Gosto de saber como os casais se conheceram. Por vezes são
histórias interessantes. O Fernando, um amigo meu casado há 40 anos, lá na juventude viu pela primeira vez aquela que seria sua esposa. Olhou bem para ela e disparou a pergunta: – Você quer se casar comigo? Ela, chegando em casa contou para a mãe que um rapaz desconhecido a tinha pedido em casamento, a mãe assustada perguntou o que ela tinha respondido: – Eu aceitei rapidinho, é um cara diferente e bonitão. Uma outra amiga me contou que era muito jovem e trabalhava em um escritório. Certo dia chegou um grupo de rapazes de outro departamento. Ela não os via, apenas os escutava conversando e se encantou pela voz de um deles. Falou que o coração parecia querer saltar do peito. Demorou um tempo para ver de quem era aquela voz, quando descobriu ficou pasma olhando disfarçadamente para o tal rapaz. Mas o que a fisgou de vez foi o fato de ele estar com o pé machucado. Ao vê-lo mancando se apaixonou na hora. Hoje eles têm quarenta anos de casados, filhos, netos e uma vida calma e feliz. Eu mesmo vi pela primeira vez a Eva na foto de um aplicativo de celular. Ela me seduziu de imediato. Havia centenas e centenas de fotos de mulheres no tal aplicativo, mas a Eva tinha algo completamente inexplicável. Nos casamos e essa história já tem quatro anos. Mas o encontro do Joaquim com a Anésia acho o mais inusitado. Soube da história quando estava em visita na casa da Ilda e do Dílson, irmã e cunhado da Eva. Eles vivem no interior de Minas em uma pequena chácara onde plantam quase tudo, criam porcos, galinhas e por aí afora. Conversávamos na cozinha principal. Nesta cozinha tem um fogão a lenha que fica aceso o dia inteiro. Um forno também a lenha e nas prateleiras, como toalha e enfeite, um plástico cujas cores, assim como tudo o mais, carregam um tom meio embaçado de fumaça. As madeiras do telhado sem forro trazem de leve a cor da fumaça. As chaminés do fogão e do forno funcionam muito bem, mas alguma fumaça sempre fica e dá esse colorido especial aos utensílios, paredes, móveis, etc. Ali, sentado na tal cozinha principal, o Dílson pitando um cigarrinho de palha e tomando um dedinho de cachaça, contou que trabalhou em uma fazenda e lá tinha um homem chamado Joaquim. Um sujeito baixo e forte – nesse ponto ele estica a mão indicando o tamanho da figura – o Joaquim vivia sozinho e os amigos, que trabalhavam na fazenda, insistiam em arrumar uma mulher para ele. Preciso explicar que o “mineirês” do Dílson associado a uma dicção pouco comum, dificultam um pouco o diálogo me obrigando a ficar muito atento, ainda assim às vezes perco parte da conversa e tenho que pedir para ele repetir: – Como é mesmo, Dílson? E ele explica melhor sem perder o fio da meada e nem o sabor do momento do caso. Pois bem: certo dia os tais amigos, eufóricos, afirmaram que encontraram uma mulher para o Joaquim. Ela vivia em uma cidade perto e era a cara dele, perfeita, explicavam. – Então “vambora buscá”, uai! Foi a resposta do Joaquim. E foram. – A mulher era “pingaiada”– diz o Dílson –, morava na rua. Eu abro os olhos em sinal de espanto: – Como assim morava na rua? Era mendiga? Ele respondeu com uma incrível naturalidade: – Ela vivia bêbada pelos bares e praças da cidade. Mas o Joaquim também era “pingaiada”, trabalhava na fazenda, mas estava sempre cheirando a cachaça. Passado o meu espanto ele continua a história dizendo que o grupo chegou na cidade já de noite e não achou a mulher nos lugares costumeiros. Estavam em três: o Joaquim e os dois amigos que conheciam a mulher. Passavam nos bares e perguntavam pela Anésia, todos na cidade a conheciam e alguns tinham fiapos de informações: – Bebeu aqui de manhã – dizia um. – De tarde foi para tal bar – respondia outro. E eles com uma lanterna procurando nos cantos dos becos e praças onde poderia se abrigar alguém. O Dílson contava e gesticulava mostrando como seguravam a lanterna e para onde seguia o foco de luz. Em dado momento viram em algum lugar um monte de trapos que parecia esconder uma pessoa. Chegaram perto, puxaram os panos e ao iluminarem o rosto viram que era a Anésia. O Joaquim, a esta altura, parecia hesitar, mas dizia que já que tinham ido era melhor levarem mesmo a mulher. Juntaram os três, pegaram a bêbada e puseram no carro. Eu boquiaberto com a história perguntei: – Porque o Joaquim ficou na dúvida? – Porque a Anésia era muito feia. Uma preta feia, muito, muito feia. Chegava a dar dó. Mas o Joaquim era um preto muito feio também. – Ele deu uma boa risada neste momento, enquanto levava o cigarro de palha à boca. – E daí? – pergunto ansioso pelo fim da história. – Levaram a mulher para a fazenda e ela ficou lá. – E deu certo? Ficaram juntos? – insisto. – Deu, uai! Eles têm um filho de 15 anos. Mas bebem um garrafão de pinga por semana.
Campinas, 11 de setembro de 2018
O Sidney Magal, em uma entrevista, disse que no auge da carreira
ele estava em um programa de tv em Salvador e havia um concurso com as 50 mais belas estudantes da cidade. Uma delas chamou a atenção dele e ele pediu para alguém chamá-la que ele queria falar com ela. O que ele disse foi o seguinte: você é a mulher da minha vida, quero que você se case comigo e seja a mãe dos meus filhos e vai ser eternamente o amor da minha vida. Ela contou depois que, ouvindo aquilo, pensou que ele era maluco, psicopata, que poderia pular no seu pescoço ali mesmo. Depois disso se encontraram três vezes e se casaram. Estavam à época da entrevista há 37 anos juntos, 3 filhos e muito felizes.