Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Teoria de Calibres - Notas
Teoria de Calibres - Notas
Sá Earp
CAMPINAS
2014
i
ii
Resumo
Estas notas foram digitadas pelos os alunos da disciplina Tópicos de Geometria I: Introdução a
teoria de Calibre, ministrado no segundo semestre de 2014, na Universidade Estadual de Campinas
pelos professores Dr. Marcos Jardim e Dr. Henrique de Sá Earp.
Palavras-chave: Fibrado, Conexão, espaço de Modulos, Transformação de Calibre.
iii
iv
Sumário
v
4.3.2 Curvatura em Fibrados Principais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
4.4 Conexão no fibrado de endomorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
vi
10 O espaço das Conexões 159
10.1 O grupo de automorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159
10.2 Variedades de Banach . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161
10.3 A ação do grupo de automorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162
Referências 182
vii
viii
Capítulo 1
Exemplo 1.1.2. (a) O conjunto R dos números reais possui uma topologia canônica na qual
os abertos são ∅, R e as uniões de intervalos abertos (i.e. uniões de conjuntos da forma
(𝑎, 𝑏) := {𝑥 ∈ R: 𝑎 < 𝑥 < 𝑏}).
(b) Se (𝑋𝑖 , 𝜏𝑖 ), 𝑖 = 1, 2,. . . , 𝑛, são espaços topológicos então 𝑋 = 𝑋1 × 𝑋2 × . . . 𝑋𝑛 possui
uma estrutura de espaço topológico na qual os abertos são as uniões de conjuntos da forma
𝑈1 × 𝑈2 × . . . × 𝑈𝑛 , onde 𝑈𝑖 ∈ 𝜏𝑖 . Esta estrutura de espaço topológico é chamada de topologia
produto. Em particular, a topologia produto de R𝑛 = R × . . . × R é conhecida como topologia
canônica de R𝑛 . A menos que seja mencionado o contrário, os espaços 𝑅𝑛 , conhecidos como
espaços Euclideanos, serão sempre considerados como munido de sua topologia canônica.
1
(c) Dados espaços topológicos (𝑋𝑖 , 𝜏𝑖 ), 𝑖 ∈ 𝐼, a união disjunta 𝑋 = ⊔𝑖∈𝐼 𝑋𝑖 possui uma estrutura
de espaço topológico no qual os abertos são os conjuntos da forma ∪𝑖∈𝐼 𝑈𝑖 , onde 𝑈𝑖 ∈ 𝜏𝑖 .
Dizemos que esta é a topologia união de 𝑋.
𝜏 |𝑌 := {𝑌 ∩ 𝑈 : 𝑈 ∈ 𝜏 }
é tal que (𝑌, 𝜏 |𝑌 ) é um espaço topológico. Neste caso, dizemos que (𝑌, 𝜏 |𝑌 ) é um subespaço
de (𝑋, 𝜏 ).
𝜏 /∼:= {𝑉 ⊂ 𝑋/∼: 𝜋 −1 (𝑉 ) ∈ 𝜏 }
é tal que (𝑋/∼, 𝜏 /∼) é um espaço topológico. Dizemos que 𝜏 /∼ é a topologia quociente de
𝑋/∼.
Um espaço topológico (𝑋, 𝜏 ) também pode ser descrito pela família de seus subespaços fechados
𝜌. De fato, o par (𝑋, 𝜏 ) é um espaço topológico se e somente se o conjunto 𝜌 := {𝐹 ⊂ 𝑋: 𝑋∖𝐹 ∈ 𝜏 }
satisfaz as condições:
(i) ∅ e 𝑋 ∈ 𝜌;
Os espaços Euclideanos, são os exemplos de espaços topológicos mais importantes desta se-
ção, pois, em certo sentido, são as variedades mais simples de variedade possíveis. Em especial,
queremos que todas as variedades possuam algumas propriedades em comum com os espaços Eu-
clideanos. Uma delas é a noção de distância entre pontos como veremos na próxima definição.
Definição 1.1.4. Seja 𝑋 um conjunto com uma função d: 𝑋 × 𝑋 → R satisfazendo, para cada 𝑥,
𝑦 e 𝑧 em 𝑋:
2
Neste caso, dizemos que (𝑋, d) é um espaço ( topológico) métrico e que d é a métrica de 𝑋. Por
conveniência, quando a métrica de (𝑋, d) estiver clara no contexto, nos referiremos a 𝑋 como um
espaço métrico e omitiremos a métrica d.
𝑖=1
(b) Outra métrica importante nos espaços euclideanos é a métrica do supremo dsup . Esta é
definida pela igualdade
d(𝑥, 𝑦) = sup{|𝑥𝑖 − 𝑦 𝑖 |}𝑛𝑖=1 ,
para todos 𝑥 = (𝑥1 , . . . , 𝑥𝑛 ) e 𝑦 = (𝑦 1 , . . . , 𝑦 𝑛 ) em R𝑛 .
Os espaços topológicos métricos são assim chamados pois suas métricas induzem topologias.
Definição 1.1.6. Seja (𝑋, d) um espaço métrico.
• Para cada 𝑥 ∈ 𝑋 e 𝜀 > 0, denotemos por 𝐵(𝑥, 𝜀) o conjunto
• A coleção
𝜏 = {∅, 𝑋} ∪ {∪𝑖∈𝐼 𝐵(𝑥𝑖 , 𝜀𝑖 ): 𝑥𝑖 ∈ 𝑋, 𝜀𝑖 > 0}
é chamada de topologia induzida por d em 𝑋.
Segue direto da definição de espaço topológico que, de fato, (𝑋, 𝜏 ) é um espaço topológico se
𝜏 é a topologia induzida por uma métrica d em um espaço métrico (𝑋, d).
Observação 1.1.7. As topologias de R𝑛 induzidas pelas métricas Euclideana e do supremo são
iguais. Mais do que isto, elas coincidem com a topologia canônica de R𝑛 . Pelo menos uma
demonstração de tal fato é acessível ao leitor, porém é um tanto trabalhosa. O leitor pode, por
exemplo, utilizar como lema o artifício a seguir, que ele mesmo pode demonstrar. Para provar que
a topologia 𝜏 de um espaço topológico 𝑋 coincide com a topologia induzida por métrica de 𝑋 basta
verificar que:
• Para cada ponto 𝑦 de uma bola aberta 𝐵(𝑥, 𝜀) existe um 𝑈 ∈ 𝜏 tal que 𝑦 ∈ 𝑈 ⊂ 𝐵(𝑥, 𝜀). (Ou
seja, toda bola aberta é um aberto de (𝑋 < 𝜏 ));
• Para cada ponto 𝑦 de um aberto 𝑈 da topologia 𝜏 existe 𝛿 > 0 tal que 𝑦 ∈ 𝐵(𝑥, 𝜀) ⊂ 𝑈 . (Ou
seja, toda aberto em (𝑋, 𝜏 ) está na topologia induzida pela métrica).
3
Definição 1.1.8. Sejam 𝑋 e 𝑌 espaços topológicos. Um mapa 𝜙: 𝑋 → 𝑌 é dito contínuo se a ima-
gem inversa 𝜙−1 (𝑉 ) de qualquer aberto 𝑉 de 𝑌 é um conjunto aberto em 𝑋. Se um mapa bijetivo
𝜙: 𝑋 → 𝑌 e seu inverso 𝜙−1 : 𝑌 → 𝑋 são contínuos então dizemos que 𝜙 é um homeomorfismo e
que 𝑋 é homeomorfo a 𝑌 (relação denotada por 𝑋 ≃ 𝑌 ).
Exemplo 1.1.9. (a) O mapa identidade id𝑋 : 𝑋 → 𝑋 (que leva um ponto nele mesmo) de um
espaço topológico é sempre um homeomorfismo.
(b) A noção de continuidade dos cursos de cálculo coincidem com as definições acima. Isto é,
𝐹 : R𝑛 → R𝑚 é contínua se e somente se, para todos 𝑥 ∈ R𝑛 e 𝜀 > 0, existe 𝛿 > 0 tal que
d(𝑥, 𝑦) < 𝛿 implica que d(𝐹 (𝑥), 𝐹 (𝑦)) < 𝜀.
Definição 1.1.10. Dizemos que um espaço topológico (𝑋, 𝜏 ) é Hausdorff se dados pontos distintos
𝑥1 e 𝑥2 em 𝑋 existem abertos 𝑈1 e 𝑈2 de 𝑋 tais que
(i) 𝑥1 ∈ 𝑈1 e 𝑥2 ∈ 𝑈2 ;
(ii) 𝑈1 ∩ 𝑈2 = ∅.
Exemplo 1.1.11. (a) Se (𝑋, d) é um espaço métrico então a topologia induzida pela métrica d
é Hausdorff. De fato, dados 𝑥 e 𝑦 em 𝑋, tomando 𝜀 = d(𝑥, 𝑦)/2, temos que 𝐵(𝑥, 𝜀) e 𝐵(𝑦, 𝜀)
são abertos em 𝑋 contendo, respectivamente, 𝑥 e 𝑦 e tais que 𝐵(𝑥, 𝜀) ∩ 𝐵(𝑦, 𝜀) = ∅.
(b) Pelo exemplo anterior e pela observação 1.1.7, o espaço Euclideano R𝑛 , para qualquer 𝑛 > 1,
com sua topologia canônica, é um espaço topológico Hausdorff.
(c) O espaço topológico (𝑋, 𝜏 ), onde 𝑋 = {𝑥, 𝑦} e 𝜏 = {∅, 𝑋}, não é Hausdorff.
(d) Se {𝑋𝑖 }𝑛𝑖=1 é uma coleção finita de espaços Hausdorff então 𝑋 = 𝑋1 × . . . × 𝑋𝑛 (com a
topologia produto) é um espaço Hausdorff. Sejam 𝑥 = (𝑥1 , . . . , 𝑥𝑛 ) e 𝑦 = (𝑦 1 , . . . , 𝑦 𝑛 ) em 𝑋,
com algum 𝑥𝑖 ̸= 𝑦 𝑖 , e 𝑈𝑖 e 𝑉𝑖 abertos de 𝑋𝑖 contendo 𝑥𝑖 e 𝑦 𝑖 , respectivamente. Temos que
𝑈 = 𝑋1 × . . . × 𝑋𝑖−1 × 𝑈𝑖 × 𝑋𝑖+1 × . . . × 𝑋𝑛 e 𝑉 = 𝑋1 × . . . × 𝑋𝑖−1 × 𝑉𝑖 × 𝑋𝑖+1 × . . . × 𝑋𝑛
são abertos de 𝑋 contendo, respectivamente, 𝑥 e 𝑦 e tais que 𝑈 ∩ 𝑉 é o conjunto vazio.
(e) Se {𝑋𝑖 }𝑖∈𝐼 é uma coleção de espaços Hausdorff então a união disjunta 𝑋 = ⊔𝑖∈𝐼 𝑈𝑖 (com a
topologia união) é um espaço Hausdorff.
(g) Nem sempre o espaço topológico 𝑋/∼ (com a topologia quociente) é Hausdorff, onde 𝑋 é um
espaço topológico com uma relação de equivalência ∼. Veja o exemplo 1.1.14 a seguir.
4
• Um par (𝑈, 𝜙), onde 𝑈 é um aberto em 𝑋 e 𝜙: 𝑈 → 𝑈˜ é um homeomorfismo entre 𝑈 e um
aberto de um espaço Euclideano, é chamado de carta local em 𝑋.
• Um atlas de de dimensão 𝑛 de 𝑋 é uma coleção {(𝑈𝛼 , 𝜙𝛼 )}𝛼∈Λ de cartas locais em 𝑋 tal que
𝑋 = ∪𝛼∈Λ 𝑈𝛼 e a imagem 𝜙𝛼 (𝑈𝛼 ) é um aberto de R𝑛 , para cada 𝛼 ∈ Λ.
(b) O espaço topológico (𝑋, 𝜏 ), onde 𝑋 = {𝑥, 𝑦} e 𝜏 = {∅, {𝑥}, 𝑋}, não é localmente Euclidiano.
De fato, não existe vixinhança de 𝑦 que seja homeomorfa a um espaço Euclideano.
(c) Se {𝑋𝑖 }𝑛𝑖=1 é uma coleção finita de espaços localmente Euclideanos então 𝑋 = 𝑋1 × . . . × 𝑋𝑛
(com a topologia produto) é localmente euclideano. Podemos tomar cartas 𝜙𝛼1 ,...,𝛼𝑛 : 𝑈𝛼1 ×
. . . × 𝑈𝛼𝑛 → 𝑈˜𝛼1 × . . . × 𝑈˜𝛼𝑛 , onde (𝜙𝛼𝑖 , 𝑈𝛼𝑖 ) é uma carta em 𝑋𝑖 e
(d) Se {𝑋𝑖 }𝑖∈𝐼 é uma coleção de espaços localmente Euclideanos então a união disjunta 𝑋 =
⊔𝑖∈𝐼 𝑋𝑖 (com a topologia união) é um espaço localmente Euclideano.
(f) O quociente de um espaço localmente Euclideano nem sempre é localmente Euclideano. Por
exemplo, 𝑋 = R/𝑠𝑖𝑚, com as classes de equivalência
{𝑦 ∈ R: 𝑦 6 0}, caso 𝑥 6 0,
{︃
[𝑥] =
{𝑦 ∈ R: 𝑦 > 0}, caso 𝑥 > 0,
Como os espaços Euclideanos são Hausdorff, o leitor pode ter, à primeira vista, a impressão
de que todo espaço localmente Euclideano também é Hausdorff. O próximo exemplo é sobre um
espaço topológico, conhecido como a ‘reta com duas origens’, localmente euclideano que não é
Hausdorff. De onde concluimos que não basta um espaço topológico possuir um atlas para que
este seja Hausdorff.
5
Tomemos 𝑌 := 𝑋/∼ com a topologia quociente. Se 𝑈 é uma vizinhança de [0, 𝑎] em 𝑌 que não
contém [0, 𝑏] então (︁ )︁ (︁ )︁
𝜋 −1 (𝑈 ) = (𝑥, 𝑦) × {𝑎} ∪ ((𝑥, 𝑦)∖{0}) × {𝑏} ,
onde 𝑥 < 0 < 𝑦 e (𝑥, 𝑦) é o intervalo aberto dos pontos 𝑧 entre 𝑥 e 𝑦. Analogamente, se 𝑉 é uma
vizinhança de [0, 𝑏] em 𝑌 que não contém [0, 𝑎] então
(︁ )︁ (︁ )︁
𝜋 −1 (𝑉 ) = ((𝑥′ , 𝑦 ′ )∖{0}) × {𝑎} ∪ (𝑥′ , 𝑦 ′ ) × {𝑏} ,
onde 𝑥 < 0 < 𝑦 e (𝑥, 𝑦). Segue daí que a interseção entre 𝑈 e 𝑉 , como acima, nunca é vazia. Em,
particular, não existem abertos disjuntos 𝑈 e 𝑉 de 𝑌 contendo [0, 𝑎] e [0, 𝑏], respectivamente. Com
isso, concluímos que 𝑌 não é Hausdorff. Por outro lado, 𝑌 possui um atlas {(𝑈𝑎 , 𝜙𝑎 ), (𝑈𝑏 , 𝜙𝑏 )},
onde 𝑈𝑐 = 𝜋(R𝑐 ) e 𝜙𝑐 : 𝑈𝑐 → R é dado pela igualdade
𝜙𝑐 ([𝑥, 𝑐]) = 𝑥.
Definição 1.1.15. Um espaço topológico (𝑋, 𝜏 ) é dito segundo enumerável se existe uma família
enumerável {𝑈𝑛 }𝑛∈Z+ contida em 𝜏 tal que, para todo 𝑈 ∈ 𝜏 , existe 𝐼 ⊂ Z+ tal que 𝑈 = ∪𝑛∈𝐼 𝑈𝑛 .
(b) Se {𝑋𝑖 }𝑛𝑖=1 é uma coleção finita de espaços segundo enumerável então 𝑋 = 𝑋1 × . . . × 𝑋𝑛
(com a topologia produto) é segundo enumerável.
(c) Se {𝑋𝑖 }𝑛𝑖=1 é uma coleção finita de espaços segundo enumerável então a união disjunta 𝑋 =
⊔𝑛𝑖=1 𝑋𝑖 (com a topologia união) é um espaço segundo enumerável.
Definição 1.1.17. Dizemos que um espaço topológico 𝑀 munido de um atlas 𝒜 = {(𝑈𝛼 , 𝜙𝛼 )}𝛼∈Λ
de dimensão 𝑛 = dim 𝑀 é uma variedade suave de dimensão 𝑛 se
(ii) Dadas duas cartas locais (𝑈𝛼 , 𝜙𝛼 ) e (𝑈𝛽 , 𝜙𝛽 ) em 𝒜 tais que 𝑈𝛼 ∩ 𝑈𝛽 ̸= ∅, o mapa
é suave.
6
(iii) Se (𝑉, 𝜓), com 𝜓(𝑉 ) sendo um aberto de R𝑛 , for tal que, para todo 𝛼 ∈ Λ com 𝑈𝛼 ∩ 𝑉 ̸= ∅,
o mapa
𝛼 : 𝜙𝛼 (𝑈𝛼 ∩ 𝑉 ) → 𝜓(𝑈𝛼 ∩ 𝑉 )
𝜓 ∘ 𝜙−1
é suave então 𝜙 ∈ 𝒜.
Por conveniência, quando o atlas 𝒜 da variedade suave (𝑀, 𝒜) estiver claro no contexto, nos
referiremos a 𝑀 como a variedade suave e omitiremos o atlas 𝒜. Os elementos de 𝒜 são chamados
de cartas suaves em 𝑀 .
Observação 1.1.18. A condição (iii) da definição acima é essencial. Porém se temos um espaço
topológico 𝑀 com um atlas 𝒜˜ satisfazendo as condições (i) e (ii), existe (pelo Lema de Zorn) um
único atlas 𝒜 de 𝑀 contendo 𝒜˜ e satisfazendo as condições (ii) e (iii). Por isso, ao descrevermos
uma variedade no restante destas notas nos restringiremos a descrever um atlas que satisfaça a
condição (ii) e ficará subentendido que a variedade suave em questão é munida do único altas que
completa os pré-requisitos da definição.
Exemplo 1.1.19. (a) Todo espaço Euclideano de dimensão 𝑛 é uma variedade de dimensão 𝑛.
(b) Seja 𝑉 um espaço vetorial real de dimensão finita 𝑛. Tomando um isomorfismo linear 𝑇 : 𝑉 →
R𝑛 podemos considerar uma topologia em 𝑉 pela qual 𝑇 é um homeomorfismo (isto é, na
qual 𝐵 ⊂ 𝑉 é um aberto se e somente se 𝑇 (𝐵) é um aberto de R𝑛 ). A carta (𝑉, 𝑇 ) forma,
por si só, um atlas para 𝑉 , fazendo deste uma variedade suave.
(c) Se {𝑀𝑖 }𝑘𝑖=1 é uma coleção finita de variedades suaves, com 𝑛𝑖 = dim 𝑀𝑖 , então o produto
𝑀 = 𝑀1 × . . . × 𝑀𝑘 (com a topologia produto) é uma varidade suave de dimensão 𝑛 =
𝑛1 · 𝑛2 · . . . · 𝑛𝑘 . O atlas de 𝑀 é formado pelas cartas locais (𝑈1 × . . . × 𝑈𝑘 , 𝜙1 × . . . × 𝜙𝑘 )
onde (𝑈𝑖 , 𝜙𝑖 ) é uma carta local de 𝑀𝑖 .
(d) Dada uma família {𝑀𝑖 }𝑘𝑖=1 finita de variedades suaves de dimensão 𝑛 então a união disjunta
𝑀 = ⊔𝑘𝑖=1 𝑀𝑖 (com a topologia união) é uma variadede suave de dimensão 𝑛. Um atlas suave
para 𝑀 pode ser dado pela união dos atlas de cada 𝑀𝑖 .
(e) Se 𝑈 é um aberto de uma variedaded suave 𝑀 de dimensão 𝑛 então 𝑈 (com a topologia de
subespaço) é uma variedade suave de dimensão 𝑛. O atlas de 𝑈 é descrito como sendo o atlas
composto pelas cartas (𝑈 ∩ 𝑉, 𝜓|𝑈 ∩𝑉 ) onde (𝑉, 𝜓) é uma carta local de 𝑀 tal que 𝑈 ∩ 𝑉 ̸= ∅.
Agora, passemos para alguns exemplos mais sofisticados de variedades suaves.
Exemplo 1.1.20. Seja S𝑛 o subespaço de R𝑛 formado pelos pontos 𝑥 tais que |𝑥|= 1. Consideremos
os abertos 𝑈𝑁 = S𝑛 ∖{𝑒𝑛+1 } e 𝑈𝑆 = 𝑆 𝑛 ∖{−𝑒𝑛+1 } (onde 𝑒𝑛+1 é o vetor (0, . . . , 0, 1) em R𝑛+1 ).
Podemos definir mapas 𝜙𝑁 : 𝑈𝑁 → R𝑛 ∖{0} e 𝜙𝑆 : 𝑈𝑁 → R𝑛 ∖{0} pela igualdades
𝑥𝑛
(︃ )︃
𝑥1
𝜙𝑁 (𝑥) = , . . . , , 𝑥 = (𝑥1 , . . . , 𝑥𝑛+1 ) ∈ 𝑈𝑁 ,
1 + 𝑥𝑛+1 1 + 𝑥𝑛+1
e
𝑥𝑛
(︃ )︃
𝑥1
𝜙𝑆 (𝑥) = , . . . , , 𝑥 = (𝑥1 , . . . , 𝑥𝑛+1 ) ∈ 𝑈𝑆 .
1 − 𝑥𝑛+1 1 − 𝑥𝑛+1
7
Tais mapas possuem inversos dados por
2𝑦 1 2𝑦 𝑛 1 − 𝑛𝑖=1 (𝑦 𝑖 )2
(︃ ∑︀ )︃
𝑁 (𝑦)
𝜙−1 = , . . . , , , 𝑦 = (𝑦 1 , . . . , 𝑦 𝑛 ) ∈ R𝑛 ∖{0},
1 + 𝑖=1 (𝑦 𝑖 )2 1 + 𝑛𝑖=1 (𝑦 𝑖 )2 1 + 𝑛𝑖=1 (𝑦 𝑖 )2
∑︀𝑛 ∑︀ ∑︀
e
2𝑦 1 2𝑦 𝑛 1 − 𝑛𝑖=1 (𝑦 𝑖 )2
(︃ ∑︀ )︃
𝑆 (𝑦) =
𝜙−1 , . . . , , − , 𝑦 = (𝑦 1 , . . . , 𝑦 𝑛 ) ∈ R𝑛 ∖{0}.
1 + 𝑖=1 (𝑦 𝑖 )2 1 + 𝑛𝑖=1 (𝑦 𝑖 )2 1 + 𝑛𝑖=1 (𝑦 𝑖 )2
∑︀𝑛 ∑︀ ∑︀
por
2𝑦 1 2𝑦 𝑛
(︃ )︃
𝜙𝑁 ∘ 𝑆 (𝑦)
𝜙−1 = 𝜙𝑆 ∘ 𝑁 (𝑦)
𝜙−1 = ,..., , 𝑦 = (𝑦 1 , . . . , 𝑦 𝑛 ) ∈ R𝑛 ∖{0},
1+ (𝑦 𝑖 )2 1+ (𝑦 𝑖 )2
∑︀𝑛 ∑︀𝑛
𝑖=1 𝑖=1
estes mapas são suaves e, portanto, o atlas {(𝑈𝑛 , 𝜙𝑁 ), (𝑈𝑆 , 𝜙𝑆 )} fornece à S𝑛 uma estrutura de
variedade suave.
Denotemos por 𝜋 a projeção R𝑛+1 ∖{0} → RP𝑛 dada pela relação ∼. A restrição 𝜏 𝑖 de 𝜋 ao
subespaço
8
segue que 𝜙𝑖 = (𝜙𝑖 ∘𝜏 𝑖 )∘𝜏 𝑖 é um homeomorfismo. Se 𝑖 ̸= 𝑗 então o mapa 𝜙𝑖 ∘(𝜙𝑗 )−1 : 𝜙𝑗 (𝑈 𝑖 ∩𝑈 𝑗 ) →
𝜙𝑖 (𝑈 𝑖 ∩ 𝑈 𝑗 ) é dado por
(𝑦 1 , . . . , 𝑦 𝑛 ) ∈ 𝜙𝑗 (𝑈 𝑖 ∩ 𝑈 𝑗 ), caso 𝑖 < 𝑗, e
𝑦 𝑗−1 1 𝑦𝑗 𝑦 𝑖−2 𝑦 𝑖 𝑦𝑛
(︃ )︃
𝑦1
𝜙 ∘ (𝜙 ) (𝑦 , . . . , 𝑦 ) =
𝑖 𝑗 −1 1 𝑛
, . . . , , , , . . . , , , . . . , ,
𝑦 𝑖−1 𝑦 𝑖−1 𝑦 𝑖−1 𝑦 𝑖−1 𝑦 𝑖−1 𝑦 𝑖−1 𝑦 𝑖−1
(𝑦 1 , . . . , 𝑦 𝑛 ) ∈ 𝜙𝑗 (𝑈 𝑖 ∩ 𝑈 𝑗 ), caso 𝑖 > 𝑗. Como estes mapas são suaves, concluímos que o atlas
{(𝑈 𝑖 , 𝜙𝑖 )}𝑛𝑖=1 fornece à RP𝑛 uma estrutura de variedade suave.
As variedades definidas no próximo exemplo são uma generalização do conceito de espaço
projetivo, que é o espaço cujos pontos são as retas de um espaço Euclideano.
Exemplo 1.1.22. A varieade Grassmaniana Gr(𝑘, 𝑛) é o conjunto dos subespaços de dimensão
𝑘 < 𝑛 de R𝑛 . O modelo que apresentaremos deste espaço é o espaço quociente do subconjunto
do conjunto M𝑛×𝑘 (R) das matrizes 𝑛 × 𝑘 reais quocientado pela relação ∼, que é definida por
𝑆𝐼 := {𝐴 ∈ M𝑛×𝑘 : 𝐴𝐼 = 𝐼𝑘×𝑘 } ⊂ 𝑋,
onde 𝐼𝑘×𝑘 denota a matriz identidade 𝑘 × 𝑘, e o homeomorfismo 𝜙˜𝐼 : 𝑆𝐼 → M(𝑛−𝑘)×𝑘 , dado por
𝜙˜𝐼 (𝐴) = 𝐴𝑁 ∖𝐼 , 𝐴 ∈ 𝑆𝐼
Dado uma matriz 𝐴 ∈ 𝑆𝐼 , para qualquer matriz 𝑔 ∈ M𝑘×𝑘 (R) temos que (𝐴𝑔)𝐼 = 𝐼𝑘×𝑘 𝑔 = 𝑔.
Logo, o mapa quociente 𝜋 é injetivo em 𝑆𝐼 e, consequentemente, 𝜋|𝑆𝐼 é um homeomorfismo. Com
isso, concluímos que o mapa 𝜙𝐼 : 𝑈𝐼 → 𝑀(𝑛−𝑘)×𝑘 (R), onde 𝑈𝐼 := 𝜋(𝑆𝐼 ) e 𝜙𝐼 := 𝜙˜𝐼 ∘ (𝜋|𝑈𝐼 )−1 , é
um homeomorfismo (pois é uma composição de homeomorfismos). O subespaço 𝑈𝐼 de Gr(𝑛, 𝑘) é
aberto pois sua imagem inversa por 𝜋 é o aberto
{𝐴 ∈ M𝑛×𝑘 : det 𝐴𝐼 ̸= 0}
de 𝑋. Como 𝑀(𝑛−𝑘)×𝑘 (R) é, a menos de reindexação das coordenadas, o espaço R(𝑛−𝑘)𝑘 , podemos
considerar, sem perda de generalidade, que (𝑈𝐼 , 𝜙𝐼 ) é uma carta local de Gr(𝑛, 𝑘).
9
Dado um elemento 𝐴 de 𝑋, deve existir (pelo método da eliminação de Gauss) um subconjunto
𝐼 de 𝑁 = {1, . . . , 𝑛} de 𝑘 elementos tal que 𝐴𝐼 = 𝑔 é uma matriz 𝑘 × 𝑘 invertível. Desta
forma, a classe de equivalência [𝐴] de 𝐴 possui o elemento 𝐵 = 𝐴𝑔 −1 , que pertence a 𝑆𝐼 pois
𝐵𝐼 = (𝐴𝑔 −1 )𝐼 = 𝑔𝑔 −1 = 𝐼𝑘×𝑘 . Logo, [𝐴] ∈ 𝑈𝐼 = 𝜋(𝑆𝐼 ). Com isso, concluimos que
Gr(𝑘, 𝑛) = 𝑋/∼=
⋃︁
𝑈𝐼
𝐼⊂𝑁,|𝐼|=𝑘
e, consequentemente,
{(𝑈𝐼 , 𝜙𝐼 ): 𝐼 ⊂ 𝑁, |𝐼|= 𝑘}
é um atlas para Gr(𝑘, 𝑛).
Por fim, verificaremos que, para subconjuntos 𝐼 e 𝐽 de 𝑁 = {1, . . . , 𝑛}, 𝜙𝐼 ∘𝜙−1
𝐽 : 𝜙𝐽 (𝑈𝐼 ∩𝑈𝐽 ) →
𝜙𝐼 (𝑈𝐼 ∩𝑈𝐽 ) é um mapa suave e, daí, concluiremos que Gr(𝑘, 𝑛) é uma variedade suave de dimensão
(𝑛 − 𝑘)𝑘.
Sejam 𝐼 e 𝐽 subconjuntos de 𝑁 := {1, . . . , 𝑛} com 𝑘 elementos. Fixemos 𝑃 ∈ 𝜙𝐽 (𝑈𝐼 ∩ 𝑈𝐽 ).
Temos que 𝜙−1 𝐽 (𝑃 ) = [𝐴], para 𝐴 = 𝜙 ˜−1
𝐽 (𝑃 ) ∈ 𝑆𝐽 com [𝐴] ∈ 𝑈𝐼 ∩ 𝑈𝐽 . Como [𝐴] ∈ 𝑈𝐼 = 𝜋(𝑆𝐼 ),
(𝐴𝑔)𝐼 = 𝐼𝑘×𝑘 para algum 𝑔 ∈ M𝑘×𝑘 (R) invertível e, consequentemente, 𝐴𝐼 = 𝑔 −1 é invertível.
Assim,
𝐽 (𝑃 ) = 𝜙𝐼 [𝐴]
𝜙𝐼 ∘ 𝜙−1
= 𝜙𝐼 [𝐴𝐴−1 𝐼 ]
= 𝜙˜𝐼 (︁(𝐴𝐴−1
𝐼 ) )︁ (pois 𝐴𝐴𝐼 ∈ 𝑆𝐼 )
−1
−1
= 𝜙˜𝐼 𝜙˜−1𝐽 (𝑃 )(𝜙
˜−1
𝐽 (𝑃 ))𝐼 .
Como os mapas 𝜙˜𝐼 , 𝜙˜𝐽 , a inversão e multiplicação de matrizes são mapas suaves, temos, pela
𝐽 (𝑃 ) acima que 𝜙𝐼 ∘ 𝜙𝐽 é um mapa suave.
expressão de 𝜙𝐼 ∘ 𝜙−1 −1
10
• Se 𝐹 é suave então, para cada par de cartas locais (𝑈 ′ , 𝜙′ ) ∈ 𝒜 e (𝑉 ′ , 𝜓 ′ ) ∈ ℬ tais que
𝑈 ′ ∩ 𝐹 −1 (𝑉 ′ ) ̸= ∅, o mapa
𝜓 ′ ∘ 𝐹 ∘ (𝜙′ )−1 : 𝜙′ (𝑈 ′ ∘ 𝐹 −1 (𝑉 ′ )) → 𝜓 ′ (𝑉 ′ )
é suave. Esta afirmação segue do fato de podermos mostrar que para cada 𝜙′ (𝑝) ∈ 𝜙′ (𝑈 ′ ∩𝐹 −1 )
existe um aberto 𝑈˜ de 𝜙′ (𝑈 ′ ∩ 𝐹 −1 ) tal que 𝜙′ (𝑝) ∈ 𝑈˜ e o mapa
(𝑥 + 𝑖𝑦)2
𝐹 [𝑥, 𝑦] = , [𝑥, 𝑦] ∈ RP1 ,
𝑥2 + 𝑦 2
{𝑧 ∈ C: |𝑧|= 1}
com estrutura de variedade suave dada pelo atlas formado pelos abertos
𝑉𝑁 = S1 ∖{−1}
e
𝑉𝑆 = S1 ∖{1}
1
Podemos tomar (𝑈, 𝜙) e (𝑉, 𝜓) como na definição de função suave e, se necessário, restringi-las às cartas
(𝑈 ∩ (𝑈 ′ ∩ 𝐹 −1 (𝑉 ′ )), 𝜙|𝑈 ∩(𝑈 ′ ∩𝐹 −1 (𝑉 ′ )) ) e (𝑉 ∩ 𝑉 ′ , 𝜓|𝑉 ∩𝑉 ′ ).
11
e os homeomorfismos 𝜓𝑁 : 𝑉𝑁 → R e 𝜓𝑆 : 𝑉𝑆 → R, dadas por
𝑦
𝜓𝑁 (𝑥 + 𝑖𝑦) = , 𝑥 + 𝑖𝑦 ∈ 𝑉𝑁 , 𝑥, 𝑦 ∈ R,
1+𝑥
e
𝑦
𝜓𝑆 (𝑥 + 𝑖𝑦) = , 𝑥 + 𝑖𝑦 ∈ 𝑉𝑆 , 𝑥, 𝑦 ∈ R,
1−𝑥
cujos mapas inversos 𝜓𝑁
−1
: R → 𝑉𝑁 e 𝜓𝑆−1 : R → 𝑉𝑆 são dados por
1 − 𝑡2 2𝑡
−1
𝜓𝑁 (𝑡) = +𝑖 , 𝑡 ∈ R,
1+𝑡 2 1 + 𝑡2
e
1 − 𝑡2 2𝑡
𝜓𝑆−1 (𝑡) = − +𝑖 , 𝑡 ∈ R.
1+𝑡 2 1 + 𝑡2
O espaço projetivo R𝑃 1 tem sua estrutura de variedade suave dada pelo atlas formado pelos abertos
𝑈 1 = {[1, 𝑡] ∈ RP1 : 𝑡 ∈ R}
e
𝑈 2 = {[1, 𝑡] ∈ RP1 : 𝑡 ∈ R}
e os mapas 𝜙1 : 𝑈 1 → R e 𝜙2 : 𝑈 2 → R, dados por
𝜙1 [1, 𝑡] = 𝑡, [1, 𝑡] ∈ 𝑈 1 ,
e
𝜙2 [𝑡, 1] = 𝑡, [1, 𝑡] ∈ 𝑈 2 .
Como
(1 + 𝑖𝑡)2
{︃ }︃
𝐹 (𝑈 ) =
1
:𝑡 ∈ R
{︃ 1 + 𝑡
2
1 − 𝑡2 2𝑡
}︃
= +𝑖 :𝑡 ∈ R
1 + 𝑡2 1 + 𝑡2
= 𝜓𝑁−1
(R)
= 𝑉𝑛
e
𝐹 (𝑈 2 ) = 𝑉𝑆 ,
a suavidade de 𝐹 segue do fato de as funções 𝜙1 ∘ 𝐹 ∘ 𝜓𝑁
−1
e 𝜙2 ∘ 𝐹 ∘ 𝜓𝑆−1 : R → R serem o mapa
identidade em R. O mapa 𝐹 possui um mapa inverso 𝐺: S → RP1 dado pela igualdade
1
1 = (𝜙1 ∘ 𝐹 ∘ 𝜓𝑁 )
𝜓𝑁 ∘ 𝐺 ∘ 𝜙−1 −1 −1
e
2 = (𝜙2 ∘ 𝐹 ∘ 𝜓𝑆 )
𝜓𝑆 ∘ 𝐺 ∘ 𝜙−1 −1 −1
12
Exemplo 1.1.27. Para 𝑛 > 1, mostraremos que o espaço projetivo RP𝑛 não é difeomorfo à esfera
S𝑛 . Em particular, estes espaços não são homeomorfos. Tal fato pode ser demonstrado utilizando
as ferramentas da Topologia Algébrica (o grupo fundamentald e RP𝑛 é Z2 enquanto o de S𝑛 é o
grupo trivial).
Para o caso 𝑛 = 2, podemos utilizar um argumento que envolve a conexidade destes espaços. O
espaço projetivo RP2 é dado como a união disjunta
RP2 = 𝑈 ∪ {[0, 0, 1]},
onde
𝑈 := {[𝑥1 , 𝑥2 , 𝑡] ∈ RP2 : (𝑥1 , 𝑥2 ) ∈ S1 , 𝑡 ∈ R} ≃ S1 × R).
Suponhamos que haja um homeomorfismo 𝐹 : RP2 → S2 . Seja 𝑝 o ponto de 𝐹 ([0, 0, 1]) e 𝜙𝑝 : S2 ∖{𝑝} →
R2 um homeomorfismo dado por uma projeção estereográfica (como no atlas de S𝑛 exibido no Exem-
plo 1.1.20). Então, 𝜙𝑝 ∘ 𝐹 |𝑈 : 𝑈 → R2 é um homeomorfismo entre 𝑈 ≃ S1 × R e R2 . Porém, isto é
impossível já que, tirando uma reta 𝑟 de 𝑈 ≃ S1 × R, obtemos um espaço 𝑈 ∖𝑟 ≃ R2 que não pode
ser escrito como união de dois abertos disjuntos enquanto que, tirando a curva 𝜙𝑝 ∘ 𝐹 (𝑟) de R2 ,
obtemos o espaço R2 ∖𝜙𝑝 ∘ 𝐹 (𝑟) que é uma união de dois subespaços abertos disjuntos (Teorema da
Curva de Jordan).
0 (𝑥 , . . . , 𝑥 ) = (𝑥 , . . . , 𝑥 , 0, . . . , 0),
𝜓0 ∘ 𝐹 ∘ 𝜙−1 1 𝑚 1 𝑟
(𝑥1 , . . . , 𝑥𝑚 ) ∈ 𝑈˜0 .
O Teorema do Posto pode ser adaptado de forma natural para variedades suaves como a seguir:
Teorema 1.1.29 (Teorema do Posto). Sejam 𝑀 e 𝑁 variedades suaves de dimensão 𝑚 e 𝑛,
respectivamente, e 𝐹 : 𝑀 → 𝑁 um mapa suave de posto constante 𝑟. Para cada ponto 𝑝 ∈ 𝑀 ,
existem cartas locais (𝑈, 𝜙) em 𝑀 e (𝑉, 𝜓) em 𝑁 tais que 𝑝 ∈ 𝑈 , 𝐹 (𝑈 ) ⊂ 𝑉 e 𝜓 ∘ 𝐹 ∘ 𝜙−1 : 𝜙(𝑈 ) é
dado pela igualdade
𝜓 ∘ 𝐹 ∘ 𝜙−1 (𝑥1 , . . . , 𝑥𝑚 ) = (𝑥1 , . . . , 𝑥𝑟 , 0, . . . , 0), (𝑥1 , . . . , 𝑥𝑚 ) ∈ 𝜙(𝑈 ).
13
Observe que, nas condições do enunciado do Teorema do Posto, podemos encolher o domínio
𝜙(𝑈 ) ⊂ 𝑅𝑚 de forma que a imagem de 𝜓 ∘ 𝐹 ∘ 𝜙−1 seja o conjunto
Neste caso, dizemos que 𝐹 (𝑈 ) é uma 𝑟-fatia de 𝑉 . Supondo que 𝐹 seja uma imersão, teremos que
𝐹 (𝑈 ) é uma 𝑛-fatia de 𝑉 . Mas, por outro lado, 𝐹 (𝑀 ) ∩ 𝑉 não seria uma necessariamente uma 𝑛-
fatia de 𝑉 . Porém, como veremos na próxima proposição, se 𝐹 : 𝑀 → 𝐹 (𝑀 ) for um homeomorfismo
podemos diminuir 𝑉 suficientemente a ponto de 𝐹 (𝑀 ) ∩ 𝑉 ser uma 𝑚-fatia.
(a) 𝐹 é um mergulho;
(b) Para cada ponto 𝑝 ∈ 𝑀 , existem cartas suaves (𝑈, 𝜙) em 𝑀 e (𝑉, 𝜓) em 𝑁 tais que 𝑝 ∈ 𝑈 ,
𝑈 = 𝐹 −1 (𝐹 (𝑀 ) ∩ 𝑉 ) e o mapa 𝜓 ∘ 𝐹 ∘ 𝜙−1 : 𝜙(𝑈 ) → 𝜓(𝑉 ) sendo dado por
com
𝜓 ∘ 𝐹 (𝑈 ) = {(𝑥1 , . . . , 𝑥𝑛 ) ∈ 𝜓(𝑉 ): 𝑥𝑚+1 = · · · = 𝑥𝑛 = 0}.
𝜓 ′ ∘ 𝐹 (𝑈 ) = {(𝑥1 , . . . , 𝑥𝑛 ) ∈ 𝜓 ′ (𝑉 ): 𝑥𝑚+1 = · · · = 𝑥𝑛 = 0}
e 𝜙 = 𝜙|
˜ 𝑈.
Como 𝑈 é um aberto em 𝑀 , existe um aberto 𝑊 de 𝑁 tal que 𝐹 (𝑈 ) = 𝐹 (𝑀 ) ∩ 𝑊 . Tomemos
𝑉 = 𝑊 ∩ 𝑉 ′ e 𝜓 = 𝜓 ′ |𝑉 . Desta forma, pela escolha de 𝑈 ⊂ 𝐹 −1 (𝑉 ′ ), temos que
𝐹 (𝑈 ) = (𝐹 (𝑀 ) ∩ 𝑊 ) ∩ 𝑉 ′ = 𝐹 (𝑀 ) ∩ 𝑉
e, como 𝐹 é injetivo
𝑈 = 𝐹 −1 (𝐹 (𝑀 ) ∩ 𝑉 ).
˜ o mapa 𝜓 ∘ 𝐹 ∘ 𝜙−1 : 𝜙(𝑈 ) → 𝜓(𝑉 ) é dado por
Além disso, como 𝜙 e 𝜓 são restrições de 𝜙˜ e 𝜓,
14
com
𝜓 ∘ 𝐹 (𝑈 ) = {(𝑥1 , . . . , 𝑥𝑛 ) ∈ 𝜓(𝑉 ): 𝑥𝑚+1 = · · · = 𝑥𝑛 = 0}.
Agora, mostraremos que o item (b) implica no item (a).
Sejam (𝑈˜ , 𝜙) ˜ em 𝑁 cartas locais tais que 𝐹 (𝑈˜ ) ⊂ 𝑉˜ . Para cada 𝑝 ∈ 𝑈˜ ,
˜ em 𝑀 e (𝑉˜ , 𝜓)
tomemos cartas suaves (𝑈, 𝜙) em 𝑀 e (𝑉, 𝜓) em 𝑁 do enunciado do item (b). Pela descrição do
mapa 𝜓 ∘ 𝐹 ∘ 𝜙−1 : 𝜙(𝑈 ) → 𝜓(𝑉 ), a diferencial deste tem posto 𝑚 em cada ponto de 𝑈 . Assim, o
diferencial do mapa
𝜓˜ ∘ 𝐹 ∘ 𝜙˜−1 |𝜙(
˜ 𝑈
˜
˜ ∩𝑈 ) = (𝜓 ∘ 𝜓 ) ∘ (𝜓 ∘ 𝐹 ∘ 𝜙 ) ∘ (𝜙 ∘˜𝜙 )
−1 −1 −1
no ponto 𝜙(𝑝)
˜ é 𝑚 pois o diferencial de 𝜓˜ ∘ 𝐹 ∘ 𝜙˜−1 |𝜙( ˜ 𝑈˜ ∩𝑈 ) é a composição dos diferenciais de
˜ −1 −1 −1 ˜
𝜓 ∘ 𝜓 , 𝜓 ∘ 𝐹 ∘ 𝜙 e 𝜙 ∘˜𝜙 . Logo, o diferencial de 𝜓 ∘ 𝐹 ∘ 𝜙˜−1 em 𝜙(𝑝) ˜ é 𝑚. Com isso, concluimos
que 𝐹 é uma imersão.
Verificaremos, agora, que o mapa 𝐹 é injetivo. Dados dois pontos distintos 𝑝 e 𝑞 ∈ 𝑀 , existem
cartas suaves (𝑈𝑝 , 𝜙𝑝 ), (𝑈𝑞 , 𝜙𝑞 ) em 𝑀 e (𝑉𝑝 , 𝜓𝑝 ), (𝑉𝑞 , 𝜓𝑞 ) em 𝑁 tais que 𝑝 ∈ 𝑈𝑝 , 𝑞 ∈ 𝑈𝑞 , 𝑈𝑝 =
𝐹 −1 (𝐹 (𝑀 ) ∩ 𝑉𝑝 ), 𝑈𝑞 = 𝐹 −1 (𝐹 (𝑀 ) ∩ 𝑉𝑞 ) e os mapas 𝐹 |𝑈𝑝 : 𝑈𝑝 → 𝐹 (𝑀 ) ∩ 𝑉𝑝 e 𝐹 |𝑈𝑞 : 𝑈𝑞 → 𝐹 (𝑀 ) ∩ 𝑉𝑞
são bijeções. Se 𝑝 ∈ 𝑈𝑞 ou 𝑞 ∈ 𝑈𝑝 então devemos ter que 𝐹 (𝑝) ̸= 𝐹 (𝑞) já que 𝐹 |𝑈𝑝 e 𝐹 |𝑈𝑞 são
bijeções. Caso, 𝑞 ∈ / 𝑈𝑝 devemos ter que 𝐹 (𝑞) ∈ / 𝐹 (𝑀 ) ∩ 𝑉𝑝 e, consequentemente, 𝐹 (𝑞) é diferente
de 𝐹 (𝑝), que pertence à 𝐹 (𝑀 ) ∩ 𝑉𝑝 . Analogamente, 𝐹 (𝑝) é diferente de 𝐹 (𝑞) caso 𝑝 ∈ / 𝑈𝑞 . Logo,
𝐹 é injetiva.
Seja 𝑈 um aberto em 𝑀 . Para cada 𝑝 ∈ 𝑈 , tomemos abertos 𝑈𝑝 em 𝑀 e 𝑉𝑝 em 𝑁 tais que
𝑝 ∈ 𝑈𝑝 e 𝑈𝑝 = 𝐹 −1 (𝐹 (𝑀 ) ∩ 𝑉𝑝 ). Desta forma, como 𝐹 é injetivo
𝑈 ∩ 𝑈𝑝 = 𝐹 −1 (𝐹 (𝑈 )) ∩ 𝐹 −1 (𝐹 (𝑀 ) ∩ 𝑉𝑝 ) = 𝐹 −1 (𝐹 (𝑀 ) ∩ 𝑉𝑝 ),
para todo 𝑝 ∈ 𝑈 . Logo, definindo 𝑉 = ∪𝑝∈𝑈 𝑉𝑝 , temos que 𝑉 é um aberto de 𝑁 tal que
(︁ )︁ (︁ )︁
𝑈 = ∪𝑝∈𝑈 (𝑈 ∩ 𝑈𝑝 ) = ∪𝑝∈𝑈 𝐹 −1 (𝐹 (𝑀 ) ∩ 𝑉𝑝 ) = 𝐹 −1 𝐹 (𝑀 ) ∩ (∪𝑝∈𝑈 𝑉 ) = 𝐹 −1 (𝐹 (𝑀 ) ∩ 𝑉 ).
{𝑈 ′ ⊂ 𝑆: 𝐹 −1 (𝑈 ′ ) é aberto em 𝑀 }.
15
e um atlas
{(𝐹 (𝑈 ), 𝜙 ∘ 𝐹 −1 ): (𝑈, 𝜙) é uma carta local de 𝑀 }.
No caso em que 𝐹 é um mergulho, esta topologia coincide com a topologia de 𝑆 como subespaço
de 𝑀 e, pela Proposição 1.1.30, o atlas de 𝑆 é induzido por restrições de cartas locais de 𝑁 . Por
outro lado, no caso em que 𝐹 é somente uma imersão, a topologia descrita acima pode ter mais
abertos que a topologia de 𝑆 como subespaço de 𝑁 .
Observação 1.1.32. Convencionamos que sempre que 𝑆 for uma subvariedade (imersa ou mer-
gulhada), assumiremos que 𝑆 possui a estrutura de variedade suave descrita acima. Sendo assim,
podemos dizer, sem perda de generalidade, que as subvariedades imersas (mergulhadas) de 𝑁 são
os subespaços 𝑆 de 𝑁 com estrutura de variedade tal que a inclusão 𝑖: 𝑆 → 𝑁 seja uma imersão
(mergulho) suave.
Exemplo 1.1.33. Se 𝑈 é um aberto de uma variedade suave 𝑀 munido da estrutura de variedade
suave como no Exemplo 1.1.19, a inclusão 𝑖: 𝑈 → 𝑀 é um mergulho suave. Logo, 𝑈 é uma
subvariedade mergulhada de 𝑀 .
Proposição 1.1.34. Seja 𝑀 uma variedade suave de dimensão 𝑚 e 𝑆 um subespaço de 𝑀 . As
condições a seguir são equivalentes:
(a) 𝑆 é uma subvariedade mergulhada de 𝑀 de dimensão 𝑘.
(b) Para cada 𝑝 ∈ 𝑆, existe uma carta local (𝑉, 𝜓) de 𝑀 tal que 𝑝 ∈ 𝑉 e
𝑆 ∩ 𝑉 = 𝜓 −1 ({(𝑥1 , . . . , 𝑥𝑚 ) ∈ 𝜓(𝑉 ): 𝑥𝑘+1 = · · · = 𝑥𝑚 = 0}).
16
Proposição 1.1.36. Sejam 𝑀 e 𝑁 uma variedades suaves e 𝐹 : 𝑀 → 𝑁 um mapa suave. Dada
uma subvariedade imersa 𝑆 de 𝑀 , a restrição 𝐹 |𝑆 : 𝑆 → 𝑁 é um mapa suave.
Definição 1.1.37. Seja 𝑋 um espaço topológico e 𝒰 uma família de abertos em 𝑋. Dizemos que
𝒰 é uma cobertura aberta de 𝑋 se 𝑋 é a união dos elementos de 𝒰. Se, além disso, para cada
ponto 𝑝 ∈ 𝑋 existir um aberto 𝑉 de 𝑋 tal que 𝑝 ∈ 𝑉 e 𝑉 ∩ 𝑈 ̸= ∅ somente para uma quantidade
finita de elementos 𝑈 de 𝒰 então dizemos que 𝒰 é uma cobertura aberta localmente finita.
Proposição 1.1.38. Seja 𝑀 uma variedade suave de dimensão 𝑚 e 𝒰 uma cobertura de 𝑀 . Existe
uma família {(𝐵𝑖 , 𝜙𝑖 )}𝑖∈𝐼 de cartas suaves em 𝑀 tais que:
• {𝜙−1
𝑖 (𝐵(0, 1))}𝑖∈𝐼 é uma cobertura localmente finita de 𝑀 ;
Para não nos estendermos demais em propriedades topológicas nas quais não temos interesse
para além desta seção, a demonstração do Lema 1.1.38 será omitida. Esta segue facilmente através
de argumentos topológicos rotineiros com o uso das propriedades que definem uma variedade
topológica.
Definição 1.1.39. Seja 𝑀 um espaço topológico e 𝒰 = {𝑈𝜆 }𝜆∈Λ uma cobertura aberta de 𝑀 .
Uma partição da unidade subordinada à 𝒰 é uma família {𝜑𝜆 : 𝑀 → R}𝜆∈Λ de funções em 𝑀
satisfazendo as seguintes condições:
{𝑝 ∈ 𝑀 : 𝜙𝜆 (𝑝) ̸= 0},
está contido em 𝑈𝜆 ;
• Para cada 𝑝 ∈ 𝑀 , 𝜆∈Λ 𝜑𝜆 (𝑝) = 1 (isto é, a soma dos números reais 𝜑𝜆 (𝑝) para os quais
∑︀
𝜑𝜆 (𝑝) ̸= 0, que pelo item anterior é uma soma finita, é igual a 1).
17
Se 𝑀 for uma variedade suave e as funções 𝜑𝜆 da partição da unidade {𝜑𝜆 }𝜆∈Λ forem suaves então
dizemos que {𝜑𝜆 }𝜆∈Λ é uma partição da unidade suave.
Proposição 1.1.40. Uma cobertura aberta 𝒰 de uma variedade suave 𝑀 sempre admite uma
partição da unidade suave subordinada à ela.
Demonstração. Seja 𝑈 = {𝑈𝜆 }𝜆∈Λ uma cobertura aberta da variedade 𝑀 . Mostraremos que existe
uma partição da unidade sauve {𝜑𝜆 }𝜆∈Λ subordinada à 𝒰.
Primeiramente, consideremos uma família de cartas suaves {(𝐵𝑖 , 𝜙𝑖 )}𝑖∈𝐼 como no Lema 1.1.38.
Isto é,
𝑏 ∘ 𝜙𝑖 (𝑝), 𝑝 ∈ 𝐵𝑖 ;
{︃
𝑓𝑖 (𝑝) =
0, 𝑝 ∈ 𝑀 ∖𝐵𝑖 .
Observemos que a função 𝑓𝑖 é identicamente nula no aberto 𝑀 ∖𝐴𝑖 = 𝑀 ∖𝜙−1 𝑖 (𝐵(0, 1)). Logo, 𝑓𝑖 é
suave nos abertos 𝐵𝑖 e 𝑀 ∖𝐴𝑖 . Como 𝑀 = 𝐵𝑖 ∪ (𝑀 ∖𝐴𝑖 ), devemos ter que 𝑓𝑖 é suave em 𝑀 .
Seja 𝑝 ∈ 𝑀 . Como a cobertura {𝐴𝑖 } é localmente finita, existe somente uma quantidade finita
de elementos 𝑖 no conjunto de índices 𝐼 tais que 𝑝 ∈ 𝐴𝑖 . Umas vez que as funções 𝑓𝑖 são nulas em
𝑀 ∖𝐴𝑖 , devemos ter que 𝑓𝑖 (𝑝) ̸= 0 somente para uma quantidade finita de 𝑖 ∈ 𝐼. Assim, a soma
𝑖∈𝐼 𝑓𝑖 (𝑝) de todos os números 𝑓𝑖 (𝑝), 𝑖 ∈ 𝐼, não nulos é um número positivo (pois em particular
∑︀
𝑓𝑖
𝜑𝜆 (𝑝) = (𝑝),
∑︁
𝑝 ∈ 𝑀,
𝛿(𝑖)=𝜆
𝑓
18
e são suaves (no caso, utilizamos o fato de 𝑓𝑖 /𝑓 ser uma função suave). Em particular, verifica-se
que
supp 𝜑𝜆 = ∪𝛿(𝑖)=𝜆 𝐴𝑖 ⊂ ∪𝛿(𝑖)=𝜆 𝐴𝑖 ⊂ ∪𝛿(𝑖)=𝜆 𝐵𝑖 ⊂ 𝑈𝜆 .
Segue diretamente desta definição que 0 6 𝜑𝜆 (𝑝) 6 1 já que
𝛿(𝑖)=𝜆 𝑖∈𝐼
Seja 𝑝 ∈ 𝑀 . Usando o fato de {𝐴𝑖 } ser uma cobertura localmente finite e 𝑀 ser um espaço
euclideano, podemos concluir que existe um aberto 𝑉 de 𝑀 contendo 𝑝 tal que o conjunto
𝐽 = {𝑖 ∈ 𝐼: 𝑉 ∩ 𝐴𝑖 ̸= ∅}
é finito. Se 𝑉 ∩ supp 𝜑𝜆 ̸= ∅ então, pela inclusão supp 𝜑𝜆 ⊂ ∪𝛿(𝑖)=𝜆 𝐴𝑖 , deve existir um 𝑖 ∈ 𝐼 tal que
𝑉 ∩ 𝐴𝑖 e 𝛿(𝑖) = 𝜆. Logo, o conjunto
{𝜆 ∈ Λ: 𝑉 ∩ supp 𝜑𝜆 ̸= ∅} ⊂ 𝛿(𝐽)
é finito.
Por fim, para cada 𝑝 ∈ 𝑀 ,
𝑓𝑖 (𝑝) 𝑓𝑖 (𝑝)
∑︀
𝜑𝜆 (𝑝) = = 𝑖∈𝐼
= 1.
∑︁ ∑︁ ∑︁
Observação 1.2.2. Seja 𝐺 um grupo com uma estrutura com uma estrutura de variedade suave.
Então 𝐺 é um grupo de Lie se e somente se o mapa 𝜎: 𝐺 × 𝐺 → 𝐺 dado por
𝜎(𝑔, ℎ) = 𝑔ℎ−1 , 𝑔, ℎ ∈ 𝐺,
é suave.
2
O mapa dado por 𝑖(𝑔) = 𝑔 −1 , para todo 𝑔 ∈ 𝐺
19
Exemplo 1.2.4 (Gl(𝑛, R) - Grupo Linear Geral Real). O conjunto 𝑀𝑛 (R) de todas as matrizes
reais 𝑛 × 𝑛 é, como visto na seção anterior, uma variedade suave com a sua identificação com
R2 . Seja Gl(𝑛, R) o grupo formado por tadas as matrizes invertíveis em 𝑀𝑛 (R). Este grupo é
a imagem inversa do conjunto aberto R∖{0} em R pela função determinante det: 𝑀𝑛 (R) → R.
Como a função determinante é contínua, Gl(𝑛, R) é um aberto de 𝑀𝑛 (R). Assim, como vimos no
Exemplo 1.1.33, Gl(R) é uma subvariadade mergulhada de 𝑀𝑛 (R). A multiplicação de matrizes é
um mapa suave Gl(𝑛, R) × Gl(𝑛, R) → Gl(𝑛, R) (pois é polinomial em cada uma das coordenadas
de Gl(𝑛, R)). E, pela regra de Crammer, a inversão de matrizes Gl(𝑛, R) → Gl(𝑛, R) também é
suave. Então, com esta estrutura de variedade suave e as operações usuais, Gl(𝑛, R) é um grupo
de Lie.
onde 𝐴𝑇 é a matriz transposta de 𝐴 e 𝐼 é a matriz identidade em Gl(𝑛, R). Tal conjunto é imagem
inversa de {𝐼} ⊂ GL(𝑛, R) pelo mapa suave 𝜏 : Gl(𝑛, R) → Gl(𝑛, R), dado por
𝜏 (𝐴) = 𝐴𝐴𝑇 ,
onde 𝐴 ∈ Gl(𝑛, R). Como o mapa 𝜏 tem posto constante igua à 𝑛(𝑛 + 1)/2, pelo Teorema 1.1.35,
O(𝑛) é uma subvariedade mergulhada de Gl(𝑛, R) de dimensão 𝑛(𝑛−1)/2 = 𝑛2 −𝑛(𝑛+1)/2. Logo,
O(𝑛) é um grupo de Lie matricial.
O conjunto 𝑀𝑛 (C) das matrizes complexas 𝑛 × 𝑛 é uma subvariedade mergulhada de 𝑀2𝑛 (R)
pelo mergulho 𝜎: 𝑀𝑛 (C) → 𝑀2𝑛 (R), dado por
(︃ )︃
𝐴 𝐵
𝜎(𝐴 + 𝑖𝐵) = ,
−𝐵 𝐴
𝜎(𝑋𝑌 ) = 𝜎(𝑋)𝜎(𝑌 ).
Segue daí que se 𝑋 ∈ 𝑀𝑛 (C) é invertível então 𝜎(𝑋) ∈ Gl(2𝑛, R). Assim, se 𝐺 é uma subvariedade
mergulhada de 𝑀𝑛 (C) tal que, com a multiplicação de matrizes usual em 𝑀 (𝑛, C), 𝐺 é um grupo
então 𝜎(𝐺) ⊂ Gl(2, R) é um grupo de Lie matricial. Neste caso, identificamos 𝐺 com 𝜎(𝐺) e o
consideramos um grupo de Lie (matricial) por si só.
20
Exemplo 1.2.7 (Gl(𝑛, C) - Grupo Linear Geral Complexo). Denotamos por Gl(𝑛, C) o subcon-
junto de 𝑀𝑛 (C) das matrizes complexas 𝑛 × 𝑛 invertíveis. De maneira semelhante à que fizemos
no Exemplo 1.2.4 para Gl(𝑛, R), mostra-se que Gl(𝑛, C) é um subespaço aberto de 𝑀𝑛 (C). Logo, 𝐺
é uma subvariedade mergulhada de 𝑀𝑛 (C). Assim, pelos comentários acima, Gl(𝑛, C) é um grupo
de Lie (matricial).
Exemplo 1.2.8 (U(𝑛) - Grupo Unitário). O mapa 𝜏 : 𝑀𝑛 (C) → 𝑀𝑛 (C), dado por
𝜏 (𝑋) = 𝑋𝑋 * ,
Exemplo 1.2.9 (SU(𝑛) - Grupo Unitário Especial). O grupo unitário especial SU(𝑛), definido
como o grupo das matrizes unitárias 𝑛 × 𝑛 de traço 0, é também um grupo de Lie mergulhado
em 𝑀𝑛 (C). De fato, a função traço tr: 𝑈 (𝑛) → C é uma função suave de posto constante igual a
1(pois é uma restrição da função suave tr: 𝑀𝑛 (C) → C e U(𝑛) é uma subvariedade mergulhada de
𝑀𝑛 (C)) e, por definição, SU(𝑛) = tr−1 (0). Logo, pelo Teorema 1.1.35, SU(𝑛) é uma subvariedade
mergulhada de U(𝑛) de dimensão 𝑛2 − 1 = dim U(𝑛) − 1. Assim, como U(𝑛) é uma subvariedade
mergulhada de 𝑀𝑛 (C), SU(𝑛) é uma subvariedade mergulhada de 𝑀𝑛 (C).
(b) |𝑋 + 𝑌 |6 |𝑋|+|𝑌 |;
(d) |𝑋|> 0 ⇐⇒ 𝑋 ̸= 0.
21
Assim, dadas duas matrizes 𝑋 = (𝑥𝑖𝑗 ) e 𝑌 = (𝑦𝑖𝑗 ) ∈ 𝑀𝑛 (C), temos que
⃒ 𝑛 ⃒2
⃒∑︁ ⃒
|𝑋𝑌 |2 =
∑︁ ⃒
⃒ 𝑥𝑝𝑖 𝑦𝑖𝑞 ⃒⃒
⃒ ⃒
16𝑝,𝑞6𝑛 ⎛ 𝑖=1 ⎞
𝑛 𝑛
= ⎝ |𝑥𝑝𝑗 |2 |𝑦𝑘𝑞 |2 ⎠
∑︁ ∑︁ ∑︁
16𝑝,𝑞6𝑛
⎛ 𝑗=1 ⎞ ⎛𝑘=1 ⎞
= ⎝ |𝑥𝑝𝑗 |2 ⎠ ⎝ |𝑦𝑘𝑞 |2 ⎠
∑︁ ∑︁
16𝑗,𝑝6𝑛 16𝑘,𝑞6𝑛
= |𝑋|2 |𝑌 |2
e, consequentemente,
|𝑋𝑌 |6 |𝑋||𝑌 |.
Por isso, o item (a) é valido.
As demais propriedades podem ser demontradas de modo análogo às propriedades da norma
hermitiana em C𝑛 . Por isso, omitiremos as suas demonstrações.
𝑚=0 𝑚!
é convergente e exp(𝑋) ∈ Gl(𝑛, C). A função exponencial exp: 𝑀𝑛 (C) → Gl(𝑛, C) é um mapa
contínuo.
Demonstração. A norma de cada termo 𝑋 𝑚 /𝑚! da série exp(𝑋) é majorada por |𝑋|𝑚 /𝑚! (Pro-
posição 1.2.10). Como a série
∞
|𝑋|𝑚
𝑒 =
|𝑋|
∑︁
𝑚=0 𝑚!
𝑚
é convergente, segue, pelo M-Teste de Wierstrass que a série ∞
𝑚=0 𝑚! é convergente e que o mapa
𝑋 ∑︀
exp é contínuo.
A demonstração de que exp(𝑋) ∈ Gl(𝑛, C) para todo 𝑋 ∈ 𝑀𝑛 (C) segue do item (d) da
𝑋𝑚
Proposição 1.2.12, cuja demonstração só depende da convergência das séries ∞𝑚=0 𝑚! .
∑︀
(b) exp(𝐴−1 𝑋𝐴) = 𝐴−1 exp(𝑋)𝐴, para todo 𝑋 ∈ 𝑀𝑛 (C) e 𝐴 ∈ Gl(𝑛, C);
(c) exp(𝑋 + 𝑌 ) = exp(𝑋) exp(𝑌 ), para todos 𝑋 e 𝑌 ∈ 𝑀𝑛 (C) são tais que 𝑋𝑌 = 𝑌 𝑋;
22
(e) Para cada 𝑋 ∈ 𝑀𝑛 (C), o mapa
𝑡 ∈ R → exp(𝑡𝑋) ∈ Gl(C)
é suave e
d
⃒
⃒
exp(𝑡𝑋)⃒ = exp(𝑡0 𝑋)𝑋.
⃒
d𝑡 ⃒
𝑡=𝑡0
𝑖=0 (𝑚 − 𝑖)! 𝑖!
Assim, para cada 𝑘 ∈ Z+ ,
(︃ 𝑘 )︃ (︃ 𝑘 𝑚
2𝑘 ∑︁
𝑋𝑚 𝑋𝑚 𝑋 𝑚−𝑖 𝑌 𝑖
)︃
=
∑︁ ∑︁ ∑︁
𝑚=0 𝑚!
Logo,
𝑘 𝑘
𝑋𝑚 𝑋𝑚
(︃ )︃ (︃ )︃
exp(𝑋) exp(𝑌 ) = lim lim
∑︁ ∑︁
𝑘→∞ 𝑚! 𝑘→∞ 𝑚!
(︃𝑚=0
𝑘
)︃ (︃ 𝑘 𝑚=0)︃
𝑚 𝑚
𝑋 𝑋
= lim
∑︁ ∑︁
𝑚=0 𝑚! 𝑚=0 𝑚!
𝑘→∞
2𝑘
1
= lim (𝑋 + 𝑌 )𝑚
∑︁
𝑘→∞
𝑚=0 𝑚!
= exp(𝑋 + 𝑌 ).
23
Com isso, temos o item (c).
Usando o fato de que exp(0) = 𝐼 (que segue diretamente da definição da função exponencial)
e o item (c), concluimos o item (d).
Provemos, agora, o item (e). Sejam 𝑡0 ∈ R e 𝑋 ∈ 𝑀𝑛 (C). Para todo 𝑡 ̸= 0,
(𝑡0 +𝑡)𝑚 𝑋 𝑚 𝑡𝑚
0 𝑋
𝑚
exp((𝑡0 + 𝑡)𝑋) − exp(𝑡0 𝑋)
∑︀𝑘 ∑︀𝑘
−
= lim 𝑚=0 𝑚! 𝑚=0 𝑚!
𝑡 𝑘→∞ 𝑡
𝑘
(𝑡0 + 𝑡)𝑚 − 𝑡𝑚 𝑋𝑚
(︃ )︃
= lim 0
∑︁
𝑘→∞
𝑚=0 𝑡 𝑚!
𝑘 𝑚
𝑋𝑚
(︃ )︃
= lim 𝑋 + 𝑚! 𝑡𝑚−1 +𝑡 𝑡𝑚−𝑖 𝑡𝑖−2
∑︁ ∑︁
0 0
𝑘→∞
𝑚=2 𝑚!
)︃𝑖=2
𝑘
𝑡𝑚−1 𝑘
(︃ 𝑚
𝑋 𝑚−1 𝑋𝑚
(︃ )︃
= lim 𝑋 + 0
𝑋 +𝑡 𝑡𝑚−𝑖 𝑡𝑖−2
∑︁ ∑︁ ∑︁
𝑘→∞ (𝑚 − 1)! 0
𝑚!
(︃ 𝑘−1 𝑚=2 )︃ 𝑘
(︃ 𝑚 𝑚=2 𝑖=2
∑︁ 𝑡𝑚 𝑚
𝑋𝑚
)︃
𝑋
= lim 0
𝑋 +𝑡 𝑡𝑚−𝑖 𝑡𝑖−2
∑︁ ∑︁
0
𝑘→∞
(︃ ∞ 𝑚=0 )︃
𝑚! (︃𝑚=2 𝑖=2 𝑚!
∑︁ 𝑡𝑚 𝑚 ∞ 𝑚
𝑋𝑚
)︃
0 𝑋
= 𝑋 +𝑡 𝑡𝑚−𝑖 𝑡𝑖−2
∑︁ ∑︁
0
𝑚=0 𝑚! (︃𝑚=2 𝑖=2 𝑚!
∞ 𝑚
𝑋𝑚
)︃
= exp(𝑡0 𝑋)𝑋 + 𝑡 𝑡𝑚−𝑖 𝑡𝑖−2
∑︁ ∑︁
0 .
𝑚=2 𝑖=2 𝑚!
d
⃒
⃒
exp(𝑡𝑋)⃒
= exp(𝑡0 𝑋)𝑋 𝑛 .
d 𝑡𝑛
⃒
⃒
𝑡=𝑡0
0 ··· 0 𝜆𝑛
24
Como
𝜆𝑚
⎛ ⎞
1 * ··· *
.. .. ⎟
∞ ∞
1 ⎜
⎜ 0 . * . ⎟
⎜
𝐽𝑚
exp(𝐽) = =
∑︁ ∑︁
⎜ .
⎟
...
𝑚=1 𝑚! ⎝ ..
⎟
𝑚=0 𝑚! * ⎠
⎜ ⎟
0 · · · 0 𝜆𝑚 𝑛
⎛ ∑︀∞ 𝜆𝑚 ⎞ ⎛ 𝜆 ⎞
1
𝑚=0 𝑚! * ··· * 𝑒 1 * ··· *
... .. .. .. ⎟
0 . ⎜ 0 . * . ⎟
⎜ ⎟ ⎜
⎜ * ⎟
= .. = ⎜
⎜ ..
⎟,
⎜ ⎟ ⎜ ⎟
⎜
... ⎟
..
⎜
⎝ . *
⎟
⎠ ⎝ . . * ⎟ ⎠
0 0 𝜆𝑚
0 · · · 0 𝑒 𝜆𝑛
∑︀∞
··· 𝑛
𝑚=0 𝑚!
temos que
det(exp(𝑋)) = det(exp(𝐵𝐽𝐵 −1 )) = det(𝐵 exp(𝐽)𝐵 −1 )
= det(exp(𝐽)) = 𝑒𝜆1 𝑒𝜆2 . . . 𝑒𝜆𝑛
= 𝑒𝜆1 +𝜆2 +···+𝜆𝑛 = 𝑒tr(𝐽)
= 𝑒tr(𝑋) .
Observação 1.2.13. Segue diretamente da definição da função exponencial que exp(𝑋) ∈ 𝑀𝑛 (R)
sempre que 𝑋 ∈ 𝑀𝑛 (R). Desta forma, podemos considerar exp como um mapa 𝑀𝑛 (R) → 𝑀𝑛 (R).
Em particular, todas as afirmações da Proposição 1.2.12 são verdadeiras trocando-se C por R.
𝑚=1 𝑚
é convergente e log(𝐴) ∈ 𝑉0 . A função
log: 𝑈𝐼 → 𝑉0
(𝐴
⃒ ⃒
𝑚⃒
⃒ − 𝐼) |(𝐴 − 𝐼)𝑚 | |𝐴 − 𝐼|𝑚
⃒(−1)𝑚+1 = 6 .
⃒ ⃒
⃒
⃒ 𝑚 ⃒ 𝑚 𝑚
25
Como |𝐴 − 𝐼|< 1 se 𝐴 ∈ 𝑈𝐼 , a série
∞
∑︁ |𝐴 − 𝐼|𝑚
𝑚=1 𝑚
𝑚
é convergente. Assim, pelo M-teste de Wiestrass, segue que a série 𝑚=1 (−1)
𝑚+1 (𝐴−𝐼)
é conver-
∑︀∞
𝑚
gente e o mapa log é contínuo.
Seja 𝑋 ∈ 𝑉0 . Temos, pela Proposição 1.2.10, que
∞ ∞ ⃒⃒ 𝑚 ⃒⃒
⃒ ⃒
⃒ ∑︁ 𝑋 𝑚 ⃒⃒ 𝑋 ⃒
|exp(𝑋) − 𝐼| =
∑︁
⃒
⃒ ⃒ 6 ⃒
𝑚=1 𝑚! 𝑚!
⃒ ⃒ ⃒ ⃒
𝑚=1
∞
∑︁ |𝑋| 𝑚
6 = 𝑒|𝑋| − 1
𝑚=1 𝑚!
< 𝑒log(2) − 1 = 1.
Logo, exp(𝑋) ∈ 𝑈𝐼 .
A seguir, mostraremos que log(exp(𝑋)) = 𝑋, para todo 𝑋 ∈ 𝑉0 , e exp(log(𝐴)) = 𝐴, para todo
𝐴 ∈ 𝑈𝐼 . Com isso, concluímos que todo 𝐴 ∈ 𝑈𝐼 é da forma exp(𝑋) para algum 𝑋 ∈ 𝑉0 . Assim,
|log(𝐴)|= |𝑋|< log(2) e, consequentemente, log(𝐴) ∈ 𝑉0 . Portanto, concluiremos que log: 𝑈𝐼 → 𝑉0
é o mapa inverso de exp: 𝑉0 → 𝑈𝐼 .
Sejam 𝑋 ∈ 𝑉0 e 𝐴 ∈ 𝑈𝐼 . Separaremos as demonstrações de que log(exp(𝑋)) = 𝑋 e exp(log(𝐴)) =
𝐴 nos casos em que 𝑋 e 𝐴 são matrizes diagonais e nos casos gerais (em que 𝑋 e 𝐴 podem não
ser diagonais).
Suponhamos que 𝑋 seja a matriz diagonalizável, isto é 𝑋 = 𝑇 diag(𝑧1 , . . . , 𝑧𝑛 )𝑇 −1 , para aluma
matriz 𝑇 ∈ Gl(𝑛, C) e uma matriz diagonal diag(𝑧1 , . . . , 𝑧𝑛 ). Desta forma,
diag(𝑧1 , . . . , 𝑧𝑛 )𝑚
∞ ∞
𝑧𝑚 𝑧𝑚
(︂ )︂
exp(𝑋) = = diag 1 , . . . , 𝑛
∑︁ ∑︁
𝑚=0
(︃ ∞ 𝑚! 𝑚=0 𝑚! 𝑚!
∑︁ 𝑧1𝑚 ∞
𝑧𝑛𝑚
)︃
= diag = diag(𝑒𝑧1 , . . . , 𝑒𝑧𝑛 ).
∑︁
,...,
𝑚=0 𝑚! 𝑚=0 𝑚!
e, pela Proposição 1.2.12,
log(exp(𝑋)) = log(𝑇 exp(diag(𝑧1 , . . . , 𝑧𝑛 ))𝑇 −1 )
= log(𝑇 diag(𝑒𝑧1 , . . . , 𝑒𝑧𝑛 )𝑇 −1 )
∞
(𝑇 diag(𝑒𝑧1 , . . . , 𝑒𝑧𝑛 )𝑇 −1 − 𝐼)𝑚
= (−1)𝑚+1
∑︁
𝑚=1 𝑚
∞
(diag(𝑒 𝑧1
, . . . , 𝑒𝑧𝑛 ) − 𝐼)𝑚 −1
= (−1)𝑚+1 𝑇
∑︁
𝑇
𝑚=1 𝑚
𝑚+1 (𝑒 − 1) 𝑚+1 (𝑒 − 1)𝑚
∞ 𝑧1 𝑚 𝑧𝑛
(︃ )︃
= 𝑇 diag (−1) , . . . , (−1) 𝑇 −1
∑︁
𝑚=1 𝑚 𝑚
𝑚+1 (𝑒 − 1) 𝑚+1 (𝑒 − 1)𝑚
(︃ ∞ ∞
𝑧1 𝑚 𝑧𝑛
)︃
= 𝑇 diag (−1) (−1) 𝑇 −1
∑︁ ∑︁
,...,
𝑚=1 𝑚 𝑚=1 𝑚
= 𝑇 diag(log(𝑒𝑧1 ), . . . , log(𝑒𝑧𝑛 ))𝑇 −1
= 𝑇 diag(𝑧1 , . . . , 𝑧𝑛 )𝑇 −1
= 𝑋.
26
De modo análogo, mostra-se que se 𝐴 é uma matriz diagonalizável então exp(log(𝐴)) = 𝐴.
Se 𝑃 ∈ 𝑀𝑛 (C), existe uma sequência (𝐷𝑘 ) de matrizes diagonalizáveis em 𝑀𝑛 (C) tal que
𝑃 = lim𝑘→∞ 𝐷𝑘 . De fato, existe 𝑇 ∈ Gl(𝑛, C) tal que 𝑇 𝑃 𝑇 −1 = 𝑆 + 𝑁 , onde3 𝑆 é uma matriz
diagonal, 𝑁 é uma matriz triangular superior e 𝑆𝑁 = 𝑁 𝑆. Para cada 𝑘 ∈ Z+ existe uma matriz
diagonal 𝑆𝑘 tal que |𝑆𝑘 |< 𝑘1 e 𝑆 + 𝑆𝑘 é uma matriz cujas 𝑛 entradas da diagonal principal possuem
𝑛 valores diferentes. Definimos, para cada 𝑘 ∈ Z+ ,
𝐷𝑘 = 𝑃 + 𝑇 −1 𝑆𝑘 𝑇.
Os autovalores da matriz
𝑇 𝐷𝑘 𝑇 −1 = (𝑆 + 𝑆𝑘 ) + 𝑁
são os autovalores de 𝑆 + 𝑆𝑘 . Como 𝑆 + 𝑆𝑘 possui 𝑛 autovalores distintos 𝑇 𝐷𝑘 𝑇 −1 possui 𝑛
autovalores distintos. Logo, 𝑇 𝐷𝑘 𝑇 −1 é diagonalizável e, consequentemente, 𝐷𝑘 é diagonalizável.
Além disso,
|𝑇 ||𝑇 −1 |
|𝐷𝑘 − 𝑃 |= |𝑇 −1 𝑆𝑘 𝑇 |6
𝑘
e, logo,
lim 𝐷𝑘 = 𝑃.
𝑘→∞
Seja (𝐷𝑘 ) uma sequência de matrizes diagonalizáveis tal que lim𝑘→∞ 𝐷𝑘 = 𝑋. Pela continuidade
dos mapas log e exp e pelo caso anterior, temos que
De maneira análoga, prova-se, no caso em que 𝐴 é uma matriz qualquer, que exp(log(𝐴)) =
𝐴.
Exemplo 1.3.1. Considere uma carta suave (𝑈, 𝜙) de uma variedade suave 𝑀 de dimensão 𝑚.
As funções suaves 𝑥𝑖 : 𝑈 → R, 𝑖 = 1, . . . , 𝑚, definidas por
são chamadas de funções coordenadas. Como 𝑈 é uma variedade suave por si só, temos que
𝑥𝑖 ∈ 𝐶 ∞ (𝑈 ), 𝑖 = 1, . . . , 𝑚. Por comodidade, denotamos 𝜙 por (𝑥𝑖 ) quando estivermos mais
interessados nas funções coordenadas do que em 𝜙 em sí.
27
Lema 1.3.2. (i) Sejam 𝑉 um aberto de R𝑛 e 𝑔: 𝑉 → R uma função suave. Dado 𝑥0 ∈ 𝑉 ,
existem abertos 𝑉0 ⊂ R𝑛 e 𝑉1 de R𝑛 e uma função suave 𝑔0 : 𝑉 → R tais que:
– 𝑥0 ⊂ 𝑉0 ⊂ 𝑉1 ⊂ 𝑉1 ⊂ 𝑈 ;
– 𝑔0 |𝑉0 = 𝑔|𝑉0 ;
– 𝑔0 (𝑉 ∖𝑉1 ) = {0}.
– 𝑥0 ∈ 𝑉0 ⊂ 𝑉0 ⊂ 𝑉 ;
– 𝑏(𝑥0 ) = 0;
– 𝑏(𝑉 ∖𝑉0 ) = {1}.
– 𝑝 ∈ 𝑈0 ⊂ 𝑈 ;
– 𝑓˜|𝑈 = 𝑓 |𝑈 .
0 0
(ii) Sejam 𝑈 um aberto em uma variedade suave 𝑀 e 𝑝 ∈ 𝑈 . Existem uma função suave 𝑏 ∈
𝐶 ∞ (𝑀 ) tal que
– 𝑏(𝑝) = 0;
– 𝑏(𝑀 ∖𝑈 ) = {1}.
Demonstração. (i)
Seja 𝑝 ∈ 𝑈 .
Consideremos uma carta suave (𝑉, 𝜓) de 𝑀 tal que 𝑝 ∈ 𝑉 ⊂ 𝑈 . Temos que 𝑔 = 𝑓 ∘𝜓 −1 : 𝜓(𝑉 ) →
R é uma função suave definida no aberto 𝜓(𝑉 ) ⊂ Rdim 𝑀 que contém 𝑥0 = 𝜓(𝑝). Assim, pelo item
(i) do Lema 1.3.2, existem um abertos 𝑉0 e 𝑉1 ⊂ R𝑛 e uma função suave 𝑔0 : 𝜓(𝑉 ) → R tais que:
𝑥0 ⊂ 𝑉0 ⊂ 𝑉1 𝑉1 ⊂ 𝜓(𝑉 ); 𝑔0 |𝑉0 = 𝑔|𝑉0 ; e 𝑔0 (𝜓(𝑉 )∖𝑉1 ) = {0}. Denotemos 𝜓 −1 (𝑉0 ) e 𝜓 −1 (𝑉1 ) por 𝑈0
e 𝑈1 .
Uma vez que 𝑈1 ⊂ 𝑉 , 𝑉 e 𝑀 ∖𝑈1 são dois abertos de 𝑀 tais que 𝑀 = 𝑉 ∪(𝑀 ∖𝑈1 ). Assim, como
𝑔0 ∘𝜓(𝑉 ∖𝑈1 ) = 𝑔0 (𝜓(𝑉 )∖𝑉1 ) = {0}, podemos definir uma função 𝑓˜: 𝑀 → R tomando 𝑓˜|𝑉 = 𝑔0 ∘𝜙−1
e 𝑓˜|𝑀 ∖𝑈1 = 0. Como 𝑓˜ é suave tanto em 𝑉 quanto em 𝑀 ∖𝑈1 , devemos ter que 𝑓˜ ∈ 𝐶 ∞ (𝑀 ).
Por fim,
𝑓˜|𝑈0 = 𝑔0 ∘ 𝜓|𝑈0 = 𝑔 ∘ 𝜓|𝑈0 = 𝑓 |𝑈0 .
(ii)
28
Consideremos uma carta suave (𝑉, 𝜓) tal que 𝑝 ∈ 𝑉 ⊂ 𝑈 . Pelo item (ii) do Lema 1.3.2,
existem uma função suave 𝑏0 : 𝜙(𝑉 ) → R e um aberto 𝑉0 ⊂ R𝑛 tais que: 𝜙(𝑝) ∈ 𝑉0 ⊂ 𝑉0 ⊂ 𝜙(𝑉 );
𝑏0 (𝜙(𝑝)) = 0; e 𝑏0 (𝜙(𝑉 )∖𝑉0 ) = {1}. Denotemos 𝜙−1 (𝑉0 ) por 𝑈0 .
Uma vez que 𝑈0 ⊂ 𝑉 , 𝑉 e 𝑀 ∖𝑈0 são dois abertos de 𝑀 tais que 𝑀 = 𝑉 ∪(𝑀 ∖𝑈0 ). Assim, como
𝑏0 ∘ 𝜓(𝑉 ∖𝑈0 ) = 𝑏0 (𝜓(𝑉 )∖𝑉0 ) = {1}, podemos definir uma função 𝑏: 𝑀 → R tomando 𝑏|𝑉 = 𝑏0 ∘ 𝜓
e 𝑏|𝑀 ∖𝑈0 = 1. Como 𝑏 é suave tanto em 𝑉 como em 𝑀 ∖𝑈0 devemos ter que 𝑏 é suave.
Por fim, 𝑏(𝑝) = 𝑏0 ∘ 𝜓(𝑝) = 0 e 𝑏(𝑀 ∖𝑈 ) ⊂ 𝑏(𝑀 ∖𝑈 0 ) = {1}.
Para cada 𝑓 e 𝑔 ∈ 𝐶 ∞ (𝑀 ), as funções 𝑓 · 𝑔 e 𝑓 + 𝑔: 𝑀 → R, definidas por 𝑓 · 𝑔(𝑝) = 𝑓 (𝑝) · 𝑔(𝑝) e
(𝑓 + 𝑔)(𝑝) = 𝑓 (𝑝) + 𝑔(𝑝), 𝑝 ∈ 𝑀 , são suaves. Com estas operações, 𝐶 ∞ (𝑀 ) é um anel comutativo.
Além disso, 𝐶 ∞ (𝑀 ) é um espaço vetorial real com a soma de funçõe que acabamos de definir e a
multiplicação por escalar definida, para cada 𝜆 ∈ R e 𝑓 ∈ 𝐶 ∞ (𝑀 ), por (𝜆𝑓 )(𝑝) = 𝜆𝑓 (𝑝), 𝑝 ∈ 𝑀 .
Definição 1.3.4. Seja 𝑝 um ponto de uma variedade 𝑀 . Dizemos que uma transformação linear
𝑋𝑝 : 𝐶 ∞ (𝑀 ) → R é um vetor tangente em 𝑝 se, dadas funções suaves 𝑓 e 𝑔 ∈ 𝐶 ∞ (𝑀 ), vale a
igualdade
𝑋𝑝 (𝑓 · 𝑔) = 𝑋𝑝 (𝑓 ) · 𝑔(𝑝) + 𝑓 (𝑝) · 𝑋𝑝 (𝑔).
O espaço tangente de 𝑀 em 𝑝 é o espaço vetorial real, denotado por T𝑝 𝑀 , formado por todos os
vetores tangentes em 𝑝 (onde a soma e a multiplicação por escalares são as usuais empregadas em
espaços vetorias de transformações lineares).
⃒
Exemplo 1.3.5. Para cada 𝑝 ∈ R𝑛 , podemos definir os vetores 𝜕𝑥𝜕 𝑖 ⃒ ∈ T𝑝 R𝑛 , 𝑖 = 1, . . . , 𝑛, pela
⃒
𝑝
igualdade ⃒
𝜕 ⃒⃒ 𝜕𝑓
(𝑓 ) = (𝑝), 𝑓 ∈ 𝐶 ∞ (R𝑛 ).
𝜕𝑥𝑖 ⃒𝑝 𝜕𝑥𝑖
⃒
Demonstração. (i)
e, consequentemente, 𝑋𝑝 (𝑓 ) = 0.
No caso geral, 𝑓 = 𝑐1 para algum 𝑐 ∈ R. Desta forma,
𝑋𝑝 (𝑓 ) = 𝑐𝑋𝑝 (1) = 𝑐 · 0 = 0.
(ii)
29
Pelo item (ii) do Lema 1.3.3, existe uma função suave 𝑏 ∈ 𝐶 ∞ (𝑀 ) tal que 𝑏(𝑝) = 0 e 𝑏(𝑀 ∖𝑈 ) =
{1}.
Seja ℎ a função suave 𝑓 − 𝑔 ∈ 𝐶 ∞ (𝑀 ). Como ℎ|𝑈 = 0 e 𝑏|𝑀 ∖𝑈 = 1, temos que ℎ = 𝑏 · ℎ. Assim,
e, consequentemente,
𝑋𝑝 (𝑓 ) = 𝑋𝑝 (𝑔 + ℎ) = 𝑋𝑝 (𝑔) + 𝑋𝑝 (ℎ) = 𝑋𝑝 (𝑔).
𝑖=1 𝜕𝑥
onde 𝑥𝑗 é a 𝑗-ésima funçao coordenada.
Seja 𝑋𝑝 ∈ T𝑝 R𝑛 . Concluiremos que
𝑛
⃒
𝜕 ⃒⃒
𝑋𝑝 = 𝑋𝑝 (𝑥 ) 𝑖 ⃒
𝑖
∑︁
𝑖=1 𝜕𝑥 ⃒𝑝
(︃ 0 𝜕𝑥 𝜕𝑥 )︃
∫︁ 1
𝜕 2𝑓
= 𝑋𝑝 (𝑥 − 𝑝 )0 + 0𝑋𝑝 (𝑥 − 𝑝 ) (1 − 𝑡) 𝑖 𝑗 (𝑝 + 𝑡(𝑥 − 𝑝)) d 𝑡
𝑖 𝑖 𝑗 𝑗
0 𝜕𝑥 𝜕𝑥
=0
30
e, consequentemente,
⎛ ⎞
𝑛 ∫︁ 1
𝜕 2𝑓
(𝑥𝑖 − 𝑝𝑖 )(𝑥𝑗 − 𝑝𝑗 ) (1 − 𝑡) 𝑖 𝑗 (𝑝 + 𝑡(𝑥 − 𝑝)) d 𝑡⎠ = 0.
∑︁
𝑋𝑝 ⎝
𝑖,𝑗=1 0 𝜕𝑥 𝜕𝑥
𝑋𝑝 (𝑓 ) =⎛ ⎞
𝑛 𝑛
𝜕𝑓 ∫︁ 1
𝜕 2𝑓
= 𝑋𝑝 𝑓 (𝑝) + (𝑝)(𝑥 𝑖 𝑖
) + (𝑥 𝑖 𝑖
)(𝑥 𝑗 𝑗
) (1 (𝑝 + 𝑡(𝑥 − 𝑝)) d 𝑡⎠
∑︁ ∑︁
⎝
𝑖
− 𝑝 − 𝑝 − 𝑝 − 𝑡) 𝑖 𝜕𝑥𝑗
𝑖=1 𝜕𝑥 𝑖,𝑗=1 0 𝜕𝑥
(︃ 𝑛 )︃
∑︁ 𝜕𝑓
= 𝑋𝑝 𝑖
(𝑝)(𝑥𝑖 − 𝑝𝑖 )
𝑖=1 𝜕𝑥
𝑛
𝜕𝑓
= (𝑝)(𝑋𝑝 (𝑥𝑖 ) − 𝑋𝑝 (𝑝𝑖 ))
∑︁
𝜕𝑥 𝑖
𝑖=1
𝑛
𝜕𝑓
= 𝑋𝑝 (𝑥𝑖 ) 𝑖 (𝑝)
∑︁
𝑖=1 𝜕𝑥 ⃒
𝑛
𝜕 ⃒
= 𝑋𝑝 (𝑥𝑖 ) 𝑖 ⃒⃒ (𝑓 )
∑︁
𝑖=1 𝜕𝑥 ⃒𝑝
⎛ ⃒ ⎞
𝑛
𝜕 ⃒⃒ ⎠
= 𝑋𝑝 (𝑥𝑖 ) (𝑓 ).
∑︁
⎝
𝜕𝑥𝑖 ⃒𝑝
⃒
𝑖=1
⃒
Observação 1.3.8. Dado um aberto 𝑈 de R𝑛 , podemos definir os vetores tangentes 𝜕𝑥𝜕 𝑖 ⃒ , 𝑖 = 1,
⃒
𝑝
. . . , 𝑛, em T𝑝 𝑈 , onde 𝑝 ∈ 𝑈 , da mesma forma que definimos em 𝑇𝑝 R𝑛 . Em especial para
𝑈 = 𝐵(0, 1) (a bola aberta de raio
⃒ 1 centrada em 0) a com os mesmos argumentos da Proposição
1.3.7 podemos mostrar que { 𝜕𝑥𝑖 ⃒ }𝑖=1 é uma base de T𝑝 𝐵(0, 1).
𝜕 ⃒ 𝑛
𝑝
𝑌𝐹 (𝑝) (𝑔) = 𝑋𝑝 (𝑔 ∘ 𝐹 ), 𝑔 ∈ 𝐶 ∞ (𝑁 ),
𝑌𝐹 (𝑝) (𝑓 · 𝑔) = 𝑋𝑝 ((𝑓 · 𝑔) ∘ 𝐹 )
= 𝑋𝑝 ((𝑓 ∘ 𝐹 ) · (𝑔 ∘ 𝐹 ))
= 𝑋𝑝 (𝑓 ∘ 𝐹 )(𝑔 ∘ 𝐹 )(𝑝) + (𝑓 ∘ 𝐹 )(𝑝)𝑋𝑝 (𝑔 ∘ 𝐹 )
= 𝑌𝐹 (𝑝) (𝑓 )𝑔(𝐹 (𝑝)) + 𝑓 (𝐹 (𝑝))𝑌𝐹 (𝑝) (𝑔).
Além disso, verifica-se que a aplicação que manda 𝑋𝑝 ∈ T𝑝 𝑀 para 𝑌𝐹 (𝑝) ∈ T𝐹 (𝑝) 𝑁 é linear.
31
Definição 1.3.9. Seja 𝐹 : 𝑀 → 𝑁 um mapa suave entre variedades suaves. O diferencial de 𝐹
em 𝑝 ∈ 𝑀 é a transformação linear 𝐹* : T𝑝 𝑀 → T𝐹 (𝑝) 𝑁 , cuja imagem 𝐹* (𝑋𝑝 ) ∈ T𝐹 (𝑝) 𝑁 do vetor
tangente 𝑋𝑝 ∈ T𝑝 𝑀 é definida por
(𝐹* (𝑋𝑝 ))(𝑔) = 𝑋𝑝 (𝑓 ∘ 𝐹 ), 𝑔 ∈ 𝐶 ∞ (𝑁 ).
Proposição 1.3.10. (i) Se 𝐹 : 𝑀1 → 𝑀2 e 𝐺: 𝑀2 → 𝑀3 mapas suaves entre variedades então,
em cada ponto 𝑝 ∈ 𝑀1 , vale a igualdade (𝐹 ∘ 𝐺)* = 𝐹* ∘ 𝐺* ;
(ii) (id𝑀 )* = 1T𝑝 𝑀 (o diferencial do mapa identidade 𝑀 → 𝑀 no ponto 𝑝 ∈ 𝑀 é o mapa
identidade T𝑝 𝑀 → T𝑝 𝑀 );
(iii) Se 𝐹 : 𝑀 → 𝑁 é um difeomorfismo então, para cada 𝑝 ∈ 𝑀 , 𝐹* : T𝑝 → T𝐹 (𝑝) 𝑁 é um
isomorfismo linear e (𝐹* )−1 = (𝐹 −1 )* .
Demonstração.
(i)
(ii)
(iii)
32
Proposição 1.3.11. Seja 𝑀 uma variedade suave de dimensão 𝑛 e 𝑝 ∈ 𝑀 .
Demonstração.
(i)
e
(𝜏 (𝑋𝑝 ))(𝑔1 · 𝑔2 ) = (𝜏 (𝑋𝑝 ))(𝑔1 )𝑔2 (𝑝) + 𝑔1 (𝑝)(𝜏 (𝑋𝑝 ))(𝑔2 ).
Consideremos 𝑈˜ um aberto de 𝑀 tal que 𝑝 ∈ 𝑈˜ ⊂ 𝑀 e 𝑔˜1 e 𝑔˜2 ∈ 𝐶 ∞ (𝑀 ) tais que 𝑔1 |𝑈˜ = 𝑔˜1 |𝑈˜ e
𝑔1 |𝑈˜ = 𝑔˜1 |𝑈˜ . Desta forma devemos ter que
e
(𝑔1 · 𝑔2 )|𝑈˜ = (˜
𝑔1 · 𝑔˜2 )|𝑈˜ .
Logo,
e
(𝜏 (𝑋𝑝 ))(𝑔1 · 𝑔2 ) = 𝑋𝑝 (˜
𝑔1 · 𝑔˜2 )
= 𝑋𝑝 (˜
𝑔1 )˜
𝑔2 (𝑝) + 𝑔˜1 (𝑝)𝑋𝑝 (˜
𝑔2 )
= (𝜏 (𝑋𝑝 ))(𝑔1 )𝑔2 (𝑝) + 𝑔1 (𝑝)(𝜏 (𝑋𝑝 ))(𝑔2 ).
33
Assim, concluimos que o mapa 𝜏 : T𝑝 𝑀 → T𝑝 𝑈 está bem definido. Segue diretamente da
expressão de 𝜏 (𝑋𝑝 ) acima que o mapa 𝜏 é uma transformação linear.
Por fim, concluimos que 𝑖* ∘ 𝜏 = 1T𝑝 𝑀 pois, dados 𝑋𝑝 ∈ T𝑝 𝑀 e 𝑓 ∈ 𝐶 ∞ (𝑀 ), temos que
((𝑖* ∘ 𝜏 )(𝑋𝑝 ))(𝑓 ) = (𝑖* (𝜏 (𝑋𝑝 ))(𝑓 ) = 𝜏 (𝑋𝑝 )(𝑓 |𝑈 ) = 𝑋𝑝 (𝑓 ) = (1T𝑝 𝑀 (𝑋𝑝 ))(𝑓 ).
(ii)
Pelo item (i) da Proposição 1.3.11, podemos identificar T𝑝 𝑈 e T𝑝 𝑀 quando 𝑈 for um aberto
da variedade suave 𝑀 e 𝑝 ∈ 𝑈 . Em particular, se (𝑈, 𝜙) é uma carta suave assumiremos que o
domínio de (𝜙−1 )* é T𝑝 𝑀 .
Seja 𝑋𝑝 um vetor tangente à um ponto 𝑝 de uma variedade 𝑀 de dimensão 𝑚. Tomando uma
carta suave (𝑈, (𝑥𝑖 )), com 𝑝 ∈ 𝑈 , temos, do item (ii) da Proposição 1.3.11, que existem 𝜆𝑖 ∈ R tais
que,
𝑚
⃒
𝑖 𝜕 ⃒
⃒
𝑋𝑝 =
∑︁
𝜆 ⃒ .
𝑖=1 𝜕𝑥𝑖 ⃒𝑝
Como
1, 𝑖 = 𝑗;
⃒ {︃
𝜕 ⃒⃒
⃒ (𝑥𝑗 ) =
𝑖
𝜕𝑥 ⃒𝑝 0, 𝑖 =
̸ 𝑗;
devemos ter que
𝑚
⃒
𝜕 ⃒⃒
𝜆 =
𝑗
⃒ (𝑥𝑗 ) = 𝑋𝑝 (𝑥𝑗 ).
𝑖
∑︁
𝜆 𝑖⃒
𝑖=1 𝜕𝑥 𝑝
Com isso, concluímos que todo vetor tangente 𝑋𝑝 à um ponto 𝑝 e em uma variedade 𝑀 de
dimensão 𝑚 é descrito por uma carta (𝑈, (𝑥𝑖 )), com 𝑝 ∈ 𝑈 , por
𝑚
⃒
𝜕 ⃒
𝑋𝑝 = 𝑋𝑝 (𝑥 ) 𝑖 ⃒⃒ . 𝑖
∑︁
𝑖=1 𝜕𝑥 ⃒𝑝
Exemplo 1.3.12. Seja 𝑝 um ponto de uma variede suave 𝑀 , de dimensão 𝑚, e(︃𝑋𝑃 ⃒um )︃ vetor
d⃒ ⃒
tangente à 𝑀 em 𝑝. Existe uma curva suave 𝛾: (−𝜀, 𝜀) → 𝑀 tal que 𝛾(0) = 𝑝 e 𝛾* = 𝑋𝑝 .
d 𝑡 ⃒0
⃒
De fato, seja (𝑈, 𝜙) uma carta suave em 𝑀 , com funções coordenadas 𝑥𝑖 , 𝑖 = 1, . . . , 𝑚 , tal que
𝑝 ∈ 𝑈 e 𝜙(𝑝) = 0 ∈ R𝑚 . Consideremos uma curva 𝛾˜ : (−𝜀, 𝜀) → 𝑈 dada (para 𝜀 suficientemente
pequeno) por
𝛾˜ (𝑡) = 𝑡(𝜆1 , . . . , 𝜆𝑚 ), 𝑡 ∈ (−𝜀, 𝜀),
34
onde as coordenadas 𝜆𝑖 vem da igualdade
⃒ ⃒
𝜕 ⃒⃒ 𝜕 ⃒⃒
𝑋𝑝 = 𝜆 + · ·1
· + 𝜆𝑚
⃒ .
𝜕𝑥1 ⃒𝑝 𝜕𝑥𝑚 ⃒𝑝
⃒
d ⃒⃒ d ⃒⃒ 𝑖 d(𝑥𝑖 ∘ 𝜙−1 ∘ 𝛾˜ )
(︃ (︃ ⃒ )︃)︃ ⃒
𝛾* (𝑥 ) =
𝑖
⃒ (𝑥 ∘ 𝜙−1 ∘ 𝛾
˜) = (0) = 𝜆𝑖 , 𝑖 = 1, . . . , 𝑚,
d 𝑡 ⃒0 d 𝑡 ⃒0 d𝑡
⃒
d ⃒⃒
(︃ ⃒ )︃
e 𝛾* = 𝑋𝑝 pois
d 𝑡 ⃒0
⃒
d ⃒⃒
(︃ (︃ ⃒ )︃)︃
𝛾* (𝑥𝑖 ) = 𝜆𝑖 = 𝑋𝑝 (𝑥𝑖 ).
d 𝑡 ⃒0
⃒
onde 𝐹 𝑗 := 𝜕𝑦 𝑗 ∘ 𝐹 ∘ 𝜙−1 .
35
Assim, ⎛ ⎞
𝑛
⃒ ⃒
𝜕 ⃒ 𝜕𝐹 𝑗 𝜕 ⃒⃒
(𝜓 ∘ 𝐹 ∘ 𝜙−1 )* ⎝ 𝑖 ⃒⃒ ⎠ = (𝜙(𝑝))
∑︁
𝑖
.
𝜕𝑦 𝑗 ⃒𝜓∘𝐹 (𝑝)
⃒
𝜕𝑥 ⃒𝜙(𝑝) 𝑗=1 𝜕𝑥
Então, ⎛ ⃒ ⎞ ⎛ ⃒ ⎞
𝜕 ⃒⃒ 𝜕 ⃒⃒
𝐹* ⎝ 𝑖 ⃒⃒ ⎠ = (𝜓 −1 )* ∘ (𝜓 ∘ 𝐹 ∘ 𝜙−1 )* ∘ 𝜙* ⎝ 𝑖 ⃒⃒ ⎠
𝜕𝑥 𝑝 𝜕𝑥 𝑝
⎛ ⃒ ⎞
𝜕 ⃒
= (𝜓 −1 )* ∘ (𝜓 ∘ 𝐹 ∘ 𝜙−1 )* ⎝ 𝑖 ⃒⃒ ⎠
𝜕𝑥 ⃒𝜙(𝑝)
⎛ ⃒ ⎞
𝜕 ⃒
= (𝜓 −1 )* ∘ (𝜓 ∘ 𝐹 ∘ 𝜙−1 )* ⎝ 𝑖 ⃒⃒ ⎠
𝜕𝑥 ⃒𝜙(𝑝)
⎛ ⎞
𝑛
⃒
𝜕𝐹 𝑗 𝜕 ⃒⃒
= (𝜓 −1 )* ⎝ (𝜙(𝑝))
∑︁
⎠
𝑖 𝑗⃒
⃒
𝑗=1 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜓∘𝐹 (𝑝)
𝑛
⃒
𝜕𝐹 𝑗 𝜕 ⃒⃒
= (𝜙(𝑝)) 𝑗 ⃒
∑︁
𝑖
.
𝑗=1 𝜕𝑥 𝜕𝑦 ⃒𝐹 (𝑝)
Corolário 1.3.14. Seja 𝑝 um ponto em uma variedade suave 𝑀 de dimensão 𝑚. Se (𝑈, (𝑥𝑖 )) e
(𝑉, (𝑦 𝑗 )) são cartas suaves em 𝑀 com 𝑝 ∈ 𝑈 ∩ 𝑉 então
𝑚
⃒ ⃒
𝜕 ⃒⃒ 𝜕𝑦 𝑗 𝜕 ⃒⃒
= (𝑝)
∑︁
⃒ ,
𝜕𝑥𝑖 ⃒𝑝 𝑗=1 𝜕𝑥𝑖 𝜕𝑦 𝑗 ⃒𝑝
⃒
onde
𝜕𝑦 𝑗 𝜕(𝑦 𝑗 ∘ 𝜙−1 )
(𝑝) = (𝜙(𝑝)).
𝜕𝑥𝑖 𝜕𝑥𝑖
Demonstração. Sejam 𝜙 = (𝑥𝑖 ) e 𝜓 = (𝑦 𝑗 ). Pela Regra da Cadeia, temos que
⎛ ⎞
𝑚
𝜕(𝜓 ∘ 𝜙−1 )𝑗 𝑚
⃒ ⃒ ⃒
𝜕 ⃒⃒ 𝜕 ⃒⃒ 𝜕𝑦 𝑗 𝜕 ⃒⃒
(𝜓 ∘ 𝜙−1 )* ⎝ 𝑖 ⃒ ⎠ = (𝜙(𝑝)) = (𝑝)
∑︁ ∑︁
.
𝜕𝑥𝑖 𝜕𝑦 𝑗 ⃒𝜓(𝑝) 𝑗=1 𝜕𝑥𝑖 𝜕𝑦 𝑗 ⃒𝜓(𝑝)
⃒ ⃒
𝜕𝑥 ⃒𝜙(𝑝) 𝑗=1
Assim, ⎛ ⎞
⃒ ⃒
𝜕 ⃒⃒ −1 ⎝ 𝜕 ⃒
⃒
= (𝜙 ) *
⎠
𝜕𝑥𝑖 ⃒𝑝 𝜕𝑥𝑖 ⃒𝜙(𝑝)
⃒ ⃒
⎛ ⃒ ⎞
𝜕 ⃒
= (𝜓 −1 )* ∘ (𝜓 ∘ 𝜙−1 )* ⎝ 𝑖 ⃒⃒ ⎠
𝜕𝑥 ⃒𝜙(𝑝)
⎛ ⎞
𝑚
⃒
𝜕𝑦 𝑗 𝜕 ⃒⃒ ⎠
= (𝜓 −1 )* ⎝ (𝑝)
∑︁
𝑖 𝜕𝑦 𝑗 ⃒𝜓(𝑝)
⃒
𝑗=1 𝜕𝑥⃒
𝑚
𝜕𝑦 𝑗 𝜕 ⃒⃒
= (𝑝)
∑︁
𝑖
⃒ .
𝑗=1 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝑗 ⃒𝑝
36
1.4 Fibrados Tangentes
Seja 𝑀 uma variedade suave de dimensão 𝑚. Esta seção será dedicada a construir uma estru-
tura de variedade suave no fibrado tangente de 𝑀 que definiremos a seguir.
𝑝∈𝑀
𝜋(𝑋𝑝 ) = 𝑝, 𝑋𝑝 ∈ T𝑝 𝑀 ⊂ T 𝑀,
𝑚
⃒
𝜕 ⃒⃒
˜ 𝑝 ) = (𝑝, (𝜆1 , . . . , 𝜆𝑚 )), 𝑋𝑝 = 𝜆𝑖 ⃒ ∈ T𝑝 𝑀, 𝑝 ∈ 𝑈.
∑︁
𝜙(𝑋
𝑖=1 𝜕𝑥𝑖 ⃒𝑝
⃒
Pelo fato de { 𝜕𝑥𝜕 𝑖 ⃒⃒ }𝑚 ser uma base de T𝑝 𝑀 , 𝜙˜ é uma bijeção. Denotando por 𝜋1 : 𝑈 × R𝑚 → 𝑀
𝑝 𝑖=1
o mapa descrito por
𝜋1 (𝑝, 𝑣) = 𝑝, (𝑝, 𝑣) ∈ 𝑈 × R𝑚 → 𝑀,
temos que 𝜋1 ∘ 𝜙 = 𝜋.
Os mapas 𝜙: ˜ 𝜋 −1 (𝑈 ) → 𝑈 × R𝑚 construídos a partir de uma carta suave (𝑈, 𝜙) de 𝑀 como
acima são chamados de trivializações locais de T 𝑀 .
Suponhamos que (𝑈, 𝜙) e (𝑉, 𝜓) sejam outra carta suaves em 𝑀 , tais que 𝑈 ∩ 𝑉 ̸= ∅, com
funções coordenadas 𝑥𝑖 e 𝑦 𝑗 , 𝑖, 𝑗 = 1, . . . , 𝑚, e 𝜙: ˜ 𝜋 −1 (𝑉 ) → 𝑉 × R𝑚 sejam
˜ 𝜋 −1 (𝑈 ) → 𝑈 × R𝑚 e 𝜓:
a trivializações local de T 𝑀 dadas por
𝑚
⃒
𝜕 ⃒⃒
˜ 𝑝 ) = (𝑝, (𝜆1 , . . . , 𝜆𝑚 )), 𝑋𝑝 = 𝜆𝑖 ⃒ ∈ T𝑝 𝑀, 𝑝 ∈ 𝑈,
∑︁
𝜙(𝑋
𝑖=1 𝜕𝑥𝑖 ⃒𝑝
e
𝑚
⃒
˜ 𝑝 ) = (𝑝, (𝜇1 , . . . , 𝜇𝑚 )), 𝜕 ⃒⃒
𝑋𝑝 = 𝑗
⃒ ∈ T𝑝 𝑀, 𝑝 ∈ 𝑉.
∑︁
𝜓(𝑋 𝜇
𝑖=1 𝜕𝑦 𝑗 ⃒𝑝
37
Pela regra da cadeia temos, para (𝑝, 𝑣) ∈ (𝑈 ∩ 𝑉 ) × R𝑚 , que
⎛ ⃒ ⎞
𝑚
𝜕 ⃒⃒ ⎠
𝜓˜ ∘ 𝜙˜−1 (𝑝, (𝜆1 , . . . , 𝜆𝑚 )) = 𝜓˜ ⎝ 𝜆𝑖
∑︁
𝜕𝑥𝑖 ⃒𝑝
⃒
⎛ 𝑖=1 ⎛
𝑚 𝑚
⃒ ⎞⎞
𝜕𝑦 𝑗 𝜕 ⃒⃒ ⎠⎠
= 𝜓˜ ⎝ 𝜆𝑖 ⎝ (𝑝)
∑︁ ∑︁
𝑖 𝜕𝑦 𝑗 ⃒𝑝
⃒
𝑖=1
⎛ 𝑗=1 𝜕𝑥
𝑚
(︃ 𝑚 ⃒ ⎞
𝜕𝑦 𝑗
)︃
𝜕 ⃒⃒ ⎠
= 𝜓˜ ⎝ 𝜆𝑖 𝑖 (𝑝)
∑︁ ∑︁
𝜕𝑦 𝑗 ⃒𝑝
⃒
𝑗=1 𝑖=1 𝜕𝑥
(︃ (︃ 𝑚 𝑚 𝑚
)︃)︃
∑︁ 𝜕𝑦 1
𝑖 𝜕𝑦
= 𝑝, 𝑖
(𝑝), . . . , (𝑝)
∑︁
𝜆 𝜆
𝑖=1 𝜕𝑥𝑖 𝑖=1 𝜕𝑥𝑖
Como as funções
𝜕𝑦 𝑗 𝜕(𝑦 𝑗 ∘ 𝜙−1 )
:= ∘𝜙
𝜕𝑥𝑖 𝜕𝑥𝑖
são suaves em 𝑈 ∩ 𝑉 , segue da expressão acima que 𝜓˜ ∘ 𝜙˜−1 : (𝑈 ∩ 𝑉 ) × R𝑚 → (𝑈 ∩ 𝑉 ) × R𝑛 é
suave. Além disso, 𝜓˜ ∘ 𝜙˜−1 é um difeomorfismo tendo 𝜙˜ ∘ 𝜓˜−1 como inverso.
Dado uma carta suaves (𝑈, 𝜙) em 𝑀 , a trivialização 𝜙: ˜ 𝜋 −1 (𝑈 ) → 𝑈 × R𝑚 induz uma topologia
𝜏𝜋−1 (𝑈 ) em 𝜋 (𝑈 ). Esta topologia é a única que faz de 𝜙˜ um homeomorfismo e é definida por
−1
𝜏𝜋−1 (𝑈 ) := {𝒰 ⊂ 𝜋 −1 (𝑈 ): 𝜙(𝒰)
˜ é aberto em 𝑈 × R𝑚 }.
Se (𝑈, 𝜙) e (𝑉, 𝜓) são cartas suaves em 𝑀 e 𝒰 é um aberto de 𝜋 −1 (𝑈 ) (com a topologia
𝜏𝜋−1 (𝑈 ) ) então 𝒰 ∩ 𝜋 −1 (𝑉 ) é um aberto em 𝜋 −1 (𝑉 ) (com a topologia 𝜏𝜋−1 (𝑉 ) ). De fato, como
˜
𝜙(𝒰) é aberto em 𝑈 × R𝑚 , 𝜙(𝒰)˜ ∩ ((𝑈 ∩ 𝑉 ) × R𝑚 ) é aberto em (𝑈 ∩ 𝑉 ) × R𝑚 . Logo, já que
𝜓˜ ∘ 𝜙˜−1 : (𝑈 ∩ 𝑉 ) × R𝑚 → (𝑈 ∩ 𝑉 ) × R𝑚 é um homeomorfismo,
Φ := (𝜙 × 1R𝑚 ) ∘ 𝜙:
˜ 𝜋 −1 (𝑈 ) → 𝜙(𝑈 ) × R𝑚 .
38
Suponhamos que (𝜋 −1 (𝑈 ), Φ) e (𝜋 −1 (𝑉 ), Ψ) sejam as cartas induzidas, respectivamente, pelas
cartas suaves (𝑈, 𝜙) e (𝑉, 𝜓) em 𝑀 . Desta forma, dado (𝑥, (𝜆1 , . . . , 𝜆𝑚 )) ∈ 𝜙(𝑈 ∩ 𝑉 ) × R𝑚 ,
Ψ ∘ Φ−1 (𝑥, (𝜆1 , . . . , 𝜆𝑚 )) = (𝜓 × 1R𝑚 ) ∘ (𝜓˜ ∘ 𝜙˜−1 ) ∘ (𝜙−1 × 1R𝑚 )(𝑥, (𝜆1 , . . . , 𝜆𝑚 ))
∘ (𝜓˜ ∘ 𝜙˜−1(︃)(𝜙−1 (𝑥), (𝜆1 , . . . , 𝜆𝑚 ))
= (𝜓 × 1R𝑚 ) (︃
𝑚 𝑚 𝑚
)︃)︃
1
𝑖 𝜕𝑦 𝑖 𝜕𝑦
= (𝜓 × 1R𝑚 ) 𝜙 (𝑥),
−1
(𝑝), . . . , (𝑝)
∑︁ ∑︁
𝜆 𝑖
𝜆 𝑖
(︃ 𝑚 𝑖=1 𝜕𝑥 𝑖=1 𝜕𝑥
𝑚 𝑚
(︃ )︃)︃
∑︁ 𝜕𝑦 1
𝑖 𝜕𝑦
= 𝜓 ∘ 𝜙 (𝑥),
−1 𝑖
(𝑝), . . . , (𝑝) .
∑︁
𝜆 𝜆
𝑖=1 𝜕𝑥𝑖 𝑖=1 𝜕𝑥𝑖
Definição 1.4.2. Seja 𝑀 uma variedade suave. Um mapa suave 𝑋: 𝑀 → T 𝑀 é dito um campo
vetorial em 𝑀 se a composição 𝑋∘𝜋 é a identidade em 𝑀 . Para simplificar a notação, denotaremos
𝑋(𝑝) simplesmente por 𝑋𝑝 . O conjunto de todos os campos vetoriais em 𝑀 é denotado por Γ(T 𝑀 ).
Tais funções são chamadas de funções coordenadas de 𝑋 na carta (𝑈, (𝑥𝑖 )).
Dada uma função suave 𝑓 ∈ 𝐶 ∞ (𝑈 ) em um aberto 𝑈 de 𝑀 , podemos definir uma função
𝑋𝑓 : 𝑈 → R definindo
(𝑋𝑓 )(𝑝) = 𝑋𝑝 𝑓, 𝑝 ∈ 𝑈
(observe que a definição acima faz sentido graças a identificação T𝑝 𝑈 = T𝑝 𝑀 feita pela Proposição
1.3.11). Segue que as funções coordenadas de 𝑋 na carta (𝑈, (𝑥𝑖 )) são justamente 𝑋 𝑖 = 𝑋𝑥𝑖 ,
𝑖 = 1, . . . , 𝑚.
Proposição 1.4.3. Seja 𝑋 uma seção do fibrado tangente de uma variedade suave 𝑀 de dimensão
𝑚. São equivalentes as seguintes afirmações:
39
Demonstração.
(i)⇔(ii)
Dada uma carta suave (𝑈, 𝜙) em 𝑀 , temos uma carta suave (𝜋 −1 (𝑈 ), Φ) em T 𝑀 tal que
(︁ )︁
Φ ∘ 𝑋 ∘ 𝜙−1 (𝑥) = 𝑥, (𝑋 1 ∘ 𝜙−1 (𝑥), . . . , 𝑋 𝑚 ∘ 𝜙−1 (𝑥)) , 𝑥 ∈ 𝜙(𝑈 ),
onde 𝑋 𝑖 , 𝑖 = 1, . . . , 𝑚, são as funções coordenadas de 𝑋 em (𝑈, 𝜙). Desta forma, concluimos que
Φ ∘ 𝑋 ∘ 𝜙−1 : 𝜙(𝑈 ) → 𝜙(𝑈 ) × R𝑛 é suave se e somente se 𝑋 𝑖 ∘ 𝜙−1 : 𝜙(𝑈 ) → R, 𝑖 = 1, . . . , 𝑛 , são
suaves. Logo, 𝑋 é suave em 𝑈 se e somente se 𝑋 𝑖 : 𝑈 → R, 𝑖 = 1, . . . , 𝑛, são suaves.
Portanto, 𝑋 é suave se e somente se as funções coordenadas de 𝑋 em qualquer carta são suaves.
(ii)⇒(iii)
Seja 𝑓 ∈ 𝐶 ∞ (𝑀 ).
Dada uma carta suave (𝑈, 𝜙) em 𝑀 , com funções coordenadas 𝑥𝑖 , 𝑖 = 1, . . . , 𝑚 , temos que
⎛ ⃒ ⃒ ⎞
𝜕 ⃒ 𝜕 ⃒
(𝑋𝑓 )(𝜙−1 (𝑥)) = ⎝𝑋 (𝜙 (𝑥)) 1 ⃒⃒
1 −1
+ · · · + 𝑋 𝑚 (𝜙−1 (𝑝)) 𝑚 ⃒⃒ ⎠ (𝑓 )
𝜕𝑥 ⃒𝜙−1 (𝑥) 𝜕𝑥 ⃒𝜙−1 (𝑥)
𝜕(𝑓 ∘ 𝜙−1 ) 𝜕(𝑓 ∘ 𝜙−1 )
= 𝑋 1 ∘ 𝜙−1 (𝑥) (𝑥) + · · · + 𝑋 𝑚
∘ 𝜙−1
(𝑥) (𝑥),
𝜕𝑥1 𝜕𝑥𝑚
para todo 𝑥 ∈ 𝜙(𝑈 ), onde 𝑋 𝑖 , 𝑖 = 1, . . . , 𝑚 , são as funções coordenadas de 𝑋. Como 𝑋 𝑖 ∘ 𝜙−1 e
𝜕𝑓 ∘𝜙−1
𝜕𝑥1
são funções suaves em 𝜙(𝑈 ), segue que (𝑋𝑓 ) ∘ 𝜙−1 é suave em 𝜙(𝑈 ). Logo, 𝑋𝑓 é suave em
𝑈.
Portanto, 𝑋𝑓 é suave em qualquer carta de 𝑀 e, por isso, é suave em 𝑀 .
(ii)⇐(iii)
Logo,
𝑋 𝑖 |𝑈0 = (𝑋𝑥𝑖 )|𝑈0 = (𝑋𝑓 )|𝑈0 .
Como 𝑋𝑓 ∈ 𝐶 ∞ (𝑀 ), concluimos que 𝑋 𝑖 |𝑈0 é suave.
40
Com a proposição acima, podemos munir o conjunto Γ(T 𝑀 ) dos campos vetoriais em uma
variedade 𝑀 de uma estrutura de espaço vetorial definindo, para cada 𝑋 e 𝑌 ∈ Γ(T 𝑀 ) e 𝜆 ∈ R,
(𝜆𝑋)𝑝 (𝑓 ) := 𝜆𝑋𝑝 (𝑓 ), 𝑝 ∈ 𝑀, 𝑓 ∈ 𝐶 ∞ (𝑀 ),
e
(𝑋 + 𝑌 )𝑝 (𝑓 ) := 𝑋𝑝 (𝑓 ) + 𝑌𝑝 (𝑓 ), 𝑝 ∈ 𝑀, 𝑓 ∈ 𝐶 ∞ (𝑀 ).
Seja 𝑆 uma subvariedade mergulhada de uma variedade suave 𝑀 . Para cada 𝑝 ∈ 𝑆, o diferencial
𝑖* : T𝑝 𝑆 → T𝑝 𝑀 da inclusão de 𝑆 em 𝑀 é um monomorfismo linear. Com isso, podemos identificar
T𝑝 𝑆 com a sua imagem 𝑖* T𝑝 𝑀 em T𝑝 𝑀 . Desta forma, podemos considerar também o fibrado
tangente T 𝑆 como um subconjunto T 𝑀 .
Proposição 1.4.4. Sejam 𝑀 uma variedade suave e 𝑆 uma subvariedade mergulhada de 𝑆. O
fibrado tangente T 𝑆 é uma subvariedade mergulhada de T 𝑀 .
Demonstração. Sejam 𝑚 = dim 𝑀 , 𝑑 = dim 𝑆 e 𝑖: 𝑆 → 𝑀 o mapa inclusão de 𝑆 em 𝑀 .
Para provarmos que T 𝑆 é uma subvariedade mergulhada de T 𝑀 , utilizaremos a caracterização
de subvariedades mergulhadas dada na Proposição 1.1.34.
Consideremos 𝑋𝑝 ∈ T𝑝 ⊂ T 𝑆.
Tomemos (𝑉, 𝜓) uma carta suave de 𝑀 tal que 𝑝 ∈ 𝑉 e
𝑆 ∩ 𝑉 = 𝜓 −1 ({(𝑥1 , . . . , 𝑥𝑚 ) ∈ 𝜓(𝒱): 𝑥𝑑+1 = · · · = 𝑥𝑚 = 0}).
Pela construção de T 𝑀 , esta carta induz uma carta suave (𝜋 −1 (𝑉 ), Ψ) em T 𝑀 dada por
⎛ ⃒ ⎞
𝑚
𝜕 ⃒⃒ ⎠
Ψ ⎝ 𝑣𝑖 = (𝜓(𝑞), 𝑣 1 , . . . , 𝑣 𝑚 ).
∑︁
𝑖⃒
⃒
𝑖=1 𝜕𝑥 𝑞
𝑖=1 𝜕𝑥 ⃒𝑞 𝑖=1 𝜕𝑥 ⃒𝑞
Logo,
T 𝑆∩𝜋 −1 (𝑉 ) = Ψ−1 ({(𝑥1 , . . . , 𝑥𝑚 , 𝑣 1 , . . . , 𝑣 𝑚 ) ∈ Ψ(𝜋 −1 (𝑉 )): 𝑥𝑑+1 = · · · = 𝑥𝑚 = 0 = 𝑣 𝑑+1 = · · · = 𝑣 𝑚 = 0}).
Portanto, pela Proposição 1.1.34, T 𝑆 é uma subvariedade mergulhada de T 𝑀 .
41
1.5 Álgebras de Lie
Definição 1.5.1 (Álgebra de Lie). Seja g um K-espaço vetorial munido de uma aplicação [·, ·] :
g × g → g tal que
(i) [·, ·] é bilinear e alternada;
Neste caso, dizemos que (g, [·, ·]) é uma álgebra de Lie.
Exemplo 1.5.2. Seja K um corpo e gl(𝑛, K) o espaço vetorial das matrizes 𝑛 × 𝑛 com entradas
em K. Temos que o comutador [·, ·]: gl(𝑛, K) × gl(𝑛, K) → gl(𝑛, K), definido por
𝜙[𝑋, 𝑌 ] = [𝜙𝑋, 𝜙𝑌 ],
para todos 𝑋 e 𝑌 ∈ g. Dizemos que 𝜙 é um homomorfismo de álgebras de Lie. Se, além disso, 𝜙
for bijetiva dizemos que 𝜙 é um isomorfismo de álgebras de Lie. Quando h = gl(𝑉 ), para algum
espaço K-vetorial 𝑉 , dizemos que 𝜙 é uma representação de g em 𝑉 .
Exemplo 1.5.4 (representação adjunta). Seja ad : g → gl(g) a transformação linear dada por
ad(𝑋)𝑌 = [𝑋, 𝑌 ],
42
Segue diretamente da definição acima que Lie(𝐺) é um subesespaço vetorial de Γ(T 𝐺).
Proposição 1.5.6. Sejam 𝐺 um grupo de Lie e Lie(𝐺) o conjunto dos seus campos invariantes à
esquerda. Com o colchete [·, ·] definido por
𝑋(𝑓1 𝑓2 )(𝑔) = 𝑋𝑔 (𝑓1 𝑓2 ) = 𝑋𝑔 (𝑓1 )𝑓2 (𝑔) + 𝑓1 (𝑔)𝑋𝑔 (𝑓2 ) = (𝑋𝑓1 · 𝑓2 + 𝑓1 · 𝑋𝑓2 )(𝑔)
e, consequentemente,
𝑋(𝑓1 𝑓2 ) = 𝑋𝑓1 · 𝑓2 + 𝑓1 · 𝑋𝑓2 .
Analogamente,
𝑌 (𝑓1 𝑓2 ) = 𝑌 𝑓1 · 𝑓2 + 𝑓1 · 𝑌 𝑓2 , 𝑓1 e 𝑓2 ∈ 𝐶 ∞ (𝐺).
Com isso,
Logo, as funções coordenadas de [𝑋, 𝑌 ] são da forma 𝑋𝑌 𝑖 − 𝑌 𝑋 𝑖 . Como 𝑋 𝑖 e 𝑌 𝑖 são suaves, deve-
mos ter que 𝑋𝑌 𝑖 − 𝑌 𝑥𝑖 é uma função suave em 𝐺. Então, concluimos que as funções coordenadas
de [𝑋, 𝑌 ] devem ser suaves.
Sabendo que [𝑋, 𝑌 ] é um campos vetorial em 𝐺 sempre que 𝑋 e 𝑌 forem campos vetoriais em
𝐺, verificaremos que [𝑋, 𝑌 ] é um campo invariante à esquerda sempre que 𝑋 e 𝑌 forem campos
43
invariantes à esquerda. Sejam 𝑋 e 𝑌 campos invariantes à esquerda em 𝐺. Provaremos, para 𝑔 e
𝑔 ′ ∈ 𝐺, que
(𝐸𝑔 )* [𝑋, 𝑌 ]𝑔′ = [𝑋, 𝑌 ]𝑔𝑔′ . (1.5.2)
Observemos que, para toda 𝑓 ∈ 𝐶 ∞ (𝐺), a função suave 𝑋(𝑓 ∘ 𝐸𝑔 ) é igual a função suave 𝑋𝑓 ∘ 𝐸𝑔 .
De fato, para cada 𝑔 ′ ∈ 𝐺,
(︁ )︁
𝑋(𝑓 ∘ 𝐸𝑔 ) (𝑔 ′ ) = 𝑋𝑔′ (𝑓 ∘ 𝐸𝑔 )
= (𝐸𝑔 )* 𝑋𝑔′ (𝑓 )
= 𝑋𝑔𝑔′ (𝑓 )
= 𝑋𝑓 (𝑔𝑔 ′ )
= 𝑋𝑓 ∘ 𝐸𝑔 (𝑔 ′ ).
44
para todo 𝑓 ∈ 𝐶 ∞ (𝐺).
Por fim, verificaremos a igualdade (1.5.5), para 𝑋, 𝑌 e 𝑍 ∈ Lie(𝐺). Segue das definições que,
para todo 𝑓 ∈ 𝐶 ∞ (𝐺),
e
[𝑍, [𝑋, 𝑌 ]]𝑓 = 𝑍(𝑋(𝑌 𝑓 )) − 𝑍(𝑌 (𝑋𝑓 )) − 𝑋(𝑌 (𝑍𝑓 )) + 𝑌 (𝑋(𝑍𝑓 )),
para toda 𝑓 ∈ 𝐶 ∞ (𝐺). Assim, somando as igualdade acima,
([𝑋, [𝑌, 𝑍]] + [𝑌, [𝑍, 𝑋]] + [𝑍, [𝑋, 𝑌 ]])𝑓 = [𝑋, [𝑌, 𝑍]]𝑓 + [𝑌, [𝑍, 𝑋]]𝑓 + [𝑍, [𝑋, 𝑌 ]]𝑓 = 0,
(𝑋𝑒 )𝐺
𝑔 = (𝐸𝑔 )* 𝑋𝑒 , 𝑔 ∈ 𝐺.
(𝑋𝑒 )𝐺
𝑒 = (𝐸𝑒 )* 𝑋𝑒 = 1T𝑒 𝐺 𝑋𝑒 = 𝑋𝑒
e
(𝐸𝑔 )* (𝑋𝑒 )𝐺
𝑔 ′ = (𝐸𝑔 )* ∘ (𝐸𝑔 ′ )* 𝑋𝑒 = (𝐸𝑔 ∘ 𝐸𝑔 ′ )* 𝑋𝑒 = (𝐸𝑔𝑔 ′ )* 𝑋𝑒 = (𝑋𝑒 )𝑔𝑔 ′ ,
𝐺
𝑔 e 𝑔 ′ ∈ 𝐺.
Logo, basta verificarmos que (𝑋𝑒 )𝐺 para concluirmos que este é um campo invariante à esquerda
em 𝐺. Para tanto, basta provarmos que, dado 𝑓 ∈ 𝐶 ∞ (𝐺), a função (𝑋𝑒 )𝐺 𝑓 é suave, Proposição
1.4.3.
45
Fixemos 𝑓 ∈ 𝐶 ∞ (𝐺). Os mapas
𝐺 × (−𝛿, 𝛿) → 𝐺 × 𝐺
(𝑔, 𝑡) → (𝑔, 𝛾(𝑡))
e
𝐺×𝐺 → 𝐺
(𝑔, 𝑔 ′ ) → 𝑔𝑔 ′
são suaves. Logo, a composição 𝐹 : 𝐺 × (−𝛿, 𝛿) → R destes dois mapas com a função suave 𝑓 , isto
é 𝐹 (𝑔, 𝑡) = 𝑓 (𝑔𝛾(𝑡)), (𝑔, 𝑡) ∈ 𝐺 × (−𝛿, 𝛿), é suave. Desta forma,
identidade T𝐼 Gl(𝑛, R) o próprio espaço tangente T𝐼 𝑀𝑛 (R) (Proposição 1.3.11). Este espaço por
sua vez (considerando-se a carta suave canônica de R𝑛 na qual as funções coordenadas 𝑥𝑖𝑗 são
2
dadas por 𝑥𝑖𝑗 (𝑎𝑝𝑞 ) = 𝑎𝑖𝑗 , (𝑎𝑝𝑞 ) ∈ 𝑀𝑛 (R) = R𝑛 ) tem como base o conjunto
2
{︃ ⃒ }︃
𝜕 ⃒⃒
⃒ : 𝑖, 𝑗 = 1, . . . , 𝑛 .
𝜕𝑥𝑖𝑗 ⃒𝐼
Como na demonstração do Lema 1.5.7, denotemos por (𝑋𝐼 )Gl(𝑛,R) o campo invariante à esquerda
Gl(𝑛,R)
de Gl(𝑛, R) tal que (𝑋𝐼 )𝐼 = 𝑋𝐼 ∈ T𝐼 Gl(𝑛, R).
Proposição 1.5.8. As ágebras de Lie gl(𝑛, R) e Lie(Gl(𝑛, R)) são isomorfas por meio do mapa
𝑛
(︃ ⃒ )︃Gl(𝑛,R)
𝜕 ⃒⃒
(𝑎 ) ∈ gl(𝑛, R) →
𝑖𝑗 𝑖𝑗
∈ Lie(Gl(𝑛, R)).
∑︁
𝑎
𝜕𝑥𝑖𝑗 ⃒𝐼
⃒
𝑖,𝑗=1
Para concluirmos o resultado da Proposição 1.5.8 nos resta verificar que o mapa acima preserva
os colchetes de Lie. Isto é, basta verificarmos que
⎡(︃ ⃒ )︃Gl(𝑛,R) (︃ ⃒ )︃Gl(𝑛,R) ⎤ (︃ ⃒ )︃Gl(𝑛,R) (︃ ⃒ )︃Gl(𝑛,R)
𝜕 ⃒⃒ 𝜕 ⃒⃒ 𝜕 ⃒⃒ 𝜕 ⃒⃒
⎣ , ⎦ =𝛿 𝑗𝑘
−𝛿 𝑙𝑖
, (1.5.6)
𝜕𝑥𝑖𝑗 ⃒𝐼 𝜕𝑥𝑘𝑙 ⃒𝐼 𝜕𝑥𝑖𝑙 ⃒𝐼 𝜕𝑥𝑘𝑗 ⃒𝐼
⃒ ⃒ ⃒ ⃒
46
onde
1, se 𝑝 = 𝑞;
{︃
𝛿 𝑝𝑞
=
0, se 𝑝 =
̸ 𝑞.
Para cada 𝑔 = (𝑔 𝑝𝑞 ) ∈ Gl(𝑛, R), vale a igualdade
𝑛
𝑥𝑖𝑗 ∘ 𝐸𝑔 = 𝑔 𝑖𝑠 𝑥𝑠𝑗 .
∑︁
𝑠=1
𝑛
(︃ 𝑛 𝑠=1 )︃
= 𝑔 𝑥 (ℎ) =
𝑖𝑠 𝑠𝑗 𝑖𝑠 𝑠𝑗
(ℎ).
∑︁ ∑︁
𝑔 𝑥
𝑠=1 𝑠=1
= 𝛿 𝑖𝑗 𝑔 𝑘𝑖
= 𝛿 𝑖𝑗 𝑥𝑘𝑖 (𝑔).
Das igualdades acima, podemos concluir que
⎡(︃ ⃒ )︃Gl(𝑛,R) (︃ ⃒ )︃Gl(𝑛,R) ⎤
𝜕 ⃒ ⃒ 𝜕 ⃒⃒ ⎦ (𝑥𝑝𝑞 )
⎣
𝑖𝑗
⃒ , 𝑘𝑙
⃒
𝜕𝑥 𝐼 ⃒ 𝜕𝑥 𝐼 ⃒
⃒ ⎛(︃ ⃒ )︃Gl(𝑛,R) 𝐼 ⎞ ⃒ ⎛(︃ ⃒ )︃Gl(𝑛,R) ⎞
𝜕 ⃒ ⎝ 𝜕 ⃒⃒
⃒ 𝜕 ⃒⃒ ⎝ 𝜕 ⃒⃒
= 𝑖𝑗 𝑘𝑙
𝑥𝑝𝑞 ⎠ − 𝑥 𝑝𝑞 ⎠
𝜕𝑥𝑘𝑙 ⃒𝐼 𝜕𝑥𝑖𝑗 ⃒𝐼
⃒ ⃒ ⃒ ⃒
𝜕𝑥 𝐼 ⃒ 𝜕𝑥 𝐼 ⃒
⃒ ⃒
𝜕 ⃒ 𝑙𝑞 𝑝𝑘
⃒ 𝜕 ⃒⃒ 𝑗𝑞 𝑝𝑖
= ⃒ (𝛿 𝑥 ) − ⃒ (𝛿 𝑥 )
𝜕𝑥𝑖𝑗 ⃒ 𝐼
𝜕𝑥𝑘𝑙 ⃒ 𝐼
= 𝛿 𝑖𝑝 𝛿 𝑗𝑘 𝛿 𝑙𝑞⃒ − 𝛿 𝑘𝑝 𝛿 𝑙𝑖 𝛿 𝑗𝑞 ⃒
𝑗𝑘 𝜕 ⃒ 𝜕 ⃒⃒
⃒
=𝛿 ⃒ (𝑥 ) − 𝛿
𝑖𝑙 ⃒
𝑝𝑞 𝑖𝑙
𝑘𝑗 ⃒
⃒ (𝑥𝑝𝑞 )
(︃ 𝜕𝑥 𝐼⃒
𝜕𝑥⃒ )︃ 𝐼
𝑗𝑘 𝜕 ⃒ 𝜕 ⃒⃒
⃒
= 𝛿 𝑖𝑙
⃒ −𝛿 𝑖𝑙
𝑘𝑗
⃒ (𝑥𝑝𝑞 ).
𝜕𝑥 𝐼 ⃒ 𝜕𝑥 ⃒
⎛ (︃ ⃒ )︃Gl(𝑛,R) 𝐼 (︃ ⃒ )︃Gl(𝑛,R) ⎞
𝜕 ⃒ 𝜕 ⃒
= ⎝𝛿 𝑗𝑘 − 𝛿 𝑖𝑙 ⎠ (𝑥𝑝𝑞 )
⃒ ⃒
𝜕𝑥𝑖𝑙 ⃒𝐼 𝐼 𝜕𝑥𝑘𝑗 ⃒𝐼 𝐼
⃒ ⃒
47
Segue daí que
⎡(︃ ⃒ )︃Gl(𝑛,R) (︃ ⃒ )︃Gl(𝑛,R) ⎤ (︃ ⃒ )︃Gl(𝑛,R) (︃ ⃒ )︃Gl(𝑛,R)
𝜕 ⃒⃒ 𝜕 ⃒⃒ 𝜕 ⃒⃒ 𝜕 ⃒⃒
⎣ , ⎦ =𝛿 𝑗𝑘
−𝛿 𝑖𝑙
.
𝜕𝑥𝑖𝑗 ⃒𝐼 𝜕𝑥𝑘𝑙 ⃒𝐼 𝜕𝑥𝑖𝑙 ⃒𝐼 𝜕𝑥𝑘𝑗 ⃒𝐼
⃒ ⃒ ⃒ ⃒
𝐼 𝐼 𝐼
Como os campos
⎡(︃ ⃒ )︃Gl(𝑛,R) (︃ ⃒ )︃Gl(𝑛,R) ⎤ (︃ ⃒ )︃Gl(𝑛,R) (︃ ⃒ )︃Gl(𝑛,R)
𝜕 ⃒⃒ 𝜕 ⃒⃒ 𝜕 ⃒⃒ 𝜕 ⃒⃒
⎣ , ⎦, e .
𝜕𝑥𝑖𝑗 ⃒𝐼 𝜕𝑥𝑘𝑙 ⃒𝐼 𝜕𝑥𝑖𝑙 ⃒𝐼 𝜕𝑥𝑘𝑗 ⃒𝐼
⃒ ⃒ ⃒ ⃒
𝐼
são invariantes à esquerda, a igualdade acima implica que a igualdade 1.5.6 é válida.
Com isso, concluimos a demonstração da Proposição 1.5.8.
Um resultado análogo ao vale para a álgebra de Lie de Gl(𝑛, C). Como Gl(𝑛, C) é um aberto de
𝑀𝑛 (C), existem funções coordenadas 𝑥𝑖𝑗 e 𝑦 𝑖𝑗 definidas em todo Gl(𝑛, C) pelas igualdade 𝑥𝑖𝑗 (𝑎𝑝𝑞 +
𝑖𝑏𝑝𝑞 ) = 𝑎𝑖𝑗 e 𝑦 𝑖𝑗 (𝑎𝑝𝑞 + 𝑖𝑏𝑝𝑞 ) = 𝑏𝑖𝑗 , (𝑎𝑝𝑞 + 𝑖𝑏𝑝𝑞 ) ∈ Gl(𝑛, C). Assim, os vetores tangentes
⃒ ⃒
𝜕 ⃒⃒ 𝜕 ⃒⃒
e ⃒ , 𝑖, 𝑗 = 1, . . . , 𝑛,
𝜕𝑥𝑖𝑗 ⃒𝐼 𝜕𝑦 𝑖𝑗 ⃒𝐼
⃒
formam uma base de T𝐼 Gl(𝑛, C) e, pelo Lema 1.5.7, os campos invariantes à esquerda
(︃ ⃒ )︃Gl(𝑛,C) (︃ ⃒ )︃Gl(𝑛,C)
𝜕 ⃒⃒ 𝜕 ⃒⃒
e , 𝑖, 𝑗 = 1, . . . , 𝑛,
𝜕𝑥𝑖𝑗 ⃒𝐼 𝜕𝑦 𝑖𝑗 ⃒𝐼
⃒ ⃒
Proposição 1.5.9. As ágebras de Lie gl(𝑛, C) e Lie(Gl(𝑛, C)) são isomorfas por meio do mapa
⎛ ⃒ )︃Gl(𝑛,C) ⃒ )︃Gl(𝑛,C) ⎞
𝑛
(︃ (︃
𝜕 ⃒⃒ 𝜕 ⃒⃒
(𝑎𝑖𝑗 + 𝑖𝑏𝑖𝑗 ) ∈ gl(𝑛, R) → ⎝𝑎𝑖𝑗 + 𝑏𝑖𝑗 ∈ Lie(Gl(𝑛, R)).
∑︁
⎠
𝜕𝑥𝑖𝑗 ⃒ 𝜕𝑥𝑖𝑗 ⃒
⃒ ⃒
𝑖,𝑗=1 𝐼 𝐼
Em vista das Proposições 1.5.8 e 1.5.9, podemos identificar naturalmente Lie(Gl(𝑛, R)) e
Lie(Gl(𝑛, R)) com gl(𝑛, R) e gl(𝑛, C).
A Proposição 1.5.9 pode ser demonstrada de modo análogo a demonstração da Proposição 1.5.9.
Porém, para demonstrar esta proposição, podemos usar a descrição de Gl(𝑛, C) como subgrupo e
subvariedade mergulhada de Gl(2𝑛, R):
{︃(︃ )︃ }︃
𝐴 𝐵
Gl(𝑛, C) = ∈ Gl(2𝑛, R): 𝐴 e 𝐵 ∈ 𝑀𝑛 (R) .
−𝐵 𝐴
De fato, a caracterização das ágebras de Lie dos grupos de Lie matriciais dada na Proposição
1.5.11 e o mapa da Proposição 1.5.8 garantem que o mapa do enunciado da Proposição 1.5.9 é um
isomorfismo de álgebras de Lie.
48
Proposição 1.5.10. Seja 𝐹 : 𝐻 → 𝐺 um homomorfismo de grupos de Lie. O diferencial 𝐹* : T𝑒𝐻 𝐻 →
T𝑒𝐺 𝐺, entre o espaço tangente de 𝐻 no elemento neutro 𝑒𝐻 de 𝐻 e o espaço tangente de 𝐺 no
elemento neutro 𝑒𝐺 de 𝐺, induz um homomorfismo de álgebras de Lie 𝐹* : Lie(𝐻) → Lie(𝐺) dado
por
𝐹* 𝑋 = (𝐹* 𝑋𝑒𝐻 )𝐺 , 𝑋 ∈ Lie(𝐻).
𝐹* [𝑋, 𝑌 ] = [𝐹* 𝑋, 𝐹* 𝑌 ].
49
˜ 𝑒 , para
Se 𝑋 ∈ Lie(𝐻) ⊂ Lie(𝐺) temos que4 𝑋ℎ ∈ Tℎ 𝐻 ⊂ Tℎ 𝐺. De fato, sendo 𝑋𝑒 = 𝑖* 𝑋
˜ ∈ L 𝑖𝑒(𝐻), temos que
𝑋
˜ 𝑒 = (𝐸ℎ ∘ 𝑖)* 𝑋
𝑋ℎ = (𝐸ℎ )* 𝑋𝑒 = (𝐸ℎ )* ∘ 𝑖* 𝑋 ˜ 𝑒 = (𝑖 ∘ 𝐸ℎ )* 𝑋𝑒 = 𝑖* ((𝐸ℎ )* 𝑋
˜ 𝑒 ) = 𝑖* 𝑋
˜ ℎ ∈ i* 𝑇ℎ 𝐻.
Utilizaremos estes fatos para caracterizar as álgebras de Lie dos grupos de Lie matriciais.
Lie(𝐺) = {𝑋 ∈ gl(𝑛, K): existe 𝜀 > 0 tal que exp(𝑡𝑋) ∈ 𝐺 para todo 𝑡 ∈ (−𝜀, 𝜀)}.
{𝑋 ∈ gl(𝑛, K): existe 𝜀 > 0 tal que exp(𝑡𝑋) ∈ 𝐺 para todo 𝑡 ∈ (−𝜀, 𝜀)}.
Seja 𝑋 gl(𝑛, K). Pela Proposição 1.2.12, a curva 𝛾𝑋 : R → Gl(𝑛, K) dada por
𝛾𝑋 (𝑡) = exp(𝑡𝑋), 𝑡 ∈ R,
é suave e seu diferencial (𝛾𝑋 )* : T𝑡0 R → T𝛾𝑋 (𝑡0 ) Gl(𝑛, K) satisfaz, para cada 𝑡0 ∈ R, a igualdade
d 𝛾 ⃒⃒
⃒
⃒ = 𝛾𝑋 (𝑡0 )𝑋.
d 𝑡 ⃒𝑡0
d ⃒⃒
(︃ ⃒ )︃ ⃒
𝜕 ⃒⃒
(𝛾𝑋 )* = 𝑖𝑗
(onde (𝑎𝑝𝑞 ) = 𝛾𝑋 (𝑡)𝑋)
∑︁
𝑎
d 𝑡 ⃒𝑡 𝑖𝑗 ⃒
⃒ ⃒
𝑖,𝑗 𝜕𝑥 𝛾𝑋 (𝑡)
= (𝐸𝛾𝑋 (𝑡) )* 𝑋𝐼
= 𝑋𝛾𝑋 (𝑡)
Tomemos 𝑋 ∈ Lie(𝐺). Como 𝐺 é uma subvariedade mergulhada de Gl(𝑛, K) existe uma carta
suave (𝑉, 𝜓) de Gl(𝑛, K), com funções coordenadas (𝑥𝑖 ), tal que 𝐼 ∈ 𝑉 e
Como 𝛾𝑋
−1
(𝑉 ) é aberto 𝛾𝑋 (0) = 𝐼 ∈ 𝑉 , existe 𝜀 > 0 tal que (−𝜀, 𝜀) ⊂ 𝛾𝑋
−1
(𝑉 ). Desta forma, como
d ⃒⃒ ∑︁𝐺
dim
(︃ ⃒ )︃ ⃒
𝜕 ⃒⃒
(𝛾𝑋 )* ⃒ = 𝑋𝛾𝑋 (𝑡) = 𝑋𝛾𝑋 (𝑡) (𝑥𝑖 ) 𝑖 ⃒ ∈ T𝛾𝑋 (𝑡) 𝐺, 𝑡 ∈ (−𝜀, 𝜀),
d 𝑡 ⃒𝑡 𝑖=1 𝜕𝑥 ⃒𝑡
𝜕(𝑥𝑖 ∘ 𝛾𝑋 ) d ⃒⃒
(︃ ⃒ )︃
(𝑡) = (𝛾𝑋 )* ⃒ (𝑥𝑖 ) = 𝑋𝛾𝑋 (𝑡) (𝑥𝑖 ) = 0, 𝑡 ∈ (−𝜀, 𝜀),
𝜕𝑡 d 𝑡 ⃒𝑡
4
Com a identificação de Tℎ 𝐻, ℎ ∈ 𝐻, com 𝑖* Tℎ 𝐻 ⊂ Tℎ 𝐺.
50
para todo 𝑖 > dim 𝐺. Logo, do fato de que 𝑥𝑖 (𝛾𝑋 (0)) = 𝑥𝑖 (𝐼) = 0, para 𝑖 > dim 𝐺, devemos ter
que
𝛾𝑋 (−𝜀, 𝜀) ⊂ {𝑔 ∈ Gl(𝑛, K): 𝑥𝑖 (𝑔) = 0, para todo 𝑖 > dim 𝐺} = 𝐺 ∩ 𝑉.
Portanto, 𝑋 ∈ g.
Suponhamos que 𝑋 ∈ g. Desta forma, existe 𝜀 > 0 tal que 𝛾𝑋 (−𝜀, 𝜀) ⊂ Gl(𝑛, K). Logo, temos
uma função suave 𝛾𝑋 : (−𝜀, 𝜀) → 𝐺. Desta forma,
d ⃒⃒
(︃ ⃒ )︃
𝑋𝑒 = 𝑋𝛾𝑋 (0) = (𝛾𝑋 )* ∈ T𝐼 𝐺.
d 𝑡 ⃒0
⃒
Portanto, 𝑋 ∈ Lie(𝐺).
Exemplo 1.5.12 (so(𝑛, R)). Seja
so(𝑛, R) := {𝑋 ∈ gl(𝑛, R): 𝑋 + 𝑋 𝑇 = 0}.
Mostraremos que so(𝑛, R) é a algebra de Lie do grupo de Lie matricial
O(𝑛, R) := {𝐴 ∈ Gl(𝑛, R): 𝐴𝐴𝑇 = 𝐼}
Dado 𝑋 ∈ so(𝑛, R), pela Proposição 1.2.12, segue que
exp(𝑡𝑋) exp(𝑡𝑋)𝑇 = exp(𝑡𝑋) exp(𝑡𝑋 𝑇 ) = exp(𝑡𝑋 + 𝑡𝑋 𝑇 ) = exp(0) = 𝐼, 𝑡 ∈ R,
e, consequentemente, pela Proposição 1.5.11, 𝑋 ∈ Lie ( O(𝑛, R)). Se 𝑋 ∈ Lie ( O(𝑛, R)) então,
pela Proposição 1.5.11, existe 𝜀 > 0 tal que
exp(𝑡𝑋) ∈ O(𝑛, R), 𝑡 ∈ (−𝜀, 𝜀).
Logo, para 𝑋 ∈ Lie ( O(𝑛, R)),
)︂𝑇
𝜀 𝜀 𝜀 𝜀 𝜀
(︂ )︂ (︂ )︂ (︂ )︂ (︂ )︂ (︂
exp (𝑋 + 𝑋 𝑇 ) = exp 𝑋 exp 𝑋 𝑇 = exp 𝑋 exp 𝑋 =𝐼
2 2 2 2 2
e, consequentemente, 𝑋 + 𝑋 𝑇 = 0. Assim, 𝑋 ∈ so(𝑛, R) se 𝑋 ∈ Lie ( O(𝑛, R)).
Exemplo 1.5.13 (su(𝑛, C)). Seja
su(𝑛, C) = {𝑋 ∈ gl(𝑛, C): 𝑋 + 𝑋 * = 0 e tr(𝑋) = 0}.
Mostraremos que su(𝑛, C) é a álgebra de Lie do grupo de Lie matricial
SU(𝑛, C) = {𝐴 ∈ Gl(𝑛, C): 𝐴𝐴* = 𝐼 e det 𝐴 = 1}.
Pela Proposição 1.2.12,
exp(𝑋 + 𝑌 ) = exp(𝑋) exp(𝑌 ), exp(𝑋 * ) = exp(𝑋)* e det(exp(𝑋)) = 𝑒tr(𝑋) ,
para todos 𝑋 e 𝑌 ∈ gl(𝑛, C). Assim, um elemento 𝑋 ∈ gl(𝑛, C) satisfas 𝑋 + 𝑋 * = 0 se e
somente se exp(𝑋) exp(𝑋)* = 𝐼. E, um elemento 𝑋 ∈ gl(𝑛, C) satisfaz tr(𝑋) = 0 se e somente
se det(exp(𝑋)) = 1. Portanto, pela Proposição 1.5.11, su(𝑛, C) = Lie ( SU(𝑛, C)).
51
1.6 Álgebra Exterior em Variedades
Definição 1.6.1. Seja 𝑀 uma variedade suave. Em cada ponto 𝑝 ∈ 𝑀 , definimos o espaço
cotangente T*𝑝 𝑀 de 𝑀 em 𝑝 como sendo o espaço vetorial dual (T𝑝 𝑀 )* do espaço tangente T𝑝 𝑀
de 𝑀 em 𝑝. Os elementos de T*𝑝 𝑀 são chamados de covetores tangentes de 𝑀 em 𝑝.
Exemplo 1.6.2. Sejam (𝑈, 𝜙) uma carta suave na variedade suave 𝑀 , com funções coordenadas
𝑥1 , . . . , 𝑥𝑚 , e 𝑝 um ponto de 𝑈 . A base de T𝑝 𝑀 formada pelos vetores tangentes
⃒ ⃒
𝜕 ⃒⃒ 𝜕 ⃒⃒
, . . . , ⃒ ∈ T𝑝 𝑀
𝜕𝑥1 ⃒𝑝 𝜕𝑥𝑚 ⃒𝑝
⃒
descritos por ⎛ ⃒ ⎞
1, se 𝑖 = 𝑗;
{︃
𝜕 ⃒⃒ ⎠
d 𝑥𝑗𝑝 =
0, se 𝑖 =
⎝
𝜕𝑥𝑖 ⃒𝑝 ̸ 𝑗.
⃒
Proposição 1.6.3 (Regra da Cadeia). Sejam 𝑀 uma variedade suave e (𝑈, 𝜙) e (𝑉, 𝜓) cartas
suaves em 𝑀 tais que 𝑈 ∩ 𝑉 ̸= ∅. Se 𝑥1 , . . . , 𝑥𝑚 são as funções coordenadas (𝑈, 𝜙) e 𝑦 1 , . . . ,
𝑦 𝑚 são as funções coordenadas (𝑉, 𝜓) então, em cada 𝑝 ∈ 𝑈 ∩ 𝑉 , valem as igualdades
𝑚
𝜕𝑦 𝑗
d 𝑦𝑝𝑗 = (𝑝) d 𝑥𝑖𝑝 ,
∑︁
𝜕𝑥 𝑖
𝑖=1
onde
𝜕𝑦 𝑗 𝜕(𝑦 𝑗 ∘ 𝜙−1 )
(𝑝) = (𝜙(𝑝)).
𝜕𝑥𝑖 𝜕𝑥𝑖
Demonstração. Pela definição dos covetores tangentes d 𝑥𝑖 e d 𝑦 𝑗 , devemos ter que
⎛ ⃒ ⎞
𝑚
𝜕 ⃒⃒
d 𝑦𝑝𝑗 = d 𝑦𝑝𝑗 ⎝ 𝑖 ⃒ ⎠ d 𝑥𝑖𝑝 .
∑︁
𝑖=1 𝜕𝑥 ⃒𝑝
Por outro lado, pela Regra da Cadeia para vetores tangentes (Corolário 1.3.14),
𝑚
⃒ ⃒
𝜕 ⃒⃒ 𝜕𝑦 𝑗 𝜕 ⃒⃒
= (𝑝)
∑︁
𝜕𝑥𝑖 ⃒𝑝 𝑗=1 𝜕𝑥𝑖 𝜕𝑦 𝑗 ⃒𝑝
⃒ ⃒
e, consequentemente, ⎛ ⃒ ⎞
𝜕 ⃒⃒ 𝜕𝑦 𝑗
d 𝑦𝑗 ⎝ 𝑖 ⃒ ⎠ = (𝑝).
𝜕𝑥 ⃒𝑝 𝜕𝑥𝑖
Logo,
𝑚
𝜕𝑦 𝑗
d 𝑦𝑝𝑗 = (𝑝) d 𝑥𝑖𝑝 .
∑︁
𝑖
𝑖=1 𝜕𝑥
52
Definição 1.6.4. Seja 𝑀 uma variedade suave. O cojunto
T* 𝑀 = ⊔𝑝∈𝑀 T*𝑝 𝑀
𝜋(𝛼𝑝 ) = 𝑝, 𝛼𝑝 ∈ T*𝑝 𝑀,
𝑖=1 𝑖=1
O mapa Φ é uma bijeção. Com isso, podemos considerar uma topologia em 𝜋 −1 (𝑈 ) na qual Φ é
um homeomorfismo.
A topologia em T* 𝑀 é a topologia induzida pelos conjuntos 𝜋 −1 (𝑈 ), onde (𝑈, 𝜙) é uma carta
suave em 𝑀 . Isto é, os abertos de T* 𝑀 são os subconjuntos 𝒲 de T* 𝑀 tais que 𝒲 ∩ 𝜋 −1 (𝑈 ) é
um aberto de 𝜋 −1 (𝑈 ).
Dada uma carta suave (𝑈, 𝜙) em 𝑀 , prova-se que 𝜋 −1 (𝑈 ) é um aberto de T* 𝑀 e, além disso,
a topologia de 𝜋 −1 (𝑈 ) coincide com a topologia de 𝜋 −1 (𝑈 ) como subespaço de T* 𝑀 .
Por fim, o atlas de T* 𝑀 é o atlas maximal que contém as cartas (𝜋 −1 (𝑈 ), Φ), induzida por
cartas suaves (𝑈, 𝜙) em 𝑀 como acima.
O fato de 𝜋: 𝑇 * 𝑀 → 𝑀 ser suave segue de 𝜋1 ∘ Φ = 𝜙 ∘ 𝜋 , onde (𝑈, 𝜙) é uma carta suave
em 𝑀 , (𝜋 −1 (𝑈 ), Φ) a carta suave de T* 𝑀 induzida por (𝑈, 𝜙) como acima e 𝜋1 : 𝜙(𝑈 ) × R𝑚 é a
projeção na primeira coordenada.
Definição 1.6.5. Seja 𝑀 uma variedade suave. Para cada 𝑝 ∈ 𝑀 , definimos o espaço dos tensores
mistos do tipo (𝑘, 𝑙) de 𝑀 em 𝑝 pela igualdade
(︁ )︁ (︁ )︁
T(𝑘,𝑙)
𝑝 = ⊗𝑘𝑖=1 T𝑝 𝑀 ⊗ ⊗𝑙𝑗=1 T*𝑝 𝑀 .
53
Definição 1.6.7. Seja 𝑀 uma variedade suave. O conjunto
T(𝑙,𝑘) 𝑀 = ⊔𝑝∈𝑀 T(𝑘,𝑙)
𝑝 𝑀
para todo
𝑚
⃒ ⃒
𝜕 ⃒⃒ 𝜕 ⃒⃒
,...,𝑗𝑙 (𝑝)
𝜔𝑗𝑖11 ,...,𝑖 ⃒ ⊗ d 𝑥𝑗𝑝1 ⊗ . . . ⊗ d 𝑥𝑗𝑝𝑙 ∈ T𝑝 𝑀 ⊂ 𝜋 −1 (𝑈 ).
(𝑘,𝑙)
∑︁
𝑘
⊗ . . . ⊗
𝜕𝑥𝑖1 ⃒𝑝 𝜕𝑥𝑖𝑘 ⃒𝑝
⃒
𝑖1 ,...,𝑖𝑘 ,𝑗1 ,...,𝑗𝑙 =1
Dada uma variedade suave 𝑀 , é possível identificarmos naturalmente T(1,0) 𝑀 e T(1,0 𝑀 com
T 𝑀 e T* 𝑀 , respectivamente.
Definição 1.6.8. Um mapa 𝜔: 𝑀 → T(𝑘,𝑙) 𝑀 é uma seção do fibrado dos (𝑘, 𝑙)-tensores de uma
variedade sauve 𝑀 se e somente se 𝜔 ∘ 𝜋 = 𝐼𝑑.
Sejam 𝑀 uma variedade suave de dimensão 𝑚 e 𝜔: 𝑀 → T(𝑘,𝑙) 𝑀 uma seção do fibrado dos
(𝑘, 𝑙)-tensores de 𝑀 . Em uma carta suave (𝑈, 𝜙) de 𝑀 a seção 𝜔 deve ser dada por
𝑚
⃒ ⃒
𝜕 ⃒⃒ 𝜕 ⃒⃒
𝜔𝑝 = ,...,𝑗𝑙 (𝑝)
𝜔𝑗𝑖11 ,...,𝑖 ⃒ ⊗ d 𝑥𝑗𝑝1 ⊗ . . . ⊗ d 𝑥𝑗𝑝𝑙 ,
∑︁
𝑘
⊗ . . . ⊗
𝜕𝑥𝑖1 ⃒𝑝 𝜕𝑥𝑖𝑘 ⃒𝑝
⃒
𝑖1 ,...,𝑖𝑘 ,𝑗1 ,...,𝑗𝑙 =1
54
Definição 1.6.10. Seja 𝑀 uma variedade suave. Uma 𝑘-forma de 𝑀 em um ponto 𝑝 de 𝑀 é um
elemento do espaço vetorial 𝑘 T*𝑝 𝑀 .
⋀︀
Exemplo 1.6.11. Seja (𝑈, 𝜙) uma carta suave de uma variedade suave 𝑀 de dimensão 𝑚 e
funções coordenadas 𝑥1 , . . . , 𝑥𝑚 . Para cada 𝑝 ∈ 𝑈 , os 𝑘-tensores em 𝑝
𝑘
𝜋(𝜔𝑝 ) = 𝑝, T*𝑝 𝑀,
⋀︁
𝜔𝑝 ∈
das 𝑘-formas em uma variedade 𝑀 possue uma estrutura suave tal que a projeção 𝜋: 𝑘 T* 𝑀 → 𝑀
⋀︀
é um mapa suave.
Esta estrutura suave de 𝑇 * 𝑀 é dada pelas cartas suaves (𝜋 −1 (𝑈 ), Φ), onde (𝑈, 𝜙) é uma carta
⋀︀
⎛ ⎞
16𝑖1 <···<𝑖𝑘 6𝑚
para todo
𝑘
𝜔𝑖1 ,...,𝑖𝑘 (𝑝) d 𝑥𝑖𝑝1 d 𝑥𝑖𝑝𝑘 T*𝑝 𝑀 ⊂ 𝜋 −1 (𝑈 ).
∑︁ ⋀︁
∧ ... ∧ ∈
16𝑖1 <···<𝑖𝑘 6𝑚
variedade sauve 𝑀 se e somente se o 𝜔 ∘ 𝜋 = 𝐼𝑑. Se, além disso, 𝜔 é um mapa suave então
dizemos que 𝜔 é uma 𝑘-forma em 𝑀 . O conjunto das 𝑘-formas em 𝑀 é denotado por Ω𝑘 (𝑀 ).
Sejam 𝑀 uma variedade suave de dimensão 𝑚 e 𝜔: 𝑀 → 𝑘 T* 𝑀 uma seção do fibrado das
⋀︀
𝑘-formas de 𝑀 . Em uma carta suave (𝑈, 𝜙) de 𝑀 a seção 𝜔 deve ser dada por
16𝑖1 <···<𝑖𝑘 6𝑚
em cada 𝑝 ∈ 𝑈 , para funções 𝜔𝑖1 ,...,𝑖𝑘 : 𝑈 → R. As funções 𝜔𝑖1 ,...,𝑖𝑘 são chamadas de funções
coordenadas de 𝜔 na carta (𝑈, 𝜙).
Pela definição das cartas que definem o atlas de T* 𝑀 , temos o seguinte resultado:
⋀︀
55
Proposição 1.6.14. Sejam 𝑀 uma variedade suave e 𝜔: 𝑀 → T* 𝑀 uma seção do fibrado das
⋀︀
(𝛼 ∩ 𝛽)𝑝 = 𝛼𝑝 ∧ 𝛽𝑝 , 𝑝 ∈ 𝑀,
é uma 𝑘 + 𝑙-forma em 𝑀 .
Demonstração. Seja 𝑚 a dimensão de 𝑀 . Utilizaremos o resultado da Proposição 1.6.14 para
concluirmos que 𝛼 ∩ 𝛽 é suave.
Em um ponto 𝑝 contido em uma carta (𝑈, (𝑥𝑖 )) de 𝑀 ,
(𝛼 ∧ 𝛽)⎛
𝑝 ⎞ ⎛ ⎞
=⎝ 𝛼𝑖1 ,...,𝑖𝑘 (𝑝) d 𝑥𝑖𝑝1 ∧ . . . ∧ d 𝑥𝑖𝑝𝑘 ⎠ ∧ ⎝ 𝛽𝑖1 ,...,𝑖𝑘 (𝑝) d 𝑥𝑗𝑝1 ∧ . . . ∧ d 𝑥𝑗𝑝𝑙 ⎠
∑︁ ∑︁
16𝑖1 <···<𝑖𝑘 6𝑚
⎛ 16𝑗1 <···<𝑗𝑙 6𝑚 ⎞
= 𝑐𝑖1 ,...,𝑖𝑘 ,𝑗1 ,...,𝑗𝑙 𝛼𝑖1 ,...,𝑖𝑘 (𝑝)𝛽𝑖1 ,...,𝑖𝑘 (𝑝)⎠ d 𝑥𝑟𝑝1 ∧ . . . ∧ d 𝑥𝑟𝑝𝑘+𝑙 ,
∑︁ ∑︁
⎝
16𝑟1 <···<𝑟𝑘+𝑙 {𝑖1 ,...,𝑖𝑘 ,𝑗1 ,...,𝑗𝑙 }={𝑟1 ,...,𝑟𝑘+𝑙 }
onde 𝑐𝑖1 ,...,𝑖𝑘 ,𝑗1 ,...,𝑗𝑙 = ±1. Assim, as funções coordenadas de 𝛼 ∧ 𝛽 são suaves em (𝑈, (𝑥𝑖 )) uma vez
que as coordenas de 𝛼 e 𝛽 nesta mesma carta são suaves.
1.7 Orientabilidade
Seja 𝑉 um espaço vetorial real de dimensão finita 𝑛. Dizemos que duas bases ordenadas
(𝑣1 , . . . , 𝑣𝑛 ) e (𝑤1 , . . . , 𝑤𝑛 ) de 𝑉 tem a mesma orientação se o determinante
𝑛
det(𝑎𝑖𝑗 ), onde 𝑤𝑗 = 𝑎𝑖𝑗 𝑣𝑖 ,
∑︁
𝑗=1
for um número real positivo. Esta relação entre bases oredenas é uma relação de equivalência. Além
disso, o conjunto de todas as bases ordenadas de 𝑉 tem exatamente duas classes de equivalências.
Cada uma dessas classes é chamada de orientação de 𝑉 .
Dadas duas bases ordenadas (𝑣1 , . . . , 𝑣𝑛 ) e (𝑤1 , . . . , 𝑤𝑛 ) de 𝑉 temos que
𝑛
𝑤1 ∧ . . . ∧ 𝑤𝑛 = det(𝑎𝑖𝑗 )𝑣1 ∧ . . . ∧ 𝑣𝑛 , onde 𝑤𝑗 = 𝑎𝑖𝑗 𝑣𝑖 ,
∑︁
𝑗=1
e somente se
𝑤1 ∧ . . . ∧ 𝑤𝑛 = 𝜆𝑣1 ∧ . . . ∧ 𝑣𝑛
56
para algum número positivo 𝜆. Assim, um elemento não nulo 𝜔 de 𝑉 determina uma orientação
⋀︀𝑛
𝑣1 ∧ . . . ∧ 𝑣𝑛 = 𝜆𝜔,
Definição 1.7.1. Seja 𝑀 uma variedade de dimensão 𝑚. Dizemos que uma 𝑚-forma 𝜔 em 𝑀 é
uma orientação se 𝜔𝑝 ̸= 0 ∈ 𝑚 T*𝑝 𝑀 para todo 𝑝 ∈ 𝑀 . A variedade suave 𝑀 é dita orientável
⋀︀
se Ω𝑚 (𝑀 ) possuir uma orientação de 𝑀 . Um par (𝑀 ,𝜔) formado por uma variedade suave 𝑀 e
uma orientação 𝜔 de 𝑀 é chamado de variedade suave orientada.
Suponhamos que (𝑈, (𝑥𝑖 )) e (𝑉, (𝑦 𝑖 )) sejam cartas suaves de uma variedade suave 𝑀 de dimensão
𝑚. Pela Regra da Cadeia (Proposição 1.6.3), temos, nos pontos 𝑝 ∈ 𝑈 ∩ 𝑉 , que
𝑚
𝜕𝑦 𝑗
d 𝑦𝑝𝑗 = (𝑝) d 𝑥𝑖𝑝 ,
∑︁
𝜕𝑥 𝑖
𝑖=1
onde
𝜕𝑦 𝑗 𝜕(𝑦 𝑗 ∘ 𝜙−1 )
(𝑝) = (𝜙(𝑝)).
𝜕𝑥𝑖 𝜕𝑥𝑖
Logo, em cada 𝑝 ∈ 𝑈 ∩ 𝑉 ,
𝜕𝑦 𝑗
(︃ )︃
(d 𝑦 ∧ . . . ∧ d 𝑦 )𝑝 = det
1 𝑚
𝑖
(𝑝) (d 𝑥1 ∧ . . . ∧ d 𝑥𝑛 )𝑝 .
𝜕𝑥
Teorema 1.7.2. Seja 𝑀 uma variedade suave de dimensão 𝑚. As afirmações são equivalentes:
(ii) Existe uma família 𝒞 de cartas suaves de 𝑀 , tal que 𝑀 = ∪(𝑈,𝜙)∈𝒞 𝑈 e, para cada par de
cartas (𝑈, (𝑥𝑖 )) e (𝑉, (𝑦 𝑖 )),
𝜕𝑦 𝑗
(︃ )︃
det (𝑝) > 0, 𝑝∈𝑈 ∩𝑉;
𝜕𝑥𝑖
(iii) Existe um difeomorfismo 𝐹 : 𝑀 × R → T* 𝑀 tal que 𝐹 (𝑝, 𝑡) ∈ T*𝑝 𝑀 para todo (𝑝, 𝑡) ∈
⋀︀𝑚 ⋀︀𝑚
𝑀 × R.
57
Demonstração.
(i)⇒(ii)
𝑀 = ∪(𝑈,𝜙)∈𝒞 ′ 𝑈 .
Suponhamos que (𝑈, 𝜙) ∈ 𝒞 ′ tenha com funções coordenadas 𝑥1 ,. . . ,𝑥𝑚 . Como 𝜔 é uma 𝑚-
forma que não se anula, a função coordenada 𝜆: 𝑈 → R de 𝜔 na carta (𝑈, 𝜙) é suave e não se anula
pois
𝜔𝑝 = 𝜆(𝑝)(d 𝑥1 ∧ . . . ∧ d 𝑥𝑛 )𝑝 , 𝑝 ∈ 𝑈.
Logo, a função 𝜆 é estritamente positiva ou estritamente negativa. Tomando 𝑇 : R𝑚 → R𝑚 como
sendo a transformação linear dada por
temos que (𝑈, 𝑇 ∘ 𝜙) é uma carta suave em 𝑀 com funções coordenadas 𝑦 1 = −𝑥1 , 𝑦 2 = 𝑥2 , . . . ,
𝑦 𝑚 = 𝑥𝑚 . Assim, para todo 𝑝 ∈ 𝑈 ,
𝜔𝑝 = 𝜆(𝑝)(d 𝑥1 ∧ . . . ∧ d 𝑥𝑚 )𝑝 = −𝜆(𝑝)(d 𝑦 1 ∧ . . . ∧ d 𝑦 𝑚 )𝑝
e, consequentemente, −𝜆 é a função coordenda de 𝜔 na carta suave (𝑈, 𝑇 ∘ 𝜙). Com isso, podemos
concluir que existe uma carta suave (𝑈, 𝜓) de 𝑀 tal que a função coordenada de 𝜔 nesta carta é
estritamente positiva.
Pela conclusão acima, deve existir uma família 𝒞 de cartas suaves em 𝑀 nas quais as funções
coordenada de 𝜔 são estritamente positivas e 𝑀 = ∪(𝑈,𝜙)∈𝒞 𝑈 .
Desta forma, dadas cartas (𝑈, (𝑥𝑖 )) e (𝑉, (𝑦 𝑖 )) ∈ 𝒞, devemos ter que
𝜆(𝑝)(d 𝑥1 ∧ . . . ∧ d 𝑥𝑚 )𝑝 = 𝜔𝑝 = 𝜇(𝑝)(d 𝑦 1 ∧ . . . ∧ d 𝑦 𝑚 )𝑝 , 𝑝 ∈ 𝑈 ∩ 𝑉,
𝜕𝑦 𝑗
(︃ )︃
𝜆(𝑝)
(d 𝑥1 ∧ . . . ∧ d 𝑥𝑚 )𝑝 = (d 𝑦 1 ∧ . . . ∧ d 𝑦 𝑚 )𝑝 = det (𝑝) (d 𝑥1 ∧ . . . ∧ d 𝑥𝑛 )𝑝 , 𝑝 ∈ 𝑈 ∩ 𝑉,
𝜇(𝑝) 𝜕𝑥𝑖
e, consequentemente,
𝜕𝑦 𝑗
(︃ )︃
𝜆(𝑝)
det (𝑝) = > 0, 𝑝 ∈ 𝑈 ∩ 𝑉.
𝜕𝑥𝑖 𝜇(𝑝)
(ii)⇒(i)
Suponhamos que 𝒞 = {(𝑈𝜆 , 𝜙𝜆 )}𝜆∈Λ seja uma família de cartas suaves em 𝑀 com as proprie-
dades do item (ii).
Como 𝒰 = {𝑈𝜆 }𝜆∈Λ é uma cobertura aberta de 𝑀 , podemos considerar uma partição da
unidade suave {𝜑𝜆 }𝜆∈Λ subordinada à 𝒰.
58
Mostraremos que a igualdade
𝜔= 𝜑𝜆 d 𝑥1 ∧ . . . ∧ d 𝑥𝑚
∑︁
𝜔𝑞 = (𝜑𝜆1 d 𝑥11 ∧ . . . ∧ d 𝑥𝑚
1 )𝑞 + · · · + (𝜑𝜆𝑘 d 𝑥𝑘 ∧ . . . ∧ d 𝑥𝑘 )𝑞 ,
1 𝑚
𝑞 ∈ 𝑉,
𝑗 são as funções coordenadas de (𝑈𝜆𝑗 , 𝜙𝜆𝑗 ). Segue daí que 𝜔 é bem definido e suave
onde 𝑥1𝑗 , . . . , 𝑥𝑚
em 𝑉 . De onde conclui-se que 𝜔 é bem definido e suave em 𝑀 .
Por fim, mostraremos que 𝜔𝑝 ̸= 0 para todo 𝑝 ∈ 𝑀 . Fixemos 𝑝 ∈ 𝑀 . Devemos ter que
𝜑𝜆 (𝑝) ̸= 0 somente para 𝜆 = 𝜆 = 𝜆1 , 𝜆2 , . . . , 𝜆𝑘 ∈ Λ. Como supp 𝜑𝜆 ⊂ 𝑈𝜆 , devemos ter que
𝑝 ∈ 𝑈𝜆1 ∩ . . . ∩ 𝑈𝜆𝑘 . Assim,
𝜕𝑥𝑗2 𝜕𝑥𝑗𝑘
(︃ )︃ (︃ )︃
𝜑𝜆1 (𝑝) + 𝜑𝜆2 (𝑝) det (𝑝) + · · · + 𝜑𝜆𝑘 (𝑝) det (𝑝) > 0.
𝜕𝑥𝑖1 𝜕𝑥𝑖1
(i)⇒(iii)
𝑚
𝐹 −1 (𝑡𝜔𝑝 ) = (𝑝, 𝜆), T*𝑝 𝑀.
⋀︁
𝑡𝜔𝑝 ∈
59
Seja (𝑈, 𝜙) uma carta suave em 𝑀 com funções coordenadas 𝑥1 , . . . , 𝑥𝑚 . Esta carta induz
cartas suaves (𝜋 −1 (𝑈 ), Φ) em 𝑚 T* 𝑀 e (𝑈 × R, 𝜙 × 1), onde
⋀︀
𝑚
Φ(𝑠(d 𝑥1 ∧ . . . ∧ d 𝑥𝑛 )𝑝 ) = (𝜙(𝑝), 𝑠), 𝑠(d 𝑥1 ∧ . . . ∧ d 𝑥𝑛 )𝑝 ∈ T*𝑝 𝑀.
⋀︁
Seja 𝜆: 𝑈 → R a função coordenada de 𝜔 na carta (𝑈, 𝜙). Como 𝜔 é suave e não se anula temos
que 𝜆 é uma função suave que não se anula. Assim, para todo (𝜙(𝑝), 𝑠) ∈ 𝜙(𝑈 ) × R, temos que
(︃ )︃
𝑠
(𝜙 × 1) ∘ 𝐹 −1
∘ Φ (𝜙(𝑝), 𝑠) = (𝜙 × 1) ∘ 𝐹
−1 −1
(𝑠(d 𝑥 ∧ . . . ∧ d 𝑥 )𝑝 ) = (𝜙 × 1) ∘ 𝐹
1 𝑛 −1
𝜔𝑝
(︃ )︃ (︃ )︃ 𝜆(𝑝)
𝑠 𝑠
= (𝜙 × 1) 𝑝, = 𝜙(𝑝), .
𝜆(𝑝) 𝜆(𝑝)
Logo, (𝜙 × 1) ∘ 𝐹 −1 ∘ Φ−1 é um difeomorfismo.
Com isso, concluímos que 𝐹 é um difeomorfismo.
(iii)⇒(i)
igualdade
𝜔𝑝 = 𝐹 (𝑝, 1), 𝑝 ∈ 𝑀.
Uma variedade suave orientada (𝑀, 𝜔) tem uma orientação em cada T𝑝 𝑀 , 𝑝 ∈ 𝑀 , definida
por 𝜔. De fato, as bases ((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) de T𝑝 𝑀 tais que 𝜔𝑝 ((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) > 0 formam
uma orientação de 𝑀 . Podemos verificar este fato mostrando que se ((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) é uma base
ordenada de 𝑇𝑝 𝑀 tal que 𝜔𝑝 ((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) > 0 então uma base ordenada ((𝐸1′ )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚
′
)𝑝 ) de
T𝑝 𝑀 pertence à mesma orientação que ((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) se e somente se 𝜔𝑝 ((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) >
′ ′
0. Seja ((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) uma base ordenada de T𝑝 𝑀 tal que 𝜔𝑝 ((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) > 0. Como
dim 𝑚 T*𝑝 𝑀 = 1, devemos ter, para algum 𝜆 > 0, que
⋀︀
𝜔𝑝 = 𝜆(𝐸1* )𝑝 ∧ . . . ∧ (𝐸𝑚
*
)𝑝 ,
onde ((𝐸1* )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚
*
)𝑝 ) é a base ordenada de T*𝑝 𝑀 dual a ((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ). Assim, se ((𝐸1′ )𝑝 ,
. . . ,(𝐸𝑚
′
)𝑝 ) é outra base ordenada de T𝑝 𝑀 , com
𝑚
(𝐸𝑗′ )𝑝 = 𝑎𝑖𝑗 (𝐸𝑖 )𝑝 ,
∑︁
𝑖=1
então
𝜔𝑝 ((𝐸1′ )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚
′
)𝑝 ) = 𝜆(𝐸1* )𝑝 ∧ . . . ∧ (𝐸𝑚
*
)𝑝 ((𝐸1′ )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚
′
)𝑝 ) = 𝜆 det(𝑎𝑖𝑗 ).
Logo, ((𝐸1′ )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚
′
)𝑝 ) pertence à mesma orientação que ((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) se e somente 𝜔𝑝 ((𝐸1′ )𝑝 ,
. . . , (𝐸𝑚
′
)𝑝 ) > 0.
Definição 1.7.3. Se (𝑀, 𝜔) é uma variedade suave orientada, dizemos que uma base ordenada
((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) de T𝑝 𝑀 é uma base orientada se e somente se
𝜔𝑝 ((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) > 0.
60
1.8 Variedades Riemannianas
Definição 1.8.1. Uma métrica Riemanniana 𝑔 em uma variedade suave 𝑀 é uma seção suave
de T(0,2) 𝑀 tal que 𝑔𝑝 ∈ T(0,2)
𝑝 𝑀 = T*𝑝 ⊗ T*𝑝 𝑀 é um produto interno em T*𝑝 𝑀 para cada 𝑝 ∈
𝑀 . Quando 𝑔 é uma métrica Riemanniana em 𝑀 , dizemos que o par (𝑀, 𝑔) é uma variedade
Riemanniana.
Exemplo 1.8.2. Seja 𝑈 um subespaço aberto de R𝑛 . Podemos definir uma métrica Riemanniana
𝑛
𝑔= d 𝑥𝑖 ⊗ d 𝑥𝑖
∑︁
𝑖=1
em 𝑈 . De fato, 𝑔 é suave pois suas funções coordenadas na carta (𝑈, 1R𝑛 ) são as funções constantes
igual a 1. Além disso, em cada 𝑥 ∈ 𝑈 ,
⃒ ⃒
𝜕 ⃒⃒ 𝜕 ⃒⃒
, . . . ,
𝜕𝑥1 ⃒𝑥 𝜕𝑥𝑛 ⃒𝑥
⃒ ⃒
𝑖=1
Consideremos uma partição da unidade suave {𝜑𝜆 }𝜆∈Λ em 𝑀 subordinada à cobertura aberta
{𝑈𝜆 }𝜆∈Λ .
Para cada 𝜆 ∈ Λ, podemos definir uma seção 𝜑𝜆 𝑔 𝜆 de T(0,2) 𝑀 dada por
𝜑(𝑝)𝑔𝑝𝜆 , 𝑝 ∈ 𝑈𝜆 ;
{︃
(𝜑𝜆 𝑔 )𝑝 =
𝜆
0, 𝑝 ∈ 𝑀 ∖𝑈𝜆 .
𝑔= 𝜑𝜆 𝑔 𝜆 .
∑︁
𝜆∈Λ
61
Suponhamos que 𝑝 ∈ 𝑀 e 𝜆1 , . . . , 𝜆𝑘 são os elementos 𝜆 ∈ Λ tais que 𝜑𝜆 (𝑝) ̸= 0. Como 𝑔𝑝𝜆𝑖 é
um produto interno em T𝑝 𝑀 e 𝜑𝜆𝑖 (𝑝) > 0, segue que 𝜑𝜆𝑖 (𝑝)𝑔𝑝𝜆𝑖 é também um produto interno em
T𝑝 𝑀 . Assim,
𝑔𝑝 = 𝜑𝜆1 (𝑝)𝑔𝑝𝜆1 + · · · + 𝜑𝜆𝑘 (𝑝)𝑔𝑝𝜆𝑘 ,
Logo,
𝑔|𝑉 = (𝜑𝜆1 𝑔 𝜆1 + · · · + 𝜑𝜆𝑘 𝑔 𝜆𝑘 )|𝑉 .
Ou seja, 𝑔 coincide em 𝑉 com uma soma se seções suaves de T(0,2) 𝑀 . Então, 𝑔 é suave em 𝑉 .
Portanto, (𝑀, 𝑔) é uma variedade Riemanniana.
Definição 1.8.3. Seja (𝑈, (𝑥𝑖 )) uma carta suave em uma variedade Riemanniana (𝑀, 𝑔). Sejam
𝑔𝑖𝑗 ∈ 𝐶 ∞ (𝑈 ) as funções coordenadas de 𝑔 na carta (𝑈, (𝑥𝑖 )), isto é, as funções suaves dadas pela
igualdade
𝑚
𝑔|𝑈 = 𝑔𝑖𝑗 d 𝑥𝑖 ⊗ d 𝑥𝑗 .
∑︁
𝑖,𝑗=1
𝐺 = (𝑔𝑖𝑗 )
Consideremos duas cartas suaves (𝑈, (𝑥𝑖 )) e (𝑉, (𝑦 𝑖 )) em uma variedade Riemanniana (𝑀, 𝑔) de
dimensão 𝑚 e suas respectivas matrizes 𝐺𝑈 = (𝑔𝑖𝑗 ) e 𝐺𝑉 = (˜ 𝑔𝑖𝑗 ) da métrica 𝑔. Suponhamos que
𝑈 ∩ 𝑉 ̸= ∅. Pela Regra da Cadeia (Proposição 1.6.3),
𝑚
𝜕𝑦 𝑗
d 𝑦𝑗 = d 𝑥𝑖 ,
∑︁
𝜕𝑥 𝑖
𝑖=1
𝜕𝑦 𝑗
onde é a função suave em 𝑈 ∩ 𝑉 dada por
𝜕𝑥𝑖
𝜕𝑦 𝑗 𝜕(𝑦 𝑗 ∘ 𝜙−1 )
(𝑝) = (𝜙(𝑝)), 𝜙 = (𝑥𝑖 ) e 𝑝 ∈ 𝑈 ∩ 𝑉.
𝜕𝑥𝑖 𝜕𝑥𝑖
62
Logo, ⎛ ⃒ ⃒ ⎞
𝜕 ⃒ 𝜕 ⃒
𝑔˜𝑖𝑗 (𝑝) = 𝑔𝑝 ⎝ 𝑖 ⃒⃒ , 𝑗 ⃒⃒ ⎠
𝜕𝑦 ⃒𝑝 𝜕𝑦 ⃒𝑝
⎛ ⎛ ⃒ ⎞⎞ ⎛ ⎛ ⃒ ⎞⎞
𝑚
𝜕 ⃒⃒ 𝜕 ⃒⃒
= 𝑔𝑘𝑙 (𝑝) ⎝d 𝑥𝑘𝑝 ⎝ 𝑖 ⃒ ⎠⎠ ⎝d 𝑥𝑙𝑝 ⎝ 𝑗 ⃒ ⎠⎠
∑︁
𝑘,𝑙=1 𝜕𝑦 ⃒𝑝 𝜕𝑦 ⃒𝑝
𝑚
𝜕𝑥𝑘 𝜕𝑥𝑙
(︃ )︃ (︃ )︃
= 𝑔𝑘𝑙 (𝑝) (𝑝) (𝑝)
∑︁
𝑘,𝑙=1 𝜕𝑦 𝑖 𝜕𝑦 𝑗
𝑚
(︃ 𝑚
𝜕𝑥𝑘 𝜕𝑥𝑙
)︃
= (𝑝) 𝑔𝑘𝑙 (𝑝) 𝑗 (𝑝) ,
∑︁ ∑︁
𝑖
𝑘=1 𝜕𝑦 𝑙=1 𝜕𝑦
para todo 𝑝 ∈ 𝑈 ∩ 𝑉 . Assim, para todo 𝑝 ∈ 𝑈 ∩ 𝑉 ,
𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑖
(︃ )︃ (︃ )︃
𝐺𝑉 (𝑝) = (˜
𝑔𝑖𝑗 (𝑝)) = 𝑖
(𝑝) (𝑔𝑖𝑗 (𝑝)) 𝑗
(𝑝) = 𝐽(𝑝)𝑇 𝐺𝑈 (𝑝)𝐽(𝑝),
𝜕𝑦 𝜕𝑦
(︁ )︁
𝜕𝑥𝑖
onde 𝐽(𝑝) = 𝜕𝑦 𝑗
(𝑝) . Portanto,
𝐺𝑉 = 𝐽 𝑇 𝐺𝑈 𝐽. (1.8.1)
Proposição 1.8.4. Seja (𝑀, 𝑔) uma variedade Riemanniana orientável de dimensão 𝑚. Existe
uma orientação d 𝑉 de 𝑀 tal que, considerando a variedade orientada (𝑀, d 𝑉 ), a igualdade
d 𝑉𝑝 = (𝐸 1 )𝑝 ∧ . . . ∧ (𝐸 𝑚 )𝑝
vale para toda base ordenada ((𝐸 1 )𝑝 , . . . , (𝐸 𝑚 )𝑝 ) de T*𝑝 𝑀 dual à uma base ortonormal e orientada
de (T𝑝 𝑀, 𝑔𝑝 ).
Observação 1.8.5. A 𝑚-forma d 𝑉 como na Proposição 1.8.4 é única a menos de sinal. Ou seja,
se (𝑀, 𝜔) é uma variedade orientada com uma métrica Riemanniana 𝑔, existe uma única 𝑚-forma
d 𝑉 tal que
d 𝑉𝑝 ((𝐸1 ), . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) = 1
para toda base ((𝐸1 ), . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) ortonormal e orientada (isto é 𝜔((𝐸1 ), . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) > 0) de (T𝑝 𝑀, 𝑔𝑝 ).
Definição 1.8.6. Seja 𝑀 uma variedade suave munida de uma métrica Riemanniana 𝑔 e uma
orientação 𝜔. A 𝑚-forma d 𝑉 que satisfaz a igualdade
d 𝑉𝑝 ((𝐸1 ), . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) = 1
para toda base ordenada ((𝐸1 ), . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) ortonormal e orientada de (T𝑝 𝑀, 𝑔𝑝 ), é chamada de
forma volume de 𝑀 .
da Proposição 1.8.4. Pelo Teorema 1.7.2, existe uma família 𝒞 de cartas suaves de 𝑀 , tal que
𝑀 = ∪(𝑈,𝜙)∈𝒞 𝑈 e, para cada par de cartas (𝑈, (𝑥𝑖 )) e (𝑉, (𝑦 𝑖 )), vale
63
onde 𝑝 ∈ 𝑈 ∩ 𝑉 e
𝜕𝑥𝑖
(︃ )︃
𝐽(𝑝) = (𝑝)
𝜕𝑦 𝑗
Seja (𝑈, (𝑥𝑖 )) ∈ 𝒞 e 𝐺 sua matriz de 𝑔. Mostraremos que d 𝑉 fica bem definida em 𝑈 pela
igualdade √︁
d 𝑉𝑝 = det 𝐺(𝑝)(d 𝑥1 ∧ . . . ∧ d 𝑥𝑚 )𝑝 , 𝑝 ∈ 𝑈. (1.8.2)
Primeiramente, observemos que como 𝐺(𝑝) é a matriz√︁de um produto interno, o determinante
det(𝐺(𝑝)) é um número positivo. Logo, o coeficiente det 𝐺(𝑝) na equação (1.8.2) está bem
definido.
Sejam (𝑈, (𝑥𝑖 )) e (𝑉, (𝑦 𝑖 )) cartas suaves da família 𝒞, com 𝑈 ∩ 𝑉 ̸= ∅, e 𝐺𝑈 e 𝐺𝑉 as matrizes
de 𝑔 nestas cartas. Pela equação 1.8.1, temos que
√︁
𝐺𝑉 (𝑝) = sqrt 𝐽(𝑝)𝑇 𝐺𝑈 (𝑝)𝐽(𝑝) = GU (p) det 𝐽(𝑝).
Logo, d 𝑉 está bem definido pela equação (1.8.2). Além disso, ele é suave em toda carta suave
de 𝑀 pertencente a 𝒞. Portanto, d 𝑉 é uma 𝑚-forma.
Sejam ((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) uma base ordenada ortonormal e orientada de (T𝑝 𝑀, 𝑔𝑝 ), ((𝐸 1 )𝑝 , . . . , (𝐸 𝑚 )𝑝 )
a base dual em 𝑇𝑝* 𝑀 e (𝑈, (𝑥𝑖 )) uma carta suave de 𝑀 pertencente à 𝒞 tal que 𝑝 ∈ 𝑈 e com matrix
de 𝑔 dada por 𝐺. Como ((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) é uma base orientada em do espaço tangente T𝑝 𝑀 de
𝑝 em (𝑀, d 𝑉 ), temos que
d 𝑉 ((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) > 0.
E, sendo ((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) uma base ortogonal de (T𝑝 𝑀, 𝑔𝑝 ), a matriz 𝐴 = (𝑎𝑖𝑗 ), dada pelas
igualdades
𝑚
⃒
𝑖𝑗 𝜕 ⃒
⃒
𝐸𝑗 =
∑︁
𝑎 ⃒ ,
𝑖=1 𝜕𝑥𝑖 ⃒𝑝
é tal que
𝐴𝑇 𝐺(𝑝)𝐴 = 𝐼.
Assim, denotando por 𝛿 o número real det(𝐴)/|det(𝐴)|, temos que
√︁
d 𝑉𝑝 ((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) = det 𝐺(𝑝)(d 𝑥1 ∧ . . . ∧ d 𝑥𝑚 )𝑝 ((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 )
√︁
= det 𝐺(𝑝) det(𝐴)
√︁ √︁
= det 𝐺(𝑝)𝛿 det(𝐴)2
√︁
= 𝛿 det(𝐴𝑇 ) det(𝐺(𝑝)) det(𝐴)
√︁
= 𝛿 det(𝐴𝑇 𝐺(𝑝)𝐴)
= 𝛿.
64
Então, sendo d 𝑉 ((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) > 0 e 𝛿 = ±1, devemos ter que
d 𝑉𝑝 ((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) = 1
e, consequentemente,
d 𝑉𝑝 = (𝐸 1 )𝑝 ∧ . . . ∧ (𝐸 𝑚 )𝑝 .
Definição 1.8.7. Seja 𝑈 um aberto de uma variedade Riemanniana (𝑀, 𝑔) de dimensão 𝑚. Da-
dos campos vetoriais 𝐸1 , . . . , 𝐸𝑚 em 𝑈 tais que ((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) é uma base ortonormal de
(T𝑝 , 𝑔𝑝 ), dizemos que (𝐸1 , . . . , 𝐸𝑚 ) é um referencial local ortonormal em 𝑈 . Se (𝑀, 𝑔) for orien-
tada pela forma volume d 𝑉 , um referencial local ortonormal (𝐸1 , . . . , 𝐸𝑚 ) em 𝑈 é dito orientado
se ((𝐸1 )𝑝 , . . . , (𝐸𝑚 )𝑝 ) é uma base orientada de (T𝑝 , 𝑔𝑝 ).
Seja (𝑀, 𝑔, d 𝑉 ) uma variedade Riemanniana orientada. Dada uma carta suave (𝑈, (𝑥𝑖 )) em 𝑀 ,
existe um referencial ortonormal orientado (𝐸1 , . . . , 𝐸𝑚 ) em 𝑈 . De fato, podemos contruir campos
vetoriais 𝐸1′ , . . . , 𝐸𝑚
′
em 𝑈 definindo (pelo método de Gram-Schimidt),
𝑗−1 (︃ )︃
𝜕 𝜕
𝐸𝑗 =
′
𝑔 𝐸𝑖′ , 𝑗 𝐸𝑖′ .
∑︁
𝑗
−
𝜕𝑥 𝑖=1 𝜕𝑥
e
𝛽𝑝 = 𝛽1 (𝑝) d 𝑥1𝑝 + · · · + 𝛽𝑚 (𝑝) d 𝑥𝑚
𝑝 .
𝛽1 (𝑝)
⎛ ⎞
..
(︁ )︁
⟨𝛼, 𝛽⟩(𝑝) = 𝛼1 (𝑝) . . . 𝛼𝑚 (𝑝) 𝐺(𝑝) ⎜
⎜ ⎟
⎝ . ⎟,
⎠ 𝑝 ∈ 𝑈.
𝛽𝑚 (𝑝)
65
As funções ⟨𝛼, 𝛽⟩ definidas acimas são induzidas por produtos internos nos espaços cotangentes
𝑇𝑝* 𝑀 de 𝑀 em 𝑝 ∈ 𝑀 . De fato, podemos definir ⟨·, ·⟩𝑝 : T*𝑝 𝑀 → R por
𝛼𝑝 = 𝑔𝑝 (·, 𝑋𝑝 ) e 𝛽𝑝 = 𝑔𝑝 (·, 𝑌𝑝 ).
para todo 𝑝 ∈ 𝑀 .
Se 𝛼 e 𝛽 𝑘-formas em 𝑀 decomponíveis, isto é, 𝛼 = 𝛼1 ∧ . . . ∧ 𝛼𝑘 e 𝛽 = 𝛽 1 ∧ . . . ∧ 𝛽 𝑘 , para
1-formas 𝛼1 , . . . , 𝛼𝑘 , 𝛽 1 , . . . , 𝛽 𝑘 em 𝑀 , então podemos definir uma função suave ⟩𝛼, 𝛽⟨∈ 𝐶 ∞ (𝑀 )
por
⟨𝛼, 𝛽⟩(𝑝) = det (⟨𝛼𝑖 , 𝛽𝑗 ⟩(𝑝)), 𝑝 ∈ 𝑀.
Construiremos isomorfismos lineares *: Ω𝑘 (𝑀 ) → Ω𝑚−𝑘 (𝑀 ) tal que, dadas 𝑘-formas 𝛼 = 𝛼1 ∧
. . . ∧ 𝛼𝑘 e 𝛽 = 𝛽 1 ∧ . . . ∧ 𝛽 𝑘 em 𝑀 , 𝛼𝑖 e 𝛽 𝑖 ∈ Ω1 (𝑀 ), vale a igualdade
para quaisquer 𝑣1 , . . . , 𝑣𝑘 , 𝑤1 , . . . , 𝑤𝑘 ∈ 𝑉 .
O lema acima pode ser demonstrado tomando-se
onde sgn(𝑖) é o sinal da permutação 𝑖: {1, . . . , 𝑚} → {1, . . . , 𝑚} dada por 𝑖(𝑙) = 𝑖𝑙 , 1 6 𝑖1 < · · · <
𝑖𝑘 6 𝑚 e 1 6 𝑖𝑘+1 < · · · < 𝑖𝑚 6 𝑚. A unicidade segue diretamente da equação (1.9.2).
Usando o produto interno ⟨·, ·⟩𝑝 em T*𝑝 𝑀 definido acima, podemos definir o operador estrela
de Hodge *: 𝑘 T*𝑝 𝑀 → 𝑚−𝑘 𝑇𝑝* 𝑀 , satisfazendo (pela Proposição 1.8.4) a equação
⋀︀ ⋀︀
(*𝛼)𝑝 = *𝛼𝑝 .
66
Proposição 1.9.2 (Propriedades do Operador Estrela de Hodge). (i) Se 𝐸 1 , . . . , 𝐸 𝑚 são 1-
formas tais que (𝐸𝑝1 , . . . , 𝐸𝑝𝑚 ) é a base dual de uma base ortogonal orientada de T𝑝 𝑀 então
*𝐸 1 ∧ . . . ∧ 𝐸 𝑘 = 𝐸 𝑘+1 ∧ . . . ∧ 𝐸 𝑚 ;
(ii) * d 𝑉 = 1 ∈ Ω0 (𝑀 );
(iii) *1 = d 𝑉 ;
(iv) * ∘ * = (−1)𝑘(𝑚−𝑘) : Ω𝑘 (𝑀 ) → Ω𝑘 (𝑀 ).
Demonstração.
(i)
(ii)
Seja (𝐸𝑝1 , . . . , 𝐸𝑝𝑚 ) uma base de T*𝑝 𝑀 dual a uma base ortonormal e ordenada de T𝑝 𝑀 . Pela
Proposição 1.8.4,
d 𝑉𝑝 = 𝐸𝑝1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑚 .
Assim,
d 𝑉𝑝 ∧ * d 𝑉𝑝 = (𝐸𝑝1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑚 ) ∧ *(𝐸𝑝1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑚 ) = 𝐸𝑝1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑚 = d 𝑉𝑝
e, consequentemente,
d 𝑉𝑝 = 1.
(iii)
(iv)
Seja (𝐸𝑝1 , . . . , 𝐸𝑝𝑚 ) uma base de T*𝑝 𝑀 dual a uma base ortonormal e ordenada de T𝑝 𝑀 . Mos-
traremos, para 𝑝 ∈ 𝑀 e 1 6 𝑖1 < · · · < 𝑖𝑘 6 𝑚, que
67
Desta forma, concluiremos que *∘*: 𝑘 T*𝑝 𝑀 → 𝑘 T*𝑝 𝑀 é igual à (−1)𝑘(𝑚−𝑘) . Logo, *∘*: Ω𝑘 (𝑀 ) →
⋀︀ ⋀︀
Ω𝑘 (𝑀 ) é (−1)𝑘(𝑚−𝑘) .
Consideremos a permutação 𝑖: {1, . . . , 𝑚} → {1, . . . , 𝑚} tal que 1 6 𝑖1 < · · · < 𝑖𝑘 6 𝑚 e
1 6 𝑖𝑘+1 < · · · < 𝑖𝑚 6 𝑚.
Pela equação (1.9.1),
(𝐸𝑝𝑖𝑘+1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑖𝑚 ) ∧ (*𝐸𝑝𝑖𝑘+1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑖𝑚 ) = 𝐸𝑝1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑚 .
Logo,
*𝐸𝑝𝑖𝑘+1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑖𝑚 = 𝜆𝐸𝑝𝑖1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑖𝑘 ,
para algum 𝜆 ∈ R.
Assim,
𝐸𝑝1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑚 = (𝐸𝑝𝑖𝑘+1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑖𝑚 ) ∧ (*𝐸𝑝𝑖𝑘+1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑖𝑚 )
= 𝜆𝐸𝑝𝑖𝑘+1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑖𝑚 ∧ 𝐸𝑝𝑖1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑖𝑘
= 𝜆𝐸𝑝𝑖1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑖𝑘 ∧ 𝐸𝑝𝑖𝑘+1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑖𝑚
= 𝜆(−1)𝑘(𝑚−𝑘) sgn(𝑖)𝐸𝑝1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑚 .
Desta forma, 𝜆 = (−1)𝑘(𝑚−𝑘) sgn(𝑖) e, consequentemente,
*𝐸𝑝𝑖𝑘+1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑖𝑚 = (−1)𝑘(𝑚−𝑘) sgn(𝑖)𝐸𝑝𝑖1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑖𝑘 .
Por fim,
* * 𝐸𝑝𝑖1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑖𝑘 = sgn(𝑖) * 𝐸𝑝𝑖𝑘+1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑖𝑚
= sgn(𝑖)(−1)𝑘(𝑚−𝑘) sgn(𝑖)𝐸𝑝𝑖1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑖𝑘
= (−1)𝑘(𝑚−𝑘) 𝐸𝑝𝑖1 ∧ . . . ∧ 𝐸𝑝𝑖𝑘 .
68
Capítulo 2
É imediato da definição que se 𝑉 admite uma estrutura complexa 𝐽, então 𝑉 tem dimensão
par. Com efeito:
0 < (det 𝐽)2 = det(𝐽 2 ) = det(𝐼𝑑) = (−1)dimR 𝑉 ,
donde conclui-se que dimR 𝑉 = 2𝑛, para algum 𝑛 ∈ N.
Isto é, 𝐽0𝑛 é o operador linear em R2𝑛 cuja matriz na base canônica é dada por
(︃ )︃
0 𝐼𝑑
[𝐽0𝑛 ] =
𝐼𝑑 0
69
A razão para a terminologia da definição anterior reside na seguinte observação. Se 𝑉 admite
uma estrutura complexa 𝐽, então podemos definir a seguinte multiplicação por escalares complexos
em 𝑉 :
C×𝑉 → 𝑉
(𝑎 + i𝑏, 𝑣) ↦→ 𝑎𝑣 + 𝑏𝐽𝑣
É claro que um operador linear em 𝑉 cujo quadrado é −𝐼𝑑 não possui autovalores reais. No
entando, podemos estendê-lo ao complexificado de 𝑉 para estudar as consequências da presença
de um tal operador. Relembramos que a complexificação de um espaço vetorial real 𝑉 é o espaço
vetorial complexo 𝑉C cuja estrutura de espaço vetorial real subjacente é dada por 𝑉 ⊗R C e a
multiplicação por escalares complexos é definida pondo-se
𝜆 · (𝑣 ⊗ 𝜇) := 𝑣 ⊗ (𝜆𝜇), ∀𝑣 ∈ 𝑉, ∀𝜆𝜇 ∈ C,
𝑇C (𝑣 ⊗ 𝜇) := (𝑇 𝑣) ⊗ 𝜇, ∀𝑣 ∈ 𝑉, ∀𝜇 ∈ C.
70
Por construção, a matriz de um endormorfismo 𝑇 ∈ EndR (𝑉 ) numa base ℬ = {𝑣𝑘 } de 𝑉
coincide com a matriz de 𝑇C na base induzida ℬC = {𝑣𝑘 ⊗ 1} em 𝑉C . Em particular, o polinômio
característico de 𝑇C é igual ao polinômio característico de 𝑇 , que por sua vez tem coeficientes reais.
No caso de uma estrutura quase-complexa 𝐽 em 𝑉 , esta última observação pode ser usada para
concluir que o operador complexificado 𝐽C é diagonalizável e tem autovalores ±i. De fato, como
o polinômio 𝑥2 + 1 anula 𝐽C , segue que seu polinômio mínimo tem como únicas possibilidades
(𝑥 + i)(𝑥 − i), (𝑥 + i) e (𝑥 − i). Daí, o fato que o polinômio característico de 𝐽C tem coeficientes
reais (portanto que raízes complexas vem em pares conjugados), implica que o polinômio mínimo
de 𝐽C é necessariamente (𝑥 + i)(𝑥 − i), provando a afirmação.
O parágrafo anterior conclui que a presença de uma estrutura complexa 𝐽 em 𝑉 induz a seguinte
decomposição em 𝑉C :
𝑉C = 𝑉1,0 ⊕ 𝑉0,1 ,
onde
𝑉1,0 := ker(𝐽C − i𝐼𝑑) 𝑉0,1 := ker(𝐽C + i𝐼𝑑).
Não obstante, 𝐽 também induz uma decomposição no espaço dual (𝑉C )* . De fato, 𝐽C age em
(𝑉C )* via pull-back (𝐽C* 𝜑 := 𝜑 ∘ 𝐽, para cada 𝜑 ∈ (𝑉C )* ) e tal operador também quadra à menos a
identidade de (𝑉C )* . Assim, de maneira análoga, temos:
𝑝+𝑞=𝑘
Para entender melhor os subespaços 𝑉 1,0 e 𝑉 0,1 de (𝑉, 𝐽), vamos utilizar a identificação 𝑉C ≃
𝑉 ⊕ i𝑉 dada pela extensão R−linear de
𝑣 ⊗ (𝑎 + i𝑏) ↦→ 𝑎𝑣 + i𝑏𝑣.
não é difícil verificar que o mapa acima é, de fato, um isomorfismo C−linear. Daqui em diante,
sempre que conveniente, usaremos essa identificação para trabalhar com 𝑉C .
71
Observe que nesta descrição de 𝑉C como 𝑉 ⊕ i𝑉 , a extensão de um elemento 𝑇 ∈ HomR (𝑉 ) é
o endomorfismo C−linear 𝑇C definido por
𝑇C (𝑣 + i𝑤) = 𝑇 (𝑣) + i𝑇 (𝑤), ∀𝑣, 𝑤 ∈ 𝑉.
Atenção: Salvo em casos em que for necessário o contrário, passaremos a denotar 𝑇C simples-
mente por 𝑇 .
Por fim, será útil identificar (𝑉 * )C com (𝑉C )* fazendo 𝑓 + i𝑔 corresponder ao funcional de 𝑉C
que leva um elemento 𝑣 + 𝑖𝑤 em (𝑓 (𝑣) − 𝑔(𝑤)) + i(𝑓 (𝑤) + 𝑔(𝑣)). Não é difícil verificar que esta
correspondência é, de fato, um isomorfismo C−linear.
72
Ora, sendo 𝑉C = 𝑉0,1 ⊕ 𝑉1,0 e 2𝑛 = dimR 𝑉 = dimC 𝑉C , concluimos que 𝑛 = dimC 𝑉 1,0 = dimC 𝑉 0,1
(= metade da dimensão real de 𝑉 ).
Por fim, outra consequência interessante do lema anterior é a seguinte: se 𝐽 é uma estrutura
complexa em 𝑉 , então 𝑉𝐽 é um espaço vetorial complexo canonicamente isomorfo aos autoespaços
𝑉1,0 e 𝑉0,1 de 𝐽 em 𝑉C .
Considere 𝜉1,0 : 𝑉𝐽 → 𝑉1,0 definido por 𝜉1,0 (𝑣) = 𝑣 − i𝐽𝑣, para cada 𝑣 ∈ 𝑉𝐽 . O lema provado
anteriormente garante que 𝜉1,0 é um mapa sobrejetor. Além disso, pela definição da estrutura de
𝑉C = 𝑉 ⊕ i𝑉 , 𝜉1,0 é claramente injetivo e R−linear. Por fim, afirmamos que 𝜉1,0 é C−linear: de
fato, para cada 𝑣 ∈ 𝑉𝐽 , lembrando que 𝐽 é a multiplicação por i em 𝑉𝐽 , temos:
𝜉(i𝑣) = 𝜉(𝐽𝑣)
= 𝐽𝑣 + i𝑣
= i(𝑣 − i𝐽𝑣)
= i𝜉(𝑣),
donde por R−linearidade a afirmação segue. Assim, concluimos que 𝜉1,0 é um isomorfismo de
espaços vetoriais complexos entre 𝑉𝐽 e 𝑉1,0 . Analogamente, o mapa 𝜉0,1 : 𝑉𝐽 → 𝑉0,1 dado por
𝜉0,1 (𝑣) := 𝑣 + 𝑖𝐽𝑣, para cada 𝑣 ∈ 𝑉𝐽 , define um isomorfismo C−linear entre 𝑉𝐽 e 𝑉0,1 .
Uma observação importante é que através dos isomorfismos anteriores obtemos, retomando o
lema 2.1.3, as seguintes equivalências:
Para terminar essa seção, vejamos como todo espaço vetorial real não-trivial (i.e. ̸= {0})
munido de um estrutura complexa possui uma orientação natural induzida por 𝐽. Relembramos
que uma orientação em 𝑉 é uma escolha de classe de equivalência de bases (ordenadas) de 𝑉 ,
segundo a seguinte relação ∼: se 𝛽 e 𝛽 ′ são bases (ordenadas) de 𝑉 e 𝑇 é o único isomorfismo
linear que leva 𝛽 em 𝛽 ′ , então
𝛽 ∼ 𝛽′ ⇐⇒ det 𝑇 > 0.
𝑖=1 𝑖=1
𝑛 𝑛
𝐽𝑌𝑗 = 𝐶𝑗𝑖 𝑋𝑖 + 𝐷𝑗𝑖 𝐽𝑋𝑖 ,
∑︁ ∑︁
𝑖=1 𝑖=1
73
para únicos 𝐴𝑖𝑗 , 𝐵𝑗𝑖 , 𝐶𝑗𝑖 , 𝐷𝑗𝑖 ∈ R, 𝑖, 𝑗 = 1, . . . , 𝑛. Aplicando 𝐽 na primeira equação e comparando
com a segunda temos (usando 𝐽 2 = −𝐼𝑑 e unicidade de representação)
onde 𝐴 = (𝐴𝑖𝑗 ) e 𝐵 = (𝐵𝑗𝑖 ). Logo, det 𝑇 = det [𝑇 ] = (det 𝐴)2 + (det 𝐵)2 ≥ 0. Como 𝑇 é
isomorfismo, segue que det 𝑇 > 0.
Como todo espaço vetorial não-trivial admite base, o lema 2.1.3 garante a existência de uma
base do tipo {𝑋1 , . . . , 𝑋𝑛 , 𝐽𝑋1 , . . . , 𝐽𝑋𝑛 } em 𝑉 (pois existe base {𝑋1 , . . . , 𝑋𝑛 } em 𝑉𝐽 ). Agora,
pelo resultado que acabamos de provar, qualquer base deste tipo define a mesma orientação em 𝑉 .
Assim, a presença da estrutura complexa 𝐽 induz a orientação em 𝑉 na qual as bases orientadas
são aquelas pertencentes à classe de uma base do tipo {𝑋1 , . . . , 𝑋𝑛 , 𝐽𝑋1 , . . . , 𝐽𝑋𝑛 }.
Observações:
• Como uma estrutura quase-complexa em 𝑀 define uma estrutura complexa em cada espaço
tangente de 𝑀 , segue do que vimos na seção anterior que uma condição necessária para que
𝑀 admita uma tal estrutura é que sua dimensão (como variedade diferenciável) seja par.
• Vimos na seção anterior que a presença de uma estrutura complexa num espaço vetorial
real induz uma orientação neste espaço (vide 2.1.5). Mais geralmente, uma estrutura quase-
complexa em uma variedade suave 𝑀 induz uma orientação em 𝑀 . Para uma demonstração
deste fato veja [KN2 ]. Mais a frente damos uma demonstração indireta da orientabilidade
de uma variedade quase-complexa (vide 2.6).
Seja (𝑀, 𝐽) uma variedade quase-complexa de dimensão 2𝑛. Então, para cada ponto 𝑥 ∈ 𝑀
podemos considerar o espaço tangente complexificado de 𝑀 em 𝑥, i.e. a complexificação (𝑇𝑥 𝑀 )C
do espaço vetorial 𝑇𝑥 𝑀 . Do que vimos na seção anterior,
74
Essa decomposição pontual resulta numa decomposição do fibrado tangente complexificado, 𝑇 𝑀C :=
𝑇 𝑀 ⊗ C:
𝑇 𝑀C = 𝑇1,0 𝑀 ⊕ 𝑇0,1 𝑀,
onde 𝑇1,0 𝑀 e 𝑇0,1 𝑀 são os subfibrados de 𝑇 𝑀 cujas fibras num ponto 𝑥 ∈ 𝑀 são, respectivamente,
os espaços (𝑇𝑥 𝑀 )1,0 e (𝑇𝑥 𝑀 )0,1 . Um elemento de 𝑇 𝑀C é dito um vetor tangente complexo, e este
último se diz do tipo (1, 0) (resp. (0, 1)) se for um elemento de 𝑇1,0 𝑀 (resp. 𝑇0,1 𝑀 ). É imediato
do lema 2.1.4 que um vetor tangente complexo 𝑍 é do tipo (1, 0) (resp. (0, 1)) se, e somente se,
𝑍 = 𝑋 − i𝐽𝑋 para algum 𝑋 ∈ 𝑇 𝑀 (resp. 𝑍 = 𝑋 + i𝐽𝑋 para algum 𝑋 ∈ 𝑇 𝑀 ).
De maneira análoga, a presença de 𝐽 dá origem à uma decomposição no fibrado cotagente
complexificado:
𝑇 * 𝑀C = 𝑇 1,0 𝑀 ⊕ 𝑇 0,1 𝑀,
onde as fibras de 𝑇 1,0 𝑀 e 𝑇 0,1 𝑀 num ponto 𝑥 ∈ 𝑀 são, respectivamente, (𝑇𝑥 𝑀 )1,0 e (𝑇𝑥 𝑀 )0,1
(vide capítulo seguinte sobre fibrados vetoriais).
Denotaremos por Ω𝑘C (𝑀 ) a complexificação do espaço das 𝑘-formas em 𝑀 . Seus elementos são
as 𝑘−formas diferenciais complexas em 𝑀 , i.e. objetos da forma 𝜔 = 𝜉 + i𝜂, onde 𝜉, 𝜂 ∈ Ω𝑘 (𝑀 )
são 𝑘−formas diferenciais reais em 𝑀 . A cada ponto 𝑥 ∈ 𝑀 , 𝜔 ∈ Ω𝑘C (𝑀 ) associa um elemento do
espaço vetorial complexificado 𝑘 𝑇𝑥* 𝑀C , tal qual, como visto na seção preliminar, se decompõe em
⋀︀
(𝑇𝑥 𝑀 )1,0 ⊗ 𝑞 (𝑇𝑥 𝑀 )0,1 . Ora, é natural então definirmos o seguinte espaço das (𝑝, 𝑞)−formas
⨁︀ ⋀︀𝑝 ⋀︀
𝑝+𝑞=𝑘
complexas em 𝑀 , ou formas do tipo (𝑝, 𝑞):
𝑝 𝑞
Ω𝑝,𝑞 (𝑀 ) := Γ( 𝑇 1,0 𝑀 ⊗ 𝑇 0,1 𝑀 ),
⋀︁ ⋀︁
ou seja, Ω𝑝,𝑞 (𝑀 ) é o espaço das (𝑝 + 𝑞)−formas complexas em 𝑀 que associam a cada ponto
𝑥 ∈ 𝑀 um elemento de 𝑝 (𝑇𝑥 𝑀 )1,0 ⊗ 𝑞 (𝑇𝑥 𝑀 )0,1 . Desta forma, temos a seguinte bigraduação das
⋀︀ ⋀︀
𝑘−formas complexas em 𝑀 :
𝑝+𝑞=𝑘
As operações usuais entre formas são estendidas por linearidade. Em particular, dadas 𝜔 =
˜ = 𝜉˜ + i˜
𝜉 + i𝜂 e 𝜔 𝜂 formas diferenciais complexas, tem-se
e também
𝑑𝜔 := 𝑑𝜉 + i𝑑𝜂.
Da mesma maneira que definimos as 𝑘−formas complexas em 𝑀 , também podemos definir
campos vetoriais complexos e, mais geralmente, campos tensoriais complexos em 𝑀 : basta tomar
complexificações. Assim, por exemplo, um campo vetorial complexo em 𝑀 é um objeto da forma
𝑍 = 𝑋 + i𝑌 , onde 𝑋, 𝑌 ∈ Γ(𝑇 𝑀 ) := X(𝑀 ). Neste caso, dizemos que 𝑍 é do tipo (1, 0) (resp.
(0, 1)) quando 𝑍(𝑥) ∈ 𝑇 1,0 𝑀 (resp. 𝑇 0,1 𝑀 ), para cada 𝑥 ∈ 𝑀 . Denotaremos o espaço dos campos
75
vetoriais complexos em 𝑀 por X(𝑀 )C .
Segue das observações da seção anterior que 𝜔 ∈ Ω1C (𝑀 ) é do tipo (1, 0) (resp. (0, 1)) se, e
somente se, 𝜔(𝑋) = 0 para cada campo de vetores complexo 𝑋 do tipo (0, 1) (resp. (1, 0)) em 𝑀 .
Além disso, note que se {𝜔 1 , . . . , 𝜔 𝑛 } é uma base local para Ω1,0 (𝑀 ), então {𝜔 1 . . . , 𝜔 𝑛 } é uma
base local para Ω0,1 (𝑀 ) e, assim,
é uma base local para Ω𝑝,𝑞 (𝑀 ). Logo, cada (𝑝, 𝑞)−forma 𝜔 em 𝑀 é localmente escrita nesta base
como uma soma do tipo
𝐼,𝐽
Como 𝑑 é uma antiderivação (de grau +1) na álgebra das formas diferenciais complexas ΩC (𝑀 ) :=
𝑛
Ω𝑝,𝑞 (𝑀 ) e, pelas observações que precedem o lema, ΩC (𝑀 ) é localmente gerada por Ω0,0 (𝑀 ),
⨁︀
𝑝+𝑞=0
Ω (𝑀 ) e Ω0,1 (𝑀 ), o resultado segue.
1,0
76
Definição 2.3.1. Seja 𝑓 = (𝑓 1 , . . . , 𝑓 𝑚 ) : 𝑈 → C𝑚 uma função suave definida num aberto 𝑈 de
C𝑛 . Diremos que 𝑓 é holomorfa (em 𝑈 ) quando satisfaz as equações de Cauchy-Riemann:
𝜕𝑓 𝑙
= 0, 𝑙 = 1, . . . , 𝑚, 𝑘 = 1, . . . , 𝑛, (C-R)
𝜕𝑧 𝑘
onde
1
(︃ )︃
𝜕 𝜕 𝜕
:= +i 𝑘 , 𝑘 = 1, . . . , 𝑛.
𝜕𝑧 𝑘 2 𝜕𝑥 𝑘 𝜕𝑦
Note que as equações (C-R) da definição anterior se escrevem, em termos das identificações
feitas no início da seção, da seguinte forma:
⎧
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎨
𝜕𝑢𝑘 𝜕𝑣 𝑘
(C-R) ⇐⇒ (*) : ⎪ 𝜕𝑥𝑗
= 𝜕𝑦 𝑗
⎪ ⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪ 𝑘 𝑘
⎩ 𝜕𝑢𝑗 = − 𝜕𝑣 𝑗 = 1, . . . , 𝑛, 𝑘 = 1, . . . , 𝑚.
⎪
⎪
𝜕𝑦 𝜕𝑥𝑗
Assim, nas condições do enunciado da definição anterior, 𝑓 é holomorfa se, e somente se, vale (*).
O resultado a seguir resume o que estamos procurando:
Proposição 2.3.2. Seja 𝑓 : 𝑈 → C𝑚 um mapa suave definido num aberto 𝑈 de C𝑛 . Então
𝑓 é holomorfa ⇐⇒ 𝑓˜* ∘ 𝐽0𝑛 = 𝐽0𝑚 ∘ 𝑓˜* ,
onde 𝑓˜ : 𝑈˜ ⊆ R2𝑛 → R2𝑚 é o mapa naturalmente associado à 𝑓 via as identificações naturais
C𝑛 ≃ R2𝑛 e C𝑚 ≃ R2𝑚 .
Demonstração. Como 𝑓˜ é um mapa suave (sendo uma composição de mapas suaves: 𝑓 e isomor-
fismos), e levando em conta a notação introduzida no início da seção, podemos escrever:
𝜕𝑢𝑘 𝜕 ∑︁ 𝜕𝑣 𝑘 𝜕
(︃ )︃
𝜕
𝑓˜* = +
∑︁
,
𝜕𝑥𝑗 𝑘 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑢𝑘 𝑗
𝑘 𝜕𝑥 𝜕𝑣
𝑘
e
𝜕𝑢𝑘 𝜕 ∑︁ 𝜕𝑣 𝑘 𝜕
(︃ )︃
𝜕
𝑓˜* = +
∑︁
,
𝜕𝑦 𝑗 𝑘 𝜕𝑦 𝑗 𝜕𝑢𝑘 𝑗
𝑘 𝜕𝑦 𝜕𝑣
𝑘
77
2.4 Variedades Complexas
Começaremos com a definição clássica de variedades complexas e depois usaremos a proposição
da seção anterior para reinterpretar a definição e ao mesmo tempo conectar a primeira com a noção
de estrutura quase-complexa.
Definição 2.4.1 (Variedade Complexa (I)). Uma variedade complexa 𝑀 , de dimensão complexa
𝑛, é um espaço topológico de Hausdorff, segundo contável e que admite um atlas holomorfo de
dimensão 𝑛, i.e. 𝑀 admite uma família de homeomorfismos 𝜙𝛼 : 𝑈𝛼 → 𝜙𝛼 (𝑈𝛼 ) ⊆ C𝑛 sobre
abertos 𝜙𝛼 (𝑈𝛼 ) de C𝑛 de forma que:
• {𝑈𝛼 } é uma cobertura aberta de 𝑀 ;
• As mudanças de coordenadas 𝜙𝛼 ∘ 𝜙−1
𝛽 são funções holomorfas onde estiverem definidas.
𝐽0 ∘ (𝜙˜𝛼 ∘ 𝜙˜𝛽 )* (no domínio de definição adequado). Portanto, podemos refrasear a definição 2.4.1
𝑛 −1
da seguinte forma:
Definição 2.4.3 (Variedade Complexa (II)). Uma varidade complexa 𝑀 de dimensão 𝑛 é uma
variedade diferenciável 2𝑛-dimensonal munida de um atlas suave {(𝑈𝛼 , 𝜑𝛼 )} cujas mudanças de
coordenadas satisfazem
(𝜑𝛼 ∘ 𝜑−1
𝛽 )* ∘ 𝐽0 = 𝐽0 ∘ (𝜑𝛼 ∘ 𝜑𝛽 )* ,
𝑛 𝑛 −1
∀𝛼, 𝛽. (2.4.1)
78
Lema 2.4.4. Toda variedade complexa carrega uma estrutura quase-complexa natural.
Demonstração. Seja 𝑀 variedade complexa 𝑛-dimensional. Então, 𝑀 é uma variedade suave
2𝑛−dimensional munida de um atlas {(𝑈𝛼 , 𝜑𝛼 )} satisfazendo (2.4.1). Defina, para cada 𝛼, 𝐽𝛼 :
𝑇 𝑈𝛼 → 𝑇 𝑈𝛼 pondo
𝐽𝛼 := (𝜑−1
𝛼 )* ∘ 𝐽0 ∘ (𝜑𝛼 )* .
𝑛
(2.4.2)
É claro que 𝐽𝛼 |𝑇𝑥 𝑀 é linear para cada 𝑥 ∈ 𝑈𝛼 e 𝐽𝛼2 = −𝐼𝑑.
Para ver que a família {𝐽𝛼 } define um tensor global em 𝑀 , usamos a condição (2.4.1) da
seguinte forma. Sejam 𝛼 e 𝛽 tais que 𝑈𝛼 ∩ 𝑈𝛽 ̸= ∅. Então:
79
Antes de finalizar esta seção com alguns exemplos, enunciaremos um critério de holomorfici-
dade para aplicações entre variedades complexas baseado nas estruturas quase-complexas naturais
envolvidas. A definição seguinte é motivada pela proposição 2.3.2 da seção anterior.
𝑓* ∘ 𝐽 = 𝐽 ′ ∘ 𝑓* . (2.4.3)
Já observamos que C𝑛 é uma variedade complexa, assim como qualquer aberto 𝑈 deste espaço.
A seguir listamos exemplos mais interessantes de variedades complexas.
Exemplo 2.4.9 (Espaços Projetivos Complexos: CP𝑛 ). Estes espaços são os análogos complexos
do caso real já trabalhado na primeira semana, por isso vamos ser sucintos aqui (veja também
[KN2 ], Example 2.4). Consideramos a ação natural de C* := C ∖ {0} em C𝑛+1 ∖ {0} dada por
Definimos o espaço projetivo complexo 𝑛−dimensional tomando o quociente de C𝑛+1 ∖ {0} por
esta ação, i.e.
CP𝑛 := (C𝑛+1 ∖ {0})/∼, (2.4.4)
onde 𝑍 ∼ 𝑍 ′ se, e somente, as retas complexas geradas por 𝑍 e 𝑍 ′ em C𝑛+1 coincidem. Se
𝜋 : C𝑛+1 ∖ {0} → CP𝑛 denota a projeção natural no quociente, um elemento típico de CP𝑛 é
denotado pelas suas coordenadas homogêneas [𝑧0 : . . . : 𝑧𝑛 ] := 𝜋(𝑧0 , . . . , 𝑧𝑛 ). Munimos CP𝑛 com a
topologia quociente. Nesta topologia, o fato de C* ser um grupo topológico agindo continuamente em
C𝑛+1 ∖ {0} garante que a projeção 𝜋 é uma aplicação aberta. Em particular, para cada 𝑖 = 0, . . . , 𝑛,
os conjuntos
𝜙𝑖 : 𝑈𝑖 → C𝑛
𝑧0 𝑧𝑖−1 𝑧𝑖+1 𝑧𝑛
(︂ )︂
(𝑧0 : . . . : 𝑧𝑛 ) ↦→ ,..., , ,...,
𝑧𝑖 𝑧𝑖 𝑧𝑖 𝑧𝑖
80
para cada 𝑖 = 0, . . . , 𝑛. Não é difícil ver que estes mapas são homeomorfismos (levando-se em
conta a topologia quociente) com inversas dadas por
𝑖 : C
𝜙−1 𝑛
→ 𝑈𝑖
(𝑤1 , . . . , 𝑤𝑛 ) ↦→ [𝑤1 : . . . : 𝑤𝑖−1 : 1 : 𝑤𝑖 : . . . : 𝑤𝑛 ].
donde são holomorfas em seus domínios de definição (de fato, 𝑤𝑖 ̸= 0 no domínio 𝜙𝑗 (𝑈𝑖 ∩ 𝑈𝑗 ) e
funções racionais com denominador não-nulo são holomorfas). Por fim, notando que na topolo-
gia acima definida CP𝑛 é um espaço Hausdorff e segundo contável, segue que o espaço projetivo
complexo é uma variedade complexa de dimensão 𝑛.
Exemplo 2.4.10 (Grassmanianas Complexas). Para cada 𝑘 < 𝑛 inteiros positivos, GrC (𝑘, 𝑛) é o
conjunto dos 𝑘−planos complexos passando pela origem em C𝑛 . Prosseguindo como no exemplo
do análogo real, visto com detalhes nas aulas da primeira semana, GrC (𝑘, 𝑛) tem uma estrutura
de variedade complexa natural de dimensão 𝑘(𝑛 − 𝑘). Além disso, GrC (1, 𝑛 + 1) = CP𝑛 .
Exemplo 2.4.11 (Toros 2𝑛−dimensionais). Para cada natural 𝑛, considere o toro 2𝑛−dimensional:
𝑇 2𝑛 := 𝑆 1 × . . . × 𝑆 1 (2𝑛−cópias). Com a estrutura de variedade produto, 𝑇 2𝑛 é uma variedade
suave de dimensão real 2𝑛. Munimos 𝑇 2𝑛 de uma estrutura de variedade complexa de dimensão 𝑛
olhando cada fator 𝑆 1 como o quociente R/Z pela ação natural de Z em R via translação; o mapa
quociente desta ação, escrevendo 𝑆 1 = {𝑒2𝜋i𝜃 : 𝜃 ∈ R}, mapeia 𝑡 ∈ R em 𝑒2𝜋i𝑡 . Equivalentemente,
olhamos o toro 2𝑛−dimensional como sendo o quociente 𝑇 2𝑛 = R2𝑛 /Z2𝑛 pela ação natural. Desta
forma, 𝑇 2𝑛 herda naturalmente a estrutura de variedade complexa de R2𝑛 (vide detalhes em [T ])
Exemplo 2.4.12. Toda superfície orientável de gênero 𝑔 > 1 é uma superfície de riemann, i.e.
uma variedade complexa de dimensão 1. Vide [T ].
2.5 Integrabilidade
A pergunta natural que motiva essa seção é a seguinte:
A resposta para essa pergunta tem várias formulações equivalentes. Trataremos daquela que
diz respeito ao anulamento de um certo tensor induzido por 𝐽 em 𝑀 , chamado tensor de Nijenhuis
(que por sua vez também aparece definido de maneiras distintas na literatura - nossa abordagem
segue, e.g. [T ]).
Relembramos que a presença de 𝐽 decompõe as 2−formas complexas em 𝑀 da seguinte forma:
81
Se denotarmos por 𝜋 0,2 o operador de projeção de Ω2C (𝑀 ) sobre o espaço das (0, 2)−formas Ω0,2 (𝑀 ),
podemos formar a seguinte composição:
𝑁𝐽 é chamado o tensor de Nijenhuis de (𝑀, 𝐽). Provemos que 𝑁𝐽 é de fato um tensor, i.e.
𝑁𝐽 (𝑓 𝛼) = 𝑓 𝑁𝐽 (𝛼), para cada 𝑓 ∈ 𝐶 ∞ (𝑀 ) e 𝛼 ∈ Ω1,0 (𝑀 ). Seja, pois, 𝑓 ∈ 𝐶 ∞ (𝑀 ) e 𝛼 ∈ Ω1,0 (𝑀 ).
Pela regra de Leibniz:
𝑑(𝑓 𝜔) = 𝑑𝑓 ∧ 𝜔 + 𝑓 𝑑𝜔.
Se 𝜂 𝑝,𝑞 denota a parte (𝑝, 𝑞)−forma da (𝑝 + 𝑞)−forma complexa 𝜂, 𝑑𝑓 se decompõe na soma
𝑑𝑓 1,0 + 𝑑𝑓 0,1 , donde sendo 𝜔 uma (1, 0)−forma temos que 𝑑𝑓 ∧ 𝜔 tem uma componente (1, 1)−forma
e uma componente (2, 0)−forma. Assim, 𝜋 0,2 (𝑑𝑓 ∧ 𝜔) = 0 e temos
como queríamos.
O seguinte resultado responde a pergunta que deu início a esta seção em função do tensor 𝑁𝐽 :
Teorema 2.5.1 (Newlander-Nirenberg). Seja (𝑀, 𝐽) uma variedade quase complexa. Então
𝐽 é integrável ⇐⇒ 𝑁𝐽 = 0.
[·, ·] é dito o colchete de Lie de campos de vetores em 𝑀 . A partir desta definição, não é difícil
mostrar que dada 𝛼 ∈ Ω1 (𝑀 ) vale
82
De fato, por linearidade, basta verificar a fórmula para 1-formas do tipo 𝑓 𝑑𝑢 com 𝑓 e 𝑢 funções
suaves. Assim, por um lado
𝑋(𝑓 𝑑𝑢(𝑌 )) − 𝑌 (𝑓 𝑑𝑢(𝑋)) − 𝑓 𝑑𝑢([𝑋, 𝑌 ]) = (𝑋𝑓 )(𝑌 𝑢) + 𝑓 𝑋(𝑌 (𝑢)) − (𝑌 𝑓 )(𝑋𝑢) − 𝑓 𝑌 (𝑋(𝑢)) − 𝑓 [𝑋, 𝑌 ]𝑢
= (𝑋𝑓 )(𝑌 𝑢) − (𝑌 𝑓 )(𝑋𝑢) (por definição de [·, ·]),
como queríamos.
˜ 𝑌˜ ∈ Γ(𝑇 𝑀 ), o
Em XC (𝑀 ), extendemos o colchete de Lie por linearidade: para cada 𝑋, 𝑌, 𝑋,
˜ ˜
campo complexo [𝑋 + i𝑌, 𝑋 + i𝑌 ] é dado por
˜ + i𝑌˜ ] = [𝑋, 𝑋]
˜ − [𝑌, 𝑌˜ ] + i [𝑋, 𝑌˜ ] + [𝑌, 𝑋]
˜ .
(︁ )︁ (︁ )︁
[𝑋 + i𝑌, 𝑋
(e) 𝑁𝐽 ≡ 0;
Demonstração. (a) ⇐⇒ (b): Essa equivalência é consequência direta dos fatos (2.1.1) e (2.5.3).
(a) e (b) ⇒ (c): Seja 𝜔 ∈ Ω1,0 (𝑀 ). Queremos mostrar que 𝑑𝜔 não possui componente (0, 2)−forma.
Para isso basta mostrar que 𝑑𝜔(𝑍, 𝑊 ) = 0 sempre que 𝑍, 𝑊 são campos complexos do tipo (0, 1).
Ora, sendo 𝜔 uma (1, 0)−forma, sabemos que 𝜔(𝑍) = 0 para todo campo complexo 𝑍 do tipo
(0, 1). Como vale (𝑏), a fórmula (2.5.2) implica que 𝑑𝜔(𝑍, 𝑊 ) = 0 para todos 𝑍 e 𝑊 campos
complexos do tipo (0, 1). Analogamente, usando (𝑎), provamos que se 𝜔 ∈ Ω0,1 (𝑀 ) então 𝑑𝜔 = 0
não possui componente em Ω2,0 (𝑀 ). Isso completa a prova de (𝑐).
83
(c) ⇒ (d): Segue do fato que ΩC (𝑀 ) é localmente gerado por Ω0,0 (𝑀 ), Ω1,0 (𝑀 ) e Ω0,1 (𝑀 ) (vide
seção 2.2).
(d) ⇒ (e): Por (d) tem-se em particular que 𝑑Ω1,0 (𝑀 ) ⊆ Ω2,0 (𝑀 ) ⊕ Ω1,1 (𝑀 ), logo 𝜋 0,2 = 0. Assim,
𝑁𝐽 = 𝜋 0,2 ∘ 𝑑 = 0.
(e) ⇒ (b): Sejam 𝑍 e 𝑊 campos complexos do tipo (0, 1). Dada 𝜔 ∈ Ω1,0 (𝑀 ), por hipótese temos
que 𝑑𝜔 ∈ Ω1,1 (𝑀 ) ⊕ Ω2,0 (𝑀 ) (i.e., 𝑑𝜔 não tem parte (0, 2)−forma). Então, pelo tipo de 𝑍 e 𝑊 ,
temos que 𝑑𝜔(𝑍, 𝑊 ) = 0. Logo, a fórmula (2.5.2) mostra que 𝜔([𝑋, 𝑌 ]) = 0. Pela arbitrariedade
de 𝜔, segue que [𝑋, 𝑌 ] é do tipo (0, 1), como queríamos.
Dada uma variedade quase-complexa (𝑀, 𝐽), considere para cada par de inteiros positivos 𝑝, 𝑞
as projeções naturais (cf.2.2.1)
𝜋 𝑝,𝑞 : Ω𝑝+𝑞
C (𝑀 ) → Ω (𝑀 ).
𝑝,𝑞
Agora note que a condição do item (e) do teorema 2.5.3 vale (i.e. 𝐽 é integrável) se, e somente
se,
𝑑 = 𝜕 ⊕ 𝜕, (2.5.4)
onde
𝜕 := 𝜋 𝑝+1,𝑞 ∘ 𝑑 : Ω𝑝+𝑞
C (𝑀 ) → Ω
𝑝+1,𝑞
(𝑀 ) e
𝜕 := 𝜋 𝑝,𝑞+1 ∘ 𝑑 : ΩC (𝑀 ) → Ω𝑝,𝑞+1 (𝑀 ).
𝑝+𝑞
Em seguida, para finalizar a seção, fixada 𝑀 variedade complexa, damos uma caracterização
da holomorficidade de funções suaves 𝑀 → C em termos do operador 𝜕 de 𝑀 .
Proposição 2.5.4. Sejam 𝑀 uma variedade complexa e 𝑓 : 𝑀 → C uma função suave. Então,
𝑓 é holomorfa ⇐⇒ 𝜕𝑓 = 0.
84
Demonstração. Pela proposição 2.4.8, 𝑓 é holomorfa se, e somente se,
𝑑𝑓 ∘ 𝐽 = i𝑑𝑓, (2.5.5)
onde 𝐽 é a estrutura quase-complexa canônica de 𝑀 . Por outro lado, 0 = 𝜕𝑓 = (𝜋 0,1 ∘ 𝑑)𝑓 se, e
somente se, 𝑑𝑓 ∈ Ω1,0 (𝑀 ) (uma vez que Ω1C = Ω1,0 (𝑀 ) ⊕ Ω0,1 (𝑀 )).
Supondo 𝑓 holomorfa, segue que para cada 𝑋 ∈ X(𝑀 ) temos
Isso mostra que 𝑑𝑓 ∈ Ω1C (𝑀 ) se anula em campos complexos do tipo (0, 1), logo 𝑑𝑓 é uma
(1, 0)−forma (veja o lema 2.1.4 e seção 2.2), i.e. 𝜕𝑓 = 0.
Por outro lado, se 𝑑𝑓 ∈ Ω1,0 (𝑀 ) então existe 𝜑 ∈ Ω1 (𝑀 ) (1-forma real) tal que 𝑑𝑓 = 𝜑 − i𝐽 * 𝜑
(novamente pelo lema 2.1.4). Daí, para cada 𝑋 ∈ X(𝑀 ) temos
Logo, 𝑓 é holomorfa.
Observações:
• Note que 𝐽 é ortogonal se, e somente se, 𝑔(𝑋, 𝐽𝑌 ) = −𝑔(𝐽𝑋, 𝑌 ), para cada 𝑋, 𝑌 ∈ Γ(𝑇 𝑀 ).
Ora, dados 𝜉, 𝜂 ∈ Γ(𝑇1,0 𝑀 ), existem campos 𝑋, 𝑌 ∈ Γ(𝑇 𝑀 ) tais que 𝜉 = 𝑋 − i𝐽𝑋 e
𝜂 = 𝑌 − i𝐽𝑌 . Assim, se definimos
então 𝐽 ortogonal implica que ⟨·, ·⟩𝐻 é um produto interno hermitiano em 𝑇1,0 𝑀 . Recipro-
camente,
1
𝑔(𝑋, 𝑌 ) = Re⟨𝜉, 𝜂⟩ ⇒ 𝐽 é ortogonal.
2
85
Por esse motivo, diz-se que uma métrica riemanniana 𝑔 compatível com uma estrutura quase-
complexa 𝐽 é uma métrica hermitiana. Neste caso chamamos a tripla (𝑀, 𝑔, 𝐽) de variedade
hermitiana 3 .
• Toda variedade quase-complexa (𝑀, 𝐽) admite uma métrica hermitiana. Para ver isso, tome
inicialmente 𝑔0 uma métrica riemanniana em 𝑀 (cuja existência é garantida por argumento
padrão via partição da unidade). Em seguida, defina
1
𝑔(𝑋, 𝑌 ) := (𝑔0 (𝑋, 𝑌 ) + 𝑔0 (𝐽𝑋, 𝐽𝑌 )) , ∀𝑋, 𝑌 ∈ Γ(𝑇 𝑀 ). (2.6.2)
2
É claro que 𝑔 é uma métrica riemanniana em 𝑀 . Além disso, notando que 𝐽 2 = −𝐼𝑑, por
construção temos 𝑔(𝐽𝑋, 𝐽𝑌 ) = 𝑔(𝑋, 𝑌 ), para cada 𝑋, 𝑌 ∈ Γ(𝑇 𝑀 ). Logo, 𝑔 é uma métrica
hermitiana em 𝑀 . Note que o fator 1/2 na definição de 𝑔 poderia ser qualquer real positivo,
mas este em particular garante que caso 𝑔0 já seja hermitiana tenhamos 𝑔 = 𝑔0 .
𝜔(𝑋, 𝑌 ) = 𝑔(𝑋, 𝐽𝑌 )
= −𝑔(𝐽𝑋, 𝑌 ) (𝐽 é ortogonal)
= −𝑔(𝑌, 𝐽𝑋) (𝑔 é simétrica)
= −𝜔(𝑌, 𝑋),
para cada 𝑋, 𝑌 ∈ Γ(𝑇 𝑀 ). Note ainda que 𝜔 é não-degenerada: com efeito, se 𝜔(𝑋, 𝑌 ) = 0
para todo 𝑌 ∈ Γ(𝑇 𝑀 ), então em particular 0 = 𝜔(𝑋, 𝐽𝑋) = −𝑔(𝑋, 𝑋), donde a positividade
de 𝑔 garante que 𝑋 = 0 ∈ Γ(𝑇 𝑀 ).
Definição 2.6.2. Uma estrutura simplética numa variedade diferenciável 𝑀 é uma 2−forma
fechada e não-degenerada 𝜔 ∈ Ω2 (𝑀 ). Ao par (𝑀, 𝜔) dá-se o nome de variedade simplética.
Observações:
86
• Toda variedade quase-complexa admite uma estrutura simplética. De fato, já observamos
que toda variedade quase-complexa (𝑀, 𝐽) admite uma métrica 𝑔 compatível com a estrutura
quase-complexa 𝐽, e a escolha de uma tal métrica dá origem à uma 2-forma simplética em
𝑀 , a saber, a 2-forma fundamental associada ao par (𝑔, 𝐽). Em particular, pela observação
anterior, isso fornece uma demonstração de que toda variedade quase-complexa é orientável.
Definição 2.6.3 (Compatibilidade entre 𝜔 e 𝐽). Seja (𝑀, 𝜔, 𝐽) uma variedade simplética munida
de uma estrutura quase-complexa 𝐽. Dizemos que 𝐽 e 𝜔 são compatíveis quando
2. 𝜔(𝐽𝑋, 𝑋) > 0, ∀𝑋 ̸= 0.
De fato:
(⇒) Suponha que 𝜔 e 𝐽 sejam compatíveis. Vamos mostrar que valem as condições 1. e
2. anteriores. Note que a condição 2. é exatamente a hipótese da positividade de 𝑔𝐽 (métrica
riemanniana). Assim, basta mostrarmos 1. Começamos afirmando que a métrica 𝑔𝐽 definida em
(2.6.3) é compatível com 𝐽 - no sentido de (2.6.1). Com efeito, para qualquer par de campos
𝑋, 𝑌 ∈ Γ(𝑇 𝑀 ), temos:
provando a afirmação. Agora, provamos que vale 1.: para cada 𝑋, 𝑌 ∈ Γ(𝑇 𝑀 ), temos
completando a prova.
87
(⇐) Suponha que vale as condições 1. e 2. acima enunciadas. Por 2. o 2-tensor 𝑔𝐽 definido em
(2.6.3) é positivo definido. Resta mostrar que 𝑔𝐽 é simétrico. Para tanto, calculamos, para cada
𝑋, 𝑌 ∈ Γ(𝑇 𝑀 ):
𝑔𝐽 (𝑋, 𝑌 ) = 𝜔(𝐽𝑋, 𝑌 ) (por definição)
= −𝜔(𝑋, 𝐽𝑌 ) (por 1. e 𝐽 2 = −𝐼𝑑)
= 𝜔(𝐽𝑌, 𝑋) (𝜔 é 2−forma)
= 𝑔𝐽 (𝑌, 𝑋). (por definição)
Isto completa a demonstração.
Finalmente, definiremos o tipo de variedade que carrega as três estruturas discutidas até agora
de maneira compatível:
Definição 2.6.4 (Variedades (quase-)Kähler). Seja (𝑀, 𝐽) uma variedade (quase-)complexa. Di-
zemos que 𝑀 é uma variedade (quase-)Kähler quando admite uma métrica hermitiana 𝑔 cuja
2−forma fundamental 𝜔 é fechada, i.e. 𝑑𝜔 = 0. Neste caso, 𝑔 é dita uma métrica (quase-)Kähler
e 𝜔 a forma (quase-)Kähler de 𝑀 .
Note que, de fato, numa variedade (quase-)Kähler (𝑀, 𝑔, 𝐽, 𝜔) as três estruturas (𝑔, 𝐽 e 𝜔) são
compatíveis entre si, no sentido em que 𝐽 é uma estrutura (quase-)complexa compatível com a
métrica riemanniana 𝑔, 𝜔 é uma forma simplética compatível com 𝐽 e, por fim, 𝑔 = 𝑔𝐽 é a métrica
induzida pela compatibilidade entre 𝜔 e 𝐽.
88
Tendo em mente a definição 2.4.4, note que todo complexo não-nulo 𝜆 ∈ C* pode ser escrito como
𝜆 = 𝑟 exp i𝜃, com 𝑟 ∈ R+ e exp (i𝜃) ∈ 𝑆 1 = {𝑧 ∈ C : |𝑧|= 1}. Logo, a aplicação quociente
C𝑛+1 ∖ {0} → CP𝑛 se quebra na parte que identifica (1) 𝑥 ∼ R+ · 𝑥 (ação de R+ por dilatação)
seguida da parte que identifica (2) 𝑥 ∼ 𝑆 1 · 𝑥 (ação de 𝑆 1 por rotação):
(1) (2)
C𝑛+1 ∖ {0} −→ 𝑆 2𝑛+1 −→ CP𝑛 ,
como queríamos.
Feito isso, observe que a métrica redonda ˚ 𝑔 em 𝑆 2𝑛+1 , i.e. o pull-back pela inclusão da mé-
trica euclidiana de R2𝑛+2 , é invariante pela ação de 𝑆 1 descrita acima. Isso nos permite definir
uma métrica riemanniana em CP𝑛 tomando o quociente da métrica redonda em 𝑆 2𝑛+1 , i.e. se
𝜋 : 𝑆 2𝑛+1 → CP𝑛 é a projeção no quociente então 𝑔𝐹 𝑆 é única tal que ˚ 𝑔 = 𝜋 * 𝑔𝐹 𝑆 . Esta é a
chamada métrica de Fubini-Study. Pode-se mostrar que 𝑔𝐹 𝑆 é de fato uma métrica Kähler. Para
uma construção mais detalhada via construção explícita (em coordenadas locais) da forma Kähler
associada vide [KN2 ], [M ] e [Marcelo ].
Um caso especial acontece quando 𝑛 = 1. De fato, neste caso temos a identificação CP1 ≃ 𝑆 2
e, em coordenadas, a expressão da restrição de 𝑔𝐹 𝑆 ao fibrado tangente real de 𝑆 2 é exatamente à
da métrica redonda de raio 1/2 em 𝑆 2 :
Re(𝑑𝑧 ⊗ 𝑑𝑧) 1
𝑔𝐹 𝑆 = = ˚𝑔.
(1 + |𝑧| )
2 2 4
89
90
Capítulo 3
𝜑
𝜋 −1 (𝑈 ) −−−−
𝑈
−→ 𝑈 × K𝑟
𝜋 ↘ ↘ 𝜋1
𝑈
91
Exemplo 3.1.2 (Fibrado trivial). Um exemplo simples de fibrado de posto 𝑟 sobre 𝑀 é a variedade
produto 𝐸 = 𝑀 × K𝑟 com 𝜋 = 𝑝1 : 𝐸 = 𝑀 × K𝑟 → 𝑀 sua projeção (e a identidade sua aplicação
de trivialização global).
Exemplo 3.1.3 (O fibrado tangente como um fibrado vetorial real). . Seja 𝑀 𝑛 uma variedade
diferenciável e 𝑇 𝑀 seu fibrado tangente com sua projeção natural 𝜋, e sua estrutura natural de
espaço vetorial real em cada fibra, e sua estrutura de variedade construida no capítulo 1, assim
𝑇 𝑀 é um fibrado vetorial real de posto 𝑛 sobre 𝑀 . Dado (𝑈, (︃ 𝜙) carta)︃local de 𝑀 com (𝑥1 , . . . , 𝑥𝑛 )
𝜕
funções coordenadas, defina 𝜑𝑈 : 𝜋 −1 (𝑈 ) → 𝑈 × R𝑛 por 𝜑 𝑣𝑖 = (𝑝, 𝑣 1 , . . . , 𝑣 𝑛 ) ∈ 𝑈 × R𝑛 ,
∑︁
𝑖 𝜕𝑥 𝑖
{︃ }︃
𝜕
onde é base de 𝑇𝑝 𝑀 ; é fácil verificar que 𝜑 é linear nas fibras e satifaz 𝜋1 ∘ 𝜑 = 𝜋. A
𝜕𝑥𝑖
composição
𝜑 𝜙×𝑖𝑑 𝑛
𝜋 −1 (𝑈 ) −−−−→ 𝑈 × R𝑛 −−−−−−R−−→ 𝜙(𝑈 ) × R𝑛
é igual a 𝜙̃︀ como 𝜙̃︀ e 𝜙 × 𝑖𝑑R𝑛 são difeomorfismos, 𝜑 também o é, onde 𝜙̃︀ é carta induzida por 𝜙.
Exemplo 3.1.4 (Fibrado tautológico). Tomemos o fibrado trivial C𝑛 = P𝑛 × C𝑛 . Definimos como
fibrado tautológico o subfibrado de posto 1 de C𝑛 , e denotamos por 𝐸(𝛾𝑛1 ), o seguinte conjunto
𝐸(𝛾𝑛1 ) = {([𝑤], 𝑣) ∈ P𝑛 × C𝑛 ; existe 𝜆 ∈ C tal que 𝑣 = 𝜆𝑤}.
𝑔𝛼𝛽 = 𝜑𝛼 ∘ 𝜑−1
𝛽 : 𝑈𝛼 ∩ 𝑈𝛽 × R → 𝑈𝛼 ∩ 𝑈𝛽 × R
𝑟 𝑟
que são chamadas de funções de transição de 𝐸 com respeito a cobertura {𝑈𝛼 }𝛼∈Λ .
Observação 3.2.1. Observe que as funções de transição 𝑔𝛼𝛽 satisfazem as seguintes condi-
çoes:
1. 𝑔𝛼𝛽 = 𝑔𝛽𝛼
−1
em 𝑈𝛼𝛽 × R𝑟
2. 𝑔𝛼𝛽 𝑔𝛽𝛾 𝑔𝛾𝛼 = 𝑖𝑑 em 𝑈𝛼𝛽𝛾 × R𝑟
3. 𝑔𝛼𝛼 = 𝑖𝑑 em 𝑈𝛼 × R𝑟
92
Por outro lado, tendo em conta o conjunto de funções de transição, é possível reconstruir o
fibrado 𝐸.
Proposição 3.2.2. Seja 𝑀 uma variedade diferenciável, {𝑈𝛼 }𝛼∈Λ uma cobertura aberta de 𝑀 , e
seja 𝜏𝛼𝛽 uma coleção de funções diferenciável
𝜏𝛼𝛽 : 𝑈𝛼 ∩ 𝑈𝛽 → GL(R𝑟 ) ,
satisfazendo
𝜏𝛼𝛽 𝜏𝛽𝛾 𝜏𝛾𝛼 = 𝑖𝑑 , sobre 𝑈𝛼 ∩ 𝑈𝛽 ∩ 𝑈𝛾 .
Então existe um fibrado vetorial real 𝐸 → 𝑀 de posto 𝑟 com trivialização local
𝜑𝛼 : 𝜋 −1 (𝑈𝛼 ) → 𝑈𝛼 × R𝑟
satisfazendo 𝜑𝛼 ∘ 𝜑−1
𝛽 (𝑝, 𝑣) = (𝑝, 𝜏𝛼𝛽 (𝑝)𝑣).
(𝜑𝛼 ∘ 𝜑−1
𝛽 )(𝑝, 𝑣) = (𝑝, 𝑔𝛼𝛽 (𝑝)𝑣).
Então 𝐸 tem uma única estrutura de variedade suave tal que 𝜋 : 𝐸 −→ 𝑀 é um fibrado vetorial
suave de posto 𝑟 tendo as aplicações 𝜑𝛼 como trivializações locais.
A proposição acima nos ajuda a formar novos fibrados vetoriais aparir de dois fibrados 𝐸 e 𝐹
sobre o mesmo espaço base 𝑀 . Assuma que 𝐸 e 𝐹 são dados por funções de transição 𝑔𝛼𝛽 ∈ GL(R𝑟 )
e ℎ𝛼𝛽 ∈ GL(C𝑠 ), respectivamente. Então podemos definir os fibrados:
• 𝐸 ⊕ 𝐹 é o fibrado dado pelas funções de transição
𝑔𝛼𝛽 0
(︃ )︃
𝑘𝛼𝛽 = ∈ GL(R𝑟+𝑠 ) ;
0 ℎ𝛼𝛽
93
• Λ𝑝 𝐸 é o fibrado dado pelas funções de transição
𝑘𝛼𝛽 = Λ𝑝 𝑔𝛼𝛽 ∈ GL(Λ𝑝 R𝑟 ) ;
3.3 Seções
Uma seção 𝜎 de um fibrado vetorial real 𝜋 : 𝐸 → 𝑀 sobre 𝑈 ⊂ 𝑀 é uma aplicação suave
𝑠 : 𝑈 → 𝐸 tal que 𝜋 ∘ 𝑠 = 𝑖𝑑𝑈 , i.e. 𝑠(𝑝) ∈ 𝐸𝑝 . A seção 𝜎 é dita global se está definida sobre toda
𝑀 . O conjunto de todas as seções globais de 𝐸, denotado por Γ(𝐸), é um espaço vetorial real, e
tem estrutura de um 𝐶 ∞ (𝑀 )-módulo, dada por:
𝐶 ∞ (𝑀 ) × Γ(𝐸) → Γ(𝐸)
94
(𝑓, 𝑠) ↦→ 𝑓 𝑠.
Onde (𝑓 𝑠)(𝑝) = 𝑓 (𝑝)𝑠(𝑝). Denotamos Γ(𝑈 ; 𝐸), ou Γ(𝐸|𝑈 ) o conjunto de todas as seções locais
sobre 𝑈 .
Exemplo 3.3.1. Considere o fibrado trivial de posto 1 sobre 𝑀 então, Γ(𝑀 × R) ∼= 𝐶 ∞ (𝑀 ; R).
Com efeito, dada 𝑠 ∈ Γ(𝑀 × R) como 𝜋1 ∘ 𝑠 = 𝑖𝑑𝑀 temos que 𝑠(𝑝) = (𝑝, 𝑓 (𝑝)) onde 𝑓 : 𝑀 → R,
donde segue o afirmado.
Exemplo 3.3.3 (A seção nula). Dado um fibrado vetorial real 𝐸 sobre 𝑀 considere a seção
𝑂 : 𝑀 → 𝐸 que a cada 𝑝 ∈ 𝑀 associa 𝑜𝑝 ∈ 𝐸𝑝 , 𝑜𝑝 onde é o vetor nulo, 𝑂 é suave. Com efeito,
dada uma trivialização local 𝜑 temos que 𝜑−1 (𝑝, 0) = 𝑂(𝑝), 0 ∈ R𝑟 .
Observe que quando 𝐸 = 𝑇 𝑀 o conjunto das seções Γ(𝑀 ) = X(𝑀 ), é o conjunto dos campos
de vetores de 𝑀 .
Definição 3.3.6. Uma variedade diferenciável 𝑀 cujo fibrado tangente é trivial é chamada para-
lelizável.
Exemplo 3.3.7. Todo grupo de lie 𝐺 é paralelizável. De fato, seja 𝐺 um grupo de lie, então a
translação a esquerda 𝐿𝑔 é um difeomorfismo de 𝐺 em 𝐺. Seja 𝑒 ∈ 𝐺 o elemento neutro de 𝐺.
Então a diferencial (𝑑𝐿𝑔 )𝑒 é um isomorfismo entre 𝑇𝑒 𝐺 e 𝑇𝑔 𝐺, assim, seja {𝑣1 , . . . , 𝑣𝑛 } base de
𝑇𝑒 𝐺 e defina 𝑠𝑖 : 𝐺 → 𝑇 𝐺 dadas por
𝑠𝑖 (𝑔) = (𝑑𝐿𝑔 )𝑒 𝑣𝑖 , 1 ≤ 𝑖 ≤ 𝑛.
Essas funções dependem suavemente em 𝑥 e também 𝑠𝑖 (𝑔) ∈ 𝑇𝑔 𝐺. Ou seja, elas são seções suaves
do fibrado tangente de G. Como também (𝑑𝐿𝑔 )𝑒 manda bases em bases, {𝑠𝑖 (𝑔)}𝑛𝑖=1 é um referencial
global.
95
Exemplo 3.3.8. S2 não é paralelizável. Com efeito, segue do teorema de Poincaré que todo campo
vetorial contínuo em S2 tem pelo menos um zero, logo não existe referencial global em 𝑇 S2 .
Proposição 3.3.9. Sejam 𝐸, 𝐹 fibrados sobre 𝑀 . Então, existe o seguinte isomorfismo
Demonstração. Por definição, Γ(𝐻𝑜𝑚(𝐸, 𝐹 )) é o espaço das seções suaves de 𝐻𝑜𝑚(𝐸, 𝐹 ). Dado
𝜙̂︀ ∈ Γ(𝐻𝑜𝑚(𝐸, 𝐹 )) defina o homomorfismo 𝐶 ∞ (𝑀 )-linear,
𝜙̂︀ ↦ −→ 𝐹 (𝜙)
̂︀
por
𝐹 (𝜙)(𝑠)
̂︀ = 𝜙̂︀ ∘ 𝑠, 𝑠 ∈ Γ(𝐸).
temos que 𝜙̂︀ : 𝑀 −→ 𝐻𝑜𝑚(𝐸, 𝐹 ) e 𝑠 : 𝑀 −→ 𝐸 com 𝜋𝐻𝑜𝑚(𝐸,𝐹 ) ∘ 𝜙̂︀ = 𝑖𝑑𝑀 e 𝜋𝐸 ∘ 𝑠 = 𝑖𝑑𝑀 ,
i.e., 𝑠(𝑝) ∈ 𝐸𝑝 e 𝜙(𝑝)
̂︀ ∈ 𝐻𝑜𝑚(𝐸, 𝐹 )𝑝 = 𝐻𝑜𝑚(𝐸𝑝 , 𝐹𝑝 ) 𝑝 ∈ 𝑀 , ou seja, (𝜙̂︀ ∘ 𝑠)(𝑝) = 𝜙(𝑝)𝑠(𝑝)
̂︀ ∈ 𝐹𝑝 .
Donde 𝜙̂︀ ∘ 𝑆 ∈ Γ(𝐹 ).
Suponha que 𝐹 (𝜙)̂︀ = 0. Para verificar a injetividade de 𝐹 , mostraremos que 𝜙 ̂︀𝑝 : 𝐸𝑝 −→ 𝐹𝑝
é o homomorfismo nulo para cada 𝑝 ∈ 𝑀 , ou seja, 𝜙 é seção nula de 𝐻𝑜𝑚(𝐸, 𝐹 ). Fixe 𝑝 ∈ 𝑀 e
̂︀
𝑣 ∈ 𝐸𝑝 . Existe uma seção 𝑠𝑣 ∈ Γ(𝐸) com 𝑠𝑣 (𝑝) = 𝑣. De fato, localmente numa vizinhança 𝑈 de
𝑝 trivializante podemos sempre obter uma seção local 𝑠̃︀𝑣 com a propriedade desejada. Agora, seja
𝑓 : 𝑛 −→ R com 𝑆𝑢𝑝𝑝(𝑓 ) ⊂ 𝑈 e 𝑓 (𝑝) = 1 e defina 𝑠𝑣 := 𝑓 𝑠̃︀𝑣 .
Agora 𝐹 (𝜙)(𝑠
̂︀ 𝑣 ) = 0 implica 𝜙 ̂︀ ∘ 𝑠𝑣 = 0, donde 𝜙 ̂︀𝑝 · 𝑠𝑣 (𝑝) = 0. Logo, 𝜙
̂︀𝑝 (𝑣) = 0. Como 𝑣 ∈ 𝐸𝑝
é arbitrário, 𝜙̂︀𝑝 é o homomorfismo nulo. Como 𝑝 ∈ 𝑀 é arbitrário, 𝜙̂︀ é a seção nula e portanto
𝐹 é injetiva. Quanto a sobrejetividade, seja Φ ∈ 𝐻𝑜𝑚(Γ(𝐸), Γ(𝐹 )), defina 𝜙̂︀ : 𝐸 −→ 𝐹 por
𝜙̂︀𝑝 (𝑣) = Φ(𝑠𝑣 )(𝑝) onde 𝑠𝑣 ∈ Γ(𝐸) é a seção tal que 𝑠𝑣 (𝑝) = 𝑣. 𝜙̂︀ está bem definido, de fato, se
𝑠𝑣 e 𝑠′𝑣 são seções tais que 𝑠𝑣 (𝑝) = 𝑠′𝑣 (𝑝) = 𝑣 temos Φ(𝑠𝑣 )(𝑝) = Φ(𝑠′𝑣 )(𝑝) ou em outras palavras se
𝑠(𝑝) = 0, Φ(𝑠)(𝑝) = 0. Seja {𝑒1 , . . . , 𝑒𝑟 } um referencial local numa vizinhança 𝑈 de 𝑝.
Novamente isto pode ser feito localmente e as seções locais podem ser extendidas a seções
globais como acima. Agora,
𝑟
𝑠(𝑥) = 𝑓𝑖 (𝑥)𝑒𝑖 (𝑥); 𝑥 ∈ 𝑈
∑︁
𝑖=1
em 𝑝 temos Φ(𝑠)(𝑝) = Φ(𝜆𝑠)(𝑝) pois 𝜆(𝑝) = 1. Mas 𝜆𝑠 = (𝜆𝑓𝑖 )𝑒𝑖 e 𝜆𝑓𝑖 se extende para funções
∑︀
96
Proposição 3.3.10. Dado dois fibrados vetoriais 𝐸, 𝐹 → 𝑀 , existe um isomorfismo de 𝐶 ∞ (𝑀 )-
módulos
Γ(𝐸) ⊗ Γ(𝐹 ) → Γ(𝐸 ⊗ 𝐹 ) .
Γ(𝐸)* ∼
= Γ(𝐸)* ⊗ 𝐶 ∞ (𝑀 )
∼
= Γ(𝐸)* ⊗ Γ(R)
∼
= 𝐻𝑜𝑚(Γ(𝐸), Γ(R))
∼
= Γ(𝐻𝑜𝑚(𝐸, R))
∼
= Γ(𝐸 * ⊗ R) ∼
= Γ(𝐸 * ⊗ 𝐶 ∞ (𝑀 )) ∼
= Γ(𝐸 * )
A demonstração segue
Γ(𝐸) ⊗ Γ(𝐹 ) ∼
= 𝐻𝑜𝑚(Γ(𝐸)* , Γ(𝐹 ))
∼
= 𝐻𝑜𝑚(Γ(𝐸 * ), Γ(𝐹 ))
∼
= Γ(𝐻𝑜𝑚(𝐸 * , 𝐹 ))
∼
= Γ(𝐸 ⊗ 𝐹 ))
𝜑𝑖 : 𝜋 −1 (𝑈𝑖 ) −→ 𝑈𝑖 × C
([𝑙], 𝑧) ↦ −→ ([𝑙], 𝑧𝑖 )
97
Agora observe que,
𝑢0 𝑢𝑛
(︂ )︂
𝑧 = (𝑧0 , · · · , 𝑧𝑛 ) = 𝑧𝑖 , · · · , 1, · · · ,
𝑢𝑖 𝑢𝑖
𝑧𝑖
= (𝑢0 , · · · , 𝑢𝑖 , · · · , 𝑢𝑛 )
𝑢𝑖
𝑧𝑖
= 𝑙.
𝑢𝑖
𝑧𝑖
isto é, 𝜋 −1 (𝑈𝑖 ) = {([𝑙]; 𝑧) ∈ C𝑃 𝑛 × C𝑛+1 ; 𝑧 = 𝑙}
𝑢𝑖
Então podemos definir
𝑖 : 𝑈𝑖 × C −→ 𝜋 (𝑈𝑖 )
𝜑−1 −1
𝜆
([𝑙], 𝜆) ↦ −→ ([𝑙], 𝑙)
𝑢𝑖
′ ′
𝜑−1
𝑖 está bem definido, i.e. independe da classe [𝑙]. De fato, se ([𝑙], 𝜆) = ([𝑙 ], 𝜆) =⇒ [𝑙] = [𝑙 ]
′ ′
donde 𝑙 = 𝑟𝑙, i.e., 𝑢𝑘 = 𝑟𝑢𝑘 𝑘 = 0, · · · , 𝑛. Daí,
𝜆 ′
(︂ )︂
′ ′
𝑖 ([𝑙 ], 𝜆)
𝜑−1 = [𝑙 ], ′ 𝑙
𝑢𝑖
𝜆
(︂ )︂
= [𝑙], ′ 𝜋𝑙
𝑢𝑖
𝜆
(︂ )︂
= [𝑙], 𝜋𝑙
𝑟𝑢𝑖
𝜆
(︂ )︂
= [𝑙], 𝑙
𝑢𝑖
𝑖 ([𝑙], 𝜆).
= 𝜑−1
Seja 𝑈𝑖 ∩ 𝑈𝑗 ̸= ∅. Então,
𝑔𝑖𝑗 : 𝑈𝑖𝑗 × C −→ 𝑈𝑖𝑗 × C
𝑢𝑖
(︂ )︂
([𝑙], 𝜆) ↦ −→ [𝑙], 𝜆
𝑢𝑗
98
Com efeito,
𝜆
= 𝜑𝑖 ([𝑙], 𝑙)
𝑢𝑗
𝑢𝑖
(︂ )︂
= 𝜑𝑖 [1], 𝑙
𝑢𝑗
𝜆
(︂ )︂
= [𝑙], 𝑙
𝑢𝑖
= 𝜑−1
𝑖 ([𝑙], 𝜆).
𝜏𝑖𝑗 : 𝑈𝑖𝑗 −→ C*
𝑢𝑖
[𝑙] ↦ −→
𝑢𝑗
Proposição 3.3.12. 𝐸(𝛾𝑛1 ) sobre R𝑃 𝑛 (𝑛 ≥ 2) é não trivial.
𝑃 𝑠
Seja 𝑠 : R𝑃 𝑛 −→ 𝐸(𝛾𝑛1 ) qualquer seção, e considere a composição R𝑛+1 − {0} −→ R𝑃 𝑛 −→
𝐸(𝛾𝑛1 ), onde 𝑝 é projeção que leva 𝑥 ∈ R𝑛+1 − {0} em [𝑥] ∈ R𝑃 𝑛 , então 𝑆 ∘ 𝑃 (𝑥) = 𝑠([𝑥]) =
′
([𝑥], 𝑡(𝑥)𝑥) ∈ 𝛾𝑛 , 𝑡 : R𝑛+1 − {0} −→ R é contínua pois, 𝑠 ∘ 𝑃 o é. Como 𝑃 (𝑥) = 𝑃 (−𝑥), segue que
𝑡(−𝑥) = −𝑡(𝑥) ou seja 𝑡 é uma função ímpar 𝑠 ∘ 𝑃 (𝑥) = 𝑆 ∘ 𝑃 (−𝑥) o que implica ([𝑥], 𝑡(𝑥)𝑥) =
([−𝑥], −𝑡(−𝑥)𝑥), i.e., 𝑡(−𝑥) = −𝑡(𝑥). Se 𝑡 ≡ 0 não há o que fazer, se 𝑡(𝑥) ̸= 0, pelo teorema do
valor intermediário existe 𝑥0 tal que 𝑡(𝑥0 ) = 0 (R𝑛+1 −{0}, é conexo 𝑛 ≥ 2 e 𝑡 é contínua e ímpar)
e portanto se anula, donde segue que não existe referencial global, ou seja, 𝐸(𝛾𝑛1 ) é não trivial.
𝐸(𝛾11 ) = {(±𝑥, 𝑦) ∈ R𝑃 1 × R2 ; 𝑦 = 𝜆𝑥, 𝜆 ∈ R} podemos escrever 𝑥 = (cos 𝜃, sin 𝜃), 𝜃 ∈ [0, 𝜋].
Essa representação é única para 𝜃 ∈ (0, 𝜋). E (±(cos 0, sin 0), 𝜆(cos 0, sin 0) = ±(cos 𝜋, sin 𝜋), −𝜆(cos 𝜋, sin 𝜋)).
Em outras palavras, 𝐸(𝛾11 ) pode ser obtido da faixa [0, 𝜋] × R identificando-se {0} × R com
{𝜋} × R via (0, 𝑡) ↦ −→ (𝜋, −𝑡).
Assim, 𝐸(𝛾11 ) é a faixa de möbius sobre R𝑃 1 ≈ 𝑆 1 .
𝑣 𝑢
𝑥(𝑢, 𝑣) = (1 + cos ) cos 𝑢
2 2
𝑣 𝑢
𝑦(𝑢, 𝑣) = (1 + cos ) sin 𝑢
2 2
𝑣 𝑢
𝑧(𝑢, 𝑣) = sin
2 2
99
Figura 3.1: faixa de möbius como fibrado não trivial sobre S1
100
Capítulo 4
Conexões e Curvatura
∇𝜎 = ∇(𝑓 𝑘 𝜎𝑘 ) (4.1.1)
∑︁
𝑘
= 𝑓 𝑘 (∇𝜎𝑘 ) + 𝜎𝑘 ⊗ 𝑑𝑓 𝑘 (4.1.2)
∑︁
𝑘
= 𝑓 𝑘( 𝜎𝑗 ⊗ 𝐴𝑗𝑘 ) + 𝜎𝑘 ⊗ 𝑑𝑓 𝑘 (4.1.3)
∑︁ ∑︁
𝑘 𝑗
𝑗 𝑘
101
Dizemos que a conexão ∇ é suave se, para qualquer referêncial local, cada 1-forma 𝐴𝑗𝑘 for suave.
Considerando 𝜑𝛼 : 𝜋 −1 (𝑈𝛼 ) → 𝑈𝛼 × C𝑟 , 𝜑𝛽 : 𝜋 −1 (𝑈𝛽 ) → 𝑈𝛽 × C𝑟 duas trivializações locais, com
𝑈𝛼 ∩ 𝑈𝛽 ̸= ∅ e a função de transição:
Seja dois referenciais locais, {𝜎𝑘𝛼 } e {𝜎𝑘𝛽 } de 𝑈𝛼 e 𝑈𝛽 respectivamente, onde 𝜎𝑘𝛽 = 𝑇𝛼𝛽 𝜎𝑘𝛼 em 𝑈𝛼 ∩𝑈𝛽 .
Assim, dado uma seção 𝜎 em 𝑈𝛼 ∩ 𝑈𝛽 temos:
𝑟
(𝜎)𝛼 = 𝑓 𝑘 𝜎𝑘𝛼 (4.1.5)
∑︁
𝑘=1
𝑟
= 𝑇𝛼𝛽
−1
( 𝑓 𝑘 𝜎𝑘𝛽 ) (4.1.6)
∑︁
𝑘=1
= 𝑇𝛼𝛽
−1
(𝜎)𝛽 , (4.1.7)
Logo
concluíndo que a matrizes de conexão se relacionam via conjugação, isto é, 𝐴𝛽 = 𝑇𝛼𝛽 (𝑑 + 𝐴𝛼 )𝑇𝛼𝛽
−1
.
• 𝑇𝑝 𝑃 = 𝑉𝑝 ⊕ 𝐻𝑝 , ∀𝑝 ∈ 𝑃 ;
Definimos a 1-forma de conexão, 𝜔 : 𝑇 𝑃 → g de uma conexão 𝐻 da seguinte maneira: Dado
𝑝 ∈ 𝑃 , 𝑡 ∈ 𝑇𝑝 𝑃 , então 𝜔(𝑡) = 𝑋 onde o grupo uniparamétrico 𝑒𝑥𝑝(𝑡𝑋) em 𝑝 gera o campo 𝑋
satisfazendo 𝑋(𝑝) = 𝑉 (𝑡)(componente vertical do vetor 𝑡). Um fato interessante é que existe uma
relação 1:1 entre as conexões e as formas de conexão.
Se 𝜋(𝑝) = 𝑚, como 𝑉𝑝 é o núcleo de 𝑑𝜋𝑝 , temos que 𝑑𝜋𝑝 : 𝐻𝑝 → 𝑇𝑚 𝑀 é um isomorfismo.
Portanto o subfibrado principal 𝐻 é naturalmente isomorfo ao fibrado 𝜋 * (𝑇 𝑀 ). Logo, se 𝑋 for
um campo de vetores em 𝑀 , existe uma única seção 𝑌 do fibrado 𝐻 sobre 𝑃 , tal que
102
Chamaremos 𝑌 como o levantamento horizontal de 𝑋. O levantamento horizontal também será
um campo vetorial e é invariante pela a ação de 𝐺 sobre 𝑃 .
Agora, se 𝐸 for um fibrado vetorial associado ao fibrado principal, com uma representação 𝜌
de 𝐺 sobre um espaço vetorial 𝑊 . Assim, dado uma conexão 𝐻 em 𝑃 , podemos construir uma
única conexão ∇𝐸 no fibrado vetorial associado 𝐸.
Seja 𝑋 ∈ Γ(𝐸), tal que 𝜋 * (𝑋) é uma seção de 𝑃 × 𝑊 sobre 𝑃 . Então 𝜋 * (𝑋) pode ser considerado
como uma função
𝜋 * (𝑋) : 𝑃 −→ 𝑊,
onde 𝑑(𝜋 * (𝑋))|𝑝 é um mapa linear para cada 𝑝 ∈ 𝑃 . Logo 𝑑(𝜋 * (𝑋)) é um mapa suave do fibrado
vetorial 𝑊 ⊗ 𝑇 * 𝑃 sobre 𝑃 . Para cada 𝑝 ∈ 𝑃 , temos os seguintes isomorfismos:
𝑇𝑝 𝑃 ∼
= 𝑉𝑝 ⊕ 𝐻𝑝 ;
𝑉𝑝 ∼= g;
𝐻𝑝 ∼
= 𝜋 * (𝑇𝜋(𝑝) 𝑀 );
onde g é a algebra de Lie de 𝐺. Assim
𝑊 ⊗ 𝑇 *𝑃 ∼
= 𝑊 ⊗ ((g ⊕ 𝑊 ) ⊗ 𝜋 * (𝑇 * 𝑀 )).
Denotaremos 𝑝𝑖𝐻 (𝑑𝜋 * (𝑋)) como a componente de 𝑑(𝜋 * (𝑋)) em Γ(𝑊 ⊗ 𝜋 * (𝑇 * 𝑀 )). Agora, como
𝜋 * (𝑋) e o fibrado vetorial 𝑊 ⊗ 𝜋 * (𝑇 * 𝑀 ) são ambos 𝐺-invariantes, temos que 𝜋𝐻 (𝑑𝜋 * (𝑋)) tam-
bém será invariante via a ação de 𝐺. Porém, existe uma correspondência 1:1 entre as seções
𝐺-invariantes de 𝑊 ⊗ 𝜋 * (𝑇 * 𝑀 ) sobre 𝑃 e as seções do fibrado vetorial associado 𝐸 × 𝑇 * 𝑀 sobre
𝑀 . Portanto 𝜋𝐻 (𝑑𝜋 * (𝑋)) é o p̈ull-backd̈e um único elemento de Γ(𝐸 × 𝑇 * 𝑀 ).
Logo, definimos ∇𝐸 𝑋 ∈ Γ(𝐸 × 𝑇 * 𝑀 ) como a única seção de 𝐸 ⊗ 𝑇 * 𝑀 sujo o ’pull-back’ é
𝜋𝐻 (𝑑𝜋 * (𝑋)) sobre a projeção natural 𝑊 ⊗ 𝜋 * (𝑇 * 𝑀 ) → 𝐸. Isto define uma conexão ∇𝐸 sobre o
fibrado vetorial associado 𝐸.
Se 𝐺 = 𝐺𝑙(𝑘) e 𝜌 for a representação canônica de 𝐺 sobre R𝑘 (C𝑘 ), temos que 𝑃 será o fibrado
de referênciais do fibrado vetorial 𝐸, então existe uma correspondência 1:1 entre as conexões em
𝑃 e as conexões em 𝐸.
𝑔 : Γ(𝐸) −→ Γ(𝐸)
103
𝜎 ↦ −→ 𝑔 ∘ 𝜎,
Então ∇′ = 𝑔∇𝑔 −1 .
Fixando 𝑈 ⊂ 𝑀 aberto e {𝜎𝑘 } um referencial local, as matrizes das conexões acima se relacio-
nam:
∇′ 𝜎 = 𝑔(𝑑 + 𝐴)𝑔 −1 𝜎 = (𝑑 + 𝑔𝑑𝑔 −1 + 𝑔𝐴𝑔 −1 )𝜎,
(𝑔, ∇) ↦ −→ 𝑔∇𝑔 −1 ,
e tome ℬ(𝐸) como o conjunto de órbitas desta ação. Podemos nos perguntar qual topologia
podemos dar para o conjunto de conexões para que adquirirmos boas propriedades para ℬ(𝐸).
Iremos retornar a este assunto mais tarde no curso.
104
4.2.3 Conexões em somas diretas e em produtos tensoriais
Considere 𝐸1 e 𝐸2 dois fibrados vetoriais sobre a mesma varidedade diferenciável 𝑀 , e tome
∇1 e ∇2 suas respectivas conexões. Assim defina
∇1 ⊕ ∇2 : Γ(𝐸1 ⊕ 𝐸2 ) −→ Γ(𝐸1 ⊕ 𝐸2 ) ⊗ Ω1𝑀 ∼
= Γ(𝐸1 ) ⊕ Γ(𝐸2 )
(𝜎1 + 𝜎2 ) ↦ −→ ∇1 𝜎1 + ∇2 𝜎2 .
Este mapa satisfaz a definição de conexão, pois se 𝑓 ∈ 𝐶 ∞ (𝑀 ) e 𝜎1 + 𝜎2 ∈ Γ(𝐸1 ⊕ 𝐸2 ) temos
(∇1 ⊕ ∇2 )(𝑓 (𝜎1 + 𝜎2 )) = (∇1 ⊕ ∇2 )(𝑓 𝜎1 + 𝑓 𝜎2 ) (4.2.3)
= ∇1 (𝑓 𝜎1 ) + ∇2 (𝑓 𝜎2 ) (4.2.4)
= 𝑓 ∇1 (𝜎1 ) + 𝜎1 ⊗ 𝑑𝑓 + 𝑓 ∇2 (𝜎2 ) + 𝜎2 ⊗ 𝑑𝑓 (4.2.5)
= 𝑓 (∇1 ⊕ ∇2 )(𝜎1 + 𝜎2 ) + (𝜎1 + 𝜎2 ) ⊗ 𝑑𝑓. (4.2.6)
Logo ∇1 ⊕ ∇2 define uma conexão em 𝐸1 ⊕ 𝐸2 . Localmente, se 𝐴1 e 𝐴2 for as matrizes de conexão
de ∇1 e ∇2 respectivamentes, temos que
(∇1 ⊕ ∇2 )(𝜎1 + 𝜎2 ) = ∇1 (𝜎1 ) + ∇2 (𝜎2 ) (4.2.7)
= 𝑑𝜎1 + 𝐴1 𝜎1 + 𝑑𝜎2 + 𝐴2 𝜎2 (4.2.8)
= 𝑑(𝜎1 + 𝜎2 ) + (𝐴1 + 𝐴2 )(𝜎1 + 𝜎2 ), (4.2.9)
pois 𝐴𝑖 𝜎𝑗 := 0 se 𝑖 ̸= 𝑗. Assim a matriz de conexão de ∇1 ⊕ ∇2 é exatamente 𝐴1 + 𝐴2 .
De maneira análoga ao anterior podemos definir a conexão tensorial no fibrado 𝐸1 ⊗ 𝐸2 . Como
sendo
∇1 ⊗ ∇2 := ∇1 ⊗ 𝐼2 + 𝐼𝐸1 ⊗ ∇2 : Γ(𝐸1 ⊗ 𝐸2 ) −→ Γ(𝐸1 ⊗ 𝐸2 ) ⊗ Ω1𝑀 .
4.3 Curvatura
4.3.1 Curvatura em Fibrados Vetoriais
Seja 𝑀 uma variedade suave, 𝐸 um fibrado vetorial e denote Ω𝑝𝑀 := Γ(Λ𝑝 𝑇 * 𝑀 ) como sendo o
conjunto das p-formas diferenciáveis. Assim podemos definir a seguinte conexão:
∇(𝑝) : Γ(𝐸) ⊗ Ω𝑝𝑀 −→ Γ(𝐸) ⊗ Ω𝑝+1
𝑀
105
Se 𝑓 ∈ 𝐶 ∞ (𝑀 ) e 𝜎 ∈ Γ(𝐸) então
∇′ = 𝑔∇𝑔 −1 ,
𝑖,𝑗
𝐹∇ (𝜎𝑘 ) = 𝜎𝑖 ⊗ 𝐹𝑘𝑖
∑︁
106
𝐹∇ (𝜎𝑘 ) = ∇(1) ∇𝜎𝑘 (4.3.7)
⎛ ⎞
𝑗 𝑖
⎛ ⎞
𝑖 𝑗
𝐹∇ = 𝑑𝐴 + 𝐴 ∧ 𝐴.
Teorema 4.3.2. (Identidade de Bianchi) Seja 𝐹∇ a forma de curvatura de uma conexão ∇. Então
∇𝐹∇ ≡ 0.
Demonstração. Seja 𝐴 uma matriz de conexão de ∇, dado em um aberto da variedade 𝑀 . Logo
∇𝐹∇ = 𝑑𝐹∇ + [𝐴, 𝐹∇ ] (4.3.12)
= 𝑑(𝑑𝐴 + 𝐴 ∧ 𝐴) + [𝐴, 𝑑𝐴 + 𝐴 ∧ 𝐴] (4.3.13)
= 𝑑𝐴 ∧ 𝐴 − 𝐴 ∧ 𝑑𝐴 + [𝐴, 𝑑𝐴] + [𝐴, 𝐴 ∧ 𝐴] (4.3.14)
= [𝑑𝐴, 𝐴] + [𝐴, 𝑑𝐴] + [𝐴, 𝐴 ∧ 𝐴] (4.3.15)
Note que [𝐴, 𝑑𝐴] = 𝐴 ∧ 𝑑𝐴 − 𝑑𝐴 ∧ 𝐴 e [𝐴, 𝐴 ∧ 𝐴] = 𝐴 ∧ 𝐴 ∧ 𝐴 − 𝐴 ∧ 𝐴 ∧ 𝐴 = 0. Logo ∇𝐹∇ ≡ 0.
107
Demonstração. Seja 𝑋, 𝑌 campos verticais e 𝑋 ′ , 𝑌 ′ ∈ g tais que 𝜔(𝑋) = 𝑋 ′ e 𝜔(𝑌 ) = 𝑌 ′ . Assim
onde 𝜔(𝑌 ) = 0 e 𝜔(𝑋) é constante, e [𝑋, 𝑌 ] será um campo horizontral. Por outro lado Ω(𝑋, 𝑌 ) =
0 quando 𝑋 for vertical e [𝜔, 𝜔](𝑋, 𝑌 ) = 0 quando 𝑌 for horizontal.
E por fim, se 𝑋, 𝑌 forme ambos horizontal, temos que a 1-forma de conexão zera em ambos e
que a forma de curvatura
Temos também que 𝐷[𝜔, 𝜔] = 0, pois [𝜔, 𝜔] é uma forma vertical e portanto se anula em entradas
horizontias. Portanto 𝐷Ω = 0.
108
são suaves. O referencial é conhecido como unitário se satisfizer 𝐻𝑖𝑗 (𝑝) = 𝛿𝑖𝑗 para cada 𝑝 ∈ 𝑀 .
Dado um referencial unitário {𝜎1 , ..., 𝜎𝑟 } no fibrado vetorial 𝐸, temos que {𝜏 𝑘 := ⟨𝜎𝑘 , ·⟩} formam
um referencial em 𝐸 * . Como ⟨𝜎𝑘 , 𝜎𝑗 ⟩ = 𝛿𝑖𝑗 temos que 𝑑 ⟨𝜎𝑘 , 𝜎𝑗 ⟩ = 0. Logo se ∇ for conexão unitário
temos
∇* 𝜏 𝑘 = − 𝐴𝑘𝑗 ⊗ 𝜏 𝑗 .
∑︁
Portanto se 𝜏 = 𝑘 𝑓 𝑘 𝜏 𝑘 satisfaz ∇* 𝜏 = 𝑑𝜏 − 𝐴𝑡 𝜏 .
∑︀
∇𝜉 𝑗
̃︁
𝑖 = ∇* 𝜏 𝑗 ⊗ 𝜎𝑖 + 𝜏 𝑗 ⊗ ∇𝜎𝑖 (4.4.3)
(︃ )︃ (︃ )︃
= 𝜏 𝑙 ⊗ 𝐴𝑗𝑙 ⊗ 𝜎𝑖 + 𝜏 𝑗 ⊗ 𝜎𝑘 ⊗ 𝐴𝑘𝑗 (4.4.4)
∑︁ ∑︁
−
𝑙 𝑘
= [𝐴, 𝑆𝑙𝑘 ]𝜏 𝑙 ⊗ 𝜎𝑘 , (4.4.5)
∑︁
𝑘,𝑙
onde cada 𝑆𝑙𝑘 é a matrix elementar onde todas as entradas são nulas exceto na entrada 𝑙, 𝑘 onde
por sua vez é 1.
Dada uma seção qualquer 𝜉 = 𝑖,𝑗 𝑔𝑗𝑖 𝜉𝑖𝑗 , onde 𝑔𝑗𝑖 ∈ 𝐶 ∞ (𝑀 ), segue
∑︀
⎛ ⎞
= 𝑑𝑔 𝑗 .𝜉 𝑗 + 𝑔 𝑗 ⎝ [𝐴, 𝑆 𝑘 ]𝜉 𝑙 ⎠ (4.4.6)
∑︁ ∑︁
∇𝜉
̃︁
𝑖 𝑖 𝑖 𝑙 𝑘
𝑖,𝑗 𝑘,𝑙
∑︁ (︁ )︁
= 𝑑𝑔𝑙𝑘 + [𝐴, 𝑔]𝑘𝑙 𝜉𝑘𝑙 . (4.4.7)
𝑘,𝑙
Concluíndo que ̃︁
∇𝜉 = 𝑑𝜉 + [𝐴, 𝑔] para quaisquer seção local 𝜉 ∈ 𝐸𝑛𝑑(𝐸).
109
110
Capítulo 5
Integrabilidade de Estruturas
Holomorfas
5.1 Integrabilidade
Para dar uma interpretação ao que chamaremos depois a condição Anti-Autodual, (ASD)
para abreviar, precisamos olhar pelas estruturas complexas sobre um fibrado dado. Para tanto
fazemos a seguinte.
Definição 5.1.1 (Fibrado complexo). Um fibrado vetorial (E , 𝜋, 𝑍), onde E , e 𝑍 são variedades
complexas é dito um fibrado complexo holomorfo se 𝜋 : E ↦→ 𝑍 é uma função holomorfa.
Ao longo de esta seção todo fibrado vetorial será considerado como sendo um fibrado vetorial
complexo onde a fibra é espaço vetorial C-linear.
Exemplo 5.1.2. Um fibrado vetorial 𝜋 : E ↦→ 𝑍 é holomorfo se e somente se, para cada 𝛼, 𝛽 tais
que 𝑈𝛼 ∩ 𝑉𝛽 ̸= ∅, o mapa 𝑔𝛼,𝛽 : 𝑈𝛼 ∩ 𝑉𝛽 ↦→ 𝐺𝐿(𝑛, C) é holomorfo. Note que
𝜋 = 𝑝1 ∘ 𝜙𝛼 ∘ 𝜙−1
𝛽 ∘ 𝜙𝛽 = 𝑝1 ∘ 𝑔𝛼,𝛽 ∘ 𝜙𝛽
111
Definição 5.1.3. Seja (E , 𝜋, 𝑍) um fibrado vetorial complexo, uma conexão parcial em E é um
operador linear
𝜕¯E : Ω0,𝑞 (𝐸) ↦→ Ω0,𝑞+1 (𝐸)
satisfazendo
1.
𝜕¯E (𝑓 𝑠) = (𝜕¯E 𝑓 )𝑠 + 𝑓 (𝜕¯E 𝑠) (5.1.1)
onde 𝑓 ∈ 𝐶 ∞ (𝑍, C) e 𝑠 ∈ Ω0,𝑞 (𝐸).
2.
𝜕¯E (𝑠)|𝑈 ≡ 0 se e somente se, 𝑠|𝑈 é holomorfa. (5.1.2)
Onde 𝑠|𝑈 : 𝑈 ↦→ E é a restrição de 𝑠 a uma trivialização local 𝑈 .
Lema 5.1.4. O fibrado (E , 𝜋, 𝑍) determina naturalmente uma conexão parcial.
Demonstração. Seja 𝑈𝛼 uma trivialização local, restritas a 𝑈𝛼 as seções de E são representadas
por funções de valor vetorial, dai que podemos definir 𝜕¯E = 𝜕, ¯ atuando por separado em cada
componente. Definida dessa manera 𝜕, ¯ satisfaz 5.1.1 e 5.1.2. Ora se 𝑔𝛼,𝛽 é a matriz de mudança
de coordenadas,
𝑔𝛼,𝛽 : 𝑈𝛼 ∩ 𝑉𝛽 ↦→ 𝐺𝐿(𝑛, C)
¯
então 𝜕(𝑔𝑠) ¯
= (𝜕𝑔)𝑠 ¯ e dado que 𝑔 é holomorfa, (𝜕𝑔)𝑠
+ 𝑔(𝜕𝑠) ¯ = 0. Segue o resultado.
Observação 5.1.5. O operador 𝜕¯ tem comportamento tensorial quando há um cambio holomorfo
de trivialização. Note também que se 𝐴 é uma conexão num fibrado (E , 𝜋, 𝑍), o espaço Ω1𝑍
descompô-se como
𝑍 (𝐸)
Ω1𝑍 (𝐸) = Ω𝑍1,0 (𝑍) + Ω0,1
daí que 𝐴 define uma derivada covariante como segui:
𝑑𝐴 := 𝑑 + 𝐴 = 𝜕𝐴 ⊕ 𝜕¯𝐴 : Ω0𝑍 (𝐸) ↦→ Ω𝑍1,0 ⊕ Ω0,1
𝑍 (𝐸)
Note que 𝜕¯𝐴 satisfaz 5.1.1, a pergunta é. Em que casos 𝜕¯𝐴 = 𝜕¯E para alguma estrutura E dada?
Localmente uma conexão parcial se escrevi como 𝜕¯E = 𝜕¯ = 𝑎. Onde 𝑎 é uma matriz de
(0, 1) − 𝑓 𝑜𝑟𝑚𝑎𝑠 em Ω0,1 (𝐸), mas 𝑎 não é tensorial, não entanto se definimos
𝜑𝑎 := 𝜕¯𝑎2 ∈ Ω(0,2) (𝐸𝑛𝑑(𝐸))
localmente temos que, 𝜑𝑎 = 𝜕¯𝑎 + 𝑎 ∧ 𝑎. Dadas coordenadas locais 𝜏 obtemos:
𝜑𝜏𝑎 = 𝜕¯𝑎𝜏 + 𝑎𝜏 ∧ 𝑎𝜏
E em coordenadas complexas sobre o espaço base
[︃ ]︃
𝜕 𝜕
𝜑𝜆𝜇 = + 𝑎𝜆 , + 𝑎𝜇
𝜕 𝑧¯𝜆 𝜕 𝑧¯𝜇
O operador 𝜕¯E obtido de um fibrado holomorfo satisfaz 𝜕¯𝑍2 = 0, os grupos de cohomología de E que
denotamos por 𝐻 𝑝 (E ) e é chamamada a cohomología de Dolbeault, 𝐻 * (E ) = 𝑘𝑒𝑟(𝜕¯𝑍 )/𝑖𝑚(𝜕¯𝑍 ).
Dizemos que 𝜑E é a curvatura formal e relativa a E .
112
Teorema 5.1.6 (De integrabilidade). Uma conexão parcial 𝜕¯𝛼 sobre um fibrado vectorial complexo
𝐶 ∞ sobre uma variedade complexa 𝑍 é aquela induzida pela estrutura holomorfa se e somente se
𝜑𝛼 = 0.
Observação 5.1.7. Quando o resultado anterior se tem diz-se que 𝜕𝛼 é integrável e os seguintes
conjuntos ficam em correspondência biunivoca,
{E Estruturas holomorfas em 𝑍} ↔ {𝜕𝛼 Tais que 𝜑𝛼 = 0}
É um aspecto muito relevante pois liga a quantidade de estruturas holomorfas compatíveis sobre
um fibrado vetorial com soluções de equações diferenciais parciais.
113
Olhando a decomposição feita acima temos que
Teorema 5.1.12. Uma conexão unitária 𝐴 num fibrado hermitiano (𝐸, ℎ) é compatível com E se
e somente se 𝐹𝐴 = 𝐹𝐴1,1
Isto é, dado um fibrado hermitiano com estrutura holomorfa E ele determina uma única conexão
do tipo (1, 1). 𝐴 é uma conexão Cherm de ℎ com respeito a E e obtemos uma bijeção como segui,
= 𝜕¯𝐸 }
E (0,2)
{ℎ Hermitiana 𝐸} ↔ {𝐴ℎ Tais que 𝐹𝐴
La transposta de uma matriz de (0, 1)−formas é uma matriz de (1, 0)−formas. Em particular, se
E é um fibrado vetorial holomorfo com métrica Hermitiana, existe uma única conexão sobre E
compatível com as duas estruturas. Em resumo temos
Proposição 5.1.13 (Conexão de Cherm). Em um fibrado holomorfo E com uma métrica Hermi-
tiana ℎ, existe uma (única) conexão compatível (unitária) 𝜕¯𝐴 = 𝜕¯E se, e somente se, 𝐹𝐴ℎ = 𝐹𝐴ℎ
(1,1)
Ω2𝑍 = Ω+
𝑍 ⊕ Ω𝑍
−
(5.2.1)
𝐹𝐴 = 𝐹𝐴+ ⊕ 𝐹𝐴− ∈ Ω+
𝑍 (g) ⊕ Ω𝑍 (g)
−
(5.2.2)
onde Ω±
𝑍 (g𝐸 ) = Γ(Λ𝑍 ⊗ g𝐸 ). Note que a noção de Autodualidade e anti-autodualidade são inter-
±
Observação 5.2.2. Seja 𝐸 um 𝐺 fibrado vectorial ande 𝐺 é um grupo de Lie compacto e semi-
simples. Então existe uma forma bilinear ⟨·, ·⟩ que é bi-invariante em g = 𝑙𝑖𝑒(𝐺) a álgebra de Lie
e
⟨𝐴, 𝐵⟩ = −𝑇 𝑟𝑎(𝐴𝐵) ≥ 0
114
de fato ⟨·, ·⟩ define uma métrica bi-invariante. Assim se 𝛼, 𝛽 ∈ Ω𝑘 (𝐸𝑛𝑑(𝐸)), localmente podemos
escrever 𝛼 = 𝑎 ⊗ 𝐴 e 𝛼 = 𝑏 ⊗ 𝐵. E definir ⟨𝛼, 𝛽⟩ * 1 := (𝛼 ∧ *𝛽)⟨𝐴, 𝐵⟩g .
Note que Λ2 (g) = Λ2+ (g) ⊕ Λ2− (g). Daí que se 𝑍 for compacta faz sentido definir
∫︁
(𝛼, 𝛽) = ⟨𝛼, 𝛽⟩ * 1 (5.2.4)
𝑍
115
Note que Λ2 tem dimensão 6 além disso Λ2+ ∼
= Λ2− logo Λ2+ tem que ter dimensão 3. Dai que
𝐵 = {𝑅𝑒𝑎(𝑑𝑧¯1 ∧ 𝑑𝑧¯2 ), 𝑖𝑚(𝑑𝑧¯1 ∧ 𝑑𝑧¯2 ), 𝜔 = 𝑑𝑥1 ∧ 𝑑𝑥2 + 𝑑𝑥3 ∧ 𝑑𝑥4 }
é uma base para Λ2+ , além disso é complementar de Λ2− , a afirmação fica demostrada.
com este resultado podemos refrasear a proposição de integrabilidade como segui.
Proposição 5.2.5. Se 𝐴 é anti-autodual (i,é 𝐹𝐴+ = 0) no fibrado vetorial complexo 𝜋 : 𝐸 ↦→ 𝑍
sobre uma variedade Hermitiana 𝑍 (𝑑𝑖𝑚C 𝑍 = 2) e uma métrica Hermitiana em 𝑇 𝑍. Então 𝜕¯𝐴
define uma estrutura holomorfa em 𝐸. Reciprocamente dada 𝜉 uma estrutura holomorfa em 𝐸, e
𝐴 uma conexão unitária compatível. Então 𝐴 é AAD (i,é 𝐹+ = 0) o também 𝐴 é um instantom
se e somente se, 𝐹˜𝐴 := 𝐹𝐴 · 𝜔 = 0.
Definição 5.2.6. Definimos a equação de Hermite-Yang-Mills abreviadamente (HYM) por
𝐹^𝐴 = 0 (5.2.8)
= 𝐹^𝐴𝑡
⎧
⎨ 𝜕𝐴𝑡
𝜕𝑡
⎩𝐴0 = 𝐴
𝜕𝐴𝑡
Se existiese, 𝐴∞ = lim 𝐴𝑡 , então lim = 0. Daí que
𝑡→+∞ 𝑡→+∞ 𝜕𝑡
𝐹^𝐴∞ = 0
ou equivalentemente
⎨𝐹^
⎧
=𝐹 ·𝜔 Condição de (HYM)
⎩𝐹 0,2 = 0 Condição de integrabilidade.
116
Exemplo 5.2.8. Suponha que a metrica envolvida no problema é a metrica plana de C2 , então as
equacões em 5.2.10 são equivalentes ao sistema
⎧
⎨[∇ + 𝑖∇2 , ∇3 + 𝑖∇4 ] = 0 Condição de integrabilidade.
1
⎩[∇1 , ∇2 ] + [∇3 , ∇4 ] = 0 Condição de (HYM)
⎪
[∇1 , ∇4 ] + [∇2 , ∇3 ] = 0 (2)
[∇1 , ∇3 ] + [∇4 , ∇2 ] = 0 (3)
⎪
⎩
𝐷1 := ∇1 + 𝑖∇2 e 𝐷2 := ∇3 + 𝑖∇4
e levando em conta que as métricas envolvidas são unitárias consideramos também o adjunto formal
0 = [∇1 , ∇2 ] + [∇3 , ∇4 ]
= [∇1 , ∇2 ] + [𝑖∇2 , ∇2 ] + [∇3 , ∇4 ] + [𝑖∇4 , ∇4 ]
= [𝐷1 , ∇2 ] + [𝐷2 , ∇4 ] = [𝐷1 , 𝑖∇2 ] + [𝐷2 , 𝑖∇4 ]
= [𝐷1 , 𝑖∇2 ] − [𝐷1 , ∇1 ] + [𝐷2 , 𝑖∇4 ] − [𝐷2 , ∇3 ] + [𝐷1 , ∇1 ] + [𝐷2 , ∇3 ]
= [𝐷1 , 𝐷1* ] + [𝐷2 , 𝐷2* ] + [𝑖∇2 , ∇1 ] + [𝑖∇4 , ∇3 ]
= [𝐷1 , 𝐷1* ] + [𝐷2 , 𝐷2* ]
117
118
Capítulo 6
As classes características são classes de cohomologia que vem naturalmente associada ao fibrado
vetorial; isto é, todo fibrado vetorial tem associado uma classe de cohomologia na variedade base
que pode ser definida por meio da curvatura de uma conexão. Assim, o ponto inicial é lembrar
que dado um fibrado vetorial 𝜋 : 𝐸 → 𝑀 e uma conexão ∇ com sua 2-forma de curvatura
associada (𝐹∇ )𝛼 definida localmente no aberto trivializante 𝑈𝛼 ⊂ 𝑀 , esta muda de trivialização
por conjugação i.e., no aberto trivializante 𝑈𝛽 , (𝐹∇ )𝛽 = 𝑔𝛼𝛽
−1
(𝐹∇ )𝛼 𝑔𝛼𝛽 = 𝐴𝑑𝑔𝛼𝛽 (𝐹∇ ). Agora, como
estas formas estão definidas só localmente gostaríamos de trabalhar com um objeto global. Por
esse motivo vamos começar a estudar funções que tem a propriedade de serem invariantes por
semelhança, de tal maneira que o resultado vai ser independente da trivialização usada.
Exemplo 6.1.1. Dado 𝑝 ∈ N temos que 𝑓 (𝑚) = 𝑑𝑒𝑡(𝑚𝑝 ) e ℎ(𝑚) = 𝑡𝑟(𝑚𝑝 ) também são ad-
invariantes; de fato, dado 𝑔 ∈ 𝐺𝐿(𝑉 ) (𝑔 −1 𝑚𝑔)𝑝 = 𝑔 −1 𝑚𝑝 𝑔 assim 𝑓 (𝑚) = 𝑓 (𝑔 −1 𝑚𝑔) e ℎ(𝑚) =
ℎ(𝑔 −1 𝑚𝑔).
Exemplo 6.1.2. Tome 𝑓 (𝑚) = 𝑑𝑒𝑡(1 + 𝑚) onde 1 denota a identidade em 𝐸𝑛𝑑(𝑉 ), assim para
𝑟=2
119
𝑓 (𝑡𝑚) = 𝑑𝑒𝑡(1 + 𝑡𝑚)
1 + 𝑡𝑚11
(︃ )︃
𝑡𝑚12
= 𝑑𝑒𝑡
𝑡𝑚21 1 + 𝑡𝑚22
= 1 + (𝑚11 + 𝑚22 )𝑡 + (𝑚11 𝑚22 − 𝑚12 𝑚21 )𝑡2
Assim 𝑓0 (𝑚) = 1, 𝑓1 (𝑚) = 𝑡𝑟(𝑚) = 𝑚11 + 𝑚22 e 𝑓2 (𝑚) = 𝑑𝑒𝑡(𝑚) = 𝑚11 𝑚22 − 𝑚12 𝑚21 .
Teorema 6.1.3. O espaço vetorial (real) das funções 𝑓 : 𝐸𝑛𝑑(𝑉 ) → C ad-invariantes e homogê-
neas de grau 𝑘 é gerado pelo conjunto {𝑡𝑟(𝑚𝑘1 ), ..., 𝑡𝑟(𝑚𝑘𝑞 ); 𝑘1 + ... + 𝑘𝑞 = 𝑘}.
𝐸𝑛𝑑(𝑉 ) /9 R
˜
⊗ 𝐸𝑛𝑑(𝑉 )𝑓𝑘
𝑘
Δ(𝑚) = 𝑚 ⊗ ... ⊗ 𝑚, 𝑓̃︁𝑘 (𝑚 ⊗ ... ⊗ 𝑚) = 𝑡𝑟(𝑚𝑘 ) = 𝑓𝑘 (𝑚) i.e. 𝑓̃︁𝑘 fica determinada por 𝑓𝑘 .
𝐸𝑛𝑑(𝐸) × Ω2𝑘
⨂︀𝑘
𝑀
120
Logo pela identidade de Bianchi (∇𝐹∇ = 0) temos 𝑑𝑓𝑘 (𝐹∇ ) = 0.
Proposição 6.2.2. Se ∇ e ∇′ são conexões em 𝐸 então 𝑓𝑘 (𝐹∇ )−𝑓𝑘 (𝐹∇′ ) = 𝑑𝛼, com 𝛼 ∈ Ω2𝑘−1
𝑀 ⊗C.
Logo [𝑓𝑘 (𝐹∇ )] ∈ 𝐻𝑑𝑅 (𝑀, C) depende apenas de 𝐸, chamada classe característica de 𝐸.
2𝑘
𝑓𝑘 (𝐹∇
̃︀ ) = 𝑑𝑡 ∧ 𝛽2𝑘−1 + 𝛽2𝑘 é uma 2𝑘-forma em 𝑀 × [0, 1] onde 𝛽2𝑘−1 é uma 2𝑘 − 1-forma e 𝛽2𝑘 é
uma 2𝑘-forma em 𝑀 , dependendo de 𝑡.
𝜕𝛽2𝑘
𝑑𝑓𝑘 (𝐹∇
̃︀ ) = −𝑑𝑡 ∧ 𝑑𝛽2𝑘−1 + 𝑑𝑡 ∧ + 𝑑𝛽2𝑘 (6.2.1)
𝜕𝑡
Note que 01 𝑑𝛽2𝑘−1 𝑑𝑡 = 𝑑( 𝛽2𝑘−1 𝑑𝑡) onde 𝛼 = 𝛽2𝑘−1 𝑑𝑡 é uma 2𝑘 − 1-forma, assim, segue-se a
∫︀ ∫︀ 1 ∫︀ 1
0 0
proposição.
Observação 6.3.2. 1. A título de comentário, as classes de Chern são universais i.e., toda
classe característica pode ser expressada como combinação de classes de Chern. Por exemplo
a k-ésima classe de Pontrjagin de um fibrado vetorial real 𝐸 pode ser expressada em termos
da k-ésima classe de Chern da complexificação do fibrado, 𝑝𝑘 (𝐸) = (−1)𝑘 𝑐2𝑘 (𝐸 ⊗ C).
121
⨁︀ 𝑑𝑖𝑚𝑀
Como 𝐶(𝐸) = 1+𝑐1 (𝐸)+𝑐2 (𝐸)+... ∈ 𝐻𝐷𝑅 *
= 𝑝=02 𝐻𝑑𝑅 2𝑝
(𝑀, C) tem estrutura de álgebra com
o produto de classes obtido do produto exterior de formas i.e., se 𝑥 ∈ 𝐻𝐷𝑅
2𝑘
(𝑀, C) e 𝑦 ∈ 𝐻𝐷𝑅
2𝑙
(𝑀, C)
2(𝑘+𝑙)
então 𝑥 · 𝑦 ∈ 𝐻𝐷𝑅 (𝑀, C). De fato, sejam 𝑥 = [𝜔] e 𝑦 = [𝜂] onde 𝜔 é uma 2𝑘-forma e 𝜂 uma
2𝑙-forma, então definimos 𝑥 · 𝑦 = [𝜔 ∧ 𝜂].
Temos que 𝑥·𝑦 está bem definida i.e., 𝜔∧𝜂 é uma forma fechada, já que 𝑑(𝜔∧𝜂) = 𝑑𝜔∧𝜂+𝜔∧𝑑𝜂 = 0,
pois 𝜔 e 𝜂 são fechadas. Por outro lado 𝑥 · 𝑦 não depende do representante, isto significa que dadas
𝜔 ′ = 𝜔 + 𝑑𝛼 (𝜔 ′ e 𝜔 são chamadas cohomologas) e 𝜂 ′ = 𝜂 + 𝑑𝛽 onde 𝛼 e 𝛽 são 2𝑘 − 1 e 2𝑙 − 1 formas
respectivamente.
𝜔′ ∧ 𝜂′ = (𝜔 + 𝑑𝛼) ∧ (𝜂 + 𝑑𝛽)
= 𝜔 ∧ 𝜂 + 𝑑𝛼 ∧ 𝜂 + 𝜔 ∧ 𝑑𝛽 + 𝑑𝛼 ∧ 𝑑𝜂
= 𝜔 ∧ 𝜂 + 𝑑[𝛼 ∧ 𝜂 + 𝜔 ∧ 𝛽 + 𝛼 ∧ 𝑑𝛽]
= 𝜔 ∧ 𝜂 + 𝑑𝛾
122
Demonstração. Escolha ∇ uma conexão em 𝐸, temos que ∇ também é uma conexão em 𝐸. Seja 𝐹∇
a curvatura em 𝐸 e 𝐹∇ a curvatura de 𝐸. Da prova da proposição 6.3.3, 𝐹∇ pode ser considerada
𝑘
como anti hermitiana i.e., 𝐹∇ = −𝐹∇𝑡 . Como 𝐶𝑘 (𝐸) é gerado pelo conjunto 𝑡𝑟(𝐹∇𝑘1 ), ..., 𝑡𝑟(𝐹∇𝑞 )tal
que 𝑘1 + ... + 𝑘𝑞 = 𝑘, segue-se a proposição.
Mais ainda, dada uma métrica hermitiana em 𝐸, considere a aplicação 𝑣 ∈ 𝐸 𝑥 → 𝑙(𝑣) ∈ 𝐸𝑥* ;
𝑙(𝑣) : 𝑢 ∈ 𝐸𝑥 → 𝑙(𝑣) = ⟨𝑢, 𝑣⟩, é um isomorfismo entre fibrados 𝐸 ∼
= 𝐸 * . Logo também vale
𝐶𝑘 (𝐸 * ) = (−1)𝑘 𝐶𝑘 (𝐸)
Exemplo 6.3.5. Considere a função 𝑐ℎ(𝑚) = 𝑡𝑟(𝑒𝑥𝑝( 2𝜋𝑖 𝑚)). As classes características associadas
𝑘
a 𝑐ℎ𝑘 (𝑚) = (2𝜋)𝑖 𝑘 𝑘! 𝑡𝑟(𝑚𝑘 ) são chamadas classes do caráter de Chern.
𝑖
𝑐ℎ1 (𝐸) = [ 𝑡𝑟(𝐹∇ )] = 𝐶1 (𝐸)
2𝜋
1 1
𝑐ℎ2 (𝐸) = [− 𝑡𝑟(𝐹 ∇ ∧ 𝐹 ∇ )] = 𝐶 2 (𝐸) − 𝐶1 (𝐸)2 (6.3.1)
8𝜋 2 2
Nas seguintes proposições, 𝐸 e 𝐹 são fibrados vetoriais complexos com base 𝑀 e posto 𝑚 e 𝑛
respectivamente.
𝜑* 𝐸 / 𝐸
𝑁 / 𝑀
∇(𝑓 𝑠) = ∇(𝑓 𝑠1 ⊕ 𝑓 𝑠2 )
= ∇𝐸 (𝑓 𝑠1 ) ⊕ ∇𝐹 (𝑓 𝑠2 )
= (𝑑𝑓 ⊗ 𝑠1 + 𝑓 ∇𝐸 𝑠1 ) ⊕ (𝑑𝑓 ⊗ 𝑠2 + 𝑓 ∇𝐹 𝑠2 )
= (𝑑𝑓 ⊗ 𝑠1 ) ⊕ (𝑑𝑓 ⊗ 𝑠2 ) + (𝑓 ∇𝐸 𝑠1 ) ⊕ (𝑓 ∇𝐹 𝑠2 )
= 𝑑𝑓 ⊗ (𝑠1 ⊕ 𝑠2 ) + 𝑓 (∇𝐸 𝑠1 ⊕ ∇𝐸 𝑠2 )
= 𝑑𝑓 ⊗ 𝑠 + 𝑓 ∇𝑠
123
Sejam {𝑠𝐸𝑗 } referencial de 𝐸 e {𝑠𝑘 } referencial de 𝐹 então {𝑠1 ⊕ 0, ..., 𝑠𝑚 ⊕ 0, 0 ⊕ 𝑠1 , ..., 0 ⊕ 𝑠𝑛 }
𝐹 𝐸 𝐸 𝐹 𝐹
é referencial de 𝐸 ⊕ 𝐹
𝑗 , 0) = (∇ 𝑠𝑗 , 0) = (Σ𝑠𝑘 ⊗ (𝐴 )𝑗 , 0)
∇(𝑠𝐸 𝐸 𝐸 𝐸 𝐸 𝑘
= Σ(𝑠𝐸
𝑘 , 0) ⊗ (𝐴 )𝑗
𝐸 𝑘
Assim
𝐴𝐸 0
(︃ )︃
𝐴=
0 𝐴𝐹
Logo, usando a equação estrutural temos
0
(︃ )︃
𝐹 ∇𝐸
𝐹∇ = (6.3.2)
0 𝐹∇𝐹
𝐼+ 0
(︃ )︃
𝑖
𝐹 𝐸
𝐶(𝐸 ⊕ 𝐹 ) = 𝑑𝑒𝑡 2𝜋 ∇
0 𝐼 + 2𝜋𝑖 𝐹∇𝐹
𝑖 𝑖
= 𝑑𝑒𝑡(𝐼 + 𝐹∇𝐸 )𝑑𝑒𝑡(𝐼 + 𝐹 𝐹)
2𝜋 2𝜋 ∇
= 𝐶(𝐸) · 𝐶(𝐹 )
124
ii) 𝑐ℎ(𝐸 ⊗ 𝐹 ) = 𝑐ℎ(𝐸) · 𝑐ℎ(𝐹 ).
Demonstração. 𝑖) Do mesmo jeito que na prova do item 𝑖) da proposição 6.3.6 podemos escolher
uma forma de curvatura 𝐹∇ como na equação 6.3.2, assim
(︃ )︃
𝑖𝐹∇
𝑐ℎ(𝐸 ⊕ 𝐹 ) = 𝑡𝑟(𝑒𝑥𝑝 )
2𝜋
⎛ (︃ )︃ ⎞
𝑖𝐹∇𝐸
⎜𝑒𝑥𝑝 2𝜋
0 ⎟
= 𝑡𝑟 ⎜
⎜ ⎟
(︃ )︃⎟
⎜ ⎟
𝑖𝐹∇𝐹
⎝
0 𝑒𝑥𝑝 2𝜋
⎠
= 𝑐ℎ(𝐸) + 𝑐ℎ(𝐹 )
𝑖 ⊗ 𝑠𝑗 ) = ∇ 𝑠𝑖 ⊗ 𝑠𝑗 + 𝑠𝑖 ⊗ ∇ 𝐹 𝑠𝑗
∇(𝑠𝐸 𝐹 𝐸 𝐸 𝐹 𝐸 𝐹
𝐹∇ (𝑠𝐸
𝑖 ⊗ 𝑠𝑗 ) = Σ𝑘 (𝑠𝑘 ⊗ (𝐹∇𝐸 )𝑖 ) ⊗ 𝑠𝑗 + 𝑠𝑖 ⊗ (Σ𝑙 𝑠𝑙 ⊗ (𝐹∇𝐹 )𝑗 )
𝐹 𝐸 𝑘 𝐹 𝐸 𝐹 𝑙
Assim localmente a forma de curvatura para 𝐸 ⊗ 𝐹 vem dada pelo produto 𝐹∇𝐸 ⊗ 𝐼 + 𝐼 ⊗ 𝐹∇𝐹 .
Observe que 𝐹∇𝐸 ⊗ 𝐼 e 𝐼 ⊗ 𝐹∇𝐹 comuta logo
(︃ )︃
𝑖 𝑖
𝑐ℎ(𝐸 ⊗ 𝐹 ) = 𝑡𝑟(𝑒𝑥𝑝 𝐹 ∇𝐸 ⊗ 𝐼 + 𝐼 ⊗ 𝐹∇𝐹 )
2𝜋 2𝜋
(︃ )︃ (︃ )︃
𝑖 𝑖
= 𝑡𝑟(𝑒𝑥𝑝 𝐹 𝐸 ⊗ 𝐼 · 𝑒𝑥𝑝 𝐼 ⊗ 𝐹 ∇𝐹 )
2𝜋 ∇ 2𝜋
(︃ )︃ (︃ )︃
𝑖 𝑖
= 𝑡𝑟(𝑒𝑥𝑝 𝐹 𝐸 ) · 𝑡𝑟(𝑒𝑥𝑝 𝐹 𝐹 )
2𝜋 ∇ 2𝜋 ∇
= 𝑐ℎ(𝐸) · 𝑐ℎ(𝐹 )
125
6.5 Exemplos de Classes de Chern
6.5.1 Conexões via Projeções
Seja 𝐸 → 𝑀 fibrado vetorial (R ou C) de dimensão n, sobre a variedade diferenciável 𝑀 ,
denote o fibrado trivial 𝑀 × R𝑚 := R𝑚 (𝑀 × C𝑚 := C𝑚 ) e suponha 𝐸 ˓→ R𝑚 (C𝑚 ) subfibrado.
∇(𝑓 𝜎) = 𝑃 𝑑(𝑓 𝜎)
= 𝑃 (𝜎 ⊗ 𝑑𝑓 + 𝑓 𝑑𝜎)
= 𝜎 ⊗ 𝑑𝑓 + 𝑓 𝑃 𝑑𝜎
= 𝜎 ⊗ 𝑑𝑓 + 𝑓 ∇𝜎
𝑑𝑃 2 = 𝑑𝑃
(𝑑𝑃 )𝑃 + 𝑃 𝑑𝑃 = 𝑑𝑃
𝑃 (𝑑𝑃 )𝑃 + 𝑃 𝑑𝑃 = 𝑃 𝑑𝑃
𝑃 (𝑑𝑃 )𝑃 = 0
126
Exemplo 6.5.2. Seja 𝑀 = 𝑆 2 ⊂ R3 esfera de raio 1 e sejam as matrizes de Pauli
0 𝑖 0 −1 𝑖 0
(︃ )︃ (︃ )︃ (︃ )︃
𝜏1 = 𝜏2 = 𝜏3 =
𝑖 0 1 0 0 −𝑖
1
∇𝜎 = (𝐼2 − 𝑖 𝑥𝑘 𝜏𝑘 )𝑑𝜎 (6.5.3)
∑︁
2
com 𝜎(𝑥) = (𝜎1 (𝑥), 𝜎2 (𝑥)), 𝜎𝑖 : 𝑆 2 → C. E calculando a curvatura
𝑖 ∑︁ 𝑘
𝑑𝑃 = − 𝑑𝑥 𝜏𝑘
2
1 ∑︁ 𝑗
𝑑𝑃 ∧ 𝑑𝑃 = − 𝑑𝑥 ∧ 𝑑𝑥𝑘 𝜖𝑗𝑘𝑙 𝜏𝑙
4 𝑗,𝑘,𝑙
1
= − (𝑑𝑥1 ∧ 𝑑𝑥2 𝜏3 − 𝑑𝑥1 ∧ 𝑑𝑥3 𝜏2 + 𝑑𝑥2 ∧ 𝑑𝑥3 𝜏1 )
2
Dado 𝑥 ∈ 𝑆 2 , fixe uma orientação, um referencial ortonormal (𝑥, 𝑢, 𝑣) para R3 , assim (𝑢, 𝑣)
são um referencial ortonormal para 𝑇𝑥 𝑆 2 , ou seja, 𝑢 × 𝑣 = 𝑥, 𝑥 × 𝑢 = 𝑣,... onde × denota produto
vetorial de R3 .
segue que 𝐹∇ (𝑢, 𝑣)𝜎 = − 2𝑖 𝜎, i.e., 𝐹∇ (𝑢, 𝑣) = − 2𝑖 ∈ 𝐸𝑛𝑑(𝐸). Finalmente calculando as classes de
Chern temos 𝐶1 (𝐸) = 2𝜋𝑖 𝐹∇ (já que 𝐸 tem posto 1 então 𝑡𝑟(𝐹∇ ) = 𝐹∇ e 𝐶1 (𝐸)(𝑢, 𝑣) = 4𝜋 1
)
∫︁
1 ∫︁
𝐶1 (𝐸) = 𝑑𝑣𝑜𝑙 = 1
𝑆2 4𝜋 𝑆 2
De fato 𝐶1 (𝐸) ∈ 𝐻 2 (𝑆 2 , Z) = Z. Finalmente observe que
2. O fibrado considerado não é isomorfo ao fibrado trivial, portanto não admite uma conexão
plana.
Exemplo 6.5.3. Similar ao exemplo anterior considere agora o fibrado de posto 1, 𝐸 ′ = {(𝑥, 𝑣) ∈
𝑆 2 × C2 ; 𝑥 𝜏𝑘 𝑣 = −𝑖𝑣}. Para ver que de fato 𝐸 ′ é um fibrado é similar ao argumento dado para
∑︀ 𝑘
127
Temos 𝑃 : C2 → 𝐸 ′ cuja aplicação entre as fibras 𝑃𝑥 : C2 → 𝐸𝑥′ vem definida por 𝑃𝑥 = 12 (𝐼2 +
𝑖 𝑥𝑘 𝜏𝑘 ) onde 𝐸𝑥 = 𝑘𝑒𝑟( 𝑥𝑘 𝜏𝑘 + 𝑖𝐼2 ). Igual que no exemplo anterior temos
∑︀ ∑︀
𝑖 ∑︁ 𝑘 1 ∑︁ 𝑘
𝑑𝑃 = 𝑑𝑥 𝜏𝑘 𝑑𝑃 ∧ 𝑑𝑃 (𝑢, 𝑣) = − 𝑥 𝜏𝑘
2 2
note que 𝑥𝑘 𝜏𝑘 age como multiplicação por −𝑖 em 𝐸 ′ segue que 𝐹∇ (𝑢, 𝑣)𝜎 = 𝑖
isto é
∑︀
2
𝜎
𝐹∇ (𝑢, 𝑣) = 2𝑖 ∈ 𝐸𝑛𝑑(𝐸), logo a primeira classe de Chern 𝐶( 𝐸 ′ ) = 2𝜋𝑖 𝐹∇ é igual a − 4𝜋
1
∫︁
1 ∫︁
𝐶1 (𝐸 ) = −
′
𝑑𝑣𝑜𝑙 = −1
𝑆2 4𝜋 𝑆 2
De fato 𝐶1 (𝐸 ′ ) ∈ 𝐻 2 (𝑆 2 , Z) = Z. Finalmente observe que
2. O fibrado considerado 𝐸 ′ não é isomorfo ao fibrado trivial, portanto não admite uma conexão
plana.
1
(︃ )︃
𝑧0 𝑧0 𝑧0 𝑧1
𝑃𝐿 =
|𝑧0 | +|𝑧1 | 𝑧1 𝑧0 𝑧1 𝑧1
2 2
Logo a aplicação entre as fibras 𝑓𝐿 : C2 → 𝐿 fica definida por 𝑓𝐿 (𝑢0 , 𝑢1 ) = (𝑢0 , 𝑢1 )𝑃𝐿 . Para
definir a conexão usamos a construção da equação (6.5.1) e as cartas locais de CP1 𝜑𝑖 : R2 → 𝑈𝑖
𝑖 = 0, 1 com 𝜑0 (𝑥, 𝑦) = [1, 𝑧] e 𝜑1 (𝑥, 𝑦) = [𝑧, 1] onde 𝑧 = 𝑥 + 𝑖𝑦. Logo uma seção 𝜎 sobre o aberto
𝑈0 é 𝜎(𝜑0 (𝑥, 𝑦)) = (𝜑0 (𝑥, 𝑦), (1, 𝑧)) ∈ CP1 × C2 . Assim 𝑑𝜎 = (𝜑0 (𝑥, 𝑦), (0, 𝑑𝑧)) onde 𝑑𝑧 = 𝑑𝑥 + 𝑖𝑑𝑦.
𝑧𝑑𝑧
= (𝜑0 (𝑥, 𝑦), (1, 𝑧))
1 + |𝑧|2
Como localmente ∇𝜎 = 𝐴 ⊗ 𝜎, temos
𝑧𝑑𝑧
𝐴𝜑0 (𝑥,𝑦) =
1 + |𝑧|2
128
Para calcular a curvatura associada com a conexão 𝐴𝜑0 (𝑥,𝑦) usamos a equação estrutural 𝐹𝐴 =
𝑑𝐴 − 𝐴 ∧ 𝐴 (por comodidade denotamos 𝐴𝜑0 (𝑥,𝑦) simplesmente por 𝐴).
𝑑𝑧 ∧ 𝑑𝑧
𝑑𝐴 =
(1 + |𝑍|2 )2
com 𝑑𝑧 ∧ 𝑑𝑧 = 2𝑖𝑑𝑥 ∧ 𝑑𝑦 e como 𝐴 ∧ 𝐴 = 0 temos
2𝑖
𝐹𝐴 = 𝑑𝑥 ∧ 𝑑𝑦
(1 + |𝑧|2 )2
Logo a primeira classe de Chern de 𝑇 , 𝐶1 (𝑇 ) = 𝑖
𝐹
2𝜋 𝐴
∫︁
𝑟𝑑𝑟 ∧ 𝑑𝜃
∫︁ 2𝜋 ∫︁ ∞
𝐹𝐴 = 2𝑖
CP 1
0 0 (1 + 𝑟2 )2
∫︁ ∞
𝑟𝑑𝑟
= 4𝑖𝜋
0 (1 + 𝑟2 )2
1 ⃒⃒∞
⃒
= −2𝑖𝜋 = 2𝑖𝜋
1 + 𝑟 2 ⃒0
Portanto ∫︁
𝐶1 (𝑇 ) = −1
CP1
O calculo anterior nos diz que o fibrado considerado não é isomorfo ao fibrado CP1 × C2 e
portanto não admite conexão plana.
129
130
Capítulo 7
O objetivo neste capitulo é discutir uma generalização do Teorema de Gauss Bonnet. O teorema
clássico conecta a geometria com a topologia de uma superfície Riemanniana (𝑀, 𝑔) orientada,
relacionando a curvatura Gaussiana 𝐾 e a curvatura geodésica 𝑘𝑔 com 𝜒(𝑀 ) a característica de
Euler de 𝑀 , tendo
∫︁ ∫︁
𝐾𝑑𝐴 + 𝑘𝑔 𝑑𝑠 = 2𝜋𝜒(𝑀 ).
𝑀 𝜕𝑀
Note que para superfícies sem fronteira a característica de Euler é igual a 2 − 2𝑔, onde 𝑔 é o
gênero da superfície e o segundo termo na soma é nulo, segue que
∫︁
𝐾𝑑𝐴 = 2𝜋(2 − 2𝑔).
𝑀
Denotamos o fibrado vetorial real subjacente com fibra real de dimensão 2𝑛 por 𝐸R como uma
distinção entre os dois.
Dado 𝐽 uma estrutura quase complexa sobre 𝑇 Σ ussaremos o Lema a seguir para mostrar que
a integral sobre (uma variedad 2-dimenasional) Σ de qualquer representante de 𝑐1 (𝑇0,1 Σ) é igual a
2 − 2𝑔.
131
fibrado vetorial complexo que é definido de 𝐸R via 𝑗𝑡 . Então, para cada 𝑡 ∈ [0, 1], 𝐸 𝑡 é isomorfo a
𝐸 0 como fibrados vetoriais complexos. Em particular, as classes de Chern não mudam ao variar
𝑡, isto é 𝑐1 (𝐸 𝑡 ) não depende de 𝑡.
A demonstração deste lema encontra-se em [Taubes, Lema 14,8 pagina 183].
A afirmação sobre a integral de 𝑐1 (𝑇0,1 Σ) segue a partir do lema anterior, junto com a observação
que duas estruturas complexas em 𝑇 Σ que definem a mesma orientação estão ligados por um
caminho de estruturas complexas. Finalmente, o resultado segue dos exemplos da próxima seção.
𝐽Σ : 𝑇 Σ → 𝑇 Σ
𝐽Σ2 = −𝐼𝑑𝑇 Σ ,
Exemplo 7.2.1. Primeiramente, vejamos que Σ 𝑐1 (𝑇Σ ) = 𝜒(Σ) vale particularmente no caso
∫︀
Σ = 𝑆 2.
132
= 𝑑𝑥 ∧ 𝑑𝑥𝑡 𝜎 + 𝑥𝑑𝑥𝑡 ∧ 𝑑(𝑥𝑡 𝜎).
Concluímos,
𝐹∇ 𝜎 = 𝑑𝑥 ∧ 𝑑𝑥𝑡 𝜎.
𝐽𝑆 2 (𝑢) = 𝑥 × 𝑢 = 𝑣
𝐽𝑆 2 (𝑣) = 𝑥 × 𝑣 = −𝑢
𝐹∇ = −𝑖𝑑𝑢 ∧ 𝑑𝑣.
Considere 𝑛* : 𝐻𝑑𝑅
2
(𝑆 2 , Z) → 𝐻𝑑𝑅 2
(Σ, Z). Observe que 𝑛* 𝑇 𝑆 2 ∼ = 𝑇 Σ é um isomorfismo de
fibrados. De fato,
(𝑛* 𝑇 𝑆 2 )𝑥 := 𝑇𝑛(𝑥) 𝑆 2 = {𝑤 ∈ R3 |𝑛(𝑥) · 𝑤 = 0} = 𝑇𝑥 Σ
𝜓𝑛* 𝐽𝑆 2 = 𝐽Σ 𝜓,
de fato,
𝜓𝑛* 𝐽𝑆 2 (𝑥, 𝑤) = 𝜓(𝑥, 𝑛(𝑥) × 𝑤) = (𝑛(𝑥), 𝑛(𝑥) × 𝑤) e por outro lado 𝐽Σ 𝜓(𝑥, 𝑤) = 𝐽Σ (𝑛(𝑥), 𝑤) =
(𝑛(𝑥), 𝑛(𝑥) × 𝑤).
Concluimos ∫︁
𝑐1 (𝑇Σ ) = 2 − 2𝑔.
Σ
133
7.3 Exemplos sobre fibrados complexos
Nesta seção vamos exibir dois exemplos de fibrados complexos, o primeiro de posto 1 sobre uma
superfície e o segundo de posto 2 sobre uma variedade 4-dimensional, em ambos os casos calcula-se
a primeira classe de Chern.
Exemplo 7.3.1 (Dimensão 2). Vamos denotar Σ uma superfície compacta e orientada. Construí-
mos um fibrado vetorial complexo, da seguinte forma, escolha Λ = {𝑝1 , ..., 𝑝𝑘 } ⊂ Σ um conjunto de
𝑘 pontos distintos. Atribuir a cada ponto 𝑝 ∈ Λ um 𝑚𝑝 inteiro. Para cada ponto 𝑝𝑖 ∈ Λ fixamos
𝑈𝑖 ⊂ Σ uma família de abertos disjuntos tais que 𝑝𝑖 ∈ 𝑈𝑖 e 𝜓𝑖 : 𝑈𝑖 → R2 uma carta coordenada
enviando 𝑝 a 0, que preserva orientação.
O fibrado 𝐸 de posto 1 é definido sobre a cobertura por abertos dado pelo conjunto 𝑈0 = Σ − Λ
e os conjuntos {𝑈𝑖 }𝑝𝑖 ∈Λ . Sobre cada conjunto da cobertura 𝐸 é definido como sendo o fibrado
produto 𝑈𝑖 × C, resta estabelecer funções de transição para uma boa definição. As únicas inter-
secções não vazias estão entre 𝑈0 e 𝑈𝑗 para cada 𝑗 = 1, ..., 𝑘, denotemos as funções de transição
por 𝜏𝑗 : 𝑈0 ∩ 𝑈𝑗 → C* = [𝐺𝑙𝑛(1, C)], nestas intersecções note que a imagem de 𝑈0 ∩ 𝑈𝐽 por 𝜓𝑗 é
R2 − {0} então definimos 𝜏𝑗 (𝑥) := 𝑒𝑖𝑚𝑗 𝜃 onde 𝜃 = 𝑎𝑟𝑔(𝜓𝑗 (𝑥)).
Para comprovar essa afirmação, vamos fixar uma derivada covariante conveniente em 𝐸 cuja
correspondente primeira classe de Chern é facilmente integrada. Para começar, fixamos uma fun-
ção suave, 𝜒 : [0, ∞) → [0, 1] que é igual a 0 próximo de 0 e igual a 1 em [1, ∞). Agora veja 𝜒
como a função de R2 a [0, 1] que envia (𝑟, 𝑦) a 𝜒(𝑟).
𝑗=1
Assim definida ∇ é uma conexão e observe-se que 𝐹∇ (𝑥) = 0 para todo 𝑥 ∈ Σ − ∪𝑘𝑗=1 𝑈𝑗 .
134
𝑑𝜒𝑗
𝐹∇ |𝑈𝑗 = 𝑖𝑚𝑗 𝜓𝑗*
𝑑𝑟 ∧ 𝑑𝜃.
𝑑𝑟
Segue que 𝑐1 (𝐸; ∇) tem suporte unicamente nos conjuntos 𝑈𝑗 , portanto
𝑘 ∫︁
∫︁
𝑖 ∫︁ 𝑚𝑗 * 𝑑𝜒𝑗
𝑐1 (𝐸) = 𝐹∇ = −
∑︁
𝜓𝑗 𝑑𝑟 ∧ 𝑑𝜃
Σ 2𝜋 Σ 𝑗=1 𝑈𝑗 2𝜋 𝑑𝑟
𝑘
−1 −1 ∑︁ ∫︁
𝑑𝜒𝑗
= = 𝑚𝑗 𝑑𝑟𝑑𝜃.
2𝜋 2𝜋 𝑗=1 R2 𝑑𝑟
𝑑𝜒𝑗
Assim dado que = 2𝜋 então
∫︀
R2 𝑑𝑟 𝑑𝑟𝑑𝜃
∫︁ 𝑘
𝑐1 (𝐸) = −
∑︁
𝑚𝑖
Σ 𝑖=1
Exemplo 7.3.2 (Dimensão 4). Este exemplo considera 𝑆𝑈 (2)- fibrados sobre uma variedade 𝑀
de Riemann 4-dimensional. compacta e conexa. Tomemos Λ = {𝑝1 , ..., 𝑝𝑘 } ⊂ Σ um conjunto de
𝑘 pontos distintos, para cada ponto 𝑝𝑖 ∈ Λ fixamos 𝑈𝑖 ⊂ Σ uma família de abertos disjuntos tais
que 𝑝𝑖 ∈ 𝑈𝑖 e 𝜓𝑖 : 𝑈𝑖 → R2 uma carta coordenada enviando 𝑝 a 0, que preserva orientação e volume.
Definimos um fibrado complexo sobre 𝑀 de posto 2, usando a cobertura dada pelo conjunto
𝑈0 = Σ − Λ e {𝑈𝑖 }𝑝𝑖 ∈Λ , o fibrado 𝐸 será especificado pela família de funções de transição nas
regiões de sobreposição entre os conjuntos dessa cobertura, 𝛾𝑗 : 𝑈0 ∩ 𝑈𝑗 → 𝐺𝑙𝑛(2, C).
1 𝑦4 + 𝑖𝑦3 𝑖𝑦1 − 𝑦2
(︃ )︃
𝑦 = (𝑦1 , 𝑦2 , 𝑦3 , 𝑦4 ) ↦ −→ 𝑔(𝑦) = ,
‖𝑦‖ 𝑖𝑦1 + 𝑦2 𝑦4 − 𝑖𝑦3
Definimos uma conexão conveniente, para este propósito, usamos a função 𝜒 do Exemplo 7.3.1.
A conexão A é definida fornecendo uma 1-forma 𝑎𝑗 com valores em 𝐿𝑖𝑒(𝑆𝑈 (2)) satisfazendo
135
Novamente 𝐹∇ = 0 em 𝑀 − ∪𝑘𝑗=1 𝑈𝑗 , por outro lado
1 ∑︁
𝑘
= 2 (−4)𝑣𝑜𝑙(𝑆 3 ) = −𝑘.
8𝜋 𝑗=1
136
Capítulo 8
Eletromagnetismo em variedades
Lembremos que dada uma forma bilinear e simétrica, existe uma base {𝑒𝑖 }𝑛𝑖=1 de 𝑉 tal que a
representação matricial da forma nesta base é uma matriz diagonal com entradas −1, 0, 1. Além
disso, outra base com as mesmas propriedades possui a mesma representação matricial a menos de
permutações dos elementos da diagonal (Lei de inércia de Sylvester). Usando que a forma é não
degenerada, temos que existe uma base ortonormal {𝑒𝑖 }𝑛𝑖=1 em 𝑉 , i.e., (𝑒𝑖 , 𝑒𝑗 ) = ±𝛿𝑖𝑗 .
Notação: Dada uma forma bilinear 𝑔 e uma base ortonormal {𝑒𝑖 }𝑛𝑖=1 para 𝑉 definimos 𝜀(𝑗) =
𝑔(𝑒𝑗 , 𝑒𝑗 ).
Definição 8.1.1. Defina a aplicação linear ♭ : 𝑉 → 𝑉 * , chamada bemol, como a única que satisfaz
𝑣 ♭ (𝑤) = 𝑔(𝑣, 𝑤) ∀𝑤 ∈ 𝑉.
Esta aplicação é bem definida e linear pois 𝑔 é bilinear. Além disso é um isomorfismo entre os
espaços vetorias pois 𝑔 é não-degenerada e 𝑉 tem dimensão finita. Denotaremos a transformação
inversa de ♭ por ♯, chamada sustenido.
Se tomarmos uma base {𝑒𝑖 }𝑛𝑖=1 em 𝑉 com base dual {𝑒𝑖 }𝑛𝑖=1 , podemos escrever a forma bilinear
𝑔 como uma soma
𝑛
𝑔= 𝑔𝑖𝑗 𝑒𝑖 ⊗ 𝑒𝑗 ,
∑︁
𝑖,𝑗=1
𝑗=1
137
ou seja, escrevendo as matrizes das transformações nas bases dadas,
[♭] = [𝑔𝑖𝑗 ].
Portanto se 𝑣 = 𝑣 𝑖 𝑒𝑖 temos
∑︀𝑛
𝑖=1
𝑣𝑗
⏞ ⏟
𝑛
(︃ )︃
(︁∑︀ )︁
♭
= = 𝑖
𝑒𝑗 = 𝑣𝑖 𝑒𝑖 , e (8.1.1)
∑︀𝑛 ∑︁
𝑖 𝑛 𝑗 ∑︀𝑛 ∑︀𝑛
𝑣 𝑖=1 𝑣 𝑗=1 𝑔𝑖𝑗 𝑒 𝑗=1 𝑔𝑖𝑗 𝑣 𝑖=1
𝑖=1
𝑣𝑗
⏞(︃ ⏟
𝑛
)︃
(︁ )︁♯ (︁∑︀ )︁
𝑣♭ = 𝑔𝑖𝑗−1 𝑒𝑗 = 𝑔𝑖𝑗−1 𝑣𝑖 𝑒𝑗 = (8.1.2)
∑︀𝑛 ∑︁
𝑛 ∑︀𝑛 ∑︀𝑛
𝑖=1 𝑣𝑖 𝑗=1 𝑗=1 𝑖=1 𝑣 𝑖 𝑒𝑖 .
𝑖=1
Devido a esta propriedade normalmente diz-se que ♭ abaixa os índices e ♭ levanta os índices.
𝑔 * (𝛼, 𝛽) = 𝑔(𝛼♯ , 𝛽 ♯ ),
Assim como podemos utilizar 𝑔 para induzir uma forma bilinear com as mesmas propriedades
de 𝑔 em 𝑉 * , podemos naturalmente estender 𝑔 para uma formas bilineares em ⊗𝑘 𝑉 e Λ𝑘 𝑉 .
definimos 𝑔⊗𝑘 para outros elementos de ⊗𝑘 𝑉 estendendo 𝑔⊗𝑘 linearmente. Definimos também
e estendemos linearmente em Λ𝑘 𝑉 .
É evidente que estas formas assim definidas são simétricas e 𝑔⊗𝑘 é não-degenerada. Mostrare-
mos agora que 𝑔Λ𝑘 também é não-degenerada.
Notação: A partir de agora denotaremos as formas bilineares simplesmente por ⟨·, ·⟩ para deixar
o texto mais limpo. Deixaremos claro qual forma estaremos tratando pelo contexto.
138
Lema 8.1.4. A forma bilinear ⟨·, ·⟩ definida em Λ𝑘 𝑉 é não degenerada. Além disso, se {𝑒𝑖 }𝑛𝑖=1 é
uma base ortonormal de 𝑉 , temos
• Se 𝑙 = 0, então ⟨𝑒𝑖𝑟 , 𝑒𝑗𝑠 ⟩ = 0 ∀𝑟, 𝑠 ∈ {1, . . . , 𝑘}. Logo temos ⟨𝑒𝑖1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑖𝑘 , 𝑒𝑗1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑗𝑘 ⟩ = 0;
• Se 𝑙 = 𝑘, então 𝑒𝑖1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑖𝑘 = ±𝑒𝑗1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑗𝑘 . Assim ⟨𝑒𝑖1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑖𝑘 , 𝑒𝑗1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑗𝑘 ⟩ =
± det[⟨𝑒𝑖𝑟 , 𝑒𝑗𝑠 ⟩] = ±𝜀(𝑖1 ) · · · 𝜀(𝑖𝑘 );
• Se 0 < 𝑙 < 𝑘, então pela fórmula de Laplace det[⟨𝑒𝑖𝑟 , 𝑒𝑗𝑠 ⟩] = 𝜀(𝛼1 ) · · · 𝜀(𝛼𝑙 ) · det 𝑀 , onde 𝑀
é a matriz (𝑘 − 𝑙) × (𝑘 − 𝑙) proveniente da retirada das 𝛼𝑡 linhas e colunas de [⟨𝑒𝑖𝑟 , 𝑒𝑗𝑠 ⟩].
Agora temos que as entradas de 𝑀 são todas nulas como no primeiro item. Portanto temos
⟨𝑒𝑖1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑖𝑘 , 𝑒𝑗1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑗𝑘 ⟩ = 0.
Logo temos que {𝑒𝑖1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑖𝑘 } é uma base ortonormal de Λ𝑘 𝑉 ,assim temos que ⟨𝑣, 𝑒𝑖1 ∧ · · · ∧
𝑒𝑖𝑘 ⟩ =
̸ 0 para algum elemento da base se 𝑤 ̸= 0. Portanto ⟨·, ·⟩ é não-degenerada.
A partir deste lema temos definida uma forma bilinear, simétrica e não-degenerada em cada
espaço Λ𝑘 𝑉 . Com isso podemos definir uma forma bilinear, simétrica e não-degenerada em Λ𝑉 =
⊗𝑛𝑘=0 Λ𝑘 𝑉 tal que os subespaços Λ𝑘 𝑉 e Λ𝑙 𝑉 são ortogonais para 𝑘 ̸= 𝑙 e esta forma restrita a cada
subespaço Λ𝑘 𝑉 é a própria forma de Λ𝑘 𝑉 .
O seguinte lema mostra que se 𝑉 é orientado temos um único operador estrela de Hodge em
Λ 𝑉.
𝑘
Lema 8.1.5. Suponha que 𝑉 é orientado. Então existe um único isomorfismo * : Λ𝑘 𝑉 → Λ𝑛−𝑘 𝑉
tal que
𝑣 ∧ *𝑤 = ⟨𝑣, 𝑤⟩𝜔𝑔 ,
onde 𝜔𝑔 = 𝑒1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑛 para qualquer base ortonormal {𝑒𝑖 }𝑛𝑖=1 de 𝑉 positivamente orientada.
𝑣 ∧ 𝑤 = 𝑓𝑤 (𝑣)𝜔𝑔 , ∀𝑣 ∈ Λ𝑘 𝑉.
𝑇 : Λ𝑛−𝑘 𝑉 → Λ𝑘 𝑉 (8.1.4)
↦ (𝑓𝑤 )♯ ,
𝑤 → (8.1.5)
139
e * = 𝑇 −1 é o isomorfismo com as propriedades desejadas.
Para ver a unicidade note que se *˜ : Λ𝑘 𝑉 → Λ𝑛−𝑘 𝑉 possui as mesmas propriedades temos
𝑣 ∧ (˜* − *)𝑤 = 0, ∀𝑣 ∈ Λ𝑘 𝑉 e ∀𝑤 ∈ Λ𝑛−𝑘 𝑉
assim devemos ter *˜ = *.
Mostraremos agora que o 𝑛-vetor 𝜔𝑔 do lema anterior existe e é único.
Lema 8.1.6. Se 𝑉 é orientado então existe um único 𝜔𝑔 ∈ Λ𝑛 𝑉 ∖{0} tal que para qualquer base
orientada {𝑒𝑖 }𝑛𝑖=1 de 𝑉 tem-se
√︁
𝜔𝑔 = |det[𝑔𝑖𝑗 ]|𝑒1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑛 .
[𝑣] = 𝑇 [𝑣]′ ,
onde [·], [·]′ são as coordenadas em relação a {𝑒𝑖 }𝑛𝑖=1 , {𝑓𝑖 }𝑛𝑖=1 respectivamente.
Logo, denotando 𝑔𝑖𝑗 = 𝑔(𝑒𝑖 , 𝑒𝑗 ) e 𝑔𝑖𝑗′ = 𝑔(𝑓𝑖 , 𝑓𝑗 ), temos
𝑔(𝑣, 𝑤) = [𝑣]𝑡 [𝑔𝑖𝑗 ][𝑤] = ([𝑣]′ )𝑡 𝑇 𝑡 [𝑔𝑖𝑗 ]𝑇 [𝑤]′ = [𝑣]′ [𝑔𝑖𝑗′ ][𝑤]′ ,
assim temos
det[𝑔𝑖𝑗′ ] = det(𝑇 )2 det[𝑔𝑖𝑗 ].
Lembrando que
𝑓 1 ∧ · · · ∧ 𝑓 𝑛 = det(𝑇 −1 )𝑒1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑛 ,
temos que
√︁ √︁
|det[𝑔𝑖𝑗′ ]|𝑓 1 ∧ · · · ∧ 𝑓 𝑛 = |det(𝑇 ) det[𝑔𝑖𝑗′ ]| det(𝑇 −1 )𝑒1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑛 (8.1.6)
√︁
= |det[𝑔𝑖𝑗 ]|𝑒1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑛 . (8.1.7)
140
Demonstração. Temos que
(𝑒𝑖1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑖𝑘 ) ∧ *(𝑒𝑖1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑖𝑘 ) = ⟨𝑒𝑖1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑖𝑘 , 𝑒𝑖1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑖𝑘 }𝑣𝑜𝑙𝑔
= 𝜀(𝑖1 ) · · · 𝜀(𝑖𝑘 ) 𝑣𝑜𝑙𝑔
⏟ ⏞
±1
Logo
*(𝑒𝑖1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑖𝑘 ) = ±𝑒𝑖𝑘+1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑖𝑛 ,
onde {𝑖𝑘+1 , . . . , 𝑖𝑛 } = {1, . . . , 𝑛}∖{𝑖1 , . . . , 𝑖𝑘 }. Como
𝑒𝑖1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑖𝑘 ∧ 𝑒𝑖𝑘+1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑖𝑛 = 𝜀𝑖1 ,...,𝑖𝑛 𝑒1 ∧ · · · ∧ 𝑒𝑛
= 𝜀𝑖1 ,...,𝑖𝑛 𝑣𝑜𝑙𝑔 ,
o resultado segue.
⃗ = 0,
{︃
∇𝐵
(1) ⃗ + 𝜕𝑡 𝐵
⃗ = ⃗0,
∇×𝐸
⃗ = 𝜌,
{︃
∇𝐸
(2) ⃗ = ⃗𝑗.
⃗ − 𝜕𝑡 𝐸
∇×𝐵
onde 𝐸, ⃗ ⃗𝑗 : R × R3 → R3 e 𝜌 : R × R3 → R.
⃗ 𝐵,
O primeiro par de equações é chamado de par homogêneo e o segundo de par não-homogêneo.
Observe que se substituirmos 𝐵
⃗ ↦→ −𝐸,⃗ 𝐸 ⃗ e assumirmos 𝜌 = 0, ⃗𝑗 = ⃗0 (condição de vácuo)
⃗ ↦→ 𝐵
temos que um par é equivalente ao outro.
Uma propriedade física importante das equações de Maxwell é o fato de serem invariantes por
transformações de Lorentz, i.e., um mapa 𝜙 : R × R3 → R × R3 da forma
𝛾−1
(︂ (︂ )︂ )︂
𝜙(𝑡, ⃗𝑟) = 𝛾(𝑡 − ⃗𝑟 · ⃗𝑣 ), ⃗𝑟 + ⃗𝑟 · ⃗𝑣 − 𝛾𝑡 ⃗𝑣 ,
𝑣2
onde 𝛾 = √ 1
1−𝑣 2
e ⃗𝑣 ∈ R3 tem norma 𝑣 < 1.
Exercício: Veja que as equações de Maxwell são invariantes por transformações de Lorentz.
Assim, para estudar estas equações podemos tentar entender a geometria por trás destas trans-
formações. Se calcularmos o diferencial de uma trasformação de Lorentz 𝜙 em coordenadas canô-
nicas temos
𝛾 −𝛾𝑣𝑥 −𝛾𝑣𝑦 −𝛾𝑣𝑧
⎛ ⎞
𝑥 1 + 𝑣 2 𝑣𝑥
⎜−𝛾𝑣 𝛾−1 2 𝛾−1 𝛾−1
𝑣 𝑣 𝑣 𝑣 ⎟
𝐷𝜙𝑖𝑗 = ⎜ 𝑣2 𝑥 𝑦 𝑣2 𝑥 𝑧 ⎟ ⎟.
⎜
⎝−𝛾𝑣𝑦 𝛾−1
𝑣 𝑣
𝑣2 𝑥 𝑦
1 + 𝛾−1 𝑣 2 𝛾−1
𝑣2 𝑦
𝑣 𝑣 ⎠
𝑣2 𝑦 𝑧
−𝛾𝑣𝑧 𝛾−1 𝑣 𝑣
𝑣2 𝑥 𝑧
𝛾−1
𝑣 𝑣
𝑣2 𝑦 𝑧
1 + 𝛾−1 𝑣2
𝑣2 𝑧
141
Logo, calculando a norma do pushforward dos campos canônicos, vemos que a métrica de Min-
kowski possui as transformações de Lorentz como grupo de isometria. Mais do que isto, se exigirmos
que o referencial canônico seja ortonormal, ela é a única com tal grupo de isometria.
Iremos agora reescrever as equações de Maxwell utilizando a notação de formas diferenciais em
R4 . Para facilitar os cálculos utilizaremos a notação (𝑥0 , 𝑥1 , 𝑥2 , 𝑥3 ) para denotar as coordenadas
canônicas de R4 , mas deve-se ter sempre em mente a identificação de R × R3 com R4 dada por
𝑡 = 𝑥0 , 𝑥 = 𝑥1 , 𝑦 = 𝑥2 e 𝑧 = 𝑥3 .
ou seja,
𝑑𝜔 = 𝜕𝑖 𝜔𝐼 𝑑𝑥𝑖 ∧ 𝑑𝑥𝐼 ,
∑︁
𝑖,𝐼
𝑑 = 𝑑𝑆 + 𝑑𝑡 ∧ 𝜕𝑡 ,
𝐵 = 𝐵𝑥 𝑑𝑦 ∧ 𝑑𝑧 + 𝐵𝑦 𝑑𝑧 ∧ 𝑑𝑥 + 𝐵𝑧 𝑑𝑥 ∧ 𝑑𝑦 (8.2.1)
𝐸 = 𝐸𝑥 𝑑𝑥 + 𝐸𝑦 𝑑𝑦 + 𝐸𝑧 𝑑𝑧, (8.2.2)
onde 𝐵⃗ = (𝐵𝑥 , 𝐵𝑦 , 𝐵𝑧 ) e 𝐸
⃗ = (𝐸𝑥 , 𝐸𝑦 , 𝐸𝑧 ).
Consideremos então a 2-forma 𝐹 = 𝐵 + 𝐸 ∧ 𝑑𝑡 em R4 , essa forma é chamada de força do campo
eletromagnético.
142
Logo temos a seguinte equivalência entre equações diferenciais:
𝑑𝑆 𝐵 = 0,
{︃
𝑑𝐹 = 0 ⇔
𝜕𝑡 𝐵 + 𝑑𝑆 𝐸 = 0.
Calculando 𝑑𝑆 𝐵 e 𝑑𝑆 𝐸 temos
𝑑𝑆 𝐵 = (∇𝐵)𝑑𝑥
⃗ ∧ 𝑑𝑦 ∧ 𝑑𝑧 (8.2.6)
𝑑𝑆 𝐸 = (∇ × 𝐸)
⃗ 1 𝑑𝑦 ∧ 𝑑𝑧 + (∇ × 𝐸)
⃗ 2 𝑑𝑧 ∧ 𝑑𝑥 + (∇ × 𝐸)
⃗ 3 𝑑𝑥 ∧ 𝑑𝑦, (8.2.7)
onde (∇ × 𝐸)
⃗ 𝑖 denota a 𝑖-ésima coordenada do vetor. Portanto temos 𝐹 fechada se e somente se
∇𝐵⃗ = 0 e 𝜕𝑡 𝐵
⃗ +∇×𝐸 ⃗ = 0.
𝐸𝑧 𝐵𝑦 −𝐵𝑥 0
Utilizando o lema 8.1.7 podemos calcular o dual de Hodge de 𝐹 , temos então
*(𝑑𝑥 ∧ 𝑑𝑡) = *(𝑑𝑥1 ∧ 𝑑𝑥0 ) = sgn(1023).1.(−1).𝑑𝑥2 ∧ 𝑑𝑥3 = 𝑑𝑦 ∧ 𝑑𝑧; (8.2.8)
*(𝑑𝑦 ∧ 𝑑𝑡) = *(𝑑𝑥2 ∧ 𝑑𝑥0 ) = sgn(2013).1.(−1).𝑑𝑥1 ∧ 𝑑𝑥3 = −𝑑𝑥 ∧ 𝑑𝑧; (8.2.9)
*(𝑑𝑧 ∧ 𝑑𝑡) = *(𝑑𝑥3 ∧ 𝑑𝑥0 ) = sgn(3012).1.(−1).𝑑𝑥1 ∧ 𝑑𝑥2 = 𝑑𝑥 ∧ 𝑑𝑦; (8.2.10)
*(𝑑𝑥 ∧ 𝑑𝑦) = *(𝑑𝑥1 ∧ 𝑑𝑥2 ) = sgn(1203).1.1.𝑑𝑥0 ∧ 𝑑𝑥3 = 𝑑𝑡 ∧ 𝑑𝑧; (8.2.11)
*(𝑑𝑥 ∧ 𝑑𝑧) = *(𝑑𝑥1 ∧ 𝑑𝑥3 ) = sgn(1302).1.1.𝑑𝑥0 ∧ 𝑑𝑥2 = −𝑑𝑡 ∧ 𝑑𝑦; (8.2.12)
*(𝑑𝑦 ∧ 𝑑𝑧) = *(𝑑𝑥2 ∧ 𝑑𝑥3 ) = sgn(2301).1.1.𝑑𝑥0 ∧ 𝑑𝑥1 = 𝑑𝑡 ∧ 𝑑𝑥. (8.2.13)
Logo temos a seguinte matriz para a 2-forma *𝐹 ,
0 𝐵𝑥 𝐵𝑦 𝐵𝑧
⎛ ⎞
⎜−𝐵 0 𝐸 −𝐸 ⎟
[(*𝐹 )𝑖𝑗 ] = ⎜ 𝑥 𝑧 𝑦⎟
⎟.
⎝−𝐵𝑦 −𝐸𝑧 0 𝐸𝑥 ⎠
⎜
−𝐵𝑧 𝐸𝑦 −𝐸𝑥 0
143
Assim como fizemos com os campos 𝐵 ⃗ e 𝐸, ⃗ defina a 1-forma 𝑗 ∈ Ω1 (R4 ) como 𝑗 = (⃗𝑗)♯𝑆 =
𝑗𝑥 𝑑𝑥 + 𝑗𝑦 𝑑𝑦 + 𝑗𝑧 𝑑𝑧. Considere 𝐽⃗ = (𝜌, 𝑗𝑥 , 𝑗𝑦 , 𝑗𝑧 ) e defina 𝐽 ∈ Ω1 (R4 ) como 𝐽 = (𝐽)
⃗ ♯ = −𝜌𝑑𝑡 + 𝑗,
esta é conhecida pelos físicos como a corrente.
*𝐵 = 𝐵𝑥 𝑑𝑡 ∧ 𝑑𝑥 + 𝐵𝑦 𝑑𝑡 ∧ 𝑑𝑦 + 𝐵𝑧 𝑑𝑡 ∧ 𝑑𝑧; (8.2.14)
*(𝐸 ∧ 𝑑𝑡) = 𝐸𝑥 𝑑𝑦 ∧ 𝑑𝑧 + 𝐸𝑦 𝑑𝑧 ∧ 𝑑𝑥 + 𝐸𝑧 𝑑𝑥 ∧ 𝑑𝑦. (8.2.15)
𝑑 * (𝐸 ∧ 𝑑𝑡) = (∇𝐸)𝑑𝑥
⃗ ∧ 𝑑𝑦 ∧ 𝑑𝑧 + 𝑑𝑡 ∧ [𝜕𝑡 𝐸𝑥 𝑑𝑦 ∧ 𝑑𝑧 + 𝜕𝑡 𝐸𝑦 𝑑𝑧 ∧ 𝑑𝑥 + 𝜕𝑡 𝐸𝑧 𝑑𝑥 ∧ 𝑑𝑦] .(8.2.17)
*𝑑 * 𝐵 = (∇ × 𝐵)
⃗ 1 𝑑𝑥 + (∇ × 𝐵)
⃗ 2 𝑑𝑦 + (∇ × 𝐵)
⃗ 3 𝑑𝑧; (8.2.18)
*𝑑 * (𝐸 ∧ 𝑑𝑡) = −(∇𝐸)𝑑𝑡
⃗ − 𝜕𝑡 𝐸. (8.2.19)
𝑑𝐹 = 0, *𝑑 * 𝐹 = 𝐽.
Como R4 é contrátil, existe 𝐴 ∈ Ω1 (R4 ) tal que 𝐹 = 𝑑𝐴, tal forma é conhecida como um potencial
de calibre para 𝐹 . Neste caso as equações de Maxwell reduzem a
*𝑑 * 𝑑𝐴 = 𝐽.
144
Se denotarmos este potencial como 𝐴 = −𝜑𝑑𝑡 + 𝐴𝑆 := −𝜑𝑑𝑡 + 𝐴𝑥 𝑑𝑥 + 𝐴𝑦 𝑑𝑦 + 𝐴𝑧 𝑑𝑧 temos que
𝑑𝐴 = −𝑑𝑆 𝜑 ∧ 𝑑𝑡 − 𝜕𝑡 𝐴𝑆 ∧ 𝑑𝑡 + 𝑑𝑆 𝐴𝑆 ,
𝑑2 𝐴 = 0.
Usando que 𝐴 está em calibre temporal, a segunda equação resulta em duas equações sobre os
dados de Cauchy:
A primeira equação é a lei de Gauss, uma restrição que os dados de Cauchy 𝐴 devem satisfazer
a todo momento. A segunda equação pode ser interpretada como uma equação de evolução que
dita como os dados de Cauchy mudam com o tempo. Ela pode ser usada para determinar os dados
de Cauchy em outros instantes a partir de um instante 𝑡 conhecido.
Como 𝐽 = −𝜌𝑑𝑡 + 𝑗, usando que 𝑑 * 𝐽 = 0 temos
Esta é conhecida como equação de continuidade (ela expressa a conservação local de carga). Pode-
se mostrar que enquanto essa equação vale, a lei de Gauss em um instante 𝑡0 e a equação de
evolução implicam a lei de Gauss em instantes posteriores.
Seja 𝐸 → R4 um fibrado vetorial complexo de posto 1 munido de uma métrica hermitiana. O
fato do fibrado ter uma métrica nos diz que temos 𝑈 (1)-fibrado vetorial, e como R4 é contrátil,
podemos supor que este fibrado é o fibrado trivial C (veja o corolário 2.6.3 na página 65 do livro
de Friedman e Morgan).
145
Dada uma conexão ∇ em 𝐸 sabemos que esta assume a forma ∇ = 𝑑 + 𝒜 em um referencial
local, onde 𝒜 ∈ U(1) = 𝑖R. Como 𝐸 é trivial, temos que ∇ é desta forma em todo 𝐸. Assim
temos que neste contexto, dar uma conexão em 𝐸 é equivalente a fornecer uma 1-forma em R4 .
Tome então 𝒜 = 𝑖𝐴 para um potencial de calibre 𝐴 ∈ Ω1 (R4 ) dado pela equação homogênea,
temos que
ℱ = 𝑑𝒜 + 𝒜 ∧ 𝒜 (8.3.6)
= 𝑖𝑑𝐴 = 𝑖𝐹. (8.3.7)
ou seja, a curvatura da conexão 𝒜 corresponde a força do campo 𝐹 .
Lembre-se que as matrizes da conexão para referenciais diferentes são relacionadas pela trans-
formação de calibre 𝒜′ = 𝑔𝑑𝑔 −1 + 𝑔𝒜𝑔 −1 , onde 𝑔 é a matriz de troca de referenciais. Como 𝐸 é
𝑈 (1)-fibrado vetorial trivial, temos que 𝑔 é da forma
𝑔 : R4 × C → R4 × C (8.3.8)
(𝑥, 𝑣) ↦→ (𝑥, 𝑔0 (𝑥)𝑣) (8.3.9)
onde 𝑔0 (𝑥) ∈ 𝑈 (1).
Assim, tomando 𝜒 : R4 → R tal que 𝑔0 (𝑥) = 𝑒𝑖𝜒(𝑥) , temos a equação
𝒜′ = 𝒜 − 𝑖𝑑𝜒,
ou seja, o fato do potencial de calibre não ser único é devido ao fato de podermos aplicar trans-
formações de calibre que mudam o referencial.
Dada uma conexão 𝒜 cuja força do campo magnético associado é 𝐹 = 𝐵 + 𝐸 ∧ 𝑑𝑡, definimos a
densidade de energia do campo como − 21 |𝐹 |2 . Já que 𝐵 ⊥ 𝐸 ∧ 𝑑𝑡, temos que |𝐹 |2 = |𝐵|2 − |𝐸|2 .
Associamos ao espaço afim das conexões o funcional de Yang-Mills
1 ∫︁
𝑆𝑌 𝑀 (𝒜) = − |𝐹 |2 𝑣𝑜𝑙𝑔
2 R4
onde aqui assumimos 𝐹 com suporte compacto.
Sendo este um funcional no espaço das conexões, podemos calcular sua variação sobre uma
conexão 𝐴 na direção de uma outra conexão a (aqui estamos identificando as conexões com suas
matrizes de conexão),
𝑑 ⃒⃒
⃒
𝛿𝐴 𝑆𝑌 𝑀 (a) = ⃒ 𝑆𝑌 𝑀 (𝐴 + 𝑡a)
𝑑𝑡 𝑡=0
Exercício: Veja que 𝛿𝐴 𝑆𝑌 𝑀 (a) = 0 ∀a com suporte compacto se e somente se ∇ * ℱ𝐴 = 0.
Dica: Lembrando que
𝐹𝐴+𝑡𝑎 = 𝐹𝐴 + 𝑡∇𝐴 𝑎 + 𝑡2 𝑎 ∧ 𝑎,
temos que
⃒
𝛿𝐴 𝑆𝑌 𝑀 (a) = − 21 R4 𝑑𝑡𝑑 ⃒⃒ |𝐹𝐴 + 𝑡∇𝐴 𝑎 + 𝑡2 𝑎 ∧ 𝑎|2 𝑣𝑜𝑙𝑔 (8.3.10)
∫︀ ⃒
𝑡=0
=− R4 ⟨𝐹𝐴 , ∇𝐴 𝑎⟩𝑣𝑜𝑙𝑔 (8.3.11)
∫︀
146
8.4 O efeito Aharonov-Bohm
A formulação de calibre do eletromagnetismo dá uma grande ênfase no potencial de calibre
escolhido. Isto nos leva a questionar o significado físico de tal potencial. Há fenômenos físicos que
requerem a formulação de calibre do eletromagnetismo?
Desde a formulação de Maxwell pensava-se que este era só um truque matemático para facilitar
as contas. E realmente, no eletromagnetismo clássico não há nada que indique o oposto. Em um
cenário quântico entretanto, um experimento pode ser concebido para distinguir entre dois estados
que possuem a mesma força eletromagnética mas diferentes potenciais.
8.4.1 Preliminares
a)Quadrivetor potencial
Para facilitar os cálculos introduzimos a seguinte notação, chamado de quadrivetor potencial,
para o potencial de calibre em R4 :
A := (𝜑, 𝐴)
⃗ = (𝐴0 , 𝐴𝑖 ) = (𝐴𝜇 )
onde 𝜑 ∈ 𝐶 ∞ (𝑀, C) e 𝐴
⃗ ∈ Γ(𝑇 R3 ⊗ C).
𝑔 · A = A − (𝑑𝑔)𝑔 −1 (8.4.1)
= A − 𝑖𝑑𝜒 (8.4.2)
b) Transporte paralelo
Dada uma conexão 𝐴 em 𝐸 → 𝑋, consideramos a equação:
𝛾˙ 𝑠 = 0,
∇𝐴
147
onde 𝛾 : [0, 1] → 𝑋 uma curva suave por partes entre 𝛾(0) = 𝑝0 e 𝛾(1) = 𝑝1 , e 𝑠 : [0, 1] → 𝐸 uma
seção de 𝐸 sobre 𝛾, i.e., 𝑠 é uma curva em 𝐸 tal que 𝛾 = 𝜋 ∘ 𝑠.
Esta equação é uma EDO tal que para uma condição inicial, dada pela escolha de um elemento
𝑠0 em 𝐸𝑝0 , existe uma única solução. Tal solução é chamada de transporte paralelo de 𝑠0 ao longo
de 𝛾. Tomando uma base de 𝐸𝑝0 e transportando paralelamente é possível ver que temos um
isomorfismo Γ𝑏𝑎 : 𝐸𝑎 → 𝐸𝑏 para cada 𝑎, 𝑏 ∈ [0, 1], onde 𝐸𝑡 := 𝐸𝛾(𝑡) .
Em particular, se 𝛾 : 𝑆 1 → 𝑋, i.e., 𝛾 é uma curva fechada (laço), temos Γ10 ∈ End(𝐸𝑝0 ). Logo
existe um homomorfismo Hol𝐴 : ℒ𝑝0 𝑋 → 𝐸𝑝0 do grupo dos laços em 𝑝0 (por composição de laços)
no grupo de endomorfismos de 𝐸𝑝0 . A imagem deste homomorfismo é um subgrupo de End(𝐸𝑝0 𝑋)
chamado de grupo de holonomia da conexão 𝐴.
onde e− é a carga do elétron. Logo se espera que o campo 𝐵 ⃗ não interfira nas ondas de elétrons.
Assim, não importando se o solenóide está ligado ou não, deveriamos obter os mesmos sinais na
tela I. Entretanto isso não é o que ocorre, ao ativar o solenóide nota-se uma interferência em
relação a quando o solenóide está desativado. Esta interferência é apontada como sendo causada
por um efeito conhecido como efeito Aharonov-Bohm que está ligado ao fato de haver um potencial
não nulo para o campo magnético.
148
onde ⃗𝑟 ∈ R3 e 𝑣 : R3 → C.
Denotaremos a hamiltoniana simplesmente por 𝐻 quando é claro de que quadrivetor estamos
tratando.
Postulado: Toda função de onda física é uma sobreposição, i.e., se 𝜓 ∈ Γ(C) é uma função de
onda física, então 𝜓 = 𝜆∈Spec𝐻 𝜓𝜆 com 𝐻𝜓𝜆 = 𝜆𝜓𝜆 , 𝜆 ∈ C.
∑︀
Fixe 𝑝⃗ ∈ R3+1 e seja 𝜓 uma autoseção de 𝐻∫︀0 , i.e., 𝜓 é autoseção da hamiltoniana para ∫︀ o
𝑖e− 𝑖e−
quadrivetor nulo. Defina então 𝜓 (⃗𝑟) := 𝜓(⃗𝑟)𝑒 𝛾 , onde 𝛾(0) = 𝑝
⃗ e 𝛾(1) = ⃗𝑟. O valor 𝑒 𝛾 ,
A A A
ou seu argumento e− 𝛾 A, é conhecido como fase. Quando temos duas seções 𝜑, 𝜓 tal que 𝜑 = 𝜓𝑒𝑖𝜃
∫︀
Exercício: Mostre que 𝜓𝜆A como foi definida é uma autoseção de 𝐻 A com autovalor 𝜆.
Voltando agora ao solenóide de Aharonov-Bohm, temos que o fluxo magnético na seção trans-
versal S do solenóide e dado por
∫︁ ∫︁
Φ= ⃗
𝐵𝑑𝑆 = ⃗
∇ × 𝐴,
𝑆 𝑆
Exercício:
2. Veja que no bordo da seção transversal do solenóide 𝜕𝑆 (podemos supor sendo 𝑆 1 com raio
1) temos 𝐴(𝜃) = 2𝜋
𝑖Φ
𝑑𝜃.
149
150
Capítulo 9
151
Assim definimos 𝑐2 (𝐸) := 𝑐2 (𝐸) ∈ Z. Ora, sabendo da decomposição Ω2 = Ω2+ ⊕ Ω2−
∫︀
𝑋
∫︁
𝑐2 (𝐸) = 𝑡𝑟𝐹 ∧ 𝐹 (9.1.1)
𝑋∫︁
Observaçã: no caso 𝑐2 (𝐸) > 0, não pode haver solução com 𝐹− = 0 (positividade)
tal que ∫︁
𝐿(𝜉) = 0, 𝜉 ∈ Ω𝑛−1 (g).
𝑋
152
Demonstração. sejam 𝛼 ∈ Ω𝑝−1 e 𝛽 ∈ Ω𝑝 , então:
∫︁
0 = 𝐿(𝛼 ∧ ⋆𝛽) (9.1.7)
∫︁𝑋 {︁ }︁
= 𝐿(𝛼) ∧ ⋆𝛽 + (−1)𝑝−1 𝛼 ∧ ⋆ ⋆ 𝐿(⋆𝛽) (9.1.8)
∫︁𝑋 {︁ }︁
= 𝐿(𝛼) ∧ ⋆𝛽 + (−1)𝑝−1+(𝑝−1)(𝑛𝑝+1) 𝛼 ∧ ⋆𝐿(⋆𝛽) (9.1.9)
𝑋
= (𝐿(𝛼), 𝛽) − (𝛼, ⋆𝐿⋆𝛽)𝐿2 (9.1.10)
Δ𝐿 := 𝐿𝐿* + 𝐿* 𝐿 : Ω𝑝 → Ω𝑝
Dizemos que uma forma é 𝐿 harmonica se ela pertencer ao núcleo do Laplaciano de Hodge.
Assim obtemos
Δ𝛼 𝑓 = 0 ⇒ 𝑓 ≡ 𝑐,
153
9.1.6 Norma do representante harmônico
Agora, considera 𝛼, 𝛽 duas formas suaves, enão:
𝑑 ⃒
||𝛼 + 𝑡(𝑑𝛽)||2 ⃒⃒ = (9.1.11)
𝑑𝑡 𝑡=0
⃒
𝑑 ⃒⃒
= ⃒ ⟨𝛼 + 𝑡𝑑𝛽, 𝛼 + 𝑡𝑑𝛽⟩ (9.1.12)
𝑑𝑡 ⃒𝑡=0
⃒
𝑑 ⃒⃒ (︁ 2 )︁
= ⃒ |𝛼| +2⟨𝛼, 𝑑𝛽⟩𝑡 + 𝑡2 ||𝑑𝛽|| (9.1.13)
𝑑𝑡 ⃒𝑡=0
= 2⟨𝛼, 𝑑𝛽⟩ (9.1.14)
= 2⟨𝛿𝛼, 𝛽⟩ = 0 (9.1.15)
Portanto o representante harmônico minimiza a norma 𝐿2 dentro de sua classe de de Rham.
Voltando à teoria de calibres sabemos que [tr𝐹 ] ∈ 𝐻𝑑𝑅
𝑝
(𝑋 4 ), logo ||tr|| é minimizada pelo
representante harmônico de [tr𝐹 ] e assim Δ(tr𝐹𝐴0 + 𝑑𝛽) = 0. Concluímos que o problema de
Yang-Mills reduz-se ao 𝑆𝑂(𝑛)-fibrado correspondente a 𝐸. Assim se 𝐸 0 for a componente com
𝑐1 = 0 temos
𝐸 = 𝐸 0 ⊕ 𝐿.
Por fim a Equação Yang-Mills se reduz a:
𝛿𝐴 𝐹𝐴 = 0 ⇔ 𝑑*𝐴 𝐹𝐴 = 0
com 𝑑*𝐴 = ⋆𝑑𝐴 ⋆. Logo, verificamos (também) por Bianchi, que 𝐹± = 0 são soluções.
Exercício: Em R4 mostre que,
+ 𝐹34 =0
⎧
⎨𝐹12
⎪
⎪
𝐹+ = 0 ⇔ ⎪𝐹13 + 𝐹42 =0.
𝐹14 + 𝐹23 =0
⎪
⎩
154
9.2.1 Exemplos de instantos AAD
1. 𝐸 → 𝑋, 𝐴 plana: 𝐹𝐴 = 0 = − ⋆ 𝐹𝐴
2. Exercício: Dado o fibrado tangente 𝑇 𝑋 → 𝑋, e a conexão ∇𝐿𝐶 de uma 4 variedade
riemanniana (𝑋, 𝑔) e o tensor
𝑅∇ = ∇ · ∇
𝑊 + + 12 Ric0
(︃ )︃
𝑠
=
Ric0 𝑊− + 12𝑠
𝜇=0
0 1 0 −𝑖 1 0
(︃ )︃ (︃ )︃ (︃ )︃
𝜎1 = , 𝜎2 = 𝜎3 =
1 0 𝑖 0 0 −1
que são conhecidas como as Matrizes de Pauli.
Observação: {𝑖𝜎1 , 𝑖𝜎2 , 𝑖𝜎3 } é uma base de álgebra de Lie real su(2), as matrizes sem traço,
anti-simétricas e hermitianas.
As matrizes de Pauli tem as seguintes propriedades:
𝜎1 𝜎2 = 𝑖𝜎3
𝜎3 𝜎1 = 𝑖𝜎2
𝜎2 𝜎3 = 𝑖𝜎1
𝜎12 = 𝜎22 = 𝜎32 = 𝐼
ou seja, podemos fazer a seguinte identificação
:= −𝑖𝜎1
⎧
⎨𝐼
⎪
⎪
⎪
𝐽 := −𝑖𝜎2
:= −𝑖𝜎3
⎪
⎩
𝐾
reconhecendo uma identificação com H, os quaternios.
Denotando 1 ≤ 𝜇, 𝜈 ≤ 4, 1 ≤ 𝑗, 𝑘 ≤ 3
⎧
⎨𝜎
𝑗𝑘 := 4𝑖1 [𝜎𝑗 , 𝜎𝑘 ]
⎩𝜎𝑗4 := 21 𝜎𝑗
155
Proposição 9.2.1. As matrizes de Pauli são autoduais:
1
𝜎12 = 𝜎3 = 𝜎34
2
1
−𝜎13 = 𝜎2 = 𝜎24
2
1
𝜎14 = 𝜎1 = 𝜎14
2
Proposição 9.2.2. Os comutadores dos 𝜎𝜇𝜈 são:
𝑖
[𝜎12 , 𝜎13 ] = 𝜎1 = [𝜎24 , 𝜎34 ]
2
𝑖
[𝜎12 , 𝜎14 ] = 𝜎2 = [𝜎34 , 𝜎23 ]
2
𝑖
[𝜎13 , 𝜎14 ] = 𝜎3 = [𝜎23 , 𝜎24 ].
2
Ansatz de ’t Hooft: 𝐴𝜇 = 𝑖 𝑎𝜆 𝜎𝜇𝜆 solução de ⋆𝐹𝜇𝜈 = −𝐹𝜇𝜈 , com 𝑎 = (𝑎1 , . . . , 𝑎4 ) : R4 → R4
∑︀
+ 𝐹34 = 0
⎧
⎨𝐹12
⎪
⎪
Exercício: Mostre que 𝐹13 + 𝐹42 = 0 ⇔ 𝜇 (𝜕𝜇 𝑎 + (𝑎𝜇 ) ) = 0
𝜇 2
(4)
∑︀
⎪
𝐹14 + 𝐹23 = 0
⎪
⎩
⎡ (︃ )︃ (︃ )︃2 ⎤
𝜕𝜇 𝜌 𝜕𝜇 𝜎
0 = + (9.2.1)
∑︁
⎣𝜕𝜇 ⎦
(2) 𝜇 𝜌 𝜌
⎡ )︃2 )︃2 ⎤
1
(︃ (︃
𝜕𝜇 𝜌 𝜕𝜇 𝜌
= ⎣ 𝜕2𝜌 − + (9.2.2)
∑︁
⎦
𝜇
𝜇 𝜌 𝜌 𝜌
1
= Δ𝜌 (9.2.3)
𝜌
156
𝜆2𝜇
Solução: 𝜌(𝑥) = 1 + com 𝑦 ∈ R4 : "centro da caraga"
∑︀4
𝜇=1 ||𝑥−𝑦𝜇 ||2
𝜆 ∈ R4 : "fator de escala"
Exercício: 𝑦 = 0, 𝜆 = 1
𝐴(𝑥) = 1+||𝑥||
1
2 (𝜃𝐼 ⊗ 𝐼 + 𝜃𝐽 ⊗ 𝐽 + 𝜃𝐾 ⊗ 𝐾)
157
158
Capítulo 10
𝑑𝐴 * 𝐹𝐴 = 0,
buscamos agora entender o seu espaço de soluções. Em particular, queremos estudar o espaço
de instantons 𝐹𝐴+ = 0, módulo transformações de calibre. Para isso, podemos pensar em uma
função 𝐹 + : 𝐴 ↦→ 𝐹𝐴+ e buscar descrever ker(𝐹 + ). Mas precisamos primeiramente dar sentido a
esta função, a começar, neste capítulo, com a descrição de seu domínio, o espaço das conexões.
Mais precisamente, queremos caracterizar este espaço módulo calibre. O objetivo deste capítulo,
portanto, reduz-se a descrever e estudar a ação apropriada de tranformações de calibre sobre o
espaço das conexões, com respeito à qual o problema de Yang-Mills é invariante.
Seja 𝑃 → 𝑋 um 𝐺-fibrado principal e 𝒜 o conjunto das conexões em 𝑃 → 𝑋. Se 𝐴0 é uma
conexão fixada e 𝐴 uma conexão qualquer, então 𝐴 − 𝐴0 = 𝑎 ∈ Ω1 (𝑃, g). Assim, 𝒜 = 𝐴0 + Ω1 (g),
i.e. 𝒜 é um espaço afim modelado em Ω1 (𝑃, g), e denominado o espaço das conexões.
159
Considere o quociente
(𝑃 × 𝐺)
𝑃 ×𝐺 𝐺 := ,
𝐺
onde 𝐺 age sobre 𝑃 × 𝐺 por (𝑝, 𝑔) · ℎ = (𝑝ℎ, 𝐶ℎ−1 (𝑔)), para 𝑝 ∈ 𝑃 e 𝑔, ℎ ∈ 𝐺. Como a ação de
𝐺 em 𝑃 é livre, esta ação é também livre. Ademais, como 𝑃/𝐺 é uma variedade diferenciável,
𝑃 ×𝐺 𝐺 também é. Finalmente, a projeção 𝜋 : 𝑃 → 𝑋 induz uma projeção 𝜋𝐺 : 𝑃 ×𝐺 𝐺 → 𝑋
por 𝜋𝐺 (𝑝, 𝑔) = 𝜋(𝑝), que está bem-definida porque 𝜋(𝑝𝑔) = 𝜋(𝑝). Isso define o fibrado associado
𝐴𝑑(𝑃 ) := 𝑃 ×𝐺 𝐺.
Se {𝑈𝛼 } é uma cobertura aberta de 𝑋 e {(𝑔𝛼𝛽 , 𝑈𝛼𝛽 )} são as funções de transição de 𝑃 , então
⊔ (𝑈𝛼 × 𝐺)
𝑃 ×𝐺 𝐺 = 𝛼
,
∼
onde (𝑥, 𝑔) ∼ (𝑥, 𝐶𝑔𝛼𝛽 (𝑥) (𝑔)), ∀𝑥 ∈ 𝑈𝛼𝛽 e 𝑔 ∈ 𝐺. Seções de 𝑃 ×𝐺 𝐺 são representadas por
funções 𝜓 : 𝑃 → 𝐺 satisfazendo a condição de equivariância 𝜓(𝑝𝑔) = 𝑔 −1 𝜓(𝑝)𝑔 ∀𝑝 ∈ 𝑃 , ou
equivalentemente, por fmílias de funções {𝜓𝛼 : 𝑈𝛼 → 𝐺} tais que 𝜓𝛼 (𝑝) = 𝐶𝑔𝛼𝛽 (𝑝) 𝜓𝛽 (𝑝) ∀𝑝 ∈ 𝑈𝛼𝛽 .
Consequentemente, o espaço das seções 𝐶 ∞ deste fibrado herda uma multiplicação continua das
multiplicações fibra-a-fibra.
Similarmente, podemos definir o fibrado associado 𝑎𝑑(𝑃 ) := 𝑃 ×𝐺 g a partir da representação
adjunta 𝐴𝑑 : 𝐺 → 𝐴𝑢𝑡(g).
De fato.
O grupo 𝒢 não pode ser um grupo de Lie clássico, tratando-se de um espaço de dimensão
infinita. Ele é, porém, um grupo de Lie de dimensão infinita e o modo mais simples de definir tal
grupo é modelá-lo sobre espaços de Banach.
160
10.2 Variedades de Banach
Sejam 𝐸, 𝐹 espaços de Banach. Se 𝑓 : 𝐸 → 𝐹 é uma função linear, a norma de 𝑓 ∈ 𝐻𝑜𝑚(𝐸, 𝐹 )
é dada por
‖𝑓 ‖𝐸,𝐹 := sup ‖𝑓 (𝑥)‖𝐹
‖𝑥‖𝐸 =1
161
10.3 A ação do grupo de automorfismos
Relembre a seção sobre “Conexões em Fibrados Principais”, Capítulo 4.
Sejam 𝐿𝑔 : 𝐺 → 𝐺 e 𝑅𝑔 : 𝐺 → 𝐺 as multiplicações à esquerda e à direita por 𝑔 ∈ 𝐺,
respectivamente.
Demonstração. Como 𝜙 é comuta com a ação de 𝐺 e 𝜔 satisfaz 10.3.1, temos que 𝜙* 𝜔 satisfaz a
mesma identidade. Ademais, fixados 𝑥 ∈ 𝑋 e 𝑒 ∈ 𝜋 −1 (𝑥), podemos identificar a fibra 𝜋 −1 (𝑥) de 𝑃
com 𝐺, relacionando 𝑔 a 𝑒𝑔. Então, 𝜔|𝜋−1 (𝑥) estará identificado a 𝜃. Como 𝜙 leva fibra em fibra,
temos que 𝜙* 𝜔|𝜋−1 (𝑥) = 𝜔|𝜋−1 (𝑥) . Assim, a condição 10.3.2 também é satisfeita e, portanto, 𝜙* 𝜔 é
uma 1-forma de conexão.
∇𝜙 = 𝜙−1 ∇𝜙
162
Proposição 10.3.3. Seja 𝜔 uma 1-forma de conexão. O estabilizador de 𝜔 em Γ(𝑋, 𝐴𝑑(𝑃 )) ≃ 𝒢
é dado por
𝑠𝑡𝑎𝑏(𝜔) = {𝜎 : 𝑋 → 𝐴𝑑(𝑃 ) | ∇𝜎 = 0}
onde ∇ é a derivada covariante correspondente a 𝜔.
Demonstração. Vamos provar este resultado localmente, usando uma trivialização de 𝑃 |𝑈 , onde
𝑈 é um aberto com coordenadas (𝑥1 , ..., 𝑥𝑛 ). Com respeito a essa trivialização, 𝜔𝑒 |𝑈 = 𝑖 𝛼𝑖 𝑑𝑥𝑖
∑︀
Se 𝜎 * 𝜔 = 𝜔, segue que 𝜎 −1 𝜕𝑥
𝜕𝜎
1 = 0, ou ainda, 𝜕𝑥1 = 0. Do mesmo modo, poderíamos escolher
𝜕𝜎
resultado.
Finalmente, suponha 𝑋 conexo. Existe uma única seção horizontal 𝜎 : 𝑋 → 𝐴𝑑(𝑃 ) tal que
𝜎(𝑥) = [𝑝, 𝑔] e precisamos apenas provar que se 𝜆1 , 𝜆2 são caminhos diferenciáveis em 𝑋, então o
transporte paralelo de [𝑝, 𝑔] por esses dois caminhos tem o mesmo resultado. Mas isso é equivalente
a mostrar que se 𝛾 é um laço em 𝑋, então o tranporte paralelo de [𝑝, 𝑔] através de 𝛾 ainda é [𝑝, 𝑔],
e isso segue do mesmo argumento usado acima.
Considere 𝐶 ∞ (𝑃, 𝐺) o conjunto das funções suaves de 𝑃 para o gurpo de estrutura 𝐺, tal que
𝑓 (𝑝 · 𝑔) = 𝑔 −1 𝑓 (𝑝)𝑔, para todo 𝑔 ∈ 𝐺. Se 𝜑 ∈ 𝐴𝑢𝑡(𝑃 ), temos que 𝜑(𝑝) e 𝑝 estão na mesma orbita,
e portanto, existe um 𝑓𝜑 : 𝑃 → 𝐺 tal que
𝜑(𝑝) = 𝑝 · 𝑓 (𝑝).
Como 𝜑 é um difeomorfismo, 𝑓𝜑 é suave, e
𝑝𝑓𝜑 𝑔 = 𝜑(𝑝 · 𝑔) = (𝑝𝑔)𝑓𝜑 (𝑝𝑔),
e como a ação de 𝐺 é livre, concluímos que 𝑓𝜑 ∈ 𝐶 ∞ (𝑃, 𝐺). Por outro lado, se 𝑓 ∈ 𝐶 ∞ (𝑃, 𝐺),
defina 𝜑(𝑝) = 𝑝 · 𝑓 (𝑝). Ou seja, o grupo de Calibre pode ser identificado com o 𝐶 ∞ (𝑃, 𝐺).
Por fim, vale comentar: Por conveniência, dado um 𝜑 ∈ 𝒢, denotaremos a curvatura da conexão
𝜑 𝜔 como 𝐹𝜔𝜑 .
*
163
Proposição 10.3.5. Seja 𝜔 ∈ 𝒜, 𝜑 ∈ 𝐴𝑢𝑡(𝑃 ), 𝜃 a forma de Maurer-Cartan de 𝐺. Tome 𝑓 ∈
𝐶𝐺∞ (𝑃 ; 𝐺) o mapa correspondente a 𝜑. Então
• 𝐹𝜔𝜑 = 𝜑* 𝐹𝜔 ;
• 𝜑* 𝜔 = 𝐴𝑑𝑓 −1 𝜔 + 𝑓 * 𝜃;
• 𝜑* 𝐹𝜔 = 𝐴𝑑𝑓 −1 𝐹𝜔 ;
Demonstração. • Considere, 𝐻 e 𝐻
̃︁ as conexões associadas a 𝜔 e 𝜑* 𝜔 respectivamente. Dada
𝑢, 𝑣 ∈ 𝑇𝑝 𝑃 , denotaremos 𝐻(𝑢) como a componente horizontal de 𝑢, temos
Daí, 𝜔(𝜑(𝑝))(𝑑𝜑(𝑝)𝐻(𝑢))
̃︁ = 0 e 𝑑𝜑(𝑝)𝐻(𝑢)
̃︁ ∈ 𝐻𝜑(𝑝) . Além disso, 𝑑𝜑(𝑝)𝑉𝑝 (𝑢) = 𝑑(𝜑 ∘ 𝜓𝑝 )(𝑒)𝜉,
onde 𝜓𝑝 é a função induzida pela a ação de 𝐺 fixando o ponto 𝑝 e 𝜉 ∈ g. Como 𝜑 ∘ 𝜓𝑝 = 𝜓𝜑(𝑝) ,
temos que 𝑑𝜑(𝑝)𝑉𝑝 (𝑢) ∈ 𝑉𝜑(𝑝) . Concluímos então que 𝐻(𝑑𝜑(𝑝)𝑢) = 𝑑𝜑(𝑝)𝐻(𝑢). ̃︁ Como a
derivada exterior comuta com o pull-back, temos
𝐹 𝜑 (𝑝)(𝑢, 𝑣) = 𝑑𝜔(𝜑(𝑝))(𝑑𝜑(𝑝)𝐻(𝑢),
̃︁ 𝑑𝜑(𝑝)𝐻(𝑣))
̃︁ (10.3.3)
= 𝑑𝜔(𝜑(𝑝))(𝐻(𝑑𝜑(𝑝)𝑢), 𝐻(𝑑𝜑(𝑝)𝑣)) (10.3.4)
= (𝜑* 𝐹 )(𝑝)(𝑢, 𝑣). (10.3.5)
Assim
(𝜑* 𝜔)(𝑝)𝑣 = 𝜔𝑝.𝑓 (𝑝) (𝑑𝜓𝑝 (𝑓 (𝑝))𝑑𝑓 (𝑝)𝑣 + 𝑑𝜓𝑓 (𝑝) (𝑝)𝑣) (10.3.9)
= 𝜔𝑝.𝑓 (𝑝) (𝑑𝜓𝑝 (𝑓 (𝑝))𝑑𝑓 (𝑝)𝑣) + 𝐴𝑑𝑓 (𝑝)−1 (𝜔(𝑝)𝑣). (10.3.10)
Como 𝜓𝑝 (ℎ) = 𝑝.ℎ = (𝑝.𝑓 (𝑝)).(𝑓 (𝑝)−1 ℎ), temos 𝜓𝑝 = 𝜓𝑝𝑓 (𝑝) ∘ 𝐿𝑓 (𝑝)−1 , e com isso
𝜔𝑝.𝑓 (𝑝) (𝑑𝜓𝑝 (𝑓 (𝑝))𝑑𝑓 (𝑝)𝑣) = 𝜔𝑝.𝑓 (𝑝) (𝑑𝜓𝑝.𝑓 (𝑝) (𝑒)𝑑𝐿𝑓 (𝑝)−1 (𝑓 (𝑝))𝑑𝑓 (𝑝)𝑣) (10.3.11)
= 𝜔𝑝.𝑓 (𝑝) (𝑑𝜓𝑝.𝑓 (𝑝) (𝑒)(𝑓 * 𝜃)(𝑝)𝑣) (10.3.12)
= (𝑓 * 𝜃)(𝑝)𝑣. (10.3.13)
• Pelo primeiro item temos que, localmente 𝜑* 𝐹 = 𝐹 𝜑 = 𝑑(𝜑* 𝜔) + 21 [𝜑* 𝜔, 𝜑* 𝜔], assim é só
substituir a formula anterior.
164
O primeiro item do resultado anterior nos diz que o grupo de Calibre também age no espaço
das curvaturas de conexão.
Definição 10.3.6. Dada a ação do grupo de Calibre no espaço das conexões, 𝒢 × 𝒜 → 𝒜, gera
um espaço quociente ℬ = 𝒜/𝒢 que chamaremos de espaço de Classes de Calibre.
165
166
Capítulo 11
onde (︂∫︁ )︂ 1
𝑝
‖𝑓 ‖𝐿𝑝 = |𝑓 |𝑝 . (11.1.2)
Ω
Chamamos 𝐿𝑝𝑘 de espaço de Sobolev.
Em particular, para 𝑝 = 2, ‖·‖𝐿2 satisfaz a regra do paralelogramo, o que nos permite definir
𝑘
um produto interno a partir desta norma. Logo, 𝐿2𝑘 é um espaço de Hilbert.
Como estamos em um contexto geométrico, gostaríamos de uma definição análoga para varie-
dades. Esta definição pode ser feita de duas maneiras:
Definição 11.1.2. Sejam 𝑋 uma variedade compacta e 𝐸 → 𝑋 um fibrado vetorial complexo. O
espaço 𝐿2𝑘 (𝑋, 𝐸) de “seções 𝐿2𝑘 de E” é definido como:
1. Escolha coordenadas e trivializações em um aberto 𝑈 ⊂ 𝑋 e defina que 𝜎 ∈ 𝐿𝑝𝑘 (𝑋, 𝐸) se
𝜎 = (𝜎1 , ..., 𝜎𝑟 ) localmente, com 𝜎𝑖 ∈ 𝐿𝑝𝑘 (𝑈 )
2. Escolha uma métrica em X, e uma métrica em 𝐸 com uma conexão compatível, isto é,
𝑑⟨∇𝜎1 , 𝜎2 ⟩ = ⟨∇𝜎1 , 𝜎2 ⟩ + ⟨𝜎1 , ∇𝜎2 ⟩. Tome o completamento das seções suaves de 𝐸 na
norma
(︃ 𝑘 )︃ 1
∫︁ ⃦ 𝑝
⃦ 𝑖 ⃦𝑝
∑︁ ⃦
‖𝑠‖𝐿𝑝 = ⃦∇ 𝜎 ⃦ 𝑑𝑣𝑜𝑙
𝑘 𝑋 𝑖=1
167
,
onde as normas no integrando são as normas induzidas, ponto a ponto, pelas métricas.
Teorema 11.1.3 (Mergulho de Sobolev). Se dim 𝑋 = 𝑛, então existe uma inclusão limitada de
𝐿𝑝𝑘 nas seções 𝐶 𝑟 de 𝐸, dado que
𝑛
𝑘 − > 𝑟. (11.1.3)
𝑝
Exemplo 11.1.4. 𝐿2𝑘 ˓→ 𝐶 0 em dimensão 4 quando 𝑘 > 2.
para alguma conexão suave ∇0 . Desta forma, 𝒜𝑘 (𝐸) é um espaço afim modelado sobre 𝐿2𝑘−1 (End(𝐸)⊗
Ω1𝑋 ).
ℬ𝑘 (𝐸) = 𝒜𝑘 (𝐸)/𝒢𝑘 (𝐸) é um espaço topológico.
Lema 11.2.2. Sejam {∇𝐴𝑛 } e {∇𝐵𝑛 } duas sequências convergindo para conexões ∇𝐴 e ∇𝐵.
Suponha que existem 𝑔𝑛 ∈ 𝒢𝑘 (𝐸) tais que 𝑔𝑛 ∇𝐴𝑛 = ∇𝐵𝑛 . Então existe uma subsequência {𝑔𝑛𝑘 } ⊂
{𝑔𝑛 } convergente e 𝑔 = lim 𝑔𝑛𝑘 satisfaz 𝑔𝐴 = 𝐵.
Considere a aplicação
𝑑 : 𝒜𝑘 (𝐸) × 𝒜𝑘 (𝐸) → R+ (11.2.2)
definida por
𝑑(∇, ∇′ ) = inf ‖∇ − 𝑔∇′ ‖𝐿2 . (11.2.3)
𝑔∈𝒢𝑘 (𝐸) 𝑘
168
Do lema 11.2.2, vemos que a aplicação induzida em ℬ𝑘 (𝐸) × ℬ𝑘 (𝐸) é uma métrica.
Considere a aplicação abaixo:
𝑋 )/𝒢𝑘 (𝐸).
𝜓 : ℬ𝑘 (𝐸) → 𝐿2𝑘−2 (End 𝐸 ⊗ Λ2+ (11.2.6)
g𝑑𝑒 𝛼𝑥 / 𝑇𝑥 𝑀
#
𝑇𝑝 𝑁
Note que ker 𝑑𝑓 ⊃ im 𝑑𝑒 𝛼𝑥 . Como a ação é livre, 𝑑𝑒 𝛼𝑥 é injetivo, e como 𝑝 é regular, 𝑑𝑓𝑝 é
sobrejetivo. Logo
ker 𝑑𝑓 /im 𝑑𝑒 𝛼𝑥 = 𝑇[𝑥] 𝑆𝑝 . (11.2.7)
Mais ainda, dim 𝑆𝑝 = dim 𝑀 − dim 𝑁 − dim 𝐺.
169
Demonstração. Seja 𝑔(𝑡) ∈ 𝒢𝑘 (𝐸) tal que 𝑔(0) = 𝑒 e 𝑔(0)
˙ = 𝜎. Note que
𝑑 −1
0= (𝑔 𝑔) = 𝑔˙ −1 𝑔 + 𝑔 −1 𝑔˙ e 𝑔˙ −1 = −𝑔 −1 𝑔𝑔
˙ −1 . (11.3.3)
𝑑𝑡
Logo,
𝑑 −1
(𝑔 𝐴𝑔 + 𝑔 −1 𝑑𝑔) = −𝑔 −1 𝑔𝑔
˙ −1 𝐴𝑔 + 𝑔 −1 𝐴𝑔˙ − 𝑔 −1 𝑔𝑔
˙ −1 𝑑𝑔 + 𝑔 −1 𝑑𝑔.
˙ (11.3.4)
𝑑𝑡
Portanto, 𝑑𝑒 𝛼∇ (𝜎) = −𝜎𝐴 + 𝐴𝜎 − 𝑑𝜎 = −(𝑑𝜎 + [𝐴, 𝜎]).
Note que
𝑇∇ (𝒢𝑘 (𝐸) · ∇) = im{∇ : 𝐿2𝑘 (End 𝐸) → 𝐿2𝑘−1 (End 𝐸 ⊗ Ω1𝑋 )}. (11.3.5)
Por teoria de Hodge,
𝐿2𝑘−1 (End 𝐸 ⊗ Ω1𝑋 ) = im ∇ ⊕ ker ∇* ,
onde
∇* : 𝐿2𝑘−1 (End 𝐸 ⊗ Ω1𝑋 ) → 𝐿2𝑘 (End 𝐸)
é o adjunto formal.
Vemos que ker ∇* = 𝑇∇ 𝒜𝑘 (𝐸)/im ∇. Seja
Γ∇ = {𝑔 ∈ 𝒢𝑘 (𝐸) : 𝑔 · ∇ = ∇}, (11.3.6)
o estabilizador de ∇. Verifica-se que Γ∇ ≃ 𝑍(hol(∇)). Defina
𝑇∇,𝜀 = {𝑎 ∈ ker ∇* : ‖𝑎‖𝐿2 < 𝜀}
𝑘−1
Proposição 11.3.2. Para 𝜀 suficientemente pequeno, a aplicação quociente 𝒜𝑘 (𝐸) → ℬ𝑘 (𝐸) induz
um homeomorfismo entre 𝑇∇,𝜀 /Γ∇ e uma vizinhança de [∇] em ℬ𝑘 (𝐸).
Denotemos por 𝒜*𝑘 (𝐸) o subconjunto aberto de 𝒜𝑘 (𝐸) das conexões cujo estabilizador é mínimo:
o centro 𝑍(𝐺). Dizemos que 𝒜*𝑘 (𝐸) consiste de “conexões irredutíveis”. Seja ℬ𝑘* (𝐸) ⊂ ℬ𝑘 (𝐸) o
quociente de 𝒜𝑘 (𝐸) pelo grupo de calibre. Então, se ∇ ∈ 𝒜*𝑘 (𝐸), vemos que 𝑇[∇] ℬ𝑘* (𝐸) ≃ 𝑇𝐴,𝜀
pela proposição acima. Concluímos que ℬ𝑘* (𝐸) é uma variedade de Hilbert.
170
11.5 Modelo local do espaço de módulos
Sejam ∇ conexão em 𝐸, 𝑎 ∈ 𝐿2𝑘−1 (End 𝐸 ⊗ Ω1𝑋 e 𝜎 ∈ Γ(𝐸). Veja que 𝐹∇+𝑎 (𝜎) = (𝐹∇ + ∇𝑎 +
𝑎 ∧ 𝑎)𝜎.
Considere a aplicação
ℎ̃ : 𝜓 −1 (0)/Γ∇ → 𝑉[∇] ,
𝑋 )
𝜌 : 𝒜𝑘 (𝐸) → 𝐿2𝑘−2 (End 𝐸 ⊗ Ω2,+ (11.5.3)
∇ +
↦→ 𝐹∇ . (11.5.4)
Note que ⃒
𝑑 ⃒⃒
⃒ 𝜌(∇ + 𝑡𝑎) = (∇𝑎)+ e 𝑇∇ 𝜌−1 (0) = ker ∇+ . (11.5.5)
𝑑𝑡 ⃒𝑡=0
Definição 11.5.1. Dada uma conexão ∇ em 𝐸, o operador
171
172
Capítulo 12
173
Então segue o teorema de Narasimhan Seshadri:
Teorema 12.1.3. O fibrado 𝐸 → Σ é estável, se e somente se, existir uma conexão unitária em
𝐸 com curvatura constante, ⋆𝐹 = −2𝜋𝑖𝜇(𝐸). A conexão é única, a menos de transformação de
calibre.
1 𝜕
√ .
−1 𝜕𝑥𝑘
𝐷𝛼 := 𝐷1𝛼1 ....𝐷𝑛𝛼𝑛 .
𝑃 𝑢 := , 𝑎𝛼 ∈ 𝐶 ∞ (𝑈 ),
∑︁
|𝛼|≤𝑟
|𝛼|= 𝛼1 + ... + 𝛼𝑛 .
O símbolo de 𝑃 é, a grosso modo, a parte de mais alta ordem de 𝑃 . Explicitamente,
|𝛼|=𝑟
Seja 𝑓 : 𝑈 → R ∈ 𝐶 ∞ (𝑈 ).
𝑖=0
onde 𝑃𝑖 é o operador de ordem 𝑖 que não depende de 𝑡 Ademais, 𝑃0 é a multiplicação por 𝑝(𝑥, 𝜉)
com
𝜕𝑓
𝜉𝑖 = .
𝜕𝑥𝑖
174
Demonstração. É suficiente checar para os operadores 𝐷𝛼 . Considere primeiramente 𝐷𝑘 :
𝑒−𝑖𝑡𝑓 𝐷𝛼 𝑒𝑖𝑡𝑓 𝑢 = 𝑒−𝑖𝑡𝑓 (𝐷1𝛼1 ...𝐷𝑛𝛼𝑛 )𝑒𝑖𝑡𝑓 𝑢 = ((𝑒−𝑖𝑡𝑓 𝐷1 𝑒𝑖𝑡𝑓 )𝛼1 ...(𝑒−𝑖𝑡𝑓 𝐷𝑛 𝑒𝑖𝑡𝑓 )𝛼𝑛 )𝑢 =
𝜕𝑓 𝛼1 𝜕𝑓 𝛼𝑛
(𝐷1 + 𝑡 ) ...(𝐷𝑛 + 𝑡 ) .
𝜕𝑥1 𝜕𝑥𝑛
Se 𝑛 = 2 ⇒
𝜕𝑓 𝛼1 𝜕𝑓 𝛼2
(𝐷1 + 𝑡 ) (𝐷2 + 𝑡 ) =
𝜕𝑥1 𝜕𝑥2
𝛼1 ∑︁
𝛼2
(︃ )︃(︃ )︃
𝛼1 𝛼2 𝜕𝑓 𝛼1 −𝑗 𝜕𝑓 𝛼2 −𝑘 (𝛼1 +𝛼2 −(𝑗+𝑘))
𝐷1𝑗 𝐷2𝑘 ( ) ( )
∑︁
𝑡 .
𝑗=1 𝑘=1 𝑗 𝑘 𝜕𝑥1 𝜕𝑥2
Procedendo por indução obtemos:
𝛼1 ∑︁
𝛼2 𝛼𝑛
(︃ )︃(︃ )︃ (︃ )︃
𝛼1 𝛼2 𝛼𝑛 𝜕𝑓 𝛼1 −𝑗 𝜕𝑓 𝛼𝑛 −𝑙 𝑟−(𝑗+𝑘+...+𝑙)
𝐷1𝑗 𝐷2𝑘 ...𝐷𝑛𝑙 ( ) )
∑︁ ∑︁
... ... ...( 𝑡 ,
𝑗=1 𝑘=1 𝑙=1 𝑗 𝑘 𝑙 𝜕𝑥1 𝜕𝑥𝑛
Demonstração.
1 ∫︁ 𝜕𝑢
⟨𝐷𝑘 𝑢, 𝑣⟩ = √ 𝑣𝑑𝑥.
−1 𝜕𝑥𝑘
Integrando por partes:
1 ∫︁ 𝜕𝑢 −1 ∫︁ 𝜕𝑣 ∫︁
√ 𝑣𝑑𝑥 = √ 𝑢 = 𝑢𝐷𝑘 𝑣𝑑𝑥 = ⟨𝑢, 𝐷𝑘 𝑣⟩.
−1 𝜕𝑥𝑘 −1 𝜕𝑥𝑘
Por fim, haja vista que ⟨𝐷𝛼 𝑢, 𝑣⟩ = ⟨𝑢, 𝐷𝛼 𝑣⟩ temos ⟨𝑎𝛼 𝐷𝛼 𝑢, 𝑣⟩ = ⟨𝑢, 𝐷𝛼 𝑎𝛼 𝑣⟩.
Definição 12.2.4. 𝑃 é dito elíptico se 𝑝(𝑥, 𝜉) ̸= 0 ∀𝑥 ∈ 𝑈 e 𝜉 ∈ R𝑛 − {0}.
Teorema 12.2.5. Sejam 𝑈, 𝑉 abertos de R𝑛 e 𝜙 : 𝑈 → 𝑉 um difeomorfismo. Se 𝑃 é um operador
diferencial de ordem 𝑟 em 𝑈 , o operador
𝑢 ∈ 𝐶 ∞ (𝑉 ) ↦→ (𝜙−1 )* 𝑃 𝜙* 𝑢
é de ordem 𝑟 em 𝑉.
175
Demonstração. Repare que
𝑢 ∈ 𝐶 ∞ (𝑋) ↦→ 𝑃 𝑢|𝑈
tem a forma
𝑃𝑢 = 𝑎𝛼 𝐷𝛼 𝑢, 𝑎𝛼 ∈ 𝐶 ∞ (𝑈 ).
∑︁
|𝛼|≤𝑟
.
Definimos o produto interno no espaço das funções definidas em 𝑋 por:
∫︁
⟨𝑓, 𝑔⟩ := 𝑓 𝑔𝑑𝑥.
𝑋
Assumamos que 𝑑𝑥 = 𝜃𝑑𝑥1 ∧ ... ∧ 𝑑𝑥𝑛 , com 𝑑𝑥1 ∧ ... ∧ 𝑑𝑥𝑛 a medida de Lebesgue e 𝜃 ∈ 𝐶 ∞ não
negativa. Então,
∑︁ ∫︁ ∑︁ ∫︁
⟨𝑃 𝑢, 𝑣⟩ = 𝑎𝛼 (𝐷𝛼 𝑢)𝑣𝜃𝑑𝑥1 ...𝑑𝑥𝑛 = 𝑢𝐷𝛼 𝑎𝛼 𝑣𝜃𝑑𝑥1 ...𝑑𝑥𝑛 =
𝛼 𝛼
∑︁ ∫︁
𝑢𝜃−1 𝐷𝛼 𝑎𝛼 𝑣𝜃𝜃𝑑𝑥1 ...𝑑𝑥𝑛
𝛼
176
12.2.1 Teoria de Fredholm
Definição 12.2.9. Sejam 𝑉, 𝑊 espaços de Banach e ℎ : 𝑉 → 𝑊 operador linear limitado. Diz-se
que ℎ é de Fredholm se dim ker ℎ < ∞ e dim cokerℎ < ∞. Definimos então o índice de Fredholm:
ind ℎ = dim ker ℎ − coker ℎ.
Teorema 12.2.10. O índice de Fredholm é invariante por deformações contínuas através de ope-
radores de Fredholm.
|𝛼|=𝑟
𝑖=1 𝜕𝑥𝑖
𝑎𝑖 : 𝐸 → 𝐸 ⊗ Ω1 , 𝑎𝑖 = 1𝐸 ⊗ 𝑑𝑥𝑖 ,
𝑟
𝜕
𝜎0 =
∑︁
.
𝑖=1 𝜕𝑥𝑖
𝑑𝜔 = 𝜕𝑘 𝑓𝐼 𝑑𝑥𝑘 ∧ 𝑑𝑥𝐼
∑︁
Por fim,
⋆𝑑 ⋆ 𝑑𝜔 = 𝜕𝑙 𝜕𝑘 𝑓𝐼 𝑔(𝑑𝑥𝑙 , 𝑑𝑥𝑘 ∧ 𝑑𝑥𝐼 ).
∑︁
177
Definição 12.2.14. Um complexo de operadores diferenciais de mesma ordem, ou seja
𝑃 𝑃
Γ(𝑉0 ) →0 . . . →𝑙 Γ(𝑉𝑙 )
é dito elíptico se
𝜎 𝜎
𝑉0 →0 . . . →𝑙 𝑉𝑙
é exato.
Exemplo 12.2.15 (Complexo de deformação de ∇). Considere a sequência
∇ ∇+
0 → 𝐿2𝑘 (End 𝐸) → 𝐿2𝑘−1 (End 𝐸 ⊗ Ω1 ) → 𝐿2𝑘−2 (End 𝐸 ⊗ Ω2,+ ) → 0.
𝜎∇ (𝑥, 𝜉) = 𝜉𝑖 ⊗ 𝑑𝑥𝑖
∑︁
é injetivo,
𝜎∇+ (𝑥, 𝜉) = ( 𝜉 ⊗ 𝑑𝑥𝑖 ∧)+
∑︁
sobrejetivo.
𝜎0 : 𝑆 𝑘 (Ω1 ) ⊗ 𝐸1 → 𝐸2
𝜎∇+ : Ω1 ⊗ End 𝐸 ⊗ Ω1 → End 𝐸 ⊗ Ω2,+ .
𝜎∇+ ∘ 𝜎∇ = 0 ⇒ im 𝜎∇ ⊆ ker 𝜎∇+ .
Defina 𝛿∇ := ∇* ⊕ ∇+ : 𝐿𝑘−1 (𝐸 ⊗ Ω1 ) → 𝐿2𝑘−2 (End 𝐸 ⊗ (Ω0 ⊕ Ω2,+ )) este é um operador elíptico.
Teorema 12.2.16 (Teorema de Fredholm para fibrados hermitianos). Seja 𝐷 : 𝐿2𝑘 (𝐸1 ) → 𝐿2𝑘−1 (𝐸2 )
operador elíptico em fibrados hermitianos 𝐸1 , 𝐸2 → 𝑋 compacta. Então 𝐷 é Fredholm 12.2.9. Em
particular, as cohomologias de um complexo elíptico tem dimensão finita.
Se [∇] ∈ ℳ* então uma vizinhança deste ponto que seja homeomorfa a uma bola aberta e
ker 𝛿∇ ∼
= R𝑛 .
coker 𝜕∇ = {0} ⇒ dim ker 𝐿 = ind 𝛿∇
Assim ∇ e ∇′ , também nesta vizinhança, estão numa mesma componente conexa e portanto,
ind 𝛿∇ = ind ∇′ .
178
Exemplo 12.3.1.
•
𝑋 = 𝑆 4 ⇒ 𝑏1 (𝑥) = 𝑏+ (𝑥) = 0.
dim ℳ* (𝐸) = 8𝑐2 (𝐸) − 3.
•
𝑋 = CP2 , 𝑏1 (𝑥) = 0, 𝑏2 (𝑥) ̸= 0, 𝑏+ (𝑥) = 0.
dim ℳ* (𝐸) = 8𝑐2 (𝐸) − 3.
•
𝑋 = CP2 , 𝑏1 (𝑥) = 0, 𝑏2 (𝑥) = 𝑏+ (𝑥) = 1.
dim ℳ* (𝐸) = 8𝑐2 (𝐸) − 6.
Considere ℳ𝑘 (𝐸) o espaço dos instantos de classe 𝐿2𝑘+1 módulo grupo de Gauge. Vimos que
este espaço é um espaço métrico que independe de 𝑘. Então existe uma vizinhança 𝑈[∇] vizinhança
aberta de [∇] em ℳ(𝐸) tal que:
𝑈[∇] = 𝑉∇,𝜖 /Γ∇ ,
onde
𝑉∇ := {ker 𝛿∇ }
𝑉∇,𝜖 := {𝑎 ∈ 𝑉∇ : ||𝑎||𝐿2𝑘 < 𝜖}.
dim 𝑉∇ < 𝜖.
No caso de 𝐸 fibrado hermitiano de posto 2:
Complexo de deformação 𝐷∇
*
:
∇
𝐿2𝑘 (End 𝐸) → 𝐿2𝑘+1 (End 𝐸 ⊗ Ω2,+ ).
𝑉∇ = 𝐻 1 (𝐷∇
*
)
ℳ* (𝐸) = {∇ : Γ∇ = 𝑍(𝐺)},
179
Demonstração. A prova será por contradição. Seja 𝜎 ∈ Γ(End 𝐸) não nula tal que ∇𝜎 = 0. Em
um aberto 𝑈 em 𝑋, 𝜎|𝑈 admite diagonalização ponto a ponto. Considere então o referencial locak
{𝑒𝑘 } tal que:
𝜎𝑒𝑘 = 𝑖𝜆𝑘 𝑒𝑘 , 𝜆𝑘 ∈ 𝐶 ∞ (𝑈 ) : 𝜆𝑘 = 0.
∑︁
𝜎(∇𝑒𝑘 ) = 𝜆𝑘 ∇𝑒𝑘
e
∇ = ⊕∇𝑘 ⇒ Γ∇ ̸= 𝑍(SU(n)),
e assim, ∇ não seria irredutível.
12.4 Cobordismo
𝑀1 , 𝑀2 variedades topológicas são ditas cobordantes se, existe 𝑀 variedade topológica tal que
𝜕𝑀 = 𝑀1 ∪ 𝑀2 .
• Taubes C.H.(1982) Self dual Yang-Mills connections over non-self-dual 4-manifolds. Journal
of Differential Geometry 17, 139-70.
• Taubes C.H.(1984) Self dual Yang-Mills connections over 4-manifolds with indefinite inter-
section matrix. Journal of Differential Geometry 19, 517-60.
180
Seja (𝑋, 𝑔) uma variedade riemanniana suave de dimensão 4 e 𝐸 → 𝑋 um fibrado de posto 2.
(1982)
(1984)
Se a forma de interseção de 𝑋 é indefinida, então 𝐸 → 𝑋 admite instantos se 𝑐2 (𝐸) − 𝑏+ >> 0.
12.5 Transversalidade
Para 𝑟 ≥ 3, considere 𝐶 𝑟 (𝑋) o conjunto de todas as métricas riemannianas de classe 𝐶 𝑟 . Este
conjunto é uma variedade de Banach. Considere ainda 𝐸 → 𝑋 um fibrado hermitiano de posto 2
tal que 𝑐2 (𝐸) ̸= 0 e (𝑋, 𝑔) uma variedade riemanniana compacta de dimensão 4.
Teorema 12.5.1. Existe um conjunto 𝐺𝛿 em Γ tal que para todo 𝑔 ∈ Γ e todo instanton em 𝐸 o
operador ∇+ é sobrejetivo.
Teorema 12.5.2. Se 𝑏+ > 0 existe 𝐺𝛿 subconjunto denso em Γ tal que ∀𝑔 ∈ Γ não existem
𝑔−instantons irredutíveis. Neste caso, ℳ𝑔 (𝐸) é variedade suave de dimensão igual ao índice de
𝛿∇ .
Teorema 12.5.3. Suponha que 𝑔0 , 𝑔1 são métricas genéricas no sentido do teorema 12.5.1. Seja
𝑔𝑡 um caminho suave ligando 𝑔0 e 𝑔1 (0 ≤ 𝑡 ≤ 1). Para uma escolha genérica de 𝑔𝑡 , ℳ*𝑡 (𝐸) fornece
um cobordismo entre ℳ*0 (𝐸) e ℳ*1 (𝐸). Vale notar que cobordismo implica em mesma assinatura.
Teorema 12.5.4. Se 𝑏+ > 1 para uma escolha genérica de 𝑔𝑡 então ℳ*𝑡 (𝐸) = ℳ𝑡 (𝐸) ∀𝑡 ∈ [0, 1].
181
182
Índice Remissivo
183
matriz da métrica Riemanniana, 62
mergulho suave, 13
partição da unidade, 17
referencial local
ortonormal, 65
regra da cadeia, 35
representação
adjunta, 42
tensores mistos, 53
Teorema
do Posto, 13
topologia , 1
canônica de R, 1
canônica de R𝑛 , 1
de subespaço, 1
induzida por uma métrica, 3
produto, 1
quociente, 1
união, 1
variedade Grassmaniana, 9
variedade Riemanniana, 61
variedade sauve
orientável, 57
orientada, 57
vetor tangente, 29
184