrentes das lavagens de filtros e das limpezas
de decantadores convencionais são elevadas. Isso pode ser feito por meio de tanques de
equalização ou pela regulagem do sistema de descarte, quando mecanizado.
18

Tabela 3.5 – Vantagens e desvantagens da disposição de resíduos de ETA em ETE (DI


BERNARDO E SABOGAL PAZ, 2008).

A disposição dos resíduos de ETAs em ETEs pode ser efetuada a partir de


diferentes etapas do sistema de tratamento dos resíduos, seja da limpeza dos filtros ou dos
decantadores. Uma vez reunidos os resíduos no tanque de equalização de vazão, pode-se
simplesmente efetuar o bombeamento para a rede coletora de esgotos. Nessas condições, não
há recuperação do clarificado nem a recirculação da água de lavagem dos filtros (ALF) na
ETA. Outra possibilidade é clarificar a ALF, em geral com o uso de polímero, e depois
recuperar a fase líquida. Devido à possibilidade do acúmulo de ovos de parasitas na ETA,
geralmente é reaproveitada somente a água de lavagem de filtros, após sua clarificação.
(DI BERNARDO E SABOGAL PAZ, 2008)
A NBR 9800 (ABNT, 1987) sugere os valores limites de diversos parâmetros dos
efluentes líquidos industriais para poderem ser lançados em coletores públicos de esgoto
sanitário dotados de tratamento. Segundo a referida norma, a vazão e carga orgânica ficam
condicionadas à capacidade da ETE.
Os impactos dos resíduos da ETA na ETE estão relacionados à sobrecarga no
sistema de transporte e, principalmente, aos efeitos no tratamento do esgoto. Segundo
19

Carvalho (2000), a quantidade de resíduo de ETA introduzida na ETE, possivelmente não


provocará sobrecarga hidráulica, visto que o percentual volumétrico no esgoto é de, no
máximo, 7%. De acordo com Bueno et al. (2007), os efeitos do recebimento de lodo de ETA
em ETE dependem da relação entre a massa de lodo de ETA e a vazão da ETE receptora.
Para se evitar possíveis interferências no desempenho das ETEs e na disposição
de seu lodo, devem ser avaliados: sobrecargas orgânicas, de sólidos e tóxicos; separação
sólido-líquido; processos biológicos de tratamento; espessamento, desidratação e disposição
final do lodo de ETEs (SCALIZE, 2003).
Segundo Tsutiya e Hirata (2001), uma carga de choque inicial de compostos
tóxicos pode inibir o processo biológico; porém, os micro-organismos possuem capacidade de
se adaptarem e se ajustarem à presença destas substâncias. Por isso, recomenda-se a
equalização/regularização da descarga de acordo com as vazões efluentes à ETE, para que as
concentrações de compostos potencialmente tóxicos permaneçam constantes.
Um efeito esperado da adição de lodo de alumínio ou ferro ao esgoto bruto da
ETE é o da insolubilização dos fosfatos e consequente aumento da remoção destes por
sedimentação. Os fosfatos formam complexos insolúveis com diversos íons metálicos, sendo
o grau de complexação dependente da concentração relativa dos fosfatos e dos metais, do pH
e de outros elementos e compostos como sulfatos, carbonatos fluoretos e orgânicos.
Experiências nos EUA e em países da Europa indicam que o aporte dos metais dos
coagulantes, ferro e alumínio, acarretam a precipitação de fósforo (BUENO et al., 2007). No
entanto, a remoção excessiva desse nutriente pode inibir o processo biológico de tratamento
de esgotos (TSUTIYA, 2001).
Segundo Galarneau e Gehr6 (1999), apud Chao (2006), a maioria das ETEs do
Canadá remove fósforo por tratamento físico-químico com aplicação de sulfato de alumínio e
cloreto férrico. Entretanto, foi notado que algumas das várias ETEs do Quebec que recebiam
lodo de ETA atingiram os padrões de lançamento para fósforo sem adição de produtos
químicos ou melhoria no tratamento biológico.

6
GALARNEAU, E; GEHR, R (1999) Phosphorus removal from wastewaters: Experimental and theoretical
support for alternative mechanisms. Water Research Volume 31, Issue 2 , February 1997, Pages 328-338
20

3.6.1 Experiências e pesquisas sobre disposição de lodo de ETA em ETE

A) Ensaios de laboratório realizados por Carvalho (1999) com resíduo de ETA que
utiliza cloreto férrico como coagulante simulando lançamento em ETE

Considerando os decantadores primários e os digestores anaeróbios de lodo da


ETE unidades críticas da ETE, as interferências no desempenho dos decantadores foram
simuladas em ensaios de sedimentação, enquanto a digestão aneróbia foi avaliada por meio de
testes de tratabilidade anaeróbia dos lodos obtidos nos ensaios de sedimentação. Foi adotada a
relação volumétrica entre resíduo da ETA e esgoto de 5%.
Os principais resultados dos ensaios realizados nas colunas de sedimentação por
Carvalho (1999) foram que o volume de sólidos sedimentáveis no esgoto com resíduo de
ETA aumentou proporcionalmente à concentração de sólidos suspensos presente nos resíduos
líquidos da ETA em até 6 vezes em relação ao esgoto sem resíduo e que por outro lado, a
remoção de sólidos suspensos totais do sobrenadante aumentou proporcionalmente à
concentração de sólidos suspensos totais presentes no resíduo líquido da ETA, promovendo
um aumento na eficiência de 49% para 83%. Houve maior redução das concentrações de
metais pesados zinco e ferro no sobrenadante, enquanto atividade anaeróbia foi praticamente
a mesma para os ensaios do esgoto com e sem resíduo de ETA.

B) Ensaios de laboratório realizados por Scalize (2003) com resíduo de ETA que utiliza
sulfato de alumínio como coagulante simulando lançamento em ETE

Segundo Scalize (2003), a alternativa de disposição do resíduo de ETA em ETE


pode ser vantajosa quanto à remoção de sólidos. Os sedimentos obtidos pelo referido autor em
colunas de sedimentação com lançamento de lodo de ETA apresentaram maior quantidade de
sólidos totais com menor resistência específica à filtração, indicando o potencial de melhor
eficiência no desaguamento mecânico desses resíduos, ao mesmo tempo que o sobrenadante
apresentou menor SST.
Sob o ponto de vista parasitológico observou-se que nos sobrenadantes
provenientes de colunas de sedimentação que receberam resíduo de ETA, em comparação
com a coluna apenas com esgoto sanitário, ocorreu maior remoção dos ovos de
Ancylostomidae e larvas de Strongylaides (SCALIZE; DI BERNARDO; SEIXAS, 2001). Por
21

outro lado, houve reduções acima de 18% na atividade metanogênica do lodo sedimentado,
porém sem prejuízo à remoção de DQO do sobrenadante.

C) Ensaios em escala piloto realizados por Scalize (2003) com resíduo de ETA que
utiliza cloreto férrico como coagulante simulando lançamento na ETE Araraquara

Com o uso de um protótipo simulando a ETE Araraquara, composta por lagoas


aeradas e de sedimentação, o efluente que recebeu resíduo de ETA na proporção volumétrica
de 3% mostrou-se com melhor qualidade, sem interferência negativa na sua microfauna. O
lodo da lagoa de sedimentação que recebeu o resíduo de ETA apresentou melhor condição de
desaguamento, com menor resistência específica e menor consumo de polieletrólito no ensaio
de centrifugação.

D) Ensaios de laboratório realizados por Chao (2006) com resíduo de ETA que utiliza
sulfato de alumínio como coagulante

Em estudo visando o aproveitamento do lodo da ETA Alto Cotia para remoção de


fósforo da ETE Barueri, Chao (2006) verificou por meio de testes de jarros, após 180
diferentes condições operacionais avaliadas, que a melhor eficiência de remoção de fósforo
do efluente foi de 100%, com concentração inicial de 2,9 mgP/L, 37 mg/L de lodo, tempo de
permanência do lodo no decantador de 80 dias, valores de pH entre 4,5 a 6,5, tempo de
sedimentação de 30 minutos e sem a utilização de polímero. Esses resultados foram atribuídos
ao fato do fósforo estar disponível predominantemente na forma solúvel no efluente da ETE.

E) Ensaios em escala piloto realizados por Rosario (2007) com resíduo de ETA que
utiliza sulfato de alumínio como coagulante

Avaliando dois reatores em escala piloto com volume útil de 400 L, altura total de
4 m e tempo de detenção hidráulica de 8 horas, durante aproximadamente 200 dias,
verificou-se que o reator que recebeu resíduo de ETA nas dosagens de 50 e 75 mg SST/L não
teve seu desempenho afetado em termos de remoção de DQO, DBO e fósforo.
22

F) Ensaios de laboratório realizados por Lombardi (2009) com resíduo de ETA que
utiliza cloreto férrico como coagulante

Foi avaliada a disposição do resíduo de ETA em reatores UASB, com volumes de


18 L e 38 L e tempo de detenção hidráulica de 24 h, em proporções de lodo:esgoto de 1:1, 1:3
e 1:7. Os valores médios de eficiência de remoção da DQO foram de 75% a 83% e de ST de
73% a 87%. A maior remoção de fósforo foi de 90%. As eficiências de remoção de metais
(Ca, Co, Fe, Mn, Ni, Cu, Pb, Cr e Zn) foram superiores a 70%, confirmando a alta capacidade
de bioadsorção de metais do lodo anaeróbio.

G) Estudo em escala real realizado por Cornwell et al. (1987) com lodo de sulfato de
alumínio

Em experimento em escala real realizado nos EUA, Cornwell et al. (1987)


verificaram reduções de 43% na concentração de fósforo em uma ETE após o lançamento de
lodo de sulfato de alumínio, com o fósforo presente no esgoto disponível nas formas solúvel e
orgânica. A concentração de fósforo total diminuiu de 7 para 4 mgP/L, o que foi atribuído à
parcela solúvel e não à orgânica.

H) Estudos em escala real realizados por Melo et al. (2003) e Bueno et al. (2007) com
resíduo de ETA que utiliza sulfato férrico como coagulante na ETE Franca

Uma experiência brasileira de destaque no assunto de disposição de resíduos de


ETA em ETE tem sido realizada em escala real desde 2001 na ETE da cidade de Franca - SP,
que possui tratamento do tipo lodo ativado convencional, com vazão de 373 L/s.
Em estudo realizado em 2005, ajustando-se os parâmetros operacionais da ETE, o
comportamento das taxa de consumo de oxigênio indicou que a dosagem de lodo teve
influência sobre os processos biológicos aeróbios que ocorrem nos tanques de aeração, sendo
que resultados satisfatórios foram obtidos com a dosagem de lodo de 50 mgST/L. Mesmo
ocorrendo interferência do lodo de ETA no processo, a qualidade do efluente final quanto a
DQO e DBO não foi afetada. A insolubilização do fósforo ocorreu de modo acentuado,
reduzindo a fração solúvel na alimentação dos tanques de aeração a menos de 2 mg P/L, valor
este próximo do mínimo necessário para o desempenho normal do processo dos lodos
ativados com idade do lodo entre 3 e 4 dias. Esta importante mudança qualitativa pode ter
23

influenciado o desempenho do processo dos lodos ativados, por exemplo, na nitrificação,


reduzindo a taxa de crescimento específico de nitrificantes. (BUENO et al., 2007)
Quanto ao lodo produzido, os valores de ST nos biodigestores aumentou de 1%
para 6%, sendo observado um incremento da dosagem de polímero no desaguamento por
meio de prensa desaguadora de esteira. Não houve alteração significativa nas concentrações
de metais do biossólido patenteado com a marca Sabesfértil® que inviabilizassem seu uso na
agricultura, como já era prática da ETE. (MELO et al., 2003)
Conforme informações levantadas junto à SABESP em março de 2015, a
disposição do resíduo da ETA na ETE Franca continua sendo realizada sem prejuízos ao
desempenho global da ETE.

Feitas as considerações anteriores, cabe mencionar as colocações feitas por Bueno


et al. (2007) de que os resultados obtidos nesses estudos não devem ser generalizados, visto
que as ETAs produzem resíduos com características muito particulares. De modo que, o
sucesso desse tipo de disposição irá depender das características do resíduo da ETA e da
tecnologia de tratamento utilizada na ETE, o que exige um estudo aprimorado em cada caso.

3.7 Lagoas de estabilização

As lagoas de estabilização foram introduzidas no Brasil em 1960


(KELLNER; PIRES, 1998) e hoje estão amplamente aceitas e estabelecidas no país.
Segundo Campos (1999), muito se tem evoluído nos procedimentos de projeto e já se
percebem grandes diferenças entre os vários modelos, as vantagens da associação das
lagoas em série e as vantagens das lagoas rasas para remoção de patogênicos e
nutrientes eutrofizantes, se convenientemente projetadas.
As lagoas caracterizam-se pela simplicidade e baixo custo de implantação e
operação, além de apresentarem resultados satisfatórios quanto à eficiência de
remoção de matéria orgânica. Estas vantagens, especialmente aliadas ao clima tropical
do país - favorável ao processo biológico que ocorre nas lagoas - tornam este tipo de
tratamento bastante adequado, principalmente às pequenas cidades, casos em que
geralmente há escassez de recursos financeiros e pouca mão-de-obra especializada
para operação e manutenção. Todavia, a disponibilidade de área é um fator restritivo.
24

(SOARES; BERNARDES, 2001).


Gloyna (1971) apud Pessôa e Jordão (1982), em abordagem aos processos
desenvolvidos nesse sistema, definiram as lagoas de estabilização como “sistema de
tratamento biológico em que a estabilização da matéria orgânica é realizada pela
oxidação bacteriológica (oxidação aeróbia ou fermentação anaeróbia) e/ou redução
fotossintética das algas”.
As lagoas facultativas são a variante mais simples dos sistemas de lagoas de
estabilização. Basicamente, o processo consiste na retenção dos esgotos por um
período de tempo longo o suficiente para que os processos naturais de estabilização da
matéria orgânica se desenvolvam. O processo é lento e a atividade biológica é
grandemente afetada pela temperatura. (VON SPERLING, 1996).
O termo facultativa refere-se à dualidade ambiental característica desse tipo
de lagoa: aeróbia na superfície e anaeróbia no fundo. Durante o dia prevalecem as
condições aeróbias na maior parte da coluna líquida, devido principalmente à
produção fotossintética de oxigênio e à reaeração superficial. À noite, na ausência de
luz solar, a produção de oxigênio devido à fotossíntese é interrompida, passando a
prevalecer a condição anaeróbia na maior parte da profundidade da lagoa. Essa região
em que ora aparece como aeróbia, ora como anaeróbia, caracteriza e denomina esse
tipo de lagoa como facultativa. (KELLNER; PIRES, 1998).
A profundidade das lagoas facultativas geralmente varia entre 1,5 e 3,0 m
(VON SPERLING, 1996), havendo certa aceitação do limite mínimo de 1,2 m, quando
se trata de lagoas facultativas secundárias, conforme admite Mendonça (2000).
O tempo de detenção hidráulica corresponde ao tempo necessário para que
as bactérias procedam à estabilização da matéria orgânica e pode ser menor em regiões
de temperatura elevada. Os valores indicados na literatura, entretanto, não são
convergentes. Arceivala7 (1973) apud Mendonça (2000) menciona valores entre 7 e
110 dias, para temperaturas entre 25 e 5ºC, enquanto Von Sperling (1996) recomenda
para o clima do Brasil um intervalo entre 15 a 45 dias. Já Silva S. (1982) apud
Mendonça (2000) admite que para o clima do nordeste brasileiro pode ser utilizado o

7
ARCEIVALA, S. J. (1973). Simple waste treatment methods, aerated lagoons, oxiddation ditches, stabilization
ponds in warm and temperate climates, Middle East Technical University, Ankara, Turquia.
25

tempo mínimo de até 6 dias. O último parâmetro está comprovado para lagoas
facultativas secundárias do estado da Paraíba, com profundidades entre 1,25 e 2,20 m,
onde foi verificado que o ganho de eficiência é mínimo ao se aumentar o tempo de
detenção além de 6 dias, para o qual foi verificada redução de DBO da ordem de 40%
(ATHAYDE JÚNIOR; ATHAYDE; SILVA, S., 2001).
A taxa de aplicação superficial, relação entre a carga orgânica afluente e a
área da lagoa, está relacionada com a exposição à luz solar e a atividade das algas,
fatores essenciais para que ocorra a fotossíntese. A taxa ideal para cada sistema varia
principalmente com a insolação e a temperatura local, sendo que estes aspectos são
favoráveis à utilização de taxas mais elevadas. (VON SPERLING, 1996).
Diversos autores apresentam relações empíricas entre a taxa de aplicação e
a temperatura, apontando valores situados em uma ampla faixa entre 150 e
400 kgDBO/ha.d para lagoas facultativas em regiões de clima quente e insolação
moderada a elevada (PESSÔA e JORDÃO, 1982; MENDONÇA, 2000; VON
SPERLING, 1996). Estes autores não especificam a posição da lagoa no sistema,
primária ou secundária, mas Yánez (1993), explica que para lagoas facultativas
precedidas por lagoa anaeróbia a taxa de aplicação superficial deve ser da ordem de
20% menor que a máxima permitida para lagoas facultativas primárias devido ao
incremento de amoníaco no processo anaeróbio.
Estudando lagoas facultativas localizadas no Distrito Federal e com
tratamento anaeróbio prévio, Soares e Bernardes (2001) deduziram uma faixa
considerada ótima para a taxa de aplicação superficial, entre 350 e 450 kgDQO/ha.d, a
qual pode ser expressa, em termos de DBO, entre aproximadamente 210 e 270
kgDBO/ha.d.
A remoção de DBO em lagoas de estabilização processa-se segundo uma
reação de primeira ordem, na qual a taxa de reação é diretamente proporcional à
concentração do substrato. Nestas condições, o regime hidráulico no reator tem grande
influência sobre a eficiência do sistema. No estudo do tratamento de esgotos por
lagoas de estabilização, os modelos hidráulicos de Mistura Completa, Fluxo em Pistão
e Fluxo Disperso destacam-se como os mais freqüentemente utilizados.
O fluxo em pistão é reproduzido em tanques longos, com elevada relação
26

comprimento/largura, nos quais a dispersão longitudinal é mínima. As partículas de


fluido entram continuamente em uma extremidade e são descarregadas na outra
extremidade na mesma seqüência que entraram, permanecendo no tanque por um
período igual ao tempo de detenção hidráulico.
Nos reatores em mistura completa há homogeneização da massa líquida, ou
seja, tem-se a condição oposta. As partículas que entram são imediatamente dispersas
em todo o corpo do reator, o que pode ser obtido em tanques circulares ou quadrados
com distribuição contínua e uniforme do fluido.
Já no fluxo disperso, o sistema contempla um grau de mistura intermediário
entre os dois limites teóricos, fluxo em pistão e mistura completa.
Von Sperling (1996) afirma que o regime hidráulico em uma lagoa de
estabilização não segue exatamente os modelos ideais de mistura completa (dispersão
longitudinal infinita) ou de fluxo em pistão (dispersão longitudinal nula) e que os
reatores de fluxo disperso compreendem todas as lagoas encontradas na prática.
Entende-se aqui que o autor refere-se a lagoas de estabilização que não dispõem de
sistema de aeração ou com baixa densidade de potência. Apesar dessa consideração de
que o fluxo em grande parte das lagoas de estabilização aproxima-se mais do regime
de fluxo disperso, percebe-se que, na prática de elaboração de projetos de lagoas, o
modelo de mistura completa tem sido mais utilizado, provavelmente devido à maior
simplicidade de cálculo.
As equações para determinação da concentração de DBO solúvel efluente,
segundo os regimes hidráulicos mencionados, são:

Fluxo em pistão - S = S0 e −K t (3.3)

Mistura completa - (3.4)


4a⋅ e1 2d
Fluxo disperso - S = S0 ⋅ (3.5)
(1+ a) 2 . e a 2d − (1 − a) 2 ⋅ e −a 2d
a = 1 + 4k⋅ t⋅ d (3.6)


onde:

27

S0 = concentração de DBO total afluente (mg/l);


S = concentração de DBO solúvel efluente (mg/l);
K = coeficiente de remoção de DBO (d-1);
t = tempo de detenção hidráulica total (d);
d = número de dispersão (adimensional);
a = coeficiente adimensional.

O coeficiente de remoção de DBO “K” é função do modelo hidráulico e é


determinado a partir de dados do monitoramento, em lagoas existentes ou de escala
piloto, da DBO de entrada, DBO de saída e tempo detenção. Na Tabela 3.6 estão
relacionados valores deste parâmetro verificados por diversos autores para temperatura
do líquido de 20°C, bem como os respectivos coeficientes de temperatura (θ) para
correção do coeficiente K para diferentes temperaturas.

Tabela 3.6 – Coeficientes de remoção de DBO para lagoas facultativas em função do


regime hidráulico (SILVA, S.; MARA, 1979; ARCEIVALA8, 1981; EPA9, 1983;
VIDAL10, 1983 apud VON SPERLING, 1996).
Modelo Lagoa K20 (d-1) θ
Mistura completa Facultativa 0,30 a 0,35 1,05 e 1,085 (1)
Fluxo disperso Facultativa 0,12 a 0,18 (2) 1,035 (3)
(1) Para valores de K de 0,30 e 0,35 d-1, respectivamente; (2) Para taxa de aplicação superficial entre 150 e
300 kgDBO/ha.dia; (3) Para valor de K de 0,18 d-1.

A equação de correção do valor de K para diferentes temperaturas é a


seguinte:

KT = K20 . θ T-20 (3.7)

8
ARCEIVALA, S. J. (1981). Wastewater treatment and disposal. Marcel Dekker, New York. 892p.
9
EPA (1983). Design manual. Municipal wastewater stabilization ponds. United States Enviromental Protection
Agency. 327p.
10
VIDAL W.L. (1983). Aperfeiçoamentos hidráulicos no projeto de lagoas de estabilização, visando redução da
área de tratamento: uma aplicação prática. In: Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 12,
Camboriú, 20-25 novembro, ABES.
28

onde:
KT = coeficiente de remoção de DBO para uma temperatura qualquer do líquido (d-1);
K20 = coeficiente de remoção de DBO para temperatura do líquido de 20°C (d-1);
θ = coeficiente de temperatura (adimensional);
T = temperatura do líquido (°C).

Quanto ao número de dispersão “d”, este parâmetro está relacionado com a


dispersão longitudinal do reator, ou seja, quando o fluxo no reator tende ao regime de
mistura completa, “d” tende ao infinito e, quando o fluxo tende ao de pistão, “d” tende
a zero. Algumas equações relacionam “d” com as dimensões da lagoa, tempo de
detenção hidráulica e viscosidade. Dentre elas, destaca-se a de Yánez (1993), pela
simplicidade de cálculo e similaridade com os resultados obtidos por outras
formulações, especialmente para lagoas com comprimento maior que 100 m:

d=
( L B)
2
−0,261 + 0,254⋅ ( L B) + 1,014⋅ ( L B) (3.8)

Como os modelos apresentados consideram apenas a DBO efluente solúvel,



no dimensionamento de lagoas a determinação da DBO efluente total requer o
acréscimo da parcela de DBO exercida pelos sólidos em suspensão, denominada DBO
particulada. Esta parcela é proveniente principalmente de microorganismos presentes
na massa líquida, uma vez que os sólidos suspensos orgânicos do afluente são
convertidos em sólidos dissolvidos através de enzimas lançadas pelas bactérias. Von
Sperling (1996) a DBO particulada em lagoas facultativas varia de 0,3 a
0,4 mgDBO/L.
29

4 MATERIAL E MÉTODOS

Neste capítulo são apresentadas as características das estações de tratamento de


água e de esgoto objetos do presente estudo, bem como a metodologia experimental.

4.1 Critérios para escolha das estações de estudo

A escolha das estações do estudo teve como critério inicial a representatividade


dos sistemas no panorama geral das plantas do estado operadas pela Saneago. Assim,
definiu-se trabalhar com resíduo de uma ETA de ciclo completo cujo coagulante fosse sulfato
de alumínio e com uma ETE composta de lagoas facultativas primárias, uma vez que tais
sistemas de tratamento são muito comuns no estado de Goiás.
Por se tratar de um experimento em escala real, estabeleceu-se como segunda
condição que a ETE fosse composta de pelo menos duas lagoas semelhantes em termos de
dimensões e de desempenho operacional, trabalhando em paralelo, uma para teste de
aplicação do resíduo e outra para referência.
Outros critérios também foram considerados, tais como: existência de tratamento
preliminar e medidor de vazão afluente na ETE; acesso de veículo para coleta do resíduo de
descarte do decantador; proximidade entre a ETA e a ETE, para facilitar o deslocamento de
pessoal e o transporte do resíduo durante a realização do experimento; e proximidade do local
até a cidade de Goiânia, onde foram realizados os ensaios de laboratório.
Dessa forma, a ETA e a ETE da cidade de Piracanjuba foram eleitas como as mais
adequadas para o estudo.

4.2 Localização da ETA e da ETE de estudo

As estações de estudo localizam-se na área urbana do município de Piracanjuba,


conforme mostra a Figura 4.1. O município situa-se a cerca de 80 km a sul de Goiânia, Goiás,
nas bacias dos rios Piracanjuba e Meia Ponte, afluentes do rio Paranaíba, grande bacia do rio
Paraná.
A ETA, coordenadas geográficas 17º 18' 37,09" S de latitude e 49º 01' 25,22" W
de longitude, e a ETE, coordenadas 17º 17' 49,20" S de latitude e 49º 00' 43,81" W de
longitude, encontram-se a uma distância de 1,5 km e podem ser vistas na imagem da
Figura 4.2.
30

Figura 4.1 – Situação geográfica do município de Piracanjuba.

Figura 4.2 – Localização das estações de estudo (Fonte: Google Earth).


31

4.3 Descrição da ETA de estudo

A ETA Piracanjuba trata água de dois mananciais abastecedores, o córrego São


Mateus e o rio Piracanjuba, sendo que este complementa a vazão do primeiro no estação seca.
O córrego São Mateus é um pequeno afluente do rio Piracanjuba e sua bacia de contribuição
abrange a área urbana da cidade. A captação São Mateus situa-se nas coordenadas geográficas
17º 18' 39,47398" S de latitude e 49º 01' 18,79323" W de longitude, a aproximadamente 200
metros da ETA. A captação Piracanjuba situa-se a cerca de 14 km da ETA, nas coordenadas
17º 20' 32,03585" S e 48º 54' 24,43399" W.
A ETA é dotada de dois sistemas de tratamento que operam em paralelo, um de
ciclo completo e outro de filtração direta, atendendo a uma população total da ordem de
18 mil habitantes (SANEAGO, 2011).
Na estação chuvosa (novembro a abril) o córrego São Mateus é o único manancial
abastecedor. A água bruta é captada em uma barragem de nível e bombeada até a entrada dos
dois sistemas de tratamento por meio de duas elevatórias independentes.
Na estação seca (maio a outubro) o sistema de ciclo completo, por questões
operacionais e de economia com bombeamento, opera de forma mista, no período diurno com
a água bruta do rio Piracanjuba e no período noturno com a do córrego São Mateus. O sistema
de filtração direta opera somente com a água do córrego São Mateus, com período de
funcionamento reduzido nesta estação.
O sistema de ciclo completo, objeto deste estudo e doravante denominado ETA
Piracanjuba, foi implantado no final da década de 1970, com modificações na década de 1990
para a capacidade de 30 L/s.
A ETA Piracanjuba é composta de floculador hidráulico de fluxo vertical com três
câmaras, decantador convencional dotado de descarga de fundo e dois filtros rápidos de fluxo
descendente, todos construídos em concreto armado. O decantador possui dois
compartimentos separados por uma parede com abertura de 2,75 m x 0,75 m, a uma altura de
0,75 m do fundo (batente). O coagulante primário utilizado é o sulfato de alumínio. Outro
produto químico também utilizado é a cal para correção final do pH. A vazão operacional em
2011 variou de 40 a 60 L/s.
A Figura 4.3 mostra a planta esquemática da ETA Piracanjuba.
32

Figura 4.3 – Planta esquemática da ETA Piracanjuba.

A Figura 4.4 mostra as unidades da ETA de ciclo completo de Piracanjuba. As


principais características de projeto do decantador e dos filtros, de autoria de Teixeira (1982),
são apresentadas nas Tabelas 4.1 e 4.2.
33

Figura 4.4 – ETA de ciclo completo Piracanjuba - a) aplicação de coagulante, b) floculador


hidráulico, c) decantador convencional e d) filtros de fluxo descendente.

Tabela 4.1 - Características de projeto do decantador da ETA Piracanjuba.


Dimensões do decantador Valores
Profundidade útil (m) 2,8 (2,6*)
Nº de compartimentos 02
Área do compartimento menor (m2) 51,3
Área do compartimento maior (m2) 108,3
Área total (m2) 159,6
* Valor medido in loco.

Tabela 4.2 - Características de projeto dos filtros da ETA Piracanjuba.


Dimensões dos filtros Valores
Quantidade 02
Profundidade total (m) 3,0
Área de cada filtro (m2) 13,5
Área total dos filtros (m2) 27,0
Leito filtrante - areia (φ = 0,55 mm, CU = 1,60) (m) 0,75
Leito filtrante - pedregulho (φ = 1/8"a 2 1/2") (m) 0,25

4.4 Caracterização operacional da ETA

As características operacionais da ETA Piracanjuba foram obtidas dos registros de


34

monitoramento da Saneago, de janeiro a dezembro de 2010. Foram levantados os volumes


médios diários de água bruta, o tempo de funcionamento da ETA, as dosagens de sulfato de
alumínio e cal, bem como as características da água bruta.
As análises de caracterização da água bruta foram realizadas a partir de amostras
simples coletadas diretamente das duas captações, com frequência bimestral. A metodologia
utilizada está conforme APHA et al. (2005).
Os parâmetros da água bruta avaliados foram: pH, cor, turbidez, ferro, manganês,
sólidos dissolvidos totais (SDT) e coliformes termotolerantes.

4.5 Quantificação dos resíduos da ETA

O volume de resíduo do decantador da ETA Piracanjuba foi estimado a partir da


altura de lodo verificada durante a limpeza. Após descarte do sobrenadante clarificado
mediante a abertura dos registros de descarga de fundo, interrompeu-se a descarga para
medição da altura do lodo sedimentado. O volume de resíduo foi deduzido pelo produto da
altura da camada de lodo pela área total do decantador. Foi feita então a coleta do resíduo para
o experimento. Em seguida reabriu-se os registros até a completa descarga do lodo e
procedeu-se a limpeza manual do tanque com jato d'água e rodo de uso doméstico, conforme
rotina operacional.
No intuito de avaliar a produção total de resíduos da ETA, desprezando-se os
gerados pela lavagem dos tanques de produtos químicos, foi também quantificado o volume
de água de lavagem dos filtros. A estimativa foi feita a partir da vazão medida da bomba da
elevatória de água de lavagem, do tempo e da frequência de limpeza. A lavagem dos filtros é
feita com água em fluxo ascendente, recalcada do tanque de contato por uma bomba
centrífuga, marca ABS, modelo NOWA 15020, rotação de 1.750 rpm, vazão de 342 m3/h e
altura manométrica de 12 mca. O tempo de lavagem é de aproximadamente 7 minutos para
cada filtro, conforme padronizado pela rotina operacional.
Devido à qualidade da água dos mananciais de abastecimento, descritos no item
4.3, a limpeza dos filtros é feita diariamente na estação seca e a cada dois dias na chuvosa.

4.6 Coleta da amostra e caracterização da água de lavagem dos filtros

Visando determinar a carga total de sólidos dos resíduos produzidos na ETA


Piracanjuba, efetuou-se também a caracterização da água de lavagem dos filtros. A amostra
35

foi coletada da parte superior de um filtro no dia 09/06/11, durante a limpeza de rotina feita
com água em fluxo ascendente. Tal amostra foi extraída de uma amostra composta de volume
de 8 litros, coletados por meio de alíquotas de aproximadamente 200 mL a cada 10 segundos
durante 7 minutos, correspondentes ao tempo de lavagem da rotina operacional. As Figuras
4.5 e 4.6 mostram a coleta da água de lavagem do filtro e o amostrador utilizado.

Figura 4.5 - Coleta da amostra da água de lavagem do filtro.

Figura 4.6 - Detalhe do amostrador da água de lavagem do filtro.

Os parâmetros analisados constam na Tabela 4.3. As análises foram realizadas


pelo Laboratório de Esgoto da Saneago, com metodologia conforme APHA et al. (2005).

Tabela 4.3 - Parâmetros de análise da água de lavagem dos filtros.


Parâmetros Quantidade de análises realizadas
pH 01
Cor 01
Turbidez 01
Sólidos totais 01
Sólidos voláteis totais 01
Sólidos fixos totais 01
DQO 01
Total 07
36

4.7 Descrição da ETE de estudo

A ETE Piracanjuba foi implantada em etapa única no ano de 2009 para a


capacidade de 28 L/s, conforme projeto Cunha (1999). Em 2011 a ETE atendia cerca de
11 mil habitantes (SANEAGO, 2011), correspondentes a 61% da população total da cidade,
com vazão operacional média de 11 L/s.
O sistema é composto por três lagoas facultativas em paralelo seguidas de três
lagoas de maturação em série, após tratamento preliminar. O efluente tratado é lançado no
córrego São Mateus, no ponto situado nas coordenadas 17º 18' 4,75" S e 49º 00' 41,04" W.
O fluxograma da ETE é apresentado na Figura 4.7.

Figura 4.7 - Fluxograma da ETE Piracanjuba.

Todo o esgoto da cidade escoa por gravidade até o tratamento preliminar da ETE,
após o qual é bombeado para a entrada das lagoas. O tratamento preliminar é dotado de grade
de barras paralelas com limpeza manual e desarenador convencional com duas células. A
calha Parshall possui garganta de 6" e leitura de vazão manual. A elevatória de esgoto possui
três bombas submersíveis, sendo uma reserva. Cada lagoa possui três entradas apoiadas no
fundo, a 13 m de distância da borda, e três saídas com vertedor na borda de saída.
37

As Figuras 4.8 a 4.10 mostram as unidades da ETE Piracanjuba. Nas Tabelas 4.4
e 4.5 são apresentadas as características dimensionais das lagoas.

Figura 4.8 – ETE Piracanjuba - vista geral.

Figura 4.9 – ETE Piracanjuba - grade e desarenador.

Figura 4.10 – ETE Piracanjuba - calha Parshall (à esquerda) e elevatória de esgoto (à direita).
38

Tabela 4.4 - Medidas de projeto das lagoas da ETE Piracanjuba.


Medida Grandeza
Área superficial de cada lagoa facultativa (ha) 0,83
Profundidade útil das lagoas facultativas (m) 2,50
Profundidade total das lagoas facultativas (m) 3,00
Volume útil de cada lagoa facultativa (m3) 18.194
Área superficial de cada lagoa de maturação (ha) 0,66
Profundidade útil das lagoas de maturação (m) 1,20
Profundidade total das lagoas de maturação (m) 1,70
Volume útil de cada lagoa de maturação (m3) 7.935

Tabela 4.5 – Medidas in loco das lagoas facultativas do estudo.


Medida Lagoa de teste Lagoa de referência
Largura na crista (m) 54,25 (47,5-61,0)* 53,50
Comprimento na crista (m) 153,50 (152,5-154,5)* 154,50
Largura no espelho (m) 52,30 (45,5-59,0)* 51,50
Comprimento no espelho (m) 151,50 (150,5-152,5)* 152,50
Largura no fundo (m) 43,10 (36,3-49,8)* 42,30
Comprimento no fundo (m) 142,30 (141,3-143,3)* 143,30
Área superficial (m2) 7.916 7.854
Área superficial (ha) 0,79 0,79
Profundidade útil (m) 2,30 2,30
Profundidade total (m) 2,80 2,80
Volume útil (m3) 16.104 15.958
* Dimensão média (dimensão menor-dimensão maior).

Para efeito deste estudo, considerou-se a média do volume útil das duas lagoas
facultativas de 16.031 m3 como o volume de cada lagoa facultativa.

4.8 Caracterização operacional da ETE

As características operacionais da ETE foram obtidas dos registros de


monitoramento da Saneago, de janeiro a dezembro de 2010. Foram levantadas vazão de
entrada, tempo de detenção hidráulica e taxa de aplicação superficial das lagoas, bem como os
resultados de DBO e Escherichia Coli do esgoto bruto e tratado.
As análises foram realizadas com frequência mensal, conforme plano de
monitoramento da Saneago, a partir de amostras compostas de alíquotas fixas do esgoto bruto
e de amostras simples do esgoto tratado. A metodologia utilizada está conforme APHA et al.
(2005).
As vazões de entrada mensais correspondem às médias de 12 horas de um dia do
mês, variando o dia da semana a cada mês.
39

4.9 Síntese do programa experimental

Em linhas gerais, o experimento englobou: coleta, transporte e caracterização do


resíduo proveniente da limpeza do decantador da ETA Piracanjuba; aplicação do resíduo em
uma das lagoas facultativas primárias da ETE Piracanjuba (lagoa de teste); monitoramento
semanal da qualidade do efluente da lagoa de teste e de outra lagoa semelhante sem aplicação
do resíduo (lagoa de referência) por meio de análises de laboratório; batimetria e
determinação do volume de lodo de fundo das lagoas.
O experimento desenvolveu-se em duas fases, sendo uma coleta de resíduo do
decantador para cada uma. A primeira fase ocorreu de outubro de 2011 a janeiro de 2012 e a
segunda fase de março a julho de 2012. Aplicou-se na lagoa de teste a carga diária de sólidos
totais média de 9 kgST/d na Fase 1 e 21 kgST/d na Fase 2. A aplicação do resíduo durou
45 dias efetivos na primeira fase e 70 dias na segunda fase.
A Figura 4.11 mostra as lagoas do estudo.

Figura 4.11 – Lagoas da ETE Piracanjuba, indicando as lagoas utilizadas do estudo (teste e
referência).

A Figura 4.12 mostra o fluxograma do experimento. Na Tabela 4.6 estão


identificadas as fases de aplicação do resíduo e de monitoramento das lagoas.
40

Figura 4.12 – Fluxograma do experimento.


41

Tabela 4.6 – Fases de aplicação do resíduo e de monitoramento das lagoas.


Data Semana Aplicação Monitoramento Nº dias acumulados
31.10.11 0 31.10.11 1

Aplicação 39 dias

Período 45 dias
07.11.11 1 8
14.11.11 2 15
21.11.11 3 21.11.11 22
28.11.11 4 29
05.12.11 5 36

Monitoramento
12.12.11 6 14.12.11 43
19.12.11 7 50

71 dias
26.12.11 8 57
Fase 1 02.01.12 9 64
09.01.12 10 71
16.01.12 11 78
23.01.12 12 85
30.01.12 13 30.01.12 92
06.02.12 14 99
13.02.12 15 106
20.02.12 16 113
27.02.12 17 120
05.03.12 18 127
12.03.12 19 14.03.12 134
19.03.12 20 19.03.12 141
26.03.12 21 148
02.04.12 22 155
Aplicação 70 dias

Período 80 dias

09.04.12 23 162
16.04.12 24 169
23.04.12 25 176
30.04.12 26 183
Monitoramento

07.05.12 27 190
120 dias

Fase 2 14.05.12 28 197


21.05.12 29 204
28.05.12 30 211
04.06.12 31 01.06.12 218
11.06.12 32 225
18.06.12 33 232
25.06.12 34 239
02.07.12 35 246
09.07.12 36 253
16.07.12 37 16.07.12 260
Nota: Na Fase 1 houve uma interrupção na aplicação de 15 a 20/11/11; Na Fase 2 houve duas interrupções, de
11 a 17/05/12 e de 12 a 14/04/12.

Optou-se por utilizar o resíduo proveniente da limpeza do decantador, mais


concentrado do que a água de lavagem dos filtros, no sentido de se evitar o armazenamento e
o transporte da ETA para ETE de maiores volumes para atingir a carga de sólidos pretendida.
O armazenamento do resíduo foi indispensável para uma aplicação gradativa do resíduo, uma
vez que a coleta do lodo só podia ser feita nas datas de limpeza de rotina.
A aplicação gradativa, além de proporcionar o contato e possíveis reações
bioquímicas entre resíduo e esgoto, foi preferida no sentido de se evitar picos que viessem
comprometer o processo biológico de tratamento da lagoa em operação. Ademais, esta
situação também é mais condizente com a realidade, pois no caso de escoamento direto dos
42

resíduos para a ETE, do ponto de vista técnico-econômico haveria necessidade de


implantação de tanques de equalização de vazão para se evitar grandes diâmetros de coletor
ou de linha de recalque.

4.10 Montagem do aparato experimental

Para viabilização da pesquisa foram necessárias algumas instalações na ETA e na


ETE. Assim, nesta etapa foram realizados:
• Fabricação ou adaptação, transporte e instalação de 2 tanques cilíndricos em fibra de
vidro na ETE, com tampas, sendo um de 8,8 m3 (TQ1) adaptado de um tanque existente e
outro de 10 m3 (TQ2) fabricado, para regularização e aplicação do resíduo na lagoa;
• Aquisição, transporte e instalação de 2 tanques em fibra de vidro de 15 m3 (TQ3 e TQ4)
na ETA, formato em tronco de cone, com tampas, para armazenamento do lodo;
• Construção de base de 2,1 m x 5,0 m, com tábuas de madeira e areia sobre a brita da pista
de acesso da lagoa de teste;
• Construção de 2 bases tipo radier, em concreto armado, de 3,0 m x 3,0 m, altura de
0,10 m, na área da ETA;
• Instalação hidráulica dos tanques de aplicação, DN50 mm (4 niples, 4 registros de gaveta,
4 adaptadores e 12 m de mangote);
• Energização (400 m de cabo elétrico Ø 6 mm, tomada e chave de acionamento);
• Instalação de bomba submersível de rotor aberto, marca Lowara, modelo Domo 156
(Dados nominais: Q = 36 m3/h; AMT = 3 mca; P = 1,5 CV), e 8 m de mangote de sucção
leve DN50 mm para recirculação e mistura do lodo no tanque de aplicação.
A Tabela 4.7 apresenta as dimensões dos reservatórios instalados nos locais
indicados para realização da pesquisa e ilustrado nas Figuras 4.13, 4.14 e 4.15.

Tabela 4.7- Características dimensionais dos tanques utilizados na pesquisa.


Tanque Local Altura total Altura útil Diâmetro Volume útil
(m) (m) (m) (m3)
TQ1 ETE 3,75 2,80 2,00 8,80
TQ2 ETE 3,00 2,90 2,10 10,04
TQ3 ETA 2,60 2,44 2,50 a 2,95 14,11
TQ4 ETA 2,60 2,44 2,50 a 2,95 14,11
TB ETA 0,84 0,74 0,58 0,20
Nota: TQ = tanque; TB = tambor.
43

Figura 4.13 – Tanques de lodo – Tanques de aplicação TQ1e TQ2 na área da ETE (à
esquerda) e tanques de armazenamento TQ3 e TQ4 na área da ETA (à direita).

Figura 4.14 – Energização – Tomada (à esquerda) e chave de acionamento (à direita) da


bomba de mistura do lodo.

Figura 4.15 – Bomba usada para recirculação e mistura do lodo antes de cada aplicação.
44

4.11 Coleta e transporte do resíduo do decantador

Foram feitas duas coletas do resíduo, uma para cada fase do experimento. A
coleta da primeira fase foi realizada no dia 11/09/11, durante a limpeza do decantador, por
meio de caminhões-tanques. Foram utilizados:
• 1 caminhão com sucção a vácuo, tipo limpa-fossa, capacidade de 8 m3;
• 1 caminhão com sucção a vácuo, tipo hidrojato, capacidade de 7 m3;
• mangotes de diâmetro 75 mm (10 m e 20 m);
• 1 bomba submersível de rotor aberto, marca Lowara, modelo Domo 156 (Q = 24 m3/h;
AMT = 6 mca; P = 1,5 CV), com chave de acionamento;
• mangote de diâmetro 50 mm (20 m).
O nível d’água no decantador foi baixado abrindo-se a descarga de fundo do
compartimento maior até a altura de aproximadamente 0,75 m, altura do batente da abertura
da parede entre os dois compartimentos. A coleta foi iniciada pelo compartimento menor do
decantador. Utilizou-se a bomba submersível para mistura do lodo. Após a entrada dos
operadores dentro do decantador foi feita também a mistura manual. Os dois caminhões
efetivaram a sucção simultaneamente, posicionando-se os mangotes em diferentes pontos e
alturas. As descargas foram efetuadas primeiro nos tanques da ETA (TQ3 e TQ4), até o
completo enchimento. Posteriormente, foi feito o carregamento, transporte e descarga nos
tanques da ETE (TQ1 e TQ2), complementando-se com o lodo do compartimento maior do
decantador. O último tanque não ficou completamente cheio por não haver tempo para mais
uma viagem. O tempo total da operação foi de cerca de 4 horas. Após a coleta do resíduo,
deu-se prosseguimento à limpeza do decantador, conforme descrito no item 4.5.
As Figuras 4.16 e 4.17 ilustram a coleta do resíduos.

Figura 4.16 – Coleta do resíduo do decantador por meio de caminhões com sucção a vácuo.
45

Figura 4.17 – Descarga do resíduo do decantador nos tanques da ETE.

A bomba submersível foi testada com o lodo concentrado do fundo do


compartimento maior do decantador, bombeando com facilidade para uma altura geométrica
de cerca de 3 m, o que assegurou o seu uso posterior nos tanques da ETE para recirculação e
mistura do lodo antes de cada aplicação.
Um dos principais desafios desta operação foi o tempo para a coleta. A
interrupção do tratamento da água para abastecimento da cidade foi limitada pela gerência
operacional de Piracanjuba a no máximo 6 horas, condicionada à realização em dia de menor
consumo, motivo pelo qual a coleta ocorreu num domingo.
Outra dificuldade inicial foi o limite operacional dos caminhões para
bombeamento da descarga em aproximadamente 3 metros de desnível, considerando o
elevado teor de sólidos do resíduo. Este fato foi limitante da altura dos tanques quando do
planejamento do experimento.
Por meio de procedimento similar ao da coleta da primeira fase, no dia 11/03/12
foi feita a coleta do resíduo aplicado na segunda fase. Nesta última utilizou-se dois caminhões
tipo hidrojato e dispensou-se o uso da bomba submersível. Tendo a experiência do aspecto do
lodo e da capacidade dos caminhões em descarregar nos tanques da ETE por bombeamento,
na segunda fase desprezou-se maior volume de sobrenadante do decantador com a finalidade
de succionar um lodo mais concentrado. Dessa vez o nível d'água foi baixado até uma altura
de aproximadamente 0,60 m do fundo.
O transporte do lodo armazenado nos tanques TQ3 e TQ4 da ETA para os tanques
TQ1 e TQ2 da ETE, à medida que estes esvaziavam-se no decorrer do experimento, também
foi feito por meio de caminhões tipo hidrojato, nas datas apresentadas na Tabela 4.9, adiante.
46

4.12 Coleta das amostras e caracterização do resíduo do decantador

Na primeira fase do experimento toda a amostragem foi feita no dia 11/09/11,


data da coleta do resíduo do decantador. Imediatamente após o carregamento dos tanques
(TQ1, TQ2, TQ3 e TQ4), para se aproveitar a homogeneização provocada pelo bombeamento
do caminhão, foi coletado com balde um volume de 6 litros de lodo de cada tanque. A partir
desses volumes foram compostas 3 amostras, a saber: a primeira amostra dos tanques de
aplicação (TQ1 e TQ2), a segunda dos tanques de armazenamento (TQ3 e TQ4) e a terceira
dos quatro tanques.
Todas as amostras foram compostas de alíquotas proporcionais ao volume total de
lodo nos tanques. Foi coletada também uma quarta amostra, simples, obtida do lodo
concentrado ao final da limpeza do decantador, a qual foi extraída de um volume armazenado
em um tambor metálico (TB) de 200 litros de capacidade Todas as amostras foram
acondicionadas em caixa de isopor com gelo para o transporte de Piracanjuba até Goiânia. As
amostras 1, 2 e 4 foram destinadas às análises físico-químicas e a amostra 3 às análises de
metais.
A Figura 4.18 mostra o procedimento adotado na coleta das amostras.

Figura 4.18 – Coleta das amostras do resíduo do decantador.

Na segunda fase, as amostras foram coletadas cada vez que os tanques de


aplicação (TQ1 e TQ2) foram carregados. Como houveram três carregamentos de cada
tanque, foram coletadas 9 amostras, sendo 3 do tanque TQ1, 3 do tanque TQ2 e 3 compostas
de TQ1 e TQ2. A amostragem de cada tanque foi composta de duas alíquotas de volumes
iguais, retiradas imediatamente após o enchimento do tanque, a primeira da parte superior
com balde e a segunda da parte inferior pelo registro. Para as amostras compostas de TQ1 e
47

TQ2, foram utilizadas alíquotas iguais de amostras compostas de cada tanque. Estas amostras
foram destinadas às análises de metais e as demais às análises físico-químicas.
A cada carregamento, os tanques TQ1 e TQ2 foram previamente lavados com
purga para a lagoa de teste, de modo que não houve sobra de resíduo do carregamento
anterior para o seguinte. Este cuidado foi tomado no sentido de garantir o controle da
concentração de sólidos do resíduo aplicado.
Os parâmetros analisados constam nas Tabelas 4.8 e 4.9. As análises
físico-químicas foram realizadas pelo Laboratório de Esgoto da Saneago e as análises de
metais foram feitas por laboratório particular. A metodologia utilizada está conforme
APHA et al. (2005).

Tabela 4.8 - Parâmetros físico-químicos de análise do resíduo do decantador.


Parâmetro Quantidade de análises realizadas
pH 09
Sólidos totais 09
Sólidos totais voláteis 09
Sólidos totais fixos 09
Sólidos sedimentáveis 05
Condutividade 05
DQO 05
Nitrogênio Kjeldhal Total (NTK) 08
Fósforo total 07
Total 66

Os teores de metais foram determinados por Espectrometria de Emissão Óptica


com Plasma Indutivamente Acoplado (ICP-OES), com uso de equipamento da marca
PerkinElmer, modelo 7300DV. A preservação das amostras foi feita conforme metodologia
SMWW1060.
A análise granulométrica do resíduo da ETA foi realizada segundo a NBR 7181
(ABNT, 1984), aplicada para solos, no Laboratório de Geotecnia da Escola de Engenharia
Civil da UFG. Para a execução da análise granulométrica foi necessário antes a determinação
da massa específica dos sólidos do resíduo, cujo ensaio foi realizado segundo a NBR 6508
(ABNT, 1984), com material que antes passou completamente na peneira nº 10, de abertura
2 mm. A classificação granulométrica foi feita de acordo com a NBR 6502 (ABNT, 1995).
48

Tabela 4.9 - Metais analisados do resíduo do decantador.


Parâmetro Quantidade de análises realizadas
Alumínio 04
Antimônio 04
Arsênio 04
Bário 04
Berílio 04
Boro 04
Cádmio 04
Cálcio 04
Chumbo 04
Cobalto 04
Cobre 04
Cromo 04
Estanho 04
Estrôncio 04
Ferro 04
Lítio 04
Magnésio 04
Manganês 04
Mercúrio 04
Molibdênio 04
Níquel 04
Potássio 04
Prata 04
Selênio 04
Silício 04
Sódio 04
Titânio 04
Vanádio 04
Zinco 04
Total 116

4.13 Aplicação do resíduo do decantador na lagoa de teste

A aplicação do resíduo do decantador na lagoa de teste foi feita pelos tanques


TQ1 e TQ2, de forma não simultânea, por meio de mangote de diâmetro 50 mm, com
escoamento por gravidade, como mostra a Figura 4.19. O ponto de aplicação foi a caixa de
passagem de esgoto, donde sai a tubulação de entrada na lagoa. Como há três entradas
equidistantes entre si, a cada dia alternou-se a caixa de aplicação, sempre na mesma
sequência. As aplicações foram diárias, em horário padronizado entre 9 h e 10 h da manhã.
49

Figura 4.19 - Aplicação do resíduo na lagoa - Tanque e mangote (à esquerda) e detalhe da


caixa de entrada (à direita).

Antes de cada aplicação, a bomba de recirculação era acionada por 20 minutos, no


mínimo, para mistura e homogeneização do lodo. O desligamento da bomba e a sequente
abertura do registro eram aguardados até o momento em que havia a entrada de esgoto para a
lagoa, uma vez que o fluxo de esgoto depende do acionamento automático das bombas da
elevatória. O volume pré-determinado de resíduo, observado pela altura na régua graduada
interna ao tanque, então era aplicado lentamente durante 10 minutos, estrangulando-se o
registro de saída do tanque, quando necessário para garantir este tempo, com a finalidade de
favorecer o contato resíduo e esgoto. Após esse procedimento, o registro era novamente
fechado.
Os volumes de resíduos e as respectivas cargas de sólidos aplicados em cada fase
são apresentados nas Tabelas 4.10 e 4.11.

Tabela 4.10 - Volumes de lodo e cargas de sólidos totais aplicados no período de estudo.
Tanque Vol. Carga
Aplicação Fase Coleta Origem Transporte Aplic. lodo ST lodo
(m3) (mg/L) (kg ST)
1 1ª 11/09/2011 Dec 11/09/2011 TQ1 8,80 8.000 70
2 1ª 11/09/2011 Dec 11/09/2011 TQ2 6,93 8.000 55
3 1ª 11/09/2011 TQ3* 19/11/2011 TQ1 5,69 19.000 108
4 1ª 11/09/2011 TQ4* e TB 19/11/2011 TQ2 6,17 23.000 142
5 2ª 11/03/2012 Dec 11/03/2012 TQ2 10,04 44.000 442
6 2ª 11/03/2012 Dec 11/03/2012 TQ1 8,80 24.000 211
7 2ª 11/03/2012 TQ3 15/04/2012 TQ1 9,76 20.000 195
8 2ª 11/03/2012 TQ3 15/04/2012 TQ2 4,88 48.000 234
9 2ª 11/03/2012 TQ4 17/05/2012 TQ2 5,37 31.000 166
10 2ª 11/03/2012 TQ4 17/05/2012 TQ1 7,16 28.000 201
a
Total da 1 Fase - - - - 27,58 - 376
Total da 2a Fase - - - - 46,02 - 1.450
Total - - - - 73,59 - 1.825
50

* Material sedimentado.
Notas: TQ = tanque; TB = tambor.
Tabela 4.11 - Volumes de lodo e cargas de sólidos totais aplicados diariamente.
Aplicação Fase Início Fim Nº h* diária Vol. diário Carga ST diária
dias (cm) (m3) (kg ST/d)
1 1ª 31/10/2011 08/11/2011 9 31,1 0,98 7,8
2 1ª 09/11/2011 14/11/2011 6 33,3 1,15 9,2
3 1ª 21/11/2011 02/12/2011 12 15,1 0,47 9,0
4 1ª 03/12/2011 14/12/2011 12 14,8 0,51 11,8
5 2ª 14/03/2012 01/04/2012 19 15,3 0,53 23,3
6 2ª 02/04/2012 11/04/2012 10 28,0 0,88 21,1
7 2ª 15/04/2012 30/04/2012 16 19,4 0,61 12,2
8 2ª 01/05/2012 10/05/2012 10 14,1 0,49 23,4
9 2ª 18/05/2012 24/05/2012 7 22,1 0,77 23,8
10 2ª 25/05/2012 01/06/2012 8 28,5 0,90 25,1
a
Total da 1 Fase - - 39 - - -
Total da 2a Fase - - 70 - - -
Total - - 109 - - -
* Altura de lodo aplicada diariamente, referente ao tanque de aplicação.

4.14 Batimetria e determinação do volume de lodo das lagoas

Para realizar a batimetria das lagoas avaliou-se inicialmente a possibilidade de uso


do dispositivo Sludge Judge, de origem americana. Trata-se um amostrador da coluna líquida,
composto de um tubo com uma válvula de fechamento em sentido único na extremidade.
Constatou-se pela experiência de Pereira (2007) e da Saneago, a dificuldade de amostragens
sucessivas devido ao entupimento da ponta e ao manuseio do dispositivo na canoa para
efetuar as medidas, o que mostrou inviável o seu uso, tendo em conta a quantidade necessária
de pontos.
Cogitou-se também usar um outro aparato utilizado por Pereira (2007), idealizado
por Gonçalves (2000), que consiste de uma haste de PVC com um disco perfurado de 30 cm
de diâmetro na extremidade. Porém, como se pretendia medir o acréscimo de lodo formado
em um curto período de tempo para cada lagoa, o seu uso foi abortado devido à sua baixa
precisão, já que a leitura da altura de lodo depende muito da sensibilidade do operador em
detectar a interface entre esgoto e o lodo.
Posteriormente experimentou-se o uso do aparelho ADCP, modelo River Surveyor
M7, de fabricação da Sontek, amplamente utilizado para batimetria em cursos d´água. Os
testes foram realizados no decantador da ETA Piracanjuba no dia 25/07/11, como mostrado
na Figura 4.20. Foram feitas 22 leituras, entretanto 20 resultados foram inconsistentes.
Acredita-se que o fato deve-se à baixa velocidade de escoamento horizontal dentro do tanque,
o que ocorre também nas lagoas de esgoto, motivo pelo qual foi descartado o seu uso.
51

Figura 4.20 – ADCP testado sem sucesso na batimetria do decantador da ETA Piracanjuba.

Descartadas as alternativas anteriores, o levantamento batimétrico do lodo das


lagoas do estudo foi realizado utilizando-se o aparelho Sludge Depth Meter, de fabricação da
Markland, de origem canadense. O aparelho, mostrado na Figura 4.21, consiste de uma
pistola dotada de um cabo com uma sonda na sua extremidade. A sonda possui uma fenda na
base que a divide em dois hemisférios, de um lado está um sensor óptico e do outro um ponto
de emissão de luz infravermelho. Ao penetrar em meio líquido com elevada concentração de
sólidos, o sensor óptico não consegue captar a luz e emite um som contínuo pela pistola na
superfície, indicando ao operador que a interface esgoto-lodo foi atingida.

Figura 4.21 - Pistola de medição de lodo utilizada para batimetria das lagoas do estudo (à
esquerda) e detalhe do sensor óptico (à direita).

A primeira batimetria das lagoas foi feita nos dias 07 e 08/10/11, antes da
aplicação do resíduo do decantador na lagoa de teste. A segunda batimetria foi realizada após
52

o período de aplicação do resíduo, no dia 22/06/12, seguindo a mesma malha de pontos de


medição apresentada anteriormente, no intuito de avaliar o aumento do volume de lodo.
As lagoas foram demarcadas em seções batimétricas ao longo do comprimento.
No primeiro terço a partir da entrada de cada lagoa as seções foram demarcadas a cada 5 m,
supondo um maior acúmulo de lodo próximo à entrada, e a partir daí a cada 10 m. Em cada
seção transversal foi posicionada uma corda de nylon com as marcações dos pontos de
medição a cada 10 m ao longo da largura, finalizando a última com 7,5 m. Tomou-se o
cuidado de que nenhum dos pontos de medição fosse locado sobre o talude. A malha com a
locação dos 95 pontos levantados em cada lagoa é apresentada na Figura 4.22.

Fluxo

Figura 4.22 – Malha de locação dos pontos da batimetria das lagoas de teste e de
referência (os eixos referem-se à distância, em metro, em relação ao canto inferior
esquerdo de cada lagoa).

Foram utilizados também os seguintes materiais:


• canoa de alumínio de bico semi-chato com 2 remos;
• 2 coletes salva-vidas;
• hastes metálicas para fixação da corda;
• 70 m de corda de nylon de 16 mm;
• trena de 50 metros;
• tubo de PVC graduado.
53

A corda foi fixada em hastes removíveis, confeccionadas em vergalhão de aço de


diâmetro de 25 mm e comprimento de aproximadamente 80 cm. O deslocamento dentro da
lagoa foi feito por meio da canoa. As profundidades da superfície do lodo foram medidas no
cabo do equipamento após emissão do som. Em cada ponto também foi feita a medição da
profundidade da lagoa com o uso de um tubo de PVC graduado, deduzindo-se então as alturas
de lodo. A Figura 4.23 demonstra o levantamento batimétrico realizado.

Figura 4.23 – Procedimento realizado para batimetria (na sequência: marcação das seções,
estaqueamento, ancoragem da corda guia, medição da altura do lodo e medição da
profundidade da lagoa).
54

Após o período de aplicação do resíduo, foi realizada no dia 22/06/12 outra


batimetria das lagoas de teste e de referência, seguindo a mesma malha de pontos de medição
apresentada anteriormente, no intuito de avaliar o aumento do volume de lodo.
Os resultados obtidos foram inseridos no software Surfer, versão 8.0, que gera
representações gráficas da superfície do lodo em planta, por meio de curvas de nível, e
tridimensional, além de calcular o volume de lodo para a área da malha de pontos levantados.
O cálculo é feito por integração numérica segundo três métodos: Regra Trapezoidal, Regra de
Simpson e Regra de Simpson ⅜.

4.15 Medição das vazões de esgoto afluentes à ETE e às lagoas do estudo

A medição da vazão de esgoto afluente à ETE foi feita por leitura manual da
altura da lâmina d'água na calha Parshall.
Entendendo que o ideal para determinação da vazão média seria a execução de
leituras horárias continuamente e na indisponibilidade de um sistema automatizado de
medição e aquisição de dados, foram feitas duas campanhas de medição durante 24 horas,
com leituras a cada uma hora, nos dias 30 a 31/03/12 e 06 a 07/06/12, para fim de
determinação da curva completa de vazão.
As demais leituras foram feitas a cada 2 horas e em horário diurno, coincidindo
com o período de maior contribuição de vazão, para se compatibilizar com a jornada de
trabalho e as atividades de rotina do operador.
Na primeira fase, as medições diurnas foram feitas de outubro a fevereiro, uma
vez por mês, nos horários de 7 h, 9 h, 11 h, 13 h, 15 h e 17 h.
Na segunda fase, as medições diurnas foram feitas de março a julho, de segunda a
sexta-feira nos horários de 7 h, 9 h, 11 h, 13 h, 15 h e 17 h, e aos sábados, nos horários de 7 h,
9 h e 11 h.
Inicialmente as vazões mensais foram tomadas pela vazão média afluente no
período de 12 horas (Qm12), correspondente às leituras diurnas realizadas das 7 h às17 h.
Posteriormente, a fim de estimar a vazão média para o período de 24 horas (Qm24), diferente
de Qm12 em virtude das variações de vazão entre os horários diurnos e noturnos, foi
determinado um fator "K", com base na curva completa de vazão, qual seja:
55

(4.1)

Ou seja, K é a relação entre a vazão média afluente no período de 24 horas (Q24),


determinada com leituras a cada 1 hora, e a vazão média afluente no período de 12 horas
(Q12), determinada com leituras a cada 2 horas, de um dia qualquer.
Assumindo o valor de K constante durante o período de estudo e igual à média
determinada para os dias 31/03/12 e 07/06/12, obteve-se a vazão média mensal:

Qm24 = K * Qm12 (4.2)

Na primeira fase, cada lagoa do estudo (teste e referência) recebeu 25% da vazão
afluente à ETE. Os outros 50% eram direcionados à terceira lagoa facultativa da ETE.
Percebeu-se que nesta fase os parâmetros operacionais das lagoas estavam fora da faixa usual
encontrada na literatura. Assim, com a finalidade de reduzir o tempo detenção hidráulica e
aumentar a taxa de aplicação superficial das lagoas do estudo, na segunda fase a terceira lagoa
facultativa foi propositadamente isolada e cada lagoa do estudo recebeu 50% da vazão de
entrada à ETE.
Observa-se que, para a segunda fase, também foi feito um ajuste fino dos
vertedores das caixas de entrada de cada lagoa, no intuito de garantir a mesma vazão para
cada tubulação de entrada.

4.16 Coleta das amostras e caracterização do esgoto bruto

As amostras do esgoto bruto foram coletadas após o gradeamento, conforme


mostrado na Figura 4.24. As amostras foram compostas de alíquotas proporcionais à vazão de
entrada, coletadas em intervalos de 1 hora, durante 12 horas.
Após medição da temperatura, as alíquotas foram passadas para frascos, aplicados
os reagentes, quando necessário, e acondicionadas em caixa de isopor com gelo para
transporte até o laboratório.
56

Durante o período de estudo, foram coletadas 8 amostras no total, sendo 1 na primeira


fase e 7 na segunda fase.

Figura 4.24 - Procedimento de coleta das amostras do esgoto bruto.

Os parâmetros analisados constam nas Tabelas 4.12 e 4.13. As análises


físico-químicas foram realizadas pelo Laboratório de Esgoto da Saneago e as análises de
metais foram feitas por laboratório particular. A metodologia utilizada está conforme
APHA et al. (2005).
Os teores de metais foram determinados por Espectrometria de Emissão Óptica
com Plasma Indutivamente Acoplado (ICP-OES), com uso de equipamento da marca
PerkinElmer, modelo 7300DV. A preservação das amostras foi feita conforme metodologia
SMWW1060.

Tabela 4.12 - Parâmetros físico-químicos de análise do esgoto bruto.


Parâmetro Quantidade de análises realizadas
Sólidos sedimentáveis 08
Sólidos totais 08
Sólidos totais voláteis 08
Sólidos totais fixos 08
Sólidos suspensos totais 07
Sólidos dissolvidos totais 05
Condutividade 08
pH 08
DBO5 07
DQO 08
Nitrogênio Kjeldhal Total (NTK) 07
Nitrogênio amoniacal 07
Fósforo total 07
Escherichia Coli 08
Total 104
57

Tabela 4.13 - Metais analisados do esgoto bruto.


Parâmetro Quantidade de análises realizadas
Alumínio 01
Antimônio 01
Arsênio 01
Bário 01
Berílio 01
Boro 01
Cádmio 01
Cálcio 01
Chumbo 01
Cobalto 01
Cobre 01
Cromo 01
Estanho 01
Estrôncio 01
Ferro 01
Lítio 01
Magnésio 01
Manganês 01
Mercúrio 01
Molibdênio 01
Níquel 01
Potássio 01
Prata 01
Selênio 01
Silício 01
Sódio 01
Titânio 01
Vanádio 01
Zinco 01
Total 29

4.17 Amostragem e caracterização do esgoto ao longo do comprimento das lagoas

No sentido de verificar a variação dos parâmetros avaliados ao longo do


comprimento das lagoas, no início da primeira fase foram feitos dois perfis de amostragem no
eixo longitudinal de cada lagoa (teste e referência) nos seguintes pontos, medidos em relação
à borda de entrada:
• 38,5 m (aproximadamente ¼ do comprimento);
• 78,5 m (aproximadamente ½ do comprimento);
• 118,5 m (aproximadamente ¾ do comprimento);
• 154,5 m (caixa de saída).
O parâmetro na entrada da lagoa é o valor do esgoto bruto determinado no dia
24/11/11.
58

Tendo em conta o tempo de detenção hidráulica da ordem de 60 dias na primeira


fase, as amostragens foram feitas após 21 dias de aplicação de lodo, nas seguintes datas:
• 21/11/11 – 3 semanas após o início da aplicação do lodo;
• 28/11/11 – 4 semanas após o início da aplicação do lodo.
O deslocamento até os pontos de coleta foi feito por meio de um barco de fundo
semi-chato e remos. A coleta das amostras foi realizada com o uso de uma garrafa de Van
Dorn do tipo horizontal, volume de 2 L, a uma altura de 50 cm abaixo da lâmina d´água.
Tomou-se o cuidado de fazer um leve movimento do amostrador ao se atingir a altura de
coleta para proporcionar a entrada da amostra da altura desejada. No barco, as amostras foram
transferidas para um recipiente plástico e, após medição da temperatura, repassadas para
frascos fechados, aplicados os reagentes, quando necessário, e acondicionadas em caixa de
isopor com gelo para transporte até o laboratório. O procedimento de coleta é mostrado na
Figura 4.25.

Figura 4.25 - Procedimento de amostragem do esgoto ao longo do comprimento das lagoas.

Os parâmetros analisados constam nas Tabela 4.14. As análises foram realizadas


pelo Laboratório de Esgoto da Saneago. A metodologia utilizada está conforme APHA et al.
(2005).

Tabela 4.14 - Parâmetros de análise do esgoto ao longo do comprimento das lagoas.


Parâmetro Quantidade de análises realizadas
Sólidos totais 16
Sólidos suspensos totais 16
DBO5 16
Nitrogênio Kjeldhal Total (NTK) 16
Nitrogênio amoniacal 16
Fósforo total 16
Total 96
59

4.18 Coleta das amostras e caracterização do esgoto efluente das lagoas do estudo

A partir da quinta semana após o início da aplicação do lodo da primeira fase,


foram coletadas semanalmente amostras simples do esgoto efluente das lagoas do estudo. As
coletas foram feitas na última caixa de saída de cada lagoa, como mostra a Figura 4.26. Esta
caixa reúne o esgoto das três saídas da lagoa.

placa defletora

termômetro

Figura 4.26 – Procedimento de coleta do efluente das lagoas na caixa de saída.

Observa-se que as caixas de saída são devidamente dotadas de placa defletora a


montante do vertedor, o que possibilitou a coleta somente da fase líquida do efluente, abaixo
da camada de sobrenadante.
Devido à quantidade de parâmetros analisados, as amostras eram acondicionadas
inicialmente em baldes. Após medição da temperatura, as amostras eram homogeneizadas,
dispostas nos frascos, aplicados os reagentes, quando necessário, e acondicionadas em caixa
de isopor com gelo para transporte até o laboratório.
Estabeleceu-se como padrão que as coletas fossem feitas às segundas-feiras, o que
ocorreu na maioria das vezes. Alterações foram feitas geralmente por questões de logística de
transporte e/ou laboratório. A maioria das coletas foram feitas no período da manhã, entre
10 h e 12 h, horário correspondente às maiores vazões do período diurno.
A cada semana foram coletadas quatro amostras, sendo uma duplicata da lagoa de
teste e outra da lagoa de referência. Para minimizar a demanda de análises ao laboratório, nos
meses de junho e julho de 2012, coletou-se duas amostras por semana, sendo uma de cada
lagoa.
Na primeira fase, assim como houve uma defasagem de 3 semanas após o início
da aplicação do lodo para se iniciar o monitoramento, devido ao tempo de detenção hidráulica
60

da ordem de 60 dias, a amostragem se estendeu por 7 semanas após o término da aplicação.


Na segunda fase, o tempo de detenção foi por volta de 30 dias e o monitoramento iniciou logo
após o início da aplicação, encerrando 6 semanas após o término.
Totalizando, o monitoramento do efluente foi realizado em 28 semanas efetivas,
sendo 11 na primeira fase e 17 na segunda fase. Os períodos de monitoramento de cada fase
são mostrados na Figura 4.27.

1ª#fase#(#71#dias#
Atividade Realizada

2ª#fase#(#120#dias#

1ª#fase#(#45#dias# 2ª#fase#(#80#dias#

0
0

40

80

120

160

200

240

280
Período (dias)
Aplicação Monitoramento
Figura 4.27 - Fases de aplicação do resíduo e de monitoramento das lagoas.

As análises físico-químicas foram realizadas pelo Laboratório de Esgoto da


Saneago. A metodologia utilizada está conforme APHA et al. (2005). Os parâmetros
analisados constam na Tabela 4.15.

Tabela 4.15 - Parâmetros físico-químicos de análise do esgoto efluente das lagoas.


Parâmetro Quantidade de análises realizadas
pH 54
DBO5 54
DQO 52
Sólidos totais 54
Sólidos totais voláteis 54
Sólidos totais fixos 54
Sólidos suspensos totais 54
Sólidos dissolvidos totais 42
Sólidos sedimentáveis 48
Nitrogênio Kjeldhal Total (NTK) 50
Nitrogênio amoniacal 52
Condutividade 54
Fósforo total 50
Oxigênio dissolvido 51
Clorofila “a” 33
Escherichia Coli 52
Total 808
61

As análises de metais foram feitas por laboratório particular, por Espectrometria


de Emissão Óptica com Plasma Indutivamente Acoplado (ICP-OES), com uso de
equipamento da marca PerkinElmer, modelo 7300DV. A preservação das amostras foi feita
conforme metodologia SMWW1060. As análise de metais realizadas constam na Tabela 4.16.

Tabela 4.16 - Metais analisados do efluente das lagoas.


Parâmetro Quantidade de análises realizadas
Alumínio 06
Antimônio 06
Arsênio 06
Bário 06
Berílio 06
Boro 06
Cádmio 06
Cálcio 06
Chumbo 06
Cobalto 06
Cobre 06
Cromo 06
Estanho 06
Estrôncio 06
Ferro 06
Lítio 06
Magnésio 06
Manganês 06
Mercúrio 06
Molibdênio 06
Níquel 06
Potássio 06
Prata 06
Selênio 06
Silício 06
Sódio 06
Titânio 06
Vanádio 06
Zinco 06
Total 174
62

4.19 Análise estatística

A análise estatística foi realizada por meio de testes de hipóteses. Inicialmente


foram verificadas a normalidade das séries pelo método de Shapiro-Wilk. Para as séries de
dados com distribuição normal, foi usado o Teste t ou de significância da diferença entre duas
médias. Conforme os resultados das variâncias, foi aplicado o Teste t para variâncias iguais
ou desiguais. Para as séries não normais foi o usado o teste não paramétrico de Wilcoxon.
O nível de significância α estabelecido foi de 5% para ambos os testes. A partir
da hipótese nula de igualdade das médias, foram calculadas as probabilidades (p-valor) da
hipótese nula ser aceita, ao nível de confiança de 95%. Portanto, para p-valor ≥ 0,05, não
existe diferença estatística entre as médias e as médias foram consideradas iguais. Do mesmo
modo, para p-valor < 0,05 as médias foram consideradas diferentes.

4.20 Coleta das amostras e caracterização do lodo de fundo das lagoas

Após finalização da aplicação do resíduo do decantador na lagoa de teste, no dia


22/06/12 foi realizada uma amostragem composta do lodo de fundo de cada lagoa do estudo,
por meio da coleta do lodo em cinco pontos desalinhados ao longo do eixo e locados no
primeiro terço da lagoa, a partir da entrada.
Para tanto, foi utilizado um amostrador de sedimentos conhecido como draga de
Eckman, conforme mostra a Figura 4.28. Uma vez compostas, as amostras foram
acondicionadas em caixa de isopor com gelo para transporte ao laboratório.

Figura 4.28 - Coleta do lodo de fundo utilizando a draga de Eckman.


63

Os parâmetros analisados constam nas Tabelas 4.17 e 4.18. As análises foram


realizadas por laboratório particular. A metodologia utilizada está conforme APHA et al.
(2005).
Os teores de metais foram determinados por Espectrometria de Emissão Óptica
com Plasma Indutivamente Acoplado (ICP-OES), com uso de equipamento da marca
PerkinElmer, modelo 7300DV. A preservação das amostras foi feita conforme metodologia
SMWW1060.

Tabela 4.17 - Parâmetros físico-químicos de análise do lodo de fundo das lagoas.


Parâmetro Quantidade de análises realizadas
pH 02
Sólidos totais 02
Sólidos totais fixos 02
Sólidos totais voláteis 02
DQO 02
NTK 02
Fósforo total 02
Total 14

Tabela 4.18 - Metais analisados do lodo de fundo das lagoas.


Parâmetro Quantidade de análises realizadas
Alumínio 02
Antimônio 02
Arsênio 02
Bário 02
Boro 02
Cádmio 02
Cálcio 02
Chumbo 02
Cobalto 02
Cobre 02
Cromo total 02
Estanho 02
Ferro total 02
Magnésio 02
Manganês 02
Mercúrio 02
Molibdênio 02
Níquel 02
Potássio 02
Prata 02
Selênio 02
Sódio 02
Vanádio 02
Zinco 02
Total 48
64

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capítulo são apresentados e discutidos os resultados obtidos durante a


pesquisa experimental.

5.1 Caracterização da ETA

Nas Tabelas 5.1 e 5.2 são apresentadas as características da água bruta, cujas
análises foram realizadas a partir de amostras bimestrais. De acordo com os valores
apresentados, os dois mananciais que abastecem a ETA Piracanjuba são enquadrados como
Classe 2 (CONAMA, 2005). Em operação normal, a captação de água do rio Piracanjuba
ocorre somente na estação seca para complemento da vazão do córrego São Mateus, nos
períodos ou dias mais críticos.
A turbidez dos dois cursos hídricos é maior na estação chuvosa (novembro a abril)
do que na estação seca (maio a outubro). Embora os dados sejam pontuais, nota-se que a água
do rio Piracanjuba, possui maior concentração de sólidos dissolvidos totais do que córrego
São Mateus.
O volume de água bruta e o consumo de produtos químicos da ETA Piracanjuba
constam na Tabela 5.3, cujos valores foram obtidos a partir de medições diárias. Observa-se,
no histórico apresentado, que os maiores volumes de água tratada e maiores consumos de
coagulante ocorreram nos meses de setembro e outubro.

Tabela 5.1 - Características da água bruta do córrego São Mateus de 2010.


Mês Cor pH Turbidez Ferro Coliformes Manganês SDT
aparente total termotolerantes
(uH) (uT) (mg/L) (NMP/100mL) (mg/L) (mg/L)
Fev 85,3 6,52 13,40 0,32 40,0 0,170 -
Abr 66,5 6,39 15,00 1,12 20,0 0,190 13,33
Jun 48,0 6,67 7,85 0,90 20,0 0,065 10,42
Ago 45,4 6,77 6,82 1,40 11,0 0,016 12,40
Out 39,0 7,51 7,91 1,45 70,0 0,152 -
Dez 82,0 6,64 11,20 0,00 140,0 0,006 -
Média 61,0 6,65 10,36 0,87 50,2 0,100 12,05
Fonte: Registros operacionais da SANEAGO.
65

Tabela 5.2 - Características da água bruta do rio Piracanjuba de 2010.


Mês Cor pH Turbidez Ferro Coliformes Manganês SDT
aparente total termotolerantes
(uH) (uT) (mg/L) (NMP/100mL) (mg/L) (mg/L)
Mai 51,5 7,35 16,50 0,31 2,0 0,000 19,19
Jun 46,3 7,25 14,00 0,88 40,0 0,264 20,20
Ago 33,3 7,51 6,39 0,74 20,0 0,034 24,31
Out 84,5 6,89 13,60 2,10 170,0 0,154 -
Dez 130,0 7,20 21,00 0,00 60,0 0,108 -
Média 69,1 7,19 14,30 0,81 58,4 0,112 21,23
Fonte: Registros operacionais da SANEAGO.

Tabela 5.3 - Parâmetros operacionais e dosagem de produtos químicos em 2010.


Mês Volume médio de Tempo médio de Dosagem de sulfato Dosagem de
água bruta operação de alumínio* cal**
(m3/d) (h/d) (g/m3) (g/m3)
Jan 1.790,2 12,4 7,20 1,80
Fev 1.866,5 14,0 6,50 1,53
Mar 1.800,9 13,2 5,01 1,97
Abr 1.820,5 13,2 2,38 1,64
Mai 1.914,7 14,0 2,19 1,34
Jun 1.742,1 12,6 1,72 1,33
Jul 1.896,4 13,4 2,04 1,36
Ago 2.642,9 7,4 5,12 1,19
Set 2.974,8 15,5 9,32 0,89
Out 2.743,8 15,3 12,93 1,15
Nov 2.063,4 13,5 10,33 1,61
Dez 1.972,5 13,3 7,84 2,45
Média 2.102,4 13,1 6,05 1,52
Fonte: Registros operacionais da SANEAGO.
* Sulfato de alumínio líquido a 50%; ** A aplicação da cal hidratada é feita no tanque de contato.

5.2 Quantificação dos resíduos da ETA

O volume de lodo retido no decantador foi estimado em 120 m3 a cada limpeza,


correspondente à altura média de lodo de 0,75 m. A estimativa foi feita nas ocasiões das
limpezas de rotina de 11/09/2011 e 11/03/2012. O volume representa 27% do volume do
decantador e é condizente com o tempo de permanência do lodo de 3 a 5 meses, conforme
apresentado na Tabela 5.4.
66

O volume de resíduo do decantador equivale em média a 0,05% do volume diário


de água tratada em situação de rotina normal. O volume de sobrenadante descartado a cada
lavagem é de 328 m3 e representa 0,14% de perda diária.

Tabela 5.4 - Histórico de limpeza do decantador de abril/2011 a março/2012.


Data Tempo de permanência do lodo
12/04/11 (1) -
(1) (2)
11/09/11 5 meses
10/11/11(3) 2 meses
(3) (4)
05/12/11 1 mês
11/03/12(1) (2) 2 meses e 20 dias
(1) Limpeza de rotina; (2) coleta do lodo para o experimento; (3) limpeza antecipada para reparo no
decantador; (4) reinício de operação em 20/12/11.

Os volumes de água gastos durante a lavagem dos filtros foram estimados como
mostrado na Tabela 5.5, variando durante o ano de 2% a 4% do volume tratado pela ETA
diariamente. Em geral a maior frequência de limpeza e a consequente maior geração de
resíduo ocorrem nos dias de maior volume de água tratada e maior consumo de coagulante.

Tabela 5.5 – Volume de água de lavagem dos filtros.


Estação Manancial Frequência de limpeza Volume médio
diário
Chuvosa São Mateus 1 a cada 2 dias 40 m3
Seca São Mateus e Piracanjuba 1 a cada 2 dias ou 1 por dia 40 a 80 m3

Os índices percentuais dos resíduos gerados pela ETA Piracanjuba estão dentro
dos intervalos citados pela AWWA (1999) para estações de ciclo completo, entre 0,1 e 3,0%
para o lodo de decantador e entre 1 e 5% para água de lavagem dos filtros.

5.3 Caracterização da água de lavagem dos filtros

No intuito de determinar a carga total de sólidos dos resíduos produzidos na ETA,


é apresentada na Tabela 5.6 a caracterização da água de lavagem dos filtros. Os resultados
demonstram elevados valores de turbidez e teor sólidos, compatíveis com a literatura.
Segundo a AWWA (1999), a concentração total de sólidos varia geralmente entre 200 e
600 mg/L. No entanto, o resíduo não atende sem diluição ao padrão de águas Classe 2 quanto
à turbidez, máxima de 100 uT (CONAMA, 2005).
67

Tabela 5.6 – Características da água de lavagem dos filtros.


Cor
pH Turbidez ST STV STF STV/ST DQO
verdadeira
(uH) (uT) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (%) (mg/L)
7,31 44 333 416 79 337 19 63

Os valores da relação STV/ST de 19% e de DQO de 63 mg/L indicam que se trata


de um lodo com baixa carga orgânica.

5.4 Caracterização do resíduo do decantador

5.4.1 Características físico-químicas

As principais características físico-químicas do resíduo do decantador são


apresentadas na Tabela 5.7.
Os teores de sólidos totais do resíduo do decantador da ETA Piracanjuba variaram
de 8,1 a 48,0 g/L, com média de 27,9 g/L. Essa ampla variação está relacionada à operação da
ETA, principalmente com a variação sazonal da qualidade da água bruta e o consumo de
coagulante. Os índices observados encontram-se dentro da faixa encontrada na literatura,
usualmente entre 1 e 30 g/L podendo alcançar valores da ordem de 80 g/L, sendo que valores
maiores que 25 g/L são observados em decantadores convencionais de limpeza manual com
período de acumulação do lodo acima de 20 dias, como é o caso da ETA em estudo
(Cordeiro, 1993; AWWA, 1999; Cordeiro, 1999; Reali, 1999; Andrade, 2005; Chao, 2006).
Com base no teor médio de sólidos do decantador e da água de lavagem dos
filtros, bem como no volume médio diário de cada resíduo, determinou-se para os resíduos da
ETA a carga total média de sólidos de 54 kg/d, que corresponde a 26 g de sólidos secos/m3 de
água tratada. Para fim de comparação, estimou-se o aporte diário de sólidos da ETA por meio
das equações empíricas 3.1 e 3.2, adotando-se "a" igual a 1,5 e turbidez média de 12,3 uT. O
valor obtido foi de 42 kg/d, conforme cálculos apresentados no Apêndice A. Portanto, o valor
medido superou o valor estimado empiricamente em aproximadamente 29%.
68

Tabela 5.7 - Características do lodo do decantador.


Data Amostra Tanque ST STV STF Sól. sed. Condut. pH DQO NTK Fósforo total
(g/L) (g/L) (%ST) (g/L) (%ST) (mL/L) (µS/cm) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (g/kg)
11/09/11 1 TQ1 e TQ2 8,1 1,9 23,1 6,2 76,9 500 95,4 6,84 2.553 - 6,5 0,8
Fase 11/09/11 2 TQ3 e TQ4 13,0 2,8 21,9 10,2 78,1 700 95,5 7,03 3.847 - 18,2 1,4
1 11/09/11 3 TQ1, 2 ,3 e 4 - - - - - - - - - 76,00 - -
11/09/11 4 TB 35,0 8,1 23,1 26,9 76,9 1.000 21,5 6,78 6.587 - 59,5 1,7
11/03/12 5 TQ1 24,0 6,2 26,0 17,8 74,0 > 950 - 6,58 4.100 23,52 38,4 1,6
11/03/12 6 TQ2 44,0 10,3 23,3 33,7 76,7 > 950 - 6,71 5.500 36,96 61,6 1,4
19/03/12 7 TQ1 e TQ2 - - - - - - - - - 64,40 - -
15/04/12 8 TQ1 20,0 5,4 26,9 14,6 73,1 - - 7,14 - - - -
Fase
15/04/12 9 TQ2 48,0 13,1 27,3 34,9 72,7 - - 7,38 - - - -
2
15/04/12 10 TQ1 e TQ2 - - - - - - - - - 18,40 - -
17/05/12 11 TQ1 28,0 7,5 26,8 20,5 73,2 - 299,0 6,83 - 5,80 78,4 2,8
17/05/12 12 TQ2 31,0 8,3 26,8 22,7 73,2 - 272,0 6,85 - 6,00 55,8 1,8
04/06/12 13 TQ1 e TQ2 - - - - - - - - - 84,00 - -
Média - - 27,9 7,1 25,0 20,8 75,0 733 156,7 6,90 4.517 39,39 45,5 1,6
Notas: 1) As amostras compostas de mais de um tanque foram tomadas de alíquotas iguais, exceto para a amostra 3, onde as alíquotas foram proporcionais; 2) Fósforo total
em g/kg em base seca de sólidos totais.
69

O resíduo se trata de um lodo inorgânico, com relação média de STF/ST de 75%.


A DQO média é de 4.517 mg/L, dentro da faixa típica de 500 a 15.000 mg/L para lodos de
ETA (CORDEIRO, 1993; ROSARIO, 2007 apud LOMBARDI, 2009). O teor de fósforo,
entre 6,5 a 78,4 mg/L, é elevado comparando-se com a faixa de 2 a 34 mg/L encontrada na
literatura (CORDEIRO, 1993; BARBOSA, 2001; BARROSO et al., 2001, SCALIZE, 2003;
ANDRADE, 2005; CHAO, 2006; SOARES, 2013). Este fato deve-se ao tipo de ocupação da
bacia hidrográfica, predominantemente agrícola com uso de fertilizantes agrícolas ricos neste
nutriente. Entretanto, valor próximo em base seca também foi encontrado para o lodo da ETA
Meia Ponte em Goiânia de 1,43 g/kg (SANEAGO, 2009 apud SOUZA, 2011).
Embora a legislação brasileira trate o resíduo de ETA como resíduo sólido,
verificou-se que os resultados de sólidos sedimentáveis excederam muito o padrão de 1 mL/L
para lançamento direto de efluentes em cursos d’água (CONAMA, 2011), chamando a
atenção para a necessidade de disposição adequada do resíduo.
Quanto ao teor de metais, de modo geral os parâmetros do lodo do decantador
apresentados na Tabela 5.8 estão de acordo com os padrões de lançamento de efluentes
(CONAMA, 2011).
O lodo do decantador possui elevados teores dos metais alumínio, ferro e
manganês. Esses resultados devem-se à presença na água bruta do ferro e do manganês,
conforme mostrado nas tabelas 5.1 e 5.2. As quantidades de ferro e alumínio na água bruta e
no lodo foram associadas ao tipo do solo característico de países de clima tropical, como o
Brasil, que possui nas camadas superficiais do seu perfil elevados teores de óxidos e
hidróxidos de ferro e alumínio, por ter sofrido intemperismo químico ao longo do seu
processos evolutivo. Destaca-se que os teores de alumínio extremamente elevados deve-se
também naturalmente ao uso de sulfato de alumínio como coagulante.
Índices relativamente expressivos também foram observados para cálcio,
magnésio, potássio e sódio. Os elementos cálcio e magnésio são oriundos das rochas
carbonáticas localizadas na camada mais superficial do planeta, facilmente lixiviadas pelas
águas, e até mesmo do carreamento de cal pelas águas de chuva nas áreas de cultivo da bacia
de contribuição, já que é um insumo largamente utilizado na correção do pH do solo de
cultivo e pastagens, muito comuns na região central do Brasil.
Os elementos potássio e sódio são bastante comuns na crosta terrestre, ocorrendo
na natureza sob a forma de compostos. No decorrer do tempo geológico o intemperismo
provoca sua alteração química gerando compostos solúveis que são transportados pelas águas.
(NASCIMENTO & LAPIDO LOUREIRO, 2004)
70

Tabela 5.8 – Teores de metais do lodo do decantador.


Parâmetro Unidade 11/09/11 19/03/12 15/04/12 04/06/12 Limite LQ
máximo
Alumínio mg/L 1.335,700 1.234,000 1.200,000 5.570,000 - 0,003
Antimônio mg/L ND ND ND 0,005 - 0,005
Arsênio mg/L ND ND ND 2,400 0,5 0,008
Bário mg/L 3,500 3,100 1,200 3,700 5,0 0,003
Berílio mg/L 0,036 0,005 0,050 0,300 - 0,001
Boro mg/L ND ND 7,500 4,800 5,0 0,007
Cádmio mg/L 0,0045 0,35 0,35 0,30 0,2 0,001
Cálcio mg/L 3,16 95,70 65,70 361,00 - 0,01
Chumbo mg/L 1,61 ND ND 0,40 0,5 0,01
Cobalto mg/L 0,412 0,012 0,300 ND - 0,003
Cobre mg/L 0,066 1,300 0,650 2,200 1,0 (2) 0,002
Cromo mg/L 1,799 3,750 2,500 6,200 - 0,003
Estanho mg/L ND ND ND ND 4,0 0,01
Estrôncio mg/L 0,275 0,019 0,650 1,500 - 0,001
Ferro mg/L 789,00 3.736,00 1.915,00 5.210,00 15,0 (2) 0,002
Lítio mg/L 0,754 0,900 0,300 1,900 - 0,001
Magnésio mg/L 21,30 40,20 18,30 40,80 - 0,01
Manganês mg/L 18,900 16,550 8,250 20,600 1,0 (2) 0,007
Mercúrio mg/L ND ND ND ND 0,01 0,0002
Molibdênio mg/L 0,110 ND 0,019 1,400 - 0,007
Níquel mg/L 0,613 0,450 ND 1,000 2,0 0,007
Potássio mg/L ND 66,900 29,100 82,000 - 0,005
Prata mg/L ND ND ND ND 0,1 0,01
Selênio mg/L ND ND 2,65 ND 0,30 0,01
Silício mg/L 36,90 ND 131,50 1305,00 - 0,002
Sódio mg/L 17,70 2045,00 84,50 693,00 - 0,01
Titânio mg/L ND ND ND ND - 0,005
Vanádio mg/L 3,51 5,20 3,30 10,40 - 0,03
Zinco mg/L 0,50 1,50 1,25 9,80 5,0 0,02
Notas:
1) Limites máximos conforme legislação brasileira para lançamento de efluentes em corpos hídricos
(CONAMA, 2011);
2) Limite para o parâmetro dissolvido, não havendo referência para o parâmetro total;
3) LQ = Limite de quantificação do equipamento;
4) ND = não detectado;
5) Os ensaios foram executados segundo a norma SMWW 3120 B, excepcionalmente para o Cálcio e Mercúrio
que foram utilizadas as normas SMWW 3500-Ca B e USEPA SW 846-74, respectivamente;
6) Valores em vermelho estão acima do limite máximo definido na nota 1.
71

5.4.2 Distribuição granulométrica

Na Figura 5.1 é apresentada a curva de distribuição granulométrica das partículas


do resíduo da ETA. A análise granulométrica foi realizada segundo a NBR 7181
(ABNT, 1984). No método normalizado é indicado o uso de defloculante, hexametafosfato de
sódio, para separar as partículas aglomeradas, típicas de solos tropicais. Entretanto, é
convencional na região a execução de ensaio adicional sem uso de defloculante, exatamente
com a finalidade comparativa de perceber o nível da presença de aglomerações no solo
(CAMAPUM DE CARVALHO et al. 1996).
Para a execução da análise granulométrica foi necessário antes a determinação da
massa específica dos sólidos do resíduo de ETA, cujo ensaio foi realizado segundo a
NBR 6508 (ABNT, 1984), com material que antes passou completamente na peneira nº 10, de
abertura 2 mm. O resultado encontrado para a massa específica do sólidos (ρs) foi de
2,712 g/cm3.
Analisando o teor de finos ou material pulverulento como a porcentagem de
material que passa pela peneira 0,075 mm, pode--se dizer que tanto na análise com
defloculante (98,8%) como na sem defloculante (99,0%) os valores são elevados.

100
90
80
70
% que passa

60
50
40
30
20
10
0
0,001 0,01 0,1 1 10
Dimensão das partículas (mm)
S/ defloculante C/ defloculante

Figura 5.1 – Curva de distribuição granulométrica do resíduo de ETA.


72

Ao fazer uma classificação eminentemente granulométrica do material,


levando-se em consideração apenas a dimensão das partículas sem considerar o
comportamento plástico, tem-se uma argila siltosa (52% de argila, 45% de silte e 3% de areia
fina) da análise granulométrica do resíduo com defloculante. Já para a análise sem
defloculante, tem-se uma areia fina siltosa (89% de areia fina e 11% de silte).
A NBR 6502 (ABNT, 1995) classifica como argila as partículas com dimensão
inferior a 0,002 mm, como silte as que estão entre 0,002 e 0,06 mm e como areia fina entre
0,06 e 0,2 mm.
A diferença entre as curvas granulométricas para o ensaio com e sem defloculante
mostra que o resíduo trata-se de um material com elevado teor de agregações. Essas
agregações podem ser devido à presença na água bruta de partículas de solo agregadas (seja
por cimentação química provocada por lixiviados no perfil de intemperismo, seja pela ligação
por pontes de argila entre os grãos maiores), carreadas da bacia para o leito do rio, e/ou
também de partículas coloidais formadas pela desestabilização química exercida pelo
coagulante sulfato de alumínio adicionado à água durante o tratamento para essa finalidade.

5.5 Caracterização da ETE

Na Tabela 5.9 são apresentadas as características de desempenho da ETE


Piracanjuba antes do experimento com a aplicação do lodo. Os dados demonstram que a
estação apresentava elevada eficiência de remoção de matéria orgânica e de E. Coli, da ordem
de 94% e de 5 unidades logarítmicas, respectivamente.
Como pode ser visto na Figura 5.2, no período analisado o efluente apresentou
uma DBO média de 13 mg/L, variando de 7 a 24 mg/L, o que está abaixo do limite de
60 mg/L estabelecido na legislação estadual (GOIÁS, 1979) e de 120 mg/L na legislação
federal (BRASIL, 2011). A eficiência de remoção nesse período variou entre 87,7% e 97,3%,
o que também atende à legislação vigente.
Em termos de E. Coli, a qualidade do efluente era compatível com o padrão
Classe 2 do corpo receptor (CONAMA, 2005) antes mesmo da diluição.
Algumas características das lagoas facultativas antes do lançamento do resíduo
referente ao período de 2009 a 2011 são apresentadas no Apêndice B. A análise feita a partir
desses resultados permitiu considerar que as duas lagoas apresentaram comportamento
semelhantes antes do início da pesquisa com o resíduo.
73

Tabela 5.9 – Desempenho da ETE Piracanjuba em 2010.


Mês DBO5 (mgO2/L) E. coli (NMP/100mL)
Afluente Efluente Afluente Efluente
Janeiro 210 7 8,6E+7 7,4E+2
Fevereiro 130 16 - -
Março 170 10 1,4E+7 1,0E+1
Abril 120 11 - -
Maio 240 7 3,9E+6 2,0E+1
Junho 260 7 - -
Julho 270 13 8,6E+6 1,0E+1
Agosto 180 18 - -
Setembro 200 10 1,1E+4 1,0E+0
Outubro 360 22 - -
Novembro 300 24 7,7E+6 5,2E+1
Dezembro - 13 - -
Média 222 13 2,0E+7 1,4E+2
Fonte: Registros operacionais da SANEAGO.

400 96,7 97,1 97,3 95,2 95,0 93,9


94,1
90,8 90,0 92,0
350 87,7

300
DBO (mgO2/L)

250
200
150
100
50 16 10 11 13 18 10 22 24 13
7 7 7
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Afluente Efluente Eficiência (%)

Figura 5.2 – Qualidade do efluente da ETE Piracanjuba em termos de DBO antes do


experimento com aplicação do lodo.

Os parâmetros operacionais das lagoas facultativas B e C, posteriormente


nominadas de referência e de teste, respectivamente, são apresentados na Tabela 5.10.
Pode-se observar que na maioria dos meses as lagoas operavam com tempo de
detenção hidráulica superior à faixa recomendada pela literatura de 15 a 45 dias. A taxa de
aplicação superficial era inferior à faixa usual de 150 a 350 kgDBO/ha.d. para países de clima
tropical (VON SPERLING, 1996). Esses índices se justificam pelo fato da ETE nesse período
74

operar com população atendida abaixo da prevista no horizonte de projeto.

Tabela 5.10 – Parâmetros operacionais das lagoas facultativas B e C em 2010, que apresentam
as mesmas dimensões e vazão de alimentação.
Mês Vazão ETE Vazão lagoa TDH TAS
(L/s) (L/s) (d) (kgDBO/ha.d)
Janeiro 16,58 4,15 44,8 127
Fevereiro 29,47 7,37 25,2 140
Março 17,89 4,47 41,5 111
Abril 12,16 3,04 61,0 53
Maio 9,92 2,48 74,9 87
Junho 14,78 3,69 50,2 140
Julho 12,82 3,20 57,9 126
Agosto 12,12 3,03 61,2 80
Setembro 11,10 2,78 66,9 81
Outubro 10,55 2,64 70,3 139
Novembro 18,88 4,72 39,3 206
Dezembro 9,33 2,33 79,6 -
Média 14,63 3,66 56,1 117
NOTA: 1) Valores médios mensais; 2) Parâmetros de cada lagoa, exceto vazão da ETE.

Na Tabela 5.11 são apresentados os resultados de DBO na saída de cada lagoa. De


modo geral o efluente das lagoas B e C antes da aplicação do resíduo apresentava baixo teor
de matéria orgânica. Alguma variação entre os resultados de uma lagoa para outra é coerente
com o tipo de tratamento biológico e com o sistema de amostragem simples.

Tabela 5.11 – Efluente das lagoas facultativas B e C em 2010.


Mês DBO5 (mgO2/L)
Lagoa B Lagoa C
Março 27 56
Junho 24 20
Setembro 23 24
Dezembro 9 18
Média 21 30
Fonte: Registros operacionais da SANEAGO.

5.6 Vazão e tempo de detenção hidráulica no período de estudo

Nas Figuras 5.3 e 5.4 são apresentadas as curvas de vazão de esgoto das lagoas,
obtidos a partir de duas séries de medições realizadas a cada hora durante um período de 24
horas, uma em 30/03/12 e a outra em 06/06/12.
75

As duas curvas apresentam comportamentos semelhantes, com grandes variações


da vazão ao longo do dia. As maiores contribuições de esgoto ocorrem entre 9 h e 14 h e entre
19 h e 20 h. Na madrugada as vazões são muito baixas, comportamento típico de cidades de
pequeno porte, como é o caso de Piracanjuba (TSUTIYA e ALEM SOBRINHO, 1999).
Foram determinados os coeficientes de vazões de esgoto máxima e mínima
horária em relação à média, denominados k2esgoto e k3esgoto, respectivamente. Os coeficientes
k2 esgoto, de vazão máxima horária, foram de 1,54 para a primeira curva e 1,76 para a segunda,
muito próximos do valor de 1,5 indicado pela NBR 9649 (ABNT, 1986) para consumo de
água quando não há dados locais comprovados oriundos de pesquisas. Os índices obtidos para
Piracanjuba encontram-se dentro da faixa de coeficientes de variação de vazão de esgoto de
1,43 a 2,55 obtida por Tsutiya e Alem Sobrinho (1999) em medições de diversos sistemas
operando no estado de São Paulo. Os coeficientes k3esgoto, de vazão mínima horária, foram de
0,23 e 0,21 para a primeira e segunda curva respectivamente, abaixo do valor de 0,5 indicado
pela referida norma.
Esses valores podem sofrer variações em função de contribuição de água pluvial
de ligações clandestinas ligadas à rede de esgoto e também de infiltração de água do lençol
freático durante o período de chuva na rede coletora de esgoto.
A partir de cada curva foram determinadas duas médias. A primeira foi a média
de todas as leituras realizadas no período de 24 horas, donde obteve-se os valores de vazões
médias indicados nos gráficos como Qm (Período 24 h). Também foi determinada a média de
seis leituras (pontos cheios da curva) realizadas num período de 12 horas, donde obteve-se os
valores de vazões médias indicados nos gráficos como Qm (Período 12 h).
Tal procedimento, melhor explicado no item 4.15 da metodologia, visou, por
questões operacionais, diminuir o número de medições in situ, bem como medir a vazão em
horários de pico e de turno do operador. Como a média das vazões durante esse intervalo é
maior, precisa ser ajustada ou corrigida para uma vazão de 24 horas de leitura. Tal correção é
possível pois o comportamento da curva é semelhante de um dia para outro.
Dessa forma, a relação entre a vazão Qm (Período 24 h) e a Qm (Período 12 h),
denominada fator de correção K24/12, foi de 0,82 e 0,83 para as leituras dos dias 30/03/12 e
06/06/12, respectivamente, considerado constante. Adotou-se o fator de correção K24/12 igual a
0,83, por ser o valor superior mais próximo da média entre os dois.
76

10,0
9,0
8,0 7,58

7,0 6,23
Vazão (L/s)

6,0
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
6h 8h 10h 12h 14h 16h 18h 20h 22h 24h 2h 4h
Horário

Q (dia 30.03.12) Qm (Período 24h)


Usados na Qm (Período 12h) Qm (Período 12h)

Figura 5.3 – Curva de variação horária de vazão de esgoto com vazões médias para cálculo do
fator de correção-(medição em 30/03/12).

10,0
9,0
8,0
7,0 6,54
Vazão (L/s)

6,0 5,43
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
6h 8h 10h 12h 14h 16h 18h 20h 22h 24h 2h 4h
Horário

Q (dia 06.06.12) Qm (Período 24h)


Usados na Qm (Período 12h) Qm (Período 12h)

Figura 5.4 – Curva de variação horária de vazão de esgoto com vazões médias para cálculo do
fator de correção-(medição em 06/06/12).
77

As vazões medias diárias no período de estudo corrigidas são apresentadas na


Figura 5.5. Cabe salientar que na primeira fase cada uma das duas lagoas do estudo operava
com um quarto da vazão da ETE, sendo que a outra metade do esgoto era tratado em outra
lagoa. Já na segunda fase, visando diminuir o tempo de detenção hidráulica (TDH) e aumentar
a taxa de aplicação superficial (TAS), toda a carga de esgoto da ETE foi propositadamente
desviada para as lagoas do estudo, que então operaram com a metade da vazão total.

16
14
12
Vazão (L/s)

10
8
6
4
2
0

Vazão média da ETE (Q total)


Vazão média de cada lagoa - 1ªfase (25% Q total)
Vazão média de cada lagoa - 2ªfase (50% Q total)

Figura 5.5 – Vazões médias diárias no período de estudo.

As vazões e tempos de detenção em cada fase são apresentados na Tabela 5.12.

Tabela 5.12 - Vazão e TDH no período de estudo, sendo a 1ª fase com 25% da vazão e a
2ª fase com 50% da vazão, diminuindo o TDH.
Mês Vazão ETE (L/s) Vazão lagoa(L/s) TDH (d)
out/2011 9,13 2,28 81,3
nov/2011 9,21 2,30 80,6
dez/2011 12,81 3,20 57,9
Fase 1
jan/2012 15,08 3,77 49,2
fev/2012 14,95 3,74 49,6
Média 12,24 3,06 63,7
mar/2012 11,68 5,84 31,8
abr/2012 11,30 5,65 32,8
mai/2012 11,14 5,57 33,3
Fase 2
jun/2012 10,54 5,27 35,2
jul/2012 10,26 5,13 36,2
Média 10,98 5,49 33,9
78

Os valores médios de vazão e TDH para cada lagoa foram respectivamente de


3,1 L/s e 64 dias na Fase 1 contra 5,5 L/s e 34 dias na Fase 2.

5.7 Caracterização do esgoto bruto

Na Tabela 5.13 são apresentadas as características físico-químicas e


bacteriológicas do esgoto afluente à ETE Piracanjuba determinadas no período de estudo.
O esgoto apresenta características dentro da faixa típica de esgoto doméstico
encontrada na literatura, com DBO média de 437 mg/L (ARCEIVALA, 1981; PESSOA e
JORDÃO, 1982; QASIM, 1985; METCALF e EDDY, 1991 apud VON SPERLING, 2004;
ABNT, 2011). A relação DBO/DQO média foi igual a 0,51, com coeficiente de variação (CV)
de 28,14%, dentro da faixa de 0,40 a 0,59 encontrada na literatura (VON SPERLING, 1996;
GIANSANTE, 2002; SCALIZE et. al., 2004; JORDÃO E PESSÔA, 2009)
79

Tabela 5.13 – Características físico-químicas e bacteriológicas do esgoto bruto.


80

A Tabela 5.14 lista os elementos metálicos pesquisados no esgoto bruto.

Tabela 5.14 – Teores de metais do esgoto bruto - 04/06/12.


Parâmetro Resultado Limite de Quantificação
(mg/L) (mg/L)
Alumínio 0,870 0,003
Antimônio ND 0,005
Arsênio 0,220 0,008
Bário 0,050 0,003
Berílio ND 0,001
Boro 0,680 0,007
Cádmio 0,013 0,001
Cálcio 17,1 0,1
Chumbo 0,57 0,01
Cobalto ND 0,003
Cobre 0,080 0,002
Cromo 0,052 0,003
Estanho ND 0,01
Estrôncio 0,205 0,001
Ferro 1,730 0,002
Lítio 0,040 0,001
Magnésio 5,54 0,01
Manganês 0,140 0,007
Mercúrio 0,0560 0,0002
Molibdênio ND 0,007
Níquel ND 0,007
Potássio 25,340 0,005
Prata ND 0,01
Selênio ND 0,01
Silício 3,060 0,002
Sódio 91,60 0,01
Titânio ND 0,005
Vanádio ND 0,03
Zinco ND 0,02
Notas: 1) ND = Não detectado; 2) Os ensaios foram executados segundo a norma SMWW 3120 B,
excepcionalmente para o Cálcio e Mercúrio que foram utilizadas as normas SMWW 3500-Ca B e
USEPA SW 846-74, respectivamente.

Os metais encontrados no esgoto com teores mais expressivos foram: alumínio,


ferro, cálcio, magnésio, potássio, silício e sódio. Esses elementos basicamente são
provenientes da água bruta e têm origem no solo.
Conforme abordado no item 5.4, a presença de alumínio e ferro na água bruta
deve-se aos elevados teores de óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio do solo brasileiro. Já
81

os elementos cálcio e magnésio são oriundos do processo de lixiviação das rochas


carbonáticas e também do carreamento de cal proveniente das áreas de lavouras da bacia pelas
águas de chuva. O silício é bastante comum em águas residuárias, assim como o potássio e
sódio, que são abundantes na natureza.

5.8 Caracterização do esgoto ao longo do comprimento das lagoas

Com o intuito de avaliar a variação do teor de sólidos, matéria orgânica e


nutrientes na fase líquida da lagoa ao longo do seu comprimento, foram monitorados a
entrada e mais quatro pontos no eixo longitudinal de cada lagoa, sendo o último na
extremidade final. Os perfis de amostragem foram feitos somente na Fase1 do experimento,
ao se completar 3 e 4 semanas de aplicação de lodo, e estão apresentados nas Figuras 5.6 a
5.11. Nos respectivos gráficos o valor de cada parâmetro no ponto de entrada das lagoas
refere-se ao esgoto bruto.
Na Figura 5.6 observa-se um acentuado decaimento da DBO, em torno de 90%,
nos primeiros 40 m da lagoa, aproximadamente 25% do comprimento. Nota-se também que,
de uma forma geral, o parâmetro assume valores mínimos na metade da lagoa (~80 m) e a
partir daí crescem levemente até a saída.
Tal comportamento, pode ser atribuído a hidrodinâmica da lagoa. Em reatores de
fluxo disperso, como é o caso das lagoas em estudo, a dispersão longitudinal é intermediária
entre os modelos ideais de fluxo em pistão (d tende a zero) e de mistura completa (d tende a
infinito). O número de dispersão (d) das lagoas facultativas (relação L/B de 2,9) foi estimado
em 0,32 segundo fórmula de Yánez (1993). Nesse tipo de regime hidráulico, há mistura de
parcela do volume que entra, mais jovem e rico em matéria orgânica, com o volume que sai.
Esse fato pode ser acentuado pela ação dos ventos, principalmente no caso da ETE
Piracanjuba, onde o sentido dos ventos predominantes é coincidente com o sentido do fluxo
de esgoto na lagoa.
O comportamento das curvas das lagoas de teste e referência foram semelhantes,
convergindo para DBO de saída na faixa de 40 a 100 mg/L com tempo de detenção hidráulica
médio foi de 64 dias.
82

500
450
400
350
DBO (mg O2/L)

300
250 Ref - 3ªsemana
200 Teste - 3ªsemana
150 Ref - 4ªsemana
100 Teste - 4ªsemana
50
0
0 38,5 78,5 118,5 154,5
Comprimento da lagoa (m)

Figura 5.6 – Perfil longitudinal de DBO das lagoas.

Nas Figuras 5.7 e 5.8 também observa-se um decaimento acentuado de sólidos até
25% do comprimento da lagoa (~40 m), cerca de 30% para ST e 50% para SST, e valores
mínimos na metade da lagoa (~80 m), crescendo até a saída. Esse comportamento também foi
atribuído ao regime hidráulico das lagoas, conforme discutido para o parâmetro anterior.
De modo geral as concentrações de sólidos (ST e SST) na lagoa de teste foram
maiores do que na de referência, o que foi atribuído ao aporte adicional de sólidos proveniente
do resíduo do decantador. O resíduo de ETA apresenta elevado teor de material fino em sua
composição, proveniente da fração argila do solo com dimensões de partículas inferiores a
2 µm (0,002 mm), conforme discutido no item 5.4.2.
O que corrobora estas afirmações é exatamente o fato de que na 4ª semana de
monitoramento os valores de ST e SST a partir da metade da lagoa de teste foram maiores que
os valores da 3ª semana, pois com a aplicação contínua do lodo da ETA na lagoa facultativa a
concentração de sólidos aumentou, chegando a níveis próximos ao da entrada no caso de SST.
83

900
850
800
750
ST (mg/L)

700
650 Ref - 3ªsemana
600 Teste - 3ªsemana
550 Ref - 4ªsemana
500 Teste - 4ªsemana
450
400
0 38,5 78,5 118,5 154,5
Comprimento da lagoa (m)

Figura 5.7 – Perfil longitudinal de ST das lagoas.

500
450
400
350
SST (mg/L)

300
250 Ref - 3ªsemana
200 Teste - 3ªsemana
150 Ref - 4ªsemana
100 Teste - 4ªsemana
50
0
0 38,5 78,5 118,5 154,5
Comprimento da lagoa (m)

Figura 5.8 – Perfil longitudinal de SST das lagoas.


84

Os resultados de fósforo total (Figura 5.9) apresentaram decaimento após 25% do


início do comprimento da lagoa, porém de uma forma geral oscilaram de 1 a 5 mg/L no
restante do comprimento, de modo que não foi possível verificar uma tendência de
comportamento. Cabe salientar que a curva da lagoa de referência na 3ª semana apresentou
valores discrepantes a partir da metade da lagoa.

16
14
Fósforo Total (mg/L)

12
10
8 Ref - 3ªsemana
Teste - 3ªsemana
6
Ref - 4ªsemana
4
Teste - 4ªsemana
2
0
0 38,5 78,5 118,5 154,5
Comprimento da lagoa (m)

Figura 5.9 – Perfil longitudinal de fósforo total das lagoas.

Analisando as Figuras 5.10 e 5.11, observou-se que essas curvas apresentaram


decaimento acentuado a 25% do comprimento da lagoa, coincidindo neste ponto com os
teores mínimos do perfil longitudinal. O decaimento inicial do nitrogênio amoniacal foi de
cerca de 75%, enquanto o de NTK foi de 60% na lagoa de referência e 40% na lagoa de teste.
De modo geral, no restante da lagoa as curvas foram crescentes para o nitrogênio total
Kjeldahl e praticamente constantes para o nitrogênio amoniacal.
As concentrações de nitrogênio foram maiores para a lagoa de teste em relação à
de referência, com maior diferença para o NTK. O incremento de nitrogênio foi atribuído ao
resíduo do decantador, que pode ter contribuído mais significativamente com a forma
orgânica, que provavelmente não foi degradada para a forma amoniacal durante a
permanência no decantador da ETA devido a efeitos tóxicos dos produtos químicos, em
especial do alumínio.
85

60

50

40
NTK (mg/L)

30 Ref - 3ªsemana
Teste - 3ªsemana
20 Ref - 4ªsemana
Teste - 4ªsemana
10

0
0 38,5 78,5 118,5 154,5
Comprimento da lagoa (m)

Figura 5.10 – Perfil longitudinal de NTK das lagoas.

60

50
N Amoniacal (mg/L)

40

30 Ref - 3ªsemana
Teste - 3ªsemana
20 Ref - 4ªsemana
Teste - 4ªsemana
10

0
0 38,5 78,5 118,5 154,5
Comprimento da lagoa (m)

Figura 5.11 – Perfil longitudinal de nitrogênio amoniacal das lagoas.


86

5.9 Resultados do efluente das lagoas

Neste item são apresentados nas Figuras 5.12 a 5.35 os resultados médios das
análises laboratoriais do efluente das fases 1 e 2, cujas amostras foram coletadas na saída das
lagoas (com e sem resíduo da ETA). Os parâmetros aqui apresentados são: temperatura, pH,
sólidos, DBO5, DQO, NTK, nitrogênio amoniacal, condutividade, fósforo total, OD, clorofila
e E. coli.
Os resultados obtidos são discutidos no sentido de avaliar o comportamento das
lagoas e o efeito da aplicação do resíduo da ETA na qualidade do efluente da lagoa de teste.
Os resultados de metais são tratados ao final do item.
Os períodos correspondentes a cada fase de aplicação do resíduo e de
monitoramento das lagoas foram descritos no item 4.9. As condições operacionais em cada
fase estão resumidas na Tabela 5.15.

Tabela 5.15 - Principais parâmetros operacionais por fase.


Vazão TDH TAS Carga aplic. resíduo Taxa aplic. resíduo
(L/s) (d) (kgDBO/ha.d) (kg ST/d) (mg STr(bs)/Lesg)*
Fase 1 3,1 (25% Qtotal) 64 113 9 37
Fase 2 5,5 (50% Qtotal) 34 303 21 44
* mg ST de resíduo (base seca)/L de esgoto
87

5.9.1 Temperatura e pH

A temperatura do esgoto efluente (Figura 5.12) apresentou oscilação e valor


médio maiores na primeira fase (26,3ºC) do que na segunda (24,6ºC). Essa alteração se
justifica pela mudança de estação climática da região, de chuvosa e quente para seca e fria,
coincidindo com a mudança de fases da pesquisa. Observou-se pelos registros de ocorrência
de chuvas durante o período de estudo que os episódios passaram de frequentes de novembro
a março para ocasionais a partir do mês de abril, confirmando o regime típico. A temperatura
influencia na velocidade de fotossíntese, taxa de decomposição bacteriana e mistura vertical
da massa líquida, fatores estes que afetam o desempenho da lagoa.

32

30
Temperatura (ºC)

28

26

24

22

20
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
Semana

Teste (média) REF (média)

Figura 5.12 - Temperatura do efluente na saída das lagoas teste e de referência durante o
período de monitoramento na 1ª e 2ª fase.

Verificou-se também que entre as semanas 26 e 32, correspondentes ao início do


mês de maio e meados do mês de junho, houve um intervalo de temperaturas mais baixas e
praticamente constantes, por volta de 23ºC. Atribuiu-se esse fato às baixas temperaturas do
ambiente na madrugada nessa época do ano, refletindo na temperatura do esgoto, cujas
medições ocorreram prioritariamente pela manhã. Cabe salientar que a maioria dos valores de
pico de temperatura foram notados em medições realizadas à tarde.
88

É possível que nesse período tenha ocorrido movimentação da massa líquida da


camada inferior (zona anaeróbia) pelo fenômeno natural de inversão térmica devido à grande
amplitude térmica típica de regiões de clima tropical, como ocorre em lagos estratificados no
período frio. Em lagoas de estabilização, consideradas como lagos de pequena profundidade,
a mistura vertical pode ocorrer uma vez ao dia, alternando entre período de homogeneização
vertical das camadas pela noite e início da manhã e período de estratificação térmica pelo
final da manhã e tarde (VON SPERLING, 1996).
Os valores de pH (Figura 5.13) apresentaram-se maiores na primeira fase (maioria
entre 7,4 e 8,6) do que na segunda (em torno de 7,3), sendo aqueles relacionados com a fase
de maior temperatura e maior tempo de detenção hidráulica. Observou-se que entre as
semanas 26 e 32 os valores de pH foram mais estáveis, comportamento este associado à
mistura vertical do esgoto.

10

9
pH

6
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
Semana

Teste (média) REF (média)

Figura 5.13 - pH do efluente na saída das lagoas teste e de referência durante o período de
monitoramento na 1ª e 2ª fase.

De modo geral, as lagoas de teste e de referência apresentaram valores de


temperatura e pH muito próximos entre si.
89

5.9.2 DBO e DQO

Os valores de DBO (Figura 5.14) das lagoas de teste e de referência durante a


Fase 1 foram muito próximos, com médias de 41 e 42 mg/L, respectivamente.
Na Fase 2 os valores de DBO efluente da lagoa de teste foram menores que da
lagoa de referência, com médias de 46 e 58 mg/L, respectivamente. Isso fica melhor
demonstrado pelas linhas de tendências apresentadas na Figura 5.15, mostrando inclusive que
a diferença de comportamento das lagoas teste e referência amplia-se a partir da semana 25,
ou seja, 5 semanas após o início da aplicação do resíduo. Este tempo corresponde ao tempo de
detenção hidráulica (TDH) teórico de 34 dias da Fase 2, necessário para o esgoto que entra
atingir a saída da lagoa. Na prática, como a lagoa funciona como um reator de fluxo disperso,
o TDH pode variar um pouco para mais ou para menos.
No Apêndice C os resultados de DBO da Fase 2 foram tratados em gráfico tipo
boxplot, onde também fica perceptível a diferença de comportamento da lagoa de teste, com
valores do efluente discretamente menores.

120

100
DBO (mg O2/L)

80

60

40

20

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
Semana

Teste (media) REF (media)


Figura 5.14 - DBO5 do efluente na saída das lagoas teste e de referência durante o período de
monitoramento na 1ª e 2ª fase.
90

120

100

y = 0,3532x2 - 16,589x + 238,78


DBO (mg O2/L)

80
R² = 0,54743
60

40

20 y = 0,2377x2 - 11,747x + 183,93


R² = 0,16447
0
20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
Semana

Teste (média) REF (média) Poly.(Teste (média)) Poly.(REF (média))

Figura 5.15 - Linhas de tendências da DBO5 do efluente na Fase 2.

Fica perceptível também que os valores de DBO do efluente foram crescentes


durante o período de monitoramento da Fase 2. Este fato foi associado à DBO do esgoto
bruto, que tende a aumentar na estação de seca em relação à chuvosa, por não contar com o
efeito de diluição pelas águas das chuvas indevidamente interligadas à rede coletora.
Conforme consta na Tabela 5.12, a DBO do afluente na Fase 2 foi discretamente maior, com
média de 449 mg/L contra 409 mg/L na Fase 1.
Na análise do comportamento da lagoa de teste percebeu-se que para a carga de
aplicação do resíduo de 9 kg ST/dia (37 mg ST/L de esgoto) e TDH de 64 dias, a presença do
lodo no esgoto não alterou os resultados de DBO. Entretanto, para a maior dosagem de 21 kg
ST/dia (44 mg ST/L de esgoto) e TDH de 34 dias, a aplicação do resíduo de decantador da
ETA exerceu influência positiva no desempenho da lagoa de teste da ETE Piracanjuba com
maior redução de DBO.
O melhor desempenho da lagoa de teste na remoção de DBO na segunda fase
pode ser atribuído ao efeito residual do sulfato de alumínio presente na composição do
resíduo do decantador, que teria provocado o arraste de sólidos e matéria orgânica para o
fundo da lagoa.
Esses resultados indicam a viabilidade da disposição do resíduo de decantador de
ETA em lagoas facultativas com potencial de melhoria no desempenho do tratamento quanto
91

à remoção de matéria orgânica.


Os resultados de monitoramento de DQO (Figura 5.16) mostram que houve muita
semelhança entre as lagoas de teste e de referência. Esse parâmetro apresentou menor
variação e mostrou-se menos sensível que a DBO na diferenciação do comportamento entre
as lagoas principalmente na segunda fase.

900
850
800
750
700
650
600
DQO mg O2 /L

550
500
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
Semana

Teste (média) REF (média)

Figura 5.16 - DQO do efluente na saída das lagoas teste e de referência durante o período de
monitoramento na 1ª e 2ª fase.

5.9.3 Sólidos

Os resultados das séries de sólidos (Figuras 5.17 a 5.22) indicam que as


concentrações no efluente mantiveram-se na mesma faixa de valor para as lagoas de teste e de
referência durante todo o período de monitoramento, à exceção de alguns valores
discrepantes.
Embora o resíduo da ETA possua elevado teor de sólidos (34 vezes maior que o
do esgoto bruto), nas condições deste estudo, não houve repercussão nas amostras coletadas
na saída da lagoa. Vários fatores podem ser pontuados para explicar tal comportamento:
• Há uma tendência natural de sedimentação das partículas sólidas do resíduo uma
vez adicionada à massa líquida de esgoto;
92

• A entrada da lagoa é localizada no fundo;


• A saída da lagoa é na subsuperfície;
• Conforme percebido visualmente no decorrer da pesquisa, houve movimentação
de massas no interior da lagoa durante a aplicação do lodo (manchas mais
escuras), porém mais restrita ao terço inicial do comprimento da lagoa;
• O comprimento (~155 m), o formato alongado (L/B=2,9) e o TDH da lagoa
forneceram condições favoráveis à sedimentação das partículas sólidas dentro da
lagoa.
O lodo de ETA é um resíduo de difícil degradação, em virtude dos colóides
orgânicos estáveis formados com o coagulante e por ser constituído na maior parte por
material inorgânico. Esse aspecto foi observado no experimento piloto realizado por
Lombardi (2009), refletido nos maiores valores da parcela fixa de sólidos em relação à de
voláteis nos ensaios de esgoto com aplicação de lodo de ETA em reatores UASB.
Contrariamente a esses resultados, os valores de STF da lagoa de teste na Fase 1
corresponderam, em média, a 48% dos sólidos totais (ver Figura 5.17), enquanto na lagoa de
referência corresponderam a 49%. Já na Fase 2, o índice médio da lagoa de teste foi de 52%
contra 53% na lagoa de referência.

800
750
700
Sólidos Totais - ST (mg /L)

650
600
550
500
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
Semana

Teste (média) REF (média)

Figura 5.17 - Sólidos totais do efluente na saída das lagoas teste e de referência durante o
período de monitoramento na 1ª e 2ª fase.
93

Sólidos Totais Voláteis - STV (mg /L) 800


750
700
650
600
550
500
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
Semana

Teste (média) REF (média)

Figura 5.18 - Sólidos totais voláteis do efluente na saída das lagoas teste e de referência
durante o período de monitoramento na 1ª e 2ª fase.

800
750
Sólidos Totais Fixos - STF (mg /L)

700
650
600
550
500
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
Semana

Teste (média) REF (média)

Figura 5.19 - Sólidos totais fixos do efluente na saída das lagoas teste e de referência durante
o período de monitoramento na 1ª e 2ª fase.
94

800
Sólidos Suspensos Totais - SST (mg /L)

750
700
650
600
550
500
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
Semana

Teste (média) REF (média)

Figura 5.20 - Sólidos suspensos totais do efluente na saída das lagoas teste e de referência
durante o período de monitoramento na 1ª e 2ª fase.

800
Sólidos Dissolvidos Totais - SDT (mg /L)

750
700
650
600
550
500
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
Semana

Teste (média) REF (média)

Figura 5.21 - Sólidos dissolvidos totais do efluente na saída das lagoas teste e de referência
durante o período de monitoramento na 1ª e 2ª fase.
95

4
Sólidos Sedimentáveis (mL /L)

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
Semana

Teste (média) REF (média)

Figura 5.22 - Sólidos sedimentáveis do efluente na saída das lagoas teste e de referência
durante o período de monitoramento na 1ª e 2ª fase.

Conforme apresentado na Figura 5.23, os valores de SST do efluente das lagoas


foram associados com o esgoto afluente para a segunda fase de monitoramento. Observou-se
ao defasar a curva do afluente em 6 semanas, que o seu comportamento ficou semelhante ao
das curvas dos efluentes, o que pode indicar que o TDH da lagoa é próximo deste valor.
96

Sólidos Suspensos Totais - SST (mg /L) 600


550
500
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40
Semana

Teste (média) REF (média)


Afluente Afluente Defasado de TDH

Figura 5.23 - Comportamento de SST do afluente e efluente na Fase 2.

5.9.4 NTK, nitrogênio amoniacal e condutividade

As curvas de NTK (Figura 5.24) foram semelhantes para as lagoas de teste e de


referência, mostrando que de maneira geral não houve alteração desse parâmetro com a
aplicação do resíduo do decantador.
Em relação ao teor de nitrogênio amoniacal (Figura 5.25), na Fase 1 os resultados
do monitoramento foram desfavoráveis para a lagoa de teste, com valores médios de
13,5 mg/L contra 9,0 mg/L da lagoa de referência, mesmo com menor carga do resíduo.
Entretanto, para a Fase 2 os resultados revelam uma leve redução na concentração
desse nutriente no efluente líquido da lagoa de teste, com média de 29,5 mg/L contra
33,3 mg/L da lagoa de referência. Nesta fase, a carga de lodo foi aumentada de 9 para
21 kg ST/d, o TDH reduzido de 64 para 34 dias e a TAS aumentada de 113 para
303 kg DBO/ha.d. A diferença entre as curvas é mais nítida a partir da semana 25, quando já
se deu uma defasagem correspondente ao TDH (5 semanas) desde o início da aplicação.
97

80

70

60
NTK (mg N /L)

50

40

30

20

10

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
Semana

Teste (média) REF (média)

Figura 5.24 - NTK do efluente .na saída das lagoas teste e de referência durante o período de
monitoramento na 1ª e 2ª fase.

80
Nitrogênio Amoniacal (mg N /L)

70

60

50

40

30

20

10

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
Semana

Teste (média) REF (média)

Figura 5.25 - Nitrogênio amoniacal do efluente na saída das lagoas teste e de referência
durante o período de monitoramento na 1ª e 2ª fase.
98

As linhas de tendências traçadas para os resultados da primeira fase (Figura 5.26)


e da segunda fase (Figura 5.27) servem para mostrar que realmente os comportamentos das
lagoas de teste e referência são distintos, evidenciando a influência do lodo nos resultados de
nitrogênio amoniacal.

30
Nitrogênio Amoniacal (mg N /L)

y = -0,3615x2 + 5,2461x - 1,7484


R² = 0,62843

20

10

y = -0,1364x2 + 1,9793x + 3,2553


R² = 0,27887
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Semana

Teste (média) REF (média) Poly.(Teste (média)) Poly.(REF (média))

Figura 5.26 - Linhas de tendências do nitrogênio amoniacal do efluente na Fase 1.

60,00
Nitrogênio Amoniacal (mg N /L)

y = 2,0361x - 23,614
50,00
R² = 0,84345
40,00

30,00
y = 1,5277x - 13,228
20,00 R² = 0,80588

10,00

0,00
20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
Semana

Teste (média) REF (média) Linear(Teste (média)) Linear(REF (média))

Figura 5.27 - Linhas de tendências do nitrogênio amoniacal do efluente na Fase 2.


99

Assim, as cargas do resíduo da ETA aplicadas podem beneficiar o desempenho do


tratamento na remoção de cargas residuais do efluente líquido, visto que o lodo de ETA
apresenta boas condições de floculação/ sedimentação e capacidade de sorção para a remoção
de nutrientes e metais pesados, conforme já constatado em pesquisas (Geordantas e
Grigoropoulou, 2005; Mendes et al., 2012).
Quanto ao parâmetro condutividade (Figura 5.28), os resultados mostram que a
lagoa que recebeu o resíduo de ETA apresentou comportamento diferente da lagoa de
referência nas duas fases, sendo que os valores da lagoa de teste foram discretamente maiores
que da referência na Fase 1 e menores na Fase 2, mais notadamente a partir da semana 25. As
médias foram, respectivamente, de 500 e 465 µS/cm na primeira fase e de 664 e 686 µS/cm
na segunda.

1000
950
900
850
800
Condutividade (µS/cm)

750
700
650
600
550
500
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
Semana

Teste (média) REF (média)

Figura 5.28 - Condutividade do efluente na saída das lagoas teste e de referência durante o
período de monitoramento na 1ª e 2ª fase.

Tal comportamento se assemelhou bastante daquele verificado para nitrogênio


amoniacal e fica mais claramente demonstrado nas linhas de tendências traçadas para cada
fase (Figuras 5.29 e 5.30).
100

700
y = -3,465x2 + 35,15x + 474,72
650
R² = 0,88396
Condutividade (µS/cm)

600
550
500
450
400
y = -2,5216x2 + 23,277x + 465,56
350 R² = 0,8204
300
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Semana

Teste (média) REF (média) Poly.(Teste (média)) Poly.(REF (média))

Figura 5.29 - Linhas de tendências da condutividade do efluente na Fase 1.

1000
950
900
Condutividade (µS/cm)

850 y = 27,486x - 71,978


800 R² = 0,99071
750
700 y = 23,224x + 24,276
650 R² = 0,98256
600
550
500
450
400
20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
Semana

Teste (média) REF (média) Linear(Teste (média)) Linear(REF (média))

Figura 5.30 - Linhas de tendências da condutividade do efluente na Fase 2.


101

Para os três parâmetros avaliados neste item, e como já observado para outros
anteriormente, percebeu-se um crescimento da concentração nas lagoas, tanto de teste como
referência, no decorrer da segunda fase, provavelmente devido à característica do afluente,
conforme demonstrado para SST.
Observando o comportamento linear apresentado pelo nitrogênio amoniacal
(Figura 5.27) e pela condutividade (Figura 5.30) na segunda fase, esses dois parâmetros foram
relacionados entre si. Constatou-se uma ótima correlação linear entre o nitrogênio amoniacal
e a condutividade, com coeficientes de determinação R2 de 0,95 para a lagoa de teste e de
0,94 para a lagoa de referência, conforme apresentado na Figura 5.31.
Uma vez que a condutividade depende do número e do tipo de espécies iônicas
dispersas no líquido, a correlação pode ser explicada pelo fato de que na faixa de pH abaixo
de 8, próxima à neutralidade, como é o caso em questão (ver Figura 5.13), a amônia presente
no esgoto apresenta-se praticamente toda na forma ionizada (NH4+) (VON SPERLING,
1996).
Isso mostra que a condutividade, parâmetro de mais simples determinação, pode
ser um ótimo indicador indireto da concentração de nitrogênio amoniacal, podendo ser obtido
com maior agilidade a partir de medições de condutividade em campo.

60,00
Nitrogênio Amoniacal (mg N /L)

50,00 y = 0,09x - 28,313


R² = 0,94389
40,00

30,00 y = 0,0799x - 23,59


R² = 0,95357
20,00

10,00

0,00
400 500 600 700 800 900 1000
Condutividade (µS/cm)

Teste (média) REF (média)


Linear(Teste (média)) Linear(REF (média))

Figura 5.31 - Correlações entre condutividade e nitrogênio amoniacal obtidas na Fase 2.


102

5.9.5 Fósforo total

Os resultados de fósforo total (Figura 5.32) foram muito semelhantes para as


lagoas de teste e referência em todo o período de monitoramento, não sendo possível apontar
nenhuma influência do resíduo sobre o parâmetro.
Esses resultados contrariam os determinados em laboratório por Chao (2006), que
indicaram que o lodo da ETA Alto Cotia removeu fósforo do efluente da ETE Barueri, com
algumas condições muito semelhantes deste estudo, como é o caso do tempo de permanência
do lodo no decantador de 80 dias e da taxa de aplicação de 37 mg/L de lodo. Entretanto, a
autora ajustou o pH da mistura para a faixa entre 4,5 e 6,5, eminentemente ácido, o que
diferiu muito deste estudo realizado em escala real, onde se respeitou as condições naturais de
operação da lagoa, cuja faixa variou entre 7,5 e 9,0, eminentemente básico.
A eficiência de remoção de fósforo foi na faixa de 30% a 60%.

10
9
8
Fósforo Total (mg /L)

7
6
5
4
3
2
1
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
Semana

Teste (média) REF (média)

Figura 5.32 - Fósforo total do efluente na saída das lagoas teste e de referência durante o
período de monitoramento na 1ª e 2ª fase.
103

5.9.6 OD e clorofila

Os resultados de oxigênio dissolvido (Figura 5.33) mostram que não houve


diferença significativa entre as lagoas de teste e referência, sendo que no período entre as
semanas 27 e 31 os valores foram coincidentes e próximos de zero.
Percebeu-se que os níveis de OD, menores na segunda fase do que na primeira,
foram diretamente influenciados pelas condições climáticas. Conforme apresentado no item
5.9.1, a segunda fase correspondeu a um período mais frio, com temperaturas baixas e
constantes entre as semanas 26 e 32, associado inclusive a menores valores de pH.
A diminuição dos níveis de OD deve-se ao fato de que em lagoas facultativas não
aeradas, como é o caso da ETE Piracanjuba, a reação de fotossíntese, diretamente
proporcional à temperatura, é o principal mecanismo de suprimento de oxigênio.
Acrescenta-se, também, que com a dinâmica diária de estratificação e mistura da
lagoa, supostamente ocorrida no período supracitado, os valores de OD na camada superior
tendem a diminuir no período da noite e manhã (horário de coleta das amostras) devido à
homogeneização vertical provocada pelo mecanismo natural de inversão térmica.

10
9
Oxigênio Dissolvido - OD (mg /L)

8
7
6
5
4
3
2
1
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
Semana

Teste (média) REF (média)

Figura 5.33 - Oxigênio dissolvido do efluente na saída das lagoas teste e de referência durante
o período de monitoramento na 1ª e 2ª fase.
104

Os resultados de clorofila expressos na Figura 5.34 indicam visualmente que a


aplicação do resíduo do decantador aumentou os índices de clorofila na lagoa de teste, de
forma mais discreta na segunda fase. Entretanto, devido à magnitude de variação dos valores,
entre 0 e 7.000 µg/L, não é seguro afirmar essa diferença.
Dessa forma, considerou-se a igualdade de comportamento nas duas lagoas do
estudo quanto a este parâmetro, de modo geral com valores na faixa entre 30 a 750 µg/L, o
que permite inferir que a concentração de massa algal não foi alterada mesmo em diferentes
condições de temperatura, pH e OD.
Cabe salientar que uma análise mais completa requer a avaliação das condições
das lagoas no período anterior ao do experimento, dados estes indisponíveis.

7000
6500
6000
5500
5000
Clorofila (µg/L)

4500
4000
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
Semana

Teste (média) REF (média)

Figura 5.34 - Clorofila "a" do efluente na saída das lagoas teste e de referência durante o
período de monitoramento na 1ª e 2ª fase.

5.9.7 Escherichia coli

Os resultados de E.coli, apresentados na Figura 5.35, mostram que a maioria dos


valores do efluente das duas lagoas do estudo foram na faixa de 105 a 106 NMP/100mL
durante todo o período de monitoramento, com curvas de comportamentos muito similares. A
eficiência de remoção, calculada a partir do valor médio de E.coli do esgoto bruto (Tabela
5.13), variou de 95,7% a 99,6% na primeira fase e de 90,2% a 99,4% na segunda, ou seja, da
ordem de 1 a 2 unidades logarítmicas.
105

E.coli (NMP/100mL) 1,0E+07

1,0E+06

1,0E+05

1,0E+04
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
Semana

Teste (média) REF (média)

Figura 5.35 - E.coli do efluente na saída das lagoas teste e de referência durante o período de
monitoramento na 1ª e 2ª fase.

Tais índices são relativamente baixos e próximos entre si, dentro da escala desse
parâmetro, porém compatíveis com os parâmetros hidráulicos, regime de fluxo e
principalmente com a tipologia das lagoas, não projetadas especificamente para a remoção de
patógenos. Vale ressaltar que a ETE Piracanjuba dispõe de lagoas de polimento a jusante com
essa finalidade. Desse modo, conclui-se que a aplicação do resíduo do decantador não exerceu
influência sobre a remoção de organismos patogênicos.

5.9.8 Metais

Os resultados de teor de metais no efluente para a Fase 2 são apresentados na


Tabela 5.16.
Verificou-se, de modo geral, que não houve diferença significativa entre as
concentrações das amostras de metais retiradas das lagoas de teste e de referência, cujas
concentrações mantiveram-se em nível menor ou igual ao do afluente. Faz-se exceção aos
teores de alumínio, ferro e manganês, encontrados em concentrações expressivas no efluente
da lagoa de teste, o que se deve à presença destes elementos no resíduo do decantador,
conforme apresentado no item 5.4.
106

Tabela 5.16 – Teores de metais do efluente, pesquisados na Fase 2.


Lagoa de Teste Lagoa de Referência
LQ
Parâmetro 12/06/12 21/06/12 25/06/12 12/06/12 21/06/12 25/06/12
(mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L)
Alumínio 1,97 0,23 2,74 0,40 0,21 0,19 0,003
Antimônio ND ND ND ND ND 0,005 0,005
Arsênio 0,32 0,21 ND 0,35 0,15 0,59 0,008
Bário 0,019 ND 0,130 0,050 0,029 0,020 0,003
Berílio ND ND ND ND ND ND 0,001
Boro 0,089 ND ND 0,880 0,930 0,520 0,007
Cádmio ND 0,041 0,014 0,010 0,050 0,012 0,001
Cálcio 7,68 9,76 12,77 11,90 12,40 11,20 0,1
Chumbo ND 0,232 0,164 0,152 0,243 0,207 0,01
Cobalto ND 0,020 ND ND 0,010 0,031 0,003
Cobre 0,011 0,082 0,188 0,080 0,080 0,078 0,002
Cromo 0,081 ND 0,370 0,038 0,032 ND 0,003
Estanho ND ND ND ND ND ND 0,01
Estrôncio 0,221 0,149 0,078 0,085 0,103 0,149 0,001
Ferro 3,60 0,82 3,85 0,83 0,83 0,93 0,002
Lítio 0,010 0,023 0,053 0,040 0,040 0,040 0,001
Magnésio 3,09 2,92 4,27 4,04 4,33 3,48 0,01
Manganês 0,054 0,079 0,221 0,110 0,130 0,700 0,007
Mercúrio ND 0,068 0,028 0,026 0,033 0,069 0,0002
Molibdênio 0,097 ND ND ND ND ND 0,007
Níquel ND ND ND ND 0,036 ND 0,007
Potássio 21,62 14,84 19,77 18,87 20,89 17,25 0,005
Prata ND ND ND ND ND ND 0,01
Selênio ND ND ND ND ND ND 0,01
Silício 2,62 1,40 1,89 3,78 2,88 2,93 0,002
Sódio 95,20 66,08 84,50 ND 92,90 78,00 0,01
Titânio ND ND ND ND ND ND 0,005
Vanádio ND ND ND ND ND ND 0,03
Zinco 0,02 0,02 1,20 0,03 ND ND 0,02
Notas: 1) ND = Não detectado; 2) LQ = Limite de quantificação do equipamento; 3) Os ensaios foram
executados segundo a norma SMWW 3120 B, excepcionalmente para o Cálcio e Mercúrio que foram utilizadas
as normas SMWW 3500-Ca B e USEPA SW 846-74, respectivamente.

5.10 Análise estatística dos resultados do efluente

Diante da grande quantidade de parâmetros monitorados e da relativa semelhança


da maioria dos resultados entre as lagoas de teste e de referência, dentro das diversas variáveis
de cada fase deste estudo (taxa de aplicação do resíduo, TDH e TAS das lagoas), além de
fatores extrínsecos, como temperatura ambiente, irradiação solar, regime de chuvas, ventos,
evapo-transpiração, etc., valeu-se de ferramentas estatísticas para efeito de comparação das
médias obtidas. As Tabelas 5.17 e 5.18 resumem os resultados da análise estatística para
primeira e segunda fases, respectivamente.
107

Tabela 5.17 - Análise estatística dos resultados do efluente - Fase 1.

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