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Informe Agropecuário
Uma publicação da EPAMIG
v.34 n.277 nov./dez. 2013
Belo Horizonte-MG

Sumário

EDITORIAL ...................................................................................................................... 3

ENTREVISTA .................................................................................................................... 4

Cana-de-açúcar como forrageira para bovinos leiteiros


Marcos Neves Pereira ...................................................................................................... 7

Apresentação Sorgo para produção de silagem


Carlos Juliano Brant Albuquerque, Adriano de Souza Guimarães, Rogério Soares de Freitas,
A estacionalidade das pastagens, com Ísis Barreto Dantas e Rafael Marcão Tavares .......................................................................... 17
maior oferta no período das águas e menor no
período das secas, historicamente relatada no
Silagem de milho reidratado na alimentação do gado leiteiro
Brasil, leva o País a níveis baixos de produtivi-
dade, tanto na bovinocultura de corte quanto na Marcos Neves Pereira, Renata Apocalypse Nogueira Pereira, Luciene Lignani Bitencourt,
de leite. Gilson Sebastião Dias Júnior, Naina Magalhães Lopes e Ozana de Fátima Zacaroni .............. 27
Apesar de a conservação de forragens
modificar esse cenário, esta exige do pequeno
Silagem de capim-elefante
ou grande produtor algumas habilidades de
planejamento e adoção de técnicas com maior Clenderson Corradi de Mattos Gonçalves e Adauto Ferreira Barcelos ..................................... 34
atenção no processo.
Dessa maneira, a conservação de forragens Produção de feno
e de alimentos disponíveis na safra pode ajudar
Antônio Ricardo Evangelista e Josiane Aparecida de Lima .................................................. 43
o produtor a sair desse ciclo de alternância de
produção, otimizando seu sistema, para melho-
rar a produção de carne ou de leite e aumentar Eficiência de confecção da silagem de milho: processamento de grãos e tamanho de
a renda da propriedade. partícula
Considerando que grande parte do custo Mikael Neumann, Fabiano Marafon e Robson Kyoshi Ueno ................................................ 54
de produção de leite e de carne é representada
pela alimentação dos animais, ações que tor-
nem esse processo mais eficiente terão sempre Utilização de aditivos na ensilagem da cana-de-açúcar
um apelo importante no cenário agropecuário. Carla Luiza da Silva Ávila, José Cardoso Pinto e Beatriz Ferreira Carvalho ............................ 65
Esforços de instituições e de empresas
de pesquisa para profissionalizar a atividade
pecuária, apresentando resultados na área de Manejo da silagem
conservação de alimentos, com o desenvolvi- Thiago Fernandes Bernardes, Naiara Caixeta da Silva e Isabella Lasmar de Oliveira ............ 73
mento de maquinários eficientes e de tecnolo-
gia aplicada, serão sempre úteis e necessários.
O objetivo não é somente melhorar o processo Variedades de cana-de-açúcar para a alimentação de bovinos
de produção no campo, mas também o da Geraldo Antônio Resende Macêdo e Karina Toledo da Silva ................................................ 82
oferta de um alimento de alta qualidade e com
quantidade, que seja mais bem utilizado pelo
TECNOLOGIA EM FOCO ................................................................................................. 88
animal, tornando esse processo mais eficiente
e o produtor menos à mercê das intempéries Produção Integrada de Trigo no Brasil
climáticas e econômicas. Casiane Salete Tibola e José Maurício Cunha Fernandes

Renata Apocalypse Nogueira Pereira


Clenderson Corradi de Mattos Gonçalves
Adauto Ferreira Barcelos

ISSN 0100-3364

Informe Agropecuário Belo Horizonte v.34 n.277 p. 1-96 nov./dez. 2013


© 1977 EPAMIG Informe Agropecuário é uma publicação da
ISSN 0100-3364 Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
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PRODUÇÃO
DEPARTAMENTO DE INFORMAÇÃO TECNOLÓGICA
EDITORA-CHEFE Informe Agropecuário. - v.3, n.25 - (jan. 1977) - . - Belo
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Fabriciano Chaves Amaral Bimestral
REVISÃO LINGUÍSTICA E GRÁFICA Cont. de Informe Agropecuário: conjuntura e estatísti-
Marlene A. Ribeiro Gomide e Rosely A. R. Battista Pereira ca. - v.1, n.1 - (abr.1975).
ISSN 0100-3364
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Econômico. I. EPAMIG.
PRODUÇÃO E ARTE
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Chaves Amaral, Maria Alice Vieira, Jucélia Alves Silva (estagiária)
e Rosiane Izidoro dos Santos (estagiária)
O Informe Agropecuário é indexado na
Coordenação de Produção Gráfica
Ângela Batista P. Carvalho AGROBASE, CAB INTERNATIONAL e AGRIS

Capa: Ângela Batista P. Carvalho


Governo do Estado de Minas Gerais
Foto: Marcos Neves Pereira Secretaria de Estado de Agricultura,
Impressão: EGL Editores Gráficos Ltda. Pecuária e Abastecimento
Governo do Estado de Minas Gerais
Antonio Augusto Junho Anastasia
Governador
Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Elmiro Alves do Nascimento
Secretário

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais Conservação de


Conselho de Administração
Elmiro Alves do Nascimento
Marcelo Lana Franco
Décio Bruxel
Adauto Ferreira Barcelos
alimentos garante
manutenção do
Maurício Antônio Lopes Osmar Aleixo Rodrigues Filho
Vicente José Gamarano Elifas Nunes de Alcântara
Paulo Henrique Ferreira Fontoura

rebanho bovino
Conselho Fiscal
Evandro de Oliveira Neiva Rodrigo Ferreira Matias
Márcia Dias da Cruz Leide Nanci Teixeira
Alder da Silva Borges Tatiana Luzia Rodrigues de Almeida

Presidência
Marcelo Lana Franco
Vice-Presidência
Mendherson de Souza Lima
Diretoria de Operações Técnicas O Brasil possui um rebanho bovino de, aproximadamente,
Plínio César Soares
Diretoria de Administração e Finanças 212,8 milhões de cabeças, atingindo uma produção de mais de
Flávio Eustáquio Ássimos Maroni
Gabinete da Presidência 30 bilhões de litros de leite e 9,4 milhões de toneladas de carcaça.
Janaína Gomes da Silva
Assessoria de Assuntos Executivos
Um dos grandes problemas da pecuária que atingem quase
Mairon Martins Mesquita
todo o território brasileiro é a flutuação estacional do crescimento
Assessoria de Comunicação
Juliana Carvalho Alvim das forrageiras. Esse problema está relacionado com a dispo-
Assessoria de Contratos e Convênios
Eliana Helena Maria Pires nibilidade de luz, temperatura e umidade, nos meses de seca.
Assessoria de Desenvolvimento Organizacional
Felipe Bruschi Giorni
Para manter altas produções de leite e carne nesse período, é
Assessoria de Informática necessário que o produtor armazene alimento de qualidade e
Silmar Vasconcelos
Assessoria Jurídica em quantidade para fornecer aos animais.
Valdir Mendes Rodrigues Filho
Assessoria de Relações Institucionais Dentre as tecnologias de conservação de alimentos para
Gerson Occhi
bovinos, a silagem apresenta-se como boa alternativa, com
Assessoria de Unidades do Interior
Júlia Salles Tavares Mendes destaque para as culturas de milho e sorgo, amplamente uti-
Auditoria Interna
Maria Sylvia de Souza Mayrink lizadas nas propriedades, bem como a cana-de-açúcar e o
Departamento de Compras e Almoxarifado
Rogério Rocha de Souza
capim-elefante. A produção de feno é também uma boa opção,
Departamento de Contabilidade e Finanças ainda que pouco utilizada no Brasil, pois apresenta vantagens
Carlos Frederico Aguilar Ferreira
Departamento de Engenharia como conservação por longos períodos, economia de utilização
Antônio José André Caram
Departamento de Informação Tecnológica
de concentrados, entre outras. A silagem de milho reidratado,
Vânia Lúcia Alves Lacerda uma inovação tecnológica, é outra opção para a conservação
Departamento de Logística
José Antônio de Oliveira de alimentos produzidos na fazenda.
Departamento de Pesquisa
Trazilbo José de Paula Júnior Esta edição do Informe Agropecuário reúne informações
Departamento de Planejamento e Coordenação
Renato Damasceno Netto
e tecnologias sobre a conservação de alimentos para bovinos,
Departamento de Recursos Humanos as quais visam qualidade dos produtos pecuários, bem como
Flávio Luiz Magela Peixoto
Instituto de Laticínios Cândido Tostes redução de custos e maior aproveitamento desses recursos.
Vanessa Aglaê M. Teodoro e Nelson Luiz T. de Macedo
Instituto Técnico de Agropecuária e Cooperativismo
Luci Maria Lopes Lobato e Francisco Olavo Coutinho da Costa
EPAMIG Sul de Minas
Rogério Antônio Silva e Mauro Lúcio de Rezende
Marcelo Lana Franco
EPAMIG Norte de Minas Presidente da EPAMIG
Polyanna Mara de Oliveira e Josimar dos Santos Araújo
EPAMIG Zona da Mata
Sanzio Mollica Vidigal e Giovani Martins Gouveia
EPAMIG Centro-Oeste
Wânia dos Santos Neves e Waldênia Almeida Lapa Diniz
EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba
José Mauro Valente Paes e Marina Lombardi Saraiva
Tecnologias para conservação de alimentos
para bovinos devem ser adequadas às
realidades regionais
O médico-veterinário Feliciano Nogueira de Oliveira é for-
mado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e possui
especialização em Produção de Ruminantes e em Bovinocul-
tura de Leite: Tecnologia, Produção e Mercado, pela Universi-
dade Federal de Lavras (Ufla) e mestrado em Zootecnia pela
Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Ocupou na Emater-MG os cargos de Coordenador Técnico
Regional de Bovinocultura nas Unidades Regionais em Uber-
lândia e Viçosa, Gerente do Departamento Técnico e foi articu-
lador da criação do Núcleo dos Produtores de Novilho Precoce
do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.
Participou de missão técnica coordenada pela Agência Brasi-
leira de Cooperação, vinculada ao Ministério das Relações Exte-
riores, em Angola e São Tomé e Príncipe, no continente africano,
com o propósito de contribuir na estruturação do Serviço de As-
sistência Técnica e Extensão Rural naqueles países. Foi conse-
lheiro efetivo do Conselho Regional de Medicina Veterinária do
Estado de Minas Gerais (CRMV-MG) entre 2006 e 2012.
Como representante da Emater-MG é membro da Câma-
ra Setorial de Leite e Derivados do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA), da Câmara Técnica de Bo-
vinocultura de Leite do Conselho Estadual de Política Agrícola
(CEPA) e do Polo de Excelência do Leite.
Desde 2010 ocupa o cargo de Coordenador Estadual de
Bovinocultura, na Unidade Central da Emater-MG.

IA - Qual a importância da bovinocultu- e a ambiental. Se considerarmos apenas o rais, em graus variados de degradação.
ra para o estado de Minas Gerais? segmento básico do agronegócio minei- Isto nos determina um cuidado técnico
ro de base animal, os produtos boi vivo, especial, tendo em vista o impacto am-
Feliciano Oliveira - A bovinocultura em
vaca viva e leite natural responderam biental decorrente de uma pastagem com
Minas Gerais reveste-se de expressiva
importância para o Estado. Minas, hoje, por R$ 32,13 bilhões, na economia do elevado grau de degradação.
detém o segundo maior rebanho bovino Estado, no último ano. Do ponto de vis-
ta social são, aproximadamente, 376 mil IA - Qual a importância de uma boa
do País, com 24,2 milhões de cabeças,
produtores e suas respectivas famílias gestão da alimentação do rebanho
produzindo 8,9 bilhões de litros de leite/
na produção de leite e de carne?
ano – maior produtor nacional, e 1 mi- que praticam e vivem dessa atividade,
lhão de toneladas de carne/ano. De for- além dos postos de trabalho gerados. Na Feliciano Nogueira - Considerando os
ma um pouco mais didática poderíamos vertente ambiental, temos, aproximada- itens que compõem o que entendemos
dizer que a atividade gera impacto nas mente, 1/3 da área geográfica do Estado por alimentação diária e necessária ao
três principais vertentes do desenvolvi- coberto com pastagens, que ainda são a rebanho bovino, vamos nos deparar com
mento sustentável: a econômica, a social base da produção bovina em Minas Ge- a água, o sal comum e o mineralizado, a
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pastagem e outros alimentos volumosos, pesquisa, um diferencial de conheci- para produção de forragens nas diversas
além dos alimentos concentrados, com mento que pode torná-las mais ou me- regiões do Estado, alguns desafios per-
suas variedades e combinações. A gestão nos atrativas e, portanto, adotadas em sistem. É importante citar que, qualquer
dessa alimentação precisa ser observada maior ou em menor escala. Assim, a que seja a técnica de conservação de ali-
do ponto de vista econômico, uma vez fenação e a ensilagem continuam sen- mentos a ser empregada, ela exige ma-
que, na expressiva maioria dos sistemas do as tecnologias mais conhecidas e quinário adequado e momento oportu-
de produção, é o fator de maior custo. adotadas pelos produtores na con- no, o que, também, é uma limitação em
Do ponto de vista fisiológico do animal, servação de alimentos volumosos. Já considerável fração de sistemas de pro-
leva-se em conta que cada categoria, em para a conservação de alimentos uti- dução, particularmente naqueles de me-
seu respectivo ciclo produtivo, vai apre- lizados como concentrados, em com- nor porte. Assim, em muitas situações,
sentar exigência nutricional específica. plemento à alimentação volumosa, a a adoção de uma determinada técnica é
É preciso que, como técnicos, contribu- reidratação e ensilagem do grão de restrita, pela ausência de equipamento
amos para reduzir barreiras sobre o que milho e as técnicas de armazenamento adequado e momento oportuno para sua
chamamos gestão da alimentação, tanto desses alimentos são as que têm sido aplicação, o que em muitas vezes se tor-
para a produção de leite quanto para a mais enfatizadas. na um limitante ao potencial de produ-
produção de carne. A importância disso ção e conservação de alimentos.
estará na adoção de tecnologias como
reflexo desse entendimento. É vermos o IA - Essas novas tecnologias são acessí-
produtor dividindo seu rebanho de vacas É importante citar, que veis aos pequenos produtores?
leiteiras em grupos de produção, para o qualquer que seja a Feliciano Nogueira - A agricultura fa-
fornecimento proporcional de alimento
concentrado; é a divisão de pastagens
técnica de conservação miliar, que é, em sua quase totalidade,
expressa por sistemas de produção de
em piquetes otimizando a ocupação da de alimentos a ser pequeno porte, responde, segundo da-
área e proporcionando alimento de me- empregada, ela exige dos do Censo Agropecuário do IBGE,
lhor qualidade e em quantidade suficien- maquinário adequado em 2006, por, aproximadamente, 47%
te; é atender ao estande de plantas de
milho necessário para uma produtivida-
e momento oportuno, da produção de milho, 34% do plantel
de bovinos e 45% da produção de lei-
de eficiente de silagem; é entender o re- o que, também, é te no estado de Minas Gerais. Gran-
torno produtivo proporcionado por uma uma limitação em de parte das tecnologias disponíveis é
vaca de leite que possui maior acesso à
considerável fração de acessível a esses agricultores, natural-
água; é monitorar a condição corporal
dos animais em função da dieta recebida sistemas de produção, mente com as adequações tecnológicas
compatíveis ao sistema de produção.
e a ocorrência dos eventos reprodutivos particularmente naqueles Um bom exemplo disso, na conserva-
tanto no gado de corte como no gado de de menor porte. ção de forragens, é o uso do silo cincho,
leite. Enfim, entender a importância de que, por meio de um anel em placa de
procedimentos como os citados, aplicá- metal fracionada, a forragem é contida
los adotando as tecnologias disponíveis e e sua compactação é feita por pessoas
avaliar os resultados, é fazer, na prática, IA - Qual dessas tecnologias está sen- ou por cavalo, o que possibilita a ensi-
a gestão da alimentação do rebanho. do mais empregada e apresenta o lagem e o armazenamento de forragem
maior potencial para os produtores em menores porções. Da mesma for-
IA - Em sua opinião, quais as principais
mineiros? ma, a ensilagem em sacos plásticos de
tecnologias geradas na conserva-
45 kg ou o armazenamento de grãos ou
ção de alimentos nos últimos anos? Feliciano Nogueira - Na conservação produtos secundários da agricultura em
Feliciano Nogueira - Na verdade, de alimentos volumosos, a ensilagem é galões plásticos para uso em pequena
as principais tecnologias geradas na a tecnologia mais adotada pelos produ- produção. É importante ressaltar que,
conservação de alimentos para bovi- tores mineiros, e, o milho, é a cultura para esse padrão de produtor, a prática
nos vêm sendo trabalhadas há anos. de maior prevalência para esta finalida- de uma determinada tecnologia com-
Naturalmente, recebendo, a cada nova de. Naturalmente, pelas características patível à sua escala de produção é, ao
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mesmo tempo, uma necessidade e uma IA - As máquinas utilizadas atualmente de alimentos a ser conservados, tendo
forma pedagógica de apropriação de no processo de conservação de ali- em vista as dificuldades de mecaniza-
conhecimento. À medida que a prática mentos são eficientes? ção em áreas de relevo mais acidenta-
passa a ser dominada, seu uso é amplia- Feliciano Nogueira - As máquinas do. Também, pelas próprias condições
do, a escala de produção se avoluma e a destinadas ao processo de conserva- climáticas, a ensilagem é o processo de
tecnologia passa a ser aplicada confor- conservação de alimentos mais utiliza-
ção de alimentos atualmente disponí-
me preconizada. do nessas regiões. Outras, como os Va-
veis no mercado, em particular àquelas
les do Rio Doce e Mucuri, apresentam
voltadas para atender a grandes áreas e
IA - Qual o perfil do produtor que absor- desafios tanto naturais, como o alto
ve essa tecnologia? volumes de produção, apresentam per-
grau de degradação dos solos, como
formance tecnológica incontestável.
Feliciano Nogueira - Se considerar- culturais, remanescentes da atividade
No entanto, o seu desempenho e a sua
mos o rebanho bovino do Estado, con- extensiva de produção de gado de cor-
eficiência são dependentes do uso, da
forme dados do IMA, em 2013, vamos te em pastagem de colonião praticada
operação e das condições locais. Em
verificar um rebanho de 24.202.248 anos atrás na região. Quanto às regiões
muitas situações deparamos com ensi-
cabeças para 355.835 propriedades, o do Norte e Nordeste de Minas, trata-se
ladeira de qualidade, mas que responde
que corresponde a um rebanho por pro- de regiões com destacada vocação para
com produto de qualidade inferior, por
priedade de, aproximadamente, 68 ca- a produção de bovinos, no entanto com
uma falha na manutenção ou no uso de
beças. Se considerarmos que somente incontestáveis limitações climáticas.
seus componentes. Encontramos ma-
cerca de 34% desse rebanho é de pro- Estas limitações afetam diretamente a
quinários e equipamentos com vida útil produção de alimentos, com recorren-
priedade da chamada agricultura fami-
reduzida ou inutilizados, pelo fato de tes perdas para a economia local. As-
liar e que esta categoria detém 84% das
o produtor ou o operador da máquina sim, a discussão acerca de alternativas
propriedades, encontraremos um reba-
ou equipamento não ter sido habilitado viáveis para a produção e a conserva-
nho de, aproximadamente, 27,4 ca-
para esse tipo de trabalho. Já na agri- ção de alimentos na região é indispen-
beças por propriedade. São, portanto,
cultura de menor porte, embora sejam sável e urgente. Quem sabe as dietas
produtores de menor escala, na maio-
ria das vezes com baixa capacidade de registrados avanços, ainda deparamos à base de milho-grão para animais em
investimento, baixo grau de escolari- com limitação de máquinas e equipa- acabamento ou a silagem do milho rei-
dade e com capacidade de percepção, mentos adequados a pequenas áreas ou dratado, mesmo com o produto impor-
absorção ou de inovação tecnológica áreas de relevo mais acidentado. tado de outras regiões, em condições
variável, em função da complexidade competitivas, não seria a alternativa
IA - Existe diferença em tecnologia de
própria da tecnologia e da forma como mais viável? Do contrário, que tecno-
conservação de alimento para o
esta lhe é apresentada e proposta. Da- logias precisamos gerar para assegurar
período seco, nas diferentes regiões
dos apresentados pela Federação da a produção local de milho, de sorgo ou
de Minas Gerais?
Agricultura e Pecuária do Estado de de capim para a produção de silagem?
Minas Gerais (Faemg), 2006, gera- Feliciano Nogueira - As diferenças re- E o diferimento de pastagens? Quais as
dos em pesquisa de campo, mostraram gionais, de toda natureza, acabam por dificuldades encontradas pelo produtor
que em Minas Gerais, a frequência de promover, também, diferenças nas tec- para adotá-lo? É seguro, portanto, afir-
produtores de leite entrevistados que nologias trabalhadas na conservação marmos que existem disponibilizadas
adotavam alimentação volumosa su- de alimentos. Nas regiões com predo- diversas tecnologias de conservação
plementar no período da seca, para va- mínio de áreas de Cerrado e de relevo, de alimentos para bovinos, na perspec-
cas em lactação, era de 31,20%, com a que variam de levemente ondulado a tiva de minimizar os efeitos de um pe-
produção silagem de milho, e de 6%, plano, onde a agricultura empresarial é ríodo de seca. Mas em várias situações
com a silagem de sorgo. Assim, é no- praticada em grande escala, tanto a fe- permanece o desafio de adequá-las às
tória a limitação no uso da tecnologia, nação quanto a ensilagem são adotadas realidades regionais e convertê-las em
o que abre uma grande oportunidade à de forma tecnificada. Já para regiões prática.
pesquisa e à extensão na busca de al- como Sul de Minas e Zona da Mata, as
ternativas de produtos e processos que áreas de baixada são particularmente as
superem o problema. mais utilizadas para fins de produção Por Vânia Lacerda

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Conservação de alimentos para bovinos 7

Cana-de-açúcar como forrageira para bovinos leiteiros


Marcos Neves Pereira 1

Resumo - A cana-de-açúcar tem alta produtividade de energia digestível por hectare.


Nutricionalmente, contém fibra de baixa digestibilidade e é deficiente em proteína e mi-
nerais. Seus carboidratos não fibrosos, predominantemente a sacarose, são de digestibili-
dade mais alta do que a do amido. Mesmo em dietas formuladas para alto desempenho
animal, a cana pode deprimir o consumo. Em dietas formuladas com cana como forra-
gem única, novilhas de raças leiteiras especializadas em produção de leite podem ter
ganho de peso diário (GPD) adequado à obtenção de baixa idade ao primeiro parto, sem
penalizar o peso ao parto. Para vacas de alta produção, dietas com cana como forragem
única podem deprimir o desempenho leiteiro. A colheita mecanizada da cana ainda re-
quer soluções da pesquisa, sendo um empecilho ao maior uso do alimento na criação em-
presarial de bovinos leiteiros. A hidrólise alcalina da cana induz perda de açúcares, sem
afetar a digestibilidade ruminal, sendo indesejável nutricionalmente. A recomendação
clássica de suplementar a cana com 1 kg de ureia para cada 100 kg de cana in natura pode
exceder muito a capacidade ruminal de incorporar o nitrogênio amoniacal (N-NH3) na
proteína microbiana. Canas desejáveis para a alimentação animal têm baixo teor de fibra,
característica menos definida pela genética da planta do que por variáveis de ambiente
e manejo da cultura. Canas com alta proporção entre colmos e folhas são desejáveis nu-
tricionalmente. A despalha mecânica ou por melhoramento genético pode aumentar o
desempenho de bovinos leiteiros que consomem cana-de-açúcar. A ensilagem da cana
ainda requer soluções da pesquisa que atenuem a perda acentuada de açúcares durante
a fermentação alcoólica. A melhor opção de uso da cana, considerando a produção de
matéria seca (MS) digestível por hectare, ainda é a moagem de colmos frescos imedia-
tamente antes do fornecimento aos animais. Existe demanda por tecnologias capazes de
melhorar a eficiência de uso da cana-de-açúcar na alimentação de bovinos.
Palavras-chave: Cana in natura. Cana fresca. Silagem. Gado leiteiro. Nutrição animal.

INTRODUÇÃO A alta capacidade de a cana produzir forrageiras tropicais, o que pode limitar
energia por hectare justificou seu amplo fisicamente o consumo de alimentos, e em
A cana-de-açúcar é uma gramínea tro-
uso na produção de biocombustíveis, o que consequência, o desempenho de bovinos
pical pertencente ao gênero Saccharum,
muito contribuiu para o avanço na genética leiteiros (CORRÊA et al., 2003). Além da
capaz de ter alta produção de matéria
das plantas e nas práticas agronômicas de baixa digestibilidade da fibra, outra defi-
seca (MS) por hectare e alto conteúdo ciência nutricional da cana-de-açúcar é o
cultivo e colheita, transformando o Brasil
de sacarose, um carboidrato não fibroso em líder mundial na sua produção. A dispo- baixo conteúdo de proteína e de minerais.
de alta digestibilidade para ruminantes. nibilidade de alta tecnologia de produção, A utilização da cana, suplementada com
Programas brasileiros de melhoramento gerada pela indústria sucroalcooleira, é um ureia e minerais, tem sido amplamente
de canas mais adequadas à produção de dos fatores que justificam o uso da cana na difundida pela extensão rural a pequenos
açúcar datam de 1910, evidenciando o alimentação de bovinos. produtores de leite do Brasil (TORRES;
longo interesse científico na obtenção de Nutricionalmente, a fibra em detergente COSTA; RESENDE, 2001), como solução
eficiência de cultivo dessa forrageira em neutro (FDN) da cana-de-açúcar tem diges- para a entressafra na produção de pastagens
escala industrial (HOFFMANN, 1997). tibilidade baixa em comparação a outras no período seco do ano.

1
Médico-Veterinário, Ph. D., Prof. Associado UFLA - Depto. Zootecnia/Bolsista CNPq, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio
eletrônico: mpereira@dzo.ufla.br

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8 Conservação de alimentos para bovinos

Apesar de a utilização da cana, para supostamente determina as perdas visíveis DESEMPENHO DE NOVILHAS
alimentação de bovinos, ser uma tecno- e invisíveis (NEVES; MAGALHÃES; E VACAS LEITEIRAS COM
logia atual, o que é evidenciado pela alta OTA, 2004), a produtividade futura e a CANA-DE-AÇÚCAR
prevalência dessa forrageira dentre os longevidade do canavial.
Apesar das deficiências nutricionais
confinamentos de gado de corte no Brasil Schogor et al. (2009) avaliaram a
da cana-de-açúcar, seu potencial para
(MILLEN et al., 2009), o uso pecuário da colheita mecanizada da cana com colhe-
propiciar alto desempenho de bovinos
cana é relativamente antigo. Alves Neto dora de forragem, regulada para altura
leiteiros tem sido demonstrado. Andrade
(1957) relata que de cada 100 fazendas de corte de 20 cm. A colheita manual da
(1999) alimentou novilhas Holandesas,
leiteiras visitadas no estado de São Paulo, variedade IAC 86-2480, com cerca de 13
com peso em torno de 300 kg, com dietas
nos anos 50, 75 forneciam cana-de-açúcar plantas por metro e 1,40 m de altura da
contendo 32% da MS de FDN oriunda de
aos animais. Entretanto, hoje, a frequência planta, foi comparada ao corte mecani-
cana-de-açúcar ou de silagem de milho. As
de fazendas leiteiras brasileiras que adotam zado e ao corte mecanizado seguido por
dietas eram isoproteicas e continham 62%
alta tecnologia e utilizam a cana-de-açúcar rebaixamento manual basal. A colheita
de silagem de milho ou 65% de cana-de-
é provavelmente menor. O objetivo deste mecanizada, seguida por rebaixamento açúcar. O ganho de peso diário (GPD) foi
artigo é discutir resultados da pesquisa no manual, não demonstrou ser justificável, 1.175 g na silagem de milho e 1.009 g na
tópico cana-de-açúcar para vacas leiteiras enquanto a colheita mecanizada não cana, havendo tendência de queda no con-
e definir fatores capazes de fomentar a ado- reduziu significativamente a eficiência sumo de MS na cana. Entretanto, a menor
ção dessa forrageira na pecuária leiteira. da colheita manual, apesar da maior pro- digestibilidade da FDN na cana, 22,5%
porção de plantas deixadas no campo. A vs. 43,7%, foi compensada pela maior
COLHEITA DA CANA-DE- eficiência de colheita de MS foi de 82,3% digestibilidade da matéria orgânica (MO)
AÇÚCAR do disponível de forragem na colheita não fibrosa, 87,6% vs. 78,6%, refletindo a
Um fator frequentemente relatado manual, 81,6% na colheita mecanizada e alta digestibilidade da sacarose compara-
como limitante ao uso da cana-de-açúcar 74,3% na colheita mecanizada seguida por tivamente ao amido da silagem de milho,
na alimentação de bovinos é a necessidade rebaixamento. A queda na eficiência de o que resultou em similaridade no teor de
de colheita manual. O corte manual pode colheita de colmos determinou a diferença MO digestível nas dietas. O menor desem-
restringir o uso da cana a propriedades na eficiência de colheita da planta, sendo a penho animal na cana decorreu da queda
rurais onde a demanda diária pelo alimento de colheita de palhas e de cana ponta similar na ingestão diária de energia, induzida pela
é pequena e existe disponibilidade de mão entre os métodos de colheita. A colheita ma- queda no consumo.
de obra capaz de executar trabalho braçal nual resultou em 0,4 t/ha de resíduo de MS Gallo (2001) avaliou o aumento no
árduo, algo cada vez menos frequente no de colmos, enquanto a colheita mecanizada teor de cana na dieta de novilhas. Um tra-
meio rural. Na colheita mecanizada, têm resultou em 1,9 t/ha e, a colheita mecanizada tamento continha 33,4% de FDN oriundo
sido utilizadas máquinas originalmente e rebaixada, em 2,8 t/ha. Menores números de cana-de-açúcar e 62% da forragem na
desenvolvidas para a colheita de milho e de toletes danificados e arrancados foram MS. Outras duas dietas isoproteicas foram
de sorgo, não adequadas à colheita de cana observados na colheita manual, enquanto formuladas com 70% ou 78% de cana,
tombada, o que resulta em altura de corte a colheita mecanizada seguida por rebaixa- elevando os teores dietéticos de FDN
não rente ao solo. Tradicionalmente, a mento aumentou esses valores. A colheita oriundos da cana para 37,9% e 42,3% da
recomendação técnica tem sido a elimina- mecanizada resultou em maior número de MS, respectivamente. O consumo caiu
ção por facão, podão ou enxada do colmo plantas deixadas no campo. O método de linearmente com a maior inclusão de cana
remanescente da colheita mecanizada de colheita não determinou as características na dieta. O GPD foi de 1.002, 979 e 951 g
forragem, visando garantir que a rebrota da rebrota (SCHOGOR, 2008). nas dietas com 62%, 70% e 78% de cana,
do canavial seja proveniente de gemas Entretanto, em canaviais com alta in- respectivamente. Apesar da substituição
basais. A justificativa para essa recomen- cidência de tombamento, a eficiência de isofibrosa de silagem de milho por cana
dação decorre do pressuposto que plantas colheita pode ser um limitante da meca- (ANDRADE, 1999) ou do aumento na in-
provenientes de gemas basais seriam mais nização, já que as colhedoras de forragem clusão dietética dessa forragem (GALLO,
produtivas e persistentes que as de gemas disponíveis não recolhem a cana acamada. 2001) ter reduzido o desempenho de novi-
laterais. A colheita mecanizada, seguida O desenvolvimento de equipamento de co- lhas, a cana demonstrou ser uma alternativa
por rebaixamento manual difere da co- lheita, com custo compatível ao volume de viável para a recria de novilhas leiteiras,
lheita manual pelo efeito do impacto do produção de leite de fazendas comerciais, já que os ganhos diários de peso foram
trânsito da colhedora de forragem sobre é necessário para colher a cana tombada e adequados para parto em idade precoce,
a soqueira da cana. O método de colheita ampliar o uso da cana em rebanhos leiteiros. sem penalizar o peso ao parto, em todos
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Conservação de alimentos para bovinos 9

os tratamentos. Para a recria de novilhas já que a propensão a enchimento físico água, à cana moída. Quinze amostras de
leiteiras com cana como forragem única, do trato digestivo é maior em dietas com cana hidrolisada e 15 de cana in natura
o uso de concentrados energéticos, como o alto teor de fibra de baixa digestibilidade foram monitoradas por 0, 6, 12, 24, 36, 48
milho, é dispensável, obviamente nos casos (MOORE, 1964). Como em dietas à base e 60 horas pós-moagem. A cal reduziu o
em que a forragem foi adequadamente de cana-de-açúcar pode ocorrer redução do aquecimento da forragem relativamente à
manejada para conter alto teor de energia. consumo, a consideração do tamanho de cana in natura nos tempos 6, 24 e 36 horas
Corrêa et al. (2003) avaliaram a viabi- partícula da forragem é pertinente. A mo- pós-moagem (Gráfico 1), mas não foi efeti-
lidade da cana-de-açúcar como forragem agem fina da cana pode ser requerida, para va na manutenção de temperatura próxima
única para vacas leiteiras de alta produção. que não ocorra depressão do consumo em a ambiente, após 48 horas. O tratamento
Os animais receberam dietas com 20% da dietas com alta inclusão dessa forrageira. com cal não aumentou a digestibilidade da
MS de FDN oriunda de silagens de milho Entretanto, o efeito do tamanho de partí- cana no rúmen, apesar de ter induzido leve
com textura dura ou macia do endosperma cula da cana sobre o consumo, a atividade queda no teor de FDN (Quadro 1). O uso
ou de cana-de-açúcar. As três dietas conti- mastigatória e o desempenho de vacas de baixa inclusão de cal pode ser indicado
nham 46% de forragem. A resposta aos dois leiteiras precisam ser mais bem avaliados para controle de abelhas em dietas com
híbridos de milho não diferiu, mas a cana- (SANTOS, 2010). cana-de-açúcar, e ter alguma aplicabilidade
de-açúcar deprimiu o consumo de MS de
no controle da temperatura da forragem 24
23,1 kg/dia para 21,5 kg/dia e a produção CANA-DE-AÇÚCAR horas pós-moagem. Entretanto, o desgaste
de leite de 34,4 kg/dia para 31,9 kg/dia. HIDROLISADA COM CAL
de máquinas pela cal e a maior complexi-
Semelhantemente ao observado em novilhas
A hidrólise da cana com agentes alca- dade da rotina alimentar do rebanho podem
(ANDRADE, 1999), a menor digestibilidade
linizantes, como óxido ou hidróxido de não justificar a prática da hidrólise alcalina
da FDN na dieta com cana (23,1 % vs. 42,1%)
cálcio, tem sido proposta como forma de da cana.
foi compensada pela maior digestibilidade
da MO não-fibrosa (79,8% vs. 74,8%) aumentar a estabilidade aeróbica da cana A mudança no teor de FDN ao longo
em comparação às dietas com silagem de fresca, reduzindo a necessidade de corte do tempo sugere que foram necessárias
milho. diário, e induzindo ganho em digestibi- 36 horas, para que fosse detectado efeito
A utilização da cana como forragem lidade. Avaliou-se a inclusão de 1% da favorável da hidrólise sobre o teor de fibra
única pode deprimir o consumo e a produ- matéria natural (MN) de cal, diluída em da cana (Gráfico 2). Entretanto, a queda
ção de vacas leiteiras. O uso desse alimento
para vacas de alta produção é mais coerente
em grupos de animais de menor produção
40
ou em baixa inclusão dietética. Entretanto,
em situações específicas, a menor renda 35
diária por vaca, decorrente da depressão no
desempenho leiteiro em dietas formuladas 30

com cana como forragem única, pode ser


Temperatura (ºC)

25
compensada por vantagens agronômicas
e financeiras decorrentes da substituição 20
de silagem de milho, o que torna mais
interessante a produtividade não máxima. 15
A FDN da cana-de-açúcar tem alta
efetividade física, sendo tão estimulado- 10
ra da mastigação durante a ingestão e a 0 12 24 36 48 60
ruminação, quanto a silagem de milho
Tempo de pós-moagem
com partícula maior que a da cana tritu-
rada (ANDRADE, 1999; CORRÊA et al., Controle Cal Temperatura ambiente
2003), fato provavelmente justificável pela
baixa digestibilidade da fibra no rúmen. É
Gráfico 1 - Temperatura de cana moída in natura (controle), de cana com 1% de cal (cal)
sabido de longa data, que a moagem ou a e temperatura ambiente
peletização de forragens de baixa qualida- NOTA: Tempo 0 foi 6h. P<0,01 para a interação entre tempo pós-moagem e tratamento.
de aumenta o consumo (MINSON, 1963), Erro-padrão das médias=0,32.

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10 Conservação de alimentos para bovinos

QUADRO 1 - Teor de matéria seca (MS) e de fibra em detergente neutro (FDN) e degradabi- no teor de FDN 36 horas pós-moagem foi
lidade ruminal da MS (DEG MS), da FDN (DEG FDN) e da MS não FDN (DEG associada à perda de MS em torno de 3%
MSnFDN) em 24 horas de incubação ruminal in situ de cana moída in natura (Gráfico 3) e perda de MS não FDN (uma
(controle) e de cana com 1% de cal (cal) nos tempos 0, 6, 12, 24, 36, 48 e 60 medida indireta de açúcares da cana) de
horas pós-moagem
10% (Gráfico 4). Apesar de a perda de
Nutriente/ nutrientes na cana hidrolisada ter sido in-
Controle Cal EPM P Trat P Tempo P Trat*Tempo
Digestibilidade ferior à perda na cana in natura, a ausência
% da MN de efeito da cal sobre a digestibilidade da
planta (Quadro 1) sugere que a hidrólise
MS 33,1 33,7 0,20 0,08 0,69 0,38
não foi promissora.
% da MS
CANA-DE-AÇÚCAR COM 1%
FDN 58,2 55,6 0,33 <0,01 <0,01 <0,01 DE UREIA

% do incubado Manter adequado suprimento de nitro-


gênio (N) para crescimento microbiano no
DEG MS 42,8 43,1 1,14 0,85 0,97 0,99
rúmen é necessário em dietas com cana, já
DEG FDN 12,5 12,7 1,18 0,91 0,95 0,99 que esse alimento tem teor praticamente
nulo de proteína bruta (PB). Em vacas
DEG MSnFDN 82,3 82,4 0,82 0,90 0,96 0,85
fistuladas no rúmen (COSTA, 2002), a
NOTA: EPM - Erro-padrão das médias; P Trat - Valor de probabilidade para o efeito de indução de alto teor de amônia e baixo
tratamento; P Tempo - Valor de probabilidade para o efeito de tempo pós-moagem; pH no fluido, representativo de vacas em
P Trat*Tempo - Valor de probabilidade para a interação entre tratamento e tempo alto plano nutricional, resultou em maior
pós-moagem; MN - Matéria natural.
degradabilidade da FDN da cana-de-açúcar
do que baixa amônia e alto pH, sugerindo
que manter o teor de amônia para cresci-
mento microbiano foi mais determinante
da digestibilidade da fibra do que a manu-
70
tenção de alto pH.
A suplementação da cana apenas
com ureia tem sido preconizada como
65
tecnologia simples e aplicável à boa parte
das fazendas brasileiras (TORRES et al.,
FDN (% da MS)

60 2001). A recomendação da cana com ureia


é muitas vezes encarada como pacote tec-
nológico e, como tal, não sofre discussões
nutricionais mais profundas. Entretanto, é
55
necessário compreender os conceitos nu-
tricionais implícitos a uma dieta exclusiva
de cana com ureia. Nesse tipo de dieta, a
50 ureia, fonte de N não proteico 100% degra-
0 12 24 36 48 60 dável no rúmen, suplementa uma forragem
pobre em N, em lipídios e em minerais.
Tempo pós-moagem
Além disso, possui teor de FDN em torno
Controle Cal de 50%, baixo para forrageiras tropicais,
mas de baixa digestibilidade, e alto teor
Gráfico 2 - Teor de FDN de cana moída in natura (controle) e de cana com 1% de cal (cal) de carboidratos não fibrosos de alta diges-
NOTA: Tempo 0 foi 6h. P<0,01 para a interação entre tempo pós-moagem e tibilidade no rúmen, predominantemente
tratamento. Erro-padrão das médias=0,52. sacarose, um dissacarídeo composto por
FDN - Fibra em detergente neutro; MS - Matéria seca. frutose e glicose.
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Para avaliar a suplementação da cana


100 com ureia, foi desenvolvido um modelo
matemático da digestão capaz de prever a
absorção de nutrientes em bovinos alimen-
98 tados com dietas à base de cana-de-açúcar
(DIJKSTRA et al., 1996a). No Quadro 2,
96 são apresentradas simulações de dietas à
% da MS original

base de cana e ureia, utilizando esse mo-


delo. Foi simulada a resposta de novilhas
94 de 200 kg de peso vivo à inclusão de ureia
à dieta em teores dietéticos, que variaram
de zero a 1 kg, para cada 100 kg de cana
92 in natura. Com base nessas simulações,
nada se ganha quando a suplementação de
ureia excede 50 g/dia, equivalente a 300 g
90
0 12 24 36 48 60 de ureia para 100 kg de cana-de-açúcar
fresca. Normas nutricionais para gado
leiteiro normalmente recomendam teores
Tempo pós-moagem
dietéticos máximos de ureia próximos de
Controle Cal 1% da MS, exatamente o obtido nessa in-
clusão. A suplementação de ureia no teor
Gráfico 3 - Perda de matéria seca (% da MS original) de cana moída in natura (controle) de 1% da cana fresca, equivalente a 3,33%
e de cana com 1% de cal (cal) de ureia na MS dietética, foi teoricamente
NOTA: Tempo 0 foi 6h. P<0,01 para a interação entre tempo pós-moagem e injustificável.
tratamento. Erro-padrão das médias=0,16.
Simulações utilizando o mesmo mode-
lo sugerem que é necessário suplementar a
mistura cana e ureia com fontes de proteína
verdadeira (DIJKSTRA et al., 1996b).
110 Uma dieta constituída exclusivamente de
cana e 1% de ureia supriria aminoácidos
absorvidos para a secreção de, no máximo,
100
4 kg/dia de leite em uma vaca de 470 kg
% da MSnFDN original

de peso vivo, que consome 10 kg de MS.


90 A suplementação da cana-de-açúcar com
alimentos concentrados tem sido prática
rotineira no Brasil, já que o ganho em
80
desempenho animal à suplementação
concentrada normalmente tem uma boa
70 relação entre o benefício e o custo. Nesses
casos, a inclusão dietética de ureia deveria
ser definida pelo custo de N degradável no
60 rúmen, proporcionalmente ao custo desse
0 12 24 36 48 60
nutriente em outros alimentos proteicos.
Tempo pós-moagem Nutricionalmente poderia ser argu-
mentado que, como a sacarose tem alta
Controle Cal velocidade de degradação no rúmen, uma
fonte de N de rápida degradabilidade,
Gráfico 4 - Perda de matéria seca (MS) não FDN (% da MSnFDN original) de cana moída
in natura (controle) e de cana com 1% de cal (cal) como a ureia, poderia resultar em melhor
NOTA: Tempo 0 foi 6h. P<0,01 para a interação entre tempo pós-moagem e sincronismo entre a digestão de carboi-
tratamento. Erro-padrão das médias=1,36. dratos e a de proteína em dietas com base
FDN - Fibra em detergente neutro. em cana-de-açúcar. Entretanto, em dietas
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QUADRO 2 - Estimativa de fluxo duodenal de nitrogênio não amoniacal de origem microbiana (NNAM) e de nutrientes absorvidos no in-
testino com suplementação de ureia em novilhas de 200 kg de peso vivo

Ureia na dieta NNAM Aa Glicose Lipídio AGV

% da MN % da MS g/dia g/dia g/dia g/dia g/dia moles/dia


0 0 0 25,6 100,7 340,5 37,0 25,0
0,15 0,50 25 44,0 182,9 148,0 38,8 28,5
0,30 1,00 50 47,2 196,9 136,2 39,1 28,7
0,50 1,67 83,3 47,4 197,8 135,5 39,1 28,7
1,00 3,33 166,7 47,5 198,2 135,2 39,2 28,7
NOTA: Assume consumo diário de matéria seca (MS) de 5 kg e cana com 30% de MS na matéria natural (MN).
Aa - Aminoácidos; AGV - Ácidos graxos voláteis.

isoproteicas em que o N oriundo da ureia culturais. Outra característica a considerar, Dentre essas características, a porcenta-
foi substituído por N proveniente de fare- é a época do ano quando a maturidade da gem de fibra (FDN ou FDA) foi a mais
lo de soja, ocorreu aumento no consumo planta é atingida, e o tempo que a planta correlacionada com o DEG MS. Assim,
de MS e redução no déficit energético mantém alto teor de sacarose − período a característica mais importante de uma
de vacas não gestantes e não lactantes de utilização industrial (PUI). A colheita cana de alto valor nutritivo foi o baixo
(SUCUPIRA, 1998). Desse modo, a su- de cana, com alto teor de sacarose, ao teor de fibra. A segunda mais importante
plementação de ureia em dietas à base de longo do maior período possível, ou a foi o comprimento dos colmos. Canas
cana não melhorou a eficiência alimentar, colheita concentrada para ensilagem, não de alta digestibilidade tiveram colmos
comparativamente ao uso de fonte de simultânea a outras atividades agrícolas, mais curtos, além do baixo teor de fibra.
proteína verdadeira degradável no rúmen. requer o conhecimento da época do pico Entretanto, selecionar canas curtas para
de amadurecimento. obter ganho em digestibilidade induziria
CANA-DE-AÇÚCAR MAIS Teixeira (2004) avaliou a variabili- perda na produção de MS por hectare. A
ADEQUADA PARA BOVINOS dade nas características bromatológicas terceira característica em importância na
e agronômicas em uma população de 20 definição da variação em DEG MS foi a
A alta produção de MS rica em energia
canas industriais e definiu quais caracte- porcentagem de colmos. Canas com maior
por hectare é a característica mais desejável
rísticas seriam as principais determinantes porcentagem de colmos e baixa proporção
da cana-de-açúcar. A cana ideal, além de
do valor nutricional. As características de palhas e folhas foram mais digestíveis.
produzir muito no primeiro ano (cana plan-
agronômicas avaliadas foram: produção Isto é explicado pelo fato de a sacarose de
ta), também deve ter a menor perda possí-
de MS e MN por hectare, comprimento alta digestibilidade estar contida nos col-
vel de produtividade anual ao longo de pelo dos colmos, porcentagem de colmos na mos, enquanto que palhas e folhas contêm
menos quatro anos de rebrota (cana soca). planta, diâmetro dos colmos, número de alto teor de fibra de baixa digestibilidade.
A resistência a pragas e a doenças também internódios, porcentagem de internódios A variação na DEG MS foi de dez
é desejável na cana, bem como a facilidade descobertos, densidade dos colmos, o unidades porcentuais (TEIXEIRA, 2004).
de despalha e a presença de pouco joçá Brix e o Pol. As bromatológicas foram: A característica DEG MS foi altamente
ou joçal, principalmente quando o corte é porcentagens de MS, de FDN, de fibra herdável (h2=87,9%) e, portanto, plausível
manual. Cultivares com pouca palha tam- em detergente ácido (FDA), de lignina, de ser selecionada. Dentre as três caracte-
bém facilitam o transporte e a moagem na de PB, de extrato etéreo e de cinzas. rísticas mais correlacionadas com o valor
fazenda. A resistência ao acamamento será As plantas foram incubadas in situ no nutricional, a porcentagem de colmos foi
mais importante quanto maior for o uso rúmen para determinação da degrada- a mais herdável (h2=63,1%), enquanto as
de mecanização da colheita. Ausência de bilidade ruminal da MS (DEG MS). As características comprimento dos colmos e
florescimento é desejável, principalmente características mais desejáveis em uma porcentagem de FDA tiveram um menor
quando existe a possibilidade de utilização cana nutricionalmente superior foram componente genético aditivo (h2=41,4%
da cana de um ano para outro, ou seja, a definidas por regressão multivariada do e 19,5%, respectivamente). Fatores am-
cana bisada. O florescimento pode afetar tipo Stepwise. Nesse caso, a DEG MS bientais podem ser mais determinantes
negativamente o acúmulo de sacarose na foi utilizada como variável dependente e da porcentagem de fibra da cana que a
planta e é uma característica determinada as características agronômicas e broma- genética da planta. Como o teor de fibra
pela interação entre genética, clima e tratos tológicas como variáveis independentes. é o maior determinante da digestibilidade
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da planta, qualquer cana bem cultivada e mente a digestibilidade ruminal da fibra, As dietas continham cerca de 18% de cana
manejada pode ser adequada à alimentação reduzindo a adesão microbiana (BAE et e 38% de silagem de milho na MS e os
animal, implicando que canas selecionadas al., 1997) e inibindo os microrganismos concentrados milho reidratado e ensilado,
para alta produtividade na indústria sucro- do rúmen (SMITH; NELSON, 1975) ou farelo de soja, polpa cítrica e 0,2% da MS
alcooleira podem ser adequadas também à suas enzimas celulolíticas (SHIMOJO; de ureia. A despalha da cana reduziu o teor
alimentação de bovinos. GOTO, 1989). Entretanto, o papel negati- de FDN de 52,7% para 42,3% da MS e a
Um relacionamento de interesse prático vo da sílica sobre a digestibilidade da cana proporção de partículas acima da peneira
seria a correlação entre o valor nutricional não foi demonstrado experimentalmente. de 8 mm do separador da Penn State de
e a produção de MS por hectare. Caso a se- 79,7% para 71,3% da MN. A despalha
leção para alto valor nutricional implicasse DESPALHA DA CANA-DE- tendeu a aumentar a digestibilidade da MS
na necessidade de queda na produção de AÇÚCAR E DESEMPENHO DE e o consumo de MO digestível, sem afetar a
MS por hectare, a utilização da DEG MS BOVINOS produção de leite (18,3 kg/dia) e de sólidos
como critério de seleção de canas para ali- A alta porcentagem de colmos na planta do leite. As respostas positivas em ganho
mentação animal poderia ser questionada. correlaciona-se positivamente à digestibi- de peso e conversão alimentar de novilhas
Entretanto, um relacionamento forte entre lidade da MS da cana (TEIXEIRA, 2004). e em digestibilidade de dietas para vacas
essas duas variáveis parece não existir A despalha mecânica no momento da co- leiteiras sugerem que a remoção de folhas
(r=-0,22) (TEIXEIRA, 2004). A seleção lheita, mesmo que trabalhosa, é plausível da cana pode melhorar o desempenho de
para alta digestibilidade não significa que quando a colheita é manual, entretanto, bovinos leiteiros.
a produção por área necessite ser penali- para a colheita mecanizada da forragem,
zada. Existem canas que conciliam a alta o aumento no teor de colmos da planta SILAGEM DE CANA-DE-
produtividade com a alta digestibilidade. requer atuação genética ou o uso do fogo. AÇÚCAR
O caminho mais curto para a obtenção de Siécola Júnior (2011) avaliou a respos- A colheita manual ou mecanizada
canas de alto valor nutricional é concentrar ta de novilhas e vacas leiteiras à despalha da cana fresca, majoritariamente em
esforços na obtenção de plantas com baixo mecânica de folhas apicais e laterais da frequência diária, pode ser inadequada
teor de fibra e pouca palha. A despalha ge- cana-de-açúcar. No primeiro experimento, à operação de algumas fazendas, sendo
nética, manual ou por queima, pode elevar 32 novilhas Girolando (295 kg) foram ali- uma justificativa plausível para efetuar a
a digestibilidade da planta. mentadas por 42 dias com cana integral ou ensilagem da forragem. Outra justifica-
O teor de lignina não explicou a dife- despalhada. Oito cultivares de cana foram tiva para a adoção desse processo seria
rença na digestibilidade entre cultivares colhidas em rotação e a inclusão dietética a necessidade da forrageira ao longo do
de cana-de-açúcar (TEIXEIRA, 2004). de cana foi 78% da MS. As dietas conti- ano, comum em fazendas que trabalham
A compreensão do mecanismo para a nham 14% de PB e utilizaram farelo de com bovinos leiteiros confinados, mas
baixa digestibilidade da fibra na cana- soja e 1% de ureia na MS. A despalha da caracterizando um uso não convencional,
de-açúcar seria importante para atuar cana reduziu o teor de FDN de 53,6% para comparativamente à proposta tradicional
positivamente sobre esta característica 46,8% da MS e a proporção de partículas de utilização dessa forrageira, apenas para
indesejável da planta. Um componente acima da peneira de 8 mm do separador da o período seco do ano. A queima acidental
da planta com potencial para determinar Penn State de 31,1% para 24,4% da MN. de canaviais (SIQUEIRA et al., 2011) ou
a digestibilidade da fibra seria a sílica. A O GPD foi 1,395 kg na cana despalhada a compra e o transporte concentrado da
cana-de-açúcar, o arroz e as plantas nati- e 1,125 kg na integral, e a relação entre forragem também justificam a ensilagem
vas do Cerrado são consideradas plantas o GPD e o consumo de MS foi 0,158 kg da cana.
acumuladoras de silício. Ao assumir que o e 0,122 kg, respectivamente. Houve tendên- A cana-de-açúcar é rica em carboi-
teor de sílica nas cinzas da cana in natura cia de o pH do fluido ruminal ser reduzido dratos solúveis, tem baixo poder tampo-
é semelhante ao teor nas cinzas do bagaço pela despalha da cana (6,50 vs. 6,29). A des- nante e teor de MS em torno de 30% da
de cana (CORDEIRO; TOLEDO FILHO; palha também aumentou a taxa de ingestão MN, o que confere boa ensilabilidade à
FAIRBAIN, 2009; PAULA et al., 2009), de alimento (kg/min) e o consumo de MO forragem, resultando em baixo valor de
estima-se que o teor de sílica na cana não FDN digestível. pH poucos dias após a ensilagem. Entre-
estaria em torno de 2,5% a 4,0% da MS, No segundo experimento, 14 vacas tanto, a cana é rica em leveduras epifí-
abaixo do teor de lignina, em torno de 6% da raça Holandesa (256 dias em lactação) ticas e o alto teor de sacarose favorece
da MS (TEIXEIRA, 2004). A sílica pode foram alocadas a uma sequência dos o crescimento desses microrganismos,
deprimir a digestão ruminal de forragens mesmos tratamentos em delineamento de resultando em fermentação alcoólica.
(SOEST; JONES, 1968), limitando fisica- reversão simples, com períodos de 21 dias. O etanol produzido é tóxico a outros
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14 Conservação de alimentos para bovinos

microrganismos desejáveis na silagem a cana produzir energia por hectare pode HOFFMANN, P.H. Evolução do potencial
e que também não têm a sacarose como ser eficiente. produtivo das principais variedades de
substrato preferencial para crescimento. cana-de-açúcar cultivadas no estado de
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A fermentação alcoólica resulta em alta
1997. 136p. Tese (Doutorado em Fitotec-
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o que resulta em aumento de 10 a 20 Indústria Animal, v. 16, 11-66, 1957. Piracicaba.
unidades porcentuais no teor de FDN da ANDRADE, M.A.F. Desempenho de novil- MILLEN, D.D. et al. A snapshot of manage-
forragem. Leveduras não são totalmente lhas holandesas alimentadas com cana- ment practices and nutricional recommen-
inibidas por baixo pH e por anaerobiose, de-açúcar como volumoso único. 1999. dations used by feedlot nutritionists in Bra-
o que aumenta a perda na massa de MS 56f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) − zil. Journal of Animal Science, v.87, n.10,
ensilada quanto maior for o tempo de Universidade Federal de Lavras, Lavras. p.3427-3439, Oct. 2009.
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ensilar a cana perdem-se tanto a quantida- colonization of rice straw by ruminal bacte- wafering on the feeding value of roughage: a
ria. Animal Feed Science and Technology, review. Jounal of British Grassland Society,
de quanto o valor energético da forragem.
v.65, n.1/4, p.165-181, Apr. 1997. v.18, p.39-46, 1963.
Vários aditivos, como bactérias homo e
heterofermentativas, inibidores químicos CORDEIRO, G.C.; TOLEDO FILHO, R.D.; MOORE, L.A. Symposium on forage utiliza-
FAIRBAIN, E. de M.R. Caracterização de tion: nutritive value of forage as affected by
de leveduras ou sequestrantes de umi-
cinza do bagaço de cana-de-açúcar para em- physical form: part I - general principles in-
dade, têm sido avaliados na ensilagem
prego como pozolana em materiais cimen- volved with ruminants and effect of feeding
da cana, mas seus efeitos sobre a perda tícios. Química Nova, v.32, n.1, p.82-86, pelleted or wafered forage to dairy cattle.
de MS e o teor de FDN da silagem têm 2009. Journal of Animal Science, v.23, n.1, p.230-
sido baixos. O maior teor de etanol em 238, Feb. 1964.
CORRÊA, C.E.S. et al. Performance of Hol-
silagens não aditivadas, frequentemente stein cows fed sugarcane or corn silages of NEVES, J.L.M.; MAGALHÃES, P.S.G.; OTA,
utilizado como justificativa ao uso de adi- different grain texture. Scientia Agricola, W.M. Sistema de monitoramento de perdas
tivos (PEDROSO et al., 2005), pode ser Piracicaba, v.60, n.4, p.621-629, Oct./Dec. visíveis de cana-de-açúcar em colhedora
benéfico nutricionalmente, já que o etanol 2003. de cana picada. Engenharia Agrícola, Ja-
aumentou o consumo e a produção leitei- COSTA, H.N. da. Efeito do ambiente rumi- boticabal, v.24, n.3, p.764-770, set./dez.
ra de vacas (DANIEL, 2011). A melhor nal sobre a degrabilidade in situ da cana- 2004.
opção de uso da cana, considerando a pro- de-açúcar. 2002. 51p. Dissertação (Mestra- PAULA, M.O. de. et al. Potencial da cinza
dução de MS digestível por hectare, ainda do em Zootecnia) – Universidade Federal de do bagaço da cana-de-açúcar como material
Lavras, Lavras. de substituição parcial de cimento Portland.
é a forragem fresca colhida diariamente
ou a moagem antes do fornecimento aos DANIEL, J.L.P. Contribuição da fração Revista Brasileira de Engenharia Agrícola
volátil no valor nutricional de silagens. e Ambiental, Campina Grande, v.13, n.3,
animais de colmos armazenados inteiros
2011. 160p. Tese (Doutorado em Ciên- p.353-357, maio/jun. 2009.
por no máximo quatro dias.
cias)− Escola Superior de Agricultura PEDROSO, A.F. et al. Fermentation and epi-
“Luiz de Queiroz”, Universidade de São phytic microflora dynamics in sugar cane
CONSIDERAÇÕES FINAIS Paulo, Piracicaba. silage. Scientia Agricola, Piracicaba, v.62,
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forrageira tradicionalmente utilizada por tle fed sugarcane: model development. The SANTOS, V.P. dos. Tamanho de partículas
produtores de leite no Brasil, ainda existe Jounal of Agricultural Science, v.127, n.2, da cana-de-açúcar in natura na alimenta-
p.231-246, 1996a. ção de vacas e cabras em lactação. 2010.
demanda por tecnologias capazes de me-
lhorar sua eficiência de uso. A evolução nas DIJKSTRA, J. et al. Simulation of digestion 119p. Tese (Doutorado em Ciências) –
técnicas de colheita mecanizada e de ensi- in cattle fed sugarcane: prediction of nutri- Escola Superior de Agricultura “Luiz de
ent supply for milk production with locally Queiroz,” Universidade de São Paulo, Pi-
lagem e o estudo de estratégias nutricionais
available supplements. The Jounal of Agri- racicaba.
específicas para dietas com base em cana
cultural Science, v.127, n.2, p.247-260, Sept. SCHOGOR, A.L.B. Avaliação agronômica
são requeridos para aumentar a frequência 1996b. da cana-de-açúcar submetida a métodos
de uso dessa forragem em fazendas que
GALLO, P.C. da S. Desempenho de novilhas de colheita para produção animal. 2008.
adotam alto padrão tecnológico e onde se holandesas alimentadas com teores dieté- 165p. Dissertação (Mestrado em Agrono-
busca a máxima eficiência de uso da terra, ticos crescentes de cana-de-açúcar. 2001. mia) – Escola Superior de Agricultura “Luiz
das vacas e da mão de obra. Explorar, na 40p. Tese (Mestrado em Zootecnia) − Uni- de Queiroz,” Universidade de São Paulo,
produção de bovinos, a alta capacidade de versidade Federal de Lavras, Lavras. Piracicaba.

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Conservação de alimentos para bovinos 15

SCHOGOR, A.L.B. et al. Perdas das frações


de cana-de-açúcar submetida a diversos

Doenças do cafeeiro
métodos de colheita. Revista Brasileira de
Zootecnia, Viçosa, MG, v.38, n.9, p.1443-
1450, ago. 2009.
SHIMOJO, M. ; GOTO, I. Effect of sodium
silicate on forage digestion with rumen
fluid of goats or cellulase using culture O cafeeiro pode ser atacado por várias doenças infecciosas que
solutions adjusted for pH. Animal Feed
ocasionam muitos prejuízos ao cafeicultor. São causadas por
Science and Technology, v.24, n.1, p.173-
177, 1989.
fungos, bactérias e vírus. O diagnóstico correto das doenças e das
SIÉCOLA JÚNIOR, S. Proporção de colmos
condições que determinam sua ocorrência é fundamental para o
da cana-de-açúcar e desempenho de novi- sucesso das medidas de controle ou prevenção de tais problemas.
lhas e vacas leiteiras. 2011. 53p. Disserta- É imprescindível conhecer fatores ambientais e de manejo,
ção (Mestrado em Zootecnia) – Universida-
os quais podem causar distúrbios fisiológicos nos cafeeiros, e
de Federal de Lavras, Lavras.
sintomas decorrentes desses fatores, para evitar avaliações e
SIQUEIRA, G. R. et al. Silagem de cana-de-
açúcar queimada: manejo da ensilagem e
recomendações incorretas.
desempenho de bovinos. In: SIMPÓSIO O Boletim Técnico Doenças do cafeeiro: diagnose e controle
DE FORRAGICULTURA E PASTAGENS, 8., disponibiliza, para técnicos e produtores, informações práticas
2011, Lavras. Anais… As forragens e suas
para um diagnóstico correto e controle integrado das doenças.
relações com o solo, ambiente e o animal.
Lavras: UFLA, 2011. p.173-195.
SMITH, G.S.; Nelson, A.B. Effects of
sodium silicate added to rumen cultures
on forage digestion, with interactions of
glucose, urea and minerals. Journal of
122 X 240 mm
Animal Science, v.41, n.3, p. 891-899,
Sept. 1975.
SOEST, P.J. van ; JONES, L.H.P. Effect of
silica in forages upon digestibility. Journal
of Dairy Science, v.51, n.10, p. 1644-1648,
Oct. 1968.
SUCUPIRA, M.C.A. Efeito de níveis crescen-
tes de uréia no consumo, volume ruminal
e taxa de passagem em vacas holandesas
alimentadas com cana-de-açúcar. 1998.
66p. Dissertação (Mestrado em Agronomia) –
Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz,” Universidade de São Paulo, Pira-
cicaba.

Informações
TEIXEIRA, C.B. Determinantes de degrada-
bilidade entre clones de cana-de-açúcar no
rúmen de bovinos. 2004. 72p. Dissertação publicacao@epamig.br
(Mestrado em Zootecnia) – Universidade
Federal de Lavras, Lavras. (31) 3489-5002
TORRES, R. de A.; COSTA, J. L. da; RESEN-
DE, H. Utilização da mistura cana-de-açú-
car com uréia na alimentação de bovinos
leiteiros. Informe Agropecuário. Gado de
leite, Belo Horizonte, v.22, n.211, p.69-76,
jul./ago.2001.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 4 , n . 2 7 7 , p . 7 - 1 5 , n o v. / d e z . 2 0 1 3
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Conservação de alimentos para bovinos 17

Sorgo para produção de silagem


Carlos Juliano Brant Albuquerque 1
Adriano de Souza Guimarães 2
Rogério Soares de Freitas 3
Ísis Barreto Dantas 4
Rafael Marcão Tavares 5

Resumo - Considerado uma cultura alternativa para a alimentação de ruminantes, o


sorgo tem-se tornado opção rentável aos variados sistemas de produção de bovinos exis-
tentes no Brasil. Suas características desejáveis de adaptação à escassez hídrica, elevada
produtividade de massa por área, com a possibilidade de realização de dois cortes, boa
digestibilidade, preço competitivo das sementes, são alternativas que garantem à cultura
do sorgo resultados econômicos interessantes diante de sua utilização como silagem.
Há que se ter critério técnico na escolha do tipo comercial do sorgo a ser utilizado, na
implantação da lavoura e no momento ideal da colheita para ensilagem.
Palavras-chave: Sorghum. Trato cultural. Ensilagem. Nutrição animal. Forragem.

INTRODUÇÃO mento, residia apenas na redução do custo para a confecção de silagem, com o foco
da tonelada de matéria verde de silagem não apenas para uma boa produtividade de
A silagem de sorgo vem sendo cada
produzida, sem considerar a qualidade matéria seca (MS), mas também voltado a
vez mais utilizada pelos produtores como
nutricional dos materiais cultivados. melhorias no valor nutritivo dos materiais.
uma das melhores alternativas de alimento
para o gado. É um alimento volumoso, de Entretanto, com o passar do tempo, os A silagem de sorgo no Brasil vem pro-
alta produção e de bom valor nutritivo para produtores passaram a exigir cultivares gredindo, representando, aproximadamen-
rebanhos de leite ou corte. Normalmente, com maior produção de nutrientes por uni- te, de 10% a 15% da área total cultivada
o produtor que utiliza silagem assegura dade de área. Isso explica porque, muitas para ensilagem (AVELINO et al., 2011).
a produção animal em períodos críticos, vezes, um sorgo forrageiro pode ser prefe- Constitui uma opção viável para atender
como no inverno ou estação seca, durante rido a um granífero, pois, apesar de possuir à demanda dos pecuaristas, em razão de
uma estiagem prolongada ou em eventual valor nutritivo geralmente inferior, apre- suas características bromatológicas que,
falta de pasto. senta alta produção, o que pode resultar em à semelhança do milho, possibilita uma
Historicamente, o cultivo de sorgo maior produção de nutrientes por unidade fermentação adequada e consequente con-
para silagem surgiu no Brasil a partir da de área (NUSSIO; MANZANO, 1999). servação sob a forma de silagem.
introdução de variedades de porte alto, com Assim, com o desenvolvimento de linha- Dessa forma, nos sistemas de produção
elevada produtividade de massa verde. A gens machos estéreis de sorgo, permitiu-se de forragens, especialmente em regiões
preocupação dos melhoristas, naquele mo- a produção de híbridos mais apropriados de inverno seco e clima semiárido, a au-

1
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba-FEUB/Bolsista FAPEMIG, CEP 38402-019 Uberlândia-MG. Correio eletrônico:
carlosjuliano@epamig.br
2
Zootecnista, M.Sc., Pesq. EPAMIG Sul de Minas/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
adriano.guimaraes@epamig.br
3
Engo Agro, D.Sc., Pesq. APTA - Polo Regional do Noroeste Paulista, Caixa Postal 61, CEP 15500-970 Votuporanga-SP. Correio eletrônico:
freitas@apta.sp.gov.br
4
Enga Agra, D.Sc., Bolsista PMPD Capes/FAPEMIG/EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba-FEUB, CEP 38402-019 Uberlândia-MG. Correio
eletrônico: isis_bd@hotmail.com
5
Graduando Agronomia UFU - Instituto de Ciências Agrárias/Bolsista BIC FAPEMIG/EPAMIG, CEP 38402-019 Uberlândia-MG. Correio
eletrônico: rmtagro@hotmail.com

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18 Conservação de alimentos para bovinos

sência de culturas alternativas para aporte Para Almeida Filho et al. (1999), a As cultivares de sorgo disponíveis
forrageiro na entressafra é um grande identificação de plantas mais adaptadas para silagem no Brasil são classificadas
obstáculo. Diversas pesquisas demons- às condições nas quais serão cultivadas como silageiras e de duplo propósito (para
traram a alta qualidade da silagem de contribuirá para obtenção de maiores ren- a produção de forragem e de grãos). As
sorgo, comparando-a com outras culturas dimentos da cultura do sorgo. Ressalta-se plantas de menor porte tendem a aumentar
utilizadas nesse processo em diferentes que, além da genética e do ambiente, a a participação de panículas na MS, o que
situações (NEUMANN et al., 2004). Além produção é influenciada, entre outros fa- interfere positivamente no valor nutritivo
de seu alto valor nutritivo, o sorgo possui tores, pela qualidade da semente, época de da silagem (ARAÚJO et al., 2002).
altos rendimentos de MS em condição de semeadura, população de plantas, preparo, As empresas de melhoramento desen-
menor disponibilidade hídrica. Tanto para correção e adubação do solo, irrigação, volveram cultivares com bom equilíbrio
os menores, quanto para os maiores reba- controle de plantas daninhas, pragas e entre colmo, folha e panícula, com o ob-
nhos, utiliza-se pequena parte de área da doenças. Contudo, existem poucas infor- jetivo de aliar a boa produtividade de MS
propriedade durante curto período do ano, mações dos efeitos desses fatores sobre a e o bom valor nutritivo. Estudos revelam
cerca de 100 a 120 dias. qualidade da forragem produzida. que é possível caracterizar as diferentes
Segundo Avelino et al. (2011), o custo cultivares de sorgo para silagem por meio
dos principais alimentos concentrados IMPLANTAÇÃO DA LAVOURA da participação porcentual e da composi-
utilizados na dieta de bovinos (o milho ção bromatológica das principais estruturas
e a soja) tem apresentado aumento sig- Escolha de cultivares anatômicas da planta, definindo um perfil
nificativo nos últimos anos, por causa médio da planta de sorgo para silagem
da maior demanda das exportações dos A produção de silagem de boa quali- (NEUMANN et al., 2003; GONTIJO
grãos e consequente redução dos estoques dade inicia-se pela escolha da cultivar a NETO et al., 2004). A digestibilidade das
nacionais. Esses autores destacam a im- qual deve ser embasada em informações panículas é sempre maior que a das folhas,
portância do sorgo como alternativa para relativas às características agronômicas e e, geralmente, os colmos são a parte da
a pecuária nacional, onde o crescimento do zootécnicas. Há no mercado disponibili- planta de menor digestibilidade (em fase
seu cultivo pode favorecer o equilíbrio nos dade de híbridos e de variedades de sorgo, de elaboração)6.
estoques reguladores de grãos energéticos os quais se adaptam às diferentes regiões, Gontijo Neto et al. (2002) demonstra-
e forragem, destacando-se pela qualidade sendo que, numa mesma região, tem-se a ram que existe alta correlação entre produ-
nutricional da planta e pelo baixo custo opção de escolha em função do ciclo, resis- ção de MS e produção de MS digestível.
para sua produção. Esses fatores auxiliam tência e produtividade. Outra observação Entretanto, ao comparar a digestibilidade
o crescimento sustentado da pecuária e deve ser quanto à produção de grãos, pois in vitro de diferentes híbridos, esses au-
proporcionam maior oferta de alimentos, quanto mais grãos na silagem, maior será o tores relataram que o híbrido de duplo
com redução de custos e variabilidade porcentual de NDT que é o teor de energia propósito foi muito superior (62% contra
nutricional, permitindo maior competiti- da silagem. O conveniente é fazer a escolha 53% a 54%). Com isso, apesar do híbrido
vidade e estabilidade do setor. de acordo com o maior número de caracte- forrageiro produzir, aproximadamente,
O produtor deve ficar atento à qualidade rísticas desejáveis, tais como ciclo, porte, 6 t/ha de MS a mais que o duplo propósito,
da silagem, associada à boa produtividade participação de grãos, digestibilidade e a diferença na produção de MS digestível
de MS. A qualidade e a produtividade da teor de fibra, sanidade foliar, resistência a é de apenas 2 t/ha. Como a diferença na
silagem são afetadas por aspectos relacio- doenças e ao tombamento. produção de MS digestível entre os híbri-
nados com a própria planta (fator genético), De acordo com Portugal et al. (2003), dos forrageiros e os de duplo propósito
com o manejo cultural adotado e com o o rendimento forrageiro do sorgo e o valor (maior porcentagem de grãos) não é muito
processo de ensilagem. A MS deve ser nutritivo das cultivares são características grande, mas a qualidade deste último é
devidamente analisada e valorizada nutri- que devem ser levadas em consideração muito superior à dos demais, pode-se
cionalmente pelo conteúdo de nutrientes na escolha do tipo de sorgo a ser culti- concluir que a produção de silagem a par-
digestíveis totais (NDT), sendo diretamente vado. Tais características são altamente tir de híbridos de duplo propósito é mais
proporcional à quantidade de amido, açúca- influenciadas pelas condições ambientais interessante que a utilização de híbridos
res, proteína, gordura e fibras digestíveis. da região de cultivo. forrageiros.

6
Características agronômicas e bromatológicas dos componentes vegetativos de genótipos de sorgo forrageiro em Minas Gerais, de autoria de
Carlos Juliano Brant Albuquerque, Renata Rodrigues Jardim, Dorismar David Alves, Adriano de Souza Guimarães e Edson Marcos Viana Porto, a
ser publicado na Revista Brasileira de Milho e Sorgo, Sete Lagoas, v.12, n.2, 2013.

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Conservação de alimentos para bovinos 19

Na escolha da cultivar, os produtores as plantas recebem o estímulo floral mais O sorgo é uma das espécies de impor-
devem considerar os resultados regionais precoce. tância agrícola que apresentam grande
de experimentos, além do planejamento É importante destacar que em algumas potencial de utilização da radiação solar,
zootécnico e nutricional do rebanho. Por regiões do Nordeste brasileiro isso não é por meio da fotossíntese, para a conversão
exemplo, vacas leiteiras em lactação são possível, pois o período chuvoso ocorre de carbono mineral em carbono orgânico
mais exigentes em qualidade de alimento de janeiro a abril. Sendo assim, o produtor na forma de grãos e de forragens. Entre
do que novilhas. Dessa forma, o uso do deve ficar atento à escolha das cultivares as práticas e técnicas empregadas para a
sorgo duplo propósito poderá ser mais vi- mais indicadas pela assistência técnica des- obtenção de maior produção de sorgo, a
ável que o silageiro, por causa da redução sas regiões, além de participar de eventos escolha da densidade ideal de semeadura e
do concentrado pela melhor qualidade da regionais, como Dia de Campo. do melhor espaçamento de plantas na área
silagem. Além da exigência nutricional, o Outro fator climático importante para está entre as mais importantes.
tamanho do rebanho, custo do concentra- escolha da época da semeadura é a tem- Os vários grupos de sorgo respondem
do, área disponível, período de escassez peratura. Nesse caso, se o florescimento com incrementos de MS com a redução
de alimentos são fatores que devem ser coincidir com temperaturas inferiores a do espaçamento. A melhor população está
analisados, ou seja, cada produtor tem a 20 oC pode propiciar a esterilidade das es- entre 100 mil a 120 mil plantas/hectare.
sua particularidade. piguetas e consequente doença conhecida Alguns materiais genéticos de porte alto,
como mela-do-sorgo ou ergot (Claviceps que é o caso do sorgo silageiro, sacarino
Época de semeadura africana). Ademais, baixas temperaturas e alguns de duplo propósito, são extre-
na ocasião da semeadura também podem mamente sensíveis ao acamamento e ao
O sorgo para produção de silagem deve
prejudicar a germinação das sementes. tombamento de plantas, quando o número
ser semeado no início das primeiras chuvas
do ano agrícola. Geralmente, após 100 mm destas é superior a 120 mil plantas/hectare
Semeadura
de chuva, o produtor já pode iniciar o (ALBUQUERQUE et al., 2011, 2012). Isso
semeio. Ao avaliar o rendimento forra- O sorgo pode ser cultivado pelo siste- pode gerar prejuízos, o que inviabiliza a
geiro de sorgo em função de cinco épocas ma convencional e pelo Sistema Plantio colheita mecanizada da forragem. A redu-
de semeadura no município de Lavras, Direto (SPD). Em solos de primeiro ano ção do espaçamento nas cultivares desses
Alcantara et al. (2011) concluíram que o de cultivo, com problemas de fertilidade e grupos, associada à elevação da população,
rendimento de massa verde é influenciado compactação, usa-se o sistema convencio- promove prejuízos aos produtores. Já as
nal, como forma de solucionar esses pro-
significativamente pelas épocas de seme- cultivares de porte baixo oferecem maior
blemas, incorporando adubos, corretivos resistência ao acamamento, o que facilita o
adura. De acordo com esses autores, à me-
e descompactando o solo. Isso é feito com
dida que atrasa a semeadura, há quedas de corte mecânico. Podem ainda suportar um
uso de arado, grade e, em algumas situa-
rendimentos e de qualidade da forragem, maior número de plantas por unidade de
ções, subsoladores. Já o SPD é indicado
quando as épocas de semeadura, 30 de área e, em algumas situações, gerar maior
quando o solo não apresenta problemas de
outubro e 15 de novembro, apresentaram produção de MS por hectare.
compactação e fertilidade.
maior destaque, principalmente pela dis- Outro aspecto sobre a redução do
Após o preparo da área, a próxima
ponibilidade hídrica. espaçamento no sorgo é a falta de padrão
operação é a abertura do sulco de plantio
Além dos índices pluviométricos é do tamanho de sementes, bem como o ta-
por meio de semeadoras. O sulco deve ser
importante destacar que o sorgo silageiro manho destas. Isto gera maior dificuldade
uniforme e ter a profundidade ideal, que
é sensível ao fotoperíodo, o qual pode ser possibilite a melhor deposição da semente para regular as semeadoras em menores
definido como a resposta do crescimento à para sua germinação, emergência e desen- populações, no espaçamento reduzido,
duração dos períodos de luz e de escuro. O volvimento. A profundidade de semeadura principalmente com implementos que pre-
comprimento do dia varia de acordo com a pode variar de 2 a 4 cm em função da tex- cisam de discos específicos. Dessa forma,
estação do ano e com a latitude. O sorgo é tura do solo, ou seja, quanto mais argiloso mais sementes são depositadas no solo,
uma planta de dias curtos, ou seja, floresce menor deverá ser a profundidade do solo. ocasionando desperdícios e perdas.
em noites longas. Após o florescimento, Para evitar a queima das sementes pelo O produtor considera os equipamentos
a planta cessa o seu desenvolvimento adubo, este deve ser depositado no fundo de colheita da forragem que possui na
vegetativo (folhas e colmo) e inicia a po- do sulco de plantio, a uma distância sufi- propriedade ou de fácil arrendamento na
linização e o enchimento dos grãos. Dessa ciente para evitar o contato entre ambos. região, onde a maioria desses equipamen-
forma, para maiores produtividades de MS, Normalmente, essa distância é de 3 cm. tos colhe no espaçamento acima de 60 cm.
deve-se iniciar a semeadura antes do dia 22 Também é importante manter a velocidade O uso de menores espaçamentos provoca
de dezembro (solstício de verão). A partir de semeadura dentro dos limites recomen- danos na linha lateral com colheitadeiras
dessa data, as noites ficam mais longas e dados de 4 a 6 km/h. forrageiras inadequadas.
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20 Conservação de alimentos para bovinos

Ao regular a semeadora, o produtor Adubação Quanto à expectativa de produção, no


deverá acrescentar 30% a mais de sementes Quadro 2 está descrita a adubação necessária,
A extração de nutrientes em áreas de
por metro linear, pensando nas reduções do em função da disponibilidade de nutrientes
silagem é bastante elevada, o que pode
estande, por causa da germinação de se- no solo e produtividade de matéria verde.
determinar reduções na produtividade
mentes, ataque de pragas, pássaros, falhas Em solos arenosos ou com recomenda-
e na qualidade da forragem produzida. ções potássicas maiores que 80 kg/ha de
na emergência, problemas de qualidade do
Nessas áreas, é preciso determinar, com K2O, aplica-se metade da dose na semea-
plantio, além de outros fatores comumente
especial atenção, os níveis de adubação dura e o restante na cobertura nitrogenada.
vivenciados no campo. No Quadro 1 está
com potássio (K). Ao contrário do que Em áreas com deficiência de zinco (Zn),
apresentada a população final de plantas
em função do espaçamento. ocorre em áreas utilizadas para a colheita deve-se aplicar de 1 a 2 kg/ha de Zn. Além
Na ocasião da semeadura, deve-se de grãos, a reciclagem de K para o solo, disso, é necessário fornecer 30 kg/ha de
adequar a semente ao disco recomendado nos locais utilizados para a produção de enxofre (S), na semeadura ou em cobertura
pela empresa produtora ou pelos técnicos silagem, é muito baixa e, consequente- (RIBEIRO; GUIMARÃES; ALVARES V.,
especializados em plantio. Para uma per- mente, a extração desse nutriente torna-se 1999). Sempre que possível, é interessante
feita distribuição, é necessário adquirir o bastante elevada. a reposição de parte de alguns nutrientes
disco, conforme o tamanho da semente – Em função da análise do solo, pode ser por meio do esterco para área cultivada.
classificação ou peneira. As semeadoras a necessário fazer a calagem para correção
vácuo também possuem discos dosadores da acidez e o suprimento do Ca e Mg. Para CONTROLE FITOSSANITÁRIO
perfurados rotativos, nos quais as sementes calagem, o corretivo pode ser fornecido
se aderem em cada furo, por causa do vácuo pelo método da saturação por bases (V), Plantas daninhas
criado por uma corrente de ar, que causa a elevando-a a 60% (pH em torno de 6).
O sorgo é muito sensível à interferência
sucção de um ventilador. As sementes são Recomenda-se a incorporação do corretivo de plantas daninhas, o que pode resultar em
liberadas, quando o vácuo é neutralizado na camada de 0 a 20 cm de profundidade, perdas superiores a 95% da produtividade
por um obturador, e captadas por tubos no momento do preparo do solo. É neces- de grãos e forragens, em área com alta in-
distribuidores. Como em outros sistemas, sário destacar que relações Ca:Mg muito festação. Desse modo, medidas de controle
para cada tipo de semente, deve-se dispor pequenas, abaixo de 3:1, podem prejudicar das infestantes são necessárias para viabi-
de um disco dosador e fazer a regulagem a cultura do sorgo (RIBEIRO; GUIMA- lidade econômica de seu cultivo (Fig. 1).
de velocidade adequada na área de plantio. RÃES; ALVAREZ V.,1999). O controle químico, quando necessário,
deve ser implementado em harmonia com
QUADRO 1 - Número de plantas por metro linear, nos diferentes espaçamentos e densidades outros métodos de controle, como preventi-
Espaçamentos vo, cultural e mecânico. Tal controle é me-
Densidade (cm) nos dependente das condições climáticas,
65 75 85 em relação ao mecânico, e um curto período
100 mil plantas/hectare 6,5 7,5 8,5 sem chuva é suficiente para a aplicação dos
120 mil plantas/hectare 7,8 9,0 10,2 produtos com eficiência. A praticidade, o
NOTA: O produtor deve fazer monitoramento constante durante o plantio, para assegurar a rendimento de área tratada, a escassez e a
regulagem periódica da semeadora. O tamanho e o lote das sementes, a cultivar, a valorização da mão de obra tornaram o con-
umidade e a textura do solo exigem regulagens diferentes. Acrescentar 30% a mais trole químico atrativo, tanto para pequenas
de sementes por metro linear. quanto para grandes propriedades. Entre as
limitações do controle químico, destaca-se
QUADRO 2 - Adubação mineral do sorgo forrageiro em função da disponibilidade de nu- a escassez de herbicidas registrados para a
trientes no solo e produtividade de matéria verde cultura e a suscetibilidade do sorgo à grande
Disponibilidade de P Disponibilidade de K parte dos herbicidas utilizados nos sistemas
Produtividade Dose de
Dose de de produção. Apenas marcas comerciais do
de matéria N no Baixa Média Boa Baixa Média Boa
verde plantio N na ingrediente ativo atrazina são registrados no
Dose de P2O5 Dose de K2O cobertura Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-
(t/ha) kg/ha kg/ha kg/ha kg/ha kg/ha kg/ha kg/ha tecimento (MAPA) (BRASIL, 2013), para
< 50 10 - 20 70 50 30 75 60 30 70 essa cultura no Brasil (Quadro 3). Portanto,
50 - 60 10 - 20 80 60 40 100 90 60 100 são os que podem ser recomendados para
> 60 10 - 20 90 70 50 150 120 90 140 controle químico de plantas daninhas na
FONTE: Ribeiro, Guimarães e Alvarez V. (1999). cultura do sorgo.
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Conservação de alimentos para bovinos 21

Fotos: Rogério Soares de Freitas


A B
Figura 1 - Interferência de plantas daninhas em sorgo
NOTA: A - Sorgo cultivado em áreas com alta infestação de Cenchrus echinatus; B - Panículas obtidas das áreas sem e com interfe-
rência das infestantes por todo o ciclo da cultura.

Por causa da carência de herbicidas para produção de silagem, após a colheita Insetos-praga
registrados para cultura do sorgo, espe- de milho também para silagem (ciclo menor
A diversidade de insetos numa lavoura
cial atenção deve ser dada ao manejo das até a colheita), tem sido feito por alguns
de sorgo é muito grande. O produtor e
plantas daninhas no SPD, após a colheita produtores. Nesse caso, além de ser uma o técnico devem conhecer as principais
da cultura e antes da semeadura do sorgo. prática não recomendada, o produtor deve pragas e os inimigos naturais dessa cultura
Dentre os herbicidas utilizados nesse mane- ficar atento aos riscos de danos à cultura do para tomar as medidas adequadas quanto ao
jo destacam-se o glifosato e o paraquat, por
sorgo, quando o herbicida nicosulfuron for manejo/controle, antes que a praga atinja o
não apresentarem efeito residual no solo.
utilizado na cultura do milho. Esses danos nível de dano econômico. Assim, são neces-
Para ampliar o espectro de controle, outros
podem ser estendidos às culturas sucedâne- sárias visitas periódicas à lavoura de sorgo
produtos, como o carfentrazone-ethyl, têm
sido utilizados com sucesso por agricultores
as, especialmente à soja, pelo acúmulo da para identificar as espécies nocivas e adotar
no manejo das infestantes em pré-plantio. atrazina no solo (FORNASIERI FILHO; medidas de controle, quando necessárias.
O histórico de manejo e de uso de her- FORNASIERI, 2009), uma vez que o her- Na fase inicial de cultivo, o principal
bicidas na área onde será cultivado o sorgo bicida atrazina é utilizado para controle de dano causado pelas pragas está associado a
pode ser fator decisivo para o sucesso da infestantes, tanto no milho quanto no sorgo. danos que podem levar à redução no vigor
lavoura, uma vez que a cultura do sorgo é
sensível a herbicidas utilizados em culturas
QUADRO 3 - Produtos comerciais do ingrediente ativo (i.a.) atrazina, com registro no Ministério
que o antecedem, como a soja e o milho.
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), para uso na cultura do sorgo
Assim, em determinadas condições de
Concentração Dose do produto
clima, de solo (textura), de intervalo de
Marca (i.a.) comercial Modo de aplicação
aplicação e de dose utilizada, os níveis (g/kg ou g/L) (L ou kg/ha)
de resíduos de herbicidas no solo podem (1)
Atranex WG 900 2,0 - 3,0 Pós-emergência
causar injúrias à planta de sorgo.
Atrazina Nortox 500 SC 500 3,0 - 6,5 Pré/Pós-emergência
(3)
O uso dos herbicidas, como os dos
grupos de imidazolinonas (imazaquin e ima-
(1)
Coyote WG 900 2,0 - 3,0 Pós-emergência
zethapyr), dinitroanilinas (pendimentalin e Gesaprim GrDA 880 2,0 - 3,0 Pré/Pós-emergência
(3)

trifluralin) e sulfonylureias (chlorimuron- Gesaprim 500 Ciba-Geigy 500 4,0 - 5,0 Pré/Pós-emergência
(3)

ethyl e nicosulfuron), é comum em culturas (2)


Herbitrin 500 BR4 500 4,0 - 5,0 Pós-emergência inicial
antecessoras ao sorgo e frequentemente
Proff 500 2,0 - 3,0 Pré/Pós-emergência
(3)

relacionado com as injúrias das plantas FONTE: Brasil (2013) e Rodrigues e Almeida (2011).
(FORNASIERI FILHO; FORNASIERI, (1)Acrescentar 1,0 L/ha de óleo vegetal. (2)Acrescentar 0,5 a 1,5 L/ha de óleo vegetal. (3)A
2009; KARAM; OLIVEIRA; SILVA, modalidade de aplicação pré-emergência não deve ser utilizada em solos arenosos, ficando
2012). Por exemplo, o cultivo do sorgo restrita a solos de textura média e argilosos.

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22 Conservação de alimentos para bovinos

ou até mesmo à morte ou à destruição de (COELHO et al., 2002). Para cultura do seguintes inseticidas (BRASIL, 2013):
plântulas e consequente redução na po- sorgo têm-se dois produtos comerciais deltametrina (piretroide), lambda cialotri-
pulação de plantas. Os principais insetos registrados (BRASIL, 2013), com os na (piretroide) + tiametoxam (neonicoti-
do grupo de pragas iniciais incluem os ingredientes ativos (i.a.) imidacloprido + noide), imidacloprido (neonicotinoide) +
que atacam a parte subterrânea: peludinha tiodicarbe e tiodicarbe. O uso desses tiodicarbe (metilcarbamato de oxima),
(Astyllus variegatus); larva-arame (Conoderus produtos no tratamento de sementes tem tiodicarbe (metilcarbamato de oxima),
scalaris), corós ou bicho-bolo (larvas sido eficaz no controle de algumas pragas clorpirifós (organofosforado). O uso desses
de besouros da família Scarabaeidae) e iniciais, incluindo a lagarta-elasmo. produtos deve seguir as recomendações
larvas de diabrotica (Diabrotica speciosa Com o desenvolvimento da cultura, especificadas no rótulo e por profissionais
e D. viridula). Ainda dentro desse grupo, outras pragas ganham importância, como capacitados.
verifica-se comumente o ataque da parte os afídeos Schizaphis graminum (pulgão- Nas regiões produtoras de cana-de-
aérea por formigas e por lagarta-elasmo verde) e Rhopalosiphum maidis (pulgão-do- açúcar, tem sido observado grande aumen-
(Elasmopalpus lignosellus). A lagarta- milho). A utilização de cultivares resistentes to da incidência e dos danos da broca-da-
elasmo é uma praga agressiva e comum nas tem grande potencial no controle do pulgão-
cana (Diatraea saccharalis), na cultura do
lavouras de sorgo. Quando ocorre estia- verde, principalmente se associada a outros
sorgo. Após a eclosão dos ovos depositados
gem, logo após a emergência das plantas, métodos. A proteção dos inimigos naturais,
sobre as folhas pelas mariposas amarelo-
essa lagarta pode causar grande destruição com uso de inseticidas seletivos no manejo
palha, a pequena lagarta penetra no colmo
num curto período. Os maiores danos são de insetos-praga na cultura é uma medida
e, ao se alimentar da parte interna, provoca
observados em solos leves e bem drenados. importante para manter a população no nível
redução do crescimento da planta. As ga-
As larvas, ao se alimentarem, formam uma que não cause dano econômico.
lerias formadas, somadas ao crescimento
galeria vertical com consequente destrui- A lagarta-do-cartucho (Spodoptera
de fungos oportunistas, responsáveis
ção do ponto de crescimento da planta, o frugiperda) é uma praga que causa prejuízos
à cultura do sorgo e pode ser encontrada pela coloração vermelha, enfraquecem
que causa o típico sintoma denominado
coração morto, com a murcha e posterior dentro do cartucho durante o dia. Os danos os colmos que ficam sujeitos à ação de
morte das folhas centrais (Fig. 2). são causados pelo consumo da área foliar. ventos e chuvas, levando ao acamamento
Apenas uma larva-arame e um coró, Os sintomas iniciais são folhas raspadas e as das plantas (Fig. 4). A medida mais eficaz
por amostra de 30 x 30 de solo, são su- lagartas maiores alojam-se dentro do cartu- de controle dessa praga é por meio de
ficientes para causar danos significativos cho, alimentando-se de folhas novas (Fig. 3). inimigos naturais (Trichogramma ssp.,
e indicativos da necessidade de controle. Essa praga pode causar danos durante Cotesia spp.). Tais inimigos são ampla-
Medidas de controle culturais, como pre- praticamente todo o ciclo da cultura, e me- mente utilizados na cultura da cana-de-
paro antecipado da área para exposição didas de controle, com o uso de inseticidas, açúcar e podem ser adaptados para a cul-
à predação ou à dessecação das larvas, podem ser necessárias e devem ser aplicadas tura do sorgo. Em áreas atingidas por essa
eliminação de hospedeiros alternativos e em alto volume, direcionando para o interior praga, o uso de medidas culturais, como
plantas voluntárias ou destruição de restos do cartucho da planta. Estão registrados eliminação de plantas hospedeiras, quan-
de culturas anteriores, podem ser adotadas no MAPA, para controle dessa praga os do possível (poáceas, como o milheto), e

Fotos: Rogério Soares de Freitas

Figura 2 - Planta com sintomas de coração-morto causado por lagarta-elasmo

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Rogério Soares de Freitas Conservação de alimentos para bovinos 23

Rogério Soares de Freitas


Figura 3 - Dano causado pela lagarta-do-cartucho Figura 4 - Sintomas da broca-da-cana e fungos oportunistas em col-
mos de sorgo

preparo convencional do solo, contribui viridula), percevejo-do-arroz (Oebalus o momento de ser ensilado. O estádio
para reduzir a sua população. spp.), lagarta-rosca (Agrotis ipsilon), de maturação dos grãos de sorgo no mo-
A mosca-do-sorgo é uma praga espe- dentre outros, estão associados à cultura mento do corte refletirá na composição
cífica da cultura do sorgo. Sua presença do sorgo e podem causar prejuízos, se química da silagem e, consequentemente,
foi registrada no Brasil pela primeira vez, não forem monitorados e implementadas no desempenho animal (VILELA, 1985;
por Rossetto, Nakano e Banzatto (1967), medidas de controle, quando necessárias. RODRIGUES et al., 1996).
na década de 1960. Os insetos depositam Os pássaros alimentam-se dos grãos Tecnicamente, o estádio farináceo é
seus ovos nas flores da panícula do sorgo de sorgo desde o início do processo de o mais recomendado para a colheita por
e as larvas alimentam-se do ovário floral, enchimento até sua colheita, e causam ele- apresentar maior produtividade acumulada
impedindo a formação da semente. Os da- vados prejuízos à produção e à qualidade de grãos na MS total da planta. Contudo,
nos podem chegar a 100% na produção de de silagem, uma vez que os grãos são o na prática, o sorgo deve ser colhido no
grãos, dependendo da cultivar e da época principal responsável pela qualidade da estádio pastoso-farináceo, com o intuito
de florescimento (ROSSETTO; NAKA- silagem de sorgo. Esse problema tem-se de minimizar as perdas de grãos, caso haja
NO; BANZATTO, 1967). Para o controle eventuais problemas na ensilagem (corte e
agravado ao longo dos anos, pois com a
da mosca-do-sorgo, recomendam-se recolhimento do material) e venha a ser co-
oferta de alimentos a população de pás-
medidas culturais, como plantio mais lhido em estádios mais tardios (Quadro 4).
saros aumenta rapidamente e pode até
cedo possível e utilização de cultivares Deve-se ressaltar que a janela de corte
inviabilizar a produção continuada de sor-
precoces e de floração uniforme, a fim do sorgo para silagem é ligeiramente su-
go para silagem em determinados locais.
de não coincidir com a alta população perior ao milho podendo ser, em média,
do inseto, após sucessivos plantios e cerca de sete a doze dias. A verificação do
ÉPOCA DE COLHEITA
a utilização de variedades resistentes ponto de colheita (estádio dos grãos) deve
(LARA, 1991; WAQUIL; LARA, 2001). Um dos fatores determinantes para ser realizada por observação dos grãos
O controle químico é uma alternativa a qualidade final da silagem de sorgo é contidos na porção medial da panícula.
para controle da mosca, quando o nível
médio de infestação é de uma fêmea por
QUADRO 4 - Porcentagem de aproveitamento de grãos na silagem de sorgo
panícula avaliada. As inspeções no campo
Grãos da forra- Grãos nas Produção de Perda de Grãos
devem ser feitas a cada três dias, pela ma- Estádio de
gem ensilada fezes grãos grãos digeridos
nhã, em todo o período de florescimento maturação
(%) (%) (kg/MS/ha) (kg/MS/ha) (%)
(WAQUIL; CRUZ; VIANA, 1986), e o Leitoso 35,1 2,9 3.878 112 97,1
controle químico, quando necessário, tam-
Pastoso 45,2 9,8 4.381 429 90,2
bém no período da manhã. Para controle
Farináceo 48,9 13,1 5.696 746 86,9
dessa praga estão registrados no MAPA
o clorpirifós e a deltametrina (BRASIL, Farináceo duro 51,3 14,7 5.691 836 85,3
2013). Diversos outros insetos-praga, Duro 47,4 13,3 5.206 692 86,7
como o percevejo-castanho (Scaptocoris FONTE: Dados básicos: Demarchi (1993).
castanea), percevejo-verde (Nezara NOTA: MS - Matéria seca.

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24 Conservação de alimentos para bovinos

DESEMPENHO ANIMAL das silagens de milho e de sorgo em dietas lar o sorgo em estádios mais precoces, o
completas para vacas de alta produção, não que favorece o ataque e a degradação dos
Em sistemas de produção de rumi-
verificaram diferenças entre o consumo de grãos, inicialmente durante a fermentação
nantes, com base na utilização de silagem
MS, a produção e a composição do leite da silagem e, posteriormente, no rúmen.
como volumoso, o desempenho animal ten-
(Quadro 6), demonstrando o potencial do Para o gado de corte, o raciocínio para
de a crescer com o incremento do conteúdo
sorgo utilizado no experimento. os cuidados quanto ao fornecimento de
de grãos da forragem produzida.
Em gado de leite, os baixos teores de silagem de sorgo é o mesmo seguido para
Essa constatação nos conduz ao ra- proteína na composição do leite de vacas bovinos leiteiros, especialmente quando da
ciocínio de que a panícula é a fração da alimentadas com silagem de sorgo possi- utilização de silagens de sorgo para animais
planta de sorgo que mais pode influenciar velmente podem estar relacionados com o de elevado potencial produtivo.
positivamente a qualidade de sua silagem valor energético da silagem. Segundo Le Com o objetivo de avaliar o resultado
(NEWMAN et al., 2002). Assim, quanto Gall et al. (1994), esse problema deve- se econômico da terminação de novilhos em
maior a porcentagem de panícula na estru- à dificuldade dos microrganismos do rú- confinamento, alimentados com diferentes
tura da planta inteira, teoricamente, melhor men em atacar os grãos de sorgo, o que silagens de sorgo, caráter forrageiro e du-
o valor nutricional dessa silagem. Contudo, resulta em escape de energia disponível. plo propósito, Neumann et al. (2002) con-
componentes como as folhas, o colmo, Há que se considerar também a deficiência cluíram que, apesar de apresentar menor
bem como seus constituintes químicos não mecânica das ensiladeiras comerciais em custo de produção, os sorgos forrageiros
podem passar despercebidos. macerar os grãos de sorgo, o que contribui determinam menor retorno econômico
Para Brondani, Alves Filho e Bernardes para facilitar o ataque desses grãos pelos comparados a sorgo duplo propósito.
(2000), há necessidade de seleção de mate- microrganismos ruminais. Nesses casos, Silva et al. (1999) não observaram va-
riais que proporcionem alta produção de MS, os grãos de sorgo podem passar intactos riação na receita líquida/cabeça em animais
visando reduzir os custos de produção de si- pelo trato gastrointestinal dos animais e mestiços alimentados em confinamento
lagem. Porém, esses autores consideram que sair inteiros nas fezes (Fig. 5). Na prática, com silagem de sorgo granífero (BR-303)
os materiais melhorados devam apresentar uma alternativa viável sugerida seria ensi- ou duplo propósito (AG-2006).
considerável valor nutritivo. O valor nutritivo
da silagem de sorgo geralmente equivale a
QUADRO 5 - Desempenho de vacas leiteiras alimentadas com silagens de sorgo granífero de
85%-90% da silagem de milho, havendo, no sorgo sacarino e de milho
entanto, referências mais elásticas, da ordem Item SM EP SG EP SS EP
de 72% a 92% (VALENTE, 1992).
Produção de leite total (kg/dia) 28,81 a 0,33 24,69 b 0,37 24,14 b 0,39
A qualidade nutricional da planta inteira
e, consequentemente, a silagem produzida Produção leite corrigida (4% de gordura) 30,65 a 0,51 25,63 b 0,37 26,10 b 0,46

a partir desta, dita o desempenho animal. Gordura do leite (%) 4,39 b 0,06 4,31 b 0,06 4,56 a 0,06
Muitos ensaios que objetivam avaliar o Proteína do leite (%) 3,25 a 0,02 2,97 c 0,03 3,05 b 0,02
desempenho de ruminantes sob dietas à
Peso vivo médio bruto (kg) 642,81 a 11,54 609,13 c 6,75 625,44 b 11,97
base de silagem de sorgo são executados, FONTE: Dados básicos: Nascimento et al. (2008).
tendo a silagem de milho como testemunha. NOTA: Médias na linha seguidas de letras iguais, não diferem entre si pelo teste de Tukey
Em um trabalho clássico que objetiva a 5% de probabilidade.
SM - Silagem de milho; SG - Silagem de sorgo granífero; SS - Silagem de sorgo sa-
diferenciar os efeitos das silagens de sorgo
carino; EP - Erro-padrão.
granífero, de sorgo sacarino e de milho
sobre o desempenho de vacas leiteiras de
alta produção, Nascimento et al. (2008) QUADRO 6 - Consumo, produção e composição do leite de vacas leiteiras de alta produção
alimentadas com silagem de sorgo granífero ou silagem de milho
encontraram maior produção de leite total
e maior porcentual de proteína no leite Item SS SM EP

entre as vacas alimentadas com silagem de Consumo de MS (kg/dia) 25,86 25,53 -


milho. Esses mesmos autores verificaram Produção de leite total (kg/dia) 36,86 36,56 0,74
maior porcentual de gordura no leite do Gordura (%) 3,23 3,16 0,06
grupo de vacas alimentadas com silagem Proteína (%) 3,10 3,07 0,04
de sorgo sacarino (Quadro 5).
Lactose (%) 4,75 5,06 0,08
Em contrapartida, Nichols et al. FONTE: Dados básicos: Nichols et al. (1998).
(1998), ao avaliarem o valor nutricional NOTA: SS - Silagem de sorgo; SM - Silagem de milho; EP - Erro-padrão; MS - Matéria seca.

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Conservação de alimentos para bovinos 25

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A silagem de sorgo pode ser utilizada
com segurança em variados sistemas pro-
dutivos, como opção forrageira econômica,
viável e de excelente qualidade nutricional,
desde que atendidos os critérios técnicos
de produção e utilização. Em casos espe-
cíficos, complementa estrategicamente
sistemas que utilizam, majoritariamente,
silagem de milho como volumoso base,
como é o caso de sistemas de produção de
leite de elevada tecnificação.
A escolha de um bom híbrido de sorgo
para silagem e do seu tipo comercial deve
levar em consideração a busca por elevada
produção de MS digestível, boa produtivi-

Fotos: Adriano de Souza Guimarães


dade de grãos e tolerância ao acamamento
e fotoperíodo, este último em plantios mais
tardios e/ou safrinha.
Fica evidente, portanto, o potencial
do sorgo como forrageira nobre para a
produção de silagem de qualidade, vi-
sando otimizar o desempenho de animais
ruminantes.
Figura 5 - Grãos de sorgo inteiros em fezes de bovinos
AGRADECIMENTO

Já Duarte et al. (1994) verificaram sua viabilização econômica praticamente À Fundação de Amparo à Pesquisa do
maior retorno econômico na terminação é correta em propriedades com limitação Estado de Minas Gerais (Fapemig), pelas
de animais alimentados em confinamento de área destinada à produção de forragem bolsas concedidas.
com silagem de milho, de sorgo granífero e conservada (NEUMANN et al., 2002).
de sorgo duplo propósito, respectivamente, Com relação à influência dos taninos REFERÊNCIAS
em relação à silagem de sorgo forrageiro. Já sob o desempenho animal, Teixeira (2001) ALBUQUERQUE, C. J. B et al. Espaçamento
Silva et al. (1999) não observaram variação cita que não há problemas para bovinos, entre fileiras e densidade de semeadura do
na receita líquida/cabeça em animais mesti- com exceção dos bezerros jovens, quando sorgo forrageiro para a região norte de Mi-
ços alimentados em confinamento com sila- ainda não possuem rúmen funcional. nas Gerais. Ciência e Agrotecnologia, La-
gem de sorgo granífero ou duplo propósito. No processo de ensilagem da planta vras, v.35, n.3, p.494-501, maio/jun. 2011.

É importante salientar que, embora de sorgo, Cummins (1971) relatou a di- ALBUQUERQUE, C.J.B et al. Sorgo sacarino
os materiais forrageiros de alta produção minuição das concentrações de tanino no em diferentes arranjos de plantas e locali-
de massa ensilável por unidade de área material como consequência dos processos dades de Minas Gerais, Brasil. Revista Bra-
sileira de Milho e Sorgo, Sete Lagoas, v.11,
apresentem menor custo produtivo para fermentativos. Gonçalves et al. (1998) ob-
n.1, p. 69-85, 2012.
produção de silagem, sua utilização torna-se servaram redução significativa nas concen-
ALCANTARA H. P. et al. Consórcio sorgo-
limitada em sistemas intensivos de termina- trações desse composto com o avançar do
soja: XVI - cortes, épocas de semeadura e
ção de bovinos de corte, por causa da me- tempo de ensilagem, fato pronunciado nos
cultivares de soja na produção de forragem.
nor concentração de nutrientes digestíveis híbridos com maiores teores de tanino. Há Revista Ciência Agronômica, Fortaleza,
por quilo de MS produzida. Contudo, no que se ressaltar, ainda, que muitas das v.42, n. 1, p. 116-124, jan./mar., 2011.
segmento pecuário do País, esse material sementes disponibilizadas ao produtor são
ALMEIDA FILHO, S.L. de et al. Característi-
genético não deve ser excluído do mercado compostas por sorgo de baixa concentração cas agronômicas de cultivares de milho (Zea
consumidor, visto que mais estudos de- de tanino, o que evidencia os progressos mays L.) e qualidade dos componentes e da
vem ser realizados sobre sua performance obtidos pela pesquisa no melhoramento silagem. Revista Brasileira de Zootecnia,
produtiva e qualitativa. De igual maneira, genético dessa cultura. Viçosa, MG, v.28, n.1, p.7-13, jan./fev. 1999.

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Conservação de alimentos para bovinos 27

Silagem de milho reidratado na alimentação


do gado leiteiro
Marcos Neves Pereira 1
Renata Apocalypse Nogueira Pereira 2
Luciene Lignani Bitencourt 3
Gilson Sebastião Dias Júnior 4
Naina Magalhães Lopes 5
Ozana de Fátima Zacaroni 6

Resumo - A silagem de milho reidratado é uma forma de armazenamento do grão na fa-


zenda e pode aumentar a digestibilidade do amido. Como os híbridos de milho brasileiros
têm baixa digestibilidade, por ter endosperma de alta vitreosidade, essa tecnologia pode au-
mentar a eficiência alimentar dos rebanhos leiteiros, já que o milho é o principal concentrado
energético no País. Durante a ensilagem do grão, ocorre a degradação de prolaminas que
envolvem os grânulos de amido no endosperma, aumentando o acesso enzimático ao amido
no trato digestivo, consequentemente a proporção da digestão que ocorre no rúmen. Maior
digestão ruminal do amido pode aumentar a síntese de proteína microbiana, a eficiência de
utilização do nitrogênio dietético, o consumo de matéria orgânica (MO) digestível e a relação
entre o leite produzido e o alimento consumido. É recomendada a hidratação do milho ma-
duro para obter teor de umidade do ensilado superior a 30% da matéria natural (MN), por
mistura vigorosa da água ao milho finamente moído. Como a ensilagem do milho maduro
é uma operação programável, a tecnologia pode ser adotada tanto por pequenos como por
grandes produtores de leite, já que o moinho pode ter uso comunitário. A técnica pode au-
mentar a eficiência de uso da mão de obra e induzir ganho financeiro pela possibilidade de
armazenamento do milho na fazenda e pela obtenção de ganho em digestibilidade do amido,
o que é capaz de reduzir o uso de alimentos concentrados por unidade de leite produzido.

Palavras-chave: Ensilagem. Endosperma. Vitreosidade. Milho farináceo. Milho duro.


Nutrição animal.

INTRODUÇÃO centrado energético. Nos Estados Unidos, enquanto o milho cultivado no Brasil é pre-
o milho cultivado é predominantemente dominantemente vítreo (Duro ou flint). Hí-
Um desafio na produção de bovinos
leiteiros no Brasil é a obtenção de alta farináceo (macio ou dentado, apesar do bridos duros são menos digestíveis do que
eficiência alimentar e desempenho animal escore de indentação não ser uma medida híbridos macios (CORREA et al., 2002).
em dietas contendo alto teor de milho com perfeita da textura do endosperma no grão) Híbridos duros têm alta vitreosidade, ou
textura dura do endosperma como con- (COORS; CARTER; HUNTER, 1994), seja, têm mais endosperma vítreo como

1
Médico-Veterinário, Ph. D., Prof. Associado UFLA - Depto. Zootecnia/Bolsista CNPq, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio
eletrônico: mpereira@dzo.ufla.br
2
Zootecnista, D.Sc., Pesq. EPAMIG Sul de Minas, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: renata.nogueira@epamig.br
3
Médica-Veterinária, D.Sc., Profa IF Espírito Santo - Campus Colatina, CEP 29700-600 Colatina-Es. Correio eletrônico: luciene.lignani@ifes.edu.br
4
Médico-Veterinário, doutorando UFLA - Depto. Medicina Veterinária, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
gsebastiaodiasjunior@yahoo.com.br
5
Médica-Veterinária, Bolsista CNPq/Doutoranda UFLA - Depto. Zootecnia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
nainamlopes@yahoo.com.br
6
Médica-Veterinária, Doutoranda UFLA, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: ozacaroni@hotmail.com

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28 Conservação de alimentos para bovinos

proporção do endosperma total, sendo em prolaminas localizam-se exteriormente Correa et al. (2002) determinaram a
consequência mais densos do que híbridos aos grânulos de amido no endosperma relação entre a vitreosidade e a degradação
farináceos. (MU-FORSTER; WASSERMAN, 1998). ruminal in situ do amido de grãos de
Como o milho brasileiro é de baixa Em milho de endosperma farináceo os milho brasileiros e norte-americanos, no
digestibilidade, o processamento dos grãos grânulos de amido são esferas dispersas estádio maduro. O teor de endosperma
pode resultar em ganho no desempenho no endosperma, enquanto que em vítreo no endosperma total dos cinco
animal capaz de compensar o custo do endosperma vítreo os grânulos de amido híbridos brasileiros foi cerca de 30
processamento. O processamento do mi- são helicoidais e adensados (DAVIDE, unidades porcentuais maiores que o teor
lho, com o intuito de aumentar seu valor 2009). Como a ligação entre os grânulos dos 14 híbridos norte-americanos. A
energético, objetiva aumentar a digestibi- de amido e as prolaminas é muito forte no degradabilidade efetiva do amido no rúmen
lidade do amido no rúmen e/ou no trato endosperma vítreo, nem a água penetra foi 77,4% nos híbridos norte-americanos e
degestivo total. Os processamentos mais entre os grânulos, nem as amilases e as 48,5% nos brasileiros. Vale ressaltar que,
utilizados são a moagem, os tratamentos maltases, necessárias para que ocorra a dentre os híbridos brasileiros avaliados,
térmicos como a floculação e a extrusão, quebra enzimática do amido à glicose no existia o material mais farináceo disponível
a hidratação e a ensilagem. A silagem de rúmen ou nos intestinos.
no mercado de sementes, além de materiais
grãos com alto teor de umidade em estádio As prolaminas do milho (zeína) con-
de alta vitreosidade. O híbrido brasileiro
sistem de quatro subunidades: α, β, γ, δ
de maturação ao redor da linha negra, co- mais digestível foi pior que o híbrido norte-
(BUCHANAN; GRUISSEM; JONES,
nhecida como silagem de milho úmido, ou, americano menos digestível.
2000). Com o avançar da maturidade da
alternativamente, silagem de grãos madu- Pereira et al. (2004) avaliaram a degra-
planta, ocorre perda no teor de umidade
ros reidratados, são processos executáveis dabilidade ruminal de grãos de dois híbri-
do grão e aumento no conteúdo de pro-
na fazenda, o que viabiliza maior atuação dos brasileiros de milho macio e de dois hí-
laminas, encapsulando o amido em uma
do produtor sobre o custo final do alimento. bridos de milho duro, colhidos nos estádios
matriz hidrofóbica de amido e de proteína.
A silagem de milho reidratado consiste, de maturação dentado inicial, metade da
A extensiva ligação entre as subclasses de
basicamente, na hidratação do grão maduro linha do leite e linha negra. A degradação
zeína produz o endosperma vítreo.
moído, o que propicia sua fermentação e ruminal da matéria seca (MS) em 24 horas,
armazenamento como silagem. TEXTURA DO ENDOSPERMA, foi de 63,3% nos grãos macios e 52,4%
MATURIDADE E nos duros. Consequentemente, o resíduo
ESTRUTURA DO GRÃO DE DIGESTIBILIDADE DO AMIDO após 72 horas de incubação foi menor nos
MILHO DO MILHO híbridos macios (7,6%) do que nos duros
A semente do milho é composta pelo Quanto maior a vitreosidade do grão, (15,6%). A degradabilidade ruminal dos
pericarpo (camada de fibra que envolve a menor a digestibilidade do amido no híbridos foi similar nos estádios dentado
semente), pelo gérmen (ou embrião, rico rúmen. Philippeau e Michalet-Doureau inicial e metade da linha do leite. Contu-
em proteína e óleo) e pelo endosperma. (1997) avaliaram a vitreosidade de milho do, redução acentuada na degradabilidade
O endosperma representa de 75% a macio e duro, colhido em diferentes está- ruminal ocorreu quando o híbrido passou
80% do peso da semente e é constituído, dios de maturação, e a degradação ruminal do estádio de metade da linha do leite para
principalmente, por amido e proteínas. in situ do amido nos grãos moídos. A vitre- o de linha negra. O efeito negativo da ma-
Dentre as proteínas do endosperma osidade dos grãos aumentou com o avanço turidade sobre a degradabilidade ruminal
têm-se albuminas, globulinas, glutelinas da maturidade e, independente do genótipo foi mais acentuado nos híbridos duros do
e prolaminas, sendo estas últimas de utilizado, explicou 86% da variação na que nos macios.
importância na nutrição de ruminantes. degradabilidade ruminal do amido. A
Prolaminas são proteínas ricas no vitreosidade foi significativamente menor EFEITO DA ENSILAGEM
aminoácido prolina, com características no genótipo macio, quando comparado SOBRE A DIGESTIBILIDADE
hidrofóbicas, sendo de baixa solubilidade DO MILHO
ao genótipo de endosperma duro. Esses
em água ou fluido ruminal. Estão autores concluíram que a degradação No armazenamento do milho por
associadas ao amido nos grãos de todos ruminal do amido de grãos de milho pode ensilagem, ocorre proteólise crônica,
os cereais e têm nomes específicos, como variar em função do genótipo e do ponto de como resultado do processo fermentativo,
a gliadina do trigo, a kafirina do sorgo e a maturação. Da mesma forma, Philippeau et reduzindo o teor de prolamina do grão.
zeína do milho, por exemplo. A zeína do al. (1999) verificaram que o milho macio Quanto maior o tempo de armazenamento
milho representa de 50% a 60% da proteína apresentou maior degradação ruminal do no silo, maior o efeito da ensilagem sobre
no grão (HAMAKER et al., 1995). As amido que o milho duro (61,9% vs. 46,2%). a digestibilidade do amido. Ferraretto,
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Conservação de alimentos para bovinos 29

Shaver e Hoffman (2013) estimaram que a culas alimentares necessitam ser hidratadas sua desorganização (THEURER et al.,
máxima digestibilidade ruminal do amido no trato digestivo. Pereira et al. (2004) ob- 1999).
em silagem de milho úmido é obtida após servaram que o aumento do período entre o Em uma revisão sobre os efeitos do
oito meses de armazenamento. Esse fato plantio e a colheita correlacionou-se de for- processamento do grão sobre a utilização
explica o ganho em digestibilidade que ma linear e positiva com a vitreosidade de do amido em ruminantes, Theurer et al.
pode ocorrer em silagens de milho arma- grãos de híbridos de milho duros e macios, (1999) concluíram que o processamento
zenadas por longo período, relativamente à apesar da maior vitreosidade dos duros em aumentou a degradação ruminal do ami-
digestibilidade do amido após a colheita do todos os estádios de maturação avaliados. do do milho e do sorgo, aumentando a
grão, por facilitar o acesso microbiano aos O relacionamento entre a idade da planta ingestão de energia por vacas em lacta-
grânulos de amido do endosperma. Ácidos e o teor de MS do grão também foi linear ção, promovendo também o aumento nas
resultantes da fermentação podem solubi- e positivo (quanto maior a idade, menor o produções de leite e de proteína. O maior
lizar as hidrofóbicas zeínas, facilitando a teor de umidade), sendo que híbridos duros desempenho das vacas em lactação foi
sua proteólise por enzimas microbianas também tiveram maior teor de MS que os relacionado ao aumento da digestibilidade
(BARON; STEVENSON; BUCHANAN- macios em todas as maturidades. Entre- total do amido, por causa da maior propor-
SMITH, 1986). Hoffman et al. (2011) tanto, distintamente destes relacionados ção do amido que é digerido no rúmen e
relataram que a ensilagem por 240 dias, de lineares, o relacionamento entre a idade do aumento na digestibilidade da menor
grãos de dois híbridos de milho colhidos da planta e a digestibilidade do grão teve quantidade de amido que chega ao intes-
com 25,7% e 29,3% de umidade, reduziu natureza quadrática. Perda acentuada de tino. A quantidade de proteína microbiana
digestibilidade foi observada no estádio de que chegou ao intestino também aumentou,
todas as subunidades de zeínas no endos-
maturação de linha negra, sugerindo que a
perma, exceto as 2α e a 1δ, e aumentou com o fornecimento de grãos processados.
maior vitreosidade do grão, associada ao A digestibilidade do amido no intestino
indicadores de degradabilidade proteica. A
menor teor de umidade nessa maturidade, delgado correlacionou-se positivamente
ensilagem reduziu as subunidades de zeína
teve ação sinérgica negativa sobre a degra-
γ, principais responsáveis pelas ligações com a digestibilidade total do amido e com
dabilidade ruminal do amido.
cruzadas na matriz amido-proteína. a produção de leite. Da mesma forma, a
O ganho em digestibilidade in vitro digestibilidade ruminal teve correlação
PROCESSAMENTO DE GRÃOS
induzido pela ensilagem do milho maduro E DIGESTIBILIDADE DO positiva com a digestibilidade total e com
reidratado, proporcionalmente ao mesmo AMIDO a proteína do leite.
híbrido em estádio maduro finamente mo- Os maiores determinantes da digestibi-
A degradação ruminal do amido é
ído, foi maior em milho de textura dura lidade do amido do milho são o tamanho
capaz de influenciar a síntese de proteína
do que em milho farináceo (ANDRADE de partícula do grão, o teor de umidade e a
microbiana. Aumento na digestibilidade
FILHO et al., 2010a). A degradabilidade vitreosidade do endosperma. Esses fatores
ruminal do amido promove maior eficiên-
ruminal do híbrido macio moído foi 64,2%, são considerados pelo sistema de avaliação
cia de utilização de nitrogênio no rúmen e
enquanto foi 77,5% no reidratado ensilado, de grãos da Universidade do Wisconsin
aumento no fluxo de proteína microbiana
um ganho de 13,3 unidades porcentu- (HOFFMAN; SHAVER, 2009). Esse sis-
para o duodeno (THEURER et al., 1999).
ais. No milho duro, os mesmos valores tema foi proposto como uma ferramenta
Os processamentos usados nos grãos ricos
foram 54,3% e 71,6%, respectivamente, para classificar grãos de milho quanto ao
em amido normalmente visam aumentar
um ganho de 17,3 unidades porcentuais. seu potencial digestível. O aumento no
a degradação ruminal, sendo que, geral-
Apesar de o milho farináceo ter sido mais tamanho de partícula do grão reduz mais
mente, a magnitude da alteração promo-
digestível no rúmen que o milho duro, a a digestibilidade do amido no trato diges-
vida pelo processamento é inversamente
digestibilidade desse ensilado foi maior proporcional à digestibilidade do grão tivo total de grãos de milho com textura
que a do farináceo finamente moído. Esse não processado. Assim, o grão que mais dura (milho com alto teor de prolamina),
resultado enfatiza o potencial da ensilagem responde ao processamento é o de sorgo, do que em milho com textura macia do
de grãos como forma de atuar sobre a bai- seguido pelo de milho e depois pelo de endosperma.
xa digestibilidade ruminal do amido nos outros cereais como a cevada, que tem
híbridos de milho brasileiros. menor resposta por já ter degradação alta FERMENTABILIDADE DO
A hidratação e posterior ensilagem do AMIDO E CONSUMO DE
na forma não processada. O processamento
MATÉRIA SECA
milho, além de reduzir o teor de prolamina aumenta a digestibilidade do amido por
do endosperma, também aumenta o teor de facilitar a adesão bacteriana ao grânulo de Em dietas formuladas com baixo teor
umidade do alimento relativamente ao grão amido (HUNTINGTON, 1997) e também de fibra em detergente neutro (FDN),
moído. Isto pode reduzir o tempo entre a por romper a matriz proteica que circunda oriunda de forragens, a digestibilidade
ingestão e o início da digestão, já que partí- esses grânulos no endosperma, e promover do milho pode determinar o consumo de
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alimentos, já que nesse tipo de dieta o inibidores da motilidade ruminal (LEEK, estádio maduro, moído em peneira com
consumo é regulável pela relação entre 1986). A osmolaridade do fluido ruminal crivo de 2 mm, reidratado e ensilado. O
a demanda de energia do animal e a con- também é determinante do consumo em período de ensilagem, compreendido entre
centração de energia da dieta (MERTENS, ruminantes (ALLEN, 2000). o fechamento do silo e a abertura realizada
1992). Pelo mecanismo metabólico, no primeiro dia do experimento, foi de 327
dietas energeticamente pouco densas vão DESEMPENHO DE VACAS dias. O teor de umidade na silagem foi de
requerer maior consumo para a obtenção LEITEIRAS QUE CONSOMEM 43,7% da matéria natural (MN). O mesmo
do mesmo desempenho animal, que dietas GRÃO DE MILHO ENSILADO híbrido foi moído no mesmo moinho, usa-
energeticamente mais densas. Híbridos de Costa (2008) avaliou o efeito da prote- do peneira de 2 mm no tratamento milho
milho com maior proporção de endosperma ólise durante a ensilagem, como forma de finamente moído. A composição média das
macio resultaram em melhor conversão contrapor o efeito negativo do endosperma dietas foi (% da MS): 41,5% de silagem
alimentar que híbridos duros, quando vítreo sobre a digestibilidade do milho. Foi de milho, 21,5% de farelo de soja, 17,5%
ofertados a garrotes alimentados com dietas avaliado o desempenho de vacas leiteiras, de polpa cítrica, 17,3% de proteína bruta
contendo 66% de milho maduro esmagado, que consumiram dietas que continham (PB) e 30,9% de FDN. O teor dietético de
não sendo observado efeito do tipo de híbri- polpa cítrica e dois teores de silagem de silagem de milho reidratado foi 16,7%, de
do sobre o ganho de peso diário (GPD), em milho úmido de textura dura (68,2% de vi- milho moído, 17,4%, e de milho extrusado,
média de 1,74 kg (JAEGER et al., 2006). treosidade) ou macia (48,5% de vitreosida- 17,7%. A produção de leite foi 33,3 kg/
A queda de consumo observada, quan- de). Os tratamentos foram: milho duro ou dia, não variando significativamente entre
do se aumenta a fermentabilidade ruminal macio ensilados no estádio de maturação tratamentos. O milho extrusado deprimiu a
do amido, pode ser explicada pela teoria de linha negra, em arranjo fatorial com 9% secreção de energia e de gordura no leite e a
da oxidação hepática – hepatic oxidation ou 18% de milho na dieta. O teor dietético ingestão de MS e tendeu a aumentar o teor
theory (HOT) (ALLEN; BRADFORD; de polpa cítrica foi 16,2% ou 25,6%, nas de proteína do leite. Houve tendência de
OBA, 2009). A maior fermentabilidade dietas de alto ou baixo milho, respectiva- aumento na digestibilidade da MO no tra-
do amido da dieta aumenta a produção de mente. As dietas também continham 33,9% tamento com silagem de milho reidratado.
ácidos graxos voláteis (AGV) por unidade de silagem de milho e 15,6% de feno de A síntese relativa de proteína microbiana
de matéria orgânica (MO) fermentada no Tifton. Doze vacas Holandesas receberam no rúmen foi maior, e o teor de nitrogênio
rúmen e a proporção de propionato dentre os quatro tratamentos em quadrados latinos ureico no leite foi menor no tratamento
os AGV absorvidos. Se o fluxo de propio- 4x4. As dietas de alto milho diminuíram com milho reidratado, sugerindo que a
nato para o fígado ultrapassa a capacidade o teor de gordura do leite de 3,38% para degradação ruminal do amido foi mais
gliconeogênica, o propionato será oxidado 3,26% e aumentaram o teor de proteína sincrônica à degradação da proteína dieté-
(BRADFORD; ALLEN, 2007). O propio- de 2,99% para 3,03% e a relação entre a tica nesse tratamento. A ensilagem do grão
nato pode ser oxidado no ciclo do ácido produção de leite e o consumo. Aumento na aparentemente aumentou a proporção do
tricarboxílico (AIELLO; ARMENTANO, inclusão dietética de milho induziu maior amido dietético digerido no rúmen compa-
1987), bem como estimular a oxidação de queda no pH ruminal na dieta com milho rativamente ao grão finamente moído, sem
acetil-CoA, derivado de outros metabólitos macio do que na dieta com milho duro. O afetar a digestibilidade do amido no trato
(ALLEN, 2000). A oxidação do propiona- milho macio aumentou o consumo diário digestivo total. Tanto a extrusão quanto a
to aumenta o status energético hepático, de MO digestível de 11,7 kg para 12,3 kg. A ensilagem tenderam a aumentar a relação
gerando um sinal de saciedade ao cérebro resposta em parâmetros digestivos sugere entre a produção de leite e o consumo,
para terminar a refeição, capaz de induzir que a ensilagem reduziu, mas não eliminou resposta típica ao processamento de grãos
queda no consumo diário de MS. totalmente, o efeito negativo da textura em dietas para ruminantes.
Além do mecanismo hepático, o pro- dura do endosperma sobre a digestibilidade Recentemente, Ferraretto, Crump
pionato também pode ter efeito hipofágico do milho. Ensilar milho macio é desejável. e Shaver (2013) realizaram uma meta-
por mecanismo ruminal. Baile (1971) Em outro trabalho, Bitencourt (2012) análise da literatura sobre processamento
propôs que receptores ruminais para pro- avaliou o efeito da reidratação e ensilagem de milho para vacas leiteiras. Esses autores
pionato são capazes de regular a ingestão de milho duro sobre o desempenho de avaliaram 414 tratamentos oriundos de
de alimentos, pois infusões ruminais de vacas leiteiras. Quinze vacas receberam 102 artigos publicados entre 2000 e 2011.
propionato em caprinos e ovinos redu- uma sequência de três tratamentos, em qua- O teor médio e o desvio padrão do amido
ziram o consumo, enquanto infusões na drados latinos 3x3. Os tratamentos foram: nas dietas experimentais foram 27,0% ±
veia jugular não tiveram o mesmo efeito. milho finamente moído, milho reidratado 6,1%; o teor de forragem 47,7% ± 8,1% e
Receptores químicos sensíveis a AGV es- e ensilado ou milho extrusado. Um híbrido o teor de FDN 31,2% ± 4,8%. O consumo
tão presentes no epitélio do rúmen, sendo de milho com textura dura foi colhido em foi reduzido de 23,6 kg/dia, nas dietas com
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milho maduro moído, para 22,4 kg/dia, nas maior perda na colheita, secagem e arma- dade do grão úmido não permite a adoção
dietas com silagem de milho úmido. O teor zenagem prolongada em silos graneleiros de moagem fina, enquanto o tamanho mé-
de gordura no leite também foi reduzido de do que grãos duros. dio de partícula pode ser substancialmente
3,59% para 3,41%. Não se observou efeito Na silagem de milho úmido, a colheita reduzido na silagem de milho reidratado.
sobre o teor de proteína. A relação entre a do grão em estádio de maturação em torno Apesar de uma comparação direta entre si-
produção de leite e o consumo foi aumen- da linha negra, quando esse grão tem o lagem de milho úmido e a de reidratado não
tada pela ensilagem, resultado do menor teor de umidade entre 35% e 40%, pode ter sido realizada em pesquisa, a experiên-
consumo em produção similar de leite ser problemática. O pequeno intervalo cia tem demonstrado que esses alimentos
(35,7 kg/dia). A digestibilidade do amido para colheita, normalmente realizada no comportam-se de forma similar. No caso,
no trato digestivo total foi 92,0% no milho período chuvoso do ano, aumenta a chance a menor digestibilidade do grão maduro,
moído e 94,2% no milho úmido ensilado, de insucesso no processo, por causa da comparativamente ao grão na linha negra,
enquanto a estimativa da proporção do maturação excessiva e da consequente é compensada pela moagem mais fina do
amido ingerido sendo degradado no rúmen perda de umidade dos grãos. Nesses casos, primeiro, resultando em fermentabilidade
foi 53,5% e 64,1%, respectivamente. Mes- a hidratação parcial pode ser recomendada, ruminal aparentemente similar.
mo nesses trabalhos, com predominância com o intuito de melhorar o perfil fermen- Uma prática fundamental para a qua-
de milho macio, a ensilagem aumentou a tativo e reduzir o aquecimento excessivo lidade da silagem de milho reidratado é a
fermentabilidade do amido do milho no dos grãos no silo, um processo similar ao homogeneização da água ao grão moído.
rúmen e melhorou a eficiência alimentar. da ensilagem de milho reidratado. A prática Esse processo pode ser realizado por meio
da reidratação e ensilagem do grão em de uma adaptação de canos ao moinho para
PRÁTICAS PARA CONFECÇÃO estádio maduro pode reduzir esses riscos hidratação simultânea à moagem próxima
DA SILAGEM DE MILHO inerentes à ensilagem do milho úmido. ao silo (Fig. 1), por mistura da água ao grão
REIDRATADO A reidratação e a ensilagem podem já triturado em um vagão misturador ou por
A ensilagem do grão de milho (úmido beneficiar produtores que não possuem adição de água a uma rosca sem-fim após a
ou reidratado) apresenta vantagens ope- equipamentos próprios ou arrendados moagem. A adaptação no moinho consiste
racionais relativamente ao uso de milho para a colheita do milho no ponto de ma- em passar canos perfurados imediatamente
maduro moído. A ensilagem, além de turação em torno da linha negra. Também abaixo da peneira do equipamento. Dessa
aumentar a digestibilidade do amido, con- pode ser uma opção para aqueles que não maneira, o milho triturado é imediatamente
centra a operação de moagem, comparati- possuem área suficiente para plantar milho misturado à água e cai no silo bem homo-
vamente à sua prática usual, à medida que para a colheita de grãos, pois possibilita a geneizado. Caso a água seja incorporada
mais grãos são necessários para alimentar compra do grão maduro para ensilagem. ao milho moído por mistura não vigorosa,
os animais, concentrando também (e nor- A compra do milho no período pós-safra a hidratação do grão não será perfeita, e
malmente reduzindo) o uso de mão de obra. normalmente resulta em ganho financeiro, pode resultar em perda do ensilado por
A ensilagem elimina custos de transporte relativamente à compra de milho maduro crescimento de fungos.
e de armazenamento de grãos em silos ao longo do ano, apesar da necessidade de Enfatizar a importância da incorpo-
comerciais, já que propicia o armazena- capital para compra em alta escala antes da ração perfeita da água ao milho moído é
mento na fazenda, sem a necessidade de venda do leite, exigindo, portanto, melhor importante. Distintamente da prática de
investimento em silos graneleiros. Em planejamento financeiro. aspergir inoculantes em silagens, com
alguns casos, esses processos eliminam a Em grãos maduros a moagem pode ser o intuito de atuar positivamente sobre o
necessidade de venda do milho produzido mais fina que a realizada em grãos colhi- processo fermentativo no silo, a quantidade
na fazenda por ausência de estrutura ade- dos no estádio de linha negra, o que pode de água necessária para trazer o teor de
quada para um armazenamento eficiente fisicamente aumentar a digestibilidade do umidade do grão maduro para valores ade-
dos grãos ao longo do ano. A silagem de amido no rúmen. É pertinente a considera- quados à ensilagem é bem maior. Andrade
milho úmido também propicia a colheita ção do efeito da maturidade e do tamanho et al. (2010b) avaliaram a incorporação de
precoce do milho, o que pode ter vantagens de partícula do milho na silagem de milho água ao milho maduro, para obter teores
agronômicas, especialmente quando é ado- úmido comparativamente à silagem de mi- de umidade na silagem de 20%, 30% ou
tada a prática de descompactação do solo lho reidratado. Na silagem de milho úmido, 40% (Quadro 1). Os resultados sugerem,
antes do estabelecimento de uma cultura o grão é colhido no estádio de linha negra, com base no pH final das silagens, que
em sucessão ao milho no período menos quando o endosperma contém menor teor obter teores de umidade do ensilado acima
chuvoso do ano. Além disso, a ensilagem de prolamina e maior digestibilidade que o de 30% da MN foi adequado. Com base
propicia o cultivo de grãos macios de maior grão maduro utilizado na silagem de milho nesses dados, a recomendação prática
digestibilidade, já que estes podem ter reidratado. Entretanto, o alto teor de umi- tem sido acrescentar de 250 a 300 litros
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32 Conservação de alimentos para bovinos

comendável. Apesar da ensilagem ocorrer


mesmo sem o uso do inoculante, o alto
valor financeiro por unidade de milho en-
silado, comparativamente a uma silagem
de planta inteira, pode justificar a prática
de inoculação, como forma de garantir um
melhor perfil fermentativo e reduzir a perda
de alimento durante a estocagem no silo.
São práticas básicas para a ensilagem
e o uso da silagem de milho reidratado:
a) moer o milho finamente, para obter

Marcos Neves Pereira


a máxima digestibilidade;
b) incorporar água de forma uniforme,
para obter teor de umidade acima de
30% da MN (ideal 35% a 38% de
umidade) (>250 litros por tonelada
Figura 1 - Moinho adaptado com canos para propiciar a hidratação do milho durante a de grão);
moagem do grão maduro para ensilagem
c) usar inoculante bacteriano na ensi-
lagem;
QUADRO 1 - Efeito do teor de umidade e de inoculante bacteriano sobre a silagem de grãos d) encher o silo rapidamente e compac-
de milho colhido em estádio maduro, reidratado e ensilado tar bem;
Umidade Densidade Perda N-NH3 e) retirar camadas de, pelo menos,
Reconstituição Inoculante pH
(% da MN) (kg/m3) (% da MS) (% do N) 15 cm/dia ao descarregar (densidade
20 Sim 20,5 835,5 0,5 4,25 0,09 em torno de 900 kg/m3); estimar o
30 Sim 31,2 910,7 1,1 3,73 0,42 gasto diário para dimensionar os
silos;
40 Sim 41,5 972,5 1,2 3,69 0,62
f) realizar a abertura do silo alguns
20 Não 21,1 840,3 1,9 5,35 0,19
dias após a ensilagem e com au-
30 Não 31,7 914,7 1,8 3,98 0,60 mento no tempo de armazenamento
40 Não 40,9 973,2 1,7 3,80 0,66 ocorre ganho na digestibilidade.
FONTE: Andrade et al. (2010b).
NOTA: MN - Matéria natural; MS - Matéria seca; N-NH3 - Nitrogênio amoniacal; N - Nitrogênio CONSIDERAÇÕES FINAIS
A silagem de milho reidratado pode
de água por tonelada de milho com teor ser de pelo menos 15-20 cm da face, para ser adotada tanto por pequenos como por
de umidade ao redor de 12%. Ao longo do reduzir perdas por deterioração aeróbica grandes produtores de leite. A viabilidade
processo de moagem e incorporação da durante o descarregamento, recomenda-se de uso por pequenos produtores advém do
água é recomendável mensurar periodica- que silos de milho reidratado sejam me- fato de o momento da operação ser progra-
mente o teor de umidade do grão hidratado nores que silos utilizados para a forragem mável. Esta operação possibilita o uso do
e ajustar a vazão de água de acordo com de milho, já que a quantidade do alimento equipamento de moagem por vários pro-
a meta desejada. Na prática, isso pode ser fornecido por vaca é menor e a densidade dutores, o que viabiliza a compra conjunta
feito de forma simples por tostagem em da silagem é maior no reidratado. por fazendas, associações de produtores ou
frigideira de uma quantidade conhecida Simultaneamente à avaliação do teor cooperativas. A tecnologia possibilita a re-
de grãos, até que não ocorra mudança no mais adequado de umidade, foi avaliado dução do custo de alimentos concentrados
peso da amostra. o efeito da adição de inóculo contendo por unidade de leite produzido, em decor-
Em silagem de milho reidratado, a bactérias láticas homofermentativas à rência dos ganhos potenciais em eficiência
densidade é de 900 a 1000 kg/m3, quando silagem de milho reidratado (Quadro 1). de uso da mão de obra, estocagem e uso de
teores de umidade do ensilado atingem Os menores valores de perda de MS e milho cultivado na fazenda ou comprado
mais de 30% da MN (Quadro 1). Como a pH nas silagens inoculadas sugerem que em momento financeiramente vantajoso, e
profundidade de descarga de silagens deve o investimento nesse tipo de aditivo é re- pelo ganho em digestibilidade do amido.
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Conservação de alimentos para bovinos 33

A silagem de milho reidratado pode ter BITENCOURT, L.L. Substituição de milho HOFFMAN, P.C. et al. Influence of ensiling
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34 Conservação de alimentos para bovinos

Silagem de capim-elefante
Clenderson Corradi de Mattos Gonçalves 1
Adauto Ferreira Barcelos 2

Resumo - O capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum.) é uma planta originária da


África Tropical. Pela alta produção de matéria seca (MS) por área e pelo bom valor nutri-
cional, espalhou-se por todas as regiões do Brasil, principalmente por fazendas leiteiras.
A ensilagem do capim-elefante deve ser armazenada no momento em que apresentar alta
produção (período das águas), com bom valor nutricional, para ser utilizada no período
de escassez de forragens (período seco). Na melhor época da ensilagem, em que se pode
aliar produção de MS com qualidade, esse capim apresenta grande quantidade de água,
interferindo no perfil da fermentação e na qualidade da silagem. Algumas técnicas como
o emurchecimento, que é uma pré-secagem antes da ensilagem, e o uso de alguns aditivos
microbiológicos ou subprodutos farelados, que possuem a função de aumentar a MS e
agregar valor nutricional à silagem, podem melhorar a qualidade da silagem de capim-
elefante. Algumas pesquisas comprovaram a melhora no desempenho de bovinos que
receberam essas silagens. A silagem de capim-elefante, com uso de algumas tecnologias
e seguindo os processos corretos de ensilagem, pode ser considerada uma boa alternati-
va de volumoso para vacas de menores produções e animais solteiros em confinamento.
Palavras-chave: Silagem. Aditivo. Volumoso. Conservação de forragem. Nutrição animal.

INTRODUÇÃO Depois dessas culturas, o capim-elefante lidade de cultivo, boa aceitabilidade pelos
(Pennisetum purpureum Schum.) é uma animais e, quando novo, bom valor nutritivo
Um dos grandes problemas da pecu-
das forrageiras tropicais que apresentam (EVANGELISTA; LIMA, 2000).
ária que atingem quase todo o território
melhores características para ensilar (Fig. 1), É indiscutível que a silagem de milho é
brasileiro é a flutuação estacional do
por ter alta produtividade, elevado número melhor em qualidade, quando comparada
crescimento das forrageiras. Esta estacio- de variedades, grande adaptabilidade, faci- com outras tradicionais, mas a silagem de
nalidade de produção está relacionada com
a disponibilidade de luz (fotoperíodo), tem-
peratura (calor) e pluviosidade (umidade),
nos meses de primavera e verão, quando as
forrageiras chegam a produzir, anualmente,

Fotos: Clenderson Corradi de Mattos Gonçalves


80% de matéria seca (MS). Para manter
altas produções/animal, no período seco,
é necessário que o produtor armazene
alimento de qualidade e em quantidade,
para fornecer aos animais nesse período.
E a produção de silagem é uma tecnologia
considerada como boa alternativa.
As principais culturas plantadas para
ensilagem são milho e sorgo, as quais
apresentam silagens de boa qualidade e são A B
amplamente utilizadas nas propriedades. Figura 1 - Ensilagem de capim-elefante

Zootecnista, D.Sc., Pesq. EPAMIG Sul de Minas, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: clenderson@epamig.ufla.br
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Zootecnista, D.Sc., Pesq. EPAMIG Sul de Minas, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: adauto.barcelos@epamig.ufla.br
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capim surge como alternativa para pro- As variedades mais utilizadas e De acordo com o resultado da análise
priedades pequenas, com poucas áreas de recomendadas são as que apresentam de solo, pode-se calcular a calagem por
plantio, regiões com pouca chuva e para florescimento tardio, sem joçal, com col- meio da Equação:
animais de produções mais baixas. mos macios e tenros, onde se destacam a
‘Napier’, ‘Mineiro’, ‘Cameroon’, ‘Porto NC = (V2 - V1) . T ÷ 100 . PRNT
CAPIM-ELEFANTE Rico’, ‘Vrukwona’, ‘Taiwan A-148’,
‘Taiwan A-144’ e ‘Elefante- Roxo’. Estas
A espécie Pennisetum purpureum em que:
variedades são bastante semelhantes, sendo
Schum. é uma planta originária da África NC = necessidade de calcário (t/ha)
a diferenciação feita por diâmetro, dureza
(RODRIGUES; MONTEIRO; RODRI- para a profundidade de 0-20 cm;
e porte do colmo, comprimento, número
GUES, 2001), mais especificamente da V1 = saturação por bases atual (com
de folhas e época de florescimento. A
África Tropical, entre 10ºN e 20ºS de base na análise de solo);
composição química difere-se pouco entre
latitude, tendo sido descoberta em 1905 V2 = saturação por bases desejada;
as variedades, ocorrendo maior variação
pelo coronel Napier. Espalhou-se por toda T = CTC a pH 7,0;
a África e foi introduzida no Brasil, em com a idade da planta (EVANGELISTA;
PRNT = poder relativo de neutralização
1920, vindo de Cuba. Hoje, encontra-se ROCHA, 1997).
total do calcário (%).
difundida nas cinco regiões brasileiras, O plantio do capim-elefante deve ser
feito no verão, mais precisamente no Para capineiras, recomenda-se elevar
principalmente nas regiões leiteiras.
início das chuvas. A principal forma de a saturação por bases (V2) para 70%, e a
A capineira é sua forma de cultivo
plantio é feita por mudas (colmos) que calagem deve ser feita, como em outras
mais comum para suplementação volu-
mosa do rebanho leiteiro e constitui um devem ser de boa qualidade e estar com, culturas, 90 dias antes do plantio. Em solos
alimento tradicional como complemento aproximadamente, 100 dias de idade. que possuem baixos teores de magnésio
da pastagem no período chuvoso e um Essa planta, que vai ser usada como (Mg) deve-se usar o calcário dolomítico
dos principais volumosos utilizados no muda, deve apresentar gemas laterais (WERNER et al., 1996).
período seco nas pequenas propriedades bem protuberantes, porém, sem qualquer Em solos mais pobres em fósforo (P)
leiteiras. Sua utilização, no entanto, não é início de brotação. As melhores mudas e potássio (K), Cantarutti et al. (1999) re-
fácil em virtude da dificuldade de ajustar são obtidas dos 2/3 inferiores do colmo. comendam a aplicação no plantio de 100
o corte ao estádio de maturidade da planta, Em geral, utilizam-se em torno de 4 t de a 120 kg de P2O5 e 30 a 60 kg de K2O/ha.
apresentando, assim, valores nutritivos mudas para plantar 1 ha, ou seja, 1 ha for- Também relatam, que em solos pobres,
muito diferentes, e produções de leite nece mudas para 10 ha (EVANGELISTA; de Cerrado, devem-se aplicar 2 kg/ha
bastante variáveis. Quando se pensa em LIMA, 2000). de zinco (Zn) (10 kg/ha de sulfato de
cortes na época da seca, a situação torna- A forma mais prática de plantar uma zinco) e 20 a 40 kg/ha de enxofre (S). A
se ainda mais grave, pois nessa época o capineira de capim-elefante é por sulcos. cobertura será feita quando o capim estiver
capim-elefante apresenta alta quantidade Estes devem ter de 15 a 20 cm de profun- com cerca de 40 a 50 cm de altura. Nesse
de MS, mas baixo valor nutricional para didade e ser espaçados de 0,80 a 1,00 m momento, podem-se aplicar 200 kg de
os animais. Dessa forma, técnicas como entrelinhas. As mudas devem ser colocadas cloreto de potássio/hectare e 300 kg de
a ensilagem conservam um volumoso de inteiras no sulco, sem a necessidade de sulfato de amônio/hectare, distribuídos a
melhor qualidade para ser utilizado no desfolha. Duas mudas paralelas, de forma lanço sobre a cultura, em dias chuvosos.
período seco. que o pé de uma trespasse a ponta da outra, Nova adubação de cobertura deve ser
O capim-elefante é uma planta pere- melhoram a brotação e o perfilhamento por feita imediatamente após o primeiro corte,
ne, multiplicada de rizomas ou porções metro. Outro fator importante é que, se as colocando-se novamente 200 kg de cloreto
do colmo que, quando plantados, dão mudas forem cortadas no sulco, em frações de potássio/hectare e 300 kg de sulfato de
origem a novas plantas. Essa gramínea que contêm três a cinco gemas, o perfilha- amônio/hectare (EVANGELISTA; LIMA,
é cespitosa, atinge facilmente 3 a 4 m de mento também aumenta (EVANGELISTA; 2000). Quando se pensa em capineira
altura; porém, a maioria das variedades LIMA, 2000). de manejo intensivo, é importante que
deve ser cortada entre 1,3 e 1,8 m, ocasião Para conseguir boas produções por área, se façam análises de solos subsequentes
quando são mais tenras. É comum con- é importante um bom preparo do solo e para acompanhamento correto do sistema
seguir produções de 40 t de massa verde adubações adequadas para a cultura. Para e reposição de nutrientes em quantidades
por corte, quando a forrageira apresenta determinar as doses corretas de fertilizantes necessárias.
1,3 a 1,5 m de altura (EVANGELISTA; no plantio, é necessária uma análise de solo O valor nutricional do capim-elefante,
ROCHA, 1997). que expresse bem as características da área. segundo o National Research Council
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(2001), aos 30 dias de crescimento, cor- Além disso, o alto teor de umidade do Recomenda-se cortar o capim e deixá-lo
responde a 20% de MS, 70% de fibra de- capim-elefante na colheita proporciona exposto ao sol, por um período de 6 a 8
tergente neutro (FDN), 14,3% de lignina, significativas perdas de nutrientes, pelo horas, para posterior trituração (EVAN-
55% de nutrientes digestíveis totais (NDT), efluente (LOURES et al., 2003). GELISTA; LIMA, 2000). Essa prática
8,7% de proteína bruta (PB), 2,2% de Apesar de cada cultivar de capim- pode ser viável em pequenas proprie-
nitrogênio insolúvel em detergente ácido elefante apresentar idade de corte diferente dades que produzem menos de 100 t de
(NIDA, como % de PB), 8% de amido (% para ser colhida com melhor valor nutri- silagem/ano.
dos carboidratos não estruturais (CNE), cional, a relação haste/folha igual a 1 pode Ferrari Júnior e Lavezzo (2001) obser-
3% de extrato etéreo (EE) e 9% de matéria ser considerada um parâmetro balizador, varam que o emurchecimento do capim-
mineral (MM). Com 60 dias de crescimen- a qual será alcançada com a gramínea na elefante, cortado com 70 dias de cresci-
to, apresenta 23% de MS, 75% de FDN, faixa de 70 aos 90 dias de idade (LAVE- mento, por 8 horas ao sol, proporcionou
18,7% de lignina, 53% de NDT, 7,8% de ZZO, 1993). Vilela (1994), de acordo com aumento da MS na ordem de 9,09 unidades
PB, 2,2% de NIDA (% da PB), 8% de ami- as informações levantadas, concluiu que porcentuais, de 18,65% para 27,74% de
do (% dos CNE), 1% de EE e 6% de MM. o corte adequado seria quando o capim- MS, para o capim picado e emurchecido,
elefante estivesse com 70 dias de cresci- respectivamente. Notou-se que o capim
ENSILAGEM DO CAPIM- mento, o que equivaleria à altura de 1,90 m, cortado exposto ao sol antes da ensilagem
ELEFANTE tendo a forragem, nessa oportunidade, foi uma técnica eficiente para diminuir o
18,6% de MS. teor de umidade da forragem, quando este
As principais vantagens em produzir
Guim et al. (2002) obtiveram teores de apresenta-se no melhor período para corte,
silagem de capim-elefante estão relacio-
26% de MS e 5,53% de carboidratos solú- favorecendo o processo de ensilagem. Já
nadas com seu alto potencial de produção,
veis na MS para o capim-elefante, cortado Tosi et al. (1983) estudaram o potencial do
que pode chegar a 40 t de MS/ha, e bom
aos 96 dias de crescimento, para ensilagem. capim-elefante (Pennisetum purpureum
valor nutritivo, quando comparado a outras
Enquanto, Vasconcelos et al. (2001), ao Schum, cultivar Taiwan A-148), para en-
espécies. Além disso, trata-se de uma plan-
trabalharem com capim-elefante, encontra- silagem, obtendo uma silagem com alto
ta perene, que evita gastos com plantios
ram teor de 18,6% de MS para a forragem valor nutritivo, com 10,6% PB na MS.
anuais. Entretanto, na época em que possui
cortada entre 75 e 84 dias de idade. Já Destacaram, também, que a técnica do
melhor valor nutritivo para colheita, fatores
Rezende et al. (2002) obtiveram 17,5% de emurchamento aumentou o teor de MS de
indesejáveis, como alto teor de umidade, 15,5% para 20,7%, melhorando o processo
baixos teores de carboidratos solúveis e MS para o capim-elefante cortado aos 70
dias de crescimento. de ensilagem.
alta capacidade tampão, comprometem a No entanto, Vilela et al. (2001) estu-
qualidade da silagem, sendo necessário o Uma fermentação ideal no silo é es-
daram o capim-elefante ‘Paraíso’, cortado
emprego de algumas tecnologias para obter perada quando a forragem a ser ensilada
aos 90 dias de idade e emurchecido por
uma silagem de boa qualidade. apresenta de 28% a 34% de MS. Nestas
6 e 12 horas e, em seguida ensilado,
Essas características indesejáveis do condições, teores de carboidratos solú-
observaram que a forragem emurchecida
capim-elefante, na hora da ensilagem, veis de 6% a 8% seriam suficientes para
por 12 horas (31,2% de MS) apresentou
influenciam negativamente o processo desencadear fermentações láticas, desde
menores valores de carboidratos solúveis
fermentativo, impedindo o rápido decrés- que o poder tampão não seja elevado (LA-
e menor produção de ácido lático, amônia
cimo do pH, permitindo a ocorrência de VEZZO, 1985).
e menor valor de digestibilidade in vitro
fermentações secundárias indesejáveis e, Dessa forma, algumas tecnologias como
da MS (DIVMS).
consequentemente, prejudicando a qua- o emurchecimento do capim antes da pica-
Em propriedades que necessitam de
lidade do produto preservado (MCDO- gem e o uso de aditivos na ensilagem sur-
produções maiores que 100 t/ano e do uso
NALD, 1981; LAVEZZO, 1993). Dessa gem como alternativas para tentar melhorar de corte mecanizado, com colheitadeira
forma, a ensilagem de forrageiras com a qualidade da silagem de capim-elefante. tracionada por trator, que promove o corte
baixos teores de MS pode propiciar o e a picagem do material simultaneamente,
Emurchecimento do capim
desenvolvimento de bactérias do gênero esta técnica torna-se inviável.
Clostridium, que produz ácido butírico, O elevado teor de umidade da forra-
provocando a degradação de proteína e geira pode ser diminuído pela prática do Uso de aditivos no
ácido lático. A formação de ácido butí- emurchecimento, que é indicado como processo de ensilagem do
capim-elefante
rico resulta em grandes perdas de MS, um dos métodos mais eficientes, técnica
em decorrência da produção de CO2 e e economicamente, na elevação do teor O uso de produtos externos ao pro-
H2O, e de energia (MCDONALD, 1981). de MS de forrageiras a ser ensiladas. cesso de ensilagem surgiu como forma de
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melhorar o resultado final da fermentação, plantarum e observaram menores valores da forrageira, boa compactação, tempo
alterando os teores de MS, carboidratos numéricos de leveduras, fungos, lactato, de enchimento, correta vedação do silo,
solúveis e contribuindo para diminuição etanol e amônia das silagens tratadas em entre outras.
do pH do material ensilado. Atualmente, relação as não tratadas, e esses valores não Evangelista e Lima (2000) mostram
em estudos sobre uso de aditivos na en- foram significativos. que o milho desintegrado com palha e
silagem, além do objetivo de melhorar a Guim et al. (2002) avaliaram o efeito sabugo (MDPS) possui alta eficiência em
fermentação, fatores como melhora do de inoculantes microbianos que continham baixar umidade da silagem, por causa da
valor nutricional da silagem e redução de bactérias ácido láticas (Lactobacillus e palha e do sabugo, além de possuir valor
perdas de MS têm despertado interesse dos Pediococcus) e leveduras (Sacharomices) nutricional (milho quebrado e fubá). A
pesquisadores. sobre a estabilidade aeróbica da silagem quantidade de inclusão desse material na
McDonald, Henderson e Heron (1991) de capim-elefante pré-seco. Observaram silagem vai depender do aspecto econô-
definiram aditivo como qualquer material que, no início do processo, as silagens que mico, mas bons resultados foram obser-
adicionado à forragem no momento da en- receberam a inoculação com microrga- vados com adição de 4% a 10% da massa
silagem, tendo como funções: estimular ou nismos tiveram o mesmo comportamento ensilada, ou seja, 40 a 100 kg de MDPS
inibir a fermentação, inibir a deterioração de deterioração que as silagens-controle, por tonelada de capim picado para ensilar.
aeróbica, fornecer nutrientes para melhorar o porém, a partir de seis dias de exposição, as Outros farelos também podem ser usados,
valor nutritivo da silagem e absorvente para silagens inoculadas passaram a apresentar como o de trigo, de arroz e ingredientes que
reduzir as perdas de nutrientes por efluentes. menor velocidade de deterioração. compõem as rações de bovinos, gerando
Corrêa e Pott (2001) afirmaram que A ureia é outro aditivo muito usado bons resultados nas proporções de 4% a
os aditivos podem ser divididos em três com a finalidade de aumentar a quantidade 10% da massa ensilada, sendo seus usos
categorias gerais: de N da forragem na forma de N não pro- balizados pelos preços.
a) estimulantes de fermentação, tais teico. Desse modo, em algumas silagens A polpa cítrica seca e peletizada é um
como enzimas e inoculantes bacte- com maiores teores de MS (30%-35% subproduto da agroindústria que apresenta
rianos; de MS) e carboidratos solúveis para uma potencial para aumentar a MS da silagem
fermentação adequada, o uso da ureia pode e agregar valor nutricional. No entanto,
b) inibidores de fermentação, tais como
proporcionar melhora no valor nutritivo da seu uso pode ser limitado pelo custo, pois
ácidos orgânicos e inorgânicos;
silagem. No entanto, na silagem de capim- grande parte da produção destina-se à ex-
c) substratos ou fontes de nutrientes, portação, ficando dessa forma, em certas
elefante, que possui baixos teores de MS e
tais como melaço, milho desinte- épocas do ano, mais caro que outros fare-
de carboidratos solúveis, a adição de ureia
grado com palha, sabugo e ureia, los, tais como fubá, farelo de arroz, farelo
durante a ensilagem pode causar problemas
dentre outros. Alguns substratos de trigo, entre outros. A quantidade a ser
na fermentação (EVANGELISTA; LIMA,
podem estar associados a mais de adicionada vai depender das característi-
2000).
um efeito, como os que estimulam cas da forragem e, embora a polpa cítrica
a fermentação, têm capacidade Uso de subprodutos e apresente efeitos positivos com adição de
absorvente e também são fontes de resíduos agroindustriais até 30% em peso, os melhores resultados
nutrientes. como aditivo na ensilagem são obtidos com níveis entre 4% e 15%,
De acordo com Morais (1999), um do capim-elefante
que devem ser misturados à forragem no
aditivo ideal para silagens de gramíneas Outros produtos utilizados como adi- momento da ensilagem (EVANGELISTA;
tropicais deveria possuir alto teor de MS, tivos absorventes na produção de silagem LIMA, 2000).
alta capacidade de absorção de água, alto de capim são os subprodutos e os resíduos Peres (1997) avaliou a inclusão de
valor nutritivo, boa aceitabilidade, elevado da agroindústria que têm a função de au- 0%, 5%, 10% e 15% de polpa cítrica seca
teor de carboidratos solúveis, fácil mani- mentar a MS da silagem e melhorar sua e peletizada como aditivo na ensilagem
pulação, boa disponibilidade no mercado qualidade, uma vez que a maioria desses do capim-elefante e observou que a polpa
e apresentar baixo custo. aditivos possui algum valor nutricional. aumentou, significativamente, o teor de
O uso de aditivos com inoculantes bac- Tais aditivos podem ser adicionados no MS da silagem, destacando que os dois
terianos é uma realidade e bem aceita pelos momento da ensilagem, com o objetivo tratamentos com maior nível de inclusão
produtores atualmente, mas os resultados de de melhorar os padrões fermentativos da tiveram bons efeitos absorventes, seme-
pesquisa nem sempre demonstram melhoras massa ensilada. É importante ressaltar lhantes ao tratamento testemunha com
significativas. Dessa forma, Ranjit e Kung que, para obter silagem de boa qualidade, 10% de fubá, diminuindo a produção de
Júnior (2000) avaliaram inoculantes que a sua utilização não elimina as boas prá- efluentes. Já Rodrigues et al. (2005) tra-
contenham várias cepas de Lactobacillus ticas da ensilagem, como época de corte balharam com sete níveis (0%; 2,5%; 5%;
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7,5%; 10%; 12,5% e 15%) de inclusão de silagem de capim-elefante cortado com 80 obter respostas satisfatórias na produção
polpa cítrica seca e peletizada, como aditi- dias de idade, com base na matéria verde, e de leite e no ganho de peso de novilhos em
vo na ensilagem do capim-elefante cortado concluíram que os níveis de 7% e 14% pro- terminação. Recentemente, foi estudada
com 90 dias de crescimento, adicionados duziram silagens de qualidade satisfatória, como aditivo na silagem de capim-elefante,
com base na matéria fresca da polpa e do melhorando as características químicas e buscando melhorar as características dessa
capim. Concluíram que inclusões de 4,7% nutricionais. Mata Júnior (2008) estudou a silagem para utilização na alimentação de
a 7,6% de polpa cítrica peletizada foram inclusão do farelo de batata na silagem de bovinos.
suficientes para melhorar a qualidade de
capim-elefante (0%, 7% e 14%) e observou Barcelos et al. (2009b) avaliaram o va-
fermentação e o valor nutritivo da silagem
aumento de MS, PB, DIVMS e diminuição lor nutritivo e as características de silagens
de capim-elefante.
da FDN, com aumento da quantidade do de capim-elefante cortado aos 70 dias de
Lobo (2006) avaliou diferentes idades
farelo de batata na ensilagem. idade, acrescidas de diferentes níveis de
de corte do capim-elefante (40, 60, 80, 100
e 120 dias de crescimento) com a inclusão A casca de café é um resíduo que há al- casca de café (Quadro 1). O material foi
de polpa cítrica peletizada (0%, 3%, 6%, guns anos vem sendo pesquisada e utilizada ensilado durante 60 dias em silos de PVC,
9%), com base na matéria fresca na ensi- na alimentação animal em alguns países da de 150 por 750 mm, segundo os tratamen-
lagem, e observou melhora na qualidade América Latina e no Brasil (Fig. 2). Algu- tos: capim-elefante cortado aos 70 dias de
fermentativa e nutritiva da silagem, e, de mas pesquisas mostram a possibilidade de idade (CE70), CE70 + 10% de casca de
acordo com estas observações, recomen- incluir a casca na alimentação de ruminan- café (CC), CE70 + 20% de CC e CE70 +
dou a inclusão de 0,7% de polpa cítrica tes com confiabilidade e probabilidade de 30% de CC. Esses autores observaram au-
peletizada para cada unidade porcentual
de MS que o capim possuir abaixo de
32% de MS.
Outro subproduto que pode ser usado
como aditivo na ensilagem do capim-ele-
fante é a raspa ou o farelo de batata obtido
da desidratação e da moagem de tubércu-

Fotos: Adauto Ferreira Barcelos


los de batata-inglesa que não atingiram
padrões adequados para comercialização,
em consequência dos danos provocados
durante o processo de colheita e benefi-
ciamento. Normalmente, esse produto é
gerado durante a seleção, a classificação,
a lavagem ou na escova, e recebe o nome
de batata diversa. Segundo informações Figura 2 - Capim-elefante com 70 dias de idade, misturado com casca de café, antes
da Associação dos Bataticultores do Sul da ensilagem
do Estado de Minas Gerais (Abasmig), as
perdas nesses processos variam de 15%
QUADRO 1 - Valores para lignina, celulose, cafeína, DIVMS, pH, N-NH3 e perda de gás das
a 20% da produção (REZENDE et al.,
silagens de capim-elefante cortado aos 70 dias de idade com diferentes pro-
2008). Segundo o Instituto Brasileiro de porções de casca de café
Geografia e Estatística (IBGE, 2011 apud
Perda de
RIBEIRO; RIBEIRO; PINTO, 2012), a MS Lignina Celulose Cafeína DIVMS N-NH3
Tratamento pH gás
produção de batata no estado de Minas (%) (% MS) (% MS) (% MS) (%) (%)
(%)
Gerais, no ano de 2011, foi de 1.244 mil CE70 16,87 4,04 35,66 0,35 64,26 4,12 44,49 6,95
toneladas de tubérculos em uma área de CE70 + 10% CC 22,52 8,69 32,87 0,56 59,03 3,70 30,65 6,19
41 mil hectares. Se for considerada uma
CE70 + 20% CC 29,19 10,54 31,12 0,57 56,68 3,68 15,02 6,58
perda de 15%, resultaria em 186,6 mil
CE70 + 30% CC 35,53 12,47 31,04 0,65 54,68 3,59 13,33 6,52
toneladas com potencial para ser utilizado
CV (%) 3,54 4,51 1,7 12,99 2,83 1,48 13,15 20,2
na alimentação animal.
FONTE: Barcelos et al. (2009b).
Rezende et al. (2008) estudaram a adi-
NOTA: DIVMS - Digestibilidade in vitro da matéria seca; N-NH3 - Nitrogênio amoniacal;
ção da raspa de batata (10%-12% MS), nas CE70 - Capim-elefante com 70 dias de idade; CC - Casca de café; CV - Coeficiente
proporções de 0%, 7%, 14% e 21%, na en- de variação.

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mento linear (Quadro 2) no teor de lignina, QUADRO 2 - Equações de regressão mostrando o efeito do nível de casca de café na silagem
à medida que foi adicionado CC nas sila- de CE70 no teor de MS, PB, FDN, lignina, celulose, cafeína, DIVMS, N-NH3 e
gens, chegando a 12,47%, com acréscimo valores de pH

de 30% de CC. Houve redução linear nos R2


Variável Equação de Regressão
teores de celulose e nos valores de DIVMS, (%)
provavelmente pelo aumento nos teores de
Lignina (% na MS) Y = 5,1507 + 0,5047x 84,15
lignina. Concluíram que a CC como aditivo
Celulose (% na MS) Y = 34,7878 - 0,2817x 72,84
foi efetiva em melhorar as características
Cafeína (% na MS) Y = 0,4095 + 0,0164x 72,86
da silagem de capim-elefante, cortado
aos 70 dias de idade, principalmente pelo DIVMS (%) Y = 62,9920 - 0,5774x 83,95

aumento da MS das silagens e redução nas Valores de pH Y = 3,9906 - 0,0289x 63,84


perdas de N amoniacal (N-NH3), podendo N-NH3 (%) Y = 41,0254 - 2,0202x 81,69
ser usado até 30% de CC como aditivo na FONTE: Barcelos et al. (2009b).
NOTA: CE70 - Capim-elefante com 70 dias de idade; MS - Matéria seca; PB - Proteína bruta;
silagem de capim-elefante, proporcionando
FDN - Fibra em detergente neutro; DIVMS - Digestibilidade in vitro da MS; N-NH3 -
silagem com características e valor nutriti- Nitrogênio amoniacal.
vo adequados para alimentação de bovinos.
Outro resíduo agrícola que vem sendo
estudado como aditivo em silagem de
capim é a polpa de café (Fig. 3), pois,
como informa Recinos (1976), o princi-
pal limitante de uso da polpa para alimen-
tação animal é seu alto teor de umidade,
o que dificulta seu transporte, manejo e
armazenamento. Segundo Ruiz (1977), a
polpa vem adquirindo características de
um grande problema com implicações
em saúde pública em muitos lugares da
América Latina.

Adauto Ferreira Barcelos


Com isso, a solução prática para apro-
veitamento da polpa é utilizá-la como adi-
tivo, diminuindo o teor de MS de alimentos
para ensilagem, até fornecer carboidratos
solúveis para fermentação, visando à ali-
mentação animal. Assim, Barcelos et al. Figura 3 - Aspecto da silagem de capim-elefante com 30% de polpa de café
(2009a) avaliaram a composição química
de silagens de capim-elefante, cortado aos
QUADRO 3 - Valores para MS, PB, FDN e FDA das silagens de capim-elefante ensiladas aos
150 dias de idade com diferentes proporções
150 dias de idade com diferentes proporções de polpa de café
de polpa de café (Quadro 3). O material foi
ensilado por 60 dias em silos de PVC de Tratamento MS PB FDN FDA
150 por 750 mm segundo os tratamentos: (silagem) (%) (% na MS) (% na MS) (% na MS)

capim-elefante 150 dias (CE150), CE150 + CE150 38,65 8,80 71,53 38,51
10% de polpa de café (PC), CE150 + 20%
CE150+10% PC 33,76 8,92 71,11 38,79
de PC e CE150 + 30% de PC. Houve um
decréscimo linear (Quadro 4) nos teores de CE150+20% PC 28,72 9,43 69,53 38,47
MS e FDN, à medida que foi adicionado PC CE150+30% PC 25,06 9,91 69,31 38,27
nas silagens de capim-elefante, isso é decor-
CV (%) 3,19 4,17 1,10 1,65
rente do fato de a polpa úmida de café ter um
FONTE: Barcelos et al. (2009a).
valor muito baixo de MS que neste estudo NOTA: MS - Matéria seca; PB - Proteína bruta; FDN - Fibra em detergente neutro; FDA - Fibra
foi de 22,45%. Os teores de FDN, embora em detergente ácido; CE150 - Capim-elefante com 150 dias de idade; PC - Polpa de
reduzidos com a adição de polpa, ainda café; CV - Coeficiente de varição.

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40 Conservação de alimentos para bovinos

QUADRO 4 - Equações de regressão mostrando o efeito do nível de casca de café na silagem aos outros dois tratamentos, não diferindo
de CE150 no teor de MS, PB e FDN entre si (Quadro 5). Os altos ganhos de
R2 peso pelos animais podem ter recebido
Variável Equação de regressão
(%) influência do ganho compensatório por
terem sido retirados do pasto já no período
MS (%) Y = 38,1344 – 0,8784x 94,36
seco, segundo esse autor.
PB (% na MS) Y = 8, 6901 + 0,0771x 98,84
Em experimento realizado na Fazenda
FDN (% na MS) Y = 71, 5559 – 0,1578x 86,69 Experimental de Três Pontas (FETP) da
FONTE: Barcelos et al. (2009a).
EPAMIG Sul de Minas, Tavares (2009)
NOTA: CE150 - Capim-elefante com 150 dias de idade; MS - Matéria seca; PB - Proteína
bruta; FDN - Fibra em detergente neutro. avaliou a adição de 7% e 14% de raspa de
diversas batatas na ensilagem de capim-
elefante comparados à silagem de milho e
são valores altos para um volumoso de boa na MS) na alimentação de 24 novilhos cru- à silagem de capim-elefante, como fonte
qualidade. Quanto aos valores de PB, houve zados, mochos e inteiros em terminação, de volumosos, na alimentação de vacas
aumento linear (Quadro 4), e os de FDA não submetidos a um período de adaptação de holandesas. As dietas eram compostas
foram significativos. Estes resultados mos- 14 dias, com 44 dias de período experi- pelos volumosos (quatro silagens), acres-
tram que a polpa de café como aditivo foi mental, quando alcançaram peso de abate cidas de polpa cítrica, milho, caroço de
efetiva em reduzir os teores de MS e FDN (totalizando 58 dias de confinamento). As algodão, farelo de soja, sal branco, ureia e
da silagem de CE150, apesar de os níveis de dietas experimentais foram constituídas prémix mineral vitamínico, de acordo com
FDN ainda estarem altos para uma silagem das quatro silagens (silagem de capim- ele- o National Research Council (2001) para
de boa qualidade para alimentação animal. fante, silagem de capim-elefante + 7% fa- atender às exigências de vacas adultas, com
No entanto, é uma alternativa de uso de um relo de batata, silagem de capim- elefante + peso de 550 kg, não gestantes, e produção
resíduo que não tem utilização e com grande 14% farelo de batata e silagem de milho média de 25 kg/dia, com 3,5% de gordura
potencial de poluir o meio ambiente e pode com cana-de-açúcar), mais um concentra- e nenhum ganho de peso. Observou-se
ser usada entre 10% e 20% como aditivo na do na proporção de 65:35 de volumosos: menor ingestão de MS da dieta com sila-
silagem de capim-elefante cortado com 150 concentrado. O concentrado em questão gem de capim-elefante (17,39 kg/dia), em
dias de idade. apresentou 91,35% de MS, 16,95% de relação às silagens de capim-elefante +
É importante destacar que quando se PB, 21,25% de FDN, 3,03% de EE, 7% de raspa de batata (18,23 kg/dia); sila-
usa um aditivo farelado ou peletizado na 8,38% de MM e 50,39% de carboidrato gem de capim-elefante + 14% de raspa de
ensilagem de capim-elefante, quanto mais não fibroso (CNF). Os ganhos de peso batata (19,29 kg/dia) e silagem de milho
homogênea for essa mistura, melhor será médio diários (GPMD) dos animais que (18,12 kg/dia), não havendo diferenças es-
a fermentação e, consequentemente, a receberam os tratamentos de silagem de tatísticas entre essas três dietas. Além disso,
qualidade da silagem. Essa mistura pode capim-elefante com 14% de farelo de a produção de leite das vacas que receberam
ser feita polvilhando esse material sobre o batata + concentrado e silagem de milho silagem de milho (25,19 kg/dia) foi superior
capim picado no silo e posterior mistura com cana + concentrado foram superiores àquelas que receberam dietas com silagem
com garfos e enxadas ou usar um vagão
que promova a mistura antes de descarre-
gar o capim. Todo o processo de ensilagem QUADRO 5 - Ganho médio de peso vivo (GMPV) e consumo médio de matéria seca (MS) de
bovinos confinados alimentados com silagem de capim-elefante acrescida de
é importante e contribui para a qualidade
farelo de batata na ensilagem
da silagem.
Consumo médio de MS
GMPV (kg/animal/dia)
Tratamento
USO DE SILAGEM DE CAPIM- (kg/dia)
Volumoso Concentrado Total
ELEFANTE NA ALIMENTAÇÃO
DE BOVINOS T1 (SC) + C 1,46 b 7,80 4,20 12,00
T2 (SC+7%FB) + C 1,49 b 7,70 4,20 11,90
Mata Júnior (2008) estudou o efeito da
T3 (SC+14%FB) + C 1,83 a 7,80 4,20 12,00
adição de farelo de batata como aditivo,
T4 (SM+Cn) + C 1,86 a 7,70 4,20 11,90
em dois níveis de inclusão (7% e 14% com FONTE: Mata Júnior (2008).
base na MS do capim-elefante), comparado NOTA: Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si (Scott-Knott, 5%).
com silagem de capim-elefante e silagem SC - Silagem de capim; C - Concentrado; FB - Farelo de batata; SM - Silagem de
de milho e cana-de-açúcar (1:1 com base milho; CN - Cana-de-açúcar.

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Conservação de alimentos para bovinos 41

de capim, com ou sem aditivo. No entanto, ZOOTECNIA, 46., 2009, Maringá. Anais… MCDONALD, P.; HENDERSON, A. R.;
a produção das vacas que receberam sila- Maringá: SBZ, 2009b. 1 CD-ROM. HERON, S. J. E. The biochemistry of silage.
gem de capim + 14% de raspa de batata CANTARUTTI, R.B. et al. Pastagens. In: RI- New York: Chalcombe, 1991. 339p.
(24,58 kg/dia) foi bem próximas àquelas BEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.G.T.; ALVA- MATA JÚNIOR, J.I. da. Farelo de batata
que receberam silagem de milho, e superior REZ V., V.H. (Ed.). Recomendação para o como aditivo na silagem de capim-elefante
uso de corretivos e fertilizantes em Minas e em substituição ao milho no concentrado
àquelas que receberam silagem de capim +
Gerais: 5a aproximação. Viçosa, MG: Co- de novilhos em terminação. 2008. 70f. Dis-
7% de raspa de batata (22,66 kg/dia) e sila-
missão de Fertilidade do Solo do Estado de sertação (Mestrado em Nutrição de Rumi-
gem de capim (22,94 kg/dia). Dessa forma, Minas Gerais, 1999. p.332-341. nantes) – Universidade Federal de Lavras,
concluiu-se que a adição de 14% de raspa
CORRÊA, L. A.; POTT, E. B. Silagem de ca- Lavras, 2008.
de batata na ensilagem de capim-elefante pim. In: SIMPÓSIO DE FORRAGICULTURA MORAIS, J.P.G. Silagem de gramíneas tropi-
foi semelhante à silagem de milho, para E PASTAGENS, 2., 2001, Lavras. Anais... cais. In: SIMPÓSIO SOBRE NUTRIÇÃO DE
produção de leite e consumo, em dietas Lavras: UFLA, 2001. p. 255-271. BOVINOS, 7., 1999, Piracicaba. Anais... Ali-
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possuem limitações de áreas e necessitam Qualidade da silagem de capim-elefante PERES, J.R. Avaliação da polpa de citros
de volumoso com alta produção, a ser (Pennisetum purpureum Schum.) emurche- seca e peletizada como aditivo na ensi-
armazenado para o período seco, pela cido ou acrescido de farelo de mandioca. lagem de capim elefante (Pennisetum
Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, purpureum, Shum). 1997. 82f. Dissertação
escassez de forragens.
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Apesar de ter uma qualidade nutri-
GUIM, A. et al. Estabilidade aeróbica de Escola Superior de Agricultura “Luiz de
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silagens de capim-elefante (Pennisetum Queiroz”, Universidade de São Paulo, Pira-
sorgo, o uso de aditivos, com os cuidados cicaba, 1997.
purpureum Schum.) emurchecido e trata-
corriqueiros do processo de ensilagem,
do com inoculante microbiológico. Revista RANJIT, N.K.; KUNG JÚNIOR, L. The ef-
pode proporcionar uma silagem de boa Brasileira de Zootecnia, Viçosa, MG, v.31, fects of Lactobacillus buchneri, Lactobacillus
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Conservação de alimentos para bovinos 43

Produção de feno
Antônio Ricardo Evangelista 1
Josiane Aparecida de Lima 2

Resumo - O processo de fenação propicia rápida desidratação da planta forrageira, para


obter um produto de valor nutritivo e baixo nível de perdas, com possibilidade de armaze-
namento por longo período. O objetivo é preservar as características nutricionais da forra-
geira. Embora necessite de boas condições climáticas, há possibilidade de produzir feno de
boa qualidade na época propícia ao crescimento das plantas forrageiras (chuvas), porém é
necessário ficar atento às condições climáticas diárias, no período de execução do trabalho.
É importante um gerenciamento criterioso das atividades, pois tão logo a forrageira esteja
no ponto de colheita, deve-se proceder à fenação. As vantagens do uso do feno são flexibi-
lidade de oferta de forragem e amplitude de atendimento das exigências do rebanho, con-
servação por longos períodos, aumento da produção de forragem por área, economia da
utilização de concentrados, maior número de animais por unidade de área, produção em
pequena ou grande escala, armazenamento de grande quantidade de alimento volumoso
em pouco espaço e utilização de várias espécies forrageiras para produção de feno. A
fenação é mais uma alternativa para conservar forragens de boa qualidade, aproveitando
o potencial produtivo das épocas de abundância, suprindo as necessidades diárias de vo-
lumosos para rebanhos ou para uso estratégico nas épocas de escassez. Sua utilização, na
prática, é uma importante ferramenta para melhorar os índices zootécnicos no Brasil. Em
grande escala, a fenação deve ser precedida de estudos de viabilidade econômica.
Palavras-chave: Volumoso. Desidratação. Conservação. Manejo. Nutrição animal.

INTRODUÇÃO O clima é o principal fator limitante na como às referentes aos próximos dias. É
produção de feno e exerce papel fundamen- importante um gerenciamento criterioso
A produção de feno para uso como fonte
tal no processo. A temperatura, a umidade das atividades para que, tão logo o clima
de volumoso na dieta do rebanho é uma
relativa (UR) do ar, a velocidade do vento proporcione condições favoráveis à desi-
tecnologia pouco utilizada no Brasil, mas,
e a radiação solar influenciam, significati- dratação da forragem e a forrageira esteja
se entendidas suas práticas de produção,
vamente, na velocidade de desidratação da no ponto de colheita, seja possível proceder
observa-se que é técnica de fácil utilização
forragem, interferindo, assim, na qualidade à fenação.
e pode contribuir de forma significativa para do feno. É importante salientar que, mesmo
elevar os índices zootécnicos e viabilizar sem a ocorrência de chuvas, a velocidade VANTAGENS DO USO DE
economicamente o empreendimento agrope- do vento, a temperatura e a umidade rela- FENO
cuário, tanto de forma direta como indireta. tiva do ar podem tornar o dia inapropriado
O processo de fenação consiste em à produção de feno. O alimento feno, em relação a outros
propiciar a rápida desidratação da planta Embora necessite de boas condições volumosos usualmente utilizados na cria-
forrageira para obter um produto de bom climáticas, há possibilidade de produzir ção de ruminantes, tem algumas vantagens 
valor nutritivo e baixo nível de perdas, feno de boa qualidade na época propícia de qualidade e valor nutritivo da forragem,
com possibilidade de armazenamento por ao crescimento das plantas forrageiras bem como de cunho operacional ou estraté-
longo período. O objetivo é preservar as (chuvas), porém é necessário manter-se gico no dia-a-dia da propriedade, podendo
características nutricionais da forrageira. atento às condições climáticas diárias, bem destacar:

1
Engo Agro, D.Sc., Prof. Aposentado UFLA - Depto. Zootecnia/Prof. Visitante Nacional Sênior/CAPES/UFVJM - Depto. Zootecnia, Campus JK,
Rod. BR 367 km 583, CEP 39100-000 Diamantina-MG. Correio eletrônico: aricardo@dzo.ufla.br
2
Zootecnista, D.Sc., Pesq. INSTITUTO DE ZOOTECNIA, R. Heitor Penteado, 56, CEP 13460-000 Nova Odessa-SP. Correio eletrônico: josiane@iz.sp.gov.br

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44 Conservação de alimentos para bovinos

a) mantém-se em boas condições por pastagens, no período de verão, o oxigênio (estabilidade aeróbia):
longos períodos: o feno pode ser pode ser maior, uma vez que dispõe por ser desidratada em condições
armazenado por longos períodos, de recurso adicional para o período ambientais, a forragem não sofre
mas é fundamental que esteja de- de carência de forragem; fermentação aeróbia pelo contato
vidamente desidratado e seja arma- h) produção em pequena ou grande es- com o ar;
zenado em local que contribua para cala: o feno pode ser produzido em n) inúmeras espécies podem ser utiliza-
a preservação do valor nutritivo, ou pequena escala, sem a necessidade das para produção de feno: toda es-
seja, com baixa incidência de luz, de equipamentos caros, utilizando pécie forrageira pode ser processada
sem umidade e bem ventilado; somente as ferramentas e a mão na forma de feno, porém, devem-se
b) aumenta a produção de forragem de obra disponível da propriedade. considerar as características morfo-
por área: quando o corte é realizado Acredita-se que, por desconhe- lógicas de cada uma. Algumas for-
na época certa (época de chuvas), cimento da técnica, este recurso rageiras reúnem fatores favoráveis
ocorrerá a rebrota das plantas e é pouco empregado no Brasil. A à produção do feno (ex. alta relação
isso possibilita maior produção de produção de feno em grande escala folha:caule, caules finos).
forragem por unidade de área; envolve o uso de equipamentos
c) permite a utilização da forragem adequados como segadora, ancinho, PONTOS DE ATENÇÃO PARA
com máximo valor nutritivo: desde enfardadora e trator convencional de O PRODUTOR DE FENO
que seja colhida na época de chu- pequena ou média potência;
Para produção de feno com bom valor
vas ou sejam realizadas irrigações; i) armazenamento de grande quan-
nutritivo é fundamental que alguns precei-
permite a utilização da forragem no tidade em pouco espaço: quando
tos sejam observados:
momento em que a planta apresenta armazenado em fardos é possível
um bom rendimento de matéria seca ter grande quantidade de forragem a) monitorar o campo de feno quanto
(MS) aliado a alto valor nutritivo; em espaço reduzido; ao controle de invasoras; fazer
correção periódica da fertilidade
d) flexibilidade de oferta e amplitude j) flexibilidade de armazenamento: o
do solo, para suprir a demanda da
de atendimento das exigências do feno pode ser produzido em fardos
forrageira em função do valor nutri-
rebanho: o feno supre a demanda de ou a granel e armazenados em local
tivo e da produtividade. Para feno,
nutrientes, o que propicia uma dieta próprio, denominado fenil, ou outro
toda a massa produzida é retirada do
para a manutenção ou para o ganho depósito, desde que haja condições
ambiente e, com isso, a reciclagem
de peso dos animais na entressafra. propícias à sua conservação, ou
de matéria orgânica (MO) é mínima,
Mantém, assim, a produção de di- seja, livre de umidade, incidência
o que justifica a reposição periódica
versas categorias sem oscilações na de radiação solar e boa ventilação.
dos nutrientes no solo;
produtividade animal durante o ano; É importante que o local de arma-
zenamento não exponha o feno às b) colher a forrageira, quando esta se
e) carne de melhor qualidade: dispo-
perdas quantitativas e qualitativas; encontra no estádio de desenvolvi-
nibiliza para o mercado animais no
mento que propicia o máximo valor
ponto de abate em épocas de melhor k) facilmente comercializável e de bom
nutritivo;
preço, por meio do confinamento; valor comercial: a demanda de merca-
f) economiza a utilização de concen- do em determinadas regiões é grande c) adequar o rápido processo de desi-
trados: feno com bom valor nutritivo e toda a produção tem comerciali- dratação às condições climáticas;
atende à demanda nutricional do zação garantida. Sendo assim, essa d) colher somente a quantidade de
rebanho, total ou parcialmente. Sen- atividade pode ser uma alternativa a forragem compatível com a es-
do assim, ocorre redução ou mesmo mais para a empresa pecuária; trutura de produção de feno na
eliminação de suplementação proteica l) não depende de processos fermen- propriedade, ou seja, quantidade de
aos animais, principalmente se for tativos: para a produção de feno, a forragem passível de ser trabalhada
feno de leguminosas, o que reflete po- forrageira é desidratada e conserva- ao longo do dia em função de dis-
sitivamente nos custos de produção; da nessa forma, sem a necessidade ponibilidade de mão de obra e de
g) maior número de animais por de passar por processo fermentativo, equipamentos;
unidade de área: por proporcionar como ocorre com a silagem; e) realizar quantos revolvimentos fo-
armazenamento de volumoso de m) não estraga no fornecimento, pois é rem possíveis, para uniformizar e
boa qualidade, a carga animal nas um produto estável em contato com acelerar o processo de desidratação;
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Conservação de alimentos para bovinos 45

f) armazenar a forragem com teor QUADRO 1 - Composição bromatológica, base na matéria seca, dos fenos de algumas for-
adequado de umidade (15%-18%) rageiras
em ambiente propício. Coeficiente de
Variáveis bromatológicas
digestibilidade
Feno (% da MS)
(%)
FORRAGEIRAS PARA FENO
MS MM PB FDN FDA Ca MS MO PB
É possível produzir feno das mais (A)
Alfafa 91,0 10,9 17,7 56,0 34,6 1,39 70,3 72,2 74,8
diversas espécies de plantas forrageiras, (A)
Estilosante Campo Grande 89,9 8,0 12,2 65,8 44,3 1,46 69,1 72,0 74,0
sendo necessário apenas o emprego de (A)
Estilosante Mineirão 89,5 8,9 11,1 67,6 46,6 1,56 67,0 69,5 69,9
tecnologia e equipamentos coerentes com (B)
Amendoim forrageiro 88,1 - 14,3 52,5 35,8 - 64,4 - 70,0
o processamento da planta. No entanto, (B)
Stylosanthes guianensis 91,6 - 9,8 63,7 50,1 - 49,2 - 61,2
são indicadas as espécies que atingem
(B)
Soja perene 90,1 - 12,3 52,0 40,4 - 44,3 - -
rapidamente o ponto de feno, mantendo o
máximo possível do valor nutricional da
(B)
Leucena 92,7 - 16,3 43,3 33,8 - 55,6 - 45,3

forrageira original e com menores riscos


(C)
Leucena 89,68 - 22,2 57,6 24,05 - - - -
de perdas. Dentre as características de uma (C)
Tifton 91,63 - 11,0 62,3 38,82 - - - -
boa forrageira para fenação podem-se citar: (D)
Tifton 85 82,85 6,1 14,8 76,9 55,83 - - - -
a) valor nutritivo coerente com a de- (C)
Cunhã 91,9 - 13,62 62,1 37,81 - - - -
manda do rebanho; (E)
Coastcross 88,96 - 11,45 - - - - - -
b) elevada produção de forragem por (F)
Andropogon gayanus - - 6,6 - - 0,09 64,6 - -
unidade de área; (F)
Brachiaria brizantha - - 7,6 - - 0,07 60,4 - -
c) alta relação folha:caule e caules (G)
Milheto 90,6 10,5 10,6 66,5 46,1 0,37 - - -
finos; (G)
Capim-elefante Cameroon 90,6 11,0 6,7 71,4 49,0 0,29 - - -
d) boa capacidade de rebrota após a (G)
Sorgo SF-2S 90,3 8,8 5,6 71,3 48,5 0,22 - - -
colheita; Coastcross
(H)
- - - - - - - 61,9 70,2
e) hábito de crescimento que facilite FONTE: Dados básicos: (A) Silva (2010), Dados básicos: (B) Ladeira et al. (2002), Dados
básicos: (C) Moreira (2008), (D) Taffarel (2011), (E) Mizubuti et al. (2007), (F) Nas-
a colheita, ou seja, que propicie
cimento et al. (2001), (G) Aguiar et al. (2006), (H) Pedreira (2005).
bom desempenho do implemento/
NOTA: MS - Matéria seca; MM - Matéria mineral; PB - Proteína bruta; FDN - Fibra em deter-
ferramenta de corte. gente neutro; FDA - Fibra em detergente ácido; Ca - Cálcio; MO - Matéria orgânica.
Existem várias espécies forrageiras
com características adequadas para ser
conservadas na forma de feno, podendo- ETAPAS DA PRODUÇÃO DO tocos, galhos, pedaços de madeira, plás-
se utilizar o excedente de produção das FENO ticos, arames, metais, formigueiros e
pastagens, bem como aquelas espécies O processo de fenação é uma prática cupinzeiros ou qualquer outro material
cultivadas exclusivamente para essa finali- relativamente simples de ser executada, que comprometa a qualidade do feno ou,
dade. Entre as mais adaptadas, citam-se as porém demanda alguns cuidados básicos, cause danos aos equipamentos ou impe-
gramíneas do gênero Cynodon (Coastcross, descritos a seguir. çam sua trafegabilidade, com paralisações
Tifton, Florakirk, entre outras). Essas frequentes. A superfície do solo deve ser
gramíneas, além do elevado potencial Escolha da área para nivelada, sem a presença de picos, valetas,
de produção de forragem com bom valor formação do campo de depressões ou buracos. Esses fatores, além
feno de influenciar negativamente na qualidade
nutritivo, possuem caules finos, alta pro-
porção de folhas e apresentam tolerância A área destinada ao campo de feno do feno, na eficiência dos implementos e na
a cortes frequentes. deve ter acesso fácil, ser plana e possuir rapidez do processo, influenciam também
Quanto às leguminosas, por ser im- relevo favorável ao tráfego de máquinas e na produção forrageira.
portantes fontes proteicas, exercem papel implementos. O solo deve ser bem drenado Solo com boa fertilidade e livre de
relevante no sucesso do sistema de pro- e não propenso ao encharcamento, mesmo acidez é fator básico para a produtivida-
dução animal. Por sua vez, os fenos de que periódico, pois a maioria das espécies de, qualidade forrageira e longevidade do
leguminosas são sensivelmente superiores forrageiras não tolera umidade excessiva. campo de feno, portanto, é necessário que
aos de gramíneas em proteína bruta (PB) e O campo de feno deve ser destocado, seja corrigido e fertilizado com frequência.
cálcio (Quadro 1). sem troncos de árvores, livre de pedras, Esta prática deve ser realizada com base
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46 Conservação de alimentos para bovinos

na análise do solo, a qual deve ser feita proporcionar presença de resíduos tóxicos sidratação. Para as espécies pertencentes
anualmente. Para que não ocorram gas- no feno. A aplicação de inseticidas bioló- ao gênero Cynodon, em geral, a colheita é
tos indevidos com aplicações excessivas gicos pode ser uma alternativa, mas só é realizada a cada 28 dias.
de adubos ou aplicações de quantidades eficiente quando feita de forma preventi- Livram-se do fator limitante ‘clima’,
inadequadas ao potencial de produção da va, pois, como controle de ocorrência, a propriedades que dispõem de secadores
espécie forrageira, após proceder à análise ação de tais inseticidas é relativamente específicos ou adaptáveis para desidratar
do solo, deve-se consultar um profissional lenta e pode não ser eficiente. Muitas a forragem artificialmente.
especializado para determinar as quantida- vezes, o que se faz é antecipar a colheita
des necessárias de cada fertilizante e estas da forrageira, que, embora se obtenha Colheita manual
devem ser distribuídas na área de forma menor rendimento, pode contribuir para A colheita da forragem para produção
homogênea, para que o aproveitamento, a redução/eliminação da população da de feno em pequena escala, até 500 kg,
pelas plantas, seja uniforme. praga na cultura. pode ser realizada com ferramentas de uso
cotidiano na propriedade, como, alfange,
Correção da fertilidade do Controle de invasoras
solo enxada amolada, cutelo, entre outras.
No campo de feno de gramíneas (ex. A roçadora motorizada de acionamento
Pelo fato de o processo de fenação Cynodon), é comum a ocorrência das manual, pode acelerar e aumentar o rendi-
promover a retirada de toda a forragem da invasoras da folha larga (picão, gua- mento de colheita.
área, a quantidade de nutrientes removida xuma, entre outras) e da folha estreita Para o revolvimento da forragem
é grande, principalmente para o nitrogênio (Brachiarias, entre outras). O controle durante a desidratação, podem-se utilizar
e o potássio. Por essa razão, esses minerais químico pode ser feito com herbicida garfos de manusear volumosos.
devem ser repostos ao solo com frequência, seletivo para gramíneas e, outro espe- No armazenamento, o feno poderá ser
para que a produção e a qualidade da forra- cífico, para folha larga, para as quais a deixado a campo no sistema de meda (feno
geira não sejam comprometidas. Para que disponibilidade de produtos no mercado amontoado ao redor de um mastro ou tu-
haja eficiência no aproveitamento desses é mais ampla. tor), levado solto para galpão ou enfardado
minerais pelas plantas, a fertilização com Se o campo de feno é de leguminosa e por enfardadora manual.
adubo nitrogenado e potássico deve ser ocorre incidência de folha larga, o controle O enfardamento manual é feito utili-
fracionada, sendo aplicada ao solo após químico torna-se mais difícil em função da zando-se enfardadoras que usam o sistema
a realização dos cortes. Atenção especial escassez de produto com seletividade para de prensa manual. O equipamento produz
também deve ser dada ao fósforo que, jun- as espécies. O controle, nesse caso, deve fardos de 13 a 15 kg, que medem 40 cm
tamente com o nitrogênio e potássio, deve ser manual. de altura, 45 cm de largura e 65 cm de
ser mantido no solo em níveis adequados. Para o controle de invasoras sugere-se comprimento (Fig. 1).
Não há necessidade de parcelamento do o apoio de um profissional especializado,
adubo fosfatado, que pode ser aplicado ao uma vez que o uso incorreto de um produto
solo uma única vez ao ano, no início do químico pode provocar danos às pessoas,
período de crescimento de verão. aos animais e ao ambiente.

Condução da cultura Definição do momento de


colheita
Na condução da cultura, é importante
ficar atento às ocorrências de pragas. No Especial atenção deve ser dada à idade
caso das culturas para feno, as pragas que da forrageira no momento da colheita.
mais têm causado danos são, em primei- Forrageiras com baixo valor nutritivo
ro lugar, as lagartas, principalmente em originarão fenos de baixo valor nutritivo.
veranicos de verão e, em menor escala, a A produção de feno terá sua viabilidade
cigarrinha das pastagens. econômica comprometida, quando ocorrer Figura 1 - Enfardadeira manual
O controle de pragas nas forrageiras baixa produção forrageira ou baixa quali- FONTE: Laboremus (2012).
para produção de feno reveste-se de difi- dade da forragem. NOTA: O feno enfardado acondicionado
culdade, uma vez que tais pragas podem Geralmente, o clima pode ser um fator em galpão é a melhor forma de
armazenamento. Os cuidados, prá-
ocorrer num estádio de desenvolvimento limitante, pois às vezes a forrageira está
ticas e processos na produção do
das plantas muito próximo à colheita. no ponto ideal de colheita, mas não estão feno manualmente ou mecanizado
Assim, a aplicação de um pesticida pode previstos dias de sol suficientes para a de- são os mesmos.

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Conservação de alimentos para bovinos 47

Colheita mecânica Na Figura 2, observa-se que, no pro- ras elevadas. Portanto, utilizar tecnologia
cesso mecanizado de produção de feno, as disponível, para assegurar a rapidez na
No momento da colheita da forragei-
operações em cada fase são realizadas por desidratação, é fator primordial para o su-
ra, é importante que o implemento esteja
diferentes máquinas. cesso no empreendimento de produção de
bem regulado, para que a altura de corte feno com boa qualidade. Entre tais tecno-
seja realizada de forma homogênea em Desidratação logias citam-se os meios de comunicação
toda a área. Esta prática possibilita uni- que disponibilizam informações relativas
Todas as fases da produção são impor-
formidade de rebrota das plantas. Quando às condições climáticas, revolvimento da
tantes para obtenção de feno de boa qua-
ocorrem irregularidades excessivas na forragem sempre que necessário, utilização
lidade, mas a desidratação da forrageira é
altura do corte ou são deixadas linhas da de segadora condicionadora com regula-
prática que exige critério, pois a velocidade
forrageira sem colher, a rebrota torna-se com que esta ocorre tem relação direta com gem adequada, entre outros.
desuniforme e a consequência desse des- a perda de nutrientes e, por consequência, O processo de secagem da forrageira
cuido reflete no valor nutritivo do feno, com o valor nutricional do feno. Nesta fase, a campo pode ser dividido em três fases
pois na área haverá grande quantidade ocorre evaporação de grande quantidade de (Fig. 3):
de plantas com relação folha:caule de- água e deve ser realizada no menor tempo a) fase I: começa logo após o corte e
siguais. Portanto, o campo de feno deve possível. As condições ambientais que fa- espalhamento da planta forrageira no
ser manejado com critério, visando uni- vorecem a secagem são: dias ensolarados, campo. Nessa fase, os estômatos da
formidade na altura, rebrota e produção pouca nebulosidade, baixa umidade relati- planta ainda estão abertos (permane-
das plantas forrageiras. va do ar, ocorrência de ventos e temperatu- cendo assim por cerca de 2 a 3 h) e o

Produção de feno

Corte de produção

Sega Revolvimento Enleiramento Enfardamento Recolhimento Transporte Armazenagem

- Quanto - Eficiência do - Leira - Qualidade - Qualidade dos - Localização - Forro de


menor a ancinho adequada dos fardos fardos do armazém cama (menor
altura de espalhador de - Independente - Pressão dos - Idade da contato com o
corte melhor forragem da produtivi- barbantes forrageira solo)
a rebrota - Regulagem dade, formar - Tamanho dos - Evitar luz
(4 a 6 cm) da altura dos leiras fardos
- Eficiência dedos do uniformes e - Leira bem
da segadora ancinho compatíveis formada
- Menor - Treinamento
número de do operador
manobras
- Treinamento
dos
operadores
- Velocidade
adequada
- Largura do
corte

Figura 2 - Fluxograma do processo de produção de feno


FONTE: Bonato (2004).

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48 Conservação de alimentos para bovinos

Revolvimento
Fases da desidratação
Após a desidratação parcial da cama-
Fase I Fase II Fase III
da superficial, o ritmo de desidratação
pode ser acelerado, se, na fase inicial, a
4,0
Taxa de desidratação forragem for submetida ao revolvimento
(>1,0 de água/g MS/h) e afofamento para possibilitar melhoria
na aeração no interior da leira, bem como
3,0 penetração dos raios solares. Deve-se
revolver e distribuir a massa de forragem
uniformemente para acelerar a perda de
água em toda a camada. Esta operação
2,0 pode ser realizada com o auxílio de anci-
nhos mecânicos.
O revolvimento ou viragem, deve ser
realizado de quatro a cinco vezes por dia,
principalmente nas primeiras horas de
1,0
desidratação para expor uniformemente a
Taxa de desidratação forragem aos raios solares.
(>0,01 de água/g MS/h) A forragem que ainda não atingiu a
umidade suficientemente baixa para ser
armazenada em função de condições práti-
10 20 30 40 50 60
cas e/ou econômicas, se possível, deve ser
Tempo (h) enleirada ao final do dia, para diminuir a
Figura 3 - Curva de secagem de plantas forrageiras em condições ambientais uniformes superfície de contato com o ar atmosférico
FONTE: Jones e Harris (1979 apud REIS; MOREIRA; PEDREIRA, 2001). e evitar o seu reumedecimento durante a
NOTA: MS - Matéria seca. noite. No dia seguinte, a forragem deve
ser espalhada, após a evaporação do or-
valho. O feno, pronto para ser recolhido
teor de umidade da planta está entre 15%-18% de umidade, que é o ponto e enfardado, também deve ser enleirado.
70%-90%. Nas primeiras horas ocorre de feno, ou seja, a forragem está Para isto, utiliza-se o ancinho enleirador,
intensa perda de água de forma rápida apta a ser enfardada e armazenada. que pode ser o mesmo empregado para o
e o teor de umidade é reduzido para A perda de água ocorre por meio da revolvimento.
60%-65%; plasmólise celular e a forragem deve
b) fase II: nesta fase os estômatos estão ser enleirada para a desidratação Recolhimento
fechados e, por essa razão, o pro- final. Esta prática proporciona a O recolhimento do feno deve ser reali-
cesso de desidratação ocorre mais obtenção da umidade desejada de zado quando a forragem estiver no ponto
lentamente, porque a perda de água forma homogênea e também facilita de feno, ou seja, quando apresentar teor
ocorre por meio da cutícula foliar. o recolhimento da forragem. de umidade entre 10% e 18%. No ponto
O teor de umidade é reduzido para Quanto maior a proporção de folhas e ideal, o feno não pode apresentar sinal de
45%-50%; de caules finos, mais rapidamente ocorre umidade nas hastes e o material, quando
c) fase III: é a fase final da desidratação o processo de desidratação da forragem. torcido, deve voltar à posição original,
e inicia quando a umidade da planta Outro fator que deve ser criteriosamente sem quebrar. Redobrar os cuidados nessa
atinge cerca de 50%. Nessa condi- observado é a espessura da camada de for- fase é importante, pois armazenar o feno
ção, a forragem é muito sensível às ragem durante o espalhamento no campo com teor adequado de umidade é garantia
condições climáticas, principalmen- para a desidratação, ou seja, quanto mais de estar conservando a forragem sem risco
te a UR do ar. Por essa razão, enfar- fina a camada mais rápido o processo de de formar mofo.
dar a forragem em curto espaço de secagem. A desidratação da forragem A determinação do ponto de feno pode
tempo é fundamental para preservar se processa até que a umidade do feno ser feita por equipamentos adequados
o seu valor nutritivo. Essa é a fase entre em equilíbrio com a umidade do ar, ou por maneiras práticas. Dentre estas
na qual a forragem atingirá cerca de Quadro 2. verificam-se:
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Conservação de alimentos para bovinos 49

QUADRO 2 - Relações entre umidade relativa do ar (UR) e umidade de equilíbrio do feno momento do enfardamento do feno.
UR do ar Umidade do feno O aparelho possui dois sensores que
(%) (%) são colocados em ambos os lados
95 35,0 da câmara de enfardamento. Isto
90 30,0 permite leituras a ser tomadas no
80 21,5 lado esquerdo e direito, bem como
77 20,0 em todo o fardo, aumentando a
70 16,0 precisão da medição;
60 12,5 f) determinação da MS em laboratório:
FONTE: Raymond, Shepperson e Waltham (1991). aplica-se mais a condições de pes-
quisas, sendo de baixa viabilidade a
a) tato: com um pouco de experiência, É necessário colocar um copo com campo ou na propriedade produtora
consegue-se identificar o momento água no forno para que este não seja de feno.
adequado de recolher e enfardar danificado durante a secagem da
Enfardamento
o feno, associando a coloração da forragem. Deve-se ter o cuidado de
forragem com sua textura. Utiliza- manter o prato de vidro do aparelho O enfardamento não é condição única
se o tato para sentir a textura da para possibilitar a circulação da para a produção de feno, mas é condição
forragem; amostra dentro do forno com melhor prática para armazenamento, transporte,
b) consistência farinácea dos nós: os distribuição da radiação. manuseio e comercialização. Esta estra-
nós das plantas são os locais ligeira- Para evitar a combustão da forra- tégia reduz o volume de forragem pela
mente salientes do caule, onde sur- gem dentro do forno, a potência do compactação, o que aumenta a densidade,
gem as folhas (brotações). No ponto aparelho deve ser elevada de forma ou seja, maior quantidade de feno pode
gradativa: os primeiros 3 min devem ser armazenada em menor espaço. Quando
de feno, ao comprimir alguns nós,
ser a 20% da potência máxima do armazenado em fardos, o feno tem melhor
o que pode ser feito com a unha do
forno; os 10 min seguintes a 100% conservação e possibilita também o con-
dedo polegar, estes devem ter uma
da potência máxima, e o tempo trole da quantidade disponível.
característica farinácea e totalmente
restante, a 50% da potência máxima. Os fardos podem ser produzidos com
sem indícios de umidade;
Exemplo de cálculo: diferentes formas, tamanhos e pesos, e isto
c) torção de feixe de forragem: torcer depende do tipo de enfardadora utilizada.
um feixe de forragem e observar, Peso da forragem antes de levá-la
Podem ter o formato quadrado, retangular
se surgir umidade e, ao soltar, o ao forno = 200 g
ou cilíndrico.
material voltar à posição inicial ra- Peso constante da forragem após As enfardadoras mecânicas automáticas
pidamente, ainda não está no ponto. secagem = 160 g captam a forragem enleirada e fazem a pren-
Se houver rompimento das hastes, sagem dos fardos em dimensões variáveis.
significa que passou do ponto, e, se Tais enfardadoras podem ser classificadas
MS = 160 . 100 = 80%
não eliminar umidade e, ao soltar, o em convencionais ou prensas-enfardadoras,
200
material voltar lentamente à posição que produzem fardos prismáticos com
inicial, sem rompimento de hastes, dimensões de 40 a 60 cm de largura x 30 a
está no ponto; Basta multiplicar o peso da forragem 40 cm de altura x 50 a 130 cm de comprimento
d) uso de forno micro-ondas: são ne- após a secagem (160 g) por 100 ou, ainda, rotoenfardadoras, que produzem
cessários um vasilhame de plástico, e dividir o resultado pelo peso da fardos cilíndricos com largura de 1,50 m a
uma balança de precisão e um forno forragem antes de ser submetida à se- 1,70 m e diâmetro de 1,60 m a 1,80 m. Em 1 m³
de micro-ondas. Para obtenção do cagem no forno micro-ondas (200 g); de feno corretamente enfardado, armazenam-
teor de MS basta pesar uma porção e) aparelhos medidores de umidade: se, aproximadamente, 90-100 kg de material.
da forragem e levá-la ao forno. existem medidores de umidade
Verifica-se, inicialmente, o peso a para feno, ainda pouco usados no Armazenamento
cada 10 min e, depois, a cada 1-2 min Brasil, que podem ser montados O armazenamento do feno em condições
até obter peso constante. É impor- diretamente no interior da cabine adequadas é tão importante quanto as etapas
tante a checagem frequente do peso do trator e fornecem leitura direta precedentes. Nessa fase também podem
até obter um valor constante. e constante da umidade (%), no ocorrer perdas quantitativas e qualitativas.
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50 Conservação de alimentos para bovinos

Um dos requisitos para o armazenamento 14 kg, normalmente em 1 m3 armazenam- Odor característico de feno
correto do feno é o seu teor de umidade, que se cerca de 100 a 200 kg de feno.
Quando produzido com critério, o feno
não deve exceder de 18%-20%.
não tem odores estranhos, pelo contrário, tem
Independentemente da forma de arma- CARACTERÍSTICAS DE UM
odor característico do feno, o que é indício
zenamento, é importante que as condições BOM FENO
de desidratação e armazenamento eficientes.
sejam seguras, para que o feno permaneça Considerando a importância da quali- Odor diferente do mencionado pode
com bom valor nutritivo e possa ser preser- dade da forragem para o desempenho dos ser indicativo de fermentação e presença
vado por longos períodos. O local para arma- animais, citam-se algumas características de fungos e bolores.
zenamento deve ser livre de umidade, bem de um feno com boa qualidade.
ventilado e não deve ocorrer a incidência de Livre de mofos, bolores e
radiação solar sobre o feno. Deve-se ter o Coloração esverdeada outros materiais
cuidado de não colocá-lo diretamente sobre
Quando adequadamente produzido, o O feno deve ser livre de materiais que
o piso ou em contato com paredes, os quais
feno tem a coloração esverdeada. A ama- comprometem o seu valor nutritivo e a
podem transferir umidade para a forragem. sua aceitabilidade, bem como a saúde e a
relada indica desidratação excessiva e a
Colocam-se os fardos empilhados sobre integridade física dos animais. A presença
com tom marrom é indício de que houve
um estrado de madeira, que deve estar pelo de mofo e bolores é indicativa de feno ar-
fermentação em razão de umidade elevada.
menos a 10 cm do piso, de forma que per- mazenado com elevado teor de umidade ou
Nas duas situações ocorrem perdas quan-
mita a circulação de ar entre as pilhas. Se de local inadequado para o armazenamento.
titativas e qualitativas.
o feno foi enfardado com teor adequado de Além de mofos e bolores, o feno também
umidade, o ideal é formar pilhas menores e Alta relação folha:caule deve ser livre de outros elementos. A pre-
bem espaçadas, para melhor circulação do sença de outra espécie forrageira pode ser
ar e evaporação da umidade. Essa estratégia A folha é a parte da planta que contém
consequência de descuido com a fertilidade
possibilita que a temperatura no interior dos maior valor nutritivo. É mais rica em
do campo de feno, o que favorece o apareci-
fardos não se eleve e que o valor nutritivo nutrientes, mais digestível que o caule e
mento de plantas invasoras. Como exemplo,
do feno não seja comprometido em demasia. também é a parte da planta preferida pelos
pode-se citar a presença de braquiária em
Logicamente que esta prática somente será animais. Portanto, todo o cuidado para re-
campos de feno formados com gramíneas
válida, se o teor de umidade do feno não for duzir a perda de folhas durante a produção
pertencentes ao gênero Cynodon.
do feno é de extrema importância, para
excessivo; caso contrário, haverá perda total A presença de sementes e pendões flo-
resultante da fermentação. preservar a sua qualidade, já que as folhas
rais nos fardos indica que a forrageira foi
O local de armazenamento do feno deve compõem a parte mais nobre do vegetal.
colhida em estádio avançado de crescimen-
ser vistoriado com frequência, se possível Quanto maior for a relação folha:caule,
to, certamente com reduzido valor nutriti-
diariamente, para observar se há fermen- maior será a maciez e o valor nutritivo do
vo. Também é de fundamental importância
tação. Para isso, basta introduzir o braço feno. Além do aspecto nutricional, a rela- focar a atenção para evitar a presença de
entre os fardos e, se for observado presença ção folha:caule é de grande importância no materiais que causam rejeição do feno tais
de calor, é indicativo de fermentação, em processo de desidratação. As forrageiras como esterco, forragem em decomposição
consequência de umidade excessiva. Nesse mais folhosas são fáceis de ser desidrata- e terra, bem como aqueles que colocam
caso, os fardos devem ser abertos e colo- das, pois necessitam de menor período de em risco a saúde e a integridade física dos
cados novamente para secar. É importante exposição ao sol para atingir o ponto de animais, como plantas venenosas, arame,
considerar que houve perda de valor nutri- feno, o que contribui para reduzir os riscos parafuso, plástico e graxa, entre outros. É
tivo, e se for observada presença de mofo e de perdas por ocorrência de chuvas. importante vistoriar o campo de feno e to-
bolores, não deve ser fornecido aos animais. Quanto ao caule, quando fino e macio, mar as devidas precauções, para que o feno
Quanto ao local de armazenamento, também indica que o feno é de boa qua- seja composto unicamente pela espécie
não há necessariamente obrigatoriedade lidade. Somente quando as plantas são forrageira destinada à fenação.
de construções especiais. Pode-se apro- colhidas no estádio vegetativo, portanto
veitar construção existente, desde que com elevado valor nutritivo, é possível Temperatura menor que a
atenda às condições necessárias para obter feno com essa característica. ambiente
boa preservação do feno. Se optar por Assim, o feno adequadamente produzi- A temperatura do feno deve ser menor
construir fenil ou galpão, é importante do deve apresentar caules macios e elevada que a temperatura ambiente. Temperatura
que este tenha altura adequada para boa quantidade de folhas. Nessa condição, é alta é indício de ocorrência de fermentação
ventilação. Considerando fardos com macio e agradável ao tato. e consequente perda de valor nutritivo.
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Conservação de alimentos para bovinos 51

Teor adequado de umidade b) perdas por respiração e fermentação priedade e facilitar o manejo, garantir
decorrentes da velocidade de desi- alimento de boa qualidade para o rebanho
Este é o fator-chave para garantir a con-
dratação; na época seca, bem como evitar que ocor-
servação do feno e preservar o valor nutriti-
c) perdas por lixiviação, o que resulta ram perdas nas pastagens em função do
vo. É importante que a desidratação da for-
em decréscimo nos constituintes crescimento ativo das plantas forrageiras.
ragem seja realizada de forma homogênea,
celulares solúveis; Na época de chuvas, o crescimento das
para que não ocorram nos fardos pontos com
d) perdas de folhas em decorrência do plantas forrageiras é intenso e, muitas
umidade excessiva, o que poderá favorecer
manuseio excessivo da forragem vezes, ultrapassa a capacidade de consumo
o desenvolvimento de fungos patogênicos.
ou do revolvimento no momento pelos animais. Nesse caso, alguns piquetes
Nesse aspecto, deve-se dar atenção à impor-
inadequado; poderão ser excluídos do sistema de pastejo
tância do revolvimento da forragem durante
e destinados à fenação.
o processo de desidratação. e) perdas por deficiência no recolhi-
Houve gastos de recursos econômicos
mento da forragem;
Aceitabilidade para a formação e a manutenção da pasta-
f) perdas por armazenamento em con- gem (preparo do solo, calcário, fertilizantes,
Desde que adequadamente produzido dições inadequadas; sementes ou mudas, mão de obra, entre
e armazenado, resguardando todos os g) perdas em função da elevada umi- outros) e, se o excedente da produção for
cuidados necessários para a preservação dade que possibilita a continuidade perdido, certamente estarão ocorrendo
do valor nutritivo, o feno será bem aceito da respiração celular; perdas econômicas. Portanto, a produção
pelos animais, o que refletirá positivamente h) desenvolvimento de bactérias, de feno é uma forma de garantir alimento
na lucratividade do empreendimento. fungos e leveduras em função de volumoso para o rebanho na época seca,
Além dos fatores mencionados, os umidade elevada; bem como evitar duplo prejuízo, ou seja,
constituintes nutricionais do feno também perda de recurso econômico utilizado na
i) práticas não convencionais de pro-
fornecem indicações relativas à sua qua- formação e manutenção da pastagem e gasto
dução de feno.
lidade. A Embrapa Gado de Leite adota a na aquisição de forragem conservada, para
classificação de feno nos tipos A, B e C, ser fornecida aos animais na época seca.
ALTERNATIVAS PARA
em função do teor de umidade, de proteína
PRODUÇÃO DE FENO
e de fibra (Quadro 3). Produção de feno de
Na propriedade agrícola, a produção capim-elefante
PERDAS NO PROCESSO DE de feno  pode ser realizada a partir de
O capim-elefante possibilita a produção
FENAÇÃO forragem oriunda de campo de feno,
de feno com excelente valor nutritivo a baixo
específica para este fim, ou  pode ser
Ao executar operações de produção custo, pois não há necessidade de equipa-
uma opção de momento para apro-
de feno na propriedade agrícola, em mentos específicos e caros. São necessários
veitar forragem disponível ou planta
algumas etapas é possível a ocorrên- apenas alguns cuidados básicos: bom mane-
forrageira que, usualmente, não é direcio-
cia de perdas, que podem resultar do jo da capineira, colheita do capim com idade
nada para esse fim.
manuseio de equipamentos e da forra- adequada e desidratação e armazenagem
gem ou ainda da atividade metabólica da Produção de feno do corretas. O feno de capim-elefante é uma
planta que não cessa imediatamente após excedente de pastos excelente opção para pequenos produtores,
o corte, podendo destacar: que não dispõem de implementos específi-
A fenação do excedente da produção
cos para a produção de feno, e as atividades
a) perdas no corte, por causa da altura forrageira da pastagem é uma forma de
podem ser realizadas em sistema familiar
do resíduo; flexibilizar o uso das forrageiras na pro-
ou com reduzido número de funcionários.
Uma das principais características que
QUADRO 3 - Classificação de feno em função da qualidade torna o capim-elefante uma forrageira
Umidade Proteína bruta (PB) Fibra em detergente neutro (FDN) indicada para a produção de feno é a alta
Tipo
(%) (% na MS) (% na MS) relação folha:caule, logicamente quando
A 15-12 > 13 < 65 colhido com idade adequada. Esta carac-
B 18-15 9-13 65-69 terística, além de elevado valor nutritivo,
C 18-15 <9 > 69 facilita a rapidez na desidratação.
FONTE: Pedreira (2005). a) idade de corte: o capim deve ser
NOTA: MS - Matéria seca. colhido entre 30 e 60 dias de idade.
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52 Conservação de alimentos para bovinos

Nessa fase apresenta excelente va- QUADRO 4 - Ganho de peso diário (GPD), consumos médios de matéria seca (MS), proteína
lor nutritivo, ou seja, baixo teor de bruta (PB) e coeficientes de digestibilidade da PB (CDPB) e fibra em detergente
fibra, elevado teor proteico e alta neutro (CDFDN) do feno produzido com capim-elefante cv. Guaçu colhido em
diferentes idades
digestibilidade, pela alta proporção
Idade de colheita do capim-elefante
de folhas e caules finos;
Variável (dias)
b) colheita: pode-se utilizar uma ensi- 30 45 65
ladora para colher e picar o capim GPD (g/animal/dia) 168 a 172 a 135 b
ou realizar a colheita manual e fra- Consumo de MS (g/animal/dia) 584 a 593 a 361 b
cioná-lo em picadeira estacionária. Consumo de PB (g/animal/dia) 67,1 a 68,0 a 26,6 b
As partículas devem ser pequenas Coeficiente de digestibilidade aparente da PB (%) 64,5 a 66,6 a 46,5 b
(até 5 cm), para que a secagem se Coeficiente de digestibilidade aparente da FDN (%) 61,5 a
50,1 b 57,8 a
processe de forma rápida; FONTE: Lima et al. (2010).
c) desidratação: a secagem do capim- NOTA: Médias com letras iguais na linha, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P>0,05).
elefante é realizada de forma simples,
basta espalhar a forragem picada sobre
REFERÊNCIAS fenos utilizados na alimentação de poedei-
um piso pavimentado ou chão batido. ras. 2008. 46p. Dissertação (Mestrado) –
A camada deve ser fina, para que a AGUIAR, E.M. de et al. Rendimento e com-
Universidade Federal do Ceará, 2008.
secagem se processe de forma rápida; posição químico-bromatológica de fenos
triturados de gramíneas tropicais. Revista NASCIMENTO, H.T.S. do et al. Produção e
d) revolvimento: esta prática auxilia Brasileira de Zootecnia, Viçosa, MG, v.35, valor nutritivo de feno de duas gramíne-
na rapidez de desidratação e deve n.6, p.2226-2233, nov./dez. 2006. as tropicais em solo de baixa fertilidade.
ser realizada pelo menos a cada Teresina: Embrapa Meio-Norte, 2001.14p.
BONATO, R.G. Qualidade operacional
hora. Podem-se utilizar rastelo, (Embrapa Meio-Norte. Boletim de Pesquisa
da fenação: análise do processo de produ-
e Desenvolvimento, 351).
forca, rastelo de arrasto ou qualquer ção. 2004. 100p. Dissertação (Mestrado em
ferramenta que possibilite o revol- Agronomia) – Escola Superior de Agricultu- PEDREIRA, C.G.S. Capins do gênero Cynodon:
ra “Luiz de Queiroz”, Universidade de São histórico e potencial para a pecuária bra-
vimento das partículas;
Paulo, Piracicaba. sileira. In: VILELA. D.; RESENDE, J.C. de;
e) armazenamento: a armazenagem do LIMA, J. (Ed.). Cynodon forrageiras que es-
feno é simples e barata. Pode ser feita LABOREMUS. Enfardadeira manual EL15 tão revolucionando a pecuária brasileira.
em sacos de ráfia ou a granel, porém é Laboremus. Campina Grande, [2012]. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2005.
Disponível em: <http://www.laboremus. p. 33-58.
importante que o local seja bem ven-
com.br/fenacao/enfardadeira-manual-el15.
tilado e livre de umidade. O feno não RAYMOND, F.; SHEPPERSON, G.; WAL-
html>. Acesso em: 9 jan. 2013.
pode ser colocado em contato direto THAM, R. Forage conservation and fee-
LADEIRA, M.M. et al. Avaliação do feno ding. 3.ed. Ipswich, Sulfolk: Farming Press,
com o piso, pois absorverá a umidade.
de Arachis pintoi utilizando o ensaio de di- 1991. 208p.
No Quadro 4, observam-se alguns resul- gestibilidade in vivo. Revista Brasileira de
tados da pesquisa realizada no Instituto de REIS, R.A.; MOREIRA, A.L.; PEDREIRA,
Zootecnia, Viçosa, MG, v.31, n.6, p. 2350-
M.S. Técnicas para produção e conservação
Zootecnia, em Nova Odessa, SP, com feno 2356, nov./dez. 2002.
de fenos de forrageiras de alta qualidade. In:
de capim-elefante oferecido a cordeiros. LIMA, J.A. et al. Feno de capim-elefante no SIMPÓSIO SOBRE PRODUÇÃO E UTILI-
desempenho de cordeiros confinados. In: ZAÇÃO DE FORRAGENS CONSERVADAS,
CONSIDERAÇÕES FINAIS REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRA- 1., 2001, Maringá. Anais... Maringá: Univer-
SILEIRA DE ZOOTECNIA, 47., 2010. Salva- sidade Estadual de Maringá, 2001. p.1-39.
A fenação é mais uma alternativa para
dor. Anais... Empreendedorismo e progresso
conservar forragens de boa qualidade, SILVA, V. P. Avaliação nutricional de fe-
científicos na zootecnia brasileira de van-
aproveitando o potencial produtivo das nos de estilosantes e de alfafa em eqüinos.
guarda. Salvador: SBZ, 2010. 1CD-ROM.
2010. 91f. Tese (Doutorado em Zootecnia) –
épocas de abundância, para suprir as ne-
MIZUBUTI, I.Y. et al. Consumo médio e Escola de Veterinária, Universidade Federal
cessidades diárias de volumosos para re- digestibilidade do feno de capim “Coast de Minas Gerais, Belo Horizonte.
banhos ou para uso estratégico, nas épocas cross” (Cynodon dactylon (L.) pers.) e feijão
TAFFAREL, L.E. Produtividade e qualidade
de escassez. Sua utilização, na prática, é guandu (Cajanus cajan (L.) Millsp) em car-
da forragem do feno de capim tifton 85 adu-
uma importante ferramenta para melhorar neiros submetidos a dois regimes alimenta-
bado com N e colhido em duas idades de re-
os índices Zootécnicos do Brasil. Porém, res. Semina: Ciências Agrárias, Londrina,
brota. 2011. 105p. Dissertação (Mestrado em
em grande escala, deve sempre ser prece- v.28, n. 3, p. 513-520, jul./set. 2007.
Zootecnia) – Universidade Estadual do Oeste
dida de estudos de viabilidade econômica. MOREIRA, R.M. Avaliação nutricional de do Paraná, Marechal Cândido Rondon, 2011.

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54 Conservação de alimentos para bovinos

Eficiência de confecção da silagem de milho:


processamento de grãos e tamanho de partícula
Mikael Neumann 1
Fabiano Marafon 2
Robson Kyoshi Ueno 3

Resumo - Dentre os fatores que determinam a qualidade da silagem de milho (Zea mays L.),
a fragmentação da forragem e a quebra eficaz dos grãos são etapas que exercem efeitos tan-
to sobre o processo de conservação como sobre a ingestão e a utilização da energia pelo ani-
mal. Um dos principais fatores que têm influência sobre o tamanho das partículas durante
a colheita é o estádio em que a planta se encontra, sendo que o avanço no ciclo da cultura
proporciona redução do teor de umidade, associado à maior deposição de lignina na estru-
tura fibrosa, caracterizando maior resistência da planta ao processamento. Algumas técni-
cas têm sido propostas para assegurar que as partículas estejam de acordo com os padrões
definidos durante a confecção da silagem, sendo a utilização de peneiras com diferentes ta-
manhos de crivos, o método mais difundido para essa avaliação, o que possibilita regular a
colhedora de forragem de acordo com as condições encontradas nas lavouras. A mensura-
ção do tamanho de partículas constitui importante ferramenta para a adequada regulagem
do maquinário, com a finalidade de facilitar o processo fermentativo e a conservação dos
nutrientes da silagem. A colheita de lavouras com ciclo reprodutivo avançado possibilita
maior participação de grãos na massa total e, quando colhidos com acessório quebrador
de grãos, adaptado à ensiladeira, reduz a proporção de grãos inteiros, no total da planta.
Palavras-chave: Zea-mays. Endosperma farináceo. Endosperma vítreo. Ensilagem. En-
siladeira. Quebrador de grãos. Separador de partículas de forragem. Matriz proteica.

INTRODUÇÃO A diversidade edafoclimática brasi- Dentre os diferentes tipos de alimentos


leira proporciona grande sazonalidade volumosos utilizados nos sistemas de pro-
O Brasil possui, atualmente, um re-
na produção forrageira. Neste sentido, os dução animal, a silagem de milho continua
banho de 1,15 milhão de bubalinos, 14
alimentos conservados, principalmente representando uma importante fonte de
milhões de caprinos e 16,8 milhões de
sob a forma de silagem, possuem ampla matéria seca (MS), em razão da grande
ovinos. Porém, a criação que se destaca
importância para o sistema pecuário, uma capacidade de produção de biomassa de
é a de bovinos, que possui um rebanho vez que sua utilização diária já é observa- milho por unidade de área (>15 t/ha de
de, aproximadamente, 212,8 milhões de da em grande parte das empresas rurais. MS), associada à sua alta densidade ener-
cabeças (IBGE, 2012), atingindo uma O uso de silagens de milho (Zea mays gética ̶ >68% de nutrientes digestíveis
produção perto de 30 bilhões de litros L.) na alimentação de ruminantes faz-se totais (NDT) ̶ decorrente da presença
de leite (PRODUÇÃO..., 2012) e 9,4 mi- necessário pela constância da qualidade intensa de amido (>30% na MS) e da baixa
lhões de toneladas de equivalente carcaça do volumoso presente na dieta, sendo concentração de carboidratos fibrosos ̶
(ABIEC, 2012). Juntas, as produções de esse um fator decisivo que garante boa <50% de fibra em detergente neutro (FDN).
leite e de carne bovina brasileira geram sanidade, desempenho animal e redução No entanto, a qualidade da silagem de
uma receita bruta anual de, aproximada- nos custos para atingir os resultados milho resultante, representada pela relação
mente, R$ 65 bilhões. esperados. entre o potencial de consumo e a capacida-

1
Engo Agro, Dr., Prof. Adj. UNICENTRO-PR, CEP 85040-080 Guarapuava-PR. Correio eletrônico: mikaelneumann@hotmail.com
2
Médico-Veterinário, M. Sc. Agronomia UNICENTRO-PR, CEP 85040-080 Guarapuava-PR. Correio eletrônico: fabiano_marafon@hotmail.com
3
Médico-Veterinário, Doutorando Zootecnia UFRGS, CEP 91540-000 Porto Alegre-RS. Correio eletrônico: robsonueno@hotmail.com

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Conservação de alimentos para bovinos 55

de de digestão da MS, tem sido depreciada disponíveis para os produtores de silagem. nho das partículas é a retirada de algumas
por equívocos operacionais cometidos no São divididas em duas categorias: a primei- facas do rotor. Essa regulagem é menos
momento da colheita das plantas, em vir- ra é representada por maquinários que se rotineira e aconselhada somente para pro-
tude da obtenção de padrões de tamanho acoplam a tratores, e possuem capacidade fissionais capacitados, em razão dos riscos
de partículas e de processamento de grãos de corte variável, conforme a cultura e a à segurança e ao correto funcionamento
inapropriados. tecnologia empregada; a segunda, baseia- que esse componente da colhedora oferece.
De maneira geral, a inobservância de se no uso de colhedoras de forragens de Além disso, a ensiladeira pode ser re-
padrões de tamanho de partículas e de pro- maior capacidade de colheita e processa- gulada por ajuste da distância entre facas
cessamento de grãos durante a colheita das mento das plantas, designadas autoprope- e contra-facas do maquinário (Fig.1). Esta
plantas para silagem pode promover perdas lidas. No entanto, independentemente do parte é, na maioria das vezes, ignorada
significativas em razão de erros cometidos modelo da colhedora, a correta regulagem pelos produtores ou até mesmo pelo des-
relacionados com o tempo dispendido para desses equipamentos é fator decisivo para conhecimento da existência dessa peça, o
colheita, ao fechamento do silo de arma- a qualidade do produto final. que faz com que o maquinário não propor-
zenamento, ao consumo de óleo diesel, à Para obter um processamento adequado cione o desempenho esperado. As facas e
compactação da massa ensilada, à geração das plantas, vários fatores devem ser ob- contra-facas devem estar reguladas a uma
de efluentes, ao perfil de fermentação ob- servados antes e durante a colheita. Fatores distância de 0,7 a 1 mm, umas das outras,
tido, à estabilidade aeróbia da silagem, ao como a correta manutenção e regulagem do sendo que distâncias maiores culminam em
consumo animal e à eficiência alimentar. maquinário, associadas ao estádio em que tamanhos de partículas maiores e desuni-
Este artigo tem por objetivo evidenciar as plantas se encontram, podem ser deci- formes. Vale ressaltar que as contra-facas
os padrões mínimos exigidos para tamanho sivos na qualidade da silagem produzida. devem apresentar seus cantos “vivos”,
de partículas e processamento de grãos na A regulagem de uma ensiladeira aco- ou seja, o ângulo formado em sua quina
confecção da silagem de milho. plada ao trator pode ser feita pela troca deve apresentar 90º, e quando esta peça
de engrenagens, as quais determinam a apresentar desgaste ou estiver danificada,
COLHEITA DAS PLANTAS X velocidade que os rolos de alimentação deve ser realizada a troca imediatamente.
PROCESSAMENTO DA
trabalham, aumentando ou diminuindo o A afiação das facas deve ser feita sempre
FORRAGEM
fluxo do rotor que contém as facas. Geral- antes do início dos trabalhos e repetida sem-
A colheita das plantas de milho é re- mente, os fabricantes desses maquinários pre que o maquinário perder o seu padrão de
alizada com equipamentos denominados dispõem de especificações que instruem corte. Essa prática, geralmente, é feita com
ensiladeiras, que executam o ato de con- as diferentes combinações de engrenagens auxílio de pedras de afiar, que podem vir
dicionar a forragem sob situações especí- para adequação do tamanho de partícula acopladas à ensiladeira ou como acessório
ficas, necessárias para o ensilamento. Tem desejado. Outra forma de regular o tama- obrigatório.
por objetivo melhorar a qualidade física
do material, por meio de um tratamento
mecânico da porção vegetativa e dos grãos,
realizado principalmente por cortes suces-
sivos, buscando uma padronização no ta-
manho médio das partículas das diferentes
estruturas das plantas e o total rompimento
da fração pericarpo dos grãos. Um perfeito
processamento possibilita maior exposição
das porções fibrosas da planta e dos grânu-
los de amido aos ácidos produzidos durante
Nogueira Máquinas Agrícolas

o período de fermentação no silo, além de


aumentar a superfície de contato dessas
porções ao ataque de bactérias, protozoá- Contrafaca vertical
rios e fungos que compõem a microfauna
Faca
ruminal (FACTORI, 2008).
A correta fragmentação da planta cons- Contrafaca horizontal
titui estratégia importante para confecção
de alimentos conservados. Existem dife- Figura 1 - Demonstração da localização das facas e contra-facas em ensiladeira de
rentes modelos de colhedoras de forragem acoplamento em tratores

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56 Conservação de alimentos para bovinos

Maquinários denominados autoprope- resistência ao processamento. No entanto, digestão, devem ser reduzidas do tamanho
lidos possuem suas regulagens muito o principal fator que pode dificultar a re- original por meio da ruminação, obtendo,
parecidas com as das ensiladeiras de aco- dução do tamanho de partículas em uma como resultado, o estímulo à secreção de
plamento em tratores, sendo a retirada de lavoura é o estádio de desenvolvimento saliva e tamponamento do rúmen.
facas do rotor desses maquinários mais em que as plantas se encontram, no mo- Ferreira (2001) sugere que a adequação
frequentes que em ensiladeiras normais. mento da colheita. Sendo assim, o avanço do tamanho de partículas de silagens de-
Entretanto, é importante ter conheci- no ciclo da cultura proporciona redução veria considerar o teor de MS das plantas.
mento da estrutura e funcionamento do do teor de umidade da planta, associado Quanto maior o teor de MS, menor deve
maquinário, pois a retirada das facas deve à maior deposição de lignina na estrutura ser o tamanho de partículas para favorecer
ser feita de forma que o rotor não fique fibrosa, caracterizando maior resistência a compactação e a quebra dos grãos na
desbalanceado, em razão da alta rotação ao processamento. silagem, o que contribui para obter um
que esta parte da ensiladeira atinge durante Segundo Heinrichs e Kononoff (2002), alimento com menores perdas de nutrientes
o trabalho, podendo trazer prejuízos de existe uma variedade de tamanhos em que e, portanto, maior valor nutritivo. Con-
elevada monta para o maquinário. Com a as partículas das forragens e/ou silagens comitantemente, com o avanço no ciclo
retirada das facas, a velocidade de rotação podem ser reduzidas. O tamanho de par- de vida das plantas, ocorre redução na
do sistema de alimentação consiste em um tícula é, principalmente, atribuído ao ato digestibilidade da sua porção fibrosa, fato
meio para melhor administrar o tamanho da colheita no campo, porém métodos de este compensado pela maior participação
de partícula desejado. descarga do silo, desensilagem, utilização e qualidade dos grânulos de amido. Nesse
Durante a confecção de silagens, o de vagões forrageiros, misturadores de die- sentido, Ferreira (2001) sugere tamanho
tamanho das partículas é um ponto impor- ta total e, finalmente, o sistema de entrega médio de partículas de 12 a 16 mm para
tante a ser observado, pois este fator pode de alimentos para os animais, podem ter plantas com teor de MS menor que 28%;
determinar a qualidade da compactação e, efeitos diretos nas partículas e causarem 8 a 12 mm para teores de MS entre 30% e
consequentemente, o tipo de fermentação algum grau de redução no seu tamanho. 35% e 5 a 8 mm para materiais que possu-
do silo, estando diretamente relacionada O processamento eficiente das plantas írem teor de MS superior a 37%.
com as respostas na produção animal. apresenta benefícios quanto à qualidade Algumas técnicas têm sido propostas
da silagem resultante e, também, quanto para assegurar que as partículas estejam
TAMANHO DE PARTÍCULA ao desempenho dos animais, sendo mais dentro dos padrões definidos durante a
DA SILAGEM expressiva para produtores que possuem confecção das silagens de milho. Destaca-
Sob ambiente prático das proprieda- exploração em larga escala e que usufruem se o método desenvolvido por Heinrichs e
des rurais, o tamanho das partículas das dos serviços de maquinários. Segundo Kononoff (2002), chamado Penn State Par-
silagens é muito variável e diretamente McDonald (1991), um tamanho de par- ticle Size Separator (SPPS). Este método
relacionado com os implementos utilizados tícula inferior a 20 mm pode favorecer a define a proporção de material retido entre
para sua confecção, sendo a potência do disponibilidade de carboidratos solúveis e, peneiras que possuem diferentes tamanhos
trator e as condições da máquina colhedora consequentemente, estimular o crescimen- de crivos, onde, partículas maiores ficam
importantes fatores para garantir um bom to das bactérias láticas que promovem a retidas em uma peneira de diâmetro de
padrão de tamanho de partícula (NEU- queda do pH da silagem, fazendo com que 19,0 mm; partículas intermediárias em uma
MANN et al., 2007). o material se torne estável. peneira de 8,0 mm e partículas menores re-
A produção, a composição e o estádio De acordo com National Research tidas em uma peneira de crivos de 1,18 mm,
em que a planta se encontra no momento Council (2001), animais ruminantes ne- restando ainda partículas que ficam
da colheita são fatores importantes, quando cessitam de uma relação mínima de fibra retidas no fundo do equipamento, com
se trata de tamanho de partícula. Lavouras na constituição da sua dieta, sendo esta tamanho inferior a 1,67 mm, porque os
que possuem alta produção de biomassa importante por unir os conteúdos físico poros da peneira anterior são quadrados
por unidade de área tendem a exigir um e químico da forragem e quantificar seu (1,18 x 1,18 mm), com a diagonal medindo
maior tempo de colheita, justificado pelo valor para o funcionamento do rúmen. 1,67 mm. Considera-se como ideal que de
fato de possuir maior quantidade de ma- O tamanho de partícula correlaciona-se 3% a 8% das partículas fiquem retidas na
terial a ser processado pela colhedora. A positivamente com a taxa de passagem do peneira superior (partículas > 19,0 mm);
participação dos diferentes constituintes na alimento pelo rúmen, sendo convenciona- de 45% a 65% das partículas encontrem-
estrutura física da planta também torna-se do que partículas menores que 1,18 mm se no estrato intermediário (partículas
um fator influente no tamanho de partícula, passariam pelo esfíncter que liga o rúmen- entre 19,0 a 8,0 mm), de 30% a 40%
visto que partes como o colmo, sabugo retículo ao omaso, porém, para que as das partículas fiquem retidas na peneira
e brácteas (palhas) possuem uma maior partículas maiores sigam o fluxo normal da inferior (partículas entre 8,0 a 1,67 mm),
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Conservação de alimentos para bovinos 57

e que no máximo 5% fiquem depositados NOFF; HEINRICHS; LEHMAN, 2003). maturação, sendo que, com o avançar do
no fundo do equipamento (partículas Por outro lado, o menor tamanho de par- ciclo, ocorre maior deposição de amido nos
< 1,67 mm), gerando um tamanho médio tícula pode ter efeito negativo no rúmen, grãos. Assim, plantas com teor de MS in-
de partículas entre 10 e 15 mm. Desse resultando em menor tempo de ruminação ferior a 35% possuem menor participação
modo, existem silagens com diferentes e, consequentemente, queda na produção desse carboidrato em sua composição, sen-
tamanhos de partículas, e a adequação das de bicarbonato (NEUMANN et al., 2007), do, nesse caso, difícil de prever o benefício
proporções entre os diferentes tamanhos que é importante por exercer efeito de tam- do processamento da fração grãos. Portan-
seria a responsável pela maior aceitação e, ponamento do ambiente ruminal. to, espera-se um aumento significativo no
finalmente, maior produção animal. Vários trabalhos foram conduzidos, desempenho animal, quando as plantas
A relação entre tamanho de partícula utilizando diferentes tamanhos de partí- são colhidas no estádio de grão farináceo.
e qualidade da silagem de milho foi evi- culas de forragens (HEINRICHS; KO- A principal intenção do processamento
denciada por Neumann et al. (2007), ao NONOFF, 2002; SCHWAB et al., 2002; mecânico é quebrar o revestimento exterior
avaliarem diferentes tamanhos de partí- KONONOFF; HEINRICHS, 2003), e do grão e facilitar o acesso microbiano para
culas (2 a 6 e 10 a 20 mm para partículas mostraram que a redução no tamanho de as reservas de amido e, consequentemente,
pequenas e grandes, respectivamente) e partícula tem influência em diminuir as aumentar a digestão ruminal do amido total
diferentes alturas de corte (baixo e alto) da atividades de ruminação, de produção de (RÉMOND et al., 2004). Ainda segundo
planta de milho, concluíram que partículas saliva e o favorecimento para a ocorrência esses autores, o processamento e a diges-
menores determinam maior eficiência de de distúrbios metabólicos. De outra forma, tibilidade podem variar de acordo com a
compactação da massa ensilada, dimi- Kononoff e Heinrichs (2003) não observa- vitreosidade dos grãos.
nuindo gradientes de temperatura e pH na ram diferenças significativas na atividade De acordo com Owens e Zinn (2005), o
desensilagem, quando comparadas com de ruminação, ingestão de MS, pH ruminal, endosperma do grão de milho normalmente
silagens de partículas grandes. digestão aparente de carboidratos totais e representa entre 80% a 85% de sua massa
A utilização de partículas pequenas na de fibras e a produção de leite de vacas total, sendo esse basicamente composto
confecção das silagens pode definir meno- em início de lactação, quando se reduziu o de amido (80%). O endosperma pode ser
res custos de produção e menores perdas tamanho de partículas da silagem de milho. classificado em dois tipos, o vítreo e o
durante a retirada e a distribuição das si- À medida que as partículas da porção farináceo.
lagens aos animais. Porém, não é possível vegetativa da silagem de milho diminuem O endosperma vítreo, também chamado
eliminar perdas de MS das silagens, espe- de tamanho, existe a tendência de, simul- endosperma córneo, é a fração amarelo-
cialmente quando estas apresentam teores taneamente, ocorrer uma proporcional escura localizada mais externamente no
de MS abaixo de 30% (BALSALOBRE; redução do tamanho das partículas de grão; nesse local o amido é altamente vítreo
NUSSIO; MARTHA JUNIOR, 2001). grãos, aumentando a área disponível para o e compactado em células com formatos
Máquinas que apresentem excesso de ataque microbiano o que resulta em maior poligonais envoltos em uma densa matriz
picagem e/ou dilaceração das partículas extensão da fermentação dessa fração no proteica (PEREIRA et al., 2004). O endos-
ocasionados pelo uso de equipamentos rúmen. Entretanto, não necessariamente, a perma farináceo, localizado próximo ao
indevidos ou mal regulados, podem promo- redução no tamanho de partículas possui centro do grão, é mais opaco. Os grânulos de
ver rompimento das membranas celulares efeito sobre o processamento de grãos na amido contidos nesse endosperma possuem
do tecido vegetal com consequente extra- silagem, tornando-se necessária uma aten- formas de grandes esferas que são pouco
vasamento de líquido celular, lixiviação de ção especial e a utilização de equipamentos organizadas e não incorporadas a uma ma-
nutrientes e formação de efluentes durante apropriados para esse fim. Atualmente, os triz proteica ou com uma matriz proteica
a fermentação. O resultado será uma sila- maquinários autopropelidos já possuem um descontínua (OWENS; ZINN, 2005).
gem malconservada, com altos índices de equipamento que permite o processamento A matriz proteica contida nos grânulos
perdas de nutrientes e que estará constan- da planta de milho com partículas de maior de amido, principalmente do endosperma
temente promovendo poluição ambiental. tamanho na porção vegetativa, associada a vítreo, é um fator limitante, quando se refe-
O problema torna-se mais grave, quando uma eficaz fragmentação dos grãos. re à disponibilidade desse carboidrato para
se trata de forragens cortadas com alta o aproveitamento na nutrição de ruminan-
umidade (<27% de MS). PROCESSAMENTO DOS tes, pois impede a atuação de enzimas, de
GRÃOS NA SILAGEM
O adequado tamanho de partícula da bactérias e de protozoários sobre este (LO-
silagem exerce efeito favorável ao con- Segundo Factori (2008), o processa- PES et al., 2002). Segundo esses autores,
sumo de MS e à taxa de passagem pelo mento físico dos grãos constitui estratégia o processo de ensilagem pode melhorar a
trato digestivo, consequentemente, eleva o importante para a colheita de plantas, disponibilidade e/ou a utilização do amido
aporte de energia para o animal (KONO- principalmente em avançado estádio de dos grãos, dependendo do método, espécie
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58 Conservação de alimentos para bovinos

animal e fonte dos grãos, pois a fermenta- acoplagem nas ensiladeiras, os processado- RESULTADOS DE PESQUISA
ção ocorrente no processo de conservação res de grãos, têm sido desenvolvidos pelas
Casos de silagens com fragmentação
de plantas forrageiras atua de forma posi- indústrias, sendo um reflexo da preocupação
ineficiente dos grãos, em que é possível
tiva sobre a fração grãos, rompendo esta para com essa problemática.
visualizá-los maldigeridos no esterco dos
matriz proteica e disponibilizando o amido Em um trabalho conduzido por Szasz animais, gera preocupação por representar
para ser aproveitado na forma de ácidos et al. (2007), ao avaliarem híbridos de mi- falha na eficiência do processo. Nesses
graxos voláteis no metabolismo animal. lho com diferentes texturas de grãos, para casos, grande parte dos esforços despen-
A quebra dos grãos durante a confecção confecção de silagens de grãos úmidos, didos na fase agronômica se esvai, com o
das silagens é um ponto importante que evidenciou-se que os híbridos que apre- baixo aproveitamento, pelos animais, do
aumenta a produção animal sem aumentar sentavam grãos com maior vitreosidade amido produzido pelas plantas. Portanto,
significativamente os custos produtivos e a foram mais digestíveis em relação aos que a eficiência na digestão do amido de sila-
mão de obra. Os animais de alta produtivi- apresentavam menor vitreosidade. Esses gens de espécies graníferas é um desafio
dade, principalmente aqueles com aptidão autores sugerem que os efeitos negativos para os agentes do sistema produtivo de
leiteira, apresentam uma alta taxa de pas- da maior vitreosidade dos grãos podem ruminantes.
sagem, ou seja, o alimento passa para os ser contornados pelo seu maior processa- Marafon (2013) avaliou uma alternati-
outros compartimentos do estômago e para mento e a atuação dos ácidos oriundos da va que propunha o maior aproveitamento
os intestinos de forma rápida. Assim, quan- fermentação das silagens. Porém, Corona, do amido da silagem de milho por meio do
do os grãos encontram-se processados, Owens e Zinn (2006) só observaram me- uso de um acessório acoplado à ensiladeira,
maior é a área de contato do amido com lhoria na digestibilidade de grãos de milho desenvolvido com o intuito de propor-
os microrganismos ruminais, permitindo cionar maior fragmentação dos grãos da
com alta vitreosidade, quando submetidos
sua melhor digestão.
à floculação, sugerindo melhorias no nível planta. As lavouras foram colhidas em dois
A digestibilidade da fração fibrosa estádios reprodutivos, em R3-R4 ou R5
de carboidratos totais e da fração proteica.
pode variar de 30% a 55%, representando (apresentando grão pastoso a farináceo ou
De acordo com Owens e Zinn (2005),
um diferencial de energia suficiente para farináceo a duro, respectivamente), quando
o processamento dos grãos de milho na
a produção de mais de 2 litros de leite de as plantas apresentaram teores de MS de
silagem só é justificado, quando estes grãos
vaca/dia; em compensação, a digestibili- 31,35% e 39,03%, nos respectivos estádios
já apresentam uma alta taxa de deposição
dade do amido pode variar de 50% a 90%, (Quadro 1).
de amido, caracterizando um estádio
representando mais de 2,7 litros de leite/ Utilizando uma adaptação do método
avançado no ciclo da cultura. No entanto,
vaca/dia (FERREIRA, 2001). Essa ampla de avaliação do tamanho de partículas,
sugere-se que em se tratando de teores de
diferença na digestibilidade do amido sugerido por Heinrichs e Kononoff (2002),
MS maiores que 33%, já é possível obser-
pode ser reduzida com o processamento Marafon (2013) observou diferenças signi-
var resposta quanto a sua utilização.
dos grãos, aumentando sua participação ficativas apenas nas partículas de tamanho
na dieta total dos animais, favorecendo o Logo, o processamento do grão na sila-
entre 7 a 19 mm e inferior a 7 mm, tanto
crescimento microbiano ruminal. gem, principalmente em casos de colheita
para os diferentes estádios de colheita
O melhoramento genético vegetal pro- em estádio reprodutivo avançado, possui
quanto para os diferentes processamentos.
porcionou a obtenção de híbridos de milho grande relação com a degradabilidade
No entanto, as proporções de partículas
com rápida taxa de secagem dos grãos. efetiva da MS. Factori (2008) efetuou um
retidas nas peneiras apresentaram-se de
Atualmente, é possível observar em vários processamento, utilizando maquinário
acordo com as recomendações.
híbridos de milho um estado de plantas para confecção de silagem de grãos úmi- Foi evidenciada grande alteração nas
totalmente verdes (stay green excelente/ dos após o corte da forragem com uma proporções de grãos inteiros presentes nas
ótimo), porém, com os grãos já em estádio ensiladeira convencional, visando obter silagens entre os diferentes estádios de
avançado de maturação fisiológica. Em efeito apenas sobre os grãos da massa de colheita, sendo 2,59% da massa total para
silagens confeccionadas com esses mate- milho colhida em diferentes épocas, sendo o estádio R3-R4 e 10,27% para o estádio
riais, existe uma grande possibilidade de estas nos estádios R4 e R6 (grão farináceo R5, justificados pela maior deposição de
encontrar aquelas com teores de MS abaixo e plenamente duro, respectivamente). amido no estádio mais avançado da planta
de 30% e grãos de milho no esterco dos Esse autor concluiu que o processamento de milho. Portanto, a maior maturidade
animais. Isto tem recebido maior atenção do grão influenciou em maior degrada- das plantas favorece a vitreosidade dos
dos produtores e pesquisadores nos últimos bilidade ruminal, com média de 50,3%, grãos, o que impõe maior dificuldade para
tempos, os quais vêm buscando tecnologias para o tratamento com esmagamento da a ensiladeira realizar sua fragmentação e
que permitam maior aproveitamento dos forragem, e 42,0%, para o tratamento sem proporciona elevada quantidade de grãos
grãos. Assim, acessórios opcionais para o esmagamento. inteiros na silagem.
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Conservação de alimentos para bovinos 59

Esta situação remete a um contraponto QUADRO 1 - Distribuição porcentual por peneiras das partículas e grãos inteiros (base no
bastante discutido na ciência da silagem, peso in natura) presentes na massa das silagens colhidas em diferentes estádios
em que, de um lado, podem-se colher as de maturação, associadas ao uso do equipamento quebrador de grãos
plantas em estádio imaturo e obter uma Acessório quebrador de grãos Estádio reprodutivo Média
silagem com menor proporção de grãos, R3-R4 R5
porém eficientemente fragmentados; de ou- Peneira >19 mm (%)
tro, pode-se tardar a colheita das plantas e Sem 12,00 12,00 12,00 a
obter maior proporção de grãos na silagem, Com 12,17 12,35 12,26 a
porém pode carretar em má fragmentação Média 12,08 A 12,17 A
e digestão desses grãos. Entretanto, não Peneira entre 7 a 19 mm (%)
se pode esquecer de considerar a faixa de
Sem 50,00 46,62 48,31 a
teores de MS ideal à fermentação da massa.
Com 46,30 43,45 44,87 b
Em outras palavras, tardar a colheita
Média 48,15 A 45,03 B
do milho para aumentar a quantidade
Peneira < 7 mm (%)
de grãos na silagem requer maquinários
Sem 38,02 41,37 39,69 a
eficientes para fragmentação dos grãos e
Com 41,52 44,25 42,88 b
compactação da massa. Apesar de a matu-
ração da planta também causar redução na Média 39,77 B 42,81 A

digestibilidade do grânulo de amido, pelo Grãos inteiros na silagem (% na MS)


(1)

desenvolvimento de uma matriz proteica Sem 2,60 aB 11,85 a A 7,22


envoltória, geralmente a maior quantidade Com 2,57 aB 8,70 b A 5,63
de amido depositada supera os efeitos da Média 2,59 10,27
perda da digestibilidade, proporcionando FONTE: Marafon (2013).
melhor desempenho animal com silagens NOTA: Médias seguidas de letras maiúsculas diferentes, na linha, diferem entre si pelo Teste
F a 5%. Médias seguidas de letras minúsculas diferentes na coluna diferem entre si
mais maduras.
pelo Teste F a 5%.
No trabalho de Marafon (2013), a MS - Matéria seca.
produção de MS apresentou diferenças, (1) Na interação entre estádio reprodutivo e processamento de grãos, letras minúsculas dife-
conforme o estádio de colheita da planta, rentes na coluna, compara-se o efeito do estádio reprodutivo dentro de cada processamento,
demonstrando valores de 16.816 kg/ha, em enquanto letras maiúsculas diferentes na linha, compara-se o efeito do processamento dentro
R3-R4, e 18.300 kg/ha, em R5. Também de cada estádio reprodutivo, pelo Teste F a 5%.
foram encontradas diferenças na proporção
de grãos da massa, quando plantas colhidas
causou efeito na fragmentação da fração O Núcleo de Produção Animal (Nupran)
em R3-R4 apresentaram 32,35% de grãos,
fibrosa, evitando, assim, um desbalanço na da Universidade Estadual do Centro-Oeste
enquanto as colhidas em R5 apresentaram
proporção ideal do tamanho de partículas no Paraná (Unicentro), vem desenvolvendo
39,85% de grãos.
retidas nas peneiras. uma pesquisa com 26 confinadores de bo-
No experimento relatado (MARAFON,
Portanto, esses dados permitem con- vinos de corte na região central do estado
2013), quando se utilizou o acessório que-
siderar que o processo de ensilagem de do Paraná, com a finalidade de caracterizar
brador de grãos na ensiladeira, foi possível
milho em estádio de grãos pastosos a fari- e identificar os principais pontos críticos
observar uma significativa diminuição no relacionados à confecção de alimentos
porcentual de grãos inteiros na silagem co- náceos pode ser realizado com ensiladeiras
volumosos conservados.
lhida no estádio R5, reduzindo de 11,85% convencionais e, desde que bem reguladas,
Em razão do favorecimento em clima
(sem quebrador de grãos) para 8,70% (com garantem eficácia na fragmentação dos
e fertilidade do solo, os produtores de
quebrador de grãos), demonstrando uma grãos e do tecido fibroso. Já ao tardar a
bovinos dessa região, os quais utilizam vo-
atuação benéfica desse acessório sobre colheita para estádio de farináceo a duro, lumosos conservados na dieta dos animais,
a fragmentação desses grãos inteiros, na é provável que esse processo exija equipa- fundamentam-se na cultura do milho para
ordem de 26,58% (Quadro 1). mentos mais específicos, desenvolvidos e uso na forma de silagem. Essa pesquisa
O fato de o acessório quebrador de testados para garantir que o amido acumu- foi realizada entre as safras de 2010/2011
grãos não ter influenciado drasticamente na lado não seja desperdiçado pelos animais, e 2011/2012, abrangendo cerca de 630 ha
proporção dos diferentes tamanhos de par- por causa da dificuldade de digestão dos de milho cultivado para silagem em cada
tículas da forragem pode ser considerado grãos duros e que, possivelmente, perma- ano, demonstrando média de cultivo de
um ponto positivo, pois sua utilização não necerão inteiros. 24,2 ha por produtor.
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60 Conservação de alimentos para bovinos

As lavouras atingiram produtividade com alimentos concentrados pelo forneci- A avaliação do tamanho de partículas
média de 63.348 kg/ha de forragem úmida mento de um alimento de valor nutritivo da forragem no momento do corte é uma
e 21.123 kg/ha de forragem seca. A compo- constante, ao longo do ano, e com baixo prática importante e comumente realizada
sição dessa forragem, na MS, apresentou-se custo de produção por unidade de energia nos processos de ensilagem norte-america-
com 41,3% de grãos; 20,1% de colmo; 19,5% conservada. nos. Entretanto, no Brasil, ainda é pouco
de folhas e 19,1% de brácteas mais sabugo. Direcionando o foco dessa pesquisa utilizada e/ou difundida por produtores e
De acordo com Neumann et al. (2011), para o ajuste ideal do tamanho de partícula técnicos. O uso do equipamento separador
um híbrido de milho, com boas caracterís- e o processamento dos grãos da forragem de partículas consiste em um método práti-
ticas para produção de silagem, deve-se na colheita da cultura e visando identi- co para a avaliação da picagem da massa,
apresentar no dia da colheita com menos ficar problemas que os erros nessa etapa proporcionado pelo processamento das
de cinco folhas secas por planta, altura de do processo podem acarretar ao longo do ensiladeiras no ato da colheita da forragem.
plantas entre 1,9 e 2,6 m e inserção da es- período de conservação e fornecimento A técnica consiste na inserção de uma
piga de 0,8 a 1,2 m, produção de forragem do alimento, adotou-se como método amostra de forragem no equipamento,
úmida acima de 55.000 kg/ha e de forra- de avaliação das partículas o sistema de que será agitado uniformemente em uma
gem seca acima de 18.000 kg/ha e mais de peneiras portáteis (Fig. 2), adaptado do superfície plana, para a segregação das
7.000 kg/ha de grãos, além de apresentar, equipamento original SPPS. partículas por tamanho. Em seguida, deve-
em sua composição, menos de 25% de O equipamento separador de partículas se proceder à coleta e à pesagem de cada
colmos, acima de 15% de folhas, menos de forragem utilizado possui duas peneiras estrato, para a realização dos cálculos das
de 20% de brácteas e sabugos e mais de que permitem a estratificação da amostra proporções de forragem retida em cada
40% de grãos no momento da ensilagem. em três porções, considerando o fundo peneira em relação à amostra total.
Os valores encontrados nesse estudo fechado que retém a última parte. A pe- Recomenda-se que esse procedimento
situam-se dentro das faixas de recomen- neira superior possui crivos redondos que seja realizado no campo, durante a ensila-
dação de parâmetros quanti-qualitativos de retêm a fração da forragem picada acima gem, no mínimo três vezes ao dia, e que
híbridos de milho para ensilagem. Portanto, de 19,0 mm; a peneira intermediária retém seus resultados sejam os balizadores da
trata-se de lavouras com pleno potencial partículas entre 19,0 e 7,8 mm e, por fim, tomada de decisão para a regulagem e a
de originar silagens de alta qualidade e no fundo do equipamento ficam retidas as afiação das facas das ensiladeiras. A adoção
quantidade, o que possibilita reduzir custos partículas com menos de 7,8 mm. dessa recomendação permitirá o monitora-

Fotos: Mikael Neumann

30% a 45% 45% a 65% 3% a 8%

Figura 2 - Equipamento separador de partículas de forragem


NOTA: Como este equipamento não possui a peneira de 1,18 mm, diferente do equipamento sugerido por Heinrichs e Kononoff (2002),
o limite máximo para o extrato inferior é de 45% da massa de forragem, e não 40%, por conter as partículas abaixo de 1,67 mm.

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Conservação de alimentos para bovinos 61

mento constante da qualidade da forragem ano de avaliação determinou uma menor aos produtores, no segundo ano de ava-
picada e a afiação das facas no momento proporção de forragem depositada no fun- liação as silagens apresentaram melhor
oportuno, evitando, assim, a obtenção de do do equipamento, apresentando valor no distribuição das partículas nas peneiras
forragens malprocessadas ou a afiação limite da recomendação (30%). (Gráfico 1). Houve menor participação
desnecessária das facas da ensiladeira. Apesar de os desvios serem aparen- de grãos inteiros e semi-inteiros (22% da
Em suma, forragens processadas com temente ínfimos e pouco influentes, ao MS) ou somente inteiros (8,4% da MS). O
partículas de tamanho elevado dificultam analisar o Gráfico 2 pode-se observar que, tamanho médio das partículas das silagens
a acomodação da massa nos reboques no primeiro ano, 29% da MS da silagem era no primeiro ano foi de 12,4 mm na média
de transporte, diminuindo o rendimento composta de grãos inteiros e semi-inteiros dos produtores, enquanto que, no segundo
da carga. Da mesma forma prejudicam a (grãos apresentando mais que 2/3 do tama- ano, foi de 10,1 mm, sendo que o intervalo
compactação, promovendo maior porosi- nho integral), sendo que 13,8% da massa recomendado situa-se entre 10 e 15 mm.
dade da massa e, consequentemente, maior era composta somente por grãos inteiros. Foi possível classificar e agrupar os
quantidade de oxigênio dentro do silo. Considerando esses altos valores de produtores nas silagens avaliadas, con-
A elevada proporção de partículas de grãos malfragmentados no primeiro ano, forme a qualidade do processamento da
tamanho grande permite maior seleção após a apresentação desses resultados forragem, na ensilagem, em: Grupo A -
de alimento no cocho, que resulta em
desperdícios. E tratando-se de forrageiras
graníferas como o milho e o sorgo, po-
65
dem apresentar grãos malfragmentados, 60
reduzindo, dessa forma, a digestibilidade 55
50
do amido. 45
Partículas (%)

40
Além dos critérios de acomodação da 35
massa no silo, para obtenção de um am- 30
25
biente favorável à fermentação desejável, 20
a adequação do tamanho de partículas da 15
10
forragem também exige atenção quanto 5
0
à proporção em que esta será incluída na
> 19 mm 7 -19 mm < 7 mm
ração, e a espécie e categoria de animal
Tamanho de partículas (peneiras)
para as quais será fornecida.
De acordo com Heinrichs e Kononoff Ano 1 Ano 2 Faixa ideal
(2002), quando a silagem de milho for a
Gráfico 1 - Distribuição de partículas, conforme a peneira e o ano de avaliação da sila-
única fonte de volumoso, recomenda-se gem de milho de produtores da região central do estado do Paraná
que as partículas retidas na peneira superior
(>19 mm) representem em torno de 8%
da amostra. Porém, quando existir outra 35
fonte de fibra longa, é recomendável que
Participação na MS da forragem (%)

30
nessa peneira fiquem retidas apenas 3% da
amostra, tendo como intuito permitir um 25
maior processamento dos grãos.
O Gráfico 1 apresenta a média da 20
proporção de partículas retidas em cada
15
peneira das amostras de silagem coletadas
dos produtores da região central do estado 10
do Paraná, em cada ano de avaliação.
No primeiro ano de desenvolvimen- 5

to dessa pesquisa, identificou-se que a 0


distribuição de partículas da silagem Ano 1 Ano 2
encontrava-se ligeiramente fora do inter- Grãos inteiros + Semi-inteiros Grãos inteiros
valo da faixa recomendado para a peneira
Gráfico 2 - Participação de grãos inteiros mais semi-inteiros e somente inteiros na ma-
superior, a qual reteve 9,5% da amostra. O téria seca (MS) das silagens de milho de produtores da região central do
maior tamanho das partículas no primeiro estado do Paraná

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62 Conservação de alimentos para bovinos

produtores com distribuição adequada de


partículas nas peneiras; Grupo B - pro-
dutores com distribuição inadequada de
partículas nas peneiras. 31%
Adequada
52% 48%
Com base no Gráfico 3, no primeiro ano 69% Inadequada
da pesquisa, 69% dos produtores comete-
ram falhas no processamento da forragem
e tiveram sua silagem classificada como
inadequada, de acordo com a recomen- Ano 1 Ano 2
dação de distribuição das partículas no Gráfico 3 - Porcentual de silagens com adequada e inadequada distribuição de partícu-
equipamento de avaliação. É importante las nas peneiras, de acordo com o ano de avaliação
salientar que apenas dois dos produtores NOTA: Amostras de silagens de milho de produtores da região central do estado do Paraná.
com silagem inadequada erraram pelo
excesso de picagem, estando os outros
produtores inadequados pela deficiência 70,0

na fragmentação da forragem, sendo que 60,0


a maior dificuldade foi a fragmentação
50,0
abaixo de 7 mm (Gráfico 4).
Partículas (%)

Já no segundo ano de avaliação, após a 40,0


identificação da dificuldade de fragmenta-
30,0
ção da forragem, somente 52% dos produ-
tores tiveram sua silagem classificada como 20,0
inadequada em tamanho de partícula. Ape- 10,0
sar da discreta melhoria do porcentual de
0,0
silagens adequadas, no segundo ano de ava- < 7 mm
> 19 mm 7 - 19 mm
liação, surpreendentemente ou não, apenas
Tamanho de partículas (peneiras)
um dos produtores com silagem inadequada
foi penalizado pela deficiência de picagem, Ano 1 - picagem adequada Ano 2 - picagem adequada Faixa ideal
estando todos os demais inadequados Ano 1 - picagem inadequada Ano 2 - picagem inadequada
pelo excesso de picagem do material. Gráfico 4 - Distribuição das partículas das silagens com tamanho adequado ou inade-
No primeiro ano de avaliação, o ta- quado de acordo com o ano de avaliação
manho médio de partículas das silagens NOTA: Amostras de silagens de milho de produtores da região central do estado do Paraná.
adequadas foi de 11,1 mm, enquanto que
as inadequadas apresentaram tamanho
médio de 13,1 mm. Já no segundo ano da 16
avaliação, silagens com picagem adequada 14
tiveram o tamanho médio de partículas de
Porcentual de grãos inteiros

12
10,4 mm, enquanto as silagens inadequa-
10
das atingiram tamanho médio de partículas
(% MS)

de 9,4 mm. 8

No Gráfico 4, é possível observar que 6


o principal problema identificado nas 4
silagens inadequadas do segundo ano foi
2
o excesso de partículas abaixo de 7 mm,
0
embora tenha sido verificado que alguns Ano 1 Ano 2
produtores não atingiram 1% da silagem Ano de avaliação
retida na peneira de 19 mm. Picagem adequada Picagem inadequada
Conforme o Gráfico 5, no primeiro
Gráfico 5 - Percentual de grãos inteiros na silagem de milho, conforme a classificação na
ano, as silagens inadequadas apresenta- fragmentação e ano de avaliação
ram maior quantidade de grãos inteiros na NOTA: Amostras de silagens de milho de produtores da região central do estado do
massa, por causa do maior tamanho médio Paraná.

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Conservação de alimentos para bovinos 63

de partículas obtido. Já no segundo ano, 300


quando as silagens estavam inadequadas
pelo excesso de picagem, não se observou 250

Massa específica das silagens


redução da quantidade de grãos inteiros na 200
massa com a maior fragmentação. Portan-

(kg de MS/m3)
to, o excesso de picagem da forragem não 150
diminuiu o porcentual de grãos inteiros.
100
A deficiência na fragmentação da for-
ragem resulta, dentre outros problemas, na 50
dificuldade de compactação da massa no
0
silo, promovendo, com isso, maior aeração Extrato superior Extrato inferior Extrato superior Extrato inferior
da massa e, consequentemente, elevada do silo do silo do silo do silo

perda de energia da forragem. Neste es- Ano 1 Ano 2

tudo, conforme se observa no Gráfico 6, Picagem adequada Picagem inadequada


no primeiro ano de avaliação, quando se Gráfico 6 - Massa específica obtida com a compactação das silagens, conforme a clas-
identificou que as silagens inadequadas es- sificação na fragmentação, extrato do silo e o ano de avaliação
tavam com tamanho de partículas acima do NOTA: Amostras de silagens de milho de produtores da região central do estado do
Paraná.
recomendado, observou-se pior compacta-
ção em relação às silagens adequadas. Já no
QUADRO 2 - Variáveis qualitativas de silagens de milho classificadas como de adequada ou
segundo ano de avaliação, quando os erros
inadequada distribuição de tamanho de partículas, conforme o ano de avaliação
de fragmentação ocorreram por excesso de
Distribuição de Ano de avaliação
picagem, as silagens apresentaram massas Média
partículas da silagem Ano 1 Ano 2
específicas semelhantes.
Teor de MS (%)
No Quadro 2, estão presentes algumas
Adequada 40,4 39,2 39,8 a
variáveis que podem auxiliar na interpre-
Inadequada 39,1 40,6 39,8 a
tação da qualidade nutricional das silagens Média 39,8 A 39,9 A
classificadas de acordo com a eficiência no Teor de FDN (%)
processamento das partículas. Adequada 48,7 49,6 49,1 b
Houve semelhança entre os teores de Inadequada 50,7 51,8 51,2 a
MS das silagens classificadas de acordo Média 49,7 A 50,7 A
com a distribuição das partículas, apre- Teor de FDA (%)
sentando valor médio de 39,8% de MS. Adequada 27,1 26,8 26,9 b
Maiores diferenças foram observadas para Inadequada 29,1 28,2 28,6 a
os teores de FDN e fibra em detergente Média 28,1 A 27,5 A
ácido (FDA), sendo que as silagens com Teor de PB (%)
distribuição de partículas inadequadas Adequada 6,8 6,0 6,4 a
Inadequada 7,2 5,5 6,4 a
apresentaram maiores valores para essas
Média 7,0 A 5,7 A
variáveis, principalmente no primeiro ano
pH
de avaliação, quando as silagens inadequa-
Adequada 4,00 3,89 3,94 a
das estavam com tamanho de partículas
Inadequada 4,04 3,84 3,94 a
acima do recomendado e apresentado
Média 4,02 A 3,86 A
menor compactação da massa. Índice de valor relativo do alimento
Os maiores valores de FDN e de FDA Adequada 134,2 132,6 133,4 a
podem estar relacionados com o maior Inadequada 125,4 123,2 124,3 b
consumo de carboidratos solúveis durante Média 129,8 A 127,7 A
a fermentação e a armazenagem, signifi- NOTA: Médias seguidas de letras maiúsculas diferentes, na linha, diferem entre si pelo Teste
cando maiores perdas de energia. F a 5%. Médias seguidas de letras minúsculas diferentes, na coluna, diferem entre
si pelo Teste F a 5%. Amostras de silagens de milho de produtores da região central
Não foram encontradas grandes alte-
do estado do Paraná.
rações dos teores de proteína bruta (PB), MS - Matéria seca; FDN - Fibra em detergente neutro; FDA - Fibra em detergente ácido;
apresentando valor médio de 6,4%, e dos PB - Proteína bruta.

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64 Conservação de alimentos para bovinos

valores de pH, com média de 3,94. Já para picais. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIE- qualidade da silagem. 2013. 96p. Disser-
o valor relativo do alimento (VRA), as si- DADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 38., tação (Mestrado em Produção Vegetal) −
lagens com tamanho adequado de partícula 2001, Piracicaba. Anais... Piracicaba:SBZ, Universidade Estadual do Centro-Oeste,
2001. p.890-911. Guarapuava-PR, 2013.
apresentaram valor de 133,4, enquanto
as de tamanho inadequado apresentaram CORONA, L.; OWENS, F. N.; ZINN, R. A. NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutri-
valor de 124,3. Impact of corn vitreousness and process- ent requirements of dairy cattle. 7th ed.
O VRA representa um índice que ing on site and extent of digestion by feed- rev. Washington, 2001.
lot cattle. Journal of Animal Science, v.84,
combina informações nutricionais com NEUMANN, M. et al. Aplicação de proce-
n.11, p.3020-3031, Nov. 2006.
potencial de ingestão e digestibilidade dimentos técnicos na ensilagem do milho
do alimento, considerando-se que, para FACTORI, M.A. Degradabilidade ruminal visando maior desempenho animal. In:
de híbridos de milho em função do estádio
silagens de milho, o valor recomendado SIMPÓSIO SOBRE PRODUÇÃO E UTILI-
de colheita e processamento na ensilagem.
situa-se acima de 125. Portanto, a correta ZAÇÃO DE FORRAGENS CONSERVADAS,
2008. 40p. Dissertação (Mestrado em Zoo-
fragmentação das partículas garante me- 4., 2011, Maringá. Anais... Maringá: Stham-
tecnia) – Universidade Estadual Paulista,
lhor qualidade nutricional e proporciona pa, 2011. p.95-130.
“Júlio de Mesquita Filho”, Botucatu, 2008.
maior consumo e digestibilidade das sila- NEUMANN, M. et al. Efeito do tamanho de
FERREIRA, J.J. Estágio de maturação ideal
gens pelos animais. partícula e da altura de coheita das plantas
para ensilagem do milho e sorgo. In: CRUZ,
de milho (Zea mays L.) sobre as perdas du-
J.C. et al. (Ed.). Produção e utilização de
CONSIDERAÇÕES FINAIS rante o processo fermentativo e o período
silagem de milho e sorgo. Sete Lagoas: Em-
de utilização das silagens. Revista Brasilei-
brapa Milho e Sorgo, 2001. cap. 16, p. 405-
No Brasil, o método de avaliação do ra de Zootecnia, Viçosa, MG, v.36, n.5,
428.
processamento das partículas e dos grãos p.1395-1405, set./out. 2007.
das silagens é feito, na maioria das vezes, HEINRICHS, P.J.; KONONOFF, P.J. Evaluating
particle size of forages and TMRs using the OWENS, F.; ZINN, R.A. Corn grain for
de forma empírica pela observação do cattle: influence of processing on site and
New Penn State Forage Particle Separator.
aspecto visual da forragem picada. extent of digestion. Proceedings Southwest
State College: The Pennsylvania State Uni-
O procedimento de mensuração da dis- versity, 2002. 14p. (The Pennsylvania State Nutrition Conference, v.1, n.1, p.86-112,
tribuição das partículas da forragem picada University. Cooperative Extension DAS 2005.
consiste em uma técnica prática e de fácil 0242). PEREIRA, M.N. et al. Ruminal degradability
utilização, que permite a padronização do of hard or soft texture corn grain at three
IBGE. Estatística da produção pecuária.
processamento mecânico da forragem e seu [Rio de Janeiro], 2012. 35p. maturity stages. Scientia Agricola, Piracica-
resultado deve ser designado como parâme- ba, v.61, n.4, p.358-363, 2004.
KONONOFF, P.F.; HEINRICHS, A.J. The
tro base para a regulagem do maquinário.
effect of corn silage particle size and cot- PRODUÇÃO DA PECUÁRIA MUNICIPAL
A padronização do tamanho de partí-
tonseed hulls on cows in early lactation. 2012. Rio de Janeiro: IBGE, v.40, 2012. Dis-
culas dentro das faixas recomendadas de Journal of Dairy Science, Savoy, v.86, n.7, ponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Producao_
distribuição e a eficácia no quebramento p.2438-2451, Jul. 2003. Pecuaria/Producao_da_Pecuaria_Municipal/
dos grãos são etapas do processo de ensi- 2012/ppm2012.pdf>. Acesso em: abr. 2013.
KONONOFF, P.J.; HEINRICHS, A.J.; LEHMAN,
lagem que, quando realizadas adequada- H.A. The effect of corn silage particle size RÉMOND, D. et al. Effect of corn particle size
mente, podem proporcionar melhoria das on eating behavior, chewing activities and on site and extent of starch digestion in lac-
condições requeridas ao correto processo rumen fermentation in lactating dairy tating dairy cows. Journal of Dairy Science,
de conservação, minimizando perdas de cows. Journal of Dairy Science, Savoy, Savoy, v.87, n.5, p.1389-1399, May. 2004.
energia e também favorecendo a melhor v.86, n.10, p.3343-3353, Oct. 2003.
SCHWAB, E.C. et al. Processing and chop
expressão do desempenho animal. LOPES, A.B.R.C. et al. Efeito do processo length effects in brown-midrib corn silage
de ensilagem de grãos úmidos de milho on intake, digestion, and milk production
REFERÊNCIAS nas características microscópicas do amido. by dairy cows. Journal of Dairy Science,
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SZASZ, J.I. et al. Influence of endosperm
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so em: jul. 2013. New York: J. Wiley, 1991. 207p.
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BALSALOBRE, M.A.; NUSSIO, L.G.; MAR- MARAFON, F. Efeito da colheita da planta moisture grain by feedlot steers. Journal
THA JUNIOR, G.B. Controle de perdas na de milho em diferentes estádios reprodu- of Animal Science, v.85, n.9, p.2214-2221,
produção de silagens de gramíneas tro- tivos e do processamento do grão sobre a Sept. 2007.

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Conservação de alimentos para bovinos 65

Utilização de aditivos na ensilagem da cana-de-açúcar


Carla Luiza da Silva Ávila 1
José Cardoso Pinto 2
Beatriz Ferreira Carvalho 3

Resumo - A cana-de-açúcar é tradicionalmente utilizada na alimentação animal sob a


forma verde picada. Seu emprego na forma de silagem tem crescido, como opção para
concentrar a colheita e facilitar o manejo do rebanho. Essa forrageira possui característi-
cas favoráveis para a produção de silagem, porém é suscetível a um alto grau de fermen-
tação alcoólica por leveduras, o que resulta em perdas de matéria seca (MS) e acúmulo
de componentes fibrosos, com a redução da digestibilidade. A adição de aditivos tem
sido recomendada. Dentre os aditivos mais estudados estão a ureia, aditivos alcalini-
zantes, aditivos sequestradores de umidade, aditivos ácidos e seus sais e inoculantes
bacterianos. Alguns têm mostrado resultados benéficos, quanto ao valor nutricional da
silagem, entretanto não reduzem efetivamente as perdas de MS, como é o caso da ureia e
dos sequestradores de umidade. Outros, no entanto, reduzem aparentemente as perdas
de MS, mas podem piorar a qualidade microbiológica das silagens, como os aditivos al-
calinizantes e absorventes. Os inoculantes têm sido uma opção promissora, mas a busca
por espécies bacterianas que trazem melhores benefícios deve ser contínua e incentivada.
Os aditivos devem ser utilizados com o objetivo de otimizar o processo e isto é possível,
quando todas as outras etapas são conduzidas de forma adequada. Além disso, os aditi-
vos devem ser aplicados respeitando as recomendações do fabricante ou do responsável
pela assistência técnica da propriedade.
Palavras-chave: Silagem. Forragem. Alcalinizante. Fermentação. Inoculante. Ureia.

INTRODUÇÃO A cana-de-açúcar é tradicionalmente uma boa opção em situações de incêndio,


fornecida aos animais na forma de for- geadas e para o aproveitamento da sobra
A cana-de-açúcar (Saccharum ssp.)
ragem fresca picada, o que permite bom de forragem, o que evita que permaneça
é uma planta forrageira amplamente uti-
desempenho, quando corretamente suple- no campo de um ano para outro (cana
lizada na alimentação animal. Pode ser
mentada com proteínas e minerais (BOIN; bisada) e, desse modo, com possibilidade
utilizada como principal volumoso em
TEDESCHI, 1993). de ocorrência de tombamento e floresci-
fazendas produtoras de leite e em confina- Nos últimos anos, tem crescido o
mentos de gado de corte. Além da alta pro- mento, situações que reduzem a qualidade
emprego da ensilagem da cana-de-açúcar.
dutividade de forragem (80 a 150 t/ha/ano dessa forrageira. Em um levantamento
Para sua produção, uma grande área
de matéria fresca), apresenta, na época sobre as práticas de produção e uso de
do canavial é colhida de uma só vez,
seca e de escassez de alimentos, seu me- concentrando a utilização de mão de silagens em fazendas produtoras de leite
lhor valor nutritivo, com alto conteúdo obra e maquinário. O corte concentrado verificou-se que a silagem de cana-de-
de energia por unidade de matéria seca possibilita rebrotação mais uniforme e açúcar representa cerca de 19% do total
(MS) produzida, tornando-a economica- maior eficiência nos tratos culturais e nos da silagem produzida em todo o País, e a
mente competitiva em relação às demais cuidados pós-colheita, como capina e fer- adoção dessa tecnologia vem crescendo a
forrageiras. tilização. A ensilagem da cana-de-açúcar é cada ano (BERNARDES, 2012).

1
Enga Agra, D.Sc., Prof. Adj. UFLA - Depto. Zootecnia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: carlaavila@dzo.ufla.br
2
Engo Agro, D.Sc., Prof. Associado UFLA - Depto. Zootecnia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: josecard@dzo.ufla.br
3
Enga Agra, Pós-Doutoranda UFLA, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: beatrizfcarvalho@uol.com.br

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66 Conservação de alimentos para bovinos

A cana-de-açúcar apresenta características ganismos deterioradores, como, por exem- em, aproximadamente, 49% de perda do
adequadas para uma boa fermentação no plo, bactérias do gênero Clostridium, que substrato na forma de CO2 (MCDONALD;
silo, principalmente em função da alta causam o apodrecimento da silagem. Por HENDERSON; HERON, 1991).
concentração de carboidratos solúveis. isso, a concentração de MS da forragem O efeito do etanol sobre o sabor do leite
No entanto, durante a ensilagem da cana- deve ser monitorada, para que a colheita ou o consumo de MS pelos animais ainda
de-açúcar ocorre intenso crescimento de seja realizada no momento certo. não está totalmente esclarecido. Embora
leveduras que fermentam esses açúcares a Os CHOs são o substrato que as BAL o etanol possa ser utilizado como fonte
etanol, resultando em altas perdas de MS. Por utilizam para produzir os ácidos, os quais de energia para animais ruminantes (DA-
causa disso, a utilização de aditivos tem sido vão proporcionar a queda do pH e promo- NIEL; NUSSIO, 2011), a presença desse
recomendada. No entanto, existem dúvidas ver a conservação da silagem. Algumas composto na silagem de cana-de- açúcar
com relação ao aditivo mais adequado. Dessa plantas forrageiras, a exemplo dos capins indica que perdas de MS ocorreram durante
forma, objetiva-se com este trabalho fazer tropicais elefante, tanzânia, tiftons, etc., a fermentação, resultando em redução na
uma revisão dos principais aditivos utilizados apresentam baixa concentração de CHOs, concentração de CHOs e ácidos orgânicos
na ensilagem da cana-de-açúcar, destacando o que faz com que a taxa de crescimento da e um aumento proporcional na concentra-
suas características e os benefícios de sua população de BAL e, consequentemente, ção de fibra da silagem.
aplicação. a produção de ácidos e a conservação da Na maioria dos trabalhos realizados
forrageira ocorram de forma deficiente. para avaliar a silagem da cana-de-açúcar,
ENSILAGEM DA CANA-DE- O poder tampão é a resistência da
AÇÚCAR tem-se observado teores de etanol de 8% a
planta à redução do pH, mesmo diante
17% da MS (PEDROSO et al., 2007), re-
A silagem é produzida basicamente da presença dos ácidos produzidos pelas
sultando em perdas de, aproximadamente,
pela fermentação dos açúcares presentes bactérias. Silagens com alto poder tampão
30% da MS durante o processo de fermen-
na planta forrageira por bactérias. As são mais difíceis de ser preservadas, como
tação. Silagens com essas características
principais responsáveis pela fermentação as das leguminosas alfafa, guandu, soja
são consideradas de baixa qualidade, uma
de silagens são as bactérias do ácido lático perene, etc., em comparação a gramíneas
vez que os CHOs e os ácidos orgânicos são
(BAL), as quais produzem, principalmente, como milho, cana-de-açúcar, sorgo, etc.,
fontes de energia para o animal. A fração
os ácidos lático e acético, os quais vão re- de poder tampão mais baixo, de modo que
fibrosa das forrageiras também é poten-
duzir o pH da silagem. A condição de baixo nessas plantas a redução do pH ocorre de
cial fonte energética, uma vez que parte
pH associada à reduzida concentração de forma mais rápida e intensa. Essas três
da fibra é degradada por microrganismos
oxigênio obtida, principalmente pela boa características devem ser avaliadas em
ruminais, entretanto, a digestibilidade da
compactação da silagem, inibe a maioria conjunto diante da opção de ensilar uma ou
dos microrganismos que poderiam causar fibra da cana-de-açúcar é baixa (CORRÊA
outra forrageira, e conforme tais caracte-
sua deterioração. et al., 2003). Assim, na silagem de cana-
rísticas, a aplicação de aditivos na silagem
Para se obter silagem de boa quali- torna-se uma opção ou uma necessidade. de-açúcar é desejável uma baixa concen-
dade é necessário que a planta forrageira A cana-de-açúcar apresenta teor muito tração de fibra.
apresente características que proporcionem elevado de CHOs, concentração de MS e Em função da dominância da fer-
boa fermentação no silo. Dentre essas ca- poder tampão adequados para a ensilagem, mentação alcoólica por leveduras, que
racterísticas, as três principais incluem os o que a torna ideal para ser conservada por resulta em alta concentração de etanol e
teores de MS, de carboidratos solúveis em esse processo. No entanto, durante a ensi- alta proporção de perdas de MS, muitos
água (CHOs), (açúcares), e o poder tampão lagem da cana, ocorre intenso crescimento aditivos têm sido avaliados em silagem de
da planta no momento do corte para a en- de leveduras, que são microrganismos cana-de-açúcar. O principal objetivo dessa
silagem. A ensilagem de plantas com alto aeróbios facultativos, ou seja, crescem na utilização é reduzir ou inibir o crescimento
teor de MS, acima de 35%, dificulta a com- presença e na ausência de oxigênio. Quando de leveduras para reduzir as perdas de MS
pactação e a fermentação, o que resulta em o oxigênio está presente, esses microrga- e a obtenção de silagens com melhor valor
silagens com alta porosidade, favorecendo nismos crescem rapidamente e na sua au- nutritivo. Dentre os aditivos mais estuda-
o crescimento de fungos filamentosos. Por sência, fermentam os açúcares disponíveis, dos estão a ureia, aditivos alcalinizantes,
outro lado, silagens de plantas com baixa produzindo altas quantidades de etanol. O aditivos sequestradores de umidade,
concentração de MS, abaixo de 25%, são etanol produzido pela via metabólica 1gli- aditivos ácidos e seus sais e inoculantes
mais propensas ao crescimento de micror- cose → 2 etanol + 2 CO2 + 2 H2O, resulta bacterianos.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 4 , n . 2 7 7 , p . 6 5 - 7 2 , n o v. / d e z . 2 0 1 3
Conservação de alimentos para bovinos 67

TIPOS DE ADITIVOS em relação àquelas sem aditivos, como ob- fibrosos da cana-de-açúcar são imediatos
UTILIZADOS NA ENSILAGEM servado em Siqueira et al. (2007) e Pedroso (Fig. 1) (BALIEIRO NETO et al., 2007;
DA CANA-DE-AÇÚCAR et al. (2007). CARVALHO et al., 2012). O tratamento de
Existem diferentes aditivos utilizados Por ser um produto com alta concentra- bagaço de cana-de-açúcar com hidróxido de
na ensilagem da cana-de-açúcar. Tais adi- ção de nitrogênio (N) (45%), a ureia tem sódio resultou na redução da concentração
tivos podem ser microbianos (inoculantes); sido utilizada na alimentação animal com de fibra independente do período de estoca-
produtos químicos (ácidos e seus sais); a finalidade de aumentar a concentração gem (1, 3, 5 e 7 dias) (PIRES et al., 2006),
nitrogênio não proteico (amônia e ureia); de N da dieta. A adição de ureia nas si- comprovando, assim, a rápida atuação da
subprodutos da produção de biodiesel e lagens também aumenta o teor proteico. hidrólise alcalina.
outros como os subprodutos da indústria Pedroso et al. (2007) observaram aumento Os efeitos da adição de agentes al-
de alimentos (polpa cítrica e farelos). na concentração de proteína bruta (PB) da calinos são variáveis em função da dose
cana-de-açúcar de 4,3% para 7,8%; 10,0% aplicada, sendo observada na literatura a
Ureia e 19,5% na MS após a adição de 0,5; 1,0 e utilização de até 3% (com base na matéria
1,5% de ureia, respectivamente. fresca) de NaOH (PEDROSO et al., 2007)
A utilização da ureia, com o objetivo
Apesar de alguns trabalhos mostrarem e de até 2% (com base na matéria fresca)
de reduzir as perdas de MS, baseia-se na
resultados positivos, a adição de ureia em de CaO (BALIEIRO NETO et al., 2007).
transformação desse produto em hidróxido
silagens de cana-de-açúcar justifica-se, O aumento na dosagem dos aditivos até os
de amônia (NH3OH), por meio da reação
principalmente com o objetivo de me- níveis citados potencializa o efeito de redu-
com água. O hidróxido de amônia formado
lhorar o valor nutritivo do que controlar ção de fibra e o aumento na digestibilidade
eleva o pH da silagem, atuando sobre o
o crescimento de leveduras. Nesse caso, da silagem.
metabolismo de microrganismos indesejá-
seu fornecimento diretamente na dieta dos Dentre os aditivos alcalinos discutidos,
veis, principalmente leveduras, inibindo o
animais seria mais recomendado. o hidróxido de sódio é o mais corrosivo.
seu crescimento, reduzindo a produção de
Os outros aditivos são de fácil aplicação e
etanol e, consequentemente, as perdas de Aditivos alcalinizantes economicamente mais acessíveis. A adição
MS (ALLI et al., 1983).
Agentes alcalinizantes são produtos de hidróxido de sódio tem sofrido restrições
Na literatura, observa-se que os efei-
químicos com capacidade de aumentar, de de uso na ensilagem pelos riscos inerentes
tos da utilização da ureia na silagem de
forma expressiva, o pH dos substratos onde à sua manipulação, ao meio ambiente e à
cana-de-açúcar são inconsistentes. Alguns redução da vida útil das máquinas.
são adicionados. Agentes alcalinizantes
trabalhos mostraram redução na população Além da hidrólise alcalina da fibra, a
fortes como o hidróxido de sódio (NaOH),
de leveduras e redução nas perdas de MS. utilização desses aditivos em silagens de
conhecido como soda cáustica, e mais re-
Pedroso et al. (2007) adicionaram ureia na cana-de-açúcar tem sido sugerida com o
centemente a cal virgem – (óxido de cálcio
base de 1,0% e 1,5% da matéria fresca e (CaO) ou cal hidratada − (hidróxido de objetivo de inibir o crescimento de leve-
observaram que as silagens tratadas com cálcio (Ca(OH)2) têm sido utilizados como duras e reduzir a concentração de etanol,
esse aditivo foram as que apresentaram as aditivos em silagens de cana-de-açúcar. preservando os CHOs e reduzindo as perdas
menores perdas de MS, embora as concen- Carbonato de cálcio e calcário também de valor nutritivo durante a ensilagem e
trações de etanol tenham sido semelhantes são utilizados, resultando em menor con- após a abertura do silo. A forma de ação
às obtidas na silagem sem aditivo. Por ou- centração de fibra e maior coeficiente de desses aditivos sobre as leveduras pode ser
tro lado, Siqueira et al. (2007) observaram digestibilidade (AMARAL et al., 2009). explicada pelo aumento da pressão osmó-
aumentos semelhantes na fração fibrosa Esses produtos propiciam a hidrólise alca- tica e/ou aumento do pH que pode chegar
de silagens com e sem ureia durante a fer- lina dos componentes fibrosos, reduzindo a a valores próximos de 12,0. Na maioria
mentação, indicando que as perdas de MS proporção de fibra e aumentando, assim, a dos trabalhos conduzidos, foi observada
ocorreram de forma semelhante. digestibilidade das silagens. Durante o tra- redução na concentração de etanol em sila-
Em grande parte dos trabalhos, ao se tamento alcalino, parte da lignina, da sílica gens tratadas com NaOH (CASTRILLÓN;
avaliar a adição de ureia na ensilagem e da hemicelulose pode ser solubilizada, SHIMADA; CALDERÓN, 1978) e CaO
da cana-de-açúcar, tem sido observado alterando os valores de fibra em detergente (AMARAL et al., 2009; CARVALHO et
aumento na digestibilidade da silagem. neutro (FDN) na silagem (SOEST, 1994; al., 2012). Em outras avaliações, a redução
A adição de ureia pode causar redução REIS et al., 1991). na concentração de etanol não foi verificada
da fração fibrosa das silagens por causa Trabalhos têm demonstrado que os efei- (PEDROSO et al., 2007).
do efeito alcalinizante. Isto resultaria em tos desses aditivos alcalinizantes (NaOH e Nieblas, Shimada e Palacios (1982)
aumento da digestibilidade dessas silagens CaO), sobre a redução dos componentes recomendaram a utilização de NaOH na
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ensilagem de cana-de-açúcar, pois, segundo aplicação de agentes alcalinizantes pode maior concentração de ácidos resultan-
estes autores, esse alcalinizante foi capaz de estimular maior produção de ácidos pelos tes da utilização de agentes alcalinos, a
alterar a fermentação basicamente alcoóli- microrganismos envolvidos na fermenta- qualidade microbiológica da silagem foi
ca, para fermentação predominantemente ção. No entanto, a quantidade de moles de prejudicada pela adição de CaO, sendo
lática. A concentração de ácidos orgânicos ácido lático necessária para reduzir o pH em observada maior população de leveduras,
na silagem está relacionada com o teor de uma unidade é maior que a necessária para clostrídeos e fungos filamentosos nessas
umidade da forragem e com tamponamento silagens com baixa capacidade tamponante. silagens (Fig. 2). O efeito do aumento do
dos ácidos produzidos durante a fermenta- Segundo Carvalho et al. (2012), ape- pH sobre a inibição dos microrganismos
ção. O tamponamento desses ácidos pela sar da menor concentração de etanol e da parece ser imediato e, provavelmente,

Fotos: Beatriz Ferreira Carvalho


A B
Figura 1 - Cana-de-açúcar picada antes da ensilagem
NOTA: A - Sem adição de cal; B - Com adição de cal.

Fotos: Beatriz Ferreira Carvalho

A B
Figura 2 - Silagens de cana-de-açúcar
NOTA: A - Com adição de óxido de cálcio; B - Sem adição óxido de cálcio.

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com o decorrer da fermentação o pH cai de leveduras (BERNARDES et al., 2007). microrganismos não seria justificável.
novamente para valores adequados para o A adição de resíduos da colheita da soja Entretanto, ácidos orgânicos fracos,
crescimento da maioria dos microrganis- na silagem de cana-de-açúcar aumentou como o ácido acético ou propiônico,
mos. Domingues et al. (2011) observaram a digestibilidade (MAEDA et al., 2012), são inibidores eficientes do crescimento
que o efeito da cal virgem sobre as levedu- reduzindo em 33% as perdas de MS e de fungos filamentosos e leveduras,
ras ocorreu até as 72 horas. Depois disso, a em 60% a concentração de nitrogênio podendo reduzir as perdas de MS durante
população foi semelhante entre a cana con- amoniacal, em relação ao nitrogênio total. a fermentação e aumentar a estabilidade
trole e a cana tratada. Assim, a população Tanto o MDPS quanto os resíduos da co- aeróbia das silagens após a abertura dos
microbiana voltou a crescer novamente e lheita da soja são boas opções de aditivos silos.
com mais intensidade do que nas silagens absorventes de umidade para a ensilagem O uso de ácidos não tamponados em
não adicionadas de agentes alcalinizantes. da cana-de-açúcar. Os resíduos da colheita silagens é inexpressivo em razão do alto
Apesar da redução na concentração da soja apresentam maior digestibilidade custo, dos danos causados ao maquinário e
de fibra e do aumento na digestibilidade, da FDN, sendo preferível ao MDPS, do risco à saúde humana durante a manipu-
resultados negativos, como maior concen- entretanto são de uso limitado nas áreas lação. No entanto, existem muitos produtos
tração de ácido butírico e a presença de produtoras de soja. à base de ácidos tamponados e de seus sais
microrganismos indesejáveis, fazem com Em geral, o que tem sido observado é destinados, principalmente, ao controle do
que a utilização de aditivos alcalinizantes que, quando apresentam alto valor nutri- crescimento de fungos filamentosos e leve-
não seja recomendada. duras. Como exemplos, podem ser citados
cional, esses aditivos podem melhorar o
o benzoato de sódio, o sorbato de potássio e
valor nutritivo das silagens. Essa melhoria
Aditivos sequestradores de depende da composição bromatológica do
o propionato de cálcio que são comumente
umidade empregados na indústria para conservação
aditivo adicionado e também das alterações
de alimentos destinados à alimentação hu-
Os aditivos sequestradores de umidade que provocam durante a fermentação da
mana e que podem também ser utilizados
ou absorventes, normalmente são cereais, silagem. A utilização de materiais fibrosos
na ensilagem (KUNG JUNIOR; STOKES;
farelos, resíduos da indústria alimentícia, é pouco prática e reduz o valor nutritivo da
LIN, 2003; PEDROSO et al., 2007).
resíduos da agroindústria, dentre outros. forragem. Com relação às perdas de MS,
Em silagens de cana-de-açúcar, os re-
São utilizados para elevar o teor de MS das esses aditivos têm sido pouco efetivos.
sultados da utilização desses aditivos são
silagens, reduzir a produção de efluentes De modo geral, a adição de aditivos
variáveis. Pedroso et al. (2007) observaram
e, assim, aumentar o valor nutritivo das absorventes de umidade é uma prática
aumento das perdas de MS na forma de ga-
silagens (MCDONALD; HENDERSON; complexa pela dificuldade da boa distribui-
ses e efluentes com a adição de 0,1% (com
HERON, 1991). Dentre os aditivos absor- ção e homogeneização desses aditivos com base na matéria fresca) de propionato de
ventes já estudados durante a ensilagem da a forrageira, no momento da ensilagem. No cálcio, resultando em redução acentuada da
cana-de-açúcar são citados o milho moído entanto, pode ser adotada principalmente digestibilidade in vitro da MS (DIVMS).
(LOPES; EVANGELISTA; ROCHA, como forma de aproveitar aditivos dispo- Segundo esses autores, tanto o benzoato
2007), a raspa de mandioca (LOPES; níveis na região. de sódio quanto o sorbato de potássio não
EVANGELISTA; ROCHA, 2007; MAE- reduziram a produção de etanol, porém
DA et al., 2012), o milho desintegrado com Ácidos e seus sais
reduziram as perdas de MS, quando apli-
palha e sabugo (MDPS) (BERNARDES et Ácidos e produtos químicos utilizados cados nas doses de 0,05% e 0,03% (com
al., 2007; EVANGELISTA et al., 2009), os como conservantes na indústria alimentí- base na matéria fresca), respectivamente.
resíduos da colheita de soja (MAEDA et cia têm sido testados como aditivos para Quando o benzoato de sódio (0,05% com
al., 2012), dentre outros. silagens. Ácidos orgânicos são aditivos base na matéria fresca) foi aplicado junto
O aumento no teor de MS também classificados como inibidores de fermen- com a ureia (0,5% com base na matéria
pode inibir o crescimento de leveduras tação, por causarem abaixamento imediato fresca), houve redução na concentração
e outros microrganismos deterioradores do pH das silagens, inibindo o crescimento de etanol e aumento na digestibilidade,
menos tolerantes à baixa atividade de água, dos microrganismos presentes na forragem contudo não houve diferença entre os tra-
melhorando, desse modo, a qualidade da (KUNG JUNIOR; STOKES; LIN, 2003). tamentos sobre o desempenho de novilhos
fermentação. A inclusão de MDPS aumen- Em função da alta concentração de alimentados com essas silagens (PEDRO-
tou a concentração de MS e reduziu a de CHOs na cana-de-açúcar, o pH da silagem SO et al., 2011). Schmidt et al. (2007) não
FDN (EVANGELISTA et al., 2009), sem cai rapidamente. Assim, a utilização de observaram diferenças significativas em
ser observada uma redução significativa ácidos orgânicos nessas silagens, com silagens de cana-de-açúcar tratadas com
na concentração de etanol e na população o objetivo de reduzir o crescimento de benzoato de sódio (0,1% com base na
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matéria fresca) e silagens não tratadas no As espécies de bactérias mais utili- centrações dos ácidos acético ou propiôni-
ganho de peso de novilhos. zadas em inoculantes nos dias atuais são co, são os mais indicados para o controle
Esses produtos podem ter efeito positi- Lactobacillus plantarum; L. casei; L. das leveduras por causa do efeito fungicida
vo após a abertura dos silos, aumentando a buchneri, Pediococcus acidilactici; desses ácidos.
estabilidade aeróbia das silagens. Siqueira Enterococcus faecium e Propionibacterium A adição de espécies heterofermen-
et al. (2007) observaram que o benzoato de acidipropionici. Com exceção da bactéria tativas facultativas, como L. plantarum,
sódio (0,1% com base na matéria fresca) P. acidipropionici, todas as outras são e heterofermentativas obrigatórias, como
foi mais efetivo após a abertura dos silos. BAL, sendo que dentre estas apenas a L. L. buchneri, tem sido testada na ensila-
Isso pode ser explicado pela maior sensi- plantarum é heterofermentativa faculta- gem da cana-de-açúcar. Os resultados têm
bilidade das espécies de microrganismos sido variáveis, mas, em geral, as espécies
tiva. As demais BAL são heterofermen-
deterioradores que atuam após a abertura heterofermentativas obrigatórias, como
tativas obrigatórias. Dentre as opções de
dos silos. Diante de resultados contraditó-
inoculantes no mercado, fica a dúvida de L. buchneri, têm mostrado os melhores
rios, a indicação desses aditivos deve ser resultados quanto à redução das perdas de
qual é a mais adequada para a ensilagem
feita com cautela. MS e o aumento da estabilidade aeróbia
da cana-de-açúcar.
(ÁVILA et al., 2009).
Aditivos microbianos ou Quando se pensa em utilizar um ino-
inoculantes culante, devem-se considerar os principais Por outro lado, bactérias que produzem
problemas envolvidos com a fermentação maior concentração de ácido lático e menor
Os inoculantes bacterianos ou micro- de ácido acético podem, inclusive, piorar
bianos são os aditivos mais utilizados em da forrageira em questão. O ácido lático é
o mais forte e, portanto, mais eficiente na a qualidade da silagem, pois esses ácidos
todo o mundo. São seguros, naturais e não
redução do pH das silagens. Por outro lado, podem ser usados como substratos pelas le-
corrosivos, encontrados no mercado sob a
o ácido acético é mais eficiente em inibir o veduras na presença do oxigênio. Pedroso
forma liofilizada, ou seja, na forma de pó
et al. (2008) observaram que a adição de L.
solúvel em água. Esses microrganismos crescimento de fungos nas silagens. Inocu-
buchneri melhorou o padrão fermentativo e
têm a função de competir com os micror- lantes que contêm bactérias que produzem
a estabilidade aeróbia das silagens, enquan-
ganismos presentes naturalmente na planta maior quantidade de ácido lático, como L.
to a adição de L. plantarum prejudicou a
forrageira. Portanto, aumentam as popula- plantarum, são aplicados com o objetivo de
fermentação e a conservação de silagens
ções de BAL ou bactérias do ácido propiô- abaixar rapidamente o pH, evitando a fer-
de cana-de-açúcar.
nico (BAP), produzindo maior quantidade mentação por clostrídeos, enterobactérias
No entanto, a classificação em homo ou
de ácidos, baixando o pH de forma mais e, desse modo, a degradação de proteínas.
heterofermentativa não é suficiente para a
rápida e intensa e inibindo os microrganis- Esses inoculantes são recomendados para
escolha do inoculante mais adequado para
mos deterioradores das silagens. culturas forrageiras que apresentam teor
determinada espécie forrageira. Atualmen-
Quando se fala em inoculantes mi- de MS inadequado, baixa concentração de
crobianos, é comum a classificação das te, a seleção de bactérias, a serem utilizadas
CHOs ou alto poder tampão.
bactérias presentes nestes, como bactérias como inoculantes, tem ocorrido em nível
Os inoculantes contendo BAL hetero-
homofermentativas, heterofermentativas de cepas bacterianas, ou seja, microrga-
fermentativas, como L. buchneri, são mais nismos diferentes, porém pertencentes à
obrigatórias ou heterofermentativas facul-
indicados para forragens com intenso cresci- mesma espécie. Isto acontece porque os
tativas. Essa classificação está relacionada
mento de leveduras durante a fase anaeróbia microrganismos da mesma espécie podem
com o tipo de açúcar que tais bactérias
ou com problemas durante a fase aeróbia. expressar características diferentes e, as-
utilizam e com o tipo de ácido e outros
O objetivo principal da utilização dessa sim, ser mais ou menos adaptados a uma
compostos que produzem. As BAL ho-
espécie de inoculante é melhorar a estabili- determinada espécie forrageira. Ávila et al.
mofermentativas possuem enzimas que
dade aeróbia e é, normalmente utilizada em (2011), ao avaliarem diferentes cepas de
possibilitam a utilização de açúcares, pro-
duzindo quase exclusivamente ácido lático. forrageiras com alta concentração de CHOs BAL das espécies L. plantarum, L. brevis
As BAL heterofermentativas obrigatórias, residuais ou em silagens bem preservadas. e L. buchneri, observaram que o efeito do
a partir da fermentação de açúcares, sempre No caso da cana-de-açúcar, como já inoculante está mais relacionado com a
produzem ácidos lático e acético e outros mencionado, esta forrageira apresenta cepa utilizada do que com a espécie do
compostos como etanol e gás carbônico. boas características para a ensilagem, microrganismo. Porém, as cepas hetero-
E, por fim, as BAL heterofermentativas tendo, como principal problema, o intenso fermentativas obrigatórias L. brevis e L.
facultativas podem utilizar ambas as for- crescimento de leveduras, que conduzem a buchneri mostraram os melhores resulta-
mas de açúcares, dependendo do tipo que altas perdas de MS. Assim, os inoculantes dos quanto às perdas de MS e estabilidade
estiver disponível. microbianos, que produzem maiores con- aeróbia das silagens (Quadro 1).
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Conservação de alimentos para bovinos 71

QUADRO 1 - Perda de matéria seca (MS) e dados de estabilidade aeróbia de silagens de cana- (MCDONALD; HENDERSON; HERON,
de-açúcar sem inoculantes e inoculadas com diferentes espécies de bactérias 1991). Concentrações de 100 mil ou 105
do ácido lático (BAL)
ou 5 log UFC/g de forragem fresca têm
Tempo para atingir sido sugeridas pelos pesquisadores, porém
Temperatura Estabilidade
Perda de MS temperatura alguns sugerem duplicar ou triplicar.
Silagem Cepas máxima aeróbia
(%) máxima Esta população está sujeita à perda de
(ºC) (h)
(h) viabilidade, por causa de vários fatores,
Silagem sem como temperatura inadequada durante o
16,42 47 22,0 14,2
inoculante armazenamento e durante o preparo da
Lactobacillus mistura em tanques para aplicação. O teor
1 20,9 45,2 26,0 17,0
plantarum de cloro da água utilizada para o preparo
2 21,0 43,5 42,2 20,2 da mistura também pode interferir na via-
3 22,9 43,0 48,2 21,0 bilidade do inoculante. Recomenda-se no
máximo, 1,5 a 2,0 ppm de cloro na água.
L. brevis 1 13,1 46,3 28,8 18,0 Sobre a aplicação de inoculantes
devem-se considerar a necessidade es-
2 12,5 45,0 33,3 18,2
pecífica de cada cultura a ser ensilada;
3 14,1 43,8 27,5 16,0 respeitar as recomendações para a cultura;
4 13,8 47,2 28,0 18,3 comprar inoculantes de empresas idôneas;
ter os cuidados com o armazenamento e a
L. buchneri 1 11,3 41,8 58,0 21,5 utilização da silagem.

2 11,7 43,8 54,0 30,2 CONSIDERAÇÕES FINAIS


É importante ter em mente que o pro-
diferentes resistências ao pH da silagem. cesso de ensilagem é dispendioso. Desse
Existem no mercado, inoculantes que
modo, todo cuidado é necessário para
contêm associação de diferentes espécies Algumas atuam melhor no início da fer-
produzir um alimento de boa qualidade e
de microrganismos. Essa associação pode mentação, produzindo maior quantidade
evitar prejuízos. O processo de ensilagem
ser vantajosa em alguns casos, e é feita de ácidos, enquanto outras sobrevivem
é de conservação e não de melhoria do
em função do objetivo da inoculação, ou melhor às condições de acidez, atuando nos valor nutritivo, pois quando não é bem
seja, em que fase o inoculante deve atuar. estádios finais da fermentação. A espécie conduzido leva a perdas. As perdas por
A combinação de bactérias mais eficientes P. acidilactici apresenta bom crescimento fermentação ou por respiração são inevi-
em produzir ácido lático, com bactérias na faixa de pH de 6,5 -5,5, e a espécie L. táveis. O objetivo é fazer com que essas
produtoras de compostos antifúngicos plantarum, na faixa de 5,5 a 4,0. perdas sejam as menores possíveis. Assim,
(ácidos acético e propiônico), por exem- Existem alguns cuidados em relação à para uma silagem de boa/ótima qualidade
plo, é interessante, pois nesse caso, os utilização de um determinado inoculante a deve-se, primeiramente, ter os cuidados ne-
inoculantes podem atuar tanto durante ser aplicado. Um dos primeiros cuidados cessários com a condução da cultura. Feito
a fase anaeróbia, quanto durante a fase é com a taxa de inoculação. Esta refere-se isso, os cuidados relacionados ao processo
aeróbia. Um exemplo dessa associação é à quantidade do inoculante, ou seja, o nú- propriamente dito devem ser tomados, ou
a combinação, em um mesmo inoculante, mero de células viáveis ou unidades forma- seja, respeitar a época ideal de colheita;
efetuar todas as etapas de picagem, com-
de bactérias da espécie L. plantarum com doras de colônia (UFC) do microrganismo
pactação e vedação de forma adequada.
L. buchneri ou P. acidipropionici. Nesse por grama (g) ou tonelada (t) de forragem.
Os aditivos não devem, de forma
caso, a primeira espécie atuaria mais inten- Esse número deve ser suficiente para que
nenhuma, ser vistos como uma forma de
samente na fase anaeróbia (silo fechado), as bactérias inoculadas possam competir
corrigir erros das etapas anteriores. São
enquanto as duas últimas atuariam na fase com as bactérias presentes naturalmente na tecnologias para otimizar o processo e de-
de abertura dos silos. forrageira e, assim, ser efetivas. Os estudos vem ser utilizadas quando todas as outras
Outro tipo de combinação de espécies mostram que, em geral, 100 UFC a mais etapas são conduzidas de forma adequada.
bacterianas diferentes em um mesmo que a população de bactérias existente na Para isso é importante o planejamento de
inoculante é a utilização de bactérias com forrageira (população epifítica) é suficiente toda a atividade.
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Os cuidados relacionados com os adi- CARVALHO, B. F. et al. Effects of propionic MAEDA, E. M. et al. Intake, digestibility, ru-
tivos, também devem ser observados, ou acid and Lactobacillus buchneri (UFLA SIL men characteristics and microbial protein
seja, ser de boa qualidade e aplicados de 72) addition on fermentative and microbio- synthesis efficiency in bovine and bubaline
logical characteristics of sugar cane silage fed sugar cane silage with additives. Revista
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Conservação de alimentos para bovinos 73

Manejo da silagem
Thiago Fernandes Bernardes 1
Naiara Caixeta da Silva 2
Isabella Lasmar de Oliveira 3

Resumo - A ensilagem passa por etapas complexas e de considerável custo e risco. É im-
portante que sejam bem planejadas e geridas e, para isso, é necessário o conhecimento
das formas corretas de manejo de cada um desses processos. Tais etapas são, geralmen-
te, interligadas. Decisões tomadas antes da ensilagem, como tipo e dimensionamento
do silo, refletem no avanço diário após sua abertura. A escolha da cultura e do ponto de
colheita – matéria seca (MS) da forrageira – influencia o processo fermentativo e o valor
nutritivo da silagem. Algumas práticas, apesar de simples, como a correta compac-
tação da silagem, têm grande impacto em sua estabilidade aeróbia e qualidade final.
Palavras-chave: Colheita. Compactação. Ensilagem. Transporte. Vedação.

INTRODUÇÃO cultura e o resultado final da silagem, Essas inovações tiveram grande impacto
pela interação de alguns aspectos, tais na alimentação de ruminantes.
Para que a silagem seja produzida e
como a matéria seca (MS) e o conteúdo
utilizada de maneira adequada, a fim de
de carboidratos solúveis. Por exemplo, ESTRUTURAS ASSOCIADAS À
reter os nutrientes provenientes da planta
se a cultura apresentar elevada umidade ESTOCAGEM DA SILAGEM –
ou dos grãos, e ainda ter segurança alimen- SILOS
(> 70%), podem ocorrer fermentações
tar, do ponto de vista de proliferação de
microrganismos indesejáveis, várias etapas indesejáveis e elevadas perdas de MS. Silos são considerados estruturas onde
são exigidas, o que faz da ensilagem um Por outro lado, se a umidade for baixa a forragem é fermentada para se tornar
processo de alto custo e risco. A produção (< 60%), a forragem torna-se resiliente, silagem, que é estocada até ser utilizada na
de silagem de elevada qualidade requer de causando maior exigência em potência alimentação dos animais. Essas instalações
maneira contundente uma gestão precisa pela colhedora e dificuldade na com- devem proteger a silagem da água e do ar
dos diversos estádios pelos quais passa. pactação, o que afetará o valor nutritivo (O2), para que a deterioração da massa seja
A gestão dos processos deve-se ini- e a estabilidade em aerobiose da massa evitada. Existem vários tipos de silo, os quais
ciar no campo, quando se decidem os (WEINBERG et al., 2010). Portanto, é são selecionados pelo produtor por questões
aspectos ligados à escolha da cultivar e importante que todas as etapas sejam bem econômicas, de flexibilidade, perdas gera-
os aspectos agronômicos, passando pelo planejadas, precisamente sincronizadas e das, riscos de acidentes e por conveniência
ponto de colheita da cultura, necessidade meticulosamente geridas. (este último refere-se à estrutura já existente
ou não de emurchecimento, necessidade As inovações tecnológicas na área na propriedade). Em termos de capital ini-
de colhedoras e/ou outros equipamentos, de manejo da ensilagem iniciaram-se no cial investido, há enorme variação que vai
transporte da forragem do campo até o silo, século 19 (WILKINSON; BOLSEN; LIN, desde o silo torre (elevado custo) até o silo
abastecimento e compactação, vedação e 2003). Desde então, houve importantes superfície (baixo custo). O tamanho de cada
desabastecimento do silo. desenvolvimentos na engenharia de equi- um varia com a quantidade de forragem que
Vários fatores, intrínsecos ou extrín- pamentos, estruturas de estocagem (silos), está sendo estocada e com a quantidade de
secos, podem afetar as características da filmes plásticos para a vedação e aditivos. animais que deverão ser alimentados.

1
Engo Agro, Pós-Doc, Prof. Adj. II UFLA - Depto. Zootecnia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
thiagobernardes@dzo.ufla.br
2
Zootecnista, Mestranda em Forragicultura e Pastagem UFLA, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
naiara.caixeta.silva@hotmail.com
3
Graduanda Zootecnia UFLA, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: isabellalasmar@yahoo.com.br

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74 Conservação de alimentos para bovinos

Silo trincheira fica propensa à deterioração aeróbia pela importante que o filme plástico esteja bem
carência de compactação. Além desse preso nas laterais. Essa operação pode ser
Silos trincheira, em geral, são estrutu-
fato, ao ultrapassar o limite das paredes alcançada com êxito, quando se utilizam
ras horizontais de concreto, constituídos
o produtor estará aumentando a área do sacos de areia ou até mesmo terra, para
por paredes nas laterais e possuem ou não
painel, o que levará a um menor avanço que ocorra a aproximação entre a lona e
parede ao fundo. Nos países da América do
da massa durante o desabastecimento. a massa de silagem, reduzindo o contato
Norte e da Europa é comum a construção
Após o abastecimento, a massa deve ser direto com O2. As perdas em silos super-
de trincheiras de alvenaria com paredes
vedada com um filme plástico, para que fície podem ser altas, principalmente se
pré-fabricadas ou construídas diretamen-
a entrada de O2 e água seja inibida. a massa ultrapassar os 2 m de altura.
te na propriedade. A trincheira deve ter
As perdas em silos trincheira, em Cerca de 15% a 40% de MS podem ser
concreto de excelente qualidade, pois o
geral, são maiores que em silos torre, perdidas, se a massa não for devidamente
efluente produzido pelas silagens durante
pois o ar pode penetrar pelas paredes e, compactada (60 kg MS/m3). Contudo, é
a estocagem potencializa a corrosão das
principalmente, pelo plástico que está importante ressaltar que o silo superfície
paredes. A trincheira pode ser construída
sendo utilizado na vedação. As perdas não é sinônimo de elevadas perdas. Em al-
sem o uso de alvenaria, permanecendo a
no topo, especialmente próximo às pa- guns casos, silos trincheira malmanejados
massa ensilada em contato direto com o
redes, são maiores que as das massas podem promover maiores perdas que silos
solo, geralmente escavada no declive natu-
localizadas no centro. Na zona central, superfície com gestão adequada.
ral da propriedade. Contudo, deve-se evitar
são registradas perdas de MS entre 3%-
o contato da silagem com a terra, para que Silo tubular horizontal – bag
o alimento não seja contaminado. Para esse 10%, quando comparadas ao topo, onde
os valores podem alcançar de 25%-70% A silagem estocada em bags é pro-
fim, podem ser usadas lonas plásticas, in-
(ASHBELL; KASHANCHI, 1987), o que duzida com máquinas que empacotam
clusive reaproveitadas de anos anteriores,
obriga o descarte dessas porções (CHEN; a forragem ou grãos em tubos plásticos
para revestir as paredes laterais do silo.
WEINBERG, 2009). horizontais. Os silos bag apresentam-se em
O abastecimento dos silos trincheira é
Dicas de segurança: durante o abas- diversos tamanhos, que podem variar de
feito com unidades transportadoras, tais
tecimento, os veículos que realizam a 1,2 a 3,6 m de diâmetro e 30, 60 ou 90 m
como vagões ou caminhões. A distribuição
compactação devem transitar próximos às de comprimento, sendo que a dimensão de
e a compactação da massa são realizadas
paredes, com atenção para evitar o capo- 1,8 por 60 m é a mais comum no Brasil.
com tratores, que devem permanecer
tamento. Ainda durante o abastecimento e O silo bag apresenta os seguintes
constantemente sobre a massa. Durante
desabastecimento do silo, vários equipa- aspectos positivos como estrutura, para
a distribuição da forragem, é impor-
mentos operam simultaneamente. Assim, estocar silagem:
tante que camadas de até 20 cm sejam
formadas, para posterior compactação, é importante que haja comunicação entre a) anaerobiose é rapidamente alcança-
pois quanto maior a camada distribuída, os operadores, para que colisões sejam da pelo fato de a forragem picada
maior será a resistência da forragem em evitadas. Durante o desabastecimento ou sair do vagão forrageiro e ser co-
ser compactada (MUCK; HOLMES, amostragem da massa é comum ocorrer locada e compactada diretamente
2000). O abastecimento de silos trinchei- avalanches em silos de grande escala, o no bag. A fermentação inicia-se
ra deve ocorrer o mais rápido possível, a que pode causar acidentes. velozmente, reduzindo as perdas
fim de que a massa fique menos exposta pela menor respiração da massa
Silo superfície e crescimento de microrganismos
ao O2. Em silos trincheira, a densidade
da massa pode alcançar valores próxi- Silo superfície consiste em um amon- aeróbios;
mos a 300 kg MS/m3, mas esta densidade toado de forragem picada, compactado so- b) flexibilidade quanto ao local de
pode variar em função das características bre o terreno, sem a presença de paredes. confecção do silo: o silo bag deve
físicas da cultura, conteúdo de umidade e Filmes plásticos podem ser posicionados ser confeccionado em local onde
operações realizadas pelos equipamentos sob a massa para a proteção do alimento, facilite a logística de máquinas e de
que colhem a forrageira e a compressão da evitando, assim, o contato direto com o mão de obra dentro da fazenda. É
massa (MUCK; HOLMES, 2000). Durante terreno. Em geral, são estocadas cerca de importante que o terreno seja plano e
o abastecimento é importante que a forra- 30-40 t de MS, quando se usa este tipo esteja limpo, para facilitar o trabalho
gem seja acomodada até a altura das pa- de silo. Pela ausência de paredes, os silos no momento da confecção do bag e
redes, deixando de causar o que se chama superfície são altamente dependentes evitar furos acidentais no plástico;
de abastecimento excessivo. Toda a porção do uso de filmes plásticos. Para que a c) é permitido o uso de glebas com
de silagem que está acima das paredes vedação ocorra de maneira satisfatória é histórico agronômico diferenciado,
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ou seja, a propriedade pode destinar silo. Como a aquisição da embutidora tor- e à proliferação de fungos (O’KIELY et
glebas com diferentes históricos na-se um problema inicial, a terceirização al., 2002). Um dos grandes problemas
agronômicos para cada silo, permi- dos serviços e o aluguel do equipamento associados ao uso de fardos revestidos é o
tindo maior uniformidade entre os podem ser as saídas para produtores que elevado descarte de plástico no ambiente.
volumosos, facilitando o manejo não desejam realizar a compra da máquina. Também se torna possível a confecção
alimentar dos animais; de fardos que contêm a dieta total. No
Silo fardo revestido por Japão, essa prática está-se tornando cada
d) variabilidade na capacidade de es-
filme plástico vez mais difundida entre os produtores
tocagem: como o mercado possui
diferentes dimensões de bags é O silo fardo é constituído por um fardo (WANG; NISHINO, 2008). Em Israel,
possível confeccionar silos de vários envolto com filme plástico, o qual pode ser fardos com a dieta total, pesando entre
tamanhos; oval ou retangular. Essa tecnologia vem 600-700 kg, são bem preservados, quando
e) menor uso de plástico: a quantidade ganhando popularidade em vários países, estocados em fazendas, ao ar livre, por um
de plástico utilizada para estocar pela sua flexibilidade de confecção e uso, período de cinco meses durante a prima-
uma tonelada de silagem é menor principalmente em áreas produtoras de vera e verão (WEINBERG et al., 2011).
em silo bag, quando comparada feno. A presença do plástico produz con-
ao silo fardo revestido por filme dições anaeróbias ao fardo, conduzindo a COLHEITA E TRANSPORTE
plástico; uma fermentação lática como ocorre em A produção inicia-se com a implanta-
f) menor exposição do painel ao oxigê- outros tipos de silo. No passado, a fer- ção da cultura a ser destinada à ensilagem.
nio atmosférico: a etapa de abertura mentação dos fardos era comprometida, O escalonamento da semeadura é um
do silo é uma das mais críticas para por causa do elevado tamanho de partícula importante fator nas propriedades que utili-
o processo de ensilagem, pois a da forragem. Atualmente, alguns modelos zam silagem de milho e sorgo. No caso do
massa de silagem entra em contato de enfardadoras possuem um dispositivo milho, a semeadura das áreas de produção
direto com o ar. Como o painel do de corte, localizado após o dispositivo deve seguir de acordo com a perspectiva
bag é de pequena dimensão, quando de recolhimento da forragem e antes da de colheita, pois, após o estádio de grãos
comparado a um silo trincheira, por câmara enfardadora, o que tem melhorado leitosos, em média, a planta sofre aumento
exemplo, menores perdas por dete- a qualidade da fermentação (BORREANI; de 0,5% por dia no teor de MS, determinan-
rioração aeróbia podem ocorrer, por TABACCO, 2006). Os fardos devem ser do o intervalo de dez dias, como período
causa do menor fluxo de ar que entra confeccionados com elevada concentração adequado para evolução de 30% a 35% de
na massa de silagem. de MS (acima de 40%), pois quanto menor MS (janela de corte).
Esse tipo de estrutura de estocagem a umidade da forragem nesse momento, Durante a colheita, dois fatores são
apresenta dois aspectos que podem ser maior a densidade da massa e menor o de extrema importância: a umidade da
considerados como negativos: investimen- número, o peso de fardos e a quantidade cultura e o tipo de colhedora utilizada. A
to inicial em equipamentos e lentidão no de plástico utilizada para o revestimento alta umidade eleva o risco de fermenta-
tocante ao desabastecimento do silo. Tal (TABACCO, BORREANI, 2004). ções indesejáveis e produção de efluente,
lentidão tem sido uma barreira, porque Após o enfardamento, a plastificado- e a baixa umidade pode causar inibição
grandes rebanhos necessitam de rapidez ra, por meio de uma mesa giratória que bacteriana, menor produção de ácidos (pH
durante a mistura da dieta e seu forneci- tenciona o filme plástico, aplica de seis a elevado), elevada porosidade (baixa den-
mento aos animais. Máquinas com a fun- oito camadas de plástico, com 50% de so- sidade) e deterioração aeróbia. Portanto,
ção de desensilar e misturar os ingredientes breposição entre duas camadas sucessivas. existe um intervalo mais adequado para
ficam impossibilitadas de desabastecer Os plásticos utilizados na confecção dos as culturas serem ensiladas. A umidade da
silos bag. Desse modo, na maioria das fardos, em geral, possuem 0,5 m de largura, cultura também possui relação direta com
fazendas, a retirada da silagem tem que ser 25 micras de espessura e estiram até 50% o desempenho da colhedora, interferindo
feita manualmente, o que pode dificultar do seu comprimento original. Silagens em duas propriedades físicas: a força de
a logística de alimentação dos rebanhos. produzidas em fardos têm de seis a oito ve- cisalhamento e coeficiente de fricção. A
O silo bag é bastante atrativo para zes a área de contato com o filme, quando força de cisalhamento eleva-se com cor-
pequenos volumes de silagem, principal- comparado às que são confeccionadas em tes sucessivos (culturas perenes), com a
mente quando esta é direcionada a animais trincheiras. Cerca de 40%-50% do volu- maturidade da planta, e o quanto o corte
de alta exigência nutricional. A silagem de me do fardo estão localizados nos 15 cm distancia-se do topo do dossel. Quanto ao
grãos úmidos de cereais é uma interessante periféricos, o que torna essas silagens coeficiente de fricção, quando a umidade é
estratégia para ser estocada nesse tipo de mais suscetíveis à deterioração aeróbia elevada, a água age como um lubrificante,
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e quando a umidade é baixa, a camada de A quantidade colhida diariamente gasto para a descarga no silo e retorno ao
cutina ajuda a reduzir a fricção. Portanto, depende da capacidade e do número de co- campo. A distância do local de colheita até
os níveis intermediários de umidade são os lhedora (t/h) e do tempo efetivo de colheita. o silo e a possível velocidade dos vagões
mais críticos para essa variável. Fatores como habilidade do operador, topo- são fatores importantes na avaliação desse
Em relação aos tipos de colhedoras, grafia do terreno, distribuição das linhas no item. O tipo de descarga também interfere
estas possuem as funções de captar a campo, umidade do solo, altura e estrutura diretamente no tempo de transporte. Aque-
forragem no campo, promover a picagem das plantas e mecanismos de recolhimento la que utiliza a força humana é a mais lenta
(reduzir o tamanho de partículas) e lançar e picagem da máquina também estão en- e aquela que utiliza o próprio veículo de
a forragem picada até a unidade transpor- volvidos no sucesso da colheita, de modo transporte, a mais rápida. Com o intuito
tadora. O aspecto mais crítico é a picagem que as perdas sejam reduzidas. de criar sintonia entre a disponibilidade
da forragem, pois influencia na liberação A capacidade real de colheita e o tempo de equipamentos para o processo de ensi-
de carboidratos solúveis para a fermen- efetivo de trabalho precisam ser avaliados na lagem e o tamanho dos silos, são sugeridas
tação, na densidade final da massa e no propriedade antes de a colheita iniciar. No duas equações que podem facilitar o plane-
consumo e digestão da silagem. Existem caso de colhedora tracionada, é importante jamento durante a colheita e o transporte:
diversas colhedoras nos mercados nacional que haja correto dimensionamento entre a Equação 1:
e internacional, as quais variam de acordo potência do trator e a potência exigida pela
com a cultura a ser colhida e empresas colhedora. Quando a propriedade agrícola QFC = NC . CRC . TET
produtoras. Os dois principais modelos são produz silagem de milho e sorgo, não são en-
a tracionada por um trator (modelo mais
contrados grandes entraves, pois os modelos em que:
comum no Brasil), a qual é dependente
de máquinas que realizam o trabalho de corte
das linhas das culturas, e as autopropelidas QFC = quantidade de forragem colhida
evoluíram com o passar dos anos no País,
que independem da presença das linhas. (t/dia);
porém alguns pontos podem ser ressaltados,
As colhedoras autopropelidas possuem as NC = número de colhedoras;
como perdas de amido nas fezes pelo uso de
seguintes vantagens diante das tracionadas: CRC = capacidade real de colheita da
máquinas que não quebram os grãos. Entre-
a) possuem alta capacidade de colheita colhedora (t/h);
tanto, o corte mecanizado de capins tropicais
por hora trabalhada (alguns modelos TET = tempo efetivo de trabalho das
e de cana-de-açúcar apresenta frequentes
podem colher 250 t/h); colhedoras (h/dia).
problemas de manutenção, rendimento e
b) possuem a função de regular o Equação 2:
longevidade dos conjuntos mecanizados, o
tamanho teórico de partículas (im- que limita o desenvolvimento e a evolução
portante do ponto de vista de manejo QFT = NUT . [CC / (TD / NUT)] . TT
de sistemas com base na utilização dessas
da ensilagem e também nutricional culturas, quando colhedoras tracionadas
para a adequação das partículas da em que:
são utilizadas.
dieta total); QFT = quantidade de forragem trans-
As perdas iniciais no processo de
c) possuem processador de grãos, o ensilagem ocorrem durante a colheita e portada até o silo (t/dia);
qual rompe mais de 90% dos grãos, a picagem e variam em função do dia, NUT = número de unidades transpor-
disponibilizando mais amido, re- da cultura, do tratamento que a forragem tadoras;
duzindo o tamanho de partícula do sofre (emurchecimento) e do tipo de equi- CC = capacidade de carga das unidades
sabugo, quando o milho está sendo pamento. Em observações de campo, a de transporte (t);
ensilado; deriva de material picado que não alcança TD = tempo gasto por unidade de
d) a operação da colhedora independe o vagão de transporte em função da velo- transporte para ir do campo até
da direção, onde as linhas da cultura cidade do vento tem colaborado com as o silo descarregar a forragem e
foram instaladas, as quais auxiliam perdas, principalmente durante o período retornar ao campo (h);
no seu desempenho no campo. do dia que mais venta (das 9 às 15 h). Em TT = tempo trabalhado por unidade de
O elevado desempenho desses modelos culturas de milho e sorgo, o tombamento transporte (h/ dia).
durante a colheita pode levar a problemas de plantas também pode-se tornar uma
durante o abastecimento e a compactação fonte de perdas, principalmente quando o ABASTECIMENTO E
COMPACTAÇÃO
da massa, pois o volume de forragem que operador não é hábil.
chega ao silo acaba não sendo o ideal que os Quanto à etapa de transporte da forra- A presença de O2 na massa constitui
equipamentos são capazes de manipular, es- gem picada, a capacidade dependerá do fator indesejável durante a ensilagem, o
pecialmente em silos trincheira e superfície. potencial de carga dos vagões e do tempo processo fermentativo e o desabastecimento
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do silo. As etapas de abastecimento e com- as demais ações que cercam a compactação Distribuição das camadas e
pactação estão intimamente ligadas às con- devem ser eficientes, acima disso a atenção compactação da massa
dições de aerobiose no alimento, pois têm deve ser redobrada, para que a forragem A distribuição das cargas durante o
como objetivo eliminar o ar remanescente atinja a densidade e a porosidade desejadas. abastecimento de forragem no silo deve
no interior da massa, criando um ambiente ser de forma organizada, para que a es-
anaeróbio, fundamental para o início da fer- Tamanho de partícula e
compactação da massa pessura da camada não dificulte a com-
mentação desejável (PAHLOW et al., 2003). pactação. Estudos têm demonstrado que a
A velocidade de abastecimento e a Nos diversos sistemas de produção de camada descarregada em silos horizontais
densidade da forragem no momento do fe- forragem no Brasil, é possível encontrar deve estar entre 15 e 30 cm, sendo que a
chamento do silo determinam a quantidade grande amplitude no grau de picagem da utilização de lâminas (frontais e traseiras),
de oxigênio residual na massa ensilada, o forragem ensilada. A redução no tamanho nos veículos que efetuam a compactação,
que influencia a qualidade final do produto, de partícula é favorável ao processo de facilita esse processo. Deve-se fazer um
nas perdas durante a fermentação e após fermentação da massa vegetal no silo pela intervalo de descarregamento das cargas
a quebra da vedação (desabastecimento). compactação facilitada, pelo incremento na de forragem que chega, e ter mais tempo
Dentre os fatores que afetam a densidade área de superfície da forragem, permitindo para a pressão de compactação da massa,
da massa em silos horizontais (trincheira maior interação entre substrato e micror- já que altas densidades estão correlacio-
e superfície) destacam-se o teor de MS da ganismo, além de reduzir os custos de es- nadas positivamente com o tempo de
forragem, o tamanho de partícula, a altura tocagem (MUCK; MOSER; PITT, 2003). compactação. Muck e Holmes (2000), ao
da camada distribuída no silo durante o Igarasi (2002) realizou um levantamento avaliarem os fatores que alteram a densi-
enchimento, o peso do veículo e a pressão de índices técnicos associados à produção de dade em silos trincheira, recomendaram
que este exerce, tempo de compactação e silagens de capins tropicais em 14 fazendas, que o tempo de compactação deve ser de
altura do silo (MUCK; HOLMES, 2000). localizadas nas Regiões Sudeste e Centro- 1 a 4 min/t de forragem ou 1 a 1,2 vezes o
A densidade da massa vegetal no Oeste do Brasil. Encontrou que apenas uma turno de colheita, ou seja, ao assumir que
silo é determinante da qualidade final da propriedade se diferenciou, em relação às a jornada de trabalho possa durar 10 h/dia,
silagem, pois, aliada ao teor de MS da outras, quanto ao tamanho de partícula, apre- o tempo de compactação deve ser de 10
forragem, indica a porosidade do alimento, sentando 12% das partículas retidas na penei- a 12 h/dia.
que condiciona a taxa de movimentação ra de 19,05 mm. O tipo de colhedora usada Para que a fase de deposição de for-
do ar e, consequentemente, o potencial de nessa propriedade foi a autopropelida. As ragem possa ser realizada com menor ex-
deterioração durante o armazenamento da demais propriedades que usavam modelos de posição ao ar, recomenda-se que, em silos
silagem (HOLMES, 2009). A porosidade colhedora tracionada por trator apresentaram trincheira, o enchimento seja executado a
pode ser definida como o número de poros valores acima de 69,5%, ou seja, apenas fim de ser criada uma rampa, onde camadas
entre as partículas sólidas de um material. 30,5% das partículas eram menores que oblíquas sucessivas sejam depositadas do
Os poros podem ser preenchidos com gases 19,05 mm. Esse fato determinou alteração fundo para frente do silo (Fig. 1).
e/ou água nas silagens. Para que os gases se nas densidades das silagens, com exceção
movimentem na massa é necessário que os daquela originada colhedora autopropelida. Veículo e compactação da
poros sejam contínuos. Desse modo, eliminar Atuais recomendações indicam que massa
poros significa não contribuir para o fluxo a quantidade de silagem de milho retida Ruppel et al. (1995) avaliaram o ma-
de gás na massa. Em silagens, a porosidade na peneira do topo deveria ser 3%-8% nejo da produção de silagens de milho e
da massa é muito influenciada pela densi- (HEINRICHS; KONONOFF, 2002), o que de alfafa, em 12 fazendas, nos Estados
dade de matéria verde, quando comparada refletiria em um tamanho de partícula mais Unidos, e encontraram que o peso do ve-
às variações na concentração de MS da desejável. Em trabalho realizado por Ber- ículo e a taxa de compactação, dentre os
cultura. Com relação à densidade, quanto nardes, Carvalho e Silva (2012), somente parâmetros avaliados, foram os que melhor
mais a forragem se torna seca, maior será 13% das amostras de silagem, vindas se correlacionaram com as variações nas
a densidade de MS, contudo a porosidade de colhedora de uma linha, alcançaram densidades das silagens. Dentro dessa linha
também elevar-se-á. Assim, Holmes (2009) esse valor. Enquanto, 62% das amostras de raciocínio, é possível que altas densi-
recomendou que a densidade de matéria provenientes de colhedora autopropelida dades sejam alcançadas, conhecendo-se a
verde de uma silagem deve atingir 705 kg/m3 encontravam-se dentro desse padrão. Esse quantidade de forragem que é compactada
e a porosidade deve ser de 0,40 em silos estudo também indicou que colhedora au- por hora e o peso do equipamento que
horizontais. Para alcançar tais objetivos, a topropelida tem maior eficiência de corte, exerce a pressão, ou seja, o equipamento de
MS da cultura deve estar entre 30% e 40%, e independentemente da MS do milho. compactação deve apresentar peso igual ou
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do, rapidamente foi substituído pelo polie-


tileno (PE), hoje o polímero mais usado,
pelo custo e pela facilidade de manipulação
dentro da indústria. Recentemente, um
filme coextruso de PE com poliamida foi
lançado comercialmente (Silostop®, In-
dústria Plástica Monrelalese, Itália), o qual
tem 125 micras de espessura e duas faces
(interna preta e externa branca). A grande
diferença dos outros filmes comerciais é
que este possui baixa permeabilidade ao
O2 (70 cm3/m2/24h/1 bar, quando com-
parado aos 990 cm3/m2/24h/1 bar do PE

Thiago Fernandes Bernardes


tradicional de 180 micras). Bernardes,
Nussio e Amaral (2012) mostraram que a
característica do filme plástico que mais
influencia na deterioração aeróbia da massa
é a permeabilidade ao O2, ou seja, quanto
menos permeável o filme, menores são as
Figura 1 - Forma correta de enchimento do silo tipo trincheira perdas de MS.
Nos últimos anos, tem havido atenção
especial às questões ambientais que cercam
superior a 40% da massa de forragem, que 7% em silagens de alfafa e de, aproximada- a agropecuária. A comunidade tem-se aten-
chega ao silo por hora de trabalho efetiva mente, 22% em silagens de milho e sorgo). tado para o uso de plásticos na agricultura.
(RUPPEL, 1997). A espessura do filme plástico e o cuidado Silos trincheira usam cerca de 0,3 kg de
com que é preso à massa e ao silo desem- plástico/tonelada de MS de silagem esto-
VEDAÇÃO penham papel importante no processo de cada, já os tipo bag e os fardos revestidos
O material mais utilizado na vedação de vedação (ASHBELL; WEINBERG, 1992). gastam em torno de 1,8 e 2 a 3,6 kg/t de
silagens é o filme plástico, exceto para silos Savoie (1988) desenvolveu um modelo que MS, respectivamente. Com base nesse
torre. O plástico tem a função de proteger prediz o custo efetivo da espessura com problema, várias tecnologias têm sido
a silagem da água e do O2 atmosférico. base no custo do plástico e na expectativa criadas, tais como: filmes comestíveis (à
Como a silagem é um alimento produzido de perdas ao longo do tempo. Esse modelo base de amido, proteína ou óleo vegetal) e
sob condições anaeróbias, a entrada de ar indicou que, se a silagem for estocada por filmes biodegradáveis (à base de polímeros
na massa é crítica, pois o O2 ativa a mul- três a quatro meses, um filme de 100 micras de ácido lático). Contudo, até este mo-
tiplicação dos microrganismos aeróbios/ seria suficiente para protegê-la, porém, se mento, apesar de essas alternativas serem
anaeróbios facultativos, principalmente as a armazenagem durar um ano ou mais, é melhores que a não cobertura do silo, são
leveduras e os fungos filamentosos, o que recomendado que filmes de 200 micras inferiores em termos de redução de perdas,
causa perdas e redução da qualidade higi- sejam usados. Contudo, ressalta-se que quando comparadas aos filmes plásticos.
ênica da silagem (WOOLFORD, 1990). os plásticos produzidos no Brasil são, em Em algumas propriedades observa-se o
Portanto, a compactação e a vedação com geral, de qualidade insatisfatória, o que faz uso de cobertura sobre a lona plástica. Essa
filme plástico minimizam a exposição da com que a aplicação do modelo de Savoie prática ajuda a evitar a deterioração aeróbia
silagem ao ar. não seja recomendada para as condições e diminui as perdas de MS no topo de silos
Vários estudos indicaram a importância brasileiras. de superfície (BERNARDES; ADESO-
da proteção da silagem do O2 por meio do Desde 1950, quando os filmes plásticos GAN, 2012). Materiais que promovem
plástico. Bolsen et al. (1993) mostraram começaram a ser utilizados na vedação de peso sobre a lona, como cascalho, pneus e
que as perdas de MS no topo de silos co- silos, algum desenvolvimento tecnológico terra, promovem maior compactação das
merciais sem vedação alcançaram 80%, ocorreu. No início, o principal polímero áreas periféricas, diminuindo a porosidade
contudo, os valores foram consideravel- usado na confecção de plásticos para dessas áreas, o que é benéfico durante o
mente reduzidos, quando a vedação com silagem foi o cloreto de polivinila (PVC) período de utilização da silagem, e ajuda
plástico foi aplicada (as perdas foram de (LARRABEE; SPRAGUE, 1957). Contu- a manter sua estabilidade aeróbia. Cobrir a
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Conservação de alimentos para bovinos 79

lona também auxilia na diminuição da tem- de retirada média de 1m por semana, a da massa de silagem e cria condições para
peratura nas regiões periféricas dos silos, o silagem pode ser exposta ao oxigênio por que o O2 caminhe tanto no sentido horizon-
que reduz a contagem de microrganismos até uma semana. Em climas tropicais, as tal, como no vertical (Fig. 2), aumentando os
indesejáveis e a permeabilidade da lona altas temperaturas durante o desabasteci- riscos de deterioração do alimento.
ao O2, uma vez que, quanto maior a tem- mento podem aumentar a taxa de cresci- O manejo de retirada poderá ser auxi-
peratura, maior a permeabilidade da lona mento dos microrganismos espoliadores, liado por vagões forrageiros que contêm
plástica. Para isso, outros materiais, além principalmente aqueles que aumentam a dispositivo rotativo de corte, e executam o
dos já citados, podem ser usados, como deterioração aeróbia. Por isso as taxas de trabalho com precisão, promovendo o corte
bagaço de cana e capins (BERNARDES; desabastecimento nessas regiões têm que do painel no sentido de cima para baixo.
AMARAL; NUSSIO, 2009). Entretanto, ser de 1,5 m a 2,0 m por semana, no inverno Outro maquinário que tem sido utilizado
as dificuldades de manipulação desses ma- e verão, respectivamente. Isso, aliado a com frequência nas fazendas brasileiras
teriais durante a etapa de desabastecimento boas práticas de manejo, pode prevenir é o garfo hidráulico, principalmente em
do silo dificultam seu uso em fazendas de a deterioração aeróbia (BERNARDES; sistemas que trabalham com silagem de
médio e de grande porte. ADESOGAN, 2012). capim, o que facilita a confecção imediata
Portanto, o tamanho e as dimensões da dieta total.
DESABASTECIMENTO E do silo devem ser planejados de acordo
Desabastecimento como
FORNECIMENTO DA SILAGEM com a necessidade diária de silagem para
controlador de perdas
alimentar os animais.
Um grande número de fazendas tem
O aproveitamento de silos existentes
produzido silagens de alta qualidade, pelos Equipamentos e na propriedade e/ou a construção de novos
cuidados tomados durante todo o processo desabastecimento do silo silos, desvinculados da previsão da cama-
de ensilagem (colheita, picagem, compac-
A retirada e o fornecimento da silagem da diária a ser removida do silo, em função
tação, vedação e uso de aditivos). Porém,
para os animais têm funcionado como um do número de animais a ser alimentado,
com alta frequência, essas fazendas têm
importante dreno de MS e energia, durante o constitui elevada fonte de perdas de si-
dimensionado erroneamente seus silos e
processo de ensilagem. No Brasil, parte des- lagem ou de qualidade. Desse modo, o
isso tem provocado perdas durante o for-
se problema está na dificuldade que o pro- layout de um silo inicia-se pelo programa
necimento da silagem aos animais. de desabastecimento. O primeiro cuidado
dutor encontra em adquirir equipamentos
Durante a abertura do silo, a parte que é calcular quantos animais farão uso da
que desenvolvam um trabalho considerado
não é fornecida rapidamente aos animais, silagem e qual quantidade será ofertada
ideal durante o desabastecimento do silo.
permanece exposta ao ambiente e, conse- diariamente. Com relação ao silo, deve-
A remoção de silagem deve ser realizada
quentemente, à presença de oxigênio. Uma se conhecer a área e a expectativa da
sem promover perturbações nas camadas
vez que isso acontece, perde-se a condição remanescentes, o que ocorre quando o uso densidade que a silagem irá alcançar com
de anaerobiose (principal fator que deter- de pás carregadeiras frontais são utilizadas. respaldo de anos anteriores. Conforme as
mina a estabilidade aeróbia da silagem) Esse equipamento alavanca toda a estrutura Equações:
e, então, a massa torna-se potencialmente
instável. As zonas periféricas do silo são
as de maiores riscos de penetração de ar,
porque essa região da silagem é mais poro-
sa. O painel do silo deve, portanto, avançar
rapidamente e, desse modo, o fornecimento
da silagem torna-se uma batalha entre os
microrganismos aeróbios que utilizam
O2
fontes energéticas da massa e o produtor
rural que necessita manter a qualidade do
produto. Por esse motivo, é indispensável
assegurar velocidade de avanço na massa O2
de modo que possa impedir sua deteriora-
ção aeróbia.
Assumindo que, em condições nor- Correto Errado
mais, o ar pode penetrar no painel do Figura 2 - Manejo correto e errôneo durante o desabastecimento do silo, e formas com
silo cerca de 1m, e considerando a taxa que o ar penetra na massa ensilada

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80 Conservação de alimentos para bovinos

Equação 3: of Food and Agriculture, London, v.40, n.2, vetmed.wsu.edu/courses-jmgay/documents/


p.95-103,1987. DAS02421.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2012.
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mates. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO ES- IGARASI, M.S. Controle de perdas na ensila-
em que:
TRATÉGICO DE PASTAGEM, 6.; SIMPÓSIO gem de capim-Tanzânia (Panicum maximum
FD = fatia diária (m); INTERNACIONAL SOBRE PRODUÇÃO Jacq. Cv. Tanzânia) sob os efeitos do teor
AS = área do silo (m2); ANIMAL EM PASTEJO, 4., 2012, Viçosa, de matéria seca, do tamanho de partícula,
MG. Anais… Viçosa, MG: UFV, 2012. p.249- da estação do ano e da presença do inocu-
VD = volume diário (m3);
268. lante bacteriano. 2002. 132f. Dissertação
NA = número de animais; (Mestrado em Ciência Animal e Pastagens) –
BERNARDES, T.F.; AMARAL, R.C.; NUSSIO,
Escola Superior de Agricultura “Luiz de
QD = quantidade diária fornecida por L.G. Sealing strategies to control top losses in
Queiroz”, Universidade de São Paulo, Pira-
animal (kg); horizontal silos. In: INTERNATIONAL SYM-
cicaba, 2002.
POSIUM ON FORAGE QUALITY AND CON-
D = densidade da silagem.
SERVATION,1., 2009, São Pedro. Proceedin- LARRABEE, W. L.; SPRAGUE, M. A. Preser-
O correto dimensionamento do silo gs… Piracicaba: FEALQ, 2009. p.209-224. vation of forage nutrients as silage in gas-ti-
traduz-se em tecnologia sem custo e que ght enclosures of polyvinyl chloride plastic.
BERNARDES, T. F.; CARVAHO, I. Q.; SILVA,
propicia redução das perdas decorrentes Journal of Dairy Science, Champaign, v.40,
N. C. A snapshot of maize silage quality on
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Deve-se atentar para a inferência reali- TIONAL SILAGE CONFERENCE, 16., 2012, MUCK, R.E.; HOLMES, B.J. Factors affec-
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que influencia na qualidade do produto na, Finland: MTT Agrifood Research Fin- ering in Agricculture, St. Joseph, v.16, n.6,
a ser oferecido aos animais, e no seu land University of Helsinki, 2012. p.322- p.613-619, Nov. 2000.
323. MUCK, R.E.; MOSER, L.E.; PITT, R.E. Pos-
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sealed with plastic films with different perme- (Ed.). Silage science and technology. Madi-
O processo de ensilagem engloba várias abilities to oxygen. Grass and Forage Science, son: American Society of Agronomy, 2003.
etapas que se iniciam com o planejamento Oxford, v.67, n.1, p.34-42, Mar. 2012. cap.6, p.251-304. (ASA. Agronomy, 42).
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culturais no plantio e dimensionamento do spoilage losses in horizontal silos. Journal for baled silage. Dunsany, Ireland: Grange
silo. Continua com a determinação da MS of Dairy Science, Champaign v.76, n.10, Research Centre, 2002. 128p. (Beef Produc-
no momento da colheita, abastecimento, p.2940-2962, Oct. 1993. tion, 50).
a compactação e vedação. Todas essas BORREANI, G.; TABACCO, E. The effect of a PAHLOW, G. et al. Microbiology of en-
etapas são interligadas, e deve-se dar igual baler chopping system on fermentation and siling. In: BUXTON, D.R.; MUCK, R.E.;
importância a cada uma delas. Entretanto, o losses of wrapped big bales of alfalfa. Agro- HARRISON, J.H. (Ed.). Silage science and
teor de MS da cultura com a compactação nomy Journal, Madison, v.98, n.1, p.1-7, Jan. technology, Madison: American Society
2006. of Agronomy, 2003. cap.2, p.31-94. (ASA.
e a vedação do silo são pontos-chave para
Agronomy Monograph, 42).
obter silagens de alta qualidade. Falhas no CHEN, Y.; WEINBERG, Z.G. Changes during
manejo da ensilagem ou em sua utilização aerobic exposure of wheat silage. Animal RUPPEL, K. A. Economics of silage mana-
Feed Science and Technology, Amsterdam, gement practices: What can I do to improve
comprometem a qualidade final, o valor
v.154, n.1/2 p.76-82, Oct. 2009. the bottom line of my ensiling business? In:
nutritivo e a sanidade das silagens oferta-
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Conservação de alimentos para bovinos 81

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perdite. Professione Allevatore, v.21, p.22- Animal Feed Science and Technology, Agronomy Monograph, 42).
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WANG, F.; NISHINO, N. Resistance to WEINBERG, Z.G. et al. Preservation of air on silage. Journal of Applied Bacteriolo-
aerobic deterioration of total mixed ra- total mixed rations for dairy cows in bales gy, Oxford, v.68, n.2, p.101-116, Feb. 1990.

Pinhão-manso:
potencial e utilizações
O livro Pinhão-manso é o resultado
de várias décadas de pesquisa
sobre a cultura, com vistas ao
conhecimento de seu potencial e
de suas utilizações. São abordados
aspectos como melhoramento
genético, sistemas de propagação,
qualidade fisiológica de sementes,
doenças e pragas, colheita e pós-
colheita, extração do óleo e demais
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82 Conservação de alimentos para bovinos

Variedades de cana-de-açúcar para a alimentação de bovinos


Geraldo Antônio Resende Macêdo 1
Karina Toledo da Silva 2

Resumo - A cana-de-açúcar constitui importante alternativa para alimentação volu-


mosa do rebanho bovino, durante o período de seca e escassez de forragem, em razão
de seu alto potencial produtivo. O critério de escolha da variedade deve estar voltado
para aquela que reúne as melhores características agronômicas e perfil nutricional que
atenda às exigências da alimentação volumosa dos bovinos. Algumas características são
importantes e desejáveis, sendo que o balanço do potencial produtivo/qualitativo é que
definirá a indicação de uma ou mais variedades para alimentação do rebanho. Algumas
variedades de diferentes ciclos de maturação são sugeridas: precoces, médias, tardias.
Além da escolha apropriada da variedade, é necessário adotar práticas de manejo que
maximizem a produtividade do canavial, o que o torna um volumoso de baixo custo.

Palavras-chave: Saccharum spp. Variedade. Cultivar. Nutrição animal. Bovino.

INTRODUÇÃO potencial de produção, por apresentar coin- o valor nutritivo da variedade indicada
cidência de safra com o período de escassez como alimento para as diferentes espécies
Para suprir as deficiências das pasta-
de forragens verdes nos pastos, manter domésticas, mas somente se baseavam
gens, principalmente durante o período
qualidade nutritiva por longo tempo após a em aspectos morfológicos da produção.
seco do ano, os pecuaristas têm como
maturidade, ter grande aceitação por parte Assim, variedades selecionadas, com
prática o uso da suplementação, tanto
do gado (PEIXOTO, 1994) e ser fonte de baixo rendimento em açúcar, passavam
volumosa, como concentrada, de seus
energia por excelência, apresentando alto a ser indicadas como forrageiras, desde
rebanhos, o que invariavelmente tem one-
rado o custo de seus sistemas de produção,
conteúdo de açúcares. que atendessem às qualificações mínimas,
Visando contribuir para a melhoria tidas como importantes do ponto de vista
principalmente quando se utilizam rações
da resposta animal durante o período de alimentar: grande produção de massa, ca-
concentradas, silagens e fenos.
A cana-de-açúcar, pelo seu alto po-
escassez de forragem, este artigo tem por pacidade de perfilhamento, possibilidade
objetivo repassar informações tecnológicas de corte duas vezes por ano, capacidade de
tencial produtivo, excelente capacidade
que proporcionem a profissionais da área e rebrota, rusticidade, resistência a pragas e
de manutenção do potencial energético
a pecuaristas, elementos suficientes para a a doenças e ausência de joçal (PEIXOTO,
durante o período seco e possibilidade de
escolha das variedades de cana-de-açúcar 1994).
redução de custo da alimentação volumosa,
mais apropriadas para alimentação de seus Com o avanço das pesquisas, ocorreu
tem estimulado cada vez mais os pecua-
rebanhos. uma mudança conceitual quanto à varieda-
ristas a lançarem mão desse recurso nos
períodos críticos de escassez de forragem. de de cana mais apropriada para alimen-
ESCOLHA DA VARIEDADE tação animal. A mais adequada passou a
Conhecida desde longa data como forra-
gem, foi, ao que tudo indica, a primeira No passado, os critérios adotados para ser a que apresenta maior concentração
planta empregada como recurso forrageiro indicar uma variedade de cana-de-açúcar de sacarose, visto que contribui com a
na alimentação suplementar dos animais. como forrageira não eram considerados maior parte do fornecimento de energia
E com razão suficiente, pelo fato de ser como os de maior embasamento cientí- para o animal, a que tem baixa relação
uma cultura de fácil cultivo, com grande fico, por não levarem em consideração fibra em detergente neutro (FDN)/teor de

1
Engo Agro, M.Sc., Pesq. EPAMIG Centro-Oeste, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: geraldomacedo@epamig.br
2
Zootecnista, M.Sc., Pesq. EPAMIG Centro-Oeste/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico:
karinatoledo@epamig.br

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Conservação de alimentos para bovinos 83

sacarose, e a que permite maior consumo em termos agronômicos, tecnológicos e VARIEDADES RECOMENDADAS
(GOODING, 1982 apud RODRIGUES; nutricionais, visando à alimentação ani-
Variedades disponibilizadas para a
PRIMAVESI; ESTEVES, 1997). Aliada a mal. No entanto, algumas características
indústria, com bom potencial produtivo
esses aspectos, é desejável que a cana tenha são importantes e desejáveis em uma
para Minas Gerais, e que, via de regra,
porte ereto, uniformidade de diâmetro de variedade, tais como:
são também utilizadas para alimentação
colmo, despalha fácil e ausência de flores- a) máxima produtividade em colmo e animal, são apresentadas a seguir:
cimento e de chochamento (MATSUOKA; sacarose;
a) variedade SP80-1842: média exi-
HOFFMANN, 1993). b) boa adaptação a diferentes tipos de gência em fertilidade do solo e em
Pelo fato de existir elevado número de solos e clima, com maior adaptabi- produção agrícola, rápido desen-
variedades disponíveis no mercado para lidade aos ambientes de produção; volvimento inicial, despalha fácil,
atender ao setor da indústria que demanda c) rápido desenvolvimento inicial; florescimento, presença de pelos
materiais com alto teor de sacarose, essas caducos, frequente tombamento,
d) bom fechamento das entrelinhas;
mesmas variedades, via de regra, passaram maturação precoce, alto teor de
e) boa brotação de soqueira, especial-
a ser indicadas, pelo mesmo motivo, para sacarose, colheita em maio/agosto,
mente quando cortadas no meio da
alimentação animal. No entanto, em função suscetível à ferrugem e tolerante
safra, quando há falta de umidade
de suas limitações nutricionais, principal- ao carvão, tolerância intermediária
no solo;
mente em razão da baixa digestibilidade de à escaldadura e suscetível a broca/
sua fração fibrosa, trabalhos de pesquisa, f) não apresente brotação tardia, o que podridões;
em anos recentes, têm sido realizados para evita maturação desuniforme;
b) variedade RB98710: exigente em
identificar variedades de indústria que g) colmos com diâmetro médio e uni- ambiente de produção, alta produ-
melhor se enquadrem dentro do perfil nu- forme, o que facilita a operação de ção agrícola, brotação cana soca
tricional, ou seja, menores teores de FDN, corte e picagem; muito boa, porte médio, crescimento
maior teor de sacarose, menor relação h) não ocorra tombamento de colmo, ereto, despalha fácil, joçal regular,
FDN/teor de sacarose e maior digestibili- pois isto propicia sua quebra e/ou tombamento e florescimento raros,
dade. Trabalhos realizados por Rodrigues, enraizamento, com consequente chochamento ausente, maturação
Primavesi e Esteves (1997) e Rodrigues redução do teor de sacarose, além precoce, colher no início de safra,
et al. (2001, 2005, 2006), ao avaliarem de dificultar o corte; alto teor de sacarose, baixa fibra,
um total de 48 variedades, como alimento i) despalha espontânea ou fácil, o que resistente à ferrugem marrom e
facilita a colheita e o processamen- moderadamente suscetível à escal-
para bovinos, apontaram dez como sendo
dadura e ao carvão;
as de melhor perfil qualitativo. No entanto, to, além de ser material sem valor
deve-se observar a capacidade produtiva nutricional; c) variedade RB85-5536: média
dos materiais de melhor perfil qualitativo, exigência em fertilidade do solo,
j) ausência de joçal, o que facilita o
em diferentes ambientes de produção, não sendo recomendado o plantio
corte manual;
em solos de baixa retenção de água,
tendo em vista a importância da adaptabi- k) não florescimento, chochamento alta produção agrícola, mantém
lidade às condições locais, para obtenção ou isoporização do colmo, pois a estabilidade de produção na cana
de produtividades compatíveis com as presença destes propicia redução de soca, despalha fácil, ausência de
necessidades quantitativas de alimentos e sacarose e de peso da cana; florescimento e chochamento,
de custos. Não havendo resposta produtiva l) longo período de utilização, o que raro tombamento, ausência de
dos materiais, de melhor perfil qualitativo proporciona maior cobertura do pelos, maturação média, alto teor
em determinado ambiente de produção, período de safra, baixa relação FDN/ de sacarose, colheita em junho/
deverá prevalecer a indicação daquelas sacarose, o que permite maior con- setembro, tolerante à ferrugem, ao
variedades mais produtivas voltadas para sumo pelo animal e variedades que carvão e tolerância intermediária à
a indústria. apresentem tolerância às principais escaldadura e à broca e podridões;
pragas e doenças, as quais trazem d) variedade SP80-1816: média exi-
CARACTERÍSTICAS DESEJÁVEIS prejuízos incalculáveis ao canavial, gência em fertilidade do solo, alta
EM UMA VARIEDADE podendo dizimá-lo. produção agrícola, porte ereto, apta
Por questões probabilísticas, não é Deve-se levar em conta o balanço para corte mecanizado, despalha
possível reunir numa só variedade, por potencial produtivo/qualitativo, para que média, ausência de florescimento
meio de estudos de melhoramento gené- a indicação de uma ou mais variedades e tombamento, presença de pelos,
tico, todas as características desejáveis, possa atender à alimentação do rebanho. maturação média, alto teor de saca-
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84 Conservação de alimentos para bovinos

rose, colheita em junho/setembro, final de safra, maturação média/tar- agrícola, ótima soqueira, presença
tolerante à ferrugem, ao carvão e dia, médios teores de sacarose e fibra, de chochamento e florescimento,
à escaldadura, sensível à broca e boa sanidade, resistente à ferrugem maturação média, alto teor de saca-
podridões; marrom, ao carvão e ao mosaico, rose, baixa relação FDN/sacarose,
e) variedade SP80-3280: média a alta tolerante à escaldadura; colheita em junho/agosto, tolerante
exigência em fertilidade de solo, alta i) variedade RB72454: média exigên- à ferrugem, ao carvão, à broca e
produção agrícola, ótimo perfilha- cia em fertilidade do solo, alta pro- suscetível à escaldadura;
mento, florescimento e chochamento dução agrícola, boa estabilidade de d) variedade RB83-5486: média
intenso com presença de brotações produção, excepcional longevidade, exigência em fertilidade do solo,
laterais, apresenta boa despalha, despalha difícil, raro tombamento, produção agrícola e despalha, ocorre
bom teor de sacarose, colheita em ausência de pelos, médio chocha- florescimento e chochamento, au-
junho/agosto, tolerante ao carvão e à mento e florescimento, maturação sência de pelos, maturação precoce,
ferrugem, tolerância intermediária à média/tardia, alto teor de sacarose, alto teor de sacarose, baixa relação
escaldadura, em regiões com presen- colheita em condições de sequeiro FDN/sacarose, longo período útil de
ça de broca da cana-de-açúcar, deve- em setembro/novembro, tolerante à industrialização, colheita em maio/
se ter atenção, pois esta variedade é ferrugem, tolerância intermediária agosto, tolerante à escaldadura, ao
extremamente sensível ao complexo ao carvão, às estrias vermelhas, à carvão, à broca e podridões e susce-
broca e podridão; escaldadura e à broca e podridões. tível à ferrugem; ;
f) variedade RB86-7515: baixa exi- Variedades disponibilizadas para a e) variedade IACSP93-3046: boa adap-
gência em fertilidade do solo, alta indústria, com bom potencial produtivo tação aos ambientes de produção,
produção agrícola, despalha fácil, para Minas Gerais, identificadas com perfil alta produção agrícola, alto perfilha-
pouco tombamento, pode ocorrer nutricional adequado para alimentação de mento, ótima brotação de soqueira
quebra de palmito, ausência de bovinos: e fechamento de entrelinha, cresci-
pelos, médio chochamento, médio a) variedade RB76-5418: baixa exi- mento ereto, não há tombamento,
florescimento, maturação média, gência em fertilidade do solo, alta não há florescimento, alto teor de
alto teor de sacarose, colheita em produção agrícola, despalha média, sacarose, baixa relação FDN/saca-
julho/outubro, tolerante ao carvão, à tombamento frequente, ausência de rose, maturação média, colheita de
ferrugem e à escaldadura, suscetível florescimento e chochamento, pre- maio a outubro, média sensibilidade
a estrias vermelhas em solos argilo- sença de pelos, maturação precoce, a herbicida, resistente à ferrugem e
sos com boa fertilidade, tolerante à alto teor de sacarose, baixa relação tolerância intermediária ao carvão
broca e podridões; FDN/sacarose, colheita em abril/ e à broca.
g) variedade RB92579: média restrição novembro, tolerante ao carvão, à A variedade IAC86-2480, lançada
a ambiente de produção, alta pro- ferrugem, às estrias vermelhas, à para fins forrageiros, apresenta as se-
dução agrícola, crescimento lento, escaldadura e tolerância intermedi- guintes características: exigência em
despalha difícil, porte alto, ausên- ária à broca e podridões; fertilidade do solo, boa resposta de produ-
cia de pelos, pouco chochamento, b) variedade SP79-1011: média exi- tividade ao uso de matéria orgânica (MO),
eventual florescimento, pode ocorrer gência em fertilidade do solo, média boa produtividade agrícola e capacidade
tombamento, rápida recuperação ao produção agrícola, despalha natural, de manutenção de produtividade, porte
estresse hídrico (seca), alto teor de tombamento raro, presença de pelos, ereto, altura de colmo de média a baixa,
sacarose, maturação média/tardia, ausência de chochamento e flores- uniformidade biométrica dos colmos, alta
médio teor de fibra, tolerante à ferru- cimento, maturação média, alto teor resistência ao acamamento, ausência de
gem e resistente à escaldadura; de sacarose, baixa relação FDN/sa- florescimento, despalha espontânea, alto
h) variedade RB92-8064: média exigên- carose, colheita em junho/setembro, teor de sacarose, relação FDN/teor de
cia em ambiente de produção, alta tolerância intermediária ao carvão, sacarose bastante favorável para alimen-
produção agrícola, rápido crescimen- suscetível à ferrugem, tolerante a tação de bovinos, boa digestibilidade e
to, excelente brotação em cana planta estrias vermelhas e escaldadura e conversão alimentar para bovinos, colhei-
e soqueira, porte alto, crescimento tolerância tolerância intermediária ta de maio a outubro, tolerante ao carvão
ereto, média despalha, tombamento à broca e podridões; e à escaldadura, tolerância intermediária
eventual, florescimento raro, chocha- c) variedade SP81-3250: alta exigência à ferrugem, ao ataque da broca-do-colmo
mento ausente, pouco joçal, colheita em fertilidade do solo, alta produção e a nematoide.
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Conservação de alimentos para bovinos 85

Embora ultimamente a IAC86-2480 QUADRO 1 - Sugestão de manejo de variedades de cana-de-açúcar para alimentação de
não tenha despertado, muito interesse aos bovinos em Minas Gerais
pecuaristas, por ser uma variedade exi- Dias de safra
gente em fertilidade do solo, apresentar 45 75 75
porte médio e ser atacada por ferrugem,
Precoce Média Tardia
verifica-se que, em trabalhos desenvolvi-
dos na EPAMIG, sob condições irrigadas, (1)
RB76-5418 RB85-5536 RB72454
essa variedade tem-se mostrado bastante SP80-1842 RB86-7515 RB86-7515
produtiva (MACÊDO et al., 2007). RB83-5486 RB92-8064 RB92579
RB98710 (1)
SP79-1011
SP80-1816
MANEJO DAS VARIEDADES
SP80-3280
Além da escolha apropriada da varie- (1)
SP81-3250
dade, o manejo deverá estar voltado para (1)
IAC86-2480
atender às peculiaridades da alimentação
(1)
IACSP93-3046
animal, levando em consideração a deman- (1) Variedades com menor relação fibra em detergente neutro (FDN)/teor de sacarose.
da por volumoso de qualidade durante todo
o período da seca.
superior a outras variedades, no início importante é utilizar mudas de qualidade,
Em Minas Gerais, a safra da cana nor-
da safra (abril e maio). Considerando a com dez a doze meses de idade, sadias e
malmente ocorre de maio a novembro, o
maturação, normalmente possuem longo oriundas de viveiros formados por mudas
que permite trabalhar com variedades de
período útil de industrialização (PUI); va- tratadas termicamente. A quantidade de
diferentes ciclos de maturação, visando
riedades médias são as que apresentam teor muda também é de suma importância.
cobrir todo o período. Dessa forma, o pla-
de sacarose superior a outras variedades Devem-se utilizar de 10 a 12 toneladas
nejamento do canavial deve-se voltar para
no meio da safra (junho, julho, agosto), de colmo por hectare, colocando-se de
um esquema de plantio de variedades de ci-
com PUI médio; variedades tardias são as dezesseis a dezoito gemas por metro linear
clo precoce, médio e tardio. A combinação
que apresentam elevado teor de sacarose de sulco.
de plantio de, pelo menos, uma variedade
de meados para o final da safra, com PUI Igualmente importante é fazer adubação
de cada ciclo possibilitará estabilidade de
curto (70 a 120 dias). correta de plantio de acordo com análise do
produção durante todo o período de safra.
Aliada à escolha apropriada de varieda- solo e exigência da cultura, com atenção
Isto é vantajoso para a alimentação animal,
des, é importante observar certas práticas especial para fósforo (P), potássio (K),
pela oferta regular de cana a ser utilizada
como forragem. agrícolas que resultem na melhoria da enxofre (S) e correção do solo. Não tem
Um esquema de manejo adaptado de produtividade. Duas épocas de plantio são havido respostas consistentes da aplicação
Barbosa et al. (2007) para as principais mais utilizadas em Minas Gerais: plantio de nitrogênio (N) no plantio, entretanto,
variedades que têm sido utilizadas em de cana de ano, que ocorre no início do em solos arenosos com baixo teor de MO
Minas Gerais, para a produção de álcool período chuvoso, em outubro/novembro, ou em solos onde a cana será cultivada pela
e açúcar, também poderá ser adotado e plantio de cana de ano e meio, em fe- primeira vez, recomenda-se fazer adubação
para a produção de cana-de-açúcar, vereiro/março. O plantio de cana de ano de cobertura com esse nutriente. A aduba-
visando alimentação animal (Quadro 1). deverá ser feito o mais cedo possível, ção orgânica é uma prática que poderá ser
A este esquema de manejo estão incluídas desde que tenha condições mínimas de adotada tanto no plantio quanto na soqueira,
variedades relacionadas por Rodrigues, umidade no solo. Dessa forma, o canavial acrescida, se necessário, de adubação mi-
Primavesi e Esteves (1997) e Rodrigues terá melhor desenvolvimento vegetativo, neral complementar. O controle de pragas
et al. (2001, 2005, 2006) como as mais pois se beneficiará das condições ideais de solo, principalmente cupim subterrâneo,
adequadas em termos qualitativos para dos meses de temperatura mais alta e de deverá ser feito com inseticidas sobre os
alimentação de bovinos, e aquelas em maior precipitação. Plantio tardio, como toletes no sulco de plantio. Existem produ-
avaliação na EPAMIG Centro-Oeste, em em dezembro, resultará no encurtamento tos bastante eficientes no mercado, embora
Prudente de Morais, MG, em termos de do melhor período para o desenvolvimento possam apresentar preços elevados, são
adaptação local. vegetativo da cana, trazendo como conse- aplicados a baixas dosagens, o que reduz o
Quanto ao ciclo de maturação, as quência baixa produção no primeiro ano. custo da aplicação.
variedades são classificadas em precoce, O plantio de cana de ano e meio tem Adubação da soqueira poderá ser
média e tardia. São de ciclo precoce, como uma das vantagens melhor produti- feita sobre a palhada, mas levando em
aquelas que apresentam teor de sacarose vidade do primeiro corte. Outro aspecto consideração possíveis perdas pelo arraste
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86 Conservação de alimentos para bovinos

da chuva ou pela volatilização, quando A colheita da cana deve ser feita de sacarose, além de açúcares invertidos.
utilizada a ureia. É importante a reposição quando esta atingir a maturidade. O corte Esta é uma das situações nas quais a cana
de N e K. Quanto ao P, deve-se avaliar a manual deve ser feito rente ao solo. A fica passada, o que é indesejável para a
necessidade. prática correta do corte possibilita uma obtenção de matéria-prima de qualidade
A cana deverá ser mantida sempre rebrota mais sadia e resistente dos rizomas, para alimentação animal.
livre da competição de plantas daninhas, aumentando a longevidade do canavial. A
utilizando-se diferentes métodos de con- colheita mecanizada vem-se tornando uma CONSIDERAÇÕES FINAIS
trole, tais como, controle manual, controle realidade e, ao decidir pelo seu uso, devem- Nos últimos anos, o uso da cana-
mecânico (cultivadores, grade), controle se avaliar as vantagens. Diferentemente
cultural (plantio de culturas nas entrelinhas de-açúcar, na alimentação de bovinos,
do setor sucroalcooleiro em que o corte aumentou de forma considerável, uma
da cana) ou controle químico por meio
mecanizado já é uma realidade, com vez que os pecuaristas têm afirmado que
de herbicidas. Ao optar por herbicidas
avanços tecnológicos tanto do ponto de seus custos de produção têm reduzido
no plantio, utilizar, preferencialmente, os
vista de máquinas para o corte, quanto com a adoção dessa prática. No entanto,
recomendados em pré e pós-emergência
do cultivo da cana, o corte mecanizado a produtividade dos canaviais é baixa,
inicial, na fase de esporão da cana. O trato
para uso na alimentação animal ainda pois ainda, na maioria das propriedades
cultural da soqueira também poderá ser
é incipiente. O que se tem visto, na agrícolas, se cultivam variedades antigas,
realizado por três operações simultâneas
denominadas tríplices operações, onde são maioria das vezes, é o uso improvisado de geneticamente degeneradas (SILVEIRA;
feitas a subsolagem, adubação e cultivo. ensiladeiras para milho, sorgo e forrageiras BARBOSA; OLIVEIRA, 2002). Uma
Essa prática é benéfica em áreas que apre- para o corte da cana, com resultados pouco maneira de reverter essa situação é a
sentam compactação. satisfatórios e questionáveis. Esse quadro introdução de variedades melhoradas em
Quanto à irrigação da cana, poderá ser tem indicado a existência de demanda por sistemas de produção mais adequados à
feita, principalmente, a de salvamento no máquinas apropriadas a esta situação de realidade da região. Atualmente, existe um
plantio, quando a chuva estiver escassa, e, uso, bem como a necessidade de ajustes leque de opções de variedades melhoradas
após o corte, para favorecer maior rebrota. tecnológicos no cultivo da cana. Uma no mercado, dando ao produtor opção de
Resultados positivos com a irrigação têm vez equacionadas essas questões, muito escolha, garantindo maior probabilidade
sido obtidos em regiões com restrições provavelmente ocorrerá um expressivo de sucesso. As usinas, ao buscarem maior
hídricas, como o Norte de Minas. Boa aumento da utilização da cana na eficiência e rentabilidade, têm sido ágeis
produtividade foi registrada em trabalhos alimentação animal. na utilização dessas novas variedades, e
de pesquisa no Jaíba, Norte de Minas, com Por fim, é importante enfatizar que logo plantam as recentemente melhoradas.
as variedades RB76-5418, SP80-1842, a produtividade e a duração do canavial Para que o pecuarista possa se benefi-
SP80-1816, RB85-5536 e IAC86-2480 dependem fundamentalmente do plantio ciar desses avanços tecnológicos, há que
na cana planta (1o ano), onde a irrigação correto e do manejo adequado. Aliada à disponibilizar informações, proporcionar
plena proporcionou produtividade superior produtividade, está a obtenção de cana capacitação e dar oportunidade de acesso
a 100 t/ha (MACÊDO et al., 2007). Por sua como material forrageiro de melhor qua- aos materiais melhorados geneticamente e
vez, a cana soca dessas mesmas variedades lidade. Para isso, devem-se adotar práticas
apresentou maior acúmulo de matéria seca testados localmente. Já se constata que está
de manejo que vão além da escolha das havendo maior conexão dos trabalhos que
(MS) e de Brix sob irrigação até o 5o mês
variedades que apresentem características buscam avanços tecnológicos para a pro-
de desenvolvimento da cultura em compa-
mais apropriadas para alimentação animal. dução de cana-de-açúcar para a indústria,
ração à irrigação plena (MACÊDO et al.,
Outro aspecto importante é dimen- com aqueles que visam à potencialização
2008). Macêdo et al. (2009) observaram
sionar o canavial de acordo com as reais de seu uso na alimentação animal.
efeito positivo da irrigação das variedades
RB83-5486 e RB86-7515 sobre ganho de necessidades da propriedade agrícola. O
peso de novilhas ¾ Holandês/Zebu, em superdimensionamento de áreas de plantio REFERÊNCIAS
comparação às produzidas em sequeiro, pode levar a uma situação indesejável, que
BARBOSA, M. H. P. et al. Variedades melho-
no município de Prudente de Morais (MG). é deixar a cana bisar, isto é, passar de um radas de cana-de-açúcar para Minas Gerais.
Por outro lado, maior produtividade obtida ano para o outro sem ser colhida. Quando Informe Agropecuário. Cana-de-açúcar,
em condição irrigada da variedade SP80- não se faz o corte e com o início das chu- Belo Horizonte, v.28, n.239, p.20-24, jul./
1842, também em Prudente de Morais, vas, ocorrerão novas brotações na touceira ago. 2007.
refletiu positivamente sobre maior ganho e brotação das gemas dos colmos adultos, FERREIRA, J. J. et al. Desempenho de
de peso vivo por hectare de novilhas (FER- resultando, numa mesma touceira, colmos novilhas mestiças alimentadas com as
REIRA et al., 2011). de idades diferentes, com diferentes teores variedades de cana RB83-5486 e SP80-

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Conservação de alimentos para bovinos 87

1842, com e sem irrigação. In: REUNIÃO dade de colmo de variedades de cana soca DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOO-
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ZOOTECNIA, 48., 2011, Belém. Anais... O de Minas de Gerais. In: REUNIÃO ANUAL produção animal e o foco no agronegócio.
desenvolvimento da produção animal e a DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTEC- Goiânia: Sociedade Brasileira de Zootecnia,
responsabilidade frente a novos desafios. NIA, 45., 2008, Lavras. Anais... Biotecnolo- 2005. 1CD-ROM.
Belém: Sociedade Brasileira de Zootecnia, gia e sustentabilidade. Lavras: Sociedade RODRIGUES, A. de A. et al. Qualidade de
2011. 1 CD-ROM. Brasileira de Zootecnia, 2008. 1CD-ROM. dezoito variedades de cana-de-açúcar como
MACÊDO, G. A. R. et al. Características MATSUOKA, S.; HOFFMANN, H. P. alimento para bovinos. In: REUNIÃO ANU-
agronômicas e bromatológicas de varieda- Variedades de cana-de-açúcar para bovinos. AL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOO-
des de cana-de-açúcar com cultivos inter- In: SIMPÓSIO SOBRE NUTRIÇÃO DE TECNIA, 38., 2001, Piracicaba. Anais...
calares, sob irrigação no Norte de Minas BOVINOS, 5., 1993. Piracicaba. Anais... Piracicaba: Sociedade Brasileira de Zootec-
Gerais. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIE- Piracicaba: FEALQ, 1993. p. 17-35. nia, 2001, p. 1111-1113.
DADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 44., RODRIGUES, A. de A. et al. Qualidade de
2007, Jaboticabal. Anais... O avanço cien- PEIXOTO, A. M. A cana-de-açúcar como re-
curso forrageiro. In: PEIXOTO, A.M.; MOU- nove variedades de cana-de-açúcar como
tífico e tecnológico da produção animal. alimento para bovinos. In: REUNIÃO ANU-
Jaboticabal: Sociedade Brasileira de Zootec- RA, J.C. de; FARIA, V.P. de (Ed.). Pastagens:
AL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOO-
nia, 2007. 1CD-ROM. fundamentos da exploração racional. 2. ed.
TECNIA, 43., 2006, João Pessoa. Anais...
Piracicaba: FEALQ, 1994. p. 597-633.
MACÊDO, G. A. R. et al. Desempenho de Produção animal em biomas tropicais. João
novilhas mestiças alimentadas com as va- RODRIGUES, A. de A.; PRIMAVESI, O.; Pessoa: Sociedade Brasileira de Zootecnia,
riedades de cana RB83-5486 e RB86-7515, ESTEVES, S. N. Efeito da qualidade de va- 2006. 1CD-ROM
com e sem irrigação. In: REUNIÃO ANUAL riedades de cana-de-açúcar sobre seu va-
SILVEIRA, L.C.I. da; BARBOSA, M.H.P.;
DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOO- lor como alimento para bovinos. Pesquisa
OLIVEIRA, M.W. de. Manejo de variedades
TECNIA, 46., 2009, Maringá. Anais... Ino- Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 32,
de cana-de-açúcar predominantes nas prin-
vação científica e tecnológica em zootecnia. n. 12, p. 1333-1338, dez. 1997
cipais regiões produtoras de cachaça em
Maringá: Sociedade Brasileira de Zootec- RODRIGUES, A. de A. et al. Qualidade de Minas Gerais. Informe Agropecuário. Ca-
nia, 2009. 1CD-ROM. dez variedades de cana-de-açúcar como ali- chaça Artesanal de Minas, Belo Horizonte,
MACÊDO, G. A. R. et al. Produção e quali- mento para bovinos. In: REUNIÃO ANUAL v.23, n.217, p.25-32, 2002.

Maçã em regiões de inverno ameno


A maçã é uma das frutas frescas de clima
temperado mais comercializadas no Brasil e no mundo.
Estudos para melhoramento genético possibilitaram
que novas cultivares, com menor exigência em frio, fossem
desenvolvidas, o que permitiu a expansão dessa cultura a
novas áreas de cultivo, além do Sul do Brasil.
O Boletim Técnico Aspectos técnicos da cultura
da macieira em regiões de inverno ameno traz
recomendações importantes para quem deseja cultivar
esta fruteira com produtividade e qualidade.

Informações:
publicacao@epamig.br
(31) 3489-5002

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88

Tecnologia em foco

Produção Integrada de Trigo no Brasil


Casiane Salete Tibola 1
José Maurício Cunha Fernandes 2

Resumo - A Produção Integrada é um sistema de certificação de adesão voluntária,


regulamentado nas cadeias agrícolas e pecuárias por meio de documentos, que
incluem: normas técnicas específicas que preconizam as boas práticas para a
produção e pós-colheita; agrotóxicos registrados para a cultura; caderno de
campo e de pós-colheita para os registros pertinentes à rastreabilidade; e listas
de verificação para orientar as auditorias de avaliação da conformidade, que
são requisitos para a certificação. As normas técnicas específicas para Produção
Integrada de Trigo (PI Trigo) foram elaboradas com ampla participação da cadeia
produtiva, preconizando as boas práticas em todas as etapas, além de registros nos
cadernos de campo e de pós-colheita eletrônicos, para viabilizar a implementação
de sistemas de rastreabilidade e de certificação de produtos.
Palavras-chave: Boas práticas. Rastreabilidade. Certificação. Norma técnica.

INTRODUÇÃO Os sistemas de produção orgânica e der exigências específicas de normativas


de produção integrada são as principais e do mercado consumidor (ELBEHRI,
A difusão da agricultura intensiva e
formas da agricultura sustentável, em âm- 2007). No setor tritícola, os lotes podem ser
a consequente concentração de resíduos
bito mundial. Esses sistemas de produção segregados de acordo com a cultivar, classe
em áreas limitadas tiveram significativo
contemplam a adoção de boas práticas em comercial e resultados de análises, como
impacto no ambiente, causando problemas
como: exaustão da camada arável do solo, todas as etapas do sistema produtivo, bem presença de micotoxinas, dentre outros
contaminação do solo e da água, expres- como a implementação de sistema de ras- atributos que caracterizam a qualidade e a
sivo aumento nos custos de produção treabilidade, viabilizando a segregação e a aptidão tecnológica de trigo. Esses indica-
e êxodo rural. Assim, para promover o certificação de produtos, atestando que estes dores são influenciados pelo genótipo, pelas
desenvolvimento sustentável, proteger os foram obtidos de acordo com os requisitos condições climáticas e pela região produto-
recursos naturais, racionalizar a utilização estabelecidos em normas técnicas. Atender ra, demandando sistemas de rastreabilidade
de insumos externos e preservar a seguran- a esses critérios de produção sustentáveis para identificar a procedência e disponi-
ça dos alimentos, está sendo preconizada a constituem exigências comerciais, que bilizar informações sobre o manejo e a
agricultura sustentável. As premissas deste influenciam na decisão de compra do qualidade dos produtos. A segregação do
desenvolvimento sustentável incluem não consumidor e estão em consonância com trigo produzido no Brasil pode colaborar
só a preservação do meio ambiente e dos as atuais demandas de mercado. para o incremento da competitividade da
aspectos sociais, mas também a produção No mercado de grãos, há uma tendên- produção nacional e a redução da depen-
de alimentos seguros com preços acessí- cia para a diferenciação e a segregação dência de importações, que representam,
veis e a garantia de meios de subsistência de produtos, evidenciando características atualmente, mais da metade do consumo
para os agricultores (SEUFERT; RA- relativas à qualidade, aptidão tecnológica interno. Além disso, favorece a minimiza-
MANKUTTY; FOLEY, 2012). e/ou indicações geográficas, visando aten- ção das perdas, com melhor planejamento

1
Enga Agra, Dra., Pesq. EMBRAPA Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo-RS. Correio eletrônico: casiane.tibola@embrapa.br
2
Engo Agro, Ph.D., Pesq. EMBRAPA Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo-RS. Correio eletrônico: mauricio.fernandes@embrapa.br

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89

da produção, desde a escolha da cultivar pragas, doenças e condições ambientais, logical and Integrated Control of Noxious
até a definição de lotes no armazenamento visando à otimização e à redução no uso de Animals and Plants (IOBC) publicou os
e na comercialização. insumos; qualidade, atendimento das ex- princípios e normas técnicas para a Produ-
Adicionalmente, os incidentes rela- pectativas e das necessidades dos clientes; ção Integrada na Europa, que foram a base
cionados com a segurança dos alimentos rastreabilidade, registro de todas as etapas para harmonização e compatibilização dos
determinaram a necessidade de estabelecer que conferem a qualidade e a inocuidade documentos específicos em outros países
sistemas de controle de qualidade e de ras- dos lotes específicos; e certificação, que (BOLLER et al., 2004).
treabilidade apropriados para identificar e consiste no reconhecimento formal, por No Brasil, a Produção Integrada foi
retirar do mercado alimentos contaminados. meio de auditorias conduzidas por insti- primeiramente adotada nas fruteiras,
Para o trigo e outros cereais, a presença de tuições de terceira parte, não envolvidas destacando-se aquelas destinadas ao
contaminantes, como resíduos de agrotóxi- na produção e na comercialização, ates- consumo in natura e para exportação. O
cos e micotoxinas, visualmente impercep- tando que o conjunto de características do setor da maçã foi pioneiro na elaboração
tíveis no produto final, é um desafio para produto está de acordo com os requisitos de normativas e no estabelecimento do
produção de alimentos seguros. O manejo estabelecidos nas normativas (TIBOLA et processo de avaliação da conformidade, em
desses contaminantes tornou-se uma pre- al., 2007). 2002 (SANHUEZA; HOFFMANN, 2009).
ocupação crescente, considerando que, Dessa forma, com o objetivo de con- Como resultado, no ciclo 2003/2004, 45%
com base em dados de monitoramento, tribuir para a competitividade e a conso- da área foi submetida ao processo de ava-
limites máximos de tolerância estão sendo lidação da produção de trigo no Brasil, a liação de conformidade de acordo com a
estabelecidos em níveis cada vez mais Embrapa Trigo, juntamente com outras Produção Integrada e 55% da produção
restritivos, visando à garantia da segurança instituições, está desenvolvendo e imple- brasileira de maçãs foi comercializada com
dos alimentos comercializados. mentando a Produção Integrada de Trigo o selo da Produção Integrada.
A produção de alimentos seguros, pas- (PI Trigo), nas diferentes regiões produto- No ano de 2005, a área cultivada com
síveis de certificação, demanda integração ras no País, visando à obtenção de produtos Produção Integrada de Frutas (PIF), no
e participação de todos os elos da cadeia com qualidade certificada e incrementando Brasil, foi de 35.508 ha, com produção de
produtiva, em associação com políticas a competitividade do complexo agroindus- 1.094.615 t, distribuídas entre quinze espé-
públicas que priorizem a qualidade e a trial do trigo em seus relacionamentos com cies frutíferas, envolvendo 1.002 produtores
rastreabilidade de alimentos. Dentre as diversas cadeias produtivas. (ANDRIGUETO; KOSOSKI, 2005). Os
iniciativas voluntárias que fomentam par- Este artigo contempla o histórico, o principais resultados obtidos pela PIF, no
cerias entre agentes da cadeia produtiva, estado da arte, os principais resultados e Brasil, foram: aumento de emprego e renda;
visando à obtenção de alimentos seguros, as ações futuras da PI Trigo (PI) no Brasil. indicadores de redução de pulverizações;
rastreados e maiores oportunidades na diminuição de resíduos químicos nas
comercialização, no Brasil, destaca-se a HISTÓRICO DA PRODUÇÃO frutas; melhoria na qualidade do produto
Produção Integrada. INTEGRADA consumido, da saúde do trabalhador rural
A Produção Integrada envolve todas as A Produção Integrada foi primeiramente e do consumidor. De acordo com Vieira e
etapas que inferem caráter de sustentabi- discutida na Europa, em meados dos anos Naka (2004), esses resultados decorreram,
lidade ao sistema produtivo e à produção 1970, quando desafios como a resistência principalmente, de ações de capacitação de
de alimentos com qualidade certificada de pragas aos praguicidas e a contaminação técnicos e produtores em procedimentos de
(ANDRIGUETO; KOSOSKI, 2005). É um do lençol freático, pelo excesso de adubação manejo, monitoramento e controle integra-
sistema de certificação de adesão voluntá- nitrogenada, demandaram a necessidade de do de pragas e da intensiva incorporação
ria, com base em documentos que incluem adequar todos os componentes do sistema tecnológica nos processos produtivos.
normas técnicas específicas e orientam o produtivo de forma integrada, para diminuir Em 2004, o Ministério da Agricultura,
manejo a ser adotado na produção e na pós- a dependência de insumos, principalmente Pecuária e Abastecimento (MAPA) pro-
colheita, os agrotóxicos registrados para a fertilizantes e agrotóxicos. Além de con- moveu a extensão do sistema de Produção
cultura, cadernos para registros pertinentes tribuir para limitar a resistência de pragas Integrada para outros segmentos da cadeia
à rastreabilidade e listas de verificação, e para viabilizar um sistema de produção agroalimentar, como carne, grãos e hortali-
para orientar as auditorias de avaliação da sustentável, que promovesse a proteção ças, por meio do Sistema Agropecuário de
conformidade. dos recursos naturais e remunerasse ade- Produção Integrada (Sapi). A implementa-
As áreas prioritárias da Produção In- quadamente o produtor, pela produção de ção do Sapi determinou o estabelecimento
tegrada são: sustentabilidade, preservação alimentos com qualidade certificada. Em das condições técnicas de sustentabilidade
dos recursos naturais, monitoramento de 1993, a International Organisation for Bio- ambiental, segurança dos alimentos, saúde
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humana e responsabilidade social, além das os requisitos para a implementação da NORMAS TÉCNICAS PARA
condições requeridas em procedimentos de Produção Integrada, incluindo orientações PRODUÇÃO INTEGRADA DE
rastreabilidade, o que possibilitou a conso- para coleta de amostras para análises de TRIGO
lidação da posição brasileira, como impor- qualidade tecnológica e de contaminantes; As normas e os documentos da PI Trigo
tante provedora de produtos e serviços de identificação de produtos finais da Produ- foram elaborados, com a participação de
alto valor agregado no comércio mundial ção Integrada por selos de identificação da equipe multidisciplinar e interinstitucional,
de alimentos (VIEIRA; NAKA, 2004). conformidade; formulários para solicitar a em comum acordo entre os agentes da ca-
As premissas básicas para orientação certificação; e o modelo de certificação a deia produtiva. Os documentos da PI Trigo
da implantação do Sapi foram as seguintes: ser adotado pelas certificadoras, de terceira são: as normas técnicas, o caderno de cam-
fomento à produção agropecuária; atuação parte, acreditadas pelo Inmetro (2011). po, o caderno de pós-colheita, a relação de
em escala de propriedade; projetos pilotos; A PI Trigo iniciou no Brasil, em 2007, agrotóxicos e as listas de verificação para
organismos de avaliação da conformidade com a aprovação de projeto, liderado pela comprovar se o que está sendo exigido nas
(terceira parte), credenciada pelo Instituto Embrapa Trigo, que objetivou implementar normas está sendo efetivamente realizado
Nacional de Metrologia, Qualidade e a PI Trigo nas diferentes regiões produtoras na prática, para fins de certificação.
Tecnologia (Inmetro); adesão voluntá- do Brasil, visando a obtenção de produtos As normas técnicas específicas para
ria; normatização adequada à dinâmica com qualidade certificada, proteger os trigo referem-se, conforme determinado
de mercado; auditorias sistematizadas; recursos naturais e incrementar a compe- pela Portaria no 443, de 23 de novembro de
cadastro nacional; selo ou atestado de titividade da cadeia produtiva. O resultado 2011 (INMETRO, 2011), à etapa Fazenda,
conformidade; acreditação internacional; mais relevante desse projeto foi a definição que abrange a produção, a colheita e a
atuação por cadeia produtiva; produção da primeira versão das normas técnicas pós-colheita.
de alimentos seguros; processo sustentável para PI Trigo, incluindo a validação do Nas normas técnicas, foram preconi-
(economicamente viável, ambientalmente sistema na cadeia produtiva. zadas as boas práticas em todas as etapas,
correto e socialmente justo); produto di- Em 2012, foi instalada a Comissão além de registros nos cadernos de campo
ferenciado e competitivo; e programa de Técnica da Produção Integrada de Trigo e de pós-colheita, para viabilizar sistemas
promoção e marketing (ANDRIGUETO; (BRASIL, 2012), com representantes do de rastreabilidade e de certificação de pro-
KOSOSKI, 2005). setor de pesquisa, extensão, produção, dutos. Essa normativa está em fase final de
No total, foram desenvolvidos mais armazenamento, processamento e comer- formatação para ser publicada no Diário
de 60 projetos em Produção Integrada, cialização do trigo. A comissão tem por Oficial da União (DOU), constituindo um
incluindo fruticultura, hortaliças, pecuária finalidade (BRASIL, 2012): sistema voluntário de certificação oficial.
e grãos. No ano de 2009, a área cultivada I - elaborar, com base nas tecnologias As normas técnicas da PI Trigo foram
com Produção Integrada no Brasil foi de disponíveis, a Norma Técnica Espe- elaboradas a partir das indicações técnicas
63.918 ha, com produção de 1.686.260 t cífica da Produção Integrada de Trigo, para a cultura do trigo, da legislação dis-
de alimentos, envolvendo 2.333 produtores atendendo à Instrução Normativa ponível para a cultura e das tecnologias
e empresas (ANDRIGUETO et al., 2009). no 27, de 30 de agosto de 2010, bem consolidadas nas diferentes áreas. A nor-
A Produção Integrada, os produtos e como os Requisitos de Avaliação de ma é composta de quinze áreas temáticas
as normas técnicas específicas podem ser Conformidade – RAC do Inmetro (Quadro 1). Os parâmetros são classificados
acessados em Zambolim et al. (2009). para a PI Brasil;
como obrigatórios, recomendados e proibidos,
Mais informações quanto ao histórico e aos II - encaminhar à Comissão Técnica da conforme sua relevância na promoção da
programas de Produção Integrada no Brasil Cadeia Agrícola a Norma Técnica sustentabilidade do sistema produtivo e na ga-
podem ser obtidas em Souto (2011). Específica da Produção Integrada rantia de qualidade e segurança dos produtos.
A Instrução Normativa no 27, de 30 de de Trigo, para avaliar e homologar, Como exemplos, critério obrigatório: ado-
agosto de 2010, do MAPA, estabeleceu com posterior publicação no Diário ção do monitoramento de pragas, doenças
as diretrizes gerais para fixar preceitos e Oficial da União; e e condições meteorológicas para justificar
orientações para programas e projetos que III - revisar e promover as adequações o controle químico; critério proibido:
fomentem e desenvolvam a Produção Inte- necessárias à atualização e ao de- uso de agrotóxicos não registrados para
grada Agropecuária (PI Brasil) (BRASIL, senvolvimento da Norma Técnica a cultura; e critério recomendado: dispor
2010b). Específica da Produção Integrada de local impermeabilizado para preparo
Em 2010 foram definidos os Requisitos de Trigo, em conformidade com os de agrotóxicos, com estrutura adequada
de Avaliação da Conformidade (RAC), requerimentos dos representantes da para coletar vazamentos e para remediar
para a PI Brasil. O RAC regulamentou respectiva cadeia agrícola. eventuais contaminações dos operadores.
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QUADRO 1 - Áreas temáticas, exemplos de itens de verificação e critérios de avaliação na critérios claros para a comercialização e a
auditoria para certificação em Produção Integrada de Trigo (PI Trigo) segregação de produtos. A elaboração das
Áreas temáticas Itens de verificação na auditoria Critério normas técnicas para a PI Trigo disponibi-
Capacitação Comprova a capacitação do produtor e/ou Obrigatório lizou um protocolo de boas práticas, para
responsável técnico em PI Trigo?
que os diferentes elos da cadeia produtiva
Organização de produtores Possui assistência técnica com treinamento Obrigatório viabilizassem o estabelecimento de con-
e assistência técnica PI Trigo, credenciada pelo CREA?
tratos para a comercialização de produtos.
Responsabilidade social do Atende aos critérios estabelecidos na legis- Obrigatório Essas parcerias envolveram dez insti-
estabelecimento lação trabalhista e previdenciária vigente tuições, incluindo cooperativas, moinhos
no Brasil?
e indústria de alimentos, 500 produtores
Gestão ambiental e bio- Os estabelecimentos planejam as atividades Obrigatório de trigo, perfazendo uma área plantada
diversidade do estabele- de acordo com a aptidão da região?
de 25 mil hectares, que produziram mais
cimento
de 75 mil toneladas de trigo. Quanto à
Infraestrutura do estabe- Utiliza EPI adequado para preparo ou apli- Obrigatório
distribuição geográfica, o projeto foi im-
lecimento cação de acordo com a indicação no rótulo
dos agrotóxicos?
plementado nas Regiões Sul e Sudeste,
respectivamente os maiores centros de
Manejo e conservação do Planeja e adota o sistema de rotação de Obrigatório
solo culturas?
produção e de consumo de trigo no Brasil.
As principais estratégias de manejo
Fertilidade e nutrição Possui laudos com as análises químicas de Obrigatório
solo, a cada três anos?
adotadas foram: seleção de cultivares,
visando ao planejamento da produção, do
Material propagativo Utiliza sementes de trigo produzidas de Obrigatório
armazenamento e da comercialização; mo-
acordo com a legislação?
nitoramento de doenças e de insetos-praga
Implantação da lavoura Respeita o período de semeadura determi- Obrigatório
para justificar a utilização de agrotóxicos;
nado no zoneamento agrícola para trigo?
registros no caderno de campo das etapas
Proteção Integrada da Os agrotóxicos utilizados no tratamento de Obrigatório
que afetam a qualidade do trigo na produ-
Planta sementes são registrados para trigo?
ção; e registros das etapas de recebimento,
Manejo da água e irrigação Adota sistema de irrigação adequado para Recomendado
de padronização e de armazenamento no
trigo?
caderno de pós-colheita.
Colheita e transporte A regulagem/limpeza na colhedora é efe- Obrigatório
Nas safras 2007 e 2008, foram determi-
tuada antes da colheita, de acordo com a
umidade dos grãos? nadas a qualidade tecnológica e a presença
de micotoxinas nos lotes de trigo produzi-
Pós-colheita A unidade armazenadora está certificada, Obrigatório
de acordo com a legislação vigente? dos de acordo com a Produção Integrada
(TIBOLA et al., 2008).
Sistema de rastreabilidade No campo a rastreabilidade identifica a Obrigatório
parcela de produção do trigo?
Como exemplo dessa iniciativa, os lotes
foram segregados de acordo com as seguin-
Certificação As auditorias são realizadas em, no mínimo, Obrigatório
20% das propriedades, da mesma organiza-
tes características: uma cultivar da classe
ção ou cooperativa envolvida na PI Trigo? pão, com coloração de farinha amarela,
destinada à fabricação de massas alimen-
NOTA: CREA - Conselho Regional de Engenharia; EPI - Equipamento de proteção individual.
tícias; e uma cultivar de classe pão, com
farinha branca que foi utilizada na indústria
As listas de verificação definem os A versão completa das normas técnicas de panificação; outro exemplo é a produção
parâmetros que deverão ser confirmados específicas para a PI Trigo, poderá ser de trigo direcionada para alimentos infantis,
pelas certificadoras no momento da audi- consultada em Tibola e Fernandes (2013). onde cada carga de caminhão foi monitora-
toria na lavoura e na unidade armazenadora da quanto aos níveis de micotoxinas. Essa
de grãos, visando conferir os atestados de RESULTADOS DA PRODUÇÃO produção foi mantida segregada ao longo de
conformidade da PI Trigo. INTEGRADA DE TRIGO todas as etapas da pós-colheita, garantindo
As áreas temáticas, exemplos de itens O projeto PI Trigo foi implementado, a segurança dos alimentos e o atendimento
de verificação e critérios de avaliação na com a participação de agentes da cadeia pro- aos requisitos de legislação.
auditoria para certificação em PI Trigo dutiva, em escala piloto. A PI Trigo fomen- Os principais benefícios da Produção
estão discriminadas no Quadro 1. tou parcerias na cadeia produtiva, gerando Integrada foram a liquidez na comerciali-
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zação e o incremento no valor agregado, Os principais avanços obtidos com a regulagem e calibragem de pulverizadores,
resultando em prêmio pelos lotes de trigo implementação da PI Trigo são apresen- visando racionalizar o uso de agrotóxicos,
segregados. Na industrialização, a segre- tados a seguir. ampliar o conhecimento e prevenir impac-
gação de Trigo Pão, com farinha amarela, tos negativos ao meio ambiente e à saúde
possibilitou a fabricação de massas alimen- Capacitação humana. Adicionalmente, foi organizado
tícias com a coloração natural, dispensando A capacitação em Boas Práticas Agrí- um workshop sobre PI Trigo, visando à
o uso de corante, melhorando a aparência do colas (BPA) foi priorizada por meio da divulgação das atividades realizadas no
produto após o cozimento. Além disso, os promoção de cursos como monitoramento projeto, além de discutir alternativas para
lotes de trigo homogêneos proporcionaram de doenças do trigo (Fig. 1) e tecnologia de manejo, entraves para comercialização e
melhor rendimento na moagem e melhoria aplicação de agrotóxicos (Fig. 2A e 2B). O oportunidades de segregação de trigo. O
na qualidade reológica da farinha, dispen- objetivo dos eventos foi capacitar técnicos evento contou com a participação de agentes
sando misturas para obter as características para a identificação e monitoramento de de toda a cadeia produtiva do trigo.
demandadas pela indústria para produtos doenças na cultura do trigo, uso correto e Em 2012 e 2013, foram organizados
finais específicos. seguro de agrotóxicos, bem como prática em dois workshops sobre sistema de rastreabi-
lidade digital, com a finalidade de divulgar
e avaliar o sistema de rastreabilidade digital
aplicado na coleta e transmissão de registros
de manejo na produção e na pós-colheita
de trigo, incluindo relatos dos usuários da
cadeia produtiva. Esses eventos contaram
com a participação da cadeia produtiva
de trigo, incluindo produtor, armazenador,
moinho de trigo e indústria de alimentos.

Registros para
rastreabilidade
Os sistemas de rastreabilidade são
ferramentas que podem garantir a eficácia
Casiane Tibola

dos métodos de controle de qualidade


adotados na produção de alimentos. Para
tanto, as fases de produção, transformação
Figura 1 - Curso teórico-prático de monitoramento de doenças do trigo - Cascavel, PR, e distribuição devem ser documentadas de
2009 maneira atualizada e fidedigna. O sistema

Fotos: Paulo Kurtz

A B
Figura 2 - Curso Boas Práticas Agrícolas (BPA): tecnologia de aplicação de agrotóxicos - Passo Fundo, RS, 2008
NOTA: Figura 2A - Prática com pulverizador com barras. Figura 2B - Prática com pulverizador costal.

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de rastreabilidade pode funcionar adequa- resultados de análises de contaminantes, número do secador, capacidade, tempera-
damente em versões que se baseiam em como: presença de micotoxinas, resíduos tura inicial e final, temperatura do ar de
registros manuais. No entanto, essa tarefa de agrotóxicos e análises microbiológicas. secagem, umidade inicial e final (Fig. 4).
é dispendiosa em tempo e em recursos, o Os resultados de análises referentes à qua- A estrutura e as funcionalidades dis-
que torna difícil sua implementação em lidade tecnológica de trigo também podem poníveis no sistema de rastreabilidade
complexas cadeias alimentícias. Essa ampla ser registrados. Adicionalmente, podem digital para trigo e, detalhando o registro, o
e dinâmica geração, captação e transmissão ser informados dados de calibragem de acesso e a transmissão de dados do manejo
de dados demanda soluções informatizadas equipamentos, medidas de higienização, adotado na produção e na pós-colheita,
para conferir agilidade e confiabilidade na controle de roedores, resfriamento e tran- foram sintetizados em Tibola et al. (2013b).
comunicação dessas informações (TIBOLA silagem de grãos. Como exemplo, referente Atualmente, estão cadastrados no sistema
et al., 2013a). à etapa de secagem deve-se registrar: data, de rastreabilidade 254 usuários de dife-
Para facilitar o registro e a transmissão
de informações no sistema de rastreabi-
lidade, foi elaborada uma versão digital
do caderno de campo e de pós-colheita.
No sistema de rastreabilidade digital
preconizado para trigo, na produção, a
menor unidade rastreável é a parcela, que
corresponde à área homogênea semeada
com a mesma cultivar de trigo. Na etapa
de pós-colheita, a menor unidade rastreá-
vel é composta por um lote de trigo, que
corresponde a um silo, no armazenamento.
No caderno de campo, são efetuados os
registros das etapas que influenciam a qua-
lidade do trigo na produção. Cada usuário
pode adaptar os registros de acordo com o
manejo adotado, entretanto algumas infor-
mações, como o monitoramento de pragas
e doenças, a aplicação de agrotóxicos e de Figura 3 - Planilha com registro de semeadura no sistema de rastreabilidade digital
fertilizantes são registros compulsórios.
O caderno de campo é específico para
cada parcela, deve ser atualizado e conter as
informações do manejo adotado na lavoura,
como: identificação, resultado de análise
química do solo, planejamento de rotação
de culturas, preparo do solo e semeadura
(Fig. 3), tratamento de sementes, adubação
de base e de cobertura, controle de plantas
daninhas, aplicação de reguladores de
crescimento, monitoramento e controle de
doenças, monitoramento e controle de pra-
gas, aplicações de fungicidas e inseticidas,
regulagem de pulverizador e colhedora.
O caderno de pós-colheita é específico
para cada lote e pode conter os seguintes
manejos: recebimento, pré-limpeza, se-
cagem, limpeza, termometria, monitora-
mento de insetos-praga, aeração, expurgo
e aplicação de inseticidas. Também são Figura 4 - Planilha para registro na etapa de secagem de grãos na unidade armazena-
disponibilizadas planilhas para inserir dora no sistema de rastreabilidade digital

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rentes estruturas na cadeia produtiva de dora (moega, secador, elevador e silo). Pelo de sistema de rastreabilidade digital,
trigo, totalizando 26 instituições parceiras. número do lote, que corresponde a um silo, que disponibiliza informações sobre
Foram incluídos 544 cadernos de campo e podem ser acessadas as informações conti- a procedência e a qualidade dos lotes
60 cadernos de pós-colheita. das no caderno de campo e de pós-colheita, de trigo em tempo real;
que incluem também análises de qualidade c) segregação do trigo em lotes homo-
Manejo na produção tecnológica e de inocuidade dos grãos. gêneos: permite maior rendimento
O manejo do solo foi realizado de acor- Os procedimentos de manejo nas na moagem e farinha de melhor
do com as tecnologias consolidadas pelo unidades armazenadoras de trigo foram qualidade reológica para produtos
realizados de acordo com a Instrução que
Sistema Plantio Direto (SPD), na palha, que finais específicos.
preconiza: mobilização do solo apenas na regulamenta a certificação de unidades
linha de semeadura, manutenção da cober- armazenadoras (BRASIL, 2011), e a Ins-
PERSPECTIVAS FUTURAS
tura vegetal permanente no solo e o plane- trução Normativa no 38, de 30 de outubro
jamento da rotação de culturas. A adubação de 2010 (BRASIL, 2010c), que define Quanto às novas demandas para o projeto
foi orientada e quantificada de acordo com padrões para qualidade tecnológica do PI Trigo, enumeram-se a publicação das nor-
os resultados de análise química do solo. trigo e orienta a classificação comercial. mas no MAPA, a qual visa reconhecimento
O controle químico de insetos-praga A prevenção e o manejo dos contaminan- formal do sistema de PI Trigo; a organização
e de doenças foi justificado por dados de tes nas unidades armazenadoras foram de cursos de capacitação em Produção Inte-
monitoramento de incidência, pelo estádio realizados de acordo com a metodologia grada, os quais priorizam a temática: gestão
fenológico da cultura e pelas condições definida pelo manejo integrado de pragas ambiental, boas práticas, rastreabilidade e
meteorológicas compilados com o auxílio de grãos armazenados e pela legislação certificação; e a certificação dos produtos, por
de modelos de simulação dinâmicos, que brasileira para micotoxinas (ANVISA, meio de auditorias, que conferem atestados
consideram, além dos dados ocorridos, tam- 2011) e para resíduos de agrotóxicos de conformidade da PI Trigo.
bém prognósticos de tempo. Na PI Trigo, (BRASIL, 2010a). Outras áreas que demandam esforços
foi utilizado o Sistema de Alerta (Sisalert) são: permanente atualização em moni-
(FERNANDES et al., 2011), desenvolvido CONSIDERAÇÕES FINAIS toramento de pragas e doenças, o qual
pela Embrapa Trigo e pela Universidade A Produção Integrada tem demonstrado identifica períodos críticos de ocorrência, e
de Passo Fundo (UPF), que, com os dados resultados positivos no âmbito econômico possibilita a adoção racional de medidas de
meteorológicos ocorridos e resultados de e social, estimulando a organização e o controle; tecnologia de aplicação de agro-
prognósticos, monitora e emite alerta para a fortalecimento das cadeias produtivas. A tóxicos, incluindo o uso correto de equi-
ocorrência de brusone e de giberela no trigo, PI Trigo, por meio da seleção de cultivares, pamentos de proteção individual, a regu-
principais doenças de espiga dessa cultura. do monitoramento de insetos-praga e de lagem e a manutenção de pulverizadores,
Quanto aos agrotóxicos foram priorizados doenças, da racionalização do uso de agro- bem como registros para rastreabilidade, os
aqueles mais eficientes, mais seletivos e tóxicos, da seleção de métodos de controle quais permitem identificar a procedência e
com menor toxicidade para o aplicador, os eficientes e do planejamento do recebi- o manejo adotado nas diferentes etapas de
animais e o ambiente. mento, da secagem e do armazenamento, produção e de pós-colheita do trigo.
Na Produção Integrada, os lotes de contribui para a minimização dos principais Também são prioritários investimentos
trigo foram segregados, conforme a apti- perigos inerentes ao trigo, além de permitir em laboratórios e equipamentos, para aná-
dão tecnológica. Para tanto, as cultivares a rastreabilidade dos produtos e a confor- lises de indicadores de qualidade tecnoló-
semeadas em determinada região produtora midade quanto aos programas de gestão da gica e de contaminantes, para estabelecer
foram previamente selecionadas para obter qualidade. Os principais resultados foram: programas de monitoramento e atender
maior similaridade. a) seleção de cultivares: o planejamento, requisitos de normativas de qualidade e
para recebimento e armazenagem, e a de legislação.
Manejo na pós-colheita avaliação da aptidão tecnológica e da Além disso, para que os consumidores
Na colheita e no transporte foi mantida qualidade possibilitaram a segregação reconheçam e identifiquem os produtos
a identificação das cargas produzidas no de lotes de grãos, agregando valor aos da Produção Integrada, é fundamental a
sistema PI Trigo. produtos diferenciados, direcionan- divulgação da qualidade diferencial desses
No armazenamento, para manter a do-os para mercados específicos; produtos, bem como, a harmonização com
identidade e prevenir misturas, os lotes b) registros para rastreabilidade: obtidos outros programas de gestão da qualidade,
formados foram conduzidos isoladamente em cadernos de campo e de pós-co- como a ISO 22000 - Sistemas de Gestão
nas diferentes etapas, na unidade armazena- lheita, permitem a operacionalização da Segurança de Alimentos.
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2010/2011, os limites máximos de resíduos
ciation for Information and Communication vimento Agropecuário e Cooperativismo,
e de contaminantes tolerados para fins de
Technologies in Agriculture Food and Envi- 2009. p.511-532.
monitoramentos de agrotóxicos, bem como
ronment, 2011. v.1, p.225-233.
os tipos de análises e número de amostras a VIEIRA, J. H. H.; NAKA, J. Sistema Agríco-
serem coletadas, e respectivas legendas. Di- INMETRO. Portaria no 443, de 23 de novem- la de Produção Integrada – SAPI. In: CON-
ário Oficial [da] República Federativa do bro de 2011. Aprova a revisão dos Requisitos FERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE
Brasil, Brasília, 14 out. 2010a. Seção 1, p.6. de Avaliação da Conformidade para Produção RASTREABILIDADE DE ALIMENTOS, 1.;
Integrada Agropecuária – PI Brasil. [Rio de SEMINÁRIO FRANCO-BRASILEIRO SEGU-
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária
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e Abastecimento. Instrução Normativa no 27,
www.inmetro.gov.br/legislacao/rtac/pdf/ Paulo. Anais... São Paulo: Ministério da Agri-
de 30 de agosto de 2010. Estabelece as di- RTAC001761.pdf>. Acesso em: 17 jul. 2013. cultura, Pecuária e Abastecimento: FEALQ,
retrizes gerais com vistas a fixar preceitos
SEUFERT, V.; RAMANKUTTY, N.; FOLEY, 2004. p.201-213.
e orientações para os programas e projetos
que fomentem e desenvolvam a Produção J. A. Comparing the yields of organic and ZAMBOLIM, L. et al. (Org.). Produção In-
Integrada Agropecuária (PI-Brasil), sem conventional agriculture. Nature, London, tegrada no Brasil: agropecuária sustentável
prejuízo das demais disposições regula- v.485, n.7397, p.229-232, May 2012. e alimentos seguros. Brasília: Ministério da
mentadoras. Diário Oficial [da] República SOUTO. R. F. O sistema brasileiro de pro- Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Se-
Federativa do Brasil, Brasília, 31 ago. 2010b. dução integrada. In: MATOS, A. P. de. (Ed.). cretaria de Desenvolvimento Agropecuário
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I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 4 , n . 2 7 7 , p . 8 8 - 9 5 , n o v. / d e z . 2 0 1 3
96 Conservação de alimentos para bovinos

INSTRUÇÕES AOS AUTORES


INTRODUÇÃO PRAZOS E ENTREGA DOS ARTIGOS
O Informe Agropecuário é uma publicação seriada, periódica, Os colaboradores técnicos da revista Informe Agropecuário devem
bimestral, de caráter técnico-científico e tem como objetivo principal observar os prazos estipulados formalmente para a entrega dos
difundir tecnologias geradas ou adaptadas pela EPAMIG, seus parceiros trabalhos, bem como priorizar o atendimento às dúvidas surgidas ao
e outras instituições para o desenvolvimento do agronegócio de Minas longo da produção da revista, levantadas pelo Editor técnico, pela
Gerais. Trata-se de um importante veículo de orientação e informação Revisão e pela Normalização. A não observação a essas normas trará
para todos os segmentos do agronegócio, bem como de todas as as seguintes implicações:
instituições de pesquisa agropecuária, universidades, escolas federais a) os colaboradores convidados pela Empresa terão seus trabalhos
e/ou estaduais de ensino agropecuário, produtores rurais, técnicos, excluídos da edição;
extensionistas, empresários e demais interessados. É peça importante b) os colaboradores da Empresa poderão ter seus trabalhos excluídos
para difusão de tecnologia, devendo, portanto, ser organizada para ou substituídos, a critério do respectivo Editor técnico.
atender às necessidades de informação de seu público, respeitando O Editor técnico deverá entregar ao Departamento de Publica-
sua linha editorial e a prioridade de divulgação de temas resultantes ções (DPPU), da EPAMIG, os originais dos artigos em CD-ROM ou
de projetos e programas de pesquisa realizados pela EPAMIG e seus por e-mail, já revisados tecnicamente (com o apoio dos consultores
parceiros. técnico-científicos), 120 dias antes da data prevista para circular a
A produção do Informe Agropecuário segue uma pauta e um cro- revista. Não serão aceitos artigos entregues fora desse prazo ou após
nograma previamente estabelecidos pelo Conselho de Publicações da o início da revisão linguística e normalização da revista.
EPAMIG e pela Comissão Editorial da Revista, conforme demanda do O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data
setor agropecuário e em atendimento às diretrizes do Governo. Cada de publicação da edição.
edição versa sobre um tema específico de importância econômica
para Minas Gerais. ESTRUTURAÇÃO DOS ARTIGOS
Do ponto de vista de execução, cada edição do Informe Agropecuário
Os artigos devem obedecer à seguinte sequência:
terá de um a três Editores técnicos, responsáveis pelo conteúdo da publi-
a) título: deve ser claro, conciso e indicar a ideia central, podendo
cação, pela seleção dos autores dos artigos e pela preparação da pauta.
ser acrescido de subtítulo. Devem-se evitar abreviaturas, parên-
teses e fórmulas que dificultem a sua compreensão;
APRESENTAÇÃO DOS ARTIGOS ORIGINAIS
b) nome do(s) autor(es): deve constar por extenso, com nume-
Os artigos devem ser enviados em CD-ROM ou por e-mail, no ração sobrescrita para indicar, no rodapé, sua formação e títulos
programa Microsoft Word, fonte Arial, corpo 12, espaço 1,5 linha, acadêmicos, profissão, instituição a que pertence e endereço.
parágrafo automático, justificado, em páginas formato A4 (21,0 x Exemplo: Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG Sul de Minas, Caixa
29,7cm). Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
Os quadros devem ser feitos também em Word, utilizando apenas ctsm@epamig.br;
o recurso de tabulação. Não se deve utilizar a tecla Enter para forma- c) resumo: deve ser constituído de texto conciso (de 100 a 250
tar o quadro, bem como valer-se de “toques” para alinhar elementos palavras), com dados relevantes sobre a metodologia, resulta-
gráficos de um quadro. dos principais e conclusões;
Os gráficos devem ser feitos em Excel e ter, no máximo, 15,5 cm d) palavras-chave: devem constar logo após o resumo. Não
de largura (em página A4). Para tanto, pode-se usar, no mínimo, corpo devem ser utilizadas palavras já contidas no título;
6 para composição dos dados, títulos e legendas. e) texto: deve ser dividido basicamente em: Introdução, Desenvol-
As fotografias a serem aplicadas nas publicações devem ser re- vimento e Considerações finais. A Introdução deve ser breve e
centes, de boa qualidade e conter autoria. Podem ser enviados, prefe- enfocar o objetivo do artigo;
rencialmente, os arquivos originais da câmera digital (para fotografar
f) agradecimento: elemento opcional;
utilizar a resolução máxima). As fotos antigas devem ser enviadas em
g) referências: devem ser padronizadas de acordo com o “Ma-
papel fotográfico (9 x 12 cm ou maior), cromo (slide) ou digitalizadas.
nual para Publicações da EPAMIG”, que apresenta adaptação
As fotografias digitalizadas devem ter resolução mínima de 300 DPIs
das normas da ABNT.
no formato mínimo de 15 x 10 cm na extensão JPG.
Não serão aceitas fotografias já escaneadas, incluídas no texto, em Com relação às citações de autores e ilustrações dentro do texto,
Word. Enviar os arquivos digitalizados, separadamente, na extensão também deve ser consultado o Manual para Publicações da EPAMIG.
já mencionada (JPG, com resolução de 300 DPIs). NOTA: Estas instruções, na íntegra, encontram-se no “Manual
Os desenhos feitos no computador devem ser enviados na sua para Publicações da EPAMIG”. Para consultá-lo, acessar:
extensão original, acompanhados de uma cópia em PDF, e os desenhos www.epamig.br, entrando em Artigos Técnicos ou Biblioteca/
feitos em nanquim ou papel vegetal devem ser digitalizados em JPG. Normalização.

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Para pessoas com deficiência auditiva ou de fala: 0800 726 2492
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ISSN

Crédito sujeito a análise.

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