VII
Ricardo Aires
“Despediram-m me
pelo telefone”
JOA - Ricardo, deixaste o Atlético, depois
de uma época muito polémica, mas os
alcantarenses não te esquecem e querem
saber para onde vais… como é?
Ricardo Aires - Foi com estranheza que
percebi que o meu contrato não seria ren-
ovado e muito mais a forma como foi con-
duzido o processo. Primeiro, numa altura
em que circulava a ideia que Carlos
Manuel sairia, contactaram-me a dizer que
contavam comigo; mais tarde despedi-
ram-me pelo telefone. É estranho. Vá lá,
não foi por e-mail ou por SMS.
JOA - Esta situação tem uma ligação direc-
ta à falta de entendimento com o
treinador?
Ricardo Aires - Evidentemente! Dói-me
muito ser tratado assim pela Direcção
depois de estar ligado ao Atlético estes
anos todos. Foram 6 épocas distribuídas
por 7 anos. Houve um interregno de uma
época, em que joguei pelo CD Mafra. Foi
muito tempo e a relação devia ter termina-
do de outra maneira, mais ainda quando se
sen-te que esta gente aqui de Alcântara
gosta de nós e nos acarinha.
Foi a forma. Primeiro foi a suspensão, que
me surpreendeu; depois foi o levantamen-
to da suspensão que também me sur-
preendeu e depois regressei logo a titular
da equipa. Visto agora a esta distância
pode-se fazer outra leitura.
O Atlético era a minha segunda casa. É
lamentável que o treinador não tenha tido
a coragem para me dizer cara a cara que
não contava comigo; é lamentável que
seja dispensado pelo telefone. Foi uma
desconsideração da parte de algumas
pessoas do Atlético.
JOA - Durante estes 7 anos tiveste dois
interregnos no Atlético. O tal ano no CD
Mafra e uma viagem à Roménia de alguns
dias. Queres relembrar isso?
Ricardo Aires - Saiu para o Mafra porque fui
dispensado, mas, lá está, neste caso tudo se
passou de forma diferente, foi o treinador, o
Luís Perdigão, que me comunicou que não
contava comigo, por indicação da Direcção,
porque os meus problemas no Atlético
começam com o Presidente. Sei que ele não
gosta de mim, mas eu hoje ainda não consi-
go perceber porquê. Sempre cumpri, sem-
pre trabalhei, e mesmo o Presidente nunca
demonstrou qualquer animosidade. Não
compreendo. Foi de dentro da própria
Direcção que soube que o Presidente não
simpatizava comigo. Naquele ano joguei os
minutos todos de todos os jogos e fui dis-
pensado. Eu fui para o Mafra e o Atlético
desceu de divisão.
A 2ª história é simples e breve. Houve
uma proposta de um clube romeno, para
mim e para o David, financeiramente
muito boa, para o Atlético também o era,
pois encaixaria cerca de 40000 euros com
a operação. O que sucedeu é que chega-
do à Roménia não entrou dinheiro nem na
minha conta, nem na conta do Atlético.
Bom, então regressei., o mesmo suceden-
do ao David. Voltei por incumprimento dos
acordos firmados.
JOA - Para finalizar, durante estes anos
tiveste bons e maus momentos. Queres
isolar um bom momento e um mau
momento?
Ricardo Aires - Tive mais bons que maus, um
dos bons momentos é incontornável, é a
vitória sobre o FC Porto, ainda me arrepio
quando falo nisso até porque fui considera-
do pela imprensa como o melhor jogador de
campo. Nessa altura tudo o que me rodeava
era a meu favor. Adeptos, clube, treinadores,
roupeiros, o Jornal, etc.… eu sei lá…, quan-
to ao pior momento foi tudo que se passou
esta época. Nunca imaginei semelhante
situação. Julgo que tudo terá sido iniciado
por um mal entendido, não da minha parte,
que fez bola de neve.
JOA - E o futuro?
Ricardo Aires - Assinei por um ano pelo
Odivelas, esse será o meu clube em
2008/2009, com opção de mais um ano.
Mas não deixo de ter o Atlético no
coração. Agora vou trabalhar para o
Odivelas.
Gostava de terminar agradecendo o tra-
balho que o "Jornal O Atlético" sempre fez,
quer com o anterior director, quer agora.
Julgo que vocês fazem um bom trabalho,
apesar de haver quem pense o contrário, e
não haver reconhecimento, o certo é que
eu, e a equipa de futebol também, sempre
souberam que o Jornal faz a crítica quan-
do ela é precisa e também dá os louvores
quando ele são merecidos. Por isso, obri-
gado, ao Jornal, às pessoas que o tornam
possível, ao Atlético Digital, à massa asso-
ciativa do Atlético, aos adeptos e a todos
os que estão embuídos pelo bem do
Atlético.
As nossas glórias
Carlos Angeja
E
ram nove irmãos,
um deles - Carlos
Angeja - nasceu a
24 de Novembro de 1936,
nado e criado em Algés.
Um simpático Argentino,
de nome, Alejandro Sco-
pelli, grande jogador, de
técnica e correcções exem-
plares, quando terminou a
sua carreira no Belenen-
ses, fundou uma escola de
futebol para jovens. Um
dos seus alunos foi Carlos
do Silva Angeja.
Estreou-se oficialmente
nos juniores do actual
clube do Restelo, em 1953.
Baixote, algo franzino, pos-
suía imensa habilidade, a
que juntava um poder de
finta excepcional, que lhe
permitia defrontar defesas
possantes e, por vezes, vio-
lentos, para o conseguirem
travar.
Chegou á selecção de
juniores, a primeira que se
formou em Portugal, que
disputou o campeonato
europeu, em 1954.
Representou o Belenenses
até á temporada de 1957/58.
Sem se saber o motivo, foi
dispensado pelos azuis de
Belém, e, na época se-
guinte, transferiu-se para o
Atlético, onde permaneceu
ate 1967/68.
Estreou-se no nosso clube,
estava o Atlético na 2ª
Divisão, a 14 de Setembro
de 1958, numa partida com
o Serpa, no Campo da
Misericórdia. Os alcanta-
renses perderam por 2-1,
sendo o golo da turma do
Atlético, obtido por Angeja,
aos 30 minutos.
Eis a nossa equipa: Dias;
Ferreira, Germano de Fi-
gueiredo e Alvarez; Álvaro
Inácio e Fonseca; Eenrique
Mesiano, Apolinário, Carli-
tos, Carlos Angeja e Sim
Sim.
Arbitrou o setubalense
Fernando Valério.
Apesar de derrotado na jor-
nada inaugural do campe-
onato, o Atlético sagrou-se
vencedor da zona sul, com
44 pontos, mais 8 que o
Olhanense, que foi 2º.
Na final, frente ao Leixões,
o Atlético conquistou o
título de campeão nacio-
nal, ao bater a turma de
Matosinhos por 3-0, naque-
la celebre final efectuada
no Estádio Municipal de
Leiria, a 8 de Março de
1959, com 3 golos aponta-
dos por Mesiano.
Carlos Angeja fazia parte
dessa excelente equipa.
Era campeão nacional logo
na sua primeira tempora-
da com a camisola do
Atlético, clube onde afir-
mou ter passado o melhor
período da sua carreira.
Nessa final de Leiria, alin-
haram: Pinho; Tomé, Ger-
mano de Figueiredo e Fon-
seca; Alvarez e Orlando
Paulos; Mesiano, Carlos
Gomes, Álvaro Inácio, Al-
bano e Carlos Angeja.
O árbitro desse encontro
foi Júlio Braga Barros, de
Leiria.
Angeja deixou boas recor-
dações em Alcântara, mas
antes de se retirar da acti-
vidade desportiva, ainda
representou o Benfica, em
1961/62. De 1968 a 1972,
esteve no Amora, e, em
1973/74, no Linda-a-Velha.
Terminaria a sua carreira,
definitivamente, na União
de Algés. Foi, por assim
dizer, um regresso ás ori-
gens.
Pelo Atlético foi 2 vezes
campeão nacional da 2ª
Divisao, em 1958/59 e
1967/68.
Curiosamente, foi compan-
heiro de equipa de Matateu
no Belenenses, Atlético e
Amora, e 5 vezes interna-
cional júnior.
Recordamos um desafio
"picado das bexigas", em
Alhandra, com um ambi-
ente hostil, na época de
1965/66, numa partida de
muita importância para a
classificação.
No campo da Hortinha, em
Alhandra, pelado e de
exíguas dimensões, viveu-
se um clima emocional
tremendo, com o árbitro
lisboeta, Pena da Silva, em
sérias dificuldades para
levar o navio a bom porto.
A um minuto do fim, com o
resultado 1-1, foi marcada
uma grande penalidade
contra a Alhandra, no
meio de grande efervescên-
cia. Angeja foi chamado a
apontar a grande penali-
dade. Com uma calma im-
pressionante, correu para
a bola e deu a vitória ao
Atlético, com um remate
indefensável.
Eis a equipa; José Henri-
que; Valdemar, João Car-
los, Candeias e Peres; Fa-
gundes e Gonçalves; Tito,
Matateu, Márinho e An-
geja. Jogo a 28 de Novem-
bro de 1965.
Ventura Lima de Almeida