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DOUTRINA DE SANTIDADE

PROFESSOR: Rev. Marcos Vinício P. Monteiro

Recife – PE – Brasil

DOUTRINA DE SANTIDADE – PARTE 1

Introdução

A única fonte com autoridade de onde se origina o ensinamento da santidade cristã, é a Palavra
escrita de Deus. A Bíblia é um livro de santidade. A santidade é a doutrina distintiva da Igreja do
Nazareno e de outras denominações de santidade. Não existe concordância completa sobre todos
os aspectos desta verdade bíblica, mas de maneira geral, há concordância. O propósito deste
estudo é apresentar uma posição de santidade bíblica que o professor aceita e que quase todos
dentro do movimento de santidade aceitam.

O que é a Santidade?

✓ Do ponto de vista bíblico, a santidade tem origem no Eterno (Ef.1: 3-4);


✓ A santidade é a suma dos requisitos da lei (Dt. 6: 4-5) + (Lv. 19: 18) = (Mt. 22: 36-40);
✓ A santidade é também a promessa do Evangelho (Dt. 30: 6) → (Rm. 2: 28-29); (Cl. 2: 10-
15);
✓ Em (Dt. 30: 6) Deus nos fala da “Circuncisão do Coração”, sobre a qual John Wesley
disse: “É a disposição geral da alma, que nas Escrituras é chamada de santidade; e que
implica diretamente ter sido purificado do pecado, de toda contaminação da carne e do
espírito; e que resulta haver recebido todas as virtudes que estavam em Cristo Jesus;
haver sido renovados no mandamento, e ser perfeitos como nosso Pai que está nos céus é
perfeito”;
✓ Arminio definiu santidade da seguinte maneira: “A santifacação é um ato gracioso de Deus
pelo qual purifica o homem, que é pecador mas ainda é crente, da ignorância, do pecado
inerente com suas concupiscências e desejos, pondo dentro dele o espírito do
conhecimento, da justiça e da santidade. Consiste na morte do homem antigo e na
vivificação do homem novo”. Armínio concedeu os germens para a doutrina wesleyana da
Inteira Santificação.

I. Definições
A. Santidade → é um estado ou condição de ser santo; a conseqüência de ser
santificado. Descreve um estado de pureza moral e espiritual ou de saúde completa da
alma em que o Espírito e a imagem de Deus são possuídos com exclusão de todo
pecado.
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B. Santificação → Ato ou processo pelo qual alguém se torna santo. É a atividade de


Deus que purifica do pecado as afeições dos homens e as eleva ao sublime amor de
Deus. É de certa maneira sinônima, mas fala mais do ato do que do estado de
santidade. No uso teológico a santidade é o estado e a santificação é o ato ou
processo que leva ao estado de santidade.
C. Santo → (1) condição de ser colocado a parte para o serviço de Deus – pessoas e
coisas (idéia de separação ou consagração); (2) condição ou estado de se encontrar
moralmente puro e livre do pecado (particularmente importante no N.T.).
D. Inteira Santificação → limpeza ou purificação da contaminação do pecado,
subseqüente à regeneração; este ato de Deus é instantâneo, pela fé; por ele o crente é
purificadodos seus pecados e repleto do amor de Deus;
E. Perfeição Cristã → Algumas vezes é usado como sinônimo de Inteira Santificação;
porém, refere-se, geralmente, à vida – atitude e ação – de santidade.

II. A Redescoberta Da Santidade


A. William A. Hordern, em 1966, escreveu o primeiro volume em Novas Direções na
Teologia Hoje, dizendo que a santificação está sendo redescoberta.
B. O famoso teólogo neoortodoxo, karl Barth no quarto volume de sua obra A Dogmática da
Igreja, escreveu muito sobre a santidade.
C. Livros mais recentes dos Calvinistas têm a santificação como seu assunto.

III. Raízes da Doutrina no Antigo Testamento

Estudos sobre a teologia do A.T., têm aumentado consideravelmente a nossa compreensão


acerca da santidade nas Escrituras da velha aliança, principalmente, a respeito no que diz respeito
à santidade de Deus.

A. A Santidade De Deus

A teologia bíblica tem demonstrado, conclusivamente, que a santidade de Deus não é meramente
um dos atributos de Deus, e nem sequer o atributo principal. Segundo o erudito Edmond Jacob “A
santidade de Deus não é uma qualidade divina entre outras e nem sequer a principal de todas
elas, posto que expressa o que é característico de Deus e corresponde precisamente à sua
deidade”.

Apoiando Jacob, Snaith declara que quando o profeta Amós declara que “Jurou o Senhor Jeová,
pela sua santidade” (Am. 4: 2), quer dizer que Jeová jurou pela sua deidade, por si mesmo como
Deus. Então o significado é exatamente o mesmo que lemos em Amós 6:8 “Jurou o Senhor
Jeová por si mesmo”.

A santidade é o fundamento sobre o qual assenta todo o conceito de Deus. Todas as doutrinas da
salvação têm a sua base na santidade de Deus.

A palavra hebraica, que traduzimos por santidade, é qodesh, a qual, com as suas correlatas,
aparece mais de 830 vezes no Antigo Testamento. Os eruditos encontram três significados
fundamentais para qodesh:

1. Freqüentemente enuncia a idéia de “irromper com esplendor”. Assim, um erudito


escreve: “Não há uma distinção clara entre santidade e glória”.
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Sendo Deus, o Senhor refulge com Glória peculiar de si mesmo, pois:


• Ele se manifestou na sarça ardente (Ex. 3: 5);
• Ele se manifestou na coluna de fogo no Sinai rodeado de fumaça;
• Referindo-se ao tabernáculo, Deus disse: “O lugar será santificado por minha
Glória” (Ex. 29: 43);
• Quanto ao culto, Deus disse: “Serei santificado naqueles que se chequem a mim, e
serei glorificado diante de todo o povo” (Lv. 10: 3);
• Vemos a narração da majestosa visão feita por Isaías: “Santo, santo, santo, é o
Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (Is. 6: 3).

2. A palavra também expressa uma divisão, uma separação, uma elevação.


• Como Deus, O Senhor está separado, à parte, de toda criação;
• A santidade é a natureza própria o divino, o que caracteriza Deus como Deus e
motiva a adoração do homem;
• Deus é o “Completamente Outro”, e se levanta inteiramente à parte de todos os
demais deuses – que são imaginários. “Não há santo como o Senhor; porque não
há outro além de ti” (1 Sm. 2: 2);
• A santidade de Deus significa sua diferença, seu caráter único como Criador,
Senhor e Redentor;
• Entretanto, sua transcendência ou separação não significa que seja remoto. Deus
foi transcendente desde o princípio, posto que era diferente do homem, mas não
era transcendente no sentido de que fosse distante do homem, pois em Oséias (11:
9) diz: “Eu sou Deus e não homem, o Santo no meio de ti...”. A transcendência não
significa que esteja distante, mas que é diferente (diversidade).

3. É provável que qodesh tenha vindo de duas raízes, uma das quais significa “novo”,
“fresco”, “puro”. A santidade significa pureza, cerimonial ou moral. A pureza e a santidade
são, praticamente, sinônimas.
• Por ser Deus, o Senhor é pureza sublime.
• É impossível que o Santo tolere pecado;
• Em (Gn. 6: 1-6), o vemos preocupado com a má intenção dos homens, os
desígnios perversos dos pensamentos da humanidade;
• Em Jr. 3: 17, 21; 17: 9-10), a santidade de Deus é desafiada pela perversidade
crônica do coração do homem;
• Em (Hc. 1: 13), mostra que os olhos de Deus são demasiado limpos “para ver o
mal”;
• Em Is. 6: 5), vemos o profeta gemendo ao captar o sinal da santidade de Deus “Ai
de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de
um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!”.
Mais adiante Isaías declara: “Quem dentre nós habitará com o fogo devorador***
Quem dentre nós habitará com chamas eternas***” (Is. 33: 14);
• A santidade de Deus é um fogo consumidor: ou nos purificará de nossos pecados,
ou nos destruirá com ele! É tal como Jesus advertiu: “Porque cada um será salgado
com fogo “ (Mc. 9: 49). Podemos escolher entre o fogo refinador que nos faz santos
(Ml. 2: 2-3) e a ira que nos destrói (Ml. 4: 1).

Em (Lv. 19: 2), Deus disse: “Santos sereis, porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou Santo”. Esta
ordenança se refere tanto à moral como ao ritual, tal como se torna evidente, ao ler o código de
santidade (Lv. 17-26).
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Bowman faz uma distinção entre o significado profético e sacerdotal da santidade:

• A idéia sacerdotal é a de apartado, dedicado, separado. O “santo” é aquele que é


separado para Deus. Nesse sentido, o templo, o sacerdócio, o dízimo, o dia de descanso,
toda a nação, eram “santos”.

• A idéia profética é ética, tal como a vemos em Is. 6 e Malaquias 3. Ambos os significados
combinam, como já temos visto, o “código de santidade” de Levítico 19, cujo ponto mais
sublime é uma ética que diz: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor”
(vv. 9-18).

• O Novo Testamento, recorre somente ao lado profético do termo e o perpetua. Todos os


cristãos devem ser ‘santos’ (chamados a ser santos (Rm. 1: 7), ou seja, eticamente santos,
separados, consagrados ao serviço de Deus (Mc. 6: 20; Jô. 17: 17; Ap. 3: 7), para que
possam ter companheirismo com o Santo (At. 9: 13; Rm. 1: 7; Hb. 6: 10; Ap. 5: 8).

B. PERFEIÇÃO

O termo hebraico que traduzimos por perfeição significa plenitude, justiça, integridade, liberdade
de mancha ou culpa, paz perfeita.

Uma maneira de enunciar a idéia no Antigo Testamento era a expressão metafórica “caminhar
com Deus” em fidelidade e companheirismo. Temos como exemplo:

• Enoque “caminhou com Deus” (Gn. 5: 22, 24). Em (Hb. 11: 5), a idéia se expressa dizendo
que Enoque “obteve testemunho de haver agradado a Deus”;
• Noé “andava com Deus” (Gn. 6: 9), em contraposição aos seus vizinhos;
• Abraão recebeu o seguinte mandamento: “Anda na minha presença e sê perfeito” (Gn. 17:
1);
• O livro de Jó é um tratado sobre perfeição, onde ele é apresentado como um “homem
perfeito e reto, temente a Deus e que se desviava do mal” (Jó 1: 1). Satanás admite, muito
a contragosto, tal descrição. A perfeição de Jô era uma questão de motivação, de seu
amor desinteressado a Deus. O coração de Jó era perfeito diante de Deus, pois sua
intenção era pura. Esta é a idéia básica da perfeião no Antigo Testamento;
• O SHEMA, o credo de Israel, teve grande influência no povo Judeu (Dt. 6: 4-5);
• O amor é a motivação pela qual Deus escolheu Israel, que deveria responder a esse amor
através da obediência (Dt. 7: 6-11);
• Para tornar possível esta perfeição em amor, deve haver uma exclusão da perversidade.
Para grande exigência, Deus nos provê suficientemente (Dt. 30: 6). Esta passagem bíblica
se converte na grande doutrina neotestamentária da circuncisão do coração pelo Espírito
Santo (Rm. 2: 29; Cl. 2: 12).

Mediante a circuncisão do coração e a purificação da natureza pecaminosa, o amor perfeito é


tornado possível para o povo de Deus. Esta é a doutrina de John Wesley da Perfeição Cristã.
Disse Wesley “Ao usar o termo perfeição quero dizer o amor humilde, terno e paciente de
Deus, e ao nosso próximo, governando nosso temperamento, nossas palavras e ações”.
Ele afirmou também que “não há tal perfeição nesta vida que implique uma libertação
completa, seja da ignorância ou de erros, em coisas que não sejam essenciais à salvação,
ou de múltiplas tentações, ou de inúmeras de fraquezas, com as quais o corpo corruptível
oprime mais ou menos a alma”. Baseado nas Escrituras, Wesley interpretava perfeição como
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perfeito amor.

IV. A Doutrina no Novo Testamento

A Bíblia nos mostra que os homens podiam ser santos antes do tempo de Cristo. Era possível
alcançar a perfeição sob a Antiga Aliança (Is. 6: 1-8), porém somente alguns tinham o privilégio
desta visão santificadora do Senhor. A quase totalidade de Israel, estavam encerrados sob a
Lei e viveram repetidos fracassos (Hb. 10: 1-4; Rm. 7: 7-25).

Antes que todos pudessem experimentar a libertação do pecado, e a perfeição em amor, era
necessário que interviesse um derramamento espiritual sobre o povo de Deus. Esta efusão do
Espírito de Deus era o que os profetas antecipavam intensamente.

• Jeremias disse o que Deus havia delarado acerca deste dia (Jr. 31: 33-34);
• Ezequiel fez uma profecia quase idêntica (Ez. 36: 25-27);
• Joel profetiza uma declaração de Deus dizendo: “...derramarei o meu Espírito sobre
toda carne” (Jl. 2: 28).

A. A Promessa de Pentecostes

A santidade de Deus é uma verdade que se encontra através do N.T. e inclui a santidade do
Pai, Filho, e Espírito Santo. Jesus se descreve como santo nove vezes no N.T..

O texto de santidade mais importante do Novo Testamento é a declaração de Simão Pedro no


dia de Pentecostes: “Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel...” (At. 2:
16 e seguintes). O derramamento do Espírito esperado por tanto tempo havia chegado. A
profecia de Jeremias se tornava parte da história, tal como o escritor de Hebreus declara (Hb.
10: 14-17). Longe de ser algo marginal, a perfeição está no cerne da Nova Aliança.

Ao apregoar a vinda do Messias, João Batista declarou: “Eu vos batizo com água, para
arrependimento; mas... Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt. 3: 11-12). Esta é
a ênfase constante do Novo Testamento: a obra, a presença, a pureza, o poder do Espírito
Santo. Dispensasionalmente, tudo haveria de culminar nEle e com Ele. Sua vinda ao coração
do crente individual e sua resultante presença purificadora e capacitadora era a consumação
final dos tempos.

John Wesley expressou assim em Uma clara explicação da Perfeição Cristã:

Os privilégios dos cristãos não podem, de maneira alguma, ser medidos pelo que
o Antigo Testamento disse a respeito dos que viveram sob a dispensação judaica.
Posto que a plenitude do tempo tem chegado, o Espírito Santo tem sido dado, e
essa “grande salvação” já tem sido oferecida aos homens pela revelação de
Jesus Cristo.

B. O Significado da Santificação

A doutrina do Novo Testamento é edificada solidamente sobre o alicerce dos ensinamentos do


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Antigo Testamento. Ainda que seja dominante o ensinamento profético-ético, o significado


ritualista e religioso tem sido preservado.

Da igreja cristã se diz que é uma “nação santa”, cujos habitantes constituem um “sacerdócio
real” (1Pe. 2:9). Outra descrição é que os cristãos são um “templo Santo” (1Co. 3: 17; Ef. 2:
21; 1Pe. 2: 5). Por esta razão todos os cristãos são “santos”, título que se encontra 66 vezes. E
com maior ênfase do que no Antigo Testamento, a santidade do culto demanda pureza ética
(1Pe. 1: 15). A santificação implícita deve tornar-se explícita a saturar e fazer santas todas as
partes da vida.

Santificação em geral refere-se ao processo total de tornar-se um cristão e de continuar


sendo. Em seu sentido mais amplo, o termo santificação inclui todos esses efeitos que a
Palavra de Deus produz no coração e na vida do homem, que principia com seu novo
nascimento e culmina com a perfeição espiritual na vida eterna.

Outra definição: “A santificação é a obra do Espírito Santo que livra os homens da culpa e do
poder do pecado; que os consagra para servir e amar a Deus e que compartilha, inicial e
progressivamente, os frutos da redenção de Cristo e as virtudes da vida santa”.

Santificação por posição é sustentada pelos teólogos luteranos e calvinistas e reza que é
realizada por Cristo para cada crente e que cada crente possui desde o momento em que
exerce a fé salvadora.

Um interprete de Lutero escreve: “Posto que é pela fé que se recebe e aceita o dom de Deus e
assim também é como os homens se tornam santos, “santos” se torna equivalente a “o que
está crendo”. Os santos são os crentes e “ser santo” significa ter-se tornado “crente”. Na
explicação que Lutero dá, a ênfase passa de santificar e a ação de santificar, para a fé e a
ação de ser conduzido à fé, lembrando que não há uma verdadeira diferença entre os dois”.

John F. Woolvoord explica que: “a perfeição por posição é revelada como possessão de todo o
cristão... É, portanto, a perfeição absoluta que Cristo realizou para nós na cruz. Aqui não há
referência alguma acerca da qualidade da vida cristã. O assunto de viver sem pecado não tem
prioridade. Todos os santos (os santificados) são participantes da perfeição realizada pela
morte de Cristo”.

A perfeição por posição é um sinônimo de santificação por posição.

Os Wesleyanos aceitam esta posição, posto que é um dos aspectos do ensinamento bíblico. A
santificação é “a atribuição da santidade às pessoas em virtude de seu relacionamento com
Deus. É o significado menos profundo do termo e aplicado quando se diz que todos os cristãos
são santos. A Igreja Cristã é uma comunidade separada, cuja natureza é santa”.

Entretanto, do ponto de vista wesleyano, a santificação é mais que uma relação objetiva com
Deus, através de Cristo. No momento em que esta nova relação é estabelecida por meio da fé
em Cristo, o crente justificado recebe o Espírito Santo e experimenta o princípio da
Santificação Ética. Este princípio chamamos de Santificação Inicial.

A idéia central do cristianismo é a purificação do coração de todo o pecedo, e sua renovação à


imagem de Deus. Ao interpretar hagiazo (o verbo grego que significa santificar), Thyler inclui
duas classes de purificação: (1) “purificar por expiação, livrar da culpa do pecado”; (2)
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“purificar interiormente pela reforma da alma”. Isto corresponde ao que chamamos


Justificação (com novo nascimento) e Inteira Santificação.

Santificação Inicial

Wesley declarou que: “No momento em que somos justificados, a semente da virtude é
plantada na alma. Desde esse momento o crente morre gradualmente para o pecado e cresce
na graça. Entretanto, o pecado permanece nele; efetivamente, a semente de todo o pecado
(fica nele) até que seja santificado no espírito, alma e corpo”. Wesley crê que a santificação,
neste sentido inicial, é a contrapartida ética a justificação. “No momento em que somos
justificados”, explica Wesley, “neste mesmo momento principia a santificação”. Desse modo a
santificação inicial é praticamente equivalente à regeneração.

Com a justificação e a regeneração há a “purificação por expiação da culpa do pecado” (1Co. 6:


11; Tg. 4: 8a). Wiley refere-se a isto como a purificação da depravação adquirida. Mediante “o
lavar regenerador” (Tt. 3: 5) a contaminação resultante de nossos pecados é retirada, e nós
somos feitos “limpos” (Jr. 15: 3). Esta é a razão pela qual se diz que a santificação principia na
regeneração. A nova vida iniciada pelo Espírito Santo é um princípio de santidade (Rm. 5: 5).

Em (2Co. 7: 1), o apóstolo Paulo advoga tanto a Santificação Inicial como a Inteira Santificação
Os conríntos haveriam de aperfeiçoar, ou de fazer que fosse completa uma santidade que
(então) só era parcial.

Inteira Santificação

Em um de seus sermões, John Wesley situa a graça da Inteira Santificação em seu devido
contexto: “...pela justificação somos salvos da culpa do pecado e restaurados ao favos de
Deus; pela santificação somos salvos do poder e da raíz do pecado e restaurados à imagem
de Deus”.

Negativamente, a Inteira Santificação purifica o coração da raiz ou presença do pecado,


logrando ou efetuando uma devoção completa (de um só ânimo) a Deus (Jo. 17: 17, 19; Ef. 5:
26; 1 Ts. 5: 23; Tg. 4: 8a).

Positivamente, a santificação é a restauração da imagem moral de Deus “na justiça e santidade


da verdade” (Ef. 4: 24). Esta santificação positiva inclui uma obra progressiva, que é iniciada na
regeneração, acelerada pela purificação do coração e o encher-se com o Espírito, e
consumada na glorificação.

Estas são algumas passagens que demandam a doutrina da Inteira Santificação. São elas: (Jo.
17: 17); (Rm. 6: 12-13; 12: 1-2); (2Co. 7: 1); (Ef. 1: 4; 5: 26); 1Ts. 5: 23); Tt. 2: 14)

Comentários sobre algumas passagens:

Romanos

Em Romanos 6, Paulo exorta seus leitores – mortos para o pecado e ressuscitados em


novidade de vida (Rm. 6: 1-10) – que façam três coisas: (1) que se considerem a si mesmos
como aqueles que de fato morreram com Cristo para o pecado e através dEle foram vivos para
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Deus (6: 11); (2) que deixem de oferecer os membros de seus corpos a serviço do pecado (6:
13); e (3) que se entreguem, ou se apresentem a si mesmos diante de Deus “como pessoas
que foram trazidas da morte para a vida” (6: 13 - BLH).

A relação deste ato de fé obediente à verdadeira santificação se indica no versículo 19: “No
passado vocês se entregaram inteiramente como escravos da impureza e da maldade para
servir o mal. Agora entreguem-se como escravos de Deus para viverem uma vida de santidade”
(BLH). Romanos 12: 1-2 repete a mesma exortação a uma consagração completa ou total, para
uma santidade completa.

Efésios

Efésios 5: 25-27 marcha na mesma direção: “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou
por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela Palavra,
para apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante,
porém santa e sem defeito”. Cristo se entregou a si mesmo para santificar a igreja, que já havia
recebido a lavagem da regeneração. O v.27 nos informa que esta santificação logra a condição
de estar “sem mancha”, postulada em Ef. 1:4.

1Tessalonicenses

Em 1Tessalonicenses, Paulo se regozija, porque seus convertidos haviam recebido o


evangelho “em poder, no Espírito Santo e em plena convicção” (1Ts. 1: 5);

A oração de Paulo por eles é que a sua fé seja aperfeiçoada (1Ts. 3: 10), com o objetivo que
Deus afirmara: “o vosso coração confirmado em santidade, isento de culpa, na presença de
nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts. 3: 13);

Paulo insiste em recordar a seus leitores que sua santificação é a vontade de Deus e o
chamado àqueles a quem já tem dado o Espírito Santo (1Ts. 4: 3-8);

O ponto culminante deste apelo acontece em (1Ts. 5: 14-24). O propósito de toda a epístola se
expressa nos versículos 23 e 24, que diz: “O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o
vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso
Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará.” (1Ts. 5: 23-24). O
advérbio traduzido “em tudo” é a palavra grega mais forte que Paulo poderia ter usado. É um
termo composto, que significa “inteiramente” e “perfeitamente”. Morris escreve o seguinte
acerca da oração de Paulo:

A oração é que Deus os santifique por completo. Há um aspecto de nossa


parte na santificação, posto que nos é pedido rendermos nossa vontade
para fazermos a vontade de Deus. No entanto o poder manifestado na vida
santificada não é humano, mas divino. No sentido mais profundo, nossa
santificação é a obra de Deus dentro de nós. A obra pode ser atribuída
ao Filho (Ef. 5: 26) ou ao Espírito (Rm. 15: 16), mas em qualquer caso é
divina. A palavra traduzida “em tudo” é excepcional, holoteleis, e só aqui é
encontrada no Novo Testamento. É uma combinação das idéias de estar
completo e ser inteiro. Lightfoot sugere que se poderia traduzir assim:
“que Ele os santifique para que possais estar completos”.

Santificação Progressiva ou Contínua


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Segundo o artigo X do Manual da Igreja do Nazareno, “Cremos que a graça da inteira


santificação inclui o impulso para crescer na graça. Contudo, este impulso deve ser
conscientemente alimentado e deve ser dada cuidadosa atenção aos requisitos e
processos de desenvolvimento espiritual e avanço no caráter e semelhança à
personalidade de Cristo. Sem tal esforço intencional, o testemunho do crente pode ser
enfraquecido e a própria graça, comprometida e mesmo perdida”.

O ensino característico de John Wesley é que esta obra de santificação interior pode ser
terminada ou concluída “em um momento”, pela fé. Ela ocorre, quando o coração é purificado
da raiz interna do pecado – o orgulho, a vontade própria e teimosia, o ateísmo e idolatria – é
aperfeiçoado no amor de Deus. Como conseqüência desta purificação mais profunda do
coração, o cristão é capacitado metodicamente até alcançar a semelhança de Cristo.

A palavra hagiasmo aparece 10 vezes no Novo Testamento e é traduzida por “santificação”. A


palavra denota estado, mas não esse estado oriundo do sujeito, porém o que resulta de certa
ação e certo progresso. O significado amplo de hagiasmo, que descreve e inclui o processo
total da santificação, é indicado em (1Co. 1: 30); (2Ts. 2: 13); Hb. 12: 14).

Do princípio ao fim, nossa santificação pessoal é a obra do Espírito Santo em nós. Esta
santificação é toda uma peça, uma “continuidade de graça” levada adiante pelo Espírito
Santo. “O Espírito Santo”, escreveu John Wesley, “não só é santo em si mesmo, como
também a causa imediata de toda santidade em nós”.

Perfeição Cristã

Perfeição Cristã e inteira santificação são duas expressões que descrevem a mesma
experiência da graça de Deus: a perfeição em amor diante de Deus é santidade cristã.

O verbo teleio, que se traduz “aperfeiçoar”, aparece 25 vezes no Novo Testamento e significa:
(1) Realizar um propósito, alcançar certa norma, atingir uma meta dada; (2) Cumprir ou
completar.

Paulo usa o adjetivo, teleio, 7 vezes. Em vários casos é obvio seu significado de ser “maduro”,
no sentido moral (1Co. 14: 20; Ef. 4: 13-14). Mas em (1Co. 2: 6, 15), os “perfeitos” são
considerados iguais aos “espirituais” (que ocorre também em 1Co. 3: 1). Um estudo desta
última passagem indica que os “perfeitos” são todos aqueles que têm sido inteiramente
santificados. J. Weiss chega à conclusão que embora a perfeição geralmente seja relativa ao
futuro nos escritos de Paulo (como em Fp. 3: 12), em alguns casos (1Co. 2: 6; Fp. 3: 15) a
perfeição já está presente. Weiss sustenta que o uso que Paulo faz de teleios em (Cl. 1: 28;
4:12) designa uma perfeição moral e espiritual.

Portanto a evidência aponta para um significado duplo de perfeição. Um cristão pode ser, ao
mesmo tempo, perfeito e imperfeito, de acordo com o sentido em que se utilizem as palavras.
Uma perfeição relativa é agora possível mediante a fé no Espírito, mas a perfeição final não se
realizará antes da ressurreição (Fp. 3: 11-12, 20-21).

a) Perfeição em Amor

Uma das seções mais importantes sobre a perfeição é Mateus 5: 43-48, que culmina
com o mandato do Mestre: “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai
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celeste”. A palavra “portanto” é a chave deste texto. Jesus está dizendo de fato: Assim
como vosso Pai celeste é perfeito, (e que o demonstra) enviado suas bênçãos sobre
amigos e inimigos, vós deveis ser perfeitos em vosso amor por todos os homens”. É
evidente que este é o amor ágape, espontâneo, boa vontade que não se rende, que
emana da vida interior de uma pessoa na qual mora o Espírito. Como tal, o amor
perfeito é tanto o dom de Deus (Rm. 5: 5; *: 3-4; 1Jo. 4: 13-17), como o mandamento de
Deus (Mc. 12: 29-31; 1Jo. 4: 21).

Quando este amor se expressa, a lei é cumprida (Mt. 22: 40); (1Tm. 1: 5); (Rm. 13: -10).
A perfeição cristã é perfeição em amor.

b) Aperfeiçoamento à semelhança de Cristo

A meta final da perfeição é ser cabalmente como Cristo, o qual será o dom que Deus
nos dará na vida de Cristo (1Jo. 3: 2). Em vista desta meta futura, cada cristão deve
confessar, como Paulo: “Não que eu o tenha alcançado, ou que já tenha sido
aperfeiçoado” (Fp. 3: 12). Há uma diferença entre um que é perfeito” explica
Wesley, “e um que tenha sido aperfeiçoado. Um está equipado para a carreira; o
outro está pronto para receber o prêmio”.

A Santidade no Antigo Testamento

I. Gênesis
A. O livro de Gênesis relata o período patriarcal da história humana.
B. Gênesis 1-2 (imagem de Deus)
• A palavra chave em Gênesis 1:27 é imagem que distingue o homem dos animais.
• A imagem de Deus no homem inclui a idéia da razão, a consciência de si, auto-
direção, imaginação, e uma faculdade criadora que é limitada.
C. A Queda (Gênesis 3)
• Gênesis 3 é a declaração mais profunda do problema ou predicamento humano
jamais escrita.
• O pecado se vê como intruso na vida humana e na natureza. Não é algo essencial
ao homem.
• A tentação vem mediante os desejos humanos normais.
• O pecado é uma escolha, uma desobediência, um esforço a ser como Deus.
• O pecado é também uma condição que é o resultado do nosso afastamento de
Deus, um poder que inclina para o mal.
• Consiste, negativamente, em ficar privado de Deus e positivamente em ficar
depravado. O pecado é muito mais do que algo negativo.

Como opera o pecado:


• Faz a nossa vida desagradável a Deus;
• Torna possível qualquer coisa terrível;
11

• Faz a nossa vida ficar longe de Deus.

D. Gênesis 4-50
1. As conseqüências do pecado se vêem na vida de Caim.
2. Gênesis 6:5 mostra que o pecado havia penetrado na raça humana a tal ponto que toda
imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente (Gênesis 6:5).
3. Em contraste com aqueles que seguiram o pecado eram Abraão, Isaque, Jacó, os
patriarcas.
4. Abraão foi dito por Deus: "Anda em minha presença e sê perfeito" (Gênesis 17:1). A
palavra "perfeito" quer dizer inculpabilidade, integridade, sinceridade, e saúde.
5. A palavra "perfeição" ocorre muitas vezes no A.T. em conexão com o caráter do homem e
é uma condição moral relativa e não absoluta, uma condição do coração em relação a
Deus.
6. A vida de Jacó revela um desenvolvimento de dois estágios na sua experiência com Deus.
O primeiro aconteceu em Betel (Gênesis 28:10-28) e o segundo em Peniel (Gênesis 32:22-
32), vinte anos mais tarde.
7. José se chama o homem mais semelhante a Cristo no A.T. Nenhum pecado é mencionado
com respeito a ele na Bíblia.
O homem que passou a prova:
• Passou a prova do sofrimento injusto;
• Passou a prova da imoralidade;
• Passou a prova do desapontamento constante;
• Passou a prova da fama insidiosa.

II. Êxodo a Deuteronômio

A. Introdução
1. Estes livros apresentam o conceito sacerdotal de santidade em contraste com a idéia
profética.
2. O conceito sacerdotal enfatizou os aspectos posicionais, cúlticos e cerimoniais de
santidade.

B. Êxodo
1. O êxodo é o acontecimento de linha divisória do A.T.
2. É o acontecimento central, o âmago da afirmação da fé de Israel.
3. A palavra "santificar" se emprega em Êxodo no sentido de consagrar alguém ou algo para
a posse divina.
4. O primogênito de homem ou animal, e o tribo de Levi como o tribo sacerdotal, eram
consagrados ao Senhor.
5. O conceito de santidade de Êxodo a Deuteronômio se ensina mediante os ritos e as
cerimônias usados para adorar a Deus.
6. Deus na sua majestade transcendente se dá ênfase aqui. Aqueles relacionados
diretamente com o culto de Deus tinham de ficar separados a Ele.
7. Os dez mandamentos, (Êxodo 20:1-17), ilustram a mistura entre o cerimonial e o ético nas
exigências de Deus.Por exemplo, o segundo e o sexto.

C. Levítico
12

1. Este livro trata com os detalhes do culto do tabernáculo.


2. Não devemos esquecer de que a pureza é necessária para ser aceito por um Deus santo.
3. O propósito do culto foi preparar um povo puro.
4. As leis do sacrifício são dadas para ajudar a distinguir entre o santo e profano, o comum e
o não limpo, e ensinam a necessidade para a pureza.
5. As regulações cúlticas e éticas de Levítico 17:1-26:46 são chamadas o Código de
Santidade.
6. O povo tinha de ser santo porque Deus é santo (Lev. 11:44; 19:2; 20:26; 21:8).
7. Assim, a santidade não era uma idéia abstrata e sim um princípio regulativo que contém
requisitos cultuários e éticos para o povo de Deus.
8. "Sê santos" é a chave para abrir a verdade de Levítico.

D. Deuteronômio
1. Deus escolheu Israel de todas as nações do mundo para ser seu próprio povo (Dt. 7:6).
2. A santidade foi conferida à nação de Israel por Deus porque estavam relacionado-se com
Ele duma maneira diferente das outras nações.
3. O amor é outro tema de Deuteronômio que se expressa tão poderosamente no Shema em
Dt. 6:4-5. Vamos lê-lo: O amor de Deus foi a única razão pela escolha dEle da nação de
Israel. Ele os amou porque Deus escolheu amá-los e livrá-los da escravidão do Egito
(Dt.1:1-8). A lei era o sistema mediante o qual o total da vida poderia ser vivida na
presença de Deus. A escolha de Israel por Deus foi ato de graça para que os israelitas
pudessem ter uma vida em relação a Deus caracterizada pela intimidade e gratidão. A lei
não era apenas um sistema de obrigações como meio de comungar com Deus.
4. O problema sempre era o “coração de pedra” (Ez. 36:26) do povo de Deus. Quando
entendida como mandamento de amor, a lei não tinha o poder para derrotar o pecado e
purificar o coração humano.
5. O Shema dá a suprema obrigação do homem no conceito de amor e não do mero
legalismo. O amor deve ser a raiz de toda obediência a Deus.
6. Outra ênfase deste livro é a circuncisão do coração (10:16). Este tema é utilizado pelo
apóstolo Paulo no N.T. (Rom. 2:29; Cl. 2:10-12).
7. Circuncidar é metáfora usada para descrever a remoção ou eliminação de algo
considerado um detrimento, e é o sinal de uma mudança interna feita por Deus (Dt. 4:4 ;
10:16), somente um coração circuncidado liberta o homem da obstinação e rebelião contra
o Senhor (Jr. 13:23; 11:9). Deuteronômio 30:6 promete um dia melhor, pois a fraqueza da
lei era sua falta de poder para fornecer o motivo para cumprir o mandamento de amar e
obedecer a Deus:
✓ Os pecados precisam ser perdoados;
✓ O pecado inato precisa ser purificado;
✓ A purificação vem depois do perdão.

III. Os Livros Históricos

A. Josué enfatiza à importância de possuir a terra prometida como tipo da vida mais alta do
crente.
B. Esta é uma maneira de ilustrar numa analogia, como a libertação da escravidão do Egito é
semelhante a nossa experiência de justificação. A ordem de tomar posse de Canaã é como
nosso chamado a santidade de vida.
13

IV. Salmos e Provérbios

A. Os Salmos
1. Os Salmos refletem geralmente, a ênfase profética na santidade nos aspectos morais e
espirituais.
2. Os Salmos nos dão o conhecimento mais claro da verdadeira natureza da piedade no A.T.
Descrevem o tipo de caráter possível àqueles que andam com Deus.
3. Este livro tem um conceito profundo da santidade de Deus e um pavor reverente de sua
casa. Mostra a necessidade de submissão, de sinceridade a Deus, e dependência dEle.
4. Muitas pessoas daquela época tinham uma experiência profunda de Deus.
5. Salmo 51 tem uma análise muito profunda do pecado e da salvação porque reconhece a
natureza dupla do pecado, que os pecados precisam do perdão e o pecado inato necessita
da purificação.

B. Provérbios
1. O livro de Provérbios é uma fonte notável para o entendimento da ética do A.T.
2. Comportamento pessoal é seu tema central.
3. Este livro vê o coração como a fonte ou motivo da vida como Jesus também ensinou (Mt.
12:34).

V. Os Profetas

Os profetas não estavam contra o culto do templo como alguns eruditos ensinam, mas contra os
ritos sem retidão e a degeneração dos ritos num formalismo vazio.

A. Isaías
1. O profeta Isaías é o maior de todos os profetas maiores e é chamado o "profeta evangélico."
2. O sexto capítulo de Isaías é um trecho crucial no entendimento da santidade de Deus e de
pessoas.
• O jovem profeta vai ao templo depois da morte do rei Uzias e tem uma visão.
• Ele está profundamente impressionado pela santidade de Deus e o seu próprio pecado
na presença de Deus.
• O problema do profeta não foi um pecado que havia cometido mas a impureza de sua
natureza (v.7).
• Seus lábios não estavam limpos, isto é, não consagrados. Quando tocados pela brasa
viva seus lábios se tornaram seu recurso maior.
• A purificação de seus lábios simbolizou a limpeza de seu coração.
• A experiência de Isaías no templo é um protótipo importante da experiência de
santificação do N.T. e uma antecipação da dispensação do Espírito Santo.
• Um título para esta passagem pode ser "O Poder Purificador Para O Serviço Altruísta."
O esboço pode ser de três partes, Uma Visão do Senhor, Uma Visão de Si, e Uma
Visão de Serviço.
3. A santidade de Deus em Isaías.
• 30 vezes o profeta chama Deus "o Santo de Israel."
• Tudo relacionado distintamente a Deus é santo como Jerusalém, e o Monte Sião, etc.
• Também, o povo de Deus é santo e o remanescente é "santa semente" (6:13).
• O capítulo 35:8-10 tem uma passagem poderosa sobre o santo caminho. Este Santo
Caminho é o Caminho da Separação, o Caminho da Segurança, e o Caminho do
Canto.
14

4. Isaías e a era do Espírito


• O profeta chama o Espírito de Deus "o Espírito Santo."
• O Espírito de Deus no A.T. se emprega como Agente ativo na natureza (Gen. 1:2) e
como Meio de dar poder e sabedoria ao povo escolhido para o serviço de Deus.
• Com o profeta Isaías a obra do Espírito se torna mais ética e redentora (Is. 11:1-2;
42:1; 61:1-2). O cristianismo toma o lado profético do entendimento da santidade e o
faz centro do conceito da santidade no N.T., a saber, a pureza.

B. Jeremias
1. Este profeta não vê o pecado como um problema de circunstâncias ou influências
externas; mas um problema da natureza humana caída. ( 17:9 )
2. Ele também tem fé para antecipar um novo dia em que Deus transformará o coração do
povo (24:7; 31:33-34).

C. Ezequiel
Ele vê a nova época como uma de purificação de toda sujeira do coração (36:23, 25-27).

D. Joel
Ele profetiza uma época vindoura do Espírito sendo derramado sobre todo o povo (Joel 2:28-
29). Pedro, no Dia de Pentecostes, citou esta passagem (Atos 2:16-17).

E. Zacarias
A última parte do livro de Zacarias tem uma das maiores passagens cristológicas do A.T.
(12:10).
O versículo 13:1 contém a doutrina de justificação e santificação. Em 13:9 a figura muda de
uma fonte aberta para a casa de Davi (13:1), a um fogo purificador onde o remanescente (a
terceira parte) é purificado como prata e ouro. Em Zc. 14:20-21 fala de um dia em que a
santidade estará largamente divulgada.

F. Malaquias
Este profeta escreve do Messias como Aquele que purificará seu povo (3:1-3). João Batista
disse que Jesus batizaria com o Espírito e com fogo, fazendo nos lembrar das palavras de
Malaquias.

G. Sumário
O que é a santidade no A.T.?
1. Em primeiro lugar é a natureza inerente e essencial de Deus. No sentido último, só Ele é
Santo.
2. Qualquer pessoa e coisa levada a uma relação com Ele compartilha de alguma maneira
Sua santidade. Estão separadas do comum e consagradas a Deus como sua posse especial.
3. Pessoas podem se santificar e Deus pode ser o Agente de santificação (Ex. 31:13; Lv.
20:8).
✓ Com respeito a pessoas, a santidade no A.T. pode ser entendida sob três aspectos:
• o patriarcal: quer dizer irrepreensível no andar com Deus;
• o sacerdotal: representa o aspecto cerimonial de estar consagrado ao uso sagrado
(O conceito sacerdotal não exclui os aspectos morais e éticos conforme (Lv. 19:5-8,
21-28, 30);
• o profético: significado da moralização crescente da idéia do santo (bom caráter e
justiça moral estão incluídos).
15

A Santidade no Novo Testamento

Santidade nos Evangelhos

I. O Caráter de Jesus

A. A santidade nos evangelhos se vê principalmente no caráter de Jesus.


1. Jesus é completamente Deus e completamente homem, totalmente humano em tudo que a
humanidade era e pode se tornar pela graça de Deus.
2. O N.T. afirma em todo lugar que Jesus é Senhor.
3. Nenhuma compreensão de santidade é maior do que ser como Cristo. Nenhum ideal é
maior do que a semelhança a Cristo. Jesus uniu a brandura e a firmeza, uma maneira
decisiva e uma maneira de abster. Nele não houve auto-piedade, o espírito de vingança,
ou o desejo para a fama.

B. Jesus experimentou todas as emoções humanas.


1. Ele conheceu a tristeza (João 11:35); estava perturbado (João 12:27); e estava com
indignação (Mt. 21:13); (Mc. 3:5). A raiva se torna pecaminosa somente quando está fora
de controle, quando se emprega para magoar outros, e quando é permitido a permanecer
no coração.
2. Nos tornar como Cristo é o nosso ideal maior.
3. A justificação é Cristo por nós e a santificação é Cristo em nós pelo Espírito.
4. Jesus Cristo é tão humano que pode nos alcançar e tão divino que pode nos redimir.

II. Os Evangelhos Sinópticos

A. Mateus

1. Mateus é o evangelho do Messias e preenche a lacuna entre o A.T. e o N.T. Mateus mostra
Jesus como a consumação de tudo, antecipado no A.T., e por esta razão é o primeiro livro do
N.T.
2. Os dois batismos (Mt. 3:11-12)
• Mateus começa sua história do ministério de Jesus com uma descrição da mensagem
de João Batista (Ler versículos 11 e 12).
• O Dia de Pentecoste torna claro o significado de Mateus 3:11-12. (Ver At. 1:4-8 e 2: 1-
4)
• João e Jesus tinham um batismo para administrar.
• Os dois batismos foram acontecimentos que ocorreriam num hora precisa.
• O batismo de João era um de água e o de Jesus era um de fogo.
• O de João era batismo de arrependimento e perdão e o de Jesus era um feito pelo
Espírito e fogo.
• Enquanto que o batismo de João resultou no perdão, o de Jesus resultou na limpeza
da ira e na recolha do trigo no celeiro e na queimadura da palha com fogo que nunca
se apagará.
• Estudaremos este tema mais no livro de Atos. Muitos eruditos de santidade não
16

entenderam que o batismo com o Espírito e a inteira santificação eram a mesma


experiência.
3. Os Limpos de Coração (Mt. 5:8)
• Todos nós estamos familiarizados com "bem-aventurados os limpos de coração,
porque eles verão a Deus."
• Esta é uma atitude que fala da possibilidade de um coração puro agora, nesta vida.
• Ninguém nasce com coração limpo, mas isto pode acontecer nesta vida pela graça de
Deus.
• O N.T. menciona a possibilidade de um coração puro em vários trechos bíblicos (Atos
15:8-9; 1Tm. 1:5; Tg. 4:8; 2Tm. 2:22; 1Pe. 1:21-22).
• O "coração" nas Escrituras é "a fonte mais interior da vida individual, a origem última de
suas energias físicas, intelectuais,emocionais, e volicionais, e conseqüentemente, a
parte do homem mediante a qual ele consegue fazer contato com o divino" (IDB,
2:549).
• f. Soren Kierkegaard escreveu: "A pureza de coração é querer uma coisa só."
• R.S.V. Tasker diz: "O puro de coração é aquele que é de um só objetivo, livre da tirania
de um eu dividido, e que não tenta servir a Deus e ao mundo ao mesmo tempo".
• A idéia de pureza de coração não quer dizer sem faltas, mas sem culpa.
4. A Perfeição Cristã (Mt. 5:48)
• As palavras no A.T. para perfeição significam completo, inteiro, sadio, reto, e
inculpável.
• A palavra principal do N.T. é teleios e se encontra neste versículo pela primeira vez no
N.T.
• Esta palavra quer dizer maduro, crescido, tendo chegado ao fim apontado de seu
desenvolvimento.
• A perfeição vista aqui não é a perfeição absoluta mas a perfeição evangélica.
• Devemos ser perfeitos no nosso amor imparcial pelos outros, até nosso inimigos.
• João Wesley empregava muito o termo "Perfeição Cristã" nos seus escritos para falar
duma pureza de intenção, e entregue de todo o coração a Deus.
• Wesley nunca empregou o termo a "perfeição impecável" devido ao medo de ficar mal
entendido, porque esta experiência não nos liberta das transgressões involuntárias
como erros, faltas, e defeitos. Há uma passagem no N.T. que ensina que o crente
poder viver sem o pecado intencional e voluntários ?
• O único tipo de perfeição possível nesta vida é um de intenção e em nosso amor a
Deus e aos outros.
• Este amor perfeito inclui todos, amigos e nossos inimigos. Podemos tratar bem nosso
inimigos mas não sentir afeição para os nossos inimigos, como Deus ama e faz bem
aos que não se importam com Ele.

B. Marcos
1. Marcos é o evangelho do Conquistador Poderoso. Jesus derrotou a natureza, os demônios, a
doença, e a morte.
2. A Fonte do Pecado (Mc. 7:18-23)
• Nesta passagem Jesus identifica o coração como a fonte moral de corrupção na vida
humana.
• Jesus diz que o que sai de dentro do coração de uma pessoa é o que contamina, e não
o que de fora entra.
3. O Amor Total (Mc. 12:28-34) (ler )
• Aqui Jesus diz que devemos amar a Deus de todo nosso coração e o nosso próximo
como a nós mesmos. Este é o resumo supremo de toda a Lei e os Profetas.
17

• Devemos amar Deus primeiro e preeminente ou não podemos amar o próximo como a
nós mesmos.
• A ética da santidade se caracteriza por amor ao próximo tanto como amor a Deus.
• Muitas vezes amamos muito a Deus e pouco ao próximo.
• Quando amamos muito o nosso Deus, todo outro amor está seguro.

C. Lucas
1. Santidade e Justiça (1:73-75) (ler)
• Estes versículos ensinam que podemos andar perante Deus em santidade e justiça
agora, nesta vida.
• A nossa natureza pode estar conformada à natureza de Deus em santidade e as
nossas vidas podem ser passadas em justiça em toda relação da terra.
2. A Dádiva do Pai (11:13)
• Lucas entende o Espírito Santo como a dádiva de Deus para os filhos de Deus, uma
dádiva recebida depois de pedir.
• O Espírito é recebido como resposta a oração.
• Precisamos do Espírito na sua plenitude santificadora e na sua presença consoladora
ficando conosco para sempre.
3. A Promessa do Pai (24:49)
• "A promessa do Pai" se repete em Atos 1:4-5 e se relaciona ao batismo com o Espírito
Santo.
• Esta promessa não somente aponta para o Dia de Pentecoste mas também à
necessidade de todo discípulo ficar cheio do Espírito Santo.

III. O Evangelho de João

A. Antes da Última Ceia


1. João Batista apresenta Jesus como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (1:29).
Ver também I Jo. 1:8 pelo mesmo uso da palavra “pecado” para indicar o fato do pecado, a
realidade dele.
• Possivelmente quer dizer que Jesus tirará o pecado inato do mundo ou simplesmente,
e mais provavelmente, refere-se ao fato do pecado que Jesus vai tirar.
• Em I João 3:5 se diz que Jesus "se manifestou para tirar os nossos pecados”,
referindo-se aos atos pecaminosos.
2. O Batizador com o Espírito (1:33-34).
• Nesta passagem é claro que Jesus é Aquele que batiza com o Espírito Santo. Este fato
só se implica nos evangelhos sinópticos mas João escreve claramente sobre isto.
• William Barclay dá uma exposição boa dos resultados do batismo com o Espírito na
vida de um crente: "[i] Sua vida se ilumina. Chega a ele o conhecimento de Deus e de
Sua vontade[ii] Sua vida se fortalece....[iii] Sua vida se purifica. O batismo de Cristo
com o Espírito Santo é um batismo de fogo (Mt. 3:16; Lc. 3:16). A escória de coisas
pecaminosas, a liga metálica de coisas baixas e a base misturada se queima até a
pessoa ficar pura e limpa".
3. Rios de Água Viva (7:37-39)
• Os crentes no Dia de Pentecoste receberam uma dimensão da presença do Espírito
Santo não obtenível até depois da morte e ressurreição de Jesus.
• Rios de água viva sugerem uma vida abundante, transbordando pelo Espírito Santo.
18

B. As Pregações durante a Última Ceia (13:-17:26)


1. As palavras sobre o Consolador
a) O âmago dos ensinamentos de Cristo a respeito do Espírito Santo durante a Última
Ceia se encontra em cinco discursos sobre o Consolador ou Paracleto.
b) O Paracleto (paracletos) se traduze com termos como "Confortador," "Ajudador" ou
"Consolador." Eu prefiro ajudador.
c) Esta palavra se emprega para designar um agente inteligente, e não uma influência
abstrata.
d) Estes discursos sobre o Paracleto nos dão evidência convincente para a personalidade
do Espírito Santo.
e) Jesus falou de outro Consolador (14:16-18).
• É outro Consolador, outro da mesma espécie que dá prosseguimento ao que Cristo
fez quando estava aqui na terra.
• É a dádiva de Cristo aos Seus seguidores.
• Estará com eles de maneira nova e contínua.
f) O Ensinador (14:26-27)
• Este segundo discurso sobre o Espírito Santo acentua a obra dEle em ensinar e
relembrar os discípulos da verdade que Jesus ensinara.
• Esta verdade tem aplicação aos discípulos porque por intermédio deles os
ensinamentos de Jesus estariam preservados e comunicados ao mundo.
g) A Testemunha (15:26-27)
• Este discurso fala do fato de que o Espírito Santo dá testemunho de Jesus.
• Também, dá poder aos discípulos para dar testemunho de Cristo.
h) O Convencedor do Mundo (16:8-11)
• O próximo discurso mostra que o Espírito convencerá o mundo do pecado e
preparará os não crentes para receber o Salvador.
• A convicção do Espírito tem três aspectos: o pecado como incredulidade em
Cristo; a justiça como exemplificada em Cristo e demonstrada pela ressurreição,
ascensão, e juízo; e juízo porque Satanás e o reino da escuridão receberam juízo
na cruz.
i) Revelador de Cristo (16:12-15)
• propósito do Espírito aqui é revelar a presença de Jesus. Como Jesus revela o Pai
assim Jesus se revela pelo Espírito.
• Além disso, o Espírito toma o que é de Cristo e o revela aos Seus seguidores. Ele
opera em nós para despertar e aprofundar nossa percepção da presença de
Cristo em nossa vida.

2. A Oração Sacerdotal do Senhor (17:1-26)


a. Esta oração grande de Jesus pode se dividir em três partes: Ele ora por Si mesmo (vs.
1-5); Ora pelo discípulos (vs. 6-19); Ora por todos os crentes (vs. 20-26).
b. Jesus dá testemunho claro do estado espiritual dos discípulos.
• Receberam e obedeceram a Palavra de Deus (vs. 6, 8).
• Os discípulos se deram a Cristo pelo Pai (v. 9).
• Não eram do mundo (v. 9, 14) mas pertenciam a Cristo (v. 12).
• Jesus antecipou em medida plena o gozo que estará dado a eles (v. 13).
• Os discípulos eram crentes, sem dúvida.
c. Jesus ora pela santificação dos discípulos (v. 17-19).
• 1). A palavra traduzida "santificai" é hagiazein, significando consagrar e livrar da
poluição moral.
• 2). A palavra grega se acha no tempo aorístico imperativo indicando uma
19

experiência completada e implicando numa obra instantânea.


d. Jesus se santificou (melhor consagrou-se) para morrer na cruz a fim de que os
discípulos dEle pudessem ser santificados (voz passiva). Deus, o Pai, precisaria
santificar os discípulos. O tempo perfeito se usa com respeito aos discípulos para
indicar o ato que leva à um estado de santificação, definitivamente realizado e
continuamente mantido (T, LITS, p. 82).
e. Jesus se santificou no sentido de consagrar-se na cruz. Ele não necessitava de um
coração purificado porque nunca pecou ou recebeu a natureza pecaminosa.
f. A Palavra de Deus é a causa instrumental da santificação dos discípulos.

3. A Outorga do Espírito Santo (20:21-23)


a. Na frase: “assoprou sobre eles”, em (20:22), infere-se que se trata da sua regeneração.
A palavra grega traduzida por “soprou” (emphusao) é o mesmo verbo usado na
Septuaginta (a tradução grega do A.T.) em Gn. 2:7, onde Deus “soprou em seus
narizes o fôlego de vida; e o homem foi feito alma vivente”. É o mesmo verbo que
se acha Ez. 37: 9: “assopra sobre os mortos para vivam”. O uso que João faz deste
verbo neste versículo indica que Jesus estava lhes outorgando o Espírito a fim de neles
produzir nova vida e nova criação. Isto é, assim como deus soprou para dentro do
homem físico fôlego de vida, e o homem se tornou nova criatura (Gn. 2: 7), assim
também, agora, Jesus soprou espiritualmente sobre os discípulos, e eles se tornaram
novas criaturas. Mediante a ressurreição, Jesus tornou-se em “espírito vivificante” (1
Co. 15: 45).
b. O imperativo “Recebei o Espírito Santo” estabelece o fato que o Espírito, naquele
momento histórico, entrou de maneira inédita nos discípulos, para neles habitar. A
forma verbal de “receber” está no aoristo imperativo (gr. lebete, do verbo lambano),
que denota um ato único de recebimento. Este “recebimento” da vida pelo Espírito
Santo antecede a outorga da autoridade de Jesus para eles (Jo. 20: 3), bem como do
batismo com o Espírito Santo, pouco depois, no dia de Pentecoste (At. 2: 4). Duas
obras da graça.
c. Antes dessa ocasião, os discípulos eram verdadeiros crentes em Cristo, e seus
seguidores, segundo os preceitos do Antiga Aliança. Porém, eles não eram plenamente
regenerados no sentido da Nova Aliança. A partir de então os discípulos passaram a
participar dos benefícios da Nova Aliança baseado na morte e ressurreição de Jesus
(Mt. 26: 28; Lc. 22: 20; 1 Co. 11:25; Ef. 2: 15-16; Hb. 9: 15-17). Este trecho é essencial
para a compreensão do ministério do Espírito Santo entre o povo de Deus. Duas
distintas obras da graça: (1) A Regeneração, na conversão (recebemos o Espírito) e (2)
A Intereira Santificação, através do Batismo com o Espírito Santo, quando somos
purificados do pecado inato.

Santidade no Livro de Atos

Atos pode ser apropriadamente chamado os Atos do Espírito Santo em vez dos Atos dos
Apóstolos.

I. O Batismo Com O Espírito E A Santificação

A. Introdução
20

1. Ao estudar as obras sobre o livro de Atos, logo se descobre que há pontos de vista
hermenêuticos em conflito.
2. Há a posição de salvação-história e a posição dispensacionalista.
3. Alguns ensinam que Atos é história e experiência e não serve como base de teologia. Esta
posição não é lógica porque a Bíblia geralmente é história e ainda normativa para nossa
teologia.
4. A maior controvérsia se encontra no significado do batismo com o Espírito.

B. Maior Pontos de Vista


1. Um ponto de vista é que o batismo com o Espírito é coletivo, não individual,
dispensacionalista, não pessoal, e que ninguém pode ficar batizado com o Espírito hoje. É
um acontecimento que não pode ser repetido e nunca será. Este é o ponto de vista das
igrejas reformadas.
2. A segunda posição cresce da primeira e é semelhante. O batismo com o Espírito acontece
quando uma pessoa se converte e pode ou não pode ter uma experiência
subseqüentemente. Este é o ponto de vista de João Wesley, pelo menos antes de 1770.
3. O terceiro ponto de vista considera o batismo com a Espírito como incluindo tudo da
experiência Cristã, começando com a regeneração e realizado na purificação da natureza
moral. Adam Clarke e alguns eruditos wesleyanos de hoje abraçam este ponto de vista.
4. O quarto ponto de vista identifica o batismo com o Espírito como época espiritual que
acontece na vida de um crente depois da sua conversão. Quase todos os proponentes do
Movimento de Keswick, os Pentecostais, e quase todos os wesleyanos advogam esta
posição teológica.

C. Princípios de Interpretação
1. Uma identificação entre o batismo com o Espírito e a inteira santificação pode ser feita pelo
estudo das referências bíblicas em Atos onde o Espírito foi derramado ou veio sobre
pessoas ou grupos.
2. Algumas pessoas ensinam que no livro de Atos tudo sobre o Espírito se refere ao começo
da vida Cristã, ou seja, a conversão. Porém, não há evidência para indicar que o Espírito
foi derramado sobre pessoas sem vida espiritual prévia.
3. Os dispensacionalistas não acreditam em experiência Cristã verdadeira antes de
Pentecostes porque o Espírito não ainda foi dado (Atos 19:2).
4. É óbvio que o Espírito estava ativo na experiência humana antes do dia de Pentecoste
(Salmo 51:11; Is. 63:10; Lucas 11:13; João 3:5-8; 14:17; 20:21-22).
5. O derramamento do Espírito no dia de Pentecoste significa uma nova maneira e um novo
grau de atividade do Espírito em relação ao homem .
6. O ponto de vista de salvação-história se enfatiza a continuidade do plano de Deus na
redenção. Há exemplos de piedade no A.T. tanto como no N.T. Devemos lembrar que
Paulo usou o exemplo de Abraão como modelo da justificação pela fé em Romanos
capítulo quatro.

D. Outras Considerações
Há algumas indicações indiretas de que o batismo com o Espírito é o meio pelo qual a Inteira
Santificação acontece.
1. As palavras "batizar" e "santificar" coincidem em significado no ponto onde indicam
purificação ou limpeza. Será que o Espírito nos daria Sua plenitude sem nos purificar o
coração?
2. O Espírito é o Agente da obra de batismo e de santificação no N.T.
3. Atos 15:8-9 faz uma identificação entre o batismo com o Espírito e a purificação do
coração, isto é a inteira santificação.
21

4. Apesar do fato de que termos diferentes se empregam para descrever a obra interna do
Espírito, freqüentemente os termos significam a mesma obra da graça (como, por exemplo,
o derramamento do Espírito, a plenitude do Espírito, e o recebimento do Espírito (Atos
10:45; 2:4; 19:2).
5. Há dois aspectos do batismo ou a plenitude do Espírito que sempre se acontecem. Os
recipientes sempre recebem poder (1:8) e sempre recebem purificação do coração. Porque
Pedro não deu ênfase ao falar em línguas como uma evidência do batismo com o Espírito?
Porque não é evidência inicial e física do batismo com o Espírito. Devemos buscar a
plenitude do Espírito e não certo dom do Espírito. É o fruto do Espírito que é a evidência do
batismo com o Espírito. Alguém pode falar em línguas, profetizar ou receber qualquer
outro Dom do Espírito, no momento de receber o batismo com o Espírito ( o argumento
deles vai desta maneira) At. 2:4 ; 4:31 ; 8:17 ; 9: 17 ; 10:46 e 19:6 )

II. Passagens Chaves de Atos

A. Promessas de Cristo antes da Ascensão (1:4-8)


1. Aqui Jesus identifica a vinda do Espírito no dia de Pentecoste como o cumprimento da
promessa dada por João Batista que Jesus batizaria com o Espírito Santo.
2. Assim, há um argumento forte de que o batismo com o Espírito e a inteira santificação são
virtualmente o mesmo acontecimento e acontecem no mesmo momento.

B. Pentecoste
1. Pentecoste é a evidência conclusiva que Jesus se exaltou ao lado direito de Deus.
2. Pentecoste é o dia da inauguração da Igreja e o dia do estabelecimento do novo concerto.
3. O Espírito que residia no mundo ou era residente no mundo, desde a criação agora se
torna Presidente da Igreja.
4. Os sinais inaugurais de Pentecoste são o vento veemente (poder), línguas de fogo
(purificação), e outras línguas (universalidade).
5. As línguas de Pentecoste foram entendidas por aqueles que ouviram a palavra.
6. Apesar do fato de que Pentecoste não pode ser repetido historicamente, pode ser
experimentado subjetivamente por qualquer crente que cumpra as condições.

C. O Reavivamento Samaritano (8:5-23)


1. O povo de Samaria recebeu a Cristo e se converteu. ( vv. 12 e 14)
2. Pedro e João vieram de Jerusalém e lhes impuseram as mãos e receberam a plenitude do
Espírito
1. (v. 15-17). ( o tempo imperfeito no grego )
2. Há aqui evidência forte de uma segunda obra da graça após regeneração.

D. A Conversão de Paulo (9:1-19)


1. Paulo submeteu-se a Jesus Cristo como Senhor no caminho para Damasco. O uso da
palavra
2. "Senhor" neste contexto sugere mais do que uma maneira delicado de falar e é mais no
sentido de
3. Rom. 10:8-10 e 1 Cor. 12:3, "Jesus é Senhor."
3. Três dias depois Paulo ficou cheio do Espírito Santo.
4. Mais uma vez temos uma segunda obra de Deus seguindo a conversão. (v. 17)

E. O Caso de Cornélio (10:1-11:18; 15:6-11)


22

1. 1. Há ambigüidades na história de Cornélio e sua família. O princípio bíblico da


interpretação é interpretar as passagens menos claras à luz de passagens mais claras.
2. Dois versículos parecem contradizer uma Segunda obra da graça nesta história. O primeiro
é Atos 11:14, que se refere a salvação dos gentios. A salvação é um termo muito mais
amplo que a regeneração ou a conversão. Biblicamente pessoas foram salvas, estão no
processo da salvação, e serão salvas ( Marcos 16:16; Atos 2:21; 16:31; 3:15 ), usando o
termo salvação. Ver Bíblia de Estudo Pentecostal pg. 1695
3. Atos 11:18 é outro problema, e também o versículo 17. Vamos estudar o versículo 17
primeiro. No grego “quando cremos no Senhor Jesus” é um particípio aoristo que
normalmente descreve uma ação que ocorre antes daquela do verbo principal. Uma
tradução mais exata seria: “Deus lhes deu o mesmo dom que a nós também, depois que
cremos”. Devemos lembrar que os discípulos haviam sido convertidos antes do dia de
Pentecostes, quando receberam o batismo com Espírito Santo.
4. Cornélio desta passagem é provavelmente o centurião de Lucas, capítulo 7, e não uma
pessoa não convertida típica ( Atos 10:22 ). Era homem “piedoso e temente a Deus” ( 10:2
) cujas “orações e esmolas subiram para memória diante de Deus” ( 10:4 ). Ele também
sabia da palavra sobre Jesus( v. 36-38 ) e era homem justo ( v. 22 ).
5. Cornélio poderia ser convertido durante a mensagem de Pedro ou mais provavelmente
antes da chegada de Pedro. Pelo menos ele e sua casa receberam a plenitude do Espírito
que purificou seus corações, conforme At. 15:8-9, a mesma experiência que os discípulos
receberam no dia de Pentecostes. O batismo com o Espírito sempre purifica o coração
como Atos 15:9 ensina.

F. Os Discípulos em Éfeso (18:24-19:6)


1. A evidência de que os discípulos de Éfeso foram convertidos antes de seu batismo com o
Espírito é forte.
2. Eles se chamam "discípulos" no v. 2, o termo em Atos usado somente para descrever os
crentes convertidos.
3. Eles já haviam crido em Jesus (19:2). Esta fé em Jesus aconteceu antes de receber a
plenitude do Espírito. Uma tradução literal da pergunta de Paulo seria: "Tendo crido,
recebestes o Espírito Santo?" (v. 2). Outro exemplo do uso do particípio aoristo.A
conversão ocorre sempre antes da inteira santificação.
4. Então Paulo explicou o derramamento do Espírito Santo sobre a Igreja, batizou os crentes,
e depois, lhes impôs suas mãos e receberam o Espírito Santo (João 14:17).
5. Paulo não teria batizado os crentes Efésios sem soubesse que eram crentes. Obviamente
há duas obras da graça aqui.
6. O mundo não pode receber o Espírito Santo conforme João 14:17. O crente recebe o
Espírito no momento da regeneração num sentido (Rom. 8:9), mas a palavra "recebestes"
em At. 19:2, lambano no grego, em referência ao Espírito, indica que ele só se recebe por
aquele que têm vida espiritual prévia. Somente crentes podem receber o Espírito no
sentido pleno do N.T., como segunda obra da graça.

G. O Testemunho de Paulo (20:32; 26:18)


1. A palavra "santificar" ou "santificado" acontece duas vezes em Atos, usada só pelo
apóstolo Paulo.
2. A palavra quer dizer tudo que Deus faz por nós pela renovação do coração remido É nossa
herança, uma posse por fazermos parte da família de Deus.
3. Esta herança se recebe pela fé e indica que somos santificados pela fé, não na hora da
morte mas agora, instantaneamente - pela fé.
23

A Santidade em Romanos

A carta de Paulo aos Romanos se chama o quinto evangelho e é o maior de todas as suas cartas.
Agostinho, Lutero, Wesley, e Karl Barth foram influenciados profundamente pela carta aos
Romanos.

I. A Estrutura Do Livro

A. A Doutrina da Justificação (1:1-5:11)


• Como o perdão é possível na face do fato do pecado.

B. A Doutrina da Santificação (5:12-8:39)


• Como a natureza pecaminosa pode ser purificada.

C. A Doutrina da Eleição (9:1-11:36)


• A salvação como dom da graça de Deus que pode ser perdida.

D. A Doutrina da Consagração (12:1-16:27)


• A aplicação prática a vida.

E. A passagem clássica sobre a santificação do apóstolo Paulo se encontra de 5:12 a 8:39:


• A Santidade em Cristo (5:12-6:23)
• A Santidade sem a Lei (7:1-25)
• A Santidade pelo Espírito Santo (8:1-39)

II. A Santidade Em Cristo

Romanos 1-3 descrevem a condição que requer a transformação interior chamada santificação.
Paulo emprega o substantivo hamartia (pecado) 39 vezes em Romanos e 28 vezes com o artigo
definido querendo dizer, "o pecado," o pecado herdado, a depravação. Este termo significa o
pecado herdado de Adão, e não pecados cometidos.

A. O Problema (5:12-21)
1. Esta condição pecaminosa e humana veio do nosso primeiro pai (5:12-14)
2. Esta condição resulta em morte espiritual e física (v. 14).
3. Cristo inverteu os efeitos do pecado e da morte por Seu ato de obediência em morrer na
cruz (v. 17).
4. A graça inverte o que o pecado produz (v. 8-19), por substituir o pecado com a justiça e a
morte com a vida.
5. A conseqüência, então, é a incompatibilidade total entre o pecado e a graça (6:1-2). A
questão fundamental é: Devemos ser hospedeiro do pecado inato que reinou desde a
queda de Adão? "De modo nenhum", diz Paulo. "O verdadeiro crente demonstra estar em
Cristo por estar morto para o pecado," diz Donald Stamps na Bíblia de Estudo
Pentecostal, 1707.

B. A Provisão (6:2-23)
24

1. Paulo agora deixa o assunto da redenção da raça e começa a tratar a salvação pessoal.
Na justificação começa a graça santificadora na vida do crente.
2. Se a justificação é pela graça mediante a fé sem as obras de Lei, e se a Lei somente
aumenta o pecado com o resultado de multiplicar a transgressão, e se aonde o pecado
abundou a graça superabundou, será que nós podemos permanecer no pecado para que a
graça seja mais abundante? "De modo nenhum!" afirma o apóstolo (6:2).

3. Paulo assume que os Romanos foram batizados. O batismo era a maneira em que a fé se
expressou simbolicamente. No batismo o crente se identifica com a morte e a ressurreição
de Cristo. A morte de Cristo pelo seu pecado se torna sua morte para o pecado. O batismo
é participação da morte e da ressurreição de Cristo para que não sejamos as pessoas que
uma vez éramos.
4. Há certas conseqüências da nossa participação em Cristo: Morremos com Cristo e agora
temos vida em Deus; no batismo a nossa conversão se representa como em Cristo, a força
dinâmica da nossa existência; também, o nosso eu irregenerado foi crucificado com Ele
para que nosso corpo do pecado, ou o eu, como escravo do pecado, seja desfeito, soltado
do reino do pecado; como crentes a morte de Cristo se tornou nossa morte ao pecado e a
vida de Cristo se tornou nossa vida para a santidade (v.11). A nossa participação em Cristo
e identificação com Cristo nos leva a vitória sobre o pecado.
5. Paulo no v.11 afirma o imperativo do evangelho com palavras fortes. Agora devem se
tornar os crentes que podem se tornar. Morreram com Cristo ao pecado. Agora se tornam
mortos para o pecado e vivos para Deus. Os versículos 12-24 mostram que devem tornar o
que pela graça podem se tornar.
6. Obviamente, Paulo não diz que os crentes são incapazes de pecar, mas capazes de não
pecar. Somos ainda seres humanos com as cicatrizes do pecado em nossos corpos e
mentes, isto é, a susceptibilidade ao pecado (Ver 1 Cor. 9:27; Tiago 1:14-16). Se
obedecermos os desejos do corpo abriremos o caminho mais uma vez para o pecado
exercitar domínio sobre nós (v. 13; 12:1, 2).
7. Há mais nesta passagem. Nos versículos 11-13 Paulo nos diz: "Considerai-vos como
mortos para o pecado..." (v. 11), que quer dizer levar em conta o que é, e não o que não é.
Devemos considerar atual e real o que Deus providenciou, a morte ao pecado e a morte à
prática pecaminosa de vida. Esta consideração de fé leva a uma apresentação de nós e os
nossos membros a Deus como ato decisivo no v. 13 (tempo aorístico imperativo). Este ato
de consagração por parte de crentes leva a inteira santificação. O pecado que permanece
nos crentes justificados é o pecado de auto-soberania, resolvendo a questão de quanto
Deus pode ter da minha vida. Precisamos dar toda a nossa vida a Deus. Enquanto eu
estou reservado qualquer parte da minha vida para mim mesmo, eu, não Deus, é
soberano.
8. Podemos ser libertos do pecado por morrer a ele e também por nos tornar servos da
justiça (v. 18). Paulo nos versículos 14-23 troca de metáforas mas ensina a mesma
verdade que se acha na primeira parte do capítulo. A questão de quem vai mandar na
minha vida, eu ou Deus ? Somos servos de Deus pela redenção, em princípio, agora
seremos servos de Deus pela consagração livre das nossas vidas a Ele, a fim de sermos
santificados ? ( v. 19 )

III. Santidade À Parte Da Lei (7:1-25)

A. Introdução
Este capítulo é notório por sua dificuldade. Comentaristas se dividem com respeito as suas
interpretações divergentes.
25

Há três divisões naturais do capítulo: Liberdade da Lei; a Função da Lei; e a Futilidade da Lei.

B. A Liberdade da Lei (7:1-6)


A verdade que se acha nestes versículos difíceis é que a esposa , representando o crente hoje,
depois da morte do marido, está livre para casar com outro homem, neste caso, Jesus Cristo, “que
ressuscitou de entre os mortos “ (v.14). A liberdade aqui é da lei e não do princípio do pecado
como muitos eruditos wesleyanos ensinam (v.4). Assim, serve esta passagem como introdução ao
assunto do crente em relação à lei nos vs. 7 a 25. O crente, como a mulher descrita, vive numa
relação nova com a lei e não mais sob a sua jurisdição.

C. A Função da Lei (7:7-13)


1. A lei de Deus é santa (v. 12) mas ela agrava e inflama a condição pecaminosa do coração
humano (v. 12, 7, 5). Calvino diz sobre v. 5: "A obra da lei, na ausência do Espírito....é inflamar
os nossas corações ainda mais para que rompam em desejos voluptuosos" (Citado em
Greathouse, WIC, p. 104).
2. A palavra "paixões" no versículo 5 descreve a mente carnal enquanto em 6:12 a palavra quer
dizer o desejos do corpo que não são necessariamente pecaminosos mais que podem levar
pessoas a cometer o pecado.

D. A Futilidade da Lei (7:14-21)


1. Paulo continua usar a primeira pessoa singular, "Eu, Meu, Mim."
2. Porém ele trocou o tempo passado para o tempo presente. Porque? Queria descrever a
sua experiência de modo mais vívido. Será que estava descrevendo a sua experiência
atual? Não pode ser.
3. Ele diz: "Eu sou carnal vendido sob o pecado" (v. 14). "Em mim....não habita bem quem, e
com efeito, o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem" (v. 18). "Não faço o
bem que quero, mas o mal que não quero, este faço" (v. 19).
4. Paulo descreve no tempo presente histórico a sua luta como pecador despertado tentando
lutar contra a pecaminosidade ou a corrupção de seu coração não convertido. Este não é o
estado normal do regenerado porque este pode viver uma vida de vitória sobre os atos de
pecado (1 João 3:8-10). Donald Stamps escreveu : “Os versículos 1-25 descrevem a
experiência pré-conversão de Paulo”. BDEP pág. 1709
5. O ensino deste capítulo é que a Lei ou o esforço humano não liberta do domínio do pecado
herdado.
6. Paulo indica a maneira de sair deste predicamento no v. 25: "Dou graças a Deus (é) por
Jesus Cristo, nosso Senhor" (Ver 8:2).
7. Dr. Greathouse escreve: "Claramente o homem miserável é o pecador despertado, lutando
em vão para a libertação do pecado inato. Aplicar estes versículos ao crente em Cristo
seria admitir que a graça de Jesus é tanto sem poder contra o pecado quanto a lei" (W.G.,
BBC, 8:159).
8. Podemos conceder, porém, que qualquer crente dependendo de seu próprio esforço para
derrotar o pecado se representa aqui. Não é possível pela supressão ou com a ação
contrária humana ter a vitória sobre a depravação racial.

IV. A Santidade Pelo Espírito Santo


O grito desesperado de 7:24 tem uma resposta adequada no capítulo 8. Somente o poder do
Espírito Santo pode nos libertar do poder do pecado e da morte.

A. Espírito de Vida em Cristo (8:1-2)


1. Romanos 8 é o grande capítulo do Espírito Santo.
26

2. O Espírito se menciona 19 vezes neste capítulo.


3. Scevington Wood descreve este capítulo como "o Pentecoste de Romanos."

B. O Que a Lei não Podia Fazer (v. 3-4)


1. A lei não tinha poder sobre o pecado, mas Deus na Pessoa de Jesus, nos libertou do poder
do pecado.
2. O pecado não é desculpado mas condenado a morte, e derrotado pelo Espírito nos dando
o poder para cumprir a justiça da lei (v. 4).

C. O Contraste entre a Carne e o Espírito (v. 5-8)


1. O termo a "carne" (sarx) dá problemas aos estudantes da Bíblia.
2. Paulo usa a palavra "carne" de várias maneiras. As vezes usa-a num sentido puramente
físico, significando a humanidade (Rom. 1:3; 9:3). Mas, 16 vezes contrasta a carne e com o
Espírito, e denota a carne como a corrupção da natureza humana que é pecaminosa em si.
Esta natureza humana e pecaminosa é eliminada pelo poder santificador do Espírito Santo
numa obra de graça instantânea.
3. A carne (sarx) nunca dever ser confundida com o corpo (soma). A carne é a natureza
humana em todo o seu pecado e fraqueza, impotência, e frustração, tudo que o homem é
sem Deus.
4. A essência do pecado inato é sua hostilidade a Deus e sua recusa a submeter-se a Deus
(v. 7).

D. O Espírito Habitante (8:9-14)


1. Como pode ser resolvido o problema do pecado habitante?
2. A transformação de nossa condição carnal para uma condição de estar no Espírito
acontece quando o Espírito habita em nós (ler v. 9). A frase "habita em nós" denota uma
influência permanente, estabelecida, e que penetra em toda parte. A fonte de nossa vitória
sobre o pecado que habita em pessoas é o poder limpador que experimentamos quando
somos batizados com a Espírito Santo.
3. O Espírito não nos liberta da morte física (v. 10) quando habita em nós, mas é o depósito
que garante a ressurreição dos nossos corpos (v. 11).
4. Apesar do Espírito habitar em nós Ele não nos poupa da necessidade de mortificar as
obras do corpo pelo Espírito (v. 13). O apóstolo que testemunhou que tivera sido liberto da
lei do pecado e da morte (v. 2), também escreveu in 1 Cor. 9:27: "Subjugo o meu corpo e o
reduzo a servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo, não venha de alguma
maneira a ficar reprovado."
5. Em outras palavras, a carnalidade cessou mas o corpo precisa ficar disciplinado
constantemente. O versículo 13 de Romanos 8 se encontra no tempo presente: Devemos
continuar a mortificar os impulsos do corpo pelo Espírito que habita em nós. Isto não quer
dizer que os Romanos devem voltar ao legalismo mas que a mortificação das obras do
corpo é o resultado do nosso relacionamento com Deus e não a base deste
relacionamento. O pecado inato deve ser purificado mas os nossos impulsos e apetites
devem ficar subjugados, dominados pela disciplina humana e a ajuda do Espírito.

E. O Espírito e Nossas Fraquezas (8:26)


1. A diferença entre pecados e fraquezas não é fácil a fazer, mas essencial. Os Calvinistas
tem a tendência para juntar toda fraqueza e imperfeição com pecados e pecaminosidade.
2. Devemos lembrar que Jesus veio para nos salvar dos nosso pecados (Mt. 1:21) mas
também compadecer-se das nossa fraquezas (Hb. 4:15). Paulo gloriou em suas fraquezas,
para que nele habitasse o poder de Cristo (2 Cor. 12:9). O Espírito não remove as nossas
fraquezas nesta vida, mas nos capacita a tratar com elas mediante a ajuda do Espírito
27

Santo.

V. A Consagração (12:1-2; 15:16, 29)

A. A Chamada a Consagração (12:1-2)


1. O apelo aqui se baseia na vida nova em Cristo que os crentes têm, uma chamada aos
convertidos semelhante ao apelo de 6:13, 16 e 19.
2. Os que receberam a compaixão de Deus precisam oferecer o seu corpo, a pessoa humana
total, a Deus como sacrifício vivo. Oferecer ou apresentar se encontra no tempo aorístico
implicando num ato levado a uma conclusão. Os resultados se encontram no tempo
presente e implicam numa condição contínua.
3. O resultado negativo é um rompimento com o espírito e prática do mundo. O resultado
positivo é uma transformação do entendimento (ou mente), o eu humano e caído, pelo
poder do Espírito, a fim de realizar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. (12:3)

B. Uma Oferta Santificada (15:16, 29)


1. Paulo quer que os gentios sejam uma oferta agradável a Deus, santificada pelo Espírito
Santo (v. 16).
2. A obra de santificação torna, ou faz aceitável o sacrifício da consagração.
3. Paulo também deseja ministrar aos gentios na plenitude da bênção do evangelho de
Cristo. Todos os pastores precisam ministrar no poder do Espírito Santo para ter um
ministério de potência.

Santidade em Coríntios, Gálatas, e Efésios

I. As Cartas aos Coríntios


Estas duas cartas mostram a diferença entre onde os crentes estão e onde podem estar no seu
potencial. Apesar do fato de que Paulo saudou a primeira geração de crentes como "santos," eram
santos somente em potencial, separados a Deus para um propósito santo. Eram crentes mas não
necessariamente cheios do Espírito.

A. A Ênfase Cristológica (1 Cor. 1:30)


1. Tudo que temos na experiência cristã devemos a Cristo que é nossa sabedoria, justiça,
santificação e redenção.
2. Cristo é central no conceito da santidade cristã. Não estamos apenas seguindo umas
doutrinas ou ensinos, ou exemplo, mas estamos em Cristo.

B. A Confiança (1 Cor. 2:12)

Este é um versículo que nos dá a confiança do testemunho do Espírito de que somos filhos de
Deus (Também Rm. 8:16; 1 Jo. 3:23; 4:13).

C. Uma Classificação (1 Cor. 2:14-3:3)


1. Esta passagem implica em três classificações de pessoas dum ponto de vista espiritual.
2. Há o homem natural que ainda não experimentou a obra salvadora do Senhor (2:14).
3. Há o homem carnal cuja deficiência espiritual se revela em inveja, contendas, e
dissensões, e anda segundo os homens (3:3).
4. Também, há o homem espiritual que é o ideal, capaz de aceitar e discernir as coisas do
28

Espírito de Deus (2:14-15). Ele é pessoa cheia do Espírito inteiramente santificada e que
tem a mente de Cristo.
5. Eis aqui um esboço sobre 1 Cor. 3:1-8: A Carnalidade É Causa De Criancice (v. 1); A
Carnalidade É Causa De Conflitos (v. 3); A Carnalidade É Inimigo Da Espiritualidade (v. 3-
8).

D. O Hino ao Amor (1 Cor. 13:1-13)


1. Wesley chamou este capítulo um retrato verdadeiro da perfeição cristã.
1. 2. O Coronel Brengle do Exército da Salvação viu a santidade como amor puro.
2. O amor (ágape) descrito neste capítulo é um amor que procura dar e não receber, um
amor que cuida, que deseja o melhor para os outros.

E. A Pureza e a Perfeição (2 Cor. 7:1)


1. Este versículo apresenta a santificação que é tanto um processo quanto uma crise.
2. A palavra "purificar" se encontra no tempo aoristo e indica um ato completo e inteiro.
"Aperfeiçoar" é um particípio presente e sugere um processo contínuo. Os Coríntios
deviam levar a realização por um ato de fé a santificação inteira. Já experimentaram a
santificação inicial que aconteceu na regeneração isto é, a purificação do pecado
adquirido.

II. Gálatas

A. Crucificado com Cristo (2:20)


1. O conceito da crucificação com Cristo achado em Rom. 6:6 ocorre mais uma vez em Gal.
2:20: "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a
vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do filho de Deus, o qual me amou e se entregou
a si mesmo por mim." O velho e pecaminoso eu está crucificado com Cristo e o novo eu
liberto do pecado inato, serve a Deus alegremente.
2. Eis um esboço de Gal. 2:20
• O Velho Eu Está Crucificado Com Cristo
• O Novo Eu É Centralizado Em Cristo

B. A Carne e o Espírito (Gal. 5:17-6:14)


1. Para muitos a luta entre a carne e o Espírito é normativo para a vida cristã.
2. Porém devemos lembrar o que diz o versículo 24: "Os que são de Cristo crucificaram a
carne com as suas paixões e concupiscências."
3. A crucificação não significa sempre estar morrendo sem morrer, mas quer dizer ficar na
cruz até a morte.
4. Gl. 5: 24 provavelmente ensina que os crentes totalmente entregues a Cristo crucificaram a
carne
(a natureza pecaminosa).

III. Efésios

A. Há vários versículos sobre o assunto da santidade. Por exemplo, Ef. 1: 4 nos diz que Deus
elegeu os crentes com o propósito de faze-los santos e irrepreensíveis na sua vida.

B. Uma grande passagem se acha em Ef. 3:14-21, onde Paulo faz quatro petições para que
os crentes sejam santos irrepreensíveis. A primeira petição é para serem fortalecidos, no
29

infinitivo aoristo, sugerindo ação instantânea, uma segunda experiência na vida dos
cristãos. A segunda é para que Cristo habite no coração, sugerindo uma habitação
permanente. A terceira é para os crentes estar arraigados e fundados no amor e ter poder
para compreender o amor de Cristo. A quarta petição é que possam ficar cheios de toda a
plenitude de Deus.

C. 4:17-24 é outra passagem que as vezes é entendida a ensinar uma segunda obra da graça
mas eu não concordo com esta interpretação. Acho que o velho homem que deve ser
despojado é a vida velha no pecado. Então o novo homem deve ser revestido. O despojar
e o revestir se encontram como infinitivos aoristo referindo a uma mudança definitiva. Na
inteira santificação a nova natureza é recebida antes do despojar da depravação herdada.
Aqui a ordem é o contrário da ordem da inteira santificação.

D. Cheios do Espírito (5:18)

E. Este versículo no Grego se acha no tempo presente, imperativo, e passado, e pode ser
traduzido "continuai ficando cheios do Espírito." É claro que ninguém pode ficar
continuamente cheio do Espírito até depois de receber a plenitude do Espírito em certa
ocasião. Paulo não chama os leitores ao ato de ficar santificados inteiramente, mas à vida
subseqüente em que o Espírito Santo os enche de momento em momento.

F. O Amor Santificador de Cristo (5:25-27)

G. Os gramáticos diferem com respeito do particípio aoristo "purificando-a" em relação ao


verbo principal "santificar." Pode ser traduzido assim: "Cristo amou a igreja e....se entregou
por ela, para a santificar, tendo purificada-a com a lavagem da água, pela palavra" (v. 25-
26). Assim a interpretação seria: "Cristo purifica o coração da culpa e poder da depravação
adquirida a fim de santificar o coração da depravação herdada." A depravação adquirida é
o que uma pessoa pela sua maneira de praticar o pecado adquire como tendências e
manifestações de pecado na sua vida. A regeneração, ou a santificação inicial, resolve o
problema da depravação adquirida. A inteira santificação resolve o problema da
depravação herdada.

Santidade em Filipenses, Colossenses e Tessalonicenses

I. Filipenses

Trataremos de uma só passagem nesta epístola. Em Fl. 3:12-15 Paulo contrasta a perfeição que é
alvo para ser alcançado no futuro na ressurreição, com a maturidade ou perfeição que e possível
agora. Ele não recebera a perfeição da ressurreição (v. 12), mas se incluiu entre os perfeitos em
disposição e afeição, "querendo uma coisa só."

II. Colossenses

Cl. 1:22-23 diz que o propósito da reconciliação é "vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e
inculpáveis" perante Deus. Estas palavras indicam que há a santidade ensinada na Bíblia.
30

A passagem em 3:9-10 é paralela a de Ef. 4:22-24, sobre o velho e novo homens. O velho homem
é "a totalidade da antiga vida irregenerada." (P., ECH, Vol. 1, p. 81).

III. As Cartas aos Tessalonicenses

Primeiro Tessalonicenses dá nos a evidência mais forte do N.T. para uma segunda obra da graça
depois da regeneração.
1. Os crentes de Tessalônica são exemplares no caráter e conduta. Não resta dúvida quanto
a conversão deles. Lendo o capítulo um, vemos os versículos 2 a 10, e no segundo
capítulo, 13 e 14, e 19 e 20, palavras que indicam que são crentes.
2. Uma oração pela santificação se encontra em 3:10-13. Paulo ora pela falta à fé deles, que
é santificação. Os crentes necessitam do poder de Deus para ficar irrepreensíveis em
santidade diante de Deus.
3. A vontade e chamada de Deus podem ser visto em 4:3-8. A vontade de Deus não indica
uma santificação posicional aqui em 4:3. Tem conteúdo ético que é muito claro. Devem
abster da imortalidade sexual. Deus exige que nós sejamos santificados e não andemos
contra os princípios éticos da Bíblia.
4. Santificação não é alvo distante do futuro mas pode ser e deve ser recebida agora. Paulo
ora pela inteira santificação dos Tessalonicenses. O capítulo 5 e os versículos 23 e 24 é a
base para a frase a inteira santificação. Deus chama e Paulo ora que os crentes ou
convertidos recebam uma experiência depois da conversão que purifica o coração da
carnalidade. A palavra "santificar" é no tempo aoristo descrevendo uma ação que é
concebida como completa. "Em tudo" na língua original quer dizer totalmente, inteiramente,
em toda parte, completamente. O propósito da inteira santificação é que o povo de Deus
seja conservado irrepreensíveis para a vinda de Jesus Cristo. "Sejam conservados"
significa que não precisam esperar a vinda de Cristo para serem santificados mas que a
inteira santificação deve ser realizada agora em preparação para a vinda de Cristo.
Obviamente esta carta mostra de maneira clara e compelida a evidência de que todo
crente necessita de um ato santificador para purificar seu coração da depravação
herdada.Deus que nos chama a santidade é fiel a fazer o que nós precisamos (5:24).
5. Eis outro esboço sobre v. 23
• A Santificação é Obra Divina
• A Santificação é Obra Segunda
• A Santificação é Obra Purificadora
• A Santificação é Obra Preservadora

IV. As Epístolas Pastorais

A. 1 Tm. 1: 12-16 diz que o apóstolo Paulo antes de sua conversão era homem violento e
perseguidor da igreja. Seus crimes contra os crentes eram motivo suficiente para classifica-
lo como o principal dos pecadores. O uso do tempo presente histórico dá a impressão de
que ainda ele está vivendo como o pior dos pecadores. Somente emprega o tempo
presente histórico para falar de maneira mais vivida. Não está dizendo que sua vida cristã
é uma de pecar constantemente.
B. O apóstolo chama a igreja a uma vida santa em 2 Tim. 2:19-23. No versículo 10 escreve:
"O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se
da iniqüidade." Também fala de um coração puro no v. 22, o qual é possibilidade para todo
crente nesta vida.
C. Em Tito 2:11-14 Paulo menciona que os seguidores de Cristo precisam renunciar à
31

impiedade, a concupiscência, e viver sóbria, justa, e piamente. Deus pode "remir de toda
iniqüidade e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras" (v. 14).

Santidade nas Epístolas Gerais

I. Hebreus

A. O Repouso da Fé (cap. 3-4)


1. Há três interpretações do repouso da fé.
• Alguns acham que é o repouso celestial.
• Outros pensam que é a salvação pela fé e não pelas obras da lei.
• Na minha opinião é o repouso da vida cristã mais alta, quer dizer, da inteira
santificação.
2. O repouso não parece ser o repouso do céu porque de acordo com 4:3: "Porque nós, os
que temos crido, entramos no repouso." Esta é uma possibilidade do presente e uma
promessa que pode ser realizada agora.
3. Também, não é razoável que seja o repouso do caminho da fé a não ser que os leitores
não eram crentes. Assim, a chamada ao repouso seria uma chamada a ser convertido
também.
4. Este repouso não é de inatividade mas um repouso "da mente, vontade e coração no
poder de Deus o que capacita o crente a conquistar o pecado" (citado em P., ECH, vol. 1,
p. 200).
5. Um esboço sobre esta passagem seria:
• O Repouso Da Criação (Deus repousou)
• O Repouso De Canaã (Os Hebreus repousaram)
• O Repouso Da Santidade (Os crentes repousam)

B. Devido às limitações de tempo não vai ser tratado Hebreus 6:1-3, uma das passagens
mais eminentes sobre a perfeição cristã no N.T.

C. Além disso, não vamos examinar 7:25; 9:13-14; ou 10:10, 14 pelas mesmas razões.

D. Santidade, A Graça Indispensável (12:10, 14-17)


1. Este trecho não ensina que todo crente precisa experimentar uma segunda obra da graça
para entrar no céu, mas precisa estar em busca desta obra da graça.
2. Cada crente deve andar na luz que tem e então será santificado provisoriamente se não é
santificado inteiramente antes da sua morte.
3. Aqui está outro esboço:
• A Santidade É Uma Procura Que Leva ao Alcance
• A Santidade É O Poder De Viver Em Paz Com Os Outros
• A Santidade É a Pureza Que Nos Prepara Para O Céu

E. Santificado Pelo Sangue (13:11-13)


1. Jesus sofreu fora da porta para santificar o povo. A santificação é possível somente pelo
sacrifício de Cristo na cruz.
2. É pelo sangue derramado que podemos ser santos.
3. Saindo fora do arraial é uma chamada à consagração em auto-identificação com Cristo
(Ver Mt. 16:24).
32

II. Tiago

1. Tiago 1:4 fala do alvo da perfeição que é a realização que o Cristão pode ter.
2. Em 1:8 vemos a expressão "o homem de coração dobre" que é inconstante em tudo que
faz. Esta expressão é equivalente ao homem carnal em 1 Cor. 3:1-3. O remédio para este
homem é um coração puro segundo 4:8.

III. As Cartas de Pedro

A. A obra santificadora do Espírito se acha em 1:2 e se refere ao processo e resultado da


santificação. O Espírito sempre é o Agente pelo qual a santificação ocorre no coração.
B. Deus É Santo (1 Pd. 1:14-16, 22)
• Devemos ser santos porque Deus é santo.
• A revelação do caráter de Deus e a chamada a nós por parte dEle é o que faz a
santidade uma obrigação para nós.
• A santidade não é apenas algo do coração mas é primeiramente isto. Porem, é
também a santidade em nossa maneira de viver.
C. Um Sacerdócio Santo (1 Ped. 2:4-5, 9-12)
• O mesmo conceito se encontra em 1 Cr. 3:16 e Ef. 2:19-22.
• O sacerdócio do A.T. precisava ser santo de maneira ritual e cerimonial mas no N.T.
devia ser santo de maneira ética e pessoal.

• Todo crente é um sacerdote perante Deus no nível espiritual e tem acesso a Deus por
intermédio de Cristo.
D. Participante Da Natureza Divina (2 Pd. 1:3-4)
• Aqui o apóstolo faz a chamada aos crentes, a fundação do seu apelo para o viver
santo.
• Deus, o que chama, nos capacita a fazer isto.
• Mediante aquelas promessas preciosas tornamo-nos participantes da natureza divina
(2 Cor. 7:1)
• A santidade de pessoas é sempre derivada de Deus mediante o qual odiamos o mal,
temos sinceridade e veracidade, e toda outra virtude que constitui em sua plenitude a
santidade que vem da parte de Deus.
E. Vidas Em Santo Trato E Piedade (2 Ped. 3:9-14, 17-18)
• Como Paulo em 1Tessalonicenses, Pedro dá a chamada a santidade num contexto
escatalógico.
• Santidade de vida, culto a Deus, e serviço aos outros, são as conclusões práticas
tiradas do assunto da vinda de Cristo.

IV. Primeira Carta de João

A. Há um fundo de controvérsia visto em Primeiro João:


• A Gnosticismo docético ensinou que a salvação vem pelo conhecimento especial.
• Também, ensinou que a encarnação foi somente de aparência e não algo atual.
B. Purificação de todo pecado (1:5-10)
• Devemos reconhecer o modelo de João de afirmar e refutar para entendermos de
33

maneira certa esta passagem.

Afirmação Refutação

a. E esta é a mensagem Se dissermos que temos


que dele ouvimos e vos comunhão com ele e andar-
anunciamos: que Deus é mos em trevas, mentimos e
luz, e não há nele treva nenhuma não praticamos a verdade.

b. Mas, se andarmos na luz, Se dissermos que não temos


como ele na luz está, pecado, enganamo-nos a
temos comunhão uns com nós mesmos, e não há
os outros, e o sangue de verdade em nós.
Jesus Cristo, seu Filho,
nos purifica de todo pecado.

c. Se confessarmos os nossos Se dissermos que não


pecados, ele é fiel e justo pecamos, fazemo-lo
para nos perdoar os mentiroso, e a sua palavra
pecados e nos purificar de não está em nós.
toda injustiça.

• Dr. Srider acha que no v. 7, o sangue de Jesus nos purifica de momento em momento
do estado de pecado adquirido que resulta das transgressões involuntárias cometidas
enquanto estamos andando na luz como crentes ( AWHT, pág. 212 )
• O versículo 8 realmente diz: "Se dissermos que não temos pecado (do qual precisamos
ser purificado) enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós."
• Graças a Deus que podemos ser perdoados e purificados de toda injustiça.

B. Libertação do Pecado (2:1-4)


• João ensina aqui que a vida cristã normal é uma vida de libertação dos atos de pecado.
• Porém, se o crente pecar, há provisão pelo perdão de seu pecado.
• Devemos nos lembrar de que o v. 1 não diz: "quando alguém pecar" mas "se alguém
pecar."
• O regenerado não vive num estado de pecado constante, mas pode ser levado contra o
propósito real de sua vida e cometer um pecado isolado.
• João não escreve sobre o pecado premeditado mas sobre pecado de surpresa, como
os antigos escritores de santidade habitualmente escreviam.
• Na vida cristã não há tolerância do pecado mas há provisão se for cometido.
• O tempo no Grego no v. 1, dá a entender que pode ser um ato isolado de pecado em
contraste com uma prática habitual de pecado.
• É possível que um crente possa ceder a uma tentação muito forte, mas se
imediatamente confessar e renunciar o pecado não vai perder a sua salvação.

C. Como Cristo É Puro (3:2-11)


• A esperança de ver Cristo é o motivo supremo para o crente purificar-se a si mesmo (v.
3).
• A responsabilidade do crente é buscar um coração puro para que possa ver Jesus
algum dia. Ele não pode purificar-se realmente. Só Deus purifica o coração humano. A
nossa parte é buscar e nos tornar disponíveis a Deus. Podemos nos manter puros por
34

andar na luz divina e não pelo esforço humano.


• A polemica de João contra "os santos pecadores" continue nos versículos de 3 a 11,
especialmente o v. 9: "Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a
sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus."
• "Comete pecado" é um infinitivo presente ativo que indica ação contínua. A pessoa
nascida de novo não vive na prática do pecado.
• João define a pecado como ausência da lei. anarquia, não estando sujeito a lei de
Deus, a desobediência, e revolta contra Deus. O pecado não é a fraqueza humana
inconsciente. A definição da tradição reformada é que o pecado é qualquer desvio ou
divergência de um padrão absoluto de perfeição.
• É claro que ninguém pode não pecar com uma definição do pecado tão inclusiva.
• O crente pode não pecar porque é uma impossibilidade física mas porque o pecado é
moralmente inconsistente.
• Quem conhece um mentiroso veraz ou um criminal santo, ou um honesto desonesto ou
um mal bom homem? Assim, um crente professo que pratica o pecado não é crente
real.

D. O Amor Aperfeiçoado (4:16-18)


• Nestes versículos João menciona o lado positivo da santidade, o amor que pode ser
completo e perfeito na vida do crente mediante o batismo com o Espírito.
• Este é um amor (caridade é uma tradução um pouco fraca) que nos da confiança no
dia do juízo. Lança fora o temor do juízo mas não tira os temores naturais.
• O resultado de ter um coração aperfeiçoado no amor de Deus é uma conduta como
Cristo neste mundo (v. 17).

V. O Apocalipse

Este livro celebra a santidade de Deus e a vitória final que o crente ganhará.
A Bíblia chega ao fim com os efeitos do pecado destruídos, com o mundo e a natureza
transformados, com os seres humanos redimidos na presença de Deus para todo o sempre, e com
a adoração de Deus e o Cordeiro como o ponto focal do nosso futuro no céu.

TRATAMENTO HISTÓRICO DA DOUTRINA DA INTEIRA SANTIFICAÇÃO

Antes de começar a nossa análise da doutrina da inteira santificação é bom dar


uma idéia do fundamento histórico do assunto. Esta doutrina vem desde os dias
apostólicos como tradição sagrada e ininterrupta. Vários períodos da era cristã se
caracterizaram por diferenças em terminologia mas em tempo algum foi eclipsada
esta gloriosa verdade da perfeição cristã.

A. O Testemunho dos País Apostólicos.

As últimas palavras de Inácio antes do martírio foram: "Dou-te graças, Senhor,


porque condescendestes em honrar-me com um perfeito amor para Contigo".
Polícarpo, falando sobre a fé, a esperança e o amor, diz: "Se qualquer homem
35

cumpriu estas virtudes, praticou a lei da justiça, porque aquele que tem amor está
separado de todo o pecado". Clemente de Roma declara: "Os que foram
aperfeiçoados no amor, pela graça de Deus alcançam o lugar dos piedosos na
comunhão daqueles que, através de todos os tempos, serviram a glória de Deus
em perfeição". Palavras como estas contêm a semente da doutrina da
perfeição cristã: é a perfeição do amor dentro da justiça da fé.

Irineu, o bispo Lyon na segunda metade do segundo século, foi o mais influente de
todos os primeiros pais, não só do pontos de vista da instituição mas também
teologicamente. Sua doutrina da redenção tem seu centro na obra de Cristo, e seus
ensinamentos sobre a salvação recalcam o derramamento do Espírito Santo como
o meio da perfeição cristã. Podemos, corretamente, claassificar Irineu como um
teólogo da santidade. Disse ele: “A obra de Cristo é, em primeiro lugar e sobretudo,
uma vitória sobre os poderes que mantêm escrava a humanidade: o pecado, a
morte e o diabo. Destes pode se dizer que, de certo modo, são personificaos, mas
de qualquer maneira são poderes objetivos. E a vitória de Cristo produz uma nova
situação, tendo posto fim ao seu domínio, e havendo livrao os homens de seu jugo”.

B. O Ensinamento dos País Posteriores da Igreja.

Algumas vezes Santo Agostinho se elevou a alturas sublimes no conceito que


sustentou sobre a graça mas outras vezes pareceu pairar aquém da verdade plena
das suas posições. Declara ele: "Ninguém se atreveria a dizer que Deus não pode
destruir o pecado original nos membros e tomar-se de tal maneira presente na alma
que, completamente abolida a velha natureza, seja possível que aqui se viva como
se fosse a vida eterna no céu". Não obstante, acreditava que a concupiscência
maligna permanece por toda a vida natural. Aparte disto, ensinou plena libertação
de todo o pecado nesta vida.

Macário o egípcio (300-391 d.C.) escreveu uma série de homiliass em referência à


experiência cristã em que a ideia do amor perfeito ocupa lugar proeminente. Diz:
"Da mesma forma os cristãos, ainda que tentados no exterior, no seu interior estão
cheios da natureza divina e nada lhes acontece. Se alguém alcança este ponto terá
o perfeito amor de Cristo e a plenitude da divindade" (Homilía V). "Em razão do
amor superabundante e da doçura dos mistérios ocultos, a pessoa chega a tal grau
de perfeição que se torna pura e livre do pecado. E aquele que é rico em graça a
todo tempo, de dia e de noite, continua num estado perfeito, livre e puro" (Homilia
XIV).

C. A Doutrína dos Místicos

Os místicos, a despeito dos seus numerosos erros e extravagâncias, serviram para


preservar a religião evangélica durante a Idade Média. A sua contribuição a esta
parte da teologia foi peculiarmente viva, no sentido de que a ideia central de todo o
misticismo é a inteira consagração a Deus. Isto exigiu santidade interna de coração,
separação da criatura, e perfeita união com Deus, centro e fonte da santidade e da
perfeição. Os seus métodos imemoriais – o caminho da purificação, o caminho da
iluminação e o caminho da união –, correspondem respectivamente às doutrinas
evangélicas da purificação do pecado, da consagração do Espírito e do estado de
36

santidade em abstração do eu e das coisas terrenas, em comunhão com Deus (cf.


Pope, Compêndío de Teología Crístã, 111, 75).

D. A Doutrina Católica Romana.

A doutrina católica romana concernente à santificação é eclética e assumiu várias


formas através do tempo, Um bom fundamento da doutrina encontra-se nos
Decretos Tridentinos que afirmam que, negativamente, não há óbice à inteira
conformidade quanto à lei e, positivamente, que é necessária satisfação completa
para a salvação. Dá-se também ênfase ao poder do Redentor que apaga o pecado,
como o perdoa". Entretanto, diz-se que a purificação do indivíduo se faz de maneira
dupla. Para uns, consegue-se nesta vida; para outros, só na vida futura. Assim
surgiu a ideía do purgatório para prover esta purificação depois da morte. Na
prática, portanto, a Igreja Católica Romana falha em que não reconhece o poder
atual do sangue expiador de Cristo para a purificação completa, plena, presente.

E. Opiniões Calvinistas Sobre a Santificação.

Como vimos, os Reformadores, especialmente os Calvinistas, tenderam a adotar à


justificação certas teorias da imputação. As mesmas teorias foram erroneamente
aplicadas à santificação. Uma vez que Cristo é o nosso substituto, os Reformadores
afirmam que não só se proveu dessa maneira para os crentes a plena justificação,
mas também a inteira santificação, aplicando-se-lhes como dom do pacto da graça,
Mas há aqui ênfase ao que Cristo fez por nós, em detrimento do que Ele efetuou
em nós pelo Espírito. Assim, apegaram-se à crença na imputação do nosso pecado
a Cristo, e a nós da Suajustiça para ajustíficação e também para a nossa
santificação, na medida em que se aplicava ao cancelamento da culpa. Mas o
pecado não pode ser tirado por imputação; por isso foi preciso ao sistema calvínísta
negar que o pecado é de facto obliterado. Não é imputado, portanto, não lançado à
conta do crente. Assim ele é santificado por imputação, isto é, pela sua "posição"
em Cristo, embora no referente ao seu "estado" atual possua ainda a mente carnal
ou o pecado inerente que a imputação não pode tirar. 0 pecado não é abolido como
principio ou poder, em vez disso, a justiça de Cristo imputa-se como substituta e o
pecado inerente esconde-se debaixo do manto dessa justiça imputada. Aqui está o
fundamento da teoria de "posição e estado" que ocupa lugar importante em
algumas das teorias modernas da santificação. A posição do crente é em Cristo, é
por imputação. O estado atual é aquele em que o pecado é reprimido, não
podendo dominar. A santificação é o processo de trazer o princípio do pecado em
sujeição à vida de justiça. A santificação, portanto, de acordo com esta teoria, é
somente progressiva, enquanto a alma habita no corpo, completando-se apenas na
hora da morte. A sutileza de uma doutrina que afirma que o homem pode ser
santificado instantaneamente por um estado imputado de posição mas não
santificado de facto pela comunicação de justiça e verdadeira santidade, faz que o
erro seja mais perigoso. Tudo aquilo que paira aquém da purificação atual de todo o
pecado ou da morte do homem antigo é anti-wesleyano e também anti-bíblico.

F. A Doutrina do Arminianísmo e do Wesleyanismo.


37

Os arminianos primitivos escreveram muito sobre a perfeição cristã e as suas


declarações contêm os germens do que mais tarde se conheceu como
wesleyanismo. Por exemplo, Armínio definiu a santidade da maneira seguinte: "A
santificação é um acto gracioso de Deus pelo qual purifica o homem, que é pecador
mas ainda é crente, da ignorância, do pecado inerente com as suas
concupiscências e desejos, pondo dentro dele o Espírito do conhecimento, da
justiça e da santidade. Consiste na morte do homem antigo e na vivificação do
homem novo".

O movimento wesleyano, que resultou na organização da Igreja Metodista, marca


um avivamento da doutrina e da experiência da inteira santificação no século XVIII.
Wesley recebeu algo da sua inspiração de certos grupos espirituais do tempo da
Reforma, tais como os pietistas e os morávios, ainda que não estivesse de acordo
com o Conde Zinzendorf na sua doutrina da imputação e também rejeitasse a ideia
de que a purificação ou a santificação se realiza na conversão. Entretanto, o ímpeto
principal veio do estudo das próprias Escrituras. Wesley diz-nos: "Em 1729, meu
irmão Carlos e eu, ao ler a Bíblia e verificar que não podíamos ser salvos sem a
santidade, buscamo-la e fizemos que os outros a buscassem. Em 1737, vimos que
a santidade se obtém`pela fé. Em 1738, verificamos que os homens são justificados
antes de serem santificados mas, mesmo assim, aindabuscávamos a
santidade-santidade interna e externa. Deus, então, deu-nos a tarefa de levantar
um povo santo". Dois anos antes da sua morte Wesley escreveu: "Esta doutrina é o
grande depósito que Deus confiou aos chamados metodistas e parece que para a
sua propagação nos levantou". João Wesley foi o fundador do Metodísmo e os seus
Sermões e Notas, juntamente com os seus Vinte e Cinco Artigos, formam as
normas da sua doutrina. Carlos Wesley foi o hinólogo do movimento e João
Fletcher, membro da Igreja Anglicana, foi seu principal defensor. Durante o século
XIX, deu-se à doutrina e à experiência de santidade novo alento pelas grandes
reuniões campestres de âmbito nacional nos Estados Unidos. A Conexão
Wesleyana Metodista foi organizada em 1843, a Igreja Metodista Livre em 1860, a
Associação Nacional para a Promoção da Santidade em 1866. A fim de promover e
conservar a verdade da santidade, o último período do século viu a organização da
Igreja do Nazareno pelo Doutor Phineas F. Bresee, a Associação Pentecostal de
Igrejas do Leste e grande número de movimentos de santidade no sul dos Estados
Unidos. Estas combinaram-se mais tarde num corpo conhecido como a Igreja do
Nazareno. Este período foi testemunha também da combinação de certos números
de grupos no que agora se conhece como a Igreja de Santidade dos Peregrinos.
Estas igrejas têm procurado conservar a doutrina e a experiência da inteira
santificação como uma segunda obra definida da graça, subseqüente à
regeneração; e têm-se oposto persistentemente a todos os diversos grupos
fanáticos que têm obscurecido a verdade pura e trazido má reputação à doutrina e
à experiência da salvação completa.

G. Outros Pontos de Vísta Modernos Sobre a Santíficação.

Entre os desenvolvimentos mais recentes com respeito à doutrina da inteira


santificação, além do Wesleyanismo, apontaremos os seguintes: (1) A Posição de
Oberlin; (2) A Teoria dos Irmãos de Plymouth; e (3) A Teoria de Keswick.
38

1. A posição de Oberlin é representada pelo Presidente Asa Malian, Charles G.


Finney e o Presidente Fairchild.

De acordo com esta teoria, há uma simplicidade de ação moral que faz que o
pecado consista somente num ato da vontade. Em conseqüência é impossível que
o pecado e a virtude existam simultaneamente no mesmo coração ao mesmo
tempo. Aceita uma só definição do pecado, a saber: "O pecado é a transgressão da
lei”. Destes pontos de vista básicos, resultam logicamente várias opiniões errôneas.
Nega-se que o pecado original seja um estado ou uma condição. No seu lugar
aceita-se uma teoria alternativa de caráter moral. Há também confusão entre
consagração e santificação. Ensina-se que a santificação consiste num
afiançamento tal da consagração que impede qualquer alteração posterior da
vontade. Finalmente, faz-se da santíficação assunto de crescimento e
desenvolvimento. É assim que Fairchild assegura: "O crescimento e a confirmação
do crente, o desenvolvimento das graças do Evangelho no cristão, é o que se
chama santificação".

2. Os Irmãos de Plymouth originaram-se quase simultaneamente em Dublin, Irlanda


e Plymouth, Inglaterra.

Em geral as suas opiniões teológicas baseiam-se nas teorias da imputação extrema


do ultra-calvinismo. Consideram o pecado como condenado na cruz de Cristo e, em
conseqüência, afirmam que o pecado passado, presente e futuro, por este mesmo
ato foi tirado – não provisionalmente nem atualmente mas pela própria imputação
dos pecados a Cristo. Tendo sido tirados pela imputação a Cristo, os homens já
não são mais responsáveis nem pelo seu estado de pecado nem pelos seus atos
pecaminosos. Santidade e retidão só podem ser imputadas, jamais comunicadas.
Neste sistema a fé torna-se não a condição da salvação pessoal, mas
simplesmente o reconhecimento do que foi feito por Cristo na cruz. A justificação,
de igual modo, não é um ato na mente de Deus pelo qual o pecador é perdoado
mas uma transação completa no Calvário feita séculos atrás, apenas agora
reconhecida e aceita. A regeneração é considerada não como comunicação de vida
à alma, mas em algum sentido como a criação de uma nova personalidade que
existe juntamente com a velha, permanecendo ambas as naturezas imutáveis até a
morte. A pessoa, ou aquilo que no homem diz "Eu", pode colocar-se sob a direção
do "novo homem" ou do "antigo homem" sem detrimento algum da sua relação com
Cristo, com exceção de que neste último caso se interrompe a comunhão.
Quaisquer que sejam as obras do "antigo homem", o crente não é responsável por
elas – foram condenadas há muito tempo na cruz.

O crente não somente se torna justo em Cristo, mas também santo. O mesmo ato,
considerado com justiça; é justificação; considerado como santidade, é santificação.
Um dos seus próprios escritores define a posição da seguinte maneira: "Aquele que
é o nosso Grande Sumo Sacerdote diante de Deus é puro e sem mancha. Deus O
vê como tal e Ele representa-nos, nós que somos o Seu povo, e somos aceitos
nEle. A Sua santidade é nossa por imputação. Permanecendo Nele somos, à vista
de Deus, santos e puros como Ele. Deus olha para o nosso representante e vê-nos
n'Ele. Estamos completos naquele que é o nosso Cabeça glorioso e sem mancha".
A santidade e a justiça do indivíduo são apenas imputadas e não efetuadas pelo
Espírito Santo. O pecado continua até a morte, mas isto de modo algum afeta a
"posição" do crente. Em contraste, a posição wesleyana e bíblica é que os homens
39

podem gozar de santidade comunicada, isto é, que se podem tomar presentemente


santos de coração. Nenhum homem está "em Cristo" enquanto não estiver limpo do
pecado pelo Espírito Santo. A simples afirmação intelectual de que um homem está
"em Cristo" não prova que realmente esteja. Não é surpresa, pois, que os que
seguem tais doutrinas de imputação da santidade sejam particular mente hostis à
teoria wesleyana.

3. O movimento Keswick começou em 1874 e foi fundado para a "promoção da


santidade bíblica ou prática".

Tem-se tornado notório mercê do avultado número de evangelistas nacionalmente


conhecidos e conta com muitos crentes sinceros e zelosos. Crêem na situação de
perdição da raça humana e são zelosos nos esforços para a salvação dos homens.
Insistem no abandono de todo o pecado conhecido e numa consagração definida e
completa a Cristo. Realçam a necessidade da apropriação do poder de Deus
mediante a fé e por meio de Cristo, tanto para a vida santa como para o serviço
cristão. Esta capacidade para o serviço é conhecida como batismo com o Espírito
Santo e é geralmente considerada como subseqüente à conversão, Não é contudo,
em sentido estrito, obra da graça, posto que não há purificação do pecado ingênito.
Este é considerado como parte da humilhação do crente, contaminando, em certo
sentido, as suas melhores obras. Implica contínua supressão e continuará existindo
até que a morte liberte da contaminação. A força do Espírito opõe-se de alguma
maneira à mente carnal e ajuda o crente a reprimir-lhe as manifestações. O poder
do pecado é apenas quebrado. Em nenhum sentido é inteira santificação como os
wesleyanos definem este termo. Está mais relacionada com a idéia da santidade
posicional ensinada pelos irmãos Plymouth. O crente é santo na sua “posição”, mas
não no seu “estado”. A santidade é assim questão de imputação, não de
comunicação. Rejeita-se a limpeza atual de todo o pecado por não estar em
harmonia aos seus princípios gerais. A “posição” é eterna, donde, como a teoria de
Plymouth, resulta logicamente na doutrina conhecida pelo nome de “segurança
eterna”.
40

DOUTRINA DE SANTIDADE – PARTE 2

O QUE CREMOS:

• Na doutrina e na experiência de santificação como uma segunda obra da


graça;
• Que Deus é santo na Sua natureza, atributos e propósitos;
• No Espírito Santo ... que Ele está sempre presente e operando"
eficientemente dentro da Igreja de Cristo, regenerando aqueles que se
arrependem e crêem, santificando os crentes e guiando em toda a verdade
tal como está em Jesus;
• Que o pecado original continua a existir com a nova vida do regenerado, até
que seja extirpado pelo batismo com o Espírito Santo;
• Que Jesus Cristo, pelos Seus sofrimentos, pelo derramamento do Seu
sangue e pela Sua morte meritória na cruz, fez uma expiação completa para
todo o pecado humano; que esta expiação é a única base de salvação;
• Que a inteira santificação é aquele ato de Deus, subseqüente à
regeneração, pelo qual os crentes são libertados do pecado original, ou
depravação, e levados a um estado de inteira devoção a Deus e à santa
obediência do amor tornado perfeito.
• É operada pelo batismo como Espírito Santo e compreende numa só
experiência, a purificação do coração e a permanente presença íntima do
Espírito Santo dando ao crente poder para uma vida santa e para serviço.
• A inteira santificação é garantida pelo sangue de Jesus e realiza-se
instantaneamente pela fé, precedida pela inteira consagração; e desta obra
e estado de graça o Espírito Santo testifica;
• Esta experiência é também conhecida por vários termos que representam
diferentes aspectos dela, tais como: “perfeição cristã", "perfeito amor",
"pureza do coração”, "batismo com o Espírito Santo", "plenitude da bênção"
e “santidade cristã".

Passos para a Santidade:

SANTIFICAÇÃO INICIAL (conversão); justificação, regeneração, adoção

A. Arrependimento - confissão e abandono de todos os pecados passados,


conhecidos e desconhecidos;
41

B. Restituição - endireitar tudo o que está mal, tanto quanto possível e nos casos
em que outros não sejam lesados pela ação;
C. Fé - aceitação da promessa de Deus de perdão, e entrega confiante de si
mesmo a Deus; confiança na compaixão de Deus e não nos próprios méritos;
D. Testemunho do Espírito - o Espírito de Deus testifica ao seu espírito que você
é um filho de Deus, uma nova criatura em Cristo;
E. Andar na luz - obediência diária a Deus e fidelidade no Seu serviço. Haverá
consciência crescente de um inimigo interior que estorva o testemunho e insiste
em que siga um caminho egoísta.

INTEIRA SANTIFICAÇÃO (purificação da natureza pecaminosa e plenitude do


Espírito Santo).

A. Distinto conhecimento da sua conversão – a consciência de que você é aceito


por Deus e não desobedece aos Seus mandamentos;
B. Crescente fome de Deus – reconhecimento da necessidade de uma limpeza
completa do pecado interior e desejo de alinhar perfeitamente a sua vontade
com a vontade de Deus;
C. Fuga de tudo que prejudica a influência de Deus prontidão em desistir mesmo
de coisas legítimas, se elas impedem o serviço a Deus e ao próximo;
D. Busca explícita da bênção – uma expressão da justificação, decisão de
pertencer totalmente a Deus;
E. Consagração – dar tudo definitivamente a Deus , tempo, talentos, riquezas, o
passado, o presente e o futuro; entrega completa a Deus;
F. Fé adequada – aceitação do dom de Deus, da plenitude do Espírito, deixando-O
controlar e dirigir a vida sem reservas.

SANTIFICAÇÃO CONTíNUA (crescimento na graça).

A. Andar continuamente na luz – reconhecimento de faltas ou omissões;


agradecer a Deus todas as coisas boas; aceitação alegre da Sua vontade e
direção;
B. Desenvolvimento, pela graça, das virtudes de Cristo; uma vida de alegria,
resplendor, paz e vitória;
C. Sensibilidade crescente nas obrigações sociais e oportunidades de mostrar o
amor de Deus aos outros.

SANTIFICAÇÃO FINAL (glorificação).

A. Dom de um corpo glorioso e perfeito, como o corpo ressurreto de Cristo;


B. Restabelecimento completo de tudo que foi perdido na queda de Adão.

TERMOS GERAIS DE SANTIDADE


42

1. Batismo com o Espírito Santo – sinônimo de inteira santificação; inclui a


purificação moral do coração, mas dá ênfase à atividade positiva de Deus -
capacitando para o serviço, etc;
2. Perfeição Cristã – algumas vezes é usado como sinônimo de inteira
santificação; porém, refere-se, geralmente, à vida - atitude e ação - de
santidade;
3. Plenitude do Espírito – salienta a presença de Deus na vida do crente; dá
ênfase ao aspecto progressivo e contínuo de uma vida cheia do Espírito. Há
um batismo no sentido de purificação instantânea e capacitação;
4. Santo – condição de ser colocado à parte para o serviço de Deus - pessoas e
coisas; condição ou estado de se encontrar moralmente puro e livre do pecado;
5. Santidade – exprime a condição ou qualidade do que é santo; a conseqüência
de ser santificado; refere-se, geralmente, à vida de santidade;
6. Santificar – a) Tornar sagrado ou santo; pôr à parte para serviço ou uso
sagrado; consagrar por ritos apropriados; reverenciar como sagrado; b) Ficar
livre do pecado; purificar da corrupção moral ou poluição; tornar puro;
7. Santificação – ato e/ou processo pelo qual alguém se torna santo; é a atividade
de Deus que purifica do pecado as afeições dos homens e as eleva ao sublime
amor de Deus;
8. Santificação (inicial) – limpeza ou purificação da culpa do pecado; princípio da
vida de santidade, simulâneo à regeneração;
9. Santificação (inteira) – limpeza ou purificação da contaminação ou espírito do
pecado, subseqüente à regeneração; este ato de Deus é instantâneo, pela fé;
por ele o crente é purificado dos seus pecados e repleto do amor de Deus;
10. Santificação (contínua) – purificação de momento a momento- em obediência
e fé; atividade contínua de Deus no cristão, capacitando-o a progredir e crescer
na vida de santidade;
11. Amor perfeito – é a expressão do espírito e temperamento, ou atmosfera moral
em que vive aquele que está inteiramente santificado (1. A. Wood); é total
submissão à vontade de Deus e busca ativa do bem-estar dos outros, mesmo
inimigos.

TERMOS RELACIONADOS COM A SANTIDADE

Adoção – ato de Deus pelo qual alguém entra na família de Deus e se habilita a
todos os direitos, privilégios e herança da filiação. Tem lugar na conversão;
Redenção – obra reconciliatória de Deus que ficou completa com a morte do Seu
Filho no Calvário;
Mente carnal – espírito desregrado do homem; egoísmo desordenado que não
está sujeito à lei de Deus, espírito contrário ao espírito de Cristo;
Consagração – ato de se colocar à parte para o serviço de Deus, sendo-se
capacitado pela Sua graça. Embora quem procure a salvação se dedique
totalmente a Deus, tanto quanto é capaz e cônscio, tecnicamente este ato só é
possível à pessoa regenerada;
Depravação – mostra a perversão pecaminosa da natureza do homem, a qual
afeta todos os membros da família humana; a corrupção, ou espírito de
degeneração, ainda permanece após a conversão;
Erradicação – ato de Deus pelo qual o pecado é removido, destruído, purificado.
Embora a palavra não seja encontrada na Bíblia, exprime o conceito bíblico de
"crucificado", "desprezado% "purificado", "separado", etc;
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Glorificação – perfeição física dada ao homem no último dia, a exemplo do corpo


ressurreto de Cristo;
Fraquezas – referem-se à fragilidade da natureza humana, provenientes da queda
do homem e do seu comportamento pecaminoso. Elas ocasionam, por vezes,
enganos, erros de julgamento e ações erradas. Embora essas "deficiências" não
sejam, estritamente falando, pecado, precisam do perdão de Cristo e de ser
abrangidas pela Sua redenção;
Justificação – ato de Deus pelo qual o homem é perdoado dos seus pecados e
aceite por Deus. Dá-se na conversão;
Pecado Original – descreve a fonte dos pecados, a corrupção da natureza que dá
origem a manifestações exteriores do pecado; também chamado pecado "inato" ou
de "nascimento";
Regeneração – ato de Deus pelo qual o homem se torna nova criatura, nascido do
alto ou do espírito, elevado da morte do pecado para uma nova vida em Cristo. É
simultânea à justificação e adoção;
Pecado Pessoal (pecados) – ações exteriores ou atitudes interiores que
provocam culpa, requerendo absolvição ou perdão;
Pecado (pecabilidade) – corrupção ou espírito desregrado que insiste em seguir o
seu próprio caminho, exigindo purificação.

OUTROS TERMOS USADOS NESTE ESTUDO

Imanência – quando aplicada a Deus, refere-se à Sua proximidade, acessibilidade,


presença entre os homens e na história;
Soteriologia – vem de duas palavras gregas que significam "salvação" e "estudo
de". Portanto, é o “Estudo da Salvação" providenciada e efetuada por Cristo;
Transcendência – quando aplicada a Deus, diz respeito à Sua majestade e glória,
Sua "diversidade" em relação ao homem. O Seu poder e pureza transcendem a
compreensão humana.
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SANTIDADE: POSSIBILIDADE DE SEMELHANÇA COM DEUS

"A essência da verdadeira santidade consiste na conformidade com a natureza e


vontade de Deus" (Samuel Lucas).

O conhecimento do que Deus requer e de como satisfazer os Seus requisitos


deveria captar a atenção de toda pessoa sensata. As Escrituras não deixam
dúvidas quanto ao que Deus espera do homem. Tanto o Velho como o Novo
Testamento revelam a Sua exortação: "Sede santos, porque eu sou santo" (Levítico
19:2; 1 Pedro 1:16).

Porém, este padrão divino não é arbitrário nem caprichoso. Deus oferece o que
requer. 0 Seu amor precede a Sua lei. 0 registro completo da redenção é a história
do zelo de Deus em capacitar o homem para voltar a ser como fora criado. 0 Seu
desejo é formar "um povo santo", liberto de todo o pecado, e reproduzir no homem
a imagem divina.

À luz do apelo de Deus à santidade e dos meios providenciados para cumprir o


requisito divino, é difícil compreender a confusão gerada à volta desta doutrina
fundamental. Demasiadas vezes a opinião humana e a especulação têm
suplantado as declarações da Palavra de Deus. Embora em pontos secundários
haja lugar para várias interpretações, o caminho da santidade é suficientemente
claro para que qualquer penitente que busca a verdade o não venha a perder
(Isaías 35:8).

Deus colocou perante a mente e coração do homem a Sua própria santidade, como
incentivo à pureza e vida santa. Ele faz da Sua própria perfeição,o padrão para a
retidão e perfeição relativa do homem. Assim, Jesus, a Revelação mais completa de
Deus, declarou: "Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos
céus" (Mateus 5:48).

A maneira óbvia de se começar a descobrir o que significa a santidade para o


homem, é ponderando acerca da santidade de Deus como se encontra nas
45

Escrituras. Devemos lembrar-nos porém, que o pensamento abstrato não é


característico dos escritores bíblicos. Eles ensinaram em termos concretos da vida
diária e chegaram a conhecer o Deus vivo, como Se revelou pessoalmente a Si
mesmo nos acontecimentos das suas vidas e história.

Para tratar da santidade de Deus, pois, não basta considerar alguns aspectos da
existência de um Deus afastado do homem. É preciso examinar o que Deus é,
olhando para as vias através das quais Ele se manifesta ao homem e (como
faremos especialmente no capítulo 4) observando a morte e ressurreição de Jesus,
a encarnação viva da semelhança com Deus.

Fazendo assim, seremos capazes de ver o plano de Deus para o Seu povo -o que
Ele deseja que sejamos e façamos, pois a Sua santidade é o padrão assim como a
possibilidade e o poder de ser semelhante a Deus.

A SANTIDADE DE DEUS

A declaração mais sublime que o homem pode fazer de Deus é dizer que Ele é
"santo". A santidade é o fun damento sobre o qual assenta todo o conceito de Deus.
É o fundo e o "ambiente" nos quais se desenvolve certa compreensão da atividade
divina. Todas as doutrinas da salvação têm a sua base na santidade de Deus.

Um conhecimento adequado da santidade do homem pressupõe a existência de um


Deus santo, cujo objetivo é tornar o homem participante da Sua santidade.- Não há
maior dom que possa ser oferecido ao homem que o de compartilhar da vida divina
- da natureza santa de Deus.

Todavia, conquanto decisiva para a vida humana, por mais que a compreendamos,
nunca poderemos descrever plenamente esta qualidade do carãter de Deus. Isto é
devido a que a santidade de Deus não é apenas um dentre muitos dos atributos
divinos. É uma característica tão inerente a Deus, que faz parte da própria natureza
da Divindade. Negar a santidade de Deus é negar a realidade sagrada do próprio
Deus.

A principal palavra hebraica para "santidade" é qodesh, a qual, com as suas


congêneres, aparece no Velho Testamento mais de 830 vezes. É a mais íntima
entre todas as palavras usadas em referência a Deus. Tem "a ver com as coisas e
questões em que Deus e o homem estão juntamente envolvidos, aquele terreno
fronteiriço onde se pode dizer que o humano e o divino se sobrepõem".' Portanto,
abordemos o nosso estudo da santidade de Deus com um espírito de profunda
reverência e temor.

A. A Santidade de Deus É única


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Bom indício de um dos significados da palavra santo, referente a Deus, é o seu uso
litúrgico. Um dos primeiros hinos da maioria dos hinários é: "Santo! Santo! Santo!
Senhor Magnificente". E a terceira estrofe diz: "Tu somente és santo, cercado de
esplendores, perfeito em pureza, poder, glória e amor".

Este aspecto da santidade de Deus, a Sua singularidade, está expresso em várias


passagens escriturísticas:

• "Ó Senhor, quem é como tu glorificado em santidade?" (Êx. 15:11);


• "A quem, pois, me fareis semelhante, para que lhe seja semelhante? diz o
Santo" (Is. 40:25);
• "Quem não temerá e não glorificará o teu nome, Ó Senhor? Pois só tu és
santo" (Ap. 15:4);
• A declaração bíblica que "homem nenhum verá a face de Deus e viverá"
(Êx. 33:20), manifesta o temor que não inspira a santidade divina.

1. Santidade e Transcendência de Deus

Estes versículos mostram a majestade, a glória, a soberania e o mistério insondável


que caracterizam apenas a divindade. Só Deus é santo. Não existe santidade a não
ser a que se encontra no próprio caráter de Deus ou a que Ele vai repartindo com
as criaturas.

A santidade de Deus diz respeito à Sua "diversidade" em relação ao homem, à


distinção entre o Criador e a criatura. Oséias expressou-o nas palavras do Senhor:

"Porque eu sou Deus e não homem, o Santo no meio de ti" (Os. 11:9). A palavra
hebraica para "santo" (qãdosh) tem o significado original de algo separado. Embora
santidade signifique diferença entre Deus e o homem, refere-se positivamente ao
que é de Deus e não negativamente ao que não é do homem.

"Deus é independente e distinto, porque é Deus. Ele não está separado disto ou
daquilo devido a qualquer dos Seus atributos ou qualidades. Uma pessoa ou coisa
pode ser separada por se tornar pertença de Deus”.

2. Santidade e Serviço de Deus

Por tal razão, a santidade é atribuída a pessoas ou coisas só em sentido derivado.


Quando a Bíblia fala de lugares santos, homens santos, etc, significa que estão
separados, "santos ao Senhor". Isto é, pertencem a Deus, são canais da Sua
relação com os homens.

A palavra separado, quando usada para exprimir santidade, designa "separado


para", assim como "separado de". A separação não é um fim em si mesma. Tem
sempre um propósito distinto e positivo.

Esta verdade traz implicações importantes à santidade do homem. A separação


incluída na santidade (ou santificação) de pessoas ou coisas não é simples
afastamento de algo. Quando aplicada a coisas, "santidade" não indica separação,
47

no sentido de "estar à parte". Significa sempre "separado para a divindade, ou


pertencente à esfera do divino.”

Quando a "santidade" é atribuída ao povo de Deus, implica separação do que é


comum, do mundo, com o propósíto de pertencer a Deus. É separação para um
alvo mais elevado, para servir ao próximo.

B. A Santidade de Deus É Pura

Os profetas e escritores do Novo Testamento deram ênfase ao caráter moral e


pessoal da santidade de Deus. Isalas declarou: "Porque, assim diz o alto e o
sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é santo: Num alto e santo lugar
habito, e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o coração dos
contritos" (57:15).

Habacuque afirmou a santidade de Deus ou pureza moral, a Sua repugnância pelo


homem impuro (ainda que se admirasse da demora de Deus em julgar): "Tú és tão
puro de olhos que não podes ver o mal, e a vexação não podes contemplar" (Hc.
11:13). O Salmista fala energicamente do atributo moral da santidade de Deus: "Tu
amas a justiça e aborreces a impiedade" (Sl. 45:7).

Deus é absolutamente santo, porque possui na Sua própria natureza todas as


virtudes morais possíveis, excluindo toda a espécie e grau de perversão moral. A
santidade em Deus é a Sua natureza justa, a qual faz que Ele deteste o pecado e
preze a pureza. Instiga-O a rejeitar toda a perversão moral, consistente com a
responsabilidade e a liberdade do homem. A completa separação moral de Deus
está em oposição a tudo quanto é pecaminoso e profano, a tudo quanto é contrário
à Sua natureza justa.

1. Afastamento do Pecado

O significado principal do ensino escriturístico sobre a santidade referida a Deus é a


Sua separação do pecado. Nenhum pecado pode ser admitido na presença
imediata de Deus. Quando o Salmista perguntou: "Quem estará no seu lugar
santo?" A resposta foi: "Aquele que é limpo de mãos e puro de coração; que não
entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente" (Sl. 24:3-4).

Jesus e o escritor aos hebreus exprimem a mesma verdade: "Bem-aventurados os


limpos de coração, porque eles verão a Deus" (Mateus 5:8); "Segui a paz com
todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hb. 12:14).

Mas Deus não está só separado do pecado; opõe-Se a ele eternamente. O pecado
é precisamente o contrário da Sua natureza. Sendo Deus santo, procura banir do
Seu universo o pecado. Por causa da Sua natureza santa, vê-se através das
Escrituras o juízo de Deus sobre o pecado. Em nenhum lugar se encontra isto
revelado mais claramente que no Calvário, onde um Deus santo julga o pecado.
"Um Deus santo, separado do pecado, não poupou o próprio Filho, quando esse
Filho, que não conheceu pecado, se fez pecado por nós e sofreu o castigo dos
nossos pecados, os pecados do mundo”.
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Visto que a santidade de Deus designa a Sua pureza em contraste e oposição a


tudo que é corrupto ou impuro, ela excede a Sua Majestade, para incluir a Sua
perfeição moral. "Santidade imaculada está tão arraigada na idéia cristã de Deus
que, se o atributo de pureza pudesse ser desligado do Seu caráter, o conceito da
Suprema Divindade desapareceria completamente.".

2. Impureza do Homem

A clássica passagem bíblica em que a santidade de Deus é descrita como pureza


encontra-se em Isaías 6. O porta-voz de Deus para Judá lamenta, no templo, a
morte do rei Uzias. Prostrado ante o Senhor, teve uma visão da santidade de Deus:
"Eu vi ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia o
templo. Os serafins ... clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo, Santo
é o Senhor dos Exércitos: toda a terra está cheia da sua glória. E os umbrais das
portas se moveram com a voz do que clamava, e a casa se encheu de. fumo".

Um conceito vívido da pureza divina despertou no grande profeta uma


compreensão penitente da sua impureza pessoal e levou-o a confessar: "Ai de mim,
que vou perecendo! porque eu sou um homem de lábios impuros, e habito no meio
de um povo de impuros lábios: e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos
Exércitos!” (Is. 6:5).

Assim como as sombras são escuras em comparação com o brilho do sol, do


mesmo modo a depravação do coração humano é realçada ao se comparar com a
santidade divina. O temor de Isaías perante a majestade de Deus despertou
profundo reconhecimento e confissão do pecado, resultando em purificação divina.
Um dos serafins tirou do altar uma brasa viva e tocou a boca do profeta, dizendo:
"Eis que isto tocou os teus lábios; e a tua iniqüidade foi tirada, e purificado o teu
pecado" (Is. 6:7).

Isaías notou, também, que o séquito de Deus enchia o templo, salientando a Sua
imanência. Ele estava não só num trono alto e sublime, mas também próximo e
acessível. A santidade é requerida em virtude de Deus ser transcendente e puro; é
possível porque-Ele é imanente e bom.

3. A Glória de Deus

A experiência dramática de lsaías ilustra um novo conceito ligado à santidade de


Deus. Relacionada com a presença divina, santidade encerra o conceito de
esplendor. Aqui é bem patente a afinidade com a idéia de "glória". Numerosas
passagens falam de santidade em retação ao esplendor e presença de Deus; é
exemplo a da sarça ardente, em que se fala de "terra santa" (Êx. 15). A presença
de Deus no tabernáculo ou no templo manifestava-se por um esplendor ardente
que enchia o local de adoração (Éx. 40:34-38; II Cr. 71).

A coluna de fogo era para Israel, inclinação da presença de Deus (Êx. 14: 24). O
livro de Ezequiel usa, por vezes, a palavra "santidade" ao representar a glória divina
como "presença luminosa e resplandecente" (10:4). Na dedicação do templo de
Salomão "uma nuvem encheu a casa do Senhor. E não podiam ter-se em pé os
sacerdotes, para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do Senhor enchera
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a casa do Senhor" (1 Reis 8:10-11). Mais tarde a tradição judaica testificou desta
experiência e da presença manifesta do Senhor, como a Sua "Shekinah", ou glória.

Deus quer que "toda a terra se encha da Sua glória" (Salmo 72:19), que os homens
conheçam e confessem o Seu nome (Filipenses 2:10-11). 0 Seu santo nome e a
Sua glória são inseparáveis. A revelação do Deus Santo atinge a sua finalidade
quando a "glória do Senhor" é "refletida" nos corações dos crentes (11 Corintios
3:18). Existe, pois, uma qualidade moral na idéia da glória de Deus, visto que na
santa presença do Senhor, alguém se torna consciente da sua própria impureza e
indignidade, da sua inaptidão em irradiar ou refletir a glória divina.

C. A Santidade de Deus É justa

Os profetas do século oitavo (a.C.) - Amós, Oseias, Isaías e Miquéias - deram uma
nova dimensão ao significado da santidade de Deus. Em si mesmas, as palavras
"santidade" e "santo" não aparecem amiúde nos seus escritos, à excepção de
Isaías. No entanto, cada um deles reiterou o facto de que Deus, por Sua verdadeira
natureza (isto é, por causa da Sua santidade), exige dos Seus adoradores um
comportamento adequado e não ficará satisfeito com menos.

1. O Carácter Ético da Santidade

Isaías relacionou, clara e especificamente, a santidade com a justiça: "Mas o


Senhor dos Exércitos será exaltado em juízo; e Deus, o Santo, será santificado em
justiça" (Is. 5: 16). O termo "exaltado" é equivalente ao significado da palavra
hebraica "ser santificado". Por isso, o profeta foi dizendo que a santificação ou
consagração ao Deus santo é feita em "justiça". Isto é, os homens verão no seu
meio a santidade de Deus pela exaltação ou demonstração de um comportamento
recto.

A seu modo, cada profeta associou a santidade com a justiça. Amós condenou
aqueles que oprimiam o pobre e que não viam que o suborno e a corrupção, com
perversão da justiça entre os homens, é negação do testemunho * prática religiosa.
À luz do mandato de Deus em "odiar * mal e amar-o bem", Amós orou com fervor:
"Corra, porém, o juízo como as águas, e a justiça como o ribeiro impetuoso" (Am. 5:
24; 2: 6-8; 5: 7-10, 21-23).

Oseías queixou-se que não havia fidelidade em parte alguma, "nem verdade, nem
benignidade (lealdade), nem conhecimento de Deus na terra" (Os. 4: 1). Manifestou
o padrão de Deus para o comportamento social: "Porque eu quero misericórdia e
não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos" (Os. 6: 6).
Por causa do povo, Deus não aceitaria sacrifícios (Os. 8: 11, 13).

Isaías observou que o povo honrava Deus com os lábios, mas não com o coração.
Chamavam,ao mal, bem; e ao bem, mal. Onde o profeta buscava juízo, encontrava
opressão; e, em vez de justiça, ouvia clamores. Por toda a parte os homens eram
malfeitores, praticando a embriaguês, o suborno e a corrupção (Is. 1: 23; 5: 7,
11-12, 20, 22; 29:13).
50

Como Amós, Miqueias acusou o rico de oprimir o pobre; e falou contra aqueles que,
deitados, despertam de noite para matutar novos esquemas em roubar o pobre do
pouco que tem. Até os sacerdotes e profetas andavam à busca de tudo a que
podiam deitar a mão, pensando só em acumular riquezas. Miqueias deu um bom
sumário da pregação desses profetas na sua famosa passagem: "Com que me
apresentarei ao Senhor, e me inclinarei ante o Deus altíssimo? Virei perante ele
com holocaustos?. . . Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é que o
Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes
humildemente com o teu Deus?" (Mq. 6: 6, 8; 2: 1-2; 3: 11).

O caso é que esses profetas tinham uma compreensão da justiça derivada do seu
conhecimento de Deus e da Sua santidade. Eles não julgavam a conduta humana
simplesmente por um código ético. 0 seu padrão era o que eles conheciam da
natureza do próprio Deus.

2. Justiça e Amor

Deus, sendo recto e justo, exige do homem as mesmas virtudes. Se a Sua


santidade encerra justiça, então o homem não pode ser aceite por Deus enquanto
viver em pecado ou tolerar a injustiça. Viver como se a religião fosse uma coisa e
os "negócios" ou a "política" fossem outra, como dois mundos que nunca se
encontram, é afronta ao Deus santo, sujeita ao Seu julgamento.

O "Código de Santidade" (Levítico 17 - 26) mostra a mesma unidade indissolúvel


entre a adoração e o trabalho, a devoção religiosa e a ética, combinando a lei ritual,
com a lei moral. As obrigações daí provenientes, tais como: "Amarás o teu próximo,
como a ti mesmo: Eu sou o Senhor" (Lv. 19:18), mostram que a única santidade
aceite por Deus é a que envolve relações correctas e justas com todos os homens.

Esta ênfase ética continuou no Novo Testamento, o qual também compara a


santidade ou pureza moral com a conduta reta. A linguagem é explícita:

"Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de


misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade" (Cl. 3: 12);

"Pois que, assim como apresentastes os vossos membros para servirem à


imundícia, e à maldade para maldade, assim apresentai agora os vossos membros
para servirem à justiça, para santificação- (Rm. 6: 19);

"Ninguém oprima ou engane o seu irmão em negócio algum ... Porque não nos
chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação(1 Ts. 4: 6-7);

"Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquerno-nos de toda a imundícia
da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus" (2 Co. 7: 1);

"E o Senhor vos aumente e faça abundar em amor uns para com os outros, e para
com todos ... para que sejais irrepreensíveis em santidade, diante de nosso Deus e
Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Ts. 3: 12-13).
51

A SANTIDADE DE DEUS E DO HOMEM

A santidade de Deus refere-se a duas verdades fundamentais respeitantes ao Seu


ser: (1) Deus é separado, único, distinto. A Sua santidade está relacionada com a
Sua transcendência ou "diversidade" em relação ao homem (não confundir com
distância ou "lonjura"). Deste modo o homem permanece diante d'Ele com temor e
reverência. (2) Deus é puro, reto e justo. Este aspecto da Sua santidade demonstra
a Sua imanência ou proximidade, pois Ele deseja compartilhar com o homem a Sua
pureza. Por isso, o homem deve curvar-se perante Ele em confissão e
arrependimento.

R. F. Weiclmer afirma: "Encontram-se duas coisas na santidade divina: 1) Deus


conserva-se à parte e em oposição ao mundo; e 2) remove essa oposição por uma
dádiva redentora de comunhão com Ele". Deus quer que o homem seja cheio da
Sua glória e tenha parte nesse atributo que é exclusivamente Seu. "Assim, a
santidade de Deus é a base da auto-comunicação consumada no amor". O Santo
por excelência é o Redentor ou Salvador!

Não obstante na Sua santidade Deus estar separado e ser "diferente", ainda anela
entrar numa relação pessoa[ e íntima com o homem e repartir com ele a Sua glória
e pureza. Referindo-se a este paradoxo, H. Orton Wiley escreveu que "o amor de
Deus é, de facto, o desejo de comunicar santidade; e esse desejo só é satisfeito
quando os seres alcançados se tornarem santos".

Esta intenção benevolente existiu em Deus, eternamente, antes da fundação do


mundo (Efésios 1:4). Deus não só cria no homem o desejo da Sua santidade, mas
também providencia os meios para a sua concretização. Na verdade, todo o trato
com os Seus filhos tem por fim inculcar neles a santidade - formar um povo santo.
Ele até nos corrige "para nosso proveito, para sermos participantes da sua
santidade" (Hebreus 12:10).
Encontram-se no Velho e Novo Testamento dois temas principais testificando da
verdade irresistivel de que Deus deseja compartir com o homem a Sua santidade,
Sua natureza ou pureza. São: a idéia do conserto; e a criação do homem à imagem
de Deus.

A. O Gracioso Concerto de Deus

A doutrina da eleição, notável conceito bíblico, baseia-se na santidade de Deus. Os


"santos" são os "eleitos" (1 Pe. 1: 2). Os "eleitos", os que "Lhe pertencem” são
todos aqueles que "O recebem" na Sua revelação, que correspondem à oferta e
condição do Seu pacto (Jo. 1: 12).

O conserto do Sinai estabeleceu Israel como uma unidade nacional e, desde então,
a religião judaica passou a ser a religião do povo escolhido de Deus. Israel unido
tornou-se um "povo santo". Deus disse a Israel: "Agora, pois, se diligentemente
ouvirdes a minha voz e guardardes o meu conserto, então sereis a minha pro-
priedade peculiar de entre todos os povos: porque toda a terra é minha. E vós me
sereis um reino sacerdotal e povo santo" (Êx. 19: 5-6).
52

1. O Requisito de Obediência

O próprio Deus foi o originador do conserto. Estabeleceu sozinho os seus termos e


redigiu os preceitos a que Israel devia obedecer, para que o pacto se mantivesse.
Pelo concerto, Israel foi admitido à esfera da vida de Deus e, assim, santificado.
Admitir Israel não significa que Deus renunciasse à Sua própria santidade, mas que
Israel fora santificado na comunhão com Ele. A santidade de Israel, portanto, foi um
dom condicionado à sua contínua obediência.

O fato de Deus prescrever as condições em que o concerto seria válido é indicativo


da Sua santidade e justiça, as quais providenciam a norma absoluta para
determinar o que está certo e o que está errado. Tudo o que concorda com a Sua
santidade é justo; e o que não está ded acordo é errado. As exigências da lei moral,
com as consequentes punições decretadas contra os transgressores da lei, são
manifestações da santidade de Deus (ver por exemplo, Ezequiel 18:4).

2. Um Povo Santo

Deus, que é santo, quer e procura um povo santo. Por tal motivo, Ele
escolheu Israel e constituiu a Igreja, o novo Israel, para ser separada, dedícada,
consagrada ou posta à parte para uma função peculiar, para Sua glória.

Nesta ídeia de um povo santo, vemos um dos sígnificados principais da palavra


"santo". Indica, como sugerido antes, estar "consagrado ao serviço de Deus". Este
conceito de santidade, geralmente referido como "santidade cerimonial", algumas
vezes na Bíblia é aplicado ao templo, a coisas e, até, a pessoas (v. g., Êx. 3: 5 -
"terra santa"; Êx. 35: 2 - "o sétimo dia vos será santo"; Lv. 27: 30 -"dizimo santo"; 2
Crônicas 35: 13 - "ofertas sagradas"; At. 3: 21 - "santos profetas"; Ef. 3: 5 - "santos
apóstolos e profetas"). Em semelhantes casos o adjetivo "santo" significa "possuído
por Deus”, ou "dedicado a Deus”, e não implica qualidade moral em si, embora lhe
esteja relacionado algum conteúdo ético.

O verbo "santificar" indica "tornar santo” e é aplicado tanto a coisas como a


pessoas (v. g., Êx. 29: 36 "altar"; Dt.. 5: 12 - "dia de sábado"; Êx. 19: 22
-"sacerdotes"; Mt. 23: 19 - "altar que santifica a oferta"; 1 Co. 7: 14 - "o marido
descrente é santificado pela mulher"; Jo. 10: 36 - "aquele a quem o Pai santificou";
Jo. 17:19 - "por eles me santifico a mim mesmo" (Cristo). A palavra "santificar”
neste sentido é virtualmente equivalente às palavras consagrar ou pôr à parte, Por
vezes, usado neste sentido restrito, diz-se que são os crentes que processam tal
santificação (1 Pe. 3: 15).

O desejo de Deus e a promessa de um povo santo, apresentados no Novo


Testamento, cumprem-se na Igreja Cristã:
“ Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido
[literalmente, "um povo que lhe pertence"], para que anuncieis as virtudes daquele
que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, que em outro tempo
não éreis povo, mas que agora sois povo de Deus; que não tínheis alcançado
misericórdia, mas agora alcançastes misericórdia (1 Pe. 2: 9-10).

3. Separados por Deus


53

Como "santo" no Velho Testamento é usado tanto para Deus como para o povo que
o Senhor separou de entre as nações, assim, no Novo Testamento, as palavras
relacionadas com "santo" descrevem a Igreja separada do mundo. 0 termo hagios
(literalmente, "santificados") é traduzido por "santos" em certas versões. Paulo
tratava, geralmente, os crentes do Novo Testamento por "santos" (Rm. 1: 7; Ef. 4:
12).

Em conformidade com a ênfase do Velho Testamento sobre a santidade como


separação, todos os membros da Igreja, os que têm sido batizados em Cristo, são
"santificados em Cristo Jesus" (1 Co. 1:2). Podemos concluir com a teologia da
Reforma que todos os cristãos são ”santificados" em virtude de estarem em Cristo,
no sentido de se encontrarem separados do mundo e devotados a Deus.
George Allen Turner salienta que "isto significa atribuição de santidade a pessoas
(ou coisas) em virtude de relação com a Divindade, resultante de separação do que
é comum e impuro e dedicação a Deus".10 Tem sido chamada "santificação de
posição".

4. O Novo Conserto

Até aqui o significado de "santidade" e "santificação" é essencialmente o mesmo


em ambos os Testamentos. No entanto, o Novo Testamento desenvolve uma idéia
que germinou no Velho, mas foi só lenta e parcialmente compreendida pelos
escritores antigos.

O autor de Deuteronômio expressa, claramente, que Deus quer um povo


santo, um "povo que é Sua herança" (Dt. 4:20; 7:6-8; 9:29). A idéia de povo
santo foi desenvolvida pelos profetas, que combinaram com ela o conceito
do remanescente de Israel% como uma comunidade santa (Isalas 10:20-22;
Jeremias 23:3; 31:7; Amós 5:15; Miquéias 1:7). Jeremias foi mais além e
prometeu um novo concerto aplicado, apenas, ao remanescente santo e que
se cumpriria com a vinda de Cristo:

“Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que farei um concerto novo com a casa de
Israel e com a casa de Judá. Não conforme o concerto que fiz com seus pais, no
dia em que os tomei pela mão para os tirar da terra do Egito; porquanto eles
invalidaram o meu concerto, apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor. Mas
este é o concerto que farei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o
Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei
o seu Deus e eles serão o meu povo” (Jr. 31: 31-33).

Sob o novo conserto Deus lidaria com os motivos básicos da ação humana. A
religião deixaria de ser simplesmente exterior; o seu caráter interior seria a nota
dominante. Antes, as leis de Deus tinham sido escritas em placas de pedra; sob o
novo concerto, seriam escritas no coração, de modo que os homens responderiam
a Deus do mais íntimo do seu ser.

A voz de Ezequiel repetiu, de forma diferente, a mesma promessa do Senhor:


54

“Então espalharei água pura sobre vós, e ficareis purificados: de todas as vossas
imundícias e de todos os vossos ídolos, vos purificarei. E vos darei um coração
novo, e porei dentro de vós um espírito novo, e tirarei o coração de pedra da vossa
carne, e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu espírito, e
farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis”
(Ez. 36: 25-27).

5. Santidade Pessoal e Interior

Em cumprimento destas profecias, no Novo Testamento o sentido principal de


santidade é interior, evidenciado exteriormente por uma conduta santa. 0 templo
considerado santo é formado pelos membros da "família" de Deus, sendo o próprio
Jesus Cristo "a principal pedra de esquina" (Ef. 2: 19-20). 0 "sacrifício santo" é o
"sacrifício vivo" do corpo dos crentes (Rm. 12: 1). A purificação moral ou
santificaçào ética do coração do pecador (At. 15: 8-9) é central no novo concerto e
compreende uma renovação interior de si mesmo (Jo. 17).

Através do novo conserto, Deus separa para Si mesmo um povo, por meio da
redenção que há em Jesus Cristo (1 Co. 1: 30-31). Por isso, o autor aos hebreus
cita a profecia de Jeremias: "Porei as minhas leis nos seus corações, e as
escreverei nos seus entendimentos". Depois, acrescenta:

E jamais me lembrarei dos seus pecados e das suas iniquidades ... Tendo, pois,
irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo
caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo um
grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração,
em inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o
corpo lavado com água limpa (Hb. 10:17, 19-22).

B. O Homem à Imagem de Deus

O principal aspecto da concepção do homem no Velho Testamento é que foi


criado à imagem de Deus, conforme à Sua semelhança (Gn. 1: 26; 51; 9: 6b;
Sl. 8: 5). Embora a figura do Pai e do filho tenha sido raramente usada pelos
escritores do Velho Testamento para representar a relação entre Deus e o
Seu povo, as expressões "à imagem de Deus" e "à semelhança de Deus"
(que, essencialmente, significam o mesmo) descrevem a relação íntima
entre pai e filho, como em Gn. 5: 3, onde se diz que o filho de Adão foi
gerado "à sua semelhança, conforme à sua imagem".

1. Os Filhos de Deus

Em todo o Novo Testamento a relação de Deus com aqueles que fazem a Sua
vontade vem expressa pela figura do Pai e do Filho:

A todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos
que crêem no seu nome (Jo. 1: 12). Assim, já não és mais servo, mas filho; e, se és
filho, és também herdeiro de Deus, por Cristo (Gl. 4: 7). Vede quão grande amor
55

nos tem concedido o Pai; que fôssemos chamados filhos de Deus (1 Jo. 3: 1). Fazei
todas as coisas sem murmuraçóes nem contendas; para que sejais irrepreensíveis
e sinceros, filhos de Deus, inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e
perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo (Fp. 2: 14-15).

2. Conforme à Imagem de Cristo

Em virtude de ser criado à semelhança de Deus e de se tornar Seu filho pela


redenção, o homem deve ser semelhante a Deus. No princípio Deus amava tanto a
santidade e pureza moral que resolveu criar o homem, inicialmente, segundo esse
protótipo glorioso. Assim, o homem foi criado santo, com a capacidade de possuir a
imagem divina. Embora tenha caído no pecado e perdido o aspecto moral e
espiritual dessa semelhança, o propósito original de Deus permanece imutável. Por
isso, enviou Seu Filho, "Cristo, que é a imagem de Deus" (2 Co. 4: 4), para
restaurar a primitiva, mas agora perdida, retidão da natureza humana.

O protótipo original - a imagem de Deus, perfeitamente conhecida em Jesus - é o


padrão divino e a possibilidade maravilhosa para o homem. Somos advertidos
desta grande verdade por Paulo: "E vos revístais do novo homem que, segundo
Deus, é criado em verdadeira justiça e santidade" (Ef. 4: 24). 0 "novo homem" é o
caráter moral de Deus, a espiritualidade da Sua natureza, segundo revelada em
Jesus Cristo.

Em Cristo nós temos "grandíssimas e preciosas promessas para que, por elas,
fiquemos participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção que,
pela concupiscência, há no mundo" (2 Pe. 1: 4). N'Ele fomos eleitos "para sermos
conformes à imagem de Seu Filho" (Rm. 8:29).

Ser à imagem de Deus, para compartilhar da Sua santidade, é ser transformado na


imagem de Cristo, "porque nele habita, corporalmente, toda a plenitude [incluindo a
santidade] da divindade" (Cl. 2:9). Por essa razão, somos exortados: "De sorte que
haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus" (Fp. 2: 5).

A necessidade básica de todo o homem, quer esteja ou não ciente disso, é ser "à
imagem de Deus". Davi expressou, eloquentemente, este anseio universal: "Quanto
a mim, contemplarei a tua face na justiça; satisfazer-me-ei da tua semelhança
quando acordar" (Sl. 17: 15). Onde a semelhança de Deus não é reimpressa na
alma, não há satisfação permanente. Onde está presente, há um sentimento íntimo
de realização, paz do coração e "repouso" da fé (Hb. 4: 9).

CONCLUSÃO

Estas idéias fundamentais das Escrituras - o conserto e a imagem de Deus -


englobam duas grandes verdades que, à primeira vista, parecem excluir-se
mutuamente; mas que juntas elucidam uma visão equilibrada da santidade de
Deus. Por um lado, Deus ao iniciar o concerto, chamou a Si "um povo santo". Como
56

é único e distinto do homem quanto à Sua santidade, também requer que o Seu
povo esteja à parte, separado para os Seus propósitos.

Por outro lado, criando o homem à Sua própria imagem e oferecendo a


possibilidade de o recriar em Jesus Cristo, Deus comparte com o homem a Sua
santidade. Como Ele é puro e justo, assim espera que o homem seja
espiritualmente puro e moralmente justo. A santidade divina envolve a ação positiva
de Outra Pessoa, que procura, continuamente, tornar o homem à Sua semelhança.

PECADO: PERDA DA SEMELHANÇA COM DEUS

"A santidade em nós é a cópia ou reprodução da santidade que há em


Cristo" (Phillip Flenry).

Porque o amor de Deus 0 impele a compartilhar a Sua santidade, a Sua


natureza, Ele criou "o homem à sua imagem" (Gn. 1: 27). Por toda a Bíblia
57

se vê, implícita ou explicitamente, que o destino mais elevado do homem


é patentear a imagem moral de Deus (v.g., Ef. 4: 24, Cl. 3: 10).

Os termos "imagem" e "semelhança" são usados indistintamente nas


Escrituras para mostrar a relação do homem com a divindade (Gn. 1:
26-27; 5: 1, 3). Uma vez que "Deus é Espírito" (Jo. 4: 24), sem corpo ou
substância física, 'a imagem apresentada deve ser espiri tual. Ser feito à
Sua semelhança é possuir um carácter moral como o de Deus, ou à
semelhança de Deus.

ALGO ACONTECEU

A santidade de Deus não lhe podia permitir criar um homem que não fosse bom
(Gn. 1:31), "perfeito" (Ez. 28: 12, 15) e "reto" (Ec. 7: 29). Contudo, um simples
relance à história ou à vida contemporânea nos mostrará que o homem é diferente
do modo como, segundo a Bíblia, foi criado. Algo está drasticamente errado no
homem, na raça humana. A fé cristã identifica este "erro" com o "pecado", a
negação da santidade e oposição à natureza e caráter de Deus.

A narração bíblica afirma que o pecado é um intruso. Não é "original" no sentido de


fazer parte da constituição primordial do homem. É uma perversão monstruosa e
corrupção da esplêndida criação de Deus. Dizer o contrário seria tornar Deus
responsável e contradizer o que conhecemos acerca da Sua santidade. 0 pecado é
um elemento estranho, antagônico a Deus e aos interesses mais nobres do
homem. Não é "sujeito à lei de Deus, nem em verdade, o pode ser" (Rm. 8: 7).

MAS EXISTEM BOAS NOVAS!

As "boas novas" é que por Jesus Cristo Deus possibilitou nesta vida a libertação
completa do pecado e a reprodução perfeita da Sua imagem de justiça e verdadeira
santidade. Para apreciar e apropriar esta grande provisão, devemos compreender o
significado e natureza do pecado. De outra forma existe o perigo de minimizar ou
compreender mal a pessoa e obra de Jesus Cristo.
Por tal razão, J. B. Chapman observou que "o conceito do homem quanto ao
pecado é fundamental para toda a sua reflexão e divagação em soteriologia”. A
doutrina do pecado é o centro à volta do qual está organizado o sistema teológico
de cada pessoa.

Portanto, neste capítulo e no seguinte, consideraremos vários aspectos do pecado


para melhor compreendermos a nossa "tão grande salvação" (Hebreus 2:3).
Trataremos aqui: da queda do homem no pecado; da origem do pecado; do pecado
como desobediência e rebeldia; da perda da imagem de Deus; do pecado de Adão
e do pecado original.

A QUEDA DO HOMEM NO PECADO

Quando a Bíblia fala do pecado, normalmente, não se refere ao episódio da Queda,


apesar de estar implícito por toda a parte. Sem a aceitação da queda do homem, é
58

impossível compreender o pecado como postulado da mensagem de redenção do


Novo Testamento. Apenas uma humanidade caída precisa de um Redentor. Todo o
conceito de pecado não fundamentado neste ensinamento, nega a sua existência
ou minimiza a sua seriedade, tornando-o um fato natural ou, simplesmente, uma
questão moral do indivíduo. Esta alternativa afirma que o homem, com tempo
suficiente e condições favoráveis, pode, por seus próprios esforços, dominar o
pecado ou eliminá-lo - reivindicação refutada por toda a história.

A natureza do pecado tem sido vista de muitos modos. Diz-se que o que é
chamado "pecado" é ignorância; simples ilusão; falsa subordinação da razão aos
sentidos; a transmissão de características animalescas provindas de estádios
inferiores da vida; limitação necessária do ser finito; desnível social e econômico
que será corrigido por processos dialéticos da natureza; algo que provém do
princípio eterno do mal; ou que é material e está diretamente relacionado com a
natureza sensual do homem. Todas estas teorias filosófico-humanistas falham em
considerar o poder obstinado e o caráter pessoal do pecado envolvendo uma
relação desfeita com um Deus santo.

A ORIGEM DO PECADO

Têm sido feitas muitas tentativas para explicar a origem do pecado. Nenhuma é
satisfatória. Nem o podia ser, porquanto se a "causa" do pecado pudesse ser
identificada, a sua responsabilidade seria transferida do homem para alguma
origem anterior. Porém, a essência do pecado é a recusa do homem em aceitar
responsabilidade, o que o leva sempre a culpar mais alguém ou algo fora de si
mesmo (Gn. 3: 11-13).

Basta dizer que o pecado é conseqüência do abuso e mau uso da liberdade do


homem. Para além disso, a razão humana não alcança, e a revelação é silenciosa.
O homem foi criado com capacidade e poder de autodeterminação ou escolha
moral. Este dom traz consigo a faculdade de eleger o mal ou o bem. Todas as
criaturas morais de Deus, tanto anjos corno homens, foram dotadas de opção e de
se poderem afastar das restrições de Deus e seguir o seu próprio caminho.

Isto é, Deus, que deseja uma resposta livre à Sua proposta de santidade e amor,
criou o homem de tal maneira que o pecado era uma possibilidade. Por isso, o
pecado é pessoal na sua origem. Embora outras coisas sejam obscuras, é evidente
que a responsabilidade do pecado, tanto o seu início como o seu prosseguimento
no homem, bem como a sua prática, depende do próprio homem.

PECADO COMO DESOBEDIÊNCIA E REBELDIA

Deus tornou conhecida a Sua suprema vontade a Adão e Eva, nossos primeiros
pais. Mas estes, sob a influência de Satanás, contudo de livre vontade e, deste
modo, num acto culpável, desobedeceram conscientemente à lei que Deus lhes
dera para seu bem (Gn. 3: 1-6). O seu pecado consistiu na transgressão de uma lei.
Não uma lei qualquer, ou lei geral, mas a lei de Deus. A opinião essencial e
exclusiva da Bíblia é declarada pelo Salmista: "Contra ti, contra ti somente, pequei"
59

(Sl. 51: 4). O pecado não é simples negligência de alguma ordem, é oposição ao
Deus vivo! É o eu em rebelião contra a soberania de Deus!

Por isso, na narração da Queda, o pecado é retratado como desobediência a um


Deus pessoal e santo, surgindo de desconfiança e rebeldia. A motivação principal
do pecado "original" foi o desejo de ser "como Deus” Adão queria ficar ao mesmo
nível de Deus – para se Tornar auto-dirigido e auto-confiante. Recusou reconhecer
que a sua semelhança com Deus, a sua virtude, a sua santidade provinha de Deus.
Portanto, o Orgulho levou desviar-se de Deus para si mesmo, insistindo nos "seus"
próprios "direitos.

“A raiz mais profunda do pecado é ... a rebeldia espiritual de alguém que interpreta
liberdade como independência. 0 pecado é emancipação de Deus abandono da
atitude de dependência, a fim de conseguir a independência total que torna o
homem igual a Deus.”. Embora o homem tenha sido criado para ser livre e
semelhante a Deus, não pode ter liberdade e santidade à parte de Deus. A
verdadeira liberdade e santidade no homem são dons provenientes de Deus (Jo. 8:
31-36).

PERDA DA IMAGEM DE DEUS

A queda no pecado destruiu a comunhão do homem com Deus, trazendo


temor e culpa em vez de amor (Gn. 3: 7-10). Não continuaria mais a viver "à
imagem de Deus". 0 homem preferiu tornar-se à sua própria imagem, uma
escolha que o privou de retidão moral, de justiça, de santidade e de
capacidade de fazer o que é reto (Jó 11: 7-11; Jr. 10: 23; Rm. 7: 15). H.
Orton Wiley resumiu o efeito do pecado nos nossos primeiros pais:

“As consequências imediatas do pecado do homem foram afastamento de Deus,


escravidão de Satanás e perda da graça divina. O homem deixou de possuir a
glória da sua semelhança moral com Deus ... Privado do Espírito Santo como o
Princípio organizador do seu ser, jamais poderia gozar um escalonamento
harmonioso das suas faculdades que, por isso, se tornaram desordenadas. Deste
estado desordenado seguiram-se, como consequência, ... O desejo carnal
desregrado e a incapacidade moral ou debilidade na presença do pecado.”.

Antes da Queda, Adão "era capaz de não pecar", por causa da graça e santidade
provenientes de Deus. Depois da Queda, ficou privado da presença e poder de
Deus e, portanto, "não era capaz de não pecar".

A. O Dom da Graça Preveniente

A palavra Graça é tradução da palavra grega CHARIS e significa favor, cuidados,


ajuda graciosa, boa vontade. Em suma, Graça é o FAVOR IMERECIDO de Deus
para conosco.

A queda do homem foi,pois, de um "estado da graça" para um "estado da


natureza". Ele tornou-se homem "natural". Mas Deus não o abandonaria nessa
situação. Se toda a graça tivesse sido retirada e recusada, o homem teria cessado
60

de ser uma criatura moral com responsabilidade. No entanto, esse homem


totalmente "natural" não existe, uma vez que a graça preveniente de Deus (a graça
que "se antecipa") foi concedida ao Adão pecador e é dada a todos os homens do
mundo, conferindo-lhes um certo grau de liberdade, responsabilidade e, até,
capacitando-os a praticar atos de virtude.

A graça preveniente restaura suficiente liberdade moral para o homem poder


aceitar ou rejeitar a luz, seja a do evangelho ou a da natureza, e refrear os pecados
ou crimes que destruiriam a ordem social. Quando falamos da depravação total do
homem, como resultado da Queda, tomamos "total" no sentido de o pecado ter
penetrado e pervertido todos os aspectos da vida do homem. Se o pecado fosse
azul, todo o organismo humano teria algo azulado.

A corrupção do homem, porém, não é "total" no sentido em que não possa


progredir na maldade, nem no sentido de a sua vontade não poder obedecer a
Deus. Depravação total significa que o homem é completamente incapaz de, por si
só, dominar o pecado. Não obstante, a graça preveniente de Deus restabelece nele
certa medida de liberdade, capacitando-o a aceitar ou rejeitar a salvação. A Graça
Preveniente opera continuamente, através do Espírito Santo, trazendo crescimento
espiritual aos crentes e convencimento aos incrédulos sobre o pecado, o juízo e a
justiça.

1. Outras descrições teológicas das operações da Graça.

Graça Atual → Expressão utilizada na teologia Católica Romana. É definida como uma
ajuda sobrenatural de Deus, capacitando-o a evitar o pecado, como também auxilia na
realização de algum ato que tenda à sua salvação. Esse dom é interno embora tenha natureza
transitória.
Graça Habitual → Opera com a finalidade de santificar o homem, visto que, sem esse tipo
de ato e intervenção divinos, ninguém poderia tornar-se santo. Naturalmente essa Graça
requer a cooperação da vontade humana, embora transcenda ao poder da vontade do homem.

Graça Comum → Expressão usada pela teologia reformada (calvinista), que afirma que há
uma graça divina que beneficia a todos os homens, embora não leve todos à salvação da
alma, e nem envolva o intuito divino de salvar todos os homens. Em contraposição, temos a
Graça Especial, que é a operação divina em favor dos eleitos. A Graça Comum nos permite
reconhecer todo o bem que existe no homem e na natureza, em sentido universal, sem
sacrificar a singularidade da religião, sobretudo em sua doutrina da eleição. Seus elementos
são:
• opera através do Espírito santo, restringindo o mal resultante da natureza pervertida
do homem, embora não chegue a regenerar aos não-eleitos;
• ela permite o desenvolvimento cultural necessário para a civilização, uma atividade
legítima para os homens;
• ela permite que haja certo bem nas religiões não-cristãs, embora isso não as nivele
ao cristianismo; e naturalmente, ela não reconhece nelas qualquer poder salvador;
• ela admite a presença de algum bem nos não-regenerados.

Graça Irresistível → Essa idéia está ligada a Agostinho e a Calvino, como um dos temas
favoritos da predestinação. Conforme sua definição, a graça de Deus atua incondicional e
irresistivelmente nos eleitos, garantindo sua salvação, produzindo reação favorável dos
61

homens para com o evangelho, e garantindo que essa reação seja completa e eficaz. Como
conseqüência, a Graça Irresistível garante a eterna segurança dos eleitos.

Graça Geral → Alega-se que essa é a Graça de Deus que capacita todos os homens, de todos
os lugares, em todos os tempos, a reagirem favoravelmente ao evangelho, contanto que a
vontade deles concorde com isso. Assim, um homem alienado de Deus, não poderia voltar-se
sozinho para Deus; mas a Graça Geral garante a real possibilidade do retorno de todos os
homens para Deus, e não somente de algum grupo eleito.

Graça Santificadora → Definida como o Favor imerecido de Deus atuante sobre a alma do
homem a fim de transformá-lo à imagem de Cristo.

Graça Eficaz → Essa é a graça suficiente quando se torna atuante sobre as vidas dos
homens, dentro das questões da salvação, da santificação, da transformação segundo a
imagem de Cristo, do crescimento espiritual e da restauração. Sobre esta graça repousam os
benefícios que a humanidade pode esperar obter.

B. Imagem "Essencial" e Imagem "Espiritual"

Devido à graça concedida ao homem após a Queda – essa "Luz que alumia a todo o
homem que vem ao mundo" Jo. 1: 9) – os teólogos distinguem no homem entre a
imagem essencial", "natural" ou "formal" de Deus; e a imagem "espiritual”, "moral"
ou "material". A imagem "essencial" é a que faz o homem ser homem, mesmo no
seu pecado. Refere-se aos elementos da personalidade: inteligência, consciência,
poder de escolha, imortalidade, capacidade de corresponder a Deus, etc. Estas são
dádivas indeléveis de Deus. A imagem "espiritual" do homem tem a ver com a sua
santidade, a sua semelhança a Deus.

Na nossa discussão da "imagem de Deus”, deve ficar esclarecido que não nos
referimos a uma coisa ou substância no homem. Antes, o termo é usado para
descrever a relação entre o homem e Deus.

O homem não foi criado com o poder de escolher se deveria ser responsável para
com Deus. É um fato estabelecido que ele é responsável. Nenhum grau de
liberdade humana, nem seu abuso pecaminoso, o podem alterar. A
responsabilidade é parte da estrutura imutável do ser humano. Este aspecto da
natureza do homem, que constitui a sua humanidade, distinguindo-o de todas as
outras criaturas, faz parte da significação de ser criado à imagem de Deus.

Esta imagem "essencial" ou "natural" não pode ser perdida enquanto o homem for
homem. No entanto, tem sido tão danificada que o juizo do homem é defeituoso e
o seu corpo está sujeito à doença e à morte. Não será restaurado totalmente até à
outra vida, em que o homem receberá um corpo glorioso conforme o corpo
ressurreto de Cristo.

O outro elemento da imagem de Deus - a imagem “espiritual" ou "moral" - foi


completamente perdido e não, simplesmente, obliterado. Toda a Escritura afirma
que o homem falhou em obedecer a Deus, como desejara o seu Criador e, assim,
afastou-se da vida de Deus - da Sua santidade e amor. O homem moldou-se à sua
62

própria imagem, em vez de ser à imagem espiritual de Deus, a qual ficou


totalmente destruída na Queda.

Confundir estas interpretações da imagem de Deus pode conduzir-nos,


teologicamente, a grande erro. Sem distinção adequada, alguém poderia pensar,
erradamente, que:
• a perda da imagem de Deus significa a perda da própria humanidade; ou
• que o homem não perdeu completamente a imagem, que só foi
enfraquecida; ou
• que, enquanto alguém permanece humano não pode ser restaurado à
imagem de Deus.

Nenhuma destas hipóteses é aceitável. Afirmar a primeira seria dizer que o


pecador não é realmente humano e, assim, não seria responsável moralmente.
Aceitar a segunda ou a terceira vai de encontro aos ensinamentos das Escrituras.

O PECADO DE ADÃO E O PECADO ORIGINAL

O pecado de Adão afetou, de modo inexplicável, toda a raça humana. A


experiência mostra que entre os homens o pecado é universal, e a Bíblia aponta
uma relação íntima entre o pecado do primeiro homem e os de todos os homens.
Paulo ensinou que "como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo
pecado a morte, assim, também, a morte passou a todos os homens, por isso que
todos pecaram" (Rm. 5: 12; 1 Co. 15: 45).

A. A Unidade da Raça

Não nos é dada nas Escrituras qualquer explicação da transferência do pecado de


Adão ás gerações seguintes. Mesmo Rm. 5:12, que à primeira vista parece
providenciar uma interpretação, falha em o fazer. Paulo não procurou explicar a
natureza do pecado (pelo menos não foi o seu propósito principal), ou como é
transmitido. O seu objetivo era mostrar que Cristo conquistara a morte e trouxera
vida e salvação do pecado.

Ao fazê-lo, o Apóstolo aludiu à Queda para afirmar que "em Adão" todos somos
pecadores; "em Cristo”, todos somos remidos. A sua intenção era expor a unidade
da raça humana. Queria indicar que em Cristo vemos a humanidade unida no
pecado, mas que esta unidade do gênero humano está substituída pela unidade
dos redimidos. A referência a Adão, portanto, não é para procurar explicar a
origem ou presença do pecado, nem para desculpar o homem do seu pecado. A
referência a pecado de Adão e à sua relação com o homem dá ênfase a
universalidade do pecado, a qual é confirmada tanto pelas Escrituras como pela
experiência.
Embora Adão tenha caído sob a maldição da morte física e espiritual, e todo o ser
humano nasça sob esta maldição, não sabemos como é transmitido o pecado.
Várias teorias têm sido apresentadas para explicar a sua transmissão a toda a raça
humana, mas todas contêm limitações. João Wesley apelou para a ligação entre
Adão e a raça humana, referindo-se a Adão como uma "pessoa pública" e "o
63

homem representativo”. Contudo recusou especular sobre o modo como a raça


humana se envolveu no pecado. Comentou:

“Se me perguntais como é propagado o pecado, como é transmitido de pai a filho,


respondo, francamente, que não posso dizer; da mesma maneira que não posso
dizer como se propaga um homem, como é transmitido um corpo de pai a filho.
Conheço ambos os fatos, mas não posso explicar nenhum”.

B. Privação e Depravação

Alguns teólogos têm sugerido que o homem se tornou depravado por ter ficado
privado do que originalmente lhe fora concedido. W. T. Purkiser, seguindo este
pensamento, escreveu:

“A resposta ao problema pode ser apresentada em parte, quando pensamos que no


Éden Adão e Eva perderam, pelo seu primeiro pecado, a santidade em que foram
criados, que lhes fora dada pela presença de Deus. Tornaram-se depravados por
haverem sido privados da retidão de Deus, por causa do pecado de desobediência
e rebeldia. Não podiam transmitir o que não possuíam; por isso, a raça
ficou-depravada por estar privada da rctidão que os seus pais perderam ... o
pecado, como estado ou condição, é mais que ausência de retidão; mas tem a sua
origem na perda da santidade, precisamente como a cegueira resulta da perda da
vista, e a escuridão, da ausência de luz.”

Seja o que for considerado, o ponto importante é que devido à transgressão de


Adão, de alguma maneira real, embora desconhecida, "éramos por natureza, filhos
da ira" (Ef. 2: 3). Apesar de algumas versões dizerem que "todos têm pecado" (Rm.
5: 12), à luz do aoristo empregado no grego, a melhor tradução é "todos pecaram".
Assim, em certo sentido, todos pecamos quando Adão pecou.

Para Paulo, Adão é racialmente significativo do mesmo modo em que o é Cristo.


Portanto o Apóstolo contrasta Adão com Cristo em Romanos 5:12-21 e em 1
Coríntios 15:21-22. Como em Jesus Cristo todos fomos remidos, assim em Adão
todos pecamos. Adão é não só o primeiro homem, mas também o homem
"universal". A mesma universalidade que em Cristo inclui todos os homens também
os inclui em Adão.

Se estar "em Cristo" é ter o Seu espírito de abnegação, humildade, sujeição e


obediência "até à morte" (Fp. 2), estar "em Adão" é permanecer sob o controle do
seu espírito de egoísmo, auto-exaltação, auto-serviço e auto-afirmação. Todo o
homem tem a sua existência "em Adão" ou "em Cristo".

C. Pecado Universal ou de Nascimento

Através da história do pensamento cristão, a Igreja tem proclamado que o pecado


de Adão trouxe consequências graves à raça humana. A corrupção da raça
encontra-se resumida no Artigo VII, condensado por Wesley para a Igreja Metodista
da América, sob o título de "Pecado Original ou de Nascimento":

“O pecado original não consiste em seguir [o exemplo de] Adão (como dizem sem
fundamento os pelagianos), mas é a corrupção da natureza de todos os homens
64

que naturalmente descendem de Adão, pela qual se encontram bem longe da


rectidão original e são pela própria natureza inclinados ao mal, e isso
continuamente.”.

Tem-se originado muita confusão tanto à volta do termo como do significado de


pecado de "nascimento". Tecnicamente, a expressão pecado original refere-se ao
primeiro pecado, o ato pessoal de Adão; e não às consequências raciais do pecado
de Adão, que devem ser descritas pelo termo depravação herdada ou universal.

Além disso, o pecado original ou natureza pecaminosa do homem não deve ser
confundido ou equiparado ao corpo, especificamente, à sexualidade ou
concupiscência, como Agostinho se inclinava a fazer. O pecado original não é um
fato biológico, mas espiritual. Nada tem a ver com os cromossomas e genes, mas
com a verdade espiritual de que o pecado não é algo acidental. Também não é
"uma coisa", mas separação de Deus e resistência do homem para com Ele.

O homem, estando afastado de Deus, ama mais as trevas do que a luz da


santidade (João 3:19). A comunhão perdida com Deus não pode ser recuperada
sem o ato reconciliador do próprio Deus. O pecado original é uma rebelião
implacável contra Deus, inseparável do homem até Cristo desatar os laços e o
tornar livre.

O Novo Testamento expõe o que Deus fez para restaurar o estado perdido do
homem e destruir o poder do pecado. Declara que Jesus, "que não conheceu
pecado" (11 Coríntios 5:25), é a verdadeira "imagem de Deus" (2 Co. 4: 4; Cl. 1:
15), a qual o homem readquire pela fé "em Jesus Cristo".

Embora a Bíblia ensine que a comunhão do homem com Deus fora completamente
desfeita pelo pecado, ela não considera, a natureza humana tão pecaminosa que
não possa ser purificada e cheia do Espírito Santo nesta vida presente. Os laços do
pecado no homem podem ser desfeitos.
65

JUSTIFICAÇÃO

Definições

Dr. Bunting: “Justificar um pecador é considera-lo como relativamente justo. É trata-


lo como se assim o fosse, sem fazer caso da falta de retidão anterior, absolvendo-o,
libertando-o e pondo-o acima dos vários castigos penais e especialmente da ira de
Deus e do perigo da morte eterna que merecia pela sua vida injusta passada. É
aceita-lo como se fosse justo e admiti-lo ao estado, aos privilégios e às
recompensas da justiça.”

Cremos que justificação é aquele ato gracioso e judicial de Deus, pelo qual Ele
concede pleno perdão de toda a culpa, a remissão completa da pena pelos
pecados cometidos e a aceita;cão como justo a todos aqueles que crêem em Jesus
Cristo e O recebem como Senhor e Salvador.

A justificação é aquele ato judicial de Deus pelo qual considera os que, com fé,
aceitam a oferta propiciatória de Jesus Cristo, como absolvidos dos pecados,
libertados da pena e aceitos como justos diante de Deus.

A Natureza da Justificação.

A idéia de Justificação apresenta-se nas Escrituras sob termos tais como justiça,
justificação, não-imputação do pecado e imputação da justiça – tendo todos estes
termos substancialmente o mesmo sentido, embora com alguns traços de
diferença. Entre as passagens mais importantes encontram-se as seguintes: (At.
13: 38-39); (Rm. 3: 24-26); (Rm. 4: 5-8).

Justificação Evangélica.
66

 Justificação Pessoal : Aplica-se ao que é pessoalmente reto e justo e


contra quem não há acusação alguma.

 Justificação Legal: É aplicado àquele contra o qual se fez acusação, mas


não se sustentou.

 Justificação Evangélica: É aplicado ao que é acusado, culpado e


condenado. Como pode ser tal pessoa justificada? Apenas num sentido – o
de perdão. Pelo ato de Deus os seus pecados são perdoados por causa de
Cristo, as suas culpas são canceladas, o seu castigo remitido e a é aceito
diante de Deus como justo. É portanto, declarado justo, por ação judicial e
permanece na mesma relação com Deus como se nunca houvera pecado.
Possível apenas pela redenção feita por Cristo.

Deve ressaltar-se que a justificação evangélica é a remissão dos pecados como ato
de misericórdia.

Justificação é Tanto Ato como Estado

A justificação é um ato de Deus pelo qual os homens são declarados justos ou retos; e é
um estado do homem ao qual que chega como conseqüência desta declaração. Mas seja
como ato ou como estado, a palavra nunca se usa no sentido rigoroso de fazer os homens
santos ou justos, mas no sentido de declara-los ou pronunciá-los livres de toda a culpa e,
portanto, justos.

Justificação é Uma Transformação Relativa

É evidente que a justificação não consiste em tornar o indivíduo realmente justo ou


reto. Isto é a santificação, que é, na verdade, o fruto imediato da justificação mas,
não obstante, é um dom distinto de Deus e de natureza totalmente diferente. A
primeira implica no que Deus faz por nós através do Filho, a outra indica o que
Deus faz em nós pelo Espírito Santo.

Justificação e Santificação

Justificação é uma modificação real de relação para com Deus, enquanto que a
santificação é uma mudança da natureza moral do indivíduo. A relação do pecador
para com Deus é de condenação; quando é justificado, esta relação é transformada
através do perdão em aceitação ou justificação. É evidente que se a transformação
interna precede a externa, teríamos, então, a santidade ou justiça interna nos que
estavam em estado de condenação diante de Deus. Assim, tem-se ensinado que o
primeiro ato de Deus na salvação do homem deve ser a justificação, ou a mudança
do estado e condenação para o de justiça.

A Teologia Católica declarou: “A justificação não é mera remissão de pecados, mas


também a santificação e renovação do homem interior por meio da aceitação
voluntária da graça e dos dons da graça” Assim, a justificação torna-se num
processo pelo qual alguém progride cada vez mais na justificação.
67

Justificação é Tanto um ato Judicial como Soberano

Estritamente falando a justificação é algo mais do que um simples perdão. É


essencialmente, um ato judicial. Deus não justifica os pecados apenas pelo Seu
próprio bom grado, mas por causa da justiça de Cristo. Também abrange o perdão
dos pecados. Ainda que só Deus como Juiz possa declarar justificado o pecador,
somente Ele como Soberano pode perdoar.

Deus atua na obra da justificação no Seu Caráter de Soberano e de Juiz. Perdoa os


pecados pela Sua Graça soberana e por um ato judicial remite a pena e declara
justo o culpado.

A Justificação é Pessoal, Inclusiva e Instantânea.

É o ato em que Deus transforma a relação do pecador de condenação sob a lei


para a de justiça em Cristo. Esta obra é instantânea no sentido de que é uma
decisão definida e imediata, resultado da fé, e não uma sentença que se estende
através dos anos, nem uma infusão gradativa de justiça.

Bases da Justificação

A base da fé justificadora é a obra medianeira de Jesus Cristo. O Plano evangélico


de justifica o pecador fundamenta-se em 3 questões principais:

1. Completa satisfação da justiça divina pelo sacrifício propiciatório de Cristo


como representante do homem;
2. A honra divina colocada sobre o mérito de Cristo em virtude da Sua obra
redentora;
3. A união destas duas obras num regime justo e gracioso, pelo qual é possível
para Deus, como Soberano e juiz, demonstrar misericórdia no perdão dos
pecados em termos consistentes com a Sua justiça. A única base da
justificação, pois, é a obra propiciatória de Cristo recebida pela fé.

O método do protestantismo ortodoxo no esforço de relacionar a obra de Cristo com


a justificação do crente é conhecido pelo nome de imputação.

Em geral a opinião calvinista é que a retidão de Cristo, tanto na Sua maneira de


operar como no Seu sofrimento, nos é imputada, isto é, é considerada como se
fosse “a nossa própria obra e o nosso próprio sofrimento”. Assim, os escolhidos
são considerados legalmente como justos, como se eles mesmos tivessem
obedecido perfeitamente a lei de Deus. Portanto, os eleitos são justos por
substituição.

O arminianismo afirma que a imputação sempre vem acompanhada da santificação


interna. Diz que a justificação, a regeneração, a adoção e a santificação inicial são
bênçãos concomitantes e todas elas se resumem numa palavra de sentido mais
amplo, a conversão.
68

O antinomianismo que faz que a alma confie na justiça imputada de Cristo, sem a
aplicação interna da justiça pelo Espírito Santo, é perigosa perversão da verdade
de Deus.

É a imputação da fé para a retidão.

(Atos 13:39); (Rm. 4:3); (Rm. 4:22) - Destas passagens conclui-se que:
a) O que se imputa por justiça é a própria fé como ato pessoal do crente e
não como o objeto daquela fé.
b)A fé é a condição da justiça.
c)A fé que justifica não é a fé em geral, mas uma fé particular na obra
propiciatória de Cristo.

REGENERAÇÃO

A filiação cristã, que inclui tanto a regeneração como a adoção, está vitalmente
relacionada com a justificação pela fé.

A necessidade de justificação repousa-se no fato da culpabilidade e da pena, ao


passo que a da regeneração está na depravação moral da natureza humana depois
da queda. Aquela cancela a culpa e tira a pena, esta renova a natureza moral e
restabelece os privilégios da filiação divina. Contudo, a justificação, a regeneração,
a adoção e a santificação inicial são concomitantes na experiência pessoal, isto é,
são inseparáveis e ocorrem ao mesmo tempo.

Definições

Wesley define como : “aquela grande transformação que Deus opera na alma
quando a vivifica, quando a ressuscita da morte do pecado para a vida da justiça. É
a mudança efetuada na alma toda pelo Espírito Todo Poderoso de deus, quando é
criada de novo em Jesus Cristo, quando é renovada de acordo com a imagem de
Deus em justiça e verdadeira santidade. “

De acordo com Watson, “a regeneração é aquela transformação poderosa no


homem, efetuada pelo Espírito Santo, pela qual o domínio que o pecado tinha sobre
ele no estado natural e que o indivíduo deplora e contra o qual a luta no estado
penitente é quebrantado e abolido; de maneira que, com plena decisão da vontade
e energia dos afetos retilíneos, serve a Deus livremente e lhe cumpre os
mandamentos”.
Desejando-se definição mais simples, a que se segue assue caráter definitivo: A
regeneração é a comunicação de vida, pelo Espírito Santo, à alma sucumbida
nos seus delitos e pecados.
69

Natureza da Regeneração

O termo Regeneração tal como é usado nas Escrituras significa literalmente “ser
outra vez”. Portanto, deve entender-se como uma reprodução ou restauração. É
por regra aplicado à transformação moral que se retrata nas seguintes expressões
bíblicas: nascer de novo (Jo.3:3-5-7) ; nascido de Deus (Jo. 1:13 ; 1Jo. 3:9 ; 4:7 ;
5:1 , 4,18 ), nascido do Espírito ( Jo. 3:5,6 ) Vivificados (Ef. 2:1,5) e Passou da
morte para a vida (Jo. 5:24 ; 1Jo. 3:14).

Tanto Paulo como João ressaltam o fato de que a regeneração depende da fé.
Assim a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem filhos de Deus; a
saber; aos que crêem no seu nome ( Jo.1:12 ).

Paulo indica que o homens são salvos mediante o lavar regenerador e renovador
do Espírito Santo (Tt. 3: 5).

A renovação do Espírito Santo deve ser considerada como forma inclusiva,


referindo-se num sentido à obra básica da regeneração e, noutro, à obra
subseqüente da inteira santificação. Pelo que se relaciona com a regeneração esta
renovação restaura a imagem mora de Deus na qual o homem foi primitivamente
criado. Mas é algo mais do que isto. É também a renovação do propósito original da
vida do homem na sua inteira devoção a Deus.

Ef. 4:24 ; Cl. 3:10 - Torna-se aqui evidente que o homem é renovado ou criado de
novo na regeneração e que o conhecimento, a justiça e a santidade subseqüentes
constituem o fim para o qual foi renovado.

As Operações de Deus na Regeneração

O termo primordial e mais simples é o que se refere à geração (1Jo. 5:1; 1Pe.
1:3; Tg. 1:18). Estreitamente relacionadas, senão idênticas ao termo gerado,
encontram-se as expressões “nascido de novo” e “nascido do alto”. A declaração
enfática de Cristo foi: se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus
(Jo. 3: 3 ; 6, 7). A regeneração é, pois, aquela comunicação de vida espiritual às
almas dos homens que faz deles indivíduos distintos no reino espiritual. A qualidade
moral deste novo nascimento é ressaltada por Jesus nas palavras “o que é nascido
da carne, é carne; e o que é nascido do Espírito, é espírito” (Jo. 3: 6).

Um segundo termo usado com referencia à regeneração é “vivificar” ou


“reviver“. Esta idéia de vivificação espiritual ou ressurreição põe a vida nova em
contraste com o estado anterior de pecado e de morte. Paulo afirma isto nas
passagens seguintes (Ef. 2:1; Cl. 2:13). A regeneração é, pois, uma vivificação
espiritual pela qual as almas dos homens mortos em delitos e pecados são
ressuscitadas para andar em novidade de vida. É a introdução a uma nova vida na
qual há novos gostos, novos desejos e novo caráter.

Um terceiro termo apresenta a obra da regeneração como “uma criação” ou “


ato de criar”. Como “nascimento do alto” a regeneração deve ser considerada a
70

participação da vida do Cristo glorificado (Rm. 6: 4). Como nova criatura o homem é
restaurado à imagem original com foi criado. Cristo é o grande modelo e o homem
“se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Cl.
3: 10-11).

Erros Respeitantes à Regeneração

A regeneração não é batismo com água. O batismo é o sinal exterior de uma graça
interior, e por isto, mesmo, não pode ser considerado como regeneração. ( I Pe.
3:21 )
A regeneração não é mera obra humana. O pelagianismo, heresia na igreja
primitiva, considerava-a a como ato da vontade humana. Dizia que s obtinha a
regeneração através da iluminação do intelecto pela verdade e por simples imitação
de Cristo e da Sua vida.

A regeneração não se efetua incondicionalmente pelo Espírito Santo se os passos


preparatórios e a cooperação do homem. O Calvinismo ensina falsamente que a
regeneração é o primeiro passo na salvação e que se efetua sem a cooperação
humana.

Sumário do Ensino sobre a Regeneração

1. A Regeneração é uma transformação moral efetuada nos corações dos homens


pelo Espírito Santo. É uma mudança radical na natureza moral e espiritual dos
homens.

2. Esta transformação radical realiza-se pela ação eficiente do Espírito Santo. É


um ato de Deus. É um novo nascimento.

3. A Regeneração é uma obra completa e, portanto, perfeita na sua natureza.


Embora seja concomitante com a justificação e a adoção, é distinta delas. A
regeneração é a restauração da nossa natureza caída através do revestimento
de vida sobre a base desta nova relação. A necessidade da justificação
encontra-se no fato da culpabilidade; a da regeneração, encontra-se na
depravação, a da adoção está na perda de privilégio.
4. Todas estas três, embora distintas em natureza e perfeita em espécie, são
outorgadas pelo mesmo ato de fé e ocorrem ao mesmo tempo na experiência
pessoal.

5. A Regeneração realiza-se por meio da Palavra como o seu instrumento. Que o


Espírito usa a verdade como instrumento tanto na regeneração como na
santificação, vem claramente nas Sagradas Escrituras (At. 16: 4; Ef. 6: 17; 1Pe.
1: 23).

6. A Regeneração relaciona-se com a santificação. A vida conferida na


regeneração é santa. O Wesleyanismo sempre sustentou que a santificação
começa na regeneração, mas limita a “santificação inicial” à obra de limpeza da
contaminação da culpabilidade e da depravação adquirida ou necessariamente
resultante dos atos pecaminosos. Assim, a inteira santificação vem depois disto
71

e, no aspecto de purificação, é uma limpeza do coração do pecado original ou


depravação herdada. A distinção baseia-se no duplo caráter do pecado – como
ato e como estado. Regeneração não é renovar a vida antiga, é implantar vida
nova. Ela quebrante o poder do pecado cancelado e faz que o prisioneiro q
fique livre, mas não destrói a condição interna do pecado original. Não foi a
remoção completa do que se chama carne ou a sua fraqueza, nem a remoção
total da mente carnal, mas o revestimento de poder para conquista-la, para não
a seguir, mas para andar no Espírito, e assim vencer a carne e viver no Espírito
de maneira a manter-se constantemente livre da condenação. O que aconteceu
foi o livramento do poder reinante do pecado original ou inato; a libertação da
escravidão, aquele que o Filho liberta está verdadeiramente livre, é uma
concessão feita pela graça e pelo poder de Deus pelos quais o homem recebe a
faculdade de obediência voluntária.

7. A Regeneração torna possível à humanidade conhecimento pessoal de Deus. A


alma regenerada transforma-se fundamentalmente em qualidade moral e
espiritual, transformação que é a base da nova relação pessoal.

8. A Regeneração está relacionada vitalmente com a revelação de Deus em


Cristo. Nele a verdade de Deus torna-se visível como se fosse projetada para
benefício nosso na tela da humanidade.
9.
A Regeneração está também relacionada ao poder capacitador do Espírito
Santo. Ele não só reproduz a vida de Cristo no regenerado como o Revelador,
mas também como o Agente da Graça Capacitadora. A vida concedida na
regeneração não só se manifesta numa nova luz, mas num poder novo.

ADOÇÃO

É o ato declaratório de Deus pelo qual, depois de termos sido justificados pela fé
em Cristo Jesus, somos recebidos na família de Deus e reinstalados nos privilégios
da filiação. A adoção ocorre ao mesmo tempo que a justificação e a regeneração,
mas na ordem do pensamento é logicamente a última colocada. A justificação tira a
nossa culpa, a regeneração transforma o nosso coração e a adoção recebe-nos de
fato na família de Deus.

Benefícios da Adoção

• O privilégio da filiação – (Gl. 3: 26; Rm. 8: 17; Gl. 4: 7);


• A confiança filial para com Deus – (Rm. 8: 15);
• Direito de propriedade em tudo que Cristo tem e é – (1Co. 3: 21, 23);
• Direito e título à herança eterna – 1Pe. 1: 4; Hb. 11: 16; Tg. 1: 12; 2Co. 4: 17).
72

TESTEMUNHO DO ESPÍRITO

Base bíblica

Por “Testemunho do Espírito” queremos dizer: aquela evidencia interna de


aceitação por Deus que o Espírito Santo revela diretamente à consciência do
crente. As Escrituras dão-nos muitas ilustrações de homens que gozaram do
Testemunho do Espírito (Hb. 11:4-5; Jó 19:25; Sl. 32:5; Is. 6:7; Dn. 9:23; At. 2:46;
8:39; 16:34). Como textos que sustentam esta doutrina mencionaremos os
seguintes: (Rm. 8: 15-16; Gl. 4:6; 1Jo.5:10).

O Testemunho Duplo do Espírito

O texto clássico sobre este assunto encontra-se em Rm. 8:16. É evidente que aqui
encontramos um testemunho duplo: o do Espírito Santo e o do nosso espírito.
Rotula-se comumente o primeiro como o testemunho direto, o segundo como o
indireto.

1. O Testemunho do Espírito Divino.


73

John Wesley afirmou que: “este testemunho é uma impressão interna na alma,
por meio da qual o Espírito de Deus testifica diretamente ao meu espírito que
eu sou filho de Deus; que Jesus Cristo me amou e Se deu a Si mesmo por
mim e que todos os meus pecados foram apagados e que eu, eu mesmo,
estou reconciliado com Deus”.

Mas Deus não deixou o Seu povo nas trevas. Por isso, Wesley exortou o povo a
“não descansar em nenhum suposto fruto do Espírito sem o testemunho. Se somos
sábios, devemos clamar continuamente a Deus até que o Seu espírito brade no
nosso coração: “Aba, Pai”.

2. O Testemunho do Nosso Próprio Espírito

Este é o testemunho indireto do Espírito e consiste no senso de que


individualmente possuímos o caráter de filhos de Deus.

Wesley continua dizendo: “Como poderei ter certeza de que não me engano com a
voz do Espírito? Pelo testemunho do meu próprio espírito; pela resposta de uma
boa consciência para com Deus. Por este meio conhecerei que não estou sofrendo
de uma alucinação e que não enganei a minha própria alma. Alistam-se os frutos
imediatos do Espírito a governar o coração: o amor, o gozo, a paz, s entranhas de
misericórdia, a humildade da mente, a bondade, a mansidão, a longanimidade. Os
frutos externos são fazer o bem a todos os homens e obedecer a todos os
mandamentos de Deus”.

A INTEIRA SANTIFICAÇÃO OU PERFEIÇÃO CRISTA

Perfeição cristã e inteira santificação são expressões que traduzem a plenitude da


salvação do pecado, ou a inteireza da vida cristã. Outros termos usados amiúdo
com semelhante propósito são, "plena salvação", "santidade", "amor perfeito^,
"batismo com o Espírito Santo" e “segunda bênção". Em adição ao significado
comum, cada um destes termos tem ênfase própria. "Perfeição Cristã^ ressalta a
inteireza do caráter cristão e a posse dos dons espirituais. "Inteira santificação"
destaca a limpeza de todo o pecado, incluindo a mente carnal ou o pecado
inerente. "Salvação completa" lembra que o sacrifício do nosso Senhor Jesus Cristo
é perfeitamente adequado para todo o problema do pecado. "Amor perfeito",
expressão usada entre os metodistas primitivos, ressalta o espírito e a têmpera da
vida moral dos inteiramente santificados. Implica libertação completa do egoísmo,
devoção total a Deus e amor desinteressado para com todos os homens. A
expressão "batismo com o Espírito Santo" ressalta os meios de graça pelos quais o
coração pode ser purificado de todo o pecado e repleto do amor divino.

"Segunda bênção" ("propriamente falando") é expressão usada com discriminação


por João Wesley para acentuar o fato de que a inteira santificação é uma segunda
74

e distinta obra da graça divina, subseqüente à regeneração. O termo "santidade"


refere-se mais particularmente ao estado ou condição do santificado do que à
experiência pela qual se torna santo, Descreve um estado de pureza moral e
espiritual ou de saúde completa da alma em que o Espírito e a imagem de Deus
são possuídos com a exclusão de todo o pecado. Uma vez que as verdades
espirituais só podem ser discernidas por meios espirituais, a obra gloriosa da graça
divina, à qual se referem os termos acima mencionados, só pode ser compreendida
e apreciada completamente através da experiência pessoal.

A inteira santificação tem sido chamada "a ideía central do sistema cristão e o feito
culminante do caráter humano". Todo o sistema levítico do Antigo Testamento
coloca-se sob pesado tributo para revelar à mente e ao coração as riquezas desta
graça. Os termos usados abrangem o altar e os seus sacrifícios, o sacerdócio, o
ritual com as suas aspersões e lavagens, as cerimônias de apresentação e
dedicação, a unção e a confirmação, as festas e os jejuns. Tudo isto aponta para a
norma de piedade no Novo Testamento – a perfeição cristã.

Ainda que a inteira santificação seja doutrina fundamental do Cristianismo e de


vasta importância para a Igreja, há poucos temas teológicos com maior variedade
de opiniões. Todos os cristãos evangélicos afirmam que é uma doutrina bíblica, que
inclui libertação do pecado, que se atualiza através dos méritos da morte de Cristo
e que é a herança dos que já são crentes. Contudo, há muita diferença entre a sua
natureza exata e o tempo em que é recebida. Por exemplo, há aqueles que afirmam
que esta experiência é concomitante com a regeneração e que se completa
naquele ato. Outros consideram-na como crescimento gradativo, estendendo-se
através de toda a vida. Outros ainda afirmam que é recebida na hora da morte. A
opinião que consideramos ser a posição bíblica é a de que a santificação começa
na regeneração, mas se completa como obra instantânea do Espírito Santo depois
da regeneração. Isto é o que se conhece, a maior parte das vezes, como sendo a
opinião wesleyana.

II. A BASE BÍBLICA DA INTEIRA SANTIFICAÇÃO

Um estudo cuidadoso das Sagradas Escrituras é a melhor apologia da doutrina


experiência da inteira santificação. O limite de espaço exige que reduzamos a
número diminuto as nossas citações de textos mais eminentes relacionados a este
tema importante.

A. A Santidade é a Norma Neotestamentária da Experiência Cristã.

Notaremos aqui aquelas passagens que se referem à vontade de Deus, às Suas


promessas e aos Seus mandamentos.

1. É a Vontade de Deus que O Seu Povo Seja Santo.

Por esta razão não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a
vontade do Senhor. E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas
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enchei-vos do Espírito (Ef. 5: 17-18). Refere-se isto ao dom prometido do Espírito


Santo que os discípulos receberam no Pentecostes e do qual se disse que ficaram
cheios do Espírito Santo.

A conclusão é que os discípulos já tinham certa medida do Espírito antes mesmo


do Pentecostes, porém que era necessária uma limpeza para o enchimento
completo do Espírito Santo. Pois esta é a vontade de Deus, a vossa santificação (1
Ts. 4: 3). Neste caso a santidade ou "santificação" está em contraste com o mau
uso do corpo. A vontade de Deus é que o Seu povo seja limpo de toda a
imundícia, tanto da alma como do corpo. Nessa vontade é que temos sido
santificados (Hb. 10: 10). 0 grande ato da expiação encontra o fim supremo na
santificação do Seu povo. 0 sangue de Jesus Cristo não só proporciona o
fundamento da nossa justificação mas também o meio da nossa santificação.

2. Deus Prometeu Santificar o Seu Povo.

Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam
como a escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam
vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã (Is. 1: 18). O escarlate é
conhecido como uma das tintas para tingir com cores mais indeléveis e usa-se
aqui para designar a mancha do pecado na alma.

A culpa do pecado atual e a poluição do pecado original podem ser limpas apenas
pelo sangue de Jesus Cristo. Então aspergirei água pura sobre vós, e Ficareis
purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos
purificarei (Ez. 36: 25). A obra do Espírito Santo representa-se aqui pelo símbolo
da água como agente de limpeza.

Porque ele é como o fogo do ourives e como a potassa dos lavandeiros.


Assentar-se-á, como derretedor e purificador de prata; purificará os filhos de Levi,
e os refinará como ouro e como prata; eles trarão ao Senhor justas ofertas (Ml. 3:
2-3). Cristo é apresentado aqui pelos profetas como o Grande Refinador do Seu
povo. São os filhos de Levi os que vão ser purificados e o fim desta limpeza é
capacitá-los a fazer uma oferta justa.

Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de
mim, vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. A sua pá ele a tem na mão, e
limpará completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará
a palha em fogo inextinguível (Mt. 3: 11~12). E evidente que esta passagem
mostra que o batismo com o Espírito Santo efetua uma limpeza interna e espiritual
mais profunda que o batismo de João. Este é para a remissão dos pecados,
enquanto aquele é para tirar o princípio do pecado. A separação não é entre o joio
e o trigo, mas entre o trigo e a palha ou aquilo que por natureza se apega ao trigo.
Esta palha não é o pecador, mas o principio do pecado que se apega às almas dos
regenerados e que é removido pelo batismo purificador de Cristo.

3. Deus Manda que o Seu Povo Seja Santo.

Estes mandamentos abrangem os três termos comumente aplicados à inteira


santificação – santidade, perfeição e amor perfeito. Sede santos, porque eu sou
santo (1 Pe. 1: 16). Deus requer que o Seu povo seja santo e isto é ressaltado pelo
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preceito e pelo exemplo. A santidade evangélica é positiva e real, não meramente


típica ou cerimonial. Há um aspecto relativo da santidade, mas nunca está
separado do que se efetua internamente pelo Espírito. A santidade em Deus é
absoluta e no homem é derivada, mas a qualidade é a mesma em Deus e no
homem. Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o
Senhor, e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-poderoso: anda na minha presença, e sê
perfeito (Gn. 17: 1). Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai
celeste (Mt. 5:48). Esta é a perfeição de amor que vem da purificação de todos os
inimigos da alma que se lhe opõem. Amarás, país, o Senhor teu Deus de todo o
teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força
(Mc. 12:30). O amor mencionado aqui não é meramente o amor natural humano ou
amizade, mas o amor santo, criado e posto nos corações humanos pelo Espírito
Santo (Rm. 5: 5).

B. A Inteira Santificação Como uma Segunda Obra da Graça.

Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus que apresenteis os vossos


corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.
E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da
vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade
de Deus (Rm. 12: 1-2). É claro que esta exortação foi dirigida a pessoas que já
eram crentes; que o apelo às misericórdias de Deus de nada valeria aos que ainda
não tivessem experimentado esta graça perdoadora; que o sacrifício deveria
apresentar-se santo, como santificado inicialmente pela purificação da culpa e da
depravação adquirida; e que deveria ser aceitável, isto é, os que a apresentassem
deveriam ser justificados. Entretanto, no segundo versículo admite-se que
permaneceu no coração dos crentes a inclinação para o mundanismo ou a
tendência para o pecado; que esta tendência de conformar-se com o mundo teria
que ser removida por uma transformação posterior ou renovação da mente; que,
por isto mesmo, provariam ou experimentariam a perfeita, boa e aceitável vontade
de Deus.

Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto


da carne, como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus (2
Co. 7:1). A santidade já iniciada na regeneração deve ser consumada pela
purificação de uma só vez do pecado inato. Isto leva a alma ao estado de
santidade aperfeiçoada. Por isso, pondo de parte os princípios elementares da
doutrina de Cristo, deixemo-nos levar para o que é perfeito (Hb. 6: 1). 0 significado
aqui, de acordo com o doutor Adam Clarke, é o de "ser arrastado imediatamente à
experiência".

C. Tempos Gramaticais no Novo Testamento Grego.

O doutor Daniel Steele, no seu livro Mílestone Papers, tem um capítulo excelente
(o quinto) sobre este assunto interessante e importante. Mostra o contraste entre o
emprego do tempo presente, como "escrevo", ou do imperfeito denotando a
mesma continuidade no passado, como "escrevia", com o tempo aoristo que no
indicativo expressa ocorrência momentânea de ação em tempo passado, como
"escrevi". Em todos os demais modos o aoristo carece de tempo, o que se
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conhece como "singularidade de ato". Quando, portanto, se emprega o tempo no


presente, denota-se ação continua; usado no aoristo não se faz referência ao
tempo. Em português não há tempo semelhante na conjugação verbal. Uma
compreensão clara disto ajudar-nos-á na interpretação de textos importantes.
Damos, em seguida, alguns exemplos em forma de esquema.

1. Santifica-os (aoristo imperativo, uma vez por todas) na verdade;... E a favor


deles eu me santifico (tempo presente--estou santificando ou consagrando) a mim
mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade (ou
verdadeiramente santificados) (Jo. 17: 17,19).

2. Purificando-lhes (aoristo - instantaneamente) pela fé os corações (At. 15:9).

3. Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus que apresenteis


(aoristo---ato único que não precisa ser repetido) os vossos corpos por sacrifício
vivo (Rm. 12: 1).

4. Mas aquele que nos confirma (presente-que continuamente está confirmando)


convosco em Cristo, e nos ungiu (aoristo, como um ato único definido), é Deus,
que também nos selou (aoristo) e nos deu (aoristo--deu-nos como um único ato
definido) o penhor do Espírito em nossos corações (2 Co. 1: 21-22). Aqui a
confirmação é constante ou contínua, enquanto a unção, a selagem e o penhor do
Espírito são atos momentâneos e completos da experiência una da inteira
santificação.

5. E os que são de Cristo Jesus crucificaram (aoristo - ato completo, definido,


único) a carne (a mente carnal ou o princípio do pecado), com as suas paixões e
concupiscências (Gl. 5: 24).

6. Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho


da vossa salvação, tendo nele também crido (aoristo), fostes selados (aoristo) com
o Santo Espírito da promessa (Ef. 1: 13). Neste caso tanto o crer como o selar são
atos definidos e completos.

7. O mesmo Deus da paz vos santifique (aoristo) em tudo; e o vosso espírito, alma
e corpo, sejam conservados (1 Ts. 5: 23).

8. Jesus, para santificar (aoristo) o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu (aoristo)
fora da porta (Hb. 13: 12).

9. Se confessarmos (tempo presente) os nossos pecados, ele é fiel e justo para


nos perdoar (aoristo) os pecados e nos purificar (aoristo) de toda injustiça (I João
1:9). Aqui tanto o perdão como a purificação, são considerados como atos
completos e, do ponto de vista gramatical, não há razão para se crer numa
santificação gradual mais do que numa justificação gradual.

III. O SIGNIFICADO E O ESCOPO DA SANTIFICAÇÃO

O estudo analítico das palavras do Novo Testamento grego referentes à verdade


da santificação constitui um dos métodos mais frutíferos de consideração do
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assunto. 0 escopo do nosso estudo não nos permite análise detalhada deste
aspecto do tema, senão apenas declarar qae o estudo cuidadoso da palavra grega
hagíos santo, e os seus derivados, revela dois fatos fundamentais. Primeiro, a
idéia de santificação inclui afastamento, separação ou consagração; segundo,
indica limpeza ou purificação do pecado. Esta última ênfase é particularmente
importante no Novo Testamento. Este duplo significado, consagração e
purificação, precisa ser mantido em mente para que a norma de santidade do
Novo Testamento seja corretamente compreendida. Estes dois conceitos têm base
bíblica clara, de cuja autoridade não há dúvida alguma (cf. Wiley, A Teología
Cristã, II, pp. 304-305).

A. Definições da Inteira Santificação.

Cremos que a inteira santificação é aquele ato de Deus, subseqüente à


regeneração, pelo qual os crentes são libertados do pecado original, ou
depravação, e levados a um estado de inteira devoção a Deus e à santa
obediência do amor tornado perfeito. É operada pelo batismo com o Espírito Santo
e compreende, numa só experiência, a purificação do coração e a permanente
presença íntima do Espírito Santo dando ao crente poder para uma vida santa e
para serviço. A inteira santificação é garantida pelo sangue de Jesus e realiza-se
instantaneamente pela fé, precedida pela inteira consagração; e desta obra e
estado de graça o Espírito Santo testifica. Seguem-se algumas definições desta
experiência:

Doutor E. F. Walker – "A santificação, no sentido próprio, é uma obra da graça,


efetuada instantaneamente na pessoa do crente, depois da regeneração,
administrada por Jesus Cristo por meio do batismo com o Espírito Santo,
purificando-o de todo o pecado e aperfeiçoando-o no amor divino";

João Wesley – "A santificação, no sentido próprio, é a libertação instantânea de


todo o pecado e inclui um poder instantêneo, dado nesse momento, para
parmanecer sempre unido a Deus";

Doutor J. W. Goodwin – "A santificação é uma obra divina da graça, purificando o


coração do crente do pecado habitante. É subseqüente à regeneração,
assegurada pelo sangue expiador de Cristo, efetuada pelo batismo com o Espírito
Santo, condicionada à consagração completa a Deus, recebida pela fé, incluindo o
revestimento instantâneo para o serviço";

Doutor D. Shelby Corlett – "Ser santificado é nem mais nem menos, que a
remoção completa do coração de tudo que é inimizade para com Deus e que não é
nem pode ser sujeito à Sua lei, e isto capacita a vida para ser completamente
dedicada a Deus. Não importa quão perfeita seja a consagração, nenhum cristão é
verdadeiramente santificado por Cristo antes de ter o coração purificado pelo Seu
sangue. Esta é uma experiência definida, uma poderosa obra da graça, efetuada
por Deus em resposta à fé que existe no cristão consagrado em Cristo o
Santificador. A experiência marca uma segunda crise definida na vida espiritual, é
a perfeição de uma relação espiritual com Deus, a purificação de todo o pecado no
momento em que o Pai opera dentro de nós a consagração que Ele deseja. A
consagração a Deus – santificação – inclui também a plenitude consciente do
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Espírito Santo a habitar dentro de nós como o poder do nosso amor,


capacitando-nos a viver em comunhão com Cristo e em plena obediência a Ele,
dando-nos gloriosa vitória nos muitos conflitos da vida. A santidade como
consagração a Deus inclui a subordinação de todos os demais fins a um só – a
aceitação alegre e a execução feliz da vontade de Deus" (D. Shelby Corlett, A
Santidade – o Propósíto Central da Redenção, pp. 22-23).

B. A Justificação e a Santificação.

A natureza da santificação é revelada por uma série de contrastes entre ela e a


justificação. Seguem-se algumas destas distinções:

1. A justificação, num sentido amplo, refere-se à obra total de Cristo efetuada "por
nós"; a santificação é a obra total efetuada "em nós" pelo Espírito Santo.
2. A justificação é um ato judicial na mente de Deus; a santificação, uma
transformação espiritual realizada nos corações humanos.
3. A justificação é uma transformação relativa, isto é, uma mudança de relação do
estado da condenação para o estado de favor, a santificação é uma mudança
interna do pecado para a santidade.
4. A justificação dá-nos a remissão dos pecados atuais; a santificação, no seu
sentido completo, limpa do coração o pecado original ou a depravação
herdada.
5. A justificação remove a culpabilidade do pecado, a santificação destrói-lhe o
poder.
6. A justificação torna possível a adoção na família de Deus; a santificação
restaura a imagem de Deus.
7. A justificação dá-nos o direito de entrada no céu; a santificação torna-nos aptos
para o céu.
8. A justificação logicamente precede a santificação que, no seu estado inicial, lhe
é concomitante.
9. A justificação é um ato completo e instantâneo e, por conseguinte, não se
realiza aos poucos ou gradativamente; a santificação é marcada por progresso,
no sentido de que a santificação parcial ou inicial ocorre no tempo da
justificação e a inteira santificação vem depois. Tanto a santificação inicial
como a inteira, contudo, são atos instantâneos no nosso coração pelo Espírito
Santo.

C. A Existência do Pecado no Indivíduo Regenerado.

Tem sido doutrina uniforme na Igreja que o pecado original continua existindo
durante a nova vida do regenerado, pelo menos até que seja erradicado pelo
batismo com o Espírito Santo. Tal como se declara nos "Trinta e Nove Artigos":
"Esta infecção da natureza permanece nos que são regenerados". João Wesley
apresentou a sua opinião sobre o assunto num sermão intitulado "O Pecado nos
Crentes". Diz em parte: "Por pecado entendo aqui o pecado interior; qualquer
temperamento, paixão ou afeto pecaminoso, tal como o orgulho, a vontade do eu,
o amor do mundo, em qualquer espécie ou grau; tais como a concupiscência, a ira,
o ressentimento, qualquer disposição contrária à mente de Cristo... E o homem
justificado ou regenerado liberto de todo o pecado tão logo é justificado? Não foi
então libertado de todo o pecado de maneira que não há pecado no seu coração?
80

Não posso afirmar tal coisa; não posso crê-lo; porque Paulo afirma o contrário.
Fala aos crentes em geral quando diz: "A carne milita contra o Espírito, e o
Espírito, contra a carne, porque são opostos entre à (Gl. 5: 17). Nada há mais
expressivo do que isto. O apóstolo aqui afirma diretamente que a carne, a natureza
decaída, se opõe ao Espírito, mesmo nos crentes; que até nos regenerados há
dois princípios contrários um ao outro" (Wesley, "O Pecado nos Crentes").

"As Escrituras afirmam que permanece no homem, depois da conversão, o que se


chama a carne, carnalidade, ira – predisposição herdada – chamada por alguns
tendência para o mal, que, porém, é algo mais; o apóstolo chama-o o corpo do
pecado" (Doutor P. F. Bresee, Sermões, 46). A condição do regenerado anterior à
inteira santificação é, num sentido modificado, um estado de confusão. Há no
coração do crente tanto a graça como o pecado inato, mas não há, nem pode
haver, mistura nem fusão destes elementos antagônicos. Existem no coração sem
mistura ou composição. De outra maneira teríamos santidade adulterada.

D. A Inteira Santificação é Subseqüente à Regeneração.

A regeneração, considerada em si mesma, é uma obra perfeita. E a comunicação


de vida divina e, como operação do Espírito, é completa em si mesma. Mas a
regeneração é só uma parte da graça alcançada na Nova Aliança. Só neste
sentido é que se pode dizer que é incompleta. A regeneração é também o princípio
da santificação, mas apenas no sentido de que a vida conferida no novo
nascimento é uma vida santa. Mas não devemos inferir disto que a mera expansão
desta nova vida pelo simples crescimento fará que a alma atinja a inteira
santificação. Esta é um ato de purificação e, a não ser que o pecado inerente seja
removido, não pode haver plenitude de vida, nem perfeição de amor. Em sentido
estrito a regeneração não é purificação. A santificação inicial acompanha a
regeneração, mas esta é a comunicação de vida, ao passo que aquela é a
extinção da culpa e da depravação adquirida. É verdade que uma vida de amor
moral é comum a ambos os estados mas as duas obras são separadas e distintas
e, consequentemente, a inteira santificação é algo mais do que o toque final na
regeneração.

1. Porque não é a redenção compreendida numa só obra de graça? Porque há


necessidade de duas obras distintas?

É-nos impossível dizer o por que Deus faz certas coisas ou por que não as faz. A
Sua palavra, contudo, revela claramente que Ele não justifica e santifica
inteiramente por uma única obra de graça. Sem dúvida o pecador não percebe a
sua necessidade da santificação. A sua culpa e condenação ocupam-lhe de início
a atenção e só mais tarde percebe essa necessidade de purificação posterior. A
justificação e a santificação tratam de fases diferentes do pecado; aquela com os
pecados cometidos, ou o pecado como ato; esta com o pecado herdado, ou o
pecado como princípio ou natureza. Parece impossível descobrir plenamente a
condição última sem ter experimentado a anterior. Ademais, estas obras do
Espírito são, num sentidas, diametralmente opostas: uma a comunicação de vida,
a outra uma crucificação ou morte. Finalmente, a experiência da inteira
santificação obtém-se pela fé, que só pode ser exercitada depois de cumpridas
81

certas condições, inclusive a consagração total. Tais condições não as podem


cumprir a pessoa que não tenha sido antes regenerada.

2. Quanto tempo deve transcorrer entre a regeneração e a inteira santificação?

Isto depende exclusivamente da experiência do indivíduo. Lutero Lee diz: "Esta


obra progressiva pode acelerar-se e consumar-se em qualquer momento, quando
a inteligência compreende claramente os defeitos do estado presente e se exercita
a fé a compreender o poder e a vontade de Deus de santificar-nos inteiramente, e
de fazê-lo, hoje mesmo" (Lee, Rudimentos da Teologia, p. 214).

E. Os Meios e Agências Divinamente Apontados na Santificação.

Podemos apreciar adequadamente a natureza da inteira santificação só quando


levamos em conta os meios e as agências que Deus emprega para estampar de
novo a Sua imagem nos corações dos homens.

1. A causa originadora é o amor de Deus.

Nisto consiste o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele
nos amou, e enviou o seu filho como propiciação pelos nossos pecados (1 Jo. 4:
10).

2. A causa meritória ou adquiridora é o sangue de Jesus Cristo.

Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com
os outros, e o sangue de Jesus, seu F51ho, nos purifica de todo pecado (1 Jo. 1:
7).

3. A causa eficiente ou agência é o Espírito Santo.

Somos salvos mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo (Tt. 3:


5); diz-se que somos eleitos em santificação do Espírito (1 Pd. 1: 2); e somos
escolhidos para a salvação pela santificação do Espírito, e fé na verdade (1 Ts. 2:
13).

4. A causa instrumental é a verdade.

Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade (Jo. 17: 17). O Espírito Santo é
o Espírito da verdade e opera através da instrumentalidade da verdade. Donde
Pedro afirma: tendo purificado as vossas almas, pela vossa obediência à verdade
(I Pd. 1:22); e João declara que aquele.. que guarda a sua palavra, nele
verdadeiramente tem sido aperfeiçoado o amor de Deus. Nisto sabemos que
estamos nele (1 Jô. 2: 5).

5. A causa condicional é a fé.

E não estabeleceu distinção alguma entre nós e eles, purificando-lhes pela fé os


corações (At. 15: 9); a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança
82

entre os que são santificados pela fé em mim (At. 26: 18). Quando, portanto,
falamos de santificação como algo efetuado pelo Pai, ou pelo Filho, ou pelo
Espírito Santo, quer falemos dela como sendo pelo sangue, através da verdade ou
pela fé, referimo-nos meramente às diferentes causas que entram nesta gloriosa
experiência.

F. A Santificação Gradativa ou Progressiva.

A palavra progressiva, da maneira como usada em ligação com a santificação,


deve ser claramente definida. Significa simplesmente o aspecto temporal da obra
da graça no coração, realizando-se por estágios sucessivos. Cada um destes
estágios ou passos está marcado por uma aproximação gradativa e por uma
consumação instantânea. Todos os estados juntos marcam o alcance completo da
graça santificadora.

Já mencionamos a santificação "inicial" que se realiza simultaneamente com a


regeneração e a justificação. Nesta purificação inicial são removidas do pecador a
culpa e a depravação adquirida. Uma vez que a experiência que tira a poluição e
santifica se chama propriamente "santificação", esta primeira purificação chama-se
santificação "parcial". Não se refere à purificação do pecado original ou da
depravação herdada. Não somente isto, mas também há uma obra preparat6ria ou
gradual efetuada pelo Espírito Santo antes da inteira santificação. Esta consiste
em tristeza santa pelo pecado interior, em renúncia do pecado herdado e em
aversão à mente carnal. Isto nunca se dá sem o poder convincente e iluminador do
Espírito Santo.

Quando um Filho de Deus, por meio do Espírito, renuncia plenamente ao pecado


inato e confia no sangue da purificação, neste mesmo instante, pela simples fé em
Cristo, pode ser inteiramente santificado. João Wesley descreve esta preparação
gradual para a crise da inteira santificação com as seguintes palavras: "Um homem
pode estar moribundo durante algum tempo; porém, não está morto, propriamente
falando, até o instante em que a alma se separa do corpo; e nesse instante passa
para a eternidade. Da mesma maneira, alguém pode estar morrendo para o
pecado durante algum tempo; porém, não está morto ao pecado até o momento
em que este se separa da alma, e neste instante passa a usufruir uma vida plena
de amor" (Wesley, Fatos Claros Sobre a Perfeição Cristã, p. 51).

As Escrituras Sagradas confirmam claramente a idéia da preparação gradual e da


consumação instantânea da inteira santificação. Paulo diz: Foi crucificado com ele
o nosso antigo homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não
sirvamos o pecado (Rom. 6:6). A crucificação como um meio da morte tende para
a morte e nela tem o seu objetivo. O "homem antigo" deve estar na cruz até que
morra; e quando o pecado expira, nesse momento a alma é inteiramente
santificada e vive a vida plena do amor perfeito.

Há ainda um terceiro aspecto em que a santificação é progressiva. Embora a


inteira santificação seja um ato instantaneamente completo e definido, é também
processo contínuo. Com isto queremos dizer que somos limpos de todo o pecado
somente quando, pela fé, somos trazidos à relação correta com o sangue expiador
de Jesus Cristo; e apenas enquanto houver relação contínua com o sangue
expiador pela fé é que haverá purificação contínua, no sentido de preservação no
83

estado de pureza e de santidade. Foi com este pensamento na mente que o doutor
Adam. Clarke afirmou: "Requer-se o mesmo mérito e energia para preservar a
santidade na alma de um homem como para produzi-la".

Tanto o aspecto instantâneo como o contínuo da santificação, são apresentados


pelo Apóstolo João como se segue: Se, porém, andarmos na luz, como ele está na
luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos
purifica de todo pecado (1 Jo. 1: 7). Aqui há um ato definido e instantâneo pelo
qual a alma é purificada de todo o pecado e uma santificação progressiva pela
qual os que andam na luz são recipientes dos méritos contínuos do sangue
expiador.

As mesmas verdades são ensinadas em 1 Pedro 1: 2, eleitos, segundo a


presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a
aspersão do sangue de Jesus Cristo. Aqui fica bem claro que a salvação é através
da santificação do Espírito; que a santificação como um ato instantâneo, limpa de
todo o pecado e leva o crente à obediência, interna e externamente; e que,
vivendo nessa obediência, o eleito pode viver constantemente sob a aspersão do
sangue expiador e santificador. É importante recordar que só somos purificados
pelo sangue redentor quando estamos em relação correta para com Jesus Cristo e
que somos continuamente purificados, ou mantidos limpos, somente enquanto se
mantiver esta relação apropriada. Somos santificados por Cristo, não separados
d'Ele, mas n'Ele e com Ele; não só pelo sangue da purificação, mas sob a
aspersão desse mesmo sangue. A fé é o elo vital de união com Cristo; e os puros
de coração vivem n'Ele apenas por uma fé contínua. Se esta ligação deixa de
existir, a vida espiritual cessa imediatamente.

IV. A INTEIRA SANTIFICAÇÃO OU A PERFEIÇÃO CRISTÃ

No item III, acima, que acabamos de estudar, consideramos a doutrina da inteira


santificação quanto (1) à sua base histórica; (2) ao seu fundamento bíblico; (3) ao
seu significado e alcance; e (4) à sua natureza como obra completa e progressiva.
Neste tópico concluiremos a nossa análise desta grande verdade e trataremos
com mais ou menos extensão a expressão correlativa "perfeição cristã".

A INTEIRA SANTIFICAÇÃO

A. A Inteira Santificação Como Purificação do Pecado.

Como vimos, a inteira santificação é o designativo aplicado à plenitude da


redenção ou à purificação do coração de todo o pecado. O verbo "santificar" deriva
do latim “sanctus" (santo) e "facere" (fazer). Quando se usa no modo imperativo
significa literalmente "tornar santo". No grego temos o mesmo significado do verbo
"hagiádzo", que se forma de "hágios" (santo), com o sentido de "tornar santo". O
primeiro elemento básico, pois, na inteira santificação é a purificação do coração
do crente da depravação herdada, inata.
84

O pecado original deve ser considerado em duplo aspecto. É o pecado comum que
mancha a raça humana, de um modo geral, e é uma parte desta herança geral
individualizada nas pessoas que formam esta mesma humanidade. No primeiro
caso, ou seja o pecado no sentido genérico, não se extingue senão na
consumação dos tempos quando todas as coisas serão restauradas.

Até este tempo algo da pena permanece sem remoção, da mesma forma que fica
algo da possibilidade da tentação ou da susceptibilidade ao pecado, essencial ao
estado de provação. Mas no segundo sentido a mente carnal, ou o pecado que
habita no íntimo da alma – o princípio no homem que tem afinidade atual com a
transgressão, fica abolido pela purificação do Espírito de santidade e a alma se
mantém pura pela Sua presença permanente.

O alcance da purificação, de acordo com as Escrituras, inclui a remoção completa


de todo o pecado. O pecado deve ser purificado completamente, purgado,
extirpado, desarraigado e crucificado; não reprimido, suprimido, oposto ou
anulado, no sentido em que estes termos são usados. Deve ser destruído; e
qualquer teoria que admita um lugar para o pecado inato, não importa quais as
provisões tomadas para a sua regulamentação, carece de fundo bíblico. Um
estudo dos termos gregos usados nestes casos esclarecerá bem o assunto.

1. Um dos termos mais comuns é katharídzo, que significa "tornar limpo" ou limpar
em geral, tanto interna como externamente; consagrar por meio da purificação; ou
libertar da contaminação do pecado. "É a mesma palavra de que derivamos
catártico. Literalmente quer dizer purgar, purificar, remover a imundícia e eliminar
tudo aquilo que é estranho. Não é nada mais, nem menos que a limpeza presente
da natureza do homem do "vírus" da disposição de pecar" (Doutor H. V. Miller,
Quando Ele Vier).

Alguns dos textos mais importantes nos quais se usa esta palavra são os
seguintes:

• E não estabeleceu distinção alguma entre nós e eles, purificando-lhes pela


fé os corações (At. 15 9).
• Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza,
tanto da carne, como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no
temor de Deus (2 Co. 7: 1).
• O qual a si . mesmo se deu por nós, a rim de remir-nos de toda iniquidade,
e purificar para si mesmo um povo exclusivamente seu, zeloso de boas
obras (Tt. 2: 14).
• Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão
uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo
pecado (1 Jo. 1: 7).

2. Outro termo importante é katargeo, que significa anular, abolir, dar fim, fazer
cessar. Para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado (Rm.
6: 6).

3. Um termo forte é akrízoo, que significa desenraizar, arrancar pela raiz e,


portanto, desarraigar. A palavra "desarraigar" aparece no texto original, embora
não seja usada em algumas versões vernáculas. E encontrada na expressão do
85

nosso Senhor Jesus Cristo aos discípulos: Toda planta que meu Pai celestial não
plantou, será arrancada (Mt. 15:13). Isto é explicado por João no sentido de que o
nosso Senhor veio para destruir as obras do diabo (1 Jo. 3: 8); (cf. Mt. 13: 29; Lc.
17: 6; Jd. 12).

4. Mas talvez o mais incisivo dos termos usados em ligação com este assunto seja
stauroo, que, de acordo com Thayer, significa "crucificar a carne, destruir-lhe o
poder completamente (a natureza da figura implica que uma dor intensa
acompanha a destruição)". E usado em Gálatas 5:2 – E os que são de Cristo
Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências.

5. Estreitamente relacionada com o termo anterior encontra-se a palavra thanatoo,


que significa subjugar, mortificar, matar, destruir, extinguir. Assim, meus irmãos,
também vós morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo (Rm. 7: 4);
Porque, se vierdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se pelo fruto
mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis (Rm. 8: 13). Um estudo
cuidadoso destes termos convencerá a todo o estudante sincero de que as
Sagradas Escrituras ensinam a limpeza completa do coração do pecado inato-a
destruição total da mente carnal. "A santificação vai além de mera contradição aos
hábitos maus ou à conduta pecaminosa. Atinge não somente os nossos costumes
e os nossos ideais, mas penetra no fundamento mais íntimo dos maus afetos.
Exige a morte de toda afeição pecaminosa, de todo sentimento interno mau e pede
a absorção da nossa vontade pela divina. Esta é uma gloriosa exigência mas muito
custosa e, portanto, não muito popular. A santificação pede a morte não somente
dos atos pecaminosos mas até dos desejos pecaminosos, dos apetites maus e dos
afetos impuros. Chega até ao centro do caráter humano para destruir a
carnalidade" (Doutor R. T. Williams, A Santificação, pp. 30, 31).

B. A Inteira Santificação como Consagração Positiva a Deus.

A obra da santificação inclui não somente separação do pecado, mas dedicação a


Deus. Esta consagração positiva, entretanto, é algo mais do que a consagração
humana da alma a Deus. Representa também a aceitação da oferta pelo Espírito
Santo e, portanto, uma capacitação divina. E uma posse divina e a fonte e energia
desta consagração espiritual é o amor santo. O Espírito de Deus é capaz, como
santificador, não só de encher a alma com amor mas de despertar o amor que
corresponde. Por isto Paulo declara que o amor de Deus é derramado em nossos
corações pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado (Rm. 5: 5); enquanto Pedro,
tratando do mesmo assunto em perspectiva oposta, diz: Tendo purificado as
vossas almas, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal
não fingido, de coração uns aos outros ardentemente (1 Pe. 1: 22).

O primeiro exprime a outorga positiva do amor divino-concedido pelo Espírito


Santo, portanto, amor santo; o segundo é a espécie de purificação que tira do
coração tudo o que é contrário ao fluxo do amor perfeito. Considerada do ponto de
vista negativo, a inteira santificação é a purificação de todo o pecado, ao passo
que do lado positivo é a plenitude do amor divino.

A santidade consiste na unidade profunda e básica da pureza e do amor perfeito.


A santidade no homem é o mesmo que a santidade em Deus quanto à qualidade,
86

com apenas esta diferença: aquela é derivada, esta é absoluta. Tal unidade de
pureza e de amor expressa-se melhor nas palavras do apóstolo respeitantes a
Jesus: Amaste a justiça e odiaste a iniqüidade (Hb. 1: 9). A pureza e o amor
combinam-se numa natureza básica no profundo da personalidade do homem.
Encontra expressão não tanto numa virtude particular, ou na combinação de
virtudes, mas na fuga da alma pura ao pecado e no amor pela retidão.

"A santidade é o reajuste da nossa natureza total, em que ficam subjugados os


apetites e propensões inferiores e são restauradas à sua supremacia as
faculdades intelectuais e morais superiores; e Cristo reina na alma completamente
renovada". Encontra-se aqui a verdadeira integração da personalidade!

C. Os Elementos Divino e Humano na Inteira Santificação.

Caracterizamos a inteira santificação negativamente no sentido de que é


purificação do pecado, e positivamente como consagração plena a Deus. Notamos
também que a santidade abrange ambas no próprio centro da personalidade
humana e encontra expressão no ódio espontâneo e inerente à iniqüidade, bem
como no amor pela justiça. Isto, quando considerada a inteira santificação pelo
lado humano. Como a caracterizaremos, considerada pelo lado divino, isto é, como
operação divina? É o dom ou o batismo do Espírito Santo. "Este dom purifica o
coração. Isto significa a destruição do corpo do pecado, a remoção da mente
carnal. Significa mais ainda: é algo que ultrapassa a limpeza da casa. A casa
limpa-se, purifica-se, antes de receber o Hóspede. É purificada para que Ele habite
nela... Nem mesmo a capacitação celestial – separada da personalidade habitante
– confere ao homem poder, seja para a vida cristã, seja para o serviço. Tornar o
homem sem culpa e puro para o qual Deus fez provisão-não é suficiente. Se
ficasse assim, seria presa fácil do diabo e do mundo e completamente incapaz de
fazer a obra de trazer homens e mulheres a Deus. Permanecemos firmes pela fé,
que é a lealdade de coração a Deus, um desejo intenso, o contínuo olhar para o
Seu rosto; mas isto não seria suficiente, que Deus somente conceda a tal coração
a presença divina, enchendo-o de Si mesmo. Guarda. Atua nele e através dele.
Torna-o templo e base das Suas operações. A Bíblia insiste em que devemos ter
santidade de coração, mas não podemos confiar num coração santo; apenas
podemos confiar naquele que mora dentro de tal coração" (Doutor P. F. Bresee,
Sermões, pp. 7, 8, 27).

A inteira santificação abrange tanto a limpeza do coração do pecado como a


presença permanente do Espírito Santo capacitando o crente para a vida e para o
serviço. Aqui a experiência da inteira santificação é distinta da justificação e da
regeneração que a precede; e, de igual sorte, preservada da teoria errônea da
terceira bênção que considera a inteira santificação apenas como limpeza do
coração do pecado, seguida pelo batismo com o Espírito Santo como obra
adicional de poder. O batismo com o Espírito Santo é, portanto, "o batismo com
Deus. É o queimar da palha, mas é também a revelação em nós e a manifestação
para nós da personalidade divina enchendo todo o nosso ser".

A PERFEIÇÃO CRISTÃ
87

No sentido crítico, a perfeição cristã representa o aspecto mais positivo da


experiência una, conhecida teologicamente como a inteira santificação ou
perfeição cristã. A inteira santificação, como designativo, aplicasse ao lado da
purificação do pecado ou ao fato de tornar santo; enquanto a perfeição cristã
ressalta a norma do privilégio garantido ao crente pela obra expiatória de Jesus
Cristo.

A. Conceitos Errôneos com Respeito à Perfeição Cristã

Há numerosos conceitos errôneos respeitantes à perfeição cristã que devem ser


desfeitos antes de se receber entendimento correto e próprio sobre esta obra do
Espírito Santo. A expressão parece implicar uma norma de excelência que os que
estão corretamente informados jamais postulam. Se se compreende corretamente,
não pode haver objeção, nem contra a doutrina nem contra a experiência.

1. A perfeição cristã não é perfeição absoluta.

Esta pertence somente a Deus. Neste sentido, bom só existe um (Mt. 19: 17).
Toda e qualquer outra bondade é derivada. Assim, só Deus é perfeito; mas as
Suas criaturas podem também ser perfeitas no sentido relativo, de acordo com a
sua natureza e a sua qualidade.

2. Não é a perfeição angélica.

Os santos anjos são seres que jamais caíram e, portanto, retêm as suas
faculdades nativas tais como receberam. Não cometem erros, como acontece ao
homem no seu estado atual de debilidade e fraqueza. Têm uma perfeição
impossível de ser alcançada pela humanidade.

3. Não é a perfeição adâmica.

O homem foi feito um pouco menor do que os anjos e, sem dúvida, no seu estado
original possuía uma perfeição desconhecida ao homem na sua presente condição
de existência no mundo.

4. Não é perfeição de conhecimento.

Não só foi pervertida a vontade do homem e alienados os seus afetos na queda,


mas até o seu intelecto ficou obscurecido. Por isso, deste entendimento defeituoso
emanam opiniões errôneas com respeito a muitos assuntos, levando, por sua vez,
a falsos juízos e a inclinações erradas dos afetos.

5. Não é imunidade da tentação ou da suscetibilidade ao pecado.

Estas são essenciais a um estado de provação. O nosso Senhor Jesus Cristo foi
tentado da mesma forma em que nós somos e, todavia, não cometeu pecado.
88

B. Implicações da Doutrina da Perfeição Cristã

1. Esta perfeição é evangélica em oposição à perfeição legal.

Pois a lei nunca aperfeiçoou cousa alguma e, por outro lado, se introduz
esperança superior, pela qual nos chegamos a Deus (Hb. 7: 19). A perfeição cristã
é da graça, no sentido de que Jesus Cristo traz ao Seu povo a perfeição sob o
regime presente. A expressão "perfeição sem pecado" nunca foi usada por Wesley
dada a sua ambigüidade. Os que são justificados são salvos dos pecados; os que
são santificados inteiramente são purificados de todo o pecado; mas os que são
desta maneira justificados e santificados formam ainda parte de uma raça que se
encontra sob a maldição do pecado original e sofrerão a conseqüência do mesmo
até o fim desta dispensarão. O termo. perfeição, contudo, é próprio, pois pela
graça do nosso Senhor Jesus Cristo o pecado é apagado da alma e o amor
perfeito de Deus é vazado copiosamente no coração pelo Espírito Santo.

2. Perfeição cristã é uma expressão relativa.

E uma perfeição que, quando considerada em relação à perfeição absoluta de


Deus, nunca pode ser alcançada, nem nesta nem na vida futura; mas quando
considerada com respeito ao regime presente, marca uma finalidade no sentido de
que significa libertação da natureza espiritual da poluição do pecado. E verdade
que este espírito remido e perfeito habita num corpo que pertence à raça
pecadora, mas pode ser elevado da obscuridade para a luz enquanto o corpo
permanece nas mesmas condições em que se encontrava antes do seu espírito
ser redimido. Conseqüentemente, está ainda eivado de fraquezas no sentido de
que a alma permanece sob a influência das coisas materiais e ficará assim até que
a criatura seja revestida da incorrupção e da imortalidade.

3. A perfeição cristã é probatória.

É um estado que se descobrir sempre sob a lei ética e, por isso, deve ser
constantemente vigiado e mantido pela graça divina. Enquanto vivemos nesta
terra, não importa quão profunda seja a nossa consagração ou quão fervorosa a
vida religiosa, há fontes de perigo dentro de nós. Na nossa natureza, como
elementos essenciais dela, temos os apetites, os afetos e as paixões sem as quais
não estaríamos em condições de conservar o atual estado de existência. São
inocentes em si mesmos, devendo estar sempre sob o domínio da razão, da
consciência e da graça divina. 0 perigo e o mal estão na perversão, para fins
maus, das faculdades que Deus nos deu. Argüir que a perfeição cristã destrói ou
desarraiga elementos essenciais da natureza humana, ou crer que um homem ou
uma mulher não pode gozar da perfeição do espírito enquanto permanecerem
estes elementos humanos, é deixar de compreender completamente a natureza
desta experiência. 0 que a perfeição cristã faz é proporcionar graça para regular
estas tendências, afetos e paixões, e sujeitá-los às leis mais elevadas da natureza
humana.

4. A perfeição cristã é mediada.


89

Não é um triunfo de esforço humano, mas uma obra operada no coração pelo
Espírito Santo em resposta à fé simples no sangue de Jesus. Somos guardados
pela Sua intercessão permanente. Não peço que os tires do mundo; e, sim, que os
guardes do mal (Jo. 17: 15).

C. O Conceito Fundamental da Perfeição Cristã.

A plenitude do privilégio do crente em Cristo reflete-se na norma do Novo


Testamento de amor como o cumprimento da lei (Mt. 22: 40; Gl. 5: 14). Porque
esta é a afiança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o
Senhor. Nas suas mentes imprimirei as minhas leis, também sobre os seus
corações as inscreverei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo (Hb. 8:
10). Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei
nos seus corações as minhas leis, e sobre as suas mentes as inscreverei.
Acrescenta: Também de nenhum modo me lembrarei dos seus pecados e das
suas iniqüidades, para sempre. Ora, onde há remissão destes, já não há oferta
pelo pecado (Hb. 10: 16-18).

O ponto que deve ser ressaltado nestas passagens é o de que a vida plena de
amor, tornado perfeito no coração pela ação do Espírito Santo, constitui a própria
essência do Novo Pacto de Deus para com o Seu povo. O amor puro reina
supremo, não obstruído pelos antagonismos do pecado. O amor é a base de toda
a atividade. 0 crente, tendo entrado na plenitude da nova aliança, faz pela própria
natureza as coisas contidas na lei, donde se conclui que a lei lhe está escrita no
coração. Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que no dia do juízo
mantenhamos confiança; país, segundo ele é, também nós somos neste mundo.
No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo
produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor (1 Jo. 4:
17-18).

Paulo desenvolve a idéia da perfeição cristã em conexão com o alcance da


maturidade espiritual (Hb. 5: 12-14; 6: 1). Em contraste com a condição de infância
espiritual (Gl. 4:1-2), o adulto cristão ou o "perfeito" submeteu-se ao batismo com o
Espírito Santo (Mt. 3: 11-12; At. 1: 5) que lhe purifica o coração de todo o pecado
existente (At. 15: 9) e o enche com o amor divino (Rm. 5: 5). Naquele instante vive
a vida plena de amor. Nele o amor toma-se perfeito e se realizam as condições do
novo pacto. A lei de Deus está-lhe escrita no coração.

Concluímos que as Sagradas Escrituras ensinam claramente que a perfeição cristã


pode ser obtida nesta vida; que esta perfeição consiste apenas numa vida de amor
perfeito ou em amar a Deus com todo o coração, com toda a alma, com toda a
mente e com todas as forças; que esta perfeição de amor não tem referência ao
grau ou quantidade, mas à pureza ou qualidade; que este estado de amor perfeito
é conseqüência da purificação do coração de todo o pecado, de maneira que o
amor permanece sendo único e supremo; que esta purificação se recebe
instantaneamente pelo batismo com o Espírito Santo; e que o estado resultante de
amor perfeito é considerado como a maturidade na graça, dado que o crente entra
na plenitude do privilégio sob o novo pacto.
90

D. Distinções Importantes Sobre a Perfeição Cristã.

É necessário notar algumas distinções importantes com respeito à perfeição cristã,


a fim de preservar a doutrina de objeções errôneas que algumas vezes se dirigem
contra ela.

1. Deve distinguir-se cuidadosamente entre a pureza e a maturidade.

A pureza é o resultado da purificação da contaminação do pecado; a maturidade é


o resultado do crescimento na graça. A pureza é operada num ato instantâneo. A
maturidade é gradativa e progressiva, sempre indefinida e relativa. Quando,
portanto, falamos do amor perfeito, fazemos referência somente à sua qualidade
como algo que não se mistura com o pecado, nunca ao seu grau ou quantidade. O
doutor J. B. Chapman faz o seguinte comentário em torno desta distinção
essencial: "Pureza e maturidade. Estas duas palavras são parecidas no som (em
inglês são "purity" e "maturity", n.t.), mas muito diferentes no significado. A pureza
pode ser encontrada nos primeiros instantes após a alma alcançar o perdão e a
paz com Deus. Mas a maturidade exige tempo, crescimento, prova e
desenvolvimento. 0 cristão puro pode muito bem ser débil porque não se dá ênfase
ao tamanho ou à força, mas só à ausência do mal e à presença do bem elementar.
A pureza obtém-se como uma crise, a maturidade vem por um processo. Alguém
pode-se tornar puro num abrir e fechar de olhos; é de duvidar-se que alguém neste
mundo consiga tornar-se realmente maduro. O crescimento continua por toda a
vida e, pelo que sabemos, poderá continuar por toda a eternidade... mais fé, mais
esperança, mais amor e mais paciência fazem-nos pensar que em algum tempo
indefinido não teremos qualquer dos opostos a estas qualidades. Mas o
crescimento não é um processo de purificação. Crescimento é adição, purificação
é subtração; e ainda que alguém possa aproximar-se da santidade por um
processo tão gradativo, deve haver um último momento em que o pecado existe e
um primeiro instante em que desaparece de todo, e isto significa que, na realidade,
a santificação deve ser instantânea. Neste ou noutro dado momento, todo o cristão
é livre do pecado ou não é livre dele. Não pode haver qualquer sentido em que o
homem chega a ser santo e ao mesmo tempo continua contaminado" (J. B.
Chapman, A Santidade Como Centro da Experiência Cristã, pp. 23, 24).

2. Deve fazer-se distinção entre fraquezas e pecados.

O pecado, no sentido em que se usa aqui, é a transgressão voluntária de uma lei


conhecida. As fraquezas são transgressões involuntárias da lei divina, conhecida
ou desconhecida, resultado da ignorância ou debilidade da parte do homem
decaído. São inseparáveis da mortalidade. 0 amor perfeito não traz perfeição de
conhecimento, donde é compatível com os juízos errôneos e os atos; errados. As
fraquezas trazem humilhação e dor mas não culpa e condenação. Ambos,
contudo, necessitam do sangue da aspersão. Sob os ritos Levíticos da purificação,
os erros e as fraquezas só eram removidos pela aspersão de sangue (Hb. 9: 7),
enquanto o pecado sempre exigia uma oferta especial. É por esta razão que
mantemos que não só há um ato definido de purificação do pecado mas também
uma contínua aspersão do sangue pelas nossas transgressões involuntárias. As
Escrituras levam em consideração esta distinção entre pecados e fraquezas.
Judas diz: Ora, aquele que é poderoso para vos guardar de tropeços (sem pecado)
91

e para vos apresentar com exultação, imaculados (sem mancha ou sem culpa)
diante da sua glória (Jd. 24). Nesta vida podemos ser guardados do pecado, mas
apenas no estado glorificado seremos apresentados irrepreensíveis.

3. A tentação é compatível com o mais elevado grau de perfeição evangélica.

Jesus foi santo, sem mancha, sem contaminação e separado de pecadores, mas
foi tentado de todas as maneiras como nós somos, embora sem pecar. A tentação
parece estar incluída na idéia de provação. Nenhuma tentação, nem sugestão para
o mal se transforma em pecado enquanto não for aceita ou acolhida pela mente.
Enquanto a alma mantiver a sua integridade, permanece sem contaminação, não
importa quão severa ou grave seja a tentação.

Muitas vezes formula-se a questão quanto à diferença entre as tentações dos que
são inteiramente santificados e dos que não o são. A diferença está nisto: nos não
inteiramente santificados a tentação suscita a corrupção natural do coração que já
é inclinado para o pecado, enquanto que nos inteiramente santificados a tentação
vem somente de fora e o tentador não encontra aliado servil dentro do coração.
Isto não quer dizer que o cristão inteiramente santificado não possa ceder à
tentação e ao pecado. Ainda é humano e está num período de provação. O
caminho real de Satanás para o coração do homem sempre tem sido através dos
desejos naturais e dos apetites humanos. Ele busca perverter estes para conseguir
meios ilegítimos. A libertação do pecado inerente serve para fortalecer os
baluartes da alma na hora da tentação e é um requisito indispensável para a vida
de vitória constante sobre o pecado e Satanás. Bem-aventurado o homem que
suporta com perseverança a provação; porque, depois de ter sido aprovado,
receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam (Tiago 1:12;
Hb. 12: 11).

E. A Perfeição Cristã – Experiência Atual.

A perfeição cristã, tal como vimos, não é nada mais nada menos do que um
coração esvaziado de todo o pecado e ocupado inteiramente pelo amor puro para
com Deus e para com o homem. Como tal, é um estado que não só pode ser
alcançado nesta vida, mas é a experiência normal dos que vivem na plenitude do
novo pacto. E o resultado de uma operação divina do Espírito Santo, prometida no
Antigo Testamento e realizada no Novo pelo dom do Espírito como Paráclito ou
Consolador. O Senhor teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração de tua
descendência, para amares ao Senhor teu Deus de todo o coração e de toda a tua
alma, para que vivas (Dt. 30: 6). Eu vos batizo com água, declarou o precursor de
Cristo, mas... Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. A sua pá ele a tem
na mão, e limpará completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no celeiro, mas
queimará a palha em fogo inextinguível (Mt. 3:11-12).

Que estas passagens das Sagradas Escrituras se referem a uma limpeza espiritual
fica confirmado neste escrito de Pedro: E não estabeleceu distinção alguma entre
nós e eles, purífican do-lhes pela fé os corações (At. 15: 9). Com referência à
maneira de se realizar esta obra as Escrituras também são muito claras: é pela
simples fé no sangue expiador de Jesus Cristo. Este sangue não só é a única base
do que o Salvador comprou para nós, mas a ocasião daquilo que o Espírito opera
dentro de nós.
92

Quais são as condições para se receber a experiência da inteira santificação ou da


perfeição cristã?

1. A consciência do pecado inato, a fome e a sede da conformidade total com a


imagem de Cristo. Catharine Booth declarou: "Deus nunca proveu este dom para
qualquer alma humana que não tenha chegado ao ponto de dar tudo para
recebê-la". R. A. Torrey afirmou: "Ninguém jamais recebeu esta bênção enquanto
sentiu que podia viver sem ela". Inclui também cândida confissão desta
necessidade. Isto se reflete na declaração ulterior do doutor Torrey que diz: "Não
posso dar mais um passo no serviço cristão até que saiba que sou batizado com o
Espírito Santo".

2. A convicção firme na luz das provisões bíblicas de que não é somente um


privilégio, mas também um dever ser-se limpo de todo o pecado.

3. A submissão perfeita da alma diante de Deus, conhecida comumente, como


consagração. "Examina-te e consagra-te, reexamina-te e consagra-te outra vez até
que todo o teu eu seja posto no altar". Esta não é a consagração de algo mau mas
a oferta a Deus, incondicionalmente, daquilo que é bom. E inclusiva. Como o C. W.
Ruth indicou, esta consagração inclui "tudo que temos e esperamos ter; tudo o que
somos e esperamos ser; tudo o que sabemos e para que não sabemos, com a
promessa de um "sim" eterno a toda a vontade de Deus, por todo o futuro. Não é
consagração para uma obra, ou entrega para certa chamada, mas consagração a
Deus. Não é simplesmente um desejo de consagrar-se ou assentimento à
consagração, mas a entrega incondicional e irrevogável de tudo a Deus, agora e
por toda a eternidade". Não é um ato da sensibilidade mas da vontade. E
dedicação voluntária, sem reservas, irrevogável, iluminada e inclusiva à
consecução específica da santidade do coração.

4. Um ato simples de fé em Cristo – plena confiança n'Ele pelas bênçãos


prometidas. "A voz de Deus para a tua alma é: Crê e sê salvo. A fé é a condição, a
condição única da santificação, tal como é na justificação. Ninguém é santificado
até que creia; e cada homem, ao crer, é santificado" (Wesley, Obras, II, p. 224).

"Mas qual é aquela fé pela qual somos santificados, salvos do pecado e


aperfeiçoados no amor? Esta fé é uma evidência ou convicção divina de que (1)
Deus prometeu esta santificação nas Sagradas Escrituras. (2) É uma evidência ou
convicção divina de que o que Deus prometeu pode cumprir. (3) E uma evidência
ou convicção divina de que pode e quer fazê-lo agora mesmo. (4) A esta confiança
deve-se acrescentar mais uma coisa-a evidência ou convicção de que Deus o faz"
(Wesley, Sermões, I, p. 390).

F. Evidências da Perfeição Cristã

É o testemunho uniforme dos que crêem e ensinam a doutrina "wesleyana" da


perfeição cristã que o Espírito dá testemunho desta obra da graça no coração, da
mesma forma que dá testemunho da filiação cristã. De acordo com Wesley:
"Ninguém deve crer que a obra está feita até que se tenha acrescentado o
testemunho do Espírito confirmando a inteira santificação tão claramente como a
93

justificação... Sabemos por meio do testemunho e do Fruto do Espírito" (Wesley,


Relato Singelo da Perfeição Cristã, pp. 79, 118).

Narrações bíblicas da santificação de indivíduos ou grupos não deixam dúvida


alguma de que os que a receberam souberam com absoluta certeza que o Espírito
tinha vindo no Seu poder santificador. 0 ensino todo da Escritura revela que os
homens podem conhecer com certeza as realidades da salvação. Embora as E
ressaltem o testemunho do Espírito quanto à cristã (Capitulo XVII, Seção IV), é
evidente que santificada pode saber pelo testemunho do seu pr, espírito e do
Espírito Santo que o sangue de Jesus Cristo a purificou de todo o pecado. Temos
aqui o testemunho da consciência, do qual não podemos duvidar como não
sujeitamos à dúvida a nossa própria existência. Acrescenta-se a isto a evidência
direta e positiva do testemunho do Espírito Santo. Agrega-se mais a tudo o
testemunho direto de uma vida contínua de vitória através do poder do Espírito que
habita e do êxito crescente em produzir os frutos do Espírito (Gl. 5: 22-23).

REDENÇÃO: POSSIBILIDADE DE SEMELHANÇA COM CRISTO

"A santidade não é o caminho para Cristo, mas Cristo é o caminho para a
santidade."

Para que o homem seja aceite por um Deus santo, são precisos alguns meios para
o libertar do pecado e da pecaminosidade, trazendo assim reconciliação,
regeneração e restauração. A Palavra de Deus afirma que “o sangue de Jesus
Cristo ... purifica de todo o pecado" ( 1 Jo. 1: 7). O desejo de Deus em ter um povo
santo cumpre-se pela obra de Seu Filho sobre a Cruz.

A maneira como a morte de Cristo destroi o poder do pecado e traz nova vida,
ultrapassa a compreensão humana. Mas, quando os benefícios da redenção são
apropriados pela fé, tal facto torna-se uma realidade, segundo as declarações
ousadas das Escrituras, da fé cristã e da experiência.

Muita pregação e ensino têm falhado em relacionar com Cristo a doutrina bíblica
da santidade e santificação – o Seu sofrimento, morte e ressurreição. Isto explica,
em parte, porque tantos interpretam mal a vida santa, como se fosse constituída de
pressão e luta intensa, simples esforço humano; ou consideram a inteira
santificação como sendo uma opção na vida do crente.

A centralidade da Cruz, conduzindo à realização do propósito final de Deus, está


explicada eloquentemente pelo apóstolo Paulo:

“Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu
pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao
terceiro dia ... Nada me propus saber, entre vós, senão a Jesus Cristo, e este
crucificado ... Mas vós sois d'Ele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito, por
Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção”. (1 Co. 15: 3-4; 2: 2; 1: 30).
94

Através do amor reconciliador de Deus revelado em Seu Filho no Calvário, foi


recuperada a possibilidade de semelhança com Deus, ou semelhança com Cristo.
Foi estabelecido o novo concerto e iniciado o restabelecimento da imagem de
Deus. "Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas ja
passaram; eis que tudo se fez novo" (2 Coríntios 5: 17).

Na obra da redenção está incluída toda a Trindade. É consumada pelo Pai (1 Ts.
4: 3), pelo Filho (Hb. 13: 12) e pelo Espírito Santo (Rm. 15: 16). Embora todo o ser
de Deus esteja ativo em todas as fases da redenção pela qual a Divindade
compartilha a Sua santidade, para efeitos de estudo trataremos da atividade
redentora de Deus sob as epígrafes seguintes: (1) 0 plano do Pai; (2) a provisão do
Filho; e (3) a proclamação do Espírito.

O PLANO DO PAI

A iniciativa divina em resolver o problema do pecado do homem verificou-se na


Cruz, pois "Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo" (2 Co. 5: 19).
O que foi feito a nosso favor ultrapassou de longe qualquer estimativa e não pode
ser medido por padrões materiais. "Sabendo que não foi com coisas corruptíveis,
como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver ... mas
com o precioso sangue de Cristo ... o qual . . . foi conhecido ainda antes da fun-
dação do mundo ... por amor de vós" (1 Pe. 1: 18-20).

M. Baillie expressou vivamente a conexão entre o propósito eterno de Deus e a


redenção de Cristo: "Havia uma cruz no coração de Deus antes de se levantar
uma no monte fora de Jerusalém". A redenção não foi um plano secundário. Foi
concebida e concretizada desde a eternidade, no coração de Deus, com amor e
sacrifício.

A despeito de tudo que se possa dizer acerca de Deus, Ele não está isento de
sofrimento. Mesmo a "permissão do mal moral no decreto da criação foi-Lhe
custosa”. O Seu sofrimento não resulta da simples rejeição do Seu amor por parte
do homem, mas do desprezo deste pelo próprio Deus pelo Seu carácter santo. É
esta a conclusão evidente de Paulo: "Portanto, quem despreza isto não despreza
ao homem, mas sim, a Deus, que nos deu, também, o seu Espírito Santo" (1 Ts. 4:
8).

A. Fraqueza da Lei e dos Sacrifícios

Como revela o Antigo Testamento, a santidade de Deus fundamentava o Seu


procedimento com o Seu povo. Todas as declarações da lei, quer se referissem às
relações do homem com Deus, ou dos homens entre si, surgiram da santidade de
Deus ou do Seu desejo de ver a santidade no homem (Êx. 20; Lv. 19). A Lei
requeria santidade. Estabelecia: "Portanto, os meus estatutos e os meus juízos
guardareis; os quais, fazendo-os o homem, viverá por eles" (Lv. 18: 5). No entanto,
a pecaminosidade do homem apartou-o da presença do Deus santo e tornou-o
incapaz de cumprir os Seus santos mandamentos.
95

1. Funções da Lei

A lei ou mandamentos divinos, posto que bons e necessários não podiam afastar o
pecado e efectuar a reconciliação do homem com Deus. A lei foi benéfica
revelando o pecado do homem (Rm. 3: 20), mas era incapaz de dominar o pecado
e restabelecer a semelhança divina. Revelou os requisitos de Deus e a
incapacidade do homem em os satisfazer.

2. Precursores da Redenção de Cristo

A lei cerimonial, com os seus sacrifícios e ofertas pelo pecado, providenciou um


recurso temporário de reconciliação pelas transgressões do primeiro concerto, a
saber, o Decálogo ou Dez Mandamentos (Gl. 3: 19; Hb. 9: 7). Serviu como símbolo
de Cristo (Cl. 2: 16-17) e ensinou a necessidade de santidade e derramamento de
sangue como meios de remissão do pecado (Hb. 9:1-15).3 Embora os sacrifícios
exigidos pela lei não tivessem poder em si mesmos para expiar o pecado (Hb. 10:
1-4), apontavam, por meio da fé, para a eficácia do sacrifício de Cristo no
cumprimento dos requisitos da lei.

3. Essência da Lei

Jesus simplificou os mandamentos divinos com o Seu resumo do Decálogo:


"Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de
todo o teu pensamento ... E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu
próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos depende toda a lei e os
profetas" (Mt. 22: 37-40). Assim, o amor completo ou perfeito para com Deus e o
homem satisfariam o requisito de Deus quanto à santidade.

Porém, Jesus "sabia o que havia no homem" (Jo. 2: 25); que este, por si mesmo,
não podia amar como Deus queria. Portanto, este requisito foi ligado ao novo
poder vivificante para completar o que Ele viera trazer. A santidade seria possível
pela capacitação de "estar em Cristo”, o "segundo Adão" ou "novo homem".

4. O Novo Concerto e a Redenção

A redenção de Cristo estabeleceu o "novo concerto" de justiça e santidade


pessoal, apresentadas em Lc. 1: 72-75:

“... para manifestar misericórdia aos nossos pais, e lembrar-se do seu santo
conserto, e do juramento que jurou a Abraão, nosso pai, de conceder-nos que,
libertados da mão dos nossos inimigos, o serviríamos sem temor, em santidade e
justiça, perante ele, todos os dias da nossa vida.”.

Nem a morte de Cristo, nem os Seus ensinamentos anularam o antigo concerto (os
Dez Mandamentos), mas tornaram possível o seu cumprimento, como fora prome-
tido: "Porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as escreverei"
(Hb. 8: 10). "Os padrões do certo e do errado não mudaram para se ajustarem à
96

natureza do homem, mas a natureza do homem é transformada para se adaptar a


esses padrões. Neste sentido, é-se livre da [condenação da] lei."

5. Cumprimento da Lei

Paulo apontou a fraqueza da lei e o seu cumprimento em Cristo, bem como a


capacitação que sobrevém ao crente quando tal cumprimento é apropriado pela fé:

Porque, a lei do espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da


morte. Porquanto, o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela
carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo
pecado condenou o pecado na carne; para que a justiça [exigências ou requisitos]
da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o
espírito (Rm. 8: 2-4).

Pela obra redentora de Cristo, os antigos sacrifícios cerimoniais foram substituídos


por "um ministério mais excelente" e "um melhor concerto que está confirmado em
melhores promessas" (Hb. 8: 6). A lei cerimonial e os sacrifícios abriram caminho à
graça, "pelo que Deus ... pelo perdão gratuito e pela santificação, pela simples fé
no sangue de Cristo e pela agência direta do Espírito Santo, redime o homem e
adapta a ... [sua] natureza à vontade total e à natureza de Deus". A graça não é
simplesmente um favor imerecido de Deus para o homem, mas também uma
possibilidade concedida por Deus ao homem, capacitando-o para corresponder ao
padrão divino de santidade e justiça.

B. O Amor de Deus e a Cruz

1. O juizo Divino e a Remissão dos Pecados

A Cruz revela o juízo de Deus sobre o pecado, juízo este que resulta da Sua
santidade; e revela a bondade de Deus na remissão dos pecados, a qual provém
do Seu amor. A clássica afirmação bíblica, combinando estas verdades, pertence a
Paulo:

“Ao qual Deus propôs para propiciação [Jesus], pela fé no seu sangue, para
demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a
paciência de Deus, para demonstração da sua justiça, neste tempo presente, para
que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm. 3: 25-26).

Para que a santidade de Deus não fosse comprometida pela Sua oferta de
justificação (remissão ou perdão) e santificação, pelo Seu Filho Ele sofreu o
castigo do nosso pecado. Eis o supremo paradoxo da fé cristã - o próprio Deus
pagou em Cristo o preço dos nossos pecados!

2. Um Deus de Amor Santo

Deus não é apenas santo no carácter, mas também amor por natureza. A relação
entre o amor e a santidade de Deus tem sido assim declarada:
97

“A santidade fornece a norma para o amor e, portanto, tem que lhe ser superior
(isto é, logicamente antecedente). Deus não é santo porque ama, mas ama porque
é santo ... Tanto a santidade como o amor fazem parte da essência divina ... e não
podem ser separados, excepto em pensamento. Portanto, não consideremos a
justiça uma necessidade e a misericórdia uma opção, pois andam sempre unidas;
e na economia da redenção, a santidade e a misericórdia são supremas” (Wiley).

O amor e a santidade de Deus não são de modo algum opostos. 0 que a Sua
santidade exige, o Seu amor provê (1 Pe. 3: 18). 0 motivo da redenção encontra-se
no amor de Deus; e a vida e morte de Cristo são expressões desse amor.

“Porque Deus amou o mundo, de tal maneira, que deu o seu Filho unigénito ...
para que o mundo fosse salvo por ele ... Mas Deus prova o seu amor para
conosco, em que Cristo morreu por nós ... Nisto se manifesta o amor de Deus para
conosco; que Deus enviou seu Filho unigénito ao mundo, para que por ele
vivamos. Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a
seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará
também, com ele, todas as coisas?” (Jo. 3: 16~17, Rm. 5: 8; 1 Jo. 4: 9, Rm. 8:
31-32).

Cristo não é Alguém que pela Sua morte e intercessão poupa o homem da ira do
Pai. É Quem executa, livremente, a vontade do Pai. No Calvário, a "misericórdia e
a verdade se encontraram, a justiça e a paz se beijaram" (Sl. 85: 10).

A PROVISÃO DO FILHO

O motivo da redenção, de Deus oferecer Cristo como "propiciação pelos nossos


pecados" (1 Jo. 2: 2; 4: 10; Rm. 3: 25), é a presença, no mundo, da
pecaminosidade (pecado original) e do pecado como ato. Pela Sua morte e
ressurreição, Cristo destroçou os poderes do mal (Cl. 2: 13-15); desfez a inimizade
entre o homem e Deus, e dos homens entre si (Rm. 5: 11; 2 Co. 5: 18-19; Ef. 2:
14-16); e abriu o manancial da santificação para o gênero humano, possibilitando
uma vida de vitória sobre o pecado e uma vida santa dia após dia (Ef. 5: 25-27; Hb.
13: 12; 1 Jo. 1: 7).

Esse "dom gratuito" estende-se a todos os que crerem (Rm. 5: 18). Aceitar a
provisão facultada pela santidade e pelo amor de Deus conduz à vitória descrita
por Paulo: "Mas, agora, libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes o
vosso fruto para santificação e, por fim, a vida eterna" (Rm. 6: 22).

Ser reconciliado com Deus é apropriar-se, pela fé em Cristo, dos benefícios da


redenção, pela qual nos libertamos (a) da culpa do pecado; (b) do domínio do
pecado; e (c) do pecado inato.

O primeiro ocorre na justificação e adoção; o segundo, na regeneraçao (que é


simultânea à justificação com ele constitui a conversão ou novo nascimento); e o
terceiro, na inteira santificação (que cremos ser uma "segunda" obra da graça
"subsequente à regeneração"). A redenção de Cristo é o meio pelo qual a
reconciliação ou harmonia com Deus se torna realidade.
98

A. Redenção da Comunhão

1. Justificação

Ser justificado é ser perdoado de todos os pecados passados, por um acto


gracioso de Deus, livre da condenação ou culpa do pecado e aceite perante Deus
como se nunca tivesse pecado. Justificação é o que Deus fez por nós em Cristo.
Produz uma mudança de relação com Deus que proclama alguém justo. Porém,
Deus nunca o declara justo (justificado) sem o tornar justo. Pois para Deus, fazer
de outro modo, seria errar ou mentir.

2. Adoção

Como a justificação, a adoção é um ato de Deus, que se efectua independente de


nós e descreve uma mudança na nossa relação com Ele. "Pela justificação, Deus
recebe-nos na Sua graça; pela adoção, recebe-nos no Seu coração.” Enquanto
que a justificação supera o afastamento e a inimizade, a adopção aceita-nos como
membros da família e da afeição de Deus.

As bênçãos e direitos dos adotados são muitos. Se alguém é filho, então é


"herdeiro de Deus e co-herdeiro com Cristo" (Rm. 8: 17). Como filho, pode
reivindicar a propriedade de tudo o que Cristo possui e é. "Tudo é vosso" (1 Co. 3:
21). E, claro está, tem direito a uma herança eterna (2 Tm. 4: 8; Tg. 1: 12; 1 Pe. 1:
4).

B. Redenção do Carácter

Embora seja maravilhosa a nova relação descrita pela justificação e adopção, não
abrange todos os benefícios da redenção. Estes dizem respeito à reconciliação ou
redenção da comunhão com Deus. Por causa do cunho intransigente do pecado e
de Deus desejar ver santidade no homem, também deve ser possível uma
redenção do carãter, resultando em nova harmonia. Assim, somos admoestados a
"despojar-nos do velho homem" e a “revestir-nos do novo homem que, segundo
Deus, é criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef. 4: 22-24; Rm. 13: 14; Cl. 3:
9-11).

A redenção provê mais que perdão dos pecados e adoção na família de Deus. "O
fator principal na salvação do homem não é remoção da culpa, mas a
transformação do pecador num filho de Deus obediente." (F.C.Grant).

1. União com Cristo

A salvação encerra tanto um aspecto positivo como negativo. Na conversão o


aspecto negativo é o perdão e a justificação. Mas, positivamente, Deus propõe-Se
dar a Si mesmo e tornar-nos "como Cristo". A morte de Cristo na Cruz não é só
"por nós", mas é o modo de Deus operar "em nós". "Cristo em vós, esperança dá
glória" (Cl. 1: 27).
99

A vida divina deve fluir no povo de Deus como a vida da videira flui através das
varas (Jo. 15). 0 propósito da vinda de Jesus e do dom do Espírito é reproduzir em
nós a Sua própria vida. "Eu vim para que tenham vida, e a tenham com
abundância" (Jo. 10: 10). Cristo venceu a morte; e nós devemos apropriar-nos da
Sua vida!

O lado positivo da conversão é a regeneração, a participação da vida de Deus na


alma (Jo. 5: 21). Não há graus de justificação. Alguém é perdoado, ou não. Neste
sentido, ela é total, perfeita e completa. Mas com a regeneração ou "vida em
Cristo”, o "novo homem" (2 Co. 5: 17) começa – a ser possuído duma crescente
semelhança com Cristo.

Redenção é mais que desfazer a barreira do pecado, mais que um fim à separação
que o pecado provocou. Pela morte de Cristo somos incorporados no Seu corpo
espiritual, a Igreja. Existe uma "união nova, orgânica e espiritual com Cristo; assim,
num sentido que ultrapassa todo o entendimento, somos um com Ele".

2. Santificação por Cristo

"Cristo ... por nós foi feito ... santificação [santidade]" (1 Co. 1: 30). James Stewart
dá ênfase à relação entre a redenção de Cristo e a nossa santificação – o lado
positivo da nossa salvação: "Só quando a união com Cristo é central, é que a
santificação é considerada na sua verdadeira natureza, como a revelação do
próprio carácter de Cristo na vida do crente; e só então pode ser compreendida a
relação essencial entre a religião e a ética".

A finalidade de toda a santificação é destruir o poder e o domínio do pecado,


remover a condição pecaminosa que é auto-idolatria e egocentrismo, e moldar-nos
à semelhança de Cristo. Através da redenção a restauração – tanto da comunhão
como do carácter – é possível. Por ela "o nosso egoísmo pecaminoso é dominado
e substituído por viver para Cristo, e é restaurada a comunhão com Deus"
(Friedrich Buechsel).

A santificação, no sentido bíblico mais amplo, designa a cura completa, pela graça,
dos efeitos do pecado. O fato de não serem todos removidos imediatamente, mas
progressivamente e em diferentes etapas, não representa, de modo algum, uma
limitação do poder de Deus. Antes, diz respeito à capacidade do homem em
responder à graça divina.

Toda a santidade e santificação resultam da ação de Deus através de Cristo na


Cruz. Os termos "santidade" e "santificação", ainda que usados indistintamente,
não têm o mesmo significado. "Santidade", em relação ao homem, refere-se à vida
santa, à qualidade e fases de vida moral ou religiosa; "santificação" designa o ato
ou processo pelo qual alguém se torna santo.

A Escritura distingue três significados de santificação, os quais são obra de Deus e


pelos quais o homem se torna santo.

a) Santificação contínua - um processo completo. A palavra hagiasmos


(correntemente traduzida por "santificação" em várias traduções) aparece
100

numerosas vezes no Novo Testamento e indica progresso (Rm. 6: 19, 22; 1 Co. 1:
30; 1 Ts. 4: 3-4, 7; 2 Ts. 2: 13; 1 Tm. 2: 15; Hb. 12: 14; 1 Pe. 1:2). Refere-se à obra
total de Deus desde o primeiro momento de convicção (o despertar espiritual) até à
"semelhança" final (se podemos, propriamente, dizer "final"), à restauração da
imagem de Cristo. Em parte alguma se implica que este poder para uma vida santa
ou crescimento na graça (não "para" a graça), seja consequência de simples
esforço humano. "Aperfeiçoando a santificação no temor de Deus" (2 Co. 7: 1; Hb.
6: 1) em todos os aspectos da vida diária, sempre pressupõe a ação divina.

b) Santificação inicial (1 Coríntios 6). É a purificação da culpa interior do pecado


- a limpeza da regeneração. É a purificação do pecador, dos seus pecados antigos,
da impureza que acompanhava as ações pecaminosas. Todos os crentes estão
limpos dos seus pecados e libertos do domínio ou poder do pecado. A santificação
inicial ocorre simultaneamente com o novo nascimento ou regeneração e continua
através da vida cristã, até vermos Cristo face a face.

No momento da conversão dá-se uma transição definitiva, em que cada cristão é


inicialmente "santificado" ou tornado "santo". O verdadeiro cristão, desfrutando da
santificação contínua, procura conservar esta "nova relação"; e, sob a protecção
amorosa do Espírito Santo, dirige-se, normalmente, à próxima etapa do
desenvolvimento cristão na vida de santidade - a inteira santificação e a vida que
se lhe segue.

c) Inteira santificação. Pela fé, num momento, o crente é purificado do pecado


inato ou corrupção, e o coração é aperfeiçoado em amor (Jo. 17: 17-19; 2 Co. 7: 1;
Ef. 1: 4; 5: 26; 1 Ts. 5:23-24). Aqui, a ação de Deus começada na regeneração e,
mesmo antes, completa-se num “laço de perfeição" que une o crente igualmente a
Deus e ao próximo.

Quem é nascido do Espírito não se pode opor a esta purificação divina ou


afastar-se do alvo final de semelhança com Cristo. Pode esperar por mais luz –
obedecendo enquanto o faz. Talvez sinta relutância temporária em entrar na inteira
santificação, por ver claramente as implicações do seu compromisso inicial; mas
não pode, obstinadamente, resistir e, ao mesmo tempo, ser digno da "soberana
vocação de Deus em Cristo Jesus" (Fl. 3: 14).

É um erro limitar o nosso conhecimento da redenção à justificação do homem.


Abrange, além disso, a sua santificação, incluindo a purificação de todo o pecado,
a plenitude do Espírito Santo e a união constante com Cristo. O Dr. Ralph Earle
declara-o de maneira simples: "A vida santificada é a vida de Cristo ... se a Sua [de
Cristo] entrega total tornou possível a nossa Redenção, a nossa entrega completa
[rendendo a vida do "eu"] é o meio pelo qual tal Redenção se torna efetiva em
nós".

A PROCLAMAÇÃO DO ESPÍRITO

A conexão entre a redenção por Cristo e a obra santificadora do Espírito Santo


encontra-se nas palavras de Jesus: "Ele me glorificará, porque há de receber do
que é meu, e vo-lo há de anunciar" (Jo. 16: 14). O Espírito Santo torna real ou
101

atual no crente o que Cristo realizou pelo Seu sofrimento, morte e ressurreição.
Paulo, em 1 Coríntios 6:11, declarou-o deste modo. " Mas haveis sido lavados,
mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados, em nome do Senhor
Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus".

A. Novidade de Vida

1. O Dom do Espírito Santo

O Espírito Santo é o Agente da nossa nova vida ou novo nascimento (Jo. 3: 1-15).
Por isso é chamado o "Espírito de vida", livrando-nos da morte do pecado (Rm. 8:
2). O cristão começa a andar com Deus por meio do Espírito, como é apresentado
por Paulo no desafio aos gálatas: "Sois vós tão insensatos que, tendo começado
pelo Espírito, acabeis agora pela carne?" (Gl. 3: 3).

O Novo Testamento afirma explicitamente que o homem convertido recebe e


possui o Espírito Santo. Na passagem clássica da justificação (Rm. 5: 15), Paulo
anunciou que "o amor de Deus está derramado em nossos corações, pelo Espírito
Santo que nos foi dado" (v. 5). Falou do Espírito como "o Espírito de Cristo" e
declarou: "Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele" (Rm. 8: 9).
Apesar de todo o crente possuir o Espírito Santo, não se segue que o Espírito
Santo possua ou controle completamente todo o crente.

Não é incorrecto dizer que "o tema principal das epístolas paulinas é a santificação
da Igreja". A doutrina de Paulo sobre a santificação encontra-se em Romanos 5 a
8. Ensinou que, pela união com Cristo crucificado e ressurrecto, recebemos o
Espírito vivificante. O Espírito habita no crente como o Espírito santificante de
Cristo. O cristão não vive "na carne", mas "no Espírito" (Rm. 8: 9; Gl. 5: 25), que é
o penhor ou garantia da nossa ressurreição final com Cristo (Rm. 5: 15; 8: 18; 2
Co. 1: 21-22; Ef. 1: 13-14).

A vida do crente no Espírito abrange, pois, a sua existência em Cristo desde a


justificação até à glorificação. Há base no Novo Testamento para a doutrina da
santificação progressiva ou contínua, a qual inclui os momentos marcantes da
justificação e regeneração, inteira santificação e, finalmente, a glorificação no
último dia.

2. Começo da Santificação

Como vimos, a santificação (ou vida de santidade) começa na conversão. Por um


acto de fé o crente aceita o facto que na Cruz de Cristo morreu para o pecado
(Rm. 6: 1-2). o significado claro é que o poder do pecado na sua vida fica desfeito;
cessa de pecar e permanece sob o extraordinário poder da graça. O eu controlado
pelo pecado, o nosso "velho homem", foi "crucificado" com Cristo (Rm. 6: 6; Gl. 5:
28).

O Espírito Santo mostra pela Palavra o que Cristo fez a nosso favor. "Ele se
manifestou para tirar os nossos pecados" (1 Jo. 3: 5) e levando ele mesmo, em
seu corpo, os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os
pecados, pudéssemos viver para a justiça" (1 Pe. 2: 24). Pela Sua morte na Cruz,
102

Cristo não só tomou sobre Si o castigo que nos era devido, mas também nos levou
até à Cruz. Morreu como nosso Substituto e nosso Representante. Paulo declarou:
"Um morreu por todos, logo todos morreram ... para que os que vivem não vivam
mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou" (2 Coríntios 5:
14-15).

Precisamente como pela fé o crente é identificado com a morte de Cristo, assim


também pela fé é identificado com a Sua ressurreição. O crente também
"ressuscitou dos mortos [das ofensas e pecados], pela glória do Pai ... [para] andar
em novidade de vida" (Rm. 6: 4).

Esta "novidade de vida" é descrita como "novidade de espírito" (Rm. 7: 6),


andando "segundo o espírito" (Rm. 8: 4) e sendo "guiados pelo Espírito de Deus"
(Rm. 8: 14). É este o novo nascimento de que Jesus falou (Jo. 3: 3-8). Significa
tornar-se uma "nova criatura" em Jesus Cristo. "As coisas velhas já passaram; eis
que tudo se fez novo" (2 Co. 5: 17). Este é o princípio da santificação exterior e
interior.

B. Vida no Espírito

1. Os Crentes Devem Obter a Inteira Santificação

A santificação que se inicia na conversão não deve ser confundida com a inteira
santificação, por razões óbvias:

a) Os crentes são, por vezes, apresentados como sendo "ainda carnais" (1 Co. 3:
1-4) e, portanto, possuindo uma fé imperfeita (1 Ts. 3: 10; 4: 3-8; 5: 23). Paulo orou
para que fossem santificados "em tudo" (1 Ts. 5: 23).

b) O Apóstolo admoestou os crentes a considerarem-se "mortos para o pecado,


mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Rm. 6: 11); e, portanto,
para se apresentarem" a Deus, como vivos de entre os mortos, e os [seus]
membros a Deus, como instrumentos de justiça" (Rm. 6: 13).

2. A Consagração Completa É Condição para a Inteira Santificação

A palavra "apresentai" está no aoristo, o que indica um ato específico de


"submissão incondicional ao reino de Cristo". É o momento ou "crise" da inteira
santificação, na qual a natureza pecaminosa é iliminada do coração.

T. A. Hegre comenta acerca da natureza desta crise em que se desenvolve total


submissão a Deus: "Entregar-se é a negação de si próprio - não negação de
coisas, nem mesmo auto-negação (assim chamada). A negação de si próprio é
uma entrega [não uma capitulação] total e incondicional a Jesus Cristo - incluindo
todos os dereitos do eu".

Assim como Adão deixou de estar centrado em Deus criatura" em Jesus Cristo.
"As coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo" (2 Co. 5: 17). Este é o
princípio da santificação exterior e interior.
103

3. A Inteira Santificação É Mais que Consagração

Consagração é acção humana, embora só possível pela graça; a inteira


santificação é obra divina. Esta acção de Deus no crente, pelo Seu Espírito,
corresponde a "aperfeiçoar a santificação" (2 Co. 7: 1); a ser "santificado em tudo"
(holoteleis), inteira e perfeitamente (1 Ts. 5: 23); a ser "cheio do Espírito" (Ef. 5: 18;
3: 14-20); e a ser "irrepreensíveis em amor" (Ef. 1: 4; 5: 25-27; 1 Ts. 3: 13).

Jesus ensinou, com clareza, as condições que efectivam a Sua redenção em nós.
Disse: "Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e
siga-me" (Mc. 8: 34). As palavras "negue" e "tome" estão no aoristo, indicando uma
crise definitiva, um momento específico. A palavra "siga", porém, está no presente
contínuo, significando "continue a seguir-me" e indicando a natureza progressiva
da consagração e santif icação.

4. A Vida de Santidade Exige Submissão Contínua a Cristo

Seguir a Cristo diariamente inclui trazer os nossos corpos em sujeição total a


Deus. O corpo não é pecaminoso, mas tem estado sob "má administração". Agora
o corpo deve ser disciplinado e sacrificado, se necessário, para glória de Deus e
bem do próximo. Jesus falou em ceder a nossa vida a Deus para que dê muito
fruto (Jo. 12: 24), e Paulo exortou os crentes a "apresentar os seus corpos em
sacrifício vivo ... a Deus" (Rm. 1: 21).

A vida contínua de santidade ou aspecto progressivo da santificação é indicado


pelo tempo presente usado em Romanos 6:16 - "Não sabeis vós que, a quem vos
apresentardes por servos, para lhe obedecer, sois servos daquele a quem
obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?" Com
respeito à vida contínua no Espírito, W. M. Greathouse observou:

A vida "rendida" é uma vida posta, “momentoa pós momento", à disposição de


Deus ... É isto que Wesley, seguindo o exemplo de Jesus, chama "viver em Cristo";
e que Paulo pretende por "andar segundo [melhor, "no", isto é, não simplesmente
"de acordo" ou "em conformidade com”] o Espírito. (William M. Greathouse)

CONCLUSÃO

O pecado de Adão corrompeu toda a raça humana. Afetou a relação do homem


com o seu Senhor – e trouxe afastamento e morte espiritual; lesou a relação do
homem com o seu próprio eu – e causou culpa, condenação e corrupção; afetou a
sua relação com Satanaz – e acarretou escravidão e perda da liberdade espiritual;
atingiu a sua relação com a sociedade – e trouxe injustiça e iniquidade entre os
homens e entre as nações.

Estes problemas humanos fundamentais foram resolvidos na redenção de Cristo.


O magnífico plano de redenção por parte de Deus, levado a cabo no Calvário,
restabeleceu a relação divina – concedendo reconciliação, adopção na família de
Deus e nova vida; recuperando o verdadeiro eu – com perdão, aceitação e
104

purificação; destruindo o poder de Satanás e restabelecendo a capacidade ou


liberdade de amar dada por Deus; possibilitando a harmonia entre os vários
setores da sociedade, a paz com o próximo e o crescimento constante do caráter
cristão.

Por isso "Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da
porta" (Hb. 13: 12). E ”o nosso homem velho foi com ele crucificado, para o corpo
do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado" (Rm. 6: 6).
"Graças a Deus, que dá a vitória, por nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Co. 15: 57).

BIBLIOGRAFIA

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Wesleyanismo. Editora CNP;
✓ WESLEY, João. A Perfeição Cristã. Editora CNP;
✓ PURKISER, W. T.. Explorando a Santidade Cristã - vol. 1. Editora CNP.

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