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Uilhrd ( ;Ccrti., itascido em 1926, Ioi prolessor


ntropohmg ima Universidade dc
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NEGARA
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oI)FIS (fCIaCamu1)5 'I'Iu' 1111',j,,t't(11Um of
(1)80), The Local Knowledge 1983) e Works and Lives (1988). 0 ESTADO TEATRO NO SEGUL() XIX
Neste peretirso Geert" desen\'(}IVCU umna 1wrspcCI i's a
OS lUn(IafllCfltOS
h1i'mUeflCU iCi (fLft VCi4) ref orumniam
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iiiflCOt11t e 010110 Ramada Curio


CciPcC3I' courdeliada pur Francisco
Sol DIFEL
o.io,o Ed.o.'
© 1980, Princeton university Press. Princeton, New Jersey

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Revislo: Fernando Milbeiro
Cornposiclo: Mario Esther - Gab. Fotocornposiça'o
linpresslo e -acabarnento: Tipografta Guerra, Viseu, 1991
l)e1xisito Legal n' 43871/91

ISBN 972-29-0250-I
NOTA DE APREsENTAcA0

Clifford Geertz conclui Negara afirmando que a poiftica é acção


sirnbólica. Nesta afirrnação resume-se não s6 o conteüdo teórico
desta obra como também o essencial do seu pensamento como
antropólogo.
Pouco conhecido no nosso pals, pouco traduzido (a sua obra
central, A lnterpretacio das Culturas, encontra-se em ediço brasilei-
ra), Geertz é urn marco fundamental da antropologia norte-
-americana pós-anos 60 e o pai das correntes hermenêuticas que
actualmente contestam e reformularn criticamente os fuadarnentos
epistemológicos, a prática e a escrita da Antropologia. Negara (1980),
no entanto, surge entre The Interpretation of Culture (1973) e Works
and Lives (1988), sendo o primeiro o livro em que Geertz expe a
sua antropologia interpretativa como forma de analisar a cultura,
e o (ltimo aquele em que analisa a retórica de célebres anrropólogos
como resultado da interpretaço (a do autor) de interpretacöes
(as dos informantes).

No seu ensaio Thick Descr:tion: toward an Interpretive Theory of


Culture (1973), Geertz afirmava que o seu conceito de culcura
e essencialmente semi6tico:

<Acreditando, tat como Max Weber, que o hornem é urn


animal suspenso por teias de signifIcacão por ele próprio
tecidas, vejo a cultura como sendo essas teias, e a arálise
dela não como uma ciência experimental em busca de leis,
mas sim urna ciência interprerativa em busca de sigriifica-
dos [ou sentidos; em inglês meaning)> (p. 5, tradução livre).

Esta linha de pensamento constituiu, nos fInais da década de


60, uma promessa de renovação na antropologia americana.
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Tanto G-eerrz como David Schneider, pioneiros da perspectiva <O que coloca a luta de galos a parue do decurso normal
interpretativa, haviam sido discIpulos de Parsons em Harvard, ten- da vida (.. -) não e, como a sociologia funcionalista defende-
do-se lançado a tarefa de defInir e analisar o ><sistema cultural>> que na, o facto de reforçar as discriminaçoes de status (..), rnas
este inclufa na sua teoria abrangente; ao faz&-lo, porém, o corte antes o facto de que fornece urn comenrário metassocial
corn o funcionalismo concretizou-se, já que a análise das <<coisas sobre a questo de adsctever os seres humanos a ranks
culturais>> remete necessariamente para o campo da amlise simbólica. hierárquicos fIxos e, depois, organizar quase toda a existên-
A antropologia interpretativa, contemporânca do triunfo do estru- cia colectiva em torno dessa adscricao. A sua funço, se se
turalismo de Levi-Strauss na Europa continental, partithava corn Ihe quiser chamar assirn, é interpretativa: é uma leitura
esce a influência da linguIstica; ms clistinguia-se dde pot via das balinesa, uma estória que contam a si próprios sobre si
suas raIzcs na fenornenologia, na Versteheric/es Soziologie de Weber, prCprios>> (p. 448, traducão livrc).
na conceptualizaçao das Geisteswissenschaften de Dilthey, na herme-
nêutica e, em parte, na aniise crItica rnarxista. Dc modo a conseguir descrever e analisar eventos como a luta
Para Geertz, a verdadeira rnisso da antropologia não é a ob- de galos (ou instituiçöes como o negara) e interpretar discursos
servaço cornportamental das outras sociedades, mas sirn a corn- odes embutidos, como aquele sobre rank (tanto na luta de galos
preensão do <<ponto de vista>> que os seus mernbros detêrn. Sendo como no negara), Geertz defende que a descricao etnografica deve
assim, a acção humana não pode set devidarneate compreeridida, ser interpretativa: ela interpretará o fluxo do discurso social, con-
ou sequer descrita, se se tomar uma perspectiva objectivista (asso- sistindo numa tentativa de recuperação do dito desse discurso, arravés
ciada as ciências da natureza), já que acontecimentos idênticos do cia escrica e fazendo-o a urn nfvel rnicroscópico. Trata-se de urn
pot-ito de vista comportarnental podem assumir significados diver- verdadeiro projecto de etnografia, em que esta é vista jé não como
SOS em funcao da interpretaçâo do observador acerca das intençöes
colecçao de dados supostamente neutros (os dados <<brutos>, a recoiha
das pessoas envolvidas nesses rnesmos acontecirnentos. (primária> e oucras tantas ilusöes objectivistas), mas como expe-
riência intersubjectiva do antropologo corn os informantes, mais
No seu ensaio - porventura o mais influente nos rneios aca- tarde transposta a escrito pot mecanismos da retórica. E, alias,
démicos da antropologia —, Deep Play: Notes on the Balinese Cock- deste ültimo ponto da espiral de interpretaçöes que Geertz trata
fight (1972), o autor interpreta este ritual comunitário (uma luta no seu tilrimo livro, Works and Lives — the Anthropologist as Author
de galos de combate) como uma estória que as pessoas concam a (1988) sobre a escrita de Malinowski, Levi-Strauss, Evans-Prit-
si mesmas sobre si mesmas — uma maneira de os Balineses repre- chard e Ruth Benedict.
seacarem para si próprios, simbólica e publicamente, a agressão e Fiquemo-nos agora, porérn, pelo Negara. Esta obra é, funda-
a rivalidade que espreitam pot baixo da superficie serena da sua so- mentalmente, uma monografia etnográfica, descriço minuciosa do
ciedade. Vale a pena citar: todo estrutural de uma sociedade através da descricao das suas ins-
X 'ZEGARA NOTA DE APRESE\iTi1cAu XJ

tituicöes e relaçöes sociais. Dois objectivos, contudo, parecem torná- do ponto de vista filosófico, em pleuo século XIX, (<cheias de
-la numa obra de tipo diferente: por urn lado, trata-se de uma medo de fancasmas metafIsicos>>), sente-se Geertz na obrigacao de
incursão antropológica na história, através da reconstituição de o explicar. E assim encontrarnos o ponto de contacto entre a
uma formacao social do século passado e da instituição do Estado; antropologia incerpretariva de Geertz e a sua análise do poder
pot outro, tern implicica uma crItica ao pensamento ocidental simb6lico nesta monografia de Bali.
sobre a polItica e o Estado. Na opinião do autor, as ideias não são algo de mental cuja ob-
Socorrerido-se (ou dedicando-se a ela...) de uma intrincada e servação seria impossivel. São, antes, significados lmeaningl, veicu-
elegante retórica, o autor desenrola o novelo das formas simbdlicas lados através de simbolos, definindo-se estes como algo que signi-
e teatrais da politica tradicional; traz assim a luz do dia o aparato, fica. E, como cudo o que significa, são intersubjectivos, logo piiblicos.
a performance, o simbolismo polItico, o cerimonial, os mitos - Pelo que tanto discussöes como melodias, f6rmulas, mapas ou qua-
todos elementos que tern sido remecidos Para o campo da ideolo- dros são textos Para serem lidos, o mesmo se aplicando a rituais,
gia ou, quanto muito, encarados como meros mecanismos de mo- palácios, tecno!ogias ou formacoes sociais.
bilizacao social manipulados pelas classes dirigentes. Nesta cicada semiótica e hermeriêutica, Geertz destrói a opo-
Ao longo do livro, descreve e analisa, sobretudo, a linguagem sicão - canto do senso comum como da major parte da ceoria
do rank, da hierarquia. Para Geertz, essa linguagem formava o politica ocidental - entre simbólico e real, estético e prácico,
concexco para as relaçöes prácicas entre os principais tipos deactores decorativo e subscantivo. Para o autor, o real é tao irnaginado
politicos em Bali, permeando os dramas ou peças que em conjunto quanco o imaginário. Corolário: a politica é accão simb6lica.
levavam a cena, bern como o decor ceatral e os objectivos Para que
eram encenados. E assim que, para ele, o Estado balinês era, Ha uma estória que se conca muito nos meios antropológicos,
antes do mais, uma representacao da forma como a realidade se e que Geertz tarnbém conta nurna entrevisca concedida a urn ni.imero
encontrava organizada. da Harper's; uma estória que sinteciza não so o pensamento cricico
de Geertz em relacao a quaisquer fundamentos ültimos das socie-
0 argumento central, exposto na conclusão, consiste em de- dades humanas como também revela a heterogeneidade cultural
monstrar que se está perante uma concepcão alternativa de politica das explicacoes do niundo e da sua organizacão - quando mito e
e de poder: estrutura de acção, o negara era, também, uma estrutu- organização social se sobrepoem, como no caso do negara. A escária
ra de pensamenco. Peto que, descrevê-lo, equivale a descrever ideias. reza assim:
E nesce ponto que Geercz nos diz que, desde Wittgenscein, não Tim indiano diz a urn antropólogo ingles que o mundo está
deveria ser necessário afirmar que esta posição nao significa uma assente sobre as coscas de urn elefante, o qua!, pot sua vez, assenta
defesa do <cidealismo>>. Mas como - e aqui o autor faz a sua critica sobre uma tartaruga. Esperando chegar ao fundo da questao, o an-
azeda ao escado das ciências sociais - as ciências sociais vivem, tropologo pergunta:
XII NEGARA

-- E sc,bre o que assenta essa raruaruga?


- Sobre oucra tartaruga, sahi', - responde o Irdiario,
- E essa tartaruga
-- Ah, sahb, daI para baixc é sempre rarrarugas.
NOTA DO TRADL'TOR
Miguel Vale de Almeid:
Ant rot,o1oia Social, ISCTE.
Esta nota tern por objeccivo explicar algurnas opçöes romadas
na craduço da Neara, o Estado-Teatro, lace a quescöes cientIficas da
disciplina antropológica, as quais por vezes parecern, enganadora-
mente, set meras questöes Iingufsticas. Foi minha opçäo de fundo
não escrever notas de tradutor ao longo do texto, pelo que os aspectc.s
levantados na presente flora se aplicam a totatidade da obra e abordam
conceitos fundamentais do total desta.

As traduçoes de obras de antropologia envolvem unia ques-


ro paradoxal: por urn lado, não existe urna norma portuguesa ofIcial
para a traducao de expressöes e conceitos antropológicos gerados
em contextos acadérnicos quer anglo-saxonicos quer francofonos;
por outro lado o conhecimento anrropológico tern sido reproduzido
e criado em l'ortugal por pessoas formadas no estrangeiro, poliglo-
tas ou, tendo sido formadas em Portugal, <<enformadas> em modos
de pensar acadérnicos vindos de Iota; torna-se, pois, dificil recorrer
a critérios estandardizados, situacao que poderá no futuro vir a ser
resolvida pela Associaçao Portuguesa de Anu-opologia. Por outro
lado, e daqui o paradoxo, este mesmo vazio permite uma grande Ii-
berdade ao tradutor, a qual resulta em benefIcio ou malefIcio do
leitor consoante o grau de especializaçao antropológica daquele.

Traduzir Clifford Geertz coloca urn problerna adicional. Geertz


é conhecido, sobretudo no contexto da antropologia norte-arnerica-
na, como urn verdadeiro cientista-escritor. A sua rnanipulaçao da
lingua inglesa é rnais complexa, erudita, retórica, habilidosa e inclusive
<<charmosa>> que a da generalidade dos antropologos americanos.
Tendo sido graciosamente acusado de <<barroquismo>> na sua forma
de escrever, Geertz loge a regra académica (e também cultural)
forte-americana da simplicidade, da frase curta, do parágrafo curto,
do despojamento. Mas a sua escrita não deve set considerada caótica.
Antes, Geertz defende explicitamente o uso de urn estilo elaborado
NEGA PA NOTA DO IRADUTOR 9

próprio, por saber que a suposta auséncia de escilo é urna falcia (versus <h 1suória-ciência,) aparece tracluzido como <analfstico>> sern
objectivista e, afinal de contas, arriffcio recórico a;nda mais cri- diiivida urn neologismo de escranha sonoridade; deve-se cal opcão ao
ticável. Para o aucor de The Interpre:ation of CaL ares e de Works an facto de, em certas partes do texco, a autor urilizar <crónica>> além
Lives: The Anthropologist as Author (sobre a subjectividade e a recórica de <<anaIsrico>. Oucro neologismo é <dadicizado>' como tradução
da escrita antropológica), trata-se de assumir a indissolubilidade de de Indicized. Nas Notas, Geertz explica que ele próprio inventou a
forma e conceCido. Tentei, ao longo da traducao, manter a arquitec- palavra, dando urn riovo sentido a raiz desta, Indico, assim como
tura sintáctica e semâncica do pai da Antropologia Iriterpretariva e explica o conceüdo exacto do conceito.
Hermenêutica dos Estados Unidos. conceito de descent foi traduzido como <cdescendência>>; traca-
-Se de uma opcão polémica, já que na tradicao anglo-saxónica se
São dois os conceitos que optei por manter no ingls original, distingue descendência de filiaçao, conceptual e descritivamente,
aparecendo em itálico na versão portuguesa: rank e corporate (bern ao passo que na tradicao francesa nao. (Ver, sobre a quescao, o
como os deles derivados, como ranking e corporatelly). Estes dois Posfácio de Mary Bouquet a Parentesco e Casamento de Robin Fox, ou
conceitos, inürneras vezes utilizados ao longo do texto, são usados Os DomInios do Parentesco de Marc Auge.) Na actual antropologia
em inglês pela cornunidade antropológica portuguesa; formulados social portuguesa esta traducão é genericarnerite aceite, na medida
noutros contextos culturais, a sua expressividade semântica so per- em que o texto em causa explique a contexto da sua aplicacäo. Caso
deria corn uma tradução. Rank, que em português poderia aparecer diferente é a do conceito de jural, craduzido aqui como <<jurfdico>>,
como <<hierarcjuia> ou <estatuto' (e que as Casteihanos fixararn a falta de melhor, mas que deve set entendido como imbu(do de
como rango) refere-se, em inglês, a ambas as coisas: posicão compa- valores morais e de consenso cultural, e não como termo mera-
rativa numa qualquer hierarquia corn urn estatuto próprio, posicão mente técnico, como <<jurfdico>> pode levar a crer.
social, atributos, etc. Corporate, por sua vez, é urn termo de tal conceito de Clieniship aparece traduzido como <cClientelis-
forma saido dos referentes juridico-poifticos do mundo anglo-saxónico ma'>, estando implIcito que se reporta aos conceitos de <<relacoes
que só encontra traducaes infelizes em portugués: <<corporativo>>, patrono-cliente>> e de <<patrocinato>> aceites pela antropologia em
corn conotaçöes muito especiais na memória colectiva portuguesa, Portugal. Já em relação a customary (law, rights...), optei por usar
e a alcernativa <<corpóreo>, que me parece - pessoalmente - de- alternadarnente os termos <<consuetudinário>> e <ccostumeiro>>, in-
masiado irnbufda de metáforas orgânicas. Elaborado pela antropo- tercarnbiáveis e usados ora urn, ora outro, por razôes de estilo.
logia social britânica para classificar formas de associação polIcica, For fim, ha dois termos muito usados ao longo do texto que
jurIdica e parental de certos contextos ecriográficos, e descrevendo implicam, subtilmente, formas de relacoes sociais: hamlet e hou-
grupos sociais que agem como todos integrados, como <<pessoas co- seyard. Quanta a hamlet, optei por uma conciliacão entre a crirério
lectivas>>, é tradicional em Portugal manter o original. das formas de povoamento e o critério sociologico: <clugar>>. Quanta
a houseyard, optei pelo termo <<patio>>, por este sugerir ao leitor
Outros termos surgem no original de Geertz que foram português a realidade social, inceractiva, subjacence a descricao
traduzidos mas que requerem uma explicacão. Status é urn con- estritamente fIsica.
ceito-chave nesta obra (e, alias, no pensamento do autor): resolvi
mantê-lo, sern itálicos, pois parece-me suficiencemente aceice pelas 5. Por fim, ao longo do texto surgern frases em inglês colocadas
Ciências Sociais em Portugal e mais polissérnico que <estacuto>'. encre pârenteses rectos, a seguir a sua craducão. Traca-se, sobretu-
0 conceito de Sinking Status Pattern foi traduzido como Padrão de do, de cicacöes literárias ou ciencIficas a que Geertz recorre; e
Status Decrescente, tradução debatIvel mas que me parece dat conta explicadas nas riotas, pelo que a craducão porruguesa visa simples-
do significado implIcito. 0 termo analistic, usado por Geercz para mente facilicar a leicura e não pretende sobrepor-se a traduçöes que
referir aquilo que em Portugal se conhece como <<história-crónica> porventura já exisuarn. Certos conceitos, alguns deles ja referidos no
NEGARA

pouto 4, aquando da sua prirneira ocorréncia no rexto, e sá aI,


surgem craduzidos mas acornpanhados do original inglés entre
parêriteses recros. 0 exemplo mais flagrance seth por ventura a
trin0miop1ity/poiicy'po1iiics, que optei pot traduzir coma 40rmaqk
polItica/polIticas/po1ItCa>>. PREFACT 0
Quero exprimir o mcii agradecirnenro ao mc-u colega Brian
Juan O'Neill (1SCTE) pelas suas sugestOes quanta a craduço de
alguns conceitos. Este estudo propoe-se aringir váiias audiitcLs pein qce, u
esperança de que a vcnia a conseguir, fcc cooscruldo de forma a
Miguel Vale de Almeida poder ser lido de vários modos.
Antropologia Social/1SCTB Concretamerite, as notas foram separadas do texto de uma forma
muito mais abrupta do que o normal em obras rnonográficas; refe-
rem-se ao texto de forma solta, pot página e linha e não através de
notas numeradas; e assumem uma forma extensiva, conscituindo
muitas delas comentários gerais sobre assuntos levantados no rexto,
recensöes criticas relativarnente extensas da bibliografia adec1uada a
urn ou oucro ponco, ou mesmo rnini-ensaios sobre assuntos algo
tangenciais em relaço a narrativa central. Como resultado, o texto
foi escrito de modo a que qualquer urn - erudito, estudante ou
leitor genérico - inreressado nos estados tradicionais, teoria polItica,
análise antropologica, ou o que for, mas nao especialmente preo-
cupado corn as rniudezas dos estudos inclonésios, o possa icr corn
pouco, ou nenhum recurso as notas. A tese enconcra-se toda no
texto, juntamence corn o material empirico essencial que a suSten-
ta, libecta de apartes, chamadas, ou definiçöes so para iniciados. Pot
outro lado, qualquer urn - indólogo, estudioso do Sueste asiácico,
especialista balins - interessado numa visão circunstanciada da
base sobre a qual o argumento foi construldo ou em avancar mais
nalguris aspectos técnicos especificos, achará as notas de importhn-
cia crucial, uma vez que o assunto do JEstado balinês cradicional
nunca foi antes abordado de modo integral - na realidade, quase
nunca foi de todo tratado -, encontrando-se as materiais relevan-
tes muito disseminados, sendo de tipo variado e qualidade desi-
gual. A maioria dos leitores posicionar-se-á algures ao longo deste
continuum, entre a generalista e a especialista, tendo a organizacäo
pouco comum da narrativa e do comentário sido concebida para
ihes facilitar a leitura major ou menor do aparato acadérnico em
funcao dos seus próprios objectivos.
Urn trabaiho tao dernorado na sua feitura como este gera urn
'JE(.ARA

grande rnirnero de diividas. Os tneu principa's inforrnances baline-


ses aparecem cicadas nas notas e a minha grar.idao para corn des ê
incomensurável. De carte os que leram a manuscrico, devo agrade-
cer especificamerite a Hildred Geercz que tamhérn ajudou a coligir
o material, a James Boon, Shelly Errington, F. K. Lehman e Peter INTR0DucA0
Carey, embora eles sejam apenas representarivos dos muitos que me
ajudaram, no tendo de assumir responsabilidades especiais pot Bali e o A48odo Hicii5rico
serem mencionados. Mrs. Amy Jackson providenciou assistência de
secretariado invulgarmente extensiva, pela qual estou muico agra-
decido. Gostaria tambm de agradecer a Mr. William Hively da
Em ciência, o pecado capital é faer pergunras cua resposta
Princeton University Press pela sua assisténcia e conseiho editorial.
se sabe impossIvel, assim como em polIcica dat ordens que no
Finalmente, este trabaiho foi ajudado em vrias ocasiôes pela se espera serem obedecidas ou, em religiào, pedir a Deus o que
Rockfeller Foundation, pelo Committee for the Comparative Study se suspeica que Ele não data.
of New Nations of the University of Chicago, e pelo Institute for
Advanced Study, Princeton. R. G. Coilingwood

Princeton, Agosto de 1979


Quando se observa, de forma panorâmica, a Indonesia de hoje,
ela parece constituir uma sinopse imemorial do seii própnio passa-
do, do mesmo modo que as artefactos de diferentes camadas de urn
local arqueológico ha muito ocupado, ao serem espaihados sobre
uma mesa, resumem num relance milhares de anos de história
humana. Todas as correntes culturais que, ao longo de cerca de
trés milênios, aflufram sucessivamente ao arquipélago - vinidas da
India, da China, do Médio Oriente, da Europa -, tern algures a
sua representacão contemporânea: no Bali hindu; nas cbinatou'ns de
Jacarta, Semarang ou St.rabaya; nos baluartes islârnicos de Aceh,
Makassar ou das terras altas de Padang; nas regiöes calvinizadas de
Minahassa e Ambon ou nas católicas de Flores e Timor. 0 leque de
estruturas sociais é igualmente vasto e recapitulativo; Os sistemas
tribais malaio-polinésios do interior de Bornéu ou das Celebes; as
aldeias camponesas tradicionais de Bali, Java Ocidental e partes de
Samatra e das Celebes; as aldeias após-tradicionais, de proletaria-
do rural, das planIcies aluviais da Java Central e Oriental; as a!deias
de pescadores e contrabandistas orientados para a rnercado, nas
costas de Borriéu e das Celebes; as apagadas capitais de provmncia
e as pequenas vilas da Java interior e das ilhas Exteriores; e as
rnetrópoles gigantescas, desorganizadas e semimodetnizadas de
Jacarca, Medan, Surabaya e Makassar. 0 lecjue de formas económicas,
14 BALI E 0 METODO HISTORICO L\rrRoDuçAo 15

de sisrerna.s de estrarifieaçao ou d or'ganiz,aç.io do pareriresco é. Dcrnak, 13.incam, Aceh, Maassar e nea-Marararn -. referern-se
carnbem dc, vasro aricultorcs iuneranres em Bornéu, casca em
aOS participa:lces mais proerninerites de un. processo continua
Bali, macrilinearidade na Samacra Ocidentcd. No etitanto. clst
de tormaçio e dissoluçao de Estados, a qual so rer1Tfli0u corn 0
vasco conjunto de padröes culturais e sociaii, escá auseate urna cbs d>-<rnIriio hr.Landês (e, em alduicas partes do arquipéagO, sO no
institu4cs mais importarltus, seno a mais importante, para a for- presence sCculo). 0 desenvolvimento politi':o da Indonesia pré-cotcirlial
macao do carácter básico da civiliaçio indoésia; clesaparecidi de nao consistiu nurn desabrochar inexorável de urn <<despocismo
uma forma to completa que, perversarnence, confIrma a sua cen- oriental>> monolitico, mas antc numa nuvern em expansao de
tralidade histórica. Trata-se do negara, o Estado clássico da Indoné- pcquenos principados localizados, frágeis e vagameniè incer-rela-
sia pré-colonial.
cionados.
A palavra negara (nagara, nagari, negeri), importada do sânscrito
A carefa de reconscituir esse desenvolvimento C fundamerual
e signifIcando, originariamencc, <cidade", é urilizada nas linguas para quem se preocupe corn a coinpreensao do padrão politico canto
indonésias corn o significado sirnultâneo e comurável de <palácio>, da fase mndica como das fases islârnica, colonial e republicana que
<capital>>, <Estado'> e <<reino>> alérn do de <<cidade>>. No seu senti- ihe sucederam; coloca, porém, uma série de dificuldades, grande
do mais law, é a palavra que designa civilizacão (clássica), rerneteri- parre das quais artificialmente conscruidas. Näo sO os dados são
do assim para o mundo da cidade tradicional, para a alta cultura dispersos, pobremente apresentados e equivocos, como o modo de
que essa cidade susrencava e para o sistema de autoridade polIrica os interpretar - tarefa que tern estado sobretudo nas mãos de
superior nela conccntrado. 0 seu oposto é desa - tambérn uma filologos -, tern sido, salvo poucas e honrosas excepçães, extrerna-
palavra iinportada do sânscrito -, que significa, corn semeihante
rnente fantasioso do ponto de vista sociolOgico. Analogias corn a
flexibilidade de sentido, <<carnpo>>, <<regillo>>, <<aldcia>>, <<local>> e, Europa clássica, feudal e ate moderna, crónicas forjadas e a partida
por vezes, também <<dependência>> ou <<area governada<<. No seu incomprovOveis, bern coma especulacôes aprioriscicas em torno da
sentido mais lato, desa é a palavra que define o mundo - organi- natureza do <<pensarnenco iodonésio>', coriduzirarn a uma irnagern
zado de maneira tao variada em diferences parces do arcuipélago do mundo indico que - ainda que não desprovida de algurria
-, do povoado rural, do camponês, do rendeiro, do sühcliro poli- plausibilidade ou mesmo verdade -, se apresenca corn a aspecto
tico, do <cpovox'. Ericre estes dois pólos, negara e desa, definidos evidence das fantasias siscemacizadlas, o resultado da centativa de
por contraste müruo, desenvolveu-se a formaçiio polIcica clássica,
saber o que não se pode saber.
a qual, no contexto geral da cosmologia fndica transplanrada, A maioria dos especialiscas da Indonesia fnclica procurou escre-
assumiu a sua forma distintiva, para näo dizer peculiar. ver o tipo de histOria para a qual não teve, e certarnence nunca terá,
material, cendo negligenciado escrever o genera de hiscdria para a
qual a material exisce ou, pelo menos, se pode obcer. A história de
uma grande civilizacão pode ser descrita como uma sCrie de gran-
des acontecimentos, tais como guerras, reinados e revoluçâes, os
E impossIvel conrar o n1mero de negaras que existiram na quais, quer a cenham ou nao moldado, pelo menos marcaram as
Indonesia, sendo certamente da ordem das centenas e provavel- principais mudanças do seu percurso. Alternacivamente, pode ser
mence da ordem dos milhares. Desde o tempo dos mais ancigos descrica näo enquanto sucessão de dacas, locais e pessoas proemi-
escritos sânscricos, datados da primeira metade do século V, reinos riences, mas enquanto fases de desenvolvimento socioculcural.
de várias dimensöes e duracao ergueram-se, intrigaram, lutaram e, A ênfase no primeiro género de hiscoriografia tende a apresencar a
finalmente, incorporaram-se numa corrente regular e cada vez mais histOria como uma sCrie de perIodos estanques, uriidades de tempo
ampla. Os nomes mais ilustres - Mataram, Shaileridra, Shrivijaya, mais ou menos disrincas, caracterizadas por urn significado especial;
Melaju, Singasari, Kediri, Majapahit e, após a conversão islâmica,
represen tam A Ascensao dos Shailendras, A Deslocaçio para Oriente da
16 BALJ E 0 1'lET0D0 HiSTRICO !NyRoDucAc U'

c1uai
Civih'zaçao Javanesa ou A Qua'a d? Majapahi:. A segunda aborda- C. C. Berg, é uma escóna sobre res e os seus feitos, na
gem, pelo contrrio, apresenta a mudanca histhrica como urn processo encontramos observaçöes dispersas sobre elementos culturats. Eu
social e cultural relativamence ContIriUo, processo ease que mostra preferiria urns hsrória da cuirura € dos elernentos de civilização na
poucos ou nenhuns cortes rIgidos, revelando ames uma a!tcracao qual o leitor encoricrasse cornerltárlos dispersos sobre rei.'. E pre-
lenta, ainda que padronizada; embora as fases de desenvolvimenro cisarnence este cipo de hiscória que os documencos, inscriçöes e
possam set discernidas quando o decurso do processo é visto como textos do perlodo clássico, urns vez inrerpretados em termos de
urn todo, é quase sempre muiro diffcil, senão mesrno impossivel, processos ecológicos, ernograficos e sociológicos, nos permirern
apontar exactamente qual o ponro em que as coisas deixararn de ser escrever; no entanto, a excepção de alguris esforços fragmentários e
o que eram e se tornararn em algo de diferente. Esta perspectiva da aborrados, como os de B. K. Schrteke e J. C. van Leur, esca con-
mudança, ou do processo, em vez de colocar o acento na crónica tinl.ia por escrever.
analIstica daquilo que as pessoas fizerarn, acentua os padrOes for-
mais ou estruturais da actividade cumu.lativa.
A abordagern por perlodos distribui feixes de acontecimentos
concreros ao longo de urn continuum de tempo, no qual a distinçao
principal é entre <<anterior>> ou <<posterior>>; a abordagem do desen- Escrever este ültimo tipo de hisr6ria depende de forma decisiva
volvirnento discribui formas de organização e padroes de cultura ao da possibilidade de construção de urn rnodelo apropriado de proces-
longo de urn continuum de tempo, no qual a disrinção principal é si- so sociocultural; urn modelo que seja ao mesrno tempo conceptual-
multaneamente condicao prvia e consequência. 0 tempo é, em mente rigotoso e que tenha uma base ernperica, que possa set usado
ambas, urn elernento crucial. Na primeira é a linha ao longo da para inrerpretar os fragmencos ambiguos e inevitavelmente disper-
qual os acontecimencos estão fixados; na segunda é urn meio através sos do passado arqueológico. Ha vários rnodos de o fazer. Podemos
do qual se movem certos processos abstractos. socorrer-nos dos conhecimentos sobre oucras sequências de desen-
Ambos os tipos de historiografia são, naturairnente, válidos e, volvimerito, comparáveis mas meihores estudadas; neste caso, as
quando arnbos são possIveis, complementares. 0 curso de aconte- respe,icantes a America pré-colombiana ou ao ancigo Médio Oriente,
cimentos concretos, quando posto pormenorizadamente em crónica, por exemplo. Alcernativamente, podernos formular, corn base riuma
dá substância ao esboço esquemático da mudanca estrutural; e as sociologia histórica de largo espectro, tipos ideais que isolem os
fases construfdas da hist6ria do desenvolvirnento - que, em si, são craços centrais da classe de fenómenos relevanre - abordagem totnada
quadros para a percepção da história e nao segmentos de realidade famosa, evidentemente, por Max Weber. Podemos ainda descrever
histórica -, tornam inteligIvel o fluxo registado de ocorrëncias e analisar pormenorizadamente a estrututa e funcionarnento de urn
reais. Potérn, quando, como no caso da Indonesia Indica, o grosso siscema actual (ou recente) que julgamos ter pelo menos uma
das ocorréncias não e, pura e simplesmente, recuperável - por semelhança familiar corn aqueles que procurarnos reconscruit, ilu-
muito delicadamente que se leia nsa entrelinhas dos mitos e escri- minando assim o mais remoto corn a luz do que o é menos. Uti-
tos ou se intuam paralelos corn artefactos distantes -, uma tenta- lizarei codas estas abordagens complernentares, esperando poder
tiva de reconstrução de feitos particulares conduz, na meihor das corrigir as fraquezas de uma corn os pontos fortes de outra. Cob-
hipóteses, a controvérsias infindáveis (porque irresoliveis) em tomb catei, porém, a terceira, ou etriográfica, no cencro da rninha análise,
de questöes hipotéticas; na pior das hipóteses, conduz ao fabrico de canto porque me parece a mais relevante no caso presente, como
urna <<estória>' acerca dos tempos clássicos que, einbora pireça história, porque, sendo eu antropólogo social e não atqueólogo ou historia-
é na realidade urn olhar para a bola de cristal corn intuicos retros- dot, é aquela que melhor domino e a respeito da qual é mais
pectivos. provável ter algo de riovo a concribuir.
<<A história hindu-avanesa de Krom>', segundo comenrou Especificamente, consttuirei a partir do meu próprio crabaiho
18 BALI E 0 iVIETODO HISTORICO INTRODLJcAO 19

de cainpo e a partir da bbhografia, urn recrato circuastanciado da Uc1ads para as quas proves javariesas (ou cambojanas, ralandesas,
o1ganização esr.ital no Bali do século XIX, tentando depois esbocar birmaneSaS, etc.) possarn então ser procuradas. São cueis para a
a partir dele urn conjunto de linhas de orienração. ampias mas sub- ootnçao de hipdceses, mas inó.ceis como suporre de tas hipóteses.
stanrivas, para o ordenarnertc de, material pr- (- protc'-hiscáricc na uma vez consrruIdes. Talvez esre questão seja elementar Ma': rem
Indonisia em geral (e, para N desra, no Suesce asiárico Ind!co). sido ignorada mais vezes, e corn resuirados mais pelniclosos do que
Tern sido frequentemente realcada a aparente relevância de Bali qualquer outre maxima metodol6gica em reconstitwçoc antrO-
- o ültimo refcigio de cultura <<hiedu no arquipé!ago -; para pológicas -- não so na Indonesia, mac em geral.
urna cornpreerisão do perfodo Inciico na indonesia e, em particular, Em ter:ito lugar, mesno c1uando a nautação histórica da cul-
do seu centro, Java. Mas esta relevância tern sido também mal corn- tura balinese é tornada em linha de conca c C reconhecida a ausên-
preendida. De maneira a tornar claro de que modos o Bali recente cia de 15gica na cenrativa de provar teorias sobre Java corn dados
pode set usado para iluminar o passado distance da Indonesia (bern de Bali, torna-se ainda nccessCrio compreender que mesmo no século
como os modos como não pode), torna-se essencial afastar uma série XIV (para não falar dos séculos X ou VII) a Indonesia era social,
de falCcias merodologicas muito divulgadas. Trata-se de urn terrerio cultural e sobretudo ecologicamentc, tudo menos uniforme: mesmo
de ral maneira traiçoeiro que se deve clar cada passo corn urna corn a <conquista>> do Majapahit e tudo o mais, o Bali diferia da
deliberaçao obsessiva, avançando, tal como na alegoria javanesa, Java Oriental e muito mais ainda das regiöes indicizadas do arqui-
como uma lagarta rastejando sobre a água. pelago como urn todo. Pebo que, embora couvencidos de que urn
A primeira falakia a desacreclitar é a noçiio pela primeira yea padrão particular balinês - por exemplo, uma forte ênfase na es-
popularizada por Thomas Raffles, de que o Bali moderno e urn tratificação corn base no presrIgio - se verificava noutros pontos
<<museu> no qual a cultura da Indonesia interior pré-colonial [era da indonesia Indica não se pode excluir que assumisse exactamente
sido preservada intacta. Nan ha razöes para crer que Bali nao tenha a mesma forma exterior. A escala dos Estados balineses, apertados
mudado nos 350 anos desde a destruiçao de Majapahic (cerca de nos estreitos sopés do Sul, por exemplo, foi certarnente sempre
1520), apesar de rodo o seu isolamento em relaçao a corrente menor que a da mais espacosa Java, corn efeitos óbvios na sua
de desenvolvimento indonesia posterior a isiamização do resto do organizaciio. Mais, a orientaçiio natural da ilha para o sul e para o
arquipClago (urn isolamento que tern, também ele, sido por vezes craiçoeiro oceano fndico em vez de para o norte e para o tranquilo
sobrevalorizado). Pelo que é muito d(ibia quaquer tentativa de ver mat de Java, tornou-a quase totalmence marginal a elaborada econorn ia
a Java dos séculos XIV e XV como simplesmente tm século XIX mercancil internacional, a qual jogou urn papel crucial na genera-
balinês mais requintado. Qualquer que seja a utilidade de urn estudo lidade da economic do perfodo Indico. 0 rnagnIfico padrão de
de Bali para a história indonesia, esse estudo nao se pode basear no cirenagern em Bali, e o seu clima - talvez o mais ideal, em coda
pressuposto de que, por uma estranha sorte, a ilba tenha sido poupada a Indonesia para o tradicional cultivo sawah - tornou a irrigacao
a História. menos problemácica, teoricamenre e menos incerta sazonalmence
Em segundo lugar, deve-se reconhecer que a prova da existên- do que em qualquer parte de Java. E assim sucessivarnente. Os
cia de qualquer prática social ou forma cultural, qualquer costume dados sobre Bali devem set corrigidos em termos de tempo e em
especffico, crenca ou instituição em Java (ou outras partes do Sueste termos de lugar antes de poderem set usados como linhas de orien-
asiático Indico) deve assentar, em ülrima instância, em provas tação gerais para a interpretacâo da civilização fndica na Itidonésia
javanesas, cambojarias, ou quaisquer outras, e nio balinesas. 0 facto e noutros contextoS.
de os Balineses terem patrilinhagens enddgamas, sociedades de it-
rigacão e urn culto da bruxaria desenvolvido não constitui, em si,
a prova de que costumes semeihantes tenham existido na antiga
Java. A (mica funçao possIvel de tais faccos 6 a de sugerir possibi-
20 BALI E 0 METODO HISTORICO INTR.oDuçAc' 21

seu coritecco cultural, era ainda apenas urn exemplo de urn sisterna
de governo que cinha sido em tempos muiro mais exreriso. Corn
Como pode encão a ernografia do Bali recente Sec de todo titil base no material haliris pode-se, pois, construir urn mode!o de
para uma cal interpretaçao Em primeiro lugar, e embora a vida negara enqianco variedacle discinra de ordern polfcica, modela esse
balinesa tenha de facto rnudado de forma significativa entre os que pode enrão ser usado geralmente para alargar a OOSSa corn-
sculos XIV e XIX, a mudanca foi em grande parte end6gena. preensão da história do desenvolvirnenco da Indonesia Indica (Cam -
Especificamenre, não ocorreram em Bali dois acontecimenros revo- boja, Tailândia, Birrnânia).
lucionrios que transformararn radicalmente a ordem social e cul- Urn tal modelo C, em si, abstracco. Embora seja conscruilo a
tural noutros lugares: a islamizacao e a incensa dominação bolan- parcir de dados empfricos, dc é aplicado experimentalmence, e não
desa. Pelo que, embora a história da ilha não seja menos dinâmica dedutivamente, a interpretação de dados empIricos. E, pois, uma
do que a de oucras regiöes indicizadas do arquiplago, ela é mais entidade conceptual, não uma entidade histórica. Por urn lado,
ortogenética e muito mais compassada. Bali não terá sido, na segunda trata-se de uma representacäo simplificada, necessariarnence inexac-
metade do século XIX, uma mera replica do Bali dos meados do ca, e teoricamente tendenciosa, de uma instituicão sociocultural
século XIV, mas pelo menos verificava-se uma continuidade total, relativarnente bern conhecida: o Estado balinés do século XIX. Por
urn desenvolvimento razoavelmence regular. Resulta daqui que muito outro lado, trata-se de urn guia, uma espécie de projecto sociológico
do que foi apagado ou alterado de forma irreconhecfvel em Java para a construcao de representacöes - não necessariamente ou
e nas regiOes costeiras de Samatra, permaneceu em Bali. Embora sequer provavelmente idénticas a ele em estrucura -, de codo urn
não fosse urn fóssil cultural, esta ilha pequena e apertada era, não conjunto de instituiçöes de algurna maneira conhecidas mas presu-
obstante, a sernelhanca do Tibete ou do lémen, culcuralmente bas- rnivelrnente similares: os estados clássicos do Sueste asiácico Indico
tante conservadora. do século V ao século XV.
Em segundo lugar, ao renunciarmos a qualquer propósito de
escrever urn relato cronfstico do perfodo clássico, libertamo-nos do
principal incentivo para gerar fábulas históricas. Se não tentamos
usar o material etnográfico para reconstruir uma sequência enca-
deada de ocorrências particulares, uma <<est6ria de reis e dos seus
feitos, então a tentaçao de responder a perguntas scm resposta fica
poderosamence diminuIda. Se Kercanagara era urn simples bêbedo
ou urn santo intoxicado, se os Shailendras erarn uma dinastia java-
nesa dominando Samatra ou uma diriastia de Samatra dorninando
Java, ou Se a divisão pot Airlangga do seu reino se deu ou não -
todas estas controvérsias perduram na bibliografla cronIstica sobre
o perIodo Indico, não são o tipo de assuncos para os quais tenha
pertin&lcia uma análise da organização polItica em Bali. E verda-
deiramente pertinence, sim, para a compreensão da forma carac-
terIstica do estado indicizado na Indonesia, a estrutura intrInseca
da fortnacão polIcica clássica.
Esta afirmacao é verdadeira uma vez que, fossem quais fossem
as a[teraçöes que o Estado balinês sofrera ate 1906, pot muito
especial que fosse o seu eriquadramento ambienral ou divergente o
CAPITULO I
1)LFINIc10 POLITICA: AS FONTES DA ORDEM
0 rnüo do ce;iirc ex2mp1a

Em 1891, aquele que viria a set o üitimo de cerca de uma düzia


de reis de Mengwi - urn palatinado do interior de Bali a uns
quinze quilómetrcs a norte da actual capital de Den Pasar (ver
mapa 1) -, viu a sua capital cercada pelos seus dois tradicionais
inimigos, Tabanan e Badung, finalmente aliados contra ele. Corn o
seu exército desbaratado, os nobres em Fuga e corn as tropas de
Badung lideradas por uma comparihia, pecjuena mas terrivelmente
cornpetente, de atiradores mercenrios Bugis esperando as portas
da cidade, ele era urn rei de xadrez em fim de jogo, deixado sern
peöes e sem pecas. Já veiho, doente, e incapaz de andar, ordenou
aos seus servos que o transportassem na liteira real desde o palácio
em direcção aos invasores. Os atiradores Bugis, que tinharn estado
a espera de uma aparicão deste tipo, disparararn sobre os carrega-
dotes, tendo o rei caIdo desamparado no cho. Os soldados Badung
(na sua rnaioria da casta inferior Sudra) avançaram para o aprisio-
nat, mas ele recusou a captura, e des foram obrigados, por uma
questão de respeito, a rnatá-lo. Os sete reinos principais do interior
do Bali Meridional Tabanan, Badung, Gianyar, Klungkung,
Karengasem, Barigli e Mengwi - foram assim reduzidos a seis.
No entanro, a gloria dos vencedores foi saboreada por pouco
tempo. Em 1906 o exército holandés apareceu, por iniciativa prOpria,
em Sanur, na costa sul, e abriu a força o caminho ate Badung, onde
o rei, as suas muiheres, os seus flihos e o seu entorage marcharam
na direcção do logo das armas, no que foi urn esplendoroso suicIdio
em massa. No espaco de uma semana, o rei e o princIpe herdeiro
de Tabanan tinharn sido capturados, tendo porém conseguido matar-
-Se - urn corn veneno, o outro corn uma faca -, na sua primeira
noite sob prisão holandesa. Dois anos mais tarde, em 1908, este
CAPITULO 1 25

estrariho ritual repeciu-Se no Esrado mais ilustre de rodos, o de


Klungkung. a capical> nominal do Bali rradicional; o ret e a cone
rambém aI desfilaram em parada, meio extasiados, melo aturdidos
t
/:N. pelo ópio, desde o palácio e em direccao aos disparos hestrances dos
desorieritados holandeses. Foi, literalmerite, a morte da veiha or-
dem. Expirou como tinha vivido: absorta nurn espectáculo.
/1
k\
A natureza expressiva do Estado balinês foi nocória ao longo de
toda a si-ia hist6ria conhecida: e isto porque ao se inclinou para a
tirania, pot incapacidade de levar a cabo urna concentração sis-
temática do poder, nem tao pouco para a governacao, a qual exer-
ceu de forma hesitarite e indiferente, mas antes para o espectáculo,
para a cerimónia, para a dramatizacao p(iblica das obsessöes domi-
nantes da cultura balinesa: a desigualdade social e o orguiho do
status. Tratava-se de urn Estado-teatro no qual os reis e os prIncipes
eram os empresários, os sacerdotes encenadores, e os camponeses
actores, equipa cénica e püblico. As espectaculares cremaçöes, limagens
de dentes, consagracöes dos templos, peregrinacOes e sacrifIcios de
sangue, mobilizando centenas e mesmo milhares de pessoas e grandes
quantidades de riqueza, não eram meios para fins politicos: eram os
próprios fins, aquilo para que o Estado servia. 0 cerimonialismo da
corte era a força inotriz da polftica da corte; e o ritual de massas
r, não era urn dispositivo de apoio do Estado; pelo contrário, era o
Estado, mesrno no seu ültirno suspiro, que era urn dispositivo para
a realizaçao do ritual de massas. 0 poder servia a pompa e não o
contrário.
72
Por detrás desta, para nós estranha, relaçao invertida entre subs-
tancia e aparatos do poder, encontra-se urna concepção geral da
natureza e bases da soberania a que, por uma mera questâo de
simplicidade, podemos chamar a doutrina do centro exemplar. Esta
teoria afirma que a corte-e-capital é, sirnultaneamente, urn micro-
cosmos da ordem sobrenarural - <<uma imagem... do universo
numa escala menor>> - e a encarnacão material da ordem polItica.
Näo é somente o n(icleo, o motor ou o pivot do Estado; éo Estado.
A equivalência entre sede do poder e domiriio do poder, expressa
pelo coriceito do negara, é mais do que urna rnetáfora acidenral; é

WF
26 DEFLN1çAC) POLITICA CAPITULO I 27

a a6rrnacao dt Unla ideia poiltiL conrroldora a de que, pelo ataiou a SUO corte e oahicio - o seu ncp.arl
simpies acto de fornecer urn modelo, urn procótipo, urna irnagern ,. Seciprin,an, a a.rias atguns qnilómetrc's do local onci 0 senhor
irnpecávei da existncia civilizada, a corce moida o inundo i sua ba1jn<s da cabeça de porco er.:onrra o seu deal! ac fatal Corn a
volta riurna aproxtmaçao, mesnir, ejue rudimentar, cia sua pr6pr;a aji!Ja do sua forç.t carisfflatfta e de vdrios obje.:co s.igrados
perfeicao. A vida ritual da curie. como ahás a vida da corre em trazidos como herariça desde iMajapahc. Kepakisan cedo irnpôs
geral, 6 pois paradigmática da ordem social, e não apenas urn reflexo a ordem sobr(- a anarqoia. Em 1580 -- prossegUe a narrativa -,
desta. Ela é o refiexo sini, segundo os sacerdotes, da ordem sobre- a discórdia edodiu no ado do gripe rj, iando foi cornprovada a in-
nanaral, <o mundo intemporal dos deuses indianos", a parrir do sanidade <:Io herdeiro de Kepakisan ,cas:ra a sea irma corn urn
qLia! os hornens devern procurar padroriizar as suas vidas, proper- cavalo) peic' que foi dposto a favoc de on irrnão mais novc, o qua
cionalmente ao seu status. cr tão-somente diss(Auto. Por raz5e; CSplritUaiS a corte foi trans-
A rarefa crucial de legitirnacão - a conciliacão desca metafisica ferida para Gelgèl, imediatamente a sui de Klungkung, inauguran-
poiftica corn a real distribuiçao do poder no Bali do século XIX - do assirn o qee os Balineses considerarn rer sklo o seu perIoclo de
foi levada a cabo pelo mito; curiosamente, por urn mito de COiOflj- niaior grandeza. Perto do comcço do século XVII, uma rcbelio
zaço. Em 1343 os exércitos do grande reino javariês oriental do mais grave terá clissolvido compleramente a unidade da classe
Majapahic teriarn derrotado, perto de Pèjèng, os do <cRei do Bali", dirigente, estilhaçando o reino em fragrnentos. A corte principal
urn monstro sobrenatural corn cabeca de porco. Neste acontecirnen- deslocou-se para Klungkung, a urna mera rnilha de distância, e as
to extraordinário vem os Balineses a origem de tocla a sua dviii- outras cortes dos tempos rccentes - Baciung, Karengasern, Taba-
zacão e mesmo de si próprios, uma vez que, salvo urna mo-cheia nan, etc. - esp.lharam-se pelo campo, insralando-se de forma subs-
de excepcöes, vêem-se corno desceridentes dos invasores javaneses e tancialniente indepenclente daquela, embora continuando a reco-
não dos ur-balineses invadidos. A semelhanca do mito dos Pais nhecer formalmente a sua superioridade espiritual.
Fundadores [Founding Fathers] nos Estados Unidos ou do mito da Quaisquer que sejarn os elementos de historicidade desta lencla
Revolucao na Russia, o mito da Conquista Majapahit tornou-se a (a porte algemas tiaras arredondadas, acontecinientos csquemáticos
hisrória das origens, através da qual relacoes efectivas de comando persorlagens de repertorio, so muito poucos), cia exprime nas
e obedincia foram justificaclas e explicadas. <<'No princIpio foi imagens concretas de uma história <<tal e qual., a visão balinesa do
Majapahit"; para trás dele estende-se o caos de demónios e vilöes prSprio desenvolvimento polftico. Aos olhos dos Balineses, a funda-
sobre o qual o balinês pouco ou nada sabe.>> ção de urna cone javanesa, pnimeiro em Samprangan e depois em
Quanto ao que se seguiu, o balinês sabe-o, todavia, corn exces- Gelgèl (onde, ciiz-se, o paliicio estava concehido de modo a espclhar
siva preciso, e quase sempre de forma demasiado sistematizada. corn decaihada exactido o pal6cio do mais exemplar dos centros
A seguir a conquista, Gajah Mada, o famoso prirneiro-ministro de exernplares - Majapahit), criou não aponas urn centro de poder -
Majapahit solicitou a assistncia espiritual de urn sacerdote Brah- que já antes existira --, mas tarnbém urn padrão de civilização.
mana javanês para a pacificacao de Bali, a sua ilha vizinha caótica, A conquista Majapahit foi (e e) considerada como a grandc linha
porque sem dirigentes. Este sacerdote teve quatro netos semidivi- divisónia da histónia balinesa por ter afastado o Bali antigo, da
nos (o seu fllho casara corn urn anjo). 0 prirneiro foi nomeado por barbánie animal, do Bali renascente, o da elegância estética e do
Gajah Mada para rei de Blambangan, urn pequeno Estado da ponta espler.dor litürgico. A rransferência da capital foi a transferência de
mais oriental de Java; o segundo foi colocado no domInio de Pasu- uma civilização; tal como, mais tarde, a dispersão da capital viria
ruan, urn reino portuário na costa nordeste de Java; o terceiro (uma a ser a disperão da civilização. Apesar do facto de ambos serem, de
muiher) foi dada em casamento ao rei de Sumbawa. 0 terceiro, Ida certo modo, mitos coloniais, uma vez que comecam corn o estabe-
Dalam Ketut Kresna Kepakisan, foi enviado para governar Bali. lecimento de gente oriunda de terras estrangeiras mais cultas, a
Em 1352 este rei inventado, acompanhado por urn séquito de altos concepção balinesa do seu desenvolvimento politico não apresenta,
28 DEF1N1çAO POLITICA CAP1TULO 1 29

ao conrrário da americana, urna imagem do forjar de wna unidade derivava do do suserano, e assim sucessivamente ao longo da linha
a partir de uma diversidade original, mas sim a dis.soluco de uma descendente Toda a estrutura, porérn, assentava prirnariarnente via
unidade original numa crescente diversidade; não urn processo cerirnoflia e no prestIgio, tornando-se, como verernos, tanto mais
inexorável no sentido da boa sociedade, mas urn gradual esbarimen- frágil e ténue em real dominic poRtico e subordinação, quanto mais
to de am modelo clássico de perfeiço. alto se subia via pirâmide; dai que a outra comparaco que pode
surgir seja a de urn intrincado castelo de cartas, construIdo rank
sobre rank are atingir urn curne periclitante. 0 centro exemplar dos
centros exemplares ainda era Klungkung, herdeiro direcro de
Sarnprangan e Gèlgèl e, através deles, de Majahapit. Mas a sua
Este esbatimento é concebido como tendo acontecido tanto no imagem orientada de ordem encontrava-se refractada numa série de
espaco como no tempo. Durante o perfodo Gelgèl (cerca de 1400- centros menores, modelados a sua imagem e semelhança tal como ele
-1700), os vários soberanos das regiôes de Bali (Badung, Tabanari, o liavia sido a partir de Majapahit, cuja imagem diminufa de inten-
Blahbatuh, Karengasem, Bangli, Kapal, etc.), presumIveis descen- sidade ao difundir-se através deste meio cada vez mais grosseiro.
dentes de urn ou outro membro do cfrculo de nobres que acompa- Esta imagem no enfraqueceu apenas ao espaihar-se <horizon-
nharam o rei emigrante, terão vivido em palácios secundários, talmente>> via paisagern; também se prolongou <<verticalmente>> através
rodeando de forma ordenada o do rei suserano e descendente direc- das geracöes, como resultado de urn processo intrinseco de corrosão
to do próprio Kepakisan. Bali era, pois (em teoria e não de facto), cultural a que poderfamos chamar padrão do status decrescente
governado a partir de uma s6 capital, cuja organizaçâo interna era [Sinking Status Pattern].
uma expressão da estrutura geral do rei no, não s6 em termos espa- 0 padräo do status decrescente assenta na noção de que a
ciais como também cerimoniais, <<estratificatórios>> e administrati- humanidade descende dos deuses, não só genealogicamence mas
vos. Quarido se deu a revolta liderada pelo senhor de Karengasem, tambérn no sentido de ter urn valor intrInseco inferior. Terá decli-
O rei fugiu para a actual Bangli, no interior; os vários senhores (que nado corn ritmos diferentes, em linhas diferentes, através de vários
permaneceram leais, a excepção do senhor de Karengasem) recua- acontecimentos mundanos, terrenos e sociais, ate a mera humani-
ram para as suas regióes. Apos o esmagamento da revolta, o rei (ou dade, produzindo assim o actual, e extraordiriariamente complexo,
melhor, o seu sucessor) regressou, não para GelgèI, desacreditada sistema de ranking do prestIgio. Devido ao seu aparato Indico, este
do portto de vista espiritual mas sim para Klungkung, de modo a sistema é normalmente apelidado sistema de castas, mas em Bali é
recomeçar do zero. Os senhores outrora adjacentes ficaram, toda- mais rigoroso referir-se-lhe como sistema de tItulos ou de grupos de
via, nas suas regiöes. Corn o passar do tempo, o mesmo processo tItulo. 0 sistema fornece, pelo menos em teoria, urn status adscrito,
- segrnentação e separaço espacial, de parceria corn uma conti- inequlvoco e imutável (no respeirante ao indivfduo) posicionando
nuada deferência formal para corn a linha paterna - terá tambérn nurna hierarquia honorifica cada pessoa em Bali (ou, mais precisa-
ocorrido, não necessariamente de forma violenta, em cada uma mente, cada familia). 0 estatuto de cada pessoa, indicado pelo seu
destas regiOes e sub-regioes, produzindo a quantidade de cortes tftulo, é urn reflexo da história rnItica da sua linha paterna no seu
- grandes, pequênas, mincisculas e infInitesirnais -, que pon- percurso descendente desde a origem ancestral divina ace ao estádio
tuam a paisagem da história conhecida. menos augusto do presente. A diferença qualitativa em prestfgio
0 resultado fInal, isto é, a situação do século XIX, foi uma entre várias linhas (isto é, diferentes tIvulos) resulta das suas due-
pirârnide acrobática de *creinos>> corn graus variados de autonomia revives taxas de declInio; nern todos desceram ate ao rnesmo nfvel.
substancial e poder efectivo. 0 senhor suserano sobrepunha-se aos Ao contrário da casta de uma pessoa via fndia, o rank presente não
principais senhores de Bali, os quais por sua yea dominavam os é uma consequência das accöes praticadas em encarnaçOes anterio-
senhores cujo status derivava do seu, do mesrno modo que o seu res, mas sim dos meros acidentes de uma história caprichosa.
30 DEFINICAQ POLITZCA CAPITULO I 31

No que diz respeiro i liuha réuia halinesa, a eprs C) deste


padrão é io rnanfesra quanta Conscienternenre reconhecida.
A hnha começa, como todas as linhas hurnans, corn urn deu,
cujo rirulo 6, portnro, Batara. A desceridncia SegLie arrav.s de No ei-ipt). iscc nãa foi sencido como uma inc-viivel deerio
váriaa flguras .semIcivina que t€m o t(tUiO Mpu, ace a) pai do reç. uii dicliisio prcdesinado de urna Idad do Ouro. E certo
prirneiro tel javans de Bali, urn sacerdote Brahmana corn o rirulo cue alguns iritelectuais sofisticados invocaram, de urn modo cicsco-
Danparig. 0 rei, Kresna Kepakisan, porém, não permineceu nexo, o sKeffla iudico Mahayuga Cu dos eons>>, vendo o presenrC
Brahmana após a sua passagem pdra Bali, tendo descido urn furo>, como urn Kalivuga, a ültima e a pior des cjuacro grandes eras eies
para a status de Sarria, passando o seu tirulo Dangiang a ser Dalem do começo do urn novo ciclo; mas esra concepciio não patece rer
e ro Dangiang, tItulo esse que todos os reis Gèlgèl que se Ihe algurna vez sido importante, de urn modo gem!. Para a matoria dos
seguirarn também detiveram. Miss enquanto os seis primeiros clesces I3ahnescs a dcclInio foi simplesmence o modo como a história acon-
reis ascenderam directarnenre apás a morte ao mundo dos deuses, ceccu, e nao o modo como tinha de acontecer. Consequentemente,
sem deixarem cadaver urn processo conhecido por moksa, <de- os esforços dos hornens, e em particular os dos seus lideres politicos
sencarnação>, <libercaçao -, já o sétimo, durante cujo reinado e espirituaiS, näo deveriarn ser dirigidos oem no sentido de inverter
rebenrou a guerra civil que conclenou Gèlgel a queda, rnorreu de it história (o que é irnpossfve}, sendo as acontecimentos incorrigIveis),
matte comurn, mundana. Mais, ele foi o ültimo rei a ser chamado neal no de a celebrar (o que nao fania sentido, urns vex que cia nao
Dalern. 0 seu sucessor, e fundaclor de K!ungkung, chamava-se e mais do que uma sénie de recuos em relacão a urn ideal), mas no
Déwa Agung, urn tItulo mais haixo ainda, polo qual rodos os reis sentido de a anular - reexpressanclo direcramente, de forma irnediaca,
de K!ungkung foram subsequenrernence conhecidos. e corn a maior força e vivacidade possIveis, o paradigma cultural
Algo de semeihante se passou corn os reis <secundários>> oct que servira do onientaçao as vidas dos hornens de Gelgel a Majapa-
regionas. Como nao erarn descendentes do (originalmente) Brah- hit. Coma Gregory Bateson fez norar, a visão balinese do passaclo
maria Kepakisan mas sim de Saunas javaneses do seu entourage (os não C de modo nenhum verdadeirarnente histórica, no sentido prápnio
quais rambém haviam desciclo urn <<furo>> corn a rnudança), come- do termo. Corn toda a sua mtificacao explicativa, os Balineses
çaram a urn nIvel mais baixo logo a partida e tarnbém descerarn huscarn no passado nio tanto as causas do presente, como o padrão
subsequenternente, em graus vaniadcs e por razes variadas, in- polo qual o possam juigar; isto C, buscam o pacbrão imutável a
cluindo o seu <<erro inicial de terem deixado Ge!gel pare erguerem partir do qual o presente deve ser devidarnente rnodeiado mas que,
os seus próprios negaras. Os ran-ios terciirios que, por sua yea, deixararn por acidenre, ignorânciu, indiscipiina ou neg!igência, raras vezcs
os palilcios dos reis regionais para fundarem ouuros nas imediaçoes, C seguida.
tiverani cItulos ainda mais baixos. E assirn sucessivamente, are aos Bra esta conreccão quase escécica do presence, de modo a con-
nfveis inferiores da pequena nobreza. Assim, e se deixarmos por urn forrná-lo corn uma visão do que Iota o passado, a que os senhores
momenta de lado as detaihes etnográficos nem sempre consistentes tentavam levar a cabo corn as suas grandes cornposicöes cerimo-
ou bern compreendidos, o quadro geral é de urn declInio global em niais. Desde o mais pequeno ate ao mais elevado, des luravarn con-
status e poder espinitual, não só das linhas peniféricas, no seu tinuarnente por estabelecen, cada qual ao seu nIvel, urn cencro ainda
movimento de afasramento do ni:icleo da classe dirigente, como mais exemplar, urn negara autêntico; negara esse que, no podeudo
também do própnio niicleo a medida que as linhas penifénicas dele igua!ar ou sequer assemeihar-se a Gegel em brilho (e poucos de
se afastam. No decurso do seu desenvolvimento, a forca exemplar encre os mais arnbiciosos tinham esperanca de o conseguir), podia
do outrora unitário Esrado baiinês enfraqueceu no seu âmago a pelo menos procurar imitá-lo e assim recniar, ate certo ponto, a
medida que se desbastava nas suas margens. Pelo menos assim o imagem radiante de civilizaçao que o Estacbo ckissico tinha incor-
pensam os Balineses. porado e a degenerescência p6s-clássica obscurecido.
32 DEFINIçAO POLITICA
CAPITULO 1 33
Nesre senrido, a poifrica balinesa do século XIX pode set vista
sob a influência de duas forcas opostas: a cencrIpeta, do ritual exemplar como o areal, logo abaixo, negro de azevicbe, arqueatdo suave-
mente, como a rebordo enfarruscado de uma chaleira ggante.
do Esrado, e a ceritrIfuga, do escrucura do Escado. Por urn lado,
havia o efeico unificador do cerinionial de massas sob a liderança 0 ceriário - urna cascara de socalcos de arrozais C prateleras
deste ou daquele senhor. Pot outro, bavia o carácter inrrinseca- [larurais cobertas de palmeiras - C liliputiano em escala: Inuimo,
confortavelmente envolvente. Desde a grande caldeira do monte
mente dispersivo e segmentário da formaço polItica considerada
Batur ace Gianyar, que C aproximadamente o centro da regão,
como uma iflStituiçao social coricreta ou, se se quiser, como urn
3000 pCs abaixo, distam apenas vince e cinco milhas (vet mapa 1).
sisterna de poder como que. composto de düzias de governanres
independentes e semi-i ndependentes. Desde a curva de nivel mais alta onde C possIvel a agriculcura
0 primeiro, a elemento cultural, veio, como vimos, de cima intensiva de arroz de regadio (mais ou menos 2000 pCs) ate a beira-
para baixo e do centro para fora. 0 segundo, o elernento do poder, 4 -mar vão apenas quinze a vinte milhas para oesce (Tabanan), vinte
a vinte e cinco para o centro (Den Pasar), e dez a quinze para leste
cresceu, como verernos, de baixo para cirna e da periferia para o
(Klungkung). Transversaimente, de Tabanan atravCs de Den Pasar,
interior. Consequentemente, quanto mais amplo o akance a que
Gianyar e Klungkung arC Karengasem, são cerca de 60 milhas,
aspirava a lideranca exemplar, canto mais frágil era a estrutura
poiftica que a apoiava, pois via-se mais forçada a basear-se na alian- pela estrada serpenteada e inclinada feita pelos Holandeses; em linha
ça, na intriga, na adulaçao e no bluff. Os senhores, motivados pelo recta, cerca de trinta e cinco. Nesta area compacta, aproxirnada-
ideal cultural do Estado consurnadamence exemplar, esforçaram-se mente 1350 milhas quadradas no total, estão hoje (1971) apinha-
sempre pot alargar a capacidade de mobilizaçao de homens e dos 8017c dos 2 100 000 habitances de Bali, o que resulta em mais
de 15 000 par milha quadrada. Ha poucas razôes para crer que a
equipamento de modo a realizarern cerimónias maiores e mais
espléndidas e a construIrem templos e palácios rnaiores e mais seu padrão de concencração - nao, obviamente, a nfvel de popu-
esplêndidos onde realizá-las. Ao faze-b, codavia, jam directamente lação - fosse significativamente diferente no sCculo XIX e mesmo
contrariar uma forma de organizaçao poiftica cu;a tendência natural durante a major parte da hiscória de Bali. Se algurna vez houve urn
viveiro para o crescirnento de uma civilizaçäo singular, foi-o este anfi-
era para a fragmentaçao progressiva, especialmente sob intensas
pressöes no sentido da unificacão. Mas, contra a corrente ou não, teatro pequeno e aconchegado; e calvez não nos devamos surpreen-
debateram-se ace ao fim corn este paradoxo entre megalomania derse o que acabou par se produzir foi uma orqufdea deveras especial.
Não se trata apenas do facto de coda a região set de dirnensôes
cultural e pluralismo dos organizaçöes, e pot vezes corn algum
sucesso temporário. Não os tivesse o mundo moderno, arC certo dirninutas; alCm disso, ela encontra-se repartida pot uma sCrie de
ponto alcançado, ainda hoje estariam, sern düvida, debatendo-se gargantas fluviais rnuito Iundas, as quais, abrindo-se dos mania-
corn este dilema. nhas para a mar, dividern toda a zona de drenagem meridional nurn
conjunro de pequenas <<fatias de carte>>. E coma as povoacöes estão
enfileiradas ao longo dessas fatias, nos contrafortes estreitos entre as
A geograjia e o equilIbria do poder
gargantas, as comunicaçöes este-oeste (ou transversais) são bastante
Encarar a paisagem do Sul de Bali coma urn conjunto de so- mais dificeis do que as norte-sul, longitudinais. Mesmo hoje, urn
pés ou coma uma sucessão de zonas litorais, depende da posição hornern que viva nurn desses concrafortes achani mais difIcil, espe-
do observador: nas vercentes dos vulcöes, olhando para o mar, ou cialmente se transportar alguma coisa (coma é quase sempre a
na praia oihando para as vertentes. Se se estiver a meio caminho caso), descer ate a estrada, percorrer uma ou duas milhas para este
entre as duas consegue-se, da major parte dos pontos, olhar nas ou oeste e logo subir urn contraforte próxirno, do que abalançar-se
duas direcçoes e ver os cones elevando-se altaneiros, cinco a dez mil directamente através do terreno. (De carro, bicicleta ou carroça não
pes em direcçao as nuvens que estão imediatamente acima, bern the resca mesmo outra opcão.)
No século XIX, quando a estrada não existia, urn tal movimen-
34 DEFLNIçA 0 CAPITL1LO I i

to rrarsversii enbora no fosse i mpc'ssivel. pacer do total da ilha se reilecria quase iriscantanearnerice nos contex-
No Bangli de 1876, por exernplo, para vi3;ar as oico niiihas ari tos tiuus parouiais Do ponto de vista sociolOcico, a prirnazia da
Kh1n Z.kLtng era necessario passar por nada menos quo sece ravinas, luta polo poder 30 nI'el longitudinal (peqoena escala) sobre o trans-
profundas e sorn ponres; era mais fácil exporcar os géneros a'ravés versal ceve viiaS imphcaçoes para 0 carICLEr cia policica balinesa.
do f3uIlng, a umai serenta mu has a norre para Ia das roontanhas. Primeiro, obviamcnte, sigriificor: que - parrindo d<) priflcipio do
do que arrives do Karengasem, a cerca de vince miihas clirocca- screm do codo uniclades terricoriais - a nrioncação dos reinos do
monte paLl lesie. Mais a sot, perco da costa, o terreno menos ad - So! do Bali era sempre nc seondo norre-sul e näo este-oesco, con-
dencado, nivelanclo-se numa estreita clanIcie, a qua!, ainda assim, ferindo-Ihes a forrna do- urna faixa comprido e geralmente muicc'
nio e rora!menre chã. Mesmo assirn, urn senhor quo saIsse para escreita. Em segundo iugar, signifIcou qiiz a altitude, oo seja, a
visitar urn vizinho, muitas vezes achava mais sirnpies viajar are a posição ao longo da encosra, era o factor geográfico mais significa-
praia, pilotar urn barco de pesca ao longo da costa ace ao ancora- rvo no forrnaco das ideias que os senhores tinharn sobre a que era
douro apropriaclo e, enrão, dirigir-se de novo para o interior, ao a actuaçibo polItica correcta. E, em cerceiro lugar, significou que o
invCs de prosseguir irnediacamence por terra. No respeirance a contra de gravidadc politico de cada região se localizava cenclencial-
organização do Escado, o efeito cleste cipo de paisagem foi a esta- nience nas imediaçöes do p00w em que os monces começavarn a
belecirnenro de urn campo de forcas geopolIcico muito intrincado nivelar coot as planicies.
e nao homogCneo, cuja acçibo era tudo menos integradora. A poiftica, nesca dirnensão acima-abaixo, consiscia nurn esforço
incessantc da porte dos senhores sicuados mais perto da costa por
concrolarern (domescicarern é talvez a pa!avra apropriada) aqueles
sicuados mais acima, na ciirecção das moncanhas, e nos esforcos
Simplificanclo alga drasricarnence o quadra, pode ciizer-se que igualmente incessances por parte destes para permanecerem de facto
havia uma iuca constance no sencido longitudinal entre senhores independentes e para cercearern a poder dos que estavam imedia-
localizados mais acima, na direcçao das rnontanhas, e aqueles loca- camence abaixo. 0 inceresse a curco prazo dos senhores das cerras
lizados mais abaixo, na direccao do mar, luca essa pelo concroio de altas era sempre, pois, a fragmencacibo, pelo menos na generalidade
urn qualquer conjunto concreco de contraforces, bern como urna da rcgiibo; o dos das cerras baixas era a inregraçibo. Ou, posra de
luta no senricio transversal entre os parricipances melhor sucedidos oucro modo, a preocupacão corn a unidade regional e a seu inverso
nesras clispucas locais, comperindo pelo predornInio dentro da zona - indcpendência local ou sub-regional - variava corn a altitude
do drenagem no seu coda. Mas, a para complicar rudo de novo, os acima do nivei do mar. A parte uma ou ourra possIvel excepcibo,
dois tipos de pcocessos - urn, primIrio, de pequena escala e concInuo, codas as corres realmence podemosas de Bali no século XIX situa-
o outro secundário, de larga escala e esporádico - aconteciarn não yarn-se mais a sul, ao longo dos seus contraforces; e, a parce Badung
so em simultâneo como tambCrn de formna independence. A poiftica (a qual, para sua desvanragem, Sc encontrava mais longe, nas cerras
'<incernacionai> do combace inter-regiöes sobrepunha-se directa- baixas propriamence ditas), codas se situavam de forma quase exacta
mence - e inclusive fundia-se corn cia - a polItica <<dornéstica>> na curva de nIvel dos 350 pés, urn pouco acima da zona onde
da rivalidade intra-região; era posta em cena não entre urn conjunco começa aquilo a que se pode, corn alguma exaccidão, charnar uma
de Escados encapsulados, impérios-miniaturas, mas antes arravés de planIcie.
uma rede intacta de aliancas e oposiçöes que se esrendia irregular- 0 resulrado foi, pois, urn conjunto de espacos oblongos e inch-
mente sobre coda a paisagern. A polItica mudava em escala da base nados, paralelos uns aos outros, cada qual oscilando quase sempre
do sisrema para o seu vércice, mas não em natureza. Inclusive cerros entre urn escado de incegracibo pohicica razoaveimence claro - mas,
reajuscamencos politicos marginais podiam ter implicaçOcs alarga- como veremos, extremarnence complexo quando os senhores das
das, assim como qualquer rnudança significaciva no equilibrio do cerras baixas cinham a sicuacibo are certo ponco nas suas rnãos - e

il
36 DEFINIcA0 POLITICA
CAP!TULO 1 37
Ulri estado de no menos complexa quase arlarquia quando, corn
de born grado ajuda a uma rebelio das terras alcas que pudesse
igual frequéricia, no a tinham. 0 major poder dos senhores das
erifraquecer urn rival das terras baixas. 0 equilIbrio dentro de qualquer
terras baixas nao assentava num controlo major e mais vincado dos
reino era sempre, pois, delicado, ora inch jiando-se para a capital das
excedentes agrIcolas. Embora houvesse mais socalcos e mais genre
cerras baixas e para a iritegracäo, ora no sencido contrário e para a
por milba quadrada nas planIcies, os socalcos dos montes eram
fragmentacão. Como em tudo o mais acerca da organizaçäo do
meihor irrigados e mais produtivos. Havia sempre uma fraca cot.-
Estado balinês, tudo isto era uma questão relativa; a major parte do
relacao, e isto na nielhor das hipóceses, encre a riqueza de uma
tempo era discernivel em cada uma das regiöes alga que se poderia
região e o poder do seu senhor suserano; e a natureza da organiza-
definir minirnamente como urn reino centrado. Mas, como forma-
ço polItica, como cambém verernos, actuava no sentido de separar
çao poiltica, nunca foi mais do que uma alianca instável, urn arran-
<<propriedade>> da terra de <<propriedade>> dos homens, de modo
jo cemporário, corn tantas pessoas preparando a sua destruição quantas
que a correlacão entre riqueza e poder nâo era, normalmence, mais
as que trabalhavam para a sua manutenção.
nftida no interior dos reinos do que entre eles. Era a sua localizaçao
Se a luta longitudinal se movimentava para e desde a margem
crucial na rede de comunicaçöes o que, na major parte dos casos,
das planicies, a transversal movia-se ao longo dessa margem.
dava aos senhores das terras baixas a sua vantagem naquela que era,
0 centro de gravidade politico, que servia todo o Sul de Bali, tinha
inevitavelmente, uma situaço muito fluida.
cendência a deslocar-se na direccão do ponto a meio caminho no
Dada a topografia, a orla da planicie era o ponto estratégico
arco de Tabanan para Karengasem (ou seja, a volta de e em Gia-
para o controlo do trânsito este-oeste. A vantagem dos senhores si-
nyat-Klungkung), ocorrendo a mesma oscilaçao entre fragmencacão
tuados ao longo do arco Tabanan-Gianyar-Klungkung consistia na
e integracão a medida que o processo politico afluIa para esta zona
capacidade de estabelecerexn e manterem lacos tanto transversais
fulcral e, depois, reflufa para bra dela.
como longitudinais, levando as duas dimensôes, através da diplo-
Dada esta dimensão, o nfvel de integraçäo nunca atingiu valo-
macia ou da guerra, ate uma espécie de união frágil e, normal-
res significativos, pelo menos durante o século XIX. Qualquer mo-
mente, temporria. Quanto mais alto na encosta estivesse situada
vimento sério pela supremacia da ilha estimulava imediatamente
uma corte, maior era o seu isolamento transversal; quanto mais
urn poderoso contramovirnento entre prIncipes das terras baixas, e
abaixo, mais desenvolvidos os contactos transversais. Ao nIvel mais
os problemas enfrentados por urn potencial unificador eram infini-
geral, a poiftica balinesa era mais uma questao de geometria -
camente mais complexos do que aqueles que se colocavarn a alguém
geometria <<fisica>> - do que de aritmética.
cujas ambiçôes permanecessern regionais. Os prmncipes localizados
Na sua luta pela rnanutenção da independéncia (ou indepen-
mais perto do centro estavam sempre iriteressados em alargarem o
dência parcial: não é possfvel identificar uma verdadeira hegemonia
controlo, nesce caso 0 controlo inter-regional, ao passo que os
em qualquer parte do sistema), os senhores das terras altas pos-
localizados a este e a oeste estavam mais preocupados em manter
suIam alguns trunfos próprios. Primeiro, estavam estrategicamente
a independência. 0 grau de predornmnio de uma ou outta tendncia
localizados quanto ao sistema de irrigação e podiam transtornar, ou
em qualquer perlodo era urn reflexo do grau da capacidade dos
ameaçar cranstornar, o fornecimento de água aos localizados mais
vários prIncipes regionais de manterern mao firme sobre as suas
abaixo na encosta. Em segundo lugar, situados em terreno mais
areas. Quando os principados mais centrais eram mais fortes, ye-
acidentado, os senhores das terras altas possufam uma vantagem
rificava-se uma tendência para a multiplicacão de relaçöes crans-
natural quando era preciso resistir a pressöes militares; e, de facto,
versais; quando as mais periféricos eram mais fortes havia urn
nas altitudes mais elevadas existiam algumas cornunidades de
rnovimento no sentido da reducäo dessas relaçoes. Mas se intra-
camponeses, dedicadas a agricultura de sequeiro, para Ia do alcance
-regionalmente a balança se inclinava, ainda que pouco, a favor dos
efectivo de qualquer senhor. E, em terceiro lugar, o mais significa-
unificadores, ja inter-regionalmente ela se inclinava, corn mais
tivo: qualquer senhor imporrante de urn dorninio vizinho prestava
evidéncia, contra eles.
CAPJTLILO ! 39
38 DEFJNZCAO POLITICA

solene ptOpria da LUL:Ia tradicional.


e s re as:ef 0 CCfl n ItOnhi
Os Holandeses, que queriam, pelas habttuuis razOes airnniscrari-
as, deilni: de urna ye: per codas a f:onteira rirre dois pequenos
I
Em surna, urna visao geral da organizacâo polirica do Bali cássvc jriripacl:s, couvocararn Os princij:S cnn causa C pergunraram-lhc-s
onde se encoorravarn precisamente as fronreiras. Ambos concorda-
nto revela urn conjunco defliiido de Escados independentes, orga-
nizados de forma hierárquica, viricadamentc demarcados uns dos ram que a fronreira do principado A heave no ponco mais ion,cinquc
outros e envolvidos em <<relacoes extetnas>> através de fronreiras desd o qua1 urn homern ainda pudesse ver Os pâncaaos, e que a
bern desenhadas. Muito menos revela qualquer dorninaç.o abran- frohrei:a do principado B ficava no ponro mais longlncpio desde o
qual urn homem ainda pudesse ver o mar. Nio cinham des, eucLo,
genre pot parre de urn <<aparetho esraral unicentrado'>, sob a direc-
lucado jamais pela terra do meio, da qual no se podia ver nem o
ção de urn déspoca absoluco, <<hiciraulico>> ou nio. Revela sirn urn
tainrano hem o mar? <<Mijnhccr>>, respondeu urn dos velhos principcs,
carnpo excenso de lacos poifricos muiro dissemeihantes, engrossan-
<rinhamos razöes muito melhores para lutar urn corn o oucro do
do em nodules de vários tarnanhos e forças em pontos estrarégicos
da paisagem, logo adelgacando-se de novo, de forma a ligarem, de que esses rniSeráVeis monteS.>
urn modo maravithosamenre envolvence, tudo corn todo o resco.
Embota exisrissem faixas de fronteira entre alguns desres principa-
dos regionais pot vezes deixadas deliberadamente desocupadas,
mas corn mais ftequência cuidadosarnente infiltradas por espiöes e
agentes provocadores de codas as direccoes -, estas fronceiras i<não
erarn linhas clararnence definidas, mas sirn zonas de inreresse rnOtuo>,
no cram -as linhas MacMahon rigorosas da moderna geografia
polIcica>>, isolando urn <<pals>> de outro, mas sirn areas de rransição,
vazios politicos através dos quais sistemas de poder vizinhos <<inter-
penetravam de forma dinâmica.
Em cada ponto desce campo diverso e móvel, a luta era mais
pelos homens - pela sua defetêricia, o seu apolo e a sua lealdade
pessoal - do que pela terra. 0 poder politico era menos inerente
a propriedade do que as pessoas; era urna c1uesto de acurnu!açao de
prestigio, näo de território. Os desenrendimentos ericre os virios
ptincipados, cal como estão regiscados em édicos, tratados e lendas,
ou recordados pot informances, quase nunca tinham que ver corn
problemas ftonceiriços, mas antes corn delicadas quesröes de status
mcituo, de delicadeza adequada (a causa irnediata de uma guetra
importante foi uma carra indelicadamente endereçada, e acerca de
urn assunto insignificance) e de direitos de mobilizacao de corpos
especlficos de homens, e mesmo de homens especIficos, para o ritual
do Esrado, bern como, o que na verdade era o mesmo, para a
guerra.
V. E. Korn relaca urna anedota respeicance as Celebes do Sul,
onde os arranjos politicos se assemeihavam aos de Bali, e que acencua
CAP1TULO II
ANATOMIA POLfrICA: A 0RGANIzAcA0
INTERNA DA CLASSE DIRIGENTE
Grupos do descendência e status decrescente

A complexidade do equilIbrio do poder no Bali do Sul tradicio-


nal era correspondente a das instituiçöes em que assentava. A mais
elernentar delas era a distinçao radical e atributiva entre nobreza e
campesinato: entre aqueles cujos titulos Ihes conferiarn o direito
intrinseco a autoridade supra-aldeã e aqueles, cerca de noventa por
cento da populacão, cujos tIculos não comportavam tal direito. Os
primeiros, colectivarnente chamados triwangsa (<<três povos>>), con-
sistiam nas três <<castas>> (isto é, varnas) superiores: Brahmana, Satria
e Wesia. Os ültimos consistiam na quarta <casta>>, ou Sudra. Dos
primeiros, também referidos como wong jero, ou (aproximadamenue)
<os de dentro>>, provieram os lIderes de Bali. Dos ialtimos, w<mg
jaba, ou <<os de fora>, provieram os seguidores.
No enuanto, como de costume, a realidade da situação era muito
mais irregular do que este resumo simplista sugere. Em primeiro
lugar, nem todos os que tinham uftulos triwangsa, mesmo dos mais
elevados, representaram papéis politicos significativos em qualquer
perIodo. Uma distinçao vincada era feita entre aqueles triwangsa
que <<possuIam poder- (isto é, tinham o controlo dos insrrumenuos
reais de dorninaco) e aqueles que no o possularn; e enquanto os
primeiros recebiam deferência e obediência dos Sudras, os ültirnos
apenas recebiarn deferência. 0 crescimento natural da populacao
levou tendencialmente ao aumento do niIrnero de individuos corn
direito auribuIdo ao poder rnas sem acesso real a ele, pelo que muito
antes do século XIX a efectiva classe dirigente devia constituir
apenas uma minoria dentro da totalidade da nobreza. Não obsuante,
set urn triwangsa, urn wong jero, significava que se era pelo menos
urn rajá potencial; e todo o homem de casta alta, independenue-
42 4NATOAtiA POLITICA i'J T!J L 0 ii

rnnce da sua insignificãncia poiltica, esforçava-se para encontrar ceodencialmente endo'ânucos sendo o casamenro preferido aquLele
algurn tuar no Estado acravés do qua!, por via da incria, da corn urna prima pMriparaleia (isro é, para urn ego mascu!ino. a
lison.ja, do servço cicil ou de simples sorue, conquiscasse a aurori- filbia do irmão do pai). Em segundo Ioar. a forrnação de n000s
dade para a qual a sua heranca patrIcia o cornava teoricamenre 4 rupos a partir dos mais anigos nan resulcava da cisão desres. Este
elegIvel. processo, mais correcramence chamado difrerci.iço do qu€ seg-
Porém, nern mesmo esre quadro está COmplete Embora as Sudras mencação, deixava os grupos antigos incautos e inalcerados, nurr
näo pudessem rornar-se senhores, prIncipes OLL reis we senuido proc rio sencido global, pelas mudanças verificaclas no scO inucuer. F.
do cermo pois não podiam, dadas as suas incapacidadea macas, rerceiro lugar, esraf suhparces diferenciadas do rodo maoc ecaio
ser figuras verdadeiramerice exempiares -, consegularri, em cercos explicicamence hierarquizadas pela ordem do seil aparecimuico. 1st)
casos, desempenhar papéis cencrais na polIcica supra-aldci No ourro o seuc rank mudava, des!ocava-se, corn o csinpo e corn a criaçäo
excrerno, os Brabmanas, embora elegIveis para o status mais prcsti- de grupos recém-diferenciados: os anrigos subgrupos decresciam
gianre (inclependencemente do parentesco) em coda a cuirura bali- em status relativo a medida que os novos apareciam. 0 resulcado
nesa, o de sacerdote xivaIra (padanda), cram, a parte algumas excep- era uma escrucura hierárquica de grupos de descendência muico
çOes, cuidadosamente lirniradas, irnpedidos de forma siscerniItica de flcxIvel e, no entanco, bascante siscexnOcica, sobre a qual a real dis-
ascenderern aos organismos concretos de cornando. tribuição de auroridade polIcica podia assentar. 0 sisterna de ticulos
Em termos weberianos, os Sudras podiam alcancar o poder conferia !egicirnidade; o sisrema de parentesco dava-ihe urna forma
necessário para o estabelecimento da auroridacle efecciva, mas fal- social concreca.
rava-Ihes inevitavelmente o aparaco da qua1ificaço moral cambém A unidade básica desce sisrema - a quase-!inhagem a que os
necessário para um rat escabe!ecimcnro; ao passo que os Brabmanas Balirieses correncernente chamam uma cladia - compöe-se de todos
tinharn as qualificaçoes na sua coralidade, sendo de facto as mais aqueles indivicluos que são concebidos como clescendenres agnáricos
puras incarnaçôes da perfeiço cultural, não podendo porém alcan- de urn anrepassado comurn (no caso do nobreza, os descendences de
car o poder requerido. Apenas os Sarrias e os Wesias cram possui- um ou oucro dos imigrances Majapahir mais ilusrres). Quer pequc-
dores de urn dos elemencos e podiam adquirir o oucro de forma a na, como no caso dos rriwangsas scm poder, qucr muico grande,
obrerem genufna aucoridade, legicimidade subsrancial e tornarem- como no caso de linhas policicamence poderosas, cada dadia é uma
-se no pivot em torno do qual toclo o sisrema - sacerdotes, povo encidade corporate complecamenre aucOnoma. As dadias nunca são
e nobreza menos bern sucedida - girava. agrupadas em unidacles maiores, seja corn base na descendência, no
cerritOrio ou na <<casca>'. E, embora sejam, como veremos, rnuiro
diferenciadas no seu interior, são fundamencalmence inquebranráveis:
elas nunca se separam em segmenros independentes (pelo menos
em ceoria).
A segunda e mais importance instituição sobre a qual assenrava Em qua!quer região, sub-região ou localidade e, de facto, em
a organizacão do Estado era uma variedade do sistema de parences- Bali como urn todo, cram estas dadias que cornpetiam pelo poder
co pouco comum e talvez mesmo i:inica. Todos os membros dos e, ama vez assegurado esce, invocavam direitos ricuais para legici-
castas superiores se agrupavam em grupos de descendéricia agnática, mar a aucoridade. Quer consistissem em vince pessoas ou duzencas,
de força e tamanho variáveis, e aos quais se pode chamar lirihagens, elas cram unidades de organizacão do Estado irreducIveis e inceiras.
salvaguardando o facto de serem, do ponto de vista estrutural, muito Podiam expandir-se e contrair-se, crescer e diminuir, conquistar e
diferentes da !inhagem tal como é normalmente descrita na moder- colapsar; mas nao podiam nem cindir-se, nem fundir-se - a não
na literatura antropo!ógica. ser numa aliança insegura. A propensão do siscema das dadias era,
Em primeiro lugar, estes grupos não cram exogâmicos, mas sim pot isso, para o particularismo politico. Os próprios factores que
44 ANATO/vfJA POLITICA
CAPITULO II 45

Lornavarn o grupo forte - endogamia, indivisibilidade, capacidade


de caixinhas chinesas ericaixadas umas nas outras do que a uma
para o desenvolvirnento interno -, tornavarn difIcil e mesmo
árvore genealógica (vet fig. 1).
impossIveL a sua lnegração mats ampla nurna estruruta de descen-
No entanto, embora em teoria os grupos mais pequenos fossem
dêrtcia e comparcimentavam a forrnaçao polIrica balinesa nurn carl-
subordiriados aos maiores, de facto a aucoriclade encontrava-se dis-
junto de facçoes rivais de camanho, forca e complexidade estrutu-
tribulda no longo das linhas dos subgrupos. Tal como as dadias
ral variáveis.
comperiam pelo poder dencro de uma região, tambérn as subdadias
Internamente, a dadia era muiro menos simpies, pelo que a
- mais pequenas, mais entretecidas, cada qual procurando tomar
autoridade poiftica que o grupo como urn rodo podia aicançai- era
-se no foco interno da grancleza do grupo de descendnca
desigualmenre disrribuIda no seu Interior, de irma forma simuica-
compeciarn pelo poder dentro da dadia. Mas no passo que a concor
neamente intrincada e rigorosa. Quanro mais poderosa se tornava réncia, inerdadias näo era, em essência, regulada por insticuiçöe
uma dadia, mais diferenciacja se tornava a sua estrutura interna.
de descendência, uma vez que OS competidores não cram aparenra-
Quanto mais diferenciada se tornava a sua estrutura interna, mais
dos, já dentro da dadia era a competico muito cuidadosamente
pertinentes eram os problemas de integração que se the deparavam. reguiada. As reivindicaçöes de aucoridade dentro da dadia não pocliam
sucesso politico no exterior acarretava tenso pO1ItiCa interna.
ser deixadas ao acaso do jogo livre do combace politico, como uma
Quando uma dadia poderosa decafa, isso devia-se mais frequente-
mera iuta pelo poder entre faccoes autónomas, se se queria que a
mente a fraqueza interior do que a pressöes vindas de fora.
dadia fosse capaz de agir corn unidade e eficácia no palco politico
A medida que foram crescendo, as dadias desenvolveram dentro
mais vasto. A integração interna era sempre uma questão arriscada:
de si subgrupos da mesma ordem genérica que elas - isto e,
as partes ameaçavam constanremente engolir o todo. Se näo se tiver
conjuntos descontinuos de agnates, preferencialmente endógamos,
constituindo entidades coptrate ritual e politicamente ambiciosas.
Mas, embora corporate e independentes uns dos outros, estes subgru-
pos não cram considerados independentes da dadia-mãe, a qual
detinha superioridade jurIdica, moral e religiosa sobre eles. Em
caso de conflico esperava-se que tivessem primazia OS interesses do
grupo maior; a pertença ao subgrupo era considerada secundária e
derivada da pertença a dadia, pelo que os subgrupos não detinham
direito legal de negociar directamente corn grupos exteriores a
cia. Além disto, e em quaiquer dadia, nem todos os membros -
e, em muitos casos, nem sequer a rnaioria -, pertenciam a urn tai
subgrupo. Ao contrário de uma estrutura segrnentária, em que cada
indivIduo pertence a urn segmenro a cada nIvei de segmentaçao, a
pertença ao que podemos chamar <<subdadias>> não era extensiva a
todos os membros da dadia; pelo que uma dadia era uma colecçao
de membros desre ou daquele subgrupo e de membros aviilsos nâo
afiliaclos. Finalmente, ocorria ainda por vezes urn terceiro nIvei de
diferenciaçao, nas dadias maiores e mais importances, no qual se £ Afl,epSAdO &,nd4or
== Dd.. Subsub,hd,
formavam subgrupos (<<subsubdadias>>, por assim dizer) dentro das Fak,do
A V,vo
subdadias, assumindo a mesma relaçao corn eias que a das subda- S,n, dcc,ndtnci (mAAcu1in)
dias corn a dadia. A estrutura total asserneihava-se mais a urn conjunto
FIGURA 1. Estrutura-modelo de dadia (muiheres omitidas)
46 ANATOAl IA POLfTICA
CAP1TUL0 II 17

em corica a aplicaço genérica de urn sistema de akic do sub-


madas na geracão anterior catriarn para OicO, serLdo ulrrapassaclas na
grupos baseado na descendncia, é difIcil vet como uma tal inrera-
hierarquia pelas recCm-nascidas linhas dt Ijihos caderes a pAas
ção pôde de facto exiscir.
subcladias delas nascentes. E assim sucesslvarnenrc- arC a rerceira,
quarta c, em ceori, ecésima geracão (vc fig. 2).
Esca descrição C scm dCvida demasiado esquemática, é wn inudalo
3 ideal. (Urn exemplo coricreto é ciesenvolviclo adiante, no capItulo
3.) Mas a quastão principal C a se:uinte: a prox;m/ade a'
0 siscerna qua integrava in.ernarnente as dadias era a contra-
sziserano reinarlte. i cabeça da linLa central conteniportinea, clefriminova a
partida institucional claquilo que, ao nIvel cultural geral, tern vindo
status relativo deatro da dadia dominante. QLlanco mais eveiha>> tsc
a ser referido como o <<padrão do status decrescence>, expresso aqui
a linha a partir da qual uma subdadia crescera, tanto mais para trás
na linguagern mais concretarnente sociologica do parentesco agnático
no tempo ela se cristalizava como entidade social e, consequence-
e da sucessão por primogenitura.
mence, canto mais baixo o seu status formal por cornparacão corn
Cada dadia de casta superior era vista corno tendo uma linha
Os SCU5 parceiros. Era este principio geral, e não urn qualquer processo
central de flihos mais veihos de fflhos mais velhos, estendendo-se
genealógico autónomO, que era importance; isto porque, ral como
regress ivamen re, corn uma pureza intacta, ate ao fundador original
noucros sistenias politicos assentes na descendéncia, as genealogias
no perfodo Majapahit, cujo representance actual era tido como a
podiam set, e erarn-no conscantemente, manipuladas, de modo a
figura de mais alto rank da dadia. Em qualquer rnornento, a sub-
racionalizar as realidades correntes do poder e a juscificar as reivin-
dadia mais importante era aquela a que pertencia o descendente
clicaçöes correnres de prestIgio. Era a noção de status decrescente,
contemporâneo da linha central; a <subsubdadia> mais importance
era, essencialmence, a sua pacrifamilia excensa; e ele próprio era a
pessoa designada pela dadia para o parentesco exemplar.
Ora bern, como em cada geração havia normalmence urn certo
nlxrnero de filhos mais novos do senhor suserano, verifIcou-se,
adicionalmente a perpetuação da linha central, a geraçäo de urn
niimero de linhas periféricas ou de cadetes, cada uma fundada por
urn ou outro destes irmãos mais novos. Estas linhas, continuadas
_i
doravance por urn padrão de sucessão primogCnica próprio, forma- H H-
ram subdadias separadas, mas o seu status em relaçao ao da linha do tel II
central decaiu automática e firmemente corn a passagem do tempo.
Assim, considerava-se que na primeira geraco as linhas dos flihos
mais novos desciam urn <<furo>> em relacao a linha central pelo
sirnples facto da sua constituição; de modo que, se déssemos urn
cs
III
H
<<valor de status- arbitrárjo de, digamos, dez, a linha central, as
linhas periféricas formadas pelos irrnãos mais novos do senhor central
nobre Rd
IV
Imio

o. c.
nobre
:
_
nbre t
H

L - - - -I
teriam urn valor de, digamos, nove. No en canto, na geraço se- con tern poran ens

guinte, o mesmo processo cornaria a verificar-se. A linha central Subdadias Status

continuaria a ter urn valor de dez; as novas linhas, ento formadas nobret
Sobd.dt.t
-- --
Alto Batno

pelos irmãos mais novos do senhor suserano sucessor teriam urn


tOol5,
valor de nove, e as linhas dos filbos cadetes que tinharn sido for-
FIGURA 2. Descendência nobrc: o princípio do status decrescence
CAPITULC) 11 49
48 ANATOMIA POLITICA
Em termos escruurais, encão, a dadia rriwarigsa (ou, mais pre-
de urna correlaçao positiva entre rank e proximidade ao cabeca de
cisamenre. a dadia Wesja ou Sacria) era urn Escado em si, ou pelo
linha central vivo (noçaes completamence ausentes nas dadias pie-
menos urn candidaco a Estado. Os lirnites da dadia nao rnarcavarn,
beias, onde as genealogias não eram guardadas e as subdadias não
claro, os limices das re!acOes polIcicas enquanro mis, mas sirn os
eram formalmenre hierarquizadas) a que conferia urna forma inte-
claquelas relacoes polIcicas as quais as rnsticuicoes de conexão agnácica
rior a dadia e fornecia as formas estruturais sociais através das quais
confer jam uma forma mais determinada. Entre dadias havia inrriga,
as diferenças de autoridade eram expressas. Mas as reais razöes para
forca e regateio asiuto, bern como o poder modelador das lealdades
estas diferenças, as causas que as cornaram possfveis, tinharn mais
familiares. A descendência agnática, a endogamia preferencial, a
a vet corn os mecanismos da poiftica do que corn a lógica do
inibicão da segnientacão e a hierarquia dos suhgrupos. <onjuga-
parentesco.
yam-se para fazerem da dadia urn bloco de poder integral e, de
A consequência concreta da accão destes vários princIpios da
facto, o ünico bloco desse tipo em todo o universo politico. As
organizacao dos grupos de descendência (se assim os devernos chamar)
unidades que competiarn canto longitudinal como transversalmente
foi que uma dadia politicamente imporcante acabasse por set composca
acravés da paisagem pontiaguda e enrugada de Bali näo eram
de urn conjunto de casas <<reais>> e <<nobres> hierarquizadas. Cada
apenas senhores e cortes; eram as dadias das quais esces senhores
uma destas casas tinha urn certo quantum de autoridade própria,
eram as cabecas sirnbólicas e as suas corces o foco cultural.
mas todas as casas eram tidas como aparentadas entre si por lacos
agnticos e vistas como partes inseparáveis do todo do grupo de
descendência major, apesar da intensidade da sua rivalidade.
4
As várias casas eram chamadas puri ou jero, dependendo do seu
rank. A casa da linha central era norrnalmente referida como <<a
Todavia, afirmar que as ciadias eram blocos de poder integrais
grande pun>> puni gd); as casas nobres <<mais próximas>>, <<mais
no significa afirmar que elas estivessem bern integradas. Pelo
recentes>>, como (<Puri tal e tal-, sendo o nome em si mais ou
contrário, havia facçöes, elas tambCm atacadas de facciosismo, e o
menos arbitránio; e as casas (genealogicarnenre) mais distances como
choque entre as unidades dentro das dadias era por vezes tilo incen-
<jero tal e tab>. Muitos outros sImbolos de status relativo eram
so, e norrnalmente mais constante, do que os choques entre elas.
empregues de modo a dar a esta estrutura formal uma expressão
A dadia era essencialmence uma federaço - assente na des-
cultural explIcita: diferencas subtis nos tItulos entre os cabecas
cendéncia -, de casas nobres e reais, de puns e jeros os quais,
(e mernbros) das várias casas; uma etiqueca elaborada prescrevendo
embora no pudessem sepanar-se ou akerar de modo radical` a escrutura
costumes de deferência entre as casas, incluindo urn uso diferencial
formal da autoridade, podiam nan obstante lutar entre si pelo poder
de linguagem altamence desenvolvido; regras precisas de comensa-
e pela influncia. As casas nobres terao sido encaradas ofIcialmente
lidade, de discnibuico de lugares, precedência e casamento; regu-
como as <<maos>' (manca) ou mesmo os <<servos>> (parekan) do senhor
lamentos sumptuários extremamente detalhados para o desenho e
da linha central; no entanco, elas eram muitas vezes de facto mais
ordenamento do <<palácio>> da casa, tipos de edifIcios e decoraçoes
poderosas do que ele. Do ponto de vista legal, as casas subordinadas
neles permitidas, bern como sobre o vestuário correcto dos seus
nao eram livres de tratar directamente corn casas de outras dadias;
habitantes; djreitos e deveres nituais meticulosamente definidos,
porém, na prática, faziarn-no sempre que a tencacão era rnaior do
dos quais os mais notáveis talvez fossem os que se centravam na
que os penigos, conspirando o enfraquecimenco de inimigos dentro
cremação e na morte. E assim por diante, ate nIveis absolutamente
do seu próprio campo de modo a melborarem a sua posicão. Tao-
espantosos de desagradável distinçäo. Aqui, como em geral, a forca
-pouco a necessidade de adesão a eciqueta formal do rank signifi-
motriz da vida ptThlica era o cerimonial de status. 0 nirualismo
cava que os senhores das linhas centrais não pudessem favorecer as
assfduo da cultura de corte era, uma vez mais, não apenas a roupa-
castes infeniores e menos arneacadoras em detrimento das superio-
gem da ordern polIcica, mas a sua substância.
w
CAPITULO ii 49
48 ANATOM1A. POLI'TJCA
Em cermos escruturais, enc.o, a dadia tn angsa (ou, mats pre-
de urna corre!açao positiva entre rank e proxirrndack ao cabeca de cisamerite, a dadia Wesia ou Sauna) era urn Escado em si, ou pelo
linha central vivo (nocöes complecarnente ausentes mis dadias pie- menos urn candidato a Estado. Os hmires cia ciadia não marcavaiL.
beias, onde as genealoias não eram guardadas e as subdadias nao claro, os lirnites das relaçoes poilcicas eaquanco cais, mas sim Os
eram formalmence hierarcuizadas) a que conferia uma forina inte- daquelas relaçoes polIticas as quais as inszzituic3es de conexão agnática
rior a dadia e fornecia as formas estrucurais sociais através das quais conferiam urna forma mais determinada. Encre dadias havia intriga,
as diferencas de autoridade eram expressas. Mas as reais razöes para força e regateio astuco, bern como o poder modeladoo das lealdades
estas diferencas, as causas que as tornararn possfveis, tinharn mais farniliares. A descendência agnática, a endogarnia preferencial, a
a ver corn os mecanismos da polItica do que corn a lógica do inihicão da segmentacão e a hierarquia dos subgrupos, conijuga-
parentesco. yam-se para fazerem da dadia urn bloco de poder integral e, de
A consequência concreta da accäo destes vários princIpios da facto, o ünico bloco desse tipo em todo o universo politico. As
orgariizaçio dos grupos de descendência (se assirn os devemos chamar) unidacles que competiam tanto longitudinal como transversalmente
foi que uma dadia politicamente importance acabasse por set composta através da paiSagem ponciaguda e enrugada de Bali não erarn
de urn conjunto de casas <<reais>> e -nobres,, hierarquizadas. Cada apenas senhores e cortes; eram as cladias das quais estes senhores
uma destas casas tinha urn certo quantum de autoridade própria, eram as cabeças simbólicas e as suas cortes o foco cultural.
mas codas as casas eram tidas como aparencadas entre si por lacos
agnáticos e vistas como partes inseparáveis do todo do grupo de
descendência major, apesar da intensidade da sua rivalidade. 4
As vrias casas eram chamadas purl ou jero, dependendo do seu
rank. A casa da linha central era normalmente referida como <<a Todavia, afirmar que as dadias eram biocos de poder inrcgrais
grande pun>> (purl gde'; as casas nobres <<mais próxirnas>>, <<mais näo significa afirmar que elas estivessem bern integraclas. Pelo
recences>, como <<puri tal e tab>, sendo o norne em si mais ou concrário, havia faccoes, elas também acacadas de facciosismo, e o
menos arbitrário; e as casas (genealogicamente) mais distances como choque entre as unidades dentro das dad ias era por vezes tao inten-
<jero tal e cal>>. Muitos outros simbolos de status relativo eram so, e norrnalrnente mais constance, do que os choques entre elas.
empregues de modo a dar a esta estrutura formal urna expressão A dadia era essencialmente urna federaçao - assente na des-
cultural explfcita: diferencas subtis nos tItulos entre os cabecas cendência -, de casas nobres e reais, de puns e jeros. os quais,
(e membros) das vánias casas; uma eciqueta elaborada prescrevendo embora näo pudessem separar-se ou alcenar de modo radical a escrutura
costumes de deferência entre as casas, incluindo urn uso diferencial formal da auconidade, podiarn não obstance lucar entre si pelo poder
de linguagem altarnente desenvolvido; regras precisas de comensa- e pela influência. As casas nobres terão sido encaraclas oficialmente
lidade, de distnibuicão de lugares, precedncia e casarnento; regu-
como as <<maos>> (manca) ou mesmo os <<servos>> (parekan) do senhor
lamentos sumptuários extremamente detalhados para o desenho e da linha central; no entanto, elas eram rnuicas vezes de facto mais
ordenamento do <<palácio>> da casa, tipos de edifIcios e decoracoes poderosas do que ele. Do ponto de vista legal, as casas subordinadas
neles permicidas, bern como sobre o vestuário correcto dos seus não eram livres de tratar dineccamente corn casas de outras dadias;
habitantes; direitos e deveres rituais meticulosamente definidos, porém, na prática, faziam-no sempre que a tencação era major do
dos quais os mais nocáveis talvez fossem os que se centravarn na que os penigos, conspirando o enfraquecirnenco de inimigos dentro
crernação e na morte. E assim por diante, ate nIveis absolutamente
do seu próprio campo de modo a meihorarem a sua posicão. Tao-
espantosos de desagradável distinço. Aqui, como em geral, a forca
-pouco a necessidade de adesão a etiqueca formal do rank signifi-
motriz da vida p(iblica era o cerimonial de status. 0 ritualismo
cava que os senhores das linhas cencrais nao pudessem favorecer as
assIduo da cultura de corte era, uma yea mais, não apenas a roupa-
castas infeniores e menos ameaçadoras em decrirnento das superio-
gem da ordem polIcica, mas a sua substância.
50 ANATOi\l!A POLITICA
CAPITULO II 51
res; ou que no pudessem apelar ao apoio de elemenros exteriores
razoavelmerice bern ordenado de relaçöes entre as suas subpartes, as
contra a insubordinaçao inrerna; ou que rião pudessern recorrer a várias casas nobres e reais. Se esta hierarquia de escratificaçao es-
instrumenros de poder extraparenrais
sence na descendência CiVCSSC sido o thiico modo de relacionainerico
0 pad rão de descendência de status e aucoridade do ripo centro- entre as casas, a dadia rena sidu uina espécie de burocracia em
-periferia fbrnecia urn enquadramento de ripo familiar dentro do
miniatura; a sLLa forma cer-lhc-ia sido dada direccamente pelo padnibo
qual as rnanobras policicas podiam acontecer de uma forrna mais presuntivo dos laços de parentesco, e a posico polfnica rena sido
orderiadi e (o que era corrente) aberramente violenra. Mas nib urn simples reflexo da historic geniealOgica real ou irnaiaada D
eliminava a violência oem reduzia a polIcica a uma mera adminis-
facto, e embora os veccores de deferência e as gradacoes de prescigio
rração. As regras que regiam a intriga incradadia cram de algum
seguissem esce padribo de forma rnuito precisa, o fluxo de poder e
modo defInidas corn major clareza e obedecidas corn mais regula-
tnfluência seguiu-o de urn modo muito mais genérlco. As vénias
ridade do que as que regiam as lucas entre as dadias. Mas a riva- casas formavam cliques entre ela5 e pracicavam uma Realpolitik mais
.3 lidade não era menos incensa, nem a ambicao menos excessiva, oem oporcunisca, corn urn grupo de casas de baixo rank seguindo a Ii-
a inveja menos implacável.
deranca de uma de entre as de alto rank. Consrruiu-se, assim, urn
_1 sisrema de faccoes incradadia que, embora pouco congruence corn
a escrucura oficial da auconidade, cinha mesmo assim forma e dma-
Clientelismo mica próprias. Dencro do quadro escabelecido do padrão de ranking
centro-periferia, permanecia urn campo definido para a manobra
A organização do Estado não se limirava, porém, a escracifica-
poiftica independence - campo esse que poucos senhores deixa-
ção dos grupos de rIculos e ao parencesco em caixinhas chinesas. yam de deplorar ou hesicavam em explorar.
Além da bifurcaçao da populacao em nobreza triwangsa apta a deter
- i a aucoridade supra-aldea, e em campesinaro sudra inapto para o
fazer, e para além do sistema das dadias de status decrescente,
diferenciador da nobreza enquanto cal, havia uma terceira insritui-
çäo social que dava forma e carácter a policica <nacional>>: o clien-
Ernbora o clientelismo fosse importance dentro das dadias,
telismo. Embora funcionasse dentro do contexto geral instaurado
* pela <<casta> e pelo pacentesco, o clientelismo diferia de ambos pelo
desernpenhou o seu papel mais significacivo através das fronceiras
das dadias. Encontravam-se três cipos pnincipais descas afiliaçöes
facto de nao set adscrito mas sim contratual, especifIco em vez de
excragrupo de parenresco (ainda que, na major parte, incra-regio-
difuso, informal em vez de jurIdico, irregular em vez de siscemático.
nais): (1) entre dadias mais poderosas e menos poderosas; (2) entre
0 clientelismo fornecia urn modo de forjar laços acravés das
dadias <<polIticas Satria ou Wesia e dadias <sacerdocais>> Brahma-
fronteiras fixas do status e da consanguinidade, bern como urn
na; (3) entre dadias poderosas e grupos minonitánios, importances,
modo de realinhar as relacoes dentro destas. Pressupunha estes
em especial comercianres chineses. Neste caso, as unidades de afi-
agruparnentos mais fundamentais e funcionava corn des como suas
Iiaçao não cram, teoricamence, as casas separadas, mas a dadia como
unidades. Mas scm esta fuga a rigidez do status baseado na descen-
urn rodo (ou, no caso dos Chineses,Bugis, Javaneses e ourros, a
déncia que o clientelismo oferecia, a organizacão poiftica balinesa
comunidade minoric'ária no seu todo). 0 clientelismo produzia, assim,
clificilmente poderia ter-se desenvolvido para alérn do nIvel de urn
uma teia de lacos que se escendiam irregularmente sobre toda a
tribalismo disjuntivo.
região - uma ceia muito mais frágil do que aquela que mancinha
A primeira esfera dentro da qual operava o clientelismo era a
juntas as dadias individuais, ainda que suficientemence forte, pelo
própria dadia. 0 crescimenro e a diferenciaçibo interna de uma menos por vezes, para confenir uma certa forma poiftica e uma area
grande dadia levava, como vimos, ao desenvolvimenro de urn conjunro ifltejra.
(:ApzruLO II 53
52 AN?ITOMIA POLITICA
endógamos
rnais poderosas apareciam) e centassem peririanecet tao
Naruralmente os laços & cIince1srno entre dadias mais e menos quanto possfvel, no respeicance bS sua.s rnulheres, enquanro prova-
wars:,
Ioi- tes cram quase purarnc-nce politicos na sua funçao; os (ilcimos velinenre coleccionavam u'arir próprios. Dado que os Iaços
cram agences das prirneiras dencro do siscema real de dorninação urna vez eucecados, tinharn teridência a ser relorçados corn case--
ainda por descrever. A arneaça milicar, a pressao econ uca, a arnizade mencos subsequences, as dadias r.obres predorninantes fannie-rn
azoavelmente hem definido de dadias chances
pessoal, o suborno e o mero inceresse m6tuo, todos estes elernentos sun volta urn grupo r e impor-
3 ogavam urn papel no briar destes !aços. Mas talvez a sua principal aparetirados marrilateralmeflte e de gratis vane-dos de rank
base iastiT:ucional fosse a prácica do casamento polimnico em larga Sie- autonidade sobre a
cância, pot incerrnédio dos quais exerciarn a
escala em cluc se empenhavarn as casas nobres c reais. populacão em geral. Uma vez mais, estes laços nao cram de modo
Embora o casamenro fosse preferencialmente enclogârnico ao of- algurn inquebráveis. Na pohItica matrimonial, mudancas e reahi-
vel da dadia, era permicida a hipergamia de grupo de tftulo - isto nhamentos ocorniarn quase constantemente e corn uma subrileza e
e, o casamento de urna muiher de baixo tIculo corn urn homem de perspicácia tais que ceniam feico inveja aos Habsburgos.
alto tIrulo. Consequentemenre, quanto mais alto na escala dos grupos Entre os principaiS motivOS provocadores de subversao ou guerra
de tItulo se desse urn casamento, tanto mais endógarno ele podia estavarn as mulheres prometidas, mas não entregues, pedidas e não
- produto
ser, do ponto de vista das muiheres da dadia, e pelo menos entre dadas ma recebidas e não honradas. Mas o sisterna wargi
a nobreza dominante; enquanco que, do ponto de vista dos homens, de uma interaccão delicadamente equilibrada de endogarnia, hiper-
e especialmerice do do senhor, tanto mais alargado podia ser o corn- garnia e poliginia - possibihitou o desenvolvirfleflto de urna rede
plemenco de esposas endogârnicas e hipergârnicas. A capacidade que de lealdades intergrupais que uniu dadias, poderosas a vários nfveis,
uma dadia tinha de manter as suas muiheres e ainda assirn crazer em alianças que, se não cram unidades rigorosarnente sohidárias,
outras de bra era quase uma medida quantitativa do seu status. pelo menos, constitufam vagas conifederacöes regionais.
As dadias inferiores ou menos poderosas viarn-se obrigadas a
enviar algurnas dos suas muiheres para as superiores on mais pode-
rosas, de modo a assegurarern o seu lugar no formação polfcica. 3
A relação assirn estabelecida charnava-se wargi. Isto é, a dadia inferior
era wargi da superior, em virtude de lhe ter dado uma muiher em 0 segundo cipo de cliencelismo extradadia - entre dadias di-
casamento, reconhecendo assim tanto a sua inferioriclade como a rigentes e dadias sacerdotais - era algo diference; e isto porque,
lealdade em relação a superior. As muiheres cram dadas como uma neste caso, as relaçöes de prescIgiO näo cram congruentes, nern
forma de tributo, urn acto de hornenagem e urn juramento de fI- sequer de forma vaga, corn as relaçöes polIticas: pelo contrário,
delidade (ainda que no muico constrangeclor). cram a sua inversão directa. Os Brahmanas em geral, e em parti-
Estas relaçôes wargi estendiarn-se para lá da divisão de status cular os sacerdotes consagrados, estavam hierarquicarflente acima
criwangsa-sudra, ligando dadias nobres corn outras plebeias, local- de coda a gente no que diz respeito ao sistema varna e, mais importance
mente poderosas e estrategicamente colocadas. Corn efeito, quanto ainda, no respeitante as noçöes populates balinesas de valor espiri-
mais inferior em status estivesse uma dadia local poderosa, tanto cual,, conhecimento religioso e eficácia mágica. Mas, ao concrário
mais disponfvel e mesmo ansiosa estaria pot estabelecer relacoes dos Brahrnins na India, nenhum Brahrnana, sacerdote ou nao, parece
wargi corn a dadia eminente. Por outro lado, as dadias de alto status algurna vez ret detido o poder politico local, pelo menos de forma
sonhavam conscanternence corn a possibilidade de cercearem a po- directa e aberta; e, na rnaioria dos casos, ate o poder económico Ihes
sicão das suas rivais e tornarem-se elas mesmas, urn dia, ascenden- foi negado. A relaçiio Brahrnana-Sattia (ou Wesia) - urn assunto
tes; daf que, na medida do possivel, resistissern as pretensOes sobre que será descrito de modo mais circunscanciado adiante - era,
as suas muiheres vindas dos mais poderosos (em alguns casos escon- pois, sempre particularmence inquieta. No terreno religioso os
dendo as suas raparigas mais graciosas quando agentes dos dadias
54 ANA TOM/A POLITICA CAPITLILO 11

Brahrnanas sentiam-se superiores aos snhores, superiorioriclade essa


que mantiriham através de urn monopólto da tradico das escriruras 4
e do conhecirnento do ritual isotérico. No rerrenu polItico os SC-
nhores senriarn-se superiores aos B rahmanas, superiordade essa que Se o primeiro ripo de reiaçöes de clience, enrre cladias doininan-
inanrinharn arravés de urn monopólio dos inscrurnentos do dam na- ces e subordinadas, era quase puratnenre polItico ni sua funcão, c
ção. Cadi qual desconfiava do oucro, mas cada qual precisava do segundo, entre dadias dornLnantes c sacerdocais, era quase pura-
oucro. Oc Bcahrnanas precisavam dos favores politicos e da protec- mente religioso, a rerceiro, encre dadias dominanres e comunidades
çiio do senhor para manrerem a Seu Status especial; os senhores rninoritárias era, de fornia ainda mais pura, económico
precisavarn da perfcia linirgica dos Brahrnatias para monrarein a Embora no Bali de sulo XIX existissem pequenos mercados
exrravagâncias rituais do Estado-teacro. Tal como dizern os antigos marinaiss, replecos de muiheres balinesas vendendo produtos ck
iivros de leis halineses, governance e sacerdote estavam urn para o consumo corrence, assirn como exisriam grupos do arresãos-vende-
ourro como o barco para a seu timoneiro. Nenhum podia chegar ao clores ambulantes oriundos de aldeias especializacias, o grosso do co-
seu descino - a criaçäo de urn negara, urn Estado exemplar corn mércio estava nas mãos de minorias não balinesas - especialrnenre
bases cosmológicas -, scm o outro. chineses, mas cambém muçulrnanos (bugis, javaneses, malaios, árabes)
Havia dois tipos formais de relaçao encre senhores e sacerdoces. e, nurn ou dois exernplos algo teacrais, europeus. Em particular a
A primeira consistia, como para qualquer balins, no facto de cada comércio de longa discância, e a comércio local dde dependence,
casa nobre ou real rer urn laço especial mescre-discIpulo (siwa-sisia) cram quase exciusivamente reservados aos grupos irnigrados. A parre
corn uma dada casa sacerdocal; o sacerdote padanda) da casa sacer- algurnas figuras marg inais, nunca surgiu uma classe ,de bazar'>
clotal actuava como principal conseiheiro da casa nobre ou real em indIgena desenvolvida, como as que se podem enconcrar em ranras
assuntos rituais. Quando a casa real era suserana nurna região, a oucras parres da I nclonésia.
casa sacerdotal a cia ligada era norrnalrnenre referida corno baga- Esre isolamento écnico do mundo perrurbador do comdrcio era
wanta, ou purohita, e considerada como a casa Brahmana de mais especia!rnente marcante no Norte rnenos isolado onde, em Singa-
alto rank na regiäo (no sencido do prescIgio apenas). Dc facto, quan- raja. urn porto cornercial tIpico do mar de Java, ainda se pocle ver
do urn senhor importance realizava urn ritual principal ou <obra>> a screna cidade de corte balinesa, agora urn compiexo da funçao
(karya), como cram propriamence apelidadas cais producoes, corn-
püblica, no topo de uma pequena elevaçâo, olhando corn desprezo
pareciam e assisciarn na encenacão dos aconrecimentos näo 56 o seu para baixo - assim se pode imaginar, embora calvez também o
siwa (ou bagawanta), mas também as de todas as casas inferiores da
fizessem corn nervosismo e avareza -, para os bairros <javaneses>>
sua dadia e por vezes cambém os cias casas de dadias independences. (i. e., muçulmanos) e chineses, desordenados, apinhados, sernelhan-
O segundo tipo de relaçao formal encre senhores e sacerdotes consistia tes a casbahs, abraçando a pequeno cais defronte. Mas mesmo no
no facto de as tribunais daqueles serern comummente, mas nao Sul, fora do fluxo geral do cornércio da rota das especiarias, esre
inevicavelmente, conduzios por Brahmanas, corn a justifIcaçao padrao era importance; e em cada cidade-corte principalainda se
correcca ou nao, de que cram doucos em lei Indica. encontram encurralados guecos chineses e <javaneses>> - Kampong
Em ambas as funcoes, como encenador ritual e como juiz real, Cina, Campong Jawa -, cujos habicantes são quase todos merca-
papel principal do Brabrnana era essencialmente consultivo, didáctico dores, lojistas e arresâos do rnercado.
e inforrnacivo. Fornecia ao senhor as linhas de orientaço religioso- A subscância e organização do comércio no Bali do século XIX
-estéticas, corn as quais dc devia dar forma a vida da sua corte, se
serii extensivamente descrita adiante, em ligacão corn o funciona-
quisesse, como obviarnence queria, que cia fosse ao mesmo tempo mento do Escado. Aqui, o que importa estabelecer é a seguince:
urn rnicrocosmos da ordem sobrenatural c urn protótipo da exiscên- dentro do negara, todo o cornércio que alcançasse disrâncias para Ia
cia civiiizada. dde, e a parre urn ou oucro dinarnarquês ou inglês errácico, escava
56 A I\rATOAIIA POLITJCA
CA.PITL!LO 11

sob o concrolo de ernpresários de [arga escala chineses, a quem erain Qu, mnelhor ainda, era aqueta carnada calvez ainda mais crucial,
concedidos alvarás comrcais por urn ou outro dos senliores bali- mesmno abaixo do verrice, a parrir As qual cada liomem magicou a
neses, a troco de crihuro em dinheiro ou géneros. Estes chineses (os soc elevação ace a proemiriencla sabre os ombros dos seus mais
quais, se a seu contrato era corn urn senhor suSeranc) poderoso, terrIveiS rivalS: o tL em ri'inca foi escaiado no Bali do século
podiarn roriiar-se em espindidas figuras locals, vivendo em gran- XIX. Todas as aliancas redundaram, mais tarde OL1. rnais cedo
diosas casas apalaçadas, irnitando o estilo de vida das castas alias (e frequenremente mais cedo do que tarde) em Falhanços; codas as
balinesas e coleccionando urn vasco harem de rnulheres balinesas) ambiçöes Ac do!riinlc da rotalidacie Ac iha fc,rarn crntrariaclas;
dirigiarn as activiclades de urn signiflcarlVc) nCirnero de agenres e todas as pL-oclamaçOes p6blicas de LLflidaclC espirituai>' e <<frarerni-
subagentes - chineses, <<javaneses>> e, ao nivel mais local, balineses dade arC a morte>' forarn vãs. Mesmo era face da crescente pressão
-, distribuIdos pelo campo. Em reinos menos integrados, o chines dos Holandeses, encrinchcirados após 1349, em Singaraja, as ma-
do senbor suserano, por vezes dignificado corn o cargo de Subandar vimentos por urna genuIna unidade policica, ainda que muitas vezes
(i. e., senhcr do comércio), rena urn rnonopólio quase completo, propostOS, nunca resulcaram em coisa alguma.
organizando todos as outros comerciantes estrangeiros num elabo- Foi, alias, a pedido de ajucla milicar aos Holandeses pela casa Ac
rado consórcio centrado em si próprio. Gianyar em 1899 que marcou o princIpio do fim de coda a siste-
Estes homens, por vezes entrincheirados também como pro- ma. Localizada no epicentno politico da ilha e aconseihada por dois
pnietários de terras em larga escala (especialmente cafezais e pasta- irmãos Sudra extraordinariamence argutos (<Eles conseguiram capturar
gens) podiarn, por sua vez, conquistar uma significativa influência uma aldeia enquanto dormiarn>>, observou urn dos meus informan-
informal sobre os seus patronos como conseiheiros oficiosos. tes anciãos), esca casa aproxirnou-se mais do que qualquer oucra,
Assim como os assuntos espirituais do memo eram clados em embora ainda assirn não a suficience, de conseguir garihar total he-
contrato a urn ou vários sacerdoces Brahmana, tambérn os corner- gemonia por alcuras da segunda metade do século XIX. A medida
ciais cram cedidos em contrato, nurna base algo menos tradicional, que cresceu e se foncaieceu, codas as seus vizinhos, cada qual en-
aos mercadores chineses. No primeiro caso, os senhores trocavam clausurado no seu próprio ci6rne, se virararn naturalrnente contra
favores politicos por prestIgio; no outro, por riqueza. cia. Comecando a enfraquecer cambCrn por dentro, tomou uma dcci-
são que acabaria por set fatal - apelar a ajuda exterior ao sisrerna;
fatal, porque uma luca polIcica local foi assirn projeccada para urn
Alianca complexo de forcas muito mais vasco, para a qual aquela iota não
tinha significado e sabre a qual não teve efeito. 0 Escado baiinês
Existe, finalmente, urn outro nIvel de organizacão do Estado, o foi construIdo de baixo para cima. Esboroou-se de cima para baixo.
qual, embora fosse o menos substancial, o menos estável e (a excep-
çäo de momentos passageiros) o que menos consequências tinha,
era, no entanto, o mais óbvio, porque o mais dramático para os
observadores vindos de fora - tao drarnático (no sentido de teatral)
que raramente é penetrado profundamente pelas poucas descriçöes 0 quadro institucional dentro do qual as aiiancas eram feitas
disponIveis da accão poiitica da nobreza. Refiro-me ao padrão dos era mais cultural e simbólico do que sociológico e estrutural. Em
lacos transversais, inter-regionais, entre ou no seio das várias dadias primeira lugar, havia uma elaborada ética de status da honra e da
localmente dominantes - aquilo a que podemos chamar (de modo boa educaçao, uma espécie de código de cavalaria scm cavalos, scm
a indicar a natureza mais simétrica do que assimCtrica das relacoes a homenagern e scm a amor romântico (mas não scm a orguiho, a
em causa) aliança, e não clientelismo. Este era o vértice da pirâmide pompa e a paixão), que ligava todas as fIguras grandes e quase
de acrobata, a curne do castelo de cartas periclitante. grandes nessa espCcie de comunidade baronial na qual a etiqueca
U
I:

ANATO!\ulA POL!TICA : F/I ULu 1/


58
riruais de realce. acontecendo duranre a celehcaçao de urn casamen-
tern força de lei e at6 a maleflcncia deve surgir envolvida em
cortesia. Erarn igualmente importanres as trocas de presentes, to teal ou lirnagem de dences, sob o resternunho santificador dos
I
forrnais e adequadarnenre ostencacórus - de relIquias de farnf- sacerdotes Brahnianas "o(iCiais' ad)acentes aos vairios signatários, e
ha, meradorias, represeritaçOes artIsticas e mesmo, por vezes, no cemplo da dadia de urn ou outro dos senhores concracuances.)
mulheres. Não obstance, os rratados säo talvez o mais Itil destes elementos
Em segundo lugar, e talvez scjao mats importance, havia urn culcurais para inferir urn quadro do que terá sido a forma da polirica
sisterna de observâncias reJigiosas inerregionais centrado nos cha- a este nIvel, pois so hasrances circunstanciados e terra a terra.
maidos <<Seis Grandes Templos (Sad Kahyangan). Quais exacta- Animados pela versão balinesa da meiiraiidade ;urIdica, expnmern.
mence os ceinpios tidos como cranscenclences era algo que variava de forma rnais clara e precisa, 0 que oucras lnstituicoes rransregio.
de regiao para regio. Mas a simples nocão de que des existiam e nais exprimem de urn rnodo difuso, esquivo e ace deliberadamence
de ciue os ricuais neles realizados eram clirigidos ao bem-estar não arnbfguo. Neste sencido são urn pouco como o Domesday Book:
de urn sItio ou grupo de pessoas, mas sim da terra e das pessoas no enquanto de urn ponto de vista histórico nao dizem grande coisa,
seu coclo, adicionava substância simbólica a nocão difusa da unici- aquilo que dizem é pelo menos explIcito.
dade da civiiizacäo balinesa que era incutcacla ate no mais paroquial
dos senhores pela teoria do Estado exemplar. 0 grande <<templo-
-mãe> de Besakih, escondido mis vertentes do vulcão sagrado de
Agung, constitufa uma expressão especial, quase fIsica, da unidade
do Bali, cia sua ligacão inc1uebrada corn Majapahit, e do ideal do Estes tratados cobriam urn leque extrernarnence variado de as-
estado microscópico. Embora possa dacar de tempos pré-mndicos, suntos, a rnaioria dos quais devern parecer-nos demasiado triviais
dia-se que Kepakisan, o rei imigrante, fez dde o santuario dos seus para a diplomacia internacional ao mais alto nIvel. Como hidar corn
antepassados; as virias seccöes da estrutura, tortuosa e feita de urn os ladröes fugitivos de uma região para outra e quantos homens
conjunto de pcios abertos, forarn especificarnente identificadas corn armados são perrnitidos na sua perseguicão; reparacöes devidas a
os vários negaras regioflais; e toclos os anos, no quarto mês lunar, os chineses a quem tenham sido roubados os escravos; pagarnentos
principais senhores da ilha faziam all oferendas em norne de coda necessários em casos de rapto de mulberes e fuga da casa paterna;
a sociedade. escalas de castigo para vérias <cascas'>, especialmente as triwangsa;
Em cerceiro lugar, e a urn nfvel de integracão mais conceptual regras para indemnizacöes a farnIhia de uma vitima; o niimero de
do que concreto, havia uma sCrie de tratados formais e (no século teihados permitidos em templos de palácios; regulamencos corner-
XIX, pelo menos) escritos, assinados entre vários dos principais ciais definindo a verida de gado, porcos, cavalos e ga!inhas, bern
poderes da ilha. Estes tracados não eram o elemenco mais crucial no como princfpios para o destino a dar a tais animais quando encon-
complexo de sImbolos que, pelo menos, mantinha a visão e a promessa trados tresmaihados; direitos de salvado em barcos encaihados;
de uma ordem global, ainda que mancivesse pouco da sua substân- problemas de cobranca de dIvidas; regulamentos para o comércio
cia; canto a ética do status corno o padrao ritual do grande templo externo, raptos de criados de uma casa nobre para outra para set-
acarretavarn mais consequências. Tão-pouco eram os tratados muito virem como concubinas(os), dancarinas(os) ou outros fins; castigos
constrangedores, ou dirigidos a assuncos tao cencrais do ponto de pela venda de bens fraudulentos (pot exemplo, <mecais falsos);
vista politico que pudessern forriecer uma espinha dorsal escrututal manutenção de estradas entre regiôes; e, talvez mais frequente-
para uma formaçao polItica genuinarnente <internacional>>. Eles mente, a extradicão de refugiados - todos estes assuntos e muicos
eram tao puramente cerirnoniais, a sua maneira jurIdica, quanto a mais são detalhadamente abordados nos tratados. Dc urn modo
delicadeza, a troca de presences ou o culto cosmopolita. (As celebra- geral, todavia, os grandes problernas não o são - tais como coli-
çöes dos tratados parecern ter sido, em si rnesrnas, acontecimentos gaçöes milirares, apoio material, resolução sobre disputas frontais
60 A!\JATOMM POLl YJCA CAP[T1110 ii 61

de autoridade, restabelecirnenro da paz ou declaraçöes de hostili- tratados e, de forma menos clara, também do sisrma dos remplos
dade. Esces problernas rescringiarn-se a esfera da intri,ga sussurrada, de todo 0 Bali) ë a de urn conjunio de sete ou oito escados e de
pessoal e litnicada a)s patios interiores. Os tratados torneciam urn poder mais OLI menos semeihanre, liderados pot urn raj de Klungkung
vasto quadro consensual, conscrufdo a partir das convencöes aceites primif s jnser psr. Embora mui w.s erudi tos tenharn acci te esra imagerr
do dreiuo consuecudinário (ac/at), dencro das quats o assunto con- corno verIclica, dificilmc-nte será urn retrato rigoroo quer das tea-
crero da aliança inter-regional, o tráfico de influfncias na cocalidade lidades estruturais quer dos processos funcionais no perIodo pré-
da ilh podta prosseguir e alcancar urn cercu grau de definico. -colonial Mas como as idejas tern consequCncias, seja em Bali ou
Para se vislumbrar este processo mais vital, a politica propriamente em qualquer outro lado, esta imagem não deixa, por isso, de set
dica, é preciso olhar para lii dos tratados ou, meihor, através dos importante.
tratados. Urn facto se torna ciaro a partir dos próprios tratados: este
Uma coisa que os tratados de facto faziam era definir publica- retraco da realidade polItica balinesa como <<famflia de naçöes>> é,
mente quern eram os jogadores oficiais nesce jogo de nIvel superior, no seu nfvel mais geral, puro estereOtipo; a poiftica a esse nIvel
expondo assim as subclassificacoes poiIticas mais vastas e gerais na diferia da polItica ao nIvel mais especifico apenas no facto de set
ilha. Klungkung, Karengasem, Lombok, Bangli, Gianyar, Payan- muico mais fluida e algo mais violenta. Porque ernbora os senhores
gan, Mengwi, Badung, Tabanan, Jernbrana e Bulèlèng eram, por dos negaras <oficiais'> fossem os signatários norninais dos pactos,
via de regra em grupos de clois oii trés, as parces contratantes for- des não agiam enquato soberanos mas enquanto cabecas de con-
rnalmente responsáveis em todos os tratados. A este nIvel penültimo, federaçöes ou mesmo como meros delegados destas. Nurn tracado
abaixo do superior, des eram os negaras certificados. (0 nIvel 6ltirno, de 1734 entre <Buleleng e <Tabanan>>, trés senhores escavarn en-
superior, aquele em que todos não eram mais do que extensöes de volvidos pelo lado de Buleleng, e seis pelo de Tabanan. Num tratado
urn Klungkung unicário, era rambém expresso como mera forma- mais cardio entre <Badung>> e <Tabanan>>, havia trinta e oito us-
lidacie: Klungkung apatecia sempre em primeiro lugar em qual- tados em cada lado. <Mengwi>> consiscia em crinca e trés senhores
quer listagem; a superioridade formal da sua linha era abertamente diferentes num pacto corn <Badung>, <Gianyar> em treze num
reconhecida; e eram proferidas vagas declaracoes solenes de admi- pacto corn Badung, e assim sucessivamence. Mais do que urn acordo
raciio e de lealdade a sua lideranca.) Embora Payangan desapareça entre dois, trés ou rneia ci(izia de déspotas regionais, estas alianças
no princfpio do século (era uma casa das terras altas temporaria- constituIam urn encontro de coleccoes inteiras de figuras politicas
mente importance e cedo desmembrada pelos seus rivais dos sopés) separadas, semi-inclependentes e intensamente rivais, unidas, na
e Buièièng em meados do século (após a conquista holandesa do meihor das hipóteses, em blocos inscáveis, pot lacos de parentesco
Norte de Bali), e ainda Mengwi (vIcima de Tabanan e Badung) no e clientelismo.
urn deste, em geral o padrão mantém-se consistence de documen- E quanto a proeminéncia de Klungkung como capital titular
to para documento. de todo o Bali, o negara central, a realidade talvez surja bern elu-
A não ser de forma subalterna, os tratados não criavam este cidada pela hiscória sobre os conselheiros Sudra do prfncipe de
padrâo. A sua funcao era conceptual e não causal. Sobre aquilo que Gianyar, que pendurararn urna effgie de paiha do rei de Klung-
era, na factualidade social, uma rede de relacoes polIticas so mini- kung - o descenciente directo do próprio Kepakisan -, na praça
mamente territoriais, desordenadas e longe de estarern regional- pi:Iblica de Gianyar, convidando coda a gente que passava a dar-Ihe
mente integradas, eles imprirniram urn esquema categorial geral, urn poncapé.
urn estereOtipo cultural que it forca de uma simplificacao radical e
corn Iivre recurso a ficco legal, fez corn que essa rede parecesse ter
uma ordem muito mais definida do que alguma vez se aproximou
de ter. A visão da formacao polIcica balinesa que emerge destes
62 ANATOzVI1A POLIT1CA

4 Lriarern uiiidade polIrica. rorneciam urn rico dicionário de <razöes'


urn insulto delicado, uma observância ritual negligericiada, urn
Efecrivamente, Os tratados parecem cer sido concebidos mais presence inadequadc' oii uma vaca confiscada -, corn as quais se
para codifIcar os precextos corn os quais as alianças podiarn ser podia justificar e compreender a quase complera falca de uma tal
quebradas do que para estabelecer as bases da sua construco. Ao unidade. Os trarados mancinham, assim, a ideta de que o siscerna
realcarern e reafIrmarern aquilo que não erarn, de modo algum, perfeiro de integracãO estava sempre no limiar do inacingfvel, a sua
acordos formais e contratuais, mas sirn hábiros sociais ha muiro concretizacao impedida apenas pela duplicidade de urn senhor ou
estahelecidos ou mesmo consagrados, concernentes a questöes es- a obstinacao de ourro ..A sua concribuicão (de modo algum pouco
pecIficas mas policicamente perif&icas - vacas tresmaihadas ou importance) para o eqnilIbno polItico balinês consisciu em fazer a
ladrães fugitivos -, eles forneciam urn vocabulário de acusacöes desordem arreigada parecer urn erro recenre, prestes a ser corrigido.
para a justificacao da hostilidade, e nan urn conjunto de mecanis-
mos para tornarem real a unidade inter-regional. Os parciciparites
acordavarn sobre o ja acordado, o fundo comum dos costumes
quotidianos a luz dos quais todos eles viviam, quando muito ajus-
tando algumas diferenças triviais. Quanto ao nao-acordado, o domInio
próprio da diplomacia, deixavam-no a mercé do jogo de uma espécie
de politica de bastidores florentina, na qual pelo menos alguns
deles vieram a ser mestres perfeitos.
0 ponto a que chegava este coro de concórdia nos aspectos não
essenciais, mascarava urna discórdia quase hobbesiana nos aspectos
essenciais, que é ilustrada pela listagem (certainente muito parcial)
que R. van Eck fez dos principais conflitos inter-regionais entre
1800 e 1840 apenas. Em 1800, Klungkung e Gianyar (isto é, as
dadias reais de Klungkung e Gianyar, juntamente corn tantos clientes
quantos conseguiram mobilizar) aliararn-se contra Bangli, enquan-
to Karengasem atacava Lombok c Buleleng. Quanto a Buieleng,
lutou contra Jembrana em 1804 e tornou a acacar Karengasem urn
pouco mais tarde. Em Badung, os senhores maiores da dadia real
zangararn-se em 1813, rornando-se vItimas de incursöes do exterior
vindas de várias direccôes; e, depois de 1820, os fucuros potentados
de Gianyar fizerarn guerras não so corn Badung, corno também
corn Klungkung, Mengwi e Bangli. Em Bangli, urn dos trés irrnãos
rivais tomou o poder e aliou-se primeiro corn Karengasem para
acacar Klungkung e depois Klungkung para atacar Bulelèng. Tabanan
lutou corn Badung por volta de 1808; e Mengwi, aliado a Klung-
kung, atacou Badung em 1813.
Nun-i tal contexto de perfIdia insticucionalizada, os tratados, tal
como as outras expressöes de aliança transversal, funcionavam de
uma maneira peculiarmence negaciva e quase perversa. Em lugar de
CAP ITULO III

.ANATOMIA POLITICA: A ALDEIA F 0 ESTADO


A jQrPIaçao poiltica a!deä

A enfermidade estrutural que manteve as classes dirigentes


balinesas fragrnentadas - a cendência para o predomInio do efeito
de divisão das insticuicöes sociais sobre o poder unificador das ins-
tituiçôes culturais -, era agravada pelos mecanismos através dos
quais essas classes tentavam governar. Os laços entre governante e
governado tal como enire governante e governante cram inerente-
rnente dispersivos, cerceando na sua propria forma os ideais au-
tocráticos para que ostensivamente apontavam. Poucas cerão sido as
elites poifticas que, como a balinesa, tenharn procurado tao inten-
samente a lealdade por meios, concebidos corn tanto engenho, para
a producao da deslealdade.
Este facto tern sido especialmente obscurecido pela imagem do
.xdespotismo oriental>> aplicada ao Estado balinês (irnagem que an-
tecede em rnuito as teorias de Wittfogel sobre a sociedade hidráulica),
e também por uma imagem - igualmente contraditória mas de
facto complementar -, da aldeia balinesa como uma dorpsrepubliek
(<rep(tblica aldea>>), delimitada, auto-suficiente, totalmente aucónorna.
O Estado - arbirrário, cruel, rigiclamente hierárquico, mas na
esséncia superfluo - era visto como estando montado sobre a
<<comunismo patriarcal>> da sociedade aldeã, alimentando-se dela,
por vezes causando-Ihe estragos, mas nunca a penetrando realmente.
A aldeia, a desa, era urna unidade orgânica, auto-suficiente e corn
base cosmol6gica ur-balinesa. 0 Estado, o negara, seria urn produto
importado e uma substância externa irritante, tentando constan-
ternente absorver a aldeia mas nunca conseguindo mais do que
oprirni-la. Embora dinastias, reis, cortes e capitais aparecessem e
desaparecessem, numa procissão de espectáculos distantes, o aldeäo
despretensioso, pouco conhecedor das mudancas de senhores, con-
66 ANATO1\IIr POLITiC A (:APITL;Lo Ill (:

tinuava, expiorado mas irnutável, no camiiiho definido desde li muito ténuc enire as instituicães do aparaco do Estado-teacro e as
sêculos. Urna visäo cativante, agradavelmente rornântica e adcqua- do governo local.
darnente dernocrática, alérn de reconforcante para urna elite cob-
nial que acaba de afascar uma arisrocracia indigena; mas, apesar
d!sso, falsa. 0 Estado criara a aldeia tal como a aldeia criara o 7
Estado.
Talvez a iidicacao mais nirida deste facto fundamental do cres- Ji foi dico also sobre a orgamnzaço do Estado-ceacro, e mais
cirnenro strnultaneo de aldeia e Escado, algemados aiim processo ser dic Miis se quisermos perceber devidarnence os processos
continuo de uma influência mutua que os moldou em resposta urn politicos balineses, mesmo aos niveis mais altos, é necessário apre-
ao oucru, esteja na ausência virtual de aglornerados urbanos pro- sencar urn esboco geral das formas de governo local.
priamence dicos no Bali anterior ao século XX. As casas nobres Também aqui, no entanto, a imagem da sociedade aldeã como
niais importances de uma dadia poderosa tinharn tendência a agru- dorpsrepubliek, se ergue no nosso carninho. Porque a cia se junta uma
par-se nurna ou noucra locatizacão estracégica, disposta, de acordo teoria histórica (ou, melhor, quase histórica) sobre a degeneraçao
corn urna planta metafisica, em torno do palácio do rei da sua linha progressiva da aldeia balinesa desde a sua forma orgânica primitiva,
central - o seu centro exemplar. As casas nobres secundárias e supostarnente represencada par algumas aldeias actuais, mais pen-
terciárias, as que cram vistas como cendo descido mais baixo em féricas do ponco de vista geográfico, estado cornpósito presente,
reiaco ao status real, enconcravarn-se normalmence dispersas por como resultado da interferência das classes dirigentes nos assuntos
aldeias menos centrais, onde as suas <casas>> e '<palácios>>, imicacöes própcios das aldeias. Apesar da posculada autonomia da cornuni-
em pequena escala das casas e palácios da capital, se enconcravam dade camponesa, é dim que as exacçöes dos senhores faziam corn
colocadas no seio da vida local para af servirern de modelo. Ate que se <rasgassern>> os lacos -naturals>> inerences s aldeias. A unidade
mesmo as capitais, no exterior cbs altos rnuros das casas nobres, da aldeia aborigene ceria sido gravemente erodida, pelo rnenos nas
erarn organizadas exactamence como qualquer aldeia e, neste tipo regiöes cencrais, pela irnposicão progressiva do poder estacal.
de sistema, muitas vezes não era nitido nem estável o que era E assim sucessivarnente.
capital e o que era circundante. A grande tradiço balinesa, o Urna crItica sisternécica desta teoria - teoria que foi concebi-
<<hinduIsmo>> (se é que se the deve chamar assim), não era susten- da, como digo, para salvar a conceito de dorpsrepubliek do seu confronco
tado por urn siscerna social urbano e cliferenciado. Pelo contrário, corn uma enchente de dados ecnográficos renirentes -, levar-nos-
era conduzido por urn escraco especialmente demarcado de casas -ia para questães de factualidade etno-histónica, de método e con-
dominantes exemplares distribufdas pela tocalidade da paisagem, ceito que estariam desbocadas neste contexto. 0 que me inceressa
corn concentraçöes aqui e all. A relacao encre nobreza e campesi- tornar claro é que, se eu apresento uma visao da <caldeia tradicional
nato no Bali tradicional não pode ser formulada em cermos de urn balinesa'> totaimente contránia aos pressupostos da teoria da usur-
concrasce entre cidade e campo, mas apenas em termos de dais pacão e dissolução, não é porque ignore a existência dessa teoria ou
cipos de formacao polItica rnuico diferentes mas elaboradamente porque tenha esquecido a sua influncia. Aconcece simplesmente
entrelaçados: uma, centrada nos processos politicos regionais e inter- que leio os factos históricos e etnográficos de modo muico dife-
-regionais de urn tipo predorniriantemente expressivo, a outra cen- rente. Para mim, não são as aldeias do coracão do pals, nas quais
trada em processos locais de natureza predominancemente instru- toda a população parece ter vivido durance séculos, as que são
mental. Não se tratava de uma questiio de arnbiçOes coralirárias de aclpicas, como que resultados excéntricos do jogo de circunstâncias
uma elite urbana centralizada em contenda corn a teirnosia libertária especiais; são-no sim as mais remocas, dispersas ao iongo das margens
de uma horda de rep6blicas riIsticas fechadas sobre si mesmas. dessa região central. Não sei como era a cornunidade balinesa
Tratava-se de uma questão de ajuste pormenorizado, complexo e <oniginal>>, ou <<arcaica>> ou <pré-hindu>. No entanto, tambérn
J

($8 ANATOMIA POL1T16. CAPITULO ill 69

nirlguém o sabe, pelo que me parece ser siniplesmente estranho u nidacle de resid6ncia: era uma corporacão pciblica duradoura regu-
ericarar a cendência central do desenvolvimento social aldeão cornce lando urna area da vida da comunidade muito vasca mas bern
nada mais do que urna perturbaç.o causada pelos redemoinhos quc dernarcada Onde cinha jurisdiçäo, era SUpt- emo ate ao ponto do
rodopiarn ao longo das suas margens. a bso!utiSmo onde no a cinha, não possufa qualqur poder.
Mas, embora o domInio da sua jurisdição fosse rigorosarnence
clefinido (muitas vezes estabelecido corn elaborado detalbe cnn<<re-
consticuicöes>> escritas chamadas au;-ciu'ig hanjar, <regras do lu-
gar>'), e embora est€- domInio fossL razoavelmente uniforme do urn
1-lavia três esleras principals nas quais as formas poifticas de lugar para o ounro, coma-se diffcil resumir a sun naturza numa
base local jogavam urn papel predominante: (1) o ordenamento dos Erase. Talvez induza menos em erro dizer que o lugar era a comu
aspectos publicos da vida da comunidade, (2) a regulaçao dos dis- nidade civil fundamental em Bali. Mas, então, é necessário csclare-
positivos de irrigacäo e (3) a organização do ritua popular. Para cer que corn <<civiliclade>> n,,-io se quer dizer <secularidade>' (pois o
cada urna destas tarefas havia instituicôes separadas (embora rela- lugar estava, como codas as instituiçöes nesta sociedade ricualista,
cionadas) dirigidas especificamente para o seu cumprirnento: o lugar profundarnente envolvido nos assuncos religiosos), nem, obviamence,
(banjar), a sociedade de irrigacão (subak) e a congregacão do templo <<urbanidade>>. 0 que se quer dizer é <<vircude püblica>>, aquilo a
(pernaksan). A volta delas, agregavarn-se certas organizaçöes, em si que os Balineses chamnam rukun: a criação e manutençibo da ordem,
mesmas não polIticas, e igualmente especfficas - grupos de paren- das boas relacoes e do apoio m6tuo entre urn grupo de vizinhos.
tesco, organizacOeS voluntárias e outras -, as quais, pelo menos 0 proposiro do lugar enquanco corpo politico era cfvico no sentido
ocasionalmente, jogavam papéis politicos auxiliares, dentro de urn mais lato - a provisao dos requisitos legais, materiais c morass
ou outro destes contextos. 0 resultado era uma ordem polItica para urna saudável vida em comurn.
compósita que, como numa cacleia postal, era composta de grupos 0 lugar era respons-ável pelos equiparnentos püblicos (constru-
corporate sobrepostos e interligados, ainda que distintos, estenden- cao e conservação de estradas; construção e conservação das casas de
do-se numa continuidade sem qualquer faiha pot todo o campo reunio do lugar, dos celeiros, dos recintos para a luca de galos,
balinês; ordem essa na qual assentava urn amplo leque de funcöes mercados e cemicCrios), pela segurança local (vigias nocturnas,
governativas. Tal como negara, em Bali, c/cia refere-se em rigor não apreensibo, julgamenco e castigo de ladroes; supressão da vio!ência)
a urn iinica encidade delimitada, mas a urn carnpo alargado de e pela resolucibo de disputas civis (conflitos de heranças; discussöes
grupos sociais organizados, focados e inter-relacionados de formas de vários tipos de direitos e obrigacoes tradicionais; desavencas con-
variadas - urn padrao a que me referi noutro lugar como <<colec- cratuais). Regulava a transferência de propriedade pessoal (a excep-
tivismo pluralista>>. cao dos arrozais) e controlava o acesso aos terrenos para casas, as
0 lugar, ou banjar, e isto para comecarmos pela vida pt:iblica, quais, na maioria dos casos, detinha de forma corporate. Legitimava
era, em termos formais, uma unidade de residência. No quer dizer o casamenco e o divórcio; administrava os juramentos; conferia e
que fosse sempre estritamente territorial; membros de diferentes recirava os direitos de cidadania; fazia cumprir urn cerco nürnemo de
!ugares encontravam-se disseminados dentro de urn mesmo aglo- leis sumpcuárias concebidas para mancer em ordem as relaçoes
merado, e por vezes as lealdades de lugar atravessavam as fronteiras de status; e organizava vários tipos de accividades de crabalho colec-
dos aglomerados. Corn mais frequência, porém, membros de cada civo, canto religioso como secular, encendido como de importância
lugar viviarn contiguamente dentro de urn ou outro dos conijuncos mais geral que individual. Pacrocinava certas festas piblicas, apoia-
nucleares de casas posicionadas ao !ongo dos estreitos contrafortes, va certas actividades estCticas cornuns, realizava certos ritos, sobre-
embora fosse pouco comum urn aglomerado conter apenas urn lugar. tudo purificadores. Podia cobrar impostos e multas, possuir pro-
De qualquer modo, o lugar era muito mais do que uma simples priedade e investir em empreendimencos comerciais. Resurnindo,
70 ANATOM1A POL/TZCA CAPITLILO 111 71

ralvez o grosso (ernbora, como veremos, de modo algurn o todo) da forma pouco convincente, por <<sociedade de irrigação>>. Nurn cerro
governação em Bali, no sentido esuriro da regulacão da vida social sentido, o subak era uma espécie de lugar agrIcola e, de facto, os
pela auroridade, era levada a cabo pelo lugar, deixando o Estado Balineses por vezes ainda se Ihe referem como <iugar da água
livre para teatralizar o poder crn vez de o adminisrrar. (banjar yèh). Os membros da corporação (os krama subak) não cram,
A expressão concreta desta form idávei corporaciio era o krama no enranro, co-residentes, mas sirn co-proprietários os donos dos
banjar. Trata-se de urn termo cuja tradução é exrremamente diflcii. socalcos irrigados a parur de urn so curso de água artificial on-
Literalmente, krama, uma pa!avra importacia do sânscrico, stgnifica gifláni() de urn ou outro poncoao longo de uma ou ourra das cenuena
<<maneira>, <<rnérodo, <<modo ou mesmo <<estilo>>. Mas neste caso, de garganras flu'>oais inscritas na paisagern inclinada de Bali.
ganha o sentido de <rnernbro> ou <<cidado>; então, krama banjar Estrururalmente. também era grande a sernelhanca corn o lugar.
refere-se não so aos costumes do lugar mas também ao corpo concreto 1-Javia reuniöes periOdicas do krama subak; havia lIderes ofIciais
de homens que em qualquer momento são investidos corn a respon- escolhidos no seu seio (k/ian subak); e havia constiruiçöes especificas,
sabilidade de manterem esses costumes - o conjunto dos cidadãos. por vezes escritas (awig-awig subak) estabelecendo regras básicas,
Na maioria dos lugares urn homem tornava-se membro do kra- obrigacôes de trabaiho colectivo, rituais comunais, etc. Tal como o
ma banjar aquando do casarnento ou apOs o nascimento do seu pri- lugar, a sociedade de irrigação podia cobrar multas, casrigar, resol-
meiro fliho e por vezes retirava-se dele apOs a morte da sua muiher vet disputas, deter propriedade e determinar as suas politicas
ou quando todos os seus flihos se tivessem tornado membros, por independenternente de qualquer autoridade exterior ou superior.
sua vez. Pelo que o krarna banjar era constituIdo pelos adultos de urn Diferiam o conteüdo destes direitos e obrigacoes, o domfnio social
lugar que fossem cabecas de famIlias nucleares independentes. Por sobre o qual jogavam e os fins para que se dirigiam. 0 lugar
regra, reunia-se uma vez por mês (o mês balinês tern trinta e cinco moldava as inreracçàes sociais quoridianas de urn conjunto de vizinhos
dias) na casa de reuniöes do lugar, ernbora reuniães especiais pudessem nurn padrão harmonioso de laços civis; o subak organizava os recur-
set convocadas para fins especIficos. Nestas reuniöes eram decididos sos econOrnicos de urn grupo de camponeses - terra, trabalho,
todos os assuntos importantes referentes as poilticas a implementar. água, conhecirnentos técnicos e, de urn modo restrito, capital de
Por consenso, normalmenre apOs extenso debate e, a juigar pelas equiparnento - nurn aparato produtivo surpreendentemente eficaz.
práticas do presente, após considerável preparacão. 0 krama banjar A funcão principal deste aparato era, obviamente, o controlo da
escoihia os seus prOprios lIderes (k/ian banjar), que erarn mais os irrigação. A criação e manutenção do sistema de distribuiçao de
seus agentes do que os seus dirigentes. Decidia sobre os seus próprios água e a repartição da água pelos urentes cram as principais preo-
modos de proceder, dentro do contexto das tradicoes estabelecidas. cupacöes do subak como urn todo. A primeira destas tarefas era
E era o corpo soberano em todos os assuntos do lugar, punindo pelo levada a cabo através da organização e aplicaçäo continua de traba-
ostracismo qualquer resistência incorrigfvel a sua autoridade, por lho manual - o dos proprios membros do subak. A segunda era
muito trivial que fosse em aparência. Não é de admirar que ainda levada a cabo através do debate e consenso do grupo sob a orien-
hoje os Balineses digam que deixar o krama é deixar-se morrer. tacâo da tradicao estabelecida, o que era como facilmente se pode
irnaginar, urn assunto melindroso. Mas para além destas preocupa-
çöes centrais, que cram quescöes de vida ou de morte para os seus
91 membros, a sociedade de irrigação dedicava-se a accöes rituais
purificadoras em ternplos especiais nos arrozais e nas fontes de
Apesar de todo o âmbito e poder do lugar, urn dos aspecros água; legitimava as transferéncias de propriedade dos socalcos; concedia
mais importantes da vida camponesa de Bali ficava de fora do seu ou recusava autorização para a construção de novos socalcos; e regulava
alcance: a agricultura do arroz de regadio. Aqui, uma outra corpo- o calendário do ciclo de cultivo, sobretudo através do controlo do
ração pilblica era soberana, o subak, normairnente traduzido, de momento de plantio. Tal como no lugar, os membros da sociedade
72 ANATOMM POLITICA CAP1TULO 111 73

de irrigaco iiio erarn simplesmente cidadãos, mas também pessoas C&ebes, arc. Mas para os aldeãos as varacOes são muino mais proe-
privadas corn urna esfera discinra de cltreiros e inreresses privados minentes, uma yea qua definem as fronneiras do pemcthsan - o
irrevogávc!s que o gLupo corporct.'e não podia usurpar; urn hornem grupo de pessoas para as quais os costumes da adat são invaniarites
podia vender, alugar ou penhorat a quem dc quisesse; arrendar atC a>) mais Inlimo pormenor. 0 J)eli!aksafl c , pols. na base, uma
outros paclröes de trabaiho se o desejasse; usar as tcnicas de culcivo comuniciade moral, ao lado cia comunidacle civil, que é o lugar, a
que entendesse. Mas, tal como no lugar, na esfera da vida em que da cornunidade económica, qua é a sociedade dr irrigacão. Enquan-
os direitos e interesses püblicos cram tidos como dominantes, a sua estas assefltaifl num conjunto comum de instituicries governa-
palavra era lei, o desaflo a sua palavra crime. mentaiS ou num conjunto comurri de dispositivos produtivos, aquela
assenna num conjunto comum de normas sociais de base religiosa.
os costumes cousagrados.
Urn pemaksan pode ser constituIdo por rnernbros de urn arC
nove ou dez lugares de qualquer parte, ainda que três ou quatro
Finalmente, a terceira instituição politicamente importante no seja (hoje, pelo menos) o mais corrente. Estes lugares são normal-
sistema desa era a congregação do templo, aquilo a que me referi de menre connIguos, embora isso não seja inevirCvel, e no sen aspecro
forma algo arbitrária como pemaksan. Embora em essência cenrrada espacial o pemaksan C charnado a desa ac/at - a <a1deia do cos-
na religiao, esta unidade - igualmence urn corpo pbIico altamente tume>>. Na essência, a desa ac/at não C de modo nenhum urn siste-
co;orate, organizado por regras jurIdicas expilciras e pormenoriza- ma social, mas sim urn pedaço de espaco sagrado, baseado na crenca
das corn rigor - era ao mesmo tempo uma agência de governo por balinesa de que o mundo e tudo o que cia contCm (<<a terra corn
via da ligacão indissolüvel em Bali entre regiao e costume, formas tudo o que nela cresce, a água que por cia corre, 0 ar qua a envoive,
de culto e padröes de ccmportamento social. Esta iigacão é patente a pedra que ela guarda no seu t'inero>>) penance aos douses. Mas C
na verso balinesa da nocão indonesia em geral, de ac/at. Adat, do urn pedaço de espaco sagrado pelo quai urn grupo social definido,
árabe <<costume>>, não significa <<costume local>> por contraste corn pernaksan, C humanarnente responsável - responsável por seguir
<rnandamento divino>> (hukum), como nas zonas islâmicas do arqui- as leis rnorais (os costumes adat definidos para esse espaço pelos
pélago, mas sim todo o enquadrarnenro da acção social que contém deuses) e por adorar os própnios dausas. E esra iiltima obrigacao, a
tanto hornens como cleuses. Corn aplicacão igual as formas de en- mais imperativa para urn balinês, que faz surgir a principal expres-
queta, regras de heranca, rnétodos de agnicultura, estilos de arte e são insnirucionalizada desta <<aldeia do costume>>: Kahyangan Tiga,
nitos de invocação, é tão-sornente urn sinónimo de ordem. ou <<Tres Grandes Templos>>.
Tal como tudo o resto em Bali, a ac/at varia. As variacöes dizern Tai como no caso de Sad Kahyangan, os <<Seis Grandes Tern-
quase sempre respeito a pequenos pormenores, por vezes mesmo pbs>> anteriormenta abordados, o uso do termo superlativo para
triviais: no recrutamento para o conseiho de lugar; na seieccão dos <<nemplos>> no lugar do normal pura (embora, tab como corn Sad
seus funcionários; na posse de terra para residência; nas listas de Kahyangan, cada templo em si seja referido como Pura isto ou Pura
ofensas e muitas; nas práticas funerárias; no papal que as pessoas aquibo) indica que estes lugares de culto especIficos são vistos como
de <ccasta superior>> (i. e., triwangsa) jogam na vida social; nos resumindo, de urn modo que os tempbos ordinCrios (agrIcolas,
oficios que podem ser praticados e nos animais que podem ser familiares, de mercado, etc.) não fazem, toda uma ordem social de
possuIdos; e mama vasta sCnie de pormenores técnicos triviais. Desde urn certo tipo. 0 que surge aqui, ritualmente sublinhado é a ordem
ponto de vista <<de voo de pssaro>> do inquérito etnográfico, estas local e não a translocal, o sistema aideão e nao o sistema estatal. Em
diferencas devera.s marginais aparecem como meros incidentes naquele ambos os casos, o conjunto de tempbos, como conjunto, simboliza
que é urn padrão de costumes em geral homogéneo, distinguinclo a gbonifica urn tipo de formaçao polItica especffIco; a do negara, o
claramente Bali dos seus vizinhos - Java, as Sundas Menores, as estado exemplar, por urn lado; a da desa, a aldeia compósira, por
F

74 1NTOA11A POLITICA

membros de, virriidmri uaIcjiicr lug~i r per cci0 diu:rences


outro. Juncos marcam Os aucipodas da vida polIrica tradicional baliriesa
os lirnites insuitucionais dentro dos quais, nos tempos clássicos, sociedades de irrlgação. E embora todos os membros de urn qua!-
cia se movia, c1uer lugar perteflcam quase sempre a urna so congregaçaO, perten-
Os Kahyangan Tiga chamam-se o Templo da Origern, ou do cerão a cia untarnee corn membros de outros lugares e organi-
Umbigo (Pira Pzsé/;), consagrado a celebracão do povoarnento humano zarn-se no seu interior em cermos de pemakJan e não de banjar.
da area; o Templo da Morte ou do Mundo Inferior (Pura Dakrn), J uncas, estae triade de corporacöes forma o coraço politico do sis-
sempre o fez, tao lunge no pass.tdo quanco os dados
consagrado ao apaziguamenco dos rnorcos ainda nãó crernados e. tema
consequentemerice, perigosos; e aquele que pode ser craduziclo hisrOrieos do confiança no-, perrnicern ir. Ela é o nOcleo em Locno
letra, mas algo enganadorarnence, como <O Grande Templo do do qual as oucras coniponenres, tarnbEm não coordenadas, do
Conseiho, (Pura Balai Agung), consagrado a fertilidade da area da <colectivisrno pluralisca>, se agruparn (grupos de parentesco, asso-
desa ac/at- canto dos seus campos como das suas muiheres. Não ciaçöes voluntárias, etc.). Era corn esta espécie de sistema politico,
se traca apenas, e claro, de urn so conjunto de templos, como corn corn esta montagem parcialmente ordenada do que os Balineses
os templos estatais Sad Kahyangan, mas sim de centenas: urn por chamam seka(s), corn estes grupos especificos de funçoes divergen-
cada rneia düzia, mais ou menos, de lugares. 0 pemaksan é, encão, tes, e não corn <<repüblicas aldeãs>> integrais, que teve de se rela-
a congregação que acarreta corn a obrigação de apoiar os trés templos cionar essa explosão de privilégio, cerirnónia e pretensão a que
associados a sua desa ac/at, e que é agraciada corn o privilégio de ternos vindo a chamar Estado.
realizar neles 0 culto.
Não é necessário descrever aqui as reais formas do culto levado
a efeico em cada urn destes templos. Basta dizer que canto o tra- 0 sistema perbekel
baiho secular necessário para manter os templos como as cerirnónias
em si são ao mesmo tempo elaborados e de ocorréncia rnuito Ire- 0 nO central desta relaçao entre desa e negara era constitufdo
quente. Exigern, pois, grandes quancidades de esforco da parce do pelo sistema perbekel. Urn perbekel era urn funcionário estacal que es-
peinaksan, o qual é, em consequéncta, urna un!dade social de mar- tabelecia a ligacão entre o aldeão individual, quer este fosse tn-
cada proerninéncia na vida de cada balinés. Tal como o lugar e a wangsa ou Sudra, e o senhor individual. Qualquer senhor em
sociedade de irrigacão, o pemaksan é corporate; como des, é dirigido importância poiftica tinha vários desses perbekels, tendo os mais
especificarnence a certos fins limitados e bern definidos; e, como grandiosos dOzias deles, cada qual responsável por urn certo nOrnero
eles, é essencialrnente autónomo. A sua importância poiftica advérn de sObdicos do senhor. No conjunto do Bali deve ter havido rni-
do seu papel como grupo ritual, tal como a deles advérn do seu ihares destes superintendentes politicos no século XIX. Ligado no
papel como grupo de governo, ou como grupo produtivo. sentido ascendente ao seu senhor e, no sentido descendence aos
aldeãos da <<posse>> desse senhor, e que cram confiados a sua auto-
ridade directa, o perbekel era o intendence, o beleguim, e o senescal
6 do Bali tradicional.
Este aspecto do sistema perbekel parece ter sido uniforrne em
Estes trés principais constituintes da forrnacao politica aldeã -
toda a ilha. Em rigor, tudo 0 mais, incluindo a rnistura de estru-
banjar, subak e pemaksan - são não coordenados: os seus membros turas administrativas colaterais corn as quais se entrelaçava, variava
não coincidem. Antes se interceptarn e sobrepöem. Toda e qualquer em grande medida, atingindo nfveis extraordinários de complexi-
sociedade de irrigacão tern membros de vários lugares e de muitas dade. Para fins de exposição, descreverei o sistema tal como existia
congregaçöes diferentes. Os membros de qualquer congregação são imediatamente e logo após a viragern do século, em Tabanan, o
oriundos de vários lugares e de várias sociedades de irrigacão. Os principado mais prOximo, a oeste, da actual capital do Bali, Den
ANAYOi1 1/A POLITICA CAPI'TLIL() 111

Pasar (ver mapa 1). Embora a versão Tabanan nio sea mais tIpica mba
directa rerrninoU. Cada uma das outras casas era considerada
do sisrema perbekel em geral do que a de cualquer oucra regiào da descendente em linha directa de algurn irmo ou meio-irmo de
0 seu reino, canto mais
ilha, E de vários modos a sua expresso mais nftida, aquela em que urn iCi oucrora reinante; quanto mais aritigO
os princIpios essenciais do sistema apareccm na sua forma mais baixo o SL1 ranI correrice, de acordo corn o padro de stat/is decres-
directa e visivel. As relacoes Estac(o-aldeia no Bali iradicional cram cence anteriormente descrito (vet figura 1 e capitulo II, em Grupos
de tal moclo intrincadas e irregulares que praticamente qualquer de descendência e status decrescente').
coisa que se exponha corn pormenor acerca de urn exemplo concre- Quanru as casas Krarnbican, elas viam-se a si mesmas c eram
to se torna falsa quando aplicada a wn outro. Porérn, essas relaçoc \'istas comr apareniadas, de uma maneira ou de outra, corn a prin-
eram animadas por uma concepço da natureza da lealdade poiftica, cipal linha Tabanan (tal como, de facto, a linha Tabanan se via a
do dever politico e do objeccivo politico que era a mesma em toda si própria corno clistantemente aparenrada corn a linha real de BarIurg
a parte. Apesar de toda a sua variaçäo a superfIcie, a inceracção c, para Ia desta, corn Klungkung), e como estando dentro da sua
entre negara e desa tinha, na base, uma forma definIvel, forma essa esfera geral de influência. Mas, para coclos os efeitos, des eram uma
produzida por séculos de história que prosseguirarn sob a orienta- dadia por rnérico próprio, corn o senhor de Puri Gdé Krambitan
çio de urn conjunto de pressuposros juridicos a que chamarfamos por suserano.
uma Constituiço caso os encontrássemos nurn Estado moderno. Das quatro casas ex-Mengwi, as crês que se separaram na década
de 1820 - Macga, Blayu e a casa central, Perean - enconcravarn-
-se aparencadas nurna 56 dadia; Kaba-Kaba, acrescencada em 1891
7 era urn ramo de uma dadia cuja sede era em Kapal, uma aldeia em
Badung, tendo sido separada do resro da linha pela divisilo de
Havia, no Tabanan do perIodo 1891-1906, cerca de trinta e despojos entre Badung e Tabanan.
cinco casas nobres de signifIcativa imporcância policica. Escas casas A excepção de Kaba-Kaba, que continuou de olhos postos
podem classificar-se, e assim eram de facto classificadas, em três no Leste, codas estas linhas e sublinhas independences, ou semi-
grupos principais: (1) a <<linhagem>> real Tabanan em Si; (2) uma -independentes, escavam ligadas a Tabanan através de relaçöes
linhagem afastada, independente ou semi-independente, Krambi- de dádiva de rnulheres (war,gi) do tipo anteriorrnente descrico.
tan; e (3), duas linhagens afastadas por meios militates da esfera de Podernos, então, cencrar a nossa análise na linhagem real Tabanan
influncia de Mengwi, uma logo na década de 1820, a outra no enquanco cal e considerar as dadias Krambican e Perean, menos
recontro culminante de 1891. As localizaçOes aproximadas destas poderosas mas estruturalmente idênticas, corno suas cliences semi-
casas aparecem nos mapas 2 e 3. -subordinadas e serniautónornas. Não obstante o <acordo de paz>>
As casas pertencentes a linhagem real de Tabanan (isto é, a ofIcial, Kaba-Kaba era essencialmente cliente não de Tabanan mas
dadia, embora o cermo efectivamente usado em Tabanan fosse batiir de Badung durante o perfodo 1891-1906, podendo por isso set
dalem) consideravam-se todas a si mesmas corno descendentes por aqui ignorada.
via agnática de Batara Hario Damar, urn dos generais do campo de
Gaja Mada na Conquista Majapahic. 0 senhor suserano (cakora'a,
ou, se se quiser, <<rei) no cargo por altura da invasao holandesa 3
(o que se marou na priso), era, segundo os genealogistas da linha-
gem, o décirno oitavo na linha directa e incacca de descendéncia A linhagern real Tabanan é meihor entendida (e assim a vern
patrilinear primogénita desde Batara Hario Damar. 0 décimo oitavo os Balineses) corno urn conjunto de cfrculos concêncricos, uma es-
cakorda foj coroado em 1903. 0 seu fliho co-suicida, o prIncipe trutura em novelo de linhas de centro e de periferia, hierarquiza-
herdeiro, teria sido o décimo nono, mas corn o seu falecimento a das em termos da sua suposca distância em relaço ao centro dos
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MAPA 2. Casas reais de Tabanan e casas aliadas na capital, Ca. 1900

>r*. 1)80) I Ilialars HanG Oem,)

iv

vi (Rei lundador locaI cisao de Klungkung)

>> (CsIo de fladung)


(Nero casada corn a sultão Agung de Matar.mrn. Javm)

ix

Xi

(Cisio de Krambican)

(Iv

IX. 1820) xv (Tornadas m.asax Perean a Mengwi)


Cl i84a
1868) xvi (Penobol sagutada;
Cl 1060 corxscrudo novo
VIOl) xvii -
(rn.I9O, 'o
0
XVIII Ucdk,J
m.19O, C

Status Decrescento Stows Decrescent

FIGURA 3. A linhagem real de Tabanan


80 ANATOMIA POLITICA

cencros em Purl Gdé (gdé - (<grande, <'vasto'), o qual era, de


facto, muitas vezes refenido como Dalem - < dencro> (vet figura 3,
urn cliagrarn simplificado da genealogia em causa).
Prirneiro, havia as nove casas pnimárias, pun, descendenclo da
própnia Gd através das casas fundadas pelos irrnâos do décirno
sécimo senhor Gdé, que os expulsou de Dalem quando da sua
ascensão ao cakordato (Dangin, Mecutan, Den Pasar c Taman), ace
àquelas tidas como ftcndadas pelos irmãos do pai desse cakorda quando
ele foi coroado (Kalèran, Kediri, Oka, Anom e Anyar). Irnecliata-
mente a seguir e a volta deste n5cleo mais amplo de casas prirnárias,
agrupavam-se, pot sua vez, quacro casas secundárias, jero gdé fun-
dadas - assim se supunha -, pelos irrnãos do avô e do bisavô do
rei reinante. E, finalmente, havia cacorze casas terciánias, ou jero
(palavra que, como fiz notar antes, tambCm significa ,no interior>>
ou <<dentro>>), cujos fundadores eram vistos como tendo <<safdo (jaba)
+ do Dalem>> em vários estádios anteriores da história da linha, tendo-
-Se, por isso, afascado ainda mais dela.
Havia, assim, uma estrucura de quatro carnadas, produto do
funcionamento do padrão de status decrescence, indo desde o Pun
Gdé ou Dalem, ao cirno ou centro, passando pelos puns e os jero
gdés, ate aos simples je-ros no fundo ou na margem. Mas, ao mesmo
tempo, a <<linhagem>> encarada como urn todo era uma unidade.
A mais mesquinha das casas nobres da mais afascada aldeia, a mais
periférica das linhas, podia, ainda assim, tracar as seus lacos, ou
pensava que podia, corn Dalem, o centro mais interior de todos; e
assim, a mais baixo dos jeros partilbava, ainda que tenuemence, do
poder, prestigio e forca carisrnática que Dalem irradiava como centro
exemplar.
Esta era pelo menos a teoria. A prática, a estrutura administra-
tiva na sua actuaçäo real, e dada a natureza da poiftica balinesa (ou
talvea apenas da poiftica), era algo mais complicada e irregular.
Para corneçar, as coisas eram menos claras do que o sugenido
pela figura 3, pois o tracar das linhas separadoras ntre Dalem, purl,
jero gde' e jero, e o que se pensava ser a sua posicão correcta, depen-
dia tendencialmence de quem as traçava.
Os membros das primeiras cinco casas - Gdé, Dangin, Me-
cutan, Den Pasar e Taman - tinham tendência a relent-se a todas
as outras casas cornojero, pelo menos quando achavarn que o podiam
fazer impunemente. As casas urn furo <<abaixo>> (ou <<para trCs>> ou
'ITULO III 83

para fora) -- Ka!èran, Kediri, Oka, Anom An-ar -


eeussarl.Ifl cflft nac Ja prlmei ra. PrestIgio a parte, as casas de
resistêncja a isto, é claro; mas, tal como as primeiras cinco casa, facto pocierosas (porque grandes, nicas e vigorosas) eram Anom e
também resisttani a referir-se as casas dos grupos Beng, Kompiang, Subarna, pot urn lain, e Kalèran e Kediri por ourro; pelu que o
Tegeh e Penebel corno jero gdc preferindo charnar-lhes simples-- equilIhnio era, se rião exactarnenre igual, pelo rnenos quase igual.
mente jero. 0 inverso, a auto-ascensão, raxnbém ocorria. Os irmãos
0 que havia, de facto, era urna vigorosa nivalidadt- interna pela
do rei tentavarn representar as suas casas como sendo ainda parte lideranca dii dadia entre a casa da linha central enquanro tal e a
de Dalern, como não tendo ainda realment-e <saIdo>> dela: e ate casa mais forte fornida, ou tida como formada, a partir dos irrnãos
grupo Kalèran tentou fazer o mesrno, pelo merios face as casas de do rei suserajin irnediatamente precedence. 0 primeiro, o cakord:!
status mais baixo (o homem comum referia-se, nortnalrnente, ao reinanie (1868-1903), manuinha a lealdade, fosse corno k)SSc, dos
L
total da dadia e a qualqucr casa dela como eDalem'>: ainda que a seus irmäos e conquistou o apoio de uma poderosa casa exterior
distinçao entre o '<Dalern dos Dalems>>, Puri GdC, c os outros, bern (Subarnia), bern corno a de três rnernbros da subdadia de Kalèran
corno entre casas rnaiores e menores, fosse bern clara para o mais (Oka, Anom, Anyar). 0 filtimo, o rei junior, era apoiado pelo mais
simples dos camponeses). As pessoas do grupo Beng tentavam charnar forte dos seus pnirnos (o filbo do irrnão do seu pai, o senhor de
as suas de jero gdé ou, face a estranhos, ate mesmo purl. E assim
Kediri) e por todas as casas formadas aquando da ascensão do seu
sucessivamenite.
avô (isto é, o seu segundo patninimo), lideradas pelo senhor dejero
sisterna de ranking intradadia, corn as suas quatro classes de GdC Beng corno urna espCcie de rei jilnior, ou patih (o patih de GdC
nornes de casas, não era, enquanto padrão, questionado; tão-pouco era Subarnia). Os processos politicos concretos que levaram ao
era o princIpio do status decrescente que the estava subjacente. surgirncnto destes alinharnentos e a sua rnanutencäo (ate a cisão
Mais discutIvel era a questão de quern se situava aonde, e de quem decisiva de 1906, quando Kalèran apOiOLl os Holancleses e Gdé se
tinha clireito a que tipo e quantidade de deferência; precisamente opôs a des) - em particular as razöes das fIliacoes contrárias a
tipo de questâo discutIvel que podia levar ao derrarnamento de linha geaealógica (Oka, Anom e Anyar), da neutralidade de Pene-
sangue na polItica de prestIgio do Estado-teatro balinês. bel e das posicöes impressionanternente anómalas de Subamia -
segundo factor perturbador da regulanidade das relaçoes sao, infelizrnente, irrecuperáveis. Mas esses processos politicos devem
hierárquicas centro-periferia assentava no facto de, em Tabanan, ter sdo enredados, melindrosos, elegantes e sanguinários.
como por todo o Bali, não bayer apenas urn rei, mas dois, urn Finalmente, a terceira irregularidade no sisterna governamental
<<senior>> e urn <<jCinior>> - aquilo que tern sido chamado, corn Tabanan, pelo menos no respeitante a legitimidade, era que nem
pouco rigor, urn <<duplo governo>>. todas as casas que nele jogavam papéis significativos estavarn de
Em Tabanan, e durante o perIodo em causa, o segundo rei facto relacionadas genealogicarnente, nern rnesrno em teonia, a linha
(pemadé - <<seguidor>>, <<jtinior>), o subsuserano, por assirn dizer,
dominante - isto e, não cram <<nobres>> no sentido exacto da
era o cabeca da casa de Kalèran. As outras casas pnincipais estavarn palavra. Dc facto, algumas cram Sudras. Destas, urna em particular
ligadas por laços de clientelismo intradadia a uma ou a outra de - Dangin Peken, urna casa Sudra muito grande localizada em
entre as casas liderantes e referidas como punggawas. Assim se formaram Tabanan propriamente dita (yen mapa 2) - era de tal importuincia
duas facçoes principais dentro da linhagern real. Corn Puri Gdé, o que se contava entre as casas liderantes do reino, nivalizando ern
tel senior, estavam fihiadas como suas punggawas as puns Dangin, poder e influéncia corn codas as outras, a excepcão de Gde e Ka-
Mecutan, Den Pasar, Tarnan, Oka, Anom e Anyar, e a jero Sub- lèrari. Várias vezes refenicla como <<o braco direito do rei>>, estava
amia; corn Kalèran, o rei junior, estavam filiadas a purl Kedini e as firmemente ligada a casa central, Gdé, a qual servia de <<secretgriao
jeros gdés Beng, Kompiarig e Tegeh.
(penyanikan); e, como a sua posição dependia desse laco mais do que
O facto de bayer nove casas na facçao Gdé e apenas cinco na dos seus antepassados, era considerada - juntarnente corn Su-
Kalèran não deve set entendido como afIrrnação de urna forca bamia, urna casa bastante perifCrica, trazida para o centro da vida
ANATOi1vI1A POLITICA CAPITTJLO Iii 85
84

poiftica camhrn por favov Cie Gd ---, •orno a mais nqoSriOoavel- Birrnâflia, tal como em Bali) essencialmence como urn exemplo
maisde uma ou de oucra dessas formas. Mas, conoo tarnbCm vere-
mente leal.
A nIveis menos elevados, ouras casas Sudra e casas Wesia e mos, cia era de facto algo de mutro diferente de qualquer uma
Satria nio nobres (casas genealogicamerie não ligada.s corn qual- dabs: urna ordern cerirnonial de precedências imperfeitamence
quer das lirihas principais na região) tainbérn jogavam papéis no impressa sobre urn bando de soberanos.
siscerna equivalences ao papel das casas terciárias (as jeros) do l:r& Se se encaror o Estado clássico em Tabanan corno uma hierar-
pria linha real. Se Dengin Peken e, cla urn modo algo diferenta. quis cultural definida pela irnagem do cencro exemplar c de scacus
decrescence da autoriclade goverriatnentab, ou seja, se a considerar-
Subarnia, cram, por assim dizer, jero gdés por decreto da carte, tarn-
bern o eram talvez vince e cinco ou crinta casas jeros menos podc- mos em cermos de legirirnidade policica, dc parece escar organiza-
rosas por via de semeihante decisão, ainda que nem codas em do de cima para baixo - parece descer desde o senhor suserano, ou
rei, passando pelos vários gratis de senhores menores, aparencados
relacao a mesma corte.
e não aparentados, ate ao mais Infimo aideibo, o objecco desaforcu-
nado das suas exacçöes arbitrárias. Mas se o examinarmos enquanco
4 siscema de dorninação, como escrutura de comando e obediência, jib
näo apresenca de todo aquele aspecco. Em lugar de dimanar de
Esras cerca de cern casas - as subpartes hierarquizadas e riva- cima para baixo, a partir de urn pináculo de autoridade, ou de se
lizances da linhagem dominance; as principals cortes cliences, só espalhar a parcir de urn centro gerador, o poder parece ser içado ace
muito relucancernence subservientes; e as linhas não aparentadas e esse pinCculo ou set conduzido para esse cal cencro. 0 direito de dat
semi-independences, leais quando necessário, rebeldes quando possIvel ordens não era delegado de cci para senhor, de senhor para senhor
- formavam assim a pirârnide do poder no Tabanan dos uinais do menor, e desce para a sóbdito; ances era encregue pelo sübdico ao
século XIX, no que era uma area de, calvez seja born relembrá-lo, senhor menor, por esce ao senhor e pelo senhor ao rei. 0 poder não
umas trezentas milhas quadradas e corn talvez oicenta ou novenra era acribufdo a parcir de cima, dc acumulava-se a parcir de baixo.
mil pessoas. Era nesca pirârnide de poder periclicance, em constance Nibo quer isto dizer que o siscema fosse democrácico, coisa que
reajustamenco e incrincadarnerice equilibrada, e nib, repica-se, num certamence nao era; nem que fosse libercário, a que era ainda menos.
qualquer despocismo centralizado e faraóriico, que consistia o Esra- Quer dizer que era - radical, penecrance e inveceradamente -
do, o negara. confederado.
0 negara não era, no sencido weberiano, nem feudal, nem pa-
trimonial. Isto C, no era urna escrurura adminiscrativa funcional-
mente diferenciada e graduada de forma siscemática, a maneira da
China de Confücio ou da Roma imperial. No era urn siscema de
direico contratual sustentado pela organizacäo dominial, pela justi- Simplificando, havia quatro ordens genéricas de encidades poll-
ça de servico e pela Ctica cavaiheiresca; a maneira da Europa do ticas no Tabanan pré-coionial: parekan, kawula, perbekel e punggawa.
Norte na Idade Media ou do Japao ances de Meiji. E co-pouco era Urn parekan era urn hornem (ou, mais correctameace, uma famibia)
complecamence dependente de urn senhor ou, embora corn menos
urn oikos domCsrico dilatado e militarmence desenvolvido, a manei-
ra do Islão sob os Omfadas ou da Persia sob Dario. Havia no negara, frequência, de urn sacerdote Brahrnana. Nibo tinha terra, vivia num
como veremos, indfcios suficientes, talvez ernbrionários, talvez bairro chamado pekandelan (vet mapa 2) perto ou ao lado da casa do
incidentais, de cada urna destas formas mais familiares de organi- seu senhor, a sua comida era fornecida por este e era obrigado a
zacão polIcica cradicional, suficiences para induzir os estudiosos no fazer pracicamence cudo o que dc ihe pedisse. Não era em rigor urn
engano de o considerarem (em Java e Samacra, ou no Camboja e na escravo; pOIS os parekans nibo cram, canto quanto sei, comprados e
86 ANATOAI1A POLITICA AP[JULJ III

vend idos (na realidade no havia qualquer tiN de tráfico de escra- altitude nas monranhas, a norre de Tabanan, sete noucro lugar de
vos) e tao-pouco estavarn legalmente proibidos de deixarern o emprego montanha a cerca de cinco milhas abaixo na encosca, dez num lugar
do senhor. caso conseguissem arranjar urn modo de o fazer que Ihes calvez a c1it1nze mflhas a nordesre de Tabanan e un clirecço de
permitisse continuar a vestir-se, corner e abrigar-se. Mas era sern Marga, quarro nurn lugar isolado da floresta no Noroesce da area
düvida algo de muito próxlrno de urn escravo: urn servo rotalmente do cafC, quarenca num oucro lugar afastado no Oesce irido perco da
desprovido de recursos. fronceira corn Jembrana, dez num lugar a apenas neia rnilha
Os kawula cram de longe us fllais nurnerüsoS (Ic enrr os Balineses, de Krambitari, dois num lugar a sul de Tabanan, a rneio carninho
constituindo talvez noventa por cento da população. Urn kawula do mar, e cerca de uma diizia num lugar no Sueste, a caminho
era urn homem, näo membro da elite dirigente que, possuindo de Kediri uma disserninaçao quase penfeica arravés da esfera de
terra ou praticando urn offcio, ou ambas as coisas, estava obrigado infiuência genérica de Tabanan.
a prestar certos servicos definidos corn grande cuidado e estreica- Uma vez que os outros perbekels sujeicos a Subamia, talvez
mence limitados, a urn ou outro senhor: urn sóbdito. quirize ou vince, tinham <<posses>> igualmence disserninaclas, os
Urn perbekel era, como foi referido, urn homem que tinha urn sóbdicos do punggawa não eram de modo algum urn grupo concen-
maior ou menor nümero de kawulas directarnente ligados a ele; era crado. E o mesmo era verdade para todos os outros punggawas, ace
responsável pelos deveres destes enquanto sübdicos: urn incerrne- no Puri Gdé, cujas <<posses> cram, diz-se, as mais vascas e equica-
diário politico. civamente discnibufdas de todas: dois ou crês patios em quase todos
E, por firn, urn punggawa era, como já se mencionou, urn senhor os lugares, mas não muicos em cada lugar. Nern os perbekels nem
do reino - canto quanto se pode falar de reino -, a quem esta- os punggawas, nem mesmo o prOprio rei, decinham cerritórios. Tao-
yarn ligados urn nürnero variável de perbekels e, através destes, -pouco decinham unidades poifticas aldeãs (lugares, sociedades
urnas poucas centenas ou ace vários milhares de kau'u/as. Embora de irnigacão, grupos de cemplos) corn os quais eles não tinham
não fosse normalmente chamado urn punggawa (a não ser quando de modo algum relacoes definidas enquanto senhores. Eles decinharn,
tinha em menre a sua relacão corn Klungkung), o senhor suserano ou, como eles dizem, <<possufarn>>, o verdadeiro recurso politico no
- o <<rei>> - era de facto apenas urn punggawa entre outros: corn Bali chissico: pessoas.
uma posico de prestIgio mais alta, mas nao necessariarnente Se olbarmos para o assunto pelo lado aldeo das coisas, esce
uma posicão de poder mais forte. De facto, os cabecas de Kalèran, sistema significava que a populaçao de urn qualquer lugar (ou
Subamia, Kediri, Anom e talvez Beng, <<possuIarn>> todos mais silb- sociedade de irrigacão, ou grupo de templo) escava discribuIda, no
dicos kawula do que Gdé durante o perIodo de 1891-1906. respeicanre as obnigaçoes policicas supralocais, encre vários pungga-
Do ponto de vista da estrutura politica (em breve chegarernos was e muitas vezes entre urn n(irnero ainda maior de perbekels.
ao assurito ainda mais interessante do conceüdo), o aspecto crucial A unidade poiftica básica local no respeitante ao negara (esta uni-
da <<posse> de kawulas pelos perbekels, e pelos punggawas que os dade não tinha qualquer significado no sistema desa) era o bekelan
perbekels serviarn, é que essa <<posse>> não estava concentrada tern- - todos os que <<pertenciarn>> a urn perbekel. E como a classifica-
corialmence. Isto quer dizer que urn qualquer perbekel nao tinha os cão em bekelans não era feita por grupo de descendncia mas sim
seus sCibditos kawula num so lugar ou mesmo num grupo de lugares por patio, ate as ligacOes de parentesco prOximo podiam ser, e
adjacentes, mas sim num ni:imero de lugares dispersos e sem relação cram-no frequentemente, transversais. De facto, nenhurna divisão
ericre Si: Uf1S poucos acjui, uns poucos au, uns poucos acolá, e assirn estrutural de irnporcância no sistema desa tinha qualquer realidade
sucessivamence. no respeitance ao alinharnenco das lealdades polIticas supralocais.
A tIculo de exemplo, urn dos meus informantes, que tinha sido Em alguns casos urn aldeão podia mesmo ter duas lealdades,
perbekel para urn punggawa em Jero Subamia, detinha quatro patios para corn dois perbekels e, assim (embora não necessariarnente), para
(a unidade local de discribuiçao dos kawulas) num lugar a grande corn dois punggawas, cada qual exigindo urn servico ligeirarnente
88 ANATO\lIA POLT!C* CAPITULO Iii

diferente. E assirn que Korn descreve que, dos cerca de 1550 patios sisrdlna hierárquico de instituiçôes execucivas, mas sirn dssemina-
ligados a urn OL1 outro dos pwggwas de Krambican, 700 estavarn das através de urna pluralictade de irlsucuiçöes, cada qual indepen-
cambém ligados a urn ourro dos paiiggawis de Tabanan, em ambos dence ecu aim grail, autónoma e diferenternenre organizada. A 113-
OS casos através dos perbekels apropriados. Para com os senhores rureza confederariva do siscema baiinês de poder riãO consiscia s,5 na
Tabanan cinham as obrigacöes usuais (que serão descricas de segui- a uco-afIrrnacão, na arnbicão dos homens que o encaheçavarn, por
da); Para corn os senhores Krarnbitan tinham apenas de irabaihar, nhllitO grandiosos que fossern. Tão-pouco consisria apenas na cs-
de tempos a tempos, nos muros exteriores dos puns dos senhores. tranha fragilidade da sua organ ização social elefanresca, severa rorno
Os resrantes 800 patios estavarn ligados, na maneira mais habitual, era. Eta penetrava ate it prooria rneduia do goverrto, a aparato
apenas a Krarnbitan. administracivo atravCs do qual estes homens tinham de agir.
Desde o ponto de vista do camponês, as suas obrigaçôes Para
corn o Estado cram urn assunto apenas entre dc, ou, mais exacta-
mente, os membros do seu patio, e o seu senhor (através do perbe-
kel), e não entre qualquer grupo desa a que pertencesse e uma
administraço escatal globalizance da qual o seu grupo local fosse Talvez o exempto mais impressionance desca espCcie de segre-
uma parte cooptada. 0 negara e a desa escavam organizaclos Segun- gação - da separacao entre ourros tipos de relacoes socialmente
do linhas diferentes e direccionados para fins diferentes. Não esta- significativas entre senhores e a!deöes, e re!ação propriamente polftica
yam ligados nem por uma escrutura comurn nem por urn propósico punggau'a-perbeke/-kawu1a) -, seja a auconomia do !aco senhorio-
comum, mas pelo simples facto de que cada pessoa que percencia -rendeiro no Bali ciássico. Pode ser que o fcudalismo ocidencal se
a urn pertencia tarnbérn ao outro. tenha tornado nurna coleccão de domfnios [domains/terras] que eram
tarnbém domInios Idominions/terricórios); mas isso nao se ap!ica ao
negara. onde o controlo sobre a terra e sobre as pessoas se expri-
mia em insticuicôes distintas e não coordenadas.
Em Tabanan, a terra irrigada de arrozal era, corn poucas excep-
Virando-nos agora Para o conteüclo das obrigaçoes do kau'ula coes, possuIda individualmente. A esmagadora maioria dos donos
4
Para corn o seu senhor, clescobrirnos que o mais impressionance cram camponeses, kawulas alcleôes. Mas os senhores também pos-
ne/as é quão especfficas e estricamente definidas elas sao. Em yea sularn terras dessas, das quais retiravarn a major pane da sua
da lealdade difusa, uma espécie de sujeicão geral a urn senhor todo- subsistência, Para si mesmo e Para os seus cniados parekan scm terra.
-poderoso havia uma entrega muico lirnitada ao raj daquelas coisas A maioria das propriedades, canto nobres como do povo, estavam
que cram explicitarnence suas. E, de entre escas, havia sobretudo divididas num nrnero major ou menor de parcelas muico pequenas
duas, na realidade análogas e culturalmente equivalentes: serviço e norrna!mente disserninadas, parce!as de rneio acre ate dois e meio
ritual e apoio militar. Para alérn destas obrigacoes, as cuais, eviden- ou mesmo três acres cada. Em termos legais, os direicos dos senho-
temente, podiam set por si 56 bastante onerosas, o kawula näo res e dos atdeöes sobre cal terra cram exactamente os mesmos. Não
estava obrigado a mais nada. Ele não era urn rendeiro, urn servo, havia diferenca de quatquer tipo nas formas de posse. A ünica
urn criado ou urn escravo. Ele nem sequer era aquilo que, faute de diferenca era que os senhores tinham normalmente uma major
mieux, the tenho vindo a chamar - urn sübdico. Ele era urn figu- quantidade de terra, disseminada de forma mais vasta por urn major
rante, urn carregador de lancas e c/aqueur nurna opera polItica nümero de sociedades de irrigacão. (Mesmo isso no era inevicavel-
scm firn. mente assirn. Pe!o menos dois dos maiores propriecánios nos fins do
Tal como os próprios kawu/as, assim o cram as funces de governo: século XIX em Tabanan, corn terras que so nio riva!izavarn corn as
não estavam concencradas, mas sim dispersas; nao focadas num dos senhores mais ricos, cram kawu/as Sudra.)
.-if\Ji\ fCL\1I;\ I'(JLiI 1

Mas, embora as propriedades dos senhores foem na SLid r Lt1h : .ra mais do que urn senhor, e talvez
maiores que as do povo, eram muiro desiguais no tamanho. As cambém para wn 00 dots aldeöes
grandes casas de proprierários em TdHanan parecern rer sido Anorn, Em poucas palavras, nao havia congruência sisternIcica (embora
Kalèran, Kediri e Krambiran As outras casas p;inggau'a. embora houvesse, aqul e all, alguma sobreposição mais oU menos acideutal)
corn propriedades signiiicativas, rinham niuiro menos terra. A cor- entre a estrutura da autonidade politica, a da propriedade da terra
relacao entre pocler polItico e riqueza agricola era, pots, no rnInimo e a do arrendarnento.
parcial. E isto era verdack nao so em Tabanan mas em Bali em
geral. Urn dos poderes mais importantes da ilha, o reino de Karen-
gasem, a sudesre, tinha muito pouca terra de arrozal; enquanto que
Kaba-Kaba, a veiha casa Mengwt, tinha extensas propriedades, rnas
nao parece ter alguma vez conseguido traduzir a sua terra em forca A parte da producão de arroa que cahia ao senhorio nobre era
militar. 0 acesso diferencial a propriedadc agrfcola no era certa- coorada por altura da coiheica por urn funcionário conhecido corno
mente irrelevante para o poder politico em Bali. Mas tão-pouco era o sedahan - <<senhor da renda>>, <<cobrador de impostos-.
a essência dessepoder. A rnaioria dos senhores tinharn vários destes sed.ahans, escoihi-
Os rendeiros trabaihavam as terras dos senhores na mesma base dos normalmente de entre os membros menores da sua própria casa
em que os rendeiros aldeöes trabaihavam para senhores aldcöes. ou de entre membros de casas ligadas a des por Iacos perbekel ou
Assim como as terras escavam disserninadas em parcelas pequenas, outras lealdades. (Casos havia em que urn homem era ao mesmo
tambérn os rendeiros estavam disseminaclos; e qualquer senhor rinha tempo sedahan e perbekel. No entanto isto era raro e quando possIvel
urria multipliciclade de parcelas e de rendeiros. Os rendeiros eram deliberadamente evitado.) Acirna de todos os sedahans de urn se-
escoihidos principalmente pela proxirnidade da sua residência em nhor, de urna casa nobre, liavia normalmente urn sedahan ge/i! -
relacao a terra em causa (normairnenre des prOprios possularn terras urn see/a/lan <<grandex. ou <<grandioso>>. Quase sempre membro da
na mesma sociedade de irrigaco, pelo ciue eram, tal como o senhor, casa nobre, dc era responsável pelas operacöes dc cobranca de rendas
membros de pleno direito desta) e pela sua reputacão de perIcia e impostos para o senhor: vigiar os .cec/ahans, manter os registos
agrária: babilidade na lavoura, espIrito industrioso, honestidade. apropriados, armazenar o grão, etc. Mas era também responsável
Uma vez estabelecidos como rendeiros, a tendência era no sentido por fazer dc mesmo urn cerco nilmero de cobranças in loco, exacta-
de ocupar o lugar permanentemence, corn os filhos herdar.do por mente como os sedahans, entre os quais dc era, pois, mais urn
vezes os direitos do pai, desde que cumprissem de forma satisfatO- primeiro entre iguais do que urn verdadeiro chefe. E naqueles arrozais
na, e mesmo que a terra mudasse de mos de urn senhor para oucro. (cuja cobranca de renda e impostos fosse da responsabilidade de
Tanro quanto consegui descobrir, não se faziam esforços para sedahans individuais) que estivessem cerritorialmente concentrados,
escoihecer Os kawulas ou os rendeiros de cada urn. Nern, por outro consistinclo assim as terras do senhor de uma ou, normalmente,
lado, se fazia algum esforco especial para os evitar. Os critérios de várias sociedades de irrigacão vizinhas, as responsabilidades do se-
arrendamento e os de sujeico eram simplesmente diferences; dahan gdé cram de novo de tal modo disseminadas que dc tinha urn
aparencemence, era muito raro que os dois assuntos fossem pensa- ou dois campos sob a sua vigilância imediata em virtualmence
dos como tendo algo que ver urn corn o outro. Consequenternente, todos os sftios onde o senhor tinha terras.
de longe o major nñrnero de rendeiros não eram kawulas dos seus Ta! como referido, a cobrança de impostos (pajeg), tambérn era
senhonios, e de longe o major nómero dos kawulas de urn senhonio da nesponsabilidade dos sedahans, grandes ou simples. Também se
näo eram seus rendeiros. De facto, como as parcelas eram pequenas, organizava nurna base muito sua, não coordenada nem corn o sis-
e como os bons lavradores scm suficiente terra própria no eram tema perbekel de autonidade investida, nem corn o sistema de amen-
numerosos neste perfodo ainda pouco sobrepovoado, muitos rendei- darnento da terra.
CAP[TL7 LO ill 9
92 ANATOMIA POL1TICA
is
que consistiarn, na que pot vezes cumpria certas funçöes nuxiliares de coordenação,
Formavarn-se areas de impostos (bi pj
arbitragem e adjudicaçäo, sendo-Ihe escas funcôes confiadas pelos
maioria dos casos, uma so sociedade e trigação. 0 direito de
mernbros da sociedade de irrigacào, em cujas rnãos escava do facto
cobrar o imposto numa dadaárea <pertencta a urn senhor es-
arroz controlo e1eccvo e final sobre as decisôes do agricultura?
pecIfico, cujo sedakzn: er1tão a cobravarn, em genéroS (i. C.,
Exisce, narninhaopinião, urna resposca breve para estas pergun--
descascado), no tempo das coiheitas ou pouco depois. 0 imposco
cas: o segundo ponto de vista, salvo uma ou outra excepcão margi-
no era consideraclo urna contrihuicão sobre a terra, mas sun sobre
nal, esta corrccto 0 pri!neiro, a parte iarna Oii outra situacão anOtnala,
a áua, sendo, por isso, calculado não em cermos do camanho do
nan. Mas para se poder dizer porque assim e, e o que era e no em
campo mas sirn da quancia de igua usada pelo camponês para a
real papel do neg-ira na irrigacão é preciso dizer algo mais acerca
irrigacão. Finalmente, as areas de impostO <<percencences" a urn ou
da ecologia da agriculcura balinesa em geral e, em particular, acerca
outro senhor não erarn, como se pode já adivinhar, concencradas
da organizacão social e técnica da sociedade de irrigacão, o iiibak.
mas sirn distribuldas pela paisagem. Do ponto de vista fiscal, bern
como do polItico e do do prcprietário, o campo balinês era como
urn cabuleiro de darnas. Urn dos resultados mais exóticos deste
facto é que era possIvel a urn homem ser kawula de urn senhor, ser
rendeiro de urn segundo e pagar imposcos a urn terceiro.
Tecnicamente, o subak de Tabanan era inteiramente auto-insu-
As bases a partir das quais cresceu aquilo a que V. E. Korn -
que comou como auto-evidence que urn Estado como-deve-ser deve ficiente. Não clependia de quaisquer meios sobre os quais nao se
tivesse concrolo directo. Não havia qualquer espécie de sisterna de
ter urn soberano como-cleve-ser - charnou <<a grande falha (groote
discribuiçao de água propriedade do Estado ou por ele gerido, nem
ku'alI) dos reinos halineses, <<a falta de urn governo poderoso sobre os havia que fossem propriedade ou da responsabiliclade de enti-
todo o reino>', deviam agora cornar-se relarivamente claras aos nossos
olhos. Näo havia de todo governo unitário, fosse ele, fraco ou pocleroso, dades super-subak de qualquer tipo. Todo o aparato - barragens,
canais, diques e valas, divisórias, tcineis, aqueducos, reservatórios
sobre o reino inteiro. Havia apenas uma teia nodosa cle direicos
- do qual qualquer proprietário de terras dependia para o seu
especificos e, normalmence, reconhecidos.
fornecimento do agua, era construldo, possuido, gerido e mancido,
por vezes exclusivarnente, oucras em parceria, por uma corporação
independence da qual ele era urn membro de pleno direito e, pelo
A poiltica da iigaçio
menos do ponco de vista legal, urn igual. Independentemente de
Resta ainda o problema muito debatido e de diffcil resolução tudo o que possa ser clico acerca do Bali desde urn ponto de vista
marxista, não havia alienacao dos rneios do producao básicos.
- a luz das ceorias do <<rnodo de producao asiático>' que estipulam 0 resulcado não foi o capicalismo de Estado primitivo - solidão
os efeitos de centralizacão do poder inerentes a agricultura hidráulica
total/terror total/subrnissão total.
-, da relação dos senhores corn a organizacão e gescão da irrigacão
enquanto tal. Na medida em que essa organizaco e gestäo tenham Como unidade produtiva, urn subak pode ser definido (e assim
definem os Balineses) como todos os socalcos de arrozal (tebih)
existido, também aqui ela era procagonizada pelos sedahans; pelo
irrigados a partir de urn so canal de agua principal (telabah gde).
que a questão se resume ao papel dos sedahans, ou mais exactamente
Este canal, propriedade do subak enquanto corporacão, provinha do
do sedahan gde no funcionamentO das sociedades de irrigação. Era uma so barragem construIda corn pedra e larna (érnpelan). No caso
ele, e o senhor por ttás dele, o eixo administrativo de todo o sisterna
dos subaks maiores, esta barragern podia também pertencer na
- o seu planeador, iniciador e capacaz geral, uma espécie de raj do
totalidade ao subak. Muitas vezes, porém, era propriedade de vários
arrozal? Ou seria ele, e o senhor por trás dde, essencialmente perifé-
subaks juntos, cada urn dos quais presumiveirnence jogara urn papel
rico ao siscema - urn colector de rendas e cobrador do impostos
9-•I P)\1I P0/i] IL

:iia sua consrrução algures no passado mais ou menus distance,


rendo agora urn canal principal vindo dela. Em rais casos, a respon-
0 3 rr.gtrn ci, nc
sabilidade pela manutenção da barragem era disrribufda entre os O,,v,o
t
subaks em causa através de urn simples esquema rocarivo. sendo a -
-ì Dcvc5O.cadvacu, princ v-il (:r-..:k-i
Divis4r,sc cit A.
parte de cada urn na rotalidadr do fornecimeni:o de água (isco é, o 3 Cni pìccccp! (,di,h pi
7. CnI (:Ithct/,)
tanianho relacivo dos canais principais) fixada pela tradição. 8 Tcid dt £gc.
Como a L-'arragern, fosse ela possuIda individual ou conjunta- Aqoedcìo
.1. -!cccco 3 Accccc.,
menre, se situava inevitavelmence a uma distância razoável encosca
acirna em relacão aos socalcos c1ue servia (dez ou quinze quilómetros -Ttmpio do S,r,ck .1;,cr.c /,,,, ..cci)
nalguns casos), o canal principal corria, por vezes corn a ajuda de
aquedutos e tOneis de água construidos, corn rnuito engenho atra-
yes, sobre, sob e em redor de uma boa quancidacle de territórios
<escrangeiros'> interrnédios. Em subaks muico pequenos esce canal
pode fluir directamente para os socalcos, mas na esmagadora rnaio-
na dos casos uma divisória de água irnportante (temuku aya) inter-
ceptava o canal na proxirnidade dos socalcos, dividindo-o em dois
canais mais pequenos (tambérn chamados telabah). Mas a jusante,
estes canais menores eram normalmente divididos de novo em rnecadcs
OU tercos por uma segunda fileira de divisórias (cambém chamadas
temuku), processo esse que, nalguns casos, era repetido ainda mais
urna vez. 0 resultado final desta discribuição de iigua antes do
socalco, foi a criação de entre urn a uma düzia de braços de água
separados, para os próprios socalcos. Cada urn desses braços definia
uma subsecção distinta do subak, subsecçöes que se chamavam tern-
pèk. A questao de quanta ramificaço do caudal de água principal
anterior ocorria antes da sua chegada aos socalcos e, portanto, quanta
divisão incerna do subak em subsecçoes havia, dependia prirneiro do
tarnanho do canal e em segundo lugar da topografia da area, bern
corno, ate certo ponto, de meros acidentes históricos.
Urn resumo esquemáuico da irrigaco pré-socalco de urn subak
mais ou menos tfpico e apresentado na figura 4.
Após a chegada da água ao tbmpèk (isto é, os socalcos), era ainda
dividida em metades, terços, quartos ou, muito ocasionalmente, em
sextos. Os canais assim produzidos definiam a principal unidade
sub-tèrnpèk, normalmente chamado kecoran. Dentro do kecoran, que
podia consistir em meia dcIzia ate setenra ou oitenta socalcos, as
divisórias mais pequenas conseguiam produzir divisöes tao delica-
das como de urn décimo, dado que neste escádio já so se confron- FIGURA 4. Diagrarna esquemárico da distruibuiç5o preliminar de águas,
tavarn corn rneros regatos; elas segrnentavarn a água em canais para urn subak cctfpicoìì de Tabanan
Ai;fkTO!tL-\ POL/TIA
96
rerminai. Esces canais cerminais defiriiam a urndade fundamental
do subak: o t'nah. Dentro de qualcuer sibak, urn teah represenca
Va, pelo menos em ceoria, exaccarnerice o mesmo qwnhão do fome-
cirnenco total de água do suhak, quaiquer que ele fosse, em geral ou
de momento para momento; a cede ou grelba global era adaprada
de modo a produzir esta diviso igual.
A figura 5, de novo sob a forma de modelo, rnosrra urna cal
cede ou greiha para o subak cuja esrrucura pré-socalco foi esboçada
na figura 4.
Esta iluscraçào representa, porém, o ponto de vista de urn ob-
servador do sistema e não o de urn participante. Para urn membro
de urn subak nao se tratava de olhar para o conjunto total como
detentor de urn certo grande nümero de partes - 240, ou seja o
que for - e depois tracar a sua distribuição ate atingir o tenab, rnas
sim corneçar pelo tenab, que era a realidade irnediatamente conhe-
cida, e mover-se para cima. Partindo do principio de que a distri-
buicão pelos socalcos dencro do tenah tinha sido organizada sacisfa-
coriarnence, o rnembro preocupava-se primeiro em veriflcar se as
4
divisöes próximas (isto é, no interior do keccwan) eram juscas; depois,
se eram juscas ao nfvel do kecoran ou no interior do tempek; depois,
se eram justas ao nfvel do tèmpèk ou denrro do subak; e, finairnence,
se eram juscas ao nfvel do subak como urn todo - isto e, por altura
das divisórias do canal principal.
A semelhança formal, que pelo menos os ancropólogos ceriio
notado, da figura 5 corn urn grafico de urn sistema de parentesco
segmencário não é, pois, acidental. 0 princfpio organizador e o
mesmo, embora o idioma e o campo de apIicaco sejam diferences:
H uma oposicão complemencar de unidades definidas por divisória
e canal a cada nfvel do sistema, do mais elementar ace ao mais
englobante. 0 sistema total é do tipo em que unidades estruturalmente
equivalentes se juntam nurna pirâmide ascendente de, neste caso,
direitos jurIdicos sobre a água.

IL -
..
I
i
A organizacão social, polItica e religiosa do subak, e portanto da
agriculcura do arroz de regadio, corresponde a este padrão técnico
corn alguma exactido. A estrutura do subak como corpo corporate I I;.
r

ANATOiMM POLITICA r'ITULO 111 99


98
C. .CL> ,. n esforcos muico ocasionais de crahaiho
resu.ltou (ou, se esre urn rnodo dernasiado dererminisra de pÔr a L!L

em roassa. 0 primeiro aspecto rinha que vet corn quesröes cais


quescão, era congruenre) do esrrurura do subak como rnecanismo
tisiCo para mover água dos rios para os campos. como estabelecer e cobrar impostos do subak; cobrar rnulras pot
As carefa; 1m rernenres do cuirivo do arroz de regadio - lavrar, n fracçöes as regras; pagar a equipa do água e governor em geral as
4 suas accividades; decidir acrescentar ou d!mlnuir socalcos; reorde-
irrigar, sernear, transplancar, mondar, regar, colher, etc. - cram
organizadas e levadas a cabo ao nIvel mais baixo do sisterna, o do nar a rede ou a grelha de canais (sempre rnudanças pequenas):
socalco individual, possuido privadarnonte, ou do complexrde socalcos regisrar a regular iransferências de rerras; resolver dispucas encre
membros; e conduzir as <<relaçöes externaS>> corn OLittOS subak no
(isto é, mais ou menos o tenab, ' nIvel de <segmentac2o mInima'>
na figura 5). 0 mesmo se passava corn as disposicöes sociais ne- mesmo, zona de irrigacão. 0 segundo aspecco rinha que vet con
4 reparacöes na harragern principal e no siscema de canais pré-terraco
cessárias para o seu cumprimento -arr€ndarnenco oil penhora da
terra, crocas de crabaiho, crabaiho coleccivo, etc. A. este nivel ele- que cram demasiado extensivas para a equipa da água cumprir scm
mentor, o subak como unidade corporate não jogava nenhum papel ajuda.
accivo; limitava-se a estabelecer o concexco dentro do qual o cam- A expressão social deste nivel de organizaco era o krama subak
ponés individual, senhor de si mesmo na sua terra, se via obrigado - o grupo de codas as pessoas possuidoras de socalcos no subak.
a trabalhar. 0 subak nunca agiu como urna organização produciva 0 krarna subak, cujos membros tinharn todos Os mesmos direitos
no sencido próprio da palavra (e esta parece ser uma das poucas afir- legais independencernence do camanho das suas propriedades, nor-
9
rnacöes caxativas que nos podernos atrever a fazer acerca de Bali). malmente reuflia-Se uma vez por rnês balinés na sessão plendria.
Regulava a irrigacão, e para o fazer exercia conscrangimencos irn- 0 cabeça desce corpo e, logo, do subak como urn todo, era, como
porcantes sobre as decisöes do cultivador individual. Mas o efeccivo já se disse, o k/ian subak, urn homem escolbido (habituatmence por
processo de culcivo dencro desses conscrangimentos foi sempre urn eleiçäo formal) de entre os membros do subak. 0 krarna subak, enca-
¶ assunto bra da competência e do inceresse do subak. 0 subak era, beçado pelo seu k/ian subak, era, assim, o govetno operacional do
e é, urn serviço pbIico tecnicamente especializado de propriedade subak. Era aqui e não mais acima nern mais abaixo que resiclia a
cooperativa, e não uma quinta colecciva. efectiva soberania sobre o olugar da água>>. Tal como a equipa da
0 crabaiho técoico rocineiro do dia-a-dia exigido por este tipo água, corn o seu k/ian, era o coração técnico do subak, assim o krama
de sistema de irrigacão era sobretudo cumprido aos nfveis méclios subak. corn o seu k/ian, era o coração politico.
de organizacão, seguindo a nossa irnagem de urn siscema segrncntário
- isto 6, OS niveis do rèinpèk e do kecoran. A estes niveis cram
4
formadas o que Os Balineses chamam seka yèh, <<equipas da água>>
-grupos de homens, membros do siibak, delegados por este na sua
tocalidade, para levar a cabo esces deveres quotidianos e que cram Cada urn dos três niveis de organizaco ate aqui discutidos -
recompensados em conformidade -em géneros, em dinheiro ou o do socalco, o incra-subak e o do subak - cinha a si associadas
por isenco de vários impostos e concribuicöes do subak. Equilibra- certas actividades rituais. Ao nivel do socalco, estas actividades
consistiam sobretudo em pequerias oferendas de flores e comida
dos quanto a sua Iocalização dentro do subak, e normalmente rodan-
do os dias de serviço, os membros da equipa da Igua cumpriam colocadas nos cantos do socalco em dias apropriados do calendário,
algo que deve ter sido, subescimarido o cálculo, noventa por cento em cercos momentos do ciclo agrIcoia, ou mesmo por sugescão das
do trabaiho relacionado corn o coricrolo de águas no subak. Os circunstâncias e da disposicão; e também em certos ritos nos socal-
membros da equipa da água, encabeçados por urn funcionário eleico cos ligados ao plantio, coiheitas, etc. Os rituais cram, mais urna
vez, <<individuais>> - isto e, dirigidos ao bem-estar do dono, a
de encre des, o k/ian seka yèh, formavam o coração técnico do subak.
A organizacão ao nIvel do subak ocupava-se sobretudo corn produtividade do socalco on socalcos concrecos. Ao nivel do tèmpèk/
100 ANATOAILA POLITICA : CAP!TLJLO hf 101

/kecovcrn, consistiarn em actividades semeihantes levadas a efeiro em


colocardo assim a sitbak denro do sisrema aldeão de Bali,
pequenos alcares de pedra chrnados bi'diigu/ (ver figura 4, supra),
<cornpósito)) <p1uraIista'> ou <de pianos incerceptados e sobrepos-
pelo k/ian seka yèh e pela equipa da água, em representaço do
a de-scriro. Em segundo lugar. havia a templo <cabeça das
subgrupo relevance. Colocados perro de imporranres dvisórias das
' agua.s", j Piirti U/un Suwi, localizado rerco ou na principal barra-
águas (ou seja, aquelas que definiarn uniclades sub-subak importari-
gem do suibak (ver figura 4). Era nesce templo que os deuses da água
tes), os beduguls erarn consiclerados estacöes inrermédias>> ou ver- residiam, ou, coin mais rigor, oi-ide residiam quando estavam de
söes reduzidas do priricii1 templo do subak -o Pura U/un Carik; visira; e aqui, corno agora veremos, urn ritual de <<aberrura da
e era ao nIvel do subak que o centro de graviclade ritual, bern como
estacao>> ligavaosubak indi'iduala urn sistemaecológico que abrangia
o politico, se situava, de facro. toda a zona irrigada.
0 Pura U/un Carik, literalmente <<o templo cabeca dos arro- Assirn, os trés templos do subak, cal como os trés cemplos do
zais>>, localizava-se, normalmente, perto da rede pré-socaico, corno lugar (sendo o Pura Balai Agung membro de ambos os conjuntos)
na figura 4 -isto é, acima dos campos em si -, ou nurna clareira simbolizavam e, o que é ainda mais importante, regulavam diferen-
próxirna da margern alta dos arrozais. Era urn templo, urn Pura, e tes aspectos das actividades relevantes da unidacle social. 0 Pura
não urn mero altar, porque tinha urn dia de celebraçao pot ano U/un Carik simbolizava o subak coma urn conjunto de socalcos de
balinês, dia esse em que os deuses desciarn para serern fesrejados - •- arrozais, uma unidade agricola. 0 Pura. U/un Suwi simbolizava-o
e tinha a ele adscrito urn sacerdote do templo permanence, ou corno uma parte de urn sistema ecológico regional major. E o Pura
pemangku. Também aqui nao é necessário descrever os detalhes rituals, Balai Agung simbolizava-o (desde o ponto de vista do subak) como
embora seja de notar que, ao longo de todo o siscerna, do nIvel do parte do siscerna social -polItico-jurfdico-econórnico local englobante,
socalco ace ao nIvel, ainda por abordar, da regiao irrigada, os ele- a desa, no senrido mais vasto do termo, mais geral e não negara -
rnentos essenciais - versöes do culto mae do arroz/casamento do como urna comunidade rnora/.
arroz -eram basicamente os rnesmos, diferindo sobretudo no grau roda esta cliscussão de tipos de templos a niveis de acrividade
de elaboraçao, no esrilo ou na performance e, o que C muito signifi- ritual não e, todavia, apenas uma quanridade de deralhes etnológicos,
cativo, no alcance da referência social. Aqui, esse âmbito era o subak' pois as actividades nesses templos (ou airares, ou socalcos) fame-
como urn todo. As cerirnónias do Pura U/un Carik espalhavam 0 ciam ao siscema do subak como urn todo os mecanismos de coorde-
.4
seu efeico benCfIco sobre o subak em geral e erarn conduzidas pelo nação de que precisava para funcionar. Nao forarn instiruiçöes poifticas
sacerdote, corn o apoio e assistência de todos os membros. 0 Pura altamenre cencralizadas, concrolando discribuiçöes maciças de água
U/un Carik era, pois, o templo do subak pot exceléncia. Era a expressão e irnensos gangs de trabaihadores coo/ies, <<Burocracias Hidráulicas>>
da sua unidade moral e o sImbolo do seu objectivo material. dirigidas pot <<DCspotas Asiácicos>> em busca de <<Poder Total>>,
Havia, porérn, dois outros templos de relevância imediata ao que pemmitiram ao sisterna de irrigacão balinés funcionar e que the
nfvel subak de organizacão. Urn, que já foi mencionado a propósito deram forma e ordem. Foi sim urn corpo de obrigacöes rituais so-
da vida religiosa do lugar, era o Pura Balai Agung, urn <<templo de ciologicarnente estratificado, espacialmente disperso, adminiscrati-
a1deia> dedicado a fertilidade não s6 dos campos irrigados e flO vamente descencralizado e moralmente coercivo. E ao nivel da area
irrigados (isto C, jardins, coqueirais e outros talhóes fora do subak), de drenagern, supra-subak (aquilo que os Balineses charnam keseda-
como tambCrn das mulheres da area da <<aldeia costumeira>>. Do han), onde os problemas de coordenaçao atingern a maxima escala,
ponco de vista do subak, portanto, o Pura Balai Agung simbolizava que este facto se torna particularmente claro e importante para urna
a conexão geral entre o que se passava no subak, a agricultura compreensão do Estado balinés.
irrigada, e o que se passava no lugar, a vida social, polftica e econó- De modo a dat uma ideia mais concreta do que é a relaçao <<no
mica quocidiana. 0 templo e as cerimónias que nele acoriteciam, I
terreno>> encre subaks em Tabanan, elaborei em diagrama, nas figu-
formavam uma ponte entre o lugar <<hCirnido.> e o <<seco>>, o banjar, f
ras 6-10, cinco areas locais a diferentes altitudes, indo desde a costa
98 ANATOAIIA POLITfCA
*1

resulcou (ou, se este é urn modo demasiado deterrnnista de par a C •L:d uci esforços muiro ocasionais de trabaiho
questäo, era congruerite) da estrucura do subak corno mecanismo cm massa. 0 prlrneiro aspecro cinha que ver corn quesrOes rats
fisico para mover água dos rios para os campos. como escabelecer e cobrar impostos do culiak; cobrar multas por
As tarefas prementes do cuirivo do arroz de regadio - Iavrar. tS regras; pagar a equipa da água e goverriar em geral as

irrigar, sernear, transpiaricar, mondar, rear, coiher, etc. - eram sua accividades; decidir acresceritar ou diminiuir socalcos; reorde-
organizadas e levadas a cabo ao nIvel mais haixo do sisrema, o do nat a rede ou a grellia de canais (sempre rnudariças pequenas);
socalco individual, possuIdo privadamenre, ou do complexo de socalcos regisrar e regular tiansftrencias de terras; resolver dispucas entre
membros; e conduzir as <<relaçöes excernas>> corn ourros subak na
(isto é, mais ou menos o tenab, e nivel de .esegmenraco mInima'
na figura 5). 0 mesmo se passava corn as disposicoes sociais ne- mesma zona de irrigação. 0 segi.indo aspecro rinha que ver corn
cessárias para 0 seu cumprimentO - arrendamenro ou penhora da reparacöes na barragern principal e no sisrema de canais pré-rerraco
terra, trocas ne trabaiho, trabaiho coleccivo, etc. A este nivel ele- que cram demasiado extensivas para a equipa da água cumprir scm
mentar, o subak como unidade corporate não jogava nenhurn papel ajuda.
activo; limirava-se a esrabelecer o conrexto dentro do qual o cam- A expressäo social desre nfvel de organizacão era o krama subak
ponês individual, senhor de si mesmo na sua terra, se via obrigado - o grupo de codas as pessoas possuidoras de socalcos no subak.
a crabalhar. 0 subak nunca agiu como uma organizacão produriva 0 krama subak, cujos membros rinham rodos os mesmos direitos
no sentido práprio da palavra (e esta parece ser uma das poucas afir- legais independenremenre do carnanho das suas propriedades, nor-
maçöes taxativas que nos podemos atrever a fazer acerca de Bali). malmente reunia-se uma vez por rnês balinés na sessão plenária.
Regulava a irrigacão, e para o fazer exercia constrangimenros im - 0 cabeça desre corpo e, logo, do subak corno urn rodo, era, corno
portantes sobre as decisöes do cultivador individual. Mas o efecrivo já se disse, o k/ian subak, urn homem escolhido (habicualmente por
processo de cultivo dentro desses constrangimenros foi sempre urn eleiçao formal) de entre os membros do subak. 0 krama subak, coca-
assunto Iota da cornperência e do inceresse do subak. 0 subak era, beçado pelo seu k/ian subak, era, assim, o governo operacional do
e é, urn servico püblico recnicamente especializado de propriedade subak. Era aqui e não mais acirna nem mais abaixo que residia a
cooperativa, e não uma quinta colectiva. efectiva soberania sobre o <<lugar da água>. Tal como a equipa da
0 trabalho récnico rotineiro do dia-a-dia exigido por este cipo água, corn o seu k/ian, era o coraco cécnico do subak, assim o krama
de sistema de irrigação era sobretudo cumprido aos nfveis médios subak, corn o seu k/ian, era o coraço politico.
de organização, seguindo a nossa imagem de urn siscema segmenrário
- isro e, os niveis do rempèk e do kecoran. A estes nIveis cram
formadas o que os Balineses chamam seka yèh, <<equipas da água>> 4
- grupos de homens, membros do subak, delegados por este na sua
totalidade, para levar a cabo estes deveres quotidianos e que cram Cada urn dos trés nhveis de organizacão ace aqui discucidos -
recompensados em conformidade - em géncros, em dinheiro ou o do socalco, o intra-subak e o do subak - tinha a si associadas
por isenção de vários impostos e contribuiçöes do subak. Equilibra- certas actividades ricuais. Ao nfvel do socalco, estas acrividades
dos quanco a sua localizaço dentro do subak, e norrnalrnente rodan- consistiam sobretudo em pequenas oferendas de flores e cornida
do os dias de serviço, os membros da equipa da água cumpriarn colocadas nos cantos do socalco em dias apropriados do calendário,
algo que deve cer sido, subestimando o cálculo, noventa por cento em certos mornentos do ciclo agrfcola, ou mesmo por sugestão das
do trabaiho relacionado corn o concrolo de águas no subak. Os circunstncias e da disposicao; e também em cercos ricos nos socal-
membros da equipa da água, encabeçados por urn funcionário eleico cos ligados ao plancio, coiheitas, etc. Os ricuais cram, mais uma
de entre eles, o k/ian seka yèh, formavam o coraco técnico do subak. vez, <<individuais>' - isto é, dirigidos ao bern-esrar do dono, a
A organizacão ao nfvel do subak ocupava-se sobretudo corn produtividade do socalco ou socalcos concrecos. Ao nIvel do tèmpèk/
100 A!\ATOAIJA POLJTICA CAPITULO III 101

Ikecoran. consisciarn em activiclades sernelhmtes levadas a efeiro em


c olocanclo assirn o sahak dencro do sistema aldeão de Bali,
pequenos alcares de pedra charnados bedugu/ (er figura 4, supra), <<cornposito>', <piuralista'> ou <dc- pianos incerceptados € sobrepos-
pelo k/ian sea yèh e pehi equipa da água, em representaco do tos" j descrico. Em segundo lugar, havia 0 templo .<cabeça das
subgrupo relevante. Colocados perto de importance; dtvisórias das 2guas', o Pzra U/un 5iwi, localizadu perco ou no principal barra-
águas (ou seja, aquelas que definiam unidades sub-subak importan- gem do subak (vet figura 4). Era neste templo que os deuses da água
res), os bedugu/s eram considerados 4esracoes intermdias>> ou ver- residiam, ou, corn mais rigor, oride residiam c1aando estavam de
söes reduzidas do principal templo do subak - o Pur..i U/un Carik: visita; e aqui, como agora vcrcrnos, urn ricuul ck •<abertora cLi
era ao nIvel do subak que o centro de gravidade ritual, bern como estacão'> ligava o subak individual a urn sisrerni ecoldgCO que aLnangia
politico, se situava, de facto. toda a zona irrigada.
0 Pura U/un Carik, literalmente <o templo caheça dos arro- Assirn, os crês templos do subak, cal como os crês templos do
zais', localizava-se, normalmente, perto da rede pré-socatco, como lugar (sendo o Pura Balai Agung rnembro de ambos os conjuncos)
na figura 4 - isto e, acima dos campos em si -, ou numa clareira simbolizavam e, o que é ainda mais importante, regulavam diferen-
próxima da margem alta dos arrozais. Era um templo, urn pura, e tes aspectos das actividades relevantes da unidade social. 0 Pura
não urn mero altar, porque tinha urn dia de celebracao por ano U/un Carik simbolizava o subak como urn conjunro de socalcos de
balinés, dia esse em que os deuses desciam para serem festejados - arrozais, uma unidade agticola. 0 Pura U/un Suwi sirnbolizava-o
e tinha a dc adscrito urn sacerdote do remplo permanence, ou como uma parte de urn sistema ecológico regional major. E o Pura
pemangku. Também aqui nao é necessário descrever os detaihes rituais, Balai Agung simbolizava-o (desde o ponro de vista do subak) como
embora seja de notar que, ao longo de todo o sistema, do nfvel do parte do sistema social _po!itico-juridico-economico local engloban re,
socalco are ao nfvel, aincla por abordar, da regiäo irrigada, os ele- a desa, no sentido mais vasto do termo, mais geral e não negara -
mentos essenciais - versöes do culto me do arroz/casarnento do como uma cornunidade moral.
arroz - cram basicarnente os mesmos, diferindo sobretudo no grau Toda esta discussão de tipos de templos a niveis de acrividade
de elaboraco, no estilo ou na performance e, o que é muito signifi- ritual no C, todavia, apenas uma quanridade de detaihes etnoiógicos,
carivo, no alcance da referência social. Aqui, esse âmbito era o subak pois as actividades nesses templos (ou altares, ou socalcos) forne-
como urn todo. As cerimónias do Pura U/un Carik espalhavam o ciarn ao sistema do subak como urn todo os mecanismos de coorde-
seu efeito benéfico sobre o subak em geral e eram conduzidas pelo naço de que precisava para frmncionar. Não forarn instituiçöes politicas
sacerdote, corn o apoio e assistência de todos os membros. 0 Pura altamente centralizadas, controlando disrribuiçoes maciças de água
U/un Carik era, pois, o templo do subak por excelência. Era a expressao e irnensos gangs de trabaihadores coo/ies, <<Burocracias 1-lidr6ulicas>'
da sua unidade moral e o simbolo do seu objecrivo material. dirigidas por <<Désporas Asiáricos>> em busca de oPoder Tota!x',
Havia, porérn, dois outros templos de relevância imediara ao que permitiram ao sistema de irrigacão balinês funcionar e que the
nfvel subak de organizacão. Urn, que já foi mencionado a propósito deram forma e ordem. Foi sim urn corpo de obrigacöes riruais so-
da vida religiosa do lugar, era o Pura Balai Agung, urn <<templo de ciologicamence estratificado, espacialmente disperso, administrati-
aldeia>> dedicado a fertilidade no so dos campos irrigados e nao varnente descentralizado e rnoralmence coercivo. E ao nfvel da area
irrigados (isto C, jardins, coqueirais e outros talhöes fora do subak), de drenagem, supra-subak (aquilo que os Balineses chamam keseda-
como também das muiheres da area da <<aldeia costumeira>>. Do ban), onde os problemas de coordenação atingem a maxima escala,
ponto de vista do subak, portanco, o Pura Balai Agung simbolizava que este facto se coma particularmence claro e importante para uma
a conexão geral entre o que se passava no subak, a agriculcura cornpreensão do Estado balinês.
irrigada, e o que se passava no lugar, a vida social, poiftica e econó- De modo a dar uma ideia mais concreta do que é a relaço <<no
mica quotidiana. 0 templo e as cerirnónias que nele aconteciam, terreno'> entre subaks em Tabanan, elaborei em diagrama, nas figu-
forrnavam uma ponte entre o lugar <<hcimido>> e o <<seco>>, o banjar, ras 6-10, cinco areas locais a diferenres altitudes, indo desde a costa
4

102 ANATOMJA POLITICA CAPITLILO 111 103

I maritima, corn os seus si?baki grarides e densamerite aglomerados, do arroz. Esce culto era uriiforrne em todo o Tabanan (quer dizer,
ace a crisca mais elevada da area de culcivo do arroz, corn os seus uniforme na sua estrutura; havia, como de costume, largas vatiaçöe
subaks pcquenos e clisseminados. no concei:ido ritual): e refraciava-se em todos os niveis do sistema,
descle a socalco arC ao supra-subak. Os nove escãdios cram: (1) Abercura
das Aguas; (2) Abertura dos Socatcos; (3) Plancto: (4) Purificar a
) Agua; (5) Alimentar as Deuses, urna celebraç fcica uma ve? por
rns halins na qual água benra do templo do subc. o Pui U/un
0 nIvel kesedaIMn de organizacão da irrigacão diferia dos niveis Carik, era levada por cada dono para os seus campUs, e feicas várias
que ternos vindo a discucir, subak e sub-subak, em virios aspectos oferendas de fibres e cornida. (Urna vez qae esta cerimóni: era
cruciais. Em primeiro lugar, não havia grupos corporates a ele asso- respeitada toclos os crinra e cinco dias ao longo de todo o ciclo
ciados, do género da equipa da água ou dos membros do subak. agricola talvez no fosse propriarnenre urn estádio separado); (6)
Havia apenas o conj unto de cobradores da renda e colectores de Germinar das Plantas do Arroz (o que acontece cerca de cern clias
impostos seclahan e sedahan-agung já descrito, corn as suas lealdacics depois do planrio); (7) Amarelecirnenco (isto C, perto da frucifica-
para corn diferentes senhores e seus bailios disseminados irregular- ção) do Arroz; (8) Colheica; (9) Colocar o Arroz Colbido no Ceiciro.
mente pela paisagem. Em segundo lugar, e em parte em conse- Ora bern, o dia da Abercura das Aguas para os vários subaks na
cjuência desca disseminacao, no havia unidades verciadeiramenre zona de drcnagcrn - isco C, o Wa em que a Cgua C desviada, na
delimitadas a este nIvel, mas apenas uma nocão geral de que os barragem, para o canal principal do subak - era escalonado de
subaks partilbando água de urn so sistema fluvial encaravarn urna maneira a que quanco mais alto estivesse o subak ao longo do
certa necessidacle de, pelo menos, coordenarem minirnarnente as escalonamenco moncanha-mar, canto mais cedo se verificava esse
suas actividades. E, em terceiro lugar, näo havia, a este nIvel, salvo Wa. Os subaks no cirno do sisrerna começavarn, assim, o ciclo ceri-
algumas excepcöes especiais que serão referidas mais tarde, tarefas monial e corn elc a sequência de cultivo, em Dezembro; os subaks
técnicas estabelecidas, bern organizadas e repetitivas. Se cerca de no sopé, perto da costa, cornecavam-no em Abril; C OS inrcrmédios
noventa por cento do crabalbo de irrigacão balinês era cumprido do ponto de vista da ropografica cram-no tambCm do ponto de
pela equipa da água, provavelmenre outros nove por cento cram vista do tempo. Resultava que, em qualquer momenro, a area de
curnpriclos pelos membros do subak enquanto corpo, deixando, drenagem como urn todo apresencava uma progressão passo a passo
digamos, cerca de urn por cento - e sendo este nImero inrermi- na sequência de cultivo a medida em que se descessem as encoscas.
rente -, para serern cumpridos por uma pluralidade de subaks Q uando urn subak a major altitude estava a inunciar os seus socal-
concerrados entre Si. cos na preparacão para a lavoura, urn outro mais abaixo estava a
Em poucas palavras, o que havia a este nIvel superior do sisre- limpar a sua terra, quando urn mais abaixo estava a inundar, urn
ma era urn conjunto de funcicnários das financas do Estado - os a major altitude estava a plantar; quando urn mais abaixo estava
sedahans, ordinários e g&— e urn sistema ritual elaborado, de toda celebrando o Amarelecimento do Arroz e, assim, a promessa de
a região, autodifundido, urn culto dos arrozais altamenre tradicio- colheita urn mês depois, o mais alto estava já a carregar os feixes
nalista, da qua!, de uma forma muito simbOlica e quase ocasional, para o celeiro; e assim sucessivamente. A progressão temporal inscrita
estes funcionários cram os lfderes formais. no ciclo cerimonial era, pois, estabelecida também no terreno: além
No século XIX em Tabanan (e ainda hoje, corn alguns ajusta- de ritmar a sequncia de cultivo em cada subak separado, tambCm
mentos) este culto dos arrozais consistia em nove estádios nomeados entrelaçava essas sequências separadas de maneira a criar uma
maiores, estdios esses que se seguiam uns aos outros segundo uma sequência global para o todo da regiao.
ordem fixa e a urn ritmo normalmente predeterminado, após o 0 principal efeito ecolOgico deste sistema (e, embora deva ter
inIcio do primeiro estádio, pelos ritmos ecológicos do crescirnento evolufdo a sernelhança da cidade americana ou da lei consuetu-
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FIGURA 6. Subaks das terras baixas extremas FIGURA 7. Subaks das rerras baixas mMias
(simplificado) (simplificado)

FIGURA 8. Subaks das rerras FIGURA 9. Subaks das terras FIGURA 10. Subah das rerras
baixas alcas (ou terras altas altos médias altos extrernas (simplificado)
baixas) (simplificado)
106 ANATOMM POLITICA CAPITULO 111 107

dinária brirânica, de uma forma al'o inconscienre e feLta de ajustes como grupo pouco coeso, não corporate, de facto corn rivauidades
caso a caso), o seu proposico ecológico central era estabilizar a internas, punham desra maneira em marcha no acto da sua consa-
procura sobre 0 recurso central, a água ao longo do ano da colhe- gracão, a sequncia do USO da água para a regio Mas, uma vez
ta, em vez de permirir uma grandc f1Lcuacão do seu uso, como seria poStO em marcha, o siscerna trabalbaa por s: mesmo, corn o sen
caso na ausência desre sisterna. Simphficando urn POUCO. 0 cultivo prOprio fmpeto, e produzia as suas próprias replicas de cerirnOnias
do arroz irrigado em socalcos requer urn inpr rnáximo dt água no de consagnacão, muito localizadas e independenres.
inicio do ciclo, ou logo a se,,guir, e urn ind cm decrescimo cons- Em suma, se se visse esce sistema do alto (quer dizer. de qual.uor
tante a medida que o c1clo avança. ar que, no fin, a coiheita é feita sitio acima da cratera do monte Agung, onde os deuses vivem), ver-
nurn terrerio seco e completamenre drenado Sc c ciclo 'Jos diversos -se-ia urn coajunco de sequ&ncas rituals estrucuralmenrc- similare
subaks nurna so zona de drenagem (ou, pior ainda, ao longo de urn (e, de facto, idênticas, a parte algumas variaçöes de conteüdo) acor.-
so rio) fossem coincidentes, o resuirado seria que os recursos de recendo ao mesmo tempo em várias partes da paisagem e a vários
água seriarn enormernente expiorados, durante as primeiras fases do nIveis de organizacão, da região de drenagem arC ao socalco indi-
ciclo e também enormemente subutilizados durante o 6lcimo perfodo, vidual.
especialmente dado que, e de flOVO simplificando, a quantidade de Mas, embora estas sequências estivessem todas a prosseguir mais
água natural disponivel não varia muito ao longo do ano, sobretu- ou menos ao mesmo ritmo e através dos mesmos estádios. nao
do ao longo da metade do.ano durante a qual o arroz é cultivado. estariarn todas fascadas entre si. Ao nivel supra-subak elas seriarn
De facto, e uma vez que a água é o factor limirarivo central no escalonadas no tempo, desde o topo do sisterna de drenagem ate a
ecossistema do subak, se os ciclos dos subaks nao fossem escalonados, base. Ao nfvel subak e abaixo dele estariam coordenadas temporal-
cultivo de arroz de regadio em Bali nunca poderia ter atingido mente: quando o Germinar das Phanras de Arroz escivesse a ser
nern uma fraccao da grandeza dos valores do século XIX. celebrado pelo sacerdote do subak no templo do subak, também
0 inIcio do ciclo começava corn urn ritual de Aberrura das estaria a ser celebrado pelos membros da equipa cia água nos altares
Aguas para todo o Tabanan, no templo de todo-o-Bali mais impor- tèrnpèk e kecoran e pelos proprietários individuais nos seus campos.
tante da região, situado num ponto elevado nas encostas florestadas 0 quaciro resultanre revelaria, ento, uma colecção de ciclos agrIcolas
da montanha sagrada que domina a area de Tabanan tanto fIsica localmente faseados e fechados dentro de urn ciclo regional abran-
como espiritualmente: Batu Kau. Sob a liderança simbOlica do se- gente. Para a totalidade de Tabanan haveria o ciclo paradigmCtico,
dahan gde de Puri Gdé (isto é, o sedahan mais importante dii casa legitimado pelo Estado e puramente cerimonial, em Pura Batit Kal/,
mais importanre), era levada a efeito uma cerirnOnia - assistida qual, como se encontrava acima cia linha do cultivo do arroz,
pot todos os sedahans, todos os cabeças de subaks da região, todos os estava clesligado de qualquer subak concreto e, assim, de qualquer
sacerdotes dos tempios dos subaks, e qualquer membro individual ciclo de cultivo particular. E em cada subak, a todos os SCIIS niveis,
de urn subak suficiencemente piedoso para fazer sozinho a árdua haveria a replica adequadamente agendada deste ciclo cerirnonial
jorriada rnontanha acima, bern como, é claro, assistida pelo deus e do <<centro exemplar>, ligado agora a urn ciclo de cultivo especIfIco.
deusa adequados, convidados a descerem dos céus para a ocasião - Deste modo, uma ordem ecológica complexa era simultanearnente
cerimOnia que era conduzida de modo a assegurar água suficiente reflectida e moldada pot uma ordem ritual igualmente complexa,
e <<eficaz>> para todos os socalcos no reino durante a estação vindou- ao mesmo tempo nascida dessa ordem ecologica e impondo-se a ela.
ra. Corn esta Abertura das Aguas, também ela dererrninada pelo 0 comentário do Registo Chinls de Rituais (Chinese Record of Rituals)
calendário, era posto em marcha o ciclo para toda a regio; pois as do século II, que diz que <<os ritos evitam a desordem como os
Aberturas das Aguas dos vérios templos em cada subak, os Pura diques impedem a inundacao>> encontra a sua exacta aplicaco em
U/un Suwis, seguiam-se-lhe respeitando os intervalos adequados, Bali.
corn as suas cerimOnias, em grande parte idênticas. Os sedahans.
108 ANATOMlA POLITiC A c:PITL'LU iLl 109

e o seu c nitido variava em muio de sitio para sItio. Cobriam


assuricos rais como a quancidade de água que se deve deixar sair
No entanto não seria born cornar uma perspectiv do tipo <<har- conscaflCernee da barrag>±m (isco é, mesrno na alcura de inuudar
monia preestabelecida>> no respeirante as relaçoes no interior do os socalcos, 0 no flO podia set desviado por compleco, a que explica
subak, especialmente porque elas Sc ericontravarn muitas vezes Jonge a exiscência do desvio perrnanence na figura 4); proibicao contra a
da harmonia. Desde a nossa viso do alto, coclo o ciclo de cultivo po!uicão das guas; modos e sIcios corno e onde podiam set- cons-
pode parecer urn processo enormc e cerimonialrnenre rirmado, cruIdas as barragens, táneis, aquedutos, canacs, reservatórios e oucras
refractado vezes scm conra por coda a região. Desde o ponco de obras; divisöes de águas e ohrigaçOes de crabaiho c1uanda dots ou
vista de urn camponês, porérn, o ritmo mais vasto, tornado por mais subaks se encontravani ligados a uma só barragern; regras para
adquirido como sendo o próprio trabaiho da natureza, seria menos empréstimo, penhora, arrendarnento e venda de água entre su-
evidence do que os seus disciirbios ou perturbacOes locais. baks: regras para a disposiçao dos alatgarnentos e seu escoamento de
siscenia cerimonial fornecia urn enquadrarnento geral de coor- volta para o rio; regulamentos de pesca; direitos de passagem para
denaç5o dentro do qual os subaks podiam regular o seu trabaiho scm homens e animais através de campos <estrangeiros'>; normas pro-
aplicacoes incensivas de poder coercivo por parte de urn Escado cessuais para a negociacão de disputas; multas para as infracçoes a
centralizado, rnas não resolvia por si próprlo os problernas quocidia- codas estas variadas regras; datas dos festivais dos templos; e assim
flOS, os ajustarnentos que inevitavelmente surgiarn dentro desse sucessivamente, ace urn nfvel de detalhe que parece contemplar
enquadramento. Tal como, num subak concreto, urn cultivador con- codas as eventualidades. Raramente os Balineses terão enfrentado
creto tinba de adaptar as suas actividades as do seu vizinho imedia- uma situacão para a qual não tivessem uma <dci>> aplicável, ou pelo
to, quer pessoalmente quer através dos mecanismos do governo do rnenos alguma regra a parcir da qual pudessern, de forma plausIvel,
subak; assim cambdm entre subaks, cada subak tinha de ajuscar as extrapolar uma analogia.
suas actividades as dos seus vizinhos imediatos. Dc facto, somente Para os casos rotineiros, que conscituIarn a vasta rnaioria, os
porque os mecanismos para tal ajuscarnento sub-regionais estavam arranjos no interior do subak cram conduzidos, segundo escas re-
tao bern desenvolvidos e, a parte uma excepcao ou oucra cram tao gras, pelos cabecas do subak adequados e pelos seus auxiliares, talvez
eficazes, é que a coordenaçao regional podia set alcançada acravés corn a ajuda de mais alguns cidadaos proerninentes do subak -
da accão de urn sistema cerimonial que s6 rninirnarnente era refor- proprietários maiores, especialmente anciaos conhecedores, homens
cado pela aucoridade polItica superior. Dc qualquer rnodo, a rnaior de influência e posicão, ou outros. Ocasionalmence, e para assuncos
parte da tensão polItica gerada pela escrutura intensarnente atomi- mais irnporcantes - acrescencar novos socalcos, alcerar a distribui-
zada do sistema subak era absorvida por arranjos e acordos paro- ção das águas, etc. - a tocalidade dos membros de cada subak
quiais, caso a caso cad hoc, entre os próprios subaks, em vez de subir podia reunir-se em plenário e discutir o assunto. For vezes urn ou
ace nfveis do sistema mais elevados e mais explosivos. oucro sedahan, especialmente se fosse apreciado, de confiança e
Neste caso, e urn pouco a semelhança dos tratados entre Esca- inceligente, podia set convericido a agir como mediador neutral ou
dos já discutidos, o principal enquadramento para tais ajuscamen- mesmo corno árbicro. Mas de rnodo algum os seckzhans actuavam
tos pontuais era a colecçao de prácicas costurneiras alcarnente de- como juizes no sentido próprio, como indivIduos corn autoridade
senvolvidas e especificadas de forrna quase obsessiva - precedentes para tomarem decisöes compulsivas e que se pudessem fazer cumprir.
estabelecidos que, embora na aus6ncia de urn corpo politico supe- Quando e se cram consulcados, des apenas davam conseihos, que
rior para os fazer curnprir, tinham apesar de tudo forca de lei, podiam ou não set aceices pelas parces envolvidas. Quer fosse conduzido
quanto mais nao seja porque forneciarn urn dicionário das razöes de direcramence entre membros das dices do subak, quer entre os
queixa legItimas e acordadas que urn subak podia ter contra oucro. membros do subak no seu todo, quer corn a assisténcia de urn
0 nümero destas <<leis costumeiras>> era excremamente grande, sedahan como intermediário e consulcor, cratava-se de urn processo
10 ANATOMIA POLITICA (.IP!7 LL() Ii! I

de ajuste mCiruo nos rermos de urn corpo estabelecido de costumes -7

irregogáveis, urn processo a que os Balineses chamam riikun - urn


rermo convinceute e vircualrnente intraduzfvel que sign ifica algo Corno rrnação polirica on parte d formaçao po]rtca, 0
como: a criacão de concórdta'. a harrnonizaco clas vontades'>, ma subak era aquilo que os antropiJogt:s Vtjdifl i chamar acjIo.
escabelecimento da paz>, obcençao da unidade>>. Em vez de centrar-se nuin locus de poder e aucoridade conceniradas.
Nada disco sinifica que a polItica do subak fosse em abSOluro que seria simnultanearnetite 0 sen eixo e a 'ua âncora, consistia nwv
demnoccária ou que levasse inevttavelrnente a solucoes equitauivas. couj unto ascendenre de camadus soctas. equilibradas, a c:ada nIve!
mesmo aos olbos dos Balineses. Certarnente que a riqueza, o status e a cada dirnensão, arnas de cncoutro as ourras As mais impul t-
social, o poder pessoal, etc., jogavarn papéls cruciais na decermina- tes dessas carnadas sociais, on nIvcis, estavam rio socalco individual
cao efectiva, canto entre subaks como dentro cleles, de quem ficava ou complexo de socalcos; o intra ou sub-si)ak-; o subak propria-
corn o quê, quando, onde e como. Ma.s estas realidacles familiares mente dito; e o inter ou supra-subak. Ao movermo-nos da base
jogavarn o seu papel no sistema legal politico do subak e inter- destc sistema para o copo, movemo-nos de urn ârnbito mais estreico
-subak, não no aparelho de Estado, o qua!, para alérn dos aspectos de relevâr.cia social, para urn mais largo; de uma ênfase mais expli-
já mencionados (impostos, ritual, mediaco ocasional) c urn ou dois citameflte técflica no culcivo ou na irrigacão para urna ênfase mais
mais aincla por abordar, näo se preocupava oficialmente corn estes integradora naquilo que cram assuntos essencialmente ricuais mais
assuntos. De facto, dc era explicitamente excluIdo deles. do que burocrático-administracivos; e de formas sociais e bern
Dc igual modo, e mais importance ainda, descrever como se equilibradas para outras mais frágeis e explosivas.
alcançava o rukun não é o mesmo que afirmar que estes mecanis- 0 centro de gravidade polItica encontrava-se mLuco ahaixo nesce
mos locais de ajustamento, por muico elahorados e cuidadosamente sistema, como acontece em todos os sisternas deste tipo, e como
concebidos que fossem, funcionavarn perfeitamente. Pelo contr'ário, acontecia no Estado balinês em geral. Tal como o negara estava
a violência fisica entre subaks inteiros ou entre alguns dos rnembros escicado entre as forças centrIperas do ritual de Estado e as centrIlugas
parece ter sido muito comum, como o atesta a inclusão, nas <<leis da estrutura do Estado, assim tarnbém o sisrema subak, uma das
de água>> costumeiras, de indemnizaçöes por danos de bens e por bases sobre as quais o negara assentava, estava esticado entre a sua
danos pessoais resultantes dessa violência. Bataihas campais entre natureza dispersiva, segmentária e atomizada de insticuicão socioc-
grupos de camponeses, muitas vezes brandindo as suas enxadas conórnica concreca e as exigências integradoras sobre ele exercidas
como armas, ocorriam corn algurna regularidade. Corn menor fre- pelo culto do arroz. Também aqui a cultura vinha de cima para
quência, tarnbém se davam rixas crónicas, corn incidentes prolon- abaixo (e dada a Iocalização de Bacu Kau, descia canto fisica corno
gados que geravarn novos incidentes. E quando esses conflitos literalmente), ao passo que o poder brotava de baixo para cirna.
alastravam para Iii dos lirnites locais, eles podiam envolver e envol- Procurei pôr este sistema em diagrama, no quadro 1, e assim
viam os niveis mais altos do sistema politico, cujos membros, rivais resumir a discusso precedente.
entre si, estavam normalmente bastante dispostos a pescar em águas
turvas, criando assim guerras genuinas - recontros militares entre
adeptos de senhores concorrentes. Os conflitos entre subaks, ou pelo As formas de comércio
menos os que começavam enquanto tal, não eram de modo algum
as fonces significativas do constante burburinho de violência polftica Tal como ja dei a enrender, o cornércio no Bali clássico, emnbora
que assolou o Estado balinês ao longo de todo o século XIX e, a decididamente localizado no negara, não the pertencia na tocali-
julgar pela prova dos documentos, provavelmente, ao longo de todo dade. No so o gosso desse cornércio escava em mãos escrangeiras
o curso da sua história. (Chineses, Javaneses, Bugineses, por vezes, Europeus), como tarn-
bern se ligava de forma excêncrica a vida polirica - através de urn
(APITULO Ill 113
2 tL\A TOJiik PUL/T/'

A iividaci Betorait: Celebraçäes Oferendas Ofercudas


r ituais ntos de nos ternplos pc-r;ódicas em C celeL-caçoes
a ssociadas coordenação do sabk (Pirc altares dos nós OCt arrozia
QUADRO I sio realizados, U/np; Cnrik. da rede (bed:tga'i.
centrados tic Psera UI/i)) Cat)))
0 SISTEMA DA SOCEEDADE DE IRRIGAcA0 (SUBAK) templo de Stew!, Pnra
todo-o-Bah BaL, Ag;ing)
NfVEL ESTRUTURAL (P,'ra Porte
Kate)
Jnter-Subak Subak Intra-Siibak Socalco
(kesedahn)* (timpèk, (tebih,
kecoran) tenab) + +

Grupo Nenhurn Todos os Equipa da Grupos de


Corporate possuidores água (seka cultivo
de terra do yeh) organizados
subak (kra,na privadamente
subak)

Funcionário Cobrador de Chefe do Chefe da Camponês/


responsável impostos e subak (k/ian equipa da Idono (tani)
renda sedahan, subak, pekasib) água (k/ian
sedahan gde) seka yèh)

Principais Nenhumas + Escabelecer Trabalho Cultivo


tarefas de estratégias quocidiano e (incluindo
trabaiho gerais; trabaiho permanence de regulaçao da
colectivo controlo do água no
ocasional na fluxo de 6gua, socalco, etc.)
barragem, canais reparaçöes na
principais, etc.; rede, etc.
colecta e
desembolso de
fundos do subak;
garantir * So so dados os rermos vernáculos mais comuns na Area de Tabanan.
cumprirnento das Quando não são referidos nenhuns cermos, isso deve-se ao facto de não existirem
regras termos especiais e ao facto de o uso set demasiado variado e complicado para ser
facilmente resumido.
Principais Leis coscumei- Constiruiçôes Rotatividade . Interajuda
mecanismos ras sobre a escritas (awig- de deveres; e trocas de + Muico ocasionalmente, o trabaiho conjunto em equipamentos colectivos
insticucionais água (adat -awig, kertasima); pagarnento trabaiho; era feico pot dois ou trés subaks concertados, mas isto era raro. Também se ye-
ajusta- reuniöes de sit- pelo trabaiho trabalho rificavam pot vezes, mas raramente, uniöes de subaks.
yèh);
mentos m(icuos bak; auxiliares do assalariado;
(rukun) media- chefe (dirigentes trabaiho ++ Tebih é o termo literal para socalco. Tenah refere-se a Oltima unidade
ção; violéncia. de secção, arau- colectivo, etc. de divisão de águas e pode incluir um ou vários socalcos ou, muito ocasional-
tos, sacerdoces de mente, uma fracçao de socalco.
templo, etc.)
114 i1N.rATOAIIA PULl 1 l( CAPITULO III 115

conjunto de instiuuiçöes extremarnenre especializadas concebdas fndico, onde, dados os portos ruins e os mares tempos-
(i() OCC1flO
para, ao mesmo tempo, conrerem a sua dinârnica e caprurarem os ruosos, pouco trfego havia, em vez do se ret virado para noire, n
seus divideLidos. Os senhores não ignoravarn as varitagens materiais direccão do mar do Java, o Mediterrãneo da Asia, a roda do qual
a serem obrids do cornércio; mas rambém nao inoravarn que, ao mercadotes chinses, indianos, árabes. jivaneses, bugineses, rnalaios
alcanca-las arriscavan os próprios alicerces do seu poder. Avidos europeus jam e viriham como vencledores ambulances. Muita da
por hábito, erarn autárcjuicos por insuinro, e o resuirado era urn repUtacaO de rec[usão e isolamento que Bali granjeou advém deste
cerro barroquismo das disposiçoes econórnicas. facto Nurn mundo incernaciOnal de mareances, no qual os grandes
F[avia, essencialmerite, quatro coinpiexos insciruclorials pri nci- nomes são Maaca,Jambi, Palernbang, Bantam, Banjermasin,Japara.
pais canalizando o fluxo de cométcio no Bali oirocentisca: (1) mercados Tuban e Makassar, Bali parece quase não icr exiscido.
rotativos; (2) relacöes do troca tixadas pela tradição; (3) cerimónias
redistribucivas e (4) <portos cornerciais>> politicamente isolados.
Desde o ponco de vista do negara, embora não necessariamente 3
desde o da populaçao como urn codo, os dois prirneiros cram rela-
tivamente pouco importantes e o terceiro será tratado corn mais 1-lavia um porto da costa forte, como é óbvio: Singaraja, o
propriedade na rubrica do ritual do Escado. Por isso me concentra- porto comercial que servia Bulèlèng. E, ainda que não pareca tot
rei aqui no quarto complexo e em particular no seu papel dentro siclo alguma vez de importância major na vida do empório maricirno
da vida do negara. indonésio, dc aparece vagamente visIvel, de tempos a tempos, na
sua história. <<Os balineses do Buleleng>> são referidos como aliados
do reino-porto javans de Surabaya na sua guerra contra a Compa-
2 nhia Ho1andesa das Indias Oriencais em 1718 (embora cambCin so
diga que so aborreceram e regressaram a casa) o diz-se que concro-
0 porto comercial situa-se geralmente num local costeiro laram Blambangan, o reino javanês que dominava o extrerno do
ou ribeirinho, reservado como ponto de encontro politicamence estreito do Bali, entre 1697 e 1711. B. J. 0. Schrioke refere corn
neutral para comerciances escrangeiros. E quase tao antigo e tao frequência a impOrtância dos tecidos balineses no comério Java-
espalhado na Indonesia como o próprio negara. Efectivamente, a -Molucas dos séculos XVI e Xvii, bern como a exportação de arroz
maioria dos negaras indonésios mais antigos - Sriwijaya, Jambi, para leste da ilha.
Taruma e o reino sem nome de Sindok na Java Oriental - cram Supöe-se que em 1814, o cenente T. S. Raffles, governador-
Estados-bazar <<talassocráticos>>, assentes na sua capacidade de defen- -geral em virtude das guerras napoleónicas, so viu <<obrigado a agir
derem e administrarern tais portos. 0 comércio de longa distância em Bali,, (embora, do facto, não o tenha foito) porque o <<rajah do
e de grande margem de lucro é, como o demonstrou J. C. van Leur, I3aliling>> havia apresado urn navio da Companhia das Indias Orion-
<<uma constante histórica>> na Indonesia; a explosão do comércio das mis. Em 1846 os Holandeses agiram do facto, em resposta a uma
especiarias nos séculos XVI e XVII, que provocou o domInio colo- oportunidade semeihante (o saque do urn navio holandês encalha-
nial, é apenas a representacão mais visfvel e dramácica dessa <<cons- do) tendo, após uma série do ultimatos e diligências, escabelecido
tante>>. Desde dos tempos próximos de Cristo ate quase a actuali- all urn forte, corn feicoria em 1849. Finalrnonte, em 1859, P. L.
dade, o tipo de comércio aventureiro que Gibbon caracterizou como van Bloemen Waanders, o governador holandês da praca, descroveu
<sumptuoso e fütil>> conferiu ao arquipélago uma unidade no comércio porto comercial do Bulèlèng-Singaraja como o entreposto do toda
que dc não tinha na lingua, na culcura, poiftica, raca ou religião. a ilha, exporcando cerca do 300 000 o imporcando corca do 500 000
No respeitanre a Bali, o facto decisivo é que em grande medida forms em géneros, por ano. 0 comCrcio era concessionado <<pelo
desviou os olhos deste cornércio. Estava virado para sul, na diroccao cci>> (isto é, os senhores) a sore <<sonhores do comCrcio>' (suband.ar)
6 A PITULO In 1] 7
116 ANATO?vIIA P)L1TICA
de LombOk dorninada pelOs Balirieses. Norneado, em 1834,
chineses segundo <reinos de comércio' (kebandaran), dencro dos
ar de urn dos dois maiores senhores da zoria (descronou urn chin&
quais Ihes cram dados privilégios de monopólio; o cornércio em si
sinai de que as coisas esravarn a mudar), cedo se viu contraposto a
era levado a cabo por eles, pot outros chineses cleles dependenLes e
urn scu equivalence ingiCs. urn certo George King, que foi nomea-
pot ptlotos de <proa (barcos malatos) bugis e madureses pot des
do urn ano mais rarde pelo ourro senhor. Quando os dais senhores,
contratados. As exportacöes consistiarn sobretudo em arroz (3696)
instigados pelos respectivos <rajahs brancos', merguiharam em guerra
café (139); tahaco (1296) e tcteis de algodao (696), sendo o resto
urn corn ourro, os Europeus deram urn impulso as suas carreiras
ocupado pelo ferro, porcelana, trabaihos en ouro e v6rios cipos de
contrabandeand armas para os seus paronos, aC que, det-rotado o
especiarias.
seu hornem, Lange fugiu para Bali, esrabeleceu a sua feicoria em
Kuta em 1839 e manteve-a ace a sua morce aos quarenta e nove
anos, em 1856. Durante quinze anos - a sua prosperidade no
4

Mas embora o porto de Singaraja fosse o ünico centro comercial CIANYAR

de alguma imporrância em Bali ao longo da major parte da história TA RA NAN


da ilha (e, no contexto mais vasto da economia de Escado-bazar da
Indonesia, de irnporcância marcadarnente dirninuta), depois de os
Holandeses ali se terem escabelecido nos meados do sCculo XJX o
mundo do cornércio incernacional comecou finairnence a penetrar o
interior do pals, o Sul, e a faz&lo corn cada vez mais forca. Em
1876, Bangli, urn sitio que oh6 trinta anos era o mais pobre da
ilha> terá presumivelmente atingido urn movimento anual de 300 000
fborins. Urn quarto de sécubo mais tarde, em 1900, Karengasem
tinha cern chineses irnportando ópio e exportando café, acücar,
Indigo e kapok (isto C, <<produtos de p1antaco>>, cipo javanCs, so
aqui produzidos, a maneira dos pequenos propriecários, em socalcos
de arroz durante o periodo do fim da monco). Kasumba, uma pe-
quena aldeia piscatória na costa sul de Klungkung, cinha já come-
cado a transformar-se num porto adequado. E a populacao de chi-
neses do nosso caso-tipo, Tabanan, tinha crescido para mais de qua-
trocentos, alguns dos quais possulam mesmo plantacöes de café,
tendo-as comprado, como <<baldios>> aos senhores.
Mas de todos os casos de desenvolvimento de porcos de corner-
cio no século XIX, o mais significativo, o mais dramático e, feliz-
mente, aquele que surge descrito de forma mais viva é o de Kuca,
na costa sul de Badung, entre 1839 e 1856, cujo desenvolvimen-
to se deu sob a lideranca do mercador avencureiro dinamarquês
Mads Lange. -
MAPA 4. 0 porto comercial de Kuta (baseado em Nieuwenkamp, 1906-
Lange, que embarcou para as Indias aos dezassete anos e ai
-10, p. 169)
passou o resto da sua vida, deu inlcio as suas operaçôes na região
\\A 7U.\11,\ POL/T/ CAPITLJLO Ill ii 9

soheviveu a Lange -, Kuca cornou-sc no primeiro porto de comércio porcos cornerciaiS (isolamenro politico, orienraçäo mcerriaLlonal C
de genuIna irnpornThcia do Sul de Bali, rivalizando mesmo corn dorninacãO do cornércio por Kminorias)> ou <csrrangeIros>., 7,;lrhanrIJ.
Singaraja onde, durance o mesmo perIodo, os 1-lolandeses se esrahe- de poderes locais), Kuta possula rambém as caracterisricas
leciarn solidamente. menos notadas, rnas igualmente sintomáricas, de paridades cosru-
Kuca (Icava a cinco rnilhas a suE de Baduna, que era, durante meiras, preços administrativos e dinheiro inceriorizado. Paridacles
esse perlodo, provavelmente, a maior corre e a mais extravagance de coscumeiraS porque os valores relarivos dos principais bens (café e
Bali, situacla no estrangulado istrno pelo qual Bukit, o planalto arroz. bois e ópio) eram decerminados em rermos de expectativas
desajeitado e desolado que forma a extrernidacle sul do pals se liga localmcnte estabelecidas que, uma vez ciii campo, no eram irne-
ao resto da ilha (ver mapa 4). Havia dois portos, cada urn a cerca diatamente perturbadas por rnudancas globais no mercado. Precos
de uma milha do quartel-general de Lange, em cada lado do istmo, adrninistrativos, por a expressão monetária destas paridades (<<ran-
e que ele usava alternadamente, de acordo corn a mudança das ras medidas, tantas pice>>) set o resultado de urn mero decreco de
monçöes. Por volta de 1843, dc tinha quinze navios seus, alguns Lange, feico na base da sua estimativa do custo de fornecirnenco da
da envergadura das 1500 toneladas, que mantinha em constante praca corn moedas, e do lucro que podia obter (os precos eram,
movimento no arquipelago oriental, comprando aqui e vendendo segundo a frase de Poianyi, as pré-condicoes do comércio, não o seu
au. Mas, o que e mais importante, <<quase não se passava urn dia resultado). E dinheiro interiorizado porque os kepengs, ainda que
[escreve o jovem assistente de Lange, Ludvig Helms] sem que algum adquiridos ao estrangeiro e encontrados por todo o Sueste asiático,
vaso [estrangeiro} não aparecesse>> - holandés, frances, inglês, chines, funcionavam como os meios de pagamento neste porto comercial
árabe, buginés, malaio - carregando café, arroz, tabaco, óleo de especufico independentemente do seu (ou de quaiquer outra moeda)
coco, póneis, bois, came de vaca seca, porcos e <<todos os tipos funcionamento noutros portos.
de criação e ayes finas>>, e deixando, tanto quanto se pode depreen- Kuta era, entâo, apesar das suas ligacöes cosmopolitas e das
der pela descriçao de Helms (a qual, refleccindo a mencalidade do suas dependCncias locals, urn cosmos econórnico por si S6. All acorriam
porto, é infinitarnence mais atenta as exporcaçöes do que as importa- pessoas em busca de bens, vindas em navios do ultrarnar, a pé ou
côes), sobretudo opio chines, porcelana chinesa e moedas chinesas. a cavalo, da iiha, e o duplo protégé Lange (a quem canto o governo
As moedas (as já mencionadas kepeng, pequenos discos de bronze das fndias Orientais 1-lolandesas como os senhores de Badung se
corn urn furo no centro) eram a espécie corrente de todo o comércio referiam como <<o nosso subandar>>) tentava organizar as coisas para
local e a sua manipulaçao era uma das actividades mais proeminen- que o conseguissem. Quando o conseguia, o porto prosperava, e etc
tes, mais laboriosas e mais lucrativas do porto. Erarn compradas na também; quando não, definhava, e dc também.
China, a peso, cerca de urn dólar holandês por cada 1200 a 1400
peças. Transporcadas para Kura em navios chineses, aos <mi1hares
de sacas>> de cada vez, tinham depois de ser recontadas e colocadas
em fibs, a 200 por ho, por mulheres balinesas. Assim divididas,
eram usadas como meio de pagamento ao climbio de 700 por dólar Enquanto durou a prosperidade de Kuta cia foi, no entanco, urn
(dal o lucro) num sistema de equivaléncias essenciali-nence fixas: elemento (durante uns poucos de anos talvez o elemenco mais
tantas medidas, tantas pice>. <<Talvez vaiha a pena mencionar>>, diz dinârnico) na explosao geral da vida comercial que, muiro depois de
Helms, que sabe perfeitamente que vale a pena mencioná-lo, <<que ret acontecido na major parre do resro do arquipéiago, crouxe Bali
as principais mercadorias... eram recebidas a urn preco uniforme... do século XV e do negara para o século XX e para o Binnenlandsch
e este preco raramente variava, qualquer que fosse o estado dos Bestuur. Helms é scm düvida bastante rigoroso quando diz <<nós
mercados europeus ou a flucuaçao dos precos noutros slcios>>. tinhamos pouco relacionamenco social corn OS Balineses; de facto,
Portanto, alérn dos tracos gerais mais notados dos enclaves dos des viviam de moclo tao pobre que não nos seduzia muito visirá-
r
,
120 AATOM!A POLITICA PJfjL() 111 12

-los>>. Mas o impacte de Kuca e da expansio cornercial em gera!, pelas socc boras codos se enconrcavam a rrabalhar. 0 rnedir, a
sobre as vidas daquelas rnultidöes íìãü visitadas lot, nao obstance, pesar e 0 ernpacorar, prossegwam rapidarnente e bongas filas de
profundo e a luz do puputan sucedido mein século depois, revolu- carrocas transportavam sacos, fardos e bards para a beira-mar. . -
cionário Mas urn ramo rrtais excirance do nossa comércic' era a que
Para os senhores que a ><proeglarn>, Kura era urna fonce de titiha que ver corn carregarnenros vivos... Quando era dada a
tributo, de luxos para decorar o Escado-teatro. Para os mercadores ordern para o carregarnerito de urn destes navios [navic's fran-
que a visitavarn, era a teta pela qual a suhscância do campo era ceses de animais - ><-jerdadeiras arcas de Noé>.- --. irovanlen-
chupada (como na descriçdo dos portos de cornércio da ilha no resdas Mauricias], era apeuai neessario enviar corn aluns dia;
século XVI feita por urn navegador porcuguês pouco cerirnonioso de avanço cerca de urn-a düzia de senhoras balinesas, que actua-
ao comparar Java a uma mäe-porca.) Para Lange, corn ,mais de yam como nossas agentes em tais assuncos, e, no cha indicado,
impudence viking na sua natureza do que de comerciance pudence>>, a praia junto do qual se enconcrava o barco escaria apinhada
oferecia a oportunidade de <<fazer de Lord Jim>> ate urn pouco mais corn muitas vezes mais o ncirnero de animais requeridos, a partir
tarde do que o praticável em quase todos os outros sItios do arqui- dos quais era então feita a selecçao.
pelago. Mas para o negara era o princfpio, ou melhor, o meio, do 0 papel principal tornado pelas muiheres em codas est-as
fim. Tal como Singaraja e, bastante menos em Kasurnba, Kuca era transaccöes era uma caracceristica peculiar da vida balinesa;
O ininrencional voorlooper (pavimentador, o que abre o caminho)
mas as suas capacidacles para o negócio juscificavam a confiança
para a forca poiftica - a Europa clisraeliana - a qual a Veiha dos seus senhores e amos... e quando carregamentos de gado
Ordem, que resiscira ao Islão, a Companhia das Indias Orientais tinharn de set aprontados, era necessária alguma discricão para
e ao colonialismo de plantacao, finalmente, se rendeu, distribuir apadrinhamenco entre as nossas amigas de urn modo
0 impacte de Kuta sobre a populacao geral verifIcou-se simul- que as sacisfizesse.
caneamente através do envolvirnento dos nativos no trabaiho do Quando urna meia diizia de senhoras chegava, cada qual
porto propriamente dito e do alastramento por todo o Sul do Bali corn urn séquito de escravos, os quais, em cais ocasiöes, carre-
daquilo a que só se pode charnar, para evitar mais termos cob- gavam ofercas propici-acórias nas suas cabeças, sob forma de
quiais, <<o EspIrico do Comércio>>. cescos de fruca deliciosa, era diffcil segurar as balancas de modo
A major parte dos Balineses directarnente envolvidos na accivi- a satisfazer codas. Eis, pot exemplo, uma pequena mulher, gorda
dade do porto eram muiheres. Não so contavam e enfiavarn os e insinuante, normalmence charnada por nós Anak Agung, <Filha
kepengs; foi-lhes tambérn confiada (<<claro que sob cuidadosa super- dO Grande>> [de facto, crata-se de urn tIwlo nobre, significan-
-' visão>>) a medico e pagamento dos producos agrIcolas crazidos para do literalmente <Grancle Personagern"). Ela é a mulher de Gusti
o porto por mercadores bocais. B os mercadores que no eram chineses Mate [correctamente, <<Made>'; <Gusci> é tambCm urn cItubo
- como o eram os mais notáveis, corn cujo tráfico 1-leims lidava triwangia), uma nobre de rank. Ela caminhou muitas milhas
pessoalmente -, eram tambérn muiheres, assunco sobre o qual ele esta rnanhã corn os seus póneis e ajudantes, e quer o contraco
é ainda mais eloquente do que o costume: para a entrega de urn nümero de bois e porcos, para no falar
em inmeros gansos, patos e criacão. Como se pode resiscir a
Entrecanto [isto é, durante o pequeno-almoco de Helms; sua imploracão? Mas, por outro lado, ha Merne Kingcang, uma
ele está a descrever a sua rotina dlirial fileiras de póneis vinharn mulher alta e magra que, larnento dizê-bo, é viciada em Opio,
convergindo de diferentes partes do campo para a nossa feitoria, mas que alega a sua longa relacao de negOcios corn energia,
cada qual transportando cestos cheios corn os produtos agrfcolas eriquanto urna terceira grica que da ciltima vez os seus bois
da ilba. Cada pequena caravana era acompanhada pelo dono, ficaram de fora, a favor dos das suas irms mercadoras. B assirn
normalmente uma mulher, e o trabaiho do dia começava agora; prossegue a discusso.
122 A\\7O:1I:\ POLILR,\ CAPITULO 111

Possiveirnente nesce mornento o Sr. Lange faz a SUa cOt rtJ.. -10 o numero extacw é irrecupc-rável. Em prirneiro lugar, nao se
quando todas elas em coro apelarn a ele, o qual, mais que certo, tratava propriamence de urn assunto püblico. (<Eles punharn-no
e no seu modo normalmente espoucâueo, aceira ficar corn rudo, num saco e deiravam-no ao oceano por perguncar urna coisa des-
para grande embaraco do infeliz empregado que, chegado o dia sas>, disse-me urn inforrnanre.) Em segundo lugar, como era ui-na
do carregamento, se ye a rnãos corn o dobro ou o triplo dos consequêflcla varjável de circunstâucias politicas e cornerciais Jo-
animais que o barco comporua e não sabe o que fazer corn os cais, não poderia de facto ser exacro.
rescantes. Corn esse dia chega a luta de puxar cordas. A praia - Isto aplicava-se no sO a quantia do pagarnento, mas tarnbéni
escá, claro, apinhada, e os xnugidos do gado, os grunhidos dos ao SeLl desririo. Embora em teoria o pagamenco losse feito a Gck c
porcos e o cacarejar dos galos, misturados corn a grit-aria dos a Karèlan enquanto <<donos>' do cornércio do rc-ino, na realidade era
nativos, fazcrn urna cena deveras viva. distribuIdo pelas casas da liaha real e mesmo por vezes entrecasas
clientes. E isro não era feico de acordo corn urn sisterna de divisão
fixo e regular, uma carta de direitos estabelecidos, mas em resposta
'4
6 . aos empurrôes da concorréncia do Estado-teatro.
Sempre que urn senhor se decidia a fazer uma cerimOnia,
Para abordar o alastrarnento para Ia de Kuta da percubacão da reclarnava o direito a uma certa contribuiçao do subandar, invocan-
qual ela foi o elernento impulsionador durante quinze breves anos. , do a obrigação geral deste. Eram mültiplos os factores que deter-
é ütil olhar de novo para Tabanan, onde o comércio externo no - minavam quanto recebia em qualquer momento e para qualquer
estava nas mãos de urn <rajah branco>> mas sirn de urn <amarelo>>, prOpósito, urn requerente concreto. 0 status formal do senhor, a sua
e centrado no num ancoradouro costeiro mas sim num palácio-casa real forca polItica, o seu registo prévio de requisicOes, as procuras
comercial das ten-as altas. simu!tâneas de outros, a sua sagacidade, a importância da ocasião,
Desde algurn tempo após 1880 e ate a chegada dos Holandeses - estado corrente dos negócios de Cong, os acidentes da histOria
em 1906, o subandar-chefe em Tabanan era urn certo Singkeh Cong. recente - todos estes aspectos desempenhavarn o seu papel. Seja
Chines nascido na China, Cong vivia a cerca de dez milhas a nor-c como for, a distribuicão no era urn processo administrativo, mas
da capital, nas proxirnidades das terras altas cafeeiras, senhor de urn profundamente politico: no qual 0 pr6prio Cong, presence corn
grande complexo de residéncias, patios, barracas e armazéns todos : tanca frequência nos puns e jeros reais como no seu prOprio, era urn
dispostos a maneira de uma casa real balinesa e charnado, de facto, participante accivo, muito directo e de modo nenhum ma! posicio-
<<Jero Singkeh Cong>> (ver mapa 3). Terra-tenente em grande esca- nado.
Ia, tanto de cafezais como de arrozais; cabeça oficial da já então A concessâo de Cong dava-Ihe de facto o direito, no ranto
muico grande comunidade chinesa; anfitrião periOdico de grandio- . . de monopolizar o comércio no sentido directo, como, isso sirn, de
sas cerimónias no curioso estilo sincrético (em parte sino-budisca, :: controlar os canais do seu fluxo para dentro e para fora de Tabanan.
em parte bali-hindu) ainda hoje caracterIstico dos chineses da ilha; :: Como cliente de Gdé e Kalèran (esta era, para todos os efeitos, a
e patrono-patriarca, rodeado por uma pequeno exército de irrnãos, -. casa mais rica em toda a dadia real), ele estava profundamente
muiheres, primos, criados, ernpregados e dependenres - era urn envolvido nesse comércio, corn di:izias de agentes, urn enorme pessoal
principe mercador, e não num sentido meramente metafórico. Muito de coolies, armazéns espaihados pelo campo, etc. Mas ele era apenas
mais do que Lange, que permaneceu aventureiro de passagem, dc principal subandar, não o ünico. Outras casas na linha real tinham
era urn poder dentro do Estado. , seu prOprio chines em contrato. Nern codos os mercadores, ou
Formalmente, Cong detinha o see estatuto de suband.ar através squer a maioria deles, distribuIdos pelo campo cornprando hens
dos reis <sCnior>> e <jinior>>, Gdé e Kaèran junramence, a quem para exportacão ou praticando venda ambulance de importaçöes,
pagava uma grande renda anual. Quao grande, 6 irnpcssfvel cliz- cram seus agentes. Urn born nImero deles cram importantes rivais,
124 AA TOl1A CAP!TLJL() III 125

mesmo candiclatos a SUa sUbSrltLUçaO, poc a corn ucdade chinesa creSCeU canto que 0 seu comérco Se cornou febri]. A cecelaem,
não era desprovida da sua próprla politico. Acma das suas activi- ourrora urn oflcio especializado, tornou-se generalizada; o algocto
dades mercancis, 0 qua elevava Cong al:6 a sua posicão central na para fornecer us teares começou a set produzido em Krarnbitan; e
vida comercial de Tabanan era o decreco, prornulgado plo rci, que vários lugares corn escassez dc terra no Sudoeste de Tabanan vira-
estipulava que todo o trilfico das duas principals mercadorias - ram-se quase inreiramente para a venda icinerante de tecidos.
café no lado das exportacöes ópio no das irnportacôes ---, cinha de mercado no capital foi transfrmaclo num acontecimenro de rodos
passar pelo seu entrepOsto. os dias. E, embora as muiheres halinesas aincla fossern nele impor-
Todo o café, c1uer fbsse cultivadc drecrarnenre pelos Chineses, tances, conieçou a set dorninado por hugis e javaneses que se aglo-
ou, como era mais cornurn, comprado aos camponeses balineses, meraram numa comunidade resiclencial, a p1 mencionada Kampong
tinha de scr levado prirneiro (isto é, por Cong), era então transpor- Jawa, mesmo abaixo dde. Alguns dos chineses, cedo secundados
tado por coolies balineses balouçando sobre os ombros cestos equi- por urn árabe e urn <<bombaim>> (isto é, urn indiano muculmano),
librados nurna vara, ate a costa directarnente a sul da capital. Ijaf montaram lojas permanentes entre a area do mercado e o <dugar
(isto C, da praia; não havia porto), era levado em pcquenissirnos javanês>>, fornecendo assirn o local corn uma zona de negócios.
barcos balineses por dez milhas para sudesre ate Kuta ou, mais clinheiro das Indias Orientais Holandesas, os ringgits de prata,
frequenternente, por trinta milhas para noroeste ate Jembrana (isto começou a circular ao lado dos kèpèngs, destronando-os progressiva-
C, Negara - vet mapa 1) para set embarcado ate ao ultramar. Para mente nas transaccöes mais vultuosas.
O 6pio o processo era o mesmo, só que no sentido inverso. Quem E demasiado simples dizer que o ancien régime balines colapsou
quer que fosse que os importasse, os caixotes cram levados da praia porque o comércio se expandiu para uma escala tilo grande que as
arC Jero Cong, cram registados e assim por diante, sendo entäo instituicöes cornerciais daqucle regime se tornararn incapazes de o
levados pelos seus donos para o retaiho. dorninar. Outros motivos estavam de pC, oucras forças envolvidas.
Mas que o pretexto para a desrruiçao pelos Holandeses dos negaras
do Sul do Bali tenha sido uma série de saques de livre iniciativa a
7 navios rnercantes encalbados, saques que os senhores no podiam
fazer parar ou sobre des ganhar controlo pessoal, nem tão-pouco
Portanro, apesar da sua localização no interior, e apesar do concessionar a vikings de passagem ott mandarins self-made -, C
envolvimento profundo do seu gerente no rráfego do campo que algo de simbólico. Mutuarnente parasitarios, o senhor e o subandar,
girava em seu torno, jero Cong tambCm era urn porto comercial: negara e o porto corriercial, esplendor politico e isolamento corner-
uma praca colocada a margem, atravCs da qual mercadorias valiosas cial - todos sairam juntos de cena.
cram bombeadas para dentro e para fora do pals de maneira tal, que
permitisse aos senhores, partilharem dos rendimentos do cornCrcio
não se dedicando a dc. 0 que Lange fez para os senhores de Badung
- fe-los mercantis scm ter feito deles mercadores -, Cong fe-b
para os de Tabanan.
A principal diferenca era que, ao tempo de Cong, <'o Esplrito
do Comércio>> havia penetrado de tal modo no Bali do Sul que a sua
concenção dentro dos lirnites de urn enclave estrangeiro se tornara
cada vez mais diflcil. Na viragem do sCculo havia vendedores
arnbulantes de opio, muitos deles balineses, em quase todas as
aldeias do reino, e nas areas do café a concentração de compradores
CAPITULO iv
AFIRMAçA0 POLITICA: ESPECTACULO
E CERIMONJA
A simbologia do poder

Durante a minha [de 1-leims] estada em Bali ocorreu urn dcstes


sacrificios chocantes. 0 rajah do Estado vizinho morreu a 20 de
Dezembro de 1847; o seu corpo foi queimado corn grande pompa,
cendo-se sacrificado nas chamas, por iniciativa própria, tres das suas
concubinas. Foi urn grande dia para os Balineses. Havia passado
alguns anos desde que tinham tido a oporcunidade de testernunhar
urn desces espectáculos horrfveis, urn especráculo que significava
para eles urn feriado corn cheiro a santidade; e todos os rajahs rei-
nantes de Bali fizeram questão em estar presences, quer pessoal-
mence quer por procuracão, trazendo consigo grandes séquitos.
Estava urn dia encantador, e ao longo dos carninhos macios e
escorregadios perto dos taludes que dividem os cerracos, semelhan-
tes a relvados, de urna sucessão infinda de arrozais, grupos de balineses
em trajos fescivos podiam ser vistos dirigindo-se para o local da
cremaçiio. As suas vestilnentas alegres ressaltavam, brilhantes, em
contrasre corn o verde tenro do chão por onde passavam. Não se
pareciam nada corn selvagens, mas antes corn uma mulridão sim-
paticamente festiva tomando parce numa excursão agradável. Todo
o ambience transrnitia uma ideia de abundância, paz e felicidade e,
de alguma maneira, de civilizaçao. Era difIcil acreditar que a algu-
mas milhas de distância de cal cena, crês mulheres, inocentes de
qualquer crime, e em nome do seu afecro e da religiao, iriarn sofrer
a mais horrIvel das morces, enquanto rriilhares dos seus conuerrâ-
neos estariarn a observar.
Mas avistam-se id os muros que cercarn o palácio do Rei de
Gianjar. Alamedas rectilIneas, subindo pelos fiancos de urn monte
em socalcos, conduzem ao... pa1cio; e, mais acima ainda, ao cencro
CAPITULO IV 129
128 AF1RIMAçAO POLITICA

que consisriarn em armas, roupa, ortiamenros, 'asos de ouro t praca


de urn espaço aberro. cercado pot urn corrimão de macleira, charna
conrenclo água benca, caixas de sin, fruca, pracos d carra., arro
a atençao urna estrurura berrante corn tethado dourado, erguendo-
cozido de viria co res e, finaIrnenr, u cavalo do falecido, alegre-
-Se sobre pilares carmesins. B o sIuo onde a cremaçao dc corpo do
mente ajaezado; ciepois, mats lanceiroa e alguns miisico. Estes cram
motto ierá Eugar. Ap6s inspecção mais cuidada, ye-se que a escru-
seguidos pelo jovem recérn-entronadoi rei, o Dewa Pahang, corn
turn assenta sobre urna plataforrna de alvenaria corn quacro pés de
urn grande séquico de prIIi_ ipes e nobres. Depois cicles vinha o
altura, sobre a qual ha urn primeiro andar coberto de areia. Ao cen-
cro está a imagern em madeira de urn leão, magnificence corn os seas pCndica ou atco sacerdoce, rransportado numa cadeira aberta, a volta
da qual esiava embruihada urna ponta de urn rolo de tecido, repre-
ornamentos em dourado e pirpura. A parte de rrás abre-se, desn-
nando-se a receber o corpo do rei para set queimaclo. Todo o edifIcio sencando uma enlorme serpente, pincada corn barns brancas, preras
é berrantemente decorado corn espeihos, pratos chineses e dourados. e clouradas, repousando a enorme cabeca do monstro debaixo do
lrnediatamente adjacente a esta estrurura h urna praca quadra- assento do pCndira, cnc1uanco a cauda esrava arada ao badi, que
cia cercada pot urn muro de civacro pés de altura, estando toclo o vinha logo a seguir a cadcira, significanclo que o falecido era arras-
dito espaco cheio de fogo brilhante e feroz, o fogo fatal que iria tado para o local de cremaço pela serpente.
consumir as vitirnas. A uma altura de vince pés encontra-se urna Seguindo o grande badi do rei morco, vinharn outros rrCs, menores
plataforma leve, de bambu, ligada a este sftio, corn uma cobertura e menos magnificentes, cada qual concendo urna mulher jovem
de hastes verdes de bananeira procegendo-a do fogo. 0 centro desta prestes a tornar-se nurn sacrificio ou he/a. As vftirnas ciesta cruel
ponte susrenta urn pequeno pavilhão, destinado a receber as vItimas superscição não rnosrravam sinais de medo face ao terrfvel destino
agora tao próximo. Vescidas de branco, o longo cabelo negro ocul-
durante a preparacao para C) salto fatal.
Os espectaciores - os quais, possivelmente no cram menos de tando-as parcialmente, corn urn cspelho numa mao e urn pente
40 000 ou 50 000 - ocupavam o espaco encre estas estruturas e noutra, aparencavam ter corno ünico objeccivo adornarem-se como
para alguma alegre fesrividade. A coragern que as aguentava numa
mundo exterior, dencro do qual urna série dc pecuenos pavilhöes
cinham sido construIdos para o uso das muiheres. Este cspaço enchia- rão horrIvel situaçao era deveras extraordinária, mas advinha da
esperanca na felicidade num mundo fucuro. A.credicavam qLce,
-se agora rapidamente, e codos os olbares se dirigiam para o krcmii
de oncle o cortejo fcinebre sairia. Pot estranho que pareca, o rei de servas aqui, se cornariam nas mulheres favonicas e rainbas do seu
morto não deixou o seu palácio pela ültima vez da forma habitual. defunto senhor no outro mundo. .Escavarn cerras de que a pronnidão
Urn cadaver é consiclerado impuro, e nada de impuro pode passar para 0 seguirern para urn mundo futuro, corn alegnia c no rneio
pelo porto. Daf que urn dispositivo parecido corn urna ponte tenha de' pompa e esplendor, agradaria aoS poderes invisIveis e induziria
sido construIdo sobre os muros, e sobre ela tenha sido elevado o grande deus Siva a admiti-las scm clemora no Swerga Surya,
corpo. Esca ponte conduzia ao patamar rnais alto de uma imensa paraIso de Indra.
torte em forrna de pagode, sobre a qual o corpo era colocado. Em torno das muiheres iludidas estavam os seus parentes e
amigos. Mesmo estes não viam os sinistros preparativos corn cons-
Esta torre, charnada o badi [badel foi transportada pot quinhen-
tos homens. Consistia em doze patamares, além de três plataformas ternacão, nem cencavarn salvar as suas infelizes filhas e irmãs da
jnteriores, sendo o todo magnificarnente ornarnentado. Sobre o (iltimo terrIvel morte que as esperava. 0 seu dever não era salvar mas sirn
andar repousaVa o corpo, coberto de linho branco e guardado pot actuar corno carrascos; pois eram-Ihes confiados os iiltirnos prepa-
racivos horrcveis, enviando finalmenrc as vftimas para a sua conde-
homens empunhando leques.
A procisso que desfilava em frente ao badi era composta, em nacão.
prirneiro lugar, por fortes forças militares de lanceiros, corn müsica Entretanto, o cortejo avançava lentamenre, mas, antes de che-
gar ao seu descino, urn estranho acto no grande drama tiriha de set
[de orquestra gamelan ] tocada de vez em quando; seguia-se urn
grande nümero de homens e muiheres transportando as oferendas, representado. A serpente tinha de set morca e queimada junto corn
13 FIR.\1.ç.A Q PüLITft. CAPJTT:LO !V 1:;I

cadaver. 0 aIm sacerdoce desceu da sua cadeira, ac.rru nuy rcc Duas das muiheres não dernonstraram, mesmo no derradeiro
e desde os quacro pontos cardeais descarregou quatro setas de madeira niornenco, qualquer sinal de medo; olharam uma para a oucra, para
na cabeça da serpente. Não fo urna seta, porérn, mas sirn uma flor. verem se ambas escavam preparadas e. logo, sern se incimareni ou
a champaka. que aringiu a serpente. A flor tinha sido inserida na liesitarem, merguihararn. A terceira pareccu hesirar e dar o sal to
ponta plumada da flecha, da qual, no voo, se soltou, e por uma corn menos resolução; carnbaleou por urn mornento, e depois Se-
estranha destreza o sacerdote conseguiu que a flor, de cada vez. guiu as outras, desaparecendo as três sem proferirem urn som.
atingisse o seu avo, [viz) a caheça da serpente. Supunha-se, então, Este terrfvel especráculo pareceu não produzir qualquer emoção
animal morto, e o seu corpo, tendo sido ate all carregado por sobre a vasla rnulcidão, e a cena encerrou corn mcisica barbara e o
homens, estava agora enrolado na cadetra do sacerdote c, eventual- fogo de espingardas. Foi uma cena inesquecfvel para os que a
mente, a volta da imagem do Ieo em madeira na qual o cadávt testemuriharam, e trouxe ao coracão urn estranho sentimenco de
era queimado. agradecimento por se pertencer a uma civilizaçao que, corn todos
Tendo o cortejo chegado perto do local da cremação, a badi foi os seus defeitos, é misericordiosa e tende cada vez mais a emancipar
virado três vezes, tendo sempre o sacerdote a sua cabeça. Final- as mulheres do engano e da crueldade. Ao governo inglês se deve
mente foi colocado contra a ponte, a qual, encontrando o décimo facto de que esta perniciosa praga de suttee se tenha extirpado na
primeiro andar, o ligou ao local de cremação. 0 corpo era agora fndia, tendo agora as Holandeses desempenhado a mesmo papel em
colocado dentro da imagem de madeira do 1eo; cinco pequenas Bali. Obras destas são as credenciais corn as quais a civilização
placas de ouro, prata, cobre, ferro e chumbo, inscritas corn palavras ocidental legirima o seu direito de conquistar e humanizar racas
mIscicas, foram colocadas na boca do cadaver; o alto sacerdote leu bárbaras e substituir antigas civilizacöes.
os Vedas e vazou os jarros contendo água benta sobre o corpo. Feito Pouco mais tenho de interessante a contar acerca de Bali...
isto, os feixes de lenha - paus pintados em ouro, preto e branco
-foram colocados debaixo do leão, o qual em breve se encontrava
envolto em chamas. Termiriada esta parte da estranha cena, a mais
terrIvel começava.
As muiheres foram transportadas em procissão três vezes it volta A. vida cerirnonial do negara clássico era tanto uma forma de
do local e depois elevadas ate a ponte fatal. Af, no pavilhão já retórica quanto uma forma de devoçao, uma aflrmação ornamenta-
mencionado, esperaram que as chamas tivessem consumido a imagem da e jactante de poder espiritual. Sairar viva para as chamas (e,
e os seus conteüdos. Continuavarn a não mostrar rnedo, a adorno assim criam, directamence para a estado de deuses) era apenas urn
do corpo parecia continuar a set a sua principal preocupacão, corno dos enunciados mais grandiosos de urna proposicão que era expressa
se se estivessem preparando para a vida e não para a morte. Entre- de outros modos - não menos categóricos -, pelo limar dos
tanto, os amigos ajudantes preparavam-se para o horrfvel clfmax. dentes dos reis, pela consagracão de templos reais, pelas ordenacOes
A cerca no extremo da ponte foi aberta e uma prancha foi empur- reais e, nos puputans, pelos suicfdios reais: ha uma ligacão interna
rada sobre as chamas, e as ajudantes, em baixo, verterarn quanti- inquebravel entre rank social e condicao religiosa. 0 culto do Estado
dades de óleo no fogo, provocando chamas vivas e lcigubresque se era uma afirmaçao elaborada vezes sern conta no vocabulário insis-
elevavam a grande altura. 0 momenro supremo chegava. Corn passos cenre do ritual, de que o status terreno tern uma base cósmica, de
fIrmes e medidos as vItirnas puseram o pé no palanque fatal; por que a hierarquia é o principal governador do universo, e de que as
três vezes ergueram as mãos unidas sobre as cabeças, em cada urna arranjos da vida hurnana não passarn de aproxirnacöes, mais ou
das quais foi colocada urna pomba e, depois, corn o corpo erecto, menos frustes, da vida divina.
salcaram para a mar flamejante em baixo, enquanto as pombas Outros aspectos da vida ritual balinesa tinham oucras declara-
largaram voo, simbolizanclo os espiricos em libertação. çOes a fazer, algumas delas em conflito parcial corn o ponto que as
/

.32 ArlRlAçAO POLITICA

cerirnónias dc Escado rcalcavam: o status tuclo. Tal corno a ne;.rr.z par:l ama arquescra same!.':?, cci 'dlLem os Balineses -, demons-
era apenas ama de enrre muiras instituiçôes SOCiciS no Bali clássico, irado por 1-Icims, apesar da sua sens!LlIidade e dos seas poderes
também a sua ohsessão, o rnk, era apenas ama dc entre rnuira descritivos. 0 ritual balinês, e especialmente a ritual do Escado
obsessoes. Mas essa obsessão, e o feixe de crericas c antudes que bahnês, incorpora de facto ama dourrina no sentido literal de
'1 <ensinarnento'>, por muico concreto que seja o seu simbolismo, por
crescet a sua volta, era quase tao universal flu populacão geral como
era na peciuena fraccão dcla directarnence absorvida abs assuntos rnuito irreflectida ctue seja a sua apreensão. Esmiuçar o ritual para
do ngara em Si. <<0 rei era a sfmbo!a da grandeza do campesina- poder apresentar sob forma explfcira não é r.arefa pela qual os Bali-
to>>, escreveu Cora do I3ois acerca cbs monarcas Indicos do Suesre neses se tenham algurna vez interessado, a parre alguns rnodei-
asiático em geral; e, ainda que corn uma forrnulacao mais cuidada, nisras de hoje. Tao-pouco sentern, a semelhança do poeta traduzi-
comentário é aplicável corn especial forca a Bali. As excravagân- do, que uma qualquer apresentaco desse ripo chegue de facto ao
cias rituais do Estado-teatro, corn o seu senhor semidivino, irnóvel, cerne da questão, que a caracterize devidamenre. Glosas da expe-
extático ou morto no seu centro dramático, eram mais a expressão riência, e sobretucbo da experiência de outros, não são subsrirutos
simbólica da nocão carnponesa daquilo que era a grandeza do que dela. Quanclo muito são carninhos, bascante tortuosos, para a sua
a expressão efecriva, da grandeza. 0 que o Estado balinês fez pela cornpreeflSãO.
sociedade balinesa foi projectar nurna forma sensivel, urn conceiro Do ponro de vista prgrnárico, duas abordagens, dois ripos de
daquilo que, juntos, cram suposros fazer de si próprios: urn exem- compreensão, clevem convergir se se quer inrerpretar uma cultura:
plo do poder de grandeza para organizar o mundo. uma descricão e formas simbó!icas especIficas (urn gesto ritual, uma
esrOtua hierática) enquanto expressöes definidas; e ama contexrua-
lizacão de tais formas no seio da estrutura significante total de que
a fazem parce c em termos da qual obtêm a sua deflnição. No fundo,
isro é, obviamenre, o já conhecido cfrculo hermenêutico: a apreen-
Os Balineses, em geral e não so nos ricuais da corte, encenarn são dialéctica das partes que estão incluidas no todo e do todo que
as suas ideias mais englobanres de como as coisas são em i3lrima motiva as partes, de modo a tornar visfveis simultaneamente as
instância e, logo, do modo como os hornens cievem agir, através partes e o todo. Neste caso concreto, ra! apreensão significa isolar
cle sImbobos sensIveis imediatamenre apreensIveis - urn léxico de os elernentos essenciais na simbOlica religiosa que inunda o Esrado-
esculturas, flores, dancas, melodias, gestos, cânticos, ornarnentos, : -teatro, e determinar qual a irnporrância ciesses elemenros no quadra
templos, posturas e méscaras - mais do que através de urn con- do que essa simbOlica é, no seu todo. Dc modo a seguir urn jogo
junto ordenado, discursivamente apreensfvel, de <crenças>> explIcitas. de baseball tern que se compreender o que são urn bat, urn inning,
Este meio de cxpressão transforma nurna tarefa duvidosa qualquer urn left fielder, urn squeeze play, uma hanging curve ou urn tightened
tentativa de resurnir aquelas ideias. Tal como a poesia, que no seu infield, e o que é, afinal de contas, esse jogo do qua! estas <<coisas>'
sentido vasto de poiesis (<<fazer>>) é aquilo que escd implicado, a são elernentos. De modo a acompanhar a crernação de urn rei balinês,
mensagem está neste caso tao profundamente submersa no meio é preciso ser-se capaz de segmentar a corrente de irnagens que ela
que transformá-la numa rcde de proposicöes é arriscar cometer gera - cobras de pano, setas que se transformam em flores, caixöes
simultaneamente ambos os crimes caracterIsticos da exegese: ver corn a forma de leão, pagodes sobre liteiras, pombas voando das
nas coisas mais do que realmente Ia esta, e reduzir uma riqueza de fronres de muiheres suicidas - nos elementos significativos de que
significados concretos a uma parada rnonótona de generatidades. é composta; e, para começar, é necessário captar o sentido do
No entanto, sejarn quais forem as dificuldades e perigos, a acontecirnento. Os dois tipos de compreensão são inseparavelmente
tarefa exegética tern de ser levada a cabo se se quer fIcar corn mais dependentes urn do outro, e surgem simultaneamente. Tal como
do que o mero fascfnio maravilhado - como uma vaca olhando näo se pode saber o que é uma torre badé(como veremos, é urn axis
CAPITuLO IV 135
134 AFJRMAçAO POLtT/c
si so correcta -de que a rei era uma espêcie de deus corpóreo. Na
mundi) sem saber o que é uma crernaco, (ambérn näo se pode subur medida em que seja de todo possIvel abstraf-la dos veIculos da sua
que é uma catcher's mitt scm saber o que é o baseball. exprCsSO,ãi a mensagern era que 0 re, a corte em torno dde e, em
Os cerimoniais de Estado do Bali clássico cram teatro rnetafisico:
redor da corte o pals como urn todo, cleviam fazer de si rnesrnosfac_
reacro concebido para exprirnir uma visão da natureza fundamental
-s/miles da ordem definida pelo seu irnaginrio. Tal COfflO os sirnbolos
da realidade e para, ao mesmo tempo, moldar as condiçöes de vida onfricos, os simbolos religiosos são ricamente polissérnicos (isto é,
existentes em consonância corn essa realidade; isto e, tea ro para a tém mâltiplos sentidos), espaihando-se profusamente o seu sigriifi-
apresentar uma ontologia e, ao formula-la, faze-la aconrecer, coma- cado nurn emaranhado de direcçôes. E isto aplica-se canto aos slmbolos
-Ia real. Os cenários, os aderecos, os actores, os actos realizados religiosos balineses como aos de qualquer outra parte do mundo.
pelos actores, a trajectória geral de fé religiosa que esses actos
Eles estão prenhes de significados
descrevem -, todos estes elementos precisam de sec confrontados
Literalmente, padmasana significa <<assento do lOtus>>. Usa-se
corn o background do que afinal de contas se estava a passar. E sO para referir o trono do deus supremo, Siva (ou Surya, o Sol), que
se pode perceber esse background na medida em que esses compo- está sentado, imOvel no centro de urn lOtus (padma), rodeado de
nentes teatrais sejam compreendidos. Nem a descricão rigorosa de quatro pétalas a norte, este, oeste e sul, por Visnu, Iswana, Maha-
objectos e comportamentos associada a etnografia tradicional, nern dewa e Brahma, cada qual associado a uma cor especifica, dia da
tracar cuidadoso de motivos estillsticos que é a iconografia tradi- semana, parte do corpo, arma, metal, silaba mágica e forma de
cional, nem a dissecação delicada de significados textuais que é a poder sobrenatural. Usa-se para referir a pequena coluna de pedra,
filologia tradicional são em si suficientes. Tern que se fazer conver- encimada por urna cadeira de espaldar alto (também em pedra),
gir de urn modo ral que a iminência concreta do teatro represen- colocada no canto diagonalmente oposto no local mais sagrado dos
tado produza a fé nele contida. templos balineses, e sobre a qual as oferendas ao deus supremo são
colocadas durante as cerimónias do templo, quando, atraIdo pelas
versöes do paralso evocadas pelos seus adoradores dancarinos, dc se
4
senta au. Usa-se para referir a postura - uma espécie de posicão
acocorada -, que se adopta cjuando se medita sobre o divino. Usa-
Por trás da tendência para a dramaturgia do ritual de Estado e,
-se para referir o acto e experiência da rneditaçao em si. E uma
de facto, por tras do enredo inalterado que animava, encontram-se posição de coito, é a base de urn lingga, é urn dos muitos nornes do
duas conjunçöes fixas de ideias-imagens. Primeimo, padmasana, o deus supremo, é uma imagem ic6nica do cosmos, e o receptáculo
assento de 16tus (ou trono) de deus; lingga, o seu falo ou potência; . no qual os restos mortais de urn alto sacerdote são conduzidos para
e sekti, a energia que dc inftinde as suasexpressOes concretas, a sua cremação. E são as entranhas profundas do coracão humano.
especialmenre a pessoa do governance. Segundo, buwana agung, o Lingga é urn sirnbolo nao menos ramificanre. No sentido estri-
reino do ser; e buwana alit, o reino do sensIvel: o <cmundo grande>> to, refere-se ao falo de Siva - <<maravilhoso e interminável>> -,
do que existe e o <<mundo pequeno>> do pensamento e do senti-
gracas ao qual dc esrabeleceu a sua superioridade sobre Brahma e
mento. Visnu. Para além disso, refere-se as representacöes em pedra, gros-
Rodeados por urn enxarne de ideias subordinadas e aparentadas, seiramerite desbastadas, desse falo -meras rochas oblongas, con-
também elas profundarnente submersas na pompa e omnamento que venientemente arredondadas no topo -que se encontram em tern-
Helms descreve, estes dois conjuntos de sIrnbolos formavarn pbs e noutros locais sagrados por todo a Bali. Num sentido mais
conredo daquilo que, em Bali normalmente, e de forma demasiado abstracto, é o principal sImbolo da realeza sagrada em si. Não so
desconrralda, se chama <<realeza sagrada>>. A mensagern para cuja cci é referido como o lingga do mundo, corno tambérn -e uma
divulgacao o negara estava concebido, e que de facto transmitia na vez que <<na terra 0 govemnante age em nome de Siva e a essência
sua vida ritual, não pode sec descrita pela rnera afirmacão - por
JFIR!MAcAo POLITICA CAPITULO IV 137
136

do seu poder real esrá incorporad no itngga [o quaIl o bvah,?rnn.. ucla, obedecer-lhe, possul-la, organizi -[a. uriliiI-la, ou niesmo
obtm... de Siva e passa... pam o fundadur da dinasria corno paládio compreende-la
da sua realeza>' -, a imagern resume a profuncla Iigçao espiritual
(Hooykaas chama-ihe uma <<crndade indivisIvel) ;entre c' deus
supremo, o rei reinante e o alto saerdore do Estado. I 5
Também se chama 1!ngc6 ao pequeno borrifador em forma de
espanador, feito de tabs de erva e foihas enrrançaclas, corn 0 qua primeio ccnjurC J: simbolos a ta. -
os sacerdotes aspergern goras de água benra sobre os crenres no dos (isco é, hguras rituals combinadas pela estrutura retdricado
mais alto momenro sacramental de praricamente todos os riruais cerimonial de corte), fornece a imagem do que, nesse cerimonial,
deverá set represenrado; buwana agung/buwana alit, o segundo con junro
balineses. 0 kris (punhal, adaga) que todos os personagens nobres
levam embainhado nas cosras dos seiis sarongs, a faixa transparenre de tais sfmbolc<s ou figuras, fornece a irnagem dacjuilo em que
cobocada no toucado cerimonial de urn alto sacerdote, a ponta mais consiste essa criação de imagens. Esta é ralvez uma forma estranha
alta da torte de crernação de urn nobre, o velculo que rransporta a de colocar a quesrão. Mas cia é mais ou menos inevitável se se vai
alma crernada para o céu e o palanque do qual aquelas viüvas se clescrever pot palavras, e para mais doutra lingua, esse arnontoado
atiraram tao respeitosamente para a pira do seu senhor, rambém são abandonado dc imagens dé espeiho sobre imagens de espelho que
constitufam a vida religiosa balinesa e, j<I agora, a vida social bali-
concebidos como sendo linggas.
nesa em geral, numa ofuscação de reulexos reflectidos.
Finalmente, sekti é a palavra balinesa para uma espécie de
fenómeno transcendente que noutros lugares é chamado mann, Ca- As rraduçães habituais apresentaclas para buwana agung e buwa-
risma: <<Urn poder ou dorn divinamente inspirado, tal como a na alit, para abém das lirerais <<mundo grande>> e <<mundo pequc-
capacidade de realizar milagres.>> no'>, são <<macrocosmo>' e <<mictocosrno>'. Corno já apontei várias
vezes, não se trata de urn erro. A concepção balinesa é, de facto,
No fundo, sekti assenta numa visão precisa de como o divino
chega ao mundo; muiro particularmente, numa concepção esquiva que a experiência sensfvel reproduz, ou pode fazer reproduzir acra-
e paradoxal (e não so para observadores exrernos) da relação entre, yes do ritual, a escrutura geral da realidade; e ao faz&-lo sustenra
essa estrutura. Mas, apesar disso, uma tab formulaçao, toxiada abs-
por urn lado, as <formas>> ou <<conrornos>' subsisrenres que o divino
tractamenre, C demasiado neoplatónica e, pottanto, demasiado
assume (a palavra balinesa é murti, <<[urn) corpo*, <(corporal>>, <<fIsico>',
intelectual, para o pensamento balinés. Sugere urna tendência para
do smnscrito murta, oassente nurna qualquer forma fixa>>) e, pot
ourro, as <<manifestaçães>> dinâmicas (em sânscrito sa'kii, <<a energia a miniarurização metaffsica, urn modo de pensar do tipo o-cCu-
ou parte activa de uma divindade>>) dessas formas e desses contor- -num-grão-de-areia, o que não corresponde exacrarnente ao carácrer
nos. Diz-se que Brahrna e Visnu são sektis - isto é, <<activaçöes>> filosófico que os detaihes das cerimónias, mais sensuais que vi-
- de Siva. 0 mesmo para a esposa de Siva. 0 mesmo, de facto, sionários, de facto veicularn.
para todos os deuses e deusas. 0 rei, o senhor, o sacerdore e os <Mundo material>> e <<mundo imaterial>' são tarnbCm frequen-
ascetas são todos considerados como sendo sekti (e ndo, como tern temente utilizados como traduçöes. Em certos aspectos são rnelho-
sido frequentemef1te dito, como <<possuindo>> sekti) na medida em res, porque pelo menos estabe1eem a fronteira no sirio certo: não
que eles são, pot sua vez, instâncias daquilo que eles adoram. Insignias entre o infmniro e o infinitCsimo, mas entre o que af esrá para ser
reais, objectos rituais dos sacerdores, relfquias sagradas de famflia vivido e a experiencia em si. Noutros aspectos, estão mais bonge;
porque o cartesianismo de urn tab contraste, opondo o sujeito ao
e locais sagrados, são todos sekti no mesmo sentido: clemonstram o
poder que o divino ganha quando assume formas parriculares. Sekti rnundo, a mente a maréria, ou a consciéncia ao objecto, é ainda
é scm di:ivida poder << sobre natural>> - mas urn poder sobrenarural mais alheio ao pensamento balinCs do que a misragogia do grande
que surge a partir da criação de imagens da verdade, e não do crer e pequeno.
138 AFlRA1çAo PoLfrlc1 CAPITULO IV 139

Talvez as meihores rraducöes, aquelas cjua nos conl zrn inwro decoraçäo, urn padrão irrefutável cia analogia polIrica. Siva esravj
mais directamente a coda a nocão da arte de governar exemplar, do para os deusts, como os clauses para os tClS, como os reis para os
modo como o negara do Estado-teatro de facto a prarLcava, são as nobres, as nobres para os perb<'ielei, a os perbekeles para a povo: det-
concepcOes <denrro> e fora" que encontrarnos, cal como jaba e tro> e <fora>, <<mundo pequeno e <<muito grande, ou im';ti para
jero, em tantos pontos da culcura balinesa. Buwana agang é o que sekrz; codos cram versôes da mesma realidade.
está de fora do recinto irnediaro da alma, longe do ceniro da Q uer se centrasse na queima de urn corpo, no lunar de urna fila
experiência: jaba. Buwana alit é o que está nele e na direcçao dele de dentes ou na consagração de urn templo de palAcio, uma ce-
jero. rimónia de Escado transformava urn senhor cuo cadaver, dences ou
Como se pode ver a partir do debate da <<anatomia polIrica>> templo estavam a ser elaborados, nurn Icone, uma figuração do
já apresentado, na imagética jaba/jero perpassa grande parte da es.- sagrado, em Si mesma sagrada. Etc tornava-se em inais uma das
trutura social balinesa. Os plebeus Sudra são chamados jabas, os <<activaçöes'> das <<formas divinas>> ao mesmo tempo que ele prOprio
nobres triwangsa são chamados jeros. As casas nobre são jeros. As se tornava numa dessas formas, a partir da qual outras accivaçöes
linhas dos flihos mais novos, de <<status decrescente>>, <<saem>> (jaba) surgiam automaticamente. A estrutura significativa dos rituais era
da linha central, a qual permanece (jero) no cencro da dadia. E ha constance, por muito variado que fosse o detaihe simbOlico. 0 <<mundo
muitas outras urilizacoes ate aqui nao detectadas. 0 patio de entra- pequeno>> do vivido e o <<mundo grande.> do experimentavel cram
da de urn templo, onde o gamelan toca e os dançarinos actuam é (o) conjugados em duas direcçöes: para o interior, na direcção do ling-
jaba; o patio traseiro, onde estão os altares e é prestada a reverência, ga do lOtus: para o exterior na direccão do Estado na sociedade.
e (o) jero. 0 mesmo padrão se verifica numa casa real ou nobre; E ao serem assim conjugados, eles represeritavain o senhor como,
portanto, a zona residencial mais interior do senhorTd uma dessas ao mesmo tempo, imagem de poder - isto é, como marti - e,
casas abrange urn jero dentro de urn jero. (E ele mesmo é urn jero portanto, como uma instância de poder - como sekti.
dentro desses jeros.) 0 resto do mundo éjaba para o jero de Bali; A linguagem básica é, uma vez mais, emulativa. Vendo Siva
muito especialmente jaba é Java, de onde tanto do que é Indico foi como a forma exemplar e o rei como a sua activação, o povo ve o
ardentemente tornado e canto do que e islâmico foi resolutamente rei como forma exemplar e o Estado como a sua activação, o Estado
excluIdo. Assirn como está o corpo para a mence, o campo para o como forma exemplar e a sociedade como sua activacão, a sociedade
povoado, a circunferência para o centro do cfrculo, a palavra para como forma exemplar e 0 sujeito como a sua activaçao.
o significado, o gesto para o sentimento, o som para a müsica, a
casca do coco para o leite do coco, assim esca relação importante
para nós, a pétala do locus onde ele mesmo (ou o seu lingga) se 0 paldcio como templo
senta.
A fusão simbOlica de buwana agung e buwana alit, afinal de Assim como o rei ou o senhor era transformado num Icorie pela
contas aquilo em que se resumem todas as cerimOnias reais, signi- cerimOnia de Estado, numa pintura do poder por isso mesmo po-
fica, portanto, a asserção de uma pretensão metapolItica radical: as derosa, tambérn o seu palácio, o seu dalem, ou pun, ou jero, era
forrnas culturais que o negara celebra em rituais e as institucionais transformado nurn templo, urn cenario para o Icone. As centerias ou
que ele assume na sociedade, são as mesmas. Lingga e realeza, realeza mesmo milhares de pessoas que ali acorreram em massa para par-
e senhorio, senhorio e plebe; padma e palácio, palácio e reino, reino ticiparem (se o palpite de Helms de 50 000 <(espectadores> em
e aldeia; sekti status, status e aucoridade, autoridade e deferência - Gianjar em 1847 for correcto mesmo que so aproximadamente,
todos são representados através dos ritos de Estado como outros teria sido cinco por cento da populacão) vieram porque o pun era
cantos jero e jaba contrapartes urn do outro. Toda a incrIvel magni- urn pedaco de espaco santificado, urn local apropriado para se con-
ficéncia era uma tencativa de edificar, em termos de drama e frontarem corn os mistérios da hierarquia. Era na residência do
IV tCASA. DO REt
1 AREAS SAGRADAS
24 Area & '.abitaç!o d ret
I .AIc.r do asserico do lOt as
0ar,, Kang:e)
(Picimaiana)
2 5 Area de habitaão d3 mother
I 2. Templo da dadia real (Pc::riian pr:ncipsl do rd e da mc do fri
rig: ;zg) (RajacLir:)
. Ior'.i ch:tc para c puric
26. Area dr habit sãu dis rn:lhercs
do templo real (Paducukia)
secundárias, de pequena
3a. Porto fendido para o paric
nobreza, do rei (Satin Gianyar)
exterior do [crnplo real
(Candi Bcntat,
Lago do DernOnc (Tarilat V. CASA , DO fALEC1DO
Pavilhäo onde cc refinem cc PAl DO REI
juices reais (Kertagosa)
Jardim sagrado (Tarnan Agung) 27. Area de nabicacão das nulheres
Lago sagrado (Taman Alit) (secundárias). de pequena
S. Montanha artiliciat (Gunung) nobreza, do pai do rei
Assento pfibiico do rei (Koniya Bawa)
(Ba/ui Tcgch) 28. Area de habicação da irma
Templo da subdadia real solteirs do rei (Sarin Gd.l
(Pemerajan Luk Me/aya) 29. Area de habitaçao do avô
II. Local de armazenamento das (macorno) do rei (Bali Mas)
retiquiss saradas (Girl Sic:)
VI. <CASA DO IRMAO DO REI
Eixo do mundo (Ukiran)
Paviihöes grneos para exposiçao
dos cadvercs sores da cremacäo 30. Area de habitaçao da irmão do
(Bali Summanggèn; Bali Lunjung) rei (Sernarabawa)
Templo de oriem do rei de 31. Ptitio de encrada da casa do
Mengwi (Pcmerajan i%tengwi) irmão do rei (Sic:)
Entrudu exterior, do port8o
fendido, para o palácio VII. SERRALHO DO REI
(Candi Bentar)
Encrada interior, do portllo 32. Area de habitação das muiheres
coberto, para o pahIcio plebeias do rei (Pemangkang)
(Padurakia) 33. Cozinha do rei (Paon Raja)
34. Celeiro de arroz do rei
H. AREAS DE REUN1A0 (Lumbung Raja)
PUBLICA
Viii. CASAS" NOBRES
Patio da encrada exterior
(Bancingab) 35-37. Casas de vários (patri-)
Patio da encrada interior primos do rei (Jers)
(Surnmanggèn)
Cozinha pOblica (Guba Raja)
Celeiro de arroz páblico
IX. AREA IMPURA ME
(Lambung Robaoz)
38. Area impura (Teba)
Gongo fendido (Kulkul)

Ill. APOSENTOS REAlS Porcäo fendido (cancli benrar)

Aposenco real exterior


(Penandakan) Entrada coberta (paduraksa)
Aposento real interior (Rangki)
FIGURA 11. Planta do palácio do rei de Klungkung, ca 1905
.__J L___ Passagem aberca (pemadut)
142 .4FIRMAçAQ POLZTICA CAPITL'LO IV 14

senhor (e a sua volta - pois os remplos balineses no sao mais do tos cornbinados e aquelas intrigas congeminadas. Ha OS aposentos
que os focos das procissôes disserninadas que redemoinham para (10 rei, do seu recérn-falecido pal, do seu irmão, e de vários dos seus
clentro e para bra deles), no <<sfcio onde ele se senra>> que a dow- (paIn-) primos. Ha o serraiho do rei, 0 reCifltO para as suas esposas
Irma do centro exemplar se tornava socialmente real plebeias. E, finalmente, ha a area impura, onde as muiheres mens-
Como tanros outros palácios tradicionais em todo o mundo, e truadas se recoihern, onde os porcos e outros animais são guardados,
de forma notável no Indico, o puri era em si mesmo, na sua mera onde está localizada a latrina e onde o lixo é despejado.
forma material, urn sImbolo sagrado, uma replica da ordem para Cada urn destes blocos C, simuluancamente, uma unidade em
cuja consagracão Iota construldo. Estrutura quadrada e murada de si, urn composto de unidades menores, e uma parte componente
patios dentro de patios, a sua planta reproduzia através de mais este de uma unidade major. Desde a localização dos altares no templo
rneio a geometria profunda do cosmos. 0 padrão variava no porme- da dadia, ou dos pavilhöes no patio de entrada, ate a distribuicão
nor de palácio para palácio, dependendo da tradicao, do acaso e do de espacos funcionais no seio de todo o palácio e a relacao do total
capricho do senhor. Mas em todos eles se encontram as distinces do palácio corn o reino em seu redor, urn padrão estrutural fixo C
entre exterior e interior; entre as direccoes dos pontos cardeais e o constantemente repetido: o mais sagrado/central/interior/privado/
centro sem direccão, que as resume; e entre as formas remotas das ' fo rmal/elevado/principal/hermetiCotmisterioso.. contra o menos; o
quais o poder irrompe e as próximas nas quais ele é manifesto - ponto no qual os significados são reunidos para a espécie de apre-
formuladas num vocabulário de muros, portôes, corredores, alpen- sentação dita murti, contra o piano sobre o qual eles são dissernina-
dres e mobIlia. 0 que o padmasana expressava esculturalmente, o dos para a especie de actuacão resumida como sekti; a irnagem
lingga metaforicarnente, e a cremacão teatralmente, o puri expres- contra a instância do poder.
sava arquitectonicamente: o assento, a sede, do rei era o eixo do Nestes termos, opadmasana (1) no templo da dadia real reiacio-
mundo. na-se corn o conjunto do templo (2) como o conjunto do templo se
relaciona corn a totalidade das regiöes sagradas do palácio (1-16),
a totalidade das regiöes sagradas corn o palácio como urn todo, o
palácio como urn todo corn a praca püblica na qual assenta, e a
praca püblica corn o carnpo em redor. Do mesmo modo, o padrão
Se se observar a figura 11, que representa uma planta simpli- é constante para as outras secçöes e complexos do palCcio:
ficada do palácio do rei de Klungkung cerca de 1905 - isto é, plblico do rei (9) para o patio de entrada exterior (17); o patio de
mesmo antes da chegada dos Holandeses e do suicIdio de corte entrada interior (18) para a totalidade das areas püblicas de reu-
pututan a que deu azo - esta simbologia-chave pode ser vista de nião (17-2 1); os pavilhOes funerarios (13) para o patio de entrada
forma concreta. interior em que se encontram; o patio do rei (24) para a sua <<casa>>
A parte a sua planta geralmente quadrada (corn cerca de qui- contfgua (24-26); a casa contIgua do rei para a casa da linha real
nhentos pés de lado), a caracterfstica mais óbvia do pun, indicada central (24-34); a casa da linha real central para os seus ramos pen-
:
pelos sombreados no diagrarna, é o facto de estar qualitativamente féricos inclufdos no palacio (35-37); todas as casas ainda no palácio
divido em vários grandes blocos. Ha areas sagradas: o templo e os (24-37) estão localizadas em pontos em seu redor, seja na capital
locais cerimoniais, onde, nas alturas devidas, os deuses são invoca- propriamente dita, ou espalhadas de modo estratégico pelo neino.
dos. Ha as areas pciblicas, onde, também nas alturas devidas (que E assirn sucessivamente. 0 pormenorizado isomorfisrno desce
na maioria dos casos são as mesmas) o povo se reCine para reconhe- arC aos mais pequenos pormenores do mobiliánio e decoração e
cer e confrontar-se corn aquilo que o pahIcio significa. Ha as cârnaras sobe, em i:iltima instância, ate todo o universo. A afirmaçao inter-
reais, onde o rei trata corn os notáveis do seu reino e de outros: o minável de urn conjunto fixo de relacoes simbólicas criava, no paiCcio
local onde todos aqueles tratados foram assinados, aqueles casamen- clássico, uma colecção de palcos maiores e menores nos quais cele-
144 AFiRM1çAQ POLITICA CAPITULO Pt' H5

hracöes, de bierarquia, poduim ser adequadarnente tevadas a cabo. dc- Sc- settcaVa para observar e set observado duranre as fescivdades
Desde a pequena oferenda nuni dia santo menor pelo sacerdoce (dançaS, dramas, etc.) que acornpanhavarn as grandes cerimdnias,
encairegado do lemplo real, ic-ila no seu P,1dWa,111ra -- urn 2cStO bc-rn coma para receher, c-rn ocasiöes fixas e cambCm ricualtzadas,
ritual simples rotineiramence cumprido - ale aos festivais de rnassas pessoaS vuigares apresenrando periçôes em relaco a esra ou aquela
em ocasiöes cnaiores dentro e a volta do palácio corno urn todo, coisa. Os pavilhães tunerárjos serviam para a exposico de cacláveres
grandes empreendimenrcs pcIblicos envolvendo a sociedade iriteira, de nobres anres da sua crernação; deles recta provide a procissäo que
Os adereços e cenários do Escado-ceatro eram, como os sc-us dramas, Helms viu surgir na pcn:e sobre o mum (para evirar poluir o poct':
basicamente os mesmos. 0 que variava era o nümero de pessoas cindido). Mas sc-rn d6vida o mais incrigante, bc-rn corno o mais
captadas pela represcntacão, a e!aboração corn que os temas irnuráveis obscuro, dos espacos sagrados do paldcio C aqiii!(-i a que chamet -
erarn desenvolvidos, e o impacce prático do evento no curso geral usando pot emprCstirno urn termo da religiiio comparada, mas nao
da vida balinesa. as ceorias que normalrnente o acompanharn -, o eixo do mundo
- o ukiran. E no ukiran, ainda mais que no cemplo da linha
central, que se concentra 0 5ekti do pun, a sua forca mimCcica de
conferir uma imagem a verdade.
Uki ran quer dizer literalmente montanha>' ou, corn major rigor
Olhar para o palácio corn uma colecçao de palcos, nos quais <sftio da montanha'>. Significa cambCni gravura ralismânica em
dramas exernplares sobre ascenclência e subordinacao eram repre- madeira ou metal, especialmenre em armas. F, pot firn, talvez
sentados vezes scm conra, clarifica o seu ordenamenro espacial: os derivativamente, ou talvez não, é uma da.s trinra <<semanas>> de sete
locais mais sagrados estavam a norre e a esre, na direccao do mar; clias, u'uku, que constituem o ano balinês de 210 dias. A mistura
as areas menos prestigiosas bordejavam as mais prestigiosas; havia desres signifIcados iconogrCficos, mágicos, calendares - faz do uki-
uma gradacao do püblico para o privado desde a frenre do palácio ran o ponco dos pontos, não apenas no palacio mas em todo o reino,
para as traseiras. Clarifica também o significado especIfico dos vários o local em que os aspectos religioso-cosmológicos e de poder polItico
tipos de espacos em s e as relacoes que entre des se estabeleciam. da hierarquia são colocados juntos corn a major exacridão.
Os cinco principais tipos de espaco - religioso (1-16), cIvico (17- 0 motivo da monranha sagrada rem jogado, evidencemenre,
-21), de câmara (22-23), residencial (24-37) e profano (38) - defi- urn papel proerninenre na mitologia Indica desde os tempos mais
niam ranto urn conjunro de contrasces que os distinguia como urn remoros. 0 monte Meru, o centro, umbigo e pivot do mundo, C o
padrão de sernelhancas que os ligava. ponco em que o CCu, a Terra e o Inferno se juncam, uma espCcie
Dos espacos sagrados, os mais significacivos eram o templo de lIngua de terra através da qual deuses, hornens OU clemónios,
da linha central real (2), o assento, ou trono p(iblico do rei (9), podem viajar nurn sentido Cu oUtro entre os principais reinos do
os pavilhöes para exposicão dos cadáveres reais (13) e o eixo do ser. Na Indonesia o tema não é menos conspIcuo, encontrando re-
rnundo (12). presentacão iconográfica num vasto leque de formas, desde o teatro
O templo da linha central era o templo familiar para todo o de sombras ate as oferendas comensais. E em Bali, onde o impo-
grupo governance Klungkung, e a sua reconsagração após cada nente vulcão no centro da ilha, monte Agung, C considerado como
ascensão ao trono, após alceracoes e reparaçöes, ou após algum de- sendo Meru - o sitio onde os deuses vivem, onde se situa o templo
sastre natural (uma praga de racos, uma erupcão vulcânica, uma suserano, em funçao do qual todo o pals é organizado -, o mocivo
epidemia) era, juntamente corn a cremacão real e a limagern dos da monranha C quase omnipresene. Corn a água e o Sol é urn dos
dentes, uma das ocasiöes mais vulgares para as maiores cerimónias tres grandes sImbolos da natureza na vida religiosa.
de massas levadas a efeito no palácio. 0 trono pb1ico do rei era No nosso puri de Klungkung, o motivo da moncanha aparece
uma plataforma de pedra, elevada, coberta por urn telhado, onde vezes scm conta, como urn esforcado gaguejar após uma elocucão
As

CAPJTLJLO iv 1.47
146 AFJRMAçAO POLITICA
cada urn, e assim nele Sc presta hornenagern a origern cia famclia de
total. A seguir aopadmasana, ele mesmo gravado corn tars mOtivos,
cada qual>>. Charnado iumpek Iandcp - letra, o xfecho da agude-
altar mais importante no cemplo da linha central, como em todos
za ,> (nenhuns objecros afiados podern set usados nesse dra em todo
os templos de altas castas, é o Gunung Agun - isto é, monte reino) -' esce feriado é celebrado corn urn simbolismo que liga
Agurig -, localizado ao lado do padmasana. Pot sua vez, a seguir entre si sirnultanearnente os instrumencos da violéncia, as energias
ao Gunung Agung está a major estrutura do templo, o Meru enquan- da viriliciade, os emblernas Wi auroridade e os veIculos do carisma.
to tal: urna coastrução do ripo de urn pagode chines corn uma Pl- Oferece urn born ret raco sinópcico do que significarn a soberania (se
r6mide de (neste caso onze) teihados em camadas de tarnanho é que esta C sequer por aproxirnacão a palavra certa) na polItica
decrescente representando os cUS estratificados. A moncanha arli- rnetafórica do Bali clássico.
ficial (8), feita corn a terra escavada na construcão do lago sagrado
(7), é também e ainda urna das suas representacôes. Os portöes,
ambos cindidos (3a, 15, etc.) e cobertos (3,16, etc.), são também 4
imagens explIcitas de Meru, passagens entre regiöes menos e mais
sagradas. Por fim, o ukiran (e, dentro dele, ainda mais profunda- Dados os espacos sagrados, que resurnem o que a acquitectura
mente, o giri suci [1 1J) é, pura e simplesmente, o Meru-Agung do palácio tern a dizer - normalmente, que espeihar uma reali-
localmente implantado: eixo do palácio, do reino, de Bali e do dade C tornar-se nela - os outros tipos de espacos encaixarn natu-
universo. ralmente no seu lugar. Concebidas para funcöes diferentes, mas
No giri suci, o qua!, näo surpreendenternente, se traduz tarn- mais ou menos similares na forma e na planta, as várias regiães são
bern corno <<montanha sagradax., estão guardadas as armas rnágicas palcos, ou arenas, nas quais são meticulosarnente representados os
- kris, lanças, lancetas e outras - que garantern e, de algurna confrontos face a face do status que formarn a substância da vida
rnaneira, incorporarn, o poder da dinastia. Estas relIquias de famIlia, polftica. Nos espacos sagrados, a confrontaçao é entre deuses e
a que os Balineses chamarn waris, são, por assim dizer, a heranca homens; nos espacos p6blicos, é encre senhores e sCtbditos; nos
carismática da casa a que pertencern, e muito particularmente da espacos residenciais, entre irrnãos, primos, cônjuges, esposas, pais,
sua cabeça, a quern é confiada a sua salvaguarda. Esculpidas ou flihos - os habitantes do ménage real; nos espacos impuros, entre
gravadas corn desenhos ocultos (chamados ukiran), possuidoras de homens e dernónios.
força transcendente, as armas estão associadas a elaboradas lendas Mais do que qua!quer outro local no Bali clássico, mais do que
de origem divina (normalmente referentes ao facto de terern sido a aldeia, mais ate do que o templo, o palácio (o qual era, é claro,
forjadas para algurn deus nas profundezas de urn vulcão), a ocorrên- urn pouco de cada urn destes e mais qualquer coisa de coliseu) era
4 cias misteriosas do tipo fantIstico, e a milagres militares que sal- local onde todas as vaidades de Bali se juntavam, a confluência
varam a dinasria dos seus inimigos. São apotentia do rei, sem a qua!, das afeccöes sobre as quais girava a sociedade.
tal corno sem o falo que muito explicitamente representam, ele
seria incapaz. Urna vez ao ano, no ültimo dia antes do começo da
<<semana>> também chamada ukiran, estas armas são trazidas para A cremaçdo e a luta pelo status
bra pelo rei para serern benzidas corn água benta pelo surno sacer-
dote; e Siva é adorado na forma de Pasupaci, <<cujo nome é tambérn No entanto, no respeitante ao Estado-teatro, tudo isto não pas-
da melhor das armas, a espada dada a Arjuria depois de prestar sava de mise-en-scène: era nos rituais de corte que o negara ganhava
vassalagem a Siva, para a usar na bataiha contra Niwatakawasa'>. vida. As ideias esculpidas nos relevos do padmasana ou expostas nos
No dia seguinte, o prirneiro dia de ukiran propriarnente dita, Siva complexos reais tornavam-se - nas consagracöes do templo, nas Ii-
é de novo adorado, mas sob a forma de Batara Guru e no templo magens de dentes e cremaçöes - grandiosos gesros colectivos, re-
da linha central, <porque em Guru tambérn se ye o guru ou pai de
CAPITUL.(j IV I )
POLITI(JA

obra do rei', urna espécie de corveia na qua o serv ço C0


1:rscnraç: em masa das verdades da elice. As rnultidôes de mrones
culco acabani por sr a mesma coisa.
e participanreS que flziam mesmo de Lirn a ceriónia m de Esrado
mertor uma espécie de ceni de populaça coreografada. davam ao
ne,ira urn poder expressivo qtie [El ill OS [:ai.iciIJs come COpLU dc
cosmos, nem os reis corno Icones da aucoridade divina, podiani
produzir. '<Corn urn pouco dc imaginação>>, escreveu Gregory Ba-
= Dos crès <grancles dias>>, o primeirc', a Purmfmcação, era dedia-
teson acerca de uma pintura halinesa de urna crernação - - - urn
emaranhado de corpos, foihas, torres e oferendas (vet, pom: exemp o, do a iavagem do corpo (ou do que dde resraa pelos parenrc do
.; falecido, pelos outros senhores do reino e, no caso de morto set uma
estampa colorida) —, << poder-se-ia vet a quadro corno ama repre-
sencação simbdlica da organização social halinesa, na qual relacães figura mesmo principal, por senhores de reinos aliados; ao adorno
do corpo corn vários elenientos (espelhos nas pálpehras, fibres nas
suaves de eriqueta e alegria encobrem, mecaforicamente, a curbu-
narinas, cera nas oreihas, urn rubi na boca, ferro nos bracos); e,
lência da paixão.>> Salvaguardando urna inversão de sentido —
: muito em especial, a aspersão de água benta sobre ele pelo sumo
turbulência é a rnetáfora e as relaçöes são aquilo que a rnecáfora
." sacerdote. No segundo dia, a Obecliência, o corpo era deslocado
encobre - podlamos dizer o mesmo do prdprio acontecimento.
para os pavilhöes de exposicão (nmero 13 na figura 11), onde,
Embora pracicada cambém por sacerdotes e povo, a crernacão
•.;- colocado no meio das relIquias de famIlia (as kris, lancas, etc., do
(ngabin) era, de facto, a quinca-essência da cerimónia real. Não so
era a mais drarnácica, a mais esplêndida, a major e a mais car, era giri suci) e encre elaboradas montanhas de foihas e de arroz, era
conternplado por dependences, aliados, cliences e mesmo por alguns
a mais expressamente declicada a afirrnacao agressiva do status.
dos sábclitos mais proerninenres, que vinham prestar a sua oracão
Aquilo que constitufa, de urn cerco ponto de vista, urn rico para os
de respeito corn o gesto das rnãos na cesta. Mas era no dia final, a
morros suspeitosarnente empolado, era, de oucro ponco de vista, urn
:q Aniquilacão, que a corrence de marcas de status, ate aqui mera
ataque temerário numa guerra de prestIgio. A sugestão de C-otis de
inundaçao para os padröes balineses, se avolurnava numa torrente
que possa uratar-se de uma sobrevivência indicizada de urn potlatch 4 que arrascava consigo a prOpria solenidade.
pré-hindu não é talvez niuico aceitável do ponco de vista etnologico.
Como se pode conscacar pela descrição de Helms, as carac-
Mas apanha bern o espIrito da coisa: consumo conspicuo ao escilo
cerfscicas saliences da cremação propriarnence dita cram crês enor-
balins.
mes expiosöes de energia simbOlica — uma social, a procissão; uma
Começando corn a morte do rei, prolongando-se pela incinera-
estCcica, a corre; e uma natural, a logo. A excitação da mulcidão, a
cão em si, e concinuando numa sCrie de pós-cerimOnias curiosas, o
k magnificência do ataüde c o abandono da pira davam o corn ao
ritual era urn acontecimenco prolongado, levando meses a curnorir-
aconcecimento, o qual se assemelhava (como cambém noca 1-leirns)
I - -se. 0 ârnago do ritual consistia em três grandes dias sancos: a
mais a uma excursão do que a urn lamenco.
Purificacäo (Pabersihan); a Obediência (Pabaktian); e a Aniquilação
A procissão era, durante todo o seu percurso, urn aconcecimen-
(Pabasmian). Mas, corno corn a major parte dos ricuais balineses,
to clamoroso e desordenado. Começava corn urna batalha fingida
estes acontecimencos centrais escavam colocados entre parênteseS,
entre homens tentando levar o cadaver por sobre o muro do palácio
por urn lado por urn longo crescendo de preparacivos e pelo oucro
para o colocarem na torte e a mulcidão no exterior cencando impe-
por uma queda gradual de acabamentos. 0 significado do aconce-
- di-los de o fazerem. Terrninava, meia rrmilha mais a frence, pouco
cimenco parecia estar quase canto no prologo (a conscrução da pa-
mais ou menos, corn uma série de bacalhas similares a medida que
ralernália, o juncar das oferendas, a organizacão dos fescins) e na
o cadaver era descido da torre para o seu caixão animal e colocado
reprise (as reconsticuicöes obsessivas do queimar do corpo — corn sobre a pira. Entrementes, havia uma quase-histeria: o louco girar
effgies, cinzas, designs, ou fibres quanco na cerirndnia propriarnente
da corre <<para confundir o espirito>', o empurrar, acoceelar e tropecar
dita Do prmncipio ao firn era o que os Balineses chamam karya
IN
150 AF1RMA0 POLIT1(A

na larna: a competlçaO par moedas e rnnhanas corn muitas garga


1 cf'!j , ; i.o iv 51

nov para urn scuhor normal; e onze, ericirnada (0) 1/kx par urn
Ihadas; o irnplacável ressoar esLrldente da rnCisica guerreira. a esculpido, para urn rei; urn tronopea¼oascrna scm cobertura. aberto
No eriranro, e apesar de tudo isso, a procissão onha ama ordcrn direcrarnence para o Sot, Surya-Siva, destinava-se ao SUmO sacerdote.
rigorosa: era tao calma e virtcada no SeLl ptx e centro coma era Os caixâes animais rambém reflectiarn a status do fa1'.c1do. Os
tumultuosa e agirada na sua base e margens. A cabeca vinharn as sacerdoces erarn queimados em touros, as altos senhores em leöes
orquestras, os dancarinos, as carregadores de sânda!o, os transpor- alados. os senhores menores em veados, os homens do povo numa
tadores decaixôes anirnais. Atrás destes os lanceiros e os carrega- besta rnitológica corn cabeça de etefante e cauda de peixe. A .1!cura
dores das armas do relicério familiar; depois, corn recipientes C da rorre (que podia acingir as sessenta ou secenta pes), o rurnero de
tabuleiros baloucando nas suas cabecas, vinham as muiheres corn a homens que a transportavam (que cinham de ser de rank inferior ao
água benca; logo, as effgies do morco semelbantes a bonecos, as do falecido), o requinte e precisão das decoracöes (que cram saquea-
oferendas aos dernónios e ao senhor do inferno, e as insignias do rei das pela multidão num frenesi selvagem mesmo antes de serem
(roupas, jóias, caixas de betel, guarda-sois). A seguir, em semi- queimadas num logo separado do do caixão) e o nürnero de vi(lvas
transe, entoando mantras, vinha o sumo sacerdoce, transportado sacrificiais e Sudras desenterrados - tudo isto exprimia as reivin-
bern alto na sua cadeira aberca padmasana. Atrils deste, mas a ele dicaçöes de status do falecido, da sua dinastia e do seu negara,
presa pela serpente de pano que tanco fascinou Helms - e que OS grau de exemplaridade que des afirmavarn cerern alcancado. Em
parentes imediatos do falecido, também algo dissociados, transpor- todo o confuso dia, corn centenas de actos rituais e milhares de
tavam estendida ao longo dos seus onibros -, vinha a torte fu- cferendas rituais, desde efigies e montes de arroz ace hinos sagrados
neréria, surgindo grandiosarnente sobre a confusão geral. E, pot e pombas esvoaçances, quase não havia uma que não tivesse urn
fim, arrastando-se como urna sombra, vinha o séquito funerário das signiflcado de status explIcico e delicadamente modulado.
esposas sacrificiais, corn as rnulheres nas suas torres, clesprovidas de : A cena da pira... a <<morte> da serpente pelo saceidote corn a
expressão corno cadáveres que já cram; seguindo-as, os Sudras, muitas t seta florida; a descida do corpo para o caixão na placaforma crc-
vezes centenas deles, as düzias pot torte, Sudras que as suas famIlias rnacória; o sacerdote, quieco quase como urn sonârnbulo, subindo a
haviam exumado para serem crernados corn o seu senhor. A cena placaforma para ensopar o cadaver em enormes quantidades de água
(a qual, no respeitante ao seu aspecto geral, não rnuclou canto assim . benta; a colocaçao do cadaver no caixão, encerrado sob pilhas de
hoje) era urn pouco urn motim de brincadeira - urna violência tecidos, efIgies, moedas chinesas e tantas espécies de oferendas; a
deliberada, mesmo estudada, concebida para rea!çar uma quietude ignicão cerirnonial do fogo corn urn bugio, pelo sacerdote; esce,
não menos deliberada e ainda mais escudada, que os imperturbéveis agora completamente em transe, conduzindo urn óltimo rito flu-
sacerdotes, agnaces, viávas e mortos tributarios se esforçavam par cuante, uma espécie de danca sentada corn a cabeca, o cronco, os
estabelecer perco da torte central. . bracos e as maos, encre fumo e clamor; o grande colapso quando as
A própria torte, o olho dentro do olho desca tempestade forjada, pernas do caixão cedern e este se esboroa no logo, vomitando o
era também uma imagem cósmica. Na sua base, o mundo dos demo- corpo semiqueirnado; a queda silenciosa das viiivas nas chamas; a
nios era invocado pelas habicuais serpences aladas e pelas tartarugas . recolha das cinzas para serem levadas para o mar, corn o sacerdoce
achacadas. 0 mundo homem era representado ao rneio pot uma pla- avançando lentamence para as espaihar nas ondas... tudo isto remecia
taforma salience corn a forrna de urn pavilhão de patio, charnada de .. para o mesmo significado - a serenidade do divino transcendendo
facto <a casa na qual o cadaver era colocado. E no copo aparecia 0 a füria do animal. Toda a cerirnOnia era uma demonstracao gigan-
mundo dos deuses, simbolizado nas familiares camadas dos ceihados tesca, repetida de mil maneiras corn mll imagens, da indestrucibi-
de Meru, corn o seu nümero indicando o nIvel do paraiso ao qual lidade da hierarquia face as forças niveladoras mais poderosas que
a alma em partida aspirava: uma sO para o plebeu que já tinha sorte mundo pode reunir - a morce, a anarquia, a paixão, e o fogo.
em ascender de todo; três ou cinco para a nobreza menor; sete Ou '<O rei escá aniquilado! Viva o seu rank!>>
152 AFIRIMA(AO POLITICA

Os ricuais reais (e nisro as lirnagc-us de deuces, as oidenaçCes,


as purificaçães do reino e as consagracöes de remplos não erarn di- CONCLUSAO
ferenres das cremaçöes) levavam a cena, e sob a forma de corceo,
Ba/i c a Teortz Pol/tica
os principais temas do pensamenro poicrico balinês: o centro é exem-
plar, o status é o terreno do poder, a arce de governar é un'ia arte <Esrranha forma de imitação est ue ladlu! v Coflstrói a
teatral. Mas ha mais que se ihe diga, porque os cortejos não eram propria cosa que rmI:'
apenas embelezamentos estécicos, celebraçöes de uma dorninação
existence de forrna independente; eles erarn a coisa em si. A cornpetico Paul Ricocur
corn o objectivo de ser o centro dos cencros, o eixo do mundo, era
apenas isso, urna cornpeciciio; e era-o na capacidade de encenar
producöes de uma escala de onze teihados, de mobilizar os homeris, 0 principal substancivo do moderno discurso polItico, Estado
os recursos e, nao menos, a perIcia, que faziam de alguém urn
(state)-, condensa pelo menos crês cernas ecimológicos: status, no
senhor de onze teihados. A natureza adscririva do sistema de ran- sencido de posto [station], posicão [standing], rank, condiçao [condi-
king balinês, o facto de o lugar na hierarquia set, no sentido law, tion] - estado [estate] (<<The glories of our blood and state>>); pompa, no
herdado, não deve oculcar o facto, em rnuitos sentidos mais impor- sencido de esplendor, aparato, dignidade, presenca estatura (stateliness)
tante, de que coda a sociedade, do topo a base, se encontrava encerrada (<<In pomp ride forth; for pomp becomes the great/ And Majesty derives a
numa rivalidade de prestfgio incricada e scm fim, e que esta riva- grace from state>>), e governação [governance], no sentido de regência,
lidade era a forca motriz da vida balinesa. A. escala a que a rivali- regime, soberania, comando -arte de governar [statecraft) (<<It may
dade se verificava era major no topo, talvez mais perseverante e pass for maxim in state that the administration cannot be placed in too few
certamente mais esDeccacular. Mas a luta dos colocados numa situa- hands, nor the legislature in too many>>).
ção inferior, no sencido de escreitarern o fosso que os separava dos E caraccerfscico desse discurso, e da sua modernidade, que o
acima colocados (imitando-os), e para alargarern esse fosso encre terceiro desces significados e o cilcirno a surgir (em Itália na década
eles e os ainda mais inferiormence colocados (distinguindo-se), abrangia de 1540; nem sequer estava disponIvel para Maquiavel), tivesse
codos. vindo a dominar o termo ao ponco de obscurecer a nossa compreen-
Uma cremação real não era urn ceo de uma po!ctica que acori- são da natureza rnülcipla da alta autoridade. Impressionados pelo
tecia algures noutro sftio. Era urna intensificação de uma poiftica comando, pouco mais vemos.
que acontecia em todos os ourros sitios. Como já foi referido, negara tambérn engloba u.m campo variado
de significados, embora se crate de urn campo diferente do de
Estado, levando as habituais ligacöes erradas que são próprias da
traduçao intercultural, quando é assirn interpretado. Mas, quais-
quer que sejarn os assuncos, para nós distincos, que possa abarcar -
palácio, cidade, capital, reino, civilizaçäo -, a fDrmação poiftica
que dc designa é do tipo em que a accão combinada de status,
pompa e governo não so permanece visIvel, mas é, de facto, alar-
deada. 0 que o nosso conceico de poder pithlico obscurece, o dos
EALI E A TEORIA POLITICA CONCLUS'AO 155
154

Balineses exibe; e vice-versa. E, no respeicanre a ceora polirica, e cepcão da cerimónia de Estado é mais de rnistificação, no sencido
aI, cia revelação das dimensöes simbólicas do poder estaral, que de espirirualizacão dos inreresses maceriais, e de enevoameilto dos
assenca a ucilidade de prestar arenção a decadência de raik, as conulitos rnateriais. A simbologia politico C ideologia polirica, e a
prerrogacivas dispersas; ao concrolo riruatizado da água, ao corner- ideologia polItica é hipocrisia de classe. As concepçôes populiscas
cio gerido pot estrangeiros e a crernaçâo exemplar. Urn cal estudo do Estado, aquelas que 0 vêem como urn prolongamento do espIrito
restaura a nossa compreenso da força ordenadora do apararo, do de comunidade, de onde advCm, tendern nacuralmente para formu-
respeito e do drama. laçOes mais ceIebratórias:tal como o governo é o instrumento da
Cada uma das principais noçães do que 'é'> o Escado desenvol- vontade do naço, os seus clarins rituais represencam a imensidão
vidas no Ocidente desde o século XVJ - monopolista da violência dessa vontade. B para as teorias pluralisricas - o equilibrio de
dentro de urn território, cornité executivo da classe dirigente, agente inceresses do liberalismo clássico e os seus sucessores dos grupos de
delegado da vontade popular, mecanismo pragmático para conciliar pressão - os aparatos do Estado são oucros tantos mecanismos para
interesses - tern tido a sua dificu!dade própria em assimilar o vestirern corn legitimidade moral as condutas consignadas. A politica
facto de que esta força existe. Nenhuma conseguiu dat conta, de e urn intrigar sem fim para a obtenção de vantagem marginal sob
forma utilizável, da sua natureza. Aquelas dirriensöes da autoridade regras de jogo acordadas e elevá-las acirna - ou inseri-las por
dificilmente redutiveis a uma concepcão da vida politica baseada no debaixo -, das lutas partidárias que elas deviam regulamentar.
comando-e-obediência, tern sido deixadas a deriva nurn mundo in- Mas, em todas estas perspectivas, os aspectos semidticos do Estado
definido de excrescências, mistérios, ficcöes e decoraçöes. B a cone- (se, prefigurando uma abordagem alternaciva aos assuntos erri mao,
xão entre o que Bagehoc chamou as partes dignas do governo e as podemos começar a chamá-Ios assim) ficam-se pela mascarada. Eles
eficazes, tern sido sisternaticamente encendida de maneira errada. exageram a força, escondem a exploração, insuflam a autoridade ou
Esta ideia errada - e para expor de forma muito simples -, moralizam os processos. A ünica coisa que não fazem é impulsionar
e a de que a funçao das parces dignas é servir as eficazes, de que 0 quer que seja.
elas são arciffcios, mais ou menos astutos, mais ou menos ilusórios, Não é difIcil - de facto é fatalmence fácil - encaixar o Estado
concebidos para facilitarem os objectivos mais prosaicos do gover- balinês tal como aqui descrito, em urn ou outro destes modelos
no. A simbologia poiftica, desde o mito, insignias e etiqueta, ate familiares, ou em todos eles ao mesmo tempo. Ninguém permanece
aos palácios, titulos e cerimónias, não seria mais do que o inscru- politicamente dominante pot muito tempo se não puder de algum
rnento de propósitos escondidos debaixo dele ou elevando-se sobe modo prometer violéncia aos recalcitrantes, forçar o apoio dos
ele. As suas relaçöes corn o verdadeiro trabaiho da polItica - a do- produtores, recratar as suas accöes como sentimento colectivo ou
minação social - são todas excrfnsecas: <<Divindade estatal que justificar as suas decisöes como sendo a prácica racificada. No entanco,
controla afeiçöes de pessoas.>> reduzir o negara a lugares-comuns tao fatigados - o pano puIdo do
Para ac1uelas irnagens do Estado como <<grande besca>> que, do debate ideológico europeu -, é deixar que grande parre do que
Leviacã de Hobbes ao Minotauro de De Jouvenel, localizarn o seu nele é mais interessante se escape da nossa visao. Qualquer que seja
poder cia ameaça de punir, a funçao do cortejo e cerimónia da vida a informação que este debate possa ter para nos oferecer sobre a
pciblica e incutir terror nas mentes confrontadas corn essa ameaça. natureza da poiftica, dificilmente será que os peixes grandes co-
Como urn zunidor australiano ou como a máquina do Feiticeiro de mam os peixes pequenos ou que os trapos da virtude mascarern a
Oz, seja como que urn ruIdo sinistro para impressionar os impres- maquinaria do privilégio.
sionáveiS e para ihes provocar urn crérnulo temor. Para as perspec-
tivas da <cgrande fraude>>, a esquerda Marx ou a direita Pareto, onde
a ênfase é posta na capaciclade dos elites de exurafrern excedentes
dos menos bern colocados, rransfcrindo-os Nra Si pr prias, a COO-
BALI E A TEORIA PoLiTIC 157
156

7 a organtzaVam as ex1lcçOdS qtle a SuStentaVain, OS privi!égics u a


acompanha>am - era essencialmente direccionada para a defir.-
vIuico do qic se diz sobre o carácrer da cultura bahresit clássica çao do que era o poder; e o poder era aquilo que o reis cram. Reis
e o tipo de policica que sustencava e d!scut(vei, mas pot cerco flão concretOs jam e vinharn, ><pobras lactos passageir:s' aiìonimizadus
é o facto de que o status era a sua obsessão dominance e que o em rIculos, imobilizados no ritual, e artiquilados em fogueiras. Mas
esplendor era a matéria-prima do status. Linggih, literalmence ><assen aquilO que eles represenravarn a concepcao da ordem construic/a
pelo processo de modelo e cópia, permanecia inalterada, pelo menos
to>. genericamenre rank, posto, posicão, lugar, tItulo, <casra > (><On.ci
te sentas?>> é a pergunta padräo para a identificaçao de status), era ao longo do perfodo em relaçao ao qual conihecemos o suficience.
eixo em tomb do qual girava a vida piliblica da sociedade. Defl- objectivo irnpulsionador da alta po!icica era construir urn Estado
nido em termos de distância variável da divindade, como já foj arravés da construcão do mci. Quanco mais perfeico o rei, canto mais
explicado e, pelo menus em teoria, como urn dos dados da vida e exemplar o centro. Quanto mais exemplar o cencro, canto mais
no como uma das suas contingências, o status e as compusöes genuino 0 reino.
inerences animavam a major parte das emoçöes e praticamence todos 0 traco discincivo da realeza mndica no Sueste asiácico aparece
os actos a que, quando encontramos os seus equivalentes na nossa sempre, inevitavelrnente, como a sua odlvinclacle>> - uma formu-
socjedade, chamamos politicos lação pouco nicida como já foi referido. Os reis, aqui, nab tinham
dois corpos, mas urn. Não eram Defensores da Fe, Vigdrios de Deus
Compreender o negara signifIca localizar essas emocöes e anafl-
sar esses actos; elaborar uma poética do poder, não uma mecimnica. ou MandacCrios do CCu; des cram a própria coisa - encamnaçöes
idiorna do rank não so formava o contexto dentro do qual as (hindus, bucliscas ou de uma mistura ecléctica das duas) do Sagrado
relacöes prOticas dos principais tipos de actores polIticos -pung- enquanco tal. Os rajás, maarajCs, rajadirajas, devarajas, etc., cram
gawas, perbekeles, kawulas e parekans - assumiam a sua forma e outras cancas hierofanias; objectos sagrados que, como stupas ou
I : mandalas, exibiarn o divino rnandamento.
tinhamo seu significado; ele permeava também os dramas que des
conjuncamente rnontavamfl, e Os propOsitOS maibres para que os Este conceico de realeza sagrada não é incorrecto; pelo menos
montavam. 0 Estado ia buscar a sua força, que era deveras real, nab e mais incorrecto do que dizer que o presidence amenicano C
urn lIder popular ou que o mci de Marrocos C urn autocrata.
as suas energias imaginarivas, a sua capacidade sernjOtica de fazer
corn que a desigualdade E apenas insuficience. E o concecido da <<divindade>> (ou da ><-
Antes de tudo o mais, o Estado baliriês era uma represencação laridade>> ou da <autocracia>>) que importa. Mais ainda, o que irn-
da forma como a realidade estava organizada; uma vasta imagem porca é como esse conte6do foi criado, como C que surgiu material-
: mente. Sc urn Estado era conscrufdo conscruindo urn rei, urn rei era
1
dentro da qual objeccos como os kris, escruturas como os palácios,
práticas como a cremaç.o, ideia como <<dericro>>, e actos como construldo conscruindo urn decis.
suicIdio djnástjco, tinham capacidades próprias. A. ideia de que a Ha nisto uma série de implicacôes para Os concornos da politica,
polIcica é urn jogo imutável de paixães narurais, para cuja explo- mas de entre as mais importances ternos a de que a soberania, tat
racão serviriam, como meros dispositivos, inscicuiçöes de domina- como a divindade, era sirnulcaneamente uma e muitas. A paisagem,
ção concretas, é errada em qualquer parte; em Bali, o absurdo dessa não sO em Bali, mas por todo o Sueste asiático, e nodecurso de pelo
ideia torna-se pacente. As paixöes são tao culcurais quanco os dis- menos mil e quinhentos anos, estava poncuada de rnonarcas uni-
positivos; e o modo de pensar -hierárquico, sensorial, simbolisra versais, cada qual representado, nas declarnaçöes do'culto, como o
e teatral -que inspira urn, inspira 0 OUtfO. cencro e pivot do universo; no entanto cada qual estava enfatica-
Isto é em todos os aspeccos evidente. Mas era calvez mais evi- mente ciente de que não se entrava sO nesca representacãO. Desde
dente naquela que era, afinal, a imagem mescra da vida poiftica: a os mais insignificances rajás nas Celebes ou na peninsula malaia arC
realeza. A totalidade do negara -a vida de corte, as cradicOes que aos mais gmandiosos em Java ou no Camboja, as pmoclamacöes de

LL.
CONCLUSAO 159
158 BALI E A TEORIA POLITICA
embaixador de urn governante secular junta aos deuses; dc era o
suserania eram rotais nas suas precenSöes; 0 que variava era a escala celebrante-chefe de tim governante sagrado.
em que essas proclamacöes podiam ser montadas. Os reis erarn
Havia, nos Estados hierIrquicos tradicionats do Médio Oriente
todos incomparáveis, mas alguns eram mais incornparáveis que oucros,
e da Asia, trés forrnas principais de realeza. Em burocracias arcai-
e eram as dimensöes dos seus cultos que faziam a diferença.
cas como do Egipto, China ou Suméria, o rei era dc mesmo o
sacerdote-chefe; o bern-estar do reino dependia da forca mágica das
suas actividades lirürgicas, e os outros sacerdotes näo eram mais do
3 que seus assistentes no sacerdócio. Na India, obviamente tanro urn
continente como urn pals, o rei era o que Louis Dumont chamou
Foi esta cornbinação de uma forma cultural essencialmente
uma figura mais <<convencional>> do que <<mágico-religiosa>> - urn
constante, o cu.lto do rei sagrado, corn uma enorme variabilidade
governante <<despossuido de funcoes religiosas propriamente ditas>>,
nas pessoas e recursos disponiveis para construir essa forma, nurn cujos sacerdotes o punham ritualmente em contacco corn o outro
certo lugar ou num dado tempo, que fez da <<luta pelo poder> no
mundo do mesmo modo que os seus ministros o punham em contacto,
Bali clássico ama explosäo continua de exibicâo competitiva. Os administrativamente, corn este mundo. E, pot urn, em Bali, como
tracos mais proerninentes dessa exibiço, no mito, no rito, na arte
em grande parte do resto dQ Sueste asiático (bern como nas for-
e na arquitectura, já foram descritos. Bern como a mentalidade
maçöes politicas mais desenvolvidas da Polinésia e, de modo algo
politica que a sustentava e que era pot ela sustentada. Mas, para Ia
diferente, no Japao), o rei, que não era urn mero eclesiarca, era o
da simbologia e do ethos, e conferindo-ihes uma expressão tangIvel centro numinoso do mundo, e os sacerdotes cram os emblemas, os
no curso real dos assuntos de Estado, havia uma série de paradig-
ingredientes e os gerentes da sua santidade. Tal como as reliquias
mas sociais de autoridade do rei, exemplificacöes concretas do que farniliares já mencionadas, as seus sarongs, os seus guarda-sois, o seu
realmente significava set-se o senhor da criação. Destes, trés eram palanquim, as suas jóias, a seu palácio, as suas mulheres, os seus
especialmente importantes: as relacôes dos reis corn os sacerdotes,
linggas, a sua torte de cremação, as suas festas, as suas guerras;
dos reis corn o mundo material e dos reis consigo próprios. efectivamente, como veremos, tal como o reino como urn todo, os
0 emparelbamento complementar do rei e do sacerdote, o Satria
sacerdotes eram parte das insignias do rei.
Perfeito e o Brahmana Perfeito, equilibrados em antifonia no cume Näo quer isto dizer que fossem meros acessórios, bugigangas de
da sociedade, é ao mesmo tempo a instituicão politica balinesa mais
poder. A crónica real de Buleleng, que descreve explicitamente o
caracterIsticamente indiana (aparece ji no Códice de Manu) e o sacerdote da corte conio <<a primeira das jóias do rei,,, tarnbém
exemplo mais flagrante da rnudança que tais instituicöes sofreram
O identifica corn o punho do kris do rei, corn os instrurnentos da
no decurso da sua travessia maritirna para sul e este. Na India,
orquestra do rei, e corn a totalidade do elefante do rei. Ele e tido
como o tern demonstrado os especialistas desde A. M. Hocart, a
como douto em conhecimentos religiosos, versado em ritual, ins-
funcäo do Brahrnin (ou, pelo menos, do Brabmin de corce) era
truldo em lei védica, adivinho dotado, maravilhosamente virtuoso
dirigir sacrificios em nome de urn rei ritualmente desqualificado,
e perito na forja de armas sagradas. 0 rei, tendo ouvido falar da sua
sanguiriário e carnivoro. Em Bali, onde a rião-violéncia e o vegeta-
farna, convocara-o para a corte, insralara-o num asrama a vista do
rianismo são apenas, quando muito, ideais incidentais, a funco do palacio, destacara trés mit dependentes para o seu servico e ouror-
Brahmana era encenar mistérios e produzir encantamentOS em torno gara-ihe urn titulo elevado, eco do do próprio rei. Corno P. J.
dos quais a culto da divindade real se podia organizar. A complexa
Worsley, traduror e anorador da crónica, muito bern diz: 4Ele)
diferenciaçao e reintegracão entre hierarquia e domlnio - dharma, não é simplesmente urn adorno real, urn sIrnbolo de autoridade
o reino do valor; e artha, o reino da forca -, que está sub jacenre real, mas antes uma personificaçao de parte daquela autoridade, e
ao sisrema de castas na India não ocorreu em Bali e tão-pouco no
extensão da pessoa oficial do rei.'>
Sueste asiático em geral. 0 Brahmana ligado a corte não era
1
160 BALl E A TEORIA POLITIC/I CONCLLISAO 161

Resumindo, embora a sacercioce signiique, como na IoWa, o homem de leis, de que a >.posse' C urna que So e. de sun eu ri, cOO)
dharrn-i, uma pa!avra tao bern como mal craduzida pt <<lei', <riot- uma defmniçãa escabelecida e uniforme a que, ernbora os propriecarios
rna>, dever, direico>, <vi1'tuc1e>. <:rnérjco'>, <bois accöes'>, <oh- possalfl ser pessoas, ruç'os de pessoas ou rresmo pessoas colecrivas,
servância costumeira'>, re1igiao", <ordem" e <justiça, a relação so pocle bayer 7 no urn, uma precensão le,gitirna a urn dirauo con
entre e!e e o rei é menos uina relacao encre puro e impuro, ou crew sobre urna propriedade conccera. Quando se torna em consi-
mesmo entre probo e prático, do que entre perfeito e superperfeico. deraço que uão so <<reis', mas cambérn cdeLtses", <>a1deias,
carácter ilusure do sacerdote reflecte o do rei, 6 pane dele e <<farnilias>> e <<Ind1vfdLI0S11 se dizia possuirern <<cudo> - mesmo
contribui para cia; e o taco inabalvel de Icaiclade que as prcude, coma-se evidence a necessidade cia uma visão menos
laco clernonstrado em codas as ocasiöes p6blicas possiveis e de codas elemencar da <<posse>>. Concrecamente, se se quiser compreender
os modos possIveis é, mais urna vez, exemplar. Trata-se, escreve corn rigor a relacao entre governance e reino, tern de se ahandonar
Worsley, da *imagem espeihada de uma relacao ideal... Nesta relaciio a nocão de que, seja qual for a craduçao, druwé cinha que ver corn
muico especial... escá refleccida a relacão ideal entre o governance uso dos recursos (isco é, corn a sua apropriacão e a seu usufruro).
e a sübdito, pois a relacäo é encarada... como urn rnodelo para o Tinha que ver corn o seu papel na simbologia do pocier.
mundo inteiro>>. Como paradigma social, rei e sacerdote moscravam Encarada desce macia, a quescão de quem <<possuIa>> Bali as-
ao reino como servir a seu senhor significava cornar-se num aspecto sume uma forma menos lockeana, e confroncamo-nos de nova corn
deste senhor, ta[ como dc, ao servir Deus, se cornava nurn aspecto urna sociedade retesadamence esticada entre paradigmas culturais
de Deus; e mostrava tambérn que tipo de coisa - o alto rnimetis- concebidos como descendo de dma e disposicàes prfcicas concehi-
mo - era esse serviço. das como subindo de baixo. As regras que governavam o controlo
imediaco e disposição dos recursos cram, como virnos, complexas e
irregulares, urn emaranhacio de parcicularidades entrecruzadas.
4 E, como cambCm virnos, cram mais urn produco do lugar, da socie-
dade de irrigacão, e da unidade domésrica do que o cram - sal-
A relaçao geral entre a rei e o mundo material encontrava-se vaguardando cerros aspeccos cuidadosarnence especificados -, do
resumida numa palavra ilusoriarnence prosaica, cuja aparence faci- 11'gczra. I'vias a qualidade e abundância de cais recursos, e portanco
lidade de traclução tern consticuIdo o principal entrave a sua corn- a prosperidade do mundo, acivinha de realidades menos mundanas;
preensão académica: druu'ël Druwé (madruwé padruwèn) significa e era para escas que o druwé apontava. Assinalava mais ama hierar-
<<possuIdo>> (<<possuir>>, <<ter)>; <<propriedade>>, <<riqueza>>). Não e quia de exemplos, cada exernplo inferior como uma versão mais
esce em si o problema. 0 problerna é que, usada em referência ao rudimenrar do imediacamente acima, cada exemplo superior como
rei, era aplicada a virtualmente tudo: nao so as suas terras privadas uma versão mais refmnada do imediacamence abaixo, desta vez
e bens pessoais, mas ao todo do pals, toda a terra e água nele produzida em termos de propriedade. A <<posse>> do reino pelos
concidas, e a todo a povo. 0 reino, todo ele, era de algum modo sua deuses era imicada pela do rei canto quanto dc conseguisse; a do
<<possessao>>, sua <<propriedade>>, sua <<pertenca>>. E o <<de algurn rei era irnicada pela do senhor; a do senhor pela do camponês. Nao
modo>> que concern as complexidades geradoras das polémicas. so podiam tais <<posses>> coexistir, como tinham de coexisrir de modo
A discussão, longa de cern anos, entre os que, confundindo a que qualquer uma delas fizesse sentido. 0 rei possula a pals do
palavra corn lei, viam coda a terra, Cgua, florestas, etc., nos Escados mesmo modo que a governava - mimeticamente; compondo e
Indicos da Indonesia como propriedade pessoal do rei e aqueles que, conscruindo a própria coisa que dc imicava.
confundindo o costume camponês corn cia, encaravam os direicos Em termos concretos, o rei não era sO o punggawa suserano, no
dominiais como mera precensão e usurpação, era uma discussão ma! cume da hierarquia de status que já craçámos, mas escava tambCrn,
orientada. Baseava-se, em ambos os lados, no pressuposco tIpico do e par essa razão, no centro daquilo a que chamámos, ao discucir a
CONCLUSAO 163
162 BALl E A TEORIA POL1TlC-
a arnbos. Nessa competêflCia e nesses termos, tutelares C näo de
dirnensão <espiritual" da comurudade local, <o espaco sagrado. posse, o reino era literalmente a sua <propriedade'>, druw raja.
Ele fundia, na sua pessoa, a dupla representacão do poder que E o motor, uma yea mais, era a cerimóna escacal. A exuberân-
vimos perpassar toda a estrutura da vida piblica balinesa: como cia prodiga de tal cerimónia, a sensação prevalecerice de abundância
uma gradacão de perfeicão espaihando-se de forma descendenre a material que repetidamence realçámos, era ao mesmo tempo a imagem
partir de uma unidade divina e como uma radiaçao desta dispersan- da propriedade do reino e, na sequência da viso das coisas em
do-se para bra a partir de urn centro. Estas são apenas duas expres- termos de modelo e c6pia, a sua autora. 0 esplendor cerirnonial
söes da mesma realidade, como a altura de uma torre e o compri- representaVa a centralidade do rei, convergindo nele como o seu
mento da sua sombra. Mas oride a relação rei-sacerdote modelava a foco; represencava os poderes que se alojavam nessa centralidade
prirneira, a ascendência enquanto tal, a relaçao rei-reino modelava retratando-os em termos de riqueza coligida; e representava o campo
a segunda, o seu alcance. social sobre o qual aqueles poderes se espraiavam em termos da
Para Ia da multiplicidade de <<comunidades costurneiras>> lo- populaca a partir da qual a riqueza era reunida. A extravagância
cais, as desa adat, o reino como urn todo era em si concebido como dos rituais do Estado não era so a medida da sacralidade do rei.
uma dessas comunidades costumeiras, urn negara adat. Corno a desa Como já virnos, era também a medida do bem-estar do reino. Mais
adat, o negara adat era urn pedaco do espaco sagrado: <<A terra corn importante ainda: era uma demonstração de que se tratava da mesma
tudo o que nela cresce, a água que a atravessa, o ar que a envolve,
coisa.
a rocha que o seu ütero contém.>> Tal como na desa adat, todos os
que viviam dentro dos seus limites, beneficiando das suas energias,
eram colectivamente responsáveis por cumprirem as obrigaçOes rituais
e morais que essas energias acarretavam. E, tal como na desa adat,
O negara adat era, na base, no uma unidade social, polItica ou A relação do rei consigo mesmo, tal como o paradoxo da afir-
económica, mas sirn religiosa, uma assembleia de concelebrantes. rnaçâo sugere, é o mais esquivo dos paradigmas sociais da autori-
Do mesmo rnodo que as populaçöes locais asseguravam o bem-estar dade real, o mais difIcil de traduzir em modos de expressão dife-
regional e, onde possfvel, as supra-regionais asseguravam o bern- rentes daqueles em que estava implantado. E o mais difIcil, por
-estar supra-regional - através da cerimónia colectiva montada causa da sua nacureza estranhamente despersonalizada: o aparente
corn grandiosidade. abandono da identidade e vontade individuais a favor da existência
Era, então, enquanto cabeça do negara adat, que o rei <<possuIa>> como uma espécie de ideograma hurnano. A cerimOnia que retra-
o reino. Tal como os deuses, e enquanto urn deles, ele garantia a tava o sacerdote como a jOia do rei, e o reino como o parque do rei,
sua prosperidade - a produtividade da sua terra; a fertilidade das retratava o rei como o Icone do rei: uma semelhança sagrada da
suas muiheres; a saCide dos seus habitantes; a sua salvaguarda de realeza.
secas, terramotos, cheias, gorguiho ou erupcöes vulcânicas; a sua No esforço por caracterizar o papel do rei neste aspecto, a frase
tranquilidade social; e mesmo (dornesticado sob a forma de urn que ocorre imediatamente é a de T. S. Elliot, que diz <cponto
vasto parque modelado, feito de caminhos angulosos, patios rectan- imóvel do mundo que gira>> (<<stilipoint of the turning world>>); porque,
gulares e socalcos quadrados) a sua beleza fisica. Fosse nas cerirnónias na medida em que era urn actor nas cerirnónias da corte, a sua
de Abertura das Aguas nos lagos sagrados, nos ritos dos primeiros tarefa consistia em projectar uma enorme calma no centro de uma
frutos em templos da montanha, nos exorcismos dos dernónios nos imensa actividade, tornando-se imóvel de forma palpável. Sentan-
templos costeiros, ou nas celebraçöes reais no seu palácio, o rei era do-se durance longas horns a fib numa pose estritamente formal,
representado como o primeiro <<guardiao, <<conservador>> ou <<pro- corn a sua cara sem expressão, os olhos menos ainda, rnexendo-se
tector>>, ngurah, da terra e da sua vida, abrigando-a como o guarda- quando precisava corn uma lenta formalidade de graça balécica, e
-sol real o abrigava a ele e como a <<abóbada do céu>> os abrigava
if

L51LI E A 7EORIA POLITICA ii CO\LUSA()


164
i1
falarido quando cicih a de o fazer rium murm6ric de fr.ises redcen- coilvincente, esrenclia-se airida maiS lodge; pois a cci CUr31<5 signo
tes, enquariuc' em redor as pessoas crabaihavarn ç.esadarnence para t ransmitia no apenas a brandura sossegada de Lim espirico tran-

construirem LLma extr agaiizii em sua hoora, o cci cra 0 Grande quilo, mas também a severidaele sc-ni expresio de urn espirio
Irnperturbável o silêndo divino no cencro das crises: <O Eu-Vazw... jusic. A benevolénc ia impas.slvel para corn a bern era correspondida
inaccivo... desprovido de forma> (<<The Void-Self.. iiacDive... deziozd of corn a violência impasslvel para corn o mal; e a guerra (ou, menos
ferrn>). grandi3samente, o castigo real) era, a sua maneira, uma accividade
No entanto, mesmo a irnobihdade. a impassYviclade e a placi- tao ritual como o era a Ahercura clas Aguas. Efectivamente, o modo
dez - os maceriais do lcone -, eram em si paradoxais: como a axadrezado de fazer guerra, que jE virnos na queda de Mengwi e nos
poscura dos Budas acocorados ou a pose dos Sivas dançando, pro- <finais'> pieputan face aos Holandeses, seguia a mesmo modelo do
vinham de uma ginástica cenaz do espIrico. A capacidade do rei de centro silencioso: o rei emergia do palácio de encontro ao seu destino
se projectar (ou, meihor, de projectar a sua realeza) como eixo so depais de, primeiro as seus kawulas-peoes, logo os seus perbekels-
estacionário do mundo, assentava na sua capacidade de disciplinar _pecas pequenas e, finalmente, as seus punggauas-pecas grandes,
as emoçöes e o comportarnento corn meticulosa severidade; de treinar terem, cada urn pot sua vez, sido eliminados numa exibicão ascen-
a sua rnente na profundidade de urn transe sustido, intenso e reflec- dence e desesperada de status. <<Corn as suas paixöes refreadas pela
tido; e de dat forrna nessas profundezas a imagens exactas e elabo- rneditaçäo>>, escreve P. J \Vorsley, <<[o rei ideal] esforça-se par
radas dos deuses. A cadeia longa e reiterada de exibição exemplar, seguir urn moda de vida virtuoso, governar a seu reino desinteres-
• ligando o <<Suprerno Brahman personificado no som primevo>> sadarnente... duro corn as seus inimigos... dOcil cam as leais e
ao <<total do... pals... desamparado, curvado, vergado>> atravessava, vircuosos.> Cruel coma a calor do Sal e regular coma a luar, a sua
no rei, uma juncura crltica entre a que as homens podiam conceber mence treinada em visöes dadoras de poder, o rei era aprcsentado
e o que, concebendo-o, eles podiam ser. nos grandiosos dramas do Estado-ceatro coma uma fIguraçãa fixa da
Centro exemplar dentro do centro exemplar, o rei Icone retra- autoridade, urn <<[homem) abstracto e anónirna que se camporta de
tava exteriormente para os seus sübdicos a que recratava interior- urn modo tocalmence previsivel dentro da lógica da imagern dentro
mente para si mesmo: a beleza equânime da divindade. Posto deste da qual [ele foi) forrnado>>. Juntamence corn a água benta, as câncicos,
i modo, tudo isto soa a prestidigitacão, uma mao de Steinberg dese- os tronos de lOcus e as adagas, ele era urn objecco ritual.
nbando-se a si mesma. Mas como a imaginacão, para os Balineses,
não era uma forma de fantasia, de faz de conta especulativo, mas
sim urn macjo de percepcão, representacão e realização, não era essa 6
a ideia que eles tinham. Visualizar era ver, ver era imitar, e imitar
i I
era personificar. Qualquer que seja a validade objectiva desta concepção 0 rei era também, no entanto, urn actor politico, poder entre
de que a realidade consiste numa hierarquia estética de expressöes poderes, assim coma signa entre signos. Era a culca do rei que a
sensIveis, na qual as mais inferiores não são menos reals, embora criava, que o elevava de senhor a kane; isto parque, sem o drama
menos requincadas, menos deslumbrantes e menos potentes (e quem do Estado-teatro, a imagem de diviridade cornposta não podia sequer
se deve pronunciar sobre isso?) -, em Bali é uma verdade ma- formar-se. No entanto, a frequncia, a riqueza e a escala desses
balável. Como urn signo num sisterna de signos, uma irnagem nurn dramas, e logo a medida da impressão que causavam no mundo, era
campo de imagens, que é aquilo em que ele esforçadarnente se por sua vez dependence da extensão e, corno vimos, da diversidade,
transformava nas cerirnónias de corte, o rei era discinto pelo facto das lealdades polfticas que podiam set mobilizadas para as pot em
de, <<sentando-se'> no ponto acima do qual a hierarquia era in- cena. B, fechando a clrculo, uma tal rnobilização de hornens, pericias,
corpórea, ele marcava o limiar do ideal absoluto. bens e conhecimentos era a tarefa primordial e a arce primeira da
Mas o paradoxo de uma passividade activa, urn sentar-se quieto arce de governar, a capacidade de que dependia, no aspecto mate-
CONCLUSAO 167
166 BALl E A TEORIA POLITICk
0 resulcado era que em qualquer poaro na hierarquia, mas mais
na!, a supremacia. Não bastava sentar-se qweto, rnesmo que apaixo- innensa e insofismavelmente perto do nopo, onde o .<ogo radiante
nadamente quieto. Para ser a representaco rnestra do poder, era da majescade>> consumia mais combusnIvel, a necessidade de
também necessário negociar e traficar nele. demonsrrar status colidia corn a necessidade de reunir a apoio que
Os mecanismos sociais através dos quais era mediada uma tal tornasse possivel a demonstracao. Especialmente aos associados mais
negociacão e traficagem - laços de descendência, clientelismo,
já pnOximos do rei, I. e. as outros grandes punggawas - parentes
aliança, o sistema perbekel, renda, impostos, comércio - foram ciumentos, lugares-cenentes rancorosos, quase iguais e rivais imp!Icitos
descritos e acentuada a sua tendência centnIfuga para a heterogenei- -, interessava-ihes garantir que a desactivação ritual do tel fosse
dade. Aquilo que, ao nivel das representacöes, era ama centraliza- também literal, que dc se tornasse tao prisioneiro da cerirnOnia do
ço, do ponto de vista institucional, constituIa enorme disperso, governo que a sua dependéncia prática em relação a eles fosse
de modo que uma poiftica intensamente competitiva, surgindo das maximizada e as suas possibilidades de exibiçäo realçadas. A poiftica
especifidades da paisagem, costume e história local, acontecia num do espectáculo competitivo era cronicamente agicada, ponque o sucesso
idioma de ordem estática emergindo da simbologia universalizanite de urn senhor era a oportunidade de outro senhor; mas era também
do mito, do rito e do sonho politico. A parte as dificuldades poifticas em essência estável, porque essa oportunidade era, por sua vez,
que apresentava a qualquer urn desejoso de percorrer o caminho ate inerentemente autolirnitadora.
ao cume resplandecente e centro das coisas (isto é, para pratica- Depois da burocracia colonial e, em seguida a republicana,
mente toda a gente que o desejasse), esta situaço introduzia urn trancarem o negara na gaiola de ferro de Weber, é diffcil reconsti-
paradoxo na poiftica do negara, paradoxo esse que nem a arte de tuir o carácter da luta polftica quando as suas energias eram paro-
governar nem os seus praticantes podiam alguma vez resolver, e quiais e as suas ambiçöes cósmicas; mas parece ser claro que se
que se tornou consequentemente na dinâmica politica central: quanno tratava de uma maravilhosa mistura de movimento e fixidez. Cada
mais alguém se aproximasse de uma representacão imagética do senhor, fosse a que nfvel ou escala fosse, procurava distanciar-se dos
poder, tanto maior era a tendéncia para se distanciar da maquinaria seus rivais mais prOximos expandindo a sua actividade cenimonial,
que o controlava. transformando a sua corte nurn Majapahit mais prOximo. Mas, ao
Não se tratava apenas da <<solido no topo>> que é talvez carac- faz&-lo, expunha-se a tornar-se nurn rei de xadrez encurralado, separado
teristica de todos os sistemas politicos cornplexos, e de certeza de das complexidades do tráfico de influncias pelas exigências das
todos os autocráticos: pois o problema aqui não era os funcionários suas próprias pretensöes: urn puro signo. Consequenremente, ape-
esconderem do rei, ciuer por rnedo ou prudéncias, a verdade das san do manobrar intenso e scm fim, a movimento ascensional rápido
coisas; tal como não havia virtualmented pessoal, no havia virtual- em estatura polftica era raro, embora acontecesse. Tal como grande
mente funcionários; tal como no havia virtualmente administra- parte da contenda em torno do prestfgio que marca a sociedade
ço, não havia virtualmente polfticas. 0 problema era que o negara balinesa em virtualmente todos as aspectos, o resultado normal era
mudava de carácter dos nIveis mais baixos para os mais altos. Aos a agitacão local e a reserva geral, uma manutenção em geral das
niveis infeniores, envolvia as centenas de formaçöes poifticas cruza- relaçöes de status no rneio de urn esforço repetido e muitas vezes
das aldeãs, esquadfinhando através de uma nuvem de perkebeles, seda- vigoroso, de as alterar. A esfera dentno da qual qualquer senhor
hanas e subandars, os corpos e os recursos para levar a cena as operas podia efectivamente jogar o jogo do rei sagrado era circunscrita
cortes.s. Aos nfveis supeniores, progressivamente afastado do con- pelos pontos onde ele perdia contacto corn a sua base social caso se
tacto corn rais forrnaçOes poifnicas e das cruezas a elas associadas, tornasse dernasiado grandioso; porém, a ameaça de ficar para trás na
estava virado para o assunto central da mimese exemplar, para a en- corrida do espectáculo caso nao conseguisse permanecer sul-iciente-
cenaco das Operas. Funcional, ou, como diniarn os Balineses, <<gros- mente grandioso, fazia corn que continuasse a forçar esses limites.
seiro>> no sentido da base, o negara era estético, <<refinado>> no sentido Tal como a sua incriga e o seu cenário, a elenco do Estado-teatro
do topo - em si mesmo urn modelo da natureza da hierarquia.
CONCLUSAI 169
168 BALI E A TEORZA POLUICA

no se podia mudar corn facilidacle. Embora o século XIX fosse ras-


gado pela intriga, disputa e violêiicia virrualmenie continuas e uma
0 poder, defnido como a capacidada de cornar decisöes as quais
eriorme quaritidade de inicroconvulsöes, o padrao geral cia renome
ciuros se sujeicam. tendo a coerção por expreSSO, a violência por
e precedência, a escrurura do L-espeito, era em grande medidi a fundacäo e a dominação por objectivo, é a rocha a que se agarra a
mesma no 11w corno o fora no principio. Fosse qual fosse a ampl- maior parte do moderna teoria polIcica, herdcira apesar de tuclo do
tude da ambicão, havia muito cjuem corresse parado.
século XVI - a base simples que permanece arravés de codas as
A situaçào que observamos em Tabanan era pois caracrerfsticas
urn senhor suserano corn urn senhor subsuserano aos seus calcanha- sofisticacöes a a qual codas as argumencacöes, quer de justiça,
liherdade, virtude ou ordem, regressam. Este ciclo de termos, e
res sirnbólicos; subsubsuseranos nos destes; senhores liderantes nos
seus correlativos corno controlo, comando, força e sujeição, define
dos subsuseranos; senhores rnenorcs nos dos senhores liderantes; e
o politico como urn domInio da acção social. A polItica, no firn, C
assim sucessivamente ate as discinçöes mais minuciosas das diferen-
sobre mestria, poder: <<Mulheres e Cavalos e Poder e Guerra.>
tes casas, corn cada aspirante tentando dirninuir o fosso no lado as-
Este ponto de vista não C de modo algum errado, mesmo quando
cendente e alargá-lo no lado descendente. Porque o real controbo
aplicado a sitios onde os cavalos são dóceis. Mas, corno a evocação
sobre homens e recursos (o centro de gravidade politico, por assirn
de Kipling sugere, é urn ponto de vista e, como todos os pontos de
dizer) se encontrava rnuito em baixo no sisterna, e porque os Iacos
vista, é parcial e advém de urna tradição especIfica da interpretacão
concretos eram mültiplos, frageis, sobrepostos e pessoais, ernergia
da experincia histórica. Não é urn dado da mera natureza das
urn sistema de aliancas e oposicães complexo e cambiável a medida
coisas (o que quer que isso seja), urn facto apreendido em bruto,
que os senhores tentavarn imohilizar OS SCUS rivais imediacamente
was é urna glosa alargada e socialmente construlda, uma represen-
superiores (torná-los dependentes) e manter o apoio dos seus rivais
tação colectiva. Outras tradiçoes de interpretação, normalmente rnenos
imediatarnente inferiores (rnantê-los deferentes). E embora se
conscientes de si mesmas, produzem oucras glosas, representacöes
pudessem ouvir, urna vez por oucra, rufdos importantes - quando
difererites. Foi argumenro central deste trabalho, exposto nas próprias
urn ramo se cindia ou uma casa era nivelada -, o som principal
divisöes do seu conteüdo e orientado ao longo da totalidade do seu
era urn zumbido de intriga, constance, difuso e sew direcçao.
desenvolvimento, que a vida que girava em torno dos pungga was,
Ao longo de perfodos de tempos rnaiores ou ao longo de maio-
res espacos, podiarn verificar-se, e verificararn-se, mudancas subs- perbekels, puns e jeros do Bali clCssico continha uma tal concepção
alternaciva daquilo que a polftica C e do que C o poder. Estrutura
tanciais de destino politico: Majapahit deu de si e apareceu Gelgèl;
de acção, umas vezes sangrenta, outras cerirnoniosa, o negara era
GèIgèl cedeu e apareceu Klungkung. Mas apesar de tudo isso, a
tambérn, e enquanto tal, uma estrutura de pensamento. Descrevê-
forma caracterIstica parece ter-se reconstruIdo em si mesma conti-
-lo é descrever uma consrelação de ideias guardadas nurn relicário.
nuamence, tal como prescrito pela teoria balinesa; as novas cortes
Não deveria set necessário, desde Wittgenscein, insiStir expli-
usaram como modelo as desaparecidas, reernergindo corn nomes
cicamence no facto que uma tal afirmação não implica urn compro-
diferentes e em sitios diferentes como meras transcriçöes subse-
metimento corn o idealismo, corn uma concepcão sub jectivista da
quentes de urn ideal fixo. Tal como os reis concrecos, os Estados
realidade social, ou corn uma negacão da força da ambição, do
concretos eram mortais; was tal como os reis, a sua mortalidade näo
poder, do acidente, da esperteza e do interesse material na deter-
parece ter feito grande diferença. A escala das coisas variava, bern
minação das hipóteses de vida dos homens. Mas, como as ciências
como o seu brilho e os pormenores das suas expresses imediatas.
sociais, apesar da sua modernidade cópica e prácica, vivem filosofi-
Mas não aquilo que elas eram, tanto quanto consigo vislumbrar
carnente não nesce século mas no anterior, possuIdas por rnedos de
entre, digarnos, 1343 e 1906. fantasmas metafisicos, torna-se infelizrnente necessário. As ideias
nao são, e já não o são ha algum tempo, subscância mental não
170 BilL! E A TEORIA POLl/CA CONCLL.!SAO 171

observável. Elas são significados veiculados, sendo os sImbolos Os cornerciais, fazendo casamenco.s, liquidando rivais, consagrandu
veIculos (ou, em algumas interpretacöes, signos), senclo urn sImholo cemplos, erguendo piras, dando fescas e ra-presentando deuses --
tUdo o que denoca, descreve, representa, exemplifica, rotula. inch- esravarn procurando acingir os fins que podiani conceher, corn os
ca, evoca, retraca, expriine - tudo o que de urna maneira ou de meios de que dispunham. Os dramas do Escado-cearro, mimécicos
outra significa. E tudo o que de uma maneira ou de outra signifi- de si mesmos, nao eram, ao firn e ao cabo, nem ilusöes nem menciras,
que, é intersubjeccivo, donde püblico, dotide acessivel a urna inter- oem prescidigiraçao nem faz de conra. Eles c-ram o que existia.
pretacão em plein air, manifesca e corrigIvel. Argumentos, melo-
dias, formulas, mapas e retratos não são idealidades para serem
pasmadas, mas sim textos para serem lidos; como o são os rituais,
palácios, tecnologias e formaçöes sociais.
Toda a descrição do negara desenvolvicla nas páginas preceden-
ces precende set uma tal leitura: canto a parte dedicada a irrigacão
ou a organizacão aldeã ou a paisageni ou aos impostos como a
dedicada ao mito, iconografia, cerimOnia ou realeza sagrada; a parte
dedicada aos tratados como a dedicada aos templos; a do comércio
como a do exercIcio do sacerdOcio; e a parte dedicada a estrutura
tanto de genealogias como de clientelismos, patios e cremaçöes.
A limitação da anáiise interprecativa na major parte da antropolo-
gia contemporânea ao aspecto suposcamente mais <<simb6lico>> da
cultura é urn mero preconceito, nascido da noção, também presen-
teada pelo século XIX, de que o <<simb6lico>> se opöe ao <<real>>
como o extravagante ao sObrio, o figurativo ao literal, o obscuro ao
simples, o estécico ao prático, o mfstico ao mundano e o decorativo
ao substancial. Para se analisarem as expressöes do Esrado-teatro,
para apceendê-las como teoria, esce preconceito tern de ser posco de
lado, juntamence corn o seu aliado que diz que a dramacurgia do
poder é exterior ao seu funcionarnento. 0 real é tao imaginado
como o imagirlário.
Que a poiftica balinesa, cal como a de toda a gente, incluindo
a nossa, era accão simbOlica, não implica, porcanco, que escivesse
apenas na mente ou que consiscisse inteiramenre de danças e incen-
so. Os aspeccos dessa poiftica aqui exarninados -cerimonial exem-
plar, bierarquia de modelo e cópia, competiçäo expressiva e realeza
icónica; plura.Iismo organizacional, lealdade particularizada, autori-
dade dispersiva e governo confederado - configuravam ama rea-
lidade tao densa e imediaca como a prOpria ilha. Os homens
(e, como consortes, intrigantes e delimicadas, as muiheres) que
fizerarn o seu percurso através desta realidade -construindo palá-
cios, assinando tratados, recebendo rendas, oucorgando concessöes
NOTAS

Cada noca concern noinIcio a indicacão da páina e linha cor-


respondence no texco: o prirneiro n(imero corresponde a página, a
segundo a uma linha nessa página. A indicação das linhas no é
rigorosa, pois refere-se a prirneira linha de urn trecho Para o qual
urna nota é relevance, parcial on totalmente.
Dentro das próprias notas, aparecern indicadas referências a
pontos do texto corn a palavra texto, seguida por urn niimero de
página; e a pontos nas notas corn a palavra notas e urn nümero
de página. Urna vez mais, as referéncias reportarn-se apenas a página
na qual começa o trecho relevance.

14-10

Para negara, ver Gonda, 1952, pp. 61, 73, 243, 423, 432;
Juynboll, 1923, p. 310; Pigeaud, s. d., pp. 303, 309. Para desa, ver
Gonda, 1952, pp. 65, 81, 342; Juynboll, 1923, p. 302; Pigeaud,
S. d., p. 66. Em Bali, encontra-se desa em inscriçôes daradas de
meados do século X e negara nos meados do século XI (Goris,
1954, vol. 1, pp. 71, 106). Ambos os termos aparecem repecidas
vezes em escritos clássicos javaneses, especialmence o Nagarakertagarna
(Pigeaud, 1960-63, vol. 5, p. 144, 205-206).
0 uso de desa no sentido de <<dependência>>, <<território gover-
nado por urn sultão>> (Gonda, 1952, p. 81) encontra-se na lingua
Dyak, na qual o verbo mandesa significa <<sujeitar'>, <<apaziguar>>.
Nalgumas areas, por exemplo na Sarnatra Ocidental (Willinck, 1909)
e em Ambon (Cooley, 1962), parece ter acontecido o inverso deste
processo, de modo que o termo negeri é usado Para cornplexos de
povoamento locais e politicamente autónomos como urna expressão
da sua independência. Em Bali, o termo pun ((palácio>>) é bastante
mais usado do que negara enquanto tal, mas tern essencialmente o
mesmo significado mültiplo (ver Pigeaud, 1960-63, vol. 3, pp. 9,
174 NEGARA NO TA S

13). Deriva do sânscrito pura. Embora hojepura - isro é, corn urn 14-37
a final em vez de i - signifique <<remplo>>, erri Bali, este contraste
parece não ter sido estabelecido no passado (Korn, 1932, pp. 10- Sobre as inscriçöes mais aritigas, ver Krorn, 1931, pp. 71-80;
-11). Vet notas, p. 268. de Casparis, 1956. Noticias chinesas sobre Estados indicizados no
<<pals>>
No indonésio moderno, negara significa <estado>>, negeri, arquipélago surgem algo mais cedo, mas não são de todo seguras
ou <<terra>., embora os dois sejam por vezes permutáveis. Para o uso (Krom, 1931, p. 62). Hoje não restarn ddvidas que o processo de
do termo de.ca no Bali, ver notas, p. 197. formação de Esrados havia já começado em pieno por atturas do
começo da indicizacão (van Leur, 1955. pp. 92 e segs.). Para uma
recensão geral dos problernas historiográficos indonésios, ver Soed-
14-26 jatmoko et al., 1965.

A denorninação do <<perIodo clássico>> na história indonesia tern


constituldo uma fonte de dificuldades contfnuas. A maioria dos 15-6
estudiosos usaram <<hindu>> ou <<hindu-javanês'>, fazendo merarnente
notar que o termo <<hindu>> pretende cobrir formas tanto de budis- Para uma caracterização similar, ver Stutterheim, 1932,
mo como de bramanismo (p. ex. Coedès, 1948; Krom, 1931). Har- pp. 3 1-33; Wertheirn, 1965. A referência ao <<despotismo oriental>>
rison (1954) usou <<indianizado>> numa tentativa de evitar este pro- refere-se as teorias do <<Estado hidráulico>> de Wittfogel (1957;
blema (cf. a tradução de Coedès, 1948; Coedès, 1968); mas, como sobre as suas referências a Bali, ver pp. 53-54).
este termo sugere urn irnpacte mais vasto e profundo da India na
Indonesia do que parece ter acontecido, escoihi <<fndico>> [indic) (e
<<indicizado>> [indicized) para acentuar a natureza predominante- 15-26
mente religioso-estético, mais que social, económica ou polItica, da
influência indiana. Para urn desenvolvimento metodológico e aplicacão ao Mundo
Novo [New World] da abordagem <<desenvolvimentista>> ou <<estru-
tural>>, ver Phillips e Willey, 1953, e Willey e Phillips, 1955. Para
uma argumentacão coerciva em defesa da utilidade possIvel de uma
14-34
tal abordagem no Sudeste asitico, juntamente corn miultiplas suges-
Depende muito, é claro, do que se entende por urn Estado toes de problemas que ela pode comecar por enfrentar, ver Benda,
propriamente dito e da visão que se tern da natureza da organizacão 1962. De longe a mais contida, Citii e legIvel das sInteses analIticas
poiftica clássica. E assirn que Krom (1931), corn a sua visão alta- da história do perIodo Indico é a de Coedès, 1948 (traducão ingle-
menre integral - do tipo <<Império Romano>> -, da estrutura do sa, Coedès, 1968) e, apenas para a Indonesia, Krom, 1931. Hall,
Estado tradicional, pôde reduzir o ntiIrnero de <<reinos>> na Java pré- 1955, contém o melhor resumo em inglês. Quando as fontes chi-
-colonial a umas poucas diIzias no máximo, ao passo que Schrieke nesas e do Sudeste asiático tiverem sido sistematicamenre examina-
(1957, pp. 152-2 17), corn uma abordagem sociologicamente mais das, o que em larga medida ainda não aconteceu, a histária analftica
realista, pôde listar mais de 200 <<reinos>' de vários tipos, espécies da Indonesia poderá tornar-se mais fiável. Para uma recensão e
e graus de autonomia. Para o arquipélago no seu todo, Purnadi avaliacão das poucas tentativas de escrever história desenvolvimen-
(1961) dá conta de que nos principios do século XX ainda havia tista - chamada <<sociológica> - ver Wertheim, 1965. Para uma
nada menos do que 350 principados independentes ou semi-inde- tentativa minha, referente a uma escala recente e local, ver
pendentes, virtualmente todos, entào, bra de Java. C. Geertz, 1965 (cf. C. Geertz, 1956). Koentjaraningrat (1965) fez
IN

NOTAS 77
176 NEGJ1RA
0 dominio direcro dos Holandeses no coraço do Su! de Bali
a recensão das abordagens <antropol6gicas' ao esrudo da histôria cornecou na pnimeira clCcada do nosso sCculo. (0 Bali do Norre foi
indonesia em geral. submericiD em 1.846-49, tendo a adminisrraço clirecta corneçado em
1882. As areas balinesas de Lombok --- para cuja história se deve
ver van der Kraan, 1973 - fbram colocadas sob controlo adminis-
16-39 trativo en- 1894.) Obvianiente, a <soberania>' holandesa ooficlab, so-
bre as Indias Orientais Holandesas corno urn rode. e o con mob
Berg, 1961b. 0 trabalho de IKrorri referido é Krorn, 1931 holandês sobre as relaçöes inter-ilbas, teve urn efeito roarcante em
Bali muito antes. A interferência significativa dos Holandeses nos
assuntos internos de Bali data dos fins do século XVIII, em ligacao
17-5 corn o comércio de escravos, e em 1839 vários reis e prfncipes sul-
-balineses assinaram os pnimeiros contratos concedendo aos I-Iolan-
Schrieke, 1955, 1957; van Leur, 1955; ver também Bosch, deses soberania nominal (van Eck, 1878-80). Para uma descricão do
1961b. Tanto Burger (1948-50) como Wertheim (1959), assumem aspecto militar da actividade holandesa em Bali no século XIX, ver
uma abordagem no geral desenvolvimentista, mais do que anaiftica, Nypels, 1897,e van Vlijrnan, 1875; para uma visão balinesa, ver Ge-
da história indonesia, mas nenhum se ocupa mais do que inciden- na, 1957; para Lombok, ver Cool, 1896. Breves resumos da tomada
talmente do perfodo Indico em Si. de Bali pebos Holandeses podem ser encontrados em Tate, 1971,
pp. 307-311, e Hanna, 1971. Apesar de tudo isto, e comparado corn
o seu impacte pelo menos em Java, o domfnio holandês teve apenas
18-17 urn efeito marginal na vida interna de Bali antes deste sCculo.

Raffles, 1830, vol. 2, P. cxliii. 0 que Raffles de facto disse,


porém, foi que o Bali formava <<uma espécie de comencário sobre 21-19
a antiga condiçäo de Java, formu1aco esta que é muito mais
aceitável. Para urn exemplo deste tipo de uso acrItico da ernografia 0 uso do termo <<mndico>> neste trabaiho significa apenias que os
balinesa para a reconstituicão da vida social e religiosa na Java Estados envolvidos estavam proeminentemente marcados por algu-
Indica incluindo pinturas (de Walter Spies) apresentadas como mas ideias, práticas, sfmbolos e inscituiçöes cuja provenincia é a
retratos da vida nos tempos de Majapahit (e mesmo de Shailendra) India; o seu uso não implica urn juIzo acenca da irnportância rela-
-, ver os capitulos sobre <<De Maatschappij>> e <<De Godsdienst> tiva das influências indianas, ocenicas (muito especialmente poli-
in Stutterheim, 1932. nésicas) e chinesas, quer na formaçao dos Estados quer nas suas
fonmas novecentistas. Especificamente, não se trata de uma pens-
pecriva do tipo <<colónia indiana>> e, como tal, é equivalente a
20-1 <<classico>> e usado intercambiavelmente corn este termo.

Para resumos gerais da história balinesa, ver Swellengrebel, 1960;


Hanna, 1976. Van Eck (1878-80) oferece urna excelente recensão 23-1
esquematicado curso dos acontecimefltos ate cerca de 1840, e Shas-
tn (1963) oferece urn relato analItico do perIodo pré-Majapahit ba- A tradicão balinesa estabelece 1728 como data da fundaçäo de
seado principalmente em fontes e tradiçöes balinesas. Para uma exce- Mengwi (Simpen, 1958 a). Sobre guerras anteniores entre Mengwi
lente histónia da escrita da histónia balinesa, ver Boon, 1977, Pt. I.
178 NEGARCI NTIIS 179

e os seus vizinhos, ver Friederich, 1959. pp. 131-132. Para a des- A .


26-7
criço breve, feita per urn medico militar, de Mengwi e os seus go- .
vertiantes em 1881, ver Jacobs, 1883, pp. 198 e segs.; cf. van den A parte as obras ciradas, it descricäo e anlise seguintes ba-
Broek, 1834, pp. 178-180, que vistou o local durante urn dia per seiarn-se numa série pro1onada de entreviscas conduzidas em Bali
volta de 1820. A guerra de 1891 6 brevemence descrita, desde o cm 1.957-58, principalmence corn homens inais idosos. Os três in-
ponto de vista de Tabanan, in Tabanan, s.d., pp. 104-106 . . formadores rnais importanres forarn I \Vayan Gusti Puma de Taba-
nan, Ida Bagus Putu Maron de Ubud e Cakorda Gdé Oka lje,
(Iyeg) de Klungkung. Gusci Puma, urn Wesia, nascido cerca dc
23-17 . 1880, era urn funcionário subalcerno 'pbee1 no Esrado de Taba-
nan no virar do século, sucedendo a seu pai, que lutara nas guerras
Para além destes, havia dois outros memos importantes, Bulè- de Mengwi. Após a conquisca holandesa de 1906 foi nomeado
Ièng no Norte e Jembrana no Oeste; mas estav, então, sob controlo <<chefe oficial de aldeia>> (bendsa) da cidade de Tabanan, urna nova
directo dos Holandeses. unidade administrativa, posro que ele deceve ate a sua reforma em
1937. Ida Bagus Maron, urn Brabmana, nasceu em 1885 em Mengwi,
onde o seu pai era sacerdote da corte. Corn a conquisra de Mengwi
23-20 per Badung e Tabanan, a sua famIlia fugiu para Pliatan, onde seu
pai ficou de novo adscrito a corte, tendo-se tornado Ida Bagus Ma-
0 rei era carregado aos ombros pelos seus dependentes. As ton num colector de impostos e inspector de irrigação (sedahan gde)
mnarchas suicidas (buputan, literalmente <fim>>) encontram-se des- durante o perIodo holandês. Ele foi urn dos informadores sobre
critas em Covarrubias, 1956, pp. 32-37; Hanna, 1976, pp. 74-7 5. t <<direiro adat> para V. F. Korn nos anos 20 e 30 (ver G. J. Grader,
Baum (1937, pp. 337-417) concern urn relato delas, ficcional, mas s.d., pp. 29 e segs.). Cakorda Gdè Ijeg, urn Sarria, nasceu em 1895.
em geral conviricence, e Nieuwenkamp (1906-10, pp. 169-176, Membro importance da famIlia real de Klungkung, participou no
20 1-203) tern breves relatos de testemunhos oculares; van Ge uns puputan de 1908, tendo sido prirneiro ferido per uma bala e, depois,
(1906) descreve o aspecto de Badung e Tabanan logo a segui r a per não ter conseguicio morrer, apunhalado pela sua mae. Tendo,
elas. Para ponros de vista balineses, ver Simpen, 1958b; Mishra, apesar de tudo, recuperado, foi exilado pelos Holandeses para Lombok
1973, 1976; Tabanan, s. d., pp. 114-126. durante vince e dois anos, após cujo tempo foi trazido de volta para
Existiam de facto, dois paputans separados em Badung, P05 chefIar o departamenco de obras pâblicas, posco que ainda decinha
havia mais do que urn <<rei>'; e urn terceiro governance parece ter em 1958. Para Ia destes homens, cerca de trinta outras pessoas
sido assassinado pelo seu sacerdote principal quando os Holandeses fornecerairn informacao de maior ou menor alcance; incorporei material
avançaram. Mishra (1973) faz a escimativa, a parcir de fontes ma- do meu traba[ho de campo quando 0 julguei relevance para a descricao.
nuscritas balinesas, de que <<não menos de> 3600 balineses morre- Este é provaveirnence tambérn o momenro indicado para agradecer
tam nos puputans de Badung. As baixas holandesas (o seu exército i
x,, o facto de boa parce do material em que se baseia esre escudo ter
consistia em mais de 5000 homens) sao desconhecidas, mas forarn sido recolbido per minha mulher e colega de trabaiho, Hildred
pot cerco poucas. 0 puputan é uma velba cradição em Bali: Friede- Geertz, e algurn per urn assistente indonésio, E. Rukasah.
rich (1959, p. 24) noticia urn na parte balinesa de Lombok durante
a prirneira mecade do século XIX, no qual o cci e todos os membros
durna famIlia real, excepto dois, se suicidaram na sequência da 26-3 1
dierroca face a urn Estado rival Bali-Lombok (Mararam). Cf. Wor-
sley, 1972, p. 231, para urn exemplo de Bulèlèng. A citacão C rerirada de von Heine-Geldern, 1942.
NOTAS 181
181) TCARA
sculü XIII (Swellengrebel, 1960. p. 20, Pigeauci, 1960-63, vol. 3,
41
26-8 p. 48). Mas de tudo isro pouca a substânci. real que emerge, a
nio set o facto de cjue Bali foi Indicizlldo antes do concacro javrs
A cicao é recirada de Swellengrebel, 1960. Para mais dados jiteisiVO ret começado e da ua Sao m10c) anti$Us alguns coscur.e.s
19''a.
sobre este cerna, vr C. Geertz, )Lo, l°c 1973
iCIQ
. .. ainda presences ---- mercados em ciclos de cres dias, sociedades de
rrigaçáo, corveia ritual. Para uma periodizaco em cin'o estáciios,
e muiro arhirrária, da hiscórni balinesa (em pré-hiscOrico, ancigo
26-14 . indIgena, antigo hindu-ha1iris, liindu-balinês tardio, inoderno) ver
Goris, s. ci. Para algicmas especulaçöes (pouco convincelires) sobre
jiv'u c — isto c 0 N eg
A dat'i de i-,4 proven do laclu o Bali pre-Majapahit ver Quiritch Wales, 1974 pp 105 115
rakerragama (Pigeaud, 1960-63, vol. 3, p. 5i) - e efectivamente
esta fonte sugere não urn rnas vários reis balineses oponentes (Pigeaud,
1960-63, vol. 4, p. 143). A tradiçäo balinesa situa a conqUiSta urn 2627
pouco mais cedo e relata cluas expedicöes (Swellengrebel, 1960,
p. 22). . - .q Não só virrualmente todos os nobres e sacerdoces (masculinos)
Ao contrário do que tern sido por vezes afirmado, nao so as conseguern contar a seguince lenda, corno rambém talvez a maioia
classes dirigences, mas quase coda a populacao, reivindica set wong dos plebeus. Corno em todas as lendas, os pormenores da hiscória
nos meados do seculo
iMajapahit, urn facto que van Cz no cot a
- I . . . .
1 variam signifIcacivamente consoante a posicao social do narracior, o
XIX (cicado por Korn, 1932, p. 160). Os pouCoS que iao 0 fazem qual escá interessado em juscificar Ou obliterar este 00 aquele
(por esca altura provavelmente menos de urn por cenco) sao chamados
ordenamenco presente. Em Bali, as principais versöes dão-se por
-uerrogatOrio
- sinificando <<baline-
. .- .
Bali Aga u rn termo geralmente regiöeS, e a versão aciui transmitida segue a dos meus informadores

ses indIgenas>> (Goris, 1960c). Alguns alineses veei1-se ass memos . de Klungkung. Para uma versão escrita (em indonésio), concebida
corno descendentes de imigrantes <<pioneiros>> de J'ra c1ue C ega para ser ensinada nas escolas primarias ver Njoka, 1957; para uma
ram a Bali ances d a invasão Majapahit (Sugriwa, 1957 ) m holan-
versdo em lingua balinesa, Regeg, s. d. (a); para urn resuo
:11 des, Kersten, 1947, pp. 99-101; para urn relato histórico moderno,
Berg, 1927, pp. 93-167; para urn texco clássico balinês sobre Gel-
26-24 ; gel, Berg, 1929; para cexcos primários de oucras regiôes, Worsley,
1972; Tabanan, s. d., Berg, 1922.
A citação é retirada de Swellengrebel, 1960, p. 23. Os especia-
listas pouco mais sabern. A primeira inscrição dacada acerca da ins- ,
talação de urn mosteiro e de uma casa de campo régia numa aldeia .
27-2 1
da montanha, é do fim do século IX (Goris, 1954, vol. 1, p. 6; vol. .

2 pp. 119-12 0; sobre inscricöes balinesas, ver tambem van Stein Sobre a concepcão de que 05 materiais Iiterários do perfodo
Callenfels, 1925; Scutterheim, 1929; Damais, 1951-69; de Caspa- Indico são mais ñceis para uma compreensao dos conceicos religio-
ris, 1956); e as fontes escritas de qualquer tipo mais antigas nao sao so-politicos incionésios do que como registos históricos de confian-
anteriores a 600 (Goris, s. d., p. 25). No principio do seculo ça, ver Berg, 1927, 1939, 1951a, 1961a. Apesar desta opinião,
surge o primeiro rei nomeado, e a lingua dos éditos muda d3a0tio : Berg tentou, no entanto (1950, 1951b, 1965) <<reinterpretar>> tais
..1s
balinês para antigo javanés (Goris, 1954, vol. 2, civ. 129.: materiais, apesar da sua aparente pouca confiança, de modo a produzir
relaçöes históricas corn Java são conhecidas a partir do secu a
A
uma história analistica ate então escondida, urn esforco algo crip-
e as expedicöes javanesas contra Bali sao noticiadas a partir do
I
,—
1S2 NEGARA NOTzIS 183
tográfIco que não me inclino a segLur. Para crIticas sobre algurnas cxemplos puhlicados, ver Sugriwa. 1957b, 1958; Regeg, s. d. (1)).
das argumencacöes e conclusöes histórtcas mais subscancivas de Berg, s. d. (c); Berg, 1922. Exemplos <reais>, onde OS mitos <<geográficos>>
ver Bosch, 1956; de Casparis, 1961; e Zoetmulder, 1965. e ><geneohgicos> convergeni, incluem Regeg, s. d. (a) e, especial-
mente. Wors!ey, 1972. Urna série de outros exemplos (p. ex., Taba-
nan, S. d.) exiscern em forma de manuscrito.
28-14

Bali 6 retrarado nesta época como urn Estado unicário envolvido 29-38
em combates quase perpétuos corn Blambangan a oesce e Lombok
a leste e, para Ia deles, de forma menos continua, corn Pasuruan, A doutrina da reencarnaçãc é conhecida em Bali de urn modo
Makassar e Surnbawa. Após a dissolução de Gèlgèl - mais ott vago, geral e algo idiossincrático, mas a sua irnportância é relativa-
menos pela altura em que o poder holartdês se estabelecia solida- mence pequena; e toda a doutrina dharma-karma-sarnsara está ausen-
mente no arquipélago - a lenda concentra-se inteiramence nos te enquanto crença social eficaz. Cf. C. J. Grader, s. d., pp. 66-69.
conflitos intra-Bali entre senhor e senhor, regio e região.

30-3
29-28
A aplicaçao do sistema varna indiano a hierarquia de tItulos
0 sistema balinês de estraciticação do prestfgio, extraordinaria- balinesa é, e parece ret sido sempre, urn assunto muito vago e ir-
mente complexo e irregular, ainda não foi adequadamente descrito, regular, acerca do qual os próprios Balineses nern sempre estão de
embora Korn (1932, pp. 136 e segs.) forneça uma grande quanci- acordo. Embora o conceito de varna - em Bali warna - tenha a
dade de dados tIteis, ainda que não organizados e no analisados. sua utilidade, tanto para os Balineses como para os eruditos, ao
Como aqui me interessa apenas a relação entre conceitos estratifi- prover urn quadro muito geral da situação escratificatória, uma
catórios e pensamento politico, no faco nenhuma cencativa de compreensão circunscanciada do ranking de prestigio balin&s so pode
esquematizar o sistema enquarito cal. Para alguns comentários sobre ser obtida concebendo o ranking das vincenas (literalmente) de cfculos
estratificaço ou hierarquia, ao nIvel aldeäo, que sugerem, mas no efectivos, assunto em relaçao ao qual quase toda a pesquisa deta-
desenvolvem, as minhas ideias gerais sobre a sua natureza, ver Ihada está pot fazer. Para urn esquema completo do padräo de
C. Geertz, 1959, 1963b, 1964; Geertz e Geertz, 1975. Cf Boon, pensarnerito warna entre os intelectuais balineses, inc!uindo as
1977, pp. 145-185; Boon, 1973, pp. 173-246; Kersten, 1947, 99 subcategorias oalto,, e <<baixo>> dentro de cada categoria, ver Korn,
e segs. Para algumas perspeccivas balinesas, ver Bagus, 1969b. 1932, p. 146 e segs. 0 próprio Korn encara tudo isto como oalgo
artificial>> e argurnenta que o desejo dos Holandeses de preservareni
o sistema de castas como a (assim pensavam) <<base fundamental da
29-3 1 sociedade balinesa>>, e de o usarem para objeccivos adminisrracivos
e legais, levou a uma muito major sisternacização cleste do que a
Assim como cada regio em Bali tern uma lenda para dat conca que atgurna vez existiu entre os Balineses (pp. 175-176).
da ramificaço e sub-ramificação espacial do pocler real a partir de Sobre a deificaçao dos seus <cancepassados> Majapahit (Batara
urn centro original, unitário, também (vircualmence) cada pequeno Maospait) pe!os Balineses, ver Worsley, 1972,
pp. 54-5 5, 96. Sobre
grupo em Bali tern uma tal lenda para explicar (em termos ge- mudanças recentes no funcionamento do sistema de tIcu!os-warna,
nealógicos, de status decrescente) o seu rank actual. Para alguns ver Boon, 1977, pc. 2; Boon, 1973, cap. 4; Bagus, 1969b.
NEGARA 18$
184
Norte de Bali, Den Bukit, que quer dizer liceralmente no oucro
31-4 lado da(s) moncanha(s)>>.
Para o sistema Mahayuga em si, vet Basham, 1952. pp. 321-
-322. Os nIveis mais altos do sisterna, o ciclo kaipa de quacro mit
y4-
milhOes de anos ou o manvatara de três rnilhöcs, parecem não ter
qualquer importância em Bali. Para o cálculo balinês do tempo, ver
Liefririck, 1877.
Covarrubias, 1956, pp. 313-316; Goris, 1960b: C. Geertz, 1973h.

3 5-27
31-18
A mnica excepcão possIvel é Ban,gti. Mas a proeminência de
Bateson, 1937. Cf. Worsley, 1972, PP. 75-82. Bangli foi só urn fenómeno temporário, urn reflexo da presença
holandesa em Bulèleng. De facto, o seu papel, nunca rnuito crucial
num enquadramento de toclo'o Bali, foi mais o de corte mais poderosa
33-5 das terras altas do que o de menos poderosa entre as das terras
baixas. Por uns poucos anos durante os meados do século XIX, no
Karengasem, algo separada da região central por uma area seca
enranto (Liefrinck, 1877; texto, p. 116), conscituiu de facto urn
e ondulada, forma uma bolsa ligeiramente descalda para urn dos
certo caso a Iarte.
lados; mas a distância da linha do arroz de regadio a costa é pra-
ticamente a mesma que no caso de Klungkung. Para a distribuicäo
do cultivo de arroz de regadio em Bali, ver Raka, 1955, p. 29.
36-30

Para exemplos, ver Korn, 1932, p. 401; Friederich, 1959,


3 3-19 p. 123.
Os dados populacionaiS são do Indonesian Bureau of the Census.
A percentagem da populacão total de Bali vivendo no Sul surge vir-
36-33
tualmente inalterada entre os censos de 1920, 1930, 1960 e 1970.
As estimativas, muito aproximativas e de pouca confiança, que
Para uma divisão demasido aguda, e de certo modo mal inter-
Raffles fez no princfpio do século XIX dão praticamente as mesmas
pretada, entre <Ireas de apanágio>> (isto é, regiöes de influéncia
proporcöes para uma populacão estimada em menos de metade da
senhorial) e <<antigas areas balinesas>>, ver Korn, 1932, passim. As
presente (Raffles, 1830, vol. 2, p. cxxxii). (Para 1900, van Eerde
teorias de Korn aparecem resurnidas e aplicadas a alguns exemplos
[1910) calcula a populacão balinesa em cerca de 750 000, corn
conternporâneos in Lansing, 1977, cap. 1. Para uma perspectiva
outros 20 000 nas partes de Lombok colonizadas por balineses.)
crIcica, ver C. Geerrz, 1961.
O fato de a civilizacão balinesa se ter centrado desde ha muico
no Sul é também indicado pelo facto de vircualmente todas as
inscriçöes mais antigas (Goris, 1954) serem do Sul de Bali (algumas
são da região montanhosa central, mas foram erigidas por senhores
do Sul), bern corno pelo nome tradicional do reino de Bulèlèng no
NOTAS 187
186 NEGARA
ainda mais adivinhado) cerca de 200 deles policicamenre signifi-
36-38 c a NVOS.
Paraalguns exemplos, ver Gunning e van der 1-leijden. 1926.
42-6

38-1 Para uma história de caso de uma poderosa casa Sudra, ver
Boon, 1973, cap. 2; Boon, 1977, cap. 4.
As referências a <<despocismo>>, etc., são de novo dirigidas contra
Wittfogel (1957) e trabaihos dele derivados (p. cx., Hunt e Hunt,
1976). Sobre o probierna das fronceiras nos Estados indicizados, ver
Leach, 1960, de onde extraf a citação sobre a <<Linha MacMahon>.
42-29
0 seu trabaiho é sobre a BirmInia, mas, a este respeito, encaixa
corn exactidão no caso balinés. Sobre as <<zonas neutrais>> balinesas Para urna discussão deste ponto e urna descricao complera do
(kewalonan), ver Korn, 1932, P. 437; de Kat Angelino, 1921a. Para sistema de parentesco balin&s, ver Geertz, 1975. Cf. Boon, 1973,
generalizacão que afirma que as fronteiras
uma ténue excepcäo a 1976, 1977; Gerdin, 1977; Belo, 1936.
não eram questöes de ârnbito politico <<inter-Estados>', ver Korn,
Badid
1922, p. 63. Worsley (1975, p. 112) defende, corn base no
Bulelèng, que havia fronceiras definidas para Den Bukit, mas parece 43-18
tratar-se de uma ilusão de óptica literária.
Dadia é na realidade o termo plebeu para estes grupos na região
de Klungkung, e é aqui empregue meramente por razóes de sim-
38-35 plicidade. Dc facto, os termos variam muito (Geertz e Geertz, 1975;
Gerdin, 1977; Lansing, 1977). Talvez o termo mais comurn para
Korn, 1932, p. 440. Uma descrição das principaiS <<familias
dadia nobre seja batur. A dadia popular e a nobre diferern algo na
principescas>> no Bali do Sul por volta dos meados do sécuo XIX estrutura e modo de funcionamento (Geertz e Geertz, 1975), e as
pode set encontrada in Friedrich, 1959, pp. 119-136. afirrnacOes no texto são concebidas para serem aplicadas a dadia
nobre.

41-17
46-10
Van Eerde (1910, p. 5) afirma que nas areas balinesas de Lom-
bok, haviam 6000 triwangsas entre uma populacão de cerca de A sucessão primogénita não era de facto universal, mas era
20 000. Isto significa trinta por cento, a que é muito superior aos fortemente preferida. Quando as circunstâncias forcavam a urn des-
sete a dez por cento habicualmente referidos, e quase sempre sern
vio a regra, a inconsiscência era sempre rapidamente racionalizada
comprovacão, para Bali propriamerite diro, e pode escar mais próxi-
nurna tentativa de evitar as conflitos de legitimidade que tendiam
mo da verdade, embora ainda seja urn pouco elevado. (Gerdin [1977) a seguir-se-ihe, e era muito comum que se desse urn regresso a
estima vinte por cento para o Lombok contemporâneo.) Dos 6000
linha central original na geracão seguinte (por vezes o irmo mais
triwangsa 2000 cram Brahmanas (dos quais 175 eram sacerciotes - veiho desprivilegiado era simplesmenre <<lembrado>' como irmão
pedanda); 4000 cram Sacrias e Wesias, sendo (e este 6 urn cálculo
188 NEGARA NOTAS 189

mais novo pot geraçöes subsec1uenres e rerracado coma cal nas gracluacias de acordo corn as origens das suas mes. Vet Gec-rcz e
genealogias). A rnanipulação genealógca era facihuada pelo facto de Geerrz, 1975; Boon, 1977.
nas próprias genc-alogias os individuos aparecerarn não sub normes
pessoais, mrs sob uftulos gerais. Sobre tudo isto, ver Gcerrz e (Treertz,
1975. 52-25

Para urn aprofundarnento de urn padrilo sernelhani,e corn ithpli-


47-5 caçöes sernelhantes na Birmânia. ver Leach, 1954, pp. 215-219.
A relaçao wargl não era exciusiva. Urna dadia inferior podia ter
Cumo urna subdadia sernpre permanecia como subparce cia lacos desse tipo corn várias dad ias superiores. 0 termo u'argi não era
dadia, era o mais baixo que podia decrescer, pot rnwto antiga que usado parr lacos de afinidade ou matrilaterais entre iguais em termos
fosse a origem da sua linha central. Não se encontra aqui a clescida de status, e embora o tetmo signifique litetalmente parc-nrc através
ate ao mero estatuto plebeu como é noticiada noutros sisternas do da mae (e perwargian todos OS grupos de tais parentes) não era
Sudeste asiático - no tailandês, pot exernplo (Jones, 1971). A mais jamais usado para tais parentes quando a mae de alguern provinha
fnfirna subdadia ainda partilhava do status que a dadia como urn da dadia desse alguem.
todo alcançara dentro do sisterna politico mais vasco, e de facto
subdadias que se tivessem tresmaihado muico longe do centro tend jam
a ser amalgamadas no respeitante ao rank; a subtileza da discrirni- 54-10
nacão tendia a diminuir a medicla que os grupos se afastavam mais
longe do ceritro. Para a citacão do livro de ic-is, ver Korn, 1960.

52-9 54-20

0 tarnanho dos <haréns>> no Bali do século XIX (então, como Para uma lista de bagau'an!as nas várias regiöes do Bali dos
agora, Bali tinha uma regra de residência virilocal) é difIcil de principios do século XIX, bern como uma breve descrição das suas
determinar corn qualquer precisão. Covarrubias (1956, p. 157) funçoes, ver Friederich, 1959, pp. 106-107. Nenhum sacerdote
fala de <<velhos registos>> mencionando reis corn nC1meros de mu- Brahmana podia entrar no ternplo de Estado de todo-o-Bali, em
Iheres que atingiarn 200, mas não cica. Korn (1932, p. 469) fala de Besakih ( texto, p. 58) excepto na companhia de urn senhor de quem
<<o rei>> ter de 80 a 100 ou mais rnulheres no princfpio deste século ele fosse bagawanta.
e observa que <<o tempo dos prmncipes corn 500 muiheres já ficou Sobre a re[acão siwa-sisia em geral (onde o ültimo cermo,
muico Para trás>>. Pode ter ficado, de facto, tao Para trás quanto <<discIpulo>>, se pode traduzir corn mais rigor como <<alguérn dc-se-
<<era uma vez>. joso de obter água benta>> ou como <<alguem que se sente constan-
A presenca de mulheres de diferentes status no harem do senhor ternente numa relacao de ddiva-recebimento corn (uma casa sacer-
levou a graves cornplicaçöes do padrão de sucessão esboçado ante- dotal Brahmana, uma griyal>>), ver I-Iooykaas, 1964b. Os sacerdotes
riormente. São dernasiado complicadas Para nelas encrarmos aqui e Brahmana são por vezes também chamados patirtaan (de tirta, água
agora, a não set Para dizer que, pelo menos em teoria, so as crianças benca) pelos seus sisia (Swellengrebel, 1947), ou então chamados
tidas de muiheres endógamas (padmi, parameswari) tinham direitos surya, da palavra (tomada do sânsctito) Para <<so!>> (Hooykaas, s. d.).
de sucessão plenos; as de muiheres hipergâmicas (penawing) erarn
-

NOT7 191
190 NEGARA
expressão relariva em Besakih era muito pouca exacta. A!guns nc-
55-I
garas muico poderosos (Gianyar, Badung) cinham apenas represen-
tacão !imtrada, ao passo que par aicLira do século XIX alguns menos
Uma descricao mais compleca da vida comercial no negara é
importances (Kaba Kaba, Sukawari, Blahbatuh) cinham secçöes inteiras
dada adiance, tex.to, p. 111, onde as referências documencais apro-
do templo associadas a eles. Mas isto parece ret sido uma mera
priadas se podem também encontrar.
consequência de destinos politicos de mudança mais acelerada que
ulrrapassaram formas cerimoniais de movimento mais lento. A posição
simbólica preeminence de Klungkung estava, no entanto, muito
57-8
clararnente expressa na sua <<posse>> do patio mais central. Para urn
relato circunstanciado de Besakih como paradigma espiritual das
As frases citadas são de urn tratado entre Gianyar e Badung
relaçöes polfticas de todo-o-Bali, ver Goris, 1937; cf. Hooykaas,
(mais Tabanan) assinado não rnuito antes de esces dois se terem
1964a, pp. 172-187; C. J. Grader, s. d., pp. 17, 26-27, 46-5 1.
tornado de novos inimigos mortais. Ver Korn, 1922, P. 99.

58-26
58-2
Para exemplos de tais tratados, alguns datando do inIcio do
A este nIvel, o casarnento politico era mais raro do que ao nIvel
século XVIII, ver Korn, 1922; Liefrinck, 1915 e 1921, pp. 370-
intra-regional; e, quando acontecia, era mais simetricarnente equi-
-461. Cf. Utrecht, 1962.
librado de modo a manter pelo menos a aparência de igualdade no
status. (Não se chamava wargi.) Efectivamente, a delicadeza das
adaptacoes e a combustibilidade dos sentirnentos envolvidos eram
5 8-38
tais que a negociacão de casamentos inter-regionais levava prova-
velmente tancas vezes a conflito quantas as vezes que levava a so-
Korn, 1922, pp. 95-101. Não é clara se codos Os tratados foram
lidariedade.
celebrados desca maneira cerimonial, pois a grosso dos tratados nao
indicam a contexto imediato em que foram assinados.

60-18
Sobre os Sad Kahyangan, ver C. J. Grader, 1960b, e s. d., pp.
20-28; ver também Goris, 1960a. As listas dos Sad Kahyangan,
Os chavôes dos tratados, que cram usados para relent estes
quer de informadores quer de bibliografia, riem sempre consistem
<<negaras certificados'>, falam alternadamente dos <<sece>> (pitung),
em precisamente seis templos, mas sim por vezes em oito ou nove.
<<oico>' (akutus) ou mesmo - quando se tm em conta apens as
Kahyangan, <<Iugar dos deuses>> (hyang - ><deus>>, <<espIrico>>), é
regiöes orientais, mais Lombok - <<quatro>> (petarig) negaras, embo-
uma palavra superlativa para pura, <<cemplo>>. Sad é <<seis>>.
ra as Estados não sejam sempre exactamente as mesmos (Korn,
1922, p. 105).
5 8-16

A congruência entre importância politica relativa e escala de


am

NEGARA
192
65-2()
61-17
A frase sobre o comunisrno patriarcal>> é de Covarrubias, 1956.
pp. 67-71, 79, 83. Mais uma vez, é necessáriO p. 57. (0 feudalismo da aristocracia hindu fbi. curiosament, ape-
Korn, 1922,
relembrar o tarnanho rnin6sculo de muitas descas entidades polIcicas nas sobreposco ao cornunismo patriarcal ba1ins, e século de domfnio
se se quiser aparihar o seu senrido feudal nan conseguiram pot de lado a independOncia fechada das
cornunidades aldes'.) A sua afIrmnço é ralvez a mais cmi das
feitas acerca da rcorii da iovp:republiek PaLa urn tratamentO vivido
61-29 e novelIstico das relaçOes desa-negara nestes cermos, e bascado em
bores eruditas holandesas, vet Baum, 1937. Para urna abordagem
Van Eck, 1878-80. <no-hidráuIica>> do clespotismo, uma abordagern <,de conquista>>
(mas nao muito convincente), referente a organizacão estacal bali-
nesa (Lombok), vet van dec Kraan, 1973.
62-17
Van Eck, 1878-80. Para uma descricão pormenorizada das series
ang1iKIUflg 66-7
muito complexas de lutas que ocorreram na area de B
na segunda metade do século XIX, vet A principal excepção, e muito parcial, a esce facto, era Singa-
Gunning e van der Heijden, 1926; de Kat Angelino, 1921a. Frie- raja, no Norce de Bali. Mis af o desenvolvimento urbano foi urn
derich (1959, pp. 119-136) oferece uma recensão geral das <quezfliaS reflexo do desenvolvimento da econornia mercantil do mar de Java
sern fIrn'> entre senhores na primeira metade do século. e estava a cargo, sobretudo, de näo-balineses: bugis, chineses, árabes,
javaneses, malaios e outros (texto, p. 115).

65-16
67-10
significa, simplesmente, <<rep6blica aldeã>>.
DorpsrePlibliek
0 enunciado resumido cléssico desta visO da aldeia balinesa, <Que 0 principal arquitecto desca teoria é, uma vez mais, Korn
a aldeia forma uma unidade fechada e autosuficiente - uma (p. cx., 1932, pp. 78, 93 - de que o rneu breve resurno é uma
rep6blica, como Korn the charnou correctarnente - éalgo que paráfrase). Goris (1960a), de novo, tambCm a emprega livremente
pode ser tido como sendo a regra geraI, é o artigo muito influente (e, uma vez mais, de modo muito menos subtil), como se fosse urn
de Goria sobre <<0 carácter religiosO da comunidade alde>> (1960a) facto estabelecido e nao uma hipócese altamente especulativa e,
mas o terna enco a-
(<<The religious character of the village community'>); canto quanto vislumbro, no muito bern fundamentada; e surge
na-se em virtualmente todos os trabaihos do perfodo colonial sobre apesentada corn o mesmo at de certeza e a mesma falta de provas
a vida balinesa. Vet em especial Korn, 1933 e 1932, pp. 75 e segs. que a apoiem, na sIntese deSwellengrebel sobre a cultura balinesa
ma perspectiva alternativa da organizacO aldeã balinesa, vet (1960, p. 32). Para urn exemplo parcicularmente vfvido de uma
Para u
C. Geertz, 1959 e 1964, e texto, p. 65. tentativa desesperada de ajustar os factos conhecidos, ou algo
conhecidos, da estrutura polcica no Bali dos séculos XVIII e XIX,
a nocão de dorpsrepubliek, por meio de invocar o irnperialisrno java-
nês como a força reconstituinte - tal como Krorn (1931) invocara
/

NEGtlRA NOTAS 195


1.94

imperalismo hindu ern Java -, ver van Stein Cahenfels, 1947- 70-36
-48. Nao são so os Balineses que subscrevem o <<mito do Majapa-
hic. Esta concepção <<cle apanágio>' da organização social rural em 0 sub.ik é extensivarnente abordado adiance (fextc, cap.
regiôes de <<rerras baixas>> aparece cambém sumariada em Lansing, em <A polIcica da irrigacão>), onde também são dadas a referCn-
1977, cap. 2. cias apropriadas.

68-22 7 2-10

• Os termos aplicados a congregacão do templo erarn, e são, mais


In C. Geertz, 1963b, pp. 85-90. A necessidade aqui sentida de
fazer uma descrição esquemática torna impossIvel fazer justice, mesmo variados do que os aplicados ao lugar e a sociedade de lrrigação.
que aproximada, aos pormenores da organizacão aldeã balinesa e Nalguns casos, pemaksan refere-se a urn qualquer tipo de grupo de
em especial s suas variaçöes. Para descriçöes e análises mais exten- pi culto voluntário e não obrigatório, ao contrário do aqui abordado.
sas, ver C. Geertz, 1959, 1962, 1963b, 1964; H. Geertz, 1959; No entanto, entre os muitos termos usados para a congregacão dos
Geertz e Geertz, 1975; Hobart, 1975. Mais uma vez, os termos <<trés templos>> não voluntária que aqui nos interessa agora, pernak-
variam grandemente; de novo, utilizei os que são correntes em san é talvez o mais corrence, e é muito usado para <<grupo de culto>>
pura e simplesmente. Para esta definiçao, ver Kusuma, 1956a. Embora
Klungkung. 31
paksa, a raiz de que deriva pernaksan, signifique <<coetcão>, <<força>
ou mesmo <<necessidade>>, no balinês moderno, deriva suposcamence
duma raiz sânscrita significando <<faccao>>, <partido>, <grupo de
68-27
aderentes>, <<opinido>> (Gonda, 1973, pp. 234, 546, 556).
Ao contrário do sistema negara, que foi radicalmente alterado
pela incursão directa dos Holandeses após 1906 (ver notas, p. 314),
sisterna desa de hoje não está grandemente mudado - pelo menos 72-18
no que diz respeito aos aspectos aqui discutidos - em comparacão
corn o do século XIX. Logo, o uso do pretérito não deve set tornado Houve algumas tentativas (p. ex. Goris, I 960a) de usar agama
(como em grande medida pode s&-lo nas minhas descriçöes do <Estado (<rexto religioso>>) como equivalente funcional em Bali de hukzirn
balinés>>) como indicativo de que os fen6rnenos mencionados te- (isto é, olei islâmica>>) ou mesmo de direiro canónico na Europa
nham desaparecido ou sido consideravelmente transformados. medieval. Mas uma tal visão não tern cabimento no pensamento
balinês, onde agama significa simplesmente os aspectos do adat
mais directamente religiosos, isto é, sagrados (cf. Geertz, 1973e).
Efectivamente, o contraste hukum-ad.at nao é universal no resro do
70-5
arquipélago, especialmente em Java, a qual, embora islârnica, con-
Urn uso similar de krama parece surgir no velho texto javanés, tern grandes blocos de pessoas cujo conceico da natureza e lugar do
adat é mais parecido corn a nocão balinesa-indica de que corn a
Kidzing Sunda, sob a forma de balakrama (bala, <cexército>>), signifi-
cando evidentemente <<soldados> ou <guardas> (Gonda, 1952, nacão propriamente islâmica de onde advém. Ver, acerca disto,
p. 305). Os aldeãos javaneses modernos tambérn usarn amiüde a C. Geertz, 1960, esp. pr . 1. Para o direiro Indico no Sudeste asia-
palavra neste sentido, e <<Pak Krarna>> é calvcz o termo <<Zé-Povi- rico em geral, ver Hooker, 1978.
nho>> [John DoeJ mais comum para urn carnponês javanés.
/

NOTAS 197
NE GA R A
196
r.sciineflto dc cemeos (Belo, 1970h: H. Gecrcz, 1959), passando
7 2-24 pela forma e duração dos festivais do cemplo (Belo, 1953) ate a
mere proibicão de certos rituals. (Num lugar que estudei, o farnoso
0 nüerO destas vaciaçöes é vitivalmeiue infinto, e Lima boa pnr
rn drarna-danca RaigrLi-Barong [ Belo, 1949] era mesmo proibido
no seu mero reisco. Vet
parte da ecnogaf'a de Bali tern consistido set <<de ma sorte>>; e, ao que se supöe, nalguns lugares ate as orquestras
urn tomb de setecentaS páginas.
especialmente Korn, 1932 - ga)nvlan não podem tocar.) A questão fuicral, no entanto, e que,
espraiado, desordenadO, mas magnificamente porrnei'orizado fun- embora cadapemaksan difira rialgum assunco ar/at de todos os outtos,
dedicado i sua
dado em cuidadosa pesquisa, e em grande Pa17U ou pelo menos dos que the estao perto, dentro de urn so pemaksan,
independentemeflte do tamanho e delirnitação, hO consenso total.
compllacaO.
Para alguns exemploS de assuntOS mencionados no texco. em Para exemplos de constituicöes escritas de desa adat (awzg-au.'ig
alguns conselbos de lugar todos os hornens casados tern assento, desa ar/at), a prirneira real, a segunda sendo urn composto moderno,
noutros so
os que tern filhos; nalgunS, os hornens retiram-se da vet Geertz e Geertz, 1975, pp. 182-196, e Sudhana, 1972.
participacãO quando os seus filhos varöes entrarn, noutros permane-
cern ate a sua muiher rnorrer, noutros ainda ate eles próprioS mor-
rerem. Alguns funcionáriO5 de lugar são eleitos, outros são escoihi- 73-15
dos rotativamente, outros indigitados por funcionáriOs destacados
em visita, outros sucedem por heranca; e tanto os modos de recom- Na realidade, hO variados outros termos indIgenas usados como
pensa corno os perIodos do cargo variarn grandemente. Nalguns equivalentes de desa ar/at, todos inclicativos, de uma maneira ou
lugares as multas são tao pesadas que chegarn a set onerosas, noutros outra, da nocão de espaco santificado: prbumian, weuengkan desa,
tao leves que chegarn ao ponto de ineficácia; e virtualmente todos burni, gurni pe/asan, payar, kuhum (Korn, 1932, p. 81; vet também
os estádios interrnCdios podem set encontrados. Quanto tempo depois desa em si, scm
Korn, 1933, p. 26). Corno notado antes, a termo
da morte devern as pessoas set encerradas, por quantO tempo membros outra especificacão, e reservado para todo o complexo de agrupa-
(sebel) na sequência de uma mentos locais e e, de facto, aplicado de forma urn pouco vaga e
do peinaksan estão ritualmente poluldos
morte (e as irnplicacôes de tal poluicão para as actividades sociais), muito diverse. Sobre este problema, vet C. Geertz, 1959. Ler o
e corn quantos dias de trabaiho os membros do lugar devern contri- passado a partir das realidades de hoje, mesrno que seja o passado
buir quando urn deles promove uma cremacão - todos cstes aspeccos recente, é urn assunto complicado; rnas não vejo que haja raz3es
para pemaksan. (Nurn pe-
apresentam grande variacão de pemaksan que levem a crer que as linhas mestras do sistema aldeão fossem
sebel após o casarnentO - Korn, diferentes no século XIX das dos meados do século XX, e as provas
,naksan, hO mesmo urn perlodo
triwangsaS devem it aos festi-
1932, p. 180.) Nalgurnas aldeias os fragmentadas da organizacão aldeä no século XIX de que dispo-
vais do templo, noutros estão proibidos de o fazerern; nalguns tern rnos (p. ex., van Stein Callenfels, 1947-48; van Bloemen Waanders,
assento nos conseihos do lugar, noutros não; em alguns são passIveis 1859) apoiam esta ideia.
de obrigacöeS de obras pCiblicas, noutros não; e o reconhecimet1to
construir certos tipos de passa-
de variados direitos sumptuários
gens, set sepulado num cemitériO separado, etc. - é acordado nal- 72-18
guns sctios, recusado noutros. Nalgurnas aldeias näo se podem fazer
potes, noutras é roibido tingir de azul, nourras o vinho de arroz A citação - uma forma padrao balinesa - e de Liefrinck,
é considerado poluidor do pemaksan
não pode set feito; fumar opio rna aldeia 1927, p. 230. <<Pertence>> não é a meihor tradução, pois não se trata
nalgurnas, e não se podem criar cabras em pelo menos u aqui de urn conceito de <propriedade>> no sentido ocidental (texto,
Quanto as <<questöes técnicas rituais>>,
(Korn, 1932, pp. 81-82). p. 160).
elas são infindas, indo desde as prOticaS divergentes na sequência do
/

,\rOTAS
NEGAIA 199
198
segue o calendário solar-lunar, cada 355 dias). Significa isco ciue
73-21 quase urn dia em cada vince é dedicado apenas ao ritual. Além
disso, pelo menos uma sernana de preparação é necessária para cada
Normairnerite ha cambém urn chefe oficial do total da unidade.
cerimOnia; porcanco, os Balineses ocupam-se, de uma manejra ou de
Este hornem, a major parte das vezes chamado bezdesa adat, rião é outra, corn assuncos Kahyangan Tiga quase urn dia em cada sete,
urn <<chefe de aldeia" em nenhum sencido reconhecivel, mas sirn o embora obviamence a divisão do trabalho no seio dopemaksan reduza
especialisca mais destacado em assuncos de adat, a pessoa a quern consideravelmente o fardo sobre urn qualquer indivIduo ou famIlia.
são endereçadas as quescöes de procedimento adequado, em casos
Para uma ideia da imensa quantidade de <trabalho> (karya) envol-
de düvidas. Para além disto, cada urn dos três templos tern adscrito
vido nos festivais dos templos, ver de novo Belo, 1953; 1-Iooykaas-
urn sacerdote (pemangku) que é responsável por conduzir as activi- -van Leeuwen l3oornkamp, 1961; C. J. Grader, 1939.
dades cerimoniais prescritas. Este sacerdote de templo, que nunca
é urn l3rahmana mas sirn, normalmente, urn Sudra, não deve set
confundido corn o surno sacerdote Brahrnana (padanc/a , pandita) referido 74-30
anteriormente.
Para urn exernplo concreto desta dispersão parcial e coincidên-
cia parcial de pertenca entre grupos corporate, sekas, numa desa balinesa,
74-1 ver C. Geertz, 1964. No entanto, pode-se constatar rnesmo numa
aldeia tao desviada da norma como a Tnganan de Korn (Korn,
Para o negara enquanto <ccomunidade costumeira>> adat, ver tex- 1933), o locus classicus da teorização da àorpszrepubliek. Sobre o <<princfpio
to, p. 161. seka>> (literalmente, seka significa <<set como urn so>>), <<a igualdade
dos membros no contexto do grupo de que são membros, a irrele-
vância dessa qualidade de membro corn respeito a outros grupos
74-15 aos quais possam pertencer; e a precedência legal de grupos on-
ginánios sobre os denivados>>, ver Geertz e Geertz, 1975, pp. 165-
Nos casos em que (e são mais frequentes do que por vezes se
-166; cf. pp. 30-31, 115-116.
tern representado) as congregaçöes dos crês templos não coincidem
inteiramente é o pemaksan Pura Balai Agung que é tornado como
definidor das fronteiras do desa adat. Os Balineses referem-se muicas 76-15
vezes ao desa adat como urn Balai Agung. Para urn esquema geral,
excessivarnente normalizado, do sistema de templo balinês, ver Goris,
Tabanan (s. d.) é, num certo sentido, uma espécie de versão
1938. Para urn desenvolvimento breve mas sagaz do desa adat e sua escrita desta <<consticuicão>>. Complecado na sua forma presence
relação corn o banjar, ver Hunger, 1932. algum tempo depois da incervencão holandesa em Tabanan em
1906, não é claro se se trata do trabaiho de urn so aucor baseando-
-se em manuscnitos em foiha de palma anteriores, resumindo-os e
74-18 trabalhando-os, ou da acurnulacao de uma série de tais rnanuscrics,
não trabaihados (para a pnimeira perspectiva, ver Worsley, 1972,
Para uma descrição completa (charnada odalan), ver Belo, 1953; p. 85, n. 241). Consiste numa genealogia dinéstica apresentada de
cf. Hooykaas-van Leeuwen Boomkamp, 1961; Hooykaas, 1977.
forma discursiva, no sentido laco da histOnia de famflia, da dadia
Normalmente, cada templo promove uma cerimOnia de crês
dominante Tabanan (ou batur, o termo superlativo para dadia) e de
dias de 210 em 210 dias (ou, no caso do Piira Balai Agung, que
/
1
D>.

NOTAS 201
EGARA
200
nere do Superincendence Holandês <em frence a Pun Kalèran>> c -
certas cladias aliadas e cliences, mats o regisco dos vár ios aconceci-
da genealogia. 0 ordena- o verdadeiro firn" - o casamento fora de casra, em 1912, de urna
mencos relacionados corn vátiOS Pont OS muilier de urna clas casas prificipais corn urn escniruránio cnicão de
é ieit') pot teinoS de
menlo, geral mas de modo algurn sistemáuCo. Manado (nas Celebes), fuudonánio desse gabinece, charriado Kra-
1inha fihiadas
reis de linhas cencrais; os dtversos aconcecirnefltos e men. Apds umas poucas notas, obviarnente acrescentadas, respeitan-
juntam-se a eles onde tern cabimentO.
.iro rci dc ces a formação de algurnas das casas mais recentes, termina o ma-
As secçöes mais ancigas traçam as origens do prime ffllSCtJ0
istO é, ate Airlangga, ri de Daha
linha central Tabanan ate Java -
em 1037. Os generais de campo da invasão Majapahit de Bali em
vezes traçados regressivarnente
1334, os chamados <Arya>>. são pot 76-24
loceamentO entre eles das
ate ele, C descrica a jflVaSO e C relacado o V.
residences
vCrias partes de Bali (embora eles em si permanecam Estes mapas foram desenhados corn base nas rnernórias dos in-
Samprangan). Arya Kenceng,
como <<ministros do interior>> em formadores: o esboço de Tabanan por volta de 1900 é apresentado
considerado o fundador da sua linha
nomeado para Tabanan, C pois Den Bantas apresentada a em Schwartz (1901), e a genealogia, muito elaborada, escrita e
real. (Pot vezes, como na genealogia anotada, está ainda na posseda existente casa de Den Bantas (ver
Arya Damar, é encarado como
seguir, urn outro general de campo, mapa 3 e figura 3). Ha algumas discrepâncias, nenhuma delas grave,
Por vezes Damar e Kenceng são
<cornecado>> Tabanan. No Tabanan contempo que surgem quando o material ties trés fontes é confrontado: a
cendo
representados como sendo a mesma pessoa. major parte delas tern que vet corn o uso de diferentes nomes para
a parce aigurnas
râneo codas as trés perspectivas se encontram; mas, as mesmas casas (a maioria dos nornes das casas, especialmente das
de codo o Bali, muito pouco depende
pretensöes de status ao nfvel aqueles mais periféricas, são nornes de locais, embora as casas não estejarn
disto.) Diversos direitos sumptuárioS, muito especialrneflte localizadas nos sItios mencionados) ou corn diferenças de opinião
escabelecidos, bern como o status
em torno da cremacão, são assim sobre se cercas casas distantes cram ou não aparentadas corn a linha
relativo geral da linha em Bali. c De qualquer modo, a lista de casas é de confiança no
a ftcndação local da linha
As secçöes seguintes descrevem então respeitance as casas pnincipais, estando a principal possibilidade de
de Tabanan propriarneflte dito sob urn
e o estabelecimento do pun normairnente re- erro no facto de duas ou trés casas menores cerem sido omitidas ou
cal Raja Singasana. Diversos dirigentes anteriores, mal colocadas em cermos geogrilficos. Para fotografias de alguns
porrnenorizadamet1te bern
feridos pelo tItulo kijai, são referidos dos puns e jeros de Tabanan, vet Moojen, 1926, estampas 1, 33, 34,
de diferenciacöes locais, formacóes de novas
como uma complexidade 38, 45, 46.
casas, etc. Algumas guerras mais antigaS, especialmente corn Meng- As datas periodizadoras que estou a usar para Tabanan são, e
a formacãO da casa Krarn-
wi e Penebel, são descritas, bern co claro, a derrota de Mengwi pot Tabanan e Badung como o a quo,
<segundo rei> (texto, p. 82), mais
bican, prirneirO como pemadé e o saque de Tabanan pelos Holandeses como o ad qu -
o ültimo
tarde como linha independente, mas aliada. florescimento do Estado clássico. Uma vez mais, o terrno <<linha-
Estado Tabanan
As secçöes de conclusão relacam então como
incluindo como a casa Kalèran foi gem e aqui usado pot razöes desimplicidade no sencido coloquial
atinglu a sua forma <<final>>, mas não no tCcnico. Não ha, infelizmence, cermo cécnico estabele-
se formou todo o
escabelecida como segunda casa reinante, como cido para o tipo de grupos parentais que são as dadia balinesas,
, I ate ao sCculo XIX e como cudo
leque de casas conhecidas embora (e isto e urna piada privada) eu esteja a pensar em propor
dI aconceceU
atravCs de urn lote de incrigas, casanientos, acrocidades,
assassiflatoS, guerras, cerimóniaS de paz, crernacöes, etc. A incursão
<<linhencelas> [lindrids} ou <<parentagenS>> [kineages. Ver Geertz e
herdeiro no cativeiro Geertz, 1975.
hotandesa e os suicIdios do rei e do prIncipe do Gabi-
4' são excensarneflte descricos, bern como o estabelecimeflto
NOTAS 203
202 N EGA Ri
tivesse urn palácio local, ideia que a genealogia mais uma vez apoia
76-25 ao acribuir a fundaçao do pri de Tabanan ao sexto rei de linha
central e a separaçào da casa de Krarnbian ao sétirno. Em todas as
Sobre a questão se Hario (Arya) Damar ou Hario Kenceng deva
questöes deste tipo deve ser recordado que as estórias, genealogias
ser encarado corrio o antepassado apical, ver nctas, p. 202. Corno
e afins sao, neste sisterna, sempre e irievitavelmerite reivindicaçoes
Batara signifIca <<Deus>> (é aplicado aos cinco primeiros reis de de status, pelo que nacuralmente variarn de fonte para fonte, depen-
de qualquer modo, relativamente especula-
Tabanan), a questão e, dendo do inceresse particular. Buscas eruditas da <<verdade real'>,
tiva. ou argumentaçöes sobre ela, são pois em grande medida inâteis e,
de qualquer modo, deslocadas. 0 que é sociologicarnente central é
a estmtura do sistema, e não que entidades concrecas surgem em
76-29 locais concretos dentro dela. Este é mais urn ponto ainda no qual
as tentativas de escrever urna história analfstica que não se pode
Corn o suicIdio destes dois homens (Cakorda Gusti Ngurah Rai
escrever (ou de estabelecer pormenores impossiveis de estabelecer)
Perang e Gusti Ngurah Gdé), a destruicäo do seu palácio e o exilio
de todos os seus parentes próximos para Lombok (isto é, todas as tJ.
. so pode gerar iluses.
pessoas das casas Gdé, Dangin, Mecutan, Den Pasar e Taman; ver
figura 3), o senhor de Kalèran, o <<segundo rei>> de Tabanan, que
por razôes poifticas internas tinha sido mais cooperante, foi tornado 77-28
Sobre a histOria
no funcionário indigena mais elevado (punggawa gde'). Passei igualmente por cirna, canto nos mapas 1 como 2, e no
recerite da nobreza de Tabanan em geral, ver notas, p. 315 e C.
meu total de trinta e três casas reais e nobres, das casas secundárias
Geertz, 1963b. e terciárias - jero gde's e jeros - nas dadias Krambitan, Kaba-Kaba
e Perean, exceptuando nesta Marga e Blayu. (So Krambitan, onde
havia três puns, tinha cerca de vinte jeros associados, de diversos
77-7 status.) Tão-pouco foram listadas ou cartografadas casas muito
periféricas e linhas menores independentes no campo, pois é irn-
Existem (pelo menos) duas lendas de origem correntes em Ta-
possIvel reconstituir urn censo completo delas. Se tivessem sido
banan no respeitante as origens de Krambitan. Nurna, os fundado- incluIdas, o nürnero de casas triwangsa corn alguma significância
res de Badung, Tabanan e Krambitan eram meios-irrnãoS; o (iltimo
politica na area de Tabanan perto do fim do século passado teria
era o superior em status, mas foi estabelecer-se em Krambitan porque
subido para cerca de cern.
gostava da paisagem. Na outra, o fundador de Krambitan era urn
fliho do rei de Tabanan e de uma esposa de alto status, mas foi
preterido na sucessão a favor de urn filho de urna esposa de baixo
status em resultado de urn juramento feito pelo rei (cf. Geertz e 77-32
Geertz, 1975, pp. 132-133). Korn (1932, p. 303), inforrna que urn De modo a manter razoavelmente claras as linhas mestras estru-
escritor javanês do século XIX que escrevia sobre Bali, Raden
turais deste siscerna muito complicado, reduzi ao minirno os por-
Sastrowidjojo, afirmara que a mae do principe herdeiro de Tabanan
menores da organizacão do parentesco entre a nobreza. Alguns destes
tinha de set de Krambitan; mas eu nunca ouvi alguém dizer isto,
pormenores encontram-se no capftulo 4, <<Kinship in the Public Domain:
e tao-pouco a genealogia o confirma. Schwartz (1901) diz que a
The Gentry Dadia>>, em Geertz e Geertz, 1975, pp. 117-152; e 0
lenda sicua o palácio de Hario Damar em Krambitan; mas tao-
leitor iriteressado no que se pode charnar <micro-anatornia>> da
-pouco algurna vez ouvi isso set confirmado, nem sequer que ele
\1OTAS 205
204 NEGARA
alguém nesca série é jero (logo, superior em status) para esse at-
poiftica balinesa tradicional, é aconselbado a consultar esse guém: quem esteja esquerda é aba (e, logo. inferior em status);
A genealogia da figura 3 foi fornecida acompanhacla de urna ex- e nno ha duas casas que sejarn ou possam SCI !Ua1S ama a outra -
plicação anotada --, por jero Den Bantas, e foi sucessivalnette urn iarincIlio perteicamense universal da estrucuca social balinesa.
anotada corn a ajuda de cliversos informaclores da ca-sn real Foram Embora os micro-rankings no seio das subdadias sejam como os
corrigidos alguns erros menores (na figura 15. p. 126 de Geertz e rneus informadores os reprosentaram, são ainda menos consensuais
Geeruz, 1975), descohertos ao retrabaihar o material original que os macro. C por certo seriam frequenternente postos em ca-usa
L neceSSariO aefltUar ma-is uma vez que rais g enealogias silo por urn ou outrO membro das casas em questão. (Cada casa tCUj,
mais docuinento que explicam e justificam as actuais relaçöes de claro, urn centro e urna periferia, uma genealogia sua de edentro>>
status do que registos históricos. Embora a ordem geral de rank e de <<fora> rerraçando os passos da replicação desde a sua fundação.
denrro da casa real de Tabanan pareca ter sido em larga medida Para am exemplo parcial, tirado de Beng, yen Geertz e Geertz,
consensual durante o perIodo em discussão, podem-se facilmence 1975 , P. 150.)
encontrar diferencas menores sobre quem <<saiu>>, exacramenre cjuando Pun Gdé (por vezes chamado Pun Agung, sendo agung uma
e, logo, sobre quem ulrrapassou quem em termos de rank. Ao longo forma hononifica [halus] de gdé corn o mesmo significado, ta-I como
alterar a ordem de rank
de lapsos de tempos maiores, era co Jv,i
dalern - uma palavra importada do javanês - está para jero) é
recompondo as genealogias; e, de facto, no meu material sobre deixado de fora de rodas as subdadias porque era, obviamente, o
Gianyar, o quat era internamente menos estável do que Tabanan rnembro central de cada uma e em cada estádio. A represenracão
nos fins do século XIX, torna-se bastante óbvio esse remexer corn simbolica da casa central, e o rei, como uma entidade essencial -
os pedigrees. mente irnutável, ou replicaniva, é urn assunto extensarnence discu-
A simplificacäo consiste sobretudo na eliminação de casas de m (teto capitulo 4), e o mesmo principlo e de novo
nido adice
1hos mais novos ja inexistences no penioclo 1891-1906 (erca pertinente, mutatis mutandis, dentro de cada urn-a das casas em si.
de trinta) e de todas as mulheres (umas cinquenta), grande majoria
:
• das quais se casaram algures no seio da dadia real (ou não se casa-
ram de todo, urn descino que era comum para mulheres de status =
muito elevado).
• Finalmence, por ca-usa da situação anómala criada corn os suicIdios I
dos dois lcimos descendenteas de linhas centrais, a minha exposi-
WT
- Jero jero cd4 I Pun Dalem

ço toma o ponto de vista do serimo rei o que scendeu em 1868, -


. lSubdadia ' Subl SubdadiaSub-jsubdadiaSubdadiasubdadt'
isto e conforme a prática dos própnios Tabananenses para quem ele real 'dadi real dadia real real real
foi o ultimo <<verdadeiro rei>>. Rei VII real Rei I real Rei Rei Rd
Rei I I XIII Rei XV XVI XVII I
I
I XIV I
10 >t•
0V-J.0

I II I i I
A estrutura da casa real pode tambem ser representada em . - II I
termos do padrão de parentesco diferenciador acima discucido,
aparecendo assim, nesse ca-so, como urn conjunco de subdadias reais,
hieranquizadas em termos da sua ordem de cristalizacão, e expressas
. jero

na imagérica prevalecente de dentroffora ero!jaba) da simbologia Jaba

hierárquica balinesa (texto, p. 137). Assim, quem esteja


a direita de
206 NEGARA NOTAS 207

80-22 dadia. Os tftu!os fernininos, Os termos de referência do parentesco,


as formas de boa educacão, os costumes de mesa (para urna receriso
Tal como corn o terrno dadia, o terrno adequado para o seu breve e bern feira destes aspectos, embora para Lombok, ver Gee-
equivalente na linba real, batur dalem, é tambérn usado para relent din, 1977), e pnivilCgios sumptuários, desenvolvidos e graduados,
templo ancestral do grupo, localizado no canto nondeste da sua de forma semeihante, cambém estavam envoividos nesta rixa pelo
casa central (ver mapa 2). 0 direito (e obrigação) de parnicipar nas status. Ninguém, no entanto, parece tee contescado quer a posicão
cenimónias de 210 em 210 dias, aqui dedicadas as o ascendentes relativa quer a ordem geral de rank era si, pelo menos ao longo dos
deificados da linha, era o sinai da pertenca, por muito penifénica quinze anos aqui abrangidos: Beng nunca reiviudicou sobrepor-se
que fosse, a casa reinante. em rank a Kaièran, nem Kediri sobrepor-se a Mecutan. 0 padrão
Os termos <linha>>, <<casa>>, etc., que me vejo forçado a usar, são era, antes, tentar representar-se a si e a sua casa como estando tao
efectivamente urn pouco estranhos, porque se podem refenir a toda perto do centro quanto possfvel - minimizar as diferencas entre Si
e qualquer coisa desde a totalidade da dinastia Tabanan ate urn e o senhor suserano. Do mesmo modo, tentava-se representar todos
subconjunto diferenciado dela, de alcance mais estrito ou mais largo, os inferiores em rank como estando tao longe quanto possfvei - ma-
ate urn so grupo central ou de urn fliho mais novo. Diz-me a ximizar as diferencas entre si próprio e os mais perifénicos.
experiência que <dinha>> não é usada pelos Balineses, que apenas
falam de <<Tabanan>>, <<Klungkung>>, <<Kalèran>>, <<Penebel'> ou seja
que for. E, tal como o texto, assim o espero, esclareceu, não ha 82-23
termo genérico e <<neutro de status>> para <<casa>> em si, mas somente
da/em, pun, jero, griya, umah e pekarangan, por exemplo (umah era Sobre este sistema dubblebestaur em Bali em geral, ver Korn,
aplicado a casas Sudra proeminentes, pekarangan as normais). 1932, Pp. 287-292. (No entanto, a incursão de Korn na histónia
Acerca da linguagem que inclui os termos do <<ponto de on- especulativa - a teoria de que o sistema tinha as suas onigens na
gem>>, <<ponto de passagem'> ou <<estação intermédia>> e <<tftulo>>, transformação dos senhores <<hindu-balineses>> existentes em senho-
por meio da qual os Balineses de facto falam acerca daquilo que nos res <<irmãos mais novos>> dos conquistadores Majapahit <<hindu-
conceptualizamos como questôes de <<descendência>>, ver Geertz e -javaneses>> - não deve ser levada a sénio. E a sua afirmação de que
Geertz, 1975; cf. Boon, 1977. havia uma divisão nftida de territOnio entre linhas seniores e junio-
res é certamente incorrecta no respeitante a Tabanan e, tanto quanto
vislumbro, também em geral.) Raffles (1830, Apêndice K) faz
referência a reis duais em Bulèlèng nos pnincfpios do século XIX,
e a sua existência pode set inferida do relato de Friederich sobre
0 mesmo tipo de jogo acontecia corn os tItulos investidos nos Badung algumas décadas mais tarde (1959, pp. 123-126).
membros das diversas casas. Para urn homem de, por exemplo,
Subamia, toda a gente no total da grande farnIlia era cakorda; para
gusti ngurah,
rei, sO ele era cakorda, e todas as outras pessoas eram 82-28
ou, o que é ainda menos elevado, gusti, sendo ngurah (<<reinante>>)
reservado para os seus fithos ou talvez mesmo apenas para o principe Van Eck (1878-80) noticia a existência desta divisäo Gdé-Kaièran
herdeiro. Algumas pessoas jam ao ponto de distinguirem entre em 1857. Schwartz (1901) confirma-o para próximo da viragem do
cakorda dewa (déu'a, <<deus>>), o senhor suserano propriamente dito; sécuio, fazendo notar que o rei senior de Puri Gdé, embora próximo
cakorda ratu (ratu, <<rei'>), membros da subdadia real; ratu, membros dos oitenta anos (os meus informadores dizem cento e vinte e cinco!),
do nIvei KaleranKediniOka; e gusti ngurah, todos os outros na era muito vigoroso, não fumava Opio, aparecia todos os dias no
NOTAS 209
20S N EGARA

patio fronteiro do seu palácio para se encontrar corn qualquer urn papal central das g randes casas Sudra era generalizado em Bali
(Korn, 1932. p. 288). Para urn exemplo parricularmeme vivido,
que o quisesse ver, a saIa por si próprlo para o campo para cuidar
dos problernas mais sérios, ao passo que o rei jtInior cia Kalèran era var van Eerde, 1921.
gordo, gosrava de mulheres e era viciado em luuas de galos.

84-3

Dc entre as mais importanies clescas casas (var rnapa 3), podern-


-se mencionar várias. Malkangin, uma casa Sudra a cerca de duas
Urna das razôes para o pocler de Kalèran, Kediri e Ariom após
milhas acima do contraforte, desde a capital, tinha o rnesmo género
1891 parece ser que estas casas conseguirarn a parte de leão das
terras de arrozal separadas por Mengwi na guerra Tabanan-Ba- de relação penyarikan, de <secrecaria>>, corn Kalèran, que Dangin
Peken tinha corn Gdé. Kebayan Wangayu Gdé (não confundir corn
dung-Mengwi. Vet de Kat Angelino, 1921a. A forca de Subamia
adveio principairnente da sua influência na parte noroeste do reino, o jero Tabanan da zona) era uma casa Sudra cujos membros eram
responsáveis pelo templo de todo-o-Bali de Sad Kahyangan, nas
onde estavam concentrada.s as principais terras de café para expor-
encostas do monte Barn Kau, e por isso responsáveis por alguns
tacão exploradas por chineses (notas, 122). rituais regionais imporrantes (Peddlemars, 1932). Jero Samsam era
uma casa Satria, suposcarnente originária da casa real Klungkung,
que se havia estabelecido na parte pouco povoada do ocidente da
83-2 5 re,gião, onde, embora aliada a Tabanan de forma vaga (a qual, em
termos formais, ultrapassava em hierarquia), tinha urn certo grau
Para a <<história>> polItica - uma cacafonia de rapros, assassi-
de poder local independence. E Pupuan era uma casa Sudra das
natos, execuçöes, Iitigacöes, casamentos e adopcoes, mais uma certa
terras altas, estrategicarnente situada entre as esferas de influência
quaritidade de fogo posto, bruxaria e intriga de rainha-rnãe - de
de Tabanan e Badung (tal como Samsam o estava em relacão as de
uma casa Tabanan, Jero Gdé Beng, escrita (em 1946) por urn dos
Tabanan e Jembrana), a qual, embora suposrarnence subservience
seus membros, vet Geertz e Geertz, 1975, pp. 173-181. Cf., para
de Jero Subamia (que se situara all na origem, antes de, a pedido
a linha como urn todo, Tabanan, s. d.
de Gdé, se mudar para Tabanan), parece tar estado em sicuacão de
Urna vez mais: a figura 3 é fruto, apenas, da teoria balinesa, e
a quase perpétua dissidência.
teoria balinesa contestável, acerca das conexöes genealógicas.
0 facto de Friederich (1959, p. 126) referir Kediri como urna casa
Tabanan muito poderosa na década de 1840 torna muito improvável,
por exemplo, que ela tenha sido formada tao tarde quanto 1844, 84-7
quando o décimo sexto cakorda parece ter ascendido ao trono (van 0 alinhamento das facçôes do Negara Tabanan por alturas do
Eck, 1878-80). fim' do século XIX pode resumir-se assim:

Cakorda Pe'madé
83-3 1 Gdé Kalèran
Para uma história e descrição desta casa (chamada <<lado do
Patib Patih
mercado este)>, que é o que danginpeken significa), vet Boon, 1977, Bang
Subamia
pp. 70-86; 1973, pp. 19-102. Tal como o sistema de dois reis, o
NIGARA NOTAS 21!
210

Piiegawa Punggawa bayer, por exemplo, viriospwzggauias riuma casa grande como IKediri
Dangiii Kecliri on Subamia. A falta de urn rnarcador linguIstico de nümero obri-
ivlec utan Kompiang gatório em balinês acaba por aumentar a ambiguidade gerada pela
Dcii Pasar Tegeh flexibilidade e relatividade de tais termos de referCncia (bern como
Iaivan pela tendCncia balinesa para os usar metonimicamente).
Oka
Anoni
Anyar S'-1 2

I'eii )'arIkn Penyarikan Fazer uma cstimativa do tarnanho da populacao de Tabanan no


Dangin Peken Malkangin século XIX C obviamente urn trabaiho especulativo. A estirnativa
de van den Broek, feita em 1834, de mais ou menos 180 000 para
Bagawanta Beigawanta cerca de 1820 (i'. 180), é, no entanto, dernasiado alta.
Griya Pasekan Griya Jambe

(Peiicbel er' ncutral>>, ou pelo menos tentava se-b) 85-27

As out ras catorac casas estavam adscritas a urn dos punggawas Como sempre, havia urna multiplicidade de nomes para estes
pauhs. pc'iiiade, ou akorcia) como perbekel.c. Mas é impossivel recons- diversos estados de condiço polirica, alguns deles denotando for-
tituir corn Lonfiança qual cscava exactamente adscrita a qua!, espe- mas ligeirarnente diferentes ou subtipos. Paralelamente a parekan,
clalrncntc porque as ligacöes podiam set milripbas c porque havia encontrarn-se termos como peka,de/an, roban, abdi; paralelamente a
muxtos outros perkebel.c. kawula (que provCm de uma palavra do sânscrito, para ufarnulia,
Seria iiiuito errado cncarar esta estrutura como urna hurocracia, <<grupo de desccridCncia>>, <<casa> - Gonda, 1973, pp. 122, 150,
urn sistema de <<caigos, mesmo que embrionários. Era uma faccio- 430), termos como panjak druwé ou pengayah; ao lado de perbekel,
nalizaçao poltica, corn trequCncia muito pronunciada e sempre longe mantri; junro coin punggawa, manca ou gush. Igualmente, corno sempre,
do estar assente, organizada, como tuclo o rcsto em Bali, por cate- os termos erarn usados corn ulexibiliclade, embora as categorias
gorias hierarquicas de <tItubo>' (de eleganic, ha/ut, ate vulgar, ka- subjacentes fossem em si rnuito rigidamente dernarcadas. Assirn,
ar) que reflecriarn muito pouco as realidades de poder, as respon- dizia-se dos senhores realmente proeminentes (de Kalèran, Kediri,
sabilidades govetnativas ou, se pusermos ligeirarnente de parte o Beng ou Anom) cram chamados puunggawa, charnando-se os outros
papcl do sacerdoic de corte bagawanta, a espcciaIizaco tCcnica. apenas mancas. Não ha qualquer possibilidade de impor nina ordem
(Para a especializacao comercial do scnhor do cornCrcio chines rsu- terrnino!ógica ao sisterna, ou qualquer rigor a apbicaçao, airida que
/;andari Sirigken Cong, ver a seguir, lexto, 122; para 'a dos juizes do as quatro categorias fossern distintas independenternente do quc Sc
Estado [keri,i g1 de Griya Jaksa, adiante, notas, p. 299. Sobre os ihes chamava, inclepenclencemente das subcatcgorias secundárias que
se concebia existirern no scu seio e indcpcndentemente da sua
conceilos de halius e kasar em geral, ver Geertz, 1960, PP. 23 1-234
- urna referCncia javanesa, mas, no essencial, aplicável ao nosso colocação dentro do sisterna gcral de cstratificação dos tItulos. Para
caso. ci alto grau de subdiferenciação dentro da categoria geral de pare-
Frnalmcnte, deve-se chamar a atenção para o facto de que os kan, ver de Kat Angelino, 1921b; dentro da categoria kawuila, de
rermos punggawa e pr'rbthel se aplicavarn tanto a casas como urn Kat Angebino, 1921a. (A traducao de 1-looker [1978], num texto
rodo, como a indivIduos adultos varöes no seu seio; assim, podia dc clireiro nc(1tcval javanCs, como quinhibo do rei ,, parece rcsul-
212 NOTAS 213
NEGARA

tar da confusão entre urna metáfora e uma descriçao literal), dentro tais com o <<escravo>>, servo>>, <<intenclente>' e <harão>' (on mesm
das caregorias perbeke/ e punggawa, Korn, 1932, pp. 286-306. clevo admiti-lo, <nohre>', <<senhor'> c <rei>>) poclern vi r a pro'ar 'V

tanto enganadoras quanto iteis. De qualquer modo, a escravatli'.'


no senticlo de complera faira de liberciacie pessoal, parece ret <lcsi
85-35 pareciclo em Bali pelo sCculo XIX se e que algurna ye: exIs! iu t-omu
cefltFd
instituiç local; e parece nurICa ret tido urna importancia
haiiiifs niu
Não está de todo resolvido 0 probiema do que deve ser cnten- (Korn, 1932, pp. 172-173). Outra coisa que o m'e,ara
dido por <<escravo>> na Indonesia tradicional. Eu proprio cluvido que era: urn <<Estado esciavagista>>.
alguma vez tenha havido muitos escravos, em Bali, no sentido
ocidental do termo, por oposição aos Balineses rransportados por
europeus e outros para Batavia e outros sItios nas ilhas. Schrieke 86-2 5
(1955, p. 81) ciiz que nos finais do século XVJ o exérciro do reino
de Demak na Costa forte de Java consistia em <<escravos compra- E impossIvel dererminar exactameote quanros niais des po-
dos balineses, bugineses e macassareses>,. Wertheim (1959, p. 239) sulam. As aulrrnaçöes quantitativaS oil quase_quantitativa accrca
quc venham a set feitas
defende que nos anos mais tardios do clomfriio da Companhia das de parekans, kawn/as, perbekels e punggazl'-ls
fudias Orientais -mais de metade da popuiação [de Batávial con- subseciuenterncnt devern set entericlidas corno sendo esrimativas
sisria em escravos>> e que os criaclos domésticos eram <toclos escra- muiro vagas feiras pelos meus informadores, os qunis, e ponclo dc
vos, machos ou fineas, forriecidos sobretudo por Bali, Titnor e lado o simples problema da memória, nunca poderiarn ier sahidi'
outras partes do arquipClago>>. Van Eck (1878-80) avança o nómero corn exactidão, como veremos, quantas pessoas urn c1ualqiier senliot
de escravos balineses trazidos para Batavia arC 1778 como sendo de especifIco conrrolava (mesmo este não tinha normalrnentc>icerteza).
13 000 e acrescenta que Raffles, que foi governador das Indias No entanro, e de inodo a dar uma ideia geral das dtmensbes
Orienrais durante o interregno britânico de 1811-16, acabou corn globais do sistema, cu avançaria (na base dos dados fragmentaclos
o rráfico. Van den Broek (1934, p. 224), no entanto, ainda noticia que tenho e de uma boa dose de raciocInjo ceteris paribus) qtialquei
alguns por volta de 1820; e Neilsen (1928, pp. 55-56) diz que uma coisa como cerca de 50 punggawas (todos os membros masculirios
V

pequcna quanridade de tráulco de escravos para fora de Bali, espe- adultos das primeiras catorze casas da linhagem real clas rrês prin-
cialmente feito por chineses, bugineses e macassareses, continuou cipais casas Krarnhiran e das trs casas na cladia Perean-Blayu
are cerca de 1830. E possIvel que os chineses renham por vezes -Marga); ralvez 150-200jierhekels ( incluinclo, rcpira-sc, alguns Suciras),
possuIcfo verdacleiros escravos em Bali; Liefrinck (1877) dá notIcia cuja lealdade esrava clesigualmente clistribulda poi entrc estesJmn:
(on dez a doze mil
de chineses de Bangli possuindo cerca de vinre, que haviarn corn- gawas; c cerca de 75 000 a 85 000 kawii/as
prado, diz dc, aos senhores. patios), ainda mais desigualmente distribuldos por entre os peibe-
ralvez 2000 para toclas as casas, merade
Deritro de Bali, quer se prefira ott não chamar escravos (como, kels. Quanto aos parekans,
para o primeiro caso, de Kat Angelino, 1921b e Liefrinck, 1877; deles para GdC apenas, C urna suposicãO On razoável corn', cjnaiqner
no segundo caso, Korn, 1932, p. 173) ao tipo de parekans em out ra.
posição mais inferior e scm recursos - tais como prisioneiros de
guerra crirninosos e endividados -, C urna quesrilo de imporrância
secunchIria. 0 que C de importância primária é compreencler as 86-37
rclaçocs entre categorias de status polItico no Bali clássico - os
diversos ripos de parekans, kawulas, perbeke/s e punggatc'as - em Na realiclade, este cálculo esta irlcompleto, pois o men informa-
termos claquito que são, esforco esse no qual caregorias europeias dor não conScgUia lenibrar-se de rodas as silas possessöes. cmhora
NEGA I?
NOTAS 215
dissesc que as lestantes, talvcz tills trinta patios mais, estavam
inais perto, geograficamente, da cortc, tanto major a dispersao de
igualnienic dispersas, algumas delas em <pacotes>> de urn patio
!aços>>, mas, ao contránio do que tern sido infenido pclos teóricos do
iiiiin iigar. Corno já IlicOciOnCi, as posscssOes dos perbekels variavarn
<<direito adat>, preocupados corn o descnvolvimcnto de urn nigido
cti :iiauric1ade, scndo o Icque geral de entre duzentos C quatroccu-
contraste cntrc as areas ditas de apanágio e de não-apanágio na
u, patios (apenas cbois perbekels, urn de Dangin Peken e urn de Ma!-
1ndonsia indicizada (vet van Vollenboven, 1918-33), a dispersao
kani;tii. detitiharn 0 u!tinl(, nurncro), enlbora 0 lI.imero <(ideal>>
era a regra por todo o reino, e não apenas nas cercanias da corte.
fossc duzenros; e pelo mei-ios urn perbekel é rccordido como tendo
"1.- cissutdo'> exactamente Ufll patio, c vários outros apenas urna rneia
dizia.
87-31
1)eve--sc ranlbcnl icc cm conta que un)a casa, fosse urn jero
pei'iferico 00 uma cas.i ClieflEc, podia incluir vários perheke/r, clepen-
Urn patio balinês pekarangan) consistia quase sempre ou dc
kndo de quanros hoineus adulios continha; c estes perhekels podiam
una famflia nuclear ou de urn grupo de famIlias nucleares agnati-
csiar ligados a diferentes /ninggawas. Por cxcrnplo, urna casa pen-
camente ligadas; mas so raramence os men-ibros de urna linhageni
leriCi Tabanan, I)IocI Rutting, tinha Iaços perbekel sirnultancamente
ou dadia viviam todos num so patio (Geertz e Geertz, 1975). Assim,
corn us pleoggawas em Anyar, Kalèran c Gdé, encluanto urna casa
o costume de repartir icaldades para corn senhores por patios sepa-
&liciiie inio aparcnuada rinha tacos corn Gdé, Subamia e Anom.
rava corn frequencia parentes relativarnente próxirnos por diferentes
F pura C sirnplcsrncntc impossIvcl cicsernaranhar, clepois de canto
bekelans, como pode ser constatado a partir da distnibuicao ainda
tciiipu passado, a rede compicta de laços dispersivos, quer ciitrc
hoje existente de sisias de sacerdotes Brahmana por patio, onde é
4> iuiaias e /ierbekels, q ucr en rrc perhekels e punggc/uis.
frequente irmâos germanos cerern diferentes fidelidades.
Verificavam-se, urna vez mais, algumas excepcOes a este padrão
dispersivo, tendo que ver, neste caso, corn ccrtos grupos de arrcsiios
87-21
(muito particularmente fenreiros; vet de Kat Angelino, 1921c) c
corn esrnangeiros (chineses, bugineses). A!érn do mais, as linhagens
Para uiiia contirinação contemporânea do paclrao de governo do
sacendotais eram por vezes consignadas como grupo a urn perbekel
ilpu xssoas-c-uao-tcrritorlu cm Tabanan (e, já agora, no Sul de
(Inequenternente cscolhido de entre elas) c, através dde, a urn pung-
Bali rio geral), vet ScbwalLL, 1901. Havia, porérn, unms poucas
gawa. Mas estas disposicoes erarn tambérn pouco comuns c vistas
excepçoes, especialmente perto das niargens permcávcis do <reino>'
como cspcciais. Os diversos bekelans nurn lugar cram normalmente
os 'ecutones politicos>>, como Ihes chaniei antes (cap. 1) -
cncabcçados por urn dos seus, chamado urn jun11 arab (>arauto<
ondr razoes de segurança cictcrrninavanl que 0 controbo sobre todo
cermo aplicado tarnbém a uma série de outros tipos de cargos de
101 l ugar, ou pelo WCflOS a major parte dde, ficassc corn urn per-
<prcgociro pcxblico>). A sua funcao era transrnitir rnensagcns do
bekel. Urn exemplo disto é a <>posse>> de quarcuta patios pelo mcu
perbekel c organizar os nlcrnbros do bekelan local no rcspcitante aos
I nkrmador perro da fronteira corn Jembrana -- o grosso embora
scus deveres pana corn o negara, mas ele nao tinha virtualmente
ian a toralidade da populacao do lugar. Mas esics casos pouco
qualqucn poder i ridependen te.
onions, cram coiisic!cracbos anormais e, aparentenicnte, nao dura-
duiios. Pelo contránio, ao ccntro, Tabanan propriamente dita (con-
'iderada corno aldeia) era talvez a mais altarnente dividida: cada
88-1
/?%Iflg,gawa tinha alguns kawula.c em cacla urn de todos os quinzc
lugares quc constituIam Tabanan, e nenhunl deics era claramcnte
Korn, 1932. Korn dia quc a totalidade dos 700 estavam atni-
doniiiiaiitc ciii iienliurn. Em geraL confirma-se a regra dc CILIC <<cuanco
buIdos ao >senhor principal>> em Tabanan, mas os meus dados nio
NOTAS 217
216 NECARA

o confirmam. Em geral, os Balineses tendern a falar de tuclo como 89-2 1


c<pertencendo> ao rei, do mesmo modo qite falam de tudo como
Os senhores ack1uiriarn terra através da herança agnarIca da
<ipertencendo> aos deuses. Mas o primeiro sentido é to figurado
coinpra, do conquista militar de outros senhores, dos preseives
como o segundo, e de facto idêntico a ele em significado e não deve
polIticos, dos dotes (chamados tatan'an) cjue norrnalrnenre acornpa-
ser tornado como urna tentativa de descrever a realiclade poiftica
nhavam os casamentos de <<triburo>> do tiio wclrgz (supra, tecto,
(ou econórnica), mas sirn merafIsica. Voltarei, na conclusão, a este
aspecto, que é urna clas fontes mais férteis de interpretaçio errónea, P. 51), c do confisco de rerras dos Iidccidos scm lierdeiros C dos
criminosos, mas urn senhor não tinha quaisquer direitos iegaissohre
pelos eruditos, da natureza das formacoes politicos indonésias cbssicas.
a propriedade do seu kaumla. (A terra apreeridida ia para a linha
gem reinanre como urn rock), e nao para o senhor do proprierarlo
88-15
. em causa; era cntão distribulda eurre os puriggawas de acordo corn
principios parentais e polIticos. l)e facto, a preernpçio não parece
ter sido urna mute importailte de terra- teniricia nobre.) Os sei;ho-
Talvcz o indicador mais marcante deste facto seja a ausência
res podiam também alienar rerras, niio so CF1LO Si, iflaS tarnhérn a
virrualrnenre completa de importncia estrutural do patio no siste-
pleheus -- arravés da venda; ou corno presente por algiim servico
ma /esa, patio esse que era a unidade de acordo corn a qua1
especial, normalniente de tipo pessool (serviço de ama a urn (uiho
Icaldades politicas (e religiosas) supralocais Sc distribufarn. A per-
do senhor, inrcrrnecliirio num casamento corn urna rapariga Siidra.
rença ao lugar, a sociedacle de irrigaço e ao grupo de ternplos no
etc.); ou corno recompensa por urna traiçãO como seguro contra
se lazia por patios mas sim por farniIia nuclear; e, na meclida em
ela; e Ossilli sucessivamente.
que os grupos de clescendência jogavam urn papel no sistema politico
A terra nan cultivada era, no entaritO,.Oflrra C1iIFSI5O C fOVCifla-
local, faziarn-no apenas ate ao ponto em que cresciam para Ia da
da por outros princIplos. Os senhores reivinclicavani direitos for-
escala do patio, e de qualquer modo as suas unidades clernentares
mais a essa terra ,desperdiçada>> se se localizasse bra dos limires de
cram também famIlias nucleares e nao patios (vet C. Geertz, 1959;
Geertz e Geertz, 1975). No sistema desa, o patio era, na rnelhor das urna desa u/ai (lexto, p. 160), e as suas posses de rais rerros podium
ser, p' vezes, vasras e contIguas. Em p60, WY) CtlJDC biioii
hipóreses, urna unidacle meramente resiclencial corn apenas umas
cerca de 6000 acres desse tiio de terra a urn st-nhor d> Jem b raria
poucas de funcoes econórnicas e rituais muito marginais (o lcvan-
tenclo nela l)lanradto algodao, cacau, cocos tuba' o - urn dos
ramento enciclopédico de Kotn [1932], centrado de forma to vincada
POUCOS exemPlos (aparentemente não rni.iito -)em
suceclicbo.i dc
na organização aldeã, raramente julga necessário falar, de todo do
patio); no sistema negara, por ourro laclo, o patio era a principal . exploração de plantacao em Bali (Korn, l93, p. 547.) Jembraria
de facto a inica - unidade local de pertença. No entanro, mesmo era, porCm, esparsamente povoada, C 0 005SO pela parte (IC otirroc
senhoresaterras nio trabalháveis era muiro mais limitado. A parrc
assirn não era urna unidade corporate. Embora os kawulas fossem
a imporranre ex(:epçto de concessôcs ie terms de calé a chineses nos
distribuldos por patio, rodos tinham de combater nas guerras do
seu senhor; se houvesse seis mulberes todas elas tinharn de cozinhar
- fins do século XIX (texto, p. 122), no concritu(arn urna fanrc dc
rendimento irnportante para Os senhores de lahatiail.
para os festivais do seu senhor. (Ate as crianças tinliam as sitas
tarefas: lazer recados, buscar agua etc ) 0 patio era o modo de
penetraçao do negara nao na forrnaçao politwa desa, da qual ele
mantinha cuidadosarnente as cleviclas clistancias, mas sirn na popti- 906
lação desa.
Embora se aclrnita o seu caráctrr especulativo c drasticamenre
p0.11 facto, o consenso geral dos meits ino,rmadores no respeiiaflrd
2 18 i\TEG4J?A NOTAS 219

ri<.uea de Lends relativa e ao poder rii1itar rclativo das seis prin- sujcito a rcgras locais de direito consuetudinárie, e nAo ao capricho
ipais casas reais do Sul de Bali por volta do virar do século é do senhor. Qualqucr centaciva por parte de urn senhor de dernissão
sUgcsLJva a esic rcspciio — Sc nao do real estado das coisas, peto arbitrária ou qualquer mati trato infligido a urn rendeiro podia
n)cnos do que parecia set aos olhos de alguns dos que cstavarn nele trazcr-lhe problemas: destruiçao das suas coiheitas, reducao subtil
dircctamcnte envolvidos. Pelo incuos nas stias rncntcs, a corrclaçao da água fornecida pela sociedade de irrigacão controlada localmente,
era bastaue fraca: ou aumenro no nimero de roubos. De facto, c em mais do que
apenas alguns casos, os rendeiros dos senhores parece terem sido
PoIer Fni/irar 1?iqueza lerra-lendnle escolbidos nao pclos senhores ou seus agcntes, mas sirn pela popu-
1. (.iiauyar 1. Badung lacão local (por norma o lugar, ocasionalmente a sociedade de irri-
2. Karcngascm Tabanan gação); c, de qualqucr moclo, o sentimento local cinha que ser
Klungkung 3 Gianyar sempre tornado em considcraçao nestes assuntos, pois o senhor era
i. Badung Bangli essencialmente impotence contra a sabotagern agrIcola kita por
5. Tabanan Klun,gkuug camponeses hostis. Urn indIcio do real estado das coisas é dado pelo
(. bangli Karengasem facto tic que, em Tabanan, o quinhad do rendeiro em terra quc
fosse propriedade do senhor era quase metade; em terra propricdadc
jcrnbrana esta exclui'da desca tabulacao porque, iião scndo oem do camponês, normalmente urn terço.
rico tiern pocleroso, c tendo sido incorporado bern antes de 1900 no
donInio directo das Inclias Orientais 1-lolandesas, já nio clesempe-
ihava urn papcl rnuit() importance na poiftica fndigena balinesa; e 91-3
(IS incus iitlorrnadores nao sabiarn virtualrnentc nada tic circunstan-
ado it scu respciui. Bulelèng, Sob adrniniscração formal holandesa raciocInio nao pretendc levar a conclusão de que o sisrcma de
dcsdc 1882, c informal a partir de 1850, era obviamente urn CaSO posse ou os modos de arrendamento nao tinharn irnportncia polItica.
airida mais espc(idl. Isso seria absurdo. 0 argumcnto é de que a sua imporriincia nib
surge de uma fusão institucional entre des e a organizacibo autcn-
cicada da dominaçao política. Essa organizacao era muito mais
90-<l cornplcxa c irregular, c nao era facilmente prcdizfvcl a parrir das
caracterIsticas superficiais dc propriedade da terra, forca dc traba-
Etectivanicrite, as clisposiçiics de arrcndamento cram muito mais lho e técnica agrIcola — o chamado modo dc produçao oriental.
chiboradas do quc estas a!irmaçöcs surnárias sugerern. Para urna facto de tcr havido pouca oferta de rendeiros da terra rcduziu
ieceiisao LuzII1)leta, vet Liefriuck, 1886-87. Podcm-sc encontrar a vantagem politica dos senhores, a qual é incrente ao arrendarnen-
rcter6iclas As prállcas em Tabanan in HLuIger, 1933; Peddlemars, to; rcduziu-a tambern a grande força da estrutura institucional local,
1.933; e Raka, 1955. Scheltema (1931) insere as prátiCas balinesas a fotrnaçao polIcica multifacetada da desa. Nalguns casos os senho-
no contexto dos padröes indonésios de propriedade dc terra e arren- res tentaram unificar as duas fontes de poder - riqueza fundiária
daineuto. Vale a pena referir que rienhum destes erudiros julga ne- e aucoridade polItica — e instituir urn regime gcnuinarnentc pa-
ecssriO Iizer referincia a estrutura polItica negara, ou sequer, a trimonial, colocando parekans (que escavam, evidenccrnente, iota do
organizaçiio politica. Jao-pOUCO os rendeiros erarn dominados por siscema desa) em alguma da sua terra como trabalbadores servos.
rerrrlOs politicos, miss antes por termos iridicadores do scu quinliao Mas, e em parte porque os parekans no eram, normalmciice, agri-
das colheitas: namJu (<mecade"), ne/on (<<urn tcrço>d, etc. cultores muito competentes, em parte porque o nümero de parekam
i) arreidanwnto, urna vez concedido, ficava tendencialmenie nunca era muito grancle, e especialrnente porque as cornunicladcs
220 NEGARA NO TA S .1

locais se ressentiam intensarnente e resistiarn de forma activa a tais rerras petal/i no cram terras régias <possuIdas>' e aforadas para
esiorços, este padrão nunca se desenvolveu muito em parte alguma serviço a picheus, e co-pouco eratn <<possuIdas pela colrrrividade
(Ic Bali (ver dc Kat Angelino, 1921b). cia alcleia e clistrihuldas a rnernbros clesta em troca do cumprinicti-
Alguns dos Estados maiores - Badung e Gianyar em espe- to clas obrigaçôes colectivas aIdes para corn o senhor>'. (Para a pri-
cial - também procuraram estabelecer controlo admiriistrativo bu- meira perspectiva, ver de Kat Angeii no, 1921 a; para a seuncia,
rocnitico sobre alguns assuntos agrIcolas, especialmente muito perto Gunning c van cler Heijden, 1926; para ambas, Korn, 1932, p.
do tim do século XIX, quando a ameaça holandesa aurnentava mais 575. A opinião de Covarrubias [1956, p. 591 de quc pedal/i s rcfcr
ciue nunca c, sobretudo, nas areas de imposto sobre as terras e sobre a terra <seivageni'>, iStO é, terra não cuirivacia cia aldeta, (: urna
a irrgaço; mas esres esforços tiverarn uma vida exrrernarnente confusão.) As terms pecatu cram possuIdas>> pelos que as rrabaiha-
curra (i-lappé, 1919, mas muito exagerado; para urna crItica acuti- yam ou que contratavam rendeiros para as trabaiharem; e o produto
lante, ver Korn, 1932, pp. 272 e segs.). clestas era eucaracio como o suporte prociutivo c1ue tornava possIVi
Finalmente, no que diz respeiro ao <feudalismo>>, alguns sc- curnprimenro pelos <donos>> dos seas deveres pol iricos, OU, mats
niiores (incluindo alguns de Tabanan) concederarn, dc facto, aalguns rigorosanlente, policico-rcligiosos. (Toda a quesriio cIa j)osse> 00
camponeses o direito cie trabaiharem parcelas cia sua terra; por Bali classico tern siclo muito debatida c 6 impaSSive1 de resolver, cal
vezes (izeram-no a grupos organizados de camponeses em troca de como já foi apontado, e aparece ciiscutida mais acliante,
certos serviços especializados: trabalho dc ferreiro, tecelagern, es- p. 160; mas nao se pocie clarifIciI-Ia confunciindo direicos mpera-
pecrâculos art(sricos, infantaria, certas tarefas rituais, niensageiros, tivos, rirunis, dc propriedacle e de usufruto, ou partindlO do pressil-
etc. Mas isto tio-pouco foi de grande vulto em parte algurna. posto de que os Balineses os corifundem.) A supressibo pelos 1-Jolari-
No encanto, e em ligaçio corn este cilrimo ponto, algo deve sec cieses CO laço do mipo perbeke/ apOs a conquisma de 1906-08 ievcni i
dito sobre o chamado sistema pecatu (de Cal/i - < vicua1has1, "urna prossecuçao dos restantes deveres do neare directarnecire atravS do
raçio de cornida ott bebida>>, também usado para designar o altar sisrema de posse cia terra e, assini, a crtaç' detirna especte
(Ic ofercocias nurn arrozal), acerca do qual cresceu toda uma biblio- de <pseudofeudalisiiio>>, a qual, iiao totalmente scm motivaçbes
grafia em bolandês, curta mas peculiar, a medicla que a recém- politicas, os eruditos 1-lolancleses Iem en to anacronicamente no
estahelecida adrninistraço civil das Inclias Orienrais 1-lolandesas passado classico. Urn dos resuicados de tudo isto 6 que o canberer
irocurava legitimar-se no Sul de Bali cieslegitimando os seus pre- exacto do sistema pedal/I - cuja imporrancia geral, de quakjuer
decessores (ver Gunning e van cler I-Jeijclen, 1926; cle Kat Angelino, mnocIo, tern sido muito exageracla - 6 mais (icilmcnte visIvel em
1921a; Korn, 1932, pp. 227-228, 331, 538, 585; para uma crItica, escritos maisantigos sobre Bali (p. cx. Lielrinck, U177; 1886-87,
Boon, 1977, pp. 5/1-58). Nalgumas partes de Bali - muito espe- mas ver também Boekian, 1936, para uina perspectiva baltnesa
cialmente em Gianyar, Bangli, Mengwi e, em cerca medicla, Kiung- concordance) do clue nos escritos da ciécada dc 1920 on 1930- Sohie
kong -, certas cerras, pecatu, eram ticlas como inclicadoras cle que clesenvolvimento pOs-holandês do negara balinês, ver C. Geertz.
os seus detenrores estavam ohrigados a prestarem serviço real, pengayah 1963h, e notas, p. 314.
lalem; outras, bukti, iridicavam-nos como obrigados a prestarezn
serviço it aldeia (isto é, (lesa akt), pengayah desa; e outras aincla,
la/hi, designavam-nos para o serviço do remplo,perigaya/pura. Evitando 91-7
as centativas de interpretar esta divisão em termos de serviço feudal
a rnaioria delas incoerentes entre si e todas elas rendenciosas, eu So o arroz esrava sujeiro a pagarnentos de renda. No scrub
diria que se tracava dc urn método de classificar OS tipOS de obri- XIX, a pequetia quancidade de coiheiras de sequeiro que se conse-
gaçöes de crabalho a que os aldeãos estavam sujeitos (a urn senhor, gUiSSC cultivar tia terra arrendada no-; periodos enrre plafltiOS dc
a uma alcleia, a urn templo), e não urn sistema dc lei cia terra. As arroz eta cleixada para o rendciro, einbora etc oferecesse normal-
NTEGARA NOIAS 223
222

92-1
menic pequcluis piJXICS cic,sa Cornida ao senhor. Segundo Korn (1932,
p. 301). Os relideiroS de Tabarian tinham dc dar ao senhor, al&n da
retida de mutade cia piodução, arroz cozirihado suliciente para dez Em alguns casos, poucos, em especial perto da costa, onde as
pcssoas, duas vezes pot ano -- urn pagamenro trivial (10 ponto de sociedacles de irrigação cram tendencialmente rnaiores, nina socie-
dade de irrigação estava por vezcs distribuIda, dc forma nao terri-
vista nonóIfliCO. Ncnhurn dos meus informantcs mcncionou scquer
esta pr3rica, e cu nao estou seguro de quao cscrupulosarnciitc cia torial, por duas areas de imposto (e, portanto, por dois senhores);
ou, em especial perto das montanbas, onde cram tendencialmente
era cie facto scguida.
menores, duas ou três estavam por vezes amalgamadas numa so
area de imposto. Na gencralidade, porém, as fronteiras da area de
imposto e da sociedacie dc irrigação coincidiam - provando, tal-
;) 1- 16
\'cz, que os Balineses nao cram fisicamente incapazes de racionali-
0 ieclahaii gdi ritiha tamhém a seu cargo os jardiris do senhor,
zarem as instituiçOcs, mas apenas não propensos tcmperarneri-
discril)wa cotnida aos ci:iados, orçarnentava as grandcs ccrimónias c talmente.
lazia ci rcgisto dos prcscntcs. As casas Brahmana cram urna das Embora coiectado em géneros (corn algurnas exccpçöes), o imposto
fortes principals beni como de juIzcs, pelo que os seus membros era calculado e iançado em moedas de chumbo chinesas, furadas,
chamaclas kepèng (texto, p. 118; notas, p. 259). Dcz mil kèpèng cqui-
cram sisteinaricamente excluidos de papéis perbekel, peio menos corn-
valiam a urn timbang, ou <<peso>>. Se a imposto de urn horncm fosse,
parativainefltc aos não-Brahrnanas. Os sedahans de urn senhor (des
recbiarn urna peicerita,crn das sitas coiecras corno salarto) cncon- digarnos, dois timbang, ele tinha de pagar arroz descascado sufi-
uravam-se frccjucnrerncnrc agrupadlos em seccöes chamadas, de acordo ciente para equilibrar 20 000 kèpèng numa so balança. No lugar das
coin a Ioca!izaçao dos scus cspacos em rclaçao ao palácio, ><iiorte'>, moedas em 51, OS sedaharis usavarn pedras padrão, também charna-
clas timbang (ou ineio, ou um timbang e mcio, etc.), previarnenrc
<sul, este.• c <oeste>, cc,nsiderarido-se o sedahan gdé COrno aquele
calibradas corn kèpêng c guardadas na posse da socicdade de irriga-
juc ocopava 0 CeOtf') neutro. Sobre o simbolismo dircccional em
ção. Em Tabanan, urn timbang equivalia a 28 cattys (van Bloemen
Bali, vet /cxIt,. p. 134 r uas, p. 271. Os .ceaahans cram frcquente-
rncntc referidos como /anghran; o que ciuer clizcr mais ou merios, Waanders, 1859); isto é, pesava cerca de 38 lbs. Urn timbang rtão
>prOteCt0rCS>> (noia.i, p. 305). tinha porem, a mesmo peso em todo o Bali. Em Bulèlèng (Lie-
frinck, 1886-87), por ecrnp1o, era duas vezcs ntais, 55 cattys, ou
cerca de 75 lbs. Ac, urn imbang nao equivalia obviarnente - embora
()j 3 1 Liefrinck nao o diga - a 10 000 kèpng, rnas sim a 20 000.
A água era distribufda para os campos através de uma grclha
Pevie-8 é, na realidade, o termo geral para urn imposto de qualqucr
fIxa de canais de irrigação isto é, de acordo corn a largura da
lipo, embora liouvesse uma variedade de tributacoes (s'er notas, comporta atrás da qual hula para uin qualquer socalco espcclfico
.- I ) C) impost o aguIcola era normalmente espcciiicado corno on complexo de socalcos. Ou, posw de ourro modo, era calculado
pajt'g padi padi, <,arroz,,), embora, uma yea mais, se pLideSsern de acordo corn o quinbao da totalidade da água vinda para a socic-
eucorurar ourros termos. Urn breve inventLirio da.s prácicas de imposto dade de irrigaçao corno urn rodo, qualqucr que dc fossc, quinhão
solate .1 terra em Bali pode ser encontrado em Korn, 1932, pp. 293- csse que era divergido para urn socalco concreto ou aglornerado de
-300. no cjual tirna preocupação corn mincicias impede de algurn socalcos, sendo as divcrsas deterrninaçoes feitas rambém em termos
modo nina olnpreensão dos princIpios fiscais quc it pratica cx- de amplitude da corrente e medidas por tamanho de comporta.
l;rrSSa. As complexidades de tudo isto, que são consideráveis, poclem
set deixadas de lado. Os pontos essenciais são: primeiro, a unidade
224 NEGARA NOTAS 225

fiscal (mas não necessariarnente de propriedade) dentro da socie-= dos impostos, tanto ao longo do cmpo corno de
dade de irrigação era o socalco ou socalcos irrigados a partir de urn
sirio para sitio simultaneamente, erarn quase de certeza mais urn
canal de 1gua iInico e terminal; segundo, e urna vez ciuc as grelha.s teflexo de variacöes no poder relarivo dos scnliores titbutadores das
de irrigação cram fixadas na sua disposiçao básica aquando da sua
sociedades de irrigação, do quc urn reflexo do sistema ccológco cx-
construção, assim também o eram estas unidades fiscais, pelo que,
tremamente estávcl e elaboradarnente oraiizaclo sobre 0 qual IS--
mas apenas no seio de uma qnalquer sociedade de irrigaçe7o, assim o era
sentavam. Os pormenotes dos proressoS espccIIiCOS em caiisa --
também a carga de imposto relativa sobre cada unidade. Não está são, urna vez mats. em larga mCOIda
isto é a iiistória analIstica
claw para mim o modo como era determiriacla a carga fiscal total
irrecupertiveis. Mas os dados fntgrnentário que consegut coliir,
para uma sociedade de irrigacão (isto é, para a uniclade fiscal básica, referentes mais a Gianyar do que a Tabanan, indicam inuilo clara-
ott area dc imposto, no respeitante ao negara, urna vez que ele nada
mente quc a poiIrica fiscal não era urn aSSUOtO pound' rneno
rinha a dizer sobre como a água era distribufda no seio cia sociedade stclo em q ualqitrr mirist
. cxplosivo no Bali ckissico do que ue
de irrigação), e, logo, como, dlerivadlarnente, era cieterminada a carga
lrte do ,iiundo.
• abso/nia de cada unidade fiscal no seio do subak. Ti-pouco era ciaro
para cualquer dos meus informantes, que disseram que era uma
mera questão de cidat, '<costurne>, e quc em princIpio - nhas,
• 92-13
como des pr6prios reconheceram, cerramente nio de facto -nunca
muclava, embora variasse, por vezes mesmo muito, de sociedade de
Poréti, não nas mesmas terms, pots as s-nhores, por nouna, 0211)
Irrigação para sociedade de irrigação. As obrigaçoes dc imposto
trihIlta\'tt1h os campOS uns dos outros. No erranro, a nra rraiisk-
cram registacias, unidacle fiscal por unidade fiscal, em manuscritos rida de urn pieheu para urn senhor permanecitl tributlivel (e .i rcrr,i
dc foiha de palma, quase sagrados e perioclicamente recopiados,
transFerida na direccão inversa norrnalmentc permanecia Senta)
chamaclos piil -o imposto de urn laclo, a localizaçao da proprie-
portanro ate isto 1)0(1121 octistonalnwnte acoiitcccr. Ni a prati;i geral,
dade, o(s) nome(s) do(s) dono(s) e do(s) lugar(cs) no outro. 0 seda-
han tinha urna cópia, bern como o cabeca da sociedade dc irrigação Ihavia urn grande mirnero d e cxccpçöcs It nibutacao (em aso de
- insucesso das coiheitas, os impostos niio eram colectarlos; a terra
c o(s) dono(s) pr6cica est'i que por certo tera inibido qu usquer ii en nec
l)LttC0 emplos S tcercic)r' \ LI i0 I I pos dl. LI IC S io
rnuclanças.
tihns do senhor, etc., no era normalmenre trthutadi); cc dificil
Schwartz (1901) diz, corn base no que ouviu do enro sedahan
/é de Purl GdC Tabanan, que o imposto consistia em cerca de dez
determinar a pcnetração dc tOclo 0 Sislcrna ])C10 (Orno tIC2lCII Co

por cenro da coiheira total de qualquer campo colectado, pelo clue SeLl futcirniamenro.
j as estimativas da efectiva produtividade cias terras das sociedades
- Schsvtirtz (1901) afirma c'ue ihe 1ui clito de novo pelc cec/aho;.
•' dc l'iini (ide Tabanan - de qurn se pock esperar ten sube-
de irrigação contribufarn pelo menos em parte para a ciefiniçao de - tirn1ldlO grandcrncnte o renclirnento teal a am funcjotianio ho1ande'
rarifas, apesar da teoria de que o imposto era tributado sobre a
' de visita -, que apenas cerca de urn c1iiauro da terra de .irioz de
agua, e não sobre terra ou arroz. Mas, dada a natureza da agricul-
regadio era trihutada. Urn dos incus informaciores. que eni iedh//hifl
rura do arroz cle regadio (C. Geertz, 1963a), urna vez cleterrnina-
. dc Jero Subarnia, coicctava anualmente 90 tmhang em impostos dc
da a produtividacle cia não rnudaria rnuiro num caso normal, ou
tres sociedades de ittigacão dispersas, dos C1LtaiS LI sua comissac' nra
-b-ia muiro lentamente. (As sociedades de irrigação novas, as quais,
15 timbaiig (outros informadores disserarn que a norma era Ufl1 SCXtO
dado o trabaiho envolviclo na sua construção, surgiram corn muito•
p2t frequéncia, não erarn triburadas de rodo durante os primeiros
para os cet/ahans). Estimou tambem, e renho a certeza qite mliii,) c'
- gan-iente, que Pun Ode Ohtjnlia 2000 uribang por iiic (ou cerca
trés anos do seu funcionamenro, embora urn ou outro senhor fosse
de vinte yeses a estirnativll nbc urn mtlliao de kèpeng loriieccla a
- . agraciado corn urna parcela da.s suas terms.) A curto prazo, as variaçoes
- Schvtirtz pelo inesmO sedahan de Pun 0db). c Kramhiran SoOO.
226 NEGARA NOT/iS 227

Mesmo no seio da 1iniitgcrn real o renclimenro fiscal de G& nio era 0 subak é urna iiistituiçao muito antiga em Bali. A primeira
uiaioc. Alguinas this outras casas, em especial Kalèran, aparence- refeincia a eie feita mencionando o norne, ocorre numa inscriçabo
nente tainbérn chegavam perto dos 4000 ou 5000 tinihang; e dc datada de 1022, mas jab em 896 aparecem mencionados construto-
.ualqiiei mode, scmclhauça das posscssöes kawula e cia posse cia res de t6neis (Goris, 1954, vol. 1, p. 23; Swellengrebel, 1960, pp.
terra, o rendimeitu I iscal variava rnuito entre senhores. I'or meio 10-11; vet também Korn, 1932, pp. 9-10, e as rcferências al cita-
de urna séric de inlerencias, suposiçôcs C pura C Sim1)lCSadiViIIha- das). No que respeita a rnudancas do subak, nas suas prabticas tee-
çio, que nao relatarci pela simples razäo de quc nao sobrcviveriarn nicas c na sua organização, é absolutamente certo que acontcceram
ima aniIise cuidaciosa, a minha própria estiinariva do c1uinhão cia de urna forma extrernamente lenta. A breve descrição que Korn
j-)roduçao total de arroz de regadio tomada come imposto pelos oferece (1932, pp. 9-10) de urn subak mencionado numa inscricão
uhorcs dc Tabanan por volta de 1900 situar-se-ia cntrc três c scm data, por volta de 1050, não expöe difcrencas cruciais na sua
CIIic:O por CC11IO. organizacao por cornparação corn a organizacabo do subak tal coma
sabcrnos ter sido nos princIpios do corrente sCculo, c, de facto, tal
como ainda é hoje na maior parte dos sitios. Na sua descriçao de
92-16 Bangli em 1876, Liefrinck (1877) fa notar que ohab muitos anos
que flao sc criarn novos terracos de arroz de regadio (corn isto dc
IKoto, 1932, p. 307. quer por certo dizer subaks, c não socalcos individuais); c cu nib
consegui, em 1957-58, encontrar alguCm em Bali quc tivesse qualqucr
ideia de quancio o seu subak fora fundado. Por altura dc 1891-1906,
sistema subak estava essencialmente completado em toda a parte
l'ara 0 iWf oito dc vista, vet 1-lapp6, 1919; para o segun- em Bali, na sua forma tradicional; e embora acrescentos rnarginais
do, hem corno pam urnu dcmoliçao definitiva do argurnento de e subtraccocs de socalcos tenham de certeza ocorriclo sempre, bern
1-lapp6 (que Kern diz set tima bistória fantasiosa - gephaniaseerde corno inudancas nos limites dos socalcos existentes, o sistema como
wadingmiedenis), i'cr Kern, 1932, pp. 270-273. urn todo era extremamente estabvel. Após 1906, e em especial depois
A Jest ncao que Sc seguc do subak e das reiaçöcs entre subaks no de 1915, a rnodernizaçao do sistema de distribuiçao de abgua pelos
SCiO dis areas dc drenagern é, por scr gencralizacia. ncccssariarnentc 1-lolandeses, principalmente nos subaks maiores das regiöcs das tcrras
simplificada c normalizada, mas penso que não o é tic tirna forma baixa.s, expandiu de algurna maneira o sisterna.
(:flgafladOta. [al colilo no case do debate anterior sobrc a <<a1deia>,
USO do prcrérito nesta dcscriçiio nio cieve ser interpretado corno
iniplieaiido clue os enOmeuos mencionados já M10 existarn; a esma- 93-26
iaciora iiaioria c]cics existe. A terminologia, rnais uoia vex, é extre-
rialneitte variada; c, de nova, Paclro11iZC1-1 alg() arbitrariamente A existência de terra possuida por senhores e trababaihada por
IsuK10 apenas 0 que pcnsO terern side os terinos mais correntcs cm rendeiros locais nao coniradiz esra generalizacabo; pois em tais casos
I,thirian. A bibliografia sohrc o subak é dispersa, fragrnentabria e de era o rendeiro, e não o senhor, quem era, de facto se não de jure (e
1uaiidadc muito dcsiguai, mas podem-se encontrar dados i:Itcis, nalguns casos realmente de jure), o membro do subak. A citacao
nuitas vezes Cuidadosamente cntretecicios corn outros inibicis, in interna é a reproclucao de urn dos cabeçalhos retóricos (juntamente
lietriock, 1.886-876 c 1921; van lick c Liefrinck, 1876; Happé, coin <<Urn Estaclo Mais Forte Quc a Sociedade", <<Podcr Dcspórico
:)1.9; Koui, 192. 1927 c 1932, pp. 102-128; Wirz, 1927; Fraser, Total c NIabo Bcnevolentc>', etc.) em Wirtfogel, 1957.
1910; van tier Hcijdcu, 1924-25; Grader, 1960a; C. Gcertz, 1959,
I 96i c Sringl, 1970; Birkelbach, 1973.
228 NEGARA NOTAS 229

(embora vane de subak para subak), dc nio C apenas uma inedida


de água, mas tamhCm uma xnedida de terra, de sernentes e de arnaz.
ecici
0 grupo de subaks corn direitos de água numa barragem esta-
Urn tenah de terra C o que é irrigado por urn tenah. de Igua. (Os
el
I os pela tracliçäo não formava uma sociedade de irrigaçiio proprietarios balineses aincla tendem a expressar a qnanridade de
super-subak. 0 trabalho de manurenção de rotina na barragem era
terra que detêrn em tenahs, que são relativos, em vez do 0 taerem
levado a cabo por grupos dos subaks separados, trabaihando alterna-
em hectares, que são absolutos.) Urn tenal' de semenre C snhcivnte
damenre (e n:inca nos canais uns do outros), segundo horários fixa-
para plantar urn ienah de terra. Urn tenah de arroz é a produro de
dos pelo costume. No caso ocasional em ciue um input major de
urn tenah de terra serneada corn urn tenah de sernente a irrigada corn
rrahalho se tornava necessário - como quando uma barragem cedia
urn tenah de tigua. Existern eviclenrernente variaçöes ecológicas intra-
- a trabaiho era organizado pelos cabeças dos vrios subaks numa C:
-suhak, o controlo da igua está longe de ser toraimenre rigoroso
base ad hoc mas, de novo, guiada pelo costume. Havia alguma as greihas reais não são tao regulares como a sua represeriração Con
auscuiracao, cooperaçao e por vezes conflito nestes assuntos; mas ceptual. Tuclo isto leva a variaçöes no tamanho do tenah - nbc SCIIS
processavam-se no quaciro das relaçoes entre subaks. aspectos de água, terra, sernenre, ou grão, hem como incongrun-
cia entre os aspectos --, e várjos tipos de mCt.odos ad hoc sao on-
lizaclos para os corrigir. Igualmente a rclação socaico-tenar; a, no
94-3()
terreno, extremarnente varive1, mesmo no ceio de urn kecorin. Pot
vezes, urn Lenah de água pode irrigar urn cocalco (re/nh). Mas, rnai'
Alguns dos items no diagrama - os templos, os desvios, etc. - frec1uentemente irnigará vários, que poclem ou não pertenCer a urn
serão explicados a seguir. Para simplificar, fiz o diagrama de urn
so dono. Nos ultiosm casOS, são necessinios alguns ajustes locals
caso no qual só urn subak é servido pela barragem principal. pessoa a pessoa. Todas estas complexidades são, no eritanro, ques-
A minha estimativa (mais uma vez, na base de cálculos demasiado toes de microestrutura do subak. Embora, a hem do realismo, devarn
coinpiexos, detalbados e especulativos para valer a pena serem aqui
set tidos em conta, não tinham infiuência na orgafliZaçaO do lsradc,
descritos) é de que, por volta de 1900, havia aproxirnaclamente 450 a nao necessitani de maisatençibo da nossa jarte.
suhaks em Tabanan, cobrindo cerca de 15 000 hectares. Destes
siebaks, cerca de oitenta por cento, correspondendo a cerca de quarenta
por cento da terra, tinham menos de 50 hectares, e cerca de noven-
96-7
ta e oito por cento, correspondendo a cerca de oitenta e cinco por
cenro da terra, tinham menos de 150 hectares. 0 tamanho médio 0 diagrama, que representa urn subak maibu CUO i media, Ioi
do subak situava-se, pois, algures, por volta dos 35 hectares, a media
sirnplificado, mostrando a greiha completa para urn SO keoran, Aa.
por volta dos 15, numa amplitude que vai de 1 a 2 hectares arC Os outros dernonstrariarn 0 mesmo paclrão geral; mas, cenclo dde-
quase 300. 0 tamanho de urn subak e a sua topografia tenclern a rentes a sun topografla e a histOria do SCi1 desenvolvirnenro, a sequen(ia
estar granclemente correlacionacios: os subaks mais elevados e (par- rigorosa de divisOrias conducentes no derradeiro rc-,iah difeninia
ranto) menos pianos tendem a set pequenos; os mais baixos e mais marcaclamente.
pianos Sat) maiores (ver figuras 6-10).

98-4
96-2
As charnacias culturas de sequeiro (milho, nelis, t,ibercult.e',
Uma vez que o tenab C uma unidacle padrão em qualquer subak vegetais) cram por vezes cuitivadas tios socalcos durance parre do
NOTAS 231
230 NEGARA

os rnembros. Noutras, denotava o cabeca de todo o subak - o klian


aiio, eflibOLa de mudo 4gwii corn a dimcnsio de hojc. Corno a
subak - ou mcsrno urn funcionário supra-subak, urn sedahan. Por
ii1aona ciela.s tanibciii necessita de alguina irrigação, a organizaçao
vezes também se chamavarn aos membros das cquipas da água
do ii/iak aabou por se ciivolver nclas cm grau lirnitado. VCL Lie-
.cinoman ou pen,a;'ah subak.
trriik, 1886-87.

99-3
98-2
Tal como a tributacao pelo Estado (nolas, p. 222), a triburaço
E impurtante rcalçai o Iacto dc cjuc o grau de subdivisão dos
pelo subak era complicada e diversa na sua organização, c a biblio-
cubaai variava largarncnte. Em subaks pequenos, na sua Inaioria
grafia sobre o assunto é ainda mais confusa e contraditória do cjue
localizados nas icrras altas, a divisão de kecoran e Ièm/xk pot vezes
O habitual. 0 assunto é abordado em Korn, 1932, pp. 293-300;
iü exisria, pelo que neste caso a cquipa da água>> consistiria
van Blocmcn Waanders, 1859; Schwartz, 1901; Licfrinck, 1886-
cssencialincnte nos rncmbros do cubak como urn todo, mais do que
-87; c van Eck, 1878-80.
nurn subgrupo no sen scm. Urna tal de1cgacio do trabaiho pclos
Em geral, distinguiam-se dois tipos principais de irnpOstos,
Tiembros comb urn todo a urna sua parte aunicntou nos 61tirnos
ambos colectados de acordo corn a perccntagcrn de dgua do suhak
tempos Lom o avanco da rnonctarizaçäo, sobrcpopu1aco, divisão da
que urn hornem usava (e, logo, de acordo corn as quantidades relarivas
terra, trrciidamnermro e propricdade absentista. No entanto a biblio-
de terra que posswa, de sementes que planiava e de arroz que
cjiiha bern claro que o padrao .ceka yèh tern sido o predomi-
coihia): os que eram essencialmente seculares e os que eram esscn-
nance ao longo etc hastanie tempo: Korn, 1932, p. 252; Liefrinck,
cialmente religiosos. Recorde-se, porérn, que <<secular>) é urn tcrrno
186-87; Happé, 1919.
muito relativo no concernente a Bali, onde não ha virtualrncntc
nada que nao seja colorido corn uma significaciio religiosa. 0 pJ.I-
meiro tipo de imposto, normalmente apelidado corn o termo gene-
')$- 2
rico pajeg, ia em parte, como já foi explicado (texo, p. 91), armi o
senhor em cuja <<area fiscal>> se encontrava o subak, sendo outra
0 m'osso destc crabaiho consistia na lirupeza dos canals mais
parte retida pelo subak para liquidar as suas despesas de funciona-
puquemlos, na aberiura e fecho das comportas para rccanalizar a
mento. Embora o k/ian subak fosse também responsável pela colec-
iLia, ua rnanuicnção de diqucs c passagens e nas rcparacöes menores
ta do quinhao senhorial do pajeg, bern como pela sua entrega ao
ciii LOctOs des - tarefas contliluas, onerosas mas não do ripo quc
sedahan, os rncmbros do subak so tinham controlo real sobre o quinhào
nejuei força de trabaiho em massa. Na realmdadc, a disposição tipica
do subak, tanto em magnitude como em despesa. 0 segundo opt)
( ou urna disposição tfpica) era dois homens cm quakuer tèFflpèk
de imposto, nor-malmente chamado suwinib ou upeti toya, desti-
estamcm de serviço, rotarivarncnce, por urn perIodo de doze horas,
nava-se a apoiar o sistema ritual, complexo c de vkirios nIveis, ligado
zdudo eks todo o trabaiho ncccssánio. Urna yea pot rnês balinés,
a agricultura do arroz de regadio, e discutido actiance (texto, p. 99).
quipa Inretra rcunir-sc-ia para levar a cabo qualsquer trabmdbos
iimpar o canal As mu! tas estavam estabclecidas na constituição do subak (awig-
Ic rclaiiva laLga c:;Lala que fossem nccessários
-awig subak, kerrasima), e eram lancadas sobre tudo, desde laltar a
1>ritmcipal, consertar a barragern do rio.
urna rcuniao de subak ate ao roubo de água. Tal como corn o quinho
C) rermo corrcntc para urn mernbro de urna equipa da kigua era
do subak do pajeg, elas tornavam-se parte do tesouro geral do subak.
pcAaizh. No enranto, o significado dcstc termo variava através de
As disputas cliziarn respeito a fronteiras, dircitos sobre a água,
Bali. Nalgumas areas denotava mais o cabeça da equipa da água
do que etc., e eram norrnalmente resoividas <cfora do tribunal>>. Mas cm
pt - era mais frcqucntcrnente charnado o k/ian seka ye/i
232 NEGARA NOTAS 233

casos sérios ou insistentes, o krama subak intervinha directamente; mas o princIpio de igualdade da <vo7.>> permanece COnv,llCcFlte.
e as suas decisOes cram compulsivas, sob ameaça de suspender a Para urn estudo reccnte apolandlO este ponto de vista, ver Birkt1-
água - isto é, exulio do subak. bach, 1973; para urn debate moclerno e incisivc' dos processos de
<<Transferências dc terras> refcrc-se, obviamente, apenas a so- tornada do decisão de grupos em geral, ver Hobart, 1975.
calcos no suhak. As transacçöes em si cram privadas. 0 papel corporate
do subak limitava-se a urn testemunhar colectivo e, no caso de
dispuras, a uma função de <rnemória> colectiva. Para <<relaç6es 99-26
exteriores) ver adiante.
Para urna recensão geral do I<Wlto do arroz" bat i rrs (fiii Sl
mcszno nada mais do que urna modificação, elahoração e indo. i:'.a-
99-19 ção do padrão pan-incloriésio da<rnãc do arroz no do casamenro
do arroz" [X'ilken, 1912b]), ver Wirz, 1927. Uma breve LIesCtiçaO
Os k/ian subaks cram normalmente eleitos, mas por vezes cram do ritual do coiheitas real, inclusive corn a farnosa boneca rnae do
co-optados pelos seus preclecessores; nalguns casos o cargo parece arroz>> (Deuii Sri), pock ser encontrada em Covarrubias, 1956 pp
ter sido pelo menos semi-hereditrrio, c nalgumas situaçöcs disper- 79-81; ver raEñbrn Liefrinck, 1886-87.
sas - nenhuma, tanto quanto sei, em Tabanan - os senhores Torna-se dc novo necess1rio enfatiarae norme vIrIação de
indigitavam-nos de entre Os candidatos apresentados pelos mern- pormenor - no ritual, na organização, na terminologia -- arrctv.s
bros do subak. Os klians cram por vezes pagos a partir do tesouro de Bali, apesar da, ou talvez por causa da sua dimensão rniniarural
do subak, por vezes corn a oferta de terra possuIcla pelo subak Para c feita de porrnenorcs, e a facto dc que 0 retrato aui (cito c algo
ne la trabaiharern (frequentemente comprada corn funclos daquele normalizado por razöes do clareza. Para ret urna icleia do grail de
tesouro), por vezes pagos corn ambas e, por vezes ainda, não cram variabilidade que poclern atingir Os sistemas rituaiS (10 3ubcih clantro
dc urn paclrão geral, ver C. J. Grader, 1960a, embora dc
tide coni
pagos de rodo. 0 k/ian tinha habitualrnente a seu pessoal, que
consistia nos klians dos vários tèmpeks, ou mesmo do kecoran, mais Os daclos do século XX, não do século XIX.
mensageiros, <po1icias>>, etc. Todos estes homens cram usualrnente
indigitados por dc, ainda que aceites pelos membros. Urna yea
mais, alguns suhaks não cram muito dilerenciados internamente, 100-6
pelo que os niveis de organizacão técnica e politica podiarn coin-
cidir. Mas, mais do que ser a regra, como parece sugerir a biblio- A ideia é Clue Os bediiguls (frequentemente tanibém apelidados
grafia mais estercotipada (Covarrubias, 1956, pp. 72 e segs., por tug/I tèmpth ou catr) são locais onde os deuses <<param> Ou 'descau-
exemplo), isto era, de facto, a excepção. sam'> clurante as suas viagens pelo campu. 0 coriceito dc <esração
A tomada de decisöes no seio do krama subak era feita por intermédia>> é geral no sisrerna dc remplos balineses, e mesmo as
"consenso de grupo>>; tcoricamente, todos tinharn igual voz. Ne- templos rnaiores (e Os altares dentro delcs) são encarados corno
nhurnas diferenças na quantidade de terra possufda, no status (<casta>), apeadeiros em relação a ternplos ainda mais importantes. rudo isro
no sexo, ou em qualquer outra consideraçao <extrinseca> afectava faz parte da visao geral que os Balineses tern dc centro-exemplar-
esre princfpio de igualdade. Na prática, evidenternente, tais consi- -mais-réplicas, e ainda está por set tratado adequadarnenre na vasra
deraçoes funcionavam de facto, corno em quakjuer sistcma politico. bibliografia sobre a rcligião halinesa, apesar cia se localizar, rm minha
Mas o grau de obtençao do princIpio do igualdade parece norável, opinião, no coração da sun estrutura. (Para (. papal decre COflCClt()
se julgarmos a luz das condiçocs do presente; as diferencas de riqueza em ligacão aos templos dos parentes, ver Geertz c Geertz, 1,075,
e status entre os mcmbros cia subak são agora maiores que nunca, esp. p. 160.)
NOTAS 235
23i NEGARA

Acerca disto devc-se fazer notar tambérn que, paraalém de corn 0 tamanho da terra ou corn a utilização da água, nias cram as
inesmas para todos os rncrnbros do subak, reflectindo dc novo o
otitros rerinos aiteritacivos (Mesceti, Pura Sabak), o Pura Ulun Ctirik
status legal igual de todos esses membros. Estas oferendas banien
por vezes clianiado l?ura Bedugul (ao contrário dc bedugul scm o
cram absolutarnente obrigatorias. Urn hornern podia tentar, C
pretJxO pura. <templo.'). Urna das principals razOcs para a enorme
varjaãn ierrninológica em Bali (outras razöes inclucm o orguiho etc coriseguir, cscapar a urn imposto, a uma tarefa de trabaiho, ou a
status, a ilivc)a intcrgrUpos, a cndogarnia, C aquilo a que so se pock uma multa, mas nunca a uma obtigacao de oferenda.
liarnar jovialidade ohscssiva) é prCCiSarfleflte este padrão do centro-
cxemplar-inais--repliCaS, porquc 6 possívcl uSar praticaiflente qua!-
>rluer ternio are ao iopo e ate ao funclo da escala. Qualquer teniplo, 100-29
01,11po LIC parentcsco, Iuncionário, orgaflizaçãO, tItulo,
CU 0 quer
e esrcja iongc do centro C uma replica, uma m
Lagcrn Ver supta, texto, p. 73. Diferenternente dos outros templos
>luc sa c1u
ret luzida do mesma coisa, que brilha corn rnais intensicladc na direc- rcferidos, tanto para o lugar como para o subak, o Pura Ba/al Agung
pode ser aplicado a flat) estava ligado ao ><calendário permutacionaix' de funcionamerito
ç14) do LCii( ro. Assim, urn termo como bedugimi
qualqucr COiSa desde o mais pequcno dos aitares de pcdra ate automático (ver C. Gcertz, 1973h; Goris, 1960b) rnas ao calendário
roda C
lunar, o qua!, ao contrário do permutacional, está correlacionado
oM icrnplo agricola regional grande e irnporumte; urn termo como
corn a mudança natural das estacôes. Sendo urn dos Kahyangan 'J'iga
/.ickas;h pock set aplicado a toda c quakjucr pesoa desde urn rncinbro
>Ic urna cquipa de 6gua ate urn funcionário real dos ImpOStOS. (tcxtn, p. 73), o Pura Ba/al Agung estava localizado não no subak,
(.3-nude pane das dispuras rclativas a relaçao do sisteina estatal mas na rnargcm (ou imediatamente para Ia dela) de urna area povoada
prOxima. Uma clisposição bastante cornurn era a de os membros da
baljnCs, o ueara. '00) o sistema aldcão ba!inês, a desa (tambéni des
tcrrnos ajustáveis), bent como algurnas das perspcctivas extrernaS <<a!d!eia costurneira>> - isto C, o pernksan da desa aaat - rcalizarem
sobi'e cssa relação ('(repOblica aldea>> ou <<des1x)tismo oriental>') advêm os rituais no Pura Ba/al Agung, sendo as ofcrendas e outros apoios
de tim-a iiicapacidacic de apncciar dcvidamcntc cscc facto, tic penc- materiais fornecidos pelos membros do subak OU subaks associados
(ml como corn os banjars, mais do que urn podia estar cnvolvido).
LI'Al o €xt raordim'irio éra;i tcrniinológico que os Balineses cons-
truiralli pra as realidades sociolOgicas que etc dciioua. No faz o Pura Ba/al Agung é urn dos teinpios balineses mats intctessauiies
ma.s dos inenos compreendiclos; para algumas discussöes (algo espe-
mitlu, .cniido discu or sobrc sc os pekasibs cram iuncionários do
culamivas), ver Goris, 1938 e 1960a; Korn, 1932, pp. 83 c scgs.
Lrado nu lunciontIrios to subak (ou rrabaihadorcs do irrigaco!) arC
qtic sc decida de que opus de pekasih.r Sc cstá a falar. () mcsmu sc
apl ica a t:udo o resto, descle o collipOrtamcilt() ritual, it estrarificaçao
:,ucial OLI a estrutnira iolitica ate a Posse da terra, a orgariizacão do 101-15
Irrfl1('Sio Oil at , tireitO -- - tiido.
Novarnenme, os tennios diferern. 0 Pura U/un Suui (on Siui) C
por vezes chaniado Pura Kayèhan, <templo da água>>, ott, mtiito
simplesmente, Pura Empe/an, <<templo barragerns.

Ncin rodo.., us incmhrus do subak compareclaill it tudas as ce-


I indiuias; frequentemenre. lirnitavani-se a enviar ofcrcnda.s, deixan- 10 1-37
(-to no SOc crclotc e a equipa da água a preparaçao do templo c- a
r(alizaçc das oraçöes e outros ritos. Ao contrário dos inipostoS, as Os diagramas (que se baseiam nos mapas do Gabinete de Irri-
gaciio Balinês) cstao simplificados por razöcs de clareza, uma '.'ez
,tricndas Ka unosas han/eu - ver Belo, 1953), no rinharn rclacao
236 NEGARA NOTAS 237

que Os subaks, consistindo em partes fisicamcnte clescontInus, foram


isto era pouco frequente C acontecia em pequena escala. Na medida
desenhados corrio contInuos; os subaks
ki
que confInam directamenre das suas possibilidades, mernbros de diferenres eqitipas da g1ia Oil
urn corn o outro foram desenhados como rendo urn pequeno espaço subaks prefiriam rrahalhar em rarelas comuns rotaxivarnente, maic
eutre si e os contornos dos lirnites foram suqvizados T'il corno foi do que colectiv'irnente Dc qualquer modo rodis (,iS
1CtlV1d1d'
indicaclo, porém, os dliagramas são desenhados a escaia. ad hoc entre os intervi-
entre subak cram deterrninadas numa base
Osdiagramas representam, obviamente, a situaçao contempo- nientes, e não coordenadas a partir de cima.
ranea (isto e, 1957-58). Como a consolidação e expansão dos
subaks 4.
se veriticou sob o domInio dos Holandeses, os subaks contemporâ-
neos são quase duas vezes maiores (media de 77 hectares vs. media 102-31
da cerca de 35 hecrares) e 4090 menos (326 vs. 450) do que no fim
do seculo XIX Isto plica-se a todos Os
cinco cirigramas rnqs a Apens <emlmenre determinado> orciuc I tin ()S (1lciIIOS dc
C
disrorçao muico major nos casos das terras baixas do que no das .. calenclário, e não a observação natural e 0 cliscernirnento, djU de-
terras altas, uma vex que tanto a consolidaçao corno a expansão Ci- .. terminavarn a ocorrência dos estádios. Evidenternentc:, esres clritlos
verarn o seti impacte principal rias terras baixas. 0 facto crucial, de calendirio esravam dispostos de forma a aproxlrnarcrn-ce d o s
porem, e que ernbora o conrraste no tarnanho dos subaks das terras ciclos ecológicos, de moclo a fazer o sisrema furicionar (mac ccPnr
baixas para as altas seja algo exagerado na irnagem de 1957-58, a -- cerras razoes conCretaS des não funcionassern uma vez por ourra,
graclação geral - dos baixos, grandes e densos, arC aos elevacbos
havia maneiras de serern <ajustados>') Em rudo o que se segue
pequenos e dispersos -. verificava-se no sCculo XIX (e certamente deve-se recorciar que os Balineses na() silo Vt!S do su sislema
Nmbem antes) e era inclusive mats suave ritual eles lirl//Zam-no A sui proprw urilidade rcsttrnunh't esre
facto, pois dificilmenre pode ter evoluldo pot urn proceSso que nao
0 processo lento da tentativa e erro, atcnto nos deralhesagrkolas.
102-8
. Os estáciios especificos do seu desenvolvirnento eStãO, evtcenre-
menie, para hI da nossa possihiac lid o oa ipo
Vet rambém texto, p. 91, e notas, p. 222.
Após a chegada dos . de rrabalho arqueológico cuidacloso, a pente fino, c1u(, os arqueologos
Hol'incleses, o sisrerna sec/ahan foi mcionqhzado e 'los sec/-ihans
tornados 510 aveSSOs a PF ttid ir corn nviteri tic <(hisroricos>>)
ItIncionrios piiblicos nativos, foram atribufdas
<regiöes de água>> Os nornes halineses para as cerirnónias o M '%mapeg 'foyci; (2)
clefinidas, corn urn so sedahan
g'/é por cada região (Tahanan, Ba- . Nyamii Ngcmpelin Toya; (3) Mubuhin; (4) '1ya Suci; (5) Ngereiliti (on,
dung, etc.) superior deles todos (floral, P. 314).
- rnais coloquiatrnenre, Ngrahinin); (6) Memf'iwi Ktikung. Os nimeros
3 sere, oito e nove incluein-se todos sob o rermo gcral N,iicaha acres-
ccntado dc qualilicarivos apropriados, sendu, assim, nit realiclade
102-19
1 iases cle urn 56 esráclio. A principal justificacao para a lormulação
- Deve ficar claro que rião proponho estas <percentagens> como
I dos riove estildios (pot opOsição a uma forrnulação de sete esradios
ou, eliminando Ngerestiti corno elernenro iepetitiVO e dependeute
nurneros reais, mas meramenre como urn modo de expressar a minha do ciclo, uma forniulação de seis estildios) é que essa a forma Cool
estirnativa qualitariva, e algo irnprovisada, da proporçao geral dc que todos OS meus inforrnadores a conceptualizaram. irna vez
zn/mis dc trabaiho a partir de cada nIvel do sistema.
E preciso começado U primeiro estCclio, em c1ualquer caso concreto, nurn dia
acrescentar tambCm que, ocasionairnente, dois ou mesmo trés su- cleterminado calendarmente, o tempo dos esrádios dois, trés e quatro
baks ou, mats correntetnenre, as suas equipas da água, cooperavam
. era automaticamente fixado pelo ca1endirio permiitável; c os esradios
de facto numa qualquer tarefa irnecijata dc benefIcio comum. PorCrn, • SeiS, sete, oito C OOVC cram determinaclos pot uma cornhinacao do
NOTAS 241
40 NEGiII?A
Besakib, o mais grandioso dos Sad Kahyangan nas encostas do monte
cer( a dc Oiteflta pot CCIILO cia terra dc arroz de regaclio em Bali Agung, a montanha mais sagrada de Bali, o Pura Batu Kan é, na
localiza'a-se no cotaçao do SuE; iclo que, e porque o Nortc e o realidade, urn complexo dc templos, consistinclo num conjunto de
Oestc bcllcliLiararn mais das técwCaS europCiaS (não muito espa-
locais de culto flsicarncnte separados e sirnbolicamente djfcrcntcs.
hadas em Bali, dc qualquer modo) para a cxtensão das suas ter-
Dentro deste complexo, a veneração dos recursos hIdricos era ape-
ras irrigadas, a per:entagem do sul no século XIX deve ter sido
nas uma parte de urn sistema bastante mais vasto dc cerirnónias
maior. Considerados todos os factorcs, porern, a distribuicão pos- e
dc <<Estado>> corn enfoque regional, uma questão cjuc voltarei a
pré-co!onial de ierra de arroz de regaclio em Bali é, ao contrário de
abordar.
Java (ver C. Gcertz, 196a), aproxirnadarnente a mesma. Para urn
Dc qualquer modo, tat como os outros Sad Kahyangan, o Pura
excek'nte apanhado da agricultura Balinesa em gcral, ver Raka,
Batu Kau estava explicitarnente associado a urna tal veneracão dos
1955. recursos hfdricos (lagos, rios, nascentes, etc.) e dedicado a invocação
Sobrc o conceito dc <(factor lirnitador>>, aqucle que primeiro
de bêncaos divinas sobre a água de irrigacão. Havia num dos sub-
para a expatisilo de urn ecossistema, ver Clarke, 1954. E óbvio que
templos, o chamado Pura Sasah (<templo da semcnteira>>) alcares
solos aproptiados c especialmente a temperatura são, e foram, fac-
para os deuses dos lagos de montanha rhais importantes em Bali,
totes limitacivos em Bali em certas situacöes. Mas, na rnaior parte,
bern como uma espécie de lago <<microscómico>> na forma de urn
nenhurn tern sido tao importante como a água. A clistribuição do
pcqueno lago artificial. Era ncste subtemplo que se realizavam os
arroz de regadio é determinada, a urn nivel grosseiro, pela clispo-
ritos regionais dc Abertura das Aguas. Os chefes de subak c saccr-
iiibiiidade dc água muiro mais do que pela qualidadc do solo ou, dotes, os klians e os pemangkus, recebiam cada urn urn pequcno re-
excepto uo iopo (geográiico) do sistcrna, pela teinperatura. (0
cipiente de água benta da cerimónia. Levavam-nos consigo dc volta
descnvolvirnento, pelos Balineses, em contraste corn a major parte
para os SCU5 subaks, onde era então empregue em ritos sirnilares no
do reslo da Asia. dc varicdadcs de arroz não &jtossensltivas que
Pura U/un Suwi de modo a procluzir água similar, para cacla chcic
pernutiram plantar c coiher em toda.s as estacöes do ano, parece ter
de ièmpèk ou kecoran trazer, por sua yea, para o seu bedugul, para ritos
em grandc medida elirninado, ou reduzido em muito, a disponibi-
similares e similar distribuicao pelos donos de socalcos - urna
lidade de luz solar eiiquanio factor limitativo - Ravenholt, 1973.)
espécie dc <<replicacão de água benta>> desde a origcrn mais rernora
A expansão do sisterna suhak, corn base nas poucas provas que
ate a derradeira aplicacao.
CXistefl) (Korn, 1932, pp. 102 e segs.) parece ter progredido, des-
Os ritos em si, bern como a manutencão do dia-a-dia, do Pura
ceudentemcntc, das terras altas em dircccao ao mar, corno é suge-
Batu Kau, cram feitos por uma casa quase-sacerdocal (mas Sudra) de
rido por este sisterna ritual. Mas, urna vcz mais, nao foi feito o tipo
uma aldeia próxima, Kebayan Wong Aya GdC (ver mapa 3). Dizia-
de trabalho etno-liistdrico - trabalbo que exigc uma cornbinação
-se desta casa que esta tarefa the havia sido consignada pelo próprio
Iota do cornurn de cornpetencias arqueológicas, ecológicas, cultu-
Hario Darnar e que a executava <<em nome de todo o povo de
ral-anrropoldgicas, históricas c linguIsticas -, que poderia real-
Tahanan>> e, numa concepcão mais vaga, em nome de todo o povo
menie coniirmar ou não este facto.
de Bali. Após a principal cerirnónia de Abertura das Aguas, a qual
tambCm podiam comparecer o cakord.a C OS puflggaWaS, especial-
mente se civesse havido dificuldades no ano anterior, este grupo de
106-21 plebeus prosseguia os outros oito passos da sequência scm a presen-
ça dos sedahans ou k/ian subaks. Em situacôes especiais (insucesso
Baiu Kau ('<casca de coco>>) tambérn dá o seu nome ao templo,
nas cotheitas ou outras), camponeses individuais (por vezes mesmo
o qual é geralmente conhecido por Pura Batu Kau. Corn <<Templo de fora da area de Tabanan) fariam a peregrinacão para estarcm
de todo-o-Bali quer dizer-se urn dos <<Sels Grandes Ternplos>, os
presentes em tim ou outro destes rituais subsequences, tat como,
Sad Kahyangan, 16 abordados (lexto, p. 58; notas, p. 190). Tal como
quando as circunstâncias o exigissem, o fariam o rei, os senhores,
ou os sec/ahans. :1 107-35

Para uma quanticlade lirnitada de dados urn tanto gerais sobre Citado in Wlieatley, 1971, p. 457.
Pura Batti Kan, ver C. J. Grader, 1960b, e s. d., pp. 7, 21, 26;
1-Iooykaas, 1964a, p. 187; Peddlemars, 1932. Devo muito ao meu
colega invesrigador indoriésio, R. Rukasah, que viveu duranre vIrias 108-19
semanas na aldeia adjacente a Pura Batu Kern.
0 SIStCrna cerimonial era por sua \'e7 forremente reforçaclo por
sançöes transcemporais (i. e., <reli(-, iosas>'). F impossfvel ahordar
107-14
aqul 0 poder daquilo que 065 - mas nIo o'; Balineses -
marfamos sançöes sobrenaturais. Pock-se apenas dizcr que cias cinham,
0 sistema não era tao ordenadatnente hierárquico como o texto e continuam a ter, urna fhrca extraordinária em Bali, rncsmn para
pode levar a crer. Em qualquer estádio concreto (por exemplo, urna socieciacic dira tradicional. A penalizacão por fr ivolidade em
plantar), as cerimónias teriam lugar simultaneamenre no templo, relacao as necessiclacles sagracias, ral como surge largamente expres-
005 vrios altares, nos tèrnpèks e kecorans,
e nos socalcos; e as pcssoas so em obrigaçöes riruais cietaihadas, explIcttas e maravilhosarneiite
presenres sobrepor-se-iam. Dc novo, os membros obteriam água elaboraclas, era imecliata, certa e cerrIvel. Niinca conheci urn bil IRS
benta do sacerdore do templo do subak, fariam oferendas nos alta-
que encarasse de ânirn) leve Os recluisitos cerirnonialS, mesmo o
res bedu,gu/ c simultaneamente clisporiarn comida para os espiritos
menores. Mesmo pessoas que hoje não parecern acreclitar rios den-
nos diques dos socalcos. A atribuiçio de responsabilidades ao k/ian ses, no senticlo de ac reditarem nos mitos sobre des ou de acreditit-
e scu pessoal (incluindo ospemangkus) ao nIvel do socalco, era apenas
rem na sua <cxistncia>> real, fazem, airicia assirn, aquli() que, sob
para assegurar que alguém fIzesse o que tinha cle ser feito, sob pena a forrna dc deveres riruais, esses cienses ncxisrenres (e o eviva-
de carásfrofe natural (terramotos, pragas cle ratos, erupçöes vulcâ- mento da catástrofe) exigem.
nicas, doencas das culturas). Para qualquer subak, qualquer fase A bibliografia sobre a religiao balinesa vista, mas reduz-se
concreta do ciclo ritual podia ser vista e era-o, como uma so grancle quase toda a descriçao de costumes, anillise filológica ne rexcos no
cerimOmia, parte dela acontecendo no templo do siihak, parte nos sistematizaçaO especulativa da <<cosinologla balinesa>. Para in rro-
altares suh-subak, e parte nos terraços - a semelhança cia mancira
duçoes gerais a reiigiao balinesa, ver Swellengrebel, 1960, 1 9'iS;
estratiuicada em que Cu a formulei, por razöes anaifticas, no texto.
Covarrubias, 1956; Stoöhr c Zoetmulcier, 1968, pp. 346-374; Kr-
ten, 19/17, pp. 125-170; Goris, s. d.; Mershon, 1071, I-Iooykaas,
1964a, I 973a; Gonda, 1975, pt. 2. Para urna cociiuicaçäo mocler-
107-23
nista e numa pets ctiva ética, ver Sugriwa, s. ci. 0 melhor !ivro
para obter urn sentido gcnuIno do ciue é a <<re1iiosiclacie' balinesa,
Nao havia encadeamenro cle ciclos regionais mais vasros, cle infelizmentc (clesde este ponco de vista) ceniraclo own s6 dos sens
rodo-o-BaJj ou mesmo de todo o Sul de Bali, sem d(vida porque aspecros, é Bela, 1960. Eu próprio tentci, numa escala burn mats
não havia necessidade prática disso. Os rituais em Besakih, todavia, moclesta, clescrever algo cias atitucles religiosas balinesas in C. Geertz,
inclufam sciplicas por uma irrigação fértil e suficiente para todo-o- 1973c e 1 973c. Para poncos dc vista incidcntais mas muoo 16nidos
-Bali - urna espécie de Abertura das Aguas de toda a ilba (C. J. nesta area vet Baceson c Meacl, 1 942; Bareson, I9.: helo, IO1).
Grader, 1960b).
1953; Mershon, 1970. Urn trabalbo realmento englohariri snhre
rcligião balinesa clesde urn ponto de vista ant rupológico mociento,
do tipo verstethen, aincla está todavia por escrcvur.
NOTAS 245
241 Ntc;%RA
110-11
I 08-37
Tal como corn o krama banjar (texto, p. 70), o krama subak
Para 'ama reccnsiio geral do <<dircito da água balinês, na qual proibia explicitamcntc, rias suas <<constituiçöes", a interferência de
as rcpiIaineiiiacöcs jntcr-,ubak c intra-subak aparcccm jrnjscuIdas qualquer outro corpo ou instituição, incluindo o negara, e rcivindi-
de i0rrna iiidiscrimmada, ver Korn, 1932, pp. 604-6 16. Ver tarn- cava a sua soberania incondicional sobre os seus assuntos em termos
béiu a scuuda coleeção de iratados de Licfrinck (1921). que não cram nada hesitantes. 0 Estado em si, portanto, nao tinha
.E.sias rc,tras cram frequentemente incorporadas, como outras quaisquer direitos lcgais no seio do subak, facto que os senhores não
LeO. ,onsuetudinaiias", aos iratados de <<aliança'> inter-nc,ga.ra (tex-
so accitavam, como encaravarn como urn dado>> natural tanto quanto
lv, p. 59; nias, como se cxplicou já, estes tratados não cram corpos os camponescs. No seio do subak, urn senhor, independenternente
de 1etis1acão rca!, neni tão-pouco cram os resultados de ncociaçao do seu estatuto, não era, pelo menos em tcrmos lcgais, mais do que
chplomauca no sentido inoderno. Eram declaraçöes pt'iblicas de práticas urn membro como qualquer outro; e qualquer tentativa formal de
h.i 1u.u1O esrahelecjrlas (nesLe caso, esrabelecidas pelos camponeses). reivindicar consideracão especial corn base no scu status politico
As ogras e.st .ivani tainb6m escntas nas consttuiçöes individuats dentro do sistema estatal seria c era rispidamente rejeicada como
(lxl,i, p. 7 1) dos jabak., em causa. irrelevante, como o demonstra o caso Impar em que tais reivindi-
Note-se tamhm que havia toda a cspécic de provisOes especiais caçöes foram feitas c sumariamentc rejeitadas. Mais urn yea, isto
4nrre oibuko. As iiniocs conleriam, assim, urn nivel de OtgafliiacãO não é urn argumento a favor da idcia de que a eminncia polItica
iracamcnrc coi-p';iala que era mrcrmédio entre o subak inrcnsamente c o poder que cia acarrerava não contassem em Bali ao contrário do
a regiao não wrporate. Corn major freciuência ainda, havja resto mundo, mas é meramente urna indicaçao de como cia era de
rcLr.tS de prcccdcnia segundo as quais suhaks sccundários tinharn facto forçada a funcionar. (Não obstante, tanto no subak como no
dirciros coiiccbidOs urnc derivativos daqucics gozados pot ourros
ban/ar, o grau de contenção dessa cmi nência e poder era, em tcrmos
.cu/;aA.,. E assirn succssjvainentc, quase ad infinitum. As cornplcxida- comparativos, bastantc irnprcssionante.)
des dc rudo isto condizein corn as da paisagern balinesa c corn as
da InCOte halllesa; uSE a 61tirna, cotno pi veriiquei rioutra obra (C.
(ecrtz 1959), 050 cijeara corno virtudcs a simplicidade, it ciarcza,
110-33
a rcgidaridadc ou a coecëncia.
Näo cram, porém, as ünicas fontcs de violência importantes, ou
mcsmo as mais importantes. Dada a combuscibilidade cia orgariiza-
110-2 çao estatal balinesa já descrita, qualquer tipo de conflico social de
pequena escala podia rapidamente evoluir no scntido de urna con-
Riikan é a subs tan ii vo que signiflca '<harmon ia <<, <paz, froncação a urn nivel inais elevado. Para urn rcgisto estatal respei-
<cc,ucorclta ou inidade>, embora seja de ficto invocaclo para
tante it definiçao dos dircitos do subak, presumivcirnente advinclo
sugcrlt as processos pelos quais estes estados felizes são conquista- de disputas que teriam escapado aos rnecanisrnos do controlo local,
dos. Para uma djscussã() incisiva do cooccito de rukun no sen coritexto
ver Goris, 1954, vol. 2, pp. 171-172.
so<aI, ver Kocntjararungrat, 1961. Trata-se de urn estudo javanês,
0105 no respcitante a rukun a siruação balinesa é, it parrc os porme-
notes iustirucionar. cssettc!a!rncnte idêntica a javanesa. Eu próprio
1á red cornetitários dos processos rukun javaneses no Apêndice a C. Sobre forrnaçöes poifticas acéfalas, ver Middleton e Tait, 1958;
Geerrz, 1965
Southall, 1954.

a'
246 NEGARA NO'I'AS i7
111 -27
t6neis (alguns (Ios r6neis tinham rrs quilórnerros de compri men-
to e quarenra metros de profuncliciacle), vet I'orn, 1027.
0 cliagrarna é, urna vcz mais, uma idealizaçao, concebida de
Em surna os subaks halineses foram consrruIcios praricarnente do
forma a dat urna imagem geral.
mesino modo qile foram manticlos: local v gradualmenre. Dc Iacrr>,
Ha ciois ourros aspecros do sistema subak c'ue talvez devarn set
a linha clivisória entre os dois tipos de acrividacie C difI:il de 'lese-
aflorados. Urn deles, o papel sirnbólico do senhor stiserano como nhar. Não enconrrei na bih!iografia tima iiriica dcscrição de ilma
<<dorm>' do agua da região, e abordado mais adiante, texto, p. 160.
consrruçiio prC-liolandesa tie urn subak ex-rzihi/r. oem tão-pOUCO OS
ourro é a questão de como se formavarn os subaks, e do possfvel
meus informadores se pocliam lembrar de UITI ral empreendirnenro.
popel da direcção e planeamento esratais nessa formaçao.
Efectivamente, o papel do Estado na construçäo de socalcos de
arroz e irrigação parece ter siclo menor, e isro na meihor dos hipóteses
114-8
(I-Iapp, 1919; van Stein Callenfels, 1947-48). Prirneiro que tudo,
crescimento do sistema subak foi quase de certeza urn proccsso
E óbvia a dIvida clue esta classiflcaçao c tocia a linha de aoIi'e
muito gradual e feito pouco a pouco, e não urn esforço colectivo do tine se segne rem para corn a aparcihagern anaifrica consrriiida por
tticlo-de-urna-vez, exigindo urna coorcieriação autoritaria de massas
Karl Polanyi (Polanyi e/ a/., 1957; Poianyi, 1.97 7). Talvez em parre
irriensas de homens. Pelo século XIX o sistema esrava essencial-
porque 0 SCu torn c'ra tantas vezes polemico, crrsceul em torno do
mente completo, mas antes do século XIX a sua cxpansão foi lenra,
trabaiho de Poianyi urn debate l)erslstente, estranhamenir arnargo--
compassada e dluase imperceptIve!. A ideia de ciue obras ck irriga-
ratio c ni-to multi) incisivo, entre as perspectivas ditas subsrairiivts-
ção irnpressionantes necessirarn de Estados altarnenre centralizacios
tas e as dims formalistas na análisc dos econornias <<prC-rnodernas<.-
para a sua Construção assenta na ignorância do seguinre facto: essas (para rccensöcs, vet Dalton, 1 971; 1.eClair e Schneider, 196$)
obras não são feitas de urna s6 vez. (Ver Leach, 1959, acerca de
debate esse que, confesso, acho de 110LICO interesse. A minha pers--
ideias do género <<espIrito-de-grupo durkhei miano> sobre obras de
pectiva C que OS modelos de maxirnizaçibo, rninimizaçibo on de
irrigaçAo em Ceilão. 0 sistema Ifugao do Norre de Luzon - ver rninimaximizaçiIo podem ter urn poder exp!icativo cliorme n11Iar1d
Barton, 1922 -, onde não ha Esrado centralizado, corrohora o
aplicados a situaçães em que se verificam as coridiçães ciesca ipi i -
mcsrno p01-ito de vista. Sobre o problerna da irrigação e do centra-
caçiio, e quc pocicrn set pouierosarnete enganaclores quaudo ap!ii-
lizaçao polItica em geral, vet Wheatley, 1971, pp. 289 e segs.;
I cbs a situaçöes em que essas condiçoes nibo sc verificam; e que tais
Adams, 1966; Millon, 1962.)
condiçoes se verificam por vezes, mas mais fteqtirntcrneritn 1-lao se
Em segundo lugar, as exigências microecológicas do cultivo de
verificarn, en-i economias <<arcaicas, <<primitivas>> OIl t> >j,' ' llii,
arroz de regadio apontam no sentido contrario ao das operaçöes
quiser charnar - scm bancos centrals, sern romiss6es estatals do
de larga escala e dirigidas centralmente, e a major parre do rraba-
p1aiio on escolas de gesribo. 'l'al como a senhora vcIliuiiha que e;cie-
iho récnico mais impressionante - agrimensura C levantarnenro
veil a Bertrand Russell acerca do solil)SiSrno, en riao CorlSigo corn-
topográfico, abertura de rcineis, construção de barragens, constru-
preender porc]ue C c'ue roda a genre näo defi'nde esra opi nio
ção de aquedutos etc. -, era levado a cabo por grupos de campone-
cliii nenteniente sensata.
ses espcciaiizados nesras tarefas, e pagos i-ior elas. 0 conhecimenro 0 sistema de inercaclo no Bali classico confl 1-lava-se ao com(rcio
de engenharia e ate o equipamento tCcnico (instrumentos de agri-
a retaiho em muiro pequena escala e de produio de d0IISI11110
mensura, etc.) ciestes especialisras aringiu urn nIvel de desenvolvi-
corrente quoricliano, como gCneros a!imentIel)c, utensliloc simplec
meow notavel. Os pormenores da <engenharia de irrigação>> bali-
e combusrIveis, cinpregando quase so mu!hcres, tuitu Stidra como
nesa, urn assunto fascinanre, não podem set abordados aqui, mas
Iri-u.angsa, ciue trazialn OS SCUS proclutos tic ea'a para os venderern.
para algumas indicaçoes sugestivas respeitanres a construção de rodavarn inirn
Esses rnercaclos (tèii-/è,i) tuncioIlavaln 'Ic niinliã
NEGAI?A NOTAS 2/i9
248

&-iclo de semana de riercado>' de três dia,;, definindo assirn uma proerninctes estabeleciam o que antes charnel (lcx/a, p. 50) <<rela-
area do mercado cornprccndendo talvcz sctc ou oito desa adats. coes de clientelismo>> corn alguns dos grupos artIsticos ou artesa-
Aulgar pelos cscritos - muitos dos quais cram datados de acordo nais mais bern sucecliclos, nas cluais os i:iltimos cediarn os seus produtos
corn o dia da scmaiia de mercado c frequenternente endcrcçados aos ou especialidades C OS primeiros o seu patrocInio ou apadninliamen-
deia a>'Iat dc uma area do mercado como urna entidade -, csta to politico - dispensando os artesãos de certos impostos, serviços
unidade ia area do mercado tinba aparenternente unia ilnportância nituais e deveres militates, e permitindo-ihes certos pnivilégios
pohtica IrICI1Of no sisterna negara; mas permanece obscuro qual seria sumptuanios, tItulos, etc. (Tal como corn os J3rahamarias, era per-
exactarnente essa ilnportância (Goris, 1954; a primeira referência a rnitido a esses grupos escolhcram os seus prOpnios perbekels, em vcz
mctcados c a sernanas de mercados reporta-se ao século IX: vol. 2, de ficarem sob a alçada dos indigitados pe1ospris c jeros). Havia em
pp. 1 19-1 20). As pracas instalararn-se normalmeute no cspaco em Tabanan grupos plebeus de tecelöes, ferreiros, ourives e m:Isicos
ircntc a casa de urn ou outro senhor (em Tabanan, era Purl Anom; corn esse tipo de status especial de <fornecedores ouIcias da corte>
ver inapa 3). E, tal como corn tudo o rcsto - terra, água, pcssoas, como <<ciicntcs>> de meia dOzia das casas principais; as suas posiçcs
etc. --- é cornum clizer-se que o senhor <<possuIa>' o mercado. De privilegiadas são recordadas e afectarn as relaçoes sociais (p. CX., 0
qiiatquer moclo, etc cobrava impostos sobre o mercado, tal corno o casamento) ate hoje. Pata uma discussão geral. deste tipo de grupos,
fazia sobre as Iuta.s de gatos, que na tarde do dia de mercado ver de Kat Angelino, 1921c-1922; cf. Goris, 1960c; C. Gccttz,
ocorriam corn frequência cm recinto próprio (wanti/an) perto do 1963b, pp. 93-97; Moojen, 1920, pp. 11-16.
mercado. (Sobre luras de galos c mercados, intimamentc relaciona-
dos no Bali clássico, ver Licirinck, 1877; van Bloemen Waanders,
1859; e C. Gccrtz, 1973i, n. 18). A moeda cornercial do mercado, 114-18
Kern COITIO clas apostas das luta.s de gatos, era a moeda de chumbo
Lhiucsa, kèpèng, já referida cm relacão aos impostos agricolas (notas, Sobre <<talassocracia>> no mundo malaio antigo, ver Wheaticy,
p. 223, e discutido adiante, lexto, p. 118). Podem-se encontrar 1961; sobre os ><Estados-bazar>> javaneses, C. Geentz, 1956. Sobre
aiguiS <deccctos reais>' (/iawanI) dispersos, respeitantes ao corner- os Estados indonCsios mais antigos em geral, ver Coedès, 1 948;
10 (Ic mercado (p. cx., Uehinck, 1921, p. 201); mas, em geral, são
Hall, 1955, cap. 3; e para Snivijaya, Wolters, 1967 c 1970.
muilo raros, 0 quc sugere cue a reguiamentacão do mercado, an A obra ciassica sobre o antigo comCrcio indonCsio C de van
contrauo da mera Iegitirnizacâo da sua existncia, nos escritos, não Leur (1955), embora precise de ser suplementada pela de Meilink-
parece tel costitu1do uma preocupaçao muito procrnincntc dos -Roclofsz, 1962 (para uma visão geral abreviada, ver Brissendcn,
senhores. l'ara urn breve descriçao de mercadosaparetiternente 1976). Schrieke (1955, pp. 3-82) foruece o quadro javanês etc 1300
grandes em Badung por volta de 1818, ver van den Broek, 1834, a 1700. Quanto ao sCculo XIX, a descniçao de Resink (1968,
pp. 228-229 (embora dc cxagere constanternentc a escala das coisas p. 322) do <<atquipCtago sob os olhos de Conrad>> demonstra cjuc o
em Bali). padrão geral nao foi muito alterado, pelo menos iniciatmente, pelos
Q uariro as rclaçOcs de croca rradicionalmente fixadas, elas yen- barcos a vapor e pela abertura do canal do Suez.
(icavarn-se entre artcsãos especiatizados (ferreiros, recelöes, constru- <<So depois de se tcr visitado o pals Bacak, as ilhas Sundas
Menores, ou os hinterlands de Macassar é que se pode corneçar a
(otes dc ceihados, mdsicos, dançaninos, actores, etc.) ou vánios tipos
de especialisias rituais, e aldeöes cornuns. Urna yea estahelecidas, cornpreender o facto de que nos tempos de Conrad [etc esteve em
riormairneice mais entre grupos que entre individuos, essas relaçöes águas rnalaias entre 1883 c 18981 surgia uma economia de <<branco
tendiarn a set permanentes (muitas delas rnant€m-se hoje intactas) c mulato>>, caracterizada pelo cornércio e navegação internacionais,
roplicavam tiocas recIprocas de arroz e outros bens necessánios efCmera, peniférica e heterogCnca, ao longo das costas das lihas
pot serviços ou produtos artesanais. AlCm disto, os senhores mais indonésias, cedendo lugar, apcnas urnas poucas de milbas para o
250 NEGARA NOTAS 251

interior, ao que eram, em inuitos senridos, microeconomias escuras 115-19


e homogéneas de reinos e terras indonésias.>'
Sobre portos comerciais em geral, ver Polanyl, 1963, 1966; Schrieke, 1955, pp. 21, 29, 32, 227. \'er rambCrn Meilink-
Para uma recensão da subsequente discussão, Dalton, 1978. -Roelofsz, 1962, pp. 102, 403.

114-26 115-23

Van Leur, 1955, p. 86. Sobre o comércio de especiarias euro- Tarling, 1962, p. 70.
peu, e muiro especialmente o holandês, ver Glamann, 1958;
Masselman, 1963.
115-26

114-31 Dc Graaf, 1949, pp. 432-434.

A citação de Gibbon é retirada de van Leur, 1955, p. 85.


115-31

115-6 Van Bloemen Waanclers, 1859 (para urn resuino parrial em


inglês, ver 1-lanna, 1976, pp. 64-65). Nao C explicado como conic
Talvez o meihor indicador do relativo isolamento cornercial de çou o equilIbrio desfavorCvcl, mas de quakjuer moclo estes nomcrnc
Bali seja o facto de o ncimero de chineses all residentes ret sempre nibo clevem set aceires como exacros. Mo s6 san meras etimariv.i,
sido muito pequeno relativamente ao resto da Indonesia. Mcsrno come) urna boa quanrida.le de cornCrcio acontecia fora do sisema
em 1920, quinze anos após a instituição do dornimio directo holan- olicial. Mais significativo ainda, Singaraja era, enquanto porro mae.
ds ter alargado as oportunidacles para Os comerciantes estrangeiros irnporranre de Bali - na realic lade 0 scu imico potro impOr(aIIi C
na ilha, havia apenas cerca de 7000 (ou 0,4% da populaçao total de --, e cspecialmcrite após a dCcacta dc 185(), pane de urn 'isicnou
Bali) - vs. 1,657o em toda a Indonesia -, a percentagem mais de cornCrcio aclminisrrado, senhor a scnhor (e chines it chins), em
baixa de qualquer região do arquipClago salvo Tapanuli e Timor. toda a ilha; donde, não pode set compreendido isoladarnenre. Van
Para estimativas da populaçao chinesa em vários Esrados do Sul do Bloemcn Wuanders estima que dos 30 000 plc/Il anuais da go ncipal
Bali pot volta de 1900, ver Schwartz, 1901. Para uma recenso exportaçiio, arroz, quase 20 000 provinham nilo dc Bulèlèng mas do
geral do seu papel na totalidade clas Inclias Orientais Holandesas, Sul etc Bali; e cbs 300 caixotes da principal impottiiçao, pIo, CCtdI
ver van Vleming, 1925. de metacle ia para o Sul de Bali.
l3andar é a palavra persa para c<ernpótio>' uu cc en cr0 mercaiitil
çì, C a versão balinesa de shah, que em persa significa crei,. ou
<senhora (Purnadi, 1961). A organizaçibo inrerna dos 'creinos
cornerciais>> kebamlaran não C clara, mas näo parecern ret skin reinu'
Dc Graaf, 1949, pp. 245-246, 272. Blambangan, o álcimo rerritorlais. Gerando lucros muiro diic-rentcs, os dois inais valiosucs
negara javanês a resistir tanto a islamizaço como nos Holandeses, cram arrendados pot 1300 florins; todas ecuas ri-ndas resultavam
foi defendiclo ate ao fim (1777) por tropas balinesas. nuni total de 4825 llorins, embora cada rend:i parc-ca ncr idr, para
NOTAS 253
NECARA

cornércio cm grosso clue as rendas representam ascende a ccrca dc


urn setihor clifeicuic, do qua!, mais urna yea, Sc clizia <<possuir>
urn a urn e meio por cento em Singaraja - tudo indicadores dc
keba,daran. Pars além das <rcndas cornercials>', OS senhores tarn-
bern coleciavarn poruigeflS sobrc o trânsito para e do sul, oeste e uma expansao rápida do cornércio e, Pdt-i passo, de urn intercss(
este; Iaoçavain irnposios sobrc inercados, lutas de galos, dançarinas intensificado por dc por parte dos senhores. Liefrinck dá outras
e produçIo de sal; vendiarn cartas corn selos oficinis; e cobravarn indicaçöes que corroboram esta alirmação: os precos para o gado dc
inulas sobre o coincrclo ilca1. Bangli em Singaraja duplicaram em des anos. i-Ia <agora culco
Pars unut séric de éditos estatais do século XIX da sccçáo balincsa portagens propriedade dos senhores entre Bangli e Singaraja. As
importaçöes de ópio subirarn, em duas décadas, de urn ou clois
dc Lombok quc dcrairi inicio a posicão de monopólio de urn cu-
bamlar c os regulameflios clue regiam 0 cornérciO externo, vet Lie- caixotes anuaiS para trinta. 1-Ia, apesar do sistcrna de rnonopólio,
fijuck, 1915, vol. 2, pp. 1-25, csp. pp. 13-19. Pars Bali propria- urna concorrência feroz entre compradores de café chineses, bern
iricriic duo (K!ungkun-Karcngascrn), vet Korn, 1922, pp. 55-56. como muito contrabando deste produto. A multipliciclade de su-
bandars chineses indepcndentes está de pé ha apenas uns poucos de
anos, ao passo ciuc os chineses clientes do senhor suserano, mono-
polizando o total do tráfico - muito mais pequeno -, ja cxisriam
antes. Os cornerciantes chineses são agora quase toclos nascidos us
Licfrinck, 1877. As importaç6es (na sua maioria via Singaraja) China c não, corno antes, nascidos em Bali. Ate mesmo o rnais
tertam rondado os 100 000 floriris, das quais a l*incipal era, de balinés dos indicadores econdmicos, a lura de galos, ciiz-se ter cres-
cido drarnaticarnente em escala e frequência, ao p00w de bayer
iuovO, o Opio (ccrca de 50% do valor), sendo o resto constituIdo por
urna grande luta <<quase todos os dias na area comercial da capital>>.
reciclos dc algodão (35%), várias cspeciarias (especialniente sal, nesta
Quanto ao que se estava a passar ao mesmO tempo em Singa-
egiio dc rerras altas), c algurnas das <esp!êndidas frivoliciades> a
que Ciibhoo se refere, tais como ourivesaria e porcelana. As expor- raja, que ainda era o entreposto de tudo isto, Licfririck nota d]iiC
raçfes (uin p011w ius rn dispersas, asrn tambérn sobrctudo via Sin- ccrca de duas mil Iessoas imigraram para Ia viridas dc Bangli, <<110
zaraJa) iotalizavani cica de 200 000 forms e incluIam o café (60%), ano passaclo'>, para trabalhareni corno jornialeiros, uina novidade
,adu (201,), acwz ( l0%), couros e rnilho rnaIs (cerca dc 5% cacia). notavCl C scm precedentes.
Nesie caso o coincti0 iarnbérn esrava nas rnãos de suhandars clii-
icses coiiccssioiuirios, cm nümero dc dez (diz-se que o total da
1)01)ulaçao hiiiesa nesta rcgio bastante interior rena siclo <ccrca de 116-18
uiuia diiLia"), '.1IC anicriclavarn os seus <<rcinos comcrciais>> a nao
iiienos do qud ircac senhores diferenres, atitigindo a renda total Schwartz, 1901. E tambérn ultido para estas regiôes clue a iorça
rnotniz do cornércio balinês após 1830 era o 6pm (tal cornc) o bra
cerca de 11000 forms anuais, embora os Chincses losseni, corno
conielitS a10 secamente Liefrinck, <<pressionados para outraS con- a escravarura, antes dc, cnn 1815, Raffles a ter mats ou menos
tribuicöes de yes ciii quando>>. Licfrinck iii-io diz como é que estes i nrenrornpido - no/as, p. 212). Os senhores de Klungkung stile-
11000 florutis Sc reparciarn entre senhores ou reinos comerclais, mas niam nada menos que 1000 florins mensais pelas COliCeS5OCS corner-
supocsc que, no quadro geral, também istO se processaria de forma ciais que emitiarn para a venda de ópio; os senhores de Karengasenu
estavam a aufcntr 2500; e Schwartz encontrou-se corn chineses
mciiio desigual.
Dc cjualqucr modo, einbora os nümeros no devam set levados vendendo-o de modo anibulante em algurnas das aldeias mais
1ara [a das déciinas, o rcndirnento total dos senhores em rendas recônditas da ilha. (Logo a seguir a ocupacão holanclesa, van Gcuns
cornercials c aqui quase tanto quanto era dezassete anos antes, na [1906, p. 281 calcula o consuino de Backing cnn <quase meia tonelacla
muiro major Singaraja costeira, ao passo clue a percentagem do ao ano'.) Dc novo, os nóiiicros são estimativas cluviclosas; c corno
254 NEGARA NOTiIS

us Holandeses encaravam o ópio como urn grande mal social (para 118-1
urna discussão geral sobre o impacce do ópio em Bali, vet Jacobs,
1883; cf. Kol, 1913), são possivelmence nórneros exagerados. Mas Havia ali urn pequeno ancoraclouro, corn cerca de trinta corner-
que o ópio era utilizado largamence é confirmado pelos meus infor- cianres chineses residences e outros cantos 'imuçuirnanos'. onde oc
madores, a maioria dos cluais disseram que por alturas do fim do europeis acorriarn ocasionalrnenrc, ja UOS UIIOS de 1830 Pm 1840,
século qUaSe todo o aduiro balinês, homem ou muiher, era viciado; rnais on menos coincidindo corn a chegada de Lange, e talvez por
c, em Klungkung, urn informador real, on época apenas uma crian- ela estimulada, a companhia niercanril semioficia! hohindeca, Ne-
ça, lernbra-se que o fumo era tao denso no palácio CIUC Os lagartos derlanclsche l-lancielmaarschapij (N.H.M.), alugou dirci Los •:orncr -
caIam das paredes, letárgicos. 0 efeito na Cconomja era, porérn, ciais exciusivos dc urn senhor local, o de Kasiman, por ] 000 gui! -
cudo menos soporIfico. A procura de ópio parece ter sido a princi- clers. Os Holandeses encararam Lange, pois, coillo urn iflrruISO le-
pal rnorivaçao para a expansao, na realiclade, o começo da exporra- gal. Mas, depois de 0 hostilizarem por tins tempos, o governo colonial
ção de mercaclorjas: café, gado, rabaco, produtos de coco, aç6car, fmnalmente decidiu que era mais converlienle torni-lo silllp!ecmentr
etc. 1)e 1rma ironicamente apropriada a urn povo incrospectivo, o no sel-i agente comercial local, em prejuizu iI N. 1-I. M, ci;os
comércjo rraclicjonal balinês recebeu o seu major esrImulo dc urn pr0psitos iiunca se realizararri; e assim 0 fizerarn, em $/_
narcdrico. (Korn 11932, p. 5381 relaca a frase Que não caias na de Ihe terem conceclido a cidaclania liolnioleca Que o netl i ii
venda ambulance do 6pio>> conio sendo uma bênçao parental no significava, cntão, urna oferca no valor de 1000 goihk-rs e 170
Bali de 1844.) surge como evidente no precn que o goverulo dits I (). ii. tevu- tic
pagar it N. 11. M. peia desiscência dos seuc di reiros: 173 0(0) tii I
ders. Finalmente, c1iiando os l-Iolandcses, no segutiutento dos suats
116-28 vi norms miii cares no Norte, atacarani o SuI de Bali em I $o$- 1),
perciendo no cicciirso do acacjue o sen oficial comaudanrt e nil
As duas principais fontes sobre Lange, e iias cjuais se apoia a grandc nCimero de homens, e rendo sido dizimados por doet iças
(iescrição que se segue sobre o porto comercial de Kuta, são: Nielsen, Lange negociou urn trataclo de paz — recehendo, sei'uiido Helms,
1928 (uma biografia em dinamarques tracluzida para hoianciês); e, todos OS prtlicipes, corn urn sécjiiito de cerca tIc 40 000 [as (001cc
mais importance, Helms, 1882, pp. 1-71, 196-200 (rnemórias vividas holandc-sas dizem sO 20 000] homens... -iii IOnIC tin Badong
e pormenorizadas da vida do local no apogeLl do sen clesenvolvi- Rod jahi> — 0 qUC pCrrntiU aos Holandeses 1-etirarein-se sent nials
mento, em 1847-49, quando Helms, rambéni dinamarqus, era aI clanos. No encanto, a irursao foi acomptuihacla por urn hictqueio:
ajudante de Lange). Vet também van I-1oivell, 1849-54 (fez a sua este foi, ad) que parece, tao percurhador para 0 COfli&FCIO, quic du-ui
uiimosa reis a Bali nun-i dos barcos de Lange). Urn resumo abreviaclo inIcio ao declInio dlC Kuta (notc,s, p. 262). Por alcuri da tnuine fir
e popular da carreira de Lange pode ser encontrado in Hanna, Lange cm 1 856 (que Helms diz icr sido ca'isada por lint
1976,
pp. 50-59. Algumas cartas interessantes para e de Lange (os econOmicn particio, embora outros sugiram n enveticnamen(o), Knit
(orrespondentes são: a sua muiher balinesa, os senhores de Kesi- era urna vez rnais uma i<feitoria>' pequena, s rne*.l anamen IC .ic r va
man, ui-na casa Badung importance, senhores cle Tahanan e Meng- e bastante periférica, clirigida InR) pC!o irrnão de Lange c depois
Wi,
e vários conractos comerciais halineses) pOciern set enconcraclas pelo sen sobninlio, que finalmenre liquidou a emprcrndimento
in van Naerssen, Pigeaud, e Voorhoeve, 1977, pp. 147-1 55. vennleu Os SCUS direitos a urn chines (Nlsn, 1 928 pp. 62-76.
149-177; 1--Icims, 1882, pp. 66-71, 98). Quando Schwai us
Schwartz, 1901; cf van Geuns, 1906), ci resi.inie hoiandês eni
Bulèièng, chegou finalmente a Baciung no virar do seutio, a esia-
belecimento de Kuca tinha perciido a rnaior i-ianis da sua ifllpOiIarI
25o NEGARA NOTAS 257

cia ,révia ravor de Kasurna, CILIC era o porto corncrcial floresccntc isto era fcito cm rcrmos de moedas compradas per via privada
dos senhiores de KIuukung, a icste c a favor da saida tcrrcstrc, C como mcrcadoria no estrangeiro, corno tal vendidas localrncutc,
inns a none, de Singaraja via Bangli, e tambérn cia florcscenre e não em termos de uma moecta <<estatal>' coma ccjuivalcnte gera!
(w>>a, p. 252). Efeccivamente, as condiçoes haviarn-se deteriorado - a qual 0 negara obviamcntc não tinha, tanto ejuanto consegul
de tal modo c1ue, diz ele, ><os senhores>' retiraram it conccssão ao descobrir, ncrn aqui nem em qualqucr ourra parte da indonesia.
sucessor ChiLiES de Lange e tentararn des mcsmo dirigir a praça, 0 Eicctivamente, Schricke (1955, p. 247) diz que, no sCculo XVII, a
que apenas serviu para completar o cksastre. Indonesia era de tal modo urn sorvcdouro dc mocda chinesa que o
governo chines rcnrou <<em vão combatcr a exporracão dc moedas
<<coin mediclas clrásticas>>; e van Leur (1955) procluz numcrosas
1 18-15 citaçöes angustiaclas de homcns das Indias Orientais acerca da simpies
fahta de rnoeda - por exernplo esta, de Jan Pictcrszoon Coen, o
Helms (1832) rncnciona, dc facto, <<mercadorias de Manches- grancie governaclor-geral pioneiro da companhia, em carta dirigida
icr>' (p. 40); pelo quc Os tecicios cram provavclmcntc tambérn ao 1-Jeeren XVII, o seu conseiho de administraçao.
iloponnuites (cmbora dc ituitca Os iflendiOfle em toda a sua cicscri-
çau da g1LCLra dc 1848-49), como scm d6vicia tarnbém o erarn as Os cavahheiros compreenderao [corn isto dc quer dizer ejUd
arinas. Nielsen (1928) ejntc, como Helms, rcprcscnta Lange simul- des não cornpreenderaoi que nenhum sfrio nas fnciias... csrá
i.ulearnente coma defcnsor da libcrdadc baiiriesa, promotor da paz devidamente provido se não river clinheiro, mesmo sc for
e rprcscutan1e leal dos interesses holandcses, menciona dc facto fornccido cont uma carga de mercadorias dez vezes maior;
(p. 1 58) quc os Balincses tinhant urn milhar dc cspingardas C vinte e mais, ha locais que quanto mais fornecidos são de ntcrca-
e cinco canhöes iiaq ucla alt ura; ntas não avança iiada quanto it ques- dorias tanto mais grave é sc não riverem dinheiro em mocda
tãe' he! irada c de resposta lci!mcntc adivinhtIvcl, (IC COfliC) des as a partc, pois em todas as Indias nao pode ser major o
odero ret obtido, beiii LOlIlO its muniçöes, a iião scr que tivesse n-iovirncnto do que aquilo que C retaihado tocios os eiias...
sidi> arravs dos escritórios do agcnte cornercia! das I. 0. H. para (citado na pág. 220)
o Sul de Bali. Ilanna (1976, P. 55) diz quc ><uo augc da sua carreira
no> meados dos aros etc 1840>> Lange estava a ftcturar urn rnihhão
<Ii uik1cr5 antiats cm negoCios so corn Java, enetualito >o cornércio 119-/i
co rn St ngaprra e corn a China devia scr ainda ntaior>.
l'ara urna retetancia dc passagem ao cornércio etc arn)as etc Lange, 0 conceito de <cecjLlivalêflciaS<> C, urna yea mais, ciC Potanyi
\'Cl a caria a dc dirigida pelo Senhor de Mengwi in van Naerssen,
Pigeaud c Voorhoeve, 1977, p. 153. Quanro ao elemento dc mercado comuntmente cliamado
<<preco><, dc aparece aqui agrupado na categoria de equiva-
lCncias. 0 uso deste rermo geral evitará mal-entendidos.
118-34 0 preco sugerc flutuaçiio, ao psso que a equivalCucia Ca-
rcce clesta associacao. A pr6prla expressão <<preco estabeic-
As cltaçOes de Helms, 1882, são da p. 40. Corno ele so esteve cido> oct <fixo> sugere que 0 prcço, antes de scr fixado ou
em Kuta duratite dois anos e meio, dificilmente estava em condi- estabeicciclo, estava apto a rnudar. Assim, a prOpria lingua-
ç Oes de observar as oscilaçOcs de preços a longo prazo. Mas o que gent dificulta a descricao do verdadeiro estado das coisas,
Imporia e que os prcços cram deliberadamerire esrahelecidos, apa- nonicadamente que o oprqo,, C na origem uma quantidade
tCn(CIDC[Itc iiäo niattipulados, e tanto qm possivel insuhados; e rigiclamcntc fixa, na ausCncia da qual o cornCrcio nan xxit
258 NEGAI?A NOTAS 259

iniciar-se. Os preços cambiantes ou flutuanres de carcrer dados balineses, especialmente porquc provern do urn sCcubo em
coucorrencial são urn ciesenvolvirneiiro cornparativamere quo as cornunicaçôeS tinham avançado muito e o ComirciO se havia
recenre e a sua ernergência consritui urn dos principais tornado marcadarnenre mais racionalizado, parece susrenrar a
inceresses da história económica da Antiguidade... fase do van Leur nos t<rnercados disperses>>, innis do qiic a &nfase de
Os sisternas de preços a meclida c'ue se desenvolvem no Mci link- Roelofsz no oenlp6rlo 1 nrcgrado".
tempo, podem conter carnaclas de equivaiências que nyc-
ram origem, hisnoricamenre, sob cliferennes formas de inre-
gração. Os preços de mercado helenIsnicos apresentarn arnplas 119-10
provas de rerem derivado cle euiva1ncias cosrumeiras das
civilizaçoes cuneiformes que os precederam. As trinca moecias Polanvi cial., 1957, p. 268.
de prata recebidas por Judas como o preço de urn homem
pela nraição de Jesus era uma variance próxirna da equiva-
lência de urn escravo tal como estabelecido no Código de 119-15
Hamurahi cerca de 1700 anos notes. As
equivalências
[adn)inistrafivas] soviéticas, pot ourro lado, clurante muito Enihora os kè/ièn>'s -- referidos tie mode varjaVc- ConiC rnI)e>hI.
tempo fizeram eco dos preços do mercado munclial do século chinesas de <<chiunho>>, <tcobrc" r bronzc> fossem inodo tic
XIX. Esres, riveram também, pot sun vez, os seus predeces- paganicino extremamente d11incIidos na cc000rnla tie tOrtOs
sores. Max Weber fez norar que, a faira de urna base de comercialS da Indonesia chissica (e parecem ter sjdo a in l<a noeda
dererrninaçao de cusros [costing basis], o capiralismo ociden- de importaflcia em Kura), era obviamente enorme a vanciade uI
rat não rena sido possfvel, se não fosse a cede medieval de fornias de dinheiro nacjuela econornia, esperalrnente Clii llfl[>S
preços estarurários e regulados, rendas Cosrumeiras, etc., niaisrecuados.
urn legado de corporaçao e feudo. Assim, os sisremas de t<Em Java e, provavelinerlte, nos portos onde Os 08V105 avanesrs
f preços pociern rer uma histónia insnitucional própria em termos comerciavarn, circulavarn as rnoedas de chumbo I rnporradas da China,
dos tipos de ecjwvalências que participaram na sua feirura. milliares das c1uais, enliadas nun ho arrivés de tim into nt
(Polanyi et a/., 1957, pp. 266-269.)
ec1uiival lam a iii rea/ of eiç'hr; paraiclameure havia dinhet It) espanitol
o porru1>gus, o dinheiro cornercial chines it prara COt barra. I: os
1-Li acjui aiguns exageros (cnigiclamente fixa, etc.), bern corno !arrins portals, que cram pec1uenas barras de praca coin i Iii inn cc
alguns iiicros histónicos debarIveis (o exempbo de Judas parece rnais ferradura. Em Achin as pessoas laziarn OS SCLIS ciuicuilos Cifi tae/i cle
picanne que provãvel). Mas, despido do ardor polérnico, este ponto ouro; on costa ocidenual do Sarnatra o colneeclo processava-se sob
de vista confére senrido a hisrónja comercjal indonesia, coisa que krma do troca directa na base de cuIcuboc m000tarlos; e mesmno
nio aconrecenia se fôssemos interpretar a Iuz do ripo de teoria dos acontccia em Bancla, mas a base rio pesos do n07-.moscada; em
prcços do gCnero beac-and-bu//s.
Ambon havia ciIculo rnonerario C (,OiTI( IC por dinhei nc em
Pot ourro lado, corn nada disro se prerende dizer que Os preços Sunibawa, braceleres tie ouro C prara faziani i, vozes do di nhciro,
nurn porno nao rinbarn qualquer influência nos preços de ourro, em Binia a troca era bevada a cabo corn pequenOS sexes; em Jambi
mesmo nos tempos chissicos; e isto porque Meilink-Roelofsz (1962) a pimenra branca servia de trocos; em i3uron, pcdiaços de algodto
ctemonsrrou que essa influncia exisria. A controvérsia sobre esre cram meios do troca e mecliclas do valor (van Lent, 1955, P . 1
assunto -- e sobre a natureza do ocom6rcio anrigo> no arquipélago Come van Leur fax norar (1955, p. 1 6), urna variação igual -
- especialmenre entre eta e van Leur (1955), é comp!exa, c não menne grancbc nos liesos e mecliclas contribun, tainhém, para a
pode ck rnodo algurn colocar-se em rermos de alternariva. Mas os fragmennaciio da ec000rnia de portos comntoiai em uuidtu.bcs cbs-
260 NEGARA NOTAS 261

conumnlias, ainda quc iniensamente interactivas. (Em Kuta, os kè- Helms não cxagcrava acerca de homens de alta cultura e poder
pc'ng> erarn uambém usados COfli() principal medida de peso, C OS social: o indOlogo e primeiro estudioso s&io da cultura balinesa,
pesos balitieses -- por excmplo, de arroz não debuihado - são hoje Fricdcrich (Friederich, 1959), o botânico Zollinger (Zollinger, 1849)
frequcnuemcnre esipulados nesses termos; no/as, p. 223. Para urna e, como ja foi rcfcrido, o Baron van Hoëvcll (van Hoëvcll, 1849-54,
clesctiçào sernclhantc sobre as moedas rniiltiplas - boje dólarcs de vol. 3) forarn tambérn hóspedes de Lange (Nielsen, 1928, p. 77).
SingapLIta, guilders holandeses, etc. - no ><arcuip61ago de Con- Além de Helms e do escriturário inglés, o pessoal permanenre
mad" (isto é, pclos fins do século XIX), ver Resink, 1968, p. 320. inclufa também urn medico inglês (Nielsen, 1928, p. 100), e Urn
fara taxas de cãrnbo dos kèpèngs em rclaçao as moecias Iiolandesas bandido, ocigano do mar>', Banju, <<de olhos vermelbos e urn so
no prtncIpio deste s&ulo, ver <<Muntwczcn>>, 1934; para o Sul de braco>> que aconipanhava Lange desde os tempos de Lombok (Helms,
Bali logo após a ocupaçao holandesa, van Geuns, 1906, pp. 7-8. Fi- 1882, p. 13).
nalmcnrc, dcvc-se charnar a atcnção para o facto de, mesmo cm
Bali, ter havido mais do que urn tipo de kèpèng em circulacão.
120-10

I 19-32 A citação e de Helms, 1882, p. 70. Mais urna vex, todo o


trecho C maravilhosarneiite evocativo do estilo Kapitalistischer A hen-
Helms, 1892, p. 45. Ele quer dizer, obviamcnte, <<balineses tener de Lange (e de Helms) e faa pensar que ele era tanto urna
normais". Helms e Lange näo so erarn frequentcmcnte convidaclos vitima dos desenvolvirnentos a que dava assisténcia quanto o cram
para ceiinióuias reais, €0100 os .scnhores de riomeada, corn sarong e os 5CUS patrorlos, os senhores balineses; vale a pena citar.
uarda-sol, aparecian) corn algurna frequência e jwivamcnte corn
<capiraes de navios, mercaclores, savans [sic]... funciomIrios de Java... 0 prolongado bloqueio que [os HolandescsJ tinharn man-
oficiats da matinha holandesa... homens de alma ciltura c poder tido duranre a sua lânguida [1848-49) operação contra os Balineses
social>>, a mesa hospimalci ra de Mr. Lange>> (p. 44). oRcalmente havia desrruIdo o cornCrcio da ilha, causando-ibe perdas dc que
rnaravtlhoso...", prossegue Helms, para quern a vicla em Kuta era dc nunca recuperou. Ele não conseguia aclaprar-se as novas or-
urn maravilbosamento COntiIIUO... cunstâncias decorrentes das expeclicöes holandcsas, e não t....a
horncm para recuperar a sua posicäo através de paciente e
cram as historias contadas ao reclor daquela mesa; mas, prolongada econornia c pruclência. 1-lavia mais de viking corajo-
)LIiiLalflCfltL' corn as canç6es que normalmente scguiarn mais so do que de cornerciante prudente na sua naturcza. Deliciava-
marcic, faziarn corn quc estas noites de convIvio cosrnopolita Sc -sc ao ser arremcssado no mar agitado durante urn vendaval, no
passasscin harmoniosa c agradave!rnentc. 0 caiivar era para mini seu pequeno iare, o Venus, que dc arnava como a urna coisa
uma foote de iiifmnito c clivertimento. Era de certo modo obri- viva. Ele conhccia cada corda c mastro da sua considerável frota,
auOrio para todos oterecerem a sua cançiio. 0 cscrittmrrio-chek e não havia cornandantc atrasado que rcgressassc impune de
de Mr. Lange, urn inglês, que se senuava ao fundo da mesa, u ma viageni clesnccessariamente prolongada. Deliciava-se em
urn grande talento para cancöes córnicas, e fazia os outros ultrapassar roclas as dificuldades, cxccpto as da vida comcrcial.
cumprirern, sem misericOrdia, a regra de cantar. E assirn, em Não era urn cavaleiro habilidoso, mas era tao corajoso que 0 vi
inetacle das lIngua.s da Europa [os Balineses cram aparente- amansar cavalos obstinados e nialCvolos pela mera Irça de vonuade.
mertie Jispetisados], cm esgares cómicos, alegres c trisres, a
cançao circulava. Urn jogo de billiar normalmente terrninava
a noire...
262 NEGAR,1 NOTAS 26

120-25 res, clue scm duvida eram parekam ou mesmo empregados pagos
(notas, p. 2 121).
A principal excepção (<embora ate nisto as muiheres tivessem
mais que o scu quinhilo>> Helms, 1882, p. 42) dizia respeito aos
negocios cle gado. 0 cornCrcio de gado era vasto C OS bois balineses 122-11
eram muito procurados. Os que se cornerciavam em Kura eram
C) men material de Tabanan provern, repi Lu, subrettn In de ii
mantidos, em estado serni-selvagem, no já mencionaclo planalto
orais, nil como descrito em no/as, p. 1 79; mas, para aVrn <los mint -
calcirio a sul de Kuta, chamado Bukit (ver mapa 4), onde vaguca-
s'am cm grancles manadas juntarnente corn bCifilos de igua <<que madores ai mericionados, rambCm discuti estas questFeS Con) 0
eram especialmente selvagens>, rornando 0 local '<numa parre do filho (e dono do cinema local) do (mltimc' e mais cignihcaiivo <'i
pals algo perigosa de visirar>> (Helms, 1882, p. 43). A terra, Send() banc/ar de Tahanan - o ><Singkeh Cong.' drccriro adiarmi>- Existern
de baldjo - isco C, não cultivada - esrava sob o controlo dos na bibliografla algumas, poucas, re1erncia iicidenrit, ainda qiie
senhores, que rambén) eram donos das manadas. Helms 0882, tie valor, sendo a mais importaflie Schwartz, 1901 Ver iamb6in
p. 44) exprime o seii espanto perante o Iicro de, no havendo Liefrinck, 1921, pp. 7-85; Pcddlemars, I 94 ; van den Broik, 18i
krreres on outras marcas, os senliores conseguirem saber quais eram (a mais antiga das referncias europeias c1i.ic vi, e na qual se fala cio
Os seus anirnais. <d-lavia muitas dispuras sobre isro, mas niio tanto chineses (jue comerciavarn <ciomcsticamerite" em arrnz, teidoc,
qanto seria de esperar, uma vez que em tais dispuras o rank e o algodao c - conio <<conrrabandisras" - em <escravos"); e as mi-
poder normalmente resolviam a questio.>> galbas de i4ctos disscrninadas ao acaso e scm index, ao longo de
Uma ral criação de gado comercial era niriciamente muito Korn, 1932.
recenre, esrimulacla pelas ioiciativas de Lange. (Ele tinha rambCm
dois maradouros em Kura, onde os bois eram abatidos para fame-
cerem came seca para as tropas holandesas em Java; e esre era apa- 122- 18
renrernenre 0 pjlar do cornCrcia.) Mas nio fui capaz dc
dlererminar
quando começou, qual era a sua escala exacra e 0 clue C niuiro Singkeh C o rermo apI icacla a urn dii nc indonesia nascido a.
iniporrante para os nieus interesses, corno Sc organizava - quase China, por oposiçao ao nascido na Indonesia, chamaclo urn
de certeza arravés de laços rntilriplos, especializados, sirnilares aos Cong C a verSao ha]incsa do apelido nornialmente ilxado (-M ingirs
jii ckscritos no respeirante no serviço da corte, imposros, rencla da corno <<Chung'>. Para a força do rermo e;o, vet texfli, p. 4 L.
terra, crc.. Van Bloernen Waariclers (1859) rambCm fax notar a
procniinncja de muiheres no lado balinês do comCrcjo subira-
menre expandido em Singaraja. Al, cuase todas as donas de casa 122-3 5
parecern ter tenrado fazer o sen pedaço de comCrcio corn os siiban-
/ars chineses. Pelo rnenos a renda era calculacla aimuain,enre. Como si' rxpli(l
acliante, cia era paga a diferenres scnhorr, e em quanridades chIc-
rentes, em ocasioes cerirnonjais: clonclr, cit ni0do irronlar. 1muimi-
I 20-33 menre, enibora a renda fi.sse calculada em kè/t?nge. era usualiornie
paga ciii mercacloriais: arroz, cafC, came dc porco, ápio, poicelani,
Helms, 1882, PP 42-43; alterei a pontuação cbs J)arágrafos. jóias. 1)o laclo do lieg- fra, a contahil dade (Jut- mudo islo acarretava
Mais urna vex, <criados>>, on <<servos>>, é nina palavra mais correc- era feita pclas casas cscritur4rias Seidia: as Penyarikins, 1)inin
ta do cjue ><escravos>> no respeiranre a esrcs seguidores das muihe- l'ckcn e ivlalkangin (no/as, p. 209) Schwiri:' (1901) dix qile, <in
264 NEGARA NOTAS 265

virar do século, o rendrnenro do comércio era urn clemcnto mais 124-15


InporLanre no rendimento dos senhores do quc os impostos sobrc
it terra; e ele csrima cstcs CITI urn milhão dc kepengs (o scu cquiva- J cmbrana, que é o porto balins mais próxirno dc Java, havia
lent'c cm arroz), o que pL-ovavelrncntc fornece urna base para a sido adminisrrado pelos 1-lolandeses desde meados do século, embo-
qucstao, cmbora OS n6rncros do irnposto nio possani scr mais do ra os comerciantes fossern sobretudo chineses, javaneses, bugineses
q ue urna est i mativa arrojada, concebivelniente exagerada c conce- e nalguns casos balineses islamizados.
Luvclnicnue niitumizada. Os barcos balineses,jiekung, erarn essencialmente barcos de pesca
0 sistcrna do <>rcino cornercial>> ou kebandaran (no/ar, p. 25 1), pressionados para fazerem servico de transpote. Corn cerca de dez
cainbdrn se verificava aqui, corn os vários senhorqs <possuindo>> pés de compriniento, constniIdos localmente e tripulados por
direicos comctciajs em vários locais
C concessionando-osachineses marinheiros não muito hábeis (os Balineses não gostam do mar),
part cularcs. No entanto, c ral como os perhekaian.r, nao é possIvcl não se podiam aventurar a mais de uns poucos de milharcs dc
urna reconscrução cxacta dcstas unidades. A (mica coisa clara é que jardas da costa. A maioria deics parece ret sido propriedade dos
elas n5o cram unidacics siniplcsrncntc tcrritoriais; nan as havia em seus construtores, hornens balineses de aldeias piscatórias ao longo
grandc riurncto; e as principals rcgiöcs cm quc elas cram importan- da costa; mas alguns cram financiados pot chineses, c o cakorda de
ces cram as cluas areas do café, Marga a nordeste c Pupuan a noroeste Gdé possuIa dois - '<a Armada real>> - que usava sobretudo para
(vet mapa 3), juntarnente corn a rcgião da capital e scus arredores. visitar Badung.
As tcrras de café do Nordeste acirna de Marga cstavam cm larga Finalmente, alguns hens cram carregados a pé para o Norte
iiicdda sob a fgide cia segundo rei>' (lexto, p. 82), Pernaclé Kale- (o transporte a cavalo era raro cm Tabanan), via Baturiti e Kinta-
an; enquanro as do Noroeste, em Pupuan, estavani sob a dc Gdé mani, ate Singaraja (ver mapa 1) para daf serem exporrados. Mas
arravs da agência (Ic Subamia, o principal podcr iiobrc da zona esta rota era árdua e extrernarnente perigosa, sob condicoes polIticas
(llo/cn, p. 208). Em redor da cai)ilal verificava-se a usual complexi- mais ou menos permanentemente instivcis (a rota terresrre para
dade cruzacla e inuersectacia. Kuta cstcvc compleramente fechada ate 1891 em rcsultado da guerra
Mcngwi, c não era muito segura após esta); além disso era muiro
rncnos importantc quc as rotas da costa sul.
12-38

Outras 1lnporraç6cs incluiam, dc entre as mais importantcs, os 124-18


recidos dc algodao, porcelana clii.nesa, Varias eSpeciariaS, C mais
uina vcz be/<t/çs c arnias. Ourras cxpottaçoes incluIam miolo seco
0 11 sabido quc havia muita actividadc comercial que era lcvada
de coco, o açdcar c Olco dc palina, ccrtos ripos dc trabalho em metal a cabo inreiramente dentro do jero, o qual para alCm dc aciministrar
e hois, embora cstc tiltimo comércio parcça rcr sido muitO menos o comCrcio servia rambCrn corno ceurro de comCrcio. Mas disto, ou
rnporralire do 'juc cm Badung c, cfcctivamcntc, basrantc trivial. acerca do funcionamento interno dojero enquanto tal, não ha nenhum
Esres hens não tinharn de passar pclo estabeiccimenro de Cong, 1-Iclnis para nos ajudar; pOssuo apenas informacOes do tipo mais
mas C provavel que o grosso delcs o lizesse. Pot outto lado, havia genCri Co.
alum contrabando dc café e 6pm. Era difIcil, porem, ]cvá-lo a cabo
iiurna grande escala, dados os problemas de transporrc; c as pena--
Iizaçoes cram pesadlas. nao excluindo a morte. 124-3 3

Schwartz (1901) encontrou dois vendedores de ópio chineses


66 NEGARA NOTAS
• ', num local tao remoto que era quase desabitado, e toclos os meus prescore), emboro os informantes afirmern que ocorrerani aiguinas,
inlormaclores clizern que os vendeclores ambulantes de ópio consti- secretas, na decada de 1920. Para os suicidios cui!(ee de dn:ic CSj'
rufarn uma legiao, sendo a maioria, uma vez mais, composta de sos do cakorela de Tabanan (XVI na figura 3) aquando &I sna
Iliolti
rntilheres. (Os vendedores chineses instalavarn <<antros> de ópio por cni 1903, acontecirnento esre que parcce rer ,nflucociadc' a decisilo
todo o campo; mas muitas vezes fumavam também em casa.) Em holandesa de intervir clirectarnente no Sn! do I3ali (Hanna 1 176.
J'upuan, Schwartz encontrou quinze compradores de café chineses 74), ver Tabanan, s. cI., p. 110.
nurna pequena aldeia, e dezasseis riuma outra. Dá notIcia igual- A caracrerizaçibo por Helms das rnulheres c.ofli° sIr\a
men te do cu I ci vo de algodao. OC3siOflOIf1111
certamente errada. Parekans do sexo leminin() eram
A especializaçao de lugar (ou de grupo de parenres) em artesa- sacrificadas cluranteacrernaçitO do seu seiihor, mas cram non c
nato e em pequenos bens para comércio é de irnplantaçao muiro por apunhalarnento prirneiro, ames dc scorn atiradas para a pira.
anriga em Bali. A parte as especialidades dos arresaos, tais como o só as mullieres propriarnenre diras do senhor tinhani statnc so)
trabalbo de ferreiro, a escultura e a tccelagem, outras especializa- cienre para saltarem vivas para as charnas, por vezeS apLinhalando
çöes de lugar mencionados pelos informadores inciuIarn o fabrico -se a si propriiIS 00 meslno tempo. A rraducibn do Helms <Ic >Surca
de telbaclos de colmo, óleo de coco, aç6car de palma, tijolos, olaria, (><o Sob>) como <'Indra>' (clue é efectivamento <>o Senhor do (.eu.>)
tapete.s de canas, sal e lima (para mascar corn a noz de betel), hem é tambCrn iricorrecra : clevia set ><Siva'>, clue o-; Bali nosos 1cm Ii-
corno it pesca. Tal como foi referido (no/as, p. cam corn o Sol. Sohre o chamaclo culto do morte haiins cm ger:iL.
248), muitos destes
hens especializados cram distribuIclos através de sistemas estabele- ver Wirz, 192$; Crucc1, 1928; Covarmohias, 1950 pp.
cidos de croca recIproca, trocando it especialidacle por arroz. Mas a Kersren, 1947, pp. I 55-170; I.amnstcr, I °3, pp. 2-05: Friede-
rncdicla que se aproxirnava o fim do século XIX, os hens corneça- rich, 1959, pp. 83-99; Hooykaas-van Leeuwen Boomkainp, 1956,
yarn it fluir mais e mais através do mercado, o qual consequence- e lexto, p. 147. Para urna boa série dc fotograftas de unni croniaçao
menre cresceu de importância enquanto instittiiçio. Muitas destas ver Gorias, S. ci., estampas 4.80-4.93; cI. Bateson e Mead I 912.
espccializaçoes locais persisrem mesmo hoje, e algumas (p. cx., o estampas 94-96. Uina gravura (irnaginibria) alembi, de I (2(I, de
fhrico de instrumentos game/an (ver C. Geertz, 1963b) funcionarn : urna crcrnaçio bali nesa, aparcce FCI )mod uzida no fronti SpIC 0 de Boon
ainda arravés dos paclröes de troca tradicionajs, embora corn paga- 1977.
mentos em dinheiro e ni-to pela troca directa.

13 1-20
127-I
j>O
I-Ielrns, 1882, pp. 59-66. Já urna vez cirei esta passagern,
A posada Cnfisc erudita sobre a verienre de crença" do ni
in ha Ii nesa - cosinologia, teologia, i teratura sagr;idi, nocoes icc
C. Geerrz, I 977b, onde se podc encontrar uma discusso geml em
espritos, bruxaria, etc. - rem correspondiclo a ausCncni de desert-
rnmno do cremaçiio balinesa. Outras descriçoes, anteriores, de crc- çiles cuicladosas e pormenorizadas do granclo porte do vido ritual
rnaçOcs (ngabèn) corn queima de viiI'as mesatia)
( - uma dc urna halinesa e, especialmente, dos con mOn as meats. Nio exisce airida
missibo holandesa em 1663 C uma de Friederich (a mesma que urn relato recnico adc-c1uaclo de urna cremaço 10:11 (ngabid (para
I lelrns viii) em 1847 -silo ciradas in urna cremaçâo nao real, algo especial e recento - I 919 •-, ver
Covarrubias, 1956, pp. 377
-383 (ef. van Geuns, 1906, pp. 65-7 1). Ver tambérn Anónimo, Frankeit, 1960; of. Mershon, 1 97 1, pp. 202 e segs.); C no ciiit•
1849. Segundo van Eerde (1910), urn relato chines menciona urna respeira as Iima,geus de clentes (metat>eh), quasc nern cequer oxisrern
quei ma de vivas em Java em 1416. A incurso holandesa pôs fim relatos populates. (Para urn relato mulro breve de uma I niagem 1>1-
a queima cle vióvas (mas no a crernaçibo, a qual continuou ate ao
wangca. ver Vroklage, 1937; cf. Batoson c Mead, 1942, esramp.t $0;
268 NLGARA NOTAS 269
I

Mcrsliou, 1971, pp. 147 e segs., c figura na p. 149. Mershon inclui parece-me estragar a discussio de Duniont (1970a), em gerat bri-
cainbcm LIIfl I elato uarrauvc) alargaclo de urn ritual de corrc cm Ihante, em tomb do <princIpio da hierarquia> - cliscussão essa
Karcngascni cm 1937, urn rito de purificaçao do FCI no chamado CIUC estimulou a minha própria.
nas pp. 257368.) Swellengrebel (1947; ci 1960, pp. 47-
-50) é urn relato 6tjl, aiuda que fragmentario, bascado num rela-
(.One de 1903, escrinc, pot Schwartz, sobre uma ordenaçao (e nao, 132-7
conic pot vezes é dito, urna 'coroação)>, coisa que os l3alineses não
enham: 0 Clue estava cm causa era a sanrificação do ici, nao a sua Du Bois, 1959, p. 31.
iiistauraço - ci. (,onda, 1952, pp. 236, 252). Uma análise tex-
tital desre ritual, Siva-ratri, pocic set encontrada in Hooykaas, 1964a,
pp. I93-26; e C. J. Grader (1960b) fornccc algurna informação 13 3-3
dispersa sobre o ritual nos templos de Estado em gcral. Os tclatos
mais villosos de tcsi:c,nunhos oculares dc ceriniOnias rcais Indicas Para urn exexnplo de uma <<Ieitura>> dos rituais de Estado (fittie-
na Indonesia são, ainda, no entanto, os de Prapanca sobre os rituais rais reais na Franca dos séculos XV e XVI) que dá conra do seu
Shraddhe.' (memorial real) c Phalguna-Caitra (tribunal anual), no significado pol(tico, vet Giesey (1960), que cornenca no seu prefa-
Majapahit (Ic 1362 (Pigeaud, 1960-63, caps. 9 e 14). Para referên- do:
cias gerais acerca da religião balinesa, ver no/as, p. 242.
Vezes scm conta... surgiu-me a convicção de que uma qualqucr
inovação crucial no ccrimonial terá ocorrido, pela primCira vcz
131-34 por mero acaso... e que as geraçöes subsecjuentcs, ao repô-lo em
cena o embelezaram corn urn simbolismo rigoroso. Quer isto
Eritre as mais importatices destas formas cerinioniais que vei- dizer que, ao nIvel dos eventos em si, reinava frequcnternenie
c.ulam nensagcns> de ceno modo diferenres, encontrarn-se as Ce- o acaso; mas as formas simbólicas afectavam o pensamento acerca
iiriiónias dos temples aldeOos (Bateson, 1937; Belo, 1953; Hooy- dos cvcntos, cspecialmentc quando eram consciencemcntc [i. e.,
kaas, 1977); as ainda mais flirnosas danças de bruxa-e-dragiio (Belo, deliberadarnente) repetidos em subsequentcs funerais. Pot tim
1949; Bateson e Mead, 1942; Mead, 1970; de Zoete c Spies, 1938; lado, portanto, julgo que havia muito de fortuito ou acidenral,
C Geen(z. I 973€; Rickncr, 1972); 0 Dia do Silêncio, para purifi- mas pot outto lado vejo a expressão de urn padrao de idelas
cacao dos dcmóntos (Covarrubias, 1956, pp. 272-282; Sugriwa, intirnamentc relacionadas com as convicçöes intelectuais da
I 95/a, pp. 42-51; Sudharsana, 1967); os cânticos corn gestos do época. Essas ideias eram dramatizadas no ritual, e apenas mci-
some sacerdote cOrii u intuino de levar Siva a possui-lo (Korn, dentalmente, se de todo, verbalizadas. DaI que os aspectos
1960; de Kat Angeltito c de Klccu, 1923; Hooykaas, 1966; Gou- 'constitucionais'> [i. e., po1Iticos>>J do funeral real os tenha
driaau e l-looykaas, 1971); ninos de passagcrn (Mershon, 1971); e os tido de rerirar, normalmentc pot inferência, a partir do corn-
iescivals, compassantes Jo trabaiho do ciclo agrIcola (texto, p. 225). portamento cerimonial, cal como o historiaclor de liturgia encontra
Para urna Jiscussão mais alargada sobre a variação naciuilo que a crença religiosa no ritual, ou o historiador de arte descobre o
dizeni', diferentes formas culturais balinesas, e logo sobre a im- pensamento do artista na iconografIa.
possibilidade de resumir a culrura balinesa nurn só rema, vet C.
Geerrz, 1977h; ci. 1973h. A incapacidacle de avaliar o grau em que Sc existisse uma hisrória <(analistica>> da cerirnónia de cone bali-
as insnituiçOes culnurais <afirmarn>> proposiçöes contrastantes, e mesmo nesa, scm divida cmergcria dela urn quadro similar de evoluçao
onfljruantes, accrca da natureza da '< real iclacie>>, social ou outra, irregular (<<acaso'>, penso eu, não 6 a palavra exacta), regularizada
270 NEGARA
NOTAS F
or Interpretacao e ajustarnento post hoc. Pelo que as concepçöes
dc <deus>' em geral. Para urna list:i dos principals 1(IISCS indicos
l)OlItiCO-religiosas novecentistas do Estado balinês, altamente inte-
reconhecidos em Bali, ver Covarruhias, 956, pp.
gradas, nao foram herdadas como urn padrão flxo que, ao longo dos
tempos, tenha andado a dcriva, intocado pelos processos llistóricos; Sugriwa, s. cl., pp. 17-21.
pelo contririo, elas erarn 0 produto de urn processo constanre de
mudança ranto nas formas concretas do ritual como do significado
a clas atribufdo simbolicamente, uma vez mais de forma em grancle 135-5
parte irnplIcita.
Sobre o problema do ritual real como a(Irmação polItica em Sobre o problema da polisseniia cbs sIrnholoc rr-1,iosuS em
geral, ver Turner, 1967.
geral (neste caso, os <Progressos>) ingleses, javaneses e rnarroqui-
nos) ver C. Geertz, 1977a. Para discussôes gerais do problema da
interpretação cultural nos termos acjui cmpregues, ver C. Geerrz,
135-11
1973h, 1973c, 1973d, 1973f, 1973h, 19731, 1975, 1976a, 1976b.
Sabre abordagens herrnen&iticas nas ciências sociais em termos mais
jac/mas(,,/I
gerais, ver Radnitsky, 1970; Gicldens, 1976; Bernstein, 1976; Taylor,
1971; Ricoeur, 1970; Gadamer, 1976.
() sistema de deus-direcção (do vellto-cor (crc.) E ecrrema-
mente comptexo e não é roralmente invarlivel ou rnesno IiterII,t-
mente coerente. Para a versilo siniplcs'aprcsinracla no rexta, aqucla
133-15
que U majoria dos sacerdotes dc- rcmplo balinesc coiihec-, ver 5w-F -
lengrebel, 1960, p. 47; Belo, 1953, p. Ia
PorçOes do trecho seguinre aparecerarn sob mais ou menos a
mesma forma in C. Geertz, 1976a. <oito ptalas>>, corn nove deuses e oiw direcces (N, Nt, L, Sli.
p. I 32: Ho'ykaas. 1964n,
S ... ) em toriio do centro (Gonda, 1952,
p. 52; Moojen, 1926, p. 28; van Eerdc, 191 (1; e SweIlen,n1eI.
[34-20 1947 esta tiiltirna é uma descriçio parricularmenre rornpbeii,
incluindo variedades correl-acionadas dc plartas, Flares, arvoi(ts, aniiu.w
sactifictais, crc.). () pacirno inclico (IC nornes mulripbos tri urn
Para uma investigação rextual-filologica geral destas vtrias ideias-
-imagem, e a qual muito devo, ver Hooykaas, 1964a. Sobre 0 conceito mesmo dens, identificaçöes multiplas de deuses diferenrernenre
de sekti, ver também Gonda, 1952, p. 134. Para padrn,sana, ic/em, ape1 idados, e de porn e simples fusão de c-lenses, simbol iiando it
noçiio de que denis é ao rnesrno tempo urn e militoS, levada it cabo
1952, pp. 135-96. Para/ina, idein, 1952, pp. 55, 196; Stutterheiin,
corn toda a sun forca em Bali, complicando ainda mais a padr-ao etc
1 929; e (embora referenre a Java), Bosch, 1924. Para hiiwana (b/rn warn,,
bhiivana), agung/biiwana a/it, Gonda, 1952, superficie (ver Gonda, 1952, p. 132; Hooyleaas, 1964a, p 28). Mac
pp. 111-112; Hooykaas,
a i magem hiisica, a da divindade mais elevada no iJoraçãdi do Farm;
1966, pp. 29-30, 33, 73-75 e estampa 27. A excepção dos excertos
rodeacla pelas menos elevadas, é fixa e nIida, na medida do rS5j%'(i
texruais, escrevi as palavras sânscriras corn a ortografia balinesa; a
usa de <<cleus> no texto pode igualn-iente set entendido corno <deu- em Bali.
Como corn rocbos os altares de templo balineses, dos qiiais etc
ses, dada a fticil alrernncia em Bali carte concepçães do clivino
é ralvez o mais importante, a Jlfl(/71li(IPm varia grandcrncnte no cl.i -
monoreIstas e politefstas (as quais são, de qualquer modo, categori-
zaçöes ocidentais; e o livgga é, evideriten-ientc, visto mats Como borado eta sun ornamentaçao esculpida, de acordo corn a imporriin-
sendo dc Siva (donde, corn mais propriedade, Siva-/ingga) do que cia e elegncia gerais do templo - sendo aquele corn ligaçães
reais ohviarneiite os mais elaboracbos. Na base do iailar encontra-ce
NOTAS 273
NEGAI?i%
espaldat, e consituIdo pelo movimento de reiotrna rcligiosa balinês,
110111 ialnicnce urna iepresencação da carcaruga sobre a qual assenca
Parisada (sobre o qual, ver C. Gccttz, 1972b e 1973e; Bagus, s.
o cosmos. Em rector do corpo do pilar enconttarn-Se pot vezes
Astawa, 1970; Parisada, 1970), embeleza agota a praca principal de
escutj)Icias uma ou duets serpences fancásiicas, sfmbulos dc carnali-
Den l'asar, a capital de Bali.
dade, vicalidadc c violência animal. Pot cirna das setpcntcs podcm
Tanto quanto sci, nao exisie disponIvel urna descriçao sistcmui-
cncontrar-se JflOLi\'OS dc rnoutanhas, reprcsentanclo o reino humano tica das oferendas (banten; urna forma clevada do siinscrito, he/:,
Ja vida rcrrcna. Pot urn, o trono em Si - norrnalrncnic a cerca de
significanclo <tributo>', <presente>>, <oblacäo - Hooykaas, 1964a,
scis pcs do chão, de modo a estar mais alto quc a cabcca dc urn
P. 208); mas pode-se encontrar algurna informacão sobre vários as-
adoradot em pc, mas iiiio tilo alto (]Ue este nao 0 possa alcancar (as
pectos in Belo, 1953, e Hooykaas-van Leeuwcn Boomkamp, 1961;
vcrsOcs lilais elaboiadas pocicm set mais altas, Corn degraus de acesso)
cf. Mershon, 1971, pp. 34 e segs.; Stuart-Fox, 1974. A obra prin-
unia simples cacleira de pedra, a descobetto do sol e orientada
cipal sobre iconografia Indica em geral é Bosch, 1948 (para 0 sirn-
de fteute para o ccricro do tcrnplo. Iconograficarnente, toclo o altar
bolismo do locus, ver pp. 35-40, 133-144, estarnpas 13-16).
assim, urna reprcscutaçao do cosmos, descic a tattaniga suba-
u'iiica ace at) L)eiis suprcino, <o qual é irnaculado, l)u1o... e inirna-
Postiera do lotus: para urna descrição (originalrncnce de urn tra-
ginavel> (Hooykaas, 1964a, p. 140; cf. Covartubias, 1956, pp. 6-
tado de prosa em javanês antigo, datado do século XVI; cf. van der
-7 c A rdana, 1971, pp. 19-20). Nos templos mnais grancliosos 0
Tuuk, 1897-1912, sob padmasana) - as piantas dos péS (las coxas,
simbolismo da irnagem do rnundo pode set nluito mais dctalhado
palmas das rnãos para cima, costas c pescoço direitos, olhos fixos na
,to (ILIC () aqw descrito. ponta do nariz, dentes de cima e de baixo separados pela ponta da
Urn esboço dc urn cemplo tIpico, mostrarido a localizacão do
lingua entre des -, ver Hooykaas, 1964a, p. 98. (Na India, apa-
padmaiaiia (kaja-kctnin: o canto nordesce do patio do tCrnplo, no renternente, a postuta do lotus era o significado genérico de padma-
Sot dc Bali, o canto sudoeste no Norte dc Bali - isto 6, na direc-
sana; Zimmer, 1955, vol. 1, pp. 143, 371.)
io do monte AUUg, sobre o qual Siva/Surya preside ao .iwer'a, o
reino dos deuses) pode set encontrado in Covartubias, 1956, p. 265,
0 ado e a experilncia da meditaçao: ver Hooykaas, 1964, pp. 98-
(-(ide 6 incluLda urna reprcsentacão feira pot urn artista, lace a -99. Urn outro trccho do texto do século XVI acirna rncucionado
1). 266. ljni csboçu scrnclhantc, corn urn texto de major confIança,
clix:
aparede in Bcic,. I 953, p. 15; a localizaçao do /1a/masana no scio da
sirle dc aicarcs dc tcmplos 6 mais aprofundada in van dcr Kaaden, Debu-teja significa set agraciado corn a forca; dihya-cakiii si-
I 917. Pant urn csboço de urn teniplo no Nortc de Bali, corn o pad-
gnifica set prcnclado corn pocletes excraordinários; dibya-ba/a si-
7.'/aiaua virado patl sudoeste, ver Lamsrct, 1933, p. 33. Poclem-se gnifica set prcnclado corn nurnerosos parentes e set urn rcf(igio
cncon irar lotografias dc padnasanas in Goris,s. d., cscanipa 4.28; para as pessoas; dihya-darsana-diIra é a faculdade dc ver petto 0
Moojen, 1926, estampas 19, 124-128, 162, 177, 185; c in Hooy- que está longe e conhecer o coração das outras pessoas - esse
1aas, 1964a, figs. 7-1 I, uma das quais (fig. é urn born cxernplo
é ü fruto de praticar padrna.cana; a força 6 o scu fruto.
do grau de elaboração que Os teniplos de Estado 1)0(1cm aringir,
avendo urna micra (fig. 0) clue rnostra urn exemplo dc três cadeiras Embora o Alto Deus seja em princIpio inirnaginável, a icono-
.ra Siva, Visnu c Btahrna), do tcinplo de todo-o-Bali em Besakih.
grafla do padmasana -tartarugas, cobras, trono - poclet set visua-
esce 6lcirno, ver também Moojen, 1926, escampas 203, 204; lizada, constiruirido urna ajuda para as prilcicas ioga (1-looykaas,
uior faz notat (p. 123) que se trata dc urn trono <<nOVO>', COnS- 1964a, p. 172), cal como pode set uma visualizacao de Siva no lOcus
em 1917. Urn padmaana espectacular C ainda mais recente
em Si.
-ra de 960) kim nc coral branco, corn talvez trinta a quarenca
II ItO I ILttIi I tI: i 01 It 111011 lii ratlit III)
274 NEGARA

(o adoraclor) deves irnagin !o/visua!iz_Io corno tenclo


urn extraordjnário esplendor, caracterjztclo por urna cor verme- 1 35-30
tha, e senrado nurna for de lótus branca; perfeitarnenre belo
C
compIerarnen ornarnenraclo; Ele reni (lois braços e urna face
c o Seit aspecto é benevolenre, siruaclo no nieio da parte oca do
,
lótus, corn urn disco radianre, corn uma faixa e face verniciha A lenda do /ingga de Siva é ciracla por 1-Iojykaas (1964 p. 1
- clesse modo se cleve visuajizar Deus Siva-Sol. partir tic \X'ilson, 1892, da seguinte lorma:

Trata-se da rracluçào de urn mantra saccrciotal, apresenracia in 1:o i neste clia [o deci mo quarto clia (10 rnS (toil! Philgt]n:il
Hooykaas, 1 964a, p. 161, inn rulaclo Ritual desni nado ao Adorn- qL[C Si'a Se iiia1ii5t0tL pclt prin-teira VCZ COmO 0
dor do So! (i. e. SivaIna)>. e intcrrniiia\'Cl Liuga, para iludir as prctenSöe >1> Brirnit
dtviii-
Vishnti, OS cjLtaiS (iiSpUtLvaIii sobre qual SCfi1t (I IVIIi0I
Posiçc7o coitaf: Hooykaas, 1964a, p. 102. Base do chide. Para cleciclirem a c1uerela, des coiicorcIir:irn que dvvi,i ';cr
/ingga: idem,
I 964a, p. 213. Nome do Deus SLipremo: idern, I 964a, -
ii. 202. (0 reconliccido corno 0 major itdilleiC que primeirl) o1lSe9uISt
nome 6, urna vcz mais, Si a, ou o So!; mas por vezes Brahma no sat os I iIflLtCS do cxtraordiiiIrio ohjecro quc suhi tamenic ipai.t-
Ourros deuses superiores. Goris [1931] argurnenrou, algo especula- cern clianre tides. Dirigi ncio-s( cm dt re> cóeS OpoSlits, Vkhn(i
tivamenre, a parnir de suposnas <sobrcvivncjas culnurais>, que a ocupott-Se de atingir a base. Brahnia 0 Cl n10 tOtS aj"iS altitnc
sivaização rnais ou menos comp!era de Bali pelo século XIX 6 urn milharcs de aims gastOS pelos deuses Oil tcnt:itiva. (1 lint parc(15
desenvolvirnenno histórico surgiclo a parnir de urn anterior padro estar tao reniotO corno sempre, e ambos rcpreSSaFiUfl d,-ccon'er-
demcilniplas seitas no qual variaclos cleuses taclos c hnmilhados, rcconhecendo a itlictis:i superiortllacic de
Visnu, Bucla, e
outros cram os deuses centrais para grupos disninnos.) Siva.
"k/gem do Cosmos: ver a primcira secção ciesra nora.
Atailcie de Para fonografias de Iinggas de peclra hal I tiCSCS, I loockait'.,
oemaçilo do Snmo Sacerdote:
figs. 16-20. Os Jiuggas ramhem podein sd' represenLidos
tlfl ill -
Hooykaas, I964a; Goris, s. ci., p. 198,
flora a csrarnpa 4.28; Covarruhias, 1956, p. 387. iumas (Hooykaas, I 964a, fig. 15) jllntnrncnt coin d-ttses repi.e't:il-
rados iconicamcUte, corn manrras cscrito nc. Snhre /1n,Iro em
Prof,i,zdcas do,coraçcio: Hooykaas, 1 964a, p. 217; Hooykaas, 1966, Bali, ver tainhm Snutrerheim, 1929; sobre t, 'culto do //ll','!(/ 1.1
P. 71.
Java antiga, Bosch, 1 924.
A frase <<Na terra, o goverrtante age em nome de Siv:t... ' eo Ott!
Na India chIssica, padma, corn a rerminaçao ferninina sinscrina -Se em Hooykaas, 1964a, citando Krorn, 1931 p. 124. A prolito-
em a
longo, é urn sImbolo feminino e refere-se a uma deusa, Laksrni, cia ligaçao espiritoiul" pocieria iguaIment" verihcir-se ennre 1 dry inn
a esposa de Visnu (ver Zimmer, 1955, vol. 1, pp. 158 e segs.). Em ordem, a clinastia reinanre e o clero Brahrnana. 0 argument'' foi
Bali, a principal esposa de urn senhor é chamacla, na !inguagern originariamente encenado, sohrctiido corn base em material camLx'-
mais eleganne,padmj, 0 que é aparenrernenne urna mistura Pant o rci hal nCs chamado ti !,'er'y, ii
do SnSCFiCO jano, por Bosch, 1924.
atfli, '<esposa>>, e Jiac/ma,
"consorne de Visnu>> (Gonda, 1952, mu ndo, Goncia, 1952, p. 1 86; Grade'., I 9i( II>
P 370). A padma
rambém surge corno irnagem feminina de urna Sohrc 0 horrifador corno 1ing,ç'c 1-looykaas. I 96'Lt pp.
deusa na figura da deusa do arroz, Dewi Sri, nalvez a mais popular <<purl-
14$- 150. Sobre o borrifador (us) eaaspersio (me/it, sin
clas cliviridades balinesas (notas, p. 233).
ficaçio>>) cm si, ver i-Iooykaas-vait Leenwen Boonukamp. 1961.
0 rito inclui, prinleiro, aspergir os airates di: mocio a Oq deuses
NO'l'ilS 277
NEGAR11
aSsufltO, ver Sherman, s. d.; para uma crftica da ligaçao, bascada
sc possaiu seniar neks, bern como aspergir OS próprios crcntes, sobretudo nurna inrerprctacão cm termos indianos dos dados de
inclinados em vujila, Corn as mass na tesra em arirude de obedien-
Angkor, ver Kulke, 1978.
cia (cemh,h) defroiute dos deuses sentados, vénia esra que conipleta
a <coinunhao'. Para uma brevc descrição, ver Bclo, 1953, pp. 47
-2; para urna lentativa tangencial tie descrever algo do seu signi-
136-17
licado c armosfera, C. Geertz, 1973c. A água benta pode ser fcita
virtualmente por qualqucr urn (ou mesrno rccolhida de certos lagos Sekti
nascen [Cs sarac1as), ulas so a que provém de surnos sacerclotcs
tern suficienre porência pant ser usada em ccrimónias reais. Para Tal como corn estes outros conceitos (polinésicos, árabes, arne-
dcscriçôcs dos rituals complcxos através dos quals o sumo saccrdotc
rIndios, malalos, gregos, ou quaisquer que sejam), sekti nao é urna
prepara água benta, após icr primeiro conduzido a alma de Siva ideia abstracca gerat, urn pedaco de teoria prirnitiva, facilmente
para dcntro do scu corpo C unificado a sua pr6pria alma corn esic, resurnida numa qualquer fOrmula cascira e descolorida corno scja
ver Hooykaas, 1966, pp. 35-42; Gonda, 1952, pp. 167-168; ci. <elecrricidadc espiritual. Antes, e como des, é urn sfrnbolo reli-
Goris, 1926. Sobre a água benta em si encluanto "mistério central gioso de tonalidade cspecifica e de delicada nuance, atraindo para si
da ue!iguio hindu balinesa... charnada Agarna Tirtha, it Rcligiiio da mesmo o seu significado, tal corno o fazem todos os sfrnbolos, a
Aiva Sa gradat, ver Hooykaas, 1964a; cI. Gonda, 1975. Urna vez parrir do mundo ritual que imediatamente o rodeia. Para utna
mais, ci simbolismo do /ingga no lotus é rambéni urna unificaçao cririca clesenvolvida das abordageris tipologizantes da defInicão dos
iconograiCa dos princIpiOS masculino C ieniinino. Para 0 cnquadra- conceitos religiosos, ver C. Geertz, 1968, cap. 2. Para a aborciagcm
meow inciolOgico, oncic a unificaço surge como 0 pac/mayonl, ver geral da análise da rcligião aqui empregue, C. Geertz, 1968, cap.
Z.imrncr, 1955, vol. 1, pp. 16$ c segs. (cli Bosch, 1948, pp. 196- 4, e C. Geertz, 1973c. A definiçao de carisina C retirada do American
.199) 1-leritage, 1969.
Sobre o kri.t (mas corn cautela), Rassers, I 959b. Sobre o rouca- Sobre murta, Gonda, 1952, pp. 357, 134. 0 uso mais comuin
do sacerdoral, Gonda, 1952, p. 196; Stutterheim, 1929. Sobre a
de murti em balinês é cm trimurti (ter três fbrmas on contornos>'),
.ilrna que vai paia o cu, Swellengrebel, 1960. 0 liugga no qual a
0 qual dernonscra a trindade fndica de três em urn de Brahrna,
alma e transportada para o ceo é urna transforrnaçào da t<gigantes- Visnu e Siva, bern como o altar do templo corn três comparrirnen-
scrpente, -i niada de branco, negro e riscas douracias>t (.lue 0
tos a des ciedicado (Gonda, 1952, p. 134). Aparece tambCm em
iclatu de 1-leirns i!tXIO, p. 127) menciona corno senclo tatingida>> rnantras como urn estádio do culto que l-looykaas (1966, p. 173; ci.
LOOl selas tic flores pelo surno sacerciote durantc a crcrnação - ver pp. 126, 138) rraciuz corno aparição - tornar a lorma do Dcus".
(iovarrubias, 1956. p 387. Sobre a exrremidade da torre cremalória
Sobre sakii, Gonda, 1952, pp. 134-135; para a sua aplicacao no
Ic nobre, Covarruhias, 1956, p. 369 (ver o dcsenlio). Sobre 0 Ca-
ritual popular, Mcrshon, 1971.
dafalso, Gonda, 1 952, p. 196. Gonda (1952, p. 197) menciOna
Sobre Brabma c Visnu corno sek/is dc Siva, ver Gonda, 1952, p
,mhCm iuna cspecie de Idolo, feito de moeclas, sândalo, ou partes 134; Goudriaan c I-Iooykaas, 1971, p. 607. Para urna formulaço
loiziar (urna CSpCCIC de paliiit) <como sendo Iin,c'ga em Bali, e popular da trindade corno Brahrna Siw.a (Brahma), Saicla Siwa
,.uere inesmo (p. 233) que os vulcöes podern servir de sImbolos (Visnu) c Prarna Siwa (Iswara)>>, ver Covarrubias, 1956, p. 290, o
.ai,çga (vet tambCni Covarrubias, 1956, p. 290). Morivos Iin.gga qual comenta que até esta divindacle se torna, corn a rIpica corn-
.parecem eni varioS ripos dc clecoiaçöes arquitectoniciIs c irnprc- preensao errada halinesa, nurna divindade em si charnada Saughyang
am roda a iniagetica dos mantras. Os culros de ling,ç'a-rei sagra-
[('a clivindade>>, Gonda, 1952, p. 1351 Trimurts on Sang,gah Tzga
sao, obviarneiite, gerais em todo o Sudesre asiatico; talvez 0
I it [três santuários>>] Sakti. (A tipica compreensão errada, ou rnelhor,
1 P.) I) I lIE) I IJI
278 NEGARA NOTA,V

incompreensäo, está, é claro, no pensamento de Covarruhias, e no


C. Geertz, 1956, pp. 47-56. Para 0 SCU (ISO 110 pensarileflt(' reli-
no dos Balineses.)
gioso javanês (oncle, sob a forma de lahir e bairn escapou a rracluçao
Para urna discussao interessante, e focada na polItica indonesia ra termos islârnicos), ver. C. Geerrz, 1960, Pt. 3.
recente, do conceito apareritado de poder javanês, incluindo urn
Sobre os puras (oncle a cljvisão C fre&1uenrc,oenre uroidica, corn
contrasre entre ele e o conceiro ocidenral recebido, ver Anderson, urn pitio exterior e urn <<exterior rnédio'> jaha u'ngah - -- por
1972.
oposição a tim interior), ver Arclana, 1 971, pp. 16- 1 S. Sobre Os 1P>O>
(ou puns), van cier Kaaden, 1937; Moojen, 1926, pp. 71-/8.
estampas 23-59 (cf., pat-a Java, Stutterheirn, 194; r Pigeaud, I 960-
7 i4 1 5>)
-63, cap. 2 <<The Capital>>). Sobre 0 lotus, 1-looykaas. I 964O P.
OS ourros eXernpk)S fomrn eSpc)ntanearneni< Ornec dos por l)II)r-
Biiwana agung/biiwana a/il madores.

Para a versão <macrocosmo/microcosmo,> ver, por exemplo,


Korn, 1960. As formulaçoes em rermos de rnacrocosnlo/microcos-
139-21
mo do re1aço paralela entre o mundo dos hornens e o munclo dos
(lenses encontram-se muito espaihaclas, como C evidenre, pelas Para urna an>uI i se dos concepçOes bali jiesas do Idenrl(kide. p' >ai
sociedades tradicionais complexas - China, Babiiónia, America
em terrnos dos ripiIicaçoes culturais cjue as cki>nern, vet . Geeri i.
Central, Israel anhigo, India. Para urna recensào get-al, que acenrua
1963b; 1976.
a similitude destes variados padröes urn ranto t cusra cia sua diver-
sidade, ver Wheatley, 1971, pp. 436-451.
Para a glosa <<mundo material/mundo imaterial>>, ver, pot exem-
139- 26
plo, Hooykaas, 1966, pp. 29, 33.
Para exemplos rexruais do uso de jaba/jero, Hooykaas, 1966,
Os termos /niri, <<palácio>>, e p/ira, <<templo.->, derivam arnho U.>
pp. 33, 70-78. ><Alma>' não é a meihor traciuçiio do balins jiu-'a rnesma palavra sinscrita para a <<ciciade rortiiicada'<; C, eli> ova
(ciuc cleriva do sânscrito, jii'a, <<vida>>); rnas o esforço pot fugir it
menre, em textos IllaiS antigOs, pii-i (set., per;) serve paro OS (lOIS
odas as conoraçöes ocidenrais na traduçao de rermos balineses pocle
signifIcados (Gonda, 1952, pp. 196-197, 219; ver rambérn mi/il>,
Iicilrnente concluzir a urn retrocesso scm fIm. Se se quisesse set es-
p. 173. Compare-se corn o manual ) avafles d Nr>a onduta r >
tranhamenre cuidadoso na tradução, quaiquer coisa como <<capaci-
funcionOrios cia corte, o Nawanataya: <<A que C c'ue se han a nqw-
dade de experirnentar>> seria (urn pouco) meihor.
ra." Tuclo onde se pode it (fota do seu COo)plcXO, sem passat atm-
Sobre casas nobres, status decrescenre, <<sair>>, e ourros, ver fexto,
yes cle arrozais.) 0 clue C o p/Ira? Interior dc Pavilhiio V(.-t-ira-I ho.
cap. 2 e p. 80. Tal como explicaclo (texto, p. 80, uma vez que,
Qual C a essncia do purl? Interior do... piirio principal do complcxo
norrnalmenre, se encontra puri em vez cle jero aplicado a casas de
real'> (i'igeaud, I 960-63, vol. 3, p. 121).
status muito elevado; assim tambCrn se encontra dalem - uma
palavra emprestacla do javanês para ><interior>> - em vez de jero,
aplicado a pessoas e subdadias de inuito alto status, ou '<reais>>.
14 2-5
Da/eiii C, elecrivarnente, talvez a forma mais cornurn cle as pessoas
se referirern ao rei, a sua famIlia mais próxirna e a sua residência.
Para urn resumo completo do sirnho! mo <coSmolcJgIcO> (las
Para a irnagérica clenrro/fora no estaclo tradicional javanês, oncle ela ciclades e palacios rraciicionais clesde o F.giprc - do SitmCria arC a
era ainda mais patente, ver Rouffaer, 1931; Moerrono, 1968, p. 27;
China e a America Central, ver Wheatley, 11)71, esp. cap. S. Cl.
280 NEGAR11 NOTAS 281

Fhacie, 1954 e 1963. Para o Sudestc asiático cm geral, ver von 144-24
I-ieine-Gc-ldern, 1930.
Dc encre os espacos sagrados, os ncimeros seis e sete erarn
essencialmente locais para agradar aos deuses c o n(mero quatro
era-o para aplacar os dcmónios. 0 oito era urn sImbolo do monte
Meru, sobre o qual mais será dito em breve, juntamente corn os
A plania do paLacin p1 aiiteriOrrnCfltC rcproduzida de lorma portoes (3, 15, 16). 0 cinco era uma plataforma elevada, de pedra,
rnais geral (Geertz e Gccrtz, 1975, p. 144), foi dcscnhada e dcci- e coberta, onde os juIzcs rcais se reuniarn para decidirem sobre os
Irada por Cakorcia Gdé Oka Ijcg (no/as, p. 179,:cuc nele vivcu casos (no/as, p. 299). 0 dez, corno já foi referido, era urn templo de
cm ianLc Os primeirw trczC anos da sua vida. 0 rci reinante (Déwa subdadia, supostarnente fundado pelo irmão do avô paterno do rci
Auei' da altuca era ainda jovem ele peteceu durante o pup/itan reinante quando o era carnbém, enquanto o catorze era o templo de
-, tendo o seu pai morrido recentemente. Muitos pormenores origem para a linha real Mengwi, cujo flm foi já descrito (texto,
foram owl tidos ila pianta, regularizada. Para urna versão mais lire- p. 23). Nao consegui apurar porque tinha este iiltimo aquela loca-
ml do deseuho de urn Jmri (o de Gianyar), ver Moojen, 1926, p. 73. jizacao, e qual a sua funcao em 1905.
Para focograllas do pliri Klungkung, Moojen, 1926, estampas 51,
5. ULUa breve descrição LIC Puri Gdé Tabanan é apresentada in van
Geuns, 1906, pp. 72-75. 144-28

Einbora so o altar padmasana esteja indicado no esboco, o templo


14 3-19 da linha central continha urn grande nCirncro dc outros altares,
pavilhoes, etc., cada qual corn a sua importância. Para diagramas
0 "teinplo da cladia real '(2) é o templo nc coda a casa real dc compictos de templos reais, ver van der Kaadcn, 1937; Moojeri,
Klunskung, confiado em qualquer mornento cspccifico a intcndên- 1926, p. 72.
cia do rei reinance, ncstc caso o DIwa Agwig. '<0 rcmplo da sub-
dadia real' (10) é urn rcmpin dc alcaricc mais rCSttiW, cLija congre-
gação iniduIa, em 1905, todos OS quc descendiarn (patrilincarmente) 145- 12
do hisavô do ret (mais as suas cspo.sas ritualmcntc incorporadas),
para aLcm, é claro, do própnio rci. Sobre tudo isco, ver Gccrtz c Mais precisamente, o templo é o asseiito (exprcssão, encarna-
Gcercz, 1975, pp. 143-152. ção, locus) do carisrna/sekii da dinastia, o ukiran é o assenco (expres-
são, etc.) do carisnia/sekti do palácio c, num sentido mais lace, do
negara - dinastia-paizIcio-capital-reino -, como urn todo. Sobre o
143-32 cixo do mundo (axis miindi) como categoria religiosa geral, ver
Eliadc, 1963, pp. 374-379, crnbora a sua forrnulaçao não seja
Sobre a dtscribuição geográfica das linhas rcais de filbos mais sulicicntcmenrc relativista Para set apltcávcl aos dados haliiicscs,
nov05, ver texto, p. 76 e mapas 2 e 3. ondc tais eixos não são estratificados, inas sirn competitivos (texto,
p. 157).
282 NEGAI?A NOTiIS 2S

145-18 mas corn cuidado, CO() semprc, Rassers, 1959-a, pp. 1 68-186)
Sobre as .ofrenclas cornensais'>, gigilntescos mont-es de arroL orna-
Estas <<semanas>> e estes <canos>>, uma vez mais, nao são sernanas mental, ver Gronernan, 1896; Tirrokoesoemo, 1031
e anos no sentido ociderital, mas sim proclutos da mecibnica de urn Sobre a importancia do mont-C Agung (concehe-se, de lad to,
complexo calenciário permutável que define categorias qualitativas c'ue os (leuses vivem sobre dc, mais 'In que ode) C cc sisrlm,s
de tempo em termos de inieracçibo de ciclos de clias norneaclos, direccional a dc associaclo, ver Swellengrebel 1960: Covarrubiis,
ciclos esses de duração diferenres (norris, p. 237, e as referncias aI 1956, pp. .4-10; 1-looykaas-van Lecuwen Bonitikamp 1956 Ttl
ciraclas). Pat-a wukris e o calendário balinês de dias santos, ver Got-is corno ji mi reiriclo, agiing significa cgrandii.iso 'v:IscO" "pt-i iii I -
I 960b; para ossignificados de iikiran, van Eck, 1876, p 12, sob pal>>, etc. Pat-a alc5 in do alt-ar do mourn Agi tog, encOfluiair1-Si lit
hueklr. quencernente alt-ares slinilares, rcpresenmndo 'urros vulcàes dci ceitiw
Fmbora a cliscussão no texto seja clesenvolvicla em termos cl-as da i Iha dc Bali, G unung Batur oct Gunting Bat-it Kau Oaclin n 2-il).
casas reals (i. e., as dos senbores suseranos de <linha central>>) como Pat-a desenhos clestes alt-arcs, pequenas estrur,iras 'Ic mackit-a C pet-It-a
forma paracligmática, o padrão é o mesmo, em versibo recluzida, nos corn teihados em forma de pagocic-, ver Covarci bias, 1956, reverso
nIvcis nobrcs secundário, terciirio e sucessivos (periféricos>>) bern de p. 266. Sobre o reniplo suprerno, Besakih, '/cr /c/O, '.
como nas casas (jeros) ramifficadas menores em causa. Em muitas Pat-a os alt-arcs Meru Ct-fl SI, ver Moojcit, 1926, py, 81-96 (t:ntlirna
destas pode não bayer urn patio zikiran corno entidacle separada, nern cudo deva set- tido set-n urna acitude crfrica), r esranij'as 71
estando esce localizado no seio da câmara mais interior da area de 79, 88, 1.48, 183, 184, 198, 200-202; Got-is, I 038; Gons, S. d., cs
campus, 4.31, 4.34, 4.45; Covatrubias, I 9( ?6:; van Erdc,
habitação do senhor ou, freciuenternerite, na fronteira entre as duas
(ver, p. cx., Moojen, 1926, p. 70, fig. 13; pot-em, dc traduz erra- I 910. 0 ni'irnero de telliaclos Meru (qiie e ernpre brat-) relic-etc
0 dens - c o status do dens - a quen cit-rut-nra i ,kalicda: otize
climen re por <<resiclência>> [woning] do <4residente I)ri ncipal>> [hoo//-
pat-it Siva, nove para Brahrna oct Visnci. e ,is.cmi succ-ssivarnc'nru (van
beu'onerl -
Erdc, 1910). Reflect-c rambCm o status dos 'Iou> u. <lii c-mph
norris, p. 290. Pock bayer mOltiplos altares Mccii nurn so cu-ni; 'In.
14 5-24 C 0 cent-rn 'Ic urn Met-u forma urn poço aberro que os ditsec it-an
i1t-iI cIesc-crern ho tcmplo. Pat-a urna pintitru d<- nut altar Mcrii lull

IVlonte Merti remplo rca! (Bangli), ver Larnster, 1933, p. 31.


Sobre o aspecro do <<smboIisrno nab utah' do Met-u, v(7t
Sobre a concepção Indica do iMeru (Sumeru; Maharneru) - <<a mer, no respcitantc it India (1955, vol. I p. iS); Rasser% pt-a Java
I 959a, pp. 173 e segs.); Moojen (1926, pp. 00-0?) - van dci I-loop
montanha quadrangular central do universo. -- que se ergue do monte
rnédio da superficie da Terra mais ou menos a forte da cordilheira (cit-ado in Got-is, s. 'I., p. 29) pat-a Bali. Toclo', cites crud ins u-:ulc:t
dos l-Iimalaias, como eixo vertical do cosmos em forma de ovo...>>, ram o lilOtiVo da moncanha corno icpre-incliimno" diLl f1iCSIII0
ver Zimmer, 1955, vol. 1, pp. 47-48, 245. Pat-a as suas expressöes -ariano"; parte 'Ic urn complexo dc Lir-slinbolo arLalu:o refleerido
incionCsias (e urna tentaciva de o associar an caule do torus), Bosch, rarnbcrn nas pirarnidies egIpcias, no zigurate h,ibilOnico, i-ta T i(- re
1948; cf. Siucterheirn, 1926; StOhr e Zoetmulder, 1968, pp. 308- de Babel, etc. (cf. Eliade, 1954; Wheathic, 127 I , pp. 114--il 9).
-312; Gonda, 1975. Mas rudo iSSO, akin de set- cxtrernamcntc especufarivo, C dc utile
A c<personagem do teatro de sombras" é o charnaclo giinungaa' clack meet-ta para a interptetacibo das CoflCepçOCS Fcalinesas novececi-
(<(rnonranha>>), ou kayon ((bosques>>), um quase triangulo de couro tisras. Pam tirnic inccrprecaçac) do 'arandc- minurnerito Javan(s, Bo-
rranslOciclo, pint-ado de modo a parecer urna forest-a das terms robudur, COOtO urna imagern Merit, vet- Mus, I 935. vol. I , pp.
alt-as, que funciona corno urn-a espécie de p-ann de cena na peça (ver, e scgs.; cf'. Bernet- Kern pers, 1959; idem, 1976. Sobre Aitkor ,:ksck
784 J'JEGAIM NOTAS 285

cstc poow dc vista - o ual rcnicc iocla it qucstão para as idcias 146-17
1ittt[iea5 t'eSpCIlaiilCs ao itiandala - ver Mus, 1936; 1937. Pam
0111 1111W Javan&,, daLado do século XV ou XVI, rclatauido o trans- Sobre o kris e o design do kris - forma dc punho, contomno da
porn: do monte Meru clesde it India e dc Java, para conlerir csta- 1mina, damasquinaria - vet Rassers, 1959b; Groneman, 1910;
buludade it ilha de Bali isto é, flize-la parar de crcrncr -, dc Jasper e Pimngadic, 1930; Meyer, 1916-17; Solyorn e Solyom, 1978;
tuiodo aus homens poderem nela viver, ver Pigeaud, 1924. Carey, 1979, n. 58. As histórias javanesas sobre kris, que são em
Sobre a iconografia Meru dos portôes ba!iuieses, cindidos ou gemal praticarnente as mesmas que as balinesas, poclern-se encontram
i:obertos, ver Moojen, 1926, pp. 96-103, e estampas 2, 17, 18, 35, em várias panes in Pigeaud, 1938; para urn exemplo balinês, ver
37, 13, 45, 47, 51, 75, 76, 87, 97, 98, 109, 110, 114, 115, 118, de Zoete e Spies, 1938, pp. 299-300; cf. Wotsley, 1972, P. 21.
70, 140-1 412, 1 50, 151, 156, 158, 159, 168, 173, 174, 191, 192, Sobre rclIquias familiares em geral, ver (urna vez mais para Java,
95. Ci. Covarrubias, 1956, pp. 266-267. Para hoas lorografias do onde são chamados pusaka) KaIff, 1923; para Bali, ver Swellengre-
>irrio crndudo em Bekasih, ver Goris, s. ci., cstarnpas 4.19, 4.20; bel, 1947; e cspecialmente Worsley, 1972, pp. 21, 52-53, 218-
ver iarnbérn 4.21 1 a, para urn portão coberto, 4.22. Pinturas de -2 19, onde se encontra uma discussão desenvolvida sobre o papel
p,rtOcs cincliclos c cobcmtos aparecern rcproduzidas in Lamstcr, 1933, das relIquias farniliares, kris, insIgnias, ou qualquer outro elemen-
I:.1. .'k telaçao enure cstcs dois tupos dc portöcs irnagern da won- to respeitante a legitimidade real. Os waris (ouJmsaka: outro termo
auiha tern sudo mais dcbaticta quc csclarccida. Tern-se defendido balinés frequente é kaliliran) não se rcstringcm a arnias, é claro,
.luC 0 porcio cindido exterior reprcsenta as duas rnctades do motile mas incluem tudo o que seja passado cm hcrança e que seja con-
'\lcru separadas por Siva para permilir a passagern; diz-se que o siderado de significância e poder rcligiosos, incluindo a ttadição
'()rlao coberio interior, normalmente encirnado por telliados Meru corno urn todo (p. cx., como in Rawi, 1958).
in pedra, represcuta a sua rcunião, para significar o cumpriunento
da passageun. 'rem-se defendiclo a ideia de que o portão cindido
crcSeuula it scparaão de inasculino c fcnuinino; ua coberto, it sua 146-34
ileuuiudade. Tcnisc dito qLic o portio cindido rcptcscrica a divcrsi-
lade dc Deus; o cobcrto, a Sua uniciclade. E assiun sucessivamente. As citacöcs são retiradas de Goris, 1960b. Niwatakawaca é o rci
I: sias varuadas iii terpretaçôes não são incompat!veis,e cent), dada it cicmónio contra o qual Arjuna luta na épica medieval japonesa
>irerna polisseinia e sobmedeterrninacao do simbolismo balinés. Tao- conhecida como Arjmia Wiwaha. Sobre it importilocia da noçiio de
ouco a etimolo,ia ajuda muito. Cajicli, deriva de urn nornc <<omigern> ou <<ponto de origem>> - kawitan - em Bali cm gcral,
Ic Duuga, é a palavra em javanês antigo puma urn nionurnento Sc- ver Gccrtz c Gcertz, 1975.
nuicral, urn sugnufucado que aparentcrnente perdeu em Bali, en-
tuarico sugnufica <cicvado>>, <<0 mais alto>>. Quanto a /rndarak-
i, sugulitiCa uaruta>>, >ponro forte>, <guardiao> (Gonda, 1 952, 147-2
.,o. 196, 198, van Eck, 1876, pp. 40, 19'1). A muito ncccssitada
i>ruograIia sobre arquitcctura balincsa CIUC vcnha substituir it de Tumpek refere-se, na realidade, a urn dia que acontcce cada
.'ojcn, utul mas nào miii to bern unfotmada (1926), pode rnui to trinta e cinco dias; isto é, ao f'um dc cada quinbo w,ikzi. Toclos os
en ccrneçar 1>01 uma invcstigação das entradas kalinesas - tanto tumpeks, que <<fecham>> algo (e anunciam, portanto, a <abcmttira> dc
qualquer outra coisa) são dias santos, celebrando 0 q'-' (ILICt CILIC
seja que se identifica corn o seu wuku: carnpos de sequcimo, criaçao
de animais, tearro de sombras, etc. Urn dos tumpeks, 'riaizpek Kiwin-
can, é urna das cclebracoes populares mais irnportantes em Bali,
286 NEGAJM NOTAS

comemorando o regresso ao paraIso (alguns dias anres) dos antepas- i do supra-hurnano minimizando ou mesmo apagando o contrasru
sados cremacios que haviarn desciclo a terra durante a semana an- entre esre e o huinano, a tenrativa era no sentdo de rnant:r () infra-
tenor. Sobre tudo isro, vet Goris, 1960b;
Sugriwa, I957a, pp. 29 jmo c animal Istico ao largo, maximizanclo 0 rorirraSre &iltre
e sets ri como Sugriwa refere (p 30)
rumpek Lanc/ep associ tclo c 0 hurnano I feccivmcnre toch (l1l flhiC d icr Cli 1111 hR
corn as ancigas casas rcais e seus dirigentes, viu a sua importncia implicarcirar chcgar pertO, por irnitaçio, do'; r tnks rnaS
diclin ir nos dis de hoje mis COntJflii i a reii,r sc Para urn incir por cleimit iO Os 111 ii initri<>rcs ( u- a diiinic, levi'
i cltsr,
ecjiiivalente )avans de Tumpek Landep - cFiamado
Nyirain, de<Javar>> <<Conclusio) .Subre a fobia halinesa respeirante i anim:ldad' (lCSlC
'banhar>, <purificar>> - ver Gronernan, 1905.
, este potito de vista, 'cr Baceson e Mead. 10412. Sobrr as erencas
balinesas nos dcrnánios, Mershon, [970; Lielo, I 949; (..c'varruhR,
1956, pp. 320-358, embora eStC It,rno cnnfiinda Llfl(h.)V(N
I 17
menre dc'mónios coin bruXaS (cf. de Kan Aiieino, 192 Id).

Os espaços cIvicos (incluindo a praça pcibiica também chamacla


hancinç'ah (ia qual estes espaços cram, hum cerro senrido, urna 148-6
extensilo) formavam 0 terreno no qua! OS
que cram <'exreriorcs>> ao
palacio, os scibditos kau'u/a do reino, acorriarn a juntar-se ao soar
Bareson, 1972.h.
do gongo rachado, e os que eram do "interior,> do paiácio, os
senhores pun ggawa do reino, se aproximavam o máximo. Urna vez
mais, isro acontecia sobretudo por ocasio das grancle.s cerirnónias. 148-15
Mas acontecia tambérn na convocaçiio para a guerra, nos dias de
audincja do rei, e por airura das deliberaçoes do tribunal real. 6 clifIcil clererniinar cjuantos plchcussao crcniacios, meSiTi') j).tr.i
Os espaços de cámara funcionavam como aposentos privados do o tiosso seculo, c]uanro mais face ao SC' '110 ssado. Ilooykaas (s. >1.)
rei C Corno seu escritório dc trabaiho. Nestes espaços o cadiiver real,
cliz ctie talvez só urn ciécirno cia popui'açao dC Bali e Incinerach ";
ou o de qualcjuer rnernbro cia fiimIlia real, era lavado, arnortaihado, Swclicngrchel (1960; ciranclo Bhadia, s. ci.) di ri ira por ccciii'.
a c'ie se endcreçavam cimnticos, e era preparado ritualmenre de ourros lImit vez cjiie it crcrnaçao era obrigatorcii para rock>s --
modos antes de set levaclo para os pavilhöes morrurios para expo- e levacia a efeito por tocoS, a excepçao dc i.inw minion. -'pm
sçiio pblica. Neles o rei dormia, quando n5o se dleirava corn urna porçao de Suclras cremados nao pode aigurTi., ye? icr si'i' mu>'
clas suas esposas. E era neles que o rei forjava e quebrava os Iaços grancle, embora, dada a suit populaçao, 0 ri6mero dvi
de ahiança, clienrelismo e diependência j;I descritos - isto é, si.nificanivo. Os Suciras e a mifor parte dos Ir:u'ansam cEll nrc' -
poli tic va
racios, normal menre por urn exteriso perfoclo de tempo (nah;tns
Os cspaços residienciais, sirnboljcamenre disposros cm tomb dos casos vinrc c cinco ou trinta anos) anres de serern exurnadn para a
trinpios cia iamIlia, cram harmonizaclos corn muiro cuiciado pela cremaçao. Nias os seihores iniporcanres cram normal nieiim r riiiLeil -
boa educaçiio prevalecenre - calibraclos segundo as complexas sarnados e mantidos, por vezes rambeni por racO,iv'-s perocio ii',
difereiiças de rank entre diferenres varieciacies de esposas teais
e suas patio privaclo do sets /niri ou jero (i. e., it. 1'. ni Gguru I ante';
iwoles, e rambém segundo as não menos complexas diferenças geradas de serem queimados. Os sacerdores Brahmana no pod am cer
pelo padiribo do status clecrescenre. enrerrados e cram crernados o mais rapirian cnn- possivrl, igu ii
Finalmenre, nos espaços impuros, homens e dern6nios conrac- mente no prazo de OitO clias; enquanro, no cmtiro exrieim>, 111M,
tavarn e acjui tamb6m it cerimónja se infiltrava. So cjue, neste caso, pcqucna percenragem cia popuiação plebcia -- us haniad . ha I
0 sets fLincionarnento era inverso. Em vez
dc procurar chegar perto Agas - mm creniavarn de rock (Rareson e Mcmi, 19412, pp 0.
288 i'JEGiIRA NOJAS 28)

232). Dc urn inodu geral, quanlo mais clevado o status de uma muito major cm Bali que na India, oride permalieceti, C permanece,
iarnIl ta, latilo mais incumbcntc era a cremacâo C tanto mais rapi- como urn assunto relativamente simples. Para uma breve compara-
(larriente ela devia sec efectuada, cm teoria, havcnclo perfodos es- ção dos rituais balinCs e indiano, ver Crucq, 1928, pp. 113-121; cf.
pe.ificos recoincndados para as várias varnas (Friederich, 1959, Goris, s. d., pp. 125-130.
p. 84). C) mornento da crernaçio dependia iarnbórn de conside- Toda a questão da relaçao entre as formas balinesas c indianas
raçöcs calendares (dos 210 clias do ano balinês, so 12 cram apro- pode muito bern ser esciarecida quando a influCncia do taritrismo
pLiados; Kcrsten, 1947, p. 159) e, obvianiente, sobrctudo de con- for tornada em consideração, corno já comccou a s6-lo no rcspci-
sidctaçöcs prai.icas. tantc it tradição kraton javanesa. Devo este cornentánio ao Professor
F. Lehman.

148-21
149-3
Cons, s. d., p. 126. A envergadura e os gastos enorrnes das
cucmaçöes balinesas tern siclo apontados por quase todos os obser- Como tudo o quc e balinCs, havia niuita variacão no pormenor,
vadores. Covarnubias (1956, p. 359) chama-Ilies <<espaihafatos lou- e estas actividades (mais urn vasto n6niero de acrividades associa-
cos de extravagancia>>, c alude vagarncnrc (p. 362) a <<crcmaçöcs de clas, não mencionadas aqui), podiam set esticaclas ao longo de vários
pnicipcs c1uc cListam... cerca de vinte c cinco mil cI61arcs>. Batcson dias (Wirz, 1928; Covarrubias, 1956, pp. 363 e segs.). Os senhorcs
c Mcad (1942, p 46) falam de pessoas <<vcndcndo tuclo 0 quc cram gcralmente embalsarnados, e os seus orpos cuidados, por
1,ossLienri para as podcicm cfcctuar. Goris (s. d., p. 128) escreve vczes durante meses, por criados reais parekans - texto, p 85) quc
sohrc o dispCndio do >>total da major parte de urna hcranca de cram considerados, resultantemente, como estando <<mortos>> c,
muitos rnilharcs de guilders>>. Swellengrebel (1960; citando Bad- portanto, exilados, pelo que em tempos mais rcmotos cram possi-
na, s. ci) cia notIcia de wna cremaçao recente em Tabanan custanclo velmente mortos e sacrificados corn o seu senhor na altura da sua
sets ou SCLC Mil dólares. E ciii relacao it dCcada de 1850, Fricciricli crernação (Iriederich, 1959, i 85; Covarrubias, 1956, p. 386).
0959, p. 99) cscrevc: Os sumos sacerdotes não se aproxiniavarn normalmente dos
mortos, excepto no caso de indivIduos de status rnuito elevado; it
Lorpos inoruos no [negara dc) Den Pasar... j2i cstão [por água bcuta era frequentcmenre trazida por parcntcs desde a casa do
>rcrnarj ha quluze ou vintc anos... [o rci de] Kassiman sacerdote. Havia tambérn urn sistema extremarncnte complexo de
[urna casa rival] impede csta crcrnação por razOes polIticas, efIgies que Sc manifestava ao longo das cerirnónias de crcniaçio
pois cia pock retirar-Ihe o scu prcstIgio; outra razCo sao os marionetas, honecas, fantoches, desenhos, construçöes de fibres C
bcns do actual principe de Den Pasar, cujo rendimento foi vegetais, trouxas de roupa ernbrulhadas -, algurnas representanclo
muico dirninuIdo por Kassiman, e que não conseguirii por a alma, outras 0 corpo, algurnas representanclo flTiC5IflO pirtcs do
muitos anos reunir a soma requerida para uma cremaço to corpo. Não se iiode abordar estes clementos aqul, embora des scjam
grancliosa. de irnportCncia crucial para uma compreensão dos conceitos baline-
ses de morte, espiniro, vida pósturna, etc., bern corno de persona-
Não ha cerreza de quando a cremação foi introduzicla em Bali. lidade e representaçãu. Sobrc todd) este assunto, ver especialmente
(A afirmação usual de que se trata de urn facto pos-Majapahit - Bateson c Mead, 1942, pp. 44, 239, 248-252; Grader, s. ci.,
p. es., Covarrubias. 1956, P. 360 -, baseia-se em P 011C0 mais que pp. 30-39.
no facto de as suas (Irigens .serern Indicas.) Dc qual(]ucr maneira, a A noire do segundo dia, a ObediCncia, assinalanclo o fini da
nstiruiço dcscnvolvcu-se no senrido de urn grau de elaboraçao poluicao (sebel) que o cadaver causara, era habituairnenre marcada
290 NEGARA NOTA.S 291

pot rntsica, danças - riornialmente danças guerreiras ( bans) cremaçIo de urn senhor menor acornpanhada poi nada menDS ( l1 i(
rearr() de sombras, festins, e outras celebraçoes, incluinclo urna leinira 250 cremaçöes Sudra, e cci mesmo presenciei a enorme cremnçao <:1<-
pcihlica de Bhjma Swarga, a hisrória da visita de Birna, urn dos urn sumo sacerdore em 1957, na qua! hitvia 460 corpos acompa
Pandawas, a terra dos mortos (Covarrubias, 1956, p. 375; cfl Hooy-
nhanres, sia (te.'cio, p. 54 da casa Bralimana, agrupacios i-rn vinir
kaas-van Leeuwen Boomkamp, 1956). Sobre sebel, ver Belo, 19701);
torres.
sobre a sua re!açio corn as cremaçöes, Friederich (1959, p. 86), o 0 simbolismo dos diferentes nOmeros dc teihados Mern ,thi
cjual assinala que rido so a lam Ilia real era sebel, bern como 0 paliIcio (1/o.
tambCrn osaltares noS templos de firnIlia .ici 005 mei)LlOiladQS
em si era nwuro quanclo nele se eflCOn(ravi urn cadaver, pelo LOICS do
his, P. p?). Uma causa freqtiente de ci ispura eritre os seni
iue IM110 ii ocupaclo pelo sucessor are depois da cremaçaw>. E uma ci irelto a
Bali clOssico era a controVérSia eli) Wino de quem tiiih;i
POI,
cerirn6nia de obediência é tambérn feira nestaalnira pela farnIlia qUantOS tellinclos no altar da sun torte dc cremaçãO, tel nanTlo-Se
real no templo da dinastia (ii.° 2 na figura 11) bern COiflO jun10 do vexes nunia caLm' pant a guerra. Urn esboçn si mpiificadu de urn,,
corpo (Covarrubias, 1956, p. 371). torre de creniaço de urn <nobre> pode set encontrado :'i Covai to-
bias, 1956, p. 69; ci. a sun riora nas pp 376-327. Pant urns
pitura da VetSO rouro do ciuxao animal, 'er iclern, I
15i tace .1
150-3 p. 324. Tanro as tortes wino os caixöes cram feiros de mideira,
rranspOl LdCI')S cii
loihas dc palma, espelhos, porcelana e pratof,
I hcg.i'.i
0 nOmero de carregadores de água benta (Friederich [1959, enorines esc1uitclrias dc liteira pot citil ncbrneio di- hometis (111C
p. 891 viu '<mais de cem>, corn agna trazicla '<cbs Sitms inaissagrados a atingir os quatrOCentOS ou quinhentos.
de Baii<' e <'cbs [surnoS sacerdotes] em posiçoes de estima especial-
niente elcvadas); a riqueza dos bens pessoals (Friederich [1959,
P. 891, ViLI caixas de betel em ouro e garrafas de iIgua <<tarnbCrn cle 15 1-35
metal precioso", hem como o <ale remenre ajaezado<> caval() do rei
cjue Helms tamhCm menciona); o renorne do poiJer sagrado clas IJill dos aspectos rnais notaveis da crernacao era -fecrivai ninre
reliqutas lamiliares waris; 0 nOmero de orquestras; e assim sucessi- (I SIICCSSOr
a ausencia dc' qunbquer papel importiint&' cii especial part
vaniene — tuclo isto, ohviarnente, tambCm variava (e, em si, erani rei morto. Ele não clevia ocupar o patiI(iO como rei ate epiC 0 Sfn
do
indices dc presrIgio), como variava tambCm, no seio da estrutura predecessor tivesse sklo queimado, rnas pain ibCrn clicrt< nan hay ii,
,geral, a cornposição do cortejo como urn rodo. Sobre estas cjuestOes de todo, umacerirnonia dc coroaçao real menre rnporcaritc 110
e sobre it urciem cle marcha em genii, ver Crucq, 1928, p. 64; uns cantos ac tos riruals menores. Aquih' epic tellS Si.l()
a
Friederich, 1959, pp. 89-91; Covarrubias, 1956, p. 374; larnster, apelidado coino ml C, na realiclade, urna rrirnonia de ordenaçio
1933, pp. 55-57. Cf. Franken, 1960. de urn senhor comb urn tipo especial dc sacerdote (icc; Vec 1/01(10
E possivel que, embora disso não haja provas reais, a cremaçäo p. 268 no respeitante a Siva-ralni; e Friederich, 1959, pp. 81 -821
de caclOveres Sudra cenha sido uma transformaçio, no sentido do Korn, 1932, p. 144). Dc c1uaiquer modo, sO uma minutia 'Ic reis
simholismo, de urn costume anterior segundo 0 qual os sObdiros it bevavam a efeito, e normaimenti' ja avan ados no seil reinado
piebeus eram, como as viCivas, efectivaniente sacrificados. Seja como Havia urn certo nc'trnero dc cerimOruas a seguir a creinaçici
for, it provisibo de urn senhor corn urn sCquito de almas sObcbitas 1 928 p. nP). A flints
propriamenre dim (pant urna lisra, ver Crucq,
para serern aniquiladas juntarnente corn dc era urn costume inipor- i rnportantc (o ngnorasin, mem,,k,ir ou ,ii'ba/i - Cnicci, I
928. Cova
iantc, e provaveimente a principal forma como estes pleheus, cjue robins, 1956, pp. 384-385; C. J. Grader, d. pp. I i. : I -3 )
cram cremados de facto no Bali novecenrisra, alcançavarn essa aconrecia doze dias (por vezes quarenra c dois) depoic cia niorie
cremaçao. Na década de 1930, Covarrubjas (1956, p. 363) viii uma Consistia essencia!nlente na repericiio nc tudo 0 epic acontc-Cera, sO
NEGARA NOTAS 293

cn 'i na Coil, nina Ilor (/ms/ia) rcprcsentuido o faleci- ui cliscutIvel ate que ponto 0 COnCeito de <poder püblico>> do Estado
k.. Kepc ha o lnesiiw icina, a indcstruiibilidadc do rank, dc urna estava presence em Maquiavel (cu partilho do ponto dc vista de
Lotitia aim_Ia mats wtida, porquc dava mais ênftse às actividades do 1-lexter [19571 de que, csscncialrnente, nao está). Skinner situa a
acerdouc C a lam II ta real do que a muitidão preseiste, a qual era transicao crucial, no respeitante a tcoria polItica, na obra do humanism
gerairnente mats lccIuc1ia. frances Guillaurne BudC, Education of the Prince, 1547 (Q. Skinner,
Os aspecros de status da cremação aparcccrn ttrnbém rellectidos 1978, pp. 354-355).
nos coriceitos baliiieses da vida após a morte. Os mortos não crc-
maclos permanecem como almas individuals distintas (pirata) c sao
eiic,iraclos como altamente perigosos, exiginclo apaziguamento Ire- 154-28
queritc através de oferendas colocadas nos cemitérios oncle habitarn,
lao lilx'rtos dos scus cadávcres. Os mortos cremaclos (pitara, urna Donne, citado in The Oxford English Dictionary, em ><Estado'.
iorma ck palavra para "deus>) sao considerados como já não sendo
dc todo tudividuos C, eicciivarncntc, são tidos como benélicos, an-
tcpassados-dcuscs gendicos vivenclo nurn nfvcl adcquado do céu c 157 -2 2
acloraclos ito templo da faniilia (vcr Goris, I 960a). Efecrivamente,
us reis Ictidarios de Bali, 1SW é, os reis do periodo Gèlgèl C pouco Para discussöes gerais sobre a ><realeza sagrada> no Sudesre
cicpois, craw cou5idcrados como cendo (<dcsaparccido>> após a rnorte, asiático, ver Coedès, 1968 e 1911; Mabbett, 1969; Sherman, s. d.
conto tendo asccndiclo directamente ao céu scm deixareni urn cadaver Para Bali, ver Worsley, 1975. 0 termo raja derivado do sânscrito
C. assim, sent necessiiarem dc Utna crcniaçiio, processo conhecido e as suas variaclas formas, C 0 termo genérico mais cornurn para rd
COtOO moka, do sânscrito mok5a, <salvação ou crnancipaçao final de
no Sudeste asiático Indico (ver Gonda, 1973, pp. 130, 224, 228),
Llualclucr existencia corporca> (ver Gonda, 1952, pp. 157, 240- mas ha, evidentemente, muitos outros prabu, patih, etc.), dos quais
251). rnais importance na Indonesia talvcz seja rat/i, do rnalaio-poliuCsio
Quuito aos caclávercs Sudra na cerimónia rcai, des cram mci- datu, datiik - " chefe>>. A "tealeza sagrada>> prosseguiu, de urna
ncrados ao mesmo tempo que o do senlior, nas suas proprias piras, forma apenas ligeiramentc revista, nos reinos muçulmanos da Judo-
mats pequerias e separadas, rodeando a dde. Para Ibtografias do nCsia: ver, por exemplo, Moercono, 1968; Brake!, 1975. A ieferên-
terreiro da crernaçau (.icma), ver Bateson e MCUd, 1942, escampa 96. cia a <<clois corpos>', reporta-se, eviclentemente, ao grande livro de
Kanrorowicz (1957) sobre a ><teologia polItica medieval>' ocidcnual,
qual consrituiu urna das principals influCncias na oricntação da
I 53-1 presente obra. Para urn estudo (na minha opinião forcado, pouco
convinccnrc e demasiado indiológico) feito por urn historiador da
As citaçOes iiiiernas são de Shirley, Pope e Swift, reriradas da India questionando a realidade oct pelo rnenos a natureza da "rca-
exicosa cutrada para <Estado>> no The Oxford English Dictionary. leza sagrada> no Sudeste asiático, ver Kulke, 1978 (cL, corn as
A mesma cOniprcssãu de sentidos se verifica, obviamente, no termo rncsmas reservas, Fillozat, 1966).
cut oucras lInguas curopemas rnaiores - élat, .c/aat, .rtato. Para uma
discussão compreensiva sobre a cmcrgência do sentido ocidcntal
inoderno do tcrmo '<Estado'> eriquanto ><urna forma de podcr p6b1ico 157-30
searada lauito do governante como dos governados, a consticuindo
a atitciridade polItica supreina dcritro de urn certo rerritório defini-
E calvea o grau em que as pretensöes dos reis a <<soberania>> (urn
(.10>, vet Q. Skinner, 1978, csp. pp. 349-358 (citação na p. 353).
termo pesado neste conceito, de cjualquer modo) terao sido neces-
291 NEGI%RA NO'I,IS

:iroiado
sariarnenre universais por oposiço a locais. Dc qualcjuer modo tell] terminados em varniadcva>', 1i11ioxinidiiente di.is
(Coes, 1968, p. 129); e mesmo no Sktll() XIX, depois de todo o
sido discurido. Briggs (1978) chegou a argumencar contra Coedès
(1968, p. 99), que a cerim6nia mágica> do <fundador do Irnpério <lréscimo de status>', o rei de Klungkung era c0iihe,ido C0iVi"
Khmer>,, Jayarman II (802-50), proclarnancIo-o chakravartin (mo- Desva Agung (<<grancle deus"), o de Giaoy.ii: corno DCWa M.itiggts
1Doderosa.
oarca universal,> - literalmente <aqucla que possui a roda que (<<cloce dens>>) C assim pot diante. Para uma afirrnato
darada do s&ulo XIV javanês, da concepçao rei d i vno/govrnante
gira>, <<aquele cuja roda gira>), no inclufa uma reivinc1icaço de
1<10 die i / 1/21)11
S()berrni-1 jYira ilem do <seu proprio reino>> 3vf-ts i rizo 'lptcs€n do ITIU[)dO cli St nhori did-tdc oiick o rei, ( ham
orno i' a iflderi tliz i
tdl I por Bris p ira dek nder esca posi ç o
- que a rsm
nc ce (<(cleus mon irc -t ) c cx1)iidir-trnente r rido
clii NeI,arakcrlacam(1 (111
rlrnonia Iota efeccuada em Champa em 875 e em Java em 760 . do (bhatara )'/r/l1flafha cakala), vet canto I
piirece-rne apolar a perspecriva de que, embora incompacIvel clescie Pigeaucl, 1960-63, vol.1 , p. 3; vol. 1. PP .3't.
qilt, p0! la/0f.
tim Potito de vista ociclencal, uma mulciplicidade de prctensöes Este t calvcz o local certo para htie norar
i ntiodu7lrim ni itch <is tOP ii 'I
iimcnre v dis d ia sober met universal no Su ckstc asiaciconciiuo ohvi is so cic ismnn drncuo. SC
L,u s o exic iii]) 1
cii vist i ii io so corno no sendo iloic 1 01 iS como pirte d t ordcrn fleSti cscndo i ipi n 15 i ic did i que a s ii essid id
norm ii ds coisas Pira urn COnccitO sirnil ii de po/ykratan -krel- is d inquclito sisierflitl( o dc outris lot m iO( S
e'uscciii IC lit Il\
<ciido cit I <is ioi
tim <p ul-icio ic-il - da naturea i dos escidos indicos (javineses) phttc is cl-issi is do Sudestc -isi into Aiii
maçOes incluiiirn: Leach, 1951; Tambiali, 976; Vc11t, 1 <)7. 1.
ver van Nacrssen, 1976, o qual escreve: "Concjnuo no convenci
l3ri< s 19)1 M LSPLW
do d que iii J wa hindu intig i hu ovesse u rn so soberino cle c id i riicli W-iics 193 4 R ibibli mci in i 1960
1958, Reid c Castles. 1975,
vez. As bores históricas cle que dispornos permirem-nos concluir 192$; Woociside, 1971; Gullick,
' limit I I 0S7 11ie 1 060
quc Ii i i-i v-trios govirnintes indcpendentes aI/,uns gozando o citLilo Lomb tic1 1967 Siddic1uc 197
tie ,n e/3ta/a e oucros scm esse ticulo >> Nb SC infere disto Moercono I 96S R<J ick 1 ) I And LY
Routftcr, 1931
no prelo (tttl,j0S
narnence, porém,que Os primeiros cram governanres supremos por Kielr, 1972; 1-mu e Whitmore, 197( Liã()
Serern conhecidos corno citaharajas. Atrihuir autoridadc suprema a iifl1iortantes por Michael Autig Tliwiii sohr&i Ririninia, c POE
tim governance meramence porque os escritos o rnenciooam como Shelly Errington, Jan Wisseman e Anthony Day sobre a Jiidoncsi.i.
tim maharaja e an mesmo tempo negar autoriclade a outros
c'ue
jossivelmcnte pocierao tcr tido canibém <<soberania>>, on <<ad1ori-
dadc<> real, esce on aqucle governance tinha, coisa que é excrcma- 1 58-26
mente dificil dc calcular canto tempo depois, mas sini que pi- -'
soes dc cinha e Como - fosse em tItulos, rituais on o quer que . A caraCcerizacaO cia relaçao encre os iets inclianos c os bi-ahmiris
t liiilii cli Pens irnenho clest ns ol-
fossc - is e\prlmla Muitos dos nomcs slnscritiz idos idOJ)tiClOS 1(101 tprcsetimid bc ni comb cod i
por mets reflectiam estas prcrensöes universais: Wisnumurci (<o quc s'kba, cieriva cia obra seminal tie Dumonc (1 970a, PP 72-79, I
encarna Visnu)>), Sakaiabuwanamandalassvaraninc]jta(<,o irrepreensIvel ' '° 1970c e 1970d; cf. Hocart, 19t6; l)umzil. 1c4$. Dumoiit
senhor de toclo o cIrculo terrescre>>), Dcwasinga (<<deus-160>>) escreve 0 SC/UIflR
Sareswara (<o senhor de tudo>), Sang Aniurwabumi (<o que governa
Como vivemos nurna socieciacle igltalitari1i, cemos :1 it nd'n
a terra>>), \Xtmsnuwardana (<seguinclo Visnu,>), Narasinga (<homem-
-leao - um nome de Visnu), Bumi-Nata (<<senhor cIa terra>>), Ca- l cia pam conceher a hierarquia como tuna escala de poclerts <1'
kranegara ( ,, roda do Escado>>), Suryacliraja (<siipremo rei sol>>), e corno nun] exertico e nao comb urna graclaçiin
coiTiaiido
tIC status. Pode-se nocar en /aIssanr que a cornbinaçao dos clois
assini sucessivamente, quase scm flm (Gonda, 1973, pp. 331 _337
aspcCcOS parece ter sido cut-to menos fcil num certo ii(irnero de
indonesianizem a orcogralia). Os reis mais ancigos cu)os
sociedacies, c h nijtos casos de soberanos cuja eminence
conhccidos em Bali (isco é, dos meados do século X) cinhani nornes
NEGARA NOT/IS 297

dignicladc estava acoplada corn 0 ócio. 0 caso indiano é do tipo Para oriente....Para a 1cgitimaço mágica, sacral, de inreresse
(ni que os dots aspectos cstao absolutamenre sepaiados... dinástico>>) podern-se cncontrar in van Leur, 1955, pp. 96-104.
[No t:aso iticliano] o rci dependc dos sacerdotcs para as suns Para provas sustentacloras da perspectiva de que a realeza sagrada
Iuncoes religiosas, ele não pocic Set. 0 scu proprio sucrificador, se desenvolvcu principalmente na Indonesia, após o contacto india-
em vez disso etc "coloca a sua frente>> urn sacerdoic... e entao no intensivo ter terminado, ver van Naerssen, 1976. Sobre a evo-
perde a primazia hierirquica a favor dos.sacerdotcs, retendo lução do Brabminismo indiano c a sua absorção de valores ><dc
si apcnas o poder... renincia" budistas e jainistas, ver Dumont, 1970a, pp. 146-151.
Atravs dcsta dissociaçao, a funçao do mci na India foi cc-
cu/ar,zada. l'oi a partir cleste ponto que ocorreu nina difcrcncia-
can, a sepamaçao no scio do univemso retigioso de urna esfcra ou 159-9
demo oposro no rcligioso, C corrcspondendo aproxirnadamenre
00 (ILiC flOS ciiunainos 0 pOlitico. Pot oposiço ao reino dos A citacão é de Dumont, 1970d, onde a distinção entre nipos de
valotes C flOtifidS, C 0 reiuo cia força. Pot oposiço ao dharma on realeza oriental é rambCm desenvolvida.
ordeni universal do Brahman, e o memo d]oinrcrcssc ou vantagem, 0 aspecto superficial fndico das instituiçöes polIticas baline-
atha (Dumont, 1960d, pp. 67-68, icálicos no original; sobrc sas agiu como inibidor de uma referência comparativa a oricntc
dharm>i c ariba mais em geral na India, ver Dumont, I 960c.) (c talvez a nomle), em ciirecçào ao PacIfico, e nao a ocidente, cm
dirccçao ao que os Holandeses reveladorarnente rcfcriarn como I/oor-
Para Unia CIISCUSSaO do mnodo 010110 diièrente como <<o memo do -Iizdze: Urna tal invcstigaco ilurninaria substancialnicnte as con-
iitcrcssc on vailtagem>. (ali cliamaclo pamrih, <objectivo>>, ><clesignio>>, cepcôes bsicas de rank e autoridade que animaram a omganizaçao
proposito escondido>>, e não artha, que all signifIca apenas ><riquc- poiftica balinesa; e, embora imao tenha sido aqui explicitamente
za" w)i.opriedadc>>) é concebido no rcspeitante no papci real em evocacio, urn coutacto geral coin a natureza de tais sistemas influen-
Java - riomneaclarnente como disruptivo do sen equilIbrio interim, ciou fortemente muitas clas minhas forrnulaçoes. Para uma rcccnsão
Ioo da sua sagraço, logo do sen pocler -, ver Anderson. 1972. dims formas poiItica.s polinésicas, ver Goldman, 1970; sobre o imperador
sobre. Jha,;iia e realeza cam Bali, ver Worslcy, 1972, p. 43. japones, Jansen, 1977.
P >iuscurivcl a qtiesto de saber se este contmaste marcado enrrc
ON (OfldCitoS mndianos e indonésios de como as funçoes imperial e
sacrdoral se relacionarn se devc ao facto de a principal <>difuso 15 9-25
de- ideins e instil utçocs uidmcas let acontecido antcs do liinduIsmo
de CaSUL bmahmiwco Sc ICt conipictarnente cristalizado na india, oti A citação (clue reflecte rim pouco o a priori ocidenital prcvale-
se 0 coiiLrasie se cicvc, pclo contrarlo, ao dcsenvolvimento histórico cente de que cbizem que algo é urn ornamento equivale a dizem que
separado das duas cmvitizaçocs após esta <difusão'> (ou em que rncclida e memo brilho) C de Worslcy, 1975, p 111. Para a parte relcvanrc
se devc a anibos os I ac totes). As niinhas ideias sobre como a mudança - incinindo o trecho cia jóia prirneira>> - da crónica (o Bahad
social ocorre levarn-nie a culocar mais peso no segundo factor que Bielè/èng), ver Worslcy, 1972, pp. 152-157. (Os Comnenririos de
no prliriemro, inns apenas unia pccuena arte da neccssiiria pesquisa Worsley sobre a reiaço rei-sacerdote nas pp. 5, 14, 42-43, 46-47,
lot fetra. Alguinas especulaçocs inteiCssantes, mas dc desigual podcr 51, 52, 73, 77 e 81 resultam na meihor discussão do assunto
de persuasao, respcirantes no ptpcl dos Bmahmins c do Braliminis- existente na bibliografia. Para outras discussOcs, vet Friedemich,
trio na "vmnda da civilização indiana>> para a Indonesia (<<o curso dos 1959, pp. 105-107; Korn, 1960, p. 150; Komn, 1932, pp. 140 e
.tcontecirnerltos consisriu csscnciairnentc numa convocaçao Para a segs., 369 e segs.; Swellengrebel, 1960, pp. 64-65; Covarruhias,
indonesia de sacerdores J3rahrnan... 0 clero indiano foi charnado 1956, p. 55. Ver tarnbCni texto, p. 53). 0 elefante era urn presente
298 NEGARA NOTi\S

do rei de Solo, a mais exemplar clas corres javaneses do século XIX Devemos recordtir que codas as rcferrcias no rexw dizem rescito
I
(Worsley, 1972, p. 29). A identificaço do sacerdote corn a orques- a sacerdores Brabmana /Jac/aJu/a), embora baja v,icios out ros
tra came/an do rei (o próprio rei tambérn era assim idenrificado) era
de sacerciotes, senclo de notar Os ohciantcs do templo ntm-hraliiri.i-
esrabelecida arravés dos Sons que os instrumcnros procluziarn - ua mc peniangkuu, ilOtelS, p. 198) em Bali. Para urn apanhadet, ver i-boy-
rnaiorja cram metalofones dc urn oii outro tipo -, isto é, através kaas, 1973a, pp. 11-18; cf. Flooykaas, 1960 e I 96-lb. Da niesina
dos efettos psico!ógicos desses sons (causavam angfistia)> [lOS S<tO
cora- maneira, rat cOflU) só urna minoria de sac&rclores Brahrnaria
cUeS de pessoas más, etc.) mais do que através da sua natureza ffsica ,çaic'antas, assim rambérn so uma rninoria Jr Bralirnanas sin steel -
(Worsley, 1972, p. 31). A habilidade na feirura de armas no era dotes. (Hooykaas [I 964-a, p. 91 calcuba o seu total d:er1ai1l,nrr iiiulrt'
It feito universal entre Os sacerciotes da cone, embora IlFnIS
para
ec ter inferior em rebaçio an nlirnero do séculO XIX, em <<apefltts
sio d
rn vuhar. 0 conhecimento de métodos de adivinhaçio flume- poucaS cencetiaS". Os sacerclotes preciSava!T1 da aurOrrLacao do ice
robóg tea pot rneio do complexo esquerna calendar balinês (C. Geertz, Para serem consagta(IOS, e as SUtIS esposas. ,:onsideracltis, tab Lurnu OS
19731i; cf. Worsley, 1972, p. SI, onde o sacerdote determina urn prOprios sacerdoces, comb transcendendo o zcnero, ceEViilm Je seus
dia patti a guerra) era, toclavia, urna cornpetência esperacla dos coadjuvittires, pot vexes suceclexiclo-lhes no proprio papeb ) A <icti-
saccrcboces. Os <clependentes,> nao cram kawu/a, <<s6bdi tos> ia. tiIt.j, uti
(texto, vidade ritual central do patlanda é preptirar tiguti beo
p. 85), mas sisia, cliscIpu1os>> (lexto, p. elemento crucial cm codas as ceo mOfliaS 1 mpo(ranl'S data'.
54). Os sacerdores não
rinham kazeii/a, - iriclueni pttrifi1i •lr-cr I
e nenhum Brahmana (salvo, mitologicarnenre os p. 274. Para os rimS (maweu/a) - qu
prinleirIssimos seis Majapahit antes do declIriio Para o estádio de esvaz[iar-se] para oferecer urn ciomjcd in para o Dci's do Sob Ii
Satria, etc.) parece alguma vex ret detido poder polItico significa- du eticanrarnent (
Sival>' (I-Iooykaa_s, 1973a, p. 14) arravs CO 050
tiv() pot direiro próprio em Bali. E cerro que nenhum o reve no controo da respi cacao, i)I1'C1l -
sagraclos (man/re) e gesros (mm/re),
sécubo XIX. Para os alicerces conceptuais da identificaço rei-ling- rraçao mental, etc. - ver Covarruhias, I Q56, pp. 00- ()'i. I
ga/(kris)_sacerclore ver texto, p. 135, e notas p.
274. Worsley (1975, Korn, 1960, I-Iooykaas, 1966 e I 97 b; Goudriaan e 1-Iooyk.ias,
p. 111) salienta que a relaçio rei-sacerdote no Ba/at/ 1311/è/èng nan 1971; Gonda, 1975.
era urn laço individual, mas sim <enrre clois clãs (i. e., cladias), e Finalmente, hil e sempre liouve urna pejoena minutia de /eulei'--
assirn, tal corn acirna caracterizado, texto, p. 50, era uma forma de i,
c/as budisras - iot OposiçaO a Brahmanas Oct sivaIrtic - eu' Bal
'<clienteljsmo>,. (<<0 seu acordo inclufa os seus Iiihos e netos<, cliz e estes represeilt-ara[Tl pot vexes urn papcl nuts certm6ill.i 5 d,: corte.
o texto, de modo a que eles se modelassem segundo o exemplo dos Vet 1-Iooykaas, 1973b; van Berde, 1910; Rege. s d. (d). Puma urn
born e breve resurno clas rclaçóes &nrre L'odismo C uV,)!Srnl)
0.1
sc-us antepassados>, - Worsley, 1975, pp. 155-157.) Que rais relaçôes
'tt)-
cram efectivarnente duradouras pocle ser visro no facto de a <casa>> Indonesia Indicut em geral, ver Gonda, 19 7 5 (Para Bali, ver pp.
do sacerdote cia corte em Tabanan - Griya Pasekan - set pot -42)
volta de 1847 (Friederich, 1 959, p. 107), a mesma de hoje. Quanto
OS tIrulos, 0
rei era Ki Gusti Ngurah Panji Sakii; o do sacerdote,
Sri Bagawanta Sakti Ngurah (Worsley, 1972, pp. 154-156); Para 160-1
,, Ngurah- ver adianre, notas, p.
305. Tal vorno já foi refericlo texto,
p. 54, os nermos Para sacerdote da corre eram purohita, <o que esrá Para as vuirias traduçöes dc dbarmr?, ver Gonda (qur api-b i-la <
colocacio a frente> (Durnont, i970cl, p. 54);
hagawanta, <<urn homern rermo de<inrraduzIvel>'), 1973, pp. 127, 157, 304. l P),
venerável e sanro< (Gonda, 1973, p. 421); e guril /oka, '<mesrre do Jut )cusrlça no
0 par1 do sacerdote Brabmamia na adrninisrraço
n-n.indo,> (Friederick, 1959, p. 106). Finalmenre, cleve set de novo assunro de algurna importancia, esnul ainda insuficienrernence
negara,
hibliograbea,
assinalado que podia bayer, e Irequenremente havia, mais do que esclarecido. (Para urn resurno iki pOUCO (plc PXiStC i.iut
urn clestes sacerdores de corte numa corte concreta. ver Korn, 1932, pp. 370-375 e as refetncias ai dadas, eniLmmmra seja
NEGARA NOTAS 301

inorrc€ta a afirrnaçào na p. 374, segundo it qual os I3rahmanas Fniederich, 1959, pp. 29-30; Fraser, 1910, pp. 9-12; Gonda, 1973,
cram insiguiiicantes no sisiema judicial de Tabanan. CL. mas Corn p. 279. Paia urna excclente recensão geral de <texros legais den-
jaurcIa, Fras&r, 191(L) vados da India>> no Sueste asiático em geral, incluindo algurna
A obscuridade e coiilusao tesuirantes advns clii grandc pane descnicao dos seus conteüdos, ver Hooker, 1978 - para a Indoné-
do facto de que, urna vez mais, o sistema assentava nuns conjuflto sia, pp. 210-215 - cf. Lekkerkerker, 1918.) Em Tabanan, cstcs
de dcsignaçOcs de rank, de <<eiegantc>> a <<grosseiro.., de ha/us a provinham principalmence de uma casa Brabmana - não a dos
urna hierar- I3agawanta, que parece nunica terem servido neste papel -, a Griya
Lasar. c isio numa pi rârnicic de cargos fuucioiiais
cjuia, iiao nina burocracia. Destas designacôes (as qunis rambém, Jaksa no rnapa 2. A rnaior parre do resto do pessoal mais elevado
Lima yea nials, variavam de sitio para sItio e cram aplicadas ulexIvel da corrc provinha das duas casas <<secrerárias>> Sucira, Dangin Pckcn
e nto tigidamcnie), as quatro mais lrnporrantcs cram: keria, jaksa. no caso de Puri Gdé, e Malkangin no dc Puri Kalèran (ver mapas
Jama e JeJeneP1. I(J7a quc tern otigein no sânscniuo <<boa ordern>., 2 e 3, p 121, c iwlas, P. 210), embora uns poucos de entre des
'<scgurança', <'descanso" (Gonda, 1973, pp. 228, 515), significa, fossem oriundos de casas lriwangsa locais não aparenradas corn a
cointo Gonda cuicladosaineitie disse (1973, p. 280), <<consclhciro c linha real. Os tnibunais organizavam-se nonnsalmente nuns pavilbilo
JilLerprete de cexcos LiiLigos, consulcado pelo principe e pelos seus coberto e elevado ao lado do gongorachado em frente do /;u;i (ver
figura 11 n.° 5, 21. I'ara uina fotografia de tim desses pavilbOcs
juIzes.> Jakia, quc cern origem nurna raiz significando 'superin-
ccn:lcnrc" (ideni, 1973, p. 387), cern sido variavelmenie traduzido combinado, como era consum em puns mais pequenos, coin (<0
como <'jula" , "acusador.., <<advogado>>, '<funcionri() publico judi- assento piiblico do rei>>, ii." 9 na figura 11 - ver Moojen, 1926,
cial'. ou '<escrituuIrio da corte'>, corn urna incerreza de objcctivo estampa 40.) Por vczes, no entanto, organizavam-se no patio ao ar
sem.Incico indicadora de ciuc as categorizaçöes ocidcuiais nao são livre do Juni (ni.° 17 na flgura 11).
iniiiro aplicaveis; a meihor rracluçao seria algo de subtilinente vago Exactamente quais casos cram trazidos perante os tnibunais do
cal coriio "unia pcssoa implicada na onientação cle audiencias judi- negara c quais cram tratados pelas instituiçOes judiciais da a'eca -
ciais'>. J(anca, quc significa, iscstc contcxto, <<aSSiStCfltC>', <<ajudante>>, o conselho banjar, o conselho subak - é urna quesrão quc não cstá
on . ponta-vozr (gcncnicarncntc significa .<ansigo> , colocjuialrnciite de todo escianecida, embora certamente a vasta maioria dos casos,
'<con ugc.') é, emesscncia, apcnaS urn termo nmis kasar para jaksa, tanto cniminais como civis, fossem resolvidos ao nIvel local. Todos
.51 01T10 jikia o c pata kerta; c normalnscute refere algum ripo de os crimes corneticlos por punggawas ou perbekel.c cram julgados no
tribunal do nei oti do rei j6nior; os cometiclos por Brahmanas,
<iclensot', beleguini on .lrquivista. Pinairnente, jejeneng, da raiz <'estar
dc pé', <<esrar crei to,, , compicta a série; aplicava-se sobretudo a apenas no (10 rei suserarlo. As disputas entre h/iris c jeros cram,
figucas trcquentemence parekau.c cuja tareLt era prender de quando possivel, também aI acijudicadas. (Todas as casas pun,çgau'as
facto os rrausgressores, conduzi-los ao tribunal (kertagosa, raja'jaksa, tinham tribunais, mas s6 os do rei c do rei j6nior parecern ten ticlo
pt'ia/'ccIfl), conduz i-los ao castigo, etc. Tal como da/em, p1/ri, jero
vcrdadeira irnportância, pelo menos em Tabanan. Os coudcnaclos
,c/é, /er, ame,h e Jiekaru.iigan, ou como cakorc/a, patib, punggawa,
por vexes fugiam, ou rcncavans faze-b, cia jurisdicao do tribunal dc
perbekel, kawu/a e parekein, esres rermos rcpresenravani urn domI- tim senhor para a dc ourro, coisa que podia por Si 50 levar a dis-
tIjo do social (<<adiuinistracão da Jusriça>>) como siscernas de desi- putas inter-jero.) Crimes maiores perperrados por aldcãos cram
'u.ddades espiriruais, e não corno sistema de tarefa.s c responsabi- frequcntemente julgados pninwiro ao nIvel local, sendo depois o
Jades. condenado entregue aos senhores para a aplicacao do cascigo. Mas
Os Biahrnauas. C muilo cspecia!mcute os sacerdores Brahrnana, a maioria dos casos ao nIvel do negara, pelo menos daqueles que
'Incionavarn, evidenrernenic, nos nIvcis mais altos, mais ha/us, do consegui coligir das nscmónias dos infonmadones, parecern ten sido
:iema, e parcicularmente como keria, <conselhciros e intél-pretes politicos (rebelião, sediçao, conspiracão), ofensas de status/poluição
os (('X[OS (pie de facto <ninth tavam. vet (casamenros fora de casta, profanaçao ritual, perversOcs sexuais), OU
302 NEGARA
Nol'AS

questiles de propriedade entre triwangsas (dispuras de heranças, clIvi-


impCrio muncliul no dual codas as enridades rsuao conjiiadas
das, roubo).
nurn codo roerence. (Hooker, 197$.)
0 funcionamerirO dos tribunais negarci (vet Korn, 1932,
pp. .375-401; Raffles, 1830, vol. 2, pp. ccxxvi-ccxxvji; Goncia,
1973, pp. 281-289) é aincla mais difIcil de reconstiruir, principal-
160-11
men cc porque parece, de facto, ter sido difuso - urna rorrente de
dec!araçoes de acusação e defesa, provas de jurameriro, confIscaçoes, (A
A ciraçio C portemantean de Worsicy, I 972, pp. 51,
ausculraçao de resternunhas, tudo desenrolado peranre os juizes
lação icicab' espeihada pela que havia ('ntrc cci r Sac(r(lte cii,
reunidos colegialmenre. (Por vezes, quando si'ihditos de diferentes
evidentemeute, a rclaçio entre deus e tel.) 0 texro relevance cncoil-
senhores estavam envolvicios, juIzes de vários tribunals sentavarn-se
rca-se oats pp. 1 54-155.
junros. Os perbekels norrnairnente agiam como <<porta-vozes< jaksa/
/kanoi de kau',i/as sob a sua aicada; em acçöcs civis, isto podia r,iil.i'
A aleiçio de Padancia Sakri Ngurah I pelo red era rib
conduzir a urna situaçio em CJLIC des 'reprcsentavam>> ambos os
porqiie ne SC recurciava do pass'idu c1tiando iiha &st ado na ii ha
lados.) 0 iThico aspecro flxo do processo era que roclos os vereclicros de Java e n5io havia rnais niflguCni corn querri gO?a(- 0111.1
cram daclos pelo senhor em cujo tribunal se esrava, senclo a sua amizade incirna. Era assi in que exasria urn acordo P°°°° 1 PIll II
clecisão definitiva, independenternenre do que puciessem ter acon-
OS elms no [,çriya] de Roniarsaina, de moTh que em ocii iiii.i
sclhaclo os viIrios kertas, jaksas, kancas e ourros. Os castigos sobre
amizacic des cuidavam urn do micro iiii Lao i na ma sort,
casos criminals rinham urna gradaçao pot casra - e cram escalo- junros suportaram as suas dificuldadec; a hot lorcuna dr 11111 Cr3
nados, em ordem de frequência descencierite, descie multas (arravés
a boa forcuna de codos; a ma forcuna dc ii yi era at unci (ort:una
cia recluçao ao status de parekan); variadas formas de castigo corpo-
dc cocios, de modo que des compotravatill-Se como cc foSSefli
ral (cxposiçiio ao so!, mutiiaçao dos rnernbros, vazar oihos); exIlio irmibos sendo assirn urn cxemplo para todo o mundo.
para Nusa Penida ou Lombok; ate a morte, normalmenre pot
apunhalamenro no cemitério, embora cerros ripos de criminosos
implicaclos em crimes poluentes (apahkrarna) - besrialidade ou
160-19
casarnentos fora de casta corn rnuiheres Brahmana, .por exemplo -
fossem afogados no oceano (C. J. Grader, s. d., p. 12; notas, p. 305).
Sobre c/ri, we (mi due), do simnscrico para <<propriedad e",
Os rextos derivados da India não cram a 6nica base cias decisOes dos valioso'>, <riqueza>>, 'bern>>, vet Goncia. 1973, PP 89, 121. 296,
tribunals do negara; os édiros reais, paswara, cram cambCm uma
471; Korn, 1932, pp. 112, 227, 229, 301, 304, 564, 569. () aso
importance foote de direito (Fraser, 1910, pp. I 2-13; Liefrinck,
mais cornum para c/r,iwé, cspecialrnente na frase eIrii,i c/a/ti,,, era
1915; Utrechr, 1962, pp. 128 e segs.). Dc facto, arC os próprios para as cliarnadas terras pecauui (nolces, - sthre as qilals Sc
cextos Indicos tijTharn o efeito de colocar n5io o sacerdiote mas o rei irnpunham cerras obrigacôes para COrn a corr', e para it,, irrras de
<'no centro do mundo legal>.
<<haldio> (i.e., näo culcivadas) (Liefrinck, 1886-87). Mac ea terino
era usaclo para a relacão do rei corn a água de irrigaçibo, mrrtadoc
[Tais texcos] rornaram-se num funclarnenro mais irnecliato e reinos cornerciais, e stabchcos, bern como caracterIsricas naturals,
para a jusrificaçiO do poder do rei do que na India... A impres- ntis comb lagos e monnanhas, ou cuIcurat;. mis conic) or'tiesrras,
silo esmagadora que se obrérn desses textos é de que... a sua rnalscaras ou templos. Usava-se rambCm corn irequrncia, rt>Jepen-
principal caraccerIsrica é uma preocupação corn a natureza do
clenrcrnciice de qualquer refcrência ao mci, r:ir1 a proprieclade t:olr,-
poder real e a sua aquisiçio... 0 poder escá concencrado no
civa do I ugar, sociedade de irrigaçao, au aldcia costumeira, hem
cencro, no governance [ci a forma ideal dc poder temporal é urn
comb para terras reservacias para o susterico Jr rernpioc e,
04 NFGIII?A NOTAS 305

cerneilte (rnuira.s vezes na sun variante <<rude>', gelab), pars a pro- 16 1-18
1;)ncciade privada IIICliVidUaI em Si.
Sobre os rccursos fundiários, ver texto, pp. 89 e segs., no/as,
pp. 218 c segs.; sobre os recursos hIdricos, texlo, pp. 92 e segs.,
160-30 no/as, pp. 228 c segs. Não se disse muito sobre - os aspectos doms-
ticos We grupo dornéstico e patio) da propriedade, pois embora
0 exemplo rnais faiiioso da perspecu'a dorninial, cnibora res- importantes em geral, a sua relevância Para a organização estatal
peitanre a Java, 6 de Raffles: <<0 dircito de propriedade sobre o solo era algo marginal. Ver Geertz e Geertz, 1975. Sobre o rermo mais
C!I) Java cabe uiiivetsalmente ao governo... [e] o tipo de dircitos in- frequentemente usado em Bali Para posse no sentido de usufruro,
dividuais de propiidadc ciuc são criaclos pela.s leis e protegidos b,ikti, ver Gonda, 1973, p. 282.
pelo governo so dcscorihecidos>' (1830, vol. 1, p. 137; dl p.139).
Urn born cxcniplo do Inverso é Liefrinck: <<Os dircitos do indivIduo...
esta"arn tao lortementc dcsenvolvidos que a situação cliuicilmentc 162-11
se pode clistiuguir de uma situação regida pelas ideias da Ici da
propricdade europela" (citado in Korn, 1932, P. 542, sendo urn Para <<espaco agrado>> ao nfvcl local, ver lexto, p .72, C no/as,
ranlo ou c1uarito ltvrc a minha traduçao inglesa de parte de urna p. 197. Para a formula <<a terra corn tudo o que nela crcsce ... >>,
Irase <<impossivel>>, em Iiolandês; <<cler rechten der individuen hebben notas, p. 198.
zich zóó sterk geprononceerd dat... zij cvcnwel in den grond der
zaak sleehrs weiflig zijn oncicrscheideu van de cigendomsrechten
voigeris Europeescht begrippcn<<). Para <<os deuses Sa0 os donos de 162-26
tudo", ver Goris, 1960a; Para <<a aldcia>>, van der I-Ieijcicn, 1924-
-25. Para variados aspccros do debate sobre <<posse>>, ver Korn, 0 termo ngnrah (o qual, corno Hooykaas salicnta, aparccc cra-
1932, pp. 530-619, Happe, 1919; Licfrinck, 1877; van Stein duzido corn clernasiada ligeireza poi <<puro>> in Geertz e Geertz,
Callejifels, 1 947-48. As perspectivas divergentes e, efectivarnente, 1975, p. 129) refère-se frequentemenre a uma divindade cuja funçao
o prOprio debate, cram, ml como o debate entre <<rcpüblica aldeã/ é <proceger o chão>> (ver Grader, 1939 e 1960b: Swcllcngrcbcl,
/despo(isrno oriental>> (texto, p. 65), em grancic mcdida urn reflexo 1960; Goris, 1938). Aplicado a urn senhor, indica os SCUS papéis
de l)ersr)ect1vis divcrgcnres (<<dirccto'> vs. <<indirecto>' ou <<liberal<< corno <cguardiao>> ou <<protector do rcino (material) enquanto Ngurah
vs. <<c<,riscivador><) acrrca do cjue deviam ser as politicas coloniais Gumi (gumi, <<terra>>, <<mundo>>), ou, mais vulgarniente Ngiirah Adat.
(ver Purnival 1, 19714; 1948). Para ngiirah enquanto <'algo que ensombra, abriga (pa/indongan),
Devese realçai (porquc Ini quem vá conririvar a Lensar o conrrário) urn guarda-sol (payong) e tainbém a abóbada do céu... Os prIncipes...
quc nada do 11ue aiui ou a seguir é dito tern pot interição afirmar detérn quase todos estc iItulo; des ensombrarn e protegem a terra>>,
cJue os recursos não cran apropriados, frcc1ucutemente ate de lorma ver Friederich, 1959, p. 123, n. 86 (Fricderich dix também (IUC é
ritcic, ou c1ue o poder politico, e mesmo a força não jogavarn quakucr urna marca da <<raça Wcsyana", mas isso é incorrecto). Urn exern-
papel no proce>0 A 6ltirna palavra sobre 0 assunto posto dcsta plo eloquente da inlageni do parque - universal nas represenra-
foruM 6 provavclrncriic dada pelo )iovcrbio javanês: '<Durante o din çOes balinesas do rncio ambience humano bern corno do scu modelo
tudo o que temos pertcucc ao rei; durante a tioke tudo o que ternos imicativo, o rneio ambience divino, ou <<céu>> -, pode nlais urna
purlerice aos ladrOcs.'< vex encontrar-se no Negarakeriagama do Majapahit: <<as terras culti-
vadas ieitas felizes e sossegadas/ corn o aspecto dos parques (udaya-
isa), cntão, são as florestas e as montanhas, todas elas pisadas pi
306 NEGAI?A NOTAS

FIc to reij sern [quc ninguém?) sinra ansiedade>> (Pigeaud, I 960- p. 195) c aplacava OS niortos no I ibetcados. Enquanro cii, era
-63, vol. I, p. 4, vol. 3, p. 21). consicierado COiflO rcsponsahiiidade fundamental do rei c,tiiui //iP!-
Para uma excelente discussão do papel do rei como "guarcliiio>> rab, juntamc.Ilte corn os principais /mc,i,'g.iwa.l do reino e os
ritual do reino em relaço aos desastres narurais (merana -epicle- c/its rnais imporrantes. (0 rei testernunhava 'a cveoro desde o Balal
mias, pragas das culturas, terrarnotos, erupçocs vulcnicas, inunda- Te,çeb, <<ASSeOI o Pi'iblico d o Rd >>, a irente do seil palácio - IcilU.
çöe,iuracocs, etc.) ver C. J. Grader, s. cL Os materials no esrudo figura I I e a suit prcsença era essencial.) Ernhora rabve7 [IVCSSi-
de Grader, que foram coligiclos 1)Ot V. E. Korn mas deixados por praticaclo mais frequentcrncnrc cm resposta 1 quakjucr calarnidade
ptiblicar i altura da sua niorte, dizem respeiro ao papel dos senlio- clue abraugesse roclo o ne1ai<i - o cast rnais cicraihad> 'be Icurn 1 ti
rvs curiosa cremação burlesca de raros (abènan bik,iI) levada a qie ver corn urn terrarnoro - e me.smo cm resposra ii airleaç( nbc
elciro para pôr firn ou para manter a disrância lais desasrres. As ama calamidacie, coino as indicadas por pressilgios de poluicao do
causas ülcimas dos merana erarn ridas corno senclo o cornetinlento reino tids como o nascinicnto de gameos tripbos, OIL nascirneiulo';
nd iscri ni i nado de acçöes erradas>>, pol u idoras do reino (apahkra- monstruosos ijuer de homens qner de anirnais. Urna stru- nit out ro
ii,a) - ligaçöes sexuais Iota de casta, bestial idade, incesto, repre rituals cxplicitarnenre de puriticaçao do reino (1irigidos pelt ret
sentaçiio de funçôes sacerdotais por pessoas inqualiulcadas em ter- enqilanto licler do negara ac/at, normabmeute no fjr'/ Pee<i'a;r i•
mos de casta , e as causas próxirnas erarn ticlas COO senclo as V. adianre, nesra maca) vni tanihin rcfcr,dos iio resorb I- Gradti
ac(,öes de espIriros de mortos não crernados (pirata, por oposição a pp. 17, 25, 43, bern como as purihcaçoes totais de rmio-o-Baii
pilara, os mortos cremados, <>libertados>>; notas, p. 291). Os espIriros, levaclas a efeitu em Bcsakih, pp. 46, 48, :i), 5 1; ver texto, p.
incapazes de suhirern aos céus e de se junrarem aos cleuses, deam- macas, p. 191. Enqtiaiiro existisse 0 cstade <ic po1uiço. OS dcises
hularn pelos povoaclos hurnanos e provocani os vivos. 0 ahènan bikul nao desceriam, ua ocasiao acbec1uada, aos Sri's "aSSeflVos.
(o 61rirno que foi registado no material de Korn foi feito em 1937, nos templos; u ohjeccivo do ritual era, assirn . clestrito Cotuc>
mas cii mlvi falar de outros feitos após os massacres politicos de 1g /inggih, <<cornar seguros os asscntos>> (cbondi-. ,i herarr1ii is de
1965 -- os quais haviarn sido precediclos por uma grancle erupção StatuS -- ver texic, j). 156).
vuknica) mimava as crcmaçôes reais <<verciadeiras>> '<tanto njuanro Para urns teoria especulariva (c, ma ccii nha opiniao, roralmenic
possIvel>> (como vern clito noJarnaratwu, 0 rnanuscrito em folha de iinplausivel) dc cjuc os aspecros de <<gtiardiao da tcrra dos srnhotes
palma qUe estabelece as exigências desse rittril). 1-lavia dois cadáveres '<hiriclii-javanc-sese Silo urns rcliquia da <<tIivlcao lvIajapabiiu ut
de racos (urn deles de preferncia albino) vesridos como urn rei e decurso ds qual tics aFasrar;Lm urns anrcru)r classe clirigciirc -.
urn rainha, e apelidados de <<Jero Giling>>, <<Senhor Giratório>>, cit bali,> cjue taxis o culto da terra, vet lKru, 193', p. 1 Y
<<Daudo a Volta>>, <Desorientaclo>> e assirn sucessivarnentc. Estes Fru.dcnch, 1959, pp. 1.12-143. No scntido csrrito, draus ir7a ('to
cram colocacios em tortes cremarórjas (de rrs teihaclos) e urn grande t/j.,aj't' (in//(m) ccii usado para terras prnpred>i&i i(-- seuliores (Korn,
nurnero de cadáveres de raros auxiliares acompanhantes (ou so as 1932, PP 229, 301, 564, 659), inns era apbc citbo cc,iii mutt1 I
suas peles e caudas) eram colocados em torres rneriores. Eram rodos quIncia u sus relaçiio espiriruab corn () reinc (01110 urn turbo; <cc urn
qucimanlos rios caixôes animals apropriaclos; havia a procissão de dos usos é <<nieral rico>, Si-lo-i o pnlnciro e 050 1) ujt,m(, (rn/at,
massas do costume, corn os sacerclotes Brabmana desempenhando p. 303). Para o papel do rei duranre as ahcituras de áUas, V er !L'SJO.
os seus papeis habituais, havia a série usual de pós-cerimónias, p. 105, c notas, p. 241; para cemplos esracais em geral. iexlt'. . 57.
reverêncjas de mo na fronte, etc. (ver lexto, p. 149). 0 aconteci- Tal corn havia urn Pura Balai A,gung aldeEio dedicade m nelehrtt-
mento realizava-se sob a égicle do rei e a suas custas, através dos çao do deja ac/al (lade, p. 72; notas, p. 19 tamhtmna hay m.m I urn
habiruais rrieios de mobilizaço de riqueza. A lihertaçao das almas remplo parrocmado pelo senhor no riIve! do Lsraclo, it Pout Pans-
dos ratos corrigia 0 status poiuIdo do negara ai/at (panes bumi - tittail, dcclicado a celehraçibo do neç'ara <ic/at. (<No /mra / enafav>m erit
<<mundo quente>>, comparável ao sebel do nivel do deja-ac/at -notas, conicmorada a unidade viva do reino, cel.,-hrada, mantida - cruilly-
NEGA Ri NOTAS 309
308

faziam sobreruclo através da cobranca de impostos, arreridameriros


Iliacla por rneco religiosos... 0 /'nra penalaran real servia para a ye-
iieraçaO (10 scnhor do local C para reuniöes rcli,giosas (10 lisrado...,, e delinicoes da posse ja descritas (texlo, p. 91), c só marginalmente,
Got's, I 960a.) Dcvido it presenca no seu interior de urn /ingga na meihor das hipóteses, através do sistema cerimoriiai, cuja funçao
de pedra corncrnurac!vo (los antepassados do senlior, Gods cncara o era expor riqueza C não apropria-la. Para urn quadro-rnodelo do
Pura Panataflan COl no c'tonte[ndoj no scu seio o carilcrer tanto do padrão tie distribuicao, vet a descriçào do slametan javanês, do quai
iii piisch conio do p/ira ba/c a,ç'img alO nivel da aldeia>. Mas, j tin- estas cerimónias cram apenas uma vcrsão enormemente ampliada e
rarnente Cofli 0 <<(. iaiidc rempit) do Consciho>> Pura l3alai Agung, elaboracla, in C. Geerrz, 1960, pp. 11-16.
<TcnipIO Cabts5 a do Esiaclo'c Pura Panataran continua a ser urn
dos santLIãrios baliiiescs ulais incoll)pletarnentc comprccndidos, prin-
c pal merLe PORILIC is concepçocs associadas tic desa cic/at C ;ze,çara 163-28
ac/c/I IIaO são cornpietarrientc compreendicias - de facto. São cm
aerai erradaniciti coinpreendidas - corno conscqucncia da âusia A citação é de urn mantra aprescntado in Goudniaan e i-boy-
cit separar elernenios <hindu-javanescs>> e <<iiidIgcnas>> na cultural kaas, 1971, pp. 78-79. A palavra traduzida como cceua é 0 SausCrito
bad, nesa. alma, corn igual frequencia traduzido como <<alma>' ou <rncnte'>;
aparece aqui composto como sunya, <<vazio>> (Gonda, 1973, pp.
420, 102), como parte de urna complexa imagem do corpo enquan-
1U3-: to composito de divinclacies - Visnu no coraçiio, Isvara na gargan-
ta - da qual esta, <<0 Suprerno Brahrnan>' na cabeça ou fontc, é a
Em termos co,iórnicos, as ccrirnónias de cone cram em larga imagern integradora, o resumo. Para a imagética do <<siiêncio no
iiiedidn sisrerrias dc troca rcclistributiva no sentido do conceito de centro-apex, cornoção no funcio-perifenia>> nas cerirnónias de crerna-
Pulaiiyi (Polanyi ci ai., 1957), porquc os bcns mdbilizados cram On ção, vet lexto, p. 149; na pintura, ver Bateson, 1972b. A <<pose
cunsurnidos no local pc.los cckbrantes Conic) 11111 iodo 0(1 cm formal" é, evidentemente, a postura de lotus padmasana acima
laia niedida - lct'ados por des para suas casas. Não existern, cvi- discutida (notas, p. 271). Sobre as inter-reiacöes de rank, boa cdii-
dericernerarc, coiic;tbilidadcs rcais; trias, julgaudo a luz de práticas cação e aanonirnização>> individual em Bali genenicarnenrc, vet
reenies e, o cluc c1 mais irnportantc, pclas opinloes e (icscricoes de C. Geertz, 1973ii. Note-se, urna vez mais, que a palavra genérica
.inrigos iartie ipantcs, podcnios vet ciuc 0 excedente econórnico nan para urn ritual on certmónia é karya, <<[urna] obra>>, <<[urn) traba-
ailma a corre atravás do SiStCflla ceriinouiai OLinla escala significa- Iho>'; para uma cerirnónia tie corte, karya gdé, u[urn] grande traba-
tiva. iicctivanieinc, parece quc Os scuhores contrbtiiarn, cm geral, iho>>.
Coil) i1iiIs parit as ccrimonias, em terrnos materials, do cjuc aquilo
LJue clelas obtiiiliarn. A5 obras em palacios ou, mais ocasionalrncntc,
it ousuucao tie Lecliplos estatais usavarn tic facto rrabalho e bcns 164-17
cc cli ti(_ailleIltc ii-iobi 1 izados; mas trarava-sc de umat actividade tao
cc oat ClualitO a limagem de urn cicntc ou a crcmação, iioninalmcntc A citação an Supremo Brahmana>> é do mantra relerido na nola
renurada numa cctjmdflial dcclicatoria (m/cis//i.c). A construção e aiiitcrior a do <<desamparado, curvado, inclinadoa é do Negarakeria,ç'ama
rrcanutençao de carninhos, cstrada.s, etc., era, ral conio us equipa- (Pigeaud, 1960-63, vol. 1, p. 3; vol. 3, p. 4; a rcferêricia a '<todu
Ifleritos de rrigacào on ON tcrnplos aklcäos, urn assunlo local. pals>' rcfcrc-sc aqui, evidciitcmenic, a <<jatva>' [sayawabhumi]; mas,
Nada, Jisto significa quc os scnhores nao rcqueresscrn sustento por razöcs quc devern jib ser Obvias, isso é incidental). A palavra
material dot seuc siihclitos, e rão-pouco quer dizer quc urna tal mais vulgar cm Bali para êxrase, nadi, significa arornar-se,,, acxis-
cequisiçao não fbsse Ijec1ucnterncntc oncrosa; cluer sirn dizer que o tira, aagir como>', <<set possuldoc>, '<criara. (Ver Beio, 1960, pp.
310 NEGAI?A NOTAS 3M

201, 254; van 1ck, 1876 [em dadi]; KLtSUO1U, 1956a. Cf. Pigeaud,
que o Sagrado Anantabhoga [urn (lens serpenre] c-tivolve 0
960-63, vol. 5, p. 204 [em Iac/i].)
num cIrculo corn a sua cauda; quc a sua eaheca, benevolence
A cdaço rncditativa de irnagens de deuses, associados a partes [em] aparência, Sc 1)r0ject1. Usa 0 mantra: toniissol. finagitu>
do corpo, cores, direcçoes e assirn par dianre, 6 universal no ritual
(1IIC o lOtus esrá a florir. Formula as Carorze S(!aba S>a;rada,
halins a rodos os nIveis, mas aringe urn ciesenvolvimenro pam- a saber: [omiriclo]. Depois [faa Brahminga c Siviinga I mc'c/ras]
cular nos ritos de corte. A formula tipica (snscrItica) é bayil-sabda-
no coraçiio do lotus, acompanhado por recitacibo dc .IsrIa--rn:ln-
-zc/ep, normairnenre traduzida, a falta de melhor, par '<pensamento-
Ira em tocias as clirecçöes da rosa-dos-vrnros. Depois, faz
-palavra-acçao>> (ver I-Iooykaas, 1964a, pp. 26 e segs., 158 e segs.,
i3rahrnInga e SivInga corn OS dedos, seguido ci'astra-rnantra.
2011, 213, 223; 1966, pp. 14 e segs.; Gonda, 1973, pp. 102, 384,
Depois, [faz} l3rahmiinga e Sivbnga, {encjuanro pccnctnciaci istra-
5 18. Para o papel desra formula no ceatro de sombras balinês, urn -mancra cm codas as direcçöcs cia rosa-dos-venros. Depois, coi>
assuntc) ii parre, ainda que de modo algum n5o relacionado, ver Dens Siva no teLl torus do coraçiio encfoimro lazes [o]
Flooykaas, 1973c, pp. 19, 29, 31, 33, 36, 57, 99, 125). Bayil -mudra. Pronuncia o Sagracio Manrra Fcep&lonal: [omirido]
significa originariarnente "vento>> on <sopro>, em balinês falaclo isro é, to] Sancro Mantra-de-Dez-SiJabas, clue a liflagi-
<<força, e refere-se an, que o mediador deve "fizcr> - produzir
naçiio de 1)eus Suksma-Siva. E evicienre qut aora o Dens Siiksrna-
,gcsros iui,dra, rrazer oferendas, conrrolar a sua respiraçiio. Sa/x/a, em
-Siva reside no lOtus do ten coração. Depois, procede ao control>>
balinês Cdado stiara, significa originariamente "soin, '<torn>>, <VOZx',
cia respi raçiio, an res de fazeres as seguintes olocacöes [Seg ne-sc
<<fala>> e '<norne>> bern como <cpalavra>>, e refere-se ao que o media-
urna sric tic i nsrruçöes para colocar virias sliahas sagradas cm
cior deve <<dizer>> - oraçöes, cançöes, mantras. E i/ep, a rnais difIcil viIrias partes do corpo - tufo de cabelo, bates, caheça, tiibios,
e a mais imporrante das três palavras, significa algo COmo '<visua- face, lIngua, pescoço, coraçibo, harriga, lLrnJ:,itzo, genitals, pcsl.
1 izar>>, visionar>>, <criar urna irnagern>>, retratar>>, <<represenrar>> Depois, manrem 0 pensamento suprcmo: imagina quc o ten
c refere-se ao que o mediaclor deve, como nós dirIamos, <trazer a corpo b o emblerna dc urn hornem compictamente puriuicaclo e
Iemhrança, '<fazer corn que apareça na sua conscincia>> - uma
pericito. Conflrrna Detis, arravcs do mantra-homenagern. Sr
riqoeza de sensibiliciacie interior que sO urn exernplo pocic evocar, greda 0 mantra: [orniticlo]. Encluanto o seeredas, une 0 tell dl>
o de uma instruçibo ritual muiro tfpica ligada it celehraçibo do ernbkma
corn Ele 0 que merece o norne de Indescritivel.. (Hooykaas,
Siva-/ingga cia realeza (notas, p. 274).
I 964a, pp. 170-1 71 . Alrerei a poncuacibo, .( qual de qualqucr
rnocio c arhi rrIria.)
E a seguinte a forma Concisa do cuiro. Controlo cia respira-
çibo, prirneiro
. A seguir, puriflca os tens pensamenros. Coloca Esre e literalrnente al-)CIIIIS urn de entre urna cenrena tie exc-m -
Dens Siva eritre as sobranceihas, usancio o mantra: [ornirido, pinS quc podiani scr dacios e de niodo aigum o mais compiexo. Part>
inrraciuzivel]. Irnagina que Deits Siva tern cinco caras, três olhos
alguns outros, ver 1-Iooykaas, 1966, pp. 61 e segs., 85 e .scgs., 9(1
en-i cada, e dez braços; que Ele esrO complerarnenre adornacio
e segs., 125 e segs.; e notus, p. 273. 0 facto dc 1-Ioovkaas traduzir
[corn] ornarnencos cta fronte e das orelhas, colares, urn pano em moinentos difercntcs como >pensa>>, <<imaruna", "V>SiOIl;i
corn urn desenho, [urn] ornarnento de pescoço na forma dc uma '<COnCentra>>, <<consciencializa-re die>> C rncsrno <'rc<> <: qin- cm
serpente, tim pano de fabrico inciiaiio, argolits cle hraço, pulso ha1iiis fitlaclo significa <<desejo>, <<vonrade>, apenas resremunlia a
e tornozelo; [que Ele esrI] a olbar benevolarneute, corn rodos os di I ictildade do colicel to. Talvez dcva ser tamhim >'cferidn (1 11c, apesar
setis poderes, nao major do ciuc urn polcgar, de urna apar&ncia
dos prc)nornes masculinos canto aqui corno no rex>>,, OS cIe<>s san
porn, radiance, iluminando os crs mundos, olhancio na clirecçiio
irediuentcmente imaginados como andr6irios - Jma> na Deuc
do lesce. A seguir irnagina ciue a tua pessoa esui sentada num Siva e a Deusa Urna unidos> (Hooyka>s. I %(, p. 85); lrna4na
trono-lOrus clourado. Usa o mantra: [ornisso]. Depois, imagina quc a Divinciade 6 Meio Senhor-Senhora/Siv.i/P:irvari >' (it/em, .. 01
NEG,1R,1 NOTAS 313
312
neses nas guerras dc Java Central no seculo XIX, ver Carey, 1979,
ci. 1964a, pp. 140, 18) -- hem cornO imaginados, evidentemente,
como rnullicres: IJina, Sarasvati, Durga, Sri. Tudo isto se liga ainda n.° 58). For esta razilo, junto aqui urna versão rcorganizada c revisra
corn o iniw da rcprocluçáo dc status dccresccnte", a qual provém de urna longa convcrsa corn urn antigo perbekel de Tabanan acerca
das lides da gucrra cal como ele as conheceu.
de aridrógiiio-asscxuaL seguindo para gemeos iclênticos dc SCXO oposto,
pIIITI0S paralelos, e assirn sucessivaincntc a medida clue se desloca
dos cleuses para os homcns e para Ia destes ate i scxuaiidadc radi- Q uando havia guerra o rci [cakorda.) convocava toda a genre
para a bataiha aravCs dos punggawas e perbekels. Todos se jun-
aimciiic polar dos aiiimais (ver BcIo, 1970b; Mershon, 1971, pp.
29-31; Gccrtz e Gccrtz, 1975, embora o assunto, fulcral para uina tavarn perto do campo de bataiha, cada qual alinhado arnis do
seu penbeke/ próprio, estando estes agrupacbos de acordo corn OS
compreensao da cultura balinesa, tenba Sid() Insuficientemente
Seus /mn,gau'as. Por cxcrnplo, tocbos os kawu/as de Jew Subarn iii
explorado); C expreSS() no ritual de corte pelo acompanhatncnto
to J1/Inggau'a do informador) estavarn junros c lutavam juntos.
habitual do rd pela si.ta csposa !)rincipal rodeada das rnulheres
Cada jero [i. e., pungRawa] tinha urn hornem - urn dos scus
menos irnportafltes. Vcr Hooykaas, 1964a, pp. 138-140. Sobre as
perbekels - cncarregado das tropas, charnacbo urn ,ba/an.
mulheres dos sacerdotcs, onde o simbolismo era scinelhante, ver
0 hornern corn esta posiçao no palkcio real, Puri GdC, era o
acima, ,10t43, p. 295. Sobre as rnulhercs dc Siva como Seki:, acri-
pecalan gde e tinha a seu cargo as tropas cm gcral, mas não era
vaçöcs dEle - e, portanto, como Sua cópia, cal como as mu]hcres
m general no senrido de urn estratega superintendenie.
do senhor o são do scohor - texto, p. 136. Sobre a unificação ico-
0 cakorda fazia os pianos gerais, estabelecia a escracCgia
nográfica de macho e iêmca no ritual baliuCs, ilolas, pp. 271, 274.
global, pelo menos em teoria; mas segundo a cxperiência do
informador não havia muita elaboraço de estrarCgia: as guerras
cram Lao breves c aconteciarn tao subitamentc que nunca foram
niuito planeaclas. As principais armas cram ianças [twahak] c
1 6514
punhais [kris]. As arrnas de fogo eram muito raras. Não havia
As citaçöes são de Wors!ey (1972, pp. 46, 80), bern como a arcos e flccha.s [cmbora, em ternios mais gerais, des kSSCUi por
ligura de rcióiica sol-Iua (p. 45). Não existern cuaisquer boas vexes utilizados], e não se usavarn cavalos dc bataiha. (Sc urn
Jmn,c'gawa se dirigia a cavalo arC a bataiha, dc ciesnioncava para
cicscriçOes dc batallias halinesas, ao concrCrio do clue se passa corn
coinbater.) Cada soldado tinha urna lanca e urn knis, quc cram
Os relatos em estilo p!cO, mas, julgando a 1w'. de relaros dc infor-
madores clue nelas participararn, consisciam em grande partc numa scus, mas [norrnalrncnrej não tinha escudo. 0 combaic era
cicsorclenado, e cada hornem !utava mais ou menos dc acorclo
sCrie de breves escaramuças dc Ianças c punhais, corn 0 grupO vencido
retitando-se apOs verihcadas apenas a!gurna.s haixas. Urna idcia dos corn a sua própria coragern, indo os niais bravos naruralniente
aspectos cerinloiliats da guerra pode ser co!igida a partir da bihijo- para a frente e cleixando-se ficar OS rncnos para trs.
grafia de crónicas (p. cx., Worsley, 1972, pp. 156-159, 163-165, A rnaior parrc dos combaces dava-se nalguma fronteira na-
168-173, 177-181, 228-230, 231), a parlir dc lormas de dariça tural, normalmenre urn rio. Arnbos os lados lenravarn passar a
vau o rio, e frequenremenre a batalha acootecia 00 rneio dcsrc.
,gucrreira tais como 0 farnoso bans (Covarrubias, 1956, pp 226,
Plcbcus c senhores vesciarn-se dc niodo igual, embora os pimg-
230-232; de Zoetc e Spies, 1938, pp. 56-64, 165-174, e estampas
gawas !cvasscm normalnience guarda-sois, transporcados sobre
13-22, 74-76) e, evidenternencc, a partir do teatro de sombras
si a carninho da haralha. Toda a gente vestia urn iaron,ç' branco,
(Hooykaas, 1973c), enihora falteni Os estudos sistematicos CO flOSSO
conhecirnento clas tácticas concretas do canipo de batalba seja muito corn)) o quc os saccrdotes das a!deias usarn hojc, riorrnalrncnre
scm saia. Os picl)cus, c a seguir a e!es os perbekels, faziam a
rnprei:iso, piovindo sobrecudo dc inipressöcs dc passagem em fontcs
iriihtares liolandesas (p. cx., Artzenius, 1874; para os soldados bali- major partc do combate.
NEGAR/l I NOTAS 15

Rararnence os /mnggawas tinham de lutar, e apenas rece- clas forças e quc cnfrentaniam clemasiada oposiçio. Quando i\4arga
hiam notIcia dos perbekels sobre quern era corajoso e quem nio foi capturadla por Mengwi a guerra durou urn ms, e pelo menos
O era. Nurna OcasiaO quando fa sua casa] esrava em bataiha corn cinquenta pssoas morreram. Isro foi o rnáxirno de que dc alguma
Mengwi todos os camponeses foram mortos ou fugiram, e assim vez ouviu faiar. Todos os que cafram no eampo de baraiha
os pimggawa.c viram-se forçados a lutar. Combaterarn contra os foram cremacios corn as despesas acarretadas pelo rei, pelo punç-
caniponeses Mengwi; a casta nio contava. 1-Eavia pessoas que gawa cia vItima e pelo seu herbekel.
avançavarn pelo tcrritório inimigo adentro para observarem it
snuaçao, mas as emboscaclas cram geralmente raras. 0 bateclor 0 ciuplo aspecto, gentil e feroz, dos deuses mndicos - Sival
(pete/ik) clescobria apenas onde estava o inimigo e quanros cram /Kala, Uma/l)urga -e, eviclentemenre, bern conhericio. Para Bali,
c logo o relacava ao pirnggawa. 0 <<rei jiinior, o senhor de ver Covartubias, 1956, pp. 316-3 IS; Hooykaas, 1964a, pp. 43-92;
Kalèran, tio-pouco avançava para 0 combate are clue as coisas Bebo, 1949. Sobre os aspecros rituais da jusriça de corte, vet sdipra,
cstivessem mesmo más. Tanco quanro o informaclor Sc recoida, notas, p. 299.
o cakorda saiu apenas uma vez, na ocasiio em que Marga foi
capturacla pot Mengwi; mas so coriseguiu alcancar Tunjuk [urna
aldeni a meio caminho], C as pessoas nao o deixaram ir mais 167-16
longe, pois diziam que no era necessario.
E-Javia certos especialistas jii;w hedil) quc manipulavam as 0 principal efeito irncdiato do governO hoIands no respeiranre
poucas armas de fogo que havia, e des cram colocados rncsrno ao negara, foi, ironicamente, tê-lo transformaclo numa eSpeCIf de
na Irente do combare. As pessoas que lutavarn nas linhas da estrutura feudal (ou pseudofeudal), coisa ciuc nunca havia sido.
frenre cram morivadas pelo ficto cie clue, se nio fisscm mortas, 0 aflistamenro, atravCs do exIlio forcado, dacuelcs rnembros dos
scriarn as primeiras a obterem os espOlios de quaiquct territOrlo n(vcis mais elevacios da elite indfgena (os reis seniores de- linha
caprurado, e assirn obteriam mais ouro, gaclo, etc. Quando Backing central e seus parentes ptOximos) que conseguiram sobrevivcr to,,
lutou contra Kapal, des [Baclung] tinharn alguns Bugis corno piupt/tans, cleixou os seus rivais inveterados, os membros dos nIveis
anradores. Kapal perdeu, e os Bugis foram os primeiros a entrar logo a seguir aos mais cievados (os reis juniores c seus parenres
na area e ficaram corn tuclo o que era valioso. Em Tabanan proximos - vet texto, p. 83), na posição de senhores locais dc mais
alguns CbS ariradores também erarn Bugis, e esravam adstritos alto rank. Os Holandeses, necessirados dc alguns senhores dc ele-
dlirectarnente a Purl Gclé. Erarn de facto os kau'ii/as quem levava vada estaruta atravCs de quem govcrnar, tr:iiisforniaram-nos nos
a cabo (nç'a3'ah, a mesma palavra usacia para contnibuiçöes ri- funcioncirios póhlicos bocais de mais alto rank, os chamacios in'-
ruais em cenirnónias do pun) a guerra, de qualqucr rnocio. genies]. (Em Tabanan, foi concedido este posto an senhor dc Kakraii.
Pergunrei acerca cia duraçao da guerra, e dc clisse que a Mais rarcie, em meados dos anos 20, quando as febres das conquis-
haraiha Mengwi-Tabanan em que estivera ciurara dois clias, e tas haviarn arrefccido c as do nacionalismo aquec tam, OS Hobandeses
que desisriram quando uma ou duas pessoas foram morras. Ele rrouxcram de volta muitos dos herdeiros exilaclos - - no (.ciSO de
pensou clue devia ter haviclo urn acordo entre os clois reis para Tabanan, urn jovem senhor de Puri Mecuran, sobrevivenue macs
nio se lutar cluramente, porque nenhum dos lados tentou real- prOxirno dos falecidos rei c pnmncipe e repuseram-no.; corno ne-
rnentcavançar sobre o outto. Ele disse que o rei de Tabanan genres, nurn gesro que aponrava na direcco do qtie era piarnenc
d issera, apOs rerminacla a bataiha, clue estit havia sido sacrifIcio charnaclo <autogovcrno>>, ze/fbestmir.) Uma vez que os 1-lolandeses
ritual (carte), tab corno se faz aos dernOnios no <Dia do Siincio ciissoivcrarn 0 sisremaperheke/ imediararnente apOs rornarern o conirobo
(nyepi). Talvez esta relutância em lutar se devesse mais ao fitcto clirccto, estcs senhores necCm-hurocranizados encontraram-se CUt
de arnhos OS lacbos terem pensaclo clue 0 I ii iiigo tinlia ciemasia- posiçao de coutitularern, a supor que (c a populaca esperava i55()
316 NEGARA NOTAS 517

dcks) realizariarri us riruais do Esrado-teatro, mas scm a iustitui- itsoliditicaçao de ranks dc tItulo c a cresccntc importância de distinçöes
çäu poiltica através da qual o crnprecndirncnto havia sido anterior- varrla; o agruparnento de grupos funcionais aldcaos cm aldcias de
menle cumprido. Em grancie parte, estc dilerna foi resolvido atra- governo territorial (chefiadas por funcionários nativos indigitados
yes da imposição das obrigacöes rituais (mas não militates). Sobre pelos Ho!ancleses, na sua rnaioria Sudras, e charnados perkebels), e
OS SCUS rendeiws, as rnesrnas que recafarn anteriormente sobre os dessas cm distritos territoriais (chefiados por funciontirios nativos
scus L'awulas (ie.Jo, p. 88); pclo que pcla prirneira yea, serviçO e ar- indigitacios petos Holandcses, chamados Jninggawas, e todos scm
rcntIarncn to toram i ntcrnaincntc 1 igados. cxccpção iriwangsas); o estabelecimento de tribunais de Ici secular;
AigLins custos rruais, especialmente os que tinham que ver c, cvidcntemente, a climinaco complera da acrividade da guerra.
eoiri Os rituais de apurificação do reino>> (nolaj, p. 305) forarn ilnpostos Em resultado disto, PClo fim do perIodo colonial, o negara havia-se
.ios j,ehakj atravCs clo.5 .icdahans (C. J. Grader, s. ci., pp. 8-9, 15, 20, tornado, pelo menos na sua organizacão, urn tanto racionalizado no
22, 26, 57-58; ver it noca seguintc). 0 governo holandês tambCrn senticlo weberiano, ao rnesrno tempo que mantinha uma boa parte
subsidiava por vezes os senhores, cspccialrnenrc aqueles que tinharn da sua acrividade cerimonial exemplar nurna forma mais ou mcnos
sido iiorneados rcgcntcs, Iara tais actividadcs (idern, s. d., pp. 10, traclicional. Corn a invasão japonesa, a Indepcndência, e it iniposi-
27, 41 60). ArC os vendcclorcs de ópio (idcm, s. d., p. 1 2) e os ço do governo militar ccnrralizado, o aspecto exemplar foi, nalu-
promotores (Ic lutas dc galos (idem, s. d., p. 42) cram por vczcs ralmcntc, sujcito a ainda maior pressão. Mas a revista indonesia
tributaclos para esse apoio. Dc modo sernelhantc, os sedahan gdés Tempo, de 3 de Outubro de 1977, relata urn casamento real Gianyar
(texIa, p. 91) lorarn transformados em funcionários p6blicos, inspec- que durou quatro dias, reunindo mais de 15 000 pcssoas c tendo
totes de irrigaçáo : imposros, urn para cada urn dos scis principais custaclo várias centenas de milhar de dolares; e The Iniernatiwial
oearaj do Sot, agora transformados em regências claramente Herald Tribune (Paris), de 12 de Fedvereiro de 1979, descreve
demamcadas (Katengascrn, Klungkung, Bangli, Gianyar, Baclung, a crcmação, cm 1979, do scnhor de Ubud, it qual ier6 atraIdo
Tabanan; as duas do Norte, Bulèlèng e Jcrnbrana, )1 haviam sido 100 000 pcssoas - 3000 cielas curistas que pagararn vintc c cinco
traiisformaclasantcs nolas, p. 177.) Os sedahans normals foram dólares cada por lugares de ><camarote" - c ostentando uma torte
cnuio culucacios sob a sua c1aboraco corno subinspectores sub-re- de cremação corn sessenta e três pes de altura. 0 Estado-teatmo esti
gioTials, de ><distrito>'; OS subaks forarn ate certo pouto regulariza- ionge de tcr desaparecido compleramenre, atC hoje.
dos. sobrctudo arravCs de agregaçöes; c urnas poucas de obtas rnodcrnas
planeadas cent ralrncntc -- barragens, reSerVatoriOs - foralTi irn-
plerneniadas. Assi tr.i, urna (näo rnuito poderosa) burocracia 167-26
htdrdulica'>, presidida por (não muito fortes) funcionários dos águas,
foi tarobCrn ciiada, c tarnbém pcla princira vCz. Sobre a ><ausCncia de clImax>' como tcrna universal na vida
No cornerCie, canto as lojas chinesas con-io it activiclade mercan- batitiesa, ver Bateson c Meat!, 1942; cf, C. Geertz, 1973c e 1973h.
il de L"a7ar se cxpatidirarn, pois o comCrcio de porro colilerCial e de
colicessao estava interdiro; embora, c cspecia!rnentc após a Incie-
peiidCncia, qiiando o senhorio pareccu cstar menos garantido corno 168-34
meto de susienrar actividades do negara, urn certo numero de senhores
tenham enirado no cornCrcio corno emprcsários scmioiiciais corn Scm düvida que, se se pudcssc recuperar mais da hisrória
algurn p-° (pata urna discussão mais aprofundacia disto, ver ><analIsrica" batinesa, a imagern de continuidadc seria menos uni-
C. Gceriz, 1960b). forme, e estádios de clesenvolvimento endógenos substituiriarn a
Surgiu tanibcm urn certo námcro de outras mudanças induzi- ideia sirnples de Iixidez. Mas o argurnento nao é que nada muc!ou,
dos pela chegada defluitiva do colonialismo na sua forma total - i' n >taiisas fr>ram desprovidas (IC si,cnificad, mas sIn
318 NEGAI?A

o tipo de transformaçao profunda que ocorreu em muitas outras


partes do Sueste asiático em resuitado de extenso contacto exterior
- muito especialmente, mas nao exciusivamenre, ocidental - não
ocorreu anres do virar do século no Sul de Bali, oncle Os parâmerros
culturais da vida poiftica, isto é, o enquadramento discursivo dentro GLOSSARTO
(IC)
qual cia se movia, permaneceu geralmente estável. Independen-
remenre de quanto buliço aconteceu no seio deste enquadramenro,
a sua forma global alterou-se muito pouco. Para uma boa discusso, Ate 1972, as palavras indonCsias (e, porranto, baliorsas) sit1a!11
em reIaço a Tailândia (onde esse contacto exterior se dcii muito regras ortográficas aigo difercntes das agora oflctais ((I)s
mais cedo, e de forma mais profuncla e contInua), do conjunto de erudiros holandeses do perIodo (Ioniai iisavam
prohiemas aqui em causa, e dos perigos de uma visão demasiado temente ortografias individuals, apr ximadamenre lone-
estatica da história do Estaclo ofndicoo do Sueste asiárico, em geral, ticas'>.) Dai que algunias palavras indigenas neste I ivin c
ver Keyes, 1978. no g1ossftio, o quai segue o eso In oficial, apareçarn sob
As datas, que se pretendem emblemáticas, referern-se a <inva- formas urn ranto diferenres em toda a bibliograiia, excp-
são Majapahir (texto, p. 26) e a hoiandesa (texto, p. to na mais recenre. Dessas cliferenças, as mats import LUtt- ,
23).
san: c em vez de tj (mama em V01 dc manija): ,' em ve
1j (banjar em vez de han/j-n); e em vez Je j
em vez (IC penga jab).

ABEN - Tarn bern abènan, iigabèn. (Tremm.)ü, ceriinriiia da re-


macan.

ABENAN BIKUL - Cremaçio hurlesca Ic rams para afasar


calarn idades narurais (ver MERAN A).

AI)AT Cositime, costurneiro, hi consucttl(Iiniria (ver DESA


ADAT, BENDESA ADA'T, NEGARA ADAT, NGU-
RAI-1).

APAL-IKRAMA --- Literairnenre 'acçOcs erracIas; drl 1(05 Sertc)s


conducenres a poluiçao do reino r, logo, a calimidades
naturais (ver PANAS BUM!, MERANA).

AWIG-AWIG - Leis hifsicas (da cornonidade cosrumeira, luar,


sociedade de irrigação, grupo dc remplos, etc.), normal-
menre i nscriras em manuscritos rid olha de palma (vet
KERTASIMA, LONTAR A 1)AT).

BADE - 'forte crcnmrória (ver ABEN, MERU).


—I

NEGARA GLOSSAI?1O 321


2O

bAGJ\\WANTA - Também purohita, guru loka. Urn sacerdote


Brabmaria prcstando serviço ritual a urn senhor, especial- CAKORDA - Também ratu, raja, prabu, etc. TItulo de urn scnhior
rncncc a urn scuhtor suscrano (ver PADANDA, SIWA, suserano, urn <rei>' (ver PEMADE, PUNGGAWA).
SISIA).
DADIA - Urn grupo de parentesco patrilienar, preferencialmcnte
BANJAR - Li iu lugat'; a comuriidade polItica local básica (ver cndógamo; 0 templo no qual 0 grupo faz 0 culto dos scus
SUBAK, PEMAKSAN). antepassados divinizados (ver BATUR).

BANTEN - Un'ia oreiida ritual. DALEM - Literalmentc, <cdentro,>, <interior. Frequenierncntc


usado para referir urn senhor suserano ou rei'>, a sua
BATUR - 0 templo do grupo de parenrcs de urn senhor (ver residéncia, a sua corte, ou a sua famIlia (ver JERO,JAI3A).
DADIA).
DESA - <Campo>>, <caldeia>>. Termo geral para povoados rurais c
BEDUGUL - Tarnbérn cat/I, tig/i. Urn pequeno altar, normal- seus rnodos de vida (ver DESA ADAT, NEGARA).
menie de pedra, para ofcrcndas aos deuses.
DESA ADAT - Urna cornunidade local definidora de urn espaço
BEKELAN - Todos os que estão sujeitos a dirccçao de urn so sagrado e governada por urn conjunto de icis consuctu-
P E R BEKEL. dinárias (ver ADAT, BENDESA ADAT, PEMAKSAN,
PURA BALAI AGUNG, NEGARA ADAT).
BENDESA ADAT 0 chelc ccrimonial de urna cornunidacle de
lel cosiurncjra (ver ADAT, DESA ADAT, PEMAKSAN, DEWA - Deus.
PURA BALM AGUNG).
DEWI - Deusa.
BESAKIIi. - 0 priiicpal reinplo estatal de todo-o-Bali, localiza-
do nas elicosras do vulcão sagrado, o monte Agung (ver DRUWE - Tarnbérn dué. (Algo) <possuIclo'>. Usado para iiidicar
SAD KAHYANGAN, MERU). a relacao espiritual> ou <tutelar entre urn senhor e o seti
teino (ver NGURAH, NEGARA ADAT).
.BRAH MANA - A ulais cicvada das cjuatro casras'> de Bali, da
qual provcrn os altos sacerdotes (ver TRIWANGSA, GDE - Tarnbérn, cm linguagcm culta, agung. Grande, grandioso.
\X1ARNA, PADANDA, GRIYA, SATRIA, WESIA, Usado corno modificador para clevar 0 status, especial-
rneutc cm contcxtos relacionados corn o Esrado (ver PURl
SUDRA).
GDE, JERO GDÉ, SEDAHAN GDE, KARYA GDE).
BUWANA - Muiido"
GELGEL - Rcino balinês do século XIV. 0 Estado exemplar pri-
<<0 Gde Mundo"; isto é, a rcalidade mordial em Bali, dUo como lundado pot senliores C saccr-
BUWANA AGUNG
exterior, o mundo material, macrocosmo. dotes javaneses e como tendo sido 0 reino liniiário a partir
do qual se separaram os outros principais reinos balincscs
lU IWAN\ ALYI' -- <<0 Pequeno Mundo'>; Isto é, a vida interior (ver MAJAPAFIIT).
homci, 0 iiiundo irnarerial o microcosino.
322 NEGAI?A
GLOSSARUI'

GRIYA - A rcsidncja de urn sacerdote Brahniana, o seit grupo


acniviclades envolvidas no sustenro e realizaçao de tin.
doméstico (ver DALEM, PURl, JERO, UMAH).
cenirnónia; doncle, uma cerirnónia em si.
IIALUS ou alus -(Relativamente) reflnado, civilizado, bern-edo-
KARYA GDE - Literalmente <<grandle obra>'; uma cenir000ia de
cado, gracioso, suave (ver KASAR).
Estado e as actividades envolvidas no sen susrenro e re>i-
lizacão (ver KARYA, RAJA KARYA).
JABA - Lireralmente <fora>>. Usado para indicar status relativa-
mente inferior e major clistiiiicia do centro do Estado,
KAWULA ----- <Stihcliro'>; alguCm corn obnigaçio de prestitr ser"u
socieclade, experincia, realidacle, clivinclade. Termo gene-
ços cenirnoniais e militates para urn senhor especiffico (ver
rico para a quarra ocasta> e para o mundo fora de Bali PUNGGAWA, PERBEKEL, PAREKAN, PENG AYAJ-1,
(ver JERO, DALEM, SUDRA, TRIWANGSA).
DALEM, KARYA GDI, RAJA KARYA).
JAKSA - Funcionário legal não-Brahrnana; juiz, acusador, advo-
KEBANDARAN - Area comercial concessionachi (ver STJBAN-
gado.
l)AR).
JERO - Lireralmente <dentro>>. Usado (frequentemente como titulo)
KEPEN(; Pequenas moedas chineses de ChULTIbO on hron:'e,
para indicar status relativamente superior e proximidade
furaclas, usadas corno mein dc itna e na ntecliçio cle pesos
do centro do Estado, socieclade, experincia, realiclacle,
(ver 'l'lvlBANG).
clivindade. Termo genCrico para as rrês <castas>> superio_
res, para o munclo da cone e para as residências e gtupos
KERTA - Urn juiz Brahrnana (ver JAKSA).
clornescicos dos senhores (verJABA, DALEM, TRI WANG-
SA, JERO GDE).
KERTASIMA - TambCrn awig-au'lg cu/'ak. AS leis bstcas de uma
socieclade de irrigacão (ver AWIG-AWIG, SUBAK)
JERO GDE - Residência e grupo domésnico de urn senhor
imporrante; o própnio senhor imporrante (ver PUNGGA-
WA). KESEDAHAN - TambCrn fmkti pajeg. Area do imposro sol)rr a
água sob a alçada de urn so cobrador de mposws esriral
(ver SEDAIIAN, PAJEG).
KAIIYANGAN - Templo graiidc'> (ver PURA, KAHYAN-
GAN TIGA, SAD KAHYANGAN).
I(1.AI4A - Lireralnience, '>maneira", rnetodo>', " modo.
to". Usaclo, variada c colecnivarnente, pant sirii1icar
KAI IYANGAN TIGA - Os três templos <<aldeãos>> principais: 0
<<pertença> ou cidadania", como em hw,,ii /c/nJ1r,
Tcmplo da Onigern, o Tcrnp!o da i'vlorrc e o Templo do
<<rncrnbro do lugar, con}unto dos rnemFros do liigir'> e
Grande Conselho (ver PURA PUSEH, PURA DALEM,
em krama s,,bak, >>rnembi'o du sociedacle de irrigaçaO,
PURA BALAI AGUNG).
conj on no dos membros"
KASAR - (Relativamerite) não-refiriado, rude, incivilizado, mal-
LINGGA - Irnagerni fIlica; simbolo de Siva, realeza sa,tadt, potCncia
-ed ucado, deselegante, grossei ro (ver 1-JALUS).
sagrada, etc.
KARYA - Litet-airnenre aobra>>, <trabalho,,. Usado para indicar LISaIIU para iridicit
LINGGII 1 - Literalmente, <<assento". Gerairnente
GLOSSARIO 325

•,/iA, posto, poa<ao, lugar, tItulo, <casta,> . Indica tam- NEGARA — Estado, reino, capital, cone, ciclacle. Termo geml
hciii U(s) alLar(cs) no qual se senra urn dcus (1uando dc ou para autoridade polItica translocal, superior, e as lormas
da desce •os tcmplos (ver ODALAN. PADMASANA). sociais e culturais cia associaclas (ver DESA, NEGARA
ADAT).
.( )N1'Al& TaniLrn ronial. Manuscrito em Iolha de palma.
NEGARA Al)AT — Urna comunidade regional ou supra-regional
\i ;\j ,\ l-'Al-IIT — Reino javanês rio sCculo XIV conscicrado pelos clefinidora de urn espaço sagrado e governada POt urn
Balineses corno sendo a fonte da sua cultura C organização conjunto de leis costumeiras (ver ADAT, DESA ADAT,
politica ao isivel estaral (ver GELGEL, NEGARA). NGURAH, SAD KAHYANGAN).

s4/ :N( .\ - Literalmente, nsãos'> (mais ainda, cinco); usado NGURAH — Guardião, guarda, protector. 0 senhor suserano con-
para referir urn senhor importanre (ver PUNGGAWA, siderado no seu papel como chefe cerimonial nbc nirna co-
PAREKAN). munidacle regional de iei costurneira (ver NEGARA ADAT,
PURA PENATARAN, DESA ADAT).
M ANTRA — Formula(s) sagrada(s) pronunciada(s) em rituais (ver
MU DR A). ODALAN — Cerimóniade templo periddica durante a qual Os dcu-
ses descern dos cCus para receberem o preito ou obeciiên-
MERANA — Calamidacle natural causada sobrenaturalmente (ver cia da congregação do templo (ver PURA, PEMAKSAN).
APAI-IKRAMA, PANAS BUMI, ABEN BIKUL).
PADANDA — TambCrn pandita. Urn sacerdote Brahrnana ordcna-
MERU — Moniiitha sagrada e tIXIS mundi hindu; clomjcIlio dos do (ver PEMANGKU, BAGAWANTA, SIWA).
deuses. TaiibCm, usado para referir as suas replicas sob
lorma de teihados dos remplos e torres de crcrnação, e PADMASANA — Assento do lOtus. Usado para referir o trono de
cleritificacla dO) Bali corn o vulcilo sagrado. monte Agung Deus e as suas representaçOcs icónicas cm rcmplos, n-
(ver BESAK1H, BADE). ruais, etc.; tarnbérn urn altar cspccufico nurn templo,
consiclerado 0 assento principal dos deuscs quando des
NILTAT:\I1 - Liniageni de dentes, cerirnónia de limagcm dos dcsceni (ver ODALAN, LINGGIH).
deiites.
PADMI — Tarnbérn parameswari. A muihcr i)rirlcipal, ciidógama
Dscrcarnaçäo>: ascender ao rci no dos deuses apos a cm rermos dc casta, de urn senhor, especialmente nbc tini
ann sc ii dci xa r a cad;ivcr (ver PITAR A). senhor suserano (ver PENAWING).

I N\ sn s nan saN rados usados em ritual (ver PAJEG — Imposto; pajeg padi, imposto agrIcola ens gCneros (ver
viANTJi\) SEDAHAN, KESEDAHAN).

N -- Forrna, contornos, materializaçao; usado para indicar Os PANAS BUMI — Literalmente, tcrra quente; poluico geral do
lspectos subsistentes do clivino POt Oposiça() aos dinârni- reino corno rcsuitado de algurna accão errada pot pane
as (vei SEKTI). dos seres hurnanos (ver SEBEL, APAHKRAMA, MERA-
NA).
326 NEGARA GL()VSA 1? I()

PAREKAN - Urn seo dependente de tim senhor. Tambérn usaclo PJ'I'ARA - Jjteralmenre <<deits>>; morros cremados, I iheruidoc
metaforicarnent e para descrever senhores em relaço ao (ver PIRATA, MOKSA).
seti senhor suserano (ver KAWULA, PERBEKEL,
PUNGGAWA) PUNGGAWA - Urn senhor do reino (ver PER BEKET., KAWI)
LA PAREKAN, MANCA, CAKORI)A).
I PECATLJ Terra cu!tivável a qual estão aclscriras obrigaçoes de
serviço (ver PENGAYAH). PUPUTAN - Literalmente <fni>>; derro'a rirualizada c1 ue acarr-
ra o fim da dinastia, por mpic de sacriIIcio to ili rar/siiicIdio.
PEKANDELAN - Servo rural de Llfll senhor (ver PAREKAN).
PURA ---. Templo (ver KAHYANGAN).
PEKARANGAN - PIrio ou complexo habitacional dos plebeus;
unidacle local no sisrerna esraral (ver PERBEKEL, UMAH). PURA BALAI AGUNG - <Temp!o do Granc!c Conselho" (dos
deuses); rcinplo alcleio cleclicado a fertilidacle <Ia rtrua
PEMADE Urn rei <<segundo>> ou <<junior>> (ver CAKORDA). pessoas de urna cornunidacle local de !ei costumlra (ver
KAI-JYANGAN TIGA, DESA Al)AT, PEMAKSAN).
PEMAKSAN - Uma congregação de urn ternplo, responsável pela
manutençao deste e pelo culto dos deuses quanclo estes PURA DALEI'vlI - <Ternplo interior"; teniplo aldeo dedicado .10
(lescem; rambém o conjunro dos membros de uma dada apaziguarnenro dos espiriros dos mortos locais n0 coma-
DESA ADAT (ver PURA, ODALAN, PURA BALAJ dos (ver KAHYANGAN TIGA, PIRATA).
AGUNG, BANJAR, SUBAK).
1JRA PENATARAN - <<Templo do Patio>'; templo esratal cledi-
PEMANGKU Sacerclore, não-Brahmana, de un-i remplo (ver caclo a unidade e pro5periltele do retno comb (:001LlnIdadt
PADANDA). de lei cosrurneira /cspaco sagraclo(ver NEGAR A Al )AI,
NGURAH).
I'ENAWING - Mulber secundárja, de casta inferior, de urn senhor
(ver WARGI, PADMI). PURA PUSEH - <>Teinplo do Umbigo>'; templo alcle5n dedicado
a conienoraçao das origeris ck> povoamenro local r aos
PENGAYAH - Serviço, cerimonjal ou material, a urn senhor, anrepassados funcladores (ver KA 1-IYANGAN .1 I (IA).
aldeia, sociedade de irrigação, reniplo, etc.
PURA !.JLUN CARIK - Tarnhérn Piira Sitbak. Templo (aheç)
PERBEKEJ. - Funcjomjrjo pol1tico do sisrerna estaral de nivel dos Arrozais'>; rernplo dos campos cIa soc ecla(Ie do irr1oa-
mais baixo, rcsponsável pela rnobilizaçao cerirnonial e milirar çao (ver SUBAK).
dos rnernbros de urn cerro n(Imero de patios aciscritos a
urn dado senhor (ver PUNGGAWA, KAWULA, PARE- PURl - Resiclncia, pahicio, grupo clomecri(:o, do senhor (ver
KAN, BEKELAN, PEKARANGAN) JERO,jER() GDE, PI.JRI GDE, DALEM, (111VA).

PIRATA EspIriros de morros nao crernados (ver PITARA, PURA PURl G1)L - Palácio e grupo domfsrico de urn senhor sncrrar,o
DALEM). (ver DALEM).
128
1 NIGAI?il
GLOSSA RIO 329
RAJA KARYA Litcralmenie, obra ou trabaiho do senhor>>;
SINGKEH - Chineses nascidos na China vivenclo na indonesia
servico pala cerimánia estatal, ou coiitribuiçao material
(por oposição aperanakan, chincscs nascidos na Indonesia).
pat'a unia iai ecrjnlónia (ver KARYA GDE).

SISIA - <DiscIpulo>> de urn sacerdote Brahniana de quem dc ou


RUKUN - I-larmoiiia, rcsoluçao consensual de clivergricias,
solidariedadc social. cia recebe água benta (ver SIWA, TIRTA, PADANDA).

SAD KAHYANGAN SIWA - Siva, o mais importante dos deuses hindus em Bali, iden-
Os Seis Grandes Templos; templos de
rodo-o-Bali dedicados a prosperidade cia ilha e do seit tificado corn o Sol; também usado para o sacerdotc Brali-
mana de quem Sc recebe água benta (ver SURYA, SISIA,
OVO como urn toclo (ver BESAKIH, KAHYANGAN
PADANDA, TIRTA).
TIGA).

SUBAK - Uma sociedade de irrigacão; unidade local de cultivo


SATRJA. - Segunda, eni importância, das quatro <castas>>, cia
básica (ver BANJAR, PEMAKSAN, SEKA YEH, TE-
qual provém a maioria dos senhores mais clevados (ver
NAH, TEBIH, TEMPEK, PURA ULUN CARIK).
BRAHMANA, WESIA, SUDRA, TRIWANGSA,
WARNA, JERO).
SUBANDAR - Detentor de concessao comercial (ver KEBAN-
DARAN).
SEBEL - Estado de poluiço ritual de urna aickia, famIlia, etc.
(ver PANAS BUMI).
SUDRA - A mais baixa das quatro castas de Bali (ver BRAH-
MANA, SATRIA, WESIA, JABA, WARNA).
SEDAHAN - Cobrador de impostos agrIcolas e rendas, para urn
senhor (ver PAJEG, KESEDAHAN).
SURYA - 0 Sol; identificado corn o deus Siva (ver SIWA).
SLDAHAN GDE - Ou seilahan agung. <GrancIioso'> OU <grande
TEBIH - Literalmentc, pedaco>, "fragmento>>; urn socalco de
SEDAHAN. Principal colector de imposros ou rendas para
arrozal (ver SUBAK).
urn senliot, especialmente urn senhor suserano.
TENAH - Unidade de iriedicia fundamental (de água, terra, scmenrc,
SEKA - QLLakJUCI r1ip0 organizado Corn urna funçiosocial
arroz) no seio de qualquer socieclade de itrigaçao (ver
esl:>ccILica.
SUBAK).
SEKA YEH - Grupo uespoflsavcl porrcparaçöes nas estritturas de
TEMPEK - Suhscccao principal de urna sociedade de irrigaçIo
irrigaçio de urna socicciade de irrigaçio (ver SUBAK).
(ver SUBAK).
SEKTI - Eiiergia esj'iriutal, carisma; o aspecto dinImico de urna
TEN-TEN - Pcc1ueno mercado matinal.
diviiidade (ver MURTI).

TIMBANG -- Mcdicia dc peso absoluta calibrada em kèpèngs.


SEMBAJ-1 -- C;Csto de obecljéncia a deuses, senhures, superiores,
dc
TIRTA - Agua benta preparada por saccrdotes Brahrnana (ver
SIWA, SISIA, PADANDA).
330 NEGARA

TRIWANGSA -Liceralmenre, <<Os


trs povos>>; as três <<castas> -
superiores de Bali consideradas conio grupo por oposiçio
a quarta (ver BRAHMANA, SATRIA, WESIA, SUDRA,
WARNA, JERO, JABA).
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rior de urn palácio represenrando o eixo do mundo, onde
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STEIN CALLENFELS, P. V. van, 197. 297, 302, 312.
STUYI'ERHEIM, W. F., 176. ZIMMER, H., 282. INDICE TEMATICO

ADAT, 59, 60, 72, 73, 196, 197, 224. BATARA HARIO DAMAR, 76.
AGRARIO, ritual. Ver culto do arroz. BATUR DALEM. Ver linhagern real.
AGRICOLA, trabalho. Ver sociedade de BEKEL.AN, 87
irrigaçllo, arrendamento da terra, BENDESA ADAT, 198. Ver rsmbrn dew
rendeiro. adat.
AGUA, aberrura da, 103, 106, 241, 242. BESAKIH, 58, 190, 191, 242, 27?, 282,
equipas da, 98, 99, 230. 283.
imposro sobre a, 231. I3INNENLANDSCH BESTUUR. Ver
medidas de, 94-96. mndias Oriensais Holandesas
Benra, 189, 275, 276, 289, BLAHBATUH, 28,191
298. BLAMBANGAN, 115, 192.
ALDEIA. Ver deja. BRAHMA. Ver deuses.
ALIANcA, 56-63. I3RAHMANA, 30, 41, 42, 53-54, 136.
aALMAC, 276-277, 278. 158, 186, 222, 287, 298, 299.
ALTAR DO ARROZAL, 100, 101, 233- Ver rarohém bagawanra, gr!ya,
-23 5. flwa .cilia, Iniwangla.
ANDROGINIA, 311. I3UDISMO, 299.
'ANTEPASSADOS", 185. BUGIS, 23, 51, 55, Ill, 115, 118, 125,
aAPANAGIO,, vs. ',no apan1gioe. Ver 314.
Bali Ago, rep6blicas aldelse. BUKIT, 118.
ARISTOCRACIA. Ver nobreza, triwangsa. I3ULELENG, 60, 61, 62, 115, 184, 185
ARMAS, 297. Ver rambam kris, guerra, BUROCRACIAe, 210, 314, 315, 316
want. BUWANA AGUNG/BUWANI'. ALIT,
ARTHA, 295, 296. 134, 137, 138, 270, 278
AXIS MUND!, 133, 134, 142, 281. Ver
também torte crematória, Monte CAFE, 116, 122, 124, 263-264.
Agung, Monte Meru, tiki ran. CAKORDA, 76, 206, 312, 'A S Ver tarn-
b/rn realeza, ptenggaw.-
IIADIJNG, 23, 27, 28, 35, 60, 61, 62, CAI.ENDARIO, 106, 145-148, 181i, 98
77, 118, 178, 190, 191, 220. -199, 237-238, 281, 287 Ver
BAGAWANTA, 54, 189, 297, 298, 299. tambérit wake.
l3ALDlOS, 303. CAPITAlS, 14, 23-25, 66
BALI AGA, 180, 287. (;ARISMA, Ver jekti,
BANGLI, 23, 27, 34, 116, 185, 253. CASAMENTO, 42, 43, 48, 52-53, 188,
BANJAR. Ver lugar. 90, 774, 300, 502, 31!. Vet
302 NLGAI?A INDICE TEMATICO 363
tins l.x m idogam a, . Itipeigatnia 290. Ver ra eEC vu axis mund,, 239-240. Ver rarnbCm sociedade IMPOS1'OS, 91, 92, 223-226, 230, 231,
wail? Moore Meru. de itrigaçiio. 315, 316.
(.ASAS REAlS 76-84 Vet- rrrnbeia CIJLTO DO ARROZ , 99-100, 103, 106, ENDOGAMIA, 42-43, 49, 52-5 3, 188. IMPOSTOS, Incas de (tircas fiscais), 92,
tia/erit, ,a, !. P I civ 107, 233-235, 2)6-239, 242. ENERGIA SAG RAI)A. Ver sekti. 223.
LASAS S[JDRA, 23 ..CUI.TURAS DE SEQUEIROi, 229-230. ESCRAVATURA, 86, 177, 212, 213. IMPOS'I'OS, cobtador tie. Ver sedaban.
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nsL.rvn Sudra, sisteltia di' titulos, DADIA, 43-47, 50, 51-52, 187, 201, bern negara. INDIAS ORIENTAIS HOLANDESAS,
tIiU'vv2i,tia, SlS(eIliiL ViVWII. 280. Ver ta:isbCiii SELIIXIS de paren- ESTADO, esrruwta do, 26-30,43. 15, 119, 120, 125, 131, 177,
CENTRO EXEMPLAR. 23, 25-28, 31, testo- ESTADO, ritual do, 25, 31, 32, 48, 127- 200-201, 236, 255, 314-316. Ver
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CONsTITuIcOES ALDEAS . 69 DRUWE, 160-163, 3113. Ver tambCm cambCm casamenco, wargi. 191, 252, 253, 280, 294,
.OSTUME. Ver ailni. posse, propriedade, "baldios',. 1-l1S'rORIOGRAItIA, 15, 16, 202, 317. KR/tM/I, 70, 99, 194, 245.
CI3EMAcAO, 127-131, 133, 147-152, "DUPLO GOVERN() , 82-83, 207. Ver KRAMBITAN, 76, 77, 87, 125, 202,
766-267, 286-292, 305, 506, nsnsbCrn pen;nile. ICONOGRAFIA. Ver simbologia. 203.
316-311. IJEG, Cakorda GdC Oka, 179, 279. KRIS, 136, 284.
CILEMAT()RIA, wire, 128, 133, 150, ECOLOGICA, adaptacao, 102-103, 107, IMPOR'rAçOEs, 116, 251, 252, 253. KUTA, 116-122, 254-255, 26(1.
364 NEGARA INDICE TEMAYICO 365

torte crematória, Monte Agung, PECATU, sisterna, 220, 221, 303. PU//I GDE, 48, 207. Ver tamblm
LO1, 54, 59, 60, 189, 190, 191, 195, uki ran. PEKJSNDELAN, 85. Ver tambérn pnessn. da/em.
231, 244, 245, 299-304. Ver MORTE. Ver cremação, Templo da Morce, PEKARANGAN, 206. Ver também patios. FUR IFICAAO Vt poiucç5o.
tarnbm juizes, tribunais. Kalyangan Tiga, rnoksa,piraro/pi:ara. PEMADE, 82, 200, 314. Vet também to- PURNA, I Wayan Gusri, 179.
LEl ishimica, 72, 195. Ver também adat, MucuLMANO, 55, 255. korda, duplcc gOVCtJ1()'.
Ici. MULHERES COMERCIANTES, 120, PEMAKSAN. Ver congregaclo do remplo. RANK, 46-48, 80-84, 183, 188, 189,
LOIS COSTUMEIRAS, 108-110. Ver 121-122, 125, 262. PEM/NGKU. Ver sacctdote do templo 190, 204-205, 206, 207, 296 Ver
também desa adat, lei, negara adat. MURT!, 136, 139, 272. PERBEKEL, 75, 85, 86, 179, 210, 211, tainbérn /Ja/ui/kaJlI , hierarquia,
LEIS SIJMPTUARJAS, 48, 200. 213, 300, 301, 312, 313. jaba/jero, sistema de titulos, ti,-
I.ENDA.Ver mito. NEDERLANDSCHE HANDELMAATS- PERBEKEL, sisterna,
75, 85-88, 213, 214, Wang/a, sisrema varna
LIMAGOM DE DENTES , 267. CHAPPIJ, 255. 215, 312, 313. REALEZA, 41-42, 163-167. Ver (an)béns
LINGGA, 134, 135, 136, 274, 275, 307, NEGARA (negari, negeri), 13, 14, 60, 75, PESOS E MEDIDAS. Ver kèp?ngs, tenah. cakorda, ,realeza sagrada..
310. 84-85, 153, 156, 167, 169, 170, PJRATAIPJTARA, 291, 305. iREALEZA SAGRADA ., 134-136, 157.
1.INGGIII, 156, 306, 307. 191, 194, 218, 314-316. PLANTAcOES, 217. -171, 292-294
LINGUAGEM, 48. NEGARA ADAT, 162, 198, 306-307. Ver PODER, 38-39, 169-170, 218, 277, 303- REENCARNA(;AO, 183.
1.INI-IA CENTRAL,46-49, 66,144, 188, rambém lcd costumeira, desa adat, -304, 305. Ver também dommnio, RELIGIOSAS, acirudes, 2 43, 261
202, 280, 293. Ver também ge- ngurah. .cekti. RELIqUIAS. Ver watts
nealogia, linhagem real. NEUTRAlS, zonas. Ver fronseiras. POLIGAMIA, 52, 53, 188. REPUBL1CASALDFAS., 65-67, 192.
LINHAGEM REAL, 77, 80-84. Ver NGABEN. Ver cremaço. POLINESIA, 297. RITUAL DE IRRIGAçA0 .99-102. 103,
rambém linha central. NGURAH, 162, 305-307. Ver também POLITICA, integtaçao, 28-29, 32, 50, 57, 106-107.
LOMBOK, 60, 117, 177, 178, 179, 182, negara adat. 58, 59, 62, 86-89, 92, 110, 111, RITUAL, escala, 287, 788, 289, 290.
252. NOBRES, casas. Ver jero, jero gdé. 167, 168, 209, 210, 211, 269, RITUAL, sacrIflcio, 127-131, 288, 289,
LOTUS, assento do. Ver padmasana. NOBREZA, pequena, 28. 29, 30, 41. Ver 270. 314 Ver ramblm pup//ta?), S/Ittft
LUGAR, 67-70, 74-75. também triwangsa. POLITICA, legirimidade, 26, 27. RITUAL, srrviço, 88, 315.
LUTAS DE GALOS , 248. NOBREZA, 76-84. Ver também Sriwangsa. POLITICO, conflico, 28-29, 34-39, 49, RUKUN, 69, 110, 244
56-57, 62, 108-111, 152, 166,
MAHADEWA. Ver deuses. O SQL. Ver Surya. 167, 168, 191, 200, 201, 208, SACERDOTES, 42, 53, 54, 59, 136, 148-
MAHAYT.JGA, sistema, 31, 184. Ver OBEDIENCIA, 275-276. 245, 301. -151, 158, W. 189, 198, 268,
também calendétio. ODALAN. Ver festivais do templo. PoLulcAo, 196. 286, 287, 288, 289, 276, 287, 788, 289. 290, 791,
MAJAPAIIIT, 14, 16, 29, 31, 58, 167, OFERENDAS, 272-273, 314. 301, 302, 305, 306, 307. 295-302. Vci Earnb6m bapuu'anra.
168, 307. OFICIOS, 125, 248, 249, 266. PONTO DO ORIGEM., 285. I3rahmana, siu'i'-citus.
MAJAPAHI'I', conquista, 19. 26, 27, 43, 6Pio, 23, 116, 124, 252, 253, 254, 263, P0PULAcA0, 33, 84, 184, 211, 213, SACRIFICIO DE VIUVAS. Ver ilfire.
76, 200, 207, 307, 317. 264. 25(1. SAD KAHYANGAN TIGi\ , 58, 73-74,
MAKASSAR, 115, 182. PORTAO CINI)IDO, 283, 284. 190
MALAIOS, 115, 118. PAD/sNDA. Ver sacerdotes. PORTO COMI1RCIAL, 114-125, 249- SAGRADO, espau, 280, 281, 304. Ver
MARGA-I3LAYU-PEREAN,77, 203. PADMASANA, 134, 135, 142, 143, 27 1- -2 50. tambins In,, 1//at, negata ui/al
MARON, Ida llagus Putu, 179. -274, 281, 309. POSSE, 36, 197, 217, 219, 221, 246. Ver SATRIA, 30, 41, 42, 53, 158, 186
MLDITAcA0, 273, 274, 310-311. PADRAO DE STATUS DF.CRESCENTE tambéns drawl, prupriedacle. SE/I/IL. Ver poluiclo
MENGWI, 23, 60, 61, 76, 177, 208, (sinking sal/uS pattern), 29, 30, 46- l,Rocos ADMINISTRATIVOS, 118, SEDA I-lAN, 91, 92, 222, 3)5, 316
280, 313-314. -48, 80-82, 188, 311. Ver também 119, 256, 257, 258, 259. SEDAI-IAN GDE, 91, 92, 179, 222, 315
MERCADOS, 55, 114, 124, 125, 247- cencto-petifetia, hietarquia, rank. PRIMOGENITURA, 46, 187. SEGUNDO RH Vet pemad'
-248. PAISAGEM, 32, 33, 34. PROI'RIEDADE, 301, 303, 304. Ver SEIS GRANI)ES TEMPLOS Vet Sac)
M ESTRE- DISCIPUI.O. Ver siwa-sisia. PALACIO. Ver purl. também drawl, posse, ',baIdios. Kahyangan.
MILITAR, apoio. Ver guerra. PALACIO, disposiclo do, 139-147, 279, PL/NGGAWA, 82, 83, 84, 210, 211, 212, SEKA, 75, 199
MIMESIS, 171. 281. Ver também purl. 301, 312, 313, 314. SIlK'!'!, 134, 136, 138, 139, 776-77/,
MOO, 26-28, 31, 182. I'AREKAN, 49, 85, 211, 212, 213, 219. PUNIçA0 (castigo), 301, 302. 3)1. Ver rainbém marl,
MODO DE PRoQucAo ASIATICO,. PARENTESCO, grupos dc 42-46, 187- PUJ'liI 'AN, 23, 76, 120, 178, 179. SENI-IOR. Ver punggawa.
Vet des1,otisnso oriental,. -188, 201, 203. Ver também do- PURA, 58, 59, 73, 74, 174, 190, 192- SENI-IOR SUSERANO, 76, 85 Ver
M000AS (;lIINESAS. Ver keping. dia. -199, 278, 279. rularn eakorda, patib, pemark,
MOKSA, 40, 291. PARIDADES COST1JMEIRAS, 118, 119. I'URABATUKAU 106, 107, 108-111, /11/4(050.
MO1.IICAS, 115. PA'I'ILf, 83. 240, 241, 242. SERVO (ctiado). Vet parekan.
MONTE AGUNG, 58, 282. PATIOS, 87, 88, 214, 215, 216. PURl, 48, 49, 80, 127, 173, 206, 279, SIMBOLISMO D!RECCIONAL, 271-
MONTE MI3RU, 145, 146, 280, 282- .PATRIMONIALISMO,, 219. 300. Ver canchéns disposiclu do -27 2.
-284, 290. Vet tambérn axis musul;, PAYANGAN. 60. palãcio. SIMBOLISMO PiI ICO. Ver iin,18a

-
NEGARA

sINGARAJA, 55, 115, 103, 251, 252, TEMPLO 1),\ MOREL, 74. Ver tsmbérn
2) '). Kahyaii,gan 'liga.
SINGKO1-1 CONG. 122-175.263 TEMPLO DA ORIGEM, 74. Ver tarnbim
SIVA (Siwa), 135, 136, 139, 146, 151, Kaliyangan Tiga. IND ICE DAS ILUSTRAcOES
267, 268, 270, 2/2. 273, 274, TENAII, 228-229.
2/3. 277, 28.3, 298, 310, 311. TERRA, tends da, 219.
Vt> >arnbirn Sutyn, cIeue. iinposros sobte a, 91-92.
.cIWII-S!SII1, 51, 189. arreiidamento da, 89-91, 219- Mapas
..SUBERANIIt IJNIVI1RSAL ", 291. -221. 227.
s(..lFr.)AD8 DO IRRIGA4;A0 . 'o, 70. rendei ms da, '89-91, 315.
24
-77, /4, 90-1 13, 223, 225-226, posse da, 89-91, 219-221. 1 . Bali ................................................................................................
231, 215-316. ptopriedade da, 89-91. 2. Casas reais de Tabanan e casas aliadas na capital, Ca. 1900 ........ 78
tlitles ds,730-23 I. senhorios da, 89, 91 ........ 79
,oissduicoes das. 69, 244, 243. 'I'ITIILOS, 200, 201, 206, 207, 210, 211, 3. Casas reais de Tabanan e casas aliadas no campo, Ca. 1900
Ii 7
rsçados das. 228, 229, 235-236. 293, 294, 300. 4. 0 poi-to comercial de Kuta ........................................................
SOCIEDADE 1-IIDRAULICA Vt> oIcs- TITULOS. sisterna de, 41, 182, 183, 211.
porimo oriental,'. Ver iamb/n> sistema de castas,
hierarquia, sistema z'ar,,a.
Figuras
SU[2A /c' Vet sociedsdc de it> gaçao.
)(I!JANVAR, 56. 115, 119, 122, 123, iRA BALI-lOS HIDRA1JL1COS, 93-96,
252 Ver taisih2m csorncr,io. 246. 45
'I'RANSE. Ver mediisçao.
1. Estruwra-rnodClO de dadia ..........................................................
SU111)I'lO Ver kawula
2. Descendência nobre: o princfpio do status decrescenre .............. 47
..S!J!3STANTI VISMO,, s's. .4,rniaIisiiiu", 'rRATADO, 59-63. 190, 191, 243. Ver
real de Tabanan ...................................................... 81
2'i I taiibtin Ic>. 3. A linbagcm
de águas
SIICESSAO, 291 'I'RES GRANDES TEMPI.OS. Ver Ks-
4. Diagrarna csquernático da distribuiçEo prelirninar
para urn subak atlpicoa de Tabanan .......................................... 95
51.11)1(6, 11. 42, 209. 237. 290, 292. Ver hysi>gaii 'Jigs.
'I'RlBUNAIS, 281, 285, 301, 302. Ver
cambcrn 1'tha,jo,'
aunbim Braliamajia, JuIses, Id. 5. Grelha de irrigação modelo de urn subak
.................................... 97
SUKAWA'J'I, 191
104
SURYA, 155, 151, 189, 267, 271. Vt> TRIWANGSA, 41, 42, 43, 186, 287, 301. 6. Subaks das terras baixas extrernas ..............................................
Ver tainhito isobteza. ................................................ 104
(arnbcrn Siva, deuses.
TROCA RECfPROCA. 114, 248, 249, 267.
7. Subaks das terras baixas rnédias
SUTTLO2, 127-131, 266 .............. 105
'I'ROCA RED1STRIBIJTIVA, 114, 307, 8. Subaks das terras baixas altas (ou terras altas baixas)
das terras altas rnédias .................................................. 105
TAISANAN, 23. 27, 3, 3-1, 36, 37, 60, 308. 9. Subaks
105
61. /5-111, 116, 122.124. 168, TRONO DL DEUS. Vet padmasrnza. 10. Subaks das terras altas extrernas ..............................................
78, 179, 190, 199, 2(11), 201, TUMPEK, 285. Ver iamb/rn wuku. 11. Planta do palácio do rei de Klungkung, Ca. 1905 .................. 140
207, 208, 209, 263, 280, 288,
293. 298, 299, 100, 401, 314, VAR1AçAO TERMINC)1.6GJCA, 231.
315, 316. yARN/I, sistema, 183, 287. Ver carob/ni
1'AILANDIA, 1118 .sistema sic' castas,', hietarquia,
iEAS'RO DO SOMBRAS, 208, 282, sistemas de t(tu!os.
VISNU. Ver ticuses.
'FEMPLO Vet pura
TI3MI'I.O, congrcaçao do, 67, 72, 73, WARGI, 52-53, 77, 190. Ver iamb/rn hi-
74, 195. 198, 199. peigsmia, casamento.
'I'EMJ'LO, lestivais do, 199, 268. WARIS, 146, 284.
TEMI'LO, sacerdotc do, 100, 198. WESIA, 41, 42, 186.
TEMPLO DA I3ARRAGEM. Vet Templo WONGJAI3A,41.
Cabtça das Agiias. WONGJERO. 41.
'rEM PLO cAIiEçA DAS AGUAS, 101, WONG MAJAPAHIT, ISO.
06, 235 WUKU, 281, 285. Ver também
rEM!'Lo cABEcA DO I1STADO, 307. calendário.
fEMI'LO cABEçA DOS ARROZAIS,
100, 235.

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