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Título: A controvérsia na Igreja: da divisão a unidade e o

ministério de Barnabé
Ref.: Atos 11:1-30

I. INTRODUÇÃO:

Bom dia, meus irmãos e irmãs, Graça e Paz !

Hoje, nós iremos dar continuidade ao nosso estudo expositivo do


livro de Atos.

Para isso, irei tratar de fazer alguns lembretes importantes aos


irmãos e irmãs.

a. Primeiro: O que o livro de Atos é?

R: Uma ponte entre os evangelhos e as cartas do novo


testamento, é uma narrativa histórica cheia de nuances que se
não forem tratadas com a devida atenção podem nos levar a
prática e disseminação de desvios de sentido.

Logo, sempre que iniciamos a leitura de um trecho no livro


de Atos, devemos buscar sempre o real sentido do texto, fazendo
perguntas básicas como:

 O que está acontecendo aqui neste trecho?

 Quais os personagens estão envolvidos no


acontecimento narrado?

 Quando aconteceu o fato?

 Onde está si dando o episódio?

 Como ele ocorreu?


 E finalmente, por que, ou qual a causa, do
episódio ter ocorrido?

Quando aplicamos o método proposto e fazemos as


perguntas acima ao trecho de Atos 11:1-18, encontraremos
facilmente o princípio ou afirmação teológica abordada pela
perícope. Neste caso, vemos que se trata do início de uma
mudança na direção que Deus estaria promovendo em sua
igreja.
Como exemplo, vou usar o trecho final da exposição que o
Pastor Francisco fez semana passada de Atos 10. Ele, como
sempre, chamou nossa atenção para o fato de que o texto não
estava ali para estabelecer regras para a alimentação. Isso foi
feito por Moisés em Levítico 11: 4-31, e por Jesus em Marcos
7:18-19 e reafirmado Mateus 15:17-20. Pode até nos parecer,
inicialmente, uma mudança radical de visão acerca do tema,
mas não é. No primeiro, o foco do legislador era de manter a
saúde física do povo, já o objetivo do segundo, é de manter a
saúde espiritual. Jesus só trouxe o real sentido a Lei. Pois, os
legalistas judeus tratavam o que era físico, como espiritual.
Mas isso não é o tema de nossa exposição hoje. Agora, que
estamos cientes da linha base para fazermos a interpretação de
um trecho bíblico, vamos ao que o texto de Atos, capítulo 11 nos
propõem a ensinar.

b. Dividirei a exposição em 2 partes:

i. A primeira, do verso 1 a 18, onde trataremos da


unidade da igreja, da dádiva do Espírito Santo e
do Poder do Evangelho.

ii. Na segunda, trataremos do Ministério de


Barnabé. Discutiremos como a unidade gera
frutos positivos para o reino: missões, a
disponibilidade no serviço, a importância do
testemunho de vida na ministração do
evangelho, humildade e o resultado
extraordinário de trabalhar para Deus.

II. Parte 1: A unidade da igreja, a dádiva do Espírito Santo, o


status das religiões não cristãs e o Poder do Evangelho.

a. Verso 1:

A notícia chega. A Boa Nova chega aos gentios. Isso era para
ser tratado pela igreja como um motivo de grande alegria, Deus
estava com eles. A missão confiada a eles por Jesus estava sendo
cumprida! Mas, surpreendentemente, quando a informação
chega, verso 1, provavelmente acompanhavam Pedro, At 10:45, a
reação daquele grupo foi de questionamento? O mais curioso é
que, entre eles, havia apóstolos, homens que caminharam com
Jesus e presenciaram seus milagres. Tal postura por parte deles
deveria se inimaginável! Contudo, a impureza no coração do do
ser humano o cega! Provoca divisão! Como veremos no verso 2.

b. Verso 2:

Os que pertenciam à circuncisão confrontaram Pedro, como


se ele fosse responsável por aquilo que consideravam um
conflito. Não percebiam que eram eles próprios que estavam
provocando a discórdia. Isso também nos acontece no cotidiano.
Nossos filhos, pais, empregadores, colegas de trabalho
frequentemente fazem ou dizem algo que contraria nossa
percepção de certo ou errado, ou nossa vontade, e somos
tomados por um espírito de conflito, de contenda. Tal atitude
não é construtiva. Somos diferentes, possuímos visões distintas.
Jeffrey Jonhson, filósofo cristão, afirma que somos movidos por
nossa cosmovisão. Por isso, é essencial compreender de uma vez
por todas que a igreja de Jesus Cristo consiste na unidade em
Cristo entre diversas raças e culturas, sendo, sim, multirracial e
multicultural, o que é uma realidade que devemos aceitar e
começar a vivenciar, quer queiramos ou não.

c. Verso 3:

Eles não indagam; acusam-no de dois atos de transgressão:


a violação da Lei e das tradições judaicas. Isso nos mostra a
importância de sermos cautelosos em nossos julgamentos
enquanto igreja. Visualizem o sentimento daqueles homens,
repletos de conclusões precipitadas, mesmo sem ter
conhecimento de todos os fatos. Como mencionei
anteriormente, seus corações estavam corrompidos pelo
legalismo.

d. Verso 4

Pedro inicia sua defesa:

e. Verso 5:

Neste verso, temos um Apóstolo preocupado em relatar aos


seus pares os eventos transcorridos desde o princípio. Ele
demonstra o intuito de evidenciar que o Espírito de Deus lhe
impôs uma direção incontornável. Inicia sua explanação
afirmando que se encontrava em oração, realçando a
importância desta prática para o cristão. É curioso observar que
ele narra a transição para outro plano, descrito por Lucas como
um êxtase, durante o qual tem uma visão. A visão de um lençol –
chamado em algumas traduções de tecido, em outras de tapete –
remete, segundo muitos comentaristas, ao Talmit, o que
considero bastante plausível, pois é o artefato utilizado pelos
judeus para orar. Ele possui significado especial, atuando como
elo entre o espiritual e o físico. O narrador prossegue,
informando que o lençol está suspenso pelas quatro pontas,
simbolizando os quatro ventos, interpretados
contemporaneamente como a totalidade da Terra.

f. Verso 6:

Pedro observa, sobre o lençol, animais que a lei, no antigo


testamento, classificava como impuros, mas que Jesus havia os
declarado puros. O Espírito destaca e rememora a mensagem de
Cristo, a qual enfatiza que a contaminação humana provém do
interior do indivíduo. Tal ideia era contrária à dos circuncidados
legalistas de Jerusalém, que, em Atos 15, seriam veementemente
combatidos. Esse grupo começa a compreender que o desejo
divino, como Pai e Criador, é formar uma ampla e única família,
para a qual nos foi concedido o Redentor.

g. Verso 7:

Ele relata que sua ação não foi tomada por vontade própria,
mas sob a orientação do Santo Espírito de Deus. Não partiu dele
o desejo de ir ao encontro de Cornélio, mas ele apenas seguiu as
ordens recebidas. "Deus ordena: mata e come". Não se
apresenta como uma opção a ser executada a bel-prazer e de
acordo com o próprio entendimento; ao contrário, ressalta-se a
soberania divina.

h. Verso 8:

Ele chega a tentar recusar a missão, justificando-se, crendo


na adequação de sua própria perspectiva sobre como conduzir
sua vida.
i. Verso 9:
Deus utiliza o imperativo para trazer Pedro à realidade,
dizendo que não cabe a ele decidir e concretizar. E, novamente, o
alerta sobre a mensagem de Jesus. Não é Pedro, nem nós, que
devemos decidir o que fazer ou não. Se Deus é o provedor e
Jesus é o Senhor, seus servos têm que obedecer, sem mais. Caso
contrário, estaremos desconsiderando o Senhorio e a soberania
do nosso Deus, pois estaríamos presumindo que não foi Deus
quem nos proveu o alimento.

j. Verso 10:

E tudo se repetiu três vezes. Isso, para o judeu, tem um


significado imenso: é sinal de que o fato é permanente,
incontestável. Pois o número três para os judeus significa
permanência. A repetição da ação nas duas primeiras vezes é
considerada contestável, pois poderia ser atribuída à sorte. Por
outro lado, o dois na cabala judaica significa oposição, direita e
esquerda. Deus orientou Pedro três vezes e, em seguida, tudo foi
recolhido ao céu. O que podemos entender é que o assunto
estava encerrado e o que tinha de ser feito, foi feito por ele.

k. Verso 11:

Pedro relata que, após a visão, surgiram na casa onde


estava hospedado, em Jope, três homens vindos de Cesareia,
emissários de Cornélio, enviados por Deus.

l. Verso 12:

O Espírito Santo instrui Pedro a ir sem hesitar. Pedro


obedece. O grupo que acompanhou Pedro era composto por seis
pessoas que também estiveram presentes no momento em que
ele foi interpelado. Eles poderiam atestar tudo aquilo que Pedro
relatara. Isso é uma lição para nós: quando seguimos a vontade
de Deus, não temos nada a esconder. Devemos manter a
confiança de que o Senhor está nos protegendo.

m.Verso 13:

Uma revelação: Deus fala com quem Ele quiser, seja gentio,
judeu, brasileiro, português, civil ou militar, pois, como já
mencionamos e é necessário enfatizar, a igreja constitui-se em
unidade para resistir conjuntamente ao mundo. Com este
mundo, ela sempre terá de batalhar; contudo, em seu âmbito,
deve imperar a paz.

n. Verso 14:

A salvação advém por meio da palavra, um pensamento


que deve permear nossas mentes constantemente. Se alguém é
especial para você e ainda não encontrou a salvação, pregue a
palavra, seja por meio de atitudes ou verbalmente. Anuncie a
palavra de Deus para essa pessoa. Deus poderia ter levado a
salvação a Cornélio sem o intermediário Pedro? Sim, poderia,
mas o fez? Não. Por quê? O apóstolo Paulo revela em Romanos
1:16: "Não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus
para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu,
depois do grego."

o. Verso 15:

"Como ouvirão, se não há quem pregue?", o que me


remete à exortação feita pelo apóstolo Paulo. Pedro disse: "No
entanto, mal comecei a falar, o Espírito Santo desceu sobre eles,
assim como sobre nós no princípio". Dessa afirmação, extraio
duas lições: a primeira é que não é pelo muito falar, pois o
próprio Pedro realça que foi no início de sua fala. A segunda lição
é que é o Espírito que atua no convencimento dos eleitos de
Deus, e Ele o faz à Sua maneira e no Seu tempo; cabe-nos apenas
pregar e assim, fazer a nossa parte.

p. Verso 16, 17, 18:

Esta experiência é o batismo com o Espírito Santo,


concedido aos que optam por usar a fé e se arrependem,
caracterizando-se como um evento salvador.
Como observamos, Pedro afirma claramente que o presente
do batismo do Espírito Santo foi outorgado a Cornélio e sua
família, não por méritos, mas pelo favor de Deus. Ele
complementa a ideia, indagando: "Quem sou eu para resistir a
Deus?".
Resistir a Deus significa opor-se aos seus desígnios. Se Deus diz
algo, devemos obedecer, pois, como já mencionado, Ele é
soberano.
A despeito de Cornélio ser um soldado gentio e, conforme
vimos na semana anterior, um simpatizante do judaísmo, não
havia sido isso que levou a salvação à sua vida nem à sua família.
Cornélio recebe o dom do Espírito e do arrependimento e, com
eles, a salvação e o discernimento. Este é o processo que ocorre
até hoje com aqueles que creem em Jesus e na sua mensagem,
assim como sucedeu em Pentecostes.
Observemos novamente o que é relatado em Atos 10:45 e 47.
Cornélio necessitou ouvir o Evangelho, recebeu o dom do
Espírito Santo e, assim, adquiriu consciência e arrependimento. A
fé não difere de qualquer virtude que Deus nos concede.
Podemos utilizá-la assim como empregamos nossos talentos,
dons ou mesmo deixar de fazê-lo.

III.O ministério de Barnabé

a. Verso 19:

Percebemos que a divisão ainda persiste no seio da


igreja, isso é uma das tônicas do livro de Atos, que julgo ter sido
um dos alvos de Lucas ao relatar isso tantas vezes. Paulo, como
veremos mais a frente em Atos 15, irá combater isso de forma
ferrenha.

b. Verso 20:

Mas sempre existem aqueles que compreendem que o


dentro do evangelho tem que existir unidade.

c. Verso 21:

Lucas ressalta que com estes, a mão de Deus estava.


Com isso, o resultado do evangelismo está garantido.

d. Verso 22:

Uma igreja alerta e consciente! Esse é o desejo de Deus!


A igreja de Jerusalém envia seu melhor obreiro, um experiente
pastor, homem bondoso, um líder, um judeu helenista com um
bom testemunho e boa visão. Uma igreja missionária! Barnabé
era a pessoa certa para alavancar a obra missionaria entre os
gregos.

e. Verso 23:

Disponibilidade ao serviço. Barnabé não cria nenhum


tipo de obstáculo. Ele parte para a missão com o coração cheio
de alegria e confiança. Pregava e mantinha a igreja de Antioquia
alerta para a necessidade de manter seus passos firmes no
Senhor.

f. Verso 24:

Seu testemunho de vida era uma das formas com que


ele ministrava para igreja. Lucas diz que ele era um bom homem,
cheio do Espírito Santo e de Fé. E isso produzia efeito sobre a
comunidade. Aqui vemos a necessidade de nos esvaziarmos,
para que o Espírito de Deus nos preencha.

g. Verso 25:

A humildade de seu coração. Ele percebeu a


necessidade de alguém mais capacitado para acompanhá-lo e
como veremos nos próximos capítulos, abriu mão da
notoriedade na obra missionária em prol do reino. Ele já havia
investido em Paulo em Jerusalém quando todos os desprezavam,
percebeu valor no Judeu, cidadão romano, que tinha excelente
formação, articulação e oratória. Uma atitude que deve servir de
modelo para nós nos dias de hoje.

h. Verso 26:

Saulo é encontrado e levado a Antioquia. Trabalharam


os dois arduamente durante um Ano. O resultado veio. Resultado
este Extraordinário. Os discípulos passam a ser chamados de
cristãos. E vários são convertidos.

IV. Aplicação pessoal:

a. - Devemos estar atentos a promover unidade na


igreja,

b. - Precisamos compreender que a Soberania de Deus


nos leva a fazermos a vontade Dele,

c. - A verdade não é nossa, ela está em Jesus, na sua


palavra, logo, só haverá paz se nos mantivermos nela,
d. - Como crentes, temos o Espírito de Deus, por isso
precisamos dar em nossas vidas o testemunho de
Jesus,

e. - A humildade é uma necessidade em nossa vida,

f. - Temos o Espírito para anunciar o evangelho, seja em


práticas ou ministração,

g. - Precisamos dar primazia a Deus, fazemos isso como


Barnabé fez, estando disponível ao seu chamado,

V. Conclusão:

Ao refletirmos sobre Atos 11, somos confrontados com a


expansão da graça de Deus além das fronteiras do judaísmo,
tocando o coração dos gentios em Antioquia. Estamos diante de
um verdadeiro exemplo de como a igreja primitiva lidou com as
tensões do crescimento e a inclusão de novos povos sob o manto
da fé em Jesus Cristo.
A mensagem de Atos 11 é clara: o Evangelho não conhece
fronteiras. Como Pedro, que recebeu uma visão e foi
confrontado com a obra do Espírito Santo entre os gentios,
também nós somos chamados a expandir nossa visão e
compreender que o agir de Deus não é limitado pelas nossas
expectativas ou preconceitos culturais. A aceitação e integração
dos gentios na igreja, comprovada pela descida do Espírito
Santo sobre eles, simboliza a abertura do coração de Deus para
toda a humanidade.
Deus está ativamente trabalhando para derrubar as barreiras
que nos separam, chamando-nos para uma comunidade
caracterizada por amor, aceitação e diversidade cultural, mais
sempre com a visão que só há união em Cristo. Pedro disse: "Se
Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós... quem sou eu para
que possa impedir a Deus?" (Atos 11:17). Esta pergunta retórica
ressoa até hoje, incentivando-nos a reconhecer onde Deus está
trabalhando e unir-nos a essa obra, em vez de resistir a ela.
Assim, encerramos com um chamado à ação: que possamos
ser instrumentos da inclusão divina, promotores do amor que
ultrapassa as divisões étnicas, sociais e culturais. Que a
mensagem de Atos capítulo 11 inspire cada um de nós a sermos
mais como Cristo: acolhedores, amorosos e obedientes à
direção do Espírito Santo, contribuindo para que a igreja reflita
verdadeiramente a beleza e a diversidade do Reino de Deus.

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