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UM CEO MAIS DO

QUE PERFEITO
1º Livro da duologia Mais Do que
Perfeito

LU BARBOSA
Copyright © 2016
Editora Erga Omnes
Revisão: Deisy Monteiro
Pós-produção: Editora Erga Omnes

Edição Digital: 2016.


Todos os direitos reservados à:
Editora Erga Omnes
RUA 15 QDA 29 N 01 – São
Luís/MA.
ISBN: 978-1536871500
Dedicatória

Primeiramente a Deus, que se não fosse


Ele, eu não seria ninguém. Agradeço as
bênçãos que Ele traz e tem trazido na
minha vida, Obrigada Pai Amado. Esse
livro é Seu!
Ao grupo “Só Calcinhas”, agradeço a
paciência que tiveram com meus surtos
de inércia e preguiça, as vezes pensando
até em desistir de escrever, obrigada
Baby, Angel, Tati, Laurinha, Jess, Bell,
Anna, Pri, vocês são minhas
preciosidades.
Á minha mãe por me dizer todos os dias
“você pode” te amo, mãe.
Á minha irmã Juliana, (minha Julia) que
me escuta (as vezes) e me dá puxões de
orelha, engraçado que fiz a Ramona
imaginando-a.
Ao apoio da minha família, que sempre
me apoiou nessa caminhada.
Ao meu amor, meu Will, agradeço a
força que você me dá todos os dias para
superar meus problemas e preguiça. Te
amo, príncipe.
A minha Sis (ela sabe) Deisy Monteiro,
um anjo que Deus colocou na minha vida
e que eu acho que foi separada de mim
no nascimento, a sua Editora Erga
Omnes por me dar essa chance e
acreditar no meu trabalho. Obrigada
mesmo.
Enfim, que esse seja o começo.
E mais uma vez, obrigada.
Sumário

UM CEO MAIS DO QUE


PERFEITO
Copyright
Dedicatória
Prefácio
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Epílogo
I Bônus
II Bônus
III Bônus
Sobre a autora
Prefácio

Quando tu concluíste os sentimentos


que em ti ardiam, e descobriste que eu
era a inspiração, tu viste a luz em mim.
Tu despertas paixões e loucuras,
achando que ainda serás capaz de
manter-se afastado, indiferente.
Minta o quanto quiser, para si, para
todos, mas não mintas para mim.
Palavras não mudam nossa alma, nossa
alma solitária ama e ela descobriu que
precisa estar ao lado uma da outra.
Isso que sinto não é tão mal, afinal...
Eu descobri que era paixão quando
olhei em teus olhos e vi minha imagem
refletida. Eu descobri que seria amor
quando senti teus olhos flamejantes, as
bocas secas, implorando pelo gosto do
beijo.
E agora eu sei o porquê disso tudo e
eu amo isso, essa certeza é a que me
levará às maiores loucuras:
— Eu amo você.

DEISY MONTEIRO
Prólogo

— Alexander Castellar, meu famoso


paciente. – Rox entrou no silencioso
quarto e o viu esticado sobre a cama,
sentiu seus olhos queimarem de
vergonha ao vê-lo somente de cuecas. –
Que trajes inapropriados para receber
sua fisioterapeuta...
— Se soubesse que você era tão
bela, – Alex sorriu e encarou o rosto
ruborizado de Rox – eu não estaria
usando nada.
Os irmãos eram muito parecidos
fisicamente. A forma galante de se
apresentar e os olhos mostravam que
tinham traços genéticos semelhantes,
mas Alex tinha um diferencial:
Tatuagens. Muitas delas, inclusive nas
pernas inertes. Alex tinha tatuagens
tribais bem delineadas contornando suas
coxas grossas.
“Oh céus, que homem!” Rox pensou.
— Pare de gracinhas, Alex.
A voz firme e grave de Richard ecoa
pelo quarto, fazendo Rox se assustar, os
dois ocupantes do cômodo entram para o
sujeito que acaba de entrar.
— Senhorita Petri, não escute as
asneiras do meu irmão.
— Tudo bem, senhor Castellar. Ele
não é nada comparado aos velhos
safados que usavam do meu trabalho
para me cortejar.
— Richard, apenas Richard. Eu tenho
trinta e cinco anos e não sessenta. — Ele
a olhou profundamente e Rox sentiu que
estava sendo engolida.
— Ok, Richard. Será que o sen...
Você poderia nos dar licença? Eu
preciso examinar o seu irmão – Rox
pediu educadamente, já que só iniciaria
o tratamento quando soubesse o real
estado de seu paciente.
Alexander havia sofrido um acidente
grave e tem uma lesão medular de nível
médio, ainda em fase de recuperação.
Ele precisaria de muita fisioterapia até
recuperar os movimentos das pernas
completamente, e Roxanne faria o seu
melhor. Havia simpatizado com Alex e o
ajudaria. O pagamento ajudava, mas era
o de menos. Rox gostava do que fazia.
Fisioterapia sempre foi seu sonho desde
que se apaixonara por ciências
biológicas.
— Claro, estarei na sala, qualquer
coisa. - Richard saiu e os deixou a sós
no quarto de Alex.
— Então, Roxanne. Veio perder seu
tempo como os outros médicos? - Alex
disse sem humor, ele já estava cansado
dos tratamentos demorados, horas de
esforço que resultavam em nenhuma
melhora.
— Não, Alexander. Eu não vim
perder o meu ou o seu tempo, eu vim
fazer você andar. Pode demorar, mas
vamos conseguir.
Ele calou-se e sorriu.
Roxanne o examinou e concluiu que o
homem tinha muitas chances de voltar a
andar. Poderia demorar alguns meses,
mas Alexander Castellar andaria.
Capítulo 1

A única
Richard

Durante o período que meu irmão se


reestabelecia, eu fiquei isento de tudo
que se relacionava a sua fisioterapeuta.
O pagamento de Roxanne era feito
diretamente em sua conta e eu não a via
com frequência. Mesmo que a visse, ela
me tratava como seu patrão. Eu odiava
essa relação, mas, enquanto ela
estivesse cuidando de Alex, eu manteria
estritamente a cordialidade que ela
queria. Apesar disso, eu sentia seus
olhos em mim toda vez que nos
falávamos. De fato, eu a observava e eu
podia perceber que ela fazia o mesmo.

***

Passaram-se seis longos meses do


tratamento de Alex. Eu já via diferença,
meu irmão antes irônico e sem
esperanças dava lugar ao Alexander
Castellar cheio de vida e brincalhão que
ele sempre foi antes do acidente. O que
surpreendeu a todos, inclusive quem não
colocava fé no trabalho de Roxanne.
O casamento de meu sócio,
Maximilian Ferrati, com a minha
assistente pessoal chegou. Meu irmão,
diga-se de passagem, roubou a cena ao
entrar andando, na festa dos pombinhos,
com auxílio de uma bengala e com
Roxanne ao seu lado, vestida num
tomara que caia azul.
Roxanne estava linda, divinamente
linda. Senti ciúmes e inveja de meu
irmão por ter Roxanne tão perto e
parecendo seu namorado.
“Espera um pouco, será?” precisei
parar por um minuto os meus
pensamentos para analisa-los melhor
“Não, não pode ser”.
Eu os vi cumprimentar os noivos e,
em seguida, alguns dos nossos amigos
que estavam presentes na festa. Depois,
enquanto Max conversava comigo e
alguns dos outros acionistas da
Castellar & Ferrati Technology, os
dois vieram em nossa direção.
— Que surpresa boa, Alex! Bom te
ver de volta! – Max deu um abraço em
meu irmão enquanto eu trocava olhares
com Rox, que, tímida, tentava desviar o
olhar.
— Parabéns cara, eu não podia
perder o casamento do grande
mulherengo Maximilian Ferrati. – Meu
irmão sorriu brincalhão. — Ah, Max, eu
creio que você não conheça a minha
salvadora, Roxanne Petri.
— É um prazer conhecê-lo, senhor
Ferrati. Alex falou muito de você
durante as sessões de fisioterapia. – Ela
estendeu a mão para cumprimentá-lo e
logo em seguida a esposa de meu amigo
chega até nós.
— Não esqueça Alex, que ele é um
ex-mulherengo. E eu tenho pena dele se
ousar me trair. – Piscou para o marido e
eu não pude deixar de rir. Angelina
cozinhou meu amigo por três anos, ela é
uma fera dentro de uma mulher pequena
e delicada.
— Ferinha, eu só tenho olhos para
você.
Começou a sessão açúcar. Os dois
beijavam-se de segundo em segundo.
— Gente, deixa esse amor todo para
a lua de mel, não queremos ver nada
explicito. – Eu falei tentando quebrar o
clima entre mim e Rox, que estava muda
ao lado de Alex.
— Muito engraçado, Rich.
Depois de um tempo conversando, os
noivos foram dançar uma valsa dos
noivos. Como Alex não podia dançar
(ainda), eu resolvi chamar Rox para uma
dança.
— Será que eu poderia pedir
emprestado a sua acompanhante por
alguns instantes, irmão? – Eu perguntei a
Alex, que estava sentado junto a Rox em
nossa mesa.
— Sacanagem, irmãozinho.
— Eu não sei dançar, direito. – Rox
falou baixinho, mas eu pude escutar
perfeitamente.
— Eu ensino você, querida. – Eu
disse.
Alex sorriu e assentiu que eu podia
puxá-la para uma simples dança. E
assim fiz. Fomos até a pista eu guiei
seus passos até conseguirmos dançar de
forma agradável para os dois. Senti
vontade de beija-la ali mesmo. Enquanto
dançávamos, ela pisou no meu pé sem
querer e eu não pude deixar de sorrir
quando ela ergueu o olhar para mim se
desculpando.
— Continue dançando. Não foi nada.
– Sorri.
— Desculpe. – Ela pediu e eu achei
que fosse chorar.
“Sensível demais, gosto disso”.
— O que há entre você e meu irmão?
– Perguntei na lata, eu queria saber por
que ela tinha vindo com meu irmão. Se
eu a desejava, ela não podia ficar com
ele, não mesmo.
Roxanne

Alexander era uma cena. Quando


estávamos em uma sessão, o homem de
um metro e noventa tornava-se um
verdadeiro palhaço. Eu fazia,
diariamente, as sessões de massagem,
treinávamos na piscina e na academia
que havia em sua casa. E, exatamente
como eu esperava, depois de quatro
meses, ele já conseguia dar alguns
passinhos. Seis meses depois ele já
andava com ajuda de um apoio,
geralmente sua bengala.
Voltar a andar devolveu a Alexander
a vontade de sorrir, a alegria e a vida.
Como Richard me disse "Meu irmão
precisa andar para voltar a viver".
Aliás, eu podia perceber que os irmãos
eram muito unidos. Alex era mais velho
que Richard, dois anos, mas Richard
cuidava do irmão como se ele o fosse.
Alexander faria trinta e oito anos em
dois meses, mas parecia um garotão.
Porte atlético e tatuagens na panturrilha
e peito, como eu notei nas oportunidades
em que ele se exercitava na piscina.
Richard não era muito diferente do
irmão. Ele possuía a mesma tatuagem no
peito, acho que é significativa para os
dois.
— O que a minha salvadora tanto
pensa? - Alex chegou até mim já vestido
em seu terno cinza grafite e a bengala
preta de aço. Iriamos ao casamento de
um de seus amigos e ele finalmente
andaria para todos, nem mesmo Richard
sabia que ele já andava sem ajuda.
— Você vai me chamar assim
sempre? – Pergunto meio envergonhada.
— Mas é claro, você me salvou. –
Ele sorri e eu também. – Hoje, você
dirige.
— Eu? – Me espanto assim que ele
me entrega as chaves do conversível.
— Eu ainda não posso. Esqueceu? –
Alex aponta para a bengala e sorri, meio
sem jeito.
— E a missão ficou para mim.
Acertei?
— Exato.
— Que amigo eu fui arrumar, senhor.
- Resmungo e o ajudo a ir até o carro.
— Um excelente amigo, ok? - Ele ri.
— Ok, Lex.
— Agora você apelou, Rox.
— Fica quieto, Lex. Eu não sei
dirigir com pessoas resmungando. -
Engraçado que nossa amizade já era tão
grande, que brincávamos um com o
outro o tempo todo. — Qual o caminho,
Alexander?
— Tina, diga a ela. - O GPS tinha
nome, meu cristo!
Duas ruas depois da empresa,
senhor Alex. Rua Alameda Forest, 26.

Após passarmos o caminho todo


ouvindo Arctic Monkeys (banda
preferida dele), chegamos ao local do
casamento. Embora Alex só fosse
aparecer na festa, ele viu tudo de longe
e, quando chegou a hora, eu o deixei ir
sozinho. Eu estava ao lado, mas o
momento era somente dele.
Senti os olhares de todos para nós
dois, mas não me importei. Apenas
quando Richard nos olhou, eu senti
vergonha por estar tão nua nesse
vestido.
Os olhares mais profundos e
emocionados eram sobre o meu paciente
vitorioso, que andava depois de muitos
médicos não acreditarem que ele
poderia. Enfim, eu havia dado tudo de
mim para que ele voltasse a ser o que
era. E agora, que o meu trabalho acabou,
eu poderia seguir de volta para minha
vida normal.
Depois de cumprimentar os noivos e
conversar um pouco, sentamos à mesa
para que Alex descansasse um pouco.
Logo os noivos começaram a típica
dança de salão, e alguns casais foram
para a pista de dança, juntar-se a eles.
Eu não sou muito boa em dança, mas
adoraria dançar. Alex ainda não podia,
então ficarei aqui mesmo.
De um modo que eu não poderia
prever, Richard veio ao nosso encontro
e perguntou ao irmão se poderia me
levar à pista para uma dança. Ok, eu
tremi nesse instante. Após Alex brincar
com o pedido do irmão, aceitei dançar
com Richard. Ele me pegou pela mão e
me levou até a pista, onde tocava
Kodaline.

When we are together


You make me feel like my mind is
free
And my dreams are reachable
You know I never ever believed in
love
I believed one day that you would
come along...

Quando estamos juntos


Você me faz sentir como se minha
mente estivesse livre
E meus sonhos fossem alcançáveis
Você sabe que eu nunca acreditei no
amor
Eu acreditei um dia que você
apareceria aqui...

Meu Deus! Essa música? Poderia ser


outra não é, DJ?
Segurando em minha cintura com
delicadeza, começamos a dançar,
coladinhos um ao outro, eu estava
nervosa e acho que ele sabia disso.
Quando a música estava perto de
acabar, sem querer, pisei em seu pé. Eu
havia avisado que era uma desastrada,
mas ele nem ligou e pediu que
continuássemos com a dança. Pedi
desculpas e logo depois veio com a
bomba.
— O que há entre você e meu irmão?
“Acho que ele enlouqueceu!” parei a
dança e o encarei.
— Você está louco, senhor Castellar?
– Decidi usar a formalidade, apesar da
pergunta. Eu não dei liberdades para ele
me fazer uma pergunta pessoal dessas.
— Richard, Roxanne. Apenas
Richard.
— Eu não te dei liberdade para me
questionar sobre minha relação com o
seu irmão. Apesar de seu Alex e eu
sermos apenas amigos. E, mesmo que
nós tivéssemos outra relação, isso não
seria da sua conta. Com licença.
Antes que eu pudesse sair, ele me
segurou pelo braço.
— Solte-me! – falei com uma voz
dura lhe lançando um olhar de
repreensão.
— Espere, Roxanne. Eu...
— Você pode me soltar, por favor?
— Tudo bem. – Logo que ele soltou
meu braço, voltei a mesa e me despedi
de Alex, inventei uma desculpa qualquer
e peguei um táxi de volta para minha
casa.

***

Cheguei à minha casa algum tempo


depois. Ramona estava assistindo uma
série na televisão, olhou para mim como
se soubesse que havia alguma coisa
errada e eu não pude segurar as
lágrimas.
— O que aconteceu, Rox? –
Perguntou preocupada, e eu me sentei no
sofá, diretamente em seu colo. Nada
melhor do que o colo da minha irmã
gêmea.
— Rich... ard. – Solucei entre as
lágrimas. — Um grosso.
— Seu patrão? O que ele fez? Vou
naquela festa dar uma surra nele! – Ela
fez a menção de levantar, mas eu não
deixei. — Você está chorando, Roxanne!
— Eu não gostei do jeito que ele me
tratou, estou sensível por causa da TPM.
— Vou deixar passar, só dessa vez, –
ela comentou com irritação – mas, se eu
cruzar com esse homem, eu não
respondo por mim.
— O que você está assistindo? –
Perguntei me sentando direito no sofá e
pegando um pouco da pipoca dela.
— Mudando de assunto, irmãzinha?
— Não é isso que as Petri fazem? –
Sorri enxugando as lágrimas.
— Isso mesmo, espelhinho.
— Há tanto tempo que você não me
chama assim.
“Espelhinho” era nosso apelido
quando éramos crianças. Somos gêmeas
idênticas, mudando apenas por um
detalhe: Ramona tem uma tatuagem de
borboleta no pescoço e eu no pulso
esquerdo.
— Pois é, espelhinho, você precisa
de um pouco de infância, chega para lá!
– Empurrou-me do sofá. — Vamos
assistir um episódio de Arrow, sinto que
hoje o Oliver vai finalmente decidir
ficar com a Fel!
— Oliver? Fel? – Perguntei sem
saber quem eram essas duas pessoas, ou
personagens, sei lá.
Ela me explicou a série, já que eu
não tinha tempo para ver nada. Sou leiga
quando o assunto é filmes e séries.
Enfim, meu dia iria terminar com uma
boa dose de luta e muita pipoca
espalhada no chão da nossa sala.
Amanhã eu voltaria para a última sessão
com Alex e finalmente estaria livre de
Richard, o cretino.
Capítulo 2

Enfim, casados.
Maximilian

Não aguentaria mais as piadas de


Richard e Alex dizendo que eu havia
engravidado minha esposa antes de
casar. Apesar de que eu havia mesmo.
Uma linda sementinha que nasceria em
cinco meses. Sophie. Meu coração já
era mais meu quando o entreguei a
Angelina, agora essas duas me tem por
inteiro. Nunca pensei que depois de
anos de galinhagem, ficando com uma e
depois com outra, sem lembrar o nome
de nenhuma no dia seguinte, eu iria
encontrar a mulher que eu faria feliz o
resto da vida.
Quando o meu anjo esbarrou em mim
na entrada do elevador, senti naquele
mesmo instante que estávamos
conectados. Ela com seu jeito ferinha,
mandona e tímida, conquistou o
verdadeiro Maximilian. O mulherengo
acabou se revelando apenas uma válvula
de escape.
Namoramos dois anos e meio, até que
eu a pedi em casamento. Basta dizer que
a danada me cozinhou mais um ano, mas
eu fiz a maior loucura da minha vida,
depois de um ménage à trois. Fiz essa
aos vinte e poucos anos. E agora, no
presente, furei a camisinha. De
propósito. Eu sabia que diante de uma
gravidez inesperada, ela casaria.
Engano meu. Ela ainda me enrolou
por mais quatro meses.
Perdi as contas de quantos tabefes eu
levei depois que ela confirmou a
gravidez. Agora, esperávamos Sophie e
finalmente ela se casou comigo.
Quando descobrimos que era uma
menina, claro que eu fiquei extasiado e
maluco, agora eu teria que ter um
arsenal para proteger e defender minha
menina dos marmanjos.
Surreal, um dia você acorda sozinho
em meio a uma bagunça num
apartamento imenso. E no outro, você
tem uma linda mulher ao seu lado e uma
saliente barriga tomando de conta do
espaço, de onde você não consegue tirar
as mãos. Não vejo a hora de ter minha
princesinha em nosso meio, tirando
nossas noites quentes, o sono, mas
enchendo nossas vidas de alegria e
amor.
— O que você está pensando, meu
amor? – Minha esposa pergunta
sentando ao meu lado, enquanto eu estou
enxugando meus cabelos depois um
banho de banheira com ela. Estávamos
somente de roupão, no hotel, iriamos
viajar ao amanhecer para os Emirados
Árabes.
— Em nós, em Sophie, em como
minha vida era uma merda sem vocês. –
Eu disse sem rodeios e ela sorriu
lindamente, tocando a barriga e ficando
de frente para mim, que estava sentado
na ponta da cama.
— Quatro meses atrás eu teria
arrancado seu couro, mas quando eu a
sinto mexer, eu agradeço a Deus o dia
que você furou aquela bendita
camisinha. Obrigada por Sophie,
querido. – Me beijou entre as lágrimas,
minha esposa estava tão sensível nesse
começo da gestação, e linda de qualquer
forma.
— Sophie, papai ama você, princesa.
– Beijei sua saliente barriga por cima do
roupão. — Enquanto você está quentinha
no ventre da mamãe, eu cuidarei de
vocês duas, mas quando você estiver
conosco, cuidarei para que não sinta
medo desse mundo horrível que estamos
vivendo. – Senti meus olhos queimarem,
era sempre uma emoção senti-la mexer –
Eu amarei você com todo meu coração e
o meu amor.
— Papai é nosso herói, filha. – Um
chute fininho eu senti quando toquei
novamente a barriga, Sophie espertinha.
Angelina tornou a olhar para o meu rosto
soprando as palavras – Te amo,
Maximilian Ferrati.
— Te amo mais, Angelina Ferrati.
Eu a beijei. Nossos corpos caíram
sobre a cama e nos amamos como se não
houvesse um amanhã esperando por nós.
Capítulo 3

Completamente
apaixonado.
Richard

Depois de deixar-me plantado no


meio da pista, Roxanne sumiu do local.
Alex discutiu comigo por causa disso. O
que foi que eu fiz? Só fui sincero, como
sempre serei. Ao final, despedimo-nos
de Angelina e Max e voltamos para
casa. Vale lembrar que meu irmão está
contando os dias para voltar ao seu
apartamento. Ele havia dito que ficaria
em minha casa o tempo do tratamento e
pelo que sei, a última sessão é amanhã.
Eu estou temporariamente sem
assistente, já que Max nunca deixaria a
mulher grávida trabalhar. E,
sinceramente, eu também não deixaria.
Pode chamar-nos de machistas, mas
mulheres grávidas devem ser tratadas
com cuidado e mimo, já que estão
carregando além de qualquer coisa, uma
nova vida. Esses meus pensamentos me
levam a crer que nunca terei a
oportunidade de ter um filho.
Afasto esses malditos pensamentos e
subo para o meu quarto, tiro o terno e
tomo uma chuveirada quente para aliviar
a tensão. Já no quarto, Alex vem até mim
e se senta na cama sem a ajuda da
bengala, eu podia não dizer, mas eu
estava orgulhoso do meu irmão.
— Mano, desculpe interromper o seu
banho de menina, mas eu preciso saber o
que houve entre você e a Rox?
“Rox?” A intimidade é tanta que os
dois se tratam por apelidos. Não gostei.
— Primeiro, o nome dela é Roxanne.
– eu o corrigi – Segundo, eu não quero
falar sobre isso, estou com uma dor de
cabeça filha da puta.
Vesti uma cueca na frente dele
mesmo.
— Porra, Rich, eu não preciso ver
essa merda! – Reclamou e fez cara de
nojo. — O que houve com você, irmão?
Sempre contamos tudo um para o outro.
— A porra da sua fisioterapeuta foi o
que aconteceu, é isso Alex! – Vocifero
com uma raiva da qual não estava
consciente – Eu não consigo parar de
pensar nela!
— Eu sabia!
— Sabia de quê? – Pergunto. – Que
ela é a razão da minha dor de cabeça
infernal?
— Que você está apaixonado pela
Rox.
— Eu, apaixonado? Cacete!
— eu não estou apaixonado, porra! –
grito, mas não sei se quero convencer a
ele ou a mim.
— Essa é a primeira atitude de
alguém que está completamente
apaixonado por uma mulher. Negação.
Mano, isso é uma merda, mas, sim, você
está fodido! Não porque está gostando
da Rox, até porque ela uma gostosa e
ainda tem cérebro. Mas você está fodido
porque ela é a mulher mais difícil que eu
conheci na vida. – Terminando o
discurso, ele se levanta devagar, faço a
menção de ajuda-lo, mas ele me para no
mesmo instante. — Eu consigo sozinho,
Rich. Eu não sou mais um inválido. Rox
me salvou.
— E serei eternamente grato a ela.
— E apaixonado.
— E apaixona... Porra, Alex! – Grito
com ele, que ri. Maldito! — Você está
me confundindo!
— Não, irmão, você é confuso por
natureza! – Ele sai do quarto, mas para
no corredor. — E se quiser ajuda para
conquistá-la, pode contar comigo!
Enquanto ouvia os risos dele pelo
corredor, deitei em minha cama,
coloquei os braços sobre a cabeça e
fiquei pensando:
“Será mesmo que estou apaixonado
por Roxanne? Puta que pariu!? Se for,
estou completamente e absurdamente
fodido!”.

***

Acordei pior do que dormi, nem


lembro direito, acho que só fiz capotar
na cama. A porcaria da dor de cabeça
não passou e, ainda por cima, estou
meio tonto. Que porra é essa? O outro
dia mal chegou e eu já estou fodido.
— Alex! – Chamo meu irmão e ele
vem até mim incrivelmente rápido, me
fazendo notar sua enorme recuperação.
— Coloque três dedos a minha frente,
por favor.
— Hã? Bom dia, primeiramente. –
Ele esfregou os olhos, sonolento.
— Coloque a porra dos dedos!
— Espera. – Ele esticou o braço a
sua frente. Algo está errado com a minha
visão.
— Quantos dedos você pôs?
— Três, foi o que você pediu.
— Estou vendo tudo embaçado.
Minha cabeça está girando e doendo
como uma merda. – Reclamo outra vez.
Tento me levantar, mas meu corpo está
estranho e eu perco o equilíbrio, caindo
na cama. — Que merda! O que está
havendo comigo?
— Deve ser a idade. – O maldito
brinca.
— Você é o mais velho, imbecil! –
Digo sem paciência. Nunca pensei que
fosse dizer isso, mas, preciso de um
médico. — Cadê o Albert?
— Limpando seu carro.
— Preciso de ajuda para me trocar,
vou ao hospital. – Digo sem alternativa,
ou cairia duro ali mesmo. Vejo-o pegar
o celular e falar com Alfred pelo
sistema da cama, obra minha, caso ele
precisasse de ajuda. Santa precaução.
— Certo. Vou ajudá-lo e descemos. –
ele ouve a voz de Alfred e continua –
Não, eu consigo. – Ele desliga e vem me
ajudar. Continuo sentado na cama e ele
me dá apenas a camisa. — Você vai
assim mesmo. Não vou trocar marmanjo!
— Bastardo.
— Vem, vou te ajudar a descer.
Apoio-me nele e nós com muito
custo, já que ele era um convalescente e
eu pesado para caralho, conseguimos
descer as escadas, porque não pensei em
um elevador? Nota mental para depois.
Com a ajuda de Alfred, chegamos ao
hospital do meu amigo Jules Santini.
Após me submeter a uma bateria de
exames e coisas chatas, fui
diagnosticado com labirintite e estresse.
— É, meu amigo, nada que uns dias
de folga e a medicação certa não
resolvam. Labirintite pode ocorrer em
qualquer pessoa, Richard, você não é o
único. – Jules fala olhando para os meus
exames e eu faço cara feia ao ouvir
“Medicamentos”. Parece coisa de velho.
— Trinta e seis anos. Pois é cara, a
idade está chegando, bem-vindo a clube.
— Não ferra, diz logo o que eu tenho
que tomar. – Pergunto sem rodeios.
Odeio hospitais, odeio seringas, e
odeio médicos. Enquanto ele mexe em
alguns papeis, Alex futrica algumas
parafernálias na mesa dele.
— Bom, vou te passar o Vertix e o
Meclin, eles vão aliviar as tonturas e a
visão turva melhora à medida que você
for se recuperando. – Meclin parece
nome de mago. Ou seria Merlin? —
Agora, para ser mais eficaz, você vai
tomar uma medicação intravenosa e
ficar em observação, assim posso ver
como seu corpo reage.
— Eu não vou ficar!
— Vai sim! – Dessa vez quem se
manifestou foi Alex. — Eu sou o mais
velho aqui porra!
— Uma merda que vou, eu sou
responsável por mim mesmo! –
Discutimos e Jules sorri.
— Vocês falam palavrões demais,
Santo Deus! Richard, ou você fica por
sua saúde ou vai acabar desmaiando de
tanta dor.
Penso e repenso, essa dor de cabeça
vai passar com uma simples agulhada, é,
vou ficar.
— Eu fico.
— Sabia decisão. Eu vou pedir para
preparem o soro. – Se levantou e foi
decidir a porra toda.
Eles dispensaram algumas doses de
remédios no soro e eu esperei que eles
fizessem efeito. Eu estava num quarto
privativo, com Alex falando o tempo
todo e meus olhos querendo fechar. Eu
desisto de tentar mantê-los abertos e
caio num sono profundo.

***

Acordo com a voz de Alex e abrindo


os olhos devagar, percebo que ele fala
com alguém ao celular. Tento escutar a
conversa.

— Calma, eu não liguei porque estou


no hospital. Não, Rox, eu estou bem.
Richard acordou mal e está aqui no
soro. Não precisa. Já está acabando e
vamos para casa. Ok, um beijo.
“Roxanne? Era ela no telefone?”
— Quem era, Alex? – Pergunto de
uma vez.
— Rox.
— O que ela queria?
— Desmarquei a sessão de hoje. –
Porra, me esqueci disso completamente.
— Foi mal, cara. Eu sei que era
importante para você. Sua liberdade
total.
— Nada é mais importante do que a
família, Richard. Aprenda isso e aplique
quando tiver uma. – Alex sorri e eu não
pude deixar de agradecer o irmão que
Deus me deu.
— Valeu cara. Eu te devo uma.
— Não, você me deve muitas. E eu
vou cobrar. Aliás, Rox mandou melhoras
e pelo tom de voz, deu para ver que
ficou preocupada com você.
— É mesmo? – pergunto ao perceber
como o meu coração disparou.
— Não tente me enganar Richard, eu
sou mais velho e experiente. Você está
caidinho por ela e, pelo visto, ela por
você.
— Não sei se acho isso bom ou ruim.
— Eu acharia muito bom, ter uma
gostosa daquelas na minha cama.
Fico puto com essa resposta.
— Não fale assim dela.
— Ciúmes? Mas já? – Brincou.
“Sim, eu sou ciumento, porra!”
— Pense o que quiser. Cadê essa
enfermeira para me tirar essa merda? –
Rosno para ele.
Depois de algumas horas naquele
bendito hospital, voltamos para casa e
recebi uma lista de recomendações, eu
parecia realmente um velho. Não podia
baixar a cabeça, nem dormir de bruços,
nem comer besteiras e muito menos
fazer algum esforço por uma semana.
Isso incluía sexo. Que merda!
Para minha surpresa, lá estava ela,
conversando com Alfred. A minha
perdição de olhos verdes.
Espera aí, eu não estou mais tonto,
mas vejo duas dela, que porra é essa?
Ao me deixar sozinho, Alex vai ao
encontro delas. Mesmo ainda meio
grogue, decido ir até eles.
— Irmão, eu esqueci de dizer, essa é
a Ramona, irmã gêmea da Rox! – puta
merda! São iguais. Estou duplamente
fodido. – Cristo! São idênticas! – Digo
espantado com a semelhança.
— Certo, mas existe uma forma de
nos diferenciar! – Quem fala é a
Ramona, acho.
— Uma tatuagem. – Elas viram e
levantam os cabelos ruivos e
volumosos. Lindos por sinal. Mas eu
reparo no pescoço, ali mesmo havia uma
tatuagem singela de uma borboleta azul e
verde. Era a tatuagem de Roxanne.
Ramona tinha uma mesma tatuagem,
porém no pulso esquerdo.
— Uou! – Alex diz. — Acho que
preciso de gelo, ou melhor, banho
gelado.
— Pare com isso, Lex!
— Belas tatuagens, senhoritas Petri.
— Como está, senhor Castellar? –
Rox perguntou de novo com aquela
porra de formalidade.
— Melhorando.
— Que bom. – ela virou-se para meu
irmão – Alex, vamos à sua última
sessão. Eu disse para você que não
desmarcaria por causa da minha viagem.
Mas eu estou tão feliz por você, que
preciso lhe ver voltando a sua vida
normal. – Ela diz feliz.
— Danada. Está louca para estar
livre de mim. E sua irmã, veio me fazer
suar também?
— Minha área é outra, Alexander! –
Ramona respondeu e eu fiquei ali
parado igual a um dois de paus. — Sou
cirurgiã pediátrica.
— Uau, eu adoro crianças. Devo
dizer que estou impressionado. – Os
dois engataram uma conversa e pelo
visto, acho que não sou o único que
gosta da descendência Petri.
— Podemos entrar, ainda estou meio
tonto, preciso me sentar. – Falo
diretamente para Roxanne. Incrivelmente
delicada, ela me ajuda a ir para dentro
de casa e eu me sento no sofá. Acho que
essa história dos médicos serem
imparciais é verdade, ela não me tratou
mal em nenhum momento. Nota mental,
ficar doente mais vezes. — Obrigado.
— Não tem de quê. O que você tem?
– Ela pergunta.
— Labirintite.
— Excesso de trabalho e horas sem
dormir, dá nisso.
— Pois é, vou frear o ritmo, ou devo
estar em um caixão antes dos quarenta. –
Rimos. – Roxanne, precisamos
conversar sobre ontem.
— Não Richard, eu não quero falar
sobre isso. Amanhã eu vou viajar de
férias e eu não quero discutir.
— Mas temos que conversar. Está
evidente que há um clima entre nós, eu...
— Richard, eu não quero saber.
— Porra, eu estou apaixonado por
você, droga! – Falei de uma vez e ela
arregalou os olhos verdes num espanto.
Capítulo 4

O plano infalível.
Alex

Quando descobri, quatro meses atrás,


que Roxanne tinha uma irmã gêmea, eu
fiquei fascinado. A semelhança era
muito grande. Ramona era ruiva de
cabelos longos e repicados,
diferentemente dos de Rox, que apesar
de terem o mesmo comprimento, o desta
tinha leves ondulações. As duas eram
lindas, mas o que despertou realmente
em mim foi o contraste das
personalidades. Eu sou louco pela Rox,
mas por sua amizade. Já com Ramona eu
tenho desejos, sonhos, e ela não sai da
minha cabeça.
Será que paixão pega? Richard é um
filho da mãe. Nossa mãe, claro. Que
Deus a tenha.
Agora que eu estou reestabelecido do
acidente, vou voltar para o meu
apartamento, para a empresa e
começarei o projeto “Caça a uma das
borboletas” já que ela tinha a borboleta
no pulso e Rox no pescoço. Diferente de
meu irmão, eu sabia exatamente o que eu
queria. Ramona.
Após um dia exaustivo no hospital
com o estressado do Richard, voltamos
para casa e adivinha? Ramona havia
acabado de chegar com a irmã. Com
certeza, para acompanhar um último dia
de meu tratamento com ela. Roxanne
aguentou-me durante seis meses inteiros,
era engraçado vê-la trabalhar, eu tentava
em vão fazê-la brincar durante as
sessões, mas a moça é irredutível.
Trabalho é sagrado para ela. E foi essa
determinação que me fez enxergar que
eu não podia entregar-me tão fácil. Junto
com seu apoio, um dia de cada vez,
recuperei o movimento das minhas
pernas e hoje posso ser o Alexander
Castellar de antes, claro, com uma
diferença. Um Alex fodidamente
apaixonado.

***

Duas semanas depois, eu estava de


volta à Castellar & Ferrati Technology.
Meu cargo foi ocupado,
temporariamente, por um substituto, mas
ele já foi dispensado agora que estou de
volta à ativa, com a bendita bengala,
mas de pé e andando.
Fui recebido com festa pelo meu
irmão, Max e os funcionários, alguns
que desacreditavam que eu fosse me
recuperar ficaram abismados com a
minha recuperação. Babacas.
Depois de voltar a minha sala,
arrumar algumas pendências, voltei à
sala de meu irmão e me deparei com
uma mulher, morena e alta, cabelos
ondulados e castanhos, perguntei-me
quem seria ela.
— Boa tarde. – Eu disse e a moça
assustou-se com o que estava fazendo.
— Boa tarde.
— Meu irmão está? – Perguntei.
— Grande Alex! – Ouço uma voz trás
de mim e viro, vejo Max vir em minha
direção com as mãos no bolso do terno,
com aquele jeito dele. — Como vai essa
força?
— Pronto para um ringue.
— Vejo que já conheceu a nova
assistente do Richard, Gaia, esse o
Alexander Castellar, Diretor de
Operações, é o meu braço direito. –
Balancei a cabeça em um cumprimento e
ela, tímida, me deu a mão, que apertei.
— Onde está a Angelina? –
Perguntei, mas sabia que o cara era um
chato quando se tratava da esposa.
Puxando-me para um canto longe da
nova assistente, ele fez cara feia.
Cara feia para mim é falta de sexo.
— Você achou mesmo, que eu ia
deixar minha mulher grávida, continuar a
trabalhar nesse ambiente estressante? –
Ele disse em um tom de deboche. – Seu
irmão tem menos de quarenta e já teve
um troço, imagine ela.
— Gravidez não é doença, cara.
— É, mas eu prefiro minha mulher
em casa, tranquila e não lidando com
fornecedores ignorantes e arrogantes.
Sophie está crescendo cada vez mais e o
médico acha que Angelina é muito
pequena para carrega-la os nove meses.
– Disso eu não sabia, Max é muito
reservado em sua vida particular, mas
também, se a mulher fosse minha, eu não
seria diferente. — Talvez ela nasça
prematuramente de cesariana. – Seu tom
de voz deu ar de preocupação.
— Cara, eu não entendo muito de
partos e bebês, mas vai dar tudo certo.
Eu estava brincando. Claro que nem eu,
muito menos Richard deixaríamos que
ela continuasse trabalhando aqui. – Eu
disse e era a mais pura verdade.
— Sei que gravidez não é doença,
muitas mulheres trabalham durante o
período, mas eu não iria ficar sossegado
com Angelina aqui. Se ela pode ficar em
casa, ela fica. Mas não quero falar sobre
isso, que minha cabeça frita só de
pensar. – Ele diz preocupado. — Como
estão os preparativos da sua festa?
— Festa? Que festa? – Perguntei
curioso.
— Seu aniversário está chegando,
mano.
— Ah, não sei se quero festa.
— Como assim? Você está doente? –
Perguntou colocando a mão sobre a
minha testa.
— Não cara, eu não estou.
— Só pode, porque você adora festa.
Cara, comemorar sua recuperação. Você
quase morreu, Alex! – Ele diz sorrindo,
e eu sei que ele ficou muito preocupado
quando soube do acidente, Max era
como um segundo irmão para mim, já
que ele só tinha uma irmã. – Aquela
moto ficou destruída e você está aqui
inteiro, uma puta sorte.
— Saudades da Lola, nem fala. –
Lola era minha inseparável Harley Fat
Boy preta fosca, que ficou totalmente
acabada depois do acidente. – Preciso
comprar outra, urgente.
— Nem me fale, se fosse pela
vontade de Angel, eu me livraria da
Charlie. – Homens e seus brinquedos, a
moto de Max é uma máquina, uma
Suzuki Hayabusa vermelha. E que ele
apelidava carinhosamente de Charlie. –
Outro problema, já que com a chegada
de Sophie, preciso de um SUV.
— Você ainda vem trabalhar de
moto?
— Claro! Charlie é minha
companheira de todos os dias. – Ela
estufa o peito para falar da moto.
— Vocês não trabalham mais? – Eis
que chega o estressado do meu irmão.
— Max, eu preciso de você na minha
sala e Alex, mexa essa sua bunda e vá
para sua sala assinar os papeis que
mandei.
— Olha a labirintite, irmãozinho. –
Max e eu rimos e ele fechou a cara de
imediato.
— Labirintite uma merda, pare de
gracinhas Alex!
— Você precisa de férias, cara.
— Preciso de uma boceta, isso sim. –
Entrou na sala e fechou a porta na nossa
cara, assustando até a pobre coitada da
nova assistente, que estava digitando
algo no computador.
— Bastardo! – Gritei de volta e fui
direto para minha sala, deixando Max
enfrentar a fera, sozinho.
Sentei em minha cadeira e olhei os
papeis que estavam sobre ela, mas o
meu pensamento estava longe, mais
precisamente em certa ruiva de olhos
verdes e desbocada. Quer saber de uma
coisa? Farei uma festa sim, assim terei a
oportunidade de colocar meu plano em
prática. Vou conquistar uma borboleta.
Ah, se vou.
Capítulo 5

Um trajeto
interropido.
Roxanne

Quando chegamos à casa de Richard,


fiquei apreensiva em revê-lo, mas
quando o olhei e vi que estava
debilitado, meu coração aquiesceu e eu
fiquei verdadeiramente preocupada.
Como Alex havia me dito, ele estava
com um quadro de labirintite que,
combinado com o estresse, virou uma
bola de neve. Agora o mesmo toma
remédios controlados para manter a
pressão normalizada. E com apenas
trinta e seis anos. Meu Deus!
Decidi não discutir e preocupei-me
em lhe deixar o mais confortável
possível devido a sua saúde. Mas não
posso dizer o mesmo dele. Ele me
deixou chocada com a sinceridade.
“Porra, eu estou apaixonado por
você, droga”
Apaixonado por mim? Nunca esperei
que ele pudesse gostar de mim, assim
como eu gosto e nutro uma atração por
ele. Confesso que fiquei feliz com a
descoberta, mas eu não daria meu
coração tão fácil.
— Richard, eu não sei o que te
dizer... Eu... – Pela primeira vez fiquei
sem palavras para uma resposta.
— Diga que sente o mesmo, eu
ficarei muito satisfeito. – O maldito
sorri.
— Não posso. Richard, você não
entende... – Ele levanta de supetão e
nossos rostos ficam bem próximos.
— Eu posso estar tonto e dopado de
remédios, mas eu sei muito bem o que eu
quero. Quero você, Rox. – Ele roça
nossos lábios e nosso quase beijo é
interrompido pela presença afoita de seu
irmão.
— O que diabos você quer agora,
Alex? – Ele fica furioso ao ser
interrompido.
— Desculpe atrapalhar o romance,
mas Rich, o Max sofreu um acidente e
está no hospital. – Meu coração fica
apertado e penso na mulher dele, que
conheci no seu casamento, ela está
grávida e agora mais essa.
— Como ele está? – Richard
pergunta preocupado. — Vamos para o
hospital. Angelina já sabe?
— Não cara, ele está bem. Sofreu
uma pancada na cabeça e alguns
arranhões, mas está em observação e
Angelina está com ele. Foi ela que me
ligou.
— Menos mal, vamos para lá, agora!
– Pegou as chaves do carro. Mas eu me
coloquei em sua frente impedindo-o.
— Você não pode dirigir, Richard!
— Droga! Dispensei o Alfred! –
Reclamou.
— Eu dirijo – me ofereci para tentar
ajudar na situação.
— Mana, eu vou para casa ajeitar as
coisas da viajem. – Ramona diz e Alex a
encara.
— Você vai conosco!
— Deixem para discutir depois,
vamos logo. – Jogou as chaves do carro
para mim e nós fomos para o SUV.
Dirigi até o mesmo hospital que dei
plantão algumas vezes, e pouco tempo
depois estávamos no quarto de Max, que
dormia. Sua esposa, Angelina, estava ao
seu lado. Pude reparar que o mesmo
estava com um curativo em sua testa,
com certeza deveria ter pontos embaixo,
fiquei bem feliz ao notar que ele estava
bem. Sua esposa grávida e passando por
esse susto, não seria bom para o bebê.
Richard conversou com ela, com o
médico e sossegou ao ver que o amigo
estava bem, mas que ele deveria ficar
em observação por determinado tempo,
já que a pancada na cabeça teve uma
concussão primária, ou seja, perda da
consciência por quinze minutos ou mais.
Pelo que conheço, creio que ele ficará
bem com o tempo e repouso absoluto.
— Obrigada Rich, por conversar com
o médico. Eu não tenho condições e
paciência para compreender, só quero
meu marido bem. – Angelina estava
limpando as lágrimas — Sophie está
inquieta e com certeza sabe que o pai
não está bem.
— Fique tranquila, querida. Max é
forte e logo estará recuperado. O
médico disse que com um repouso e
evitando estresse, o edema irá diminuir.
– Richard abraçou a amiga. – Rox, por
favor, leve Angel para tomar uma água.
— Vamos, Angelina. Você precisa
estar bem para que o seu bebê fique
bem. – Com essas palavras deixei o
quarto com a esposa do amigo de
Richard. Engraçado era que eu parecia
parente dos dois.
Já no corredor, Alex e minha irmã
conversavam animados e eu pude
perceber o clima que rolava entre os
dois.
“Mais essa, nós duas apaixonadas
pelos dois irmãos Castellar”.
Depois de tomar uma água, conversei
com Angelina e a tranquilizei como
pude. Logo estávamos falando como
duas amigas inseparáveis.
— Obrigada pela preocupação, Rox.
Agora eu vou voltar para o quarto, antes
que ele acorde e sinta a minha falta. –
Ela sorri lindamente e acaricia a barriga
já bem redondinha. — Nossa falta, eu
quero dizer.
— Vou te acompanhar.
Voltamos ao quarto e Richard estava
de papo com Max. Angelina foi de
encontro ao marido e beijou-lhe os
lábios e todo lugar que pode.
— Maximilian, você nunca mais me
dê um susto desses! Ouviu bem? – Disse
ela com cara de brava e logo depois o
encarou com preocupação – Como se
sente querido?
— Confuso e faminto. Minha cabeça
dói, mas nada demais.
— Cara, você agora só tem seis
vidas – Richard comentou.
— Muito engraçado, Richard.
Deixei-os a sós, sai discretamente e
fui ao corredor chamar Ramona para
irmos embora, eu não tinha nada a ver
com eles e nem era da família para ficar
de papo. Puxei minha irmã e antes
mesmo de Alex falar alguma coisa,
seguíamos de táxi para casa.
Capítulo 6

Banho de água fria.


Angelina

Eu estava preparando o almoço em


casa, mesmo que Max não goste que eu
faça um mísero esforço, eu gosto de
cozinhar e cuidar do meu marido.
Sophie estava inquieta e eu não sabia o
porquê, já que eu não havia enjoado e
nem comido nada que a desagradasse.
“Talvez seja por saudades do pai”, já
que, quando Max chega em casa, é
sagrado ele vir me dar um beijo e pedir
que me deite em seu colo para conversar
com Sophie. Ri de meus pensamentos e
continuei a cozinhar um fettucini ao
molho branco.
Quando terminei, tomei um banho,
vesti um florido vestido de alças, uma
rasteira e fui ajeitar algumas coisas no
quarto. Meu celular tocou insanamente e
eu atendi. Caí no sofá com a notícia que
meu marido havia se acidentado perto
da empresa. Joguei as coisas na minha
bolsa, peguei as chaves do carro e sai
em disparada para o hospital. Eu tentava
segurar as lágrimas, mas elas escorriam
enquanto eu dirigia, eu só queria que
meu Max estivesse vivo e bem. Somente
isso.
Sophie não parava de dar chutes e eu
agora entendia o porquê, seu pai estava
machucado e ela, mesmo no meu, ventre,
podia sentir o clima.
Conversei com o médico que atendeu
meu marido, e que me explicou
basicamente o que houve e como ele
estava. Uma concussão leve e alguns
arranhões. Quanto à motocicleta, que
estava destruída, eu que não queria mais
saber dessa coisa perto do meu homem.
Entrei no quarto em que ele estava,
afaguei os cabelos loiros do meu lindo e
observei os arranhões em seus braços,
pescoço e um enorme curativo em sua
testa. Sua mão atada a um IV. Doeu
profundamente vê-lo assim. Mas o que
me importava agora era que ele ficaria
bem.
Logo depois, me lembrei de avisar
aos Castellar sobre o ocorrido. Como o
celular de Rich estava fora de área,
liguei para Alex, que atendeu
prontamente. Quando dei por mim, os
dois estavam ao meu lado, junto com
duas mulheres iguais, no hospital. Uma
delas eu sabia que era fisioterapeuta de
Alex, a outra devia ser irmã. Não me
interessei por saber.
Richard conversou novamente com o
médico e tentou me acalmar, já que eu
ainda estava preocupada. Roxanne,
amiga e fisioterapeuta de Alex, tornou-
se uma amiga para mim, o pouco que
conversamos serviu para considerá-la
parte do meu ciclo de amizades. Já os
meninos, além de sócios do meu marido,
eram irmãos para ele e agora são como
meus. Richard ainda não sabe, mas Max
e eu o escolhemos como padrinho de
Sophie. Sorri ao imaginar minha
bonequinha em meus braços, ainda
faltava um pouco, mas logo ela estaria
conosco.
Fiquei com Max até todos irem
embora, tentei avisar os pais dele, mas
nenhum dos dois atendeu, já era o
esperado, nunca ligaram para ele, não é
agora que vão ligar. Meu lindo agora
tinha uma família que jamais iria
abandoná-lo.
Depois de acordado, ele foi
examinado mais uma vez e se alimentou
com a minha ajuda. Cansado, porém,
pelo esforço e pelas tonturas que sentia,
adormeceu novamente. O médico pediu
que ele ficasse mais um dia em
observação, mas se ele amanhecesse
menos tonto, poderia lhe dar alta. Antes
de ir para casa, para tomar um banho e
retornar para o hospital, eu fui a
capelinha do hospital e agradeci,
imensamente, a Deus por meu marido
estar vivo e bem. Era só o que me
importava.

***
— Um passo de cada vez amor.
Entrei com Max, vagarosamente, em
casa. Com o maior cuidado mundo,
segurando nas partes em que ele não
tinha hematomas.
— Estou bem amor, eu juro. – Ele
diz.
Eu o ajudo a sentar no sofá, ele
resmunga um pouco de dor, mas eu
ajeito almofadas em suas costas e isso
melhora.
— Estou vendo como está bem. –
ironizo – Não acha melhor ir para a
cama?
Ele sorri e os olhos verdes que eu
tanto amo brilham.
— Eu acho melhor a senhora sentar e
ficar calma, eu ficarei bem, uma semana
e eu estou ótimo. – Ele diz piscando um
olho e logo em seguida faz careta de dor.
– Merda!
— O médico deu duas semanas de
atestado Max, você sofreu uma
concussão! Precisa de repouso!
— Preciso de você, ferinha.
— Nem tente nada, que eu não vou
ceder.
— Cacete mulher, eu já estou duro só
de ver esse seu decote, imagina duas
semanas na seca? – Ele resmunga
chateado.
— Um banho de água fria resolve.
Eu levanto e vou preparar a cama
para ele deitar, o que não demora muito.
Assim que o ajudo a deitar, beijo sua
boca num selinho e o deixo resmungando
sozinho e vou preparar um lanche para
ele.
“Ficar sem meu brinquedo, seria
realmente difícil”.
Capítulo 7

Finalmente juntos.
Richard

Esquecer é o mais difícil. Esquecer


seu olhar, seu cheiro, sua boca bem
desenhada. Eu não queria esquecer.
Definitivamente eu queria aquela boca,
aquele cheiro no meu travesseiro, os
cabelos envoltos nos meus dedos como
se os fios fossem chamas a lambê-los,
revoltos na minha cama, eu a queria.
Hoje faz exatamente duas semanas
que ela viajou, eram férias, mas para
mim parecia uma eternidade. Ver meu
irmão saindo com a gêmea maluquinha,
deixou minha cabeça ainda mais ansiosa
por ver Roxanne, então eu faria o que
meu coração dizia. Eu iria atrás dela
onde quer que fosse. Para isso, eu
precisava saber onde ela estava e
também precisava da ajuda do meu
irmão e da irmã dela.
Eu teria um trabalho do caralho, mas
ela seria minha.
Após uma conversa com Alex, ele
chamou a gêmea que não ia muito com a
minha cara, Ramona era igualzinha à
minha Rox na aparência, mas sua
personalidade era outra, eu diria até que
combina muito com o meu irmão. Ela, no
começo, relutou em me ajudar, mas eu
consegui convencê-la. Após muito sarro
tirado da minha cara, os dois se
prontificaram a me ajudar.
Roxanne estava numa pequena
cidade, Cortina D’Ampezzo, que eu
conhecia bem. Cidade tranquila para
passar um período de férias. Eu tinha o
endereço do hotel, tinha coragem, tinha
o amor. Sim, eu estou absurdamente
apaixonado por Roxanne. Não tenho
mais porque mentir para mim mesmo.
A viagem seria feita de carro mesmo,
pus algumas coisas numa mochila,
chequei o abastecimento do tanque e
parti em busca da minha ruiva.

***

O hotel se aproximava, e eu me
enchia de coragem, larguei a moto
estacionada no local destinado, coloquei
a mochila nas costas e entrei. Hotel
pequeno, mas bem aconchegante. Havia
quadros por toda a parte, flores em cada
canto e uma senhora de cabelos lilás.
“CABELOS LILÁS?!”
Pisquei algumas vezes para ver se
não estava ficando louco, mas ela tinha
mesmo cabelos coloridos. Azuis, não
lilás, e tatuagens. A meu ver, senhoras
com mais de sessenta anos não teriam
tatuagens e muito menos cabelos
coloridos, mas eu não podia dizer nada,
aos sessenta eu também teria tatuagens
enrugadas por todo meu corpo. Mas
nada de cabelos azuis ou lilás.
— Olá, boa tarde. Eu gostaria de um
quarto e uma informação.
Tentei ser o mais simpático possível.
— Meu filho, com esse sorriso e
esses olhos, você consegue tudo. Prazer,
meu nome é Lauren.
“Danadinha essa velha”, pensei.
— Richard.
— Qual seria a informação, meu
jovem? – Ela perguntou.
— Poderia me informar se tem
alguma hospede com o nome de Roxanne
Petri? – Eu perguntei.
Ela me analisou por um tempo, não
sabendo se deveria passar ou não a
informação, mas ao constatar que eu não
oferecia perigo, respondeu com um
grande sorriso:
— Oh, a doce Rox! Ela está no
jardim cultivando orquídeas. – eu
retribuí ao sorriso. – Chegou aqui há um
par de semanas, muito tristonha e
querendo ficar sozinha – ela ergueu uma
sobrancelha sugestivamente para mim –
a culpa foi sua, meu jovem?
— Digamos que sim. Mas eu vim
consertar o meu erro, e espero
conseguir. – Ela mexeu em algumas
coisas atrás do balcão. Em seguida me
deu uma chave enorme com um número.
— A chave do quarto. Ao lado do
dela. – Sorriu mais uma vez. — Meu
jovem, a vida é uma só, então, seja feliz.
— Obrigada Lauren. – Fiz a menção
de ir embora, mas virei. — A propósito,
adorei o cabelo.
— É uma peruca. – Riu. Tirou e eu vi
que era careca, estavam nascendo fios
novos. — Como eu disse, a vida é uma
só e depois de uma doença, você tem
que vivê-la intensamente. Boa sorte,
meu jovem.
Engoli em seco. Então ela usava
peruca para esconder o que havia por
trás de uma doença, sem dúvidas era
uma mulher forte. Fiz uma nota mental
de ajudá-la no que fosse preciso antes
que eu fosse embora.
Entrei no quarto e me joguei sobre a
cama, eram tantas coisas a se pensar e
pouco tempo para agir. Tomei um banho
e me alimentei, depois fiz uma maratona
de abdominais e flexões. Eu não podia
transparecer fraqueza e aquela aparência
horrível de semanas atrás.
Resolvi não perder tempo, eu iria
aparecer para Rox e dizer “Eu te amo,
não consigo viver sem você, quer
namorar comigo?” Que droga, eu nunca
diria isso. Então vai ser na cara e na
coragem.
Desci para o jardim e a busquei por
toda a plantação, então, ao longe, eu a
avistei. Rox estava linda com calças
jeans e uma blusa amarrada na cintura,
típica de garotas do campo. Usava botas
pretas e tinha no cabelo um lenço. Era
ela mesma, e estava tão perto. Roxanne
conversava com um senhor, que eu
pensei de imediato ser o marido de
Lauren. Cheguei mais perto e, quando vi,
após algumas passadas, eu já estava a
sua frente. Ela não olhou para cima, mas
notou que o dono dos sapatos italianos,
agora sujos de terra, era com certeza eu.
— Olá. – os cumprimentei
cordialmente.
Quando ela levantou a cabeça e
tomou um susto, tive a certeza que de
que ela estava mais do que surpresa em
me ver ali.
— Richard? – Perguntou com a voz
trêmula.
— Eu. Em carne e osso. Quero dizer,
mais carne do que osso. – Brinquei para
descontrair.
— Olá meu rapaz, veio cultivar
orquídeas conosco? – O senhor me
perguntou. — Prazer, Lorenzo.
— Richard Castellar. – O
cumprimentei com um aperto de mãos.
— Não, eu vim apenas buscar a mais
bela flor desse jardim, Roxanne.
— Richard, eu estou de férias.
— Eu sei. Mas precisamos
conversar. – O senhor percebeu o clima
e saiu de perto de nós pedindo licença. –
Eu não vim de tão longe para receber um
não.
— Sobre o que? – Perguntou ela.
Abaixei-me e fiquei em sua altura.
Deixando nossos rostos perto um do
outro. Eu podia sentir a respiração dela
falhar.
— Sobre nós.
— Mas não existe nenhum ‘nós’.
Ela disse e eu sorri ao dizer:
— Mas vai existir.
Eu a convenci a tomar um café Fomos
até o hotel e sentamos em uma mesa
próxima a janela.
— Olha Richard, eu não entendo o
que veio fazer aqui. – Ela começou e eu
pus o dedo em sua boca, não a deixando
completar.
— Eu que peço que só me escute. Por
favor. – Eu estava um perfeito maricas.
— Tudo bem.
— Bom, Roxanne, depois de anos, eu
jamais pensaria em me apaixonar outra
vez. Quando você foi indicada para ser
a fisioterapeuta do meu irmão, alguma
coisa mudou aqui dentro... – indiquei
meu coração. — Eu não sou um cara
perfeito Roxanne, eu posso ser bonito,
rico, CEO de uma grande empresa, mas
desde que eu te vi, sinto que eu não
consigo ser tudo isso sem você ao meu
lado. Eu não te quero por um simples
capricho, eu quero você porque eu te
amo.
Ela se mostrou surpresa, mas eu
continuei:
— Eu te amo desde que você entrou
na minha sala, sete meses atrás. Eu só
estava mentindo para mim sobre esse
sentimento. Sei que parece loucura, mas
é a verdade. Eu amo você Roxanne
Petri, amo você com esses cabelos sujos
de terra, com essa carinha de moça do
campo, esse olhar desafiador, essa boca
pequena e perfeita, eu apenas amo você.
Para você, eu sou somente o Richard,
não o empresário metido e autoritário.
Eu vim aqui atrás do meu amor, e espero
que eu seja correspondido ou entrarei
em celibato infinito.
— Richard, eu não sei nem o que
dizer...
— Diga que me ama. Diga que quer
ficar comigo. Eu vou ficar louco se você
disser que não sente o mesmo.
— Eu sinto o mesmo. – meu mundo
parou alí mesmo.

Roxanne

Eu não sabia o que dizer. O que


pensar. Céus, eu não sabia nem o rumo
de casa depois dessa declaração. Era o
Richard alí, sem aquela casca de CEO
durão, apenas o homem pelo qual eu me
apaixonei. Eu ficaria com ele? Eu teria a
coragem de amar o homem que estava
ali a minha frente? Eu o queria mais do
que tudo. Eu fugi dos sentimentos, fugi
de tudo, mas eu queria fugir outra vez?
Não. Eu não queria.
— Você vai ficar louco mesmo. Eu
sou uma mulher controladora,
independente e, apesar de tudo,
romântica. Ou seja, o senhor vai ter que
andar na linha, me deixar fazer minhas
coisas em paz, e assistir comédias
românticas cheias de água com açúcar.
Está disposto a isso? – Eu perguntei
sorrindo e ele chegou mais perto,
alcançou minha boca e mordeu.
— Eu quero tudo isso com você,
Rox.
Beijamo-nos com saudade e ele
parecia estar faminto, mordia meus
lábios sem pudor e eu correspondia a
tudo. Não havia outro beijo que eu tinha
experimentado que pudesse se comparar
ao dele. Subimos ao quarto dele e nos
jogamos na cama, feito dois bobos.
— O certo, das cenas de filmes, não
era o casal se jogar na cama para
transar? – Eu perguntei olhando aos
olhos dele, o meu Richard. Ah sim, meu.
— Gatinha, nós temos todo o tempo
do mundo. Eu só quero aproveitar você.
— Está feliz? – Sorri lhe
perguntando.
— Muito.
— Eu acho que te amo, Richard.
— Eu acho que te amo mais, gatinha.
Ficamos namorando feito dois
adolescentes apaixonados.
Meu homem, meu Richard.
Finalmente meu.
Capítulo 8

Gosto de você.
Ramona

Onde eu estava com a cabeça quando


aceitei passar o final de semana com
Alex? Já sei! No próprio Alex.
Nesse momento, estou deitada na
cadeira de sol que há em sua casa, perto
da piscina, e de onde estou, por trás dos
óculos escuros, eu vejo aquele corpo
nadando próximo a mim. Meu Deus! Isso
só pode ser um teste. A cada braçada, eu
vejo seus músculos fortes e torneados. A
cada subida para respirar que ele faz, eu
perco a minha própria respiração. Perco
até o rumo de casa quando estou perto
desse homem. E que homem!
Eu não daria chances a ele, porém,
por que eu sei que ele é um mulherengo.
Mas, como resistir a tanta gostosura?
Um metro e noventa de pura beleza e
tentação. Ergo os óculos e baixo um
pouco a revista que estou lendo e vejo
quando ele para na borda da piscina,
coloca os braços e se impulsiona para
cima, todo molhado e exalando
testosterona. Céus!
— O que você tanto vê nessa revista
chata? – Pergunta já se aproximando e
sentando ao meu lado, pegando a revista
e fazendo careta. Ele consegue ser o
maior idiota da face da terra quando
quer. Gostoso, mas idiota. – Tanta coisa
melhor para ver.
— Não vejo nada no momento. – Eu
digo dando de ombros. Ele pega a
revista de minha mão e joga longe,
depois segura minhas mãos firmemente e
sorri.
Droga de sorriso lindo.
— O que você quer, Alexander?
— Sua borboleta, baby.
Ele sorri outra vez. “O que ele quer
com a minha borboleta?!”. Querem
mesmo que eu responda? Sem duplo
sentido, ele a beijou e foi subindo até
chegar à minha boca.
— Você é maluco. – Disse depois
que saímos do beijo, a boca dele estava
suja de batom. – Lindo, agora parece
que passou batom vermelho.
— Tem gosto de morango. –
Alexander passou a língua nos lábios
para provar outra vez o sabor do
cosmético dessa vez do próprio lábio.
— Bobo. Sabe Alex, estou
começando a gostar de você...
— E antes não gostava? – Ele
perguntou arqueando uma das
sobrancelhas. – Por que seria? Será
porque quando você me conheceu eu
estava entrevado numa cama? Por isso?
— Claro que não, seu idiota. –
Respondi com raiva. Como ele pode
pensar uma coisa dessas? — Mudei de
ideia, não gosto mais de você.
— Ah, não gosta? Desculpe-me,
gatinha. Aqui ainda há resquícios do
velho Alex. Sério, desculpa.
Alexander pareceu arrependido, de
verdade, pelo que disse.
— Nunca mais ouse dizer que eu não
gostava de você porque estava naquela
situação. – Eu disse séria. — Eu não ia
com a sua cara, porque você era
arrogante e grosso.
— O velho Alex se foi, com muito
esforço, mas foi. – Ele disse num
suspiro cansado. — Eu pensei que nunca
mais iria andar, eu estava fora de mim,
desacreditado.
Ele tinha se entristecido de repente, e
eu não queria vê-lo assim. Tratei de
tentar mudar o animo dele rapidamente.
— Ei, eu não gosto de baixo astral.
Esquece essa história, o que é passado,
fica no passado. Foi uma experiência de
vida, fique apenas com o que é bom.
Você tornou-se um novo homem e é isso
que importa. – Eu filosofei agora.
— Sua irmã fez isso.
— Não Alex, você fez. Você
acreditou. – Sorri e ele sorriu também,
idiota gostoso.
— Gosto de você, borboleta. – Disse
ele aproximando-se. — Gosto do seu
beijo...
— Alex...
— Fica quietinha, que eu vou te
beijar agora e não quero ser
interrompido. – Aproximou-se mais.
— Alex... –sussurrei antes de ele
morder-me o lábio e beijar-me com
força e vontade.
Alexander

Eu não estou louco e nem paranoico.


Eu quero um relacionamento sólido.
Estou prestes a fazer trinta e oito anos, e
não tenho mais tempo para namoricos e
historinhas de “ficar”, sou um homem à
moda antiga. Algumas semanas para meu
aniversário e eu tenho o local perfeito
para pedi-la em namoro. Eu amo essa
maluca, mas do que eu posso imaginar.
Ficamos nos beijando dentro da
piscina, fora dela, em cada canto da
casa, já que eu havia dispensado todos
os empregados, e estávamos a sós. Se
Richard não ligou é porque se entendeu
com Rox e isso é muito bom, porque eu
vou casar com a outra gêmea. Ah, se
vou.
— Alex, o que vamos cozinhar? –
Estávamos na cozinha começando a
preparar o nosso almoço.
— Você prefere massa ou peixe? –
Eu pergunto a ela, estamos abraçados
em frente à bancada americana.
— Massa. Engordar é comigo
mesmo, espero que não se importe. –
Ela diz e eu sorrio.
— Adoro ter onde pegar, baby. E eu
quero pegar você. – Pisco para ela.
— Se eu deixar, não é? – Piscou de
volta. Danada. — Você fica com a massa
e eu preparo o molho, pode ser?
— Pode. Que tal um vinho italiano? –
Pergunto.
Vou até a adega e pego um vinho
italiano analisando o seu rótulo, aquele
seria perfeito para Ramona, terroso e
cálido na medida certa. Depois que
Richard ficou doente, eu havia me
esquecido de voltar para meu
apartamento. Eu gosto da companhia do
meu irmão, mas também gosto de ter a
minha privacidade, minhas coisas, meu
espaço, por isso, em breve voltarei para
meu flat.
Volto à cozinha e Ramona está
simplesmente irresistível. Ela está com
avental ajustado ao corpo perfeito e um
coque no cabelo que acaba deixando
aquele pescoço lindo à mostra. Não
resisto e não perco tempo, aproximo-me
dela e cheiro o pedaço de pele à mostra
apreciando o seu cheiro único.
— Quer um molho de castanhas? –
Ela pergunta.
— Seria muito bom.
Pego o vinho e abro-o com o auxílio
do saca-rolha, pego as taças e coloco
para nós. Beberico um pouco e dou a ela
da minha taça mesmo, depois roubo um
beijo.
— Você é muito esperto! – Ela diz
enquanto joga alguns dentes de alho na
panela.
Dou uma piscadela para ela e
argumento:
— Você ainda não viu nada.
Cozinhamos juntos. Em meio a
beijos, mordidas e sorrisos, eu me senti
um adolescente, não duvido que ela
também. Então, quando eu a pedir em
namoro, eu espero que ela aceite.
Comemos na bancada mesmo,
tomando nosso vinho e eu pegando a
comida do prato dela, só para irrita-la.
Enfim a vida que eu sonho para mim, a
mulher que amo, grávida e descalça na
cozinha. Mas isso tem seu tempo e eu
espero o que for.
Capítulo 9

Noivado badalado.
Maximilian

Duas semanas de molho que


pareciam querer me tirar o juízo. Agora,
já recuperado, voltei ao trabalho, mas
quase fico louco de vez com a ameaça
de parto prematuro que Angelina sofreu
dias atrás. Sophie nos deu um susto e
tanto. Acho que estou ficando velho,
meu coração não aguenta esses sustos,
trinta e quatro anos com coração de
sessenta.
— Amor! – Angelina chamou do
quarto, eu estando na cozinha, larguei o
copo em qualquer lugar e corri até lá.
— O que foi? Contração? A bolsa
estourou? – Pergunto alarmado. Ela ri.
— Maximilian, deixe de alarme,
homem! – Ela diz e eu respiro, aliviado.
Deito ao seu lado e esparramo as mãos
em sua barriga, Sophie faz ondulações
do lado esquerdo. Eu observo fascinado.
— Oi minha princesa, como está aí
dentro? – Pergunto agora menos ansioso,
a minha menina. Sei que ela consegue de
alguma forma me ouvir e me reconhecer.
— Apertado papai, quero sair! –
Angelina fez voz de criança e nós rimos
juntos. – Sério, Max, eu quero ver meus
pés outra vez sabe quantas vezes eu fui
ao banheiro hoje?
— Duas? – Tento adivinhar.
— Vinte Maximilian. Vinte vezes!
Essa menina está sentada na minha
bexiga, aposto.
— O médico disse que ela já está
encaixada, então deve estar mesmo. Não
vai demorar muito.
— Pena que a gente não pode viajar.
— Tem tempo amor, relaxa. – Eu
digo beijando seus lábios. – Minha mãe
ligou.
— Ligou? O que aquela mãe
desnaturada disse? – Ela pergunta, sei
que não gosta da minha mãe e nem do
meu pai, mas não a culpo, eu me
colocaria na mesma situação se fosse
com ela.
— Disse que soube do acidente e
estava preocupada. Mas eu falei o
mínimo possível e desliguei. Eu sei que
ela ligou para desencargo de
consciência. – Falo isso com dor no
coração.
— Amor, você não precisa ficar
assim, logo você terá sua menina nos
braços e vai ser o melhor pai do mundo.
– Ela sorri.
— Ainda bem que faltam poucas
semanas.
— Graças ao meu bom Deus! Vou
tomar banho. Você vem?
Ela não tinha nenhum problema em
tomar banho comigo, nada dessa história
de ter vergonha do corpo de grávida. Eu
a admirava ainda mais. Mas mesmo que
tivesse, ela não engordou nada, é uma
mulher magra com uma melancia na
barriga, somente. Rio do meu
pensamento.
Tomamos banho e depois assistimos
a uns filmes juntos. Ela cismou que
queria ver “Receita do Amor” e eu
queria assistir um filme de guerra, mas
como eu faço tudo por minhas duas
mulheres, venceu o filme romântico. Põe
romântico nisso. Nunca vi um homem
tão burro que não dá valor a uma mulher
incrível. O que há com os homens de
hoje? São cegos ou o quê? Homens que
valorizam a mulher ganham muito mais
que sexo, ganham a confiança e o
respeito delas. E isso que é importante
num relacionamento.

***

Festa do Alex

Algumas semanas mais tarde, a casa


de Richard era uma completa bagunça.
Alex havia decidido comemorar o
aniversário, mas nada de casa de festas,
nem de muitas pessoas. Só queria a
família. No caso, o irmão, seus amigos,
sua nova cunhada e sua amada borboleta
Ramona. O local escolhido fora os
fundos da mansão do irmão. Seria, sem
dúvidas, uma festa e tanto. Cheia de
surpresas. Richard e Roxanne estavam
em uma eterna lua de mel, namoravam
há pouco mais de um mês e não se
largavam para nada. Talvez isso
mudasse quando as férias da mulher
acabassem.
— Vocês podem colocar isso em
cima daquela mesa.
Não foi uma pergunta. Ramona estava
cuidando da organização, com a
prancheta em mãos, coordenava tudo
que entrava e saia da casa. Ela tinha
deixado a encargo dos homens as
bebidas. As alcoólicas, claro. As irmãs
estavam passando mais tempo com os
irmãos Castellar, do que em seu
apartamento.
— Sabe que é muito excitante ver
você mandando e desmandando em tudo!
– Alex aparece na sala e Ramona sorri,
ao receber um selinho nos lábios.
— Bobo. Como está a dor? –
Perguntou ela preocupada, Alex
amanheceu com o joelho direito
dolorido, o mais afetado pelo acidente.
— Está melhor, tive uma enfermeira
muito linda cuidando de mim. – O
bastardo sorriu.
— Seu safado, falo sério.
— Relaxa baby, Rox já deu uma
olhada e disse que está tudo bem. Eu só
preciso evitar certos movimentos que
me causam dor. – Ele repetiu tudo que a
irmã da mulher disse.
— Isso inclui pilotar a Lola?
— Isso inclui dirigir, pilotar e muitas
coisas mais. Não sou mais um homem
completo. Tenho limitações e as terei
para o resto da vida. – Ele diz com
pesar e Ramona o abraça
carinhosamente.
— Você é completo, amor. Você tem
que agradecer a vida. Hoje você está
fazendo festa pelo seu dia. Trinta e oito
anos, Alexander. Você podia não estar
aqui comigo e nem com o seu irmão,
você podia estar mor... – Ele não a
deixou completar.
— Não meu amor, não fale mais. Eu
falo muita merda, eu sei. Mas você
completou o meu mundo, eu estou aqui
com você e se permitir, ficarei para
sempre.
— Eu te amo, Alex. Amo suas
merdas, sua boca suja, amo cada
defeitinho seu, amo você por inteiro.
Os dois se beijaram
apaixonadamente.
Richard e Roxanne desceram e
ajudaram na arrumação. Logo a casa
estava pronta e todos foram trocar-se
para a noite que seria uma bela surpresa.
Tudo bem que não era uma festa de
adolescentes, nem de crianças, mas Alex
era um “crianção”, e, como não podia
deixar de ser, no seu dia, a casa tinha
balões coloridos por todo o lado. Já que
“Eu amo balões amor, são legais de
estourar depois” palavras de Alex para
a namorada.
— Ei, noiva, eu já estou pronta! –
Ramona disse pela milésima, enquanto o
amado aniversariante ainda estava
trancado no walk-in-closet.
— Vamos ver quem é a noiva hoje. –
Resmungou ele do lado de dentro do
local apenas para que ele ouvisse. Alex
saiu do closet e se deixou ver por
Ramona – Então, estou lindo?
— Se eu disser que sim, você vai
ficar mais convencido.
— Obrigado, vou levar isso como um
sim. Eu sei que sou lindo e gostoso.
— E que está ficando velho!
— Muito engraçado.
Os dois desceram e encontraram
Richard e Roxanne conversando com
alguns dos acionistas da empresa, Max e
Angel estavam na roda também.
— Olha o aniversariante! – Max
gritou, e Alex revirou os olhos,
recebendo um abraço do amigo. –
Parabéns, irmão!
— Obrigado. – Angelina vem ao seu
encontro com um barrigão imenso e ele
fala enquanto toca a barriga roliça —
Sophie, meu amor, saia logo daí e venha
dar um abraço no seu tio!
— Feliz aniversário, Alex! –
Angelina lhe abraçou com cuidado, a
barriga não permitia um aperto maior.
— Meu Deus, ela está para nascer.
Ramona cumprimentou a amiga do
namorado.
— Sim, está. O médico disse que não
passa dessa semana.
— Então pode nascer hoje?
— Eu espero que não, mas pode sim.
As mulheres se separaram e foram
conversar, já que os homens só queriam
saber de negócios. A festa estava
animada, Alex estava rodeado de
amigos e amigas. Até que chegou a hora
da surpresa de Alex. Como o namorado
tinha pedido, Ramona colocou um
pequeno palco para que ele pudesse
dizer algumas palavras, mas o intuito de
Alex não era isso, apenas.
— Não se assustem que eu não vou
falar merda agora. Eu espero que não.
Aqui nessa sala, tem uma pessoa
incrível. Essa pessoa me devolveu a
vontade de amar. Ramona, meu amor,
minha vida, mesmo com pouco tempo de
relacionamento, eu quero ser muito mais
que um namorado. Eu quero muito ter
uma casa, filhos, quero construir uma
vida com você, baby. Aceita ser minha
borboleta para sempre? – Ramona
estava aos prantos com essa declaração
e não sabia o que dizer. — Baby, diz
alguma coisa, ou eu vou enfartar...
— Você planejou isso tudo
escondido, Alex? Seu maluco! Você
ainda tem alguma dúvida da minha
resposta!? – Ela gritou e ele sorriu,
descendo do palco.
— Só por você eu vou ajoelhar.
— Mas você não pode fazer isso, seu
joelho.
— Meu joelho não é mais importante
que você!
Alex ajoelha e retira do bolso da
blusa social, a caixinha de veludo azul e
abre, deixando Ramona maravilhada
com a joia. Um anel de noivado, com
uma pequena borboleta de turmalina
azul-esverdeada no centro.
— Alex, que linda! – Alex sorriu e
colocou o anel no dedo da amada. – Eu
amei, amor, agora levanta daí!!
— Tão delicada essa borboleta. – O
mesmo levanta e agarra a mulher pela
cintura, beijando-a em seguida,
recebendo as palmas dos amigos.
— Parabéns, espelhinho! – Roxanne
veio ao encontro dos dois e abraçou a
irmã.
Depois de serem parabenizados,
todos cantaram os parabéns e cortaram o
bolo, que tinha duas velas, uma com o
número três e a outra com uma
interrogação. O primeiro pedaço foi
dividido em dois pedaços, um para Rox
e outro para Ramona, Alex foi uma
graça até nisso. Após os convidados
irem embora, restaram apenas os mais
chegados.
— Ora, se não é o grande Alexander
Castellar. – Alex olhou para a porta e
tomou um susto ao ver de quem se
tratava. – O acidente te deixou ainda
mais gostoso, querido Lex.
— O que você está fazendo aqui,
Briana? – Perguntou Alexander à moça
loira e magricela que lhe encarava.
A pergunta que Ramona estava se se
fazendo era: Quem é Briana? E o que ela
teve com seu, então, noivo?
Capítulo 10

Passado mais do que


enterrado.
Alexander

“O que essa louca está fazendo


aqui?”.
Namorei Briana dos trinta aos trinta e
sete anos, terminamos por um motivo
bem plausível, para ela. Quem ia querer
um namorado inválido? Ela terminou
comigo após saber que eu tinha ficado
sem os movimentos das pernas. Que
bela atitude, não é? Só que não. O que
ela não sabia é que a lesão da medula
era reversível. E graças a Rox, eu estou
de pé, hoje. Embora não gostasse tanto
dela, eu a namorei por puro prazer.
Loira, gostosa, sabe como é? Hoje não
vivo sem minha borboleta ruiva. Ok,
mas a pergunta continua:
“O que essa louca está fazendo
aqui?”.
— Vim comemorar seu aniversário,
Lex. – Se tem uma coisa que eu odeio é
que me chamem de Lex, na verdade, só
Rox podia ter essa ousadia, ou minha
ruiva. Ninguém mais.
— Não me chama de Lex, Briana!
A puxo para fora da sala e ela grita
histericamente.
— Não me lembrava dessa sua
agressividade, Alex.
— Ah, não? Mas então se lembra do
dia que você disse no hospital, que uma
mulher como você, não casaria com um
inválido? – Eu fui grosso e sincero. Na
época, eu fiquei muito decepcionado,
mas hoje agradeço. – Quais foram
mesmo suas palavras... Lembrei,
‘‘Imagine se uma mulher como eu, vai
passar a vida inteira ao lado de um
inválido’’
— Mas isso é passado, podemos
recomeçar outra vez. – Ela resmungou.
Logo senti mãos macias em minha
cintura, e reconheci o cheiro doce de
minha borboleta.
— Quem é ela, Alex? – Briana
perguntou ao olhar-nos.
— Minha futura esposa.
— Como assim, Alex? E nós? Eu
estou aqui outra vez.
— Briana, o que nós tivemos foi de
longe um namoro, tivemos um caso, eu
agora estou noivo de Ramona.
— Essa ninfeta não é para você,
Alex. – Tentou me puxar, mas Ramona se
meteu entre nós e apontou o dedo na
cara de Briana. Agora a porra ficou
séria!
— Queridinha, acho bom você sair
agora da minha frente, ou nem a
medicina vai te ajudar a recompor essa
cara plastificada! – Não sei se fico feliz
por causa da coragem de minha
borboleta ou fico apavorado na
possibilidade de um barraco.
— Quem você pensa que é? – Briana
rebate furiosa.
— Chega Briana, saia da minha casa!
– Richard chegou furioso com o
espetáculo, meu irmão odeia barraco. —
E não ofenda minha cunhada!
— Mas sua cunhada sou eu, Richard!
— Minha cunhada chama-se Ramona
Petri, por acaso você assina esse nome?
– Ponto para o meu irmãozinho. Briana
fica muda, mas sei que está soltando
fogo por dentro. — Não ouviu? Quero
você fora da minha casa, agora!
Meu irmão quando quer assustar, ele
consegue. Briana saiu correndo com o
rabinho entre as pernas.
— Você está bem, amor? – Ramona
me pergunta agarrando-se ao meu corpo.
Sinto suas mãos frias, seu corpo trêmulo
e logo me preocupo.
— Eu que pergunto: você está bem?
Está tremendo amor! – Richard e Rox se
afastam de nós, nos dando espaço.
— Estou um pouco tonta.
— Vamos subir. – Pego-a nos braços
e subo as escadas, a festa já havia
acabado mesmo.
Ramona

Sinto os braços fortes de meu noivo


me carregando até a cama. Eu senti
essas tonturas pela manhã, mas não
achei que fossem voltar. Eu sabia o que
podia ser, mas não queria acreditar.
Talvez fosse melhor conversar com Alex
sobre a possibilidade de ser o que estou
pensando que é.
— Não acha melhor chamar um
médico? – Alex começou a andar
paranoicamente pelo quarto.
— Alex, para de andar de um lado
para o outro! Estou ficando pior! – Ele
parou ao meu lado. — Precisamos
conversar.
Ele me olha com o semblante
entristecido.
— Você vai terminar comigo? –
Perguntou e eu ri. Que homem mais
inseguro, aquela mulher o deixou com
traumas.
— Claro que não, Alex! Eu amo
você! Mas tem outra coisa que está me
preocupando. – Eu digo.
— O quê?
— Lembra-se da nossa primeira
noite?
— Sim, foi perfeita.
— É, mas você esqueceu um detalhe
muito importante.
— Qual detalhe?
Às vezes eu me perguntava se o
cérebro do Alex era lento pela idade ou
se simplesmente era assim desde
criança.
Que homem mais lento!
— Camisinha, Alex!
— E o que tem não usar? Eu sou
limpo, você também!
— Sim, mas eu não tomo pílula no
momento.
— Então quer dizer, que as tonturas
podem ser...
— Sim, acho que posso estar
grávida, Alex.
Alexander virou-se para mim e o que
eu menos esperava de sua parte,
aconteceu.
Capítulo 11

Papai Alex.
Alexander

“Caralho, eu vou ser pai!”


Então, tenho que diminuir os
palavrões, ou não vou ser exemplo de
pai para o meu filho. Meu filho. Meu e
de minha borboleta. Meu sangue. Eu mal
posso acreditar.
Minha borboletinha me olha com
apreensão, será que ela pensa que eu
não gostei?
Minha próxima ação?
Eu sento ao lado dela na cama e a
aninho nos meus braços, pouco tempo
depois levantando-a no ar, e
rodopiando, com alguma dificuldade.
— Alexander! Me coloca no chão,
estou ficando mais tonta! Seu Joelho!–
Sem pestanejar, eu a coloco no chão.
Tinha que cuidar dos meus dois amores.
— Deus, eu sou o cara mais feliz do
mundo! – Digo olhando em seus olhos.
— Não esperava essa sua reação, é
muito cedo para termos um filho e fiquei
receosa de fazer o teste.
— Faça, estou com você. – Como se
lesse meus pensamentos, Ramona se
solta de meus braços e abre a gaveta do
criado-mudo. Tira uma sacola branca
com uma caixa dentro. Presumo ser o
teste de gravidez.
— Já tinha comprado um?
— Sim, só estava nervosa para fazê-
lo.
— Não fique, estou aqui com você.
— Estou com medo.
— Coragem borboleta – Eu a
incentivo.
Ela entra no banheiro e eu fico
sentado na cama, roendo as unhas que
não tenho, querendo arrombar a porta e
saber o resultado de tão ansioso que
estava. Ouvindo os meus pensamentos,
depois de quase meia hora lá dentro, ela
sai do banheiro e para em frente,
segurando um negócio branco nas mãos,
mais parecido com um termômetro.
— O que deu? – Pergunto
levantando-me e encarando seu olhar
indecifrável. – Cacete, mulher, estou a
ponto de enfartar, diga logo!
— O cara lá de cima resolveu te
presentear com o maior dos títulos. –
Ela sorriu e me deu o tal negócio, que
havia dois risquinhos rosa. – Parabéns,
papai.
Meu mundo parou. O sorriso dela me
disse a resposta, mas aquela voz,
confirmando o que meu coração já
sabia, me deixou ainda mais eufórico.
— Vamos ter um bebê? – Eu pergunto
ainda estático.
— Sim, vamos. Embora seja cedo.
Você me pediu em casamento...
Ramona parece a ponto de chorar, e
eu me aproximo dela para apoiá-la.
— O que foi, borboleta?
— Alex, eu sei que estou preparada
para ser mãe, do mesmo jeito que você
vai ser o pai mais incrível que o nosso
bebê poderia ter.
— E então?
— E então que eu fico apreensiva
com essa mudança drástica em nossas
vidas, eu tenho medo de não dar certo...
Ela tem lágrimas caindo dos olhos.
Eu as seco com meus dedos.
— Borboleta, nós vamos fazer dar
certo. Nós temos o que é mais
importante, o amor. Podemos nos
conhecer pouco a pouco, eu não sou
mais um rapaz, nem sou mais um jovem,
eu sou um homem de trinta e oito anos
que ama você e ama esse serzinho que
cresce aqui...
Acaricio sua barriga ainda lisa.
Quando íamos nos beijar, Roxanne
abre a porta.
Nota mental de trancar a porta da
próxima vez, Alex.
— Ramona, eu vim ver se você está
bem... Desculpa, eu não queria
atrapalhar. – Rox entra no quarto de uma
vez. — Tudo bem por aqui?
— Mana, estou grávida. – Eu a
aperto em meus braços para lhe dar
conforto.
— Oh meu Deus! – Rox invade o
quarto de uma vez e nos abraça. —
Devo chutar a sua bunda ou vai cuidar
de minha irmã e meu sobrinho?
— Céus, eu a pedi em casamento, o
que você acha? – Sorrio ironicamente e
depois sou surpreendido por um abraço
apertado.
— Acho que você vai ser um pai
maravilhoso. – Nesse momento, quem
invade o quarto é Richard. Será que não
poderíamos ficar sozinhos nem um
mísero minuto? Virou o quarto da mãe
Joana!
— Eu vou ser tio? – Richard
perguntou curioso.
— Vai sim. Estamos grávidos! –
Respondi.
— Parabéns, mano! – Richard me
abraça e na minha cabeça só me vem
uma frase.
“Esse foi o melhor aniversário da
minha vida!”.
Richard

Fiquei feliz por meu irmão, ele será


um ótimo pai. Apesar de cedo, nós dois
sempre tivemos a compreensão de que
mesmo com pouco tempo de
relacionamento, nós dois amamos as
gêmeas Petri. Elas chegaram de
mansinho e tomaram de conta dos nossos
corações, de nossas vidas, enfim, de
tudo.
Eu pretendo esperar um pouco para
pedir a mão de Rox, decisão dela. Por
mim, eu casava amanhã. Ainda não
moramos juntos, mas ela passa mais
tempo em minha casa do que em seu
apartamento. Ramona e Alex estão
planejando a mudança, agora, com o
bebê, isso talvez precise ser ainda mais
rápido. Depois de parabenizar meu
irmão, eu e Rox saímos do quarto e os
deixamos a sós. Precisavam de um
momento apenas para eles.
Joguei-me em minha cama e Rox veio
junto. Nós adorávamos passar o tempo
assim e fazíamos daqueles pequenos
momentos uma alegria sem tamanho.
Descobri que ela sente muitas cócegas
nos pés e no pescoço, ela descobriu que
eu tenho uma cicatriz no queixo, de uma
queda que levei aos nove anos, e que eu
nem lembrava mais.
Contei o porquê da rosa vermelha
tatuada em meu peito. Era a rosa que
minha mãe amava. Eu e Alexander
fizemos logo após sua morte. Nosso pai
não era carinhoso como ela, mas a
amava do jeito dele. Ele morreu em um
acidente de carro e até hoje não
encontraram o corpo, como o carro
havia explodido, não se restavam
dúvidas de que fora carbonizado na
explosão.
Quando éramos mais novos, sentimos
muito a falta deles, mas, com o passar
dos anos, nos conformamos. Seguimos
nossas vidas e aqui estamos nós,
perdidamente apaixonados.
— Um beijo por seus pensamentos. –
Roxanne tira-me de meus devaneios, eu
amava aquele olhar sobre mim.
— Quero muito mais que um beijo.
— Interesseiro.
— Por seus beijos, sou mesmo.
Olhei dentro de seus olhos e sorri.
Ela tocou meu rosto e eu fechei os olhos,
sentindo o seu carinho.
Alí mesmo, naquele quarto, eu tive a
certeza de que havia feito uma escolha.
Escolha certa de ceder ao meu amor por
Rox. Eu a amava e ela me amava, aqui,
amanhã ou depois, só Deus sabe. Temos
o agora. E esse é para sempre.
Capítulo 12

É tanto amor.
Richard

O período de cinco meses passou-se


com rapidez. Sophie havia nascido no
dia seguinte ao aniversário de Alex.
Max ligou logo após o parto.
Conhecemos minha afilhada, que era
loira igual ao pai. Agora, com quatro
meses, a pequena luz, como Alex gosta
de chamá-la, está cada dia mais esperta.
Max baba demais naquela menina e cabe
a mim, o padrinho, piorar a situação. Eu
sou mil vezes mais babão. Imagine
quando for o meu filho.
Em falar em bebês, minha cunhada
está esperando uma menina,
descobriram após o casamento.
Casaram-se no civil e no religioso após
três meses da gestação de Hope, quem
escolheu o nome dela foi Ramona,
porque se dependesse de meu irmão, a
menina teria o nome da moto. Coitada.
Hope significa fé, esperança e amor. É
um nome digno de uma Castellar.
Os dois se mudaram para a mesma
rua que eu, Roxanne ainda não mora
comigo, ficamos juntos algumas noites,
agora que voltou ao trabalho, quase não
tínhamos nossas noites regadas a vinho e
sexo.
Briana havia perturbado meu irmão
ao longo dos meses, ela surtou com o
casamento, a gravidez, tudo. O jornal
local fez questão de deixar todo mundo
sabendo. Era uma merda ser conhecido.
Nossas vidas expostas por aí, eu odiava
tudo isso. Alex mais ainda.

Empresário do ramo tecnológico


casa em segredo. Rumores afirmam
que Alexander Castellar será pai pela
primeira vez. Ramona Petri espera
uma menina para o segundo semestre.
Merda, mil vezes merda. Alex e eu
ficamos absurdamente indignados, nem
mesmo a tia de nossas mulheres sabia
que era uma menina e os jornais
estúpidos já haviam escancarado o fato
particular para o mundo.

***

Domingo de sol, estávamos à beira


da piscina de minha casa. Ramona e
Roxanne estavam embaixo do guarda-
sol, enquanto meu irmão e eu falávamos
de futebol na churrasqueira.
Ouvimos um pouco da conversa
delas.
— Mana, tem um médico me
cantando na clínica, eu já falei mil vezes
que tenho namorado, mas ele insiste!
Não sei mais o que fazer.
— Deixe Richard dar uma lição nele,
ora. Se fosse comigo, eu falaria com
meu Alex. Já pensou se Richard
descobre?
Ponto para minha cunhada.
— O que estão falando de mim? – Eu
interrompo a conversa. Silêncio. Elas
me olham assustadas. Quero ouvir da
boca dela. Ou eu mato esse médico de
araque.
Nasce uma pequena luz.

Era madrugada quando Angelina


sentiu as primeiras contrações, doía de
suas costas até o baixo ventre. Max
ronronava ao seu lado, cansado. A
mesma saiu do quarto, andou pela casa
na tentativa de que as dores
melhorassem, mas foi em vão. As dores
do tão temido parto estavam ali e não
cessariam até que sua filha estivesse
fora do aconchego de seu ventre. Entre
uma contração e outra, ela voltou ao
quarto para acordar o marido. O tocou
nas costas, depois mexeu nos cabelos
loiros, nada. Até que mexeu onde ele,
com certeza, sentiria: Em seu pé.
Max acordou no susto, com cócegas
nos pés.
— Mas o que você está fazendo,
amor? – Sentou-se na cama sonolento e
viu a mulher parada em sua frente.
Esforçando-se para não demonstrar dor,
Angelina sorriu.
— Nossa menina Max...
— O que tem ela?
Com preocupação no olhar, Max
tocou o ventre arredondado da mulher e
viu-a se contrair, deixando-o ainda mais
preocupado.
— Está dura.
— Estou entrando em trabalho de
parto amor...
Os olhos de Max arregalaram-se e
ela riu, nunca havia sentido dores como
essas, mas a felicidade de logo ter sua
menina nos braços, era bem maior que
qualquer dor.
— Mulher, você quer me matar.
Vamos agora para o hospital! –
Levantou-se com pressa e vestiu as
calças jogadas na cadeira do quarto. Os
sapatos nas mãos, a carteira no bolso,
pegou as chaves do carro e guiou a
esposa pelo apartamento.
— Max, vai assim mesmo? –
Angelina observou o quanto Max estava
descabelado, sem camisa e com o zíper
da calça aberto.
Ela teve que rir.
Max correu e vestiu uma camisa, do
lado avesso, mas ele pouco se
importava. Angelina entrou no carro e se
esticou no banco, Max dirigia feito
louco, em meio a uma contração e outra,
se assustava com a velocidade do carro.
O caminho foi tranquilo, apesar do
trânsito leve. Assim que chegaram ao
hospital, Angelina foi encaminhada para
um quarto privativo, onde seriam
monitoradas as contrações e os
batimentos cardíacos do bebê. A bolsa
amniótica ainda não havia estourado.
Max, com a ajuda de uma enfermeira
vestiu-se para acompanhar o parto.
Antes de tudo, ligou para Richard,
avisando-o do nascimento da afilhada.
O médico decidiu induzir o parto, já
que a bolsa não havia estourado e as
contrações estavam cada vez mais
dolorosas e com intervalos pequenos.
Sophie nasceu ás cinco e meia da
manhã, com três quilos e cento e oitenta
gramas. Angelina sofreu horas, mas sua
filha nasceu perfeita e com bons
pulmões.
— Sophie, eu sou seu pai... – Max
pegou a menina no colo e, entre
lágrimas, beijou sua cabecinha de
penugens loiras. – Vou proteger você e
prometo não lhe abandonar. Papai
sempre vai estar aqui para você e sua
mãe. Eu amo vocês, minhas meninas.
— Nós também amamos você,
querido. – diante da filha e da esposa,
Max jurou fazer delas as mulheres mais
amadas e felizes enquanto vivesse. Faria
tudo para que Sophie tivesse o que ele
mesmo não recebera da família: Amor.
Capítulo 13

Pessoas
desagradáveis.
Ramona

Carregar a princesinha dos Castellar


é tarefa muito boa, mas que está me
dando muita dor nas costas. Essa menina
com quatro meses dentro de mim já é
enorme e o médico disse que se
continuar assim, vai ser maior que o pai.
Minha vagina que se prepare.
Alex está exultante com a gravidez e
tudo que relaciona a ela e a mim. Eu sou
paparicada constantemente. Ele sempre
volta do trabalho com algum presente.
Estou feliz que não caibo em mim. Tudo
que eu sempre quis está se realizando.
Um homem que me ama, uma filha
crescendo em meu ventre e ver minha
irmã sorrindo por todos os cantos.
Eu ainda estou trabalhando, eu disse
a Alex que não adiantava ele dizer:
“Mas você está grávida”, que não ia
colar comigo. Eu gosto de trabalhar e
adoro o que faço. Hoje mesmo antes de
sair, Alex fez um discurso enorme para
eu não ir, o que obviamente não deu
certo. Se ele é teimoso, eu sou mil vezes
mais.
Agora, eu estou comendo minha
melancia. Meu celular vibra e vejo uma
mensagem de Alex. <- aqui já diz de
quem enviou

Atenda seu celular, por favor,


borboleta. Estou parindo um filho aqui.

Respondo entre uma mordida e outra:

Bora, estou no meio do meu lanche


Amor, se acalme, a grávida aqui sou
eu.
Em seguida, ele responde:

Atrevida! Estou saindo da CEH,


almoça comigo?

Como o último pedaço da fruta e


respondo:

Sua filha quer sushi, amor. Saio ás


onze, já pode vir me buscar.

Levanto de onde eu estava comendo e


vou buscar minhas coisas no armário.
Recebo a resposta dele no meio de
minha arrumação da bolsa.

Estou aqui embaixo, borboleta. PS:


Minha filha terá sushi.

Sorrio e desço as escadas


rapidamente, estou com saudade do meu
homem. Quando avisto meu Alex
escorado no carro, sorrindo e com um
pacotinho rosa nas mãos, meu coração
salta do peito de alegria.
— Oi, meu amor. – Beijo sua boca
com carinho, sentindo suas mãos em meu
pescoço.
— Oi minha borboleta. Como estão
vocês? – Pergunta, me olhando de cima
a baixo, enfatizando meu ventre
arredondado e ajeitando o vestido por
cima.
— Passamos o dia muito bem,
obrigada por perguntar.
Ele sorri e abre a porta do carro para
mim, logo estou bem acomodada e
vendo a paisagem pelo vidro do carro.
Chegamos ao restaurante japonês.
— Mesa para dois, por favor.
O garçom nos leva até um canto
reservado, como meu marido gosta e,
particularmente, eu também. Pedimos
uma barca de sushis vegetarianos, já que
minha pequenina é muito importante
para mim e a médica havia proibido
alguns tipos de comidas.
— Ora, que mundo pequeno. – Ah
não, essa mulher veio acabar com meu
momento “mamãe e bebê desejando
sushi” – Bom ver vocês.
Adivinha quem? Briana, a vaca!
Roxanne

Hora do almoço na clínica é quase


uma liquidação em Shopping Center.
Cheio de gente. Eu tinha combinado de
almoçar com meu lindo e atencioso
namorado, mas ele estava em uma
reunião e chegaria atrasado. Fazer o
quê? Esperar sentada.
Vejo Brad vir ao meu encontro e já
prevejo uma nova discussão. Eu havia
discutido com ele uma vez, porque suas
investidas estavam deixando Richard a
cada dia mais ciumento. Eu já me
considerava a ciumenta do
relacionamento, mas estava perdendo
meu posto para ele.
— Olá Rox!
Ele chega animado e senta ao meu
lado. Sorrio sem muita vontade, só para
ser educada.
— Oi Brad. – Respiro contrariada e
ouço um suspiro derrotado de sua parte.
– Espero que seja rápido, Richard está
chegando e eu não quero brigar com ele.
— Eu entendi Rox. Não precisa ter
medo de mim, eu gosto de você, mas
nunca prejudicaria seu relacionamento.
— Obrigada por entender.
Logo ele se despede e eu agradeço
aos céus, já que Richard não o
encontraria ao meu lado. Meu lindo
namorado chega minutos depois, com um
semblante cansado e gravata
desarrumada, não podia esquecer que
ele teve problemas de saúde
relacionados ao excesso de trabalho. Só
espero que não seja outra crise de
labirintite.
Preocupada, vou ao encontro dele,
que me aperta em seus braços e me
cheira o pescoço. Depois do carinho, eu
procuro em seu rosto sinais de recaídas,
apesar do rosto cansado, estava corado
e sorrindo. Menos mal.
— Oi querida. Desculpe a demora. –
Ele me diz, pegando minha mão para
irmos até o carro. — Alex deixou tudo
em minhas mãos e saiu, Max está
ficando doido agora que saí!
— Está trabalhando demais amor, seu
corpo já está dando sinais de cansaço! –
Falo preocupada.
— Nós três estamos cansados, linda,
Alex está trabalhando o triplo para
poder tirar férias. Estamos
desenvolvendo um projeto que demanda
muito de todos nós.
Ele dá partida no carro e logo
estamos perto do restaurante que
gostamos muito. Sentamos e fazemos
nossos pedidos.
— Amor, voltando à conversa... Você
está precisando de férias prolongadas! –
Eu digo sorrindo e segurando suas mãos
por cima da mesa. Ele sorriu e assentiu.
— Acho que vou me aposentar. Não
tenho mais pique para cuidar daquela
empresa. Olha que eu sou mais novo que
Alex.
Nós rimos juntos. Nossos pedidos
chegam e nós almoçamos em um clima
bom e agradável.
Fico pensando no que Richard disse
sobre se aposentar, talvez seja cedo,
mas como vamos nos casar apenas daqui
a um ano ou dois, ele deve fazer isso
antes. Estamos nos protegendo para não
encomendar bebês antes do tempo, como
fizeram Lex e minha irmã. Hope não foi
planejada e é muito amada por todos,
mas que foi cedo, isso foi.
Então, Richard e eu fizemos um
acordo, fique claro que eu propus o
acordo, porque o danado queria ser pai,
logo depois que a sobrinha fosse nascer,
e eu tive que dizer não. Vamos dar
tempo ao tempo. De uma coisa eu tenho
certeza: Eu queria muito ter um bebê
para chamar de meu, mas eu esperaria o
momento certo.
Capítulo 14

Tomada de decisão.
Alexander

O que essa mulher veio fazer aqui?


Tudo bem que o restaurante é público,
mas Briana odeia comida japonesa. Será
que ela nos seguiu? Ramona a encara e
vejo os olhos de Briana em chamas ao
ver a barriga protuberante de minha
esposa. Levanto-me da cadeira e fico em
pé, para protegê-la de qualquer ataque
histérico dessa louca.
Toco carinhosamente a barriga e sinto
um chute de nossa filha, um momento
especial que é para ser compartilhado e
não para discutir em pleno restaurante.
Respiro fundo e resolvo falar.
— Pena não dizer o mesmo sobre
você. – Eu falo antes que Ramona possa
argumentar. Envolvo meus braços
protetoramente por sua cintura e barriga,
protegendo nossa filha contra os olhares
maldosos dessa louca. – Agora nos dê
licença, queremos comer em paz.
— Grosso! Não sabe mais como
tratar uma dama? – Briana resmunga. –
Tudo culpa dessa desclassificada!
— Briana, saia daqui antes que eu
perca a paciência!
Ramona está segurando-se para não
falar nada, eu conheço minha mulher e
sei que estar calada é um sacrifício
enorme, mas ela sabe que não pode se
exaltar e que nossa filha e ela precisam
se resguardar.
— Não pensem que estão livres, só
porque estão casados e vão ter uma
bastardinha. Eu vou infernizar a vida de
vocês!
Saiu, batendo os saltos como uma
desequilibrada que é.
Ramona respirou fundo e soltou o ar.
— Tudo bem borboleta? – Perguntei
preocupado. Seu semblante não estava
dos melhores.
— Não, - ela sorri para mim – Estou
ficando azul de fome.
Sorrio de sua espontaneidade.
— Linda. Vamos comer. Não deixarei
essa louca estragar nosso clima. E muito
menos nossas vidas.
— Hope está inquieta, será fome? –
Ela perguntou, já sentando.
— Ela é minha filha, adora comer. –
Nos dois rimos por alguns instantes até
nossas refeições chegarem.
Almoçamos num clima bom e
descontraído. Sem resquícios do veneno
de Briana. Voltamos para o nosso
apartamento uma hora depois.
Estávamos cansados e só queríamos nos
deitar e ficar conversando com nossa
menina.
O dia era perfeito assim.

***

Richard e Roxanne namoravam no


quarto, ele como sempre, somente de
cueca e ela só ria das peraltices do
namorado. Andava para todos os lados,
resolvendo coisas em ligações, somente
trajando uma cueca vermelha. Como se
estivesse em seu escritório de terno e
gravata.

O que mais espantou Rox, foi ver o


quanto Richard era diferente do
imponente empresário dono de uma das
maiores empresas de tecnologia do
mundo. Richard Castellar era uma
caixinha de surpresas.
Observando o quanto ele era ágil
com os assuntos da empresa, Rox fitou o
namorado sorrindo e fazendo gestos de
que iria matar Max que havia ligado
para ele, atrapalhando o momento dos
dois.
A ligação terminou e ele deu graças a
Deus. Digitou uma mensagem para o
amigo.
Obrigada por atrapalhar meu
namoro, seu empata foda.

Roxanne riu e logo Richard recebeu a


resposta.

Pelo menos você está de boa, e eu


que tenho que trocar uma fralda!
Cuidado para não fazer bebês, eu
adoro a minha, mas estou odiando ver
essa fralda de cocô. Mas, faz parte.
Tenha uma boa “noite”.

Richard mostrou a Rox a mensagem e


ambos gargalharam do dilema de Max.
Sophie dava muito trabalho aos dois.
— Onde paramos, mesmo? – Richard
perguntou já pegando a namorada pela
cintura, encaixando os dois.
— Mostre-me o céu, Rich.
— Acredite. Você vai, literalmente,
ás estrelas.

***

Um mês depois

— Olhem aqui. Temos uma garotinha


bem inquieta, as perninhas dela estão
nas suas costelas, mamãe. – Ramona
estava deitada na cama para mais um
ultrassom. Alex estava ao lado, babando
as duas. – Avise se sentir muito
incômodo.
— Está tudo bem.
— Como ela está doutora? – Alex
pergunta com aquela preocupação de pai
de primeira viagem.
— As duas estão ótimas, Ramona
está entrando no sexto mês. Estão muito
saudáveis e sua filha. Sua garotinha já
pode escutar vocês conversando com
ela. Ela está sensível aos toques e aos
barulhos. Vocês podem estimular o
desenvolvimento dela ao colocar uma
música, contar histórias e conversar
bastante. Tenho certeza que ela vai
responder com um belo chute nas suas
costelas, mamãe.
— Ela já é a garotinha do papai.
Basta Alex conversar com ela que fica
toda interessada.
— Ah, isso ela é mesmo. A minha
garotinha.
Terminada a consulta, Alex e Ramona
seguem de volta para sua rotina, Alex
deixa a esposa no trabalho e logo vai
para a empresa. Chegando à mesma,
encontra o irmão e os sócios na sala de
reuniões.
— Até que enfim você chegou,
Richard está me deixando louco com
esse silêncio! – Max resmunga e fala
rapidamente com Alex. Achando aquilo
muito estranho, ele aproxima-se do
irmão.
— O que houve Rich? O que é tudo
isso?
— Tenho alguns comunicados a fazer,
meu irmão. – Interrompendo a conversa
dos dois, Richard dá segmento a
reunião. –
Já que nosso vice-presidente acaba
de chegar, eu já posso falar o que me
trouxe aqui.
— Já não era sem tempo. –
Resmungou um dos sócios.
— Bom, eu sei que todos sabem que
eu passei por alguns problemas de saúde
e que quase me levaram dessa para uma
melhor. Mas, isso tudo me fez repensar
várias coisas na vida. E uma delas é que
estou ficando velho. – Todos riem, até
Richard. – Isso mesmo. Podem rir.
Todos vocês estão indo pelo mesmo
caminho, mas, eu queria deixar claro
que essas decisões foram tomadas em sã
consciência. E eu não pretendo voltar a
atrás, por isso, a partir de hoje, eu estou
deixando a presidência da empresa.
— Como assim? – Alex estava tão
surpreso quanto os outros.
— Isso mesmo, eu estou deixando a
presidência, mas não a empresa. Eu
cheguei à conclusão que minha vida se
resumia a esse complexo, e quero muito
mais da vida, meus senhores. Então, eu
comunico que, agora, a Castellar está
nas mãos do meu irmão, Alexander. E eu
estou férias até segunda ordem. Max,
você ficará à frente de todo o setor da
presidência junto de Alex. Estamos
conversados, tenham um bom dia de
trabalho.
Richard terminou a reunião e todos
saíram da sala, menos Alex e Max.
— Está nos abandonando mesmo? –
Max perguntou, abraçando o amigo,
muito mais que irmão.
— Por algum tempo sim, depois eu
volto para ver o estrago que vocês dois
vão deixar na nossa empresa. – Os três
riem, sabendo que era brincadeira.
— O que te levou a tomar essa
decisão, além daquilo que nos disse? Eu
te conheço sei que está preocupado com
algo.
— Roxanne está com problemas de
saúde.
Richard estava preocupado com a
namorada, por isso estava deixando a
empresa. Para ter toda a atenção voltada
a ela.
Capítulo 15

Diagnóstico.
Roxanne
Duas semanas antes...

Difícil explicar como eu me sinto


agora. Faz dias que eu não como direito,
não consigo dormir, meu abdômen está
inchado e sem falar que minhas regras
estão me atormentando a mais de um
mês, além das cólicas e do fluxo
horrível. Richard não sabe mais o que
fazer. Sinto-o mais preocupado do que
ele costuma ser.
Marquei uma consulta com a
ginecologista da clínica e fiquei
surpresa com o resultado. Um cisto
ovariano de quase oito centímetros de
diâmetro. Meu mundo caiu ali mesmo.
Disseram que o ovário direito estava
comprometido e que seria mais sensato
retirá-lo junto do tumor. Richard, que
estava do meu lado, segurou minhas
mãos como se quisesse me passar suas
forças. O que obviamente não dera
certo, já que eu desabei em lágrimas. Eu
sei que, com o diagnostico cedo, a
cirurgia fará que ele não evolua para um
problema maior. A princípio, foi
descartado um possível câncer, mas
teríamos que esperar o resultado da
segunda biópsia.
A doutora explicou tudo que iria
acontecer comigo, eu faria exames
detalhados e me operaria assim que
estivesse com tudo em mãos. Pedi
discrição sobre o caso e somente
Richard e eu sabíamos o que estava por
vir. Ramona não poderia nem sonhar, ou
colocaria minha sobrinha em risco, do
jeito que ela ficaria. Nós somos muito
apegadas e isso seria um baque e tanto.

***
Duas semanas depois, eu estava
terminando os exames numa clínica
diferente da que eu trabalhava e,
Richard me acompanhava em todas as
consultas, pedia novas opiniões aos
médicos, mas todas diziam a mesma
coisa. Não teria como salvar meu
ovário. Claro que, para uma mulher, isso
era o fim. As chances de eu engravidar
em alguns meses não seriam tiradas, mas
era uma parte de mim que eu perderia.
Como eu poderia lidar? Antes eu não
pensava em ter filhos tão cedo, agora eu
quero e, mais ainda, espero poder.
Richard conversou comigo e resolveu
se afastar dos negócios para ficar ao
meu lado durante a cirurgia e depois
dela, eu já sabia que ele não me deixaria
levantar um garfo sequer.
E, quer saber? Eu não me importo.
Eu quero ser cuidada, amada, e
ninguém melhor que o meu amor para me
dar tudo isso. Eu precisava do apoio
como quem precisa de oxigênio,
precisava que ele me dissesse que tudo
ia dar certo. Eu precisava dele.

***

Roxanne estava preocupada, suas


dores estavam cada vez maiores e,
agora, seguidas de pontadas. Richard
chegou em casa depois da reunião e logo
que chegou ao quarto, viu a namorada se
contorcer na cama.
A médica havia explicado que essas
dores eram normais e qualquer sinal de
hemorragia era para ir imediatamente ao
hospital. Mas não foi o que aconteceu.
Richard fez exatamente o que a
médica explicou, colocou uma bolsa de
água morna em cima da pélvis da
namorada e isso aliviou suas dores. No
dia seguinte, finalmente, ela seria
operada. E Richard esperava de todo
seu coração que tudo ocorresse bem.
— Como está se sentindo, meu anjo?
– Richard perguntou após sair do banho,
ainda enrolado com uma toalha na
cintura, ele chegou perto da cama e
beijou a testa da namorada.
— Sinto-me melhor, obrigada.
— Obrigada? Por quê?
— Por cuidar de mim. – Respondeu
sonolenta.
— É meu dever cuidar e proteger
você.
— Mesmo eu não querendo me casar
agora?
— Mesmo assim. Agora descanse, eu
vou trocar de roupa e venho ficar com
você. – Ele fez a menção de sair, mas
ela o impediu.
— Não, espere. – Respirou fundo
antes de dizer. — Alex sabe, não é? Ele
me mandou uma mensagem esquisita.
— Sabe sim, não sabe o que é, mas
sabe que está com problemas. Mas não
se preocupe, ele não vai contar a
Ramona.
— Ela vai me odiar por não contar. –
Ela suspirou cansada. — Mas eu não
posso deixá-la nervosa.
— Ela vai entender. Agora, descanse.
Amanhã o dia será intenso e eu ficarei o
tempo inteiro ao seu lado, prometo.
Beija-a na boca devagar e
carinhosamente.
Entrou no closet e vestiu-se apenas
com uma calça moletom, quando voltou
ao quarto, Roxanne dormia e ressonava
tranquila. Sorriu e deitou-se ao lado
dela, acariciou seus cabelos e sussurrou
algumas palavras.
— Durma meu amor, amanhã nos
enfrentaremos o que vier e venceremos
essa batalha. Juntos. Sempre juntos.
Capítulo 16

Meu espelho.
Richard

Se eu disser que consegui dormir, é


mentira. Eu não consegui. Virei e revirei
na cama pensando nas expectativas de
hoje. Se eu realmente seria forte o
suficiente para ver minha mulher passar
por tudo isso. Eu sou um homem e não
um covarde, no final das contas. Mesmo
que ainda não tenhamos nos casado,
nosso relacionamento é sólido e então
vale o juramento “Na saúde e na
doença”. Agora, nada me impede de
chorar feito um bezerro desmamado.
E foi o que eu fiz.
Desci as escadas às quatro da manhã,
indo direto ao meu escritório, sem me
deixar ser impedido pelas
circunstancias, eu peguei uma garrafa de
uísque e, enquanto a entornava, as
lágrimas caíram sem cessar e sem me
importar com quem poderia surgir.
Quando, finalmente, coloquei para
fora todo o medo que sentia, me senti
bem e fortalecido. Agora estava pronto
para dar o meu apoio incondicional
depois de deixar que a fraqueza e medo
saíssem do meu corpo. Quando subi,
novamente, ao quarto e a vi deitada,
serena e aparentemente bem, aquilo me
encheu de esperança e de orgulho. Disse
a mim mesmo que aquilo tudo passaria e
que de agora a alguns anos, todo esse
pesadelo não seria mais do que uma
mera lembrança.
Quando o sol finalmente apareceu nas
janelas do nosso quarto, pude perceber
que não tinha mais para onde fugir. Não
tinha mais como simplesmente esquecer
e não chegar a hospital nenhum. Era
preciso ser forte e eu faria tudo que
estivesse ao meu alcance para que ela
pudesse viver e ser feliz.
Roxanne acordou tranquila.
Descemos e tomamos café da manhã
juntos, conversando amenidades e
esquecendo-nos um pouco do que estava
por vir.
Alex ligou. Disse que Ramona
acordou com um pressentimento e que
estava chorando muito, querendo ver a
irmã. Eu não tive outra escolha senão
mandá-los vir até nós. Roxanne entendeu
que não podíamos deixar nossos irmãos
no escuro por muito mais tempo. A
ligação das duas era tão forte, que
ambas sentiam o que outra estava
sentindo. Meio doido, mas verdade.
Os dois chegaram pouco tempo após
o café. Ramona ainda estava vestida
com seu pijama de borboleta e Alex,
com a calça moletom e uma camiseta
qualquer. Ramona estava com o rosto
inchado pelas lágrimas e correu para o
abraço da irmã.
— Diz espelhinho. O que está
acontecendo? Não minta para mim. Eu
sei que você não está bem. – Ramona
resmungou ainda nos ombros de Rox.
— Ela acordou deste modo, inquieta
demais, e eu não tive escolha, a não ser
ligar.
— Você fez o certo, Lex. Obrigada.
Precisamos conversar.
Os quatro foram até a sala e sentaram
no sofá.
— Mona, eu realmente escondi uma
coisa de você, mas não foi por querer.
Eu estava pensando no seu bem-estar e
no bem-estar da minha sobrinha. –
Tocou o ventre arredondado da irmã e
sentiu o leve remelexo de Hope. – Há
duas semanas, eu descobri um cisto no
ovário direito. O cisto comprometeu
seriamente o meu ovário direito, e não
há chance de mantê-lo. Os médicos
disseram que era necessária uma
cirurgia para remoção e, hoje. eu vou
operar.
— Como assim, Roxanne?! Um cisto
no ovário?! Mas, não há um modo de
utilizar um remédio que possa acabar
com ele? Não há nenhum remédio que o
desmanche?
— Não irmã, não tem. Como eu
disse, não há meios de mantê-lo sem que
isso resulte em um iminente perigo para
mim.
— Eu posso estar com você? Digo,
eu quero estar com você, não me negue
isso, nós somos uma, lembra?
Roxanne não aguentou e chorou junto
da irmã. Logo Richard e Alex estavam
abraçando as duas e dizendo palavras de
conforto para ambas. Ramona prometeu
estar ao lado dela assim que acordasse.
Alex e ela foram embora, apenas para
terem tempo de se vestir
apropriadamente.
Richard e Roxanne arrumaram numa
mala as coisas que seriam levadas ao
hospital. Assim que chegaram ao local,
foram recepcionados pela médica que
acompanhava Rox. O quarto era branco
e amarelo, com uma tevê na parede, um
banheiro e um sofá que parecia
realmente muito desconfortável para
dormir. As instalações foram feitas e
logo Rox estava de jejum e com soro no
braço, deitada na cama, esperando que a
hora da cirurgia chegasse.

***

Sabe aquela luz no final do túnel?


Era isso que Roxanne estava vendo
quando fora encaminhada à sala de
cirurgia. Aquela enorme luz branca
circular de algum aparelho médico, cujo
nome ela não sabia, em seu rosto e um
médico jovem segurando uma seringa
cujo conteúdo ela pensava ser a
anestesia. Tudo que ela precisou fazer
foi contar até dez, embora só tenha
conseguido contar até sete antes de
deslizar para o escuro.
Capítulo 17

Acordando.
Roxanne

Abro meus olhos devagar. A


luminosidade do quarto me faz
novamente fechá-los, mas resolvo
insistir e os abro novamente. Vejo que
alguém fechou as janelas para bloquear
a luz. Agradeço mentalmente. Sinto um
formigamento nas pernas, minha
garganta seca e, também, uma dor
fininha na pélvis. Presumo ser originada
por causa do corte feito na cirurgia.
Viro meu rosto e vejo Ramona
dormindo no sofá que fora repleto de
travesseiros. Richard está à minha
frente, sorrindo.
Meu amor. Meu lindo. Meu porto
seguro.
— Como você se sente, meu amor? –
Ele se aproxima e acaricia meu rosto,
devagar. Imagino o quão horrenda devo
parecer sem maquiagem e com os
cabelos piores que o da medusa.
— Minhas pernas estão formigando,
é estranho. – Tento rir, mas a dor me faz
parar o esforço.
— Não se esforce. Não fale muito
também. Você está dormindo há algumas
horas. – Ele senta na cadeira ao lado da
cama e toca minha mão onde vejo as
hastes de um soro intravenoso. – Tudo
ocorreu bem, o cisto foi retirado e o
ovário também, mas a médica disse que
em cinco dias, pelo menos, você estará
em casa. O resultado da biópsia sairá
em um mês após o seu último retorno
para a revisão dos pontos.
— Foram muitos? – Eu pergunto
curiosa e preocupada. Eu fui remexida
por dentro e sinto como se tudo
estivesse voltando para o lugar. É uma
sensação esquisita.
— Não, não foram. Foi uma cirurgia
de sete horas e sua médica disse que vai
sobrar apenas uma cicatriz fininha, que
uma plástica no futuro poderia até
amenizar.
— Se você não se importar, eu não
quero fazer plástica, eu quero me olhar e
lembrar sempre do que passei.
— Meu amor, eu não me importo com
a cicatriz, eu me importo com você, com
o seu bem-estar. Só isso me importa.
— Obrigada por estar comigo. – Ele
me beija suavemente. – Ela está aqui há
quanto tempo?
— Essa sua irmã é teimosa. Alex foi
à empresa e ela quis ficar aqui. Eu até
tentei convence-la, mas ela foi
irredutível. Então, eu arrumei uns
travesseiros para que ela pudesse ficar
ao menos confortável, se é que isso é
possível. Esse sofá é um horror! Acabou
que ela dormiu assim que você chegou
da sala de recuperação.
— Acorde-a e mande-a para casa,
não é bom para as duas. Eu já estou
bem.
— Capaz de eu ganhar um chute!
Conversamos até a médica vir e
pedir que eu fizesse o mínimo de
esforço possível, incluindo falar. Pois
isso poderia me dar gases e fazer a
cicatriz doer. Ramona, assim que
acordou, ficou comigo para Richard
poder comer alguma coisa. Alex chegou
logo em seguida e trouxe Max com ele.
Eles ficaram até o horário de visita
acabar. Ficando somente Richard como
acompanhante.
Passar por isso me fez repensar
algumas coisas. Não era apenas aquela
cicatriz que me marcaria para sempre.
Eu estaria marcada fisicamente e
psicologicamente. Minha vida mudaria
dali em diante e eu queria mais do que
nunca ser feliz. Deus me deu uma nova
oportunidade e eu a agarraria com tudo.
O cisto poderia ser maligno, eu teria
que passar por inúmeros tratamentos,
poderia até mesmo morrer, mas não. Ele
me deu a chance de viver, de poder ter
os meus filhos, mesmo com um ovário, a
doutora me garantiu que eu poderia
engravidar normalmente. E era isso que
eu queria – uma família com Richard.
Chega de esperar para ser feliz.
Afinal de contas, a vida é uma só e nós
temos que aproveitá-la intensamente. E
eu faria exatamente isso.
Capítulo 18

Voltando a viver.

Seis dias depois, Roxanne estava em


casa, se recuperando muito bem.
Richard contratou uma enfermeira para
supervisioná-la e, caso ocorra alguma
intercorrência, ela seria de útil ajuda.
Nos primeiros dias ela não saiu da
cama, mas depois começou a dar
pequenas voltas no quarto, indicadas
pelo médico. Os pontos foram retirados
dez dias depois da sua volta para casa.
Andar, espirrar, tossir, até mesmo
fazer suas necessidades, doía. Dormir
era um sacrifício. A única posição
permitida era de barriga para cima, já
que virar de lado era complicado.
Um mês depois da cirurgia, o
primeiro retorno ao médico. Os exames
confirmaram que tudo estava indo
perfeitamente bem e logo ela voltaria a
sua vida normal.
Como não podia dirigir, nem mesmo
sair de casa e perambular pelo
shopping, todos os dias Ramona vinha
ficar com a irmã, a fim de fazerem o
enxoval de Hope pela internet. As duas
passavam horas pesquisando e
comprando diversas coisas fofas para o
bebê e a mãe. Até mesmo Richard,
quando chegava da empresa, dava suas
opiniões.
Ramona completara sete meses e
meio sem problemas ou complicações.
Alex agora estava mais atento, deixara
as secretárias avisadas que à qualquer
momento sua filha poderia nascer.
— Rox, vamos escolher o amarelo,
não acha melhor? – Ramona perguntou
observando as opções de macacões
minúsculos.
— Não sei. O quartinho vai ser
decorado em tons de branco e outras
cores leves em tons pastel. Não faça
minha sobrinha virar um manequim de
loja.
Ramona já havia comprado roupinhas
bem espalhafatosas.
— Minha filha vai ser fashion.
Após escolherem quase tudo que
faltava. A enfermeira veio dar o remédio
de Roxanne. Após a medicação, as duas
ficaram assistindo filmes até Alex
chegar para buscar a mulher. Richard
chegou poucos minutos depois.
— Como passou o dia, meu doce? –
Perguntou ele antes de dar um selinho e
começar a retirar a gravata e a camisa.
— Tudo tranquilo, sem mais tantas
dores. – Respondeu ela, sorrindo.
Richard estava só de cueca e meias.
— Vou tomar um banho. Volto já para
você.
Sorriu divertido enquanto saia para
tomar banho.

***

Já era sábado, Ramona e Alex


estavam no apartamento. Ela guardando
e arrumando as últimas coisas do
enxoval da filha e ele malhando na
pequena academia que tinham. Bíceps,
tríceps, tantos “iceps” que Ramona
ficava tonta só de pensar. Seu marido
estava cada dia mais gostoso e isso se
devia a uma dieta controlada e muito
exercício. Ela, por sua vez, fazia Pilates
e treinava com o auxílio de uma
treinadora pessoal. Alex acompanhava
tudo como um bom marido que era.
Ao completar sete meses, Ramona
estava enorme. Hope, com certeza, é
uma garotinha grande. A qualquer
momento, ela podia dar o ar da graça,
mas seria bom se isso acontecesse
somente ao término da gestação.
— Um suco delicioso para o meu
marido delicioso e suado. – Ramona
chegou com uma bandeja e um copo
enorme de suco de melancia para Alex,
que parou o treino somente para
agradecer.
— Seu marido delicioso e humilde
agradece a gentileza de sua esposa linda
e grávida. – Alex brincou antes de pegar
o copo e agradecê-la com um beijo
caloroso. — Como está se sentindo,
linda?
— Imensa e muito feliz. – Ela
ponderou. — Estou terminando de
arrumar as coisinhas dela nas gavetas.
Você, depois de terminar esse treino, vai
pegar suas roupas espalhadas pelo
quarto e colocar na lavanderia. Susan
vem, mais tarde, lavar e passar. Depois
nós veremos a minha irmã. Ok, seu
Alex?
— Sim, senhora! – Ele riu.
Ramona voltou aos seus afazeres de
antes.

***

— Já disse que não, Alex!


Agora, os dois discutiam porque
Alex queria que Ramona não fosse
trabalhar na segunda-feira, sendo que o
domingo ainda nem havia chegado.
— Mas amor... – ela não deixou nem
o coitado terminar.
— Nada de amor, nem nada. Eu vou
continuar trabalhando até os nove meses,
se eu puder. E eu estou ótima, gravidez
não é doença!
— Ok, Ramona, cansei de discutir.
— Ótimo, agora me leve para ver
minha irmã.

Os dois emburrados seguiram até a


casa dos irmãos. Roxanne estava
caminhando normalmente e muito alegre
por ver a irmã e o cunhado. Richard
estava bebendo seu rotineiro drink aos
sábados e o irmão se juntou a ele,
apenas bebericando um suco de laranja,
já que estava dirigindo.
— Essa mulher vai me deixar louco,
irmão! – Os dois discutiam no
escritório. — Está quase colocando
nossa filha para fora e ainda quer
continuar trabalhando!
— Deixe de ser exagerado, Alex!
Ramona está lindíssima grávida, não
engordou nada, somente a barriga que
está enorme, mas dizem que isso é bom.
Tente entender que ela sabe o que está
fazendo e tem o apoio médico, claro que
ela conhece os próprios limites, não
faça tempestade em copo d’água.
— Vou tentar. Você sabe como eu sou.
— Sei. Como sei! Se pudesse, a
trancaria todos os nove meses dentro de
um quarto! – Richard riu.
— Você ri agora, mas quero vê-lo na
minha pele, se prepare meu irmão. Se
Roxanne for como a gêmea, está muito
ferrado.
— Vamos nos casar ainda, irmão.
Filhos ainda é um futuro distante.
— Eu também pensava assim, agora
tenho uma filha que chega daqui a dois
meses. – Alexander sorriu. – E essa foi
a melhor coisa que já me aconteceu na
vida, depois de conhecer a mãe dela.
Os irmãos sorriram e continuaram
conversando. E Alex estava certo,
Ramona não via a hora de ter seu
pacotinho nos braços. A família
Castellar enfim teria muito a comemorar.

***

Dois meses depois.


— Doutora, chamam-na à sala dois. –
chamou uma das enfermeiras da clínica
onde Ramona trabalhava.
— Diga que estou indo. – Ramona
levantou-se da cadeira com muito
esforço. Os nove meses de gestação
pesavam em sua estrutura pequena.
Hope mexia animadamente e suas pernas
pediam uma massagem urgente. – Vamos
filhinha, temos trabalho a fazer.
Com isso, chegou à sala onde era
chamada, mas uma dor fina lhe fez parar
no corredor. Ela soube, imediatamente,
que era a hora.
— Ah não, filha! Agora? –
Resmungou segurando a imensa barriga
por cima de seu jaleco. — Aguenta aí,
mamãe vai ligar para o papai.
— Ramona? – Brad chegou ao seu
encontro. Não era bem a pessoa que
queria, mas ele poderia ajudar.
— Brad, me ajuda! Meu bebê vai
nascer!
Ao ver a poça de água que se formou
aos seus pés, Ramona tentou manter a
calma. Queria Alex, queria parar a dor,
queria Hope, queria muitas coisas, mas
no momento a única coisa que queria,
era que Brad lhe ajudasse.
— Calma, eu vou chamar ajuda! –
Antes que ele pudesse sair, ela segurou
sua mão entre as contrações.
— Liga para o meu marido, agora! –
Estendeu o celular em suas mãos.
Brad pegou o aparelho e procurou o
número do rival nos contatos, claro que
havia achado nos contatos de
emergência, seguindo de Roxanne e
Richard.
— Oi querida, tudo... – antes que ele
pudesse terminar de falar, Brad
interrompeu.
— Alexander, é o Brad... – Alex
rosnou alto do outro lado.
— O que você está fazendo com a
porra do celular da minha esposa?
— Ela está em trabalho de parto, seu
imbecil!
— Oh meu Deus, estou indo agora!
Desligou na cara dele. Brad ajudou
Ramona a sentar-se. Logo enfermeiras
vieram acudi-la.

***

— Fica calma, amor, estou aqui com


você. – Alex falou segurando a mão da
esposa, que sentia que as contrações
estavam cada vez menores.
— Alex, se acontecer alguma coisa...
— Não, não pense nisso agora. Nada
vai acontecer e nós vamos ter nossa
borboletinha aqui nos braços. Eu amo
você, borboleta.
— Eu também te amo... – E os
batimentos de Ramona caíram.
— Os batimentos estão caindo, o
bebê está em sofrimento, vamos fazer
uma cesariana urgente.
— O quê? Como assim? – Alex
perguntou atordoado. — Ramona amor,
não...
— Senhor, queira se retirar!
— Salvem minhas borboletas... –
Alexander foi praticamente empurrado
para fora da sala.
E o mundo de Alex caiu naquele
instante.
Capítulo 19

Esperança.
Ramona

Nunca pensei que eu teria um bebê


nos braços. Quando olho para a minha
pequena Hope, minha esperança, eu
vejo que tudo valeu a pena. Primeiro
que conhecer o pai dela foi o alento da
minha vida. Meu Alex deve ter ficado
desesperado a me ver perder as forças
na sala de parto. Foi difícil, mas eu
consegui dar à luz ao meu presente,
minha filha amada.
Hope é igual ao pai, até a esperteza
puxou a ele. Nasceu carequinha e
chorona, mas saudável e perfeita. Os
olhos ainda não têm definição de cor,
mas creio que será a única coisa que
puxará de mim.
— Ela não é a coisa mais perfeita do
mundo? – Meu marido apresenta nossa
filha ao meu cunhado e minha irmã.
Hope dorme tranquila nos braços do pai
e eu não faço outra coisa senão observar
e agradecer a Deus por tudo.
— Parece com você, Lex. – Minha
irmã fala enquanto mexe no corpinho da
minha princesa.
— Então não pode ser perfeita, amor.
– Richard brinca. – Alex é feio que dói.
— Isso tudo é inveja da filha linda
que eu tenho, irmãozinho? – Alex
continua a brincadeira e Richard para no
mesmo instante.
— Parabéns irmão, você merece essa
felicidade. E você também cunhadinha.
– Ele vem até a cama onde estou e me dá
um beijo na testa. Então decidimos falar
o que estávamos pensando.
— Cunhado, eu e Alex decidimos
uma coisa muito importante... Nós
sempre dissemos que nossa filha teria
vocês como padrinhos e agora que ela
está aqui, nós queremos ter certeza da
nossa escolha. Você, Richard, e você,
minha irmã, aceitam ser os padrinhos de
nossa pequena borboleta? – Eu pergunto
já cheia de emoção, esses hormônios
acabam com a minha pose de durona.
— Oh meu Deus, claro que sim!
— Será a maior honra que poderia
me dar, meu irmão. – Richard abraça
Alex, já que o mesmo já colocou nossa
filha ao meu lado, no berço
improvisado.
No nosso momento em família, Brad
bate à porta e Alexander o chama.
Surpreendendo a mim e aos nossos
irmãos.
— Cara, eu não gosto de você, mas
obrigado por hoje.
Meu marido é o meu orgulho, esse
homem é incrível.
— Obrigada de verdade, Brad – Eu
agradeço do fundo meu coração.
Com essa, até ele se encabula e sai
do quarto. E nós conversamos até a
enfermeira praticamente expulsar os
dois visitantes, deixando comigo apenas
o meu marido e minha filhota.

***

Angelina está no quarto da pequena


Sophie, quando Max entra feito doido
com o celular nas mãos.
— Adivinha quem é a mais nova
integrante da família Castellar? – Max
estava alegre, muito alegre.
— Hope nasceu? – Angelina
pergunta, tirando os olhos de Sophie,
que brincava com seu mordedor.
— Alex acabou de ligar.
— Vamos esperar ela sair do hospital
para vê-las, aquilo deve estar cheio de
jornalistas e a família precisa de
privacidade. – Angelina ponderou.
— Está na internet, em todos os sites
de fofoca, é impressionante a rapidez
desses abutres! – Max fala indignado. –
Tem até foto da nossa menina, como isso
foi acontecer!?
— O primeiro passeio dela, amor.
Esqueceu que fomos abordados no
parque? A pobrezinha saiu com cara de
choro. E eu que achava que só Richard e
Alex fossem famosos, mas você também
é.
— Isso faz parte de sermos parte de
uma grande multinacional, linda, mas eu
não gosto dessa invasão. Nem os caras.
– Mudando de assunto, Max pergunta:
— Como está nossa garotinha?
— Não quer mamar, só quer fazer o
que quer. Essa menina puxou a você,
Max!
— Tem o seu gênio, mulher! – O
homem pegou a menina nos braços. —
Não liga para a mamãe, filha. Mamãe
quer brincar com o papai e você não
deixa, é isso. Falta de...
— Não ouse dizer isso para ela,
Max! – Angelina tirou a menina do colo
dele.
— Eu ia dizer falta de amor...
— Sei...
Os dois ficaram discutindo por algum
tempo.

***
Richard e Roxanne estavam no
quarto, acabaram de chegar do hospital.
Ela já estava ótima e liberada para
qualquer tipo de esforço físico. A
cirurgia fora um sucesso. A biópsia
apontou um resultado que retirou de
sobre ela toda sombra de preocupação e
agora ela poderia ter até ter mil filhos se
quisesse.
— Hoje o dia foi cheio de emoções,
não é, linda? – Richard perguntou
jogando os sapatos pelo quarto.
Enquanto Rox tirava os brincos e
colocava em cima da cômoda.
— Muitas. Estou feliz por nossos
irmãos. Hope é tão fofinha, que me deu
até vontade de ter uma criança também.
O rosto de Richard se iluminou com a
fala da amada.
— Podemos tentar agora mesmo, se
quiser. – Ele a pegou pela cintura.
— Você quer?
— Tudo com você, ruiva.
— Depois da argolinha no dedo, seu
Richard. Só depois. Filho antes do
casamento não mesmo. Hope foi um
descuido lindo, mas um descuido. Não
quero filhos por agora.
— Mas eu quero você, agora.
— Sou toda sua, garanhão.
Os dois se beijaram apaixonados e
calorosamente. Caídos sobre a cama, se
amaram por horas a fio. Dando somente
pausa para pequenos lanches, Richard
estava insaciável. E por enquanto seria
somente os dois. Por enquanto.
Papai Alex e sua pequena
borboleta

Quem visse Alexander Castellar


cuidando de pastas e pilhas de contratos
da empresa, e revisando softwares, não
diria que ele teria tanto trabalho em
trocar fraldas descartáveis. Ramona e
Hope estavam em casa, trinta dias, por
precauções médicas devido ao parto
difícil.
— Nunca pensei que isso fosse tão
complicado, amor! Tomara que eu não a
derrube e ela chore daquele jeito. – O
homem resmunga ao pegar o talco, as
pomadas e outras coisas que Hope
precisa antes de trocar a fralda. —
Fiquei com medo dela não me amar.
— Ontem você estava nervoso,
querido. Não se preocupe, ela já te
conhece e não vai chorar, é só você
fazer tudo com calma. Vamos lá, vou
pegar a mijona.
Ramona pegou o bebê do berço, que
resmungou por ser retirada de seu lugar
de descanso.
— Olha, filha, seu pai está com medo
de trocar você, pode isso neném? – Ela
sorri para a criança que só observa os
dois. — Pode não papai, pode não...
— Ela só tem quatro dias de nascida
e eu quase a matei, eu sou um péssimo
pai. – Ele quase chora. Ramona ri da
forma que ele fala e mesmo assim
coloca o bebê no trocador.
— Alexander, por favor, você é um
homem de quase quarenta anos e ela
apenas um bebê de dias, estamos
aprendendo com ela, meu amor, sem
dramas.
Hope fica inquieta quando o começa
a tirar sua roupinha, ela odiava que
fizessem aquilo. E só tinha quatro dias,
imagine o gênio quando estivesse maior,
vai dar um trabalho.
— Filha, você foi boazinha com seu
pai, só xixi? Sortudo. – Ramona bateu
no braço do marido, que riu.
— Se ela não fosse uma coisinha
linda e fofa, eu perguntaria a você o que
tem nesse leite. Agora vamos tomar
banho não é, danadinha? – Ele pegou a
pequena do trocador e levou até a
banheira.
Com o auxílio da mulher, Alex
conseguiu dar um banho decente na
criança, sem deixá-la cair e nem afogá-
la. Enxugou o bebê na toalha de
coelhinhos cor de rosa e a deitou
novamente no trocador. Levantou as
perninhas da mocinha e passou pomada,
enquanto Ramona mantinha a menina
entretida com um brinquedo qualquer,
Alex colocou a fralda com sucesso. A
roupinha também foi colocada depois da
higiene feita, agora sim. O bebê estava
limpo e cheiroso.
— Viu só, filha? Seu pai arrasou! –
Ramona sorriu. — Papai, eu estou muito
orgulhosa de você.
Beijando-o levemente nos lábios, os
dois sorriram.
— Agora vamos comer, não é
borboleta? – Alex percebeu que a filha
procurava o alimento em seu peito forte.
— Querida, sinto muito... Não vai sair
nada daí.
— Bobo. Dá ela aqui. – E ele
entregou o bebê nos braços da mãe, que
sentou com ela na cadeira e sedenta por
seu leite, Hope procurou o seio da mãe e
quando achou, só se via o queixinho
subindo e descendo enquanto a menina
mamava. — A nossa ligação é tão linda,
não é filha? Eu amo você borboletinha, é
sim...mamãe ama esse pinguinho de
gente.
— Não canso de admirar vocês duas,
sabia? – Alex tirou a atenção de Ramona
e sorriu.
— Seu papai é um bobo, mas que nós
amamos, não é filha? É sim meu amor!
Após a mamada, a hora de arrotar foi
com o papai Alex e assim, Hope
terminou a tarde numa soneca gostosa.
Deixando os pais descansarem pelo
menos duas horas antes de começar tudo
de novo.
Mas essa era melhor parte do dia
deles.
Acaba de nascer uma borboleta; Uma
linda borboleta que daria novos
momentos e planos. Essa borboleta está
cheia de encantos, cheia de magias,
cheia de vida. Esta borboleta é o fruto
de dois corações, é o mais novo ser do
mundo. Um ser lindo, tão pequeno...
Borboletinha... Que veio para ensinar o
que é amor.
Capítulo 20

Visita inoportuna.
Briana

Hora de fazer uma visitinha ao meu


amado Alexander. Fácil provocar a
mulherzinha dele, e agora que ele tem
uma filha chorona, será mais fácil ainda.
Pego minha Prada e meus óculos escuros
e vou em direção ao Audi parado em
frente ao meu apartamento, como eu sei
que o porteiro não irá me deixar subir,
vou usar meu charme e também outro
recurso. Dinheiro.
Dinheiro sempre ajuda, embora eu
deseje arrancar até as calças de Alex, e
a única forma de fazer isso é livrando-
me da estressada e da catarrenta. Eu
odeio crianças e tudo que relaciona a
elas. Subornei o porteiro idiota.
Sério que essa é a segurança deles?!
No elevador, sorri pela primeira
etapa concluída com sucesso. Não
entendo o porquê de Alex ter continuado
nesse apartamento ridículo. Apenas
mudou de andar, quando namorávamos
vivíamos no décimo quinto e não na
cobertura. Quando nos casássemos
novamente, eu trataria de comprar uma
mansão enorme. Com tanto dinheiro,
Alexander prefere morar num cubículo
desses, é um idiota mesmo.
Assim que chego na cobertura, vejo a
imensa porta branca com um tapete
escrito “Bem-vindos” que patético,
credo. Toco a campainha, várias vezes,
até que um Alexander de calça moletom
cinza, sem camisa, aparece em minha
visão segurando a chorona no ombro.
— Oi Lex, podemos conversar? –
Peço com delicadeza, já que sei se não
for assim, ele não me deixará entrar. –
Por favor.
— Não sei o que ainda temos para
conversar, Briana, mas espere aqui.
Ele abre espaço e eu entro, vejo a
decoração clean e me pergunto quem
deve ter sido o responsável por isso.
Enquanto ele não volta, observo várias
fotografias espalhadas da criança, junto
de Richard e do pai, até que a criança
não é feia. Deve ter um mês e pouquinho
pelas minhas contas.
— Então, Briana, o que veio fazer
aqui? – Alex chega novamente perto de
mim, vestido agora com uma camisa e
sem a chorona. – Primeiro, chame-me de
Alexander, o direito de me apelidar é
todo de minha cunhada!
— Eu queria te dizer… que – Sou
interrompida por uma voz vinda do
corredor, achei que essa mulher não
estava em casa.
— Querida, não cansa de correr
atrás do meu marido, não? – A
mulherzinha vem ao nosso encontro e
separa o corpo do marido do meu, me
empurrando. — Vou te dizer uma coisa,
vaca... Alexander agora tem mulher, e se
não quiser perder os dentes e esse
cabelo horroroso, sugiro que siga até a
porta e saia da minha casa!
Vejo a fúria da mulher dele, e fico
receosa pela chapinha que fiz hoje cedo.
Talvez eu deva dar tempo ao tempo para
concluir meu plano. Sigo até a porta e a
abro.
— Briana, não venha mais aqui, não
serei tão bonzinho da próxima vez. –
Alex respira fundo antes de me dizer. –
Não estamos mais juntos e não temos
volta, supere.
— Chispa daqui, perua!
A mulher dele vem com tudo e fecha
a porta na minha cara.
Selvagem!
Quando estou no meu carro de volta
para casa, penso em minha vingança e
um clic me vêm à cabeça.
A pequena chorona.
É com ela que eu vou me vingar de
Alexander.
Não o quero mais. Vou destruí-lo.
Quero vingança.
***

— O que essa vadia, veio fazer aqui,


Alexander? – Ramona perguntou
encarando o marido. Alex já havia
retirado a camisa novamente.
— Eu já disse que eu não sei. – Ele
levanta as mãos em rendição. – Eu
estava ninando nossa filha e a doida
apareceu aqui.
— Como ela conseguiu subir? –
Alexander suspirou. — Esse porteiro
não serve de nada!
— A verdade é que nós não
deveríamos ter ficado nesse
apartamento. – Ele suspira cansado e a
mulher vem ao seu abraço.
— Fugir não resolve, meu querido. –
Ramona diz agarrando a cintura do
marido, beijando-o na altura do peito.
— Não vamos fugir, vamos morar em
uma casa, com seguranças e o caralho.
Não quero o fantasma dessa louca
rondando Hope e muito menos você. Se
você visse o jeito que ela olhou para ela
quando atendi a porta. Eu sei que sou a
porra de um pai preocupado e
paranoico, mas ela tinha ódio nos olhos.
Tenho medo só de pensar que ela possa
fazer alguma coisa com nossa menina.
Briana nunca gostou de crianças e está
visivelmente perturbada.
— Acha mesmo que ela pode tentar
algo? – Ramona pergunta preocupada.
— Briana é o tipo de pessoa que não
suja as mãos, mas conhece quem suje.
Vamos nos mudar, está decidido, o
quanto antes.
Os dois abraçaram-se receosos e
preocupados.

***

— Richard, nada muito grande e nem


muitas pessoas, por favor! – Roxanne
diz ao namorado enquanto folheia uma
revista.
— Vamos recapitular novamente
amor, eu tenho alguns parentes vivos,
não são muito próximos, mas queria os
convidar para o casamento. Você tem
sua tia e dois primos, aqui temos Max e
Angel, alguns acionistas que mantenho
amizade e uma porrada de gente chata
que com certeza vai querer bisbilhotar.
— Então fechamos nossa lista, eu não
quero meu casamento cheio de gente
desconhecida e que não abençoam nossa
união. Se for possível, gostaria de
chamar Brad. – Roxanne perguntou e viu
nos olhos de Richard o
descontentamento.
— Sério que aquela mala tem que
vir? - Roxanne sorriu ao ver a cara do
namorado. – Não vai adiantar dizer que
ele ajudou nossa sobrinha a vir ao
mundo.
— Mas ele a ajudou, meu lindo. –
Agora ela riu. – Temos uma enorme
dívida com ele. Já pensou se ninguém
visse Ramona se contorcendo de dor?
— Está bem, coloca essa mala na
lista. E eu até agora não entendo como
uma clínica daquelas não tinha um
profissional capacitado naquele
corredor que pudesse acudir Ramona.
— Primeiro, era feriado, só
funcionava emergência e as salas de
cirurgia, e o corredor de fisioterapia é
longe.
— Sou exigente demais para
entender.
— Então vamos mudar de assunto,
quando o senhor bonitão vai me pedir
em casamento, de verdade?
Richard engoliu em seco. Estava
preparando uma surpresa para ela, mas
se ela perguntasse demais, não ia
conseguir guardar o segredo por muito
tempo.

— Foram tantas coisas que


aconteceram, mas eu jamais esqueci de
nós, do nosso momento, então peço que
tenha paciência.
— Você está me escondendo alguma
coisa, Richard!
— Talvez.
Richard sorriu e pegou as mãos da
namorada.
— Vamos visitar sua tia, vou pedir
sua mão a ela. – Uma lágrima solitária
escapou dos olhos de Rox. Fazia anos
que não via sua tia madrinha Susan.
— Como descobriu onde ela mora?
— Foi fácil. Max é um excelente
investigador, Brasil é um dos lugares
que eu quero conhecer, e então vamos
unir o útil ao agradável.
— Amor, eu tenho uma coisa para
falar... – Roxanne começou receosa,
sentou na cadeira e olhou dentro dos
olhos de Rich. — Ainda não é certeza,
mas estou desconfiada.
— Mulher, me diga logo! – Richard
apressou a amada. – O que tem de tão
importante para me dizer?
Capítulo 21

A volta dos mortos.

Roxanne olhou para Richard, não


sabia como contar que alguém estava
desfalcando sua empresa. Como Richard
já havia tido crise de labirintite e ainda
tomava medicamentos, Max conversou
com Roxanne junto de Alex e decidiram
que ela contaria a ele. Quem estaria
roubando, descaradamente, a empresa
dos três?
— Como você estava estressado
esses dias, Max e Alex vieram até mim e
me confidenciaram que a empresa está...
– Roxanne respirou fundo e Richard
bufou já irritado.
— Sem rodeios, Rox, por favor!
— Que a empresa está sendo
roubada! Pronto, falei!
— É isso? – Richard riu por alguns
segundos e Roxanne ficou chocada com
a forma que ele lidou com a notícia. –
Amor, eu já sei de tudo, muito antes de
vocês conversarem. Já sei até quem é o
culpado e já tomei as devidas
providências. Max e Alex não deviam
meter você nessa sujeira! E a merda que
eu estou estressado!
— Ah, não está? Rich, você está
vermelho de raiva, estou vendo!
— Não é de você querida. Desculpe.
— Certo, mas não esconda mais nada
de mim e eu estava guardando esse
segredo como se você fosse ter um troço
quando soubesse.
— E eu aqui pensando que você ia
dizer que está grávida.
— Sério? – Roxanne riu. – Ainda não
meu amor, eu disse que filho fora do
casamento é sem cogitação. Vamos nos
casar em um ano, então.
— Viajaremos no final de semana,
tudo bem por você?
Richard perguntou e Roxanne selou
um beijo carinhoso no namorado.
— Claro que sim. Agora vou deixar
você trabalhar e vou ver nossa sobrinha.
Estou com saudades daquela criaturinha
fofa. – Richard riu com a euforia da
namorada.
— Mas nós a vimos ontem...
— Mas estou com saudades, ora.
— Tudo bem, eu te levo lá.
— Não precisa. Eu vou dirigindo.
— Não discuta comigo, mulher!
Roxanne ficou injuriada, mas pegou
carona do namorado mesmo contra sua
vontade. Depois de alguns minutos de
trânsito, os dois chegaram ao
apartamento dos irmãos e subiram.
Quem atendeu a porta dessa vez foi
Ramona.
— Olá vocês! – A irmã gêmea de
Rox saudou feliz em ver os dois juntos.
— Cunhada linda, eu não ficarei
muito tempo, subi somente para ver
minha sobrinha, onde está Hope?
— Alex! – Gritou a mulher e logo
Alexander veio todo engravatado e os
cabelos despenteados segurando uma
Hope agitada e faminta.
— Ramona, eu já falei que escuto
muito bem, mas, se você continuar
gritando assim, eu ficarei surdo em
alguns dias.
— Vem aqui no tio, pequena. Esse
seu pai é um sem noção!
Richard pegou a criança dos braços
do pai e brincou com ela até a mesma
começar a puxar sua blusa em busca de
algo que ele não ia ter nunca.
— Vou alimentar essa menina. Vem
comigo, espelhinho. – Ramona chamou a
irmã, que rapidamente deu um beijo de
despedida no namorado e ambas foram
para o quarto de Hope. Richard
aproveitou a oportunidade a sós com o
irmão e tratou de dar um sermão.
— Que merda é essa de contar as
coisas da empresa para Rox, hein
Alexander?
— Irmão, era o mais sensato a se
fazer, você anda muito estressado esses
dias.
Arrumando a gravata de Alex,
Richard respirou fundo. Alexander sabia
que havia algo preocupando o irmão.
— Alex, eu descobri uma coisa muito
grave e estranha. Contratei um
investigador para descobrir que está
desviando dinheiro da empresa. E ele
me disse quem está por trás de tudo. –
Alex passou a mão pelos cabelos,
preocupado.
— Então quem foi cara? Para de
suspense porra! – Alex falou irritado. Se
Ramona tivesse escutado, ele ouviria um
enorme sermão. Mas foda-se, estava
puto da vida.
— O investigador descobriu o nome
do sujeito. – Richard suspirou cansado e
sentou no sofá. – Martin Castellar, Alex.
Nosso pai está vivo e nos roubando.

***

Ao contrário do que todos pensam,


Martin Castellar não forjou sua morte,
sobreviveu ao acidente. E logo sabia
que tinha sido traído por sua esposa e
desejava reaver toda sua fortuna que
estava em posse de Alex e Richard. A
empresa deles foi construída em
sociedade com os Ferrati, mas boa parte
das ações era dos Castellar e ele as
queria de volta custe o que custar. E
Briana o ajudaria. Ele havia procurado a
loira para atrair Alex, mas a mesma não
havia conseguido reconquistá-lo.
— Se aqueles idiotas pensam que
vão ficar com meu patrimônio, estão
muito enganados, eu não mandei a vadia
da mãe deles me trair com o pai daquele
bastardo do Richard! Alex é meu único
herdeiro legítimo, mas é um idiota
ingênuo, preciso da sua ajuda para
conseguir ficar com todas as ações. –
Martin virou a cadeira do escritório
onde se encontrava e encontrou os olhos
da loira. — Aquela bastarda vale muito.
Mesmo sendo meu sangue, eu nunca quis
netos, mas ela será meu pote de ouro.
Pegue-a e peça as ações em troca, Alex
dará tudo em troca da filha.
O psicopata riu de seu plano
asqueroso e Briana era apenas um
fantoche em suas mãos. A loira platinada
mal sabia que ele planejava descarta-la
depois. Era uma briga de cachorro
grande, onde ela era peça pequena e
descartável.
Capítulo 22

Brasil, meu Brasil


brasileiro.
Richard

A viagem até o Brasil foi demorada,


cansativa, mas ao ver o sorriso de minha
Rox ao chegarmos ao país, tudo valeu a
pena. Já na capital Brasília, eu mandei
uma mensagem à tia de minha namorada,
avisando que já estávamos em solo
brasileiro. Roxanne estava observando
tudo, feliz da vida. Acho que ela sentia
muita falta de sua família e aquele lugar
com certeza lembrava-os.
Trouxemos apenas duas malas, a
minha e a dela, poucas coisas, já que
nosso tempo no lugar seria curto. Eu
havia combinado com Susan uma
surpresa para Rox, uma pequena amostra
do que seria o nosso casamento. Uma
capela simples e discreta; muitas flores;
e uma festa no jardim, assim como
minha futura esposa deseja. Eu, na
verdade, já pedi a mão de Rox à Susan,
mas a trouxe até aqui para ela ter a sua
benção, assim como eu tive a minha.
A casa onde Susan morava era grande
e muito florida, a senhora cultivava
muitas flores no jardim e eu tenho quase
certeza que ela passava horas com as
mãos na terra. Uma mulher de sessenta e
poucos anos, viúva e morando sozinha,
será que eu teria mais surpresas para
Rox? Oh sim, Susan voltaria conosco
para Nova York.
Claro que conversamos algumas
vezes ao telefone, eu praticamente
implorei para que tia e madrinha das
gêmeas viesse morar perto das duas, ela
ainda não havia conhecido Hope, apenas
por fotos e vídeos, esse foi um dos
motivos que a levaram a aceitar, mais
rapidamente, a proposta e tomar uma
decisão. Eu comprei uma casa muito
parecida com a dela, com um jardim
maior, para que ela pudesse ter
liberdade de cultivar suas flores. Claro,
perto de nossa casa. A nova casa.
Eu já havia comentado com Alex a
vontade que eu tinha de ter um lugar sem
lembranças do passado, para que eu
pudesse construir novas com minha
futura esposa. E, por isso, acabei
comprando a casa próxima a de Susan,
grande e ampla, para que pudéssemos
ter por perto a nossa família e nossas
lembranças. Minha mansão ficaria para
Alex e Ramona, e se continuassem pelo
mesmo caminho, a mansão seria pequena
para tantas crianças. Já conversamos e
acertamos tudo, ele está esperando
apenas o meu casamento acontecer.
Roxanne foi enfática quando disse
que esperaria um ano, eu até tentei
dissuadi-la da ideia, mas acabou em
discussão, então eu fiquei na minha. Já
havíamos brigado sobre o número de
convidados, até o sabor do bolo foi
motivo para discussões.
Acabamos por decidir que seria uma
cerimônia intimista, com poucos
convidados, o bolo branco com recheio
de caramelo e cerejas, pelo menos
chegamos nesse consenso. Foi até
divertido organizar tudo. Rox e eu nos
casaremos em sete meses. Estou
contando.
Desde que contei a Alex sobre o
ressurgimento do nosso pai, que na
verdade nem chegou a morrer. Ele tem
se mantido calado. Muito diferente do
Alex brincalhão e nada comedido. Eu
sei o que deve estar rondando sua
cabeça, mas eu não deixarei que o
passado tire sua felicidade. Para mim,
nosso pai morreu quando mentiu. E
ficaria assim.
Antes de viajarmos para o Brasil,
Alex, Max e eu tivemos que fazer uma
viagem ao México, para falar sobre o
novo software desenvolvido por nossa
empresa. Entre uma reunião e outra,
recebíamos vídeos de nossas mulheres.
Vídeos mostrando minhas duas afilhadas
e suas descobertas. Hope vestida de
Minnie e balançando os bracinhos
enquanto Ramona filmava aos risos.
Meu irmão babava tanto na mulher
quanto na filha. Max via sua Sophie
tentando engatinhar e eu, por enquanto,
via minha futura esposa desejar boa
reunião com sua voz, doce, que me
deixava duro só de pensar. Quem sabe
um dia eu não teria um vídeo para
babar?
Por enquanto Roxanne basta. Ainda
mais de camisola e batom vermelho,
esse vídeo era restritamente meu.
Quando pegamos o táxi, Roxanne
tentava, em vão, me explicar algumas
coisas em português. Eu falava muito
pouco do idioma, e pessimamente, em
casa ela falava em inglês somente, e só
falava sua língua materna quando
precisava me xingar.
— Chegamos, minha linda. – Eu a
acordei, depois que ela dormiu em meu
peito durante a viagem de táxi até
Riacho Fundo. Preciso dizer que esse
nome foi uma dificuldade de falar, eu
acabei falando errado, arrancando risos
do motorista e claro, de minha futura
esposa. Paguei a corrida e descemos do
carro, em frente à casa da tia dela, Susan
já nos esperava no portão, sorrindo.
— Minha filha, que saudade de olhar
nesses seus olhos verdes! – Ela
direcionou seu olhar para Rox e a
abraçou fortemente, enquanto eu
observava e sorria também, achando
tudo muito lindo, sem entender muita
coisa. — E você meu filho, venha dar
um abraço em sua tia!
Preciso dizer que abracei a tia de
minha mulher com carinho, pois ela era
doce e muito carinhosa, me lembrava
minha mãe. E adorei ser considerado
como parte da família.
— Dinda, Richard fala muito pouco
nossa língua. Se puder falar inglês, eu
agradeceria muito. – Outra coisa que eu
percebi, apesar de brasileiros, os pais
haviam ensinado às filhas a educação
bilíngue, que era muito importante hoje
em dia.
— Claro, agora vamos entrar, vamos
comer um bolo e um café fresquinho que
acabei de fazer. – A senhora até tentou
me ajudar com as malas, mas
obviamente eu não deixei.
Entramos na casa aos risos porque eu
tropecei na mangueira da calçada. Agora
eu sabia de onde vinha o senso de humor
de Roxanne. Susan tinha uma gargalhada
muito engraçada. Tomamos o café com o
bolo enquanto ela ficava me contando as
peripécias de Roxanne e minha cunhada.
As gêmeas eram terríveis.
Depois de conversarmos bastante, ela
nos acomodou no quarto de hospedes,
onde, finalmente, nós tomamos banho e
descansamos da viagem. Mais tarde
seria hora de conhecer a cidade.
Confesso que eu estava ansioso.

***
Em Nova York o clima também
estava dos bons, Alex havia trabalhado
com Max no novo software. Ramona
continuava a cuidar de sua filha em casa
e conversava muito sobre maternidade
com Angelina.
— Cheguei.
Alex entrou no apartamento,
colocando a pasta sobre a mesa e
tirando o paletó e colocando sobre a
cadeira. Ouviu risadas do quarto e foi
em direção a elas. Chegando ao quarto
do casal, Ramona e Hope estavam
brincando em cima da cama, a menina
vestida de joaninha e sua mãe louca
cutucando sua barriguinha em busca de
suas risadas desdentadas.
Uma cena linda.
— Vejo que minhas garotas estão se
divertindo! Tem lugar para o papai nessa
brincadeira? – Pergunto todo babão,
retirando os sapatos e as meias, subindo
na cama.
— Claro que sim, papai. – Ramona
beijou o marido que não via desde a
manhã quando ele foi trabalhar. – Como
foi seu dia?
— Chato e proveitoso. E ela,
melhorou das cólicas? – Pergunto
pegando o bebê no colo. Hope passara a
noite toda chorando por causa das
cólicas.
— Sim, Angelina me ensinou uma
massagem e o banho de ervas. – Ramona
explicou ao marido. – Ela está ótima,
nem parece que passou a noite chorando.
— Minha borboletinha, papai sentiu
saudades. – Acariciou a cabecinha ainda
careca da filha. — Ficar longe de vocês
é um sacrifício.
— Mas você precisa trabalhar para
comprar minhas fraldas, papai. –
Ramona fez voz de criança.
— Falando nisso, acho que alguém
precisa de uma fralda nova! – Alex fez
careta. — Vamos lá filha, vamos limpar
esse bumbum!
Alex já estava perito em troca de
fraldas, banhos e cuidados com a filha.
Ramona apenas observava orgulhosa.
Após dar banho na filha e trocar a
fralda, Ramona deu de mamar e os três
ficaram vendo TV. Quer dizer, Ramona
ficou acordada, enquanto Hope dormia
serena no peito de Alexander, que
também dormia.
Sem dúvida a maior felicidade de
Ramona foi ter conhecido Alexander.
Enfim, será que tudo era só
felicidade?
Capítulo 23

Pedindo assim...
Roxanne

Casar com Richard foi a melhor


decisão que tomei na vida. Claro,
depois de ter escolhido a fisioterapia
como profissão. Mesmo com algumas
discussões bobas, diferenças em muitas
coisas, nós dois somos felizes. Aliás,
que casal é perfeito? Nenhum. Temos
que lidar com as diferenças para que
possamos construir uma vida juntos.
Richard conheceu minha madrinha.
Aos poucos, os dois iam tornando-se
bem amigo. Ela o chamava de sobrinho
e ele, às vezes, soltava um – tia – bem
envergonhado. Isso mesmo, minha dinda
conseguiu deixá-lo encabulado com as
conversas sobre como minha irmã e eu
falávamos dos nossos namorados. Titia
está louca para conhecer Alexander, já
que eles não vieram.
O bom disso é que meu futuro marido
me fez uma surpresa, imagine meu rosto
de felicidade quando soube que tia
Susan iria voltar conosco para Nova
York, dei pulinhos de alegria só de
pensar em ter minha dinda pertinho de
nós.

***

— Mas é claro que eu dou a mão de


minha menina para você meu filho, dou a
mão, o pé, o corpo inteiro. Vocês têm a
minha benção! –
Tia Susan completou olhando nos
olhos de meu noivo, que estava de
joelhos perto dela, com um anel
lindíssimo numa caixinha e com os olhos
marejados. Eu chorava feito uma
desesperada, afinal, não é todo dia que
se é pedida em casamento. Sem dúvidas,
seria a primeira e única vez.
— Mas lembrem-se vocês, – titia
completou – casamento é união. Isso não
quer dizer que não irão brigar, discutir,
chorar. O importante é sempre lembrar o
porquê de terem se casado. O amor
supera muitas coisas, meus queridos,
não deixem essa paixão, essa chama
apagar, cultivem todos os dias o amor de
vocês e sejam felizes!
— Obrigada, tia Susan. – Eu
agradeço a minha madrinha, que sorri
para mim. Richard está segurando-se
para não chorar. — Rich, eu não seria
louca de recusar um pedido desses,
claro que eu me caso com você.
— Achei que ia enfartar antes de
casar, amor. – Nós rimos. Não posso
esquecer que meu noivo tem problemas
de saúde, mas um suspense sempre é
bom.
— Está tudo muito lindo, mas essa
velha aqui tem que dormir, está tarde.
Cuidem-se e não façam sobrinhos netos
para mim. Não ainda. – Com essa, minha
madrinha sobe para seu quarto e nos
deixa a sós na sala.
— Sabe que é uma ótima ideia...
— Richard!
— Só assim você casaria mais
rápido.
— Porque você quer casar às
pressas, hein? – Eu pergunto curiosa, eu
nunca vi um homem querer tanta pressa
para casar, pelo contrário.
— Tenho pressa de ver meu
sobrenome no seu. Tenho pressa por
querer ser seu marido, ter filhos com
você, construir uma vida a dois. Eu
quero viver para você e por você, Rox.
— Te amo, sabia?
— Você sempre pode enfatizar isso,
todo dia se quiser.
— Eu... Amo... Você.
Beijamo-nos como se o amanhã
nunca fosse chegar. Não havia nada
naquela noite, nada além de nós dois,
uma lua cheia e muito amor envolvido.
***

— Bom dia, minhas princesas! –


Alex acordou e foi direto para a sala.
Ele sempre acordava cedo para tomar
café junto da esposa e da filha. —
Levantou mais cedo hoje, amor. Tudo
certo?
— Essa mocinha aqui acordou aos
berros, não sei como não te acordou. –
Ramona colocou a menina no baby
bouncer, uma cadeirinha de balanço
suspensa por hastes de aço. — Já a
alimentei, agora vou preparar nosso
café.
— Eu te ajudo.
Juntos, os dois prepararam o café da
manhã, comeram e logo namoravam no
sofá, prestando atenção no bebê que,
agora, dormia calminha.
— Você está tenso, lindo. Toda essa
coisa do seu pai te deixou estranho,
Alex. – Disse Ramona mexendo nos
ombros do marido, que estava sentado
no sofá, somente de calça moletom e
com um ar preocupado.
— É muito estranha a sensação de
saber que, de uma hora para outra, seu
pai, que você acreditava estar morto…
Agora ressurgiu. Por hora, prefiro focar
em você e na nossa filha, nada mais me
importa.
— Tudo bem. E o joelho? Ainda dói?
– Ramona perguntou, pois Alex havia
sentido dores na madrugada e, como o
médico disse, aquela dor seria sua
companheira durante algum tempo. —
Escutei seus gemidos à noite, tem
certeza que está bem para dirigir?
— Tenho sim. Essa dor é suportável.
— Qualquer mudança nesse
suportável, ligue para o médico, ok? –
Ramona quase implorou. Sabia que Alex
odiava médicos.
— Tudo bem, borboleta. Vou me
arrumar para trabalhar.
Alex levantou-se do sofá e mesmo
com a dor no joelho, foi até o quarto sob
os olhares atentos da esposa.
— Filha, seu pai é uma mula de tão
teimoso. – Ela encarou a pequena Hope
que dava sinais de que iria acordar.
Pegando o bebê no colo e levando-a
para seu berço, Ramona deu um beijinho
na filha e seguiu em direção ao seu
quarto, com o marido.
Chegando ao mesmo, Alex estava de
cueca, sentado na cama, calçando as
meias. Ramona aproximou-se e se
colocou atrás das costas do marido e fez
massagem nos ombros dele, que relaxou
ao sentir o toque da esposa.
— Ainda acho que você deveria ficar
em casa. – Ramona falou e Alex
suspirou cansado. — Você não está bem,
sinto isso.
— Bem eu não estou, mas vou ficar.
Não posso deixar que o meu pai volte
das cinzas apenas para me
desestabilizar! – Alex colocou as mãos
no rosto e depois virou a esposa contra
si. — Tudo que eu quero e preciso, está
aqui comigo e ao lado desse quarto.
Logo vamos nos mudar para a mansão e
eu não quero que nada interfira nas
nossas vidas. Martin está morto e vai
continuar.
— Tudo bem por mim.
— Se você não sair de cima de mim,
não vou querer mais trabalhar... – Alex
sorriu e Ramona mordeu o lábio. — Não
faz...
— O que foi? – Perguntou ela.
— Está mordendo o lábio.
— Estou?
— Está. Não faça isso.
— Por quê?
— Você sabe.
Os dois são interrompidos por um
choro alto e agudo vindo do quarto de
Hope.
— Salvo pela sua filha, Alex. –
Ramona saiu de cima de Alex e
rebolando foi até o quarto da pequena,
trazendo-a até o quarto, onde o marido
já estava praticamente vestido, ajeitando
somente a gravata em frente ao espelho.
— Olha filha, como seu papai é bonitão.
– Ramona segurava a filha sentada na
cama, observando o marido arrumar-se.
— Sua mamãe é mais, borboletinha.
– Alex terminou de arrumar-se e deu um
cheiro gostoso na filha. — Qual a
agenda das minhas meninas hoje?
— Temos uma ida ao pediatra e um
passeio no parque. – Ramona sorriu,
ajeitando o seio para que Hope pudesse
mamar, já que estava puxando a sua
roupa.
— Queria muito ir com vocês, mas
Max está de folga e Richard deixou tudo
em cima de mim. Mas me mantenha
informado da consulta.
Saiu do quarto em busca de sua pasta,
Ramona seguiu o marido até a sala com
a filha enganchada em seu peito,
mamando.
— Tenha um bom dia borboleta, te
amo. Beijando a boca da mulher, Alex
despediu-se. — E você borboletinha,
cuide bem da mamãe. Também amo
você.
Alex deu um beijo na pequena testa
da menina e seguiu para o elevador.
Voltando ao sofá, Ramona sentou-se e
continuou a amamentar, ela odeia não ter
o que fazer, mas adora a tarefa de ser
mãe incondicionalmente.

***

— Não Rich! Se ele não autorizou,


então não! – Roxanne discutia com o
noivo. Richard queria escalar e o
médico que o atendia disse que
pacientes com labirintite não podem
fazer esse exercício até o tempo de pelo
menos seis meses a um ano sem crise, e
Richard teve uma recentemente.
— Mas eu estou ótimo! – Reclamou
ele. — Posso correr uma maratona agora
mesmo se quiser.
— Não vou compactuar com isso,
amor. Você sabe que não pode e ainda
vem com essas ideias estapafúrdias! –
Roxanne falou com uma das mãos na
cintura. Estava indignada com a falta de
autopreservação do noivo. —
Francamente, Richard, você não é mais
um moleque, mas está se comportando
como um! Eu não vou discutir. Você
NÃO vai escalar!
— Você está parecendo uma mãe.
— Eu sou sua futura esposa, tenho
esse direito. A não ser que você resolva
fazer essa loucura, aí eu não casarei! –
Roxanne falou e o semblante de Richard
mudou.
— Então é chantagem? – Ele
perguntou.
— Não, estou apelando para sua
responsabilidade para com você mesmo.
— Isso na minha terra chama
chantagem.
— Entenda como quiser, quando você
voltar ao seu juízo perfeito, você vem
me procurar.
Roxanne sobe as escadas e vai para o
quarto, deixando Richard absorto e
sozinho com seus pensamentos. Ele está
errado e aquele seria um de seus
primeiros problemas, a primeira
discussão após o pedido oficial de
noivado, pura bobagem.
Isto é, se ainda houver casamento.
Capítulo 24

Deus castiga quem é


teimoso.
Roxanne

A palavra certa que me define no


momento é raiva. Estou com muita raiva.
Fazia algumas horas que eu havia
discutido com Richard e eu ainda quero
mata-lo! O louco realmente foi fazer a
maldita escalada, mesmo com tudo que
eu disse. E agora estou aqui sentada na
sala com minha madrinha, com o
coração na mão e uma raiva que só
passaria depois dos belos tabefes que
eu, com certeza, darei nele.
— Tenho vontade de bater nele até a
cabeça voltar para o lugar! - Eu exclamo
indignada.
— Minha filha acalme-se, logo ele
chega e vocês conversarão e se
entenderão. – Minha madrinha fala como
se soubesse o que vai acontecer.
— Eu não confiaria nisso, dinda.
Richard está me saindo um moleque em
vez de um homem.
— Deve ser difícil para ele, minha
querida. Coloque-se no lugar dele.
— Não o defenda!
Meu celular toca insanamente e eu
vejo a foto de Richard na tela, atendo
rapidamente pronta para dizer poucas e
boas para ele,mas a pessoa que fala não
é ele e as notícias não são boas.
Richard. Hospital. Foram as únicas
coisas que meu cérebro captou. Após
desligar, peguei minha bolsa e puxei
minha madrinha como uma louca,
pegando o primeiro táxi que apareceu.
No caminho explico o que aconteceu,
o “amigo” que meu noivo conheceu na
escalada disse que Richard sofreu um
susto no meio do trajeto e acabou
soltando os cabos de segurança, caindo
de uma altura considerável e fraturou a
perna direita. Ele esperou apenas a
conclusão do médico que os atenderam
para poder me ligar. Se Richard não
tiver quebrado mais nada além da perna,
eu tratarei de quebrar!
Chegamos ao pequeno hospital de
emergência e eu pergunto na recepção
pelo meu noivo. Logo um homem alto
aparece e se apresenta como o tal amigo
que trouxe Richard para o local. Ele me
leva até o médico que me explica
exatamente o estado que meu noivo se
encontra.
Assim que me tranquilizo, deixo
minha madrinha resolvendo os
proclamas com o hospital e vou em
direção ao quarto onde meu futuro
marido se encontra. Abro-a e tenho a
visão do meu lindo homem de olhos
fechados e com uma das pernas elevada
num gesso horroroso. Meu coração
aperta e logo chego perto dele,
acariciando os cabelos e acordando-o.
— Oi meu amor. - Eu perco toda a
vontade de bater nele depois que o vejo
tão vulnerável. Ele me olha com o
semblante culpado e cansado. — Como
se sente? Alguma dor?
— Desculpe ter sido… - eu não o
deixo completar.
— Não se desculpe, o importante
agora é cuidarmos de você, depois
conversamos.
— Eu sei que você quer me matar,
mas em minha defesa eu não tive
vertigem nenhuma! O que aconteceu foi
que eu me distraia com algo que me
lembrou da sua tatuagem, uma borboleta.
– Eu tive que rir. Na verdade, gargalhei.
– Se eu não estivesse com a perna
quebrada, eu também riria, com certeza.
Mas não é o caso. Quão mal eu estou?
— Basta dizer que terei um trabalho
grande para fortalecer os seus ossos e
músculos.
— Em outras palavras…
— Você está fora de combate, amor.
Eu tentei explicar exatamente como o
médico falou, mas eu sou fisioterapeuta
e sei exatamente o quão difícil seria a
recuperação dele.
— A primeira providência que irei
tomar é pedir ao médico que te libere
para que eu possa fazer as malas e
voltarmos para Nova York.

***

Após discutir com Richard sobre a


viagem, já que ele não queria voltar
agora, mas eu queria que ele fosse
tratado com o médico de família.
Tivemos um trabalho para removê-lo do
hospital para casa, mas conseguimos. Eu
arrumei as malas, com a ajuda de minha
madrinha e pegamos o primeiro voo de
volta. Devido à urgência de voltarmos,
titia ficou para organizar suas coisas e ir
depois.
Liguei para Alex comunicando o
ocorrido, Richard resmungou o caminho
todo dizendo que não era criança, mas
que eu parecia uma mãe. Eu estou
agindo como uma futura esposa de um
maluco que acha que tem algum juízo.
Richard

Eu sabia que o castigo vinha rápido,


mas não esperava que fosse tão
doloroso. Minha perna doía como o
inferno e nem os analgésicos faziam
efeito. Merda! Eu teria que ter muita
paciência para ficar de molho, essa
perna me renderia uns meses de tédio e
aborrecimento, sem falar na dor filha da
puta! Eu mereço mesmo! Roxanne não
estava mais com aquele olhar matador
que eu já esperava que fosse arrancar
meus olhos por ter feito a loucura que
fiz. O que, graças ao meu bom Deus, não
aconteceu. Tudo que eu via naquele
olhar era a preocupação e o carinho.
Deus, como eu amo essa mulher!
Após voltarmos para casa, muito
antes do que eu havia planejado, eu
fiquei emburrado por algumas horas,
mas foi a visita de meu irmão e família
que melhorou o meu humor. Na verdade,
Hope pedindo colo que me fez esquecer
um pouco a dor e brincar com suas
bochechas gordinhas e deliciosas.
— Que sorte hein irmão! – Alex
chegou próximo de onde eu estava
sentado, com a perna fodida no pufe,
com muitas almofadas ao redor. Eu
segurava minha sobrinha na outra perna,
que parecia quieta demais para o meu
gosto.
— Nem me fale. Estou querendo
arrancar essa porcaria que coça como o
inferno! – Eu reclamo. — Porque ela
está tão quieta?
— Ela passou a noite com cólicas,
quase não dormimos. O pediatra disse
que são os dentes nascendo. – Meu
irmão parecia preocupado, mas acho
que todo pai ficaria.
— Meninos, é hora desta menina ir
comer e dormir! – Minha cunhada
chegou à sala e com delicadeza tomou
minha sobrinha de mim. – Espero você
lá em cima, amor.
Beijando meu irmão num selinho
rápido, Ramona pegou minha sobrinha e
seguiu rumo a cozinha, onde estava a
minha noiva.
— Pelo visto, não temos sorte com
acidentes! – Meu irmão reclama e sorri
como se tivesse dito uma piada.
— Ainda sente as consequências do
acidente, cara? – Eu pergunto tentando
ao máximo não me lembrar da dor
infernal que me consome.
— Joelho fodido para sempre fodido.
Minha noiva chega à sala, com uma
bandeja e a coloca sobre mim com
cuidado. Vejo que tem um lanche
saudável demais e dois comprimidos
junto a um copo d’água.
— Hora do remédio, amor! – Ela
sorri e senta ao meu lado. — É para
comer tudo ouviu?
— Estou sentindo-me como uma
criança. Alex, você se lembra de quando
a mamãe fazia aviãozinho para nós
dois? - Perguntei ao meu irmão, que
estava sentado na poltrona a minha
frente.
— Ela não fazia um aviãozinho, ela
vinha com um tanque de guerra e tinha
pena de nós se não comesse! – Nós
rimos nos lembrando de como era a
nossa mãe.
— Porra, eu não posso rir, caralho! –
Eu gemo de dor.
— Vai ter que aguentar irmão!
Um mês e alguns dias depois.

Difícil dizer como foram esses dias


parado e tentando não me entediar, até
porque minha mulher (ela já é minha)
não me deixava cair no tédio. Sempre
trazendo filmes e outras formas para que
eu pudesse me distrair enquanto não
saísse da cama.
Max sempre vinha trazer minha
afilhada para que eu pudesse
acompanhar seu crescimento. Ela estava
enorme! Hope sempre vinha
acompanhada da mãe, o que era uma
farra com essas duas juntas. Roxanne já
havia voltado a trabalhar e eu agora
ficava aos cuidados de tia Susan, que já
havia se mudado e estava
temporariamente conosco.
Preciso dizer que minha tia postiça
era um amor?
Ela dispensa apresentações, cuida de
mim como se eu fosse seu sobrinho de
verdade, eu já estava começando a
pensar que sim. Depois que eu me casar
com Rox então, a tomarei como minha
tia mesmo.
Eu já podia andar de muletas, ainda
estava com o bendito gesso que agora
acompanhava uma bela haste de metal
depois de ter passado por uma pequena
cirurgia, para corrigir o dano do osso,
agora posso ser chamado de Iron Man,
já que havia alguns parafusos na minha
perna. Mas as dores estavam
melhorando a cada dia, graças a Deus.
Dentro de algumas semanas eu
começaria a reabilitação e a
fisioterapia, adivinha com quem?
Minha noivinha ruiva.
Sou um filho da puta de sorte. Nada
com você, mãe.
— Richard, o que você está fazendo?
– Susan chega próximo de onde eu estou,
em pé, olhando para a varanda do
quarto, observando o lindo dia que o
começo de sábado nos trouxe. Deus é
maravilhoso em todas as suas formas. —
Menino, você é muito levado!
— Eu? Que calúnia, titia! – Eu
brinco.
— Volte já para a cama! – Ela manda
apontando o dedo para minha cama, que
estava intacta. — Roxanne ligou e disse
que Alex vem almoçar junto de Hope e
Ramona.
— Amém, Senhor! Vou ver gente e
sair desse quarto! – Eu reclamo com um
pouco de exagero.
— Exagerado. Hoje eu me arrependo
de ter ficado do seu lado, você é mesmo
maluco, depois que ficar bom, minha
afilhada vai te colocar nos eixos.
— General Roxanne está dando uma
trégua, afinal, eu estou dodói. – Eu faço
bico.
— Dodói? Tenha santa paciência,
você é um homem de mais de trinta anos
e ainda faz bico? Vamos Richard, deite-
se antes que eu ligue para Rox! – Agora
eu gargalho com toda a vontade. Deito-
me na cama com ajuda dela que coloca
as almofadas embaixo da minha perna.
— Fique quieto até seu irmão chegar e
te ajudar a descer.
— Ok, general dois!
Eu me divirto à beça brincando com
Susy, ela com esse jeito meigo de ser
esconde por trás o general parecido com
Roxanne e Ramona.
***

O almoço foi uma diversão, acho que


não preciso dizer que Alex sempre
rouba a cena com suas piadinhas. Rich,
atrás, com seu bom humor. Ramona,
feliz, com sua filha no colo de sua
madrinha e Roxanne mais feliz de ver a
família que tinha formado. Logo mais
seria ela subindo ao altar.
Capítulo 25

Esperando uma
garota como você.
Roxanne

A menos de dois meses para o meu


casamento, eu estou aqui na clínica com
o meu noivo, para mais uma sessão de
fisioterapia. Richard é mais teimoso que
uma mula, não quis vir comigo e veio de
táxi, sozinho. Eu devia dar uns cascudos
nele, mas eu reconheço que está sendo
complicado para ele não ter sua
independência.
— Eu devia lhe dar uns bons
cascudos, Richard James! – Eu falo
firme com ele, que me olha como se eu
fosse a oitava maravilha do mundo. —
Onde está o motorista, quando se
precisa dele?
— Albert está de folga, linda.
— Justo quando precisamos dele!
Vamos Rich, temos muito trabalho pela
frente!
— Você é esse general como todos
seus pacientes? – Ele me pergunta e eu
gargalho, antes de responder.
— Sou pior, meu amor.

***

Dois meses, uma semana, e algumas


horas mais tarde, Roxanne arruma-se
com ajuda da madrinha, da irmã, da
amiga inseparável Angelina,
maquiadora, cabelereiro, e tantas outras
coisas que uma noiva deve fazer muito
antes de subir ao altar.
As crianças estão aos cuidados da
nova babá, América. Uma linda moça de
vinte e poucos anos, que não agradou
muito a Ramona. Ela cismou que a
menina estava olhando com “outros
olhos” para o seu marido. Tirando isso,
tudo estava indo conforme o planejado.
Logo Roxanne seria a senhora Castellar.
Richard estava uma pilha de nervos,
como já era de se esperar. Depois que
foi liberado pelo médico, ele agora
usava apenas uma bengala, só para
manter a estabilidade enquanto estivesse
fazendo fisioterapia.
Sophie completou seu primeiro
aninho com uma festa enorme, onde até
seus avós paternos apareceram, coisa
que Angelina confidenciou ser um
milagre, já que os mesmos não eram tão
presentes. A menina ficou feliz em
conhecer os avós, mas queria mesmo
saber de brincar na grama e se sujar
inteirinha.
— Max, eu acho bom você segurar
Sophie, ou ela vai enlouquecer a babá! –
Alex chega próximo onde Max e
Richard estão sentados. Os poucos
convidados ainda não chegaram, apenas
os amigos mais íntimos. — Aliás, que
Ramona não me ouça..., mas que babá!
— Alex, você é um puto! – Max diz.
— Sou um marido fiel, mas não sou
cego, amigo! - Alex responde. Richard
toma um gole de seu uísque.
— Acho bom você aquietar esses
seus olhos, ou Ramona vai arrancá-los.
Pare de olhar para a babá da sua filha! –
Richard repreende o irmão.
— América além de linda é
competente. – Alex observa a babá
cuidar de Sophie e Hope. Só o que ele
não vê é Ramona chegando atrás dele e
ouvindo tudo.
— Ah é, Alexander? – Ramona diz.
— Hoje você dorme no sofá, ouviu?
— Ihhhh ferrou! Amorzinho volta
aqui... – E ele saiu atrás da mulher, que
foi pegar a filha dos braços da babá.
— Vai aprendendo irmão, andar na
linha é ótimo e faz bem as costas. –
Ambos riem. — Deus me livre de
dormir no sofá.

***
— Eu já disse que não quero
conversa, Alexander! – Após muitas
tentativas de desculpas, Alex ainda não
havia desistido.
— Hoje é um dia feliz para minha
irmã e eu não vou deixar nada estragar
esse dia, mesmo que meu marido seja
um vadio que não consegue manter a
cabeça de baixo no lugar!
— Eu não estava pensando nela,
amor! Só disse que ela é bonita...
— Linda! Você disse linda! Ainda diz
na frente do seu irmão e do seu amigo!
Alex tenta beijar a esposa e é
rejeitado, Hope se remexe no colo da
mãe e pede para ir para o colo do pai.
— O que minha borboletinha quer? –
Alex pergunta a filha, que está inquieta
em seu colo.
— Ela precisa de uma fralda nova. –
Ramona faz careta. — Leve-a até o seu
antigo quarto, a bolsa dela está lá, se
precisar dar banho.... Tem uma troca de
roupa dentro da bolsa também.
Os dois subiram juntos com a
pequena e Alex a colocou delicadamente
sobre a cama, retirando seu vestidinho.
— Minha pequena borboleta sujinha,
vamos ver o que tem nessa fralda... —
Alex abre a fralda com suspense e quase
cai para trás. — Uou, filha!
— Alexander, deixe de coisa e
troque-a logo, precisamos descer... O
casamento já vai começar.
Ramona acelera o processo de troca
e ajuda o marido a trocar a menina.
Assim que terminam, Alex deixa a
pequena deitada e agarra a cintura da
esposa pedindo perdão e recebendo um
sermão enorme antes de ser perdoado e
beijado com fervor. Hope? Bom,
resolveu tirar uma soneca.
— Alex....Hum....Alex.... – Ramona
tenta não ceder aos beijos e caricias do
marido. — Temos que descer...
— Nós já vamos. – Ele para de tocá-
la e tenta se recompor. — Mas antes
preciso dar um jeito nisso...
Ele aponta para a grande ereção em
suas calças. Ramona sorri e morde o
lábio.
— Em casa eu resolvo esse grande
problema.
Ele sorri safado.
— Eu não ia dormir no sofá?
— Não antes que eu possa me fartar
com esse problemão... – Ela aponta para
as calças dele. — Vamos, minha irmã
não pode casar sem os padrinhos!
Ela pega a pequena dorminhoca no
colo e desce, Alexander fica
recompondo-se.

***
You're so good
(Você é tão boa)
When we make love it's understood
(Quando fazemos amor, fica
implícito)
It's more than a touch or words we
say
(É mais que um toque ou palavras
que dizemos)
Only in dreams could it be this way
(Só nos sonhos as coisas poderiam
ser assim)
Ao som de Waiting For A Girl Like
You, da banda Foreigner, Richard viu a
noiva mais linda surgir no jardim.
Roxanne usava um vestido longo e
branco de renda fina e uma coroa de
flores, completando o véu de fino trato.
Recebeu-a no pequeno altar montado
apenas para a união singela, a juíza
amiga dos pais dos irmãos Castellar
aceitou celebrar o casamento com muita
alegria. Após os primeiros proclamas,
os votos foram ditos e a juíza os
declarou marido e mulher.
— Feliz? – Richard perguntou a
mulher, Roxanne só conseguia sorrir e
chorar de emoção.
— Muito! Acho que não existe
mulher mais feliz que eu! – Ela abraçou
o marido, enroscando os braços no
pescoço dele. Ele canta uma parte da
música no ouvido dela.

I've been waiting for a girl like you


(Estava esperando por uma garota
como você)
To come into my life
(Entrar na minha vida)

— Minha garota, minha mulher,


minha esposa, eu amo você Roxanne. –
Richard repetiu olhando nos olhos dela.
— Eu também amo você com tudo de
mim, marido. – Ambos se beijaram e
quando viram, os outros casais que
dançavam uma música lenta e romântica
também se envolveram no clima e
beijaram suas esposas. Alexander e
Ramona não negavam o fogo que tinham.
Max e Angel também não ficavam atrás.
Após os convidados irem embora, a
bagunça da festa estava a cargo dos
amigos, meio alterados pela bebida, as
mulheres dançam descalças e as
crianças já dormiam sob a supervisão da
babá. A vida segue rumos que, às vezes,
são previsíveis, mas prever o que o
futuro reserva, isso ninguém consegue.
Mas há quem diga que cada um escolhe
seu caminho.
Capítulo 26

Três?!
Roxanne

Dois anos depois...

Estávamos ansiosos para a minha


primeira consulta. O pré-natal foi
marcado assim que eu descobri a
gravidez. Claro que Richard
acompanhou tudo desde o início, como
um pai babão e preocupado, até que ele
está sendo normal, estou até
estranhando. Jurei que ele iria ser mais
paranoico que o Alexander ou Max, os
dois foram dois loucos durante as
gestações de suas mulheres.
Será que, dois anos depois de
casados, meu marido se transformou em
outro e eu nem percebi?
Essa gravidez foi planejada. Parei
com o anticoncepcional e, três meses
depois, eu engravidei. No momento,
estou sentada com meu marido,
esperando para ver e ouvir pela
primeira vez o nosso bebê tão sonhado e
aguardado.
Assim que ouvi meu nome, Richard
levantou e me acompanhou até a sala da
doutora Candice Parker. Minha médica
escolhida a dedo. Eu quis uma diferente
de minha irmã justamente porque aquele
era o nosso momento, o meu e de
Richard. Eu sentia que ele estava
nervoso, mas que não admitiria nem sob
intensa tortura. A pose de durão não me
engana mais.
Já deitada na cama, observei a
doutora mexer no monitor e pegar o que
chamam de transdutor, colocar uma
camisinha no mesmo. Richard devia
estar se perguntando onde aquilo seria
introduzido. A cara de terror que ele fez
foi hilária.
— Roxanne, é importante que relaxe,
você sentirá um pequeno incomodo. –
Ela posicionou minhas pernas e
enquanto meu marido apertava minha
mão, temeroso, ela introduziu o objeto
na minha abertura vaginal.
— Olhem para o monitor, papais. – O
monitor ao nosso lado mostrou uma
imagem borrada. Eu era fisioterapeuta,
mas de tanto estudar eu sabia sobre
qualquer área relacionada a medicina.
— Oh meu Deus! – A médica
exclamou.
— O que houve doutora? Como está
o meu filho? Fale alguma coisa, porra! –
Richard xinga muito quando está
nervoso. Ou seja, toda hora.
— Richard! – Repreendo-o.
A médica sorri e nos deixa um pouco
mais aliviados.
— Desculpem-me pela euforia de
início, mas é que, em anos de profissão,
é a primeira vez que faço um ultrassom
de uma gestação múltipla de três
embriões. – Não sei se ouvi direito, mas
acho que ela disse três bebês dentro do
meu útero, foi isso mesmo que ouvi.
Meu Deus. – É muito raro, na medicina,
uma gestação natural de múltiplos
embriões.
— Doutora, seja mais clara, por
favor. Eu estou aqui e não entendo nada
dessas coisas. O que minha esposa tem?
– Richard pergunta preocupado, ao que
parece ele não compreendeu o que ela
quis dizer. Eu mesmo ainda estou
assimilando, imagine ele.
— Sua mulher está grávida de
trigêmeos. – O rosto do meu marido
empalideceu e eu achei que ele iria
desmaiar. – Calma, sente-se aqui
enquanto eu termino o exame e converso
com vocês.

No automático, ela terminou o exame


explicando como está o colo do meu
útero e os bebês. Tudo está bem, é isso
que me importa. Richard continua
estático sentado. Querendo ou não eu
também estava apreensiva, eufórica e
assustada. A médica teve todo o zelo em
explicar sobre a gestação de múltiplos.
Todos os cuidados de agora em diante.
Richard escutou tudo atentamente, acho
que a ficha dele ainda não caiu.
Após chegarmos à nossa casa, subi
ao quarto e tomei um banho relaxante.
Eu ainda não estava acreditando que
dentro da minha barriga lisa havia três
bebês se desenvolvendo. Richard entrou
no quarto e me pegou de calcinha e
sutiã.
Confesso que fiquei receosa com a
reação do meu marido, mas logo o
maluco se ajoelhou na minha frente e
começou a beijar minha ainda lisa
barriga. Ali, eu senti que ele estava feliz
em ser pai. Mesmo que seja de três de
uma vez. Ri em pensamento só de pensar
como eu estaria daqui a quatro meses,
imensa e muito feliz. Como eu sou
gêmea, imaginei que poderia engravidar
de mais de um, mas nunca imaginei de
três. Como estaria minha casa daqui a
uns cinco anos? Imaginei meus filhos
correndo e brincando com os primos e
Richard melecando minha barriga de
beijos me tirou dos meus devaneios
maternais.
— Como se sente o papai de três? –
Perguntei ao meu marido que agora
estava em pé, com um sorriso enorme do
rosto. – Com esse sorriso imenso já
pode ser um palhaço.
— Muito engraçadinha. Respondendo
à sua pergunta. Estou eufórico, nervoso,
um pouco assustado e muito feliz. Estou
pensando no que eu vou ter que derrubar
nessa casa para arrumar espaço para
colocar fraldas e muitas outras coisas. –
Agora eu gargalhei.
— Rich, por enquanto, temos que
pensar no bem-estar da gestação,
gravidez de múltiplos é um pouco mais
delicada. – Eu falo sensata dos riscos
que terei que enfrentar. – Você ouviu o
que a médica falou.
— Ouvi. Nem que eu tenha que te
manter deitada vinte e quatro horas, essa
gravidez vai ser um bom momento para
a nossa família. Agora, vista uma roupa.
Nossos amigos e irmãos estão chegando
para comemorar!
— Você já falou para eles? –
Perguntei e ele assentiu. – Nossa, que
rápido.
— Mandei a mesma mensagem para
todos. – Sorri e ele me mostrou a
mensagem curta e mesmo assim bem
explicativa. “São três” e um emoticon
com cara de assustado. A mensagem
deve ter deixado nossos amigos e
irmãos bem curiosos para saber mais
sobre a notícia. Por enquanto, eu queria
manter essa informação bem entre nós,
quero preservar a mim e aos meus
bebês. Sorrio mais uma vez ao ver o
quanto minha vida vai mudar daqui para
a frente.
Capítulo 27

Rotina.
Richard

Eu ainda estava assimilando que irei


ter três filhos de uma só vez. Um dia
você acorda com sua esposa linda de
TPM infinita, outro dia tudo muda e tudo
que você consegue ver é a barriga
crescendo e ela acordando enjoada por
todas as manhãs.
Meus filhos estão dentro da mulher
que eu amo, fazendo bagunça. Três. Meu
Deus, eu sou um cara de sorte!
Obrigado!
Roxanne já tem uma rotina. Pela
manhã, acorda enjoada e vai direto para
o banheiro, onde eu a acompanho. Minha
mulher não vai passar por isso sozinha.
Quando ela sai para trabalhar (O que eu
acho uma loucura) leva uns biscoitos de
sal, água com gás que dizem que é bom
para ela (eu não entendo nada, mas se a
médica disse que é bom...então é). Fico
o dia inteiro com o celular ligado. Caso
aconteça alguma coisa eu sempre estarei
acessível. Nunca pensei que ficaria tão
paranoico, mas, poxa, são três bebês.
– Oi meu amor, tudo bem com vocês?
– Perguntei assim que vi na tela a foto
de minha ruivinha.
– Por enquanto estamos muito bem,
papai. – Ela agora me chamava assim. –
Liguei para avisar que vou sair mais
cedo hoje.
– Eu vou lhe buscar quando sair, me
mande uma mensagem.
– Não... Eu vou sair com Angel e
Ramona. – Pronto, agora vai ser uma
briga.
– Não acho uma boa ideia, ruivinha.
– Eu tento ser compreensivo. – Você está
enjoando demais e...
– Amor, eu estou ótima! Eu e as
meninas vamos fazer compras, sem falar
que eu acho que Max vai conosco...
– Então eu também vou!
– Mas você odeia shopping, querido!
– Desde quando meu ódio por um
shopping idiota é mais importante que
minha mulher e meus filhos? – Eu
respondo um pouco grosso, mas logo me
acalmo. – Desculpa, estou nervoso.
– Tudo bem, então você vem me
buscar as seis.
Eu suspiro cansado e logo confirmo:
– Ok, cuide-se, por favor. Amo você,
ruiva.
– Também amo você, nervosinho.
Desligamos juntos.
Depois de aturar uma reunião chata,
aturando o mala do meu irmão e do meu
amigo me enchendo o saco, na qual tudo
o que eu pensava era em estar nos
braços da minha mulher. Tudo que eu
queria era estar nos braços da minha
esposa.
– Nem mandou meu beijo para a
minha cunhadinha. – Meu irmão sorri, e
eu tenho vontade de arrancar esses
dentes. Desde que descobrimos a
gravidez, eu fiquei bem mais
possessivo.
– Vai pro inferno, Alex!
– Ihhh, melhor ficar quieto Alex, hoje
ele está pior que todos os dias! – Agora
foi Max.
– Vocês dois não tem o que fazer,
não?
– Tudo isso é por causa da gravidez,
irmão? Relaxa aí. Estamos todos felizes
pelos três que vem por aí.
– Eu sei, eu sei. Estou nervoso, cara,
são três! Três crianças para educar...
Estou mortificado.
– Estranho seria se não estivesse.
Eu estou apavorado desde o dia em
que eu descobri, através de um papo de
cozinha, que minha esposa estava
grávida. Minha mulher foi bem sutil
nesse dia, talvez nem tanto. Além de
comer gelo e omelete de maça, ela
apenas lançou no ar como quem fala do
placar de um jogo: “Estou grávida” e
agora eu sou um feliz e apavorado pai
de trigêmeos.
Ontem estávamos conversando sobre
nomes, mesmo sendo cedo, queríamos
ter tudo preparado antes de sabermos os
sexos. Eu havia feito duas listas com
alguns nomes.
Zachary, Christopher, Matthew,
Adam.
Esses nomes para menino e apenas
Zoey para menina. Eu tinha esse nome na
cabeça desde adolescente, eu sempre
dizia que, se tivesse uma filha, ela teria
esse nome. Roxanne até gostou, mas
tinha suas sugestões também. Nós
iríamos debater isso, mais tarde,
deitados em nossa cama. O mais
importante para mim é que eles estejam
protegidos e saudáveis, bem como a mãe
deles. E aqui eu faria de tudo para
protegê-los. E que venham mais seis
meses... Porque, na minha cabeça, tudo
que eu conseguia pensar era em estocar
uma enorme quantidade de fraldas.
Capítulo 28

Bônus
Dois anos Mais do Que Perfeitos

Richard acordou, alegre e ansioso,


não era todo dia que fazia dois anos de
casamento com a mulher de sua vida.
Roxanne ainda dormia num sono pesado
e aconchegante, ultimamente ela tem
dormido mais do que gato de pensão.
Richard desceu as escadas vestido
apenas com uma calça moletom e a
camiseta branca amarrotada.
Susan estava sentada na bancada da
cozinha já tomando seu café, como fazia
todas as manhãs, odiava tomar café
sozinha em sua casa. Desde que se
mudou para Nova York, sua rotina tem
se revelado bem mais alegre, já que
continuava a cuidar de seu jardim e
podia mimar suas afilhadas e a
sobrinha-neta, Hope, que já contava três
anos, e era muito esperta. Adorava
ajudar a “bobó” a cuidar das flores.
Com um sorriso enorme no rosto,
Richard sentou-se junto a tia e serviu-se
do café da manhã que a mesma
preparou, já que a moça que cuidava da
cozinha estava de folga nesse fim de
semana.
— Bom dia, tia! - Richard tomou um
gole de seu café, e Susan sorriu para o
sobrinho. — Acordada tão cedo?
— Ramona pediu que eu fosse ficar
com Hope, ela está febril e Ramona
precisa trabalhar, então eu ficarei com
ela. - Susan respondeu com um pesar no
rosto. — Não gosto de ver minha
pequenina doente, me corta o coração.
— É só uma gripe, ela já foi
medicada e agora precisa do carinho da
vovó. - Richard sorriu mais ainda. —
Hoje eu e Rox fazemos dois anos de
casados!
— E eu não sei?! Aquele dia é difícil
de esquecer, o casamento de vocês foi
lindo!
Comendo as torradas que estavam em
seu prato, Richard apenas piscou com
um dos olhos. Susan sorriu e levantou-
se, pegando a bolsa que estava sobre a
outra cadeira.
— Bom, estou indo. Acorde sua
esposa e faça-a comer alguma coisa, ok?
- Susan repreendeu com olhar o que
pensava. — Ela está comendo quase
nada e anda sonolenta demais.
— Estou preocupado também, mas
não vou tocar nesse assunto ou levarei
uma frigideira na cabeça. - Os dois
gargalharam até se darem conta de
Roxanne estava parada no arco da
parede da cozinha.
— Que tal a frigideira agora, hein
amor? - Roxanne fez cara de brava e
seguiu para a geladeira. — Acordei com
vontade de comer gelo, estou salivando.
— Gelo? Amor, você está bem? -
Richard agarrou a cintura da mulher, que
já pegava a bandeja dos gelos no
congelador.
— Eu estou ótima. Deixe-me chupar
meu gelo em paz, por favor. - Susan
apenas riu e despediu-se dos dois com
um aceno, saindo em seguida.
Com a bandeja de gelo em cima da
bancada, Roxanne chupou uns cinco
gelos e depois devolveu a geladeira,
pegando alguns ovos e duas maçãs.
Entregando tudo nas mãos de Richard,
ela fez biquinho.
— Faz uma omelete para mim, amor?
- Richard olhou para os ingredientes que
estavam em suas mãos e a encarou
incrédulo.
— Você acordou com a corda toda
hein!
— Eu diria com a fome toda! - Ela
riu.
Richard preparou o tal de omelete de
maçã como Roxanne queria. Esta, já
estava sentada na bancada, vestida com
uma blusa do marido, e foi servida em
seguida. Richard colocou sobre o prato
da mesma, que sorriu para ele
agradecida.
— Você é o melhor marido do
mundo, obrigada! - Beijou a boca dele
num selinho rápido e logo deu a
primeira garfada na omelete. — Hum,
está delicioso.
— Delicioso está ver você comer
com tanta vontade. - Ele sorri sentando
ao lado dela, tocando de leve o braço
dela. — De onde surgiu esse apetite
todo?
— Se eu disser que estou grávida, o
que você vai fazer? - Roxanne olhou
para o marido e sorriu, Richard ficou
estático. — Rich?
— Grá-grávida? - Ele repetiu. – Deu
certo?
— Se você está falando das nossas
tentativas, eu diria que você me
engravidou na primeira semana que
pensamos em ter um bebê. Eu estou, tipo
assim, muito grávida. Com enjoos, sono
e muita, mas muita fome. - Ela disse e
abriu o mais lindo sorriso. — Parabéns
papai, feliz dois anos!
— Esse é o melhor presente que você
poderia me dar! Meu Deus, vamos ter
um filho! Eu vou ser pai! - Richard
repetia animado.
— Sim, sim e sim! - Roxanne apenas
ria e afirmava tudo.
Enfim, tudo que eles queriam estava
se realizando e melhor que completar
bodas de algodão, era saber que dentro
de alguns meses eles seriam pais.
Porque quando o amor de duas
pessoas não cabe no peito, nasce uma
outra vida. Ou melhor, triplica. Mas isso
é outra história.
Capítulo 29

Bônus

Max não fora criado com amor, seus


irmãos não eram tão próximos, seus pais
não eram exemplo de simpatia, mas, nem
por isso, Maximilian cresceu revoltado
ou cheio de rancor. Quando completou
vinte e um anos, formou-se e arranjou o
primeiro emprego, saiu de casa na
primeira oportunidade. Sempre
almejando crescer e tornar-se diferente
da família. O menino cresceu, tornou-se
um grande homem, conheceu a
batalhadora Angelina e formou sua
própria família.
Ainda assim, aquela mágoa existia.
Por ser o único filho rejeitado, Max
nunca entendeu porque seus pais não
ligavam nem para dizer '‘oi’'. Os irmãos
Hector e Juan também não eram
próximos, então não podiam ser
chamados de irmãos. Para ele, tal título
só poderia ser destinado a Alexander e
Richard, seus irmãos e melhores amigos
que não precisavam partilhar do mesmo
sangue.
A visita inesperada dos pais deixou
Max e Angelina embasbacados. Os avós
nem mesmo vieram para o aniversário
da neta, sempre diziam estar ocupados
demais viajando o mundo.
— Minha querida, eu adorei sua
decoração. - A 'sogra' de Angelina, a
primeira vez que entrou no lindo
apartamento do filho, observou até a
areia dos vasos na janela da varanda. -
Só acho que você deveria comprar mais
coisas de valor.
— Eu não preciso de coisas de valor,
eu já tenho minha filha e meu marido,
que são as maiores preciosidades que
poderia tenho na vida. - Angelina bufou
com a sogra. — E pare de tentar
demonstrar que se importa com a minha
casa e meu marido, por que sei que a
única coisa que te interessa é o dinheiro
do seu filho!
— Olha como fala comigo, mocinha!
Sou a mãe do seu marido! - A sogra
falou levantando a voz e Angelina
colocou o dedo no rosto da mulher. Max
estava conversando com o pai no
escritório e não viu a cena. — Bem vi
que você não tem classe!
— Você não é mãe. Mãe se preocupa,
mãe liga para saber do filho, mãe dá
carinho, mãe ama incondicionalmente,
sabe quando seu filho sofreu um
acidente. Você não perguntou nem se ele
estava bem, isso é ser mãe!? Sinto muito
querida, mas o meu Max não precisa do
seu 'amor' de mãe e muito menos do pai
interesseiro!
— Você é muito insolente, garota! -
Cuspiu a velha.
— Pode arrumar suas coisas e sair da
minha casa, eu não quero nem ver sua
sombra e meu marido não vai lhe dar
mais nenhum centavo, está ouvindo!? -
Angelina percebeu a presença do marido
e do pai.
— O que está acontecendo? -
Perguntou Max. Sabia que Angelina
tinha pavio curto e a mãe odiava quem
lhe contestasse.
— Essa sua mulher me ofendeu!
Onde já viu uma sem classe dessas
colocar o dedo na minha cara como se
mandasse em alguma coisa! - Bufou a
velha.
— E ela manda em absolutamente
tudo que há nessa casa! Se ela disse
umas poucas e boas para a senhora,
deve ter merecido. Afinal, o que vocês
vieram fazer aqui!? Ah, espera... Eu
posso adivinhar. Pedir dinheiro?
Acabou o tal cruzeiro e vocês precisam
de mais, não é? Para isso que eu sirvo?
Pois acabou a farra. Vocês não vão
receber mais um centavo meu! Se
quiserem, peçam aos seus amados filhos
ou trabalhem para conseguir! No mais,
eu os quero fora da minha casa e,
principalmente, fora da minha vida!
— Isso é jeito de falar com seus pais,
moleque? - O velho pai abriu a boca
dessa vez.
— Ok, eu vou ser generoso. Dou um
salário mínimo para vocês todo mês,
'papai'.
— Um salário? Você enlouqueceu
menino? Essa quantia não é suficiente
nem mesmo para comprar uma bolsa,
quanto mais pagar nossas contas!
— É isso ou nada. Agora por favor,
vão embora!
— Então é assim? - Perguntou a
velha. — Vai deixar seus pais na rua da
amargura?
— Vocês moram numa mansão. Por
que não pedem para os idiotas do
Hector e do Juan para satisfazer suas
vontades? Se quiserem ainda alguma
coisa de mim, será isso, apenas isso.
Afinal, Vocês nunca me consideraram
como parte da família, e eu nunca me
considerei filho de vocês. O único
orgulho que me advém dessa ‘família’ é
o sobrenome Ferrati, que veio dos meus
avós.
Os velhos saíram desejando que o
filho mais velho fosse amaldiçoado e
perdesse toda sua fortuna.
— Amor, como se sente? - Angelina
perguntou ao ver o marido com o
semblante triste.
— De verdade? - Max suspirou
cansado. — Queria que fosse mentira e
que eles me amassem realmente.
— Eu sei, mas você sempre terá a
mim, e a nossa filha. Nós,
verdadeiramente, te amamos. - Angelina
beijou o pescoço dele.
— E isso é o que me mantêm vivo.
Capítulo 30

Você?!

Martin Castellar havia deixados os


planos de sequestro de lado, pensando
melhor, resolveu se infiltrar novamente
em ‘sua’ família. Mal sabia ele que
Richard e Alex sabiam que ele desviava
dinheiro da empresa. Claro, que os anos
tentando burlar sofisticado e moderno
sistema de segurança elaborado por Max
não estavam sendo fáceis. O homem
ficara furioso quando descobriu que não
poderia mais desviar nada da empresa
que um dia foi sua.
Sua nova estratégia era: aproximar-se
de sua neta, fingindo-se de vovô
preocupado e ganhar a confiança do
filho biológico.
Tentar incluir-se na família não seria
uma tarefa fácil. Ficara sabendo através
de Briana, que mesmo conformada em
perder Alex, continuara vigiando os
passos e as notícias a mando do velho, o
que saia na mídia. As informações eram
mínimas, pois, muito pouco, Alex e
Richard deixavam escapar. A gravidez
de Roxanne era sigilo absoluto, assim
como o novo software da empresa que
seria lançado amanhã.
***

— A festa de lançamento está


marcada para amanhã, o Buffet já foi
confirmado, os jornalistas já foram
contatados e os fotógrafos oficiais
também, assim como os convites foram
entregues semana passada. – A
secretária de Richard chegou falando
pelos cotovelos e o empresário só riu
depois que a moça terminou e respirou.
— Desculpe Richard, estou ansiosa.
— Tudo bem, eu também estou. E a
segurança, tudo certo também? Quero
essa festa bem assegurada, o novo
software custa bilhões e não quero que
nenhuma pessoa indesejada burle nossa
segurança. – O empresário respirou
fundo. — Estou saindo para almoçar,
volto mais tarde e, qualquer coisa, eu
estou no celular.
Richard pegou a pasta e as chaves do
carro e saiu rumo ao trabalho da esposa,
assim que Roxanne entrou no carro, os
dois rumaram para a casa dos irmãos,
haviam combinado de almoçar juntos.
Alex saiu mais cedo porque Hope ainda
estava doente e ele não gostava de
deixar a mulher sozinha com a criança.
— Olá, meus queridos! Entrem, por
favor! – Ramona abriu a porta e os dois
entraram e viram um monte de
brinquedos espalhados no tapete da sala
e uma Hope adoecida recusando-se a
brincar com o pai.
— Cadê a garotinha do titio, hein? –
Richard foi em direção a pequena e a
pegou no colo. Hope sorriu e
aconchegou-se ao colo do tio. — Como
ela está?
— Sem febre, mas está comendo
pouco e não quer brincar de jeito
nenhum. – Alex respondeu ao irmão.
— ‘Quelo’ leite mamãe. – Hope
pediu ainda no colo do tio. — Com
‘colocate’
— Leite com chocolate, meu amor? A
tia Roxanne vai fazer para você!
— ‘Bigado’ – Agradeceu a garotinha
do seu jeito.
Já na cozinha, enquanto Ramona
cuidava do almoço, Roxanne batia o
leite com chocolate da sobrinha.
— Como estão os meus sobrinhos? Já
está dando para ver alguma coisa, talvez
por serem três.
— Pois é, espelho, já me sinto muito
mãe, sabe? Estou louca para senti-los
mexer! – Roxanne disse animada.
— É uma sensação incrível! Estou
tão preocupada com a minha garotinha,
irmã. – Ramona falou com o semblante
abatido.
— É só uma virose, o médico não
falou? – Roxanne abraçou a irmã de
lado, passando-lhe tranquilidade. — O
remédio está fazendo efeito, ela já pediu
leite com chocolate!
— Verdade, se essa menina pudesse
ter falado quando nasceu, diria que
queria mamar leite com chocolate, ela e
Alex são viciados nisso! – As duas
riram e voltaram a sala.
Pegando a filha do colo do cunhado,
Ramona deu a mamadeira à criança, que
começou a tomar tudo animada.
Adormeceu no colo da mãe e o pai a
colocou no berço-cama. Os adultos
almoçaram felizes e animados e falando
sobre a festa que seria amanhã.

***
A festa contava com muitos
seguranças ao redor do grande salão. A
Castellar & Ferrati Technology é a mais
conceituada do país e quiçá do mundo,
então o mais novo software seria
cobiçado. Richard subiu ao palco para
dar início as festividades e ao
lançamento.
— Boa noite, todos aqui sabem quem
eu sou, então, vamos ao que interessa.
Nossa empresa hoje estará dando um
grande passo para o mercado
internacional, o novo Software Infinity
dará sofisticação e mais segurança para
o nosso mundo tecnológico e também
deixará os hackers de cabelo em pé. –
Todos riem no momento. Roxanne
acaricia a pequena barriga e Richard
sorri para ela. — Além disso, eu
gostaria de agradecer a todos que se
empenharam no desenvolvimento desse
novo produto, meus sócios Max, Alex e
aos nossos diretores de produção, foram
dois anos de muito trabalho e estudo
para lhe apresentar um produto
impecável. Com vocês, o Infinity da
FCT.
Todos batem palmas e os slides
aparecem no telão imenso, mostrando o
design e todo o processo de
desenvolvimento do novo produto.
— Estou orgulhosa de você, meu
amor! – Roxanne colocou os braços em
volta do pescoço do marido e beijou de
leve sua boca. — Aliás, nós quatro
estamos!
— Os pombinhos vão me desculpar,
mas irmão, temos que ir falar com
nossos investidores! – Alex chegou
próximo ao casal e puxou o irmão. —
Voltamos já.
Roxanne e Ramona ficaram
conversando e nem viram quando Martin
Castellar chegou próximo a elas. Com
uma arma nas mãos, encostou o gatilho
nas costas da mulher de Richard.
— Vocês vão sair de fininho dessa
festa comigo e eu não estouro a barriga
dela. – Roxanne tremeu nas pernas, mas
fez o que ele pediu, seguindo para o
lado de fora, ela e Ramona saíram sem
chamar atenção, já que estavam perto de
uma das saídas.
— Quem é você e o que quer?! –
Ramona perguntou.
As duas estavam com medo, mas não
poderiam demonstrar.
— Jura que não sabe quem eu sou,
norinha? – As duas se entreolharam. —
Vou acabar com a festa dos meus
queridos filhos, ou melhor, do
bastardinho e do meu filho. A vingança
nunca foi tão saborosa.
— Você é louco! – Cuspiu Roxanne.
— Você ainda não viu nada, querida.
O velho jogou as duas dentro do
carro e as duas surpreenderam-se ao ver
que o dirigia.
— Você?! – Ramona gritou.

***

— Richard, onde estão Roxanne e


Ramona? – Alex perguntou ao irmão,
assim que ambos percorriam o salão
com o olhar para procura-las. — Elas
estavam bem aqui.
Max chegou apressado até os dois.
— Acabaram de me informar que a
segurança foi burlada!
— Onde está a minha mulher,
Maximilian? – Richard perguntou
segurando o amigo pelo colarinho.
— Sinto muito. Pelas imagens das
câmeras, mesmo que não tão definidas,
tudo leva a crer que elas foram levadas.
—Elas? – Alex falou temendo a
resposta.
— Roxanne e Ramona... As imagens
mostram as duas sendo jogadas num
carro escuro, os seguranças ainda
tentaram alcançar, mas perderam o carro
de vista!
—Foi ele! Tenho que certeza que foi
aquele velho asqueroso!
— O nosso pai?
—O seu pai, Alexander. Eu não sou
filho do Martin!
Capítulo 31

Pesadelo.
Roxanne

Havia quase um dia que fomos


sequestradas. Ramona estava chorando
baixinho e eu implorava para que
Richard, ou quem quer que fosse, tivesse
visto o momento em que fomos jogadas
naquele carro. Meus bebês mexiam
bastante, o que era bom, pois só assim
eu teria certeza de que estavam bem. Eu
teria que ser forte por eles.
Jogaram-nos num local sujo. Havia
dois colchoes velhos e empoeirados,
paredes úmidas e com enormes manchas
esverdeadas indicavam um forte sinal de
infiltração. O local fedia a lixo e a
chorume, e o que eu mais temia era que
ratos aparecessem, eu estava vivendo
um pesadelo.
Eu me preocupava com o meu
marido, meu cunhado, meus amigos.
Preocupava-me com eles pensando em
como nós estaríamos e com o que diabos
o pai deles tem na cabeça.
O pior não era estar grávida e
sequestrada, era saber que minha irmã
também está e que nós estávamos nas
mãos de gente maluca. Ramona havia
descoberto a segunda gravidez há alguns
dias. Somente minha madrinha e eu
sabemos, e ela iria contar ao marido
depois da festa.
Como iriamos imaginar que nosso
sogro morto-vivo iria nos sequestrar?! E
muito menos com a ajuda da louca da
Briana.
—Tenta ficar calma, Mona. Pelo seu
bebê. – Eu toco minha irmã
cautelosamente, ela mal reage, creio que
ainda está em estado de choque. Os dois
loucos haviam nos jogado nesse lugar e
até agora não voltaram, ou nem mesmo
tinham saído, não tínhamos como saber.
Poderia ser tudo uma armadilha.
— Você tem três nessa barriga e
ainda me pede calma? Não vou ficar
calma, Rox! Quero meu marido, minha
filha! – Ramona chora ainda mais.
Roxanne teria que manter a calma pelas
duas. — Eu quero sair daqui!
Abraçamo-nos e ficamos encostadas
à parede, na tentativa de nos proteger,
mas somente Deus nesse momento para
nos proteger. E o que restava era orar e
pedir a Ele.

***

Richard
— Eu não quero saber o que caralho
você vai informar às delegacias locais,
Delegado! Eu quero a minha esposa e
minha cunhada, não interessa que porra
nós vamos fazer! – Eu esmurro a mesa
com uma força descomunal, sentindo-me
inútil naquele momento. Alexander
passa pela porta que nem uma bala me
deixando ainda mais furioso. — O que
foi dessa vez, Alex? Fique calmo, quer
ser preso por desacato? Contenha-se!
— Alguns anos atrás, com a ameaça
da Briana sobre a minha família, eu dei
a Ramona um colar com uma borboleta.
Ela não sabe que há nele um dos nossos
rastreadores, lembrei agora! Eu procurei
pelo aplicativo, como não fazia há anos.
Ele estava dentro da minha gaveta no
escritório. Se ela estiver usando o colar,
como eu acho que está, as nossas
mulheres estão nesse endereço aqui. –
Alex aponta para o pequeno aparelho
trazido consigo e minhas esperanças
aumentam nesse mesmo instante.
— Porra Alex, eu te amo! – Eu o
aperto como se fosse tirar seu ar, eu amo
esse bastardo filho de uma mãe, ele é um
gênio.
— Me solta que eu gosto dos apertos
da minha esposa, não de marmanjo!
Vamos atrás delas!
— Fazenda Castelo de Pedra... Foi
nessa porra de lugar que aquele louco
enfiou nossas mulheres!?
— É a antiga fazenda dos nossos
avós. Ela está abandonada há décadas!
— É para lá que nós vamos!
Retiro minha arma da gaveta. Alex
faz o mesmo. Nós não éramos policiais,
mas tínhamos nossas armas como meio
de autoproteção. Somos ricos, com a
violência que está o mundo hoje, nunca
saberíamos quando precisaríamos usar
uma delas, mas, sabíamos, elas eram
necessárias agora.
Em meu carro, tenho Alex ao meu
lado. As viaturas seguiam para o mesmo
local. Max havia ficado na empresa
aguardando notícias. Quase uma hora
dirigindo, eu avisto a cerca da fazenda,
em condições visivelmente deploráveis.
Minha única preocupação nesse
momento é o bem-estar de minha mulher,
meus filhos e da minha cunhada, mas, se
esse velho passar na minha frente, eu
vou acabar com ele.
Sem fazer muito barulho, deixamos
os carros do lado de fora, e eu logo vejo
um carro vermelho do lado de fora da
construção antiga.
— O que o carro da louca da Briana
está fazendo aqui?
Alex olha para mim e pergunta como
eu soubesse que caralhos era a cor do
carro dessa maluca.
— Essa vadia deve estar metida até o
pescoço na loucura do seu pai! – Eu
rosno furioso, só aumentando a lista de
assassinatos a cometer na minha cabeça.
— É o seguinte: Alex e eu vamos
pelo lado direito e vocês vão pelo
esquerdo, lembrando-se de que há duas
reféns. São nossas esposas, eu não quero
nem um risco nelas, ok? – O delegado
do caso me olha como se quisesse que
eu acrescentasse alguma coisa quando
eu estava assumindo as rédeas da
operação.
— Uma delas é a minha mulher e está
grávida. Muito cuidado com essas armas
apontadas para ela, estou sendo claro? A
outra é a mulher do meu irmão, tenham o
mesmo cuidado.
Os homens assentem e me seguem
pelo lado esquerdo, enquanto meu irmão
e o delegado vão pelo lado direito. Ao
longe posso escutar os gritos histéricos
e gasguitas de Briana. Eu vejo uma
janela quebrada e tudo que eu penso
nesse momento é em agir
cautelosamente, seguir meus instintos
friamente e é exatamente o que faço.
Derrubo a janela ou o resto dela e
entro na casa. Com a arma em punho
percorro o pequeno vão e vejo uma
porta a minha frente. Escuto murmúrios
e orações baixinho. Minha Rox, ela está
orando. Meu coração bate
descompassado, eu pressiono a porta
com força, como ela está velha, abre
facilmente e tudo que eu vejo é minha
cunhada agarrada a minha mulher,
amedrontada.
As condições daquele lugar me
deixaram enojado só de olhar. Minha
Rox abre os olhos e pisca para mim,
como se eu não estivesse ali e ela
quisesse ter certeza que eu não era uma
miragem.
— Rich? Richard? É você? Oh meu
Deus! – Eu corro até ela e abaixo-me
abraçando-a. – Eu tive tanto medo.
Tanto, mas tanto medo.
— Eu estou aqui meu amor, não tenha
medo! – Eu chamo Ramona e seu estado
é preocupante.
— Ela não reage, Rich. Está em
choque! Tenho medo que algo tenha
acontecido com o bebê! – Minha mulher
dispara e eu fico pensando de que bebê
ela está falando, Hope está segura.
Minha cunhada está grávida? Outra vez?
Merda!
— Ouvi vozes e quase não acreditei
que você pudesse ter encontrado esse
bendito lugar! – Martin Castellar estava
frente a frente a mim. — É um grande
prazer reencontrá-lo, filho.
— É uma pena que eu não possa
dizer o mesmo, papai. – Coloco minha
esposa em minhas costas e minha
cunhada mal se mexe, mas vale a
tentativa de protegê-las à todo custo.
Onde estão Alex e o delegado?
— Tudo seria tão diferente se sua
mamãezinha não tivesse me traído! –
Martin cospe ao dizer as palavras. —
Aquela vadia me traiu com meu sócio,
dentro da minha empresa, debaixo dos
meus olhos! Você é um bastardo!
— Eu posso ser até um bastardo, mas
tudo aquilo que você deixou na empresa,
só se tornou o que é hoje pelo meu
esforço e o de Alex. Mudamo-la
completamente, nada naquela empresa
pertence a você mais. E pouco me
importa se eu sou seu filho ou não, pelo
menos eu não tenho esse sangue doentio
correndo em minhas veias! Eu tenho a
minha família, Martin! Nada do que me
disser agora vai mudar o que penso!
Alex é meu irmão e nada vai mudar isso!
Deixe-as em paz, seu problema é
comigo! – Eu despejo tudo que está
engasgado e penso em distrai-lo para
dar tempo a Alex e os outros que estão
demorando demais.
— Corajoso você, hein? Eu criei
você bem, apesar de tudo!
— Cala essa boca! O seu lugar é na
cadeia, onde porcos, imundos como
você, merecem apodrecer!
— Martin Castellar, o senhor está
preso! Coloque as mãos onde eu possa
ver! – Até que enfim aquele maldito
delegado aparece e meu irmão vem logo
atrás, correndo para a esposa.
Ouço os gritos histéricos de Briana
sendo presa, mas a minha única
preocupação é minha ruiva.
— Acabou, meu anjo, acabou! – Eu a
aperto em meus braços sentindo seu
cheiro que, para mim continua o mesmo.
— E eles, estão bem?
— Sim, estão mexendo porque
ouviram sua voz. – Roxanne suspira
cansada, e eu respiro devagar, aliviado
por tudo ter terminado bem. – Richard,
eu quero sair daqui, tenho nojo deste
local, eu preciso de um banho e de
comida, muita comida!
Eu sorrio um pouco, em meio ao
caos.
Depois de sair daquela casa imunda,
a caminho do hospital, ela dorme em
meus braços. Alex não esconde a
preocupação pela esposa, que continua
em estado de choque. Chegamos ao
hospital e as duas passaram por exames
detalhados, estavam desidratadas e era
necessário que as duas ficassem
tomando soro para repor os nutrientes
perdidos pelo dia em que estiveram
naquele pesadelo. Alex ficou louco de
felicidade ao saber que seria pai
novamente. E eu, bom, acabei por
descobrir o sexo dos meus filhos.
Dois meninos e uma menina.
Nós mantivemos as duas juntas em
nossa casa, já que Ramona estava frágil
por conta do susto. Hope abraçou a mãe,
que chorou bastante ao ouvir a voz da
filha.
— ‘Ama’ mamãe. – Hope disse ao
abraçar a mãe que se encontrava deitada
na cama e chorava ao olhar para minha
sobrinha, mexendo em seus cabelinhos,
observando cada movimento seu. E eu,
olhava para minha esposa conversando
com nossos filhos. Hope, bem mais feliz
pela presença da mãe, falou — ‘Chola’
não, papai ‘ducéu’ vai ‘cudá’ mamãe e
‘didi’.
Preciso dizer que essa cena encheu
meus olhos de emoção?
Alexander segurava-se para não
chorar como uma “maricas”, mas, quer
saber, chorando ou não, nós éramos uns
filhos da mãe sortudos pra caralho!
Passado o susto, tudo que eu queria
era curtir minha família. Alex e eu ainda
teríamos uma conversa séria, mas para
mim nada ia mudar. Ele continuaria a ser
o meu irmão que vinha no meu quarto,
altas horas da noite roubar minhas
revistas Playboy.
Capítulo 32

Senhorita Nella Sue.


Richard

Após uma reunião fatigante, eu estava


a caminho de casa para continuar
auxiliando minha cunhada e meu irmão
nos preparativos do chá-de-bebê dos
trigêmeos, que agora tinham nome.
Matthew, Zachary e Zoey, os meus
pestinhas. Os nomes foram discutidos na
mesma noite em que ela saiu do hospital,
após o episódio de terror vivido por ela
e a irmã. Não quero nem pensar mais
nisso. Quero que aquele homem
apodreça naquele presidio. Hoje faz
quase três meses que vivemos aquele
dia.
Dou uma parada rápida numa
confeitaria para buscar o bolo que minha
amada encomendou, sempre recheado
com caramelo, como eu adoro. Soa gay,
mas eu amo caramelo. Após receber o
bolo, eu o coloco seguro no banco do
carro, porque, se alguma coisa acontecer
com esse bolo, Roxanne me come o
fígado.
Já no trânsito perto de casa, no meio
do sinal eu mando mensagem para um
amigo meu, avisando do chá, assim que
chego à minha casa, recebo a resposta
positiva. Matheo virá ao chá e trará uma
amiga, resta saber que amiga, tomara
que não seja mais uma de suas
“ficantes”ou seja lá o que chamam hoje
em dia.
Já na sala de casa, sou recebido pela
minha barrigudinha mais linda, Roxanne
está ostentando uma imensa barriga de
quase sete meses, e meus filhos são
extremamente espaçosos, basta alguém
chegar perto para eles animarem lá
dentro.
— Digam olá para o papai, crianças.
– E eu sentei em meu colo como todas as
manhãs desde que descobrimos a
gravidez. — Como foi seu dia hoje?
— Chutes, chutes e mais alguns
chutes, hoje eles estão animados! –
Respondeu minha linda esposa, com o
sorriso mais lindo no rosto. — Trouxe o
bolo?
— Está na cozinha.
— Amanhã será um dia muito bom,
eu espero. – Ela diz com alegria, eu
apenas assinto, realmente desejando o
mesmo.

***

O dia para nós já começou bem cedo,


Roxanne e Ramona estavam rodeadas de
amigas, Susan estava radiante ao ver a
felicidade das sobrinhas, Hope corria
brincando com meu irmão e ele
levantava a menina no ar e voltava a
correr com ela. Pai e filha pareciam
dois malucos.
Ouço o barulho de carro e vou até a
porta para receber mais um convidado.
Dessa vez me surpreendo ao ver
Matheo, meu grande amigo junto de uma
moça bem diferente.
— Matheo di Barbieri – eu o
cumprimento calorosamente, afinal
éramos grandes amigos, fora que ele é
um excelente advogado e nos
conhecíamos há anos.
— Como vai? – Ele me responde.
— Perfeitamente bem. – Respondo.
Observo a mulher mais uma vez, ela
parece ser bem tagarela.
— Esta é Violet – ele a apresenta,
pareceu hesitar em classifica-la. –
Minha amiga.
— Olá senhor Castellar. Sou Violet
Nella Sue.
— Senhorita Nella Sue – eu repito
seu sobrenome e a cumprimento. — É
um prazer conhece-la.
— Devo parabenizá-lo, o senhor
deve estar muito orgulhoso de ser pai, e
três de uma vez não é para qualquer um.
Vejo Matheo cutucar a mulher e eu
me seguro para não rir.
— Onde ela está, senhor Castellar?
— Quem? – Eu pergunto confuso.
— Sua buchudinha, ué? – Eu rio com
a espontaneidade da mulher, mas
continuo com jeito sério, tentando
manter minha pose de durão. – Quero
ver aquele barrigão.
Eu me divertia horrores com o rosto
das pessoas que chegavam e davam de
cara com o Richard durão, afinal, quem
me conhecia de verdade, sabia que eu
não era chegado a brincadeirinhas, Alex
sim, era chegado a brincadeiras de todo
tipo. Mas eu também não sou um cara
arrogante.
— Entrem, por favor. Roxanne está
na varanda com todos os outros.
— Espere um momento – observei
meu amigo abrir a porta malas e tirar de
dentro um enorme carrinho, sendo que
eu e Roxanne havíamos concordado em
doar os presentes tudo para a ONG,
apenas guardaríamos os presentes dos
mais chegados, Matheo era um
exagerado.
— Isso não era necessário – Eu sorri,
encarando o carinho que todos tiveram
com meus filhos, trazendo presentes
lindos, mas realmente o que queríamos
era a presença de todos. — A presença
de vocês já é suficiente.
Quando ele entregou o presente as
nossas empregadas, fomos até minha
radiante e iluminada esposa, que
conversava com as amigas
animadamente.
— Meu Deus, que barriga enorme! –
A mulher que veio com Matheo parecia
animada ao ver minha esposa, pedindo
envergonhadamente para tocar a imensa
barriga dela. Ela controlou a mão que
iria estender – Posso pegar?
— Claro. – Minha esposa assentiu,
mesmo espantada pela hiperatividade da
mulher, parecia feliz ao ser elogiada. –
Fique à vontade.
Como já era de se esperar, os bebês
mexeram animados, capturando a
atenção da senhorita Nella Sue.
— Isso é incrível, não é?
— Sim, - Minha esposa disse. –
Diferente e incrível.
— E você tem três! Uau, eu não sei
como consegue aguentar isso tão bem.
— Você é mãe? – Minha esposa
perguntou a Violet, acho que é esse seu
nome.
— Não, não sou.
Matheo observou a amiga falar e
parecia pensar em algo.
— Gente, eu nem me apresentei – ela
estendeu a mão a minha esposa. – eu sou
a Violet, eu vim com... – Olhou para meu
amigo e disse: – Aquele cara chato.
— Mas Matheo não é chato – Quem
chegou metendo-se na conversa agora
foi Alex, segurando Hope em seu colo.
– É insuportável.
Percebi um jogo de olhares e outras
coisas entre Matheo e Violet, mas
deixaria para perturbá-lo com perguntas
sobre isso depois. Quando começou o
jogo que minha cunhada havia
inventado, tanto minha esposa quanto a
senhorita Nella Sue saíram
extremamente pintadas de tinta. Os
homens observavam orgulhosos. Eu,
com certeza, estava babando ao ver a
beleza de minha mulher.
— Vou pegar um babador das coisas
dos seus filhos. – Matheo chega próximo
fazendo gracinha.
— Digo o mesmo para você,
Barbieri. A mulher é legal, doidinha,
mas legal. Vale a pena. – Eu digo sem
tirar os olhos de minha mulher, afinal,
era um conselho de amigo.
— Violet é um mistério que eu me
sinto atraído a desvendar. – Matheo diz
e eu rio.
— Bem-vindo ao time, cara! – Agora
ele me olha sem saber do que estou
falando.
— Time do quê?
— Dos bobos apaixonados que
precisam de um babador.
Nós dois rimos e continuamos a
observar a interação das mulheres,
depois das brincadeiras, vimos como a
senhorita Nella Sue tinha jeito com
crianças, minha sobrinha Hope ficou
encantada com a moça e as duas
brincaram até tarde, quando revelamos
os nomes dos bebês, foi aquela festa,
sem dúvida Matt, Zach e Zo seriam os
bebês mais paparicados.
Meus filhos estão chegando e eu
ainda estou apavorado, tenho que fazer
um intensivo de como trocar fraldas ou
dar banhos, ou vou acabar com meus
ternos sujos ou afogando minhas
crianças na banheira.
Após todos irem embora, ficamos na
casa apenas eu, minha esposa e meu
irmão e família, Susan foi para sua casa,
pois não gostava de ficar longe dela por
muito tempo.
Alex começou a brincar com minha
sobrinha até fazê-la cair no sono,
Ramona deu um beijo rápido em Rox e
subiu para ajeitar o quarto onde ela, o
meu irmão e a filha dormiriam essa
noite. Bom, Rox e eu passamos o resto
da noite imaginando como seriam os
rostinhos de nossos filhos. Eu, como um
pai idiota e convencido, apenas sorria e
sentia-os mexer, enquanto dizia o quanto
eu estava ansioso por tê-los junto a nós.
Assim dormimos: juntos, abraçados,
sentindo que a felicidade podia ser
palpável quando os remelexos que os
trigêmeos davam durante a madrugada
nos deixavam com um coração cheio de
alegria. Eu estava muito gay hoje, mas
só hoje.
Capítulo 33

Operação de guerra.

Aos oito meses de gestação, Roxanne


havia engordado pouco, apesar de ser
pequena e carregar três crianças dentro
de si, ela havia seguido todas as
recomendações para ter uma gravidez
saudável. Queria muito ter parto natural,
mas como eram três bebês, era mais
seguro fazer uma cesariana, que seria
marcada após completar oito meses.
Geralmente uma gestação de múltiplos
não chega até o final, mas parece que os
pestinhas de Richard gostam do forninho
da mamãe.
Matt, Zach e Zo já eram chamados
por apelido. O quarto estava pronto para
recebê-los. Richard estava louco para
saber se eles seriam ruivos como a mãe,
já que o ruivo é um gene dominante e,
por isso, sempre predomina.
Seriam lindos com certeza.
Ramona, grávida de quatro meses,
esperava por Maverick, outra menina. O
nome exótico, que significa
“Independente” tinha sido escolhido
quando ainda não sabiam se era uma
menina ou menino e optaram por um
nome unissex, nem preciso dizer que foi
Alex que sugeriu o nome da filha por
culpa do seu imenso amor por carros.
Ramona até tentou convencer o marido a
trocar o nome da menina, mas depois,
ela acabou gostando de como soava o
nome da pequena Mavi, já apelidada
também.
Em uma bela noite na fazenda da
família, Alex e Ramona estavam
deitados no sofá, ela encostada ao peito
dele, ele com as mãos na barriga
protuberante e Hope no tapete da sala,
espalhando seus brinquedos por todo
lado.
Richard tentava brincar com a
sobrinha, mas a mesma queria saber de
montar sozinha seu brinquedo.
Roxanne acariciava a barriga o
tempo todo, vendo a barriga ondular
com os chutes dos três pestinhas.
Aquela noite na fazenda era com
certeza a última com os três no forninho,
Zachary Louis, Matthew James e Zoey
Marie estavam prestes a sair do
aconchego do ventre da mãe.

***

Depois daquela noite, dois dias


depois os trigêmeos nasceram por
cesárea. Matthew nasceu primeiro,
seguido de Zachary e por último a
caçulinha Zoey. Os dois meninos
cabeludos como o pai e a menina apenas
com penugens ruivas, parecida com a
mãe. Lindos.
Richard não sabia se chorava ou se
ria de felicidade. Era tão extrema a
mistura de sentimentos que ele queria
sair gritando sua felicidade por todos os
cantos.
— São tão fofinhos que dá vontade
de apertar. – Ramona observa os
sobrinhos no berçário junto do marido.
— Parabéns, meu cunhado... Seus filhos
são lindos!
— Cunhadinha, só Deus sabe o
trabalho que essas crianças vão me dar!
A ruiva mal nasceu e já vi uns bebês
olharem para ela!
— Credo Richard, deixa de ser
paranoico! – Alex disse.
— Quero ver você com duas meninas
para ficar de olho! Pimenta nos olhos
dos outros é refresco, meu irmão!
Espera só Hope crescer e a Mavi nascer
e seguir na onda da irmã! Apresentar os
namorados...
— Cara, minhas filhas serão freiras!
— Vocês dois são malucos! –
Ramona interrompe o dialogo dos dois.
— Minhas filhas vão ser livres para
escolher seus caminhos!
— Em casa nós conversamos, mulher.
Após uma breve discussão, Richard
voltou ao quarto da esposa e a observou
dormir. Alex e Ramona voltaram para
casa porque Hope estava somente com a
babá e os dois tinham receio de deixá-la
muitas horas longe de si. Embora
confiassem na babá, preferiam ficar
sempre de olhos bem abertos.

***

Ramona acordou depois de uma hora,


com seus bebês chorando, pedindo
“pelo amor de Deus” que fossem
alimentados. Seria uma operação de
guerra dar de mamar aos pequenos.
Duas enfermeiras estavam a postos para
dar toda orientação e suporte. O pai dos
bebês ao lado, observando tudo.
Primeiro o mais esfomeado Zachary,
junto do irmão Matthew, a menina bem
calminha esperou a sua vez nos braços
do pai.
Depois de alimentados, voltaram ao
berçário.
Roxanne ficaria internada junto deles
durantes as setenta e duas horas exigidas
pela obstetra, os bebês e ela estão
saudáveis, as horas de observação eram
apenas para precaução.

***
Três dias depois, ela e as crianças
voltaram para casa, onde foram bem
recepcionados por Susan, que estava
emocionada ao ver seus sobrinhos netos
vestidos de forma igual, apenas com um
laço de fita definindo quem era a
menina. Vestidos de vermelho da
cabecinha aos pés.
— Oh meu Deus, que coisinhas mais
lindas! – Susan estendeu os braços para
Richard e pegou a princesinha no colo.
Zoey resmungava em seu sono, mas
gostou do colinho da tia avó. — Os
meninos têm seus olhos meu filho e ela é
a cópia da Rox!
— É por isso que vou ficar de olho
nessa menina, uma ruivinha dessas,
ainda bem que tenho dois garotos para
ficar de olho junto comigo!
— Isso vai ser divertido de ver! –
Alex falou.
— Vai rindo, quando chegar à sua
vez, vamos ver quem vai rir por último!
A família ficou curtindo as crianças
até os trigêmeos dormirem e todos
voltarem a suas vidas normais, claro que
na primeira noite, Richard se enrolou
todo trocando fraldas, pegando o bebê
errado e trocando o que estava limpo.
Depois desse dia, ele decidiu comprar
pulseirinhas que identificassem os três.
Roxanne, bom, essa só sabia rir.
Esse era seu final feliz.
Capítulo 34

Aquele tal de final


feliz realmente existe.
Roxanne

Observando meu marido correr atrás


dos nossos filhos, eu lembro o quanto
passamos até chegar aqui, lembro-me do
terror de passar por uma cirurgia de
risco, do sequestro onde meus pequenos
estavam dentro de mim e eu estava
assustada com medo de que pudesse
perdê-los. Hoje, graças a Deus, posso
vê-los saudáveis, crescendo a cada
minuto e felizes.
Os trigêmeos estão perto de
completar cinco anos.
Zachary é o mais ciumento dos
irmãos, Matthew é o mais carinhoso, e
Zoey a mais espevitada. Richard tem
pulso firme com os três, mas, quando a
turma se junta com Hope e Maverick,
tudo vira uma bagunça só.
Meu sobrinho mais novo Stephen,
graças a Deus, ainda não tem idade para
se juntar aos cinco, mas Deus tenha pena
de nós quando puder. Imagina juntar os
cinco, mais a chefe do grupo, Sophie.
Sophie é a única filha dos nossos
amigos Max e Angel, os dois não
tiveram mais filhos, talvez por opção
própria, mas ainda tem tempo de
aumentar o grupinho.
Observo Richard jogar Zoey para
cima com o coração na mão, enquanto os
irmãos o incentivavam a jogar mais alto.
Os três são muito unidos, brigam como
qualquer irmão, mas na hora de dizer
quem é o culpado, os três se defendem.
Meus pestinhas são os orgulhos da mãe.
Todos eles já têm planos para seu futuro,
e eu espero que cada um consiga o que
quer, estudando muito e sempre
almejando crescer com os próprios
esforços.
— Mamãe, mamãe! Vem nadar com a
gente! – Ouço um dos meus meninos
gritar por mim, que estou deitada
pegando sol.
— Vem, mamãe! – Agora foi a minha
princesa.
Eu, claro, vou de encontro a minha
família, direto para os braços do meu
marido mais do que perfeito. Richard
depois dos quarenta ficou ainda mais
belo, os fios grisalhos dão um ar mais
poderoso. Os olhos azuis mais incríveis
que eu já vi. Olhar que eu vejo nos meus
dois meninos.
Enquanto os três brincam, eu me
agarro ao meu marido gostoso, tirando
uma casquinha básica antes de começar
a gritaria dos meus filhos. Após um
beijo e outro, Zach vem me puxar junto
do irmão e nós começamos a mesma
guerrinha de água de todo fim de semana
em família.
Ouvimos o som de meus sobrinhos
correndo e logo vejo Hope pular na
piscina, seguida de seus pais, com minha
irmã segurando Stephen no colo. Atrás,
Max e Angel de mãos dadas e Sophie
correndo também até a piscina, minha
madrinha senta à mesa próxima ao deck
e nos observa sorridente, agora sim, a
família estava completa.
— Quem diria, que estaríamos aqui
juntos, desfrutando de um belo dia de
sol, junto de nossas mulheres e nossos
filhos e filhas? – Alex começar a falar.
— Éramos uns putos, não é mesmo?
— Diga por você, meu amigo. – Max
respondeu rindo.
— Melhor deixar o passado quieto!
— Alexander, se você quiser chegar
vivo em casa, acho bom calar essa boca!
— Mulher, estamos apenas
conversando!
— Vem cá, não chamaram Matheo
para a reunião? – Perguntei curiosa,
afinal, tanto ele quanto Violet eram
nossos amigos.
— Liguei para ele, mas o bastardo
disse que era perigoso sair de casa com
Violet ostentando aquele barrigão, o
pobre está em pânico com o nascimento
de Tory!
— Imagine Violet, que é maluca por
si só, grávida deve estar mil vezes pior,
o Barbieri está louco!
— Estou louca para ver a italianinha!
– Eu digo, afinal, Violet tinha se tornado
minha irmã. — Tory vai ser linda como
os pais!
— Hum, vamos parar de falar e fazer,
Alex você vai ficar com o Max e
Richard na churrasqueira, enquanto as
meninas e eu ficamos conversando e
cuidando das crianças!
— Bem justo, cunhada!
Alex ri, debochado. Eu me levanto,
arrastando meu marido e ambas fazem o
mesmo.
— Um recadinho antes de entregar
você àqueles dois. — Eu passo meus
dois braços em volta do pescoço do meu
marido e ele sorri. — Meu marido,
lindo e gostoso, juízo, ok? Estou de
olho, não ouça os conselhos malucos do
seu irmão, aquele lá veio com defeito!
Nós rimos e ele me beija a boca,
subindo até o pescoço e chegando
próximo ao ouvido, sussurrando:
— Minha ruiva mais do que perfeita,
obrigada por estar na minha vida e por
me dar três pestinhas agitados e lindos.
Eu amo você, Roxanne Castellar.
— Eu te amo mais, meu CEO mais do
que perfeito.
Epílogo

Conhecendo a
próxima história...
Stephen

Olá, meu nome é Stephen Petri


Castellar. Sou o filho mais novo dos
meus pais, Alexander e Ramona,
conhecem?
Pois é, os velhos são meus pais.
Tem também a minha irmã Hope, ela
é gente boa, e a nossa irmã do meio é a
Maverick, nome maneiro né!? O pai diz
que escolheu pensando no carro que ele
ama e eu achei isso irado. A chamamos
de Mavi, ela também é mais velha que
eu, elas estão na faculdade e eu estou no
ensino médio.
Eu estudo pela tarde, estou no
primeiro ano do ensino médio e, quer
saber, eu não tenho vergonha de dizer
que eu gosto de estudar! Eu tenho um
melhor amigo, ele é mais velho que eu
um ano, está no segundo ano, mas os
nossos intervalos são juntos e Daniel é
um pé no saco quando quer, mas eu
suporto dele.
— Como você consegue comer tanto,
hein? – Stephen perguntou a Daniel, que
devorava um sanduiche natural, depois
de almoçar um prato enorme de tudo que
havia no refeitório. – Parece um saco
sem fundo.
— Desculpa se você tem inveja do
meu corpinho sexy. – Daniel continuou a
falar de boca cheia enquanto Stephen
tomava apenas um café para permanecer
acordado durante a aula. – Fala sério,
você quer um tanquinho como o meu,
não é? Por isso toma só um mísero
cafezinho.
— Você sabe o porquê, Daniel. Não
se faça de bobo, não mais do que já é. –
Stephen sorriu irônico e Daniel deu-lhe
o dedo do meio, disfarçadamente. - Qual
das gatas vem te buscar hoje?
— Arrebento seus dentes se chamar
minhas irmãs de gatas, outra vez!
— Qual é, elas são lindas! Quer que
eu chame de que?
— Deixa só os meus cunhados
saberem que você as acha lindas.
Dessa vez o sorriso de Daniel
murchou, sabia que uma delas namorava
o primo, que era ciumento e que já não
tinha muita simpatia por ele.
Após terminarmos nosso lanche,
voltamos para nossas salas. Quando
finalmente a aula de Química acabou,
declaramos “estamos de férias” e
estávamos mesmo, passamos direto e
com excelentes notas. Podíamos dizer
somos nerds. Despeço do meu amigo e
logo avisto o carro de Hope na frente da
escola.
— E aí, tudo beleza? — perguntei a
ela, que, para variar, estava trocando
mensagens com o nosso primo, o
namorado dela.
— Tudo ótimo, Steph!
— Que horas vamos viajar?
— Ainda não temos um horário, mas
você vai comigo e o Matt. - Fiz uma
careta e ela me deu língua.
— Vou ser a vela dessa vez. Só
poupe meus olhos de ver você se
pegando com nosso primo.
— Que é seu cunhado também.
— Mero detalhe.
— Vamos seu chato.
— Chata é você.
Fomos cutucando um ao outro por
todo o caminho até chegar à nossa casa e
ver a reca toda reunida. Nossos pais,
irmãos, primos, tios, cachorro, papagaio
e etc… Fui direto para o meu quarto
arrumar a mala, já que viajaríamos para
a fazenda.
Meu tio Richard e minha tia Rox
aprovaram o namoro de Hope e
Matthew assim que eles contaram, meu
pai ficou um pouco receoso, ele era
muito ciumento e protetor. Tio Max não
gostou muito de saber que a filha
escondeu o namoro por algum tempo,
mas aceitou do mesmo jeito. Eu até
gostava de ter cunhados, mas odiava vê-
los se pegando pelos cantos. Ainda tem
Maverick, que arrumou um namorado
também, esse cursava Direito junto a
ela.
— Stephen, saia já desse quarto,
estamos prontos para sair! - Ouvi minha
mãe gritar pela milésima vez.
— Já estou indo mãe!
— Esse verbo eu conheço, desça
logo, já estamos indo para o carro.
Obedecer nunca foi meu forte, mas eu
até tentava. Gostava de ser um bom
filho, bom aluno e meus pais terem
orgulho. Meio maricas, mas é verdade.
No caminho inteiro da viagem eu fui
obrigado a ir escutando a música melosa
que Hope colocou no som do carro e
Matthew apenas mandava-me abaixar a
cabeça como ele e escutar, como dois
cachorrinhos. Fora isso e mais algumas
trocas de meleca entre os dois e
estávamos em Campo Azul, a fazenda
mais irada que eu já tive o prazer de
conhecer.
Desci do carro, pensando nas coisas
que eu iria fazer, minha mãe ia dar um
chilique se soubesse que eu estava
pensando em pular as cachoeiras, mas
então eu perdi o foco do estava
pensando quando vi os olhos mais
lindos do mundo.
Azuis, cristalinos...
Meu Deus, eu morri e vim para o
céu?! Que anjo é esse…
— Olá, bem-vindos a Campo Azul,
eu sou a Rachel, sua nova guia. -
Estendeu a mão para o meu pai, mas eu
fui mais rápido.
— O prazer é todo meu, anjo.
Preciso dizer o que aconteceu depois
disso? Ah, vocês vão saber em breve.
I Bônus

Amor de primo não


acaba nunca

Como as folhas, como o vento


Até onde vai dar o firmamento
toda hora enquanto é tempo
Vivo aqui; este momento!
hoje aqui amanhã não se sabe
vivo agora antes que o dia acabe!
nesse instante nunca é tarde
mal começou e eu já estou com
saudade.
me abraça, me aceita
me aceita assim meu amor...

(Amanhã Não Se Sabe– Ls Jack)


Zoey era uma menina difícil quando
adolescente, mas não menos que Hope.
A prima de Zo tinha praticamente o
triplo de rebeldia, mesmo agora com
mais de trinta anos, a mulher é osso duro
de roer.
Matthew, o primo, seu atual
namorado. Vive às turras com a mulher,
que colocou na cabeça que casar é brega
e que constituir família é mais brega
ainda. Ele, um romântico pior que o pai,
já levou duas negativas após os pedidos
de casamento e ainda não desistiu. Esse
é paciente.
Matthew havia assumido a empresa
do pai e dos tios juntamente a Sophie, já
que os irmãos não quiseram tomar posse
de nenhum cargo, e os pais se
aposentaram. Zach estava focado nos
estudos para o concurso público de juiz.
Zoey estagiava como professora numa
escola e vivia as brigas com o professor
de Matemática, Leonardo. Um brasileiro
de pavio curto que estava louquinho
pela ruiva.
Stephen, primo dos trigêmeos e irmão
de Hope estudava como louco para se
especializar em cirurgia pediátrica.
Trabalhava como residente num hospital
local e namorava a esforçada Rachel, a
mesma guia que ele conheceu anos atrás
em Campo Azul. A moça largou tudo no
interior para vir tentar a vida na cidade
e, com a ajuda do namorado, agora está
prestes a se formar em Veterinária, seu
sonho.
Steph, o menino que passava horas
trancado no banheiro de casa, fazendo
sei lá o que se tornara um homem bem-
sucedido e focado. Não poderia deixar
de anunciar... Os dois estão noivos.
Diferente do irmão, Zach formou-se
em Direito. Aos trinta e quatro anos,
casou-se com Sophie. A mulher, ao
contrário dele, cursou Economia e
comanda a empresa junto ao irmão. Os
dois trabalham diligentemente em tudo
que fazem, ainda mais agora, que as
circunstâncias mudaram e os dois serão
pais. Sim, Sophie está grávida de seis
meses e espera uma linda menina que
vai ser chamada de Tessa. Os dois estão
felizes e é isso que realmente importa.
A filha do meio de Ramona e Alex,
Mavi (como gosta de ser chamada),
namora o melhor amigo de Stephen. O
também médico, Daniel. Eles preferem
não rotular o relacionamento, já que
demorou bastante tempo até que os dois
se entendessem e conseguissem parara
de discutir.
Hoje era um dia especial, quer
dizer... Pelo menos, Matthew esperava
que fosse. Dessa vez, Hope teria que
aceitar seu pedido de casamento. Nem
que para isso ele precisasse de uma
mentirinha de nada.
A conversa com o primo Stephen lhe
rendeu ideias estapafúrdias e uma delas
seria colocada em prática. Matt fingiria
que estava doente, iria para o hospital e
ligaria para Hope inventando uma
história que nem ele ainda sabia. Mas
como disse o primo:
“Tem que dar certo”.
Às vezes o destino resolve dar um
empurrãozinho, ou melhor, uma
escorregadinha básica.
Na saída de sua sala, Matthew estava
tão ansioso para ligar para Hope que
não viu a placa com o aviso:
“Não pisar, chão molhado”.
Num momento de descuido, foi de
encontro ao piso, esborrachando-se no
chão liso. Com o susto, não deu para
amenizar o baque, tentando não se
machucar muito, o empresário colocou o
braço para se proteger e acabou
machucando o cotovelo.
Deus ensina: mentir é pecado.
Matthew foi escutar primeiro quem não
devia e se deu mal.
Já na emergência do hospital, o
moreno gemia de dor e Stephen só ria da
cara do primo.
— A boa notícia é que não houve
nenhuma fratura, apenas uma luxação, a
péssima é que eu vou ter que recolocar o
osso no lugar. – Daniel, mesmo em sua
postura de médico até deu uma risadinha
porque conhecia os dois, mas logo
voltou a se recompor. – E vai doer. Logo
aviso.
— Merda! – Matthew gemeu mais
uma vez, olhando para o primo,
resmungou: — A culpa é sua, seu porra!
— Minha nada! Você inventou, agora
aguenta! E vamos logo com isso, que eu
tenho que entrar no meu plantão! –
Stephen rebateu, sério.
— Vamos contar até três, ok? Um...
Dois... – Antes de chegar ao número
três, Daniel deu um puxão no braço do
homem, que gritou com o susto de ser
enganado. – Pronto, agora vê se não
arruma mais problema para mim, vou te
dar um anti-inflamatório e colocar uma
tipoia nesse braço.
Entre um gemido e um rosnado,
Matthew assentiu. Stephen conseguiria
apenas sorrir, e nem se deu o trabalho de
ligar para a irmã. Depois de todo um
sofrimento e drama, Stephen deixou o
primo em seu apartamento. Apenas para
ver Hope louca atrás de notícias dele, já
que o celular do mesmo havia
descarregado.
— Matt, meu Deus, o que houve meu
amor? – Foi a primeira vez que Matthew
via um semblante realmente preocupado
no rosto da mulher. Hope era tão fria
que as vezes congelava tudo. – Steph, o
que você fez com ele?
— Eu? – Stephen coloca a mão no
peito e dramatiza. – Ai mana, magoou!
— Stephen! Você não está vendo o
estado dele? – Matthew gemeu
dramatizando, sua chance realmente
havia chegado.
— Ele está ótimo. Mana. Eu tenho
plantão para começar, adeus. – Dando as
costas para os dois, ele rapidamente
falou – Boa sorte aí com sua dor de
cotovelo.
Rindo, o homem pegou o caminho de
volta até o hospital, deixando o casal a
sós.
— O que aconteceu, amor? Senta
aqui. – Hope ajuda o namorado a sentar
e olha para ele preocupada.
— Escorreguei na empresa e luxei o
cotovelo, nada grave. – Resmungou
Matthew. – O que está fazendo aqui tão
cedo?
— Vim buscar uns documentos com
você, esqueci aqui ontem.
— Hum...
— Está doendo, meu amor? – Hope
perguntou observando as caretas do
namorado.
— Um pouco.
— Vou cuidar de você.
E assim ela fez. Cuidou dele o dia
todo, nem voltou ao trabalho. Mesmo
com o braço dolorido, Matthew foi
trabalhar no outro dia. A cunhada
preocupada apareceu em sua sala na
mesma hora.
— Matthew James, o que você está
fazendo aqui desse jeito? – Sophie
entrou na sala com as mãos nas costas,
já segurando o peso da barriga.
— Trabalhando, cunhada. O que mais
tem para fazer aqui?
— Com o braço machucado?
— Não está doendo tanto assim.
— Hope me ligou e me mandou
chutar a sua bunda de volta para casa.
— Tão delicada.
— Como coice de mula. Já para casa,
Matt! – Sophie ordenou.
— Mandona!
— Sou dez vezes pior que sua
mulher.
— Grávida então, deve ser trinta
vezes pior! – Matthew se deu por
vencido e juntou os papeis na mesa. –
Fico me perguntando: como meu irmão
te aguenta?
— Porque ele me ama e mesmo
sendo um espelho seu, vocês dois são
um tanto diferentes. Graças ao meu bom
Deus! Mas são teimosos os dois.
— Vou tomar isso como um elogio.
— Deixe esses papeis, e vá para
casa. Sua futura esposa te espera.
— Futura esposa que nunca aceita
meu pedido de casamento.
— Algo me diz que hoje você pode
tentar a sorte.
Matthew sorriu e deu a volta na
mesa, só parou para ficar acariciando a
barriga da cunhada. Ele era o padrinho
de Tessa.
— Deseje sorte ao padrinho, pequena
Tess. – ela disse e assim saiu da
empresa, pedindo um táxi.
Quando chegou, Matthew encontrou
Hope usando apenas uma camisola,
lendo um livro.
— Que recepção... – Matthew beijou
a testa por trás do sofá onde ela estava.
— Até que enfim você chegou. Eu já
iria até lá puxar você pelo colarinho!
— Tão amável.
— Só com você, querido.
Depois de um banho, Matthew estava
sem a tipoia em cima da cama. Hope
aparece no quarto.
— Porque tirou a tipoia?
— Já estou ótimo!
— O médico disse uma semana,
Matthew!
— Um dia foi o suficiente.
— Teimoso!
— Vem cá, vem!
Hope, meio receosa, subiu na cama e
aconchegou-se nos braços do namorado.
— Matt... Eu... – Hope começou a
falar e Matthew não deixou.
— Shii...eu quero falar. – Matthew
sorriu. – Zangadinha da minha vida,
minha prima mais linda, meu docinho de
pimenta ardida, minha mulher de TPM
infinita, meu eterno amor... Casa comigo,
vai? Eu não desisti e não vou desistir de
você. Então, se você não aceitar hoje, eu
vou pedir todos os dias.
— Sim, Matthew James, eu caso com
você.
— O QUÊ? – Matthew gritou atônito.
— Seu bobo, eu disse sim.
— Estou com palpitações, ai meu
Deus!
— Dramático...
— Vai chover.
— Acho que alguém não quer um
sim...
— Parei.
— Você tem parafuso solto, homem!
— E você é minha chave de fenda,
mulher!
— Sabe de uma coisa? Eu estava
lembrando da nossa promessa de anos
atrás.
— Qual delas? A que fizemos aos
cinco anos de idade?
— Não. A que fizemos com quinze.
— E a que conclusão chegou,
priminha? – Brincou ele, sorrindo.
— Que amor de primo não acaba
nunca.
II Bônus

Ela une todas as


coisas

Talvez ela saiba de cor


tudo que eu preciso sentir
Pedra preciosa de olhar !
Ela só precisa existir
para me completar
Ela une o mar
com o meu olhar
Ela só precisa existir
pra me completar

Une o meu viver


com o seu viver
Ela só precisa existir
para me completar...

(Ela Une Todas As Coisas – Jorge


Vercillo)
Zachary teve uma surpresa ao chegar
à sua casa e encontrar a esposa deitada
no sofá. Ela dormia tão profundamente
que ressonava alto. Ele já estava
acostumado a chegar do trabalho e não
encontrar Sophie, que trabalhava até
mais tarde na empresa dos pais (Mesmo
grávida de seis meses, com a barriga nas
canelas). A mulher continuava com sua
vida normalmente.
Era muito estranho que a mulher já
estivesse alí. Assustou-se, então,
pensando ter acontecido alguma coisa,
mas ela dormia tão tranquila que logo a
preocupação não lhe rondou mais.
— Hum... Já chegou, amor?
— Acabei de chegar, linda.
Sophie acordou no momento em que
Zach tirava os sapatos, com cuidado,
para não acordá-la O que obviamente
não deu certo. Esforçando-se para
levantar do sofá, Sophie conseguiu
sentar, mas a cólica sentida no escritório
ainda estava presente.
— O que houve? – Perguntou Zach,
ajoelhando-se perto dela, soltando a
pasta em qualquer lugar.
— Uma cólica chata ao pé da
barriga. – Sophie era a calma em
pessoa, ao contrário dele que por
qualquer coisa já estava alarmado.
— Vamos agora mesmo ao hospital!
— Não precisa. Eu liguei para a
médica, ela só disse que eu me deitasse
e ficasse em repouso. Ela explicou que
são normais já que estou entrando no
terceiro trimestre.
— Não me sinto seguro com uma
ligação, Sophie. – Ele rosnou
preocupado. – É a sua saúde e a da
nossa filha que está em jogo!
— Eu sei, mas ela me tranquilizou.
Fique calmo, eu não quero discutir!
— Eu sei. Tudo bem... Desculpe.
Como está a minha princesa? – Tocando
com carinho, ele sempre conversava
com a filha, que correspondia com
chutes.
— Hoje ela está quietinha, mas
chutou bastante pela manhã. – Ela
suspirou cansada. – Seu irmão sofreu
uma queda hoje mais cedo.
— O Stephen mandou um vídeo dele
na emergência, o bastardo quase se urina
de medo de tomar uma anestesia. – Ele
riu se lembrando do vídeo. – Mas eu não
quero falar sobre o meu irmão, quero
saber das minhas mulheres. O que acha
de um banho quente e relaxante?
— Nós achamos ótimo, mas tem
alguém aqui que está com fome e das
grandes. – Sophie riu e lembrou-se de
não ter jantado. – Acho que tem lasanha
de ontem na geladeira.
— Me parece delicioso. Banho e
depois nós comemos. Pode ser? – Ele
perguntou já segurando as duas mãos
dela e ajudando-a a se levantar do sofá.
— Pode.

***

Completos os nove meses, Tessa


nasceu. Hoje, com quase onze meses, a
pequena Tess, como é chamada na
família, é o centro das atenções.
— Vem amorzinho, vamos cantar
parabéns para o papai e seus titios! –
Sophie pegou a pequena, que estava
brincando no chão. – Seu papai vai ter
uma grande surpresa, meu bebê.
— Eles já chegaram, So. – Mavi se
aproximou da amiga avisando que os
trigêmeos haviam chegado. Os três
foram enganados quanto à festa.
— Enganamos aos três, direitinho! –
Sophie riu junto da amiga, já andando
em direção à sala onde estavam os
sogros, pais, tios, enfim, a família toda.
— Adorei a surpresa, meu amor! –
Zachary veio agradecer a esposa com
um beijo caloroso e também pegar a
filha do colo dela. – Vem cá,
bonequinha.
— Parabéns, meu moreno!
A família cantou parabéns em volta
do bolo feito por Susan. Os trigêmeos
estavam fazendo trinta e quatro anos
com direito a balões e chapeuzinhos.
— Pessoal, eu quero dizer umas
coisas... – Sophie sorriu e pediu a
atenção de todos. – Primeiro eu gostaria
de desejar felicidades aos meus
cunhados, que vocês sejam abençoados
por Deus. Desejo muitos anos de vida e
sucesso. Ao meu trigêmeo favorito, meu
marido, pai dos meus filhos, eu tenho
somente que agradecer a Deus por tudo,
por sua vida, por me fazer feliz a cada
dia, são muitos anos juntos, Zachary, e, a
cada minuto que passa, eu amo mais
você. Hoje eu tenho um presente
especial. Acredito que as coisas não
acontecem por acaso, quando eu fui ao
médico três dias atrás, eu achava que
era uma consulta normal de rotina, mas
não. Eu descobri mais uma felicidade.
Quero dizer: duas felicidades. Eu estou
grávida, Zach., de gêmeos.
A mãe de Sophie chorava agarrada
ao marido, Max. Roxanne também
estava emocionada, assim como todas as
outras mulheres da família que estavam
a ponto de derramar rios de lágrimas.
Os homens seguravam a pose, mas
estavam apenas controlando as emoções.
— Gêmeos?! — Zach perguntou,
tentando assimilar o que a esposa havia
dito. – São dois?
— Não desmaie Zachary, pelo amor
de Deus! – Sophie pediu, vendo o
marido bambear nas pernas. – Querido,
seja homem!
— Mas eu SOU. Só estou chocado,
mas estou feliz demais! Esse foi o
melhor presente que eu poderia receber.
— Então espero que esteja preparado
para a próxima notícia... – Sophie riu e
levou a família junto aos risos. – São
duas meninas.
— Puta merda. Eu estou fodido!
III Bônus

Minha matemática é
você

Toda vez que você me toca


E diz que você me ama
Fico um pouco sem fôlego
Não deveria querer, mas é você...
(Problem – Ariana Grande)
Aos trinta e quatro anos, Zoey era
uma mulher trabalhadora. Depois de se
graduar em matemática, fazia pós-
graduação em Análise e
Desenvolvimento de Sistemas, à noite.
A mulher comandava diferentes áreas
da empresa de seu pai, mas o que
gostava mesmo era: dar aulas em escola
pública. Excelente professora de
cálculo, seu único problema era o
professor Castiel Stein, um mestre
quando o assunto era Matemática.
O homem, misterioso e sedutor, de
olhos verdes e corpo moldado. Castiel e
Zoey viviam discutindo, mas todos
sabiam que tudo isso era amor
reprimido. Zoey não dava o braço a
torcer, mas amava o professor desde que
o conheceu, há cerca de um ano atrás,
quando começou a dar aulas na pequena
escola.
Castiel era um homem marcado pela
dor de perder esposa e filho em um
trágico acidente, cuja única lembrança a
única lembrança é uma cicatriz na perna
esquerda. Zoey, por tanto o povo
comentar, já conhecia história, mas ela
não gostava de fofoca, então fingia não
saber de nada.
— Falando sozinha, Castellar? –
Castiel apareceu no campo de visão da
mulher, que estava perdida em
pensamentos, enquanto lia uma apostila.
– Olha que a idade avançada pode ser
um problema.
— Idade avançada é sua mãe, seu
cretino! – Zoey rosnou com raiva,
odiava essas brincadeiras de mau gosto
que ele tinha. – Você não tem aula para
dar?
— Depois do intervalo, ainda tenho
tempo para encher sua paciência. –
Respondeu, sentando de frente para ela.
– Então, problemas com quem dessa
vez?
— Meu único problema está sentado
na minha frente. – Zoey olhou bem
dentro dos olhos do homem e por um
instante, viu nada mais que um olhar
apaixonado e desviou. – Stein, você é
meu único problema.
— Bom saber que ocupo esse
patamar na sua vida. Fique sabendo que
eu sou um problema ótimo de resolver. –
Ele riu, deixando a professora ainda
mais fula da vida. Zoey sabia que o jeito
sarcástico e irônico era um disfarce.
— Você é sempre assim? – Perguntou
ela.
Suspirando cansado, ele respondeu.
— Lindo? Gostoso? – Ela bufou. –
Estou falando verdades.
— Castiel Stein, eu não sei se te
chuto o saco ou se te dou um soco! –
Zoey levantou da cadeira, o sinal havia
tocado. – Salvo pelo sinal.
— Haverá outras oportunidades,
querida Zo.
Odiava quando ele a chamava de Zo.
Ironicamente, esse era seu apelido na
família. Aliás, a família gosta de um
apelido. Deixando o professor sentado e
sozinho, pegou suas coisas e foi dar sua
última aula do dia.
Castiel apenas ficou lá, observando a
professora mais linda e zangada que ele
já conhecera na vida. Zoey,
inconscientemente, rebolava ao
caminhar, deixando o professor ainda
mais louco. Castiel estava beirando os
quarenta, mas sua aparência era boa e
ele facilmente passaria por trinta. O
professor saiu de seu lugar e também foi
dar sua aula.
***

— Que merda! Mil vezes merda! –


Zoey xingou pela milésima vez, quando
observou o pneu de seu carro furado. –
Que adianta ter um carro de merda como
você, hein, Minion?
Ouviu risadas ao fundo.
— Falando sozinha de novo,
Castellar? – Perguntou Castiel, olhando-
a discutir com o New Beetle amarelo. –
Quem chama o carro de Minion?
— Não venha com suas gracinhas,
Stein! – Rosnou ela.
— Essa é a primeira vez que vi
alguém discutir com um carro, você acha
que ele vai responder? Ele é um
Transformer? – Perguntou ele, rindo.
— Transformer vai ficar seu rosto
quando eu arrancar essa pele! –
Ameaçou ela, já querendo voar no
pescoço dele.
— Calma professora. Sem ameaças
ao meu lindo rosto. – Tocou seu rosto
tentando protege-lo. – Quer uma carona?
Eu moro perto de você mesmo.
Qual é? Era só uma simples carona.
Tudo bem que era com o professor que
ela amava e odiava ao mesmo tempo,
mas ainda assim não havia nada demais
em uma carona.
— Tudo bem, eu aceito. – Zoey
suspirou cansada, já era tarde e ela
queria chegar logo em casa para
descansar antes da aula à noite.
— Então, vamos ao meu
Transformer. – Ele apontou para o Audi
preto, estacionado próximo ao carro
dela. – Sabe Castellar, eu também falo
com ele, principalmente quando levamos
mulheres gatas nele.
— Você é um cafajeste, Stein. Vamos
deixar de conversa, estou cansada e
ainda tenho aula a noite.
Entrando no carro, os dois foram
calados o caminho todo. Quando Castiel
estacionou em frente ao apartamento
dela, ele suspirou.
— Castellar, você é a única mulher
que esse carro me escuta falar. – Ele
falou sincero.
Ela bufa e olha para ele.
— Fala sério? Você vive dando em
cima das outras professoras! – Rebateu
ela, cheia de ciúme.
— Para provocar você.
— Não te entendo, sério. Primeiro:
você é um cretino grosseiro. Segundo:
irônico e, agora, está me pedindo
desculpas? Castiel faça-me o favor!
— Eu amo você. – Castiel suspirou
cansado de guardar o sentimento só para
ele. – Eu te amo desde o primeiro dia
que você pisou naquela escola.
— Você o quê? – Ela gaguejou.
— Te amo, Zoey Castellar. – Ele
sorriu, tocando o rosto dela devagar e
carinhosamente. – E eu sei que você
sente o mesmo.
— Não sinto, não!
— Admita para si mesma que eu sou
o amor da sua vida.
— Convencido!
— Realista e apaixonado.
— Convencido.
— Como estamos sozinhos nesse
carro e eu não quero que roubem meu
bebê, me convida para entrar e eu te
mostro o convencido!
Ela sorriu, deixando o carro. Sim, ela
o deixou subir e essa foi a melhor
decisão de sua vida.
— Zo, eu não sou um homem de
rodeios e casinhos, muito menos
namoricos. Então, eu vou direto ao
ponto. Eu te amo e você me ama. Então
você vai casar comigo! – Disparou ele.
Ela o encarou, chocada.
— Bem direto você. E quem disse
que eu quero casar com você?
— Acordar comigo ao seu lado todos
os dias me parece uma ótima opção.
— Meu Deus, como é convencido.
— Essa é minha matemática, querida
Zo.
— Louca?
— Não, exata.
— Essa pode ser a maior loucura que
eu vou fazer, mas se eu não fizer, vou me
arrepender todos os dias. – Ela sorriu. –
Então sim, Castiel Stein... Eu caso.
— Sábia decisão, querida. Sabe que
eu sempre achei que Zoey Stein ficava
lindo no seu cartão de identificação. –
Dessa vez ela riu.
— Agora eu acredito quando dizem
que matemáticos são malucos.
— Minha matemática é você, Zo.
Colocando os braços em volta do
pescoço dele, ela sorriu e disse:
— Então me ame para sempre, Cas.
— Mulher, eu vou fazer muitos filhos
em você.
— Tão romântico...
— Sei o que quero, é diferente.
— E o que você mais quer agora? –
Perguntou ela, mordendo o lábio
inferior.
— Você.
Sobre a autora

Lu Barbosa nasceu em Ceará, em 11


de Setembro de 1995. Filha de Edite
Nogueira Barbosa e Luciano Sousa.
Cresceu na cidade de Fortaleza. Irmã de
Juliana. Membra da Igreja Bola de Neve
Fortaleza.
Escreveu os livros Qual o Número de
Zaira?, Meu Chefe, Encontrando Um
Novo Amor, entre outros.
Seu primeiro livro publicado é Um
CEO Mais Do Que Perfeito, pela
Editora Erga Omnes. Um romance que
tem conquistado dezenas de milhares de
leituras no Wattpad, alcançando em
Agosto de 2016, a marca de oitenta mil
leituras.

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